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SOLENIDADE DE ABERTURA 11/07 (Segunda-feira), de 09:30 às 10:30 h Mediação: Márcio Muniz (UFBA) 11/07 (Segunda-feira), de 10:30 às 12:30 h CONFERÊNCIAS Denise Ferreira da Silva (University of British Columbia) Proposições sobre o (“eu” de) Permeio Mediação: Denise Carrascosa (UFBA) Christian Laval (Université Paris-Nanterre) La nouvelle question cosmopolitisme Mediação: Ana Maria Bicalho (UFBA) SESSÕES PLENÁRIAS 11/07 (Segunda-feira), de 16:30 às 18:30 h Literatura Comparada como zona de vizinhança Mediação: Jailma Pedreira (UNEB) Florencia Garramuño (Universidad de San Andrés) A literatura comparada e o “inconsciente racial”: práticas artísticas ameríndias no contexto da cultura latino-americana contemporânea Maria Nazareth Soares Fonseca (PUC-Minas) Literaturas africanas em português: zonas de contato e vizinhança Gerson Neumann (UFRGS) Convivência e avizinhamento: uma necessidade para o sobreviver da Ciência Evelina Hoisel (UFBA) Traduzir a Rússia: diálogo cultural desmedido? 12/07 (Terça-feira), de 10:30 às 12:30 h Estéticas do bem-viver: cosmologias, coletividades e espécies companheiras Mediação: Henrique Freitas (UFBA) e Carla Dameane (UFBA) Pedro Favaron (Pontificia Universidad Católica del Perú) Netebo: aportes del perspectivismo shipibo-konibo a una reflexión filosófica indígena Eliane Potiguara (Escritora) Como conviver com sociedades distintas se não há respeito e reconhecimento da identidade indígena no Brasil? André Lemos (UFBA) Fail again. Better again. Fal(h)ar bem para viver bem 12/07 (Terça-feira), de 16:30 às 18:30 h Relações interartes, redes virtuais, metaversos Mediação: Cássia Lopes (UFBA) Nina da Hora (FGV) André Vallias (Refazenda) Poesia em movimento Marcelo d’ Salete (Quadrinista) Narrativas negras em quadrinhos Márcia Arbex (UFMG) A colagem como operador de sobrevivências: uma perspectiva intermidiática 13/07 (Quarta-feira), de 10:30 às 12:30 h Tradução como arte do (des)encontro Mediação: Elizabeth Ramos (UFBA) Ronald Augusto (Escritor, tradutor e editor) Interlocução com alguns tradutores de minha poesia Lauro Maia Amorim (UNESP) A tradução do afeto: (des)encontros, interexistência e o afeto da tradução Prisca Agustoni (UFJF) Autotradução, ou o dom da multiplicação das vozes em poetas mulheres contemporâneas Roland Walter (UFPE) Espaços de recordação: Revisões Mitopoéticas na Literatura das Américas 13/07 (Quarta-feira), de 16:30 às 18:30 h Literatura e espaços comuns de aprendizagem Mediação: Osmar Moreira (UNEB) Marcelino Freire (Escritor) Ossos do Ofídio: a contribuição das oficinas literárias para a formação de quem escreve Érica Peçanha do Nascimento (USP) Ler o mundo a partir da poesia: saraus de periferia como espaços educativos Maria Amélia Dalvi (UFES) O que passa quando se defende a aprendizagem da literatura, mas há mal-estar com o ensino? Cristiane Brasileiro (UERJ) Crise, crítica, convocação: por uma abordagem sistêmica do ensino da literatura na escola básica 14/07 (Quinta-feira), de 10:30 às 12:30 h Modernismos negros Mediação: Florentina da Silva Souza (UFBA) Leda Maria Martins (UFMG) Uma cena invisível Maria de Lourdes Teodoro (UnB) Jesiel Oliveira (UFBA) Por um comparativismo das desmedidas: Modernidade, ancestralismo, violência e raça em romances angolanos e negrobrasileiros Jorge Augusto de Jesus Silva (IF-Baiano) Um modernismo negro a partir de Lima Barreto Vércio Gonçalves Conceição (UFOP) Marrabenta: Música, ação e identidade em Moçambique 14/07 (Quinta-feira), de 16:30 às 18:30 h Estética e política, literatura e resistência Mediação: Mônica Menezes (UFBA) Cláudia Lage (Escritora) Experiência, criação e política Luciana Hidalgo (Escritora) Política e estética em Rio-Paris-Rio Ricardo Lísias (Escritor) Performance e contraperformance na política brasileira contemporânea João Cezar de Castro Rocha (UERJ) A pólis em cena: a política no teatro shakespeariano 15/07 (Sexta-feira), de 10:30 às 12:30 h Interseccionalidades: limites e possibilidades Mediação: Lívia Natália (UFBA) Conceição Evaristo (Escritora) Fernanda Miranda (UNIFESSPA) Encruzilhadas do sensível na fabulação de autoras negras Leandro Colling (UFBA) Ataques recentes às perspectivas da interseccionalidade 15/07 (Sexta-feira), de 16:30 às 18:30 h CONFERÊNCIAS Lawrence La Fountain-Stokes (Columbia University) Translocas: a política da performance drag e trans porto-riquenha Mediação: Roberto Seidel (UNEB) Peter Pál Pelbart (PUC-SP) Ensaio sobre a Assombração Nacional Mediação: Ana Lígia Leite e Aguiar (UFBA) SESSÃO DE ENCERRAMENTO 11/07 (Segunda-feira), de 09:30 às 10:30 h Abertura para o Mundo dos Vivos em Solenidade ao Mundo dos Mortos Mestre Gabi Guedes tocando Rum ao vivo 11/07 (Segunda-feira), de 14:00 às 16:00 h Sala Pensamento indígena: língua, cultura e a arte das retomadas Anari Braz Bomfim 12/07 (Terça-feira), de 08:00 às 10:00 h Sala De Mana para Mana: Slam das minas Exibição do documentário De Mana pra Mana, de Natielly Santos e conversa com Singa Negafya e Rool Mediação crítica: Natielly Santos 12/07 (Terça-feira), de 14:00 às 16:00 h Sala Dança para Corpos Vaga-Lumes Exibição de Vídeo-Performances de Edu Ó (Carta aos bípedes e Ah, se eu fosse Marilyn) 13/07 (Quarta-feira), de 08:00 às 10:00 h Sala Espécies Companheiras Música e Silêncio - Concerto-Instalação 360o para Letieres Leite 13/07 (Quarta-feira), de 14:00 às 16:00 h Sala Encruzilhadas Teatro-Vídeo-Performance : Eguns Dançam entre Necro&Ikupolíticas Mediação Crítica: Cia de Teatro da UFBA - Profa. Evani Tavares (ETUFBA) 14/07 (Quinta-feira), de 08:00 às 10:00 h Sala Gira_Mundo Literatura Negra Surda e Outras Rotas Poéticas Performance de Edinho Santos e Nayara Rodrigues Mediação Crítica: Profa. Nanci Araújo Brito e Ires Brito 14/07 (Quinta-feira), de 14:00 às 16:00 h Sala Mundos Com/Partilhados Babel: Convite à improvisação artística coletiva Mediação Artística: Saulo Moreira 15/07 (Sexta-feira), 08:00 às 10:00 h Sala de Confraternização Improvisando Com/partilhar Mundos Imaginados Sala de Cinema Exibição do Filme Donna Haraway: Story Telling For Earthly Survival, de Fabrizio Terranova 15/07 (Sexta-feira), de 14:00 às 16:00 h Encerramento: Para Mundos em Devir Performance de Leona do Pau, Malayka SN, Ah Teodoro 1 - ISTO NÃO É UM ROMANCE: POLÍTICA E RESISTÊNCIA À FORMA NO ROMANCE SETECENTISTA E OITOCENTISTA Coordenadoras: Andréa Sirihal Werkema, Maria Juliana Gambogi Teixeira 11/07 - 14h às 16h Beatriz Cerisara Gil - ANTAGONISMOS SOCIAIS EM MAUPRAT, DE GEORGE SAND Clarissa Mattos Farias - UMA COMPOSIÇÃO INDECOROSA: A RECUSA DO ROMANCE EM DO AMOR DE STENDHAL Maria Juliana Gambogi Teixeira - MÉTODO E ARTE: A PARTE DE ROMANCE EM A FEITICEIRA, DE JULES MICHELET Marina Leite Gonçalves - MACHADO E ELITE LETRADA IMPERIAL: UMA LEITURA SOCIAL E ESTÉTICA DAS PERSONAGENS MASCULINAS EM HELENA E IAIÁ GARCIA 12/07 - 8h às 10h Alice Almeida Gontijo - O ROMANCE E A LITERATURA RECREATIVA NAS MINAS OITOCENTISTAS David Patrick Tavares Belo - MANUEL PINHEIRO CHAGAS: O ROMANCE HISTÓRICO BRASILEIRO E A CRÍTICA PORTUGUESA DO SÉCULO XIX Harion Márcio Costa Custódio - TRÊS NARRADORES EM PRIMEIRA PESSOA: BRÁS CUBAS, BENTINHO E O CONSELHEIRO AIRES Andréa Sirihal Werkema - OBSERVAÇÕES SOBRE TRABALHO FEMININO EM ROMANCES DE MACHADO DE ASSIS 12/07 - 16h às 18h Daniel Lago Monteiro - DEFUNTO AUTOR E CLERKS DEFUNCT: CHARLES LAMB NAS MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS Júlia Braga Neves - O GÓTICO E A RETÓRICA DA MODÉSTIA EM JOURNAL OF A RESIDENCE IN CHILE DE MARIA GRAHAM Ana Maria Zanoni da Silva - CONTRIBUIÇÕES DA POÉTICA DE POE À TEORIA DO ROMANCE: UMA ANÁLISE DE ZANONI DE BULWER-LYTTON Thiago Rhys Bezerra - SMOLLETT E OS DESAFIOS DO ROMANCE ESCOCÊS 2 - LER/ESCREVER O SÉCULO XXI: A NOVÍSSIMA FICÇÃO PORTUGUESA Coordenadores(as): Jorge Vicente Valentim, Gabriela Silva, André Carneiro Ramos 11/07 - 14h às 16h André Sebastião Damasceno Correa de Sá - COMEÇAR PELO PRESENTE – AS CRÓNICAS DE MIGUEL ESTEVES CARDOSO Alleid Ribeiro Machado e Elaine Cristina Prado dos Santos - O MITO SEGUNDO A FICÇÃO: EM VOLTA D’A CIDADE DE ULISSES Gleidys Meyre da Silva Maia - DOS ESPAÇOS E SEUS LUGARES: PORTUGAL PANTÓPICO EM DESAMPARO, DE INÊS PEDROSA, E EM LIVRO, DE JOSÉ LUIS PEIXOTO Valci Vieira dos Santos - À PROCURA DE SENTIDOS EM TODOS OS SENTIDOS, DE LÍDIA JORGE Gabriela Silva - LABIRINTOS DA NOVÍSSIMA FICÇÃO PORTUGUESA 12/07 - 8h às 10h Jorge Vicente Valentim - QUANDO O ESCRITOR SE TRANSFORMA NA COISA ESCRITA: (RE)PENSAR A CONSISTÊNCIA EM DESCRIÇÃO ABREVIADA DA ETERNIDADE, DE DIOGO LEITE CASTRO Maria Catarina Rabelo Bozio - SILÊNCIO: OS NÃO-DITOS COMO INDÍCIOS EM O SENHOR ELIOT, DE GONÇALO M. TAVARES Daniel Moutinho Souza - LITERATURA COMPARADA COMO TEMA LITERÁRIO EM LIVRO, DE JOSÉ LUIS PEIXOTO Ailton Pirouzi Junior - RECORTES PÓS-MODERNISTAS EM ÚLTIMA PARAGEM, MASSAMÁ, DE PEDRO VIEIRA Larissa Fonseca e Silva - RUÍNAS DA TRADIÇÃO E SUJEITO EM RUÍNA EM CAMPO DE SANGUE, DE DULCE MARIA CARDOSO 12/07 - 14h às 16h Kairo Lazarini da Cruz - UM LUGAR CHAMADO JERUSALÉM: FIGURAÇÕES DO SUJEITO PÓSHOLOCAUSTO EM GONÇALO M. TAVARES Nelson Marques - ERA UMA VEZ UM PAÍS SEM MULHERES: REFLEXÕES DA HOMOSSOCIABILIDADE EXCLUDENTE EM O CORAÇÃO DOS HOMENS, DE HUGO GONÇALVES Leonardo von Pfeil Rommel - "O SEGUNDO SÉCULO XXI COMEÇOU EM WUHAN”: O TESTEMUNHO DA PANDEMIA NO DIÁRIO DA PESTE, DE GONÇALO M. TAVARES André Carneiro Ramos - A LITERATURA É ESSE MARTELO QUE ESMAGA: REGISTROS DE VIDA E BARBÁRIE EM PÃO DE AÇÚCAR, DE AFONSO REIS CABRAL Mariana Caser da Costa - ALÉM DO ARCO-ÍRIS HÁ... UM POTE DE CLOROQUINA 13/07 - 8h às 10h Luci Ruas Pereira - CADERNO DE MEMÓRIAS COLONIAIS: CORPOS ENTRELAÇADOS NO CORPO TESTEMUNHAL DA ESCRITA Cinthia da Silva Belonia - ANGOLA NA LITERATURA PORTUGUESA CONTEMPORÂNEA: ESSA DAMA BATE BUÉ! Carlos Roberto dos Santos Menezes - ESQUECE: ESCREVER MEMÓRIAS EM DISPUTA POR UM ESPAÇO NA HISTÓRIA DA NAÇÃO Romeu Foz - A CEGUEIRA BRANCA E ESSE CABELO, DE DJAIMÍLIA PEREIRA DE ALMEIDA Flávio Silva Corrêa de Mello - MIGRAÇÕES PÓS-COLONIAIS EM LISBOA: APROXIMAÇÕES E DISTANCIAMENTOS EM O RETORNO, DE DULCE MARIA CARDOSO, E LUANDA LISBOA PARAÍSO, DE DJAIMÍLIA PEREIRA DE ALMEIDA 13/07 - 14h às 16h Maurício Dutra Félix - A CONSTRUÇÃO DAS RELAÇÕES DE NOÉ EM LISBOA, CHÃO SAGRADO (2019), DE ANA BÁRBARA PEDROSA Renan Henrique Messias de Paulo - MODO DE VIDA E INFÂNCIA EM TRÁS-OS-MONTES, DE TIAGO PATRÍCIO Bianca Rosina Mattia - NO LIVRO DE CONTABILIDADE, OS VERSOS QUE CONTAM A VIDA: UMA LEITURA DE PRINCÍPIO DE KARENINA, DE AFONSO CRUZ Gustavo de Mello Sá Carvalho Ribeiro - UM MUNDO EM FORMAÇÃO: A ADOLESCÊNCIA COMO PERSPECTIVA EM UMA OUTRA VOZ, DE GABRIELA RUIVO TRINDADE 3 - TRAMA TEXTUAL, RASTROS TRANSLINGUAIS: LITERATURA E INTERDEPENDÊNCIA DA DIFERENÇA Coordenadores(as): Gerson Roberto Neumann, Fernanda Boarin Boechat 11/07 - 14h às 16h Marianna Ilgenfritz Daudt - O CONCEITO DE LITERATURAS DO MUNDO EM OPOSIÇÃO À WELTLITERATUR: UMA ANÁLISE DO LIVRO WELTFRAKTALE, DE OTTMAR ETTE Zama Caixeta Nascentes - GRANDE SERTÃO: VEREDAS NA ALEMANHA - A CONVIVÊNCIA DA DIFERENÇA Cintea Richter - RASTROS TRANSAREAIS NA OBRA ILHAS, DE WILSON BUENO Thaís Gonçalves Dias Porto - POR UMA LITERATURA EM MOVIMENTO: UMA PROPOSTA DE LEITURA DE SCHWAGER IN BORDEAUX DE YOKO TAWADA Luciane da Silva Alves - COM ARMAS SONOLENTAS - UM ROMANCE DE FORMAÇÃO BRASILEIRA 12/07 - 8h às 10h Victor Manuel Ramos Lemus - OS VIAJANTES ESTRANGEIROS E A CONSTRUÇÃO DO IMAGINÁRIO NACIONAL NA LITERATURA MEXICANA DO SÉCULO XIX Henrique Sagebin Bordini - O DIÁRIO DE VIAGENS DE HERDER EM UM MUNDO EM MOVIMENTO Lilian Monteiro de Castro e Michelle dos Santos - SIGNIFICADOS EM TRÂNSITO: A IMAGEM SONORA E O LÉXICO DE NATALIA GINZBURG E VALERIA LUISELLI Elaine Calça - A MATERIALIDADE DAS PRIMEIRAS EDIÇÕES DE MORENGA DE UWE TIMM Monise Campos Saldanha - A LITERATURA DO ENTRE LUGAR: OS IORUBAS NO BRASIL 12/07 - 14h às 16h Fernanda Boarin Boechat - OS RETORNOS, O RETRATO, O RELATO: VENTOS QUE SOPRAM NO TEMPO Gerson Roberto Neumann - CON-VIVÊNCIA E VIZINHANÇA NA LITERATURA DE FUNDO MIGRATÓRIO Cleo Amorim Nascimento - O SUJEITO RORAIMEIRA E A DOCE POETA GOIANA: UM OLHAR COMPARATISTA SOBRE A POESIA TOPOFÍLICA DE CORA CORALINA E ZECA PRETO Ricardo Postal - A SÍNDROME DO MIGRANTE: CONSIDERAÇÕES SOBRE DESLOCAMENTO E LITERATURA EM DIA DE MATAR PORCO DE CHARLES KIEFER Luccas César Bach - ENTRE A MORTE E O RETORNO: ESTUDO COMPARADO ENTRE UM RIO CHAMADO TEMPO E GRAVEL HEART 4 - (AUTO)TRADUÇÃO DE LITERATURAS EM LÍNGUAS INDÍGENAS/ORIGINÁRIAS Coordenadoras: Sara Lelis de Oliveira, Ana Helena Rossi 11/07 - 14h às 16h Isabel Maria Fonseca - CONSIDERAÇÕES SOBRE A ARTE VERBAL E TRADUÇÃO DO WÄTUNNÄ YE'KWANA Jucicleide Pereira Mendonça dos Santos - ALELUIA OU ARERUIA: A TRANSPOSIÇÃO CULTURAL POR MEIO DA TRADUÇÃO Ana Rossi - TRADUÇÃO DE POEMAS DE SUSY DELGADO (GUARANI-ESPANHOL): EXPERIÊNCIAS DO PROCESSO TRADUTÓRIO 12/07 - 8h às 10h João Paulo Ribeiro - MODO DE VER E MODO DE VIVER PELA POÉTICA DO TRADUZIR EM AYVU RAPYTA (LÍNGUA MBYÁ-GUARANI) Silvana Matias Freire - EQUÍVOCO E HOMONÍMIA: TRAÇOS DAS LÍNGUAS NA TRADUÇÃO Sara Lelis - IN XÓCHITL IN CUICATL: A LINGUAGEM DAS FLORES NOS CANTARES MEXICANOS QUESTÕES DE TRADUÇÃO PARA PORTUGUÊS 6 - A EST(ÉTICA) NA LITERATURA E OUTRAS LINGUAGENS ARTÍSTICAS COMO UM GESTO POLÍTICO PARA MITIGAR A VIOLÊNCIA Coordenadores(as): Flávio Adriano Nantes, Cláudia Maria Ceneviva Nigro 11/07 - 14h às 16h Paula Pope Ramos - ENTRE BRASIL E ARGENTINA: A RESISTÊNCIA FEMININA EM RESPOSTA EST(ÉTICA) À OPRESSÃO EM MULHERES EMPILHADAS (2019) E COMETIERRA (2019) Leocádia Chaves - O SOM DO TRAUMA EM PEDRA HOMEM E MARIA LUCAS Yasmeen Pereira da Cunha - O ARTISTA E A ÉPOCA: O PENSAMENTO ESTÉTICO-POLÍTICO DE JOSÉ CARLOS MARIÁTEGUI Hiandro Bastos da Silva - À SOMBRA DO PREDADOR: REIMAGINANDO AS FRONTEIRAS ÉTICAS ENTRE HOMEM E ANIMAL EM BESTIÁRIO, DE JULIO CORTÁZAR 12/07 - 8h às 10h Eliana Moreira de Assis - TOM, CADÊ O TOM NA MÚSICA MENINA JESUS? Mariana Rissi Azevedo - A COMPOSIÇÃO DA OBRA LITERÁRIA "9 MESES" COMO UM GRITO DE DESESPERO CONTRA A MARGINALIZAÇÃO DE MÃES ADOLESCENTES Marcos Henrique Castro Soares de Araujo - A TENTATIVA DE BEM VIVER APÓS O ROMANCE "A MÁQUINA DE FAZER ESPANHÓIS", DE VALTER HUGO MÃE Flávio Adriano Nantes - A VIOLÊNCIA EXTREMA E OS ESTUPROS PERPETRADOS CONTRA MULHERES NO PERÍODO DITATORIAL (1964-1985): O CASO DA LITERATURA BRASILEIRA 12/07 - 14h às 16h Nicia Petreceli Zucolo - LITERATURA E BIOPOLÍTICA: CORPOS FEMININOS EMPILHADOS Fabio Gustavo Romero Simeão - ONDE ESTÃO OS FILHOS DA PÁTRIA? O PESADELO DA UTOPIA EM DOIS CONTOS DE JOÃO MELO Paulo Cesar da Silva Lopes Junior - ÉDOUARD LOUIS: UM PROTAGONISTA SOCIOPOLÍTICO-LITERÁRIO Eliene Medeiros da Costa e Marta Aparecida Garcia Gonçalves - A VIOLÊNCIA ESTRUTURAL EM SERIA UMA SOMBRIA NOITE SECRETA, DE RAIMUNDO CARRERO 7 - A GEOPOESIA ENTRE VIAGENS E MIGRAÇÕES: CRÍTICA POLIFÔNICA, PASSAGENS E ETNOFLÂNERIES Coordenadores(as): Ana Clara Magalhaes de Medeiros, Willi Bolle, Augusto Rodrigues da Silva Junior 11/07 - 14h às 16h Willi Bolle - ESTEPES E DESERTOS NA VISÃO GLOBAL DE ALEXANDER VON HUMBOLDT Augusto Rodrigues da Silva Junior e Ana Clara Magalhaes de Medeiros - RAIZAMAS DA GEOPOESIA: A CRÍTICA POLIFÔNICA E OS ENCONTRADORES DE HISTÓRIAS Rosa Amélia Pereira da Silva - NARRADOR SERTANEJO: UM R-EXISTENTE Eckhard Ernst Kupfer - A DELEGAÇÃO CIENTIFICA AUSTRÍACA NO BRASIL, POR OCASIÃO DO CASAMENTO DA PRINCESA LEOPOLDINA COM DOM PEDRO I Kátia Klassen - ROSAS DO BURGO CORAÇÃO: UMA ADAPTAÇÃO DRAMATÚRGICA DE TUTAMEIA Felipe Guimarães Gonçalves - O "EU" E O "OUTRO": A ESCRITA LITERÁRIA ETNOGRÁFICA DE JEAN MARIE GUSTAVE LE CLÉZIO 12/07 - 8h às 10h Larissa Cardoso Beltrão - GEOPOESIA DE GOIÁS E TOCANTINS: RAIZAMAS E ENFRONTEIRAMENTO EM TIÃO PINHEIRO Howardinne Queiroz Leão - OS BUCHSBAUM AO ENCONTRO DO POVO: VISÕES DE UM TEATRO POPULAR Maria de Fátima Costa e Silva - TRAVESSIA E COSMOVISÃO CARNAVALESCA N’OS AMBULANTES DE DEUS, DE HERMILO BORBA FILHO Rafael Lima Lobo dos Santos - O CRONOTOPO CARNAVALIZADO EM ESAÚ E JACÓ, DE MACHADO DE ASSIS, A PARTIR DO MORRO DO CASTELO Ester Suassuna Simões - QUANDO CAETANA CHEGAR: DIÁLOGO ENTRE ARIANO SUASSUNA E OS NARRADORES DE SÃO JOSÉ DO BELMONTE 12/07 - 14h às 16h Fabio Fadul de Moura - DO RIO E DA CIDADE: CULTURA AMAZÔNICA EM ASTRID CABRAL Regina Célia dos Santos Alves - SOB O OLHAR DA NATUREZA: MOVIMENTOS, FORMAS E SENTIDO DO MUNDO EM CONTOS DE ALAMEDA, DE ASTRID CABRAL João Paulo Toledo de Carvalho - BRISA DA CORDILHEIRA NO RAP INDÍGENA BRASILEIRO: FLORESTANIA POLIFÔNICA Sheila Gualberto Borges Pedrosa - CORDELIZANDO NA CAPITAL: REFLEXÕES SOBRE A EPOPEIA DA CONSTRUÇÃO DE BRASÍLIA REVERBERADAS NO LIVRO DE CORDEL O CANDANGO NA FUNDAÇÃO DE BRASÍLIA DE SEBASTIÃO VARELA André Luis Valadares de Aquino - O DOM, O MISTÉRIO, O NADA. MAX MARTINS: POESIA E A QUESTÃO DA RESPOSTA 13/07 - 8h às 10h Amanda Melo da Silva Lima - CINEMA, SURDEZ E AUTOBIOGRAFIA: A HISTÓRIA DE HELEN KELLER E SUAS FRUTIFICAÇÕES CINEMATOGRÁFICAS Bárbara Cândido Menezes - POR UM CORO POLIFONICO: REFLEXÕES SOBRE POLIFONIA EM MEDEIA, DE EURÍPIDES Francisco Jadir Lima Pereira - ENSAIO CRÍTICO E FOTOGRÁFICO DE UM ETNOFL NEUR QUE CAMINHA PELA PERIFERIA DO CAPITALISMO: O CASO DO AFUNDAMENTO DO SOLO EM BAIRROS DE MACEIÓ-AL Haymone Leal Ferreira Neto - "O SERTÃO MUDOU LIGEIRO DEMAIS": UMA ROMARIA PELA FRAGMENTAÇÃO DAS IDENTIDADES NORDESTINAS NO ROMANCE DORA SEM VÉU, DE RONALDO CORREIA DE BRITO Werick Araújo Moraes - A MEMÓRIA DO NARRADOR GEOPOETA EM "VIAGENS NA MINHA TERRA", DE ALMEIDA GARRET E "UM RIO CHAMADO TEMPO, UMA CASA CHAMADA TERRA", DE MIA COUTO Eduardo de Lima Beserra - LEVEZA, DESASSOSSEGO E PEREGRINAÇÕES NA POESIA DE RENATA PIMENTEL: ETNOFL NERIES DAS PASSAGENS, PARAGENS E MIGRAÇÕES 13/07 - 14h às 16h Pedro do Pinho Koberle - DERIVA NUBLADA: UM ITINERÁRIO DE WALLACE STEVENS Marcos Eustáquio de Paula Neto - J. J. VEIGA PRECURSOR DE SARAMAGO: A GEOPOESIA E A TANATOGRAFIA EM A HORA DOS RUMINANTES E AS INTERMITÊNCIAS DA MORTE Joao Paulo Santos Silva - A POIÉSIS FICCIONAL EM "O DAR DAS PEDRAS BRILHANTES" André Da Silva Rosa Junior - A BUSCA DO MÉTODO EM CARPEAUX E AUERBACH: PONTOS DE CONTATO, TRAVESSIAS Ana Clara Magalhaes de Medeiros e Augusto Rodrigues da Silva Junior - RAIZAMAS DA GEOPOESIA: A CRÍTICA POLIFÔNICA E OS ENCONTRADORES DE HISTÓRIAS 8 - A LITERATURA E SEUS FRAGMENTOS: ENTRE A PSICANÁLISE, A FILOSOFIA E A TRADUÇÃO Coordenadores(as): Davi Andrade Pimentel, Flávia Trocoli Xavier da Silva, Markus Volker Lasch 11/07 - 14h às 16h Davi Andrade Pimentel - TRADUZIR O ÉVÉNEMENT DE HÉLÈNE CIXOUS: DO ENTRE AO E. Marcelo Jacques de Moraes - "TUDO ESTÁ PERDIDO, CONSERVEMOS A PERDA": DAS RUÍNAS QUE RANGEM EM HÉLÈNE CIXOUS. Iamni Reche Bezerra - A TRADUÇÃO E O HÍMEN EM JACQUES DERRIDA. Mauricio Mendonça Cardozo - TRADUÇÃO E RELAÇÃO: DA QUESTÃO DO "ENTRE" COMO UM LUGAR AO LUGAR DO "ENTRE" COMO QUESTÃO 12/07 - 8h às 10h Flavia Trocoli Xavier da Silva - O QUE QUER ESCREVER O HIPERREALISMO FICCIONAL EM HÉLÈNE CIXOUS. Amanda Dib da Silva de Almeida Ferreira - FRAGMENTOS ENTRE ESCREVER A MATÉRIA E ESCULPIR A PALAVRA Kaio Adriano Batista Fidelis - CIXOUS E LACAN: DUAS LEITURAS DO CASO DORA Marcelle Pacheco Soares - O CORPO E OS FIOS DO FAZER LITERATURA ENTRE JACQUES DERRIDA, HÉLÈNE CIXOUS E CLARICE LISPECTOR. Marlon Augusto Barbosa - CESÁRIO VERDE E HÉLÈNE CIXOUS: ENGOMAR, DEIXAR PASSAR 12/07 - 14h às 16h Alexandre Marzullo Knauer Faccin - LUMINOSO PERFUME DA PALAVRA, OU MEMORIAL: DE JACQUES LACAN A ALICE OSWALD, E VICE-VERSA. Derick Davidson Santos Teixeira - BARTHES, LACAN E O AMOR PARA UMA LEITURA EM RUÍNAS. Silvio Tony Santos de Oliveira - DO DESEJO CORROMPIDO À FRAGMENTAÇÃO TOTÊMICA: O ÉDIPO CLAUDICANTE SOB À PENA KAFKIANIANA. Sylvia Maria Trusen - NAS TRILHAS DA LINGUAGEM: CONSIDERAÇÕES SOBRE TEXTOS INAUGURAIS DE FREUD E SEUS DESDOBRAMENTOS NO ÂMBITO DA TRADUÇÃO. 13/07 - 8h às 10h Danielle Henrique Magalhães - ENTRE CORTE E ALIANÇA, COMEÇAR UM ROMANCE: AUTOBIOGRAFIA E LUTO EM TAMARA KAMENSZAIN Francisco Renato de Souza - NO ENTREMEIO DOS CAMINHOS DA REALIDADE E DA FICÇÃO EM PROUST: O LIVRO, O QUADRO E O SONHO DE SWANN Patrícia de Oliveira Leme - AINDA A CORTAR: NO FIO DO LUTO COM TAMARA KAMENSZAIN Patrick Gert Bange - AFOG: INACABAMENTO DAS FORMAS, ENTRE LISPECTOR E PROUST. Cláudio Augusto Carvalho Moura - A NEURODIVERSIDADE ENQUANTO DISPOSITIVO LITERÁRIO NA FANTASIA VITORIANA: UMA DISCUSSÃO SOBRE AUTISMO EM THE LIGHT PRINCESS (1864) DE GEORGE MACDONALD. 13/07 - 14h às 16h Markus Volker Lasch - VESTÍGIOS E FRAGMENTOS (FICCIONAIS) DO REAL: CARLOS & CARLOS SUSSEKIND ENTRE VIDA, DIÁRIO E ROMANCE Julia Teitelroit de Souza Martins - OS MOTIVOS DA FICÇÃO. Katherine Funke - O JOGO DOS FRAGMENTOS DE "FLAUSI-FLAUSI", DE DALTON TREVISAN. Priscila Saemi Matsunaga - BY HEART OU QUANDO SOMOS AQUILO QUE LEMOS. Sandro Viana Essencio - POR UMA POÉTICA DA EXISTÊNCIA NAS OBRAS DE ALBERT CAMUS E ROBERTO FREIRE. 9 - A LITERATURA, O PENSAMENTO E A FILOSOFIA Coordenadores: Josué Borges de Araújo Godinho, Roberto Antônio Penedo do Amaral 11/07 - 14h às 16h Lidiana de Oliveira Barros - A MULHER, O ANIMAL E AS AMBIVALÊNCIAS DA MATERNIDADE NA OBRA A CACHORRA, DE PILAR QUINTANA Gleydson André da Silva Ferreira - COMO SE ESTIVÉSSEMOS EM PALIMPSESTO DE ELVIRA VIGNA: APAGAMENTO DO FEMININO E CORROSÃO SUBJETIVA Márcio Camillo da Silva - A ANGÚSTIA E O TEMPO NO CONTO "A CERCA" DE ASTRID CABRAL Bianca Raupp Mayer - ENTRE "BLIND LIGHT" (2014) E "O POEMA NO TUBO DE ENSAIO" (2016): DIFERENÇAS E REPETIÇÕES EM MARÍLIA GARCIA Fernanda Marques Granato - A EXPERIMENTAÇÃO POÉTICA DO PARADOXO DO PURO DEVIR EM SUBJETIVIDADES HÍBRIDAS DE QORPO-SANTO, EDWARD LEAR E MARIA ESTHER MACIEL 12/07 - 8h às 10h Jonatas Aparecido Guimarães - O PERSONAGEM E A PRODUÇÃO DE MÁSCARAS EM CLARICE LISPECTOR E EM AUTRAN DOURADO Pamela Zacharias - CLARICE LISPECTOR: CRIAÇÃO EM (E)VIDÊNCIA Ana Maria Vasconcelos Martins de Castro - A RUÍNA COMO POTÊNCIA: O ESTRANHAMENTO RADICAL DA PALAVRA EM CLARICE LISPECTOR Pâmela Juliana Nogarotto - "FESTEJANDO A FERIDA ALHEIA?": A ALTERIDADE EM "A BELA E A FERA OU A FERIDA GRANDE DEMAIS", DE CLARICE LISPECTOR 12/07 - 14h às 16h Roberto Antônio Penedo do Amaral - FACETAS DA HÝBRIS: DAS VESTES REAIS ESFARRAPADAS DE XERXES AOS PARANGOLÉS DE HÉLIO OITICICA Cristian René Motta Téllez - A CASA DE ASTÉRION, REESCREVENDO AO PLATÃO Juliana Santana de Almeida - QUEM É O HERÓI NA MEDEIA DE EURÍPIDES? Carla Alexandra Ezarqui - EROS E PHILIA NOS ROMANCES DE ROMAIN GARY Marcos Roberto Pinho Palheta - O ESPELHO E UM IN-CERTO DESCARTES 13/07 - 8h às 10h Julie Christie Damasceno Leal e Mauro Lopes Leal - BRÁS CUBAS: UM PROTÓTIPO DO NIILISMO MODERNO André Mesquita Penna Firme - À BEIRA-MAR: NIETZSCHE E LIMA BARRETO EM DIÁLOGO Pamera Ferreira Santos - A PRESENÇA DO ABSURDO NO TEMPO PRESENTE: UMA INTERSEÇÃO ENTRE BECKTT E SARAMAGO Walter Pinto de Oliveira Neto - O FAROL OBSCURO DA MODERNIDADE: ANTI-ILUMINISMO EM UNAMUNO 13/07 - 14h às 16h Josué Borges de Araújo Godinho - PENSAR A LITERATURA COMO ZONA DE VIZINHANÇA E CONVERGÊNCIA Maycon Tannis - PALABRAS? SÍ, DE AIRE, Y EN EL AIRE PERDIDAS: HISTÓRIA, LINGUAGEM E FILOSOFIA EM OCTAVIO PAZ Ana Carolina Botelho dos Santos - LUTAR COM AS PALAVRAS: A DEFESA DE UMA REVOLTA PELA LINGUAGEM A PARTIR DA LEITURA DO POEMA "MORTE DO LEITEIRO", DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE 10 - A PERSISTÊNCIA DAS LITERATURAS 'FRANCÓFONAS' NO BRASIL: RESISTÊNCIA, ESTÉTICA E POLÍTICA Coordenadores: Josilene Pinheiro-Mariz, Dennys Silva-Reis 11/07 - 14h às 16h Laíza dos Santos Albaram - LITERATURA DE EXPRESSÃO FRANCESA HAITIANA NA ESCRITA DE ÉVELYNE TROUILLOT Normelia M Parise - “SOUS LA TERREUR”: ESCRITA E RESISTÊNCIA EM MARIE VIEUX-CHAUVET Érika Pinto de Azevedo - RESISTÊNCIAS E ESCRITA POÉTICA EM UN AILLEURS À SOI DE EMMELIE PROPHÈTE Solaneres Laértia Nunes Sabino Nascimento e Josilene Pinheiro-Mariz - O EXÍLIO SOB O OLHAR DA ESCRITORA FRANCO-GUADALUPENSE MARYSE CONDÉ 12/07 - 8h às 10h Viviane Araújo Alves da Costa Pereira - POSTURAS AUTORAIS EM ENTREVISTAS DE ESCRITORAS DE GUADALUPE Danielle Grace De Almeida - SUZANNE DRACIUS: MULHER, POESIA E CONTEMPORANEIDADE NA CENA LITERÁRIA ANTILHANA Júlia Simone Ferreira - VOZES DE MULHERES ANTILHANAS: MEMÓRIAS, FICÇÕES E SEGREDOS NA ESCRITA DE GISELE PINEAU Bruna Perrotti - A FRANCOFONIA COMO TERRITÓRIO DE RESISTÊNCIAS NA LUTA ANTICOLONIAL ARGELINA: ASSIA DJEBAR E FRANTZ FANON Luciana Wrege Rassier - DA IMPACIÊNCIA À ESCRITA: RESILIÊNCIA E CRIAÇÃO LITERÁRIA EM DJAÏLI AMADOU AMAL 12/07 - 14h às 16h Luana Costa de Farias e Josilene Pinheiro-Mariz - MÉMOIRE DE FEMME, DE TANELLA BONI: VERSOS DE POESIA E RESISTÊNCIA Gabriela Rodrigues de Oliveira - O TEMA DA MENDICIDADE E SUA RELAÇÃO COM O CONTEXTO CULTURAL SENEGALÊS NO ROMANCE LA GRÈVE DES BÀTTU (1979), DE AMINATA SOW FALL Maria Angélica Deângeli - AMOUR BILINGUE, DE ABDELKEBIR KHATIBI: ENTRE A HERANÇA DA COLONIZAÇÃO E PAIXÃO PELA(S) LÍNGUA(S) Josilene Pinheiro-Mariz - SOBRE PENSAR AS ÁFRICAS OCEÂNICAS E SUA DIVERSIDADE LINGUÍSTICA 13/07 - 8h às 10h Vinício Lima Berbat - DA AUTONOMIA: O DESAFIO DO PROJETO ESTÉTICO DE SAMUEL BECKETT Pedro Armando de Almeida Magalhaes - MARGUERITE YOURCENAR - IDENTIDADE, MEMÓRIA, HISTÓRIA Beatriz D’Angelo Braz Gorla - BICULTURALISMO, EXPATRIAÇÃO E BILINGUISMO EM L’HOMME DÉPAYSÉ DE TZVETAN TODOROV Manuella Barreto Bitencourt e Josilene Pinheiro-Mariz - A OBRA DE MARJANE SATRAPI COMO REPRESENTANTE DA ESCRITA FEMININA DE LITERATURA DE LÍNGUA FRANCESA NO IRà Paola Karyne Azevedo Jochimsen - AUDE SEIGNE E A LITERATURA FRANCÓFONA SUÍÇA CONTEMPORÂNEA 13/07 - 14h às 16h Jessica Andrade de Lara - O IMPASSE DA LITTÉRRATURE-MONDE Marco Antonio Rocha - PROJETO DE EXTENSÃO LITTÉRAMONDE (UFPR): CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS E RESULTADOS PARCIAIS Júlia Hartmann das Chagas - (TRANS)FORMANDO LEITORES: POR QUE REVER PRÁTICAS DOCENTES NAS DISCIPLINAS DE LITERATURA DE EXPRESSÃO FRANCESA NO BRASIL? Dennys Silva-Reis - DO BRASIL A LUXEMBURGO E VICE-VERSA - PARA COMEÇAR A FALAR DE LIFRALU 11 - AMÉRICA LATINA EM MOVIMENTO: TRÂNSITOS, ATRAVESSAMENTOS E TRADUÇÕES Coordenadores(as):Flavia Braga Krauss de Vilhena, Alexandre Barbosa 11/07 - 14h às 16h Ariadne Catarine dos Santos - COLETIVOS CARTONEROS NO BRASIL: DEBATE SOBRE LIVRO, LITERATURA E COMUNIDADE Flavia Braga Krauss de Vilhena - LITERATURA NA AMÉRICA LATINA E ATRAVESSAMENTOS: O CASO YERBA MALA CARTONERA Cristina Gutierrez Leal - LENGUAJE SIAMÉS: POESÍA, COLLAGE Y DESPLAZAMIENTO EN OBRAS DE POETAS VENEZOLANAS Gessica Luiza Kozerski - DESLOCAR-SE EM CÂMERA LENTA: O CAMINHAR COMO RECURSO POÉTICO PARA MARÍLIA GARCIA 12/07 - 8h às 10h Laís Maria Álvares Rosal Botler - REVISITANDO O CONCEITO DE "NÃO LUGAR" A PARTIR DA OBRA DE CLARICE LISPECTOR Daniela Sofía Navarro Hernández - A REALIDADE-FICÇÃO DO RACISMO NA AUTOBIOGRAFIA EU VI A NOITE Hully Mangueira Rodrigues - O ENTRE-LUGAR EM CONTOS PEREGRINOS DE GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ Sueli Funari - A PEREGRINAÇÃO SOLITÁRIA DE LATINO-AMERICANOS NA EUROPA EM "O RASTRO DE TEU SANGUE NA NEVE", DE GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ Alexandre Barbosa - A SOLIDÃO DA AMÉRICA LATINA NA INDÚSTRIA DE COMUNICAÇÃO BRASILEIRA 12/07 - 14h às 16h Lucía González - ESTRATÉGIAS PARA (RE)ESCREVER A TRADIÇÃO EM PORTUGAL D’AGORA, DE JOÃO DO RIO Angélica Rodrigues da Costa - ESTRANHOS ESTRANGEIROS: A EXPERIÊNCIA NO EXÍLIO Leonardo Cavalcante Mendes - A HERANÇA DO TRAUMA NAS GENEALOGIAS DE MARGO GLANTZ Ana Carolina Martins dos Santos - O (IN)COMUM DA COMUNIDADE EM LITERATURAS TRANSFRONTEIRIÇAS 12 - CARTOGRAFIAS RECENTES DO COMPARATISMO NA AMÉRICA LATINA: RELAÇÕES DE VIZINHANÇA RECONFIGURADAS Coordenadores: Wanderlan Alves, Anselmo Peres Alós 13/07 - 14h às 16h Adeilson de Abreu Marques - O PERCURSO HISTÓRICO-LITERÁRIO EM PESSOA E SUASSUNA: UMA POÉTICA DO MITO SEBÁSTICO À LUZ DO IMAGINÁRIO DE GILBERT DURAND Adriana de Borges Gomes - AFLUXOS LITERÁRIOS ENTRE BORGES & CORTÁZAR: TRAVESSIAS POR MACEDONIO & CERVANTES Elane da Silva Viana - O REALISMO MARAVILHOSO EM A FLORESTA, DE MAURO GUILHERME Júlio Heydeer Barbosa Vieira - DE NAVIOS A JANGADAS: LEITURAS ALEGÓRICAS NAS NARRATIVAS DE JULIO CORTÁZAR E JOSÉ SARAMAGO Tiago Miguel Chiapinotto - PERCEPÇÕES ACERCA DE POSSÍVEIS CONEXÕES ENTRE AS PERSONAGENS ANHANGABAÚ, DE MASTIGANDO HUMANOS, E COPI, DE AS FANTASIAS ELETIVAS 14/07 - 14h às 16h Anselmo Peres Alós - CORPO/NAÇÃO/NARRAÇÃO: MASCULINIDADES SUBALTERNIZADAS NO ROMANCE BRASILEIRO (1980-2019) Brenda Carlos de Andrade - ZONAS DE CONTENÇÃO, REFLEXOS DE VIOLÊNCIA: O CONDOMÍNIO COMO ESPAÇO REFRAÇÃO DE VIOLÊNCIA EM NARRATIVAS LATINO-AMERICANAS CONTEMPORÂNEAS Gabriel Zupiroli de Almeida - O PROBLEMA DO DIÁRIO NAS OBRAS DE RICARDO PIGLIA E ROBERTO BOLAÑO Lucas Sauzem Cruz - O TERRITÓRIO COMO PRÁTICA DE ANÁLISE LITERÁRIA EM NARRATIVAS LATINOAMERICANAS CONTEMPORÂNEAS Renata Farias de Felippe - DA MORTE E DO TRAUMA: O ANTIÉPICO NA LITERATURA LATINOAMERICANA CONTEMPORÂNEA 15/07 - 14h às 16h Giovani Tridapalli Kurz - TRAJETOS DISSONANTES NOS ESTUDOS DA CRIAÇÃO LITERÁRIA EM ÂMBITO LATINO AMERICANO Isabel Cristina Jasinski - REDES LITERÁRIAS SINGULARES E POLÍTICAS DO AFETO NA LITERATURA LATINO-AMERICANA CONTEMPORÂNEA Marcelo de Carvalho Gonçalves Júnior - O MAPA COMO OBJETO E FIM: UM DIÁLOGO ENTRE AS POETAS-CARTÓGRAFAS ANA MARTINS MARQUES E ELIZABETH BISHOP Danielle Ferreira Costa - ASSINATURA RASURADA: CINZAS, SOMBRAS E FORMAS EM TRAVESSIA NA AMÉRICA LATINA Wanderlan Alves - EN TORNO AL FIN, Y LO QUE VIENE DESPUÉS: MANIFIESTOS PARA LA LITERATURA DEL TERCER MILENIO 13 - COMPARATIVISMO INTERAMERICANO: QUANDO O OLHAR 'DESVIA' PARA OS EXCLUÍDOS Coordenadores(as): Andre Rezende Benatti, Zilá Bernd, Leoné Astride Barzotto 11/07 - 14h às 16h Andre Rezende Benatti - “HAY COSAS QUE NO PUEDEN OCURRIR A LA LUZ DEL DÍA”:MARGINALIZAÇÃO E VIOLÊNCIA EM LAS MALAS, DE CAMILA SOSA VILLADA Lícia Soares De Souza - RELAÇÕES INTERAMERICANAS: ESTÉTICA DA EXCLUSÃO NO BRASIL E NO QUÉBEC Loiva S Vogt - NARRATIVAS DE TRAUMA E O ONZE DE SETEMBRO 12/07 - 8h às 10h Isis Milreu - NOVOS OLHARES PARA A RELAÇÃO ENTRE LITERATURA, HISTÓRIA E MULHERES NA FICÇÃO LATINO-AMERICANA CONTEMPORÂNEA DE AUTORIA FEMININA Lincoln Felipe Freitas - ESPAÇOS, CARTOGRAFIAS E TRANSIÇÕES DOS MIGRANTES E CLANDESTINOS: COMUNIDADES EXPANDIDAS EM TONUS E PARRA Fernanda Dusse - O BARROCO FUNDADOR 14 - CONFIGURAÇÕES DO ESPAÇO GÓTICO NA FICÇÃO BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA Coordenadores: André Cabral de Almeida Cardoso, Claudio Vescia Zanini, Pedro Puro Sasse da Silva 11/07 - 16h às 18h Ângela Maria Dias - NO AVESSO DA EUFORIA MODERNISTA: O MUNDO SUFOCANTE DE LÚCIO CARDOSO Mykaelle de Sousa Ferreira - CONFIGURAÇÕES DO GÓTICO EM CRÔNICA DA CASA ASSASSINADA, DE LÚCIO CARDOSO Alanis Zambrini Gonçalves - SEXUALIDADE, DECADÊNCIA E MORTE NO ESPAÇO GÓTICO DE CRÔNICA DA CASA ASSASSINADA, DE LÚCIO CARDOSO Ana Resende - QUARTOS TRANCADOS E MÓVEIS HOSTIS: A ESPACIALIDADE ASSOMBRADA EM "MARIA EMILIANA", DE LÚCIO CARDOSO Francisco de Assis Ferreira Melo e Alexander Meireles da Silva - OS ESPAÇOS GÓTICOS EM "DEMÔNIOS DO DESERTO", FICÇÃO BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA 15 - DECOLONIALIDADE, MEMÓRIA E RESISTÊNCIA NA ESCRITA DE AUTORIA FEMININA Coordenadoras: Algemira de Macêdo Mendes, Geovana Quinalha de Oliveira, Lucilene Machado Garcia Arf 11/07 - 14h às 16h Guilherme Barp - OS CONTOS INÉDITOS DE JÚLIA LOPES DE ALMEIDA: ANTIGAS POÉTICAS SOB NOVOS OLHARES Marcella Mesquita Granatiere - A CARTOGRAFIA DA MEMÓRIA NOS ROMANCES CONTEMPORANEOS BRASILEIROS POR CIMA DO MAR (2018), DE DEBORAH DORNELLAS, E ÁGUA DE BARRELA (2018), DE ELIANA ALVES CRUZ Jéssica Maria Cruz Silva - A VISIBILIDADE DA VOZ FEMININA EM VOZES DO DESERTO, DE NÉLIDA PIÑON Caroline Kirsch Pfeifer - O CORPO TRAVESTI COMO UM TERRITÓRIO DE DISPUTAS E CONQUISTAS: BREVE ANÁLISE DE RELATOS AUTOFICCIONAIS 12/07 - 14h às 16h Juliana Narciso - A IDENTIDADE FEMININA NA SOCIEDADE DO MÉXICO PÓS-REVOLUCIONÁRIO Antônio Marques Pereira Filho - ESTUDO COMPARATIVO DA POESIA ERÓTICA CONTEMPORÂNEA DE REGINE LIMAVERDE E HILDA HILST Nayane Larissa Vieira Pinheiro e Algemira de Macêdo Mendes - A LUCIDEZ NA POESIA DE STELA DO PATROCÍNIO Simone Oliveira Santos - TEORIA FEMINISTA: DA MARGEM AO CENTRO, DOS "VELHOS" AOS "NOVOS" DESAFIOS Nágila Alves Da Silva e Algemira de Macêdo Mendes - O TRISTE OLHAR EM FRENTE AO ESPELHO: UMA ANÁLISE SOBRE ESTÉTICA DA MULHER NEGRA E O RACISMO NAS OBRAS O OLHO MAIS AZUL E DEUS AJUDE ESSA CRIANÇA, DE TONI MORRISON 13/07 - 14h às 16h Maged Talaat Mohamed Ahmed Elgebaly - NARRATIVAS SUBALTERNAS EM CADERNOS DE MEMÓRIAS COLONIAIS DE ISABELA FIGUEIREDO Ane Daniela Medeiros Morais - A LUTA DAS "MULHERES DE CONFORTO" POR UMA REPARAÇÃO ANÁLISE DA GRAPHIC NOEL GRAMA DE KEUM SUK GENDRY-KIM Lucas Breda Magalhães e Jhenifer Emanuely Rodrigues dos Santos - O "EU" ENUNCIADOR QUE SE TORNA "NÓS" EM POEMAS DE AUTORIA DE MULHERES NEGRAS Paulo Eduardo Bogéa Costa - A VOZ DECOLONIAL GRITA NÃO VOU MAIS LAVAR OS PRATOS, DE CRISTIANE SOBRAL Geraldina Antonia Evangelina de Oliveira - CAROLINA MARIA DE JESUS: A ESCRITA COMO FERRAMENTA DE RESISTÊNCIA Marta Cristina Alves Çaró - HISTÓRIA E FICÇÃO: DOS ARQUIVOS DE MEMÓRIAS À REVISÃO/REINTERPRETAÇÃO DO PASSADO DE MULHERES ESCRAVAS NO ROMANCE FE EN DISFRAZ 14/07 - 14h às 16h Aparecido Carlos Simionato - JULIETA PAREDES: RESISTÊNCIA, SUBVERSÃO E UTOPIA Marina Maura de Oliveira Noronha e EDGAR CÉZAR NOLASCO - RE-EXISTÊNCIA EPISTÊMICA: ESCRITA (INTER)CORPORAL DESCOLONIAL EM A HORA DA ESTRELA Taís Marciele dos Reis - UM ESTUDO COMPARADO ENTRE O PASSADO E PRESENTE NOS ROMANCES AMADA DE TONI MORRISON E O CONTO OLHOS D'ÁGUA DE CONCEIÇÃO EVARISTO Ana Paula Almeida Moreira - A VOLTA DAS ASSEMBLEIAS PÚBLICAS DO SLAM DAS MINAS DO RIO DE JANEIRO Nathalia Flores Soares - NAS ENTRELINHAS DO DESPRENDIMENTO: CLARICE LISPECTOR E A DESCOBERTA DO MUNDO Valéria Oliveira Vasconcelos - A MENINA DO VESTIDO AMARELO, DE CONCEIÇÃO EVARISTO E A REPRESENTAÇÃO DA ÁGUA E DA MATERNIDADE 15/07 - 14h às 16h Mairylande Nascimento Cavalcante Ferreira e Mikeias Cardoso dos Santos - MARIA FIRMINA DOS REIS NOS VERSOS DO CORDEL DE JARID ARRAES: "UMA MARANHENSE" Luisa Benevides Valle - O PESSOAL É POLÍTICO": OS MOVIMENTOS FEMINISTAS E O DESCENTRAMENTO DO SUJEITO PÓS-MODERNO Daniela dos Santos Damasceno - A LITERATURA DE ALINE FRANÇA: MEMÓRIA E RESISTÊNCIA Mariana Souza Paim - TRAMANDO EXISTÊNCIAS: SUBJETIVIDADE E RESISTÊNCIA EM A MULHER DE PÉS DESCALÇOS, DE SCHOLASTIQUE MUKASONGA 16 - EDUCAÇÃO LITERÁRIA EM PERSPECTIVA ANTIRRACISTA Coordenadores(as): Fernando Maués de Faria Júnior, Vima Lia de Rossi Martin, Ana Crelia Penha Dias 11/07 - 14h às 16h Rosana Cristina Zanelatto Santos - UMA NOVA EPISTEMOLOGIA É NECESSÁRIA PARA LER AS NARRATIVAS INDÍGENAS Fábio Rodrigo Pena - CAMINHOS DE FALAS E ESPAÇOS DE ESCUTAS: A BIOPOLIFONIA DAS PAISAGENS AFRODIASPÓRICAS Camilla Ramos dos Santos - BACO EXU DO BLUES E A LITERATURA DE OPOSIÇÃO: LINHAS POLÍTICOPEDAGÓGICAS PARA A EMANCIPAÇÃO Roseli Gimenes - NARRATIVAS DE VIDA: QUESTÕES RACIAIS Rosana Oliveira Rocha - EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS: PRODUÇÃO DE LITERATURA COLABORATIVA 12/07 - 8h às 10h Antonio Andrade - EDUCAÇÃO LITERÁRIA E POÉTICAS AMERÍNDIAS: TENSIONAMENTOS DO PARADIGMA MONOLÍNGUE Vera Lúcia Cardoso Medeiros e Neide Luzia de Rezende - EDUCAÇÃO LITERÁRIA E ANTIRRACISTA NA ESCOLA BRASILEIRA A PARTIR DO ESTUDO DE PRÁTICAS DOCENTES Maria Carolina de Godoy - ONDE ESTÃO AS PERSONAGENS NEGRAS? UMA REFLEXÃO SOBRE LITERATURA INFANTIL E JUVENIL NO ESPAÇO ESCOLAR Jéssica Daiane Levandovski Thewes - LITERATURA BRASILEIRA NO ENSINO MÉDIO: REFLEXÕES ACERCA DA IDENTIDADE NEGRA Adriana Silva Lopes Matias e Mirian Leila Farias da Costa - ESTUDOS DOS PERSONAGENS NEGROS INFANTIS NOS LIVROS: MENINA BONITA DO LAÇO DE FITA, DE ANA MARIA MACHADO E XIXI NA CAMA, DE DRUMOND AMORIM 17 - ENEIDA MARIA DE SOUZA E O NÃO LUGAR DA CRÍTICA Coordenadoras: Marília Rothier Cardoso, Myriam Corrêa de Araújo Ávila 11/07 - 14h às 16h Sessão de Homenagem I Eneida Leal Cunha – ENEIDA MARIA DE SOUZA, INTÉRPRETE DO BRASIL Wander Melo Miranda – DO ESTRUTURALISMO À CRÍTICA CULT Coordenação: Myriam Ávila (UFMG) Sessão de Homenagem II Marcos Antonio de Moraes – POR UMA CRÍTICA EPISTOLOGRÁFICA: PRESSUPOSTOS E PROCEDIMENTOS CRÍTICOS Coordenação: Marília Rothier Cardoso 12/07 - 8h às 10h Reinaldo Martiniano Marques – TEORIA E PRÁTICA INDISCIPLINADAS Roberto Said – CONVERSAÇÕES : A TESSITURA DO ENSAIO DE ENEIDA MARIA DE SOUZA Roniere Silva Menezes – CONVERSAS ENTRE OS RIOS MANHUAÇU E TIETÊ: ENEIDA DE SOUZA, MÁRIO DE ANDRADE E AS REDESCOBERTAS DO BRASIL Marcelino Rodrigues da Silva – “SOBREVIVÊNCIAS”: A CRÍTICA BIOGRÁFICA DE ENEIDA MARIA DE SOUZA Cavallere Miranda Lima - ENTRE-TEMPOS NO LEGADO DE ENEIDA MARIA DE SOUZA Coordenação: Roniere Silva Menezes 12/07 - 14h às 16h Edgar Cézar Nolasco – TEORIZAR É VIVER Eliana da Conceição Tolentino e Antônio Luiz Assunção – ENEIDA SOUZA NA UFSJ: CRÍTICA E ATUAÇÃO Rafael Lovisi Prado – NOTAS PÓSTUMAS: UM CURSO A DOIS Aline Leal Fernandes Barbosa – RECEBER, LER, ENVIAR: AS DINÂMICAS DA CORRESPONDÊNCIA E A FORMAÇÃO DA AMIZADE Coordenação: Eliana da Conceição Tolentino 13/07 - 8h às 10h Ewerton Martins Ribeiro – A ÚLTIMA ENTREVISTA: UMA CONVERSA INTEMPESTIVA COM ENEIDA MARIA DE SOUZA Jefferson Expedito Santos Neves – TEORIA EM TRÂNSITO: UMA LEITURA DA CRÍTICA DE ENEIDA MARIA DE SOUZA Breno Anderson Souza de Miranda – ENEIDA DE SOUZA, GRACIELA RAVETTI, SEUS BORGES E OS LIMITES E ALCANCES DA ÉTICA DA LITERATURA Renata Fernandes Magdaleno – CRÍTICAS VIRTUAIS: UMA REFLEXÃO SOBRE A MESCLA ENTRE ACADÊMICOS E BOOKTUBERS, LEVANDO EM CONTA A TRADIÇÃO CRÍTICA NACIONAL Glaucia Soares Bastos – RUMBA, SAMBA E TOADA: APONTAMENTOS SOBRE MÚSICA, SOCIEDADE E CULTURA DE MASSA Coordenação: Ewerton Martins Ribeiro 13/07 - 14h às 16h Francine Carla de Salles Cunha Rojas e Edgar César Nolasco – ENEIDA MARIA DE SOUZA E O ENSAIO BIOGRÁFICO FRONTEIRIÇO Gabriel Martins da Silva – ENEIDA MARIA DE SOUZA E SILVIANO SANTIAGO: BIOGRAFIA CRUZADA (1972-1975) Paloma Roriz – POESIA CONTEMPORÂNEA: IMPASSES, DIVERSIDADE, RECONFIGURAÇÕES Matheus Ribeiro Alves de Lima – A CRÍTICA DA NARRAÇÃO IMPURA Wallace Ribeiro Ramos – IMPOSTURA E ARTIMANHA: OSMAN LINS E A CRÍTICA DOS CRIADORES Coordenação: Paloma Roriz 18 - ENSINO DE LITERATURA: PERSPECTIVAS SISTÊMICAS Coordenadores(as): Cristiane Brasileiro Mazocoli Silva, Marcel Alvaro de Amorim, Mônica de Menezes Santos 11/07 - 14h às 16h Cristiane Brasileiro Mazocoli Silva - CACOS PARA UM VITRAL: DESAFIOS PARA IMPLEMENTAÇÃO DA LEITURA LITERÁRIA NA ESCOLA BÁSICA Luciane Hagemeyer - AS TRÊS APRENDIZAGENS DA LITERATURA COMO QUESTÃO CURRICULAR Telma Aparecida Luciano Alves - LITERATURA E LINGUAGEM LITERÁRIA NO CURRÍCULO PAULISTA DO ENSINO MÉDIO Rosana Carvalho Dias Valtão - COMPETÊNCIAS E HABILIDADES NA BNCC E NO ENEM E SUAS CONSEQUÊNCIA PARA LEITURA DE LITERATURA NO ENSINO MÉDIO 12/07 - 8h às 10h Mariana Roque Lins da Silva - A FORMAÇÃO DOCENTE RESPONSIVA NA BUSCA POR UM ENSINO DE LITERATURA DIALÓGICO NA EDUCAÇÃO BÁSICA Juliana Pereira Lannes - CAMINHOS DA ENSINANÇA LITERÁRIA: DISCURSOS SOBRE A LITERATURA E O ENSINO NOS CURRÍCULOS DE LICENCIATURAS DAS IFES FLUMINENSES Débora Ventura Klayn Nascimento - ENTRELACE DAS DIMENSÕES ÉTICA E ESTÉTICA EM PRÁTICAS DE LEITURA LITERÁRIA NA ESCOLA: UM OLHAR PARA OS RESUMOS DAS DISSERTAÇÕES DO PROFLETRAS EM 2021 Augusto Moretti de Barros - DISCIPLINAS DE LITERATURAS EM LÍNGUA ESPANHOLA EM CURSOS DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO BRASIL E NA ESPANHA 12/07 - 14h às 16h Clecio dos Santos Bunzen Junior - A ESCOLARIZAÇÃO DA LITERATURA NOS PROJETOS INTEGRADORES DE DUAS OBRAS DO ENSINO MÉDIO APROVADAS NO PNLD-2021 Dalva Patricia de Alencar - LIVRO DIDÁTICO EM PERSPECTIVA: QUESTÕES SOBRE A (NÃO) PRESENÇA DE LITERATURA DE AUTORIA FEMININA Tiago Cavalcante da SIlva - "APRENDI QUE O MEU BLACK/ TEM MUITO MAIS FORÇA QUE O LOIRO DA RAPUNZEL": DISCURSOS, DISPUTAS E OS LETRAMENTOS DE REEXISTÊNCIA NA PRODUÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO DE LITERATURA PARA O 6O ANO NO ENSINO FUNDAMENTAL Lívia Ribeiro Bertges - POEMAS VITAIS: UMA COLEÇÃO DE POEMAS VISUAIS EM MEIO DIGITAL PARA O ENSINO DE LITERATURA Lucas Ferreira de Oliveira e Viviane de Guanabara Mury - VIDAS SECAS: ROMANCE E QUADRINHOS EM SALA DE AULA PARA AUXILIAR A FORMAÇÃO DO LEITOR LITERÁRIO 13/07 - 8h às 10h Mônica de Menezes Santos - LITERATURA NA ESCOLA: PELA CONSTRUÇÃO DE COMUNIDADES AFETIVAS DE APRENDIZAGEM Carla Cavalcante Pinto - HISTÓRIAS EM REDE: MEDIAÇÃO DE LEITURA E LITERATURA NA PRIMEIRA INF NCIA Érica Drumond Fontes - ESTÉTICA DA RECEPÇÃO E ENSINO DE LITERATURA: IMAGENS, SENSAÇÕES E FRUIÇÃO Marta Botelho Lira e Sandra de Oliveira Botelho - ECOLOGIA E LITERATURA O USO DA SALA DE AULA INVERTIDA, NO ENSINO FUNDAMENTAL ANOS FINAIS, EM UMA ESCOLA PÚBLICA DA CIDADE DE MANAUS-AMAZONAS Jamilly Starling Santos de Jesus e Mônica de Menezes Santos - A EMERGÊNCIA DA ALEGRIA: REFLEXÕES SOBRE A LITERATURA EM SALA DE AULA 19 - ENTRE O CÂNONE E O ESQUECIMENTO: PROCESSOS DE (NÃO) CANONIZAÇÃO DE AUTORES E OBRAS Coordenadores: Valdiney Valente Lobato de Castro, Yurgel Pantoja Caldas, Alan Victor Flor da Silva 11/07 - 14h às 16h Oscar José de Paula Neto - ANTÓNIO BOTTO AINDA POR CONHECER: POEMAS DISPERSOS NA IMPRENSA BRASILEIRA Larissa de Assumpção - O PROCESSO DE (NÃO) CANONIZAÇÃO DE AUTORES DE ROMANCES HISTÓRICOS EM ALEMÃO: O CASO DE CARL FRANZ VAN DER VELDE (1779-1824) Marina Fonseca Darmaros - SOB A BÊNÇÃO DA PROPAGANDA: A REABILITAÇÃO DE DOSTOIÉVSKI E A ASCENSÃO DE LESKOV NA URSS Yuri Jivago Amorim Caribé - WALTER TEVIS E O ROMANCE NÃO CANONIZADO THE QUEEN'S GAMBIT (1983) NA LITERATURA AMERICANA CONTEMPORÂNEA Jeniffer Yara Jesus da Silva - À SOMBRA DE ARTHUR CONAN DOYLE: ÉMILE GABORIAU EM TERRAS BRASILEIRAS 12/07 - 8h às 10h Renato Kerly Marques Silva - JOÃO CLÍMACO LOBATO E O SILÊNCIO SOBRE O ESCRITOR MARANHENSE Luis Fernando Nascimento Barros - PRESENÇA OU AUSÊNCIA DE ANTÔNIO LOPES: UM ARQUIVISTA DE MEMÓRIA CULTURAL Wesley Moreira de Andrade - OSMAN LINS E A BUSCA DAS ÍNDIAS: GUERRA SEM TESTEMUNHAS (O ESCRITOR, SUA CONDIÇÃO E A REALIDADE SOCIAL) Phelipe Fernandes de Oliveira - OS LIVROS DE JONAS André Luís Mourão de Uzêda - A CONSAGRAÇÃO DO PATRIMÔNIO LITERÁRIO: PROCESSOS DE LEGITIMAÇÃO E DE INTERDIÇÃO NA MEMÓRIA MODERNISTA BRASILEIRA 12/07 - 14h às 16h Amanda Gabriela de Castro Resque - OS RETRATOS DE GUY DE MAUPASSANT N'A PROVÍNCIA DO PARá Alan Victor Flor da Silva - ANTOLOGIAS LITERÁRIAS: UMA PROPOSTA DE PROMOÇÃO DE ESCRITORES RADICADOS NA AMAZÔNIA Raylane Maciel Benjo e Francesco Marino - CRÍTICA LITERÁRIA NO TERRITÓRIO FEDERAL DO AMAPÁ: PERSPECTIVA DE LITERATURA REGIONAL EM WALDEMIRO GOMES Daniela Corrêa Siqueira e José Victor Neto - A AMIZADE/INIMIZADE COMO INSTÂNCIAS DE CANONIZAÇÃO/NÃO-CANONIZAÇÃO: A SELETIVIDADE CRÍTICA NO CASO DO RECORDAÇÕES DO ESCRIVÃO ISAÍAS CAMINHA, DE LIMA BARRETO Wanessa Reis Filgueiras - PARA ALÉM DE CRÔNICA DA CASA ASSASSINADA: A LITERATURA À DERIVA DE LÚCIO CARDOSO 13/07 - 8h às 10h Ingrid da Silva Marinho - CASSANDRA RIOS: UM BEST-SELLER E UM LUGAR NÃO CANÔNICO Sergio Schargel Maia de Menezes - UM RESGATE SOBRE A PRODUÇÃO ESQUECIDA DE SYLVIA SERAFIM THIBAU, ASSASSINA DE NELSON RODRIGUES Karen Cristina Schuler da Silva - O APAGAMENTO DA AUTORIA FEMININA NO CÂNONE DOS CONTOS DE FADAS DA TRADIÇÃO Yanne Maira Silva - A ESCRITA DE LÚCIA MIGUEL PEREIRA: ANÁLISE DO NEGRO NA LITERATURA INFANTIL Vitoria Ferreira Doretto - A PEQUENA CIDADE DE ANTOFÁGICA E A MANUTENÇÃO DO CÂNONE 20 - EPISTEMOLOGIA DO ROMANCE: DIÁLOGOS E INTERAÇÕES NA CONSTRUÇÃO DE SABERES COMUNS Coordenadores(as): Ana Paula Aparecida Caixeta, Itamar Rodrigues Paulino, Maria Veralice Barroso 11/07 - 14h às 16h Maria Veralice Barroso - A EXPERIÊNCIA IDÍLICA COMPREENDIDA A PARTIR DAS VOZES DOS NARRADORES DO ROMANCE A BRINCADEIRA DE MILAN KUNDERA Gabriela Cristina Borborema Bozzo - A (DES)ILUSÃO DA PERSONAGEM DE ROMANCES FUNDADORES: DOM QUIXOTE E EMMA BOVARY Luís Henrique da Silva Novais - ABIONAN E EXU SE ENCONTRAM NO MEIO DO CAMINHO: O DESDOBRAMENTO DO ROMANCE EM TRILOGIA, EM ANTONIO OLINTO Leonel Isac Maduro Velloso - DESLOCAR AS FRONTEIRAS DO ROMANCE: LLANSOL E O "TEXTOESQUIZO" Jakeline Prazeres de Assis - CAROLA SAAVEDRA ROMANCISTA-ENSAÍSTA: O ESGARÇAMENTO DO ROMANCE E REFLEXÃO DO LITERÁRIO 12/07 - 8h às 10h Itamar Rodrigues Paulino - ENTRE RIOS E MATAS DA AMAZÔNIA: CENÁRIOS EPISTEMOLÓGICOS DO ROMANCE DE INGLEZ DE SOUZA Nathália Coelho da Silva - OBSERVATÓRIO LITERÁRIO DE ELIANE BRUM: O ROMANCE UMA/DUAS CONDUZIDO PELO CONJUNTO DE OBRA Neila da Silva de Souza -VORAGEM COMO ESCOLHA ESTÉTICA EM UMA DUAS, DE ELAINE BRUM Gabriel Franklin - A BUSCA PELA BELEZA DISCURSIVA DAS COISAS NOS REALIRISMOS LUSÓFONOS Ivânia Campigotto Aquino e Tiago Miguel Stieven - O JOGO FICCIONAL ENTRE O LITERÁRIO E O JURÍDICO: UMA ANÁLISE DO ROMANCE O CONTO DA AIA 12/07 - 14h às 16h Ana Paula Aparecida Caixeta - EPISTEMOLOGIA DO ROMANCE: ENCONTROS TEÓRICOS Nariella Alves Pereira de França - O AMOR DA GLÓRIA COMO POSSIBILIDADE DA EXISTÊNCIA HUMANA EM MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS Mariângela Alonso - ESCULPIR, PINTAR E (DE)FORMAR: A CRIAÇÃO EM CLARICE LISPECTOR Margarete de Carvalho Santos - A QUEM IMPORTA A COR DO LEITOR(A)? OS EFEITOS DA LITERATURA DE HORROR DE AUTORIA NEGRA FEMININA 21 - EPISTEMOLOGIAS ERRANTES, COMPARATISMOS NÔMADES - ECOLOGIAS DA FRICÇÃO NAS/DAS AMÉRICAS, ÁFRICAS E AMAZÔNIAS Coordenadores: Amilton José Freire de Queiroz, Ezilda Maciel da Silva, Simone de Souza Lima 11/07 - 14h às 16h Claudeir de Souza Araújo - ERR NCIAS DO ENSINAR - OS SABERES DA TERRA EM TORTO ARADO, DE ITAMAR VIEIRA Natália Oliveira Jung - MANOEL DE BARROS E IVAN CAMPOS - UMA LEITURA NÃO DICOTÔMICA Ruy Moreno de Araujo - VOZES EM TR NSITO - AS MARCAS DA COLONIALIDADE EM "MARIA", DE CONCEIÇÃO EVARISTO Amilton José Freire de Queiroz e Simone de Souza Lima - ENTRE UMA LITERATURA ANFÍBIA E UMA DOCÊNCIA SOLIDÁRIA - AS ECOLOGIAS DA LEITURA NA POÉTICA HENRIQUE SILVESTRE-SOARES 12/07 - 8h às 10h Mayara Haydée Lima Sena - A SOMBRA VINDO DA FLORESTA": MELANCOLIA NA AMAZÔNIA DE REPERTÓRIO SELVAGEM, DE OLGA SAVARY Juana Sañudo Caicedo - RIZOMAS/RESISTENCIAS EN LOS OCÉANOS LATINOAMERICANOS: LA NOVELA DE LA TRANSFIGURACIÓN COMO CURA A LA HERIDA COLONIAL Eline Samara de Souza Santos - ROMANCE A SELVA: MEMÓRIA CULTURAL DA AMAZÔNIA NO PERÍODO DO CICLO DA BORRACHA Claudio Marcio Soares Galhano Filho - A PERTINÊNCIA DA PERSPECTIVA COSMOERÓTICA EM MODOSOUTROS DE VIVER NO ANTROPOCENO 22 - ESCRITA E DESAPARECIMENTO Coordenadoras: Gabriela Lopes Vasconcellos de Andrade, Livia Laene Oliveira dos Santos Drummond, Antonia Torreão Herrera 11/07 - 14h às 16h Mônica Fernanda Rodrigues Gama - RELATAR A SI MESMO: HOSPITALIDADE E DESAPARECIMENTO Katia Fernandes de Lima - A ESCRITA FEMININA EM FOCO Luísa Loureiro Monteiro de Castro Teixeira - CONSTELAÇÕES EM REDE: QUESTÕES DE AUTORIA E O COLETIVO LATINOAMERICANO CHICKS ON COMICS Erica Martinelli Munhoz - DESAPARECIMENTO COMO SUBVERSÃO NA POESIA DE ADÍLIA LOPES E PATTI SMITH: UMA PERSPECTIVA ALTERNATIVA AO PROBLEMA FEMINISTA DA INVISIBILIDADE Fernanda Rocha da Silva - ENTRE VIDA E MORTE, A ESCRITA LITERÁRIA. UM OUTRO MODO DE EXISTIR 12/07 - 8h às 10h Renato Factori Canova - ESCRITA E PAROXISMO EM JACQUES RIGAUT Livia Laene Oliveira dos Santos Drummond - POR QUE DESAPARECER? DE GEORGES BATAILLE A KATHY ACKER Gabriela Lopes Vasconcellos de Andrade - FLORES DO MAL: O DILACERAMENTO, O EROS E O MAL EM SHIZU OSHIMI E CHARLES BAUDELAIRE Pedro Lucas De Lima Freire Bezerra - FORMAS DE DESAPARECER NO SUL DO MUNDO: ROBERTO BOLAÑO E CÉSAR AIRA DIANTE DA DESAPARIÇÃO DO FUTURO Edilma Cotrim da Silva - A FALA E A ESCRITA: UM PONTO DE VISTA 12/07 - 14h às 16h Mirella Márcia Longo Vieira Lima - CORPOS QUE DESLIZAM PARA O NADA Antonia Torreão Herrera - O DESAPARECIMENTO DE SI NA FOME Lígia Guimarães Telles - ESTRATÉGIAS DE DESAPARECIMENTO E SOBREVIVÊNCIA EM O QUE OS CEGOS ESTÃO SONHANDO?, DE NOEMI JAFFE Tatiana Prevedello - O DESAPARCIMENTO ENTRE A HONRA E A DOR: REPRESENTAÇÕES TEXTUAIS SOBRE EUCLIDES DA CUNHA FILHO Jucelino de Sales - A ARTE DE DESAPARECER EM ENRIQUE VILA-MATAS: A MORTE IMAGINÁRIA DO AUTOR NO LABIRINTO DA INTERTEXTUALIDADE 23 - ESCRITAS DE SI EM TRAVESSIA: NARRATIVAS DO EU NA AMÉRICA LATINA E NO CARIBE (SÉCS. XIX-XXI) Coordenadores: Joana de Fátima Rodrigues, Mayra Coan Lago, Cesar Augusto Garcia Lima 11/07 - 14h às 16h Ernani Silverio Hermes - ESCREVER-SE/INSCREVER-SE: AS TRAMAS SUBJETIVAS E OS ENREDOS DA HISTÓRIA EM DEAD WOMAN PICKNEY, DE YVONNE SHORTER BROWN Alessandra Bononi - A IMPERATRIZ E A INGLESA: UMA ANÁLISE DAS CORRESPONDÊNCIAS TROCADAS ENTRE A IMPERATRIZ D. LEOPOLDINA E A VIAJANTE MARIA GRAHAM (1821 - 1826) Patricia Mariz Da Cruz - IDENTIDADES EM TRÂNSITO E AS FIGURAÇÕES DO MAR EM O INVENTÁRIO DAS COISAS AUSENTES, DE CAROLA SAAVEDRA 12/07 - 14h às 16h Paula Cristina Sousa Rocha - RUÍNA, DIÁSPORA E O SUJEITO PÓS-MODERNO - OS CAMINHOS DA AUTOFICÇÃO EM JULIÁN FUKS Moacir Japearson Albuquerque Mendonça - DE ORGIA A DEUS NO PASTO A CENSURA E A TORTURA QUE NÃO CALAM Pacelli Dias Alves de Sousa - VALLEJO, CAIO F, ARENAS: NARRATIVAS E MEMÓRIAS DE INFÂNCIAS DISSIDENTES Antonio Martínez Nodal - A ENTREVISTA COMO REDUTO POÉTICO E AFETIVO DA ESCRITA DE SI: GRAVURAS DO SILÊNCIO NA VOZ QUE IMAGINA CUBA 24 - ESCRITAS E VIDAS CONTEMPORÂNEAS: INCURSÕES, AVALIAÇÕES E DESAFIOS AO COMPARATIVISMO Coordenadores(as): Adeítalo Manoel Pinho, Maria de Fátima Gonçalves Lima 11/07 - 14h às 16h Adeítalo Manoel Pinho - ENTRE SER NEGRO E SER HERÓI: REPRESENTAÇÃO LITERÁRIA DE JOSÉ DO PATROCÍNIO NO ROMANCE A CONQUISTA, DE COELHO NETO Josenilda Araújo Damasceno - HISTÓRIAS DAS GENTES DE UM LUGAR: A TERRA E O TRABALHO NA OBRA TORTO ARADO, DE ITAMAR VIEIRA JUNIOR Magnólia Ferreira Cruz da Paixão - A MULHER NEGRA NA POESIA "MINHA MÃE" DE LUIZ GAMA Adeítalo Manoel Pinho e João Elias da Cruz Neto - A IMPORT NCIA DOS MANIFESTOS NA CULTURA BRASILEIRA: UMA ANÁLISE COMPARADA ENTRE MANIFESTO REGIONALISTA E EZTETYKA DO SONHO 12/07 - 8h às 10h Antonia Rosane Pereira Lima - ZAHIDÉ MUZART NA CENA EDITORIAL BRASILEIRA: UMA HISTÓRIA A SER CONTADA Matheus Oliveira Carvalho - TODOS OS FILHOS DA DITADURA ROMANCE: A TRAMA INTERDISCURSIVA DE JUDITH GROSSMANN Edinage Maria Carneiro da Silva - OS DESAFIOS DA LITERATURA DE AUTORIA FEMININA NEGRA: RASURAS E RESISTÊNCIA Francis Willams Brito da Conceição - ESTUPRO E TRAUMA EM "MULHERES EMPILHADAS" E "A IMPORT NCIA DOS TELHADOS" 12/07 - 14h às 16h Adriana Spineli Lucena Soares e Elizete Albina Ferreira - UMA LITERATURA DAS BORDAS: CORPO, SILÊNCIO E VIOLÊNCIA EM AS TRÊS MULHERES SAGRADAS, DE LÍDIA JORGE Wanice Garcia Barbosa - POR ENTRE FANTASMAS E MÁQUINAS DE GUERRA: O CASO FERNANDO BONASSI E RODRIGO SANTOS Maria de Fátima Gonçalves Lima - A DIMENSÃO ARTÍSTICOCRIATIVA DA SÉRIE O DIÁLOGO DO CAMALEÃO EVERALDO JÚNIOR Mauro Athayde Paz - O OLHAR DO OUTRO E OS PROCESSOS DE EXCLUSÃO NO ROMANCE PESSOAS NORMAIS 13/07 - 8h às 10h Antonio Donizeti da Cruz - POESIA, PRESENÇA E MEMÓRIA EM AUGUSTO ESTELLITA LINS Pedro Luiz Cascalho - A ANGÚSTIA E O ABSURDO EM O PROCESSO, DE KAFKA: UMA LEITURA COMPARATIVISTA ENTRE LITERATURA E FILOSOFIA Fabrício Brandão Amorim Oliveira - MINI(AUTO)BIOGRAFIAS E DESLIZAMENTOS DO "EU" NA PAISAGEM DIGITAL Everton Vinicius de Santa - O ENGAJADO ESCRITOR-INTELECTUAL DAS LETRAS NO CENÁRIO CONTEMPORANÍSSIMO 25 - ESPAÇO E LUGAR NAS LITERATURAS AFRICANAS: NECESSÁRIAS CONTRIBUIÇÕES AOS ESTUDOS LITERÁRIOS Coordenadores(as): Janice Ines Nodari, João Pedro Wizniewsky Amaral, Mônica Stefani 11/07 - 14h às 16h Christian Marie Victor Simon Dutilleux - O ENTRELUGAR DE ESCRITORES AFRICANOS : REFLEXÕES COMPARATISTAS A PARTIR DE "BY THE SEA" , DE ABULRAZAK GURNAH E "LA PLUS SECRÈTE MÉMOIRE DES HOMMES" DE MOHAMED MBOUGAR SARR Janice Ines Nodari - DESCOLONIZAR MENTES PARA REPENSAR O ESPAÇO E O LUGAR DA LITERATURA AFRICANA: ALGUNS PONTOS A PARTIR DA LEITURA E TRADUÇÃO DE GLOBALECTICS DE NGUGI WA THIONG'O Mônica Stefani - O ESPAÇO EM FUNCIONAMENTO: UMA BREVE ANÁLISE DAS PERCEPÇÕES DE RASHID EM "DESERTION" DE ABDULRAZAK GURNAH 12/07 - 8h às 10h Susane Martins Ribeiro Silva - ABANDONO A CIDADE, FAÇO A VIAGEM, REGRESSO AO CHÃO: DIÁLOGOS ENTRE MEMÓRIA E ESPAÇO EM "UM RIO CHAMADO TEMPO, UMA CASA CHAMADA TERRA", DE MIA COUTO Gabriela Beduschi Zanfelice - DE LÍQUIDOS DESERTOS E SECOS NAUFRÁGIOS: A CRISE AMBIENTAL NA LITERATURA DE JOÃO PAULO BORGES COELHO João Pedro Wizniewsky Amaral - O ESPAÇO COMO SÍMBOLO DE (AUTO-)CONSCIÊNCIA EM BOYHOOD, DE J. M. COETZEE 26 - ESTRATÉGIAS DO FEMININO: LITERATURA ESCRITA POR MULHERES E RESISTÊNCIA Coordenadoras: Laura Barbosa Campos, Anna Faedrich, Silvina Carrizo 11/07 - 14h às 16h Glaucia Moreira Secco - CORPOS QUE DOEM, CORPOS EMPILHADOS, CORPOS ESPALHADOS: COMO CONTAMOS AS MULHERES MORTAS? Ana Claudia Coelho - VIOLÊNCIA, SILÊNCIO E RESISTÊNCIA EM NARRATIVAS ESCRITA POR MULHERES: ADRIANA LISBOA, CAROLA SAAVEDRA E PALOMA VIDAL. Janine Aparecida Cardoso e Mail Marques de Azevedo - CENAS COTIDIANAS DE RACISMO: AS MACRO E MICROAGRESSÕES EM CIDADÃ, DE CLAUDIA RANKINE Laura Barbosa Campos - INCESTO E ANTISSEMITISMO EM CHRISTINE ANGOT 12/07 - 8h às 10h Viviane Da Silva Vieira - PATRÍCIA GALVÃO: ESTILO, ESCRITA E RESISTÊNCIA Mariana Rezende De Souza Pinto - A ESCRITA DE MEMÓRIAS E O DEVIR POLÍTICO DA MULHER: UMA POSSÍVEL CONVERSA ENTRE ZÉLIA GATTAI E NATALIA GINZBURG Julie Oliveira Da Silva - ENTRE MISOGINIA E PERSEGUIÇÃO, O “GRITO” POÉTICO COMO “ESTRATÉGIA” FEMININA-FEMINISTA E DECADENTISTA DE JUDITH TEIXEIRA CONTRA A CENSURA DA “LITERATURA DE SODOMA” Silvina Carrizo - POESIA E PANDEMIA NO BRASIL. ESTADOS TEMPORAIS NAS GEOGRAFIAS DO POEMA EM GRAÇA GRAÚNA. 12/07 - 14h às 16h Ana Carolina Sa Teles - O CORRER DA PENA VERSUS A REFLEXÃO EM ELES E ELAS (1910), DE JÚLIA LOPES DE ALMEIDA Camila Neo Corrêa - A PRESENÇA DA FICCIONISTA JÚLIA LOPES DE ALMEIDA NO SUPORTE LITERÁRIO DO SÉCULO XIX – JORNAL DIÁRIO DE NOTÍCIAS. Mariana Oliveira Brito - A FICCIONALIZAÇÃO DAS PERSONAGENS FEMININAS NOS ROMANCES DE JÚLIA LOPES DE ALMEIDA: EXISTE LIMITE ENTRE A REALIDADE E A FICÇÃO? Lucélia Magda Oliveira Da Silva - SOBRE O FEMINISMO DE JULIA LOPES DE ALMEIDA: UMA LEITURA DE “IN EXTREMIS” E “O CASO DE RUTE” Anna Faedrich - DE FENÔMENOS LITERÁRIOS A DESCONHECIDAS: QUEM SÃO AS ESCRITORAS MODERNISTAS BRASILEIRAS? 13/07 - 8h às 10h Suzanne Modesto Souza Binda - PARA ALÉM DA MORAL E DOS BONS COSTUMES: UMA LEITURA DE O CADERNO ROSA DE LORI LAMBY, DE HILDA HILST Veranilce Marialva Botelho - POESIA MARGINAL E SEUS IMBRICAMENTOS ENTRE ESCRITA FEMININA, POLÍTICA E EROTISMO COMO RESISTÊNCIA EM ALICE RUIZ Wilson Ferreira Barbosa - LYGIA FAGUNDES TELLES E OS ESPELHOS DO ABSURDO Evelyn Santos Almeida - COM AÇÚCAR, SEM AFETO: RELAÇÕES AFETIVAS AUTORITÁRIAS NA POESIA DE LEILA MÍCCOLIS Joel Rosa De Almeida - A NATUREZA-MORTA E A COISIFICAÇÃO DAS PERSONAGENS FEMININAS, EM UM SOPRO DE VIDA (PULSAÇÕES), DE CLARICE LISPECTOR E PASSEIO AO FAROL, DE VIRGINIA WOOLF 13/07 - 14h às 16h Melly Fátima Goes Sena - SILÊNCIO E A LITERATURA: A CONSTRUÇÃO DE UMA CASA-IDENTIDADE DAS MULHERES Fernanda Barboza De Carvalho Nery - ESTÉTICA DA REAÇÃO E A RECUSA ÀS DISTORÇÕES REPRESENTATIVAS Fernanda Martins Cardoso - “ARPEJOS” E “VIRILHA” - CITAÇÃO E SUBVERSÃO EM POEMAS DE ANA CRISTINA CESAR E MARIA ISABEL IORIO Virgínea Novack Santos Da Rocha - A CRÍTICA LITERÁRIA FEMINISTA BRASILEIRA: UM BALANÇO Mariane Tavares - “NÃO SEI COMO ARQUIVAR UMA MONTANHA”: A POESIA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA ESCRITA POR MULHERES 14/07 - 8h às 10h Rosiana Kist E Rafael Eisinger Guimarães - A EXPERIÊNCIA DA ESCRITA E DA MATERNIDADE COMO ESTRATÉGIAS DE RESISTÊNCIA EM DUAS OBRAS DE AUTORIA FEMININA Isabela Dias Benassi Carvalho - “ESTE LIVRO FOI ESCRITO POR MIM”: A AUTORIA COMO BRINQUEDO DE ADÍLIA LOPES Maria Celina Ibazeta - LAS PRIMAS DE AURORA VENTURINI, UNA NOVELA FEMINISTA Carlos Eduardo Do Prado - LITERATURA DE AUTORIA FEMININA NA FRANÇA DO SÉCULO XIX: LAURE SURVILLE E SUA TRAJETÓRIA LITERÁRIA Ana Carolina Schmidt Ferrão - ESCRITORAS BRASILEIRAS CONTEMPORÂNEAS E A CONCEPÇÃO DA MATERNIDADE 27 - ESTUDOS INTERDISCIPLINARES SOBRE SHAKESPEARE IV: MUNDOS COMPARTILHADOS Coordenadores(as): Regis Augustus Bars Closel, Elizabeth Santos Ramos 11/07 - 14h às 16h Cecilia Athias - LADY MACBETH (1606) E CHARLOTTE CUSHMAN (1816-1876): TEXTO, GÊNERO E ATUAÇÃO Leonardo Berenger Alves Carneiro - EXEUNT BOYS; ENTRAM ATRIZES Fernanda Teixeira de Medeiros - MEGERAS (SHREWS), BARRAQUEIRAS (SCOLDS) E BRUXAS (WITCHES): MAPEANDO A CONSTRUÇÃO DE DICÇÕES FEMININAS NO TEATRO SHAKESPEARIANO Marcia do Amaral Peixoto Martins - A LÍRICA SHAKESPEARIANA EM TRADUÇÃO: THE RAPE OF LUCRECE EM PORTUGUÊS BRASILEIRO 12/07 - 8h às 10h Fátima Luiza Da Silva Santos - E SE HAMLET FOSSE BAIANO? DA PROPOSTA À PRODUÇÃO DOS ESTUDOS DA OBRA "HAMLET" NA DISCIPLINA "ESTUDOS LITERÁRIOS EM LÍNGUA INGLESA I" NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECÔNCAVO DA BAHIA Anna Stegh Camati - SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO: A TRANSPOSIÇÃO DA PERSPECTIVA ECOLÓGICA SHAKESPEARIANA PARA O CONTEXTO DA FAVELA DO VIDIGAL Filipe Fraga de Aguiar - OTELO: TRÊS MUNDOS - UM SIGNIFICADO? A ADAPTAÇÃO COMO PROCESSO DE ENSINO Amanda Fiorani Barreto - VOLPONE, OR THE FOX (1606), DE BEN JONSON (1572-1637) NO BRASIL 12/07 - 14h às 16h Lindberg Souza Campos Filho - DO MITO À HISTÓRIA, DA METAFÍSICA À CRÍTICA: ANTÔNIO E CLEÓPATRA DE WILIAM SHAKESPEARE Juliano da Silva Lira - EM CÉUS E TERRAS: O ESTOICISMO EM HAMLET, DE WILLIAM SHAKESPEARE Luciana Paula Pereira da Conceição - SER, ALTERIDADE E INEXISTÊNCIA NOS MUNDOS COMPARTILHADOS DE A TEMPESTADE Leonardo Augusto de Freitas Afonso - LUCRÉCIA DE SHAKESPEARE: PORQUE SEQUER SE OCUPAR DO POEMA? 13/07 - 8h às 10h Valéria Cristina Marchi Ribeiro e Érika Bodstein - A MÁQUINA SHAKESPEARE – O TEATRO SHAKESPEARIANO Liana De Camargo Leao - AS IMAGENS DE HENRIQUE VIII, NA PINTURA E NO PALCO Regis Augustus Bars Closel - A CIDADE EM 'TÍMON DE ATENAS' (1606), DE WILLIAM SHAKESPEARE E THOMAS MIDDLETON Marcia Regina Becker - A PURA VERDADE? "FEAR NO MORE… " CYMBELINE E TRANSTEXTUALIDADE Celia Maria Arns de Miranda - ÓPERA OTELLO DE VERDI: A OBRA PRIMA DO COMPOSITOR ITALIANO 28 - ESTUDOS RETÓRICOS E POÉTICOS Coordenadores: Marcus De Martini, Jean Pierre Chauvin, Marcelo Lachat 11/07 - 14h às 16h Cristina Mascarenhas da Silva e Amanda Mimoso Rodrigues Coelho - ENCOBRIMENTO DO OUTRO EM DOCUMENTOS DO SÉCULO XVII-XVIII: DIABOS E INFERNOS Dario Trevisan - "ALUVIÃO DE NOMES COLECIONADOS ÀS VEZES COM BEM POUCA CRÍTICA": A BIBLIOTECA LUSITANA E A HISTORIOGRAFIA DA LITERATURA BRASILEIRA Jean Pierre Chauvin - UMA POÉTICA DO RISO: O HISSOPE, DE ANTÓNIO DINIZ DA CRUZ E SILVA Leonardo Zuccaro - FÁBULAS MITOLÓGICAS E SUA DISPOSIÇÃO CODICOLÓGICA: UMA POSSIBILIDADE DE ESTUDO DE GÊNERO Thiago Nunes Santana - TOPOI EM DISPUTA: CONTRIBUIÇÃO PARA A HISTÓRIA DA RECEPÇÃO CLÁSSICA (SÉCS. XVI-XVIII) 12/07 - 8h às 10h Ana Aparecida Teixeira de Souza - COMPOSIÇÃO DE RETRATO CÔMICO NO ENTREMEZ EL RUFIÁN VIUDO DE MIGUEL DE CERVANTES Daniela dos Santos - O AMOR SEGUNDO "O CORTESÃO": A PERSONAGEM DE PIETRO BEMBO Elisabeth Fromentoux Braga - A CIDADE VICE-REAL DE MÉXICO NO OLHAR DOS CRONISTAS URBANOS SETECENTISTAS: UM DISCURSO CRIOULO DE SOCIEDADE IDEALIZADA Gustavo Luiz Nunes Borghi - OS MODELOS DE IMITAÇÃO DO ORÁCULO MANUAL Y ARTE DE PRUDENCIA (1647), DE BALTASAR GRACIÁN Thiago Martins Caldas Prado - MARCAS DE URGÊNCIA DO DISCURSO ECONÔMICO NA ANTIGUIDADE CLÁSSICA A PARTIR DE ARISTÓFANES 12/07 - 14h às 16h Fernanda Cristina da Encarnação dos Santos - PRECEPTIVAS RETÓRICAS NAS CARTAS DO PADRE ANTÔNIO VIEIRA EM DEFESA DAS MISSÕES NO MARANHÃO, GRÃO-PARÁ E RIO DAS AMAZONAS Flavia Pais de Aguiar - IMPOSSIBILIDADES E DESENCANTOS EM MANUEL MARIA BARBOSA DU BOCAGE: A ESFERA DA CENSURA NO CONTEXTO POLÍTICO LUSITANO SETECENTISTA Isabel Scremin da Silva - "A SEUS PÉS SIMPLES, SINCERA, E VERDADEIRA": A RETÓRICA PARA ALEXANDRE DE GUSMÃO Marcus De Martini - A QUESTÃO DA CONVERSÃO DOS INDÍGENAS NA "INVENTIO" E NA "DISPOSITIO" DA "CLAVIS PROPHETARUM", DE PADRE ANTÔNIO VIEIRA Rodrigo Gomes De Oliveira Pinto - ECCE CORPUS ET ANIMA: O CORPO EFICAZ DO PREGADOR NO CORPO RETÓRICO DO SERMÃO DE VIEIRA 13/07 - 8h às 10h Iouchabel Sarratchara De Fatima Falcão - A COMPOSIÇÃO ELEGÍACA CONTEMPOR NEA: FORMA, CONTEÚDO E MUSICALIDADE NO POEMA "TARDE", DE SANTIAGO VILLELA MARQUES Joao Adalberto Campato Junior - A RETÓRICA DA ESPERA EM "SENTADO À BEIRA DO CAMINHO", DE ROBERTO E ERASMO CARLOS José Luiz Coelho Rangel Junior - A LITERATURA COMO UMA CRÍTICA DA RAZÃO PURA E A RETÓRICA DA PROSA NÃO-LITERÁRIA EM NORTHROP FRYE Pedro Martins Cruz de Aguiar Pereira - A ALEGORIA EM WALTER BENJAMIN: UM PERCURSO RETÓRICO-POÉTICO Regina Lúcia de Faria - ALGUMAS NOTAS SOBRE A METÁFORA ABSOLUTA 29 - FEMINISMO DECOLONIAL E TRADUÇÃO: POR UM ARCABOUÇO METODOLÓGICO PARA O PROCESSO TRADUTÓRIO E A ANÁLISE DE TEXTUALIDADES DE RESISTÊNCIA Coordenadoras: Norma Diana Hamilton, Luciana de Mesquita Silva 13/07 - 14h às 16h Alessandra Ramos de Oliveira Harden - O TEXTO TRADUZIDO COMO ELEMENTO DE RESISTÊNCIA: A TRADUÇÃO FUNCIONALISTA PODE SER DECOLONIAL? Norma Diana Hamilton - REFLEXÃO SOBRE A TRADUÇÃO DO CONTO CHILDREN OF THE SEA E O ENSINO DO TEXTO TRADUZIDO PARA JOVENS BRASILEIROS Luciana de Mesquita Silva - TEORIAS EM MOVIMENTO: APONTAMENTOS SOBRE A ESCRITA DE PATRICIA HILL COLLINS E TRADUÇÕES DE SEUS TEXTOS NO BRASIL 30 - FRONTEIRAS EM MOVIMENTO: LITERATURA, ARTES INTER/NACIONALISMO Coordenadores: Anderson Bastos Martins, Victor Coutinho Lage E POLÍTICA NA ERA DO 11/07 - 14h às 16h Anderson Bastos Martins - MUNDOS IMAGINADOS: O IMPULSO COSMOPOLITA E A LEITURA DA FICÇÃO CONTEMPORÂNEA Leonardo Vianna - ITÁLIA MESTIÇA: IDENTIDADE E HIBRIDISMO CULTURAL NA OBRA DE IGIABA SCEGO Breno Fernandes - CRESCENDO ENTRE NÓS: COMENTÁRIOS SOBRE A IDENTIDADE NACIONAL DA CRIANÇA TESTEMUNHA DE GUERRA CIVIL Ulysses Rocha Filho - FRONTEIRA E HUMANIZAÇÃO HÍBRIDA EM ROMANCES DE VALTER HUGO MÃE Érica Rodrigues Fontes - SUICÍDIO CULTURAL EM AMERICAN BORN CHINESE E “THE PAPER MENAGERIE” 12/07 - 8h às 10h Diego Alejandro Gallego Guevara - OS “NADAISTAS” E A REVOLUÇÃO LITERÁRIA DA COLÔMBIA Eva Maria Testa Teles - RETOMADA DA PENÉLOPE NA POESIA CONTEMPOR NEA – REFLEXÕES ACERCA DO LUGAR DA MULHER DA LITERATURA Fernando Santarosa de Oliveira - ELENA FERRANTE: A TETRALOGIA DO MAL-ESTAR CONTEMPOR NEO Júlia Azevedo Maia - BORIS SCHNAIDERMAN: NO ESPAÇO DAS FOTOGRAFIAS João Francisco Justino Lopes - FIGURAÇÕES DO PERDÃO EM DESONRA, DE J.M. COETZEE 12/07 - 14h às 16h Luca Fazzini - ATLÂNTICA: INSURGÊNCIAS POLÍTICAS NA ESCRITA Luan Sabino Siqueira - O MEU DESTINO É O MAR: FLUÊNCIAS E CONFLUÊNCIAS DRAMÁTICAS NO “ATL NTICO NEGRO” Ana Luíza Vieira Kehdi - O OCIDENTE E O OUTRO: DOMINAÇÃO COLONIAL EM CORAÇÃO DAS TREVAS E “A MENOR MULHER DO MUNDO” Luciana Lis de Souza e Santos - LUCY: A FUGA PERFEITA É SEM VOLTA Amanda Lins Seabra Marques dos Santos - IDENTITARISMO E A BUSCA PELO ELO PERDIDO ENTRE O EU E O OUTRO NA LITERATURA MODERNA 13/07 - 8h às 10h Victor Coutinho Lage - SOBERANO, ANTROPÓFAGO Marta Regina Fernández y Garcia - DESMASCARANDO A PAZ LIBERAL A PARTIR DA CULTURA BATEBOLAS Giorgio Garcia Cristofani - A COLONIALIDADE DO “DESENVOLVIMENTO”: DEBATES SOBRE PODER, MEMÓRIA E COMUNIDADE NO FILME NARRADORES DE JAVÉ Lucas Laurentino de Oliveira - POETA PORTUGUÊS, CIDADÃO BRASILEIRO, PROFESSOR AMERICANO: JORGE DE SENA PELO MUNDO Joao Paulo Costa Alves - O OLHAR TURÍSTICO-CULTURAL NA REVISTA TRAVEL IN BRAZIL NA PERSPECTIVA DO DEPARTAMENTO IMPRENSA E PROPAGANDA: IDEOLOGIA E (INTER)NACIONALISMO 31 - GÊNERO E TRADUÇÃO: AS VOZES FEMININAS NA LITERATURA ESPANHOLA E HISPANOAMERICANA E SUAS REPRESENTAÇÕES NO SISTEMA LITERÁRIO BRASILEIRO Coordenadoras: María del Mar Paramos Cebey, Luciana Ferrari Montemezzo 14/07 - 8h às 10h María del Mar Paramos Cebey - A MULHER NOS CONTOS DE EMILIA PARDO BAZÁN: UMA PROPOSTA DE TRADUÇÃO COLETIVA E FEMINISTA Darwin Ariel Amador Valdez - MULHER, DITADURAS E ARTE: REPRESENTAÇÕES DA MULHER E SEU PAPEL NA PROTESTA EM AMÉRICA LATINA Lucie Josephe de Lannoy - MULHERES AUTORAS E TRADUTORAS DE LITERATURA LATINO-AMERICANA: UMA REFLEXÃO A PARTIR DA EXPERIÊNCIA NA FORMAÇÃO DE TRADUTORAS Bárbara Loureiro Andreta - O PROTAGONISMO FEMININO NAS LUTAS POR LIBERDADE E IGUALDADE SOCIAL: LA TRIBUNA, DE EMILIA PARDO BAZÁN 14/07 - 14h às 16h Luciana Ferrari Montemezzo - A NÚMERO 59 DE 1997: ANA ORANTES, VIOLÊNCIA DE GÊNERO, REALIDADE, FICÇÃO E TRADUÇÃO Andrea Cristiane Kahmann - LITERATURA DE MULHERES LATINO-AMERICANAS EM TRADUÇÃO NO BRASIL Fernanda de Paula Araújo - ANA MARÍA MATUTE: VOZ E ARTE DESCONTRUÍDA EM TEMPOS DE REPRESSÃO Ariane Fagundes Braga e Luciana Ferrari Montemezzo - VOZES FEMININAS NA LITERATURA ESPANHOLA CONTEMPORÂNEA: CONEXÕES ENTRE MULHERES AFRICANAS E EUROPEIAS EM PALMERAS EN LA NIEVE DE LUZ GABÁS 32 - INTERARTES: LITERATURA E SUAS INTERFACES Coordenadores(as): Sandro Santos Ornellas, Lisa Carvalho Vasconcellos, Cassia Dolores Costa Lopes 11/07 - 14h às 16h Irma Caputo - ESCRITAS PERFORMATIVAS: DE ONDE VEM ESSA VOZ? Jorge Andrés Manzi Cembrano - VENTRILOQUISMO E INDIRETO LIVRE NA PROSA DE NUNO RAMOS Fábio Barbosa da Silva - QUANDO A ENUNCIAÇÃO ROÇA E ARRANHA A SUPERFÍCIE: O TEXTO CLARICIANO E O EXPRESSIONISMO ABSTRATO Vanessa Carneiro Rodrigues - CERZIDO INVISÍVEL: O PARADOXO DA MODERNIDADE EM RUA E PARANOIA Paulo Marcelo Fehlauer - O QUE DIZEM AS IMAGENS? PERTURBAÇÕES DA FOTOGRAFIA EM SERGIO CHEJFEC E JOCA REINERS TERRON 12/07 - 8h às 10h Raisa Gonçalves Faetti - O QUE SE DOCUMENTA SE ISTO NÃO É UM DOCUMENTÁRIO? Daniel Souza de Oliveira - CRÔNICAS DE RESISTÊNCIA: GENEALOGIA DO PODER NA CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA Gabriela Fernandes de Carvalho - OS FILHOS DA DITADURA E A REMONTAGEM DA HISTÓRIA Sandro Ornellas - POETA-ETC.: POESIA E OUTRAS ARTES NO REALISMO CAPITALISTA ARTE 12/07 - 14h às 16h Juliana Pádua Silva Medeiros e Mariana Amargós Vieira - O ANALÓGICO FACE A FACE COM O DIGITAL: UM ESTUDO COMPARATIVO DAS POTENCIALIDADES SÍGNICAS DAS DIFERENTES EDIÇÕES DE DUAS OBRAS PUBLICADAS PELA EDITORA CAIXOTE Vanessa de Carvalho Santos - PAMELA E LEVEL 26: DARK ORIGINS: QUAIS OS LIMITES DO ROMANCE? Maruzia de Almeida Dultra - POÉTICAS DA EDIÇÃO EM FIO CONDUTOR' DE LAURA CASTRO: AS ARTES DO LIVRO E DO VÍDEO A PARTIR DA LITERATURA Carla da Silva Miguelote - DO TEXTO PARA A VIDA: DISPOSITIVOS DE ESCRITA PARA DESLOCAMENTOS DO COTIDIANO Suzane Lima Costa - UM E-PISTOLÁRIO: DO CARTÃO-POSTAL À CARTA COMO MONTAGEM 13/07 - 8h às 10h Luciana Caeté Busson Ferreira - OSWALD DE ANDRADE E VLADÍMIR MAIAKÓVSKI NO PALCO ANTROPÓFAGO DOS MARTINEZ CORRÊA Brendon de Alcantara Diogo - MACHADO DE ASSIS EM CENA: CARNAVALIZAÇÃO E TEATRO ÉPICO EM A IGREJA DO DIABO, DA CIA. BOCCACCIONE Saulo Lopes de Sousa - CAPITU, UMA ÓPERA GESTUAL Roberto Carlos Morettho - O CONCEITO DE CORO/CORALIDADE NAS DRAMATURGIAS MODERNAS E CONTEMPOR NEAS Valerie Osorio-Restrepo - TEATRO DIGITAL: A CONSTRUÇÃO DE CENAS DA INTIMIDADE PÚBLICA 13/07 - 14h às 16h Luciana Abreu Jardim - BARROCO FLORAL LAHAR: CRUZAMENTOS DAS FLORES DE GEORGIA O'KEEFFE NA POÉTICA LAHARSISTA SERGUILHIANA Karina Frez Cursino - OS MODOS DE VER NA OBRA DE FERNANDO NAMORA: LITERATURA, PINTURA E CINEMA Bento Matias Gonzaga Filho - ”OLHOS NOS OLHOS” PARA O ABISMO PRATEADO Paulo Roberto Ramos - A MÚSICA EM MEMÓRIAS DO CÁRCERE Jacqueline Nunes Brunet - MUSICALIDADES DO RONDÓ DOS CAVALINHOS, POEMA DE MANUEL BANDEIRA 14/07 - 8h às 10h Midian Angélica Monteiro Garcia - INTENSIDADES POÉTICAS NO CINEMA DE KLEBER MENDONÇA Maria de Abreu Altberg - PERCORRER MUNDOS: TRANSCRIAÇÃO E VORACIDADE VOCAL EM VAGA CARNE Eduardo Reis Silva - A REGIÃO-MÃE NAS LENTES DE PEDRO ALMODÓVAR E A POÉTICA DO DESAPARECIMENTO Paula Alice Baptista Borges - O QUE É O INFANTIL? PERSPECTIVAS, EXPECTATIVAS E TABUS TRANSMIDIÁTICOS A PARTIR DE MIÚDA E O GUARDA-CHUVA Cassia Dolores Costa Lopes - NA ATMOSFERA DA FEIRA-LIVRE, O ENCONTRO DA LITERATURA COM OUTRAS MANIFESTAÇÕES ARTÍSTICAS 33 - LEITURA E ESCRITA LITERÁRIAS EM SALA DE AULA: DIMENSÕES TEÓRICAS E PRÁTICAS Coordenadoras: Andresa Fabiana Batista Guimarães, Gabriela Rodella de Oliveira, Sarah Vervloet Soares 11/07 - 14h às 16h Juliete Rosa Domingos - DAS IMPRESSÕES ÀS EXPRESSÕES DA POETICIDADE: UMA PROPOSTA DE MEDIAÇÃO DE LEITURA DO LIVRO MIL PÁSSAROS DE PAPEL (2018), DE SEVERINO RODRIGUES Sarah Vervloet Soares - ESCREVER NO ANONIMATO: MODOS DE ESCRITA LITERÁRIA NA ESCOLA Nazarete Andrade Mariano - O EMERGIR DE OUTRA CENA Camila Franquini Pereira - A EXPERIÊNCIA DE AUTORIA NA ESCOLA A PARTIR DA LEITURA DE LITERATURA DE CORDEL Israel Silva Soares - TRABALHOS COM TEXTOS LITERÁRIOS NA AULA DE LÍNGUA PORTUGUESA: UMA PROPOSTA DE ATIVIDADE A PARTIR DOS ROMANCES OS MISERÁVEIS, DE VICTOR HUGO, E O QUINZE, DE RACHEL DE QUEIROZ 12/07 - 14h às 16h Carina Ferreira Lessa - POESIA SEMPRE: PESQUISA E LITERATURA COMO CAMINHOS PARA A SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA Gabriela Rodella de Oliveira - MEMORIAIS E DIÁRIOS DE LEITURA NA FORMAÇÃO DOCENTE Maria Fernanda Alvito Pereira de Souza Oliveira - LIVROS, LEITURAS E RELAÇÕES HUMANAS PERMEADAS PELA LITERATURA NA ESCOLA. ANÁLISE DE ESCRITOS DE FORMANDOS EM LETRAS Juliana Marques da Silva Nunes - DOM CASMURRO SOB AS LENTES DA IMAGOLOGIA: ENSINO DE LITERATURA PARA ALÉM DA HISTÓRIA LITERÁRIA Eider Ferreira Santos - CARTAS DO LEITOR: PRÁTICAS DE LEITURA LITERÁRIA SUBJETIVA NA EDUCAÇÃO BÁSICA EM CONTEXTO DE AULAS REMOTAS 13/07 - 8h às 10h Daniela Batista Santos e Osmar Moreira dos Santos - LITERATURA E LETRAMENTO MATEMÁTICO: DIÁLOGO INTERDISCIPLINAR, CRÍTICO E REFLEXIVO Júlio César Lima Fernandes - AS BRUXINHAS DE EVA FURNARI: PRÁTICA DE LEITURA LITERÁRIA COM IMAGENS Tânia Pinto dos Santos Souza - A LITERATURA COMO BEM INCOMPRESSÍVEL: UM OLHAR POR MEIO DA INICIAÇÃO CIENTÍFICA NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA Andresa Fabiana Batista Guimarães - AS PRÁTICAS DE LEITURA LITERÁRIA NO ENSINO TÉCNICO INTEGRADO: UM OLHAR ANALÍTICO Luzimar Silva de Lima - IMPLICAÇÕES ENTRE PÓS-MODERNISMO E LITERATURA DE CULTURA DE MASSA: PROBLEMATIZANDO A PRESENÇA DOS BEST-SELLERS NA ESCOLA 35 - LITERATURA E DISSONÂNCIA Coordenadores: André Dias, Rauer Ribeiro Rodrigues, Felipe Gonçalves Figueira 12/07 - 8h às 10h Frederico van Erven Cabala - "NÃO SERÁ REPRESENTADA": REPERCUSSÃO INICIAL DA TRILOGIA DA DEVORAÇÃO, DE OSWALD DE ANDRADE Gustavo Rodrigues da Silva - O IMPRESSIONISMO NAS RUBRICAS DOS ESPERPENTOS DE RAMÓN MARÍA DEL VALLE-INCLÁN Maria Fernanda Garbero - MEDEIA E A TRADUÇÃO EM TRÊS ATOS Paula Sandroni - ANTONIO ABUJAMRA: EM BUSCA DO "ATOR CIENTÍFICO" Paulo Ricardo Berton - O DRAMA FECHADO COMO UMA FORMA LITERÁRIA DE ENGAJAMENTO IDEOLÓGICO DISSONANTE 13/07 - 8h às 10h André Luiz Menezes de Morais - O POETA MEDÍOCRE DE ADÍLIA LOPES Carina Marques Duarte - "COMO ULISSES TE BUSCO E DESESPERO": O EXÍLIO NA LÍRICA DE MANUEL ALEGRE Herculano Tiago da Silva - LAR,: O CORPO E AS MEMÓRIAS EM ARMANDO FREITAS FILHO Maéve Melo dos Santos - INTERVENÇÕES EPISTÊMICAS SOBRE A BARBÁRIE E A RETÓRICA DO ÓDIO CONTRA PAULO FREIRE Marcos Rogério Heck Dorneles - ELOS E EMBATES EM POEMAS DE SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN. 14/07 - 8h às 10h Amanda de Carvalho Ferreira - CAMILO CASTELO BRANCO: INQUIETAÇÕES E INCÔMODOS COM O ANTIGO E O NOVO REGIME EM PORTUGAL Anna Paula Soares Lemos - CRIOGENIA DE D.: UM DIÁRIO ÍNTIMO DO MUNDO CONTEMPORÂNEO Carolina de Castro Wanderley - A VISÃO DISSONANTE DA PESTE NEGRA PELA VOZ CARNAVALIZADA DE MAQUIAVEL Ilka Vanessa Meireles Santos e Marcos Antônio Fernandes dos Santos - PODE O SUBALTERNO FALAR? LITERATURA, MEMÓRIA E RESISTÊNCIA EM FIM DOS MEUS NATAIS DE MACARRONADAS, DE GENI GUIMARÃES Felipe Gonçalves Figueira - A ÉTICA DOS ESPAÇOS DEGRADADOS NOS FOLHETOS DE ANTÔNIO FRANCISCO 14/07 - 14h às 16h Mireille Marie Garcia - DO REGIONAL AO UNIVERSAL: IDENTIDADE E TIPOLOGIA EM DE MIM JÁ NEM SE LEMBRA, DE LUIZ RUFFATO Pauline Champagnat - TORTO ARADO: AFRODESCENDÊNCIA E QUESTIONAMENTO DAS DESIGUALDADES SOCIAIS Joelma de Araújo Silva Resende e Raimunda Maria dos Santos - PROCESSO SOCIAL E FORMA LITERÁRIA: AS CONTRIBUIÇÕES DE FRANCO MORETTI PARA O ENTENDIMENTO DA EVOLUÇÃO DA LITERATURA MODERNA Luísa Osório Rizzatti - ENTRE RUÍDOS E SILÊNCIOS: AS SONORIDADES DA RUPTURA EM FRANZ KAFKA André Dias - RUA ALCINDO GUANABARA, 17 OU O CORPO VIVO DO TEATRO 15/07 - 8h às 10h Daniel Reis Pessanha - AUTO DA COMPADECIDA E FARSA DA BOA PREGUIÇA: OS MARCADORES SOCIAIS E A SEGREGAÇÃO NA SOCIEDADE BRASILEIRA Priscila Nogueira da Rocha - COMMEDIA IN VERSI: A COMÉDIA "ROUBADA" DE MAQUIAVEL Renato Fabrete Hasunuma - "O PRECEPTOR" DE LENZ E SUA ADAPTAÇÃO POR BERTOLT BRECHT Vanessa Cianconi - "FLIP FLOP FLY!" O SONHO, OU O DEVANEIO, AMERICANO DE TONY KUSHNER 15/07 - 14h às 16h Cristiane Corsini Lourenção e Elizabeth Cardoso - AS VOZES DISSONANTES EM O REMORSO DE BALTAZAR SERAPIÃO, DE VALTER HUGO MÃE Elizabeth Cardoso e Carolina dos Santos Ferreira - REIVINDICANDO O DIREITO À OPACIDADE: TECNOLOGIAS DE RESISTÊNCIA E AFETO EM CAROLINA MARIA DE JESUS E FRANÇOISE EGA. Ygor de Lima Leite Ribeiro - ENTRE O DOTE E A HERANÇA: AZEVEDO E ALMEIDA Fabiane Lemos de Freitas Garcia e Rauer Ribeiro Rodrigues - PLURISSIGNIFICADOS SIMBÓLICOS DO ESPAÇO NO CONTO "NOTURNO", DE ALCIENE RIBEIRO 36 - LITERATURA E RELIGIOSIDADE Coordenadores: João Cesário Leonel Ferreira, Marcos Lopes, José Cândido de Oliveira Martins 11/07 - 14h às 16h Marcos Lopes – SACRAMENTO E LITERATURA José C Ndido De Oliveira Martins – ESPIRITUALIDADE E SAGRADO NA ESCRITA DE MARIA ONDINA BRAGA Debora Domke Ribeiro Lima – O EXÍLIO EXISTENCIAL NA COMPOSIÇÃO DO FAUSTO DE PESSOA Ana Maria Ferreira Côrtes – A DAMA E O UNICÓRNIO" E AS REPRESENTAÇÕES DO SAGRADO NAS POÉTICAS DE MARIA TERESA HORTA E DORA FERREIRA DA SILVA Lorraina Almeida Serrão De Souza – O SAGRADO PRESENTIFICADO EM SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN: A RENOVAÇÃO DE SI MESMO EM COMUNHÃO COM A NATUREZA 12/07 - 14h às 16h Ana Cristina Steffen E Luís Alberto Dos Santos Paz Filho – A RELIGIOSIDADE ENTRE VESTÍGIOS DO SAGRADO E CONSIDERAÇÕES SOBRE O PROFANO EM DINAH SILVEIRA DE QUEIROZ E LÚCIO CARDOSO José Barroso De Oliveira Filho – A RELIGIOSIDADE NO ROMANCE ATALIBA, O VAQUEIRO, DE FRANCISCO GIL CASTELO BRANCO Elcione Ferreira Silva - A RELIGIOSIDADE NO ROMANCE PERDIÇÃO DE, LUIZ VILELA Pedro Barbosa Lima Júnior - O RELATO DE CONVERSÃO COMO CONFISSÃO E APOLOGIA: UM ESTUDO DA AUTOBIOGRAFIA DE GUSTAVO CORÇÃO Glaucio Varella Cardoso - TENHO UM TAMBOR DENTRO DO PEITO: LUTA E RELIGIOSIDADE EM CARLOS DE ASSUMPÇÃO 13/07 - 8h às 10h José Sival Soares – PRAZER E ALEGRIA - DUAS QUESTÕES RELIGIOSAS NO PENSAMENTO DE RUBEM ALVES Maria Júlia Pereira - AS PERSONAGENS MYRIEL E G., EM LES MISÉRABLES, DE VICTOR HUGO: CONVERGÊNCIA AXIOLÓGICA PELA MODALIZAÇÃO DISCURSIVA Julia Araujo Borges - O LUGAR DIVINO NO DEVIDO LUGAR Wandersson Hidayck Silva – O SONO E O DIVINO NA LITERATURA 13/07 - 14h às 16h João Cesário Leonel Ferreira – O EVANGELHO DE MATEUS, EDITORES E LEITORES Antonio Egno Do Carmo Gomes - A SEGUNDA IMAGEM DO PAINEL QUADRÍPTICO DE MATEUS: UMA PROPOSTA DE LEITURA DA PARÁBOLA DAS DEZ VIRGENS Gabriel Aquino da Cruz - CENA-PADRÃO: O CHAMADO DIVINO NO ANTIGO TESTAMENTO E NOS EVANGELHOS João Paulo Maciel – ENTRE JESUS E ANÁS, PEDRO Lucas Viana de Oliveira Júnior – O CAPÍTULO 5 DO EVANGELHO DE LUCAS: UM PONTO DE PARTIDA, VÁRIOS CAMINHOS 14/07 - 8h às 10h Isabelle Maria Soares – "DAS NIBELUNGELIED" E "VÖLSUNGA SAGA" ENTRE CRISTIANISMO E PAGANISMO: UMA LEITURA COMPARATIVA Rafaela Câmara Mara Simões Da Silva – "PES SOIT O VOS". A ESPIRITUALIDADE NA QUESTE DEL SAINT GRAAL Larissa Elisabete Fumis – A FÉ NEGRA NAS OBRAS DE EXÍLIO DE STEFAN ZWEIG E ULRICH BECHER Priscilla Cláudia Pavan De Freitas – A RELIGIOSIDADE E A CULPA: O EPISÓDIO DE AISHA E SAFWAN, EM A JOIA DE MEDINA, DE SHERRY JONES Mariana Soares Da Cunha Leite – BODAS ÀS AVESSAS: SOBRE O SONHO PROFÉTICO DE GIL VICENTE N'O TEMPLO DE APOLO 37 - LITERATURA E TECNOLOGIA - FUTUROS (IM)POSSÍVEIS Coordenadores: Vinícius Carvalho Pereira, Andréa Catrópa da Silva, Rejane Cristina Rocha 12/07 - 14h às 16h Rejane Cristina Rocha - MEMÓRIA LITERÁRIA: ARQUIVO EM TEMPOS DE BASE DE DADOS Flaviano Maciel Vieira - POSSÍVEIS TENDÊNCIAS DA POESIA DIGITAL FEITA NO BRASIL Elisabeth Silva De Almeida Amorim - PINTANDO "OS SERTÕES", DE EUCLIDES DA CUNHA EM REDE: ENTRE LIVROS, MURO E TELAS DE SILVIO JESSÉ Miguel Rettenmaier Da Silva - DE HAYLES A RETTBERG: O QUE SE FAZ DO "MONSTRO ESPERANÇOSO" NO BRASIL? Graziela Campana Drago - UMA INTERPRETAÇÃO CIBORGUE DE SHELLEY E LE GUIN 13/07 - 8h às 10h Jéssica De Souza Carneiro - REFLEXÕES SOBRE A INSTAPOESIA/INSTANARRATIVA: UM NOVO FILÃO PARA A INDÚSTRIA CRIATIVA Fernanda Barroso E Silva - A PRODUÇÃO INSTAPOÉTICA DE RUPI KAUR E AS NOVAS RELAÇÕES ENTRE OS CAMPOS DA LITERATURA E DA TECNOLOGIA Maiara Alvim De Almeida - REDES SOCIAIS COMO ESPAÇOS PARA CONSTRUÇÃO DE NARRATIVAS ELETRÔNICAS: ANALISANDO OS CASOS DE DUAS ARTISTAS BRASILEIRAS Maria Elisa Rodrigues Moreira - UM ATLAS EXPANDIDO: OS ESPACIALISTAS E SEU INSTAGRAM Denilson Patrick Oliveira Silva e Vinícius Carvalho Pereira - LITERATURA E TWITTER: ANÁLISES SOBRE A ESCRITA DO GÊNERO TUITEROMANCE Lilian Pacheco Monteiro Da Costa e Rogério De Souza Sergio Ferreira - O FAZER LITERÁRIO EM ÁUDIO: ESTUDO SOBRE O PODBOOK 13/07 - 14h às 16h Giovana Tavernari Payão - CONTRIBUIÇÕES DE ROLAND BARTHES PARA SE PENSAR A LITERATURA NO CONTEXTO DIGITAL Paulo Sergio Martins - SISTEMA LITERÁRIO E HIPERCULTURALIDADE Emanoel Cesar Pires De Assis - LEITURA DISTANTE: ENTRE POTENCIALIDADES E DESAFIOS Vinícius Carvalho Pereira - POESIA DIGITAL BRASILEIRA EM FLASH: UMA LEITURA DISTANTE Natália Corbello Pereira - O TEMPO MEDIADO: RELAÇÕES POÉTICAS E ESTÉTICAS ENTRE HUMANIDADE E TECNOLOGIA 14/07 - 8h às 10h Pedro De Souza Melo e Giovana Lasalvia Teles - LITERATURA ELETRÔNICA EM DEBATE: ELEMENTOS METAFICCIONAIS EM KENTUCKY ROUTE ZERO Jorge Luiz Adeodato Junior - DEIXEM-ME CÁ, EU E MEU AVATAR: CAMINHOS PARA UMA LUDOLÍRICA DE GRAND THEFT AUTO V EM 'ROCK, STAR, NORTH', DE CALUM RODGER Márcio Roberto Do Prado - AS VÁRIAS FACES DE UM BRUXO Elisangela Alves Sobrinho Arbex e Vinícius Carvalho Pereira - A LITERATURA INFANTO-JUVENIL EM AMBIENTES VIRTUAIS IMERSIVOS (AVI): O CASO DA OBRA EU - DIÁRIO DE UMA GAROTA CHOCRÍVEL Lion Santiago Tosta - Unravel - VESTÍGIOS DE UMA POÉTICA DAS COLEÇÕES 14/07 - 14h às 16h Andréa Catrópa Da Silva - THE BEST OF BRAZIL IS THE BRAZILIAN - MEMES E IDENTIDADE NACIONAL Heloisa Lopes Da Silva De Andrade - BONECA ROBÔ E BONECA DE KAFKA: DIÁLOGOS ENTRE A LITERATURA E A INTERNET DAS COISAS Otávio Guimarães Tavares - SINTEXT: PROFANAÇÃO E INSUBMISSÃO DIGITAL Alamir Aquino Corrêa - PRODUÇÃO DIGITAL VERNÁCULA E A CULTURA DO CANCELAMENTO Rogerio Barbosa Da Silva - E-IMIGRAÇÕES, DE ALCKMAR LUIZ DOS SANTOS: O TRÂNSITO DAS LINGUAGENS E A REINVENÇÃO DO ESPAÇO EXISTENCIAL NO POEMA DIGITAL 38 - LITERATURA E TESTEMUNHO: TEORIAS, LIMITES, EXEMPLOS Coordenadores: Wilberth Claython Ferreira Salgueiro, Marcelo Paiva De Souza, Marcelo Ferraz De Paula 11/07 - 14h às 16h Inês de Souza Oliveira - O TESTEMUNHO DE UMA ESTRANGEIRIDADE: O SILÊNCIO NA ESCRITA DE SAMUEL RAWET Isabela Magalhães Bosi - POÉTICA DO INDIZÍVEL: O TESTEMUNHO DO INTESTEMUNHÁVEL EM HIROSHIMA MON AMOUR Thais Neves Marcelo - A EXEMPLARIDADE DA PERDA SINGULAR: AS IMPOSSIBILIDADES DERRIDIANAS E O LUTO EM ANTÍGONA GONZÁLEZ Luciano Martins da Conceição - A ESCRITA METAFICCIONAL E PÓS-MEMORIALÍSTICA EM PROCURA DO ROMANCE, DE JULIÁN FUKS Thais da Silva César - ENTRE FEITORES, SENHORES E DOUTORES; O TESTEMUNHO DE "DIÁRIO DO HOSPÍCIO" 12/07 - 14h às 16h Sirlei Da Silva Fontoura - LITERATURA, TESTEMUNHO E DEVER DE MEMÓRIA EM PABLO NERUDA Wilberth Claython Ferreira Salgueiro - ENQUANTO AINDA EXISTIREM SERES SUJOS: ESTUPRO E POLÍTICA NO POEMA "VERDADE SEJA DITA" (2014), DE MEL DUARTE Fabiana da Costa Gonçalo - O POETA FERREIRA GULLAR NOS ANOS 70: EXILADO, FUGITIVO, SOBREVIVENTE Nelson Martinelli Filho - ÍNDICES DA IRREPRESENTABILIDADE NA POESIA PRODUZIDA EM CÁRCERE POLÍTICO NA DITADURA MILITAR BRASILEIRA Marcelo Ferraz de Paula - O MEDO: DIÁLOGOS POÉTICOS BRASIL-PORTUGAL 13/07 - 8h às 10h Vitória Santos Carvalho - RESISTÊNCIA FEMINISTA COMO TESTEMUNHO DA CRISE BRASILEIRA NA POESIA CONTEMPOR NEA: UMA LEITURA DE "GOLPE: ANTOLOGIA-MANIFESTO" Nadja Karoliny Lucas de Jesus Almeida - ESCREVIVENDO: MEMÓRIAS E TESTEMUNHOS DE MULHERES NEGRAS ESCRITORAS EM GOI NIA Edson Sousa Soares - A SEDUÇÃO FEMININA NO LAGER: UMA LEITURA DE LILITH, DE PRIMO LEVI Maria Gabriela Wanderley Pedrosa - À SOMBRA DO TRAUMA: VIOLÊNCIA E TESTEMUNHO EM OBRAS COREANAS DE AUTORIA FEMININA Antoniele de Cássia Luciano - UMA CARTA E UM TRATADO DE PAZ: NOTAS SOBRE MEMÓRIA E RESISTÊNCIA EM TESTEMUNHOS DE ESCRAVIZADOS BRASILEIROS DO SÉCULO XVIII 13/07 - 14h às 16h Vanusia Amorim Pereira dos Santos - LITERATURA E RESISTÊNCIA: RASTROS DA DITADURA CIVILMILITAR NA OBRA DE ANTÔNIO TORRES Jaqueline Larissa Freitas Maia - VOZES SILENCIADAS, PALAVRAS EVOCADAS, TESTEMUNHO FICCIONAL EM K. RELATO DE UMA BUSCA, DE BERNARDO KUCINSKI Sheila Vieira Nanes Dos Santos Galvão e Thaisa Rochelle Pereira Martins - MEMÓRIA, HISTÓRIA E TESTEMUNHO EM AZUL CORVO, DE ADRIANA LISBOA Liana Marcia Gonçalves Mafra - O DEVIR-OUTRO DO TESTEMUNHO NO CONE SUL 14/07 - 8h às 10h Maria do Socorro Camelo Sousa - AS VOZES TESTEMUNHAIS NO ROMANCE MILAGRE NO BRASIL (1979), DE AUGUSTO BOAL Maria Cristina Vianna Kuntz - A DOR DE MARGUERITE DURAS: MEMÓRIA E TESTEMUNHO Marcelo Paiva De Souza - TESTEMUNHO E MEMÓRIA DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL NA PEÇA DO PIACHU... (DEBAIXO DA TERRA...), DE TADEUSZ RÓŻEWICZ: ALGUMAS QUESTÕES DE TRADUÇÃO Karina Vilela Vilara - DO CORCUNDINHA DE WALTER BENJAMIN AO REI DE HERTA MULLER: O DESDOBRAR DO PRESSÁGIO EM TESTEMUNHO E A QUESTÃO DO TRAUMA NO LESTE EUROPEU Ednilson Rodrigo Pedroso - TEMPO E MEMÓRIA EM DOSTOIÉVSKI E EM GRACILIANO RAMOS: ANÁLISE COMPARADA DAS OBRAS "ESCRITOS DA CASA MORTA" E "MEMÓRIAS DO CÁRCERE" 14/07 - 14h às 16h Carla Dameane Pereira de Souza - REGISTRAR O PRESENTE COMO UM COMPROMISSO COM A MEMÓRIA E O FUTURO: O ATIVISMO INTELECTUAL NOS TESTEMUNHOS LITERÁRIOS E VISUAIS DE EDILBERTO JIMÉNEZ QUISPE Inara Teles Xavier e Cátia Inês Negrão Berlini de Andrade - ET TU N'ES PAS REVENU DE MARCELINE LORIDAN-IVENS: CONVERGÊNCIAS ENTRE O DISCURSO LITERÁRIO E O TESTEMUNHO Isabela Cordeiro Lopes - "EM NOSSO COLCHÃO DESMEMORIADO TUDO SE CONFUNDE": FRONTEIRAS ENTRE FICÇÃO E TESTEMUNHO EM NONA FERNÁNDEZ Priscila Borges de Novaes e Adriana De Borges Gomes - A INTERSECÇÃO ENTRE OS DISCURSOS HISTÓRICO E LITERÁRIO NO ROMANCE ESSA GENTE, DE CHICO BUARQUE Sérgio Roberto Massagli - REPRESENTAÇÕES DO MESSIANISMO E DO CORONELISMO NO ROMANCE SOBRE A GUERRA DO CONTESTADO ELES NÃO ACREDITAVAM NA MORTE, DE FREDERECINDO MARÉS DE SOUZA 39 - LITERATURA, EDUCAÇÃO INTERCULTURAL E CURRÍCULO ANTROPOFÁGICO Coordenadores(as): Marcia Paraquett, Ludmila Scarano Barros Coimbra, Marcos Antônio Alexandre 14/07 - 8h às 10h Gerson Rodrigues de Albuquerque - CANIBALIZANDO TEXTOS E IMAGENS, ENTRECRUZANDO IMAGINÁRIOS E NARRATIVAS DE LUGARES AMAZÔNICOS Lúcia Fernanda Pinheiro Coimbra Barros - NÃO QUEREMOS DIZER ADEUS Marcos Antônio Alexandre - O USO DOS MITOS E DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS COMO FERRAMENTAS PEDAGÓGICAS PROPOSITIVAS E INCLUSIVAS NO ENSINO DE LITERATURA NOS DIFERENTES NÍVEIS DE ENSINO 15/07 - 8h às 10h Hugo Jesus Correa Retamar - ALFONSINA STORNI, UMA MULHER DE VOZ PODEROSA NA POESIA LATINO-AMERICANA Ludmila Scarano Barros Coimbra - EM BUSCA DE CORPOS LÉSBICOS NO CORPO DO TEXTO LITERÁRIO: O DIREITO A UM ESPAÇO LESBIOGRÁFICO NA LITERATURA Márcia Paraquett - POR UMA EDUCAÇÃO LITERÁRIA LIVRE DE 'MACHOS GLORIOSOS': BREVES EXERCÍCIOS DE LEITURA DE PABLO NERUDA E GABRIELA MISTRAL 40 - LITERATURA, MÚSICA E ALTERIDADE: ELEMENTOS ESTÉTICOS E TEMÁTICOS COM/PARTILHADOS Coordenadores: Rafael Eisinger Guimarães, Gérson Luís Werlang, Roniere Silva Menezes 13/07 - 8h às 10h Mateus Pinheiro Baldi - O DEUS NO SILÊNCIO: EXÍLIO E RELIGIOSIDADE EM “NEOLITHIC MAN”, DE CAETANO VELOSO Yasmin Franca Merelim Magalhães - O NÃO-LUGAR COMO PROJETO ESTÉTICO EM SUGAR CANE FIELDS FOREVER Yasmin Lima de Carvalho - CAETANO VELOSO EM “ANJOS TRONCHOS”: UMA VOCOPERFOMANCE DA ATROFIA DA EXPERIÊNCIA NA CONTEMPORANEIDADE Lúcia Aparecida Felisberto Santiago - UM ATLAS SONORO-VISUAL PARA CAETANO VELOSO Leonardo Davino de Oliveira - CAETANO VELOSO REVISA E RASURA A POÉTICA DE CASTRO ALVES 13/07 - 14h às 16h Edilene Dias Matos - NA PANCADA DO GANZÁ: OS FUNDOS VILLA-LOBOS Carlos Eduardo Ferreira de Oliveira - Καετάνο ο Έλληνας: "O NAVIO NEGREIRO" DE CASTRO ALVES, PELO POETA TRÁGICO CAETANO VELOSO Adriane Lima Pinho - EM SOM MAGNÍFICO: O CANCIONISTA PROFETA EM CAETANO VELOSO E A UTOPIA AMAZÔNICA DE MÁRIO DE ANDRADE NO POEMA RITO DO IRMÃO PEQUENO Rafael Eisinger Guimarães - UMA PLAYLIST PARA ELON MUSK: O CIBERESPAÇO COMO UTOPIA (OU NÃO) NAS CANÇÕES “PELA INTERNET”, DE GILBERTO GIL, E “ANJOS TRONCHOS”, DE CAETANO VELOSO Ângela Maria Vasconcelos Sampaio Góes - UM VAMPIRO NA GELEIA GERAL BRASILEIRA: ANTROPOFAGIA E COSMOPOLITISMO NOS POEMAS-CANÇÕES DE TORQUATO NETO Bruna Pascoal Correa - “518-062” E “AM I WRONG”: MUSICALIDADE EM ENCONTRO DA HISTÓRIA, MEMÓRIA E IDENTIDADE 14/07 - 8h às 10h Maria Verônica da Silva - REMINISCÊNCIAS DE UM CANTO FEMININO NEGRO Pedro Bustamante Teixeira - “MONOMANIA”, “PROBLEMA MEU” E “SEM CONCERTO”: O TRÍPTICO DE CLARICE FALCÃO Artur Vinicius Amaro dos Santos - “NEM TUDO QUE VENDE, VEM DE MIM OU VENDE NÓS”: AS TRAVESSIAS POÉTICAS DO TRAVA LÍNGUAS DE LINN DA QUEBRADA Ana Luiza Martins - ESTÉTICA QUEER NA CANÇÃO BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA Hilário Mariano dos Santos Zeferino e Ana Lígia Leite e Aguiar - “TEM MANA NO RAP”: OUTRAS VOZES NO RAP CONTEMPORÂNEO 14/07 - 14h às 16h Daisy da Silva César e Thamires Aragão dos Santos - RELAÇÕES ENTRE LITERATURA E MÚSICA EM CANÇÕES DE ATORMENTAR, DE ANGÉLICA FREITAS Ticiane Flavia Martins da Cruz - POESIA ENTRE SOM E IMAGEM - UMA ANÁLISE DE COMPOSIÇÕES VERBIVOCOVISUAIS DE AUGUSTO DE CAMPOS Alcides Fernando Campos Gonçalves - UM ESTUDO SOBRE OS ASPECTOS MUSICAIS E A PAISAGEM SONORA DE OS SINOS DA AGONIA, DE AUTRAN DOURADO Viviane Aparecida Pandolfo Debortolli e Gérson Luís Werlang - A PAISAGEM SONORA EM A CASA DAS SETE MULHERES, DE LETÍCIA WIERZCHOWSKI Luis Henrique Garcia Ferreira - AS RELAÇÕES DE “FINNEGANS WAKE”, DE JAMES JOYCE COM A MÚSICA ERUDITA MODERNA E CONTEMPORÂNEA 41 - LITERATURA, ÉTICA E ESTÉTICA: TRANS/FORMANDO LEITORES NA ESCOLA E NA UNIVERSIDADE Coordenadoras: Juciane dos Santos Cavalheiro, Márcia Lopes Duarte, Sabrina Vier 13/07 - 8h às 10h Juciane dos Santos Cavalheiro e Keliane Costa dos Santos - A FORMA DOS PARATEXTOS EDITORIAIS NAS OBRAS BRASILEIRAS DE MILTON HATOUM: CONSTRUINDO O ARQUIVO E A MEMÓRIA PARA A LEITURA CRÍTICA LITERÁRIA Moema de Souza Esmeraldo - LETRAMENTO LITERÁRIO, ENSINO E DEMOCRACIA Gabriela Dal Bosco Sitta - LIÇÕES DE LEITURA NO CINEMA Crizeide Miranda Freire PRAÇA DA PEDRA AGENCIANDO LETRAMENTOS PARA INCLUSÃO Juciane dos Santos Cavalheiro - UM ARQUITETO DE PALAVRAS: MILTON HATOUM Marijane Costa Fernandes - VIOLÊNCIA E VINGANÇA EM NO CIRCO SEM TETO, DE RAMAYNA DE CHEVALIER 42 - LITERATURAS INSUBMISSAS E SABERES INDISCIPLINADOS: CONSTRUINDO FUTUROS ANCESTRAIS Coordenadoras: Fernanda Vieira de Sant Anna, Edimara Ferreira Santos 12/07 - 14h às 16h Larissa Fontinele de Alencar - FRATURAS POÉTICAS DA REXISTÊNCIA: AS MARCAS LITERÁRIAS DO GENOCÍDIO EM ESCRITURAS DE MULHERES INDÍGENAS Janda Montenegro - CAMINHOS PARA CURAR O MUNDO EM QUE VIVEMOS: AS LITERATURAS DE ELIANE POTIGUARA E DANIEL MUNDURUKU Ananda Machado e Vanessa Augusta do Nascimento Brandão e Costa - MULHERES INDÍGENAS E A LITERATURA CANTADA NO CIRCUM-RORAIMA Randra Kevelyn Barbosa Barros - O HAICAI POTIGUARA E A POÉTICA DO VIVO NAS LITERATURAS INDÍGENAS CONTEMPORÂNEAS 13/07 - 8h às 10h Joel Vieira da Silva Filho - MULHERES INDÍGENAS NA LITERATURA: QUANDO FALAM E QUANDO SÃO OUVIDAS? Paulo Marcelino dos Santos - SOBREVIVENDO À "MARGEM DO HOMEM BRANCO": RESISTÊNCIA INDÍGENA EM ORÉ AWÉ ROIRU’A MA, DE KAKÁ WERÁ JECUPÉ Gisele Novaes Frighetto - A QUEDA DO CÉU OU QUEM SÃO OS OUTROS? Priscila Maria de Barros Borges - PROTAGONISMO E RESISTÊNCIA FEMINISTA NAS HISTÓRIAS DE TRADIÇÃO AMAZÔNICAS Fernanda Cougo Mendonça - CULTURAS E LITERATURAS NA PAN-AMAZÔNIA (POÉTICA, SERVE PARA QUÊ?) 13/07 - 14h às 16h Jânderson Albino Coswosk - ESTRANHOS NO VILAREJO: JAMES BALDWIN E O RETORNO CONTEMPORÂNEO AOS CIRCUITOS AFRO-EUROPEUS Antonia Costa De Thuin - LA PLUS SECRÈTE MÉMOIRE DES HOMMES : MODOS DE USAR E DE PENSAR A PRODUÇÃO CONTEMPORÂNEA NÃO OCIDENTAL Ariane de Andrade da Silva - GEOGRAFIAS DA PALAVRA: A POÉTICA DE RAQUEL LIMA Neilci do Socorro Coelho dos Santos - AMEFRICANIDADE POÉTICA: UMA LEITURA DA OBRA LUGAR DE SE MORRER É TAMBÉM O POEMA, DE ROBERTA TAVARES 14/07 - 8h às 10h Patrícia Pereira da Silva - [GEO]ANCESTRALIDADE COMPARADA: POR UMA CRÍTICA DISSONANTE E DISSIDENTE Tatiana de Castro Lopes - ATRAVESSANDO GÊNEROS, CONSTRUINDO PONTES Leandro Souza Borges Silva - NARRATIVA A CONTRAPELO: ANCESTRALIDADE E RESISTÊNCIA NA (AUTO)BIOGRAFIA DE UM EX-ESCRAVO Gisane Souza Santana - PRÁTICAS SIMBÓLICAS: MODOS DE VIDA CONTRA-COLONIAL 14/07 - 14h às 16h Alana de Oliveira Freitas El Fahl e Cleidiane Cerqueira Carvalho - CAMPOS DESIGUAIS: UM ESTUDO DE TORTO ARADO, DE ITAMAR VIEIRA JÚNIOR Clara Sampaio Fernandes - IYAMI OSORONGA, OSUN E GABRIELA: UMA ANÁLISE INTERMIDIÁTICA DO MOSAICO FEMININO Luisa Araujo Peixoto - VOZES QUE EDITAM: O LIVRO COMO POTÊNCIA PARA GRUPOS COLONIZADOS Maria Inês Freitas de Amorim - REFLEXÕES SOBRE DIREITO À TERRA EM TORTO ARADO, DE ITAMAR VIEIRA JUNIOR 43 - LITERATURAS, AFRICANIDADES E DESCOLONIZAÇÃO: TEÓRICAS/OS (D)E PELES NEGRAS Coordenadores: Luiz Henrique Silva de Oliveira, Felipe Fanuel Xavier Rodrigues, Paulo Dutra 12/07 - 14h às 16h Maria Aparecida Andrade Salgueiro - ANCESTRALIDADE NEGRA NA PRODUÇÃO LITERÁRIA FEMININA NO BRASIL CONTEMPORÂNEO Thayza Alves Matos - EU NÃO SOU SEU NEGRO - A SUBJETIVIDADE DO SUJEITO NEGRO NAS PÁGINAS DE JAMES BALDWIN E NA PELÍCULA DE RAOUL PECK Isabela Cristina Silva Mesquita - A MEMÓRIA E A ESCRITA DE SI EM MAHOMMAH GARDO BAQUAQUA Vagner da Rosa Amaro - ANCESTRALIDADE AFRICANA E AUTORIA NEGRA BRASILEIRA 13/07 - 14h às 16h Fernando de Sousa Rocha - PENSANDO O PENSAR NAGÔ COM MUNIZ SODRÉ Gabriela Santos Barbosa - O CORTE DA LÍNGUA DE BELONÍSIA EM TORTO ARADO DE ITAMAR VIEIRA JUNIOR: INSURGÊNCIAS, DECOLONIZAÇÃO E CONTEMPORANEIDADES PERIFÉRICAS Iuri Dantas Encarnação - O QUE PODE O SILÊNCIO DO CORPO NEGRO? Felipe Fanuel Xavier Rodrigues - PROLEGÔMENOS DO ROMANCE ANCESTRAL 14/07 - 14h às 16h Fabiane Cristine Rodrigues - UMA DUPLA OUTRIDADE: ECOS DA COLONIALIDADE NA ESCRITA DE AUTORIA NEGRA FEMININA Roberta De Bon Silva Mesquita - OLEBA EDITORES E ETHALE PUBLISHING: UM ESTUDO COMPARADO ENTRE EDITORAS MOÇAMBICANAS Zildete Lopes de Sousa Gonçalves - A FORÇA ENUNCIATIVA AFRODESCENDENTE EM QUARTO DE DESPEJO, DE CAROLINA MARIA DE JESUS Luiz Henrique Silva de Oliveira - VISÕES DO CAMPO LITERÁRIO, SEGUNDO VENCIDOS E DEGENERADOS E QUARTO DE DESPEJO 44 - MACHADO DE ASSIS: ARTICULAÇÃO ENTRE REFLEXÃO ESTÉTICA E CRÍTICA SOCIAL Coordenadoras: Juracy Ignez Assmann Saraiva, Marinês Andrea Kunz 12/07 - 14h às 16h Juracy Assmann Saraiva - TEATRALIDADE EM QUINCAS BORBA Filipe de Freitas Gonçalves - UM PROCEDIMENTO ALEGÓRICO DO NARRADOR DE ESAÚ E JACÓ Mariluz Marçolla Ferreira Avrechack - O LEITOR TRANSFORMADO: A PERFORMANCE DE LEITURA E OS LUGARES VAZIOS EM DOM CASMURRO, DE MACHADO DE ASSIS William de Oliveira Tognolo - LIVROS, LEITORES E LEITURAS EM HELENA Débora Bender - MÚSICA ALEMà E AUSTRÍACA EM TEXTOS DE MACHADO DE ASSIS 13/07 - 8h às 10h Mateus Toledo Gonçalves - O AUTOR DE SI MESMO” E “MINEIRINHO” DIANTE DA VIOLÊNCIA Denise de Quintana Estacio - A VISTA DA JANELA: O SUBÚRBIO CARIOCA PELO OLHAR DE BENTO SANTIAGO E RICARDO CORAÇÃO DOS OUTROS Luiza Helena Damiani Aguilar - MACHADO DE ASSIS E A CARACTERIZAÇÃO DA PROSTITUTA EM “SINGULAR OCORRÊNCIA” Pedro Alegre - AS HORAS LIVRES: A CENA SOCIAL EM MACHADO DE ASSIS Renata Coutinho Villon - “ELES PODEM SOFRER”?: ANIMALIDADE E BIOPOLÍTICA NO “CONTO ALEXANDRINO”, DE MACHADO DE ASSIS 13/07 - 14h às 16h Silvia Maria Azevedo - IMPRENSA, SÁTIRA E HUMOR: BADALADAS DO SR. SEMANA, MACHADO DE ASSIS CRONISTA DA SEMANA ILUSTRADA (1869-1876) Valdiney Valente Lobato de Castro - OS CONTOS DE MACHADO DE ASSIS: DOS ESPAÇOS PRIVADOS DOS LARES ÀS RUAS DO RIO DE JANEIRO Iasmim Santos Ferreira - ANTUNES, PARASITA DA MESA: RETRATO DAS AQUARELAS Guilherme de Souza Lopes - O (DES)LUGAR “POETA-FILÓSOFO” NA SOCIEDADE QUIMÉRICA: BREVE COMPARAÇÃO ENTRE “O PAÍS DAS QUIMERAS” E “UMA EXCURSÃO MILAGROSA”, DE MACHADO DE ASSIS Paul Dixon - “O EMPRÉSTIMO” COMO EXEMPLO DO “SENTIMENTO ÍNTIMO” DE MACHADO DE ASSIS 14/07 - 8h às 10h Letícia Mayer Borges - O ETHOS E A CENOGRAFIA DA ELITE FLUMINENSE CONTEMPORÂNEA À ABOLIÇÃO: ANÁLISE DE DUAS CRÔNICAS DE MACHADO DE ASSIS Monica Chagas da Costa - “PAI CONTRA MÃE”: O QUE DECIDE QUEM PODE GESTAR EM MACHADO DE ASSIS? Ronice Kelmis de Oliveira da Silva Macedo - ENTRE CAPRICHOS E FAVORES: O INFORTÚNIO E O NÃOLUGAR DO POBRE NA SOCIEDADE OITOCENTISTA DE “VIRGINIUS”, DE MACHADO DE ASSIS Márcia Rohr Welter - MANIFESTAÇÕES DA MEDICINA POPULAR EM MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS Atilio Bergamini Junior - A FIGURAÇÃO DO DESTINO DOS LIBERTOS NO MEMORIAL DE AIRES 14/07 - 14h às 16h Válmi Hatje-Faggion - TRADUÇÕES PARA O INGLÊS DE “O ALIENISTA”, DE MACHADO DE ASSIS, E AS INSTÂNCIAS EDITORIAIS DE VEÍCULOS DE DIVULGAÇÃO Marcos Antonio Rodrigues - MACHADO DE ASSIS E ÁLVARO LINS LEITORES DE EÇA: A FICÇÃO QUEIROSIANA VISTA EM DOIS MOMENTOS DA CRÍTICA BRASILEIRA Bruna da Silva Nunes - A VIÚVA SOBRAL NÃO BRINCA COM FOGO: MOÇAS CASADOIRAS E SOLTEIROS INCONVICTOS EM DOIS CONTOS DE MACHADO DE ASSIS Tatiane Felipe Santana Bovolato - O OBSERVADOR MACHADO DE ASSIS NO JORNAL O CRUZEIRO Regina Zilberman - MACHADO DE ASSIS CRÍTICO TEATRAL: MÃE, DE JOSÉ DE ALENCAR 45 - MANIFESTAÇÕES DE RESISTÊNCIA NA LITERATURA SUL-AMERICANA CONTEMPORÂNEA: PODER, HISTÓRIA, MEMÓRIA Coordenadoras: Renata Rocha Ribeiro, Luciana Paiva Coronel, Gínia Maria Gomes 12/07 - 8h às 10h Janaína Buchweitz e Silva - DITADURA MILITAR NA VISÃO DAS AUTORAS BRASILEIRAS DO SÉCULO XXI: UM PANORAMA Cristiane da Silva Alves - TEMPO PASSADO, MARCAS PRESENTES: NOTAS SOBRE A DITADURA, A VIOLÊNCIA DE GÊNERO E SUAS CICATRIZES EM ALGUNS ROMANCES BRASILEIROS DO SÉCULO XXI Weverson Dadalto - MEMÓRIA DA DITADURA MILITAR BRASILEIRA NA OBRA NÃO FICCIONAL E NA LITERATURA DE BERNARDO KUCINSKI Flávia Dall Agnol de Oliveira - DIREITOS HUMANOS EM PAUTA: VIOLÊNCIA ESTATAL, GÊNERO E MEMÓRIA EM O CORPO INTERMINÁVEL Diego Rodrigo Ferraz - RASTROS, MEMÓRIAS E LINGUAGEM NUM OCEANO FICCIONAL: UMA LEITURA DE NO FUNDO DO OCEANO, ANIMAIS INVISÍVEIS, DE ANITA DEAK 12/07 - 14h às 16h Rafael Nunes Ferreira - A DITADURA CIVIL-MILITAR NO ROMANCE CONTEMPORÂNEO BRASILEIRO: UMA ANÁLISE DE A IMPORTÂNCIA DOS TELHADOS, DE VANESSA MOLNAR Thaís Alves de Sousa e Eduarda Cristina Lima - AS DIFICULDADES DE NARRAR O TRAUMA EM O CORPO INTERMINÁVEL, DE CLÁUDIA LAGE Deyse Filgueiras Batista Marques - A APORIA DO TRAUMA E A ESCRITA DA RESISTÊNCIA: O PASSADO QUE NÃO PASSA EM O CORPO INTERMINÁVEL, DE CLAUDIA LAGE Vitória Ravazio Pais - VIDA, MEMÓRIA E FICÇÃO EM O INVENTÁRIO DAS COISAS AUSENTES, DE CAROLA SAAVEDRA 13/07 - 8h às 10h Alexandre Luiz Ribeiro da Fonseca Junior - UMA JUVENTUDE ACOSSADA: A DITADURA EM O LUGAR MAIS SOMBRIO, DE MILTON HATOUM Arnaldo Franco Junior - A CATÁSTROFE DO DESAPARECIMENTO FORÇADO NO ROMANCE MEU PAI, ACABARAM COM ELE, DE LUIZ CLAUDIO CARDOSO Jefferson Silva do Rego - A RESISTÊNCIA, DE JULIÁN FUKS: MEMÓRIA, DITADURA E METAFICÇÃO Sofia Reck dos Santos - O COTIDIANO DITATORIAL NO INTERIOR DO RIO GRANDE DO SUL NO ROMANCE ENGOLE ESSE CHORO, DE LAURA PEIXOTO 13/07 - 14h às 16h Michelle Márcia Cobra Torre - PODER, HISTÓRIA E MEMÓRIA EM O OUTONO DO PATRIARCA, DE GARCÍA MÁRQUEZ Maria José da Silveira Gomes - IMAGINÁRIO E HISTÓRIA EM SOMBRAS DE REIS BARBUDOS, DE JOSÉ J. VEIGA: O VOO DA LIBERDADE EM TEMPOS DE DITADURA Rhuan Felipe Scomação da Silva - REALISMO MÁGICO COMO CRÍTICA VELADA À DITADURA MILITAR: UM ESTUDO SOBRE A PRODUÇÃO ACADÊMICA BRASILEIRA Raquel Helena Gil Zubaran Zandomeneghi e Icaro Carvalho - VIOLÊNCIA E RESISTÊNCIA: COLONIALISMO EM NOSSA PARTE DE NOITE Rubens Fernandes Corgozinho Júnior - DUALIDADE SACRIFICIAL: ABANDONO SOCIAL E VIOLÊNCIA EM MARCELINO FREIRE 14/07 - 14h às 16h Claudia Luiza Caimi - MEMÓRIA E TESTEMUNHO EM METADE CARA, METADE MÁSCARA, DE ELIANE POTIGUARA Rejane Pivetta de Oliveira - IMAGINÁRIO UTÓPICO E POLÍTICO EM TORTO ARADO Geraldo Brandão Neto - LUTAR É PRECISO: TESTEMUNHO E RESISTÊNCIA EM TORTO ARADO, DE ITAMAR VIEIRA Renata Borges de Azevedo - O SAGRADO ATRAVÉS DA ORALIDADE REPRESENTADA PELA FIGURA DO CONTADOR DE HISTÓRIAS NA OBRA POÉTICA "MUIMBU", DE ANDRÉ CAPILÉ 46 - MODERNISMO E VANGUARDA DENTRO, AQUÉM E ALÉM DA PAULICEIA Coordenadores: Maria de Fatima do Nascimento, Hugo Lenes Menezes 13/07 - 14h às 16h Hugo Lenes Menezes - O EXPRESSIONISMO ALEMÃO: UM NEORROMANTISMO Fabíola Guimarães Pedras Mourthé - ENCONTRO ENTRE OS MODERNISTAS MÁRIO DE ANDRADE E RAUL BOPP Marcela Ferreira - AS MULHERES NAS CRÔNICAS DE TARSILA DO AMARAL Elizangela Ribeiro de Oliveira - CABELOS NO CORAÇÃO, DE HAROLDO MARANHÃO: ELEMENTOS MODERNISTAS Gleisia Carneiro de Souza Albuquerque - CECÍLIA MEIRELES, CRÔNICA E SEU PERCURSO LITERÁRIO NA VERTENTE HISTÓRICA 14/07 - 8h às 10h Maria de Fatima do Nascimento - BENEDITO NUNES E O MODERNISMO NO PARÁ Ingrid Luana Lopes Cordeiro - CLARICE LISPECTOR E O MODERNISMO BRASILEIRO: UMA LEITURA DE PERTO DO CORAÇÃO SELVAGEM Flávio Jorge de SousaGabriele Maris Pereira FenerickLeal - HAROLDO MARANHÃO E O MODERNISMO BRASILEIRO: UMA DEFESA DO MOVIMENTO MODERNISTA NO SUPLEMENTO ARTE LITERATURA DO JORNAL FOLHA DO NORTE Valéria Daiane Soares Rodrigues - MURILO MENDES E SUA POESIA LIBERDADE: UMA LEITURA DO POEMA "JANELA DO CAOS" VANESSA MORO KUKUL - A POESIA BRASILEIRA DA DÉCADA DE 1930: ENSAIOS DE ÉPOCA E CRÍTICA LITERÁRIA CONTEMPORÂNEA Mirian Lesbão Dumont - A CANÇÃO “SENHAS” (1992), DE ADRIANA CALCANHOTO: UMA ANÁLISE SOB O ASPECTO DIALÓGICO COM O POEMA “ODE AO BURGUÊS” (1921) 47 - MONTEIRO LOBATO EM REDE: MEDALHÕES, MODERNOS, ANTIMODERNOS, MODERNISTAS Coordenadoras: Patrícia Aparecida Beraldo Romano, Cilza Carla Bignotto, Milena Ribeiro Martins 12/07 - 8h às 10h Cilza Carla Bignotto - MONTEIRO LOBATO, EDITOR DE MODERNISTAS Gabriele Maris Pereira Fenerick - LIVRARIA LEITE RIBEIRO: ENTRE LITERATOS E EDITORES Vanessa de Paula Hey - AS REPRESENTAÇÕES DA MODERNIDADE NAS AMÉRICAS DE LOBATO E KAFKA 12/07 - 14h às 16h Milena Ribeiro Martins - ADESÃO E RESISTÊNCIA A TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS NA FICÇÃO DE 1920 Patrícia Aparecida Beraldo Romano - MONTEIRO LOBATO DAS CRIANÇAS NO FUNDO RAUL DE ANDRADA E SILVA (IEB/USP) Adriana Medeiros Peliano - O VESTIDO MARAVILHOSO DE NARIZINHO AO VIVO E A CORES 48 - MUNDOS JUDAICOS COM/PARTILHADOS: DIÁSPORAS, VIAGENS, MIGRAÇÕES Coordenadoras: Kênia Maria de Almeida Pereira, Lyslei de Souza Nascimento, Nancy Rozenchan 13/07 - 14h às 16h Regina Igel - LITERATOS SEFARDITAS CONTEMPORÂNEOS NA AMÉRICA LATINA Marcos Silva - A DEUSA JUDIA QUE SE EXILOU NO SERTÃO: ETNO-HISTÓRIA DE UM MITO CABALISTA Alessandra Fabrícia Conde da Silva - RASTROS DE ERRÂNCIA EM "TERRA ÚMIDA" DE MYRIAM SCOTTI Célia Maria Borges Machado - SIMÃO DE OLIVEIRA: UM JUDEU PADRE EM DIÁSPORA NA ÁFRICA DO SÉCULO XVI, PELA FICÇÃO DE PEPETELA 14/07 - 8h às 10h Claudia Fernanda de Campos Mauro - VÊNUS SEM ESPELHO: O TESTEMUNHO FEMININO DA SHOAH COMO “FERIDA DE GÊNERO” Christini Roman de Lima - A PERSPECTIVA DA REFUGIADA JUDIA EM SOLO PORTUGUÊS DURANTE A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL EM "NASCI COM PASSAPORTE DE TURISTA", DE ALVES REDOL Sofia Débora Levy - A TRÉGUA: O LIVRO E O FILME Ênio Bernardes de Andrade - TESTEMUNHO DA DIÁSPORA E AMÁLGAMA DAS CONTRADIÇÕES DO BRASIL EM O FILHO DO HOLOCAUSTO, DE JORGE MAUTNER Geovane Souza Melo Junior - UM ESPECTRO RONDA... A ATUALIDADE INTEMPESTIVA DE STEFAN ZWEIG 14/07 - 14h às 16h Patrícia Lopes da Silva - A DIÁSPORA E A VIAGEM EM NO EXÍLIO, DE ELISA LISPECTOR Leila Borges Dias Santos - A ESCRITA SILENCIOSA. PALAVRA E SILÊNCIO EM UM SOPRO DE VIDA, DE CLARICE LISPECTOR Carolina Caldas Nunes - AS CARTAS EXILADAS DE CLARICE LISPECTOR E DE CHANTAL AKERMAN Ricardo Augusto Garro Silva - EXÍLIO E VIOLÊNCIA POLÍTICA EM BERNARDO KUCINSKI E JULIÁN FUKS Lunara Abadia Gonçalves Calixto - MOACYR SCLIAR E AS DRAMÁTICAS VIAGENS DAS POLACAS EM O CICLO DAS ÁGUAS 15/07 - 8h às 10h Claudia Cristina Maia - MITO E LITERATURA EM "LILÍT", DE PRIMO LEVI Filipe Amaral Rocha de Menezes - BABEL EM TEMPOS SOMBRIOS: COMUNICAÇÃO E INCOMUNICAÇÃO EM PRIMO LEVI E ART SPIEGELMAN Luiz Carlos de Barros Silva - CANSINOS-ASSENS, O MEMORIOSO Roxanne Covelo - PHILIP ROTH E O JUDAÍSMO AMERICANO Leonor Scliar Cabral - CERIMONIAL DAS LEMBRANÇAS 15/07 - 14h às 16h Kênia Pereira - MOACYR SCLIAR VAI A JERUSALÉM: BREVES REFLEXÕES SOBRE O DICIONÁRIO DO VIAJANTE INSÓLITO Marcio Cesar Pereira dos Santos - A DIÁSPORA E TERRA PROMETIDA: AS VISÕES ENTRELAÇADAS DE DAVID GROSSMAN, MOACIR SCLIAR E SAMUEL RAWET Fernanda Aquino Sylvestre - UM ESTUDO DA METAFICÇÃO HISTORIOGRÁFICA EM JUDAS, DE AMÓS OZ Karla Louise de Almeida Petel - O SUJEITO DIASPÓRICO EM O NÔMADE E A VÍBORA, DE AMÓS OZ Nancy Rozenchan - AYÉLET TSABARI E JUDEUS IEMENITAS NA LITERATURA ISRAELENSE 49 - NARRATIVA, TRADUÇÃO E TRANSCRIAÇÃO: DIÁLOGOS ENTRE LÍNGUAS, LINGUAGENS, GÊNEROS LITERÁRIOS E CONFIGURAÇÕES ESTÉTICAS Coordenadores(as): Lacy Guaraciaba Machado, Joabson Lima Figueiredo 13/07 - 14h às 16h e 14/07 - 8h às 10h Adilson Guimarães Jardim - Por uma "poética do leitor": emancipação do sujeito na leitura crítica de três traduções de Federico Garcia Lorca Ana Maria Bicalho - O olhar de Évelyne Heuffel sobre o Brasil em seu romance Villa Belga Dayse Oliveira Barbosa - A intergenericidade em Aladim e a lâmpada maravilhosa no cordel brasileiro Fernanda Lair Zuconelli Machado da Silva e Mirian Ruffini - Cultura e polissistema literário nas traduções para o inglês de Relato de um certo oriente de Milton Hatoum Malane Apolonio da Silva - STELA NO TEMPO: UMA CONVERSA SOBRE POEMA I DE PRESSÁGIOS, DE HILDA HILST Pollyana Correia Lima e Ricardo Magalhães Bulhões - No mais secreto do ser efêmero: a corporização da escrita feminina em "O muro de pedras" 50 - NARRATIVAS DE EXCLUSÃO: IMAGINÁRIO E REPRESENTAÇÕES Coordenadoras: Denise Dias, Lícia Soares de Souza 13/07 - 14h às 16h Rita Olivieri-Godet - OSWALDO CRUZ E OS SONHOS TROPICAIS DE MOACYR SCLIAR Hudson Moura - PANDEMIAS, DESASTRES, MONSTROS E ZUMBIS: NARRATIVAS APOCALÍPTICAS NO CINEMA CONTEMPORÂNEO Brigitte Thierion - POESIA DO CAOS: "A TERRA EM PANDEMIA" DE ALEILTON FONSECA Romeu da Silva Teixeira - O MITO LITERÁRIO PICARESCO EM ÚLTIMAS TARDES CON TERESA, DE JUAN MARSÉ 14/07 - 8h às 10h Denise Dias - A POLÍTICA DA MORTE NA LITERATURA BRASILEIRA Maysa Maria Silva de Miranda - ESTRATÉGIAS DISCURSIVAS NA CONFIGURAÇÃO DA EPIDEMIA DE VARÍOLA EM CAPITÃES DA AREIA DE JORGE AMADO Gabriel Vidinha Corrêa - AS DORES E A MORTE EM UMA INFÂNCIA PRECÁRIA: UMA LEITURA DO CONTO "DI LIXÃO", DE CONCEIÇÃO EVARISTO Tamires Oliveira Pereira - O CONTO DE FADAS SEM FINAL FELIZ: A UNIVERSALIZAÇÃO DAS BIBLIOTECAS ESCOLARES 14/07 - 14h às 16h Maria Amélia Silva Nascimento - A DISCIPLINA COMO SIMULACRO ESTRATÉGICO PARA A MILITARIZAÇÃO DAS ESCOLAS: NARRATIVAS DE EXCLUSÃO Elizabete Costa Suzart - ENTRE O ETNOCÍDIO E O GLOTOCÍDIO: AS FACETAS DA RESISTÊNCIA Wellington Neves Vieira - LEITURA CULTURAL DA SEMIOSFERA DA EXCLUSÃO Thayane Gaspar Jorge - O ECO DE CATLHEEN NI HOULIHAN NA LITERATURA INFANTIL E JUVENIL GALEGA: FEMINIZAÇÃO E RESISTÊNCIA 51 - NATURALISMO/NATURALISMOS Coordenadores(as): Leonardo Mendes, Haroldo Ceravolo Sereza, Claudia Barbieri 13/07 - 14h às 16h Claudia Barbieri - A PRIMEIRA CONFESSADA DE GERVÁSIO LOBATO: ENTRE OS DEVERES MORAIS E OS DESEJOS DE ALCOVA BIANCA GOMES BORGES MACEDO - "A RABEQUISTA", "IDÍLIO À INGLESA" E "BATALHAS DA VIDA (EXCERTO DE UM ROMANCE INÉDITO)": O REALISMO-NATURALISMO NOS CONTOS DE GUIOMAR TORRESÃO Aline Cristina Moreira de Almeida - ARSÉNIO DE CHATENAY E OS "ROMANCES PARA HOMENS" Xênia Amaral Matos - DIÁLOGOS ENTRE O GÓTICO, O GROTESCO E O REALISMO-NATURALISMO EM O CRIME DO PADRE AMARO DE EÇA DE QUEIRÓS Gabriela Ribeiro Nunes - O NATURALISMO LICENCIOSO EM O PRIMO BASÍLIO, DE EÇA DE QUEIRÓS, E AS RESPOSTAS CONSERVADORAS DE MACHADO DE ASSIS 14/07 - 8h às 10h Haroldo Ceravolo Sereza - QUANDO O NATURALISTA É TAMBÉM CIENTISTA: O CASO DE RODOLPHO THEOPHILO BIANCA DE AMORIM GOMES - CONTOS NATURALISTAS PUBLICADOS NO JORNAL CEARENSE O PÃO DA PADARIA ESPIRITUAL, 1892-1896 Riane Avelino Dias - O NATURALISMO NAS OBRAS DE DOMÍCIO DA GAMA (1862-1925) Marina Pozes Pereira Santos - POLÊMICAS DO DESEJO COM A PUBLICAÇÃO DO ROMANCE A CARNE (1888), DE JÚLIO RIBEIRO Thales Sant'Ana Ferreira Mendes - CARVALHO JÚNIOR E OS REALISMOS DE "PARISINA" (1877) 14/07 - 14h às 16h Leonardo Mendes - PEDRO DO CANTO E MELO (1866-1934), "NATURALISTA RETARDATÁRIO" Flavio Lobo Moreira - A RELAÇÃO ENTRE SEXUALIDADE E DEGENERESCÊNCIA NA OBRA NATURALISTA UM HOMEM GASTO, DE FERREIRA LEAL Elton Silva Miranda Costa - A PRESENÇA VAMPÍRICA EM ALUÍSIO AZEVEDO: A RELAÇÃO SAGRADO VERSUS PROFANO EM A MORTALHA DE ALZIRA Cleyciara Dos Santos Garcia Camello - A RECEPÇÃO DO DRAMA O MULATO (1884), DE ALUÍSIO AZEVEDO (1857-1913), NOS PALCOS DA CAPITAL DO IMPÉRIO 15/07 - 8h às 10h Marina Faria Sena - SOMBRAS NOVECENTISTAS: O GÓTICO-NATURALISMO EM "OS SERVOS DA MORTE" (1947), DE ADONIAS FILHO Lucas Toledo De Andrade - A TRAJETÓRIA DE RAEL: O DETERMINISMO COMO DENÚNCIA EM "CAPÃO PECADO", DE FÉRREZ Evandro Jose dos Santos Neto - NATURALISMO E LUTA DE CLASSES: UMA LEITURA DE "CAPÃO PECADO", DE FERRÉZ Bruno Leites - AMARELO MANGA, MARCO DO NATURALISMO NO CINEMA BRASILEIRO 15/07 - 14h às 16h Eduarda Araújo da Silva Martins - DA TEORIA DO NATURALISMO AO ENGAJAMENTO: O VALOR DA VERDADE PARA ÉMILE ZOLA Thaís Marques Soranzo - L'OEUVRE E O PROBLEMA DO REAL Rubens Vinícius Marinho Pedrosa - OS POEMAS EM PROSA NATURALISTAS DE LE DRAGEOIR AUX ÉPICES, DE J.-K. HUYSMANS Juliana de Assis Beraldo - NATURALISMO/S HOJE: A RECUPERAÇÃO DO/S NATURALISMO/S NA ARTE CONTEMPORÂNEA LATINO-AMERICANA 52 - NORTE/AMAZÔNIA NA GEOGRAFIA MUNDIAL DA BARBÁRIE: LITERATURA SOBRE A RESISTÊNCIA E O TESTEMUNHO NA REGIÃO Coordenadores(as): Abilio Pachêco de Souza, Luiza Helena Oliveira da Silva 15/07 - 8h às 10h Rayniere Felipe Alvarenga de Sousa - UMA LEITURA DOS ANARQUIVAMENTOS EM MILTON HATOUM Paulo Wagner Moura de Oliveira - PÓS-COLONIALIDADE, ARAGUAIA E RESISTÊNCIA NA POÉTICA DE WANDERLEY WASCONCELOS Luiza Helena Oliveira da Silva e Naiane Vieira dos Reis - EXISTÊNCIAS INTERROMPIDAS: AFETOS DE MULHERES AMAZÔNIDAS NA GUERRILHA DO ARAGUAIA EM PRODUÇÕES DE AUTORIA FEMININA Abilio Pachêco de Souza - O TEOR TESTEMUNHAL EM O CANTO DO LAVRADOR: UMA CANÇÃO SUBVERSIVA 53 - NÃO APENAS O MEDITERRÂNEO: DISCUTINDO A TRADUÇÃO DE CLÁSSICOS GLOBAIS PARA O BRASIL DE HOJE Coordenadores(as): Andrei dos Santos Cunha, Lica Hashimoto, Michele Eduarda Brasil de Sá 15/07 - 8h às 10h Andrei dos Santos Cunha - PANAROMA E POLIFONIA DO "PREFÁCIO EM HIRAGANA" Bruno Costa Zitto - PROJETO PARA UMA NOVA TRADUÇÃO DO "KOJIKI" EM PORTUGUÊS BRASILEIRO Carolina Alves Magaldi - REPENSANDO OS PROCESSOS DE TRADUÇÃO DE TEXTOS MITOLÓGICOS FUNDACIONAIS A PARTIR DA KALEVALA FINLANDESA Lica Hashimoto - NIHONSHOKI - A ORIGEM MITOLÓGICA DO JAPÃO 15/07 - 14h às 16h Michele Eduarda Brasil de Sá - "CERTOS LIVROS POÉTICOS DE HISTÓRIAS" - A LITERATURA JAPONESA AOS OLHOS EUROPEUS NO SÉCULO CRISTÃO DO JAPÃO Isadora Costa Fernandes - PENSANDO FORA DA BIO-LÓGICA: UMA TRADUÇÃO DE HIPÓCRATES A PARTIR DA PERSPECTIVA DOS ESTUDOS DE GÊNERO Matheus Ely Cordeiro de Lima Vieira Pessoa - ANTÍGONA, (RE)TRADUÇÃO E WELTLITERATUR: UM ECO BENJAMINIANO E UM PASSO ALÉM 54 - O CONTO CONTEMPORÂNEO NA LITERATURA BRASILEIRA Coordenadoras: Gislei Martins De Souza Oliveira, Claudia Vanessa Bergamini, Vanderluce Moreira Machado Oliveira 15/07 - 14h às 16h Cecília Guedes Borges de Araujo - NO PASSADO, O DELEITE... NO FUTURO, "O ENFORCADO": UMA ANÁLISE DA CONTÍSTICA CONTEMPORÂNEA DE ADRIANA LISBOA Lígia Chaves Ramos dos Santos e Janaína dos Santos Miranda - AQUELA ÁGUA TODA EM SEUS OLHOS: A MEMÓRIA EM CARRASCOZA Márcio Ferreira Da Silva - "AS TRANÇAS": ESPAÇO DE VIOLÊNCIA NO CONTO CONTEMPORÂNEO DE BRENO ACCIOLY Fabiana Cardoso Da Fonseca - SÉRGIO SANT'ANNA: NARRAR, TRANSGREDIR Rodrigo Donizeti Mingotti - ENTRE O FANTÁSTICO E O MINICONTO CONTEMPORÂNEOS: O QUE "ELE CANTA", DE RAMOS, PODE NOS DIZER 55 - O DISCURSO LITERÁRIO COMO COMPARTILHAMENTO E RESISTÊNCIA: AS MALHAS ESTÉTICOPOLÍTICAS DA LITERATURA Coordenadores(as): Evaldo Balbino da Silva; Leni Nobre de Oliveira, Tereza Ramos de Carvalho 12/07 - 8h às 10h José Eduardo Fonseca Brandão - A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA PARA A COMPREENSÃO DAS FORMAÇÕES DE MASSAS TIPICAMENTE FASCISTAS E PARA A ELABORAÇÃO DE ESTRATÉGIAS DE SOBREVIVÊNCIA FRENTE À NECROPOLÍTICA Dionisio David Marquez Arreaza - REALISMO LITERÁRIO E CONSTITUCIONAL COMO RESISTÊNCIA À CRISE (MULTI)NACIONAL Fernando Paixão Rosa - CAMUS E BARTHES: QUERELA DA ESTÉTICA E RESISTÊNCIA Ana Paula de Oliveira Pereira - SENHORAS DE SI: LUIZA NETO JORGE E ANA LUÍSA AMARAL Edson da Silva Nascimento - NOVOS VOCÁBULOS PARA ANTIGOS CONCEITOS: CIVILIZAÇÃO E BARBÁRIE OU A ORDEM E A SUBVERSÃO EM K. RELATO DE UMA BUSCA 13/07 - 14h às 16h Marco Aurelio Barsanelli de Almeida - DESAFIANDO ESTEREÓTIPOS: RELAÇÕES ENTRE MASCULINO E FEMININO NA OBRA DE NEIL GAIMAN Evaldo Balbino da Silva - A CONFIGURAÇÃO TEOLÓGICA EM O NOME DA ROSA E MEMORIAL DO CONVENTO Paula Aline Prearo - A FIGURAÇÃO DA CASA NO ROMANCE ÉRAMOS SEIS (1943), DE MARIA JOSÉ DUPRÉ (1898): DA ESTRUTURA ÀS QUESTÕES SOCIAIS Rosangela Aparecida de Queiros Manduca - A ARTE ERNGAJADA DE TERRY EAGLETON Pedro Henrique Alves de Medeiros e Edgar Cézar Nolasco - BRASIL DO PRETÉRITO IMPERFEITO A PARTIR DE SILVIANO SANTIAGO: UM PROJETO DE TESE 14/07 - 8h às 10h Leandro Antognoli Caleffi - CONTO DE FADAS ÀS AVESSAS: UMA LEITURA DE "A BELA E A FERA OU A FERIDA GRANDE DEMAIS", DE CLARICE LISPECTOR André Luis Pereira Vellanos - A FOME, DE RODOLFO TEÓFILO: A CONSTRUÇÃO DE UM HERÓI À MODA EUROPEIA José Victor Nunes Mariano - OS DISCURSOS DA NEGRITUDE: REFLEXÕES ACERCA DA LITERATURA AFRO-BRASILEIRA Rosa Maria da Silva Faria - SANTA EVITA: MITO E DISPUTAS NO CAMPO LITERÁRIO ARGENTINO Raimunda Thamires Moura Maquiné - LITERATURA, HISTÓRIA E MEMÓRIA: UM ESTUDO ACERCA DA MEMÓRIA EM NARRATIVAS PÓS-DITATORIAIS 14/07 - 14h às 16h Claudio Cardinali Macedo Silva - FORMA LITERÁRIA E CRÍTICA DO PRESENTE EM RAINHA LIRA, DE ROBERTO SCHWARZ Jacqueline Kaczorowski - "SE NÃO ESCREVO NÃO LUTO PELA M/ LIBERTAÇÃO": ETHOS E POIESIS NOS PAPÉIS DA PRISÃO, DE LUANDINO VIEIRA Leni Nobre de Oliveira - VOZES FEMININAS COMO RESISTÊNCIA POLÍTICA: CAROLINA MARIA DE JESUS E MARIA FIRMINA DOS REIS Fábio Salem Daie - NOTAS SOBRE UMA MUDANÇA DE PARADIGMA: RESSIGNIFICAÇÃO DO CONCEITO LITERÁRIO DE "FORMAÇÃO" PELO VIÉS DA "APROPRIAÇÃO CULTURAL" A PARTIR DOS ANOS 1970 15/07 - 8h às 10h Gabriel Bustilho Lamas - CONTRE-ATTAQUE: A VANGUARDA NA LUTA CONTRA O NAZISMO Cyntia Nataly Malcher Bezerra e Marlí Tereza Furtado - FIGURAÇÕES LITERÁRIAS DA MULHER NA AMAZÔNIA NAS OBRAS DE FRANCISCO GALVÃO E DALCÍDIO JURANDIR Raquel Reis Rodrigues - O POVO ESPANHOL COMO RESISTÊNCIA NA OBRA DE ERNEST HEMINGWAY Tereza Ramos de Carvalho - A SEMIOLOGIA DA EXCLUSÃO SOCIAL EM "LAVRA DOR", "MORTE E VIDA SEVERINA" E "JOÃO BOA MORTE, CABRA MARCADO PARA MORRER" Janaina Pinto Soares - LITERATURA ENGAJADA: VERCORS E A ESCRITA COMO UM ATO DE RESISTÊNCIA 15/07 - 14h às 16h Geisa Aparecida Dariva Pinheiro - QUARTO DE DESPEJO E TORTO ARADO: A VOZ DO NEGRO Raphael Bessa Ferreira - REVOLTA, RESISTÊNCIA E TRANSGRESSÃO DA ORDEM PLASMADAS NA ESCRITURA POÉTICA DA LAVOURA ARCAICA, DE RADUAN NASSAR Lina Alegria dos Santos Reis - SENTIMENTO DO MUNDO: UMA ESTÉTICA POLÍTICO-AFETIVA DE RESISTÊNCIA NA VIRADA DA MODERNIDADE Diogo Souza Madeira - CAPACITISMO E AUDISMO E SEUS ATRAVESSAMENTOS SOBRE OS CAMINHOS DA LITERATURA SURDA 56 - PALAVRAS DA CRÍTICA, PALAVRAS EM DISSIDÊNCIA: GÊNEROS, SUBJETIVIDADES, SEXUALIDADES Coordenadores(as): Paulo César García, Marcus Antônio Assis Lima, Marinela Freitas 13/07 - 8h às 10h Raquel Parrine - "EU NÃO PENSO STRAIGHT" - A POÉTICA CUIR PÓS-DITATORIAL DE LEONILSON Nádja Nayra Brito Leite e Paulo César García - BIBIANA E BELONÍSIA: A RESISTÊNCIA FEMININA NO LIVRO TORTO ARADO Moisés Henrique de Mendonça Nunes e Paulo César García - CARTOGRAFIA DE DESEJOS DISSIDENTES EM CAIO F. Jessé Carvalho Lebkuchen - CORPOS (IN)VISÍVEIS: PERSPECTIVAS NARRATIVAS DA HOMOSSEXUALIDADE NA LITERATURA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA Marcus Antônio Assis Lima - ”PRINCESA", UMA TRANSCLASSE NAS PRISÕES ITALIANAS: LITERATURA MENOR E NARRATIVAS DE VIDA 14/07 - 8h às 10h Emerson Ian Souza Soares e Marcus Antônio Assis Lima - CINEMA ORLY: TERRITÓRIOS HOMOERÓTICOS E NARRATIVA DE VIDA NA ESCRITA DE LUÍS CAPUCHO Maurício Silva da Anunciação e Paulo César García - CORPOS INFECTADOS RASURANDO O CÂNONE: EPISTEMICÍDIO, AIDS, LITERATURA E RESISTÊNCIA Paulo César García - O ESPAÇO DE GIOVANNI: AS INTERSECÇÕES RACIAIS E QUEER Olinson Coutinho Miranda - DEU A LÔKA? DEI! 14/07 - 14h às 16h Lucas Teixeira Costa - DEFICIÊNCIA, RAÇA E SEXUALIDADE: ENSAIANDO APROXIMAÇÕES Claudicélio Rodrigues da Silva - ERÓTICA DA DISSIDÊNCIA: O PROBLEMA DA PALAVRA EROTISMO Kelly Cordeiro Antas e Paulo César García - O CABRA-MACHO E AS PERFORMANCES DE SI NO ESPAÇO DO SERTÃO Catherine Santana Souza - O CORPO INDETERMINADO NO CONTO LUAMANDA, DE CONCEIÇÃO EVARISTO Helder Thiago Cordeiro Maia - DIADORIM E AS TRANSGENERIDADES GUERREIRAS Josivelto Cardoso Pereira e Marcus Antônio Assis Lima - NÃO É DESSE PAU QUE A GENTE GOSTA: UMA ANÁLISE DO CONTO DONA BOAZUDA PUBLICADO NO JORNAL LAMPIÃO 15/07 - 8h às 10h Ádrian Henrique Ferreira Barboza e Marcus Antônio Assis Lima - UMA PUTA TRANSCLASSE: AMARA MOIRA E A MOBILIDADE TRAVESTI Allan Monteiro Pessoa - VIVENDO COMO UM GREGO NA LISBOA DO SÉCULO XIX: PEDERASTIA E PATOLOGIA EM O BARÃO DE LAVOS Wallace Byll Pinto Monteiro Jr - PARA ALÉM DA ESPINHA DO MEDO: VIOLÊNCIA E LUTO EM "A PALAVRA QUE RESTA", DE STÊNIO GARDEL Giuliana Conceição Almeida e Silva e Paulo César García - AS NARRATIVAS FEMININAS DISTÓPICAS DE TIANALVA SILVA, NAS OBRAS MIGRANTES E ENTRE O RIO E A PRAÇA 57 - POÉTICAS DAS RUAS Coordenadoras: Daniela Silva de Freitas, Rossi Alves Gonçalves 14/07 - 14h às 16h Rossi Alves Gonçalves - QUANDO O COLETIVO ELABORA SUAS NARRATIVAS- EXPERIÊNCIAS DE AGÊNCIA ENTRE SUBURBANOS E MCS Mikaela Gabriele Elias da Costa - O ENSINO DE LITERATURA PERIFÉRICA COMO DESOBEDIÊNCIA: UMA BREVE ANÁLISE DA CONSTITUIÇÃO IDENTITÁRIA DE SUJEITOS PERIFÉRICOS NA OBRA CAPÃO PECADO Paulo Henrique de Sa Junior - BERNARDINE EVARISTO E STEPHANIE BORGES: A DECOLONIZAÇÃO DE EPISTEMOLOGIAS IDENTITÁRIAS E DA PRÁXIS DE UM RACISMO ESTRUTURAL Marcelo José Ribeiro Vieira - POESIA VERBALISTA URBANA: POÉTICA E POLÍTICA NO RIO DE JANEIRO DOS ANOS 1980 Milena Guimarães Andrade Tanure - ESTÉTICA DA OCUPAÇÃO: ESCRITAS DOS RUÍDOS, RESTOS E INSURGÊNCIAS 15/07 - 8h às 10h Ary Pimentel - QUANDO O VERBO SE FAZ CORPO: PERFORMANCE E POESIA FALADA NA CENA URBANA Aline Monteiro dos Santos - POESIA E PERFORMANCE EM MACAPÁ: A CIDADE COMO PALCO E O CORPO COMO TEXTO Amanda Julieta Souza de Jesus - O SLAM DAS MINAS BA E A CONSTRUÇÃO DE ESPAÇOS SEGUROS PARA A EXPRESSÃO DE MULHERES NEGRAS Daniela Silva de Freitas - POESIA PARA ADIAR O FIM DO MUNDO Luiz Fernando Pereira Pinto - SARAU DO ESCRITÓRIO: MEMÓRIAS E PERSONAGENS NA EXPANSÃO DO IMAGINÁRIO DO BAIRRO DA LAPA 15/07 - 14h às 16h Mariana de Oliveira Costa - VOZES QUE ECOAM NAS RUAS, RESSOAM NOS LIVROS E SE ESPALHAM NAS REDES: CAMINHOS POSSÍVEIS PARA O POETRY SLAM Guilherme dos Santos Ferreira da Silva - PERFORMAR E EXPANDIR COMUNIDADES ONLINE: PENSANDO O SLAM NA PANDEMIA Fabiana Oliveira de Souza - O QUE RESTA DAS PERFORMANCES DE SLAM DE POESIA NOS VÍDEOS ENCONTRADOS NAS REDES? Paulo Sérgio Silva da Paz - DA RUA PARA AS TELAS: A REINVENÇÃO ARTÍSTICA DOS SARAUS E SLAMS NA PANDEMIA Olívia de Melo Fonseca - O ENSINO DE LITERATURA EMERGENCIAL: DIÁLOGOS ENTRE CULTURA URBANA MARGINAL/PERIFÉRICA, SLAM POESIA, CAROLINA MARIA DE JESUS E LITERATURA ENQUANTO CAMPO EXPANSIVO 58 - POÉTICAS DO (IN)VISÍVEL NA LITERATURA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA Coordenadores(as): Carolina Barbosa Lima e Santos, Paulo Eduardo Benites de Moraes, Wellington Furtado Ramos 14/07 - 14h às 16h Erick Vinicius Mathias Leite - UMA POÉTICA A PESAR: A ESPACIALIZAÇÃO DO TEMPO EM "TUDO O QUE LEVA CONSIGO UM NOME" (2021) DE FRANCISCO MALLMANN Sergio Marcone Da Silva Santos - ESTRATÉGIAS POPULISTAS NA LITERATURA DO SÉCULO XXI: A QUESTÃO "ESCRITA NÃO CRIATIVA" Paulo Alberto Da Silva Sales - PARA ALÉM DA FICÇÃO: HIBRIDISMO E PÓS-AUTONOMIA EM VERONICA STIGGER Paulo Eduardo Benites De Moraes - REMONTAGENS DO TEMPO FASCISTA: UMA LEITURA DE SESSÃO, DE ROY DAVID FRANKEL 15/07 - 8h às 10h Carolina Barbosa Lima E Santos - O LUGAR DA INSTALAÇÃO LITERÁRIA NA CONTEMPORANEIDADE BRASILEIRA Simone De Souza Braga Guerreiro - "RUPESTRES": AS ESTRATÉGIAS CRIATIVAS DA POESIA CONCRETA DE CARLOS FREDERICO MANES Ana Érica Reis Da Silva Kühn - RELAÇÕES INTERARTÍSTICAS NA POESIA DE PAULO LEMINSKI Fhilipe Germano Rigamonte - OMAR SALOMÃO: UMA POÉTICA DO FRAGMENTO 15/07 - 14h às 16h Eduardo De Almeida Santos - CARTOGRAFIAS DO INVISÍVEL - NOTAS DE DRAMATURGIA E LITERATURA PERIFÉRICA Thiago Bittencourt - MACHADO: UMA ESTÉTICA DA SOBREVIVÊNCIA Wellington Furtado Ramos - A MITOGRAFIA DA (IN)ESPECIFICIDADE E O GÊNIO ROMÂNTICO, NOSSO CONTEMPORÂNEO: ESBOÇO DE UMA ANÁLISE 59 - RELENDO CRITICAMENTE A PRODUÇÃO MODERNISTA DOS ANOS 20 Coordenadores(as): Paulo da Luz Moreira, Raquel dos Santos Madanêlo Souza, Rodrigo Alexandre de Carvalho Xavier 15/07 - 8h às 10h Luíza Simões de Oliveira - “DE 1929 A 2500: O BRASIL NUMA UTOPIA FEMINISTA EUGÊNICA” HÊMILLE RAQUEL SANTOS PERDIGÃO - THOSE LOVELY SEASIDE GIRLS: O FEMININO E AS TENSÕES ESTÉTICAS EM ULYSSES E À LA RECHERCHE DU TEMPS PERDU Paulo da Luz Moreira - ANTROPOFAGIA ENTRE RESGATES E SEQUESTROS Tainá Cavalieri Faria - MESTIÇAGEM ANTROPOFÁGICA: A EUGENIA E O CARÁTER NACIONAL NA REVISTA DE ANTROPOFAGIA (1928 E 1929) Conrado Augusto Barbosa Fogagnoli - Mário de Andrade leitor de André Salmon 15/07 - 14h às 16h Ingred Georgia de Sousa Silva - "NESTE DIA ANTÓNIO NOBRE NÃO MORREU": REENCONTRAR O POETA DO SÓ EM A GALÉRA Rodrigo Alexandre de Carvalho Xavier - ALMA PORTUGUEZA – CÉLULA MATER DO INTEGRALISMO LUSITANO Thiago Mio Salla - NA CONTRACORRENTE DO TRIUNFALISMO DA SEMANA: O MODERNISMO DE 1922 SEGUNDO O ANTIMODERNO GRACILIANO RAMOS Rafael Bonavina Ribeiro - CONSIDERAÇÕES SOBRE A MORFOLOGIA DO MACUNAÍMA Carlos Eduardo Brefore Pinheiro - "As máscaras": entre o passado e a virada modernista Raquel S. Madanêlo Souza - 1922, O CENTENÁRIO DA INDEPENDÊNCIA DO BRASIL E A IMPRENSA PORTUGUESA 60 - REPRESENTAÇÕES DO ESPAÇO-TEMPO UTÓPICOS E DISTÓPICOS Coordenadores: Ozíris Borges Filho, André Pinheiro, Sidney Barbosa 14/07 - 14h às 16h Ellen Maria Martins de Vasconcellos - O TEMPO E O ESPAÇO NAS NARRATIVAS CONTEMPORÂNEAS DE CATÁSTROFE Marcos Roberto Flamínio Peres - A DIMENSÃO ESPAÇO-TEMPORAL DO IDÍLIO EM "LUCÍOLA", DE JOSÉ DE ALENCAR Gabriella Campos Mendes - A SUBVERSÃO DO TEMPO HISTÓRICO E A FORMULAÇÃO DE MUNDOS POSSÍVEIS EM JOSÉ CARDOSO PIRES Vitor Soster - PROCESSOS ESPAÇO-TEMPORAIS DE INDIVIDUAÇÃO NA VIRADA DO SÉCULO XIX PARA O XX: ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE "THE PIAZZA" (MELVILLE, 1856) E THE BEAST IN THE JUNGLE (JAMES, 1903) Robert Ponge e Nara Helena Naumann Machado - A PASSAGEM DA ÓPERA EM "LE PAYSAN DE PARIS" (1926) DE LOUIS ARAGON: DO REAL AO SIMBÓLICO Messias Lisboa Gonçalves - CENAS DO TEMPO E MEMÓRIA EM INGLÊS DE SOUSA 15/07 - 14h às 16h Renata Aiala de Mello e Alexandra Silva Montes - ENTRE ETHOS, UTOPIAS E DISTOPIAS EM MADAME BOVARY E VESTIDO DE NOIVA Antón Corbacho Quintelha e Margareth de Lourdes Oliveira Nunes - UTOPIA, SUBJETIVIDADE E HORROR EM LE MERAVIGLIE DEL DUEMILA, DE EMILIO SALGARI, E EM VIAJE A MARTE, DE MODESTO BROCOS Valéria Fernanda Ribeiro Valandro - DISTOPIA PELA LINGUAGEM E NA LINGUAGEM POÉTICA Fernanda da Cunha Correia e Giovanna Suleiman das Dores - ESPAÇO FICCIONAL E LUGAR SOCIAL: ANÁLISE ESPACIAL DO ROMANCE O CONTO DA AIA DE MARGARET ATWOOD (1984) EM DIÁLOGO COM A SÉRIE DA PLATAFORMA DE STREAMING, HULU, THE HANDMAID'S TALE (2017) Julieny Souza do Nascimento - LISBOA EM ALGUMA POESIA PORTUGUESA CONTEMPORÂNEA Jeymeson de Paula Veloso - DEMOCRACIA, CIDADE E ESPAÇOS DE PODER EM ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA, DE JOSÉ SARAMAGO 61 - RESIDUALIDADE LITERÁRIA E CULTURAL Coordenadoras: Cássia Maria Bezerra do Nascimento, Cássia Alves da Silva, Mary Nascimento da Silva Leitão 14/07 - 8h às 10h Tallyson Tamberg Cavalcante Oliveira da Silva - A TEORIA DA RESIDUALIDADE NO MBITO DO NOVO COMPARATISMO Aryane Teixeira da Silva Morais- "ENTUSIASMO NINFOLÉPTICO" E A "HORA DA IARA": DOIS CONCEITOS SOB O OLHAR DA RESIDUALIDADE Leonildo Cerqueira Miranda - CONCEITOS FILOSÓFICOS E O IMAGINÁRIO EM TORNO DO TEMPO NA POESIA DE ROBERTO PONTES Taísa Aparecida Carvalho Sales - KAUNE, UMA GUERREIRA SURDA: A LITERATURA SURDA EM FOCO 14/07 - 14h às 16h Francisco de Paula Junior - A DEMONIZAÇÃO DA MULHER NA LITERATURA: UMA ABORDAGEM RESIDUAL DE "A DAMA PÉ-DE-CABRA", DE ALEXANDRE HERCULANO Aline Leitão Moreira - OS PROCESSOS RESIDUAIS NA ESCRITA DE TRISTÃO E ISOLDA, DE JOSEPH BÉDIER Rubenita Alves Moreira dos Santos - DON QUIJOTE DE LA MANCHA: UMA TRADUÇÃO DO ÁRABE OU PSEUDOTRADUÇÃO? RESÍDUOS, CRISTALIZAÇÃO E MENTALIDADE Gabriel Mendonça dos Santos e Cássia Maria Bezerra do Nascimento - RESÍDUOS DO BELO REINO NO CORDEL PORTUGUÊS HISTÓRIA DA IMPERATRIZ PORCINA Sergio Batista Chaves Neto - O AUTO DO BOI NAS TOADAS DO GARANTIDO E DO CAPRICHOSO NO FESTIVAL FOLCLÓRICO DE PARINTINS - AMAZONAS 15/07 - 8h às 10h Lidiane Barreto Costa Neves - RESÍDUO AMOROSO DE A ARTE DE AMAR EM A ESCRAVA ISAURA Priscila Magalhães Pereira - IRACEMA: UMA NARRATIVA DE ORIGEM RESIDUAL Jéssica Thais Loiola Soares - RESIDUALIDADE E HIBRIDAÇÃO NA POESIA DE GILKA MACHADO Iêda Carvalhêdo Barbosa - A RELAÇÃO COMER/AMAR EM DONA FLOR E SEUS DOIS MARIDOS, DE JORGE AMADO: UM OLHAR RESIDUAL 15/07 - 14h às 16h Thaís Ferreira Barros - RESÍDUOS DO IMAGINÁRIO CATÓLICO-MEDIEVAL NO MEMORIAL DE MARIA MOURA Cássia Alves da Silva - HIBRIDAÇÃO CULTURAL E ENDOCULTURAÇÃO EM COM O CORPO INTEIRO, DE LUCILA LOSITO MANTOVANI Rafhael Borgato - A PERSISTÊNCIA DO REGIONALISMO EM "TORTO ARADO" DE ITAMAR VIEIRA JUNIOR Mary Nascimento da Silva Leitão - A DESCONSTRUÇÃO DA IMAGEM DA VELHICE: RESÍDUOS E ATUALIZAÇÕES EM A MÁQUINA DE FAZER ESPANHÓIS, DE VALTER HUGO MÃE Jonh Jefferson Do Nascimento Alves - ENTRE MEMÓRIA E MENTALIDADE, A FENDA DAS DISTOPIAS NACIONAIS NO FUNDO DO CANTO DE ODETE SEMEDO 62 - RETORNOS, ANTEPASSADOS E MEMÓRIAS DO FUTURO Coordenadoras: Alessia Di Eugenio, Francesca De Rosa 14/07 - 14h às 16h Amanda Cristinny Santos Monteiro E Sávio Pires de Souza- A REELABORAÇÃO DO DISCURSO HISTÓRICO EM TORTO ARADO Thaís Silva de Paula- A ESCRITA DE EMICIDA Jacqueline Gama de Jesus e Rachel Esteves Lima - ANTROPOFAGIA E MEMÓRIA EM BACURAU Thiago Ferreira Pereira - MEMÓRIA E BREXIT EM AUTUMN DE ALI SMTIH 15/07 - 8h às 10h Nicola Biasio - UM TELEFONEMA PARA (NÃO) REGRESSAR. A IMAGINAÇÃO COMO (IM)POSSIBILIDADE DO RETORNO EM AS TELEFONES DE DJAIMILIA PEREIRA DE ALMEIDA Rebecca Bentes Saldanha Pereira - (DES)ARRUMAR O "SÓTÃO COLONIAL". RETORNOS E REIMAGINAÇÕES DE PÓS-MEMÓRIA EM ESSE CABELO DE DJAIMILIA PEREIRA DE ALMEIDA E NAS FOTOGRAFIAS DE DÉLIO JASSE Clarisse Dias Pessoa - FAZ DE TI UM MUSEU MOSTRANDO O QUE JÁ ERA VISÍVEL: A ESCRITA COMO PONTO DE RETORNO EM ESSE CABELO DE DJAIMILIA PEREIRA DE ALMEIDA Francesca Negro - QUAIS ANTEPASSADOS? A REEVOCAÇÃO DO PASSADO NAS OBRAS DE ALEJO CARPENTIER 15/07 - 14h às 16h Camila Araujo Gomes e Rachel Esteves Lima - BRASIL-FRANÇA: MEMÓRIAS DE UM EXILADO POLÍTICO EM "A NOITE DA ESPERA" E "PONTOS DE FUGA", DE MILTON HATOUM Isis Duarte Fernandes - AS AUTONARRATIVAS DE MARIA PILLA E PETRA COSTA COMO ATOS POLÍTICOS DE CONTESTAÇÃO AOS DISCURSOS GOLPISTAS DE ABRIL DE 1964 E ABRIL DE 2016 Alessia Di Eugenio - "MEMÓRIAS DO EXÍLIO", RETORNO E MEMÓRIAS DO FUTURO DA DITADURA CIVIL-MILITAR BRASILEIRA Francesca De Rosa - UM ROMANCE DE ÁFRICA: "A CASA DA ÁGUA" DE ANTÓNIO OLINTO. MEMÓRIAS DE RETORNO, NOVAS VIAGENS E FUTURAS NAÇÕES 63 - REVISÃO DA HISTORIOGRAFIA TEATRAL: LER E RELER FONTES PRIMÁRIAS, VISÕES CRÍTICAS E JUÍZOS ESTÉTICOS NA DRAMATURGIA Coordenadoras: Maria Clara Gonçalves, Elizabeth Ferreira Cardoso Ribeiro Azevedo, Fabiana Siqueira Fontana 13/07 - 14h às 16h Gisele Gemmi Chiari - A VIOLÊNCIA PATRIARCAL E O PROBLEMA DO MAL EM "BEATRIZ CENCI" DE GONÇALVES DIAS Rodrigo Cézar Dias - A GRÃ-DUQUESA DE GÉROLSTEIN NA CENA TEATRAL PORTUGUESA: TRADUÇÃO, FARPAS E PARÓDIAS Fabricio Goulart Moser - REPERTÓRIO TEATRAL NO OESTE DO BRASIL NO SÉCULO XIX: O CASO DA SOCIEDADE DRAMÁTICA CUIABANA 7 DE SETEMBRO (1864) Henrique Brener Vertchenko - A COLEÇÃO THEATRO BRASILEIRO DA SBAT (1931-1946): "VOLUMES FACILMENTE MANUSEÁVEIS E DE LEITURA AGRADÁVEL" 14/07 - 8h às 10h Carlos Gontijo Rosa - "I SHALL VENTURE, LASTLY, TO SAY A WORD OR TWO OF STAGE ACTION": QUANDO UM PINTOR RESOLVE COMENTAR A AÇÃO CÊNICA MARIA SILVIA BETTI - JOHN HOWARD LAWSON: "TEORIA E PRÁTICA DA DRAMATURGIA". REVISÃO CRÍTICA DE UM TRABALHO FORMADOR Henrique Buarque de Gusmão - O DRAMATURGO COMENTADOR DE SUA OBRA: A PERFORMANCE DE NELSON RODRIGUES COMO DEFENSOR DE UM SENTIDO PARA SUA OBRA Roberta Carbone - O TRABALHO DE JOÃO DAS NEVES: COMO CONSTRUIR UM PENSAMENTO ANALÍTICO A PARTIR DE UMA PRÁTICA CONCRETA? 14/07 - 14h às 16h Felipe Augusto de Souza Santos - WHAT WHERE DO INTERROGATÓRIO ÀS CABEÇAS DESINCORPORADAS: OS MANUSCRITOS DA ENCENAÇÃO DE SAMUEL BECKETT Marina Gialluca Domene - FORMAS DO TEATRO MEDIEVAL EM JOSÉ DE ANCHIETA Thiago Pereira Russo - A PEÇA EM UM ATO COMO RESISTÊNCIA AO COMERCIALISMO DA BROADWAY: TEATRO, POLÍTICA E HISTÓRIA EM ARTHUR MILLER Orleni Cunha Torres - PERFORMANCE E COMICIDADE NAS AULAS-ESPETÁCULO DE ARIANO SUASSUNA 15/07 - 8h às 10h Paola Piovezan Ferro - DAYS TO COME, DE LILLIAN HELLMAN, E ALGUMAS PERSPECTIVAS CRÍTICAS SOBRE A PEÇA Larissa de Cásseia Antunes Ribeiro - A COROA DA MORTE - A ARTE TEATRAL ENTRE AS GUERRAS Lígia Rodrigues Balista - GREVE ESTUDANTIL NA HISTÓRIA DOS JOVENS GUARNIERI E VIANINHA? Antônio Coutinho Soares Filho - TRAGÉDIA E RESISTÊNCIA EM "A PAIXÃO DE AJURICABA", DE MÁRCIO SOUZA Marcos Silva Sales - A FÁBRICA UMA ANÁLISE DA DRAMATURGIA DE ROMERO NEPOMUCENO 15/07 - 14h às 16h Phelippe Celestino Pereira dos Santos - A PRESENÇA DO MODELO FRANCÊS NA DEFESA PELA INSTITUCIONALIZAÇÃO DO TEATRO BRASILEIRO NO SÉCULO XIX Alfonso Ricardo Cruzado - O SAINETE BRASILEIRO DE ODUVALDO VIANNA: UM TEATRO POPULAR DISSIDENTE Esther Marinho Santana - A CENA DISPUTADA: O TEATRO COMO FERRAMENTA DIPLOMÁTICA NAS TURNÊS DE PORGY AND BESS E DA ÓPERA DE PEQUIM NO BRASIL Luis Marcio Arnaut de Toledo - O PROCESSO DE MONTAGEM DE INFERNO E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A LEITURA DA OBRA DE TENNESSEE WILLIAMS NO BRASIL 64 - ROLAND BARTHES PLURAL: ENQUANTO SE PODE PERGUNTAR Coordenadores(as)Márcio Venício Barbosa, Claudia Amigo Pino, Laura Taddei Brandini 13/07 - 8h às 10h Márcio Venício Barbosa - CONCEITO, NOÇÃO E METÁFORA EM ROLAND BARTHES Fúvia Fernandes Pereira - ROLAND BARTHES ENTRE A ESCRITURA E A CRÍTICA DA IDEOLOGIA Paulo Procopio de Araujo Ferraz - O FASCISMO DA LÍNGUA Álvaro Perini Canholi - A POÉTICA BARTHESIANA DOS INCIDENTES COMO INSPIRAÇÃO PARA A COCRIAÇÃO ENTRE CORPO-ESCRITOR E CORPO-ATOR Maurício Ayer - RITOS DE PERPASSAGEM: BARTHES E O TECIDO DA ÓPERA 13/07 - 14h às 16h Laura Taddei Brandini - BARTHES EM SARLO: MITOLOGIAS CITADINAS Lucas Guastini Loureiro dos Santos - A FORMA DO DIÁRIO EM ROLAND BARTHES E RICARDO PIGLIA Antonio Gerson Bezerra De Medeiros - ESCREVENDO A LEITURA: ANÁLISE DOS PROCEDIMENTOS DE ESCRITA E ESTRATÉGIAS NARRATIVAS DE "A TRAIÇÃO DE RITA HAYWORTH" DE MANUEL PUIG A PARTIR DO CONCEITO DE "TEXTO-LEITURA" DE ROLAND BARTHES Maria Luiza Berwanger da Silva - POÉTICA DO REENCONTRO ENTRE ROLAND BARTHES E FRANÇOIS JULLIEN Carla Cavalcanti e Silva - "PROUST POR ROLAND BARTHES": REFLEXÕES SOBRE O ESCRITOR NOS DOCUMENTOS PREPARATÓRIOS DO CRÍTICO 14/07 - 14h às 16h Claudia Amigo Pino - ROLAND BARTHES E A CRÍTICA BRASILEIRA Katerina Blasques Kaspar - A PRESENÇA DE ROLAND BARTHES NO PROJETO LITERÁRIO NÃO ESCREVER, DE PALOMA VIDAL Flávia Herédia Miotto - UMA ASCESE PERVERSA: PROPOSTA DE LEITURA DA OBRA O CADERNO ROSA DE LORI LAMBY (1990), DE HILDA HILST, ATRAVÉS DA OBRA O PRAZER DO TEXTO (1973), DE ROLAND BARTHES Marcelise Lima de Assis - A AULA INAUGURAL DE ROLAND BARTHES NO COLLÈGE DE FRANCE: UMA ANÁLISE DA ATUAÇÃO DE LEYLA PERRONE-MOISÉS Luís Matheus Brito Meneses - MÁSCARA E MAQUIAGEM: LER SILVIANO SANTIAGO A PARTIR DE ROLAND BARTHES 65 - SABERES EM CONFLUÊNCIA Coordenadores(as): Natalie Souza de Araujo Lima, Thiago de Abreu e Lima Florêncio, Felipe Wircker Machado 13/07 - 14h às 16h Luiz Carlos Coelho de Oliveira - DESEDUCAÇÃO E AMEFRICANIDADE Genivaldo Cruz Santos - PEDAGOGIA ENGANCHADA: UMA PEDAGOGIA REVERSA Luis Felipe dos Santos Carvalho - INSURREIÇÕES ANTROPOFÁGICAS - NOTAS DECOLONIAIS 14/07 - 14h às 16h Natalie Souza de Araujo Lima - ESCURECENDO UTOPIAS: CONTRIBUIÇÕES AFRODIASPÓRICAS PARA REFAZER O FUTURO Eduarda de Oliveira Figueiredo - ALÉM DA PANDEMIA E ENTRE AS POSIÇÕES ENSAÍSTICAS EM O QUE NÃO TEM ESPAÇO ESTÁ EM TODO LUGAR (2020), DE JOTA MOMBAÇA Clelio Toffoli Júnior - PENSAR A LITERATURA LATINO-AMERICANA: POR UM SISTEMA DE INTERPRETAÇÃO DECOLONIAL E SURREALIZANTE 15/07 - 8h às 10h Thiago de Abreu e Lima Florêncio - EPISTEMOLOGIA DO DESPACHO: SABERES EMANCIPATÓRIOS PRATICADOS NO CORPO-TERRITÓRIO Marcelo Magalhães Leitão - A SÁTIRA E A CANDIMBA DE LUIZ GAMA Maria Stella Galvão Santos - O ESOTERISMO DE OGÉ E A REPRESENTAÇÃO DO NEGRO EM EL SIGLO DE LAS LUCES 15/07 - 14h às 16h Cícero Darlan Andrade Araruna - A POÉTICA DA ORALITURA NO CAROÇO DE DENDÊ, DE MÃE BEATA DE YEMONJÁ Cleonilson Rosário da Costa e Myrcéia Carolyne Guimarães da Costa - CONHECIMENTO CIENTÍFICO E SABERES TRADICIONAIS - UNIVERSOS PARADOXAIS. PARADOXAIS? Julia Evelyn Muniz Barreto Guzman - CAMINHOS POSSÍVEIS PARA DES-PENSAR AS EPISTEMOLOGIAS HEGEMÔNICAS NA BOLÍVIA Felipe Wircker Machado - SANTO E ORIXÁ: O CANDOMBLÉ EM NEGOCIAÇÃO E TENSIONAMENTO COM A OCIDENTALIDADE 66 - SABERES SUBALTERNIZADOS: LITERATURA E (RE) EXISTÊNCIA, OUTROS(AS) SUJEITOS(AS) DE CRIAÇÃO Coordenadores(as): Alvanita Almeida Santos, Jailma dos Santos Pedreira Moreira, Carlos Magno Gomes 13/07 - 14h às 16h Mabli Nadjane Barbosa Barreto - A DOCÊNCIA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: RETRATOS E EXPERIÊNCIAS DE EXCLUSÃO SOCIAL NUMA ESCOLA ESTADUAL EM SALVADOR-BAHIA Meg Heloise Bomfim da Silva - "É TEMPO DE FALARMOS DE NÓS MESMOS" Luciano Santos Xavier - ÉTICA, ESTÉTICA E REPRESENTAÇÃO NA LITERATURA: (DES)TERRITORIALIZAÇÃO DA LÍNGUA E (DES)ENQUADRAMENTO DE IMAGENS NA ESCRITA DE CAROLINA MARIA DE JESUS Débora de Souza - A POÉTICA E A POLÍTICA DE UMA GUERREIRA NEGRA: NOS BASTIDORES DO ACERVO NIVALDA COSTA Renata Lourenço dos Santos - ESCRITOS INDÍGENAS: LITERATURA E (RE)EXISTÊNCIA NO BRASIL MODERNO Alyne de Sousa Jardim - ENSINO DE LITERATURA AFRO-BRASILEIRA NO ESPAÇO ESCOLAR Alvanita Almeida Santos - DE ONDE VEM A TEORIA? O FAZER LITERÁRIO, POLÍTICO PEDAGÓGICO DE MULHERES CORDELISTAS, EM ATRAVESSAMENTOS DE GÊNERO, RAÇA E CLASSE 14/07 - 14h às 16h Carlos Magno Gomes - ESTUPROS E CORPOS SUBALTERNIZADOS NA LITERATURA DE BOLAÑO E AGOSÍN Thuane Veras Sampaio - A INFÂNCIA, O NARCOTRÁFICO E A FÁBULA EM FIESTA EN LA MADRIGUERA, DE JUAN PABLO VILLALOBOS Márcia Neide dos Santos Costa - A MEMÓRIA DA NAÇÃO MOÇAMBICANA NA OBRA O CANTO DOS ESCRAVIZADOS DE PAULINA CHIZIAN Lays Gabrielle da Silva Neves - MULHERES NA EDIÇÃO: PARA PENSAR O FAZER CARTONERO NA AMÉFRICA LADINA Maria Juliana de Jesus Santos - AS MULHERES SUBALTERNAS EM AS PARCEIRAS: UM ESTUDO DA VIOLÊNCIA DE GÊNERO Thais Nascimento da Silva e Maria de Fátima Lima de Melo - A VIOLÊNCIA DE GÊNERO NOS CONTOS DE AUTORIA FEMININA NEGRA, INSUBMISSAS LÁGRIMAS DE MULHER, DE CONCEIÇÃO EVARISTO Letícia de Jesus Araújo - IDENTIDADE FEMININA E NEGRA NA POÉTICA DE IVANILDES MOURA Thais Aparecida Pellegrini Vieira - AS MÚLTIPLAS REPRESENTAÇÕES POÉTICAS DE MATARANDIBA: A CIRANDA DO SAMBA DE RODA VOA VOA MARIA COMO PRÁTICAS DE RESISTÊNCIA 15/07 - 14h às 16h Jailma dos Santos Pedreira Moreira - POÉTICAS E SABERES DE MULHERES RURAIS: O RESSOAR DOS C NTICOS DAS TRABALHADORAS Vanessa Silva Paz e Jailma dos Santos Pedreira Moreira - O QUE ESCREVEM MULHERES DO LITORAL NORTE E AGRESTE BAIANO? QUE SABERES REVELAM?: UMA REFLEXÃO SOBRE OS SEUS PROCESSOS DE PRODUÇÃO E PUBLICAÇÃO EM MEIO AO CAPITALISMO PATRIARCAL RACISTA Jailma Maria da Silva e Jailma dos Santos Pedreira Moreira - DO CORDEL AUTOBIOGRÁFICO DE SALETE MARIA AO CORDEL DA VIDA DE MULHERES RURAIS CANUDENSES: SABERES E RESISTÊNCIA NA SALA DE AULA Marisela Pi Rocha e Jailma dos Santos Pedreira Moreira - SABERES DE VIDA E DE LUTA NA TESSITURA DE CORA CORALINA E DAS MULHERES VELHAS DA COMUNIDADE BREJOS DOS AGUIAR/IBICOARA, NA CHAPADA DIAMANTINA-BA Joana Angélica Flores Silva - LEMBRANÇAS CONTADAS NOS MUSEUS NÃO NINAM CRIANÇAS NEGRAS NO BRASIL: SABERES ENCENADOS POR CONCEIÇÃO EVARISTO Iramayre Cássia Ribeiro Reis - "SOMOS GAIOSO": ERGUENDO A VOZ UM PARA GRITAR A RESISTÊNCIA E A (RE)EXISTÊNCIA DE UMA COMUNIDADE QUILOMBOLA Manuella Miki Souza Araujo - A PROSAICA VIA LÁCTEA PERCORRIDA PELO POETA NEGRO 67 - TEORIAS CRÍTICAS DA LITERATURA JUVENIL BRASILEIRA (2000-2020): REFLEXÕES E DEBATES Coordenadores(as): Eliane Aparecida Galvao Ribeiro Ferreira, Ricardo Magalhães Bulhões, Thiago Alves Valente 14/07 - 8h às 10h Araceli Simão Gimenes Russo - LITERATURA INFANTIL AFRO-BRASILEIRA NA SALA DE AULA: ANÁLISE DA OBRA O MUNDO NO BLACK POWER DE TAYÓ, DE KIUSAM OLIVEIRA Cristiane Maria Pereira Conde E Severino Rodrigues Da Silva - LITERATURA JUVENIL EM SALA DE AULA: UMA PROPOSTA DE LETRAMENTO LITERÁRIO A PARTIR DA OBRA "ILUMINURAS", DE ROSANA RIOS Edgar Roberto Kirchof - LITERATURA JUVENIL E MÍDIAS DIGITAIS Danilo Fernandes Sampaio De Souza - SOMBRAS NO ASFALTO, DE LUÍS DILL: A LITERATURA PARA SEU LEITOR 14/07 - 14h às 16h Helciclever Barros Da Silva Sales E Wagner Corsino Enedino - "QUANDO AS MÁQUINAS PARAM": O TEATRO DE PLÍNIO MARCOS NO CINEMA PORTUGUÊS Adriana Gonzaga Lima Corral e Eliane Aparecida Galvão Ribeiro Ferreira - ILUSTRAÇÕES E ARTES PLÁSTICAS EM DIÁLOGO NA OBRA DOCE, DOCE…QUEM COMEU REGALOU-SE!, DE SYLVIA ORTHOF Gislaine Imaculada de Matos Silva e Ricardo Magalhães Bulhões - A LEVEZA DA MORTE E AFRICANIDADES EM "OS NOVE PENTES D'ÁFRICA" Tamires Vieira Pinheiro de Castro e Eliane Aparecida Galvão Ribeiro Ferreira - DE RETRATOS DE CAROLINA À SAPATO DE SALTO: POTENCIALIDADES DAS OBRAS PARA A FORMAÇÃO DO LEITOR Tatiane Rodrigues Lopes dos Santos e Eliane Aparecida Galvão Ribeiro Ferreira - AS POTENCIALIDADES DA OBRA ENOLA HOLMES: O CASO DA SENHORITA CANHOTA, DE NANCY SPRINGER, NA FORMAÇÃO DO JOVEM LEITOR 15/07 - 8h às 10h Marina Almeida Simoes Do Nascimento - KA'APORA'RÃGA E O ESPÍRITOS PROTETORES: NA ESCRITA INDÍGENA, A TRADUÇÃO DE MUNDOS E DAS MENSAGENS DA FLORESTA Cintia Da Silva Moraes - INFORME DO PLANETA LITERÁRIO: A LITERATURA DE LUIS FERNANDO VERISSIMO PARA O PÚBLICO JUVENIL Lígia Regina Máximo Cavalari Menna - UM OLHAR SOBRE O PROTAGONISMO FEMININO E A CONCEPÇÃO DE JUVENTUDE NA LITERATURA JUVENIL CONTEMPORÂNEA Sebastião Rodrigues Da Silva Júnior - A LITERATURA INFANTOJUVENIL EM O MATADOR, DE WANDER PIROLI: LEITURA E FORMAÇÃO DO LEITOR 15/07 - 14h às 16h Thiago Alves Valente - LITERATURA JUVENIL FAZENDO HISTÓRIA: ÁREAS EM CONVERGÊNCIA Luziane De Sousa Feitosa - AS OBRAS DE VICTOR HUGO NO BRASIL: ENTRE ADAPTAR E/OU TRADUZIR OS CLÁSSICOS PARA O JOVEM LEITOR George de Santana Mori - TEORIAS E AÇÕES DA LITERATURA JUVENIL NO ENSINO MÉDIO: DISSONÂNCIAS E OPOSIÇÕES Aline Cesar Carvalho e Mônica de Menezes Santos - A LITERATURA INFANTOJUVENIL CONTEMPORÂNEA: (RE) DEFININDO PROTAGONISMOS E ABRINDO ESPAÇO PARA REPRESENTAÇÕES FEMININAS CONTRA HEGEMÔNICAS 68 - TRADUZINDO NO ATLÂNTICO NEGRO Coordenadores(as): Denise Carrascosa França, Mayana Rocha Soares, Felix Ayoh' Omidire 12/07 - 8h às 10h Hilda Ferreira da Costa França e Gabriela Batista Pires Ramos - ANGELOU E EU: CAN I THINK ABOUT MYSELF? Jess Oliveira - A PÁTRIA É MEUS SAPATOS: UM BREVE PANORAMA DA HISTÓRIA E DA PRODUÇÃO ARTÍSTICA NEGRA ALEMà Luciana Santos Dos Reis - ENTRE ÁFRICA E O BRASIL: DESAFIOS E POSSIBILIDADES DE UMA TRADUÇÃO ESCREVIVENTE PARA O PRETUGUÊS 13/07 - 8h às 10h Lourdes Silva Modesto Alves - MEMÓRIAS DE TRADUÇÃO: REFLEXÕES SOBRE O EXERCÍCIO DE TRADUZIR OSSUARIES DE DIONNE BRAND Ayala Tude das Neves - POESIA DUB E TRADUÇÃO: TRAÇANDO CAMINHOS PARA A CONSTRUÇÃO DE UMA PRÁXIS TRADUTÓRIA AFRODIASPÓRICA Sara Rodrigues de Oliveira e Victória Lane Ferreira Silva - ENTRE MUSICALIDADES E DISCURSOS: CRUZAMENTOS TRADUTÓRIOS NAS VOZES E GRAFIAS DE SOJOURNER TRUTH, NINA SIMONE E LUEDJI LUNA 69 - TRADUÇÃO E LINGUAGENS TRANSCRIATIVAS: ESTUDO DE TEXTOS INTERARTÍSTICOS SOB DIFERENTES OLHARES Coordenadores(as): Divino José Pinto, Átila Silva Arruda Teixeira, Simone Gorete Machado 15/07 - 8h às 10h Adilma Nunes Rocha - TRANSCRIAÇÃO E SIMULACRO: REPRESENTAÇÕES DA MULHER EM MEGERA DOMADA, AS DEZ COISAS QUE ODEIO EM VOCÊ E O CRAVO E A ROSA Átila Silva Arruda Teixeira e Érika Nogueira Jayme - SÃO BERNARDO, DE GRACILIANO RAMOS: SUBJETIVIDADE E ROMANCE SOCIAL Fernanda Paula Capraro de Toledo - CLEPTOMANIA LITERÁRIA EM 4.48 PSICOSE: OUTRAS VOZES EM SARAH KANE, SARAH KANE NA CENA E A CENA NA VOZ DA ATRIZ Fabricio Pinheiro da Silva - O ENTRECRUZAMENTO DE IMAGENS NA OBRA "AZUL DENTRO DO BANHEIRO" DE MARLENE MOURÃO 15/07 - 14h às 16h Flávio José de Brito - MANOEL DE BARROS E MIA COUTO - IMAGINÁRIOS POSSÍVEIS E FRONTEIRAS INVISÍVEIS NO TELURISMO DOS ENTRE LUGARES Átila Silva Arruda Teixeira e Veridiana Moreira Garcia Oliveira - FORMAÇÃO DE LEITORES NA PERSPECTIVA DA TRANSCRIÇÃO: CONSIDERAÇÕES GERAIS Alessandra Araújo Magalhães - DO ORAL AO ESCRITO: UM ESTUDO SOBRE OS LIVROS DE AILTON KRENAK Vanderleia Moraes Ferreira e Átila Silva Arruda Teixeira - JURUBATUBA, DE CARMO BERNARDES: ESPAÇO ROMANESCO, TRANSCRIAÇÃO E ECOCRÍTICA 70 - TRADUÇÃO LITERÁRIA CRIATIVA: DESAFIOS E REFLEXÕES DO TRADUTOR Coordenadores: Andréa Cesco, Lilian Cristina Barata Pereira Nascimento, Wagner Monteiro Pereira 14/07 - 8h às 10h Mirian Ruffini - A HIPERESTESIA E O FANTÁSTICO EM TRADUÇÃO DE CONTOS DE JOÃO DO RIO PARA A LÍNGUA INGLESA Carolina Alves Magaldi e Larissa Silva Leitão Daroda - A VOZ DO TRADU/AUTOR MACHADO DE ASSIS: MARCAS LINGUÍSTICAS DO ESTILO DO AUTOR NOS TEXTOS TRADUZIDOS Valentina Antonieta Figuera Martínez - TRANSCRIAR A IMAGEM POÉTICA: TRADUÇÃO DE MARGEM DE MANOBRA, DE CLAUDIA ROQUETTE-PINTO Andréa Cesco - A TRADUÇÃO DO PORTUGUÊS AO ESPANHOL DO CONTO “GENNARO”, DE ÁLVARES DE AZEVEDO Joaquim Martins Cancela Júnior - THE THIRD BANK OF THE RIVER: TRADUÇÃO E TRANSCRIAÇÃO EM GUIMARÃES ROSA 14/07 - 14h às 16h Iago Espindula de Carvalho e Kall Lyws Barroso Sales - A RECEPÇÃO DE FLAMENCA EM CATALÃO E EM ESPANHOL NAS TRADUÇÕES DE ANTON M. ESPADALER Lilian Cristina Barata Pereira Nascimento - BELÉN, DE IZQUIERDO RÍOS, E OUTROS GÊNEROS DO DISCURSO TRADUZIDOS PARA O PO-BR João Ricardo Brautigam Milliet - ANGÉLICA LIDDELL E O PROGRAMA PERFORMATIVO DE TRADUÇÃO Wagner Monteiro Pereira - TRADUZIR E REPENSAR O CÂNONE: TRADUÇÃO DO SÉCULO XVII ESPANHOL AO PORTUGUÊS BRASILEIRO DE TEXTOS E AUTORES MARGINALIZADOS NA HISTORIOGRAFIA LITERÁRIA 15/07 - 8h às 10h Amanda Fievet Marques - A MÚSICA NA TRADUÇÃO DE GUIGNOL’S BAND I DE LOUIS-FERDINAND CÉLINE Enezia de Cassia de Jesus - RECEPÇÃO DO PEQUENO MANUAL ANTIRRACISTA DE DJAMILA RIBEIRO NA FRANÇA: HORIZONTES DA TRADUÇÃO E O LUGAR DE FALA DA TRADUTORA PAULA ANACAONA Lia Araujo Miranda de Lima - CRIAÇÃO E CRÍTICA NA TRADUÇÃO DA AMBIVALÊNCIA EM LE CLÉZIO: POR UMA POÉTICA DA INFÂNCIA Agnes Ghisi e Elena Santi - SEDUZIR COM A LÍNGUA DE PATRIZIA VALDUGA: REFLEXÕES TRADUTÓRIAS Riane de Deus Lima - A TRADUÇÃO DE KOCH-GRUNBERG DO RORAIMA AO ORINOCO 15/07 - 14h às 16h Tânia Toffoli - WIN JENKINS E TABITHA BRAMBLE EM TRADUÇÃO Cecília Fischer Dias - F(I)EBRE TROPICAL EM OBSERVAÇÃO Guilherme de Oliveira Delgado Filho - O CALDEIRÃO DE INVECTIVAS POUNDIANO: COMENTÁRIOS À TRADUÇÃO DE “PHASELLUS ILLE”, DE EZRA POUND Denise Regina de Sales e Célia Maria Magalhães - A REPRESENTAÇÃO DOS PERSONAGENS DE “VANKA” E “A MORTE DO FUNCIONÁRIO”, EM TRADUÇÕES BRASILEIRAS E INGLESAS DE TCHÉKHOV Raquel Bernardes Campos - AUGUSTO DE CAMPOS: A TRADUÇÃO-ARTE DA POESIA ANGLO-SAXÔNICA 71 - TRADUÇÃO LITERÁRIA E FEMINISMOS: PONTOS DE ENCONTRO Coordenadoras: Luciana Carvalho Fonseca, Marina Leivas Waquil, Leticia Maria Vieira de Souza Goellner 15/07 - 8h às 10h Anna Olga Prudente de Oliveira - PATRONAGEM E REESCRITA: A RELEVÂNCIA DAS VOZES FEMININAS PARA A RECEPÇÃO DE ANGELA CARTER NO BRASIL Kelley Duarte - DESVELAMENTO E DENÚNCIA DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER: REFLEXÕES SOBRE TRADUÇÃO E RECEPÇÃO DA TRADUÇÃO DA OBRA "MA ROBE N'EST PAS FROISSÉE" (2008) DE CORINNE HOEX Adrian Lincoln Ferreira Clarindo - TRADUZINDO O SILÊNCIO: POSSIBILIDADES NA TRADUÇÃO DE PHILLIS WHEATLEY Luísa Arantes Bahia - CAROLINA MARIA DE JESUS EM INGLÊS E O SILENCIAMENTO DA CULTURA BRASILEIRA Emanuela Carla Siqueira - "O CORPO É UMA COISA MODESTA": PRÁTICAS FEMINISTAS DE TRADUÇÃO EM TRÊS POEMAS DE ELISE COWEN 15/07 - 14h às 16h Luciana Carvalho Fonseca - A RADICAL PREFACE: HOW MARIA VELLUTI OVERCAME SUPPRESSION THROUGH TRANSLATION AND INTRODUCED IDEAS THAT VALUED WOMEN ACTORS IN 19TH-CENTURY BRAZIL Gisele Jordana Eberspächer - O CÔMICO COMO FERRAMENTA CRÍTICA NA PEÇA TEATRAL "DIE KONTRAKTE DES KAUFMANNS", DE ELFRIEDE JELINEK, EM TRADUÇÃO Marina Leivas Waquil - A LITERATURA DE MULHERES LATINO-AMERICANAS NÃO TRADUZIDA NO BRASIL: UMA INJUSTIÇA EPISTÊMICA Maria Teresa de Araújo Mhereb - GÊNERO E DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO: UM ESTUDO COMPARATIVO SOBRE POESIA, ROMANCE E LITERATURA INFANTIL TRADUZIDA NO BRASIL 72 - TRANSGRESSÃO, MEMÓRIA E (IN)SUBALTERNIZAÇÃO NAS LITERATURAS AFRICANAS E AFRODIASPÓRICAS PRODUZIDAS POR MULHERES Coordenadores: Cíntia Acosta Kütter, Sávio Roberto Fonseca de Freitas 15/07 - 14h às 16h Ana Paula Costa De Oliveira Padovino - A AUTOBIOGRAFIA FICCIONAL DE TITUBA E O MOSAICO DA MEMÓRIA Lívia Verena Cunha do Rosário - ENTRE ITÁLIA E SOMÁLIA: MEMÓRIA E FICÇÃO NA LITERATURA DE IGIABA SCEGO Sávio Roberto Fonseca de Freitas - DAS DIÁSPORAS CORPORAIS À (IN)SUBALTERNIZAÇÃO DAS ENTRANHAS: A POESIA DE SÓNIA SULTUANE E DEUSA D'ÁFRICA Cíntia Acosta Kütter - "DO LADO DO CORPO, UM CORAÇÃO CAÍDO", DE CONCEIÇÃO EVARISTO: UMA LEITURA DA ESCREVIVÊNCIA FEMININA NEGRA 73 - USOS POLÍTICOS DA MEMÓRIA E DA HISTÓRIA NAS LITERATURAS DE LÍNGUA PORTUGUESA Coordenadores: Daniel Marinho Laks, Renata Flavia da Silva, Roberta Guimarães Franco 12/07 - 14h às 16h Bruno Messias dos Santos - CADERNO DE MEMÓRIAS COLONIAIS, DE ISABELA FIGUEIREDO, SOB A ÓTICA DO ROMANCE HISTÓRICO Diana Gonzaga Pereira - A MAIORIDADE DA INFÂNCIA: UM OLHAR SOBRE AS DUAS DÉCADAS DE PRODUÇÃO ONDJAKIANA Elisangela Silva Heringer - A INFÂNCIA EM ONDJAKI: POTENCIALMENTE HISTÓRICA E AFETIVA Isabela Lapa Silva -UM ÁLBUM DE PALAVRAS: RELAÇÕES DA OBRA ESSE CABELO, DE DJAIMILIA PEREIRA DE ALMEIDA, COM A FOTOGRAFIA Lueldo Teixeira Bezerra - A MEMÓRIA E A HISTÓRIA NO ARQUIVO PESSOAL DO ESCRITOR PIAUIENSE FONTES IBIAPINA: DUAS QUESTÕES E UM LEGADO 13/07 - 8h às 10h Allysson Augusto Silva Casais - DITADURA E PÓS-MEMÓRIA EM A RESISTÊNCIA, DE JULIÁN FUKS João Marcos Cilli de Araujo - “A RAPARIGA DE KIEV”: AUTENTICIDADE, AGÊNCIA E REPRESENTAÇÕES DA RÚSSIA EM UM CONTO DE GUSTAVO BARROSO Rafael Vinicius Costa Corrêa - À SOMBRA DE UM REI BARBUDO: IMAGENS DE FRANCISCO CAMPOS EM UM ROMANCE DE JOSÉ J. VEIGA Renato dos Santos Pinto - UMA LUPA SOBRE AS RELAÇÕES DE PODER EM OS TRANSPARENTES, DE ONDJAKI 13/07 - 14h às 16h Brigida Priscila Neves Deramio - IDENTIDADE E MEMÓRIA ALÉM DO TEMPO: UMA ANÁLISE DO PERSONAGEM NIMI NSUNDI EM O OUTRO PÉ DA SEREIA, DE MIA COUTO Daniel Marinho Laks - UMA ECONOMIA DE AFETOS COLONIAIS: A MEDIAÇÃO DE IDENTIDADES SUBALTERNIZADAS EM LUANDA, LISBOA, PARAÍSO, DE DJAIMILIA PEREIRA DE ALMEIDA Renan da Silva Dalago e Altamir Botoso - O ARQUÉTIPO DA FIGURA DO POLÍTICO MALANDRO EM O BEM AMADO E O GRANDE LÍDER Tânia de Resende Garcia - NGUNGUNYANE: MITO EM MOÇAMBIQUE E IMPERADOR NO ROMANCE MULHERES DE CINZAS, DE MIA COUTO 14/07 - 8h às 10h Everson Nicolau de Almeida - O MAR COMO TEMÁTICA NAS OBRAS DE SOPHIA DE MELLO BREYNER E CESÁRIA ÉVORA Paulo Ricardo Kralik Angelini - ESSE BRASIL LINDO E TRIGUEIRO: CLICHÊS DE BRASIL NA LITERATURA PORTUGUESA HIPERCONTEMPORÂNEA Roberta Guimarães Franco - EUROPA OXALÁ: OUTRO TEMPO-ESPAÇO NA MEMÓRIA DE PORTUGAL PÓS-25 DE ABRIL Silvio Renato Jorge - PARA LER O ESPAÇO URBANO: COLONIALISMO E SALAZARISMO Suziane Gomes dos Santos Gonçalves - ‘O SOM DO MUNDO QUE CAÍA COMO ESTALACTITES MÚLTIPLAS”: A POÉTICA DO COTIDIANO DE MALTIDE CAMPILHO EM “JÓQUEI” 14/07 - 14h às 16h Cosme Freire Marins - UMA CRÍTICA DECOLONIAL DA OBRA DE MONTEIRO LOBATO E SUA ABORDAGEM NA EDUCAÇÃO BÁSICA Hilma Ribeiro de Mendonça Ferreira - CLARA DOS ANJOS: DIMENSÕES SOCIAIS A PARTIR DO ENLACE ENTRE LÍNGUA E LITERATURA Karen de Oliveira Miranda - JOÃO DO RIO E “A RUA”: ESPAÇOS DE MEMÓRIA E RESISTÊNCIA CULTURAL Nicolas Ferreira Neves Jacintho - MEMÓRIA, HISTÓRIA E FICÇÃO: O PASSADO REVISITADO EM “MALEITA”, DE LÚCIO CARDOSO, E “NO EXÍLIO”, DE ELISA LISPECTOR 15/07 - 8h às 10h Ângela da Silva Gomes Poz - O VENDEDOR DE PASSADOS, DE JOSÉ EDUARDO AGUALUSA: A TERRA PROMETIDA DE CALVINO Christiane Gonçalves Reis - TEORIA GERAL DO ESQUECIMENTO, DE JOSÉ EDUARDO AGUALUSA: UM DIÁLOGO ENTRE FICÇÃO E HISTÓRIA João Gabriel Pereira Nobre de Paula - ENTRE A MEMÓRIA E O ESQUECIMENTO: O (RE) CONTAR DE JOSÉ EDUARDO AGUALUSA Renata Flavia da Silva - ENTRE VIVOS, MORTOS E RENASCIDOS: UMA LEITURA DE VAICOMDEUS, SARL, DE JÚLIO DE ALMEIDA 15/07 - 14h às 16h Adriano Guedes Carneiro - AS AFINIDADES ELETIVAS (DE GOETHE) ENTRE WALTER BENJAMIN E A PARÁBOLA DO CÁGADO VELHO DE PEPETELA Emanuelle Antunes Valente - O DURANTE E O DEPOIS: MARCAS DA GUERRA NO GUERRILHEIRO/SOLDADO EM MAYOMBE E OS CUS DE JUDAS Eusébio Djú - MEMÓRIA HORRIPILANTE: RELÍQUIA E TRADIÇÃO NA POÉTICA DE ODETE SEMEDO Karol Sousa Bernardes - “SOMOS FILHOS DA GUERRA”: TRAUMA E MEMÓRIA EM SE O PASSADO NÃO TIVESSE ASAS, DE PEPETELA Michael de Assis Lourdes Weirich - TESTEMUNHOS FEMININOS: MEMÓRIAS DA GUERRA DE LIBERTAÇÃO DA GUINÉ-BISSAU NO CONTO “NEGOCIATAS”, DE IDY MBONH 74 - UTOPIAS E DISTOPIAS NOS MUNDOS POSSÍVEIS DO INSÓLITO FICCIONAL Coordenadores(as): Flavio García, Marisa Martins Gama-Khalil 12/07 - 8h às 10h Flavio García - “QUEM QUER DORMIR PARA SEMPRE”, DE JOSÉ VIALE MOUTINHO: UTOPIA, DISTOPIA E FANTÁSTICO Alexander Meireles da Silva - ENTRE O PÓS-CYBERPUNK E O TUPINIPUNK: RECONFIGURAÇÕES DO CYBERPUNK EM PANTOKRÁTOR, DE RICARDO LABUTO GONDIM Amanda de Britto Murtinho - MÁQUINAS VORAZES: DISTOPIA E O ENCONTRO COM A MORTE EM A MÁQUINA DE JOSEPH WALSER E A MÁQUINA DE FAZER ESPANHÓIS Caroline Façanha dos Santos Mathias - O QUE UM MUNDO DE CABEÇA PARA BAIXO NOS REVELA: O PODER DE NAOMI ALDERMAN 12/07 - 14h às 16h Sabrina Baltor de Oliveira - UM RIO DE JANEIRO DISTÓPICO EM DEMÔNIOS DE ALUÍSIO AZEVEDO Nicolle de Souza Andrade - ENQUANTO OS SINOS TOCAM: PERSPECTIVAS UTÓPICAS E DISTÓPICAS SOBRE OMELAS Ricardo Iannace e Leony Bruno de Souza Pereira - TELECO, O ANTI-GREGOR: METAMORFOSES Tamira Fernandes Pimenta - A DISSOLUÇÃO DA SUBJETIVIDADE DO HUMANO PELO VIÉS DAS DISTOPIAS Alexandre Carvalho - DE CADA QUINHENTOS UMA ALMA: VESTÍGIOS DO INSÓLITO E DO DISTÓPICO EM ANA PAULA MAIA 13/07 - 8h às 10h Pedro Afonso Barth - OS PARACOSMOS DE SAGAS FANTÁSTICAS BRASILEIRAS: UNIVERSOS DISTÓPICOS Paulo Vítor Coelho - O MAU AGOURO COMO ELEMENTO CONSTITUTIVO DOS ESPAÇOS E DA NARRATIVA DE GÊNERO DE ANA PAULA MAIA Mario Marques - DEFORMAR PARA DESNUDAR - O SENTIDO REALISTA DA DEFORMAÇÃO APARENTE Fábio de Carvalho Messa e Felipe de Oliveira Correa - SOBRAS DA PANDEMIA: DISSECANDO O PROCESSO DO LUTO COLETIVO A PARTIR DE THE LEFTOVERS Fernando Rodrigues da Costa - OS UNIVERSOS DISTÓPICOS DE ALDOUS HUXLEY E GEORGE ORWELL 13/07 - 14h às 16h Karla Karoline Marciano - O CARÁTER FICTÍCIO E IMAGINÁRIO SOBRE O MÍSTICO EM TORTO ARADO Tatiane dos Santos Magalhães - O ENTRE-TOPIA NA VIDA APÓS A MORTE NADA CELESTIAL DA SÉRIE UPLOAD Ana Paula Roesler Legg - AS HORAS VERMELHAS: PARA QUE SERVE AS MULHERZINHAS – UMA ANÁLISE DE REFERENCIALIDADE Ana Clara Albuquerque Bertucci - MUNDOS POSSÍVEIS EM O LABIRINTO DO FAUNO DE CORNELIA FUNKE E GUILLERMO DEL TORO André Luís de Araújo - O CONCEITO DE FICÇÃO: JORGE LUIS BORGES E SEUS MUNDOS POSSÍVEIS 14/07 - 8h às 10h Sabrina Ramos Gomes - OS LIMITES UTÓPICOS EM A CURVA DO SONHO Renata Philippov - O JOGO DE UTOPIA E DISTOPIA EM “THE MORTAL IMMORTAL”, DE MARY SHELLEY Maira Pandolfi - OS MULTIVERSOS DA SABEDORIA PICARESCA RETRATADOS POR ANA MARÍA SHUA Patrícia Hradec - OS MUNDOS VAMPÍRICOS DO CONTO “COLONIZAÇÃO” DE CARLOS BACCI 14/07 - 14h às 16h Liciane Guimarães Corrêa - NARRADORAS SEM VOZ EM O CONTO DA AIA E OS TESTAMENTOS, DE MARGARET ATWOOD Brenda de Oliveira Nonato - O INSÓLITO NOS ESPAÇOS FICCIONAIS EM A ESTRANHA DEFORMAÇÃO FÍSICA, DE MARIA JUDITE DE CARVALHO Ricardo de Macedo - A EPÍGRAFE NO CONTO “A NOIVA DA CASA AZUL”, DE MURILO RUBIÃO Fernanda Nunes de Araújo - A FICÇÃO DISTÓPICA COMO MISSÃO EM "DESTA TERRA NADA VAI SOBRAR, A NÃO SER O VENTO QUE SOPRA SOBRE ELA", DE IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO Giovanna de Araujo Leite - UTOPIA E ESPERANÇA NA OBRA "O PAÍS DAS MULHERES", DE GIOCONDA BELLI 15/07 - 8h às 10h Léa Evangelista Persicano - A (IM)POSSÍVEL MATERNIDADE DE CLAIRE NO UNIVERSO UTÓPICODISTÓPICO DE O FILHO Mariana Aparecida Venâncio - DO MUNDO FICCIONAL AO REAL: OS CONFLITOS NA PALESTINA E A INTERPRETAÇÃO BÍBLICA Hiolene de Jesus Moraes Oliveira Championi - A DISTOPIA DE FESTA NO COVIL, DE JUAN PABLO VILLALOBOS, EM CONTRAPONTO COM O IMAGINÁRIO INFANTIL DE TOCHTLI, O NARRADOR INFANTIL Delzi Alves Laranjeira - ECODISTOPIAS DA FICÇÃO CLIMÁTICA NA COLETÂNEA 2040 A.D. 15/07 - 14h às 16h Cássio Selaimen Dalpiaz - VIÉS UTÓPICO NA CONTINUIDADE DE ESPERANÇAS ENTRE A TERRA-MÉDIA, A ANTIGUIDADE E A CONTEMPORANEIDADE Renata Esteves - O LEITOR EM XEQUE Leonardo Lucena Trevas - DUPLIPENSAR: PALAVRAS ORWELLIANAS NO DISCURSO POLÍTICO Marisa Martins Gama-Khalil - MUNDOS POSSÍVEIS, COISAS IMPOSSÍVEIS: O UNIVERSO DISTÓPICO NO CONTO “COISAS”, DE JOSÉ SARAMAGO 75 - UTOPIAS MEDIEVAIS: ENTRE VIAGENS, MARAVILHAS E A FORMAÇÃO DO CORTESÃO Coordenadores: Raúl Cesar Gouveia Fernandes, Geraldo Augusto Fernandes 15/07 - 14h às 16h Raúl Cesar Gouveia Fernandes - PARÓDIA E SUBVERSÃO DO CÂNONE AMOROSO EM AFONSO EANES DO COTON: "AS MIAS JORNADAS VEDES QUAES SON" (B 968) Raphael Salomão Khede - O CANCIONEIRO DE PETRARCA: NOTAS PARA UMA METODOLOGIA CRÍTICA Geraldo Augusto Fernandes - OS ADYNATA E OS VERSUS RAPPI COMO REPRESENTAÇÃO DAS UTOPIAS MEDIEVAIS Marcio Ricardo Coelho Muniz - PRÁTICAS METATEATRAIS NA DRAMATURGIA ANTIGA PORTUGUESA: UM "EXEMPLUM" DE MARAVILHAMENTO 76 - VIRGINIA WOOLF E A ESCRITA MODERNISTA Coordenadores(as): Davi Pinho, Maria Aparecida de Oliveira, Nícea Helena de Almeida Nogueira 13/07 - 14h às 16h Maria Aparecida de Oliveira - VIRGINIA WOOLF E O ECOFEMINISMO Davi Pinho - "A COISA EM SI" DE A ROOM OF ONE'S OWN A “A SKETCH OF THE PAST" Ana Carolina de Azevedo Guedes - DE TIME PASSES À THE HAUNTED HOUSE: AS CASAS AFETIVAS EM VIRGINIA WOOLF Carla Lento Faria - "É PELOS FANTASMAS DENTRO DE NÓS QUE ESTREMECEMOS": O FANTÁSTICO EM VIRGINIA WOOLF 14/07 - 8h às 10h Patricia Marouvo Fagundes - UMA LEITURA WOOLFIANA DE PERSUASÃO, DE JANE AUSTEN Ernesto Dias e Souza - A IMPORT NCIA DA SENTENÇA DE JANE AUSTEN EM UM TETO TODO SEU, DE VIRGINIA WOOLF Alexandre Nunes de Sousa - CAIO FERNANDO ABREU E A PAIXÃO POR VIRGINIA WOOLF Marília Dantas Tenório Leite - ENTRE O QUARTO SÓ PARA SI E A CASA DE TIJOLOS: NEGOCIANDO O PÚBLICO E O PRIVADO NOS DIÁRIOS DE CAROLINA MARIA DE JESUS E NOS DE VIRGINIA WOOLF 14/07 - 14h às 16h Bruna Montes Werneck de Freitas - "NÃO ESCREVEMOS SÓ COM OS DEDOS, MAS COM A PESSOA INTEIRA": CONFLUÊNCIAS ENTRE ORLANDO E "ORLANDO, OR: THE ENIGMA OF THE SEXES" Elena Gallorini - SOBRE A FUNÇÃO CARATERIZADORA DA MÚSICA WAGNERIANA EM OS ANOS DE VIRGINIA WOOLF Mariana Muniz Pivanti - "A VIDA DOS OBSCUROS": O RETORNO DOS ESQUECIDOS PELA HISTÓRIA ATRAVÉS DA FICÇÃO DE VIRGINIA WOOLF E HÉLÈNE CIXOUS Gabriel Leibold Leite Pinto - VIRGINIA WOOLF E URSULA K. LE GUIN: ESCRITORAS DE UMA REALIDADE MAIS AMPLA 15/07 - 8h às 10h Rosângela Neres - MULHERES EM CONFLITO NOS PENSAMENTOS DE PAZ DURANTE UM ATAQUE AÉREO Luís Antônio Soares da Silva - A MODERNIDADE EM LAURA BROWN: THE HOURS, DE MICHAEL CUNNINGHAM, ENTRE A FICÇÃO E OS ENSAIOS DE VIRGINIA WOOLF Laís Rodrigues Alves Martins - DO ENSAIO AO ESPETÁCULO: VIRGINIA WOOLF E O TEATRO Nícea Helena de Almeida Nogueira - AS SOBREPOSIÇÕES INTERTEXTUAIS ENTRE O ROMANCE ORLANDO E O ENSAIO UM TETO TODO SEU, DE VIRGINIA WOOLF Gabriela Monteiro da Costa - UMA INTELECTUAL DE SEU TEMPO: VIRGINIA WOOLF E O CAMPO LITERÁRIO 15/07 - 14h às 16h Caroline Resende Neves e Rossana Pinheiro-Jones - EXPERIMENTANDO COM O QUARTO DE JACOB: INOVAÇÕES MODERNISTAS NO TERCEIRO ROMANCE DE VIRGINIA WOOLF Mellory Ferraz - O DEVIR MODERNISTA DA NARRATIVA WOOLFIANA A PARTIR DE "O QUARTO DE JACOB" Lucas Leite Borba e Maria Aparecida de Oliveira - O ROMANCE NO PÓS-GUERRA: O QUE SOBREVIVE DO MODERNISMO EM BETWEEN THE ACTS? Ludmila Loquette Garcia - A TRÍADE FEMININA EM AS ONDAS DE VIRGÍNIA WOOLF 77 - YORUBANTU: EPISTEMOLOGIAS AFRICANAS (YORÙBÁ, JEJE, FON, BANTU) E NEGROBRASILEIRAS NO CAMPO DOS ESTUDOS LITERÁRIOS Coordenadores(as): José Henrique de Freitas Santos, Eumara Maciel dos Santos, Vercio Gonçalves Conceição 14/07 - 8h às 10h José Henrique de Freitas Santos - LITERATURA-TERREIRO E EPISTEMOLOGIAS YORUBANTU: CONTRA A PILHAGEM EPISTÊMICA NO CAMPO DOS ESTUDOS LITERÁRIOS NO BRASIL Shirley Evelyn Vasconcelos da Silva - ORÍ COMO EIXO-DEVIR DE UMA PSICOLOGIA NEGRA Jocevaldo l. Santiago - ÈSÙ COMO EPISTEME: ENCRUZILHADA E DISJUNÇÃO Yara Conceição de Oliveira Santiago - EPISTEMOLOGIA CABOCLO: POR UMA LITERATURA ENCANTADA Adinelson Farias de Souza Filho - ORÍKÌ: LITERATURA-TERREIRO YORUBAIANA, MEMÓRIA E IDENTIDADE 14/07 - 14h às 16h Vercio Gonçalves Conceição - MARRABENTA: MÚSICA, PERIFERIA E UMA TAL MOÇAMBICANIDADE João Vitor Bispo Cerqueira e João Evangelista do Nascimento Neto - XIRE NO CORDEL: A CONSTRUÇÃO DA ANCESTRALIDADE AFRO-BRASILEIRA NA EPOPÉIA ORIXÁS EM CORDEL, DE BULE-BULE Aldaíce Damasceno Rocha - A LITERATURA PROVERBIAL DE BEATRIZ NASCIMENTO E CAROLINA MARIA DE JESUS Lise Mary Arruda Dourado - ORÚKO: A COSMOGONIA DO NOME NA LITERATURA-TERREIRO 15/07 - 8h às 10h Eumara Maciel dos Santos - POR UMA EPISTEMOLOGIA GRIOT: AMADOU HAMP TÉ B E SEUS CONTRIBUTOS TEÓRICOS PARA OS ESTUDOS LITERÁRIOS NEGRO-AFRICANOS E NEGRO-BRASILEIROS Jesiel Ferreira de Oliveira Filho - ESSÊNCIAS E TEXTOS PARA CONHECER AS LITERATURAS AFRICANAS EM LÍNGUA PORTUGUESA: APORTES PREDAGÓGICOS Cirlene Cristina Sousa e Paulo Gustavo da Costa Santos - EBÓ METODOLÓGICO COMO SUPERAÇÃO DA ORDEM COLONIAL Kelly Ane Evangelista Santos - A DECOLONIZAÇÃO DO SAGRADO EM A LEI DO SANTO, DE MUNIZ SODRÉ E CADA TRIDENTE EM SEU LUGAR, DE CIDINHA DA SILVA 15/07 - 14h às 16h Julia Almeida Alquéres - CUIDAR DE PERTO, NA FUMAÇA Lívia Maria da Silva Gonçalves - IFÁ DISSE, ÒSÁNYÌN FOLHA DEU, OYA ESPALHOU, SÀNGÓ JUSTIÇA FEZMATERIALIZOU, YÈYÉ O!: "ÈKO DÁRA!"- TERAPÊUTICA ANCESTRAL NA ENCRUZILHADA AFRODIÁSPÓRICA LITERÁRIA? Eliana Silva dos Santos - MORTE E ANCESTRALIDADE EM O CRIME DO CAIS DO VALONGO 78 - TENSÕES E ALIANÇAS ENTRE PSICANÁLISE, LITERATURA E OUTRAS ARTES Coordenadores(as): Gabriela Bruschini Grecca, José Lucas Zaffani dos Santos, Marisa Corrêa Silva 15/07 - 14h às 16h Adriana Carolina Hipólito de Assis - A ESCRITURA DO ESTILO Jonas Kunzler Moreira Dornelles - O CRIME COMO SIGNIFICANTE NA TEXTUALIDADE DYONELIANA Jade Martins Leite Soares e Júlia Edmar da Silva - A PORTA NO MURO: INTERLOCUÇÕES ENTRE A PSICANÁLISE E A LITERATURA DE H. G. WELLS 79 - MULTIPLICIDADE DE MUNDOS E BEM VIVER Coordenadores(as): Ana Lígia Leite e Aguiar, Bernard Belisário, Elane Abreu de Oliveira 13/07 - 14h às 16h Luis Felipe Dias Ribeiro – ECOTOPIA: ORIGEM, CONCEITOS E POSSIBILIDADES Maykson Cardoso – SOBRE UMA EXIGÊNCIA [EST]ÉTICA: DEVOLVER A ARTE À ESFERA DO COMUM João Vitor Dias da Cruz – "A CANÇÃO DA REDENÇÃO": AGENCIAMENTO E REVOLUÇÃO EM BREVE HISTÓRIA DE SETE ASSASSINATOS, DE MARLON JAMES Leandro Pimentel Abreu – OUT OF NOWHERE: A HISTÓRIA ANTES DAS ÚLTIMAS FOTOGRAFIAS Mônica Araújo Barbosa – "O NOSSO AMOR A GENTE INVENTA": POR UMA POLÍTICA AMOROSA DESVENCILHADA DOS IDEAIS 14/07 - 14h às 16h Jade Bueno Arbo – FICAR COM O PROBLEMA: BEM VIVER EM "A PSALM FOR THE WILD-BUILT", DE BECKY CHAMBERS Cleildes Marques de Santana e Clayton Emanuel Rodrigues – VIOLÊNCIAS NO AGRONEGÓCIO: ROMPENDO O SILÊNCIO PARA ALÉM DA PORTEIRA Lucas de Jesus Santos – NOTAS SOBRE A NOÇÃO DE ASSEMBLAGEM Leonardo Augusto Paulino – O QUE PODE UMA ECODRAG? Gisett Lara – TECNOPOLÍTICAS FEMINISTAS, SOBRE PRÁCTICAS ARTÍSTICAS REALIZADAS POR MUJERES 15/07 - 8h às 10h Wallysson Francis Soares – INVENTAR UMA ARTE DA RESPIRAÇÃO: HUMANOS, BICHOS & PLANTAS NAS FICÇÕES DE EVANDO NASCIMENTO Fernanda Maria Abreu Coutinho – O "BEM VIVER" PARA CRIANÇAS: DIREITOS DA NATUREZA E LITERATURA INFANTIL Mateus Soares Rodrigues da Silva – POEMAS E MANIFESTOS ESCOLHIDOS DE ROBERTO PIVA: NATUREZA, CULTURA E SEXUALIDADE EM DEVIR Natália Araújo Rodrigues – OBLIQUAR A ESCUTA 80 - ESCRITA DE MULHERES: LUTAS, OLHARES E PERCURSOS Coordenadoras: Ana Maria Chiarini, Silvia La Regina 14/07 - 14h às 16h Ana Paula Cabrera - ENTRE TRADIÇÃO E MODERNIDADE: LUISA CARNÉS E A LITERATURA FEMININA Gabriela Alves Ferreira de Oliveira - ABNEGAÇÃO, RESIGNAÇÃO E SILÊNCIO: "A VIDA INVISÍVEL DE EURÍDICE GUSMÃO" E O ESPAÇO DOMÉSTICO COMO IDENTIDADE BÁSICA FEMININA Marina Gadelha - A VIDA SILENCIADA DE EURÍDICE GUSMÃO E A VOZ PERMITIDA A INAYA Silvia La Regina - MÁSCARAS DUPLAS: A INVISIBILIDADE DAS AUTORAS DE FICÇÃO CIENTÍFICA NA ITÁLIA Juliana de Brito Carvalho Ferreira - CULTURA POPULAR: DISPUTA E AUTORIA FEMININA NOS ANOS 1960, DA POESIA AO CORDEL Laryssa Amaro Naumann - O CORPO E A LITERATURA COMO LUGARES DE RESISTÊNCIA E CURA DE SI Carolina Alves Ferreira de Abreu - ALÉM DA PALAVRA: O QUE TEM A DIZER LUIZA NETO JORGE? Roberta Cantarela - JUDITH MALINA: RESISTÊNCIAS E POEMAS 15/07 - 8h às 10h Amanda Moury Fernandes Bioni - DE NOVIÇA A SOLDADO NA AMÉRICA: SOBRE AS IRREVERENTES LINHAS EXISTENCIAIS DA AUTOBIOGRAFIA DE CATALINA DE ERAUSO Anne Greice Soares La Regina - VOZES DO CLAUSTRO: UM TRATADO PROTOFEMINISTA DO SÉCULO XVII Ana Maria Chiarini - TRADIÇÃO E ATUALIDADE EM O MÉRITO DAS MULHERES, DE MODERATA FONTE Thayane Alves Guerra Sant’anna - A POTÊNCIA CRIATIVA DE ALCIPE, A MARQUESA DE ALORNA Juliana Cristina Costa - BIOGRAFEMAS NEGROS E O DEVIR-MULHER NEGRA EM MARÉIA DE MIRIAM ALVES: A LITERATURA DO EU/NÓS Luciana Genevan da Silva Dias Ferreira - ESTÉTICA DE RESISTÊNCIA: DISCURSO FEMININO RETIDO EM LITERATURAS DE LÍNGUA PORTUGUESA Érica Luciana de Souza Silva - LITERATURA DA REIVINDICAÇÃO: O DESENCANTO DAS PERDIZES 15/07 - 14h às 16h Ana Luiza Rigueto da Silva - O JOGO SE ARMA: PROCEDIMENTO ERÓTICO EM ADÍLIA LOPES E NATASHA FELIX Milena Dias Soares - AS MÚLTIPLAS REPRESENTAÇÕES DA MULHER SÁFICA EM AMORA DE NATALIA BORGES POLESSO Viviane Arena Figueiredo e Leandro Trindade Pinto - JÚLIA LOPES DE ALMEIDA: A QUEBRA DOS PARADIGMAS SOCIAIS IMPOSTOS PELO MATRIMÔNIO ATRAVÉS DO ADULTÉRIO FEMININO Isabella Morelli Esteves - O RESGATE DA MULHER NOS CONTOS DE FADAS: INSCREVENDO NARRATIVAS DO "EU" NA TRADIÇÃO LITERÁRIA Iasmin da Silva Britto - A MULHER NA LITERATURA INFANTO-JUVENIL BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA: ENTRE A SUBVERSIVIDADE FEMINISTA E O PATRIARCALISMO 81 - INTERARTES: LITERATURA E SUAS INTERFACES - GRUPO 2 Coordenadoras: Júlia Morena Costa, Sara del Carmen Rojo de la Rosa 14/07 - 8h às 10h Bárbara Monique Monteiro Albuquerque - CINEMA E LITERATURA: DIÁLOGOS INTERMIDIÁTICOS NOS FILMES DE JOAQUIM PEDRO DE ANDRADE Edimara Lisboa - INTRODUÇÃO À MÚSICA DO SANGUE: UM CASO DE PAIXÃO ENTRE CINEMA E LITERATURA Jessica Florentino Soares da Silva - DO LABIRINTO AO ABISMO: UMA ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE O FILME "O LABIRINTO DO FAUNO" E A SUA ADAPTAÇÃO LITERÁRIA HOMÔNIMA Thaíla Moura Cabral - DO LIVRO AO FILME, UMA ANÁLISE DAS CARTAS DA GUERRA DE ANTÓNIO LOBO ANTUNES 14/07 - 14h às 16h Alan Brasileiro de Souza - VISTA PARCIAL DA CIDADE: EVOCAÇÕES DO CINEMA PELA LITERATURA EM SOLAR DOS PRÍNCIPES DE MARCELINO FREIRE Andreza Silva Pereira - JORNALISMO E LITERATURA EM ARTICULAÇÃO: O ENTRELUGAR DO JORNALISMO LITERÁRIO Fernanda Borges Pinto - A NARRATIVA BRASILEIRA INTERMEDIAL: CONFIGURAÇÕES HIPERCONTEMPORÂNEAS Leila Melo Coroa - "SEM ABRIGO. EM VIAGEM". MAX MARTINS Luiza Gonçalves de Oliveira - A TRANSPOSIÇÃO MIDIAL DOS CONTOS DE LÚCIO DA COLUNA "O CRIME DO DIA" PARA O ROMANCE "O VIAJANTE" 15/07 - 8h às 10h Amanda Fernandes Teixeira Cordeiro - ADALGISA NERY E MANOEL DE BARROS: A POESIA DA NATUREZA EM DIÁLOGO COM A PINTURA Júlia Morena Costa - IMAGEM, TEMPO E SUAS MONTAGENS: UMA ANÁLISE DA LINGUAGEM CINEMATOGRÁFICA NA NARRATIVA DE ROBERTO BOLAÑO Lara Cristina Nascimento Queiroz - DIÁLOGOS ENTRE LITERATURA E CINEMA: UMA LEITURA DE "O FILHO DA MÃE", DE BERNARDO CARVALHO Marília Corrêa Parecis de Oliveira - LINGUAGEM CINEMATOGRÁFICA E CRÍTICA SOCIAL NO ROMANCE "EM CÂMERA LENTA", DE RENATO TAPAJÓS 15/07 - 14h às 16h Ana Luiza Maia Gama Fernandes - OS SERTÕES DE EUCLIDES DA CUNHA - "A INTERVENÇÃO DE UMA TECNOGRAFIA" INTERMIDIÁTICA E MULTIMODAL Diana de Melo Xavier - OS PERSONAGENS SECUNDÁRIOS DE JANE AUSTEN NA ADAPTAÇÃO ORGULHO E PAIXÃO Lucas Ricardo Andreatta - DIÁLOGO ENTRE MORTOS: O CORPO E A MORTE DESVELANDO A IDEOLOGIA Milca Alves da Silva - A TEIA DA MODA EM OS SINOS DA AGONIA, DE AUTRAN DOURADO SIMPÓSIO “A GEOPOESIA ENTRE VIAGENS E MIGRAÇÕES: CRÍTICA POLIFÔNICA, PASSAGENS E ETNOFLÂNERIES” Ana Clara Magalhaes de Medeiros (UFAL), Willi Bolle (USP), Augusto Rodrigues da Silva Junior (UnB) CINEMA, SURDEZ E AUTOBIOGRAFIA: A HISTÓRIA DE HELEN KELLER E SUAS FRUTIFICAÇÕES CINEMATOGRÁFICAS Amanda Melo da Silva Lima Resumo: Nesse trabalho, buscamos a dialogia entre a obra autobiográfica de Helen Keller - A história da minha vida (1902) e filmes produzidos a partir de tal narrativa. Na nossa análise identificamos e selecionamos as seguintes produções cinematográficas: O milagre de Anne Sullivan (1962); Helen Keller - O milagre de Anne Sullivan (2000); Black (2005); A linguagem do Coração (2014). Hellen Keller (1880-1968) foi uma escritora, jornalista, filósofa e ativista política americana que perdeu a visão e a audição aos 18 meses de vida. Aos 22 anos de idade publicou sua autobiografia, expressando suas vivências, principalmente no que diz respeito à relação estabelecida entre ela e sua professora Anne Sullivan. A partir desse encontro, Helen Keller desenvolveu a leitura, a escrita e a fala, compreendeu outras línguas e graduou-se em Filosofia. Nos filmes selecionados, todos baseados no relato autobiográfico da autora, percebemos como tema fundamental a relação construída entre a personagem surdocega e sua tutora, ou tutor (no caso o filme Black). Em todos os filmes há uma transformação alicerçada nesse encontro mestre/aprendiz: a descoberta das palavras e a manifestação de sentimentos através delas. Nosso objetivo é apresentar um diálogo entre a obra literária e os filmes que dela originaram-se, mais especificamente, o enlace analítico entre as experimentações descritas por Helen Keller na sua obra e as vivências de situações retratadas nas produções fílmicas, onde há uma construção da condição surda diante dos conflitos que irrompem diante do seu cotidiano num mundo ouvinte. O aporte teórico para a análise foi realizado com base nos seguintes autores: Lodenir B. Karnopp - surdez e literatura; em Leonor Arfuch e Philippe Leujeune - estudos sobre Autobiografia; e, Mikhail Bakhtin - teoria sobre dialogismo e polifonia. Referências: ARFUCH, Leonor. O espaço biográfico: dilemas da subjetividade contemporânea. Rio de Janeiro: Ed. UERJ, 2010. BAKTHIN, Mikhail. Estética da Criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003. KARNOPP, Lodenir Becker. Literatura Surda. EDT. Educação Temática Digital, v. 7, p. 2, 2006. _______________________. Produções culturais de surdos: análise da literatura surda. Cadernos de Educação. FaE/PPGE/UFPel: 2010. Disponível em: http://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/caduc/article/ Acesso: 08 abril, 2022. LEJEUNE, Philippe. O pacto autobiográfico: de Rousseau à Internet. Jovita Maria Gerheim Noronha (Org.). Tradução de Jovita Maria Gerheim Noronha e Maria Inês Coimbra Guedes. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2014. RAIZAMAS DA GEOPOESIA: A CRÍTICA POLIFÔNICA E OS ENCONTRADORES DE HISTÓRIAS Ana Clara Magalhaes de Medeiros, Augusto Rodrigues da Silva Junior Resumo: No quinto ano de realização deste Simpósio sobre geopoesia, etnoflânerie e crítica polifônica, propomos realizar uma raizama, em “moldura teórica” (BOLLE, 1986), dos conceitos em progresso, tecidos de maneira dialógica e coletiva. Com encontradores de histórias de regiões e culturas, partimos em viagens por “literaturas de campo”, tecidas pelas práticas etnográficas e trapeiras de geopoetas e deambulantes. Nas regiões da Chapada do Veadeiros e pelo território Kalunga (quilombolas) e/ou nas periferias urbanas dos estados de Goiás e Tocantins, ganhou fôlego a teoria da geopoesia. As experiências urbanas de Brasília, seus arrabaldes e arredores, satélites e regiões administrativas nos levaram aos banzeiros e remansos teórico-amazoniais. Em tropografias (MEDEIROS; SILVA JUNIOR, 2011) que atrelam práticas poéticas expressas em textos e vocalidades, performances e rituais, em prosa contada ou cantada, pelas raizamas espraiadas por brasis liminares uma nova história se escreve. Etnoflanando e mapeando relevos pensamentais nos vãos, vales e veredas, somou-se a sistematização crítica comparada que visa conferir atualidade e brasilidade a importantes legados europeus. Assim, lançamos em arena a proposta de polifonia, ensejada por Mikhail Bakhtin para caracterizar certa tipologia romanesca, alargando o entendimento do termo à práxis do crítico literário e dos encontradores da geopoesia. Bem como observamos, nos ensaios de Walter Benjamin, “imagens de pensamento” para discutir a condição do geopoeta (Der Erzähler). Condição andarilha, diaspórica e transitória, que é a dos povos colonizados, marginais, periféricos, subalternos. Desse modo, tecendo cartografias ético-estéticas, propomos uma malha crítica que assume de maneira equânime as vozes do pensador russo e do autor das Passagens, de Bolle, Candido, Bezerra; Krenak, Wapichana, Wassu, Muylaert, Turchi, Pimentel – e de quem mais chegar. Finalmente, estes apontamentos visam oferecer um arcabouço inacabado dos conceitos em progresso tecidos no seio da geopoesia – maneira politicamente responsiva de estar, pensar e mover no Brasil deste Terceiro Milênio. Referências: BAKHTIN, Mikhail. Problemas da poética de Dostoiévski. Trad. P. Bezerra. RJ: Forense Universitária, 2010. BENJAMIN, Walter. Documentos de cultura, documentos de barbárie: escritos escolhidos. Sel. e apresentação: Willi Bolle. SP: Cultrix/EDUSP, 1986. BEZERRA, Paulo. Polifonia. BRAIT, B. (Org). Bakhtin: conceitos-chave. SP: Contexto, 2005, p. 191-200. BOLLE, Willi. Apresentação. BENJAMIN, W. Documentos de cultura, documentos de barbárie: escritos escolhidos. Sel. e apresentação: Willi Bolle. SP: Cultrix/EDUSP, 1986. BOLLE, Willi. grandesertão:br: O romance de formação do Brasil. SP: Duas Cidades; Ed. 34, 2004. CANDIDO, Antonio.Vários Escritos. RJ: Ouro sobre Azul/ SP: Duas Cidades, 2011. MEDEIROS, Ana; SILVA JUNIOR, Augusto. Os parceiros de Águas Lindas: ensino de literatura pelas letras de Goiás. Goiânia: R&F Editora, 2018. A BUSCA DO MÉTODO EM CARPEAUX E AUERBACH: PONTOS DE CONTATO, TRAVESSIAS André da Silva Rosa Junior Resumo: O alemão Erich Auerbach (1892 - 1957) e o austríaco Otto Maria Carpeaux (1900 1978), autores, respectivamente, da Mimesis: a representação da realidade na literatura ocidental e da História da Literatura Ocidental, obras contemporâneas que estabelecem entre si um amplo diálogo em diversas perspectivas, têm inúmeros pontos de contato em suas vidas e em seus métodos analíticos para o trato de textos literários. Judeus e intelectuais, ambos os autores tiveram de deixar a Europa para sobreviver à perseguição nazista que crescia no velho continente. As obras magnas que os dois pensadores escreveram, portanto, nasceram fora de suas pátrias, no amargor do desterro: Auerbach, na Turquia, longe das bibliotecas alemãs; Carpeaux, no Brasil, em um idioma que não era seu. Movidos pela formação humanista que receberam de uma Europa em ruínas, prestes a desaparecer, as suas obras se estruturam segundo uma concepção universalista da literatura, a Weltliteratur sobre a qual falava o polímata alemão Johann Wolfgang von Goethe (1749 - 1832). Para além das aproximações biográficas, esta comunicação se propõe a discutir as convergências metodológicas e os pontos de contato entre os dois pensadores em suas respectivas obras, partindo da relação que estabelecem com os autores sobre os quais lançam luz e da própria descrição que fornecem a respeito de suas metodologias. Ademais, como arcabouço teórico, a comunicação se propõe a desenvolver alguns apontamentos levantados pelos críticos Antonio Candido, Alfredo Bosi e Franklin de Oliveira. Referências: ADORNO, Theodor W. Minima Moralia. São Paulo: Ática, 1992. AUERBACH, Erich. Mimesis: A representação da realidade na literatura ocidental. São Paulo: Perspectiva, 2021. BOSI, Alfredo. Relendo Carpeaux. Estudos Avançados, [S. l.], v. 27, n. 78, p. 279-290, 2013. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/eav/article/view/68691. Acesso em: 6 set. 2021. BOSI, Alfredo. “Por um historicismo renovado”. Teresa – revista de literatura brasileira, n. 1, 2000, pp. 9-47. Republicado em: Literatura e resistência. São Paulo: Cia das Letras, 2002, pp. 753. CANDIDO, Antonio. Literatura e Sociedade. Rio de Janeiro: Ouro sobre azul, 2006. CARPEAUX, Otto Maria. História da Literatura Ocidental. Brasília: Edições do Senado Federal, 2008. CARPEAUX, Otto Maria. Ensaios Reunidos. Rio de Janeiro: TopBooks, 1999. v. 1. CARPEAUX, Otto Maria. Ensaios Reunidos. Rio de Janeiro: TopBooks, 2005. v. 2. CARVALHAL, Tania Franco. Literatura comparada. São Paulo: Ática, 2006. GILLESPIE, Alyssa Dinega. Taboo Pushkin - Topics, Texts, Interpretations. Wisconsin: University of Wisconsin Press, 2012. LÖWY, Michael; SAYRE, Robert. Revolta e Melancolia. O romantismo na contramão da modernidade. São Paulo: Boitempo, 2015. LÖWY, Michael. As Aventuras de Karl Marx contra o Barão de Münchhausen – Marxismo e Positivismo na Sociologia do Conhecimento. São Paulo: Cortez, 1998. MALCHER, Beatriz. O método Mimesis - Contribuições de Erich Auerbach à crítica literária. Terceira Margem , v. 39, p. 8-27, 2019. OLIVEIRA, Franklin de. A fantasia exata. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1959. SAID, Edward W. “Introdução à Edição Comemorativa de Cinquenta Anos da Edição Americana” in: AUERBACH, Erich. Mimesis: A representação da realidade na literatura ocidental. São Paulo: Perspectiva, 2021. SPIVAK, Gayatri Chakravorty. Pode o subalterno falar? Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003. SCHWARZ, Roberto. Ao vencedor as batatas. São Paulo: Duas Cidades; 34. 2000. WAIZBORT, Leopoldo. A Passagem do três ao um: crítica literária, sociologia, filologia. São Paulo: Cosac Naify, 2007. O DOM, O MISTÉRIO, O NADA. MAX MARTINS: POESIA E A QUESTÃO DA RESPOSTA André Luis Valadares de Aquino Resumo: Posso afirmar que o principal livro de Max Martins em que o endereçamento como questão de poética aparece de maneira decisiva é “Para ter onde ir”, de 1992, livro publicado por Massao Ohno e Augusto Massi, com as famosas fotografias de Bela Bosordi e com o projeto gráfico de Age de Carvalho. Nesse livro em que se identifica um momento central da poesia de Max, seguido de “Caminho de Marahu”, de 1983, e de “60/35”, de 1986, este que sugere um estado de madureza de vida e poesia, o endereçamento adquire uma função temática. “Para ter onde ir”, desde o título, ao fim e ao cabo, evoca um conjunto de tensões, entre as quais, ir e ficar, doar e permanecer, hospedar e desabrigar, compartilhar e guardar, desnudar e interditar, chegar e após, findar, recomeçar e morrer; justamente tópicas da relação com um pensamento oriental, na forma que se propõe como leitura poética do “I-Ching” ou de “O livro das mutações”, e com um pensamento da resposta e do dom. Pretendo, então, aproximar algumas questões da poesia de Max Martins a questões do pensamento de Jacques Derrida, filósofo que pergunta numa relação de alteridade com a poesia e com outras formas de vida: “quem responde?”, e, assim, “quem sou eu?” (Derrida, 2002: 92). Entendo que as questões do sujeito e do endereçamento, assim como da relação entre vida e poesia, em “Para ter onde ir”, adquirem intensidade na medida em que o livro investe numa experiência do caminho. Referências: DERRIDA, Jacques. “Carta a um amigo japonês”. In: OTTONI, Paulo (Org.). Tradução: a prática da diferença. Campinas: Editora da UNICAMP, 2005, p. 21-27. ----. “Che cos’è la poesia?” (1988). Trad. Tatiana Rios e Marcos Siscar. In: Inimigo Rumor, n.10 (maio de 2001), pp. 113-116. (“Che cos’è la poesia?” In: SILVA, Rafael. Que coisa é traduzir ‘Che cos’è la poesia?’ de Jacques Derrida? Cisma, n. 8, 2016, p. 105-111.) (Che cos'è la poesia? Trad. Osvaldo Manuel Silvestre. Coimbra: Angelus Novus, D.L. 2003). ----. Demorar: Maurice Blanchot.T rad. F. Trocoli e C. Rodrigues. Florianópolis: Ed. UFSC, 2015. (Em francês: Demeure: Maurice Blanchot. Paris: Galilée, 1998). ----. Essa estranha instituição chamada literatura. Trad. M. Dias Esqueda. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2014. (Em inglês: “‘This Strange Institution Called Literature’: An Interview with Jacques Derrida”. In: Derek Attridge, ed. Acts of Literature. New York: Routledge, 1992). ----. O animal que logo sou (a seguir). Trad. F. Landa. SP: Ed UNESP, 2002. ----. Cartão Postal. Trad. Simone Perelson; Ana Valéria Lessa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007. ----. “Circonfissão”. In: BENNINGTON, G. e DERRIDA, J. (orgs.). Jacques Derrida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1996. (Em francês: “Circonfession: Cinquante-neuf périodes et périphrases”. In: DERRIDA, J., BENNINGTON, G. Jacques Derrida. Paris: Éditions du Seuil, 1991). ----. Dar a morte. Trad. Fernanda Bernardo. Coimbra: Palimage, 2015. Donner la mort. Paris: Galilée, 1999. SISCAR, Marcos. Jacques Derrida. Literatura, política, tradução. Campinas: Autores Associados, 2013. ----. “A desconstrução de Jacques Derrida”. In: BONNICI, T. e ZOLIN, L.O. (org.). Teoria literária: abordagens históricas e tendências contemporâneas. Maringá: Eduem, 2005, p.171-180. ----. Jacques Derrida. Rhétorique et philosophie. Paris: L'Harmattan, 1998. SISCAR, Marcos; NATALI, Marcos (orgs.). Margens da democracia: a literatura e a questão da diferença. Campinas: Editora da Unicamp; São Paulo: Edusp, 2015. MACIEL, Maria Esther. Uma poética do caminho. In.: Para ter onde ir. Org. de Age de Carvalho. Belém: Ed. Ufpa, 2016. Coleção Poesia Completa, 8. MARTINS, Max. Para ter onde ir. Augusto Massi & Massao Ohno Editor. São Paulo, 1990. ----. Para ter onde ir. Org. de Age de Carvalho. Prefácio de Maria Esther Maciel. Belém: Ed. Ufpa, 2016. Coleção Poesia Completa, 8. ----. Poemas reunidos 1952-2001. Prefácio de Benedito Nunes. Belém: Ed. Ufpa, 2001. NASCIMENTO, Evando. Derrida e a literatura: “notas” de literatura e filosofia nos textos da desconstrução. São Paulo: É Realizações, 2015. NUNES, Benedito. Max Martins, Mestre aprendiz. In.: Do Marajó ao arquivo. Breve panorama da cultura do Pará. Org. Victor Sales Pinheiro. Belém: Secult/PA, 2012. POR UM CORO POLIFONICO: REFLEXÕES SOBRE POLIFONIA EM MEDEIA, DE EURÍPIDES Bárbara Cândido Menezes Resumo: Este trabalho propõe uma reflexão sobre o conceito de polifonia, cunhado por Mikhail Bakhtin, partindo de uma análise crítica dos estásimo cantados pelo coro em Medeia, de Eurípides (480 a.C. — 406 a.C.). O objetivo é fazer uma leitura crítica sobre polifonia, ainda considerando diversas perspectivas sobre o termo, como o de Calame (2013) sobre as diferentes vozes, e trazer uma reflexão sobre em como essa polifonia poderia estar presente nessa tragédia. O que instiga essa pesquisa é o interesse em saber até que ponto é possível estender esse conceito Bakhtiano (Young, 2003), visto que mesmo sendo um assunto bastante vasto, o autor não considera o teatro como gênero polifônico (Lopes apud Lemos, 2008). Para este fim, foi feita uma pesquisa bibliográfica que tivessem textos voltados para o conceito de polifonia de alguns pesquisadores de Bakhtin tais como Barros e Fiorin (2003), Bezerra (2005), assim como alguns dos autores pesquisadores sobre tragedias atenienses, tais como Calame (2013), Lemos (2008), Sousa (2012) e Young (2003). Em seguida, algumas passagens do coro de Medeia foram destacadas a fim de se pensar possíveis maneiras pelas quais essa polifonia seria possível. Em suma, o objetivo presente projeto é gerar uma reflexão sobre o sobre os limites do conceito de Bakhtin, a fim de promover debates acerca do conceito em dialogo com o teatro. Referências: BARROS, D. L. P. de; FIORIN, J. L. Dialogismos, polifonia e intertextualidade: em torno de Bakhtin. Editora da Universidade de São Paulo, 1994. (Ensaios) BEZERRA, P. Polifonia. In: BRAIT, B. Bakhtin: conceitos-chave. São Paulo: Contexto, 2005. EURÍPIDES. Medeia. Edição bilingue; tradução, posfácio e notas de Trajano Vieira. São Paulo: Editora 34, 2010. CALAME, C. Choral polyphony and the ritual functions of tragic songs. In: GAGNÉ, R.; HOPMAN, M. G. (org.) Choral mediations in Greek tragedy. Cambridge: Cambridge University Press, 2013, pp. 35-57. LEMOS, Tércia Montenegro. Gota d’água: um discurso retextualizador de Medéia. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará. Centro de humanidades. 2008. SOUSA, Harlon Homem de Lacerda. Um dia, várias vozes: palavra autoritária e discurso persuasivo na medeia de Eurípides. Macabéa – Revista Eletrônica do Netlli, Crato, v. 1., n. 1., 2012, p. 179-189. YOUNG, D. A. (2003). The Democratic Chorus- Culture, Dialogue and PolyphonicPaideia. Democracy & Nature, 9(2), 221–235. A DELEGAÇÃO CIENTIFICA AUSTRÍACA NO BRASIL, POR OCASIÃO DO CASAMENTO DA PRINCESA LEOPOLDINA COM DOM PEDRO I Eckhard Ernst Kupfer Resumo: ABRALIC 2022 Eckhard E. Kupfer: Inscrição de comunicação Resumo: Por ocasião do casamento da princesa Leopoldina com dom Pedro I. no ano de 1817, o governo austríaco, liderado pelo chanceler príncipe de Metternich, chamou um grupo de cientistas do Império Austro-húngaro para acompanhar a princesa, com o objetivo de conhecer e pesquisar a flora e fauna brasileiras. Metternich também tinha interesses comerciais, devido ao fato de que o Império de Habsburgo não possui colônias no além-mar. Foram escolhidos o professor Johann Mikan, como botânico, os ilustradores Thomas Ender e Johann Buchberger, o zoólogo Johann Natterer, o mineralogista Johann Emanoel Pohl, o jardineiro Heinrich Wilhelm Schott, bem como os cientistas bávaros Johann Baptist von Spix e Carl Friedrich von Martius. O objetivo desta apresentação será principalmente pesquisar e analisar as viagens de Pohl e Schott, pelo Rio de Janeiro, Minas Gerais e Goiás durante os anos de 1818 até 1821, e a extensa viagem e pesquisa de Johann Natterer entre 1818 e 1835, do Rio de Janeiro via Minas Gerais, Mato Grosso, Rondônia, Amazonas até Belém de Pará, donde embarcou em setembro de 1835, durante a revolução da Cabanagem, num navio inglês de volta para a Europa. Durante suas expedições, tanto Pohl quanto Natterer coletaram plantas, animais, anfíbios, minerais e objetos indígenas e os enviaram durante a viagem para Viena, onde foi instalado um museu brasileiro em 1821. Pohl relatou em 2 volumes, semelhante a Spix e Martius (em 3 volumes) a viagem pelo Brasil. Natterer deixou somente cartas, relatórios individuais e diários sobre os resultados da sua extensa estadia. Porém o material enviado para Viena constitui até hoje a base do Museu Etnológico da Áustria. Referências: Viagem no Interior do Brasil, João Emanuel Pohl, entre 1817 a 1821, 2 volumes, Instituto Nacional do Livro, Rio de Janeiro 1951. Johann Natterer e a Missão Austríaca, por Christa Riedl-Dorn , Editora Index, Petrópolis 1951. Der Liebe zur Naturgeschichte halber, Johann Natterers Reisen in Brasilien 1817 - 1836, Kurt Schmutzer, Verlag der Österreichischen Akadmie der Wissenschaften, Wien 2011. LEVEZA, DESASSOSSEGO E PEREGRINAÇÕES NA POESIA DE RENATA PIMENTEL: ETNOFLÂNERIES DAS PASSAGENS, PARAGENS E MIGRAÇÕES Eduardo de Lima Beserra Resumo: Este estudo tem como objeto artístico de apreciação a obra Da arte de untar besouros (2015), da poeta recifense Renata Pimentel. Como não há tempo-espaço para o vislumbre da obra em totalidade, dados os limites que esse constructo textual impõe, dela selecionam-se os poemas “despetalado”, “olarias e engenhos aquosos”, “cartilha primitiva” e “pré-tensões” – títulos sempre escritos em minúsculas, conforme predileção da autora. Por meio da geopoesia (SILVA JUNIOR, 2021) e dos diálogos que esse campo do saber estabelece com outras formas de dizer do mundo e do ser, buscamos investigar nesses poemas as relações que a eu poética firma com o outro, perfazendo um caminho de peregrinações pelas sendas íntimas do humano e pelas estradas pelas quais a flâneur demarca seu caminhar. Esta análise destaca o enlevo da voz lírica pelos elementos da natureza e pelos desejos doces e amargos que se agitam no viver, o que instaura etnoflâneries de levezas (CALVINO, 1990) e desassossegos (MEDEIROS, 2017). Quanto ao escopo teórico, o estudo se vale das contribuições geopoéticas do Professor Augusto Silva Júnior, sobretudo das que estão situadas no campo da lírica/poesia; do pensamento de Mikhail Bakhtin, vai-se ao conceito de alteridade; além disso, estende-se à filosofia de Jean Paul Sartre, quando da necessidade de trazer a noção filosófica do outro, mediante as estesias (ou sensibilidades) e a concepção de liberdade. Outros críticos e teóricos da literatura, assim como obras propriamente literárias são mencionados em função do que as análises poéticas empreendidas solicitam. Com este esforço, apreende-se e compreende-se, por intermédio das potências poéticas, o papel que a literatura de campo (atrelada à crítica polifônica) pode desempenhar nas transmutações humanas e sociais, para além do que se encerra nos espaços etéreos do ser em movimentos de passagens, paragens e migrações. Referências: BUENO, I. J. Liberdade e Ética em Jean-Paul Sartre. Porto Alegre. 2007. Disponível em <http://tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/2957/1/392133.pdf>. Acesso em 28 abril 2022. CALVINO, Italo. Seis propostas para o próximo milênio. 3. ed. Trad. Ivo Barroso. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. MEDEIROS, Ana Clara Magalhães de. Poética socrática, tanatografia e a invenção do desassossego. 2017. 213 f., il. Tese (Doutorado em Literatura) - Universidade de Brasília, Brasília, 2017. PIMENTEL, Renata. Da arte de untar besouros. Rio de Janeiro: Confraria do vento, 2015. SILVA JUNIOR, Augusto Rodrigues da. Geopoesia das águas no centroeste-norte: etnoflâneries e enfrentamentos em José Godoy Garcia e Milton Hatoum. In: SILVA, Francisco Bento da; NASCIMENTO, Maria de Fátima; CAPAVERDE, Tatiana da Silva (orgs.). Narrativas Literárias: Ensaios Críticos e Tradução Cultural. 1ª ed. Rio Branco: Editora Nepan, 2020. p. 37-66. Disponível em: https://www.academia.edu/45649690/Narrativas_liter%C3%A1rias_ensaios_cr%C3%ADticos_e_ tradu%C3%A7%C3%A3o_cultural. Acessado em 24 jun. 2021. QUANDO CAETANA CHEGAR: DIÁLOGO ENTRE ARIANO SUASSUNA E OS NARRADORES DE SÃO JOSÉ DO BELMONTE Ester Suassuna Simões Resumo: O “Romance de Dom Pantero no Palco dos Pecadores” (2017), de Ariano Suassuna, é composto por oito cartas assinadas por Dom Pantero do Espírito Santo e endereçadas aos nobres cavaleiros e belas damas da Pedra do Reino. Ao estudarmos, no doutorado, a performatividade da escrita de Suassuna, percebemos a importância que o contar sertanejo representa para essa obra. Decidimos, portanto, empreender uma “saída”, como as de Dom Quixote e Dom Pantero, em busca desse contar. A estrada nos guiou até a cidade de São José do Belmonte no sertão de Pernambuco, terra da Pedra do Reino. Fizemos duas visitas à cidade, em 2018 e 2020, e entrevistamos contadores de história de idade avançada, imaginando-os como os destinatários das epístolas de Dom Pantero. Investigamos a performance também em seus contares e criamos, a partir das transcrições das entrevistas, diálogos em que eles conversam entre si e com os personagens de Suassuna sobre temas como morte, festas da cidade, cangaço e criação artística. Neste trabalho, a partir do que foi postulado por autores como Ecleia Bosi (1983), Alessandro Portelli (2016) e Walter Benjamin (1987), trataremos de temas como memória, oralidade e performance na análise de um desses diálogos, que intitulamos “Quando Caetana chegar”. Assim como a cultura popular, que Suassuna sempre defendeu, os contadores de história são figuras que falsamente parecem desaparecer. Neste trabalho, demonstramos que não desapareceram e acredito que não vão desaparecer, pois estão guardando, em seus contares, um futuro possível. Referências: BENJAMIN, Walter. O narrador. Considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. In: _____. Walter Benjamin – Obras escolhidas. São Paulo: Editora Brasiliense, 1987. pp.197-221. BOSI, Ecleia. Memória e sociedade: lembranças de velhos. São Paulo: T. A. Queiroz, 1983. FARIAS, André Brayner de. Poéticas da hospitalidade: ensaios para uma filosofia do acolhimento. Porto Alegre: Zouk, 2018. MOURA, Valdir José Nogueira de. São José do Belmonte (PE) – História. Recife: FIDEM, 1999. PORTELLI, Alessandro. História oral como arte da escuta. São Paulo: Letra e Voz, 2016. SUASSUNA, Ariano. Romance de Dom Pantero no Palco dos Pecadores. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2017. DO RIO E DA CIDADE: CULTURA AMAZÔNICA EM ASTRID CABRAL Fabio Fadul de Moura Resumo: O presente trabalho dedica-se ao estudo de uma seção de poemas do primeiro livro da poeta contemporânea brasileira Astrid Cabral. Trata-se de Ponto de cruz (1979), enfeixado por um grupo de poemas amazônicos. Acerca deles, é possível dizer dois casos: Astrid Cabral percorre as ruas de uma cidade amazônica escrita e faz um correr de olhos pelas margens dessa cidade poética, focalizando ora a natureza ora a cultura urbana a ela entrelaçada. Nesse sentido, os poemas que contêm a presença do rio tipificam a realidade focalizada como aquela que se caracteriza pela presença das águas (PIZARRO, 2012) e, por esse motivo, são tomados como ponto de partida para acompanhar o trajeto delineado pelo sujeito poético. O percurso inicia no espaço natural das barrancas, passa pelos primeiros contatos com o urbano nos arredores da cidade e vai até a produção de dinâmicas de uma terceira instância, a qual resvala em uma perspectiva de indissociabilidade entre aqueles dois campos (finalmente transformados). É preciso ter uma perspectiva à margem para enxergar a margem da cidade amazônica não como um outro distante, mas um lugar de encontro. Por esse motivo, busca-se discutir como a autora desfaz a ideia planificadora com que a Amazônia foi comumente tratada na história literária do Brasil e extrapola as bases do paradigma modernista dos anos 1920. Referências: CABRAL, Astrid. Ponto de cruz. Rio de Janeiro: Cátedra, 1979. PIZARRO, Ana. Amazônia: as vozes do rio – imaginário e modernização. Tradução Rômulo Monte Alto. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2012. O "EU" E O "OUTRO": A ESCRITA LITERÁRIA ETNOGRÁFICA DE JEAN MARIE GUSTAVE LE CLÉZIO Felipe Guimarães Gonçalves Resumo: Esta comunicação pretende analisar o ensaio Haï (1971) do autor franco-mauriciano Jean-Marie Gustave Le Clézio. Escritor viajante, J. M. G. Le Clézio possui um espaço poético globalizado que ultrapassa as fronteiras francesas. Nascido em Nice, Le Clézio não se identifica com os imperativos da nação França e afirma que sua verdadeira pátria é a língua francesa. Seus antepassados são originários da Ilha Maurício e quando criança o menino sempre escutava histórias do tempo que viveram lá. Além do antepassado mauriciano, Le Clézio possui também uma relação com a Nigéria onde o pai era médico sanitarista. Le Clézio considera o período de vivência no país como modificador, pois foi para ele um encontro intelectual. Dessa forma, a África, a América e também a Ásia estão presentes na geografia poética do autor. Entre o fim dos anos 1960 até os anos 1980, sua estadia foi na América Latina e o povo marginal escolhido foram os povos indígenas. A busca pelo outro para o autor é mais que um interesse próprio, é uma herança familiar. É a partir de sua experiência familiar nas Ilhas Maurício e na Nigéria que ele realiza a sua experiência com a cultura pré-colombiana na América Latina, o fato de já ter contato com outras culturas marginalizadas o faz viver no Novo Mundo um “estranho familiar”. Em Haï, Le Clézio escreve sua a experiência vivida com os Emberas, povo ameríndio da província do Darién, na fronteira do Panamá com a Colômbia. O livro é, portanto, um ensaio literário etnográfico no qual o autor escreve suas percepções sobre esse povo. Para o desenvolvimento desse trabalho foram utilizadas as reflexões sobre o gênero ensaio de Adorno e Starobinski, literatura e etnografia de James Clifford e também reflexões sobre a literatura de Maurice Blanchot. Referências: ADORNO, Theordor W. Notas de literatura I. Tradução e Apresentação de Jorge M. B. de Almeida. São Paulo: Duas Cidades; Ed. 34, 2003. BLANCHOT, Maurice. A literatura e o direito à morte. In: A parte do fogo; tradução de Ana Maria Scherer. Rio de Janeiro: Rocco, 2011. CAVALLERO, Claude. Les marges et l’origine. Entretien avec J.-M. G. Le Clézio. Europe revue littéraire mensuelle, Paris, n. 87, p. 29-38, 2009. CLIFFORD, James. A experiência etnográfica: antropologia e literatura no século XX. Organização e revisão técnica de José Reginaldo Santos Gonçalves. 2ª ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2002 CORTANZE, Gérard. J.M.G. Le Clézio: le nomade immobile. Paris: Editions du Chêne-Hachette Livre, 1999. KOUAKOU, Jean-Marie. Chercheur d’or dans le désert primordial. Europe revue littéraire mensuelle, Paris, n. 87, p. 139148, 2009. LE CLÉZIO, J.-M. G. Mexique, la magie de la mémoire. Le Monde, Paris, 12/03/2009. Disponível em : https://www.lemonde.fr/livres/article/2009/03/12/mexique-la-magie-de-lamemoire-par-j-m-g-le-clezio_1166892_3260.html Acesso em: 20/09/2019 LE CLÉZIO, J.-M. G. Haï. Genève : Editions d’Art Albert Skira. 1971. STAROBINSKI, Jean. É possível definir o ensaio? In: Remate de Mates, Campinas-SP, (31. 1-2) p. 13-24, Jan./Dez. 2011 THIBAULT, Bruno. J. M. G. Le Clézio et la métaphore exotique. New York : Editions Rodopi B. V. Amsterdam, 2009 THIBAULT. Bruno. Comme sur le seuil d’un monde nouveau : J.-M. G. Le Clézio et l’écriture du chamanisme. Europe revue littéraire mensuelle, Paris, v. 87, p. 116-128, 2009. ENSAIO CRÍTICO E FOTOGRÁFICO DE UM ETNOFLÂNEUR QUE CAMINHA PELA PERIFERIA DO CAPITALISMO: O CASO DO AFUNDAMENTO DO SOLO EM BAIRROS DE MACEIÓ-AL Francisco Jadir Lima Pereira Resumo: Este trabalho expõe um ensaio fotográfico e etnográfico por meio da flânerie realizada, em 2022, pelas ruínas de Bebedouro, Mutange, e Pinheiro, bairros residenciais de Maceió, capital de Alagoas, onde o afundamento do solo levou centenas de moradores a abandonarem suas casas, permanentemente. Segundo estudos do Serviço Geológico do Brasil, “está ocorrendo desestabilização das cavidades provenientes da extração de sal-gema, provocando halocinese (movimentação do sal)” (CPRM, 2022, p. 39), consequência da exploração mineral produzida pela empresa petroquímica Braskem. “O modo de produção de mercadorias e o apelo ao consumo não prevêm repouso ou contemplação, pois, à maneira dos mercados financeiros, o homem não deve dormir nunca” é o que também denuncia a mensagem pincelada por um morador nos muros da casa evacuada: “enquanto eu dormia a Braskem cavou a minha cova”. Por via da encruzilhada entre a crítica polifônica, sob égide do pensador russo Bakhtin, e os estudos das Passagens, das fantasmagorias e das flâneries urbanas, herança intelectual do marxista judeu Walter Benjamin, caminho pelo labirinto de casas assombradas pelo touro econômico do capitalismo extrativista, munido pela técnica reprodutiva da fotografia; com a ciência de que “a objetiva é um instrumento como o lápis ou o pincel; a fotografia é um procedimento, como o desenho e a gravura, porque o que faz o artista é o sentimento e não o procedimento." (BENJAMIN, 2009, p. 723). Desse modo, assim como o “anjo da história” benjaminiano, escancaro os olhos perplexos diante da tempestade do progresso, colhendo fragmentos diante dos escombros deixados pela multinacional do terror. Referências: BAKHTIN, Mikhail. Problemas da poética de Dostoiévski. 5. ed. Trad. Paulo Bezerra. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010. BENJAMIN, Walter. Passagens. Ed. Org. por Willi Bolle. Trad. Irene Aron e Cleonice Paes Barreto Mourão. 3 vols. 2. ed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2009. ________. Pequena história da fotografia. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. Obras escolhidas I. Tradução Sérgio Paulo Rouanet. 3. ed. Vol. 1. São Paulo: Brasiliense, 1987, p. 91-107. ________. Sobre o conceito da história. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. Obras escolhidas I. Tradução Sérgio Paulo Rouanet. 3. ed. Vol. 1. São Paulo: Brasiliense, 1987, p. 222-232. CPRM. Estudos sobre a instabilidade do terreno nos bairros Pinheiro, Mutange e Bebedouro, maceió (al), Vol. 1. Brasília 2019. Disponível em: < https://rigeo.cprm.gov.br/jspui/bitstream/doc/21133/1/relatoriosintese.pdf > Acesso em: 05 mai. 2022 "O SERTÃO MUDOU LIGEIRO DEMAIS": UMA ROMARIA PELA FRAGMENTAÇÃO DAS IDENTIDADES NORDESTINAS NO ROMANCE DORA SEM VÉU, DE RONALDO CORREIA DE BRITO Haymone Leal Ferreira Neto Resumo: Este trabalho investiga a fragmentação das identidades nordestinas no romance Dora sem véu. Nesta narrativa, publicada em 2018, Ronaldo Correia de Brito nos conduz às memórias de Francisca, uma socióloga que viaja à cidade de Juazeiro do Norte, no Ceará, num caminhão de romeiros. No percurso que realiza, ao mesmo tempo em que busca alguma pista a respeito de Dora, sua avó, que foi abandonada pelo avô e pelo filho no porto de Mucuripe, em Fortaleza, segue recordando episódios do passado, reencontrando personagens de sua juventude e descobrindo fatos sobre o marido que põem seu casamento em crise. Nesse mesmo trajeto, ao lado das memórias pessoais que são paulatinamente tecidas, conhece e se envolve com as histórias de outras personagens, como a de Daiana, jovem que viaja vestida de noiva a fim de pagar uma promessa por ter feito um aborto; ou mesmo de Wires, costureiro do Agreste pernambucano que vai ao santuário agradecer pela recuperação de um acidente de motocicleta. É neste cenário, em que estão presentes ao mesmo tempo as tradições do interior do Nordeste e a crise das identidades da região, que encontramos terreno para a investigação proposta neste trabalho. Para tanto, tomamos por base os estudos de Hall (2006) a respeito do declínio das identidades estabilizadoras do mundo social; de Berger e Luckmann (2004) em relação às dificuldades de manutenção do monopólio dos sistemas de sentidos e valores locais na modernidade; e de Bauman (2021) sobre os impedimentos crescentes das localidades de gerar e negociar sentidos. Entendemos que o autor do romance se coloca como intérprete e guardião das identidades sertanejas, mas depara com um Sertão profundamente fragmentado pela modernidade tardia. É este contato, uma “desconstrução e recomposição do mundo e do eu” (MAGRIS, 2016), uma possível chave para a interpretação do romance. Referências: BAUMAN, Zygmunt. Globalização: as consequências humanas. Rio de Janeiro: Zahar, 2021. BERGER, Peter L; LUCKMANN, Thomas. Modernidade, pluralismo e crise de sentido: a orientação do homem moderno. Petrópolis: Vozes, 2004. BRITO, Ronaldo Correia de. Dora sem véu. São Paulo: Alfaguara, 2018. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 11. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2006. MAGRIS, Claudio. Prefácio. In: SARAMAGO, José. Obras Completas, 4. São Paulo: Companhia das Letras, 2016. OS BUCHSBAUM AO ENCONTRO DO POVO: VISÕES DE UM TEATRO POPULAR Howardinne Queiroz Leão Resumo: Apresentamos um recorte da atual pesquisa de doutorado que busca a revelação da trajetória e os desdobramentos do movimento “Teatro ao encontro do povo” (TEP), liderado pelo casal de artistas franco austríaco Florence e Otto Buchsbaum, em atividade entre as décadas de 1960 e 1980, a partir da cidade de Santos, São Paulo. A premissa principal segundo seu discurso foi a realização de um teatro popular que pudesse renovar a face do teatro nacional. Curiosamente, o TEP fomentou a criação de aproximadamente 60 grupos teatrais amadores espalhados pelo país, mas não se encontrou nenhum registro na bibliografia a respeito. Interessa-nos discutir o que representou o “Teatro ao encontro do povo” para a época e se houve envolvimento com outras práticas semelhantes, na perspectiva político cultural como, por exemplo, o CPC da UNE. Partimos de referenciais do teatro brasileiro moderno cruzando com fontes documentais e a história oral. Visamos compreender o projeto de teatro popular em perspectiva e, dessa forma, vislumbrar de que maneira sua atuação na formação de grupos amadores incidiu sobre as formas de produção e recepção dos mesmos no fazer teatral brasileiro e, questionar a perspectiva estrangeira reincidida sobre a visão de teatro popular brasileiro. Para isso, utilizamos autores que discutem o teatro brasileiro moderno com o Teatro Comparado, formulado por Jorge Dubatti. O tema justifica-se pelo seu ineditismo e propõe uma revisão na historiografia teatral e nos debates entre teatro e sociedade. Referências: ARRABAL, José, LIMA, Mariângela Alves de e PACHECO, Tânia. Anos 70 – Teatro. Rio de Janeiro: Europa, 1979. ASSAÍ intensifica seu trabalho pela cultura. s/i, 24 jan. 1970. BOAL, Augusto. Teatro do Oprimido e outras Poéticas Políticas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1977. ______. 2016. O que pensa você da arte de esquerda? In: CARVALHO, Sérgio Ricardo (Org.). Primeira Feira Paulista de Opinião. 1ª ed. São Paulo: Expressão Popular, 2016. BOM MEIHY, José Carlos Sebe. Manual de História Oral. 5ª edição. São Paulo: Edições Loyola, 2005. BOM MEIHY, José Carlos Sebe; HOLANDA, Fabíola. História oral: como fazer, como pensar. 2ª ed. São Paulo: Contexto 2011. BOM MEIHY, José Carlos Sebe; RIBEIRO, Suzano L. Salgado. Guia prático de história oral: para empresas, universidades, comunidades, famílias. São Paulo: Contexto 2011. BAKHTIN, Mikhail. A cultura popular na idade média e no renascimento: o contexto de François Rebelais. São Paulo: Hucitec/Editora da Universidade de Brasília, 1993. BENJAMIN, Walter. Teses sobre o conceito de história. In: Magia e técnica, arte e política. 3ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1987. BELOCH, Israel (Coord.). Dicionário dos Refugiados do Nazifascismo no Brasil. Realização: Casa Stefan Zweig. Rio de Janeiro: Imprimatur, 2021. BRECHT, Bertolt. Estudos sobre teatro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005. BRITO, Rui. Entrevista concedida à autora sobre o TESC. Manaus, jun. 2019. BUCHSBAUM, Arthur. Entrevista concedida à autora sobre o TEP [virtual]. 2021. BUCHSBAUM, Otto. Vamos mudar a face do teatro nacional. Fato Novo. nº 79, ano 1, 1970. DUBATTI, Jorge. El convívio teatral: teoria y práctica del teatro comparado. Buenos Aires: Atuel, 2003. DUBATTI, Jorge. Filosofía del teatro I: convívio, experiência, subjetividade. 1a ed. Buenos Aires: Atuel, 2007. DUBATTI, Jorge. Cartografía teatral: introducción al Teatro Comparado. Buenos Aires: Atuel, 2008. DUBATTI, Jorge. El teatro teatra: nuevas orientaciones en teatralogía. Bahía Blanca: Editorial de la Universidad del Sur, 2009. A POIÉSIS FICCIONAL EM "O DAR DAS PEDRAS BRILHANTES" Joao Paulo Santos Silva Resumo: Em “O dar das pedras brilhantes”, conto publicado postumamente no volume Estas estórias, em 1969, Guimarães Rosa (1908-1967) cria uma narrativa em que, entre outros, a violência em torno da exploração do garimpo é o ponto de partida para a discussão das relações entre o cosmopolita e as regiões interioranas desassistidas pelo estado. Ademais, o dizer da narrativa desliza do real ao metafísico, do dizer prosaico ao poético, elevando a ficção rosiana à categoria do dizer inaugural de que nos fala Heidegger. Nossa hipótese é que na tessitura do conto emerge o amálgama entre a poesia e a prosa, constituindo uma dimensão poética, que, por seu turno, revela-nos a poiésis ficcional rosiana. Com efeito, impõe-se o escrutínio dos principais trechos do conto a fim de se salientar a presença de um lirismo que tende a iluminar outras veredas de entendimento dos sentidos do texto. Para tanto, o embasamento teórico deste trabalho consiste, entre outros, nas discussões de Staiger (1977), Moisés (2012), Heidegger (2018), além dos estudiosos da obra rosiana, tais como Galvão (2000), Leonel (2000), Bosi (2007), Xisto (1991) a fim de se flagrar no conto sua dimensão poética. Por fim, este trabalho se propõe a lançar luz sobre “O dar das pedras brilhantes” na tentativa de desvelar a travessia poética na ficção rosiana. Referências: BOSI, A. João Guimarães Rosa. In: ______. História concisa da literatura brasileira. 44. ed. São Paulo: Cultrix, 2007. p. 428-434. GALVÃO, W. N. Guimarães Rosa. São Paulo: Publifolha, 2000. HEIDEGGER, M. Que é isto: a filosofia? Trad. Ernildo Stein. Petrópolis, RJ: Vozes, 2018. LEONEL, M. C. Guimarães Rosa: Magma e gênese da obra. São Paulo: Editora UNESP, 2000. MOISÉS, M. A Criação Literária – Poesia e Prosa. 1. ed. rev. e atual. São Paulo: Cultrix, 2012. STAIGER, E. Conceitos fundamentais da poética. Trad. Celeste Aída Galeão. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1977. XISTO, P. À busca da poesia. In: COUTINHO, Eduardo F. (org.) Guimarães Rosa. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1991. (Coleção Fortuna Crítica, v.6). p. 113-141. BRISA DA CORDILHEIRA NO RAP INDÍGENA BRASILEIRO: FLORESTANIA POLIFÔNICA João Paulo Toledo de Carvalho Resumo: Brisa de la Cordillera Collío é o nome da artista de Rap que se apresenta como Brisa Flow. Mineira, filha de artesões mapuches, a compositora é uma das vozes do Rap indígena brasileiro. A presente comunicação consiste em uma cartografia integrante da Tenda da Estrela (capítulo final da pesquisa de doutorado Tendas Nômades e Maquinas de Guerra: o Rap em tempos de Golpe), onde propomos escutas de um repertório de Rap indígena brasileiro. Com 13 anos de existência, o Rap indígena brasileiro se inicia na região de Dourados (MT), dentro das aldeias Jaguapiru e Bororó, com o grupo Guarani Kaiowa, Brô Mc’s, e hoje se espalha por vários territórios e etnias. Brisa Flow iniciou seu trabalho no hip-hop em Belo Horizonte por volta de 2012, publicando alguns raps esparsos, até 2016, quando mudou-se para São Paulo e lançou seu primeiro álbum, Newen, onde sua ancestralidade indígena já figura como uma das temáticas desenvolvidas. Comentaremos aqui os seguintes videoclipes da artista: Fique Viva (2019), Jogadora Rara (2020), e Camburi (2021). Nestes documentos pode-se perceber uma espécie de polifonia florestal. Entre os intertextos que constituem as trama de referências dos clipes temos Dias e Noites de Amor e de Guerra (1978), de Eduardo Galeano, Homem Invisível (2013), de Edi Rock e Mano Brown, Câmara de Ecos (1996), de Wally Salomão, Boca de Lobo (2019), de Criolo, Fuck tha Police (1988), de Nwa, e História da Arte?(2019), performance de Denilson Baniwa na 33ª Bienal de arte de São Paulo. Polifonia que é como o canto da Estrela nas aguas, Melusina antes do grito. Entrar na mata e deixar o “machado afiado da razão” (Benjamin, 2009) dormindo seu sonho “duro de roer” (Krenak, 2022). Em contrapondo ao princípio de cidadania das metrópoles vem a florestania das selvas. Referências: BENJAMIN, Walter. Passagens. Org. ed. bra. Willi Bolle; colab. Olgaria Chain Féres Matos; trad. alemão Irene Aron; trad. francês Cleonice Paes Barreto Mourão ; posfácios Willi Bolle e Olgaria Chain Féres Matos. Belo Horizonte: Editora UFMG; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de sao Paulo. 2009. KRENAK, Ailton. Vida-sonho - Ciclo dos sonhos, com Cris Takuá, Moisés Piysako, Carolina Comandulli e Ana Dantes. Selvagem, ciclo de estudos sobre a vida, acessado em 04/05/2022. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=7VDJGl-49UY "ROSAS DO BURGO CORAÇÃO: UMA ADAPTAÇÃO DRAMATÚRGICA DE TUTAMEIA" Kátia Klassen Resumo: Essa comunicação de pesquisa se ocupa de partilhar a experiência de adaptar para o teatro contos da obra Tutameia de Guimarães Rosa. A reunião de contos publicada ainda em vida (1967) por Guimarães Rosa revela uma escrita ligeiramente diferente de outras obras, desde os prefácios peculiares, até as palavras-síntese abundantes em Tutameia. Além de lidar com essa escrita, segundo Rónai (1968), pendente, estilisticamente da prosa sertaneja que abriga “o lacônico e sibilino, o pedante e o sentencioso”, procuramos entre esses ocultos e evidentes da escrita, recortar a representação do feminino na obra e, nos deparamos com mulheres adultas, jovens, idosas e crianças que, invariavelmente, mostravam as violências do patriarcado praticadas contra elas, cada uma delas narrada com um olhar atento de Rosa. Em princípio, à exceção de Flausina do conto Esses Lopes!, as personagens eram narradas, com poucas aberturas para uma enunciação em primeira pessoa no texto roseano: seria necessário adaptar o foco narrativo; criar a performatividade das histórias para revelar cenicamente os conflitos internos e externos; elaborar a proposta de uma compleição física que compusesse uma semiose discursiva; bem como o uso de um design de luz e de som que conspirassem para uma forma de mostrar essas mulheres. Escolhemos um caminho um pouco ousado talvez, mas que tinha como objetivo trazer o pesadume dessas histórias violentas, baseamo-nos para intensificar esse aspecto na cultura punk. A música, a cultura, o lema punk rock “eu não gosto de gente”, DIY, o estilo de roupa punk, dos anos 90, muito bem sentidas na cidade de São Paulo, seriam nossa ponte entre mulheres de lá e de cá. A construção de uma dramaturgia, para além desses elementos já citados, também passou pela voz e corpo do ator – e essa tarefa foi e ainda é o desafio mais importante dessa... GEOPOESIA DE GOIÁS E TOCANTINS: RAIZAMAS E ENFRONTEIRAMENTO EM TIÃO PINHEIRO Larissa Cardoso Beltrão Resumo: Esta proposta visa abordar a produção literária que nasce nos ambientes rurais, nas pequenas cidades, em comunidades quilombolas, ou de resistências indígenas, espaços nos quais frutifica a chamada literatura do interior, fortemente marcada pelas produções orais. Somos movidos, portanto, a partir das concepções de raizamas e enfronteiramento, que brotam da produção poética de José Sebastião Pinheiro, goiano erradicado no vizinho estado do Tocantins. Nascido numa região outrora denominada corredor da miséria, a lírica de Tião, conduz o leitor às realidades mais comuns e orais, podendo ser compreendido, portanto, como um poeta do campo. Destarte, através dos estudos da poética espacial, seguiremos a trilha dos caminhos percorridos pelo jornalista-poeta com vistas a evidenciar o espaço no qual sua geopoesia – “escrita de terra” (SILVA JUNIOR, MARQUES, 2015) se configura. Para tanto, adotamos o conceito de narrador pensado por Benjamin (1994), segundo o qual é sua interação com o ouvinte, a qual é marcada pela oralidade, e interdiscursividade, bem como outros fatos relacionados à condição humana, reportamo-nos nesse ponto, sobretudo, às pessoas que habitam nessa região de fronteira, marcada pela presença das comunidades quilombolas que resistem às margens do rio Paranã. Assim, nessa confluência de águas, no ponto de intersecção Goiás-Tocantins ambientados ao espaço geográfico de criação do geopoeta José Sebastião Pinheiro buscamos evidenciar as características do gentílico goiano-tocantinense e, por conseguinte, de que maneira a construção topográfica do espaço incide sobre a persistência do homem do interior do país. Para tanto, com vistas a desbravar os caminhos deste Brasil niemar, recorremos aos trabalhos em torno da geopoesia, desenvolvidos por Augusto Silva Júnior (2018). Referências: ALVES, Elizeth da Costa. Geopoesia kalunga: identidades territoriais da comunidade quilombola do Mimoso – Tocantins / Elizeth da Costa Alves. – 2020. 265 f. BAKHTIN, Mikhail. A Cultura Popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais. Trad. Yara Frateschi Vieira. 6. ed. São Paulo: HUCITEC; Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2003. BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política. Tradução de Sérgio Paulo Rouanet. 7. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994, p. 197-221. CANDIDO, Antonio. A literatura e a vida social. In: _____. Literatura e sociedade. São Paulo: Publifolha, 2000. p. 17-36. PINHEIRO, José Sebastião. Alma leve. Palmas: Provisão, 2015. PINHEIRO, José Sebastião. De sonhos e de construção. Palmas: Provisão Estação Gráfica e Editora Ltda, 2008. SILVA JUNIOR, Augusto Rodrigues da; MARQUES, Geórgia da Cunha. Godoy Garcia e Niemar: um canto geral centroestino. ECOS - Estudos Contemporâneos da Subjetividade. vol. 5, n. 2, 2015. SILVA JUNIOR. Augusto Rodrigues da. Literatura e cultura de negros do Brasil central: versos, cantos e performance Kalunga. Revista Cerrados: Revista do Programa de Pós- Graduação em Literatura. v. 19, n. 30, 2010. J. J. VEIGA PRECURSOR DE SARAMAGO: A GEOPOESIA E A TANATOGRAFIA EM A HORA DOS RUMINANTES E AS INTERMITÊNCIAS DA MORTE Marcos Eustáquio de Paula Neto Resumo: Este resumo propõe análise de Literatura Comparada dos romances A Hora dos ruminantes (1966), de J. J. Veiga, e As Intermitências da morte (2005), de José Saramago. Tomamos como base crítica os conceitos de geopoesia, evocado na proposta do ST aqui indicado, e de tanatografia, ambos formulados por Augusto Silva Junior. Com esse percurso, intuímos uma associação teórico-criativa entre a “escrita da Terra” (SILVA JUNIOR; MARQUES, 2015) e a “escrita de morte” (SILVA JUNIOR, 2014) que conduzirá análises de narrativas subterrâneas em cidades e outras arenas invisíveis. Os elementos funéreo e telúrico são pensados como chaves de uma leitura alegórica (BENJAMIN, 2019) que explore os espaços e as narrativas invisíveis neles confinados. Essa “busca pelo invisível” enterrado e esquecido, viabilizada pela matéria literária, encontra nos títulos referidos conteúdo de rica exploração sensível e histórica. Assim, localizamos em ambas as obras situações extraordinárias que mobilizam experimentações estilístico-narrativas e reflexões do âmbito coletivo e individual. Em 1) A Hora dos ruminantes observamos a invasão dos animais como ponto chave para o florescimento do fantástico experimental (BEZERRA, 2005, p. 131) e de uma certa tranquilidade catastrófica (CANDIDO, 2015); 2) e n’As intermitências da morte temos a encarnação da morte, que abdica de sua gadanha e de seu ofício sepulcral de tirar vidas, inserindo toda uma nação em dramas e reflexões político-sociais. O caráter experimental das produções, no que concerne às situações propulsoras do desassossegamento, movimentam a relação dialógica (BAKHTIN, 2018) que intuímos explorar nessa comparação. Assim, esperamos empreender esforço geopoético e tanatográfico na leitura das narrativas saramaguiana e veiguiana, explorando as experiências limítrofes e suas responsabilidades pelo (re)surgimento de vozes, ideias e enfronteiramentos excepcionais. Referências: BAKHTIN, Mikhail. Problemas da poética de Dostoievski. Trad. Paulo Bezerra. 5ª ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2018. BEZERRA, PAULO. DOSTOIÉVSKI: “Bobók”. Tradução e análise de Paulo Bezerra. São Paulo: Ed. 34, 2005. BENJAMIN, Walter. Origem do drama barroco alemão. Tradução e Notas de Sergio Paulo Rouanet. São Paulo: Ed. brasiliense, 1984. SARAMAGO, José. As intermitências da morte. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. SILVA JUNIOR, Augusto R. da. Cora Coralina inédita: encontro das águas da geopoesia na rua do fogo da Literatura de Campo. Anais eletrônicos do XV Congresso Internacional ABRALIC: Circulação, tramas & sentidos na Literatura. Uberlândia: ABRALIC, 2018. SILVA JUNIOR, Augusto Rodrigues da; MARQUES, Geórgia da Cunha. Godoy Garcia e Niemar: um canto geral centroestino. ECOS Estudos Contemporâneos da Subjetividade. vol. 5, n. 2, 2015. SILVA JUNIOR, A. R. da. Tanatografia e morte literária: decomposições biográficas e reconstruções dialógicas. ComCiência. n. 163. Campinas, nov. 2014. VEIGA, José Jacinto. A hora dos ruminantes. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001. TRAVESSIA E COSMOVISÃO CARNAVALESCA N’OS AMBULANTES DE DEUS, DE HERMILO BORBA FILHO Maria de Fátima Costa e Silva Resumo: No presente estudo, traremos à arena dialógica a novela póstuma de Hermilo Borba Filho, Os ambulantes de Deus (1975;1976). Na obra, profundamente marcada pela mescla de gêneros literários, o escritor pernambucano nos dá em cinco capítulos — ou cincos anos, se pensarmos em sua intitulação na narrativa — uma viagem sem fim, travessia ao outro mundo que recorda a sátira menipeia antiga, de Luciano de Samósata. Navegantes da jangada do barqueiro Cipoal, a prostituta Dulce-Mil-Homens, o poeta Cachimbinho-de-Coco, o mendigo Nôdos-Cegos, o bicheiro Amigo-Urso e o caminhoneiro Recombelo, atravessam o rio da memória, expressão do pensador indígena Ailton Krenak (2015), em que escoa a oralidade popular e a palavra da geopoesia (SILVA JUNIOR, 2018) no cronotopo (BAKHTIN, 2018) da obra. A nau dos loucos, sob a pena hermiliana, também é composta de pobres que portam consigo a cosmovisão carnavalesca, preconizada por Bakhtin em Cultura popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais (1987). Dessa forma, são grotescas as personagens que encenam e protagonizam a trama. Em diálogo de alteridade (BAKHTIN, 2011), elas são perpassadas por alucinações, memórias, festas e eventos fantásticos que ressoam os mitos gregos antigos. À vista disso, dentro da barca, os ambulantes vivenciam uma travessia interminável, marcada pelo discurso livre desses geopoetas que buscam, nas águas do rio, esquecer o gosto amargo de uma terra que fede à ditadura militar, a partir do contexto sociocultural do escritor, resvalada no espaço-palco da obra. Referências: BAKHTIN, Mikhail. A cultura popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais. Trad. Yara Frateschi Vieira. São Paulo: Editora Hucitec, 1987. ______. Estética da criação verbal. 6. ed. Trad. Paulo Bezerra. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2011. ______. Problemas da poética de Dostoiévski. Trad. Paulo Bezerra. 5. ed. Rio de janeiro: Florence Universitária, 2018. BORBA FILHO, Hermilo. Os ambulantes de deus.Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 1976. KRENAK, Ailton. Encontros. CONH, Sérgio (Org.). Rio de janeiro: Azougue, 2015. SILVA JUNIOR, Augusto. Cora Coralina inédita: encontro das águas da geopoesia na rua do fogo da literatura de campo. Abralic: Congresso Internacional 2018. DERIVA NUBLADA: UM ITINERÁRIO DE WALLACE STEVENS Pedro do Pinho Koberle Resumo: Em 1923, Wallace Stevens publica, em Hartford, Connecticut, nos Estados Unidos, o poema The Comedian as the Letter C. Traduzido integralmente como parte de nossa pesquisa, um moque-épico em seis partes, o poema acompanha a viagem de Crispin, o “comediante” do título e uma ironização do herói épico, ao longo de sua “deriva nublada” pelo oceano atlântico. Como a letra C se compõe com as demais, Crispin compõe-se com o seu exterior, formando acoplamentos sempre renovados entre o sujeito e a sua paisagem circundante, de Bordeaux à península de Yucatán, passando pela Carolina do Norte. “Nota: o homem é a inteligência de sua terra”, abre o poema, e “Nota: sua terra é a inteligência do homem. Melhor assim” representa o seu ponto de virada. Essas duas “Nota” são os pontos de articulação da “flânerie” de Crispin, protagonista de Stevens, e na inversão de termos que propõem parecem encerrar um pensamento sobre a tensão constante entre o mundo físico e a mente. Lido por alguns críticos (Costello, 1993; Vendler, 1969) como uma “alegoria da colonização estética” o Comedian as the letter C nos parece um itinerário de sucessivos acoplamentos entre o corpo de seu protagonista e a paisagem, e nos interessa investigar a inquietante associação do poema a um projeto colonial. Isso porque a atenção poética de Wallace Stevens parece desenhar Crispin como mais que um “seeing man”, o termo usado por Mary Louise Pratt para denotar o sujeito branco implícito nos discursos de paisagem. Nessa comunicação, acompanhar as transformações, os deslocamentos territoriais e a linguagem exuberante do poema tornam-se os modos pelos quais lemos a crítica de Stevens ao viajante Esclarecido e a seus pressupostos coloniais estéticopolíticos. Referências: COSTELLO, Bonnie, Shifting Ground: Reinventing Landscape in Modern American Poetry. Cambridge, Harvard University Press, 2003. DE MAN, Paul, The Rhetoric of Romanticism. Nova York, Columbia University Press, 1986. PIMENTEL, Juan, Testigos del mundo: Ciencia, literatura y viajes en la Ilustración. Madrid, Marcial Pons, 2003. RANCIÈRE, Jacques, Políticas da Escrita. São Paulo, Editora 34, 1995. STEVENS, Wallace, Collected Poetry and Prose. Nova York, Library of America, 1997. O CRONOTOPO CARNAVALIZADO EM ESAÚ E JACÓ, DE MACHADO DE ASSIS, A PARTIR DO MORRO DO CASTELO Rafael Lima Lobo dos Santos Resumo: Este trabalho, debruçado sobre o romance de Machado de Assis que se inicia com uma travessia ao morro por personagens da elite carioca do século XIX, pretende explorar os aspectos do Morro do Castelo como espaço de elaboração ético-estética e, por conseguinte, como argumento narrativo que desencadeia o enredo, firmando, assim, seus laços com a cultura popular em Esaú e Jacó (1904) – um efetivo romance de subúrbio. Nessa linha, busca-se tecer uma análise com amparo crítico nos estudos dialógicos de Augusto Silva Junior (2008), Ana Clara Medeiros (2015) e (2017), Antonio Candido (1970), Mikhail Bakhtin (2006), (2008) e (2013) a fim de compreender de que maneira os conceitos de polifonia, dialogismo, carnavalização e aterrissagem transfiguram-se em um espaço vivo, marcado por travessias coloniais, em que se confrontam vozes e múltiplas consciências, no seio das classes sociais, das etnias e das religiosidades que teciam o Brasil naquele princípio de República. Avaliamos, enfim, como o cronotopo variável de Esaú e Jacó (morro e urbe das classes dominantes) produz um objeto literário autônomo que revisita e repensa o Brasil na sua passagem da monarquia no século XIX para a república no século XX, de modo a desvendar a insensatez brasileira em suas diferentes instâncias, políticas, sociais, artísticas, religiosas e econômicas. Além disso, pode-se entender o morro como um espaço de resistência, que cria e recria suas próprias “cousas futuras”, de maneira hegemonicamente vista como “não oficial” diante das faces culturais burguesas impostas como oficiais. Referências: ASSIS, Machado de. Esaú e Jacó. Porto Alegre, RS: L&PM, 2018 BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. 4. ed. Trad. Paulo Bezerra. São Paulo: Martins Fontes, 2006. _______. A cultura popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais. 6. ed. Trad. Yara Frateschi Vieira. São Paulo: Hucitec; Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2008. _______. Problemas da poética de Dostoievski/Mikhail Bakhtin; tradução direta do russo, notas e prefácio de Paulo Bezerra. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2013. CANDIDO, Antonio (1970). Dialética da Malandragem. Revista Do Instituto De Estudos Brasileiros, (8), 67-89. https://doi.org/10.11606/issn.2316-901X.v0i8p67-89 MEDEIROS, Ana Clara. Poética socrática, tanatografia e a invenção do desassossego. 2017. 209 f. Tese (Doutorado em Literatura e Práticas Sociais) – Instituto de Letras. Universidade Brasília, Brasília (DF). _______. AS CONTRADIÇÕES EXPLICÁVEIS DE ESAÚ E JACÓ: opção ética, cultura popular e determinismo na narrativa de um conselheiro duplicado. In: Colóquio Internacional Marx e o Marxismo 2015: Insurreições, passado e presente, Niterói. Anais eletrônicos. Disponível em: https://www.niepmarx.blog.br/MManteriores/MM2015/anais2015/mc49/Tc491.pdf. Acesso em: 6 Jul. 2021. SILVA JUNIOR, A. R. Morte e decomposição biográfica em Memórias Póstumas de Brás Cubas. 2008. 216 f. Tese (Doutorado em literatura Comparada) – Instituto de Letras. Universidade Federal Fluminense, Niterói (RJ). SOB O OLHAR DA NATUREZA: MOVIMENTOS, FORMAS E SENTIDO DO MUNDO EM CONTOS DE ALAMEDA, DE ASTRID CABRAL Regina Célia dos Santos Alves Resumo: O presente trabalho tem por objetivo uma leitura da maneira de ser no e com o espaço presentes em contos de Alameda, de Astrid Cabral. Publicado em 1963, seria o primeiro e único livro de contos da autora até o momento. Apesar das narrativas singulares e instigantes da coletânea, a escritora passaria então a se dedicar à poesia, possuindo diversos títulos publicados que, sem dúvida, asseguram a ela um lugar importante não só na literatura do Amazonas, mas na literatura brasileira contemporânea, embora ainda pouco se tenha falado sobre sua produção. Mesmo que referenciada normalmente dentro de um quadro de literatura amazonense, seu lugar de origem, os escritos de Astrid Cabral em muito se distanciam de um regionalismo de superfície, exótico ou caricatural, pois não é esse o caminho de sua escrita. Em Alameda, as histórias são construídas a partir do ponto de vista das plantas ou de outros seres ou elementos do mundo natural e dinamizam um olhar altamente reflexivo a partir do ver o mundo e seus movimentos pela perspectiva da vida vegetal, com frequência negligenciada pelo humano, como uma forma de vida de menor importância. Nas narrativas - com personagens que são flores, frutas, árvores -, expressa-se uma maneira própria, única, de viver o espaço, a revelar uma imersão completa e profunda dos seres vegetais nas coisas do mundo e de tudo que envolve a mobilidade do viver, como a vida e a morte, a fixidez e o movimento, o finito e o infinito, a estabilidade e a instabilidade, a liberdade e o aprisionamento, a continuidade e a interrupção. Essa vivência ampla e complexa, paradoxal em grande medida, ainda que não se identifique por completo com a condição humana, para ela desliza e marca a dimensão simbólica e metafísica dos contos da autora. Referências: CABRAL, Astrid. Alameda. Manuaus:Valer, 1998. NARRADOR SERTANEJO: UM R-EXISTENTE Rosa Amélia Pereira da Silva Resumo: Resumo: Esta reflexão visa, a partir de pesquisa realizada no sertão mineiro para coletar narrativas, mostrar que estas apresentam ainda hoje, em sua base, as formas simples do ato de narrar, as quais se transformaram e deram origem aos diversos gêneros narrativos da atualidade. Além disso, em desacordo com Benjamin (Obras Escolhidas I, 1992), que anunciou a extinção do narrador tradicional, visa-se demonstrar a r-existência de tal figura. Para sustentar esta reflexão, partimos das ideias de Jolles (Formas Simples, 1930), que discute as características das formas simples de narrar. Avançamos a nossa reflexão a partir das ideias Benjamin (Obras Escolhidas I, 1992), autor da ideia de que, em cada ato narrativo, estão subjacentes os arquétipos do narrador: o viajante e o camponês. Buscamos em Candido (Vários Escritos, 2004) revelar que a efabulação, característica intrínseca ao ser humano, está presente na narrativa sertaneja atual. Para desenvolver o estudo, partimos da pesquisa de campo, na qual, realizamos, no papel de narratário, a escuta e a coleta das narrativas. Paralelamente, desenvolvemos o estudo bibliográfico para fundamentar a análise comparativa entre as narrativas sertanejas atuais, as reflexões teóricas e as narrativas rosianas. Nesse sentido, fechamos o estudo, apontando para a interdependência entre narrador e narratário: a r-existência de primeiro depende da existência do segundo. Enquanto houver vida e imaginação, o narrador r-existirá. Referências: BENJAMIN, Walter. “O narrador: Reflexões sobre a obra de Nikolai Leskov”. In: Sobre arte, técnica, linguagem e política. Tradução de Maria Luz Moita. Lisboa: Relógios D´Água, 1992, p. 27. _____. “Conto e Cura”. In: Obras Escolhidas II. Rua de Mão Única. São Paulo: Brasiliense, 1995, p. 20 _____. “Experiência e Pobreza”. In: Walter Benjamin: O anjo da história. Tradução João Barrento. Belo Horizonte: Autêntica, 2012, p. 83 CANDIDO, Antonio. “O direito à literatura” In: Vários escritos. Rio de Janeiro: Ouro sobre o azul, 2004. ______. Literatura e Sociedade. Rio de Janeiro: Ouro sobre o azul, 2008. JOLLES, André. Formas simples. São Paulo: Cultrix, 1930. ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2006. ______. “Guimarães Rosa por ele mesmo” In: Cadernos de Literatura Brasileira: João Guimarães Rosa. Instituto Moreira Salles, 2006. p 77 a 143. CORDELIZANDO NA CAPITAL: REFLEXÕES SOBRE A EPOPEIA DA CONSTRUÇÃO DE BRASÍLIA REVERBERADAS NO LIVRO DE CORDEL O CANDANGO NA FUNDAÇÃO DE BRASÍLIA DE SEBASTIÃO VARELA Sheila Gualberto Borges Pedrosa Resumo: A epopeia da construção da cidade de Brasília é recontada de forma simples e singular por Sebastião Varela, em versos de Cordel escritos em 1981 no Livro O candango na fundação de Brasília. Nessa obra Varela (1981) descreve a história da construção da cidade e a trajetória de seus atores principais, os candangos. Ao escrever de forma subliminar essa saga, Varela(1981) enaltece a literatura brasiliense reverberando uma Brasília que é representada como espaço de geopoesia e contemplação do belo. É importante destacar o apelo social e cultural contemplado na obra de Varela (1981), com versos que destacam a questão da migração do homem sertanejo, moradia e sua marginalização diante da sociedade. A capital do país foi e continua sendo palco de muitas obras de arte produzidas no campo da Literatura, das Artes plásticas, do Paisagismo, da Arquitetura da Engenharia e do Urbanismo. A escrita dessa obra dos anos 80 em formato de Literatura de cordel, nos trás reflexões sobre a importância de tal temática. Essa saga da construção da capital de Brasília passa também pela questão da memória e identidade, discutidas pelos teóricos Joel Candau (2021) e Stuart Hall (2020) que darão suporte ao estudo sobre a identidade e memória do homem candango, retratadas na obra em questão. Referências: BOSI. O ser e o tempo da poesia. São Paulo: Companhia das letras, 2000. 275 p. CANDAU, Joel. Memória e identidade. São Paulo: Contexto COLLOT, M.; COUTINHO, F. Poesia, paisagem e sensação / Poetry, landscape and sensation. Revista de Letras, v. 1, n. 34, 11. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: Lamparina, 2020. 12.ed. MEDEIROS et al. Os parceiros de Águas Lindas: ensino de literatura pelas letras de Goiás. Goiânia: Pé de Letras, 2018. VARELA. Sebastião. O candango na fundação de Brasília. Brasília: Secretaria de Educação e Cultura,1981., 2021. A MEMÓRIA DO NARRADOR GEOPOETA EM "VIAGENS NA MINHA TERRA", DE ALMEIDA GARRET E "UM RIO CHAMADO TEMPO, UMA CASA CHAMADA TERRA", DE MIA COUTO Werick Araújo Moraes Resumo: A memória tem ganhado muitas dimensões em seu conceito em diversas teorias, sempre a se afirmar como parte preponderante em meio ao conhecimento científico. Diante dessa afirmação, está a necessidade de discernir os discursos em que o aspecto memorialístico pode apresentar-se. Um desses discursos é a Literatura manifestada pela narrativa, a qual segundo uma vertente tradicional, tem o propósito de transmitir experiências e sabedoria (cf. BENJAMIN, 1987). Apesar desse ponto de vista, a arte de narrar também ocupa lugar no gênero romanesco e o relato memorialístico é um elemento que intensifica essa relação e se apresenta em muitos romances. Neste trabalho, traçaremos um percurso contextualizado sobre a memória do narrador nas obras “Viagens na minha terra”, de Almeida Garret e “Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra”, de Mia Couto, com interface da Geopoesia, uma vez que os discursos dos narradores demonstram uma relação de sensibilidade com a terra e a cultura. Nesse contexto, projetamos pôr em perspectiva as viagens e relatos significativos dos narradores personagens que somados às vozes das demais personagens, configuram um cenário de reencontros, de rememorações e de reflexões. Dessa forma, as obras supracitadas possuem narradores que demonstram suas experiências em conjunto com outras vozes pertencentes a uma memória coletiva e incentivam o intelecto para o melhor desejo de convivência social. Referências: BAKHTIN, Mikhail. Teoria do romance I: a estilística. Editora 34. São Paulo, 2015. _____________. A cultura popular na Idade Média e no Renascimento: O contexto de François Rabelais. Editora da Universidade de Brasília. Brasília, 1987. BENJAMIM, Walter. O narrador: considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. Editora Brasiliense. São Paulo, 1987. _____________. A crise do romance: sobre Alexanderplatz, de Dõblin. Editora Brasiliense. São Paulo, 1987. COUTO, Mia. Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra. Companhia das Letras. São Paulo, 2003. GARRET, Almeida. Viagens na minha terra. Martin Claret. São Paulo, 2012. ESTEPES E DESERTOS NA VISÃO GLOBAL DE ALEXANDER VON HUMBOLDT Willi Bolle Resumo: Uma das características com as quais Alexander von Humboldt se diferencia dos outros pesquisadores-viajantes é a sua visão global das paisagens que ele estudou. Um caso exemplar é o ensaio “Sobre as estepes e os desertos”, publicado no livro Ansichten der Natur (Quadros da Natureza), numa primeira versão em 1808, e na versão definitiva em 1849. A viagem pelos llanos da Venezuela, em 1800, durante a expedição pela América tropical, inspirou o autor a ampliar a descrição dessas savanas: com referências aos pampas da Argentina e aos campos do Missouri; aos desertos da África e do Oriente Médio, e ainda, às estepes que se estendem desde as fronteiras da Sibéria com a China até o meio da Europa. Depois de sua viagem pelo Rússia czarista, em 1829, que resultou no livro Asie Centrale (1843), Humboldt – além dos estudos das montanhas e da climatologia – detalhou a descrição das estepes, tanto neste livro quanto no referido ensaio de 1849. Nas suas abordagens comparativas, ele trata da fisionomia das paisagens: da geomorfologia e do clima, da vegetação e da fauna. Com base na descrição da natureza, ele passa a falar dos povos das estepes e dos desertos, de seus costumes, de sua história e de suas migrações. A importância desses espaços é realçada pela descrição das atividades econômicas ali realizadas: criação de gado, agricultura, mineração e comércio; os excessos de exploração da natureza provocam observações ecocríticas. É apresentado também o papel desses territórios nas disputas geopolíticas, especialmente entre as potências imperialistas. Com tudo isso, Humboldt nos fornece estímulos para refletir sobre as disputas atuais no nosso planeta, sobre as relações entre povos “bárbaros” e “civilizados”, e também elementos para repensarmos os sertões do Brasil, que não ele não incluiu na sua visão global. Referências: HUMBOLDT, Alexander von. Ansichten der Natur: Erster und Zweiter Band. Ed. org. por Hanno Beck, Darmstadt: Wissenschaftliche Buchgesellschaft, 1987. [1a ed., 1808; 2a ed., ampliada, 1826; 3a ed., ampliada, 1849]. ______. Zentral-Asien: Untersuchungen zu den Gebirgsketten und zur vergleichenden Klimatologie. Ed. org. por Oliver Lubrich. Frankfurt am Main: S. Fischer, 2009. [1a ed.: Asie Centrale, 1843]. SIMPÓSIO “AMÉRICA LATINA EM MOVIMENTO: TRÂNSITOS, ATRAVESSAMENTOS E TRADUÇÕES” Flavia Braga Krauss de Vilhena (UNEMAT), Alexandre Barbosa (UNESP) A SOLIDÃO DA AMÉRICA LATINA NA INDÚSTRIA DE COMUNICAÇÃO BRASILEIRA Alexandre Barbosa Resumo: Este trabalho pretende traçar um paralelo entre as solidões retratada no romance Cem Anos de Solidão (1967) e os ciclos pelos quais passou e passa a América Latina. A hipótese é que o romance do escritor colombiano faz uma metáfora desses ciclos em que a América Latina tena caminhar por suas próprias pernas mas é impedida, seja pela repressão de agentes externos, seja por movimentos dos agentes internos associados aos impérios estrangeiros ou, por outro método tão perverso quanto, por meio do silenciamento da indústria de comunicação sobre os fatos que envolvem a região. Este processo de silenciamento da história e das lutas das classes populares latino-americanas empreendido pela indústria de comunicação brasileira contribui para o afastamento do Brasil do sentimento de solidariedade latino-americana e dificulta, ainda mais, as tentativas de integração. Daí a figura da América Latina solitária nos meios de comunicação, neste paralelo com o romance de Gabriel García Márquez. Da mesma forma, Cem Anos de Solidão, pelas características da obra e também pelos critérios de noticiabilidade associados a ele, torna-se poderoso instrumento para trabalhar com estudantes, de diferentes graus, conteúdos como literatura, integração, geopolítica, entre outros, como o caso do livro, publicado pela ECA-USP, Jornalismo em Gêneros, Volume 3: jornalismo na América Latina, resultado da disciplina Conceitos e Gêneros em Jornalismo, ministrada na ECA-USP em 2017. Referências: BARBOSA, Alexandre. A Solidão da América Latina na indústria jornalística brasileira. São Paulo: Alexa Cultural, 2017. BARBOSA, Alexandre (org). Jornalismo em gêneros volume 3 : jornalismo na América Latina. São Paulo: ECA/USP, 2017. CELORIO, Gonzalo. Cien Años de Soledad y la Narrativa de lo real-maravilloso americano. FERREIRA, Maria Nazareth. Globalização e identidade cultural na América Latina: a cultura subalterna no contexto do neoliberalismo. 2ª ed. São Paulo: CELACC, 2008. GALEANO, Eduardo. 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Rio de Janeiro: Record, 2000 O (IN)COMUM DA COMUNIDADE EM LITERATURAS TRANSFRONTEIRIÇAS Ana Carolina Martins dos Santos Resumo: Este trabalho busca discutir e estabelecer possíveis relações entre o conceito de comunidade desenvolvido nas considerações teóricas de Roberto Esposito em Communitas (2012), Jean-Luc Nancy em La comunidad desobrada (2001) e Benedict Anderson em Comunidades Imaginadas (2008) a partir de uma análise comparatista crítica das poéticas dos autores Fabián Severo na obra Noite nu norte: Poemas em Portuñol (2010) e Gloria Anzaldúa em Borderlands/La Frontera: La nueva mestiza (2016). Primeiramente, interessa pensar a América Latina como uma grande comunidade que abriga tantas outras – que se constituem tanto dentro como fora dos seus limites geográficos. Em seguida, discutir de qual(is) modo(s) o (in)comum está apresentado e retratado nesses textos literários que aludem a comunidades transfronteiriças distantes geograficamente, mas que não deixam de revelar pontos semelhantes em alguns aspectos. Para tanto, faz-se necessário refletir a respeito dos muitos deslocamentos culturais e o trânsito de línguas, que marcaram e continuam marcando o nosso contexto histórico latino-americano e o lugar da escrita nessa experiência. Logo, vinculam-se ao debate, além das discussões teóricas supracitadas, reflexões a partir de Eduardo Coutinho (2015) e Josefina Ludmer (2013) sobre a América Latina; Ana Pizarro (1985, 1987) sobre literatura latinoamericana e Elena Palmero (2010, 2012, 2019) sobre translinguismo e deslocamentos culturais. Referências: COUTINHO, Eduardo. A América-latina: o móvel e o plural. In: Beatriz Resende. (Org.). A literatura latino-americana do século XXI. Rio de Janeiro: Editora Aeroplano, 2005. GONZÁLEZ PALMERO, Elena. Deslocamento/Desplaçamento. In: Bernd; Zilá. (Org.). Diccionario das mobilidades culturais: percursos americanos. Diccionario das mobilidades culturais: percursos americanos. Porto Alegre: Literalis, 2010, v., p. 109-129. __________. Literaturas hispanas em deslocamento: cultura translocal e história da literatura. In: Luiz Barros Montez (org.). (Org.). Viagens e deslocamentos. Questões de identidade e representação em textos, documentos e coleções. Viagens e deslocamentos. Questões de identidade e representação em textos, documentos e coleções. ed. Rio de Janeiro: Móbile Editorial, 2012, v. 0, p. 78-86. __________. Escritas translíngues e comunidade literária hispano-americana. In.: Translinguismo e poéticas do contemporâneo. Rio de Janeiro: 7Letras, 2019. LUDMER, Josefina – Aqui América Latina una especulación. 1ª. Ed. Buenos Aires: Eterna Editora, 2010. PIZARRO, Ana. La literatura latinoamericana como proceso. Bueno Aires: Centro Editor de América Latina, 1985. ESTRANHOS ESTRANGEIROS: A EXPERIÊNCIA NO EXÍLIO Angélica Rodrigues da Costa Resumo: O presente trabalho procura analisar os contos “London, London ou ajax brush and rubbish e “Ao simulacro de imagerie, de Caio Fernando Abreu. Tratam-se de contos publicados em Estranhos Estrangeiros que discutem a sensação de estranhamento experimentada pelos estrangeiros, bem como o mal-estar revelado por indivíduos que não se sentem mais pertencentes à terra natal, mas que ao mesmo tempo não se adequam ao novo lar, estando assim “entre” duas realidades distintas. Assim sendo, pretende-se verificar nestas produções como os personagens diaspóricos se reconhecem enquanto “seres sociais”, já que são sujeitos tristes, desiludidos e confusos, que constantemente se valem de máscaras para se esconder. Enfim, pessoas que estão em incessante busca de um “amparo” identitário. Investiga-se a contistica do escritor gaúcho à luz das reflexões feitas por Bauman (2005), a respeito da chamada “modernidade líquida”, na qual as relações em sociedade passam a sofrer profundas mudanças a partir do final do século XX, alterando assim o que entendemos como “identidade”. Busca-se, então, refletir como Caio Fernando Abreu retratou a questão das identidades e a experiência no exílio nos seus personagens, levando em consideração o fenômeno da PósModernidade que acompanha concomitantemente a fragmentação, descentralização e a indeterminação do indivíduo, dos discursos e da representação artística. Para tanto, recorre-se aos estudos de Hall (2006), (2013) Harvey (2013) e Hutcheon (1991). Referências: ABREU, Caio Fernando.. Estranhos Estrangeiros. São Paulo: Companhia das letras, 1996. BAUMAN, Zygmunt. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi. Rio de Janeiro: Zahar, 2005. BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Tradução de Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. 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Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Vozes, 2014. COLETIVOS CARTONEROS NO BRASIL: DEBATE SOBRE LIVRO, LITERATURA E COMUNIDADE Ariadne Catarine dos Santos Resumo: O primeiro coletivo cartonero, Eloísa Cartonera, nasceu em um contexto de crise na Argentina na virada do milênio, com a proposta de produzir livros artesanalmente com materiais recicláveis, pouco convencionais à arte, essencialmente o “cartón” — ou papelão, em língua portuguesa — e difundi-los por um valor acessível pela cidade. Tal proposta se espalhou e outros grupos foram articulados em diversos países da América Latina e da América do Norte, contando agora com grupos na Europa, África e Ásia. No Brasil, os livros cartoneros também apareceram no circuito artístico-editorial independente, tendo como proposta inicial a experiência de Dulcineia Catadora com os catadores de papelão da CooperGlicério, em São Paulo. Como forma de retomar esse trajeto, esta comunicação pretende contar a história do movimento de livros cartoneros no Brasil; apresentar um levantamento sobre os coletivos ainda atuantes no nosso território, assim como algumas de suas criações, entre elas as de Catapoesia (MG), Dulcineia Catadora (SP), Ganesha Cartonera (RJ), Magnólia Cartonera (PR) e Vento Norte Cartonero (RS); e debater como as ações desses coletivos e as suas produções redimensionam as noções sobre o objeto livro, os sujeitos e seus saberes subalternizados, e os vínculos comunitários, colocando em questionamento aspectos acerca do acesso ao espaço social, à literatura e à leitura na sociedade contemporânea. Referências: ALVARO, Daniel. Ontología y política de la comunidad. El tenue hilo entre Bataille, Blanchot y Nancy. Rev. AGORA – Papeles de Filosofía, vol. 36, nº 02, 2017, p. 53-73. ANDRADE, Antonio; PEDROSA, Celia [et al]. Indicionário do Contemporâneo. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2018. BILBIJA, Ksenija. Borrón y cuento nuevo: las editoriales cartoneras latinoamericanas. Caracas: Rev. Nueva Sociedad, nº. 230, p. 95 - 114, 2010. CANOSA, Daniel. Editoriales cartoneras: el paradigma emancipatorio de los libros cartoneros en contextos de vulnerabilidad social. Orejiverde. Diario de los Pueblos Indígenas. 19 dez. 2017. Disponível em: < http://eprints.rclis.org/32049/>. Acesso em: 10 abr. 2022. CHARTIER, Roger. “Escutar os mortos com os olhos”. Trad. de Jean Briant. Rev. Estudos Avançados, São Paulo: USP, v. 24, n. 69, p. 630, 2010. DERRIDA, Jacques. Essa estranha instituição chamada literatura: Uma entrevista com Jacques Derrida. [s.l.] Editora UFMG, 2014. MENDES, Mariana C. As cartoneras pelo mundo. Malha Fina Cartonera, 2016. Disponível em: https://malhafinacartonera.wordpress.com/2016/05/11/as-cartoneras-pelo-mundo/. Acesso em: 20 mar. 2022. NANCY, Jean-Luc. La comunidade Inoperante. Trad. Juan M.G. Wainer. Santiago de Chile: Escuela de Filosofía Universidad ARCIS, 2000. PALMEIRO, Cecilia. Desbunde y Felicidad. De la cartonera a Perlonguer. Buenos Aires: Título, 2010. VILHENA, Flávia Klauss B. de. O acontecimento Eloísa Cartonera: memória e identificações. Tese (Doutorado). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Universidade de São Paulo (USP): São, Paulo, 2016. LENGUAJE SIAMÉS: POESÍA, COLLAGE Y DESPLAZAMIENTO EN OBRAS DE POETAS VENEZOLANAS Cristina Gutierrez Leal Resumo: En este trabajo me planteo analizar la relación entre collage y poesía, específicamente en obras donde ambas materialidades se juntan para nombrar el tema del desplazamiento. En este sentido, tomé como referencia la poesía contemporánea venezolana, porque, y esta es mi hipótesis, debido a su urgente contexto socio-político actual relacionado a la migración masiva, el collage ha resurgido dentro de varias propuestas recientes para elaborar un doble desplazamiento: geográfico y estético. Me enfocaré en dos obras novísimas de autoras que emigraron del país: Cosmonauta (2020) y Simetría del hematoma (2021), de Enza García Arreza y Flora Fracola, respectivamente. Para articular teóricamente las reflexiones sobre estos temas, serán fundamentales algunas nociones que han sido articuladas en cuanto a la relación entre literatura y fotografía, pero serán reapropiadas en este trabajo como una manera de pensar también el collage. Me refiero principalmente a la noción de lenguaje siamés, que entiende el encuentro entre artes desde el principio de solidaridad, y la noción de “literatura fuera de sí”, de Natalia Brizuela, cuya propuesta reflexiva nos ayuda a pensar cómo la literatura se sale se sí para acudir a otros formatos. Y, además, el tema del desplazamiento será abordado sobre la base de las consideraciones de Elena Palmero González. Referências: BRIZUELA, Natalia. Depois da fotografia: uma literatura fora de si. Rio de Janeiro: Rocco, 2014. FRANCOLA, FLORA. Simetría del hematoma. Caracas: Fundación La Poeteca, 2021. GARCIA ARREAZA, ENZA. Cosmonauta. Caracas: Fundación La Poeteca, 2020. GARCÍA CANCLINI, Néstor. Latinoamericanos buscando lugar en este siglo. Buenos Aires: Paidós, 2002. ___________. El mundo entero como lugar extraño. Barcelona: Gedisa Editorial, 2014. GONZÁLEZ, Elena Palmero. Deslocamentos interamericanos: literaturas caribenhas produzidas nos EUA e no Canadá. Revista Brasileira do Caribe, São Luís, v.15, n.20, jan./jun., 2015. A REALIDADE-FICÇÃO DO RACISMO NA AUTOBIOGRAFIA EU VI A NOITE Daniela Sofía Navarro Hernández Resumo: Josefina Ludmer (2010, p. 12) afirma: "A própria literatura é um dos fios do imaginário público e, portanto, tem seu mesmo regime de realidade-ficção". De acordo com essa perspectiva, pretende-se discutir o tecido da realidade e seus dois modos: temporalidades e territórios, a partir da leitura e análise da obra autobiográfica do escritor colombiano Manuel Zapata Olivella, a partir de seus relatos de viagem pela América Central e os Estados Unidos, uma travessia que representou uma ruptura em sua percepção de tempo e espaço desde a opressao e racismo para um homem negro latino-americano. Da mesma forma, busca estabelecer um paralelismo com a imagem das aves migratórias, presente na obra Aqui América Latina: uma especulação, de Josefina Ludmer (2010), com o intuito de gerar pontos de encontro com as propostas literárias de cada texto. Pois, poder identificar a literatura pós-autônoma na poética de Zapata Olivella, em uma obra catalogada como o manifesto antirracista de um homem contemporâneo, um agitador diante da repressão cotidiana. Esta maravilhosa obra foi publicada pela primeira vez em 1953 pela editora Los Andes, em sua segunda edição, em 1962, em Cuba e sua terceira, pela editora Bedout (1968). A pergunta recorrente nos leitores seria: quem foi esse autor? Manuel Zapata Olivella (1922-2004) nasceu no município de Lorica, Córdoba, Colômbia, próximo ao rio Sinú, majestoso corpo de água que inspirou o escritor, antropólogo, médico, folclorista, na busca de diferentes correntes nas águas de outros territórios, que lutou contra a negrofobia, a desigualdade social e apresentou seus costumes ao mundo para ser lembrado para sempre, uma das muitas iniciativas nacionais é o centenário de seu nascimento -ano 2020- foi uma homenagem na Feira do Livro de Cali. Referências: ALMEIDA, Silvio Racismo Estrutural. Editora Jandaíra, 2019. ANDRADE, Antonio... [et al.]; PEDROSA, Celia... [et al.]. Indicionário do Contemporâneo. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2018. LUDMER, Josefina. Aquí América Latina: una especulación. Buenos Aires: Eterna Cadencia, 2010. ZAPATA OLIVELLA, Manuel. He visto la noche: las raíces de la furia negra. Medellín: Bedout, 1982. LITERATURA NA AMÉRICA LATINA E ATRAVESSAMENTOS: O CASO YERBA MALA CARTONERA Flavia Braga Krauss de Vilhena Resumo: Ainda que historicamente o livro seja representado como dotado de um potencial de emancipação, na América Latina ele chega mais como um instrumento para subjugar que para liberar as comunidades autônomas. Por sua ação profanadora, justificamos o interesse por uma proposta de confecção livresca que teve sua ignição dada por Eloísa Cartonera, em 2003, e que tem se mostrado produtiva e desejante ainda na atualidade. Interpretamos que Eloísa, ao convocar com seu fazer outros coletivos a se embrenharem também neste trabalho, não só rompe com um certo modo de se confeccionar livros, mas estabelece uma nova memória do que seria este trabalho, abrindo passagem à decantação de um devir no que diz respeito à produção livresca e literária nesta parte do mundo. Estando acordes com Mora (2018), ao dizer que em algum momento teríamos que abrir estes livros (que em muito nos fascinam por seu exterior), nesta apresentação nos deteremos em um coletivo cartonero em funcionamento desde 2006, na Bolívia: Yerba Mala Cartonera. De seu catálogo, pinçaremos uma obra chamada “Almha, la Vengadora”, por considerarmos ela representativa da estética deste projeto, para além de ter sido escrita por um de seus fundadores, Crispín Portugal. Como analisaremos, esta obra apresenta apresenta sólidos vínculos com o pictório-visual, sendo que a ecfrase é um recurso literário amplamente utilizado em sua arquitetura. Pelo exposto, nesta apresentação trabalhamos com a hipótese de que as editoras cartoneras, ao recuperarem o catador de papelão como um anti-herói (KRAUSS, 2016) que a todo momento desfaz a fronteira entre o útil e o inútil, se oferecem como plataforma para uma literatura que também se empenha na superação de dicotomias e universais racionalizantes (CUSICANQUI, 2010) Referências: CUSICANQUI, S. Ch’ixinakax utxiwa: una reflexión sobre práticas y discursos descolonizadores. Buenos Aires: Tinta Limón, 2010 KRAUSS, F. O Acontecimento Eloísa Cartonera: memória e identificações. Tese de doutorado. São Paulo: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas/Universidade de São Paulo, 2016. Impresso. MORA, D. Más allá del Grado Xerox del cartón: hibridaciones culturales del fenómeno editorial cartonero en Latinoamérica, el caso Taller Leñateros en Chiapas, México. Tese de doutorado. Department of Romance Languages and Literatures of the McMicken College of Arts and Sciences. University of Cincinnati, 2018. Impresso. DESLOCAR-SE EM CÂMERA LENTA: O CAMINHAR COMO RECURSO POÉTICO PARA MARÍLIA GARCIA Gessica Luiza Kozerski Resumo: O interesse de nossa pesquisa em relação à obra de Marília Garcia começou a se delinear a partir da questão do deslocamento, percebida como uma referência central em seus poemas, como tema ou como procedimento. Nesse sentido, procuramos integrar um novo elemento à discussão e voltamos nossa atenção para um aspecto fundamental quando pensamos na relação entre deslocamento e poesia: sua forma mais elementar, o caminhar. Nesta apresentação, observaremos as diversas ocorrências desse gesto na obra da autora, segundo a ordem cronológica de suas publicações em livro (de 2008 a 2018), articulando alguns poemas a referências da literatura, da arte e da filosofia, considerando que a prática “não é apenas um passeio sem rumo, uma deambulação solitária; ela adotou, ao longo da história, formas codificadas que estabeleciam seu desenrolar, sua conclusão e sua finalidade” (GROS, 2003, p. 103). Como resultado dessa observação, a pesquisa se estrutura em torno dos seguintes tópicos: a relevância do pedestre e da subjetividade para a compreensão do espaço; o percurso errante como catalisador de experiências; correntes filosóficas e vanguardas artísticas que propunham o caminhar como gesto revolucionário, culminando no surgimento da figura do flâneur e do procedimento de valorização do cotidiano como crítica aos avanços da modernidade. Entre os autores que fundamentam nosso trabalho, dialogamos com Michel de Certeau (1998), Paola Berenstein Jacques (2003, 2012), Rebecca Solnit (2016), Francesco Careri (2013), Walter Benjamin (2009) e outros pesquisadores que dedicaram estudos às questões que nos interessam, tanto em debates teóricos, quanto ao propor leituras possíveis para a obra de Marília Garcia. Charles Baudelaire (2009, 2010, 2019) e Virginia Woolf (2015) completam as referências fundamentais, como representantes literários clássicos no que diz respeito (também) aos assuntos pautados. Referências: BAUDELAIRE, C. As flores do mal. Tradução de: GUIMARÃES, J. C. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. Título original: Les fleurs du mal [1868]. BAUDELAIRE, C. O pintor da vida moderna. Tradução de: Tomaz Tadeu. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010. Título Original: Le Peintre de la vie moderne [1863]. BAUDELAIRE, C. Pequenos poemas em prosa: o spleen de Paris. Tradução de: BRUCHARD, D. São Paulo: Hedra, 2009. BENJAMIN, W. Passagens. Tradução de: ARON, I; MOURÃO, C. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2009. CARERI, F. Walkscapes: o caminhar como prática estética. Tradução de: BONALDO, F. São Paulo: G. Gili, 2013. Título original: Walkscapes: el andar como practica estetica. CERTEAU, M. de. A invenção do cotidiano: artes de fazer. Tradução de: ALVES, E. F. 3 ed. Petrópolis: Vozes, 1998. Título original: L'invention du quotidien. GARCIA, M. 20 poemas para o seu walkman. 2. ed. Rio de Janeiro: 7Letras, 2016. GARCIA, M. Câmera lenta. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. GARCIA, M. Engano geográfico. Rio de Janeiro: 7Letras, 2012. GARCIA, M. Paris não tem centro. 2. ed. Rio de Janeiro: 7Letras, 2016. GARCIA, M. Parque das ruínas. São Paulo: Luna Parque, 2018. GARCIA, M. Um teste de resistores. 2. ed. Rio de Janeiro: 7Letras, 2016. GROS, F. Caminhar, uma filosofia. Tradução de: EUVALDO, C. São Paulo: Ubu Editora, 2021. Título original: Marcher, une philosophie. JACQUES, P. B. Apologia da deriva: escritos situacionistas sobre a cidade. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2003. JACQUES, P. B. Elogio aos errantes. Salvador: EDUFBA, 2012. SOLNIT, R. A história do caminhar. Tradução de: ZANINI, M. C. São Paulo: Martins Fontes, 2016. Título original: Wanderlust: A History of Walking. WOOLF, V. O valor do riso e outros ensaios. Tradução de: FROES, L. São Paulo: Cosac Naify, 2015. O ENTRE-LUGAR EM CONTOS PEREGRINOS DE GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ Hully Mangueira Rodrigues Resumo: A obra literária Doze contos peregrinos (1992), do escritor colombiano Gabriel García Márquez, trata-se de um compilado de narrativas, nas quais os personagens, reflexos das experiências do autor, estão em jornadas que revelam a memória diaspórica do povo latinoamericano. Assim, no intuito de refletir acerca desses deslocamentos vigentes, que possuem como cerne o encontro e a relação entre sujeitos que representam a Europa e a América Latina, utilizaremos como recorte dois contos para nosso corpus de análise, sendo o primeiro, intitulado Me alugo para sonhar, e o segundo, O verão feliz da senhora Forbes. Para tanto, a noção de entre-lugar, proposta pelo ensaísta e crítico Silviano Santiago, em Uma Literatura nos trópicos (2019), subsidiará a reflexão proposta, a fim de percebermos os lugares fronteiriços ocupados por esses personagens, vivência que se dá a partir de indivíduos que deslocam-se para além do geográfico, revelando a hibridez cultural que nasce a partir deste contato entre um povo colonizador e outro colonizado. Sendo assim, cabe questionar, onde podemos perceber o entrelugar no discurso latino-americano, dispostos nestas criações de García Márquez? A partir destas obras selecionadas, é possível pensar acerca da destituição de um regime de unidade e pureza estabelecido pela cultura dominante, tendo em vista que trata-se de uma relação na qual contamina-se e também se é contaminado, não havendo assim, a equivocada impressão de que apenas a cultura dominada sofre impactos em sua estrutura. Portanto, a escolha deste autor se dá diante de sua insubordinação frente a este domínio, visto que, apesar de inspirar-se em diversos autores europeus para a construção de suas obras, não abre mão de seus marcadores de diferenças, de sua originalidade, assim como seu povo também o fez, revelando assim, o lugar de clandestinidade da literatura latino-americana, que migra entre a submissão e a transgressão. Referências: MÁRQUEZ, Gabriel García. Doze contos peregrinos. Record. Rio de Janeiro, 1992. SANTIAGO, Silviano. Uma literatura nos trópicos. Companhia Editora de Pernambuco (CEPE). Recife, 2019. REVISITANDO O CONCEITO DE "NÃO LUGAR" A PARTIR DA OBRA DE CLARICE LISPECTOR Laís Maria Álvares Rosal Botler Resumo: Atualmente, a característica do espaço enquanto uma entidade dinâmica e ativa, bem como a sua possibilidade de influenciar a vida das pessoas, é indiscutível, diferentemente do que era geralmente considerado até o início do século XX (Massey, 2005). O conceito de não lugar, criado e desenvolvido por Marc Augé (1995), emerge em meio a essas mudanças, e é relacionado aos espaços com os quais as pessoas não podem estabelecer relações de identidade, memória ou história. No presente trabalho, pretendo revisitar do conceito de não lugar, a partir da análise da configuração do espaço narrativo nos romances “O Lustre”, “A Cidade Sitiada”, “A Maçã no Escuro” e “A Paixão Segundo G.H.”, escritos em momentos em que a autora Clarice Lispector encontrava-se em transição – seja do Rio de Janeiro para o exterior, seja vivendo em cidades do exterior, entre 1946 e 1959. Nos quatro romances, Clarice Lispector manipula o espaço narrativo para desenvolver outros aspectos da narrativa literária, em particular personagens e tempo. Além disso, a autora utiliza o espaço como um dos componentes principais para o desenvolvimento dos personagens. Nesse contexto, os não-lugares emergem como um conceito essencial para questionar construtos cruciais da personalidade, como identidade e pertencimento. Considerados como fluidos, eles aparecem em diferentes localidades, tanto rurais quanto urbanas, privadas e públicas, etc. A autora amplia as possibilidades dos não lugares ao questionar, por exemplo, a idealização idílica de espaços rurais e privados. Dessa forma, ela revela que não apenas espaços públicos e urbanos podem ser esvaziados de significados para as pessoas. Referências: Augé, Marc. 1995. Non-places: introduction to an antropology of supermodernity. London: Verso, 1995. Lispector, Clarice. 1949/1998. A Cidade Sitiada. Rio de Janeiro: Rocco. ______. 1946/ 1999. O Lustre. Rio de Janeiro: Rocco. ______. 1956/ 1999a. A Maçã no Escuro. Rio de Janeiro: Rocco. ______.1964/ 2014. A Paixão Segundo G.H. Rio de Janeiro: Rocco. Hooks, Bell. 2009. Belonging: a Culture of Place. New York: Routledge. Kaplan, Karen. 1996. Questions of travel: Postmodern Discourses of Displacement. Kurham and London: Duke University Press. Massey, Doreen B. 2005. For Spaces. London: Sage. Mcdowell, Linda. 1999. Gender, Identity and Place: Understanding Feminist Geographies. Minneapolis: University of Minnesota Press. Probyn, Elspeth. 1996. Outside Belongings. New York: Routledge. Rancière, Jacques. 1994. "Discovering new worlds: politics of travel and metaphors of space". In: Travellers’ tales: Narratives of home and displacement, edited by George Robertson et. al., 29-37. London: Routledge, 1994. Sarup, Madan. Home and identity. In: Travellers’ tales: Narratives of home and displacement, edited by George Robertson et. al., 93-113. London: Routledge. Van Alphen, Ernst. 2002. A HERANÇA DO TRAUMA NAS GENEALOGIAS DE MARGO GLANTZ Leonardo Cavalcante Mendes Resumo: Esta comunicação pretende explorar a reconstrução da memória na obra (auto)biográfica Las Genealogías, da escritora Margo Glantz. No livro, a escritora dá voz às memórias de seus pais, imigrantes judeus ucranianos que, fugindo da perseguição religiosa na década de 1920, encontraram morada no México após serem barrados nos Estados Unidos. Os relatos não são compostos apenas a partir das memórias de um narrador que também é a personagem principal, como no modelo canônico de autobiografia. Eles são polifônicos e centrados na figura do outro. As diferentes vozes presentes no texto, registradas em entrevistas que duraram cerca de dois anos, expõem memórias inconstantes, enfraquecidas pelo tempo e firmadas no presente. Os entrevistados trocam datas, locais e detalhes das narrativas cada vez que são questionados, discordando entre si e corrigindo um ao outro. É em cima dessa ausência de uma recordação exata que Glantz constrói as suas genealogias, reconstruindo uma história por cima de recordações borradas, uma autobiografia possível, sobrescrita sob o palimpsesto de suas memórias. Evidenciando a memória dos eventos traumáticos, a comunicação se apoiará no conceito de “segunda geração”, estabelecido por Susan Suleiman, que se refere aos filhos dos sobreviventes, que apesar de não terem lembranças pessoais dos conflitos, tiveram suas vidas afetadas pelas experiências traumáticas de seus pais. Essa relação entre os autores da segunda geração e a experiência de seus pais também recebe o nome de pós-memória, termo cunhado por Marianne Hirsch, no ensaio The Generation of Post Memory, para descrever a reescrita a partir das memórias reais de experiências poderosas, muitas vezes traumáticas, daqueles que realmente estavam presentes. Embora Glantz não tenha vivenciado diretamente as barbáries sofridas por sua família, ela se manteve ligada ao trauma de alguma forma. Assim, examinaremos como as recordações de violências vividas por seus antepassados estão presentes em suas memórias pessoais. Referências: GLANTZ, Margo. Las genealogías. Debolsillo, 2019. GLANTZ, Margo. Yo también me acuerdo. Sexto Piso, 2014. HIRSCH, Marianne. The generation of postmemory. In: Poetics today, v. 29, n. 1, 2008, p. 103-128. LEJEUNE, Philippe. O pacto autobiográfico: de Rousseau à internet. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2014. SULEIMAN, Susan. Crises de memória e a Segunda Guerra Mundial. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2019. TREVIÑO, Blanca E. De la vida como metáfora a la vida como ensayo. Universidad Nacional Autónoma de México, 2015. VARÓN, Beatriz A. Margo Glantz: el rastro de la escritura. In: Universidad de Alicante, n.16, 2003, p. 5-24. ESTRATÉGIAS PARA (RE)ESCREVER A TRADIÇÃO EM PORTUGAL D’AGORA, DE JOÃO DO RIO Lucía González Resumo: João do Rio se desenvolveu como cronista em diversos jornais e revistas da imprensa periódica brasileira e no grande número de textos ali publicados pode-se perceber a construção de um relato sobre o moderno e sobre o processo de modernização que a cidade do Rio de Janeiro atravessou entre o final do século XIX e início do século XX. Na tentativa de ordenar discursivamente uma cidade que se transformava vertiginosamente, o escritor carioca dialoga, tensiona e discute certos ideais de modernização. Além das crônicas dedicadas à capital brasileira da época, João do Rio possui dois textos que se enquadram na literatura de viagem. Em Portugal d’agora (1911) e Viagem a Buenos Aires (1915), o cronista se posiciona como um viajante intelectual capaz de refletir, a partir de um cenário estranho, sobre a realidade de seu país. Os destinos que escolhe, pouco comúns entre os viajantes brasileiros do início do século XX, permitem-lhe investigar duas questões fundamentais para pensar a modernidade: tradição e novidade. Especificamente em Portugal d'agora, o escritor pretende regressar ao país ibérico para procurar os vestígios de um Rio de Janeiro antigo e interrogar-se sobre uma modernidade comum entre Portugal e Brasil. Nesse sentido, no presente trabalho pretendemos investigar as diferentes estratégias discursivas através das quais João do Rio constrói um presente de Portugal que tenta dizer, também, sobre a realidade brasileira. Em diálogo com a tradição da literatura de viagem e revendo a sua própria escrita, este viajante intelectual traça uma viagem por Portugal que lhe permite reconstruir um passado comum e posicionar-se como mediador cultural. Referências: Antelo, Raúl. Crítica acéfala. Buenos Aires: Grumo, 2008. D’Avila, Cristiane. João do Rio a caminho da Atlântida. Río de Janeiro: Contra Capa, 2015. 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Desta forma, a desorientação temporal e espacial das personagens promoverão desencontros de diferentes naturezas, principalmente linguísticos, por meio do qual se observa a mimetização de latino-americanos na terra “dos conquistadores”, denunciando assim, o domínio sobre a língua local, como uma das mais potentes formas de poder. Em virtude disso, Nena e Billy irão protagonizar uma autêntica tragédia, na medida em que os europeus representados não demonstram muito interesse para se adequarem à linguagem dos “invasores”. Outro aspecto abordado são as peculiaridades genelógicas do conto, sob a perspectiva de Julio Cortázar em A valise de cronópio, cujos recursos estéticos, como: condensação, tensão e intensidade, ratificam a comparação de um contista eficiente com um boxeador. Enfim, como demais aportes teóricos, realizamos um diálogo entre Walter Mignolo, Michel de Certeau e Durval Muniz de Albuquerque Júnior, cujo escopo discursivo centra-se na dimensão histórica dos deslocamentos, seus espaços e efeitos; sob essa premissa, analisamos o conto à luz da perspectiva de Carlos Fuentes e de seu conceito de “sincretismo flagrante” na América Latina, que, por sua vez, traça um paralelo com a premissa de “real maravilhoso”, cunhado por Alejo Carpentier. Referências: ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz de. Xenofobia: medo e rejeição ao estrangeiro. São Paulo: Cortez, 2016. BORGES, Jorge Luis. Oral e sete noites. Tradução de Heloisa Jahn. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. CARPENTIER, Alejo. A literatura do maravilhoso. Tradução de Rubia Prates Goldoni e Sérgio Molina. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1987. CARPENTIER, Alejo. Prólogo. In: CARPENTIER, Alejo. O reino deste mundo. Tradução de Marcelo Tápia. São Paulo: Martins Fontes, 2009. p. 7-12. 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SIMPÓSIO “COMPARATIVISMO INTERAMERICANO: QUANDO O OLHAR 'DESVIA' PARA OS EXCLUÍDOS” Andre Rezende Benatti (UEMS), Zilá Bernd (UNILASALLE), Leoné Astride Barzotto (UFGD) "HAY COSAS QUE NO PUEDEN OCURRIR A LA LUZ DEL DÍA": MARGINALIZAÇÃO E VIOLÊNCIA EM LAS MALAS, DE CAMILA SOSA VILLADA Andre Rezende Benatti Resumo: Esta pesquisa tem como intuito analisar o romance Las Malas (2019), da escritora argentina Camila Sosa Villada. Nosso objetivo na pesquisa é observar a forma como são representadas estas personagens, levando em consideração o ambiente em que se configuram, averiguando como a Literatura é capaz de incluir na ordem do dia de suas discussões uma parcela invisível de nossa sociedade. Camila Sosa Villada nos conduz por aqueles lugares que, consciente ou inconscientemente, alguns não querem olhar. Nesse mundo do sinistro ela constrói seu romance, que congrega ao mesmo tempo amores e violências. Sua história desperta angústia e terror no leitor, porém, por meio de um realismo que poderíamos chamar mágico, faz com que o leitor não fuja do medo, a fim de descobrir que as mesmas necessidades habitam aquele mundo. Para dar suporte à nossa leitura do romance de Camila Sosa Villada nos valeremos dos conceitos de Jacques Rancière em As margens da ficção (2021, p.14), ao introduzir questões acerca da representação da realidade na literatura, quando este afirma que as “margens da ficção acolhe o mundo dos seres e das situações que estavam anteriormente nas suas beiradas: os acontecimentos insignificantes da existência cotidiana ou a brutalidade de um real que não se deixa incluir”. Além de Rancière (2021), nos valeremos também dos estudos de outros teóricos que se voltar à representação da marginalidade na literatura. Referências: ACHUGAR, Hugo. Planetas sem boca: escritos efêmeros sobre arte, cultura e literatura. Tradução de Lyslei Nascimento. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2006. BOSI, Alfredo. A escrita e os excluídos. In.: BOSI, Alfredo. Literatura e resistência. São Paulo: Cia. Das Letras, 2002. HOLLANDA, Heloísa Buarque de (org.). Pensamento feminista hoje: sexualidades no sul global. Rio de Janeiro: Bazar do tempo, 2020. RANCIÈRE, Jacques. As margens da ficção. Tradução de Fernando Scheibe. São Paulo: Editora 34, 2021. SOSA VILLADA, Camila. Las Malas. Buenos Aires: Tusquets editoriales, 2019. O BARROCO FUNDADOR Fernanda Dusse Resumo: Ao longo do século XX, diversos autores latino-americanos – como Mário de Andrade e Villém Flusser (Brasil), Lezama Lima, Alejo Carpentier e Severo Sarduy (Cuba), Octavio Paz (México) e Angel Rama (Uruguai) – buscaram na literatura ou na arquitetura barroca a origem de uma cultura independente, autêntica e híbrida. Nessas análises, são combinados dois movimentos antagônicos: o tensionamento e a síntese. A tensão aparece como a característica primordial do barroco – o estilo dos excessos e dos conflitos –, mas também como manifestação da violência intrínseca à colonização. Já a síntese vem da compreensão, partilhada por todos os autores citados, de que a assimilação de culturas diferentes leva ao estabelecimento de uma cultura latino-americana, capaz de combinar a matriz europeia com referências ameríndias e africanas. Após uma breve análise comparativa desses autores, intento observar os efeitos dessas estratégias nas leituras do barroco mineiro. Andrade e Flusser enfatizam a importância do mestiço para a produção barroca, ressaltando-o não apenas como o artista responsável pelas obras, mas como o protótipo do brasileiro. Por essa análise, os autores minimizam os efeitos perversos da colonização / da escravidão e se recusam a perceber a segregação como fundamento do nacionalismo. Em contraposição a isso, proponho avaliar como o barroco mineiro manifesta a formação de uma iconografia afro-brasileira distinta da produção nacional e capaz de iluminar as fissuras que originam uma sociedade colonizada e estruturada pela escravidão. Busco suplementar, assim, o projeto moderno de síntese a um projeto de descolonização, que percebe a violência como gesto fundador das nações colonizadas e da própria modernidade. Referências: ANDRADE, Mário. “O Aleijadinho”. In: Aspectos das artes plásticas no Brasil. Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 1984, 3ª edição. BENJAMIN, Walter. A origem do drama barroco alemão. São Paulo: Editora Brasiliense, 1984. Tradução de Sérgio Paulo Rouanet. CARPENTIER, Alejo. Lo barroco e lo real maravilloso. In: Tientos, diferencias y otros ensayos. Barcelona: Plaza & Janes Literaria, 1964. FLUSSER, Villém. “O barroco mineiro visto de Praga”. Publicado originalmente no Jornal do Commercio em 03/04/1966. PAZ, Octavio. Sor Juana Ines de la Cruz ou As armadilhas da fé. São Paulo: Ubu Editoral, 2017. Tradução de Wladir Dupont. RAMA, Angel. A cidade das letras. São Paulo: Boitempo Editorial, 2015. Tradução de Emir Sder. SARDUY, Severo. El barroco y el neobarroco. Buenos Aires: Cuenco de Plata, 2001 NOVOS OLHARES PARA A RELAÇÃO ENTRE LITERATURA, HISTÓRIA E MULHERES NA FICÇÃO LATINO-AMERICANA CONTEMPORÂNEA DE AUTORIA FEMININA Isis Milreu Resumo: Nas primeiras décadas do século XXI, identificamos a publicação de livros que objetivam resgatar a história das mulheres tanto global quanto localmente. Entre estas publicações, podemos citar Minha história das mulheres (2007), de Michelle Perrot, e Historia de las mujeres en America Latina (2013), compilado por Juan Andreo e Sara Beariz Guardia. Nestas obras, o papel da mulher em diversos acontecimentos históricos é revisto, problematizando sua exclusão da dita história oficial. Paralelamente, observamos que essas questões também estão presentes em ficções históricas contemporâneas escritas por mulheres. Dentre estas autoras, se sobressaem a argentina Maria Rosa Lojo e a chilena Isabel Allende, as quais apresentam protagonistas femininas que participam da história de seu país de diversas formas. Tendo em vista as considerações anteriores, o objetivo do presente trabalho é examinar e comparar a caracterização das protagonistas dos romances Todos éramos hijos (2014), da argentina Maria Rosa Lojo, e Largo petalo del mar (2019), da chilena Isabel Allende. Também pretendemos analisar como as mencionadas autoras revisitam a história latino-americana recente e discutem o papel da mulher em acontecimentos históricos que marcaram nosso continente focando, particularmente, nas últimas ditaduras que vigoraram na Argentina e no Chile, respectivamente, nas últimas décadas do século XX. Referências: Entre os nossos referenciais teóricos se destacam Esteves (2010), Figueiredo (2020), Nitrini (2015) e Zolin (2019). RELAÇÕES INTERAMERICANAS: ESTÉTICA DA EXCLUSÃO NO BRASIL E NO QUÉBEC Lícia Soares de Souza Resumo: É tradição ainda no Brasil debater a tradição comparada, através das influências oriundas das literaturas europeias. No entanto as esquipes que tem trabalhado com os estudos canadenses, desde a década de 1980, põe em relevo uma rede relações simétricas ou assimétricas entre as literaturas das Américas. Entretanto, a maioria dos comparatistas brasileiros ignora o Movimento Interamericano que tem desenvolvido cenários apontando para uma Estética da Exclusão. Nesta comunicação, pretendemos selecionar arquivos literários que apontam para o banimento de populações pobres e os processos de destruição da harmonia sociocultural das localidades como as produzidas por Moacyr Scliar, que tão bem retrata o período das campanhas sanitárias de Oswaldo Cruz, com a revolta da vacina, em plena reforma urbana do Rio de Janeiro. Questões de banimento e gentrificação em Montreal são igualmente abordadas desde Bonheur d’Occasion (1945), de Gabrielle Roy, até os dias de hoje quando encontramos populações habitando em casas infectadas pelos ratos, e em subsolos insalubres (France Théoret, Henri Lamoureux), assim como seguimos aquelas que erram pelas ruas, vitimadas pelo consumo de drogas em situações necropolíticas traumáticas. A Estética da Exclusão revela esquecimentos de protagonistas fundamentais na construção das Américas. E a a atualidade dos debates da Literatura comparada nas diversas comunidades de solidadriedade das Américas passa necessariamente pelo reconhecimento de uma marginalizaçao e de uma negligência provocada pelo "desvio do olhar" Referências: AGAMBEN, Giorgio. O que é o contemporâneo? e outros ensaios. Chapecó: Argos, 2009. AMORIM, Carlos, CV-PCC a irmandade do crime, 5 a . ed., Rio de Janeiro, Record, 2004. AMÉRICO, Ekaterina Vólkova, Alguns aspectos da Semiótica da Cultura de Iúri Lotman, Tese de doutorado, Universidade de São Paulo, 2012. AMORIM, Carlos, CV-PCC a irmandade do crime, 5 a . ed., Rio de Janeiro, Record, 2004. BERND, Zilá (org.). Dicionário das mobilidades culturais: percursos americanos. Porto Alegre, Literaris, 2010. ----------- Dicionário de figuras e mitos literários das Américas. Porto Alegre: Tomo editorial e editora da UFRGS, 2007. 704 p. ______ Américanité et mobilités transculturelles. Québec: Presses de l´Université Laval, 2009. Coll. Americana. 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É baseado no livro Estação Carandiru, do médico Drauzio Varella. 29 Cidade de Deus, filme de 2002 dirigido por Fernando Meirelles , tradução do livro de mesmo nome escrito por Paulo Lins. Memórias do Cárcere, filme de 1984, roteirizado e dirigido por Nelson Pereira dos Santos. O roteiro é uma tradução do livro homônimo de Graciliano Ramos. ESPAÇOS, CARTOGRAFIAS E TRANSIÇÕES DOS MIGRANTES E CLANDESTINOS: COMUNIDADES EXPANDIDAS EM TONUS E PARRA Lincoln Felipe Freitas Resumo: Regina Parra explora, de forma experimental em "7536 passos (por uma geografia da proximidade)", a câmera inquieta que foca o movimento da cidade de São Paulo e acaba por direcionar-se à um núcleo onde imigrantes ilegais bolivianos vivem. O movimento visual é acompanhado da frequência sonora de rádio, a rádio Impactos Calientes, frequência pirata de imigrantes bolivianos na metrópole. Leonardo Tonus em "Diários em mar aberto", por sua vez, nos apresenta uma “coleção-poesia” de experiências pessoais que se expandem para experiências coletivas do ato de migrar a nível ampliado e global, do ato pessoal de deslocar-se de si mesmo em tempo e espaço e de experimentar o movimento do outro que, lançado ao mar, encontra a morte, o esquecimento, o abandono e/ou a incerteza da chegada. A inespecificidade na arte e na estética contemporâneas, como nos aponta Garramuño (2014), revelam o movimento de expandir não só as fronteiras entre gêneros e formas de expressão, como também as subjetividades e fatores de identificação dos sujeitos envolvidos no processo críticocriativo. É um processo que além de se dar por “práticas do não pertencimento que propiciam imagens de comunidades expandidas” (GARRAMUÑO, 2014, p. 27), põe em xeque a especificidade do “sujeito, do lugar, da nação e até da língua” (GARRAMUÑO, 2014, p. 28). Diante dessa premissa, buscamos neste trabalho, ao aproximarmos Tonus e Parra em uma perspectiva de arte expandida, apreender que a aposta no inespecífico e na expansão de suas experiências estéticas, éticas, políticas, culturais, geográficas e sociais, revelam a dinâmica destacada por Garramuño sobre as comunidades expandidas, além de refletirmos sobre os espaços cartografáveis ou não da identidade e da subjetividade de indivíduos e grupos exilados, migrantes, minorizados e clandestinos, a partir de estudos como os de Said, 2003; Spivak, 2010; Nancy, 1996 e Nouss, 2015, 2019. Referências: CACCIARI, Massimo. “La paradoja del extranjero”. In: Archipiélago, n. 26-27, inverno de 1996. CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: 1. Artes de fazer. Petrópolis: Vozes, 2008. GARRAMUÑO, Florencia. Frutos estranhos: sobre a inespecificidade da literatura contemporânea. Rio de Janeiro: Rocco, 2014. KRAUSS, Rosalind. A Escultura em Campo Ampliado. Trad. Elizabeth Carbone Baez. 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NARRATIVAS DE TRAUMA E O ONZE DE SETEMBRO Loiva S Vogt Resumo: Na lacuna entre o vivenciar uma experiência traumática e incorporá-la enquanto memória existe a necessidade de organização do sensório em cognição através da palavra. “Trauma”, em grego, significa “ferida”. Márcio Seligmann-Silva relembra em A memória, a história, o esquecimento (2007), os estudos de Paul Ricoeur que encontrara na filosofia grega, em Platão, a ideia de que o objeto da memória é uma imagem (eikõn) do passado, marcada pela presença de uma ausência. A narrativa opera através da imaginação, ou seja, da imagem em ação. Nesse contexto, o presente artigo propõe um encontro com as imagens do Onze de Setembro e com o discurso traumático que o envolveu através de uma leitura de dois romances escritos por autores de origem muçulmana que foram publicados em língua inglesa nos Estado Unidos após a catástrofe. Khaled Hosseini publicou “The Kite Runner” (2003); Laila Halaby, “Once in a Promised Land” (2007). Apresento uma reflexão a respeito da memória e do trauma do Onze de Setembro na representação da figura do oriental (proveniente do Oriente Médio) a partir de uma análise das “identidades feridas” presentes nas obras literárias elencadas. Constata-se, através da análise, a presença de um trauma cultural enraizado na sociedade americana e manifestado em sua literatura de testemunho. Busca-se suporte nos estudos de Cathy Caruth (1995) da academia americana em diálogo com Seligmann- Silva da brasileira. Conclui-se que a narrativa ficcional possibilita a transformação do imaginário em torno do Onze de Setembro em histórias, o que representa a sua integração à diacronia. Esse processo é inevitavelmente marcado por apagamentos e projeções discursivas que promovem a idealização de determinadas formações identitárias em detrimento de outras social e historicamente mais vulneráveis. Promove-se, portanto, um diálogo entre distintas vozes, apresentando seu potencial de denúncia frente a uma ferida cultural: o preconceito contra muçulmanos em solo americano. Referências: CARUTH, Cathy. Trauma: Explorations in Memory. Baltimore: The Johns Hopkins University Press. 1995. HALABY, Laila. Once in a Promised Land. Boston: Beacon Press. 2007. HOSSEINI , Khaled. The kite Runner. New York: Penguin. 2003. HOSSEINI, Khaled. O Caçador de Pipas. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2003. RICOEUR, Paul. A memória, a história , o esquecimento. Campinas: Unicamp, 2007. SAID, Edward. Covering Islam: How the Media and the Experts Determine How We See the Rest of the World. New York: Random House. 1997. SELIGMANN-SILVA, Márcio (org.). História, memória, literatura: o testemunho na era das catástrofes. Campinas: Editora da UNICAMP, 2017. VOGT, Loiva S. Estéticas do Trauma: um simulacro de assimilação cultural e uma poética de resistência. 2021. Tese (Doutorado em Letras). Instituto de Letras, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2021. VOGT, Loiva S. The Kite Runner e Once in a Promised Land: Esteriótipos do Oriente e a Literatura Étnica Norte-americana. In: ARAÚJO-SILVA, Gisvaldo B. (Org.) Anais do I e II Seminários Internacionais da ABRALITEC. Ouro Preto: IFMG, 2020, p. 83-90. SIMPÓSIO “ESCRITAS DE SI EM TRAVESSIA: NARRATIVAS DO EU NA AMÉRICA LATINA E NO CARIBE (SÉCS. XIX-XXI)” Joana de Fátima Rodrigues (UNIFESP), Mayra Coan Lago (FURG), Cesar Augusto Garcia Lima (UERJ) A IMPERATRIZ E A INGLESA: UMA ANÁLISE DAS CORRESPONDÊNCIAS TROCADAS ENTRE A IMPERATRIZ D. LEOPOLDINA E A VIAJANTE MARIA GRAHAM (1821 - 1826) Alessandra Bononi Resumo: A Imperatriz Leopoldina (1797 – 1826) e a viajante Maria Graham (1785 – 1842) são duas mulheres de origem europeia que se cruzaram e trocaram experiências vivenciadas no Brasil do século XIX por meio de cartas. Dito isso, o objetivo deste estudo é compreender as percepções das duas autoras a respeito dos acontecimentos vivenciados e dos seus papéis sociais como mulheres no Rio de Janeiro da segunda década deste século através da análise de toda a extensão temporal das correspondências trocadas por ambas, as quais se estendem entre os anos de 1821 e 1826. Estas trocas epistolares também permitem que observemos a constituição da solidariedade mútua e amizade entre elas. Quanto as bases teóricas do projeto, destacamos a Escrita de si e a História das Mulheres e das Relações de Gênero, vertentes que convergem com nosso interesse em tratar as personagens aqui mencionadas como sujeitos históricos de sua época. Em termos de hipóteses, enumeramos as seguintes: a solidariedade estabelecida entre ambas vai além de questões monetárias, se estendendo até a concessão do cargo de preceptora para a inglesa, a amizade das duas se aprofunda e fortalece à medida que a solidão da Imperatriz cresce, e por último, muito embora frequente os mesmos ambientes que ela, Graham tem consciência de que não pertence a mesma camada social de Leopoldina. Como resultado, desejamos mostrá-las como figuras femininas diferenciadas em sua época, visto que em seus escritos fica claro que ambas não se restringiram ao domínio do ambiente privado (lar), participando ativamente do contexto social do período em que viveram e registrando suas percepções nas referidas cartas, as quais possibilitam que compreendamos melhor a condição feminina na aristocracia do XIX. Referências: 1 - Fontes: SLEMIAN, Andreia et al. Cartas de uma Imperatriz. São Paulo: Estação Liberdade,2006 GARCIA Rodolfo; LACOMBE, Américo Jacobina (trad.) Correspondências entre Maria Graham e a Imperatriz dona Leopoldina. Belo Horizonte: Itatiaia, 1997 GRAHAM, Maria. Diário de uma viagem ao Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia, 1990 2 - Bibliografia: GOMES, Ângela Castro De. (org.) et al. “Escrita de si, escrita da História”. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2004 JANCSÓ, István; MACHADO, André Roberto de Arruda.” Tempos de reforma, tempos de revolução”. In: Cartas de uma Imperatriz. São Paulo: Estação Liberdade,2006, P. 17 -50 KANN, Bettina. “A Áustria e a corte de Viena (1790 – 1817)”. In: Cartas de uma Imperatriz. São Paulo: Estação Liberdade,2006, P. 51 -62 KANN, Bettina. “Apontamentos sobre a infância e a juventude de Leopoldina”. In: Cartas de uma Imperatriz. São Paulo: Estação Liberdade,2006, P. 63 – 83 KEHL, Maria Rita. “Leopoldina: ensaio para um perfil”. In: Cartas de uma Imperatriz. São Paulo: Estação Liberdade,2006, P. 115 -143 LAMBERT, Maria de Fátima” Viagens ecléticas, residências e obras: Maria Graham artista-autora viajante”. In: Dossier temático: "Perspectivas sobre o museu eclético”, nov. 2020 LE GOFF, Jacques. “Documento/Monumento”. In: História e Memória. Tradução Irene Ferreira, Bernardo Leitão, Suzana Ferreira Borges. 5ª.ed., Campinas, São Paulo, Unicamp, 2003, p. 525-541 MALATIAN, Teresa. “Cartas - Narrador, registro e arquivo”. In: PINSKY, Carla Bassanezi; LUCA, Tania Regina de (org). O historiador e suas fontes. São Paulo: Contexto, 2015 PEREZ, Eliane (org.). “Guia de Coleções da Divisão de Manuscritos da Biblioteca Nacional”. Rio de Janeiro: FBN, 2018, P. 140 PERROT, Michelle. “Práticas da memória feminina”. Revista Brasileira de História, vol. 9, nº 18, São Paulo, 1989, pp.9-18. PORTO, Denise G.; DEL PRIORE, Mary.” Maria Graham na corte de D. Pedro I: uma governanta inglesa para as princesas imperiais.” Passages de Paris, [S.l.], n. 17, p. 190-203, oct 2019 PRATT, Mary Louise. “Os olhos do império. Relatos de viagem e transculturação”. Bauru, Edusc, 1999. REZZUTTI, Paulo. D. Leopoldina a história não contada: a mulher que arquitetou a independência do Brasil”. Rio de Janeiro: Leya, 2017 SCOTT, J. “Gênero: uma categoria útil para a análise histórica”. Universidade de Princeton: Estados Unidos, 1989 SILVA, Any Marry. “Maria Graham: a performatividade nos diários de viagens da América do Sul no século XIX”. 2019. 101 f. Dissertação (Mestrado em História) - Programa de Estudos Pós-Graduados em História, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2019. SLEMIAN, Andreia. “O paradigma do dever em tempos de revolução: D. Leopoldina e o “sacrifício de ficar na América”. In: Cartas de uma Imperatriz. São Paulo: Estação Liberdade,2006, P. 84 – 115. TVARDOVSKAS, Luana Saturnino. “O imaginário habitado: gênero, historia e cultura visual”. In: SCHIAVENATTO, Iara Liz; MENEZES, Patrícia D. (org). A imagem como experimento: debates contemporâneos sobre o olhar. Vitória: Editora Milfontes, 2020 A ENTREVISTA COMO REDUTO POÉTICO E AFETIVO DA ESCRITA DE SI: GRAVURAS DO SILÊNCIO NA VOZ QUE IMAGINA CUBA Antonio Martínez Nodal Resumo: A entrevista, enquanto invenção dialógica discutida por Arfuch (1995), constitui um espaço aberto para a palavra escrita/proscrita e falada/inventada, jogo heterogêneo de palavras (SOUZA, 2002), inserido em um marco discursivo onde as perguntas/provocações e as respostas/reações verbais, perante as demandas do entrevistador/interlocutor, se traduzem em um reduto de enunciação/teatralização questionável. Nesse contexto hiper-real, sonoro, reconhecível e, no qual a sedução ? o show do “eu” apontado por Sibila (2008)- domina o espetáculo no qual o entrevistado é desafiado a falar a verdade de um passado que, no presente, é apenas uma reconstituição (SARLO, 2007). O autor como sujeito performático da entrevista que invade o espaço narrativo do livro (KLINGER, 2008), interseciona os limites textuais do documento base, insta um terceiro convidado para entrar no jogo da conversa, o leitor performático (ZUMTHOR, 2010) que goza dessa intimidade corpórea-textual imaginada. Eliseo Alberto fala da Cuba de Eliseo Alberto em seu manuscrito Dos Cubalibres. Nadie quiere más a Cuba que yo (2004). E, em sua palavra íntima, no papel emergem seus borrões, a história que não foi requerida, a história dos silêncios, uma voz poética da verdade como núcleo (GLISSANT, 2005), órgão reprodutor de um documento que, a partir do diálogo, traça narrativas de si de uma obra inapreensível em suas linguagens múltiplas que tentaram ser apreendidas mediante uma pesquisa descritiva e bibliográfica. O objetivo principal do estudo é analisar a entrevista como ferramenta poética, instrumento performático, diálogo interior/exterior mediante o qual a memória cultural cubana poderá ser recuperada e/ou visibilizada em uma narrativa do eu que reverbera a ilha. Referências: ALBERTO, Eliseo. Dos Cubalibres. Nadie quiere más a Cuba que yo. Barcelona: Península, 2004. ARFUCH, Leonor. La entrevista, una invención dialógica. Barcelona: Paidos, 1995. BAUDUCCO, Gabriel. Secretos de la entrevista. México: Trillas, 2004. BAKHTIN, Mihail. Estética da criação verbal. São Paulo: Martin Fontes, 1993. DERRIDA, Jacques. Essa estranha instituição chamada literatura. Uma entrevista com Jacques Derrida. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2014. GLISSAT, Édouard. Introdução a uma poética da diversidade. Juiz de Fora: Editora UFJF, 2005. GRAMSCI, Antonio. Antonio Gramsci. Selección, traducción y notas de Manuel Sacristán. Madrid: Akal, 2013. KLINGER, Diana. “Escrita de si como performance”. 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Philippe Lejeune (2014) nos fornece um modelo de critérios textuais para a categorização de tal gênero, que é a relação de identidade mantida entre autor, narrador e personagem. As histórias de vida representadas pelas diversas modalidades das escritas de si carregam consigo um índice representacional do tecido social que as envolve, contemplando, portanto, sentidos que convergem para a realidade social, política, cultural e histórica do sujeito que tem a sua vida escrita. A narrativa Dead Woman pickney, de 2010, da escritora jamaicana Yvonne Shorter Brown, categorizada como um livro de memórias, ou seja, como uma modalidade de escrita de si, é reveladora de um conjunto de elementos sociais, históricos, culturais e políticos que envolvem a vida da autora-narradora-personagem. Contemplando um recorte temporal da infância até a vida adulta, o empreendimento narrativo tematiza o amadurecimento em um contexto marcado pela colonização. Desse modo, esta comunicação procura refletir sobre as estratégias de narrativização do si no texto em questão atentando para a forma como pode ser visualizada uma inscrição do corpo e da experiência no ato de escrever a história de vida. Assim, é perceptível o desenvolvimento de uma trama de subjetividade, em que há a encenação do processo de formação subjetiva do sujeito e um enredamento (SCHAPP, 2007) desse sujeito na História. Referências: BROWN, Yvonne Shorter. Dead woman pickney: a memoir of childhood in Jamaica. Waterloo: Wilfrid Laurier University Press, 2010. LEJEUNE, Philippe. O pacto autobiográfico: de Rousseau à internet. Trad. Jovita Maria Gerheim Noronha. 2ª ed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2014. SCHAPP, Wilhelm. Envolvido em histórias: sobre o ser do homem e da coisa. Trad. Maria da Glória Lacerda Rurack e Klaus-Peter Rurack. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 2007. DE ORGIA A DEUS NO PASTO A CENSURA E A TORTURA QUE NÃO CALAM Moacir Japearson Albuquerque Mendonça Resumo: Os relatos de censura e tortura durante o período da ditadura civil-militar brasileira de 1964 estão relativamente bem documentados nos anais da Comissão da Verdade e nos relatos orais dos censurados e torturados do período, que percutiu para artistas e produtores de cultura brasileiros, experimentando um período duro, principalmente em 1968, quando da imposição do AI-5, arrefecendo no período da abertura, no começo dos anos 1980. Mas pouco se fala das torturas e censuras que ocorreram no período anterior à ditadura de 64, nos quais os direitos individuais deveriam ser respeitados. Assim se deu com Italo Tulio Carella, importante intelectual argentino que foi convidado por Hermilo Borba Filho a dar aulas na então Universidade do Recife em 1960, portanto quatro anos antes do golpe de 1964. Confundido com um traficante de armas, foi preso e torturado pelo exército brasileiro. Dessa sua curta passagem por Pernambuco, Tulio Carella escreveu duas obras, Roteiro Recifense (1965) e Orgia (1968), que falam de uma memória principalmente homoerótica, fruto dos encontros com os homens, quase todos negros, do centro da cidade do Recife. O relato da censura que Tulio Carella sofreu na universidade e o relato da sua tortura pelo Estado estão no quarto volume da tetralogia memorialística de Hermilo Borba Filho, Deus no Pasto (1972), que, além de editor e tradutor das suas duas obras citadas aqui, era seu amigo . Esse trabalho tem por objetivo fazer uma intersecção entre a Historiografia e a Literatura, ambas relacionadas à memória coletiva e individual, refletindo sobre os modos de narrar a censura e a tortura vivenciadas pelo autor argentino fora desses contextos de ditadura, ou seja, enquanto ainda estavam vigentes os direitos civis, principalmente como silenciamento/apagamento de comportamentos que fogem ao socialmente permitido. Como aporte teórico, serão utilizados os seguintes autores: Ricoeur (1968) e Gagnebin (1994). Referências: BORBA FILHO, Hermilo. Deus no pasto. Um cavalheiro da segunda decadência. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1972. CARELLA, Tulio. Orgia. Diário primeiro. Rio de Janeiro: José Alvaro Editor, 1968. CARELLA, Tulio. Orgia: os diários de Tulio Carella, Recife, 1960. São Paulo: Opera Prima, 2011. ______. Roteiro Recifense. Recife: Imprensa Universitária, 1965. DUSSE, Fernanda Cristina Sant'ana. O diário rasurado de Judith Malina e as narrativas impossíveis da ditadura militar. Literatura e Autoritarismo, Santa Maria, n. 16, mar. 2016. p. 63-75. Exército Libertou Prof. Carella: Não Era Comunista Nem Fazia Contrabando. Diário de Pernambuco, Recife, p. 15, 28 de abril de 1961. GAGNEBIN, Jeanne Marie. Lembrar escrever esquecer. São Paulo: Editora 34, 2006. GAGNEBIN, Jeanne Marie. Dizer o tempo. Revista Cadernos Subjetividade. São Paulo, v.2, n.1 e 2, 1994. p. 27-36. RICOEUR, Paul. A Memória, a história, o esquecimento. Campinas: Editora da Unicamp, 2007. RICOEUR, Paul. História e verdade. Rio de Janeiro: Forense, 1968. SUSSEKIND, Flora. Literatura e vida literária: polêmicas, diários & retratos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1985. IV exército confirma furo do diário e esclarece prisão do prof. Carella. Diário de Pernambuco, Recife, p. 07, 27 de abril de 1961. VALLEJO, CAIO F, ARENAS: NARRATIVAS E MEMÓRIAS DE INFÂNCIAS DISSIDENTES Pacelli Dias Alves de Sousa Resumo: Baseando-se em estudos recentes sobre as relações entre literatura e infância, esta comunicação tem como objetivo desenvolver uma pesquisa sobre as ficções e memórias de infâncias em um conjunto de obras literárias latino-americanas contemporâneas que apresentam visões desviadas com relação à tradição e aos lugares-comuns da representação do tema, com especial atenção sobre o que se refere à homossexualidade e às sexualidades desviantes como geradores (e gerados a partir) de diferenças sociais. Ao tratar de ficções e memórias, estou me referindo às políticas de representação e a poéticas da experiência, ou seja, estão em jogo tanto práticas políticas (sejam poderes de controle ou de resistência) quanto os modos de construção de uma imagem, de um ponto de vista, de um lugar de enunciação, de um estilo e da constituição da subjetividade. Nesse âmbito, proponho uma leitura tenha em vista tais aspectos metodológicos em relação às obras Celestino antes del alba, do escritor cubano Reinaldo Arenas (1967), Limite branco, de Caio Fernando Abreu (1970) e Los días azules, do escritor colombiano Fernando Vallejo (1985). A leitura em conjunto pode iluminar aspectos composicionais das obras citadas, bem como formas de inscrição de intelectuais-escritoreshomossexuais no cenário público daqueles anos, valendo-se de estratégias que relacionam estética e política a partir da imagem da criança desviante à instituições autoritárias. Referências: ABREU, Caio Fernando. Limite Branco. Rio de Janeiro: Agir, 2007. AGAMBEN, Giorgio. Infância e história: destruição da experiência e origem da história. Trad. Henrique Burigo. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008. ARFUCH, Leonor. O espaço biográfico: dilemas da subjetividade contemporânea. Trad. Paloma Vidal. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2010. ASTUTTI, Adriana. Andares clancos: fábulas del menor en Osvaldo Lamborghini, J. C Onetti, Rubén Darío, J. L. Borges, Silvina Ocampo y Manuel Puig. Rosario: Beatriz Viterbo, 2001. BACHELARD, Gaston. La poética del espacio. Trad. Ernestina de Champourcín. México, D.F: Fondo de Cultura Económica, 2010. CANTARELLI, Ana Paula. “Representações acerca do estrangeiro e da cidade interiorana em Limite Branco, de Caio Fernando Abreu. Literatura e autoritarismo, vol. 14, 2009, s/p. CÁRCAMO, Silvia. “Infância e memória”. In. COSER, Stelamaris, GONZÁLEZ, Elena Palmero. Em torno da memória: conceitos e relações. Porto Alegre: Editora Letra1, 2017. LEJEUNE, Philippe. O pacto autobiográfico: de Rousseau à Internet. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2008. LINK, Daniel. “La infancia como falta”. Cuadernos LIRICO [En línea], vol 11, 2014. ___,______. “Infancia”. Alea – Estudos Neolatinos, vol. 17/2, 2015, p. 199 – 215. MÉNDEZ Y SOTO, Ernesto. Panorama de la novela cubana de la revolución (1959- 1970). Miami: Ediciones Universal, 1977. MENTON, Seymour. Prose Fiction of the Cuban Revolution. Austin: University of Texas Press, 1975. PANICHELLI-BATALLA, Stephanie. “Testimonio antes y después del alba”. Revista Internacional d’Humanitats, s/v, 2011, p. 27 – 38. PREMAT, Julio. “Pasados, presentes, futuros de la infancia”. Cuadernos LIRICO [En línea], vol. 11, 2014. STACUL, Juan Filipe. Além do espectro: A crise da identidade masculina em Limite branco, de Caio Fernando Abreu. 2012. 100 f. Dissertação (Mestrado em Estudos Linguisticos e Estudos Literários) - Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 2012. VALLEJO, Fernando. Los días azules. Buenos Aires: Alfaguara, 2005. DENTIDADES EM TRÂNSITO E AS FIGURAÇÕES DO MAR EM O INVENTÁRIO DAS COISAS AUSENTES, DE CAROLA SAAVEDRA Patricia Mariz da Cruz Resumo: No quarto romance de Carola Saavedra, O inventário das coisas ausentes (2014), o mar não serve apenas de cenário para a travessia realizada pelos familiares de Nina, sendo importante também para a trajetória da protagonista. Através de pequenos fragmentos, leitores e leitoras têm acesso à ancestralidade da personagem, conhecendo os motivos da mudança da família espanhola para o Chile, além de perceber a sensação de deslocamento vivenciada pelos parentes, o que acaba revelando o sentimento de não pertencimento vivenciado pelo estrangeiro, o qual se encontra preso à lembrança e aos costumes da terra natal, ideia que alude aos pressupostos de Edward Said (2003). Os ecos dessa experiência de trânsito cultural reverberam ao longo das gerações e podem ser percebidos na constituição identitária de Nina. Além disso, a paisagem marítima igualmente é testemunha dos momentos compartilhados entre ela e o pai, figurando como um lugar de afeto e de memória da infância. Dessa forma, por se vincular tanto à história da personagem feminina quanto à dos seus familiares, o mar representa muito mais do que um espaço para migrações: se atrela à construção da identidade da protagonista. Assim, à luz da teoria de Eric Hobsbawn (1997), Stuart Hall (2011) e Zilá Bernd (2018), este trabalho tem como objetivo analisar como tais diferentes representações marítimas se relacionam à vida da personagem principal do romance contemplado. Referências: BERND, Zilá. A persistência da memória. Porto Alegre: BesouroBox, 2018. CHIARELLI, Stefania. Forasteiras - a prosa de Adriana Lisboa e Paloma Vidal. In: DAFLON, Claudete; GÁRBERO, Maria Fernanda; DEMETRIO, Matildes (org). Agentes do contemporâneo. 1a ed. Niterói: EDUFF, 2017. FIGUEIREDO, Eurídice. A narrativa de filiação de escritores judeus brasileiros. In: CHIARELLI, Stefania e NETO, Godofredo de Oliveira (org). Falando com estranhos: o estrangeiro e a literatura brasileira. 1a ed. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2016. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução de Tomaz Tadeu da Silva; Guacira Lopes Louro. Rio de Janeiro: DP&A, 2011. HOBSBAWN, Eric. “Introdução: A invenção das tradições”. In: ______; RANGER, Terrence (orgs). A invenção das tradições. Tradução de Celina Cadim Cavalcante. 6a ed. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1997, p.9-23. KRISTEVA, Julia. Estrangeiros para nós mesmos. Tradução de Maria Carlota Carvalho Gomes. Rio de Janeiro: Rocco, 1994. SAAVEDRA, Carola. O inventário das coisas ausentes. São Paulo: Companhia das Letras, 2014. SAID, Edward. Reflexões sobre o exílio e outros ensaios. Tradução de Pedro Maia Soares. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. RUÍNA, DIÁSPORA E O SUJEITO PÓS-MODERNO - OS CAMINHOS DA AUTOFICÇÃO EM JULIÁN FUKS Paula Cristina Sousa Rocha Resumo: Neste simpósio, observaremos o livro A Ocupação, terceiro romance do escritor, Julián Fuks, partindo de uma perspectiva de “ruínas” como sintoma de uma condição sociocultural e como reflexo de um pensamento ontológico que se estrutura na narrativa autoficcional. Na escrita de Fuks, as ruínas vêm na forma do fragmentado, do rejeitado, do desconstruído, mas possuem também um caráter paradoxal engendrador ou estetizante. As estratégias de subjetivação estão ligadas aos efeitos poéticos e metafóricos do texto, e o que ele provoca e evoca na memória. No que concerne ao narrador/personagem de Julián Fuks e a ideia das ruínas a ele atrelada, ideia que inclui não somente as perspectivas do texto literário e da própria representação dessa metáfora na narrativa, mas também a uma forma de ver o personagem como o conjunto de fragmentos que se tornou o homem contemporâneo. Ou seja, ela não deixa de ser resultado da modernidade sob o sujeito, e a forma como essa percepção trespassa o real e o ficcional e vai além da própria concepção de identidade. Sebastián, o protagonista e alter ego de Julián Fuks é um sujeito que não entende, ou encontra, seu local de pertencimento, ele nasceu no Brasil durante o exílio dos pais argentinos, mas retorna a Buenos Aires ainda criança. Em razão dessa confusão, vive em um misto de identidades fragmentadas. Esse conflito vivido pelo personagem é identificado pelo sociólogo e teórico cultural Stuart Hall com o conceito do sujeito pós-moderno. O sujeito pós-moderno definido por Hall é profundamente influenciado pela globalização e pelo deslocamento do sujeito no fenômeno das diásporas, que além de divergências culturais, também é caracterizado fundamentalmente pela fluidez e fragmentação da identidade. Referências: FUKS, Julián. A Ocupação. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Trad. Tomaz Tadeu da Silva, Guacira Lopes Louro. Rio de Janeiro: DP&A, 2000. SIMPÓSIO “FRONTEIRAS EM MOVIMENTO: LITERATURA, ARTES E POLÍTICA NA ERA DO INTER/NACIONALISMO” Anderson Bastos Martins (UFJF), Victor Coutinho Lage (UFBA) IDENTITARISMO E A BUSCA PELO ELO PERDIDO ENTRE O EU E O OUTRO NA LITERATURA MODERNA Amanda Lins Seabra Marques dos Santos Resumo: A identidade está cada vez mais no foco das discussões da atualidade em quase todas as esferas da vida, desde a privada, passando pelas relações de trabalho, pesquisas científicas e debates acadêmicos. Na literatura ela também se faz presente e de forma tão expressiva que acabou por criar novas temáticas, como por exemplo a literatura negra e a feminista, essas, inclusive, podendo ser classificadas como declaradamente engajadas ou não. Mas de onde veio essa preocupação com a identidade, de onde surgiu a necessidade de nos vestirmos de signos e significados que nos ligam a determinados grupos ou que, possivelmente, nos isola em relação ao outro? A pesquisadora Kathryn Woodward (2011) sugere que a identidade só se torna relevante quando ela está em conflito e que não é algo estático, estaria sempre se reconstruindo de acordo com as reconfigurações do mundo. Georg Lukács (2009), em sua Teoria do Romance, demonstra exatamente essas reconfigurações identitárias na literatura, desde a antiguidade, quando a identidade coletiva era o foco das obras, até o surgimento da burguesia e do liberalismo, que criaram uma nova literatura, mais voltada para o “eu”, o Romance. A partir daí, a literatura e a arte como um todo deixam de ser apenas objetos estéticos de contemplação e representação e passam a ser expressão individual, que gera identificação, influência e até cria convenções sociais e políticas. Para tentar compreender a relação entre identitarismo e literatura moderna em toda sua complexidade será usada uma base teórica que incluirá, além dos autores já citados, Aníbal Quijano (2005), Zygmunt Bauman (2005), Stuart Hall (2006), David Wellbery (1998), Jonathan Culler (1999), entre outros. Referências: BAUMAN, Zygmunt. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi. Tradução: Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 2005. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução: Tomaz Tadeu da Silva, Rio de Janeiro: DP&A, 2006. CULLER, Jonathan. Teoria Literária: uma introdução . Tradução: Sandra Vasconcelos. São Paulo: Beca Produções Culturais Ltda., 1999. LUKÁCS, Georg. A teoria do romance: um ensaio históricofilosófico sobre as formas da grande épica. Tradução: José Marcos Mariani de Macedo. 2ª ed. São Paulo: Editora 34, 2009 WELLBERY, David E. Neo-retórica e desconstrução. Rio de Janeiro: EdUERJ, 1998. WOODWARD, Kathryn. Identidade e diferença: uma introdução teórica e conceitual. In: SILVA, Thomaz Tadeu da; HALL, Stuart; WOODWARD, Kathryn (orgs.). Identidade e diferença: a perspectiva dos Estudos Culturais. 3. ed. Petrópolis (RJ): Vozes, 2011. p. 06-67. O OCIDENTE E O OUTRO: DOMINAÇÃO COLONIAL EM CORAÇÃO DAS TREVAS E "A MENOR MULHER DO MUNDO" Ana Luíza Vieira Kehdi Resumo: O presente projeto visa analisar lógicas de dominação representadas na literatura ocidental, dando enfoque à história colonial. Pretende-se realizar uma comparação entre a novela Coração das trevas, de Joseph Conrad (1902) e o conto “A menor mulher do mundo”, de Clarice Lispector (1960). Essa análise paralela pode parecer disparatada. No entanto, basta considerar a temática e o discurso desenvolvido dentro das narrativas para compreender o potencial de comparabilidade entre elas. Em Coração das trevas, Marlow, um marinheiro inglês, narra sua empreitada no Congo, a fim de encontrar Kurtz, um explorador de marfim que, vivendo em solo africano, teria sucumbido à selvageria. Ao escrever Coração das trevas, Conrad visava denunciar as atrocidades cometidas na colonização da África, processo que ele mesmo pode presenciar em suas viagens ao continente. No entanto, essa atitude não revela uma postura propriamente imperialista, uma vez que, no livro, os africanos são representados como um povo exótico e bárbaro (Achebe, 1977), como o Outro que contribui para definir a identidade da Europa (Mudimbe, 2013). Já no conto “A menor mulher do mundo”(1960), Lispector narra cenas de dois encontros culturais (um entre o explorador europeu e uma mulher africana de baixa estatura; o outro entre famílias de um país com história colonial escravista com a imagem fotográfica dessa mulher negra) e descreve as diferentes reações do explorador – semelhantes às impressões de Marlow - e das famílias, justapondo esses dois acontecimentos e mostrando as especificidades de suas lógicas de dominação diferentes. Essas lógicas são igualmente violentas, preconceituosas e pautadas em hierarquias. Ao recorrer à reflexão sobre essas obras, busco simultaneamente provincializar (CHAKRABARTY, 2000) os estudos pós-coloniais, bem como tornar inteligível a conexão de experiências diferentes, enxergando-as como complementares em um sistema uno e desigual, marcado pelas forças do imperialismo e da economia capitalista. Referências: ACHEBE,Chinua. "An image of Africa: racism in Conrad’s Heart of Darkness. In ARMSTRONG, Paul B.(ed.) Heart of darkness: an authoritative text, backgrounds and contexts, criticism. New York and London: W.W. Norton & Company, 4th edition, 2006. CHAKRABARTY, Dispesh. Provincializing Europe: Postcolonial Thought and Historical Difference. Princeton: Princeton UP,2000. CONRAD, Joseph. Coração das trevas. São Paulo: Ubu Editora, 2019. DU BOIS, W.E.B.; HARTMAN, Saidiya. O Cometa/ O fim da supremacia branca. Trad. André Capilé e C. Floresta, São Paulo: Fósforo, 2021. FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. Porto: Orgal, 1952. FAUSTINO, Deivison. Frantz Fanon: capitalismo, racismo e sociogênese. SER Social, Brasília, v. 20, n. 42, p. 148-163, jan.-jun./2018. FREYRE, Gilberto. Casa grande & senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. Edição crítica de Guillermo Giucci, Enrique Larreta, Edson Fonseca. Paris: Allca XX, 2002. (Coleção Archivos). GONZALES, Lélia. Racismo e Sexismo na Cultura Brasileira. 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A partir dessa premissa de que pessoas e grupos possuem a prerrogativa de imaginar mundos diversos, aciono a proposta de Appadurai para refletir sobre como a criação e a crítica literárias, assim como as humanidades de modo geral, e as relações internacionais em particular, lançam mão da imaginação de mundos para contribuir para a tarefa de análise dos paradoxos que permeiam as sociedades contemporâneas na busca por propostas que, se não são capazes de mudar o mundo, essa utopia que habita a linguagem popular e científica desde tempos remotos, ao menos representam, em seus limites e em suas potencialidades, o esforço de encenação e de experimentação da tradição cosmopolita, esse “ideal nobre porém falho”, nas palavras de Martha Nussbaum (2019), que desde os filósofos estoicos fascina e desafia a imaginação literária e política. Tomando por base algumas reflexões de Nussbaum sobre o cosmopolitismo e também sobre a relevância das humanidades para a democracia, bem como algumas noções fundamentais de Toni Negri e Michael Hardt sobre o conceito de “multidão”, esta comunicação tem por objetivo relatar a experiência de se adotar uma mirada cosmopolita no trabalho acadêmico de leitura crítica da ficção contemporânea, dando igual destaque para a promessa que a empreitada permite vislumbrar e também para o permanente risco de fracasso que as (in)competências disciplinares do pesquisador obrigam-no a enfrentar. Referências: APPADURAI, Arjun. Disjuncture and difference in the global cultural economy. Public Culture, n. 2, v. 2, 1990, pp. 1-24. HARDT, Michael; NEGRI, Toni. Multitude: war and democracy in the age of Empire. Nova York: Penguin Books, 2004. NUSSBAUM, Martha. Sem fins lucrativos: por que a democracia precisa das Humanidades. São Paulo: Martins Fontes, 2015. NUSSBAUM, Martha. The cosmopolitan tradition: a noble but flawed ideal. Cambridge, Ma./Londres: The Belknap Press of Harvard University Press, 2019. CRESCENDO ENTRE NÓS: COMENTÁRIOS SOBRE A IDENTIDADE NACIONAL DA CRIANÇA TESTEMUNHA DE GUERRA CIVIL Breno Fernandes Resumo: Esta comunicação apresenta os principais resultados da tese intitulada "Crescendo entre nós: ensaio sobre a identidade nacional da criança testemunha de guerra a civil", defendida em dezembro de 2021. O objetivo é refletir sobre o que acontece com a identidade nacional no contexto de uma guerra civil, com base na análise comparada de quatro romances contemporâneos: "Como o soldado conserta o gramofone", do bósnio Saša Staniši?; "A espingarda do meu pai", do curdo-iraquiano Hiner Saleem; "Muito longe de casa", do serraleonense Ishmael Beah; e "Meio sol amarelo", da nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie. Todos os romances tratam de guerras civis ocorridas no século XX, nos países de seus respectivos autores, e são protagonizados por garotos, motivo pelo qual a criança, como categoria social, torna-se o foco de observação das mudanças que sofrem os corpos, os discursos e os afetos implicados na manifestação do nacionalismo às vésperas de um conflito civil ou quando ele já está em curso. Tal reflexão se baseia em dois pressupostos. O primeiro é que toda guerra civil demanda que o nacionalismo hegemônico de determinado país seja previamente desestabilizado, o que criaria a expectativa de que ele pode ser substituído por outra versão da mesma ideologia. Já a segunda premissa é que a criança, desde a modernidade, é encarada como sujeito que necessita de mais do que a maturação do corpo para alcançar o status de adulto. Ela também precisaria de um conjunto de aprendizados, dentre os quais está a ideologia nacionalista. Com base em tais constatações, os corpos e mentes das personagens observadas são percebidos como alvos em potencial da disputa entre nacionalismos interna à nação, da pedagogia nacionalista que advém de instâncias discursivo-afetivas variadas, como a escola, a arte e, principalmente, a família e a vizinhança. Referências: ADICHIE, Chimamanda Ngozi. Meio sol amarelo. Tradução de Beth Vieira. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. BEAH, Ishmael. Muito longe de casa: memórias de um meninosoldado. Tradução de Cecilia Giannetti. São Paulo: Companhia de Bolso, 2015. SALEEM, Hiner. A espingarda do meu pai. Tradução de Marcelo Correia Ribeiro. Porto: Edições ASA, 2004. STANIŠIĆ, Saša. Como o soldado conserta o gramofone. Tradução de Marcelo Backes. Rio de Janeiro: Record, 2009. ELENA FERRANTE: A TETRALOGIA DO MAL-ESTAR CONTEMPORÂNEO Fernando Santarosa de Oliveira Resumo: Este trabalho pretende discutir as noções de autoria e autor global na obra de Elena Ferrante. Mais precisamente o que torna a obra dessa autora uma obra global, a partir da hipótese de que o mal-estar, narrado na obra conhecida como tetralogia napolitana, é um dos principais fatores para esse alcance. Para isso, pretendo compreender e desenvolver as noções de mal-estar a partir das teorias psicanalíticas e das relações diretas com outras áreas do conhecimento, como os estudos culturais e suas relações com a produção de textos literários e seus leitores. Neste sentido, este trabalho tem como intenção argumentar como a obra de Elena Ferrante pode mostrar o que os textos e teorias psicanalíticas, mais notadamente a obra de Freud , nos ensina sobre o antagonismo do encontro entre sujeito e cultura e como essa crítica feita pela psicanálise pode ser um importante instrumento de análise dos fatos sociais e psíquicos que tornaram a obra da escritora italiana um fenômeno editorial global. Além disso, busco desenvolver algumas características do que seria esse autor global, como a exigência de que seja um autor vivo, cuja obra e persona circulam no universo literário e nos meios de comunicação em massa, participando ativamente das discussões que envolvem sua obra. Referências: FERRANTE, Elena. A amiga genial. São Paulo: Biblioteca azul. 2015. FERRANTE, Elena. A história do novo sobrenome. São Paulo: Biblioteca azul. 2017. FERRANTE, Elena. História de quem foge e de quem fica. São Paulo: Biblioteca azul. 2019. FERRANTE, Elena. História da menina perdida. São Paulo: Biblioteca azul. 2019. FERRANTE, Elena. Frantumaglia. Rio de Janeiro: Intrínseca. 2017. FREUD. Sigmund. O mal-estar na cultura (1930). In: ______. Cultura, sociedade, religião: o mal-estar na cultura e outros escritos. Belo Horizonte: Autêntica, 2020, p. 305-410. CASANOVA, Pascale. A república mundial das letras. São Paulo: Estação Liberdade. 2002. OS “NADAISTAS” E A REVOLUÇÃO LITERÁRIA DA COLÔMBIA Diego Alejandro Gallego Guevara Resumo: As políticas públicas na América-latina têm se apresentado com grandes índices de hostilidade, onde os artistas ficaram envolvidos no meio desse conflito e, dessa forma, expor as ideias se torna cada vez mais difícil e perigoso, em decorrência das censuras, exílios, retenções e até mortes. Na Colômbia, na metade do século XX, muitos autores literários eram impedidos de publicar seus livros e tiveram como recurso os jornais e revistas independentes, mas os “Nadaístas” buscaram por meio do escândalo, da transgressão dos valores conservadores e católicos uma forma de exibir seus textos e seu olhar hostil e pusilânime da Colômbia das décadas de 1960 e 1970. As obras literárias foram, de grande conteúdo linguístico e ficcional, relacionadas diretamente a uma determinada situação política, econômica, social ou cultural, carregando consigo, de alguma maneira, um contexto específico. Além de ser uma mera representação cognitiva ou eufemista – em ocasiões, por seu caráter conotativo –, a literatura “Nadaísta”, através dos tempos, e apesar de levar nas suas costas argumentos ideológicos, conseguiu operar como mediadora entre épocas. A Colômbia passou por múltiplas circunstâncias governamentais que condicionou os pensamentos e os comportamentos de seus habitantes. Se observarmos as diferentes épocas representadas na arte, evidenciaremos cada uma delas dentro de um espaço social explícito, que nos insere ao tempo narrado, neste caso, ao momento mais enérgico da Colômbia pós Bogotazo e a guerra bipartidista. Referências: ALTHUSSER, Louis. Ideología y aparatos ideológicos de estado. Freud y Lacan. Ediciones Nueva visión: Buenos Aires (Argentina), 2003. ARANGO, Gonzalo. La obra negra. Contiene prosas para leer en la silla eléctrica y otras sillas. Ediciones Carlos Lohlé. Cuadernos latinoamericanos: Buenos Aires (Argentina) 1974. AUERBACH, Erich. 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Na graphic novel American Born Chinese (publicada no Brasil como O chinês brasileiro) e no conto “The Paper Menagerie” (ainda sem publicação no Brasil), vemos protagonistas com ascendência chinesa que questionam sua identidade e desejam pertencimento através da imaginação e até do silenciamento de membros de suas famílias. Se, como afirma Achille Mbembe, a soberania dá direto à “instrumentalização da existência humana”, decidindo quem deve morrer e quem deve viver, literalmente ou simbolicamente, o destino do imigrante é frequentemente a morte. Mas, ao contrário do que pode parecer, nem sempre o imigrante é morto, metaforicamente ou não, pelo Outro. Muitas vezes há uma espécie de “suicídio cultural”, através do qual o próprio imigrante tenta apagar suas origens e forçar um pertencimento através da negação de parte de sua identidade, claro que sob influência de poderes vigentes. No artigo pretende-se observar onde e como esses “mecanismos de apagamento” são apresentados nos textos estudados, e como denunciam a resposta do imigrante e/ ou descendentes de imigrantes a sua exclusão. Referências: BETHENCOURT, Francisco. Racisms: from the Crusades to the Twentieth Century. Princeton: Princeton University Press, 2015. BHABHA, Homi K. The Location of Culture. New York: Routledge, 2012. HALL, Stuart. Da diáspora. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2003. LIU, Ken. The Paper Menagerie and Other Stories. London: Head of Zeus, 2016. MBEMBE, Achille. Necropolitics. Duhram: Duke University Press, 2019. SAID, Edward W. Reflexões sobre o exílio e outros ensaios. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. SPIVAK, Gayatri. A Critique of Postcolonial Reason. Cambridge: Harvard University Press, 1999. YANG, Gene Luen. American Born Chinese. New York: First Second, 2021. RETOMADA DA PENÉLOPE NA POESIA CONTEMPORÂNEA - REFLEXÕES ACERCA DO LUGAR DA MULHER DA LITERATURA Eva Maria Testa Teles Resumo: O presente trabalho pretende contribuir com as discussões sobre as relações de gênero na literatura a partir do estudo de poetas contemporâneas que têm revisitado a personagem mitológica Penélope, figura icônica desde a Grécia clássica e que representa, ainda nos dias de hoje, um ideal de mulher: submissa, paciente e que aguarda fielmente pelo homem amado. Observamos, que ao trazerem a personagem Penélope para suas poesias o fazem criticamente, estabelecendo não apenas um diálogo literário, mas também, de gênero, por exemplo, quando o eu-lírico, Penélope, declara no poema de Mônica de Aquino “Ulisses, agora, sou eu.” (AQUINO, 2017, p. 20), ela está assumindo-se como protagonista de sua própria vida, anunciando que irá empreender, agora, sua jornada de aventuras e descobertas. A ressignificação de personagens femininas e questionamentos acerca de conceitos de feminilidade forjados há tanto tempo propiciam uma profunda reflexão sobre o sistema sociopolítico patriarcal que rege as relações humanas há milênios em nossa sociedade e que determina papeis e funções sociais para as pessoas de acordo com o gênero, normatizando a desigualdade social em detrimento do sexo feminino. A crítica literária feminista muito tem contribuido para essa discussão, e nesse movimento de ressignificação da Penélope por autoras como Ana Martins Marques, Luiza Romão, Mônica de Aquino, entre outras, percebemos que alguns de seus objetivos estão sendo contemplados, como: refletir sobre a forma como a mulher foi representada na literatura escrita por homens; ampliar o espaço que mulheres escritoras ocupam na literatura; dar voz a personagens femininas, embasaremos nossos estudos sobre literatura de autoria feminina de Lúcia Osana Zolin, da crítica feminista de Rita Terezinha Schmidt e nas reflexões sobre literatura e cultura de Terry Eagleton. Referências: AQUINO, Mônica de. Fundo Falso. Belo Horizonte: Miguilim, 2017 EAGLETON, Terry. A função da crítica. Trad. de Jefferson Luiz Camargo. São Paulo: Martins Fontes, 1991. EAGLETON, Terry. Teoria da literatura: uma introdução. Trad. de Waltensir Dutra. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006. MARQUES, Ana Martins. A vida submarina. Belo Horizonte: Scriptum, 2009. ROMÃO, Luiza. Também guardamos pedras aqui. São Paulo: Editora Nós, 2021. SCHMIDT, Rita Terezinha. Cânone / Contra-cânone: nem aquele que é o mesmo nem este que é o outro. In: CARVALHAL, Tânia (Org.). O discurso crítico na América Latina. Porto Alegre: Editora Unisinos, 1996. SCHMIDT, Rita Terezinha. Refutações ao feminismo: (des)compassos da cultura letrada brasileira. Revista Estudos Feministas, v. 14, p. 765-799, 2006. SCHMIDT, Rita Terezinha. Revisitando a mulher na literatura: horizontes e desafios. In: STEVENS, Cristina (Org.). Mulher e Literatura – 25 anos: raízes e rumos. Florianópolis: Editora Mulheres. p. 257-270, 2010. SCHMIDT, Rita Terezinha. Cânone, valor e a história da literatura: pensando a autoria feminina como sítio de resistência e intervenção. El Hilo de la Fábula, v. 10, p. 59-74, 2012. SCHMIDT, Rita Terezinha. Recortes de uma história: a construção de um fazer/saber. Descentramentos/convergências: ensaios de crítica feminista. Porto Alegre: Editora da UFRGS. p. 71-92, 2017. ZOLIN, Lúcia Osana. Literatura de autoria feminina. In: BONNICI, Thomas; ZOLIN, Lúcia Osana (Orgs). Teoria literária: abordagens históricas e tendências contemporâneas. 3. ed. Maringá: Eduem, 2009. A COLONIALIDADE DO "DESENVOLVIMENTO": DEBATES SOBRE PODER, MEMÓRIA E COMUNIDADE NO FILME NARRADORES DE JAVÉ Giorgio Garcia Cristofani Resumo: Este trabalho busca analisar o filme “Narradores de Javé”, dirigido por Eliane Caffé (2004), sob a perspectiva crítica e decolonial do pós-desenvolvimentismo. O filme aborda como a comunidade de Javé, ameaçada pela criação de uma barragem, corre o risco de desaparecer geográfica, cultural e historicamente, uma vez que seus registros estão baseados na oralidade. A noção de “desenvolvimento”, canonizada desde a década de 1940, carrega relações de poder coloniais de caráter econômico, ambiental, epistêmico, subjetivo e coletivo. Como diria o personagem Antonio Biá, “vocês acham mesmo que os homens vão parar a represa e o progresso por um bando de semianalfabeto? Não vão não. Isso sim é fato, é científico”. No contexto da expulsão de famílias pobres, de tradição oral, de seu território para a construção de uma hidroelétrica, identifica-se na obra importantes reflexões sobre as influências das colonialidade globais e suas violências epistêmicas, expressos nas desigualdades de direito ao território, à história e à memória. Ao acompanhar o desenrolar da luta dessa comunidade – desde a primeira expulsão pela busca do ouro à inundação da cidade para construção da barragem - pretende-se debater a construção da identidade nacional baseada na noção temporal linear de futuro, compreender as influências do sistema-mundo no “colonialismo interno”, assim como as expressões do eurocentrismo, sobretudo pelo privilégio do saber científico-racionalescrito. Em suma, busca-se denunciar o lado escuro do “desenvolvimento”, a colonialidade. Ao identificar tais relações de poder, pretende-se também abordar as resistências, colocando em disputa o conceito de comunidade, a partir de outras territorialidades e saberes comunitários subalternizados, a fim de ampliar horizontes político-sociais inspirados pela obra. Referências: BALLESTRIN, Luciana. América Latina e o giro descolonial. ?Revista Brasileira de Ciência Política?, Brasilia, n. 11, p. 89-117, maio - agosto 2013. CASTRO-GÓMEZ, Santiago; GROSFOGUEL, Ramón. ?El giro decolonial?: Reflexiones para una diversidad epistémica más allá del capitalismo global. Bogotá: Siglo del Hombre Editores; Universidad Central, Instituto de Estudios Sociales Contemporáneos y Pontificia Universidad Javeriana, Instituto Pensar, 2007. 306 p. DULCY, Tereza M. Spyer. Um olhar decolonial sobre o conceito de desenvolvimento. 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In: Veltmeyer, Henry and Paul Bowles (eds) The essential guide to critical development studies (New York: Routledge, 2018). FIGURAÇÕES DO PERDÃO EM DESONRA, DE J.M. COETZEE João Francisco Justino Lopes Resumo: O presente trabalho procura estabelecer as diferentes figurações do perdão em Desonra (2000), romance escrito por J. M. Coetzee e inserido no contexto do pós-apartheid sulafricano. Na obra, os negros, oprimidos pelo regime segregatório do apartheid e tendo suas ações guiadas por um senso de vingança histórica, punem a personagem branca, Lucy, por meio da violência. Lucy, por outro lado, encarna em si a figura do perdão, sacrificando o próprio corpo em nome de uma possível reconciliação. Para abordar estes fenômenos, primeiramente deve-se entender o perdão como uma faculdade que possibilita a criação de algo novo, ao contrário da vingança, que apenas repete uma ação que se prolonga através dos tempos. Posteriormente, problematiza-se o projeto reconciliatório da África do Sul, demonstrando como o perdão condicionado em dispositivo jurídico e estabelecido em nível institucional pela Comissão de Verdade e Reconciliação se distancia da ideia de um perdão transcendental, este que último que excede toda troca e que só se realiza no plano individual. A Comissão de Verdade e Reconciliação é considerada um dispositivo jurídico fundamental em situações nas quais uma camada da população civil tem os seus direitos intensamente violados, sendo fenômeno estudado pelo campo do Direito Internacional. No caso da África do Sul , a Comissão acabou sendo um exemplo para o resto do mundo de como se resolver um conflito em que tanto as forças do opressor e da resistência não conseguem se sobressair, arrastando-se em um conflito que poderia perdurar indefinidamente. No entanto, o romance demonstra que esta tentativa de reconciliação entre os diferentes povos da África do Sul, apesar de apresentar inegáveis aspectos positivos, não se mostrou suficiente para reconstruir uma nação permeada pela violência estrutural. Referências: ARENDT, Hanna. A condição Humana. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2007 CINTRA, Antônio O. As comissões de verdade e reconciliação: o caso da África do Sul. Brasília: Biblioteca digital da Câmara dos deputados, 2001. Disponível em < https://bd.camara.leg.br/bd/handle/bdcamara/2231 >. Acesso em: 10 jul. 2021. COETZEE, J.M. Desonra. 2. Ed. Tradução de José Rubens Siqueira. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. DERRIDA, Jacques. O perdão, a verdade, a reconciliação: qual gênero? In: NASCIMENTO, Evandro (Org.). Jacques Derrida: Pensar a desconstrução. São Paulo: Estação Liberdade, 2005, p. 45-92. FILIPE, ngela Marques. O Processo de Reconciliação na África do Sul. 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Revista Anistia Política e Justiça de Transição, Brasil, Ministério da Justiça, n. 1, p. 32-55, jan-jul de 2009. O OLHAR TURÍSTICO-CULTURAL NA REVISTA TRAVEL IN BRAZIL NA PERSPECTIVA DO DEPARTAMENTO IMPRENSA E PROPAGANDA: IDEOLOGIA E (INTER)NACIONALISMO Joao Paulo Costa Alves Resumo: Esta pesquisa objetiva analisar textos da Revista Travel In Brazil (vol. 1, nº 1, de 1941 e vol. 1, nº 1, de 1942) que sinalizam a ideologia do DIP, no viés da política do Estado Novo brasileiro, para a divulgação da cultura nacional, principalmente em território norte-americano. Para este estudo, a metodologia baseou-se na leitura das revistas e revisão bibliográfica sobre o Estado Novo, no governo Getulista, a partir das quais foram feitas comparações, levantamento de dados e discussões sobre a cultura do país por meio de textos de Turismo Literário. Como fundamento teórico, Romano (2014, 2019), Luca (2011), Neto (2007) e Quinteiro e Baleiro (2017) convergem para o conhecimento sobre história, literatura, turismo, cultura e seus interdiscursos. Os resultados alcançados da análise dos textos Jangada e Jangadeiros (1941), Bonecas brasileiras (1941), Música brasileira (1942) e Rendas artesanais brasileiras (1942) foi perceber a abordagem cultural própria do interior do Brasil que se faz presente em artigos das revistas sob um olhar literário, recuperando assim a memória histórica do Brasil, a fim de abordar a importância desses temas com traços de nacionalidade a serem divulgados internacionalmente. A Revista Travel in Brazil aborda assuntos culturais como folclore, artesanato, cultura popular, numa proposta de redes turísticas literárias do país. Referências: LUCA, Tania Regina de. “A Produção do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) em Acervos Norte-Americanos: Estudo de Caso” In. Revista Brasileira de História, v. 31, n. 61. São Paulo: 2011. NETO, Lira. Getúlio 1930-1945 – Do Governo Provisório à Ditadura do Estado Novo. São Paulo: Companhia das Letras, 2014. QUINTEIRO, Sílvia e BALEIRO, Rita. Estudos em Literatura e Turismo: Conceitos fundamentais. Lisboa: Universidade de Lisboa, 2017. ROMANO, Luís Antônio Contatori. A poeta-viajante: uma teoria poética da viagem contemporânea nas crônicas de Cecília Meireles. São Paulo: Intermeios; Fapesp, 2014. _________. Cecília Meireles e a Travel in Brazil (1941-1942). São Paulo: Intermeios, 2019. BORIS SCHNAIDERMAN: NO ESPAÇO DAS FOTOGRAFIAS Júlia Azevedo Maia Resumo: Neste trabalho, busca-se traçar a representação do intelectual na contemporaneidade, a partir do estudo da produção ficcional de Boris Schnaiderman, elegendo como objeto de estudo Caderno Italiano (2015), um texto autobiográfico que trata da participação desse escritor russo-brasileiro na Segunda Guerra Mundial, lutando na Itália. São escolhidos recortes imagéticos incluídos no capítulo 17, Álbum de retratos, do Caderno Italiano, visando flagrar o subjetivo do corpo e o campo indizível da fotografia, que se revela através do Punctum, conceito estudado pelo semiólogo e filósofo francês Roland Barthes, em sua obra A Câmera Clara: nota sobre a fotografia (1984). A metodologia para efetuar as aproximações narrativa literária e narrativa fotográfica a da literatura comparada, baseia-se em que medida é possível aproximar as leituras imagéticas com as narrativas confessionais, políticas e pessoais. O mapeamento do corpo múltiplo de Boris Schnaiderman possibilita pensar a sua inserção histórica e política, buscando capturar as potências que atuam na travessia entre Rússia, Brasil e Itália. Realiza-se, assim, uma leitura do poético e do político que perpassam essas narrativas – da autobiografia literária e das fotografias - do tradutor cultural Boris Schnaiderman, no qual a imagem fotográfica se configura, antes de tudo, como um gesto comunicativo. Visto isso, tenciona-se a seguinte reflexão: o que esse corpo conhece da fotografia e o que se pode saber do corpo fotografado? Conclui-se, então, que ato de flagrar é o ato do nascimento. O que se captura em uma imagem é o momento da escolha, é uma narrativa, é criação de um corpo. Referências: BARTHES, R. A câmara clara: nota sobre a fotografia. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. BORGES, Vavy Pacheco. Grandezas e misérias da biografia. In: PINSKY, Carla B (org.). Fontes históricas. São Paulo: Contexto, 2005. DUNKER, Christian. Mal-estar, sofrimento e sintoma: uma psicopatologia do Brasil entre muros. São Paulo: Boitempo, 2015. FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder.Rio de Janeiro: Edições Graal, 1979. FOUCAULT, Michel. Nascimento da biopolítica. São Paulo, SP: Martins Fontes, 2008. GOMIDE, B. Pormenores violentos: Boris Schnaiderman, crítico. Literatura e Sociedade, v. 23, n. 26, 2018. LOPES, Cássia. Gilberto Gil, a poética e a política do corpo. São Paulo: Perspectiva, 2012. Mbembe, Achille. Necropolítica. São Paulo: n-1 edições, 2018. NASCIMENTO, Evando. Matérias-primas: entre autobiografia e autoficção. Cadernos de Estudos Culturais, São Paulo, v. 2, p. 59-75, 2010. REGO, Cláudia de Morais. Traço, letra, escrita - Freud, Derrida, Lacan. Rio de Janeiro: 7Letras, 2006. SCHNAIDERMAN, Boris. Caderno Italiano. Revista USP, São Paulo, v.,n. 26, p. 6-13, 1995. SCHNAIDERMAN, Boris. Caderno italiano. São Paulo: Editora Perspectiva, 2015. SCHNAIDERMAN, Boris. Guerra em Surdina. São Paulo: Cosac & Naif, 2004. SCHNAIDERMAN, Boris. Projeções: Rússia/Brasil/Itália. São Paulo, Perspectiva, 1978. SOUZA, Eneida Maria de. A crítica biográfica. In: Janelas indiscretas: ensaios de crítica biográfica. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011. ITÁLIA MESTIÇA: IDENTIDADE E HIBRIDISMO CULTURAL NA OBRA DE IGIABA SCEGO Leonardo Vianna Resumo: Quando a questão pós-colonial aportou na Itália no início dos anos 1990, os italianos foram confrontados com um fato incômodo da realidade do seu país: além de um outro interno, os meridionais, havia um outro estrangeiro, geralmente africano, vivendo dentro de suas fronteiras nacionais. A partir do novo milênio, a literatura italiana ganha uma nova página justamente quando escritores, como a afroitaliana Igiaba Scego, colocam em crítica temas como o da raça dos italianos (supostamente branca), da sua identidade (aparentemente um monólito, mas na realidade bastante plural) e do seu passado (colonialista). O objetivo desta comunicação é analisar trechos dos romances Oltre Babilonia (2008), Adua (2015) e La linea del colore (2020), de Scego, e demonstrar de que maneira a autora tensiona tais temas e, em paralelo, propõe uma perspectiva mais condizente com a realidade do seu país: multicultural e multirracial. Scego propõe ainda um verdadeiro debate sobre o que significa ser italiano, como a identidade nacional se construiu como branca e porque é necessário desconstruí-la, já que a península italiana desde a Antiguidade, é atravessada por povos das mais diversas culturas. Seu interesse particular, sobretudo em La linea del colore, é revelar uma ponte que sempre existiu entre África e Europa, para além do escravagismo, e que histórias de afroeuropeus foram removidas da memória coletiva italiana e européia. Para realizar tal análise, contaremos como aporte teórico Giuliani; Lombardi-Diop (2013), Romeo (2011), Bhabha (2013), Woodward (2014), Mbembe (2018), Kilomba (2019), Hall (2019), Del Boca (2001) e Fanon (2020). Referências: BHABHA, Homi K. O local da cultura. Trad. Myriam Ávila, Eliana Lourenço de Lima Reis e Gláucia Renate Gonçalves. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2013. DEL BOCA, Angelo. Gli italiani in Africa Orientale - 2. La conquista dell’Impero. Milano: Arnoldo Mondadori Editore, 2001. FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. Trad. Renato da Silveira. Rio de Janeiro: Editora UBU, 2020. GIULIANI, Gaia; LOMBARDI-DIOP, Cristina. Bianco e nero. Storia dell’identità razziale degli italiani. Firenze: Mondadori Education, 2013. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Trad. Tomaz Tadeu e Guacira Lopes Louro. Rio de Janeiro: DP&A, 2019. KILOMBA, Grada. Memórias da plantação. Trad. Jess Oliveira. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019. MBEMBE, Achille. Crítica da razão negra. Trad. Sebastião Nascimento. São Paulo: N-1 edições, 2018. NJEGOSH, Tatiana Petrovich. La finzione della razza: la linea del colore e il meticciato. In: GIULIANI, Gaia (a cura di). Il colore della nazione. Firenze: Mondadori Education, 2015. ROMEO, Caterina. Vent’anni di letteratura della migrazione e di letteratura postcoloniale in Italia: un excursus. Bolletino di Italianistica. Rivista di critica, storia letteratia, filologia e linguistica, n.s., anno VIII, n. 2, 2011. Disponível em: https://www.academia.edu/13752700/Ventanni_di_letteratura_della_migrazione_e_di_letterat ura_postcoloniale_in_Italia_un_excursus Acesso em: 14 de set. 2021. SCEGO, Igiaba. Oltre Babilonia. Roma: Donzelli editore, 2008. _______. Adua. Firenze: Giunti, 2015. _______. La linea del colore. Firenze: Bompiani, 2020. WOODWARD, Kathryn. “Identidade e diferença: uma introdução teórica e conceitual”. In: SILVA, Tomaz Tadeu da. Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais / Tomaz Tadeu da Silva (org. e traduções.). Stuart Hall, Kathryn Woodward. 15 ed. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2014. O MEU DESTINO É O MAR: FLUÊNCIAS E CONFLUÊNCIAS DRAMÁTICAS NO "ATLÂNTICO NEGRO" Luan Sabino Siqueira Resumo: A presente comunicação propõe a investigação dos deslocamentos e trânsitos dos corpos negros no âmbito do teatro e da literatura brasileira contemporânea, observando as continuidades e descontinuidades da história da população afro-brasileira iniciada pela travessia dos tumbeiros. Tendo como ponto de partida a simbólica imagem de um “Atlântico negro”, eternizada pelo historiador Paul Gilroy nos anos 90 do século XX, propomos a discussão de determinadas imagens moventes, mediadas por um imaginário líquido, que constituem grande parte da(s) história(s) afro-atlântica(s). Essa história de dor e luto, mas também de muita luta, emerge das profundezas do mar – também nomeado “Calunga Grande” – reinventada, produzindo narrativas ficcionais que expressam fluências e confluências que se encerram na ideia mesma de diáspora. A fim de investigar tais aspectos presentes nesse universo ficcional, analisaremos duas obras, a saber: Por cima do mar (2018), romance de Deborah Dornellas, e Mato cheio (2019), peça de Jhonny Salaberg encenada pela companhia de teatro paulista Carcaça de Poéticas Negras. A escolha se dá, pois, entendemos que tais obras apresentam elementos que nos ajudam a compreender o tema aqui abordado, demonstrando como a ficção contemporânea trabalha com os deslocamentos e os trânsitos dos corpos negros, tendo como ponto de convergência a presença do mar enquanto espaço de travessia e de conexão com a ancestralidade africana. Referências: BUTLER, Kim D.; DOMINGUES, Petrônio. Diásporas imaginadas: atlântico negro e histórias afro-brasileiras. São Paulo: Perspectiva, 2020. CASTRO ALVES. “O navio negreiro” In: Antologia poética. org. Antonio Carlos Secchin. Lisboa: Glaciar; Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 2014, p. 107-118. DORNELLAS, Deborah. Por cima do mar. São Paulo: Patuá, 2018. EVARISTO, Conceição. África: âncora dos navios de nossa memória. In: Via Atlântica, São Paulo, no 22, p. 159165, dez/2012. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/viaatlantica/article/view/51689. Acesso em: 04 jun 2021. GILROY, Paul. O Atlântico negro. trad. de Cid Knipel Moreira. 2a ed. Rio de Janeiro: UCAM; São Paulo: Editora 34, 2012. HALL, Stuart. Pensando a diáspora: reflexões sobre a terra no exterior. In: Da diáspora: Identidades e mediações culturais. org. Liv Sovik; trad. Adelaine La Guardia Resende... [et. al.] Belo Horizonte: Editora UFMG; Brasília: Representação da UNESCO no Brasil, 2003, p. 2550. MARTINS, Leda Maria. Afrografias da memória: O Reinado do Rosário no Jatobá. São Paulo: Perspectiva; Belo Horizonte: Mazza Edições, 1997. NEGRAS, Carcaça de Poéticas. Mato Cheio. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019. PAULINO, Rosana. Atlântico vermelho. 2017. ATLÂNTICA: INSURGÊNCIAS POLÍTICAS NA ESCRITA Luca Fazzini Resumo: Em Quadros de guerra: quando a vida é passível de luto? (2009) Judith Butler interrogase sobre quais mecanismos do poder subjazem à “condição precária” que afeta determinados grupos populacionais ao redor do mondo. Embora a precariedade seja, de fato, algo comum à vida, segundo a autora determinadas práxis do poder constroem as condições para que certas existências sejam consideradas descartáveis – sem que a morte seja, portanto, passível de luto. Tais questões, pensadas por Butler a partir de contextos atravessados por conflitos bélicos, dialogam com as de Michel Foucault quando, em 1976, interroga-se sobre a passagem do poder soberano ao biopoder. Para ambos, a construção de uma suposta ameaça à vida justificaria a morte ou o abandono de determinados grupos populacionais. Dentro da lógica estadocentrica – como a filosofa Donatella di Cesare chama o conjunto de normas e dispositivos que sustentam o Estado-nação – tal condição precária afetaria tanto as minorias historicamente constituídas, tanto os migrantes contemporâneos, retomando aqui a aproximação proposta por Judith Butler e Gayatri Spivak em Quem canta o Estado-nação? Língua, política, pertencimento (2018). Tendo em consideração tais reflexões, a partir de uma análise de caráter comparativo, com a presente comunicação pretende-se discutir formas e estratégias políticas na literatura contemporânea produzida na área atlântica da língua portuguesa. Nesse sentido, através da leitura de um conjunto de textos hipercontemporâneos produzidos por autoras e autores quais Djaimilia Pereira de Almeida, Jeferson Tenório e Kalaf Epalanga, pretende-se pensar as persistências das dinâmicas coloniais e escravistas na contemporaneidade atlântica, bem como as possibilidades da ficção para criar dissensos e construir comuns compartilháveis, de acordo com Jacques Rancière em A partilha do sensível (2005) e O espectador emancipado (2012). Referências: BUTLER, Judith. Quadros de guerra: quando a vida é passível de luto?. Trad. Sérgio Tadeu de Niemeyer Lamarão, Arnaldo Marquês da Cunha. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2019. BUTLER, Judith, SPIVAK, Gayatri Chakravorty. Quem canta o Estado-nação? Língua, política, pertencimento. Trad. Vanderlei J. Zacchi, Sandra Goulart Almeida. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 2018. FOUCAULT, Michel. Em defesa da sociedade. São Paulo: Martins Fontes, 2005. RANCIÉRE, Jacques. A partilha do sensível. São Paulo: Editora 34, 2009. RANCIÈRE, Jacques. O espectador emancipado. São Paulo: Martins Fontes, 2012. POETA PORTUGUÊS, CIDADÃO BRASILEIRO, PROFESSOR AMERICANO: JORGE DE SENA PELO MUNDO Lucas Laurentino de Oliveira Resumo: “Nascido em Portugal, de pais portugueses,/ e pai de brasileiros no Brasil,/ serei talvez norte-americano quando lá estiver.” Assim se inicia “Em Creta, com o Minotauro”, de Jorge de Sena, um dos vários casos em que o poeta português recria literariamente as suas experiências biográficas. Ao longo da vida, Sena passou por um duplo exílio: de Portugal para o Brasil, fugindo da ditadura salazarista, e do Brasil para os EUA, fugindo da ditadura militar. A condição de exilado assume, portanto, posição central nos seus escritos. Prova disso é o livro de poemas Peregrinatio ad loca infecta (1969), que não só contém a palavra “peregrinação” já no título como também é dividido internamente por países: Portugal, Brasil e Estados Unidos da América. A partir desse lugar “em trânsito”, deslocado, o autor questiona fortemente conceitos ligados à ideia de nação, como pertencimento, patriotismo e língua materna. Mas não é apenas a experiência literária que reflete tal visão de mundo. A sua prosa ensaística é atravessada por uma vocação cosmopolita. Exemplos disso são as Dialécticas aplicadas da literatura (1978) e Maquiavel, Marx e outros estudos (1991). Além desses, podemos citar o ambicioso projeto de tradução que resultou nos volumes de Poesia de 26 séculos: de Arquíloco a Calderón (vol I); de Bashô a Nietzsche (vol II) (1971-1972), em que são traduzidos e reunidos poetas de diferentes lugares e épocas. Dessa maneira, a comunicação pretende abordar as diferentes faces de Sena, pensando-o como um autor transnacional, e refletir sobre o percurso biobibliográfico do poeta, enquanto intelectual do século XX que procura agir poética, filosófica e politicamente num espaço entre-fronteiras. Referências: CRUZ, Beatriz Helena Souza da. Sena do mundo. Rio de Janeiro: UFRJ, Faculdade de Letras, 2018. Tese (Doutorado em Literatura Portuguesa). PITA, António Pedro. “Pensar a experiência contemporânea: o contributo de Maquiavel e outros estudos de Jorge de Sena”. In: SANTOS, Gilda; RUAS, Luci; CERDEIRA, Teresa Cristina (orgs.). Sena & Sophia: centenários. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2020. p.43-50. SENA. Poesia III. 1ª ed. Lisboa: Edições 70, 1989. SENA, Jorge de. Dialécticas aplicadas da literatura. Lisboa: Edições 70, 1978. SENA, Jorge de. Maquiavel, Marx e outros estudos. Lisboa: Livros Cotovia. 1991. LUCY: A FUGA PERFEITA É SEM VOLTA Luciana Lis de Souza e Santos Resumo: O presente artigo busca empreender reflexões sobre autodefinição e autoavaliação de Lucy, personagem-título do romance de Jamaica Kincaid. Lucy é oriunda de Antígua, ex-colônia, portanto marcada pela colonialidade que pretende definir papéis e estereótipos para mulheres negras, sobretudo aqueles que as subalternizam e criam imagens de controle. A personagem central da obra propõe, em sua jornada, rupturas da colonialidade, que é um modelo de exercício de dominação especificamente moderno que interliga a formação racial, o controle do trabalho, o Estado e a produção de conhecimento, pois mesmo após a formalização das independências das ex-colônias, perduram os legados na modernidade e suas estruturas racistas por meio do capitalismo, da subalternidade e da hierarquização social a partir da raça. Portanto, a descolonização não garantiu que os discursos que circulam tenham superado a lógica colonial, dessa maneira, ainda vivemos sob sintomas da colonialidade. Porém, Lucy subverte esses papéis e cria sua própria liberdade, porque é uma mulher com grande potência para agir, para criar, para construir seus próprios caminhos, ainda que com muitas fricções, que sejam de identidade, de sexualidade, da colonialidade, das imagens de controle (COLLINS, 2019), mas que não a impedem de constituir sua subjetividade, sua humanidade, suas falas que cortam como o aço da navalha e que incomodam aqueles que não esperam por um antimodelo de produto do colonialismo e que desafia estereótipos em nome de sua autodefinição e autoavaliação. Para tanto, o trabalho se apoia em teorias de Collins (2016, 2019), Vergès (2020), Lorde (2019), Maldonado-Torres (2018), Woodson (2021), Quijano (2005) dentre outros. Referências: BHABHA, Homi. O local da cultura. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1998. BONNICI, Thomas. Teoria e crítica pós-colonialistas. In: BONNICI, Thomas; ZOLIN, Lúcia Osana (Org.). Teoria Literária: Abordagem Históricas e Tendências Contemporâneas. 3. ed rev. e ampl. Maringá: Eduem, 2009. p. 253-285. CÉSAIRE, Aimé. Discurso sobre o colonialismo. São Paulo: Veneta, 2020. COLLINS, Patricia Hill. Aprendendo com a outsider within: a significação sociológica do pensamento feminista negro. Revista Sociedade e Estado, v. 31, n. 1, p. 99-127, jan./abr. 2016. Disponível em: https://www.scielo.br/j/se/a/MZ8tzzsGrvmFTKFqr6GLVMn/abstract/?lang=pt Acesso em: 4 set. 2021. COLLINS, Patricia Hill. Pensamento feminista negro. Tradução de Jamille Pinheiro Dias. 1. ed. São Paulo: Boitempo, 2019. DUARTE, Eduardo de Assis. Entre Orfeu e Exu, a afrodescendência toma a palavra. In: DUARTE, Eduardo de Assis (Org). Literatura e afrodescendência no Brasil: antologia crítica. 2.ed. Belo Horizonte: Editora UFMG; Brasília: SEPPIR, 2014. p. 13-48. (Precursores, v. 1). EVARISTO, Conceição. Ponciá Vicêncio. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2003. KILOMBA, Grada. Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano. Tradução de Jess Oliveira. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019. KINCAID, Jamaica. Americanas fogem do rótulo das minorias. [Entrevista cedida a] Fernanda Scalzo. Folha de São Paulo, Ilustrada, São Paulo, 21 jul. 1994. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1994/7/21/ilustrada/1.html. Acesso em: 4 de set. 2021 KINCAID, Jamaica. Lucy. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 1990. LORDE, Audre. Os usos da raiva: as mulheres reagem ao racismo. In: LORDE, Audre. Irmã outsider. In: Tradução de Stephanie Borges. 1. ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2019. p. 141-153. MALDONADO-TORRES, Nelson. Analítica da colonialidade e da decolonialidade: algumas dimensões básicas. In: BERNARDINO-COSTA, Joaze; MALDONADO-TORRES, Nelson; GROSFOGUEL, Ramón (Org.) Decolonialidade e pensamento afrodiaspórico. 1. ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2018. p. 31-61. (Coleção Cultura Negra e Identidades). PEREIRA, Bruna Cristina Jaquetto. Dengos e zangas das mulheres-moringa: Vivências sexuais de mulheres negras. Pittsburgh, Estados Unidos: Latin America Research, 2020. QUIJANO, Anibal. Colonialidade do poder, Eurocentrismo e América Latina. In: LANDER, Edgardo. A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: CLACSO - Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales, 2005. p. 117-142. SILVA, Márcia Maria da Silveira. O feminismo pós-colonialista de Jamaica Kincaid: rumo à liberdade. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 2012. VERGÈS, Françoise. Um feminismo decolonial. Tradução de Dias, Jamille Pinheiro; Camargo, Raquel. São Paulo: Editora Ubu, 2020. WOODSON, Carter Godwin. A des-educação do negro. Tradução de Carlos Alberto Medeiros. 1. ed. São Paulo: Penguin – Companhia das Letras, 2021. DESMASCARANDO A PAZ LIBERAL A PARTIR DA CULTURA BATE-BOLAS Marta Regina Fernández y Garcia Resumo: O artigo visa desnaturalizar e questionar a ideia hegemônica de paz libera a partir das vivências subversivas, não-conformistas, profanas e irreverentes dos bate-bolas. Argumenta-se que a partir da cultura bate-bolas é possível pensar em movimentos decoloniais de contestação de uma paz padronizada, elitizada e forjada pela “colonialidade do poder” que classifica e hierarquiza racialmente a humanidade e segrega as populações racializadas e desumanizadas à “zona do não-ser” nos termos de Frantz Fanon. . O artigo visa mostrar que as violências físicas e simbólicas contra os bate-bolas não podem ser entendidas à parte de um Estado fundado pela escravidão e pelo colonialismo. Mesmo em contextos de inversão autorizada das normas cotidianas, como é o caso do Carnaval, mostraremos como a diferença é controlada sob a forma da sua domesticação e exotização. O Carnaval será mobilizado no artigo como um campo de disputas políticas onde os anseios e respostas violentas suscitados pela circulação dos bate-bolas através da cidade do Rio de Janeiro nos dias de folia têm o potencial para expor os limites e contradições do mito da democracia racial no Brasil. Os bate-bolas serão mobilizados neste artigo para além do contexto exclusivamente carnavalesco, como uma perspectiva de enfrentamento da colonialidade do poder a partir das margens, que nos permite questionar os mecanismos normalizadores de poder e ordem social. Referências: FANON, Frantz: The Wretched of the Earth, Grove Press, 2004. FANON, Frantz: Pele Negra, Máscaras Brancas, Salvador: EDUFBA, 2008 GLISSANT, Édouard, Costa, K. P., & Groke, H. de T. (2008). Pela opacidade. Revista Criação & Crítica, (1), 53-55. https://doi.org/10.11606/issn.1984-1124.v0i1p53-55. GONZALEZ, Lélia. “ Racismo e Sexismo na Cultura Brasileira ”. In Movimentos Sociais Urbanos, Minorias Étnicas e Outros Estudos. Brasília, ANPOCS, Ciências Sociais Hoje, no 2, 1983. MOURA, T.; Moreno, Marta Fernandez; PAGE, V. Power from the Peripheries: Art, Culture and Masculinities in Rio. In: Suzanne Clisby, Mark Johnson, James Turner. (Org.). Theorizing Cultures of Equality. 1ed.: Routledge, 2020, p. 158-170. FRONTEIRA E HUMANIZAÇÃO HÍBRIDA EM ROMANCES DE VALTER HUGO MÃE Ulysses Rocha Filho Resumo: O tema da fraternidade, literalmente a amizade entre pessoas que se doam ao semelhante, com conotações épicas, pontua sua obra romanesca de Valter Hugo Mãe, de forma bastante peculiar, senão inovadora. A chamada quadrilogia de Valter Hugo Mãe, da literatura portuguesa, tem muito a dialogar com as necessidades psicológicas do homem neste século XXI e às memórias fraternas de tantos mundos distantes. A começar pela inserção de uma escrita integralmente em letras maiúsculas, com a intenção do leitor enxergar a literatura como liberdade completa de pensamento. Depois, as especificidades dos narradores díspares, a intertextulização entre seus romances com autoria do velho mundo ou a desconstrução de pressupostos de Sartre ou da teoria do chamado pós-modernismo. Para este estudo, partiremos de uma sistemática reflexiva sobre a amizade, o tempo e a memória entendendo os desdobramentos advindos de relatos múltiplos (presentes nos romances A Máquina de fazer espanhóis e A Desumanização, por exemplo) que as narrativas híbridas se tornam, dessa forma, espelhadas em diversas fronteiras (por exemplo: o romance Homens Imprudentemente Poéticos). Tais concepções serão abalizadas à luz de leituras das obras de Umberto Eco, Fredric Jameson e Edward Said, dentre outros. O fio condutor de toda a obra de Hugo Mãe é sua busca por uma humanidade essencial concatenando a voz poderosa do narrador com os fatos memorialísticos que, invariavelmente, abarca gerações. A chamada pós-modernidade se faz presente na apresentação e no enredo tanto perene quanto contemporâneo no que se refere à máxima de seus romances: o sentido da vida está nas relações. Referências: CHARTIER, Roger. A história ou a leitura do tempo. Tradução de Cristina Antunes. 2.ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010 Dicionário Houaiss Eletrônico. Acesso em: 24/010/2021. Disponível em:http://houaiss.uol.com.br/busca.jhtm?verbete HUTCHEON, Linda. Poética do pós-modernismo: história, teoria, ficção. Tradução:Ricardo Cruz. Rio de Janeiro: Imago, 1991. HUYSS en, Andreas. Culturas do passado-presente: modernismos, artes visuais,políticas da memória. Rio de Janeiro: Contraponto: Museu de Arte do Rio, 2014. HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. Tradução de Beatriz Sidou. São Paulo:Centauro, 2006. HUYSSEN, Andreas. Passados presentes: mídia, política, amnésia. In: HUYSSEN,Andreas. Seduzidos pela memória: arquitetura, monumentos, mídia. Rio de Janeiro:Aeroplano, 2000. LE GOFF, Jacques. História e memória. Tradução de Bernardo Leitão. Campinas: Ed.Unicamp, 1994. POUILLON, Jean. O tempo no romance. Trad. Heloysa de Lima Dantas. São Paulo:Cultrix/Edusp, 1974. MÃE, valter hugo. a máquina de fazer espanhóis. São Paulo: Cosac Naify, 2012 _______. o nosso reino. São Paulo: Editora 34, 2012. ______. A desumanização. São Paulo: Cosac Naify, 2014. _______. O apocalipse dos trabalhadores. Editora Objectiva, 2008. TADIÉ, J. -Y. Le Récit poétique. Paris: Gallimard, 1994 _____. “Virei romancista sem querer” [20 de novembro de 2008]. São João da Madeira:Labor.pt Semanário. Disponível em: Acesso em: 29 de setembro de 2021. _____. Folheando com… Valter Hugo Mãe: entrevista. [10 de dezembro de 2007]. Carnaxide: Portal da Literatura. Entrevista concedida ao Portal da Literatura. Acesso em: 29 de março de 2021. SOBERANO, ANTROPÓFAGO Victor Coutinho Lage Resumo: Antropofagia e soberania operam em um jogo de identificação/diferenciação fundante da modernidade. Em certa leitura, seria possível dizer que a soberania demarcaria a possibilidade de uma organização moderna política legítima, em especial quando pensada em relação ao estado moderno (Walker, 2010). Nesse sentido, habitar a condição humana, do ponto de vista político, teria como pré-requisito habitar a condição cidadã. Em outras palavras, apenas enquanto cidadão, um sujeito pode ser reconhecido como plenamente político na modernidade. Essa relação entre estado, soberania, humanidade e cidadania teria como um de seus contrapontos cruciais a antropofagia, entendida como marca da barbárie, da ausência de organização política legítima e da ausência de plena humanidade (Derrida, 1992; ver também diversos textos reunidos em Rufinelli e Rocha, 2011). Nesse leitura, portanto, soberania e antropofagia conformariam um jogo dicotômico na demarcação do político, do humano, do civilizado. No entanto, em outra leitura, agora em interação com o Manifesto Antropófago (1928), de Oswald de Andrade (2011), essa dicotomia pode ser colocada em questão (ver, ainda, Nascimento, 2011). Por essa via, a antropofagia se apresenta como recurso para uma dupla problematização da soberania e, com isso, da modernidade. De um lado, a reinterpretação da antropofagia expõe a operação antropófaga da soberania, isto é, quando ser soberano é ser bárbaro (Derrida, 2009; 2011); de outro, essa reinterpretação abre a possibilidade para pensarmos uma outra política, talvez uma cosmopolítica (Viveiros de Castro, 2014; Azevedo, 2016). Nessa segunda leitura, que se pretende avançar em diálogo com a teoria política internacional e a filosofia, o jogo de identificação/diferenciação entre soberania e antropofagia ganha outros contornos. Referências: ANDRADE, Oswald de. Manifesto Antropófago. In: RUFINELLI, Jorge and ROCHA, João Cezar de Castro. Antropofagia Hoje? Oswald de Andrade em Cena. São Paulo: É Realizações, 2011. AZEVEDO, Beatriz. Antropofagia – Palimpsesto Selvagem. São Paulo: Cosac Naify, 2016. DERRIDA, Jaques. Il Faut Bien Manger ou le Calcul du Sujet: Entretien avec Jean-Luc Nancy. In: DERRIDA, Jacques. Points de Suspension: Entretiens. Paris: Galilée, 1992. DERRIDA, Jacques. The Beast & the Sovereign. Volume 1. Chicago and London: The University of Chicago Press, 2009. DERRIDA, Jacques. The Beast & the Sovereign. Volume 2. Chicago and London: The University of Chicago Press, 2011. NASCIMENTO, Evando. A Antropofagia em Questão. In: RUFINELLI, Jorge and ROCHA, João Cezar de Castro. Antropofagia Hoje? Oswald de Andrade em Cena. São Paulo: É Realizações, 2011. RUFINELLI, Jorge and ROCHA, João Cezar de Castro. Antropofagia Hoje? Oswald de Andrade em Cena. São Paulo: É Realizações, 2011. VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Cannibal Metaphysics Edited and Translated by Peter Skafish. Minneapolis: Univocal Publishing, 2014. WALKER, R.B.J. After the Globe, Before the World. London and New York: Routledge, 2010. SIMPÓSIO “MUNDOS JUDAICOS COM/PARTILHADOS: DIÁSPORAS, VIAGENS, MIGRAÇÕES” Kênia Maria de Almeida Pereira (UFU), Lyslei de souza nascimento (UFMG), Nancy Rozenchan (USP) AS CARTAS EXILADAS DE CLARICE LISPECTOR E DE CHANTAL AKERMAN Carolina Caldas Nunes Resumo: A comunicação tem como objetivo o breve estudo sobre a poética do exílio presente nos filmes-ensaio "News From Home" (1977) e "Dis-Moi" (1980) da cineasta belga Chantal Akerman e da correspondência de Clarice Lispector, escritora brasileira nascida na Ucrânia, transcrita em "Todas as cartas" ( 2020). Ambas as autoras tem como marca de sua poética o deslocamento e o silêncio: sejam eles reflexo de suas trajetórias biográficas (na qual coincidem a origem judaica e, em algum nível, o exílio -- no caso de Akerman, o exílio tem motivação artística, no caso de Lispector, a sobrevivência) sejam eles escolhas estéticas. A relação de suas autorias artísticas com o bilinguismo, o relato da solidão (que, para Didi-Huberman, em belo estudo sobre as crônicas de Clarice, é aquilo que prepondera na produção da autora) faz transparecer a marca da ausência que ressoa no silêncio da intraduzibilidade de se estar sempre fora de seu lar (mesmo quando a linguagem é este lar). Molloy declara que “Siempre se escribe desde una ausencia: la elección de un idioma automáticamente significa el afantasmamiento del otro pero nunca su desaparición” (MOLLOY, 2015, p. 12). Se nesta linguagem de Akerman e Lispector mora o silêncio como dispositivo de uma poética do exílio, cabe indagar, a partir dos arquivos íntimos que relatam seus deslocamentos, como este dispositivo opera. Referências: AGAMBEN, G. O autor como gesto. _____________ ARTIÈRES, P. Arquivar a própria vida. ____________ BERGER, J. O exílio. ____________ CARSON, A. Variations on the right to remain silent. A Public Space, issue 7, 2008. DIDI-HUBERMAN, G. A vertical das emoções: as crônicas de Clarice Lispector. Tradução de Eduardo Jorge de Oliveira. Belo Horizonte: Relicário, 2021. LISPECTOR, C. Outros escritos/ Clarice Lispector. Org. de Teresa Montero e Lícia Manzo. Rio de Janeiro: Rocco, 2005. ________________. Todas as cartas/ Clarice Lispector. Prefácio e notas bibliográficas Teresa Montero; posfácio Pedro Karp Vasquez; pesquisa textual e transcrição das cartas Larissa Vaz. Rio de Janeiro: Rocco, 2020 MOLLOY, S. Vivir entre lenguas. Honduras: Eterna Cadencia Editorial, 2015 Moreira, Inês Cardoso Martins. “Aqui há uma margem”: teatro e exílio em Gertrude Stein / Banco de Teses Unirio, 2007. MOSER, B. Clarice, uma biografia. Tradução de José Geraldo Couto. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. SIMÃO DE OLIVEIRA: UM JUDEU PADRE EM DIÁSPORA NA ÁFRICA DO SÉCULO XVI, PELA FICÇÃO DE PEPETELA Célia Maria Borges Machado Resumo: Arthur Carlos Maurício Pestana dos Santos lutou pelo Movimento Popular pela Libertação de Angola – MPLA, quando o país se encontrava sob o jugo português. Ao longo de sua carreira literária, o escritor buscou traduzir para as letras, as batalhas que travou na guerra pela libertação de Angola, fundando sua narrativa no âmbito da metaficção historiográfica. Em sua missão de resgate do passado, Pepetela valoriza a alma nacional, sem deixar de expor ora a submissão ora a resistência das lideranças locais frente à ocupação europeia. Em suas obras sempre aparecem personagens judeus, embora sejam pouco observados pelos pesquisadores que se debruçaram sobre elas. A Inquisição e a fuga de Judeus da Europa rumo à África são referências que também ganham importância em suas narrativas. Para trabalhar o tema aqui pretendido, optei pelo estudo do romance A Sul. O Sombreiro (2012), no qual um emblemático sacerdote de ascendência judaica é uma das vozes narrativas, traduzindo as experiências de um judeu em diáspora em África. Trata-se de Simão de Oliveira, padre, judeu, cristão-novo, pertencente à ordem dos franciscanos e vigário de Benguela. Ele narra suas andanças e dificuldades em África e conta dos perigos que rondavam sua família na Europa. Relata que partira “por causa da origem familiar e do fanatismo dos reis de Espanha, convencidos de serem o último reduto de defesa do cristianismo” (PEPETELA, 2012, p. 301), sendo tudo isso a causa de sua paragem em África. Para abordar o tema aqui apresentado, o trabalho será ancorado nos estudos dos seguintes teóricos: Anita Novinsky, Carlos Roberto Nogueira, José Augusto N. Silva Horta, Kênia Maria de Almeida Pereira, Luiz Nazário, Moacyr Scliar, Thomas Bonnicci, Zygmunt Bauman, entre outros. Referências: BAUMAN, Zugmunt, Identidade. Tradução de Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2005. BONICCI, Tomas. O Pós-Colonialismo e a Literatura: Estratégias de leitura. Maringá-PR:Eduem, 2012. HORTA, José Augusto N. Silva. A Inquisição em Angola e Congo: o inquérito de 1596-98 e o papel do mediador das justiças locais. Rev. História e Crítica, Lisboa, 1988. NAZÁRIO, Luiz. Autos-de-Fé como espetáculos de massa. São Paulo. Associação Editorial Humanitas: Fapesp, 2005. NOVINSKY, Anita. A Inquisição. São Paulo: Brasiliense, 2012. NOGUEIRA, Carlos Roberto. O diabo no imaginário cristão. Editora Bauru: Edusc, 2002. PEREIRA, Kenia Maria de Almeida. A poética da resistência em Bento Teixeiro e Antônio José da Silva, o Judeu. São Paulo: AnnaBlume, 1998. SCLIAR, Moacyr. Judaísmo: Dispersão e Unidade. São Paulo: Ática, 2001. A PERSPECTIVA DA REFUGIADA JUDIA EM SOLO PORTUGUÊS DURANTE A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL EM "NASCI COM PASSAPORTE DE TURISTA", DE ALVES REDOL Christini Roman de Lima Resumo: O conto de Antônio Alves Redol, “Nasci com passaporte de turista” — publicado inicialmente na revista O Diabo, em 1940, e, em livro, Nasci com passaporte de turista e outros contos, pela editora Portugália, no mesmo ano —, aborda a questão da opressão sofrida pelos judeus durante o regime nazista e a falta de perspectivas do refugiado judeu, neste caso mulher e de baixa extração social, frente às políticas de imigração e de visto de entrada em alguns países. O autor escreve o conto no calor dos acontecimentos, sua perspectiva é imediata ao desenrolar histórico. A acuidade em relação aos fatos deve-se muito à sua atuação como vicecônsul do Paraguai, uma vez que teve contato com o desespero dos refugiados que buscam os consulados. Tinha, com isso, consciência do significado de um visto de entrada ou saída para aquelas pessoas: na maior parte das vezes, representava a liberdade e a vida ou a deportação, a prisão pela Gestapo e a morte. Redol, atento à realidade de seu tempo, elabora artisticamente o quadro que se descortina na Europa, assim como nas ruas de Lisboa. Ele não apenas descreve o que vê, como busca intervir nos acontecimentos mediante a denúncia da realidade em movimento, do devir histórico dessa personagem — o refugiado — que ganha vida e é questionado através de sua pena. “Nasci com passaporte de turista” retrata, assim, a história de Edith: jovem húngara de origem judaica, assalariada e funcionária de um escritório em uma cidade alemã (não nomeada) que, no início da ascensão nazista, se vê obrigada a deixar o país em função da crescente onda de violência que testemunha e é acometida, tornando-se refugiada e sem esperanças no porvir. Referências: GAGNEBIN, Jeanne Marie. Da relação ao outro: familiaridade ou indiferença. In: SELIGMANN-SILVA, Márcio; GUINZBURG, Jaime e HARDMAN, Francisco Foot (orgs). Escritas da violência, v.1: o testemunho. Rio de Janeiro: 7Letras, 2012. PIMENTEL, Irene Flunser. Judeus em Portugal durante a Segunda Guerra Mundial: em fuga de Hitler e do Holocausto. Lisboa: A Esfera dos Livros, 2006. RAMALHO, Margarida de Magalhães. Lisboa: uma cidade em tempo de guerra. Lisboa, Portugal: Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2012. REDOL, Alves. Nasci com o passaporte de turista: contos. Lisboa, Portugal: Portugália, 1940. MITO E LITERATURA EM "LILÍT", DE PRIMO LEVI Claudia Cristina Maia Resumo: A presente proposta de pesquisa tem por objetivo estudar o conto “Lilít”, do escritor e químico italiano Primo Levi, no que diz respeito à relação entre mito, literatura e tradição. Publicado em 1981, em uma coletânea de contos escritos entre 1975 e 1981, intitulada Lilít e altri racconti, a pequena narrativa retoma o mito judaico de Lílit, que tem origem nas diversas interpretações do livro de Gênesis sobre a criação da mulher. Em Primo Levi, a figura sedutora e demoníaca da tradição judaica torna-se tema de uma conversa entre o narrador e o também prisioneiro Tischler. Na ocasião, os dois se encontram em Auschwitz e se protegem da chuva dentro do espaço exíguo de um cano, onde também se refugia uma prisioneira, esta comparada a Lilith por Tischler. Pretende-se investigar como esse mito é incorporado na narrativa de Levi, com destaque para o jogo discursivo entre os dois personagens, a construção da atmosfera edênica no espaço do lager e a discussão metalinguística que finaliza o conto. O mito da criação migra para o texto de Levi como vestígio de um passado que irrompe no presente, em um espaço de aprisionamento, confirmando a multiplicidade, a infinitude e o desdobramento da tradição judaica. Referências: A BÍBLIA de Jerusalém. Nova edição, revista e ampliada. Trad. Euclides Martins et al. São Paulo: Paulus, 2010. ANDRADE, Maria Isabel de Matos. Lilith: um monstro feminino em Jorge Luis Borges, Dante Gabriel Rossetti e Primo Levi. 2011. 98f. Dissertação (Mestrado em Letras: Estudos Literários). Belo Horizonte: Faculdade de Letras da UFMG, 2011. AUERBACH, Erich. Mimesis: a representação da realidade na literatura Ocidental. Trad. Jacó Guinsburg. São Paulo: Perspectiva, 2001. BARTHES, Roland. Mitologias. Trad. Rita Buongermino, Pedro de Souza. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001. BRANDÃO, Junito de Souza. Mito, rito e religião. In: ______. Mitologia grega. Petrópolis: Vozes, 1991. p. 35-41. CASSIRER, Ernst. O pensamento mítico. São Paulo: Martins Fontes, 2004. ELIADE, Mircea. Mito e realidade. Trad. Pola Civelli. São Paulo: Perspectiva, 1972. ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano: a essência das religiões. Trad. Rogério Fernandes. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010. FRYE, Northrop. O código dos códigos: a Bíblia e a literatura. Trad. Flávio Aguiar. São Paulo: Boitempo, 2004. LEVI, Fabio; SCARPA, Domenico (Org.). Lezioni Primo Levi. Milano: Mondadori, 2019. LEVI, Primo. Opere complete I-II. Organização de Marco Belpoliti. Torino: Einaudi, 2017. 2 v. LEVI, Primo. Opere complete III: conversazioni, interviste, dichiarazioni. Organização de Marco Belpoliti. Torino: Einaudi, 2018. LEVI, Primo. 71 contos. Trad. Maurício Santana Dias. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. THOMSON, Ian. Primo Levi: una vita. Trad. Eleonora Gallitelli. Torino: UTET, 2017. VÊNUS SEM ESPELHO: O TESTEMUNHO FEMININO DA SHOAH COMO "FERIDA DE GÊNERO" Claudia Fernanda de Campos Mauro Resumo: Este trabalho tem como objetivo, por meio do estudo das obras de Giuliana Tedeschi e Liana Millu, analisar aspectos relativos ao ponto de vista feminino, no contexto da literatura italiana da Shoah. Liana Millu (1914-2005) é uma das primeiras testemunhas a descrever, em forma literária, o sistema de campo de concentração do ponto de vista feminino, dando ênfase à questão da presença do sentimento do amor em presença das condições impostas pelo campo de concentração. Em seu livro “Il fumo di Birkenau” (1947), Millu se concentra nas histórias de seis mulheres que, como ela, foram deportadas para Auschwitz-Birkenau. Giuliana Tedeschi (1914-2010), ao lado das de Liana Millu e Edith Bruck, é figura fundamental no que se refere à narrativa de testemunho feminino da Shoah na Itália. A primeira edição de seu livro “Questo povero corpo” é de 1946, voltando a ser publicado, em 1988, com o título “C’è un punto della terra...Una donna nel Lager di Birkenau”. Enquanto Millu permanece ausente em sua narrativa, permitindo que falem em seu lugar as verdadeiras protagonistas das histórias narradas e demonstrando lucidez e distanciamento ao abordar temas polêmicos relativos às relações interpessoais dentro do campo de extermínio, Tedeschi entrega-se aos detalhes da vida no campo, construindo uma narrativa envolvida com o feminino, sobretudo com a maternidade, fator determinante para a sua sobrevivência. De um lado, está a objetividade de Millu; do outro, está a subjetividade de Tedeschi. Pretendemos, então, analisar as escolhas feitas por cada uma para a construção do testemunho, isto é, de que modo cada uma articulou a transformação da memória em narrativa. As obras críticas de Daniela Padoan, Anna Foa, Francesca Nodari e Giovanna De Angelis serão, ao mesmo tempo, ponto de partida e fio condutor deste trabalho. Referências: DE ANGELIS, Giovanna. Le donne e la Shoah. Roma: Avagliano Editore, 2007. FOA, Anna e RODARI, Francesca. Donne e Shoah. Milano: Mimesis Edizioni, 2021. MILLU, Liana. Il fumo di Birkenau. Firenze: La Giuntina, 1947. __________. Tagebuch. Il diario del ritorno dal lager. Firenze: La Giuntina, 2006. PADOAN, Daniela. Come una rana d’inverno: conversazione con tre donne sopravvissute ad Auschwitz. Milano: Bompiani, 2004. TEDESCHI, Giuliana. Questo povero corpo. Milano: Editrice Italiana, 1946. _______________. C’è un punto sulla terra...Una donna nel Lager di Birkenau. Firenze: La Giuntina, 1988. TESTEMUNHO DA DIÁSPORA E AMÁLGAMA DAS CONTRADIÇÕES DO BRASIL EM O FILHO DO HOLOCAUSTO, DE JORGE MAUTNER Enio Bernardes De Andrade Resumo: Esta comunicação tem como objeto o livro O filho do Holocausto – Memórias (1941 a 1958), lançado em 2006, pelo compositor e escritor Jorge Mautner, artista reconhecido no universo da canção brasileira, parceiro de nomes como Caetano Veloso e Gilberto Gil. Filho de austríacos (um judeu e uma católica), Mautner nasceu no Brasil em 1941, um mês após a chegada dos pais, em fuga do horror do Holocausto. Seu livro parte, nesse sentido, das memórias dos pais e de seus ancestrais, entrecruzando-se com o deslumbramento diante da cultura brasileira: “eu sempre tive que conciliar (se isto é possível) os escombros medonhos das almas mortas no sangue do Holocausto com a mais aguda e estonteante felicidade de ter nascido no Brasil” (MAUTNER, 2006, p. 98). O texto projeta-se, desta forma, como arquivo atravessado entre a diáspora migratória e o amálgama da conciliação das diferenças que marca a visão de Mautner em seu conceito de “Kaos”. Mesmo sem ter vivido a guerra, e sendo um fugitivo ainda a ser concebido no momento da evasão, Jorge Mautner, com a obra O filho do Holocausto, pode ser abordado como autor que relata suas memórias por meio da literatura de testemunho, ou “ testemunho em segundo grau”, como aponta Márcio Seligmann, em um espectro, portanto, distinto daqueles que presenciaram o terror dos fatos. No entanto, podemos aproximar O filho do Holocausto com obras da literatura de testemunho sobre a Shoah, como no caso de É isto um homem? (1947), do escritor italiano Primo Levi (1919-1987). A partir dessa comparação, podemos compreender Mautner com um “salvo”, cuja condição é marcada por contradições: a dor do extermínio de seus familiares e a alegria de ter nascido no Brasil. Nossas reflexões estarão ancoradas em Márcio Seligmann-Silva, Primo Levi, Eric Hobsbawm, dentre outros. Referências: HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos. O Breve Século XX - 1914-1991 –Trad. de Marcos Santarrita , São Paulo: Companhia das Letras, 1995. LEVI, Primo. É isto um homem? Trad. Luigi del Re. Rio de Janeiro: Rocco, 1988. MAUTNER, Jorge. O filho do Holocausto: memórias (1941-1958). Rio de Janeiro: Agir, 2006. PELBART, Peter Pál. Jorge Mautner. In: NESTROVSKI, Arthur (Org). Música popular brasileira hoje. São Paulo: Publifolha, 2002. (Coleção Folha Explica) SELIGMANN-SILVA, Márcio (org.). História, Memória, Literatura: o Testemunho na Era das Catástrofes. Campinas: Editora da UNICAMP, 2003. VELOSO, Caetano. Eu não peço desculpa. In: VELOSO, Caetano. O mundo não é chato. FERRAZ, Eucanaã (Org). São Paulo: Companhia das Letras, 2005. UM ESTUDO DA METAFICÇÃO HISTORIOGRÁFICA EM JUDAS, DE AMÓS OZ Fernanda Aquino Sylvestre Resumo: Tido como um dos mais prestigiados escritores israelenses, Oz contribuiu tanto para a Literatura, quanto para os estudos sociais, políticos e históricos de Israel, discutindo as agruras de seu país e os conflitos com a Palestina. Indicado ao Prêmio Nobel em 2002, escreveu diversos romances, como Meu Michel, De amor e de trevas, Rimas da vida, Judas, entre outros. Dentre as obras não -ficcionais destacam-se Como curar um fanático, Mais de uma luz e Os judeus e as palavras.No romance Judas, Amós Oz retoma elementos do contexto contemporâneo e faz uma leitura que problematiza a história do povo judeu, do cristianismo e, por consequência, do mundo, ao apresentar uma nova versão para a crucificação de Cristo e para os atos de Judas, reafirmando a ideia de Hutcheon (1991) de que em todos os discursos o sujeito da his¬tória é o sujeito na história e a sua própria estória e que toda história é passível de reinterpretação. Em Judas, a reelaboração da história, objetivo principal de análise desse estudo, centra-se no fato de que o traidor pode ser o mais leal e devotado dos homens. Aquele que, em meio ao medo de mudança, é injustiçado por tomar decisões impopulares, mas necessárias. Oz costumava dizer que Judas havia se tornado, ao longo da história, uma espécie de “Chernobyl do antissemitismo”, sempre usado para desmoralizar o povo judeu. Rever Judas como um homem fiel a Cristo é uma maneira de desacreditar os antissemitas, que enxergam em todo judeu um traidor. Nessa outra forma de conceber Judas, ele seria o primeiro cristão do mundo e talvez o único verdadeiramente. Referências: GAARDER, J; HELLERN, V; NOTAKER, H. O livro das religiões. Trad.Isa Mara Lando. São Paulo: Companhia de Bolso, 2005.Trad. Italo Eugenio Mauro. HUTCHEON, L. Poética do pósmodernismo: história, teoria, ficção. Trad. Ricardo Cruz. Rio de Janeiro: Imago, 1991. JOHNSON, P. The History of the Jews. New York: Harper Perennial, 2006. METZGER, B.M; COOGAN, M.D. Dicionário da Bíblia. Trad. Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002. OLIVEIRA, Késia Rodrigues de. Sob o signo de Judas: reescritas literárias da traição. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Letras. Belo Horizonte, 2016. OZ, A. Judas. Trad. Paulo Geiger. São Paulo: Companhia das Letras, 2014. ____ Entrevista Ideias do Milênio : Amós Oz, escritor israelense autor de Judas. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2017-set-10/ideias-milenio-amos-oz-escritor-israelense-autor-judas , Acesso em: 27 de abr. 2021. SAID, E. A questão Palestina. Trad. Sonia Midori. São Paulo: Editora da Unesp, 2012. TOROPOV, B. O Guia Completo das religiões do mundo. Trad. Martha Malvezzi Leal. São Paulo: Madras, 2017. BABEL EM TEMPOS SOMBRIOS: COMUNICAÇÃO E INCOMUNICAÇÃO EM PRIMO LEVI E ART SPIEGELMAN Filipe Amaral Rocha de Menezes Resumo: Em Os afogados e os sobreviventes, Primo Levi reflete sobre o aspecto da comunicação e da não comunicação na experiência da Shoah. No campo de concentração, local destinado a destruição do homem, a comunicação verbal é um ponto vulnerável dos prisioneiros vindos de diversos lugares da Europa. A incapacidade de se comunicar nas várias línguas utilizadas nesses espaços de confinamento agravava o isolamento social, que precedeu estados de perturbação, seguidos pela quase inevitável morte por exaustão. Nesse contexto a língua, o principal meio de comunicação e de expressão do homem, passa a ter um papel duplo: ao mesmo tempo em que une aqueles que dominam um idioma comum, ela distancia aqueles que desconhecem o falar do outro, considerado estrangeiro ou estranho. Levi, em É isto um homem?, observa como o domínio do idioma alemão foi um fator que favoreceu a sobrevivência de alguns prisioneiros, pois compreendiam as ordens e se esquivavam de trabalhos mais penosos ou mesmo de sofrerem violência de toda ordem. Art Spiegelman, em Maus – a história de um sobrevivente, relata a experiência de sua família com a Shoah, demonstra como Vladek Spiegelman, seu pai e protagonista dessa graphic novel, pôde se valer de suas habilidades linguísticas para encontrar saídas de muitas situações. De outro lado, na impossibilidade de expressão de personagens como Hurbinek de A trégua e Null Achtzehn de É isto um homem? estariam representadas cenas nas quais a incapacidade comunicacional alcançariam sua força máxima. Assim, o objetivo desta comunicação é refletir sobre a comunicação e a incomunicação como forças em constante embate na Shoah e estariam presentes na literatura que testemunha esse evento catastrófico como uma reencenação da história bíblica da Torre de Babel, um mundo compartilhado onde a incompreensão do outro pode ser uma metáfora para a morte. Referências: AGAMBEN, Giorgio. O que resta de Auschwitz. Tradução de Selvino J Assmann. São Paulo: Boitempo, 2008. BELPOLITI, Marco. Primo Levi di fronte e di profilo. Milano: Ugo Uguanda Editore, 2015. CÁMARA, Mario; KLINGER, Diana; PEDROSA, Celia; WOLFF, Jorge (org.). Indicionário do contemporâneo. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2018. DELUMEAU, Jean. História do medo no Ocidente. Tradução de Maria Lúcia Machado. São Paulo: Companhia das Letras, 1991. FREUD, Sigmund. Freud: O infamiliar. Tradução de Ernani Chaves e Pedro Heliodoro Tavares. Belo Horizonte: Autêntica, 2019. KLEMPERER, Victor. LTI: a linguagem do Terceiro Reich. Tradução de Miriam Bettina Paulina Oelsner. Rio de Janeiro: Contraponto, 2009. LEVI, Primo. A trégua. Tradução de Marco Lucchesi. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. LEVI, Primo. É isto um homem? Tradução de Luigi del Re. Rio de Janeiro: Rocco, 1988. LEVI, Primo. Os afogados e os sobreviventes. Tradução de Luiz Sérgio Henriques. São Paulo: Paz e Terra, 2004. NASCIMENTO, Lyslei. Despertar para a noite e outros ensaios sobre a Shoah. Belo Horizonte: Quixote+Do Editoras Associadas, 2018. OZ, Amós; OZ-SALZBERGER, Fania. Os judeus e as palavras. Tradução de George Schlesinger. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. SPIEGELMAN, Art. Maus: a história de um sobrevivente. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. UM ESPECTRO RONDA... A ATUALIDADE INTEMPESTIVA DE STEFAN ZWEIG Geovane Souza Melo Junior Resumo: Ao tomarmos a concepção do conceito de intempestivo elaborada por Gilles Deleuze, torna-se uma tarefa intrincada não refletirmos sobre a atualidade hors du temps, no sentido de sua atemporalidade, do escritor judeu, de língua-alemã, Stefan Zweig. Posto que, para além de seu sucesso literário, o autor da autobiografia O mundo de ontem: memórias de um europeu (1941), também vivenciou o abjeto das duas grandes guerras e suas nefastas implicações, tais como o nazifascismo e o exílio. Não à toa, sua vida e obra foram influenciadas por essas catástrofes, tornando-o um pacifista resoluto e reverberando em sua literatura. Ora, segundo Giorgio Agamben, as condições que engendraram esse tempo de homens sombrios ainda resistem, não caducaram. Portanto, pesquisar sobre Stefan Zweig está além do esquadrinhamento de um passado amorfo e inócuo, caracterizando-se, efetivamente, sob o signo de um movimento ético-crítico, portanto político, deveras necessário, de reflexão sobre a nossa própria época e suas fissuras, recalques e movências. Não por acaso, nas últimas décadas, temos visto uma retomada a esse intelectual, haja vista, a título de exemplo, as produções fílmicas de Bernard Attal, Maria Schrader, Sylvio Back e Wes Anderson, bem como a fundação, em 2006, do Museu Casa Stefan Zweig na cidade de Petrópolis-RJ. Diante disso, o escopo desta comunicação gravita em torno da análise dessa atualidade intempestiva, ancorados nos estudos de Agamben (2004, 2008), Deleuze (2020) e Derrida (1994), que nos faz continuar perscrutando esse legado trágico de Stefan Zweig, que nos precede e nos interroga, mesmo após setenta anos de sua morte. Conjuntura essa que, aliás, remete-nos ao conceito de espectro de Jacques Derrida, afinal, em suma, espectro é o morto mal enterrado, o passado que não passa e que, portanto, retorna para nos interpelar, vide a cena fantasmagórica do pai de Hamlet. Referências: AGAMBEN, G. Estado de exceção. Tradução de Iraci D. Poleti. São Paulo: Boitempo, 2004. 142 p. AGAMBEN, G. O que resta de Auschwitz: o arquivo e a testemunha (Homo Sacer III). Tradução de Selvino J. Assmann. São Paulo: Boitempo, 2008. 169 p. DELEUZE, G. Diferença e repetição. Tradução de Luiz Orlandi e Roberto Machado. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2020. 420 p. DERRIDA, J. Espectros de Marx: o estado da dívida, o trabalho do luto e a nova Internacional. Tradução de Anamaria Skinner. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1994. 234 p. ZWEIG, S. Autobiografia: o mundo de ontem: memórias de um europeu. Tradução de Kristina Michahelles. Rio de Janeiro: Zahar, 2014. 399 p. O SUJEITO DIASPÓRICO EM O NÔMADE E A VÍBORA, DE AMÓS OZ Karla Louise de Almeida Petel Resumo: Este trabalho se propõe a analisar a construção e o desenvolvimento do sujeito diaspórico em “O nômade e a víbora” (1978), do autor contemporâneo israelense Amós Oz. Dentro do contexto das primeiras décadas de formação do Estado de Israel, as reflexões suscitadas pelo texto giram, primeiramente, em torno dos protagonistas: quem são esses sujeitos que se movem individual e coletivamente pelos novos espaços de uma terra milenar, mas recém configurada como nação? Quais culturas migrantes e/ou identidades hifenizadas colocam-se em destaque? Os eventos apresentados pelo conto e o comportamento dos personagens fazem com que seja possível delinear imaginários acerca dos grupos envolvidos – o dos nômades árabes, que supostamente perturbam a ordem das imediações de um kibutz, e o dos judeus, que em um passado não tão distante passaram também de minoria diaspórica à atual categoria de comunidade hegemônica. As divisões desse cenário permitem a formulação de posições opostas e de qual desses lados parece superior em relação ao outro, significativamente inferiorizado. Para além do esfacelamento das relações e dos resultados negativos, busca-se pensar sobre o que a diáspora é capaz de produzir mais precisamente: o rompimento entre tradições, religiões e etnias, nas esferas social e cultural, de horizontes diferenciados para a humanidade. Referências: BAUMAN, Zygmunt. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi. Tradução: Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2005. BOSI, Ecléa. Memória e sociedade: lembranças de velhos. 2ª ed. São Paulo: T.A. Queiroz, EDUSP, 1987. BRAH, Avtar. Cartographies of Diaspora: Contesting Identities. London: Routledge, 1996. CLIFFORD, James. “Diasporas”. In: ___. Routes: travel and translation in the late twentieth century. Cambridge: Harvard University Press, 1997, p. 244-277. GROSSBERG, Lawrence. “Identity and cultural studies: is that all there is?. In: HALL, Stuart; DU GAY, Paul (Eds.). Questions of cultural identity. London: Sage Publications, 1996, p. 87-107. HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. Tradução: Beatriz Sidou. São Paulo: Centauro, 2008 HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução: Tomaz Tadeu da Silva e Guacira Lopes Louro. 9ª ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2004. HALL, Stuart. Da diáspora: identidade e mediações culturais. Liv Sovik (org.). Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003. HUA, Anh. “Diaspora and Cultural Memory”. In: AGNEW, Vijay (Ed.). Diaspora, Memory, and Identity: A Search for Home. Toronto: University of Toronto Press, 2008, p. 191-208. OZ, Amós. “O nômade e a víbora” in: O novo conto israelense. Coord., sel. e orient. das trad.: Rifka Berezin. São Paulo: Símbolo, 1978. SAFRAN, William. “Diasporas in Modern Societies: Myths of Homeland and Return”. In: Diaspora: A Journal of Transnational Studies, Volume 1, Number 1, Spring 1991, pp. 83-99. MOACYR SCLIAR VAI A JERUSALÉM: BREVES REFLEXÕES SOBRE O DICIONÁRIO DO VIAJANTE INSÓLITO Kênia Maria de Almeida Pereira Resumo: Se Mário de Andrade em O turista aprendiz registra as memórias de suas viagens pelo interior do Brasil, comentando a cultura popular do Amazonas e do Nordeste, “com informalidade, humor e elevada percepção para o prosaico e o inusitado”, como aponta Luiz Torelly, o mesmo se pode dizer de o Dicionário do Viajante Insólito, de Moacyr Scliar. Marcada pelo humor e a descontração, com comentários tanto das alegrias como dos dissabores das viagens que o autor fez pelos seis continentes do mundo, esta obra é um híbrido de crônica, causos e memória, com verbetes que vão de A até Z. Acostumado a viajar a trabalho, sozinho, ou de férias, ao lado da esposa e dos filhos, Scliar narra suas experiências ao percorrer cidades famosas como Praga , que para ele se resumiria a uma só palavra :Kafka; ou Atenas e Kioto: lugares propícios para se perder, ou San Francisco: uma cidade bonita com a antiga Alcatraz. Já o verbete destinado a Jerusalém, o mais reflexivo e melancólico deles, é o que nos interessa analisar com mais propriedade nesta comunicação, já que este autor gaúcho apresenta uma interessante narrativa ao descrever a experiência catártica ou a “comoção que o assaltou”, ao chegar à “Cidade santa” e ver pela primeira vez o Muro das Lamentações. O sagrado e o profano, o insólito e o real, a angústia e o alívio se entrecruzam nestas digressões, principalmente quando o autor evoca sua herança judaica e sua identidade de judeu não religioso. Afinal, como bem define Scliar neste verbete: visitar “Jerusalém é uma encruzilhada histórica. É uma encruzilhada de emoções”. Nossas reflexões estarão ancoradas em Ítalo Calvino, Simon Montefiore, Berta Waldman, Karen Armstrong, Lyslei Nascimento, Maria Zilda Cury, dentre outros. Referências: ARMSTRONG, Karen. Jerusalém: uma cidade, três religiões. Trad. de Hildegar Feist. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. CALVINO, Ítalo. As cidades invisíveis. Trad. de Diogo Mainardi. São Paulo:Companhia das Letras, 2014. MONTEFIORE, Simon S. Jerusalém: a biografia. Trad. de Berilo Vargas e George Schlesinger. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. NASCIMENTO, Lyslei; CURY, Maria Zilda. (orgs). O olhar enigmático de Moacyr Scliar. Belo Horizonte: Quixote, 2019. SCLIAR, Moacyr. Dicionário do viajante insólito. Porto Alegre, LPM, 2003. TORELLY, Luiz. "O turista aprendiz e o patrimônio cultural". In: Andrade, Mário de. O turista aprendiz . Brasília : Iphan, 2015.p. 11-15. WALDMAN, Berta. Entre passos e rastros. São Paulo: Perspectiva, 2003. A ESCRITA SILENCIOSA. PALAVRA E SILÊNCIO EM UM SOPRO DE VIDA, DE CLARICE LISPECTOR Leila Borges Dias Santos Resumo: A relação entre escrita e biografia, revela uma não memória, que criaria a ficção, pois a literatura constrói uma memória que “não existiu, mas que poderia ter existido”. (NOLASCO, 2001, p. 65). Kanaan (2003, p.19), por sua vez, destaca a ligação entre a vida e a obra, no caso, de Clarice Lispector, pois, por meio de uma “escuta”, se atingiria a subjetivação de sua escrita. Esses elementos autobiográficos, porém, reelaborados pela arte, os transformam em “material humano concreto”, constitutivo da obra. (WELLEK, WARREN, 1962, p. 95). Autorreflexividade e a relação entre ficção e realidade também são discussões pertinentes (TORRES, 2019). A consciência de que a ficção de Clarice Lispector não se confunde com sua biografia, não impede a percepção dos rastros da herança preponderante em sua narrativa. Espiritualidade e misticismo, nela recorrentes, são permeadas por uma linguagem peculiar, em que, nos limites desse trabalho, tende a vislumbrar frestas de luz da cultura mosaica. Clarice traz, de sua comunidade originária, a tradição com a palavra e com o silêncio, mesmo que de forma quase imperceptível. É esse enigma que se pretende tatear. A memória remetida em sua escrita, dá, ao mesmo tempo, sinais de pertencimento e de assimilação cultural. Como que situada entre dois mundos (GUINZBURG, 1967), ao ambientá-la em solo sincrético e tropical, sem perder, entretanto, seu referencial judaico e místico, é revelada a linguagem espiritual da autora (VIEIRA, 1987). Sua busca fracassada pela linguagem, forçando um eterno retorno de apreensão de sentido (WALDMAN, 2003), o seu sonhar palavras (BORELLI, 1981), conduzem a uma específica "linhagem" de palavras, ou “escala de medida” (OZ;OZ-SALZBERGER, 2015, p. 17). A influência dessa tradição pode ser percebida em Um sopro de Vida, e os estudiosos elencados auxiliam na reconfiguração da narrativa clariceana, rumo a uma interpretação entremeada pela relação palavra, silêncio e judaísmo. Referências: BORELLI, O. Clarice Lispector. Esboço para um possível retrato. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981. GUINSBURG, J. (Org.) Entre dois mundos. São Paulo: Perspectiva, 1967. KANAAN, D. A. À escuta de Clarice Lispector: entre o biográfico e o literário, uma ficção possível. São Paulo: EDUC, 2003. LISPECTOR, C. Um sopro de vida. (Pulsações) Rio de Janeiro: Rocco, 1999. NOLASCO, E. C. Clarice Lispector: nas entrelinhas da escritura. São Paulo: Annablume, 2001. OZ, A; OZ-SALZBERGER, F. Os judeus e as palavras. 1ª Ed. Trad. George Schlesinger. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. TORRES, L. U. Metaficcionalidade em Um sopro de vida de Clarice Lispector. Fronteira Z. São Paulo, V. 23, n. 23, p. 57-73, dez. 2019. Disponível em https://revistas.pucsp.br/index.php/fronteiraz/article/view/43134/30515 VIEIRA, N. A linguagem espiritual de Clarice Lispector. Travessia, Providence, vol. 14, nº 14, p. 81-94, jan. 1987. Disponível em https://periodicos.ufsc.br/index.php/travessia/article/view/17509/16088 WALDMAN, B. Entre passos e rastros. Presença judaica na literatura brasileira contemporânea. São Paulo: Perspectivas: FAPESP: Associação Universitária de Cultura Judaica, 2003. WELLEK, R; WARREN, A. Teoria da Literatura. Lisboa: Publicações Europa-América, 1962. CERIMONIAL DAS LEMBRANÇAS Leonor Scliar Cabral Resumo: Minhas lembranças mais remotas não se ancoram em vivências, mas nos relatos de meus familiares sobre meus antepassados: meus avós paternos, o zeide (vovô) e a bobe (vovó) e os laços maternos. Meu avós paternos nasceram na antiga Bessarábia, território anexado pelo império russo, em 1818, que nessa condição permaneceu até 1917, quando foi incorporada pelos soviéticos, por breve tempo, pois, parte dela a Romênia a conquistou em 1918, já que outra parte (a futura Ucrânia) pertencia a um estado cossaco dividido entre a Polônia e o Império Russo e foi, precisamente, nesta outra parte, que eles nasceram, no shtetl (pequenos vilarejos) de Goryshkovka (nome em russo; em iídiche era Charishkifka; em ucraniano é Horyshkivka (2022), no distrito Yampol, província de Podólia, então pertencente ao Império Russo. Uma terceira parte da antiga Bessarábia constitui a atual República da Moldávia. A situação dos judeus era precária, pois não podiam ser proprietários de terras: na sua maioria eram artesãos ou comerciantes e viviam nos shtetls (Redação, 14 abr. 2021). Mas, a situação se tornou verdadeiramente dramática, quando os judeus passaram a ser vítimas dos pogroms: os cossacos avançavam a cavalo, massacrando o que viam pela frente. Houve dois, verdadeiras tragédias, na cidade de Kishinev, um em 1903 e o outro em 1905, que aceleraram a imigração dos judeus para as Américas, inclusive para o Brasil. O estopim para o pogrom de 1903, foi ter sido encontrado um menino cristão assassinado e as autoridades imputaram o crime aos judeus com o fim de extrair o sangue e, com ele, fabricar matzot (pães ázimos) para a ceia do Pessach (a celebração do Êxodo). O pogrom de Ekaterinoslav (1905) inspirou o grande poeta Chaim Nachman Bialik (1905) a escrever o libelo “Na cidade assassinada”. Referências: Bialik, C. N. (1905). Na cidade assassinada. Disponível em: < http://pt.dbpedia.org/resource/Chaim_Nachman_Bialik>. Acesso em 17 de abr, 2022. Ekaterinoslav. (1905). Jewish victims of one of the pogroms in Ekaterinoslav (today's Dnipropetrovsk) in 1905. Goodoldpolonius2. Poale Zion’s distributed photo. Disponível em: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/b/b7/Ekaterinoslav1905.jpg>. Acesso: 3 de abr, 2022. Horyshkivka (2022). Distrito de Yampol, província de Podólia, Ucrânia. Disponível em: <https://www.jewishgen.org/ukraine/GEO_town.asp?id=223>. Acesso: 3 de abr, 2022. Redação. (14 abr. 2021). O Cotidiano dos Shtetls, os Vilarejos Judaicos da Europa Oriental. Jornal da Hora. Disponível em: https://jornaldaorla.com.br/noticias/47983-o-cotidiano-dos-shtetls-os-vilarejosjudaicos-da-europa-oriental/. Acesso: 3 de abr, 2022. CANSINOS-ASSENS, O MEMORIOSO Luiz Carlos de Barros Silva Resumo: A partir do romance Las luminarias del Janucá (1924), do escritor espanhol CansinosAssens, procuramos neste trabalho estabelecer relações entre o caráter documental da obra e a realidade e o percurso sócio-históricos dos judeus sefarditas espanhóis, visando, assim, ampliar as possibilidades de leitura da obra. A história narrada é apresentada como a história de uma jornada de vida do protagonista Rafael Benaser em busca de sua descendência judaica, mas também como a história da formação de um personagem. Benaser encontrará vários personagens em sua carreira que contribuíram de diferentes maneiras para o conhecimento de seu passado e do mundo judaico. Amos Oz e Fania Oz-Salzberger (2014) tratam sobre a importância da literatura na perpetuação da memória judaica, e é na literatura que CansinosAssens, escritor profícuo no tema, retrata a forçada abjuração da fé que padeceram os judeus espanhóis e a sua busca de uma identidade. Enfatizamos, por um lado, o caráter documental de Las luminarias del Janucá , seu desenvolvimento a partir do filosefardismo do início do século XX, e por outro lado é dado destaque ao testamento ou legado espiritual deixado pelo autor. Em sua obra Cansinos Assens alcança o chamado “duplo retorno” do passado por meio de uma sutil recordação. Ressaltamos a estreita ligação que o autor cria entre o destino individual de seu personagem e o destino coletivo espanhol. Este trabalho se concentra em estabelecer alguns pontos centrais da obra também por meio dos personagens que fizeram essa campanha. Conceitos como cadeia de memória, transmissão de conhecimento e tradição e exílio são alguns dos tópicos deste estudo que podem se tornar notáveis ??chaves de interpretação. Referências: Aizenberg, Edna. “Cansinos-Assens y Borges: en busca del vínculo judaico”. Revista iberoamericana 46.112-13 (1980): 533-44. Aliberti, D. (2018). Sefarad. Una comunidad imaginada (1924-2015). Madrid: Marcial Pons Historia. https://doi.org/10.2307/j.ctvh4zhb2. Cansinos Assens, R. (2011). Las luminarias de Janucá. Introducción de J.I. Garzón. Madrid: Arca Ediciones. Cansinos Assens, R. (2005). La novela de un literato 1. Madrid: Alianza Editorial. Oz, A.; OzSalzberger, F. (2014). Los judíos y las palabras. Madrid: Eds. Siruela. MOACYR SCLIAR E AS DRAMÁTICAS VIAGENS DAS POLACAS EM O CICLO DAS ÁGUAS Lunara Abadia Gonçalves Calixto Resumo: Em 1975, Moacyr Scliar publica o livro O ciclo das águas, o qual aborda a temática das polacas, mulheres judias que foram submetidas a uma rede internacional prostituição, sendo privadas de sua liberdade e obrigadas a viverem como escravas sexuais em países da América, entre o final do século XIX e meados do século XX. A partir da protagonista Esther, Scliar apresenta ao leitor a trajetória de uma jovem judia que vive em um ambiente conservador de uma pobre aldeia da Polônia, e que se torna uma prostituta ao ser enganada por Mêndele, um rapaz com quem se casa, sem saber que se tratava de um proxeneta. De fato, a guerra e os pogroms em regiões menos desenvolvidas da Europa Oriental, no final do século XIX, favoreceram o mercado internacional da prostituição, os quais aliciavam jovens com promessas de casamento, a fim de obterem uma vida mais próspera. Assim, Moacyr Scliar expõe um fato histórico acerca das polacas, que vivenciaram, majoritariamente, migrações compulsórias para a América, onde agiam como “escravas brancas”, em uma alternativa ao baixo meretrício formado, na maioria, por prostitutas negras. Esther passa por essas circunstâncias, sendo prostituta, mas também caftina, vivendo momentos de submissão, mas também de poder, em situações análogas ao ciclo da água, com fases calmas e revoltas, límpidas e obscuras, buscando se livrar do jugo patriarcal e adquirir liberdade e autonomia em sua vida. Nossas reflexões estarão ancoradas em Berta Waldman, Esther Largman, Gilda Szklo, dentre outros autores. Referências: KUSHNIR, Beatriz. Baile de máscaras: mulheres judias e prostituição: as Polacas e suas Associações de Ajuda Mútua. Rio de Janeiro: Imago Ed, 1996. LARGMAN, Esther. Jovens polacas: da miséria da Europa à prostituição no Brasil. Rio de Janeiro: BestBolso, 2008. RAGO, Margareth. Os prazeres da noite: prostituição e códigos da sexualidade feminina em São Paulo, 1890-1930. 2. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2008. SCLIAR, Moacyr. A condição judaica. Porto Alegre: L&PM, 1985. SCLIAR, Moacyr. O ciclo das águas. Porto Alegre: L&PM, 2002. SZKLO, Gilda Salem. O bom fim do shtetl: Moacyr Scliar. São Paulo: Perspectiva, 1990. WALDMAN, Berta. Entre braços e pernas: prostitutas estrangeiras na Literatura Brasileira do Século XX. In: WALDMAN, Berta. Entre passos e rastros: presença judaica na literatura brasileira contemporânea. São Paulo: Perspectivas: FAPESP: Associação Universitária de Cultura Judaica, 2003, p. 169-189. ECOS DA SHOAH: MUNDOS COMPARTILHADOS NA OBRA DE MEIR KUCINSKI Lyslei de Souza Nascimento Resumo: Em 2003, em Imigrantes, mascates & doutores, foram publicados alguns contos de Meir Kucinski (1904, Polônia-1976, São Paulo) organizados por Rifka Berezin e Hadassa Cytrynowicz que orquestraram, ali, vários tradutores do ídiche, a língua na qual foram originalmente escritos. Nessa coletânea, que pode ser vista como um arquivo literário da imigração judaica para o Brasil, o leitor pode vislumbrar suas línguas, etnias e tradições que, como as cidades visíveis e invisíveis de Italo Calvino, abrem-se como um atlas imaginário com suas fronteiras e limites. A literatura ídiche no Brasil tem, na obra de Kucinski, um desses acervos mais instigantes sobre esses complexos, mas infinitamente, ricos mundos compartilhados. Diante da contingência-limite da Shoah, os contos de Kucinski são especialmente paradigmáticos nessas questões. Nesta comunicação, analisarei os contos “A prédica”, “Mitzves, boas ações” e “O tio” presentes na parte intitulada “Ecos do Holocausto”, da coletânea. Nesses textos, a memória de um mundo que foi, para sempre, deixado em ruínas – destruído pela violência, pela intolerância e pelos desatinos do poder – impõe aos perseguidos os males da ausência, mas também, os novos ares do mundo novo – articulado e rearticulado na ficção, não sem ironia ou sem estratégias de entrar e sair de outras culturas e tradições. Referências: BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas. Tradução: Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1993. CALVINO, Italo. Cidades invisíveis. Tradução: Diogo Mainardi. São Paulo: Companhia das Letras, 1991. CARNEIRO, Maria Luiza. Brasil: um refúgio nos trópicos, a trajetória dos refugiados do nazi-fascismo. São Paulo: Estação Liberdade, 1996. GUINSBURG, Jacó. Aventura de uma língua errante. São Paulo: Perspectiva, 1996. IGEL, Regina. Imigrantes judeus, escritores brasileiros. São Paulo: Perspectiva, 1997. KUNCISNKI, Meir. Imigrantes, mascates & doutores. Rifka Berezin et al. São Paulo: Ateliê Editorial, 2002. NASCIMENTO, Lyslei. Cidades e textos invisíveis: Meir Kucinski e a literatura ídiche no Brasil. Noah/Noaj, n. 16-17, p. 243-253, jul. 2007. QUEIROZ, Maria José de. Os males da ausência ou A literatura do exílio. Rio de Janeiro: Topbooks, 1998. A DIÁSPORA E TERRA PROMETIDA: AS VISÕES ENTRELAÇADAS DE DAVID GROSSMAN, MOACYR SCLIAR E SAMUEL HAWET Marcio Cesar Pereira dos Santos Resumo: A tradição judaica é responsável por introduzir na cultura ocidental o conceito de “Paraíso e/ou Terra prometida”, seria a recompensa pela longa jornada, pela fidelidade e obediência ao Deus onipotente que os expulsara antes de seu jardim de delícias. A vida seria esta trajetória para recuperar a moradia garantida na eternidade por esse Deus ciumento e exigente. Mas uma esperança que alimentara civilizações inteiras por centenas de anos, começou a ser questionada e posta em dúvida a partir da modernidade com o avanço das ciências práticas, toda noção totalitária da verdade, advogada pelas religiões, passou a ser colocada em dúvida ou mesmo desacreditada em suas respostas mítica e místicas. .Foram muitos êxodos, muitas diásporas em quase seis milênios de histórias e registros. Hoje contemporaneidade, o Estado de Israel é uma realidade, mas “Terra prometida”, para muitos, ainda permanece como uma promessa, um sonho idealista para um futuro de glórias em uma Israel de sonhos, como queria Jaques Derrida. Contra essa ideia, escritores como David Grossman, que em um texto, sobre o Livro do Exodo, rechaça a ideia de um estado Israel, como uma promessa ainda a se cumprir. Outros Autores como Moacyr Scliar e Samuel Hawet, judeus brasileiros que escreveram em portugueses, criados na diáspora, essa terra prometida se mostra uma ilusão cruel, em seus trabalhos tanto Scliar com Samuel Hawet, demonstram um pessimismo em relação ao futuro dessa ilusão. Esta comunicação tem como objetivo demonstrar como nas obras de escritores Samuel Hawet e Mocyr Sliar a promessa Bíblica do Paraíso e da Terra Prometida, é vista uma “ilusão perdida”, em contraponto o escritor Israelense, longe sonho bíblico, defende um Israel real, livre da promessas do sonhar que já realizara, enquanto nação contemporânea, que não precisa mais das esperanças da religião. Referências: GROSSMAN, David. Introdução ao Exôdo. in. Exodo. Trad. Ludovico Garmus. Rio de Janeiro: Eletrônica. 1999(p. 5 - 15) RAWET. Contos e novelas reunidos. Riode Janeiro: Civilisação Brasileira. 2004 SCLIAR, Moacyr. Os vendilhões do templo. São Paulo: Companhia das Letras, 2006. A DEUSA JUDIA QUE SE EXILOU NO SERTÃO: ETNO-HISTÓRIA DE UM MITO CABALISTA Marcos Silva Resumo: O texto analisa aspecto específico do misticismo cultivado no sertão nordestino. A partir da análise das obras de Ariano Suassuna, “Romance da Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta” e “Romance de Dom Pantero no Palco dos Pecadores”, como também da literatura de cordel, a pesquisa demonstra como a cultura sertaneja trata de forma mística o feminino. Além de apresentar os principais símbolos e arquétipos femininos existentes nesta região, identifica uma das influências culturais remotas, amparada no inconsciente coletivo, dessa vivência mística. Utilizando como referencial teórico a micro-história de Carlo Ginzburg e sua concepção de História subterrânea, a hipótese principal é que esses elementos culturais são reminiscências de uma identidade religiosa alternativa, o criptojudaísmo tardio, praticado no sertão do Nordeste do Brasil, a partir do século XIX. Essa cultura subterrânea teria deixado reverberações que chegaram aos dias atuais. Assim, um dos elementos influenciadores do misticismo sertanejo do feminino, até agora não reconhecido pela maioria dos estudiosos, pode ser chamado de criptocabalismo, posto que inspirado na tradição mística judaica. A essência do que se postula é que vários aspectos da mística sertaneja foram influenciados pela concepção cabalista de que existe um aspecto feminino no eu divino, chamado Schekhiná. Referências: 100 cordéis históricos segundo a Academia Brasileira de Literatura de Cordel. [organização e curadoria de Gonçalo Ferreira da Silva]. Mossoró: Queima-Bucha, 2008. ABREU, Márcia Azevedo. Cordel Português / Folhetos Nordestinos: Confrontos. Um estudo históricocomparativo. Tese (Programa de Pós-Graduação em Teoria Literária) Departamento de Teoria Literária, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1993. Anais do SinaCripto. Criptojudaísmo e Cabala. Ano 1 – Vol. 1. 2015. Disponível em: http://sefarditas.net.br/sinacripto/inscri.html Acesso em: set. 2017. ARAUJO, Heloísa Vilhena de. As Três Graças: Nova contribuição ao estudo de Guimarães Rosa. São Paulo: Mandarim, 2001. ATAÍDE, João Martins de. A FADA E O GUERREIRO. Fundação Casa Rui Barbosa Disponível em: <http://docvirt.com/docreader.net/docreader.aspx?bib=CordelFCRB&pasta=Joao%20Martins%2 0de%20Ataide&pesq=&pagfis=7682>. Acesso em: 08 abr. 2021. ATHAYDE, João Martins. As Felicidades que Oferece o Casamento. 1948. BARROS, Leandro Gomes de. Consequencias do Casamento: Encontro de Jovino com Bentinho, no outro mundo. O Reino da Pedra Fina.1910. Disponível: http://rubi.casaruibarbosa.gov.br/bitstream/20.500.11997/1872/2/As%20Consequencias%20do %20casamento.pdf Acesso: Mai 2021. Cabala, cabalismo e cabalistas / (organizadores) Moshe Idel... [et. al]; - São Paulo: Perspectiva / CIEUCJ da Universidade Hebraica de Jerusalém, 2008. CAMPANI, Carlos A. P. Fundamentos da Cabala: Sêfer Yetsirá. 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Canal: “Luiz Fernando Carvalho” (Diretor da minissérie "A Pedra do Reino", exibida pela TV Globo em 2007). Disponível em: https://youtu.be/mPUlTflPjHU. Acesso: 08 abr. 2021. TASMAN, Sarah. The 7 Prophetesses: Hannah. Acesso em: 15 fev. 2020. Disponível em: sefaria.org/sheets/93836?lang=bi WEINFELD, Moshe. Feminine Features in the Imagery of God in Israel: The Sacred Marriage and the Sacred Tree. Vetus Testamentum , Oct., 1996, Vol. 46, Fasc. 4 (Oct., 1996), pp. 515-529, Published by: Brill. Stable URL: https://www.jstor.org/stable/1584963. Acesso dez. 2020. AYÉLET TSABARI E JUDEUS IEMENITAS NA LITERATURA ISRAELENSE Nancy Rozenchan Resumo: Nas últimas décadas do século XIX, judeus europeus propugnantes do Sionismo programaram sua ida e estabelecimento na terra dos antepassados - Israel, então denominada Palestina. O ano de 1881 registrou a primeira leva desses imigrantes. Antes deles, judeus iemenitas também escolheram se estabelecer em Jerusalém. Movidos mais por ideais de fé, não gozaram de boa recepção e reconhecimento e, por várias décadas, foram marginalizados. Eram estranhados pelo tom de pele, olhos e cabelos negros, vestimentas, língua, e traços culturais. Circulava até a dúvida de que fossem judeus. Foram maltratados e alijados de benesses públicas. Os habitantes locais os viam como trabalhadores e operários afeitos ao trabalho e substitutos dos empregados árabes. Sua paga, porém, era inferior àquela que outros jornaleiros judeus recebiam. Os iemenitas saíram do país de origem em diversas etapas, que se estenderam até décadas recentes. A apreciação destas vivências por meio de autores da literatura hebraica originários da Europa, proporcionou retratos variados do que foi essa imigração. Foi somente há poucas décadas que autores iemenitas passaram a expor e a denunciar as agruras e discriminações a que foram submetidos. A coletânea de contos The Best Place on Earth, de 2015, e o conjunto de artigos The Art of Leaving, de 2019, da autora israelense/canadense Ayélet Tsabari, de família originária do Iémen, redigidas em inglês, livros que, segundo ela, se propuseram a expor e a reparar o tratamento que habitantes de Israel de origem semelhante sofreram durante longo tempo, servirão para tratar de questões de identidade da comunidade iemenita israelense ou fora de Israel. Apesar de não escrever em hebraico, Tsabari faz parte do cânone literário israelense. Tsabari leciona escrita criativa na Universidade de Toronto. Referências: The Best Place on Earth, de 2015, e o conjunto de artigos The Art of Leaving, de 2019, da autora israelense/canadense Ayélet Tsabari. A DIÁSPORA E A VIAGEM EM NO EXÍLIO, DE ELISA LISPECTOR Patrícia Lopes da Silva Resumo: A obra de Elisa Lispector apresenta, de forma paradigmática, o desenraizamento e o mal do exílio. Suas personagens, sempre em trânsito, encontram-se, na maioria das vezes, estrangeiras em solo estranho. Nesta comunicação, proponho discutir o que poderíamos chamar de “síndrome do desterro” em No exílio, de Elisa Lispector, publicado em 1948. Nesse romance, por meio da história de Lizza, a autora expõe a sensação de deslocamento, a identidade perdida por meio do entrelaçamento da memória, real e o ficcional, revelando o trânsito e a migração dos judeus, também ocorrido com a autora. Na narração há relato dos dias de aflição, de desespero e as perseguições da família ao fazer a travessia da terra natal para um lugar mais seguro, sem perder a tradição dos preceitos religiosos judaicos. Há um forte quadro documental; o tzar, o chauvinismo, a independência da Transjordânia, com a violação da integridade territorial da Palestina; a participação da Alemanha no Convenat na Liga das nações e a criação do estado de Israel. Para essa investigação, recorreremos à algumas reflexões sobre a literatura do exílio, bem como a crítica que discute a imigração e diáspora, como Regina Igel, Márcio Seligmann-Silva, Maria José de Queiroz, Amos Oz e Fania Oz-Salzberger. Referências: IGEL, Regina. Imigrantes Judeus: escritores brasileiros. Perspectiva: São Paulo, 1997. SELIGMANN-SILVA, Márcio. Testemunho da Shoah e literatura. In: Portal Rumo à tolerância. Aula ministrada no curso Panorama Histórico do Holocausto em 2008. Disponível em http://diversitas.fflch.usp.br/files/active/0/aula_8.pdf. Acesso 25 mar 2016. SELIGMANN-SILVA, Márcio . Literatura de testemunho: os limites entre a construção e a ficção. Letras, Revista do mestrado em Letras da UFSM. Santa Maria, RS, UFSM; CAL, n. 16, jan./jul. 1998. SELIGMANNSILVA, Márcio .Narrar o trauma: a questão dos testemunhos de catástrofes históricas. Psicologia Clínica, v. 20, n. 1, Rio de Janeiro, 2008. SELIGMANN-SILVA, Márcio . Reflexões sobre a memória, a história e o esquecimento. In: SELIGMANN- SILVA, Márcio (org.). História, memória, literatura: o Testemunho na Era das Catástrofes. Campinas: Editora da Unicamp, 2003. LITERATOS SEFARDITAS CONTEMPORÂNEOS NA AMÉRICA LATINA Regina Igel Resumo: Esta comunicação estudará, sobretudo, obras de escritores de origem sefardita que tenham sido escolarizados em alguns países latino-americanos a partir de pautas temáticas, sob ponto de vista linguístico como o ladino, ou judeu-espanhol, o hakitia e o português), além disso, serão estudadas as referências à assimilação e à aculturação, as trajetórias pessoais de cada autor, bem como os aspectos ficcionais e auto-ficcionais de cada um dele e o alcance público em seus respectivos países. Nesse sentido, os escritores cujos livros a serem selecionados para esta comunicação e que serão objeto deste estudo: Myriam Moscona (México), Memo Ánjel (Colômbia), Hernán Rodríguez Fisse (Chile), Ilko Minev (Brasil).Esta comunicação estudará, sobretudo, obras de escritores de origem sefardita que tenham sido escolarizados em alguns países latino-americanos a partir de pautas temáticas, sob ponto de vista linguístico como o ladino, ou judeu-espanhol, o hakitia e o português), além disso, serão estudadas as referências à assimilação e à aculturação, as trajetórias pessoais de cada autor, bem como os aspectos ficcionais e auto-ficcionais de cada um dele e o alcance público em seus respectivos países. Nesse sentido, os escritores cujos livros a serem selecionados para esta comunicação e que serão objeto deste estudo: Myriam Moscona (do México), Memo Ánjel (da Colômbia), Hernán Rodríguez Fisse (do Chile), Ilko Minev (do Brasil). Referências: Myriam Moscona (México), Memo Ánjel (Colômbia), Hernán Rodríguez Fisse (Chile), Ilko Minev (Brasil). EXÍLIO E VIOLÊNCIA POLÍTICA EM BERNARDO KUCINSKI E JULIÁN FUKS Ricardo Augusto Garro Silva Resumo: A respeito da ficção, Ricardo Piglia, em Crítica e ficción, salienta “su relación específica con la verdade”, pois o autor ficcional trabalha em uma zona indeterminada onde se cruzam ficção e verdade, já que “la ficción trabaja con la creencia y en este sentido conduce a la ideologia, a los modelos convencionales de la realidade y por supuesto también a las convenciones que hacen verdadero (o fictício) a un texto”. A partir das proposições de Piglia sobre ficção e verdade, assim como da ideia do arquivo como modelo de relato e forma de acessar a história, é intenção analisar como os escritores Bernardo Kucinski e Julián Fuks, ambos de descendência judaica, utilizam elementos da tradição para narrar o exílio imposto à personagens dos romances K. – Relato de uma busca e A resistência. Ambos os romances problematizam ditaduras na América do Sul, e sua interlocução com a história, a memória e a violência de Estado, por intermédio de estruturas formais em que elementos de investigação e de deslocamentos identitários e geográficos constituem o cerne do jogo narrativo. Os autores, ao empreenderem um discurso que age como resgate de um passado histórico e, ao mesmo tempo, desvelamento de estruturas sociais violentas, utilizam elementos de resistência da história e tradição judaica para subverterem verdades estabelecidas. Assim, encontram nas identidades forjadas no exílio os meios de embate político, que se constituem como investigação e tentativa de deciframento de fatos obscuros da história, tanto individuais, como coletivos. Referências: FUKS, Julián. A resistência. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. KUCINSKI, Bernardo. K. – Relato de uma busca. São Paulo: Cosac Naify, 2014. PIGLIA, Ricardo. Crítica y ficción. Buenos Aires: Debolsillo, 1986. PIGLIA, Ricardo. La forma inicial: conversaciones en Princeton. Buenos Aires: Eterna Cadencia Editora, 2015. PIGLIA, Ricardo. Memoria y tradición. Anais do 2º. Congresso ABRALIC: Literatura e Memória Cultural. Belo Horizonte: ABRALIC, 1991. p. 60-66. PHILIP ROTH E O JUDAISMO AMERICANO Roxanne Covelo Resumo: Quatro anos após sua morte, em 2018, e um ano após a publicação de uma biografia extremamente controversa, como enxergamos hoje o legado de Philip Roth? Sua obra extensa, abrangendo mais de 30 romances e coletâneas de contos, revela um posicionamento muitas vezes contraditório vis-à-vis as questões-chave que aborda: a sexualidade e as relações de gênero, o corpo e seu envelhecimento, a política americana – e, especialmente, o lugar do judaísmo numa sociedade democrática moderna. Roth é sem dúvida o autor judeu mais conhecido dos Estados Unidos, ocupando um espaço cultural igualmente importante (e igualmente polêmico) quanto o de Woody Allen no cinema. Porém, desde a publicação de “Goodbye, Columbus” em 1959, Roth foi frequentemente acusado de anti-semitismo. Como explica em um de seus textos críticos, tais acusações quase sempre provinham de outros judeus. “Quando falo para audiências judaicas,” escreve o autor em 1963, “invariavelmente há pessoas que vêm até mim depois para perguntar: ‘Por que você não nos deixa em paz? Por que você não escreve sobre os gentios?’ – ‘Por que você deve ser tão crítico?’ – ‘Por que você nos desaprova tanto?’ – esta última pergunta feita com tanta incredulidade quanto com raiva.” No entanto, como veremos, a posição de Roth é muito mais sutil em sua reconciliação das conquistas e das contribuições dos judeus, dentro do espaço cultural americano, com a necessidade de autocrítica e, sobretudo, de humor. Referências: Roth, "Writing About Jews," Commentary, 1963. A TRÉGUA: O LIVRO E O FILME Sofia Débora Levy Resumo: O livro “A trégua”, publicado em 1963, traz os registros memorialísticos de Primo Levi após a libertação de Auschwitz até sua chegada, em outubro de 1945, em Turim, sua cidade de residência antes e depois do Holocausto. Em 1997, dez anos após a morte de Levi, vem a público o longa-metragem “A trégua”, do diretor italiano Francesco Rosi, com John Turturro no papel principal. O filme é uma adaptação do livro homônimo de Primo Levi, na qual os roteiristas e o diretor aditaram impressões registradas por Levi em seus outros livros memorialísticos, como “É isso um homem?” e “Os afogados e os sobreviventes”. Logo, há passagens no filme que não constam do livro “A trégua”. A presente comunicação traz uma análise comparativa entre o livro e o filme, suas diferenças significativas e peculiares, com destaque para: as expectativas de Levi após a libertação; as impressões frente ao mundo natural e social circundante, uma vez já liberto; a longa viagem dos ex-prisioneiros, com um percurso até a Rússia para depois retornar à Europa central, passando pela Alemanha e chegando na Itália. Esses aspectos são enfatizados pelas respectivas implicações na compreensão da história e da memória do Holocausto, considerando a relevância de ambos como recursos pedagógicos e pelo alcance de público tendo sido o livro “A Trégua” premiado na primeira edição do Prêmio Campiello de Literatura, em Veneza, no ano de sua publicação, e o filme recebeu o Prêmio do Público na 21ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, em 1997. Referências: A TRÉGUA. Direção: Francesco Rosi. Produção: Véra Belmont et al. Itália, 1997. (125 min.), son., color. LEVI, Primo. É isto um homem? Rio de Janeiro: Rocco, 1988. LEVI, Primo. A trégua. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. LEVI, Primo. Os afogados e os sobreviventes. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990. SIMPÓSIO "TRAMA TEXTUAL, RASTROS TRANSLINGUAIS: LITERATURA E INTERDEPENDÊNCIA DA DIFERENÇA" Gerson Roberto Neumann (UFRGS), Fernanda Boarin Boechat (UFPA) RASTROS TRANSAREAIS NA OBRA ILHAS, DE WILSON BUENO Cintea Richter Resumo: Ottmar Ette chama a atenção para as literaturas do mundo, como literaturas que desdobram formas e normas de vida variadas, gerando e propagando um conhecimento sobre o viver e sobre o viver juntos (conviver), que pode ser experienciado pelos leitores. Com a expressão “literaturas do mundo” o romanista atribui a essa literatura uma postura sem fronteiras e sem nacionalidades e, principalmente, não eurocentradas. A “literatura do mundo” conecta transversalmente vivências e experiências, disseminando formas variadas de sentir os espaços globais e seus movimentos. Ainda segundo Ette, para olhar e compreender a literatura do mundo há que se fazer uma abordagem transareal, munindo-se de competências e práticas transdisciplinares, entrelaçando diversas áreas em torno do estudo. É com esse intuito que me debruço sobre a obra Ilhas, de Wilson Bueno, aproximando-me dela por meio de seus sentidos múltiplos e transareais. Ilhas rompe fronteiras geográficas, tradições literárias e culturais reunindo diferentes espaços, tempos e textos em uma unidade narrativa. A temática recorrente e central do livro recai sobre o formato do arquipélago, enquanto símbolo de reunião, comunhão, entrelaçamento e convivência. Para construir essa rede interligada de ilhas, o autor passeia por clássicos da literatura, subvertendo-os e dando-lhes novas valências, sem no entanto apagar as antigas, em uma experiência que as faz conviver. O autor promove diálogos intertextuais e intertemporais, sempre em busca de borrar marcos delimitadores. Referências: BUENO, Wilson. Ilhas. Curitiba: Editora Medusa, 2017. ETTE, Ottmar. Insulare ZwischenWeltern der Literatur. Inseln, Archipele und Atole aus transarealer Perpektive. In WILKENS, Anna E., RAMPONI, Patrick, WENDT, HELGA. Inseln und Archipele: kulturelle Figuren des Insularen zwischen Isolation und Entgrenzung. Bielefeld: Transkript Verlag, 2011. ETTE, Ottmar. Transarea: a literary history of globalization. Translated by Mark W. Person, Berlin/Boston: Walter de Gruyter GmbH, 2016. O SUJEITO RORAIMEIRA E A DOCE POETA GOIANA: UM OLHAR COMPARATISTA SOBRE A POESIA TOPOFÍLICA DE CORA CORALINA E ZECA PRETO Cleo Amorim Nascimento Resumo: Na literatura observamos um campo de atuação multilógico que possibilita as mais distintas lógicas interpretativas (ETTE, 2016), ela une espaço e tempo numa lógica polissêmica que dispõe aos leitores a capacidade de identificarem-se com os mais variados contextos dispostos nos textos literários. Encontramos na literatura comparada um leque de observações que nos permite estar conectados às literaturas do mundo. Nesse sentido, cabe ainda destacar entre os gêneros literários o poema, pois esse imbuído do lirismo abriga em seu cerne a essência do SaberViver/Vivenciar algo tão comum a literatura em si. Cora Coralina e Zeca Preto são poetas que usam temas de seus ambientes (Goiás e Roraima) em suas composições, ou seja, ambos produzem poemas que refletem traços de seus lugares, suas vivências, e nisso consiste a proximidade entre seus textos poéticos no que se refere ao sentimento topofílico que marca a essência dos sujeitos dispostos nos poemas. Embora publicados em regiões bastante distintas geograficamente, esses textos descrevem subjetivamente paisagens, revelam apegos, bem como suscitam sentimentos que possibilitam identificações e pertencimento às histórias dispostas em seus versos, sem que necessariamente o leitor de suas obras pertença especificamente a nenhum dos dois lugares. Nesse sentido, essa comunicação apresenta uma breve discussão sobre a literatura de vertente topofílica, tomando como base a poesia de Cora Coralina e Zeca Preto, com ênfase na relação vigente entre sujeito, tempo e lugar. Para tanto, teremos como âncoras teóricas CARVALHAL (2006), CLAVAL (1999), ETTE (2016), TUAN (1980), entre outros. Referências: CARVALHAL. Tânia Franco. Literatura comparada. 4.ed. rev. e ampliada. - São Paulo: Ática, 2006. CLAVAL, Paul. A Geografia cultural. Trad. Luiz Fugazzola Pimenta; Margareth. Afeche Pimenta. Florianópolis: Ed. da UFSC, 1999. ETTE, Ottmar. Pensar o futuro: a poética de movimento nos estudos de transárea. Rio de Janeiro: ALEA, volume 18/2, 2016, p.192 a 209, mai-ago 2016. TUAN, Yi-Fu. Topofilia – Um Estudo da Percepção, Atitudes e Valores do Meio Ambiente. São Paulo: Difel, 1980. A MATERIALIDADE DAS PRIMEIRAS EDIÇÕES DE MORENGA DE UWE TIMM Elaine Calça Resumo: Nesta comunicação apresentaremos um estudo bibliográfico do romance Morenga, do escritor alemão Uwe Timm. Tendo por objeto duas edições da obra publicadas na República Federativa Alemã, a primeira, de 1978, e a terceira, de 1983. Partimos de alguns questionamentos a respeito das mudanças empenhadas na apresentação do material, buscaremos compreender como o processo de editoração e a construção externa das duas edições do livro conectam-se ao seu conteúdo: o conflito colonial na região da Namíbia Colonial, entre 1904 e 1907. Nossa hipótese é de que, ao focarmos nos aspectos físicos das edições, observaremos como elas evocam a questão colonial, podendo contribuir na construção do conhecimento histórico sobre a colonização alemã por meio dos sentidos que enunciaram. Isso, porque, embora houvesse trabalhos sobre a história colonial alemã, a colonização não estava presente na esfera pública. Constata-se, portanto, um silenciamento sobre o assunto após a 2° Guerra Mundial, efeito do processo de subjetivação pós-nazismo. Para tanto, apresentaremos brevemente as edições e perseguiremos como, ao constituir um imaginário pré-leitura sobre as edições, seus elementos materiais podem nos ajudar a rastrear sua recepção entre os leitores. Tal empreitada nos auxiliará a circunscrever a amplitude do debate colonial na esfera pública, apontando para a relação entre historiografia e memória coletiva. Referências: ANUNTKOSOL, Nantana. Die Inszenierung von Autorschaft bei Uwe Timm. Dissertação, Philosophischen Fakultät der Universität Siegen, 2019. ASSMANN. Aleida. Erinnerungsräume. Formen und Wandlungen des kulturellen Gedächtnisses, Beck, München 2009 BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política. Escritos escolhidos I. São Paulo: Brasiliense, 1985 BÜRGER Christiane, Deutsche Kolonialgeschichte(n). Der Genozid in Namibia und die Geschichtsschreibung der DDR und BRD, Bielefeld, Transcript 2017. FLAUBERT, Gustave. A educação sentimental. Tradução Adolfo Casais Monteiro. São Paulo: Nova Alexandria, 2009. GENETTE, Gérard. Paratextos editoriais. Cotia: Ateliê Editorial, 2009. GERMER, Kerstin. (Ent)Mythologisierung des Alltags. Uwe Timms narrative Ästhetik. Göttingen: V&R Unipress, 2012. KEARNEY, Richard. Narrativa. Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 37, n. 2, p. 409-438, maio/agosto 2012, LEPAK, Thorina. Deutsche Kolonialromane. Masterarbeit im Fach Germanistik der Philosophischen Fakultät der Heinrich-Heine-Universität Düsseldorf, 2013. McKenzie, D. F. 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OS RETORNOS, O RETRATO, O RELATO: VENTOS QUE SOPRAM NO TEMPO Fernanda Boarin Boechat Resumo: Neste artigo são observados os retornos das personagens Rodrigo Terra Cambará e Floriano Cambará, este como representante da última ramificação da família, ao vilarejo Santa Fé nos dois volumes de O Retrato (1951), segunda parte da trilogia O tempo e o vento do escritor brasileiro Erico Verissimo. Os dois volumes de O Retrato são marcados por retornos, pelo confronto com o local, pela perspectiva por meio do trânsito; o tempo e o vento como puro movimento, construtores de continuidade, apontando também para a impossibilidade do retorno. O regresso à origem a partir de uma compreensão essencializante, além disso, será aqui discutido em diálogo com a ideia de violência e sua legitimização no processo da fundação de Santa Fé e da manutenção de suas relações sociais. É por meio da arte, mais especificamente da literatura, que Floriano, “como uma capa vermelha para atrair o touro”, evocará uma época, mostrará “o que somos, o que fizemos, sofremos e sonhamos...” (VERISSIMO, 2004, p. 350). Por fim, discute-se neste trabalho o lugar desempenhado pela arte nas dinâmicas sociais, de modo que se possa considerá-la como alternativa pacífica, mais especificamente em consideração aos conceitos de saber sobreviver e saberconviver do romanista alemão Ottmar Ette (2005; 2021). CON-VIVÊNCIA E VIZINHANÇA NA LITERATURA DE FUNDO MIGRATÓRIO Gerson Roberto Neumann Resumo: Conceitos como saber con-viver, ou seja, saber viver com o outro de uma forma satisfatória para todos é algo que o ser humano busca, na sua essência, por sermos seres sociáveis, que teoricamente vivem em sociedade. Para sabermos viver com o outro é importante o conceito de vizinhança, pois o o meu próximo é aquele que está aí, do meu lado. Como conviver sem haver perdas e sem oferecer riscos à liberdade desse outro? Como a literatura pode ser um elemento que traga benefícios para uma con-vivência "satisfatória" para todos? A partir do momento em que são reproduzidos exemplos de tal forma de vivências, a literatura produzida por migrantes, ou por pessoas que carregam em si toda forma de deslocamento em seu corpo, em sua vivência, são exemplos perfeitos para uma análise mais aprofundada para tal estudo. Atualmente existem registros de muitos casos de produções de migrantes, pessoas que escrevem fora do seu espaço habitual, ou que escrevem em movimento, muitas vezes em uma língua nova, adquirida nesse novo espaço. Tais questões serão abordadas na comunicação aqui proposta na intenção de aprofundar os dois conceitos apresentados acima. Para tal, serão usados estudos teóricos de Ottmar Ette, Stuart Hall, Homi Bhabha e obras de Yoko Tawada, Emine Güler Özdo?an, entre outros nome possíveis. Referências: ETTE, Ottmar. “Com as palavras do outro.” In Humboldt; Nr. 101, Ano 51, 2010. Ette, Ottmar. Konvivenz: Literatur und Leben nach dem Paradies. Berlin: Kulturverlag Kadmos, 2012. NEUMANN, Gerson Roberto; DAUDT, Marianna Ilgenfritz. "Eu sou uma li?ngua": a exofonia na literatura de Yoko Tawada. In: Cadernos do IL. Porto Alegre, RS N. 58 (out. 2019), p. [46-59] , digital. TAWADA, Yoko. Sprachpolizei und Spielpolyglotte. Literrische Essays. Tübingen: Konkursbuch Verlag Claudia Gehrke, 2007. TAWADA, Yoko. U?berseezungen. Retrato de uma língua e outras criações. Trad. Marianna Ilgenfritz Daudt e Gerson Roberto Neumann. Porto Alegre: Editora Bestiário/Class. 2019. O DIÁRIO DE VIAGENS DE HERDER EM UM MUNDO EM MOVIMENTO Henrique Sagebin Bordini Resumo: O diário de viagens escrito por Johann Gottfried Herder no ano de 1769 e publicado apenas postumamente é considerado não apenas a obra de abertura do Tempestade e Ímpeto (SAFRANSKI, 2010, p. 22) mas é também um relato de viagens que desafia as convenções sobre a forma diário, sobre viagem e também sobre o mundo posto em sua época. Tendo dialogado com nomes como Diderot e Kant e influenciado os jovens Goethe e Schiller, o diário traz em si digressões sobre boa parte das ideias posteriormente desenvolvidas na obra de Herder, mas mais importante, aprimoradas em seu deslocamento como o registro de um filósofo em formação, que transita entre diferentes áreas do conhecimento e gêneros literários, opondo-se à compartimentação dos saberes presentes no mundo em processo de secularização, marca da modernidade. Abordando questões como formação, pedagogia, geografia, obras não escritas, história e a relação entre língua e cultura, a importância da obra em questão não se limita ao período de sua concepção, mas, uma vez que parte da relação entre espaço e movimentos, dialoga com as épocas que a sucederam e com o presente. Com base na seleção de trechos traduzidos da obra Journal meiner Reise im Jahre 1769, de Johann Gottfried Herder, a presente comunicação tem por objetivo debater a trama textual marcada pela interdependência entre os lugares, deslocamentos e reflexões do autor, uma série de anotações sobre um mundo em transformação. Referências: ETTE, Ottmar. Literatura de viaje: de Humboldt a Baudrillard. Tradução de Antonio Angel Delgado. México, D.F.: Universidad Nacional Autónoma de México (Colección Jornadas), 2001. _____________. SaberSobreViver: A (o)missão da filologia. Curitiba: Editora UFPR, 2015. HERDER, Johann G. Journal meiner Reise im Jahr 1769. In: ____. J. G. Herder Werke. Frankfurt am Main: Deutscher Klassiker Verlag, 1995. v. 9 (2): Journal meiner Reise im Jahr 1769/Pädagogische Schriften. p. 9-126. SIGNIFICADOS EM TRÂNSITO: A IMAGEM SONORA E O LÉXICO DE NATALIA GINZBURG E VALERIA LUISELLI Lilian Monteiro de Castro, Michelle dos Santos Resumo: Nascida no México e radicada nos Estados Unidos, a escritora Valeria Luiselli, por ser filha de um diplomata, passou grande parte sua infância e sua adolescência em trânsito, vivendo nos Estados Unidos, Costa Rica, Coreia do Sul e África do Sul, retornando ao seu país natal apenas aos 16 anos de idade. Seu romance Lost children archive (2019), traduzido para o espanhol por ela mesma em colaboração com o também escritor mexicano Daniel Saldaña París como Desierto sonoro (2019), uma clara referência ao Deserto de Sonora, rota de imigração ilegal entre o México e os Estados Unidos, narra a história de um casal de documentaristas que viaja ao Arizona acompanhado por seus dois filhos pequenos. Outra referência se impõe já no título da primeira parte do livro: “Sonidos familiares”; cuja segunda entrada a deixa ainda mais clara: “Léxico familiar”. Mas, de forma inversa ao Léxico familiar (2018) da escritora italiana Natalia Ginzburg, cujo léxico especial de sua família evocava imagens sonoras de memórias compartilhadas por todos os membros, como uma marca identitária, as imagens sonoras produzidas pelo casal são apreendidas pelos filhos com marcas de diferença e estranhamento, que se misturam, se confundem e se reconfiguram a despeito da intenção de quem as produziu. Esta proposta visa analisar as aproximações e distanciamentos criados por Luiselli com a obra de Ginzburg, pensando as dimensões éticas e, em certa medida, diaspóricas compartilhadas por essas escritoras a partir das obras SaberSobreViver: a (o)missão da filologia (2015) e EscreverEntreMundos: literaturas sem morada fixa (2018), do romanista alemão Otmar Ette, em consonância com os estudos do filósofo francês Georges Didi-Huberman em Diante da imagem (2013) e Quando as imagens tomam posição (2017), buscando compreender os processos de formação e significação de imagens na e pela literatura. Referências: ETTE, Otmar. EscreverEntreMundos: literaturas sem morada fixa. Vários tradutores. Curitiba: Ed. UFPR, 2018. ETTE, Otmar. Sabersobreviver: a (o)missão da filologia. Vários tradutores. Curitiba: Ed. UFPR, 2015. DIDI-HUBERMAN, Georges. Diante da imagem. Tradução Paulo Neves. São Paulo: Ed. 34, 2013. DIDI-HUBERMAN, Georges. Quando as imagens tomam posição. Tradução Cleonice Paes Barreto Mourão. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2017. GINZBURG, Natalia. Léxico familiar. Tradução Homero Freitas de Andrade. São Paulo: Companhia das Letras, 2018. LUISELLI, Valeria. Desierto sonoro. Tradução Daniel Saldaña París e Valeria Luiselli. Madri, Espanha: Sexto Piso España, 2019. ENTRE A MORTE E O RETORNO: ESTUDO COMPARADO ENTRE UM RIO CHAMADO TEMPO E GRAVEL HEART Luccas César Bach Resumo: O presente trabalho tem por objetivo tecer uma análise, a partir de uma perspectiva comparativa, da narrativa do retorno que compõe os romances Um Rio Chamado Tempo, Uma Casa Chamada Terra (2002) de Mia Couto e Gravel Heart (2017) de Abdulrazak Gurnah. Ambas as obras apresentam um protagonista migrante que, vivendo na diáspora, constroem sua identidade cultural longe dos povoados da infância. O retorno ao lar é movido pela obrigação com a família, pela morte de um progenitor, o que, baseado no princípio da tradição e preocupação com as raízes do indivíduo, levam o protagonista a reconsiderar seu lugar no mundo. Os segredos que tecem a história dessas personagens promovem um entrelugar de incertezas, e as descobertas ocorridas no regresso ao núcleo familiar é uma libertação do seu enraizamento espacial para o autoconhecimento, sabendo que "[...] o desenraizamento pode levar à identidade" (GLISSANT, 2021, p. 42). Uma análise comparada entre os romances de dois autores de nacionalidade africana se justifica pela relevância dessas vozes na Literatura assim como o tema contemporâneo sobre o local e a identidade do migrante presente nas duas obras. A base teórica desse estudo será composta principalmente pelos estudos culturais e identitários de Stuart Hall (2013) e Édouard Glissant (2021) e pelos escritos sobre literatura sem morada fixa de Ottmar Ette (2018). Referências: COUTO, Mia. Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra. São Paulo: Companhia das. Letras, 2003 ETTE, Ottmar. EscreverEntreMundos: literaturas sem morada fixa. Tradução de Rosani Umbach, Dionei Mathias, Teruco Arimoto Spengler. Curitiba: Ed. UFPR, 2018. GLISSANT, Édouard. Poética da Relação. Tradução de Marcela Vieira e Eduardo Jorge de Oliveira. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2021. GURNAH, Abdulrazak. Gravel Heart. Londres: Bloomsbury, 2017. HALL, Stuart. Da Diáspora: identidades e mediações culturais. Liv Sovik (org). Tradução de Adelaine La Guardia Resende et al. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003. COM ARMAS SONOLENTAS - UM ROMANCE DE FORMAÇÃO BRASILEIRA Luciane da Silva Alves Resumo: Nesta proposta de comunicação pretende-se analisar os diferentes deslocamentos presentes no romance Com armas sonolentas, da escritora Carola Saavedra. A obra apresenta diversos e complexos níveis de migração e exílio no Brasil, especialmente através de quatro figuras femininas. A metáfora da fita de Moëbius como o dentro/fora das personagens, espelha a constituição identitaria brasileira e a diversidade que a compõe. Mesmo sofrendo processos de apagamento, as distintas vozes e relações multiculturais que formam o Brasil se fazem presentes em uma espécie de inconsciente nacional. Entre trânsitos, histórias de sujeitos invisibilizados, línguas quase esquecidas, o romance de Saavedra revela a cada capítulo a formação cultural e identitaria complexa de uma nação marcada profundamente por deslocamentos. A partir da ideia de uma escrita sem morada fixa, de Ottmar Ette (2015; 2018), é possível entender o romance e sua autoria como importantes elementos de vetorização com outras culturas e saberes. A literatura brasileira, por vezes aprisionada em rótulos e fronteiras excludentes, se movimenta a um lugar de pertencimento fluído, que se conecta com a América Latina e com a Alemanha, mostrando o “fora” como parte fundamental da formação do “dentro” nacional. A autora, que em suas próprias raízes é um sujeito “sem residência fixa” (ETTE, 2015; 2018) – brasileira, nascida no Chile, residente na Alemanha – transpassa ao texto uma revisão histórica da tradição literária, ao inserir o Brasil, por tanto tempo isolado por uma noção restritiva da cultura, no contexto latino-americano, recuperando vozes e contribuições culturais hispânicas como parte da formação nacional. O enredo, centrado em figuras femininas, não apenas dá protagonismo à escrita e à experiência das mulheres, como induz ao questionamento das ideias de origem e cultura. Referências: ETTE, Ottmar. EscreverEntreMundos. Literarturas sem morada fixa. Curitiba: UFPR, 2018. ____ Sabersobreviver: a (o)missão da filologia. Curitiba: UFPR, 2015. SAAVEDRA, Carola. Com armas sonolentas - um romance de formação. São Paulo: Companhia das Letras, 2018. O CONCEITO DE LITERATURAS DO MUNDO EM OPOSIÇÃO À WELTLITERATUR: UMA ANÁLISE DO LIVRO WELTFRAKTALE, DE OTTMAR ETTE Marianna Ilgenfritz Daudt Resumo: Com o presente trabalho pretende-se comentar alguns pontos da tradução do livro Weltfraktale, do teórico e romanista alemão Ottmar Ette, bem como analisar alguns de seus principais conceitos. O livro foi publicado na Alemanha, em 2017, e propõe uma teoria e uma prática literárias baseadas no conceito de Literaturas do mundo, em oposição ao conceito de Weltliteratur, conforme cunhado por Goethe. Partindo do exame de Erich Auerbach sobre o conceito de Weltliteratur, Ette mostra que apenas as teorias culturais e literárias baseadas na história do movimento são capazes de fazer justiça à complexa variedade de mudanças altamente dinâmicas no mundo, considerando os caminhos transareais no campo da literatura. O autor desenvolve, com base em diferentes escritores e textos, uma lógica multiperperspectiva que enfoca os processos de troca e transformação literária entre países e continentes e a interação de diferentes formas narrativas no espaço e no tempo, capturando os movimentos literários de um ponto de vista fractal, ou seja, tratando as diversas literaturas como fractais do mundo. O conceito de Literaturas do mundo, de Ottmar Ette, busca orientar o pensamento teórico da literatura a partir de diferentes lógicas e incluir múltiplas perspectivas com o objetivo de moldar o mundo a partir da diversidade. A tradução do livro foi realizada pela autora deste trabalho em conjunto com o professor Dr. Gerson Neumann no âmbito do grupo de pesquisa Cosmos Littera, e será lançada pela editora Bestiário Class em 2022 com o título Fractais do mundo. Referências: Ette, Ottmar. Weltfraktale: Wege Durch Die Literaturen Der Welt. Stuttgart: J.B.Metzler, 2017. A LITERATURA DO ENTRE LUGAR: OS IORUBAS NO BRASIL Monise Campos Saldanha Resumo: Quais as tramas culturais, identitária e rastro translinguais dos iorubas no Brasil estariam contidas nas Narrativas dos Orixás? Questão basilar a compor o presente artigo que trata da literatura oral de matriz ioruba praticada em Terreiro de Candomblé de Ketu, em Belém do Pará. Nestas linhas trago como aporte teórico Hampátê B (1982); Cárdenas (2018); Ette (2005); Neumam (2018); Parés (2007) entre outros que fundamentam a concepção de literatura de fronteira, a produzir-se enquanto beneficiários de distintas heranças culturais: não são africanos, tão pouco, são europeus, como também não descendem apenas dos povos originários que habitavam as Américas. Esta evidencia as múltiplas fontes que retroalimentam a produção literária em diáspora. O objetivo deste estudo é descrever os traços do entrelugar presente nas narrativas de tradição ioruba. A metodologia aplicada foi a da revisão bibliográfica. Verifica-se que os autores em voga, retratam, heranças iorubá no Brasil a apontar a polilógica fundamentada no uso da linguagem que evidencia o saber ser e o saber viver de quem vive entre fronteiras. Conclui-se que as narrativas do Orixás compreendem um cenário para além do dialógico entre o ocidental e o não ocidental e, assim, remete a compreensão de vivências transcendentes de seu tempo histórico. As produções apontam para uma literatura vívida, interconectada com a natureza e em constante evolução com o entre lugar. Referências: BÂ, Amadou Hampátê. A tradição viva. In: KI-ZERBO, Joseph. (Coord.). História geral da África: volume I: Metodologia e pré-história da África. São Paulo: Ática, 1982. BERND, Zilá. Introdução à literatura negra. São Paulo: Editora Brasiliense, 1988. CÁRDENAS, Teresa. Mãe Sereia. Rio de Janeiro: Pallas Mini, 2018. ETTE, Ottmar. Zwischem WeltenScheireben. Literaturen ohne festen Whonsitz. Berlim: Kadmos, 2005. HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. Trad. Lais Teles Benoir. São Paulo: Centauro, 2004. NEUMANN, Gerson Roberto; CUNHA, Andrei dos Santos; FERREIRA, Cinara; BITTENCOURT, Rita Lenira de Freitas. Arquipélagos, Estudos de Literatura Comparada. Porto Alegre: Class, 2018. PARÉS, Luis Nicolau. A formação do Candomblé: História e ritual da nação jeje na Bahia. 2 ed. Campinas, São Paulo: Editora da Unicamp, 2007. A SÍNDROME DO MIGRANTE: CONSIDERAÇÕES SOBRE DESLOCAMENTO E LITERATURA EM DIA DE MATAR PORCO DE CHARLES KIEFER Ricardo Postal Resumo: O romance (ou novela curta como é referida pelo personagem editor) Dia de matar porco (2014) apresenta fragmentos ordenados da autobiografia de um ‘colono’ que venceu na vida, segundo suas próprias observações. Posto como um delsocado na cidade grande, para melhor se compreender, ele precisa fazer a viagem de retorno ao torrão natal no interior do Rio Grande do Sul para o acerto de contas com sua família e com sua trajetória de vida. Entremeadas entre referências a obras ficcionais e memórias vertidas para a narrativa estão discussões sobre a própria escrita do deslocamento cultural e sobre o ser de lugar algum, visto que o personagem narrador desliza por máscaras que vai construindo para si enquanto quer se dizer. A ‘síndrome do migrante’ que então se apresenta é uma inadequação no espaço em que se vive tomando-se como possível resolução para a mesma o resgate de si através da narrativa. Posto no entre lugar das memórias autobiográficas ficcionais, esse romance é também um exercício de literatura de indefinido lugar, já que o ‘colono’ que abandona o mundo rural pela cidade é um migrante, que não ajustado ali, tenta pela reescritura da história tratar da migração anterior dos antepassados que se tornaram ‘colonos’. A inscrição de uma etnicidade constitui então aspectos de uma mitologia da migração (ZANINI, 2004) a serem pensados na natureza do lugar (ESCOBAR, 2005) bem como nos atravessamentos conceituais translocais/transáreas (ETTE, 2016) configurados em matéria narrativa. Referências: ESCOBAR, Arturo. O lugar da natureza e a natureza do lugar: globalização ou pósdesenvolvimento? In: A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: CLACSO, 2005 ETTE, Ottmar. Pensar o futuro: a poética do movimento nos Estudos de Transárea. Alea : Estudos Neolatinos [online]. 2016, v. 18, n. 2 ISSN 1807-0299. ZANINI, Maria Catarina Chitolina. A Família como Patrimônio: A Construção de Memórias entre Descendentes de Imigrantes Italianos. Campos - Revista de Antropologia, [S.l.], p. 53-67, jun. 2004. ISSN 2317-6830. POR UMA LITERATURA EM MOVIMENTO: UMA PROPOSTA DE LEITURA DE SCHWAGER IN BORDEAUX DE YOKO TAWADA Thaís Gonçalves Dias Porto Resumo: Yoko Tawada (1960) é nascida no Japão mas vive na Alemanha desde os anos oitenta, onde publica obras tanto em língua alemã como em língua japonesa. A autora tem o estranhamento provocado pelo trânsito linguístico como o ponto central de seu projeto literário, processo que possibilita o reconhecimento de zonas fronteiriças a partir das quais identidades são construídas e questionadas. Tawada vive nessa e dessa multiculturalidade em movimento, focando seu trabalho na linguagem como deslocamento. Tal abordagem pode ser encontrada no segundo romance da autora, Schwager in Bordeaux, publicado em 2008 e ainda sem tradução para o português brasileiro. A obra trata da fluidez linguística a partir de uma literatura que cruza fronteiras transculturais e desvelam buracos negros nos tecidos das línguas a partir de um oscilar que privilegia uma poética do movimento. Tal abordagem é possibilitada através da escrita exofônica de Tawada, isto é, um estado geral de se estar fora da língua materna em que o realizador tenta expressar uma distância dentro da qual ele mesmo se move durante o processo de adaptação à outra língua. Os aspectos exofônicos do romance em questão sinalizam a reivindicação da existência de um espaço em movimento e um hibridismo inerente à obra, de modo a estabelecer um horizonte literário cada vez mais relevante no combate aos discursos conservadores que insistem na demarcação de diversos gêneros fronteiriços. Referências: BHABHA, H. O local da cultura. Tradução de Myriam Ávila; Eliana Lourenço de Lima Reis; Gláucia Renate Gonçalves. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1998. BLUME, Rosvitha Friesen. Traços migratórios e tradução cultural na obra ensaística de Herta Müller e de Yoko Tawada. In. Itinerários. Araraquara: Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho, 2014. ETTE, Ottmar. Escrever Entre Mundos: Literaturas sem Morada Fixa. Curitiba: Editora UFPR, 2018. GAMLIN, Gordon. Intercultural identity through the prism of language: Yoko Tawada’s Storytellers Without Souls. Kobe University: Kobe, 2012. Disponível em: http://www.lib.kobeu.ac.jp/repository/81008295.pdf. Acesso em 23 abril 2022. HALL, Stuart. A identidade cultural da pós-modernidade, 10º Edição, DP&A: Rio de Janeiro, 2006. Acesso em 23 abr 2022. KURITA, Yukari. “Migrantenliteratur” in Deutschland – eine Untersuchung zu Sprache und Gedanken von Yoko Tawada. In. Germanistische Beiträge der Gakushuin Universität (GBG), nº19. Tóquio: Gakushuin University, 2015. Disponível em: http://www.gakushuin.ac.jp/univ/let/germ/05bungakukai/052ronshu-d.html. Acesso em 23 abril 2022. MIGNOLO, Walter. Histórias locais/projetos globais: colonialidade, saberes subalternos e pensamento liminar. Tradução de Solange Ribeiro de Oliveira. 1. ed. rev. – Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003. ROUSSEL, Flora. Nomadic Subjectivities: Reflections on Exophonic Strategies in Yoko Tawada’s Schwager in Bordeaux. In. Humanities Bulletin, Vol. 3 n.1, Londres, 2020 Disponível em: https://www.journals.lapub.co.uk/index.php/HB/article/view/1530. Acesso em 23 abril 2022. TAWADA, Yoko. Schwager in Bordeaux. Tübingen: Konkursbuch Verlag, 2011. OS VIAJANTES ESTRANGEIROS E A CONSTRUÇÃO DO IMAGINÁRIO NACIONAL NA LITERATURA MEXICANA DO SÉCULO XIX Víctor Manuel Ramos Lemus Resumo: A partir da pós-independência (1821), a presença dos viajantes europeus (alemães, franceses, italianos e ingleses) e norte-americanos foi um dado frequente não apenas no México, mas também nos países hispânicos. No caso mexicano, esse periodo histórico coincide com a busca de uma identidade nacional. Escritores e intelectuais, abraçando um sentimento de "missão", que incluia a construção do país nascente, assim como suas instituições, engajaram-se não apenas em "descobrir" os elementos (paisagens, tipos, costumes, traços identitários nacionais e regionais) que tornavam singular o Estado-nação em formação, mas em fixá-los na pintura, na música e na literatura. Esse momento coincidia com o auge europeu e americano do "costumbrismo". Graças a esse periodo da vida cultural mexicana, boa parte dos traços identitários que até hoje são vistos como canônicos, foram "descobertos". Porém, boa parte do arsenal de imagens, tipos sociais e hábitos culturais foram construidos pelos viajantes estrangeiros que, em missões diplomáticas ou em viagens particulares, os registraram em pinturas, cartas, diários, livros que foram populares na Europa e nos Estados Unidos. Desta maneira, a reflexão que proponho nesta comunicação consiste em pensar até que ponto o conjunto de imagens e conceitos que caracteriza, "o mexicano" foi fruto do olhar dos viajantes estrangeiros que estiveram no país pelos mais diversos motivos Referências: AGUILAR OCHOA, Arturo. La influencia de los artistas viajeros en la litografía mexicana (1837-1849). México: Anales del Instituto de Investigaciones Estéticas, n. 76, UNAM, 2000, p. 113-141. BENJAMIN, Walter. Charles Baudalaire. Um lírico no auge do capitalismo. Tradução: José Martins Barbosa; Hemerson Alves Baptista. São Paulo: Brasiliense, 1989. (Obras escolhidas, v. 3) BENJAMIN, Walter. O narrador. Observações sobre a obra de Nikolai Leskow. In: BENJAMIN, ADORNO, HORKHEIMER, HABERMAS. Traduções de José Lino Grünnewald... [et al.] São Paulo: Abril Cultural, 1980. p. 57-74. (Os Pensadores) BOBADILLA ENCINAS, Gerardo Francisco. México y sus alrededores: Monumentos, paisajes y la definición de la historia. Relectura en torno a las colecciones de paisajes y monumentos en México. México: Itinerarios, n. 32, p. 157-180, 2020a. BOBADILLA ENCINAS, Gerardo Francisco. Viaje y nación en la literatura mexicana (1836-1871). Tres casos: Carpio, Altamirano y México y sus alrededores. México: Literatura Mexicana, Revista semestral del Centro de Estudios Literarios, v. 31, n. 1, p. 11-42, enero-junio 2020b. Disponível em: https://revistas-filologicas.unam.mx/literaturamexicana/index.php/lm/article/view/1145. Acesso em: 6 ago. 2021. BOBADILLA ENCINAS, Gerardo Francisco; AVECHUGO CABRERA, Daniel. Representación literaria e icónica de México y el mexicano en la posindependencia y la posrevolución. Paris: América, CRICCAL, Écritures, paroles et espace public en Amérique latine, v. 1, n. 54, 2021. Disponível em: https://journals.openedition.org/america/3611. Acesso em: 6 ago. 2021. CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira. (Momentos decisivos). 1º volume. (1750-1836). 8. ed. Belo Horizonte-Rio de Janeiro: Itatiaia Ltda., 1997. CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira. (Momentos decisivos). 2º volume. (1836-1880). 8ª ed. Belo Horizonte-Rio de Janeiro: Itatiaia Ltda., 1997. GARCÍA FERNÁNDEZ, Estrellita. Carl Nebel y otras miradas a Guadalajara. Estudios Jalicienses, 105, ago. 2016. Disponível em: http://www.estudiosjaliscienses.com/wpcontent/uploads/2019/05/105-Car-Nebel-y-otras-miradas-a-Guadalajara.pdf. Acesso em: 7 ago. 2021. GUZMÁN, Martín Luis. La sombra del caudillo. 2. ed. México: Fondo de Cultura Económica, 2019. HERNÁNDEZ SERRANO, Federico. Juan Moritz Rugendas y su colección de pinturas costumbristas. In Anales del Instituto Nacional de Antropología e Historia. Tomo II. 1941-1946. México: Secretaría de Educación Pública, 1947. p. 463-472. La misión del escritor. Ensayos mexicanos del siglo XIX. Organización y coordinación de Jorge Ruedas de la Serna. 2. ed. México: Universidad Nacional Autónoma de México, 2014. NEBEL, Karl. 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Tomo I (Prolegómenos). México: Unam, 2010. RUEDAS de la Serna, Jorge. La formación de la literatura nacional (1805-1850). Tomo II (Los cimentos del sistema). México: Unam, 2013. SAGREDO BAEZA, Rafael. De la naturaleza a la representación. Ciencia en los Andes meridionales. Historia mexicana, vol.67, n.2, 2017, pp. 759 – 818. SIMPÓSIO “ENEIDA MARIA DE SOUZA E O NÃO LUGAR DA CRÍTICA” Marília Rothier Cardoso (PUC-Rio), Myriam Corrêa de Araújo Ávila (UFMG) RECEBER, LER, ENVIAR: AS DINÂMICAS DA CORRESPONDÊNCIA E A FORMAÇÃO DA AMIZADE Aline Leal Fernandes Barbosa Resumo: Esta comunicação pretende analisar a correspondência da escritora Hilda Hilst com os escritores José Mora Fuentes e Caio Fernando Abreu, investigando o diálogo estabelecido entre os pares no tocante ao processo de escrita, à construção do pensamento e ao gerenciamento dos afetos da amizade. Embora as duas correspondências consistam em conversa entre escritores amigos, há diferenças substanciais entre os endereçamentos: Caio F. Abreu era uma espécie de discípulo da autora, alguém que lhe escrevia com certa reverência, anunciando projetos e pedindo conselhos. José Mora Fuentes, apesar de apenas dois anos mais velho que Caio, mantinha uma relação mais longeva, íntima e simétrica com a autora, estabelecendo um diálogo de cumplicidade. Embora grande parte dos documentos hilstianos tenha sido vendida pela própria autora em dois lotes (1994 e 2001) para o Centro de Documentação Alexandre Eulálio, da Unicamp, as cartas e a biblioteca permaneceram no Instituto Hilda Hilst, aberto ao público, na medida em que a autora não quis vendê-las, mas mantê-las perto de si. A partir das reflexões contidas nos estudos sobre correspondência realizados pela professora e crítica Eneida Maria de Souza, homenageada do simpósio, sobretudo referentes à organização da correspondência entre Henriqueta Lisboa e Mario de Andrade, e dos seus textos sobre arquivo e crítica biográfica, o interesse da comunicação é trazer esta correspondência - ainda pouco explorada - enquanto fonte primária para adensar o debate sobre a sua obra e sobre os materiais residuais da literatura. Ainda, refletir sobre a amizade que vai se desenvolvendo a partir do contrato tácito que se estabelece entre receber, ler e enviar uma carta, mantendo em funcionamento a dinâmica da correspondência. Referências: CARDOSO, Marília Rothier. No arquivo de Glauber Rocha: Roteiros, cruzamentos, desvios https://www.cesjf.br/revistas/verbo_de_minas/edicoes/Numero%2011%20e%2012/10_no_arquivo_de_ Glauber_Rocha.pdf COELHO, Nelly Novaes. “Da poesia”. In: CADERNOS DE LITERATURA BRASILEIRA: HILDA HILST. Instituto Moreira Salles, número 8, outubro de 1999, 66-79. DERRIDA, Jacques. Mal de Arquivo, uma impressão freudiana. Trad. Cláudia de Moraes Rego. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2001. HILST, Hilda. Da poesia.Sa?o Paulo: Companhia das Letras, 2017. HILST, Hilda. Da prosa:volume I. Sa?o Paulo: Companhia das Letras, 2018a.HILST, Hilda. Da prosa:volume II. Sa?o Paulo: Companhia das Letras, 2018b. SOUZA, Eneida Maria de. Janelas indiscretas: ensaios de crítica biográfica. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011, (Humanitas). SOUZA, Eneida Maria de. “Crítica biográfica, ainda”. Cadernos de Estudos Culturais: Crítica Biográfica, v. 1, n. 4. Campo Grande, MS: Ed. UFMS, 2010, p. 51-57.?SOUZA, Eneida Maria; MIRANDA, Wander Melo. (org.). Arquivos literários. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003. SOUZA, SOUZA, Eneida Maria de (Org.). Correspondência Mário de Andrade & Henriqueta Lisboa. São Paulo: Peirópolis/Edusp, 2010. ENEIDA DE SOUZA, GRACIELA RAVETTI, SEUS BORGES E OS LIMITES E ALCANCES DA ÉTICA DA LITERATURA Breno Anderson Souza de Miranda Resumo: Pesquisadoras da literatura latino-americana nos Estudos Literários da UFMG, Eneida de Souza e Graciela Ravetti formaram gerações e deixaram, a seus modos, legados críticos intrigantes sobre um dos literatos mais estudados naquela instituição acadêmica: Jorge Luis Borges. Longe da aura monástica e encomiástica, e de qualquer apologismo ao sublime meramente textualista, tão corriqueiros nos estudos borgianos até então, mostraremos que ambas procuraram, para citar um termo de Eneida, devolver a “Borges o que é de Borges”. Na UFMG, o mito foi então humanizado, carnavalizado, abrasileirado, mineirizado, festejado a la Silviano Santiago, mas sem romper com suas ironias e paródias argentinas, como elegantemente mostrava Ravetti, tanto em suas aulas, à Diet Coke, quanto em seus textos sobre a performance político-distópica na literatura contemporânea do subcontinente. Entretanto, mais do que isso, focaremos também nos limites da ética da literatura em suas representações teóricas de Borges, isto é, conseguiria a literatura do mito argentino entregar para o século XXI a utopia milenarista de Santiago elaborada nos efusivos anos 1970? Seria a textualidade do mito a realização plena da teleologia da literatura em nossas terras, a imagem mais realista possível da positividade transdisciplinar da miscelânea teórica dos Estudos Culturais? Ou conseguiríamos reescrever esse guia da subalternidade através de discretas epígrafes performáticas saltitadas por toda parte, que almejariam (des)estruturar uma utopia cíclica já irrealizável de antemão pelas catástrofes dos nossos “novos” velhos realismos políticos? São essas e outras questões que tentaremos levantar neste diálogo afetivo com duas estudiosas tão caras e presentes em nossas aulas e escritos. Referências: RAVETTI, Graciela. Nem pedra na pedra, nem ar no ar: reflexões sobre a literatura latinoamericana. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011. SOUZA, Eneida Maria de. O século de Borges. Belo Horizonte: Autêntica; Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria, 1999. SOUZA, Eneida Maria de. Crítica Cult. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002. ENTRE-TEMPOS NO LEGADO DE ENEIDA MARIA DE SOUZA Cavallere Miranda Lima Resumo: Pensar novas possibilidades de leituras. Novas possibilidades de produção de conhecimento e formação de pensamento crítico. Subverter e trans/passar os limites óbvios e restritivos que cerceiam a atividade crítica e teórica. Essas são algumas lições que Eneida Maria de Souza nos lega no exercício dos Estudos Culturais e de Literatura Comparada. Com admirável postura vanguardista, Eneida se manteve atenta às emergências contemporâneas, sem deixar de levar em conta a importância das linhas teóricas que a precederam, ao mesmo tempo assumindo uma posição crítica e combativa para com as tendências que não concordava. Seu legado intelectual é fundamental para um exercício de ampliação das perspectivas que permeiam o universo das belles lettres. Por meio da articulação de ideias de teóricos como Julia Kristeva, Jacques Derrida, Roland Barthes, Gayatri Spivak, Jorge Luis Borges, Walter Benjamin, Susan Sontag, Aby Warburg, Silviano Santiago, dentre outros, Eneida construiu uma ampla ‘colcha de retalhos’ para fundamentar sua teoria pós-estruturalista e de caráter amplamente progressista. Essa comunicação tem como objetivo realizar uma interlocução /indisciplinar/ entre alguns escritos de Eneida Maria de Souza com seus precursores. Então, a partir de tal movimento, busca-se explorar as possibilidades de se delinear novos horizontes para as áreas de Literatura Comparada e Estudos Culturais. Referências: BARTHES, Roland. A Câmara clara : nota sobre a fotografia / Roland Barthes ; tradução de Júlio Castañon Guimarães - Rio de Janeiro : Nova Fronteira, 1984. DERRIDA, Jacques, 1930 - 2004. A farmácia de Platão / Jacques Derrida; tradução Rogério da Costa - São Paulo : Iluminuras, 2005. DIDIHUBERMAN, Georges, 1953. Cascas / Georges Didi-Huberman; tradução de André Telles; inclui entrevista do autor a Ilana Feldman - São Paulo: Editora 34, 2017 (1ª Edição). DIDI-HUBERMAN, Georges. Sobrevivência dos vaga-lumes / Georges Didi-Huberman ; Vera Casa Nova, Márcia Arbex, tradução ; Consuelo Salomé, revisão. Belo Horizonte : Editora UFMG, 2011. ERMARKOFF, George, 1949 -. Genevieve Naylor : uma fotógrafa norte-americana no Brasil: 1940-1942 / George Ermarkoff. - Rio de Janeiro : G. Ermarkoff, 2013. MAIER, Vivian, 1926 - 2009. Vivian Maier : Uma fotógrafa de rua / [apresentação John Maloof ; prefácio Geoff Dyer] ; tradução Eduardo Soares. - Belo Horizonte : Autêntica Editora, 2014. RODRIGUES, Leandro Garcia ; MEDEIROS, Elen de. Acervo de escritores mineiros : memórias e histórias / Elen de Medeiros, Leandro Garcia Rodrigues, organizadores - Belo Horizonte : Faculdade de Letras da UFMG, 2019. SONTAG, Susan, 1933 -. Sobre fotografia / Susan Sontag ; tradução Rubens Figueiredo. 1ª ed. - São Paulo : Companhia das Letras, 2004. SOUZA, Eneida Maria de; MIRANDA, Wander Melo. Crítica e coleção / Eneida Maria de Souza, Wander Melo Miranda, organizadores. - Belo Horizonte : Editora UFMG, 2011. SOUZA, Eneida Maria de. Crítica cultural em ritmo latino. In: Tempo de pós-crítica. Belo Horizonte: Veredas & Cenários, 2012. SOUZA, Eneida Maria de. Narrativas Impuras / Eneida Maria de Souza - Recife : Cepe, 2021. WARBURG, Aby. Histórias de fantasma para gente grande: escritos, esboços e conferências. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. TEORIZAR É VIVER Edgar Cézar Nolasco Resumo: Teorizar é viver retoma diretamente o título do ensaio “Teorizar é metaforizar”, de Eneida Maria de Souza, presente no recente livro Narrativas impuras (2021). Antes, porém, de se deter nessa relação metafórica, vamos, num primeiro momento, tratar do que implica falar de Eneida hoje, depois da presença da morte no meio de uma amizade, para, na sequência, pensar acerca do legado que a intelectual relegou a todos aqueles estudiosos que mexem, principalmente, com as disciplinas de Teoria da literatura e de Literatura comparada. Para tanto, serão fundamentais os textos da autora “Teorizar é metaforizar” (SOUSA, 2021, p. 363-372) e “Notas sobre a crítica biográfica” (SOUZA, 2002, p. 111-120). Deste último ensaio da autora, vamos explorar a contribuição que a ideia de “natureza compósita” da crítica biográfica traz e, ao mesmo tempo, implica na relação de um pensamento crítico diferencial. Já do primeiro ensaio mencionado, vamos nos deter no que vem implicado na afirmação que dá título ao ensaio: teorizar é metaforizar. Longe de trazer os desdobramentos que a afirmação pode suscitar, o autor da proposta pontuará que tal afirmativa resvala para a afirmação que intitula o texto aqui proposto. No bojo da discussão aqui apresentada, registra-se ainda que sobressai em importância a presença da crítica biográfica proposta e defendida por Eneida nas últimas décadas de vida. Referências: CADERNOS DE ESTUDOS CULTURAIS: Eneida Maria de Souza: uma homenagem. Campo Grande - MS: Vol. 6, Nº. 12, Jul-Dez. 2014. NOLASCO, Edgar Cézar. Para uma biografia do Núcleo de Estudos Culturais Comparados (NECC/2009-2022): avanços & impasses de uma trajetória crítica acadêmica. IN: NOLASCO. Literatura comparada no Brasil hoje (no prelo) SOUZA, Eneida Maria de. Narrativas impuras. Recife: CEPE Editora, 2021. SOUZA, Eneida Maria de. Crítica cult. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002. ENEIDA MARIA DE SOUZA E O ENSAIO BIOGRÁFICO FRONTEIRIÇO Edgar Cézar Nolasco, Francine Carla de Salles Cunha Rojas Resumo: O ensaio objetiva desenvolver a relação da crítica biográfica, crítica de natureza compósita cunhada por Eneida Maria de Souza, que se detém na relação vida e obra além da diluição entre as fronteiras da crítica, teoria e ficção, com o ensaio biográfico fronteiriço, teorização descolonial atravessada pelo compromisso de refletir sobre as consequências da colonialidade, a face escura da modernidade (MIGNOLO, 2017a), e das feridas abertas / coloniais (ANZALDÚA, 2005). Para tanto, selecionamos textos nos quais a autora desenvolve mais especificamente o conceito de crítica biográfica, tais como “O discurso crítico brasileiro” (2002), “Notas sobre a crítica biográfica” (2002), “A crítica biográfica” (2011) e “Teorizar é metaforizar” (2021). Nesse sentido, entendemos que o diálogo entre crítica biográfica e o ensaio biográfico é atravessado pela Crítica biográfica fronteiriça (NOLASCO, 2013), uma vez que o interesse pelo bios e pela inserção do crítico, prerrogativas da perspectiva biográfica, desdobram-se, pelo viés descolonial, nas histórias locais e nas sensibilidades das vidas que gritam através do sujeito (MIGNOLO, 2003). Em síntese, argumentamos que, ressalvadas as devidas diferenças epistemológicas, o diálogo entre ambas as críticas pauta-se pela inscrição biográfica no pensamento crítico e, por extensão, no interesse da presença corporal na escrita. A teorização a ser desenvolvida ocorrerá em diálogo com Aníbal Quijano, Edgar Cézar Nolasco, Eneida Maria de Souza, Rita Segato, Maria Eugenia Borsani, Maria Lugones e Walter Mignolo. Referências: BORSANI, Maria E. Rutas decoloniales. Ciudad Autonoma de Buenos Aires: Ediciones del Signo, 2021. LUGONES, Maria. PEREGRINAJES: teorizar una coalición contra multiples opresiones. Trad. Camilo Porta Massuco. Ciudad Autonoma de Buenos Aires: Ediciones del Sino, 2021. MIGNOLO, Walter. Histórias locais/ Projetos globais: colonialidade, saberes subalternos e pensamento liminar. Trad. de Solange Ribeiro de Oliveira. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003. NOLASCO, Edgar C. Perto do coração selbaje da crítica fronteriza. São Carlos: Pedro & João Editores, 2013. QUIJANO, Anibal. Aníbal Quijano: Ensayos en torno a la colonialidad del poder. Ciudad Autonoma de Buenos Aires: Ediciones del Sino, 2019. SEGATO, Rita. Crítica da colonialidade em oito ensaios: e uma antropologia por demanda. Trad. Danú Gontijo e Danielli Jatobá. Rio de Janeiro: Bazar do tempo, 2021. SOUZA, Eneida M. de. Crítica cult. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002. SOUZA, Eneida M. de. Janelas indiscretas: ensaios de crítica biográfica. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011. SOUZA, Eneida M. de. Narrativas impuras. Pernambuco: CEPE, 2021. ENEIDA SOUZA NA UFSJ: CRÍTICA E ATUAÇÃO Eliana da Conceição Tolentino, Antônio Luiz Assunção Resumo: Nesta comunicação, gostaríamos de registrar e refletir sobre a experiência e o aprendizado de uma vida com a professora Eneida Souza nos poucos anos de convívio no Programa de Pós-graduação em Letras da Universidade Federal de São João del-Rei - UFSJ. Falar de seu empenho na consolidação do Programa seria um olhar sobre sua atuação institucional ou atentar para mais um legado de sua crítica? Seria possível separar a Eneida crítica literária, professora e escritora da Eneida parceira de tantas instituições no seu ato crítico de afirmação da universidade pública no contexto brasileiro? Não seria este fortalecimento da universidade uma crítica de quem reconhece a relevância deste espaço para a construção do saber, mas também reconhece a necessidade de se pensar o saber que se produz, numa asserção insistente e crítica ao conhecimento? No Programa de Letras da UFSJ, Eneida com seu cosmopolitismo e sua leitura convidava à crítica e ao afeto em uma cidade do interior de Minas que teimava em construir uma pós-graduação. Falar da Eneida e de seu papel nesta construção da universidade pública é falar da Eneida crítica literária que nunca separou a crítica da vida, afirmando a urgência de unir estas duas pontas de seu fazer crítico. Referências: SOUZA, E. M. de. Tempo de pós-crítica. 1. ed. Belo Horizonte: Veredas&Cenários, 2007. SOUZA, Eneida M. de. Janelas indiscretas - ensaios de crítica biográfica. 1. ed. Belo Horizonte: UFMG, 2011. SOUZA, Eneida M. de. Narrativas impuras. 1. ed. Recife: Cepe-Pernambuco, 2021. ENEIDA MARIA DE SOUZA, INTÉRPRETE DO BRASIL Eneida Leal Cunha Resumo: Eneida Maria de Souza se impôs no debate intelectual, no cotidiano acadêmico e nas bibliografias de Letras e Ciências Humanas das últimas décadas, pela sua original abordagem, arguta e inventiva, das imbricações entre teoria, literatura comparada e crítica cultural; pela ousadia da sua configuração atualizadora para crítica biográfica; por nos fazer ver e crer na urgência e na riqueza cultural, teórica e ficcional dos arquivos; pela sua transgressiva e ágil circulação entre linguagens artísticas, campos disciplinares, gerações, bibliotecas, cidades e pessoas. A comunicação a ser apresentada deriva do impacto imediato da sua morte, em 1º de março último, e foi originalmente concebida como nossa homenagem, no colóquio “Intérpretes do Brasil”, que se realiza desde a década de 1990 como parte da programação dos congressos da Brazilian Studies Association. Neste XVI BRASA Congress, realizado dez dias depois, a nossa amiga e companheira de trabalho e múltiplas viagens deveria estar presente – como em outras edições anteriores – na mesa de abertura. No título, mostra-se o foco ajustado para contemplar, entre os seus muitos ensaios e ao longo de quatro décadas, uma vertente conhecida, mas ainda pouco explorada em sua obra: de Macunaíma a Carmen Miranda, que Brasil compôs Eneida Maria de Souza com os giros de seu caleidoscópio luminoso? Referências: SOUZA, E. M. A pedra mágica do discurso; jogo e linguagem em Macunaíma. BH: Editora UFMG, 1988 SOUZA, E. M. Critica Cult. BH: Editora UFMG, 2007 SOUZA, E. M. Janelas indiscretas. BH: Editora UFMG, 2011 SOUZA, E. M. Tempo de Pós-Crítica. BH: Veredas &Cenários, 2007. SOUZA, E. M. Narrativas Impuras. Recife: Cepe, 2021. A ÚLTIMA ENTREVISTA: UMA CONVERSA INTEMPESTIVA COM ENEIDA MARIA DE SOUZA Ewerton Martins Ribeiro Resumo: Tornei-me jornalista da UFMG em dezembro de 2012, mês em que também fui selecionado para cursar um mestrado em literatura brasileira na universidade. Esse ponto de virada em minha vida foi decisivo para que eu tivesse, na década que se seguiu, uma série de oportunidades de trocar boas ideias com Eneida Maria de Souza, professora que pôs à prova a dissertação que escrevi naquele mestrado (2013-2015), integrando a banca da minha defesa, e orientou o meu doutorado em teoria da literatura (2016-2021). Nessa rotina acadêmica, foram várias as nossas reuniões de orientação, conversas que ocasionalmente escaparam do tema da minha tese (a autoficção) para alcançar a literatura, como um todo, e questões relativas ao nosso campo cultural e intelectual, de modo geral, em seus impasses e potencialidades. Ainda tenho os registros dessas conversas arquivados em áudio. Paralelamente, também tive, no jornalismo, a oportunidade de entrevistar Eneida algumas boas vezes nesses dez anos, seja a fim de coletar uma opinião ou consideração sobre um assunto colateral à sua experiência acadêmica, sobre o qual eu estivesse escrevendo, seja com o objetivo de produzir uma entrevista exclusiva com ela. De igual modo, tenho os áudios e rascunhos dessas conversas arquivados em meu computador. As perguntas e respostas que apresento aqui, portanto, são o compilado – um tanto selvagem – que produzi (ao modo da bricolagem que tanto interessava à Eneida) de todo esse material para esta ocasião, com vistas a prestar uma última homenagem à mestra. Que esta entrevista póstuma, em seu cariz algo autoficcional, possa de algum modo presentificar, ainda que por um instante, o pensamento vivo de Eneida Maria de Souza outra vez entre nós. Referências: LÉVI-STRAUSS, Claude. O pensamento selvagem. São Paulo: Editora Nacional e Editora da USP, 1970. RAMPAZO, Adriana Vinholi; ICHIKAWA, Elisa Yoshie. Bricolage: a busca pela compreensão de novas perspectivas em pesquisa social. Curitiba/PR. 15 a 17 de novembro de 2009. RIBEIRO, Ewerton Martins. ‘A literatura é uma forma de sobrevivência’, afirma Eneida Maria de Souza. Belo Horizonte: Portal UFMG, abr. 2016. Disponível em: https://www.ufmg.br/online/arquivos/043136.shtml. Acesso em: 4 mai. 2022. RIBEIRO, Ewerton Martins. Arquivo pessoal [2012-2022]. ENEIDA MARIA DE SOUZA E SILVIANO SANTIAGO: BIOGRAFIA CRUZADA (1972-1975) Gabriel Martins da Silva Resumo: A partir de uma “reconstrução” do primeiro encontro entre Eneida Maria de Souza e Silviano Santiago em 1972, esta apresentação busca pensar a origem dos diversos encontros potentes que, localizados nos pontos de cruzamento das trajetórias intelectuais desses dois autores, produziram um corpus crítico de importância ímpar para a consolidação da literatura comparada e dos estudos culturais no Brasil. Isto é, diante de uma argumentação interessada na articulação de dados biográficos com tópicos da produção teórica desses pesquisadores, procura-se reconstituir as filiações e alianças estabelecidas pelos dois intelectuais na primeira metade da década de 1970. Naquele ano, na condição de professor visitante da PUC-Rio, Silviano retornava ao Brasil pela primeira vez desde sua ida a Paris em 1961 para fazer seu doutorado em literatura francesa na prestigiosa Sorbonne. Eneida, por sua vez, vinha ao Rio de Janeiro para cursar a pós-graduação, ainda oferecida por poucas universidades àquela época, tendo-se tornado, recentemente, professora da UFMG onde cursou a graduação. O fio condutor para esta investigação é a recepção no campo das Letras da obra do antropólogo Claude Lévi-Strauss. Com a alta do estruturalismo e com a recente chegada à universidade brasileira do chamado pós-estruturalismo, pretende-se discutir de que maneira Silviano Santiago e Eneida Maria de Souza se relacionaram com a obra de Lévi-Strauss, respectivamente em Uma literatura nos trópicos (1978) e A barca dos homens: a viagem e o rito (1975). Creio que, em certa medida, as biografias cruzadas e um exame detido das posições teóricas e relações institucionais desses dois críticos brasileiros nos ajudam a compreender aspectos importantes da maneira como a teoria literária e a literatura comparada se constituíram no horizonte intelectual brasileiro. Referências: ALTHUSSER, Louis; BALIBAR, Étienne. Lire le Capital I. Paris: Éditions Maspero, 1968. BOMENY, Helena; OLIVEIRA, Lúcia Lippi. Entrevista com Silviano Santiago. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, n° 30, 2002, p. 147-173. Disponível em: http://www.cpdoc.fgv.br/revista/arq/336.pdf CAMPBELL, Colin. “The tyranny of the Yale critics”. New York Times, Nova Iorque, 9 de fevereiro de 1986. Disponível em: https://www.nytimes.com/1986/02/09/magazine/the-tyranny-of-the-yalecritics.html?module=Search&mabReward=relbias%3Aw%2C%7B%222%22%3A%22RI%3A15%22%7D DELEUZE, Gilles. “Carta a Uno: como trabalhamos a dois” In: Dois regimes de loucos: textos e entrevistas (1975-1995). São Paulo: Editora 34, 2016, p. 249-251. ELIOT, Thomas Stearns. "Ulysses, Order, and Myth". The Dial, Volume LXXV, Number 5. November, 1923, p. 480-483. HOISEL, Evelina. “Silviano Santiago e a disseminação do saber” In: SOUZA, Eneida Maria de; MIRANDA, Wander Melo. Navegar é preciso, viver: escritos para Silviano Santiago. Belo Horizonte: Editora UFMG; Salvador: EDUFBA; Niterói: EDUFF, 1997, p. 43-49. KATRI MORITZ SCHWARCZ, Lilia. Silviano Santiago: elogio e crítica a Lévi-Strauss, ou Lévi-Strauss como texto e bom pretexto. Aletria: Revista de Estudos de Literatura, [S. l.], v. 30, n. 1, p. 83–94, 2020. KLINGER, Diana. Uma genealogia da generosidade. BVPS: Blog da Biblioteca Virtual do Pensamento Social, 2021. Disponível em: https://blogbvps.wordpress.com/2021/02/17/uma-genealogia-da-generosidadepor-diana-klinger/ LÉVI-STRAUSS, Claude. Tristes trópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. LÉVISTRAUSS, Claude. Race et histoire: suivi de L'œuvre de Claude Lévi-Strauss par Jean Pouillon. Paris: Folio, 1987. LIMA, Luiz Costa. O Estruturalismo de Lévi-Strauss. Petrópolis: Vozes, 1970. LIMA, Luiz Costa. Estruturalismo e teoria da literatura. Petrópolis: Vozes, 1973. LIMA, Rachel Esteves. Imagens da memória da Faculdade de Letras. Aletria: Revista de Estudos de Literatura, [S. l.], v. 18, n. 2, 2008, p. 91–104. LIMA, Rachel Esteves; SOUZA, Eneida Maria de. ENTREVISTA com Eneida Maria de Souza. Cadernos de estudos culturais, Campo Grande, MS, v. 1, jul./dez. 2014, p. 135-150. MELLO, Jefferson. Os estudos literários brasileiros nos anos 1970 e o lugar da teoria no trabalho de Luiz Costa Lima. Remate de Males, Campinas, SP, v. 40, n. 2, 2020, p. 697–722. NEVES, Jefferson Expedito Santos. A crítica em devir: uma análise da trajetória intelectual de Eneida Maria de Souza. Dissertação de Mestrado. Salvador: UFBA, 2017. PENNA, João Camillo. Formações do sujeito colonial: suplemento, dependência, cosmopolitismo. Alea, Rio de Janeiro, v. 14, n. 2, p. 295-306, dez. 2012. SANT’ANNA, Affonso Romano de. Análise estrutural de romances brasileiros. São Paulo: Ed. Unesp, 2012. SANTIAGO, Silviano. “Anatomia da formação”. Folha de São Paulo, São Paulo, 7 de setembro de 2014. Ilustríssima. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrissima/184397-anatomia-daformacao.shtml#:~:text=Levava%20o%20t%C3%ADtulo%20de%20%22A,de%20empr%C3%A9stimo%20a %20Joaquim%20Nabuco SANTIAGO, Silviano. O sistema de pós-graduação norte-americano e a tradição francesa. Cadernos de estudos culturais, Campo Grande, MS, v. 1, jul./dez. 2014, p. 125-135. SANTIAGO, Silviano. “Análise e interpretação” In: Uma literatura nos trópicos. Recife: Cepe, 2019, p. 233-252. SANTIAGO, Silviano. A viagem de Lévi-Strauss aos trópicos. Scripta, v. 4, n. 8, p. 85-97, 9 mar. 2001. SANTIAGO, Silviano. “O entre-lugar do discurso latino-americano” In: Uma literatura nos trópicos. Recife: Cepe, 2019, p. 9-30. SANTIAGO, Silviano. Glossário de Derrida. Rio de Janeiro: Papéis Selvagens, 2020. SANTIAGO, Silviano. “Democratização no Brasil (1979-1981): Cultura versus Arte” In: O cosmopolitismo do pobre: crítica literária e crítica cultural. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2004, p. 134-156. SANTIAGO, Silviano. A terceira margem proposta pelos escritos de Jacques Derrida. BVPS: Blog da Biblioteca Virtual do Pensamento Social, 2020. Disponível em: https://blogbvps.wordpress.com/2020/10/01/a-terceiramargem-proposta-pelos-escritos-de-jacques-derrida-por-silviano-santiago/ SANTIAGO, Silviano. Ruptura e tradição: Uma literatura nos trópicos 40 anos. Entrevista concedida a Andre Bittencourt e Maurício Hoelz. Blog BVPS, [S. l.], 09 set. 2018. Disponível em: https://blogbvps.wordpress.com/2018/09/09/ruptura-e-tradicao-uma-literatura-nos-tropicos-40-anosentrevista-com-silviano-santiago/. SANTIAGO, Silviano. “A literatura brasileira da perspectiva pós-colonial ? Um depoimento” In: NOLASCO, Edgar Cézar; MEDEIROS, Pedro Henrique Alves de. Um livro para Silviano Santiago: entre-lugares críticos e literários. Campinas, SP: Pontes Editores, 2020, p. 31-51. SANTIAGO, Silviano. Ora (direis) puxar conversa!: ensaios literários. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2006. SANTIAGO, Silviano. “Questão de perspectiva” In: SANTIAGO, Silviano. Nas malhas da letra. São Paulo: Companhia das Letras, 1989, p. 159-164. SOUZA, Eneida Maria de. Tempo de pós-crítica. Belo Horizonte: Núcleo de Assessoramento à Pesquisa da Faculdade de Letras/UFMG, 1995. SOUZA, Eneida Maria de. A barca dos homens: a viagem e o rito. Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro: PUC-Rio, 1975. SOUZA, Eneida Maria de. 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A opção por esse recorte visa a mostrar a fina leitura que a autora nos oferece dos produtos da cultura de massa, para além da crítica literária em senso estrito, tomando-os como objetos que concentram e refratam o tempo e a história em que estão inseridos. Serão apresentados aspectos de: a) dois textos sobre Carmem Miranda, publicados pela primeira vez entre 2001 e 2004, nos quais a cantora emerge como uma peça do xadrez da “política da boa vizinhança” estadunidense no pós-guerra e se transforma num ícone de grande apelo para o público brasileiro; e b) um texto que se debruça sobre uma canção de Chico Buarque de Holanda, publicado em 2004, em que é feito o panorama histórico do Brasil depois da ditadura e destacada a genealogia familiar e musical do compositor por ele traçada nessa composição. Ler esses textos em conjunto torna possível estabelecer recorrências e elos entre eles que revelam em detalhe miúdo a encantadora trama de conhecimentos agenciados por essa potente pensadora. Referências: Souza, Eneida Maria de. Nem samba nem rumba. In: Critica cult. Belo Horizonte, Editora UFMG, 2002. ______ . Carmem Miranda: do kitsch ao Cult. In: Janelas indiscretas. Belo Horizonte, Editora UFMG, 2011 ______ . O samba da minha terra. Disponível em: http://www.chicobuarque.com.br/texto/artigos/artigo_cienciahoje_1204.htm (Acesso em 12/05/22) TEORIA EM TRÂNSITO: UMA LEITURA DA CRÍTICA DE ENEIDA MARIA DE SOUZA Jefferson Expedito Santos Neves, Rachel Esteves Lima Resumo: Este trabalho tem como objetivo analisar o exercício crítico de Eneida Maria de Souza, tomando como objeto de análise os livros Crítica Cult (2007),Janelas indiscretas(2011),Tempo de pós-crítica (2012),dentre outros ensaios e entrevistas da autora. Busca-se, por meio desse material, examinar os deslocamentos, as diferenças no proceder da ensaísta, apontando suas principais transformações reflexivas, o modo como se relaciona com os objetos de estudo explorados e com as diversas correntes teóricas do campo da teoria literária, ao dialogar com saberes, por vezes, distintos, pondo-os, invariavelmente, em tensão, sem deixar de pontuar suas limitações, mas também sublinhando a produtividade de cada conhecimento em seu respectivo contexto de produção. Pode-se concluir que sua travessia intelectual é cingida por uma posição em que oscila entre tradição literária, cultura popular e contemporaneidade, pesquisa teórica e histórica, passado e presente, modernidade e pós-modernidade, sem circunscrever-se a períodos históricos fechados e a enfoques unilaterais. Assim, o processo de construção textual de grande parte de sua atividade investigativa é marcado por intensa mobilidade teórica e pelo trânsito entre a literatura, o cinema, a fotografia, a música, dentre outras esferas artísticas, vinculando texto e contexto, obra e vida, arte e cultura, sem verticalizações, por meio de uma abordagem interdisciplinar e intercultural, um dos principais aspectos do seu legado para o campo da crítica brasileira Referências: SOUZA, Eneida Maria de. Tempo de pós-crítica. Belo Horizonte: Veredas & Cenários, 2012. SOUZA, Eneida Maria de. O Século de Borges. Belo Horizonte: Autêntica, 2009. SOUZA, Eneida Maria de. Janelas indiscretas. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2011. SOUZA, Eneida Maria de. Teoria em crise. Revista Brasileira de Literatura Comparada. Florianópolis, nº4, 1998.eida Maria de. Crítica cult. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2007. SOUZA, Eneida Maria de. Retratos pintados: por uma estética da domesticação. 2013. Ensaio inédito. "SOBREVIVÊNCIAS": A CRÍTICA BIOGRÁFICA DE ENEIDA MARIA DE SOUZA Marcelino Rodrigues da Silva Resumo: Nos ensaios reunidos na terceira parte de seu último livro, Eneida Maria de Souza realiza uma original aproximação entre seu próprio percurso na crítica biográfica e as ideias dos historiadores da arte Aby Warburg e Georges Didi-Huberman. O conceito de “sobrevivência”, que no plural dá título à seção, diz respeito, no trabalho desses dois autores, a uma visão não evolucionista da história cultural, interessada em formas artísticas que retornam em tempos e espaços inesperados, demandando do crítico um saber-montagem, capaz de articular peças artísticas heterogêneas e de múltiplas proveniências. Nos ensaios a que nos referimos, Eneida se apropria desse conceito, a fim de tecer relações anacrônicas, deslocadas e metafóricas entre autores e obras, referentes biográficos e criações artísticas, cenas ficcionais e ideias teóricas. Dessa forma, a ensaísta dá continuidade a uma potente reflexão, desenvolvida nos últimos vinte e poucos anos, sobre temas como a biografia, os arquivos literários, a questão da autoria, o vínculo entre escrita e morte, a doença como metáfora, as escritas auto(bio)ficionais e as relações entre as obras e vidas de intelectuais, artistas e escritores. Tomando como ponto de partida os ensaios reunidos na seção “Sobrevivências”, do livro Narrativas impuras (2021), o objetivo desta comunicação é recuperar um pouco desse percurso, que se articula em textos seminais como o artigo “Notas sobre a crítica biográfica” (2002) e o livro Janelas indiscretas (2011), nos quais a crítica biográfica se desvincula de abordagens ingênuas e ultrapassadas, herdeiras do biografismo mimético e causal do século XX, e assume uma feição contemporânea, sintonizada com uma concepção descentrada e não essencialista dos saberes. Referências: SOUZA, Eneida Maria de. Janelas indiscretas: ensaios de crítica biográfica. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011. SOUZA, Eneida Maria de. Narrativas impuras. Recife: Cepe Editora, 2021. SOUZA, Eneida Maria de. Notas sobre a crítica biográfica. In: ______. Crítica cult. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002, p. 111-120. POR UMA CRÍTICA EPISTOLOGRÁFICA: PRESSUPOSTOS E PROCEDIMENTOS CRÍTICOS Marcos Antonio de Moraes Resumo: Esta comunicação dialoga com o vigoroso ensaísmo de Eneida Maria de Souza dedicado ao estudo da correspondência no campo literário brasileiro. Trata-se de perceber nesses escritos (artigos, prefácios, estudos, intervenções etc) a caracterização dos contornos de uma “crítica epistolográfica”, em sua singularidade e em seus vínculos com a discussão sobre a questão biográfica explorada na obra da professora. Entram em pauta pressupostos teóricos, procedimentos analíticos e interpretativos na abordagem de cartas de escritores e de escritoras. Debate-se a contribuição desses documentos da vida privada para os estudos literários. A comunicação retoma importantes textos de Eneida Maria de Souza que focalizam missivas de Henriqueta Lisboa, Mário de Andrade, Murilo Rubião e Carlos Drummond de Andrade. Cabe ainda recuperar, em seus trabalhos de crítica literária, congregados em Traço crítico (1993), Crítica Cult (2002), Janelas indiscretas: ensaios de crítica biográfica (2011), entre outros de igual importância, o lugar ocupado pelas cartas, bem como a sua instrumentalização no processo hermenêutico. A comunicação busca, igualmente, apreender o modo como a pesquisadora compreende as cartas como documentos em arquivos de escritores. O diálogo com a produção de Eneida Maria de Souza devotada à exploração de cartas propicia a apreensão das linhas de força de uma "crítica epistolográfica", que ainda almeja consolidar-se nos estudos literários. Referências: Souza, Eneida Maria de. Janelas indiscretas: ensaios de crítica biográfica. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011. Souza, Eneida Maria de. Crítica Cult. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002. A CRÍTICA DA NARRAÇÃO IMPURA Matheus Ribeiro Alves de Lima Resumo: Esta comunicação pretende apresentar, em linhas gerais e momentos pontuais, uma certa disposição da crítica literária e cultural Eneida Maria de Souza em marcante diferença frente ao projeto kantiano contido no início da Crítica da Razão Pura. Parece existir em Eneida a opção de uma "Estética imanente", distinta da Estética transcendental que abre a Crítica. Isto é, Eneida realiza em vários de seus textos uma operação crítica que não busca eliminar a sensibilidade e a sensação para alcançar uma intuição pura, mas que se "prolifera" e se "contamina" com a sensibilidade. Dentre os elementos que faz uso em seus ensaios, que não estão restritos às obras literárias, mas abertos a diversas manifestações culturais, assim como pelo repertório teórico que ela mobiliza, atravessado frequentemente pela interdisciplinaridade, podemos observar a afirmação do Impuro. Dessa afirmação da impureza, resultam conceitos e noções, como "contaminação", que na autora encontra sentido positivo, bem como no "nãolugar" atribuído à Literatura, que foge à "intuição pura" do espaço, sem tampouco deixar que se fixe em algum outro lugar. Também em relação ao espaço kantiano, marcado pelo que está "fora de nós", Eneida trabalha com a "eliminação da distância entre os polos constituintes do pensamento binário, ou seja, as categorias referentes ao exterior/interior, à causa/efeito, ao anterior/posterior, por meio da utilização da categoria espacial de superfície". Além disso, ou por conseguinte, elimina igualmente a distância entre autores e "laço[s] de sangue" por meio da "simultaneidade" temporal — compreendida pelo filósofo Roberto Machado como "tempo imanente". Dessa forma, encontra-se na atividade de Eneida uma paródia à Crítica de Kant na afirmação da "Narrativa Impura". Referências: KANT, Immanuel. Crítica da Razão Pura. Trad. Fernando Costa Mattos. 4. ed. Petrópolis: Vozes; Bragança Paulista: Editora Universitária São Francisco, 2015. LIMA, Luiz Costa. "O crítico e seu nãolugar". In: SOUZA, Eneida Maria de; MIRANDA, Wander Melo. Navegar é preciso, viver: escritos para Silviano Santiago. Belo Horizonte: Editora UFMG; Salvador: EDUFBA; Niterói: EDUFF, 1997. SOUZA, Eneida Maria de. Janelas indiscretas [livro eletrônico]: ensaios de crítica biográfica. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011. ______. Crítica cult [livro eletrônico]. 2. ed. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2014. ______. Narrativas impuras [livro eletrônico]. Recife: Cepe, 2021. ePub ______ POESIA CONTEMPORÂNEA: IMPASSES, DIVERSIDADE, RECONFIGURAÇÕES Paloma Roriz Resumo: A partir do final da década de 1990, é possível perceber, no cenário brasileiro, a elaboração crescente de circuitos de produção e circulação literária promotoras de novas situações paradigmáticas na poesia e na crítica brasileiras. Efeito, em parte, do impacto de novas teorias no campo dos estudos literários, tais circuitos fomentam a problematização e o questionamento das noções de poesia e de crítica em suas múltiplas manifestações, em seu caráter próprio de tensão e abertura, como possível resposta ao aparente vazio lançado por uma época de esgotamento de movimentos literários pautados por paradigmas modernos, como ocorre no Brasil até os anos de 1970. Momento de crescente valor crítico dado à noção de diversidade, ou ainda “pluralismo” no contemporâneo, o cenário brasileiro da crítica de poesia parece assim dividido entre, em linhas gerais, os que, por um lado, incorporam perspectivas movidas pelos deslocamentos que se operam no campo da literatura, diante das novas dinâmicas sociais, tecnológicas e culturais, e, por outro, os que vão encarar a cena da produção contemporânea com certa desconfiança ou ceticismo, na ausência de programas claros e projetos bem delimitados, baseados em parâmetros modernizantes de arte. Já Marcos Siscar apresenta com precisão aspectos deste cenário, entrecruzado pelo discurso da diversidade, enquanto componente de certa dificuldade e “impasse” instaurado a partir da última polêmica significativa do XX, datada de 1984, pela voz de Augusto de Campos, em seu conhecido poema visual “Pós-tudo”. O presente trabalho pretende pensar, com Maria Eneida de Souza – a partir, em especial, dos textos “A teoria em crise” e “A modernidade residual do contemporâneo” –, sobre como novas formas de compreensão do contemporâneo podem impactar e reverberar a/na produção de circuitos críticos e literários de poesia, em suas múltiplas manifestações, quer institucionais, alternativas ou periféricas. Referências: AGAMBEN, Giorgio. Infância e História – Destruição da experiência e origem da história. Trad. Henrique Burigo. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2014. BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política. Trad. Sergio Paulo Rouanet. São Paulo: Editora Brasiliense, 1987. CAMARGO, Maria Lucia de Barros e PEDROSA, Celia (Orgs.). Poesia e contemporaneidade – Leituras do presente. Chapecó: Argos, 2001. ______. “Dos poetas e/em suas revistas”. In: ALVES, Ida; PEDROSA, Celia (Orgs.) Subjetividades em devir – Estudos de poesia moderna e contemporânea. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2008. CAMPOS, Haroldo. Poesia e modernidade: Da morte da arte à constelação. O poema pós-utópico. In: O arco-íris branco. Rio de Janeiro: Imago, 1997. DIDI-HUBERMAN, Georges. Diante do tempo: História da arte e anacronismo das imagens. Trad. Marcia Arbex e Vera Casa Nova Belo Horizonte, UFMG, 2015. PEDROSA, Celia. Poesia e crítica de poesia hoje: heterogeneidade, crise, expansão. Estudos avançados, V. 29, n.84, 2015, p. 321333. SCRAMIM, Susana. “Pós-história, pós-crítica e a poesia ‘por-vir’”. In: Raúl Antelo, Maria Lúcia de Barros Camargo (Orgs.). Pós-crítica. Florianópolis, 2007, v.1, p. 97-117. SISCAR, Marcos (2016). De volta ao fim – O “fim das vanguardas” como questão da poesia contemporânea. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2016. ______. Poesia e crise. Campinas: Editora da Unicamp, 2010. SOUZA, Eneida Maria de. Crítica Cult. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2014. ______. Narrativas impuras. Recife: Cepe, 2021. NOTAS PÓSTUMAS: UM CURSO A DOIS Rafael Lovisi Prado Resumo: Ao longo de todo o segundo semestre de 2019, através do Programa de Pós-graduação em Estudos Literários (Pós-Lit), Eneida Maria de Souza e eu ministramos juntos na FALE-UFMG aquele que seria seu último curso: Seminário de Literatura Comparada: Arte, política e cultura popular. Passados cerca de três anos dessa experiência de pesquisa e docência a dois, e após o desaparecimento da mestra e companheira, a comunicação que se propõe pretende-se um breve caderno de notas póstumas acerca das relações de pensamento e parceria lá desenvolvidas. Sendo assim, o texto almeja, sobretudo, retomar de forma concisa os(as) principais autores(as), obras e conceitos abordados na disciplina mencionada (estes que também foram objetos dos dois últimos projetos de pesquisa submetidos por Eneida ao CNPq), numa dicção entre a narrativa memorialística e o ensaio. Em nosso trabalho, mapeamos dentro da ampla gama de vertentes artísticas e teóricas contemporâneas ao menos duas linhas de subjetivação decisivas nos rumos da vida social, a saber, uma atenta e aberta às mutações dos modos de existência, em seus aspectos éticos e estéticos, e outra que se quer blindada a tais processos, à transformadora atuação de alteridades. Diante disso, realizamos um exercício analítico/comparativo, junto aos alunos, de criações em arte, política e cultura popular, por meio de produções literárias, cinematográficas, iconográficas e ensaísticas que possibilitaram leituras das forças em confronto neste início de século. Ao tentar recriar passagens-chave desse percurso, as “Notas póstumas” irão perpassar as fotografias de Vivian Maier e Assis Horta – imagens de marginalizados pela cultura oficial – bem como escritos de Didi-Huberman, Jean-Luc Nancy, Suely Rolnik, entre outros, buscando trazer à tona não só personagens considerados secundários que se inscreveram na história como desprovidos de fala e de lugar, mas também noções cruciais à investigação de suas aparições sensíveis, tais como povo, comunidade e multidão. Referências: - BARTHES, Roland. A câmara clara. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. - BLANCHOT, Maurice. A comunidade inconfessável. Ed. Universidade de Brasília; SP: Lumme Editor, 2013. - Comitê invisível. Aos nossos amigos – crise e insurreição. São Paulo: N-1 Edições, 2016. - CASTRO, Eduardo Viveiros de. Os Involuntários da pátria. Aula pública durante o ato Abril Indígena, Cinelândia, RJ, 20 de abril de 2016. São Paulo: N-1 edições. - DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia, vol.4. Trad. Suely Rolnik. São Paulo, Editora 34, 2012. - DIDI-HUBERMAN, Georges. Peuples exposés, peuples figurants. L´oeil de l´histoire 4. Paris: Les Éditions de Minuit, 2012. - HARAZIM, Dorrit. O instante certo. São Paulo: Companhia das Letras, 2016 - LAPOUJADE, David. As existências mínimas. São Paulo: N-1 Edições, 2017. - KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. - MBEMBE, Achille. Crítica da Razão Negra. São Paulo: N-1 edições, 2018. - NANCY, Jean-Luc. A comunidade inoperada. Rio de Janeiro, 7Letras, 2016. - NEGRI, Antonio. 5 lições sobre o Império. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2003. - ROLNIK, Suely. Esferas da insurreição. São Paulo: N-1 Edições, 2018. SONTAG, Susan. Ensaios sobre fotografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2004. - SOUZA, Eneida Maria de. Crítica cult. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002. -SOUZA, Eneida Maria de. Janelas Indiscretas. Ensaios de crítica biográfica. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011. - SOUZA, Eneida Maria de. Narrativas Impuras. Recife: CEPE Editora, 2021. - TABAROVSKY, Damián. Literatura de esquerda. Trad. Ciro Lubliner e Tiago Cfer. Belo Horizonte: Relicário Edições, 2017. TEORIA E PRÁTICA INDISCIPLINADAS Reinaldo Martiniano Marques Resumo: Com a presente comunicação, procurarei evidenciar como a obra teórica e crítica de Eneida Maria de Souza contribuiu de modo efetivo para reconfigurar o campo dos estudos literários e culturais em âmbito não apenas brasileiro mas também latino-americano. Nesse sentido, tentarei mostrar como o pensamento teórico e a prática de pesquisa e docência mobilizados e operados por Eneida mostram-se claramente indisciplinados e indisciplinares, promovendo uma potente contestação do disciplinamento dos saberes promovido pela universidade e a epistemologias modernas na área dos estudos literários. Disciplinamento reforçado com a reforma da universidade no início do século XIX, a fim de que ela se tornasse um braço estatal de produção do conhecimento a serviço dos estados nacionais emergentes. Desse modo, cabe destacar nessa teoria e prática indisciplinares da Eneida a defesa contundente de uma perspectiva aberta à acolhida de diferentes e heterogêneos objetos de pesquisa, sem lugares fixos. Objetos a serem examinados a partir de uma visada metafórica e criativa, capaz de dissolver a oposição entre ficção e ciência, arte e vida, como forma de problematizar uma racionalidade binária, metafísica, articuladora de sujeitos e identidades essencialistas. Ponderados e aproximados por meio de metodologias prevalentemente comparatistas e transdisciplinares de trabalho, colaborando assim para a emergência de epistemologias plurais no nosso campo de investigação. Referências: FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. 3. ed. Trad. Luiz Felipe Baeta Neves. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1987. FOUCAULT, Michel. Em defesa da sociedade: Curso no Collège de France (1975-976). Ed. estabelecida por Mauro Bertani e Alessandro Fontana sob direção de François Ewald e Alessandro Fontana; trad. Maria Ermantina Galvão. São Paulo: Martins Fontes, 1999. NICOLESCU, Basarab. O manifesto da transdisciplinaridade. Trad. Lucia Pereira de Souza. São Paulo: Triom, 1999. SHELDOM, Sacks (Org.). Da metáfora. São Paulo: Educ, 1992. SOUZA, Eneida Maria de. Crítica cult. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2002. SOUZA, Eneida Maria de. Pedro Nava, o risco da memória. Juiz de Fora: Funalfa, 2004. SOUZA, Eneida Maria de. Janelas indiscretas: ensaios de crítica biográfica. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011. SOUZA, Eneida Maria de. Narrativas impuras. Recife: Cepe, 2021. THAYER, Willy. A crise não moderna da universidade moderna, trad. Rômulo Monte Alto. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002. CRÍTICAS VIRTUAIS: UMA REFLEXÃO SOBRE A MESCLA ENTRE ACADÊMICOS E BOOKTUBERS, LEVANDO EM CONTA A TRADIÇÃO CRÍTICA NACIONAL Renata Fernandes Magdaleno Resumo: Esta comunicação recorre a dois estudos já clássicos de Eneida Maria de Souza, Crítica cult (2007) e Janelas indiscretas (2011), para pensar a adesão de pesquisadores e acadêmicos ao universo dos booktubers, produzindo uma espécie de crítica literária digital. A partir, principalmente, de Crítica cult, há uma comparação entre a atuação dos booktubers e momentos marcantes da crítica literária brasileirano século XX, como os críticos impressionistas das primeiras décadas, a crítica acadêmica de meados do século e a ensaística dos últimos anos. Os diferentes formatos se relacionam, ainda, com os contextos de cada momento. A partir, principalmente, das reflexões presentes em Janelas Indiscretas, analiso a atuação dos booktubers. As resenhas virtuais realizadas por estes se assemelham, à primeira vista, aos textos impressionistas dos críticos de rodapé, mas estão marcadas pela estética dos influenciadores digitais, num misto de performance e exposição da intimidade. Desprezados inicialmente pela academia, a analise de sua atuação se torna mais complexa nos últimos anos, quando doutorandos, pesquisadores e professores passaram também a ocupar estes espaços, realizando resenhas virtuais. Para pensar estas questões, serão analisadas, ainda, a atuação de acadêmicos como Marcela Santos Brigida, que mantem o canal no Youtube Literatura Linguesa Brasil, e Ana Paula Rodrigues, do canal Mundo Possível, que fala sobre literaturas de língua portuguesa. Referências: ARFUCH, Leonor. O espaço biográfico: Dilemas da subjetividade contemporânea. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2010. CANCLINI, Néstor García. Leitores, espectadores e internautas. São Paulo: Iluminuras, 2008. DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. São Paulo: Contraponto, 2007. LIPOVETSKY, Gilles. SERROY, Jean. A estetização do mundo: Viver na era do capitalismo artista. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. SOUZA, Eneida Maria de. Crítica Cult. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007. __________________________. Janelas indiscretas: Ensaios de crítica biográfica. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011. SÜSSEEKIND, Flora. Papéis colados. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1993. CONVERSAÇÕES : A TESSITURA DO ENSAIO DE ENEIDA MARIA DE SOUZA Roberto Said Resumo: A obra crítica de Eneida Maria de Souza constrói-se de modo singular no vértice das transformações que reconfiguram o campo dos estudos literários, em suas interfaces disciplinares, desde o estruturalismo, base de sua formação intelectual, até as indagações contemporâneas, entre as quais aquelas elaboradas recentemente pela ecocrítica. Com atuação acadêmica destacada nessas breveslongas décadas que emolduram a virada do século, a crítica mineira manteve-se sempre atenta à mobilidade e ao fluxo instável das manifestações culturais que reordenam o cenário das artes, da literatura e do cotidiano, bem como à recepção dessas manifestações no contexto das nações periféricas, a fim de examinar o modo como essas diversificadas interações revelam-se, a despeito da simultaneidade global, desiguais. Nessa trajetória, em que o deslocamento se afirma como operador indispensável para a atividade crítica, a pesquisadora estabelece em seus textos uma espécie de “conversação” - para valerme do termo deleuziano - com a qual realiza mediações entre obras e autores (nacionais e estrangeiros) e seu leitor, interlocutor privilegiado construído textualmente. Este texto visa analisar como a produção ensaísta de Eneida se elabora de forma a expandir os espaços dialógicos de troca e convivência dos saberes que, como o mestre Mário de Andrade, ela soube erigir com leveza e criticidade. CONVERSAS ENTRE OS RIOS MANHUAÇU E TIETÊ: ENEIDA DE SOUZA, MÁRIO DE ANDRADE E AS REDESCOBERTAS DO BRASIL Roniere Silva Menezes Resumo: Narrativas impuras de Eneida Maria de Souza, apresenta, na primeira parte, cinco ensaios sobre produções mariodeandradeanas. Este nosso trabalho inicia-se com a análise de dois deles: “Mário de Andrade: o empalhador de passarinho” que aborda o livro Um turista aprendiz e “Conversa de compadres” sobre o livro Câmara Cascudo e Mário de Andrade: cartas, 1924-1944. Em ambos ensaios, ressaltam-se a valorização do popular, da memória cultural, a busca de diálogo entre arte, literatura, antropologia e modernidade. A partir dos dois textos, pretendemos trazer ao trabalho ensaios produzidos por Eneida sobre a viagem da caravana paulista a cidades históricas de Minas Gerais, em 1924 e de Mário ao Norte, em 1927 e ao Nordeste, entre 1928 e 1929. A partir da viagem a Minas, o barroco e a criação popular associam-se à novidade artística brasileira. As viagens literário-etnográficas realizadas por Mário ao Norte e Nordeste podem ser vistas como prolongamento da experiência “turística” de 1924. Dois nomes figuram nesse sentido: Aleijadinho e Chico Antônio. Mário foi grande parceiro de viagem de Eneida. Além de Macunaíma, o escritor contribuiu substancialmente – como máquina de ver-ouvir-sentirpensar – para o trajeto da pesquisadora. Esta trouxe à herança inovadoras perspectivas. A partir de reflexões desenvolvidas por Eneida, investigaremos, na parte final do ensaio, imagens e textos produzidos durante a viagem a cidades históricas mineiras, ao Norte e Nordeste (presentes nos livros O turista aprendiz e Mário de Andrade: fotógrafo e turista aprendiz). Lembraremos ainda, de modo sucinto, do livro de Rodrigo Bretas sobre Aleijadinho; do livro Café, de Mário; do CD Chico Antônio: no balanço do Ganzá e do filme Chico Antônio, o herói com caráter. No trabalho, a tradição popular, a criação local, distantes de perspectivas exóticas, abrem-se ao cosmopolitismo, aos anseios políticos do presente. Referências: ANDRADE, Mário de. Café. Tatiana Longo Figueiredo (Estabelecimento do texto, introdução, posfácio e seleção de imagens). Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015. ANDRADE, Mário de. Fotógrafo e turista aprendiz. Telê Ancona Lopez (Conteúdo: As viagens do fotógrafo); Ana Maria Paulino (Fotografia). São Paulo: Instituto de Estudos Brasileiros, 1993. ANDRADE, Mário de. O turista aprendiz. Telê Ancona Lopez e Tatiana Longo Figueiredo (Edição de texto apurado, anotada e acrescida de documentos); Leandro Raniero Fernandes (colaborador). Brasília: IPHAN, 2015. BRETAS, Rodrigo José Ferreira. Traços biográficos relativos ao finado Antônio Francisco Lisboa, distinto escultor mineiro, mais conhecido pelo apelido de Aleijadinho. Silviano Santiago (posfácio); Jomar Bragança (fotografias). Belo Horizonte: Editora UFMG, 2013. SOUZA, Eneida Maria de. A pedra mágica do discurso. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1999. SOUZA, Eneida Maria de. Narrativas impuras. Recife: Cepe Editora, 2021. SOUZA, Eneida Maria de. Crítica Cult. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2002. IMPOSTURA E ARTIMANHA: OSMAN LINS E A CRÍTICA DOS CRIADORES Wallace Ribeiro Ramos Resumo: A partir do livro de ensaios Guerra Sem Testemunhas, publicado por Osman Lins em 1969, no qual elabora uma reavaliação de sua carreira como autor e a condição da figura do escritor diante da realidade social brasileira, este trabalho realiza uma leitura de certos posicionamentos tomados por Lins a respeito do que o autor compreende como “métodos críticos” e “crítica dos criadores”. Estes conceitos são analisados primeiramente através da relação entre a obra publicada e alguns documentos encontrados no acervo do autor, sob a guarda do Arquivo-Museu de Literatura Brasileira na Fundação Casa de Rui Barbosa, visto que estes documentos apresentam importantes notas e registros de suas leituras e procedimentos de pesquisa durante o período no qual escrevia o referido livro. Em um segundo momento, com destaque para o ensaio intitulado “O escritor e as várias formas de crítica”, as categorias propostas são observadas considerando-se as formas de expressão que Osman Lins utiliza para configurar e expandir o pensamento e o seu escopo crítico imaginativo. Pois, a princípio o texto se estrutura como narrativa de ficção protagonizada por um personagem que se constitui junto ao narrador como co-autor do livro, mas no entanto, adquire a forma de um ensaio acadêmico ao mesmo tempo em que se apresenta como entrevista concedida para um canal de televisão. Referências: ANDRADE, Ana Luiza. Osman Lins: crítica e criação. Curitiba: Appris, 2014. BIASI, PierreMarc. A genética dos textos. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2010. FARIA, Zênia de. FERREIRA, Ermelinda. Osman Lins 85 anos: A Harmonia de Impoderáveis. Recife: Editora Universitária da UFPE, 2009. GUSDORF, Georges. La Palabra. Buenos Aires: Galatea Nueva Vision, 1957. HAZIN, Elizabeth. O Nó dos Laços. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2013. HAZIN, Elizabeth (org). Linscritura: Limiares da Escrita Osmaniana. Rio de Janeiro: Vieira & Lent, CNPQ, 2014. IGEL, Regina. Osman Lins: Uma Briografia Literária. São Paulo: T.A. Queiroz; Brasília: Instituto Nacional do Livro, 1988. LADEIRA, Julieta de Godoy. O Desafio de Criar: O sonho e o chão da palavra escrita. São Paulo: Global, 1995. LIMA, Luiz Costa. Por Que Literatura. Petrópolis: Editora Vozes, 1969. LINS, Osman. Guerra Sem Testemunhas. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1969. Guerra Sem Testemunhas. São Paulo: Editora Ática, 1974. Problemas Inculturais Brasileiros: Do Ideal e da Glória e Evangelho na Taba. Recife: Ed. UFPE, 2018. MOREIRA, Cristiano. Sagração Tipográfica em Osman Lins: arquivos, gestos, impressões. Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Comunicação e Expressão, Programa de Pós-Graduação em Literatura, Florianópolis, 2019. O fundo falso do diário: Osman Lins e o mal de arquivo literário. Escrituras Americanas (on Line). Escrituras Americanas, v. 01, p. 37-44, 2012. NITRINI, Sandra. Transfigurações: ensaios sobre a obra de Osman Lins. São Paulo: Hucitec, 2010. OLIVEIRA, Lauro de. Osman Lins: vocação ética, criação estética. Recife: Bagaço, 2010. PEREIRA, Eder Rodrigues. A biblioteca de Osman Lins no IEB/USP e na Fundação Casa de Rui Barbosa. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, Brasil, n. 66, p. 86-107, abr. 2017. RAMOS, Darcy Attanasio Taboada. Potencialidades do ensaio: convergências poéticas e conceituais (Guerra Sem Testemunhas, de Osman Lins). Tese (doutorado) – Universidade de São Paulo, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em Teoria Literária e Literatura Comparada, São Paulo, 2014. STEEN, Edla van. ‘Osman Lins’ in: Viver & Escrever volume 2. Porto Alegra: L&PM, 2008. ZULAR, Roberto. Escrever sobre escrever. São Paulo: Martins Fontes, 2007. WILLEMART, Philippe. Universo da Criação Literária. São Paulo: Edusp, 1993. Bastidores da Criação Literária. São Paulo: Iluminuras, 1999. DO ESTRUTURALISMO À CRÍTICA CULT Wander Melo Miranda Resumo: Análise da experiência crítica de Eneida Maria de Souza desde seus trabalhos iniciais influenciados pelo estruturalismo lévi-straussiano até aqueles pertencentes aos estudos culturais, ressaltando as questões teóricas da abordagem biográfica e seu papel para a construção de uma leitura mais abrangente do texto literário e sua inserção cultural. A concepção de estrutura resulta numa análise de cunho imanente, a exemplo de seus estudos iniciais sobre Autran Dourado, Chico Buarque e Guimarães Rosa , passando pela abertura à intertextualidade nos seus ensaios sobre Mário de Andrade e, posteriormente, ao interesse crítico e teórico pelos dados biográficos e a obra de autores como Jorge Luis Borges e Pedro Nava . Noções como as de propriedade literária, apropriação, pastiche e plágio são mobilizadas de um ponto de vista comparatista, para pensar as relações entre centro e periferia, modernidade tardia e pós-modernidade, tradição e contemporaneidade, a partir da da leitura de pensadores como Roland Barthes, Jacques Derrida, Gilles Deleuze, Silviano Santiago, Ricardo Piglia, entre outros. Trata-se, enfim, de propor uma síntese do percurso intelectual da docente e pesquisadora, destacando a importância de seu trabalho para o avanço da literatura comparada no país, ao contribuir para a desconstrução da perspectiva baseada nas noções hierarquizantes de fonte e influência. Referências: Souza, Eneida Maria de. Crítica cult. Souza, Eneida Maria de. A pedra mágica do discurso. Souza, Eneida Maria de. O século de Borges. Souza, Eneida Maria de. Janelas indiscretas. Souza, Eneida Maria de. O século de Borges. Souza, Eneida Maria de. Traço crítico. Souza, Eneida Maria de. Pedro Nava. SIMPÓSIO “ENTRE O CÂNONE E O ESQUECIMENTO: PROCESSOS DE (NÃO) CANONIZAÇÃO DE AUTORES E OBRAS” Valdiney Valente Lobato de Castro (UERJ), Yurgel Pantoja Caldas (UNIFAP), Alan Victor Flor da Silva (CMBEL) ANTOLOGIAS LITERÁRIAS: UMA PROPOSTA DE PROMOÇÃO DE ESCRITORES RADICADOS NA AMAZÔNIA Alan Victor Flor da Silva Resumo: Ao longo do século XX, foram publicadas cinco antologias com o intuito de promover a produção literária de escritores da Amazônia – localizados, de modo geral, à margem das histórias literárias tradicionais e do cânone – e, ao mesmo tempo, de introduzi-los no cenário da literatura nacional. Em 1904, José Eustáquio de Azevedo publicou a Antologia Amazônica; em 1965, Anísio Mello lançou a Lira Amazônica; em 1966, José dos Santos Lins divulgou a Seleta literária do Amazonas; em 1970, Carlos Rocque trouxe à luz a Antologia da cultura amazônica; e, entre 1990 e 1997, vieram a lume oito volumes da Introdução à literatura do Pará, organizados por Clóvis Meira, José Ildone e Acyr Castro, membros da Academia Paraense de Letras. Para elaborá-las, seus idealizadores basearam-se em conceitos diferentes de literatura, em normas distintas para a compilação dos gêneros literários e em critérios específicos de seleção (e exclusão) de escritores. Todas essas obras, no entanto, foram idealizadas com o mesmo propósito: retirar do marasmo a literatura produzida na Amazônia ou, ao menos, em estados pertencentes à região (Pará e Amazonas). Diante disso, objetivamos, com este trabalho, analisar como essas cinco antologias foram planejadas, a fim de compreendermos o contexto literário em que foram produzidas e o interesse dos autores em publicá-las. Referências: AZEVEDO, José Eustáquio de. Antologia amazônica: poetas paraenses. 3. ed. Belém: Conselho Estadual de Cultura, 1918. ______. Literatura paraense. 3. ed. Belém: Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves; Secretaria de Estado da Cultura, 1990. BAUMGARTEN, Carlos Alexandre. A renovação do discurso historiográfico brasileiro. In: ANTUNES, Benedito; FERREIRA, Sandra (Organizadores). 50 anos depois: estudos literários no Brasil contemporâneo. São Paulo: UNESP, 2014. LINS, José dos Santos. Seleta literária do Amazonas. Manaus: Governo do Estado do Amazonas, 1966. MEIRA, Clóvis; ILDONE, José; CASTRO, Acyr (Organizadores). Introdução à literatura no Pará: antologia. Belém: CEJUP, 1990. 8. vols. MELLO, Anísio. Lira amazônica: antologia. São Paulo: Correio do Norte, 1965. ROCQUE, Carlos. Antologia da cultura amazônica. Belém: Amazônia Edições Culturais Ltda. (AMADA), 1970. 9. vols. OS RETRATOS DE GUY DE MAUPASSANT N'A PROVÍNCIA DO PARÁ Amanda Gabriela de Castro Resque Resumo: O presente trabalho tem como objetivo principal apresentar o autor francês Guy de Maupassant (1850 - 1893) através dos seus retratos publicados nas seções do periódico A Província do Pará, na última década do século XIX. O conceito de retrato foi amplamente discutido por Emile Zola (1840-1902) no oitocentos e abordado por Adeline Wrona (2015) em nossa contemporaneidade, esses escritos seguiram as modas europeias ao publicar artigos com uma temática única: figuras que estavam em voga naquele período. Neles, abordaram-se nomes de homens importantes da época, apresentando suas trajetórias e introduzindo seus novos feitos para o público leitor. Apesar de ter vários retratos seus publicados em periódicos, percebeu-se que Guy de Maupassant não possui mais todo o renome que possuiu no oitocentos. Autor grandemente propalado no século XIX e amigo de nomes como Gustave Flaubert (1821-1880), Guy de Maupassant não teve apenas suas prosas ficcionais ofertadas ao público leitor, escritos críticos com sua assinatura, bem como dedicados à sua obra, também foram divulgados nas principais folhas oitocentistas, entre esses, os famosos retratos. Sendo uma pesquisa em fontes primárias, nosso principal objeto foi o acervo de microfilmagens do CENTUR, localizado em Belém, Pará. Até o momento, quatro retratos foram localizados, sendo um deles produzido pelos próprios editores d’A Província. Referências: COGNY, Pierre. Nuevos recuerdos íntimos sobre Guy de Maupassant: (inéditos). A. G. Nizet, Paris, 1962. HERVOT, Brigitte Monique. As reflexões literárias na carta de Maupassant. In: Anais do XI Congresso Internacional da Associação Brasileira de Literatura Comparada, 2008. MEYER, Marlyse. Folhetim: uma história. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. NEVES, Angela das. Contistas à Maupassant: a recepção criativa de Guy de Maupassant no Brasil. Tese (Tese de Doutorado) – 2012. NEVES, Angela das. A volta do Horla. Dissertação (Mestrado em Letras) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Universidade de São Paulo. São Paulo, p. 288. 2007. ROCQUE, Carlos. História de A Província do Pará. Belém: Mitograph, 1976. ROCQUE, Carlos. Antonio Lemos e sua época: história política do Pará. Amazônia Edições culturais, 1973. SARGES, Maria de Nazaré. Belém: riquezas produzindo a belleépoque (1870-1912). Belém: Paka Tatu, 2002. SOARES, Karol Gillet. As formas de morar na Belém da Belle-Époque (1870-1910). Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal do Pará, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em História Social da Amazônia, Belém, p. 247. 2008. WRONA, Adeline. O retrato na imprensa, um gênero plástico. O exemplo de Émile Zola. In: Literatura e escritas da imprensa: Brasil/França, Século XIX. Campinas: Mercado de Letras, 2015, p. 173188. A CONSAGRAÇÃO DO PATRIMÔNIO LITERÁRIO: PROCESSOS DE LEGITIMAÇÃO E DE INTERDIÇÃO NA MEMÓRIA MODERNISTA BRASILEIRA André Luís Mourão de Uzêda Resumo: Para a seguinte comunicação, apresentamos recorte de nossa pesquisa de tese de Doutorado em Letras (Ciência da Literatura-UFRJ), na qual, em perspectiva interdisciplinar, propomos uma aproximação entre os estudos literários e as discussões contemporâneas acerca do patrimônio cultural brasileiro. Nosso objeto central é o volume Crônicas da província do Brasil, de Manuel Bandeira, publicado em 1937, o qual é lido por nós a partir de três vertentes do patrimônio cultural: material, imaterial e literário. Para a seguinte comunicação, debruçamo-nos sobre a terceira das categorias de análise, discutindo como o poeta pernambucano assume, em tais crônicas, o lugar de autoridade no exercício da crítica literária para legitimar o panteão de autores que compõe a memória consagrada de nosso patrimônio literário. De recorte de classe, gênero e raça definidos, o rol de eleitos constitui, basicamente, o que Eduardo Coelho (2022, p. 53) denominou “a memória modernista”, aquela responsável por retroalimentar a “construção de um lastro modernizante a partir das artes brasileiras”. Nesse sentido, é interessante analisar não apenas a posição consagrada de Bandeira, poeta renomado desde 1930 com a publicação de Libertinagem, mas também seu lugar consagrador: como membro do conselho consultivo do SPHAN desde 1937, integrante desde 1940 da ABL e, a partir de 1944, professor da Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, o escritor ocupa o lugar do prestígio para definir quem deve ou não integrar tal panteão. Assim, atentando às crônicas do poeta, propomos encetar um debate sobre as condições de produção e recepção de obras e autores modernos no processo de patrimonialização e musealização (cf. CHAGAS, 2009; SOPHIA, 2019) da memória literária modernista brasileira. Referências: ______. Poesia completa e prosa seleta. 2 vol. Prefácio, organização e estabelecimento de texto por André Seffrin. 6 ed. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2020. ______. Crônicas da província do Brasil. 2 ed. Org., posfácio e notas de Júlio Castañon Guimarães. São Paulo: Cosac Naify, 2006. CHAGAS, Mario. A imaginação museal: museu, memória e poder em Gustavo Barroso, Gilberto Freyre e Darcy Ribeiro. Rio de Janeiro: IBRAM; Garamond, 2009. COELHO, Eduardo. “A memória da poesia modernista”. In: Estudos Avançados, São Paulo, v. 36, n 104, p. 53-72, jan./abr. 2022. Disponível em <https://doi.org/10.1590/s0103-4014.2022.36104.004>. SOPHIA, Daniela Carvalho. A musealização do patrimônio literário no Brasil: instâncias da consagração da literatura brasileira em questão (1890-2003). 2019. Dissertação (Mestrado em Museologia e Patrimônio) – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro; Museu de Astronomia e Ciências Afins, 125f. Rio de Janeiro. A AMIZADE/INIMIZADE COMO INSTÂNCIAS DE CANONIZAÇÃO/NÃO-CANONIZAÇÃO: A SELETIVIDADE CRÍTICA NO CASO DO RECORDAÇÕES DO ESCRIVÃO ISAÍAS CAMINHA, DE LIMA BARRETO Daniela Corrêa Siqueira, José Victor Neto Resumo: Este trabalho propõe reflexões sobre a recepção imediata do romance Recordações do Escrivão Isaías Caminha (1909), de Lima Barreto, e sobre como as relações de amizade/inimizade e pertencimento/não-pertencimento podem determinar a consagração ou o ostracismo de um escritor. O romance de Lima Barreto foi rechaçado pelos comentadores literários dos jornais da época. O principal argumento utilizado foi o fato de este ser um roman à clef, gênero romanesco em que pessoas reais são retratadas como personagens ficcionais, tendo suas identidades escondidas por pseudônimos. Nesses romances, em sua versão satírica, é comum a exposição de segredos íntimos e da hipocrisia de pessoas de grande notoriedade. O retrato jocoso de importantes “medalhões” da literatura e da intelectualidade de sua época feito por Lima Barreto em seu romance de estreia foi determinante para o alijamento sofrido por sua obra, atrapalhando o início de sua carreira literária. Entretanto, dois outros romans à clef publicados em períodos próximos à publicação do Recordações não sofreram o mesmo rechaço da crítica: A Conquista, de Coelho Neto (1899); e A Esfinge (1911), de Afrânio Peixoto. Tais romances se encaixavam em um subgênero mais ameno: o roman à clef de coterie. Porém, a despeito de serem romans à clef, os dois romances não sofreram por isso nenhum tipo de crítica negativa, sendo os dois autores mesmo alçados à Academia Brasileira de Letras. Já Lima Barreto tivera seu ingresso negado à referida plêiade nas três vezes em que a ela se candidatou. Darão suporte teórico a este trabalho as reflexões de Bourdieu (1996), Jacomel (2008) e Muzart (1995) sobre as relações de poder e de afinidade para a formação do cânone; de Bombart (2014), Lathan (2009) e Victor Neto (2020) acerca do roman à clef; e de Schwarcz (2018) e Barbosa (1975) sobre a vida e obra de Lima Barreto. Referências: BARBOSA, Francisco de Assis. A vida de Lima Barreto. 1881-1922. São Paulo: Edusp, 1988. BARRETO, Lima. Recordações do Escrivão Isaias Caminha. São Paulo: Escala, 1999. BOMBART, Mathilde. Clés. In: ARON, Paul; SAINT-JACQUES, Denis; VIALA, Alain. Le Dictionnaire du Littéraire. Paris: Presses Universitaires de France, 2018. BOURDIEU, Pierre. As Regras da Arte : Gênese e Estrutura do Campo Literário. 1 ed. Trad. Maria Lúcia Machado. São Paulo. Companhia das Letras, 1996. JACOMEL, Mirele Carolina Werneque. Relações de Poder e a Literatura Brasileira. Revista Grifos , Chapecó, n. 25, p. 109121, Dez. 2008. Disponível em: https://bell.unochapeco.edu.br/revistas/index.php/grifos/article/view/658/421. Acesso em: 3 abr 2011. LATHAM, Sean. The Art of Scandal: Modernism, Libel Law, and the Roman à Clef. New York: Oxford University Press, 2009. MUZART, Zahidé Lupinacci. A questão do cânone. Anuário de Literatura , [S. l.], v. 3, n. 3, p. 85-93, 1995. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/literatura/article/view/5277. Acesso em: 2 abr 2022. SCHWARCZ, Lilia Moritz. Lima Barreto - triste visionário. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. VICTOR NETO, José. O roman à clef amazônico Chibé, de Raimundo Holanda Guimarães: anacronismo, poética da emulação e suas circunstâncias. 2020. 513 f. Tese (Doutorado em Letras) Instituto de Letras, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2020. CRÍTICA LITERÁRIA NO TERRITÓRIO FEDERAL DO AMAPÁ: PERSPECTIVA DE LITERATURA REGIONAL EM WALDEMIRO GOMES Francesco Marino, Raylane Maciel Benjo Resumo: A Crítica Literária é um dos elementos legitimadores da produção literária. No contexto do século XX, a crítica se estabeleceu nas colunas dos jornais, a esse movimento Ventura (2015) denominou Crítica Jornalística. No Território Federal do Amapá-TFA (1943-1988), os textos críticos circularam no jornal político intitulado jornal Amapá (1945-1968). Dentre as críticas identificadas no periódico, o presente estudo tem por objetivo apresentar e analisar a crítica realizada pelo escritor Waldemiro Gomes (1895-1982) ao poema Metamorfose de Cecília Meireles, no ano de 1966. Por ser resultado de uma investigação sobre a crítica jornalística, trata-se de um trabalho documental e qualitativo. Nesse sentido, aponta-se que para Waldemiro Gomes o poema Metamorfose excede no uso de aspectos simbolistas e, por isso, era incompreensível para os leitores. Segundo o crítico, a literatura adequada para a população amapaense eram os textos com aspectos regionais. Interpretada à luz de Nunes (2008) e Fernandes (2004) observa-se a defesa de uma literatura regional na crítica de Waldemiro. Além disso, ao se analisar o texto perpassando pelos estudos sobre a poética na Amazônia de Loureiro (2001) e pelos estudos de Caldas e Souza (2018) sobre a literatura no TFA, compreende-se na visão do crítico a pressuposição de um público leitor que, por identificação, selecionava os textos locais para sua leitura. Diante disso, notase na crítica jornalística de Waldemiro Gomes a preservação da percepção do literário vigente naquele contexto de circulação. Referências: CALDAS, Yurgel Pantoja; SOUZA, Manoel Azevedo de. O Jornal Amapá e a literatura amapaense: os anos entre 1945 e 1968. Letras Escreve, Macapá, V. 8, n. 3, p. 205-217, 2ºsem. 2018. FERNANDES, José Guilherme dos Santos. Literatura brasileira de expressão amazônica, literatura da Amazônia ou literatura amazônica? GRAPHOS-Revista da Pós-Graduação em Letras – UFPB, João Pessoa, V. 6. p. 111-116, 2004. LOUREIRO, João de Jesus Paes. Cultura Amazônica uma poética do imaginárioobras reunidas. São Paulo: Escrituras Editora, 2001. NUNES, Paulo. Literatura Paraense Existe? EscritoresAP, 2008. Disponível em: escritoresap.blogspot.com.br/2008/01/artigo-do-professor-paulonunes.html. Acesso em: 06 de agosto de 2021. VENTURA, Mauro Souza. A crítica e o campo do jornalismo: ruptura e continuidade. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2015. CASSANDRA RIOS: UM BEST-SELLER E UM LUGAR NÃO CANÔNICO Ingrid da Silva Marinho Resumo: As mulheres foram impulsionadas a emancipar-se no campo literário e a lançar questionamentos sobre os discursos hegemônicos, desnudando os processos de naturalização das diferenças de gênero e problematizando o cânone literário estabelecido. Nas Histórias Literárias, é pouco o espaço dado às mulheres. Dentre as autoras presentes, estão Julia Lopes de Almeida, Gilka Machado, Clarice Lispector, Raquel de Queiroz e Cecília Meireles; além da parnasiana Francisca Júlia, a quem é reservada uma página na obra de Alfredo Bosi. Entre esses nomes, não encontramos Cassandra Rios, uma das autoras mais lidas no Brasil, tornando-se popular entre os anos 50 e 70, sendo a primeira escritora brasileira a alcançar um milhão de exemplares vendidos, mantendo essa posição até os anos 90. Um bestseller! Os romances cassandrianos faz pensar sobre, as formas de representações estigmatizadas, a mulher como sujeito de si, do seu corpo e do seu prazer, invadindo um espaço falocêntrico e de controle sobre o corpo feminino. A partir das consultas feitas nos arquivos da Hemeroteca Digital, encontramos Cassandra Rios presente em constantes anúncios de jornais, a cada nova edição de um romance, na década de 70. Tendo isto em vista, buscou-se analisar como a autora era vista pela crítica, na época, e mesmo que tenha sido sucesso de vendas, ocupou um lugar não canônico. Cassandra Rios não está nas páginas da história literária nem tampouco ocupa um lugar no cânone. No entanto, colocou suas personagens femininas no lugar de sujeito e autoras de um desejo próprio, escrevendo por si só suas histórias. Referências: BOSI, Alfredo. História concisa da Literatura Brasileira. 47. ed. São Paulo: Cultrix, 2006. MUZART, Zahidé Lupinacci. Uma espiada na imprensa das mulheres no século XIX. Estudos Feministas. Florianópolis, v. 11, n. 1, p. 225-233, jan. – jun. 2003 SODRÉ, Nelson Werneck. História da literatura brasileira: seus fundamentos econômicos. 6. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1976. ZILBERMAN, Regina. Recepção e Leitura no Horizonte da Literatura. Alea. vol. 10, n. 1, p. 85-97, jan. – jun. 2008. ZINANI, Cecil Jeanine Albert; SANTOS, Salete Rosa Pezzi dos (Org.). Mulher e literatura: história, gênero e sexualidade. Caxias do Sul, RS: Educs, 2010. À SOMBRA DE ARTHUR CONAN DOYLE: ÉMILE GABORIAU EM TERRAS BRASILEIRAS Jeniffer Yara Jesus da Silva Resumo: Émile Gaboriau (1832 – 1873) é considerado um dos três autores que originaram a escrita do romance policial, o qual também foi inspiração para Sir Arthur Conan Doyle (1859 – 1930) na criação do seu personagem famoso, Sherlock Holmes. Porém, atualmente, o autor francês foi relegado ao esquecimento no mercado literário e nas prateleiras do público leitor, permanecendo à sombra do escritor inglês. Por conta disso, conhecer sua popularidade no século XIX faz-se significativa aos estudos literários por meio de pesquisas proveitosas quanto ao resgate de autores e de sua presença em locais longínquos de onde circularam suas produções. Nesse contexto, em terras brasileiras, houve a popularização de narrativas ficcionais em diferentes periódicos, originários da corte nacional ou de outras províncias, as quais foram consideradas como lugares inóspitos de cultura e práticas de leitura, mas que, por meio de diferentes pesquisas em fontes primárias, é possível contradizer tal acepção. Dessa forma, a partir das reflexões teóricas de Márcia Abreu (2003), Roger Chartier (1994) e Marlyse Meyer (1996), este trabalho investiga e apresenta a circulação e divulgação de Émile Gaboriau em periódicos brasileiros, principalmente paraenses, em publicações integrais e em anúncios elogiosos sobre sua escrita, a fim de inseri-lo em uma história do livro e da literatura a qual integra autores esquecidos ou desconhecidos pelo público leitor. Referências: ABREU, Márcia. A circulação transatlântica dos impressos: a globalização da cultura no século XIX. Livro–Revista do Núcleo de Estudos do Livro e da Edição, São Paulo, n. 1, p. 115-130, 2011. CHARTIER, Roger; DEL PRIORI, Mary. A ordem dos livros: leitores, autores e bibliotecas na Europa entre os séculos XIV e XVIII. Ed. UnB, 1999. FERNÁNDEZ, Virginie. La description des lieux de la fiction dans les romans policiers d'Émile Gaboriau. 2014. Tese de Doutorado. Universidad de Zaragoza. LITS, Marc. Le roman policier: introduction à la théorie et à l'histoire d'un genre littéraire. Editions du CEFAL, 1999. MEYER, Marlyse. Folhetim: uma história. Editora Companhia das Letras, 1996. PORTO, ANA. Gaboriau e o romance judiciário no Brasil. XXVII Simpósio Nacional de História. Natal, v. 22, p. 1-8. O APAGAMENTO DA AUTORIA FEMININA NO CÂNONE DOS CONTOS DE FADAS DA TRADIÇÃO Karen Cristina Schuler da Silva Resumo: A autoria dos contos de fadas da tradição é comumente associada a Perrault, irmãos Grimm e Andersen, nomes exclusivamente masculinos. Apesar disso, havia um grupo de mulheres que escreviam na mesma época que o primeiro, o mais antigo dos citados, na França do século XVII. Elas ficaram conhecidas como círculo das preciosas. Madame de Beaumont, a única mulher a se manter na autoria canônica pela versão mais clássica e difundida de “A Bela e a Fera”, era uma delas. A proposta dessa comunicação é problematizar o apagamento da autoria dessas mulheres no cânone do gênero. Nota-se que as preciosas escreveram muitos contos de fadas literários, no entanto, parecem terem sido mal interpretadas por seus contemporâneos, como sugere o título da peça de Molière, As preciosas ridículas. Buscar-se-á, então, problematizar o contexto histórico e social que levou a tal configuração, segundo os estudos de Joan DeJean (2005) que reflete sobre o papel de Perrault e das preciosas na querela entre antigos e modernos, somados aos de Roger Chartier (1999) acerca das tensões que envolvem o processo de escrita. Ao contrário do estereótipo propagado, as preciosas não se reuniam nos salões parisienses para superficialidades. Elas disseminavam arte e procuravam subverter a ordem social no que diz respeito às mulheres. Criavam heroínas fortes e guerreiras e, ao falarem em amor, para além de um ideal romântico e superficial, ressaltavam a luta para que seus casamentos não fossem arranjados por outrem. Assim, buscar-se-á revisitar o papel dessas mulheres como fomentadoras de cultura em sua época, de forma a lhes devolver o protagonismo que lhes cabe. Para tanto, adotar-se-á como embasamento teórico os estudos de Nelly Novaes Coelho (1991) e Marina Warmer (1999). Além de Paulo Rónai (1981) no que concerne a Molière e de Adolfo Hansen (2016) sobre o lugar do cânone na universidade. Referências: ARISTÓTELES. Sobre a arte poética. Tradução de Antônio Mattoso e Antônio Queirós Campos. Belo Horizonte: Autêntica, 2018. BEAUMONT, Madame de. A bela e a fera. Tradução de André Telles. Rio de Janeiro: Zahar, 2016. CHARTIER, Roger. A aventura do livro: do leitor ao navegador. São Paulo: Editora UNESP, 1999. COELHO, Nelly Novaes. Panorama histórico da literatura infantil/juvenil. São Paulo: Ática, 1991. DEJEAN, Joan. Antigos contra modernos: as guerras culturais e a construção de um fin de siècle. Tradução de Zaida Maldonado. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005. HANSEN, João Adolfo. Lugar do cânone e da crítica nos estudos literários da universidade hoje. In: LOPES, Dayana (org.). VI Seminário dos alunos da pós-graduação em letras da UERJ. Rio de Janeiro: Letras versos, 2016. GALVÃO, Walnice Nogueira. Metamorfoses da donzela-guerreira. In: Dialogia. v.1. Out./2002. p. 21-26. MOLIÈRE. Preciosas ridículas. Tradução de Sergio Flaksman. São Paulo: Peixoto Neto, 2007. PERRAULT, Charles. Contos. Tradução de Eliana Bueno-Ribeiro. São Paulo: Paulinas, 2016. REIS, Carlos. Pessoas de livro: Estudos sobre a personagem. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2018. RÓNAI, Paulo. O teatro de Molière. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1981. VILLENEUVE, Madame de. A bela e a fera. Trad. André Telles. Rio de Janeiro: Zahar, 2016. VENTURA, Susana; LESLIE, Cassia. Na companhia de Bela: contos de fadas por autoras dos séculos XVII e XVIII. Londrina: Folhear Livros, 2019. WARNER, Marina. Da Fera à Loira: sobre contos de fadas e seus narradores. Tradução de Thelma Médici Nóbrega. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. O PROCESSO DE (NÃO) CANONIZAÇÃO DE AUTORES DE ROMANCES HISTÓRICOS EM ALEMÃO: O CASO DE CARL FRANZ VAN DER VELDE (1779-1824) Larissa de Assumpção Resumo: O objetivo deste trabalho é refletir sobre a trajetória e o processo de não canonização do autor de expressão alemã Carl Franz van der Velde (1779-1824), que, apesar de ter publicado mais de 20 romances históricos, que receberam muitas edições, circularam em diferentes países e tiveram uma boa recepção por parte da crítica no século XIX, é pouco conhecido e estudado atualmente. Dessa forma, pretende-se contribuir para os estudos sobre as formas de canonização dos romances, que dependem intimamente das maneiras pelas quais eles são recebidos e apropriados por seus leitores (CHARTIER, 1994) e do papel que eles ocupam no circuito de difusão dos livros na sociedade (DARNTON, 1990). A análise da trajetória de van der Velde utiliza como corpus o levantamento das edições e traduções de seus romances encontradas em jornais e em catálogos de bibliotecas nacionais e internacionais, as críticas literárias publicadas nos jornais Leipziger Literaturzeitung (1800-1833) e Jenaische Allgemeine Literaturzeitung (1804-1841) e as notas escritas sobre ele em oito Histórias da Literatura Alemã publicadas entre 1835 e 1900. Ao longo da análise, três aspectos principais são considerados: quantas edições e traduções seus romances receberam no século XIX, como ocorreu a recepção de suas obras em jornais literários e qual a importância destinada a ele em Histórias da Literatura Alemã. Conclui-se que o exemplo de van der Velde é interessante por mostrar a complexidade envolvida no processo de (não) canonização de autores e obras no século XIX. Esse romancista, apesar de não ter recebido muito destaque nas Histórias da Literatura, publicou algumas obras de sucesso, que receberam mais de 700 edições ao longo do século XIX e que foram muito bem avaliadas em textos críticos publicados em periódicos, além de terem ocupado um local de destaque em bibliotecas públicas e particulares de diferentes países, como o Brasil. Referências: ABREU, Márcia (ed.). The transatlantic circulation of novels between Europe and Brazil (1789-1914). Cham: Palgrave Macmillan, 2017. ABREU, Márcia (org.). Trajetórias do romance: Circulação, leitura e escritas nos séculos XVIII e XIX. Campinas: Mercado de Letras, 2008. ASSUMPÇÃO, Larissa de; ABREU, Márcia. Nobres leitores: recepção de romances pela família imperial brasileira. Nau Literária, v. 17, n. 2, 4-29, 2021. ASSUMPÇÃO, Larissa de. "É boa leitura, mas para momentos de lazer": a leitura de romances de Walter Scott pelo imperador Pedro II. O Eixo e a Roda, v. 30, n. 4, 47-71, 2021. AUST, Hugo. 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A ideia aqui é compreender o conceito de memória na justificação de que nem sempre os feitos de um homem não condicionam ao sucesso. A base teórica utilizada para as discussões da pesquisa está alicerçada, principalmente, nas proposições de Assmann (2011), Gomes (2014), Lopes (1956), além de outras lincadas às questões de memória e cultura popular . Quanto ao método, trata-se de uma pesquisa dependente de fontes escritas, fazendo diálogo com os assentamentos dos teóricos ora citados. O trabalho buscou, na primeira parte, discutir o conceito de memória, para justificar que o “reconhecimento” de alguém não necessariamente depende de fatores determinados. Em seguida, apresentamos a trajetória do intelectual, e, por último, tentamos trazer a lume Antônio Lopes como arquivista de memória, ao passo que fizemos uma leitura de sua obra póstuma. Desse modo, verificamos que, embora Lopes da Cunha não tenha seu nome visto nas vitrines do cânone, ele tem sua memória e a memória do povo maranhense selada nos arquivos, por isso um arquivista de memórias culturais. Referências: ASSMANN, Aleida. Espaços da recordação: formas e transformações da memória cultural. Trad. Paulo Soethe. Campinas: Editora da Unicamp, 2011. GOMES, Clícia Adriana Abreu. A fabricação do folclore no Maranhão: Investimentos e interesses no contexto da Subcomissão Maranhense de Folclore. São Luis, 2014. Dissertação (Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais) -Universidade Federal do Maranhão. LOPES, Antônio. Presença do Romanceiro: versões maranhenses. Rio de Janeiro: Editôra Civilização Brasileira, 1956. MOSCA, Lineide do Lago Salvador (Org.). Retóricas de ontem e de hoje. 3. ed. São Paulo: Associação Editorial Humanitas, 2004. SELIGMANN-SILVA,Márcio. Sobre o anarquivamento: um encadeamento a partir de Walter Benjamin. Revista Poiésis, n. 24, p. 35-58, Dezembro de 2014. SENGER, Jules. A arte oratória. Trad. Carlos Ortiz. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1955. SOB A BÊNÇÃO DA PROPAGANDA: A REABILITAÇÃO DE DOSTOIÉVSKI E A ASCENSÃO DE LESKOV NA URSS Marina Fonseca Darmaros Resumo: Durante a União Soviética, o tratamento rendido a clássicos da literatura russa não era uniforme, e obras e autores que foram amplamente empregados como armas ideológicas nem sempre gozaram de um porto seguro durante a vigência do regime. Assim, em geral, o escritor Fiódor Dostoiévski (1821-1881) não é considerado como um dos clássicos a ter engrossado as fileiras dos literatos oficiais do marxismo soviético, já que era contrário aos métodos violentos da Revolução, pregava o cristianismo, era tsarista e se opunha ao ateísmo. O escritor nunca deixou, porém, de ser publicado no país, mas passou a ter sua obra cuidadosamente selecionada para publicação editorial para satisfazer às exigências da ideologia, seguindo a cartilha de transformação dos clássicos em “armas para a construção de um novo mundo”. Na contramão de um Dostoiévski renegado de tempos em tempos, outro escritor polêmico e considerado “reacionário” a sua época, seu contemporâneo Nikolai Semionovitch Leskov (1831-1895), teve a obra tão bem moldada para uso com fins de propaganda entre 1935 e 1956 que um jovem operário soviético chegou a lhe escrever uma carta em 1935 parabenizando pela criação de uma obra, crendo piamente ser o autor seu contemporâneo. Se as publicações de Leskov no primeiro quarto do século 20 podiam ser contadas nos dedos das mãos, foram justamente os esforços da propaganda soviética que renderam ao autor uma condição de “clássico” da qual ele não gozava anteriormente. Referências: Araújo, Francisco de. “Vontade de ferro, de Nicolai Leskov. Uma imagem da Alemanha na Rússia da segunda metade do século XIX”. São Paulo, 2015. Blium, Arlen. Ot Neolita do Glavlita. São Petersburgo: Izdatelstvo imeni N.I. Nôvikova, 2009. Bontch-Bruevitch, Vladímir. “Lenin o knigakh i pisateliakh”. Literaturnaia gazeta, 21 de abril de 1955, 48 edição. Geller, Mikhail Iakovlevitch. Istoria Rossiiskoi imperii v 3-kh tomakh. Vol. 1. Izdatelstvo MIK, 1997. Geller, Mikhaíl, e Aleksandr Nekritch. Utopia u vlasti: Istoria Rossii 1917-1995. Vol. 1. 2 vols. London: Overseas Interchange Ltd, 1982. Culture.ru. “Kto rugal Dostoievskogo?” Acessado 21 de abril de 2022. https://web.archive.org/web/20170325105738/http://www.culture.ru/materials/148869/kto-rugaldostoevskogo. Kucherskaya, Maya. “Comrade Leskov: how a Russian writer was integrated into the Soviet national myth”. 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Canções, sua principal obra, publicada em 1922, continua sendo um de seus únicos trabalhos conhecidos, especialmente por conta de sua temática homoerótica, que tanto causou polêmicas e deu notoriedade ao autor no momento de seu lançamento. Com o passar dos anos, o escritor sofreu um processo contínuo de apagamento, de modo que parcela considerável de sua produção permaneceu à margem da história literária portuguesa, sobretudo por desviar dos principais elementos que ficaram inscritos como pontos fundamentais de sua própria poética. Pode-se perceber que, a partir da década de 1940, sua poesia distanciou-se do homoerotismo e do esteticismo anteriores e atentou de forma mais intensa às problemáticas sociais, apresentando aspectos que permanecem sem a devida atenção da crítica especializada. Entre 1947 e 1959, o autor viveu no Brasil um exílio voluntário e publicou diversos textos literários em diferentes jornais e revistas do país, principalmente poesia e contos. Tal produção literária, dispersa na imprensa, continua praticamente desconhecida, apesar de terem sido publicadas em uma quantidade relativamente grande. Desse modo, estamos resgatando e analisando alguns dos poemas que foram publicados em periódicos brasileiros e que se mantém inéditos na obra conhecida do poeta. A reflexão acerca desse conjunto de textos permite compreender as transformações no estilo e na temática da escrita de António Botto, principalmente quando comparadas com seus primeiros trabalhos, assim como oferecer subsídios para repensar o seu lugar no cânone da literatura portuguesa, dado que estes textos não são levadas em consideração em sua trajetória. Referências: BATALHA, M.C. O que é uma literatura menor?. Cerrados, Brasília, n. 35, 2013, p. 113-134. Disponível em: < https://periodicos.unb.br/index.php/cerrados/article/view/14137> . Acesso em: 10 fev. 2022. BOTTO, A. Ainda não se escreveu. Lisboa: Edições Ática, 1959. BOTTO, A. Fátima – Poema do Mundo. Rio de Janeiro: Oficinas Gráficas do Jornal do Brasil, 1955. BOTTO, A. Poesia. Lisboa: Assírio & Alvim, 2018. KLOBUCKA, A. As homopaisagens brasileiras de António Botto. Iberic@l – Revue d’études ibériques et ibéro-américaines, Paris, n. 9, 2016, p. 89-102. Disponível em: < https://iberical.sorbonneuniversite.fr/wp-content/uploads/2016/05/Pages-from-Iberic@l-no9-printemps-2016-9.pdf >. Acesso em: 10 fev. 2022. MARQUES, R. M. Artimanha de Eros – Aspectos do erotismo e do esteticismo na poética de António Botto. 2013. 145f. Tese (Defesa de Doutorado apresentada ao Programa de PósGraduação em Estudos Literários) - Faculdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista, 2013. PITTA, E. Toda a ousadia será castigada. In: BOTTO, A. Poesia. Lisboa: Assírio & Alvim, 2018, p. 4-18. SALES, A. A. António Botto no Brasil. Disponível em: < https://estrolabio.blogs.sapo.pt/tag/ant%C3%B3nio+botto > (Acesso em: 01 mar. 2022). 2011. SENA, J. Estudos de Literatura Portuguesa – III. Lisboa: Edições 70, 1988. OS LIVROS DE JONAS Phelipe Fernandes de Oliveira Resumo: O poeta piauiense Jonas da Silva (1880-1947) produziu e publicou três obras: Amphoras, de 1900; Uhlanos, de 1902; e Czardas, de 1923, hoje quase inteiramente esquecidas. Geralmente associado ao simbolismo, mais particularmente ao grupo de B. Lopes, seus livros desafiam o esquematismo rígido das classificações epocais ao conciliar elementos românticos – do "locus amoenus" ao "locus horrendus" –, parnasianos – o preciosismo vernacular e a preferência pelo soneto – e decadistas – exotismo e apelo ao simbólico . Sua produção faz jus a um tempo de trânsito histórico-literário, tornando o artefato bibliográfico um espaço privilegiado para o arrazoamento de sincretismos genéricos e enlaces pictóricos. Nesse sentido, a relação entre os poemas e as imagens que os emolduram em Uhlanos e Czardas – livros sobre os quais nos deteremos – vão além da ilustração comezinha para infiltrar-se como artifício peritextual, que transborda as “margens de silêncio” da página em branco (Genette, 2009, p. 35-36). Por meio de um ecossistema de símbolos, paisagens, reminiscências, ruínas e cores, as páginas de Jonas da Silva nos conduzem a um passeio arqueológico, instigando-nos à pesquisa dos enunciados novecentistas e seu “espaço de correlações” (Foucault, 2012,p. 108). Nossa hipótese é que tais elementos somatizam a enunciação própria da poética simbolista, a evidência de uma “linguagem encarnada” (Lins, 2004, p. 492), isto é, proposta como efeito do simbólico no real, na carnadura deste objeto, o livro. Referências: FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. Tradução Luiz Felipe Baeta Neves. Rio de Janeiro: Forense universitária, 2012. GENETTE, Gérard. Paratextos editoriais. Tradução de Álvaro Faleiros. Cotia: Ateliê editorial, 2009. LINS, Vera. Livro simbolista, o livro a mais. In: SUSSEKIND, Flora & DIAS, Tânia (org.). A historiografia literária e as técnicas da escrita. Rio de Janeiro: Edições Casa de Rui Barbosa; Vieira e Lent, 2004, pp. 489-495. SILVA, Jonas da. Uhlanos. Rio de Janeiro: Leuzinger, 1902. ______. Czardas. Manaus: Revista Cá e Lá, 1923. JOÃO CLÍMACO LOBATO E O SILÊNCIO SOBRE O ESCRITOR MARANHENSE Renato Kerly Marques Silva Resumo: João Clímaco Lobato (1829-1897) é o autor de A Cigana Brasileira, de 1853, considerado o primeiro romance da literatura maranhense e oitavo da brasileira (MORAIS FILHO, 1975). Entre os romancistas brasileiros, o escritor teria sido precedido apenas por Teixeira de Sousa e Joaquim Manuel de Macedo. Filho de um desembargador, João Clímaco Lobato formou-se em Direito pela Faculdade do Recife, exercendo cargos da magistratura em diferentes cidades das províncias do Maranhão, Pará e Recife, paralelamente também atuou como professor, jornalista e editor em periódicos de São Luís e Recife. Além de romances, escreveu peças teatrais e poesias. Ainda hoje, o maior registro sobre ele foi realizado por Sacramento Blake, no terceiro volume do Dicionário Bibliográfico Brasileiro (1895). Além das informações do Dicionário de Blake, nos arquivos da Biblioteca Nacional podemos ter acesso a informações sobre seus últimos anos de vida no Rio de Janeiro; peças de sua autoria que foram representadas; e romances que ele publicou em folhetins na cidade de São Luís: O Cego d'Ipojuca (1857), O Rancho do Pai Thomé (1862), Mistérios da Villa de São Bento (1862). Apesar do Capital Social (BOURDIEU, 1998) relacionado à sua atuação pública, que poderia ter sido mobilizado para constituí-lo como um escritor renomado, Lobato foi esquecido, inclusive entre os maranhenses. Por entender o processo de consagração de escritores como um movimento operado em diversas instâncias de legitimação (ABREU, 2004), relacionadas com a relação entre escritores, editores e instituições como academias de letras e universidades, esta comunicação analisa como elementos da trajetória e da obra de João Clímaco Lobato podem ter concorrido para o esquecimento do escritor. Referências: ABREU, Márcia. Os caminhos dos Livros. Campinas: Mercado de Letras, 2004. BLAKE, Augusto Victorino Alves Sacramento. Dicionário Bibliográfico Brasileiro. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1895. BOURDIEU, Pierre. As regras da arte: gênese e estrutura do Campo Literário. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. BOURDIEU, Pierre. O Capital Social - Notas Provisórias. In: Escritos de educação. Petrópolis: Vozes, 1998. MORAIS FILHO, Nascimento. Maria Firmina dos Reis: fragmentos de uma vida. São Luís: SIOGE, 1975. UM RESGATE SOBRE A PRODUÇÃO ESQUECIDA DE SYLVIA SERAFIM THIBAU, ASSASSINA DE NELSON RODRIGUES Sergio Schargel Maia de Menezes Resumo: Sylvia Serafim Thibau, poetisa e jornalista, filha de um auxiliar de Oswaldo Cruz, frequente na alta sociedade carioca, invadiu a redação do jornal dos Rodrigues, A Crítica, e assassinou Roberto Rodrigues com um tiro na barriga. Um jovem Nelson Rodrigues estava na redação e presenciou o assassinato de seu irmão, um trauma que o marcaria por toda a sua vida. Sylvia foi presa em flagrante e julgada em um grande espetáculo midiático, o primeiro julgamento a ser transmitido pelo rádio. No processo, sua produção jornalística e poética foi esquecida e apagada da História. O problema de pesquisa desta comunicação pode ser sintetizado ante a seguinte pergunta: sobre o que se dobrava o material poético de Sylvia Serafim, quais eram os seus argumentos, sobre o que escrevia e qual a sua relevância (inclusive contemporânea)? O principal propósito desta pesquisa é promover um resgate sobre a produção jornalística e poética esquecida de Sylvia Serafim, visando, no processo, apontar sua relevância intelectual, jornalística, política e historiográfica. Dado a limitação de tempo e escopo de uma comunicação, será feito aqui uma análise em profundidade de dois de seus materiais: o artigo A mulher na literatura, publicado em 1929 no jornal Gazeta de S.Paulo, e o ensaio poético Será tarde, publicado em seu livro Fios de prata, symphonia da dor. Por meio da discussão sobre esses dois materiais, será possível não quebrar o cânone, mas questioná-lo sobre a exclusão de uma autora que, ainda que reconhecida como assassina, foi quase por completo esquecida como literata e jornalista. Além disso, permite também contribuir para a formação de uma fortuna crítica sobre uma autora desconhecida cuja produção revela tópicos maduros para a década de 1920, com temas como trabalho intelectual feminino, literatura feminina e participação política feminina. Referências: A CRÍTICA. Como classificar uma mãe que desmancha seu lar para escrever contos nos jornaes? Rio de Janeiro, n. 554, 1930. Disponível em http://memoria.bn.br/pdf/372382/per372382_1930_00554.pdf. Acesso em 29 jul. 2021. A CRÍTICA. Entra hoje em juízo nesta capital um rumoroso pedido de desquite! Rio de Janeiro, n. 346, 1929. Disponível em http://memoria.bn.br/DocReader/372382/2636. Acesso em 18 jul. 2021. A CRÍTICA. Um ultraje á família brasileira. Rio de Janeiro, n. 557, 1930. Disponível em http://memoria.bn.br/DocReader/372382/4204. Acesso em 29 jul. 2021. CASTRO, R. O anjo pornográfico. São Paulo: Companhia Das Letras, 1992. FIGUEIREDO, V. L. F. de. Narrativas migrantes: literatura, roteiro e cinema. Rio de Janeiro: Editora PUCRio, 2010. GILBERT, S. M.; GUBAR, S. The madwoman in the attic: the woman writer and the nineteenthcentury literary imagination. New Haven: Yale University, 2000. LINHA Direta. A primeira tragédia de Nelson Rodrigues. Rio de Janeiro: Rede Globo, 7 de junho, 2007. Programa de TV. LISBÔA, C. Sylvia não sabe dançar: pulp fiction de costumes. São Paulo: Mercúryo, 2008. SERAFIM, S. A mulher na literatura. A Gazeta, S.Paulo, 29 nov. 1929. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=763900&pesq=%22petite%20source%22&pasta= ano%20192&hf=memoria.bn.br&pagfis=30663. Acesso em: 16 abr. 2022. SERAFIM, S. Fios de prata, symphonia da dor. Rio de Janeiro: Officinas Graphicas Alba, 1930. A PEQUENA CIDADE DE ANTOFÁGICA E A MANUTENÇÃO DO CÂNONE Vitoria Ferreira Doretto Resumo: Antofágica é uma editora que ficcionaliza a existência de uma cidade de mesmo nome — assim, todos os personagens dos livros que são publicados são cidadãos dessa cidade, com sua própria Gazeta Antofagense, cartões-postais e políticas. Entretanto, mais do que criar este pacto de suspensão da descrença com os consumidores, a editora Antofágica tem uma ambição clara: reapresentar o que considera “obras fundamentais da literatura” e, como disposto em seu site, viabilizar “uma experiência de leitura prazerosa com edições ilustradas por artistas contemporâneos, interpretações visuais que enriquecem a história, traduções diretas dos idiomas originais e textos complementares de vozes relevantes em diversas áreas” — neste caso, influenciadores digitais ou especialistas —, que “atualizam a leitura” dessas obras com roupagem que instiga o interesse do público jovem em edições que alimentam a adoração e o fetichismo pelo livro como objeto (CHIEREGATTI, 2018; MANGUEL, 1997). Neste contexto, este trabalho se propõe a analisar o catálogo da editora Antofágica e as publicações relacionadas em seu blog e nas edições da Gazeta Antofagense para identificar como a editora acrescenta mais uma camada de valor simbólico (nos termos de Bourdieu (1996; 2018) e Thompson (2013; 2021)) a essas obras que já participam do panteão literário e conjuga a estabilidade dos clássicos publicados aos interesses dos leitores jovens, seu público-alvo. Referências: BOURDIEU, Pierre. As regras da arte: Gênese e estrutura do campo literário. Tradução de Maria Lucia Machado. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. BOURDIEU, Pierre. Uma revolução conservadora da edição. Política & Sociedade, v. 17, n. 39, 2018. DOI: doi.org/10.5007/21757984.2017v17n39p198. CHIEREGATTI, Amanda. Mídium e gestão dos espaços canônico e associado nas plataformas colaborativas Wattpad e Widbook. 2018. 241 f. Dissertação (Mestrado em Linguística) Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2018. MANGUEL, Alberto. Uma história da leitura. Tradução de Pedro Maia Soares. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. THOMPSON, John B. Mercadores de cultura. Tradução de Alzira Allegro. São Paulo: Editora Unesp, 2013. THOMPSON, John B. As Guerras do Livro – A revolução digital no mundo editorial. Tradução de Fernando Santos. São Paulo: Editora Unesp, 2021. PARA ALÉM DE CRÔNICA DA CASA ASSASSINADA: A LITERATURA À DERIVA DE LÚCIO CARDOSO Wanessa Reis Filgueiras Resumo: Lúcio Cardoso foi um autor brasileiro nascido em Minas Gerais, tendo algumas publicações em periódicos no início da década de 30. Seu romance de estreia foi Maleita (1934), contudo, apenas em 1959, o que é considerada sua obra-prima, foi lançada: Crônica da casa assassinada. Entre 1934, com seu livro de estreia, e 1959, com o lançamento de sua obra mais aclamada, Lúcio Cardoso ainda publicou 12 obras, entre elas uma coletânea de poemas, mas nenhuma outra alcançou o sucesso da Crônica da casa assassinada. Apesar de ser contemporâneo de Clarice Lispector, e amigo próximo da autora, Cardoso não obteve a mesma visibilidade que a escritora ou outros tiveram. A que isso se deu? Por que a falta de visibilidade, análises, estudos e afins em relação à obra do autor? O autor pode ser considerado cânone? Quem define o que é ou não cânone? Seria Cardoso um autor à margem do epicentro literário que estipula autores e obras canônicas? Para que tal análise se estabeleça, precisaremos dispor de algumas teorias sobre o que é centro e o que é periferia, e para isso, utilizaremos as ideias de Affonso Romano de Sant’Anna, com sua coletânea de ensaios Redefinindo centro e Periferia (2017), Literatura e exclusão (2017), organizado por Laeticia Eble e Regina Dalcastagnè e Literaturas e periferias (2019), organizado por Regina Dalcastagnè e Lúcia Tennina. Ademais, apresentaremos e abordaremos, brevemente, outra obra de Lúcio Cardoso, além de Crônica da casa assinada. A luz no subsolo (1936). Referências: Cardoso, Lúcio. Crônica da casa assassinada, 13° ed. - Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2013 Cardoso, Lúcio. A luz no subsoolo,3° ed. - Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003 Dalcastagnè e Tennina (orgs.) - Literatura e periferias, Porto Alegre, RS: ZOUK, 2019. Sant'Anna, Affonso, Redefinindo centro e literatura, São Paulo, Editora UNESP, 2017. Elbe e Dalcastagnè (orgs.) - Literatura e exclusão, Porto Alegre, RS: ZOUK, 2017. OSMAN LINS E A BUSCA DAS ÍNDIAS: GUERRA SEM TESTEMUNHAS (O ESCRITOR, SUA CONDIÇÃO E A REALIDADE SOCIAL) Wesley Moreira de Andrade Resumo: 'Guerra sem testemunhas (O Escritor, Sua Condição e a Realidade Social)', escrito por Osman Lins e publicado em 1969, apresenta um panorama completo do processo de escrita de uma obra literária. A crítica especializada identificou duas abordagens diferentes neste livro: uma delas, confessional, na qual o escritor pernambucano compartilha suas crenças a respeito da literatura e do ofício do escritor, e uma abordagem polêmica em que ele esmiúça com sinceridade e coragem o processo moroso que envolve a publicação de um livro, a relação com os editores, a recepção da crítica, o esforço do escritor em manter a si próprio e a sua produção ficcional em evidência, entre outras questões importantes. Osman Lins é conhecido por ser um defensor da valorização do escritor e ele também nutria semelhante zelo pelo tratamento dado aos seus livros lançados no mercado editorial. Apesar do reconhecimento de romances como 'O fiel e a pedra' e 'Avalovara' e de narrativas curtas como 'Os gestos' e 'Nove, Novena', da boa vendagem de suas obras e das numerosas traduções em outros países, o seu nome permanece pouco lembrado em um cânone nacional da literatura do século XX (mesmo que sua ficção mostre-se pródiga em experimentações formais e estéticas que garantiriam sua presença ao lado de prosadores notórios como Guimarães Rosa e Clarice Lispector). Com esta comunicação, pretendemos fazer uma análise mais detida de 'Guerra sem testemunhas' - o trabalho ensaístico de maior vulto de Osman Lins - para evidenciar a paixão e a luta incansável de um escritor em meio a um contexto nacional refratário à leitura e às manifestações artísticas em geral, que tende a negligenciar e obliterar seus maiores talentos. Referências: ANDRADE, Ana Luiza. Osman Lins: Crítica e Criação. São Paulo: HUCITEC, 1987. BARTHES, Roland. O rumor da língua. Prefácio de Leyla Perrone-Moisés. Tradução de Mário Laranjeira. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004. (Coleção Roland Barthes) BLANCHOT, Maurice. O livro por vir. Tradução de Leyla Perrone-Moisés. São Paulo: Martins Fontes, 2005. (Tópicos) GOMES, Inara. A arte poética de Osman Lins. In: FERREIRA, Ermelinda (org.). Vitral ao sol: ensaios sobre o a obra de Osman Lins. Recife: Editora Universitária da UFPE, 2004. (p. 87 – 99) IGEL, Regina. Osman Lins: uma biografia literária. São Paulo: T. A. Queiroz; [Brasília, DF] : INL, 1988. (Biblioteca de letras e ciências humanas. Série 1., Estudos brasileiros ; v. 4) LINS, Osman. Guerra sem testemunhas (O Escritor, sua Condição e a Realidade Social). São Paulo: Livraria Martins Editora, 1969. LINS, Osman. Marinheiro de primeira viagem. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1963. LINS, Osman; BORBA FILHO, Hermilo. Osman Lins & Hermilo Borba Filho: correspondência (1965 a 1976). Organização, notas e prefácio Anco Márcio Tenório Vieira. Recife: Cepe, 2019. (E-book) NITRINI, Sandra. Transfigurações: ensaios sobre a obra de Osman Lins. São Paulo: Hucitec: Fapesp, 2010. PEREIRA, E. R. A biblioteca de Osman Lins no IEB/USP e na Fundação Casa de Rui Barbosa. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, [S. l.], n. 66, p. 86-107, 2017. DOI: 10.11606/issn.2316901x.v0i66p86-107. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/rieb/article/view/133108. Acesso em: 12 abr. 2021. RAMOS, Darcy Attanasio Taboada. Potencialidades do ensaio: convergências poéticas e conceituais (Guerra sem testemunhas, de Osman Lins). 2015. Tese (Doutorado em Teoria Literária e Literatura Comparada) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015. doi:10.11606/T.8.2015.tde-05082015-162445. Acesso em: 2021-03-24. RIBEIRO, Renata Rocha. A interpenetração romance-ensaio em A rainha dos cárceres da Grécia e Guerra sem testemunhas. In: FARIA, Zênia de; FERREIRA, Ermelinda (Orgs.). Osman Lins – 85 anos: a harmonia de imponderáveis. Recife: Editora Universitária da UFPE, 2009. (p. 209 – 226) A ESCRITA DE LÚCIA MIGUEL PEREIRA: ANÁLISE DO NEGRO NA LITERATURA INFANTIL Yanne Maira Silva Resumo: Lúcia Miguel Pereira é crítica literária, biógrafa, romancista, tradutora e autora de livros infantis. No entanto, a sua escrita ficcional é de pouco conhecimento e pode ser considerada não canonizada. Lúcia escreveu os romances Maria Luísa (1933), Em Surdina (1933), Amanhecer (1938) e Cabra-Cega (1954). Na sua escrita para adultos, a autora denuncia a batalha da mulher na conquista de sua liberdade. Em relação a sua ficção, a estudiosa literária também escreveu os livros infantis Na Floresta Mágica, Maria e Seus Bonecos, A Filha do Rio Verde e A Fada Menina entre 1939 e 1943 que também possui pouca visibilidade e estudos. Embora tenha sido escritora das obras citadas, Lúcia tem a sua escrita ficcional pouco conhecida e é mais reconhecida como biógrafa e crítica literária. Nessa perspectiva, o objetivo deste texto é apresentar a Lúcia Miguel Pereira como escritora de romances e textos infantis, bem como uma apresentar uma análise da representação do negro nas obras infantis. A pesquisa encontra-se em fase inicial, mas é possível perceber em diversas situações narrativas que Lúcia constrói representações do negro de forma inferiorizada aos demais personagens, como é o caso do Saci Pererê. No entanto, é necessário mostrar a autora como denunciadora de toda a história dos negros. Em vista disso, é necessário que historiadores, críticos, sociólogos, entre outros profissionais, colaborem na pesquisa, reforçando a crítica sobre a escrita dessa autora, argumenta Almeida (2010). Para esse fim, a pesquisa de caráter bibliográfico utiliza como referencial teórico-crítico textos de Luís Bueno, Nelly Novaes Coelho, Edwirgens A. Ribeiro Lopes de Almeida, Antonio Candido e, especialmente, obras de Lúcia Miguel Pereira. Referências: ALMEIDA, Edwirgens A. Ribeiro Lopes de. O legado ficcional de Lúcia Miguel Pereira- escritos da tradição. Florianópolis: Editora Mulheres, 2011. BUENO, Luís. Uma história do romance de 30. São Paulo: Edusp; Campinas: Editora Unicamp, 2006. CANDIDO, Antonio. Lúcia. In: O albatroz e o chinês. Rio de Janeiro: Ouro sobre azul, 2004. pp. 127-132. COELHO, Nelly Novaes. A literatura feminina no Brasil Das origens medievais ao século XX. In: DUARTE, Constância, DUARTE, Eduardo de Assis, BEZERRA, Kátia. (Orgs.) Mulher e literatura: I - Gênero e representação. Teoria, história e crítica. Belo Horizonte: UFMG, 2002. PEREIRA, Lúcia Miguel. A Fada menina. Porto Alegre: Edição da livraria do Globo, 1939. WALTER TEVIS E O ROMANCE NÃO CANONIZADO THE QUEEN'S GAMBIT (1983) NA LITERATURA AMERICANA CONTEMPORÂNEA Yuri Jivago Amorim Caribé Resumo: Este trabalho teve como objetivo analisar o romance The Queen’s Gambit (1983) do escritor americano Walter Tevis (1928-1984), considerando que foi esquecido do cânone de obras da Literatura americana contemporânea. Recentemente uma adaptação homônima – a minissérie The Queen’s Gambit (O Gambito da Rainha, 2020), criada e dirigida por Scott Frank e Alan Scott para a plataforma de streaming NetFlix – gerou debates em torno da obra de Tevis – composta de outros cinco romances e mais vinte e sete contos publicados entre os anos de 1954 e 1984 – e trazendo esse escritor para o cenário literário contemporâneo. Nesse romance temos Beth Harmon, uma jogadora de xadrez que enfrenta desafios em um esporte à época (décadas de 1950 e 1960) quase que exclusivamente masculino. Assim, trabalharemos com algumas críticas ao processo de formação de um cânone de autores contemporâneos da Literatura americana, conforme os trabalhos de Clayton (1993) e O’Donell (2010). Por fim, cabe dizer que a série foi premiada com um Emmy e assistida em pelo menos sessenta e três países e o romance foi elogiado por jornalistas como Nancy Wartik (The New York Times, 2020), e também por escritores e críticos de literatura como Sarah Miller (The New Yorker, 2020) e Laura Fernández (Jornal El País, 2021) sob diversos aspectos. Além disso, foi reeditado, traduzido em várias línguas (inclusive no Brasil com tradução feita por Ivanir Calado) e tornou-se um best-seller. Esses dados nos levam a considerar que a minissérie The Queen’s Gambit promoveu um debate com questões atuais, aproximando o leitor contemporâneo do romance de Tevis, o que justifica sua inclusão no cânone da Literatura americana contemporânea Referências: CLAYTON, Jay. The Pleasures of Babel: Contemporary American Literature and Theory. Nova Iorque: Oxford University Press, 1993. O’DONELL, Patrick. The American Novel Now: Reading Contemporary American Fiction Since 1980. Malden (E.U.A.): Wiley-Blackwell, 2010. TEVIS, Walter. The Queen’s Gambit. Nova Iorque: Random House Publishing, 1983. THE QUEEN’S GAMBIT (O Gambito da Rainha). Minissérie criada e dirigida por Scott Frank e Alan Scott, NetFlix, 2020. SIMPÓSIO “EPISTEMOLOGIA DO ROMANCE: DIÁLOGOS E INTERAÇÕES NA CONSTRUÇÃO DE SABERES COMUNS” Ana Paula Aparecida Caixeta (UnB), Itamar Rodrigues Paulino (UFOPA), Maria Veralice Barroso (UnB) EPISTEMOLOGIA DO ROMANCE: ENCONTROS TEÓRICOS Ana Paula Aparecida Caixeta Resumo: Sob a égide de uma teoria em construção, a Epistemologia do romance se vale do comparatismo como parte da escolha de seus instrumentos teóricos, estabelecendo encontros importantes entre conhecimentos disciplinares e caminhos epistemológicos. Baseada na primazia de que o objeto romanesco é espaço de conhecimento, sua discussão nasce do anseio em trazer a Estética, disciplina filosófica, como ponto de articulação entre intuição e sensibilidade, tal como revela Kant (2015), ora direcionada aos interesses racionais das escolhas subjetivas da criação estética bem como dos efeitos de sentidos gerados pela recepção. Ciente dos conflitos epistemológicos que o trânsito da razão ao conhecimento sensível revela, a teoria da Epistemologia do romance parece ocupar-se de um lugar necessário de discussão no âmbito da pesquisa em Literatura, uma vez se valer de alguns conceitos de natureza filosófica para aproximar-se da feitura da obra como objeto carregado de competência epistemológica a respeito do ser em sua condição no mundo. Por esta razão, a presente comunicação pretende mostrar quais as possibilidades atuais da Epistemologia do romance enquanto teoria de natureza interdisciplinar, uma vez que está sustentada por saberes filosóficos, teórico-artísticos e teóricoliterários, possibilitando aquilo que venha a ser encontros teóricos reveladores de possibilidades para se pensar o objeto artístico, ampliando-se o espaço romanesco. Acredita-se que, com essa discussão, a teoria da ER possa ser dialogada com outras áreas de conhecimento cujo interesse está na pesquisa em Arte, seja ela literária ou visual, por exemplo. Referências: BARROSO, W; BARROSO, M. V. Estudos Epistemológicos do romance. Brasília: Verbena Editora, 2018. KANT, I. Crítica da razão pura. Trad. Fernando Mattos. Petrópolis, RJ: Vozes; Bragança Paulista, SP: Editora Universitária São Francisco, 2015. A BUSCA PELA BELEZA DISCURSIVA DAS COISAS NOS REALIRISMOS LUSÓFONOS Gabriel Franklin Resumo: Este trabalho tem por objetivo apresentar o conceito de realirismo: uma construção estéticoliterária híbrida entre o realismo da prosa e o lirismo da poesia. Para tanto, primeiramente, parte-se da noção de “punctum”, elaborada por Roland Barthes em “A câmara clara”, para, aplicando-a à literatura, dar conta do impacto que o contato com o real, no âmbito do imaginário, causa nos indivíduos, bem como o vazio que parece ficar após o estabelecimento da relação estética ficcional. Depois, passa-se a discorrer sobre o realirismo propriamente dito, apontando que este mostra-se como uma forma particular de, não fugindo ao “punctum” proveniente da representação ficcional da realidade, tentar preencher o furo deixado pela angústia da modernidade que se reflete e se manifesta na arte. Dessa forma, e levando-se em conta que a literatura, nos dizeres de Cristovão Tezza em “O espírito da prosa”, é uma aproximação densa e silenciosa entre duas pessoas num terreno que outra linguagem não seria capaz de percorrer, defende-se que a atividade literária realirista é um avizinhar-se do outro pautado no uso conjunto de elementos das linguagens prosaica e poética, numa forma triplamente simples, cautelosa e gentil. Por fim, apresentam-se quatro exemplos de realirismos no âmbito da literatura lusófona, com os romances “O peso do pássaro morto”, da brasileira Aline Bei; “Terra sonâmbula”, do moçambicano Mia Couto; “As doenças do Brasil”, do português Valter Hugo Mãe; e “Levantado do chão”, do também português José Saramago. Identificam-se, então, os elementos realiristas em comum apontados ao longo do estudo, bem como destaca-se as particularidades que cada romance traz na busca pela beleza discursiva das coisas. Referências: BARTHES, Roland. A câmara clara: nota sobre a fotografia. Tradução de Júlio Castañon Guimarães. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. BEI, Aline. O peso do pássaro morto. São Paulo: Editora Nós, 2017. COUTO, Mia. Terra sonâmbula. São Paulo: Companhia das Letras, 2016. MÃE, Valter Hugo. As doenças do Brasil. Rio de Janeiro: Biblioteca Azul, 2021. SARAMAGO, José. Levantado do chão. São Paulo: Companhia das Letras, 2020. TEZZA, Cristovao. O espírito da prosa: uma autobiografia literária. Rio de Janeiro: Record, 2012. A (DES)ILUSÃO DA PERSONAGEM DE ROMANCES FUNDADORES: DOM QUIXOTE E EMMA BOVARY Gabriela Cristina Borborema Bozzo Resumo: A intertextualidade, hodiernamente, abarca um significado de horizonte muito mais profundo do que aquele possivelmente pretendido por Julia Kristeva ao cunhar o termo com base em Problemas da Poética de Dostoiévski, de Mikhail Bakhtin, em 1969, ano em que publicou o original em francês de Introdução à Semanálise, na tentativa – bem sucedida – de difundir o trabalho do autor russo da França. Assim, pode-se afirmar, simplificadamente, que a intertextualidade figura a relação entre dois ou mais textos que pode ser estabelecida, no caso, por meio da alusão. Além disso, a hipertextualidade proposta por Gérard Genette entra em voga no presente artigo, uma vez que, para nós, não existe Madame Bovary, de Gustave Flaubert, sem Dom Quixote, de Miguel de Cervantes, romances que compõem nosso corpus. Objetivamos, assim, averiguar esse caso de intertextualidade: duas protagonistas (des)iludidas cujos romances de que fazem parte são fundadores – Dom Quixote do romance moderno e Madame Bovary do romance Realista moderno – de uma nova era na literatura, trazendo críticas às formas anteriores – novelas de cavalaria e romances do Romantismo, respectivamente. Assim, nossa baliza teórica é composta pelos autores e obras Antonio Candido em “A personagem do romance”, Gentil de Faria em Estudos de Literatura Comparada, Genette em Palimpsestos, Laurent Jenny em “A estratégia da forma”, Julia Kristeva em Introdução à Semanálise, Maria Adélia Menegazzo em “Madame Bovary e o realismo moderno de Flaubert” e José Montero Reguera em “Miguel de Cervantes e o Quixote: de como surge o romance”. Referências: CANDIDO, Antonio. A personagem do romance. In: CANDIDO, Antonio.; ROSENFELD, Anatol.; PRADO, Décio de Almeida.; GOMES, Paulo Emílio Salles. A personagem de ficção. São Paulo: Perspectiva, 2014. CERVANTES, Miguel de. Dom Quixote. Trad. Ernani Ssó. São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2012. FARIA, Gentil de. Estudos de Literatura Comparada. Curitiba: Appris, 2019 (E-book). FLAUBERT, Gustave. Madame Bovary. Trad. Mário Laranjeira. São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2011. GENETTE, Gérard. Palimpsestos. Belo Horizonte: Edições Viva Voz, 2010. JENNY, Laurent. A estratégia da forma. In: JENNY, Laurent. et al. Intertextualidades. Trad. Clara Crabbé Rocha. Coimbra: Livraria Almedina, 1979. KRISTEVA, Julia. Introdução à Semanálise. Trad. Lucia Helena França Ferraz. São Paulo: Perspectiva, 2005. MENEGAZZO, Maria Adélia. Madame Bovary e o realismo moderno de Flaubert. Lettres Françaises. n. 8, v. 1, Araraquara: UNESP, 2007. REGUERA, José Montero. Miguel de Cervantes e o Quixote: de como surge o romance. In: VIEIRA, M. A. C. Dom Quixote: a Letra e os Caminhos. São Paulo: Edusp, 2006. ENTRE RIOS E MATAS DA AMAZÔNIA: CENÁRIOS EPISTEMOLÓGICOS DO ROMANCE DE INGLEZ DE SOUZA Itamar Rodrigues Paulino Resumo: Há na Amazônia diversas literaturas sobre a vida na floresta que precisam ser resgatadas e levadas ao ambiente acadêmico, científico e político para que sirvam de referência nas discussões contemporâneas sobre a realidade da vida efervescente entre rios e florestas. A Amazônia é tema recorrente nas discussões globais sobre mudanças climáticas, preservação do meio ambiente, desenvolvimento sustentado já que essa região dos trópicos úmidos está naturalmente atrelada à biodiversidade global. Neste sentido, propomos trazer ao debate as particularidades amazônidas a partir da perspectiva de um escritor nascido no entreposto de Belém e Manaus, na cidade de Óbidos, Marcos Herculano Inglez de Souza. Interessa-nos resgatar a trilogia romanesca deste escritor para analisar as formas de representação amazônida em voga nas últimas décadas do século XIX, considerando no enredo proposto por Souza o ambiente natural, a realidade social e a diversidade sociocultural local, arquitetado a partir de linguagens próprias da região, com experimentações estéticas que articulam texto e contexto, para demonstrar um pensamento possível sobre a existência humana, a partir do eixo epistemológico Cenas culturais da Vida Amazônica e assim provocar reflexões sensíveis na humanidade. Os romances de Inglez de Souza que compõe o seu grande empreendimento literário de produzir uma trilogia são História de um Pescador (1876), O Cacaulista (1876), O Coronel Sangrado (1877), que o próprio escritor nomeou de Cenas da Vida Amazônica. Sem o compromisso de apresentar tratados científicos da vida cotidiana na Amazônia, Souza teceu formas estéticas sérias e lúdicas sobre o contexto histórico e cultural da floresta, explicitando um universo diversificado de culturas em processo de hibridização e evidência a efervescência da vida na Amazônia. Referências: BARRETO, Mauro Vianna. O romance da Vida Amazônica. Uma leitura Socioantropológica da Obra de Inglês de Souza. São Paulo. Letras à margem. 2003. PAULINO, Itamar. R. Entre les remous de l’imaginaire et les houles du réel : un regard sur la littérature amazonienne brésilienne dans la contemporanéité. Em OLIVIERI-GODET, Rita (org.). Cartographies littèraires du Brèsil actuel. 1ª ed. Vol. 14 Bruxelles: Peterlang, 2016. SOUZA, Herculano Marcos Inglês de. O Coronel Sangrado. Coleção Cenas da Vida do Amazonas [1877]. Belém, UFPA, 1968. _____. O Missionário [1891]. Universidade da Amazônia – UNAMA, Manaus. Disponível em domínio público: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua00128a.pdf _____. História de um Pescador [1877]. Belém: EDUFPA, 2007. O JOGO FICCIONAL ENTRE O LITERÁRIO E O JURÍDICO: UMA ANÁLISE DO ROMANCE O CONTO DA AIA Ivânia Campigotto Aquino, Tiago Miguel Stieven Resumo: A temática proposta para o trabalho é a análise da representação ficcional da distopia na obra O conto da aia da escritora canadense Margaret Atwood, publicado em 1985 e traduzido, no Brasil, em 2017, por Ana Deiró. Proceder-se-á à análise do romance com enfoque na aproximação da Literatura com o Direito, evidenciando como os fenômenos e os conceitos jurídicos contribuem para a construção do cenário distópico retratado na obra. As distopias estão intimamente arraigadas ao nosso modo de viver e, por mais que se constituam em uma forma de entretenimento, ficção ou fruição estética, elas fazem emergir verdades sociais que até então estavam ocultas. Nessa acepção, a distopia instiga o leitor a repensar valores, contribuindo, sobremaneira, para o desenvolvimento do pensamento crítico. Nesse sentido, o romance em questão remonta à construção literária na qual os padrões simbólicos da sociedade como comunidade ética e jurídica são anulados para serem feitos e reconstituídos à luz do novo paradigma que acaba por utilizar do Direito, na sociedade descrita na obra, como recurso de opressão social. Assim, a atualidade do romance em questão reside no fato de que o mesmo pode ser compreendido como um “conto informativo” para os perigos do fundamentalismo e das violações de direitos. Além do que a ficção assume lugar de destaque, eis que se torna um elemento fundamental na criação literária por ser um instrumento que permite a formação de espaços para debate sobre a realidade. A ficção não apenas espelha o real, mas também fornece os meios necessários para que o leitor possa compreendê-lo, entendê-lo e interpretá-lo. Por fim, a partir da análise do romance O conto da aia, resta claro que, por meio da utilização da narrativa literária, é possível apreender aquilo que as narrativas jurídicas, na maioria das vezes, não conseguem revelar. Referências: ATWOOD, Margaret. O Conto da Aia. Tradução de Ana Deiró. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2017. DODSWORTH, Alexey. Distopia atual é achar que o autoritarismo é normal, diz escritor de ficção científica. Revista do Brasil – Rede Brasil Atual, São Paulo, Edição 133, out. 2017. Disponível em: <https://www.redebrasilatual.com.br/revistas/2017/10/a-distopia-segundo-o-escritor-alexeydodsworth/>. Acesso em: 26 abr. 2022. FEDERICI, Silvia. Calibã e a bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva. Tradução Coletivo ycorax. Editora Elefante, 2004. GODOY, Arnaldo Sampaio de Moraes. Direito e Literatura: ensaio de síntese teórica. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2008. ISER, Wolfgang. O Fictício e o Imaginário. Perspectivas de uma antropologia literária. Rio de Janeiro: EdUERJ, 1996. LLANOS, Leonor Suárez. Literatura do direito: entre a ciência jurídica e a crítica literária. Anamorphosis – Revista Internacional de Direito e Literatura, Porto Alegre, v. 3, n. 2, p. 349-386, jan. 2018. Disponível em: <http://rdl.org.br/seer/index.php/anamps/article/view/320>. Acesso em: 26 abr. 2022. VARSAM, Maria. Concrete Dystopia: Slavery and Its Others. In: BACCOLINI, Raffaella; MOYLAN, Tom (orgs.). Dark Horizons: Science Fiction and the Dystopian Imagination. New York: Routledge, 2003. WATT Ian. A ascensão do romance. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. CAROLA SAAVEDRA ROMANCISTA-ENSAÍSTA: O ESGARÇAMENTO DO ROMANCE E REFLEXÃO DO LITERÁRIO Jakeline Prazeres de Assis Resumo: Como definir um romance que se propõe, nas suas camadas, refletir o próprio processo de criação literária? Como definir um ensaio que ficcionaliza para apresentar um ponto de vista? Até que ponto o romance é ensaísta ou até que ponto o ensaio é ficcional? O presente trabalho analisa a perspectiva ensaística dos quatro primeiros romances da escritora Carola Saavedra e pensa, a partir disso, as possibilidades do literário, do romance e do ensaio dentro de um quadro sincrônico, em que as obras são reflexo do próprio contexto histórico em que são publicadas - a ensaificação de tudo -, mas também dentro de uma visão diacrônica, em que as obras são inseridas em uma tradição experimental cervantina. Aqui comprova-se a hipótese de que os romances de Carola Saavedra são ensaísticos por natureza e se lançam ao desconhecido futuro como atemporais. Partindo de uma reflexão teórica sobre o romance e o ensaio, analisa-se os limites da produção romanesca e até que ponto ela é ensaística - no tocante tanto em relação às ideias quanto em relação às formas como essas ideias se materializam (partindo da concepção de ideia e corpo de Spinoza). Para isso, foram levados em consideração teóricos como Adorno, Lukács, Max Bense, Roland Barthes, José Ortega e Gasset, Gadamer, Florença Garramuño, entre outros que refletem sobre a forma do romance, do ensaio e dos aspectos contemporâneos da literatura . O processo saavedriano de criação literária é um terreno fértil, arado e semeado com várias sementes de espécies diferentes, mas que pretendem abraçar o mesmo objeto de estudo: a reflexão literária, a reflexão do literário e a construção do romance como um processo experimental e reflexivo na busca da melhor forma de materializar, dar corpo a uma ideia. Referências: ABRALIC-Rio. Entrevistas – Carola Saavedra. Youtube, 2016. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=WDF5QCk1eco&t=199s. Acesso em: 28/08/2018. ADORNO, Theodor. O ensaio como forma. In: Notas de literatura I. São Paulo: Duas Cidades, 2003. BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e Filosofia da Linguagem. 12a Edição. UCITEC 9, 2006. BARRENTO, João. O gênero intranquilo: anatomia do ensaio e do fragmento. Lisboa: Assírio & Alrim, 2010. BARTHES, Roland. A morte do autor. In: BARTHES, Roland. O Rumor da língua. São Paulo: Martins Fontes, 2004. BENSE, Max. O ensaio e sua prosa. In: PIRES, Paulo Roberto (Org.). Doze ensaios sobre o ensaio: antologia serrote. São Paulo: IMS, 2018. CALVINO, Ítalo. Seis propostas para o próximo milênio. São Paulo: Companhia das letras, 1999. CAVALCANTI, Augusto de Guimarães. Do ensaio ao romance: Roland Barthes e A preparação do romance. In: Revista terceira margem. v. 24. n. 43. UFRJ, 2020. COMPANHIA DAS LETRAS. Booktrailer “O inventário das coisas ausentes”, de Carola Saavedea. Youtube, 08/04/2014. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=bEMbofOi8EM. Acesso em 06/01/2022. ELIOT, T. S. Tradição e talento individual. In: _______Ensaios. São Paulo: Art Editora, 1989. pp. 37-48. FACCIOLI, Luiz Paulo. Efeito purpurina. In: Jornal Rascunho. no 93, 2008. pp.6. GADAMER, Hans-Georg. 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São Paulo: Companhia das Letras,2010. _____________. O inventário das coisas ausentes. São Paulo: Companhia das Letras, 2014. SPINOZA, Benedictus de. Ética. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2009. STAROBINSKI, Jean. É possível definir o ensaio? In: PIRES, Paulo Roberto (Org.). Doze ensaios sobre o ensaio: antologia serrote. São Paulo: IMS, 2018. TV SENADO. Leituras - Carola Saavedra. Youtube, 24/04/2014. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=EikJNc45oJQ. Acesso em: 06/01/2022. WAMPOLE, Christy. A ensaificação de tudo. In: PIRES, Paulo Roberto (Org.). Doze ensaios sobre o ensaio: antologia serrote. São Paulo: IMS, 2018. DESLOCAR AS FRONTEIRAS DO ROMANCE: LLANSOL E O "TEXTO-ESQUIZO" Leonel Isac Maduro Velloso Resumo: Esta comunicação tem por objetivo ler a primeira trilogia "romanesca" de Maria Gabriela Llansol, Geografia de rebeldes, em diálogo com os trabalhos esquizoanalíticos de Gilles Deleuze e Félix Guattari. Conforme Maria Gabriela Llansol (2000), quem lê, assim como quem escreve, deve-se deixar, em parte, “fulgorizar”, isto é, um “[...] processo de deslocação de fronteiras[...]” (LLANSOL, 2000, p. 215), rente à psicose, sempre confrontada, por norma, a “[...]reações histéricas e a mecanismos de denegação.” (LLANSOL, 2000, p. 215). Logo, em tal escrita, defrontamo-nos com o que chamaremos com Gilles Deleuze e Felix Guattari (2020), de “texto-esquizo”, ou melhor, um texto "desterritorializado" por um devir esquizo, produtor, muitas vezes, de “resistências” em parte dos leitores. Todavia, para outros, os “legentes”, aqueles, parafraseando novamente Llansol, possuidores do desejo e da bondade de lhe fazer companhia, o texto convoca a conhecer uma geografia de escrita que não avança por desenvolvimentos “[...]temáticos, nem por enredo[...]” (LLANSOL, 1998, p. 130); inserindo-se fora da “escrita representativa” (LLANSOL, 1998, p.130), oferecendo, contudo, uma “[...]unidade, mesmo que aparentemente não lógica[...]” (LLANSOL, 1998, p. 130). Conforme a abertura da figura "A. Borges", em "O livro das comunidades" - primeiro livro da trilogia referenciada acima, tal escrita se apresenta fora de qualquer lógica reprodutiva ou seriada vinculada a “[...]acontecimentos de poder[...]” (LLANSOL, 2017, p. 11 e 12). Referências: BARRENTO, João. O Futuro é uma origem. In: http://espacollansol.blogspot.com/2014/12/ofuturo-e-uma-origemconferenciasobre.html, acessado em 22/09/2021. DELEUZE, Gilles. Crítica e clínica. São Paulo: Editora 34, 2011. FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas. São Paulo: Martins Fontes, 2016. GUATTARI, Félix; DELEUZE, Gilles. Mil platôs 1. São Paulo: Editora 34, 2011. _____________. O Antiédipo. São Paulo: Editora 34, 2020. LLANSOL, Maria Gabriela. Depois de os pregos na erva. Porto: Afrontamento, s/d. _____________. Lisboaleipzig 1. Lisboa: Edições Rolim, s/d. _____________. O livro das comunidades. Porto: Porto Editora, 2017. ____________. Onde vais, Drama-Poesia?. Lisboa: Relógio D’água, 2000. _____________. O sonho de que temos a linguagem. In: Revista Colóquio Letras, Lisboa, nº 143/144, 1997. ____________. O senhor de Herbais. Lisboa: Relógio D’Água, 2002. ____________. O pregos na erva. Lisboa: Edições Rolim, s/d. ____________. Um falcão no punho. Lisboa, Relógio D’Água, 1998. LOPES, Silvina Rodrigues. Teoria da des-possessão. Lisboa: Averno, 2013. MOURÃO, Luís. Um romance de impoder. Braga-Coimbra: Angelus Novus, 1996. SEIXO, Maria Alzira. A palavra do romance. Lisboa: Livros Horizonte, 1986. ABIONAN E EXU SE ENCONTRAM NO MEIO DO CAMINHO: O DESDOBRAMENTO DO ROMANCE EM TRILOGIA, EM ANTONIO OLINTO Luís Henrique da Silva Novais Resumo: Este trabalho tem a série literária Alma da África, de Antonio Olinto, como objeto e investiga os mecanismos que operam uma exigência interna da linguagem narrativa, responsáveis por promover o desdobramento do romance olintiano em trilogia. Destaca-se, nesse contexto, a operação da dobra (DELEUZE, 1991), elemento importante na formalização da dinâmica expansiva, presente em diversos níveis estruturais dos romances e, por isso, percebida como traço geral, atuante ao longo de todo o conjunto de obras. Buscou-se, seguindo a trilha indicada por Pereira (2017) e Sodré (2017), aproximação teórico-crítica entre a operação da dobra e elementos específicos da mitologia e da cultura iorubá, fortemente presentes na trilogia. Foi investigado o modo como se estrutura a relação entre os três romances, partindo da função desempenhada pelo segundo livro, O rei de Keto. Com isso, considerando particularmente as conexões entre a protagonista Abionan e o Orixá Exu (PRANDI, 2020) (VERGER, 2018), identificou-se uma economia narrativa pautada pelos princípios de ambivalência, repetição, impureza e expansão responsáveis, entre outras coisas, pela afirmação de certa experiência existencial relativa à visão de mundo africana e iorubá. Esse fundamento vital, que a linguagem narrativa olintiana carrega – e que as figuras de Exu e de Abionan condensam especialmente – é a mesma força expansiva que se manifesta nos dobramentos operantes em vários níveis estruturais, responsáveis por gerar efeitos de sentido específicos dentro da trilogia. Tal força é verificada, por exemplo, na sintaxe da frase, onde a opção pela vírgula, em vez do ponto final, demanda continuidade; mas também na ampla sintaxe da trilogia, na qual sobretudo o segundo livro se comporta como romance-vírgula, abrindo espaço para a expansão da própria forma romanesca. Essa energia leva, assim, à expansão, ao transbordamento da linguagem narrativa olintiana, que avança sobre alguns limites formais. Referências: DELEUZE, Gilles. A dobra: Leibniz e o barroco. Tradução de Luiz B. L. Orlandi. 3. ed. Campinas: Papirus Editora, 2005. OLINTO, Antonio. A casa da água. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007a. 392 p. Trilogia Alma da África, v. 1. OLINTO, Antonio. O rei de Keto. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007b. 350 p. Trilogia Alma da África, v. 2. OLINTO, Antonio. Trono de vidro. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007c. 406 p. Trilogia Alma da África, v. 3. PEREIRA, Edimilson de Almeida. Entre orfe(x)u e exunouveau. Rio de Janeiro: Azougue Editorial, 2017. PRANDI, Reginaldo. Mitologia dos orixás. São Paulo: Companhia das Letras, 2020. SODRÉ, Muniz. Pensar nagô. Petrópolis: Editora Vozes, 2017. VERGER, Pierre. Orixás: Deuses Iorubás na África e no Novo Mundo. 5. ed. Salvador: Corrupio, 2018. A QUEM IMPORTA A COR DO LEITOR(A)? OS EFEITOS DA LITERATURA DE HORROR DE AUTORIA NEGRA FEMININA Margarete de Carvalho Santos Resumo: Considerando os estudos literários que abordam o(a) leitor(a) e os efeitos estéticos do texto na experiência de leitura, pensados por autores como Gumbrecht (2014) e Iser (2013), volto meu olhar para a identidade do(a) leitor(a) e proponho pensarmos até que ponto ela provoca nos(as) autores(as) fenômenos na escrita ou movimentos teóricos literários. Importa a(o) escritor(a) saber a cor do leitor(a) e estabelecer algum tipo de vínculo com ele/ela? Para isso, abordaremos a experiência estética propostas nas obras de horror, cientes de que o que se espera da literatura de horror é provocar medo, entretanto, as sensações provocadas pela produção literária de autoria negra feminina, que atravessam nossos corpos de leitora(o)s negra(o)s, podem ser traduzidas como algo muito além do sentimento de pânico. As reações psíquicas e corporais podem perpassar pelo asco à tortura, mas também por um processo de expurgação daquilo que o racismo calou em nós, a dor da desumanização. A teoria literária desenvolvida pela afro-americana Kinitra Brooks (2018), denominada sankofanarração, nos mostra que a literatura de horror produzida por autoras negras na diáspora está para além do enfoque de traumas colonizatórios. Para Brooks (2018) a produção dessas autoras tem como proposta pensar caminhos de cura psíquica de traumas de origem colonizatória. Enquanto leitora negra, exponho meu corpo e minha psique a fim de experimentar a tese de Kinitra Brooks frente à produção literária e fílmica de horror de diferentes autorias. A proposta dessa comunicação é expor como a intervenção artística de horror pode ser terapêutica ou traumática para o corpo negro que faz o jogo do texto, a depender da importância dada a esse corpo representado na narrativa. Referências: BROOKS, Kinitra. et al. Speculative sankofarration: haunting black women in contemporary horror fiction. In: DSpace/Manakin Repository, The University of Alabama, http://ir.ua.edu/handle/123456789/6281 Acessado em setembro de 2020. BROOKS, Kinitra. Searching for Sycorax: Black Women's Hauntings of Contemporary Horror. USA: Rutger University Press, 2018. BUTLER, Octavia. Kindred: Laços de sangue. Tradução Carolina Caires Coelho. São Paulo: Editora Morro Branco, 2017. Kindred. COMPAGNON, Antoine. O leitor. In: O demônio da teoria. Trad. Cleonice Paes Barreto Mourão e Consuelo Fortes Santiago. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2012. CORRA.Direção: Jordan Peel. Produção de Jason Blum et al. EUA: Universal Pictures, 2017. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=k1-uQyZfr00 Acessado em 01/2018. CURUPIRA: O DEMÔNIO DA FLORESTA. Diretor: Erlanes Duarte. Produção de Guilbert Macedo et al. Brasil: Raça Ruim filmes, Lengo Studius, Guarnicê Produções, 2021. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=RRhPRrCuMGo Acessado em 04/2022. GUMBRECHT, Hans Ulrich. Atmosfera, ambiência, Stimmung: sobre um potencial oculto da literatura. Tradução Ana Isabel Soares. 1. ed. Rio de Janeiro: Contraponto: Editora PUC Rio, 2014. ISER, Wolfgang. O fictício e o imaginário. In: ROCHA, João. (org.) Teoria da ficção. Indagações à obra de Wolfgang. Trad. Bruna Vila. EdUERJ: Rio de Janeiro, 2013. MORRISON, Toni. Amada. Trad. José Rubens. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. SONTANG, Susan. Diante da dor dos outros. Trad. Rubens Figueredo. São Paulo: Companhia das Letra, 2003. A EXPERIÊNCIA IDÍLICA COMPREENDIDA A PARTIR DAS VOZES DOS NARRADORES DO ROMANCE A BRINCADEIRA DE MILAN KUNDERA Maria Veralice Barroso Resumo: Resumo: Dentro e fora dos romances, a escrita de Milan Kundera é interligada pela noção de idílio. No romance intitulado A brincadeira, ele parte da experimentação do idílio enquanto condição existencial que se prolonga na vida pública e privada das personagens. Conduzida pelas vozes de quatro narradores que se intercalam, a trama se constitui a partir de pontos de vista distintos e particulares, cuja junção garante uma percepção do idílio enquanto condição humana e universal, devendo ser pensado aqui, portanto, por meio não necessariamente de apropriações de correntes ou sistemas filosóficos preexistentes, mas através do gesto filosófico do leitor-pesquisador. Imbuída então do gesto filosófico da pesquisadora da obra kunderiana, a presente comunicação tem por objetivo pensar a experiência idílica como um fio condutor e orientador da construção dos “egos experimentais” que compõem o projeto estético literário de Milan Kundera. O espaço de observações e reflexões será a obra que inaugura sua carreira de escritor de romances: A brincadeira. Reivindicando a teoria da Epistemologia do romance como campo dialogal no processo de leitura e análise da obra, no decorrer das reflexões conceitos tais como os de leitor-pesquisador, gesto filosófico, romance que pensa, efeito estético, ego experimental, narrador filosófico e estética, serão retomados e, por vezes, desdobrados. As perspectivas do riso e do erotismo serão também acionadas na medida em que perpassam a obra não só por serem compreendidos, tal como o idílio, atributos humanos, mas prioritariamente por se tratarem de escolhas estéticas importantes na destronação do idílio, cuja realização garante à estética de Milan Kundera um distanciamento daquilo que se apresenta como o incômodo maior do escritor no âmbito da produção artística: o kitsch. Referências: BAUMGARTEN, Alexandre G. Estética- a lógica da arte e do poema .Trad. Mirian Sutter Medeiros. Petrópolis, RJ: Vozes, 1993. COUTINHO, Eduardo F. e CARVALHAL, Tania Franco ( Orgs) Literatura Comparada; Textos fundadores. RJ: Rocco, 2011. HAN, Byung-Chul. A salvação do belo. Trad. Gabriel Salvi Philipson – Petrópolis, RJ: Vozes, 2019. KANT, Immanuel. A estética transcendental. In. Crítica da razão pura. Trad. Fernando Costa Mattos. Petrópolis, RJ: Vozes; Bragança Paulista, SP: Editora Universitária São Francisco, 2015. ______________. Crítica da faculdade do Juízo. Trad. Valério Rohden e António marques. RJ: Forense Universitária, 2012. KUNDERA, Mian. A brincadeira . Trad. Teresa Bulhôes Carvalho da Fonseca e Anna Lucia Mojen de Andrada - RJ: Nova Fronteira, 1986. ESCULPIR, PINTAR E (DE)FORMAR: A CRIAÇÃO EM CLARICE LISPECTOR Mariângela Alonso Resumo: Desde os tempos mais remotos a metáfora da criação desperta grande curiosidade e continua a alimentar grandes polêmicas nos campos religioso, filosófico, científico e literário. O crítico francês George Steiner deixou contribuições que ampliam esse debate, abrindo uma importante linha de interpretação ao buscar respostas para o sentido da origem do mundo. Em Gramáticas da criação (2003), Steiner parte do impasse ancestral questionando com a filosofia de Leibniz o que teria induzido o aparecimento da matéria orgânica e da vida. O estudioso aborda as diversas concepções do sentido da criação, considerando que o campo semântico do termo utilizado nas narrativas míticas e religiosas acaba por determinar os modos de se compreender a criação articulada da poesia e de hipóteses filosóficas. A partir dessas formulações, discutiremos a temática cosmogônica em algumas passagens da trajetória artística de Clarice Lispector com as narrativas de O lustre (1946) e Água viva (1973), além de duas pinturas realizadas pela autora, Interior de Gruta (1960) e Gruta (1975). A metáfora da criação constitui uma das linhas de força da obra clariciana. Sua escrita não deixa de registrar os impulsos e os anseios do ato criador e sua expressão. Nas obras mencionadas, a metáfora da criação surge ancorada à ideia de origem como imperfeição ou falha, imagem que recolhe o turbilhão originário da vida e do texto, presente ao mesmo tempo na caracterização dos personagens, bem como na própria experiência da escrita. Assim, buscamos investigar a metáfora da criação nas referidas produções, a partir dos estudos de George Steiner (2003), Roland Barthes (2007) e Benedito Nunes (1995). Referências: BARTHES, Roland. Literatura e metalinguagem. In: BARTHES, Roland. Crítica e verdade. Tradução Leyla Perrone-Moisés. São Paulo: Perspectiva, 2007. HELENA, Lúcia. Nomeação, criação e linguagem em A hora da estrela, de Clarice Lispector: reflexões sobre o lugar de Deus no paradigma da linguagem. Revista Soletras, n. 26, 2013. p. 170-179. IANNACE, Ricardo. Minha Clarice: dos retratos. In: ALENCAR, Sávio; COUTINHO, Fernanda. Visões de Clarice Lispector: ensaios, entrevistas, leituras. Fortaleza: Imprensa Universitária, Universidade Federal do Ceará, 2020. p. 218-223. LISPECTOR, Clarice. Água viva. Rio de Janeiro: Rocco, 1980. ______. O lustre. Rio de Janeiro: Rocco, 1999. STEINER, George. O poeta e o silêncio. In: STEINER, George. Linguagem e silêncio: ensaios sobre a crise da palavra. Tradução Gilda Stuart e Felipe Rajabally. São Paulo: Companhia das Letras, 1988. p. 55-74. ______. Gramáticas da criação. Tradução Sérgio Alcides. São Paulo: Editora Globo, 2003. NUNES, Benedito. O drama da linguagem: uma leitura de Clarice Lispector. São Paulo: Ática, 1995. ______. Passagem para o poético. São Paulo: Ática, 1992. O AMOR DA GLÓRIA COMO POSSIBILIDADE DA EXISTÊNCIA HUMANA EM MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS Nariella Alves Pereira de França Resumo: O presente trabalho propõe um diálogo entre reflexões do livro A Arte do Romance, do escritor Milan Kundera e a obra Memórias Póstumas de Brás Cubas ,de Machado de Assis. Partindo da abordagem trazida por Kundera que afirma que o romance é um gênero literário que examina a existência e as possibilidades do ser humano, procura-se estabelecer uma reflexão entre essa perspectiva do romance com uma característica possível de ser observada em alguns personagens da obra Machadiana:O amor da glória pública,a sede de nomeada ,conforme define o narrador Brás Cubas.Brás Cubas, ,ao narrar as suas memórias ,expõe ao leitor esse desejo em boa parte dos personagens ;esses personagens desejam ser sujeitos de grande reconhecimento social ;ele próprio queria ser deputado e afirma que a verdadeira causa de sua morte foi a ideia do emplasto que lhe traria a glória desejada. Milan Kundera afirma que todos os temas que permeiam a existência humana foram demonstrados e explorados no romance e que o romance descobriu,por sua conta e raciocínio próprio , os muitos e diferentes aspectos ligados a existência . O amor da glória pública é uma questão que faz parte da existência do ser humano e que o romance tem liberdade para explorar.Aborda também o conceito de beleza no romance apresentados por Ariano Suassuna no livro Iniciação á Estética,visto que Kundera diz que os aspectos da existência descobertos pelo romance são descobertos como beleza. Referências: SUASSUNA, Ariano . Iniciação à Estética .Rio de Janeiro:José Olympio Ltda,2005. ASSIS,Machado.Memórias Póstumas de Brás Cubas.São Paulo:Klick Editora,1999. KUNDERA,Milan.A Arte do Romance.Editora Nova Fronteira. OBSERVATÓRIO LITERÁRIO DE ELIANE BRUM: O ROMANCE UMA/DUAS CONDUZIDO PELO CONJUNTO DE OBRA Nathália Coelho da Silva Resumo: Este trabalho tem como intuito apresentar apontamentos de pesquisa desenvolvida no Doutorado em que elaboro um percurso de entendimento estético para o romance Uma/Duas (2011) da jornalista e escritora Eliane Brum. Na tese, intitulo-o de Estética dos Contrários. A ideia é demonstrar como a narrativa romanesca trabalha uma possibilidade de conhecimento sobre a condição humana, evidenciada pela reflexão do gesto de tensionamento entre a tentativa e a impossibilidade do homem de se arrancar da própria condição. Tal tensionamento é a engrenagem dos contrários. Penso essa questão no romance por meio de três situações: é possível que a palavra arranque do corpo o conflito? É possível que uma filha se arranque da mãe? É possível que um ser humano se arranque da morte? Tais proposições são elaboradas pela observância dos elementos estéticos internos ao romance face ao diálogo reconstitutivo do observatório literário de Uma/Duas, no intuito de buscar possíveis vestígios históricos e estéticos no trabalho jornalístico da autora que podem ter motivado a sua única criação ficcional romanesca, além das suas intenções de pensar sobre o humano. Por fim, vale ressaltar que a pesquisa foi feita sob a ótica teórica da Epistemologia do Romance e utilizou como proposta metodológica o sério ludere. Referências: ARENDT, H. A condição humana. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2007. BARROSO, M. V. e BARROSO, W. Estudos epistemológicos do romance. Brasília: Verbena Editora, 2018. BEAUVOIR, S. O segundo sexo. Fatos e Mitos. volume 1. Tradução de Sérgio Milliet. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2016. BEAUVOIR, S. O segundo sexo. A experiência vivida. volume 2. Tradução de Sérgio Milliet. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2016. BRUM, E. Uma/Duas. São Paulo: Leya, 2011. CAIXETA, A. P. A., BARROSO, M. V. e BARROSO, W. Verbetes da Epistemologia do Romance – Volume 1. Brasília: Verbena Editora, 2019. EAGLETON, T. Teoria da Literatura – uma introdução. São Paulo: Martins Fontes, 2006. FOUCAULT, M. Vigiar e punir nascimento da prisão. Tradução de Raquel Ramalhete. 42 ed. Petrópolis-RJ: Vozes, 2014. FOUCAULT, M. Microfísica do poder. Tradução de Roberto Machado. São Paulo: Graal, 1979. FOUCAULT, M. História da sexualidade I: vontade de saber. Tradução de Maria Thereza da Costa Albuquerque e J. A. Guilhon Albuquerque. Rio de Janeiro: Graal, 1999. VORAGEM COMO ESCOLHA ESTÉTICA EM UMA DUAS, DE ELAINE BRUM Neila da Silva de Souza Resumo: Ao fazer um percurso pelo conjunto de obras de Eliane Brum, percebemos que o termo voragem faz parte de escolhas estéticas da autora, e se trata de uma expressão que faz todo um sentido ontológico para Brum. Partindo desse pressuposto, para a Epistemologia do Romance, na intencionalidade estética, não há ingenuidade ou coincidências nem para o jogo do escritor nem para o jogo leitor, já que são possíveis reações que as escolhas estéticas querem provocar. Assim, em Uma Duas (2011), Eliane Brum usa da intencionalidade estética que coloca em evidência suas estratégias do jogo com o leitor, uma vez que, no capítulo vinte e dois do romance, o signo voragem aparece no decurso da narrativa isolado na página. Constatamos, então, que não há títulos na estrutura da narrativa, e, por se tratar de prosa e não de poema, a palavra quebra a estrutura narrativa, deixando o leitor no vácuo, provocando lacunas as quais precisam ser preenchidas. Partimos, desse modo, da proposição de que o termo voragem é uma escolha estética da autora, há um porquê de a disposição da palavra estar no centro da página. Nesse sentido, baseado na teoria Epistemologia do romance, partimos da mediação de que o termo voragem é o que fundamenta o romance Uma Duas. Referências: CAIXETA, Ana Paula Aparecida; BARROSO, Maria Veralice; BARROSO FILHO, Wilton. (Org.). Verbetes da Epistemologia do Romance. 1ed. Brasília: Verbena, 2019. BRUM, Eliane. Uma Duas. São Paulo: Leya, 2011. BARROSO, M. V. e BARROSO, W. Estudos epistemológicos do romance. Brasília: Verbena Editora, 2018. O JOGO FICCIONAL ENTRE O LITERÁRIO E O JURÍDICO: UMA ANÁLISE DO ROMANCE O CONTO DA AIA Ivânia Campigotto Aquino, Tiago Miguel Stieven Resumo: A temática proposta para o trabalho é a análise da representação ficcional da distopia na obra O conto da aia da escritora canadense Margaret Atwood, publicado em 1985 e traduzido, no Brasil, em 2017, por Ana Deiró. Proceder-se-á à análise do romance com enfoque na aproximação da Literatura com o Direito, evidenciando como os fenômenos e os conceitos jurídicos contribuem para a construção do cenário distópico retratado na obra. As distopias estão intimamente arraigadas ao nosso modo de viver e, por mais que se constituam em uma forma de entretenimento, ficção ou fruição estética, elas fazem emergir verdades sociais que até então estavam ocultas. Nessa acepção, a distopia instiga o leitor a repensar valores, contribuindo, sobremaneira, para o desenvolvimento do pensamento crítico. Nesse sentido, o romance em questão remonta à construção literária na qual os padrões simbólicos da sociedade como comunidade ética e jurídica são anulados para serem feitos e reconstituídos à luz do novo paradigma que acaba por utilizar do Direito, na sociedade descrita na obra, como recurso de opressão social. Assim, a atualidade do romance em questão reside no fato de que o mesmo pode ser compreendido como um “conto informativo” para os perigos do fundamentalismo e das violações de direitos. Além do que a ficção assume lugar de destaque, eis que se torna um elemento fundamental na criação literária por ser um instrumento que permite a formação de espaços para debate sobre a realidade. A ficção não apenas espelha o real, mas também fornece os meios necessários para que o leitor possa compreendê-lo, entendê-lo e interpretá-lo. Por fim, a partir da análise do romance O conto da aia, resta claro que, por meio da utilização da narrativa literária, é possível apreender aquilo que as narrativas jurídicas, na maioria das vezes, não conseguem revelar. Referências: ATWOOD, Margaret. O Conto da Aia. Tradução de Ana Deiró. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2017. DODSWORTH, Alexey. Distopia atual é achar que o autoritarismo é normal, diz escritor de ficção científica. Revista do Brasil – Rede Brasil Atual, São Paulo, Edição 133, out. 2017. Disponível em: <https://www.redebrasilatual.com.br/revistas/2017/10/a-distopia-segundo-o-escritor-alexeydodsworth/>. Acesso em: 26 abr. 2022. FEDERICI, Silvia. Calibã e a bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva. Tradução Coletivo ycorax. Editora Elefante, 2004. GODOY, Arnaldo Sampaio de Moraes. Direito e Literatura: ensaio de síntese teórica. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2008. ISER, Wolfgang. O Fictício e o Imaginário. Perspectivas de uma antropologia literária. Rio de Janeiro: EdUERJ, 1996. LLANOS, Leonor Suárez. Literatura do direito: entre a ciência jurídica e a crítica literária. Anamorphosis – Revista Internacional de Direito e Literatura, Porto Alegre, v. 3, n. 2, p. 349-386, jan. 2018. Disponível em: <http://rdl.org.br/seer/index.php/anamps/article/view/320>. Acesso em: 26 abr. 2022. VARSAM, Maria. Concrete Dystopia: Slavery and Its Others. In: BACCOLINI, Raffaella; MOYLAN, Tom (orgs.). Dark Horizons: Science Fiction and the Dystopian Imagination. New York: Routledge, 2003. WATT Ian. A ascensão do romance. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. SIMPÓSIO “ESTUDOS RETÓRICOS E POÉTICOS” Marcus De Martini (UFSM), Jean Pierre Chauvin (USP), Marcelo Lachat (UNIFESP) ENCOBRIMENTO DO OUTRO EM DOCUMENTOS DO SÉCULO XVII-XVIII: DIABOS E INFERNOS Amanda Mimoso Rodrigues Coelho, Cristina Mascarenhas da Silva Resumo: O objetivo desta comunicação é discutir o “encobrimento do outro” (DUSSEL, 1993), que aborda a dominação cultural como a terceira etapa para a colonização, sendo as duas primeiras: a conquista e o povoamento. Por sua vez, a dominação cultural é uma etapa com menos violência física, mas que almeja empregar os hábitos, as burocracias institucionais, a literatura, a música, tentando apagar, dessa maneira, a cultura dos conquistados. Para tanto, servirão como exemplo os documentos Vida do Venerável Padre Ioseph Anchieta da Companhia de Iesv, Taumaturgo do Novo Mundo, na Prouincia do Brasil, do padre jesuíta Simão de Vasconcelos, 1672, que foi inspirada nos autos da canonização de Anchieta; e o Manuscrito 42 da Biblioteca Mário de Andrade O Diário do Embaixador (1752-1755), uma obra coletiva sobre o embaixador designado pela Coroa portuguesa a ir numa missão diplomática à Ásia, passando por Macau, China, Moçambique e Rio de Janeiro. Nessas obras, é significativa a descrição dos diabos/inferno (MENON, 2000; MUCHEMBLED, 2001; GONÇALVES, 2020), tratando a cultura dos colonizados como primitiva e/ou demoníaca, sendo necessária a conversão ao cristianismo. Como método de análise, utiliza-se a Arte Retórica, de Aristóteles, e a Arte Poética, de Horácio, sobretudo os recursos amplificatio (amplificação) e ut pictura poesis (a poesia como pintura). A escolha desse método resguarda a leitura dos textos à luz de suas épocas. Referências: ARISTÓTELES. Arte Retórica. Tradução: Antônio Pinto de Carvalho. 17ª edição. Rio de Janeiro: Ediouro, 2005. ARISTÓTELES; HORÁCIO; LONGINO. A poética clássica. Tradução Jaime Bruna. 7 ed. São Paulo: Cultrix, 1997. DUSSEL, Enrique. 1492: A origem do mito da Modernidade: o encobrimento do outro. Tradução de Jaime A. Clasen. Petrópolis: Vozes, 1993. MENON, Maurício César. O diabo: um personagem multifacetado. Línguas &amp; Letras, [S. l.], v. 1, n. 1, p. p. 217–227, 2000. DOI: 10.5935/rl&l.v1i1.1318. Disponível em: https://erevista.unioeste.br/index.php/linguaseletras/article/view/1318. Acesso em: 1 abr. 2022. MUCHEMBLED, Robert. Uma história do Diabo: séculos XII – XX. Rio de Janeiro: Bom Texto, 2001. Rellaçaõ da viagem que Diogo Baduem da Serra da familia do Excellentissimo Senhor Embaixador fes a Macao, China e Mossambique, e Ryo de Janeiro em a nao Nossa Senhora da Conceiçaõ e Lusitania Grande, e notícias das provincias da China cidades, e villas, fabricas, rendas, e produtos das terras, forma, e tratamento dos bonzos, que saõ os seus padres, e com estampas de algumas cidades que se poderaõ tirar da viagem que fes (manuscrito da Biblioteca Municipal Mário de Andrade). São Paulo, 1752-1755. VASCONCELLOS, Simão. Vida do Venerável P. Joseph de Anchieta. Officina de Joam da Costa, Lisboa: 1672. Disponível em: <https://digital.bbm.usp.br/handle/bbm/5156>. Acesso em 30/03/2022. COMPOSIÇÃO DE RETRATO CÔMICO NO ENTREMEZ EL RUFIÁN VIUDO DE MIGUEL DE CERVANTES Ana Aparecida Teixeira de Souza Resumo: No entremez El rufián viudo, publicado na obra Ocho comedias y ocho entremeses nuevos, nunca representados (1615), o dramaturgo espanhol Miguel de Cervantes considera alguns procedimentos retóricos e poéticos na composição do discurso de seus personagens rufiões. Como é o caso da cena em que Trampagos, que se lamenta pela morte de sua meretriz, Pericona, para seus amigos, Vademécum e Chiquiznaque. Com o propósito de relembrar a memória da difunda, os três personagens fazem um retrato de Pericona, de modo a colocar em evidências as ações que ela desempenhou em vida, sua condição física e a causa de sua morte. O objetivo dessa comunicação é o de analisar o modo como essas personagens constroem, por meio dos lugares comuns da pessoa (loci a persona), um retrato cômico da prostituta, segundo o modo latino de composição, tal como prescrito por Marco Fabio Quintiliano, em sua Instituição Oratória. Por intermédio deste procedimento elocutivo, é possível evidenciar tanto a deformidade física como os vícios morais de Pericona. Para realizar a presente análise, esse trabalho considera também alguns aspectos da doutrina do gênero cômico (Poética de Aristóteles e Philosophía antigua poética de Alonso López Pinciano), bem como a ética aristotélica (especialmente a Ética a Nicômaco), que servem de orientação para compreender a comicidade que faz parte da composição do retrato cômico da personagem Pericona. Referências: Anónimo, Retórica a Herenio, Edición de Salvador Núñez, Madrid, Editorial Gredos, 1997. Aristóteles, Poética, ed. Alicia Villar Lecumberri, Madrid, Alianza Editorial, 2007. Aristóteles, Ética Nicomáquea, Ética Eudemia, Introducción por Emilio Lledó Íñigo, Traducción y notas por Julio Pallí Bonet, Madrid, Editorial Gredos, 1998. Casalduero, Joaquín, Sentido y forma del teatro de Cervantes, Madrid, Editorial Gredos, 1966. Cervantes, Miguel de, El rufián viudo, en Entremeses de Miguel de Cervantes, Edición de Alfredo Baras Escolá, Madrid, Real Academia Española, 2012, pp. 15-32. Cicerón, La invención retórica, ed. Salvador Núñez, Madrid, Editorial Gredos, Col. Biblioteca Clásica Gredos, 245, 1997. Colón Calderón, Isabel, “De afeites, alcoholes y hollines”, Dicenda. Cuadernos de Filología Hispánica, n. 13, 1995, pp. 65-82. Diccionario de autoridades (1726-1739), Recurso elaborado por el Instituto de Investigación Rafael Lapesa, Madrid, Real Academia Española, en [http://web.frl.es/DA.html] (20/07/2020). Hansen, João Adolfo, “Anatomia da sátira”, en Permanência Clássica. Visões contemporâneas da Antiguidade grego-romana, Brunno V. G. Vieira e Márcio Thamos (orgs.), São Paulo, Editora Escrituras, 2011, pp. 145-169. Hsu, Carmen Y., «Sobre la figura de Trampagos en El rufián viudo de Cervantes», Anales Cervantinos, vol. XLIV, 2012, pp. 187-206. León, Andrés de, Práctico de morbo gallico, Valladolid, Luis Sánchez, 1605. López Grigera, Luisa, «Notas sobre Progymnasmata en la España del Siglo XVI», en Humanismo y pervivencia del mundo Clásico: Actas del I Simposio sobre Humanismo y pervivencia del mundo Clásico (Alcañiz, 8 al 11 de mayo de 1990), coords. José María Maestre y Joaquín Pascual Barea, I. 2, Cádiz, Instituto de Estudios Turolenses, 1993, pp. 585-590. López Grigera, Luisa, “La Retórica como código de producción y de análisis literario”, en La Retórica en la España del Siglo de Oro, Salamanca, Ediciones Universidad de Salamanca, Col. Estudios Filológicos, 255, 1995, pp. López Pinciano, Alonso, Philosophía antigua poética, en Obras completas, Tomo I, Edición de José Rico Verdú, Madrid, Biblioteca Castro. (1998) Martín, Adrienne L., “Prostitución e historia social en los entremeses del hampla femenina”, en USA Cervantes. 39 cervantistas en Estados Unidos, eds. G. Dopico Black y F. Layna Ranz, Madrid, Polifemo-CSIC, 2009, pp. 865-894. Moreno Mengíbar, Andrés, y Vázquez García, Francisco, “Poderes y prostitución en España (siglos XVI-XVII): el caso de Sevilla”, Criticón, 69, 1997, pp. 33-49. Quintiliano, Marco Fabio, Sobre la formación del orador. Parte II. Libros IV-VI, Alfonso Ortega Carmona (trad.), Salamanca, Publicaciones Universidad Pontificia de Salamanca, 1999. Quintiliano, Marco Fabio, Sobre la formación del orador. Parte I. Libros I-III, Alfonso Ortega Carmona (trad.), Salamanca, Publicaciones Universidad Pontificia de Salamanca, O AMOR SEGUNDO "O CORTESÃO": A PERSONAGEM DE PIETRO BEMBO Daniela dos Santos Resumo: O diálogo "O Cortesão" (1528), de Baldassare Castiglione (1478-1529), integra o conjunto de tratados do século XVI que, estruturados pela fixação de normas de conduta civil, projetam e instituem um modelo de homem social. Além de ser uma referência como instrumento de doutrina prescritiva, o tratado de Castiglione vincula-se estritamente a "sermocinatio" – longe de um rigor metodológico do diálogo como ciência demonstrativa, articula habilmente, em tom mais coloquial ("sermo") do que formal ("contentio"), o discurso direto e não professoral das falas encarnadas pelas personagens. Dividido em quatro partes, que correspondem respectivamente à narração dos acontecimentos ocorridos nas noites de 3 a 7 de março de 1506, no palácio do Duque de Urbino, Guidobaldo di Montefeltro (1472-1508), o Quarto Livro é considerado por alguns críticos como uma "frattura nel testo". Concentrando-se no debate amoroso, o autor inscreve como personagem chave nesta quarte parte o poeta e literato veneziano Pietro Bembo, reconhecido como o protagonista das práticas letradas em vulgar. O objetivo deste trabalho é apresentar uma leitura dos recursos retórico-poéticos empregados neste Quarto Livro, especificamente a partir da enunciação da personagem, verificando se a explanação sobre o amor, inspirada pelo ideal platônico, corresponderia a um rompimento de certa homogeneidade estrutural em relação aos livros precedentes na obra. Referências: FONTES PRIMÁRIAS ARISTÓTELES. Poética. Trad. Eudoro de Souza. São Paulo: Ars Poetica, 1993. CASTIGLIONE, Baldassare. Il libro del Cortegiano. A cura di Walter Barberis. Torino: Giulio Einaudi editore, 2017. ______. Il libro del Cortegiano. Introduzione di Amedeo Quondam; note di Nicola Longo. Milano: Garzanti Editore, 2009. ______. O Cortesão. Tradução de Carlos Nilson Moutlin Louzada. São Paulo: Martins Fontes, 1997. PLATÃO. O Banquete. Tradução, posfácio e notas de José Cavalcante de Souza. São Paulo: Editora 34, 2016. SPERONI, Sperone. “Apologia dei Dialogi”. In: Opere di Sperone Speroni degli Alvarotti. Venezia: Domenico Occhi, 1740. TASSO, Torquato. Discorso dell’arte del dialogo. Disponível em: < http://www.bibliotecaitaliana.it/testo/bibit000426 >. Último acesso em 2022. BIBLIOGRAFIA SECUNDÁRIA BERISTÁIN, Helena. Diccionario de Retórica y Poética. México: Porrua, 1998. BOLZONI, Lina. Il cuore di cristallo: ragionamenti d'amore, poesia e ritratto nel Rinascimento. Torino: Einaudi, 2010. BURKE, Peter. As fortunas d’O Cortesão: a recepção europeia a O Cortesão de Castiglione; tradução de Alvaro Hattnher. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1997. DROZ, Geneviève. Os mitos platônicos. Tradução de Maria Auxiliadora Ribeiro Keneipp. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1997. GARAVELLI, Bice. Manuale di Retorica. Milano: Tascabili Bompiani, 2012. PÉCORA, Alcir. Máquina de Gêneros. São Paulo: Edusp, 2001. SEGRE, Cesare. Principios de analisis del texto literario. Barcelona: Crítica, 1985. SKINNER, Quentin. As fundações do pensamento político moderno. Tradução de Renato Janine Ribeiro e Laura Teixeira Motta; revisão técnica de Renato Janine Ribeiro. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. Título original: The foundations of modern political thought. "ALUVIÃO DE NOMES COLECIONADOS ÀS VEZES COM BEM POUCA CRÍTICA": A BIBLIOTECA LUSITANA E A HISTORIOGRAFIA DA LITERATURA BRASILEIRA Dario Trevisan Resumo: Obra de consulta habitual para estudiosos das letras produzidas por autores portugueses até o século XVIII, a Biblioteca lusitana (1741-59), de Diogo Barbosa Machado, paradoxalmente, jamais foi constituída como objeto de estudo sistemático, ainda que tenha suscitado comentários esparsos. No Brasil, é notável tal esquecimento, pois, desde a primeira metade do século XIX, a obra tornou-se referência básica para a historiografia da literatura brasileira, tendo sido especialmente articulada ao projeto do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) de compor uma “galeria nacional” de “brasileiros ilustres” (ENDERS, 2000). Em obras como o Résumé de l'histoire littéraire du Portugal, suivi du résumé de l'histoire littéraire du Brésil (1826), de Ferdinand Denis, por exemplo, a Biblioteca lusitana foi compreendida como fonte fundamental tanto para a identificação e recolha dos autores propostos como fundadores da literatura brasileira quanto para suas respectivas composições “biográficas”, que, ao longo do século XIX, não raro assemelharam-nos aos heróis e pais da história política do país (COSTA LIMA, 1992). Por outro lado, também Denis (2018, p. 308) sugeriu que “não se deve exigir de Barbosa uma crítica interessante”, juízo seguido por outros literatos oitocentistas, como Gonçalves de Magalhães, e novecentistas, como Ronald de Carvalho. Pressupostos estratificados, ainda hoje se lê a obra como “proto-historiografia literária” (SOUZA, 2009), espécie de história literária primitiva que se ressentiria da ausência do típico caráter narrativo e integrado a um projeto de literatura enquanto expressão do país assumido pelo gênero no século XIX. Nesta comunicação, propõe-se que a Biblioteca lusitana não deve ser entendida como mero repositório de informações “biográficas”, “de pouca crítica”, mas como objeto que interessa por sua materialidade discursiva retoricamente regrada. Segundo tal perspectiva, é o que se pretende demonstrar, a Biblioteca possui senão uma diferença de gênero em relação a textos ficcionais outros que lhe eram contemporâneos. Referências: COSTA LIMA, Luiz. Concepção de história literária na “Formação”. In: D’INCAO, Maria Angela; SCARABÔTOLO, Eloísa Faria (org.). Dentro do texto, dentro da vida: ensaios sobre Antonio Candido. São Paulo: Instituto Moreira Sales; Casa de Cultura de Poços de Caldas; Companhia das Letras, 1992. p. 153-69. DENIS, Ferdinand. Resumo da história literária de Portugal seguido do resumo da história literária do Brasil. Rio de Janeiro: Makunaima, 2018. ENDERS, Armelle. “O Plutarco brasileiro”. A produção dos vultos nacionais no Segundo Reinado. Estudos históricos, v. 14, n. 25, p. 41-62, 2000. MACHADO, Diogo Barbosa. Biblioteca lusitana, histórica, crítica e cronológica. Lisboa Ocidental: Antonio Isidoro da Fonseca, 1741-59. SOUZA, Roberto Acízelo de. Nota preliminar sobre as origens e os desdobramentos da historiografia literária portuguesa. Navegações, Porto Alegre, v. 2, n. 1, p. 44-8, jan./jun. 2009. A CIDADE VICE-REAL DE MÉXICO NO OLHAR DOS CRONISTAS URBANOS SETECENTISTAS: UM DISCURSO CRIOULO DE SOCIEDADE IDEALIZADA Elisabeth Fromentoux Braga Resumo: Neste trabalho, analisamos, nas crônicas de Juan de Viera (1768) e Juan Manuel de San Vicente (1778), de que forma se dão as descrições dos aspectos arquitetônicos da cidade de México do século XVIII, assim como do cotidiano dos seus habitantes. Com efeito, a cidade, por ser um lugar de inscrição de realidades, apresenta-se como o teatro de eventos sociais e religiosos dos quais os cronistas dão conta. As descrições relativas aos mercados e atividades da Praça Maior, entre outras, evidenciam uma sociedade de pouca mobilidade social, na qual cada qual tinha seu lugar e uma profissão lhe correspondendo, conforme seu grupo sócio-étnico. Essa estratificação se faz ainda mais saliente quando dos relatos de eventos públicos religiosos ou civis, onde se vê claramente a hierarquização da sociedade vice-real, uma vez que os indivíduos deviam respeitar sua posição seguindo uma ordem de classes. Centramos nossa atenção na adjetivação empregada, assim que a abundância dos detalhes aportados, de modo a enfatizar elementos que revelam um enaltecimento da cidade vice-real ao olhar desses autores e evidenciar um discurso crioulo de sociedade idealizada. Iniciamos a discussão em torno do valor histórico das crônicas, conforme o definiram autores como Walter Mignolo (1982) e Martin Lienhard (1983), para, em seguida, realizar a análise propriamente dita das crônicas, baseando-nos notadamente em estudos de Antonio Rubial García (2002) e enfatizando tanto os detalhes de conteúdo quanto a própria forma de redação utilizada por esses cronistas. Referências: Añon, V. 2012. En el lugar de las tunas empedernidas: Tenochtitlan en las crónicas mestizas. In Anales de la literatura Hispanoamericana, vol. 41, p. 81-97. Lienhard, M. 1983. La crónica mestiza en México y el Perú hasta 1620: Apuntes para su estudio histórico-literario. In Revista de Crítica Literaria Latinoamericana, Año 9, No. 17, Sociedad y Literatura en América Latina, p.105-115. Mignolo, W. 1982. Cartas, crónicas y relaciones del descubrimiento y la conquista. In Historia de la literatura hispanoamericana. Tomo I: Epoca colonial. Cátedra. Madrid, p.75-76. Olvera Ramos, J. 2007. Los mercados de la Plaza Mayor en la ciudad de México. Nueva édición [en linea]. Mexico: Centro de estudios mexicanos y centroamericanos, p. 21-42. Disponible en: http://books.openedition.org/cemca/538. (Último acceso en 28/04/2022) Rubial García A. 2008. De la visión retórica a la visión crítica. La Plaza Mayor en las crónicas virreinales. In Destiempo, ano 3, n°14. México, DF, p. 413-429. San Vincente, J.M. 1768. Exacta descripción de la magnífica corte mexicana, cabeza del nuevo americano mundo, significada por sus essenciales partes, parar el bastante conocimiento de su grandeza. Rioja y Gamboa, Cádiz. Viera, J. de. 1990. Breve compendiossa narración de la ciudad de México, corte y cabeza de toda la América septentrional. 1778. In La ciudad de México en el siglo XVIII, CNCA, p. 183-302. PRECEPTIVAS RETÓRICAS NAS CARTAS DO PADRE ANTÔNIO VIEIRA EM DEFESA DAS MISSÕES NO MARANHÃO, GRÃO-PARÁ E RIO DAS AMAZONAS Fernanda Cristina da Encarnação dos Santos Resumo: O alvo dos autores de Seiscentos é ensinar a escrever de um modo que pareça o mais natural e verdadeiro. As palavras devem, por meio da arte retórica, tentando convencer os ouvintes “em uma direção que o orador julgue ser a justa, a útil e a bela” (MUHANA, 2000, p. 331). É desse modo que o Padre Antônio Vieira procede, quando escreve os seus sermões, redige cartas, relações e inúmeros documentos em defesa das missões em terras do Maranhão. Segundo Carlos Maduro, Vieira escreveu inúmeras cartas a divers destinatários, a partir do Maranhão e do Pará (MADURO, 2013, p. 62-63). Considerado como um dos mais importantes viajantes de Seiscentos (FRANCO, 2009, p. 11), Vieira procurou mostrar aos seus superiores hierárquicos, por meio de exemplos, as falhas e obstáculos das missões que poderiam ser corrigidos. Pretende este trabalho analisar algumas cartas do vasto corpus epistolográfico de Vieira sobre as missões no Maranhão e Grão-Pará, mostrando como as preceptivas retóricas dos gêneros demonstrativo e deliberativo se aplicam às mesmas, por meio de uma argumentação robusta de Vieira a favor das missões. O corpus escolhido contém, entre outras, as cartas 588 ao Superior do Maranhão, Pedro Luís Gonsalvi; carta 620, ao mesmo destinatário, carta 685, ao Conde da Ericeira, carta 712, ao rei D. Pedro II (VIEIRA, t. 1, v. 4, 2013). Seria necessário argumentar para que se conhecesse melhor as regiões do vasto Maranhão e os povos indígenas que lá habitavam, “posto que muito doutos em outras matérias, nunca viram, nem trataram índios”, de acordo com Vieira. Pretende-se, assim, analisar as preceptivas retóricas de seiscentos nas cartas vieirenses, a partir de autores como João Adolfo Hansen (2017), Carlos Maduro (2013), José Eduardo Franco (2009), Célia Tavares (2008), Amarílis Tupiassú (2005; 2008), Adma Muhana (2000). Referências: HANSEN, João Adolfo. Teatro da memória: monumento “barroco” e retórica. In: LACHAT, Marcelo; SILVA, Natali Fabiana da Costa e (Org.). Ficção e memória: estudos de Poética, Retórica e Literatura. Macapá: Universidade Federal do Amapá, 2017. p. 9-31. MADURO, Carlos. Introdução geral à epistolografia. In: VIEIRA, Antônio. Obra completa. Coord. de José Eduardo Franco e Pedro Calafate. Lisboa: Círculo de Leitores, 2013. t. 1, v. 1, p. 43-91. MUHANA, Adma Fadul. O gênero epistolar: diálogo per absentiam. Discurso, São Paulo, n. 31, p. 329-345, 2000. SANTOS, Fernanda. O Colégio da Bahia: uma (quase) universidade na América portuguesa (1556-1763). Pref. de José Eduardo Franco e Valmir Francisco Muraro. Lisboa: Theya, 2015. SANTOS, Fernanda. Retórica da alteridade na “Relação da missão da serra da Ibiapaba”, do padre Antônio Vieira. 141p. Tese (Doutorado em Letras) - Programa de PósGraduação em Letras da Universidade Federal do Espírito Santo. Vitória: UFES, 2018. SOUZA, Márcio. História da Amazônia. Do período pré-colombiano aos desafios do século XXI. Rio de Janeiro/São Paulo: editora Record, 2019. TAVARES, Célia Cristina da Silva. A escrita jesuítica da história das missões no Estado do Maranhão e Grão-Pará (século XVII). ACTAS do Congresso Internacional Espaço Atlântico de Antigo Regime: poderes e sociedades. Lisboa: Instituto Camões, 2008, p. 1-9. TUPIASSÚ, Amarílis. A Palavra Divina na Surdez do Rio Babel – com cartas e papéis do Pe. Vieira. Belém: editora UFPA, 2008. TUPIASSÚ, Amarílis. Amazônia, das travessias lusitanas à literatura de até agora. Estudos Avançados. São Paulo, v. 19, n. 53, p. 299-320, 2005. VIEIRA, Padre Antônio. Cartas de Lisboa – Cartas da Baía. Coord. Mary Del Priore e Paulo de Assunção. Epistolografia. Coord. Geral Carlos Maduro. Obra Completa do Padre Antônio Vieira. Dir. José Eduardo Franco e Pedro Calafate. Tomo I, Vol. IV, Lisboa: Círculo de Leitores, 2013. IMPOSSIBILIDADES E DESENCANTOS EM MANUEL MARIA BARBOSA DU BOCAGE: A ESFERA DA CENSURA NO CONTEXTO POLÍTICO LUSITANO SETECENTISTA Flavia Pais de Aguiar Resumo: O trabalho pretende oferecer uma leitura crítica de poemas de Bocage, extraídos de diferentes edições de suas Obras Completas (2005, 2015, 2018), para discutir a estética da violência e da melancolia, associadas ao cerceamento de ideias praticado à época, bem como às impossibilidades de realização pessoal vivenciadas pelo poeta. Para tanto, serão observadas as trilhas da vida do autor, marcada por prisões, exílios e perseguições política, por um lado, – não com o objetivo de flertar com o biografismo, mas visando alcançar uma dimensão mais profunda sobre o comportamento autoral – e, por outro, a importância de compreender alguns aspectos relativos ao cenário artístico do Portugal setecentista, tendo em vista as implicações de ideais Iluministas e Ilustrados no processo de composições poéticas. É fato que Bocage esteve inserido em um turbulento contexto político-social e, de interessantes maneiras, a sua poesia clarifica essa complexidade. Posto isso, cabe destacar que o caminho de análise levará em consideração os processos de violência, como a censura e a repressão, a partir da análise lexical dos poemas; isto é, visa-se notar como o processo de composição da escrita denuncia inquietações próprias à época, ao mesmo tempo que dialoga com a tradição da Poesia Clássica. Seguindo esta proposição, pretende-se enriquecer a leitura com a contribuição teórica de Michel Foucault, em Vigiar e Punir (1987), que explana sobre processos de violência e repressão – estes, que seriam prováveis desencadeadores de uma estética da melancolia verificada em Bocage –. BOCAGE, Manuel Maria Barbosa du. Poemas: 1765 – 1805. Literatura Comentada. Seleção de textos, notas, estudo biográfico e crítico e exercícios por Maria Lajolo; estudo histórico por Ricardo Maranhão. São Paulo: Abril Educação, 1980. BOCAGE, Manuel Maria Barbosa do. Obra completa: cantatas, canções, idílios, epístolas, odes e cantos. Volume II. Organização, edição e introdução: Daniel Pires. Lisboa, Edições Caixotim, 2005. BOCAGE, Manuel Maria Barbosa du, 1765-1805. Poemas. Organização: José Lino Grünewald – Edição especial 50 anos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015. BOCAGE, Manuel Maria Barbosa du. Obras completas de Bocage: sonetos, sátiras, odes, epístolas, idílios, apólogos, cantatas e elegias. Tomo I. Organização, fixação de texto e notas: Daniel Pires. Setúbal: Imprensa Nacional, 2018. BOCAGE, Manuel Maria Barbosa du. Obras completas de Bocage: sonetos, sátiras, odes, epístolas, idílios, apólogos, cantatas e elegias. Tomo II. Organização, fixação de texto e notas: Daniel Pires. Setúbal: Imprensa Nacional, 2018. FOUCAULT, Michel. O que são as Luzes. In.: Arte, epistemologia, filosofia e história da medicina. Manuel Barros da Motta (Org.); Vera Lúcia Avellar Ribeiro (Trad.). Rio de janeiro: Forense Universitária, 2011. pp. 259-270. FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Raquel Ramalhete (Trad.). Petrópolis, Vozes, 1987. 288p. GOMES, Rafael Santana. “Não te imito nos dons da Natureza”: Bocage, leitor de Camões. Scripta, v. 17, n. 33, p. 33-52, 2013. Disponível em: <https://doi.org/10.5752/P.2358-3428.2013v17n33p33>. HORÁCIO. Arte Poética. In.: A Poética Clássica: Aristóteles, Horácio, Longino. Introdução: Roberto de Oliveira Brandão. Tradução: Jaime Bruna. São Paulo, Cultrix, 2014. ISER, A. Wolfgang. O Fictício e o Imaginário: perspectivas de uma antropologia literária. Johannes Kretschmer (Trad.). Rio de Janeiro, EdUERJ, 1996. KANT, Immanuel. Resposta à Pergunta: ‘Que é esclarecimento’?. In: Textos Seletos. Arcângelo R. Buzzi e Leonardo Boff (Coord.), 2ª Ed. Bilíngue. Petrópolis: Vozes, 1985. 100 – 116 p. LAMBOTTE. Marie-Claude. Estética da melancolia. Procópio Abreu (Trad.). Rio de Janeiro, Companhia de Freud, 2000. MARTINS, Maria Teresa Esteves Payan. A censura literária em Portugal nos séculos XVII e XVIII. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2005. Referências: ARENDT, Hannah. Da violência. In: Crises da República. Perspectiva, São Paulo, 1973. BOCAGE, Manuel Maria Barbosa du. Poemas: 1765 – 1805. Literatura Comentada. Seleção de textos, notas, estudo biográfico e crítico e exercícios por Maria Lajolo; estudo histórico por Ricardo Maranhão. São Paulo: Abril Educação, 1980. BOCAGE, Manuel Maria Barbosa do. Obra completa: cantatas, canções, idílios, epístolas, odes e cantos. Volume II. Organização, edição e introdução: Daniel Pires. Lisboa, Edições Caixotim, 2005. BOCAGE, Manuel Maria Barbosa du, 1765-1805. Poemas. Organização: José Lino Grünewald – Edição especial 50 anos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015. BOCAGE, Manuel Maria Barbosa du. Obras completas de Bocage: sonetos, sátiras, odes, epístolas, idílios, apólogos, cantatas e elegias. Tomo I. Organização, fixação de texto e notas: Daniel Pires. Setúbal: Imprensa Nacional, 2018. BOCAGE, Manuel Maria Barbosa du. Obras completas de Bocage: sonetos, sátiras, odes, epístolas, idílios, apólogos, cantatas e elegias. Tomo II. Organização, fixação de texto e notas: Daniel Pires. Setúbal: Imprensa Nacional, 2018. FOUCAULT, Michel. O que são as Luzes. In.: Arte, epistemologia, filosofia e história da medicina. Manuel Barros da Motta (Org.); Vera Lúcia Avellar Ribeiro (Trad.). Rio de janeiro: Forense Universitária, 2011. pp. 259-270. FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Raquel Ramalhete (Trad.). Petrópolis, Vozes, 1987. 288p. GOMES, Rafael Santana. “Não te imito nos dons da Natureza”: Bocage, leitor de Camões. Scripta, v. 17, n. 33, p. 33-52, 2013. Disponível em: <https://doi.org/10.5752/P.2358-3428.2013v17n33p33>. HORÁCIO. Arte Poética. In.: A Poética Clássica: Aristóteles, Horácio, Longino. Introdução: Roberto de Oliveira Brandão. Tradução: Jaime Bruna. São Paulo, Cultrix, 2014. ISER, A. Wolfgang. O Fictício e o Imaginário: perspectivas de uma antropologia literária. Johannes Kretschmer (Trad.). Rio de Janeiro, EdUERJ, 1996. KANT, Immanuel. Resposta à Pergunta: ‘Que é esclarecimento’?. In: Textos Seletos. Arcângelo R. Buzzi e Leonardo Boff (Coord.), 2ª Ed. Bilíngue. Petrópolis: Vozes, 1985. 100 – 116 p. LAMBOTTE. Marie-Claude. Estética da melancolia. Procópio Abreu (Trad.). Rio de Janeiro, Companhia de Freud, 2000. MARTINS, Maria Teresa Esteves Payan. A censura literária em Portugal nos séculos XVII e XVIII. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2005. PIRES, José Cardoso. Técnica do Golpe de Censura. In: E agora, José?. Lisboa: Moraes Edições, 1977. OS MODELOS DE IMITAÇÃO DO ORÁCULO MANUAL Y ARTE DE PRUDENCIA (1647), DE BALTASAR GRACIÁN Gustavo Luiz Nunes Borghi Resumo: Os estudiosos e pesquisadores de Baltasar Gracián assumem ao menos duas posições ao dividir a obra do jesuíta: de um lado, os que defendem quatro grandes categorias a partir do gênero poéticoretórico, a saber i) manuais e preceptivas; ii) novela filosófica; iii) encômio; e iv) meditações sacras; de outro, os que o agrupam segundo o tema e a matéria, respectivamente i) os éticos-morais; ii) os da agudeza; iii) a matéria sacra; e iv) a narrativa filosófica. Desses, a nosso ver, o Oráculo manual y arte de prudencia (1647) ocupa uma posição singular, dado que apresenta uma estrutura diferente dos demais, reunindo trezentos aforismos, destinados aos nobres e letrados da corte dos Áustria, e versando sobre um conjunto de matérias já discutidas em outros tratados, como a política, a teologia contrarreformada e a própria retórica. Segundo comentadores como Emilio Blanco (2013) e Aurora Egido (2001), o manual não segue um único modelo de imitação, mas um grupo de textos em prosa que circulavam no território espanhol dos séculos XVI e XVII, como os de cortesanía, os aforismos, os adágios e os comentários e glosas dos textos historiográficos antigos. Tomando a questão do lugar do tratado de Gracián como ponto de partida, traçaremos, nesta apresentação, algumas considerações sobre os possíveis modelos de imitação do jesuíta para a composição do manual, levando em conta os preceitos das artes antigas e a circulação dos documentos no século XVII espanhol. Referências: Gibert, Javier García. Baltasar Gracián. Madrid: Editorial Síntesis, 2003. Gracián, Baltasar. Oráculo manual y arte de prudencia. Edición de Emilio Blanco. Madrid: Editorial Catedra, 2013. Egido, Aurora. Humanidades y Dignidad del Hombre en Baltasar Gracián. Salamanca: Ediciones Universidad de Salamanca, 2001. Fumaroli, Marc. La extraordinaria difusión del arte de la prudencia en Europa. Traducción de José Ramón Monreal. Barcelona: Acantilado, 2019. Hidalgo-Serna, Emilio. El pensamiento ingenioso en Baltasar Gracián. Traducción de Manuel Canet. Barcelona: Anthropos, 1993. A COMPOSIÇÃO ELEGÍACA CONTEMPORÂNEA: FORMA, CONTEÚDO E MUSICALIDADE NO POEMA "TARDE", DE SANTIAGO VILLELA MARQUES Iouchabel Sarratchara de Fatima Falcão Resumo: O objetivo desta análise é apresentar um percurso de leitura do poema lírico “TARDE” (2004), do poeta Santiago Villela Marques, a fim de identificar os recursos que determinam a temática elegíaca configurada na poesia contemporânea e sob as estruturas clássicas de categorização do gênero, como a musicalidade. A musicalidade agregada à elegia vem de sua classificação como um gênero lírico de estreita relação com as odes ou cantos. O tema elegíaco do poema está presente em seu mote, na imagem da morte oscilante entre momentos de resignação, consciência do infortúnio e sentimentos pertencentes ao ciclo natural da vida. A natureza está distribuída pelo corpo poemático de modo metonímico. Diante de sua força, a voz lírica exibe potências naturais que estão condicionadas ao inevitável fado na imagem da passagem da tarde para a noite. A partir de um breve levantamento sobre as estruturas clássicas e predominantes que mantêm a elegia viva no tempo, analisaremos lugares em forma, conteúdo e musicalidade que manifestam emoções, sentimento e afetos comuns de dor e ausência. A elegia, na contemporaneidade, pode ser caracterizada mais pelo seu caráter temático do que formal. Contudo, o poema de Santiago consegue convergir forma – referenciada nas métricas clássicas – e conteúdo, de modo a valorizar o tom prosaico que surge do ritmo do poema, indícios de aventuras poéticas que conjugam os estilos tradicionais com os modernos. Referências: BOSI, Alfredo. O ser e o tempo na poesia. 8ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. BRIK, Ossip. Ritmo e sintaxe. In: EIKHENBAUM et. al. Formalistas russos: teoria da literatura. São Paulo: Globo, 1970. p. 131-40. MARQUES, Santiago Villela Marques. Primeiro. Sinop: Edição do autor, 2004. MOISÉS, Massaud. Dicionário de termos literários. 12 ed. São Paulo: Cultrix, 2004. TAVARES, Hênio. Teoria literária. 5ª ed. Belo Horizonte: Itatiaia, 1974. "A SEUS PÉS SIMPLES, SINCERA, E VERDADEIRA": A RETÓRICA PARA ALEXANDRE DE GUSMÃO Isabel Scremin da Silva Resumo: Nesta comunicação, proponho pensar a caracterização da retórica no interior da obra espiritual de Alexandre de Gusmão (1629-1724), jesuíta que atuou na América Portuguesa e teve seus tratados impressos entre os séculos XVII e XVIII. Em fase diversa da Companhia de Jesus, que vinha readaptando seu método de pregação à medida que adentrava o Setecentos, Gusmão tece certas censuras às afetações retóricas e ao excesso de ornamentos elocutórios que mais deleitavam os leitores-ouvintes no puro prazer da palavra do que lhes promoviam desengano moral, em chave católica pós-tridentina. A partir de alguns excertos da obra do jesuíta, veremos como Gusmão se aproxima, conforme seus escritos transpõem o século XVII, de releituras da retórica aristotélico-horaciana que predominarão ao longo do século XVIII, em prol da honestidade e sinceridade do discurso. Defesa relacionada, também, ao decoro previsto pelos gêneros espirituais escolhidos: nos prólogos de seus impressos, Gusmão delimita o “estilo humilde” de seus opúsculos, visados a destinatários de pouca ou jovem instrução, para os quais as qualidades de clareza e brevidade adequavam-se aos propósitos de aproveitamento e deleite da doutrina. Emulando a prática confessional, Gusmão pinta a alegoria da Confissão como virgem simples, sincera e verdadeira – excerto que dará início a esta apresentação. Referências: GUSMÃO, Alexandre de. Arte de crear bem os Filhos na Idade da Puericia. Dedicada ao Minino de Belem, JESV Nazareno. Lisboa: Officina de Miguel Deslandes, 1685. ______. Arvore da Vida, Jesus Crucificado. Dedicada à Santissima Virgem Maria N. Sra. Dolorosa ao Pé da Cruz. Lisboa Occidental: Officina de Bernardo da Costa de Carvalho, 1734. ______. Eleyçam entre o bem, & mal eterno. Lisboa Occidental: Officina da Musica, 1720. ______. Escola de Bethlem, JESVS nascido no Presepio. Dedicado ao Patriarca S. Ioseph. Evora: Officina da Universidade, 1678. ______. Historia do Predestinado Peregrino, e sev Irmão Precito: Em a qual debaxo de huma misteriosa Parabola se descreue o sucesso feliz, do que se ha de saluar, & a infeliz sorte, do que se ha de condenar. Lisboa: Officina de Miguel Deslandes, 1682. ______. Meditaço?s para todos os dias da semana, pelo exercício das tres potencias da alma, conforme ensina S.to Ignacio fundador da Companhia de JESU. Lisboa: Officina de Miguel Deslandes, 1689. ______. O Corvo, e a Pomba da Arca de Noé no sentido Allegorico, e Moral. Lisboa Occidental: Officina de Bernardo da Costa, 1734. ______. Rosa de Nazareth nas montanhas de Hebron, a Virgem Nossa Senhora na na Companhia de JESU. Dedicada à mesma soberana Virgem em sua gloriosa Assumpção. Lisboa: Officina Real Deslandesiana, 1715. ______. Sermão que pregou na Cathedral da Bahia de Todos os Santos. Nas Exequias do Illustrissimo Senhor D. Fr. Ioam da Madre de Deos, Primeiro Arcebispo da Bahia, que faleceo do mal commum que nella ouve neste Anno de 1686. Dedicado ao Excellentissimo Senhor D. Antonio Luis de Sousa Tello, e Menezes. Lisboa: Officina de Miguel Manescal, 1686. UMA POÉTICA DO RISO: O HISSOPE, DE ANTÓNIO DINIZ DA CRUZ E SILVA Jean Pierre Chauvin Resumo: De modo geral, os poemas de matriz cômica que circularam no reino português durante o século XVIII não tiveram a mesma repercussão que a épica e a lírica - como se percebe por sua baixa incidência e rigorosa avaliação, nos manuais de literatura "brasileira". Apesar da grande popularidade de O Hissope: poema herói-cômico, publicado por António Diniz da Cruz e Silva (1731-1799) em 1768, nem sempre ele costuma ser citado, sequer como exemplar ilustrativo da forma poética mista - que fundia os preceitos da epopeia e da comédia. Nesta comunicação, retoma-se a conhecida hipótese de que O Hissope dialoga com Os Lusíadas, de Camões, mas especialmente com Le Lutrin - editado em 1674 por Nicolas Boileau. A partir do diálogo entre essas obras, discutem-se preceitos do gênero herói-cômico e aspectos relacionados ao tema, à disposição e à elocução que presidem o poema. A análise visa a apontar os fatores que levaram parte considerável dos estudiosos brasileiros a desconsiderar o gênero em que o poema se inscrevia, desprezando o fato de que O Hissope consiste na aplicação decorosa do estilo adequado ao assunto inventariado pelo poeta. Ao longo dos séculos XIX e XX, os poemas herói-cômicos, quando resgatados do ostracismo, foram caracterizados como obras de menor seriedade, pautadas pelo excesso e a má qualidade. Juízos imprecisos e pautados pela concepção anacrônica de numerosos historiadores da literatura. Referências: Alvarenga, Manuel Inácio da Silva . "Discurso sobre o poema herói-cômico". In: _____. O Desertor: poema herói-cômico. Campinas: Editora da Unicamp. 2003, p. 71-74. Aristóteles. Poética. 6ª ed. Trad. Ana Maria Valente. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2018. BOILEAU-DESPRÉAUX, Nicolas. Le Lutrin. In: _____. Oeuvres Completes de Boileau-Despreaux, Nouvelle edition, Accompagnee de notes pour l'intelligence du texte,et precedee d'une notice historique sur la vie et les ecrits de l'auteur, Avec gravures. Paris: B. Renault et Cie, Libraires-Editeurs, 8, rue Larrey,1858. BOILEAU-DESPRÉAUX, Nicolas. L'art poétique. Paris: Hachette, 1946. Camões, Luís de. Os Lusíadas. Estarreja: Moderna Editorial Lavores, 2000. Cruz e Silva, António Diniz da. O Hissope. Lisboa: Emp. Archivo Pittoresco, 1879. Furtado, Joaci Pereira. Como Dido e Eneias: protocolos de leitura do poema herói-cômico. Dimensões, 34, 356-379, 2015. Horácio. Arte Poética. Trad. Guilherme Gontijo Flores. Belo Horizonte: 2020. A RETÓRICA DA ESPERA EM "SENTADO À BEIRA DO CAMINHO", DE ROBERTO E ERASMO CARLOS Joao Adalberto Campato Junior Resumo: A Retórica da Espera em “Sentado à beira do Caminho”, de Roberto e Erasmo Carlos A crítica retórica aborda textos das mais diferentes tipologias de signos, revelando-lhes o quanto, como e por que são persuasivos. A persuasão abrange, em linhas fundamentais, três procedimentos básicos: convencer, comover e agradar. Convencer está atrelado à persuasão lógica; comover é persuasão de ordem afetiva, em que se procura atuar no pathos do auditório; já agradar diz respeito à persuasão estética. Isso posto, pretende-se examinar a centralidade da retórica para a produção de sentidos de “Sentado à Beira do Caminho” (1969), música e letra de autoria dos cantores brasileiros Roberto Carlos e Erasmo Carlos. Dentre as linhas de força semânticas que vêm à tona por meio dessa abordagem, destaca-se a da espera amorosa, topos da tradição lírico-amorosa, que é atualizado e vivenciado de maneira agudamente patética pelo sujeito lírico (orador) do texto, objetivando a persuasão da amada (auditório), no quadro mais amplo de um gênero judiciário do discurso. Busca-se, igualmente, lançar luz sobre os expedientes argumentativos, estilísticos e discursivos que sustentam a interlocução/interação tensa que se processa entre as subjetividades do orador e do auditório. Para a consecução desses objetivos, serão empregados, entre outros, os estudos de Aristóteles, Chaim-Perelman e Albrechts-Tyteca, Ruth Amossy, Lausberg e Dante Tringali Referências: AMOSSY, Ruth. Argumentação no discurso. São Paulo: Contexto, 2018. ARISTÓTELES. Arte retórica e arte poética. São Paulo: Difel, 1964. CAMPATO JUNIOR, J. A.; BULHÕES, R. M. “Leito de folhas verdes” e “Café da manhã”: a retórica da espera. Todas as Letras – Revista de Língua e Literatura, São Paulo, v. 22, n. 3, p. 1-11, set./dez. 2020. CHAIM, Perelman; ALBRECHTS-TYTECA, Lucie. Teoria da argumentação: a nova retórica. São Paulo: Martins Fontes, 2014. LAUSBERG, H. Manual de retórica literária. Madri: Gredos, 1966. 3 v. TRINGALI, D. Introdução à retórica: a retórica como crítica literária. São Paulo: Duas Cidades, 1988. A LITERATURA COMO UMA CRÍTICA DA RAZÃO PURA E A RETÓRICA DA PROSA NÃO-LITERÁRIA EM NORTHROP FRYE José Luiz Coelho Rangel Junior Resumo: Em “Literature as a critic of pure reason” [Literatura como uma crítica da razão pura], ensaio originalmente apresentado como a segunda das Wiegand Lectures, promovidas na Universidade de Toronto entre 1982-83, o crítico canadense Herman Northrop Frye (1912-1991) explicita qual foi um dos temas centrais que perseguiu como objeto de estudo por toda a vida. Procedendo ele mesmo como um filósofo, Frye elabora uma metáfora crítica a que chamou de *retreating nude* [nudez retraída]. A ideia serve para dar conta de um procedimento bastante usual da filosofia ocidental. Trata-se de um certo uso que a linguagem filosófica faz do mito – entendido aqui como uma estrutura verbal plenamente metafórica –, mas que uma vez percebido como um uso desviante da linguagem, precisa ser recoberto por outra estrutura verbal que tornaria aceitável a sua circulação como discurso. Esta ideia se refere, portanto, à passagem do mito ao logos que culminaria na filosofia aristotélica. Note-se que Frye não postula essa passagem como uma ruptura em que a racionalidade da filosofia deixaria para trás o irracionalismo do mito, senão que aponta para a existência de uma certa racionalidade no interior do discurso mítico sobre a qual se apoiaria o próprio logos filosófico. Nesta comunicação busca-se analisar a ideia de "nudez retraída", conforme postulada por Frye, recorrendo-se aos seus textos mais conhecidos como a "Retórica da prosa não-literária" – contida no quarto ensaio de Anatomia da Crítica –, bem como o primeiro capítulo de O Código dos Códigos, em que o autor apresenta uma teoria de níveis de linguagem baseada fundamentalmente na filosofia de Giambattista Vico. Assim, pretende-se apresentar como o crítico canadense se posicionou num amplo e antigo debate entre dialética filosófica e sofística, partindo da noção de que discurso e razão são inseparáveis e, portanto, a ratio está sempre contida na oratio. Referências: FRYE, Northrop. Fearful symmetry, a study of William Blake. Princeton, NJ: Princeton University Press, 1974. ________. The great code: the Bible and literature. New York: Harvest Book, 1983 [1981]. ________. Words with power: being a second study of the Bible and literature. New York: Harcourt Brace Jovanovich, Publishers, 1992 [1990]. ________. The "third book" notebooks of Northrop Frye, 1964-1972: the critical comedy. (Collected works of Northrop Frye; v. 9. Ed. Michael Dolzani). Toronto: University of Toronto Press, 2002. ________. “Literature as a critic of pure reason” in: The secular scripture and other writings on critical theory, 1976–1991. (Collected works of Northrop Frye; v. 18. Eds. Joseph Adamson and Jean Wilson). Toronto: University of Toronto Press, 2006. ________. Anatomia da crítica: quatro ensaios. São Paulo: É Realizações, 2014. FÁBULAS MITOLÓGICAS E SUA DISPOSIÇÃO CODICOLÓGICA: UMA POSSIBILIDADE DE ESTUDO DE GÊNERO Leonardo Zuccaro Resumo: O bibliógrafo espanhol Antonio Rodríguez-Moñino, em seu clássico discurso pronunciado no IX Congresso Internacional da International Federation for Modern Languages and Literatures, celebrado em Nova York em 1963, incitava aos hodiernos filólogos hispânicos para que não deixassem de ignorar aspectos materiais da cultura letrada espanhola dos séculos XVI e XVII. Décadas depois, Marcello Moreira, em seu essencial “Critica Textualis in Caelum Revocata?”, demonstra como o apelo de Moñino ainda é pouco ouvido não só pela atual filologia hispânica, mas também pelos estudos das letras coloniais e ibéricas como um todo. Tomando este ponto de partida, a presente comunicação tem o objetivo de demonstrar como a análise de códices manuscritos que circularam em Portugal e em Espanha entre o final do século XVII e início do século XVIII podem lançar luz sobre um suposto gênero poético, praticado sobretudo nos Seiscentos ibéricos, ora chamado como “epílio”, ora como “fábula mitológica”. Sendo um gênero de difícil definição, mormente por falta de preceituações específicas em tratados da época, quase sempre as discussões acerca de seu entendimento hodierno ignoram completamente a disposição em que estes poemas foram copiados em códices manuscritos, seu principal suporte material. Contudo, o escopo aqui não é de apresentar uma definição categórica do gênero, mas sim uma possibilidade de leitura ainda pouco discutida nos estudos de poesia seiscentista. Referências: MOREIRA, M. "Critica Textualis in Caelum Revocata? Uma Proposta de Edição e Estudo da Tradição de Gregório de Matos e Guerra". São Paulo: Edusp, 2011. RODRÍGUEZ-MOÑINO, A. "Construcción Crítica y Realidad Histórica en la Poesía Española de los Siglos XVI y XVII". Madrid: Castalia, 1965. A QUESTÃO DA CONVERSÃO DOS INDÍGENAS NA "INVENTIO" E NA "DISPOSITIO" DA "CLAVIS PROPHETARUM", DE PADRE ANTÔNIO VIEIRA Marcus De Martini Resumo: Uma das peculiaridades do pensamento escatológico de Vieira é a do papel reservado aos indígenas, ou “bárbaros”, conforme a nomenclatura que adota, no âmbito da iminência de um Reino de Cristo na terra. Tal peculiaridade é certamente caudatária da experiência missionária do jesuíta e foi fundamental especialmente para a concepção de seu “opus Magnum”, a “Clavis Prophetarum” (2000; 2016). Esta obra, no entanto, tendo permanecido inacabada, apresenta uma série de problemas ao estudioso, seja no que diz respeito à organização do material nos diferentes manuscritos, seja no tocante à própria matéria discutida. Apesar de Vieira ter mencionado a questão do indígena em diversos papéis, até a “Clavis”, no entanto, não encontramos uma discussão explícita acerca do destino dos “bárbaros” no fim dos tempos, nos escritos proféticos do jesuíta. Em vez disso, encontramos lampejos dessas mesmas ideias espalhadas em sermões, cartas e outros textos ligados à administração dos índios. Básica a elas, como demonstra Hansen (2008), é a ideia da visão providencial do papel de Portugal em relação à “descoberta” do Novo Mundo e, por extensão, à incorporação dos nativos ao corpo místico do Estado português. Para tal, o trabalho da Companhia de Jesus seria fundamental. Desse modo, a correta administração das missões não era apenas uma questão de ordem político-econômica, mas, como não poderia deixar de ser no Antigo Regime, era também teológico-profética. Dela dependia, inclusive, a chegada do “Reino de Cristo Consumado na Terra”. Portanto, pretendemos, neste trabalho, discutir o tema da conversão dos indígenas no contexto escatológico, especificamente da forma como é abordado na “Clavis”, por meio da análise do modo como Vieira polemiza com autoridades de seu tempo acerca do assunto e do lugar que essa polêmica ocupa no corpo do tratado em tela. Referências: HANSEN, J.A. Pressupostos teológico-políticos e proféticos da ação de Vieira na missão jesuítica do Maranhão e Grão-Pará (1652-1661). In: Aníbal Pinto de Castro & Artur Teodoro de Matos (orgs.). O Padre António Vieira e o Mundo de Língua Portuguesa. Lisboa, Centro de Estudos dos Povos e Culturas de Expressão Portuguesa – Universidade Católica Portuguesa, 2008, pp. 28-61. VIEIRA, A. Clavis Prophetarum. Livro III. Lisboa: Biblioteca Nacional, 2000 [ed. bilíngüe latim-português]. ___. Obra Completa de Padre Antônio Vieira. 30 v. São Paulo: Loyola, 2016. A ALEGORIA EM WALTER BENJAMIN: UM PERCURSO RETÓRICO-POÉTICO Pedro Martins Cruz de Aguiar Pereira Resumo: Walter Benjamin, em Origem do Drama Trágico Alemão (1928), ao analisar e ao revisitar as especificidades do drama trágico alemão no Século XVII, procura desfazer o entendimento de que esse gênero dramático e a alegoria seriam inferiores e de menor importância. Tal inferioridade derivaria, respectivamente, da qualidade menor, sendo gênero amarrado a convenções e aos exageros se comparado a outros de seu tempo; e à compreensão da alegoria como estrita figura de linguagem retórico-poética, datada e firmemente relacionada a uma época específica, esteticamente rebaixada em relação ao símbolo, por ser tão somente a expressão de um conceito. No entanto, observando com atenção ao conceito de alegoria em Benjamin, notamos que a sua apreciação sobre aquele não fica reduzida às postulações feitas pelos românticos e busca elevá-lo a uma forma de expressão, enquanto linguagem e escrita, retificando a sua posição em relação ao símbolo e dando-lhe o status de salvaguarda do tempo e da História, em oposição ao valor momentâneo e de beleza eterna que é atribuído ao simbólico em arte. Partindo desse pressuposto apresentado, a intenção que carregamos com a presente proposta é a de realizar uma leitura da estrutura alegórica benjaminiana, no caso compreendo-a como uma interpretação dos princípios retórico-poéticos do chamado “Barroco”, a partir de sua supracitada obra e do entendimento trazido por João Adolfo Hansen em seu livro Alegoria: construção e interpretação da metáfora (2006), no qual realiza um valioso panorama do uso da alegoria, da antiguidade greco-latina ao Século XVII. No mais, nos valemos das ponderações sobre a alegoria em Benjamin, segundo Jeanne Marie Gagnebin, em História e Narração em Walter Benjamin (2013) e Katia Muricy na sua obra Alegorias da Dialética (2009), para que pudéssemos basilar os nossos estudos e para que tecêssemos um Fio de Ariadne para a compreensão da alegoria em sua obra. Referências: BENJAMIM, Walter. Origem do drama trágico alemão. Trad. João Barrento. 2ª ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2016. GAGBEBIN. Jeanne Marie. História e Narração em Walter Benjamin. 2ª ed. São Paulo: Perspectiva, 2013. HANSEN, João Adolfo. Alegoria: a construção e interpretação da metáfora. 1ª ed. São Paulo: Hedra, 2006. MURICY, Katia. Alegorias da Dialética: imagem e pensamento em Walter Benjamin. 1ª ed. Rio de Janeiro: Nau, 2009. ALGUMAS NOTAS SOBRE A METÁFORA ABSOLUTA Regina Lúcia de Faria Resumo: Conceitos fundamentais para a reflexão acerca da ficção literária, o estudo da mímesis e o da metáfora, por motivos distintos, parecem não estar mais no centro do debate teórico dos estudos de literatura. Grosso modo, pode-se dizer que o desprestígio da metáfora articula-se com o da mímesis. Se o conceito de mímesis, entendido como imitação desde Horácio, ficou atrelado à adoção de um referente externo, à submissão a um modelo anterior, a noção de metáfora vinculou-se à linguagem ornamental e não à novidade ou à informação, desqualificando o discurso ficcional, reputado como falso e, consequentemente, hierarquizado frente aos outros discursos considerados sérios, como, por exemplo, o das ciências da natureza. Essa compreensão também se deve, talvez, à forma como os romanos trataram a metáfora. Em A metáfora viva, Paul Ricoeur observa que a tradição retórica posterior à clássica não seguiu a orientação aristotélica dada à metáfora: enquanto Aristóteles, mesmo atentando para as especificidades particulares da elocução na poesia e na oratória, tanto na Poética quanto na Retórica, sublinha a subordinação da comparação à metáfora, pois define a comparação como uma metáfora desenvolvida, Quintiliano inverte a relação e concebe a metáfora como uma comparação sintética ou implícita (RICOEUR, 1983, p.43). Tendo como ponto de partida o conceito aristotélico de metáfora, nesta comunicação, pretendemos mostrar como a “metáfora viva”, de acordo com Paul Ricoeur, ou a “metáfora explosiva ou absoluta”, como definem Hans Blumenberg e Luiz Costa Lima, ou simplesmente “absoluta”, conforme Modesto Carone, é um veículo para a construção da mímesis, enquanto conceito deslocado da noção de imitatio. Referências: RICOEUR. Paul. A metáfora viva. Tradução de Joaquim Torres Costa, António M. Magalhães. Porto: Rés Editora, 1983. ECCE CORPUS ET ANIMA: O CORPO EFICAZ DO PREGADOR NO CORPO RETÓRICO DO SERMÃO DE VIEIRA Rodrigo Gomes de Oliveira Pinto Resumo: A obra parenética do padre Antônio Vieira (1608-1697) foi ideada e preparada para a circulação escrita em formato de livro impresso, e assim foram estampados os Sermoens, em doze tomos, entre 1679 e 1699. O sermão de Vieira, como escrito oportuno retoricamente orientado, não é composto como documentum de factualidade positiva, que intenta restaurar da ruína do tempo a actio do orador, nem é palavra a ser lida que deixa transparecer a realidade empírica vivida pelo inaciano num passado determinado e anterior à publicação da editio princeps. Diversamente, é discurso que forja o desempenho oralizado da matéria sacra e que finge a conveniência da palavra pronunciada no púlpito, dramatizando a moderação da voz e dos gestos do pregador, com o propósito de presentificar, no ato de leitura, o sacerdócio exemplar de Vieira e de encenar de modo instrutivo, quando já ausentes os olhos e os ouvidos do auditório, o tempo morto do desempenho de viva voz da oração evangélica. Coerente com a Instrucción para predicadores, de Francisco Terrones Aguilar del Caño (1551-1613), Vieira preceitua, no “Sermão da Sexagésima”, a naturalidade codificada da conversação familiar (o sermo familiaris, em latim) e a moderação da enunciação bem temperada como parâmetro de voz apropriada e bem ajustada à enunciação vocal dos sermões. Trata-se, sempre à luz de Cícero (séc. II-I a.C.) e de ciceronianos como Cipriano Suárez (1524-1593), de determinar que a contenção artificiosa dedicada a conformar por meio da retórica a voz e os gestos do pregador é um dever ser da ação e da liturgia da pronuntiatio sacra. Impressos os Sermoens, pois, a actio oratória é senão que ficção verossímil e decorosa, inscrita no corpo retórico do sermão, a fim de orientar a fantasia do leitor seiscentista, prontamente informado para idear as ações do corpo do pregador eficaz. Referências: AZEVEDO, João Lúcio de. História de António Vieira (2 vol.). Lisboa: Livraria Clássica Editora, 1918. BENVENISTE, Émile. Problèmes de linguistique générale. Paris, N.R.F., Bibliothèque des sciences humaines, 1966. DUPONT, Florence. Homère et Dallas. Paris: Kimé, 2005. HANSEN, João Adolfo. “Nenhuma leitura é natural: o livro como signo”. Ensaio Geral, v. 1, 2021, pp. 11-22. HANSEN, João Adolfo. “Categorias epidíticas da ekphrasis”. Revista USP, v. 71, 2006, pp. 85-105. HANSEN, João Adolfo. “Esquema para Vieira”, in ROCHA, João Cezar de Castro (Org.), Nenhum Brasil existe. Pequena Enciclopédia. Rio de Janeiro: UniverCidade Editora: 2003, pp. 95-102. HANSEN, João Adolfo. “Padre Antônio Vieira. Sermões”, in MOTA, L. D. (Org.), Introdução ao Brasil. Um banquete no trópico. 3ª ed., São Paulo: Editora Senac: 2001, pp. 23-53. LIMA, Luiz Costa. Limites da voz (Montaigne, Schegel, Kafka). 2ª ed. rev. Rio de Janeiro: Topbooks, 2005. MARTINS, Paulo. Imagem e Poder: Considerações Sobre a Representação de Otávio Augusto. São Paulo: Edusp, 2011. MENDES, Margarida Vieira. “Estética e memória no Padre António Vieira”. In: Revista Colóquio/Letras. Ensaio, n.º 110/111, Jul. 1989a, p. 24-33. MENDES, Margarida Vieira.A oratória barroca de Vieira. Lisboa: Editorial Caminho, 1989b. OLIVEIRA, Ana Lúcia de. Por quem os signos dobram. Rio de Janeiro: Eduerj, 2003. LIMA, Luiz Costa. Limites da voz (Montaigne, Schegel, Kafka). 2ª ed. rev. Rio de Janeiro: Topbooks, 2005. PLINE L’ANCIEN. Histoire naturelle. Livre XXXV: La Peinture. Traduit par Jean-Michel Croisille, Introduction de Pierre-Emmanuel Dauzat. Paris : Les Belles Lettres, 1997. SANTOS, Marcos Lemos Ferreira dos. O gesto da palavra: prolegômenos a um estudo da actio nos sermões impressos de Antônio Vieira. Tese de Doutorado, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2016. SUÁREZ, CIPRIANO, De arte rethorica libri tres ex Aristoteles, Cicerone & Quintiliano praecipue deprompti. Conimbricae, 1590. TERRONES DEL CAÑO, Francisco Aguilar. Instrucción para predicadores. Granada, 1616. VIEIRA, Antônio. Sermoens do P. Antonio Vieira da Companhia de Iesu, Pregador de Sua Alteza. Primeyra parte dedicada ao Príncipe, N. S. Lisboa: na officina de Joam da Costa, 1679. VIEIRA, Antônio. Sermoens do P. Antonio Vieira da Companhia de Iesu, Pregador de Sua Alteza. Segunda parte dedicada no panegyrico da Rainha Santa ao Serrenissimo nome da Princeza N. S. D. Isabel. Lisboa: Officina de Miguel Deslandes, 1682. VIEIRA, Antônio. Sermoens do P. Antonio Vieira da Companhia de Jesu, Prègador de Sua Magestade. Parte duodecima dedicada a purissima Conceição da Virgem Maria Senhora Nossa. Lisboa: Officina de Miguel Deslandes, 1699. MARCAS DE URGÊNCIA DO DISCURSO ECONÔMICO NA ANTIGUIDADE CLÁSSICA A PARTIR DE ARISTÓFANES Thiago Martins Caldas Prado Resumo: O presente trabalho investiga, nas peças do comediógrafo Aristófanes, reflexões advindas da arte que serviram para lançar bases para a construção de um discurso econômico em pleno século IV a.C. Em especial, comédias como Pluto (ou Um deus chamado dinheiro) e Lisístrata apresentaram e estimularam discussões a respeito da organização econômica da sociedade grega que permearam obras como O econômico, de Xenofonte, como Política ou como Ética a Nicômaco, ambas de Aristóteles. A enunciação em relação às divisões administrativas dos bens em sua esfera doméstica ou pública, a interrogação sobre a lógica ou os circuitos da fortuna e a sua relação com a moralidade ou ainda a reflexão a respeito do funcionamento da moeda são temas que, lentamente, atravessaram o cenário do risível da comédia de Aristófanes e tornaram-se matéria de investigação da filosofia aristotélica em sua busca por uma prática moral em relação ao uso do dinheiro e o consequente artifício da criação do conceito de homem liberal – revisitado por Tomás de Aquino na Idade Média e reinterpretado por Adam Smith na entrada para a Idade Moderna. Como parte da pesquisa O Recurso Tropológico na Construção de Efeitos de Verdade em Narrativas da Crise Econômica, financiada pelo Edital Universal 018/2021 do CNPq, esse estudo, ao propor a interpretação de conceitos da área econômica por meio de ligações com produções literárias, oportuniza uma forma alternativa de apresentação e entendimento dos fenômenos econômicos. Referências: ARISTÓFANES. Duas comédias: Lisístrata e As tesmoforiantes. São Paulo: Martins Fontes, 2005. ARISTÓFANES. Um deus chamado dinheiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. ARISTÓTELES. Poética; Organon; Política; Constituição de Atenas. São Paulo: Nova Cultural, 1999. ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Nova Cultural, 1991. GRABER, David. Dívida: os primeiros 5000 anos. São Paulo: Três Estrelas, 2016. OLIVEIRA, Roberson de; GENNARI, Adilson Marques. História do pensamento econômico. São Paulo : Saraiva, 2009. REGO, José Márcio (org.). Retórica na economia. São Paulo: Ed.34, 1996. ROBINS, Lionel. Um ensaio sobre a natureza e a importância da Ciência Econômica. São Paulo: Saraiva, 2012. TODOROV, Tzvetan. Poética da prosa. São Paulo: Martins Fontes, 2003. TOPOI EM DISPUTA: CONTRIBUIÇÃO PARA A HISTÓRIA DA RECEPÇÃO CLÁSSICA (SÉCS. XVI-XVIII) Thiago Nunes Santana Resumo: Discutir-se-á as transformações do repertório de topoi que media a comunicação retórica e poética entre os séculos XVI e XVIII. Especificamente, analisar-se-á a própria possibilidade de transformação desse repertório, dado que a ênfase no aspecto coletivo do uso e interpretação da tópica produz o risco de reduzi-la à repetição de convenções reunidas num “catálogo”, a partir do qual a inventio operaria. Theodor Viehweg defende que essa redução pode ser atribuída ao estreitamento da noção de topos presente na interpretação de Cícero dos Tópicos de Aristóteles, para quem os lugarescomuns pertencem ao domínio da dialética, o que implica que seu conhecimento seja fundamentalmente diverso daquele pertencente a raciocínios oriundos de outros domínios como, por exemplo, a apodeixis. Cícero, segundo Viehweg (1979, p. 29-31), ignora tal distinção, o que o leva a converter em uma “práxis da argumentação” o que em Aristóteles seria a projeção da tópica numa “teoria da dialética”. A concepção de Cícero, mais influente ao longo da história, causou para Viehweg (Ibid.) a esquematização do modelo aristotélico sob a forma de um “catálogo de topoi já prontos”, cuja mobilização obedeceria a uma lógica da repetição. Partindo dessa discussão, defender-se-á que um retorno ao pensamento de Aristóteles a respeito da tópica pode oferecer respostas a alguns problemas enfrentados por historiadores da recepção de obras literárias que se debruçaram sobre textos produzidos no período que se estende do século XVI ao XVIII ao longo das últimas décadas. Referências: VIEHWEG, Theodor. Tópica e Jurisprudência. Brasília: Universidade de Brasília, 1979. SIMPÓSIO “LITERATURA E RELIGIOSIDADE” João Cesário Leonel Ferreira (UPM), Marcos Lopes (UNICAMP), José Cândido de Oliveira Martins (UCP) A RELIGIOSIDADE ENTRE VESTÍGIOS DO SAGRADO E CONSIDERAÇÕES SOBRE O PROFANO EM DINAH SILVEIRA DE QUEIROZ E LÚCIO CARDOSO Ana Cristina Steffen, Luís Alberto dos Santos Paz Filho Resumo: Este trabalho tem por objetivo realizar uma leitura das obras Margarida La Rocque: a ilha dos demônios (1949), de Dinah Silveira de Queiroz, e A luz no subsolo (1936), de Lúcio Cardoso, de maneira a refletir acerca proximidades e diferenças entre os romances no tocante à temática da religiosidade. Ao elaborar narrativas nas quais as personagens estão envoltas pelo manto de suas fés cristãs, os escritores manifestam o tema da religião de maneira a elaborar não apenas uma concepção ideológica por parte da trama, mas sobretudo uma ética que permeia suas literaturas. Pode-se perceber que em ambos os casos apresentados neste trabalho é subvertida a moral religiosa primordial: suas personagens são contraditórias e transitam por espaços profanos e sagrados através da corrupção pelo Mal, traições, adultérios e até assassinatos. Mas antes ainda de a ação externa das personagens formalizar uma atmosfera religiosa, é no plano interior, em seus desejos e pensamentos que o ideal sacro é concebido e, por vezes, corrompido. Para realizar essas reflexões sobre a leitura dos romances, contou-se com as contribuições a respeito do sagrado, do profano e do imaginário mítico presentes nos estudos de Mircea Eliade, Jean Chevalier e Paul Ricoeur, além de críticas das obras de Queiroz e Cardoso. Referências: ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Acadêmicos. Dinah Silveira de Queiroz: Biografia. Rio de Janeiro. Disponível em: http://www.academia.org.br/academicos/dinah-silveira-de-queiroz/biografia. Acesso em: 21 mar. 2018 ALVES, Dário Moreira de Castro. Dinah Silveira de Queiroz. In: ALVES, Dário Moreira de Castro. Dinah, caríssima Dinah. Brasília: Horizonte, 1989. p. 17-25. AYALA, Walmir. Crônica da casa assassinada – Um romance imoral? (II). Correio de Manhã, Rio de Janeiro, 20 jun. 1959. Primeiro Caderno, p. 1-14. Disponível em: http://memoria.bn.br/docreader/089842_06/107261. Acesso em: 21 jul. 2020. BASTOS, Alcmeno. Dinah Silveira de Queiroz, cadeira 7, ocupante 7. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2014 (Série Essencial). BELTRAMI, André. Santa Margarida Maria Alacoque: a esposa sagrado coração de Jesus. São Paulo: Escolas Profissionaes do Lyceu C. de Jesus, 1923. BÍBLIA ONLINE. Disponível em: https://www.bibliaonline.com.br/acf. Acesso em: 9 nov. 2018. BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 52. ed. São Paulo: Cultrix, 2017. CALLADO, Ana Arruda. 450 anos de rivalidade. In: THEVET, André. A cosmografia universal de André Thevet, cosmógrafo do rei. 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"A DAMA E O UNICÓRNIO" E AS REPRESENTAÇÕES DO SAGRADO NAS POÉTICAS DE MARIA TERESA HORTA E DORA FERREIRA DA SILVA Ana Maria Ferreira Côrtes Resumo: O objetivo deste trabalho é apresentar uma leitura comparativa de poemas da obra "A dama e o unicórnio" (2013), da escritora portuguesa Maria Teresa Horta, e da série “Tapeçarias”, de "Andanças" (1970), da poeta brasileira Dora Ferreira da Silva. A hipótese que norteia o trabalho é que, na obra dessas poetas, o tecer aparece como elemento sagrado, relacionado ao poder criacional presente no tear-poetar da palavra, gesto que ressacralizaria o fazer poético e estabeleceria uma nova forma de existir no mundo, em particular para as mulheres, sujeitos centrais nos poemas das escritoras. Também discutimos a releitura que Horta e Silva fazem da série de tapeçarias do século XVI conhecida como "A dama e o unicórnio" e, retomando a afinidade entre poesia e artes pictóricas que remonta à Antiguidade Clássica (SILVA, 2019, p. 53), o modo como os signos verbais e imagéticos se articulam na composição da tessitura poética das autoras. Do ponto de vista teórico, é relevante para o trabalho o estudo do conceito de sagrado e a definição, a partir de suas poéticas, do que entendem pelo termo, de modo a construir seu sentido com base nos próprios textos poéticos e considerando as tradições literárias e culturais nas quais as obras se inserem. Referências: CESAR, Constança Marcondes. Dora Ferreira da Silva: Caminhos em Direção ao Sagrado. Revista Portuguesa de Filosofia, tomo 67, fasc. 2, Pensamento Luso-Brasileiro contemporâneo, 2011, pp. 289-303. CHEVALIER, Jean. Dicionário de símbolos: mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras, cores, números. Rio de Janeiro: José Olympio, 2021. HORTA, Maria Teresa. A Dama e o Unicórnio. Alfragide: Publicações bDom Quixote, 2013. MENEZES, Carlos Roberto dos Santos. A dupla chama ou o jogo da sedução em ‘A dama e o unicórnio’, de Maria Teresa Horta. Convergência Lusíada, 30 (42), 2019, 259-276. Disponível em: https://convergencialusiada.com.br/rcl/article/view/335/280. Acesso em: 15/09/2021. IANELLI, Mariana. O mundo da dama e do unicórnio. Valor Econômico, São Paulo, 10 jan. 2014. Disponível em: https://www.valor.com.br/cultura/3390460/o-mundo-da-dama-e-dounicornio. Acesso em: 10/09/2021. JOURDAN, Jean-Pierre. Le sixième sens et la théologie de l'amour. In: Journal des savants, 1996, n° pp. 137-159. Disponível em: https://www.persee.fr/doc/jds_00218103_1996_num_1_1_1596. Acesso em: 13/09/2021. PAZ, Octavio. A dupla chama: amor e erotismo. São Paulo: Siciliano, 1994. SILVA, Dora Ferreira da. Poesia reunida. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1999. SILVA, Fabio Mario. Ut pictura poiesis: A Dama e o Unicórnio de Maria Teresa Horta. In: COUTO, Anabela Galhardo; CUNHA, Rodrigo Sobral; SILVA, Fabio Mario. Visitações de A Dama e o Unicórnio de Maria Teresa Horta. Lisboa: UNIDCOM/IADE – Universidade Europeia; CLEPLUL, 2019, pp. 51-62. Disponível em: https://issuu.com/clepul/docs/visita__es. Acesso em: 20/04/2022. TABURET DELAHAYE, Élisabeth. Les tapisseries de « La Dame à la licorne ». In: Communications, 86, 2010. Langages des sens. pp. 57-64. Disponível em: https://www.persee.fr/doc/comm_0588-8018_2010_num_86_1_2536. Acesso em: 13/09/2021. A SEGUNDA IMAGEM DO PAINEL QUADRÍPTICO DE MATEUS: UMA PROPOSTA DE LEITURA DA PARÁBOLA DAS DEZ VIRGENS Antônio Egno do Carmo Gomes Resumo: A parábola das dez virgens é parte da longa sequência de cem versículos que vai de Mateus 23.37 a 25.46 e que provavelmente integra um único discurso proferido por Jesus Cristo na véspera de sua crucificação (c. 30 – 33 a.D). Essa sequência, chamada de Sermão Escatológico de Jesus (em razão da linguagem utilizada e do seu caráter preditivo) constitui um dos muitos “pequenos apocalipses” dos Evangelhos de que fala Kermode (1997, p. 414). A gama de elementos acionados por Cristo nesse discurso e a complexidade dos temas envolvidos – além da própria relação entre literário e teológico na linguagem empregada por Jesus e pelo escritor do relato (Mateus) – fazem dessa passagem uma das mais instigantes e desafiadoras do Novo Testamento. Nesta comunicação vamos propor um roteiro de leitura literária da porção narrativa do Sermão, enquanto reconstituímos algumas das principais leituras devocionais geralmente feitas sobre ela, procurando debater pontos relacionados à problemática da literariedade do texto neotestamentário quando este aciona os gêneros escatológicos da profecia e da parábola preditiva. Faremos uma apreciação das micronarrativas da porção indicando: a) que temos nela quatro e não apenas três parábolas; b) que a melhor apreciação literária delas não é a isolada, mas a leitura especular, sob um viés recapitulativo. As histórias dessa porção constituiriam, nessa proposta, não uma tetralogia, ou seja, quatro parábolas autônomas, mas na verdade uma única paisagem – para usar uma metáfora artística –, ainda que composta de quatro partes ou quadros menores. Nós chamamos essa narrativa compósita de o painel quadríptico de Mateus. Referências: ALTER, Robert. A arte da narrativa bíblica. Trad. Vera Pereira, São Paulo: Companhia das Letras, 2007. ARANTES, Aloízio Sousa. A parábola das dez virgens. Disponível em: <https://adcelcarlosfalcao.blogspot.com/2011/10/parabola-das-dez-virgens.html>. Acesso em 24/01/2022. BÍBLIA, Português. Bíblia King James Atualizada (KJA). São Paulo: Abba Press & SBIA, 2012. CALVINO, João. Comentário Bíblico João Calvino: Novo Testamento. Edição do Kindle. 2022. CATECISMO maior de Westminster / Assembleia de Westminster. São Paulo: Cultura Cristã, 2021. Edição do Kindle. CHEUNG, Vincent. As Parábolas de Jesus. Trad. Felipe Sabino. Edições Calcedônia. Edição do Kindle, 2022. CRAMPTON, W. Gary. Creio: Um estudo do Credo dos apóstolos. Trad. Felipe Sabino. Editora Monergismo. Edição do Kindle. 2022. CREDO Niceno-Constantinopolitano. Disponível em: <https://ipb vit.org.br/files/2018/01/CREDO-NICENO-CONSTANTINOPOLITANO.pdf. Acesso em março de 2022. DECLARAÇÃO de Fé das Assembleias de Deus. Rio de Janeiro: CPAD. Edição do Kindle, 2022. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. GUIMARÃES, Antônio Lucas. Confissão de Fé de Westminster: Edição com reflexões de João Calvino. Edição do Kindle, 2022. HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Matthew Henry. (Novo Testamento). Trad. Valdenilson Araujo. Edição do Kindle. 2022. KERMODE, Frank. Introdução ao Novo Testamento. In: ALTER, Robert; ____ (orgs.). Guia literário da Bíblia. Trad. Raul Fiker. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1997. p. 403-415. LIMA, Leandro Antonio de. Apocalipse como literatura: um estudo sobre a importância da análise da arte literária em Apocalipse 12-13. Tese de doutorado em Letras. São Paulo: Universidade Presbiteriana Mackenzie. 229 fl. 2012. MACARTHUR, John. As parábolas de Jesus comentadas por John MacArthur. Thomas Nelson Brasil. Edição do Kindle, 2022. MELANCHTHON, Philipp. A Confissão de Augsburgo. Disponível em: <https://www.luteranos.com.br/conteudo/luteranismo>. Acesso em março de 2022. MILLER, J. Hillis. Parábolas e performativos nos Evangelhos e na literatura moderna. In: ____. A ética da leitura: ensaios 1979-1989. Trad. Eliana Fittipaldi e Katia Orberg. Rio de Janeiro: Imago, 1995. p. 177-197. RYKEN, Leland. Parábolas. In: ___. Para ler a Bíblia como literatura. Trad. André Lodos Tangerino. 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Pretende-se adentrar à composição heteronímica de Pessoa, mostrando como o universo psicológico peculiar do autor leva Fausto a questionar sua existência, o amor, a solidão e o exílio de si mesmo, uma vez que não consegue se relacionar com o que lhe é externo. O aprofundamento de seus limites psicológicos o impede de vivenciar o amor pela figura feminina, atrelada à imagem da santa, que se apresenta na tragédia e, portanto, coloca-o em crise devido à incapacidade de vivenciar as sensações humanas. Por meio do cenário criado por Goethe, pautado pelas figuras celestiais na cena final do seu Fausto II e pelo aprofundamento das questões interiores trabalhadas no Fausto de Pessoa, pode-se vislumbrar a disparidade entre a afirmação da religião e a sua negação. Com a leitura do texto do autor português, o leitor poderá perceber traços religiosos mesmo quando há a negação da existência divina. Dessa forma, o estudo pretende apresentar traços de diálogo entre as duas obras, mostrando como a religião e o amor influenciam a formação da essência faustica e contribui para a elaboração do cenário interno e externo das obras. Referências: GOETHE, Johann Wolfgang von. Fausto - Uma tragédia (Primeira parte); Trad. Jenny Klabin Segall. São Paulo: Ed. 34, 2004. ________Fausto - Uma tragédia. (Segunda parte); Trad. Jenny Klabin Segall. São Paulo: Ed. 34, 2004. ________Fausto. Tradução, Introdução, Glossário: João Barrento. Lisboa: Relógio D´Água Editores, 2013. LOURENÇO, Eduardo. Fausto ou a Vertigem Ontológica. In: Fausto, Tragédia Subjectiva. Edição de Teresa Sobral Cunha. Lisboa: Relógio D´Água, 2013. MAZZARI, Marcus Vinicius. A confissão amorosa do jovem Goethe. In: Maria Augusta Fonseca. (Org.). Olhares sobre o romance. São Paulo: Nankin Editorial, 2005, v. 1, p. 51-66. _________ Labirintos da Aprendizagem. Pacto fáustico, romance de formação e outros temas da literatura comparada. São Paulo: Ed. 34, 2010. _________ Natureza ou deus: afinidades panteístas entre Goethe e o “brasileiro” Martius. In: Estudos Avançados 24 São Paulo: (69), p. 183-202, 2010. _________ Romance de formação em perspectiva histórica - O Tambor de Lata de Günter Grass. São Paulo: Ateliê Editorial, 1999. PESSOA, Fernando. Fausto: tragédia subjectiva: (fragmentos). Estabelecimento do texto, ordenação, notas à edição e notas Teresa Sobral Cunha. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991. ________Fausto, Tragédia Subjectiva. Edição de Teresa Sobral Cunha. Lisboa: Relógio D´Água, 2013. ________ Livro do Desassossego. São Paulo: Companhia das Letras, 2006. ________Primeiro Fausto. Organização e introdução de Duílio Colombini. São Paulo: Iluminuras, 1996. PLATÃO. O banquete, ou, Do amor. Tradução, introdução e notas do Prof. J. Cavalcante de Souza. Rio de Janeiro: DIFEL, 2006. TRUNZ, Erich. Goethe Faust. Der Tragödie erster und zweiter Teil. München: Beck, 1986. A RELIGIOSIDADE NO ROMANCE PERDIÇÃO DE, LUIZ VILELA Elcione Ferreira Silva Resumo: O romance Perdição (2011), de Luiz Vilela tem como enredo a história de um pescador chamado Leonardo que é também conhecido como Leo. Casado e pai de uma menina. Na adolescência seu passatempo favorito, se não único, era pescar no lago, com o melhor amigo, Ramon. A narrativa é conduzida pelo Jornalista Ramon, narrador testemunha. A partir da história de um jovem pescador que se torna pastor evangélico. Luiz Vilela emprega o sagrado cristão, retomando figuras bíblicas. Destaca-se na narrativa o embate do cristianismo corrompido pela religião. Um dos dilemas vivenciado pelo personagem principal é a comercialização da fé. O Romance é fortemente marcado pela dicotomia sagrado-profano. O homem em Perdição busca o sucesso, é um homem que confronta o sagrado e opta por uma compreensão profana da religiosidade. Os elementos estéticos do sagrado e do profano são estabelecidos de modo bastante radical pela banalização da fé, por meio desta, Luiz Vilela evidencia a constituição do homem em ruínas. A personagem em Perdição perdi a fé a família a identidade, perdi a si mesmo, e o caminho foi a religião. Como fundamentação teórica: Eliade, (1991). Imagens e símbolo. Eliade, (1992). O sagrado e o profano. Lins, (1976). Lima Barreto e o espaço romanesco. Referências: ELIADE, Mircea. Imagens e símbolos. Trad. Sônia Cristina Tamer. São Paulo: Martins Fontes, 1991. ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano. Trad. Rogério Fernandes: São Paulo. Livros do Brasil, 1992. LINS, O. Lima Barreto e o espaço romanesco. São Paulo: Ática, 1976. VILELA, Luiz. Perdição (romance). Rio de Janeiro: Record, 2011. CENA-PADRÃO: O CHAMADO DIVINO NO ANTIGO TESTAMENTO E NOS EVANGELHOS Gabriel Aquino da Cruz Resumo: Alter (2007) "uma leitura de qualquer obra de arte, seja em que meio for, exige uma atenção minuciosa â trama de convenções com as quais, contra as quais, uma determinada obra se constitui." Esta comunicação tem como objetivo, tratar da estratégia literária utilizada pelos autores bíblicos em suas narrativas que dizem respeito ao chamado divino para anunciar os seus propósitos, utilizando o que Alter chama de "Cenas-Padrão". Um olhar mais atento pelo leitor das narrativas bíblicas o levará a reconhecer as estratégias e mecanismos literários e linguísticos que o autor das narrativas bíblicas, utilizou para dar sentido ao propósito dos seus relatos. As narrativas bíblicas foram construídas levandose em consideração o público leitor, seu contexto, sua linguagem e compreensão do que se propõe o autor bíblico. ALTER (2007) afirma que "O conhecimento das convenções nos permite identificar padrões significativos, ou simplesmente agradáveis, de repetição, simetria e contraste; diferenciar o verossímel do fantástico; compreender os sinais de orientação numa obra narrativa, verificar o que é inovação e o que é deliberadamente tradicional em cada nexo da criação artística.” O objetivo desta comunicação é identificar nos relatos bíblicos do Antigo Testamento e do Novo Testamento, estruturas narrativas que apresentam uma estrutura de "Cenas-Padrão" do "Chamado divino" para o exercício profético e apostólico em ambos os Testamentos. Estas convenções encontradas em ambos os textos, nos proporciona uma visão de como os primeiros leitores, tinham a compreensão e clareza do que o autor bíblico queria. Havia sim, uma intencionalidade no uso destas convenções na estruturação das narrativas bíblicas. As “cenas-padrão” trazem à memória do público histórias semelhantes vivenciadas por outro personagens bíblicos, que muitas vezes apontam para uma figura, cuja história possui uma dimensão maior de alcance universal e definitivo como o próprio Jesus Cristo. Referências: ALTER, Robert. A arte da narrativa Bíblica. São Paulo: Companhia das Letras, 2007 CATENASSI, Fabrizio Zandonadi; PERONDI, Ildo. Bíblia e ciências da linguagem: recursos literários e cenastipo no Evangelho de Lucas. Revista Teoliterária, v.9, n. 17, p.337-358, 2019. COMFORT, Philip Wesley (ed). A origem da Bíblia...1a. ed. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das assembléias de Deus, 1998 SCHREINER, Joseph; DAUTZENBERG, Gerhard. Forma e exigências do Novo Testamento. São Paulo: Edições Paulinas, 1977. MARGUERAT, Daniel; BOURQUIN, Yvan. Para Ler as Narrativas Bíblicas: Iniciação à Análise Narrativa. São Paulo: Loyola, 2009. TENHO UM TAMBOR DENTRO DO PEITO: LUTA E RELIGIOSIDADE EM CARLOS DE ASSUMPÇÃO Glaucio Varella Cardoso Resumo: A recente (re)descoberta da poesia de Carlos de Assumpção trouxe para o cenário dos estudos na área de letras uma obra cuja riqueza vai se revelando aos poucos, por meio dos textos e artigos que se debruçam sobre o volume de sua poesia reunida, intitulado "Não pararei de gritar", que conta com organização e posfácio de Alberto Pucheu. Nossa proposta será abordar a poesia de Carlos de Assumpção elegendo como temática a religiosidade afrodescendente presente em diversos de seus poemas. É nossa intenção apresentar tal religiosidade como representativa de a) um gesto de resistência em relação à cultura judaico-cristã, cujo viés de culto foi historicamente imposto aos africanos escravizados como parte de um violento processo de silenciamento cultural, e também de b) um movimento de resgate e (re)afirmação de uma identidade na qual a religiosidade está passos à frente do simples culto com hora marcada. Procuraremos demonstrar, a partir dos poemas do autor, como tal religiosidade se confunde com a própria vida cotidiana e, por isso mesmo, torna-se também um gesto de luta. Os símbolos de tal religiosidade serão apresentados a partir dos poemas e problematizados a partir do aporte teórico que nos serviu de referencial para sua apreciação. Também as divindades estão presentes, bem como o elemento "sobrenatural" que perpassa diversos dos poemas em que Carlos de Assumpção apresenta e representa sua cultura e sua identidade. Referências: • ASSUMPÇÃO, Carlos. Não pararei de gritar: Poemas reunidos. 1ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2020. • BARRIGA MONROY, Martha Lucía. “La historia del tambor africano y su legado en el mundo”. El Artista. 2004, (1), 30-48 [fecha de Consulta 14 de Marzo de 2022]. ISSN: . Disponible en: https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=87400104 • CACCIATORE, Olga Gudolle. Dicionário de cultos Afro-Brasileiros. Rio de Janeiro: Forense Universitária, Instituto Estadual do Livro, 1977. • ELIADE, Mircea. Mito e realidade (Myth and Reality). Trad. de Pola Civelli. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1972. • HOMEM, Renata. “Arte e fé: sincretismo afro-brasileiro”. In: Revista Kaypunku. Vol. 1. Diciembre 2014, pp. 41-55. • SALLES BENTO, Oluwa Seyi; INÁCIO, Emerson da Cruz. “Havia um segredo que só Halima sabia”: confluências entre literatura afro-brasileira e mitologia dos Orixás. Anuário de Literatura, Florianópolis, v. 24, n. 1, p. 70-80, 2019. "DAS NIBELUNGELIED" E "VÖLSUNGA SAGA" ENTRE CRISTIANISMO E PAGANISMO: UMA LEITURA COMPARATIVA Isabelle Maria Soares Resumo: A Canção dos Nibelungos (em língua alemã: Das Nibelungelied) é um poema épico datado do século XII e provavelmente escrito na região onde atualmente localiza-se a Alemanha e Áustria, enquanto a Saga dos Volsungos (em língua islandesa: Völsunga saga) é um texto em prosa escrito posteriormente na Islândia do século XIII. Ambos os textos possuem autoria desconhecida e narram, de modo geral, uma mesma lenda. Interessante observar, portanto, como dois textos que se baseiam em um mesmo enredo, o qual, provavelmente, era transmitido oralmente entre os povos germânicos desde tempos remotos, manifestam e transitam entre diferentes religiosidades: o cristianismo e o paganismo germânico. Propomos uma análise comparativa desses textos voltada para a leitura de tais religiosidades, considerando que os contextos de produção dessas obras deslocam-se entre uma cultura cristã já consolidada (no caso de Das Nibelungelied) e uma outra recém convertida ao cristianismo (no caso da Völsunga saga). Com o fim de elucidar esses contextos, nos basearemos em Valéria Pereira (2006) e André de Oliveira (2015). A partir disso, apresentaremos nossa leitura comparada das duas obras de modo a identificar, em especial, as simbologias religiosas que elas apresentam, e dado o contexto germânico medieval em que elas se enquadram, fundamentaremos a nossa análise, principalmente, a partir do livro Dicionário de Mitologia Nórdica (2015) organizado pelo historiador pesquisador Johnni Langer. Referências: Fontes ANÔNIMO. A Canção dos Nibelungos. Trad. A. R. Schmidt-Patier. Brasília: Thesaurus, 2013. ANÔNIMO. Saga dos Volsungos. Trad. Théo de Borba Moosburger. São Paulo: Hedra, 2009. Bibliografia AMORIM, Suênia de Sousa. “Sigurd” LANGER, Johnni. (Org.) Dicionário de Mitologia Nórdica. Símbolos, mitos e ritos. São Paulo: Hedra, 2015. pp. 464-467 CAMPOS, Luciana. “Literatura”. In: LANGER, Johnni; AYOUB, Munir Lufte. (Org.) Desvendando os Vikings. João Pessoa: Idea, 2016. pp. 70-83 CANCLINI, Néstor García. Leitores, espectadores e internautas. Trad. Ana Goldberger. São Paulo: Iluminuras, 2008. CARNEIRO, Flávio. O Leitor Fingido. Ensaios. Rio de Janeiro: Rocco, 2010. CARVALHAL, Tania Franco. Literatura Comparada. 4ª ed. São Paulo: Ática, 2006. FABBRO, Eduardo. “Nibelungos” In: LANGER, Johnni. (Org.) Dicionário de Mitologia Nórdica. Símbolos, mitos e ritos. São Paulo: Hedra, 2015. pp. 326-329 ______. “Sonhos” in: LANGER, Johnni. (Org.) Dicionário de Mitologia Nórdica. Símbolos, mitos e ritos. São Paulo: Hedra, 2015. pp. 481-482 LAGES, Susana Kampff. “Alegoria da leitura, figuras da melancolia: “A tarefa do tradutor” de Walter Benjamin”. In: SELIGMANN-SILVA, Márcio. (Org.) Leituras de Walter Benjamin. São Paulo: Fapesp, Annablume, 1999. pp. 47-60 LANGER, Johnni. “Cristianização das Eddas”. In. ______. (Org.) Dicionário de Mitologia Nórdica. Símbolos, mitos e ritos. São Paulo: Hedra, 2015. pp. 114-119 ______. “Destino”. In. ______. Dicionário de Mitologia Nórdica. Símbolos, mitos e ritos. São Paulo: Hedra, 2015. pp. 125-126 ______. “Dragão Escandinavo”. In. ______. Dicionário de Mitologia Nórdica. Símbolos, mitos e ritos. São Paulo: Hedra, 2015. pp. 138-141 ______. “Espadas Míticas”. In. ______. Dicionário de Mitologia Nórdica. Símbolos, mitos e ritos. São Paulo: Hedra, 2015. pp. 169-171 ______. “Mitologia Nórdica”. In. ______. Dicionário de Mitologia Nórdica. Símbolos, mitos e ritos. São Paulo: Hedra, 2015. pp. 309-313 ______. “Nornas”. In. ______. Dicionário de Mitologia Nórdica. Símbolos, mitos e ritos. São Paulo: Hedra, 2015. pp. 336-340 ______. “Odin”. In. ______. Dicionário de Mitologia Nórdica. Símbolos, mitos e ritos. São Paulo: Hedra, 2015. pp. 345-353 ______. “Paganismo Nórdico”. In. ______. Dicionário de Mitologia Nórdica. Símbolos, mitos e ritos. São Paulo: Hedra, 2015. pp. 357-361 ______. “Ragnarök”. In. ______. Dicionário de Mitologia Nórdica. Símbolos, mitos e ritos. São Paulo: Hedra, 2015. pp. 391-395 ______. “Saga dos Volsungos”. In. ______. Dicionário de Mitologia Nórdica. Símbolos, mitos e ritos. São Paulo: Hedra, 2015. pp. 437-440 LIMA, Luiz Costa. “Introdução. Leitor demanda (d)a Literatura”. In: ______. (Org.) A Literatura e o Leitor. Textos de estética da recepção. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. pp. 9-39 MIRANDA, Pablo Gomes de. “Religião e Marcialidade”. In: LANGER, Johnni; AYOUB, Munir Lufte. (Org.) Desvendando os Vikings. João Pessoa: Idea, 2016. pp. 97-113 MOOSBURGER, Théo de Borba. “Introdução”. In: ANÔNIMO. Saga dos Volsungos. Trad. Théo de Borba Moosburger. São Paulo: Hedra, 2009. OLIVEIRA, André Araújo de. “Cristianização da Escandinávia”. In: LANGER, Johnni (Org). Dicionário de Mitologia Nórdica. Símbolos, mitos e ritos. São Paulo: Hedra, 2015. pp. 111-114 PALAMIN, Flávio Guadagnucci. “Mitologia”. In. LANGER, Johnni; AYOUB, Munir Lufte. (Org.) Desvendando os Vikings. João Pessoa: Idea, 2016. pp. 162-178 PEREIRA, Valéria Sabrina. Die Küneginne rîch. O mundo feminino em A Canção dos Nibelungos e A Saga dos Völsung. Dissertação (Mestrado em Letras) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2006. PERRONE-MOISÉS, Leyla. “Literatura comparada, intertexto e antropofagia". In: ______. Flores na escrivaninha: ensaios. São Paulo: Cia das Letras, 1990. pp. 91-99 PIRES, Hélio. “Funerais e crenças”. In: LANGER, Johnni; AYOUB, Munir Lufte. (Org.) Desvendando os Vikings. João Pessoa: Idea, 2016. pp. 114131 SCHMIDT-PATIER, A. R. “Prefácio”. In: ANÔNIMO. A Canção dos Nibelungos. Trad. A. R. SchmidtPatier. Brasília: Thesaurus, 2013. O EVANGELHO DE MATEUS, EDITORES E LEITORES João Cesário Leonel Ferreira Resumo: Esta comunicação analisa o evangelho de Mateus a partir da história de sua recepção no Brasil. Tal estudo apresenta uma riquíssima tradição no contexto europeu e norte-americano (cf. BOXALL, 2019 e o verbete Matthew, Gospel of. In: Encyclopedia of the Bible and its Reception). No Brasil, a pesquisa é praticamente inexistente. Se as recepções são perceptíveis nas práticas de leitura, pergunta-se se é possível identificar o leitor já a partir de elementos editoriais em edições do evangelho de Mateus. O objetivo desta comunicação, portanto, é investigar o papel dos editores no processo de configuração de leitores em bíblias publicadas em nosso país. Quanto a isso, “[...] a disposição e a divisão do texto, sua tipografia, sua ilustração [...] podem sugerir leituras diferentes de um mesmo texto” (CHARTIER, 2001, p. 97, grifo nosso). O autor acrescenta, como um de seus objetivos: “[...] sinalizar como os objetos tipográficos encontram inscritos em suas estruturas a representação espontânea, feita por seu editor, das competências de leitura do público ao qual ele os destina” (2001, p. 98). Para averiguar a ação editorial serão abordados os subtítulos, ou intertítulos, segundo Gerard Genette (2009, p. 259), em três edições bíblicas: Bíblia Sagrada. Tradução Brasileira (original de 1917); Bíblia Sagrada. Tradução de João Ferreira de Almeida. Edição Revista e Corrigida (publicada em 1977); e a Bíblia Sagrada. Nova Almeida Atualizada (publicada em 2018). Os subtítulos apresentam variações entre as edições, como maior ou menor extensão dos blocos, nomeação diferenciada de subtítulos, subtítulos equivocados, substituição de palavras nos subtítulos etc. que permitem propor a identificação de grupos de leitores brasileiros diferenciados. Como principais referenciais teóricos serão utilizados a história do livro e da leitura a partir das obras de Lucien Febvre e Henri-Jean Martin (2017), Roger Chartier (2001, 2002), D. F. Mckenzie (2018) e Robert Darnton (2010). Referências: BÍBLIA Sagrada. Tradução Brasileira. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2011. BÍBLIA Sagrada. Tradução de João Ferreira de Almeida. Edição Revista e Corrigida. Rio de Janeiro: Imprensa Bíblia Brasileira, 1975. BÍBLIA Sagrada. Tradução de João Ferreira de Almeida. Nova Almeida Atualizada. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2018. BOXALL, Ian. Matthew through the centuries. Hoboken: Wiley, 2018 (Serie: Wiley Blackwell Bible commentaries). CHARTIER, Roger. Do livro à leitura. In: CHARTIER, Roger (Org.). Práticas da leitura. São Paulo: Estação Liberdade, 2001. p. 77-105. CHARTIER, Roger. Os desafios da escrita. São Paulo: Editora UNESP, 2002. DARNTON, Robert. O beijo de Lamourette: mídia, cultura e revolução. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. FEBVRE, Lucien; MARTIN, Henri-Jean. O aparecimento do livro. São Paulo: Edusp, 2017. GENETTE, Gérard. Paratextos editoriais. Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2009. MCKENZIE, D. F. Bibliografia e a sociologia dos textos. São Paulo: Edusp, 2018. NOVAKOVIC, Lidija et al. Matthew, Gospel of. In: FUREY Constance M. et al (Ed.). Encyclopedia of the Bible and its Reception. Berlin/Boston: Walter de Gruyte, v. 18, 2020, colunas 123-164. ENTRE JESUS E ANÁS, PEDRO João Paulo Maciel Resumo: Dentro dos estudos das possíveis relações entre literatura e religiosidade está a proposta de uma abordagem literária do texto bíblico. .Enfatizando seus aspectos estéticos e procurando estabelecer um trabalho de crítica literária sobre um corpus até então considerado apenas em seu caráter teológico, tal abordagem vem crescendo em seu uso e ganhando espaço na academia brasileira. Esta comunicação se propõe, então, a uma análise do capítulo 18 do Evangelho de João com enfoque na caracterização da personagem de Pedro. Seus objetivos são investigar esta caracterização a partir da relação da personagem em questão com o protagonista, Jesus, dentro do contexto maior das narrativas da semana da paixão de Cristo, como são conhecidas. Para tanto, parte-se metodologicamente da análise do texto supracitado tendo por referencial teórico o texto de Robert Alter - A arte da Narrativa Bíblica - bem como o trabalho desenvolvido no Brasil pelo Prof. Dr. João Cesário Leonel Ferreira. Seguindo estes teóricos, a análise de narrativas bíblicas observa a importância da relação entre diálogo e narrativa e a repetição como estratégia de desenvolvimento do enredo, entre outras características. Como resultado, pretendese apresentar as estratégias de tecitura do texto e os impactos de seu uso para a caracterização de Pedro da maneira como o texto do evangelho intenta fazê-la. Ainda, deseja-se contribuir com esse movimento que aponta o caráter literário do texto bíblico, há muito ignorado. Referências: ALTER, Robert. A arte da narrativa bíblica. Tradução de Vera Maria Pereira. São Paulo: Cia. das Letras, 2007. ALTER, Robert; KERMODE, Frank. Guia literário da Bíblia. São Paulo: Editora Unesp, 1997. AUERBACH, E. (Ed.). Mimesis: a representação da realidade na literatura ocidental. São Paulo: Perspectiva, 1998. LEONEL, João; CARNEIRO, Marcelo (Org.). Para estudar a Bíblia: abordagens e métodos. São Paulo: Recriar, 2021. POWELL, Mark Allan. What is Narrative Criticism? Mineápolis: Fortress Press, 1990. PRAZER E ALEGRIA - DUAS QUESTÕES RELIGIOSAS NO PENSAMENTO DE RUBEM ALVES José Sival Soares Resumo: As questões religiosas podem ser tratadas por pensadores não-religiosos? É possível falar de Deus sem cair nas amarras dos discursos doutrinais das religiões? Embora alguns dos discursos da Modernidade tenham buscado excluir os elementos religiosos do âmbito da filosofia, da literatura e da ciência em nome de um pretenso laicismo acadêmico ou dum secularismo epistemológico, os temas religiosos sempre se fizeram presentes nas obras do gênio humano. Deus cabe na literatura. E sua abordagem não se reduz ao reduto das religiões. O ser humano é capaz de se rebelar contra os discursos da religião, e mesmo assim referir-se a ela. Rubem Alves, ao refletir sobre o prazer e a alegria, no livro “Variações sobre o Prazer”, aborda essas duas experiências humanas, relacionando-as à teologia, à filosofia, à economia e à culinária. Em sua reflexão os deuses aparecem como reflexo da própria humanidade. Sua visita a autores como Santo Agostinho, Nietzsche, Marx e Babette, do filme “A festa de Babette”, desnuda a possibilidade de analisar o prazer e a alegria como dádivas dos deuses que não se confundem com os interditos das religiões. O método de Rubem Alves é, por assim dizer, teopoético, dado que no curso dos escritos parece compor versos que trazem prazer ao corpo e alegria à alma. O objetivo do presente estudo é mostrar como Rubem Alves trata de temas religiosos de forma nãoreligiosa e descobrir, em sua reflexão, um estilo literário de tipo “teopoético”. Referências: ALVES, Rubem. Da Esperança. Campinas: Papirus, 1987. _____________. Theopoethics: longing and liberation. In.: Struggles for Solidarity: liberation theologies in tension. Minneapolis MN: Fortress Press, 1992. _____________. Sobre deuses e caquis. Campinas: Papirus, 1998. _____________. Lições de Feitiçaria: meditações sobre a poesia. São Paulo: Loyola, 2003. _____________. Teologia da Libertação em suas Origens: uma interpretação do significado no Brasil - 1963. Vitoria: Faculdade Salesiana de Vitoria, 2004. _____________. Variações sobre o Prazer. São Paulo: Planeta, 2014. _____________. Rubem Alves essencial: 300 Pílulas de Sabedoria. São Paulo: Planeta, 2015. BINGEMER, Maria Clara L. Teopoética: uma maneira de fazer teologia? In.: Interações – Cultura e Comunidade, V.11 N.19, P.3-7, JAN./JUN./2016 ISSN 1983-2478. Belo Horizonte: 2016. BOFF, Leonardo. As Metáforas para Deus na obra de Rubem Alves. In.: Numen: revista de estudos e pesquisas da religião, v. 22, n.2, julhodezembro, p. 123-128. Juiz de Fora: 2019. CONCEIÇÃO, Douglas Rodrigues. O Instante do Prazer e da Alegria: um caminho para a ressurreição dos corpos em Rubem Alves. In.: Estudos de Religião, v. 31, n. 2 • 225-238 • maio-ago. 2017 • ISSN Impresso: 0103-801X – Eletrônico: 2176-1078. Belo Horizonte: 2017. DAILEY, Thomas F. Eucharist & the Theopoetics of Encounter according to St. Francis de Sales. In: CHORPENNING, Joseph. Human Encounter in the Salesian Tradition. Rome: International Commission on Salesian Studies, 2007. JUNIOR, Raimundo César Barreto. Rubem Alves: o desenvolvimento de seu pensamento e a recepção do mesmo nos Estados Unidos. Revista Reflexus - Ano VIII, n. 12, 2014/2. São Paulo: 2014. NIEZTSCHE, Fridrich. Así habló Zaratustra. Tradução A. Sánchez Pascual. Madrid: Alianza, 2007 (Original de 1883-1885). STEINER, George. Depois de Babel – Questões de Linguagem e tradução. Curitiba: Editora UFPR, 2005. VELIQ, Fabiano. Dizer e Viver a Esperança: Aspectos sobre a Linguagem e a Religião no Pensamento de Rubem Alves. In.: Revista Reflexus – Ano VIII, n. 12, Faculdade Reunida de Vitória: Espírito Santo, 2014/2 VIDAL NUNES, Antônio. Corpo, Linguagem e Educação dos Sentidos no Pensamento de Rubem Alves. São Paulo: Paulus, 2008. VIDAL NUNES, Antônio. Etapas no Itinerário Reflexivo de Rubem Alves. In.: O Que Eles Pensam de Rubem Alves e de seu Humanismo na Religião, na Educação e na Poesia. Organizado por Antonio Vidal Nunes. São Paulo: Paulus, 2008. A RELIGIOSIDADE NO ROMANCE ATALIBA, O VAQUEIRO, DE FRANCISCO GIL CASTELO BRANCO Jose Barroso de Oliveira Filho Resumo: O presente trabalho analisa a busca analisar a manifestação religiosa percebida por meio das rezas, devoção e vivências dos personagens do romance regionalista de Ataliba, O Vaqueiro, de Francisco Gil Castelo Branco. Este estudo partiu da seguinte questão norteadora: como a religiosidade torna esse grupo de pessoas humildes do sertão mais fortes e resilientes para suportar as agruras vividas em um cenário de miséria, doença e tristeza, deixado pela causticante seca que assolou a região para as bandas de Marvão, atual cidade de Castelo do Piauí? Para responder à questão apontada, realizou-se um estudo de cunho bibliográfico, o qual considerou o apoio teórico de Roberto DaMatta (2000), EMILLE DURKHEIM (2002), ALMEIDA (1993), dentre outros. A partir da análise da temática proposta aqui, observou-se que as personagens eram submetidas às forças do mundo natural, fazendo uso da reza na busca de refrigério e descanso em um cenário antes virente de fartura e alegria, agora espaço de sobrevivência, agonia, morte e dor no inóspito e desolado sertão do Ceará e Piauí. Há uma conexão que os torna coesos e confiantes na convivência a suportar os horrores da seca e seguir crendo e manifestando sua religiosidade em toda a extensão do romance. Assim, acredita-se que esta comunicação se faz cabível nas discussões sobre Literatura e Religiosidade. Referências: ALMEIDA, João Ferreira de. Bíblia Sagrada. Revista e atualizada no Brasil; 2ª Edição. Sociedade Bíblica do Brasil, São Paulo, SP. 1993 ADaMATTA, Roberto. O que faz o brasil, Brasil? 11. ed. Rio de Janeiro: Rocco, 2000 DURKHEIM, É. As formas elementares da vida religiosa: o sistema totemico na Austrália. OEIRAS: Celta Editora, 2002. ESPIRITUALIDADE E SAGRADO NA ESCRITA DE MARIA ONDINA BRAGA José Cândido de Oliveira Martins Resumo: "Nasci numa cidade sossegada com pedras do tempo dos romanos e Nossas Senhoras de todos os nomes." Algumas obras literárias da escritora portuguesa contemporânea Maria Ondina Braga (Braga, 1932-2003), particularmente as narrativas de autoficção – Estátua de Sal; Passagem do Cabo; Vidas Vencidas, são obras marcadas por uma escrita de base memorialística e autobiográfica, mostrando-se particularmente ricas ao nível das referências religiosas – sejam evocações de práticas do catolicismo, desde os tempos de infância numa cidade do Norte de Portugal; sejam considerações sobre práticas religiosas de outras culturas, tão diferentes como Angola ou Macau. "Na igreja na?o era preciso mandar ficar triste. O ar pesado do incenso do calor dos ci?rios, do perfume das ac?ucenas, os paramentos negros do ritual, os ca?nticos fu?nebres, tudo entristecia de morte." "Jamais tive devoção à Virgem. Sempre ela me pareceu alheia à minha condição de mulher, à minha fatal descendência de Eva. Ela, a que nasceu diferente, a toda pura, a que nunca partilhou da guerra crua entre o espírito e a matéria." Neste horizonte temático, de múltiplas referências a cenários de fundo religioso, escritora evoca memórias, tece reflexões de diversa índole, mostra-se uma mulher sensível às manifestações do sagrado e do transcendente, mas com grande liberdade e sentido crítico, potenciados pelo seu espírito cosmopolita. Faz isto como mulher independente, começando numa sociedade fechada e muito conservadora, tradicionalmente católica, com assinalável coragem para expressar o seu sentido crítico face a uma herança religiosa tradicional. Referências: Duque, João (2003), Dizer Deus na Pós-Modernidade, Lisboa, Alcalá. Frye, Northrop (1982), The Great Code: the Bible and Literature, New York and London, Harcourt Brace Jovanovich, Pub. Schwartz, Regina (2004), Transcendence: Philosophy, Literature, and Theology Approach the Beyond, New York, Routledge. Taylor, Charles (2007), A Secular Age, Cambridge, Massachusetts, and London, England, The Belknap Press of Harvard University Press. O LUGAR DIVINO NO DEVIDO LUGAR Julia Araujo Borges Resumo: A liberdade sempre foi um motivador na história da humanidade; considerada uma grande conquista, ser livre é poder fazer as suas próprias escolhas sem interferências externas. Mas quando essas escolhas oscilam entre o ruim e o pior, a capacidade humana de resolução se enfraquece profundamente. Essa situação dramática revela a grande ironia com que o herói trágico se deparava no contexto do século V a.C., e ressalta, por sua vez, a temática do destino para o homem daquele período. Se há decisão humana em meio a uma determinada situação, há também deuses a engendrarem o seu destino; e toda a dialética entre esses dois universos tão díspares acaba por retomar constantemente questões de cunho particular e específico. Os tragediógrafos buscavam apresentar, através de suas peças, as vicissitudes dos homens e sua relação com o divino, inseridos em uma Atenas que vai sofrendo diversas transformações políticas, sociais e econômicas. No Brasil do século XXI, apesar do grande tempo decorrido, várias são as reflexões acerca da presença do divino nas artes literárias. Pretende-se assim entender, através das obras trágicas gregas e a literatura brasileira do século XX, o desenvolvimento temporal da relação do homem com os deuses, além de compreender se há afastamento da dependência divina ou se esta relação demonstra atravessar tempo e espaço. Referências: BURKET, W., Greek religion. Cambridge: Harvard University Press, 1985. COSTA, A. e PESSOA, P., Orestia de Ésquilo. São Paulo: Giostri, 2013. MEIRELES, C. Poesia Completa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. SILVA, A. F. de O., Orestes. Brasília: UnB,1999. SOUSA, E. de., As Bacantes. São Paulo: Hedra, 2010. VERNANT, J.-P., Mito e Religião na Grécia Antiga. São Paulo: Martins Fontes, 2006. A FÉ NEGRA NAS OBRAS DE EXÍLIO DE STEFAN ZWEIG E ULRICH BECHER Larissa Elisabete Fumis Resumo: Stefan Zweig e Ulrich Becher produziram o que podemos chamar de literatura de exílio. Os dois autores viveram no Brasil em meados da década de 40 e escreveram sobre o país, seu povo e seus costumes. Um dos temas contemplados por eles em seus livros é o negro e com ele sua religiosidade. Macumba, como é chamada pelos dois autores. Quando trata de religião e fé, Zweig, em Brasil, um país do futuro, considera que para o brasileiro a religião está ligada à festas e à alegria, como se esta não fosse levada a sério, com a devoção e respeito necessários. E em alguns momentos a religiosidade do brasileiro é comparada a acessos de loucura ou infantilidade. No que diz respeito às religiões brasileiras de matriz africana, (umbanda e candomblé) ele considera como uma encenação para turista e usa termos como “ritos insólitos” e “estranhos que apenas geram curiosidade”. Ulrich Becher, por outro lado, oferece aparentemente um tratamento um pouco mais respeitoso para esse tema. Ele discorre com naturalidade sobre os ritos de macumba e a presença de bruxas (feiticeiras) que atuam como curandeiras nas comunidades descritas em seu Romanceiro Brasileiro. Em seus versos podemos ler uma descrição um pouco menos subjetiva dos ritos dessas religiões, perfeitamente integradas na vida das pessoas. Como quando uma mãe leva seu filho para ser tratado por uma Negerhexe ou quando alguém precisa de um galo branco para fazer uma magia. Becher também oferece uma explicação sobre a origem e a permanência dessas religiões no Brasil e, aparentemente, não emite qualquer juízo de valor. O objetivo neste trabalho é fazer uma breve apresentação e comparação dos modos de ver e representar o negro, sua fé e a religiosidade brasileiras destes dois autores. Referências: BECHER, Ulrich. Brasilianischer Romanzero. Berlin/Weimar: Aufbau-Verlag, 1979 KESTLER, Izabela Maria Furtado. A literatura em língua Alemã e o período do exílio (1933-1945): a produção literária, a experiência do exílio e a presença de exilados de fala alemã no Brasil. Itinerários, Araraquara, 23, 115-135, 2005. KESTLER, Izabela Maria Furtado. Exílio e Literatura. Escritores de fala alemã durante a época do nazismo. Tradução: Karola Zimber. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2003. – (Ensaios de Cultura; 22) PAZ, Octávio. O arco e a lira. Tradução: Olga Savary. Rio de Janeiro: Nova Fronteira 1982. SOUSA, Celeste Henriques Marquês Ribeiro de (org.). Imagologia. Coletânea de ensaios de Hugo Dyserinck I. São Paulo, Instituto Martius-Staden, 2005. SOUSA, Celeste Henriques Marquês Ribeiro de. Retratos do Brasil: hetero-imagens literárias alemãs. São Paulo: Arte & Cultura, 1996. (Coleção Universidade Aberta: V. 16) ZWEIG, Stefan. Brasil, um país do futuro. Tradução: Kristina Michahelles. Porto Alegre, RS: L&M, 2013. ZWEIG, Stefan. Brasilien, ein Land der Zukunft. Berlin, Suhrkamp Taschenbuch Verlag, 1989. O SAGRADO PRESENTIFICADO EM SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN: A RENOVAÇÃO DE SI MESMO EM COMUNHÃO COM A NATUREZA Lorraina Almeida Serrão de Souza Resumo: O tempo presente é um tempo de indigência, não há mais comunhão entre o homem e o sagrado (HEIDEGGER, 1998), o século XXI é herdeiro das correntes filosóficas de ruptura dos finais dos séculos XIX e XX. Sophia de Mello Breyner Andresen, poeta de enorme influência para a cultura portuguesa, primeira mulher a receber o Prêmio Camões, uma voz que reverbera até os dias de hoje na propagação de uma poesia que comunga com o sagrado; que conversa com o mar e ressignifica o mundo fundando-o em sua poesia, surge como uma possibilidade de recuperação de uma transcendência já esquecida. Sophia é uma mulher de seu tempo, mas sua poética navega na contramaré e convida o leitor ao ritual de uma sacralidade, que é parte constitutiva do ser humano, uma vez que este pode estar longe dos deuses, mas não consegue negar o sopro de divindade que habita e que reverbera em cada movimento no mundo. O diálogo em construção, na pesquisa, entre Sophia, as teorias das religiões e a filosofia, visa questionar e, se possível, responder as questões que são caras à existência humana: de onde viemos? para onde vamos? o que é estar no mundo? A poesia, que se encontra além da linguagem (PAZ, 2012) e, consequentemente, convida ao além da matéria, é capaz de construir uma ponte há muito esquecida? A poeta moderna, vivenciando um período de 2ª Guerra Mundial, constrói sua poética no limbo entre o vazio absoluto (niilismo) e o conservadorismo religioso exacerbado, e propõe um encontro com o sagrado que é a própria Natureza: o mar, o vento e o sopro. A conexão com a natureza, o outro e o divino é um movimento que possibilita a mudança e renovação de si mesmo (OTTAVIANI, 2013), possibilitando a libertação e salvação. Referências: ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner. Obra poética. Porto: Porto Editora: Assírio & Alvim, 2015. HEIDEGGER, Martin. “Para quê poetas?” In: Caminhos de Floresta, por Martin HEIDEGGER, 309367. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1998. OTTAVIANI, Didier. “A potência da linguagem em Dante.” In: Neoplatismo, mística e linguagem, por Marcus Reis e FILHO, Celso Martins Azar (Org.) PINHEIRO, 141-163. Niterói: Editora da Universidade Federal Fluminense, 2013. PAZ, Octavio. O arco e a lira. São Paulo: Cosac Naify, 2012. O CAPÍTULO 5 DO EVANGELHO DE LUCAS: UM PONTO DE PARTIDA, VÁRIOS CAMINHOS Lucas Viana de Oliveira Júnior Resumo: Na proposta de Robert Alter, “as narrativas bíblicas me parecem plenamente comparáveis aos grandes clássicos da literatura, antigos e modernos” (ALTER, 2008, p. 12). Esse trabalho parte da mesma intenção, de realizar uma análise do texto bíblico como obra literária em si, construída a partir de relações intencionais dos autores, em diferentes momentos de produção, proporcionando ricas características literárias e ampla gama de sentidos. O capítulo 4 do evangelho de Lucas é chave para o desencadeamento das demais seções do texto. Anteriormente, nos primeiros capítulos, o narrador apresenta os personagens João, chamado Batista, e o próprio Jesus. Mas é a partir do discurso na sinagoga de Nazaré que o narrador expande e desenvolve o ministério de Jesus. Podemos caracterizar tal capítulo a partir da rejeição de Jesus pelos nazarenos (Lc 4.28–30) e a recepção positiva por parte dos moradores de Cafarnaum (Lc 4.42–44). Essa relação de recepção e rejeição também é evidenciada no capítulo seguinte do terceiro evangelho. Pretende-se verificar, a partir da análise de quatro narrativas do quinto capítulo: o chamado dos primeiros discípulos (Lc 5.1-11), a cura de um leproso (Lc 5.12-16), a cura de um paralítico (Lc 5.17-26) e a vocação de Levi (Lc 5.27-39), qual a importância dessas narrativas na condução do fio temático que gera efeito de sentido no restante do evangelho? Como o narrador lucano apresenta contornos próprios a esses eventos a fim de apresentar a identidade do protagonista e personificar opositores ou apoiadores do seu ministério no restante da narrativa? Para essa análise, os trabalhos de Antonio Candido (2014), Daniel Marguerat (2009), Daniel Marguerat e Yvan Bourquin (2000), Júlio Zabatiero e João Leonel (2011) e Robert Alter (2007) serão os referenciais teóricos e a versão bíblica utilizada será a Bíblia Revista e Atualizada (1999), publicada pela Sociedade Bíblica do Brasil. Referências: ALMEIDA REVISTA E ATUALIZADA (ARA). Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2021. ALTER, R. A arte da narrativa bi?blica. Sa?o Paulo: Companhia das Letras, 2007. CANDIDO, A [et.al.]. A personagem de ficção. 13ª ed. São Paulo: Perspectiva, 2014. MARGUERAT, D.; BOURQUIN, Y. Para ler as narrativas bíblicas: iniciação à análise narrativa. São Paulo: Edições Loyola, 2009. MARGUERAT, D (org.). Novo Testamento: história, escritura e teologia. São Paulo: Edições Loyola, 2009. ZABATIERO, J.P.T.; LEONEL, J. Biblia, literatura e linguagem. São Paulo: Paulus, 2011. SACRAMENTO E LITERATURA Marcos Lopes Resumo: O escopo desta comunicação é analisar o diálogo entre forma literária e universo religioso em alguns poetas das literaturas portuguesa e brasileira. Pretende-se entender como a forma literária dá expressão às categorias religiosas. Também deseja-se pensar de que maneira estas últimas estabelecem um horizonte de significação para o leitor, o que implica admitir que a hipótese de trabalho levará em conta as possíveis relações entre retórica e hermenêutica. Afinal, se todo símbolo ou alegoria, presente em um poema, se oferece ao leitor como exercício de interpretação ou tradução, não menos verdadeira é a idéia segundo a qual tal presença simbólica ou alegórica quer nos persuadir a respeito de alguma realidade possível ou verossímil. Dois núcleos temáticos presidirão a estrutura do percurso argumentativo do trabalho: 1. A questão da secularização nos debates teológicos e literários do século e suas ressonâncias em alguns poetas da tradição luso-brasileira; 2. A presença sacramental em algumas expressões poéticas a evocar os lugares teológicos indispensáveis para a crítica da linguagem e da experiência religiosas. Por fim, esses dois núcleos temáticos serão articulados em torno da seguinte proposta investigativa: uma ética da leitura é condição indispensável para se entender os efeitos de presença e de sentido provocados por um texto literário. Referências: ANTUNES, M. Três poetas do sagrado. Brotéria. Revista Contemporânea de Cultura, Lisboa, jul. 1957, p. 42-61. BASTIDE. Roger. Estudos sobre a poesia religiosa brasileira. In: ______. Poetas do Brasil. São Paulo: EDUSP, Duas Cidades, 1997, p. 103-149. BASTIDE, Roger. Um misticismo sem deuses. In: ____. O sagrado selvagem e outros ensaios. Trad. Dorothée de Bruchard. São Paulo: Cia. das Letras, 2006, p. 13. BOFF, Leonardo e BETO, Frei. Mística e espiritualidade. Rio de Janeiro: Rocco, 1994. CLAUDEL, Paul. Religion et poésie. In: ______. Reflexions sur la poésie. Paris: Gallimard, 1963, p. 169 CONCILIUM. Revista Internacional de Teologia. Teologia e literatura. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, n. 115, 1976/5. DURAND, Gilbert. A imaginação simbólica. Trad. Liliane Fitipaldi. 10 ed. São Paulo: Cultrix, 1995. ELIOT, T.S. Religion and literature. In: _____. Selected prose of T.S. Eliot. London – Boston: Faber and Faber, [19?], p. 97-106. FRIEDRICH, Hugo. Estrutura da lírica moderna: da metade do século XIX a meados do século XX. Trad. Marise M. Curioni. São Paulo: Duas Cidades, 1978. GAUCHET, Marcel. Le désenchantement du monde. Une histoire politique de la religión. Paris: Gallimard, 1985. GUIMARÃES, Fernando. “A poesia de Pedro Tamen”. In: TAMEN, Pedro. Poesia (1956-1978). Lisboa: Moraes Editores, 1978, p. 09-16. HADOT, Pierre. Exercices spirituels antiques et “philosophie chrétienne”. In: _______. Exercices spirituals et philosophie antique. 9. ed. Paris: Albin Michel, 2002, p. 75-98. HATZFELD, Henri. As raízes da religião. Tradição, ritual e valores. Trad. Armando Pereira da Silva. Lisboa: Instituto Piaget, 1997. LELOUP, Jean-Yves. O ícone: uma escola do olhar. Trad. Martha Gouveia da Cruz. São Paulo: Unesp, 2006. SPITZER, Leo. Três poemas sobre o êxtase: John Donne, San Juan de La Cruz, Richard Wagner. Trad. Samuel Titan Jr. et al. São Paulo: Cosac & Naify, 2003. AS PERSONAGENS MYRIEL E G., EM LES MISÉRABLES, DE VICTOR HUGO: CONVERGÊNCIA AXIOLÓGICA PELA MODALIZAÇÃO DISCURSIVA Maria Julia Pereira Resumo: No romance Les Misérables, o bispo Myriel é definido como altruísta e justo, como um religioso verdadeiramente comprometido com os valores cristãos, provocando a reprovação dos poderosos da comunidade em que vivia. O convencional G., por sua vez, antigo partidário da Revolução francesa, era desprezado por todos em razão de sua afinidade com o regime do Terror. O encontro entre ambas as personagens culmina em um embate ideológico por meio do diálogo. Ao longo da discussão, é possível notar a manipulação do discurso pelas personagens-enunciadoras conforme seus propósitos: o bispo, na condição de religioso e antigo aristocrata prejudicado pela Revolução francesa, almeja converter G. e condenar tal movimento por suas atrocidades. O convencional, por outro lado, na condição de revolucionário ex-combatente, busca evidenciar os valores da Revolução, defendendo suas virtudes. Dessa forma, instaura-se, pela modalização discursiva, uma espécie de julgamento do acontecimento histórico segundo uma moral própria da tradição judaico-cristã. Por meio do trabalho com a linguagem, o narrador gera imagens e figuras que se somam construindo significações à medida que o leitor experimenta essas sensações oriundas do texto literário que se caracteriza essencialmente pela figuratividade. É também a partir da modalização discursiva que os enunciados, inicialmente conflitantes, revelam-se, enfim, em convergência axiológica, isto é, os valores revolucionários e cristãos se coadunam, sobretudo quanto aos ideais de igualdade e fraternidade traduzidos na máxima cristã de amor ao próximo praticada por ambos os enunciadores. Referências: ALBOUY, Pierre. La Création mythologique chez Victor Hugo. Paris: Librairie José Corti, 1968. ARISTÓTELES. Retórica. Tradução de Manuel Alexandre Júnior, Paulo Farmhouse e Alberto do Nascimento Pena. 2. ed. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2005. BALDAN, M. de L. O. G. Veridicção: um problema de verdade. ALFA: Revista de Linguística, São Paulo, v. 32, 2001. Disponível em: https://periodicos.fclar.unesp.br/alfa/article/view/3797. Acesso em: 26 nov. 2021. BERTRAND, Denis. Caminhos da semiótica literária. Bauru, EDUSC, 2003. BÍBLIA, N.T. Filipenses. In: BÍBLIA. Português. A Bíblia de Jerusalém. Tradução de Isaac Nicolau Salum. São Paulo: Edições Paulinas, 1985. p.2205-2210. GREIMAS, Algirdas Julien. Sobre o sentido II: ensaios semióticos. Tradução de Dilson Ferreira da Cruz. São Paulo: edusp, 2014. HUGO, Victor. Les Misérables. Paris: Gallimard, 2018. ______. Politique. Paris: Robert Laffont, 2002. LOPES, I. C.; BEIVIDAS, W. Veridicção, persuasão, argumentação: notas numa perspectiva semiótica. Todas as Letras, São Paulo, v. 9, n. 1, p.32-41, 2007. MONCOND’HUY, Dominique; SCEPI, Henri. Chronologie. In: HUGO, V. Les Misérables. Paris: Gallimard, 2018. PEREIRA, Maria Júlia. As personagens Myriel, Enjolras, Jean Valjean e Javert em Les Misérables, de Victor Hugo: Reações à concepção de justiça legalista. 2020. 195f. Dissertação (Mestrado em Estudos Literários) – Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Letras, Araraquara, 2020. ROOS, Jacques. Les idées philosophiques de Victor Hugo. Paris: Nizet, 1958. THAMOS, Márcio. Catulo e a figuratividade poética ou Um pequeno drama lírico em três atos. In: PIRES, Antônio Donizeti & FERNANDES, Maria Lúcia Outeiro (orgs.) Matéria de poesia: crítica e criação, São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010, p. 33-46. BODAS ÀS AVESSAS: SOBRE O SONHO PROFÉTICO DE GIL VICENTE N'O TEMPLO DE APOLO Mariana Soares da Cunha Leite Resumo: Na introdução ao Templo de Apolo (Gil Vicente ed. 2002), Gil Vicente apresenta um desfile de casais célebres da tradição bíblica e clássica. Composto para celebrar a união da coroa portuguesa com o Sacro Império através da Infanta D. Isabel, filha de D. Manuel, e de Carlos V, alusão a figuras históricas é, de certo modo, bastante concordante com a elevação do casal que então se unia aos grandes modelos da antiguidade e cristandade (Alçada 2003). Sob o argumento de um sonho febril, o dramaturgo representa de forma paródica as personagens, modelos emblemáticos de pares amorosos, tornando epítetos característicos de cada um em alvo de chacota. Se anteriormente reflectimos sobre os paralelismos entre este prólogo e a tradição da cronística universal (Leite s/d), neste trabalho propomo-nos reavaliar os modelos do sonho de Gil Vicente com a Coena Cypriani (ed. 2002). Nesta obra anónima do século III dC parodia-se o episódio bíblico das bodas de Canãa, tornando o primeiro milagre público de Jesus numa festa marcada pela embrieguez e folia, tranformando assim as bodas místicas num episódio carnavalesco onde também personagens bíblicas e da Antiguidade desfilam, jocosamente, os epítetos por que são reconhecidos. Tendo em conta os paralelismo evidentes entre os dois textos, será importante confrontálos de modo a verificar que, de facto, Gil Vicente recupera esta tradição para o seu Auto. Referências: Rabano Mauro, Giovanni Immonide: La cena di Cipriano. Ed. Elio Rosati e Francesco Mosetti Casa. Alessandria: Edizioni dellOrso, 2002. Gil Vicente: "Templo de Apolo", As obras de Gil Vicente. Dir. José Camões. Lisboa: CET-INCM, 2002. Alçada, João Nuno: "Templo d'Apolo, Guerra Troiana e Ordem do Tosão de Ouro", Gil Vicente 500 anos depois. Lisboa: INCM-CET, 2003, p. 425-473. Leite, Mariana: "A História Universal como prólogo: algumas observações sobre o sonho de Gil Vicente no Templo de Apolo" Actas del Coloquio Internacional AHLM, Córdoba 2021. Córdoba: U. Córdoba/ Cilengua/ AHLM (no prelo) O RELATO DE CONVERSÃO COMO CONFISSÃO E APOLOGIA: UM ESTUDO DA AUTOBIOGRAFIA DE GUSTAVO CORÇÃO Pedro Barbosa Lima Junior Resumo: Gustavo Corção (1896 – 1978), escritor e intelectual brasileiro, converteu-se ao catolicismo em 1939, aos 43 anos. Sua conversão é marcada tanto pela perda de sua primeira esposa, quanto a não adequação aos ideais predominantes do século XX: socialismo e liberalismo. Por defender uma Igreja préconciliar, Corção assumiu um perfil conservador e antimoderno, ficando reconhecido como um católico reacionário. Todavia, quando nos afastamos de preconceitos e mergulhamos em suas obras, especificamente sua autobiografia A Descoberta do Outro, encontramos um escritor altamente comprometido com o rigor intelectual e honesto com suas ideias morais posicionadas a partir do existencialismo cristão, demonstrando uma narrativa religiosa consciente de sua experiência com Deus unido a grande capacidade artística literária na defesa da fé católica e de pensadores conservadores. Consideramos que Corção faz seu relato de conversão pautado em dois testemunhos: confissão e apologia. No primeiro caso, ele testemunha a experiência íntima da alma com um Outro chamado Deus, e como essa experiência o transformou. No segundo caso, há uma necessidade de oferecer uma verdade que combate a modernidade; além de dar legitimidade do catolicismo contra qualquer outra ideologia que tenta desconsiderá-la. Partindo das investigações sobre as “escritas do eu”, o objetivo desta comunicação é analisar a autobiografia de Gustavo Corção – no diálogo entre literatura e religião – a partir de um sujeito que narra sua conversão através da confissão (testemunho) e da apologia (militância). Essas duas características revelam uma história já escrita (real) e uma que pode ser escrita a partir de uma nova consciência despertada pelas ideologias religiosas que este abraça, dentro do contexto histórico que está inserido. Referências: AGOSTINHO, S. Confissões. São Paulo: Paulus, 1984. ARFUCH, L. O espaço biográfico: dilemas da subjetividade contemporânea. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2010. GALLE, H. Em primeira pessoa: abordagens de uma teoria da autobiografia. São Paulo: Annablume; Fapesp; FFLCH, USP, 2009. LEJEUNE, P. O pacto autobiográfico: de Rousseau à Internet. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2014. LOPES, M. “Linguagem e transcendência: a escrita de si”. In: MOURA, C. A. (Org.). História, narrativas e religiões: diálogos sob o olhar da cultura. Recife: Editora EDUPE, 2018. pp. 121-131. NORONHA, J. “Prefácio”. In: LEJEUNE, P. O pacto autobiográfico: de Rousseau à Internet. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2014. NORONHA, J. Ensaios sobre autoficção. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2014. A RELIGIOSIDADE E A CULPA: O EPISÓDIO DE AISHA E SAFWAN, EM A JOIA DE MEDINA, DE SHERRY JONES Priscilla Cláudia Pavan de Freitas Resumo: O objetivo deste trabalho é o de analisar como a culpa e a religiosidade são manifestadas nos capítulos 15, 16 e, também, no Prólogo do livro denominado A joia de Medina, uma obra ficcional, com elementos históricos, da escritora e jornalista Sherry Jones, a partir do envolvimento de Aisha, uma das esposas de Maomé, com Safwan, seu amor de infância. Pretende-se, a partir disso, trazer à tona uma nova construção dessa personagem histórica, um pouco mais viva, mais corajosa e dona de seu próprio destino. Para alcançar os objetivos, foram utilizados os estudos de Jung (2000) sobre os arquétipos coletivos, sobretudo o arquétipo materno. Utilizou-se, também, neste trabalho, algumas reflexões de Maingueneau sobre o discurso literário como discurso constituinte (2012), uma vez que se considera que esse tipo de discurso possa ser uma fonte influenciadora de opinião e um importante espaço que permite desenvolver reflexões sobre as mulheres muçulmanas. Aisha, na obra de Sherry Jones, é a representação de uma mulher que superou vários obstáculos culturais e pessoais para deixar a sua marca no mundo, neste trabalho, pretende-se evidenciar que essa Aisha é uma heroína, idealista, religiosa e sobrevivente em uma sociedade que herdou muitas regras e poucas liberdades para as mulheres. Referências: Para alcançar os objetivos, foram utilizados os estudos de Jung (2000) sobre os arquétipos coletivos, sobretudo o arquétipo materno. Utilizou-se, também, neste trabalho, algumas reflexões de Maingueneau sobre o discurso literário como discurso constituinte (2012), uma vez que se considera que esse tipo de discurso possa ser uma fonte influenciadora de opinião e um importante espaço que permite desenvolver reflexões sobre as mulheres muçulmanas. "PES SOIT O VOS". A ESPIRITUALIDADE NA QUESTE DEL SAINT GRAAL Rafaela Câmara Simões da Silva Resumo: Para o referente colóquio, propomo-nos abordar a receção ativa da Bíblia pela Queste del Saint Graal, na sua versão Vulgata. Este romance integra o designado “Lancelot-Graal”, o ciclo romanesco em prosa que tem por matéria primordial o Santo Graal na sua contextualização cavaleiresca e arturiana, tratando-se de um autêntico best-seller do século XIII. Este romance, que tem sido objeto de grande atenção e simpatia por parte dos especialistas, primando estes muitas vezes pela preeminência deste texto em âmbito cíclico em detrimento do seu homólogo, a Demanda do Santo Graal, possui todavia algumas características que o distinguem dos demais textos do ciclo arturiano. Essas divergências prendem-se, sobretudo, com o aproveitamento diferenciado da matéria bíblica levado a cabo pelo autor/redator da Queste del Saint Graal (Vulgata) com fins que pretendemos clarificar. Através de uma análise atenta dos diferentes mecanismos impregnados nas Escrituras Sagradas, convocados de uma forma implícita ou explícita no romance em causa, procuraremos não só exemplificar, como também compreender a função modelar da escrita bíblica e os seus efeitos na Queste del Saint Graal. Seguindo a temática do Simpósio, esperamos que esta comunicação constitua um acréscimo de conhecimento e argumento sobre o alcance e a significação da matéria bíblica na criação e construção da escrita romanesca, numa inesperada conexão entre dois universos textuais tão distintos. Referências: - La Quête du Saint Graal, roman en prose du XIIIème siècle, texte établi et présenté par Fanni Bogdanow, trad. Anne Berrie, Paris, Librairie Générale Française (Lettres Gothiques), 2006. - Silva, Rafaela, A escrita bíblica no romance arturiano em prosa: a Demanda do Santo Graal e a Queste del Saint Graal, dissertação de doutoramento, Porto, Faculdade de Letras, 2019. - Miranda, José Carlos, A Demanda do Santo Graal e o ciclo arturiano da Vulgata, Porto, Granito, 1998. - Matarasso, Pauline, The Redemption of Chivalry. A study of the Queste del Saint Graal, Genève, Droz, 1979. - David, Pierre, Sentiers dans la forêt du Saint Graal, Coimbra, Coimbra Editora, 1943. O SONO E O DIVINO NA LITERATURA Wandersson Hidayck Silva Resumo: Na tradição ocidental, aspectos relativos ao sono, como o sonho e a insônia, estiveram ligados, em alguns casos, a elaborações do divino no texto literário. Nas Metamorfoses, de Ovídio, o deus Sono vive na gruta ao redor da qual estão os sonhos, que assumem as formas necessárias a seus projetos. Teresa d´Ávila, que sofria alguns de seus êxtases durante a insônia, demonstra que a racionalidade, na compreensão do arrebatamento, tem a mesma inconsistência que o sono não realizado plenamente, já que, segundo ela, o divino se dá a conhecer pela experiência, em relatos do Livro da vida. Um itinerário de busca noturno é a simbologia de Noche oscura del alma, de San Juan de la Cruz, que alegoriza o caminho para se chegar à perfeição espiritual resultante da união entre a alma (a amada) e o divino (o amado), e o prêmio dessa trajetória é o sono dos “apetites e potências”. Nos Poemas malditos, gozosos e devotos, Hilda Hilst elabora uma visão da identidade divina com referência ao sono do criador que é recriado pela criatura, como se invertesse o caminho da Noche oscura: quem deve permanecer na treva é o divino para que o executor de destino (porque da palavra) seja o poeta. Ademais, Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa, relata uma experiência onírica com o Menino Jesus em O guardador de rebanhos — o pastor que, na vigília, via na natureza tudo o que importava, no sono, todavia, não deixava de produzir realidades. Partindo desses recortes, e de considerações teóricas de Freud sobre a relação entre o inconsciente e a linguagem poética, esta pesquisa pretende refletir sobre como o sono, estado de repouso dos sentidos e via de acesso ao inconsciente, revela-se campo semântico produtivo no texto literário que toca o tema do divino. Referências: CRUZ, San Juan de la. A noite escura da alma. Disponível em: http://hadnu.org/permalinks/publications/72. D’ÁVILA, Teresa. Livro da vida. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. FREUD, Sigmund. Obras completas. Madri: Biblioteca Nueva, 2012. HILST, Hilda. Da poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. OVÍDIO. As metamorfoses. Lebooks Editora. Edição do Kindle. PESSOA, Fernando. Poesia completa de Alberto Caeiro. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. SIMPÓSIO “LITERATURAS INSUBMISSAS E SABERES INDISCIPLINADOS: CONSTRUINDO FUTUROS ANCESTRAIS” Fernanda Vieira de Sant Anna (UEMG), Edimara Ferreira Santos (UNIFESSPA) MULHERES INDÍGENAS E A LITERATURA CANTADA NO CIRCUM-RORAIMA Ananda Machado e Vanessa Augusta do Nascimento Brandão e Costa Resumo: Esse estudo busca compreender as literaturas cantadas por mulheres indígenas e o modo como elas podem ser entendidas/lidas em suas peculiaridades e complexidades linguísticas, culturais, sociais e históricas. No Norte do Brasil há um fazer literário que se manifesta pelo corpo de mulheres indígenas que contam histórias que decolonizam por meio da voz, entoando canções nascidas em tempos imemoriais/atuais, abrindo caminho e reforçando os movimentos de resistência, retomada étnica e reterritorialização. São cantos gravados, dançados, filmados, escritos, desenhados, pintados, que evidenciam a potência dessas existências e expressões. Ora são vozes de corpos humanos, ora de animais, ora de plantas, que fazem ecoar essas multipessoalidades femininas no lavrado. Essas literaturas em perspectivas indígenas são dotadas de uma oralidade tão forte que ouvimos suas vozes ao ler, ao passo que somos arremessados a uma ancestralidade que também dialoga com a continuidade contemporânea que constrói o futuro das próximas gerações, sendo possível compreender como as intérpretes/ autoras/ cantoras/ sábias/ artistas indígenas Macuxi, Taurepang, Wapichana, dentre outras, corroboram para o fortalecimento do sentimento de identidade por outras meninas indígenas na região do Circum-Roraima. Partiremos das obras de Silva; Fiorotti (2018) e Pedro; Fiorotti (2019), expandindo para Ferseck (2022) (literaturas) e Fonseca (2016), Glissant (2005), Bhabha (2003) e Graúna (2013) (reflexões teóricas). Referências: FERSECK, Sony. Weiyamî: mulheres que fazem o sol. Boa Vista: Wei Editora, 2022. BHABHA, Homi. O local da cultura. Trad. Myriam Ávila, Eliana Lourenço de Lima Reis e Gláucia Renata Gonçalves. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003. FIOROTTI, Sonyellen. Makunaimö pantonü - A História de Makunaima ou “Meu companheiro, essa história é muito triste”, 2021. No prelo. FONSECA, Maria Nazareth Soares. “Literatura e oralidade africanas: mediações.” Revista Mulemba / Revista do Setor de Letras Africanas de Língua Portuguesa - Departamento de Letras Vernáculas. Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Volume 14, número 2, jul-dez de 2016 PEDRO, Barnaldina José; FIOROTTI, Devair Antonio. Cantos e Encantos Meriná Eremu. Boa Vista: Wei, 2019. SILVA, Terêncio Luiz; FIOROTTI, Davair Antônio. Panton Pia’ Eremukon do Circum Roraima. Cantores Manaaka e Yauyo. Rio de Janeiro: Museu do Índio, 2018. LA PLUS SECRÈTE MÉMOIRE DES HOMMES : MODOS DE USAR E DE PENSAR A PRODUÇÃO CONTEMPORÂNEA NÃO OCIDENTAL Antonia Costa de Thuin Resumo: Em La Plus Secrète Mémoire des Hommes, livro de Mohamed Mbougar Sarr, senegalês, ganhador do Prêmio Goncourt em 2021, A questão da criação é colocada em xeque para os cidadãos africanos e de sua diáspora, entre criar ou não, permanecer em África ou em Europa. O colonialismo como produtor de subjetividades e colonizador também de produção e criação literária aparece na visão do autor e é colocado em palavras por vários personagens, de diferentes formas, com diferentes saídas pessoais para essas questões. Dentro de perspectivas diversas, as tensões do intelectual urbano contemporâneo em como trabalhar e existir a partir de pressupostos não ocidentais pode ser lida, teoricamente, como Séverine Kodjo-Grandvaux, filósofa francesa radicada no Camarões coloca em seu livro Devenir Vivants, partindo de Glissant e Malcom Ferdinand, em uma ideia de “contra a Natureza”, ou contra a divisão do pensamento ocidental entre Cultura e Natureza, que também hierarquiza populações. Os curadores, no continente africano e nas américas, têm se colocado como participantes dessa discussão, trazendo em seu trabalho essas formas de ser pertencer no mundo e explicitando nos espaços por eles geridos as questões desse ser cindido colonial, como chamaria Frantz Fanon. Nessa apresentação, falarei de Bisi Silva, nigeriana, falecida em 2018, criadora de CCA Lagos, Bonaventure Ndikung, camaronense, curador do Savvy Contemporary, e Keyna Eleison, brasileira, diretora artística do MAM-Rio, e de suas estratégias para lidar com as tecnologias coloniais na arte. Com diferentes estratégias, mas fundadas na ideia de uma produção historiográfica não europeia, descentralizada, que valoriza a criação e o histórico de outras produções e ancestralidades. Referências: FERDINAND, Malcom, Une écologie décoloniale - Penser l'écologie depuis le monde caribéen, Éditions du Seuil, 2019 KODJO-GRANVAUX, Sèverine, Devenir Vivants, Éditions Phillipe Rey, 2021 SARR, Mohamed Mbougar, La Plus Secrète Mémoire des Hommes, Éditions Phillipe Rey, 2021 GEOGRAFIAS DA PALAVRA: A POÉTICA DE RAQUEL LIMA Ariane de Andrade da Silva Resumo: Em recente encontro virtual promovido pela Biblioteca Casa Futuro, Raquel Lima, autora portuguesa, poeta, performer, arte-educadora e doutoranda na Universidade de Coimbra, reflete sobre a multiplicidade de seu fazer artístico. Tendo em vista seu percurso em saraus, spokenwords e poetry slam, a autora expõe seu interesse por outras frequências que nos permitam decifrar os sentidos da vida. Na esteira dessa provocação, este trabalho volta-se às possibilidades de descolonização da/pela palavra e de movência de estruturas de poder promovidas por contranarrativas como a palavra falada e as performances poéticas. Para tanto, analisaremos os poemas “abro mais uma gaveta”, “liberdade mais cruel” e “claimer-disclaimer”, tendo em vista a presença de um Eu lírico racializado e as nuances da performance oral, realizada por um “corpo-documento”, para usarmos aqui a expressão de Beatriz Nascimento (NASCIMENTO, 1989, s/p). Propomo-nos, assim, a compreender a geopoética delineada por Lima (2019, p. 11) no livro Ingenuidade, Inocência, Ignorância (Animal Sentimental, 2019), uma composição de textos que tocam os sentidos, desconfinam o corpo, convocam o passado, como nos versos: “então abro mais uma gaveta / e tenho sementes com cicatrizes // já não basta ter asas que voam /é preciso ter asas com raízes” (LIMA, 2019, p. 23). A obra reúne poemas compostos entre 2009 e 2019, década poética de onde também resulta o conjunto de 11 faixas de áudio que acompanham o livro, leituras poéticas realizadas pela própria autora com fundo musical em tom de jazz. Pretende-se, como aporte teórico, a discussão sobre performance e poesia (Zumthor, 2007), máscara de silenciamentos (Kilomba, 2019), o conceito de escrevivência (Evaristo, 2020), a pesquisa sobre racismo em Portugal (Gorjão Henriques, 2017) e sobre a presença negra em Portugal (Tinhorão, 2019 [1988]), o conceito de ecologia dos saberes (Sousa Santos, 2020) e de desobediência epistêmica (Mignolo, 2020). Referências: EVARISTO, Conceição. A Escrevivência e seus subtextos. In: Duarte, Constância Lima; NUNES, Isabella Rosado (org.). Ilustrações de Goya Lopes. Escrevivência: a escrita de nós – Reflexões sobre a obra de Conceição Evaristo. Rio de Janeiro: Mina Comunicação e Arte, 2020, p. 26-47. E-book. HENRIQUES, Joana Gorjão. Racismo em Português. O Lado Esquecido do Colonialismo. Lisboa: Tinta da China, 2017. KILOMBA, Grada. Memórias da Plantação: episódios do racismo cotidiano. Rio de Janeiro: Cabogó, 2019. LIMA, Raquel. Ingenuidade, inocência, ignorância. 1ª ed. São Paulo: Animal Sentimental, 2019. p.52. MIGNOLO, Walter. Histórias locais, projetos globais: colonialidade, saberes subalternos e pensamento liminar. Trad. Solange Ribeiro de Oliveira. 1. Ed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2020. SANTOS, Boaventura de Sousa. O fim do império cognitivo: a afirmação das epistemologias do Sul. 1 ed.; 2. Reimp. Belo Horizonte: Autêntica, 2020. TINHORÃO, José Ramos. Os Negros em Portugal. Uma Presença Silenciosa. Lisboa: Editorial Caminho, 2019 [1988]. ZUMTHOR, Paul. Performance, recepção, leitura. São Paulo: Cosac Naify, 2007. IYAMI OSORONGA, OSUN E GABRIELA: UMA ANÁLISE INTERMIDIÁTICA DO MOSAICO FEMININO Clara Sampaio Fernandes Resumo: A presente proposta de trabalho busca, através do processo de transposição da obra literária Gabriela, cravo e canela (2012), de Jorge Amado, e da telenovela Gabriela (2012), adaptação de Walcyr Carrasco, realizar uma análise das personagens Gabriela, Malvina, Glória e Sinhazinha, em ambas as tramas, voltando o olhar analítico para os seus pensamentos e comportamentos em relação aos padrões morais ditados pela sociedade, bem como seus sentimentos e formas de ver o mundo, objetivando compreender qual poderia ser a "essência" de cada uma, o que influencia e no que se baseiam suas atitudes. Tal averiguação dar-se-á traçando um paralelo das personagens com as divindades yoruba Iyami Osoronga e Osun, no intuito central de tentar compreender a vitalidade feminina, bem como a sensualidade e a sexualidade em seu viés mais natural e primitivo, capaz de influenciar olhares, ações e desejos femininos. O embasamento dar-se-á à luz de Claus Clüver (2011), sob o viés da Intermidialidade, que trata da interação entre as variadas artes bem como a tradução de um sistema sígnico para outro, com ênfase na subcategoria transposição midiática (media transposition, RAJEWSKY, 2012). Serão analisados os efeitos de sentido produzidos por essa interação e pelo cruzamento das fronteiras dessas formas artísticas. Desse modo, realizar-se-á uma comparação entre as mídias citadas, não com o objetivo de hierarquizá-las, mas procurando averiguar os elementos do texto escrito que foram mantidos na telenovela. Já no âmbito cultural-religioso yoruba, o apoio será em Pierre Verger (1994) e nos depoimentos de Akintunde Kelvin, filho do babalawo (sacerdote) nigeriano Akinfenwa Akinkunmi e também awo (guardião do segredo) do culto de Ifa. Para Castello (2009), Jorge Amado foi, através de Gabriela, cravo e canela, desenhando um país Referências: Bibliografia AMADO, Jorge. Gabriela, cravo e canela: crônica de uma cidade do interior. 2. ed. São Paulo: Companhia das letras, 2019. CLÜVER, Claus. Intermidialidade. PÓS: Revista do Programa de Pós-graduação em Artes da EBA/UFMG. Belo Horizonte, v.1, n.2, p.8-23, nov. 2011. NASCIMENTO, Renata. Eu nasci assim... A construção de Gabriela como símbolo de mulher baiana e brasileira. Artigo para III Seminário Internacional Mulher e Literatura. 2007. RAJEWSKY, Irina. A fronteira em discussão: o status problemático das fronteiras midiáticas no debate contemporâneo sobre intermidialidade. In: DINIZ, T.F.N; VIEIRA, A.S. (org.) Intermidialidade e estudos interartes: desafios da arte contemporânea. v. 2. Belo Horizonte: Rona: FALE/UFMG, 2012. p. 51-73. Filmografia Gabriela. Telenovela. Produção Rede Globo de Televisão. Autoria: Walcyr Carrasco. Direção: Mauro Mendonça Filho Mauro Mendonça Filho, Frederico Mayrinc e Noa Bressane, 2012. VIDA Orixá. Oxum por Pierre Verger. Disponível em: http://vidaorixa.blogspot.com/2011/05/oxum-por-pierre-verger.html. Acesso em: 20 out 2021. VERGER, Pierre. As Senhoras do Pássaro da Noite. in MOURA, C. E. M. (org.) – Grandeza e decadência do culto de Iyami Osorongá (minha mãe Feiticeira) entre os Yorubá.. São Paulo: Edusp, 1994. CAMPOS DESIGUAIS: UM ESTUDO DE TORTO ARADO, DE ITAMAR VIEIRA JÚNIOR Cleidiane Cerqueira Carvalho, Alana de Oliveira Freitas El Fahl Resumo: O presente trabalho busca discutir a presença dos aspectos rurais retratados no romance Torto Arado (2019[2018]) de Itamar Vieira Junior. A partir da análise das personagens Belonísia, Bibiana e Severo observamos uma forte ligação entre eles e a terra, tanto como meio para a produção de sua subsistência tanto como preservação cultural e religiosa. É na relação estabelecida entre essas personagens que se destaca a maneira como o trabalho com a terra é tratado na obra, revelando aspectos de uma desigualdade social visceral vista pelos moradores de Água Negra, que é perpetuada de geração para geração, como uma espécie de herança familiar dentro do âmbito rural. Essas personagens, carregadas de simbolismos, são portadoras de vários discursos que compõem o grande painel narrativo do romance e nos colocam diante de reflexões pautadas nas suas trajetórias e na inauguração de uma nova conjuntura que possibilite enxergar caminhos de transformações e esperança. Bibiana e Severo vivenciaram todas as mazelas, e para contrapor a isso tudo eles traçam seus próprios destinos e abrem caminho para um novo olhar sobre aquele mundo rural. Assim, Torto Arado (2019[2018]) se filia a essa nossa tradição de retratar o universo rural e suas vicissitudes, transformando o cenário rural através de lutas sociais e resistência. SOBREVIVENDO À "MARGEM DO HOMEM BRANCO": RESISTÊNCIA INDÍGENA EM ORÉ AWÉ ROIRU’A MA, DE KAKÁ WERÁ JECUPÉ Paulo Marcelino dos Santos Resumo: A proposta do trabalho é analisar a perspectiva do ambientalista e escritor txukarramãe Kaká Werá Jecupé, em Oré awé roiru’a ma – Todas as vezes que dissemos adeus (2002) acerca de sua relação com a aldeia e os saberes ancestrais em um contexto de desestabilização causado pela proximidade com a cidade. Kaká Werá Jecupé narra histórias comuns para muitos outros indígenas brasileiros, tais como, os processos de desterritorialização e reterritorialização (SILVA, 2012), de conflitos pela terra, de desenraizamento do local de onde são originários. A degradação ambiental com destruição das matas, poluição das águas e do solo (KRENAK, 2020), que impossibilitam a subsistência dos povos indígenas na obtenção de água potável, de animais para caça e de terras agricultáveis. Tal processo contínuo de violência faz com que integrantes das nações autóctones sejam obrigados a estar “dispersos em minúsculas comunidades que tentam sobreviver à margem do homem branco” (JECUPÉ, 2002). Desse modo, o txukarramãe, que viveu entre os guaranis, apresenta um conjunto de desafios vivenciados pelos povos originários, como: a busca pela reetinização (Luciano, 2006) e o embate contra “a capacidade da civilização de gerar terrores” (JECUPÉ, 2002), de destruir a Mãe Terra, os povos nativos e outros grupos subalternizados. Sendo assim, o escritor reconstitui o percurso de sua vida para demonstrar os efeitos da colonialidade, da urbanização, da “civilização” ao mesmo tempo em que restabelece a conexão com a ancestralidade como forma de autoconhecimento e de resistência para as nações indígenas. Referências: DORRICO, Julie; DANNER, Fernando; DANNER, Leno Francisco (Orgs.) Literatura indígena brasileira contemporânea: autoria, autonomia, ativismo. Porto Alegre, RS: Editora Fi, 2020. Disponível em: <https://3c290742-53df-4d6f-b12f6b135a606bc7.filesusr.com/ugd/48d206_68ccdefa44724e7aaf3feacd956ecb11.pdf>. Acesso em 01 de junho de 2021. JECUPÉ, Kaka Werá. A terra dos mil povos. São Paulo: Peirópolis, 1998. JECUPÉ, KakaWerá. Oré Até roiru’a ma - todas as vezes que dissemos adeus. São Paulo: Fundação Phytoervas, 2002. KRENAK, Ailton. A vida não é útil. São Paulo: Companhia da Letras, 2020. LUCIANO, Gersem dos Santos. O Índio Brasileiro: o que você precisa saber sobre os povos indígenas no Brasil de hoje. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade; LACED/Museu Nacional, 2006. SILVA, Márcia Vieira da. Reterritorialização e identidade do povo Omágua-Kambeba na aldeia Tururucari-Uka. Manaus, AM: UFAM, 2012. Disponível em: <https://tede.ufam.edu.br/handle/tede/3978>. Acesso em: 18 de dez 2019. MIGNOLO, Walter, D. Desafios decoloniais hoje. Epistemologias do sul, Foz do Iguaçu/PR, 1 (1), PP. 12-32, 2017. Disponível em: <https://www.google.com/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=&cad=rja&uact=8&ved=2ahUKE wjCvZyK3_vwAhUUIrkGHWhEACEQFjAAegQIBBAD&url=https%3A%2F%2Frevistas.unila.edu.br%2Fepiste mologiasdosul%2Farticle%2Fdownload%2F772%2F645&usg=AOvVaw10XoYIyZXJctwdwMme1W3Z>. Acesso em: 28 de maio de 2021. CULTURAS E LITERATURAS NA PAN-AMAZÔNIA (POÉTICA, SERVE PARA QUÊ?) Fernanda Cougo Mendonça Resumo: Escrevo como quem borda e costura retalhos na tentativa de criar um texto/ensaio que expresse o que pude apreender da/na disciplina “Culturas e Literaturas na Pan-Amazônia”, da qual participei como pesquisadora convidada. Disciplina ministrada por Gerson Albuquerque e seus convidados Ana Pizarro e Leopoldo Bernucci, no Programa de Pós-Graduação em Letras: Linguagem e Identidade da Universidade Federal do Acre. Percebo que a agulha - que perpassa e borda retalhos dos encontros/estudos - é a palavra. A palavra poética; como instrumento e espaço-tempo de lutas sociais, políticas, culturais; pensada/pronunciada na presença do “caos-mundo”. Palavra deslocada, nômade, metafórica que não traz a realidade; a cria! Os fios principais com os quais é composto o colorido bordado: Cultura, Literatura, História, Memória. O suporte espaço-temporal para que se entrelacem no bordado fios e retalhos: a Pan-Amazônia; região continuamente inventada pela palavra. Adentramos ao terreno de Literaturas Amazônicas; às apreciações e embates de/entre literaturas orais produzidas nas Amazônias onde as formas de vida são perpassadas por imaginários/saberes/fazeres outros; e literaturas escritas sobre essa vasta e diversificada região que se convencionou chamar Amazônia - produzidas sob um olhar externo, “amazonialista”. Fica evidente a necessidade de deslocar os sentidos dados sobre “a Amazônia” suas culturas e literaturas; de escutar, repensar, redizer, reescrever, reinventar, a partir de dentro, essa região inventada. Somos convidados à Poética! E se interpelados por pergunta racional advinda de pensamento/sistema colonizador da modernidade norte-ocidental: “Para que serve isso que fazemos!?”; com riso subversivo apoiado na mais contemporânea/antiquíssima literatura/cosmovisão “indígena”, respondemos: Serve para nada! Afinal, lembra Ailton Krenak, “A vida não é útil”! Me parece que buscamos ecoar, pela palavra escrita e/ou falada, cantada, bordada... saberes que evitem que o céu caia sobre nossas cabeças, como alerta Davi Kopenawa; procuramos escutar/constituir/fazer soar histórias “amazônicas” que nos permitam “adiar o fim do mundo”. Referências: REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz de. História: a arte de inventar o passado. Bauru (SP): Edusc, 2007. ALBUQUERQUE, Gerson Rodrigues de. Amazonialismo. In: ALBUQUERQUE, Gerson Rodrigues de; SARRAF-PACHECO, Agenor (Org.). Uwa’kuru – dicionário analítico. Rio Branco (AC): Nepan Editora, 2016, p. 73-86. ALBUQUERQUE, Gerson Rodrigues de. “No útero fecundo da palavra”: tramas da memória em Florentina Esteves. In: Moara, v. 56, 2020, p. 147-169. Disponível em: https://www.periodicos.ufpa.br/index.php/moara/issue/view/450/showToc BARROS, Manoel de. Matéria de Poesia. Rio de Janeiro: Record, 2001, p. 32. BERNUCCI, Leopoldo M. La vorágine amazónica: paraíso sospechoso. Bogotá (Colombia): Editorial Pontificia Universidad Javeriana, 2020. BORTOLI, Cristiane de. SHUAYNE: tradições orais, canções e memórias Shanenawa. Rio Branco - Ac: NEPAN, 2020. CUNHA, Euclides. À margem da história. Organização de Leopoldo M. Bernucci, Francisco Foot Hardman e Felipe Pereira Rissato. São Paulo (SP): Editora da Unesp, 2018. FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 57ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2014. GLISSANT, Èdouard. Introdução a uma poética da diversidade. Tradução de Enilce Albergaria Rocha. Juiz de Fora (MG): Editora da UFJF, 2005. KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce A queda do céu: Palavras de um xamã yanomami; tradução Beatriz Perrone-Moisés. São Paulo: Companhia das Letras, 2015 KRENAK, Ailton. A vida não é útil. São Paulo: Companhia das Letras, 2020. KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia Das Letras, 2019. MENDONÇA, Fernanda Cougo; NASCIMENTO, Luiz Mendes do. O Orador do Mestre Raimundo Irineu Serra: diálogos, memórias e artes verbais. Rio Branco (AC): Nepan Editora, 2019. PIZARRO, Ana (org.) La literatura latinoamericana como processo. Centro Editor de América Latina, Buenos Aires, 1985. TAFUR, Ana Varela; BERNUCCI, Leopoldo M. Benjamín Saldaña Rocca. Prensa y denuncia en la Amazonía cauchera. Lima (Peru): Editorial Pakarina, 2020. PRÁTICAS SIMBÓLICAS: MODOS DE VIDA CONTRA-COLONIAL Gisane Souza Santana Resumo: No distrito rural do Rio do Engenho, Ilhéus/ Bahia há uma gama de saberes tradicionais que resistiram ao tempo e ainda sobrevivem nas técnicas e nos modo de fazer da comunidade, hábitos seculares no modo de plantar, colher, organizar, cozinhar e morar que simboliza vivências cotidianas, heranças patrimoniais de uma localidade. Este artigo objetiva analisar as narrativas orais das vozes poéticas, que são produzidas no cotidiano da comunidade do Rio do Engenho, nas suas práticas simbólicas, visando à preservação da memória dos contadores de história, principais depositários da tradição cultural do distrito rural. Na comunidade, as práticas simbólicas que constituem a vida cotidiana contrapõem-se à monocultura da ciência moderna e sinaliza para um Pensamento Ecológico, revelando assim a potência dos saberes, a ética implicada no cuidado de si, do outro e da natureza, as resistências, as táticas e os modos para pensar outros mundos possíveis. Como modos de vida contra coloniais (BISPO DOS SANTOS,2019) , elas evidenciam os saberes ancestrais dos povos indígenas e dos povos em diáspora, apresentam modos potentes de pensar e construir conhecimentos, reafirmando que a coletividade, o compromisso com a diversidade da vida, a luta pelos direitos humanos, territoriais e pelos sistemas tradicionais de saberes, são ações políticas que emergem dos saberes comunitários, forjados nas vivências da cosmopercepções das vozes poéticas. Referências: BISPO DOS SANTOS, Anto?nio. Colonizac?ão, Quilombos: Modos e Significac?o?es. Brasília: Ed. AYO? , 2019. CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: artes de fazer. Trad. Ephraim Ferreira Alves. Petrópolis: Vozes, 1998. ____________; GIRARD, Luce; MAYOL, Pierre. A invenção do cotidiano 2: morar, cozinhar. Tradução Ephraim F. Alves e Lúcia Endlich Orth. 10 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011 ROVAI, Marta Gouveia de Oliveira. A escuta ética: o desafio dos pesquisadores em história oral. Testemunhos , (4), 109–120,. 2015). Disponível em: https://revistas.unc.edu.ar/index.php/testimonials/article/view/32375 . Acesso em março de 2022. RUFINO, L. IKINS E ENCRUZILHADAS: Orunmilá e Exu nos caminhos dos conhecimentos, educações e descolonização. Revista Espaço do Currículo, [S. l.], v. 13, n. 3, p. 381–388, 2020. DOI: 10.22478/ufpb.1983-1579.2020v13n3.54228. Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/index.php/rec/article/view/54228. Acesso em: 25 abr. 2022. SANTANA, Gisane Souza. Narrativas orais do Rio de Engenho – performance e memória – (dissertação de mestrado). Ilhéus: UESC, 2014. 106f. SANTOS, Boaventura de Sousa; MENESES, Maria Paula (org.). Epistemologias do sul. São Paulo: Cortez, 2010 ZUMTHOR, Paul. A letra e a voz: a literatura medieval. Trad. Jerusa Pires Ferreira eAmálio Pinheiro. São Paulo: Cia. das Letras, 1993. A QUEDA DO CÉU OU QUEM SÃO OS OUTROS? Gisele Novaes Frighetto Resumo: A Queda do Céu: palavras de um xamã yanomami, de Davi Kopenawa e Bruce Albert, foi publicado em 2015, pela Companhia das Letras. A edição foi prefaciada pelo antropólogo Eduardo Viveiros de Castro e contou com um prólogo e um post-scriptum do co-autor, o etnógrafo francês Bruce Albert, que coletou, escreveu, traduziu e publicou o relato de Kopenawa em 2011, na França, antes de sua publicação no Brasil. Escrita em primeira pessoa, a narrativa autobiográfica do xamã yanomami se divide em três partes (Devir outro, A fumaça do metal e A queda do céu) e possui autoria dispersa, seja pelo trabalho de tradução, seja pela dialogia do texto, seja pela intervenção etnográfica. Ademais, representa um “fruto estranho” (GARRAMUÑO, 2014) no interior tanto da literatura quanto da antropologia, ao tornar indefiníveis as fronteiras entre o autobiográfico, o etnográfico e o mítico. Isso pode ser relacionado ao xamanismo, em que ciência, saber e transcendência se fundem; ou à cosmovisão enunciada por Kopenawa, na qual natureza e cultura são indissociáveis. A revisão da falácia civilizatória e seu efeito de necropolítica (MBEMBE, 2016), nas palavras de um sobrevivente, consiste em uma contraantropologia pelo viés da mitopoese, ou seja, uma narrativa etnográfica ao mesmo tempo poética e filosófica, objetiva e subjetiva (CASTRO, 2015). Constrói-se um sistema de pensamento que inverte a direção de uma outridade ou diferença (HALL, 2014; KILOMBA, 2019), construídas com relação aos nãobrancos, atribuindo-os à cultura ocidental e à barbárie dos falsos civilizados. A mediação etnográfica nos coloca a questão do agenciamento da fala de subalternos (SPIVAK, 2010), entretanto, A queda do céu representa uma inversão do etnocentrismo eurocêntrico, ao mesmo tempo em que carrega seus restos e rastros, em uma ordem na qual o homem é indissociável da natureza, dos animais e dos espíritos, abrigado pela floresta que os protege. Referências: CASTRO, Eduardo V. de. Prefácio: O recado da mata. In: KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. A queda do céu: palavras de um xamã yanomami. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. p. 11-42. GARRAMUÑO, F. Frutos estranhos: sobre a inespecificidade na estética contemporânea. Rio de Janeiro: Rocco, 2014. HALL, Stuart. Quem precisa de identidade? In: HALL, S.; SILVA, T. T. da; WOODWARD, K. Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014. p. 103-133. KILOMBA, Grada. Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019. KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. A queda do céu: palavras de um xamã yanomami. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. MBEMBE, Achille. Necropolítica. Arte & Ensaios, Rio de Janeiro, n. 32, p. 123-151, dez. 2016. SPIVAK, Gayatri. Pode o subalterno falar? Belo Horizonte: UFMG, 2010. CAMINHOS PARA CURAR O MUNDO EM QUE VIVEMOS: AS LITERATURAS DE ELIANE POTIGUARA E DANIEL MUNDURUKU Janda Montenegro Resumo: Conceição Evaristo, ao longo de sua carreira literária, cunhou o termo escrevivência (2017) para significar as experiências do cotidiano e as lembranças da autora e do povo preto brasileiro, tendo como perspectiva o ponto de vista das pessoas pretas. A partir daí, pensamos na ausência de um termo que igualmente signifique, a partir do cotidiano e dos traumas do passado, as vivências indígenas que hoje chegam à literatura contemporânea brasileira em diversos formatos pelas narrativas de autores de múltiplas etnias que passaram a ser mais amplamente publicados pelas grandes editoras a partir dos anos 2000. Assim, faremos uma leitura comparativa das memórias narradas através da ficção em Metade cara, metade máscara (2019), de Eliane Potiguara, e Crônicas indígenas para rir e refletir na escola (2020), de Daniel Munduruku. Desses relatos, propomos o pensar coletivo da cura através da literatura para os autores indígenas como um modo de construir o futuro ancestral – o futuro que é suleado pelo passado para construir o presente. Para tal, nos alicerçaremos nos pensamentos dos líderes Ailton Krenak (2019, 2020) e Davi Kopenawa Yanomami (2021), dentre outros, de modo a construirmos não ideias para adiar o fim do mundo, mas sim caminhos para curar este mundo que já vivemos. Referências: KREKAK, Ailton. A vida não é útil. São Paulo: Companhia das Letras, 2020. KREKAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. KREKAK, Ailton. O amanhã não está à venda. São Paulo: Companhia das Letras, 2020. KRENAK, Ailton. “Uma terra que grita – a escrita de Eliane Potiguara”. In: Metade cara, metade máscara. 3ª edição. Rio de Janeiro: GRUMIN, 2019. MUNDURUKU, Daniel. Crônicas indígenas para rir e refletir na escola. São Paulo: Moderna, 2020. POTIGUARA, Eliane. Metade cara, metade máscara. 3ª edição. Rio de Janeiro: GRUMIN, 2019. YANOMAMI, Davi Kopenawa. “Hutukara: Grito da Terra”. In: Caderno de Leituras. No 130. Políticas da Terra. Chão da Terra, 2021. Disponível em: https://chaodafeira.com/catalogo/caderno130/ Acesso em: 14 de janeiro de 2022. ESTRANHOS NO VILAREJO: JAMES BALDWIN E O RETORNO CONTEMPORÂNEO AOS CIRCUITOS AFROEUROPEUS Jânderson Albino Coswosk Resumo: Na contemporaneidade, discute-se a inclusão dos designados ‘Afro-European Studies’ como uma corrente teórica para se debater o advento de uma “Europa Negra”, em detrimento à pretensa “unidade identitária europeia” e em contraste com as relações entre África, Europa e as Américas em termos culturais, identitários, de gênero e raça. Trata-se da possibilidade de compreensão da instauração de “translocalidades negras” por todo o continente, considerando, principalmente, Inglaterra, França, Portugal, Suíça, entre outros (SMALL, 2018). Com base em tais premissas, o presente trabalho propõe uma discussão em torno do estabelecimento dessas translocalidades negras pelo continente europeu à luz do ensaio ‘Stranger in the Village’ (1955), do escritor afro-americano James Baldwin. A partir da inscrição do corpo negro na ocidentalidade, destacaremos como Baldwin (1955) antecipou reflexões sobre a fronteirização do mundo vis-à-vis às “políticas da inimizade” (MBEMBE, 2017), à emergência de novos racismos, às guerras de (des)ocupação, o fluxo compulsório de pessoas pelo globo e à militarização bélico-digital de grandes potências econômicas. Em contrapartida, Baldwin (1955) forneceu subsídios teórico-críticos que colaboram para o desmantelamento dessas forças e para o surgimento de uma pedagogia da esperança, capaz de promover a elaboração de um mundo cuja cosmovisão se afasta da racialidade e da lógica do capital em detrimento à vida. Referências: BALDWIN, James. Stranger in the Village. In: BALDWIN, James. Notes of a Native Son. New York: Bantam Books, [1955] 1968. MBEMBE, Achille. Políticas da Inimizade. Lisboa: Antígona, 2017. SMALL, Stephen. Theorizing visibility and vulnerability in Black Europe and the African diaspora. Ethnic and Racial Studies, jan/2018, p. 1-16. MULHERES INDÍGENAS NA LITERATURA: QUANDO FALAM E QUANDO SÃO OUVIDAS? Joel Vieira da Silva Filho Resumo: Esta proposta tem por objetivo discutir acerca dos desafios enfrentados por autoras indígenas na literatura brasileira contemporânea. Considerando que o cânone literário é composto em sua grande maioria por homens brancos, de classe social privilegiada, entendemos que seus princípios são fundados também em seleções e exclusões, de uma forma que funciona também como constructo social, político e como elemento de poder. Diversas autoras, ao longo da nossa história não receberam o devido reconhecimento, em especial, autoras negras e indígenas, como já foi demonstrado pela crítica feminista. Os desafios dessas autoras se estendem até o presente século, pois, são acometidas por processos de subalternização desde a invasão europeia. Assim, nesta proposta, tencionamos observar os desafios das escritoras indígenas contemporâneas e seus desdobramentos para romper as barreiras que as excluem e muitas vezes silenciam. De tal forma, a partir da análise de poemas das autoras indígenas Eliane Potiguara, Auritha Tabajara e Graça Graúna, queremos tentar responder à pergunta da pensadora indiana Gayatri Spivak (2010), em seu celebre ensaio Pode o subalterno falar? Se, de fato, o sujeito subalterno feminino pode falar, e mais, se são ouvidas. Como referencial teórico, utilizaremos as contribuições de pensadores/as como Roberto Reis, Márcia Abreu, Gayatri Spivak, Márcia Kambeba. Referências: ABREU, Márcia. Cultura letrada: literatura e leitura. São Paulo: Editora Unesp, 2006. COSTA, Heliene Rosa da. Identidades e ancestralidades das mulheres indígenas na poética de Eliane Potiguara. Tese (doutorado em Estudos Literários) Universidade Federal de Uberlândia, Minas Gerais, 2020. GRAÚNA, Graça. Contrapontos da literatura indígena contemporânea no Brasil. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2013. KAMBEBA, Márcia Wayna. Literatura indígena: da oralidade à memória. In: DORRICO, Julie; DANNER, Leno Francisco; CORREIA, Heloisa Helena Siqueira; DANNER, Fernando (Orgs.). Literatura Indígena Brasileira Contemporânea: Criação, Crítica e Recepção. Porto Alegre, RS: Editora Fi, p. 39-44, 2018. REIS, R. Cânon. In. JOBIM, J. L. (org.) Palavras da crítica. Tendências e conceitos no estudo da Literatura. Rio de Janeiro: Imago, p. 65-92, 1992. SANT’ANNA, Fernanda Vieira. “Eu não sou sua princesa”: um diálogo entre mulheres. Ekstasis: revista de hermenêutica e fenomenologia, p. 151-164, 2019. SPIVAK, Gayatri Chakravorty. Pode o subalterno falar? Tradução de Sandra Regina G. Almeida, Marcos P. Feitosa e André P. Feitosa. São Paulo: Editora UFMG, 2010. FRATURAS POÉTICAS DA REXISTÊNCIA: AS MARCAS LITERÁRIAS DO GENOCÍDIO EM ESCRITURAS DE MULHERES INDÍGENAS Larissa Fontinele de Alencar Resumo: Não há dúvidas de que a colonização europeia em nosso continente foi um processo histórico catalisador da morte de milhares de povos indígenas. Morte do corpo e morte dos saberes e da cultura, além da tentativa de extermínio da ancestralidade daqueles que permaneceram vivos para contar a história, mas foram silenciados. Genocídios, epistemicídios, as marcas da morte estão em todo o território de Abya Yala, Norte a Sul. É nesse sentido, que é urgente pensarmos sobre a resistência enquanto “rexistência”, para assim, refletirmos sobre as escrituras feitas pelos povos originários no âmbito de uma existência outra que se faz possível na literatura. O espectro da morte ronda as escrituras de mulheres indígenas, por isso neste trabalho, proponho observar as marcas literárias dos genocídios em textos poéticos de autoras pertencentes a dois grupos étnicos: os Potiguara (no Brasil) e Mapuche (no Chile e Argentina). Para este recorte, trouxe poemas de Eliane Potiguara, de Graça Graúna, de Graciela Huinao e de Daniela Catrileo para observamos como estas autoras traduzem as mortes de seu povo indígena em ecos metafóricos que se formam em fraturas poética da “rexistência”. Portanto, proponho o estudo de poemas que tocam em duas questões: as marcas cruéis dos genocídios e a persistência dessas marcas como experiência traumática intergeracional. Tudo isso, a partir de questões teóricas pertinentes no âmbito da literatura de resistência, desta forma, entrecruzamos fios e linhas, para além dos estudos literários, e tecemos uma cesta de ideias em torno da categoria de “rexistência”, através da leitura de Graça Graúna (2013) e Eliane Potiguara (2018); atravessando as matas conceituais dos críticos literários fundamentais, como Bárbara Harlow (1987) e Alfredo Bosi (2002), além de Gloria Anzaldúa (2000); María Lugones (2008;2014); entre outros. Referências: ANZALDÚA, Gloria. Falando em línguas: uma carta para as mulheres escritoras do terceiro mundo. Estudos feministas, v. 8, n. 1, p. 229-236, 2000. Disponível em: JSTOR, www.jstor.org/stable/24327358. Accessed 15 Oct. 2020. BOSI, Alfredo. Narrativa e resistência. In: _. Literatura e resistência. São Paulo: Companhia das Letras, 2002, p. 118-135. GRAUNA, Graça. Contrapontos da literatura indígena contemporânea no Brasil. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2013. HARLOW, Barbara. Resistance Literature, Methuen Co. NY and London, 1987. LUGONES, María. Colonialidad y Género. Tabula Rasa, Bogotá-Colômbia, n.9, julio-diciembre, 2008, p. 73-101 LUGONES, Maria. Rumo a um feminismo decolonial. Revista de Estudos Feministas, v. 22, n. 3, Florianópolis, p. 935952, 2014. POTIGUARA, Eliane. Metade cara metade máscara. 2ª edição, U’KA Editorial São Paulo, 2018. NARRATIVA A CONTRAPELO: ANCESTRALIDADE E RESISTÊNCIA NA (AUTO)BIOGRAFIA DE UM EXESCRAVO Leandro Souza Borges Silva Resumo: Essa discussão propõe abordar a (auto)biografia do ex-escravo Mahommah Gardo Baquaqua, analisando a ancestralidade enquanto elemento que reforça e legitima resistências e lutas negras. O livro intitulado “Biografia de Mahommah Gardo Baquaqua, um Nativo de Zoogoo, no interior da África” (2017 [1854]) é a (auto)biográfia de um sobrevivente. Baquaqua, sequestrado de sua terra natal e trazido para o Brasil em 1845, relata sua existência antes, durante e após a escravidão, descrevendo seu processo de fratura identitária. Quando descreve sua terra natal, povos e costumes, a voz autoral de Baquaqua insinua a diversidade e heterogeneidade dos povos africanos, valorizando reexistências apagadas pelas forças do eurocentrismo epistemicida. Nessa discussão, a (auto)biografia do autor será imbrincada à sua ancestralidade, pensada enquanto dimensão cultural, corporal e experiencial. Os relatos de Baquaqua reverberam sentidos que situam sujeitos historicamente marginalizados no lócus de constante embate e afetividade negro-comunitária. Nesse sentindo, pautando-se nos aportes que dissertam sobre ancestralidade (MARTINS, 2001; OLIVEIRA, 2020), a pesquisa bibliográfica busca ler os relatos do exescravo por meio de dispositivos de leitura e reflexão negro-centrados que, por sua abordagem socialmente engajada, compreende a literatura em sua inerente feição histórico-política. Como resultado, nota-se que a ancestralidade, entendida enquanto instância afetiva atemporal, se efetua como acontecimento que legitima insurgências a contrapelo de uma ordem branco-centrada e excludente. Referências: BAQUAQUA, Mahommah Gardo. Biografia de Mahommah Gardo Baquaqua, um Nativo de Zoogoo, no interior da África. São Paulo, Editora Uirapuru, 2017 [1854]. FERREIRA, Luís Carlos. Filosofia da ancestralidade: Diálogo entre a filosofia da libertação e a filosofia Africana - Entrevista com Eduardo Oliveira. Revista Ideação, n. 41, p. 219-253, 2020. MARTINS, Leda Maria. A oralitura da memória. In: FONSECA, Maria Nazareth Soares. Brasil afro-brasileiro. Belo Horizonte: Autêntica, 2001. VOZES QUE EDITAM: O LIVRO COMO POTÊNCIA PARA GRUPOS COLONIZADOS Luisa Araujo Peixoto Resumo: O livro impresso não foi inovação europeia, mas a indústria editorial sim: seu objeto, segundo Anderson (2013, p. 66), foi a “primeira mercadoria industrial com produção em série ao estilo moderno”. Produto e produtora da Modernidade (EISENSTEIN, 1993), a criatura de Gutenberg apareceu em processos coloniais, ora como proibida — como no Brasil, que só teve tipografias a partir de 1808, e sob censura (HALLEWELL, 2005) —, ora como imposta — ferramenta de violência, por exemplo, na catequização de indígenas por jesuítas. Esses papéis, assim como o de figura central do conhecimento na lógica epistemológica europeia moderna, fabricaram uma distância mais do que incômoda entre os sistemas editoriais e os grupos colonizados. Isso fica evidente em pesquisas como a de Dalcastagnè, que, ao analisar romances nacionais publicados por editoras importantes entre 1990 e 2014, chegou a um percentual de 95,1% de escritores brancos. E se não é preciso de livro, de escrita, de editora, nem de academia para fazer literatura, é por meio desses suportes que ela se institui como forma de poder (FOUCAULT, 1970, 1973, 1977). Não para menos essas barreiras continuam se reproduzindo (CUTI, 2010; CALIXTO et. al, 2021) e se atualizando. Não para menos, também, a escrita e a publicação se mostram como aquilo que é negado justamente porque é potência, possibilidade. A edição de livros pode ser, então, quando assumida por grupos marginalizados, uma forma de se fazer ouvir vozes parecidas com as suas próprias; de tomar para si o que antes foi instrumento de opressão. O objetivo deste trabalho é discutir sobre essas potencialidades, com enfoque especial em editores negros, como Maria Mazarello e Vagner Amaro, a partir de pesquisadores dos estudos de edição (CHARTIER, 2010; MUNIZ JÚNIOR, 2016; SALGADO, 2007) e das relações étnico-raciais (GONZALEZ, 1984; CARNEIRO, 2005; COLLINS, 2019; KILOMBA, 2019). Referências: ANDERSON, Benedict. Comunidades imaginadas: reflexões sobre a origem e a difusão do nacionalismo. Tradução de Denise Bottman. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. CALIXTO, Roberta; PEIXOTO, Luisa; SILVA, Luciana de Mesquita; GIORGI, Maria Cristina. “As ferramentas do sinhô nunca vão derrubar a casa-grande”: análise discursiva de uma tradução marginal. Íkala, Revista De Lenguaje Y Cultura, Antioquia, 26(2), 421–435, 2021. CARNEIRO, Sueli. A construção do outro como não-ser como fundamento do ser. 2005. Tese (Doutorado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005. CHARTIER, Roger. Escutar os mortos com os olhos. Tradução de Jean Briant. Estudos Avançados, 24(69), 6-30, 2010. Recuperado de http://www.revistas.usp.br/eav/article/view/10510 COLLINS, Patricia Hill. Pensamento feminista negro. Tradução Jamille Pinheiro Dias. São Paulo: Boitempo, 2019. CUTI. Autocensura: “eu” negro X “tigre” do silêncio. In: Literatura negro-brasileira. São Paulo: Selo Negro, 2010. p. 31-46. DALCASTAGNÈ, Regina. Ausências e estereótipos no romance brasileiro das últimas décadas: alterações e continuidades. Letras de hoje, Porto Alegre, v. 56, n. 1, p. 109- 143, jan.-abr. 2021. Disponível em: https://revistaseletronicas.pucrs.br/index.php/fale/article/view/40429/26848. Acesso em 13 set. 2021. EISENSTEIN, E. L. The printing revolution in early modern Europe. Cambridge, UK: Cambridge University Press, 1993. FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. Tradução Renato da Silveira. Salvador: EDUFBA, 2008. FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. São Paulo: Edições Loyola, 1996 [1970]. _________. A verdade e as formas jurídicas. Rio de Janeiro: NAU Editora, 2013 [1973]. _________. Verdade e Poder, 1977. Tradução de Lilian Holzmeister e Angela Loureiro de Souza. In: Microfísica do poder. MACHADO, Roberto (Org.). São Paulo: Editora Paz & Terra, 2019. GENETTE, Gérard. Paratextos editoriais. Tradução de Álvaro Faleiros. Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2009. GONZALEZ, Lélia. Racismo e sexismo na cultura brasileira. In: Revista Ciências Sociais Hoje, Anpocs, 1984, p. 223-244. HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil: sua história. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2005. KILOMBA, Grada. Memórias da Plantação: episódios de racismo cotidiano. Tradução de Jess Oliveira. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019. MUNIZ JÚNIOR, José de Souza. Girafas e bonsais: editores “independentes” na Argentina e no Brasil (1991-2015). Tese (Doutorado em Sociologia) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2016. SALGADO, Luciana Salazar. Ritos genéticos no mercado editorial: autoria e práticas de textualização. Tese (Doutorado em Linguística) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2007. REFLEXÕES SOBRE DIREITO À TERRA EM TORTO ARADO, DE ITAMAR VIEIRA JUNIOR Maria Inês Freitas de Amorim Resumo: A narrativa do romance Torto Arado (2019), de Itamar Vieira Junior, é marcada por suas referências à terra. A relação com a terra evidencia o cuidado e a luta, o cultivo e sua relação sagrada com a vida. Pensando sobre a importância do elemento na construção da narrativa, o presente trabalho analisa três dimensões da relação com a terra presentes em Torto Arado: elemento da natureza, componente sagrado e como espaço de luta. A terra é representada enquanto elemento natural, fonte de vida pelo seu cultivo e matéria-prima para a construção de abrigo e utensílios. A terra também é espaço sagrado presente nas passagens do ciclo da vida, do início ao fim, é nela onde são enterrados os cordões umbilicais de cada criança que nasce ou os corpos de cada pessoa que morre, sendo possível estabelecer uma relação entre o corpo e a terra. Também há referência à disputa pela terra, resultado de processos históricos de lutas, violência, apagamentos e silenciamentos. A perspectiva narrativa da obra é daqueles que trabalham com a terra e pela terra, representando as vozes dos trabalhadores rurais, marcados por um sistema que causa opressões, destruições e mortes. As reflexões propostas na pesquisa foram embasadas nas relações entre terra, território e poder patriarcal desenvolvidas por Lorena Cabnal (2010) e nas ideias de ecologia de saberes defendida por Boaventura de Souza Santos (2007). Referências: CABNAL, Lorena. Feminismos Diversos: el feminismo comunitário. Segovia: ACSUR-Las Segovias, 2010. CPT. Violência contra a pessoa: aumento de 75% nos assassinatos, mais de 1.000% nas mortes em consequência de conflitos e dois massacres marcam 2021. Disponível em https://www.cptnacional.org.br/downlods?task=download.send&id=14248&catid=89&m=0 Acesso em 25 abr 2022. IPEA. Atlas da violência no campo no Brasil: condicionantes socioeconômicos e territoriais. Disponível em https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/arquivos/artigos/8456-atlascampo2020comp2.pdf Acesso em 25 abr 2022 LITERAFRO. Itamar Vieira JUNIOR. Disponível em http://www.letras.ufmg.br/literafro/autores/1270-itamar-vieira-junior Acesso em 25 abr 2022. MBEMBE, Achille. Crítica da razão negra. Trad. Sebastião Nascimento. São Paulo: n-1 edições, 2018. SANTOS, Boaventura de Sousa: Para além do pensamento abissal: das linhas globais a uma ecologia de saberes. Disponível em https://www.scielo.br/j/nec/a/ytPjkXXYbTRxnJ7THFDBrgc/?lang=pt&format=html Acesso em 09 nov 2021. VIEIRA JUNIOR, Itamar. Torto Arado. São Paulo/SP: Todavia, 2019. AMEFRICANIDADE POÉTICA: UMA LEITURA DA OBRA LUGAR DE SE MORRER É TAMBÉM O POEMA, DE ROBERTA TAVARES Neilci do Socorro Coelho dos Santos Resumo: O objetivo dessa comunicação é provocar reflexões sobre a obra Lugar de se morrer é também o poema, de Roberta Tavares, partindo da categoria Amefricanidade, de Lélia Gonzalez (2020). Neste sentido, essa análise é orientada a partir de certas indagações, entre as quais se destaca: como o fazer poético da escritora Roberta Tavares constrói uma identidade étnica, incorporando dinâmicas culturais, principalmente, aquelas que vão na contramão do sistema de dominação chamado racismo? Na sociedade brasileira, de forma específica, o racismo estrutural (Almeida, 2018). Nesse percurso interrogativo, identifica-se uma poética contrária às diversas formas de opressão, construídas historicamente pelos discursos hegemônicos (Hall, 2003). Assim, a escrevivência (Evaristo, 2020) dessa autora desvela uma arte literária polifônica, e não raras vezes memorialista, em que a memória (Le Goff, 2013) individual de textos ficcionais, transforma-se em memória coletiva de narrativas reais. Soma-se a isso, seu compromisso com a luta contra o racismo afrodiaspórico que se instaurou no Brasil desde o colonialismo, mantendo-se através da colonialidade (Quijano, 2007). Opta-se, pois, pela metodologia de uma revisão de literatura a qual contribua com essas reflexões sobre o texto ficcional de Roberta Tavares, e a consequente insurgência de vozes de segmentos sociais historicamente subalternizados. Acredita-se, assim, ampliar a discussão em torno da representação opressora e inferiorizante, formada sobre as populações negras em decorrência do pensamento eurocêntrico (Fanon, 2008). Referências: ALMEIDA, Sílvio. Racismo estrutural. Belo Horizonte: letramento, 2018. EVARISTO, Conceição. A escrevivência e seus subtextos. In Escrevivência: a escrita de nós: reflexões sobre a obra de Conceição Evaristo. Constância Lima Duarte, Isabella Rosado Nunes (Org.). Rio de Janeiro: Mina Comunicação e Arte, 2020. GONZALEZ, Lélia. Por um feminismo afro-latino-americano: ensaios, intervenções e diálogos. Flávia Rios e Márcia Lima (Org.). Rio de janeiro: Zahar, 2020. HALL, Stuart. A identidade cultural na Pós-Modernidade. São Paulo: DP&A Editora, 2006. LE GOFF, Jacques. Trad. Irene Ferreira, Bernardo Leitão e Suzana Ferreira Borges. História e Memória. Campinas, SP: Editora Unicamp, 2013. QUIJANO, A. Colonialidade do poder, eurocentrismo e américa latina. In: LANDER. A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. 2007. Disponível em: http://biblioteca.clacso.edu.ar/clacso/sursur/20100624103322/12_quijano.pdf. TAVARES, Roberta. Lugar de se morrer é também o poema. Belém: Editora da Autora, 2021. [GEO]ANCESTRALIDADE COMPARADA: POR UMA CRÍTICA DISSONANTE E DISSIDENTE Patrícia Pereira da Silva Resumo: Este estudo inicia com a disciplina de Literatura Comparada do Mestrado em Estudos Literários da Universidade Federal de Rondônia em parceria com o PROCAD-Amazônia, entre Universidade Federal de Roraima e Universidade Federal Fluminense. O objetivo deste trabalho foi cotejar uma relação [geo]ancestral entre os poemas de Tatiana Nascimento e Audre Lorde. Para tanto, parto do estudo do capítulo “Geopolítica da comparação e representação do outro” presente no livro Literatura comparada e literatura brasileira: circulações e representações de José Luis Jobim. Me aproprio da conceituação sobre geopolítica da comparação e transfiguro ou antropofagizo para pensar o que vou nomear de ‘[geo]ancestralidade comparada’, tendo como corpus de análise o poema “y now frágil” de Tatiana Nascimento, poema este musicado pela cantora Luedji Luna, e o poema “Os ventos da Orixá” de Audre Lorde. A base conceitual e teórica perpassa: bell hooks (2019); Grada Kilomba (2019); Audre Lorde (2019); Toni Marrison (2019); Achille Mbembe (2018); Oyèrónké Oy?wùmí (2020); Abdias Nascimento (1997) entre outros, fundamentando uma crítica dissonante e dissidente de teóricas e teóricos negros fora do eixo canônico heteronormativo do Norte Global. A partir da proposta de análise comparada dos poemas de Tatiana Nascimento e Audre Lorde, podemos afirmar que a [geo]ancestralidade comparada está na poesia de cada uma entrelaçada pela memória da diáspora. Referências: hooks, bell. Erguer a voz: pensar como feminista, pensar como negra. Tradução Cátia Bocaiuva Maringolo. São Paulo: Elefante, 2019. JOBIM, José Luis. Literatura comparada e literatura brasileira: circulações e representações. Rio de Janeiro: Makunaima; Boa Vista: Editora da Universidade Federal de Roraima, 2020. KILOMBA, Grada. Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano. Tradução Jess Oliveira. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019. LORDE, Audre. Entre nós mesmas: poemas reunidos. Tradução Tatiana Nascimento; Valéria Lima. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2020. MARRISON, Toni. A origem dos outros: seis ensaios sobre racismo e literatura. Tradução Fernanda Abreu. Companhia das Letras, 2019. MBEMBE, Achille. Necropolítica: biopoder, soberania, estado de exceção, política da morte. Tradução Renata Santini. São Paulo: N-1 edições, 2018. NASCIMENTO, Abdias. Sankofa: memória e resgate. Revista Thoth: Brasília: 1997. Secretaria Especial de Editoração e Publicações. OY?WÙMÍ, Oyèrónké. Conceituando o gênero: os fundamentos eurocêntricos dos conceitos feministas e o desafio das epistemologias africanas. Tradução de Juliana Araújo Lopes. In: Pensamento feminista hoje: perspectivas decoloniais. HOLLANDA, Heloisa Buarque. (Org.). Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2020. Versão Kindle. PROTAGONISMO E RESISTÊNCIA FEMINISTA NAS HISTÓRIAS DE TRADIÇÃO AMAZÔNICAS Priscila Maria de Barros Borges Resumo: A literatura tem importante papel na construção do imaginário, sobretudo a literatura de difusão oral e as chamadas narrativas de tradição, que desempenham diferentes papeis nas sociedades humanas, funcionando como ferramentas socializadoras, como bálsamos curativos e como elementos de interpretação de uma psicanálise arquetípica dos povos. O antropólogo indígena Jaime Fernandes Diakara (2018) reflete sobre a importância das histórias mitológicas entre os povos do Alto Rio Negro. Segundo ele as histórias estão na categoria de bahsese - agenciamentos das forças preventivas e de cura. Joseph Campbell (2015) nos alerta para a falta de modelos mitológicos femininos e o modo como isso afeta especialmente as mulheres, que no mundo atual precisam competir nos padrões masculinos, numa sociedade contrária ao modelo mitológico matrístico. Partindo da compreensão do processo de “entronque patriarcal” (CARVAJAL, 2020) ocorrido no território de Abya Yala (América), são relevantes reflexões que deem destaque às visões de mundo subalternizadas pelo processo colonial/patriarcal, em especial narrativas de protagonismo feminino e resistência feminista, que revelam, também, tensões de gênero. A região geopolítica da Amazônia delimita – territorializa - a presença e a dispersão do corpus de textos em análise - que inclui o clássico da literatura indígena Antes o mundo não existia (KEHÍRI & PÃRÕKUMU, 2019) e coletâneas de narrativas produzidas em contexto etnográfico, como Moqueca de maridos (MINDLIN, 1997) e Xingu – os índios e seus mitos (VIILAS-BOAS, 1972). Também é a Floresta que inspira uma crítica literária decolonial, selvagem, na relação Sul Global. Assim, espera-se apresentar uma perspectiva complementar à visão de mundo moderna-colonial, apresentando modelos literários de protagonismo feminino e de resistência feminista, e dessa forma contribuir para uma construção mais positiva das identidades de gênero e raça-etnia no Brasil. Referências: CAMPBELL, Joseph. Deusas: os mistérios do divino feminino. São Paulo: Palas Athena, 2015. CARVAJAL, Julieta Paredes. Para descolonizar el feminismo: 1492 – entronque patriarcal y FeminismoComunitario de Abya Yala. La Paz / Bolivia: FeminismoComunitario Abya Yala, 2020. DIAKARA, Jaime. Gaapi: Uma viagem por este e outros mundos. Manaus: Editora Valer, 2021. KEHÍRI, Tõrãmu. PÃRÕKUMU, Umusi. Antes o mundo não existia. Rio de Janeiro: Dantes, 2019. MINDLIN, Betty. Moqueca de maridos: mitos eróticos. Rio de Janeiro: Record, 1997. VILLAS BOAS, Orlando & VILLAS BOAS, Cláudio. Xingu, os índios, seus mitos. Rio de Janeiro: Zahar, 1972. O HAICAI POTIGUARA E A POÉTICA DO VIVO NAS LITERATURAS INDÍGENAS CONTEMPORÂNEAS Randra Kevelyn Barbosa Barros Resumo: As literaturas produzidas pelos povos originários apresentam diferentes formas de expressão (oral, escrita, mesclando essas possibilidades); trabalham com gêneros diversos (poemas, contos, romances, entre outros) e sugerem epistemologias plurais de conceber o mundo. Dentre as autoras que têm integrado esse movimento de resistência por meio da escrita, pode-se citar Graça Graúna, que nasceu no Rio Grande do Norte e é filha da nação Potiguara. Graúna escreve primordialmente em versos, hibridizando formas poéticas orais praticadas pelo seu povo com estruturas presentes em outras culturas. O objetivo desse estudo é analisar a construção de haicais sob a perspectiva Potiguara no livro Fios do Tempo (2021), editado pela Baleia Cartonera e publicado recentemente pela autora. O haicai é um tipo de poema oriundo da cultura japonesa, que se difundiu na literatura brasileira. Essa forma estética é utilizada por Graúna tanto como instrumento de autoexpressão quanto para promover o diálogo entre os saberes dos povos indígenas e o pensamento oriental. Nesse sentido, argumenta-se que não apenas os textos da obra, mas também a própria materialidade do livro constrói uma poética do vivo, na qual há espaço para folhas, raízes de árvores, asas de um beija-flor. A diagramação e confecção artesanal da obra aproxima o público da Terra e dos saberes ancestrais. Para realizar a investigação, alguns referenciais teóricos serão discutidos: Márcia Kambeba (2018), com o debate sobre a multiplicidade de expressões literárias indígenas; Ailton Krenak (2020) e sua concepção ampla de vida, englobando diversos seres que habitam a Terra; Alfredo Bosi (1977), que ressalta as características da poesia como forma de resistência ao poder capitalista dominante. Dessa forma, este trabalho mostra que Fios do tempo convida leitoras e leitores a mergulharem em uma perspectiva anti-antropocêntrica da vida, que nos ajudará a remar junto com Krenak na tarefa urgente de adiarmos o fim do mundo. Referências: AZAM, Geneviève. Carta à Terra: e a Terra responde. Tradução: Adriana Lisboa. Belo Horizonte: Relicário Edições, 2020. BOSI, Alfredo. Poesia resistência. In:_. O ser e o tempo da poesia. São Paulo, Cultrix, Ed. da Universidade de São Paulo, 1977. p. 139-193. GRAÚNA, Graça. Contrapontos da literatura indígena contemporânea no Brasil. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2013. GRAÚNA, Graça. Fios do tempo. Editora Baleia Cartonera, Recife, 2021. KAMBEBA, Márcia Wayna. Literatura indígena: da oralidade à memória escrita. In: DORRICO, Julie et al (Orgs.). Literatura indígenas brasileira contemporânea: criação, crítica e recepção. Porto Alegre, RS: Editora Fi, 2018, p. 39-44. KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. KRENAK, Ailton. A vida não é útil. Pesquisa e organização: Rita Carelli. São Paulo: Companhia das Letras, 2020. NATSUISHI, Ban’ya. Divan Ocidental-Oriental. Poesia sempre. Número 17. Rio de Janeiro, 2002. ATRAVESSANDO GÊNEROS, CONSTRUINDO PONTES Tatiana de Castro Lopes Resumo: Esta apresentação objetiva refletir sobre questões plurais de gêneros, em especial, acerca de transgêneros, desconstruindo modelos de comportamento e moral erguidos sobre bases heterocêntricas e binárias, bem como, problematizar a relação entre sexo biológico, expressão de gênero, formas de masculinidades e desejo. São esses corpos não desejados e insubmissos que, involuntariamente, desafiam a biologia enquanto destino, que não se sujeitam a uma leitura imediata apenas. Existir em um gênero não-binário é resistir, re-existir, inventar-se para não morrer. Pretendo, então, discutir criticamente esses sujeitos cujas identidades são interditadas, cujos corpos são punidos e aprisionados de forma física, social, linguística, dentre inúmeras outras. É urgente que a contemporaneidade, não apenas acolha, mas celebre a diferença a fim de que consigamos reparar e reinventar essa futura ancestralidade, repensando o conceito de normalidade como nos é apresentado. Para realizar tal tarefa, a literatura servirá como ferramenta crucial através da personagem de Guimarães Rosa em Grande Sertão: Veredas: Diadorim, cuja subjetividade se apresenta de maneira fluida e híbrida. Perceber que é na diferença que o “eu” se constrói é compreender o valor da alteridade para a formação da própria identidade. Desta forma, deixo de enxergar o outro como um ser abjeto quando entendo a complexidade inerente ao humano. Que possamos, com essas reflexões, vislumbrar a implosão de determinismos sobre o humano, pois apenas os intolerantes se refugiam no asilo do preconceito. “Sertão: é dentro da gente”. Referências: BAUMAN, Zygmunt. Comunidade: a busca por segurança no mundo atual. Tradução de Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. BUTLER, Judith. Bodies that Matter: on the Discursive Limits of Sex. New York: Routledge, 1993. ______. The Force of Nonviolence: an ethico-political bind. UK: Verso Books, 2020. FEINBERG, Leslie. Beyond Pink or Blue. Boston: Beacon Press, 1998. HALBERSTAM, Judith. Female Masculinity. London: Duke University Press, 1998. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução de Tomaz Tadeu da Silva, Guaracira Lopes Louro. 9ªed. Rio de Janeiro: DP&A, 2004. ROSA, Guimarães. Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006. SIMPÓSIO “LITERATURAS, AFRICANIDADES E DESCOLONIZAÇÃO: TEÓRICAS/OS (D)E PELES NEGRAS” Luiz Henrique Silva de Oliveira (CEFET-MG), Felipe Fanuel Xavier Rodrigues (UFRR), Paulo Dutra (UNM) UMA DUPLA OUTRIDADE: ECOS DA COLONIALIDADE NA ESCRITA DE AUTORIA NEGRA FEMININA Fabiane Cristine Rodrigues Resumo: Em “Um feminismo decolonial”, Françoise Vergès (2020) traz uma afirmação que, em um primeiro momento pode parecer óbvia ou redundante, mas que serve de ponto de partida para as reflexões que aqui propomos: “as mulheres não são, nem espontaneamente, nem em si mesmas, uma categoria política” (VERGÈS: 2020. p. 51). A esta provocação, soma-se uma importante discussão a respeito da construção do conceito de gênero e dos perigos de uma universalização que não concebe os efeitos da colonialidade nas relações sociais contemporâneas, uma vez que, como a autora pontua, o racismo, sexismo e etnicismo ainda permeia as relações de dominação ainda que os regimes coloniais tenham desaparecido. Deste modo, faz-se necessário ponderar sobre como estes efeitos reverberam na construção identitária da mulher negra brasileira, e, compreendendo o conceito de “escrevivência”, cunhado por Conceição Evaristo, como uma forma de falar da escrita que surge, se mistura e atravessa a identidade e as condições de vida da população negra brasileira enquanto coletividade, refletir sobre os modos como o feminino e o feminismo se constroem e articulam na sociedade brasileira contemporâneo e como ecoam na escrita de autoria feminina negra. Para endossar as reflexões propostas, convocamos também alguns dos trabalhos como "A invenção das mulheres: Construindo um sentido africano para os discursos ocidentais de gênero", de Oyèrónk? Oy?wùmí (2021), "Contra o feminismo branco", de Rafia Zakaria (2021), "Memórias da plantação: Episódios de racismo cotidiano", de Grada Kilomba (2019), "Tornar-se negro", de Neuza Santos Souza (2021); entre outros que se propõe a discutir as intersecções entre raça, gênero e linguagem. Referências: OY?WÙMÍ, Oyèrónk?. A invenção das mulheres: Construindo um sentido africano para os discursos ocidentais de gênero. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2021 ZAKARIA, Rafia. Contra o feminismo branco. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2021 KILOMBA, Grada. Memórias da plantação: Episódios de racismo cotidiano. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019 SOUZA, Neuza Santos. Tornar-se negro. Rio de Janeiro: Zahar, 2021 VERGÈS, Françoise. Um feminismo decolonial. São Paulo: Ubu Editora, 2020 PROLEGÔMENOS DO ROMANCE ANCESTRAL Felipe Fanuel Xavier Rodrigues Resumo: A presente proposta de comunicação discute os princípios da categoria romance ancestral a partir da leitura crítica da obra Maréia (2019) da autora brasileira Miriam Alves. Para tanto, sublinha como o romance emerge como uma forma inovadora de expressar a experiência e o pensamento negros contemporâneos. Do ponto de vista sociopolítico de uma romancista negra, cuja epistemologia se difere consideravelmente das convenções artísticas devido às suas perspectivas culturais e feministas, Alves avança o gênero romance no que se refere ao seu conteúdo e estilo. Em sua recriação criativa do gênero em diálogo com as reinterpretações e reinvenções das contradições sociais, históricas, culturais e políticas do Brasil enquanto um contexto afro-diaspórico, Alves produz uma versão prototípica do que denominamos romance ancestral. Ao centralizar o lirismo da herança africana e o seu simbolismo multidimensional em paralelo com a sua representação da história branca, Alves alcança uma narrativa que evidencia os legados culturais fundamentais da sociedade brasileira ao mesmo tempo que manifesta os contornos de uma forma literária inovadora. Portanto, o foco deste artigo é ajustado para investigar a forma inovadora que o romance assume na produção literária de uma autora afro-brasileira contemporânea. Explora-se especificamente a inovação literária introduzida pelo texto exemplar, o romance Maréia (2019) de Miriam Alves, e como a ficção da romancista surge como um novo modo de expressão narrativa. Referências: Afolabi, Niyi. “Introduction: In Praise of Warrior-Souls.” The Afro-Brazilian Mind: Contemporary Afro-Brazilian Literary and Cultural Criticism, edited by Niyi Afolabi, Márcio Barbosa, and Esmeralda Ribeiro, Africa World Press, 2007, pp. 1-19. Alves, Miriam. BrasilAfro Autorrevelado: Literatura Brasileira Contemporânea. Nandyala, 2010. Alves, Miriam. Maréia. Malê, 2019. Alves, Miriam, and Carolyn Richards Durham (eds.). Enfim… Nós: Escritoras Negras Brasileiras Contemporâneas/Finally… Us: Contemporary Black Brazilian Women Writers. Three Continents, 1995. Davies, Carole Boyce. Black Women, Writing and Identity: Migrations of the Subjects. Routledge, 2005. Duarte, Eduardo de Assis. “Por um Conceito de Literatura Afro-brasileira.” Literatura Afro-brasileira: 100 Autores do Século XVIII ao XXI, by Duarte, Pallas, 2014, pp. 17-45. Duarte, Eduardo de Assis. Machado de Assis Afrodescendente. 3rd ed. Malê, 2020. Gates, Jr., Henry Louis. The Signifying Monkey: A Theory of African-American Literary Criticism. Oxford University Press, 1988. Gates, Jr., Henry Louis. Figures in Black: Words, Signs, and The “Racial” Self. Oxford University Press, 1989. Gonzalez, Lélia. Por um Feminismo Afro-latino Americano. Zahar, 2020. Martins, Leda Maria. “A Oralidade da Memória.” Brasil Afro-Brasileiro, edited by Maria Nazareth Soares Fonseca, Autêntica, 2010, pp. 61-86. Miranda, Fernanda Rodrigues de. “Maria Firmina dos Reis em Diálogo com Romancistas Negras Brasileiras.” Maria Firmina dos Reis: Faces de uma Precursora, edited by Constância Lima Duarte et al., Malê, 2018, pp. 275-288. Miranda, Fernanda Rodrigues de. Silêncios Prescritos: Estudo de Romances de Autoras Negras Brasileiras (1859-2006). Malê, 2019a. Miranda, Fernanda Rodrigues de. Corpo de Romances de Autoras Negras Brasileiras (1859-2006): Posse da História e Colonialidade Nacional Confrontada. 2019b. Universidade de São Paulo, PhD dissertation. Morrison, Toni. “Rootedness: The Ancestor as Foundation.” Black Women Writers (19501980): A Critical Evaluation, edited by Mari Evans, Anchor Books, 1984, pp. 339-345. 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PENSANDO O PENSAR NAGÔ COM MUNIZ SODRÉ Fernando de Sousa Rocha Resumo: Nesta comunicação, pretendo analisar as contribuições de Muniz Sodré ao campo de estudos da cultura afro-brasileira, em particular aquelas que se referem ao universo da religiosidade afro-brasileira. O propósito é, a partir das teorizações de Sodré, buscar formas de se complexificar e aprofundar novas abordagens à emergência da religiosidade afro-brasileira, especialmente a do Candomblé Queto, na literatura brasileira, como por exemplo no conto “I have shoes for you”, de Cidinha da Silva, ou no recente volume Contos de Axé, sem falar na fundamental produção de importantes membros de terreiros, como Mãe Beata de Iemonjá e Mestre Didi. Sendo um reconhecido intelectual da área de comunicação e mídia, e tendo publicado extensamente nesta área, Sodré também publicou textos essenciais para nossa compreensão seja da força da racialização na construção de identidades na sociedade brasileira, como em Claros e escuros (1999), seja de vários aspectos da cultura afro-brasileira, como em Samba, o dono do corpo (1998) ou em Um vento sagrado (1996), livro escrito em parceria com Luís Filipe de Lima, no qual se relata a história do babalaô Agenor Miranda Rocha. Nesta comunicação, meu foco principal será o volume Pensar nagô (2017), no qual, em diferentes ensaios, Muniz busca aprofundar certas questões, relativas a um pensar nagô sobre o mundo, baseado nas práticas religiosas do Candomblé. O que o “pensar-vivendo”, na experiência nagô, implica enquanto forma de estar no mundo? Como a corporealidade, individual e coletiva, fundamenta este “pensar-vivendo”? Como entender Exu como uma invenção distinta de uma outra temporalidade? De que forma entender a construção de uma origem nas práticas nagôs? Estas são algumas das questões propostas por Sodré, as quais nos fundamentam para que possamos reavaliar não só a presença da representação dos nagôs na literatura brasileira como também a emergência de um pensar nagô numa escritura contemporânea. Referências: SODRÉ, M. Claros e escuros. Vozes, 1999. SODRÉ, M. Pensar nagô. Vozes, 2017. SODRÉ, M. Samba, o dono do corpo. Mauad, 1998. SODRÉ, M; LIMA, L. F. de. Um vento sagrado. Mauad, 1996. O CORTE DA LÍNGUA DE BELONÍSIA EM TORTO ARADO DE ITAMAR VIEIRA JUNIOR: INSURGÊNCIAS, DECOLONIZAÇÃO E CONTEMPORANEIDADES PERIFÉRICAS Gabriela Santos Barbosa Resumo: Este texto se esboça na intenção de refletir a partir de Torto Arado, romance do baiano Itamar Vieira Junior o corte da língua de Belonísia como sendo uma metéfora do colonialismo. Ao falar sobre o corte, estamos também falando do silenciamento sofrido por Belonísia como seu efeito. Colonialidade. Desse modo, o silenciamento remete às pessoas escravizadas, as quais foram arrancadas de seu seio, de seu solo, de sua mãe e transplantadas para outro território e foram impedidas de falar, sentir, ver...todos os seus sentidos foram destituídos. Restando-lhes apenas o silêncio, a imobilidade, as correntes, as máscaras, a língua e corpos amputados. Dito isso, penso em trazer para o rol de discussões os marcadores que contribuiram para a construção do silenciamento da população negra, em específico da mulher negra. Com isso, tentaremos entender melhor suas causas e efeitos, como também buscar as chaves que operem para seu rompimento, a partir da abordagem das contemporaneidades periféricas (AUGUSTO, 2018), afim de construir espaços para que os corpos negros insurgam insubmissos diante da colonialidade, operando a partir de epistemologias próprias. Entendendo contemporaneidades periféricas como um modo de (re)existir à própria noção de contemporaneidade compreendida a partir de um viés temporal (AGAMBEN, 2015), o qual é um pensamento de base eurocêntrica, pois é linear, e não leva em consideração os saberes produzidos pelas geografias que, do ponto de vista temporal e eurocêntrico, não conseguiram e não conseguem acompanhar o que é produzido “lá” (AUGUSTO, 2018). Desse modo, as culturas elaboradas nessa outra geografia seriam/são atrasadas, primitivas e, por isso, passíveis de ensinamento e autorização de fala. A punição para a não obediência é, portanto, o silenciamento a partir de dispositivos muito reais e concretos. Referências: BHABHA, Homi. O local da cultura. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1998. EVARISTO, Conceição. Literatura negra: uma poética de nossa afro-brasilidade. SCRIPTA, Belo Horizonte, v. 13, n. 25, p. 17-31, 2o sem. 2009 Disponível em: http://periodicos.pucminas.br/index.php/scripta/article/view/4365/4510 FANON, Franz. Pele negra, máscaras brancas. Salvador. EDUFBA, 2008. Disponível em: < https://www.geledes.org.br/wpcontent/uploads/2014/05/Frantz_Fanon_Pele_negra_mascaras_brancas.pdf>. Acesso em 10;04/2021. FREITAS, Henrique. O arco e arkhé: ensaios sobre literatura e cultura. Salvador: Ogum’s Toques Negros, 2016. HALL, Stuart. Representação, sentido e linguagem. In : . Cultura e Representação . Tradução de William Oliveira e Daniel Miranda. Rio de Janeiro: EdPUC-Rio/Apicuri, 2016, p. 31-56. KILOMBA, Grada. Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano. Rio de Janeiro: Editora Cobogó, 2019 LUGONES, María. Rumo a um feminismo descolonial. Estudos feministas. V. 25, n. 4, Florianópolis, 2010. SILVA, Jorge Augusto. Contemporaneidades Periféricas. Org. Jorge Augusto Silva. Salvador: Editora Segundo Selo. 2018 SPIVAK, Gayatri. Pode o subalterno falar? Belo Horizonte: Editira UFMG, 2010. VERGÈS, Françoise. Um feminismo decolonial. Trad. Jamille Pinheiro Dias e Raquel Camargo. São Paulo: Ubu, 2020. VIEIRA JUNIOR, Itamar. Torto Arado. São Paulo: Todavia, 2019. A MEMÓRIA E A ESCRITA DE SI EM MAHOMMAH GARDO BAQUAQUA Isabela Cristina Silva Mesquita Resumo: O presente trabalho analisa a obra de Mahommah Gardo Baquaqua e sua articulação com a escrita memorialística. Uma autobiografia é uma narrativa que, a partir do presente, olha para o seu passado, exercitando a memória de um modo ativo e criativo (OLNEY, 1984). As experiências vividas são reelaboradas e encadeadas em modo narrativo (CARVALHO, 2003). Desse modo, tempo e rememoração ocupam importantes papeis dentro das escritas autobiográficas. O ato de rememorar e recontar cria um enredo, possuindo grande importância dentro na estruturação dos relatos de vida. Ricoueur (2018) aborda a memória como algo privado, inscrita em uma temporalidade passada, organizada em arquipélagos de sentido. O ato de rememorar cria uma teia de significados que une, através da consciência, passado ao presente, dando um sendo de direção ao sujeito. Assim, a memória está envolvida no exercício de narrar a si mesmo, de contar seu percurso de vida. A biografia de Baquaqua se enquadra no gênero Slave Narratives, surgido como uma variação das autobiografias na sociedade estadunidense. Os relatos trazem ao leitor a experiência do indivíduo frente ao processo de servidão e o modo como o afeta. Ao narrar sua trajetória de vida, os escravizados trazem à tona memórias subterrâneas (POLLAK, 1989) silenciadas ao longo do processo de dominação. Este estudo investiga o papel da memória dentro escrita autobiográfica de Mahommah G. Baquaqua a partir de teóricos como: Ricoeur (2018), Pollak (1989), Evaristo (2007; 2008), Gates Jr (2004), Halbwachs (2006), dentre outros. Referências: ARAÚJO, Pedro Galas. Trato desfeito: o revés autobiográfico na literatura contemporânea brasileira. Orientador: Regina Dalcastagnè. 2011. 106 f. Dissertação (Mestrado)- Curso de Mestrado do Departamento de Teoria Literária e Literaturas do Instituto de Letras da Universidade de Brasília- TELUNB. Brasília, 2011. Disponível em: https://repositorio.unb.br/bitstream/10482/9975/1/2011_PedroGalasAraujo.pdf ARFUCH, Leonor. O espaço biográfico: dilemas da subjetividade contemporânea. Rio de Janeiro: Ed. UERJ. 2010. BAQUAQUA, Mahommah Gardo. Biografia de Mahommah Gardo Baquaqua: um nativo de Zoogoo, no interior da África. FURTADO, Lucciani (trad.). São Paulo: Uirapuru, 2017. BICALHO, Gustavo. Identidades narrativas transatlânticas: Mahommah Gardo Baquaqua e Gustavus Vassa, Ouladah Equiano. In: Anais da XV ABRALIC, p.2325-2336, 2016. Disponível em: https://abralic.org.br/anais/arquivos/2016_1491265277.pdf acessado em 10 de janeiro de 2021. CARVALHO, Isabel Cristina Moura. 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Oxford: Oxford University Press, 2014. O QUE PODE O SILÊNCIO DO CORPO NEGRO? Iuri Dantas Encarnação Resumo: A partir de uma leitura crítica do romance “O avesso da pele” (2020), de Jeferson Tenório, a comunicação apresenta reflexões sobre a potência semântica de diferentes formas de silêncio do corpo negro diante do racismo. A análise leva em conta os pressupostos teóricos sobre as formas do silêncio de Eni Orlandi, em diálogo com os modos de reação ao preconceito nos termos sugeridos por Grada Kilomba. O relato de um filho sobre o assassinato de seu pai, um professor negro de literatura, por policiais militares em Porto Alegre reverbera aspectos da diáspora africana e subsequente domesticação do corpo negro, em referência a conceitos elaborados por Paul Gilroy e Lélia Gonzales. Vencedora do Prêmio Jabuti, a obra de Tenório articula o silêncio imposto pela força de um silenciamento final — parte de uma determinada necropolítica — a outros silêncios vinculados diretamente à cor da pele. A jornada do narrador sugere uma construção dinâmica de identidade, articulada pela Relação, conforme a poética de Édouard Glissant, e também pela memória e fabulação. O objetivo da apresentação será, portanto, especular sobre como uma cartografia de silêncios pode afastar uma abordagem puramente hermenêutica do texto literário, permitindo uma interação crítico-obra-autor-tema que abra novas possibilidades de entendimento sobre a vida de pessoas negras no Brasil contemporâneo. Referências: GONZALES, Lélia. Por um feminismo afro-latino-americano: ensaios, intervenções e diálogos. Organização Flavia Rios, Márcia Lima. Rio de Janeiro: Zahar, 2020. GLISSANT, Édouard. Poética da Relação. Tradução Marcela Vieira, Eduardo Jorge de Oliveira; revisão técnica Ciro Oiticica; prefácio Ana Kiffer, Edimilson de Almeida Pereira. Rio de Janeiro: Bazar do tempo, 2021. GILROY, Paul. O Atlântico negro: modernidade e dupla consciência. Tradução de Cid Knipel Moreia. São Paulo: Editora 34. Rio de Janeiro: Universidade Candido Mendes, Centro de Estudos Afro-Asiáticos, 2012. KILOMBA, Grada. Memórias da Plantação - Episódios de Racismo Cotidiano. Tradução Jess Oliveira. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019. MBEMBE, Achille. Necropolítica: biopoder, soberania, estado de exceção, política da morte. São Paulo: N-1 edições, 2018. ORLANDI, Eni Puccinelli. As formas do silêncio. Campinas: Editora Unicamp, 2011. SOUZA, Jessé. Como o racismo criou o Brasil. Rio de Janeiro: Estação Brasil, 2021. TENÓRIO, Jefferson. O avesso da pele. São Paulo: Companhia das Letras: 2020. VISÕES DO CAMPO LITERÁRIO, SEGUNDO VENCIDOS E DEGENERADOS E QUARTO DE DESPEJO Luiz Henrique Silva de Oliveira Resumo: A proposta deste trabalho é refletir sobre as visões do campo literário, contidas nos livros Vencidos e degenerados (1915), de Nascimento Moraes (1882-1958), e Quarto de despejo (1960), de Carolina Maria de Jesus (1914-1977). Para tanto, centraremos nossa atenção nas estratégias de enunciação dos narradores. Entenderemos campo segundo Pierre Bourdieu formulou em As regras da arte: espaço de ordem simbólica, pautado por disputas entre agentes, dotado de regras próprias e relativa autonomia em relação à realidade. Nascimento Moraes e Carolina Maria de Jesus, cada qual por meio das especificidades de seus registros literários e de suas condições de produção, mas balizados por um ponto de vista enunciativo negro, como fim e começo, discutem não apenas aspectos do cotidiano dos sujeitos de pele escura, como boa parte de suas fortunas críticas tem demonstrado. A miséria, a desigualdade, os dilemas étnicos e raciais, o sentido da vida, as relações humanas, entre outros aspectos, de fato se fazem presentes no romance do autor e no diário da autora. Entretanto, por trás de tais assuntos, há diversas camadas de sentido que convidam o leitor a refletir sobre dinâmicas inerentes ao campo literário brasileiro. Entre estas dinâmicas estão: a) o acúmulo de capitais necessários à participação do campo; b) as particularidades do campo, motivadas por regras próprias e “aceitas” pelos participantes; c) as disputas entre os estabelecidos e os recém-chegados. Diante de um cenário de limitações de inúmeras ordens, Nascimento Moraes e Carolina Maria de Jesus tecem, em seus textos literários, críticas plausíveis, resultado da “dupla consciência”, para usarmos um termo de Paul Gilroy (2001), que pauta os discursos de seus enunciadores. Referências: ARAÚJO, Adriana Gama de. Em nome da cidade vencida: a São Luís republicana na obra de José do Nascimento Moraes (1889-1920). 2011. 135 f. Dissertação (Mestrado em História) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2011. BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas. Trad. Sérgio Miceli. 2 ed. São Paulo: Perspectiva, 1982. CARREIRA, Rosângela Aparecida Ribeiro. A paratopia testemunho-documental e o discurso da negritude em Vencidos e degenerados. 2015. 250 f. Tese (Doutorado em Língua Portuguesa) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2015. CAVALCANTE, José Dino Costa; PEREIRA, Paloma Veras. O lugar dos excluídos em uma São Luís em ruínas: um olhar sobre o romance Vencidos e degenerados. Revista Interdisciplinar em Cultura e Sociedade, São Luís, v. 3, n. 1, 2017. FARIAS, Tom. Carolina, uma biografia. Rio de Janeiro: Malê, 2018. GILROY, Paul. O Atlântico negro: modernidade e dupla consciência. São Paulo: Editora 34; Rio de Janeiro: Universidade Cândido Mendes, 2001. JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo. São Paulo: Ática, 2000. MBEMBE, Achille. Crítica da razão negra. Lisboa: Antígona, 2014. MEIHY, José Carlos Sebe Bom; LEVINE, Robert M. Cinderela negra: a saga de Carolina Maria de Jesus. Rio de Janeiro: UFRJ, 1994. MORAES, José do Nascimento. Vencidos e degenerados. 4. ed. São Luís: Centro Cultural Nascimento de Moraes, 2000. PEREIRA, Paloma Veras. As relações de poder em uma cidade em ruínas: o lugar dos excluídos no romance Vencidos e degenerados. Dissertação (Mestrado em Letras) - Universidade Federal do Maranhão, São Luís, 2018. SANTOS, Maria Rita. Nascimento Moraes. In: DUARTE, Eduardo de Assis (Org.). Literatura e afrodescendência no Brasil: antologia crítica. Vol. 1, Precursores. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011. www.letras.ufmg.br/literafro. ANCESTRALIDADE NEGRA NA PRODUÇÃO LITERÁRIA FEMININA NO BRASIL CONTEMPORÂNEO Maria Aparecida Andrade Salgueiro Resumo: Em "Cartas para minha avó", Djamila Ribeiro apresenta memórias, em texto poético, em obra de amplo alcance, trazendo à tona a questão dos novos rumos da literatura. Sobre o gênero do texto: trata-se verdadeiramente de uma escrevivência no sentido pleno da palavra/conceito tal como cunhada/o por Conceição Evaristo. Entre as questões de ancestralidade, de oralidade, nas conversas com a “Vó”, vão aportando conceitos de língua, e de raça, gênero e classe que nos reportam de imediato a Angela Davis. Com o suporte de Silvio Almeida, observa-se como na narrativa surgem questões múltiplas de violência de gênero e raça ao longo da vida adolescente da narradora, quem ela chegou a ser na idade adulta, em meio às mudanças, às dores na vida como travessia e com o caminhar sempre firme até o final do livro em que ela se coloca como um ser pleno e tranquilo, novamente trazendo Conceição Evaristo ao trabalhar a célebre noção de que “nossos passos vêm de longe”. A partir da obra, e do/as teórico/as citado/as primordialmente, a presente comunicação irá mostrar, na escrevivência memória, como se deram/dão as construções do ser branco e do ser negro em nossa sociedade, e como, em meio à violência constante, se chegou à grande falácia da suposta democracia racial. Referências: • ALMEIDA, Silvio Luiz de. Racismo Estrutural. [2020] São Paulo: Editora Jandaíra, 2020. • DAVIS, Angela. Women, Race & Class. New York: Vintage Books, 1983. • SALGUEIRO, Maria Aparecida Andrade. Escrevivência: conceito literário de identidade afro-brasileira. In: Constância Lima Duarte; Isabella Rosado Nunes. (Org.). Escrevivência: a escrita de nós. 1ed.Rio de Janeiro - RJ: MINA Comunicação e Arte; ITAU Social, 2020, v. 1, p. 96-113. • RIBEIRO, Djamila. Cartas para minha Avó. [2021] São Paulo: Companhia das Letras, 2021. OLEBA EDITORES E ETHALE PUBLISHING: UM ESTUDO COMPARADO ENTRE EDITORAS MOÇAMBICANAS Roberta De Bon Silva Mesquita Resumo: O presente trabalho se propõe a fazer um estudo comparativo sobre o catálogo de duas editoras: a Oleba Editores e a Ethale Publishing. A pesquisa parte do pressuposto de ambas as editoras serem independentes, estarem operando há poucos anos e fazerem parte do cenário editorial moçambicano, o qual ainda carece de maiores estudos na área. Para a investigação, serão analisados os produtos editoriais produzidos por ambas as editoras, bem como a trajetória de cada uma delas. Moçambique é um país que foi colônia portuguesa do final do séc. XV até o séc. XX, tendo passado por uma guerra de independência que durou 10 anos e cuja independência foi oficializada em 1975, e, posteriormente, foi instaurada uma guerra civil que perdurou até 1992. Toda essa trajetória culminou em uma infraestrutura prejudicada e que reflete até hoje na cadeia do livro, de forma que o objeto livro acaba por ter dificuldades para chegar às mãos do leitor. Para o trabalho serão empregados teóricos da área como José Muniz Jr. (2016, 2019), Malena Botto (2006), Gilles Colleu (2007), Daniela Szpilbarg e Ezequiel Saferstein (2012), Constantino Bértolo (2015) e Jorge Locane (2019). A partir da pesquisa, espera-se trazer contribuições para o desenvolvimento do cenário independente em Moçambique. Referências: BÉRTOLO, Constantino. La cena de los notables. Buenos Aires: Mardulce, 2015. BOURDIEU, Pierre. Os três estados do capital cultural. 10 ed. IN: NOGUEIRA, M. A.; CATANI, A. (orgs.). Escritos de Educação. Petrópolis: Vozes, p. 71-79. 2008 BOURDIEU, Pierre. Estruturas, habitus, práticas. In: BOURDIEU, Pierre. O senso prático. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009. LOCANE, Jorge. De la literatura latinoamericana a la literatura (latinoamericana) mundial: condiciones materiales, procesos y actores. 1ª ed. Berlin/Boston: de Gruyter, 2019. MALUMIÁN, Víctor; WINNE, Hernán López. Independientes, de qué? Hablan los editores de América Latina. Ciudad de Máxico, México. 2016. MUNIZ JÚNIOR, José de Souza. Girafas e Bonsais: editores “independentes” na Argentina e no Brasil (1991-2015). 2016. Tese (Doutorado em Sociologia) – Curso em Sociologia – Universidade de São Paulo. São Paulo, 2016. SAFERSTEIN, Ezequiel A.; Szpilbarg, Daniela. El espacio editorial “independiente”: heterogeneidade, posicionamentos y debates: Hacia uma tipologia de las editoriales em ele período 1998-2010. Primer Coloquio Argentino de Estudios sobre el Libro y la Edición, 31 de octubre, 1 y 2 de noviembre de 2012, La Plata, Argentina. EN: Actas. La Plata: UNLP-FAHCE. Disponible em: https://www.memoria.fahce.unlp.edu.ar/trab_eventos/ev.1955/ev.1955.pdf EU NÃO SOU SEU NEGRO - A SUBJETIVIDADE DO SUJEITO NEGRO NAS PÁGINAS DE JAMES BALDWIN E NA PELÍCULA DE RAOUL PECK Thayza Alves Matos Resumo: Os ensaios do escritor estadunidense James Baldwin suscitam discussões sobre os lugares ocupados pelos sujeitos negros na sociedade estadunidense a partir de sua vivência enquanto homem negro, no país que se tornou a maior potência mundial econômica, política e militar a partir da segunda metade do século XX. No entanto, essa potência que tanto se esforçara para exportar ao restante do mundo uma narrativa em que se apresentava como a “Terra da Liberdade”, sustentou por mais de quatrocentos anos um sistema escravocrata. Mesmo após a abolição que se deu por meio da aprovação da 13ª Emenda em 1865, o país ainda enfrentava um século depois um sistema de segregação que Baldwin e tantos outros vivenciaram, descreveram, narraram, mas também denunciaram por meio da produção artística daquele período. Compreendendo a disparidade de narrativas, propomos aqui a análise é do documentário Eu não sou seu negro, de Raoul Peck, lançado em 2016. Indicado ao Oscar em 2017 na categoria de Melhor Documentário, Eu não sou seu negro é um filme que propõe uma reflexão sobre a luta pelos Direitos Civis nos Estados Unidos a partir de fragmentos da obra de James Baldwin. Ao apresentar uma perspectiva sobre a história dos sujeitos negros nos Estados Unidos, Peck conecta os movimentos dos Direitos Civis nas décadas de 1950 e 1960 com o movimento do Vidas Negras Importam (#blacklivematters). Para aprofundar a discussão acerca da experiência do sujeito negro pela diáspora nos Estados Unidos será de extrema valia as reflexões propostas por Franz Fanon, Achille Mbembe, Angela Davis, Stuart Hall, Patrícia Hill Collins e W.E.B Dubois. Referências: BALDWIN, James. Cross of Redemption. New York: Vintage Books, 2010. BALDWIN, James; PECK, Raoul. I am not your negro: a major motion picture directed by Raoul Peck. New York: Vintage International, 2017. COLLINS, Patrícia Hill. Pensamento feminista negro: conhecimento, consciência e a política do empoderamento. São Paulo: Boitempo, 2019. DAVIS, Angela. Mulheres, raça e classe. São Paulo: Boitempo, 2016. DU BOIS, W. E. B. As almas da gente negra. Trad. Heloísa Toller Gomes. Rio de Janeiro: Lacerda Ed., 1999. FANON, Frantz. Pele negra máscaras brancas. Tradução de Renato da Silveira. Salvador: EDUFBA, 2008. HALL, Stuart. A Identidade Cultural na Pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2006. MBEMBE, Achille. Crítica da razão negra. Tradução de Sebastião Nascimento. São Paulo: n-1 edições, 2018. ANCESTRALIDADE AFRICANA E AUTORIA NEGRA BRASILEIRA Vagner da Rosa Amaro Resumo: Reflete sobre as marcas de ancestralidade negra africana presentes em textos da literatura brasileira contemporânea de autoria negra, tomando como exemplo, fragmentos da literatura de Carlos de Assumpção, Conceição Evaristo, Cuti, Miriam Alves, Cidinha da Silva e Davi Nunes. Conceitua ancestralidade negra africana, com base nas teorizações de Leda Maria Martins (2021), Eduardo de Oliveira (2021), Tiganá Santana (2019) e Fábio Leite (2009). Compara os conceitos de literatura negrabrasileira, Cuti (2010) e literatura afro-brasileira, Eduardo de Assis Duarte (2014), entre outros, aproximando-os do conceito de ancestralidade negra africana. Esta ancestralidade, presente em temas, na linguagem, nas estruturas narrativas, nos nomes dos personagens, nas referências religiosas, culturais e musicais, na oposição ao pensamento colonial, e principalmente em referências a uma cosmovisão africana, serve como objeto de análise para o conjunto de textos selecionados, como também como elo, em uma compreensão de um tempo espiralar, para um agrupamento dos textos selecionados, com outras autorias negras não contemporâneas, como as de Maria Firmina dos Reis, Cruz e Sousa, Machado de Assis, Lima Barreto e Carolina Maria Jesus. Uma ancestralidade literária que desenha um tipo de tradição, podendo ser absorvida pelos estudos literários, e que é mobilizada pelo fio existencial afrodescendente que em si, já se configura como uma das marcas de ancestralidade, evidentes na literatura selecionada para análise. Referências: MARTINS, Leda Maria. Performances do tempo espiralar: poéticas do corpo-tela. Rio de Janeiro: Cobogó, 2021. LEITE, Fábio. A questão ancestral: África negra. São Paulo: Casa das áfricas, Palas Atenas, 2009. OLIVEIRA, Eduardo. Cosmovisão africana no Brasil: elementos para uma filosofia afrodescendente. Rio de Janeiro: Apeku, 2021. SANTANA, Tiganá. A cosmologia africana dos Bantu-Kongo por Bunseki Fu-Kiau: tradução negra, reflexões e diálogos a partir do Brasil. Tese de doutorado. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, USP. São Paulo. 2019. DUARTE, Eduardo de Assis. Por um conceito de literatura afro-brasileira. Rassegna iberistica, 37, 102, 2014, pp. 259-280. CUTI. Literatura negro-brasileira. São Paulo: Selo Negro Edições, 2010. A FORÇA ENUNCIATIVA AFRODESCENDENTE EM QUARTO DE DESPEJO, DE CAROLINA MARIA DE JESUS Zildete Lopes de Sousa Gonçalves Resumo: Carolina Maria de Jesus teve sua trajetória de vida determinada pela falta de políticas de inserção dos negros na sociedade brasileira e toda a sua existência foi marcada pelas dificuldades oriundas de sua origem social, de gênero e de raça. Essa trajetória foi registrada pela autora em seu livro Quarto de Despejo: diário de uma favelada (1960), obra em que relata o cotidiano degradante imposto a ela e a um contingente de corpos negros na favela do Canindé, na década de 1950. Nesse sentido, este estudo tem como objetivo verificar se Quarto de Despejo apresenta marcas de uma consciência ética afrodescendente. A fim de entender os elementos que evidenciam uma consciência afrodescendente na tessitura do texto literário, recorreremos aos estudos teóricos sobre a literatura afro-brasileira de Eduardo de Assis Duarte, Octávio Ianni, Zilá Bernd, Luiza Lobo e Edimilson de Almeida Pereira. Contatouse que, embora Carolina não aborda a questão racial como tema central em Quarto de Despejo, foi possível notar uma voz autoral consciente de suas origens étnicas e comprometida em denunciar o racismo, a opressão, a exclusão social e as injustiças sociais a que estavam submetidos os corpos negros. Assim, a experiência vivida e registrada por Carolina em seu diário vai na contramão da história oficial alicerçada no mito da democracia racial. Referências: ARRUDA, Aline Alves. Carolina Maria de Jesus: um projeto literário e edição crítica de um romance inédito. Tese de Doutorado. Universidade Federal de Minas Gerais/UFMG. 2015. Disponível em: https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/ECAP-9VYQJV acesso em 15/03/2022. BERND, Zilá. Introdução à Literatura Negra. São Paulo: Brasiliense, 1988. CUTI. Literatura negro-brasileira. São Paulo: Selo Negro Edições, 2010. DUARTE, Eduardo de Assis. Por um conceito de literatura afro-brasileira. In: _________Literatura Afro-Brasileira: 100 autores do século XVIII ao XXI. Rio de Janeiro: Pallas, 2014. p.1749. EVARISTO, Conceição. Literatura negra: uma poética de nossa afro-brasilidade. Belo Horizonte: SCRIPTA, v. 13, n. 25, p. 17-31, 2º sem. 2009. Disponível em http://periodicos.pucminas.br/index.php/scripta/article/view/4365 acesso em 31/02/2022. FARIAS, Tom. Carolina: uma biografia. Rio de Janeiro: Malê, 2018. FONSECA, Maria Nazareth Soares. “Literatura negra, literatura afro-brasileira: como responder à polêmica? In: SOUZA, Florentina; LIMA, Maria Nazaré. (Org). Literatura afrobrasileira. Salvador: Centro de estudos afro-orientais; Brasília: Fundação Cultural Palmares, 2006. IANNI, Octávio. Literatura e consciência. In: Revista do Instituto de Estudos Brasileiros. Ed. Comemorativa do Centenário da Abolição da Escravatura. São Paulo: Edusp/CNPq. 1998. JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo: diário de uma favelada. São Paulo: Ática, 2001. ________ Diário de Bitita. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. ________ Casa de Alvenaria Vol 1. São Paulo: Companhia das Letras, 2021. ________ Casa de Alvenaria Vol 2. São Paulo: Companhia das Letras, 2021. ________ Carolina Maria de Jesus: meu sonho é escrever. Org. Rafaella Fernandez. São Paulo: Círculo Contínuo Editorial, 2019. LOBO, Luiza. Literatura negra brasileira contemporânea. In¬¬: Crítica sem juízo. 2 ed. revista. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1993. P. 161-221. MIRANDA, Fernanda R. Silêncios prescritos: estudos de romances de autoras negras brasileiras (1859-2006). Rio de Janeiro: Malê, 2019. OLIVEIRA, Maria Aparecida Cruz de. Meninas negras no romance Afro-brasileiro. Edições Carolina: Brasília. 2020. SANTOS, Joel Rufino dos. Carolina Maria de Jesus: uma escritora improvável. Rio de Janeiro: Garamond, 2009. SIMPÓSIO “NATURALISMO/NATURALISMOS” Leonardo Mendes (UERJ), Haroldo Ceravolo Sereza (UFSCar), Claudia Barbieri (UFRRJ) ARSÉNIO DE CHATENAY E OS "ROMANCES PARA HOMENS" Aline Cristina Moreira de Almeida Resumo: Este trabalho tem como objetivo ampliar o corpus da literatura licenciosa que circulou no mercado luso-brasileiro no final do século XIX a partir do pseudônimo Arsénio de Chatenay. Esquecido pela historiografia literária dos dois lados do Atlântico, o nome foi usado pelo Dr. Antônio da Cunha Azevedo Lemos Castelo-Branco (1827-?), escritor e advogado, membro de uma antiga família nobre portuguesa (LEAL, 1882). Nos anúncios de “leitura para homens”, o nome de Chatenay podia ser encontrado em destaque ao lado do de Rabelais, pseudônimo do também português Alfredo Gallis (18591910), mostrando como esses dois escritores funcionavam como referência para as obras do gênero (EL FAR, 2004). Embora menos explícitas que outros livros licenciosos desse mesmo período, os leitores sabiam que as obras de Chatenay faziam parte do universo da pornografia, seja pelo próprio nome que os assinava – chat (gato, em francês), jargão para referir ao sexo feminino (CUROPOS, 2020) –, seja pelo quase onipresente subtítulo para os romances que os designava “para homens”. Além disso, os livros vinham acompanhados de ilustrações de inspiração libertina que combinavam com a linguagem galante das narrativas. Nesta apresentação, vamos conhecer quem foi Chatenay – o pseudônimo e o homem histórico –, recorrendo às fontes da época e a trabalhos recentes (EL FAR, 2004; CUROPOS, 2020). Vamos conhecer também alguns dos títulos assinados por Chatenay, dando atenção especial ao romance A mulher virgem, mãe! (1880), de modo a observar de que maneira o escritor se apropriou das correntes realista e naturalista para construir uma narrativa transgressora sobre a concepção sem sexo. Referências: CHATENAY, Arsénio de. A mulher virgem, mãe!. Porto: Tipografia de Alexandre da Fonseca Vasconcellos, 1880. CUROPOS, Fernando. Arsénio de Chatenay e seus mistérios. In: CHATENAY, Arsénio de. Os Mistérios do Asfondelo, Lisboa: Index, 2020, p. 5-30. EL FAR, Alessandra. Páginas de sensação: literatura popular e pornográfica no Rio de Janeiro (1870-1924). São Paulo: Cia. das Letras, 2004. LEAL, Augusto Soares d’Azevedo Barbosa de Pinho, Portugal Antigo e Moderno: Dicionário Geographico, Estatístico, Chorographico, Archeologico, Histórico, Biográfico e Etymologico e Todas as Cidades, Villas e Freguesias de Portugal. Lisboa: Livraria Editorade Mattos Moreira & Cardosos, 1882. Vol. X. CONTOS NATURALISTAS PUBLICADOS NO JORNAL CEARENSE O PÃO DA PADARIA ESPIRITUAL, 18921896 Bianca de Amorim Gomes Resumo: Tradicionalmente, nos manuais escolares e nos cursos de Letras, a estética naturalista oitocentista é malvista e relegada a uma posição subalterna, quando comparada a outros estilos literários, como o romantismo e o modernismo. Numa época em que os homens de letras lutavam para trazer credibilidade e direitos para a profissão de escritor, um estilo de escrita realista e popular como o naturalismo era considerado baixo e inculto, cujas únicas finalidades seriam recreação e venda. Contrariando essa percepção, esse projeto tem como premissa a importância da estética naturalista no campo literário do fim do século. Nosso objetivo é conhecer, analisar e ampliar o corpus do naturalismo oitocentista no Brasil, com a inclusão de autores e obras esquecidos ou mal compreendidos. Nesse projeto, pretendemos estudar a ficção produzida pelos escritores da agremiação artística cearense a Padaria Espiritual, e publicada em seu periódico, O Pão, que circulou entre 1892 e 1896 em Fortaleza. A hipótese da pesquisa é que o naturalismo era a estética predominante entre os membros da Padaria Espiritual, chamados “padeiros”, e que os contos produzidos por eles são narrativas naturalistas que retratam situações triviais do dia a dia de pessoas comuns, com finais trágicos e desiludidos. Feito o estudo e testadas as hipóteses, organizaremos e produziremos uma coletânea anotada dos contos publicados em O Pão, com informação sobre os autores e o periódico. Referências: AZEVEDO, Rafael Sa?nzio de & CARVALHO, Gilmar. Padaria Espiritual: resgate e permane?ncia da molecagem cearense. Fortaleza: Edic?o?es Fundac?a?o de Cultura e Turismo, 1992. BAGULEY, David. Naturalist fiction. The entropic vision. Cambridge: Cambridge University Press, 1990. BEZERRA, Carlos Eduardo. Adolfo Caminha: um poli?grafo na literatura brasileira do se?culo XIX (18851897). Sa?o Paulo: Cultura Acade?mica, 2009. BO?IA, Wilson. Anto?nio Sales e sua e?poca. Fortaleza: BNB, 1984. CAMELLO, Cleyciara; MENDES, Leonardo. O homem (1887), de Aluísio Azevedo, como bestseller erótico. ALEA, vol. 21/3, p. 65-80, 2019. CAMINHA, Adolfo. A Padaria Espiritual. In: ___. Cartas litera?rias. Fortaleza: Edic?o?es UFC, 1999, p. 127-132. CARDOSO, Gleudson. Padaria Espiritual: biscoito fino e travoso. Fortaleza: Museu do Ceara?/ Secretaria da Cultura e Desporto, 2002. CARVALHO, Adherbal de. O naturalismo no Brasil. Maranha?o: Livraria Contempora?nea, Ju?lio Ramos & C. Editores, 1894. EL FAR, Alessandra. Ao gosto do povo: as edic?o?es barati?ssimas de finais do se?culo XIX. In: BRAGANC?A, Ani?bal & ABREU, Ma?rcia (org.). Impressos no Brasil: dois se?culos de livros brasileiros. Sa?o Paulo: Editora UNESP, 2010, p. 89-99. MENDES, Leonardo. O aborto, de Figueiredo Pimentel: naturalismo, pedagogia e pornografia no fim do século XIX. In: MENDES, Leonardo; CATHARINA, Pedro Paulo (org.). Figueiredo Pimentel, um polígrafo na Belle Époque. São Paulo: Alameda Editorial, 2019, p. 261-349. ______. O copeiro de Aluísio Azevedo: transgressão, boemia e marginalidade no romance brasileiro do final do século XIX. In: LAGE, Verônica Lucy Coutinho (org.). Literatura, crítica e cultura II: diálogos com Machado de Assis, caminhos da crítica literária. Juiz de Fora: Editora UFJF, 2008, p. 95-113. ______. O naturalismo na livraria do século XIX. Revista Letras, n. 100, p. 71-90, 2019. ______. Naturalismo com aspas: Bom-Crioulo de Adolfo Caminha, a homossexualidade e os desafios da criação literária. Revista Gragoatá, v. 14, 2003, p. 29-44. ______. As qualidades da incorreção: o romance naturalista no Brasil. In: MELLO, Celina Maria Moreira & CATHARINA, Pedro Paulo Garcia Ferreira (org.). Crítica e movimentos estéticos: configurações narrativas do campo literário. Rio de Janeiro: 7Letras, 2006, p.137-165. ______. O retrato do imperador: negociação, sexualidade e romance naturalista no Brasil. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2000. _______. O romance republicano: naturalismo e alteridade no Brasil (1880-1890). Letras & Letras, v. 24, n. 2, 2008, p. 189-207. ______. Vida literária em O Pão da Padaria Espiritual, Fortaleza, 1892-1896. Interfaces, n. 17, v. 2, 2012, p. 62-74. MENDES, Leonardo & CATHARINA, Pedro Paulo Garcia Ferreira. Naturalismo aqui e là-bas. O eixo e a roda, v. 18, n. 1, 2009, p. 109-127. MOTA, Leonardo. A Padaria Espiritual. Fortaleza: UFC/Casa de Jose? de Alencar, 1994. NAVA, Pedro. Bau? de ossos. Sa?o Paulo: Atelie? Cultural, 2002. O pa?o da Padaria Espiritual. Edic?a?o fac-similar. Fortaleza: Edic?o?es Universidade Federal do Ceara?/Academia Cearense de Letras/Prefeitura Municipal de Fortaleza, 1982. PELEGRINI, Tania. Realismo e Realidade na Literatura: um Modo de ver o Brasil. São Paulo: Alameda Editorial, 2018. SALES, Anto?nio. Retratos e lembranc?as. Fortaleza: Waldemar de Castro e Silva Editor, 1938. ______. Novos retratos e lembranc?as. Fortaleza: Casa de Jose? de Alencar, 1995. TINHORA?O, Jose? Ramos. A provi?ncia e o naturalismo. Rio de Janeiro: Civilizac?a?o Brasileira, 1966. "A RABEQUISTA", "IDÍLIO À INGLESA" E "BATALHAS DA VIDA (EXCERTO DE UM ROMANCE INÉDITO)": O REALISMO-NATURALISMO NOS CONTOS DE GUIOMAR TORRESÃO Bianca Gomes Borges Macedo Resumo: Esta comunicação é parte de uma pesquisa de mestrado em andamento. Ela tem por objetivo desenvolver uma reflexão crítica a respeito dos contos “A Rabequista” (1883), “Idílio à inglesa” (1886) e “Batalhas da vida (excerto de um romance inédito)” (1892), de Guiomar Torresão. Considerando o grande desenvolvimento que os contos realistas e naturalistas receberam em meados do século XIX (DE JESUS, 2000), pretendemos demonstrar um afastamento da estética romântica e um diálogo intenso com o realismo-naturalismo na produção de maturidade de Guiomar Torresão. Para isso, discutiremos os caminhos da escrita torresiana pensando os elementos e as relações entre o Realismo e o Naturalismo (REIS, 2001). Analisaremos a representação das mulheres através de algumas personagens femininas nos contos selecionados, expondo as descrições físicas e psicológicas e o cotidiano multifacetado, em consonância com a ocupação e o estatuto de cada uma delas. Neste sentido, a reflexão acerca da história das mulheres (PERROT, 2007), da divisão entre os sexos e da naturalização das diferenças entre o masculino e o feminino (BOURDIEU, 2014) nos conduzirão para o levantamento das representações de temas sobre a autonomia feminina e para o pensamento sobre a construção de um novo feminino que rompe com os moldes patriarcais e conservadores nos quais elas se inseriam. Os costumes da sociedade oitocentista pontuados nas narrativas também serão objetos norteadores na pesquisa bem como a trajetória de vida de Guiomar Torresão, uma defensora da instrução e da emancipação feminina que, assim como algumas mulheres, pegou na caneta e se fez escritora para defender causas que considerava não dizer respeito apenas às mulheres, mas a toda a sociedade (VAQUINHAS, 2011). Referências: BOURDIE, Pierre. A dominação masculina; tradução Maria Helena Kuhner. – 1ª ed. – Rio de Janeiro: BestBolso, 2014. DE JESUS, Maria Saraiva (Ed.). Antologia do conto realista e naturalista. Campo das letras, 2000. «O Realismo e o Naturalismo: ideologia, temática, estratégias», in História da Literatura Portuguesa. O Realismo e o Naturalismo, vol. V (dir. de Carlos Reis), Lisboa, Publicações Alfa, 2001, pp. 15-25. PERROT, Michelle. Minha história das mulheres. São Paulo: Contexto, 2007. TORRESÃO, Guiomar. A comédia do amor. Lisboa: Empreza Litteraria de Lisboa, 1883. ________________________. As batalhas da vida. Lisboa: Livraria de Antonio Maria Pereira, 1892. ________________________. Idílio à inglesa (Contos Modernos). Lisboa: Livraria Ferreira, 1886. VAQUINHAS, Irene. “Senhoras e Mulheres” na Sociedade Portuguesa do Século XIX. Lisboa: Edições Colibri, 2011. AMARELO MANGA, MARCO DO NATURALISMO NO CINEMA BRASILEIRO Bruno Leites Resumo: Nesta comunicação, pretendo caracterizar o filme Amarelo Manga (Cláudio Assis, 2003) como um marco do cinema influenciado pelo Naturalismo no Brasil. Não se trata de abordá-lo como um filmesíntese, mas como uma obra de destaque no conjunto de filmes do período. Para tanto, em primeiro lugar, irei inserir o filme no contexto de obras com influência naturalista do mesmo período. Embora tenha perdido força no final da década, este universo floresceu no início dos anos 2000, gerando filmes como Latitude zero (Toni Venturi, 2000), Cronicamente inviável (Sérgio Bianchi, 2000), Contra todos (Roberto Moreira, 2004), O cheiro do ralo (Heitor Dhalia, 2006) e Baixio das bestas (Cláudio Assis, 2006), entre outros. Em seguida, vou recuperar textos escritos sobre características naturalistas de Amarelo manga e de outros filmes do mesmo período, por autores como Ramayana Lira (2012), Beatriz Jaguaribe (2007), Denilson Lopes (2007) e Fernão Ramos (2004), entre outros. Embora a fortuna crítica acerca do Naturalismo no cinema brasileiro dos anos 2000 não seja extensa, ela frequentemente recorre a Amarelo manga para expor suas razões. Finalmente, será momento de expor algumas das principais características do filme, com destaque para a reunião que faz entre a repetitividade e a degradação, características estas desenvolvidas em diferentes vertentes do Naturalismo, como demonstraram autores como David Baguley (1990) e Gilles Deleuze (2018). Referências: BAGULEY, David. Naturalist fiction: the entropic vision. Cambridge: Cambridge University Press, 1990. DELEUZE, Gilles. A imagem-movimento. São Paulo: 34, 2018. JAGUARIBE, Beatriz. O choque do real: estética, mídia e cultura. Rio de Janeiro: Rocco, 2007. LIRA, Ramayana. Rio, pontes e overdrives: trânsito e a (de)composição do espaço em Amarelo Manga. In: Crítica Cultural (Critic). Palhoça, SC, v. 7, n. 1, p. 149-157, jan./jun. 2012. LOPES, Denilson. Nem sertão, nem favela. In: LOPES, Denilson. A delicadeza: estética, experiência e paisagens. Brasília: Ed. UnB, 2007. pp. 101-112. RAMOS, Fernão Pessoa. Máconsciência, crueldade e “narcisismo às avessas” no cinema brasileiro contemporâneo. In: Crítica Marxista, São Paulo, Ed. Revan, v.1, n.19, 2004, p.104-113. A PRIMEIRA CONFESSADA DE GERVÁSIO LOBATO: ENTRE OS DEVERES MORAIS E OS DESEJOS DE ALCOVA Claudia Barbieri Resumo: Gervásio Lobato (1850-1895) foi um polígrafo português, autor dedicado à escrita de romances, contos, peças, crônicas, artigos de fundo e responsável por traduções abundantes do repertório teatral francês e espanhol. Em maio de 1874, em Lisboa, levou um original seu ao palco do Teatro D. Maria II, a comédia em um ato Os Grotescos. A peça permaneceu em cartaz por apenas três noites, por ter sido considerada de temática escandalosa e imprópria à encenação. Não desistindo do tema, Lobato transformou a efabulação em um romance, intitulado A primeira confessada, publicado inicialmente no formato de folhetim nas páginas do Jornal da Noite e, depois, reunido em volume pela “Empreza das Horas Românticas” no ano de 1881. O romance recebeu ainda uma segunda edição em 1918, pela Portugália Editora. Nas quase quatrocentas páginas impressas, somos apresentados a um caso de adultério envolvendo as personagens Bernardo Verride, casado com a jovem Clotilde, condessa de Romeu, que se torna o amante de Suzanna, a Viscondessa de Carinhos, mulher exuberante e esposa de um visconde de pouca presença. O romance discute, ainda que em tom pedagógico, o papel da mulher na sociedade portuguesa oitocentista, visto que é nítido o contraste entre Clotilde, a esposa e a viscondessa, a amante. Suzanna tem pleno conhecimento da necessidade de manter as aparências, para evitar escândalos possíveis, mas seu temperamento e seus desejos se mostram mais fortes do que o julgamento alheio. A comunicação pretende abordar a trajetória da personagem que oscila entre o exemplo e o instinto pulsante, constantemente dividida entre a moral reinante e a própria satisfação. Referências: À MEMÓRIA DE GERVÁSIO LOBATO. Lisboa: Tipografia Baeta Dias, 1895. CÂMARA MUNICIPAL DE LISBOA. Exposição comemorativa do primeiro centenário do nascimento de Gervásio Lobato. Lisboa: Museu de Rafael Bordalo Pinheiro, 1950. CINCO AUTORES, UMA ÉPOCA: Raul Brandão, Gomes de Amorim, Teixeira de Queirós, Gervásio Lobato, Alberto Pimentel. Lisboa: Promoclube, s/d. [1982?]. LOBATO, Gervásio. A primeira confessada. 2 ed. Lisboa: Portugália Editora, 1918. PINTO, Júlio Lourenço. Estética naturalista: estudos críticos. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1996. A RECEPÇÃO DO DRAMA O MULATO (1884), DE ALUÍSIO AZEVEDO (1857-1913), NOS PALCOS DA CAPITAL DO IMPÉRIO Cleyciara dos Santos Garcia Camello Resumo: Este trabalho estuda a recepção da peça O mulato, encenada nos palcos da capital do Império em 1884, pelo motivo de se assemelhar à recepção do romance homônimo, bem como por revelar as resistências à obra pela crítica tradicional. Segundo Faria (2001), havia dificuldade de se transpor obras naturalistas (francesas, portuguesas e brasileiras) para o teatro por serem percebidas como obscenas. Nos tablados, a imoralidade dos romances ficava mais evidente. O mulato foi adaptado para o teatro em três atos, com texto do próprio autor, e recebida como grande novidade por efeito de promoção e divulgação do romance, anunciado como o primeiro título naturalista brasileiro. Isso despertou a curiosidade do público, que aguardava ansiosamente a segunda edição da obra, dado que a primeira, lançada em São Luís (MA), havia se esgotado em um mês, após forte campanha publicitária mobilizada pelo autor e seus apoiadores. Quando cotejados os artigos dedicados ao romance O mulato com os direcionados à peça homônima, chama à atenção as impressões da crítica com relação ao personagem cônego Diogo e ao excessivo realismo da obra. Para os críticos do romance, faltava ao padre verossimilhança. Já para os da peça, faltava ao sacerdote moralidade, uma vez que era inaceitável um padre ser retratado como devasso e assassino. Cabia censura à encenação por seu desrespeito à religião católica, bem como pela sua falta de decoro. Embora a indignação dos críticos da peça seja mais notória, percebe-se que o incômodo generalizado em O mulato originava-se do seu aspecto anticlerical, seguido do seu excessivo realismo, como se verá neste estudo. Referências: BOURDIEU, Pierre. As regras da arte: gênese e estrutura do campo literário. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. CHARTIER, Roger. A história cultural. Entre práticas e representações. Lisboa: Difel, Rio de Janeiro: Betrand, 1990. DARNTON, Robert. A questão dos livros: passado, presente e futuro. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. DUARTE, Urbano. O naturalismo. Revista Brasileira, 2ª fase, ano II, tomo IV, Rio de Janeiro. 1880. EL FAR, Alessandra. Páginas de sensação. Literatura popular e pornográfica no Rio de Janeiro (1870-1924). São Paulo: Cia. das Letras, 2004. FARIA, João Roberto. Ideias teatrais – O século XIX no Brasil. Coleção textos: 15. São Paulo: Perspectiva: FAPESP, 2001. MAINGUENEAU, D. Discurso literário. São Paulo: Contexto, 2006. __________________. O contexto da obra literária. São Paulo: Martins Fontes, 2001. MENDES, Leonardo & CATHARINA, Pedro. P. Le naturalismebrésilienaupluriel. Brésil(s) Scienceshumaines et sociales, n°15, 2019. MÉRIAN, Jean-Yves. Aluísio Azevedo: vida e obra (1857-1913). Trad. Claudia Poncioni. 2ª Edição. Rio de Janeiro: Garamond, 2013. PEREIRA, Lucia Miguel. História da literatura brasileira: prosa de ficção: de 1870 a 1920. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1988. RAMOS, R. Do reclame à comunicação: pequena história da propaganda no Brasil. São Paulo:Global, 1985. 3ª edição. SODRÉ, Nelson Werneck. História da literatura brasileira. 10ª edição,Rio de Janeiro: Graphia, 2002. DA TEORIA DO NATURALISMO AO ENGAJAMENTO: O VALOR DA VERDADE PARA ÉMILE ZOLA Eduarda Araújo da Silva Martins Resumo: Ao longo de sua carreira, Émile Zola buscou representar a Verdade na literatura. Para isso, teorizou sua estética e travou lutas simbólicas no campo literário francês (BOURDIEU, 1996), como é possível verificar nos artigos publicados na imprensa e reunidos, posteriormente, nos volumes Le Roman expérimental (1880), Le Naturalisme au théâtre (1881), Nos Auteurs dramatiques (1881), Les Romanciers naturalistes (1881) e Documents littéraires (1881). O substantivo “vérité/verdade” constitui, assim, um dos principais valores da obra literária de Zola. Segundo Colette Becker “a verdade é para Zola o único valor e o mais constante” (BECKER et alii, 1993, p. 440). No entanto, ele não o conceitua. Entre 1897 e 1898, Zola usou a imprensa, igualmente, para realizar uma campanha de revisão do processo judicial que condenara injustamente Alfred Dreyfus, capitão do exército francês, à prisão perpétua por um crime que não cometera. Os textos que compuseram esta campanha foram reunidos e publicados, em 1901, sob o título La Vérité en marche. A busca pela Verdade acaba, portanto, saindo do plano literário e invadindo o social e o político, o que parece justificar sua atuação no Caso Dreyfus. Pretendemos trazer elementos teóricos que nos definam mais claramente a ideia de Verdade para Zola. Para isso, apresentaremos os resultados de uma pesquisa bibliográfica que passará por textos teóricos do escritor e, também, por fontes secundárias. Visamos, também, analisar os textos de sua campanha de defesa do capitão Dreyfus. Referências: BOURDIEU, Pierre. As regras da arte. Tradução de Maria Lucia Machado. São Paulo: Cia das Letras, 1996. BECKER, Colette ; GOURDIN-SERVENIÈRE, Gina ; LAVIELLE, Véronique. Dictionnaire d’Émile Zola; sa vie, son œuvre, son époque suivi du Dictionnaire des « Rougon-Macquart ». Paris : Robert Laffont, 1993. ZOLA, Émile. L’affaire Dreyfus: la vérité en marche. Chronologie et préface par Colette Becker. Paris: Garnier-Flammarion, 1969. A PRESENÇA VAMPÍRICA EM ALUÍSIO AZEVEDO: A RELAÇÃO SAGRADO VERSUS PROFANO EM A MORTALHA DE ALZIRA Elton Silva Miranda Costa Resumo: A presente comunicação oral trata de uma leitura pela perspectiva do gótico sobre o romance A mortalha de Alzira, de Aluísio Azevedo. Nessa linha, a proposta, que é um recorte da pesquisa do mestrado em Estudos Literários, é analisar os elementos religiosos, ditos sagrados, e de que forma Azevedo subverte-os, principalmente com a presença do vampiro, aqui entendido como psíquico. Cabe ressaltar que a narrativa, inspirada na obra “A morta Apaixonada”, do francês Théophile Gautier, não faz menção, em nenhum momento, à figura do vampiro, mas diversos fatores, como o que será explorado nesta apresentação, leva-nos a essa leitura específica, até porque, nos idos do século XIX, essa criatura fantástica ainda não ganhara força, principalmente na literatura gótica, e os romances dramalhões tomavam os jornais por meio dos folhetins. A obra é normalmente analisada, por muitos pesquisadores, pela perspectiva naturalista, observando os casos da histeria masculina, por exemplo; entretanto, com as temáticas da sexualidade, religiosidade e profanação sendo exploradas ao longo de toda trama, torna-se possível esse horizonte proposto. Para esta comunicação, temos como aportes teóricos Elíade (2018), Lecouteux (2005), Melton (1995), Silva (2010) e Monteiro (2004), além de vários pesquisadores da área como Pietrobom (2012), Menon (2011), Sena (2017) e França (2017). Esses autores auxiliam na discussão teórica e permitem a investigação sobre como este romance-folhetim, aqui utilizada a versão completa publicada em livro, mostra-nos a relação existente entre o sagrado e o profano, contribuindo, consequentemente, para os estudos relacionados ao gótico e naturalismo. Referências: AZEVEDO, Aluísio. A Mortalha de Alzira. Rio de Janeiro, Livraria Garnier. Coleção dos autores celebres da literatura brasileira. ELÌADE, Mircea. O sagrado e o profano: a essência das religiões. São Paulo: Editora WF Martins Fontes, 2018. (Coleção biblioteca do pensamento moderno) FRANÇA, Julio. SILVA, Daniel Augusto P. De perseguida a fatais: personagens femininas, sexo e horror na literatura do medo brasileira. LECOUTEUX, C.. História de Vampiros – autópsia de um mito. Tradução Álvaro Lorencini. São Paulo, Unesp Ed, 2005. MELTON, J. G.. O livro dos vampiros: a enciclopedia dos mortos-vivos. Trad. Milton Mira Assumpcao Filho. 2. ed. Sao Paulo: M. Books, 1995. MENON, Maurício Cesar. Vampiros: Algumas faces do monstro em narrativas brasileiras. Anuário de Literatura, vol.16, n.2 p. 185-196. Universidade Tecnológica Federal do Pará, 2011. MONTEIRO, M. C.. Na aurora da modernidade: a ascensão dos romances gótico e cortês na literatura inglesa. Rio de Janeiro: Caetés, 2004. PIETROBOM, Amanda Lopes. Aluísio Azevedo: naturalismo e fantástico. UNESP – Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – São José do Rio Preto, 2012. SENA. Marina Farias. Sombras no Romance Experimental: O Decadentismo de Aluísio Azevedo. Estudos do Gótico. Editora Dialogarts, 2017 Págs: 99110. SILVA, Alexander Meireles da. Introdução do livro Contos clássicos de vampiro. São Paulo, Editora Hedra, 2010. NATURALISMO E LUTA DE CLASSES: UMA LEITURA DE "CAPÃO PECADO", DE FERRÉZ Evandro Jose dos Santos neto Resumo: O trabalho em questão tem como intuito analisar as relações existentes entre as linhas de força que estruturam a narrativa de “Capão pecado”, do escritor paulistano Ferréz, à luz da estética naturalista e neonaturalista presente em romances brasileiros dos finais do século XIX e na primeira década do século XX, respectivamente. O referido romance procura dar forma ao cotidiano de jovens moradores da periferia da cidade de São Paulo, no início dos anos 2000, no contexto do subemprego, do vício nas drogas, da criminalidade e da busca da ascensão social pelas vias do trabalho formal e da educação. A estetização da pobreza, da forma como é configurada pelo autor, guarda vários pontos de contato com romances como “Casa de pensão”, de Aluísio Azevedo, e “Suor”, de Jorge Amado, por exemplo. Em “Capão pecado”, contudo, é a formalização do combate aos preconceitos de classe verificados na ideologia burguesa do trabalho que constitui o travejamento estrutural da obra, seja manifestada na configuração do cenário sociocultural de lutas, que opõe diretamente a experiência inescapável da degradação à problematização da resignação naturalista, seja identificada nas projeções discursivas produzidas pelas personagens como forma de autoafirmação. Nesse sentido, no procedimento de composição das estruturas narrativas, Ferréz utiliza o método descritivo naturalista para cumprir a tarefa de sublinhar a objetividade da condição social de indivíduos que vivem no limite da miséria social; entretanto, ainda que o ponto de vista da narrativa jamais deixe de aquilatar a realidade representada sob a perspectiva do feio, do grotesco, do sujo, e do “imoral”, não comparece no romance a óptica que enxerga as personagens pelo viés do exótico, do alegórico e do idealizado. Referências: AMADO, Jorge. "Suor". São Paulo: Companhia das Letras, 2011. AZEVEDO, Aluisio. "Casa de pensão". São Paulo: Editora Ática, 1989. FERRÉZ. "Capão Pecado". Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2005. FERRÉZ. "Deus foi almoçar". São Paulo: Editora Planeta, 2012. FERRÉZ (org.). "Literatura marginal: talentos da escrita periférica". Rio de Janeiro: Editora Agir, 2005. GINZBURG, Jaime. "Crítica em tempos de violência". São Paulo: EDUSP, 2017. LUKÁCS, Georg. “Narrar ou descrever”. In: "Marxismo e teoria da literatura". São Paulo: Editora Expressão Popular, 2010. WALTY, Ivete Lara Camargos (org.). "Literatura marginal e sua crítica". São Paulo: Hucitec Editora, 2017. A RELAÇÃO ENTRE SEXUALIDADE E DEGENERESCÊNCIA NA OBRA NATURALISTA UM HOMEM GASTO, DE FERREIRA LEAL Flavio Lobo Moreira Resumo: Publicada em 1885, a obra Um homem gasto, de Ferreira Leal, é considerada o primeiro texto em prosa da literatura brasileira a abordar a temática da homossexualidade masculina. Embora a experiência homoerótica vivida no internato pelo personagem Alberto tenha sido transitória, nem por isso mostrou-se menos devastadora, impelindo-o a uma vida de devassidão, promiscuidade e perversão sexual, ao ponto de torná-lo "disfuncional" em sua vida conjugal com Luiza. Isto é, mesmo não se tratando de um personagem homossexual, as ocorrências nefandas de sua vida pregressa o impedem de alcançar uma ereção, consumir o ato sexual com sua esposa e gerar descendentes, comprometendo, assim, sua virilidade e saúde mental. O projeto de vida pautado na idealização da mulher e do casamento, como caminho para uma vida sexual saudável e propensa a gerar descendentes, é inviabilizado pela impotência de Alberto. Desgastado no corpo e na alma pelas práticas libidinosas vividas na juventude, é por meio de Luiza que o personagem reconhece a própria decadência e a incapacidade de cumprir com seu papel marital. Repleto de expressões e referências da biologia e da medicina, o texto retrata a utopia higienista em voga no final do século XIX e muito abarcada na literatura naturalista, bem como a sexualidade como a causa de doenças, problemas e traumas psicológicos que comprometem a felicidade e repercutem de forma trágica e indelével na vida dos indivíduos. À exceção do preâmbulo e da conclusão, toda a narrativa segue o formato epistolar, ou seja, o texto é construído por meio da troca de cartas entre seus personagens, conferindo-lhe um caráter confessional e pedagógico que, sob a perspectiva de uma sexualidade normatizadora, procura admoestar o leitor acerca dos perigos da degenerescência imputados às práticas sexuais condenadas pela moral burguesa oitocentista. Referências: COSTA, Jurandir Freire. A inocência e o vício: estudos sobre o homoerotismo. 3. ed. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1992. FOCAULT, Michel. História da sexualidade I: a vontade de saber. 5. ed. Rio de Janeiro: Graal, 1984. GREEN, James N. Além do Carnaval: a homossexualidade masculina no Brasil do final do século XX. Trad. Cristina Fina e Cássio Arantes Leite. São Paulo: Editora UNESP, 2000. MAIA, Helder Thiago. Ferreira Leal, o litterato gasto. In: LEAL, Ferreira. Um homem gasto: episódio da história social do século XIX - estudo naturalista (1885). 1. ed. Uberlândia: O sexo da palavra, 2019, p. 17-27. QUEIROZ, Luiz Gonzaga Morando. Transgressores e transviados: a representação do homossexual nos discursos médico e literário no final do século XIX (1870-1900). 1992. 169f. Dissertação (Mestrado em Letras) - Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 1992. TREVISAN, João Silvério. Devassos no paraíso: a homossexualidade no Brasil da colônia à atualidade. 6. ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro: Record, 2004. O NATURALISMO LICENCIOSO EM O PRIMO BASÍLIO, DE EÇA DE QUEIRÓS, E AS RESPOSTAS CONSERVADORAS DE MACHADO DE ASSIS Gabriela Ribeiro Nunes Resumo: O Primo Basílio (1878), romance naturalista do autor português Eça de Queirós, dividiu as opiniões de diversos críticos literários da época quanto ao seu conteúdo, considerado didáticomoralizante por uns e imoral por outros. Machado de Assis foi um dos nomes que apontou o gravíssimo mal da pintura, do aroma de alcova, da descrição minuciosa, quase técnica, das relações adúlteras entre Luísa, personagem principal da narrativa eciana, e Basílio. Foi a falta de “decoro literário”, principalmente, que fez com que o livro se tornasse um grande êxito entre os leitores oitocentistas não letrados de Portugal e do Brasil, sendo até anunciado nas livrarias do Rio de Janeiro como “leitura para homens”. Como resposta conservadora ao romance do escritor português e a tantos outros de mesmo tema, o autor de Memórias Póstumas publicou, em 1899, Dom Casmurro, se afastando completamente do grande hipertexto com a temática de adultério que influenciou Eça de Queirós, Émile Zola, Liev Tolstói e outros mais: Madame Bovary (1856), de Gustave Flaubert. A presente comunicação, portanto, tem o objetivo de observar os aspectos licenciosos de O primo Basílio; seus pontos de contato com o modelo flaubertiano de esposa frustrada, marido desinteressante, amante dândi, detalhamento das cenas picantes, compartilhado pelos outros autores citados como influenciados pelo romance de Flaubert; e a versão dos trópicos realizada pelo pudico Machado de Assis, que rompeu com tal modelo, obrigando os leitores do século XIX a usarem suas duas mãos durante a leitura. Referências: ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. In: In: ASSIS, Machado. Machado de Assis: Obra Completa. 3. ed. v. I. Nova Aguilar: São Paulo, 2021. p. 904-1043. ASSIS, Machado de. Literatura realista. In: ASSIS, Machado. Machado de Assis: Obra Completa. 3. ed. v. III. Nova Aguilar: São Paulo, 2021. p. 1206-1215. EL FAR, Alessandra. Romance para homens. EL FAR, Alessandra. Páginas de sensação: Literatura popular e pornográfica no Rio de Janeiro (1870-1924). São Paulo: Cia. das Letras, 2004. p. 184202. FLAUBERT, Gustave. Madame Bovary. São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2011. QUEIRÓS, Eça. O primo Basílio. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2011. SANTIAGO, Silviano. Eça, autor de Madame Bovary. In: SANTIAGO, Silviano. Uma literatura nos trópicos: ensaios sobre dependência cultural. São Paulo: Perspectiva, 1978. p. 49-65 TOLSTÓI, Liev. Anna Kariênina. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. ZOLA, Émile. Thérèse Raquin. Tradução de Joaquin Pereira Neto. São Paulo: Estação Liberdade, 1992. QUANDO O NATURALISTA É TAMBÉM CIENTISTA: O CASO DE RODOLPHO THEOPHILO Haroldo Ceravolo Sereza Resumo: Ainda que pautado pelo discurso científico, e muitas vezes com boa formação na área, o escritor naturalista não necessariamente domina por completo o método científico. O atraso da ciência de século 19 é, assim, com frequência, colocado como um entrave para a leitura dos romances naturalistas nos dias de hoje, uma espécie de mácula pela escolha desajeitada de um cabedal “extraliterário”. Mas como lidar com o caso de um romancista que é rejeitado por sua ficção, mas que é celebrado por sua ciência? O caso de Rodolpho Theophilo, autor de A fome (1890), é desafiador: sua experiência no combate bem sucedido à varíola, por meio da vacinação, no Estado do Ceará o coloca no panteão da ciência brasileira – espaço que em voltou a figurar por conta da pandemia de Covid-19 –, embora sua obra literária naturalista seja comumente rejeitada pela crítica. Esta apresentação buscará discutir como a ciência participa de sua obra ficcional mais conhecida e que laços formais com textos de outros escritores, sobretudo Júlio Ribeiro e Euclides da Cunha, em livros como A carne e Os Sertões. Também buscará apontar aspectos de suas interpretações das secas do Nordeste, sobretudo do Ceará, em seu romance mas também em alguns estudos históricos e científicos, participaram da construção de um imaginário que seria retomado pela geração de Trinta. Referências: FRANÇA, Júlio; SENA, Marina. O Gótico-Naturalismo em Rodolfo Teófilo. SOLETRAS, [S.l.], n. 30, p. 23-38, mar. 2016. ISSN 2316-8838. Disponível em: <https://www.epublicacoes.uerj.br/index.php/soletras/article/view/19568>. LIRA NETO. O poder e a peste. A vida de Rodolfo Teófilo. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha: 1999. MORAES, Adriana de Paula. São Paulo: FFLCH, 2020 (tese de doutorado) Theophilo, Rodolpho. A fome/ Violação. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1979. Theophilo, Rodolpho. Seccas do Ceará. Ceará: Cholowiecki, 1901. ZOLA, Émile. O romance experimental e o naturalismo no teatro. Trad. Célia Berrettini e Ítalo Caroni. São Paulo: Perspectiva, 1982. NATURALISMO/S HOJE: A RECUPERAÇÃO DO/S NATURALISMO/S NA ARTE CONTEMPORÂNEA LATINOAMERICANA Juliana de Assis Beraldo Resumo: Alguns trabalhos da arte contemporânea latino-americana – como as pinturas de Adriana Varejão (Filho Bastardo I e II, 1992-1995) e Rosana Paulino (Assentamento, 2013, História Natural?, 2016 e Paraíso Tropical, 2018), as fotomontagens de Ge Viana (Atualização traumática de Debret, 2019-2020) e os livros de César Aira (2006), Marília Garcia (2018) e Yolanda Segura (2020) – demonstram um interesse particular pela recuperação de arquivos, referências, obras e metodologias do/s naturalismo/s. Em relação ao/s naturalismo/s na literatura, Süssekind (1984) ressalta a “exigência de uma fidelidade documental” que resulta, por vezes, em um “ocultamento” das contradições e cisões do Brasil (SÜSSEKIND, 1984, p. 39). Na contramão disso, a retomada de diferentes arquivos do/s naturalismo/s pela arte contemporânea latino-americana parece explorar justamente os cortes e as fraturas em questões históricas, sociais e políticas. Nesse sentido, esta comunicação – fruto de um momento inicial de pesquisa – investiga a recuperação do/s naturalismo/s na arte contemporânea produzida em América Latina e seu potencial, implicações e transgressões, principalmente, no que diz respeito às relações entre as concepções de fisionomia e corpo, às metodologias e aos procedimentos. Partindo das discussões de Süssekind (1984) e Andermann (2018), os objetivos deste trabalho são, por um lado, analisar esse retorno contemporâneo do/s naturalismo/s desde aspectos formais até metodológicos, em algumas das obras mencionadas, e, por outro, mapear alguns potenciais debates e tensões relevantes para o desenvolvimento desta pesquisa. Referências: AIRA, César. Um acontecimento na vida do pintor-viajante. Trad. Paulo Andrade Lemos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006. ANDERMANN, Jens. Tierras en trance: arte y naturaleza después del paisaje. Santiago de Chile: Ediciones Metales Pesados, 2018. GARCIA. Marília. Parque das ruínas. São Paulo: Luna Parque, 2018 ROMERO, Sílvio. O Naturalismo em literatura. São Paulo, SP: Tipografia da Província de São Paulo, 1882. SEGURA, Yolanda. persona, Almadía, Ciudad de México, 2020. SUSSEKIND, Flora. Tal Brasil, qual romance? Rio de Janeiro: Achiamé, 1984. PEDRO DO CANTO E MELO (1866-1934), "NATURALISTA RETARDATÁRIO" Leonardo Mendes Resumo: Na sua influente História da literatura brasileira: Prosa de ficção (de 1870-1920), Lucia Miguel Pereira propõe nomear “naturalistas retardatários” um grupo de escritores brasileiros que publicaram obra naturalista no começo do século XX, quando o movimento já estava supostamente em declínio. Para a historiadora, o atraso de chegada à cena literária explica o esquecimento desses escritores, pois produziram literatura fora de moda, que não mais agradava ao público. Em Pereira, a história literária é feita de rupturas epistemológicas. As estéticas têm vigências temporais claras, com princípio, apogeu, declínio e fim. Os escritores situados no princípio e no apogeu são mais importantes do que os “retardatários”, porque a história literária valoriza as inovações. Como romper com esse paradigma? A adoção de um sistema temporal da “longa duração” (FOUCAULT, 1989) permite observar as permanências e destacar não as rupturas, mas a coexistência de várias estéticas rivais no mesmo espaço histórico (MELLO, 2010). O naturalismo não morreu em 1890. Sistemas de longa duração, como o romantismo, continuam vivos na vida cultural e literária do século XXI. Ao invés da pecha de “retardatários”, podemos ver esses autores como aqueles que se contentaram em escrever “em contextos já confirmados” e que são tão apreciáveis quanto os desbravadores (MAINGUENEAU, 2006). Entre os “retardatários” de Lucia Miguel Pereira, destaca-se o escritor gaúcho, radicado em São Paulo, Pedro de Castro do Canto e Melo (1866-1934). Formado pela Faculdade de Direito de São Paulo, começou a carreira como poeta e jornalista. Mais tarde, publicou dois romances naturalistas, Alma em delírio (1909) e Mana Silvéria (1913), sua única obra a merecer uma segunda edição. Nessa comunicação, apresentaremos a história do “naturalista retardatário” Pedro de Canto e Melo, seu vínculo com o movimento e o lugar de sua obra na historiografia do naturalismo no Brasil. Referências: FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1987. MAINGUENEAU, Dominique. O discurso literário. São Paulo: Contexto, 2006. MELLO, Celina Maria Moreira de. O prosaico, o literário e o político em L’Artiste (1831-1838): renovação das cenas genéricas no romantismo francês. In: MELLO, Celina Maria Moreira de & CATHARINA, Pedro Paulo Garcia Ferreira (org.). Cenas da literatura moderna. Rio de Janeiro: 7Letras, 2010, p. 27-61. A TRAJETÓRIA DE RAEL: O DETERMINISMO COMO DENÚNCIA EM "CAPÃO PECADO", DE FÉRREZ Lucas Toledo de Andrade Resumo: A cena literária brasileira contemporânea tem como uma de suas marcas, a partir dos estudos de Resende (2008) e Schøllhammer (2009), a inserção das vozes da periferia dos grandes centros. Essas vozes povoam a literatura do presente de novas imagens, anunciando um pacto ficcional particular, uma vez que as margens dos centros urbanos, na contemporaneidade, são tratadas e representadas ficcionalmente por sujeitos oriundos dos próprios espaços que narram, o que tem propiciado interessantes debates em torno da ideia de literatura e testemunho, ficção e realidade e trazido à tona ainda investigações e análises que acionam noções presentes em estéticas artísticas do século XIX, por exemplo, o Naturalismo, para tratarem de obras do século XXI. Nesse sentido, a obra de Férrez, sendo aqui pensada, especificamente, pelo romance “Capão Pecado” (2000), pode ser entendida como parte da tradição literária brasileira do Naturalismo, uma vez que ela se utiliza de diferentes convenções presentes em enredos naturalistas para, assim, expor de maneira crua a realidade da periferia paulistana e propor uma leitura crítica do real a partir de recursos literários. Sendo assim, interessa-nos nesta comunicação pensar na trajetória de Rael, protagonista de “Capão Pecado”, e na forma como o Determinismo, corrente de pensamento desenvolvida por Hippolyte Taine, no século XIX, e usada de maneira insistente pela literatura naturalista europeia e brasileira, funciona, na literatura contemporânea, escrita por sujeitos periféricos, como estratégia de denúncia às armadilhas do sistema e de representação ficcional dos dilemas vividos pelas minorias sociais, contribuindo para a reescrita da história de grupos marginalizados brasileiros. Referências: BATISTA, Elisabeth. “Que país é este?”: O Cortiço revisitado. Revista Al?re. Revista do Núcleo da Literatura de Mato Grosso Wlademir Dias-Pino, n. 3, 2011. BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito de história. In: ______. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura (Obras escolhidas I). Tradução de Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 2012e, p. 241 – 252. FERRÉZ. Capão Pecado. 2. ed. São Paulo: Labortexto Editorial, 2000. GAGNEBIN, Jeanne Marie. Walter Benjamin: cacos da história. Tradução de Sônia Salzstein. São Paulo: N-1 Edições, 2018. NEGREIRO, Carlos Alberto de. Território das permeabilidades: as narrativas e a instituição de sujeitos em Férrez, Paulo Lins e Agualusa. In: XII Congresso Internacional da ABRALIC. Julho, 2011. UFPR – Curitiba, Brasil, 2011. RESENDE, Beatriz. Contemporâneos: expressões da literatura brasileira no século XXI. Rio de Janeiro: Casa da Palavra; Biblioteca Nacional, 2008. SCHØLLHAMMER, Karl Erick. Ficção brasileira contemporânea. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009. SÜSSEKIND, Flora. Tal Brasil, qual romance? Uma ideologia estética e sua história: o naturalismo. Rio de Janeiro: Achiamé, 1984. POLÊMICAS DO DESEJO COM A PUBLICAÇÃO DO ROMANCE A CARNE (1888), DE JÚLIO RIBEIRO Marina Pozes Pereira Santos Resumo: No ano de 1888, Júlio Ribeiro publicou, em São Paulo, pelos editores Teixeira Irmão, o seu último romance A Carne, uma obra que escandalizou a imprensa e a sociedade do início da Belle Époque com a inquietante história da personagem Lenita, uma menina branca, pertencente à elite paulista, que descobre a sua sexualidade com um homem casado. A publicação, uma verdadeira representante das boas letras que compensaria a invasão de várias falsas no mercado literário, rendeu críticas e acusações de imoralidade à obra e ao autor. Neste sentido, conforme anuncia Machado de Assis na sua Chronica da Semana, da Gazeta de Notícias, do dia 9 de setembro de 1888, o romance estava promovendo um ruidoso sucesso nos círculos literários, sendo comentado nos jornais de todas as regiões do país. As chamadas produzidas por estes jornais abrangiam anúncios de venda do romance e diversas críticas positivas e negativas da obra, publicadas tanto no rodapé como no corpo dos periódicos. Nestes jornais, articulistas e renomados críticos literários do período, como Alfredo Pujol (1865-1930), Germano Hasslocher (1862-1991), José Verissimo (1857-1916), Machado de Assis (1839-1908) e Valentim Magalhães (1859-1903), dividiam opiniões opostas sobre a obra com a discussão acerca das polêmicas do desejo sexual de Lenita no romance. Referências: ASSIS, Machado de. Chronica da Semana. Gazeta de Noticias, Rio de Janeiro, p. 1, edição 252, 9 de setembro de 1888. Disponível em < http://memoria.bn.br> RIBEIRO, Júlio. A carne. São Paulo: Três Livros e Fascículos, 1984. SOMBRAS NOVECENTISTAS: O GÓTICO-NATURALISMO EM "OS SERVOS DA MORTE" (1947), DE ADONIAS FILHO Marina Faria Sena Resumo: O presente trabalho busca investigar a presença do Gótico-Naturalismo no romance “Os servos da morte” (1947), de Adonias Filho. Acreditamos que alguns aspectos da poética gótico-naturalista, surgida no século XIX, estão presentes na obra do autor, como: a presença de personagens monstruosas – seja por conta de aspectos hereditários ou de instintos bestiais –; a caracterização de um meio formador de caráter como locus horribilis; a utilização contínua de campos semânticos relacionados à morte, à morbidade e à degeneração física e mental; a presença de uma família desequilibrada ou infeliz; o interesse ficcional pelo vício, e não pela virtude; e a descrição gráfica de cenas de violência e de sexo. A hipótese de trabalho é a de que o Gótico-Naturalismo não se encerrou na virada de século e que continuou influenciando escritores das décadas seguintes, em especial aqueles que são comumente ligados ao Regionalismo. Nesse sentido, a análise do romance de Adonias Filho funciona como um estudo de caso que pretende confirmar parcialmente tal hipótese. A comunicação também será uma revisão de nossa dissertação de mestrado, que investigou a presença do Gótico-Naturalismo no Oitocentos. Como suporte teórico, serão utilizados as reflexões de Afrânio Coutinho (1965), Júlio França (2015) e Marina Sena (2017), entre outros. Referências: COUTINHO, Afrânio. Introdução. In. ADONIAS FILHO. Os servos da morte. Rio de Janeiro: Ediouro, 1965. p. 7. FRANÇA, Julio. As sombras do real: a visão de mundo gótica e as poéticas realistas. In.___. Literatura Brasileira em Foco VI; em torno dos realismos. Rio de Janeiro: Casa Doze, 2015. pp. 133146. SENA, Marina. O Gótico-Naturalismo na literatura brasileira oitocentista. 2017. 99 f. Dissertação (Mestrado em Teoria da Literatura e Literatura Comparada) – Instituto de Letras, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2017. O NATURALISMO NAS OBRAS DE DOMÍCIO DA GAMA (1862-1925) Riane Avelino Dias Resumo: O trabalho tem a proposta de expandir os conhecimentos sobre o escritor Domício Afonso Forneiro (1862-1925), o Domício da Gama, responsável pela publicação de dois livros de contos intitulados respectivamente “Contos a meia-tinta” (1891) e “Histórias curtas” (1901). Seus livros foram comentados por seus colegas de pena nos jornais e, mesmo compondo uma breve produção literária, foram suficientes para alçá-lo ao grupo dos quarenta primeiros escritores a assumir uma cadeira na recém fundada Academia Brasileira de Letras, a cadeira 33, cujo patrono foi Raul Pompeia (1863-1895). A repetição, o psicologismo, o descritivismo, o humanismo, o cientificismo e o estudo ou a dissecação para análise são marcas apontadas como frequentes nos textos domicianos e dentre suas publicações um caso merecedor de destaque é “Maria sem tempo”, um dos contos que figura nas duas obras publicadas por Domício da Gama, na qual narra a vida, a loucura e a morte de uma mulher pobre e sua busca pelo seu único filho que foi levado contra a vontade para a guerra do Sul. Franco Baptista Sandanello publicou o mais extenso e completo trabalho sobre o autor, intitulado “Domício da Gama e o impressionismo literário no Brasil” (2017) e nele, Sandanello sinaliza que o conto “Maria sem tempo” em particular se destaca como confessadamente naturalista e afirma se tratar de um “material fundamental para o estudo específico do naturalismo em sua obra” e, eventualmente, especula em seu trabalho que outros textos também poderiam ser analisados pelo viés naturalista. A investigação de características associadas ao naturalismo em suas obras também é pautada na múltipla e paradoxa concepção de naturalismo proposta por David Baguley (1990) na qual se obtém uma amplificação do conceito em dois tipos: o trágico e o cômico ou de desilusão. Referências: BAGULEY, David. Naturalist fiction: the entropic vision. Cambridge: Cambridge University Press, 1990. FERNANDES, Ronaldo Costa. Domício da Gama: cadeira 33, ocupante 1. Academia Brasileira de Letras, Rio de Janeiro / Imprensa Oficial, São Paulo, 2011. GAMA, Domício da. Contos a meia-tinta. Lahure, Paris, 1891. GAMA, Domício da. Histórias curtas. Francisco Alves, Rio de Janeiro, 1901. SANDANELLO, Franco Baptista. Domício da Gama e o impressionismo literário no Brasil. EDUFMA, São Luís, 2017. OS POEMAS EM PROSA NATURALISTAS DE LE DRAGEOIR AUX ÉPICES, DE J.-K. HUYSMANS Rubens Vinícius Marinho Pedrosa Resumo: Em 1874, Joris-Karl Huysmans (1848-1907) publicou sua primeira obra literária, Le Drageoir aux épices. O volume de poemas em prosa se inscrevia em uma tradição cujos iniciadores foram Aloysius Bertrand (1807-1841) com Gaspard de la nuit (1842), considerado como o anunciador de como esse gênero se moldaria, sobretudo no que diz respeito à sua relação estreita com as artes plásticas; e Charles Baudelaire (1821-1867) com Le Spleen de Paris (1869), coletânea ancorada na modernidade literária da segunda metade do século XIX. Não obstante, grande parte dos poemas em prosa de Le Drageoir aux épices vão em direção à estética naturalista, que Huysmans desenvolve em obras logo posteriores, como os romances Marthe; histoire d’une fille (1876), Les Sœurs Vatard (1878), mas também À rebours (1884). Neste último, está presente a definição lapidar para o poema em prosa, como um concentrado que guardaria o essencial de um romance em estado de off-meat (HUYSMANS, 2019, p. 695), condensando-o em algumas poucas palavras (PEZARD in SOLAL, 2015, p. 163). Considerando o modo como J.-K. Huysmans cria o poema em prosa e a relação que seus textos neste gênero estabelecem com seu projeto de literatura naturalista, é possível vê-los como experimentações e apostas que determinarão sua obra. Pretendemos compreender como alguns dos poemas em prosa que figuram no volume Le Drageoir aux épices (de um total de 18) se configuram como textos naturalistas e que tipo de naturalismo seria este desenvolvido por Huysmans em seu livro de entrada no campo literário (BOURDIEU, 1996). Referências: BAUDELAIRE, Charles Le Spleen de Paris: petits poèmes en prose. Paris: Flammarion, 2017. BAGULEY, David. Le naturalisme et ses genres. Paris : Nathan, 1995. BERNARD, Suzanne. Le poème en prose : de Baudelaire jusqu’à nos jours. Paris : Nizet, 1959. BERTRAND, Aloysius. Gaspard de la nuit. Paris : Poésie, 1980. BOURDIEU, Pierre. As regras da arte: gênese e estrutura do campo artístico. Trad.: Maria Lúcia Machado. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. BOURGEOIS, Bertrand. Échanges transdisciplinaires et légitimation générique: le poème en prose et les arts plastiques. Transtext(e)s Transcultures ??????, nº 12, p. 1-14, 2017. Disponível em: https://journals.openedition.org/transtexts/802. CABANÈS, Jean-Louis. Poésie Naturaliste. In: BECKER & DUFIEF. Dictionnaire des naturalismes. Paris: Honoré Champion, 2017, p. 751-760. GALLEGO, Pedro Baños. À la recherche des traits fondamentaux du poème en prose. Cédille: revista de estudios franceses, n° 15, p. 83-107, 2019. Disponível em: https://cedille.webs.ull.es/15/04banos.pdf. HUYSMANS, Joris-Karl. Œuvres complètes - Tome I (1867-1879). Ed.: Jean-Marie Seillan. Paris : Classiques Garnier, 2017. HUYSMANS, Joris-Karl. Romans et nouvelles. Paris : Gallimard, 2019. LEBON, Stéphanie. Vers une poétique du poème en prose dans la littérature française moderne. Revista de lenguas modernas, n°13, p. 95-109, 2010. MILLY, Jean. Poétique des textes. Paris : Nathan Université, 1992. SOLAL, Jérôme (dir.). Huysmans, ou comment extraire la poésie de la prose. Paris: Lettres Modernes Minard, 2015. VADÉ, Yves. Le Poème en prose et ses territoires. Paris: Editions Belin, 1996. VINCENT-MUNNIA, Nathalie. Premiers poèmes en prose : spleen de la poésie. Littérature, n°91, p. 3-11, 1993. Disponível em: http://www.persee.fr/doc/litt_0047-4800_1993_num_91_3_2647. L'OEUVRE E O PROBLEMA DO REAL Thaís Marques Soranzo Resumo: Famoso entusiasta dos impressionistas, Émile Zola despertou a revolta de seus camaradas com a publicação de L’Oeuvre (1886). Em carta ao autor, Claude Monet não esconde sua aflição: “Intencionalmente você tomou cuidado para que nenhuma personagem se parecesse com um de nós; apesar disso, receio que a imprensa e o público, nossos inimigos, usem o nome de Manet ou no mínimo nossos nomes para demonstrar que somos um fracasso” (apud FRIEDRICH, 1993, p. 278). O romance, ainda, é com frequência associado à ruptura entre Zola e seu amigo de infância, Paul Cézanne. Tal repercussão permitiu que L’Oeuvre fosse muitas vezes interpretado como um roman à clef; essa classificação, no entanto, vem sendo colocada em xeque. Para além de não fornecer as “chaves” necessárias à revelação da verdadeira identidade de cada personagem (GRIFFITHS, 2009), o romance elabora o real como um problema mais complexo do que a suposta correspondência entre realidade e ficção. De partida, a representação artística apresenta-se como tema central. Claude Lantier almeja “tudo ver e tudo pintar”, isto é, retratar “a vida moderna por completo” (ZOLA, 1996, pp. 105-106). Sandoz, por seu turno, pauta seu projeto literário no estudo do “homem tal como ele é” (ibid., p. 248). A delimitação desse real, contudo, não é nítida. Atraído pelas mulheres somente no plano artístico, Claude finalmente se entrega a Christine; seu interesse, porém, de pronto se esvai, pois a jovem era apenas “a realidade, o objetivo ao alcance da mão” (ibid., p. 348). Christine, de sua parte, assustava-se ao ter a própria imagem retratada por Claude. Enciumada pela devoção do artista ao quadro, toma a pintura como poderosa rival. L’Oeuvre, dessa forma, embaralha os limites entre arte e realidade. A fim de esmiuçar essa tensão, esta comunicação busca analisar a fabricação do real como artifício engenhoso no romance. Referências: FRIEDRICH, Otto. Olympia: Paris no tempo dos impressionistas. Trad. Hildegard Feist. São Paulo: Companhia das Letras, 1993. GRIFFITHS, Kate. L’Oeuvre and the Translation of Reality: Moving Between Text and Image. In: Emile Zola and the Artistry of Adaptation. New York: Modern Humanities Research Association and Routledge, 2009, p. 37-57. ZOLA, Émile. L’Oeuvre. Préface, notes et dossier par Marie-Ange Voisin-Fougère. Paris: Le Livre de Poche, 1996. CARVALHO JÚNIOR E OS REALISMOS DE "PARISINA" (1877) Thales Sant'Ana Ferreira Mendes Resumo: “Parisina” foi concluída em 1877, quando, lida para um grupo de amigos, teve seu prefácio publicado em alguns periódicos. O drama, que jamais seria encenado, granjeou recepção modesta, mas não sem importância; o principal apontamento viria do "Diario de S. Paulo", que o julgaria “imoral e perigoso”, sobretudo por causa do caráter de seus personagens. Pela mesma época, a "Provincia de S. Paulo" repreenderia que ele tivesse de “levantar áspera polêmica”. Já em 1879, após a inclusão póstuma de “Parisina” em livro homônimo, a maioria dos comentários se limitariam a elogiar o estilo do autor e a frisar sua filiação ao Realismo. Afinal, o próprio Carvalho Júnior, no citado prefácio, deixava clara sua intenção de escrever uma peça realista (estética que considerava a mais evoluída), chegando a se valer do típico argumento de que para extirpar o vício era preciso expô-lo. Partindo da fortuna crítica contemporânea de “Parisina”, esta comunicação pretende – além de apresentar a obra de Carvalho Júnior, ainda bastante desconhecida – discutir os sentidos de “Realismo” e “Naturalismo” para o autor, para os articulistas que se ocuparam da peça e, por fim, dentro da própria peça. Nosso foco recai em seu conteúdo sexual: embora o drama tenha sido, supostamente, escrito com uma intenção didática, houve quem pensasse justamente o contrário. E não sem razão: a personagem principal, por exemplo, após a revelação de seu adultério e incesto, permanece – ao contrário da maioria dos enredos oitocentistas – viva, sem contar a representação caricata de seu marido, um advogado. É necessária, portanto, uma interpretação da peça que leve em consideração a literatura pornográfica e libertina que circulava então, a qual, ao que tudo indica, Carvalho Júnior leu e sofreu influência em toda sua produção. Referências: CARVALHO JUNIOR, Francisco Antonio de. Parisina. Rio de Janeiro: Typ. de A. G. Guimarães, 1879. MENDES, Thales Sant'Ana Ferreira. Boêmia, comédia e pornografia: a propósito de "Um amor filósofo" e "Necrológio de um...", folhetins de Carvalho Júnior. Em Tese, Belo Horizonte, v. 25, n. 2, p. 166-210, maio-ago. 2019. [O sr. Carvalho Júnior]. Gazetilha. Diario de S. Paulo, São Paulo, ano XIII, n. 3552, p. 2, 20 de outubro de 1877. [Sobre o drama] A Reforma: órgão democrático, Rio de Janeiro, ano IX, n. 244, p. 2, 27 de outubro de 1877. DIÁLOGOS ENTRE O GÓTICO, O GROTESCO E O REALISMO-NATURALISMO EM O CRIME DO PADRE AMARO DE EÇA DE QUEIRÓS Xênia Amaral Matos Resumo: Segundo Maria Aparecida Ribeiro [19--] os conceitos de realismo entrecruzam-se com o de naturalismo, pois o “Realismo pressupõe uma atitude científica, que leva a observar os factos e induzir as leis, enquanto o Naturalismo surge quando a exacerbação do método faz da obra literária ilustração das teses científica” (RIBEIRO, [19--], p. 17). Dessa forma, em grande parte das narrativas de Eça de Queirós existe uma inclinação para essa estética literária. Contudo, os romances queirosianos, como O crime do Padre Amaro (OCPA), também apresentam forte influência do gótico, grotesco e do trágico. Para Ernesto Guerra da Cal (1961), há no léxico do escritor uma vertente não realista “de palavras tópicas do período baixo-romântico”, como “morte, túmulo, sudários, medo, horror, trevas, espectros, aparições, uivos, coveiro, chuva, vento, névoa, agonia, carrasco, mochos, corujas, milhafres, abutres, etc”, “todo um elenco verbal de caráter sinistro, tétrico, espectral e misterioso” (CAL, 1969, p. 85). Essas escolhas afetam também a configuração do espaço e das personagens, resultando em nuances góticas e grotescas nessas narrativas realistas-naturalistas. Por exemplo, em OCPA, Amaro possui uma imagética monstruosa e vampírica e Totó apresenta uma descrição animalizada; já a Casa do Sineiro e o Casarão da Ricoça são sombriamente descritos, suscitando uma aura tenebrosa sobre os constructos. Nesse sentido, analisa-se como o gótico e o grotesco atravessam O crime do Padre Amaro, a fim de mapear como ambas as vertentes auxiliam o realismo-naturalismo, como uma forma de pensar, de representar e de problematizar determinados aspectos da vivência humana. O presente trabalho é um desdobramento da tese O gótico em Eça de Queirós, defendida pela autora em 2019 na UFSM, o qual foi revisitado e expandido para esta comunicação. Referências: CAL, E. G. da. Língua e estilo em Eça de Queirós. Rio de Janeiro: Editora da Universidade de São Paulo/Tempo Brasileiro, 1969 MATOS, X. A. O gótico em Eça de Queirós. 2019. 207f. Tese (Doutorado em Letras), Centro de Artes e Letras, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2019. QUEIRÓS, E. de. O crime do Padre Amaro. São Paulo: Martin Claret, 2012. RIBEIRO, M. A. Introdução. In: RIBEIRO, M. A. História crítica da literatura portuguesa: realismo e naturalismo. Lisboa/São Paulo: Verbo, [19--]. p. 7-12. SIMPÓSIO “REVISÃO DA HISTORIOGRAFIA TEATRAL: LER E RELER FONTES PRIMÁRIAS, VISÕES CRÍTICAS E JUÍZOS ESTÉTICOS NA DRAMATURGIA” Maria Clara Gonçalves (UNESP), Elizabeth Ferreira Cardoso Ribeiro Azevedo (USP/ECA), Fabiana Siqueira Fontana (CAL/UFSM) O SAINETE BRASILEIRO DE ODUVALDO VIANNA: UM TEATRO POPULAR DISSIDENTE Alfonso Ricardo Cruzado Resumo: O objetivo deste trabalho é apresentar um gênero dramático popular, esquecido pela historiografia: o sainete brasileiro. Procuramos entender a relação deste gênero com a sociedade e com a heterogeneidade cultural contemporâneas à sua produção. E paralelamente, recuperar o sainete brasileiro e a figura do seu esquecido dramaturgo, Oduvaldo Vianna. Em um período caracterizado pela crítica e pela historiografia como de produção de um teatro "de mal gosto" (gênero ligeiro) e sem qualidade, Oduvaldo Vianna pai gestou, como já o tinha feito em outras ocasiões, uma proposta teatral inovadora. Em 1928, com o propósito de “salvar o teatro” do perigo do cinema, Vianna organizou um teatro breve de um ato, o sainete brasileiro, partindo do sainete criollo rio-platense e levando ao palco cerca de trinta peças. Oduvaldo Vianna pai tinha conhecido a realidade teatral rio-platense no início da década de 1920. Impressionado com as potencialidades daquele teatro e com as similitudes, vistas por ele, entre Buenos Aires e São Paulo, decidiu adaptar o gênero rio-platense à realidade cultural e social brasileira, explorando de modo muito profícuo seus conhecimentos dramatúrgicos. Construiu, assim, no cenário paulistano (e também carioca) da década de 1920, um espaço germinal de negociação social, cultural e de classe, bem como de inovação técnica da dramaturgia. Para entender este gênero, suas características e sua função dissidente, analisaremos a primeira das produções de teatro breve de Oduvaldo Vianna, O castagnaro da festa (1928), no contexto geral dos sainetes escritos, adaptados e levados ao palco por ele entre 1928 e 1929. Referências: VIANNA, Oduvaldo. O castagnaro da festa. In: Revista de Teatro SBAT, nº 361, jan.- fev. 1968, p. 43-64. TRAGÉDIA E RESISTÊNCIA EM "A PAIXÃO DE AJURICABA", DE MÁRCIO SOUZA Antônio Coutinho Soares Filho Resumo: A peça A paixão de Ajuricaba (1974), de Márcio Souza, encena um dos mais importantes momentos de resistência indígena ao domínio português na Amazônia. O povo manau, sob a liderança de Ajuricaba, se contrapõe ao avanço lusitano numa confederação das nações do rio Negro, conhecida como a Guerra dos Manaus (1723-1728), até sua derrota frente ao poderoso aparato militar dos invasores. Mediante pesquisa histórica, Márcio Souza, juntamente com o Tesc (Teatro Experimental do SESC de Manaus), grupo junto ao qual desenvolveu a maior parte de suas peças, resgata a emblemática figura apagada pela historiografia oficial. Marcada por um forte lirismo, a peça, concebida como uma tragédia, a que não falta nem o coro, traz à baila Ajuricaba na representação do herói desconhecido pelo Brasil. Desse modo, objetiva-se mostrar o resgate histórico da personagem-título no enfrentamento à empresa colonial, percebendo sua construção metafórica em relação à ditadura civil-militar brasileira (1964-1985). A análise, de cunho qualitativo, considera a temática da resistência à ordem colonialista, a revisão historiográfica da peça de Souza, bem como a linguagem poética com que o dramaturgo suscita reflexões acerca da barbárie que assola a Amazônia desde a invasão europeia. O referencial teórico se apoia no pensamento acerca do trágico, da fortuna crítica de Márcio Souza e de estudiosos do teatro, sobretudo do palco brasileiro. Vê-se que a peça souziana dialoga com o passado histórico amazonense, e brasileiro, dando voz aos oprimidos, mas também espelha o regime de opressão que o país vive à época de sua criação. Ao mesmo tempo, a mesma mantém sua atualidade quando se pensa nos estratéticos esquecimentos articulados pela historigrafia oficial, denunciado seu relativismo, o que leva a pensar sobre as verdades criadas pelas forças sociais na defesa de seus interesses nem sempre muito assépticos. Referências: ARISTÓTELES. Arte poética. In: ARISTÓTELES, HORÁCIO, LONGINO. A poética clássica: arte poética (Aristóteles), arte poética (Horácio), Do sublime (Longin). Trad. Jaime Bruna. 17 reimpres. São Paulo: Cultrix, 2014. BASTAZIN, Vera; SOARES FILHO, Antônio Coutinho. IMPRUDÊNCIA HUMANA TRAGICAMENTE POÉTICA. Revista Cerrados, [S. l.], v. 28, n. 51, p. 66–80, 2020. Disponível em: https://periodicos.unb.br/index.php/cerrados/article/view/26684. Acesso em: 13 maio. 2022. BRANDÃO, Junito de Souza. Teatro grego: tragédia e comédia. 11. ed. Petrópolis: Vozes, 2009. CADERNOS DE LITERATURA BRASILEIRA: Márcio Souza. São Paulo: Instituto Moreira Salles, n. 19, dez. 2005. DEL RIOS, Jeferson. A paixão do palco verde. Prefácio. IN: SOUZA, Márcio. Teatro I. Textos revistos e estabelecidos pelo autor. São Paulo: Marco Zero, 1997. GAZOLLA, Rachel. Para não ler ingenuamente uma tragédia grega: ensaio sobre aspectos do trágico. MAFRA, Johnny José. Cultura clássica grega e latina: temas fundadores da literatura ocidental. Prefácio de Audemaro Taranto Goulart. Belo Horizonte: PUC-Minas, 2010. ROSENFELD, Anatol. O mito e o herói no moderno teatro brasileiro. 2. ed. [2012]. 1. reimpres. São Paulo: Perspectiva, 2018a. (Coleção Debates, 179). ROSENFELD, Anatol. O teatro épico. 6. ed. [2008]. 5. reimpres. São Paulo: Perspectiva, 2018b. (Coleção Debates, 193). SOUZA, Márcio. O palco verde. São Paulo: Marco Zero, 1984. SOUZA, Márcio. Teatro I. Textos revistos e estabelecidos pelo autor. São Paulo: Marco Zero, 1997. "I SHALL VENTURE, LASTLY, TO SAY A WORD OR TWO OF STAGE-ACTION": QUANDO UM PINTOR RESOLVE COMENTAR A AÇÃO CÊNICA Carlos Gontijo Rosa Resumo: Muitas mudanças ocorreram na forma de produzir e de se apreciar a arte no século XVIII. Dentre tais mudanças repousa uma nova utilização do conceito de “gosto” – ambas as utilizações ainda vigentes hoje em dia. Quando escreve “The analysis of beauty, written with a view of fixing the fluctuating ideas of taste” [“A análise do belo, escrito com vistas à fixação de ideias flutuantes acerca do gosto”], o pintor inglês pintor William Hogarth vai propor uma nova concepção para, como ele próprio afirma no seu título, esses conceitos em transformação e carentes de fixação. A tradução e análise do excerto que apresenta a concepção de Hogarth acerca da ação cênica (“stage-action”) constitui parte de um projeto maior acerca das transformações (e manutenções) do gosto no século XVIII, viés que será tomado para a análise do excerto. Para efeitos de análise, tomaremos por base o pensamento de Raymond Williams acerca do texto em cena (“Drama em cena”) e de Mikhail Bakhtin para compreender as reflexões e refrações que um texto exerce sobre seu próprio contexto. Ao final, há a apresentação de uma peça do mosaico de pensadores e realidades que compõem a “República das Letras” no século XVIII europeu. Para tanto, não nos esquivamos de, quando necessário, recorrer à comparação com outros pensadores contemporâneos que trataram do mesmo tema. Referências: HOGARTH, William. The analysis of beauty, written with a view of fixing the fluctuating ideas of taste. London: Samuel Bagster, in the Strand, 1753?. WILLIAMS, Raymond. Drama em cena. Tradução de Rogério Bettoni. São Paulo: Cosac Naify, 2010. BAKHTIN, M. Notas de literatura, cultura e ciências humanas. Trad. Paulo Bezerra. São Paulo: Editora 34, 2017. A CENA DISPUTADA: O TEATRO COMO FERRAMENTA DIPLOMÁTICA NAS TURNÊS DE PORGY AND BESS E DA ÓPERA DE PEQUIM NO BRASIL Esther Marinho Santana Resumo: As temporadas de 1955 e 56 trouxeram para o Rio de Janeiro e São Paulo duas das mais singulares atrações estrangeiras daqueles palcos no século XX: o musical estadunidense Porgy and Bess, de DuBose Heyward, George Gershwin e Ira Gershwin; e o espetáculo da Ópera de Pequim. Ancorados em tradições e estéticas radicalmente distintas, tais programas dificilmente pareceriam comparáveis para os estudiosos das artes cênicas. Entretanto, respondiam a uma mesma lógica de mobilidade teatral desenrolada ao longo da Guerra Fria, e, quiçá não por acaso, aqui aportavam por intermédio da Empresa Viggiani. Porgy and Bess seguia uma extensa turnê iniciada em 1952, durante a qual percorreria 29 países sob a supervisão do Departamento de Estado dos EUA. Na ação baseada no jazz e em personagens negras estaria a exibição ao mundo de supostos méritos “unicamente estadunidenses” (CANNING, 2017, p. 28) e, ainda, a afirmação de uma cultura nacional então empalidecida diante dos trunfos artísticos da União Soviética (STONE, 2010). Já a Ópera de Pequim empreendia a sua primeira viagem transoceânica desde a fundação da República Popular da China, em 1949. Na Europa e na América, os artistas se portavam como embaixadores de um país que sequer estabelecera relações diplomáticas oficiais com diversos dos destinos visitados, e que, enquanto todo um novo sistema, seria também uma força milenar graças ao que possuiria de mais representativo. Isto é, no teatro clássico – em termos mais precisos, no ?? (Jingju) residiria a autêntica China (LEI, 2006). Este trabalho analisará como ambos os espetáculos encenados no Brasil fizeram do deslocamento teatral diferentes armas culturais da Guerra Fria. Ademais, indaga de que maneiras empresários e mediadores, como Viggiani, aproveitaram-se de tal dinâmica para ampliar os caminhos para a internacionalização da cena brasileira. Referências: CANNING, Charlotte M. A Cold War Battleground: Catfish Row versus the Nevsky Prospekt. In: BALME, Christopher B. & SZYMANSKI-DULL, Berenika (Editors). Theatre, Globalization and the Cold War. London: Palgrave MacMillan, 2017. LEI, Daphne Pi-Wei. Operatic China: Staging Chinese Identity Across the Pacific. New York: Palgrave MacMillan, 2006. STONE, Norman. The Atlantic and Its Enemies: A Personal History of the Cold War. London: Allen Lane, 2010. REPERTÓRIO TEATRAL NO OESTE DO BRASIL NO SÉCULO XIX: O CASO DA SOCIEDADE DRAMÁTICA CUIABANA 7 DE SETEMBRO (1864) Fabricio Goulart Moser Resumo: Esta comunicação destacará resultados parciais de uma pesquisa de Doutorado sobre a história do teatro no Oeste do Brasil, que é realizada desde o início de 2020 no Programa de Pós-graduação em Artes Cênicas (PPGAC), da Escola de Comunicação e Artes (ECA), da Universidade de São Paulo (USP), sob a orientação da professora Elizabeth Ribeiro Azevedo. O principal objetivo deste estudo é cartografar, a partir de fontes diversas, como documentos oficiais, crônicas e periódicos, as intensas mudanças na movimentação teatral das cidades do Antigo Mato Grosso entre os séculos XIX e XX, em paralelo a abertura do Rio Paraguai a navegação internacional via Bacia do Prata. O inventário de dados reunidos a partir destas fontes mostrou que existiram instituições ligadas ao teatro no Oeste do país muito antes da Guerra do Paraguai (1864-1870), empresas e sociedades dramáticas que funcionaram ao longo do século XIX e sobre as quais não existem estudos específicos ou nem foram mencionadas nos livros a respeito do tema como a “Sociedade Dramática Cuiabana 7 de Setembro”, que surgiu e funcionou, segundo registros históricos, pelo menos, no ano de 1864. O modelo de sociedades dramáticas particulares começou a se estabelecer na região a partir do século XIX, e teve um impulso na segunda metade deste período, primeiro através da capital, Cuiabá, e depois, até a primeira metade do século XX, em outras cidades e vilas do Antigo Mato Grosso. Nesta comunicação o exercício consistirá em apresentar informações sobre as peças que foram encenadas pela “SDC 7 de Setembro” a partir de anúncios e crônicas de jornais, conectando o seu repertório teatral, através de uma via comparada, com o em voga em cidades estratégicas do Brasil, como a capital do Império, o Rio de Janeiro. Referências: BALME, Christopher. “Histórias globais do teatro: modernização, esferas públicas e redes teatrais transnacionais”. In: Rotas de teatro: entre Portugal e Brasil / Maria Helena Werneck, Angela de Castro Reis (org.) – Rio de Janeiro: 7Letras, 2012. DUBATTI, Jorge. Introducion a los Estudios Teatrales. México: Editora Livros de Godot, 2011. A IMPRENSA DE CUYABÁ. Collaboração. Cuiabá: 22 de setembro de 1864c, ano 6, n? 301, p. 1-2. O MATTO-GROSSO. Annuncios. Cuiabá: 05 de outubro de 1864, ano 2, n. 35, p. 4. WHAT WHERE DO INTERROGATÓRIO ÀS CABEÇAS DESINCORPORADAS: OS MANUSCRITOS DA ENCENAÇÃO DE SAMUEL BECKETT Felipe Augusto de Souza Santos Resumo: Esta comunicação tem como objetivo analisar o processo de transposição do dramatículo Quoi où (O que onde), última das peças do teatro tardio de Samuel Beckett (1906-1989), do texto à cena televisual. Para tanto, iniciaremos nossa reflexão abordando a dramaturgia original de Quoi où, passando pela tradução do texto feita por Beckett para o inglês como What where, chegando à sua reelaboração após a primeira encenação teatral de Alan Schneider e a consequente transposição da miniatura dramática como peça televisiva, encenada junto à emissora alemã Süddeutscher Rundfunk com direção do próprio dramaturgo-encenador, em uma adaptação escrita em alemão intitulada Was wo. Este dramatículo final beckettiano sofreu alterações significativas desde sua criação em francês, passando pela versão teatral encenada em inglês, e finalmente chegando ao resultado final cristalizado em uma encenação televisiva que redimensionou a concepção visual e os significados centrais do texto. A partir de uma obra dedicada ao tema da opressão e tortura em um espaço indeterminado, elementos presentes em alguns dos textos do drama e da prosa tardios de Beckett, chegando a uma adaptação que se tornou uma verdadeira reelaboração da dramaturgia original, apresentando em uma atmosfera fantasmática algo que poderia ser definido como cabeças flutuantes desincorporadas, apontaremos aspectos fundamentais do texto dramatúrgico original em contraponto com os manuscritos do processo da encenação dirigida por Beckett e a versão final do texto, contendo todas as alterações e cortes desenvolvidos pelo dramaturgo-encenador irlandês. Referências: ACKERLEY, C. J.; GONTARSKI, S. E. The Grove companion to Samuel Beckett. New York: Grove Press, 2004. BRATER, Enoch. Beyond minimalism: Beckett’s late style in the theater. Oxford: Oxford University Press, 1987. BRYDEN, Mary; GARFORTH, Julian; MILLS, Peter (eds.). Beckett at Reading: catalogue of the Beckett manuscript collection at the University of Reading. Reading: Whiteknights Press / Beckett International Foundation, 1998. CHABERT, Pierre (ed.). Revue d’Esthétique: Hors série 1990. Paris: Jean-Michel Place, 1990. ELAM, Keir. Dead heads: damnation-narration in the ‘dramaticules’. In: PILLING, John (ed.). The Cambridge Companion to Beckett. Cambridge: Cambridge University Press, 1994, pp. 145-166. FEHSENFELD, Martha; MCMILLAN, Dougald. Beckett in the theatre: the author as a practical playwright and director. London: John Calder, 1988. GONTARSKI, S. E. (ed.). The theatrical notebooks of Samuel Beckett vol.4: the shorter plays. London: Faber and Faber, 1994. HARMON, Maurice (ed.). No author better served: the correspondence between Samuel Beckett and Alan Schneider. Cambridge: Harvard University Press, 1998. KALB, Jonathan. Beckett in performance. Cambridge: Cambridge University Press, 1991. KNOWLSON, James. Samuel Beckett: an exhibition. London: Turret Books, 1971. ______. Beckett as director: the manuscript production notebooks and critical interpretation. In: Modern Drama. Volume 30, n.4, Winter 1987, pp. 451-465. ______. Damned to fame: the life of Samuel Beckett. New York: Simon & Schuster, 1997. MCMULLAN, Anna. Theatre on trial: Samuel Beckett’s later drama. London: Routledge, 1993. ______. Beckett as director: the art of mastering failure. In: PILLING, John (ed.). The Cambridge Companion to Beckett. Cambridge: Cambridge University Press, 1994, pp. 196-208. POUNTNEY, Rosemary. Theatre of shadows: Samuel Beckett’s drama 1956-1976. London: Colin Smythe Limited, 1998. A VIOLÊNCIA PATRIARCAL E O PROBLEMA DO MAL EM "BEATRIZ CENCI" DE GONÇALVES DIAS Gisele Gemmi Chiari Resumo: Considerada uma obra imatura e censurada pelo Conservatório Dramático, "Beatriz Cenci" (1844-1845) de Gonçalves Dias só foi publicada após a morte do autor. Na trama, a protagonista Beatriz Cenci é mantida em cativeiro por seu pai, d. Francisco, até a adolescência, quando ele então decide seduzi-la. A sua esposa, d. Lucrécia, madrasta de Beatriz, prevê os planos do marido e tenta evitar o pior apoiando o namoro da menina com o nobre Márcio. Entretanto, durante um baile de máscaras, d. Francisco desonra a filha. Humilhadas, Beatriz e Lucrécia armam um plano para vingarem-se do vilão com o auxílio de Márcio. O mancebo morre na tentativa de ajudar a amada e d. Lucrécia, apesar de conseguir matar o marido, perece em suas mãos. Assim, a questão principal do drama, considerando o teatro gonçalvino em sua totalidade e o Prólogo à "Leonor de Mendonça", no qual o autor aborda seus objetivos enquanto dramaturgo, é a baldada luta dos fracos contra os fortes, mais particularmente, das mulheres contra o poderio patriarcal. Dentre os vilões gonçalvinos Francisco Cenci é o que mais se apropria das características do antagonista padrão dos melodramas e dos romances góticos. No entanto, as ações cruéis de Francisco não são infundidas por um interesse banal, mas, “como um entretenimento da inteligência” e “um escárnio moral para os outros” (PRADO, 1996, p.96). Assim, embora a obra apresente deficiências próprias a de um dramaturgo iniciante, trata de questões cruciais que ainda assombram nossa sociedade, como a violência da sociedade patriarcal e o problema (filosófico) do Mal. Acreditamos que a encenação de Beatriz Cenci no momento atual teria uma recepção mais positiva e propiciaria uma reflexão proficua sobre a tragicidade da violência contra as mulheres e a irreversibilidade do Mal. Referências: CHIARI, Gisele Gemmi. A estética romântica no teatro de Gonçalves Dias: Leonor de Mendonça.2015. Tese (Doutorado em Letras). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, USP, São Paulo, 2015. FARIA, João Roberto. Ideias teatrais: o século XIX no Brasil. São Paulo: Perspectiva; FAPESP, 2001. GUIMARÃES, Jéssica de Oliveira. O romantismo e a liberdade em Beatriz Cenci: um estudo sobre o drama gonçalvino. 2021. Dissertação (Mestrado em Letras). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, USP, São Paulo, 2021. PRADO, Décio de Almeida. O drama romântico brasileiro. São Paulo: Perspectiva, 1996. SAFFIOTI, Heleieth. Gênero, patriarcado, violência. São Paulo: Expressão Popular, 2011 SOARES, Daniel Benevides. O mal em Eric Weil. Griot-Revista de Filosofia, v. 10, n.2, dezembro/2014. A COLEÇÃO THEATRO BRASILEIRO DA SBAT (1931-1946): "VOLUMES FACILMENTE MANUSEÁVEIS E DE LEITURA AGRADÁVEL" Henrique Brener Vertchenko Resumo: Entre 1931 e 1946, a Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (SBAT) lançou a primeira fase de sua coleção Theatro Brasileiro, composta por um repertório de 64 comédias ligeiras de dramaturgos filiados à instituição. Os volumes respondiam a um projeto editorial calcado em um padrão comum e chamativo de baixo custo para “elegantes brochuras de bolso”, cujos textos eram estreitamente vinculados aos astros e sucessos dos palcos nas décadas de 1920, 1930 e 1940. Este trabalho analisa os significados e objetivos da coleção por meio de seus indicadores materiais, isto é, como esses livros eram derivados de uma estratégia editorial que direcionava sua concepção aos seus usos em práticas de leitura onde o manuseio se fazia fundamental. Ao mesmo tempo, enquanto demarcação dos interesses da SBAT, eles eram veículo de difusão controlada de um repertório pelo país, como um conjunto de textos que possuía um corpo de autores proprietários e cujos direitos de representação deveriam ser devidamente pagos. Em um momento de expansão do controle da SBAT em direção aos palcos de outras cidades, bem como a circos, pavilhões, salões e circuitos amadores, a coleção se mostrava uma articulada estratégia comercial de legitimação e certificação do direito de autor, bem como a enunciação simbólica de um regime de propriedade de textos. Referências: CHARTIER, Roger. A ordem dos livros: leitores, autores e bibliotecas na Europa entre os séculos XIV e XVIII. Tradução Mary del Priore. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1994. ______. A mão do autor e a mente do editor. Tradução George Schlesinger. São Paulo: Editora Unesp, 2014. Colecciones Teatrales España s. XX. Catalogo. Exposición Bibliográfica Nº 11. Del 01/02/2017 al 31/03/2017. Biblioteca Juan Goytisolo, Instituto Cervantes. Tanger, Marrocos. Disponível em: https://tanger.cervantes.es/imagenes/file/biblioteca/catalogo_expo_colecciones_de_teatro.pdf. Acesso em: 26/05/2021. FERREIRA, Adriano A. Teatro Trianon: forças da ordem X forças da desordem. 2004. Dissertação (Mestrado). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Universidade de São Paulo, São Paulo, 2004. RABETTI, Maria de Lourdes (Betti Rabetti). Teatro e Comicidades 2: modos de produção do teatro ligeiro carioca. Rio de Janeiro: 7Letras, 2007. TORRES NETO, Walter Lima. As coleções que marcaram época. In: ______. Ensaios de Cultura Teatral. Jundiaí: Paco Editorial, 2016. p. 165-186. O DRAMATURGO COMENTADOR DE SUA OBRA: A PERFORMANCE DE NELSON RODRIGUES COMO DEFENSOR DE UM SENTIDO PARA SUA OBRA Henrique Buarque de Gusmão Resumo: A história social do teatro vem ganhando força nos últimos anos e traz alguns desafios para os estudos em dramaturgia, muitas vezes centrados na imanência dos textos e em suas formas poéticas. As articulações entre o texto e mundo, nessa perspectiva, merece a atenção dos historiadores em suas diferentes manifestações: a recepção das peças, os debates críticos delas decorrentes, os usos da dramaturgia em cena, os modelos estéticos em disputa, dentre tantas outras. Proponho, aqui, a discussão de um aspecto da história social da dramaturgia que ainda merece estudos mais específicos: os modos como os dramaturgos debatem seus textos publicamente e os sentidos que buscam conferir para eles. Para isso, recorro ao caso de Nelson Rodrigues, autor que, ao longo de sua carreira de mais de 40 anos como dramaturgo, procurou ser o primeiro comentador de suas peças. Atuando de maneira muito habilidosa na imprensa, ele conferia sentidos particulares a seus textos que eram muitas vezes apropriados por jornalistas, críticos e divulgadores de seus espetáculos. Mais ainda, em suas crônicas jornalísticas, construía ele um quadro de questões que considerava o mais apropriado para a recepção de sua ficção - questões essas que, curiosamente, são hoje pouco lembradas ao se tratar de seu teatro, certamente pelo tom fortemente antimoderno e ligado a princípios católicos tradicionais. A partir desse caso, então, podem-se discutir as estratégias e possibilidades exploradas pelos autores no debate sobre suas obras, observando-se a performance do escritor no espaço público em que seu textos entram em discussão. Referências: BOURDIEU, Pierre. As regras da arte: gênese e estrutura do campo literário, São Paulo: Cia. das Letras, 1996. GREENBLATT, S. & GALLAGHER, C. A Prática do novo historicismo. Bauru: Edusc, 2005, pp. 11-87, p. 157-189. GUSMÃO, Henrique Buarque de. Ficções purificadoras e atrozes. Entre a crônica e o teatro de Nelson Rodrigues. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2022. RODRIGUES, Nelson. Teatro completo . Organização e introdução de Sábato Magaldi. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981. RODRIGUES, Nelson. O reacionário. Memórias e confissões. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. RODRIGUES, Nelson. O remador de Ben-Hur. Confissões culturais. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. A COROA DA MORTE - A ARTE TEATRAL ENTRE AS GUERRAS Larissa de Cássia Antunes Ribeiro Resumo: O mito de Inês de Castro é vivificado de diversas maneiras dentro da Literatura. Dentre suas representações, encontram-se relatos em prosa, poesia, romance e texto teatral desde o século XIV até os dias atuais. A personagem que se torna rainha após a sua morte ganha conotação na peça francesa La Reine Morte de Henri Montherlant (1942). O autor reconstrói a personagem e, além disso, discute uma França em Segunda Guerra por meio de um tempo, espaço em suspensão, tudo sob o jugo do diálogo. Por meio do olhar da ficção, o passado dramático é posto em discussão de modo que qualquer semelhança com o século XX passa pelo crivo do reflexo plurissemântico. Este trabalho busca analisar o mito inesiano , tendo como foco a imagem de uma França abalada, através dos recursos que o gênero teatral dispõe. Perscrutando a arte dialógica, investiga-se os principais símbolos reconstituídos pelo autor: a coroa, o amor e a morte. A partir deles dá-se toda a potência da representação e a própria condição humana discutida por Montherlant. Para tanto recorre-se aos conceitos de arte e engajamento trazidos por Brecht (1978), as discussões sobre o teatro e a sua condição de orquestração das perspectivas propostas por Moisés Referências: BRECHT. B. O pequeno Organon. Trad. Reinaldo Pedreira Cerqueira da Silva. Texto original em inglês. Disponível em <<http://tenstakonsthall.se/uploads/139. Brecht_A_Short_Organum_for_the_Theatre.pdf>>.Licença Creative Commons, 1948.MOISÉS. Massaud. O Teatro In MOISÉS, Massaud. A Criação Literária. São Paulo: Cultrix, 2012. SOUSA, Maria Leonor Machado de. Inês de Castro na Literatura Portuguesa. ed., Lisboa: Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, 1984. MONTHERLANT, H. La Reine Morte. Paris: Gallimard, 1942. GREVE ESTUDANTIL NA HISTÓRIA DOS JOVENS GUARNIERI E VIANINHA? Lígia Rodrigues Balista Resumo: Apresento nesta comunicação parte de minha pesquisa de pós doutorado sobre material encontrado no acervo do dramaturgo Gianfrancesco Guarnieri, doado pela família há poucos anos ao Centro de Documentação Teatral (CDT/USP). Um dos textos dramatúrgicos inéditos encontrados nesse arquivo é uma criação em coautoria: A pipa de Diógenes, assinado junto com Oduvaldo Vianna Filho, foi uma dramaturgia pensada quando ambos ainda compunham o Teatro Paulista do Estudante, ao que tudo indica, antes do sucesso de Eles não usam black-tie, no Teatro de Arena. A peça em três atos põe em cena um grupo de jovens estudantes universitários que questiona a contratação de um professor na Faculdade de Filosofia de São Paulo e planeja uma greve estudantil. Os cinco personagens masculinos da Pipa (apelido do local em que moram aqueles estudantes e espaço onde se passam todas as ações da peça) são ligados ao grêmio da faculdade, mas não há unanimidade em relação a como conduzir aquela luta, que se desenvolve mais especificamente no segundo ato. Dessa forma, a partir dessa construção ficcional, a peça aborda temas relevantes tanto ao contexto estudantil da época (segunda metade dos anos 1950) quanto a dramaturgias brasileiras posteriores: escolhas de ação política, relações com a mídia e estratégias de exposição da luta, uso de espaços institucionais para política eleitoreira, condições dos espaços educacionais, liberdade de organização e formas de protesto, autonomia dos centros estudantis organizados politicamente. Interessa-me ampliar a compreensão sobre o período de formação desses dramaturgos – entendendo essa peça na articulação com o teatro amador em que os dois artistas estavam envolvidos, além de refletir sobre como a produção dessa peça teatral pode, talvez, nos fazer reler parte da história do teatro brasileiro e mesmo da dramaturgia já canônica desses autores. Referências: BETTI, Maria Sílvia. Oduvaldo Vianna Filho. Coleção Artistas Brasileiros. 1ª ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1997. v. 1. 338p. FARIA, João Roberto (dir.). História do teatro brasileiro, volume 2: do modernismo às tendências contemporâneas. São Paulo: Perspectiva: Edições SESC SP, 2013. GUARNIERI, Gianfrancesco. Depoimento. In: Depoimentos V. MEC/SEC/SNT, 1981. P. 6192. _____. Eles Não Usam Black-Tie. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010. _____. O Melhor Teatro Gianfrancesco Guarnieri. Global Editora, 1987. _____. “O teatro como expressão da realidade nacional”. In: Revista Brasiliense. São Paulo: Brasiliense, n.25, p.121-126, Set/Out, 1959. GUARNIERI, Gianfrancesco; FILHO, Oduvaldo Vianna. A Pipa de Diógenes. Manuscritos e datiloscritos. Acervo pessoal de Gianfrancesco Sigfrido Benedetto Martinenghi de Guarnieri, localizado atualmente no Laboratório de Informação e Memória do CAC (LIM CAC), CDT/ USP. Sem data definida. KHOURY, Simon. “Gianfrancesco Guarnieri” In: Atrás da Máscara I: Segredos Pessoais e Profissionais de Grandes Atores Brasileiros; Depoimentos Prestados a Simon Khoury. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1983. p. 11-71. MURRER, André Dutra. A criação do Teatro Paulista do Estudante (TPE), sua inserção e fusão com o grupo Arena da cidade de São Paulo: conflitos e contradições. Dissertação (Mestrado em Artes) – Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho”, Instituto de Artes. São Paulo, 2017. 97 f. NEIVA, Sara Mello. O Teatro Paulista do Estudante nas origens do nacional popular. Dissertação (Mestrado) - Programa de PósGraduação em Artes Cênicas - Escola de Comunicações e Artes / Universidade de São Paulo. São Paulo: S. M. Neiva, 2016. 223 p. PEIXOTO, Fernando (org.). Vianinha. Teatro. Televisão. Política, São Paulo: Brasiliense, 1983. RIBEIRO, Paula Chagas Autran. “Teoria e prática no Seminário de Dramaturgia do Teatro de Arena”. Dissertação de mestrado defendida na Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2012. 164p. O PROCESSO DE MONTAGEM DE INFERNO E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A LEITURA DA OBRA DE TENNESSEE WILLIAMS NO BRASIL Luis Marcio Arnaut de Toledo Resumo: O trabalho propõe a investigação processo de montagem e encenação do espetáculo Inferno – Um interlúdio expressionista, da Cia. Triptal, entre 2018 e 2021, adaptado da obra Not About Nightingales, de Tennessee Williams. Para tanto, são descritas as concepções estéticas que deslocam o espetáculo da leitura hegemônica de realismo psicológico e autobiografia, para uma poética expressionista e de conjuntura histórica e político-social. Sendo assim, investiga-se como se dá essa leitura que se mostra inovadora na historiografia da obra encenada de Williams no Brasil, descrevendo o desenvolvimento da montagem e da criação artística. Examina criticamente as etapas da encenação: seleção de artistas, contrapartida artística para o fomento, preparação de atores, organização e estrutura do coletivo, apresentações presenciais em 2019 e 2020 e as virtuais durante a pandemia. A principal investigação ligada ao processo se desdobra sobre a metodologia do diretor André Garolli para inserir artistas pouco experientes em projetos profissionais, possibilitando o desenvolvimento artístico na formação de um coro. Sendo assim a obra de Tennessee Williams pode ter seu trabalho melhor compreendido no que diz respeito às questões estéticas e de profundidade social, política e histórica, desbastando a leitura hegemônica. Também discute a importância da lei de fomento para a implementação de um espetáculo com um processo seletivo extenso e com quantidade de artistas e técnicos envolvidos que superam as montagens comerciais comuns, além da estrutura para mantê-lo nos palcos. Sendo uma obra inédita, nunca encenada na cidade de São Paulo, contou com consultoria de especialista na obra de Williams, assim como estudo aprofundado a respeito da peça original em inglês por conter expressões difíceis de serem traduzidas. Este trabalho faz parte do projeto de pós-doutorado do autor. Referências: BERNARD, M. Punishment and the Body: Boss Warden, Michel Foucault, and Not About Nightingales. In: The Tennessee Williams Annual Review, No. 07, 2005. Disponível em: <http://www.tennesseewilliamstudies.org/journal/work.php?ID=59>. Acesso em: 16 out. 2017. BETTI, M. S. Dramaturgia comparada Estados Unidos/Brasil: Três estudos. São Bernardo do Campo: Cia. Fagulha, 2017. 360 p. CARREIRA, A. Teatro de grupo: conceitos e busca de identidade. In: Anais do III Congresso de Pesquisa e Pós-Graduação em Artes Cênicas (Memória ABRACE VII). Florianópolis, 2003. CARREIRA, A; OLIVEIRA, V. M. de. Teatro de grupo: modelo de organização e geração de poéticas. In: O Teatro Transcende, Ano 12, n. 11, Blumenau, p. 95 –98, FURB, 2003. CARREIRA, A.; VARGAS, A. Um projeto de pesquisa sobre Teatro de Grupo. DAPesquisa, Florianópolis, v. 2, n. 4, p. 036-039, 2019. DOI: 10.5965/1808312902042007036. Disponível em: https://www.revistas.udesc.br/index.php/dapesquisa/article/view/15967. Acesso em: 15 out. 2021. CARVALHO, S. de. Introdução ao teatro dialético – experimentos da Companhia do Latão. São Paulo: Expressão popular, 2009. COHEN, S. A.; CARREIRA, A. Prática teatral e trabalho de grupo: a distribuição de funções artísticas e administrativas no contexto brasileiro de teatro de grupo, a partir de 1990. DAPesquisa, Florianópolis, v. 2, n. 4, p. 027-035, 2019. DOI: 10.5965/1808312902042007027. Disponível em: https://www.revistas.udesc.br/index.php/dapesquisa/article/view/15966. Acesso em: 15 out. 2021. DESGRANGES, F; LEPIQUE, M. (org.). Teatro e vida pública – O Fomento e os coletivos teatrais de São Paulo. São Paulo: Hucitec, 2012. DEVLIN, A. J. (Ed.). Conversations with Tennessee Williams. Jackson: University Press of Mississippi, 1986. 369 p. DORFF, L. Disfigured Stages: The Late Plays of Tennessee Williams, 1958-1983. Tese (Doctor of Philosophy). New York: University of New York, 1997. 401 p. FISCHER, S. Processo colaborativo e experiências de companhias teatrais brasileiras. São Paulo: Hucitec, 2010. JANIASKI VALE, F. Produção e gestão no teatro de grupo como projeto de construção de autonomia. 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A obra do dramaturgo Romero Nepomuceno, diretor teatral de grande expressão na capital do país, Brasília, não tem sido investigada pelos estudos literários e teatrais até o momento, visto que o autor priorizou a montagem e a encenação dos seus textos, inclusive em detrimento de publicações, de forma que seus textos permanecem inéditos. Na peça A fábrica (2005), tal como acontecem em algumas peças de Bertolt Brecht as personagens não possuem nomes, existem a predominância de conflitos entre grupos sociais e o questionamento da finalidade da existência humana. A estruturação da dramaturgia é construída a fim de praticar o recurso do distanciamento desenvolvido por Erwin Piscador e Bertolt Brecht. (ROSENFELD, Anatol, 1985). No texto em análise pode-se perscrutar de que modo as suas personagens e toda tessitura dramática relatam e representam os costumes do Brasil contemporâneo e as semelhanças existentes ente a dramaturgia de Romero Nepomuceno e a de Bertold Brecht, hipótese que será objeto de maiores reflexões. No texto A Fábrica é possível rastrear as raízes estéticas e sociológicas de seu teatro com vistas a aproximá-lo dos estilos teatrais contemporâneos. Referências: BRANCO, Carlos Mateus da Costa Castello. Dramaturgia brasiliense nos anos 1960 e 1970: questões sobre teatro e política . 2016. 162 f., il. Tese (Doutorado em Literatura) –Universidade de Brasília, Brasília, 2016. Disponível em: http://repositorio.unb.br/handle/10482/23261 . Acesso em: 1 de maio. 2022. CAFEZEIRO, E.; Gadelha, C. História do Teatro Brasileiro de Anchieta a Nelson Rodrigues. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, 1996. NEPOMUCENO, Romero. A Fábrica. Brasília: no prelo, 2005. ROSENFELD, Anatol. O Teatro Épico. São Paulo: Perspectiva, 1985. O DESCOMPASSO ENTRE A CRÍTICA E O PÚBLICO: O CASO SANTA MARTA FABRIL S. A. (1955) DE ABÍLIO PEREIRA DE ALMEIDA Maria Clara Gonçalves Resumo: Ao longo de sua história, o Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) destacou-se como um espaço relevante à renovação cena teatral brasileira. Nos anos áureos do grupo, o repertório dramático encenado era composto majoritariamente por textos de autores estrangeiros como, por exemplo, Samuel Beckett, Tennesse Wiliams, Pirandello, Jean Paul Sartre, etc. Tais encenações obtinham grande adesão do público, fato que ocasionou uma avalanche dessas produções no palco do TBC. Porém, o dramaturgo brasileiro Abílio Pereira de Almeida conseguiu subverter o monopólio desse tipo de encenação, obtendo excelentes bilheterias com suas peças. O escritor foi uma figura fundamental no grupo paulista desde sua criação, atuando como ator e também como autor de peças de grande relevância na história do TBC. Apesar de suas produções serem bem quistas pelo público, críticos teatrais relevantes, em sua maioria, foram impiedosos com a dramaturgia de Abílio. Pode-se destacar a recepção crítica do grande sucesso de público Santa Marta fabril S. A. (1955), que ora salientou como a peça retratou bem as mazelas de uma classe decadente da sociedade paulistana, ora enfatizou que o texto era apelativo em seu tema e antiquado em sua forma. Apesar de possuir uma extensa produção teatral e ser um dos autores mais populares do TBC, a dramaturgia de Abílio Pereira de Almeida não resistiu ao tempo e tornou-se pouco conhecida nos estudos teatrais recentes. A presente comunicação visa apresentar a recepção e os juízos estéticos atribuídos à Santa Marta Fabril S. A., para que, a partir dessa peça, seja possível discutir como determinadas visões críticas podem ou não influir sobre o reconhecimento de um autor dentro da historiografia teatral. Referências: CAMPOS, Maria da Conceição. Introdução. In: O teatro de Abílio Pereira de Almeida. São Paulo, Imprensa Oficial, 2009. GUZIK, A. (1994). “O Teatro Brasileiro de Comédia” in BRANDÃO, Tânia (org.). O Teatro através da História, CCBB/Entrurage, Rio de Janeiro. PRADO, D. A. (1996). O Teatro Brasileiro Moderno, Perspectiva, São Paulo. _____.(1980). “Sobre o Teatro Brasileiro de Comédia” in Revista Dionysos, SNT/MEC, Rio de Janeiro, nº25. JOHN HOWARD LAWSON: "TEORIA E PRÁTICA DA DRAMATURGIA". REVISÃO CRÍTICA DE UM TRABALHO FORMADOR. Maria Silvia Betti Resumo: Esta comunicação tem como objetivo a apresentação e a discussão analítica dos pressupostos estéticos e políticos do livro de John Howard Lawson, além da contextualização do trabalho do autor dentro do teatro estadunidense. No Brasil, o trabalho de Lawson norteou formas importantes de entendimento sobre as técnicas de criação de dramaturgia moderna dentro do teatro de Arena e da Escola de Arte Dramática de São Paulo. Essas discussões ligavam-se principalmente às aulas e seminários coordenados por Augusto Boal, que havia realizado estudos sobre dramaturgia nos Estados Unidos entre 1951 e 1953. O que se constata e se procura discutir nesta comunicação é o fato de o livro de Lawson, nunca traduzido para o português, ter criado por parte dos então alunos e atores em formação, uma associação indevida e injusta entre suas formulações e análises e aquilo que passou a partir de então a ser designado entre nós como "playwrighting americano". Examinar e rever o pensamento de Lawson é algo de grande interesse tanto para quem estuda e procura entender a dinâmica da dramaturgia estadunidense em seu próprio contexto, como para quem busca aprofundar a análise de pressupostos que tiveram ressonâncias importantes e reveladoras para a modernização dramatúrgica que estava em curso no Brasil. As edições utilizadas serão a estadunidense, "Theory and Technique of Playwriting and Screenwriting" (edição de 2014) e a cubana, "Teoria y tecnica de la dramaturgia", de 1976. Referências: LAWSON , John Howard."Theory and Technique of Playwriting and Screenwriting" http://www.thestickingplace.com/wp-content/uploads/2020/03/Lawson-Theory-and-Technique-ofPlaywriting-and-Screenwriting-_BOOK_.pdf ___________________________. "Teoria y practica de la dramaturgia.La Habana, Editorial Arte y Literatura, 1976. FORMAS DO TEATRO MEDIEVAL EM JOSÉ DE ANCHIETA Marina Gialluca Domene Resumo: José de Anchieta é um homem dividido entre dois tempos. Realizou seus estudos no Colégio de Artes de Coimbra desde a sua fundação até ser enviado à América Portuguesa como um missionário para a Companhia de Jesus, que havia assumido a administração do Colégio. Isso significa que a formação acadêmica de Anchieta em Coimbra teve dois momentos bastante distintos: um deles, sob a orientação humanística que guiava os estudos na instituição; o outro, sob a direção religiosa dos padres jesuítas. É no Colégio que Anchieta terá contato com o teatro, e essa vivência também terá dois momentos bastante distintos: a arte dramática também fazia parte da cultura dentro dos colégios jesuíticos, como ferramenta de ensino de oratória e de latim. Além disso, o teatro já vinha sendo usado largamente para fins de ensino religioso em boa parte da Europa católica havia alguns séculos. Ao vir para a colônia portuguesa na América, Anchieta coloca seus conhecimentos teatrais em prática para cumprir os objetivos da Companhia de Jesus nas Américas: catequizar os indígenas, convertendo-os ao catolicismo, e pregar aos colonos europeus, para garantir que seu comportamento não fosse prejudicial ao trabalho dos padres jesuítas que aqui estivessem. Esta proposta de comunicação é fruto de uma pesquisa que se iniciou em meu mestrado, concluído em 2020, acerca da obra teatral de José de Anchieta. Em minha pesquisa de doutorado, busco a relação entre o teatro escrito por ele e a obra escrita por Gil Vicente. Nosso objetivo com esta comunicação é discutir de que maneiras é possível perceber formas teatrais medievais em Na festa de São Lourenço e Na aldeia de Guaraparim, ambos atribuídos a José de Anchieta. Referências: BACARELLI, Milton João. Introdução ao teatro jesuítico no Brasil. In: I CONCURSO NACIONAL DE MONOGRAFIAS 1976. Brasília: Ministério da Educação e Cultura; Departamento de Documentação e Divulgação, 1977. BERTHOLD, Margot. História mundial do teatro. São Paulo: Editora Perspectiva, 2000. BRANDÃO, Helena Hathsua Nagamine. Uma análise do discurso catequético de Anchieta. 1978. 132p. Dissertação (Mestrado) - Área de Pós-Graduação em Linguística - Mestrado em Linguística e Línguas Orientais. Universidade de São Paulo. Suporte físico. CABRAL, Luiz Gonzaga. Jesuítas no Brasil (século XVI). São Paulo: Companhia Melhoramentos de São Paulo, 1925, pp. 78-79. CARDOSO, Armando. Teatro de Anchieta. São Paulo: Edições Loyola, 1977. CARVALHO E SILVA, Maximiano de. Padre José de Anchieta, o “Apóstolo do Brasil”. CONFLUÊNCIA - REVISTA DO INSTITUTO DE LÍNGUA PORTUGUESA, n. 14, 2º sem. 1972, Rio de Janeiro, pp. 85-106. FISHER-LICHTE, Erika. The medieval religious plays - ritual or theater? In GERTSMAN, Elina (org.). Visualizing medieval performances: Perspectives, histories, contexts. Aldershot: Ashgate, 2008. HERNANDES, Paulo Romualdo. O teatro de José de Anchieta: arte e pedagogia no Brasilcolônia. 2001. 153p. Dissertação (Mestrado) - Universidade Estadual de Campinas. Suporte eletrônico. HESSEL, Lothar; RAEDERS, Georges. O teatro jesuítico no Brasil. Porto Alegre: Editora Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1972. LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil. Lisboa: Livraria Portugália, 1938. vol. 1. MAGALDI, Sábato. Panorama do teatro brasileiro. São Paulo: Global Editora, 1997. MARTINS, W. História da inteligência brasileira. São Paulo: T. A. Queiroz, 1992, vol. 1. MONTES, María José Sánchez. La tradición medieval en la escena contemporánea española: Dimonis de comediants. REVISTA DE LITERATURA MEDIEVAL. Universidad de Alcalá, Madrid, n. 29, 2017, pp. 225-235. MUIR, Lynette R. Extra-liturgical Latin and early vernacular drama. In: TYDEMAN, William (ed.). The medieval European stage: 500-1550. Cambridge: Cambridge University Press, 2003. NEMÉSIO, Victorino. O campo de São Paulo: A Companhia de Jesus e o plano português do Brasil. Lisboa: Secretaria de Estado da Informação e do Turismo; Edições Panorama, 1971. PAVIS, Patrice. Dicionário de teatro. São Paulo: Perspectiva, 2017. PEREIRA, Rosemeire F. de A. R. A literatura de José de Anchieta e a gênese da educação brasileira. 29 de novembro de 2006. Dissertação. Universidade de São Paulo. Suporte físico. PRADO, Décio de Almeida. As raízes do teatro brasileiro. In: FARIA, João Roberto (dir.). História do teatro brasileiro. Vol 1 - Das origens ao teatro profissional da primeira metade do século XX. São Paulo: Edições SESC SP; Editora Perspectiva, 2012. REBELLO, Luiz Francisco. O primitivo teatro português. Lisboa: Instituto de Cultura Portuguesa, 1977. RUCKSTADTER, Flávio M. M, ARNAUT DE TOLEDO, Cézar de A. Análise da construção histórica da figura “heróica” do Padre José de Anchieta. CADERNO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO, n. 5, jan-dez/2006, pp. 13-26. TORRES, Magda Maria Jaolino. Ars oratoria india: A gênese do teatro jesuítico no Brasil. Folhetim, Rio de Janeiro, n. 8, pp. 49-60, 2000. TÜCHLE, H., BOUMAN, C. A., LE BRUN, Jacques. Nouvelle histoire de l’Église: 3 - Réforme et Contre-réforme. Paris: Éditions du Seuil, 1968. PERFORMANCE E COMICIDADE NAS AULAS-ESPETÁCULO DE ARIANO SUASSUNA Orleni Cunha Torres Resumo: As aulas-espetáculo de Ariano Suassuna, consideradas reduzidíssimas, em que o artista está sozinho em apresentação, revelam traços de que ele realiza uma performance. O presente artigo busca realizar uma reflexão utilizando o material de três destes eventos, que ocorrem na fase final da vida de Suassuna, a saber: os videografados no Teatro SESC Vila Mariana, São Paulo-SP, em 2011; no auditório Mozart Victor Russomano, do Tribunal Superior do Trabalho, Brasília-DF, em 2012 e na Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional de Brasília, em 2013. A partir da observação do artista como um bricoleur, que traz para si algumas funções, como a de palhaço, professor-performer e ator cômico, percebe-se que se utiliza do riso como ferramenta para propagar seus ideiais artísticos e político-culturais, que se inserem nas bases do Movimento Armorial. Procuram-se aproximações advindas do universo da palhaçaria no tocante aos Branco e Augusto, Bufão, Clown de Shakespeare, palhaços de folguedo e palhaço tribuno; bem como encontram-se influências no trabalho do professor que cambia entre a linguagem direta e indireta para a cooptação da atenção dos alunos e, por fim, mesmo se tratando de um ambiente performativo, desvenda-se a teatralidade existente no mesmo a partir da consideração das semelhanças do ofício de Ariano com o do ator cômico italiano. Referências: BOLOGNESI, Mário Fernando. Palhaços. São Paulo: Editora UNESP, 2003. CASCUDO, Luís Câmara da. Literatura oral no Brasil. 3.ed. São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo, 1984. CASTRO, Lili. Palhaços: multiplicidade, performance e hibridismo. 1. ed. – Rio de Janeiro: Mórula, 2019. CORRÊA, G. T. (2019). A potência crítico-criativa do humor e do riso na educação. Germinal: Marxismo E educação Em Debate, 11(2), 91–106. DE MARINIS, Marco. 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O professor-performer e a performance educacional : uma política de resistência, escrituras e desvelamentos em desmontagem cênica. Dissertação de mestrado - UFRN. CCHLA. PPGAC, Natal, 2018. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Naira Neide Ciotti. VIDEBAEK, Bente. The Stage Clown in Shakespeare’s Theatre. London: Greenwood Press, 1996. VIEIRA, Marcílio de Souza. Pastoril: uma educação celebrada no corpo e no riso. Tese de doutorado em Educação. UFRN, Natal/RN, 2010. Aula-espetáculo com Ariano Suassuna, 2011. Realizada no Teatro SESC Vila Mariana. https://www.youtube.com/watch?v=IjmKDvQ4knA&t=4236s Aula-espetáculo com Ariano Suassuna, 2012. Realizada no Auditório Mozart Victor Russomano, Brasília-DF. https://www.youtube.com/watch?v=8ieVa2tVPac&t=2423s Aula-espetáculo com Ariano Suassuna no Teatro Nacional em Brasília, 2013. Realizada na Sala Villa Lobos do Teatro Nacional de Brasília-DF. https://www.youtube.com/watch?v=BfXtmjvyctQ&t=4615s DAYS TO COME, DE LILLIAN HELLMAN, E ALGUMAS PERSPECTIVAS CRÍTICAS SOBRE A PEÇA Paola Piovezan Ferro Resumo: A dramaturgia de Lillian Hellman é pouco estudada no Brasil e nos Estados Unidos. Há certa tendência a reduzir Hellman como autora de “peças bem-feitas”, ignorando o papel político de sua produção. Days to Come, de 1936, (literalmente: Dias que Virão) é a segunda peça da dramaturga e, diferentemente de The Children’s Hour, peça que primeiro colocou Hellman nos holofotes da Broadway, foi um fracasso do ponto de vista comercial, sendo cancelada após apenas sete apresentações. Especialmente nos anos de 1930, em que os Estados Unidos tentavam se recuperar da recessão e que o movimento de trabalhadores ganhava força, é compreensível que se criasse expectativa sobre uma peça que tratasse de uma greve em uma fábrica. Jornais da época nos dão pistas para pensarmos o juízo dos críticos na época de sua exibição, possibilitando que notemos as expectativas e posteriores decepções ali expressas. Por não ter conseguido se manter comercialmente, Days to Come acaba não sendo analisada com o foco que lhe é devido, muitas vezes descartada como uma peça de menor importância. O presente trabalho busca olhar para tal obra a partir desses registros, considerando também algumas interpretações posteriores, principalmente de dois colegas brasileiros que estudaram a obra da autora, e aponta para a dramaturgia de Hellman como potencial catalisadora de reflexões socio-históricas. Referências: ALVES, J. DE C. M. Homesick for everywhere but here: character and place in the plays of Lillian Hellman. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Letras. Universidade Federal de Minas Gerais UFMG, 1978. BODNAR, J. Workers’ world: kinship, community, and protest in an industrial society, 19001940. 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A PRESENÇA DO MODELO FRANCÊS NA DEFESA PELA INSTITUCIONALIZAÇÃO DO TEATRO BRASILEIRO NO SÉCULO XIX Phelippe Celestino Pereira dos Santos Resumo: Durante o século XIX no Brasil, alguns escritores interessados no desenvolvimento da literatura dramática e da prática teatral formularam a ideia de Teatro Nacional. Para isso, todos eles partiram de uma referência em comum: a Comédie-Française. Assim, de acordo com o modelo francês tal projeto defendia principalmente a construção de um teatro público e a criação de uma companhia de atores permanente e subvencionada. Em torno dessa questão foram realizadas várias discussões entre diversos agentes dos campos literário, teatral e político da época. As figuras principais desse movimento foram, em um primeiro momento, Machado de Assis, e em seguida Arthur Azevedo. Nossa investigação compreende, em suma, o estudo e a análise da Comédie-Française e as suas relações com o Estado francês. Como resultado, espera-se encontrar dados que servirão para discutir o conceito de Teatro Nacional e também os seus impactos no teatro brasileiro do início do século XX. Desse modo, a participação no Simpósio Revisão da Historiografia Teatral do XVIII Encontro ABRALIC será uma oportunidade para apresentar algumas ideias e questionamentos que fundamentaram o projeto de pesquisa no exterior intitulado A Comédie-Française e a ideia de Teatro Nacional no século XIX no Brasil, a ser desenvolvido a partir de julho de 2022. Por meio do debate e da troca com os pares, essa comunicação visa o aprimoramento do projeto inicial, a expansão do campo teórico e das referências bibliográficas, e a revisão de conceitos e de ideias importantes para a pesquisa. Referências: FARIA, J. R.. Ideias Teatrais: o século XIX no Brasil. São Paulo: Perspectiva, Fapesp, 2001. TORRES NETO, W. L. Influence de la France au théâtre brésilien au XIX siècle. Thèse (doctorat). Institut d’Études Théâtrales, Université Sorbonne Nouvelle, Paris, 1996. O TRABALHO DE JOÃO DAS NEVES: COMO CONSTRUIR UM PENSAMENTO ANALÍTICO A PARTIR DE UMA PRÁTICA CONCRETA? Roberta Carbone Resumo: Como não incorrer em teorizações esterilizantes ao analisar o trabalho de um homem essencialmente ligado à prática teatral? Esse foi um dos grandes desafios de minha pesquisa de doutorado, intitulada “O trabalho teatral de João das Neves do Grupo Opinião”. Para tanto, foi imprescindível, em um primeiro momento, o levantamento de fontes primárias: documentos e textos teatrais, declarações e depoimentos de João das Neves em diferentes momentos e entrevistas realizadas diretamente com ele. E isso também no sentido de mapear a trajetória de Neves no Opinião – desde a fundação do grupo, em 1964, até o encerramento de suas atividades, em 1980 –, nunca antes documentada em sua totalidade. Já no momento de análise do material coligido, a questão que se colocava era: como identificar suas propostas de ação e a concretude de seu pensamento? A partir então das recorrências e transformações, buscou-se evidenciar certas atitudes do artista, definidas pela relação entre contexto histórico e percurso individual. Desse modo, foi possível não só registrar, mas analisar criticamente seus trabalhos, que se espraiaram por várias frentes: dramaturgia, direção, produção, articulação cultural. É esse processo, resumidamente descrito aqui, que se pretende apresentar, por meio da exposição de certas informações e documentos, bem como do que foi possível verificar por meio de suas análises. Referências: KÜHNER, Maria Helena; ROCHA, Helena. Para ter opinião. Rio de Janeiro: Relume – Dumará, 2001. MARQUES, Maria do P.S.C. Teatro de João das Neves: Opinião na Amazônia. Uberlândia/MG: UDFU, 2016. NEVES, João. A análise do texto teatral. Rio de Janeiro: Europa, 1997. ____________. Ciclo de palestras sobre o teatro brasileiro. Rio de Janeiro: Minc/Inacen, 1987. A GRÃ-DUQUESA DE GÉROLSTEIN NA CENA TEATRAL PORTUGUESA: TRADUÇÃO, FARPAS E PARÓDIAS Rodrigo Cézar Dias Resumo: As operetas de Jacques Offenbach chegam aos palcos portugueses em 1868, ano em que são encenadas A Grã-Duquesa de Gérolstein e Georgianas, traduzidas por Eduardo Garrido, e Barba Azul, traduzida por Francisco Palha. O sucesso de tais peças pode ser dimensionado por meio da profusão de notas veiculadas na imprensa a seu respeito, bem como por seu impacto na produção de um dos principais escritores portugueses do final do século XIX, Eça de Queirós – que inclusive ensaiou, em parceria com Jaime Batalha Reis e Augusto Machado, uma breve incursão no teatro musicado com a produção inconclusa da opereta A morte do diabo. Nesta comunicação, proponho uma discussão acerca da tradução portuguesa d’A Grã-Duquesa de Gérolstein, encenada no Teatro do Príncipe Real em Lisboa, atentando não só para sua fatura e sua repercussão na imprensa, mas também para o modo como a peça foi apropriada parodicamente por comediógrafos contemporâneos a ela. Para tanto, recorro à articulação da opereta em questão com as seguintes comédias breves: O segundo general Fritz da GrãDuquesa de Gérolstein, de autor desconhecido; Uma atriz no prego, de Pedro Carlos d’Alcantara Chaves; Quem nos livra da Grã-Duquesa!, de Augusto Garraio; Barba Azul e Grã-Duquesa em Cacilhas, de José Quintino Travasso Lopes, e, por fim, A Grande Duquesa de Gérolstein no penúltimo andar, de Paulo Midosi e Francisco Palha. A partir dessa constelação de textos, pretendo esboçar uma reconstituição do horizonte de produção, recepção e circulação do teatro musicado – impresso e encenado – no contexto lusitano, buscando estabelecer nexos com as dinâmicas de apropriação da opereta no Brasil. Referências: ANÔNIMO. O segundo General Fritz da Grã-Duquesa de Gérolstein: a propósito cômico relativo à vitória de 19 de maio alcançada pelo Marechal Saldanha. 2. ed. Lisboa: Livraria de J. Marques da Silva, 1870. CARVALHO, Mário Vieira de. Eça de Queirós e Offenbach: a ácida gargalhada de Mefistófeles. Lisboa: Edições Colibri, 1999. CHAVES, Pedro Carlos d’Alcantara. Uma atriz no prego: maionese de música conhecida, e de prosa desconhecida. Lisboa: Livraria de J. Marques da Silva, 1869?. FLÉCHET, Anaïs. A arte da paródia: circulações e adaptações da obra de Offenbach no Brasil. In: PONCIONI, Claudia; LEVIN, Orna (org.). Deslocamentos e mediações: a circulação transatlântica dos impressos (1789-1914). Campinas: Editora da Unicamp, 2018. GARRAIO, Augusto. Quem nos livra da GrãDuquesa! Paródia à Grã-Duquesa de Gérolstein. Música de Offenbach. Lisboa: Tipografia de Gutierres, 1868. HUTCHEON, Linda. Uma teoria da paródia: ensinamento das formas de arte do século XX. Tradução de Teresa Louro Pérez. Rio de Janeiro, Edições 70, 1985. LOPES, José Quintino Travassos. Barba Azul e Grã-Duquesa em Cacilhas: despropósito cômico em um ato a propósito da música destas operetas. Lisboa: s. n., 1890?. MEILHAC, Henri; HALÉVY, Ludovic; OFFENBACH, Jacques. A Grã-Duquesa de Gérolstein: ópera burlesca em três atos e quatro quadros. Tradução de Eduardo Garrido. 2. ed. Lisboa: Tipografia Universal, 1869. MEILHAC, Henri; HALÉVY, Ludovic; OFFENBACH, Jacques. La Grande-Duchesse de Gérolstein: opéra-bouffe em trois actes, quatre tableaux. Paris: Calman Lévy, 1899. MIDOSI, Paulo; PALHA, Francisco. A Grande Duquesa de Gérolstein no penúltimo andar: entreato. In: MIDOSI, Paulo. Theatro. Lisboa: Tipografia Luso-Britânica, 1871. QUEIRÓS, Eça de; REIS, Jaime Batalha; MACHADO, Augusto. A morte do Diabo: fragmentos de uma opereta. Edição de Irene Fialho, Mário Vieira de Carvalho e José Brandão. Alfragide: Portugal, 2013. A PEÇA EM UM ATO COMO RESISTÊNCIA AO COMERCIALISMO DA BROADWAY: TEATRO, POLÍTICA E HISTÓRIA EM ARTHUR MILLER Thiago Pereira Russo Resumo: A PEÇA EM UM ATO COMO RESISTÊNCIA AO COMERCIALISMO DA BROADWAY: TEATRO, POLÍTICA E HISTÓRIA EM ARTHUR MILLER THIAGO RUSSO - PÓS-DOUTORANDO – UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (FFLCH-USP) - thiagorusso@alumni.usp.br A notória atriz britânica Sheila Hancock dissera uma vez que “A peça em um ato é uma das joias negligenciadas do teatro”, e tal afirmação se torna ainda mais contundente quando nos voltamos a uma dramaturgia tão engenhosa como a de Arthur Miller, dramaturgo alçado à condição canônica dentro da dramaturgia estadunidense e mundial. O caráter situacional da peça em um ato, estudada pelo crítico literário húngaro Peter Szondi (2001), aponta para uma diferença flagrante entre tal tipo de dramaturgia, e as peças longas com as quais Miller se consagrou. O valor artístico deste tipo de dramaturgia, somado à postura de um dramaturgo que sempre se posicionou contra o comercialismo da Broadway, torna-se um ato de resistência, que desafia os ditames de um dos polos teatrais mais importantes do mundo. A comunicação buscará pensar, discutir, e remodelar perspectivas para compreender em maior amplitude o alcance de sua dramaturgia em um ato de Arthur Miller que até hoje se encontra à margem dos círculos escolares, acadêmicos e teatrais, mas que é parte fundamental para se compreender politica e historicamente os rumos da literatura tanto dentro quanto fora dos Estados Unidos. Referências: GOULD, Jean. Dentro e Fora da Broadway: o teatro moderno norte-americano. Trad. Ana Maria M. Machado. Rio de Janeiro, Bloch Editores, 1968. RANCIÈRE, Jacques. Dissensus: on politics and aesthetics. Edited and translated by Steven Corcoran, New York, Continuum, 2010. ROSENFELD, Anatol. Prismas do Teatro. Ed. Perspectiva, São Paulo, 2000. SZONDI, Peter. Teoria do Drama Moderno: 18801950. Trad. Luiz Sérgio Rêpa. São Paulo, Cosac & Naify, 2001. WALFORD, Rex; DOLLEY, Colin (Ed.). The One-Act Play Companion: A guide to Plays, Playwrights and Performance. London: A & C Black Publishers, 2006. WILLIAMS, Raymond. Drama from Ibsen to Brecht. London, Hogarth Press, 1993. SIMPÓSIO “ROLAND BARTHES PLURAL: ENQUANTO SE PODE PERGUNTAR” Márcio Venício Barbosa (UFRN), Claudia Amigo Pino (USP), Laura Taddei Brandini (UEL) A POÉTICA BARTHESIANA DOS INCIDENTES COMO INSPIRAÇÃO PARA A COCRIAÇÃO ENTRE CORPOESCRITOR E CORPO-ATOR Álvaro Perini Canholi Resumo: Este trabalho começa pelo meu encontro com Incidentes (1987): obra saborosa (agridoce), que me tocou, revelando de forma suave-crua as investidas do desejo. Mas, algo nuclear saltou aos meus olhos, lançando-me a experiências sensoriais, conduzindo-me a uma imaginação teatral. Sim, a teatralidade pula daquela escrita rápida, dos fragmentos que erigem um espaço-outro, um espaço-entre; território fantasmado pela escritura que deixou rastros daquele corpo já há muito desaparecido. Estes que revelam a possibilidade de algo novo, uma coprodução, um conviver, um conjugar... Um misturar-se, pois que a escrita de Roland Barthes (ei-lo!) nos “Incidentes” parece nascer do seu contato com um corpo-Outro, seja na sua posição de sujeito-espectador, esteja no papel de um sujeito-performer. E me faz refletir: a corporalidade do Outro (homem/objeto), ao empreender uma relação de alteridade que coaduna com a teatralidade, prescreve uma narrativa do corpo que não é restrita à arte teatral, mas que se estende, antes, no cotidiano, e quer se encontrar na literatura, mas também (em outro movimento de espiral), na performance. Por isso, as reflexões de Barthes sobre o teatro, especialmente o brechtiano (que imprime um abalo sismológico na aventura semiológica e que delineia sua escrita/incidente), são por mim resgatadas, para que eu possa trazer a esta conversação vozes contemporâneas do teatro ocidental, afim de revelar fecundas aproximações, como as que localizo nas noções de teatralidade e performatividade de Josette Féral (1982). Passo a compreender que o teatro para o qual a escrituracorpo barthesiana retornaria é justamente o performático. E cogito que é para esta vivência prática que devo lançar-me, conjugando minha vida com lampejos barthesianos que me afetaram (geraram afeto, pungiram). Então, projeto que esta pesquisa ao partir do meu corpo de homem gay latino-americano, um corpo-leitor (os incidentes espicaçaram minhas sensações), retornará, de forma espiralada, à minha releitura daquele corpo-escritor europeu. Referências: BARTHES, Roland. A câmara clara. Trad. de Júlio Castañon Guimarâes. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2015a. ______. Aula. Trad. de Leyla Perrone-Moisés. São Paulo: Editora Cultrix, 2002a. ______. A morte do autor. In: O Rumor da língua. Trad. Mario Laranjeira. São Paulo: Martins Fontes, 2004a. p. 57-64. ______. A preparação do romance Vol. I. Trad. de Leyla Perrone-Moisés. São Paulo: Martins Fontes, 2005a. ______. A preparação do romance Vol. II. Trad. de Leyla Perrone-Moisés. São Paulo: Martins Fontes, 2005b. ______. Au séminaire. In: O Rumor da língua. Trad. Mario Laranjeira. São Paulo: Martins Fontes, 2004a. p. 412-424. ______. Brecht e o discurso: contribuição para o estudo da discursividade. In: O Rumor da língua. Trad. Mario Laranjeira. São Paulo: Martins Fontes, 2004a. p. 269281. ______. Cadernos da viagem à China. Trad. de Ivone Castilho Benedetti. São Paulo: Martins Fontes, 2012a. ______. Da obra ao texto. In: O Rumor da língua. Trad. Mario Laranjeira. São Paulo: Martins Fontes, 2004a. p. 65-75. ______. Deliberação. In: O Rumor da língua. Trad. Mario Laranjeira. São Paulo: Martins Fontes, 2004a. p. 348-363. ______. “Durante muito tempo fui dormir cedo”. In: O Rumor da língua. Trad. Mario Laranjeira. São Paulo: Martins Fontes, 2004a. p. 57-64. ______. Escritos sobre teatro. Trad. de Mario Laranjeira. São Paulo: Martins Fontes, 2007a. ______. Incidentes. Trad. de Mario Laranjeira. São Paulo: Martins Fontes, 2004b. ______. Malogramos sempre ao falar do que amamos. In: O Rumor da língua. Trad. Mario Laranjeira. São Paulo: Martins Fontes, 2004a. p. 370-384. ______. Notas sobre André Gide e seu Diário. In: Inéditos, vol. 2: crítica. Trad. Ivone Castilho Benedetti. São Paulo: Martins Fontes, 2004c. p. 01-23. ______. “Isso pega”. In: Inéditos, vol. 2: crítica. Trad. Ivone Castilho Benedetti. São Paulo: Martins Fontes, 2004c. p. 225-229. ______. O adjetivo é o “dizer” do desejo. In: O grão da voz. Trad. Mario Laranjeira. São Paulo: Martins Fontes, 2004d. p. 244-250. ______. O império dos signos. Trad. de Leyla Perrone-Moisés. São Paulo: Martins Fontes, 2016. ______. O obvio e o obtuso: ensaios críticos III. Trad. de Léa Novaes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990. ______. Ousemos ser preguiçosos. In: O grão da voz. Trad. Mario Laranjeira. São Paulo: Martins Fontes, 2004d. p. 472-482. ______. Œuvres Complètes, éd. Eric Marty. Paris: Seuil, 2002b (5 tomes). ______. Prazer / Escrita / Leitura. In: O grão da voz. Trad. Mario Laranjeira. São Paulo: Martins Fontes, 2004d. p. 219-243. ______. Prefácio [Ao tomo VIII da Enciclopédia Bordas]. In: Inéditos, vol. 2: crítica. Trad. Ivone Castilho Benedetti. São Paulo: Martins Fontes, 2004c. p. 179-187. ______. Roland Barthes por Roland Barthes. Trad. Leyla Perrone-Moisés. São Paulo: Estação Liberdade, 2017a. ______. Roland Barthes se explica. In: O grão da voz. Trad. Mario Laranjeira. São Paulo: Martins Fontes, 2004d. p. 448-471. ______. Sade, Fourier, Loyola. Trad. de Mário Laranjeira. São Paulo: Martins Fontes, 2005c. ______. Um contexto por demais brutal. In: O grão da voz. Trad. Mario Laranjeira. São Paulo: Martins Fontes, 2004d. p. 446-447. BELLONI, Arthur. O corpo e as coisas: a dissolução da fronteira entre o vivo e o não vivo no contexto do teatro contemporâneo. 2008a. Disponível em: <https://www.revistas.usp.br/salapreta/article/view/57371>. Acesso em: 20 de jul. 2018. BIDENT, Christophe. Le geste théâtral de Roland Barthes. 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ESCREVENDO A LEITURA: ANÁLISE DOS PROCEDIMENTOS DE ESCRITA E ESTRATÉGIAS NARRATIVAS DE "A TRAIÇÃO DE RITA HAYWORTH" DE MANUEL PUIG A PARTIR DO CONCEITO DE "TEXTO-LEITURA" DE ROLAND BARTHES Antonio Gerson Bezerra de Medeiros Resumo: “Ler levantando a cabeça”, foi dessa forma que Barthes definiu, no capítulo Escrever a leitura de O rumor da língua, o seu modo de leitura/escrita, ao trabalhar com a novela Sarrasine, de Balzac, em S/Z. Seguindo a lição de Barthes, a proposta dessa comunicação é a de abordar o romance puiguiano como um texto “escrevível”, ou seja, um texto que possibilita o trabalho de escritura, de uma leitura ativa que provoque associações e que auxilie a pensar a realidade. Esta comunicação terá como foco de estudo os procedimentos e estratégias narrativas no romance A Traição de Rita Hayworth, para pensar em modos de leitura que retirem o leitor de uma posição passiva de consumidor para o de produtor de experiência e do conhecimento. Passados trinta anos da morte do escritor argentino Manuel Puig (1932-1990), sua obra permanece relevante no cenário da literatura latino-americana por sua originalidade. Para Alberto Giordano (2001), essa característica não estaria apenas na inclusão dos materiais da cultura de massa na literatura, mas em sua desestabilização. O uso dos procedimentos oriundos da cultura de massa e das reproduções impessoais também são responsáveis pelo enfraquecimento da figura do narrador, ou como aponta Delfina Cabrera, ocorre em Puig um “desvanecimiento de la figura del narrador”. Ao reduzir a presença do narrador, Puig está questionando uma figura de autoridade, o que nos remete ao texto A morte do autor que nos auxiliará na discussão da problemática do narrador puiguiano. Penso que a atualidade de Barthes se deve, dentre diversos fatores, por inocular em que o lê um descontentamento com os sentidos dados, por pensar a escrita como um modo de abalar o sentido do mundo. Esse lado questionador, marca indelével de seu pensamento, será imprescindível no desenvolvimento de minha tese. Referências: BARTHES,Roland.SobreRacine.Trad.AntonioCarlosViana.PortoAlegre:L&PM,1987. _______________. O rumor da língua. Tradução: Mário Laranjeira. São Paulo: Brasiliense, 1998. _______________. S/Z: uma análise da novela Sarrasine de Honoré de Balzac. Rio de Janeiro, Ed. Nova Fronteira, 1992. CABRERA, Delfina. Las lenguas vivas: zonas de exilio y traducción en Manuel Puig. Buenos Aires: Prometeolibros, 2016. GIORDANO, Alberto. Manuel Puig – la conversación infinita. Rosario: Beatriz Viterbo, 2001. PUIG, Manuel. A traição de Rita Hayworth.Trad. Glória Rodríguez. RiodeJaneiro: NovaFronteira, 1983. "PROUST POR ROLAND BARTHES": REFLEXÕES SOBRE O ESCRITOR NOS DOCUMENTOS PREPARATÓRIOS DO CRÍTICO Carla Cavalcanti E Silva Resumo: Marcel Proust foi incontestavelmente importante na obra de Roland Barthes. De uma visão da literatura enquanto objeto, Barthes passa a dela se aproximar enquanto escritura, palavras usadas por ele em sua conferência de 1978 no Collège de France que porta o título da frase inaugural do romance proustiano. “Coloco-me realmente na posição de quem faz alguma coisa: não estudo um produto, endosso uma produção; elimino o discurso sobre o discurso; o mundo já não vem a mim sob a forma de um objeto, mas sob a forma de uma escritura” (BARTHES, 2012, p. 363). É notável o quanto o exemplo do escritor Marcel Proust, ou melhor, do personagem Marcel, que quer se tornar escritor, passa a se cruzar com o desejo de escrever de Roland Barthes, contudo poucos foram os ensaios dedicados ao escritor ao longo da carreira do crítico. Essa constatação foi feita pelo próprio Barthes, em uma de suas fichas, na qual o crítico declara “[...] Aussi, un compte à régler – un supplément, une “dette”, une chose à faire, un “agendum” avec une œuvre dont je n’ai presque jamais écrit, mais qui est peut-être celle que j’ai le plus lue et relue – il est vrai sans pouvoir jurer que ce soit in extenso, car c’est toujours en sautant des passages”. A presente comunicação tem por objetivo trazer as reflexões feitas pelo crítico sobre Marcel Proust, partindo do livro Roland Barthes. Marcel Proust, publicado pela Seuil em 2020, com textos estabelecidos e anotados por Bernard Comment, livro no qual encontramos uma série de fichas e manuscritos inéditos de Barthes que fazem menção à Proust e que, certamente, podem redimensionar o papel que o escritor desempenhou na busca literária barthesiana. Referências: ROLAND BARTHES. O rumor da língua. São Paulo: Martins Fontes, 2012. ROLAND BARTHES. Marcel Proust. Édition établie et annotée par Bernard Comment. Éditions du Seuil: Paris, 2020. ROLAND BARTHES E A CRÍTICA BRASILEIRA Claudia Amigo Pino Resumo: Nesta apresentação, tenho o objetivo de trabalhar a partir das leituras feitas pela crítica brasileira da obra de Roland Barthes. Devemos percorrer em primeiro lugar a crítica paulista: as poucas referências a Barthes nos críticos ligados ao grupo Clima, alguns textos fundamentais de Leyla PerroneMoisés no Suplemento Literário de O Estado de São Paulo e o lugar de Barthes na coletânea Metalinguagem e outras metas, de Haroldo de Campos. Mas também devemos explorar a crítica além dos muros da universidade de São Paulo e nos centrar em críticos de outros estados, como Silviano Santiago, que faz de Barthes o centro de sua reflexão no ensaio "O entre-lugar no discurso latinoamericano", ao pensar o escritor latinoamericano como aquele que procura textos "escrevíveis", textos que os incitem a escrever. Silviano Santiago teve acesso às ideias de Barthes nos Estados Unidos, quando era professor na Universidade da Universidade do Novo México, em Albuquerque, e, depois, como professor na PUC do Rio de Janeiro e na Universidade Federal Fluminense, participou de dois projetos ligados a Barthes: a tradução de "Por que amo Roland Barthes", de Alain Robbe-Grillet e a curadoria da exposição "Roland Barthes amador", no Centro Cultural do Banco do Brasil, no Rio de Janeiro. Na apresentação, devemos apresentar a história desses projetos e a repercussão que tiveram nos ensaios e na obra ficcional de Silviano Santiago. Referências: Brandini, Laura. Imagens de Roland Barthes no Brasil. Tese de doutorado inédita. Universidade de São Paulo, Universidade de Genebra. Campos, Haroldo de. Metalinguagem e outras metas. São Paulo: Perspectiva, 2006. Perrone-Moisés, Leyla. Com Roland Barthes. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2012. Robbe-Grillet, Alain. Por que amo Roland Barthes. Trad. Silviano Santiago. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, 1995.Roland Barthes Artista Amador. Catálogo da exposição. Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil, 1995. Schwarz, Roberto. Sequências brasileiras. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. Santiago, Silviano. Uma literatura nos trópicos. Rio de Janeiro: Rocco, 2000. UMA ASCESE PERVERSA: PROPOSTA DE LEITURA DA OBRA O CADERNO ROSA DE LORI LAMBY (1990), DE HILDA HILST, ATRAVÉS DA OBRA O PRAZER DO TEXTO (1973), DE ROLAND BARTHES Flávia Herédia Miotto Resumo: Após um longo silêncio em relação à obra de Hilda Hilst, o público e a crítica literária se voltam, há algum tempo, às suas produções. Iniciaremos esta comunicação discutindo os motivos pelos quais existe esse hiato entre publicação e recepção desses textos e, em seguida, iremos propor uma leitura de O caderno rosa de Lori Lamby (1990) com a hipótese de que essa obra, além de se configurar como um texto de gozo (BARTHES, 1973), já que produz uma fenda, uma ruptura, uma transgressão em relação à ordem social, pode também ser lida no gozo. Isso porque através de sua leitura, o leitor é levado a um processo de desculturação - que chamamos aqui de ascese perversa - já que é convidado a afastar-se das convenções e das regras, transgredindo os limites, os lugares comuns e os moralismos que a cultura tenta lhe impor durante a elaboração de significados àquilo que lê. Assim, o leitor é convocado (ou invocado, como veremos), a entrar em contato uma literatura que pode ser considerada utópica, já que esta permite o acesso a territórios e a sentidos ainda não nomeados, que ultrapassam as limitações impostas pela cultura. Em consonância com o simpósio em questão, esta comunicação, portanto, tem a intenção de explorar os ecos da obra barthesiana nas obras literárias e em suas recepções (em nosso caso, na obra hilstiana e sua recepção), contribuindo com os estudos de Barthes e Hilst no Brasil, revisitando seus textos e suscitando novas (e plurais leituras) em torno dessas produções. Em um mundo repleto de certezas, ideologias fixas, onde a dúvida não é bem-vinda, esses autores apontam para um deslocamento necessário. Aquele que nos desestabiliza, mas também nos presenteia com a dúvida e com a deliciosa instabilidade dos saberes. Referências: BARTHES, R. “Le plaisir du texte”. In: Oeuvres Complètes, t. IV. Paris: Éditions du Seuil, 2002. HILST, H. “O caderno rosa de Lori Lamby” (1990). In: Da prosa – Obras completas. São Paulo: Companhia das Letras, 2018. ROLAND BARTHES ENTRE A ESCRITURA E A CRÍTICA DA IDEOLOGIA Fúvia Fernandes Pereira Resumo: Roland Barthes foi um dos mais importantes críticos do século XX. Sua obra é marcada por reflexões (im)pertinentes sobre a literatura e a crítica literária. Sendo um representante da chamada nouvelle critique e compreendendo o crítico como um escritor, Barthes mobilizou diversas linguagens, dentre as quais destacamos o marxismo, o existencialismo sartreano, o estruturalismo e a psicanálise, para garantir aos críticos o direito a uma certa fala, indireta e epistemologicamente heterogênea. Nesta comunicação, propomos uma leitura da crítica da ideologia barthesiana e da noção de escritura, buscando investigar suas bases marxistas. Para tanto, Le degré zéro de l’écriture (1953) e Mythologies (1957), textos barthesianos de fundamentação sociológica e marxista, serão nosso material de análise; o diálogo, por sua vez, dar-se-á com a bibliografia especializada e com os textos marxianos e marxistas que abordam, especialmente, o conceito de ideologia. Logo, nossa leitura percorrerá essa língua particular barthesiana, compreendendo a linguagem marxista como ponto de partida e parte constitutiva da história de sua escritura, que começa com uma escrita anterior e se estende aos textos mais fragmentários e interiores. Não temos a intenção de sistematizar um método ou doutrina que poderiam ser extraídos dos textos barthesianos, muito menos de hierarquizar as linguagens disponíveis em sua obra, mas sim de traçar algumas reflexões acerca de seus textos de base sociológica e marxista; fundamentação que marca, sobretudo, as produções da década de 1950, mas que por meio de uma “tática de deslocamento” (PERRONE-MOISÉS, 2012, p. 137) ganha novas significações em trabalhos posteriores. Partindo do debate que foi e vem sendo feito, tentamos contribuir para a investigação dos intertextos marxistas presentes nas primeiras elaborações barthesianas da noção de escritura e da crítica à naturalização ao que é histórico. Referências: BARTHES, Roland. O grau zero da escritura. In: BARTHES, Roland. Novos ensaios críticos e O grau zero da escritura. Tradução de Heloysa de Lima Dantas, Anne Arnichand e Álvaro Lorencini. 2. ed. São Paulo: Cultrix, 1974. p. 115-167. BARTHES, Roland. Mitologias. Tradução de Rita Buongermino e Pedro de Souza. 10. ed. Rio de Janeiro: Berthand Brasil, 1999. ECO, Umberto; PEZZINI, Isabella. La sémiologie des Mythologies. Communications, Roland Barthes, n. 36, p. 19-42, 1982. EAGLETON, Terry. Marxismo e crítica literária. Tradução de Matheus Corrêa. São Paulo: Editora Unesp, 2011. EAGLETON, Terry. Ideologia: uma introdução. Tradução de Silvana Veira e Luís Carlos Borges. 2. ed. São Paulo: Boitempo, 2019. MARTY, Éric. Roland Barthes. O ofício de escrever. Tradução de Daniela Cerdeira. Rio de Janeiro: Difel, 2009. MARX, Karl. O 18 de Brumário de Luís Bonaparte. Tradução de Nélio Schneider. São Paulo: Boitempo, 2011. MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A Ideologia alemã. Tradução de Rubens Enderle, Nélio Schneider e Luciano Cavini Martorano. São Paulo: Boitempo, 2007. MOTTA, Leda Tenório. Roland Barthes e seus primeiros toques de delicadeza minimalista. Sobre O grau zero da escritura. ALEA, vol. 12, n. 2, p. 233-247, jul./dez. 2010. PERRONE-MOISÉS, Leyla. Texto, crítica, escritura. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005. PIMENTEL, Davi Andrade. A crítica-escritura de Blanchot, Butor e Barthes. Cragoatá, Niterói, n. 29, p. 93-105, 2. sem. 2010. ROGER, Philippe. Barthes dans les années Marx. Communications, Parcours de Barthes, n. 63, p. 39-65, 1996. ROGER, Philippe. Barthes, Brecht, Marx. In: PERRONE-MOISÉS, Leyla; MELLO, Maria Elizabeth Chaves. (orgs.). De volta a Roland Barthes. Niterói: EdUFF, 2005. p. 29-46. SILVA, Ludovico. O estilo literário de Marx. Tradução de José Paulo Netto. São Paulo: Expressão Popular, 2012. SILVA, Ludovico. A mais-valia ideológica. Tradução de Maria Ceci Araujo Misoczky. Florianópolis: Insular, 2017. A PRESENÇA DE ROLAND BARTHES NO PROJETO LITERÁRIO NÃO ESCREVER, DE PALOMA VIDAL Katerina Blasques Kaspar Resumo: Em seu projeto literário Não escrever, Paloma Vidal recorre à figura biográfica de Roland Barthes e à leitura da obra barthesiana para explorar a tópica do não escrever. Realizando sua investigação de maneiras múltiplas, como por palestras performáticas, por aulas, por uma pesquisa acadêmica e por um livro cartonero, neste projeto literário notamos uma espécie de filiação de Paloma Vidal à Roland Barthes. Tal laço está disperso pelas manifestações de Não escrever, com a presença de menções teóricas aos textos de Barthes e de alguns de seus leitores críticos, bem como a aparição de Barthes como personagem em uma das narrativas do projeto. Uma terceira aproximação entre Vidal e Barthes se refere a ambos se deslocarem por lugares e transitarem por diferentes papéis intelectuais, aspectos que em certa medida reverberam em um deslizamento por uma variedade de modalidades de expressão e de gêneros textuais. Como classificar obras como O Império dos signos ou A Câmara clara? No caso de Paloma Vidal, Não escrever possivelmente se trate de sua obra “inclassificável”. Em nossa exposição, pretendemos expor mais detidamente o projeto literário Não escrever, de Paloma Vidal, e apresentar alguns aspectos que denotam e respaldam essa relação da escritora com Roland Barthes. Referências: BARTHES, Roland. La préparation du roman. Paris : Seuil, 2015. BARTHES, Roland. O império dos signos. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2016. BARTHES, Roland. Incidentes. São Paulo: Martins Fontes, 2004. GARRAMUÑO, Florencia. Frutos estranhos: sobre a inespecificidade na estética contemporânea. Rio de Janeiro, Rocco, 2014. SAMOYAULT, Tiphaine. Roland Barthes. São Paulo: Editora 34, 2021. VIDAL, Paloma. Não escrever. São Paulo: Malha Fina Cartonera, 2018. VIDAL, Paloma. Roteiros de palestras performáticas (2015-2019). Arquivo pessoal da escritora. BARTHES EM SARLO: MITOLOGIAS CITADINAS Laura Taddei Brandini Resumo: Os escritos de Roland Barthes tiveram e continuam tendo um papel fundamental no pensamento de tantos intelectuais e escritores ao redor do mundo, como são prova suas traduções em muitos idiomas, bem como eventos para discussão de suas ideias, realizados periodicamente em países dos cinco continentes. Na América Latina não tem sido diferente. Na Argentina, uma de suas primeiras leitoras foi a escritora e crítica Beatriz Sarlo, que desde os anos 1960 escreve sobre Barthes e "com" Barthes, ou seja, desenvolve seu pensamento sobre a literatura e a cultura argentinas tendo o escritor em seu horizonte. Nesse sentido, La ciudad vista: mercancías y cultura urbana (2009), de Sarlo, apresenta-se como uma errância da escritora por Buenos Aires onde o incidente se impõe sem dizer seu nome e possibilita a co-presença de uma cidade “vista” com uma “cidade escrita”. Isso se dá, em muitos momentos, a partir da observação de elementos da vida cotidiana que são, pouco a pouco, “desnaturalizados” por Sarlo, na execução de um movimento bastante devedor das Mitologias barthesianas, aliás, evocadas no livro. Sarlo e Barthes se unem no momento da escrita e promovem não apenas a circulação dos textos, mas seu entrelaçamento em algum lugar entre a França e a América Latina. Referências: BARTHES, Roland. Le Degré zéro de l’écriture suivi de Nouveaux essais critiques. Paris : Seuil, 1972, p. 170-187. _____. Leçon. Paris : Seuil, 1978. _____. Œuvres Complètes. Édition de Éric Marty. Paris: Seuil, 2002a, 5v. _____. BARTHES, Roland. Comment Vivre ensemble. Cours et séminaires au Collège de France (1976-1977). Texte établi, annoté et présenté par Claude Coste. Paris: Seuil/IMEC, 2002b. _____. Le Discours amoureux. Séminaire à l’École Pratique des Hautes Études 1974-1976 suivi de Fragments d’un discours amoureux (pages inédites). Édition et présentation de Claude Coste. Paris : Seuil, 2007a. _____. L’Empire des signes. Paris : Seuil, 2007b. _____. Carnets du Voyage en Chine. Édition de Anne Herschberg-Pierrot. Paris : Christian Bourgois/ IMEC, 2009. _____. Mythologies. Paris: Seuil, 1956. BLANCO, Alejandro; JACKSON, Luiz Carlos. “Entrevista com Beatriz Sarlo”. Tradução de Renata Mourão e Luiz Carlos Jackson. Tempo Social. Revista de Sociologia da USP, v. 21, no 2, 2009, p. 133-150. COSTE, Claude. « Préface ». BARTHES, Roland. Comment Vivre ensemble. Cours et séminaires au Collège de France (1976-1977). Texte établi, annoté et présenté par Claude Coste. Paris : Seuil/IMEC, 2002, p.19-28. MORAES, Eliane Robert. “Delicadezas periféricas”. Compte rendu de Modernidade periférica de Beatriz Sarlo. Caracol, no 2, 2011, p. 298-303. Disponible sur: https://www.revistas.usp.br/caracol/article/view/57667/60722. Accès le 20/04/2022. PERRONE-MOISÉS, Leyla. Com Roland Barthes. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2012. PODLUBNE, Judith. “Barthes en Sarlo”. Cuadernos de Literatura, no 24, 2020. Disponible sur: https://revistas.javeriana.edu.co/filesarticulos/CL/24%20(2020)/439865026002/. Accès le 20/04/2022. SARLO, Beatriz. A Cidade vista. Traduction de Monica Stahel. São Paulo : WMF Martins Fontes, 2014. A FORMA DO DIÁRIO EM ROLAND BARTHES E RICARDO PIGLIA Lucas Guastini Loureiro dos Santos Resumo: O diário é uma forma já bem explorada na literatura, mas será que é uma forma já cristalizada, já transformada em mito? Será que é impossível fugir dessa forma antecedente, imóvel e insincera como a descreve Barthes (2012) em seu artigo Délibération? Essas questões pareceram incomodar Barthes ao longo de sua vida literária, que inclusive contou com uma fase de textos marcadamente autobiográficos. À luz desses textos autobiográficos, incluindo seus diários, discuto Los Diarios Emilio Renzi, publicações feitas a partir dos diários escritos por Ricardo Piglia ao longo de toda sua vida e distribuídos por inúmeros cadernos relidos e reorganizados pelo próprio autor. O tratamento linguístico que Piglia emprega ao reler, reorganizar e reescrever seus diários devolve a ambiguidade ao Texto, afastando-o das formas cristalizadas e recolocando-o como escritura. Aspectos que Barthes deu a sua escrita autobiográfica – como seu caráter fragmentado, a alternância entre a primeira e a terceira pessoa, uma ordem nãonarrativa (cronológica, alfabética etc.), constante citações a outros autores – também foram muito utilizados por Piglia. Esses aspectos liberaram a escrita autobiográfica, tornando-a composta por múltiplas vozes e não uma voz única, totalizante e egóica. Se para Barthes a maneira de salvar o diário seria “trabalhá-lo até à morte, até ao ponto de fadiga extrema, como um Texto mais ou menos impossível: trabalho a cujo termo é bem possível que o Diário assim redigido não se pareça em nada com um Diário.” (BARTHES, 2012, p. 462), talvez seja Piglia que tenha dado um passo na direção desse texto utópico, l’antijournal, como descreve Genette (1981). Los Diarios de Emilio Renzi contribuem, sem dúvida, para a discussão em torno das chamadas “escritas de si”, formas tão exploradas atualmente. Referências: BARTHES, Roland. Deliberação. In:_____. O Rumor da língua. São Paulo: Martins Fontes, 2004. GENETTE, Gérard. Le Journal, l’anti-journal. In: Poétique, n°47, setembro de 1981, p. 314-322. PIGLIA, Ricardo. Los diarios de Emilio Renzi. Tomo I. Años de formación. Barcelona: Anagrama, 2015. PIGLIA, Ricardo. Los diarios de Emilio Renzi. Tomo II. Los años felices. Barcelona: Anagrama, 2016. PIGLIA, Ricardo. Los diarios de Emilio Renzi. Tomo III. Um día en la vida. Barcelona: Anagrama, 2017. MÁSCARA E MAQUIAGEM: LER SILVIANO SANTIAGO A PARTIR DE ROLAND BARTHES Luís Matheus Brito Meneses Resumo: Este trabalho propõe um exercício de leitura de Mil Rosas Roubadas: romance (2014), de Silviano Santiago, a partir da obra de Roland Barthes — apontando, especialmente, para os ensaios de Mitologias (publicado originalmente em 1957), uma obra que põe em pé de igualdade o alto e o baixo, os objetos de arte e os objetos de consumo, como as leituras de André Gide e o plástico — sem dúvidas, um jogo de alternâncias. Queremos identificar os artifícios desenvolvidos pelo narrador de Mil rosas roubadas para fabricar máscaras e maquiagens sobre si mesmo e sobre aquilo de que fala: o biografado, a cidade de Belo Horizonte e as referências (os poemas, os livros, os atores e os filmes, por exemplo). Queremos, ao mesmo tempo, fazer associações entre uma ideia de artifício literário e uma ideia de cosmética (kosmetés), para pensar no narrador como aquele que, colocando as coisas em ordem no texto, cria uma cadeia de camuflagens. Aqui, a ideia de artifício literário está ligada a um espaço intermediário entre as coisas e as palavras, algo de que Barthes fala em Crítica e Verdade (publicado originalmente em 1966). Para esta especulação, convidamos, do mesmo modo, os trabalhos teóricos e críticos de Jacques Derrida (2005) e Silvina Rodrigues Lopes (2019), bem como do próprio Silviano Santiago (2020). Referências: BARTHES, Roland. Crítica e verdade. Trad. Leyla Perrone-Moisés. São Paulo: Perspectiva, 2009. _____, _____. Mitologias. Trad. Rita Buengermino e Pedro de Souza. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1972. _____, _____. O prazer do texto. Trad. J. Guinsburg. São Paulo: Perspectiva, 2015. _____, _____. Sistema da Moda. Trad. Lineide do Lago Salvador Mosca. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1979. DERRIDA, Jacques. A farmácia de Platão Trad. Rogério da Costa. São Paulo: Iluminuras, 2005. LOPES, Silvina Rodrigues. A anomalia poética. Belo Horizonte: Chão da Feira, 2019. SANTIAGO, Silviano. Fisiologia da Composição. Recife: Cepe, 2020. _____, _____. Mil rosas roubadas: romance. São Paulo: Companhia das Letras, 2014. A AULA INAUGURAL DE ROLAND BARTHES NO COLLÈGE DE FRANCE: UMA ANÁLISE DA ATUAÇÃO DE LEYLA PERRONE-MOISÉS Marcelise Lima de Assis Resumo: A Aula inaugural de Roland Barthes foi proferida no dia 7 de janeiro de 1977 para ocupar a cadeira de semiologia literária no Collège de France. E, posteriormente, foi publicada na França pela Éditions du Seuil, em 1978. No que diz respeito à edição brasileira, essa foi traduzida em 1970 por Leyla Perrone-Moisés, que também elaborou o posfácio, no qual abordou a respeito dos ensinamentos de Barthes e, ao mesmo tempo, elaborou uma reflexão sobre o Brasil naquele período. Para PerroneMoisés, o conteúdo de a Aula Inaugural era essencial para se pensar o momento histórico do Brasil, principalmente em razão da conquista da democracia e dos discursos extremistas que se apresentavam naquele contexto, os quais não expressavam o verdadeiro sentido da democracia conquistada e, consequentemente, do respeito à pluralidade de discursos. Nesse sentido, esta proposta de artigo visa analisar a atuação da pesquisadora em relação à Aula por meio do posfácio “Lição de Casa”, bem como o texto “A prática da Aula nos cursos do Collège de France” (2005), no qual se pode perceber os relatos de Perrone-Moisés a respeito dos desdobramentos das ideias da Aula nos cursos que Barthes ministrou no Collège. Busca-se analisar, ainda, algumas cartas enviadas por Barthes a Perrone-Moisés, publicadas no livro Com Roland Barthes (2012), nas quais os intelectuais expressaram a relação de amizade. A sequência de cartas de 1977 a 1979 versa a respeito do tema Aula e são essas que interessam a este texto. De maio de 1977, chega-se à carta de 1978, quando Barthes discorreu comentários a respeito do posfácio elaborado por Perrone-Moisés. Finalmente, a fundamentação teórica do artigo se dará por meio dos textos já citados dos intelectuais Barthes e Perrone-Moisés, bem como também por meio do texto Roland Barthes no Brasil, via traduções (2014), de Laura Taddei Brandini. Referências: BARTHES, Roland. Aula. Tradução e posfácio: Leyla Perrone-Moisés. São Paulo: Editora Cultrix, 1978. BRANDINI, Laura Taddei. Roland Barthes no Brasil, via traduções. Cadernos de Tradução. Florianópolis, nº 34, p. 120-141, jul./dez. 2014. Disponível em: < https://periodicos.ufsc.br/index.php/traducao/article/view/2175-7968.2014v2n34p120>. Acesso em: 04/05/2022. PERRONE-MOISÉS, Leyla. Com Roland Barthes. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2012. PERRONE-MOISÉS, Leyla. A prática da Aula nos cursos do Collège de France. In: PERRONE-MOISÉS, Leyla (Org.). De volta a Roland Barthes. Niterói: EdUFF, 2005. PERRONE-MOISÉS, Leyla. Lição de casa. In: BARTHES, Roland. Aula. Tradução e posfácio: Leyla Perrone-Moisés. São Paulo: Editora Cultrix, 1978. CONCEITO, NOÇÃO E METÁFORA EM ROLAND BARTHES Márcio Venício Barbosa Resumo: Roland Barthes, semiólogo, crítico e escritor francês, foi um intelectual incomum em suas ideias e em sua produção. Desde o primeiro livro, O grau zero da escritura (Le Dégré zéro de l’écriture, 1953), que lhe abriu um espaço seguro no seio da intelligentsia francesa dos anos 1950, ou mesmo nos artigos publicados anteriormente e hoje reunidos em sua obra completa, Barthes apresentou um espírito inovador que se alimentaria até o seu último livro, A câmara clara (La Chambre Claire. Note sur la photographie, 1980), desenvolvendo métodos de trabalho inusitados e conceitos que permanecem em circulação dentro e fora do circuito literário. A utilização de conceitos na obra de Roland Barthes parece embasar-se mais no trânsito por conceitos clássicos ou desenvolvidos por outros autores, ainda que ele estabeleça um uso particular, quase sempre desviado do sentido original ou acrescido de um sentido novo. Esse uso muito próprio de determinados conceitos, associado à tendência geral de não se diferenciar conceito de noção, faz com se alguns termos, mesmo que não tenham sido forjados por Barthes, acabem por remeter em primeira mão aos seus trabalhos. Muitos deles ganharam o interesse de vários de seus contemporâneos, mas têm ocupado também as sucessivas gerações de intelectuais. Alguns termos, inseridos no campo semântico dos estudos literários, tornaram?se expressões comuns e até mesmo, em alguns casos, desvirtuadas do sentido que lhes for a atribuído por Barthes, como as noções de prazer e de texto, amplamente generalizadas, sobretudo na linguagem escolar. Propõe-se aqui um pequeno levantamento de termos recorrentes na obra de Barthes, que serão analisados na tentativa de diferenciá-los entre conceito, noção ou metáfora, de acordo com a posição do próprio autor a respeito desse tema. Referências: BARTHES, Roland. Oeuvres completes, t. 1 (1942-?1961), t. 2 (1962-?1967), t. 3 (1968-?1971), t. 4 (1972-?1976), t. 5 (1977-?1980). Paris: Seuil, 2002. Nova edição revista, corrigida e apresentada por Éric Marty. BARTHES, Roland. Comment vivre ensemble. Cours et séminaires au Collège de France (1976-?1977). Paris: Seuil, IMEC, 2002. 257 p. Texto estabelecido, anotado e apresentado por Claude Coste. Apresentação de Éric Marty, Prefácio de Claude Coste, Notas de Barthes, Resumo , Tábua de concordâncias, Glossário dos termos gregos, Índice de nomes e Índice temático. BARTHES, Roland. Le Neutre. Cours au Collège de France (1977-?1978). Paris: Seuil, IMEC, 2002. 272 p. Texto estabelecido, anotado e apresentado por Thomas Clerc. Nota (resumo da apresentação de Éric Marty para o primeiro volume da coleção), Prefácio de Thomas Clerc, Notas de Barthes, Resumo, Índice de nomes, Índice temático. BARTHES, Roland. La Préparation du roman I et II. Cours et séminaires au Collège de France (1978-?1979 et 1979-?1980). Paris: Seuil, IMEC, 2003. 480 p. Texto estabelecido, anotado e apresentado por Nathalie Léger. Nota (resumo da apresentação de Éric Marty para o primeiro volume da coleção), Prefácio de Nathalie Léger, Notas de Barthes, Resumo, Haicais, Índice de nomes, Índice temático. BARTHES, Roland. Le Sport et les hommes. Texte du film Le Sport et les hommes d’Hubert Aquin. Montréal: Presses de l’Université de Montréal, 2004. BARTHES, Roland. Le discours amoureux. Séminaire à l’École pratique des hautes études (1974-?1976) suivi de: Fragments d’un discours amoureux: inédits. Paris: Seuil, 2007. Avant-?propos d’Éric Marty, Présentation et édition de Claude Coste. Collection traces écrites. BARTHES, Roland. Le lexique de l’auteur. Séminaire à l’École pratique des hautes études (1973-?1974) suivi de: Fragments inédits du Roland Barthes par Roland Barthes. Paris: Seuil, 2010. Avant-?propos d’Éric Marty, Présentation et édition d’Anne Herschberg Pierrot. Collection traces écrites. BARTHES, Roland. Sarrasine de Balzac. Séminaire à l’École pratique des hautes études (1967-?1968 et 1968-?1969). Paris: Seuil, 2011. Avant-?propos d’Éric Marty, Présentation et édition de Claude Coste et Andy Stafford. Collection traces écrites. BARTHES, Roland. Carnets du voyage en Chine. Paris: Christian Bourgois, IMEC, 2009. Édition établie, présentée et annotée par Anne Herschberg Pierrot. BARTHES, Roland. Journal du deuil (26 octobre 1977 – 15 septembre 1979). Texte établi et annoté par Nathalie Léger. Paris: Seuil, IMEC, 2009. BARTHES, Roland. Album: inédits, correspondances et varia. Paris: Seuil, 2015. Édition établie et présentée par Éric Marty. POÉTICA DO REENCONTRO ENTRE ROLAND BARTHES E FRANÇOIS JULLIEN Maria Luiza Berwanger da Silva Resumo: Um diálogo inconfesso pode ser estabelecido entre Roland Barthes e o filósofo da França contemporânea, François Jullien , encontrando no entrelaçamento de imagens a exemplo “incidentes” barthesianos com “inusitado” na reflexão filosófica, o lugar de eficazes desdobramentos. Plurais e de natureza teórico-crítica que traduz saberes simbólicos e não simbólicos aproximados, esses desdobramentos, ao articular estratégias de leitura textual e transtextual remetem, constantemente, ao pensamento de Roland Barthes, ancorado nos gestos de “investir”, “desinvestir”, “reinvestir”, por ele nomeados no estudo sobre “memória involuntária” em Marcel Proust. Neste sentido, percebe-se que este romancista francês comparece igualmente de forma recorrente na reflexão do filósofo, vista em seu conjunto. Certa paisagem intervalar é traçada entre conhecido e desconhecido, evidência e inevidência, Mesmo e Outro que atesta a fertilidade da memorável presença de Roland Barthes, enquanto mediação exemplar à emergência de produtos de campos díspares postos em intersecção. Tomando como ponto de partida esse diálogo, o presente estudo buscará configurar representações de imagens de incidentes e de inusitado em Roland Barthes constitutivos do “núcleo duro” de François Jullien. Pressupõe-se que esta aproximação, ao traduzir modos e formas da reflexão do filósofo, possa fazer-se arquivo vivo de perspectivas culturais e artísticas para o pensamento contemporâneo . Referências: BARTHES , R . Le bruisement de la langue . Paris: Seuil, 1984 Pretexte : ROLAND BARTHES, Colloque de Cerisy . Paris: Christian Bourgois, 2003 ROLAND BARTHES - Album . Inedits, correspondences et varia. PARIS : Seuil. 2015 JULLIEN , François. Vivre de Paysage ou L´Impensé de la Raison . Paris: edition Gallimars. 2014 JULLIEN, François. L´inoui . Paris : Grasset . 2019 RITOS DE PERPASSAGEM: BARTHES E O TECIDO DA ÓPERA Maurício Ayer Resumo: A ópera Ritos de Perpassagem, de Flo Menezes, convida Roland Barthes a ser parte do tecido de sua partitura, desde a epígrafe, uma citação do Plaisir du Texte: “je traverse légèrement la nuit réactionnaire”. A obra foi estreada em 2019 no Theatro São Pedro, em São Paulo, e se define como uma “neutrinópera” em referência a um tipo de partícula subatômica, o neutrino, cuja massa é próxima ao zero e que atravessa os corpos constantemente num bombardeio permanente. Sem uma narrativa em sentido estrito, mas construída com uma narratividade pulverizadas por situações-tema em cada um dos seus momentos, a dramaturgia da ópera constrói-se sobre o tema da vida e do pensamento Pitágoras e dos seus desdobramentos históricos no pitagorismo, chegando ao astrofísico Kepler (o [pen]último dos pitagóricos) e a Karl Marx. O texto é quase integralmente construído de citações de filósofos, compositores, escritores, etc., aos quais somam-se texto escritos (ou re-escritos) pelo próprio compositor. Nessa breve descrição de alguns elementos constituintes da obra já terá sido possível perceber a inspiração barthesiana de sua construção discursiva, de um texto (plurissemiótico) construído a partir de fendas, intertextualidades, prolongamentos, buracos – inspiração que é, aliás, declarada. Vários fragmentos de Barthes são citados na ópera, em especial extraídos do acima citado Plaisir du Texte. Minha proposta é apresentar esta ópera destacando os princípios criativos barthesianos que fazem parte de sua fatura e mostra os diversos modos pelos quais Barthes se faz presente na obra, tanto em citações diretas quanto pela evocação/realização artística de conceitos como texto, texto de prazer, intertextualidade, grão da voz, fenda, passagem, prazer e gozo, entre outros. Referências: AYER, Maurício. Ritos de Perpassagem or the Geometry of Pleasure. In: MENEZES, Flo (org.). Scripture Music: Maximalism in the musical work of Flo Menezes. São Paulo: Edições Flopan, 2022, p. 97117. BARTHES, Roland. 1984. Le bruissement de la langue. Paris: Éditions du Seuil. BARTHES, Roland. 1973. Le plaisir du texte. Paris: Éditions du Seuil. MENEZES, Flo. 2019a. Ritos de Perpassagem. Programa de concerto. São Paulo: Theatro São Pedro. MENEZES, Flo & SAFATLE, Vladimir. 2021. A potência das fendas. São Paulo: n-1 edições. O FASCISMO DA LÍNGUA Paulo Procopio de Araujo Ferraz Resumo: Durante o discurso de abertura da cadeira de Semiologia Literária, Barthes afirmou que a língua é fascista (BARTHES, 2000, p. 14). Essa afirmação foi mal compreendida pelos estudos barthesianos. Para Samoyault, por exemplo, o enunciado é incompreensível em seu aspecto linguístico e em seu aspecto político. Linguisticamente, só discursos podem ser fascistas: a língua, do ponto de vista saussuriano, é um sistema que não expressa nenhuma posição política específica. Politicamente, Barthes estaria assimilando o fascismo ao autoritarismo ordinário, esvaziando assim o sentido do termo (SAMOYAULT, 2015, p. 608). Ora, no próprio texto do discurso, Barthes põe em questão a divisão saussuriana entre língua e discurso. Para o autor, a “língua aflui no discurso, o discurso reflui na língua”. A língua não é, então, para ele, uma entidade infinitamente disponível para que possamos criar sentidos livremente: ela força-nos a dizer certas coisas. A ideia de “fascismo” aparece menos claramente no texto. No entanto, todas as vezes que Barthes tratou do tema, ele exigiu que a ideia de fascismo fosse definida na sua singularidade, em oposição aos autoritarismos ordinários (BARTHES, 2002b). Além disso, ele demonstrou bastante interesse pelo tema durante na época de redação de seu discurso de abertura (BARTHES, 2002a). Trata-se, então, de entender o que o fascismo da língua nos ensina sobre o fascismo e sobre as formas de combatê-lo. Referências: BARTHES, Roland. Sade-Pasolini. In: Œuvres complètes, t. IV, 2002a, p. 944-946. BARTHES, Roland. Sur le régime du Général de Gaulle. In : Œuvres complètes, t. I, 2002b, p. 984-985. BARTHES, Roland. Aula, 8ª ed. São Paulo: Cultrix, 2000. SAMOYAULT, Tiphaine. Roland Barthes. Paris: Seuil, 2015. SIMPÓSIO “SABERES EM CONFLUÊNCIA” Natalie Souza de Araujo Lima (UFF), Thiago de Abreu e Lima Florêncio (URCA), Felipe Wircker Machado (CEFET-RJ) A POÉTICA DA ORALITURA NO CAROÇO DE DENDÊ, DE MÃE BEATA DE YEMONJÁ Cícero Darlan Andrade Araruna Resumo: Compreende-se enquanto oralitura, termo comumente utilizado por Leda Martins, os ensinamentos e expressões literárias repassadas através da oralidade, também devem ser tratados enquanto literatura, mesmo que se abstenha de regras escritocêntricas, pois abrange sua estrutura plural entre corpo e lugar de memória. Falar sobre itans pela perspectiva da oralitura que se transmitem no âmago dos terreiros de candomblé no Brasil tende a elucidar os saberes afro-diaspóricos litúrgicos da cosmogonia iorubá que se fazem presentes em sua transmissão. A obra de Mãe Beata de Yemonjá: O Caroço de Dendê – A Sabedoria dos Terreiros traz consigo o caráter intelectual que sustenta qualquer obra literária, assim como não apaga a inscrição espiral ritualística e corpoética das práticas de terreiro. A confluência feita por Mãe Beata entre oralidade e escrita não torna inválido o caráter epistemológico que a transmissão desses saberes carrega através da oralidade, de certo modo tende a expandir outros aspectos, recorrendo ainda a uma inserção desses saberes em estudos literários, permitindo assim o seu caráter decolonial. O conceito de oralitura, aqui estudado, não coloca suas produções em um espaço subalterno, separando-as da compreensão geral de literatura. Ao contrário disso, ao elucidar o termo em questão, busca-se recuperar o que foi perdido e posto em um local de menos privilégio. Oralitura, portanto, não seria uma vertente da literatura, nem tampouco uma “literatura-oral”. A poética do Caroço de Dendê traz consigo todo o caráter literário: cultura, performance, corpo, ancestralidade e memória. Referências: BEATA DE YEMONJÁ, Mãe. Caroço de dendê: a sabedoria dos terreiros: como Ialorixás e Babalorixás passam conhecimentos a seus filhos. 2. ed. Rio de Janeiro: Pallas, 2008. MARTINS, Leda. Afrografias da memória. São Paulo: Perspectiva; Belo Horizonte: Mazza Edições, 1997. MARTINS, Leda. Performances da oralitura: corpo, lugar de memória. Letras, Santa Maria, n. 26, 2003. MARTINS, Leda. A fina lâmina da palavra. O eixo e a roda, Belo Horizonte, v. 15, 2007. SANTOS, Juana Elbein dos. Os nàgô e a morte: Pàde, Asèsè e o culto Égun na Bahia. Petrópolis: Vozes, 1986. SILVA, Glória Cecília de Souza. Os “fios de contos” de mãe Beata de Yemonjá: mitologia afro-brasileira e educação. 2008. 139f. Dissertação (Mestrado em educação) – Faculdade de Educação, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008 PENSAR A LITERATURA LATINO-AMERICANA: POR UM SISTEMA DE INTERPRETAÇÃO DECOLONIAL E SURREALIZANTE Clelio Toffoli Júnior Resumo: Pretendo fazer um recorte na minha pesquisa de doutorado, que busca por caminhos interpretativos que libertem o pensamento do lado de baixo das linhas abissais, conforme definidas por Boaventura de Souza Santos, da carga histórica eurocêntrica que vem no bojo de todo o estudo hermenêutico até hoje realizado. Com o amadurecimento da pesquisa, optei pelo termo Hermenêuticas do Sul, a fim de melhor situar a busca por soluções para a substituição do eurocentrismo e da relação de dominação da hermenêutica europeia sobre os sistemas de interpretação do sul global. A troca da figura mítica de Hermes que nomina a hermenêutica tradicional, pela figura de Exu, mensageiro de um novo modo de interpretar a partir do novo mundo. A busca da visão latino-americana, surrealizante e quiçá, xamânica, que transite por esses caminhos hermenêuticos e seus atravessamentos pelo surrealismo, pela cultura afro-diaspórica e pela literatura latino-americana. Para tanto, foi-se buscar as fontes e as bases dessa almejada solução, entre outros, no pensamento relacional de Glissant, nas ideias surrealistas de horror ao colonialismo de Aimé e Suzanne Césaire, nos estudos feitos por Luiz Antonio Simas e Luiz Ruffato e sua relação entre religiões de matriz africana e realidade social brasileira, no surrealismo argentino carregado de poesia de Aldo Pellegrini e Francisco Madariaga, na estrela surrealista de Octávio Paz, na ética da libertação de Enrique Dussel, na surrealidade periférica europeia e africana de Cesariny e Cruzeiro Seixas, no pensamento combatente de Fanon e Mbembe, na América Latina de Josefina Ludmer, Aníbal Quijano e Marcela Croce, nos Xamãs de Krenak e Kopenawa, nos vudus caribenhos, em Exu. Enfim, fazer ferver nesse imenso caldeirão algo que se pareça com um sistema hermenêutico do Sul, genuinamente forjado aqui, na “parte baixa” do mundo, com foco nas Américas de dominação espanhola e portuguesa. Referências: DUSSEL, Enrique. El primer debate filosófico de la modernidad. Buenos Aires: Clacso, 2020. QUIJANO, Anibal. Ensayos em torno a la colonialidad del poder. Buenos Aires: Del Signo, 2019. RUBBO, Deni Alfaro. O labirinto periférico: aventuras de Mariátegui na América Latina. São Paulo: Autonomia Literária. 2021. SANTOS, Boaventura de Sousa e MENESES, Maria Paula (org.). Epistemologias do sul. 2ª ed. Coimbra: Almedina, 2018. CONHECIMENTO CIENTÍFICO E SABERES TRADICIONAIS - UNIVERSOS PARADOXAIS. PARADOXAIS? Cleonilson Rosário da Costa, Myrcéia Carolyne Guimarães da Costa Resumo: Este trabalho traz uma discussão acerca da maneira pela qual a ciência depreende as questões relacionadas ao mito envolvendo os saberes tradicionais de povos ribeirinhos que marcam a identidade de uma comunidade, obtidos através da coleta de narrativas orais sobre o Ataíde (criatura monstruosa sobre-humana cuja pertença é da esfera mitológica) que fazem parte do acervo de narradores de Taperaçu-Porto em Bragança (comunidade de pescadores e tiradores de caranguejo da costa amazônica paraense). O objetivo que direcionou esta pesquisa foi verificar as aproximações existentes entre os saberes tradicionais e os conhecimentos científicos sobre um mesmo tema, a saber: o período de suspensão da extração de caranguejo (defeso) para que o crustáceo possa reproduzir-se e assim garantir a manutenção desta espécie na natureza. Tal investigação teve como metodologia a coleta de narrativas de cunho mitológico, conversas com os moradores e inserção no quotidiano local seguindo o método de pesquisa etnográfica para serem analisadas à luz da teoria sobre mito – com Micea Eliade (2000) e Marilena Chauí (2000) –, e das teorias do conhecimento – com Hessen (2000) e Santos (2008) Percebendo-se, dessa forma, que a relação antagônica entre mito e ciência pode ser reconsiderada e que, por conseguinte, conhecimento científico e conhecimento tradicional podem caminhar juntos. Referências: CHAUÍ, M. Convite à Filosofia. São Paulo: Ed. Ática. 2000. DESCARTES, R. Discurso do Método. Trad. Enrico Corvisieri. In: Ateísmo e Nilismo. 2ª ed. 2006. Disponível em: http://ateus.net/artigos/filosofia/discurso-do-metodo/ ELIADE, M. Aspectos do Mito. Trad. Manuela Torres. Lisboa: Perspectivas do homem/ Edições 70. 2000. HESSEN, J. Teoria do Conhecimento. Trad. João Vergílio Gallerani Cuter. São Paulo: Martins Fontes. 2000. MONTEIRO, W. Histórias fantásticas de Walcyr Monteiro. In: Diário do Pará, 2010. SANTOS, B.S. Um discurso sobre as ciências. 5 ed. São Paulo: Cortez, 2008. TEIXEIRA, Elizabeth. As três metodologias: acadêmica, da ciência e da pesquisa. Belém: Cejup, 1999. ALÉM DA PANDEMIA E ENTRE AS POSIÇÕES ENSAÍSTICAS EM O QUE NÃO TEM ESPAÇO ESTÁ EM TODO LUGAR (2020), DE JOTA MOMBAÇA Eduarda de Oliveira Figueiredo Resumo: A partir de O que não tem espaço está em todo lugar (2020), filme-ensaio feito pela artista interdisciplinar Jota Mombaça, em setembro de 2020, entre Paris, Fortaleza e Berlim, a convite do Programa IMS Convida do Instituto Moreira Salles que, em 2020, convocou diferentes artistas a participar de um programa de fomento à criação em tempos de pandemia, este trabalho busca discutir como textos, sons, imagens, sombras, escuridões e tela se entrecruzam na proposta fílmica de Jota Mombaça, onde podemos perceber uma mixagem de diversos aspectos da experiência da artista e um relato poético/visionário/sônico de viagens através também de imagens de arquivo e de textos/leituras/cantos em três línguas. Conforme a sinopse do filme disponível no site do festival FUSO – Anual de Videoarte Internacional de Lisboa, O que não tem espaço está em todo lugar é um filme-ensaio sobre a experiência das constantes viagens em avião resultantes do trabalho com instituições artísticas, pela imparabilidade de um trabalho racializado, de movimentos de vida diaspóricos, de baselessness e de ultravelocidade. O filme atravessa múltiplas localidades e situações de deslocamento, a partir de registos informais, imagens verticais e momentos de opacidade. Nesse sentido, este estudo visa refletir sobre a forma dessa dinâmica de diálogo entre esses materiais que Mombaça lida tendo em vista que esse filme-ensaio nos convoca também a transformar nossas posições e percepções “para fora e além dos ideais normativos de gênero, sujeito e coletividade”, como Mombaça lembra no livro Não vão nos matar agora (2021), imaginando outras e novas formas de viver para além deste mundo como o conhecemos (MOMBAÇA, 2021) e ensaiando o fim deste mundo (FERREIRA DA SILVA, 2019) para um novo mundo que “terá que ser reconstruído e recuperado da destruição causada pelas ferramentas e mecanismos extrativos do capital global” como propõe Denise Ferreira da Silva (2019). Referências: FERREIRA DA SILVA, D. Para uma Poética Negra Feminista: A Busca/Questão da Negridade para o (fim do) Mundo. In. FERREIRA DA SILVA, D. A dívida impagável. Tradução: Amilcar Packer e Pedro Daher. São Paulo: Oficina de Imaginação Política e Living Commons, 2019, p. 85-118. Disponível em: https://casadopovo.org.br/wp-content/uploads/2020/01/a-divida-impagavel.pdf. Acesso em: 05/05/2022. FERREIRA DA SILVA, D. Um fim para “este” mundo: entrevista de Denise Ferreira da Silva na revista Texte Zur Kunst. Entrevista concedida a Susanne Leeb e Kerstion Stakemeier. Revista DR. Tradução: Lori Regattieri e Tatiana Oliveira. Edição 5. Julho de 2020. Disponível em: https://revistadr.com.br/revista/dr-5/. Acesso em 04/05/2022. MACHADO, A. O Filme-Ensaio. Concinnitas: Revista do Instituto de Artes da UERJ. v.2, n.5, p. 63-75, 2003. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/concinnitas/article/view/42804. Acesso em: 04/05/2022. MOMBAÇA, J. Não vão nos mata agora. Rio de Janeiro: Cobogó, 2021. O QUE NÃO TEM ESPAÇO ESTÁ EM TODO LUGAR. Direção: Jota Mombaça. Montagem e finalização: Darwin Marinho. Desenho de som e trilha: Slim Soledad. Paris, Fortaleza e Berlim, 2020. Disponível em: https://ims.com.br/convida/jotamombaca/. Acesso em: 05/05/2022. O QUE NÃO TEM ESPAÇO ESTÁ EM TODO LUGAR. Fuso, 2021. Disponível em: https://fusovideoarte.com/2021/o-que-nao-tem-espaco-esta-em-todo-olugar/#:~:text=O%20que%20n%C3%A3o%20tem%20espa%C3%A7o%20est%C3%A1%20em%20todo%20l ugar%20%C3%A9,de%20baselessness%20e%20de%20ultravelocidade. Acesso em: 05/05/2022. SANTO E ORIXÁ: O CANDOMBLÉ EM NEGOCIAÇÃO E TENSIONAMENTO COM A OCIDENTALIDADE Felipe Wircker Machado Resumo: A configuração do candomblé no Brasil fornece elementos importantes para o debate acerca das relações etnicorraciais no país, seja numa perspectiva antropológica, sociológica ou filosófica. Notase uma fricção entre modos de vida e de organização política e social distintos em constante negociação, algo que se reflete, evidentemente, nos corpos e subjetividades atravessados pela colonização, pelo regime escravista e pelo racialismo científico enquanto processos históricos que fundamentaram nossa constituição como sociedade e balizam as relações etnicorraciais no Brasil. No âmbito da produção de conhecimento acadêmica, a relação entre pesquisadores e o chamado povo de santo, isto é, sacerdotes e sacerdotisas do candomblé, foi essencial para o desenvolvimento das pesquisas e dos trabalhos publicados que até hoje contribuem para a disseminação e o entendimento do candomblé enquanto religião, cultura e modo de vida. No entanto, a percepção de elementos e aspectos do culto de orixás no candomblé segue em grande parte balizada por um referencial simbólico e representativo inerente ao pensamento metafísico ocidental em um âmbito mais abrangente, e em sua configuração moderna em um recorte mais restrito, negligenciando, muitas vezes, o modo como o próprio candomblé possibilita uma abordagem que desafia essa percepção característica da ocidentalidade. Para abordar esse problema, a presente comunicação incide sobre a correspondência entre os pesquisadores brancos franceses Roger Bastide e Pierre Verger por entender que ela fornece aspectos importantes para a compreensão dessa tensão na produção de conhecimento acadêmico acerca do candomblé, e dá a ver as relações que permitiram Bastide vislumbrar, com certo pioneirismo no âmbito acadêmico, uma “filosofia sutil” no candomblé a partir dos aspectos de africanidade na religião. Um aspecto de grande relevância na abordagem proposta, portanto, é não só o lugar de fala dos pesquisadores, como também a relação que travaram com o candomblé. Referências: ABÍMBÓLÁ, KÓLÁ. Yorùbá Culture: a philosophical account. Birmingham, UK: Ìrókò Academic Publishers, 2006 BASTIDE, Roger. O Candomblé da Bahia: rito nagô. Trad. Maria Isaura Pereira de Queiroz. São Paulo: Companhia das Letras, 2001 _______ Diálogo entre Filhos de Xangô: Correspondência 1947-1974 / Roger Bastide, Pierre Verger; apresentação e notas de Françoise Morin; tradução Regina Salgado Campos. São Paulo: EDUSP, 2017 DEBRAY, Regis. Vida e morte da imagem: uma história do olhar no ocidente. Trad. Guilherme Teixeira. Petrópolis: Vozes, 1993 DERRIDA, J. “A estrutura, o signo e o jogo no discurso das ciências humanas”. In: A estrutura e a diferença. Trad. Maria Beatriz Marques Nizza da Silva et alli. 4a ed. São Paulo: Perspectiva, 2009 GONZALEZ, Lélia. A categoria políticocultural de amefricanidade. Revista Tempo Brasileiro. Rio de Janeiro, no 92/93 (jan./jul.) 1988, p. 69-82 HALL, Stuart. Da diáspora: identidades e mediações culturais. Org. Liv Sovik. 2a ed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2013 LÉVI-STRAUSS. Antropologia estrutural. Trad. Chaim Samuel Katz e Eginardo Pires. 6a ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003 OYEYUMI, Oyeronke. A invenção das mulheres: construindo um sentido africano para os discursos ocidentais de gênero. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2021 SANTOS, Jocélio Teles dos. O poder da cultura e a cultura no poder: a disputa simbólica da herança cultural negra no Brasil. Salvador: EDUFBA, 2005 SERRA, Ordep. Veredas: antropologia infernal. Salvador: EDUFBA, 2002 SOYINKA, Wole. Myth, Literature and the African World. Cambridge University Press, 1990 TAVARES, Fátima. BASSI, Francesca. (Org.) Para além da eficácia simbólica: estudos em ritual, religião e saúde. Salvador: EDUFBA: 2012 VERGER, Pierre. Orixás: deuses iorubás na África e no Novo Mundo. Salvador: Corrupio, 2002 PEDAGOGIA ENGANCHADA: UMA PEDAGOGIA REVERSA Genivaldo Cruz Santos Resumo: Este estudo refere-se ao sistema educacional brasileiro detentor de uma pedagogia enganchada, que é o contrário de uma pedagogia engajada, como a defendida por Paulo Freire, bell hooks e outros teóricos e educadores. De acordo com pressupostos teóricos, essa pedagogia reversa replica e perpetua as desigualdades sociais, econômicas e culturais a partir de uma violência simbólica praticada pelas instituições educacionais, que reafirmam as relações de dominação, ou seja, a estrutura de classes, reproduzindo “sutilmente” a ideologia da classe dominante. Logo, as escolas funcionam como instrumento para assegurar a subalternização das classes populares. Recorremos à história da colonização do Brasil até seu braço contemporâneo, a colonialidade, para compreender melhor como as relações de poder e saber (sistemas de pensamento) submete os não privilegiados a exclusão e à dominação, sem esboçar nenhuma reação, nenhum questionamento ou transgressão, que rompa com a lógica perversa da pedagogia enganchada. Ao adotar essa pedagogia, a escola enquanto aparelho ideológico do Estado reproduz e fortalece as relações sociais de produção da ordem mundial capitalista. Dessa forma, o estudo aborda a pedagogia enganchada fazendo algumas pontuações comparativas em relação à pedagogia engajada suscitada por bell hooks e as lições deixadas por Antônio Cândido – e outros teóricos –, árduos defensores dos Direitos Linguísticos e Literários, buscando reflexões e ações que possam superar tal realidade. Referências: ALTHUSSER, Louis. Ideologia e Aparelhos Ideológicos do Estado. 3. ed. Lisboa: Editorial Presença/Martins Fontes, 1980. BOURDIEU, P; PASSERON, J. C. A reprodução. Elementos para uma teoria do sistema de ensino. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1975. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988: promulgada em 5 de outubro de 1988. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em: 08 jan. 2022. CÂNDIDO, Antônio. O direito à literatura. Vários escritos. 5. ed. São Paulo: Duas Cidades, 2011. CORONIL, Fernando. Natureza do pós-colonialismo: do eurocentrismo ao globocentrismo. In: LANDER, Edgardo (Org.). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. Colección Sur Sur, CLACSO, Ciudad Autónoma de Buenos Aires, Argentina. Set. 2005. p. 50-62. hooks, bell. Pedagogia Engajada. In: ______ Ensinando a Transgredir: a educação como prática da liberdade. Tradução: Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2013. p. 25-36. MARTINS, Bruno. Oprimidos da Pedagogia: de Paulo Freire à educação democrática. São Paulo: Nibelungo, 2014. 132 p. MICELI, S. Introdução: a força do sentido. In: BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas. 5. ed. São Paulo: Perspectiva, 1982. MIGNOLO, Walter D. Colonialidade: O lado mais escuro da modernidade. Revista Brasileira de Ciências Sociais. Durham, v. 32, n. 94, p. 1-18, jun. 2017. STIVAL, Maria Cristina Elias Esper; FORTUNATO, Sarita Aparecida de Oliveira. Dominação e Reprodução Na Escola: Visão De Pierre Bourdieu. 2008. Disponível em: < https://educere.bruc.com.br/arquivo/pdf2008/676_924.pdf>. Acesso em: 15 jan. 2022. CAMINHOS POSSÍVEIS PARA DES-PENSAR AS EPISTEMOLOGIAS HEGEMÔNICAS NA BOLÍVIA Julia Evelyn Muniz Barreto Guzman Resumo: Este trabalho tem como objetivo refletir acerca de como os corpos bolivianos vêm ao longo dos séculos re-existindo aos sistemas colonizadores impostos pelo colonizador. Para isso, nos valeremos de uma epistemologia de cunho crítico biográfico fronteiriço, uma vez que pensamos a partir de um lócus específico, o estado de Mato Grosso do Sul, fronteira com a Bolívia. As pessoas e as epistemologias invisíveis da Bolívia, por exemplo, não estão em desvantagem de modo empírico, mas foram classificadas como alheias por uma ficção inventada pela modernidade. A invenção de um “outro” está no âmbito discursivo, uma invenção a partir de um enunciado, com intuito de dominação deste. Uma ficção que estabelece uma inferioridade, uma epistemologia de território que designa a má sorte de “ter nascido onde nasceu” (MIGNOLO, 2017). No caso da Bolívia, a força da nação indígena estabeleceu um modo distinto e um modelo político, uma opção descolonial, “ mostrando que o caminho para o futuro não pode ser construído das ruínas e memórias da civilização ocidental e de seus aliados internos” (MIGNOLO. 2010, p.295). A metodologia do trabalho será de caráter eminentemente bibliográfico, assim os críticos que nos ajudam neste processo reflexivo são, dentre outros, Walter Mignolo, Edgar Cézar Nolasco, Boaventura de Sousa Santo, Juan José Bautista, Silvia Rivera Cusicanqui, Facundo Giuliano. Referências: MIGNOLO, Walter. Desobediência epistêmica: retórica de la modernidad, lógica de la colonialidad y gramática de la descolonialid. Buenos Aires: Ediciones del signo, 2010. MIGNOLO, Walter. Desafios decoloniais hoje, p. 12-32. IN: EPISTEMOLOGIAS DO SUL, Foz do Iguaçu/PR, 1(1), p. 12.32, 2017. INSURREIÇÕES ANTROPOFÁGICAS - NOTAS DECOLONIAIS Luis Felipe dos Santos Carvalho Resumo: O circuito sócio-cultural contemporâneo caracteriza-se por operar com modos diferentes de acesso ao conhecimento, através de confronto e contaminação de suas redes atuais e virtuais, veiculadoras massivas de informação, tanto pela ciência moderna, institucionalmente legitimada, quanto pelos saberes “não-ocidentais”, ancorados em perspectivas impensáveis para a epistemologia ocidental. Trata-se, portanto, de uma circunstância que desencadeia, insistentemente, o questionamento das bases teóricas, metodológicas e pedagógicas das chamadas humanidades. O que está em questão, para o propósito de nosso artigo, é a potência afetiva e efetiva dos intercâmbios entre as diferentes perspectivas epistêmicas; indaga-se como esta potência pode contribuir para a discussão teóricopedagógica no âmbito das ciências humanas. Além disso, é preciso questionar quais potências sobrevivem aos controles da doxa. O ensaio se propõe a investigar as novas modulações artísticopolíticas que compõem a ação dos “intercessores” (Gilles Deleuze) e a escrita de um texto heterogêneo e antropofágico. O lugar do intelectual moderno, aquele que, numa posição de destaque, atuava como mediador das reivindicações populares, perde terreno para a ação dos “intercessores”. Esta força intercessora, que alia a intervenção e a intercessão, modula-se no encontro entre diferentes agentes e perspectivas nômades e em devir menor. Cria-se, desse modo, um “pensamento fronteiriço” (Walter Mignolo) através de relações transversais e antropofágicas que podem ser negociadoras ou amotinadas. Pretende-se, com isso, rastrear os “intercessores de gnosiologias não-ocidentais”, isto é, práticas culturais, artísticas e políticas que criam e “devoram” conceitos, perceptos e afetos a partir de perspectivas não-ocidentais. Referências: ABIMBOLA, Kola: Yoruba Culture: a philosofical account. Birmingham: Iroko Academic Publishers, 2006. Abreu, Frede e Maurício B. Castro (orgs.), 2009. Capoeira (encontros). Rio de Janeiro: Beco do Azougue. Andrade, Oswald, 1978. Do Pau-Brasil à Antropofagia e as Utopias. São Paulo: Civilização Brasileira. Barthes, Roland, 1988. O rumor da língua. São Paulo: Brasiliense. Bey, Hakim, s/d. Zona Autônoma Temporária. http://www.hermetic.com/bey/taz3.html#labelTAZ Bourdieu, Pierre, 2009. O senso prático. Petrópolis: Vozes. Cusicanqui, Silvia Rivera: Ch’ixinakax utxiwa: uma reflexão sobre práticas e discursos descolonizadores. São Paulo: Editora n-1, 2021. Deleuze, Gilles, 1977. Kafka: por uma literatura menor. Rio de Janeiro: Imago. ___________, 1992. Conversações (1972-1990). São Paulo: Editora 34. ___________ e Felix Guattari, 1997a. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. Vol. 4. Rio de Janeiro: Ed. 34. ___________, 1997b. Mil Platôs: capitalismo e esquizofrenia. Vol 5. Rio de Janeiro: Ed. 34. Fanon, Frantz, 2003. Los condenados de la tierra. México: Fondo de Cultura Económica. Foucault, Michel, 1979. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal. Gilroy, Paul, 2001. O Atlântico negro: modernidade e dupla consciência. São Paulo/Rio de Janeiro: Editora 34/UCAM – Centro de Estudos Afro-Asiáticos. Goldman, Márcio, 2003: “Os tambores dos mortos e os tambores dos vivos: etnografia, antropologia e política em Ilhéus, Bahia”. In: Revista de Antropologia, vol. 46, no. 2. São Paulo.(http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-77012003000200012&script=sci_arttext) Gonzalez , Lelia: Por um feminismo afro-latino-americano. Rio de Janeiro: Ed Zahar, 2020. Laclau, Ernesto. “Os novos movimentos sociais e a pluralidade do social”. In: Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol. 1, no. 02, 1986. Walsh, Catherine: “Interculturalidade crítica e pedagogía decolonial: in-surgir, re-existir e re-viver”. In: CANDAU, Vera (ed.): Educação Intercultural hoje na América latina: concepções, tensões e propostas. Río de Janeiro: Editora 7 Letras, 2009. DESEDUCAÇÃO E AMEFRICANIDADE Luiz Carlos Coelho de Oliveira Resumo: Uma das premissas lapidares do pensamento de Antonio Bispo dos Santos se realiza pelo exercício intransigente e afirmativo do desacordo. Desacordo teórico e prático inclusive contra os mundos que sustentam segmentações desta ordem: entre saber e existir, imaginar e realizar. Na ocasião pedagógica, esse desejo de contracolonialidade pode se orientar, postula-se, pela alteração sensível das práticas e reflexões que envolvam o contato com as literaturas e as variedades das línguas. Contudo, esse desejo parece instar uma pergunta decisiva: como elaborar isso? Algumas respostas possíveis para a pergunta podem ser formuladas pelo trabalho intensivo no campo conceitual, a partir de práticas indutivas de contato com as variedades das línguas e literaturas. Para tanto, além da premissa contracolonial, duas outras noções são reconhecidas como especialmente mobilizadoras: deseducação, formulada por Carter Woodson e Lauryn Hill, e amefricanidade, proposta por Lélia Gonzáles, noção ancestral de afropindorama, com a qual trabalha o Nego Bispo. Finalmente, o objetivo deste trabalho se organiza pela apresentação de práticas de reflexão e ensino de línguas e literaturas que se orientaram nestes espaços reflexivos, isto é, agenciados ao mesmo tempo pelas urgências instadas por essas noções e pelo que caracteriza, condiciona e sobredetermina o ensino de línguas e literaturas, como o currículo, a legislação educacional, a configuração social e econômica das comunidades e agentes relacionados às instituições de ensino, os ritos institucionais, a configuração dos espaços educacionais etc. Referências: GONZALES, Lélia. Primavera para as rosas negras: Lélia Gonzales em primeira pessoa. São Paulo: Filhos da Áfrika, 2018. HILL, Ms. Lauryn. The Miseducation of Lauryn Hill. Nova York: Columbia Records, 1998. SANTOS, Antônio Bispo dos. Colonização, quilombos: modos e significações. Brasília: INCTI/UnB, 2015. Woodson. A deseducação do negro. Trad Carlos Alberto Medeiros. São Paulo: Penguin Companhia das Letras, 2021. A SÁTIRA E A CANDIMBA DE LUIZ GAMA Marcelo Magalhães Leitão Resumo: Consciente de que é necessário seguir “banindo o medo”, Luiz Gama principia sua trajetória de homem de letras, radicalmente envolvido com a luta abolicionista. Segundo se sabe, Luiz Gama percorreu trajetória única “neste país clássico da liberdade”: nasceu livre na Bahia de 1830, foi conduzido até São Paulo depois de ser escravizado aos dez anos, e aos dezoito reconquistaria sua liberdade. Ainda escravizado, Luiz Gama se alfabetizará, o que aliás tornará possível essa reconquista, e no início dos anos 1860 já tinha sua produção poética impressa em letra de forma. A partir de então, Luiz Gama passaria com vontade a mexer em vulcões! E com isso provocou sensíveis tremores de terra, tanto no campo da poesia quanto no do jornalismo, empenhado sempre na causa da liberdade. Esse Orfeu de Carapinha soube criar uma candimba muito própria, ciência que ele afinou inicialmente em verso satírico, e posteriormente nas páginas de periódicos. Do espaço carnavalesco de uma parnasal bodarrada, que figura nas páginas das Primeiras Trovas Burlescas de Getulino (1859), para o espaço mais sisudo das páginas de periódicos diversos do Rio de Janeiro e de São Paulo (1864-82), essa peculiar candimba de Luiz Gama transcorreu em direções diversas, em transfluências (SANTOS, 2018) com outras vozes da resistência. São esses os percursos que pretendemos apresentar, assim como a possível trama do encontro entre vozes que viveram e combateram a escravidão. Referências: Gama, Luiz. Primeiras Trovas Burlescas de Getulino. São Paulo: Martins Fontes, 2000. Douglass, Frederick. Narrativa da vida de Frederick Douglass. Tradução Odorico Leal. São Paulo: Companhia das Letras, 2021. Santos, Antônio Bispo dos. "Somos da terra". PISEAGRAMA, Belo Horizonte, número 12, página 44 - 51, 2018. Ferreira, Ligia Fonseca (Org.). Lições de resistência: artigos de Luiz Gama na imprensa de São Paulo e do Rio de Janeiro. São Paulo: SESC, 2020. Lima, Bruno Rodrigues de (Org.). Democracia (1866-1869): obras completas de Luiz Gama (Vol. 4). São Paulo: Hedra, 2021. Slenes, Robert. "'Malungu, ngoma vem!': África coberta e descoberta no Brasil". Revista USP. São Paulo, n.12, pp. 48-67, dez. 1991-fev. 1992. O ESOTERISMO DE OGÉ E A REPRESENTAÇÃO DO NEGRO EM EL SIGLO DE LAS LUCES Maria Stella Galvão Santos Resumo: O romance El Siglo de las Luces [1962], do cubano-suíço Alejo Carpentier, relata a transposição dos ideais revolucionários franceses, no final do século XVIII, para a região das Antilhas. O autor insere a figura histórica do comerciante e aventureiro francês Víctor Hugues, branco, ambicioso, déspota a princípio esclarecido, em seguida amante do terror como estratégia de manutenção do poder. Ele dividirá o protagonismo da novela com os irmãos Sofía e Carlos e, especialmente, com o primo destes, Esteban. Há, porém, um personagem frequentemente esquecido pela crítica literária que torna possível a ascensão de Esteban – que sofria de asma incapacitante – ao palco dos acontecimentos históricos. Tratase do negro Ogé, símbolo de uma vital alteridade no capítulo inaugural do romance. Hugues o apresenta aos três jovens como “el Doctor Ogé, médico notable y distinguido filántropo” (Carpentier, 1985, p. 43) Sofía reage de modo explicitamente racista, questionando o saber de um negro, ouvindo em resposta que “todos los hombres nacieron iguales” (1985, p. 44). A prática médica de Ogé, que Sofía qualifica de bruxaria e de “curso de nigromancia”, se fundamenta em uma mistura de ciência e crenças esotéricas sobre o efeito que as plantas exercem nos seres humanos. Assim, nos propomos a trabalhar a representação do negro, por meio do personagem Ogé, sob duas perspectivas. A primeira diz respeito à interface entre saberes curativos originários da África e a formação médica ocidental – obtida pelo personagem em Paris. A segunda se refere a como o negro é representado neste romance, tendo Ogé como referente. Trabalhamos, para tanto, com autores que problematizam questões relacionadas a processos colonialistas: Glissant (2010, 2011), Fanon (2008, 1971), Pizarro (2006) e Cézaire (1978), entre outros. Referências: CARPENTIER, Alejo. El Siglo de las Luces. Barcelona: Seix Barral, 1985. CÉSAIRE, Aimé. Discurso sobre o colonialismo. 1ª ed. Lisboa: Sá da Costa Editora, 1978. FANON, Frantz. Os condenados da terra. 1ª ed. Trad. Serafim Ferreira. Lisboa: Editora Ulisseia, 1971. _____________. Pele negra, máscaras brancas. Trad. Renato da Silveira. Salvador: EDUFBA, 2008. MINEIRO, Imara Bemfica. Narrativas antilhanas. In. CHARBEL, Felipe et al (org.). Reinvenções da narrativa: Ensaios de história e crítica literária. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio, 2019, pp. 59-74. PIZARRO, Ana. O sul e os trópicos: Ensaios de cultura latinoamericana. Niterói: EdUFF, 2006. ESCURECENDO UTOPIAS: CONTRIBUIÇÕES AFRODIASPÓRICAS PARA REFAZER O FUTURO Natalie Souza de Araujo Lima Resumo: Algumas produções escriturais e artísticas de matriz afrodiaspórica têm contribuído para a construção de paradigmas espaço-temporais não modernos sobre a ideia de futuro, ou seja, para a emergência de uma ideia não hegemônica sobre o depois. Ao romperem com as bases epistemológicas forjadas pela modernidade ocidental e se apresentarem como ferramentas de ação e pensamento anticoloniais, funcionam como antídoto às produções discursivas e imagéticas que sustentam o capitalismo global, bem como a racialização e a subalternização dos corpos. Encarados a partir de uma ótica não-representativa, os conceitos de utopia e futuro presentes no título inspiram-se, em parte, numa comunicação feita pelo ator e pesquisador Mauricio Lima durante o seminário Poiésis de Arquivo na PUCRio, em outubro de 2021. Com a comunicação “Escurecendo futuros”, ele apresentou os projetos Museu dos Meninos e Arqueologias do Futuro, iniciativas para a criação de poéticas e políticas com foco na emergência de corpos não-brancos e não-hegemônicos. Lima perguntava: como forjar coletivamente uma concepção sobre o futuro abrindo mão de imagens claras, bem definidas? Abrindo mão, portanto, de um imaginário já capturado pela linguagem representativa? Daí brota nossa pergunta: seria legítimo perguntar por uma utopia – no sentido mais iconoclasta, um lugar ainda não dado, um lugar ‘que ainda não é’? Se sim, faríamos bom proveito em escurecer esse conceito, forjado na modernidade e hoje relegado à prateleira das ideias ingênuas? Como torcê-lo e escurecê-lo a ponto de nos ajudar a pensar uma exterioridade que talvez já nos habite? Seja qual for a resposta, ela enseja outra pergunta: se as ideias de futuro e utopia formaram um par inseparável no imaginário moderno-ocidental, a partir de que regime de historicidade podemos encarar esse tempo que vem depois após morte das utopias tal como as conhecíamos – ou seja, tal como a modernidade as havia forjado? Referências: ALMEIDA PEREIRA, Edimilson. Antologia poética. São Paulo: Editora 34, 2019. BENJAMIN, Walter. Passagens. Belo Horizonte/São Paulo: Editora UFMG/Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2009. BERARDI, Franco Bifo. Depois do futuro. Trad. Regina Silva. 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EPISTEMOLOGIA DO DESPACHO: SABERES EMANCIPATÓRIOS PRATICADOS NO CORPO-TERRITÓRIO Thiago de Abreu e Lima Florêncio Resumo: Esta apresentação propõe uma reflexão sobre as construção dos saberes emancipatórios negros (GOMES, 2017) a partir da “epistemologia do despacho”. Partimos de uma análise genealógica e semântica do termo "despacho" em coexistência com outro termo de uso corrente no mesmo período inicial da expansão colonial portuguesa: "feitiço". O "despacho" é um procedimento jurídico-burocrático que atualiza a presença do Rei e do Estado para além de seu corpo, criando mecanismos de objetificação, domínio e controle sobre os corpos colonizados. "Feitiço", por outro lado, é uma categoria portuguesa utilizada para se referir aos amuletos africanos na Guiné, condenados como objetos “feitos”, pois não teriam verdade metafísica. A condenação dos feitiços africanos é complementar à consolidação dos despachos jurídicos-burocráticos do Estado colonial. Essa complementaridade entre despacho e feitiço como operador da colonialidade (MALDONADO-TORRES, 2018) é redimensionada no período da abolição no Brasil, quando a categoria despacho, anteriormente restrita ao campo burocrático, é descolonizada e ressignificada pelos saberes negros enquanto agenciamento de uma corporeidade viva e comunitária (SODRÉ, 2017). A “epistemologia do despacho” propõe um caminho para pensar e ativar essa corporeidade viva e fortalecer a troca de saberes emancipatórios negros praticados na confluência entre corpos, territórios, falas e espiritualidade. Nesse sentido, a epistemologia do despacho propõe um procedimento de saber praticado (RUFINO, 2019) emancipatório que atua em contraposição ao campo hermenêutico (GUMBRECHT, 2010) fundamento epistêmico ocidental que aprisiona os corpos colonizados a uma lógica de objetificação e mercantilização a partir de mecanismos de poder do Estado e de terror racial (FANON, 2005). Referências: ANJOS, J. C. G. No território da linha cruzada: a cosmopolítica afro-brasileira. Porto Alegre, UFRGS Editora, 2006. BRATHWAITE, K. Black + Blues. New York, New Directions Book, 1995. CÉSAIRE, A. Parternalismo e Fraternismo. Carta a Maurice Thorez, 1956. In: https://plataformagueto.wordpress.com/2017/02/11/carta-a-maurice-thorez-paternalismo-e- fraternalismo-de-aime-cesaire-deputado-da-martinica-traduzida-do-frances-pela-plataforma-gueto-dosite-httplmsi-net-fevereiro-de-2017/ Acesso em: 12 set. 2020. EVARISTO, C. Da grafia desenho de minha mãe, um dos lugares de nascimento de minha escrita. In: ALEXANDRE, Marco. Representações performáticas brasileiras: teorias, práticas e suas interfaces. Belho Horizente, Maza Edições, 2007. FANON, F. Pele negra, ma?scara branca. São Paulo, Ubu Editora, 2020. FANON, F. Os Condenados da Terra. Juiz de Fora: Editora UFJF, 2005. FERREIRA DA SILVA, D. A dívida impagável. São Paulo, Oficina de imaginação política, 2019. GOMES, Nilma Lino. O movimento negro educador. 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Este texto objetiva, a partir dos pressupostos teóricos da Estética da Recepção e do Efeito (JAUS, 1994; ISER, 1996, 1999), refletir sobre as potencialidades da obra Doce, doce... e quem comeu regalou-se! (ORTHOF, 1987) na formação do jovem leitor. Objetiva-se, também, verificar a busca desse leitor pelo resgate da coerência que os vazios interromperam no texto assegurando sua comunicabilidade. Esse processo, decorrente de sua atividade imaginativa, permite que sua produtividade entre em jogo, conferindo-lhe, pela interação, prazer na leitura. Iser (1999) considera que a exploração dos vazios pelo texto literário intenciona motivar o leitor a descobrir suas próprias projeções. Justamente, nesse leitor implícito, projeta-se um leitor empírico: a criança. Desse modo, busca-se na análise compreender como se efetiva em seu poema narrativo a oralidade, o ludismo e o diálogo com as artes plásticas. Assim, na análise da obra de Orthof (1987), buscase detectar como se efetiva a sua estrutura de comunicação e se esta desperta o senso crítico do leitor, emancipando-o de seus pré-conceitos sobre o gênero poema, os usos da língua e presença da ilustração em uma obra. Além disso, pretende-se observar suas ilustrações, visando a detectar se possuem pregnância estética (OLIVEIRA, 2008), para ampliar o imaginário do leitor infantil, constituir sua memória afetiva e desautomatizar seu olhar em relação à imagem. Justifica-se a eleição dessa obra dotada de valor estético, pois sua recepção pela mediação pode oportunizar às crianças a interação com o universo da literatura e das artes plásticas, em sua dimensão transgressora, criativa e libertadora. Referências: ISER, Wolfgang. O ato da leitura: uma teoria do efeito estético. Tradução de J. Kretschmer. São Paulo: Editora 34, 1996. v. 1 ISER, Wolfgang. O ato da leitura: uma teoria do efeito estético. Tradução de J. Kretschmer. São Paulo: Editora 34, 1999. v. 2 JAUSS, Hans Robert. A história da literatura como provocação à teoria literária. Tradução de S. Tellaroli. São Paulo: Ática, 1994. OLIVEIRA, Rui de. Breve histórico da ilustração no livro infantil e juvenil. In: OLIVEIRA, Ieda de (org.). O que é qualidade em ilustração no livro infantil e juvenil: com a palavra o ilustrador. São Paulo: DCL, 2008, p. 13-47. ORTHOF, Sylvia. Doce, doce – e quem comeu regalou-se! São Paulo: Paulus, 1987. A LITERATURA INFANTOJUVENIL CONTEMPORÂNEA: (RE) DEFININDO PROTAGONISMOS E ABRINDO ESPAÇO PARA REPRESENTAÇÕES FEMININAS CONTRA HEGEMÔNICAS Aline Cesar Carvalho, Mônica de Menezes Santos Resumo: Literatura é poder. Poder de convencimento, de suprir o imaginário, de inspirar pensamento e ação; é um fazer humano. Historicamente, fomos apresentados a uma literatura cujo referencial europeu privilegiou não apenas uma região geográfica em detrimento de outras, mas uma representação única de humanidade e uma retratação excludente de beleza. As crianças, cuja compreensão de mundo escapa a esses enquadramentos, foram os principais alvos da educação, da moralização e da vigilância. Remontando genealogicamente a história da infância no Ocidente, percebe-se que a literatura infantil, orientada por demandas pedagógicas, manteve um caráter funcionalista por meio do qual se estabeleceram narrações e personificações que corroboraram não apenas interesses de classe, mas outras opressões ligadas à raça e ao gênero. Após um longo e árduo processo de questionamento e reformulação, proposto por parte de movimentos sociais, como o movimento negro e feminista, a literatura infantojuvenil brasileira busca criar, por meio de narrativas e personificações, outro tipo de relação social entre os gêneros, de forma a desconstruir as lógicas binárias e fomentar políticas interrogadoras. Passou-se a adotar um posicionamento crítico que visa explorar a literatura como espaço de identificação e construção de imagens transgressoras que alterem modos de olhar. O mercado que tinha como foco apenas os consumidores brancos, o que chamarei de racismo econômico, precisou passar por alterações ao se confrontar com editoras independentes e com um público leitor e consumidor que demanda por representatividade. Ainda que de maneira lenta, iniciou-se um processo de revisão das obras que circulavam nas escolas e a inserção de representações outras acerca da feminilidade e da negritude. É sobre essas obras literárias representativas de um discurso contra hegemônico que se trata essa comunicação. Analisá-las criticamente viabiliza a autorrepresentação feminina e negra como forma de resistência e impulsiona outras experiências interpretativas e formativas na literatura infantojuvenil contemporânea. Referências: ADICHIE, Chimamanda Ngozi. O perigo de uma história única. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. ANDRUETTO, María Teresa. A leitura, outra revolução. São Paulo: Edições Sesc São Paulo, 2017. ÀRIES, Philippe. História Social da Criança e da Família. 2 ed. Rio de Janeiro: LTC, 1981. BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo: a experiência vivida. Trad. Sérgio Milliet. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2016. COLLINS, Patricia Hill. Pensamento feminista negro. Boitempo, 2019. DALCASTAGNÈ, Regina. Literatura Brasileira contemporânea: um território conquistado. Vinhedo: Horizonte, 2012. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Trad: Tomaz Tadeu da Silva. 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Por um lugar para a literatura infantil/juvenil nos estudos literários. Tese (Doutorado em Letras) – Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2011. SILVA, Ana Célia. A discriminação do negro no livro didático. Salvador: EDUFBA, 2004. SODRÉ, Muniz. A verdade seduzida: por um conceito de cultura no Brasil. Rio de Janeiro: DP&A, 2005. LITERATURA INFANTIL AFRO-BRASILEIRA NA SALA DE AULA: ANÁLISE DA OBRA O MUNDO NO BLACK POWER DE TAYÓ, DE KIUSAM OLIVEIRA Araceli Simão Gimenes Russo Resumo: Araceli Simão Gimenes Russo Eliane Aparecida Galvão Ribeiro Ferreira Resumo:Ao refletir sobre a função da literatura, Candido (1995), afirma que esta se constitui em um direito incompreensível, que não deve ser negado a ninguém por ser um bem essencial ao homem. Diante desta afirmação, este texto objetiva refletir sobre a literatura infantil na formação do jovem leitor. Mais propriamente, da literatura infantil afro-brasileira no desenvolvimento das relações étnico raciais em contexto escolar. Para tanto, a partir do aporte teórico da Estética da Recepção (JAUSS, 1994; ISER, 1994, 1999), almeja-se analisara obra O mundo no Black Power de Tayó, de Kiusam Oliveira (2013), como uma narrativa que fomenta a criatividade, eleva a autoestima, enfim, empodera mulheres sejam elas crianças, jovens ou adultas. Nessa análise, pretende detectar, se esta obra estabelece comunicabilidade com o leitor, pela afluência de lacunas, rompe com seus conceitos prévios sobre relações humanas em sociedade, ampliando seu horizonte de expectativa, pela possibilidade de convívio com a diversidade. A obra faz parte de acervos de leitura resultantes de políticas públicas e está disponível em Salas de Leitura e bibliotecas das escolas públicas do país.Sua temática afro-brasileira com abordagem identitária atende aos princípios da Lei n.11.645, de março de 2003, que estabeleceu as diretrizes e bases da educação nacional, incluindo no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e indígena”.Constrói-se a hipótese de que a leitura dessa obra de Oliveira (2013) possui potencialidades para romper com os conceitos prévios dos leitores associados à negação ou ao ocultamento das contribuições do continente africano e da diáspora ao patrimônio cultural da humanidade. Referências: BORDINI, Maria da Glória; AGUIAR, Vera Teixeira de. Literatura: a formação do leitor: alternativas metodológicas. 2. ed. Porto Alegre; Mercado Aberto, 1993. BRASIL. FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO. Programa Nacional Biblioteca da escola. 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Localizaremos a literatura no rol das mais altas criações humanas como parte integrante e constitutiva de toda comunidade em qualquer lugar do mundo e, assim, defenderemos sua presença nos currículos escolares desde a educação infantil. Revisaremos a história da literatura no Brasil para situar a literatura juvenil na cultura oficial de criação literária: o tardio foco literário dos autores, os assuntos pouco pertinentes ao público e suas características de produção, com especial atenção às obras de Luis Fernando Verissimo (1936), um dos autores mais lidos no Brasil. Reconhecido por sua habilidade linguística na construção do humor, suas crônicas atraem leitores de todas as idades, inclusive fora do país. Apesar disso, a presença de Verissimo nos lugares oficiais ainda é pouca, considerando sua vasta produção literária, a atualidade e a pertinência de sua escrita bem humorada, por vezes irônica, no âmbito da crítica política e social. Também apesar de os adolescentes serem o seu maior público, suas obras destinadas ao público juvenil receberam, até agora, pouca atenção. Talvez por que tanto infância quanto humor sejam considerados temas menos importantes na produção científica. Nesse sentido, tentaremos avolumar o número de pesquisas literárias de obras destinadas ao público infantil e, ao mesmo tempo, dar visibilidade a essas obras não pesquisadas do autor por meio de breve apresentação da nossa pesquisa de tese em andamento. Para nós, no humor inteligente e politizado dos livros de Verissimo para ao público juvenil, encontramos formas de analisar, criticar, rir, compreender nossas próprias atitudes enquanto seres sociais, políticos, históricos, culturais e responsáveis pelo que acontece conosco na coletividade. Referências: VERISSIMO, Luis Fernando. Informe do Planeta Azul e outras histórias. São Paulo: Boa Companhia, 2018. LITERATURA JUVENIL EM SALA DE AULA: UMA PROPOSTA DE LETRAMENTO LITERÁRIO A PARTIR DA OBRA "ILUMINURAS", DE ROSANA RIOS Cristiane Maria Pereira Conde, Severino Rodrigues da Silva Resumo: Este trabalho tem como objetivo propor um círculo de leitura – a partir de uma obra de literatura juvenil – como estratégia de letramento literário com foco em alunos do Ensino Médio. Nessa etapa da formação escolar, os estudantes já possuem bagagem de leituras que permite compreender a literatura como uma construção cultural e que há diversas formas de expressão literária diferentemente das usualmente trabalhadas em sala de aula. Muitas vezes, entretanto, os jovens leitores não têm contato com obras literárias contemporâneas. Diante desse cenário, a questão que nos impulsiona é: como o círculo de leitura pode contribuir para o letramento literário de obras da literatura juvenil? Para responder a essa questão, desenvolvemos, como sugestão, uma estratégia de leitura a partir da obra Iluminuras: uma incrível viagem no tempo, escrita por Rosana Rios com ilustrações de Thaís Linhares. O livro ganhou o Prêmio FNLIJ Orígenes Lessa, sendo considerado O Melhor Livro para Jovem, e recebeu o selo White Ravens, outorgado pela International Youth Library de Munique, na Alemanha. Como resultados, esperamos contribuir para uma formação literária mais rica e plural no âmbito do Ensino Médio em que ainda persiste, nas aulas de literatura, a hegemonia dos clássicos. Para tanto, no tocante ao letramento literário, aos círculos de leitura e aos modos de criar círculos de leitura em sala de aula, nosso referencial se fundamenta nos trabalhos de Cosson (2016, 2018, 2020, 2021). Acerca da literatura juvenil, suas especificidades e valores estéticos, tomamos como referências os trabalhos de Ramos & Navas (2019), Colomer (2017), Luft (2010), Ceccantini (2000) e Lajolo & Zilberman (2017; 1985). Referências: CECCANTINI, João Luís C. T. Uma estética da formação: vinte anos de literatura juvenil brasileira premiada. Assis: Faculdade de Ciências e Letras de Assis. UNESP, 2000. 681p. Tese (Doutorado em Literaturas de Língua Portuguesa). Faculdade de Ciências e Letras de Assis. UNESP, 2000. COLOMER, Teresa. Introdução à literatura infantil e juvenil atual. São Paulo: Global, 2017. COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2016. COSSON, Rildo. Círculos de leitura e letramento literário. São Paulo: Contexto, 2018. COSSON, Rildo. Paradigmas do ensino de literatura. São Paulo: Contexto, 2020. COSSON, Rildo. Como criar círculos de leitura na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2021. LAJOLO, Marisa; ZILBERMAN, Regina. Literatura infantil brasileira: história & histórias. São Paulo: Ática, 1985. LAJOLO, Marisa; ZILBERMAN, Regina. Literatura infantil brasileira: uma nova outra história. Curitiba: PUCPRess, 2017. LUFT, Gabriela. A literatura juvenil brasileira no início do século XXI: autores, obras e tendências. Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea. n. 36, p. 111-130, jul.-dez. 2010. RAMOS, Ana Margarida; NAVAS, Diana. Literatura juvenil dos dois lados do Atlântico. São Paulo: EDUC, 2019. (E-book). RIOS, Rosana. Iluminuras: uma incrível viagem no tempo. Ilustr. Thaís Linhares. Belo Horizonte: Lê, 2019. SOMBRAS NO ASFALTO, DE LUÍS DILL: A LITERATURA PARA SEU LEITOR Danilo Fernandes Sampaio de Souza Resumo: A literatura juvenil brasileira contemporânea tem encontrado, atualmente, destaque em termos de público e crítica. Um dos motivos desse subsistema literário alçar cada vez mais leitores é a apresentação de temas, conflitos e situações cada vez mais ousados e que fazem parte do dia a dia do jovem leitor. Nessa perspectiva, a literatura destinada aos jovens não pode furtar de trazer à tona temáticas concernentes à condição humana e nem deixar de acolher as mais variadas expressões e identidades juvenis que ora emergem na sociedade plural. Os autores contemporâneos através de técnicas mais complexas de narrar e por meio de uma linguagem questionadora de normas e convenções exploram temas tabus como sexo, morte, violência, bullying, perdas, sexualidade, afetividades e crises de identidades. Assuntos estes que anteriormente eram proibidos a leitores jovens, mas que agora ganham força e desafiam críticos que veem o gênero como “menor” (MARTHA, 2011). Neste contexto, inserimos a literatura produzida pelo autor gaúcho Luís Dill. Por meio de narrativas de grande apelo ao público jovem, mas sem perder a qualidade literária, o autor vem explorando em vários livros o realismo cotidiano ou de denúncia. Assim, buscaremos, por meio desta pesquisa, analisar questões concernentes à narrativa literária, bem como a materialidade do objeto literário em duas edições da obra Sombras no Asfalto (2004 e 2011), de Luís Dill. Observaremos nesta obra a configuração do narrador, das personagens, do enredo, da estrutura linguística e a relação do objeto artístico com o mercado. Referências: AGUIAR, Vera Teixeira de; CECCANTINI, João Luís; MARTHA, Alice Áurea Penteado (orgs.). Narrativas juvenis: geração 2000. São Paulo, SP: Cultura Acadêmica; Assis, SP: ANEP, 2012. CANDIDO, Antonio. O direito à literatura. In: CANDIDO, Antonio. Vários escritos. São Paulo: Duas Cidades; Rio de Janeiro: Ouro sobre azul, 2004, p. 169-191. CECCANTINI, João Luís. Tápias. Uma estética da formação: vinte anos de literatura juvenil premiada (1978-1997). Tese de Doutoramento. Faculdade de Ciências e Letras de Assis, Unesp, 2000. CECCANTINI, João Luís, Perspectivas de pesquisa em literatura infantojuvenil. In: CECCANTINI, João Luís (org.) Leitura e literatura infanto-juvenil. São Paulo: Cultura acadêmica, 2004. CECCANTINI, João Luís; VALENTE, Thiago Alves. (Orgs) Literatura juvenil & mediações de leitura. São Paulo: Cultura Acadêmica; Assis, SP: ANEP, 2015. MARTHA, Alice. Áurea. Penteado. Temas e formas da narrativa juvenil brasileira contemporânea. Anais do SILEL. Vol 2. Nº 2. Uberlândia: EDUFU, 2011. LITERATURA JUVENIL E MÍDIAS DIGITAIS Edgar Roberto Kirchof Resumo: O surgimento das tecnologias digitais e a rápida popularização das mídias produzidas com essas tecnologias desencadeou, nos últimos anos, uma série de transformações profundas em muitas dimensões da vida social. Dentro desse contexto, todo o sistema literário – e, portanto, também a assim chamada literatura juvenil, de forma específica – é afetado de diversas maneiras. Antônio Candido nos ajuda a compreender essa relação quando explica que, “sociologicamente, a arte é um sistema simbólico de comunicação inter-humana” (p. 30) e que, embora os fatores socioculturais influenciem de muitas maneiras o processo artístico-literário, as influências mais significativas estão ligadas à estrutura social (a posição social do artista e dos grupos de receptores/leitores), aos valores e ideologias (manifestos na forma e no conteúdo das obras) e às técnicas de comunicação (que incidem sobre os efeitos das obras sobre o tecido social). Uma vez que praticamente todos esses domínios têm sido influenciados e transformados pelo modo como o sujeito contemporâneo passou a incorporar tecnologias e mídias digitais em seu dia a dia, apresentamos, aqui, de forma sucinta e panorâmica, algumas das principais questões relativas (a) à autoria, (b) aos conteúdos e formatos, bem como à (c) nova infraestrutura dentro da qual as obras de literatura juvenil passaram a ser produzidas e a circular, nos últimos anos, em decorrência de sua aproximação com as mídias digitais. Referências: JENKINS, Henry. Convergence Culture: Where old and new media collide. New York & London: New York University Press, 2006. REAL, Neus; CORRERO, Cristina. Valorar la literatura infantil digital: propuesta práctica para los mediadores. Textura Canoas v. 20 n. 42 p. 8-33 jan/abr. 2018. Disponível em: http://www.periodicos.ulbra.br/index.php/txra/article/view/3639/2782. Acesso em: 24 de outubro de 2018 MANOVICH, Lev. The Language of the New Media. Cambridge & Londres: The MIT Press, 2001. MARTINO, Luís Mauro Sá. Teoria das mídias digitais: linguagens, ambientes e redes. Rio de Janeiro: Vozes, 2014. RAMADA PRIETO, Lucas. Esto no va de libros. Literatura infantil y juvenil digital y educación literária. Orientadora: Mireia Manresa Potrony. 2017. Tese (Doutorado em Didática da Língua e da Literatura) – Departamento de Didática da Língua e da Literatura e das Ciências Sociais), UAB, Barcelona, 2017. Versões impressa e eletrônica. RYAN, Marie-Laure. Interactive Narrative. In: RYAN, Marie-Laure; EMERSON, Lori; ROBERTSON, Benjamin J. The Johns Hopkins Guide to Digital Media. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 2014, p. 292-298. TEORIAS E AÇÕES DA LITERATURA JUVENIL NO ENSINO MÉDIO: DISSONÂNCIAS E OPOSIÇÕES George de Santana Mori Resumo: Este trabalho busca analisar o tratamento com a Literatura Juvenil no Ensino Médio por meio de uma perspectiva teórica (teorias, indicações e ações), principalmente ao que se referem aos currículos de escolas e, também à formação de professores nas universidades. Pode-se pontuar que a escola é uma das grandes responsáveis pela formação leitora de seus estudantes, logo, a literatura juvenil pode auxiliar na formação de estudantes críticos e reflexivos. No entanto, é possível salientar que a universidade desconsidera que o futuro professor de Língua e Literatura trabalhe literatura com adolescentes e, por outro lado, a nova BNCC (Base Nacional Comum Curricular) parece desconsiderar o papel crítico, reflexivo e, também, humanizador que a literatura pode empreender no âmbito escolar. Importante salientar que o trabalho com a Literatura nas escolas tem se tornado improdutivo, principalmente no que tange a leitores críticos e reflexivos, portanto, o caminho pretendido neste trabalho é analisar não apenas o plano de ensino escolar de uma Escola Técnica Estadual do Município de Tupã-SP, comparando-o com a Nova BNCC (Base Nacional Comum Curricular), juntamente com as teorias literárias juvenis, no qual acredita-se que esta ação se torna importante para que os professores de Língua Portuguesa e Literatura repensem o seu modo de tratar os textos literários. Para a produção deste trabalho adotou-se a metodologia de pesquisa bibliográfica exploratória na área de Literatura. Observou-se, também, que a Literatura Juvenil é imprescindível para o amadurecimento emocional, crítico e reflexivo aos estudantes do Ensino Médio. Referências: AZEVEDO, Ricardo. Aspectos instigantes da literatura infantil e juvenil. In: OLIVEIRA, I. (Org.). O que é qualidade em literatura infantil e juvenil? Com a palavra o escritor. São Paulo: DCL, 2005. AZEVEDO, Ricardo. Literatura juvenil: aspectos, dúvidas e contradições. Revista FronteiraZ. São Paulo, n. 6, abril 2011. BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018. COLOMER, T. Andar entre livros: A leitura literária na escola. Tradução de Laura Sandroni. São Paulo: Global, 2007. MAGNANI, M. do R. M. Leitura, literatura e escola. São Paulo: Martins Fontes, 2001. MORETATTI, Maria do Rosario. Entre a literatura e o ensino: a formação do leitor. São Paulo: Editora Unesp Digital, 2018. ROJO, Roxane (ed.). Há muitos países recuando no tempo com seus currículos. Aqui, estamos evoluindo. In: NOVA ESCOLA. Disponível em: < https://novaescola.org.br/bncc/conteudo/29/roxane-rojo-ha-muitospaises-recuando-no-tempo-com-seus-curriculos-aqui-estamos-evoluindo> Acesso em: 03/04/2022. RÖSING, T. M. K. A formação do professor e a questão da leitura. 2.ed. Passo Fundo: Ed. Universidade de Passo Fundo, 2003. SÃO PAULO. Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. União dos Dirigentes Municipais de Educação do Estado de São Paulo. Currículo Paulista (Versão 1). São Paulo: SEESP/UNDIME-SP, 2018. Disponível em: < https://efape.educacao.sp.gov.br/curriculopaulista/wpcontent/uploads/2020/08/CURR%C3%8DCULO%20PAULISTA%20etapa%20Ensino%20M%C3%A9dio.pdf>. Acesso em 20/03/2022. A LEVEZA DA MORTE E AFRICANIDADES EM "OS NOVE PENTES D'ÁFRICA" Gislaine Imaculada de Matos Silva, Ricardo Magalhães Bulhões Resumo: Cidinha da Silva é uma escritora negra brasileira, mineira, autora de 17 livros, entre contos, crônicas, poesia, literatura infanto-juvenil. Em uma entrevista ao Canal “Literafro” da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em 2018, quando questionada sobre como classifica a literatura que escreve, Cidinha da Silva explica que existem algumas terminologias que a deixam confortável, como: literatura negra, literatura afro-brasileira, literatura afro-diaspórica e literatura de autoria negra. Neste trabalho analisamos a questão da morte e africanidades no seu livro infanto-juvenil “Os nove pentes d’África”, morte do personagem principal tratada com leveza e com perspectiva nas africanidades. Em um breve resumo da obra, o personagem Vô Francisco Ayrá, que era marceneiro “nascido no ofício de esculpir”, se despede de seus nove netos, deixando como herança nove pentes para eles, onde cada pente recebido dialoga com a lenda pessoal de cada neto ou neta. Em um trecho próximo da morte, Vô Francisco tem um sonho lúcido, com uma “terra verde-turquesa da cor dos olhos da sereia Janaína” (também conhecida como Iemanjá). As crianças também sentam em diversos momentos ao redor do avô, seu ancestral, para ouvir histórias, sempre no mesmo horário: “Ancestralidade, os novos também tinham, ele explicava para responder ao nosso estranhamento de criança frente àquela palavra do mundo dos velhos.”. Os nove pentes, também podendo ser vistos como personalidades de quem os recebia, são eles: pente jabuti (Zazinho), pente peixe (Luciana), pente baobá (Ana Lúcia), pente do amor (Abayomi), pente da alegria (Lira), pente passarinho (Melissa), pente da perseverança (Ayana), pente da generosidade/solidariedade (João Cândido) e pente da admiração (Bárbara). Referências: LITERAFRO. Cidinha da Silva. 24 nov. 2020. Disponível em: http://www.letras.ufmg.br/literafro/autoras/186-cidinha-da-silva. Acesso em: 28 abr. 2022. MANOEL, Carlos Alexandre; PINTO, Jesuino Arvelino. Os nove pentes d'África: questões identitárias e africanidades na literatura infantil e juvenil brasileira contemporânea. Revista Athena, Cáceres, v. 20, n. 1, p. 9-24, 2021. SILVA, Cidinha da [Maria Aparecida da Silva]. Literafro entrevista Cidinha da Silva. 22 out. 2018. TV UFMG.(45m33s). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=fvd07ux8aWQ. Acesso em: 28 abr. 2022. SILVA, Cidinha da [Maria Aparecida da Silva]. Os nove pentes d’África. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2009. "QUANDO AS MÁQUINAS PARAM": O TEATRO DE PLÍNIO MARCOS NO CINEMA PORTUGUÊS Helciclever Barros da Silva Sales, Wagner Corsino Enedino Resumo: O objetivo dessa comunicação é discutir e analisar o filme português "Quando as máquinas param" (1984-1985) dos cineastas Pedro Belo e Luís Filipe Costa baseado na peça homônima de Plínio Marcos (1963-1967). Essa obra fílmica foi produzida para o canal de TV RTP 1 e exibido em 1985. O elenco contou com Júlio César (Zé), Adelaide Ferreira (Nina), Luísa Salgueiro (D. Marlana), Pedro Efe (Milongas), José Wallenstein (Angarlador), Canto e Castro (pai de Tonico), Amadeu Coronho (Manel), Argumento e diálogos por Pedro Belo e Luís Filipe Costa. Ao que tudo indica, é a única transposição cinematográfica desta peça de Plínio Marcos, assim como o primeiro e único filme estrangeiro baseado no teatro pliniano, hipótese que será objeto de maiores reflexões. Importante frisar que a RTP 1 era o único canal de TV à época da redemocratização portuguesa em 1976. Isso é particularmente curioso visto que esse canal vinha se reconfigurando ao nascente cenário democrático após a longa ditadura lusa (o canal iniciou suas transmissões em 1956-1957, ainda sob o jugo ditatorial), de forma que produzir um filme a partir de peça pliniana, justo no ano de 1985, ano do início da abertura política brasileira, não deixa de ser algo digno de menção e análise. A escolha dos realizadores portugueses acerca da peça "Quando as Máquinas Param" e sua temática central, o desemprego, para transposição em filme, em associação ao momento vivido, tanto por Portugal, quanto o Brasil, naquele instante histórico, foi bastante feliz, inclusive porque fugiu da tentação de filmar outras peças mais conhecidas do dramaturgo santista. Referências: ENEDINO, Wagner Corsino. SILVA, Agnaldo Rodrigues da. BURGO, Vanessa Hagemeyer. A presença da ausência: a subalternidade na dramaturgia (bem) dita de Plínio Marcos. Prefácio de João Adalberto Campato Jr. 1. ed. Campinas: Pontes Editores, 2021. ENEDINO, Wagner Corsino. Entre o limbo e o gueto: literatura e marginalidade em Plínio Marcos. Campo Grande/MS: Ed. UFMS, 2009. PLÍNIO MARCOS. Plínio Marcos: obras teatrais: noites sujas. (Org.). Alcir Pécora. Rio de Janeiro: FUNARTE, 2016. SPIVAK, Gayatri Chakravorty. Pode o subalterno falar? Trad. Sandra Regina Goulart Almeida et al. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2010. UM OLHAR SOBRE O PROTAGONISMO FEMININO E A CONCEPÇÃO DE JUVENTUDE NA LITERATURA JUVENIL CONTEMPORÂNEA Lígia Regina Máximo Cavalari Menna Resumo: A produção literária para jovens no Brasil, também designada por literatura juvenil, carrega consigo polêmicas e um vasto campo de estudos e pesquisas ainda a ser percorrido. Como ponto de partida, julgamos necessário destacar que a concepção de juventude, ou mesmo de adolescência, é algo recente e complexo de se definir, assim como o que seria um(a) jovem, um(a) adolescente e, mais recentemente um(a) pré-adolescente. Essencialmente, a juventude é uma construção social, marcada por aspectos como etnia, gênero, religião e classe social, pautados em contextos socioculturais e históricos diversos, não havendo, portanto, uma juventude, mas juventudes a se considerar. Em nossa contemporaneidade, há de se observar que temas como o empoderamento feminino, a igualdade de gênero e a sororidade, por exemplo, estão cada vez mais presentes em obras destinadas ao público jovem, sendo o protagonismo feminino uma tendência. Estão em pauta não somente os conflitos da adolescência, mas os da adolescente, em um contexto feminino de múltiplas descobertas e desafios. Para esta comunicação, propomos uma reflexão sobre o protagonismo feminino, sobre as temáticas apresentadas, assim como sobre a concepção de juventude que suscitam a partir da análise dos romances Minha vida não é cor-de-rosa, de Penélope Martins e Ainda assim te quero bem, da mesma autora em parceria com Caio Riter. Como referencial teórico, apontamos Ana Margarida Ramos, Diana Navas, José Nicolau Gregorin Filho, dentre outros. Referências: CUNHA, Maria Zilda da. Na tessitura dos signos contemporâneos: novos olhares para a literatura infantil e juvenil. São Paulo: Humanitas, Paulinas,2009. HOOKS, Bell. O feminismo é para todo mundo: políticas arrebatadoras. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2019. GREGORIN FILHO, José Nicolau. Literatura juvenil: Adolescência, cultura e formação de leitores. Melhoramentos, 2011. GREGORIN FILHO, José Nicolau. “Adolescência, Literatura e cultura hipermidiática”. In Revista Miscelânea. Assis: Unesp, N 16, 2019, p. 207-217. HOLLANDA, Heloísa Buarque de. Pensamento Feminista: conceitos fundamentais. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2019. RAMOS, Ana Margarida; NAVAS, Diana. Literatura Juvenil dos Dois Lados do Atlântico. Porto: Tropelias & Companhia, 2016. WUNENBURGER, Jean-Jacques. O Imaginário. São Paulo: Edições Loyola, 2007. AS OBRAS DE VICTOR HUGO NO BRASIL: ENTRE ADAPTAR E/OU TRADUZIR OS CLÁSSICOS PARA O JOVEM LEITOR Luziane de Sousa Feitosa Resumo: O processo de adaptação é frequente no cotidiano dos indivíduos, mesmo sem que percebam estão em contato direto com obras adaptadas, seja através da televisão, do cinema, do teatro, de musicais e romances. Todavia, essa prática não se restringe à contemporaneidade. Sua difusão é tão evidente que chega a ser um fenômeno contraditório, se considerado o desprezo de determinados críticos em relação ao que chamam “suavização”, “violação”, “deturpação” de textos literários. As adaptações são parceiras antigas da sociedade, elas foram relevantes quando esta teve sua cultura oral adequada para a forma escrita, se apresentou como estratégia a ser adotada por escritores como Shakespeare, Racine e Victor Hugo quando transpuseram suas narrativas escritas para o palco. Este trabalho discorre sobre a adaptação de clássicos na literatura brasileira, com foco nos clássicos franceses, em especial, escritos por Victor Hugo e difundidos pelo mercado editorial nacional. Para tanto, refletiremos sobre as diferentes abordagens dessa temática intrinsecamente relacionada ao processo de tradução, embora a ideia de que uma se sobreponha a outra, ou seja, “traduzir é mais valioso que adaptar”, vigore em certos debates, além disso, refletiremos sobre a relação entre essa literatura e a indústria da cultura. Por fim, o destacaremos a relevância do leitor para a literatura infantojuvenil, enquanto sujeito alvo das adaptações literárias. Os estudos sobre a adaptação terão como parâmetro os pesquisadores: Linda Hutcheon (2011), Lauro Maia Amorim (2005), Rosemary Arrojo (2008), entre outros nomes de destaque no âmbito das pesquisas sobre a literatura produzida para crianças e jovens. Referências: BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica. In: Obras escolhidas: magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura, 10. Rreimpr. Trad. Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1999. p. 165-221. BESNIER, Patric. L’ABCdaire de Victor Hugo. Paris : Flammarion, 2002. CALADO, Maria Cristina Viegas Santos. Adaptar para conquistar leitores infantojuvenis: o caso de seis contos de Eça de Queirós recontados por Luísa Ducla Soares. Dissertação (Mestrado em Estudos Portugueses Multidisciplinares), Universidade Aberta, Lisboa, 2009. GENETTE, Gérard. Palimpsestos: a literatura de segunda mão. Belo Horizonte: Viva Voz, 2010. HUGO, Victor. Notre-Dame de Paris. Paris: Garneir-Flammarion, 1967. _____. Nossa Senhora de Paris. Trad. Hilário Correia. Volume XIII e IX (Obras completas). São Paulo: Editora das Américas, 1957. _____. O corcunda de Notre-Dame. Adaptação Jiro Takahashi. São Paulo: Scipione, 1997 (Série Reencontro). HUNT, Peter. Crítica, teoria e literatura infantil. Trad. Cid Knipel. Ed. rev. São Paulo: Cosac naify, 2010. HUTCHEON, Linda. Uma teoria da adaptação. Trad. André Cechinel. Florianópolis: Ed. da UFSC, 2011. KA'APORA'RÃGA E O ESPÍRITOS PROTETORES: NA ESCRITA INDÍGENA, A TRADUÇÃO DE MUNDOS E DAS MENSAGENS DA FLORESTA Marina Almeida Simoes do Nascimento Resumo: A partir de uma leitura de “Ka’apora’rãga e as mães da mata”, publicado no livro Mur?gawa (2007), do escritor indígena Yaguarê Yamã, analisaremos como o conto estabelece uma relação direta entre a Ka’apora’rãga e a espiritualidade do povo Maraguá, realizando o que Maria Inês de Almeida e Sônia Queiroz chamam de “reespiritualização dos mitos” (2004, p. 205). A história ainda vai explicar a origem e a importância desta mãe da mata na proteção contra a caça excessiva. Para isso, o autor realiza uma tradução não apenas linguística, mas cultural. Neste conto, encontraremos o uso de termos como natureza, um conceito ocidental, mas que é adotado aqui de forma a garantir que sua mensagem seja entendida pelos não-indígenas. Por outro lado, o autor escolhe não traduzir palavras como Ka’apora’rãga – que ficou conhecida em outras regiões do país como caipora ou caapora –, marcando sua diferença e uma origem fora da língua portuguesa. Esse autor que é tradutor de uma cultura atua também como um intérprete de outros seres, ao nos contar sobre o mundo não-humano. Nas sociedades indígenas, o pajé ou xamã é o interlocutor por excelência desse diálogo entre espécies e seres, como explica Viveiros de Castro (2002, posição 5366). Nessa literatura, é o autor indígena que assume esse papel de pajé, ao nos revelar o mundo habitado por seres não-humanos, que nem sempre podemos enxergar. Ao trazer para a literatura juvenil essa temática, o conto não só aborda a questão da preservação ambiental, mas mostra como para os povos indígenas ela está relacionada a uma outra forma de entender o mundo, intrinsecamente associada à sua espiritualidade e ao seu modo de vida. Referências: ALMEIDA, Maria Inês de; QUEIROZ, Sônia. Na captura da voz: as edições da narrativa oral no Brasil. Belo Horizonte: Autêntica; FALE UFMG, 2004. VIVEIROS DE CASTRO, E. A inconstância da alma selvagem (e outros ensaios de antropologia). São Paulo: Cosac & Naify, 2002. (Edição digital). YAMÃ, Yaguarê. Mur?gawa – Mitos, Contos e Fábulas do povo Maraguá. São Paulo: Martins Fontes, 2007. A LITERATURA INFANTOJUVENIL EM O MATADOR, DE WANDER PIROLI: LEITURA E FORMAÇÃO DO LEITOR Sebastião Rodrigues da Silva Júnior Resumo: Resumo: O conto “O Matador”, do escritor mineiro Wander Piroli, edição póstuma de 2008, pela Editora Leitura, traz um narrador-personagem adulto que rememora sua infância e narra a sua incapacidade de confessar aos amigos que não era bom de pontaria com o bodoque. A obra de Piroli instiga discussões pela forma com a qual o autor consegue abordar temas sociais, como o amor, o reconhecimento de culpa, a falta de coragem de confessarmos nossos primeiros erros entre outras questões que atravessam o ser humano. O autor demonstra habilidade na narrativa e no uso de cada palavra empregada de forma direta e sem subterfúgios. Escrever para criança sem que a imagine como um ser desprovido de condições de discernimento não é uma tarefa fácil, sem dúvida, é um trabalho intenso com a linguagem verbal ou não verbal. Assim, provocar ao leitor infanto-juvenil, mas não, ou somente este. Resultado da disciplina “LET C37 – Literatura Infantojuvenil”, ministrada pela professora doutora Mônica de Menezes Santos, no curso de Letras Vernáculas no Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia, esse ensaio tem como objetivo analisar a escrita do livro conto “O Matador”, com base nas reflexões teóricas de Klauck (2013), Peres (2007) e da teoria e crítica literárias. Referências: BRASIL. Lei Nº 5.197 de 3 de Janeiro de 1967. CÂNDIDO, A.; A literatura e a formação do homem. In: _______. Textos de Intervenção: Seleção, apresentações e notas de Vinícius Dantas. [s.l.]: Editora 34, [s.d.]. Cap. 6, p. 77-92. FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 23. ed. São Paulo: Cortez, 1989. KLAUCK, A. A literatura infantil e o leitor: Reflexões a partir de Mikhail Bakhtin. In: GRAZIOLI, F.T.; COENGA, R.E. (Org.); Literatura infantojuvenil & leitura: questões, reflexões e experiências. Erechim, RS: Habilis, 2013. p. 39-57. TATAR, M. Contos de fadas / edição, introdução e notas Maria Tatar, tradução Maria Luiza; 2. ed X. de A. Borges. – ed. Com. E Il. – Rio de janeiro: Zahar, 2013. PERES, A. M. C. A Literatura Infanto-Juvenil: Para que Fazer?. In: [Super Meno+0. Belo Horizonte, outubro de 2007, Nº. 1306, SECRETARIA DE ESTADO DE CULTURA DE MINAS GERAIS. PIROLI, W. O Matador / Wander Piroli; ilustração Odilon Moraes. – Belo Horizonte: Editora Leitura, 2008. DE RETRATOS DE CAROLINA À SAPATO DE SALTO: POTENCIALIDADES DAS OBRAS PARA A FORMAÇÃO DO LEITOR Tamires Vieira Pinheiro de Castro, Eliane Aparecida Galvao Ribeiro Ferreira Resumo: Este trabalho tem como objetivo apresentar um recorte da produção literária de Lygia Bojunga (1932-), para tanto, opta-se por refletir sobre as potencialidades de suas obras Retratos de Carolina (2002) e Sapato de Salto(2006), premiadas com o Altamente Recomendável para o Jovem concedido pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil – FNLIJ, na formação do jovem leitor. Mais especificamente, procura-se refletir, a partir dos pressupostos teóricos da Estética da Recepção e do Efeito (JAUSS, 1994; ISER, 1996 e 1999), se essas obras (BOJUNGA, 2002, 2006) estabelecem, pela afluência de lacunas, comunicabilidade com o leitor, se suas temáticas podem cativá-lo e envolvê-lo na leitura, se seus discursos são emancipatórios, capazes de romper com seus conceitos prévios e, assim, ampliar seus horizontes de expectativa (ISER, 1999), em especial sobre a produção literária de autoria feminina. Além disso, busca-se observar como se configuram em ambas as narrativas suas protagonistas. Justifica-se a eleição dessas obras de Bojunga, pela autoria feminina, pelo valor estético e pelo recurso a vetores como hibridismo, metaficção, temas fraturantes, linguagem direta e acessível aos jovens, uso de simbologias, entre outros. Constrói-se a hipótese de que suas narrativas, pelo tratamento sensível, de temas complexos, oportunizam a reflexão sobre relações humanas em sociedade, trabalho infantil, estupro, prostituição, entre outros, suscitando posicionamentos de seu leitor. Além disso, como essas obras (BOJUNGA, 2002; 2006) pertencem aos acervos do PNLD Literário de 2018, estão disponíveis a estudantes e mediadores das escolas da rede pública do país. Referências: AGUIAR, Vera Teixeira (Coord.); BORDINI, Maria da Glória. Literatura: a formação do leitor: alternativas metodológicas. 2. ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1993. BOJUNGA, Lygia. Retratos de Carolina. Rio de Janeiro: Casa Lygia Bojunga. 2002. BOJUNGA, Lygia. Sapato de Salto. Rio de Janeiro: Casa Lygia Bojunga. 2006. FERREIRA, Eliane Ap. G. R.; MATSUDA, Alice Atsuko. A figuração da violência contra a mulher em Sapato de Salto, de Lygia Bojunga. Campinas, 2018. ISER, Wolfgang. O ato da leitura: uma teoria do efeito estético. Trad. Johannes Kretschmer. São Paulo: Ed. 34, 1999. ______. O ato da leitura: uma teoria do efeito estético. Trad. Johannes Kretschmer. São Paulo: Ed. 34, 1996. JAUSS, Hans Robert. A história da literatura como provocação à teoria literária. Trad. Sérgio Tellaroli. São Paulo: Ática, 1994. JOUVE, Vincent. A leitura. São Paulo: Editora Unesp, 2002. 161 p. PATROCINIO, Gabriela Trevizo Gamboni. A metaficção no fazer literário de Lygia Bojunga: projeto de escrita de uma autora. 2020. 140 f. Tese (Doutorado) – Curso de Letras, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2020. PRIORE, Mary del. Histórias e conversas de mulher: amor, sexo, casamento e trabalho em mais de 200 anos de história. São Paulo: Planeta, 2014. 303 p. AS POTENCIALIDADES DA OBRA ENOLA HOLMES: O CASO DA SENHORITA CANHOTA, DE NANCY SPRINGER, NA FORMAÇÃO DO JOVEM LEITOR Tatiane Rodrigues Lopes dos Santos, Eliane Aparecida Galvao Ribeiro Ferreira Resumo: Como na contemporaneidade, a experiência de leitura em âmbito escolar, enquanto processo que assegura a formação do leitor crítico ou estético, tem-se revelado um desafio (FAILLA, 2020), pretende-se refletir sobre quais elementos presentes na estrutura de apelo de uma obra literária juvenil pode auxiliar na formação do leitor. Mais especificamente, busca-se, a partir dos pressupostos teóricos da Estética da Recepção e do Efeito (JAUSS, 1994; ISER,1996 e 1999), analisar o romance Enola Holmes: o caso da senhorita canhota (2021), de Nancy Springer (1948-). Nessa análise, almeja-se detectar se sua narrativa possui potencialidades para cativar o jovem leitor, se estabelece, pela afluência de lacunas e potências de indeterminação e de negação, comunicabilidade com esse leitor, promovendo na leitura revisão de conceitos prévios, prazer e ampliação de horizontes de expectativa (JAUSS, 1994), inclusive sobre a produção literária juvenil. A eleição da obra de Springer (2021) deveu-se à exploração de temáticas relacionadas à construção de identidade, à dialogia que estabelece com textos diversos, sobretudo com as obras de Arthur Conan Doyle, e à visada crítica sobre o contexto histórico em que sua narrativa se insere. Além disso, justifica-se sua eleição devido ao fenômeno de consumo causado por sua adaptação para filme em 2020, intitulada Enola Holmes, disponibilizada pelo serviço de streaming Netflix. Referências: FAILLA, Zoara (org.). Retratos da leitura no Brasil 5.ed. Rio de Janeiro: Sextante, 2020. ISER, Wolfgang. O ato da leitura: uma teoria do efeito estético. Trad. Johannes Kretschmer. São Paulo: Ed. 34, 1996. vol.1. ISER, Wolfgang. O ato da leitura: uma teoria do efeito estético. Trad. Johannes Kretschmer. São Paulo: Ed. 34, 1999. vol.2. JAUSS, Hans Robert. A história da literatura como provocação à teoria literária. Trad. Sérgio Tellaroli. São Paulo: Ática, 1994. SPRINGER, Nancy. Enola Holmes: o caso da senhorita canhota. Trad. Livia Koeppl. Campinas: Verus, 2021. LITERATURA JUVENIL FAZENDO HISTÓRIA: ÁREAS EM CONVERGÊNCIA Thiago Alves Valente Resumo: Esta comunicação tem como objetivo apontar alguns aspectos teóricos passíveis de aproximação entre os estudos mais recentes de literatura juvenil e as questões teóricas referentes ao diálogo entre Literatura e História. Partimos do pressuposto de que características comuns aos livros voltadas aos leitores mais jovens, como a fantasia e a inventividade, proporcionam o uso de expedientes narrativos altamente valorizados pela crítica em circuitos literários considerados canônicos ou portadores de certas valorações atribuídas à “grande literatura”. A retomada de fatos históricos, sob outro viés, enseja a reconstrução do discurso histórico, permitindo ao leitor jovem acesso a outras leituras daqueles fatos, o que, por sua vez, implica em apropriações formais menos rígidas quanto a regras de gênero ou convenções de escrita literária. Assim, a valorização da fantasia permite um diálogo mais genuíno com um leitor acostumado à interpenetração ou ao redimensionamento desses discursos. Por sua vez, esses recursos narrativos encontram-se, muitas vezes, amplamente usados em livros juvenis, sem que isso represente, contudo, uma apropriação teórica ou mesmo metodológica mais sistematizada ou consciente em termos de construção narrativa contemporânea. A liberdade frequentemente apontada pelos autores de obras para jovens pode ter permitido, assim, a incursão daqueles escritores por experiências estéticas mais instigantes, uma vez livres de determinadas amarras marcantes para a literatura não juvenil. Referências: CHAVES, Flávio Loureiro. História e literatura. Porto Alegre: Editora da UFRGS; MEC/SESU/PROED, 1988. CHIAPINNI, Ligia e AGUIAR, Flávio Wolf. (orgs). Literatura e história na América Latina. São Paulo: EDUSP, 1993. CHEVALIER, Jean e GHEERBRANT, Alain. Dicionário de símbolos. Trad. Vera da Costa e Silva et. al.. 13. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1999. COELHO, Nelly Novaes. Panorama histórico da literatura infantil/juvenil. 4.ed. São Paulo: Ática, 1991. 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SIMPÓSIO “YORUBANTU: EPISTEMOLOGIAS AFRICANAS (YORÙBÁ, JEJE, FON, BANTU) E NEGRO-BRASILEIRAS NO CAMPO DOS ESTUDOS LITERÁRIOS” José Henrique de Freitas Santos (UFBA), Eumara Maciel dos Santos (UFOB), Vercio Gonçalves Conceição (UFOP) ORÍKÌ: LITERATURA-TERREIRO YORUBAIANA, MEMÓRIA E IDENTIDADE Adinelson Farias de Souza Filho Resumo: oríkì é um importante gênero literário yorùbá amplamente disseminado na nigéria e em outras regiões da yorubalândia, legado à diáspora negra pela experiência do trânsito transatlântico forçado que o aclimatou aqui no brasil sob a forma do que freitas (2016) chama de literatura-terreiro. apesar de sua relevância literária e pregnância nas comunidades negras ligadas ao candomblé ketu-nagô e de seu espraiamento na poética musical e em gêneros da literatura canônica, são pouquíssimos os estudos, em especial na literatura, que explorem a ocorrência do oríkì em suas dimensões ética e estética, que reivindicam o corpo e outros elementos relevantes para a manifestação e compreensão dessa experiência literária singular. este gênero é transmissor de valores civilizatórios que perpassam suas formas, conteúdo, técnicas, performances e contribuem para a coesão identitária a partir de seus princípios literários que não são (re)conhecidos pela teoria e crítica literárias hegemônicas. daí, motivado pela convivência orgânica com esta ampla e complexa literatura desde a infância no seio de famílias que se originaram em terreiros de candomblé e da minha iniciação nas tradições de orixá, além do desenvolvimento da pesquisa sobre a língua e literatura yorubanas, o arcabouço literário, filosófico, estético, ético, histórico, presente nas comunidades religiosas afro-baianas (freitas 2016) e os mecanismos mnemotécnicos embutidos na concepção dos gêneros literários yorubanos, sua lógica e rigores metodológicos de concepção, preservação e transmissão de textos orais realizadas na áfrica e diáspora atlântica (ayoh'omidire, 2020), apresento uma breve análise de oríkì, objeto central de minha pesquisa no programa de pós-graduação em literatura e cultura – ufba, a partir de categorias e códigos próprios e elementos que o compõe. Referências: AKPOROBARO, F. B. O. Introduction to African literature. Lagos: Princeton Publishing Co. 2012 AUGUSTONI, Prisca. O Atlântico em movimento: signos da diáspora africana na poesia contemporânea de língua portuguesa. Belo Horizonte, MG: Mazza Edições, 2013. AYOH'OMIDIRE, Felix. Yorubaianidade: oralitura e matriz epistemica nagô na construção de uma identidade afro-cultural nas Americas. 1ª edição. Salvador: Editora Segundo Selo, 2020. AYOH OMIDIRE, Félix. Yorubanidade mundializada: o reinado da oralitura em textos yorubá-nigerianos e afro-baianos contemporâneos. Tese de Doutorado. Bahia: UFBA, Instituto de Letras, 2005. CAJÉ, Antonio Marcos dos Santos. As narrativas dos contos afro-brasileiros de Mestre Didi como patrimônio imaterial. Jangada: crítica, literatura, artes, [S.l.], n. 4, p. 108-123, dez. 2014. ISSN 2317-4722. COSTA LIMA, Vivaldo da. A família de santo nos candomblés jêje-nagô da Bahia: um estudo de relações intragrupais. 2ª ed. Salvador: Corrupio, 2003. FREITAS, Henrique. O arco e arkhé: ensaios sobre literatura e cultura. Salvador: Ogum’s Toques Negros, 2016. p. 37-72. JEGEDE, Olutoyin Bimpe. A poesia laudatória e a sociedade nigeriana: a Oriki entre os Yoruba. In: Revista Crítica de Ciências Sociais, nº 47. Fevereiro, 1997. (pp. 75-87) LADITAN Omolegbe Affin. De l’oralité à la littérature: métamorphoses de la parole chez les Yorubas, Semen [En ligne], 18, 2004, mis en ligne le 02 février 2007. Disponível em: http://journals.openedition.org/semen/1226. Acesso em 01 dezembro de 2017. OLATUNJI, Olatunde. Oríkì: yorùbá praise poetry. In: OLATUNJI, Olatunde O. Features of Yoruba oral poetry. Ibadan: University Press PLC, 2005. p 67-101. PEREIRA, Edmilson de Almeida. Entre Orfe(x)u e Exunouveau. 1ª ed. Rio de Janeiro: Azougue, 2017. PEREIRA, Edmilson de Almeida. Blue notes: entrevista imaginada. Belo Horizonte, MG: Nandyala, 2013. POLI, Ivan. Antropologia dos orixás: a civilização ioruba a partir de seus mitos, seus orikis e sua diáspora – 2ª edição. Rio de Janeiro: Pallas, 2019 SANTOS, Juna Elbein dos. SANTOS, Deoscoredes Maximiliano dos (Mestre Didi Asípa). Sángò. Salvador: Corrupio. 2016. SONDE, Simeon Olufunso. Artistic significance of yoruba orature: a study of ‘ege’, an oral poetry of egba people. Journal of the Nigeria English Studies Association (JNESA) 14:2. 2011. p. 144-158 A LITERATURA PROVERBIAL DE BEATRIZ NASCIMENTO E CAROLINA MARIA DE JESUS Aldaíce Damasceno Rocha Resumo: Esta comunicação tem como foco compartilhar reflexões oriundas de uma pesquisa de doutorado em andamento dentro do Programa de Pós-Graduação em Literatura e Cultura – PPGLitCult/UFBA. O objetivo da pesquisa é analisar e discutir a literatura proverbial como potente produção literária negra-feminina no Brasil, a partir das obras de Carolina Maria de Jesus e Beatriz Nascimento. A reflexão girará sobre a complexidade das dimensões ética e estética ancestral na produção das autoras, em diálogo, confronto, tensão com o cânone literário e a própria historiografia oficial da literatura brasileira. Estes deslocamentos são necessários para tanto reconhecer as pilhagens epistêmicas em torno das obras e dos provérbios, quanto rediscutir noções que orientam uma produção artística canônica como a de literariedade. Ao analisar as obras proverbiais, pretende-se estabelecer outro campo de circulação fincado na literatura negra e literatura-terreiro; nesse percurso teóricometodológico, utilizaremos como base Mãe Stella de Oxóssi (2007;2012), Abreu Paxe (2015) e Tigana Santana (2019), que ajudarão a pensar os provérbios, aforismos e máximas em sua dimensão literária, pedagógica e filosófica. O conceito de literatura-terreiro de Henrique Freitas (2016), as constantes discursivas de Muniz Sodré (2017), Leda Maria Martins (2002), Ayoh’Omidire (2005), nos servirão também como guia nessa travessia analítica que precisa considerar a oralitura e uma epistemologia negra em devir. Por fim, tomamos ainda a categoria da ancestralidade como principal vetor analítico que alinhava todas as questões apontadas até aqui. Esperamos, portanto, que a análise da literatura proverbial de Carolina de Jesus e Beatriz Nascimento possa auxiliar na compreensão de sua importante inserção na genealogia literária brasileira, contribuindo para dilatar as experiências artísticas nela contidas. Referências: Ayoh’OMIDIRE, Félix. Yorubaianidade: oralitura e matriz epistêmica nagô na construção de uma identidade afro-cultural nas Américas. Salvador: Segundo Selo, 2020. FREITAS, Henrique. O arco e a arkhé: ensaios sobre literatura e cultura. Salvador: Ogum’s Toques Negros, 2016. JESUS, Maria Carolina. Provérbios. São Paulo: [s. n.], 1963. MARTINS, Leda. Oralitura da memória. In FONSECA, M. N. S. (Org). Brasil afro-brasileiro. 2 ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2003. PAXE, Abreu Castela Vieira dos. O sistema literário angolano e a tradução semiótica. Brasília, UnB, (2014). RATTS, Alex; GOMES, Bethânia (Org.). Todas [as] distâncias: poemas, aforismos e ensaios de Beatriz Nascimento. Salvador: Ogum's Toques Negros, 2015. SANTOS, Maria Stella de Azevedo. Opinião: Mãe Stella de Azevedo Santos – Iyalorixá do Ilê Axé Opô Afonjá, Salvador: A TARDE, 2012. SANTOS, Tiganá Santana Neves. A cosmologia africana dos Bantu-Kongo por Bunseki Fu-Kiau: tradução negra, reflexões e diálogos a partir do Brasil/Tese (doutorado). São Paulo, 2019. 233 f. SODRÉ, Muniz. Pensar nagô. Petrópolis, RJ: Vozes, 2017. EBÓ METODOLÓGICO COMO SUPERAÇÃO DA ORDEM COLONIAL Cirlene Cristina Sousa, Paulo Gustavo da Costa Santos Resumo: Este trabalho é fruto de uma pesquisa de mestrado intitulada: Decolonialidades em pauta. O livro didático de história tem compactuado com a perspectiva antirracista ? Nas organizações Acadêmicas e escolares por muitos anos demonizaram todas as possibilidades culturais e rituais que advinham do continente Africano, caracterizando assim como inferior, marginal ou até mesmo animalesco, aos olhos do eurocentrismo. Por isso, percebemos através de vivências e narrativas a necessidade de elaboração de outras formas de investigações e análises, visto que o campo cientifico, via pensamento decolonial, é considerado como um espaço diverso, múltiplo e mutável. Ebó é um ritual de base africana, uma técnica de cura milenar, manipulada pelo povo de axé, despachado aqui para reorganizar as leituras e as perspectivas e olhares sobre a vida. Mas porque uma metodologia das encruzilhadas nos auxiliaria neste processo de superação da ordem colonial? Pois buscamos aqui construir novas invenções cotidianas, olhares, investigaremos nas rasuras, as possibilidades de se construir e ressignificar o novo, o não preconceituoso e o afroemancipado. Na presente metodologia não buscamos apenas sair dos espaços a que nos foi determinados ocupar, sendo eles as matas (Fanon, 2008) ou as periferias, nossa meta aqui, é ainda mais ousada, fala sobre a ressignificação dos espaços enquanto território bem como as possibilidades de sermos corpos presentes nos mais diversos espaços. A ação de um – Ebó Metodologico – aqui é de desatar os nós impostos pela colonização, nos rebelarmos contra as injustiças coloniais é sinônimo da ação de decolonizar. A encruzilhada epistêmica parte do cruzo de várias metodologias que rompem com o Narcisismo Europeu (Fanon, 2008). contribuindo para o desmantelamento colonial imposto pela política do colonialismo, abrindo assim, novas possibilidades de analises. Referências: ADICHIE, Chimamanda. O Perigo da História Única?. Vídeo da palestra da escritora nigeriana no evento Tecnology, Entertainment and Design (TED Global 2009). ARBOLEYA, V. J. Questões de literatura infantil e afrodescendência: o poder de ação do personagem negro nas áreas de decisão da narrativa. Revista África e Africanidades. Ano I, n. 4, fev. 2009. BELMIRO, Célia. Palavras, Imagens, discursos na educação. In: PEREIRA, Júnia Sales; RICCI, Cláudia Sapag (Orgs.). Produção de materiais didáticos para a diversidade: patrimônio e práticas de memória – uma perspectiva interdisciplinar. Brasília: Faculdade de Educação e Centro Pedagógico da UFMG-Caed UFMG/Secad/MEC, 2010 CANDAU, V. Diferenças Culturais, Cotidiano Escolar e Práticas Pedagógicas. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro-PUC-Rio Brasil, 2011. Disponível em: Acesso em: 20 ago. 2019. CERRI, Luis Fernando; FERREIRA, Angela Ribeiro. Notas sobre a demanda sociais de representação e os livros Didáticos de História. IN. O livro Didático de História: políticas educacionais, pesquisa e ensino. (ORG) Margarida Maria Dias de Oliveira e Maria Inês Sucupira Stamatto. EDUFRN, Natal: 2007 CORACINI, M. J. (Org.). Interpretação, autoria e legitimação do livro didático. Campinas: Pontes, 1999. CORTEZ, M. Palavra e imagem: diálogo intersemiótico. Dissertação (Mestrado) - Departamento de Linguística da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, 2001. FANON, Frantz. Os Condenados da Terra. Lisboa: Ulmeiro, 2003. FANON, Frantz. OS Condenados da Terra. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira S.A, 1968. FREIRE, Paulo. Pedagogia dos sonhos possíveis. Rio de janeiro/São Paulo: Terra e Paz, 2020. MALDONADO-TORRES, N. “Sobre la colonialidad del ser: contribuciones al desarrollo de un concepto” en Santiago Castro-Gómez y Ramón Grosfoguel (comps.). El giro decolonial. Reflexiones para una diversidad epistémica más allá del capitalismo global. 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Uma das propostas deste trabalho é discutir as relações entre morte e ancestralidade para os africanos e o que estes elementos representam para aqueles que morreram ainda no navio negreiro ou quando chegaram à região portuária do Valongo, no Rio de Janeiro, os chamados pretos novos. Além disso, é importante assinalar as contribuições contemporâneas da ancestralidade para as diversas narrativas da população negra e seu modo de vida, considerando também o culto afrodiaspórico ancestral a Egúngún como uma forte manifestação da resistência cultural africana em diáspora. Assim, a partir dos destaques, é possível considerar a ancestralidade como um operador semântico de existência e resistência, tendo o culto aos antepassados como veículo de continuação de ciclos vitais relevantes para a história da população negra fora da África. Referências: CRUZ, Eliana Alves. O crime do Cais do Valongo. Rio de Janeiro: Malê, 2018. FLORENTINO, Manolo. 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POR UMA EPISTEMOLOGIA GRIOT: AMADOU HAMPÂTÉ BÂ E SEUS CONTRIBUTOS TEÓRICOS PARA OS ESTUDOS LITERÁRIOS NEGRO-AFRICANOS E NEGRO-BRASILEIROS Eumara Maciel dos Santos Resumo: A palavra falada é a (i)matéria da formação das pessoas na África Ocidental. Nesse sentido, há fases para ouvir, fases para falar e, para cada uma delas, existem as devidas iniciações veiculadas pela oralidade, através de contos, cantos, crônicas, provérbios, genealogias, epopeias. Nessas sociedades da palavra falada (VANSINA, 2010), o griot faz parte de uma dessas corporações geracionais de profissões, em que os herdeiros fazem viver a tradição de suas famílias e desempenham mais do que um papel social, um título: têm uma função no universo realizada pelo seu corpo-fala. Como nas palavras do intelectual nigeriano Félix Ayoh'Omidire (2005, p.347), é essa oralitura que nos une em epistemologias griot. Os corpos são textos, unindo vários significados na interação dos seres (FREITAS, 2016). Há, portanto, essa organicidade dessa oralidade na formação e manutenção da vida das pessoas que defendo chamar de epistemologia griot: um modo de conhecimento baseado na relação geracional negro-africana do homem em sua força vital com a energia criadora da palavra, que tem a literatura como plataforma, haja vista que é através dela que se dá o movimento da existência nesses contextos e nos contextos por ele influenciados. A defesa é de uma abordagem de uma epistemologia griot nos estudos literários no contexto brasileiros para vislumbrar os horizontes dos saberes que nos foram negados e o que eles têm a nos dizer na lida com as questões raciais atuais, de modo a mapear e analisar como se dá a epistemologia griot de Amadou Hampâté Bâ como corpo-texto literário no sentido de contribuir para uma revisão e pela reivindicação do lugar das modalidades éticas e estéticas assumidas pela literatura que não as ocidentais ou ocidentalizadas e eurografocêntricas, mas também as africanas e de suas matrizes. Referências: AYOH’OMIDIRE, F. Yorubanidade mundializada: o reinado da oralitura em textos yorubánigerianos e afro-baianos contemporâneos. 2005. 380 f FREITAS, H. O arco e a arkhé: ensaios sobre literatura e cultura. Salvador: Ogum’s Toques Negros, 2016. HAMPÂTÉ BÂ, A. A noção de pessoa na África Negra. Tradução para uso didático de: _________.Lanotion de personne em Afrique Noire. In: DIETERLEN, Germaine (ed.). La notion de personne em Afrique Noire. Paris: CNRS, 1981, p. 181 – 192, por Luiza Silva Porto Ramos e Kelvlin Ferreira Medeiros. _________.A tradição viva. In: História geral da África: I. Metodologia e pré-história da África / J. Ki-Zerbo (org). São Paulo: Ática; (Paris): Unesco, 1982, p.181-218. _________. A tradição viva. In: KI-ZERBO (Editor). História geral da África, I: Metodologia e pré-história da África. Brasília: UNESCO, 2010. _________. Il ne pas de petit querelle. Nouveaux contes de lasavane. Éditions Stock, 1999. _________. L’etrange destin de Wangrin.Babel,1990. _________. Oui, mon commandant!Actes Sud, 1994. _________. Petit Bodiel et autres contes de la savane. Éditions Stock ,1994. FREITAS, H. O arco e a arkhé: ensaios sobre literatura e cultura. Salvador: Ogum’s Toques Negros, 2016._________. Sur les traces d’Amkoullell’enfantpeul. ActesSud, 1998. _________. Vie et enseignement de Tierno Bokar, Le Sage de Bandiagara. Éditions Du Suel,1980. _________. Amkoullel, o menino fula. Trad. Xina Smith de Vasconcellos. São Paulo, Palas Athena/Casa das Áfricas, 2003 VANSINA, J. “A tradição oral e sua metodologia”. In: KI-ZERBO, Joseph. História geral da África, I: Metodologia e préhistória da África. 2. ed. Brasília: UNESCO, 2010. ESSÊNCIAS E TEXTOS PARA CONHECER AS LITERATURAS AFRICANAS EM LÍNGUA PORTUGUESA: APORTES PREDAGÓGICOS Jesiel Ferreira de Oliveira Filho Resumo: Esta comunicação pretende por em discussão um conjunto de referências ficcionais e teóricas que possibilitem demarcar qualidades essenciais e distintivas das Literaturas Africanas em Língua Portuguesa. Derivada de capítulo integrante do livro Guia Bibliográfico do Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia – GuiaLET, obra resultante de projeto de extensão que visa apresentar os cursos ministrados no ILUFBA indicando leituras introdutórias, minha exposição sistematizará ideias, problemas e fontes acumuladas em onze anos de trabalho docente pautado nos princípios firmados pela Lei 10639, centrado na heteroglossia dos textos orais e literários de autoria africana e desenvolvido conforme perspectivas epistêmicas descolonizadoras e interculturais. Ao dar enfoque ao essencial, almejamos definir tanto o mínimo quanto o transversal; ressaltar aquilo que, ao mesmo tempo, particulariza e aglutina; selecionar uma amostra equilibradamente canônica e popular, que instigue interesses variados sobre a cultura africana, sobretudo em seus componentes linguísticos, estéticos, históricos e identitários. Sem deixar, entretanto, de estar cientes dos riscos em confundir o elementar com o simples, induzindo a reducionismos que, ao invés da depuração em direção aos fundamentos de algo, se amparam em proposições generalistas, analogias superficiais e na tendência para subestimar a complexidade dos objetos enquadrados. Esse alerta é indispensável para tratar de um tema multifacetado como o nosso, igualmente se aplicando a praticamente tudo que represente os pilares e os problemas das sociedades contemporâneas globalizadas, multiculturais e cada vez mais sobrecarregadas de conflitos e novidades que demandam repensar origens e centros, entrecruzar passado e presente para construir o futuro. Capacitar inteligências e sensibilidades para lidar com essas questões pode já ser antecipado como uma utilidade essencial das Literaturas Africanas, considerando-se as demandas educacionais em sintonia com a nossa época. Referências: ALENCASTRO, Luís Felipe de. O trato dos viventes. Formação do Brasil no Atlântico Sul. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. AUGEL, Moema. O desafio do escombro. Nação, identidade e póscolonialismo na literatura da Guiné-Bissau. Rio de Janeiro: Garamond, 2007. BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Diretrizes curriculares nacionais para a educação das relações étnico-raciais e para o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana. Brasília: MEC; SEPPIR, 2004. CASTIANO, José, NGOENHA, Severino. Ensaios sobre Filosofia Africana, Educação e Cultura Política. Maputo: Editora EDUCAR, Universidade Pedagógica, 2010. FANON, Frantz. Os condenados da Terra. 2.a reimpressão atualizada. Tradução de Enilce Albergaria Rocha e Lucy Magalhães. Juiz de Fora: UFJF, 2013. FONSECA, Maria Nazareth, CURY, Maria Zilda (org.). África: dinâmicas culturais e literárias. Belo Horizonte: PUC Minas, 2012. HAMPATÉ BÂ, Amadou. A tradição viva. In: KI-ZERBO, Joseph. História geral da África, I: Metodologia e pré-história da África. 2.ed. rev. 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Através dos teóricos da teoria literária, como Eagleton (1997), Bakthin (1988), Rocha (1985), iremos compreender como a literatura de cordel contemporânea reapresenta o discurso sobre a religião de matriz africana com teóricos basilares, como Abreu (1999), Lucena (2010), Junior Andrade(2017), Freitas (2016). Com o intuito de preencher essa lacuna, o cordel passou a inserir os grupos sociais que eram e são marginalizados pela sociedade nas suas narrativas, tratar dessa temática nesta pesquisa tem um duplo aspecto: o cordel como expressão por muito tempo marginalizada no campo literário, assim como analisamos um cordel que, diferentemente de sua tradição, venera os mitos dos orixás. Mesmo fazendo parte da literatura brasileira, o cordel quase sempre ficou à margem do campo literário. Inserindo deusas e deuses da religião de matriz africana como personagens heroicos, diferente de outras obras literárias que reforçavam discursos preconceituosos à religião de matriz africana, Orixás em Cordel busca um diálogo de reconciliação e recuperação dessas raízes ancestrais. Referências: ABREU, Márcia. Histórias de cordéis e folhetos. Campinas: Mercado de Letras: ALB, 1999. BAKHTIN, Mikhail. Questões de literatura e de estética: a teoria do romance. Tradução de Aurora Bernardini et al. São Paulo: Editora da Unesp, 1988. EAGLETON, Terry. “Introdução: O que é literatura?” In: Teoria da literatura: uma introdução. Trad. de Waltensir Dutra. São Paulo: Martins Fontes, 1997. FREITAS, Henrique. O Arco e a Arkhé: ensaios sobre literatura e cultura. Salvador: Editora Ogum’s Toques Negros, 2016. JÚNIOR , Lourival Andrade. As Umbandas no Cordel. Revista Esboços, Florianópolis, ano 2017, p. 105-125, 18 set. 2017. ROCHA, Everardo, O que é mito. 5. ed. São Paulo: Brasiliense. 1991. È?Ù COMO EPISTEME: ENCRUZILHADA E DISJUNÇÃO Jocevaldo l. Santiago Resumo: A multiplicidade de poéticas pós-movimentos vanguardistas, sendo produzidas e publicadas principalmente em antologias coletivas busca mostrar o panorama literário contemporâneo da poesia nacional. Nem sempre, porém, essa multiplicidade pressupõe contemplar a diversificada pluralidade; as ausências existem desde os textos literários, e alcançam a crítica e a teoria. O ensaio È?ù como episteme: encruzilhada e disjunção fez parte da elaboração da reflexão de corrente da pesquisa de mestrado e teve como ideia motriz encruzilhar ancestralidade, cosmologias religiosas, epistemologias de matriz africana e a teoria literária como percurso para pensar as poéticas que têm os referenciais nagôs e iorubanos como principais elementos construtivos. No âmbito do trabalho realizado no grupo de pesquisa Yorubantus epistemologias Yorubá e Bantu nos estudos literários, linguísticos e culturais, a Literatura-terreiro (FREITAS, 2017) surgiu como conceito que melhor se aproximou do percurso de reflexão por está firmada na Filosofia da ancestralidade e nos princípios de È?ù . Por que È?ù? Na filosofia ancestral nagô/iorubana, ele é signo basilar por se constituir elemento que rege a dinâmica de todas as coisas. È?ù realiza as interconexões com o todo: tempos, espaços, ligando as dimensões visíveis e invisíveis. Portanto, supõemse, as poéticas derivadas ou conexas às ancestralidades acima referidas, também tem em È?ù o eixo de onde se podem traçar algumas suposições analíticas no âmbito das linguagens artísticas de matriz nagô/Yourubana. Referências: ADÚN, Guellwaar. Desinteiro. Salvador: Ogun?s Toques Negros, 2016. ALGUSTO, Ronald. Transnegressão. In: PEREIRA, Edimilson de Almeida (org). 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Discutiremos ainda o impacto da literatura-terreiro (FREITAS, 2016) no campo dos estudos literários no Brasil e sua ligação com a noção de yorubaianidade (OMIDIRE, 2005) na conexão em gêneros como os orikis, os provérbios, os itans, os aduras, os orùkó, mas também de toda uma produção ética e estética negro-brasileirano diálogo com as cantigas de candomblé, os pontos de caboclo, as ladainhas de capoeira e ainda no samba (principal gênero literário e movimento artístico na história do Brasil), nos cantopoemas do congado (PEREIRA, 2013), no rap (SOUZA, 2009), sem contar toda uma expressão da oralitura africana e negro-brasileira (MARTINS, 2002) que se espraiou nos textos escritos, mesmo canônicos. Essas produções se tecem a partir dos valores civilizatórios afro-brasileiros de que nos fala Azoilda Trindade (circularidade, religiosidade, corporeidade, musicalidade, comunitarismo, ancestralidade, memória, ludicidade, axé e orqlidade) e nas performances de um tempo-espaço espiralar, mas também de um tempo espaço circular anti-horário (SANTANA, 2019) expresso na roda bantu (LETTIERES LEITE, 2017) dos sistemas musicais pretos. Referências: AYOH’OMIDIRE, Felix. Yorubaianidade mundializada: o reinado da oralitura em textos yorubá-nigerianos e afro-baianos contemporâneos. Tese inédita defendida no PPGLL/UFBA em 2005. CASTIANO, José P. Filosofia Africana: da sagacidade à intersubjetivação. Maputo: Editora Educar, 2015. FREITAS, Henrique. O Arco e a Arkhé: ensaios sobre literatura e cultura. Salvador: Ogums Toques Negros, 2016. LEITE, Letieres Rumpilezzinho laboratório musical de jovens : relatos de uma experiência / Letieres Leite. – Salvador : LeL Produção Artística, 2017. MARTINS, Leda Maria. Performance do tempo espiralar. ... Departamento de Letras Românticas, Faculdade de Letras/UFMG:Poslit, 2002, p. 69-91. NASCIMENTO, Abdias. Genocídio do Negro no Brasil. Rio de Janeiro, 1978. OLIVEIRA, Eduardo David. Filosofia da ancestralidade: corpo de mito na filosofia da educação brasileira. Curitiba: Editora Gráfica Popular, 2007 PEREIRA, Edimilson de Almeida. Blue Note: entrevista imaginada. Belo Horizonte: Nandyala, 2013. SANTOS, Tiganá Santana Neves. A cosmologia africana dos bantu-kongo por Bunseki Fu-Kiau: tradução negra, reflexões e diálogos a partir do Brasil. Programa de Pós-graduação em Estudos da Tradução, Universidade de São Paulo, 2019. Tese de Doutorado inédita. SODRÉ, Muniz. Pensar Nagô. Rio de Janeiro: Vozes, 2017. SOUZA, A.L.S. Letramentos de Reexistência: culturas e identidades no movimento hiphop. 2009. Tese (Doutorado em Linguística Aplicada) – Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2009. CUIDAR DE PERTO, NA FUMAÇA Julia Almeida Alquéres Resumo: A partir do texto “Abrir-se à hora:?reflexões sobre as poéticas de um tempo-sol (Ntangu)”, de Tiganá Santana, proponho um diálogo entre uma sentença proverbial bantu, um oriki de oiá (texto do mundo yorubá) e algumas experiências pessoais. As relações são traçadas tendo como centro irradiador o cosmograma bakongo, que compõe a cosmologia africana dos bantu-kongo, e seus quatro estágios: musoni, kala, tukula e luvemba. Estes reproduzem o movimento aparente do sol, trazendo um modo poético de conceber os percurso de todos os entes que vivem, da invisibilidade até a desagregação física. Esse centro irradiador também pode se resumir no sol. Além dele, há um segundo: a fumaça. Presente no provérbio – “O que dói, dói mesmo, por isso quem é do mundo fuma” – e, de alguma forma, também no oriki, “mulher-neblina no ar”, ela reúne diferentes dimensões, uma material e outra espiritual, permitindo uma coexistência, segundo Tiganá Santana. O texto procura trabalhar com essa coexistência que, em geral, não se dá no mundo ocidental, tentando mostrar que nós também, seres que vivem, somos sondáveis e insondáveis, como o próprio sol. Além do sol e da fumaça, o vento, a lua e a matéria escura se movimentam entre minhas experiências, o provérbio e o oriki, contectando-os. Faço uma aposta na “literatura-terreiro”, termo de Henrique Freitas, como sendo capaz de nos trazer uma fumaça que nos oferte a partilha de muitos mistérios. Referências: AUGUSTO, Jorge. Contemporaneidades periféricas: primeiras anotações para alguns estudos de casos. In: Contemporaneidades periféricas. Salvador: Editora Segundo Selo, 2018. COSTA, Gal. Cuidando de longe. In: A Pele do Futuro. Biscoito Fino, 2018. OMIDIRE, Félix Ayoh’. Yorubaianidade: oralitura e matriz epistêmica nagô na construção de uma identidade afro-cultural nas Américas. Salvador: Segundo Selo, 2020. RISÉRIO, Antonio. Oriki Orixá. São Paulo: Perspectiva, 2013. SANTANA, Tiganá. Abrirse à hora:?reflexões sobre as poéticas de um tempo-sol (Ntangu). In: Revista Espaço Acadêmico, Universidade Estadual de Maringá, n. 225, nov./dez/ 2020. SANTANA, Tiganá. Não Vás, Preta. In: Vidacódigo. Tratore, 2019. Tiganá Santana: Encontro inaugural Pivô Pesquisa 2021 Ciclo II. Pivô Arte e Pesquisa, 2020. 1 vídeo (1h38min10seg). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=BTBBm24fFrw. Acesso em: 12 nov. 2021. SANTOS, José Henrique de Freitas. O arco e a arkhé: ensaios sobre literatura e cultura. Salvador: Ogum’s Toques Negros, 2016. SANTOS, José Henrique de Freitas. YORUBANTU: POR UMA EPISTEMOLOGIA NEGRA NO CAMPO DOS ESTUDOS LITERA?RIOS NO BRASIL. In: Vertentes & Interfaces I: Estudos Litera?rios e Comparados, Vitória da Conquista, v. 10, n. 2, p. 161-172, jul-dez 2018. A DECOLONIZAÇÃO DO SAGRADO EM A LEI DO SANTO, DE MUNIZ SODRÉ E CADA TRIDENTE EM SEU LUGAR, DE CIDINHA DA SILVA Kelly Ane Evangelista Santos Resumo: O trabalho investiga o modo como as imagens alusivas às religiões de matriz africana presentes nas obras A lei do Santo (2016), de Muniz Sodré e Cada Tridente em seu Lugar (2010), de Cidinha da Silva engendram a desconstrução de um imaginário social brasileiro historicamente marcado por pensamentos preconceituosos e racistas referentes às religiões afro-brasileiras e aos afro-religiosos. O livro A Lei do Santo é composto por quatorze histórias que tematizam a rotina, as experiências e situações conflituosas vividas por personagens pertencentes ou de alguma forma ligados ao Candomblé ou a Umbanda. Cada tridente em Seu Lugar é constituído por vinte e quatro narrativas dentre as quais cinco são também entrelaçadas pela presença de elementos pertencentes ao universo afroreligioso e pela denúncia das tensões sociais enfrentadas por praticantes das religiões de matriz africanas. A análise dos textos desenvolve-se por meio da articulação dialógica com operadores teórico-analíticos como decolonialidade, oralitura, antirracismo, etnocentrismo, grafrocentrismo, racismo e diversidade, bem como com os princípios da religiosidade, oralidade, memória e ancestralidade que conformam os valores civilizatórios africanos demarcados na construção do conceito de literatura-terreiro formulado por Henrique Freitas (2016). É ainda praticado como método de análise o exercício comparativo entre as imagens formuladas nos contos de Sodré e Cidinha e as representações depreciativas e estereotipadas de elementos referentes às religiões de matriz africana que permeiam os discursos da literatura brasileira canônica. Referências: AYOH’OMIDIRE, Felix. Yorubaianidade mundializada: o reinado da oralitura em textos yorubá-nigerianos e afro-baianos contemporâneos. Tese inédita defendida no PPGLL/UFBA em 2005. EVARISTO, Conceição. Literatura Negra: uma poética de nossa afro-brasilidade. In:SILVA, Denise de Almeida; EVARISTO, Conceição (org). Literatura, história, etnicidade e educação: estudos nos contextos afro-brasileiro, africano e da diáspora. Frederico Wesphalen: URI, 2011. CASTIANO, José P. Filosofia Africana: da sagacidade à intersubjetivação. Maputo: Editora Educar, 2015. OLIVEIRA, Eduardo David. Filosofia da ancestralidade: corpo de mito na filosofia da educação brasileira. Curitiba: Editora Gráfica Popular, 2007 REIS, Maurício de Novais; ANDRADE, Marcileia Freitas Ferraz de. O pensamento decolonial: análise, desafios e perspectivas. Bahia: Revista Espaço acadêmico. n. 2. 2018. SANTOS, José Henrique de Freitas. A Literatura-Terreiro na cena do HiP-HOP. Disponível em: http://periodicos.uefs.br/index.php/acordasletras/article/view/1491. Acesso em: 04 de out, 2020. SILVA, Cidinha da. Cada Tridente em Seu Lugar. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2010. SODRÉ, Muniz. A Lei do Santo. Rio de Janeiro. Malê. 2016. ORÚK?: A COSMOGONIA DO NOME NA LITERATURA-TERREIRO Lise Mary Arruda Dourado Resumo: Neste artigo sobre Orúk?, apresentam-se resultados de uma pesquisa sobre a cosmogonia do nome iniciático na Literatura-Terreiro, a partir de revisão bibliográfica e narrativas de membros de Candomblé de tradição nagô na cidade de Salvador. Com o devido respeito aos segredos do Sagrado, investigou-se se e como os nomes atribuídos aos iniciados no “dia do nome” influenciam e/ou afetam na sua construção identitária, no seu pertencimento ao Candomblé, na sua forma de existir, no seu devir. A pesquisa justifica-se pela necessidade de documentar e apresentar à comunidade acadêmica, bem como aos demais interessados na Memória Cultural Negra, a cosmogonia do Orúk?, realçando o seu processo de criação literária, considerando-o não apenas um nome, mas o conjunto de textos multimodais produzidos pelo (e/ou que envolvem o) iniciado até o momento em que o Òrìsà ecoa em público o seu nome, ala-fiando, então, uma nova identidade ali encarnada. Como principal referencial teórico, tem-se o conceito de Literatura-Terreiro de Henrique Freitas. Acerca do processo de nomeação dos iniciados e da importância do nome iniciático na construção identitária desses sujeitos, foram consideradas contribuições teóricas de Stuart Hall e Ricardo Ferreira, e estudiosos que escreveram, em diferentes perspectivas, sobre Orúk?, como Michael Kayode, Ademola Adesoji, Kolawolé Seidou. Outras noções foram fundamentais à discussão tecida, a exemplo do conceito yorubano de Ori (a “cabeça interna”), a partir das leituras do teórico Bàbá Sehinde Ademuleya, e da noção de ancestralidade, a partir de Fábio Leite. Junto aos desdobramentos dessa discussão, segue um recorte da compilação dos Orúk? e seus significados coletados. Referências: ABIMBOLA, Wande. A concepção iorubá da personalidade humana. In: Centre National de la Recherche Scientifique, Edição Nº 544, Paris, 1981 [1971]. Tradução, notas e comentários de Luiz L. Marins (2011). ADÉKÒYÀ, Olúmúyiwá Anthony. Yoruba: tradição oral e história. São Paulo: Terceira Margem, 1999. 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No entanto, o Éko Dára é um sulizador para reflexão da necropolítica imposta diariamente ao povo preto e como o Arco e Arkhé (FREITAS, 2016) quebra paradigmas sendo a flecha do primeiro curso do Yorùbá no país, em formato de níveis que vão do básico ao avançado, na Universidade Federal da Bahia (UFBA), Bahia-Brasil, pertencente ao território mais preto após o continente africano. Ele, como Èsù demarca seu Espaço na Encruzilhada literária, exigindo seu Pàdé (Reconhecimento de Poder de Ação). O presente trabalho trata da perspectiva e experiência de uma mulher preta, soteropolitana, exposta a um carcinoma, que encontra no livro e na forma de adentrá-lo, efetuada pela equipe do Curso da Língua Yorùbá, na UFBA, uma Terapêutica Ancestral, em meio à Encruzilhada Afrodiaspórica Literária. A autonarrativa concebe o período antes e em tempos do COVID-19, marcador inicial das primeiras turmas do curso, no qual ocorreu o contato com a Obra em questão. A metodologia utilizada para alcançar os objetivos propostos no Curso não foi pensada para processos de reequilíbrio da saúde segundo sua Ementa, no entanto, a Epistemologia, Filosofia e o Sistema de Ética advindas das Cosmogonia e Cosmologia yorubanas, permeadas pelo Àse ancestral que atravessou o Atlântico, despertou nas células da autora a esperança de continuar a ser insubmissa na arte de lutar e continuar a viver. Referências: ALMEIDA, Silvio Luiz de. Racismo Estrutural. São Paulo: Ed. Jandaíra - Coleção Feminismo Plurais (Selo Sueli Carneiro), 2020. ALVES, Míriam Cristiane, JESUS, Jayro Pereira de e SCHOLZ, Danielle. Paradigma da afrocentricidade e uma nova concepção de humanidade em saúde coletiva: reflexões sobre a relação entre saúde mental e racismo. Saúde em Debate [online], v. 39, n. 106, pp. 869-880,2015. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/0103-1104201510600030025>.Acesso em: 12 maio de 2022. AYOH’OMIDIRE, Félix. Èko Dára! Curso Básico de Língua e Cultura Yorùbá 1. 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No campo da Psicologia, algumas produções brasileiras têm contribuído para essas reflexões e o enfrentamento do racismo, elaborando críticas à formação e atuação de psicólogas (os) e exigindo o antirracismo como fundamento ético. Na minha investigação me lanço ao desafio de compreender a concepção de Orí na Literatura Negra, mais especificamente na literaturaterreiro (FREITAS, 2016) pois, para além de expressão estético-artística, ela é um lugar histórico, por excelência, de emergência “clínica” dessa subjetividade negra. No mestrado no PPGLitCult (UFBA), sob a orientação do Prof. Dr. Henrique Freitas e enquanto membro do grupo de pesquisa YoruBantu, me proponho a investigar a possibilidade de uma rasura epistemológica na Psicologia a partir da concepção yorubá de humanidade (Abimbola, 2011) para pensar em cuidados efetivos da saúde mental inspirados nos saberes negro-africanos (Ribeiro et al, 2004), tomando o Orí (Jagun, 2015) como matriz de uma Psicologia afrocentrada manifesta na Literatura Negra como clínica. Referências: ABIMBOLA, Wande. A concepção ioruba da personalidade humana. Tradução, notas e comentários: Luiz L. Marins, 2011. CARRASCOSA, Denise (Org.). Traduzindo no Atlântico Negro: cartas náuticas afrodiaspóricas para travessias literárias. Salvador: Ogum's Toques Negros, 2017. FREITAS, Henrique. O Arco e a Arkhé: Ensaios sobre Literatura e Cultura. Salvador: Ogum's Toques Negros, 2016. HALL, Stuart. Pensando a diáspora: Reflexões sobre a Terra no exterior. In: ________. 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MARRABENTA: MÚSICA, PERIFERIA E UMA TAL MOÇAMBICANIDADE Vercio Gonçalves Conceição Resumo: Esta comunicação pretende analisar como a marrabenta - uma música emergente e produzida entre a zona rural e a periferia de Lourenço Marques (atual Maputo), entre as décadas de 1920 e 1930 pode figurar como elemento de resistência colonial e de construção de uma identidade moçambicana ou até mesmo um nacionalismo, forjado por sujeitos que não mantinham vínculos com os movimentos (stricto senso) de libertação de Moçambique. A música, que mais parece um movimento/tendência do que propriamente um ritmo, trata-se da mistura de músicas tradicionais, sintetizada por uma tecnologia musical ocidental (o uso de guitarra, violão, bandolim, bateria, teclado, instrumentos de sopro, etc.) disponível àquela altura. Como diferencial, tem-se a informação de que, até os dias atuais, a marrabenta é uma música cantada nas línguas moçambicanas, principalmente, ronga e changana, línguas mais faladas ao sul do país, onde tal tendência musical se fez mais presente. Esta análise se desenvolve a partir do olhar moçambicano, uma vez que buscou-se acessar um arcabouço teórico-crítico protagonizado por pesquisadores moçambicanos/africanos, a par de depoimentos de artistas da cena da marrabenta e de agitadores culturais da cidade de Maputo, os quais apresentaram as principais questões em torno da marrabenta, pensadas por esta pesquisa, no sentido de colaborar com os moçambicanos, que até a atualidade se vêm envolvidos pela discussão sobre a marrabenta poder figurar ou não como um símbolo nacional. Referências: ALVES, Amanda Palomo. Angola: musicalidade, política e anticolonialismo (1950-1980). Revista Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 5, n.10, jul./dez. 2013. p. 373 - 396. 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EPISTEMOLOGIA CABOCLO: POR UMA LITERATURA ENCANTADA Yara Conceição de Oliveira Santiago Resumo: As religiões de Matriz Africana são conhecidas por sua função de resgate da memória e de tradições seculares oriundas da África e de resistência ao sequestro e escravização de negros e negras, além da religiosidade propriamente dita. Entretanto, o espaço de dor, violência, saudade de sua terra natal, luta cotidiana por sobrevivência, abriu caminho para múltiplas reinvenções de pequenas Áfricas no Brasil. Reinvenções essas construídas pela necessidade de manter viva sua cultura, seus hábitos diários, a memória dos seus antepassados, sua ancestralidade através de suas crenças. Reinvenções essas que se deram em forma de estratégias para manter em segredo suas práticas, renomeações de divindades, simulando um sincretismo com a religiosidade vigente na época e o contato com as diversas etnias nativas do Brasil. Uma dessas estratégias são os pontos e sambas de Caboclo com sua estrutura textual construída em forma de versos, narrativas em forma de música, nos quais a história do contato entre culturas teve como consequência modalidade de textos que contam as narrativas de glória e de dor pelas quais negros e negras atravessaram lançando mão das epistemes que foram sistematicamente oprimidas e invisibilizadas durante séculos. Os pontos e sambas de Caboclo foram a maneira de subverter a pilhagem epistêmica (FREITAS, 2017) que apresentava duas vias a perda da identidade ou o silenciamento, neste sentido, mencionado autor inscreve esta modalidade de narrativa no conceito Literatura-terreiro, cunhado pelo mesmo. Este conceito demonstra como as comunidades religiosas afrobrasileiras venceram a opressão e a violência epistêmica através de suas práticas que vão muito além da religiosidade, são metodologias responsáveis por manter viva toda uma gama de saberes, a ciência das macumbas (SIMAS e RUFINO, 2018) na qual toda a epistemologia vinda de África se manifesta, se expande e se reinventa, indo para além do tempo e do espaço. Referências: ACHINTE, Adolfo Alban. Más allá de la razón hay um mundo de colores: modernidades, colonialidades y reexistencia. Editorial Oriente. Santiago de Cuba. 2013. CARNEIRO, Edison. Candomblés da Bahia. Coleção realismo fantástico. Editora Ediouro. 1961 CASTRO, Eduardo Viveiros de. O mármore e a murta. In A inconstância da alma selvagem. Ubu editora. São Paulo. 2020. CARRASCOSA, Denise. Traduzindo o Atlântico: por uma práxis teórico-política entre literaturas afrodiaspóricas. Cadernos de Literatura em Tradução, n. 16, p. 63 - 71. Salvador – BA. 2015. CASTRO, Eduardo Viveiros de. O mármore e a murta, in A inconstância da alma selvagem e outros ensaios. UBU editora. São Paulo. 2020. CHADA, Sonia. A Música dos Caboclos nos candomblés baianos. EDUFBA. Salvador-BA. 2006. CORREIA, João David Pinto. Os gêneros da Literatura Oral Tradicional: contributo para sua classificação. In Revista de Língua Portuguesa, nº 9, pp.63-69. Julho. 1993. FREITAS, Henrique. O arco e a Arkhé: ensaios sobre literatura e cultura. Editora Ogum’s Toques Negros. Salvador-BA. 2016. HAMPATÉ BÂ, Amadou. A tradição viva, p.168. In História geral da África I: Metodologia e pré-história da África. UNESCO. Brasília. 2010. MARTINS, Leda. Performances do tempo espiralar. In Performance, exílios, fronteiras: errâncias territoriais e textuais. Graciela Ravetti e Márcia Arbex (org.). Departamento de Letras Germânicas, Faculdade de Letras / UFMG: Poslit. Belo Horizonte – MG. 2002. PRANDI, Reginaldo (org). Encantaria brasileira: o livro dos Mestres, Caboclos e Encantados. 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SIMPÓSIO “A LITERATURA, O PENSAMENTO E A FILOSOFIA” Josué Borges de Araújo Godinho (UEMG), Roberto Antônio Penedo do Amaral (UFT) LUTAR COM AS PALAVRAS: A DEFESA DE UMA REVOLTA PELA LINGUAGEM A PARTIR DA LEITURA DO POEMA "MORTE DO LEITEIRO", DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE Ana Carolina Botelho dos Santos Resumo: Ao fim da apresentação das suas Confissões de Minas (2011), Carlos Drummond de Andrade fala da necessidade de uma lúcida e sábia representação da consciência do tempo na matéria literária e convoca, à época, os novos autores a se valerem da literatura como forma de dar sentido à experiência histórica (ANDRADE, 2011, p. 11). De fato, a relação literatura-vida se manteve presente em todas as fases de Drummond, ainda que sob roupagens distintas, mas sempre pelo caminho da experimentação da linguagem poética. Pensando, portanto, na capacidade de torção da linguagem para desestabilizar as noções de sujeito, espaço e tempo dentro da cena poética, a comunicação visa apresentar uma leitura do poema “Morte do leiteiro”, de Carlos Drummond de Andrade, em que a voz lírica se confunde com o entregador de leite, colocando não só quem fala, mas também quem lê dentro da cena retratada, como se fôssemos todos nós vítimas de uma sociedade que faz tudo para que esteja “salva a propriedade” (ANDRADE, 2012, p. 86). O poema, que compõe a obra A rosa do povo, de 1945, situa-se na fase mais engajada politicamente de Drummond e dialoga com a pesquisa de Doutorado que vem sendo desenvolvida por mim desde o primeiro semestre de 2021 no Programa de Pós-Graduação em Estudos de Literatura da Universidade Federal Fluminense, cujo objetivo é, à luz da concepção camusiana de revolta, comparar a maneira com que a revolta do sujeito poético é elaborada em A rosa do povo e em Claro enigma, obras do itabirano. A leitura proposta, por fim, pretende ratificar a linguagem poética em Drummond como um mecanismo de revolta – uma luta armada pela arma que é a palavra. Referências: ANDRADE, Carlos Drummond de. A rosa do povo. 1. ed. São Paulo: Cia das Letras, 2012. _____________. Confissões de Minas. São Paulo: Cosac Naify, 2011. CAMUS, Albert. O homem revoltado. Trad. Valerie Rumjanek. 14. ed. Rio de Janeiro: Record, 2020. A RUÍNA COMO POTÊNCIA: O ESTRANHAMENTO RADICAL DA PALAVRA EM CLARICE LISPECTOR Ana Maria Vasconcelos Martins de Castro Resumo: Em seu estudo “Na cavidade do rochedo: a pós-filosofia de Clarice Lispector”, o crítico Roberto Corrêa dos Santos nos diz que “na literatura de Clarice quase não há literatura” (Santos, 2012, p.23), apontando que a narração dos fatos se mostra quase sempre em ruína e em rasura diante dos olhos do leitor. Ao se referir a “O ovo e a galinha” e “Menino a bico de pena”, Santos levanta mesmo a hipótese de que “talvez não sejam contos, e sim tratados técnico-filosóficos dos processos da percepção e do conhecimento” (Santos, 2012, p. 101). Essa proximidade entre o texto clariceano e a filosofia é debatida por diversos comentadores da obra da autora. João Camillo Penna, em seu texto “O nu em Clarice Lispector”, já afirmou que o livro “Perto do coração selvagem é um pouco de Spinoza aplicado” (Penna, 2010, p. 76-77). Carlos Mendes Sousa (2000, p. 41), em seu livro fundamental, “Clarice Lispector: Figuras da escrita”, cita o crítico Eduardo Prado Coelho como o primeiro a aproximar a autora ao pensamento do filósofo francês Gilles Deleuze, chegando a afirmar que Clarice “é a mais deleuziana das escritoras”, pelo seu ponto de vista imanentista e desprovido de intermediários. Assim, este trabalho se propõe a investigar como a escrita de Clarice Lispector pode ser posta em perspectiva por meio de atravessamentos de conceitos filosóficos. Partindo de noções como a alegria como aumento de potência (Spinoza), gagueira como procedimento literário (Deleuze) e gesto como aquilo que torna visível uma medialidade impossível (Agamben), percorremos o esgarçamento da linguagem próprio da escrita de Clarice Lispector em direção a um estranhamento radical da palavra, ponto em que nomear se torna um ato da ordem do inescritível, como dirá Eduardo Viveiros de Castro em “A fera e o fora”. Referências: AGAMBEN, Giorgio. “Notas sobre o gesto”. Trad. Vinícius Nicastro Honesko. In: ArteFilosofia. Ouro preto, nº 4, p. 09-14, jan 2008. BARTHES, Roland. Aula. Trad. Leyla Perrone-Moisés. São Paulo: Cultrix, 1989. BLANCHOT, Maurice. O espaço literário. Trad. de Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Rocco, 1987. CASTRO, Eduardo Viveiros de. “Rosa e Clarice, a fera e o fora”. 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SANTOS, Roberto Corrêa dos. Na cavidade do rochedo: A pós-filosofia de Clarice Lispector. São Paulo: IMS - Instituto Moreira Salles, 2012. SOUSA, Carlos Mendes de. Clarice Lispector. Figuras da Escrita. 1ª ed., Braga,. Universidade do Minho/Centro de Estudos Humanísticos, 2000. SPINOZA, Baruch de. Ética. Trad. de Tomaz Tadeu. 2.ed., Belo Horizonte: Autentica Editora, 2013. À BEIRA-MAR: NIETZSCHE E LIMA BARRETO EM DIÁLOGO André Mesquita Penna Firme Resumo: O início do século XX, com a aceleração da circulação de impressos e de pessoas, proporcionou discussões que colocariam em jogo a própria condição do pensamento naquele momento. Uma delas foi o contato entre as obras de Lima Barreto e Friedrich Nietzsche. O escritor carioca, imerso em um contexto intelectual fervilhante nas primeiras décadas do século, teve contato com as correntes filosóficas mais importantes que circulavam no Rio de Janeiro do período. Tornou-se quase inevitável o contato com as obras de Nietzsche, que desde fins da década de 1895 tornara-se fenômeno no mundo intelectual, sendo absorvido por segmentos intelectuais específicos que usavam suas obras como embasamento de renovações estéticas e morais. Nesse contexto, Lima Barreto rechaça o pensamento nietzschiano como o que havia de mais vil, burguês e contrário aos ideais de solidariedade e comunidade que pregava. Contudo, uma leitura mais atenta permite entrever, nas entrelinhas do debate público, uma relação mais imbricada entre a forma como os dois autores entendem a existência em um mundo que parecia fragmentar-se. A repetição nas anotações de Lima Barreto da frase do prólogo do Zaratustra nos abre uma leitura em que a perspectiva da construção do Eu – em uma literatura que caminha entre a complexidade de um mundo de aparência e o processo trágico de dissolução do sujeito – apontam para a crítica ao idealismo e a fundamentação artística de um mundo em devir, seja nas exortações de Zaratustra, seja no caminhas de Gonzaga de Sá. Assim, é possível ultrapassar o simples rechaço das obras de Nietzsche por Lima Barreto e compreender essas obras entrelaçadas em diálogo. Referências: ABREU, Márcia (org.) Romances em movimento: a circulação transatlântica dos impressos (1789-1914). Campinas: Editora da Unicamp, 2016. ABREU, Márcia; SILVA, Ana Cláudia Suriani da. (Orgs.) The cultural revolution of the nineteenth century: Theatre, the Book-Trade, and Reading in the Transatlantic World. Londres/Nova York: I.B. TAURIS, 2016. BARBOSA, Francisco de Assis. A vida de Lima Barreto. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017. BARRETO, Lima. Obra Reunida. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2018. 3 volumes. DIAS, Geraldo. A recepção de Nietzsche no Brasil: renovação e conservadorismo. 2019 (Tese - doutorado em Filosofia). Programa de Pós-Graduação em Filosofia. Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). São Paulo, 2019. DIAS, Geraldo. Entre renovadores e reacionários: a recepção estética e política da obra de Nietzsche na imprensa brasileira no período de 1893 a 1945. Cadernos Nietzsche, São Paulo, v.36 n.1, 2015. DIAS, Rosa Maria. Nietzsche, vida como obra de arte. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011. DOMINGUES, Ivan. Filosofia no Brasil: legados e perspectivas. São Paulo: Unesp, 2017. FIGUEIREDO, Carmem Lúcia Negreiros de. Uma corda sobre o abismo: diálogo entre Lima Barreto e Nietzsche. Alea, Rio de Janeiro, v. 6, n. 1, p. 159-173, jun. 2004. GAULTIER, Jules de. Le Bovarysme. Paris: Mercure de France, 1921. 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Nesse sentido, se “a repetição é a potência da linguagem" e "implica uma Idéia da poesia sempre excessiva” (DELEUZE, 2020, p. 383), nota-se que, em "blind light", o excesso faz-se marcante, visto que Marília repete, com muita frequência, obras teóricas e artísticas de outros(as) autores(as) – como quando, por exemplo, apresenta a possibilidade de "deslocar a leitura do giorgio agamben/ (ou cortar)/ e repetir para pensar na poesia/ corte e repetição" (2014, p. 16). Assim, se, em "blind light", há o questionamento de que "um dispositivo que produza a repetição/ pode produzir novas formas de/ percepção?" (Ibidem, p. 22), em Diferenca e Repetição, há a resposta de que “a diferença está entre duas repetições” (2020, p. 114). Portanto, entende-se, a partir dos pressupostos deleuzianos, que a repetição de Marília Garcia produz, sim, a diferença. Por fim, se, em "o poema no tubo de ensaio", Marília opõe, ao passo que unifica, a fronteira entre as definições e características dos gêneros poema e ensaio, perguntando-se "será que o poema deixa de ser poema/ porque se confunde com outro gênero?" (2016, p. 79), verificase que, neste poema, ocorre o que Deleuze denomina como diferença máxima, visto que "A maior diferença é sempre a oposição" e "a diferença perfeita e máxima é a contrariedade no gênero" (2020, pp. 55-56). Referências: DELEUZE, Gilles. A Dobra: Leibniz e o Barroco. Trad. Luiz Orlandi. Campinas, São Paulo: Papirus, 2012. ______. Diferença e repetição. Trad. Luiz Orlandi e Roberto Machado. Rio de Janeiro e São Paulo: Paz & Terra, 2020. GARCIA, Marília. Câmera lenta. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. ______. Um teste de resistores. Rio de Janeiro: 7Letras, 2014. ______. O poema no tubo de ensaio. In: ALVES, Ida; PEDROSA, Célia. Sobre poesia – outras vozes. Rio de Janeiro: 7letras, 2016. EROS E PHILIA NOS ROMANCES DE ROMAIN GARY Carla Alexandra Ezarqui Resumo: A literatura permite analisar a experiência humana de maneira singular, pois a palavra tem o poder de ampliar a visão sobre determinado acontecimento. Em se tratando da ficção, a criação imaginativa amplifica as razões que entrelaçam as ações às circunstâncias, problematizando-as. Dessa forma, o texto literário propõe, a partir da sua organização discursiva, desdobramentos fictícios de um ser e de sua existência, demonstrando como a representação de um conflito romanesco, muitas vezes, compreende o tratamento de um problema filosófico. Em se tratando da obra do autor francês, Romain Gary, as personagens racionalizam suas experiências de tal forma que a vulnerabilidade à qual são submetidas parece ser proporcional a sua consciência, a sua capacidade de perceber o mundo, o outro e a si mesmas, permitindo flagrar ao longo das narrativas teses filosóficas as mais diversas. Esse estudo se orienta, portanto, pela maneira como a narração do particular pode conduzir à reflexão em âmbito universal acerca de determinadas questões do sujeito, de modo que a análise das relações afetivas entre personagens de um romance possa contribuir para a reflexão de um tema tão caro à filosofia como o amor. As narrativas de Gary apresentam em suas tramas um conteúdo que direciona a atenção para esse sentimento, haja vista abarcá-lo em suas diversas manifestações e impossibilidades. Os fatores que impedem a experiência amorosa são determinantes a ponto de a inexistência do outro dar lugar a todo um romance, isto é, de a história de uma personagem ser a história da falta do outro, de a personagem ser o que a solidão ou o não-amor a possibilitam ser ou se tornar. Objetivamos, assim, analisar alguns excertos de diferentes obras, a fim de demonstrar de que forma o amor ficcional desdobra conceitos filosóficos como Eros e Philia, contribuindo para a sua compreensão e reflexão. Referências: COMTE-SPONVILLE, A. Amor. In: COMTE-SPONVILLE, A. Pequeno tratado das grandes virtudes. Tradução Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2004. GARY, R. L’angoisse du roi Salomon. Paris: Mercure de France, 1979. GARY, R. Les clowns lyriques. Paris: Gallimard, 1979. GARY, R. Clair de femme. Paris: Gallimard, 1977. GARY, R. Les enchanteurs. Paris: Gallimard, 1973. NUSSBAUM, M. Love’s knowledge : essays on philosophy and literature. New York: Oxford University Press, 1990. ZAMBRANO, María. Filosofia e poesia. Tradução Fernando Miranda. Belo Horizonte: Moinhos, 2021. A CASA DE ASTÉRION, REESCREVENDO AO PLATÃO Cristian René Motta Téllez Resumo: A casa de Astérion é um conto do autor argentino Jorge Luis Borges, nele descreve a atitude do minotauro frente a morte. A descrição do Borges não limita-se à descrição tradicional do mitológico, nela o minotauro é quem fala. O conto é interessante porque a identidade de nosso personagem só é descoberta ao final do texto, mas tem alguns indicios que permitem intuir a identidade do nosso protagonista. Assim o texto tem uma forma enigmática que faz a o leitor encontrar cada vez mais cosas no texto. Embora o conto só tem duas paginas, o autor faz uma aclaração estabelecendo uma relação entre o Astérion e o Sócrates. O Borges não vai fazer uma aclaração num conto tão corto se não fose imprescindível para a compreensão do mesmo, esta é a pieza que completa o quebra-cabeça, pois o que Borges realmente quer fazer é uma reescritura dos últimos momentos da morte do Sócrates. Não é fortuito que no diálogo de Platão onde morre o Sócrates, chamado o Fédon, tenha uma forte relação com o mito de Teseu. Esta relação é estudada, entre outros, pelo Dylan Futter quem acha que Sócrates quem luta contra o medo à morte é um paralelo entre o Teseu lutando contra o minotauro (Futter, 2014), e por Alfonso Flórez quem faz uma reconstrução do Fédon em relação com a oda XVII do Baquílides, a qual fala sobre a viagem de Teseu, e encontra que a escritura de ambos textos tem uma relação sequencial (Flórez, 2016). A fala do minotauro descrita pelo Borges e a fala do Sócrates descrita pero Platão tem muitas similitudes e pontos de encontro, os quais são desarrolladas no trabalho da comunicação, os quais permitem sugerir que o conto de Borges é uma reescritura, no medio literario, do Fédon de Platão. Referências: Flórez, A. (2016). ‘Los dos veces siete’: Baquílides y el Fedón de Platón. Universitas Philosophica, 33(67), pp. 53-72. ISSN 0120-5323, ISSN en línea: 2346-2426, doi:10.11144/Javeriana.uph33-67.ldvs Futter, D.B. (2014). The Myth of Theseus in Plato’s Phaedo. Akroterion, 59, pp. 89-103. doi:10.7445/59-0-946 A EXPERIMENTAÇÃO POÉTICA DO PARADOXO DO PURO DEVIR EM SUBJETIVIDADES HÍBRIDAS DE QORPO-SANTO, EDWARD LEAR E MARIA ESTHER MACIEL Fernanda Marques Granato Resumo: A partir de reflexões acerca das obras de Qorpo-Santo (1829-1883), “Enciclopédia ou seis meses de uma enfermidade”, e de Edward Lear, “A book of nonsense”, esta comunicação tem por objetivo investigar como a criação do eu pelo outro e a criação da identidade pela e na diferença coloca a questão do hibridismo que desliza e nunca se firma em uma definição, sendo sempre um e outro ao mesmo tempo, que rompe a unidade de sujeito em uma experimentação poética com a linguagem que remonta à infância da linguagem. A obra de Maria Esther Maciel (1963-), representada pelos livros “Pequena enciclopédia de seres comuns”, “O livro dos nomes” e “As ironias da ordem: coleções, inventários e enciclopédias ficcionais”, comparada às de Qorpo-Santo e Edward Lear, cria essa nova linguagem, essa nova sintaxe que acompanha a constituição desse novo sujeito. A relevância da proposta se coloca pelo fato de que nas obras dos três autores temos instâncias de hibridismo, tanto em termos dos gêneros que se misturam e as fronteiras se borram, quanto em termos dos personagens que se criam, que muitas vezes são resultado da mistura entre o eu e o outro, sendo um convite à alteridade, para conhecer o diferente, para se tornar outro com o desconhecido, vivendo no tornar-se, em um ponto de inflexão que pode se tornar todos e nenhum. Quanto à fundamentação teórica, nos baseamos nos seguintes teóricos: Tigges, Burke, Borges, Maciel, Haroldo de Campos, Deleuze, Guattari, Girard, Ogden, Lecercle e Sewell. Referências: REFERENCIAS AGAMBEN, Giorgio. Infância e história: destruição da experiência e origem da história. Tradução: Henrique Burigo. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2005. BENJAMIN, Walter. Experiência e pobreza. História cultural do brinquedo. A doutrina das semelhanças. Brinquedo e brincadeira. In: Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. Tradução de Sergio Paulo Rouanet. Prefácio: Jeanne Marie Gagnebin. 3ª edição. São Paulo: Editora Brasiliense, 1987. DELEUZE, G. Lógica do sentido. São Paulo: Perspectiva, 2011. GIRARD, R. Doistoievski: do duplo à unidade. São Paulo: É Realizações, 2010. Amsterdam: Rodopi B., 1987. LEAR, Edward. A book of nonsense. Everyman’s Library Children’s Classics: New York, Alfred A. Knopf, 1992 [1846]. LECERCLE, Jean Jacques. The polyphony of nonsense. In: Philosophy of nonsense: the intuitions of Victorian nonsense literature. Londres e Nova York: Routledge, 1994. MACIEL, M. Pequena enciclopédia de seres comuns. 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COMO SE ESTIVÉSSEMOS EM PALIMPSESTO DE ELVIRA VIGNA: APAGAMENTO DO FEMININO E CORROSÃO SUBJETIVA Gleydson André da Silva Ferreira Resumo: Publicado em 2016, um ano antes da morte de Elvira Vigna, “Como se estivéssemos em palimpsesto de putas” aborda a relação de uma designer inominada, narradora do livro, com João, executivo de aparente sucesso. No pretenso diálogo estabelecido entre os dois, João relata aventuras sexuais com prostitutas, bem como aspectos do casamento com Lola, mas pouco se interessa pela ouvinte, incluída apenas superficialmente nessa conversação. Sem tomar maior conhecimento de sua interlocutora, acaba por apagá-la. Ainda assim, ela fica incumbida da mediação narrativa, que se estabelece, por sua vez, em níveis distintos; isto é, ora imediatos à conversa, ora distanciados. Por conta disso, a designer tanto faz piadas com os diferentes casos quanto se afasta e percebe a verdadeira natureza daquele que os expõe. Logo, apesar de implicada na rotina ociosa de bate-papo, é dotada de um excedente de visão, e consegue se descolar do que é dito, tornando-se consciente, inclusive, do desgaste subjetivo que afeta as investidas extraconjugais de João — então imperceptível a ele próprio. Assim, seja com enfoques variados do conteúdo abordado, seja com a corrosão do desejo sexual dele, opera-se uma rasura subjetiva análoga a de palimpsestos, aludidos no título do livro, cujas inscrições são feitas por cima de outras, sobrepondo-se em camadas. No presente trabalho, parte-se da metáfora do palimpsesto para se analisar o último romance de Elvira Vigna. Intenta-se, desse modo, não apenas discutir o apagamento do feminino, realizado já de saída ao se privar de nome a voz narrativa, mas também debater a corrosão subjetiva, promovida pelo efeito do tempo sobre as personagens romanescas. Referências: VIGNA, Elvira. Como se estivéssemos em palimpsesto de putas. São Paulo: Companhia das Letras, 2016. O PERSONAGEM E A PRODUÇÃO DE MÁSCARAS EM CLARICE LISPECTOR E EM AUTRAN DOURADO Jonatas Aparecido Guimarães Resumo: No século XX, sobretudo no contexto pós-estruturalista francês, assistimos a um sistemático ataque ao dito sujeito da metafísica, o que levou, entre outros fatores, à promulgação da morte do autor e à desvalorização do personagem na teoria da literatura. Essa proposição filosófica provocou reações já a partir dos anos 1980, procurando valorizar, como hoje acontece na ótica das políticas de identidade, o sujeito enquanto um elemento importante para se pensar a literatura, sobretudo pela perspectiva do autor e do narrador. Contudo, ainda existe um déficit teórico nos estudos do personagem. Após a crítica do sujeito, as concepções defendidas pelas abordagens tradicionais quanto ao personagem não se sustentam mais, porém, pelo menos em solo brasileiro, praticamente inexistem novas propostas de abordagem teórica do conceito. Na cena literária brasileira, Autran Dourado e Clarice Lispector são autores para quem o personagem e, simultaneamente, os processos de constituição dos sujeitos se revelam como elementos fundamentais em sua produção multifacetada. A partir de um intenso diálogo transdisciplinar, a análise da obra de Autran Dourado e de Clarice Lispector busca uma reformulação teórica do personagem, entendendo-o como conceito basilar para pensar a relação entre o sujeito e a literatura. Propomos, nessa perspectiva, a concepção de personagem como processo constante de produção de máscaras. Assim, podemos visualizar as máscaras do personagem também em relação à produção de sujeitos históricos, concebendo a literatura como dispositivo produtor de subjetividades. Logo, do mesmo modo como a literatura está sempre intimamente ligada às variações concernentes à concepção de sujeito, defendemos que a própria instituição literária se vincula à produção de máscaras do sujeito. Referências: ARAÚJO, Inês Lacerda. Foucault e a crítica do sujeito. Curitiba: UFPR, 2014. ARAÚJO, Nabil. Exumações: do autor (“pensar o sujeito da escrita depois da crítica estruturalista do sujeito”...). In: VivaVoz. Disponível em: <https://labed-letras-ufmg.com.br/wp-content/uploads/2020/12/Imagens-emdiscurso-II.pdf>. Acesso em: 08 dez. 2021. ARENDT, Hannah. La vida del espíritu: el pensar de la voluntad y el juicio en la filosofía y en la política. Trad. Ricardo Montoro Romero e Fernando Valespin Oña. Madrid: Centro de estudios coconstitucionales, 1984. BADIOU, Alain. A aventura da filosofia francesa no século XX. Trad. Antonio Teixeira e Gilson Iannini. Belo Horizonte: Autêntica, 2015. BADIOU, Alain. Deleuze: o clamor do ser. Trad. Lucy Magalhães. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997. BARTHES, Roland. A morte do autor. O rumor da língua. Trad. Mario Laranjeira. São Paulo: Martins Fontes, 2004. BARTHES, Roland. S/Z. Trad. Maria de Santa Cruz e Ana Mafalda Leite. Lisboa: Edições 70, 1999. BIRMAN, Joel. O sujeito na contemporaneidade: espaço, dor e desalento na atualidade. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2014. BHABHA, Homi K. O local da cultura. Trad. Miriam Ávila, Eliana Lourenço de Lima Reis, Glaucia Renate Gonçalves. Belo Horizonte: UFMG, 1998. BERLIN, Isaiah. Las raíces del romanticismo. 2 ed. Trad. Silvina Mari. Madrid: Taurus, 2000. BORDINI, Maria da Glória. A personagem na perspectiva dos estudos culturais. Letras hoje, Porto alegre, n. 3, V. 41, p. 135-142, setembro, 2006. BOURDIEU, Pierre. As regras da arte: Gênese e estrutura do campo literário. Trad. Maria Lucia Machado. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. CANDIDO, Antonio. A personagem do romance. In: A personagem de ficção. São Paulo: Perspectiva, 1974. CHARTIER, Roger. O que é um autor? Revisão de uma genealogia. Luzmara Curcino e Carlos Eduardo Bezerra. São Paulo: EdUfscar, 2012. CIXOUS, Hélène; COHEN, Keith. The character of “character”. New Literary History. Baltimore, Maryland, v. 5, n. 2, 1974. 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História da sexualidade: o cuidado de si. Trad. Maria Thereza da Costa Albuquerque. Rio de Janeiro: Graal, 2017. Vol. 3. FOUCAULT, Michel. História da sexualidade: as confissões da carne. Trad. Heliana de Barros Conde Rodrigues. Rio de Janeiro: Paz e terra, 2020c. Vol. 4. FOUCAULT, Michel. O Sujeito e o Poder. In: RABINOW, Paul; DREYFUS, Hubert. Michel Foucault: uma trajetória filosófica – para além do estruturalismo e da hermenêutica. Trad. Vera Porto Carrero. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1995, p.231-249. FOWLER, Elizabeth. Literary character: the human figure in early English writing. Nova Iorque: Cornell University Press, 2003. FROW, John. Character and person. Nova Iorque: Oxford University Press, 2016. LIBERA, Alain de. Arqueologia do sujeito I: o nascimento do sujeito. Trad. Fátima Conceição Murad. São Paulo: Fap; Unifesp, 2013. LISPECTOR, Clarice. A paixão segundo G.H. Rio de Janeiro: Rocco, 2020. PENSAR A LITERATURA COMO ZONA DE VIZINHANÇA E CONVERGÊNCIA Josué Borges de Araújo Godinho Resumo: Pensando a partir do eixo no qual se encontra o simpósio “A Literatura, o Pensamento e a Filosofia”, isto é, “Literatura comparada como zona de vizinhança”, esta comunicação se propõe a discutir fundamentalmente a literatura em si como zona de vizinhança e convergência de diferentes formas de pensamento e campos de conhecimento. Para tanto, alguns caminhos e métodos serão adotados a fim de que se consiga ao menos traçar um mapeamento da questão. Isto posto, dialogar-se-á com a entrevista de Jacques Derrida, Essa estranha instituição chamada literatura (2014), donde o Derrida explicita de forma mais evidente o interesse das desconstruções pela literatura, mas, fundamentalmente, a noção de que, estando historicamente dissociada do lastro da verdade, a literatura pode dizer tudo e qualquer coisa sem o princípio da acusação. Para Derrida, há aí uma grande responsabilidade correlata da liberdade de poder tudo dizer. É a partir desse pensamento também que a abordagem do texto literário extrapola os limites do pensamento científico, transbordando fronteiras de do logocentrismo racionalista que, supostamente, é a força motriz da vida. A força da vida e do pensamento, demonstra-o Deleuze em Crítica e clínica (1997), estão na potencialidade de extrapolar os limites do caráter ordinário do senso comum, do cotidiano, de modo que na literatura o escritor instaura uma desordem do status quo da gramaticalidade e da sintaxe cotidiana, de forma que a vida, percebida pelo texto literário, se dá por associações e encadeamentos contingenciais, na forma de deslimites. Encontraremos em Rancière (2021) o movimento de deslizamento da sintaxe e da gramática e, sobretudo, o deslizamento do acontecimento, num avizinhamento de zonas em que “[t]udo parece se passar no estreito intervalo que separa a história do ponto de onde ela vem e para onde retorna: a vida.” (2021, p.157) Referências: DELEUZE, Gilles. Crítica e clínica. Trad. Péter Pal Pélbart. São Paulo: Editora 34, 1997. DERRIDA, Jacques. Essa estranha instituição chamada literatura: uma entrevista com Jacques Derrida. Trad. Marileide Dias Esqueda. Revisão técnica e introdução de Evando Nascimento. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2014. RANCIÈRE, Jacques. As margens das ficção. Trad. Fernando Scheibe. São Paulo: Editora 34, 2021. QUEM É O HERÓI NA MEDEIA DE EURÍPIDES? Juliana Santana de Almeida Resumo: Com este trabalho buscaremos averiguar, tendo em vista as propostas de Aristóteles na Poética, quem seria o herói trágico da Medeia de Eurípides. Tal questão surgiu a partir da percepção de certas discrepâncias entre a descrição que Aristóteles faz dos traços necessários à composição de personagem identificável como herói trágico e as duas personagens centrais da peça em questão: Medeia e Jasão. O problema é agravado pelas análises das repercussões histórico-literário-filosóficas do tratado da Poética. O texto foi seguido de perto como modelo para elaboração de manuais que ditavam a boa forma de se redigir tragédias, séculos a fio. Por isso questionamos se as propostas do filósofo de Estagira pairam somente sobre seu gosto particular quanto aos textos trágicos que julgava ser os mais belos e adequados ao gênero, constituindo-se assim mais como um estilo de escrita que realmente se poderia chamar de “poética” que num texto de caráter reflexivo filosófico. Questionamos também se, ao contrário, as teorias de Aristóteles acerca da tragédia são pautadas em um ideal de homem que espelhava sinais de um tempo. Por tais motivos propomos uma análise acerca da peça Medeia, às luzes da filosofia da literatura de Aristóteles e do estudo do entorno das duas obras que se configurarão como centro de nossa pesquisa. Com esse estudo procuraremos definir se, conforme os padrões de Aristóteles, há um herói trágico na peça de Eurípides, se seria aquela cujo nome dá título ao poema, Medeia, e para isso devemos reconsiderar as propostas aristotélicas sobre o assunto. Referências: ARISTÓFANES. As mulheres que celebram as Tesmofórias. Lisboa: Edições 70, 2001. ARISTÓTELES. Poética. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 2010. ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Abril Cultural, 1979. BUTCHER, S. H. Aristotle´s theory of poetry and fine arts. London: Macmillan and Co., 1932. EURÍRPIDES. Medeia. São Paulo: Ateliê Editorial, 2013. HIRATA, F. A hamartia aristotélica e a tragédia grega. Anais de filosofia clássica, Rio de Janeiro, vol. 2, n° 3, 2008. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5740385/mod_resource/content/1/hamart%C3%ADa.pdf. Acesso em: 25 nov. 2019. JAEGER, W. Paideia: a formação do homem grego. São Paulo: Martins Fontes, 2010. NUSSBAUM, M. C. A fragilidade da bondade. São Paulo: Martins Fontes, 2009. ROMILLY, J. A tragédia grega. Lisboa: Edições 70, 2011. SÓFOCLES. Rei Édipo. Lisboa: Edições 70, 2010. SZONDI, P. Ensaio sobre o trágico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004. BRÁS CUBAS: UM PROTÓTIPO DO NIILISMO MODERNO Julie Christie Damasceno Leal, Mauro Lopes Leal Resumo: A riqueza e profundidade literárias de Machado de Assis permitem que obras como Memórias Póstumas de Brás Cubas e Dom Casmurro ainda hoje sejam fontes inesgotáveis de estudo e interpretação, permitindo-se entrever questões que adentram em aspectos sociológicos, psicológicos e filosóficos. Este estudo visa, observando-se este último aspecto, abordar a questão do niilismo na personagem central de Memórias Póstumas, Brás Cubas, cujas atitudes e pensamentos podem ser associadas a uma atitude niilista frente a elementos considerados sagrados, dogmáticos e culturais na sociedade. Brás Cubas desdenha de valores norteadores da civilização, descrê de costumes e morais que são tomados como inquestionáveis, corrompe sem remorsos e compreende a vida sob o viés da zombaria e do escárnio, demonstrando, dessa forma, sua conduta que pode ser compreendida sob um viés niilista, fenômeno este que se apresenta como uma descrença dos valores mais basilares da sociedade, conduzindo o indivíduo niilista a um plano de nidificação no seu sentido mais amplo. Para aprofundamento teórico, estabeleceremos um diálogo com o filósofo Friedrich Nietzsche, cujo pensamento se voltou para a questão do niilismo com acentuada atenção, desvendando neste, características significativas para a compreensão do niilismo como fenômeno presente na sociedade moderna. Brás Cubas é o protótipo do niilista moderno, abastado, cuja existência monótona e destituída de um significado mais representativo, resulta para si na representação do signo da insuficiência existencial e da nulidade enquanto sujeito criador e criativo. Sua singularidade reside justamente na condição de morto, aspecto este que lhe confere um caráter amoral, pois aos vivos resta o maior dos temores, o da morte. Mas Brás Cubas expõe seu desprezo à sociedade e o desapego aos valores componentes desta a partir do túmulo, o que realça ainda mais seu pessimismo, seu ar de escárnio perante o mundo. Referências: ARALDI, Clademir Luís. Para uma caracterização do niilismo na obra tardia de Nietzsche, Cadernos Nietzsche, v. 5, pp. 75-94, São Paulo, Grupo de Estudos Nietzsche; Discurso, 1998. NIETZSCHE, Friedrich. Genealogia da Moral. 3. ed. São Paulo: Moraes, 1991. PELBART, Peter. O avesso do niilismo: cartografias do esgotamento. São Paulo: N1 Edições, 2013. SANTOS, Vitor Cei. Nietzsche, Machado e o niilismo. In: MACHADO, Lino; SODRÉ, Paulo Roberto; SALGUEIRO, Wilberth (org.). Pessoa, persona, personagem. Vitória: PPGL, 2009. SCHWARZ, Roberto. Um mestre na periferia do capitalismo: Machado de Assis. São Paulo: Duas Cidades; Ed. 34, 2000. A MULHER, O ANIMAL E AS AMBIVALÊNCIAS DA MATERNIDADE NA OBRA A CACHORRA, DE PILAR QUINTANA Lidiana de Oliveira Barros Resumo: A cachorra (2020), da escritora colombiana Pilar Quintana, lança um olhar sobre as fronteiras que envolvem o humano e o animal. Ambientada em um cenário que contrasta entre a beleza e a violência, na costa do Pacífico colombiano, acompanhamos a trajetória de Damaris. Ali, a fúria da selva e do mar torna-se determinante na vida da personagem subalternizada. Assim como a cachorrinha abandonada que ela resolve adotar. A narrativa, portanto, gira em torno da relação dessas duas personagens. Diante das tentativas fracassadas de engravidar, a mulher atribui ao animal o nome de sua pretensa filha: Chirli. A princípio, a cachorra assume o papel de um humano e o vínculo entre as personagens parece preencher a lacuna da maternidade tão desejada por Damaris. Um desejo descrito de modo “instintivo”, que ao ser frustrado a diminui enquanto mulher e humana. Nesse sentido, a maternidade é o tema central da narrativa. A existência do “instinto materno”, aflorado na mulher, é relegado pela cachorra. Um embate que faz emergir sentimentos e traumas obscuros. Em vista disso, este trabalho tenciona investigar o devir-animal, bem como as ambivalências da maternidade desveladas no texto. Para tanto, o trabalho fundamenta-se nas contribuições de Maria Esther Maciel (2011), Deleuze e Guattari (2012) e Elisabeth Badinter (2022). Referências: BADINTER, Elisabeth. O conflito: a mulher e a mãe. Tradução de Véra Lucia dos Reis. Rio de Janeiro: Record, 2022. DELEUZE, G.; GUATTARI, F. Mil Platôs: Capitalismo e Esquizofrenia 2, v.4. Tradução de Suely Rolnik. São Paulo: Editora 34, 2012. ______. Kafka: por uma literatura menor. Tradução de Júlio Cíntia Vieira da Silva. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017. HARAWAY, Donna. O manifesto das espécies companheiras: cachorros, pessoas e alteridade significativa. Tradução de Pê Moreira. Rio de Janeiro: Bazar do tempo, 2021. MACIEL, Maria Esther. Pensar/escrever o animal: ensaios de zoopoética e biopolítica. Florianópolis: Editora da UFSC, 2011. ______. Literatura e Animalidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2016. QUINTANA, Pilar. A cachorra. Tradução de Livia Deorsola. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2020. A ANGÚSTIA E O TEMPO NO CONTO "A CERCA" DE ASTRID CABRAL Márcio Camillo da Silva Resumo: O conto “A cerca” é a quinta narrativa do livro “Alameda”, de Astrid Cabral, escritora amazonense. Nessa história, o narrador começa pelo presente, quando a cerca, personagem principal do conto, já estava velha e carcomida. Ela estava diante de seu fim, que chegava lentamente. Sentia já o cupim lhe corroer as entranhas, ou seja, as suas ripas. Não estava mais firme à terra: bambeava ante o vento. Como não estava firme, havia alguns arames que a escoravam ao muro contíguo ao quintal e ao jardim. Como estava frouxa à terra, os vãos encontravam-se cheios de água, em forma de lama. De acordo com a história, a terra silenciosamente zombava dela. Seu fim se aproxima. A partir dessa constatação, a narrativa mostra a vida anterior da personagem e faz o contraste com o seu presente. De um passado-árvore de possibilidades, chega-se à cerca velha e carcomida em um eterno presente que não encontra saída rumo a um futuro. Para explicar as relações entre a angústia e o tempo no conto "A cerca", utilizaremos a Filosofia Existencialista, principalmente com Kierkegaard , Heidegger e Sartre. Mostraremos a angústia como a tonalidade afetiva fundamental da vida, a partir da qual cabe à personagem uma autointerpretação e uma reorientação diante do mundo circundante. A angústia, nesse sentido, é a própria perda de sentido. Junto à perda de sentido, instaura-se a perda de fluxo do tempo e, por isso, a vida é concebida como eterno presente que não se desdobra em futuro. Referências: HEIDEGGER, Martin. Conferências e escritos filosóficos. Trad. Ernildo Stein. São Paulo: Nova Cultural, 1999. _________. Os conceitos fundamentais da metafísica. Trad. Marco Antônio Casanova. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003. _________. Os problemas fundamentais da fenomenologia. Trad. Marco Antônio Casanova. Petrópolis: Vozes, 2012. _________. Ser e tempo. Trad. Márcia Cavalcanti. Petrópolis: Vozes, 2015. KIERKEGAARD, Søren Aabye. O conceito de angústia. Trad. de Álvaro Luiz de Montenegro Valls. Petrópolis: Vozes, 2013. SARTRE, Jean-Paul. A náusea. Trad. Rita Braga. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006. _________. O Existencialismo é um humanismo. Trad. João Batista Kreuch. Petrópolis – RJ, Vozes, 2014. _________. O Ser e o nada – ensaio de ontologia fenomenológica. Trad. Paulo Perdigão. Petrópolis – RJ, Vozes, 2015. O ESPELHO E UM IN-CERTO DESCARTES Marcos Roberto Pinho Palheta Resumo: O que colocamos em questão no presente artigo é a tese, já consagrada pela crítica da obra de Guimarães Rosa, de que seus escritos são anti-intelectuais no sentido de serem anticartesianos. Queremos mostrar que seu conto “O Espelho” pode ser lido a partir de uma hermenêutica poética do Discurso do método de Descartes, ou seja, uma leitura que coloca em questão o EU cartesiano no caminho da experiência de si mais concreta e histórica e que o narrador personagem do conto de Rosa, ao dialogar com um especialista nos assuntos da física da luz e da geometria, refaz o caminho do método cartesiano e refunde poeticamente o discurso cartesiano, na medida em que revela o silêncio do si mesmo que se fez em no discurso de Descartes. Essa leitura mostrará que esse conto, que ocupa a posição central da série de contos Primeiras estórias, expõe o estranhamento poético do EU e do cogito cartesianos trazendo-os para o campo aberto da linguagem considerada como dimensão dinâmica e autopoiética da palavra, na qual o eu e o outro se fundem e se mantém os mesmos no jogo livre do diálogo. Esse modo de ler o Discurso do método aproxima a literatura de Guimarães Rosa de uma certa modernidade crítico-hermenêutica que, em diálogo com a ontologia fundamental de Martin Heidegger, busca revisar a perspectiva tradicional que a filosofia tem de Descartes como o fundador do pensamento moderno. Referências: NUNES, Benedito. Passagem para o poético: filosofia e poesia em Heidegger. São Paulo: Ática, 1989. DESCARTES, René. Discurso do método & ensaios, organizado por Pablo Rubén Mariconda; traduzido por César Augusto Battisti, Érico Andrade, Guilherme Rodrigues Neto, Marisa Carneiro de Oliveira, Franco Donatelli, Pablo Rubén Mariconda, Paulo Tadeu da Silva. – São Paulo: Editora Unesp, 2018. CASTRO, Manoel A. Educar poético: diálogo e dialética. In: O educar poético / Manuel Antônio de Castro; Igor Fagundes; Antônio Máximo Ferraz (organizadores), Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014. HEIDEGGER, Martin. Sobre o humanismo. In: Coleção Os Pensadores, traduzido por Ernildo Stein. Rio de Janeiro: Editora Abril Cultural, 1979. HEIDEGGER, Martin. A caminho da linguagem, Tradução Márcia de Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Editora Vozes, 2003. LORENZ, Günter, Diálogo com Guimarães Rosa in Coleção Fortuna Crítica 6 - João Guimarães Rosa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1991. ROSA, João Guimarães. O Espelho. In: Primeiras estórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. VALÉRY, Paul. A arte de pensar – ensaios filosóficos, traduzido por Márcia Sá Cavalcante Schuback. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2020. PALABRAS? SÍ, DE AIRE, Y EN EL AIRE PERDIDAS: HISTÓRIA, LINGUAGEM E FILOSOFIA EM OCTAVIO PAZ Maycon Tannis Resumo: O presente trabalho visa tratar da íntima ligação entre História, Filosofia e Linguagem na obra ensaística e poética de Octávio Paz. A obra de paziana é entrecortada por questões que remetem à Antropologia Filosófica e a a "Ser e Tempo" de Martin Heidegger. De modo que a obra paziana se desenvolve a partir de noções de autenticidade e existência, estas, sendo buscadas a partir da linguagem, que para o poeta "é o profundo lugar de todas as questões"(PAZ, 2012); Tomando a experiência história do México, como estando entre a barbárie (Colonização espanhola) e a civilização (Passado asteca), essa tensão, para ele, não se encontra em um estado de suprassunção (Aufhebung), mas formula algo tenso que ao longo do tempo vai comprimindo o ambiente das palavras e possibilita desta maneira a expressão de imagens dialéticas, ou ainda imagens poéticas, que atravessando toda a produção de arte, trazem a tona a luta do povo latino-americano por sua autenticidade. Levando em consideração a amplitude da obra do autor, considerarei as obras "O Arco e a Lira"(2012 [1956]) e os poemas formulados nos anos de escrita e reescrita da obra, "Liberdad bajo palabra" (1958) e "Salamandra" (1962), de modo a compreender a primeira investida do autor nas questões da linguagem. Assim, neste trabalho pretendo apresentar como essas imagens se formulam, isto é, tomá-las em conta a partir de um ponto de vista teórico, e quais os efeitos poéticos de criação e pensamento que elas possibilitam. A partir do pensamento de Hans Blumenberg o qual tomo como meu guia filosófico e metodológico para compreender a força poemática de Paz, uma vez que Blumenberg formula uma teorização de elementos que não são, ou não podem ser conceituais, pode assim ser a chave para tentar apreender a relação que Paz estabelece entre Linguaem e Filosofia. Referências: BLUMENBERG, H., Paradigmas para una metaforología, Madrid: Trotta, 2003. DELEUZE, G. Diferença e repetição. Trad. Roberto Machado. Rio de janeiro/ São Paulo: Paz e Terra/Graal, 2018. HEGEL, G.W.F. Prefácio à Ciência da Lógica (1831) InCiência da lógica. Tomo I: Doutrina do Ser. Editora Vozes: Petrópolis, 2016.HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. Enciclopedia de las ciências filosóficas en compendio. Alianza Editorial: Madrid,1997. PAZ, Octavio. O Arco e a Lira. Cosac-Naify: São Paulo, 2012. PAZ, Octavio. Libertad bajo palabra. Cidade do México: Fondo de Cultura Económica, 1968. PAZ, Octavio Salamandra. IN: PAZ,Octavio. Obras completas 13. Miscelánea I. Cidade do México: Fondo de Cultura Económica, 1999. "FESTEJANDO A FERIDA ALHEIA?": A ALTERIDADE EM "A BELA E A FERA OU A FERIDA GRANDE DEMAIS", DE CLARICE LISPECTOR Pâmela Juliana Nogarotto Resumo: Este trabalho propõe uma leitura de “A bela e a fera ou A ferida grande demais", último conto do livro "A bela e a fera" (1979), de Clarice Lispector. No texto, o encontro de uma mulher de classe média e um mendigo escancara o vínculo ético à alteridade, ao Outro. A reflexão aqui se dará pensando o “rosto” proposto pelo filósofo Emmanuel Lévinas, um rosto que “não está de frente pra mim (en face de moi), mas acima de mim. É o outro diante da morte, olhando através dela e a expondo.” (LÉVINAS, 1986, p. 23-24) Dizendo de outra forma, não se trata necessariamente de um rosto humano. Nesse conto clariceano, o rosto é, na verdade, mais a ferida purulenta do homem do que o próprio rosto — e a isso Judith Butler nomeará como o confronto com a “Vida precária” (2011). Na convergência das duas existências tidas como opostas, a de Carla de Sousa e Santos e a do homem sem nome, tem-se um descentramento, um desconcerto, um chamado à realidade crua: o que parece importar é o reconhecimento do Outro e da sua repulsividade, da sua mortalidade, que traz à tona, por sua vez, a própria repulsividade e mortalidade de quem o enxerga. A ferida do outro que é nossa também. Essa precariedade do rosto, para Lévinas, flerta simultaneamente com a vontade de matar e o “não matarás”. Daí a proposta de pensar o vínculo ético à vida do Outro no conto de Clarice. Referências: BUTLER, Judith. Vida precária. Contemporânea: Revista de sociologia da UFSCar. Ed. v. 1 n. 1 (2011): Janeiro Junho de 2011. Disponível em <https://www.contemporanea.ufscar.br/index.php/contemporanea/article/view/18>. Acesso em 03 mai 2022. LEVINAS, Emmanuel. Totality and Infinity: An Essay on Exteriority. Pittsburgh, Duquesne University Press, 1969. LEVINAS, Emmanuel; KERNEY, Richard. “Dialogue with Emmanuel Levinas”. Face to Face with Levinas. Albany, SUNY Press, 1986 LISPECTOR, Clarice. A bela e a fera ou a ferida grande demais. In: A bela e a fera. Rocco, 1998. CLARICE LISPECTOR: CRIAÇÃO EM (E)VIDÊNCIA Pamela Zacharias Resumo: Este trabalho apresentará alguns pontos de intersecção que há entre a escrita de Clarice Lispector e a filosofia de Gilles Deleuze e Félix Guattari. A partir da interpretação das crônicas “Uma coisa” e “Estado de graça”, o procedimento de escrita clariciana será analisado pelo viés da vidência (no sentido deleuziano do termo), central, segundo o filósofo, para os fazeres literário e filosófico. Segundo Deleuze, tanto o literato quanto o filósofo foram atravessados por uma visão demasiadamente intensa, que se torna substrato de suas criações – perceptos/afectos e conceitos, respectivamente. Perceberemos como esse pensamento corresponde ao que Clarice nos relata nas crônicas analisadas. Além disso, o trabalho também aborda o que tradicionalmente é conhecido como epifania (além de suas revisões pela crítica) nos textos da escritora enquanto um estado de vidência de suas personagens que, a partir de um encontro intensivo, são atravessadas por uma visão de algo que não encontra correspondência no campo da familiaridade. Para essa abordagem, serão percorridos os contos “Perdoando Deus”, “O ovo e a galinha”, “O relatório da coisa”, além de outras narrativas claricianas, cujas análises centram-se em demonstrar como essa visão materializa-se na língua por meio de subversões sintáticas, morfológicas, semânticas e estilísticas, construindo signos singulares e sensíveis, permeados por uma potência conceitual. Referências: DELEUZE, G. Crítica e clínica. Trad. Peter Pál Pelbart. São Paulo: Ed. 34, 2011. DELEUZE, G.; GUATTARI, F. O que é a filosofia?. Trad. Bento Prado Jr e Alberto Alonso Muñoz. 2ª ed. São Paulo: Ed. 34, 1997. DELEUZE, G.; PARNET, C. Diálogos. São Paulo: Escuta, 1998. DELEUZE, G. Proust e os signos. 2.ed. trad. Antonio Piquet e Roberto Machado. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003. DELEUZE, G. Cinema 2: a imagem-tempo. Trad. Eloisa de Araujo Ribeiro. São Paulo: Brasiliense, 2007. LISPECTOR, C. A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999. LISPECTOR, C. Outros escritos. MONTERO, Tereza e MANZO, Lícia (org.). Rio de Janeiro: Rocco, 2005. LISPECTOR, C. Todos os contos. Organização de Benjamin Moser. Rio de Janeiro: Rocco. 2016. NABAIS, P. C. Gilles Deleuze: philosophie et littérature. Paris: L'Harmattan, 2013. PENNA, J. C. O nu em Clarice Lispector. Alea. v. 12. n. 1, janeiro-junho, pp. 6896, 2010. ROSENBAUM, Y. “Na contramão da palavra: a escrita de Clarice Lispector”. Em Catálogo da Exposição Constelação Clarice. Curadoria Eucanaã Ferraz e Verônica Stigger. São Paulo: ISM, p. 244-258, 2021. ROSENBAUM, Y. “Entre a loucura e a lucidez: crônicas de Clarice Lispector no Jornal do Brasil”. Journal of Lusophone Studies, p. 75-96, 2019. WISNIK, J. M. “Iluminações Profanas”. In: https://artepensamento.ims.com.br/item/iluminacoes-profanaspoetas-profetas-e-drogados/acessado em 27/04/2022. A PRESENÇA DO ABSURDO NO TEMPO PRESENTE: UMA INTERSEÇÃO ENTRE BECKTT E SARAMAGO Pamera Ferreira Santos Resumo: Este trabalho tem como condução central destacar alguns objetivos do Teatro do Absurdo perceptíveis na peça Esperando Godot e no texto de José Saramago, As Intermitências da Morte. Sobretudo, ao confrontar o homem moderno com a realidade da sua condição humana, especialmente trazendo a consciência do presente, bem como, em alguma medida, o humor que o absurdo desperta. Trata-se de dois textos que trazem forte apelo ao momento presente. Uma peça sem cenários, onde figura apenas uma árvore, retirando qualquer coisa que pudesse distrair o humano de sua condição e daquele instante, apontando o vazio existencial tão negligenciado pela humanidade. Estabelecendo um paralelo com isso, tem-se o texto de Saramago, cujo tempo é ressignificado pela ausência da morte, retirando do sujeito uma de suas maiores distrações existenciais. É como se Beckett e Saramago perguntassem, radicalmente: aqui e agora, quem és tu? Eis o absurdo, as possíveis justificativas da existência humana não estão pautadas no presente. Há sempre uma motivação em movimentos e exigências do passado ou do futuro. Esses autores têm suas obras atravessadas por questões que marcaram a sua época, permitindo ao homem moderno importantes reflexões sobre suas ações, já que o século XX foi realçado pela produção e distribuição em massa de tecnologias, saberes, mas também de violência e desigualdades, numa assustadora globalização, colocando em xeque a fragilidade da própria existência da espécie humana, o ser humano ganha potencial para se autodestruir. Portanto, o existencialismo é uma marca de interseção presente nas obras em destaque neste trabalho. Referências: BECKETT, S. Esperando Godot. São Paulo: Abril, coleção Teatro Vivo, tradução de Flávio Rangel, 1976. ESSLIN, Martin. O Teatro do Absurdo. São Paulo: Zahar editores, 1968, 1ªed. Tradução de Bárbara Heliodora. HOUAISS. Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009. SARAMAGO, José. As intermitências da morte. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. FACETAS DA HÝBRIS: DAS VESTES REAIS ESFARRAPADAS DE XERXES AOS PARANGOLÉS DE HÉLIO OITICICA Roberto Antônio Penedo do Amaral Resumo: A comunicação constitui-se num exercício de antropofagia dos clássicos, tendo como referência a tragédia Persas, de Ésquilo. A chave de leitura tem na noção de hýbris: “Tudo o que ultrapassa a medida, excesso, desmedida; [...] algo impetuoso, desenfreado, violento, um ardor excessivo” (CHAUI, 2002, p. 502), o seu fundamento. A hýbris em Xerxes manifesta-se em sua soberba ao tentar derrotar os gregos, comandando numeroso exército na batalha de Salamina, tema da referida tragédia esquiliana. Punido pelos deuses, no êxodo da tragédia, surge como um imperador trajando “vestes reais esfarrapadas” (PULQUÉRIO, 2021, p. 11). A hýbris, nesse caso, resultou num sentimento de tristeza, conforme declara Xerxes: “É verdade! Triste de mim, que perdi um tão grande exército!” e “Observa só o estado das minhas vestes!” (ÉSQUILO, 2021, 61). A proposta é retomar a noção de hýbris desde a manifestação artística criada por Hélio Oiticica: os parangolés. Conceituados pelo criador como gestos de “antiarte por excelência [...] consistem basicamente em capas de tecidos coloridos para vestir, dançar, ‘incorporar’, [...] e pressupõem uma manifestação cultural coletiva (TEIXEIRA, 2017, p. 51). Ao contrário da suntuosidade das vestes de Xerxes, a matéria-prima dos parangolés é o tecido descartado e o pano rejeitado. Vestir um parangolé, enquanto hýbris, significa ficar de alguma forma “possuído”, “incorporar” a rebeldia, “travestir-se” de petulância emancipatória. Nesse sentido, o “espectador é convidado [...] a dançar, determinando uma transformação expressivo-corporal. O ato de vestir os Parangolés traduz a totalidade vivencial da obra, pois ao desdobrá-la, tendo como núcleo central o seu próprio corpo, o espectador (agora considerado participador) vivencia a transmutação espacial, percebendo-se como ‘núcleo’ estrutural da obra” (TEIXEIRA, 2017, p. 52). Dessa forma, a desmedida implicada pelos parangolés de Oiticica não culmina na tristeza das roupas esfarrapadas de Xerxes, mas na alegria de inominados participantes desse gesto cultural e artístico coletivo. Referências: CHAUI, Marilena. Introdução à história da filosofia – dos pré-socráticos a Aristóteles. Vol. I. 2 ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. PULQUÉRIO, Manuel Oliveira. Introdução. In: Persas. Ésquilo. Tradução de Manuel Oliveira Pulquério. Lisboa: Edições 70, 2021. p. 11-13. TEIXEIRA, Amanda Gatinho. Um olhar sobre os parangolés de Hélio Oiticica. Arteriais. Revista do PPGARTES. ICA. Ufpa. n. 04. (2017). Disponível em https://periodicos.ufpa.br/index.php/ppgartes/article/view/4863 Acesso em 03 jun. 2021. O FAROL OBSCURO DA MODERNIDADE: ANTI-ILUMINISMO EM UNAMUNO Walter Pinto de Oliveira Neto Resumo: Na obra Os antimodernos, seu autor, Antoine Compagnon, menciona uma série de características inerentes a um tipo de intelectual que rechaça o projeto da modernidade. Ele menciona que esse tipo de pensador está composto por uma morfologia dividida em seis elementos entrelaçados: Contrarrevolução, Anti-Iluminismo, Pessimismo, Pecado Original, Sublime e Vituperação. Esses traços correspondem a categorias distintas do pensamento e da cultura, como a política, a história, a filosofia, a teologia, a estética e o estilo, havendo em cada uma delas coordenadas hermenêuticas que possibilitam a descoberta de uma categoria de intelectual moderno: o antimoderno. Assim sendo, neste trabalho pretendemos, primeiro, mencionar as características filosóficas e literárias que fazem do escritor Miguel de Unamuno (1867–1936) um antimoderno; e, segundo, um antimoderno anti-iluminista pelo que tem de herdeiro do espírito antirracional próprio ao período finissecular, em que autores como Schopenhauer, Nietzsche ou Baudelaire influenciaram diversos intelectuais ulteriores a eles. Partindo dessas premissas, traçamos um estudo acerca de Unamuno a partir do arquétipo compagnoniano, a fim de destacar segmentos da ideologia anti-iluminista na produção ficcional do autor, em especial na obra Amor y pedagogía (1902). Visando abordar as referidas temáticas, valemo-nos dos estudos de Compagnon (2014), Todorov (2008) e Unamuno (2005, 1950), entre outros, sobre a epistemologia Iluminista e AntiIluminista. O compêndio teórico e crítico supracitado aponta para uma rejeição do espanhol aos Iluministas e o legado deixado por eles na metafísica europeia moderna, sendo o romance Amor y pedagogía o mais incisivo reflexo literário de sua ideologia pessimista para com as luzes obscuras do Iluminismo. Referências: COMPAGNON, Antoine. Os Antimodernos: de Joseph de Maistre a Roland Barthes. Trad. Laura T. Brandini. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2014. UNAMUNO, Miguel de. Amor y Pedagogía. Madrid: Editora Club Internacional del Libro. 1994. UNAMUNO, Miguel de. Contra esto y aquello. 3ª ed. Buenos Aires: Espasa – Calpe Argentina, 1950. UNAMUNO, Miguel de. Del sentimiento trágico de la vida en los hombres y en los pueblos. Madrid: Alianza, 2005. TODOROV, Tzvetan. O espírito das luzes. Trad. Mônica C. Corrêa. São Paulo: Editora Barcarolla, 2008. SIMPÓSIO “CARTOGRAFIAS RECENTES DO COMPARATISMO NA AMÉRICA LATINA: RELAÇÕES DE VIZINHANÇA RECONFIGURADAS” Wanderlan Alves (UEPB), Anselmo Peres Alós (UFSM) O PERCURSO HISTÓRICO-LITERÁRIO EM PESSOA E SUASSUNA: UMA POÉTICA DO MITO SEBÁSTICO À LUZ DO IMAGINÁRIO DE GILBERT DURAND Adeilson de Abreu Marques Resumo: Este trabalho volta-se para um fenômeno histórico-cultural cuja importância é patente nos países lusófonos: o mito do rei Dom Sebastião. O sebastianismo atravessou séculos e migrou de Portugal para tradições eruditas e populares, como ocorreu no Nordeste do Brasil. A análise empreendida nessa investigação busca situar o mito sebástico à luz do imaginário em duas obras literárias: Mensagem, de Fernando Pessoa, e A Pedra do Reino e o Príncipe do sangue do vai-e-volta, de Ariano Suassuna. Em Fernando Pessoa, há a presença de um mito mais próximo do seu contexto original e de aspecto mais ortodoxo. Já em Ariano Suassuna, há um mito hibridizado, amalgamado em contexto sócio-cultural diverso e enriquecido pela tradição popular de um Brasil bastante singular: as narrativas da literatura de cordel, a xilogravura, os repentes, a poesia popular, as lendas do homem sertanejo. O mito é, portanto, investigado em algumas de suas vertentes teóricas, assim como a teoria do imaginário de Gilbert Durand, em cuja metodologia se assenta o estudo comparativo entre as obras literárias. A mitodologia de Durand, por meio da mitocrítica, fornece os conceitos que serão utilizados nesta abordagem de um itinerário fascinante: o mito sebástico, que é histórico, cultural, político e, sobretudo nesta pesquisa, um mote literário dos mais ricos nas tradições lusófonas. Referências: ABREU, Márcia. História de cordéis e folhetos. Campinas: Mercado de Letras, 1999. ARANTES, Antonio Augusto. O que é cultura popular. São Paulo: Brasiliense, 2012. AZEVEDO, J. Luís de. A evolução do sebastianismo. Lisboa: Livraria Clássica, 1947. BASTAZIN, Vera. Mito e poética na literatura contemporânea: um estudo sobre José Saramago. Cotia: Ateliê Editorial, 2006. BRAGA, Pedro. O touro encantado da Ilha dos Lençóis: o sebastianismo no Maranhão. Rio de Janeiro: Vozes, 2001. CAMÕES, Luís Vaz de. Os Lusíadas. Jaguará do Sul: Editora Avenida, 2012. CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário de folclore brasileiro. Rio de Janeiro: Ediouro Publicações, 1972. _______. Dicionário do folclore brasileiro. Rio de Janeiro: Ediouro, [19-?]. CASSIRER, Ernst. Linguagem e mito São Paulo: Perspectiva, 2011. (Coleção Debates). COELHO, Maria Isabel Tavares. Mensagens de Mensagem, de Fernando Pessoa. 2010. 120 fl. Dissertação (Mestrado em Estudos Portugueses) - Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 2010. CHEVALIER, Jean. Dicionário de símbolos: mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras, cores, números. Rio de Janeiro: José Olympio, 2012. DOMINGOS, Adenil Alfeu. Barthes: mito, semiologia e mitologias. 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Esta relação não ocorre de maneira direta. Cortázar engendrou a personagem Morelli, que exibe significativas aproximações idiossincráticas com a literatura de outros dois escritores argentinos, que regularam aspectos emblemáticos de suas poéticas a partir do Quixote ou com o Quixote, a saber: Jorge Luis Borges, com o conto “Pierre Menard, autor do Quixote” (1939) e Macedonio Fernández, com os romances Adriana Buenos Aires (1922) e Museu do romance da Eterna (1967), que configuram o projeto macedoniano de reescritura do Quixote, no século XX. O aporte teórico-metodológico de pesquisa bibliográfica nas particularidades das modalidades das narrativas – conto e romance – são abordadas desde a perspectiva teórico-crítica que os escritores formularam sobre os gêneros, às teorias sobre o romance de Mikhail Bakhtin (1935) e Georg Lukács (1962). Tomamos como elemento central de discussão entre as obras o leitor que reverte sua leitura em escritura, o leitor como personagem e como elemento textual da estrutura narrativa. Para esta questão, contamos com o aporte teórico de Wolfgang Iser (1976), com a teoria do leitor implícito, e de Umberto Eco, com a teoria do Leitor-Modelo (1979). A matéria ‘relações intertextuais (trânsitos literários)’ está subsidiada pelas teorias de Gerárd Genette, com Palimpsestos (1982), e de Linda Hutcheon, com Uma Teoria da Paródia (1985). Referências: ARRIGUCCI JR., Davi. O escorpião encalacrado: a poética da destruição em Julio Cortázar. São Paulo: Perspectiva, 1973. ATTALA, Daniel. Macedonio Fernández, lector del Quijote. Buenos Aires: Paradiso, 2009. BAKHTIN, Mikhail. Questões de literatura e de estética: a teoria do romance. Trad. de Aurora Fornoni Bernadini. 4. ed., São Paulo: UNESP, 1998. BORGES, Jorge Luis. “Pierre Menard, autor do Quixote”, in: _____. Ficções. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. BORGES, Adriana de. “Diário de um escritor rizomático”, in: Anais do XVIII Seminário Brasileiro de Crítica Literária e do XVII Seminário de Crítica do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2012, p. 08-25. [ISSN 270-5460]. CERVANTES SAAVEDRA, Miguel. Dom Quixote de La Mancha, v.1. Trad. de Ernani Ssó. São Paulo: Penguim Classics Companhia das Letras, 2012. CERVANTES SAAVEDRA, Miguel. Dom Quixote de La Mancha, v.2. Trad. de Ernani Ssó. São Paulo: Penguim Classics Companhia das Letras, 2012. CORTÁZAR, Julio. O jogo da amarelinha. Tradução de Fernando Castro Ferro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999. CORTÁZAR, Julio. Notas sobre o romance contemporâneo (1948). trad. de Paulina Wacht e Ari Roitman. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999, pp.131-140. (Obra Crítica, v.2) CORTÁZAR, Julio. Alguns aspectos do conto (1962-63). trad. de Paulina Wacht e Ari Roitman. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999, pp.345-363. (Obra Crítica, v.2) ECO, Umberto. Lector in fabula: a cooperação interpretativa nos textos narrativos. São Paulo: Perspectiva, 2008. (Estudos; 89). FERNÁNDEZ, Macedonio. Adriana Buenos Aires: última novela mala. Buenos Aires: Corregidor, 2012. (Obras completas; 5 dirigida por Adolfo de Obieta). FERNÁNDEZ, Macedonio. Museu do romance da Eterna. Trad. de Gênese Andrade. São Paulo: Cosac Naify, 2010. GENETTE, Gérard. Palimpsestos: a literatura de segunda mão. Trad. de Luciene Guimarães e Maria Antônia Ramos Coutinho. Belo Horizonte: FALE/UFMG, 2006. HUTCHEON, Linda. Uma teoria da paródia: ensinamentos das formas de arte do século XX. Lisboa: Edições 70, 1985. ISER, Wolfgang. Ato da leitura: uma teoria do efeito estético, v1. São Paulo: Ed. 34, 1996. (Coleção Teoria). LUKÁCS, Georg. A teoria do romance. Trad. de José Marcos Mariani de Macedo. São Paulo: Duas Cidades; Ed. 34, 2000. CORPO/NAÇÃO/NARRAÇÃO: MASCULINIDADES SUBALTERNIZADAS NO ROMANCE BRASILEIRO (19802019) Anselmo Peres Alós Resumo: A presente proposta de comunicação tem como objetivo apresentar os resultados parciais do projeto de pesquisa intitulado "CORPO/NAÇÃO/NARRAÇÃO: masculinidades subalternizadas no romance brasileiro (1980-2019)", financiado com Bolsa de Produtividade PQ-2 do CNPq. A investigação configurase simultaneamente como um desdobramento e um aprofundamento do meu projeto anterior, iniciado em abril de 2017 e concluído em fevereiro de 2020, intitulado "Contaminados, torturados, abjetos: por uma poética do corpo e da subjetividade na América Latina", também apoiado com Bolsa de Produtividade PQ-2 do CNPq. No novo projeto, merece destaque, de um lado, a manutenção das diretrizes e postulados teórico-críticos, que continuam fundamentando o novo projeto. Tais diretrizes são: (a) a preocupação com as questões de corpo/gênero/sexualidade, focadas especificamente nas masculinidades subalternizadas e/ou contra-hegemônicas e (b) a releitura da história da literatura nacional recente, a parir de lentes interseccionais que cruzam teoria feminista, estudos étnico raciais, estudos da masculinidade e teoria queer. A questão norteadora que guiou a elaboração dessa proposta de investigação, entretanto, é apenas tangenciada por esses dois eixos de questionamento da literatura contemporânea brasileira. Caberia perguntar: a constante presença do corpo (e a consequente problematização do seu status ontológico) é somente uma recorrência temática, ou estaria ligada a processos metafóricos e alegóricos que apontam para uma discussão para além da corporeidade e da masculinidade, envolvendo o corpo (social, retórico, imaginário e político) da nação? O objetivo principal do projeto é mapear as formas pelas quais os processos retóricos de um corpus representativo de romances brasileiros publicados nas últimas quatro décadas (1980-2019) se entrecruzam, se contaminam e se interpenetram na constituição de uma rede textual de índole coletiva acerca dos imaginários e dos conceitos de corpo, de masculinidade e de sexualidade. Referências: ABOUD, S. et all. (Orgs.). Imagem & diversidade sexual. São Paulo: Nojosa, 2004. ABREU, Gabriel de Souza. O segundo armário. Lisboa: Index, 2016. ACHUGAR, Hugo. Apuntes sobre la construcción de um nuevo espacio em la literatura homoerótica latinoamericana. ESTUDIOS. Año 7, n. 13. Caracas, ene.-jun., 1999, p. 91-105. ACHUGAR, Hugo. Planetas sem boca. Belo Horizonte: UFMG, 2006. ALBUQUERQUE, Severino. Tentative Transgressions. Madison: The U of Wiscosin P, 2004. ALENCAR, José de. Obra completa. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1960. Quatro volumes. ALÓS, Anselmo Peres; FELIPPE, R. F. de.; SOUTO, A. do R. 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Anhangabaú é uma travesti feirante que, sem saber, alimenta um jacaré que vive no esgoto com as sobras de sua barraca e, posteriormente, é devorada pelo animal. Copi é uma travesti que se prostitui e busca uma parceria com René, recepcionista de um hotel, para aumentar a clientela, em troca de uma porcentagem de lucros, e, com o tempo, tornam-se amigos. Ambas as relações começam pelo interesse naquilo que uma parte tem a oferecer; então a parte que tem menos a oferecer se sujeita ao proposto pela parte que está em uma situação melhor - como ocorre em sociedades reais. No decorrer das narrativas, as travestis têm destinos semelhantes, embora por caminhos distantes. Anhangabaú é devorada pelo jacaré ao entrar no esgoto, naquele momento é ele quem está em seu próprio espaço, e ela é uma outsider; uma grande refeição interessa mais ao jacaré do que se contentar com sobras. Copi acaba por se suicidar, de tanto se sentir triste e solitária, embora tivesse a amizade de René, ele não oferecia o suporte e a compreensão que ela precisava. Os dois casos, ainda que simplificadamente, ilustram jogos de interesse com certos corpos dissonantes, que acabam por interagir com uma sociedade interessada apenas em poder tirar algum proveito desses indivíduos. Referências: BARTHES, R. A Morte do Autor. In: O Rumor da Língua. São Paulo: Brasiliense, 1988. ELIAS, N. e SCOTSON, J. Os Estabelecidos e os Outsiders: sociologia das relações de poder a partir de uma pequena comunidade. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 2000. NAZARIAN, S. Mastigando Humanos: um romance psicodélico. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006. RESENDE, B. Contemporâneos – Expressões da Literatura Brasileira no Século XXI. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2008. SCHROEDER, C. H. As fantasias Eletivas. Rio de Janeiro: Record, 2014. WELLEK, R. e WARREN, A. A natureza da literatura. In: Teoria da literatura e metodologia dos estudos literários. Trad. Luis Carlos Borges. São Paulo: Martins Fontes, 2003. ZONAS DE CONTENÇÃO, REFLEXOS DE VIOLÊNCIA: O CONDOMÍNIO COMO ESPAÇO REFRAÇÃO DE VIOLÊNCIA EM NARRATIVAS LATINO-AMERICANAS CONTEMPORÂNEAS Brenda Carlos de Andrade Resumo: No romance La Oculta, de Hector Abad Faciolince, a trama se desenvolve em torno de uma fazenda, escondida entre as montanhas da Colômbia. Herança familiar dos irmãos Pilar, Eva e Antonio Ángel, o lugar que havia sido, em gerações anteriores, o sustento da família e depois repouso de férias se transforma numa zona conflito sofrendo assédios violentos de grupos de narcotraficantes e de uma construtora que deseja transformar o local em um condomínio fechado, o que acaba acontecendo depois de um ataque mais sério de narcotraficantes à fazenda. Nessa narrativa, o condomínio fechado sinaliza uma solução que separa e contém o avanço da violência. No longa Una semana solos, de Celina Murga, La ciudad que huye, de Lucrecia Martel, e no conto “Los muchachos”, de Juan Gabriel Vásquez, os condomínios surgem como zonas limites que repetem estruturas padronizadas do capital (a vida tranquila semi-bucólica), mas que refletem de maneira fragmentada os conflitos locais. O condomínio aqui surge como um híbrido entre o não-lugar e a residência (Augé, 2012), entre uma paz limitada e os confrontos violentos que emergem de limites porosos, já que são zonas que pretendem se isolar do espaço urbano sem sair dele. Pretende-se nesse trabalho identificar e analisar como essas zonas de aparente contenção replicam as violências externas tanto do seu em torno como também um certo modelo de violência urbana transnacional. Parte-se da hipótese de que o espaço do condomínio pode ser entendido como uma possível chave de leitura para pensar as territorialidades representadas em narrativas latino-americanas contemporâneas nas fronteiras entre o local e global, entre determinadas identidades e o Outro como representação de medo e ameaça. Para pensar essas noções de territorialidade, condomínio, cidade, espaços urbanos, faz-se uso de Ludmer (2010), Virilio (2010), Graham (2010), Barrenha (2016) e Sarlo (2014). Referências: ABAD FACIOLINCE, Héctor. La Oculta. Bogotá: Alfaguara, 2015. AUGÉ, Marc. Não-lugares: introdução a uma antropologia da supermodernidade. Trad. Maria Lucia Pereira. Campinas: Papirus, 2012. BARRENHA, Natalia. Espaços em conflito: ensaios sobre a cidade no cinema argentino contemporâneo. 2016. 201f. Tese (Doutorado em Multimeios) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2016. GRAHAM, Stephen. Cities under siege: the new military urbanism. London; New York: Verso, 2011. LA CIUDAD que huye. Direção: Lucrecia Martel. Produção: Santiago Leiro, Vanina Berghella e Fabián Beremblum. Youtube. 2007. 4m51s. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=LeUvjPIJm_s>. Acesso em: 03/05/2022. LUDMER, Josefina. Aquí América Latina: una especulación. Buenos Aires: Eterna Cadencia, 2010. SARLO, Beatriz. A cidade vista: mercadorias e cultura urbana. 1 ed. São Paulo: Ed. WMF Martins Fontes, 2014. UNA SEMANA solos. Direção: Celina Murga. Produção: Juan Villegas. Argentina: Tresmilmundos cine, 2007. 1 DVD. VÁSQUEZ. Los muchachos. In: Canciones para el incendio. Bogotá; Barcelona: Alfaguara, 2019. VIRILIO, Paul. The administration of fear. South Pasadena: Semiotext(e), 2012. ASSINATURA RASURADA: CINZAS, SOMBRAS E FORMAS EM TRAVESSIA NA AMÉRICA LATINA Danielle Ferreira Costa Resumo: Esta proposta de comunicação pretende dar visibilidade a narrativas ficcionais, ou fábulas, contemporâneas que carregam a intenção de produzir kátharsis da memória latino-americana dos “anos de chumbo”, tida como um dos nervos da identidade latina, discutindo-a como um problema político latente que ainda pode ser (re)vivido. Por isso, detém o olhar na atmosfera traumática, turva e difusa impresso, nas sociedades brasileira, argentina e chilena, pelas ditaduras que eclodiram na América Latina a partir da década de 1960, e que continuam a ecoar na contemporânea, como um rastro, ou um resto, que insiste em reaparecer. A partir disso, e com o intuito de revelar a formação silenciosa de uma constelação estética de dores, que continuam a ressoar os traumas ditatoriais no tempo presente, ouve até o final as narrativas das griôs Nona Fernández (La dimensión desconocida, de 2016), Mariana Enríquez (Nuestra parte de noche, de 2019) e Claudia Lage (O Corpo interminável, de 2019). Narrativas engajadas politicamente em dar voz aos que acabaram por se afogar no vórtice de violência provocado por Estados autoritários. Nesse sentido, esta comunicação tem o percurso investigativo orientado por um fazer crítico que não busca ser apenas um discurso sobre esse passado, ou tratá-lo como algo finito, mas abordá-lo por meio de uma reflexão na qual memória, corpo e linguagem se atravessam no tempo presente. Esta reflexão é permeada por categorias de pensamento, tais como memória e rastro, de Paul Ricoeur, escritura, de Roland Barthe, frontería, de Abril Trigo, assinatura, de Jacques Derrida, contemporâneo, de Giorgio Agamben, paisagem, de Michel Collot, arte transmoderna, de Enrique Dussel, e partilha do sensível, de Jacques Rancière. Referências: AGAMBEN, Giorgio. O que é o contemporâneo? e outros ensaios. Tradução Vinícius Nicastro Honesko. Chapecó: Argos, 2009. 91 páginas. ISBN 978-85- 7897-005-5. AGAMBEN, Giorgio. Estado de exceção. Tradução de Iraci D. Poleti. São Paulo: Boitempo, 2004. BARTHES, Roland. O grau zero da escrita. Tradução de Mario Laranjeira. São Paulo: Martins Fontes, 2004. 295 BARTHES, Roland. S/Z. Tradução de Maria de Santa Cruz e Ana Mafalda Leite. Lisboa: Edições 70, 1970. BENJAMIN, Walter. O anjo da história. Tradução de João Barrento. 2a ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2013. BENJAMIN, Walter. Passagens. Tradução de Irene Aron e Cleonice P. B. Mourão. Belo Horizonte: UFMG/Imprensa Oficial de São Paulo, 2006. BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito de história: edição crítica. Organização e tradução de Adalberto Muller, [notas] Márcio Seligmann-Silva. São Paulo: Alameda, 2020. COLLOT, Michel. Poética e Filosofia da Paisagem. Tradução de Ida Alves [et al.]. Rio de Janeiro: Editora Oficina Raquel, 2013. DERRIDA, Jacques. L’Oreille de l’Autre: otobiographies, transfert traductions, textes e débats avec Jacques Derrida. Dir. Claude Lévesque e Christie V. Tradução de Milena Magalhães. Macdonald, Montreal: VLB, 1982. DERRIDA, Jacques. Mal de arquivo: uma impressão freudiana. Tradução de Claudia de Moraes Rego. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2001. DERRIDA, Jacques. Margens da Filosofia. Campinas: Papirus, 1991. ENRIQUEZ, Mariana. Nuestra parte de la noche. Barcelona: Anagrama, 2019. FERNÁNDEZ, Nona. La dimensión desconocida. Santiago: Alquimia Ediciones, 2016. E- Book. LAGE, Claudia. O corpo interminável. Companhia das Letras, 2019. PM&R-AL. Memória e resistência na América Latina. Website da Escolade Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, de 2015 a 2017. Disponível em http://www.usp.br/memoriaeresistencia/. Acesso em: 05/08/2020. RAMÍREZ, Hernán; FRANCO, Marina. Ditadura no Cone Sul da América Latina. 1. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2021. RANCIÈRE, Jacques. O inconsciente estético. Tradução de Mônica Costa Netto. São Paulo: Editora 34, 2018. RANCIÈRE, Jacques. As margens da ficção. Tradução de Fernando Scheibe. São Paulo: Editora 34, 2021. RANCIÈRE, Jacques. A partilha do sensível: Estética e política. Tradução de Mônica Costa Netto. São Paulo: Editora 34, 2020. RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Tradução de Alain François [et al.]. Campinas: Editora da UNICAMP, 2007. RICOEUR, Paul; CHANGEUX, Jean Pierre. O Que Nos Faz Pensar? Um neurocientista e um filósofo debatem ética, natureza humana e cérebro. Tradução de Isabel Saint-Aubyn, Edições 70, 2001. SARLO, Beatriz. Tempo passado: cultura da memória e guinada subjetiva. Tradução de Rosa Freire d ’Aguiar. São Paulo: Companhia das Letras; Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007. SELIGMANN-SILVA, Márcio. História, memória, literatura: o testemunho na era das catástrofes. Campinas: Editora UNICAMP, 2003. TELES, Edson; SAFATLE, Vladimir (Orgs.). O que resta da ditadura: a exceção brasileira. São Paulo: Boitempo, 2019. E-Book. Tella, Torcuato Di. História social da Argentina contemporânea / Torcuato Di Tella. – 2. ed. rev. - Brasília : FUNAG, 2017. TRIGO, Abril. Fronteras de la epistemologia: epistemologias de la frontera. In.: Papeles de Montevideo. no 1, Junio de 1997, p. 71-89. O REALISMO MARAVILHOSO EM A FLORESTA, DE MAURO GUILHERME Elane da Silva Viana Resumo: Esta pesquisa tem como objeto de estudo as manifestações do Realismo Maravilhoso na Literatura do Amapá, objetivando analisar como essa estética se apresenta em contos escritos por autores locais. Com esse propósito, discorre-se a princípio, acerca da literatura fantástica, resgatando seus conceitos, características e relação com o realismo maravilhoso, considerando as ideias propostas por teóricos como Ceserani (2006), Roas (2014) e Todorov (2017). Em seguida aborda o Realismo Maravilhoso e sua importância na literatura hispano-americana, bem como sobre sua presença na literatura brasileira de modo geral, tendo como base as contribuições de Chiampi (2015), Fernández (2001) e Rodrigues (1988), e principalmente, tratará sobre a presença dessa vertente no Amapá, considerando que esse território, parte da Amazônia, conta com uma cultura rica em lendas, mitos e crenças, que são retratados em sua literatura recorrentemente. Assim, a pesquisa destaca autores amapaenses que, em suas obras, exploram o realismo maravilhoso, com Fernando Canto, José Fernandes, Gian Danton, e, principalmente Mauro Guilherme, contista, cronista e poeta premiado, que se destaca por seus enredos insólitos, explorando o imaginário do público leitor. Por fim, serão apresentados alguns exemplos de textos da literatura amapaense que apresentam características do realismo maravilhoso, priorizando a análise de um conto de Mauro Guilherme, A floresta, que mescla situações inusitadas com elementos fantásticos da cultura local. Referências: CESERANI, Remo. O fantástico. Tradução de Cezar Tridapalli. Curitiba: Ed. UFPR, 2006. CHIAMPI, Irlemar. O realismo maravilhoso: forma e ideologia do romance hispano-americano. 2ª ed. São Paulo: Perspectiva, 2015. FERNÁNDEZ, Teodosio. Lo real maravilloso de América y la literatura fantástica. In: Teorías de lo fantástico. ROAS, David et al. Madrid: Arco/Libros S. L, 2001. ps. 283-300. ROAS, David. A ameaça do fantástico: aproximações teóricas. Tradução de Julián Fuks São Paulo, Editora Unesp, 2014 RODRIGUES, Selma Calasans. O fantástico. São Paulo: Editora Ática, 1988. TODOROV, Tzvetan. Introdução à literatura fantástica. Tradução de Maria Clara Correa Castello. 4ª ed. São Paulo: Perspectiva, 2017. O PROBLEMA DO DIÁRIO NAS OBRAS DE RICARDO PIGLIA E ROBERTO BOLAÑO Gabriel Zupiroli de Almeida Resumo: O intuito deste trabalho é analisar como aparece a figura do diário nas obras Os detetives selvagens (1997), do chileno Roberto Bolaño, e Anos de formação: os diários de Emilio Renzi (2015), do argentino Ricardo Piglia. Partindo da análise de elementos específicos da escrita diarística nos dois textos, procuramos entender quais as semelhanças e, sobretudo, as diferenças que estão presentes, especialmente tendo como horizonte a ideia de figuração de si por parte dos autores – não apenas utilizando elementos como o diário, mas também outros como o alter ego. Nos dois livros analisados, a presença do diário pode ser compreendida como elemento a dar voz a esses jovens escritores em formação, local de depósito tanto de suas análises literárias, quanto de suas experiências cotidianas. Assim, procuramos analisar quais as características destes veículos, como eles são utilizados, assim como a forma que aparecem nas obras e sua função naquele meio, tendo em vista a ideia de que é através da escrita diarística que os personagens conseguem transmitir uma autofiguração por parte dos autores. A partir desta análise, podemos chegar à conclusão de que o diário, na forma como é utilizado por Bolaño, tem uma função na obra que se difere daquela construída por Piglia. No romance do chileno podemos perceber que o diário surge muito mais como um meio através do qual podemos ser apresentados àquele ambiente no qual Bolaño trabalha todo o desenho de uma geração. Já em Piglia, o diário aparece como espaço de experimentação narrativa e revisão crítica por parte do alter ego Emilio Renzi. O deslocamento realizado pelo autor priva a escrita de associação ao seu nome para trazer a Renzi a autoria de seus próprios escritos anteriores, fazendo com que o diário seja não apenas um meio para apresentar algo, mas o próprio fim da narrativa. Referências: ARFUCH, L. O espaço biográfico: dilemas da subjetividade contemporânea. Tradução de Paloma Vidal. Rio de Janeiro, RJ: Editora da UERJ, 2010. BOLAÑO, R. Os detetives selvagens. Tradução de Eduardo Brandão. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2006. KOHAN, M. Diario diferido. Remate de Males, Campinas, SP, v. 39, n. 2, p. 543–554, 2019. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/remate/article/view/8656430. Acesso em: 14 dez. 2020. LEJEUNE, P. O pacto autobiográfico: de Rousseau à internet. Tradução e organização de Jovita Maria Gerheim Noronha. Tradução de Maria Inês Coimbra Guedes. 2. ed. Belo Horizonte, MG: Editora UFMG, 2014. PIGLIA, R. Anos de formação: os diários de Emilio Renzi. Tradução de Sérgio Molina. 1. ed. São Paulo, SP: Todavia, 2017. _________. Los diarios de Emilio Renzi: los años felices. 1. ed. Barcelona: Anagrama, 2016. TRAJETOS DISSONANTES NOS ESTUDOS DA CRIAÇÃO LITERÁRIA EM ÂMBITO LATINO-AMERICANO Giovani Tridapalli Kurz Resumo: Qualquer estudo que tenha em seu centro a história da crítica genética — e que portanto se estruture ao redor da criação literária — retomará, invariavelmente, o Instituto de Textos e Manuscritos Modernos (ITEM), fundado em 1982, em Paris. Sabe-se hoje, contudo, que uma história da crítica genética na América Latina não se produz posteriormente, mas simultaneamente a seu desenvolvimento em território francês. O objetivo desta apresentação é destacar os pontos de partida de uma investigação que sistematize a crítica da criação em âmbito latino-americano, levando em conta a mesma necessidade de recuo que um olhar à genética francesa exige. Selecionam-se aqui os trabalhos de Élida Lois, Graciela Goldchluk e Claudia Amigo Pino para se pensar em um desenvolvimento local da crítica genética, enfatizando suas particularidades e distanciamentos de um cânone europeu. Dos seus ensaios, extrai-se a percepção de que existe há décadas a consciência do confronto entre enraizamentos teóricos de diferentes tradições. Retomam-se portanto três pesquisadoras latino-americanas para se fundar a possibilidade de um pensamento da genética que insira o colonialismo como elemento fundamental da equação; a partir de uma ideia de “desobediência epistêmica” que ecoa Walter Mignolo, debate-se a possibilidade de saberes reciprocamente complementares e, mais além, de epistemologias dissonantes. O objetivo final desta pesquisa é cotejar as produções teóricas não-europeias sobre a genética com o cânone francês, de modo a se destacar as diferenças epistemológicas que regem tanto o ímpeto criativo quanto o gesto crítico em cada um dos contextos. É deste cotejo que surgirá com maior clareza a diferença entre as duas concepções da crítica genética, o que possibilitará maior autonomia de cada uma delas. Referências: DE BIASI, Pierre-Marc. A genética dos textos. Tradução de Marie-Hélène Paret Passos. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2010. GOLDCHLUK, Graciela. El archivo Manuel Puig: un caso latinoamericano de creación en circulación. Manuscrítica, São Paulo, v. 35, p. 118-125, abr./ago. 2018. GRÉSILLON, Almuth. Alguns pontos sobre a história da crítica genética. Estudos avançados. v. 5, n. 11, São Paulo, Jan./ Apr. 1991. HAY, Louis. A literatura dos escritores. Tradução de Cleonice Paes Barreto Mourão. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2007. LOIS, Élida. Los estudios de crítica genética en el campo de la literatura hispanoamericana. In: VAUTHIER, Bénédicte; CORRADINE, Jimena G. (orgs.). Crítica genética y edición de manuscritos hispánicos contemporáneos. Salamanca: Ediciones Universidad de Salamanca, 2012. E-book. MIGNOLO, Walter. Desobediencia epistémica: retórica de la modernidad, lógica de la colonialidad y gramática de la descolonialidad. Buenos Aires: Ediciones del Signo, 2014. PINO, Claudia Amigo; ZULAR, Roberto. Escrever sobre escrever: uma introdução crítica à crítica genética. São Paulo: Martins Fontes, 2007. ______. Crítica genética, o que interpretar. Revista do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, v. 10, n. 2, p. 259-237, jul./dez. 2014. ZULAR, Roberto (org.). Criação em processo: ensaios de crítica genética. São Paulo: Iluminuras, 2002. REDES LITERÁRIAS SINGULARES E POLÍTICAS DO AFETO NA LITERATURA LATINO-AMERICANA CONTEMPORÂNEA Isabel Cristina Jasinski Resumo: Este estudo propõe aprimorar discussões sobre “redes literárias e políticas do afeto” como estratégia para pensar criticamente sobre a literatura latino-americana atual, dando continuidade a reflexões anteriores, mas focando nos aspectos relacionais da expressão contemporânea, a partir de textos críticos e teóricos que permitam problematizar como escritores/as dialogam com as renovadas formas de expressão e suportes para promover uma expressão singular pela escrita, articulando-se a dinâmicas plurais de sentido vinculadas a redes culturais (Ladagga, 2006; Fernández Bravo, 2011, Rivera Garza, 2013) e práticas escritas (Brizuela, 2014; Garramuño, 2014; Kiffer, 2014). Parte-se do princípio que as redes literárias se aprimoram a partir de processos de mobilidade, intensificados por dinâmicas de transnacionalização e comunicação a partir dos anos 90, que marcam os modos de relação e produção de sentido no começo do século XXI, como é considerado por inúmeros críticos literários que destacam a importância desses fatores para entender a literatura contemporânea na América Latina (Canclini, 1990; Achúgar, 1996; Pizarro, 2004; Ludmer, 2010). Na perspectiva teórica adotada, o receptor de certas práticas artísticas na literatura latino-americana atual faz parte de um processo não linear de experimentação da linguagem como espaço e tempo em fluxo, vista como escrita nômade, a partir do corpo singular do artista, ao expressar-se como gesto que incide em suas redes literárias singulares a partir de políticas de afeto (Antelo, 2009; Leys, 2011). A partir da compreensão da literatura como campo expandido em redes, entende-se que o escritor estabelece conexões afetivas múltiplas que compõem suas escolhas estéticas, evidenciando modos de relação e práticas de compartilhamento pela linguagem como ação e afecção. Referências: ANTELO, Raul. Subjetividade, extimidade. Trad. Diego Cervelin. Boletim de Pesquisa NELIC, v. 9, n. 14, 2009.2 ACHÚGAR, Hugo (2006). Planetas sem boca. Trad. Lisley Nascimento. Belo Horizonte: Editora UFMG. BRIZUELA, Natalia. Depois da fotografia: Uma literatura fora de si. Trad Carlos Nougué. São Paulo: Rocco, 2014. CÂMARA, Mário; KLINGER, Diana; PEDROSA, Célia; WOLFF, Jorge. Indicionário do contemporâneo. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2018. CANCLINI, Néstor García. Culturas híbridas. Estrategias para entrar y salir de la modernidad. México D.F.: Editorial Grijalbo, 1990. FERNÁNDEZ BRAVO, Álvaro. Discusión bibliográfica: Nuevas contribuciones para una teoría de las redes culturales. Cuadernos del CILHA, Mendoza, v. 12, n. 1, p. 209-215, 2011. Disponível em: http://www.scielo.org.ar/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1852-96152011000100012. GARRAMUÑO, Florencia. Frutos estranhos: sobre a inespecificidade na estética contemporânea. Trad. Carlos Nougué. Rio de Janeiro: Rocco, 2014. KIFFER, Ana; GARRAMUÑO, Florencia. Expansões contemporâneas. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2014. LADDAGA, Reinaldo. Estética de la emergencia. La formación de otra cultura de las artes. Córdoba: Adriana Hidalgo, 2006. LEYS, Ruth. “The Turn to Affect: A Critique”, Critical Inquiry, vol. 37, n. 3, The University of Chicago Press, 2011. Pp. 434-472. LUDMER, Josefina. Territorios. Aquí América Latina. Una especulación. Buenos Aires: Eterna Cadencia, 2010. PIZARRO, Ana. El sur y los trópicos: ensayos de cultura latinoamericana. Cuadernos de América sin nombre, nº10. Murcia: Compobell, 2004. RIVERA GARZA, Cristina. Los muertos indóciles. Necroescritura y desapropiación. México: Tusquets, 2013. DE NAVIOS A JANGADAS: LEITURAS ALEGÓRICAS NAS NARRATIVAS DE JULIO CORTÁZAR E JOSÉ SARAMAGO Júlio Heydeer Barbosa Vieira Resumo: Este trabalho tem por objetivo analisar os livros A Jangada de Pedra (1986), de José Saramago (1922-2010), e Os Prêmios (1960), de Julio Cortázar (1914-1984), a fim de compreender como ambas as obras estabelecem o deslocamento da viagem como elementos alegóricos que evidenciam tanto a configuração da identidade nacional, quanto a condição errante vista na trajetória das personagens dos dois romances. Na obra de Saramago, vemos a península ibérica se desprender do restante do continente europeu, passando a vagar sem rumo definido através do oceano. Já no livro de Cortázar, acompanhamos os ganhadores de uma loteria cujo prêmio é uma viagem de cruzeiro. Entretanto, a viagem sofre diversos imprevistos, comprometendo a chegada ao destino, resultando em intrigas no interior da embarcação. Para fundamentar este estudo, utilizamos como referencial teórico: Benjamin (1984, 1994), Hansen (2006), Pereira (2007) e Souki (2006) para a discussão sobre o conceito de alegoria; Joseph Campbell (2000) e seus trabalhos que abordam a temática da jornada do herói; Homi K. Bhabha (2013) quanto às concepções acerca do nacionalismo. Além disso, também nos apoiamos em Penha (2006) e sua análise sobre a alegoria contida no romance de Saramago; e Arrigucci Jr. (1995) com a sua investigação sobre a obra cortazariana Referências: ARRIGUCCI Jr., Davi. O escorpião encalacrado: a poética da destruição em Julio Cortázar. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. BENJAMIN, Walter. Origem do drama barroco alemão. São Paulo: Editora Brasiliense, 1984. BENJAMIN, Walter. Charles Baudelaire: Um lírico no auge do capitalismo. São Paulo: Editora Brasiliense, 1994. CAMPBELL, Joseph. O herói das mil faces. São Paulo: Editora Cultrix, 2000. CORTÁZAR, Julio. Os prêmios. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006. DOSTOIÉVSKI, Fiodor. O idiota. São Paulo: Editora 34, 2015. HANSEN, João Adolfo. Alegoria: a construção e interpretação da metáfora. São Paulo: Editora da Unicamp, 2006. LEITE, Nícolas Totti. O navio que vai: representações da nação em Os Prêmios de Cortázar. Revista Estação Literária, Londrina, Volume 14, p. 59-70, dez. 2015. PENHA, Gisela Maria de Lima Braga. A jangada de pedra: uma viagem alegórica à poética de José Saramago. São Paulo: Editora UNESP, 2007. O TERRITÓRIO COMO PRÁTICA DE ANÁLISE LITERÁRIA EM NARRATIVAS LATINO-AMERICANAS CONTEMPORÂNEAS Lucas Sauzem Cruz Resumo: Pode-se definir território, de maneira simplificada, como o produto da composição de “uma dimensão simbólica, ou cultural em sentido estrito, e uma dimensão material, de natureza predominantemente econômico-política” (HAESBAERT, 1997, p. 27), e que se produz a partir da relação de uma ação humana com um espaço físico ou virtual. Esse conceito, embora mais empregado nos estudos geográficos, também se faz útil para entender diversas dinâmicas que estão em jogo na literatura. Semelhante ao que faz a geocrítica e a geopoética (COLLOT, 2012), uma prática de análise territorial parte da investigação do “tipo de cenário e/ou natureza que forma um território, isto é, que espaço está em relação de dominação-apropriação com as personagens. E, em consequência, de que forma o poder ali é exercido” (FILHO, 2008, p. 6). De tal modo, a fim de ilustrar essa prática de análise, o presente trabalho desenvolve um esboço das possibilidades especulativas a partir da noção territorial em narrativas latino-americanas contemporâneas, como, por exemplo: Chicas Muertas, da argentina Selva Amada; Temporada de Huracanes, da mexicana Fernanda Melchor; e Las Malas, da argentina Camila Sosa Villada. Assim, na exploração de um corpus literário produzido na América Latina, os estudos territoriais evidenciarão “os mapas e as linhas traçadas pelo capitalismo, pelo tráfico, pelas máfias e pelas políticas da morte” (LUDMER, 2013, p. 112). Referências: COLLOT, Michel. Rumo a uma geografia literária. Gragoatá: Niterói, v. 1, n. 33, p. 17-31, 2012. FILHO, Ozíris. Espaço e literatura: introdução à topoanálise. XI Congresso Internacional da ABRALIC: Tessituras, Interações, Convergências. USP – São Paulo, 2008. HAESBAERT, Rogério. Des-territorialização e identidade: a rede gaúcha no Nordeste. Niterói: Eduff, 1997. LUDMER, Josefina. Aqui América latina: uma especulação. Trad. Rômulo Monte Alto. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2013. O MAPA COMO OBJETO E FIM: UM DIÁLOGO ENTRE AS POETAS-CARTÓGRAFAS ANA MARTINS MARQUES E ELIZABETH BISHOP Marcelo de Carvalho Gonçalves Júnior Resumo: “Mais sutis que as do historiador são do cartógrafo as cores ”, Elizabeth Bishop escreve no último verso de “O Mapa”. Bishop, em seu poema, não se limita em simplesmente descrever o mapa ou usá-lo em sua função de representar o mundo, mas sim escolhe investigá-lo através de seus versos e da sua percepção do mapa como coisa em si. Bethany Hicok (2014, p. 112) argumenta que Bishop cria um elo entre a ciência da cartografia e a arte poética, elo que também pode ser observado na maneira em que a poeta brasileira Ana Martins Marques, na série “Cartografias”, toma o mapa em funções muito maiores do que simplesmente o seu valor como referência do exterior, enxergando-o como realidade final em sua materialidade e não somente como imitação do real. No último poema da série, lemos “Quando enfim / fechássemos o mapa / o mundo se dobraria sobre si mesmo [...] (MARQUES, 2015, p. 47)”. Nesta comunicação, trataremos sobre as maneiras que as poetas se utilizam da cartografia como objeto poético e tomam o mapa para além de seu uso prático, olhando para as formas em que ele se configura como coisa, em seu aspecto de coisa, por meio de uma visão fenomenológica. Bishop e Marques, ao traçar seus mapas, traçam uma própria poética que toma a percepção do mapa em si para além da função prática e material, cartografando-o poeticamente. Referências: BISHOP, Elizabeth. Poemas escolhidos. Trad. Paulo Henriques Britto. 1ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. HICOK, Bethany. "Becoming a Poet: From North to South" IN: CLEGHORN, A;. ELLIS, J. (org). The Cambridge Companion to Elizabeth Bishop. 1ª ed. New York: Cambridge University Press, 2014. p. 111-123. MARQUES, Ana Martins. O livro das semelhanças. 1ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. DA MORTE E DO TRAUMA: O ANTIÉPICO NA LITERATURA LATINO-AMERICANA CONTEMPORÂNEA Renata Farias de Felippe Resumo: As considerações de Ribeiro (2016), acerca de “um impossível trabalho do luto, virtualmente infinito” (p.82), e de Ravetti (2019), a respeito do realismo performático reflexivo – rebatizado pela autora como “paradigma Bolaño” – elementos que, de acordo com os citados, caracterizam a literatura latino-americana contemporânea, são os pontos de partida desta exposição, que pretende refletir sobre a criação de um território literariamente forjado de identificações. Essa espécie de territórioafeto, atravessado pelas linhas traçadas “pelo capitalismo, pelo tráfico, pelas máfias e pelas políticas da morte” (LUDMER, 2013, p.112), ainda que entrevisto em uma série de narrativas, tem os romances Temporada de huracanes (2017), da escritora mexicana Fernanda Melchor, e Enterre seus mortos (2018), de Ana Paula Maia, como exemplos pungentes. Em ambas as manifestações o “inumerável da morte e do trauma” são “tornados acontecimentos absolutamente banais, antiépicos por excelência”, recorrências que permitem entrever um território latino-americano conflagrado por tensões, “atravessado pelos resquícios de Estados autoritários e pelas forças globais do capital transnacional” (RIBEIRO, 2016, p.92). Em Temporada de huracanes e Enterre seus mortos, no entanto, as referidas tensões não são tratadas de forma redutora. As abordagens de Melchor e de Maia não se rendem às “facilidades muitas vezes reconfortantes de um realismo codificado, voltado para a denúncia e para o julgamento” (RIBEIRO, 2016, p.83). Nos romances, o signo da repetição e da consequente circularidade da violência – sobretudo, da violência de gênero –, estratégias que remetem ao inesgotável e ao infinito retorno do traumático, são as recorrências que revelam um realismo peculiar e que permitem o delineamento de um território literário. Referências: LUDMER, J. Aqui América Latina. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2013. MAIA, Ana Paula. Enterre seus mortos. São Paulo: Companhia das Letras, 2018. MELCHOR, Fernanda. Temporada de huracanes. Madrid: Random House, 2017. RAVETTI, G. Literatura latino-americana contemporânea: reflexões sobre paradigmas, convergências e legados. São José do Rio Preto: Olho d'água, v.11, n.1, janjun/2019. RIBEIRO, G. RIBEIRO, Gustavo. Catálogo dos mortos: a cultura latino-americana contemporânea. In: Alea. Rio de Janeiro: UFRJ, vol. 18/1, jan-abr 2016. EN TORNO AL FIN, Y LO QUE VIENE DESPUÉS: MANIFIESTOS PARA LA LITERATURA DEL TERCER MILENIO Wanderlan Alves Resumo: La difusión de “Literaturas postautónomas” de Ludmer en diciembre de 2006 apunta a su éxito tanto como a su impugnación por parte de la crítica. El tono intempestivo, el deseo de ruptura o renovación en los modos de concebir y leer la literatura y de hacer crítica, resultaban seductores y escandalosos, y el panfleto podría leerse en relación con algunos manifiestos de los 90, como McOndo, el Crack, o Shangai. En las versiones siguientes se notan modulaciones, concesiones y apuestas que nos permiten leer la performance de Ludmer como parte de una crítica más amplia a la institución literaria. En conjunto, estos manifiestos reanudan ciertas premisas del discurso del fin (Carranza, 2021), pero sus postulados impulsan a la búsqueda de modos de pensar la literatura latinoamericana fuera de sus marcos consagrados, ensanchando sus cartografías y tendiendo estabones con lenguajes, géneros y literaturas que sobrepasan los límites regionales o nacionales. Esta ponencia propone un análisis de las diferencias y repeticiones (Deleuze, 2002) que acercan o singularizan dichos manifiestos, buscando observar cómo, a medida que retoman el debate sobre las expectativas para la literatura del tercer milenio, sus ideas también apuntan a las continuidades y discontinuidades de las tradiciones literarias y críticas latinoamericanas. SIMPÓSIO “EPISTEMOLOGIAS ERRANTES, COMPARATISMOS NÔMADES - ECOLOGIAS DA FRICÇÃO NAS/DAS AMÉRICAS, ÁFRICAS E AMAZÔNIAS” Amilton José Freire de Queiroz (UFAC), Ezilda Maciel da Silva (UFPA), Simone de Souza Lima (UFAC) ENTRE UMA LITERATURA ANFÍBIA E UMA DOCÊNCIA SOLIDÁRIA - AS ECOLOGIAS DA LEITURA NA POÉTICA HENRIQUE SILVESTRE-SOARES Amilton José Freire de Queiroz, Simone de Souza Lima Resumo: Esta comunicação tem por objetivo examinar a poética do escritor Henrique Silvestre-Soares. Para tanto, adotamos como corpus de análise os poemas O rio e os meus olhos; Enchente II e Nova Cidade Velha. Por sua vez, a hipótese que sustenta nosso trabalho é a de que os três poemas cartografam percursos, memórias e saberes de culturas ribeirinhas e urbanas através do trânsito de um eu-lírico sensível à “leveza, rapidez, exatidão, visibilidade e multiplicidade” (CALVINO, 1990) do rio, enchente e cidade acreana. Desde a inscrição de um lirismo tanto aquático quanto terrestre, os poemas do autor produzem, recepcionam e fazem circular ecologias de saberes (SANTOS, 2010), ao configurar uma literatura anfíbia (SANTIAGO, 2004), a qual desloca o/a leitor/a para o entre-lugar dos discursos acreanos. Esse deslocamento pelos interstícios da palavra poética, desde a infância, é agudizado na função de professor de Literatura, diretor e autor teatral, adotando como chave-mestra de seu fazer as práticas de leitura e escrita. É, portanto, dessa experiência plural entre a escrita criativa e a formação de professores que emerge a literatura de Silvestre-Soares, um autor/ator/professor que lê, escreve e interpreta o rio, a enchente e a cidade a partir de práticas de letramentos contextualizadas na vida de leitores/as em trânsito por varadouros, ruas, canoas, aviões e corredores das escolas e universidade nos municípios acreanos. Nesta errância entre ensinar e traduzir a diversidade humana, os três poemas hospedam a configuração de “uma literatura no Acre” (SILVA, 1996), bem como potencializam o “signo poético (PESSOA, 2008) do olhar transgressivo sobre a paisagem, o território e as subjetividades da Amazônia acreana. Em diálogo com tais horizontes, este trabalho procura, enfim, demonstrar como as ecologias da leitura revelam-se nos poemas-bibliotecas, poemas-labirintos e poemas-rizomas de Silvestre-Soares. Referências: (SILVA, 1996) PESSOA, 2008 ERRÂNCIAS DO ENSINAR - OS SABERES DA TERRA EM TORTO ARADO, DE ITAMAR VIEIRA Claudeir de Souza Araújo Resumo: Esta comunicação tem por objetivo analisar a figuração dos saberes da terra em Torto Arado (2019), de Itamar Vieira. Para alcançar tal finalidade, procuramos mapear os diálogos, as fricções e as dinâmicas culturais das personagens deste romance do autor baiano. Para subsidiar o desenvolvimento dessa questão, adotamos as reflexões de Godet (2007, 2010); Bernd (2004); Santos (2010); Gadotti (2008); Saviani (2008); Freire (2016); Dalvi (2018) e Bonnici (2010). Em diálogo com tais pensadores/as, argumentaremos que os trânsitos das personagens por espaços, lugares e tempos tão heterogêneos acabam por configurar uma cartografia os sentidos da posse de terra, os mandos e desmandos de um país que herdou desde o Brasil colônia uma política desumana e desigual. Ao investigar essa tessitura cultural, literária e social, buscamos ainda compreender as facetas pelas quais continua-se oprimindo e renegando o direito à liberdade a todos/todas sem exceção. Nesta leitura dos saberes, imaginários e trocas culturais, procuramos ainda abordar a questão do trabalho rural, principalmente dos trabalhadores negros (quilombolas), a violência doméstica e a ausência do poder público, rastreando essas cenas na trajetória das personagens em múltiplos deslocamentos por estradas, casas, rios, fazendas e escolas. É, portanto, na leitura, análise e interpretação destes aspectos que compreender, em Torto arado, os saberes de um “Brasil profundo, cartografado e problematizado através de culturas, epistemologias e linguagens polifônicas, chamando a todos a uma reflexão pautada nas ações de humanidade e equidade social. Isto é, queremos, em última instância, mapear as figurações dos saberes da terra nos quais as humanidades, linguagens e vidas realmente importem, bem como permitam reler, reescrever e (re)imaginar o “fio de corte”, “torto arado” e “rio do sangue”, com vistas a compreender a errância do ensinar e aprender que praticamos neste cotidiano contemporâneo. Referências: Godet (2007, 2010); Bernd (2004); Santos (2010); Gadotti (2008); Saviani (2008); Freire (2016); Dalvi (2018) e Bonnici (2010). A PERTINÊNCIA DA PERSPECTIVA COSMOERÓTICA EM MODOS-OUTROS DE VIVER NO ANTROPOCENO Claudio Marcio Soares Galhano Filho Resumo: Proposto por Alberto Pucheu (2011) como um momento de “cosmifização do homem, no qual um microerotismo abre a possibilidade de um macroerotismo”, o fenômeno do “cosmoerotismo” esboça as complexidades de sua significação em alguns poemas de Luís Miguel Nava e de Ricardo Domeneck. Animais humanos e não humanos, plantas e ecossistemas, corpos astrais e paisagens, em suas densidades “materiais e semióticas” (Haraway, 1995), partilham cenas poemáticas de tons eróticos e manifestam, assim, um aninhamento interespecífico especialmente relevante no Antropoceno. Nesse sentido, esta comunicação pretende caminhar pelos interstícios dos problemas que emergem da fricção desses versos com certas equações dialéticas que estruturam a racionalidade ocidental, como “homem X natureza”, “natureza X cultura”, “razão X instinto”. Portanto, em consonância com as ponderações de Didi-Huberman (2020) a respeito da “sobrevivência dos vaga-lumes”, pode-se dizer que essas poéticas cosmoeróticas são vestígios de mundos-outros, de onde nascem outros jeitos de contar outras histórias. Essas histórias, por sua vez, anunciam contracartografias para “mundos mais vivíveis” (Haraway, 2021), dos quais se emitem sinais luminosos (decerto discretos e finitos) de sua própria vivência neste tempo, aqui mesmo, agora mesmo. Em vista disso, para habitar as fendas que se abrem continuamente ao partirmos da perspectiva cosmoerótica para ler e viver, além das referências já convocadas até aqui, também são preciosas as reflexões de Ailton Krenak (2019), Davi Kopenawa & Bruce Albert (2015), Paul Preciado (2020), Georges Bataille (2017), Alexandre Nodari (2015) e Gustavo Silveira Ribeiro (2020). Referências: BATAILLE, Georges. A história do olho. Trad. Eliane Robert Moraes. São Paulo: Companhia das Letras, 2018. BATAILLE, Georges. O erotismo. Trad. Fernando Scheibe. 2ª reimp. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017. DOMENECK, Ricardo. Carta aos anfíbios. Rio de Janeiro: Bem-Te-Vi, 2005. DOMENECK, Ricardo. Odes a Maximin. Rio de Janeiro: Garupa, 2018. DOMENECK, Ricardo. 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Na obra, é retratada a história de sofrimento e de exploração que diversos trabalhadores foram submetidos durante o processo de extração de látex na Amazônia, além de apresentar elementos que ajudam a compreender o processo de formação sociocultural da população local da época. A leitura do romance proporciona uma imersão nos elementos intrínsecos da região destacada na obra, os quais possibilitam reconhecer o romance A Selva como uma fonte de representação da memória amazônica. A pesquisa está sendo realizada por meio de levantamento bibliográfico, o qual está proporcionando os subsídios necessários para a obtenção de informações que contribuem com os estudos literários da Amazônia. A obra foi escolhida para a pesquisa devido a sua relevância para o conhecimento das práticas exploratórias que eram realizadas na Amazônia no período do ciclo da borracha, e pelo fato de apresentar importantes aspectos culturais da sociedade da época, uma vez que Ferreira de Castro nos mostra, por meio da ficção, elementos da experiência real vivenciada por ele , durante a juventude, na Amazônia. Referências: ANTUNES, Luísa Marinho. A construção da memória cultural por meio da literatura: alguns aspectos. Pro-posições, 2019. BERGSON, Henri. Memória e Vida. Tradução de Claudia Berliner. São Paulo: Martins Fontes, 2006. CANDAU, Joël. Memória e identidade. 2ª ed. Tradução de Maria Leticia Ferrreira. São Paulo: Contexto, 2016. CASADEI, Elisa Bachega. Maurice Halbwachs e Marc Bloch em torno do conceito de memória coletiva. Revista Espaço Acadêmico. n. 8. p. 153-161. maio, 2010. HALBWACHS, Maurice. A Memória Coletiva. Tradução de Laurent Léon Schaffter. São Paulo: Vértice, 1990. 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RIZOMAS/RESISTENCIAS EN LOS OCÉANOS LATINOAMERICANOS: LA NOVELA DE LA TRANSFIGURACIÓN COMO CURA A LA HERIDA COLONIAL Juana Sañudo Caicedo Resumo: Son presentadas, en este trabajo, consideraciones sobre sobre el corpus Afuera crece un mundo de Fernández y Um defeito de cor de Gonçalves, desde el marco de la Literatura Comparada, los Estudios Culturales, Feministas y la Socio-Crítica. A partir de estas miradas y del abordaje de la esclavitud, problemática que sobrepasa el siglo XIX y llega hasta la producción de la Nueva Novela Histórica en la contemporaneidad, se observan las narrativas, los contextos, subjetividades, agencias/resistencias que revelan y fisuran la idea de nacionalidad construida tanto en el Brasil como en la Nueva Granada/Colombia. De manera que, estas trayectorias éticas, estéticas y políticas de los relatos de los esclavizados, dibujan a manera de mapa y a través de las Américas, un gran rizoma que pasó del relato traumático del Middle Passage a una novela de la transfiguración narrativa. Todo, con miras a curar la herida colonial de la esclavitud y, proponer otras formas de construir la nación, por fuera de los territorios de poder oficiales, fuesen estos geográficos, simbólicos, históricos y, más allá de la dialéctica de la ambigüedad o de las demoras legales en torno a las aboliciones de la esclavitud desde el siglo XIX como de sus secuelas actuales. Referências: CORPUS: FERNÁNDEZ, A. Afuera crece un mundo. Bogotá: Planeta, 2017. GONÇALVES, A. Um defeito de cor. Rio de Janeiro: Record, 2018. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ABDALA JÚNIOR, B. (2017). Reflexões comunitárias e administração das diferenças. Signótica, v. 29. n. 1, Port.15-26/Eng. 27. Disponible en: https://doi.org/10.5216/sig.v29i1.44864. 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"A SOMBRA VINDO DA FLORESTA": MELANCOLIA NA AMAZÔNIA DE REPERTÓRIO SELVAGEM, DE OLGA SAVARY Mayara Haydée Lima Sena Resumo: O humor negro, a acídia, o spleen, a melancolia, a panema – “infelicidade”, “azar”, incapacidade devastadora que acomete os caboclos e caboclas das regiões amazônicas –, são algumas das faces de um mal que acompanha a história da humanidade e da literatura. A melancolia alegorizada de Olga Savary incorpora as paisagens amazônicas ao seu repertório poético, alargando a galeria de imagens clássicas do demônio meridiano europeu. Embora compreenda-se que as Amazônias – plural que contra-ataca as noções homogeneizantes dos centros científicos-culturais-midiáticos a respeito da “Amazônia” (SENA, 2022) – são multifacetadas e aglomeram vários conceitos (MOREIRA, 1958), na poesia de Olga Savary, flagra-se a presença da megera muito mais em espaços selváticos, em relações íntimas com a natureza. Desse modo, objetiva-se identificar a melancolia, incorporando paisagens amazônicas, como tema fundamental para a composição da poética de Repertório Selvagem (1998), de Olga Savary, com atenção especial aos poemas “Uaruá/caapura” e “Ária”. Nessa empreitada, a pesquisa bibliográfica invocará apontamentos importantes de Jean Starobinski (2016), Giorgio Agamben (2007), Sigmund Freud (2011), Moacyr Scliar (2003), Julia Kristeva (1989) para compreensões sobre a saturnina; além de trazer Neide Gondim (1994), João de Jesus Paes Loureiro (2001) e Eidorfe Moreira (1958) para a discussão sobre as Amazônias. Pelo estímulo da falta, esta investigação tem pela frente a difícil tarefa de incorporar o intáctil de um fantasma que perambula e assombra os poemas. Referências: AGAMBEN, Giorgio. Estânicias: a palavras e o fantasma na cultura ocidental. Tradução de Selvino José Assmann. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007. AZEVEDO, ANA VICENTIN de. Mito e psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. 2004. BARTHES, Roland. O prazer do texto. Tradução de Jaime Guinsburg. São Paulo: Perspectiva, 2015. BENJAMIN, Walter. Sobre alguns temas em Baudelaire. In.: Charles Baudelaire um lírico no auge do capitalismo. Tradução de José Carlos Martins Barbosa e Hemerson Alves Baptista. 3º ed. São Paulo: Brasiliense, 2000. (Obras escolhidas, v. 3) CASTILO, Luís Heleno Montoril Del. Utopia amazônica. MOARA, Belém, v. 21, n.21, p. 201-210, 2004. FERRARI, Ilka Franco. Melancolia: de Freud a Lacan, a dor de existir. In.: Latin-American Journal of Fundamental Psychopathology on Line,V. VI, n. 1, maio/2006. (p. 105-115). FREUD, Sigmund. Luto e melancolia. Tradução de Marilene Carone. São Paulo: Cosac Naify, 2011. ______. Introdução ao narcisismo, Ensaios de metapsicologia e outros textos (1914-1916). Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. v. 12. ______. Escritores criativos e devaneios. In.: ‘Gradiva’ de jesen: escritores criativos e devaneios. 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Santarém: Diego Alano de Jesus Pereira Pinheiro, 2022. STAROBINSKI, Jean. A tinta da Melancolia: uma história cultural da tristeza. Tradução de Rosa Freire d'Aguiar. São Paulo: Companhia das letras, 2016. ______. A melancolia diante do espelho: três leituras de Baudelaire. Tradução de Samuel Titan Jr. São Paulo: editora 34, 2014. MANOEL DE BARROS E IVAN CAMPOS - UMA LEITURA NÃO DICOTÔMICA Natália Oliveira Jung Resumo: Com grande interesse pela arte gerada às margens dos contextos metropolitanos, encontramos no poeta pantaneiro Manoel de Barros e no artista plástico acreano Ivan Campos não apenas porta-vozes destas artes, como também artistas capazes de as produzir com uma peculiar visão de mundo. Para o poeta, pessoas, elementos da natureza e coisas são seu material de fazer poesia. Misturam-se de tal forma, parecendo não haver separação entre o homem e a natureza, entre sujeito e objeto. Da mesma forma, o artista plástico manifesta em suas telas a simbiose não dicotômica entre diferentes elementos da natureza. No intuito de investigar esta possível significação, nos respaldamos nas discussões relativas ao Antropoceno, pelo viés de pensadores contemporâneos como Bruno Latour, Philipe Descola, Isabelle Stengers, Donna Haraway, Eduardo Viveiros de Castro e Deborah Danowski. Analisaremos, então, poemas de Manoel de Barros sob a visão de mundo baseada nas cosmologias dos povos indígenas da América, sobretudo amazônica. A partir daí, estabelecemos uma comparação com algumas telas do artista plástico, Ivan Campos, buscando elucidar a homologia contida na obra dos artistas mencionados. Concluímos que seus modos de produção poética, tanto literária quanto visual, não se aplicam ao enfatizado antagonismo cultura versus natureza, elucidando certa sensibilidade ecológica ainda pouco evidenciada e apreciada na produção artística brasileira. Referências: ALVES, Antonio. Política Zero. Rio Branco: Edições Milacres, 2012. BARROS, Manoel de. Matéria de poesia. São Paulo: LeYa, 2013. BARROS, Manoel de. Poesia completa. São Paulo: LeYa, 2000. BARROS, Manoel de. Livro sobre nada. Rio de Janeiro: Ed. Record, 1996. BARROS, Manoel de. O Livro das ignorãças. Rio de Janeiro: Ed. Record, 1993. BARROS, Manoel de. Gramática expositiva do chão: Poesia quase toda. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1990, p. 305-343. DESCOLA, Philippe. Além de natureza e cultura. Tessituras, Pelotas, v. 3, n. 1, p. 7-33, jan./jun. 2015. FISCHER, Luís Augusto. Duas formações, uma história – Das ideias fora do lugar ao perspectivismo ameríndio. Porto Alegre: Arquipélago, 2021. GONÇALVES, A. J. "Relações homológicas entre literatura e artes plásticas: algumas considerações”. Literatura e Sociedade: Revista de teoria literária e literatura comparada, São Paulo: FFLCH/USP, n. 2, dez. 1997, p. 56-68. HEIDEGGER, Martin. A caminho da linguagem. Tradução de Marcia Sá Cavalcante Schuback. 6. ed. Petrópolis: Vozes; Bragança Paulista: Editora Universitária São Francisco, 2012. HARAWAY. Donna. Antropoceno, Capitaloceno, Plantationoceno, Chthuluceno: fazendo parentes. Trad. Susana Dias, Mara Verônica e Ana Godoy. ClimaCom – Vulnerabilidade [Online], Campinas, ano 3, n. 5, 2016. INGOLD, Tim. Estar vivo - ensaios sobre movimento, conhecimento e descrição. Petrópolis: Vozes, 2015. JUNG, Carl G. Os arquétipos e o inconsciente coletivo. Petrópolis: Vozes, 2002. KANDINSKY, Wassily. Do espiritual na arte. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2015. LATOUR, Bruno. Diante de Gaia oito conferências sobre a natureza no Antropoceno. São Paulo: UBU, 2020. MARRAS, Stelio. Por uma antropologia do entre: reflexões sobre um novo e urgente descentramento do humano. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, Brasil, n. 69, p. 250-266, abr. 2018. PAZ, Octavio. O arco e a lira. Tradução de Olga Savary. 2° edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1967. 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Para tanto, partimos da reflexão sobre os caminhos para a construção do pensamento decolonial. Sendo assim, nossa discussão partirá dos debates teórico-metodológicos da ecologia de saberes (SANTOS, 2010) e as “histórias locais, projetos globais (MIGNOLO, 2003). Em diálogo com horizontes críticos, discutiremos alternativas epistemológicas para traduzir os traumas e as tramas da colonialidade. Para sustentar a análise literária do conto, adotaremos as perspectivas analíticas da Teoria Literária, Estudos pós-coloniais e decoloniais, na dianteira de Thomas Bonnici (2010), de Edward Said (2005), Stuart Hall (2005) e Aníbal Quijano (2000). Dessa forma, acreditamos que poderemos mapear o itinerário das vozes afro-brasileiras, reconfiguradas em uma cartografia decolonial diversa. Tal diversidade encontra-se marcada na trajetória da personagem Maria, um corpo-linguagem em trânsito que testemunha a força das representações literárias/culturais da colonialidade. Mais ainda, os vestígios dessa experiência decolonial são mapeados solidária, local e globalmente na figuração de imaginários polifônicos, rizomáticos e transliminares. Esperamos, portanto, rastrear as vozes em trânsito tanto no espaço literário quanto na realidade social brasileira, com vistas a compreender, valorizar e discutir as marcas das identidades, culturas e imaginários da escrita de Conceição Evaristo. Referências: BONNICI, Thomas; ZOLIN, Lúcia O.(org.) Teoria literária: abordagens históricas e tendências contemporâneas. 3 ed. Maringá: Editora Eduern, 2010. HALL, Stuart. A identidade cultural na pósmodernidade; tradução Tomaz Tadeu da Silva, Guaracira Lopes Louro - 10 ed. Rio de janeiro: DP&A; 2005. EVARISTO, Conceição. Olhos D´água. 1 ed. – Rio de Janeiro: Pallas Fundação Biblioteca Nacional, 2016. MIGNOLO, Walter D. Histórias locais / projetos globais: colonialidade, saberes subalternos e pensamento liminar / Walter D. Mignolo; tradução de Solange Ribeiro de Oliveira. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003. SANTOS, Boaventura de Sousa; MENESES, Maria Paula. (Orgs.) Epistemologias do Sul. São Paulo; Editora Cortez. 2010. SIMPÓSIO “MODERNISMO E VANGUARDA DENTRO, AQUÉM E ALÉM DA PAULICEIA” Maria de Fatima do Nascimento (UFPA), Hugo Lenes Menezes (IFPI) CABELOS NO CORAÇÃO, DE HAROLDO MARANHÃO: ELEMENTOS MODERNISTAS Elisangela Ribeiro de Oliveira Resumo: O objetivo desta comunicação é demonstrar alguns elementos do “Modernismo” brasileiro no romance Cabelos no Coração (1990), de Haroldo Maranhão (1927-2004), escritor paraense, que se declara de fato conquistado pela estética modernista a partir de 1946, no artigo intitulado: “O último modernista”, publicado no Suplemento Arte Literatura, do jornal Folha do Norte, no primeiro dia em que o encarte circula em Belém do Pará, isto é, no dia 5 de maio de 1946, após essa corrente literária ter tomado forma em São Paulo, na Semana de Arte Moderna de 1922,e já ter sido discutida em manifestos na capital paraense nas revistas Belém Nova (1923-1929) e Terra Imatura (1938-1942). No entanto, é somente a partir da leitura das composições “Considerações do Poema”, de Carlos Drummond de Andrade e de “Andorinha” e de “Debussy”, de Manuel Bandeira, que ele passa a “distinguir claramente poesia e forma” e compreender as diferenças entre a poesia parnasiana e a moderna, que o literato paraense adere à proposta paulista e se prepara para anos depois produzir seus romances, que trazem elementos dessa estética, a exemplo do romance Cabelos no coração cujo espaço romanesco é o Brasil Imperial no novecentos e suas vastas regiões afastadas da corte, a Amazônia e o Nordeste brasileiros. A personagem principal é a figura histórica de Filippe Patroni Maciel Parente, intelectual paraense, que ajuda a promover ideias de independência em terras do Pará. Na reelaboração ficcional de Haroldo Maranhão, a viagem de Filippe Patroni saindo de Belém com sua família e empregados, passando pelo Nordeste, para chegar à corte no Rio de Janeiro, deixa evidente as novas concepções introduzidas no romance brasileiro pelo modernismo no Brasil. Referências: COELHO, Marinilce. Memórias literárias de Belém do Pará: o grupo dos novos, 1946-1952, Tese (doutorado), 222 f. Instituto de Estudos da Linguagem – IEL/UNICAMP, 2003. Nascimento, Maria de Fátima do, Benedito Nunes e a moderna crítica literária brasileira (1946-1969). Tese (doutorado), 340 f. Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Estudos da Linguagem. Campinas, 2012 NUNES, Benedito. Osvald Canibal. São Paulo: Editora perspectiva, 1979. ENCONTRO ENTRE OS MODERNISTAS MÁRIO DE ANDRADE E RAUL BOPP Fabíola Guimarães Pedras Mourthé Resumo: Com o advento do centenário da Semana de Arte Moderna, ocorrida em São Paulo, em 1922, e, por conseguinte, da introdução, em novas perspectivas, do Modernismo brasileiro nas discussões sobre o Brasil do século XXI, propomos, nesse simpósio, estabelecer uma conexão entre os escritores modernistas Raul Bopp e Mário de Andrade, talvez como compadres que compartilham afinidades, por meio de dois caminhos extremamente produtivos, a obra literária (especificamente Cobra Norato, Urucungo e Macunaíma) e o arquivo (material coletado no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da Universidade de São Paulo (USP)). É oportuno ressaltar que o encanto pelo universo mítico amazônico e o folclore brasileiro é comum a Bopp e Andrade. Eles não tiveram fortes laços de amizade, mas a falta de ligação pessoal foi compensada pelas inúmeras afinidades no plano literário e do interesse no (re)conhecimento do Brasil. Recorremos à pesquisadora Eneida Maria de Souza (2002) para refletir o entendimento do texto biográfico como objeto de análise pela crítica que considera a mimetização e a desconstrução dos modelos canônicos da historiografia literária. Portanto, buscamos comprovar laços de amizade literária ou ligações comunicantes entre os dois autores modernistas, ”substituindo-se a tradicional metáfora familiar, que corresponderia à construção de modelos literários a partir dos conceitos de influência e tradição cultural...” (SOUZA, 2002, p. 111). Referências: ANDRADE, Mário de. Macunaíma: o herói sem nenhum caráter. 33 ed. Belo Horizonte: Livraria Garnier, 2004. BOPP, Raul. Cobra Norato. 1. ed. São Paulo: Estabelecimento gráfico irmãos Ferraz, 1931. _______.Urucungo. Rio de Janeiro: [s.n] 1932. _______. Cobra Norato. 2. ed. Rio de Janeiro: [s.n] 1937. SOUZA, Eneida Maria de. A pedra mágica do discurso. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1999. ________. Crítica Cult. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002. HAROLDO MARANHÃO E O MODERNISMO BRASILEIRO: UMA DEFESA DO MOVIMENTO MODERNISTA NO SUPLEMENTO ARTE LITERATURA DO JORNAL FOLHA DO NORTE Flávio Jorge de Sousa Leal Resumo: Pretende-se com este trabalho discutir o posicionamento do escritor paraense Haroldo Maranhão (1927-2004) acerca do Modernismo brasileiro, a partir do seu artigo “O último modernista”, publicado no Suplemento Arte Literatura, do jornal Folha do Norte, no dia 5 de maio de 1946, em Belém do Pará. Haroldo Maranhão, importante ficcionista brasileiro, vencedor de vários prêmios por seus romances, novelas, contos e obras destinadas ao público infantil, estreia como escritor de ficção somente no ano de 1968 com o livro A estranha xícara. Todavia, antes de suas publicações de romances e contos exerceu a atividade jornalística no Jornal Folha do Norte, de propriedade de seu avô Paulo Maranhão. Dentre tais atividades exercidas no jornal, orientou o Suplemento Arte Literatura em questão, cuja duração foi de maio de 1946 a janeiro de 1951. No referido artigo Haroldo Maranhão reconhece a importância de Carlos Drummond de Andrade e de Manuel Bandeira, demonstrando que o poema “Consideração do Poema” do poeta mineiro representa uma síntese do espírito da estética modernista brasileira, bem como os poemas “Andorinha” e “Debussy”, do poeta pernambucano, seriam legítimos representantes da musicalidade instaurada na poesia com o advento do modernismo brasileiro. É uma pesquisa de natureza bibliográfica e fundamentada em Moisés (1969), Candido (1975), Sodré (1995) e Nascimento (2012). Referências: ANDRADE, Carlos Drummond de. A rosa do povo. Rio de Janeiro: Record, 1945. BANDEIRA, Manuel. Andorinha, andorinha. São Paulo: Círculo do Livro, 1978. ______. Berimbau e outros poemas. Global: São Paulo, 2016. CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira. 5 ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo. 1975. MOISÉS, Massaud. A literatura brasileira através de textos. São Paulo: Cultrix, 1969. NASCIMENTO, Maria de Fátima do. Benedito Nunes e a moderna crítica literária brasileira (1946-1969), tese (Doutorado em Teoria e História Literária), Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) – Campinas, 2012, SODRÉ, Nélson Werneck. História da literatura brasileira. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995. CECÍLIA MEIRELES, CRÔNICA E SEU PERCURSO LITERÁRIO NA VERTENTE HISTÓRICA Gleisia Carneiro de Souza Albuquerque Resumo: Esta pesquisa se propõe a refletir sobre o percurso do gênero crônica, desde quando era entendido somente como uma forma de documentar viagens no século XV, até como a crônica é compreendida atualmente, não se prendendo ao vaivém do cotidiano, sendo este o ponto de partida para se explorar algumas das suas particularidades como a relação desse gênero com o tempo ou o fato de que permeia entre fronteiras textuais. Destaca-se a questão da crônica brasileira ter assumido feição nitidamente literária, se distanciando de modelos como o produzido na França, em que estava vinculado ao relato cronológico e a narração histórica. O texto cronístico no Brasil foi assumindo novas características, recorrendo-se a peculiaridades eminentemente literárias ao se valer da subjetividade própria da criação literária, no intuito de explicitar os fatos muito mais do que apenas registrá-los historicamente. Como se percebe, a crônica é um texto que une a subjetividade poética à veracidade emotiva em uma escrita breve, desse modo, passa a ser o tipo de texto adequado para se expressar impressões de viagem. Assim, refletir a propósito de discussões dessa natureza pode contribuir para compreender parte da escrita de Cecília Meireles, que em suas crônicas assumiu primeiramente a posição de observadora, uma espectadora, que narrou literariamente sua visão das experiências de viagens vividas a partir de fatos corriqueiros. Referências: BAKHTIN, Mikhail. Estética é Criação verbal. Introdução e Tradução do russo Paulo Bezerra. Prefácio à edição francesa Tzvetan Todorov. São Paulo: Editora Martins Fontes, 4ª ed., 2003. BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 44. ed. São Paulo: Cultrix, 2006. CANDIDO, Antônio. A vida ao rés-do-chão. Prefácio Para Gostar de Ler. São Paulo: Ática, volume 1, p. 4-13, 1980. LAMEGO, Valéria. A Farpa na lira – Cecília Meireles na Revolução de 30. Rio de Janeiro: Record, 1996. MASSAUD, Moisés. A criação literária. São Paulo: Editora Cultrix, 15ª ed., 1997. MENDES, Karla Renata. Cecília Meireles viajante: visões do presente e do passado nas crônicas sobre Portugal. Tese de Mestrado. Paraná, 2010. Disponível em: www.uel.br/pos/letras/EL/vagao/EL11.pdf O EXPRESSIONISMO ALEMÃO: UM NEORROMANTISMO Hugo Lenes Menezes Resumo: Os inícios dos novecentos ocidentais são marcados pela busca de uma mudança axiológica em termos estético-literários e culturais. Estamos no período dos movimentos artísticos atualmente conhecidos por vanguardas históricas, ou seja, tendências da modernidade em que não há mais espaço para o estilo convencional do descritivismo mimético. Trata-se dos muitos “ismos” de então, perfeitamente representados no futurismo (1909), expressionismo (1910), cubismo (1913), dadaísmo (1916) e surrealismo (1924), os quais conduzem ao extremo um processo em curso a partir do século XIX, com uma revolução de origem predominantemente teutônica: o romantismo. Esse e suas decorrentes vanguardas possuem, enquanto um dos vários traços fundamentais em comum, o culto ao primitivo, sobremaneira identificado em outro movimento de repercussão mundial e em amplo alcance das mais diversas áreas: o expressionismo, que é a segunda era de ouro para a toda a comunidade alemã e, de certa forma, um segundo romantismo. Semelhante manifestação estilística germânica desponta oficialmente após um artigo publicado por Wilhelm Worringer na revista “Der Sturm” (“A Tempestade”), lançada em 1910. Inclusive, Johann Herder (2002) vê uma relação da criação poética/literária com a linguagem primitiva, e o “Sturm und Drang” (Tempestade e Ímpeto), ou primeiro romantismo alemão, é revalorizado pelas vanguardas históricas. Posteriormente, a romântica dimensão primitiva recorre até no expressionismo abstrato de um Jackson Pollock. O legado do romantismo é irrefutável no “idealismo subjacente ao expressionismo, na sua liberdade individual e distorção grotesca em rejeição à cópia do mundo. Do mesmo modo que o romântico, o expressionista vê o indivíduo abalroado pelo materialismo da sociedade burguesa” (VOLOBUEF, 1999) Assim, mediante a comunicação que ora propomos, temos por objetivo abordar o expressionismo alemão como um neorromantismo. Referências: VOLOBUEF, Karin. Frestas e arestas: a prosa de ficção do romantismo na Alemanha e no Brasil. São Paulo: Unesp, 1999. HERDER, Johann Gottfried. Ensaio sobre a origem da linguagem. Trad. José M. Justo. Lisboa: Antígona, 1987. CLARICE LISPECTOR E O MODERNISMO BRASILEIRO: UMA LEITURA DE PERTO DO CORAÇÃO SELVAGEM Ingrid Luana Lopes Cordeiro Resumo: Em dezembro de 1943, com a publicação de Perto do coração selvagem, Clarice Lispector se inseriu como romancista no sistema literário brasileiro. O romance, de modo geral, foi bem recebido por críticos assim que foi lançado, entre os quais podemos citar Sérgio Milliet ([1944] 1981), Álvaro Lins ([1944] 1963) e Antonio Candido ([1944] 1970). Nessas críticas, destacamos que a forma como a escritora elaborou sua obra, construindo um enredo não linear, fragmentado, e empregando o fluxo de consciência, recebe destaque. Tais traços composicionais estão alinhados com a estética modernista, que vinha se desenvolvendo no Brasil desde a década de 1920, quando ocorreu a Semana de Arte Moderna de 1922. Diante do contexto apresentado, o presente trabalho tem o objetivo de discutir como o primeiro romance clariciano introduz a escritora no panorama da literatura moderna brasileira. Para isso, realizamos uma análise da obra mencionada observando as relações que ela estabelece com a arte modernista. Ademais, o arcabouço teórico do estudo conta com reflexões de Alfredo Bosi (2017), de Afranio Coutinho (1979), de Antonio Candido (2006) e de João Luiz Lafetá (2000), dos quais selecionamos estudos que versam sobre o Modernismo, e Benedito Nunes (1989), que discute a escrita literária de Clarice Lispector. Com isso, apresentamos a possibilidade de ler o romance Perto do coração selvagem como uma das principais obras produzidas durante esse momento crucial da literatura brasileira, sendo que é, também, responsável por evidenciar a participação feminina no movimento. Referências: BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 2017. CANDIDO, Antonio. Vários escritos. São Paulo: Duas Cidades, 1970. _____A educação pela noite & outros ensaios. São Paulo: Ática, 1986. COUTINHO, Afrânio. A literatura no Brasil (vol. 5). Rio de Janeiro: Sul Americana S. A, 1970. LAFETÁ, João Luiz. 1930: a crítica e o Modernismo. São Paulo: Editora 34, 2000. LISPECTOR, Clarice. Perto do coração selvagem Rio de Janeiro: Rocco, 1998. LINS, Álvaro. Os mortos de sobrecasaca: ensaios e estudos 1940-1960. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 1963. MILLIET, Sérgio. Diário crítico (vol. 2). São Paulo: Martins Fontes, 1981. NUNES, Benedito. O drama da linguagem: uma leitura de Clarice Lispector. São Paulo: Ática, 1989. AS MULHERES NAS CRÔNICAS DE TARSILA DO AMARAL Marcela Ferreira Resumo: Ao se citar o nome de Tarsila do Amaral (1886 - 1973), rapidamente as pessoas se remetem ao seu famoso quadro Abaporu (1928), lembrando de suas cores, traços marcantes e precisos, característicos da pintura dessa artista, e, por conseguinte, da relação da pintora com o movimento modernista brasileiro. É certo que ela é uma das grandes mulheres do nosso modernismo, que além de pintora e desenhista, também atuava como tradutora e publicava textos nos jornais paulistas e cariocas, abordando temas relacionados à arte. Ao ler suas crônicas publicadas no Diário de São Paulo, percebe-se uma gama de artistas que circulam pelos textos e são apresentados e analisados por Tarsila. Para esse trabalho, pretende-se trazer à tona as mulheres citadas por Tarsila, nos textos publicados no ano de 1936, e a ligação e a importância delas para o contexto artístico, além de refletir sobre a imagem trazida pela autora dessas artistas. Sabe-se que nesse período de publicação, a cronista traz temas “relacionados às suas memórias de Paris” (BRANDINI, 2008, p.23), portanto muitas referências de artistas francesas aparecem nos textos, que são apresentadas por Tarsila para os leitores brasileiros. As crônicas ganharam um espaço semanal no Diário, mas também eram enviadas para o Rio, sendo republicadas em O Jornal. Referências: BRANDINI, Laura Taddei. Crônicas e outros escritos de Tarsila do Amaral. Campinas-SP: Editora da Unicamp, 2008. BENEDITO NUNES E O MODERNISMO NO PARÁ Maria de Fatima do Nascimento Resumo: No Pará, embora o “Manifesto da Beleza”, de Francisco Galvão, apareça em 1923 e já tenha havido dois grupos em prol do modernismo, o movimento se consolida a partir de 1946, quando Haroldo Maranhão cria e orienta o “Suplemento Arte Literatura” da Folha do Norte, em que Haroldo publica o artigo “O último modernista, em 5 de maio de 1946, primeira data de circulação do Suplemento em Belém. O texto valoriza o Modernismo, Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira, além de configurar atitude de Haroldo e amigos, Benedito Nunes e Max Martins, acerca de um mesmo intento de renovação, pois eles, ex-parnasianos, vêm do correspondente grupo, a Academia dos Novos, que funciona de 1942 a 1945. Vale lembrar que são todos então bem jovens, mas leitores desde criança. Convivem na redação do encarte jornalístico, a que se agrega Mário Faustino em 1947. Ali as discussões sobre o Modernismo afloram de modo contundente entre 1947 e 1948, quando é aberta a coluna “Posição e destino da Literatura Paraense”, coordenada por Peri Augusto. Em tal espaço, são divulgadas 18 entrevistas, entre as quais uma de Max Martins e outra de Benedito Nunes, que fazem crítica mordaz aos parnasianos com veleidades poéticas, comumente advogados e professores de Língua Portuguesa em tradicionais estabelecimentos públicos e privados. As aludidas entrevistas são como que depoimentos concedidos. Em geral, um dos convidados é um poeta parnasiano e o outro, um moderno. Para responderam as ofensas do parnasiano Remígio Fernandez, poeta e professor de Latim, são chamados Max Martins e Geraldo Palmeira, cuja entrevista sai em 7 de dezembro de 1947. A de Benedito Nunes ele publica sozinho no dia 1º de janeiro de 1948. Assim, com a presente comunicação, objetivamos discutir essas duas últimas entrevistas, para demonstrar como o Modernismo se efetiva no Pará. Referências: AUGUSTO, Peri. Posição e destino da literatura paraense. Entrevistados Max Martins e Geraldo Palmeira. Folha do Norte, 7 dez. 1947, Arte Suplemento Literatura, p. 4. AUGUSTO, Peri. Posição e destino da literatura paraense. Entrevistado Benedito Nunes. Folha do Norte, 01 Jan. 1948, Arte Suplemento Literatura, p. 7. GALVÃO, Francisco. Belém Nova, Nº. 2, 30 set. 1923, s/n. MARANHÃO, Haroldo. “O último Modernista”. Folha do Norte. Belém, 05 maio 1946, Arte Suplemento Literatura, p. 4. A CANÇÃO SENHAS (1992), DE ADRIANA CALCANHOTO: UMA ANÁLISE SOB O ASPECTO DIALÓGICO COM O POEMA ODE AO BURGUÊS (1921) Mirian Lesbão Dumont Resumo: A proposta apresentada objetiva traçar um diálogo entre música e poesia na vertente dos estudos comparados. Analisaremos a canção “Senhas” (1992) álbum homônimo, de Adriana Calcanhotto, com enfoque nas relações de intertextualidade (KRISTEVA, 1974) como elemento precursor da canção em contato com o poema “Ode ao Burguês” do livro Pauliceia desvairada (1921) de Mário de Andrade, com o intuito de demonstrar perspectivas de ideias modernistas como a questão do “bom gosto” e “bom senso” no poema que é retomada na canção. A intertextualidade como procedimento serve para fundamentar as leituras da canção e do poema, a fim de evidenciar ironia, bem como a poética de descentramento. A análise volta-se para os recursos formais e semânticos que compõem a canção, observando a aproximação destes elementos com a proposta modernista de Mário de Andrade. Assim, pretende-se perceber as metáforas das senhas ao longo da análise de forma a observar seus diálogos com as ideias de vanguarda a respeito da arte que dialoga com o passado e a forma como a concebemos no contemporâneo. No âmbito musical, já que se trata de uma canção, será observado os instrumentos e arranjos musicais e como estes arranjos confluem para a percepção dessa intrínseca relação poesia e música. Referências: ALBIN, Ricardo Cravo. O livro de ouro da MPB. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003. ANDRADE, Mário de. De Pauliceia desvairada a café: poesia completa. São Paulo: Círculo do livro, 1993. _____ Poesias Completas. Edição crítica de Diléa Zanotto Manfio – Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Editora da universidade de São Paulo, 1987. ANDRADE, Oswald. Obras completas VI: do Pau Brasil à Antropofagia e às Utopias. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 1970. BAKHTIN, Mikhail Mikhailovitch. Problemas da poética de Dostoiévski. Trad. Paulo Bezerra. – 5ª edição – Rio de Janeiro: Forence Universitária, 2010. BAUMAN, Zygmunt. Vida Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007. CALCANHOTTO, Adriana. Senhas. Sony Music, 1992. CÂNDIDO, Antonio. Literatura e sociedade: estudos de teoria e história literária.8 ed. São Paulo: T. A Queiroz, 2000. KRISTEVA, Julia. Introdução à semanálise. Editora Perspectiva,1969. MARTINS, Nilce Sant’anna. Introdução à estilística. São Paulo:T. A. Queiroz, 2000. MONTEIRO, José Lemos. A estilística. São Paulo: Ática, 1991. O. BRIK, Ossip. Ritmo e sintaxe.In: EIKHEBAUM, B. et al. Teoria da Literatura formalistas russos. Porto Alegre: Globo, 1979. PAZ, Octavio. Signos em rotação. São Paulo: Perspectiva, 1966. PERONE-MOISÉS, Leyla. Cesário verde: um “astro sem atmosfera”? In, Inútil poesia e outros ensaios breves. São Paulo: Companhia das letras, 2000. QUENTAL, Antero de. Bom-senso e bomgosto. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1865. Disponível em: http://www.gutenberg.org/files/30070/30070-h/30070-h.htm Acesso em: 20 de maio 2012. SANT’ANA, Affonso Romano de. Música popular e moderna poesia brasileira. Petrópolis: Vozes, 1986. _____ Paródia, Paráfrase e Cia. São Paulo: Ática, 2004. SOARES, Teresinha R. Prada. “Notas sobre violão na canção brasileira”. In: VALENTE, Heloísa. Música e mídia: novas abordagens sobre a canção. São TATIT, Luiz. O Século da Canção. Cotia: Ateliê Editorial, 2004. Paulo: Via Lettera/ fapesp, 2007. p.99 – 111. VALENTE, Heloísa de Araújo Duarte. Os cantos da voz: entre o ruído e o silêncio. São Paulo: Annablume, 1999. WISNIK, Jose Miguel. O som e o sentido: Uma historia das músicas. São Paulo: Companhia das letras, 1989. MURILO MENDES E SUA POESIA LIBERDADE: UMA LEITURA DO POEMA "JANELA DO CAOS" Valéria Daiane Soares Rodrigues Resumo: Resumo: Murilo Mendes figura como um dos poetas brasileiros mais importantes do século XX, tanto que suas obras foram e continuam sendo lidas, e utilizadas como possibilidade de reflexão sobre os conflitos que rondaram e rondam a humanidade, tanto no século XX, contexto de produção de sua obra, quanto nos tempos atuais. Considerando tal constatação e buscando valorizar esse processo reflexivo como potencializador de melhorias na vida humana e social, este texto tem como objetivo apresentar uma leitura atenta do poema “Janela do Caos”, constante da obra Poesia Liberdade, publicada no ano de 1947. Metodologicamente, este texto se fundamenta em uma pesquisa bibliográfica. Para entendimento das questões gerais que configuram a poética de Murilo, foi importante revisitar a contribuição de críticos literários que abordam pontos centrais de sua produção poética, especialmente, leitores de Poesia Liberdade. Vale destacar que a obra traz, dentre outros aspectos, reflexos de uma poética comprometida com a abordagem de um tempo em guerra, alicerçada pela utilização de uma linguagem “influenciada” pela estética da vanguarda surrealista. Importante destacar, também, que Poesia Liberdade merece ser lida a partir de um olhar histórico e social, impregnado por todas as sensações – sonoras, visuais, olfativas, táteis e palatáveis– que a escrita utilizada pelo poeta é capaz de despertar até mesmo nos leitores menos atentos. Por fim, convêm assinalar que a leitura do poema revelou um poeta comprometido com as causas do seu tempo e com um fazer poético rico e estimulador de importantes reflexões sobre a vida e o valor a ela atribuído. Referências: ARAÚJO, Laís Corrêa de. Murilo Mendes. São Paulo: Editora Perspectiva, 2000. BENJAMIN, Walter. Magia e Técnica, Arte e Política. Ensaios sobre literatura e história da cultura. Obras Escolhidas 1. Trad. Sérgio Paulo Rouanet. Editora brasiliense. São Paulo, 1985. MENDES, Murilo. Poesia Liberdade IN. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1995, p.399-439. MOURA, Murilo Marcondes de. O mundo sitiado: A poesia brasileira e a Segunda Guerra Mundial. São Paulo: Editora 34, 2016. PAZ, Octavio. Os Filhos do Barro: do Romantismo à Vanguarda. Tradução de Olga Savary. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. PONGE, Robert. Notas sobre a recepção e presença do surrealismo no Brasil nos anos 1920 -1950. Alea: Estudo Neolatinos, vol.6 nº1 Rio de Janeiro Jan./June 2004. Disponível em https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1517-106X2004000100005&script=sci_arttext&tlng=pt. Acesso em 16 de março de 2021. A POESIA BRASILEIRA DA DÉCADA DE 1930: ENSAIOS DE ÉPOCA E CRÍTICA LITERÁRIA CONTEMPORÂNEA Vanessa Moro Kukul Resumo: Os ensaios “A poesia em 1930” e a “A elegia de abril”, escritos por Mário de Andrade, figuram como documentos importantes acerca da produção literária brasileira dos anos 1930. Na poesia e no romance contemporâneos à época, Mário de Andrade reconheceu continuidades. O diagnóstico do autor de Macunaíma ainda tem orientado reflexões críticas nas décadas de 2000 e de 2010. Neste estudo, pretende-se meditar a respeito de como os dois ensaios marioandradianos foram retomados e/ou problematizados por críticos diferentes, com objetos diferentes, nas duas últimas décadas. Para tanto, foram selecionados os seguintes ensaios: “Uma poética da indecisão: Brejo das almas”, de Vagner Camilo, editado na revista Novos Estudos CEBRAP, em julho de 2000; “Tédio e segredo: duas formas de recusa nos anos 1930”, de Murilo Marcondes de Moura, publicado em O Eixo e a Roda – Revista de Literatura Brasileira, em 2010; e “Herói fracassado: Mário de Andrade e a representação do intelectual no romance de 30”, de Ivan Marques, publicado em Teresa. Revista de Literatura Brasileira, em 2015. Tal investigação integra-se, por sua vez, a um projeto mais amplo dedicado à compreensão de aspectos específicos da poesia brasileira produzida na década de 1930 ou filiada, histórica e criticamente, a essa década. Referências: ANDRADE, Mário de. A elegia de abril. In: ANDRADE, Mário de. Aspectos da literatura brasileira. 6. ed. Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 2002. p. 207-218. ANDRADE, Mário de. A poesia de 1930. In: ANDRADE, Mário de. Aspectos da literatura brasileira. 6. ed. Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 2002. p. 37-57. CAMILO, Vagner. Uma Poética da Indecisão: Brejo das Almas. Novos Estudos CEBRAP, São Paulo, v. 2, n. 57, p. 37-58, 2000. MARQUES, Ivan. Herói fracassado: Mário de Andrade e a representação do intelectual no romance de 30. Teresa (USP), São Paulo, n. 16, p. 55-74, 2015. MOURA, Murilo Marcondes de. Tédio e segredo: duas formas de recusa nos anos 1930. O Eixo e a Roda (UFMG), Belo Horizonte, v. 19, n. 1, p. 39-56, 2010. SIMPÓSIO “RELENDO CRITICAMENTE A PRODUÇÃO MODERNISTA DOS ANOS 20” Paulo da Luz Moreira (University of Oklahoma), Raquel dos Santos Madanêlo Souza (UFMG), Rodrigo Alexandre de Carvalho Xavier (UFRJ) "AS MÁSCARAS": ENTRE O PASSADO E A VIRADA MODERNISTA Carlos Eduardo Brefore Pinheiro Resumo: “Um instante de carnavalesca euforia”, assim se manifesta Menotti del Picchia a respeito da criação de seu poema, lançado em 1920 e elaborado naquele mesmo ano após os festejos do Carnaval. Espécie de obra escrita por encomenda, “As máscaras” são fruto de uma promessa feita pelo seu autor a Assunção Filho, após este lhe solicitar a criação de um texto que falasse sobre as alegrias de ser jovem. Assim, Menotti se propôs a escrever algo romântico sobre o assunto, dedicando sua obra a Júlio Dantas, que havia feito o prefácio para uma outra obra sua – “Juca Mulato”. Apesar do momento em que fora publicada, “As máscaras” não se trata de uma obra escrita conforme os ditames do Modernismo de 22. Poema dramático de inspiração simbolista e ainda apegado a um modelo de escrita parnasiana, mesmo assim seu lançamento ocorre em um momento estratégico, quando o grupo de jovens artistas que organizaria a Semana de Arte Moderna já está em plena atividade, inclusive publicando artigos em jornais de forma a difundir as novas propostas estéticas oriundas das vanguardas europeias. O presente trabalho se propõe a lançar um olhar sobre os caminhos estéticos traçados pelo poeta e quais os fundamentos poéticos utilizados na elaboração desse poema dramático. Referências: ANDRADE, Mário de. "De São Paulo": cinco crônicas. São Paulo: Editora Senac, 2004. ANDRADE, Oswald de et al. "Correio Paulistano". Disponível em: http://bndigital.bn.br/acervodigital/correio-paulistano/090972. Acesso em 30 out. 2021. BARBOSA, Osmar. In: DEL PICCHIA, Menotti. "Máscaras"/ "O amor de Dulcineia". São Paulo: Ediouro, s/d. DACORSO, Stelina Trani de Meneses. As máscaras de Menotti del Picchia. In: "Estudos de Psicanálise". Salvador, n. 31, outubro de 2008, p. 141-8. DEL PICCHIA, Menotti. "Máscaras" / "O amor de Dulcineia". São Paulo: Ediouro, s/d. ______. "As máscaras". São Paulo: Milesi, 1980. MÁRIO DE ANDRADE LEITOR DE ANDRÉ SALMON Conrado Augusto Barbosa Fogagnoli Resumo: A francofilia de Mário de Andrade tornou-se já bastante conhecida de todos os que se dedicam aos estudos das obras do autor, e isso graças a uma série de pesquisas fundamentais que abriram caminho para essa perspectiva de investigação. Para lembrar apenas alguns trabalhos pioneiros, cite-se os de Maria Helena Grembecki, Mário de Andrade e L’Esprit Nouveau, o de Nites Teresinha Feres, Aurora de Arte Se?culo XX – A modernidade e seus vei?culos de comunicac?a?o e Leituras em francês de Mário de Andrade. Em busca de fontes, esses estudos descortinaram nomes importantes para a formação estética do autor paulista mas, como sempre ocorre, existem aqueles exemplares que ficam escondidos, ocultados por outros, por vezes mais importantes, ou então apenas caídos do lado reverso das estantes. Esse parece ter sido o caso de André Salmon, autor pouco lido nos dias de hoje, mas que exerceu um papel importante na elaboração das ideias artísticas que agitaram os cenáculos culturais da Paris das décadas de 1910 e 1920. Para além da obra literária, composta de romances e volumes de poesia, Salmon deixou um importante legado no campo da crítica e da reflexão artística, tendo sido um dos mais atuantes críticos de arte de seu período. São dele obras como La jeune peinture française, de 1912, La jeune sculpture française, de 1919, L'art vivant, de 1920, Propos d'atelier, de 1922. Mário de Andrade foi um leitor, e leitor atento, de obras de André Salmon. Nesta comunicação procurarei expor, a partir do cotejo e comentário de obras lidas por nosso autor, a influência exercida pelo poeta e crítico francês no processo de elaboração da reflexão estética de Mário de Andrade. Referências: AMARAL, Aracy. Artes plásticas na Semana de 22. São Paulo: Perspectiva, 1973. ______________. Blaise Cendrars no Brasil e os modernistas. São Paulo: Martins Editora, 1968. ANDRADE, Mário. Pauliceia desvairada. São Paulo: Martins Belo Horizonte : Editora Itatiaia, 1980 ____________________. A escrava que não é Isaura. Sao Paulo : Martins, 1980. BRITO, Mário da Silva. História do Modernismo Brasileiro: antecedentes da Semana de Arte Moderna. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1974. ESCOREL, Lilian. L’Esprit Nouveau nas estantes de Mário de Andrade. São Paulo: Humanitas, 2011. EULALIO, Alexandre. A Aventura brasileira de Blaise Cendrars ensaio, cronologia, filme, depoimentos, antologia, desenhos, conferências, correspondência, traduções. São Paulo: Edusp, 2001. FABRIS, Annateresa. O futurismo paulista hipóteses para o estudo da chegada da vanguarda ao Brasil. São Paulo: Perspectiva, 1994. FERES, Nites Therezinha. Aurora de arte se?culo XX − a modernidade e seus vei?culos de comunicac?a?o: estudo comparativo. v.1-2. Tese de doutoramento. Sa?o Paulo: Faculdade de Filosofia, Letras e Cie?ncias Humanas, Universidade Sa?o Paulo, 1972. FERES, Nites Therezinha. Leituras em france?s de Ma?rio de Andrade. Sa?o Paulo: IEB/USP, 1969. GREMBECKI, Maria Helena. Ma?rio de Andrade e L’Esprit Nouveau. Sa?o Paulo: IEB/USP, 1969. SALMON, André. L'Art Vivant. Paris: Les Éditions G. Crès et Cie, 1920. _______________. Propos d'Atelier. Paris: Les Éditions G. Crès et Cie., 1922. _______________ . Souvenirs sans Fin. Paris: Gallimard, 3 vol. 5ª ed., 1955. THOSE LOVELY SEASIDE GIRLS: O FEMININO E AS TENSÕES ESTÉTICAS EM ULYSSES E À LA RECHERCHE DU TEMPS PERDU Hêmille Raquel Santos Perdigão Resumo: A divinização dos que lidavam com as artes era uma ideia comum no século XIX, contudo, nos anos 1920, a concepção de artista como divindade entra em crise, se tornando comum que os artistas estejam representados nos romances como personagens, sendo não invisíveis e poderosos deuses de suas criações, mas personagens humanos em processo criativo, o que permite ao leitor acompanhar os conflitos que surgem desde o momento em que a pessoa se descobre como artista e/ou se propõe a ser um, até o momento de desenvolvimento de sua obra. Este trabalho propõe uma leitura das obras À la Recherche du Temps Perdu, de Marcel Proust, e Ulysses, de James Joyce, com ênfase nas tensões entre arte e vida protagonizadas pelos personagens das obras, as quais resultam das novas concepções de artista dos anos 1920. Para isso, darei destaque às cenas das narrativas em que há comparações, por parte dos personagens masculinos, entre as personagens femininas dos romances e as representações de mulheres em outras obras de arte mencionadas nos romances. A hipótese é que as relações com o feminino estão, nas obras de James Joyce e Marcel Proust, como metonímias das tensões estéticas do bélico início do século XX, quando não há mais distâncias estéticas fixas, nem entre leitor e arte, nem entre autor e vida. Tal hipótese explica porque, nos romances de Joyce e Proust, há, ao mesmo tempo, personagens autores, que preferem relembrar a época em que eram apenas artistas em potencial, e personagens em problemáticos enlaces amorosos, que preferem relembrar o estágio em que a relação com a amada era apenas um desejo a ser realizado. Referências: ABRAMS, M.H. O Espelho e a Lâmpada: teoria romântica e tradição crítica. Tradução de Alzira Vieira Allegro. São Paulo: Editora UNESP, 2010. ADORNO, Theodore W. 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"NESTE DIA ANTÓNIO NOBRE NÃO MORREU": REENCONTRAR O POETA DO SÓ EM A GALÉRA Ingred Georgia de Sousa Silva Resumo: Os versos de Regina Guimarães em Tutta (1994) são uma acertada representação do modo como a revista A Galéra (1914-1915) apresentou a biografia e a poesia de António Nobre e, sobretudo, confirmou sua presença viva no modernismo português do início do século XX. Com seis números publicados, dos quais o último, duplo, é inteiramente em homenagem ao poeta do Só, o periódico de Coimbra nos permite examinar a poética nobreana movimentada por outros escritores, dentre esses conhecidos nomes como Mário de Sá-Carneiro, Fernando Pessoa e Alfredo Guisado, e a partir disso refletir sobre o papel das revistas como base primeira para novas produções e revisitações literárias, em um tempo de muitos debates no meio. Frequentemente associado ao drama, ao isolamento, à saudade, à infância e ao forte vínculo com o que é lusitano, “Anto”, em seus fins de século, nos propõe uma percepção sobre os limites entre tradição e modernidade e, quando em lugar de homenagem, nos convida a uma revisitação minuciosa de seus textos. Sendo assim, a proposta desta comunicação é analisar algumas colaborações d’A Galéra a fim de percebermos quais aspectos de António Nobre são elaborados naquele contexto e, junto da leitura de poemas do próprio oitocentista, entender um pouco mais de sua importância e presença para a literatura daquele período. Referências: A GALERA. Nº2, Ano 1, Coimbra, 1914. Disponível em: < https://modernismo.pt/index.php/component/fabrik/details/28/18?Itemid=987>. Acesso em abril. 2022 A GALERA. Nº5-6, Ano 1, Coimbra, 1915. Disponível em: <https://modernismo.pt/index.php/component/fabrik/details/28/15?Itemid=987>. Acesso em abril. 2022 BERARDINELLI, C. Que desgraça nascer em Portugal!. 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DE 1929 A 2500: O BRASIL NUMA UTOPIA FEMINISTA EUGÊNICA Luíza Simões de Oliveira Resumo: Sua Excia. a Presidente da República do anno 2500, de Adalzira Bittencourt, publicado em 1929, conta como o triunfo do feminismo possibilitou o desenvolvimento da super-raça brasileira. O livro é um reflexo do período ao qual fez parte: o modernismo verde-amarelista e sua busca pela definição e reafirmação de uma identidade nacional. No caso de Bittencourt, os agentes dessa modernização eram as mulheres da elite intelectual brasileira, que reivindicaram e construíram seu espaço na política brasileira ambicionando transformar o Brasil na sociedade perfeita retratada na obra. Se por um lado a utopia de Bittencourt traz reivindicações e avanços trabalhistas, científicos e feministas ainda atuais, por outro é carregada de políticas eugenistas, sexistas e xenofóbicas que reafirmam o conservadorismo excludente de uma elite da época e se enquadram nos movimentos eugênicos em voga em diferentes partes do mundo. Toda a obra encaixa-se bem nas reivindicações de nacionalismo, brasilidade, modernidade e feminismo da época; sempre, porém, baseado na superioridade eugênica e no discurso de que é preciso sacrifícios para o futuro de uma boa sociedade. Bittencourt cria um universo utópico que viola indiscriminadamente os direitos humanos em prol da criação de uma sociedade física, moral, intelectual e racialmente perfeita, indo contra o pensamento de feministas contemporâneas suas e, ao mesmo tempo, atendendo a reivindicações de mulheres de certos grupos sociais. Referências: ALBERTO, Paulina. Termos de Inclusão: intelectuais negros brasileiros no século XX. Campinas, SP: Editora UNICAMP, 2017. BITTENCOURT, Adalzira. Sua Excia. a Presidente da República no anno de 2.500. São Paulo, 1929. In: QUINLAN, Susan C; SHARPE, Peggy. Visões do Passado, Previsões do Futuro: Duas Modernistas Esquecidas. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro; Goiânia: Editora da UFG, 1996. BIZZO, Nelio Marco Vincenzo. O paradoxo social-eugênico, genes e ética. Educar em Revista, n. 11, p.45– 61, 1995. Disponível em: https://revistas.ufpr.br/educar/article/view/35182/21838. Acesso em: 25 set. 2021. CARLOS, Anderson Ricardo; FRANZOLIN, Fernanda; ALVIM, Márcia Helena. Problematizações das relações de gênero no primeiro Congresso Brasileiro de Eugenia: status da mulher, determinação de sexo biológico e controle reprodutivo. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, v. 27, n. 3, p.781–801, 2020. Doi: http://dx.doi.org/10.1590/S0104-59702020000400005. DIWAN, Pietra. Rac?a pura: uma histo?ria da eugenia no Brasil e no mundo. Sa?o Paulo, SP: Editora Contexto, 2007. GONZALEZ, Lélia. 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ANTROPOFAGIA ENTRE RESGATES E SEQUESTROS Paulo da Luz Moreira Resumo: Na minha comunicação pretendo repassar a tortuosa fortuna crítica do Manifesto Antropófago de Oswald de Andrade, publicado em 1928, tentando indicar qual seria a linha que separa o resgate do sequestro na historiografia. Encontro quatro momentos decisivos nessa fortuna crítica. O primeiro momento está contido na Revista de Antropofagia, no repúdio aos princípios do movimento pelo próprio Oswald de Andrade nos anos 30 e na volta ao tópico nos 40. O segundo momento começa em 1956 com os manifestos e textos dos Concretistas e suas referências a Oswald de Andrade (ainda não necessariamente ao Manifesto Antropófago já que havia uma predileção inicial pela retórica de modernização do Manifesto Pau-Brasil de 1924) e segue as mudanças nessas referências quando nos aproximamos dos anos 60s e os concretistas reajustam suas perspectivas e retórica. Um terceiro momento chega em 1967 quando a criação da Tropicália marca a primeira encenação da peça O Rei da Vela de Oswald de Andrade num contexto de crescimento abrupto do aparelho repressivo do regime civil-militar e da indústria cultural de massa. Finalmente, o quarto e último momento vem marcado pela triunfal afirmação do Manifesto Antropófago em 1998 na 24ª bienal de São Paulo Bienal, cuja curadoria foi feita em torno do conceito de Antropofagia. Referências: Andrade, Carlos Drummond de. Fala, Amendoeira. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. Andrade, Oswald. Memórias Sentimentais de João Miramar. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1964. --. Obras Completas 2 – Memórias sentimentais de João Miramar / Serafim Ponte Grande. São Paulo: Civilização Brasileira, 1972. ---. Obras Completas 6 – Do Pau-Brasil à Antropofagia e às Utopias. São Paulo: Civilização Brasileira, 1978. ---. Oswald de Andrade – Trechos escolhidos. (Ed. Haroldo de Campos). Rio de Janeiro: Editora Agir, 1967. 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Veloso, Caetano. Verdade Tropical. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. CONSIDERAÇÕES SOBRE A MORFOLOGIA DO MACUNAÍMA Rafael Bonavina Ribeiro Resumo: Macunaíma é um dos pontos centrais da obra de Mário de Andrade e do modernismo paulistano, por isso sua complexidade e riqueza de fontes populares consultadas rendeu diversos estudos de figuras importantes da crítica literária brasileira. Haroldo de Campos fez uma tentativa de estudar a obra através da metodologia de Vladimir Propp, considerando as leis encontradas pelo formalista russo como parâmetros invariáveis a todas as narrativas populares. Embora Gilda de Mello e Souza critique essa opção metodológica em Campos, sua crítica fundamental à obra de Mário de Andrade também postula que Macunaíma se trata de uma obra que dialoga apenas com outros sistemas de significação própria, sem se basear, portanto, na mimese. É essencial que os estudos consagrados sejam revisitados pela crítica literária contemporânea. Nesse movimento de metacrítica, o trabalho de Mello e Souza recebeu mais atenção dos pesquisadores atuais; por exemplo, Priscila Figueiredo faz uma interessante crítica ao Tupi e o alaúde por tentar ensimesmar o processo de criação da obra literária, retirando a subjetividade do sujeito criador da análise. O estudo de Haroldo de Campos, no entanto, não parece ter atraído tanto a atenção dos novos críticos; assim, esta apresentação pretende contribuir com o debate centrando-se na Morfologia do Macunaíma. A discussão partirá de questões metodológicas abordadas por Vladimir Propp em Morfologia do conto maravilhoso, como a seleção do corpus e a pertinência da utilização da metodologia em textos de outros gêneros literários. Além disso a apresentação trará elementos da trajetória acadêmica do formalista russo, suas revisões maduras de sua obra inicial e questões terminológicas da etnologia soviética que elucidam problemas na abordagem de Haroldo de Campos. Referências: ANDRADE, Mário de. Macunaíma: o herói sem nenhum caráter. Edição crítica de Telê Porto Ancona Lopez. Rio de Janeiro: Livros técnicos e científicos; São Paulo: Secretaria da Cultura, Ciência e Tecnologia, 1978. CAMPOS, Haroldo de. Morfologia do Macunaíma. São Paulo: Perspectiva, 2008. FIGUEIREDO, Priscila Loyde Gomes. Macunaíma: enumeração e metamorfose. 2006. Tese (Doutorado em Literatura Brasileira) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006. doi:10.11606/T.8.2006.tde-24082007-142317. Acesso em: 2021-12-17. MELLO E SOUZA, Gilda de. O tupi e o alaúde: uma interpretação de Macunaíma. São Paulo: Editora Duas Cidades; Editora 34, 2003. PROPP, Vladimir. Morfologia do Conto Maravilhoso. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1984. PROPP, Vladimir. ???????? ?????? (Aula pública). ????? ???????(A antiguidade viva). v. 3, n. 7, pp. 11-17 PROPP, Vladimir. ???? ?? ?????? ?????? 1965 (Discurso no jubileu da primavera de 1965. ????? ??????? 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O autor retoma a tese de Oracy Nogueira (1967), expondo que o racismo velado, no âmbito nacional, opera através da miscigenação, diluindo os traços da fisionomia negra, incorporando no plano estético determinados elementos culturais de herança africana. Já a xenofobia partiria da interiorização do discurso europeu sobre a inferioridade do brasileiro mestiço, resultando na radicalização do processo de "abrasileiramento" dos imigrantes e seus descendentes. Do outro lado do “tripé” racial, a representação do autóctone enquanto elo de ligação com o território foi diversas vezes atualizada. Segundo a historiadora Nancy Stepan (2004) na década de 1920 a eugenia penetrou profundamente nas instituições do Brasil. Naquele contexto, a eugenia se tratava de uma ciência do aprimoramento hereditário através de uma seleção artificial da reprodução humana. O caráter seletivo deste novo paradigma levou a busca pela “pureza racial” em muitos lugares do mundo na primeira metade do século XX, enquanto no Brasil, a seletividade se dava em torno da incorporação e da destruição de determinados traços raciais e culturais, como projeto futuro ou como narrativa oficial da nacionalidade. A Revista de Antropofagia (1928 e 1929), inserida dentro da imprensa, contemplava debates de relevância imediata em seu contexto. Este trabalho irá expor alguns textos na revista que se relacionam com essas perspectivas, e que por vezes contém o léxico cientificista do movimento eugenista. Referências: BRASIL. Ministério das Relações Exteriores. Revista de Imigração e Colonização. Rio de Janeiro: Órgão oficial do Conselho de Imigração e Colonização, 1940. Disponível em <http://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=143030&pagfis=3930> acesso em 30 mar. 2022. BOAVENTURA, Maria Eugênia da Gama Alves. A vanguarda antropofágica. São Paulo: Ática, 1984. 211 p. 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A hora da eugenia: raça, gênero e nação na América Latina. 2005. 224 p. NA CONTRACORRENTE DO TRIUNFALISMO DA SEMANA: O MODERNISMO DE 1922 SEGUNDO O ANTIMODERNO GRACILIANO RAMOS Thiago Mio Salla Resumo: Desde a década de 1920, quando ainda vivia na província, Graciliano Ramos já manifestava suas críticas ao Modernismo de 1922. A partir de então, seus posicionamentos contrários a tal movimento se apresentaram de modo constante e contundente nos diferentes gêneros textuais que praticou, isto é, desde a intimidade das cartas, passando pela vocalização pública das crônicas e entrevistas, até chegarmos a páginas mais elaboradas de suas memórias e esboços de textos ficcionais. Entre os alvos do autor de "Caetés", estão o caráter simplesmente destruidor do movimento, cujo único mérito teria sido preparar o terreno para os romancistas de 1930; a refundação oportunista do cânone literário, proposta que, se por um lado limou medalhões, por outro promoveu injustiças, elevando de modo rápido e muitas vezes imerecido os bárbaros vencedores; o fato de a “confusão” ter perdurado apenas de 1922 a 1930 (“quase dez anos”), o que eximia o romancista alagoano de um possível enquadramento como modernista ; a depreciação de uma dicção literária mais purista, reduzida a velharia e a passadismo; e, como contrapartida, o privilégio para inovações linguísticas que, em contraposição aos preceitos da gramática tradicional, promoviam toda sorte de equívocos e corruptelas. Desse modo, a presente comunicação propõe olhar para 1922 a contrapelo, a partir da perspectiva de um artista antimoderno que visceralmente recusa o fascínio pelo novo, que duvida da ode ao progresso e a todos os seus corolários, que rejeita as facilidades disruptivas advindas da negação peremptória do passado. Referências: ANDRADE, Mário de. Iara. Terra Roxa e Outras Terras, São Paulo, ano 1, n. 5, p. 6, 27 abr. 1926. ______. Poema. In: ANDRADE, Mário de. Clã do jabuti. São Paulo: Eugênio Cupolo, 1927. ______. Angústia. Revista Acadêmica, Rio de Janeiro, ano 3, n. 27, p. 2, maio 1937. ______. A palavra em falso. Diário de Notícias, Rio de Janeiro, 6 ago. 1939, p. 2 (1º Suplemento). ______. O movimento modernista (1942). In: Aspectos da literatura brasileira. São Paulo: Martins, s.d., p. 231-255. BUENO, Luís. Uma história do romance de 30. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo; Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2006. CANDIDO, Antonio. Ficção — I. Folha da Manhã, São Paulo, p. 5, 4 fev. 1943. CARPEAUX, Otto Maria. “Visão de Graciliano Ramos”. Diretrizes, Rio de Janeiro, p. 6, 29 out. 1942. CASTRO, Moacir Werneck. Mário de Andrade: Exílio no Rio. 2 ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2016. COMPAGNON, Antoine. Os antimodernos: de Joseph de Maistre a Roland Barthes. Tradução de Laura Taddei Brandini. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2014. CORRESPONDÊNCIA entre Mário de Andrade & Manuel Bandeira. Organização, introdução e notas de Marcos Antonio de Moraes. 2 ed. São Paulo: Edusp, IEB, 2001 CRISTÓVÃO, Fernando Alves. Cruzeiro do Sul ao Norte: estudos luso-brasileiros. Lisboa: Imprensa Nacional — Casa da Moeda, 1983. GONÇALVES, Marcos Augusto. 1922: a semana que não terminou. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. MILLIET, Sérgio. Ensaios. São Paulo: [Soc. impressora brasileira, Brusco & cia], 1938. RAMOS, Graciliano. Linhas Tortas. Rio de Janeiro: Record, 2005. ______. Conversas. Organização de Thiago Mio Salla e Ieda Lebensztayn. Rio de Janeiro: Record, 2014. ______. Garranchos. Introdução, organização e notas Thiago Mio Salla. Rio de Janeiro: Record, 2012. ______. Cartas. 8 ed. Rio de Janeiro, Record, 2011. SIMPÓSIO “A LITERATURA E SEUS FRAGMENTOS: ENTRE A PSICANÁLISE, A FILOSOFIA E A TRADUÇÃO” Davi Andrade Pimentel (UFRJ), Flávia Trocoli Xavier da Silva (UFRJ), Markus Volker Lasch (UNIFESP) LUMINOSO PERFUME DA PALAVRA, OU MEMORIAL: DE JACQUES LACAN A ALICE OSWALD, E VICEVERSA Alexandre Marzullo Knauer Faccin Resumo: Seria possível pensar numa ambiência específica, imaterial, a emanar esteticamente de uma tradução poética? A questão exige uma distinção entre escrita, fala e efeito de linguagem; nossa proposta visa pensar tais problemáticas a partir da obra “Memorial – An Excavation of the Iliad” (2011), de Alice Oswald, dado que a poeta britânica a apresenta como uma “tradução atmosférica da Ilíada”. A contento, “Memorial” é um poema longo, contínuo e inteiramente composto por elegias aos soldados mortos na batalha de Tróia, de fato elaborado pela poeta a partir de traduções diretas dos versos homéricos. Contudo, por suas próprias palavras, A. Oswald privilegiou a oralidade do texto grego, com seu impacto sonoro e imagético imediato – buscando assim a “vividez” (?ν?ργεια) da epopeia – em detrimento do valor semântico correspondente: “transluscência [da palavra] ao invés de tradução” (p. 2, 2011). E aqui está a atmosfera e sua demanda: ao assinalar uma “transluscência” desejável, A. Oswald aponta para uma crise na materialidade da própria “linguagem” escrita e, por consequência, para um retorno da poesia ao traço ingovernável do instante – a fala. Mas nesse caso, como pensar uma tradução textual? Ou ainda: o que é que permanece, o que é que resulta de uma tradução que anseia pela oralidade de um texto escrito, isto é, pelo insensato risco de uma perda iminente daquilo mesmo que se traduz? Uma nova perspectiva nos exige um novo instrumental; se considerarmos que, para J. Lacan, “é a partir da fala que se abre caminho para o escrito”, talvez possamos convocá-lo para nos auxiliar na nova e insólita prefiguração de “Memorial”: “[...] se é do escrito que se interroga a linguagem, é justamente porque o escrito não é linguagem, mas só se constrói, só se fabrica por sua referência à linguagem” (p.60, 2009). Assim propomos nossa comunicação. Referências: AGAMBEN, Giorgio. Ideia da prosa. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2015. AGAMBEN, Giorgio. A potência do pensamento. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017. BRUNHARA, Rafael. Enárgeia e elegia grega arcaica. In: Letras Clássicas, v. 19, n. 2, p. 43-54, São Paulo: Universidade de São Paulo (USP), 2015. BLANCHOT, Maurice. L’espace littéraire. Paris : Folio, 1955. DERRIDA, Jacques. A escritura e a diferença. São Paulo: Perspectiva, 2014. DERRIDA, Jacques. Gramatologia. São Paulo: Perspectiva, 1999. HOMERO. Ilíada. São Paulo: Editora 34, 2020. JAKOBSON. Roman. Linguística e comunicação. Rio de Janeiro: São Paulo, 1972. LACAN, Jacques. O Seminário. Livro 18: de um discurso que não fosse semblante. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009. LACAN, Jacques. O Seminário. Livro 7: a ética da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008. LACAN, Jacques. O Seminário. Livro 23: o sinthoma. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007. LACAN, Jacques. Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998. OSWALD, Alice. Memorial: an excavation of the Iliad. London: Faber and Faber, 2011. NOUSSIA, Maria. Lo stile simplice di Tirteo. In: Bibliothèque D’Ètudes Classiques – Le Noms du Style, p. 11-24, Paris : Éditions Peeters, 2012. FRAGMENTOS ENTRE ESCREVER A MATÉRIA E ESCULPIR A PALAVRA Amanda Dib da Silva de Almeida Ferreira Resumo: Em uma entrevista ao escultor Bruno Giorgi, Clarice Lispector pergunta: “você trabalha diretamente com as mãos ou com instrumentos?”, questionamento que ela mesma responde: “Se fosse eu, preferiria sempre trabalhar com as mãos”. Partindo deste fragmento que não pertence à obra clariciana propriamente dita, o trabalho busca tecer relações entre o fazer manual evocado pelo fato de G.H. ser uma escultora e o próprio ato da escrita que também se engendra pelo uso das mãos. O romance A paixão segundo G.H., escrito por Clarice Lispector e publicado em 1964, coloca em cena o processo de criação através da narradora-personagem, cuja profissão é esculpir, como forma de pensar em uma linguagem que evoca o corpo. Nesse gesto, ela busca inscrevê-lo em um ato de escrita que tateia a matéria, a palavra. Entende-se o toque por meio das leituras elaboradas por Jacques Derrida em "Le toucher, Jean-Luc Nancy" e em "Pensar em não ver". Neste último, o filósofo dá luz à escultura como um ato de deformação do objeto e tece a disjunção entre a visão e o toque: “a diferença entre olhar e tocar é que se olha a distância e que, consequentemente, se deixa a coisa ser o que ela é: não a comemos”. Para criar, G.H. afirma que precisa “desgastar pacientemente a matéria até gradativamente encontrar sua escultura imanente”. No romance de Lispector, a barata é comida por G.H. e esse gesto, à luz de Derrida, problematiza o processo artístico de G.H., esculpido com as mãos, mas que se entrelaça, inevitavelmente ao ver, ao comer, ao vomitar. Dito isso, lerei A paixão segundo G.H. entre a escultura e a escrita, espaço fragmentado em que esculpir e escrever se ancoram nas mãos para dar forma. Referências: DERRIDA, Jacques. Le toucher, Jean-Luc Nancy. Paris: Éditions Galilée, 2000. DERRIDA, Jacques. Pensar em não ver. escritos sobre as artes do visível (1979-2004). Tradução de Marcelo Jacques de Moraes. Florianópolis: Ed. da UFSC, 2012. LISPECTOR, Clarice. A paixão segundo G.H. Rio de Janeiro: Rocco, 2020. LISPECTOR, Clarice. Entrevistas/Clarice Lispector. Org. Claire Williams; preparação de originais e notas biográficas de Teresa Monteiro. Rio de Janeiro: Rocco, 2007. A NEURODIVERSIDADE ENQUANTO DISPOSITIVO LITERÁRIO NA FANTASIA VITORIANA: UMA DISCUSSÃO SOBRE AUTISMO EM THE LIGHT PRINCESS (1864) DE GEORGE MACDONALD Cláudio Augusto Carvalho Moura Resumo: A literatura produzida no período vitoriano (1837-1900) possui como um de seus traços mais distintivos o interesse e exploração dos aspectos psicológicos de seus enredos e personagens, por vezes antevendo fenômenos psíquicos e condições clínicas apenas posteriormente catalogadas (OPPENHEIM, 1991; RYLANCE, 2000; TAYLOR, SHUTTLEWORTH, 2003). Consequentemente, conforme Shuttleworth (2008), o século XIX produziu toda uma literatura médica que tomou de empréstimo as belas letras como objeto de investigação para tentar compreender, em especial, a formação e a maturação infantil. É o caso de Carter ([1855] 2010), que ponderou sobre as implicações da educação no desenvolvimento mental a partir do romance dickensiano; assim como as teorizações de Guthrie (1907) sobre neurose, evolução social e o impacto do ambiente por sob o indivíduo em formação a partir um estudo de caso sobre a obra de George Eliot (1819-1880). Já o fin de siécle e início do século XX testemunharam o despontar da Psicanálise, e obras como O duplo (RANK, [1914] 2013), inspiração posterior para O infamiliar ([1919] 2019) freudiano, também beberam da fonte literária do século XIX para descrever os fenômenos que as intitulam. Contudo, decorrido mais de um século, ainda é possível encontrar, nessa literatura, exemplares carentes de estudos no que tange ao seu papel enquanto representação de condições neurodiversas reconhecidas apenas no século XX. Dentro desse contexto, esta comunicação se propõe, através de uma leitura relacional (CHRISTOFF, 2019), a discutir as idiossincrasias da protagonista do conto de fadas The light princess ([1864] 2017), de George MacDonald (1824-1925), à luz da observação do conjunto de caracteres que compõem o que se convenciona atualmente como o Transtorno do Espectro Autista (DSM-5, 2013), a fim de tentar compreender até que ponto a metaforização de tal condição (SONTAG, 2001), potencializada por seu enredo fantástico, pode influenciar sua percepção. Referências: AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, 5ª Ed. (DSM-5). Arlington: American Psychiatric Association, 2013. CHRISTOFF, Alicia Mireles. Novel relations: Victorian fiction and British Psychoanalysis. Princeton: Princeton University Press, 2019. CARTER, Robert Brudenell. On the influence of education and training in preventing diseases of the nervous system. Whitefish: Kessinger Publishing, 2010. FREUD, Sigmund. O infamiliar. Belo Horizonte: Autêntica, 2019. GUTHRIE, Leonard. Functional nervous disorders in childhood. London: Henry Frowde and Oxford University Press, 1907. MACDONALD, George. The light princess. In:______. The complete fantasy of George MacDonald. Scotts Valley: CreateSpace, 2017. p. 191-239 OPPENHEIM, Janet. Shattered nerves: doctors, patients, and depression in Victorian England. Oxford: Oxford University Press, 1991. RANK, Otto. O duplo: um ensaio psicanalítico. Porto Alegre: Dublinense, 2013. RYLANCE, Rick. Victorian Psychology and British culture, 1850–1880. Oxford: Oxford University Press, 2000. SHUTTLEWORTH, Sally. The Art of Medicine: Victorian visions of child development. The Lancet, Vol. 379, Issue 9812, January 21, 2012. p. 212-213. Disponível em https://www.thelancet.com/action/showPdf?pii=S0140-6736%2812%2960091-9. Acesso em 05 Mai 2022. SONTAG, Susan. Illness as metaphor and AIDS and its metaphors. Nova York: Picador USA, 2001. TAYLOR, Jenny Bourne; SHUTTLEWORTH, Sally. (Ed) Embodied selves: an anthology of psychological texts, 1830–1890. Oxford: Oxford University Press, 2003. ENTRE CORTE E ALIANÇA, COMEÇAR UM ROMANCE: AUTOBIOGRAFIA E LUTO EM TAMARA KAMENSZAIN Danielle Henrique Magalhães Resumo: Em “As línguas do luto”, Adriana Kanzepolsky identificou a “porosidade dos gêneros” como marca da obra da poeta e ensaísta argentina Tamara Kamenszain, situando-a na “instabilidade do entre”. Essa instabilidade desafia o gênero literário, a catalogação e a genealogia. Em Kamenszain, o começo se dá sempre entre poesia e romance e entre “não poder” e o “não saber”. Fazendo da hesitação dos pontos de reticência uma possibilidade de costurar começos, "O eco da minha mãe" termina com os versos: “… quem sabe…/ amanhã começarei um romance”. No ensaio “Por la boca del padre?”, Kanzepolsky interroga o lugar do judaísmo na obra de Kamenszain como uma herança que se herda do pai, e enuncia a relação de corte e aliança que pode ser pensada no modo de transmissão dessa herança. Nessa obra, entre o corte e a linha, entre o verso e a prosa, o eu vai ganhando corpo na medida em que vai sendo rasurado e costurado em uma filiação afetiva tecida por referências literárias e culturais, como se pode encontrar também em "Circunfissão", de Jacques Derrida, que se traça entre corte e aliança. Tanto em Kamenszain quanto em Derrida, cenas primitivas são matéria-prima de escrita e heranças do judaísmo comparecem como traço autobiográfico. Naquela, porém, a dupla condição de mulher e de judia potencializa a inscrição do trauma no corpo, não pelo ritual de circuncisão pelo qual passam homens judeus como Derrida, mas por ser excluída desse ritual por ser mulher. Tecendo pontos de encontro e de diferença entre esses autores, esta comunicação pretende analisar como a “porosidade” dos gêneros sustenta a escrita autobiográfica em Kamenszain, seja a partir do princípio de corte e aliança como modo de transmissão da morte do pai, seja a partir do princípio de “preparação do romance” como modo de transmissão da morte da mãe. Referências: BARHTES, Roland. A Preparação do romance I: da vida à obra. Tradução de Leyla PerroneMoisés. São Paulo: Martins Fontes, 2005. DERRIDA, Jacques; BENNINGTON, Geoffrey. Circonfissão. Tradução de Anamaria Skinner. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1996. -- Essa estranha instituição chamada literatura: uma entrevista com Jacques Derrida. Tradução de Marileide Dias Esqueda. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2014. -- Gêneses, genealogias, gêneros e o gênio [2003]. Tradução de Eliane Lisboa. Porto Alegre: Sulina, 2005. -- Mal de Arquivo: uma impressão freudiana [1995]. Tradução de Claudia de Moraes Rego. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2001. FOFFANI, Enrique. “Tamara Kamenszain: La poesía como novela luminosa”. In: La novela de la poesía: Poesía reunida. Buenos Aires: Adriana Hidalgo Editora, 2012. KAMENSZAIN, Tamara. La novela de la poesía: Poesía reunida. Buenos Aires: Adriana Hidalgo Editora, 2012. -- “El ghetto de mi lengua”. In: MOLLOY, Sylvia; SISKIND, Mariano (orgs.). Poéticas de la distancia: Adentro y afuera de la literatura argentina. Buenos Aires: Norma, 2006. -- O Gueto [2003] / O eco da minha mãe [2011]. Tradução de Paloma Vidal e Carlito Azevedo. Rio de Janeiro: 7Letras, 2012. -- O livro dos divãs [2014]. Tradução de Carlito Azevedo e Paloma Vidal. Rio de Janeiro: 7Letras, 2015. -- Fala, poesia. Tradução de Ariadne Costa, Ana Isabel Borges e Renato Rezende. Rio de Janeiro: Azougue: Circuito, 2015. -- Una intimidad inofensiva: los que escriben con lo que hay. Ciudad Autónoma de Buenos Aires: Eterna Cadencia Editora, 2016 (e-book). -- Libros chiquitos. Ciudad Autónoma de Buenos Aires: Ampersand, 2020 (e-book). KANZEPOLSKY, Adriana. Tamara Kamenszain por Adriana Kanzepolsky. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2020 (Ciranda da poesia). -- “As línguas do luto”. In: O Gueto [2003] / O eco da minha mãe [2011]. Rio de Janeiro: 7Letras, 2012. TROCOLI, Flavia. “A autobiografia e o diário como feridas na lógica da representação literária”, Criação & Crítica, n.19, 2017. TRADUZIR O ÉVÉNEMENT DE HÉLÈNE CIXOUS: DO ENTRE AO E Davi Andrade Pimentel Resumo: A narrativa de Double Oubli de l’Orang-Outang, de Hélène Cixous, tem seu início com um Événement escrito por sua narradora H., em meio a uma complexa sobreposição de rasgos de esquecimentos e de suturas de diferentes escritas, tanto literárias quanto filosóficas, que empreendem refazer, a partir de restos esquecidos, uma memória de um livro publicado, porém, jamais escrito e lido por sua autora H.: Le Prénom de Dieu. Um Événement que se demora, por sua vez, intraduzível em uma possível tradução para o português, pois no instante em que o francês de Cixous tende a romper a sua fronteira linguística, indo ao encontro em tradução da língua portuguesa, ele próprio nele se emaranha, uma vez que esse Événement somente pode ser escrito e pronunciado por meio de Ève, mãe de H., a medida de todas as coisas, sobretudo, de sua escrita. Desse modo, a tradução de Événement por Acontecimento faz perder Ève, a base estruturante de sua narrativa e do acontecimento que a originou. Então, como pensar o Événement que não se traduz entre línguas? Talvez quando a tradução deixar de ser o evento de um duplo entre dois para ser o evento múltiplo do e: quando o e tensiona ao ilimitado duas ou mais línguas em tradução, quando a fronteira de uma e outra língua se espelha para-além do limite linguístico, fazendo com que o francês e o português habitem um único espaço de linguagem, ainda que em tensão. Talvez assim Ève e Événement possam estar na tradução brasileira de Duplo Esquecimento do Oran-Gotango, quando também o que restou da terra argelina de Orã, cidade natal de Cixous, possa figurar sonora e tematicamente no título traduzido de sua obra. Refletindo sobre essas questões, a comunicação pretende analisar as várias demandas que a palavra Événement exige da teoria da tradução. Referências: BENJAMIN, Walter. A tarefa-renúncia do tradutor. Tradução de Susana Kampff Lages. In: BRANCO, Lucia Castello (Org.). A tarefa do tradutor, de Walter Benjamin: quatro traduções para o português. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008, p. 66-81. BERMAN, Antoine. A tradução e a letra ou o albergue do longínquo. Tradução de Marie-Hélène Catherine Torres, Mauri Furlan, Andréia Guerini. Rio de Janeiro: 7Letras/PGET, 2007. CIXOUS, Hélène. OR: les lettres de mon père. Paris: Des femmes, 1997. __________________. Double Oubli de l'Orang-Outang. Paris: Galilée, 2010. __________________. O riso da medusa. Tradução de Natália Guerellus e Raísa França Bastos. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2022. DERRIDA, Jacques. H.C. pour la vie, c'est à dire... Paris: Galillée, 2002. RICŒUR, Paul. Sobre a tradução. Tradução de Patrícia Lavelle. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2012. Steiner, George. Depois de Babel: questões de linguagem e tradução. Tradução de Carlos Alberto Faraco. Curitiba: Editora da UFPR, 2005. BARTHES, LACAN E O AMOR PARA UMA LEITURA EM RUÍNAS Derick Davidson Santos Teixeira Resumo: Em “Escritores e escreventes”, Barthes escreve que a literatura representa o mundo “como uma pergunta, nunca, definitivamente, como uma resposta” (2013, p. 33. Grifo do autor). Se o escritor concebe a escrita como um fim, o mundo, nos lembra o teórico, pode sempre tomá-la como meio, veículo de um sentido, isto é, como resposta. “A resposta é a desgraça da questão”, escreve Blanchot, em “A questão mais profunda” (2010, p. 43). Bem próximo de Blanchot, Barthes mantém a literatura como questão sem resposta, enunciação que não se acaba em um só enunciado. Mais, ainda, próximo de Lacan, em textos como S/Z, “Escrever a Leitura” e “A leitura”, veremos o teórico elaborar uma “teoria” da leitura como trabalho do corpo desejante e aberto ao plural do sentido, ao infinito da linguagem. Esse corpo leitor é um corpo, a um só tempo, amoroso e desrespeitoso, porque recorta o texto lido, fragmenta-o, mas dele se alimenta e a ele retorna. Nessa direção fragmentária, há uma leitura amorosa, mas que não é concebida no sentido do amor fusional; ela é, antes, o gesto que abre o texto para reescrevê-lo, dispersá-lo em outro texto, também ele, sem uma resposta – o texto sempre não-todo disperso em outro não-todo. Nessa via, a leitura nunca é totalizante e a demanda a interpretar sempre resta. Essa modalidade de leitura se aproxima da leitura que, segundo Mandil, em Os efeitos da Letra, Lacan fez da obra de Joyce. Tomando os textos de Barthes sobre a leitura e os cotejando com as formulações de Lacan feitas em seu Seminário 20, Seminário 23 e no posfácio do Seminário 11, abordaremos o amor na leitura em ruínas, o erotismo no fragmento. Nessa perspectiva, veremos o leitor, em uma felicidade sempre clandestina, passar para a posição de autor: corpo disperso e a dispersar. Referências: BARTHES, Roland . S/Z. Traduc?a?o de Mario de Santa Cruz e Ana Mafalda Leite. Lisboa: Edic?o?es 70, 1999. BARTHES, Roland. O rumor da li?ngua. Traduc?a?o de Leyla Perrone-Moise?d. Sa?o Paulo: Martins Fontes, 2012, p. 348-365. BARTHES, Roland. Escritores e Escreventes. In: _____. Cri?tica e verdade. Traduc?a?o de Leyla Perrone-Moise?s. 3.Ed. Sa?o Paulo: Perspectiva, 2013, p. 31-40. BARTHES, Roland. Cri?tica e verdade. Traduc?a?o de Leyla Perrone-Moise?s. 3.Ed. Sa?o Paulo: Perspectiva, 2013. BLANCHOT, Maurice. A conversa infinita, volume 1 : a palavra plural. Tradução de Aurélio Guerra Neto. São Paulo: Escuta, 2010 LACAN, Jacques. O semina?rio livro 23: O Sinthoma. Traduc?a?o de Se?rgio Laia. Rio de Janeiro: Zahar, 2007. LACAN, Jacques. O semina?rio livro 20: Mais, ainda. Traduc?a?o de M.D Magno. Rio de Janeiro: Zahar, 2008. LACAN, Jacques. O seminário 11: os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. Tradução de M.D Magno. Rio de Janeiro: Zahar, 2011. MANDIL, Ram . Os efeitos da letra. Rio de Janeiro: Contracapa, 2005. O QUE QUER ESCREVER O HIPERREALISMO FICCIONAL EM HÉLÈNE CIXOUS Flávia Trocoli Xavier da Silva Resumo: Mais uma vez proponho-me a demorar sobre um movimento da obra de Hélène Cixous que, em H.C. pour la vie, c’est à dire..., Jacques Derrida nomeou “hiperrealismo ficcional”. Derrida parte de um fragmento de OR: lettres de mon père para problematizar justamente o pronome possessivo em itálico “mon père” e a cadeia metonímica que não para de deslizar entre a primeira e a terceira pessoa, entre o eu e o ela, entre a narradora e Hélène Cixous, entre a literatura, a autobiografia, a ficção, o possível, o real e o impossível. Do meu lado, depois de contornar o campo de questões trabalhadas por Derrida, buscarei situar esse chamado hiperrealismo ficcional a partir do entrelaçamento de três termos: ficção literária, ficção autobiográfica e ficção onírica, sem que nenhum termo domine o outro. Para isso, visitarei cenas recortadas de duas obras posteriores a Or: Hyperrêve e Ève s’évade – la ruine et la vie, e, nelas, mostrarei como o teatro de vozes perturba e excede os limites da literatura, do sonho, do eu, da psicanálise e da desconstrução. Parece-me que, ao exceder, ficcionalmente, os limites de um realismo insuportável – o da vida e o da morte –, os condenados a dor encontram na literatura uma liberdade outra, a que mora no hiper, isso que não deixa de acontecer na palavra. Talvez, depois desses movimentos de leitura, seja possível colocar lado-a-lado o “hiperrealismo ficcional” e o trabalho da literatura que Cixous descreveu como uma colmatagem do abismo. “Eu estava aniquilada, tudo está perdido, salvo a palavra e sua polifonia polifenix” (Cixous, 2013, p. 24). Referências: CIXOUS, Hélène. Or: les lettres de mon père. Paris: Éditions des femmes, 1997. CIXOUS, Hélène. Hyperrêve. Paris: Galilée, 2006. CIXOUS, Hélène. Ève s’évade: la ruine et la vie. Paris: Galilée, 2009. CIXOUS, Hélène. Ayaï! Le cri de la littérature. Paris: Galilée, 2013. Derrida, Jacques. H.C. pour la vie, c’est à dire... Paris: Galilée, 2002. NO ENTREMEIO DOS CAMINHOS DA REALIDADE E DA FICÇÃO EM PROUST: O LIVRO, O QUADRO E O SONHO DE SWANN Francisco Renato de Souza Resumo: Em “Combray”, capítulo inicial de No caminho de Swann, primeiro volume de Em busca do tempo perdido, de Marcel Proust, o narrador denomina a personagem Swann como o “inconsciente autor de suas tristezas”. Fazendo alusão ao sofrimento maior que as visitas noturnas do convidado de sua família lhe causavam na infância, o impedimento de ter o beijo materno de boa noite, essa “autoria”, no entanto, se estenderá para a elaboração do livro por vir, que terá como matéria a transfiguração da sua experiência de vida em obra literária, como afirma o narrador nas linhas finais do último volume da Busca, O tempo redescoberto: “Em suma, refletindo bem, a matéria de minha experiência, que seria matéria de meu livro, me vinha de Swann” (PROUST, 2013, p. 260). Entrementes, no quinto volume, em A prisioneira, a voz do narrador-autor se destaca na enunciação que recoloca Charles Swann como o herói de um de seus romances, reconfigurando, assim, as posições de autor e de personagem elaborado. A partir dos espelhamentos entre o narrador proustiano e a personagem Swann, a comunicação pretende averiguar a impossibilidade de demarcação entre o real e o ficcional, entre a vida do autor, na estrita condição de entidade fictícia, e a sua representação no texto literário. Para isso, demarcarei três estâncias presentes na obra proustiana que inscrevem a arte no ponto indeterminado entre a realidade e a ficção – a escrita do livro, a composição do quadro e a elaboração do sonho, que, embora atribuídas pelo narrador à personagem Swann, não cessam de reinscrever uma tensão entre eles, através dos sucessivos giros feitos pelas oscilações que permeiam as figuras do autor e as do(s) seu(s) duplo(s). Referências: PROUST, Marcel . No caminho de Swann. Tradução de Mario Quintana. 3.ed. São Paulo: Globo, 2006. PROUST, Marcel. A prisioneira. Tradução de Manuel Bandeira e Lourdes Sousa de Alencar. 13.ed. São Paulo: Globo, 2011. PROUST, Marcel. O tempo redescoberto. Tradução de Lúcia Miguel Pereira. 3.ed. São Paulo: Globo, 2013. A TRADUÇÃO E O HÍMEN EM JACQUES DERRIDA Iamni Reche Bezerra Resumo: Em Torres de Babel, Derrida afirma que a lei da tradução é também a lei do hímen. Nesse importante ensaio, em que Derrida recorre ao texto benjaminiano para desconstruir a ideia da tradução como simples transmissão de um significado estável, a Torre de Babel configura a multiplicidade irredutível das línguas e a impossibilidade de totalização de qualquer ordem. A origem, então, é sempre mais de uma, e o hímen, como o pharmakon, se articula a partir de seu duplo elo, mantendo-se necessariamente entre dois termos: é a “membrana” que obstrui o orifício vaginal, dividindo o interior do exterior, e é o “casamento”, do grego “Humên”, deus da união ou da fusão. Se o hímen tradicionalmente foi tomado pela retórica patriarcal e machista como o símbolo de controle e garantia da virgindade (forma de controle sobre o feminino), Derrida, ao colocá-lo enquanto a própria lei da tradução, faz com que o hímen se desvencilhe da ideia de membrana protetora e sagrada, para então figurar um complexo jogo indecidível entre o interior/exterior, sagrado/profano, feminino/masculino. Assim, minha comunicação propõe apresentar e analisar essa metáfora utilizada por Derrida em Torres de Babel. O hímen (que é, sobretudo, um contrato entre o desejo e a realização) instaura um curto-circuito na dialética que será importante na compreensão daquilo que o filósofo pensou acerca da tradução e do feminino. Referências: DERRIDA, Jacques. Torres de Babel. (Trad. Junia Barreto). Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2006. OS MOTIVOS DA FICÇÃO Julia Teitelroit de Souza Martins Resumo: O que se esconde (não se deixa ver) na passagem entre o real e o ficcional? De onde vem o impulso que leva ao salto que faz a escrita deixar de ser relato para se transfigurar em ficção? Se a psicanálise é a cura pela palavra, pela elaboração da experiência vivida, na literatura de ficção, o desabafo ficcional reflete a necessidade não apenas de lembrar e relatar/organizar a experiência, mas de transfigurá-la, ou de desrealizá-la, em alguma instância. Reconhece-se que vítimas de trauma não obtém alívio em relatar seus traumas, apenas revivendo-os novamente. Entraram no modo da repetição. E se ao invés de repetir, pudessem transfigurar? A Repetição seria a Doença, a Transfiguração viria como Cura. Qual o interesse da Ficção para o escritor? Simples catarse? O que o motiva em sua criação? A tensão entre realidade e ficção inscreve-se aqui em um “entre” que é também um espaço de cura, o desestrangulamento de um nó, de uma tensão, justamente, que precisa se aliviar, desenvolvendo-se. Freud cita, em Introdução ao Narcisismo, as "Canções da Criação", de Heinrich Heine, em Novos Poemas, 1844: "A doença foi bem a razão / De todo o impulso de criar; / Criando eu pude me curar, / Criando eu me tornei são." (A voz que fala é a de Deus, na criação do mundo imaginada por Heine.) Referências: BARTHES. A Preparação do Romance - II Volumes. Texto estabelecido, anotado e apresentado por Nathalie Léger. Tradução Leyla Perrone-Moisés. São Paulo: Martins Fontes, 2005. BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. Tradução Sergio Paulo Rouanet. 7 ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. (Obras escolhidas; vol. 1) BLANCHOT, Maurice. A parte do fogo. Tradução Ana Maria Scherer. Rio de Janeiro: Rocco, 2011. _________. O livro por vir. Tradução Leyla Perrone-Moisés. São Paulo: Martins Fontes, 2005. FREUD, Sigmund. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: edição standard brasileira. Comentários e notas James Strachey, em colaboração com Ana Freud. Tradução do alemão e do inglês sob a direção geral de Jayme Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 1996. KAFKA, Franz. Carta ao pai. Tradução Modesto Carone. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. ______. O castelo. Tradução Modesto Carone. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. LACAN, Jacques. Escritos (Écrits, 1966). Tradução Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998. PROUST, Marcel. No caminho de Swann. Tradução Mario Quintana. 3 ed. Ver. São Paulo: Globo, 2006. CIXOUS E LACAN: DUAS LEITURAS DO CASO DORA Kaio Adriano Batista Fidelis Resumo: Partindo da pergunta sobre o que seria uma leitura operada a partir da psicanálise, esse trabalho busca investigar na escrita do caso Dora e nas consequentes leituras feitas por Hélène Cixous e Jacques Lacan o que passa de uma escrita à outra. Tomando as perguntas de Shoshana Felman sobre o que seria um efeito de leitura e “o que do texto convida, solicita uma exegese psicanalítica, e o que do texto resiste, se recusa a ela?” (FELMAN, 2020, p. 191), interroga-se aqui a psicanálise, sua escrita, sua transmissão e sua práxis, tentando extrair daí alguns índices para as perguntas colocadas. O caso Dora, relatado por Freud, carrega em seu título a marca da forma com que é apresentado, uma análise fragmentária. Hélène Cixous apresenta sua leitura a partir de uma peça teatral, embaralhando ainda mais as vozes narrativas por vezes indefinidas apresentadas no caso clínico freudiano. Se Jacques Derrida descreve o trabalho de Cixous como um “objeto literário não identificado” (DERRIDA, 2002, p. 14) o que se pode apreender da forma de sua leitura do caso Dora? Por outra via, ao mesmo passo que Lacan posiciona o caso Dora como um recurso para a apresentação de suas diferentes ferramentas teórico/clínicas, Dora também reorienta a teoria lacaniana, chegando a forçar um novo termo – a histeria rígida – para a categoria clínica da histeria a partir da encenação da peça de Cixous. De todas as visadas esparsadas de Lacan sob o caso Dora, o que se extrai? Fazendo ecoar ainda o que Roland Barthes apresenta a partir da ideia de “responsabilidade da forma”, pergunta-se qual a implicação do escritor e do leitor nas formas de suas criações. Referências: BARTHES, Roland. Aula. Tradução: Leyla Perrone-Moisés. São Paulo: Cultrix, 2013. CHIANTERETTO, Jean.-François. L’écriture de cas chez Freud. Paris: Anthropos, 2000. CIXOUS, Helène. Portrait de Dora. Paris: des femmes, 1975. DERRIDA, Jacques. H. C. pour la vie, c’est a dire.... Paris: Galilée, 2002. EVANS, Martha. Portrait of Dora: Freud’s Case History As Reviewed by Hélène Cixous. SubStance, v. 11, n. 3, p. 64–71, 1982. Disponível em: https://doi.org/10.2307/3684315 FELMAN, Shoshana. (2020). Shoshana Felman e a coisa literária: escrita, loucura, psicanálise. Belo Horizonte: Letramento, 2020. FREUD, Sigmund. Análise fragmentária de uma histeria ("O caso Dora", 1905 [1901]). In: FREUD, Sigmund. Obras completas, volume 6: três ensaios sobre a teoria da sexualidade, análise fragmentária de uma histeria ("O caso Dora") e outros textos (1901-1905). Tradução: Paulo César de Souza, 2016, p. 173-320. HANRAHAN, Maireád. Cixous’s “Portrait de Dora”: The Play of Whose Voice? The Modern Language Review, v. 93, n. 1, p. 48–58, 1998. Disponível em: https://doi.org/10.2307/3733622 LACAN, Jacques. O seminário, livro 3: as psicoses (1955-1956). Rio de Janeiro: Zahar, 1998 LACAN, Jacques. O seminário, livro 8: a transferência (1960-1961). Rio de Janeiro: Zahar, 1992a. LACAN, Jacques. O seminário, livro 17: o avesso da psicanálise (1969-1970). Rio de Janeiro: Zahar, 1992b. LACAN, Jacques. O seminário, livro 4: a relação de objeto (1956-1957). Rio de Janeiro: Zahar, 1995. LACAN, Jacques. O seminário, livro 5: as formações do inconsciente (1957-1958). Rio de Janeiro: Zahar, 1999. LACAN, Jacques. O seminário, livro 23: o sinthoma (1975-1976). Rio de Janeiro: Zahar, 2007. LE GAUFEY, Guy. Le cas em psychanalyse: essai d’épistémologie clinique. Paris: Epel, 2020. LORA, Débora & SILVA, Sander. (Orgs.). Retornos do caso Dora. Porto Alegre: Artes & Ecos, 2020. SAFATLE, Vladimir. Permanecer histérica: Sexualidade e contingência a partir do caso Dora. Ágora: Estudos em Teoria Psicanalítica, v. 19, n. 3, p. 377-392, 2016. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1516-14982016003003. O JOGO DOS FRAGMENTOS DE "FLAUSI-FLAUSI", DE DALTON TREVISAN Katherine Funke Resumo: Esta comunicação vai se dedicar ao jogo realizado pelo fragmentos que constituem o conto "Flausi-Flausi", de Dalton Trevisan. Cada um deles deixa rastros em direção a textos de Katherine Mansfield, em especial os assim considerados escrita íntima ou pessoal (diários e cartas), assim como a outros contos do próprio Trevisan. Em forma de entradas em um diário pessoal, os fragmentos de "FlausiFlausi" surgem em diversidade de formas: aforismo, esquete, poema em prosa, registro de sonho, poema em verso; alguns deles se alternam ou são reiterados no espaço do conto, formando pares ou séries. Não há enredo linear, mas uma musicalidade perceptível. Trata-se de um dos contos mais longos do escritor curitibano, que sobreviveu durante seis décadas à conhecida fúria do contista pela reescrita em direção ao mínimo e ao haicai. Ao invés de diminuir nas republicações, o diário narrado em "Flausi-Flausi" recebeu mais entradas com a passagem do tempo. Este conto foi publicado cinco vezes. Surgiu inicialmente no jornal Joaquim sob o título "com uma rosa na mão" (1947), e logo a seguir com o título renovado no livro Sete anos de pastor (1948); depois de muitos anos, o conto voltou a aparecer no jornal O Cândido (2013) e nos livros O Beijo Na Nuca (2014) e A mão na pena (2014). O tema da comunicação integra o objeto de tese de doutorado em andamento, sob o título de "Erra outra vez". Referências: BLANCHOT, Maurice. A conversa infinita 3 - A ausência de livro, trad. João Moura Jr. São Paulo: Escuta, 2010. DAVISON, Claire. On First Looking into Mansfield’s Heine: Dislocative Lyric and the Sound of Music. In: KIMBER, Gerri; WILSON, Janet. Re?forming World Literature Katherine Mansfield and the Modernist Short Story. Stuttgart: Ibidem Verlag, 2018. DERRIDA, Jacques. A escritura e a diferença, trad. Maria Beatriz Marques Niza da Silva, Pedro Leite Lopes e Pérola de Carvalho. São Paulo: Perspectiva, 2016. _________________. Pensar e não ver: escritos sobre as artes do visível (1979-2004). Trad. Marcelo Jacques de Moraes. Florianópolis: Edufsc, 2012. ELIOT, T. S. Tradition and individual talent. In: Selected essays, London: Faber and Faber Limited, 1932. LINHARES, Temístocles. Antecipações sobre um contista. Joaquim Curitiba, ano 3, no. 18, maio de 1948. LINS, Alvaro. Família Mansfield brasileira. In: Jornal de Crítica. São Paulo: Livraria José Olympio, 1941, p. 116-123. MANSFIELD, Katherine. Letters. Hamburg: Albatross, 1934. _____________________. Journal. Hamburg: Albatross, 1935. ______________________. Diário, trad. Fernanda de Castro. Porto: Livraria Tavares Martins, 1944. ____________________. Felicidade, trad. Érico Veríssimo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1970. _____________________. The Collected Stories of Katherine Mansfield. Hertfordhire: Wordsworth, 2006. _____________________. Algumas cartas & fragmentos do diário. Trad. Rosaura Eichenberg. Desterro: Noa Noa, 1988. _____________________. 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Ao analisar o trabalho desses autores, é possível observar os fios - tais como aqueles produzidos pelo bicho-da-seda - que os conectam, bem como a massa branca da barata que constitui o corpo no/do texto. Um corpo que, como afirma Jean-Luc Nancy, se escreve na escrita. Observamos também a Medusa de Cixous que, fora da imagem de "mortal", é uma figura que ri, que grita, em uma escrita performática sobre independência. Essa escrita se dá na poética de Cixous, refletindo a forma como a mesma analisa a escrita e, especialmente, o feminino na linguagem. Aparece ainda na narrativa fragmentada e através de fluxos de consciência de Clarice Lispector. Por fim, está no pensamento desconstrucionista de Derrida e sua escrita filosófica, teórica e autobiográfica. São fragmentos de corpo(s) entre nacionalidades, línguas, literatura, filosofia, autobiografia e teoria literária. Três autores e três obras que trazem várias camadas e várias vozes e corpos, entrecruzamentos e "secrecitações" de uma teia do bicho-da-seda da escrita, do fazer literatura. Referências: ALONSO, Mariângela. Instantes líricos de revelação: a narrativa poética em A Paixão Segundo G.H. Dissertação de Mestrado. Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Letras, Campus de Araraquara, 108 f. 2017. CEIA, Carlos. Jouissance. E-dicionário de termos literários, 2009. Disponível em https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/jouissance/. Acesso em 27 fev 21. CIXOUS, Hélène. “Coming to Writing” and Other Essays. Cambridge: Harvard University Press, 1991. CIXOUS, Hélène; DERRIDA, Jacques. “Contos da diferença sexual”. Idiomas da diferença sexual. Coimbra : Terra Ocre, 2018. _______. “Le Rire de la Méduse”. IN : Le Rire de la Méduse et Autres Ironies. Paris : Galilée, p. 35-68, 1975. _______. O Riso da Medusa. Tradução de Natália Guerellus e Raísssa França Bastos Rio de Janeiro : Bazar do Tempo, 2022. _______. Reading with Clarice Lispector. Minneapolis : University of Minnesota Press, 1990. _______. Three steps on the ladder of writing. Tradução do original francês de Sarah Cornell e Susan Sellers. Nova Iorque: Columbia University Press, 1993. COOK, Manuela. “Deus, vida e morte em A paixão segundo G.H., de Clarice Lispector”. IN: Boletim do CESP – v. 19, n. 24 – jan./jun. 1999. Disponível em : http://www.periodicos.letras.ufmg.br/index.php/cesp/article/download/6811/5805. Acesso em 02 mar 2022. DEÂNGELI, Maria Angélica. “Le monolinguisme de l’autre, de Jacques Derrida : uma escrita idiomática da língua”. Fragmentos, número 35, p. 173/189 Florianópolis/ jul - dez/ 2008 DERRIDA, Jacques. A Escritura e a Diferença. Trad. Maria B. M. Nizza da Silva et al. 4. ed. São Paulo: Perspectiva, 2010. ______. A Farmácia de Platão. Trad. Rogério Costa. São Paulo: Iluminuras, 2005. ______. Gramatologia. Trad. Miriam Chnaiderman e Renato Janine Ribeiro. São Paulo: Perspectiva, 2004. HAHN, Noli Bernardo. “O pensamento desconstrucionista e descentrado de Jacques Derrida: um desafio epistemológico no combate a fundamentalismos e totalitarismos”. Revista Videre, Dourados, MS, v.10, n.20, jul./dez. 2018 ISSN 2177-7837. Disponível em: https://ojs.ufgd.edu.br/index.php/videre/article/view/7543. Acesso em 14 ago 21. LISPECTOR, Clarice. A paixão segundo G.H. Rocco, 2009. [E-book] MAGALHÃES, Milena. “Os véus da escrita autobiográfica em Jacques Derrida”. 2010. Disponível em: https://www.ufmg.br/derrida/wpcontent/uploads/downloads/2010/05/Os-veus-da-escrita-autobiografica-em-Jacques-Derrida-MILENAMAGALHAES.pdf. Acesso em 09 mar 2022. MONTEIRO, Hugo. “De uma Frágil radicalidade a Passo de gato no pensamento (político) de Jean-Luc Nancy”. Revista Filosófica de Coimbra, n. 51. 2017, pp. 111-136. Disponível em: https://www.uc.pt/fluc/dfci/public_/publicacoes/numeros_publicados_arquivo/Textos_vol_26_n_51/hu go_monteiro. Acesso em 28 ago 21. NUNES, Benedito. O Drama da Linguagem. Uma leitura de Clarice Lispector. São Paulo: Ática, 1989. REGARD, Frédéric. “AO!”. IN: O Riso da Medusa. Tradução de Natália Guerellus e Raísssa França Bastos Rio de Janeiro : Bazar do Tempo, 2022. SETTI, Nadia. “O que é um corpo ?”. Trad. Sérgio Novo. Revisão técnica: João Camillo Penna. 2019. Disponível em: https://joaocamillopenna.files.wordpress.com/2019/10/nacc81dia-o-que-ecc81-um-corpo-limpo-2.pdf. Acesso em 13 ago 21. SILVA, Márcio Seligmann. “Derrida: tradução, testemunho e ‘otobiografia’”. IN: Alea: Estudos Neolatinos [online]. v. 22, n.3, 2020. Disponível em https://doi.org/10.1590/1517106X/2020223106124. Acesso em 09 mar 2022. TROCOLI, Flavia. “Ali onde eu não interpreto, isso corta”. IN: Revista Lacuna. 28 abr 2017. Disponível em: Acesso em 08 mar 2022. ________. “A que passa é o seu nome, quer dizer Hélène Cixous”. IN: O Riso da Medusa. Tradução de Natália Guerellus e Raísssa França Bastos Rio de Janeiro : Bazar do Tempo, 2022. "TUDO ESTÁ PERDIDO, CONSERVEMOS A PERDA": DAS RUÍNAS QUE RANGEM EM HÉLÈNE CIXOUS Marcelo Jacques De Moraes Resumo: No romance Ruines bien rangées [Ruínas bem arrumadas], de 2020, Hélène Cixous costura, entrelaça, arruma, range, lembranças e relatos, lembranças de lembranças, relatos de relatos. Tudo se organiza em torno deste “Centro do Centro do Mundo” (título do primeiro capítulo do romance) que é Osnabrück, pequena cidade alemã em que nasceu Ève Klein, a mãe da escritora, que a deixa em 1928 por conta da ascensão do nazismo e da perseguição crescente aos judeus. Mas se Osnabrück figura no romance como matriz da memória familiar, ela aparece também como palco da história: fundada em 783 por Carlos Magno, foi em seu rio Haze que em 1641 foram afogadas como bruxas 127 parteiras, em sua prefeitura que em 1648 foi assinado o Tratado de Westfália, pondo fim à Guerra dos Trinta Anos; Hitler teria passado por lá em 1926 e sua sinagoga, construída em 1906, foi incendiada em novembro de 1938 na terrível Noite dos Cristais. São justamente as “ruínas bem arrumadas” que constituem o memorial da sinagoga de Osnabrück que alegorizam o que deflagra em Cixous o próprio processo de escrita: “esses restos cuidados, etiquetados fechados numa gaiola são o retrato das minhas ruínas interiores” (p.78). E é assim que esse lugar de memória que se torna Osnabrück acolhe toda espécie de fantasmas, de “retornantes”, que não cessam de voltar a partir, mas cujos passos, rastros e palavras ressoam e rangem – e se perdem – sem fim, movendo-se inextricavelmente entre realidade e ficção, entre história, literatura e filosofia, entre línguas e línguas. Pretendo, em minha comunicação, abordar alguns aspectos do modo como esse rangido ressonante das ruínas dos sentidos se materializam no romance Ruines bien rangées, especialmente a partir da experiência de traduzi-lo. Referências: Cixous, Hélène. Ruines bien rangées. Paris: Gallimard, 2020 VESTÍGIOS E FRAGMENTOS (FICCIONAIS) DO REAL: CARLOS & CARLOS SUSSEKIND ENTRE VIDA, DIÁRIO E ROMANCE Markus Volker Lasch Resumo: O romance Armadilha para Lamartine, publicado por primeira vez em 1976, por editora com sede catalã e especializada em dicionários e obras científicas, é munido de amplo e sofisticado aparato paratextual, aparato este modificado levemente, em teor e posicionamento, ao longo das três edições, por três editoriais distintos, que o livro conheceria. Na versão de 1976, chega-se da capa, que ostenta a dupla autoria do escrito, passando pelo prefácio de Hélio Pellegrino, que fala em seu título de uma armadilha para o leitor, a uma página que aparentemente resume fidedignamente o conteúdo do livro, mas que ao mesmo tempo subverte o teor das duas partes, tanto em ordem quanto em tamanho. O texto da quarta capa, por sua vez, não poderia ser mais eloquente, em suas autenticidade, persuasão e dissimulação: “A ficção de Carlos & Carlos Sussekind não se dissocia da realidade deles próprios. Armadilha para Lamartine é, de resto, uma criação sem fronteiras sob mais de um aspecto. Impossível, por exemplo, destacar a coautoria do pai da coautoria do filho, como impossível é separá-los, como autores, de que são como personagens. Carlos & Carlos realizou(zaram) um livro que tem sua melhor garantia de autenticidade na certeza, com que foi feito, de jamais vir a ser publicado. O texto de origem, escrito ao longo de 30 anos, tinha 30.000 páginas.” Baseada em uma pesquisa que teve início há mais de uma década e que enfocava justamente a análise comparativa das páginas do diário de Carlos Sussekind de Mendonça pai com o romance de Carlos Sussekind filho, a comunicação pretende tecer algumas reflexões e considerações em torno de noções como autoria, filiação, realidade-ficção, diário e romance. Referências: ALBERCA, Manuel: La escritura invisible: Testimonios sobre el diario íntimo. Oiartzun: Sendoa, 2000 ARFUCH, Leonor. O espaço biográfico. Tradução de Paloma Vidal. Rio de Janeiro: Editora da Uerj, 2010 BARCELLOS, Sergio da Silva: Armadilhas para a narrativa. Estratégias narrativas em dois romances de Carlos Sussekind. Rio de Janeiro: Editora Velocípede, 2006 CATELLI, Nora: En la era de la intimidad: seguido de “El espacio autobiográfico”. Rosario: Beatriz Viterbo, 2007 CESAR, Ana Cristina: «Para conseguir suportar essa tonteira. Entrevista de Carlos Sussekind a Ana Cristina Cesar», in: _______ : Escritos no Rio. Rio de Janeiro, São Paulo: Editora UFRJ / editora brasiliense, 1993, p. 53-63 COSTA, Jurandir Ferreira: Violência e Psicanálise. Rio de Janeiro: Graal, 1986 DERRIDA, Jacques: «Freud et la scène de l’écriture», in: L’Écriture et la Différence. Paris: Seuil, FELMAN, Shoshana: La Folie et la chose littéraire. Paris: Seuil, 1978 FOUCAULT, Michel: História da loucura: na Idade clássica. São Paulo: Perspectiva, 2008 _______ : Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 2008 _______ : Os anormais. São Paulo: Martins Fontes, 2002 _______ : «A escrita de si», in: Ditos e escritos V: Ética, sexualidade, política. Organização e seleção de textos de Manoel de Barros Mota. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004, p. 144-162 _______ : «Qu’est-ce qu’un auteur ?» in : Bulletin de la Société française de Philosophie, nº 3, (julho/setembro de 1969) p.73-104. FREUD, Sigmund: Gesammelte Werke. 18 vol. 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Paris: Seuil, 1978 LASCH, Markus: «Manicômios, (pseudo)autobiografias e narradores pouco confiáveis: de Machado de Assis a Carlos Sussekind», in: Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, nº 34, Brasília (julho/dezembro de 2009), p. 231-250 _______ : «Pater ou pátria: sobre a violência nas obras de Carlos Sussekind, Raduan Nassar e Milton Hatoum, in: SELIGMANN-SILVA, Márcio et al. (orgs.): Escritas da Violência. Rio de Janeiro: 7Letras (em preparação) LEJEUNE, PHILIPPE. O pacto autobiográfico. Tradução de Jovita Maria Gerheim Noronha e Maria Inês Coimbra Guedes. Belo Horizonte: UFMG, 2008. MIRANDA, Wander Melo: «O texto como produção: Bolor e Armadilha para Lamartine», in: O eixo e a roda: memorialismo e autobiografia. Belo Horizonte: UFMG, 1986, p. 176-192 PERRONE-MOISÉS, Leila: «As armadilhas de Sussekind», in: Folha de São Paulo, Suplemento Mais!, São Paulo (26 de setembro de 1993), p. 6 PESSOTTI, Isaías: A loucura e as épocas. São Paulo: Editora 34, 1994 _______ : O século dos manicômios. São Paulo: Editora 34, 1996 _______ : Os nomes da loucura. São Paulo: Editora 34, 1999 ROBERT, Marthe: Roman des origines et origines du roman. Paris: Gallimard, 1972 CESÁRIO VERDE E HÉLÈNE CIXOUS: ENGOMAR, DEIXAR PASSAR Marlon Augusto Barbosa Resumo: O objetivo desta comunicação é estabelecer um diálogo entre Cesário Verde e Hélène Cixous. No poema “Contrariedades”, Cesário coloca em cena o próprio momento da escrita, fazendo surgir a imagem de uma engomadeira – que passa pelo poema. Hélène Cixous, por sua vez, em um texto intitulado “Sans Arrêt, non, État de Dessination, non, plutôt: Le Décollage du Bourreau”, colocando em cena um certo desejo que também atravessa o momento da escrita, chamou a atenção para o Etude pour ‘La Repasseuse’, de Pablo Picasso. Nesse texto, Cixous nos fala da imagem de uma passadeira que também passa pela escrita. Através dessas duas figuras evocadas pelos autores, engomadeira e passadeira, é possível estabelecer um inquietante e curioso diálogo entre Cesário Verde e Hélène Cixous. Ele poderia ser construído através das seguintes perguntas: o que significaria pensar a imagem da repasseuse e da engomadeira nos dois textos? O texto de Cixous nos ajudaria a ler o poema de Cesário Verde? Tanto a engomadeira como a passadeira aparecem ligadas a uma certa tragédia. Hélène Cixous escreve: “Acreditávamos desenhar uma Repasseuse. Mas é pior. Esta Repasseuse é uma tragédia. Uma agulhada em cheio no peito da eternidade. Mas para arrancar a agulha, para dar o golpe, é necessário rabiscar furiosamente. Nós nos debatemos. Contra o quê ou contra quem?”. Referências: CIXOUS, H. "Sans Arrêt, non, État de Dessination, non, plutôt: Le Décollage du Bourreau". Repentirs. Paris: Réunion des musées nationaux, 1991. DIDI-HUBERMAN, G. Grisalha. Poeira e poder do tempo. Tradução de Rui Pires Cabral. Lisboa: KKYM + IHA (ensaios breves), 2014. DIDI-HUBERMAN, G. Ninfa Moderna: ensaio sobre o panejamento caído. Tradução de António Preto. Lisboa: KKYM, 2016. VERDE, C. Obra completa de Cesário Verde. Organização de Joel Serrão. 4. ed. Lisboa, Livros Horizonte, 1993. TRADUÇÃO E RELAÇÃO: DA QUESTÃO DO "ENTRE" COMO UM LUGAR AO LUGAR DO "ENTRE" COMO QUESTÃO Mauricio Mendonça Cardozo Resumo: Desde pelo menos meados do século XX, diversas tendências do pensamento contemporâneo vêm colocando em causa inúmeras questões que se articulam em torno de figurações relacionais do “entre”, em geral (mas sem ceder aqui a generalizações), como empenho de rediscussão de certas lógicas dicotômicas e como gesto mobilizador de uma atenção à força constitutiva das tensões relacionais. Daí podermos pensar a noção de “entrelugar”, ao menos em algumas de suas mais conhecidas variantes, como um esforço perturbador não somente dos lugares em questão, como também de certos pressupostos epistemo(lógicos) que fundam e perpetuam esses lugares. Também a tradução se tornaria objeto desse pensamento contemporâneo, para o qual, como bem menciona a chamada para este Simpósio, a tradução passaria a ser entendida como outra obra: “nem simplesmente subjugada ao original”, uma vez que sua alteridade como texto traduzido atesta sua condição de um texto outro, diferente daquele tomado por origem; “nem completamente aclimatada à língua para qual foi traduzida”, pois, a despeito de sua singularidade como outro texto, sua condição de tradução, sempre que evidenciada como tal, manifesta-se como modo incessante de “remissão a” ou, simplesmente, de “relação com” outro texto, outra língua, outra literatura, outro autor, enfim, como outro tempo e outro lugar da obra em questão. Contudo, assumindo uma perspectiva relacional da tradução, como entender essa condição particular da tradução nos termos de uma figuração do “entre” sem cair na armadilha da nominalização, da reificação ou da instituição do “entre” como um “terceiro”? Ou seja, como entender a singularidade da condição tradutória a partir de uma figuração do “entre” capaz ainda de perturbar os lugares tradicionalmente tão assentados do texto original e do texto traduzido, sem correr o risco de acabar perpetuando justamente aquela “lógica do lugar” que os esforços de um pensamento do “entrelugar” pretendem desconstruir? Referências: CARDOZO, Mauricio Mendonça. Notas sobre tradução e relação. In: Álvaro Faleiros et al. (org.). Tradução em relação: espaços de transformação. Campinas: Mercado de Letras, 2021, p. 32 – 45. AINDA A CORTAR: NO FIO DO LUTO COM TAMARA KAMENSZAIN Patrícia de Oliveira Leme Resumo: Este trabalho propõe observar os efeitos da reincidência temática na obra de Tamara Kamenszain à luz do conceito psicanalítico de repetição diferencial, abordado a partir do pensamento de Sigmund Freud (1917[2016]), Jacques Lacan (1964[2008]), Hélène Cixous (1975[1995]) e Shoshana Felman (1983). Para tal, a obra El libro de los divanes (2014) será tomada como ponto de partida, (des)organizando a leitura de seus escritos pregressos, que nos mostram diversas facetas do luto, bem como do ulterior El libro de Tamar (2018), seu único livro de prosa narrativa. Trata-se, aqui, de como a arquitetura dessa escrita – que insiste em temas, repete-se, reincide, revisita, circula, circunda e faz uso do que lhe escapa – forja toda uma estrutura para que possa existir: um lugar na linguagem, ao qual o set analítico-poético figurado em El libro de los divanes deixa ganhar forma. A hipótese a ser perseguida é a de que a escrita de Kamenszain, enveredando-se pelos espaços da memória e respondendo a suas invocações, jamais se perde: ela é resultado da visitação insistente a lugares privilegiados, que aparecem na escrita de modo conciso e certeiro, ainda que “turvo” e “abissal”. Com isso, a poética de Kamenszain deixa transparecer o trabalho de fazer emergir à consciência – à página escrita – esses lugares delicados da história pessoal. O luto, em suas diversas vivências, configuraria tanto pontos instransponíveis, para o qual a escrita retorna, quanto pontos de fuga para ela, imprimindo na obra da poeta um movimento que, embora circular, faz avançar. Referências: CIXOUS, Hélène. La risa de la medusa – ensayos sobre la escritura. Barcelona: Anthropos, 1995. FELMAN, Shoshana. Beyond Oedipus: The specimen story of psychoanalysis. MNL. The Johns Hopkins University Press. Vol.98, n.5, Comparative Literature, p.1021-1053, Dec./1983. [retirado de: http://www.jstor.org/stable/2906059 em 15/12/2013] FREUD, Sigmund. “Luto e melancolia” (1917). In: Neurose, psicose, perversão (Salzano, Maria Rita trad.). Belo horizonte: Autêntica Editora, 2016, pp.99118. LACAN, Jacques. O seminário – livro 11: os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008. AFOG: INACABAMENTO DAS FORMAS, ENTRE LISPECTOR E PROUST Patrick Gert Bange Resumo: A linguagem guarda um segredo, quer dizer, ela nos coloca na posição de certa ignorância, diante da qual se forma uma posição de leitor. A literatura é um lugar em que a escuta desse segredo nunca deixou que ele fosse ignorado. No início de O lustre, 1946, Clarice Lispector escreve uma cena, em que dois irmãos, Virgínia e Daniel, avistam um chapéu num rio. Para eles, esse acontecimento é um segredo que eles prometem guardar, “Nem que nos perguntem sobre o afog...”. Se pensarmos outra língua, em tradução, decompondo o rastro desse segredo originário, temos a fog, o que faz escutar uma névoa fundante. Com efeito, a memória de Virgínia será figurada de modo continuamente nebuloso. Esse romance é escrito à sombra de uma leitura decisiva: Em busca do tempo perdido, 1913-1927, de Marcel Proust. Diferente da obra proustiana, que conjuga, segundo Walter Benjamin, “a poesia, a memorialística e o comentário”, O lustre não abarca a memorialística, nem o comentário, mas tece de tal modo sua escrita, que Hélène Cixous diz tratar-se de “pura substância escrita”. Para o leitor alemão, a Recherche contém suficientes portas discretas, que conduzem ao mundo dos sonhos, em que se podem ler rastros dos acontecimentos em estado de semelhança. Este trabalho propõe uma leitura do entre essas duas obras, local em que algo do segredo da linguagem se deixa escutar, como rumor inacabado de sentido. Na tensão entre o mundo perdido em estado de semelhança, com Benjamin, e os raios emitidos pelas leituras “em processo”, com Cixous, proponho ler um modo como certa alegria (Glück) advém do inacabamento das formas, que guardam a fog, rastro de um afogado, névoa de sentido que abre as portas da decifração. Referências: BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas I: Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. Trad. Sérgio Paulo Rouanet. Rev. Márcio Seligmann-Silva. São Paulo: Brasiliense, 2012. CIXOUS, Hélène. Three steps on the ladder of writing. Trad. Sarah Cornell; Susan Sellers. New York: Columbia University Press, 1993. LISPECTOR, Clarice. O lustre. Rio de Janeiro: Rocco, 2019. PROUST, Marcel. À sombra das raparigas em flor. Trad. Mario Quintana. São Paulo: Globo, 2006b. ______. O tempo redescoberto. Trad. Lúcia Miguel Pereira. São Paulo: Globo, 2004. BY HEART OU QUANDO SOMOS AQUILO QUE LEMOS Priscila Saemi Matsunaga Resumo: Quando entramos na sala de apresentação, no palco estão distribuídas 10 cadeiras e uma caixa com livros. Tiago Rodrigues, dramaturgo, diretor e ator português, espera o público se acomodar e propõe que 10 espectadores subam ao palco e aceitem um jogo de memorização. Quando todos tomam assento, a peça começa com o relato das visitas que o dramaturgo fazia a casa de sua avó. O relato é cortado por fragmentos de autores diversos, todos falando de algum modo sobre livros e a experiência literária. Os fragmentos são utilizados para reapresentar um gesto de amor que, na situação específica, se performatiza na memorização de um soneto de Shakespeare. Para apresentar qual soneto será decorado Rodrigues cita um programa de George Steiner, Da beleza e da Consolação, e um episódio relatado pelo crítico a respeito de Pasternak. Os espectadores, como os russos que se levantaram no Congresso Soviético dos Escritores e conheciam a tradução de Pasternak, vão aprender o soneto 30 de Shakespeare que, segundo Rodrigues, é sobre a memória. A montagem foi apresentada no Brasil em 2020 na Mostra Internacional de Teatro de São Paulo e não foi muito bem recebida pelo público. Questionado por suas escolhas literárias, Tiago Rodrigues reconheceu que o seu repertório era composto pelo cânone patriarcal. A partir da proposta do Simpósio, proponho pensar o entre como a cena (skênê), aquilo que constitui a relação entre o palco e a plateia; a cena como o que vemos e como lemos o que vemos antes mesmo do espetáculo começar. A cena como algo que não é possível de se figurar. Referências: Rodrigues, Tiago. By heart e outras peças. Posfácio de Leonardo Ganldolfi. São Paulo: Editora 34, 2021 POR UMA POÉTICA DA EXISTÊNCIA NAS OBRAS DE ALBERT CAMUS E ROBERTO FREIRE Sandro Viana Essencio Resumo: A aproximação entre os autores Albert Camus e Roberto Freire acontece em virtude da semelhança de procedimentos estéticos que engendram suas obras. Estes expedientes revelam, paralelamente, uma postura ética que é inseparável da realização do texto literário, tanto em sua composição como produto de um contexto sociopolítico quanto como agente sobre essa mesma realidade que o engendrara. Se, por um lado, a obra de Camus dialoga com a literatura e a filosofia de seus contemporâneos ressignificando-as, a obra de Roberto Freire, por sua vez, busca o diálogo entre as teorias terapêuticas do século XX e a necessidade de respostas fora do cânone psicanalítico em voga à época. Outrossim, a postura política libertária de ambos os autores permite-nos compreender em que medida a crítica às estruturas do status quo configuraria o elemento motivador, quer de suas obras literárias quer dos ensaios que ambos publicaram. Destarte, é na convergência dos discursos literários dos autores e na concepção de mundo que emana igualmente da reflexão teórica de ambos que este trabalho encontra o diálogo possível entre textos a priori tão distintos. Tendo como ponto de partida os romances "Cléo e Daniel", de Roberto Freire, e "O estrangeiro", de Albert Camus, a presente pesquisa traça seu escopo investigativo na compreensão de uma poética fundamental em comum a qual chamamos de "existencial", manifestando-se no conjunto das obras de ambos os autores. Referências: CAMUS, A. La peste. Paris: Éditions Gallimard, 1947 _____. La chute. Paris : Éditions Gallimard, 1956. _____. Le premier homme. Paris : Éditions Gallimard, 1994. _____. L’étranger. Paris : Éditions Gallimard, 2007. _____. La mort heureuse. Paris : Éditions Gallimard, 2010. _____. Journaux de voyage. Paris: Editions Gallimard, 1978 _____. Correspondance Albert Camus et René Char (1946-1959). Paris: Editions Gallimard, 2007. FREIRE, R. Cleo e Daniel. São Paulo : Brasiliense, 1966. _____. Coiote. Rio de Janeiro : Guanabara, 1986. _____. Os cúmplices. Vol 1. São Paulo: JSN, 1995. _____. Os cúmplices. Vol 2. São Paulo: JSN, 1995. ONFRAY, M. L'ordre libertaire: la vie philosophique d'Albert Camus. Flammarion, Paris 2012. DO DESEJO CORROMPIDO À FRAGMENTAÇÃO TOTÊNICA: O ÉDIPO CLAUDICANTE SOB À PENA KAFKINIANA Silvio Tony Santos De Oliveira Resumo: Literatura e Psicanálise convergem no manejo da subjetividade e das idiossincrasias humanas. Como bem aponta Freud, em Personagens psicopáticos no palco (1905), a arte, em suas múltiplas manifestações, estabelece relações, por vezes, inconscientes e catárticas, com o público consumidor. O texto literário, em particular, por meio de seus personagens, enredos, ou pela expressão sentimental de versos poéticos, acaba por ofertar, ao interlocutor, um espaço, no qual seus próprios dilemas, cargas emotivas, vicissitudes, encerrados nos escombros da vida psíquica, possam vir à tona por intermédio de processos de identificação/projeção. Esses caracteres ou enlaces estabelecidos entre arte literária e as estruturas psíquicas do leitor podem ser encontrados, de forma profícua, na obra de Franz Kafka (18831924). Em contrapartida, é a partir de Sigmund Freud (1856-1939) e sua teorização do Complexo de Édipo, que pudemos vislumbrar, no amago da interioridade humana, a manifestação dos mais primitivos sentimentos pelas figuras parentais. Desde tenra idade a duplicidade do amor/ódio norteiam as primeiras relações eróticas infantis com as figuras parentais acarretando, na fase adulta, a vivência das chamadas psicopatologias. Logo, por meio de uma interlocução entre a obra Kafkiana e a crítica psicanalítica, fomentamos discussões acerca da representação do complexo de Édipo e a paternidade, bem como, suas implicações subjetivas, em A Metamorfose (1915). Algumas questões norteiam o presente estudo: como são estabelecidas as relações afetivas entre os Samsas? Quais as caraterizações da função paterna e como essas interferem na dinâmica familiar e, em especial, no psiquismo do protagonista? No corpus, o protagonista Gregor Samsa estabelece enlaces fragmentados, deteriorados em seu ciclo familiar, sobretudo, com uma imago paterna caracterizada pela inoperância e fragilidade em estabelecer aquilo que o psicanalista Jacques Lacan (1901-1981) conceituou como o Nome-do-pai. Para tanto, recorreremos aos escritos freudianos, lacanianos e pós-lacanianos acerca do complexo psicossexual do Édipo. Referências: FREUD. Sigmund. O Ego e o Id e outros trabalhos 1923-1925; Vol. XIX, Ed. Standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. FREUD, Sigmund. O Ego e o Id. (1923), In O eu e o Id; Autobiografia e outros textos. Tradução Paulo Cesar de Souza. Ed. Comapnhia das letras. NASIO J-D. Édipo o complexo do qual nenhuma criança escapa . Rio de Janeiro Zahar, 2007. LACAN. Jacques. Nomesdo-pai. Rio de Janeiro. Zahar, 2005. LACAN. Jacques. Seminário 5: as formações do inconsciente. Rio de Janeiro. Zahar, 1991 LAPLANCHE, J; PONTALIS, J. B. Vocabulário da Psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 1996. NAS TRILHAS DA LINGUAGEM: CONSIDERAÇÕES SOBRE TEXTOS INAUGURAIS DE FREUD E SEUS DESDOBRAMENTOS NO ÂMBITO DA TRADUÇÃO Sylvia Maria Trusen Resumo: “Era a sonoridade do idioma húngaro que se abria para mim ao passo que eu penetrava o salão. Vibravam as vozes húngaras ao meu redor, sem suspeitar que expunham a um intruso os seus segredos.” (Chico Buarque, Budapeste) O romance de Chico Buarque, gravitando em torno da questão da linguagem, da tradução e do duplo, pode servir como mote para refletir sobre a senda aberta por Freud em seus primeiros textos - a saber, a relação entre a constituição mesma do aparelho psíquico, como aparelho de linguagem, e a operação de tradução. Com efeito, no artigo Sobre a concepção das afasias, 1891, ao sinalizar a concepção de uma organização neural que articula, via trilhas de facilitação, a representação da coisa (Sachvorstellung) e a representação de palavra (Wortvorstellung), funda os termos que lhe permitirão pensar o dispositivo da transferência clínica (Uebertragung), termo que, significando tanto traslado (levar de um lugar a outro) como transferência, mantém relação fronteiriça com a atividade tradutória. Poucos anos depois deste texto inaugural, Freud desenvolve em seu manuscrito de 1895 (Projeto para uma Psicologia Científica) o que pensara anteriormente. Estes primeiros trabalhos vêm ganhando um número maior de leitores, dada a fertilidade que representam para pensar o trabalho psíquico no campo da linguagem, e, por extensão, na literatura e filosofia - exemplos disto são, não só a recente tradução de Brito Rossi (Sobre a Concepção das Afasias), mas também o ensaio de Derrida (“Freud e a cena da escritura”). A comunicação que propomos visa refletir sobre os possíveis desdobramentos no campo da tradução, provocados pela leitura desses textos inaugurais. Centrais, aqui, são os estudos já desenvolvidos neste campo por Pedro Heliodoro Tavares (Tradução e Psicanálise), Rosemary Arrojo (O signo desconstruído), Paulo Ottoni (A prática da diferença) Referências: ARROJO, R. O signo desconstruído (org.). 2a ed. Campinas, SP : Pontes, 2003. FREUD, S. Sobre a concepção das afasias: um estudo crítico. Trad. Emiliano de Brito Rossi. Belo Horizonte : Autêntica, 2013. _______ . Compêndio de Psicanálise e outros escritos inacabados. Trad. Pedro Heliodoro Tavares. Belo Horizonte : Autêntica, 2014. OTTONI, P. (org.) Tradução: a prática da diferença. 2a ed. Campinas, SP : Unicamp, 2005. TAVARES, P. H.; COSTA, W. C.; PAULA, M. B. (orgs). Tradução e Psicanálise. Rio de Janeiro : 7Letras, 2013. SIMPÓSIO “CONFIGURAÇÕES DO ESPAÇO GÓTICO NA FICÇÃO BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA” André Cabral de Almeida Cardoso (UFF), Claudio Vescia Zanini (UFRGS), Pedro Puro Sasse da Silva (UERJ) SEXUALIDADE, DECADÊNCIA E MORTE NO ESPAÇO GÓTICO DE CRÔNICA DA CASA ASSASSINADA, DE LÚCIO CARDOSO Alanis Zambrini Gonçalves Resumo: Esta pesquisa tem como objetivo analisar o modo como a sexualidade, a decadência e a morte são trabalhadas em meio ao romance Crônica da Casa Assassinada, do autor brasileiro contemporâneo Lúcio Cardoso. Deste modo, busca-se entender como esses três elementos se relacionam ao espaço gótico da Chácara dos Meneses, bem como sua configuração para uma realidade latifundiária e tradicional brasileira, representada pela família do romance, apesar das possíveis influências de outros autores góticos para a composição dessa obra. Assim, para analisar a sexualidade, pensa-se sobretudo na transgressão moral representada pelo incesto e pela liberdade e tensão sexual na obra, apresentada em torno da personagem Nina, enquanto para analisar a decadência utiliza-se de uma visão geral sobre o modo como o espaço geográfico da Chácara dos Meneses está em consonância com os conflitos e estados psicológicos das personagens face à degeneração dos valores tradicionais e morais da família, como se a própria construção fosse um personagem em si. Por fim, para pensar sobre a maneira como a morte é representada no romance, busca-se estudar o modo como esse elemento se relaciona com a sexualidade e com a decadência durante a história, buscando entender o modo como Cardoso faz a ligação entre a morte e a morbidade encontrada em meio ao espaço da casa. Para embasar esta pesquisa, utiliza-se, dentre outras, a teoria sobre a importância do espaço e a imagem poética, a partir de Bachelard (1957), e sobre a relação do espaço com o gótico. Referências: BACHELARD, Gaston. A poética do espaço. São Paulo, SP: Martins Fontes, 2008 BELLAS, João Pedro. Gótico brasileiro: uma proposta de definição. Organon, v. 35, n. 69, p. 1, 2020. BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. São Paulo, SP: Cultrix, 2017. CARDOSO, Lúcio. Crônica da casa assassinada. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2021. DA COSTA, Érica Ignácio. A" Crônica da casa assassinada": a casa, a doença, a ruína. Revista Garrafa, v. 18, n. 51, p. 104-120. DE BARROS JR, Fernando Monteiro. Do castelo à casa-grande: o “Gótico brasileiro”, em Gilberto Freyre. Soletras, n. 27, p. 80-94, 2014. DO SOCORRO ROSAS, Maria. O espaço em crônica da casa assassinada (cca): estratégias discursivas. Revista do GELNE, v. 3, n. 1/2, p. 1-4, 2001. LIMA, Eduardo Felipe Pereira de. “Crônica de uma mulher assassinada”: a relação entre espaço e personagem na obra Crônica da Casa assassinada, de Lúcio Cardoso. Trabalho de Conclusão de Curso (graduação em Letras). Departamento de Letras – Universidade Federal Rural de Pernambuco. Serra Talhada, 2019. MAJLINGOVÁ, Veronika. The use of space in Gothic Fiction. Dissertação (mestrado). Departament of English and American Studies – Masaryk University, 2011. OS ESPAÇOS GÓTICOS EM "DEMÔNIOS DO DESERTO", FICÇÃO BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA Alexander Meireles da Silva, Francisco de Assis Ferreira Melo Resumo: Nesta proposta, de cunho teórico, interpretativo e analítico, refletiremos sobre o capítulo “Demônios do Deserto”, parte integrante do livro As crônicas de Olam (2014), de Leandro Lima Wurlitzer. Temos a oportunidade de observar como a construção do espaço em uma narrativa de alta fantasia pode comportar características do gótico. Wurlitzer consegue unir aspectos das narrativas tolkianas a elementos da cultura do Oriente Médio, e acompanhamos o protagonista Ben e seus amigos atravessando as regiões de Salmavet em busca do mestre desaparecido, passando de uma realidade conhecida para outra (JEHA, 2018). Nesta procura, os espaços claros, vivos e ensolarados desaparecem, substituídos por nuvens negras e terrenos onde a vegetação some, assim o medo instalado produz um meio ambiente ameaçador, fundamentando e subjetivando a jornada (ROAS, 2014) de Ben. A terra cinzenta, com criaturas famintas, magras e de aparência doente à caça de presas, e montanhas de rochas negras criam labirintos que conduzem o protagonista e os amigos à cidade de Schachad, local que a luz não alcança. Construções gigantescas reduzem seus moradores, já massacrados pela falta de vida. Será neste mundo obscuro e tenebroso que Ben vivenciará profundamente o sentimento mais antigo dos homens, o medo (LOVECRAFT, 2008). Rompe-se fronteiras existentes entre ficção e realidade (TUAN, 2005), deserto e cidade, confundindo-se, à medida que cada uma se interpenetra e dá forma à outra, contrariando os padrões convencionais de diferenciação (BOTTING, 2008). Desta maneira, pretendemos compreender como a presença do medo nesses espaços em face à presença de criaturas monstruosas neles atuando se confirma em “Demônios do Deserto”, a partir das concepções teóricas do gótico, segundo Fred Botting (2008); do medo, de acordo com Howard P. Lovecraft (2008), Yi-fu Tuan (2005) e Júlio Jeha (2018); do fantástico, por David Roas (2014), aspectos esses presentes em uma atmosfera de alta fantasia. Referências: BOTTING Fred. Limits of horror Technology, bodies, Gothic. New York, USA: Manchester University Press Oxford Road, 2008. JEHA, Julio. Apresentação. In: ______. Contos clássicos de terror. São Paulo: Companhia das letras, p. 7-10, 2018. ROAS, David. A Ameaça do Fantástico. Tradução de Julián Fuks. São Paulo: Editora UNESP, 2014. LOVECRAFT, Howard Phillips. O horror sobrenatural em literatura. Tradução de Celso M. Paciornik. São Paulo: Iluminuras, 2007. (Para o tópico sobre o fantástico). TUAN, YiFu. Paisagens do medo. Tradução de Lívia de Oliveira. São Paulo: Editora UNESP, 2005. QUARTOS TRANCADOS E MÓVEIS HOSTIS: A ESPACIALIDADE ASSOMBRADA EM "MARIA EMILIANA", DE LÚCIO CARDOSO Ana Resende Resumo: Na presente comunicação pretendo abordar as características que a espacialidade assume em “Maria Emiliana”, um conto obscuro de Lúcio Cardoso, veiculado no Diário de Notícias em 14 de abril de 1940 e nunca publicado em livro. A meu ver este tema, que ainda não foi suficientemente explorado nas pesquisas sobre o autor, reflete o uso de convenções e o modus operandi gótico em suas obras. Ao contrário de certa vertente crítica liderada por Adonias Filho (1969), que prioriza o elemento religioso naquela “literatura dedicada às paisagens interiores, brumosas e turvas [...], a tudo o que dormita e fermenta dentro do homem” (PEREIRA, 1992, p. 50), proponho uma análise que enfatiza que sua força poética reside justamente nas “evocações de ambientes antiquados, [...] de cidades mortas onde as famílias degeneram lentamente” (ANDRADE, 1972, p. 124). Essas obras não se desligam do “espaço onde evoluem as suas personagens” (PEREIRA, 2005, p. 325), considerado aqui sob a forma da “casa assombrada”, e, ao contrário, a espacialidade adquire um caráter tão central que pode ser considerada como um personagem a mais (e não apenas como um recurso literário), além de contribuir para a construção da identidade dos personagens, duplicando seus estados psicológicos, ou como o local de algum crime não expiado no passado. Ao tornar a “casa assombrada” o foco da minha investigação proponho uma tentativa de interpretação do gótico como “um modo espacialmente articulado” (VUOHELAINEN, 2015, p. 24). Como fundamentação teórica da presente comunicação, além das obras e autores já mencionados, usarei a “Introdução” de Chris Baldick à antologia The Oxford book of gothic tales (2001) e “Introduction: modernity and the proliferation of the Gothic” (2002), de Jeremy Hogle. Referências: BALDICK, Chris. Introduction. In: BALDICK, Chris (org.). The Oxford book of gothic tales. Oxford: Oxford University Press, 2001. p. xi-xxiii. CARDOSO, Lúcio. Maria Emiliana. (Conto). Diário de Notícias, Rio de Janeiro, ano X, n. 5357, p. 13. FILHO, Adonias. O romance brasileliro de 30. Rio de Janeiro: Edições Bloch, 1969. HOGLE, Jerrold. Introduction: modernity and the proliferation of the Gothic. In: HOGLE, Jerrold. The Cambridge companion to the Gothic. Cambridge: Cambridge University Press, 2014. p. 3-19. PEREIRA, Lucia Miguel. A literatura interiorizada e o real. In: PEREIRA, Lucia Miguel. A leitora e seus personagens: seleta de textos publicados em periódicos (1931-1943) e em livros. Rio de Janeiro: Graphia Editorial, 1992. p. 50-54. PEREIRA, Lucia Miguel. Casa e romance (I). In: PEREIRA, Lucia Miguel. Escritos de maturidade: seleta de textos publicados em periódicos (1944-1959). Rio de Janeiro: Graphia Editorial, 2005. p. 325-328. VUOHELAINEN, Minna. Richard Marsh. Cardiff: University of Wales Press, 2015. NO AVESSO DA EUFORIA MODERNISTA: O MUNDO SUFOCANTE DE LÚCIO CARDOSO Ângela Maria Dias Resumo: Na literatura introspectiva e enclausurada de Lúcio Cardoso, a “tinta da melancolia” é o tom mais suave. Os recursos técnicos e ficcionais do escritor, dispendidos na configuração plástica de tramas de conflitos e impasses, em relação ao ponto de fuga da Crônica da casa assassinada (1959), serão acompanhados a partir das novelas da trilogia do mundo sem Deus (Inácio, O enfeitiçado e Baltazar), em sua negatividade gótica transgressiva, beirando o monstruoso. Inácio, com o seu “inverossímil rosto de boneca”, de certa forma, concretiza o duplo do personagem da primeira novela, seu filho Rogério Palma. Em seus transes contraditórios, entre o satanismo e a angústia, ele corporifica a loucura e o vício finais, num transe do qual não retorna. O universo melodramático do autor, entre esgares extremos e “tudo dizer”, certamente enfatiza, no seu desequilíbrio solitário e incerto, o espetáculo de uma literatura vocacionada pelo teatro e a obsessão do maldito, como transgressão a uma religiosidade renitente, porém rejeitada. Nessa amostragem do talento dramático e da visão de mundo passional do criador, pretende-se delinear uma cartografia de suas principais angústias ( domínio do outro e a impotência ) e obsessões narrativas, geradas, pela trilogia inacabada, na obscuridade de um Rio de Janeiro perturbador. Referências: CARDOSO, Lúcio. Inácio, o enfeitiçado e Baltazar. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002. PUNTER, David. The gothic condition. Terror, history and the psyche. Wales: University of Wales Press, 2016. CONFIGURAÇÕES DO GÓTICO EM CRÔNICA DA CASA ASSASSINADA, DE LÚCIO CARDOSO Mykaelle de Sousa Ferreira Resumo: O ano de 1959 marca a publicação da célebre obra Crônica da Casa Assassinada, último livro finalizado em vida por Lúcio Cardoso. Marcado por ícones imagéticos polêmicos e por múltiplas camadas de interpretação, o romance é considerado pelo crítico literário Alfredo Bosi (1994) como uma obraprima da Literatura Brasileira Contemporânea, aprofundando o “pendor para a criação de atmosferas de pesadelo” presente em escritos anteriores de Lúcio Cardoso. A partir dessas considerações iniciais, propomos uma leitura crítica desse romance em diálogo com o gênero gótico, classificado por Fred Botting (1996) como “uma escrita do excesso”, representante do fascínio pela transgressão e pela vinculação de elementos magnificentes, que produzem efeitos de transbordamento de emoções nos leitores. Na casa assassinada de Lúcio Cardoso, consideramos que as marcas textuais do gótico podem ser verificadas a partir do locus horribilis, isto é, pela caracterização opressiva dos espaços narrativos (França, 2016), ora vinculada à descrição claustrofóbica da paisagem rural de Minas Gerais, ora condensada na decadente chácara da Família Meneses, personagens que constroem o núcleo principal do livro. Todavia, a “velha residência que há vários lustros era o orgulho do Município” revela o declínio moral das elites oligárquicas do país nas primeiras décadas do século XX, mais especificamente, a partir do ponto de vista da protagonista Nina, que encarna a possibilidade de “uma vida nova, uma paisagem diferente”. Sob o prisma do gênero gótico, portanto, buscamos compreender como os cenários da obra constituem uma atmosfera desencantada e em ruínas, influenciando as ações das personagens que integram o enredo. Referências: BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. 41 edição. São Paulo: Editora Cultrix, 1994. BOTTING, Fred. Gothic. London: Routledge, 1996. CARDOSO, Lucio. Crônica da Casa Assassinada. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999. FRANÇA, Júlio. O Gótico e a Presença Fantasmagórica do Passado. In: XV Encontro da Associação de Literatura Comparada, Rio de Janeiro, Dialogarts, 2016. SIMPÓSIO “ESTUDOS INTERDISCIPLINARES SOBRE SHAKESPEARE IV: MUNDOS COMPARTILHADOS” Regis Augustus Bars Closel (UFSM), Elizabeth Santos Ramos (UFBA) VOLPONE, OR THE FOX (1606), DE BEN JONSON (1572-1637) NO BRASIL Amanda Fiorani Barreto Resumo: A presente comunicação se propõe a discutir a inserção de Volpone, or The Fox (1606), de Ben Jonson (1572-1637), no sistema literário e cultural brasileiro. Ben Jonson foi um dramaturgo de grande importância em seu tempo, tido como a primeira celebridade literária e o primeiro poeta laureado da Inglaterra Protestante (BUTLER & RICKARD, 2020). Para a análise da presença de sua peça no Brasil, considero a recepção texto-com-texto da obra por meio da noção de reescritas, assim como discutida por Ika Willis (2017; 2021) e André Lefevere (2007), com traduções, adaptações, apropriações e encenações como partes integrantes desse processo. Adoto as concepções teóricas de Linda Hutcheon (2013) no que se refere ao conceito de adaptações, bem como as de Julie Sanders (2006) acerca de apropriações. Além disso, faço uso das noções de domesticação e estrangeirização em minha análise, assim como propostas por Lawrence Venuti (2008). Volpone conta com uma tradução (1977) e uma adaptação (1987) publicadas em português brasileiro, além de ter sido encenada diversas vezes em palcos nacionais. A fim de comentar as encenações da comédia jonsoniana no Brasil, abordo brevemente também a famosa adaptação da peça de Stefan Zweig (1881-1942), publicada em 1926 sob o título de Volpone, a Loveless Comedy in Three Acts. Referências: BUTLER, Martin & RICKARD, Jane (eds.). Ben Jonson and Posterity: Reception, Reputation, Legacy. Cambridge: Cambridge University Press, 2020. HUTCHEON, Linda. Uma Teoria da Adaptação. Tradução de André Cechinel. Florianópolis: Editora UFSC, 2013. LEFEVERE, André. Tradução, Reescrita e Manipulação da Fama Literária. Tradução de Claudia Matos Seligmann. São Paulo: EDUSC, 2007. SANDERS, Julie. Adaptation and Appropriation. New York: Routledge, 2006. VENUTI, Lawrence. The Translator’s Invisibility: a history of translation. Second Edition. London: Routledge, 2008. WILLIS, Ika. Reception. New York: Routledge, 2017. WILLIS, Ika. Reception Theory, Reception History, Reception Studies. In: Oxford Research Encyclopedia of Literature. 2021. Available at: https://oxfordre.com/literature/view/10.1093/acrefore/9780190201098.001.0001/acrefore9780190201098-e-1004. Last accessed on: 28 mar 2022. SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO: A TRANSPOSIÇÃO DA PERSPECTIVA ECOLÓGICA SHAKESPEARIANA PARA O CONTEXTO DA FAVELA DO VIDIGAL Anna Stegh Camati Resumo: A releitura da obra de Shakespeare a partir de abordagens centradas na natureza ganha reconhecimento e força na primeira década do século XXI, constituindo-se, atualmente, em uma vertente de análise emergente denominada ecocrítica shakespeariana. Em seu estudo, intitulado Shakespeare and Ecology (2015), Randall Martin afirma que Shakespeare, cada vez mais, se torna nosso ecocontemporâneo em montagens que privilegiam questões ecológicas inseridas em suas peças. Este estudo, em um primeiro momento, examina as numerosas implicações ecológicas que permeiam a comédia shakespeariana Sonho de uma noite de verão (1595-1596), investigando, especificamente, a fala da rainha das fadas sobre a degradação ambiental, um monólogo considerado, hoje, um dos primeiros pronunciamentos na literatura dramática sobre poluição, mudanças climáticas, colheitas malsucedidas e outros aspectos do desequilíbrio ecológico causados pela ação do homem. A seguir, a questão da apropriação cultural, especificamente a transposição da perspectiva ecológica shakespeariana para o contexto da favela do Vidigal, será investigada na produção cênica, intitulada Sonho de uma noite de verão: uma intromissão do grupo Nós do Morro no mundo de Shakespeare, apresentada pelo coletivo de teatro Nós do Morro no Rio de Janeiro em 2004. Trata-se de uma ecoperformance que não segue preceitos eurocêntricos e estabelece um paralelo entre o contexto elisabetano e o universo do morro. Referências: ANDRADE, Oswald. Manifesto antropófago. Revista de Antropofagia, ano I. n. 1, maio 1928. MARTIN, Randall. Shakespeare and Ecology. Oxford: Oxford UP, 2015. PAVIS, Patrice. O teatro no cruzamento de culturas. Trad. Nanci Fernandes. São Paulo: Perspectiva, 2008. REFSKOU, Anne Sophie; AMORIM, Marcel Alvaro de; CARVALHO, Vinicius Mariano de (Eds). Eating Shakespeare: Cultural Anthropophagy as Global Methodology. The Arden Shakespeare. London and New York: Bloomsbury, 2019. SHAKESPEARE, William. Sonho de uma noite de verão. Trad. Barbara Heliodora. Rio de Janeiro, Lacerda, 2004. SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO – UMA INTROMISSÃO DO NÓS DO MORRO NO MUNDO DE SHAKESPEARE. Available at: https://globalshakespeares.mit.edu/sonho-de-uma-noite-de-verao-melloda-costa-fernando-2004/#video=sonho-de-uma-noite-de-verao-mello-da-costa-fernando-2004 YOUNG, Sandra. Shakespeare in the Global South: Stories of Oceans Crossed in Contemporary Adaptation. London and New York: Bloomsbury Academic, 2019. LADY MACBETH (1606) E CHARLOTTE CUSHMAN (1816-1876): TEXTO, GÊNERO E ATUAÇÃO Cecilia Athias Resumo: A grande celebridade norte-americana do século dezenove Charlotte Cushman (1816-1876) teve seu trabalho reconhecido nos Estados Unidos e também internacionalmente. Os principais papéis de Cushman que lhe renderam fama nos palcos eram tanto masculinos quanto femininos: Hamlet, Romeu e Lady Macbeth. A proposta deste trabalho deriva de uma pesquisa de mestrado em curso, a qual se dedica ao estudo de Lady Macbeth e de sua representação de si no texto shakespeariano. Nesta comunicação, objetivo ler conjuntamente a referida rainha de Shakespeare e um recorte da história de Charlotte Cushman, que, ao representar Lady Macbeth no teatro e encantar as plateias, teve sua atuação descrita com termos como “virago” e “mais do que masculina em sua ambição, coragem e desejo, mais sanguinária, ousada e resoluta do que desejava que o seu marido fosse” (GROSSMAN, 2009, p. 144). Recorrerei à biografia de Cushman recentemente publicada (WOJCZUK, 2020), bem como a leituras contemporâneas da personagem de Shakespeare (GARBER, 2004; RACKIN, 2005; SMITH, 2019). Proponho uma reflexão acerca das tensões de gênero presentes no texto shakespeariano que dão margem a uma diversidade de interpretações quanto à atuação dramática e às formulações críticas acerca de Lady Macbeth. Acredito que podemos considerá-la como uma personagem que transita entre as fronteiras do masculino e do feminino e, tomando o exemplo de Charlotte Cushman, é possível vislumbrarmos uma fluidez das barreiras de gênero tradicionalmente aceitas, especialmente no que tange à interpretação de Lady Macbeth. Referências: GARBER, Marjorie. Shakespeare After All. Nova York: Anchor Books, 2004. GROSSMAN, Barbara Wallace. A Spectacle of Suffering: Clara Morris on the American Stage. Illinois: Southern Illinois University Press, 2009. RACKIN, Phyllis. Shakespeare and Women. Oxford: Oxford University Press, 2005. SMITH, Emma. This is Shakespeare. Londres: Pelican Books, 2019. WOJCZUK, Tana. Lady Romeo: The radical and revolutionary life of Charlotte Cushman, America's first celebrity. Nova York: Simon & Schuster, 2020. ÓPERA OTELLO DE VERDI: A OBRA PRIMA DO COMPOSITOR ITALIANO Celia Maria Arns de Miranda Resumo: Resumo: Em 1887, aos 74 anos de idade, Giuseppe Verdi foi induzido a sair de sua aposentadoria auto-imposta para encantar novamente o mundo musical com a sua 27ª ópera, Otello. Verdi sempre foi um grande admirador de Shakespeare. Na realidade, ele encerrou a sua carreira com a produção de duas óperas a partir da obra de Shakespeare, uma tragédia e a comédia Falstaff em 1893. Anos antes, ainda na primeira fase de sua carreira, ele compôs a ópera de Macbeth (1847). Muitos críticos consideram que o Otello de Verdi é a obra prima trágica mais importante do compositor. A recepção da ópera foi unânime na sua estreia que aconteceu no teatro La Scalla em Milão. O próprio Verdi foi chamado à cena para receber aplausos mais de doze vezes. Além de ter um pleno controle do processo de produção, depois de uma longa experiência como compositor, Verdi dispunha do talento de um grande libretista, Arrigo Boito, que também escreveu o libreto de Fallstaff. A presente pesquisa tem como objetivo o estudo da composição da ópera Otello a partir da tragédia shakespeariana, levando-se em conta que uma ópera envolve uma performance direta, auditiva e visual que é experienciada em tempo real. Referências: HUTCHEON, L. Uma teoria da adaptação. Trad. André Cechinel. Florianópolis: Ed. UFSC, 2011. PAVIS, P. O teatro no cruzamento das culturas. Trad. Nanci Fernandes. São Paulo: Perspectivas, 2008. SHAKESPEARE, W. Otelo. Trad. B. Heliodora. Rio de Janeiro: Lacerda, 1999. STAM, R. Teoria e prática da adaptação: da fidelidade à intertextualidade. IN: Ilha do Desterro. Florianópolis: UFSC. nº 51, p. 19-53, jul./dez. 2006. VERDI, G. Otelo: a Glimpse Into the Archivio Storico Ricordi. Bertelsmann. ZEFFIRELLI, F. Otello. Filme musical. 1986. Com Plácido Domingo. A MÁQUINA SHAKESPEARE Érika Bodstein, Valéria Cristina Marchi Ribeiro Resumo: A contemporaneidade pós-pandêmica desvela um momento histórico profundamente contundente, que traz no seu bojo, tatuada a ferro, a marca das rupturas, das reviravoltas, das tensões e das grandes transformações. A história, em pleno curso, corre a uma velocidade nunca antes registrada e a realidade complexa e caótica, repleta de pluralidades que se confrontam mutuamente, exige de nós que estejamos aptos a lidar com toda essa multiplicidade de relações em tensão absoluta e em alerta máximo. A tentativa de apreender essa realidade vertiginosa revela-se um ato impossível e o que nos resta é o vislumbre, certos lampejos, algumas visões. A Arte é um instrumento efetivo de percepção, apreensão e de elaboração da realidade. Ela nos ajuda a decifrar, refletir, dialogar e lidar com tudo aquilo que se interpõe entre nós e o mundo, ou seja, a própria experiência humana. Funcionando como um filtro, destilando as tensões, ou como uma espécie de fio terra, o teatro, por seu caráter dialógico e reflexivo (nos seus múltiplos sentidos de espelhar e de refletir sobre o que se espelha), toma a frente na ação de apreender as realidades. O Teatro de Shakespeare exerceu e exerce até hoje essa ação e dispõe de instrumentos tão potentes que em pleno século XXI (em pleno 2022!) tem sido evocado e presentificado nos palcos e nas telas, dialogando diretamente com nosso presente. O aspecto que pretendemos destacar nesta comunicação será o dialogo entre suas obras e certos momentos políticos do Brasil contemporâneo. Vamos enumerar exemplos tanto em experiências teatrais presenciais, quanto em experiências virtuais teatrais ou não, que utilizam do dialogo com a obra de Shakespeare para refletir e compreender certos aspectos específicos e momentos políticos do Brasil contemporâneo. * Valéria Cristina Marchi Ribeiro Referências: Peças: Hamlet , Macbeth, Julio Cesar, Ricardo III, O Mercador de Veneza, A Tempestade E SE HAMLET FOSSE BAIANO? DA PROPOSTA À PRODUÇÃO DOS ESTUDOS DA OBRA "HAMLET" NA DISCIPLINA "ESTUDOS LITERÁRIOS EM LÍNGUA INGLESA I" NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECÔNCAVO DA BAHIA Fátima Luiza da Silva Santos Resumo: O mundo de possibilidades de estudar, teorizar e colocar em prática as obras de Shakespeare são ilimitados. De fato, as centenas de anos de obras conhecidas do autor criaram múltiplos universos paralelos de estudos e performances. Neste trabalho, apresentarei a organização e prática do bloco sobre as obras shakespearianas do curso "Estudos Literários em Língua Inglesa I" na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) a partir da análise textual e recriação, em ambiente remoto de ensino, de cenas importantes da obra "Hamlet". O objetivo era recriar cenas de modo a torná-las acessíveis à vida dos alunos, direcionando seus pensamentos para situações que pudessem ser palpáveis em suas vidas e no lugar de onde são ou vivem . A partir da leitura do texto literário, tomamos de Hamlet “Ato I, Cena IV e “Ato III, Cena I”, para recriar como se os personagens e as situações se passassem na Bahia atual. O que aconteceria em Hamlet se fosse baiano? Como ele reagiria à morte de seu pai, à entrada do fantasma e à filosofia de questionar sua própria existência? Que palavras entre o primeiro inglês moderno e o português brasileiro baiano ele usaria? A propósito, a UFRB é uma universidade com a maioria de seus alunos autodeclarados negros ou pardos. Com essa prática de recriar Hamlet para ser baiano, novas identidades foram modeladas através da prática literária e a lacuna de considerar Shakespeare um cânone distante da realidade foi superada por uma nova relação com a obra. De forma mais ampla, critica-se sutilmente a imagem eurocentrada de estudar o autor, com uma abordagem pós-moderna de uma obra literária clássica. O resultado da aula veio com o engajamento: 100% dos alunos recriaram as cenas do seu jeito, compartilhando com o grupo como iriam realizá-las. Referências: ALEXANDER, Michael. A History Of English Literature. MacMillan Foundations, 2000. BLANCHOT, Maurice; CABRAL, Álvaro. O espaço literário. Rio de Janeiro: Rocco, 2011. COMPAGNON, Antoine. O demônio da teoria: literatura e senso comum. 2. ed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2012. 292 p. (Humanitas) HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro, DP&A, 2006. SHAKESPEARE, William. Hamlet. Disponível em: http://shakespeare.mit.edu/hamlet/full.html> Acesso em 07/03/2021. SHOHAT, E., STAM, R. Crítica da imagem eurocêntrica. São Paulo: Cosac Naify, 2006 MEGERAS (SHREWS), BARRAQUEIRAS (SCOLDS) E BRUXAS (WITCHES): MAPEANDO A CONSTRUÇÃO DE DICÇÕES FEMININAS NO TEATRO SHAKESPEARIANO Fernanda Teixeira de Medeiros Resumo: Nesta comunicação, pretendo explorar diferenças e semelhanças entre "shrews" (megeras) e "scolds" (barraqueiras), colocando-as lado a lado com as bruxas, em um mesmo conjunto de "mulheres rebeldes"(Underdown, 1989, p. 121). Se as bruxas são mais fáceis de caracterizar, as "shrews" e as "scolds" são muitas vezes tomadas como categorias intercambiáveis na crítica shakespeariana. Para encaminhar essa discussão, tomarei por base o livro de Silvia Federici, Calibã e a bruxa (2017 [2004]), que analisa com profundidade, e a partir de uma perspectiva feminista, a história europeia entre o final da Idade média e o início do século XVII. Federici faz questão de incluir o fenômeno da caça às bruxas, que teve seu auge entre 1580 e 1630, na discussão sobre a emergência do capitalismo, que se beneficiou, segundo a autora, de uma subjugação crescente das mulheres. Igualmente importante é o artigo do historiador David Underdown, "The Taming of the Scold: the Enforcement of Patriarchal Authority in Early Modern England" (1989), no qual se examinam cuidadosamente os "conflitos de gênero" no cenário da Inglaterra do início da modernidade. Minha hipótese é que o mapeamento dessas figuras femininas nos ajuda a compreender o modo pelo qual Shakespeare fez uso de suas dicções na construção de sua galeria de mulheres -- muitas vezes combinando e misturando características de cada uma delas em uma mesma personagem. Referências: BOOSE, Lynda. Scolding Brides and Bridling Scolds: Taming the Woman's Unruly Member. Shakespeare Quarterly, v. 42, Summer 1991, n. 2, p. 179-213. FEDERICI, Silvia. Calibã e a Bruxa. Trad. Coletivo Sycorax. São Paulo: Elefante, 2017 [2004]. JARDINE, Lisa. Still Harping on Daughters. New York: Harvester Wheatsheaf, 1983. KAMARALLI, Anna. Shakespeare and the Shrew. Performing the Defying Female Voice. Basingstoke: Palgrave and Macmillan, 2012. MACLEAN, Ian. The Renaissance Notion of Woman. A Study in the Fortunes and Scholasticism and Medical Science in European Intellectual Life. Cambridge : Cambridge University Press, 1983. RACKIN, Phyllis. Shakespeare and Women. Oxford: Oxford University Press, 2005. SIM, Alison. The Tudor Housewife. Buffalo: Sutton Publishing, 1996. UNDERDOWN, David. The Taming of the Scold: the Enforcement of Patriarchal Authority in Early Modern England. In: FLETCHER, Anthony; STEVENSON, John, eds. Order and Disorder in Early Modern England. Cambridge: Cambridge University Press, 1986, p. 116-136. OTELO: TRÊS MUNDOS - UM SIGNIFICADO? A ADAPTAÇÃO COMO PROCESSO DE ENSINO Filipe Fraga de Aguiar Resumo: Considerando o eixo e simpósio escolhidos, dando especial atenção ao fato de que a obra Shakespeariana é constantemente desafiada e reconstruída, proponho uma discussão sobre o emprego da Arte Sequencial para reprodução das peças dramatúrgicas de Shakespeare. Inicialmente, abordarei a adaptação como processo e como produto, oportunidade na qual será possível discutirmos e questionarmos seu valor. Muitas vezes vista como de menor qualidade, derivada, nunca comparável ao original, é importante que saibamos o que ela é e como ela funciona para que possamos refletir sobre o assunto. Pensaremos sobre a mudança de gênero midiático, buscando constatar se tal processo se dá por conta da sua finalidade (contar, mostrar, entreter, interagir, etc.). Em seguida, apresentarei o gênero midiático escolhido como objeto de estudo e reflexão: a Arte Sequencial. Trarei exemplos de como esta arte se fez e faz presente em nossa vida, não somente nos dias de hoje – se considerarmos a sua versão mais famosa, os quadrinhos de super-heróis –, mas, sim, ao longo da história da evolução humana. Darei destaque a duas versões: o romance gráfico e o mangá. Tendo introduzido o assunto e despertado o interesse do público interlocutor, tomarei a tragédia de Otelo e suas versões adaptadas como referência. Aprofundarei o debate, confrontando as três versões (o texto original e suas adaptações) e aplicarei os conceitos vistos, buscando pontuar ganhos e perdas, vantagens e desvantagens, possibilidades e limites do processo de adaptação. Com isso, espero que seja possível verificarmos, por fim, se os fins justificam os meios, se a Arte Sequencial pode ser empregada como fora proposto e se existe aproximação entre estes mundos aparentemente distintos. Referências: HUTCHEON, Linda. A Theory of Adaptation. 1st Edition. New York: Routledge, 2006. SCIECZKOWSKI, Izadora Netz. Para além dos quadrinhos e graphic novels: os estudos literários e visuais em diálogo. 2011. 63 f. Monografia (Licenciatura em Letras) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2015. SHAKESPEARE, William. Othello. Edited by Gãmini Salgado. United Kingdom: Longman, 1990. SHAKESPEARE, William. Manga Shakespeare: Othello. Illustrated by Ryuta Osada. Londres: SelfMadeHero, 2009. SHAKESPEARE, William. Othello: A graphic novel. Illustrated by Oscar Zarate. London: Can of Worms, 2011. WEINER, Stephen. Faster than a speeding bullet: the rise of the graphic novel. Edited by Chris Couch; introduction by Will Eisner. New York: NBM, 2003. WOLK, Douglas. Reading Comics: How Graphic Novels Work and What They Mean, 1st Edition. United States: Da Capo, 2007. EM CÉUS E TERRAS: O ESTOICISMO EM HAMLET, DE WILLIAM SHAKESPEARE Juliano da Silva Lira Resumo: Este trabalho tem como objetivo realizar uma leitura filosoficamente orientada na tragédia de Hamlet. Pretende-se, com auxílio do estoicismo, demonstrar como o filosófico pode transformar-se no literário. Para tal, utiliza-se o método hermenêutico proposto por Benedito Nunes, no qual os possíveis pontos de incidências filosóficas viabilizam novas percepções acerca do objeto literário. Analisaremos as conexões da tragédia com as linhas do pensamento histórico-filosófico e posteriormente a instância de questionamento que a forma representa. No tocante a escola estoica, optaremos por aprofundar-nos em seu período imperial, no qual destacam-se nomes como: Sêneca, Epicteto e Marco Aurélio. Mediante o auxílio das obras destes autores, acreditamos estar a ampliar os proveitosos caminhos interpretativos a que tal tragédia shakespeariana nos convida. Parece-nos, de certa forma, uma área de riscos. O autor que se contenta em versar sobre “quais ‘conteúdos filosóficos’ estão presentes ali” (GAGNEBIN, 2006, p. 201) tende a abraçar o erro. Ao invés disso, deverá preocupar-se como ocorre a transformação de tal conteúdo em literatura. Pois, como descreve Alves Júnior (2016, p. 233): “A leitura filosófica de um texto literário é uma exposição imanente de seu processo de constituição”. Espera-se, por estes breves e singelos caminhos, a criação de novos laços interpretativos que possam auxiliar leitores e pesquisadores da área. Esta, sempre bem profícua com o passar dos anos. Referências: ALVES JÚNIOR, Douglas Garcia. Filosofia e literatura: caminhos cruzados. Revista Sísifo. Nº 3, v. 1, maio de 2016 GAGNEBIN, Jeanne Marie. As formas literárias da filosofia. In: GAGNEBIN, Jeanne Marie. Lembrar escrever esquecer. 1ª ed. São Paulo: 34, 2006 LUCRÉCIA DE SHAKESPEARE: POR QUE SEQUER SE OCUPAR DO POEMA? Leonardo Augusto de Freitas Afonso Resumo: William Shakespeare (1564 - 1616) tem sido por séculos cumulado de superlativos. Isso se deve especialmente às peças que escreveu, e aos sonetos em menor grau. O outro formato a que se dedicou, o poema narrativo, é uma espécie de primo pobre nessa economia de popularidade entre leitores e críticos. Entretanto, "[f]oram os poemas narrativos que estabeleceram a fama inicial de Shakespeare com mais força." (DUNCAN-JONES; WOUDHUYSEN, ed. 2007, p. xv). Em um dos períodos de fechamento dos teatros pela peste, o poeta escreveu e publicou, com dedicatória ao conde de Southampton, dois poemas longos, ou narrativos: Vênus e Adônis, em 1593, e no ano seguinte, A Violação de Lucrécia. Comentou Gabriel Harvey na época que "[o]s mais jovens se deleitam um bocado com Vênus e Adônis de Shakespeare; mas sua Lucrécia, e sua tragédia de Hamlet, Príncipe da Dinamarca, têm o necessário para agradar aos mais sábios." (ROE, ed. 2006, p. 12 n.2). A Violação de Lucrécia, com o tempo, tornou-se uma mera curiosidade: é pouco lido ou estudado. A questão que se põe é: por que se deu essa exclusão e que razões há para buscar hoje, no século XXI, reinterpretar, traduzir e fazer circular o poema? A primeira razão é artística, trata-se de um “poema de notável, mesmo se esporádico, brilhantismo” . (DONALDSON, 1982, p. 55). A segunda é política: o poema narra um estupro, e põe em questão a situação da mulher e o patriarcado de uma forma que pode ajudar, hoje, a pensar nesses temas, nos vários contextos envolvidos: o ficcional, o da composição e o atual. Não será possível que a aversão ao poema de Shakespeare não se deva tanto a um fracasso poético quanto a um tabu sobre o estupro? Inversamente, esse tema não basta para querer debatê-lo? Referências: DONALDSON, Ian. The Rapes of Lucretia - A Myth and its Transformations. Oxford: Oxford University Press, 1982. SHAKESPEARE, William. Shakespeare's Poems. DUNCAN-JONES; WOUDHUYSEN, eds. London: Bloomsbury, 2007. SHAKESPEARE, William. The Poems. ROE, John, ed. Cambridge: Cambridge University Press, 2006. EXEUNT BOYS; ENTRAM ATRIZES Leonardo Berenger Alves Carneiro Resumo: A presente comunicação tem por objetivo apresentar um panorama histórico do teatro da Restauração, com foco primordial na introdução das atrizes na cena teatral a partir de 1660, que progressivamente passaram a substituir os atores que desempenhavam os papéis femininos (conhecidos como boy actors), nas práticas cênicas até então em vigência na Inglaterra. Apesar de as mulheres já atuarem no teatro de corte no período pré-Restauração (McManus, 2002), é somente com a coroação de Carlos II que as primeiras atrizes profissionais inglesas sobem aos palcos dos teatros públicos e privados. Percebidas predominantemente pelo público da época como “objetos sexuais” (Howe, 1992), as primeiras atrizes inglesas passam a ter a sua sexualidade explorada no palco de maneiras as mais variadas, com importantes consequências na recepção dos textos dramáticos nas últimas quatro décadas do século XVII. Seguindo os passos de Elizabeth Howe (1992), esta comunicação busca, então, responder às seguintes perguntas: em que medida o advento das atrizes altera a representação dramática do corpo feminino? Sua presença nos palcos profissionais encorajou a uma maior igualdade entre homens e mulheres na sociedade da época? Embora, em certo sentido, fossem consideradas meros objetos eróticos para uma elite masculina, as primeiras atrizes inglesas também representaram uma nova voz feminina na sociedade e um novo locus discursivo? Referências: HOWE, Elizabeth. The First English Actresses. Cambridge: Cambridge University Press, 1992. MCMANUS, Clare. Women on the Renaissance stage: Anna of Denmark and female masquing in the Stuart court. Manchester and New York: Manchester University Press, 2002. AS IMAGENS DE HENRIQUE VIII, NA PINTURA E NO PALCO Liana de Camargo Leão Resumo: Henrique VIII, o mais conhecido e provavelmente mais odiado rei inglês, mudou o curso da história da nação ao romper com Roma, ao ser excomungado pelo Papa e ao iniciar a Reforma na primeira metade do século XVI. Em parceria com John Fletcher, William Shakespeare ousou retratar o controverso monarca em peça homônima, de 1613, possivelmente a última obra do dramaturgo de Stratford. Nesse trabalho, analiso as imagens de Henrique VIII que a posteridade herda da história, em grande parte determinadas por um quadro e um mural da dinastia Tudor encomendados pelo rei ao pintor alemão Hans Holbein. Como seu pai, Holbein dedicava-se à pintura sacra, e ruma para a Inglaterra em busca de trabalho, fugindo da iconoclastia reformista que grassava em terras alemães e na Basiléia. Recomendado a Thomas More por Erasmo de Rotterdan, a quem havia retratado algumas vezes, Holbein pinta um mural da família de More, além de retratos de mercadores ricos e de membros da corte. Em determinado momento, tornar-se o pintor favorito do rei e são duas imagens de Henrique feitas por Holbein que se tornam determinantes para a compreensão da personalidade do monarca pela posteridade. Desde então, essas imagens têm exercido enorme influência em pintores, historiadores e escritores bem como em atores e diretores. Após breve contextualização das pinturas de Holbein, comparo as imagens de Henrique VIII como representado em duas recentes montagens da peça de Shakespeare/ Fletcher, a primeira de 2012 e a segunda de maio de 2022, ambas no teatro Globe de Londres. A primeira é uma montagem celebrada por crítica e público e que adere ao texto dos dramaturgos e à imagem de Henrique que herdamos de Holbein. A segunda, uma montagem polêmica, que parte do texto dramatúrgico de Shakespeare e Fletcher porém acrescido de alterações e adições da dramaturga residente no Teatro Globe Hannah Khalil, publicado em junho de 2022. Essa segunda montagem vai na contramão das imagens captadas por Holbein: trata-se de um Henrique VIII baixo e magrinho, que apenas retém do famoso monarca o apetite sexual voraz. DO MITO À HISTÓRIA, DA METAFÍSICA À CRÍTICA: ANTÔNIO E CLEÓPATRA DE WILIAM SHAKESPEARE Lindberg Souza Campos Filho Resumo: Em sua Teoria do drama moderno (1965), Peter Szondi sustenta que um novo tipo de dramaturgia nasceu na Inglaterra Elisabetana. Um ordenamento dramático oriundo da “audácia espiritual” de afirmação do indivíduo em oposição ao teocentrismo medieval, ensejando uma forma calcada na “reprodução da relação entre homens”, centrada no “estar entre outros” como “esfera essencial de sua existência” e, finalmente, a elevação do “ato de decidir-se” no sentido de “não-encerrarse” e “não-fechar-se” ao patamar de princípio de seleção e organização dos assuntos a serem representados. Tal concepção encontraria no diálogo “o meio que dava expressão linguística a esse mundo inter-humano”. No entanto, as peças históricas de Shakespeare destoariam dessa que, após mutações importantes, viria a se tornar a maneira natural de se fazer teatro, principalmente uma vez que este gênero mais épico – em boa medida devido aos assuntos de ordem objetiva e pública – não somente contaria com uma forma muito mais aberta para abarcar as exigências do afresco histórico, como também teria características didáticas e éticas bastante palpáveis como, por exemplo, de alertar contra a transformação de monarcas em tiranos e apresentaria um vínculo pessoal entre o indivíduo e a coletividade do destino do Estado; de certa maneira reconciliando o metafísico e o social. É nesse sentido que o Raymond Williams de Tragédia Moderna (1966) defende que um dos traços distintivos da ação trágica renascentista seria o início de uma transição da ênfase mais metafísica para uma natureza mais crítica, enfatizando os seus efeitos exemplares nos espectadores. Referências: Bloom, Harold. Shakespeare: the invention of the human. New York: Riverhead books, 1999. Garber, Marjorie. Shakespeare after all. New York: Anchor books, 2004. Kiernan, Victor. Eight tragedies of Shakespeare. London: Zed books, 2016. Szondi, Peter. Teoria do drama moderno [1880-1950]. Trad. Raquel Imanishi Rodrigues. São Paulo: Cosac Naify, 2011. Williams, Raymond. Modern Tragedy. London: Chattos and Windus, 1966. SER, ALTERIDADE E INEXISTÊNCIA NOS MUNDOS COMPARTILHADOS DE A TEMPESTADE Luciana Paula Pereira da Conceição Resumo: A Tempestade é uma das mais estudadas e analisadas obras de Shakespeare: da Cristianização do mundo às conquistas europeias ao redor do globo; das aventuras pelo mar de Walter Raleigh à aplicação do governo de Maquiavel; do mundo real ao espiritual. Os enfrentamentos religiosos, políticos e espirituais descrevem a luta pelo conhecimento e pelo poder, representando as constantes lutas de poder e os movimentos de resistência dentro e entre as sociedades, com os grupos sociais sempre tentando ser a força dominante e negando-se a ser catalogados como “o outro”. Este trabalho estuda A Tempestade como a representação de diversos níveis de alteridade através dos mundos compartilhados que Shakespeare criou na pequena ilha. Além disso, para analisar a imposição de poder, seus efeitos e as reações contrárias a ela, este estudo faz uma análise profunda das relações de poder estabelecidas na ilha e a aceitação dos personagens ao papel atribuído a cada um pelo grupo dominante. Finalmente, este trabalho também traça o pensamento existencialista nas leituras da obra A Tempestade de Shakespeare. Logo, esta contribuição mostra como Shakespeare foi um precursor dos pensamentos Orientalistas e Existencialistas através da descrição das relações de poder estabelecidas na ilha, da experiência de cada personagem como objetivo de sua existência e, finalmente, sua percepção de domínio e alteridade. Referências: Said, E. W. (1978). Orientalism. New York: Pantheon Books. Sartre, J.-P. (2003). Being and nothingness (H. E. Barnes, Trans.; 2nd ed.) Shakespeare, William, 1564-1616. ( 1958). The tempest. Cambridge :Harvard University Press. A LÍRICA SHAKESPEARIANA EM TRADUÇÃO: THE RAPE OF LUCRECE EM PORTUGUÊS BRASILEIRO Marcia do Amaral Peixoto Martins Resumo: A proposta desta comunicação é enfocar as três traduções brasileiras do poema narrativo The Rape of Lucrece (1594), de William Shakespeare, realizadas respectivamente por Oscar Mendes (José Aguilar, 1969), Elvio Funck (Movimento, 2020) e Leonardo Afonso (2022, ainda inédita). Serão apresentados e discutidos os respectivos projetos tradutórios bem como os perfis dos tradutores, em uma abordagem informada pelos Estudos Descritivos da Tradução (HERMANS, 1985; TOURY, 2012) e pela vertente denominada Estudos do Tradutor (CHESTERMAN, 2014). As três traduções apresentam, como seria de esperar, tanto convergências como divergências. Alguns exemplos: a de Elvio Funck é em prosa, enquanto as de Oscar Mendes e de Leonardo Afonso são em versos dodecassílabos; a de Mendes não traz notas, ao contrário da de Funck e também da futura edição da de Afonso; o título dado por Funck, devidamente justificado, diverge do escolhido pelos outros dois, assim como a opção desse mesmo tradutor de não incluir a tradução da dedicatória e do Argumento; e todos os tradutores afirmam ter tido como prioridade a semântica do poema, abrindo mão de algumas características poéticas do texto em inglês. As três Lucrécias brasileiras oferecem, portanto, uma diversidade de escolha para um público-alvo de leitores/as e pesquisadores/as que buscam se familiarizar com uma parte menos conhecida da produção lírica de Shakespeare. Referências: AFONSO, Leonardo. Entrevista pessoal. 25 jan. 2022. BEVINGTON, David. Introduction. In: SHAKESPEARE, William. (1951). Shakespeare: The Poems. Ed. David Bevington. New York: Bantam Books, 1988, p. 69-73. BRITTO, Paulo Henriques. Padrão e desvio no pentâmetro jâmbico inglês: um problema para a tradução. In: GUERINI, Andréia; TORRES, Marie-Hélène; COSTA, Walter Carlos (Org.). Literatura traduzida & literatura nacional. Rio de Janeiro: 7Letras, 2008. p. 133-142. CHESTERMAN, Andrew. “The name and nature of Translator Studies”. In: _______. Reflections on Translation Theory – Selected papers 1993-2014. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins, 2017, p. 323-329. DELZIOVO, Carmem Regina; COELHO, Elza Berger Salema; D’ORSI, Eleonora; LINDNER, Sheila Rubia. 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SHAKESPEARE, William. William Shakespeare – Obra Completa. Volume III – Dramas históricos e Obras líricas. Tradução anotada de F. Carlos de Almeida Cunha Medeiros e Oscar Mendes. Rio de Janeiro: Companhia José Aguilar Editora, 1969c. SHAKESPEARE, William. O estupro de Lucrécia e Vênus e Adônis. Tradução interlinear, introdução e notas de Elvio Funck. Porto Alegre: Movimento, 2020. SHAKESPEARE, William. A tragédia de HAMLET, príncipe da Dinamarca. Tradução de Leonardo Afonso. São Paulo: Chiado Books, 2020. SHAKESPEARE, William. A violação de Lucrécia. Trad. Leonardo Afonso. Texto inédito disponibilizado pelo tradutor, 2022. TOURY, Gideon. Descriptive Translation Studies and Beyond. Revised edition. Amsterdam: John Benjamins, 2012. A PURA VERDADE? "FEAR NO MORE… " Marcia Regina Becker Resumo: "Cymbeline" é uma das peças da fase final da carreira e vida de Shakespeare, e acredita-se ter sido escrita em torno de 1610-1611. Apesar de listada no primeiro folio como uma tragédia, segue apontada atualmente como um romance ou uma peça-romance, com elementos das comédias, mas que carrega também traços bastante trágicos relacionados aos personagens principais, já que se considera que não há um hegemônico na trama. Apesar das improbabilidades do enredo, criticadas por autores como Bernard Shaw, "Cymbeline" traz uma canção de beleza ímpar, e que se imortalizou através dos séculos como forma de despedida, de réquiem: ”Fear no more the heat o’ th’ sun”, o primeiro de 24 versos dentro da cena 2 do ato IV. “Fear no more” aparece em obras como "Mrs. Dalloway" (1925), de Virginia Woolf, retratando os dolorosos anos posteriores à Primeira Guerra Mundial, e com força no desfecho do filme de Kenneth Branagh "All is true" ("A Pura Verdade"), de 2018, que reconta ficcionalmente o final da vida de Shakespeare. Em tempos pandêmicos atuais, os versos sobressaem-se em diversos vídeos na plataforma Youtube, e até em livros com partituras vendidos no Amazon, para citar alguns exemplos, tendo sido apresentados em diferentes mídias como uma possibilidade de encontrar conforto frente à morte, preocupação eterna e constante de nós viventes. Esta comunicação objetiva mostrar essa transtextualidade dos versos da canção setecentista transpostos para mídias diversas no mundo dos séculos subsequentes, através de alguns exemplos, promovendo a sua análise dentro do contexto histórico, social e cultural da época. Voltamos, enfim, ao que Ben Johnson disse 400 anos atrás sobre o legado do Bardo: “He was not of an age, but for all time!” Referências: ALL is true. Direção de Kenneth Branagh. UK: Sony Pictures Classics, 2018. 1 DVD (101min.) DUNTON-DOWNER, L.; RIDING, A. Essential Shakespeare Handbook. London: DK, 2004. SHAKESPEARE, W. The Complete Works. Oxford: OUP, 1988. WOOLF, V. Mrs. Dalloway. London: Penguin, 1996. A CIDADE EM 'TÍMON DE ATENAS' (1606), DE WILLIAM SHAKESPEARE E THOMAS MIDDLETON Regis Augustus Bars Closel Resumo: Ao longo do período jacobino, o sub-gênero de peças teatrais voltadas às dinâmicas urbanas ganhou espaço e relevância. Dramaturgos como John Marston, Thomas Dekker e Ben Jonson contribuíram imensamente neste tipo de peça. Neste ambiente novo, foi com a obra de Thomas Middleton que a vida da cidade se materializou em corpo e ação no palco através de títulos como 'The Phoenix' (1603-1604), 'A Mad World, My Masters', (1605) e 'A Chaste Maid in Cheapside' (1613). O dramaturgo londrino explorou com maestria tramas intricadas, personagens complexos e situações cômicas ao longo dos primeiros anos do reinado de James I. É deste mesmo produtivo período que Middleton colabora com Shakespeare em 'Medida por Medida' (1603-4), 'Bem Está o Que Bem Acaba '(1605) e 'Tímon de Atenas' (1606). Shakespeare, por sua vez, não se dedicou ao gênero dedicado à vida e ao cotidiano londrino, e 'Tímon' é uma das peças que mais se aproxima desse cenário. Esta comunicação visa explorar a peça colaborativa, 'Tímon de Atenas', como uma peça que dialoga, através de sua Roma e da mão de Middleton no texto, com os temas caros às peças sobre a cidade. Assim, será verificado como cada autor, com suas preferências e preocupações, conferiu vida a um texto que mescla elementos da dramaturgia específica de cada um deles. Referências: BATE, Jonathan et RASMUSSEN, Eric with Jan Sewell, Will Sharpe, Peter Kirwan and Sarah Stewart (Eds.). William Shakespeare and Others: Collaborative Plays. Basingstoke: Macmillan, 2013. BENTLEY, Gerald Eades. The Profession of Dramatist in Shakespeare’s Time. Princeton: Princeton University Press, 1971. CLOSEL, Régis Augustus Bars. “Shakespeare e a prática da colaboração: O caso de ‘Sir Thomas More’ e sua tradução”. 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SIMPÓSIO “POÉTICAS DO (IN)VISÍVEL NA LITERATURA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA” Carolina Barbosa Lima e Santos (UEMS), Paulo Eduardo Benites de Moraes (UNIR), Wellington Furtado Ramos (UFMS) RELAÇÕES INTERARTÍSTICAS NA POESIA DE PAULO LEMINSKI Ana Érica Reis da Silva Kühn Resumo: A obra poética do curitibano Paulo Leminski é assinalada pelo diálogo com outras artes e/ou mídias. Dentre elas a canção, o grafite, a visualidade, e até mesmo uma certa ginga corporal para erigir os poemas, como cita Leyla Perrone-Moisés (2002) ao conceder-lhe a alcunha de “samurai-malandro”. A autora considera que o processo criativo de Leminski congrega a busca pela perfeição formal com a simplicidade da criação, uma vez que o poeta aposta no acaso, no rigor do verso, na luta com as palavras, a partir da técnica samurai, para erigir o poema. Leminski delineou sua poética para outros suporte além do livro, manipulou códigos e linguagens diversos em busca de fazer com que sua poesia chegasse ao público leitor. Devido a relação que estabeleceu com outras mídias, pode ser considerado como um performer. Artista de diversas facetas, foi também publicitário, agitador cultural, faixa preta de judô, tradutor, compositor, escreveu romances e ensaios críticos, que foram veiculados em jornais de circulação nacional e na imprensa nanica. Sua poética pode ser considerada híbrida devido não somente a relação com outras artes e/ou mídias, mas também por dialogar com estéticas diversas, visto que apresenta aspectos do arquétipo do poeta romântico, do Concretismo, do Tropicalismo, da Poesia Marginal, do poema clássico japonês – haicai, além de elementos da cultura do mass media. Sendo assim, faremos análise de poemas que contemplam a relação com outros campos artísticos e veículos de mídia, como as artes visuais, a canção, a publicidade, e TV. Referências: ALEIXO, Ricardo. No corpo da voz: a poesia-música de Paulo Leminski. In: DICK, André; CALIXTO, Fabiano (org.). A linha que nunca termina: pensando Paulo Leminski. Rio de Janeiro: Lamparina, 2004. p. 289-296. BONVICINO, Régis; LEMINSKI, Paulo. Envie meu dicionário: cartas e alguma crítica. São Paulo: Editora 34, 1999. CAMPOS, Augusto de; PIGNATARI, Décio; CAMPOS, Haroldo de. Teoria da poesia concreta: textos críticos e manifestos 1950-1960. São Paulo: Ateliê Editorial, 2006. CLÜVER, Claus. Inter textos/ Inter artes/ Inter media. In: Aletria: revista de estudos em literatura, Belo Horizonte: UFMG, nº 14, p. 20-34, jul/dez, 2006. Disponível em: <http://www.letras.ufmg.br/poslit> Acesso em: 15 mar. 2011. ECO, Umberto. Lector in fabula. Trad. Attílio Cancian. São Paulo: Perspectiva, 2008. HUIZINGA, Johan. Homo Ludens: O jogo como elemento da cultura. Trad. João Paulo Monteiro. 6 ed. São Paulo: Perspectiva, 2010. GLUSBERG, Jorge. A arte da performance. Trad. Renato Cohen. São Paulo: Perspectiva, 2009. GUIMARÃES, Denise Azevedo Duarte. 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O LUGAR DA INSTALAÇÃO LITERÁRIA NA CONTEMPORANEIDADE BRASILEIRA Carolina Barbosa Lima e Santos Resumo: Partindo do propósito de apreender e explanar o conceito de “instalação literária”, proposto pelo escritor contemporâneo brasileiro Luiz Ruffato, propomos desenvolver, neste trabalho, um estudo ancorado ao diálogo entre a literatura e as artes visuais. Para tanto, retomaremos o conceito de “instalação artística”, comumente estudado no campo das artes visuais, para analisarmos os textos literários Eles eram muitos cavalos (2001), Palavrio (2016) e Pré-histórias, 2 (2010), de Ruffato, André Vallias e Veronica Stigger, respectivamente. Herdeiras de poéticas modernas, como a mallarmeana e as vanguardistas europeias, estas obras desafiam os limites convencionalmente estabelecidos, desde o século XIX, entre os gêneros literários tradicionais ao se valerem de inúmeras categorias discursivas, como a linguagem cinematográfica, publicitária e enciclopédica, para a configuração de textos que, materializados em livros, websites e museus, exigem a participação performática do público leitor para a apreensão de seus possíveis efeitos de sentido. Interessa-nos, ainda, analisar a contribuição destas poéticas, estruturadas em formas caracterizadas por seus aspectos inacabados, híbridos e fragmentários, para o desenvolvimento de reflexões descentradas e renovadoras a respeito do atual contexto sociocultural brasileiro. Diante deste desafio, compreendemos que estudos interartísticos, propostos por autoras como Maria Adélia Menegazzo, Marjorie Perloff, Florência Garramuño e Ana Albani de Carvalho, contribuirão significativamente para a realização desta pesquisa. Referências: ARBEX, Márcia. (Org.). Poéticas do visível: ensaios sobre a escrita e a imagem. Belo Horizonte: UFMG, 2006. CARVALHO, Ana Albani de. Instalação como problemática artística contemporânea: os modos de especialização e especificidade do sítio. Tese de doutoramento, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2005. FRIEDRICH, Hugo. Estrutura da Lírica Moderna. São Paulo: Duas Cidades, 1991. GARRAMUÑO, Florencia. Frutos estranhos. Ensaios sobre a inespecificidade na estética contemporânea. Rio de Janeiro: Rocco, 2014. MALLARMÉ, Stéphane. Um lance de dados jamais abolirá o acaso. In: Mallarmé. São Paulo: Perspectiva, 2010. pp.149-173. GINZBURG, Jaime. O narrador na literatura brasileira contemporânea. In: Tintas. Quaderni di letterature iberiche e iberoamericane, 2 (2012), pp. 199-221. MENEGAZZO, Maria Adélia. A poética do recorte. Campo Grande: Editora UFMS, 2004. _______. A vida: outro modo de usar. O retorno do real e as artes contemporâneas. In.: Concinnitas: arte, cultura e pensamento. Rio de Janeiro: UERJ, 2010. PERLOFF, Marjorie. O momento futurista: Avant-garde, Avant-guerre, e a Linguagem da Ruptura. Trad. LEITE, Sebastião Uchoa. São Paulo: USP, 1993. CARTOGRAFIAS DO INVISÍVEL - NOTAS DE DRAMATURGIA E LITERATURA PERIFÉRICA Eduardo de Almeida Santos Resumo: Uma das questões presentes na contemporaneidade da literatura é a de que forma a arte pode operar nas disputas de narrativas e pertencimento? Como o fazer artístico pode potencializar sujeitos que constantemente enfrentam a violência ilegítima do Estado, fome, preconceitos, entre outros fatoresaqueles que são considerados como parte de populações constantemente enquadradas como “destrutíveis” ou “não passíveis” de luto. Ou ainda, consideradas como populações perdíveis ou sacrificáveis como nos diz Judith Butler em Quadros de Guerra. “Assim há ‘sujeitos’ que não são reconhecidos como sujeitos e há ‘vidas’ que dificilmente – ou melhor dizendo, nunca - são reconhecidas como vidas” (Butler :2015,17). De forma geral, este trabalho, pretende apresentar a tentativa de enfrentamento a isto através de uma cartografia artística-literária do ano de 2010 em diante realizado no bairro periférico de Santa Cruz (RJ) sobre a cena, a literatura, a leitura pública e a performance realizada pelos Coletivos Última Estação, Cia do invisível e da Biblioteca Marginow. Além de aspectos de Judith Butler serão considerados aspectos teóricos da Literatura Pós Autônoma (Ludmer) e da questão da Emergência Cultural (Laddaga). Assim, buscamos analisar as práticas desses artistas para pensar e tensionar as linhas força que atuam tanto sobre a escrita como na presença dos corpos em seus processos e nas articulações de suas vivências sobre o prisma do atravessamento entre arte, território e disputa dos discursos e modelos de representação feitos por corpos e narrativas de sujeitos periféricos. Referências: ANDARILHO, Jessé. Jessé Andarilho, a escrita, a cultura e o território/ Jessé Andarilho; organização Marcus Faustini ; comentadores Julio Ludemir, Rossi Alvis, Isabel Diegues. – 1. Ed – Rio de Janeiro : Cobogó, 2020. BUTLER, Judith. Quadros de Guerras. Quando a vida é passível de Luto. Tradução Sergio Tadeu de Niemeyer Lamarão e Arnaldo Marques da Cunha; - 1º ed.- Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,2015. CHIMAMANDA, Ngozi Adichie, Julia Romeu, e outros O Perigo de uma história única. São Paulo: Companhia das Letras, 2018. DAMASCENA, Alexandre Silva. Casas. No prelo FELIX, Antônio (Tony) Carlo da Silva. Travéssias Físicas e Subjetivas: O Ator-Professor-Aluno-Artista-Periférico. Monografia para grau de Licenciatura na UNIRIO, Rio de Janeiro, p.67, 2021. LADDAGA, Reinaldo. Estética da emergência: a formação de outra cultura das artes / Reinaldi Ladagga ; tradução Magda Lopes. – São Paulo : Martins Fontes – selo Martins, 2012. LARROSA, Jorge. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Palestra proferida no 13º. COLE –Congresso de Leitura do Brasil. Unicamp, Campinas – SP, 2001. LUDMER, Josefina. Intervenções Criticas. Rio de Janeiro: Azougue editorial, 2014 MACHADO, Taísa. Taísa Machado, o Afrofunk e a Ciência do Rebolado/ Taísa Machado ; organização Marcus FAustini ; comentadores Emílio Domingos, Sinara Rúbia, isabel Diegues. – 1. Ed – Rio de Janeiro : Cobogó, 2020. RANCIÈRE, Jacques. A partilha da sensível. SP: EXO experimental org., Editora 34, 2005. RYNGAERT, Jean-Pierre. Ler o teatro contemporâneo. SP: Martins Fontes,1998. SANTOS. Eduardo de Almeida (Eduardo Teffé). A NARRATIVA COMO DISPOSITIVO: a interferência da palavra na disputa da existência em certos territórios do Rio de Janeiro. 2015. 125 páginas. Ciência da Literatura. UFRJ., Rio de Janeiro. UMA POÉTICA A PESAR: A ESPACIALIZAÇÃO DO TEMPO EM "TUDO O QUE LEVA CONSIGO UM NOME" (2021) DE FRANCISCO MALLMANN Erick Vinicius Mathias Leite Resumo: A escrita performática de Francisco Mallmann encerra em sua materialidade diversas rupturas com a ordem tradicional da poesia, desde reelaborações sintáticas até uso do espaço em branco do papel. Especialmente em seu último livro, tudo o que leva consigo um nome (2021), que nos servirá de corpus para este trabalho, a estruturação da obra assume traços incomuns a uma editoração regular, a exemplo disso, alguns poemas se alocam nas orelhas, na contracapa, na dedicatória etc. Mas o que move nossa investigação é a composição ímpar no espaçamento dos textos. Os mais de 150 poemas, que transitam entre o veio lírico e o narrativo, são separados por grandes intervalos vazios de páginas. A poeticidade do livro emerge a partir da suspenção da narrativa e isolado por essas lacunas de texto, as palavram surgem do vazio como fragmentos de memória que, ao mesmo tempo, exalam poesia e contam uma história. Essa peculiaridade nos leva a pensar que esse traço da editoração irrompe com a noção vulgar de compilação de textos, materializando nas páginas vazias o o próprio lapso temporal que figura entre os insights de memória, algo a que chamamos neste trabalho de “espacialização do tempo” na literatura. A partir da poética de Mallmann (2011) e dessa particularidade material do nosso corpus, procuraremos desenvolver nossas proposições fundamentados principalmente pelas contribuições de Haroldo de Campos ( 1975), Roland Barthes (1984) e José Batista de Sales (2011). Referências: BARTHES, Roland. A câmara clara: nota sobre a fotografia. Trad. Julio Castanõn Guimarães. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. CAMPOS, Augusto de, PIGNATARI, Décio, CAMPOS, Haroldo de. Teoria da poesia concreta: textos críticos e manifestos 1950-1960. São Paulo: Livraria Duas Cidades, 1975. SALES, José Batista de. “Agora eu quero cantar”: um poema narrativo de Mário de Andrade. Revista Itinerários, Araraquara, n. 33, p.123-137, jul./dez. 2011. OMAR SALOMÃO: UMA POÉTICA DO FRAGMENTO Fhilipe Germano Rigamonte Resumo: É tomando o “acaso” e o fragmento como modus operandi, que Omar Salomão desenvolve sua poética. O projeto poético de Salomão se desenha entre ruínas de poemas, fotografias, rabiscos, desenhos/gravuras, manchas, rasuras, enfim, características que lembram ao leitor um mundo em colapso, mas que é erigido a partir dos “destroços”. Assim, é possível estabelecer, na poesia de Salomão, uma historicidade trazida desde os modernos e românticos, como Mallarmé (1980), Baudelaire (2019), Benjamin (1987; 2000; 2009) e Schlegel (1997), autores os quais atravessam a poética pretendida nos três livros publicados pelo autor carioca. A leitura dos poemas construídos sobre ruínas, como afirma o próprio Salomão, revela ao leitor um mundo (in)visível, onde o silêncio, o “nada” estão presentes: esse mundo é exatamente aquele do acaso, o qual não dá garantias para a voz poética que fala, instaura a dúvida (FLUSSER, 2012), embora, ao mesmo tempo, promete algo. No processo de poetizar, é que se descobre a verdadeira “magia” do acaso: ele é tanto o perigo, quanto a salvação do sujeito contemporâneo, visto que este está em constantes contradições, preso a condições de cerceamento de sua liberdade, além de ser atravessado, a todo momento, por outras vozes, pensamento, interrupções de sua subjetividade. Para se escapar dessa condição de fragmento, a voz poética de Salomão se entrega ao fragmento, abraça o acaso, sem medo, sem ilusão. Por fim, o acidente deixa de assombrar o sujeito e passa a ser manipulado, transformado em estética, logo, forma e conteúdo. Referências: ANDRADE, Carlos Drummond de. Claro Enigma. 1ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. ARISTÓTELES. Poética. In: ______; HORÁCIO; LONGINO. A poética clássica. Tradução de Jaime Bruna. 12. ed. São Paulo: Cultrix, 2005, p. 17-52. BENJAMIN, Walter. Experiência e pobreza. In: ______. Magia e técnica, arte e política: Ensaios sobre a literatura e história da cultura (obras escolhidas Vol. 1). 3ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1987, p. 114-119. ______. A Modernidade e os Modernos. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2000. ______. Experiência. In: BENJAMIN, W. Reflexões sobre a criança, o brinquedo e a educação. Rio de Janeiro: Editora 34. 2. ed. 2009. BAUDELAIRE, Charles. As flores do mal. São Paulo: Penguin/Companhia das Letras, 2019. BOSI, Alfredo. O Ser e o Tempo da poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. CAMPOS, Augusto de. Poesia, Estrutura. In: ______; PIGNATARI, Décio. CAMPOS, Haroldo de. Mallarmé. 2 ed. São Paulo: Perspectiva, 1980, p. 177-180. CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2000. DELEUZE, Gilles. Francis Bacon: Logique de la Sensation. Paris: aux éditions de la différence, 1981. Tradução por Silvio Ferraz e Annita Costa Malufe (sem revisão). Disponível em: http://conexoesclinicas.com.br/wp-content/uploads/2015/12/deleuze-francis-bacon-logica-dasensacao-1.pdf. Acesso em 17 nov de 2021. DERRIDA, Jacques. Che cos’è la poesia (1992). Trad. Tatiana Rios e Marcos Siscar. Revista Inimigo Rumor, n. 10, maio de 2001. FLUSSER, Vilém. A dúvida. Imprensa da Universidade de Coimbra/Coimbra University Press, 2012. HOLLANDA, Heloisa Buarque de. Estrondando. In: SALOMÃO, Omar Braga. À Deriva. Rio de Janeiro: Dantes, 2005. LÖWY, Michel; ROBERT, Sayre. Revolta e melancolia: o romantismo na contracorrente da modernidade. São Paulo: Boitempo, 2015. PAIXÃO, Sofia. Verbete memória. E-dicionário de termos literários, 2009. Disponível em: MEMÓRIA - E-Dicionário de Termos Literários (unl.pt). Acesso em 7 de dezembro 2020. PIGNATARI, Décio. Nota ao fauno. In: CAMPOS, Augusto de.; ______; CAMPOS, Haroldo de. Mallarmé. 2ª ed. São Paulo: Perspectiva, 1980, p. 85-86. SALOMÃO, Omar. À Deriva. Rio de Janeiro: Dantes, 2005. ______. Impreciso. Rio de Janeiro: Dantes, 2011. ______. Pequenos Reparos. Rio de Janeiro: José Olympio, 2017. ______. Flutua sobre as ruínas, flutua. Rio de Janeiro: Cobogó, 2021. SALOMÃO, Waly. Poesia total. 1ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2014. SCHLEGEL, Friedrich. O dialeto dos fragmentos. São Paulo: Iluminuras, 1997. ______. Fragmentos sobre poesia e literatura (1779-1803): seguido de Conversa sobre poesia. MEDEIROS, Constantino Luz de; SUZUKI, Márcio. (trad.). São Paulo: Editora Unesp, 2016. PARA ALÉM DA FICÇÃO: HIBRIDISMO E PÓS-AUTONOMIA EM VERONICA STIGGER Paulo Alberto da Silva Sales Resumo: A expansão do campo literário a partir de outras formas, por outras dicções e por meio do entrecruzamentos de discursos é uma das principais linhas de força da ficção de Veronica Stigger. Seus experimentos não apenas possibilitam pensar sobre a implosão do meio específico, mas levam ao questionamento sobre o lugar de pertencimento como uma definição estável e circunscrita em sua especificidade. Logo, essa perspectiva da literatura contemporânea entendida como pós-autônoma, segundo Josefina Ludmer (2007), articula suportes e funções de outros campos do saber por meio da perspectiva da iminência por meio de práticas de hibridismo que criam acontecimentos que estão próximos ou prestes a se apresentarem. Para García Canclini (2016), ao se colocar fora de si, essa arte contemporânea ressalta a insignificância dos relatos totalizantes diante de um mundo em que as grandes histórias já não são mais possíveis, mundo esse que é marcado, também, pela incredulidade nas metanarrativas que foram deslegitimadas. Para fins exegéticos, propõe-se a leitura do livro Sombrio Ermo Turvo, publicado em 2019, em que se verifica, nos vinte e quatro textos que compõem a obra , transgressão dos limites entre os gêneros e modos de expansividade de uma arte fora de si, o que os tornam, segundo Wander Miranda (2014), “formas mutantes” . Constata-se, pelo intenso crossover de dicções (autobiográfica, autofictícia, cômica, dramática, ensaística, irônica, intertextual, lírica, metafictícia, performática, realista, trágica), de discursos e de formas nos textos inclassificáveis de Sombrio Ermo Turvo, a expansão dos limites entre as fronteiras literárias tradicionais. Logo, os hibridismos típicos da escrita de Stigger tornam obsoletos os binarismos ficção x realidade, verdade x simulacro, autobiografia x autoficção e testemunho x invenção, o que possibilita a crítica ler seus escritos inespecíficos como ficções pós-autônomas. Referências: GARCÍA CANCLINI, Néstor. A sociedade sem relato: antropologia e estética da iminência. Tradução Maria Paula Gurgel Ribeiro. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2016. KRYSINSKI, Vladimir. Sobre algumas genealogias e formas de hibridismo nas literaturas do século XX. Tradução e apresentação Zênia de Faria. Revista Criação & Crítica, n. 9, p. 230-241, 2012. LUDMER, Josefina. Literaturas postautónomas. Ciberletras Revista de Crítica Literaria y de Cultura, n. 17, 2007. MIRANDA, Wander Melo. Formas mutantes. In: KIFFER, Ana; GARRAMUÑO, Florencia. Expansões contemporâneas: literatura e outras formas. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2014. p. 135-152. STIGGER, Veronica. Sombrio Ermo Turvo. São Paulo: Todavia, 2019. REMONTAGENS DO TEMPO FASCISTA: UMA LEITURA DE SESSÃO, DE ROY DAVID FRANKEL Paulo Eduardo Benites de Moraes Resumo: A presente comunicação explora o processo de escrita da obra Sessão, do poeta Roy David Frankel, publicada em 2017 pela editora Luna Parque. A obra tem sido lida na chave de uma poesia antilírica, isso por conta da estratégia de composição dos poemas. Trata-se da recuperação das notas taquigráficas localizadas no site da Câmara, cujo conteúdo são os votos dos deputados durante a sessão de votação do impeachment da Presidenta Dilma Rousseff. A partir das notas, Roy Frankel promove uma seleção dos discursos dos deputados e por meio de exercícios de jogos e montagens, dos efeitos de corte das frases, da fragmentação dos discursos, compõe um livro de poemas. Nosso interesse, ao explorar os recursos de montagem, fragmentação e corte, é demonstrar que a obra Sessão pode ser lida na chave benjaminiana de “escrita-através”, isto é, ao explorar a sobreposição de discursos e projeção de imagens dialéticas, a obra se propõe a remontar o tempo das ruínas que se abate no país e a permanência dos ideais fascistas. Ao mesmo tempo, o livro coloca em questão o índice de autoria ao se valer de estratégias da escrita não-original. Para fundamentar nossa leitura, recorremos ao pensamento do crítico Georges Didi-Huberman (2015) para refletir sobre os processos de montagem das imagens e como as imagens contribuem para uma legibilidade da história e também retomamos o conceito de gênio não original tal como pensado por Marjorie Perloff (2010). Referências: DIDI-HUBERMAN, Georges. Remontagens do tempo sofrido: O olho da história II. Trad. Márcia Arbex e Vera Casa Nova. Belo Horizonte: UFMG, 2018. FRANKEL, Roy David. Sessão. São Paulo: Luna Parque, 2017. PERLOFF, Marjorie. O gênio não original: poesia por outros meios no novo século. Trad. Adriano Scandolara. Belo Horizonte: UFMG, 2013. ESTRATÉGIAS POPULISTAS NA LITERATURA DO SÉCULO XXI: A QUESTÃO "ESCRITA NÃO CRIATIVA" Sergio Marcone da Silva Santos Resumo: Considerando que uma das promessas das vanguardas de um modo geral, e da “escrita não criativa” (ENC) em particular, é aproximar sua produção à audiência através do reúso de materiais ordinários, queremos discutir a possibilidade mediante o emprego de estratégias populistas. A noção de ENC, criada por Kenneth Goldsmith (2015), prevê a cópia de materiais pré-existentes em lugar da criação de produtos “originais”, sugerindo ao leitor que o “fácil entendimento” do procedimento CTRL+C/CTRL+V o torne “reflexivo” em vez de simplesmente “público leitor” (p.150). De acordo com tal “facilidade”, o autor pretende que mensagens anti-establishment atinja o maior número de pessoas possível; e para atraí-las, se utiliza da estratégia, chamada por ele mesmo, de "populism" (2011, p. 90). Vertido ao português "populismo", o termo é conhecido da política e se refere a um conjunto de práticas que se justificam ao evocar o desejo do povo em contraposição a uma elite. Pouco ou nada estudado no Brasil em relação ao mundo da arte, populismo significa, para esse sistema, uma “doutrina literária e artística que se liga à expressão da vida e dos sentimentos dos meios populares” (Dicionário Priberam, on-line). Sua sanha é alimentada pelo desejo de associar arte e vida cotidiana objetivando motivar questões junto ao público, consolidando assim a tríade arte, vida e práxis. O objetivo desta comunicação, portanto, é debater o conceito de populismo na literatura, suas estratégias de engajamento público e a validade das mensagens difundidas face o caráter institucionalizado da ENC. Recorreremos aos aportes teóricos de Chagas (2018), Reed (2018), Silverman (2010), Shiner (2004) e Smith (2019), bem como a obras não criativas como Traffic (2007) e Seven americans deaths and disasters (2013), de Kenneth Goldsmith Referências: CHAGAS, P. D. “1970”: Arte e pensamento. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2018 GOLDSMITH, K. Escritura no-creativa. Gestionando el linguaje en la era digital. Trad. Alan Page. Buenos Aires: Caja Negra Editora, 2015. GOLDSMITH, K. Uncreative writing: Managing language in the digital age. New York: Columbia University Press, 2011 GOLDSMITH, K. Traffic. Utah: Editions Eclipse online, 2007. Disponível em: <http://writing.upenn.edu/epc/authors/goldsmith/Goldsmith¬Traffic.pdf>. Acesso em 12 abr. 2022. GOLDSMITH, K. Seven americans deaths and disasters. New York: PowerHouse Books, 2013. Disponível em: <http://www.powerhousebooks.com/preview/7adadpreview.pdf>. Acesso em: 25 abr. 2022. REED, B. Give them what they want: populist rethoric in conceptual art and writing. In: ANDERSSON, Andrea. Postscript: writing after conceptual art. University of Toronto Press, 2018 SHINER, L. La invención del arte. Una história cultural. Trad. Eduardo Hyde e Elisenda Julibert. Barcelona: Ediciones Paidós, 2004 SILVERMAN, R. M. (Org.). The popular avant garde. Amsterdam/New York: Rodopi, 2010 SMITH, R. G. Fuck the avant-garde. Disponível em: < https://post45.org/2019/05/fuck-the-avant-garde/ >. Acesso em 25 dez. 2021 Verbete “Populismo”, Dicionário Priberam. Disponível em: < https://dicionario.priberam.org/populismo>. Acesso em: 25 dez. 2021. "RUPESTRES": AS ESTRATÉGIAS CRIATIVAS DA POESIA CONCRETA DE CARLOS FREDERICO MANES Simone de Souza Braga Guerreiro Resumo: O ponto de partida deste trabalho é o livro de poesia "Rupestres" de Carlos Frederico Manes, lançado em 2020 pela editora Urutau. A comunicação propõe uma reflexão teórica sobre a presença da imagem na criação literária do autor, partindo do princípio que a natureza icônica da linguagem do poeta, nesta obra, privilegia o diálogo ora entre a escrita e o visual ora entre a escrita e o espacial apoiando-se, ao mesmo tempo, sobre os dois registros: o verbal e o gráfico. O papel da imagem na criação literária do autor nos remete às concepções da poesia concreta da segunda metade do século XX. Ao adotar elementos da arte concreta, Carlos Frederico Manes parece levar às últimas consequências certos processos estruturais que marcaram a poesia concreta brasileira que se impôs a partir de 1956, como uma expressão intensa da nossa vanguarda estética. Neste livro de poesias, o enfoque na primazia da imagem e nos diversos exemplos do grafismo nos coloca diante da necessidade de observar os mundos do "dizer" e do "ver". Explorando as camadas materiais de diversos campos (semântico, sintático, fonético e topográfico entre outros) o poeta nos apresenta um espaço híbrido onde a letra e a imagem se encontram. As reflexões que serão apresentadas nesta comunicação analisam as estratégias criativas do autor contemporâneo à luz das teorias que envolvem o movimento concretista e outras formas que discutem o entrelaçamento da escrita e da imagem. Referências: ARBEX, M. (Org.). Poéticas do visível: ensaios sobre a escrita e a imagem. Belo Horizonte: UFMG, 2006. BOSI, A. História Concisa da Literatura Brasileira, São Paulo: Editora Cultrix, 1995. CAMPOS, A.; CAMPOS, H.; PIGNATARI, D. Teoria da poesia concreta: textos críticos e manifestos 1950-1960. São Paulo: Livraria Duas Cidades, 1975. MANES. C.F. Rupestres. São Paulo: Editora Urutau, 2020. PERLOFF, M. O Gênio não original: poesia por outros meios no novo século. Trad. Adriano Scandolara. Belo Horizonte: UFMG, 2013. MACHADO: UMA ESTÉTICA DA SOBREVIVÊNCIA Thiago Bittencourt Resumo: Este trabalho pretende refletir sobre a (in)especificidade discursiva no romance Machado (2016), de Silviano Santiago, cuja textualização é composta pela intersecção entre arquivos, verbais e visuais, públicos e pessoais, usados pelo narrador-personagem, homônimo do autor, na construção de uma metanarrativa acerca da sobrevivência de si e do escritor Machado de Assis no fim da vida. Dessa forma, a narrativa revela uma rede formada por discursos literários e não-literários que são desterritorializados de seus campos de atuação e inseridos em novo contexto, no qual são ressignificados em parceria com um leitor-endereçado. Logo, tem-se um discurso híbrido, tanto na urdidura textual, quanto nas relações interculturais propostas pelo texto. Entre os documentos históricos e artísticos que constituem essa (in)dissociação discursiva estão a pintura Transfiguração, de Rafael Sanzio, Correspondência de Machado de Assis (1905-1908) e os romances Ressurreição, Esaú e Jacó e Memorial de Aires, do escritor do Cosme Velho. Nas (dis)junções entre realidade e ficção, entre vida e obra, de Silviano e Machado, surgem as hipóteses críticas do narrador-personagem a respeito dos arquivos de que se apropria para contar o processo de ficcionalização do romance como performance artística. A escrita performática do autor transfigurado na sobrevivência do narrador-personagem, como proposta artística, pode ser vista como uma forma de interpelação da contemporaneidade, uma vez que ser contemporâneo seria, basicamente, ocupar uma posição que não coincide perfeitamente com seu tempo, uma tendência nas escrituras pós-autônomas latino-americanas. Para tanto, parte-se das bases crítico-ensaísticas presentes nas coletâneas Expansões contemporâneas (2014) e Indicionário contemporâneo (2018). Além dos ensaios “Los restos de lo real”, de Florencia Garramuño, “A escrita de si como performance”, de Diana Klinger, “Josefina e Flora: pós-autonomia e crítica ficcional”, de Jorge Wolff” e “Literatura pós-autônomas”, de Josefina Ludmer. Referências: ASSIS, Machado de. Correspondência de Machado de Assis: tomo V, 1905-1908. Coordenação e orientação Sergio Paulo Rouanet; reunida e organizada e comentada por Irene Coutinho e Sílvia Eleutério. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 2015. CÂMARA, Mário; KLINGER, Diana; PEDROSA, Célia; WOLFF, Jorge; et al. Arquivo. In: ______. Indicionário do contemporâneo. Célia Pedrosa; et al. Organizadores. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2018. ENNE, Ana Lúcia S. Conceito de rede e as sociedades contemporâneas. Revista Comunicação e Informação. Goiânia: Universidade Federal de Goiás, v.7, n. 2, jul./dez.2004, p. 264 - 273. Disponível em: https://doi.org/10.5216/c&i.v7i2.24452. Acesso em: 12 maio 2022. GARRAMUÑO, Florencia. Los restos de lo real. Z Cultural: Revista do programa avançado de cultura contemporânea. Disponível em: http://revistazcultural.pacc.ufrj.br/los-restos-de-lo-real-deflorencia-garramuno-2/>. Acesso em: 12 maio 2022. WOLFF, Jorge. H. Josefina e flora: pós-autonomia e crítica ficcional. Revista Letras, Curitiba, n. 93 p. 33-51, jan./jun. 2016. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.5380/rel.v93i1.43571>. Acesso em: 12 maio 2022. KIFFER, Ana; GARRAMUÑO, Florencia. (Org.) Expansões contemporâneas: literatura e outras formas. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2014. KLINGER, Diana. Escritas de si, escritas do outro. O retorno do autor e a virada etnográfica. Rio de Janeiro: 7Letras, 2007. ______. A escrita de si como performance. Revista de literatura comparada. N. 12, p. 11-30. 2008. Disponível em: <abralic.org.br/downloads/revistas/1415542249.pdf>. SANTIAGO, Silviano. Machado: romance. São Paulo: Companhia das Letras, 2016. ______. “Me interessa quebrar um pouco certo paradigma estabelecido pela universidade, de abordar apenas o texto”. OLIVEIRA NETO, Godofredo de (Entrevistador). Revista Fórum de Literatura Brasileira Contemporânea. Rio de Janeiro, v. 9, n. 17, p. 154-162, jun. 2017. Disponível em: < https://doi.org/10.35520/flbc.2017.v9n17a17389>. Acesso em: 07 abr 2022. A MITOGRAFIA DA (IN)ESPECIFICIDADE E O GÊNIO ROMÂNTICO, NOSSO CONTEMPORÂNEO: ESBOÇO DE UMA ANÁLISE Wellington Furtado Ramos Resumo: São inúmeros os posicionamentos teóricos que se debruçam sobre as matrizes da Modernidade e sua presença, desgaste ou esgotamento na contemporaneidade, valendo-se de qualificativos como “modernidade tardia” ou “modernidade periférica”, ou mesmo no emprego da ideia de “pósmodernidade”, quer no Brasil, na América Latina ou fora dela. Partindo da proposição sobre o conceito de romantismo de Michael Lowy e Robert Sayre (2017), em Revolta e Melancolia, neste trabalho buscaremos desenvolver a hipótese de que o gênio romântico (SUZUKI, 1997; WILLIAMS, 1969) se atualiza na contemporaneidade através de procedimentos compositivos por vezes recebidos como inovadores ou decorrentes de supostas rupturas decorrentes das vanguardas europeias do final do Século XIX ou dos Modernismos programáticos da primeira metade do Século XX. Nosso esboço de análise visa a escrutinar teoricamente tais procedimentos como reverberações do paradigma romântico na contemporaneidade, por meio da articulação da ideia de que, se o romantismo é, para além de uma estética, uma visão de mundo (Weltanschauung) que nasce dos contextos proporcionados (senão impostos) pela condição moderna, simultânea e contraditoriamente ele age na contramão dessa condição, fazendo-lhe a constante crítica e oposição a seus valores liberais e capitalistas, passíveis de observação e análise em suas representações . Nesse sentido, buscaremos desenvolver a tese de que a inespecificidade (GARRAMUÑO, 2014), a performance e a instalação literárias, os hibridismos intersemióticos, dentre outros procedimentos e posicionamentos que visam sustentar as ideias de um “gênio não original” (PERLOFF, 2013), de “literatura expandida” (PATO, 2013) e de “escrita não criativa” (GOLDSMITH, 2011) possam ser, na produção de alguns artistas, índices da contradição do paradigma romântico que reverberam na contemporaneidade. Em outras palavras, vislumbraremos o discurso crítico sobre a (in)especificidade como uma mitografia que desvela a permanência do romantismo em nossos dias. Referências: GARRAMUÑO, Florencia. Frutos estranhos: sobre a inespecificidade na estética contemporânea. Trad. Carlos Nougué. Rio de Janeiro: Rocco, 2014. KENNETH, Goldsmith. Uncreative writing: managing language in the digital age. New York: Columbia University Press, 2011. LOWY, Michael; SAYRE, Robet. Revolta e Melancolia: o romantismo na contracorrente da modernidade. São Paulo: Boitempo, 2015. PATO, Ana. Literatura expandida - arquivo e citação na obra de Dominique Gonzalez-Foerster. São Paulo: Edições Sesc-SP; Associação Cultural Videobrasil, 2013. PERLOFF, Marjorie. O Gênio não original: poesia por outros meios no novo século. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2013. RAMOS, Wellington Furtado. Ainda o Romantismo, nosso contemporâneo? (Projeto de Pesquisa). 20192024, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande, 2019. SUZUKI, Márcio. O gênio romântico: crítica e história da filosofia em Friedrich Schlegel. São Paulo: Iluminuras, 1998. WILLIAMS, Raymond. Cultura e Sociedade: 1780-1950. Trad. Leonidas H. B. Hegenberg; Octanny Silveira da Mota; Anisio Teixeira. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1969. SIMPÓSIO “RESIDUALIDADE LITERÁRIA E CULTURAL” Cássia Maria Bezerra do Nascimento (UFAM), Cássia Alves da Silva (IFCE), Mary Nascimento da Silva Leitão (UFC) OS PROCESSOS RESIDUAIS NA ESCRITA DE TRISTÃO E ISOLDA, DE JOSEPH BÉDIER Aline Leitão Moreira Resumo: A literatura como fio condutor, que é deste trabalho, traz à luz O Romance de Tristão e Isolda, de Joseph Bédier, obra escrita em 1900, a qual narra o amor impossível de um cavaleiro medieval e uma princesa da Irlanda, que se tornou rainha ao casar-se com Marcos, rei da Cornualha, e tio de Tristão. Entretanto, tal narrativa advém de muitas variantes faladas e escritas por outros autores de tempos diversos. O próprio Bédier reconstrói a narrativa de Tristão e Isolda a partir de várias versões. Essa reconstrução, bastante híbrida, como uma colcha de retalhos, traz consigo muitos elementos os quais se fundem numa narrativa densa, que, por vezes, revela imaginários diversos de culturas várias. O Romance de Tristão e Isolda, de Bédier, pode ser percebido como resultado de inúmeras versões, e/ou fragmentos de versões, às quais o autor consultou, na tentativa de recompor a obra sem deixar de lado o cerne da narrativa, contudo, enxertando-a por meio de sua inventividade literária. Ao reunir elementos residuais de tantas narrativas advindas de mentalidades e imaginários tão diversos, o resultado só poderia acontecer num cenário de hibridação cultural, o que o escritor acreditou ser sua quimera, dando nova forma à narrativa. Ao reunir tantas versões, o autor precisou realizar um polimento estético para obter um resultado que não fosse disforme e disparatado. Assim procedendo, realizou um processo de cristalização e de endoculturação. Desse modo, a versão de Bediér, como colcha de retalhos que é, traz elementos, ora condizentes com os romances medievais e os costumes e cultura próprios da época, ora alusivos à carga cultural celta e suas representações. Referências: BARROS, Maria Nazareth Alvim de. Tristão e Isolda – O Mito da Paixão. São Paulo: Mercuryo, 1996.BÉDIER, J. O Romance de Tristão e Isolda. 1ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1988. DUBY, G. Heloísa, Isolda e outras damas do século XII. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. _________. Imagens da mulher. São Paulo: Afrontamento, 1992. FRANCO JR, H. A Idade Média: nascimento do ocidente. São Paulo: Brasiliense, 2006. LE GOFF, J. A Civilização do Ocidente Medieval. Petrópolis: Editora Vozes, 2016. ________. Heróis e Maravilhas da Idade Média. Petrópolis: Editora Vozes, 2020. LOYN, H. R. Dicionário da Idade Média. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997. PONTES, R. “A propósito dos conceitos fundamentais da Teoria da Residualidade”. In: PONTES; MARTINS, CERQUEIRA, NASCIMENTO. (Orgs.). Residualidade e intertemporalidade. Curitiba: CRV, 2017. p. 13-18. _________. “Pródromos conceituais da Teoria da Residualidade”. In: LIMA, F. W. R; PEREIRA, M. P. T. et al (Orgs.). Matizes de Sempre-Viva: residualidade, literatura e cultura. Macapá: UNIFAP, 2020. ROUGEMONT, D. História do Amor no Ocidente. São Paulo: Ediouro, 2003. SQUIRE, C. Mitos e Lendas Celtas. Rio de Janeiro: Nova Era, 2003. "ENTUSIASMO NINFOLÉPTICO" E A "HORA DA IARA": DOIS CONCEITOS SOB O OLHAR DA RESIDUALIDADE Aryane Teixeira da Silva Morais Resumo: O presente artigo tem como tema central a discussão do conceito Nympholepsy, apresentado pela autora Jennifer Larson, em seu livro Greek Nymphs: Myth, Cult, Lore, também podendo ser chamado de Entusiasmo Ninfoléptico, de acordo com a tradução de Junito de Souza Brandão (2014). Segundo o mitólogo, esta manifestação vem a ser uma loucura divina, ou hierofania, causada pelas Ninfas e que afeta apenas os homens, fazendo com que eles fiquem hipnotizados e perdidamente apaixonados. Tal fenômeno é comparado ao conceito de “hora da Iara” apresentado por Câmara Cascudo (2005), em seu livro Lendas Brasileiras, o qual se refere ao momento em que a Iara seduz e hipnotiza os homens para levá-los à morte no fundo do rio. Assim, o problema desta pesquisa está em investigar como os resíduos ninfolépticos da ninfas que habitavam as águas no imaginário do período clássico estão presentes no mito da Iara, personagem de lendas brasileiras, habitante dos rios. O tema abre espaço para uma discussão acerca do conceito de hibridação cultural, tão presente na formação da cultura brasileira, e manifestado em especial na literatura. Para auxiliar esta análise e embasar as discussões aqui propostas, esta pesquisa fundamenta-se na teoria da Residualidade Literária e Cultural de Roberto Pontes (2006, 2017), e também busca associar algumas das principais referências nos estudos de mito e literatura, estudos clássicos e também dos estudos acerca do folclore e cultura brasileira, tendo como base os autores já referidos, bem como em estudiosos sobre a história da beleza, como Umberto Eco. A efetivação do trabalho comparativo entre o conceito de “Entusiamo ninfoléptico” e a “hora da Iara” será realizada, no âmbito literário, no texto “A lenda da Iara”, de Pedro Monteiro. Referências: BRANDÃO, Junito de Souza. Dicionário Mítico-Etimológico. Editora Vozes, 2014. DA CÂMARA CASCUDO, Luís. Geografia dos Mitos Brasileiros. Global Editora e Distribuidora Ltda, 2002. DA CÂMARA CASCUDO, Luís. Lendas Brasileiras. Global Editora e Distribuidora Ltda, 2005. ECO, Umberto. org. A história da beleza. 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Na obra, a narradora movimenta poeticamente o corpo ao mesmo tempo em que transita de um relacionamento tóxico para um espaço de autoconhecimento, que atravessa a infância, a adolescência e a juventude. Essa ação acontece a partir do momento em que, por meio da escrita de si, a personagem entra em contato com a família, a cultura nativa e a cultura de outros países. O objetivo dessa pesquisa consiste em compreender de que forma o modo de pensar da medievalidade acerca do feminino afeta a existência das protagonistas. O estudo se baseia em uma estratégia de pesquisa de natureza básica; do tipo explicativa, quanto aos objetivos; bibliográfica, quanto ao procedimento e qualitativa, quanto à abordagem. A técnica de coleta de dados será a documentação indireta, própria da pesquisa bibliográfica. O estudo tem como base a Teoria da Residualidade desenvolvida por Roberto Pontes. Espera-se que a proposta de comunicação, resultado de pesquisa realizada no âmbito do Curso de Letras do IFCE Campus Tabuleiro do Norte, contribua com o aporte teórico sobre a literatura latino-americana contemporânea e sobre a configuração do imaginário acerca do feminino no século XXI. Além de colaborar para a divulgação de obras literárias produzidas por mulheres na América latina atual. Referências: CANCLINI, Nestor García. Culturas híbridas: estratégias para entrar e sair da modernidade. Tradução: Ana Regina Lessa e Heloísa Pezza Cintrão. São Paulo: Edusp, 2003. COSTAMAGNA, Alejandra. Impossível sair da terra. Tradução de Mariana Sanchez. Editora Moinhos, 2020. FRANCO JÚNIOR, Hilário. “O fogo de prometeu e o escudo de Perseu. Reflexões sobre mentalidade e imaginário”. In: Signum: Revista da Abrem. Número 5, 2003. GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América Latina. Tradução de Sergio Faraco. São Paulo: L & PM, 2010. LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Zahar, 2013. MALIANDI, Carla. O quarto alemão. Tradução de Sérgio Karam. Belo Horizonte: Editora Moinhos, 2020. MANTOVANI, Lucila Losito. Com o corpo inteiro. São Paulo: Pólen, 2019. PIÑON, Nélida. Filhos da América. Rio de Janeiro: Record, 2016. PONTES, Roberto. Poesia insubmissa afrobrasilusa. Fortaleza: Edições UFC, Rio de Janeiro: Oficina do Autor, 1999. PONTES, Roberto. “Cultura, arte e linguagem”. Palestra proferida na mesa redonda “Cultura, arte e linguagem” na V semana de Letras. 2006. Curso de Letras da Universidade Federal do Ceará. PONTES, Roberto. Entrevista sobre a Teoria da Residualidade, com Roberto Pontes, concedida à Rubenita Moreira, 05 e 14 de junho de 2006. Fortaleza: (mimeografado), 2006b. VEYNE, Paul Marie. Como se escreve a história: Foucault revoluciona a história. 4a ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2008. RESÍDUOS DO BELO REINO NO CORDEL PORTUGUÊS HISTÓRIA DA IMPERATRIZ PORCINA Cássia Maria Bezerra do Nascimento, Gabriel Mendonça dos Santos Resumo: Muitos estudos são desenvolvidos acerca das narrativas orais. E estas teses são de suma importância para o entendimento de como essas narrativas remanescem na literatura, na cultura e na sociedade garantindo sua permanência em brasa por meio da atualização constante. Nascidas das narrativas orais, escolhemos para este trabalho, o estudo comparado entre os Contos de Fadas e a Literatura de Cordel. O mundo das fadas, para Tolkien (2010), tem características arquetípicas, de origem geográfica e temporal que remonta aos celtas e à idade média e que se manifestam de formas diversas em outros gêneros literários. Já a Literatura de Cordel surge no século XVI na Península Ibérica; de onde viaja para o Brasil, levando junto às histórias um pouco de Portugal. Nosso trabalho não se propõe investigar sobre um cordel do Nordeste brasileiro, objetivou analisar os arquétipos e os resíduos do belo reino na História da Imperatriz Porcina” (versão Lisboa, 1813), coletada, por José Viale Moutinho (2017), em Literatura de Cordel Portuguesa: uma antologia. Trata-se, portanto, de um estudo que aproxima duas expressões literárias nascidas nas narrativas orais: o Conto de Fadas e a Literatura de Cordel. Por aporte teórico para análise do cordel “História da Imperatriz Porcina”, utilizamos Abreu (1993), Nogueira (2006) e Moutinho (2017) para estudos acerca da Literatura de Cordel; Carter (2017), Coelho (2003) e Tolkien (2010) sobre os contos de fadas; e Pontes (2019, 2017), Torres (2010) e outros para fundamentação em residualidade. KAUNE, UMA GUERREIRA SURDA: A LITERATURA SURDA EM FOCO Taísa Aparecida Carvalho Sales Resumo: Neste artigo buscamos apresentar a literatura surda e suas obras, enfatizando seu valor estético, com vistas a mudar o foco da literatura surda como objeto único e exclusivo de alfabetização ou para falar sobre a formação de identidade surda, como ela tem sido abordada, em sala de aula, nos últimos anos. Para tanto, foi analisada a lenda Kauane, uma guerreira surda, da autora Lilian Araújo Cerqueira, lenda essa que faz parte da obra Onze histórias e um segredo: desvendando as lendas amazônicas (2016). A análise busca comparar a lenda adaptada com a lenda fonte A lenda das amazonas brasileiras, de autor desconhecido. No texto, apontamos cada elemento de mudança presente na daptação, além de relacionarmos essa produção com uma perspectiva sociológica, que nos possibilita evidenciar interpretações a respeito da cultura e da formação da identidade surda. Para tanto, recorremos, como base teórica, a Candido (2011), Todorov (2009), Cascudo (2006) e, especificamente sobre literatura surda, Karnopp (2010), Mourão (2011), Morgado (2011). Nosso estudo evidencia que o contato com a literatura surda, por ser engajada e descolonizadora, possibilita a reflexão, a produção e novas posturas frente ao outro. Isso significa dizer que a experiência estética fornece elementos de reflexão e transformação de si e do outro, desenvolvendo a responsabilidade e uma resistência libertadora. Referências: BOSI, Alfredo. Literatura de resistência. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. CANDIDO, Antonio. A literatura e a formação do homem. In: CANDIDO, Antonio. Textos de intervenção. São Paulo: Duas cidades; Editora 34, 2002, p. 77-93. CANDIDO, Antonio. O direito à literatura. In: CANDIDO, Antonio. Vários Escritos. São Paulo: Ouro sobre azul, 2011. CASCUDO, Luis da Câmara. Literatura oral no Brasil. 2.ed. São Paulo: Global, 2006. CERQUEIRA, Lilian Araújo. 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Tradução de Caio Meira. Rio de Janeiro: DIFEL, 2009. RESÍDUOS DO IMAGINÁRIO CATÓLICO-MEDIEVAL NO MEMORIAL DE MARIA MOURA Thaís Ferreira Barros Resumo: O presente ensaio tem como objetivo identificar e analisar resíduos do imaginário católicomedieval nos personagens do Memorial de Maria Moura (1192), romance escrito pela cearense Rachel de Queiroz (1910 – 2003). Esse imaginário é formado por dois extremos que apresentam elementos residuais do plano divino e do diabólico. No plano divino, verificaremos a presença das imagens de santos católicos associados física e sentimentalmente aos humanos. Representando o plano diabólico, analisaremos a presença da bruxaria e de superstições nas crenças populares apresentadas por meio dos sonhos, das rezas e dos costumes dos moradores do povoado “das bruxa”, segundo narrativa do Beato Romano. Justificamos que a presença desse imaginário maniqueísta se deve à presença dos colonizadores europeus e dos Jesuítas, que trouxeram resíduos de origem medieval para as Novas Terras. Os Jesuítas tinham a tarefa de evangelizar a fé cristã visando conseguir novos adeptos para o catolicismo, por meio da catequese. Para analisar como ocorreu a assimilação dessa doutrina pelos personagens da narrativa, utilizaremos os conceitos operacionais denominados imaginário e endoculturação, os quais compõem o corpus da Teoria da Residualidade Literária e Cultural. São componentes ainda da teoria os conceitos de mentalidade, hibridação cultural e cristalização. Essa teoria foi sistematizada pelo professor, crítico, poeta e ensaísta Roberto Pontes. Referências: BASCHET, Jérôme. A civilização feudal: do ano mil à colonização da América. São Paulo: Globo, 2006. JÚNIOR, Hilário Franco. A Idade Média: nascimento do ocidente. São Paulo: Brasiliense, 1988. LE GOFF, Jacques. Uma longa Idade Média. Trad. 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A propósito dos conceitos fundamentais da Teoria da Residualidade. PONTES, Roberto; MARTINS, Elizabeth Dias. (orgs). Residualidade e intertemporalidade. Curitiba: Editora CRV, 2018. QUEIROZ, Rachel de. Memorial de Maria Moura. São Paulo: Siciliano, 1992. SCHMITT, Jean-Claude. Feitiçaria. GOFF Jacques Le; SCHMITT Jean - Claude. Dicionário temático do ocidente medieval. Bauru, SP: EDUSC, 2002. SILVA, Francisca Yorranna da.; MARTINS, Elizabeth Dias. Residualidade: uma leitura a partir de Lavoura Arcaica. Decifrar, Amazonas, v. 7, n. 14, p. 140-159, 2020. SOUZA, Laura de Mello e. O Diabo e a Terra de Santa Cruz: feitiçaria e religiosidade popular no Brasil colonial. São Paulo: Companhia das Letras, 1986. A DEMONIZAÇÃO DA MULHER NA LITERATURA: UMA ABORDAGEM RESIDUAL DE "A DAMA PÉ-DECABRA", DE ALEXANDRE HERCULANO Francisco de Paula Junior Resumo: Avultam na literatura de língua portuguesa de todos os séculos, do medievo ao pósmodernismo, as mais variadas representações do demônio. Umas vezes em forma de bode, outras de animal horrendo, outras de uma besta infernal. Aqui, no entanto, interessa-nos principalmente quando o diabo é representado pela imagem de uma mulher. A apresentação da mulher como monstro, como bruxa, ou mesmo como um ser humano mau ou cruel, na literatura, não é algo escasso ou novo, pois estas representações já eram comuns em textos clássicos como a Odisseia ou mesmo em textos cristãos como a Bíblia, onde figuram mulheres e serpentes ( Pandora, Lilith, Eva etc) como seres demoníacos ou fatais. Segundo Praz (1996) as “mulheres fatais” ou “demoníacas” sempre estiveram presentes na imaginação humana e, portanto, na imaginação criadora dos artistas. Desde o início da literatura, (oral ou escrita) as mulheres passaram a ser associadas ao Diabo. Isso posto, justifica-se esta análise pelo fato de investigar por qual motivo essa postura de demonização foi mantida e, mais detidamente, como isso acontece no texto. Para tanto, lançaremos mão de uma das teorias mais recentes no campo da análise literária, a Teoria da Residualidade , do estudioso Roberto Pontes, pois, por meio dessa abordagem é possível compreender minimamente a presença do diabo na literatura, imantado em uma figura feminina, como um traço remanescente ou residual que tem atravessado as literaturas de língua portuguesa desde o medievo . Escolhemos como corpus a obra "A Dama pé-de-cabra", do escritor português Alexandre Herculano, texto em que se observa nitidamente essa atitude de demonização. A teoria da Residualidade literária, de Pontes(2015), então, confirma essa postura do autor como geradora de um tema ou motivo literário que remanesceu, migrou de uma época a outra, como prática para a escrita de textos sobrenaturais ou fantásticos. Referências: HERCULANO, Alexandre. “A Dama pé-de-cabra”. In: Histórias Heróicas. Edições de Ouro, s/d. LE GOFF, J. O maravilhoso e o cristianismo no ocidente medieval. Lisboa: Edições 70, 1966. LURKER, Manfred. Dicionário de simbologia. Tradução: Mário Krauss, São Paulo: M. Fontes, 1997. 21p. PRAZ, Mario (1996). A Carne, a Morte e o Diabo na Literatura Romântica. Tradução: Philadelpho Menezes. Campinas, SP: Editora da UNICAMP. PONTES, Roberto; MARTINS, Elizabeth Dias. (orgs). Residualidade ao alcance de todos. Fortaleza: Expressão Gráfica & Editora, 2015. p. 111-124. A RELAÇÃO COMER/AMAR EM DONA FLOR E SEUS DOIS MARIDOS, DE JORGE AMADO: UM OLHAR RESIDUAL Iêda Carvalhêdo Barbosa Resumo: Há nos textos do baiano Jorge Amado uma arte dessacralizada, conectada ao popular, o que aproxima a sua obra da literatura "carnavalizada, típica da Idade Média, estudada por Bakhtin (2010), pois, além de apresentar uma linguagem irreverente, os tipos, cenários e motivos frequentes em seus romances são traços da cultura extraoficial que caracterizam a estética de contestação de normas do carnaval, fazendo surgir corpos-signos grotescos capazes de gerar o estranho e inverter os sentidos. Com o objetivo de estudar esses corpos grotescos, buscamos na presente comunicação analisar Dona Flor e seus dois maridos, no que concerne à relação estabelecida entre comida e amor na narrativa. A fim de compreender como a mentalidade medieval sobre o grotesco manifesta-se ativamente no referido romance, faremos uso da Teoria da Residualidade Cultural e Literária, proposta teórica-investigativa sistematizada por Roberto Pontes e certificada junto à Universidade Federal do Ceará e ao Diretório de Pesquisa do CNPq, que trabalha com os seguintes conceitos operativos: resíduo, mentalidade, imaginário, cristalização, endoculturação e hibridação cultural. Nessa narrativa ocorre uma fusão entre as partes extremadas do corpo prazeroso, levando a protagonista, cozinheira afamada, a deslizar simbolicamente entre o sexo e a comida. Tal associação, pertencente a manifestações remotas da cultura popularcarnavalesca, atravessa os séculos, cristalizando-se ainda hoje na mentalidade e no discurso de diversos segmentos sociais. Referências: AMADO, Jorge. Dona Flor e seus dois maridos. 52ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2001. AMADO, Paloma. A comida baiana de Jorge Amado ou O livro de cozinha de Pedro Archanjo com as merendas de dona Flor. São Paulo: editora Panelinha, 2014. ARAÚJO, Jorge de Souza. Dioniso & Cia. na moqueca de dendê: desejo, revolução e prazer na obra de Jorge Amado. Rio de Janeiro: Relume Dumará; Salvador, BA: Academia de Letras da Bahia, 2003. BAKHTIN, Mikhail. A cultura popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais. Trad. de Yara Frateschi Vieira. São Paulo: Hucitec, 2010. BARBOSA, Iêda Carvalhêdo; MARTINS, Elizabeth Dias . Os resíduos medievais do corpo grotesco em Dona Flor e seus dois maridos, de Jorge Amado. Revista Decifrar, v. 7, p. 160-170, 2019. 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Matizes de sempre-viva: residualidade, literatura e cultura. Macapá: UNIFAP, 2020. ZANON, Suzana Raquel Bisognin. Dona Flor e seus dois maridos: o desejo como princípio do avesso. 4º Encontro Nacional de Pesquisadores de Periódicos Literários, 4, 2010, Feira de Santana. Anais. Feira de Santana: UEFS, 2013, p.330-342. RESIDUALIDADE E HIBRIDAÇÃO NA POESIA DE GILKA MACHADO Jéssica Thais Loiola Soares Resumo: Gilka Machado (1893-1980), poetisa brasileira cuja atuação literária se deu, sobretudo, entre 1915 e 1968, escreveu poemas de cunho erótico, chocando a sociedade da época, que estava acostumada com uma rara literatura feminina dedicada apenas aos amores e à vida pacata das damas exemplares de então. A poesia da autora é tradicionalmente enquadrada ora no Simbolismo ora no PréModernismo. Entretanto, tomando como base a Teoria da Residualidade (PONTES, 1999), sabemos que toda manifestação cultural e, portanto, literária, apresenta uma complexidade estética decorrente da hibridação que ocorre entre os períodos históricos, culturais, artísticos e literários. A poesia de Gilka Machado se mostra híbrida porque apresenta diversidade de temas e formas, emaranhados uns aos outros, formando um amálgama complexo, simultaneamente uno e diverso. Assim, seus textos poéticos apresentam resíduos de estéticas literárias anteriores, contemporâneas e vindouras, a saber: Trovadorismo, Classicismo, Arcadismo, Romantismo, Parnasianismo, Simbolismo e Modernismo. Portanto, neste trabalho objetivamos mostrar quais elementos de cada um desses estilos de época estão presentes na obra de Gilka Machado e de que forma eles se apresentam cristalizados na poesia da autora, concluindo, então, que a literatura pode ser definida como uma teia pela qual se entrecruzam resíduos de diversos tempos, espaços e culturas, comprovando que a hibridação é fator inerente ao texto literário. Referências: ARISTÓTELES. A poética clássica – Aristóteles, Horácio, Longino. Trad. Jaime Bruna. 12. ed. São Paulo: Cultrix, 2005. AZEVEDO, Rafael Sânzio de. A complexidade dos estilos de época. Revista de letras, Fortaleza, v. 26, n. 1/2, jan./dez. 2004. p. 70-72. BANDEIRA, Manuel. Noções de história das literaturas. Rio de Janeiro: Fundo Cultural, 1960. BIRON, Berty R. R. Considerações acerca do iluminismo luso-brasileiro. Revista convergência lusíada, n. 32, jul-dez/2014. p. 181-191. BOILEAU-DESPRÉAUX, Nicolas. A arte poética. Trad. Célia Berrettini. 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Escritos do cotidiano: estudos de literatura e cultura. Sete Sois, 2003. p. 87-104. PONTES, Roberto. Entrevista sobre a teoria da residualidade, com Roberto Pontes, concedida a Rubenita Moreira, em 05/06/06. Fortaleza: (mimeografado), 2006. PONTES, Roberto. O jogo de duplos na poesia de SáCarneiro. Fortaleza: Edições UFC, 2012. SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique. Dicionário de conceitos históricos. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2009. SPINA, Segismundo. A lírica trovadoresca. 3. ed. São Paulo: EDUSP, 1991. ENTRE MEMÓRIA E MENTALIDADE, A FENDA DAS DISTOPIAS NACIONAIS NO FUNDO DO CANTO DE ODETE SEMEDO Jonh Jefferson do Nascimento Alves Resumo: O presente estudo busca na poesia guineense em língua portuguesa uma reflexão acerca dos recentes problemas pelos quais o país tem passado e analisa de que forma tais conflitos, literariamente tecidos através da memória, têm moldado a identidade nacional do guineense levando-o a um cenário de distopias. O recurso da mentalidade como elemento de residualidade aqui empregado, nos direciona ao pensamento de épocas distintas, identificando e analisando nesse percurso as transformações no modo de pensar e agir dos indivíduos deste país africano. Para isso utilizaremos o constructo poético No fundo do canto (2007), de Odete Semedo, obra que desnuda conflitos importantes da história recente da Guiné-Bissau. O espírito da sociedade e o que resta de cultura é recriado e cristalizado no canto semediano. A análise ilustra a partir da investigação as características das múltiplas representações da guinendade: sentimento de pertencimento à nação que ainda vivencia as amarras coloniais pelas políticas de estado. A realização deste trabalho propõe a interação entre a obra de Odete Semedo e alguns pensamentos de estudiosos e teóricos como: Roberto Pontes (2000), Franz Fanon (2008), Stuart Hall (2006), Le Goff (1992), Benedict Anderson (1989), Moema Parente Augel (2005) e outros estudiosos visitados no percurso da produção. Referências: ANDERSON, Benedict Comunidades imaginadas: reflexões sobre a origem e a difusão do nacionalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. AUGEL, Moema Parente. O desafio do escombro: a literatura guineense e a narração da nação. 2005. 387 f. Tese (Doutorado em Literaturas Africanas de Língua Portuguesa) - Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2005. FANON, Frantz. Pele negra máscaras brancas. (Trad. Renato da Silveira). Salvador: EDUFBA, 2008. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 8. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2006. JACOBY, Russell. O fim da utopia. Rio de Janeiro: Record, 2001. LE GOFF, Jacques. História e Memória. Tradução Bernardo Leitão, et all. 2° Ed. Campinas: UNICAMP, 1992. PONTES, Roberto. Residualidades e Mentalidade na Lírica Camoniana. Fortaleza: IAPEL, 2000. SEMEDO, Maria Odete da Costa. No fundo do canto. Belo Horizonte: Nandaya, 2007. CONCEITOS FILOSÓFICOS E O IMAGINÁRIO EM TORNO DO TEMPO NA POESIA DE ROBERTO PONTES Leonildo Cerqueira Miranda Resumo: A presente proposta de comunicação objetiva incursionar pela obra poética Lições de Tempo (2012), de Roberto Pontes, para discutir o conceito de tempo e como ele se realiza nela. Para tanto, tomaremos a referida obra em comparação com alguns posicionamentos filosóficos em torno do tema, como aqueles tomados por Aristóteles (tempo como movimento e transformação), Santo Agostinho (tempo como os limites da existência e o presente como único tempo possível) e Henri Bergson (tempo como duração). Representantes significativos que são de diferentes épocas do pensamento ocidental, é neles em quem desconfiamos estarem as bases que serviram de constructo para Roberto Pontes conformar a noção de tempo executada no conjunto de poemas presentes no livro mencionado. Embasados na Teoria da Residualidade, entendemos haver entre as ideias de tais filósofos e a poesia de Roberto Pontes uma relação residual que define determinadas formas de pensar o tempo, reelaboradas pelo poeta através do texto poético. Em sua poesia, as alegorias, as metáforas e os paradoxos contribuem com a manutenção de um imaginário que traduz o conjunto de ideias sobre o tempo encontradas, como dissemos, no campo filosófico. Recorte ainda inicial de nossa pesquisa de doutorado, estará em nossos próximos passos buscar amostras de outros poetas com quem também possamos comparar Roberto Pontes, verificando semelhanças na forma de tratar o imaginário em torno do tempo. Referências: AGOSTINHO. Confissões. São Paulo: Paulus, 2002. ARISTÓTELES. “Libro IV”. In: Física. Trad. Guillermo R. de Echandía. Madrid: Editorial Gredos, 1995, p. 215 – 290. BERGSON, Henri. Ensaio Sobre Os Dados Imediatos da Consciência. Trad. Maria Adriana Camargo Capello. São Paulo: Edipro, 2020. BRAGUE, Rémi. O Tempo em Platão e Aristóteles. Trad. Nicolás Nyimi Campanário. São Paulo: Edições Loyola, 2006. BRANDÃO, Junito de Souza. Mitologia Grega. v. I. Petrópolis, RJ: Vozes, 1986. __________. “Crono”. In: Dicionário Mítico-Etimológico da Mitologia Grega. Petrópolis, RJ: Vozes, 1991, p. 252 – 253. FREUD, Sigmund. “A Transitoriedade”. In: Obras Completas. v. 12. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 185 – 189. HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo. Trad. Márcia Sá Cavalcante. Petrópolis, RJ: Vozes; Bragança Paulista, SP: Editora Universitária São Francisco, 2015. HESÍODO. Teogonia: A Origem dos Deuses. Trad. Jaa Torrano. São Paulo: Iluminuras, 2007. PLATÃO. Timeu – Crítias. Trad. Rodolfo Lopes. Coimbra: Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos, 2011. RESÍDUO AMOROSO DE A ARTE DE AMAR EM A ESCRAVA ISAURA Lidiane Barreto Costa Neves Resumo: O amor é, desde a Antiguidade, tema de livros e poemas literários. O famoso poeta romano, Ovídio, é conhecido por trazer aos leitores A arte de amar, manual cujo conteúdo se destina a homens e mulheres que buscam e querem conquistar o amor e o/a amado/a. Concomitante a isso, temos a obra A escrava Isaura, em que as personagens parecem seguir as lições e ensinamentos amorosos do poeta elegíaco, apesar de seu foco ser a denúncia e as reflexões sobre o período pré-abolicionista. Com base na Teoria da Residualidade (2006), a aproximação e – recepção – entre essas obras se faz possível, uma vez que percebemos resíduos que se cristalizam de uma obra na outra, como a reprodução dos ensinamentos amorosos do ego ovidiano presentes em discursos das personagens Álvaro, Isaura e Leôncio, por exemplo. Entendemos esses discursos como amorosos, que se cristalizaram, e estão presentes na obra de Bernardo Guimarães, como se as personagens fossem os discipulus do magister que fala e ensina em Ars amatoria. Diante disso, buscamo-nos evidenciar como esse resíduo, isto é, os ensinamentos e lições amorosas, se faz presente na obra de Bernardo Guimarães, à luz de discussões a respeito da persona – ou ego – poética de Vasconcellos (2016) e a residualidade como recepção, tendo como base Martindale (1993) e Bakogianni (2016). Referências: BAKOGIANNI, Anastasia. O que há de tão ‘clássico’ na recepção dos clássicos? Teorias, metodologias e perspectivas futuras. Codex – Revista de Estudos Clássicos, Rio de Janeiro, v. 4, n. 1, 2016, pp. 114-131. Disponível em <O que há de tão ‘clássico' na recepção dos clássicos? Teorias, metodologias e perspectivas futuras | Bakogianni | CODEX -- Revista de Estudos Clássicos (ufrj.br)>. Acesso em 20 de nov. 2021. CONTE, Gian Biagio. Memória dos poetas e arte alusiva (a propósito de um verso de Catulo e de um de Virgílio). IN: PRATA, Patricia; VASCONCELLOS, Paulo Sérgio (orgs.). Sobre a intertextualidade na literatura latina: textos fundamentais. São Paulo: Editora Unifesp, 2019. GUIMARÃES, Bernardo. A escrava Isaura. São Paulo: Saraiva, 2008. MARTINDALE, Chales. Redeeming the text: Latin poetry and the heremeneutics of reception. Cambridge University Press: New York, USA, 1993. OVÍDIO. Arte de Amar = Ars Amatoria. Trad. Natália Correia e David Mourão-Ferreira. São Paulo: Ars Poetica, 1997. PONTES, Roberto. Entrevista sobre a Teoria da Residualidade, com Roberto Pontes, concedida à Rubenita Moreira, em 05/06/06. Fortaleza: (mimeografado), 2006. _______, Roberto. Lindes Disciplinares da Teoria da Residualidade. Fortaleza: (mimeografado) [s/d]. PERUTELLI, Alessandro. “O texto como professor.” In: O espaço literário da Roma antiga – vol. I: a produção do texto. Editado por G. Cavallo, A. Giardina e P. Fedeli. Trad. de Daniel Pelucci Carrara e Fernanda Messeder Moura. Belo Horizonte: Tessitura, 2010. p. 293–327. PLATÃO. A República. Tradução de Carlos Alberto Nunes. 3ª. ed. Belém: EDUFPA, 2000. SILVA, Márcia Regina de Faria da. Ovídio e as inovações na elegia latina. Revista do Departamento de Letras Clássicas e Orientais do Instituto de Letras – LECO, n. 26, p. 99-104, 2013. Disponível em <OVÍDIO E AS INOVAÇÕES NA ELEGIA LATINA | da Silva | PRINCIPIA (uerj.br) >. Acesso em 18 de nov. 2021. SILVA, Glaydson José da; FUNARI, Pedro Paulo; GARRAFFONI, Renata Senna. Recepções da Antiguidade e usos do passado: estabelecimento dos campos e sua presença na realidade brasileira. Revista Brasileira de História [online]. 2020, v. 40, n. 84, pp. 43-66. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/180693472020v40n84-03>. Epub 21 Ago 2020. ISSN 1806-9347. https://doi.org/10.1590/180693472020v40n84-03. Acessado em: 22 nov 2021. TORRES, José William Craveiro; orientador: prof. Dr. Francisco Roberto Silveira de Pontes. Além da cruz e da espada: acerca dos resíduos clássicos d’a demanda do santo graal. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Ceará, Centro de Humanidades, Programa de Pós-Graduação em Letras, Fortaleza – CE, 2010. TREVIZAM, Matheus. A elegia erótica romana e a tradição didascálica como matrizes compositivas da Ars amatória de Ovídio. Orientador: Paulo Sérgio de Vasconcellos. 2003. 280 pp. Dissertação (Mestrado) – Linguística (Letras Clássicas), Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Estudos da Linguagem, Campinas, SP, 2003. VASCONCELLOS, Paulo Sérgio. Persona Poética e autor empírico na poesia amorosa romana. São Paulo: Editora Unifesp, 2016. A DESCONSTRUÇÃO DA IMAGEM DA VELHICE: RESÍDUOS E ATUALIZAÇÕES EM A MÁQUINA DE FAZER ESPANHÓIS, DE VALTER HUGO MÃE Mary Nascimento da Silva Leitão Resumo: Em A máquina de fazer espanhóis, do autor contemporâneo Valter Hugo Mãe, o narrador, Antônio Jorge da Silva, é um idoso que pondera sobre as limitações que a sociedade impõe à velhice contribuindo para a propagação de uma visão distorcida dessa fase. Diante de um cenário que solicita, com urgência, a revisão dessa imagem, propõe-se um estudo que nos leve, a partir da fala do narrador, à reflexão sobre o referido tema. Objetiva-se discutir acerca das considerações realizadas pelo narrador personagem em torno das imposições feitas a ele, depois da morte de sua esposa, identificando-se os resíduos de uma visão reduzida da velhice. E, concomitantemente, apresenta-se um outro olhar em relação aos sentimentos e as necessidades de quem muito viveu. A proposta deste trabalho é uma análise comparativa que leva em conta o posicionamento do eu (Silva) versus o do outro (sociedade), tendo como ponto de partida as memórias elencadas pela personagem principal. Identifica-se um percurso de construção de identidade constituído de memórias que contribuem para o processo de endoculturação. Esta é abordada sob o viés da residualidade, segundo a percepção do teórico Roberto Pontes (1999; 2006); e, para a reflexão sobre as concepções de memória e velhice, destacam-se, principalmente, os pensamentos de Bergson (1999) e de Ecléa Bosi (1979). Silva representa, na narrativa de Valter Hugo Mãe, toda uma coletividade, ao descrever não só lembranças familiares, mas, também, momentos do contexto histórico em que viveu. Nesse resgate, constrói uma figurativização realista pautada na diferença entre aparência e essência. Embora os indivíduos sejam muitas vezes hipócritas e covardes, eles sempre demonstram – e por vezes acreditam- serem bons homens. Referências: BERGSON, Henri. Matéria e memória: ensaio sobre a relação do corpo com o espírito. Tradução Paulo Neves. - 2- ed. - São Paulo: Martins Fontes, 1999. BOSI, Eclea. Memória & sociedade: lembrança de velhos. São Paulo, SP. T.A. Editor, 1979. PONTES, Roberto. Poesia insubmissa afrobrasilusa. Rio de Janeiro: Oficina do Autor; Fortaleza: Edições UFC, 1999. PONTES, Roberto. Cristalização estética como polimento na literatura e na cultura. In: PONTES, R. & MARTINS, E (Org.). Residualidade ao Alcance de Todos. Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora, 2015. PONTES, Roberto. Todas as idades são contemporâneas. Conferência proferida na VIII Jornada de Residualidade. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2017. IRACEMA: UMA NARRATIVA DE ORIGEM RESIDUAL Priscila Magalhães Pereira Resumo: RESUMO: Ao estudar o romance Iracema, do escritor José de Alencar, percebemos que ele consiste numa narrativa fundadora do povo cearense e, até mesmo, do povo brasileiro, a qual se constitui através da hibridação de resíduos dos míticos de outros povos e culturas. Assim, objetivamos compreender a referida obra como uma narrativa residual, na qual identificamos reminiscências de mitos de origem fundadores, judaico-cristãos e também tupis-guaranis, e ainda, uma riqueza residual, no que tange à construção da personagem feminina protagonista, Iracema, em termos de mentalidade. Para isso, fundamentamos nosso estudo na Teoria da Residualidade Literária e Cultural sistematizada por Roberto Pontes, organizando-o em três partes. Na primeira, identificamos resíduos de mitos judaicocristãos em Iracema; na segunda, identificamos resíduos de mitos tupis-guaranis na obra-prima alencariana. Por fim, trabalhamos aspectos residuais havidos na elaboração da personagem central do romance: Iracema. Nossos principais embasamentos teóricos são as obras de: Luís da Câmara Cascudo (2012), Ana Carolina Caldeira Alonso (2011) e Michele Perrot (2007), além das de Roberto Pontes (2020). Portanto, trata-se de uma investigação de abordagem qualitativa e comparativa, que nos permitiu concluir que Iracema é narrativa assentada na mitologia, na qual encontramos resíduos de diferentes culturas. Dessa forma, consideramos ser este, um trabalho bastante relevante para os estudos da Teoria da Residualidade e para o universo dos escritos críticos sobre o livro alencariano em questão. Referências: BASTOS, Ivana Silva. A Visão do Feminino nas Religiões Afrobrasileiras. CAOS, 2009, n. 14, p. 156-165. BULFINCH, Thomas. O Livro de Ouro da Mitologia: Histórias de Deuses e Heróis. Tradução de David Jardim Júnior. 26 ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002. CHAVES, Osvaldo. Exíguas. 1ª ed. Fortaleza: Secretaria de Cultura e Desporto, 1986. 199 p. LEMOS, Fernanda. “Se deus é homem, o demônio é [a] mulher!”: A influência da religião na construção e manutenção social das representações de gênero. Artemis, 2007, v. 6, p. 114- 124. O GLOBO, Jornal. Disponível em: https://oglobo.globo.com/celina/de- uma-so-vez-papa-nomeia-seis-mulheres-para-conselho-economico-do-vaticano. Acesso em: 24 de agosto de 2020. PERROT, Michele. Minha História das Mulheres. Tradução de Angela M. S. Côrrea. São Paulo: Contexto, 2007. PERROT, Michele; DUBY, Georges. Imagens da mulher. Porto: Edições Afrontamento, 1992. PONTES, Roberto. A Propósito dos Conceitos Fundamentais da Teoria da Residualidade. IN: PONTES, Roberto; MARTINS, Elizabeth Dias; CERQUEIRA, Leonildo; NASCIMENTO, Cássia Maria Bezerra (orgs.). Residualidade e Intertemporalidade. Curitiba: CRV, 2017. p. 13-18. PONTES, Roberto. Lindes Disciplinares da Teoria da Residualidade. Revista decifrar, v. 7, n. 14, 2020a, p. 11- 19. 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Apesar dos esforços pelo exercício de uma escrita regionalista criteriosamente verossímil em Visconde de Taunay e Franklin Távora, não houve, no regionalismo romântico, uma transcendência dos limites dessa representação com tendência ao pitoresco. É a literatura naturalista, por meio de autores como Valdomiro Silveira e Simões Lopes Neto, que a ficção regionalista passa a tomar a matéria rural com contornos sociais mais precisos dentro de uma concepção mimética baseada na descrição fiel que levasse à compreensão do ambiente e na reprodução da linguagem própria regional. Faltou a esses autores, no entanto, maior consciência crítica dos processos sociais (de)formadores do Brasil, ou seja, faltou-lhes o reconhecimento de nossa condição de nação subdesenvolvida. Tal consciência coube, segundo Antonio Candido (1989), aos romancistas da geração de 1930. Há aí uma mudança de orientação, uma percepção do que havia de mascaramento no modo pitoresco com que antes se representava o homem rústico. "Torto Arado" de Itamar Vieira Junior, ao situar toda a ação em uma comunidade quilombola, faz a recuperação do mote regionalista, colocando em evidência o "Brasil profundo" como espaço do compreensão da problemática social. Lançado em 2019, o romance simboliza uma inversão no processo de deslocamento da narrativa brasileira contemporânea ao meio urbano. O residual do romance regionalista de 1930, com sua consciência social crítica, relaciona-se ao processo de degradação social do Brasil contemporâneo, portanto, torna-se relevante a análise de como se dá essa influência na obra à luz da concepção de país subdesenvolvido. Para isso, deve-se situar "Torto Arado" como obra que dialoga com uma tradição e assim (re)interpreta o processo social de seu tempo. Referências: BOSI, Antonio. História concisa da literatura brasileira. 43 ed. São Paulo: Cultrix, 2006. CANDIDO, Antonio. Literatura e subdesenvolvimento. In: CANDIDO, Antonio. A educação pela noite & outros ensaios. São Paulo: Ática, 1989. p. 140-162. CARREIRA, Shirley de Souza Gomes. Inscrições do real em “Torto Arado”, de Itamar Vieira Junior. e-scrita: Revista do curso de Letras da UNIABEU. Nilópolis, v. 12, n. 1, 2021. p. 184-198. CORSINI, Leonora. Torto Arado e o encontro com o Brasil profundo. Nova perspectiva sistêmica. v. 30, n. 70, 2021. p. 114-117. FERNANDES, Joyce. O legado da traumático da escravidão em “Torto Arado”. Revista Entrelaces. v. 11, n. 23, 2021. p. 229-248. FIGUEIREDO, Eurídice. Notas sobre o romance regional. Grupo de estudos em literatura brasileira contemporânea. Brasília, 18 de dezembro de 2020. Disponível em: http://gelbcunb.blogspot.com/2020/12/notas-sobre-o-romanceregional.html Acesso em: 20 abr. 2022. FURTADO, Celso. Desenvolvimento e subdesenvolvimento. Rio de Janeiro: Contraponto; Centro Internacional Celso Furtado, 2016. 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É dessa maneira que o romancista, dramaturgo e poeta espanhol Miguel de Cervantes Saavedra (1547-1616) introduz Cide Hamete Benengeli como o autor de Don Quijote em sua obra prima Don Quijote de la Mancha. Tanto na Primeira Parte, de 1605, intitulada El Ingenioso Hidalgo Don Quijote de la Mancha, quanto na Segunda Parte, de 1615, intitulada Segunda Parte del Ingenioso Caballero Don Quijote de la Mancha, são várias as passagens nas quais o personagem que narra a história, ora denominado Narrador, faz alusão a Cide Hamete como autor de Don Quijote. No último parágrafo do capítulo VIII e nos dois primeiros parágrafos do capítulo IX, ambos da Primeira Parte, o Narrador dá a entender que tomou conhecimento da história por algum autor que já a conhecia, mas que a deixou pendente por não ter achado outros escritos das façanhas de Quixote. Em nosso entendimento, Quixote não é uma tradução do árabe, correspondendo, sim, a uma pseudotradução. Para comprovar, utilizamos os conceitos operativos da Teoria da Residualidade, de Roberto Pontes, pois citada teoria busca identificar aspectos culturais e formas de pensar (mentalidades) de uma determinada época, sobretudo a época medieval, que sobrevivem em produções artísticas, culturais e literárias de épocas posteriores e, principalmente, da atualidade. A teoria estuda esses resíduos nos campos literário e cultural. Baseados em seus conceitos operativos como cristalização, resíduos, mentalidade, hibridação cultural e memória coletiva, afirmamos que a obra de Cervantes é uma pseudotradução. Referências: ASCUNCE ARRIETA, José Ángel. “O historiador Cide Hamete Benengeli ou a tragicomédia do primeiro autor”. Trad.: Sílvia Massimini. In: Revista USP, nº 67, p. 270-281. São Paulo, setembro/novembro 2005. CERVANTES, Miguel de. Don Quijote de la Mancha I.1605. Edición de John Jay Allen. Decimoquinta edición. Madrid: Cátedra, 1992. ------. Don Quijote de la Mancha II. 1615. Edición de John Jay Allen. Decimoquinta edición. Madrid: Cátedra, 1992. ------. Don Quijote de la Mancha. Completo. Edición especial para la Empresa Pública Don Quijote de La Mancha 2005, S.A. Junta de Comunidades de Castilla-La Mancha, 2005. COBELO, Silvia. “Pseudotradução e o Quixote”. In: Fragmentos, nº 33, p. 063069. Florianópolis, julho-dezembro 2007. MOREIRA, Rubenita Alves. Análise de Don Quijote, uma Tradução Intersemiótica/ Adaptação Teatral de Don Quijote de la Mancha. 2011. 74f. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Formação de Tradutores). Centro de Humanidades, Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, 2011. PONTES, Roberto. A propósito dos conceitos operativos da Teoria da Residualidade. In: Residualidade e Intertemporalidade. Curitiba: CRV, 2017, p.13-18. SUASSUNA, Ariano. “Romanceiro popular & Literatura erudita”. Belo Horizonte: Periódico Minas Gerais. Suplemento Literário, pp.3-6, maio 2001. Fascículo especial não numerado. Sinopse da fala do autor na abertura do Encontro Internacional de Literaturas de língua Portuguesa, realizado em BH, em agosto 2000, p. 5. ------. Auto da Compadecida. 34ª ed. / 6ª imp. Rio de Janeiro: Agir, 2000. ------. Seleta em prosa e verso. (Org. Silviano Santiago). 2ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 2007 O AUTO DO BOI NAS TOADAS DO GARANTIDO E DO CAPRICHOSO NO FESTIVAL FOLCLÓRICO DE PARINTINS - AMAZONAS Sergio Batista Chaves Neto Resumo: Este trabalho apresenta uma perspectiva acerca do auto do boi correlacionando seus registros orais e escritos na Língua Portuguesa, da herança ibérica à suas manifestações em diversas partes do Brasil, com destaque à vertente amazônica, a partir da análise de toadas do boi-bumbá Garantido e boibumbá Caprichoso da cidade de Parintins, no Amazonas. As toadas têm destaque no Festival Folclórico de Parintins, que canta rituais populares, cujo comportamento é simbólico com o uso de alegorias, fantasias, muita música e dança. Este texto aborda nomes e aparições do elemento folclórico, compreendendo as experiências narrativas das toadas, buscando mostrar que as organizações folclóricas também configuram e contextualizam uma literatura brasileira e amazônica, que neste, por meio das toadas, demonstram fatos vividos e vivos da cultura popular e são aqui analisados como integrantes de um mesmo processo social. São analisadas as toadas “Auto do Boi”, de autoria de Eneas Dias, do ano de 2012, do boi-bumbá Garantido e “Auto do Boi Brasileiro", de autoria de Adriano Aguiar, Júnior Dabela e Roberto Jr., do boi-bumbá Caprichoso, do ano 2018. Foram leituras essenciais, para a realização deste estudo, textos de autores que compartilham de abordagens literárias para a análise dos objetos culturais de folguedo amazônico: Luís da Câmara Cascudo (2002; 2005), João de Jesus Paes Loureiro (2014), Márcio Souza (2010; 2019) e Wilson Nogueira (2008); e trabalhos de residualistas como Ingrid Karina Morales Pinilla (2018), Cássia M. B. Nascimento (2014, 2018) Roberto Pontes (2019). Referências: CANDIDO, Antonio. Literatura e sociedade: estudos de teoria e história literária. São Paulo: Nacional, 1985. CASCUDO, Luís da Câmara. Literatura oral no Brasil. São Paulo: Global Editora, 2012. Literatura Comparada e Estudos Culturais: Ímpetos Pós-Disciplinares. In: ANDRADE, Ana Luiza, CAMARGO, Maria Lucia de Barros, ANTELO, Raul (Orgs.). VI Congresso da Associação Brasileira de Literatura Comparada. Florianópolis: Leituras do Ciclo, 1998. LOUREIRO, João de Jesus Paes. Cultura amazônica: uma poética do imaginário. Belém: Cejup, 1995. LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003. NOGUEIRA, Wilson. Festas Amazônicas – boi-bumbá, ciranda e sairé. Manaus: Editora Valer, 2008. NOGUEIRA, Wilson. ______. “Teorias em Literatura Comparada”. In: Revista Brasileira de Literatura Comparada, v.2, n.2, p.09-17, 1994. A TEORIA DA RESIDUALIDADE NO ÂMBITO DO NOVO COMPARATISMO Tallyson Tamberg Cavalcante Oliveira da Silva Resumo: O presente trabalho tem como principal objetivo o apontamento da apresentação e de algumas reflexões sobre o desenvolvimento e o lugar da Teoria da Residualidade no âmbito da moderna Literatura Comparada, campo de estudo e pesquisa cada vez mais envolvido e harmonizado às questões descentralizadas e transdisciplinares. Essas novas perspectivas adotadas pelo comparatismo literário é o que se tem denominado por Eduardo Coutinho (2016, 2017) de “Novo Comparatismo”. A partir de tais reflexões, buscamos apresentar, aqui, a sistematização da Residualidade como fruto desses diálogos da moderna Literatura Comparada para com campos metodológicos de outras áreas do saber. Pensada pelo poeta, ensaísta e pesquisador cearense Roberto Pontes, a Residualidade mostra-se como um constructo teórico ambientado nos estudos literários, mas que se utiliza de diversas perspectivas e vieses metodológicos, dialogando principalmente com o campo da História das Mentalidades e dos Estudos Culturais, a partir das contribuições da École des Annales e do pensador britânico Raymond Williams (1979). Evidencia-se, desse modo, que a sistematização do método investigativo da Residualidade literária e cultural teve a sua sistematização a partir dessas imbricações de outras áreas do saber para com os métodos de pesquisa da Literatura Comparada, resultado da moderna descentralização e pluralismo no âmbito dos modernos estudos literários. Referências: ALDRIDGE, A. Owen. “Propósito e Perspectivas Da Literatura Comparada”. In: COUTINHO, Eduardo; CARVALHAL, Tânia. (Org.). Literatura Comparada: Textos Fundadores. Trad. Sonia Torres. Rio de Janeiro: Rocco. 1994. BURKE, Peter. Hibridismo Cultural. Tradução de Leila Souza Mendes. São Leopoldo: Editora Unisinos, 2006. CARVALHAL, Tânia Franco. Literatura Comparada. 4ª ed. São Paulo: Ática, 2006. ______. “Teorias em Literatura Comparada”. In: Revista Brasileira de Literatura Comparada, v.2, n.2, p.09-17, 1994. COUTINHO, Eduardo. “Literatura Comparada, Literaturas Nacionais e o Questionamento do Cânone”. In: Revista Brasileira de Literatura Comparada. v. 3, n. 3, p. 67-74, 1996. ______. “O Comparatismo e Seus Diálogos nos Tempos de Hoje”. In: ComparArte. Rio de Janeiro, volume 01, Número 01, Jan.-Jun. 2017. ______. “O Novo Comparatismo na América Latina: Reflexões no Ensino e na Historiografia Literária”. In: Revista de Literatura, História e Memória. Unioeste, Cascavel. Vol. 12, nº 19, 2016, p. 09-23. 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É o caso do escritor Caio Fernando Abreu em suas obras “Morangos mofados” (1982); “Triângulo das águas” (1983); “Onde andará Dulce Veiga?” (1990); “Ovelhas negras” (1995); “Pequenas epifanias” (1996); “Estranhos estrangeiros” (1996) e por último, mas não menos importante, as várias citações a Virginia Woolf em suas “Cartas” (2002). Neste sentido, a presente investigação pretende analisar a presença de Virginia Woolf e do grupo Bloomsbury na obra do escritor gaúcho. Para tanto, busca-se compreender as intertextualidades do livro “Ovelhas negras”. Nele, temos o conto “lixo e purpurina”, onde o autor ficcionaliza um acontecimento da época em que morava na Londres dos anos 1970, também registrado em seus diários e cartas. A saber: ele fora preso por furtar em uma livraria os dois volumes da biografia de Virginia Woolf publicada por Quentin Bell (1986) em 1972. A partir de então, diz o narrador, a escritora inglesa tornou-se sua padroeira ou fada-madrinha. Ainda neste livro, temos o conto “Noites de Santa Tereza”, onde a protagonista, uma mulher de sexualidade livre, se compara a Clarissa Dalloway. Caio Fernando Abreu também utiliza-se de referências ao grupo Bloomsbury para construir personagens de seu “Onde andará Dulce Veiga?”. Nele, o escritor cria as reencarnações contemporâneas de E. M. Forster; da própria Woolf e de Vita Sackville-West, esta última reencarnada em uma gata. Além disso, o autor tece referências a Roger Fry, Lytton Strachey, James Joyce, T. S. Eliot, Katherine Mansfield, entre outros. Assim, tanto na ficção, quando em suas cartas, Caio Fernando Abreu demonstra conhecimento do circuito ao qual Virginia Woolf se filiava, sendo a escritora mais um elemento presente em seu caldeirão de referências pop (KELLNER, 2001). Referências: ABREU, Caio Fernando. Onde andará Dulce Veiga? Rio de Janeiro: Agir, 2007. ABREU, Caio Fernando. Triângulo das águas. Porto Alegre: L&PM, 2007. ABREU, Caio Fernando. Pequenas epifanias. Rio de Janeiro: Agir, 2006. ABREU, Caio Fernando. Morangos mofados. Rio de Janeiro: Agir, 2005. ABREU, Caio Fernando. Cartas. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2002. ABREU, Caio Fernando. Ovelhas negras. Porto Alegre: L&PM, 2002. BELL, Quentin; NICHOLSON, Virginia. Charleston: a Bloomsbury house & garden. Londres: Frances Lincoln limited, 2004. BELL, Quentin, Bloomsbury. Rio de Janeiro: Ediouro, 1993. BELL, Quentin. Virginia Woolf: uma biografia. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1986. HARRIS, Alexandra. Virginia Woolf. Londres: Thames & Hudson, 2011. LEE, Hermione. Virginia Woolf. Nova York: Vintage books, 1999. KELLNER, Douglas. A cultura das mídias: estudos culturais: identidade e política entre o moderno e o pós-moderno. Bauru: EDUSC, 2001. SPALDING, Francis. Virginia Woolf: art, life and vision, Londres: National Portrait Gallary, 2014. WOOLF, Virginia. Mrs. Dalloway. Belo Horizonte: autêntica, 2013. WOOLF, Virginia. A viagem. Osasco: novo século, 2008 DE TIME PASSES À THE HAUNTED HOUSE: AS CASAS AFETIVAS EM VIRGINIA WOOLF Ana Carolina de Azevedo Guedes Resumo: O intuito desta apresentação é explicitar elementos que aproximem o conto “The Haunted House” (1921) e a parte central de To the lighthouse, “Time passes”, (1927) ao trabalhar com a ideia de presença/ausência de seres inanimados (coisas) ou não, vivos ou não. Em “Time Passes”, a passagem do tempo é marcada pela degradação da casa, sendo perceptível no desgaste. O tempo e a casa são os elementos que marcam a expedição em que o narrador leva o leitor, demonstrando como a vida se manteve dentro da casa através da invasão da natureza nos cômodos, como o vento e a maresia. A seção foi publicada em 1927, como segunda seção de To the Lighthouse e, como conto autônomo enviado para Charles Mauron, na revista Commerce (1926). “Time Passes” foi a parte do livro escrita mais lentamente por Virginia Woolf, passando por diferentes aprimoramentos e revisões até que a satisfizesse. É a parte do romance em que a família Ramsay deixa a casa de férias e volta para a cidade, esquecendo o imóvel durante os anos de guerra e tragédia que abatem a família. Já “The Haunted House” foi publicado na coletânea Monday or Tuesday, em 1921, pela Hogarth Press, como uma experiência diferente dos contos que havia escrito até aquele momento. O processo de experimentação demonstra como seriam articulados os mecanismos acionados na narração das duas histórias são eles parecidos, mas trabalham elementos similares de forma diferentes, buscando o mesmo efeito estético nos leitores. O objetivo central é de demonstrar como a Thing Theory é capaz de dar nova dimensão analítica aos textos woolfianos e assim trabalhar a noção de coisidade (resgatada por Bill Brown e por Martin Heidegger) no âmbito da obra de arte ficcional, trazendo um elemento do afetivo que aproxima cada vez mais leitor e autor. Referências: BROWN, Bill. A Sense of Things: The Object Matter of American Literature. Chicago: The Chicago University Press, 2015. BROWN, Bill. Other Things. Chicago: The Chicago University Press, 2015. TAYLOR, Charles. As fontes do self: a construção da identidade moderna. Tradução Adail Ubirajara Sobral, Dinah de Abreu Azevedo. 4ª edição. São Paulo: Edições Loyola, 2013. VAIHINGER, Hans. A filosofia do como se. Tradução e apresentação de Johannes Kretschmer. Chapecó: Argos, 2011.O, Douglas. Solid Objects: Modernism and the Test of Production. Princeton: Princeton University Press, 1998. WOOLF, Virginia. The Complete Shorter Fiction of Virginia Woolf. Ed. by Susan Dick. London: Harcourt, 1989. "NÃO ESCREVEMOS SÓ COM OS DEDOS, MAS COM A PESSOA INTEIRA": CONFLUÊNCIAS ENTRE ORLANDO E "ORLANDO, OR: THE ENIGMA OF THE SEXES" Bruna Montes Werneck de Freitas Resumo: Esta comunicação tem como objetivo apresentar o libreto “Orlando, or: The Enigma of the Sexes”, da escritora britânica Angela Carter, e sua relação com o romance Orlando, da escritora também britânica Virginia Woolf. Buscando identificar e estabelecer pontos de contato entre o libreto de Carter, um dos textos dramáticos que integra o livro de peças intitulado The curious room (1996), e o romance de Woolf, cuja primeira publicação data de 1928, consideraremos o texto de Woolf como ponto de partida e o texto de Carter como ponto de chegada, entendendo que ambas as autoras se propõem a colocar intencionalmente em pauta discussões a respeito das questões de gênero. Virginia Woolf, nesse sentido, poderia ser entendida como percussora de Angela Carter; e, embora ambas atualizem esse debate em suas obras, os textos de Woolf, tanto ensaísticos quanto ficcionais, têm como cerne tais questões; ao passo que os textos de Carter, por outro lado, mobilizam-nas na ficção. Ao proporem uma nova compreensão do(s) gênero(s) tanto em Orlando quanto em “Orlando, or: The Enigma of the Sexes”, Woolf e Carter nos levam a buscar como o percurso do romance se transforma, décadas depois, no teatro. Carter, ao levar o personagem Orlando às últimas consequências em sua narrativa, abre espaço para a crítica literária feminista, atrelada aos estudos de gênero, a partir das contribuições teóricas e críticas de Moi (2002), Showalter (1999), Butler (2018), Scott (1986) e Duarte (2014). Esperamos, com este trabalho, contribuir para ampliar a discussão das temáticas aqui apresentadas. Referências: BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2018. CARTER, Angela. Orlando, or: The enigma of the sexes. In: CARTER, Angela. The curious room: plays, film scripts and an opera. London: Chatto & Windus (Vintage), 1996. DUARTE, Maria de Deus. “What a wonderful piece of work is a woman!”: Orlando and The enigma of the sexes. Via Panorâmica: Revista Electrónica de Estudos Anglo-Americanos, Porto, série 3, n. 3, p. 21-42, 2014. Disponível em: https://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/12625.pdf. Acesso em: 21 abr. 2022. MOI, Toril. Sexual/textual politics: feminist literary theory. London, New York: Routledge, 2002. SCOTT, J. W. Gender: A useful category of historical analysis. The American Historical Review, v. 91, n. 5, p. 1053-1075, dez. 1986. Disponível em: http://www.jstor.org/stable/1864376. Acesso em: 3 maio 2022. SHOWALTER, Elaine. A Literature of Their Own: British Women Novelists from Bronte to Lessing. New Jersey: Princeton University, 1999. WOOLF, Virginia. Orlando. New York: Rosetta Books, 2002. "É PELOS FANTASMAS DENTRO DE NÓS QUE ESTREMECEMOS": O FANTÁSTICO EM VIRGINIA WOOLF Carla Lento Faria Resumo: A presente comunicação tem por objetivo apresentar uma análise do conto “The Fascination of the Pool” (1929), da escritora inglesa Virginia Woolf (1882-1941), à luz das teorias do fantástico. Apesar de Woolf não ser uma autora de obras que fundamentalmente pertencem à tradição da literatura fantástica, consideramos que alguns de seus contos apresentam procedimentos narrativos e abordagens temáticas que os aproximam desse modo literário. Segundo Susan Dick (2004, p. xviii), os contos woolfianos, de modo geral, são obras que desafiam classificações genéricas e agregam uma variedade de estilos, podendo ser discutidos por diversas perspectivas. Desse modo, acreditamos que uma das muitas perspectivas pelas quais alguns contos podem ser analisados é a da literatura fantástica. Contos como “A Haunted House” (1921), “Nurse Lugton’s Curtain” (1924), “The Fascination of the Pool” (1929) e “Lappin and Lapinova” (1939) oscilam entre experiência/interpretação, realidade/imaginação, memória/momento presente e mundo interior/mundo exterior, moldando a narrativa com fenômenos ou seres inexplicáveis e que são responsáveis por romper com a ordem do real, tal qual ocorre nas narrativas do fantástico (FURTADO, 1980). Nesse sentido, pretendemos demonstrar como “The Fascination of the Pool” pode ser lido por meio dessa perspectiva, demonstrando nuances até então pouco observadas da obra da autora, e possibilitando, assim, o enriquecimento tanto dos estudos de literatura fantástica quanto dos relacionados aos contos/à produção de Virginia Woolf. Referências: BENZEL, Kathryn; HOBERMAN, Ruth (Ed.). Trespassing Boundaries. New York: Palgrave Macmillan, 2004. CESERANI, Remo. O fantástico. Tradução: Nilton Cezar Tripadalli. Londrina: Editora UFPR, 2006. DICK, Susan. Introduction. In: WOOLF, Virginia. The Complete Shorter Fiction of Virginia Woolf. New York: Harvest Book, 1999. FURTADO, Filipe. A construção do fantástico na narrativa. Lisboa: Livros Horizonte, 1980. SKRBIC, Nena. Wild Outbursts of Freedom: Reading Virginia Woolf’s Short Fiction. Westport: Praeger Publishers, 2004. ROAS, David. A ameaça do fantástico: Aproximações teóricas. Tradução: Julián Fuks. São Paulo: Editora Unesp, 2014. WOOLF, Virginia. Objetos Sólidos. Tradução: Hélio Pólvora. São Paulo: Siciliano, 1992. WOOLF, Virginia. The Complete Shorter Fiction of Virginia Woolf. Edited by Susan Dick. New York: Harvest Book, 1999. EXPERIMENTANDO COM O QUARTO DE JACOB: INOVAÇÕES MODERNISTAS NO TERCEIRO ROMANCE DE VIRGINIA WOOLF Caroline Resende Neves, Rossana Pinheiro-Jones Resumo: O quarto de Jacob completa 100 anos de publicação neste ano, e visando celebrar esta importante obra para a literatura modernista, bem como explorar a interseccionalidade entre escrita e pintura, compartilhamos nossa análise das características inovativas que Virginia Woolf usou em seu terceiro livro. Esta foi sua primeira obra a ser publicada de forma independente, através de sua própria editora Hogarth Press, e este fato contribuiu para o sentimento de liberdade que a autora sentiu ao criar O quarto de Jacob. Afinal de contas, ela não deveria mais se submeter às normativas de escrita impostas por seu meio irmão e editor, Gerald Duckworth, responsável pela publicação dos primeiros livros e escritos de Woolf. Este fato desempenhou um papel importante para a busca pela criação de um novo formato para a ficção, tal qual era o desejo de Woolf. Pretendemos apresentar alguns destes aspectos na composição da obra e os experimentos ali presentes que fizeram com que esta obra fosse considerada modernista. Além disso, inspiradas pela palestra de Sarah Latham Phillips sobre a influência das artes visuais nos primeiros contos de Woolf, buscamos extender essa observação para O quarto de Jacob, discutindo similaridades entre as escolhas que Woolf fez para sua criação narrativa e quadros de vanguarda, tais quais obras de sua irmã Vanessa Bell, de pintores pós-impressionistas e até mesmo cubistas. Referências: BRIGGS, Julia. Virginia Woolf: an inner life. [Boston]: Houghton Mifflin Harcourt, 2006. CUBISM. In: ENCYCLOPEDIA Britannica. [S. l.], 2021. Disponível em: https://www.britannica.com/art/Cubism. Acesso em: 27 mar. 2022. ?CUBISM. In: TATE, Londres, c2022. 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Se, como as leituras vitalistas de Woolf vêm revelando (Braidotti: 2011; Ryan: 2013), a “vida comum que é a vida real” demanda novos enquadramentos do mito do indivíduo moderno, essa vida comum também enseja um reenquadramento daquilo que se entende por objeto de um sujeito da representação. Não por acaso, a literatura modernista em geral e a escrita de Virginia Woolf em particular são fontes tanto para questionamentos do antropoceno, que encontramos em Peter Adkins (2018), por exemplo, quanto para o que Bill Brown chama de Thing Theory, duas perspectivas neomaterialistas contemporâneas que serão exploradas nesta apresentação para nos aproximarmos da coisa (modernista) em si. E, se “nós somos a coisa em si” (Woolf: 1976, p. 72), como Woolf nos diz ao final de sua carreira em “A Sketch of the Past”, este trabalho também pensará de que maneira a escrita woolfiana produz “reorientações queer” (Ahmed: 2006) da relação sujeito-objeto em encontros com as coisas do/no mundo. Etimologicamente, "thing" já é em si um encontro, como diz Heidegger (1971). O que poderia mudar na nossa leitura de Woolf, então, se entendêssemos "ser a coisa em si" como "ser um encontro em si" e, ao mesmo tempo, "ser a matéria em si"? Referências: ADKINS, Peter. Bloomsbury and Nature. In: Ryan, Derek; Ross, Stephen (Eds). The Handbook to the Bloomsbury Group. London: Bloomsbury Academic, 2018. p. 225-238 AHMED, Sara. Queer Phenomenology: Orientations, Objects, Others. Durham & London: Duke University Press, 2006. BROWN, Bill. A Sense of Things: The Object Matter of American Literature. Chicago: The Chicago University Press, 2015. BROWN, Bill. Other Things. Chicago: The Chicago University Press, 2015. BROWN, Bill (Ed.). Things. Chicago: The Chicago University Press, 2004. HEIDEGGER, Martin. Poetry, Language, Thought. Translated by Albert Hofstadter. New York: Harper Perennial Modern Classics, 2001. [1971] MAO, Douglas. Solid Objects: Modernism and the Test of Production. 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Ao folhar as páginas de uma narrativa wolfiana, multiplicam-se as citações de outras obras literárias, peças teatrais ou composições musicais. Pode-se inicialmente pensar que se trata de um reflexo do interesse que Woolf cultivava por todos os campos do saber. Entretanto, sabemos que a referência a uma obra de arte inserida em um texto literário desempenha não apenas uma função mimética, mas traz consigo um universo semântico que configura a leitura da narrativa em que foi colocada. O objetivo deste trabalho é analisar a relação entre a evocação do drama wagneriano Siegfried (1876) e a caraterização de Kitty Malone no romance Os Anos (1937) de Virginia Woolf. Primeiramente, com base na teoria músico-literária proposta por Werner Wolf em The Musicalization of Fiction: A Study in the Theory and History of Intermediality (1999), faremos algumas observações sobre a obra de Virginia Woolf e a música. Em seguida, apoiando-nos nas considerações sobre a evocação musical desenvolvidas por Rodney Stenning Edgecombe em ¨Melophrasis: Defining a Distinctive Genre of Literature/Music Dialogue¨ (1993), esclareceremos em que medida a evocação de uma peça musical pode ter influência na construção do sentido de uma narrativa e, em particular, na caraterização de uma personagem. Por fim, realizaremos uma leitura e a uma análise músico-literária dos parágrafos do romance em que o drama wagneriano Siegfried é descrito pelo ponto de vista de Kitty Malone. Referências: CONTRAPONTO. In: Dicionário infopédia da Língua Portuguesa. Porto: Porto Editora. Disponível em: https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa-aao/contra-ponto. Acesso em: 7 jan. 2022. EDGECOMBE, RODNEY STENNING. Melophrasis: Defining a Distinctive Genre of Literature/Music Dialogue. Mosaic: A Journal for the Interdisciplinary Study of Literature, v. 26, n. 4, p. 1– 20, 1993. FANTIN-EPSTEIN, M.-Bernadette. 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Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982. A IMPORTÂNCIA DA SENTENÇA DE JANE AUSTEN EM UM TETO TODO SEU, DE VIRGINIA WOOLF Ernesto Dias e Souza Resumo: Esta pesquisa tem como tema a presença significativa de Jane Austen (1775-1917), uma das maiores romancistas da Literatura Inglesa, na escrita da autora modernista Virginia Woolf (1882-1941). Em seus romances, diários, cartas, biografias e ensaios, é notoriamente perceptível como a obra de Jane Austen, uma escritora que se manteve fiel ao seu estilo de escrita e à relevância de conteúdo de suas obras, reverbera enquanto paradigma de excelência acerca de produções literárias de qualidade. Este estudo propõe uma reflexão sobre o conceito de sentença feminina de Austen no ensaio Um teto todo seu, de 1929, no qual Woolf destaca o fato de que a literatura escrita por mulheres salienta dois importantes fatores: a experiência e a herança das autoras em um âmbito histórico e, por essa razão, o peso, o ritmo e o passo de uma escrita masculina, em termos de conteúdo e estilo, se tornam inadequados. Nesse texto, Woolf ainda destaca o fato de que Charlotte Brontë e George Eliot, diferentemente de Jane Austen, por exemplo, fracassaram ao tentar empregar uma linguagem própria a fim de exteriorizar o que pretendiam. Antes de publicar Um teto todo seu, Woolf dedicou quatro ensaios para a autora de Emma: “Jane Austen”, de 1913, “Jane Austen and the Geese”, de 1920, “Jane Austen practising”, de 1922, e “Jane Austen at Sixty,”, de 1923. Referências: AUERBACH, Emily. The geese vs. the “Niminy Piminy Spinster”: Virginia Woolf defends Jane Austen. Persuasions On-Line, v. 29, n. 1, Winter 2008. Disponível em: https://jasna.org/persuasions/online/vol29no1/auerbach.html. Acesso em: 04 maio 2022. LEE, Judith. “Without hate, without bitterness, without fear, without protest, without preaching”: Virginia Woolf reads Jane Austen. Persuasions OnLine, n. 12, p. 111-116, 1999. Disponível em: https://www.jasna.org/persuasions/printed/number12/lee.htm. Acesso em: 04 maio 2022. SOARES, Rebecca D. Consistent inconsistencies: Virginia Woolf on Jane Austen. Ann Arbor: University of Michigan, 2007. Disponível em: https://lsa.umich.edu/content/dam/englishassets/migrated/honors_files/Soares%20RebeccaConsistent%20Inconsistencies%20Virginia%20Woolf%20on%20Jane%20Austen.pdf. Acesso em: 04 maio 2022. WOOLF, Virginia. A room of one’s own and Three guineas. London: Penguin, 1993. WOOLF, Virginia. Jane Austen [1913]. In: WOOLF, Virginia. Women & writing. Introduction Michèle Barrett. London: The Women’s Press, 1979. p. 109-120. WOOLF, Virginia. 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Compreendendo a arte da escrita pelas lentes do coletivo e da multiplicidade, ambas escreveram ficção como quem pretendia expandir o alcance das palavras e ampliar as metáforas que delas poderiam surgir. Este ensaio pretende investigar alguns dos pontos de contato entre Woolf e Le Guin, pensando em particular a conversa entre os escritos de não-ficção, “Sr. Bennett e Sra. Brown” (1924), escrito por Woolf, e a resposta póstuma de Le Guin no texto “Ficção Científica e a Sra. Brown” (1986). O desenvolvimento da segunda parte do ensaio se detém sobre as críticas de Woolf e Le Guin ao conceito de heroísmo, bem como as propostas de reformulação da narrativa “primordial” do herói nos termos de uma interdependência fundamental para a vida em sociedade, para a valorização da diferença (BUTLER, 2020; BRAIDOTTI, 2011). Assim sendo, exploro na seção final alguns aspectos dos romances A Floresta é o nome do Mundo (1976) e A Curva do Sonho (1971), de Le Guin, ao lado do Quarto de Jacob (1922), de Woolf. Referências: BRAIDOTTI, Rosi. Nomadic Theory: The portable Rosi Braidotti. New York: Columbia University Press, 2011. BUTLER, Judith. The Force of Non-Violence. London: Verso, 2020. E-book Edition. HARAWAY, Donna. Staying with the trouble: making oddkin in the Cthulucene. Durham: Duke University Press, 2016. LE GUIN, Ursula K. “Carrier-Bag Theory Fiction” [1986]. IN: Dancing at the Edge of the World. New York: Grove Press, 1989. _________________. Science-Fiction and Mrs. Brown. IN: The Language of the Night: Essays on Fantasy and Science Fiction. New York: Harper Perennial, 1993. _________________. The Word for World is Forest (1972). Acesso em <theanarchistlibrary.org> PINHO, Davi. A conversa como um “método” filosófico em Virginia Woolf. In: PINHO, D.; OLIVEIRA, M.; NOGUEIRA, N. (Orgs.). Conversas com Virginia Woolf. Rio de Janeiro: Ape’ku, 2020. p. 11-31 WOOLF, Virginia. Ao Farol [1927]. Trad. Tomaz Tadeu. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2013. ______________. O quarto de Jacob [1922]. Tomaz Tadeu (trad.). Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2019. ______________. Pensamentos Sobre a Paz Durante um Ataque Aéreo [1940]. In: WOOLF, Virginia. As mulheres devem chorar... ou se unir contra a guerra: patriarcado e militarismo. Trad. Tomaz Tadeu. Belo Horizonte: Autêntica, 2019. p. 123-129. ______________. Três Guinéus [1938]. Trad. Tomaz Tadeu. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2019. ______________. “Mr. Bennett and Mrs. Brown” [1924]. Acesso em: http://www.columbia.edu/~em36/MrBennettAndMrsBrown.pdf UMA INTELECTUAL DE SEU TEMPO: VIRGINIA WOOLF E O CAMPO LITERÁRIO Gabriela Monteiro da Costa Resumo: É inegável a importância de Virginia Woolf para os estudos sobre gênero e teoria feminista, assim como sua rica contribuição para o mundo da letras, em especial ao modernismo inglês. Além de romancista, Woolf foi uma figura chave no mundo intelectual da primeira metade do século XX, desenvolvendo outras profissões, tais como, editora e tradutora. Comumente colocada no lugar comum da “mulher à frente de seu tempo”, Woolf foi, na realidade, uma intelectual que respondeu e propôs questões referentes ao seu período, marcado por uma longa e importante transformação social e mental. Em 1917, juntamente com seu marido Leonard Woolf, Virginia fundou a editora Hogarth Press. Iniciada com o objetivo de publicar obras de “mérito”, o casal de editores trás a luz autores como Katherine Mansfield, T.S. Eliot, Freud, além de parte significativa da obra da própria Woolf. Portanto, além de sua atuação como escritora, deve-se levar em consideração seu desempenho para que obras fundamentais do modernismo inglês viessem a público. Este artigo busca investigar as relações sociais e históricas que proporcionaram a consolidação dessa importante intelectual para o mundo das letras. Neste sentido, utilizo o conceito cunhado por Angela de Castro Gomes e Patricia Santos Hansen, de “intelectualmediadora”, por entender que Woolf realizou esse movimento entre a produção de ideias e a exposição delas, tendo em vista sua posição como escritora/editora na Hogarth Press. Da mesma forma, o campo literário inglês da primeira parte do século XX, na qual a autora estava inserida, será aqui analisado. Por fim, construindo esta análise a partir da perspectiva microhistória, busco explorar através de Woolf as relações intelectuais que se estabeleciam naquele período, levando em consideração as demandas sociais e o gênero como elementos fundamentais. Referências: BATTERSHILL, Claire. Biography and Autobiography at the Hogarth Press. Tese (Doutorado em Filosofia). Departamento de Inglês, Universidade de Toronto, Toronto, 2012. BENJAMIN, Walter. A modernidade e os modernos. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1975. BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. BOURDIEU, Pierre. As regras da arte: gênese e estrutura do campo literário. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. ________________. Coisas ditas. São Paulo: Brasiliense, 2004. ________________. Sociologia. (Org.) Renato Ortiz. São Paulo: Ática, 1983. BRADBURY, Malcolm. O mundo moderno: dez grandes escritores. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. CANDIDO, Antonio. 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Rio de Janeiro/São Paulo: Paz e Terra, 2017. PINHO, Davi. Imagens do feminino na vida e obra de Virginia Woolf. 2004. 168f. Tese (Doutorado em Letras) – Centro de Educação e Humanidades, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. RÉMOND, René. Por uma história política. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1996. WILLIAMS, Raymond. O campo e a cidade: na história e na literatura. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. ___________________. Política do modernismo: contra os novos conformistas. São Paulo: Unesp, 2011. _____________________. A fração Bloomsbury. Plural, USP. V. 6, p. 139-168, 1 sem. 1999. WOOLF, Leonard. Beginning again: an autobiography of the years 1911-1918. London: Hogarth Press, 1972. WOOLF, Virginia. Profissões para mulheres e outros artigos feministas. Porto Alegre: L&PM, 2016. _______________. Um teto todo seu. São Paulo: Círculo do livro, 1990. _______________. Três Guinéus. Belo Horizonte: Autêntica, 2019. _______________. Um esboço do passado. São Paulo: Nós, 2020. _______________. Mulheres e ficção. São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2019. DO ENSAIO AO ESPETÁCULO: VIRGINIA WOOLF E O TEATRO Laís Rodrigues Alves Martins Resumo: Virginia Woolf (1882-1941) manteve, ao longo da vida, uma prolífica relação com o teatro e a dramaturgia. Passou a frequentar espetáculos ainda jovem, e não tardou a esboçar, em um jornal doméstico, suas primeiras impressões acerca dessa arte que tanto a fascinava. Mais tarde, quando já havia começado a redigir artigos, resenhas e ensaios para periódicos ingleses, essa temática ressurge, haja vista que encontramos, em seus compêndios jornalísticos, um leque variado de textos que versa sobre o teatro em suas mais diversas facetas: seja sobre o texto dramático desvinculado do espetáculo; sobre as peculiaridades e particularidades de representações teatrais especificas; sobre adaptações teatrais de textos literários ou, ainda, sobre questões referentes aos âmbitos da representação teatral, da performance, e, principalmente, da relação entre espectadores e atores. Ainda que esse interesse da autora pelo teatro e pela dramaturgia se faça presente não apenas em sua produção ensaística, mas também em seus diários, cartas e até mesmo em parte de sua produção literária, poucos foram, até o momento, os teóricos que investigaram a relação da inglesa com esses temas, embora a autora tenha produzido duas versões de uma peça denominada Freshwater (1923; 1935), e pelo menos um livro que nutre uma relação direta com o teatro e a dramaturgia, qual seja a obra póstuma Between the Acts (1941). Diante disso, a presente comunicação objetiva ilustrar como o teatro ocupa uma posição significativa para Woolf, e como alguns dos apontamentos e reflexões desenvolvidos pela autora em seus ensaios, resenhas e artigos ecoam em Between the Acts. Essa conjuntura parece sugerir que a londrina não era apenas uma espécie de “pensadora do teatro e da dramaturgia”, mas também uma escritora que, embora tenha ficado majoritariamente conhecida no cenário das letras graças a romances, alçava experimentalismos no campo teatral literário. Referências: BEER, Gillian. Introduction. In_____. Between the Acts. Ed. Stella McNichol. Penguin Classics, 2019. Edição eletrônica. GILBERT, Sandra; GUBAR, Susan. What Is the Meaning of the Play? Virginia Woolf and the History of the Future. In: _____. No Man’s Land: The Place of the Woman Writer in the Twentieth Century. New Haven; London: Yale University Press, 1994, v. 3 (Letters from the Front). PUTZEL, Steven D. Virginia Woolf and the theater. Maryland: Fairleigh Dickinson University Press, 2012. ROSENFELD, Anatol. O Teatro Épico. Editora Perspectiva, 2019. Edição eletrônica. SARRAZAC, Jean-Pierre. O Futuro do Drama: escritas dramáticas contemporâneas. Trad. Alexandra Moreira da Silva. Porto: Campo das Letras, 2002. UBERSFELD, Anne. Para ler o teatro. Trad. José Simões. São Paulo: Perspectiva, 2005. WOOLF, Virginia. Between the acts. Ed. Stella McNichol. Penguin Classics, 2019. Edição eletrônica. _____. Ficção moderna. In: _____. O valor do riso e outros ensaios: Virginia Woolf. Trad. Leonardo Froés. 1.ª. ed., São Paulo: Cosac Naify, 2014. _____. Poesia, Ficção e o Futuro. In: _____. O valor do riso e outros ensaios: Virginia Woolf. Trad. Leonardo Froés. 1.ª. ed., São Paulo: Cosac Naify, 2014. _____. Entre os atos. Trad. Lya Luft. São Paulo: Novo século, 2008. _____. Poetry, Fiction and the Future. In: _____. The Essays of Virginia Woolf. 1925-1928. Vol. 4. Ed. Andrew McNeillie. New York: Harcourt Brace Jovanovich, 1994. _____. Notes on an Elizabethan Play. In: _____. The Essays of Virginia Woolf. 1925-1928. Vol. 4. Ed. Andrew McNeillie. New York: Harcourt Brace Jovanovich, 1994. _____. Plays and Pictures. In: _____. The Essays of Virginia Woolf. 1925-1928. Vol. 4. Ed. Andrew McNeillie. New York: Harcourt Brace Jovanovich, 1994. _____. Mr. Bennett and Mrs. Brown. In: _____. The Essays of Virginia Woolf. 1919-1924. Vol. 3. Ed. Andrew McNeillie. New York: Harcourt Brace Jovanovich, 1988. _____. The Opera. In: _____. The Essays of Virginia Woolf. 1904-1912. Vol 1. Ed. Andrew McNeillie. New York: Harcourt Brace Jovanovich, 1986. _____. The Poetic Drama. In: _____. The Essays of Virginia Woolf. 1904-1912. Vol 1. Ed. Andrew McNeillie. New York: Harcourt Brace Jovanovich, 1986. _____. The Diary of Virginia Woolf. 1925-1930. Vol 3. Ed. Anne Olivier Bell & Andrew McNeillie. New York: Harcourt Brace Jovanovich, 1981. O ROMANCE NO PÓS-GUERRA: O QUE SOBREVIVE DO MODERNISMO EM BETWEEN THE ACTS? Lucas Leite Borba, Maria Aparecida de Oliveira Resumo: Em seu último romance, Between the Acts (1941), Virginia Woolf interpela-nos com uma obra múltipla: somos leitores levados pela voz narrativa woolfiana e espectadores conduzidos pela direção da personagem Ms. La Trobe em seu pageant, que reconta a história da Inglaterra. O recorte deste trabalho concentra-se na metalinguagem da criação literária por mulheres, tendo como objeto de análise a personagem Ms. La Trobe. O foco é observar de que maneira os prospectos de Woolf sobre a literatura, enquanto discurso político e estético, amadurecem nessa última obra. Dessa forma, Ms. La Trobe será o ponto de partida como personificação desse modo de escrita subversivo, fragmentado e poético, que nasce já nos contos publicados por Woolf em 1917, como The Mark on the Wall, que é alicerce para a publicação do seu primeiro romance experimental em 1922, e um dos percussores do modernismo inglês, Jacob’s Room. Para abarcar tais discussões, conta-se com os pressupostos teóricos da própria Virginia Woolf em Character in Fiction (1924) e Modern Fiction (1919), além de Toril Moi (1991), Jane Goldman (2006), Susan Sniader Lanser (1992), Patricia Laurence (1991) e Maria Aparecida de Oliveira (2017). Outrossim, almeja-se rediscutir o último romance de Woolf a partir dos enlaces que existem nas suas produções tanto ensaísticas, quanto ficcionais, conectando principalmente as obras que fizeram parte do início do seu experimentalismo com Between the Acts. Referências: ATTIE, Juliana. Vida e morte em diálogo com a voz narrativa, o tempo e o espaço em Mrs. Dalloway, To The Lighthouse e Between the Acts de Virginia Woolf. Tese (Tese em Estudos Literários). São Paulo: UNESP, 2015. AZEREDO, Genilda. Metaficção e lirismo em “Um romance não escrito” , de Virginia Woolf. In OLIVEIRA, Maria A. de. MAROUVO, Patricia. BORBA, Lucas Leite (org). A prosa poética de Virginia Woolf. Rio de Janeiro: Ape’Ku, 2021. GILBERT, Sandra M. GUBAR, Susan. The madwoman in the attic. New York: Yale University Press, 2020. GOLDMAN, Jane. The Cambridge Introduction to Virginia Woolf. Cambridge: Cambridge University Press, 2006. LAURENCE, Patricia Ondek. The reading of silence – Virginia Woolf in the English tradition. Stanford: Stanford University Press, 1991. LANSER, Susan Sniader. Fictions of Authority: Women Writers and Narrative Voice. New York: Cornell University Press, 1992. MARDER, Herbert. Feminismo e arte. Tradução de Fernando Cabral. Belo Horizonte: Interlivros, 1975. MOI, Toril. Sextual textual politics. London: Routledge, 1991. OLIVEIRA, Maria Aparecida de. Representações do feminino na obra de Virginia Woolf. Jundiaí: Paco Editorial, 2017. SHOWALTER, Elaine. A crítica feminista no território selvagem. Tradução de Deise Amaral. In.: HOLLANDA, Heloisa Buarque de. Tendências e impasses do feminismo como crítica. Rio de Janeiro: Rocco, 1994. WOOLF, Virginia. Entre os atos. Tradução de Lya Luft. São Paulo: Editora Novo Século, 2008. ______. Ficção Moderna In. Mulheres e ficção. Tradução de Leonardo Froés. São Paulo: Companhia das Letras, 2020. ______. O quarto de Jacob. Tradução de Tomaz Thadeu. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2009. ______. The character in fiction. In. Selected Essays. New York: Oxford University Press, 2009. ______. Três guinéus. Tradução de Tomaz Thadeu. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2020. ______. Um teto todo seu. Tradução: Bia Nunes de Sousa. São Paulo: Tordesilhas, 2014. A TRÍADE FEMININA EM AS ONDAS DE VIRGÍNIA WOOLF Ludmila Loquette Garcia Resumo: Este estudo busca analisar as relações entre as três personagens femininas apresentadas no romance As Ondas da autora britânica Virginia Woolf e o conceito do que essas personagens assimilam sobre o que é ser mulher. A obra literária acompanha as personagens Susan, Jinny e Rhoda, seus questionamentos internos e pessoais, e seus sentimentos se entre essas três mulheres, como se elas fossem atadas umas as outras e, por mais diferentes que elas sejam, suas vivências ecoam e são absorvidos pelas demais personagens e essas perspectivas são alternadas entre elas. As Ondas tem um enredo que se redireciona a todo o momento, a atmosfera espacial, o “eu” das personagens, tudo está em constante fluidez, sem se redirecionar e descobrir novas direções é impossível que as personagens sobrevivam e continuem. O romance trata sobre a vastidão do mundo e da vida e também sobre a nossa vastidão, como seres humanos inseridos nele. O romance está repleto de ritos de passagem, desde a infância até a velhice, existem alguns momentos em que a narrativa apresenta características cíclicas, alternando em ordem os monólogos interiores de Susan, que se dedica para a vida em família, Jinny, que opta por viver para si mesma e Rhoda, que nem mesmo quer viver, não se reconhece nem como mulher e nem como um ser humano, e, cada uma delas, vê na outras qualidades e defeitos, que acabam construindo quem elas são, inclusive chegando ao ponto de saberem exatamente o que as outras estão pensando e sentindo, transparecendo ser uma só consciência feminina, e esse é foco do estudo proposto. Referências: GOLDMAN, Jane. The Cambridge Introduction to Virginia Woolf. Cambridge: Cambridge University Press, 2006. WOOLF, Virginia. A arte do romance. Tradução Denise Bottmann. Porto Alegre, RJ: Editora L&PM Pocket, 2019. WOOLF, Virginia. A leitora incomum. Tradução de Emanuela Siqueira. Curitiba, RS: Editora Arte & Letra, 2020. WOOLF, Virginia. As Ondas. Tradução Lya Luft. Osasco, SP: Editora Novo Século, 2011. WOOLF, Virginia. Um teto todo seu. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro, RJ: Editora Nova Fronteira, 2019. A MODERNIDADE EM LAURA BROWN: THE HOURS, DE MICHAEL CUNNINGHAM, ENTRE A FICÇÃO E OS ENSAIOS DE VIRGINIA WOOLF Luís Antônio Soares da Silva Resumo: O romance The Hours (1998), de Michael Cunningham – apropriação da obra de Virginia Woolf – narra um dia singular da vida de três mulheres, dentre as quais Laura Brown, dona de casa em conflito com os papéis impostos ao sexo feminino em meados do século XX. Esta personagem, cujas configurações foram extraídas da modernidade do pensamento de Woolf, é manifesto do ideal feminista da escritora inglesa que vislumbrava na morte do anjo do lar emancipação e libertação das mulheres dentro de uma sociedade sob dominação masculina. Mrs. Brown contesta, assim, uma realidade engendrada por opressões e sanções a um sexo e privilégios ao outro, bem como protesta contra as instituições sociais que auxiliam na manutenção do patriarcado. Este dia ímpar, permeado pelo que Woolf nomeou “moments of being”, será pontuado por questionamentos: da heterossexualidade compulsória ao amor entre mulheres, do matrimônio ao mito do amor materno. Laura empresta sobrenome do ensaio Mr. Bennett and Mrs. Brown (1924), em que Woolf reflete acerca das personagens não serem centralidade e essência dos romances, e polemiza ao descrever a realidade sob a ótica da modernidade. Em consonância com as ideias inovadoras e, dessarte, polêmicas, a heroína de Cunningham também desafia as convenções ao buscar para si destino que não comungava com a biologia do patriarcado, orientando as mulheres a relacionarem-se sexualmente com homens para fins de reprodução. Laura Brown questiona tabus e exigências do patriarcalismo e exige do meio social opção de preterir a morte em favor da vida, ainda que a alto custo. Nossa análise será feita à luz dos estudos de Castells, Badinter, Rich, Beauvoir e da própria Woolf. Referências: BADINTER, Elisabeth. Um amor conquistado: o mito do amor materno. Trad. Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. BEAUVOIR, Simone de. O Segundo sexo. Trad. Sérgio Milliet. 5ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2019, vol. I. ______. O Segundo sexo. Trad. Sérgio Milliet. 5ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2019, vol. II. BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina. Trad. Maria Helena Kühner. 11ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2012. CASTELLS, Manuel. O poder da identidade: a era da informação. Trad. Klauss Brandini Gerhardt. 9ª ed. São Paulo/Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2018, vol. II. CUNNINGHAM, Michael. The Hours. New York: Farrar, Straus and Giroux, 1998. ______. As Horas. Trad. Beth Vieira. 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VIRGINIA WOOLF E O ECOFEMINISMO Maria Aparecida de Oliveira Resumo: A presente comunicação tem como objetivo analisar as relações entre o ecofeminismo e a obra de Virginia. A presente pesquisa representa um eixo dentro de uma pesquisa maior sobre a obra da autora e o feminismo em que analisamos um diálogo entre seu projeto político e seu discurso estético. O primeiro manifesta-se em seus ensaios políticos sendo eles A Room of One’s Own e Three Guineas e o segundo sendo seus contos e romances. O que nos interessa ao abordar o ecofeminismo é a busca de um novo tipo de epistemologia, uma que desafie o poder masculino da nossa sociedade capitalista e patriarcal, em busca de igualdade e justiça ambiental. A pesquisa busca responder os seguintes questionamentos: i. O que é ecofeminismo? ii. Quando foi definido? iii. Quais são as principais lutas do ecofeminismo? Como podemos conectar ecofeminismo com a obra de Virginia Woolf? Para responder algumas dessas questões, a pesquisa será informada pelas ideias de Karen J. Warren, em Ecofeminist Philosophy: A Western Perspective on what it is and why it matters, de Rebecca Pearse e Raewyn Connell, em Gender: A Global Perspective e de Ann B. Dobie no texto “Ecocriticism, Literature goes green” no livro Theory into Practice: An Introduction to Literary Criticism. Referências: BUTLER, J. Problemas de Gênero. Feminismo e Subversão da Identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008. CONNELL, Raewyn & PEARSE, Rebecca. Gênero e mudança Ambiental. In: Gênero: Uma perspectiva global. Trad. Marília Moschkovich. São Paulo: nVersos, 2015. p. 221-250 CRAMER, P. Virginia Woolf and Sexuality. In: The Cambridge Companion to Virginia Woolf. Cambridge: Cambridge University Press, 2010. DAUGHERTY, B. R. & PRINGLE, M.B. Approaches to teaching Woolf’s To the lighthouse. New York: MLA, 2001. DIBATTISTA, M. Virginia Woolf's Major Novels: The Fables of Anon. New Haven: Yale UP, 1980. DOBIE, Ann B. Ecocriticism, Literature goes green? In: Theory into Practice: An Introduction to Literary Criticism. New York: Cengage Learning, 2015. p. 241-254. GUBAR, S.; GILBERT, S. The madwoman in the attic. New Haven: Yale University Press, 2000. Warren, K. (2000), Ecofeminist Philosophy. A Perspective on What it is and Why it Matters, Maryland: Rowman & Littlefield. WOOLF, V. The Voyage Out. Oxford: Oxford University Press, 2009a. ______. Night and Day. Oxford: Oxford University Press, 2009b. ______. The Waves. Introd. Gillian Beer. Oxford: Oxford University Press, 2008a. ______. Between the Acts. Introd. Frank Kermode. Oxford: Oxford University Press, 2008b. ______. Contos Completos. Trad. Leonardo Fróes. São Paulo: Cosac Naify, 2005. ______. Um teto todo seu. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2004a. ______. To the Lighthouse. London: Vintage, 2004b. "A VIDA DOS OBSCUROS": O RETORNO DOS ESQUECIDOS PELA HISTÓRIA ATRAVÉS DA FICÇÃO DE VIRGINIA WOOLF E HÉLÈNE CIXOUS Mariana Muniz Pivanti Resumo: Neste trabalho, nos debruçaremos sobre o Life Writing – ou a “escrita de vida”, como chamaremos em português – das autoras Virginia Woolf e Hélène Cixous para analisarmos como trabalham o gênero biográfico. Perceberemos que ambas desafiam as convenções do gênero e se aproximam da escrita poética, se libertando das restrições de datas e fatos, como defende Woolf em seu ensaio "The New Biography" (1927). Argumentaremos também, que ao contrário das biografias tradicionais, Woolf e Cixous narram a vida dos sujeitos silenciados pela História monumental, dos outros históricos que vivem à margem da narrativa oficial histórica. Como declara a pesquisadora Laura Marcus, em sua obra, Woolf se interessa pela vida dos anônimos e esquecidos (2004, p. 120). É o que parece ocorrer em seu ensaio "Lives of the Obscure", publicado no primeiro Common Reader (1925), no qual Woolf percorre a vida de famílias e pessoas comuns, e conclui que os desconhecidos, ao contrário de manterem suas identidades separadas e únicas, se unem como uma experiência coletiva (1925, p. 108). Cixous parece demonstrar o mesmo em seu Manne: Aux Mandelstams Aux Mandelas (1988) ao unir as vidas do poeta russo Ossip Mandelstam e do líder político Nelson Mandela, ambos perseguidos e silenciados por seus respectivos governos. De fato, o silêncio dos esquecidos penetra a obra das duas e é preenchido pela ficção. Veremos como Woolf cria o paradigma ficcional de Judith Shakespeare para trazer à tona as poetas silenciadas do passado (1929), e como Cixous ficcionaliza a vida dos parentes judeus de sua mãe, mortos na Alemanha Nazista, em Osnabruck Station to Jerusalem (2016) para fazê-los retornar à vida. Se dialogarmos com os conceitos de História de Walter Benjamin, notaremos que ambas celebram uma “tradição dos oprimidos” (1985, p. 226) ao perseguir os fantasmas da vida real, revivendoos através da ficção. Referências: BENJAMIN, Walter. Magia e Técnica, Arte e Política. São Paulo: Editora Brasiliense, 1985. CIXOUS, Hélène. Manne: Aux Mandelstams Aux Mandelas. Paris: Des Femmes, 1988. CIXOUS, Hélène. Osnabrück Station to Jerusalem. New York: Fordham University Press, 2020, [2016]. MARCUS, Laura. Writing Lives: Orlando, The Waves and Flush. Em: Virginia Woolf: Writers and their Works, 2004, p. 116 – 149. WOOLF, Virginia. Lives of the Obscure. Em: The Common Reader. New York: Harcourt, 1984, p. 106 – 133 [1925]. WOOLF, Virginia. The New Biography. Em: Selected Essays. Ed. David Bradshaw. Oxford: Oxford University Press, 2008, p. 95 – 100 [1927]. WOOLF, Virginia. A Room of One’s Own. London: Collector’s Library, 2014. [1929]. ENTRE O QUARTO SÓ PARA SI E A CASA DE TIJOLOS: NEGOCIANDO O PÚBLICO E O PRIVADO NOS DIÁRIOS DE CAROLINA MARIA DE JESUS E NOS DE VIRGINIA WOOLF Marília Dantas Tenório Leite Resumo: Compreendendo o diário como uma forma de escrita de vida e como uma prática autorreflexiva e intersubjetiva de autorrepresentação, o presente trabalho propõe a comparação da escrita diarística da escritora brasileira Carolina Maria de Jesus e da inglesa Virginia Woolf. Tendo como ponto de partida o local complexo ocupado pelos diários, frequentemente no limite entre literário e não literário, público e privado, ficcional e não ficcional, assumirei uma postura ética na análise empreendida, reconhecendo que devido ao entrelaçamento de vida e texto materializado nos diários, uma leitura feminista desses escritos deve necessariamente levar em consideração a posição ocupada pelas diaristas em sua cultura, reconhecendo as intersecçoes de gênero, classe e raça (CARTER, 2021). Através do estudo das entradas e visto que ambas utilizaram seus diários para refletir sobre sua vida literária, evidencio como a dicotomia público/privado é negociada pelas escritoras: se para Woolf o diário foi um quarto para si portátil (SHANNON, 2007) onde podia realizar experimentos longe dos olhos de um público imediato (SIMONS, 1990), para de Jesus o potencial do gênero (genre) é também evidenciado na medida em que possibilita a escrita àquelas a quem o direito de participar de maneira integral da esfera pública é negado (HENDERSON, 2019; RAK, 2020). Referências: CARTER, Kathryn. Feminist Interpretations of the Diary. In: BEN-AMOS, Batsheva; BENAMOS, Dan. The Diary: the epic of daily life. Bloomington: Indiana University Press, 2020. p. 35-55. HENDERSON, Desirée. How to read a diary. London: Routledge, 2019. SHANNON, Drew. The Deep Old Desk. The Diary of Virginia Woolf. Tese de doutoramento. Department of English and Comparative Literature, College of Arts and Sciences, University of Cincinnati, 2007. SIMONS, Judy. Diaries and Journals of Literary Women from Fanny Burney to Virginia Woolf. London: Palgrave, 1990. RAK, Julie. The diary among other forms of life writing. In: Ben-Amos, Bashteva & Ben-Amos, Dan (Eds.). The Diary: The epic of everyday life. Bloomington: Indiana University Press. 2020. O DEVIR MODERNISTA DA NARRATIVA WOOLFIANA A PARTIR DE "O QUARTO DE JACOB" Mellory Ferraz Resumo: O contexto histórico do início do século XX abalou o mundo em diversos âmbitos. Não sendo a arte capaz de se isentar, a nova conjuntura influenciou a obra de diversos escritores. Esse foi o caso de Virginia Woolf (1882-1941), que inclusive registrou em seus diários tal sensibilização de sua percepção de mundo. Em relação a seus livros, não à toa o protagonista de “O quarto de Jacob” (1922) morre em combate e deixa seu quarto mais vazio do que nunca, um dos personagens principais da obra “Mrs Dalloway” (1925) se suicida devido ao estresse pós-traumático quando retorna da Primeira Guerra Mundial a Londres e a segunda parte de “Ao farol” (1927) é toda dedicada aos efeitos da guerra sobre a casa da família que centraliza o enredo. Com tantas transformações culturais, o romance tradicional entrou em crise e o modernismo na literatura passou a estar em voga. Nesse cenário, podemos enxergar o livro “O quarto de Jacob” como um divisor de águas na obra de Woolf, já que seus romances anteriores têm um enquadramento tradicional e os seguintes se voltam cada vez mais para novas técnicas narrativas – algo que Woolf muito pensou e elaborou, como seus próprios diários também explicitam. O presente trabalho investiga esse crescente interesse de Woolf e o seu emprego paulatino de técnicas narrativas consideradas modernistas – especificamente as associadas ao fluxo da consciência –, sobretudo em um movimento comparativo entre “Noite e dia” (1919), “O quarto de Jacob” e “Mrs Dalloway”. Com esse propósito, leva-se em consideração, entre outras referências, textos de pensadores da obra de Woolf como Jean Guiguet, David Daiches e David Dowling, além de, em relação às técnicas narrativas analisadas, apoiar-se no trabalho de Robert Humphrey e Alfredo Leme Coelho de Carvalho. Referências: CARVALHO, Alfredo Leme Coelho de. Foco narrativo e fluxo da consciência. São Paulo: Editora Unesp, 2012. DAICHES, David. Virginia Woolf. Binghamton, NY: The Vail-Ballou Press Inc., 1942. DOWLING, David. Mrs. Dalloway: Mapping Streams of Consciousness. Boston: Twayne Publishers, 1991. GUIGUET, Jean. Virginia Woolf and her works. A Harvest Book, 1976. HUMPHREY, Robert. O fluxo da consciência. Recife: Editora McGraw-Hill do Brasil, 1976. JAMES, William. The Stream of Consciousness. In: Psychology, Chapter XI. Cleveland & New York, World, 1892. WOOLF, Virginia. Os diários de Virginia Woolf: Diário I (1915-1918). São Paulo: Editora Nós, 2021. WOOLF, Virginia. Os diários de Virginia Woolf: Diário II (1919-1923). São Paulo: Editora Nós, 2022. WOOLF, Virginia. Mrs Dalloway. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2012. WOOLF, Virginia. Noite e dia. Tradução Raul de Sá Barbosa. Osasco, SP: Novo Século Editora, 2008. WOOLF, Virginia. O quarto de Jacob. Tradução Lilian Jenkino. São Paulo: Grua, 2017. AS SOBREPOSIÇÕES INTERTEXTUAIS ENTRE O ROMANCE ORLANDO E O ENSAIO UM TETO TODO SEU, DE VIRGINIA WOOLF Nícea Helena de Almeida Nogueira Resumo: Escritos entre 1927 e 1929, o romance Orlando: uma biografia e o ensaio Um teto todo seu, ambos de Virginia Woolf, apresentam várias sobreposições na forma e no conteúdo. As mesmas técnicas narrativas – paródia, ironia e o jogo metaficcional autoconsciente – são utilizadas e os textos são similares quanto à temática e ao estilo. Neles, Woolf defende que o gênero é construído e não está ligado nem ao sexo e nem à identidade, o que reverbera nas discussões da crítica feminista atual. A estrutura de seis capítulos está presente no romance e no ensaio, assim como os personagens ficcionais que assumem a posição de narrador. O argumento de Um teto todo seu de que é necessário ter um espaço próprio para escrever e uma renda anual, se quiser produzir literatura de qualidade, foi também apresentado em Orlando por um personagem histórico. A discussão sobre androginia no ensaio tem seu paralelo com as personagens andróginas Orlando e Shelmerdine no romance. A partir da crítica literária especializada na autora, os dois textos são visitados na intenção de defender que, em sua obra, o significado de suas ideias percorre textos distintos e assume a função de consolidar o seu pensamento no que diz respeito às condições da produção artística de autoria feminina e ao questionamento necessário sobre o que seja gênero. Referências: BOEHM, Beth. Fact, fiction, and metafiction: blurred gen(d)res in Orlando and A room of one’s own. The Journal of Narrative Technique, v. 22, n. 3, p. 191-204, Fall, 1992. Disponível em: https://www.jstor.org/stable/30225368. Acesso em: 11 mar. 2022. CAPUANA, Laura R. “Orlando” and “A room of one’s own”, V. Woolf: a more in-depth analysis. LRC education: empower your knowledge. 12 maio 2018. Disponível em: https://lrcapuana.com/2018/05/12/orlando-and-a-room-of-ones-own-vwoolf-a-more-in-depth-analysis/. Acesso em: 10 nov. 2021. HANSON, Claire. Imaginary lives: Orlando and A room of one’s own. In: ______. Virginia Woolf [Women Writers]. London: Palgrave, 1994. p. 94-125. PINHO, Davi. Por uma poética da androginia em Virginia Woolf. Z Cultural, Rio de Janeiro, ano 12, n. 1, p. 1-11, jan./jun. 2017. Disponível em: http://revistazcultural.pacc.ufrj.br/por-uma-poetica-da-androginiaem-virginia-woolf/. Acesso em: 14 abr. 2022. ROSENBAUM, S. P. (ed.). Virginia Woolf Women and fiction: the manuscript versions of A room of one’s own. Oxford: The Shakespeare Head by Blackwell, 1992. THOMPSON, Nicola. Some theories of one's own: "Orlando" and the novel. Studies in the Novel, Denton, v. 25, n. 3, p. 306-317, Fall 1993. Disponível em: https://www.jstor.org/stable/29532955. Acesso em: 10 nov. 2021. WOOLF, Virginia. A room of one’s own and Three guineas. Introduction Michèle Barrett. London: Penguin, 1993. WOOLF, Virginia. Orlando: a biography. London: Penguin Classics, 2019. UMA LEITURA WOOLFIANA DE PERSUASÃO, DE JANE AUSTEN Patricia Marouvo Fagundes Resumo: Em Um teto todo seu (1929), Virginia Woolf traça uma tradição de escritoras mulheres na história da literatura inglesa, afirmando que futuras escritoras deveriam nelas se esmerar para pensar o futuro da ficção e da poesia. A sentença feminina de autoras como Jane Austen, por exemplo, é designada como a maneira pela qual, performática e discursivamente, romancistas conseguiram expressar as sensibilidades desenvolvidas no âmbito da esfera doméstica, já que a esfera pública estava reservada aos homens. De maneira bastante enigmática, Woolf sugere que a sentença feminina toma forma ao tentar capturar gestos (que sequer seriam registrados pela sentença masculina) por meio de palavras não ditas ou parcialmente ditas. A sentença de Jane Austen, mais especificamente, é tomada como exemplarmente feminina, dada sua capacidade para naturalmente fazer forma e conteúdo convergirem para uma unidade que desse fundamento à sua obra. Partindo dessas premissas, esta comunicação objetiva mapear a sentença feminina em Persuasão (1818), de Jane Austen, pensando, sob a lente woolfiana, suas técnicas literárias e a temática privilegiada. No ensaio “Jane Austen” (1925), Woolf sugere que esse romance poderia ser considerado uma obra de transição para a autora, argumentando que sua impaciência na construção de alguns tipos sociais assim como o desenvolvimento de uma sensibilidade poética voltada para a natureza revelam novos movimentos de sua escrita, cujos desdobramentos futuros só poderiam ser especulados dada a interrupção da carreira literária de Austen com sua morte em 1817. Desse modo, esta comunicação também objetiva refletir sobre essa característica peculiar a Persuasão, utilizando o romance Orgulho e preconceito (1813) como contraponto, uma vez que este pode ser considerado exemplar da estética austeniana. Referências: AUSTEN, Jane. Jane Austen’s Letters. Collected and edited by Deirdre La Faye. London: Oxford University Press, 2014. AUSTEN, Jane. Orgulho e preconceito. São Paulo: Penguin-Companhia das Letras, 2011. AUSTEN, Jane. Persuasão. São Paulo: Zahar, 2016. BERGSON, Henri. O riso - Ensaio sobre o significado do cômico. São Paulo: Edipro, 2018. BRIGGS, Julia. To the Women of the Future: A Room of One's Own. In: BRIGGS, Julia. Virginia Woolf - An Inner Life. London: Harcourt, 2005, p. 216-237. COLEBROOK, Claire. Irony. London: Routledge, 2004. MUDRICK, Marvin. Jane Austen – Irony as Defense and Discovery. Berkeley: University of California, 1968. MULLAN, John. What Matters in Jane Austen?: Twenty Crucial Puzzles Solved. London: Bloomsbury Publishing, 2014. SNAITH, Anna. Introduction. In: WOOLF, Virginia. A Room of One's Own and Three Guineas. London: Oxford Classics, 2015, p. 12-36. WOOLF, Virginia. A Room of One’s Own. New York: Harcourt Inc, 1989. WOOLF, Virginia. Craftsmanship. In: WOOLF, Virginia. Selected Essays. London: Oxford University Press, 2009, p. 85-91. WOOLF, Virginia. How Should One Read a Book?. In: WOOLF, Virginia. Selected Essays. London: Oxford University Press, 2009, p. 63-73. WOOLF, Virginia. Jane Austen. In: WOOLF, Virginia. The Common Reader – Volume 1. London: Vintage, 2003, p. 134-145. WOOLF, Virginia. Personalities. In: WOOLF, Virginia. The Moment and Other Essays. London: Harcourt, 1975, p. 167-172. WOOLF, Virginia. Phases of Fiction. In: WOOLF, Virginia. Granite & Rainbow. London: Harcourt, 1958, p. 93-145. WOOLF, Virginia. Women and Fiction. In: WOOLF, Virginia. Selected Essays. London: Oxford University Press, 2009, p. 132-139. MULHERES EM CONFLITO NOS PENSAMENTOS DE PAZ DURANTE UM ATAQUE AÉREO Rosângela Neres Resumo: Em 1940, Virginia Woolf escreve uma forte reflexão sobre o contexto instável da guerra. Pensamentos de paz durante um ataque aéreo, publicado postumamente, mostra as várias mulheres presentes naquele contexto: a que tem medo, a que chora, a que não tem um teto onde se abrigar, a que, apesar dos pesares, mantém os lábios e unhas carmesim. O ensaio é importante por desconstruir a mentalidade de que as mulheres estão alheias ao conflito, seus efeitos e consequências. A justificativa para uma pesquisa a respeito de Pensamentos de paz durante um ataque aéreo tem inevitável respaldo no momento de nossa contemporaneidade, onde ainda presenciamos o intuito de expansionismo territorial através da guerra e a situação das mulheres nele imersas. Nesse viés, este trabalho tem o objetivo de apresentar os questionamentos de Woolf acerca do contexto de guerra e os conflitos externos e internos do olhar feminino para sua causa e efeito, apontando o poder criador que as mulheres possuem e como poderiam desconstruir a mentalidade de superioridade e dominação masculinas. A fim de alcançar o objetivo proposto, a pesquisa parte da análise do espaço imposto pela Segunda Guerra, na segregação e tentativa de apagamento da mentalidade e posicionamento femininos, mesmo décadas após a chegada da modernidade, e seu reflexo na escrita de Pensamentos de paz. Dessa forma, fundamenta-se nos estudos de Vanessa Curtis (2005), Emily Dalgarno (2002), Jane Goldman (1998), Jane Marcus (1981), Lakoff e Johnson (1980), Maud Mannoni (1999), Michel Maffesoli (2003), dentre outros pesquisadores. Referências: CURTIS, Vanessa. As mulheres de Virginia Woolf. Trad. Tuca Magalhães. São Paulo: A Girafa, 2005. DALGARNO, Emily. Virginia Woolf and the Visible World. Cambridge, Cambridge University Press, 2002. GOLDMAN, Jane. The Cambridge Introduction to Virginia Woolf. Cambridge, Cambridge University Press, 2006. LAKOFF, George; JOHNSON, Mark. Metaphors We Live By. Chicago, University of Chicago Press, 1980. MAFFESOLI, Michel. O instante eterno: o retorno do trágico nas sociedades pós-modernas. Trad. Rogério de Almeida e Alexandre Dias. São Paulo: Zouk, 2003. MANNONI, Maud. Elas não sabem o que dizem: Virginia Woolf, as mulheres e a psicanálise. Trad. Lucy Magalhães. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999. MARCUS, Jane (Ed.). New Feminist Essays on Virginia Woolf. Lincoln: University of Nebraska Press, 1981. WOOLF, Virginia. Thoughts on peace in an air raid. Great Britain, Penguin Books, 2009. WOOLF, Virginia. Pensamentos de paz durante um ataque aéreo. Trad. Ana Carolina Mesquita. São Paulo: Editora Nós, 2021. SIMPÓSIO “TENSÕES E ALIANÇAS ENTRE PSICANÁLISE, LITERATURA E OUTRAS ARTES Gabriela Bruschini Grecca (UEMG), José Lucas Zaffani dos Santos (UNESP), Marisa Corrêa Silva (UEM) A ESCRITURA DO ESTILO Adriana Carolina Hipolito de Assis Resumo: O presente trabalho tem por objetivo observar a questão do estilo no design de moda e de outras formas de expressão artística no campo do real lacaniano. A moda, assim como o design são objetos de investimento simbólico e cultural que possibilita nas trocas sociais a utilização do estilo como marca identitária, comportamental e de status. O estilo está associado a filosofia desde a Arte retórica e a Arte poética à concepção da estética. Na literatura, o estilo intersecciona-se ao campo da estilística. Para Roland Barthes o estilo associa-se a semiologia, a um sistema de linguagem que fundamenta o sistema da Moda como vestuário tecnológico; a escritura sobre o vestuário que coincide com o discurso poético e, portanto, com o estilo da moda. No design, o estilo integra-se a era industrial iniciada no século XX e, consequentemente a escola de Bauhaus, movimento artístico que reuniu intelectuais, artistas e filósofos com a intenção de estabelecer uma nova relação entre a estética artesanal e a industrial. O design no presente trabalho manifesta-se como um semi-dizer, uma escritura que anuncia que há algo ali a ser analisado. Na concepção lacaniana o estilo é o analista e, ao mesmo tempo, o designer que busca montar bases para construção de seus objetos de arte. Neste sentido, a escritura do estilo está relacionada a linguagem inconsciente, ao objeto a enquanto causa do desejo e ao Grande Outro como gozo, vazio. Referências: ARISTÓTELES. Arte Retórica e Arte Poética. São Paulo: Ediouro, S/D. BARTHES, Roland. Sistema da Moda. (Trad. Lineide do Lago S. Mosca), São Paulo: USP, 1979 BARTHES, Roland. Fragmentos do Discurso Amoroso. (Trad. Hortência dos Santos). RJ: F. Alves, 1981. BARTHES, Roland. O Grau zero da escritura. 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A partir dessa referência e da teoria freudiana, no desenvolvimento do presente trabalho pretende-se elaborar questões relacionadas a conflitos entre as noções de prazer e gozo e de prazer e sofrimento (CHAVES, Ernani, 2016). Assim, buscar-se-á trabalhar os limites e as potencialidades de interlocução entre a psicanálise e a literatura partindo do pressuposto de que tanto na teoria quanto no presente conto o conflito na narrativa só encontrará resoluções provisórias e passageiras. Desse modo, tencionar-se-á a relação entre o drama psicológico e o drama social, partindo do pressuposto de que os conflitos internos do personagem são, conforme ele mesmo demonstra em sua narrativa, produzidos pelas instituições sociais, instaurando um conflito entre fantasia e dever. No conto em questão, a narrativa passa pela vida psíquica do personagem principal que é marcada por dualidades inerentes aos processos de escolha do protagonista. Esses processos, contudo, segundo a percepção proposta, levam a luta entre diferentes afetos, cujo resultado final não precisa necessariamente significar o declínio do personagem, mas, quem sabe, o declínio dos afetos aos quais se faz necessário renunciar. Considera-se ainda que, para Freud (2016), assim como a fantasia, a narração também é composta de “distorções” e “equívocos” que não devem ser tratados como apenas ilusão, uma vez que abrigam uma “verdade”, a ser traduzida através da linguagem. Nesse sentido, a análise se construirá com base em rastros e lembranças que, assim como as de Wallace, foram apagadas com o tempo. Referências: CHAVES, Ernani. O Paradigma Estético de Freud in Arte, Literatura e os Artistas. Belo Horizonte: Autêntica, 2016. FREUD, Sigmund. Arte, literatura e os artistas. Belo Horizonte: Autêntica, 2016. FREUD, Sigmund. História de uma Neurose Infantil: (“O homem dos lobos”): além do princípio do Prazer e outros textos (1917-1920). São Paulo: Companhia das Letras, 2010. FREUD, Sigmund. O Infamiliar. Belo Horizonte: Autêntica, 2019. VILLARI, Rafael Andrés. Relações possíveis e impossíveis entre a psicanálise e a literatura. Psicologia: Ciência e Profissão [online]. 2000, v. 20; n. 2, pp. 2-7. Acesso em 10 de maio de 2022. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S1414-98932000000200002> WELLS, H. G. A Porta no Muro. São Caetano do Sul, SP: Editora Wish, 2020. O CRIME COMO SIGNIFICANTE NA TEXTUALIDADE DYONELIANA Jonas Kunzler Moreira Dornelles Resumo: A pesquisa se centra na renovação das análises de Dyonélio Machado, por via primeiro de uma análise estrutural de seus textos, seguida de uma uma análise vinda do campo da crítica psicanalítica. O caminho da textualidade semiótica é valioso, pois permite uma relação com análises marxistas e psicanalíticas contemporâneas. Médico neurologista que introduziu a psicanálise no Rio Grande, deputado estadual pelo Partido Comunista Brasileiro, Dyonélio já viu seu texto analisado por correntes do que poderíamos chamar de “marxismo ocidental”, assim como recebeu análises próximas da psicanálise freudiana. É nesse sentido que o pensamento de Louis Althusser e Jacques Lacan podem iluminar aspectos apenas latentes em sua produção. A modalidade de “leitura sintomal” será de grande importância para indicar aspectos sobre os quais o escritor apenas investigou mas não chegou a teorizar, o que nos permite tomar as repetições de sua pesquisa por via de uma análise do “inconsciente textual”, onde se encontram indicativos de um sentido que Dyonélio Machado não chega a conceitualizar. Essa repetição de um significante “crime” (que no escritor vai do mínimo “crime” edipiano ao mais alto crime público da máquina militar) indica como chave de leitura uma crítica a moralidade reproduzida pelos Aparelhos ideológicos do Estado, na forma do Direito burguês, que por sua própria forma idealista de arregimentação jurídica, camufla suas intenções punitivistas. Partindo de uma “República dyoneliana”, encontraremos sua consideração fundamental a figuras marginais e deslocadas, como loucos, assassinos, prostitutas, perseguidos políticos. e como essas participam no jogo da “República dyoneliana”. A partir dessas considerações, busca-se então fazer uma análise das relações que se pode estabelecer com o Brasil contemporâneo, considerando noções como malandragem e criminalidade, e sua relação com aquilo que poderíamos definir como “crime público”, ou seja, cometidos pela máquina estatal e/ou capitalista. Referências: ALTHUSSER, Louis. Por Marx. Campinas: Editora Unicamp, 2015. ALTHUSSER, Louis. Sobre a reprodução. Petrópolis: Vozes, 2008. BELLEMIN-NOËL, Jean. Psicanálise e literatura. São Paulo: Cultrix, 1983 CARVALHO, José Murilo. Forças armadas e política no Brasil. São Paulo: Todavia, 2005. CASARA, Rubens. Estado pós-democrático: Neo-obscurantismo e gestão dos indesejáveis. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2017. CASARA, Rubens. Bolsonaro: o mito e o sintoma. São Paulo: Contracorrente, 2020. DUNKER, Christian Ingo Lenz. Mal-Estar, Sofrimento e Sintoma - uma psicopatologia do Brasil entre muros. São Paulo: Boitempo, 2015. LACAN, Jacques. Escritos. Rio de Janeiro: Zahar, 1998. LACAN, Jacques. Seminário 5: as formações do inconsciente. Rio de Janeiro: Zahar, 1988. LACAN, Jacques. Seminário 7: a ética da psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 1988. NAPOLITANO, Marcos. 1964 – A história do regime militar brasileiro. São Paulo: Contexto, 2014. MACHADO, Dyonélio. Uma definição biológica do crime. Porto Alegre: Edições Globo, 1933. MACHADO, Dyonélio. 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MACHADO, Dyonélio. O pensamento político de Dyonélio Machado. Porto Alegre: Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul, 2006. MACHADO, Dyonélio. Proscritos. Brasília: Siglaviva, 2014. MACHADO, Dyonélio. Um pobre homem. Brasília: Siglaviva, 2017. MANSO, Bruno Paes. A república das milícias: Dos esquadrões da morte à era Bolsonaro. São Paulo: Todavia, 2020. SCHWARCZ, Lilian Moritz. Sobre o autoritarismo brasileiro. São Paulo: Companhia das Letras, 2019 SOUZA, Jésse de. A ralé brasileira. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2009. SIMPÓSIO “MULTIPLICIDADE DE MUNDOS E BEM VIVER” Ana Lígia Leite e Aguiar (UFBA), Bernard Belisário (UFSB), Elane Abreu de Oliveira (UFCA) VIOLÊNCIAS NO AGRONEGÓCIO: ROMPENDO O SILÊNCIO PARA ALÉM DA PORTEIRA Cleildes Marques De Santana, Clayton Emanuel Rodrigues Resumo: Em meio à crise política no país e no mundo em sua vertente multidimensional, destacamos a região Oeste da Bahia - Brasil, área de expansão e consolidação do agronegócio na produção da soja, e por extensão a sua correlação com violências diversas De maneira preliminar e parcial, identificamos processos de contaminação e envenenamento dos rios por agrotóxicos, desmatamentos, assassinatos, grilagens, etc que comprometem a existência do bioma Cerrado em todas as suas nuances (ambientais, sociais, econômicas, políticas, etc). Nesta configuração, problematizamos a (in) visibilidade / apagamento das ações coletivas e / ou protestos sociais da região enquanto modalidades de conhecimentos diversos e constituintes de modos de vidas solidárias, contra – hegemônicas que são encapsuladas por decorrência do desenvolvimento regional que enfatiza a expansão da estrutura fundiária em correlação com o capital internacional. Conforme enfatiza Adorno, a importância da teoria crítica reside em sua potencialidade para subsidiar uma reflexão sobre a formação social, seu rumo, em seu devir, onde os “objetos” ou “coisas” saem do emudecimento e revelam causalidade submersas, transformando-se em base de experiência formativa, na compreensão do presente como histórico e na recusa de um curso pré-traçado para a história, atribuindo-lhes um sentido emancipatório construído a partir da elaboração de um passado, que parece fixado e determinado apenas como garantia de sua continuidade, cujo curso precisa ser rompido em suas condições sociais e objetivas. Problematizamos a (in) visibilidade / apagamento das ações coletivas e / ou protestos sociais da região enquanto modalidades de conhecimentos diversos e constituintes de modos de vidas solidárias, contra – hegemônicas que são encapsuladas por decorrência do desenvolvimento regional que enfatiza a expansão da estrutura fundiária em correlação com o capital internacional, bloqueando assim um horizonte que contemple a diversidade e justiça social na sociedade local / global. Referências: Brand , Ulrich et al. Modo de vida imperial: sobre a exploração de seres humanos e da natureza no capitalismo global. SP: Editora Elefante, 2021 Correa, M. Traficantes do simbólico e outros ensaios sobre a história da antropologia. Campinas: Unicamp, 2018 David-Ménard, Monique. A vontade das coisas – O animismo e os objetos. SP: UBU, 2022 Lazaratto, E. Guerras e Capital. SP: UBU, 2021 Ploeg, Jan Douwe van der. Camponeses e impérios agroalimentares : lutas por autonomia e sustentabilidade na era da globalização. Porto Alegre: UFRGS, 2008 Safatle, Vladimir. Só mais um esforço. SP; Vestígio, 2022 Segato, Rita. Critica da colonialidade em oito ensaios e uma antropologia por demanda. RJ: Bazar do tempo, 2022. O "BEM VIVER" PARA CRIANÇAS: DIREITOS DA NATUREZA E LITERATURA INFANTIL Fernanda Maria Abreu Coutinho Resumo: Entre as publicações da editora Pulo do gato, em 2021, figura o livro A professora da floresta e a grande serpente, da colombiana Irene Vasco, com ilustrações de Juan Palomino. Com a tradução de Márcia Leite, o público de língua portuguesa tem acesso a uma história, que subverte a lógica tradicional, ao levar a protagonista a se dar conta de que, apesar de seu valorizado saber livresco, precisará ser alfabetizada por meio das narrativas da floresta e de seus habitantes. Cada vez mais, por meio dos artifícios da ficção, a criança vem sendo colocada em contato com os chamados Direitos da Natureza. São muitas as ocorrências, em produções de países distintos, a exemplo da referida Colômbia, do Brasil e de Portugal. São frequentes, por exemplo, as abordagens literárias que envolvem consciência ecológica, tal como Um ano inteiro: Almanaque da natureza (Isabel Minhós Martins e Bernardo P. Carvalho, Portugal, 2017), Pequeno manual de peixes marinhos e outras maravilhas aquáticas (Beatriz Chachamovits, Brasil, 2018) e Plasticus Maritimus: Uma espécie invasora (Ana Pêgo, Isabel Minhós Martins, Portugal, 2018). Interessa, ainda, acrescentar Um dia, um rio (Léo Cunha, Brasil, 2016), que ficcionaliza a tragédia de Mariana, quase que em tempo real, uma vez que o trágico evento ocorreu em 2015. Muitas vezes a configuração desses livros mimetiza seu conteúdo, apresentando-se como manuais, almanaques e enciclopédias, todos eles com perceptível sentido formativo. Em uma leitura mais conteudística, podemos deduzir: o mundo natural tem muito a nos ensinar e não o contrário como teimosamente foi intuído séculos afora, de tal forma que quase não nos resta mais tempo para esse aprendizado. As crianças? Talvez. A proposta da presente comunicação é trabalhar o conceito de “bem viver”, de Alberto Acosta, 2016, atrelado às experiências ficcionais mencionadas no campo da literatura para crianças. Referências: ACOSTA, Alberto. O Bem viver: uma oportunidade para imaginar outros mundos. Tradução de Tadeu Breda. São Paulo: Autonomia literária, Elefante, 2016. ANDRUETTO, María Teresa. Por uma literatura sem adjetivos. Tradução de Carmem Caccicarro. São Paulo: Editora Pulo do Gato, 2012. CHACHAMOVITS, Beatriz. Pequeno manual de peixes marinhos e outras maravilhas aquáticas. Ilustrações da autora. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2018. CUNHA, Léo. Um dia, um rio. Ilustrações André Neves. São Paulo: Editora Pulo do Gato, 2016. MARTINS, Isabel Minhós. Um ano inteiro: Almanaque da natureza. Ilustração de Bernardo P. Carvalho. Carcavelos (Portugal): Planeta Tangerina, 2017. PÊGO, Ana, MARTINS, Isabel Minhós. Plasticus maritimus. Uma espécie invasora. Ilustração de Bernardo P. Carvalho. Carcavelos (Portugal): Planeta Tangerina, 2018. PRINCE, Nathalie. La littérature de jeunesse. Pour une Théorie Littéraire. 2. ed. Paris: Armand Colin, 2015. VASCO, Irene. A professora da floresta e a grande serpente. Ilustração de Juan Palomino. Tradução de Márcia Leite. São Paulo: Editora Pulo do Gato, 2021. TECNOPOLÍTICAS FEMINISTAS, SOBRE PRÁCTICAS ARTÍSTICAS REALIZADAS POR MUJERES Gisett Lara Resumo: A partir de la década de 1980 algunas pensadoras como Teresa Lauretis (1938), Donna Haraway (1944), y Judith Butler (1956), comenzaron a cuestionar la centralidad del concepto de género dentro del discurso feminista. Apelando a la esencialización del propio término "mujer" y criticando el concepto de "diferencia", que apoyaría sus estudios en la división binaria del sexo. A partir de estos cuestionamientos y no lejos de ironía, propusieron la posibilidad andrógina entre seres humanos. Este trabajo, apoyado en el concepto de chacha-warmi, presente en la cosmovisión indígena y repensado en la actualidad por el Feminismo Comunitario de Bolivia, sugiere la resignificación del concepto "mujer" basado en código de conducta que propone el principio de dualidad, donde los sexos son complementarios. Para ello, serán discutidas tres performances y fotopermormances: Siluetas (serie) (1948), de Ana Mendieta (Cuba, 19481985); Tierra (2013), de Regina José Galindo (Guatemala, 1974) y Abrazo (2021) de Cecilia Vignolo (Uruguay, 1971). Los trabajos proponen, por una parte, la resignificación consciente de una feminidad conectada con la tierra, territorio-cuerpo como forma de resistencia (Lorena Cabnal, 2019). Por otra parte, visibilizar y denunciar la violencia colonialista, patriarcal y capitalista en América Latina, apelando a los diferentes contextos históricos y sociales de cada país. Importante destacar que el presente trabajo utiliza el concepto de "residuo", desarrollado en el texto “Ontología de la performance: representación sin reproducción” (2011), de Peggy Phelan, para pensar estas imágenes -vestigios de un performancecomo material de transformación y reciclaje de un acontecimiento y no como desperdicio. Por último, destacar la importancia de dichas imágenes en la conformación y difusión de activismos tecnopolíticos feministas que crean comunidades en el espacio virtual, donde reivindican los saberes de las mujeres indígenas y fomentan la conformación de comunidades artísticas y teóricas, promoviendo la importancia del buen vivir a través del arte. Referências: ANZALDÚA, Gloria. La conciencia de La mestiza/ Rumo a uma nova consciência. Revista Estudos Feministas no 13, pp. 704-719, 2005. _______. Movimientos de rebeldía y las culturas que traicionan. In: HOOKS, Bell et al. Otras inapropiables. Feminismos desde las fronteras. Madrid: Traficantes de sueños, 2004. _______. Hablar en lenguas: una carta a escritoras tercermundistas. In: MORAGA, C y CASTILLO, A (orgs.). Esta puente, mi espalda. Voces de mujeres tercermundistas en los Estados Unidos. San Francisco: Editorial “ismo”, 1988.BARRIENDOS, Joaquín. “(Bio)poli?ticas de archivo: archivando y desarchivando los sesenta desde el museo de arte”, en Artecontexto No 24, pp. 17-23. Madrid, 2009. _____. “La colonialidad del ver. Hacia un nuevo dia?logo visual interepiste?mico”, en Nomadas, 2011. BIDASECA, Karina; VASQUEZ, Vanesa (comp.). Feminismos y poscolonialidad: descolonizando el feminismo desde y en América Latina. Buenos Aires: Godot, 2011.BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Trad. Renato Aguiar. 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Ubu Editora, 2018. FICAR COM O PROBLEMA: BEM VIVER EM "A PSALM FOR THE WILD-BUILT", DE BECKY CHAMBERS Jade Bueno Arbo Resumo: Considerando a potência da ficção científica para produzir novos mundos e, assim, expandir nosso imaginário sobre aquilo que é possível, esta comunicação traz para a discussão sobre o bem viver a construção de mundo presente em A Psalm for the Wild-Built, de Becky Chambers. Ao descrever uma sociedade que se reconstrói após um colapso tecnológico e ambiental, inclusive revertendo alguns de seus efeitos, Chambers produz um discurso contrarrealista - para utilizar o termo de Butler (2021) em diálogo com Fisher (2020) - que nos convida a reimaginar nossa relação com a tecnologia e a repensar possibilidades de, como diz Haraway (2016), viver e morrer bem uns com os outros. Esse mundo imaginado não é um mundo utópico se considerarmos como utopia a eliminação total de qualquer sofrimento, mas é fruto de um impulso utópico (CLAEYS, 2013) por melhoramento que permeia as mais diversas produções humanas, como literatura e filosofia - ambas as quais são trazidas para diálogo no âmbito desta análise. Busca-se, através dessa discussão, compreender a adição de Becky Chambers aos diálogos sobre o estabelecimento de novos vínculos que não se restringem apenas aos vínculos humanos, mas também o vínculo com o solo sob nossos pés, com a fauna e flora com a qual partilhamos nosso planeta; vínculos que não neguem, para usar outro termo butleriano, a nossa vulnerabilidade (2019), mas que acolham essa vulnerabilidade como uma nova ontologia corpórea que nos une a tudo aquilo que nos cerca e com a qual, sempre com algum nível de sofrimento, dor e conflito, precisamos lidar. Referências: BUTLER, Judith. A força da não violência: um vínculo ético-político. São Paulo: Boitempo, 2021. BUTLER, Judith. Vida precária: os poderes do luto e da violência. Belo Horizonte: Autêntica, 2019. FISHER, Mark. Realismo capitalista: é mais fácil imaginar o fim do mundo do que o fim do capitalismo?. São Paulo: Autonomia Literária, 2020. HARAWAY, Donna. Staying with the trouble: Making Kin in the Chthulucene. Duke University Press, 2016. "A CANÇÃO DA REDENÇÃO": AGENCIAMENTO E REVOLUÇÃO EM BREVE HISTÓRIA DE SETE ASSASSINATOS, DE MARLON JAMES João Vitor Dias da Cruz Resumo: Com a necessidade de manifestar as suas críticas e revoltas de uma ilha semi-independente por meio da arte, na década de 1970 um novo ritmo musical adentrava com força as comunidades da Jamaica, este som-manifesto é o reggae music. Assim, esse som ficou popularmente conhecido pela mistura de ritmos eletrônicos como o ska, a guitarra e as fortes influências de outros estilos musicais como o soul music. Nessa mesma década, Bob Marley estreava no mundo da música, com sua banda The Wailers, e ganhava forma enquanto um artista multifacetado. Diante disso, na segunda metade da década de 70, às vésperas das eleições parlamentares na ilha afro-caribenha, Bob Marley e seus familiares sofreram uma tentativa de assassinato com a invasão de sete homens fortemente armados em sua mansão na comunidade de Kingston, capital jamaicana. Nessa década, especialmente em 1976, ocorria a eleição parlamentar para definir o primeiro-ministro que governaria a Jamaica pelos próximos cinco anos. No pleito eleitoral estavam Norman Manley, que disputava pelo Partido Nacional do Povo (PNP) de espectro esquerda e buscava sua reeleição, e o Edward Seaga, que disputava pelo Partido Nacional Popular (PTJ) de espectro direitista. Assim, por meio desse período que atravessou a ilha, o romancista jamaicano Marlon James escreveu seu romance, Breve história de sete assassinatos, trazendo à luz a figura de um artista que ganhou forma enquanto agente político para a sua terra natal e todos os seus irmãos que, assim como o cantor, localizam na filosofia rastafári um modo, também, de serem atuantes políticos. O romance de Marlon James, dessa maneira, ajuda-nos a reconstruir esse período violento que a Jamaica vivenciou, trazendo dezenas de narradores, de diversos pontos sociais, para narrar a década em que Bob Marley ganhava forma enquanto um corpo político. Referências: CRUZ, João Vitor Dias da. O poeta se rebela: uma análise sobre a Jamaica novecentista em Breve história de sete assassinatos, de Marlon James. Revista Mosaico: São José do Rio Preto, v. 20, n.1, p. 418-436, 2021. JAMES, Marlon. Breve história de sete assassinatos. tradução de André czarnobai. 1 ed. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2017. OUT OF NOWHERE: A HISTÓRIA ANTES DAS ÚLTIMAS FOTOGRAFIAS Leandro Pimentel Abreu Resumo: A proposta é analisar o conjunto de obras ‘Out of Nowhere’ (do nada) do fotógrafo Miguel Rio Branco, cuja produção se caracteriza tanto pela reinvenção do colorismo quanto pelo interesse em personagens marginalizados. Em termos afirmativos, dá a ver relações temporais inauditas, cujas intensidades religam um passado de esquecimento e presença corporal. Tal movimento prenuncia a passagem ao que se tentou denominar como “pós-fotografia”. A partir desse paradigma, a proposta é identificar na produção fotográfica contemporânea de fotógrafos e artistas periféricos, a fim de destacar a relevância dessas práticas no contexto atual. Com ênfase nas origens das imagens, assim como nos seus lugares de guarda e circulação, o objetivo é repensar como o trabalho de Rio Branco parece interrogar as identificações históricas assim como os seus percursos. Por meio de uma abordagem anacrônica, aberta ao intercâmbio entre diferentes tempos, a proposta é observar os modos como esses trabalhos articulam algumas dimensões da memória e da imaginação, recorrendo, por vezes, às lacunas e vazios das imagens documentais e às controvérsias das narrativas. O crescimento dessa produção nos últimos anos parece refletir o interesse em questões atravessadas por múltiplas temporalidades, sobretudo por fotógrafos e artistas periféricos, que buscam pensar questões de gênero, raça, sexualidade, território e ancestralidade. Referências: AGAMBEN, Giorgio. Aby Warburg e a ciência sem nome. Arte e Ensaio, Rio de Janeiro, Departamento de Arte da Universidade Federal do Rio de Janeiro, n. 19, 2009. BARTHES, Roland. A câmara clara: nota sobre a fotografia. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. BENJAMIN, Walter. Paris, capitale du XIXe siècle, le livre des passages. Paris: Les éditions du Cerf, 1989b. ______. Magia e técnica, arte e política. 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Partindo da prática artística como pesquisa procura-se estabelecer articulações sobre o conceito de ecodrag como potência de vida, verificando a necessidade de discutir sobre processos de construção identitária por intermédio da arte da performance, criando desvios e tensões aos padrões e configurações rígidas de subjetividades e sexualidades na contemporaneidade. Busca-se evidenciar a ampliação dos afetos como força motriz para a criação de uma ecodrag, valorizando as experiências e os encontros como trajeto para suplementar as relações entre arte e vida, movimento e escrita, corpo e ambiente. Essas implicações são estimuladas através da experimentação de práticas somáticoperformativas, mais especificamente, uma pesquisa somático-performativa. Todas as ações são ecoadas a partir da realização de processos criativos “cuier” (queer), apontando para possíveis zonas de desconstrução e subversão através de uma perspectiva da teoria cu. Esses movimentos são agenciados durante uma re-escrita, fragmentada dentro de um todo integrado, por meio de aforismos, a fim de dilatar a autonomia do corpo, as produções de afetos e a criação de corpos éticos/políticos/estéticos. A organização teórica desse trabalho funciona como criação de uma comunidade envolvida por Leona_do Pau___ , como exercício de tradução dos movimentos deste corpo no mundo. Essa perspectiva teórica alinha-se com autores que produzem as experiências de pensamento como forma de vida. Referências: AGAMBEN, Giorgio. A comunidade que vem. Trad. António Guerreiro. Lisboa: Presença, 1993. _______________. O que é o contemporâneo? e outros ensaios. Tradução Vinícius Nicastro Honesko. Chapecó – Santa Catarina: Argos, 2009. BUTLER, Judith. Bodies that Matter: On the Discursive Limits of ´Sex’. New York and London: Routledge, 1993. ______________.Corpos que pesam: sobre os limites discursivos do sexo. IN: LOURO, Guacira Lopes. O corpo educado: pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2001. FERNANDES, Ciane. Criatividade, Conexão e Integração: Uma Introdução à Obra de Irmgard Bartenieff. In: Em Pleno Corpo: Educação Somática, Movimento e Saúde. 2a ed. Curitiba: Juruá, 2010, p. 34-48 ______________. Dança Cristal: da Arte do Movimento à Abordagem SomáticoPerformativa. Salvador: EDUFBA, 2018. FOUCAULT, Michel. O corpo utópico, as heterotopias. Tradução Salma Tannus Muchail. São Paulo: n-1 edições, 2016. GUATTARI, Félix; ROLNIK, Suely. Micropolítica – Cartografias do desejo. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 1986. LATOUR, Bruno. Como falar do corpo? A dimensão normativa dos estudos sobre a ciência. IN: Objectos impuros: experiências em estudos sobre a ciência. NUNES, João Arriscado; ROQUE, Ricardo (orgs.). Porto: Rainho & Neves, 2008. MORTIMER-SANDILANDS, Catriona. Paixões desnaturadas? Notas para uma ecologia queer. IN: Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 19, n. 1, p 175-195, 2011. SALIH, Sara. Judith Butler e a teoria queer. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2012 VIDARTE, Paco. Ética bixa. São Paulo: n-1 edições, 2019. NOTAS SOBRE A NOÇÃO DE ASSEMBLAGEM Lucas de Jesus Santos Resumo: Com a crescente demanda por modos de pensamento capazes de lidar com os desafios impostos pelo Antropoceno, diversas noções emergiram nos contextos das ciências sociais – a teoria do ator-rede de Bruno Latour (2012) e outros –, da filosofia – o materialismo vibrante de Jane Bennett (2010), o pós-humanismo de Rosi Braidotti (2013). Dentre essas possibilidades teóricas, a noção de assemblagem tem mostrado uma potencialidade singular para contribuir para o debate contemporâneo. Oriunda dos trabalhos de Deleuze e Guatarri (1995), a noção de assemblagem é capaz de lidar com um campo amplo de temáticas, passando por alteridades não-assimiláveis, situações de encontro e relações multiespécies, ontologias realistas e especulativas nas artes e na literatura. Recentemente, encontrou desenvolvimentos importantes não apenas na área da filosofia, com os trabalhos de Manuel DeLanda (2016; 2019) e Ian Buchanan (2021), mas também na área dos estudos literários com o recente artigo de Bill Brown (2020) na Critical Inquiry. Este trabalho tem, portanto, o objetivo de traçar o contorno geral do debate recente a respeito da noção de assemblagem, através de três principais gestos: a) levantamento das principais abordagens do conceito; b) mapeamento de seus empregos teóricos principais; c) demonstração das possibilidades que o conceito de assemblagem tem para intervir nas discussões atuais, sobretudo relativas às artes e a literatura. Referências: BENNETT, Jane. Vibrant Matter. Durham: Duke University Press, 2010. BRAIDOTTI, Rosi. The Posthuman. Cambridge: Polity Press, 2013. BROWN, Bill. Re-assemblage (theory, practice and mode). Critical inquity, v. 46, n. 2, 2020. BUCHANAN, Ian. Assemblage: theory and method. Londres, Bloomsbury Academic, 2021. DELANDA, Manuel. Assemblage Theory. Edinburgh: Edinburgh University Press, 2016. DELANDA, Manuel. A New Philosophy of Society: Assemblage Theory and Social Complexity. Londres: Bloomsbury Academic, 2019. DELEUZE, Gilles; GUATARRI, Felix. Mil Platôs. São Paulo: Editora 34, 1995. LATOUR, Bruno. Reagregando o Social. Uma Introdução à Teoria do Ator-Rede. Salvador: Edufba, 2012. ECOTOPIA: ORIGEM, CONCEITOS E POSSIBILIDADES Luis Felipe Dias Ribeiro Resumo: Este trabalho propõe discutir a origem, os conceitos e as possibilidades de pesquisa acerca do subgênero literário Ecotopia. Trazendo dados desde sua primeira aparição através do etnógrafo E. N. Anderson (1972) e seu primeiro desenvolvimento literário por meio da obra "Ecotopia: the notebooks and reports of William Weston" (1975), escrito pelo autor estadunidense Ernest Callenbach, o trabalho parte dos pontos de origem, na literatura, com o clássico "Utopia" (2012), de Thomas More, e por meio da conceituação da Utopia, elaborado por pesquisadores como Phillip E. Wegner (2005) e Fátima Vieira (2010). A partir deste arcabouço teórico, o trabalho irá discutir o que se compreende por Ecotopia e como ela se aplica à Literatura. Para tal feito, embasar teoricamente os estudos ecológicos e a crítica ecológica com base em autores como Glen E. Love (1996), Eric Otto (2006, 2012, 2019), William Rueckert (1996) e Brian Stableford (2005, 2010). Após a conceituação, propõe-se discutir acerca das possibilidades de pesquisa e as aplicações de análises críticas ecológicas em obras literárias recentes ou anteriores, visto a urgência elevada devido às crises climáticas e como essa construção de conhecimento pode ser corroborada pelos estudos literários, trespassando as áreas das ciências da natureza para as ciências humanas. Referências: ANDERSON, E. N., Jr.. The life and culture of ecotopia. In: HYMES, Dell H. (org). Reinventing anthropology. New York: Random House, 1972. p. 264-283. CALLENBACH, Ernest. Ecotopia: the notebooks and reports of William Weston. Berkeley: Banyan Tree Books, 1975. LOCKYER, Joshua; VETETO, James R.. Environmental anthropology engaging ecotopia: an introduction. In: LOCKYER, Joshua; VETETO, James R. (orgs). Environmental anthropology engaging ecotopia: bioregionalism, permaculture, and ecovillages. New York: Berghahn Books, 2013. p. 1-31. LOVE, Glen E.. Revaluing nature: toward an ecological criticism. In: GLOTFELTY, Cheryll; FROMM, Harold (orgs). The ecocriticism reader: landmarks in literary ecology. Athens: University of Georgia Press, 1996. p. 225-240. MEEKER, Joseph. The comedy of survival: Studies in Literary Ecology. New York: Charles Scribner's Sons, 1974. MORE, Thomas. Utopia. United Kingdom: Penguin Classics, 2012. OTTO, Eric. Green speculations: science fiction and transformative environmentalism. Columbus: The Ohio State University Press, 2012. OTTO, Eric. Science fiction and the ecological conscience. University of Florida: ProQuest Dissertations Publishing, 2006. OTTO, Eric. Science fiction and the revenge of nature: environmentalism from the 1990s to the 2010s. In: CANAVAN, Gerry; LINK, Eric Carl (Eds.). The Cambridge history of science fiction. United Kingdom: Cambridge, 2019. p. 580-595. RUECKERT, William. Literature and ecology: an experiment in ecocriticism. In: GLOTFELTY, Cheryll; FROMM, Harold (Eds.). The ecocriticism reader: landmarks in literary ecology. Athens: University of Georgia Press, 1996. p. 105-123. STABLEFORD, Brian. Science fiction and ecology. In: SEED, David (Ed.). A companion to science fiction. United Kingdom: Blackwell Publishing, 2005. p. 127141. STABLEFORD, Brian. Ecology and dystopia. In: CLAEYS, Gregory (Ed.). The Cambridge companion to utopian literature. Cambridge: Cambridge University Press, 2010. p. 259-281. VIEIRA, Fátima. The concept of utopia. In: CLAEYS, Gregory (Ed.). The Cambridge companion to utopian literature. Cambridge: Cambridge University Press, 2010. p. 3-50. WEGNER, Phillip E. Utopia. In: SEED, David (Ed.). A companion to science fiction. United Kingdom: Blackwell Publishing, 2005. p. 79-94. POEMAS E MANIFESTOS ESCOLHIDOS DE ROBERTO PIVA: NATUREZA, CULTURA E SEXUALIDADE EM DEVIR Mateus Soares Rodrigues da Silva Resumo: Esta comunicação pretende apresentar poemas e manifestos de Roberto Piva, poeta paulistano emblemático da chamada "Geração Novíssimos" de 60 do Massao Ohno, em que sejam reconhecíveis devires da natureza, da cultura e da sexualidade, afinados às propostas de Donna Haraway, em "Antropologia do Ciborgue" (2009) [1985]. Sua busca pelo êxtase primitivo não está lastreado no retorno inocente à natureza castiça ou idealizada, pois atualiza os elementos dessa busca em sua poética conforme o seu tempo, iminentemente tecnológico: o eu lírico de “Poema vertigem”, da obra Ciclones (1997) é, dentre as muitas metamorfoses propostas pela anáfora lancinante “eu sou” presente no texto, “tecno-pagão”, o próprio “espaço cibernético”, “o Tambor do Xamã” e “uma metralhadora em estado de graça”, que se sucede pela última transformação do eu lírico em uma “pomba-gira do absoluto”. Em contrapartida, sobre a cidade de São Paulo na década de 60, ambiente do qual partem as imagens transfiguradas em Paranoia, Piva afirmaria em entrevista à Folha, no dia 4 de abril de 2000, às vésperas do relançamento de sua obra-prima, Paranoia: “Já era degradada. Eu não gostava muito de São Paulo, nunca gostei muito de cidades. Pra mim, toda metrópole é uma necrópole, um vasto cemitério”. O poeta ainda concluiria, a respeito do abandono à urbe em seus últimos escritos: “O tema do urbano me cansou. Como eu disse, toda metrópole é uma necrópole. Não sou xamã de cemitério”. Como refletir acerca do espaço cibernético, dissidente da uber? É o que os textos de Piva podem propor. Referências: HARAWAY, Donna. Antropologia do ciborgue: as vertigens do pós-humano. Belo Horizonte: Autêntica, 2009 PIVA, Roberto, Ciclones. São Paulo: Nankin Editora, 1997. PIVA, Roberto, Paranoia. São Paulo: Massao Ohno, 1963. SOBRE UMA EXIGÊNCIA [EST]ÉTICA: DEVOLVER A ARTE À ESFERA DO COMUM Maykson Cardoso Resumo: Neste trabalho, apresentam-se reflexões sobre o potencial de práticas artísticas contemporâneas que colocam em crise, redimensionam ou mesmo dissolvem a categoria de arte tal como pensada pelo Ocidente, ao passo que: 1. não têm a produção de um “objeto” artístico como sua finalidade, dificultando ou impossibilitando sua musealização/mercantilização; 2. situam-se sobretudo fora do jogo institucional, i. e.: fora dos Museus, galerias e demais instituições que compõem o chamado “sistema da arte”; 3. têm ou objetivam ter um efeito sobre a vida em sociedade, “profanando” o objeto artístico habitualmente “separado da esfera do uso comum” (Agamben). Conceitos como “aura”, “autonomia da arte” — e, neste caso, especialmente a famosa querela Benjamin-Adorno sobre o tema — , assim como o conceito de “profanação”, de Giorgio Agamben, são solicitados a fim de problematizar e aprofundar a discussão. Por fim, analisa-se também o trabalho do coletivo interdisciplinar e internacional “Forensic Architecture”, que tem feito uso da alta tecnologia e de estratégias artísticas para periciar crimes que de algum modo estão ligados à política, questionando as narrativas oficiais e denunciando a violência de estado contra minorias — ao mesmo tempo que vêm ocupando espaços institucionais da arte, ainda que não se definam necessariamente como coletivo artístico. Assim, espera-se ampliar o debate sobre a potência das estratégias artísticas quando pensadas e levadas para fora do sistema domesticador, higienizador, conservador e mercantil da arte. Referências: ADORNO, T. W. Correspondência Adorno-Benjamin 1928-1940. São Paulo: Ed. Unesp, 2012. AGAMBEN, G. Profanações. (Trad. Selvino. J. Assmann). São Paulo: Boitempo, 2007. BENJAMIN, W. Estética e sociologia da arte. (Trad. João Barrento). Belo Horizonte: Autêntica, 2017. BENJAMIN, W.; BUCK-MORSS et al. Benjamin e a obra de arte: técnica, imagem, percepção. (Trad. Marijane Lisboa & Vera Ribeiro). Rio de Janeiro: Contraponto, 2012. FULLER, M. & WEIZMAN, E. Investigative Aesthetics: Conflicts and Commons in the Politics of Truth. London: Verso Books, 2021. GAGNEBIN, J. M. Atenção e dispersão: elementos para uma discussão sobre arte contemporânea a partir de Adorno e Benjamin. In.: Limiar, aura e rememoração. São Paulo: Ed. 34, 2014. FÜRNKÄS, J. Aura. In: OPITZ/WIZISLA (Hg.). Benjamins Begriffe. Band 1. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 2000. GROYS, B. Art Power. The MIT Press: Cambridge; Massachusets, 2013. GROYS, B. The Truth of Art. Available in: <https://www.eflux.com/journal/71/60513/the-truth-of-art/> KAMBAS, C. Kunstwerk. In: OPITZ/WIZISLA (Hg.). Benjamins Begriffe. Band 2. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 2000. "O NOSSO AMOR A GENTE INVENTA": POR UMA POLÍTICA AMOROSA DESVENCILHADA DOS IDEAIS Mônica Araújo Barbosa Resumo: O amor é um afeto alegre, segundo Spinoza, (2008), e seu potencial pode ser subversivo, independentemente do número de indivíduos envolvidos neste arranjo. A intensidade dos corpos amorosos pode desterritorializá-los, desnorteá-los; mas podem, também, ser capturados pelo que Guattari e Rolnik (1996) definem por “subjetividade capitalística”, um sistema de referenciação que fabrica “[...] indivíduos normalizados, articulados uns aos outros, segundo sistemas hierárquicos, sistemas de valores, sistemas de submissão (GUATTARI e ROLNIK, 1996, p. 16). Quanto mais precária a vida, mais a institucionalização da parceria amorosa se reporta às necessidades de sobrevivência nas sociedades capitalistas: ter um plano de saúde, auxílio para pagar o aluguel, parceria para criar os filhos, a obtenção de documentos (cuja falta assombra qualquer imigrante). Neste contexto, o medo tem uma produtividade econômica: o medo de ficar sozinho, perder o emprego, ficar sem teto, doente, não conseguir atendimento médico, de ficar velho e solitário etc pode resultar em casamentos, financiamentos e “empreendimentos individuais”. Com o intuito de pensar uma estética amorosa inventada e distanciada dos ideais que impõem ao desejo finalidades, este trabalho faz uma cartografia de histórias de vida de pessoas em relações não-monogâmicas e pergunta o quanto é possível bem-viver múltiplos amores em um contexto mononormativo. Referências: CAZUZA. O nosso amor a gente inventa. GUATTARI, Félix e ROLNIK, Suely. Micropolítica: cartografias do desejo. Petrópolis: Vozes, 1996. SPINOZA, Barusch. Ética. Belo Horizonte: Autêntica, 2008. OBLIQUAR A ESCUTA Natália Araújo Rodrigues Resumo: Como expandir a escuta de modo a dar ouvidos às interlocuções inespecíficas? Como desempenhar a pluralidade do ouvir? Como descolonizar o diálogo com o não-humano? Para estímulo da reflexão, proponho uma audição não antropomorfa através da metáfora "ser todo ouvidos": um corpo todo que se disponibiliza à escuta. A partir desta imagem que materializa a audição como um gesto independente das orelhas, retomo a pergunta que Elizabeth Povinelli faz no título de seu artigo: as pedras escutam? ("Do rocks Listen?"). No texto, com o qual dialogo por intermédio da contribuição de Alyne de Castro Costa, Povinelli descreve a ocasião em que, em uma audiência, ouviu uma mulher do povo Belyuen falar sobre uma rocha muito importante em sua cosmologia, dizendo que o mineral ouvia e sentia os aborígenes que passavam por ele. Povinelli então vai elaborar o conceito de geontologia, que equivale a uma abertura a outras concepções de mundo não marcadas pelo binarismo vida e não-vida. A partir da dissolução da oposição deste binômio, busco refletir sobre a relação utilitária e descartável do humano com as coisas, os objetos; propondo, como alternativa, a noção de obliquação desenvolvida por Alexandre Nodare: ser ao mesmo tempo e conjuntamente sujeito e objeto. Referências: COSTA, Alyne de Castro. Virada geo(nto)lógica: reflexões sobre vida e não vida no Antropoceno. AnaLógos, Rio de Janeiro, v. 16 – 2016, p. 140-150. HARAWAY, Donna. Manifesto Ciborgue. Cie?ncia, tecnologia e feminismo-socialista no final do se?culo XX. In: ______. Antropologia do Ciborgue. As vertigens do po?s-humano. (org, Tomaz Tadeu). Belo Horizonte: Aute?ntica editora, 2000. ________. Staying with the Trouble: Making Kin in the Chthulucene. NC: Duke University Press, 2016. KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. Sa?o Paulo: Companhia das Letras, 2019. NANCY, J.-L. A? escuta. Belo Horizonte: Cha?o da Feira, 2014. NODARI, Alexandre. Antropofagia. U?nico sistema capaz de resistir quando acabar no mundo a tinta de escrever. Disponi?vel em: https://www.academia.edu/17573406/_ Antropofagia_U?nico_sistema_capaz_de_resistir_quando_acabar_no_mundo_a_tinta_de_escr ever_. Acesso em 27 out. 2020. ______. A literatura como antropologia especulativa. Revista da Anpoll, n. 38, 2015. Disponi?vel em: https://revistadaanpoll.emnuvens.com.br/revista/article/viewFile/836/791. Acesso em 27 out. 2020. POVINELLI, E. "Do rockes listen?" In: American Anthoropologist. New Series, Vol. XCVII, Nº3 (1995), p. 505-518. ROCHA, Marilia Librandi. Escutar a escrita: por uma teoria litera?ria ameri?ndia. In: ______. O eixo e a roda: v. 21, n. 2, 2012. pp. 179-202. Disponi?vel: https://www.researchgate.net/publication/ 281125605_Escutar_a_escrita_por_uma_teoria_literaria_amerindia. Acesso em 26 out. 2020. INVENTAR UMA ARTE DA RESPIRAÇÃO: HUMANOS, BICHOS & PLANTAS NAS FICÇÕES DE EVANDO NASCIMENTO Wallysson Francis Soares Resumo: “Somos mesmo uma humanidade?”, pergunta o líder indígena Ailton Krenak em sua conferência Ideias para adiar o fim do mundo (2019). Já no ensaio O clima da história: quatro teses (2013), Dipesh Chakrabarty indaga: “quem é o nós”? O que são essas categorias e quem elas mobilizam? O que traduzem? Confluem nelas identidades que vão além do humano? Para o escritor e artista visual Evando Nascimento Camacã, humanos, bichos & plantas se atravessam. “Nós é eu”, escreve, trabalhando a partir do dispositivo da autoficção para pensar o outro. Os cinco livros de ficção publicados – retrato desnatural: diários 2004-2007 (2008), Cantos do mundo (2011), Cantos profanos (2014), A desordem das inscrições (contracantos) (2019) e Diários de Vincent: impressões do estrangeiro (2021) – misturam e dissolvem as unidades de gênero no campo discursivo e duplamente subvertem as noções de gênero no nível das espécies (homem x bicho) e dos sexos (homem x mulher), engendrando diferenças. A partir da desmedida do diário, denominado “gênero dos gêneros” pelo autor, convida-se o leitor a interatuar na textualidade. Este trabalho propõe perscrutar a literatura de Evando Nascimento junto aos pensamentos de Achille Mbembe (2019), Ailton Krenak (2019), Eduardo Viveiros de Castro (2018), Donna Haraway (2003), Judith Butler (2017), entre outros, buscando pensar o espaço ficcional como campo profícuo para a disseminação de identidades múltiplas e para contar sempre novas histórias, conforme nos inspira os pensamentos indígenas. Evando Nascimento produz uma literatura origami que assume diferentes formas e borra os limites do papel, fazendo transbordar uma pluralidade de coisas-seres. Diante da confluência de rastros e respirações, (de)compõe-se uma literatura híbrida, bestiário que nos convida à solidariedade entre os viventes. Referências: BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Trad. Renato Aguiar. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2017a. CHAKRABARTY, Dipesh. O clima da história: quatro teses. In: Revista Sopro, n. 91, julho de 2013, p. 02-22. DANOWSKI, Déborah e CASTRO, Eduardo Viveiros de. Há um mundo por vir? Ensaios sobre os medos e os fins. Desterro: Cultura e Barbárie/ISA, 2017. DERRIDA, Jacques. O animal que logo sou. Trad. Fábio Landa. São Paulo: UNESP, 2002. DESCOLA, Philippe. Outras naturezas, outras culturas. Trad. Cecília Ciscato. São Paulo: Editora 34, 2016. KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. A queda do céu: palavras de um xamã yanomami. Trad. Beatriz Perrone-Moisés. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das letras, 2019. KRENAK, Ailton. O amanhã não está à venda. São Paulo: Companhia das Letras, 2020, versão Kindle. MACIEL, Maria Esther. Literatura e animalidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2016. MBEMBE, Achille. Sair da grande noite – ensaio sobre a África descolonizada. Trad. Fábio Ribeiro. Petrópolis, RJ: Vozes, 2019. NASCIMENTO, Evando. A literatura à demanda do outro. In: DERRIDA, Jacques. Essa estranha instituição chamada literatura: uma entrevista com Jacques Derrida. Belo Horizonte: UFMG, 2014a. p. 7-42. ______. Autoficção como dispositivo: alterficções. Revista Matraga, Rio de Janeiro, v. 24, n. 42, set./dez. 2017a. ______. Cantos do mundo. Rio de Janeiro: Record, 2011. ______. Cantos profanos. São Paulo: Biblioteca Azul, 2014b. ______. Clarice e as plantas: uma literatura pensante. 2017b. Disponível em: <https://revistacaliban.net/clarice-e-as-plantas-umaliteratura-pensante-22f3c3111f38>. Acesso em 06 jul. de 2019. ______. Clarice Lispector: uma literatura pensante. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012 ______. Derrida e a defesa da solidariedade dos viventes. 2017c. Disponível em: <https://www.suplementopernambuco.com.br/artigos/1927-derrida-edefesa-da-solidariedade-dos-viventes.html>. Acesso em: 24 mar. 2019. ______. Retrato desnatural: (diários – 2004 a 2007). Rio de Janeiro: Record, 2008. ______. Uma literatura pensante: Clarice e o inumano. In: MORAES, Alexandre (Org.). Clarice Lispector em muitos olhares. Vitória: UFES, 2000. p. 100- 121. SOARES, Wallysson Francis. Transbordamento: ficções diárias de Evando Nascimento. Dissertação (Mestrado em Letras) – Centro de Ciências Humanas e Naturais, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2019. VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Metafísicas canibais: elementos para uma antropologia pós-estrutural. São Paulo: Ubu Editora, n-1 edições, 2018. SIMPÓSIO “INTERARTES: LITERATURA E SUAS INTERFACES” Sandro Santos Ornellas (UFBA), Lisa Carvalho Vasconcellos (CEFET-MG), Cassia Dolores Costa Lopes (UFBA) "OLHOS NOS OLHOS" PARA O ABISMO PRATEADO Bento Matias Gonzaga Filho Resumo: Em 2011 o realizador cearense Karim Aïnouz lançou o filme O Abismo prateado, inspirado na canção “Olhos nos olhos, de Chico Buarque. O enredo do filme enfoca a história de uma dentista de 38 anos, Violeta, que é abandonada pelo marido, “sem mais nem porquê”, como diz a letra da canção. Os sentimentos, as razões e a procura de Violeta criam um tecido que se constrói e se desfaz continuamente, de forma obsessiva e com poucas pausas para descanso. Esse aspecto do filme chama a atenção pelo enfoque dado à subjetividade das personagens. Pode-se dizer que os “olhos” dão lugar ao olhar, mas o olhar para o outro, não mais o olhar do outro. Na sua corrida meio a esmo pela cidade a personagem deixa-se ver no abismo prateado das luzes da cidade, nas águas do mar que se batem na encosta, mas não é nada disso que afirma seu olhar. As canções de Chico Buarque estão ligadas a um perfil político que ao próprio autor nem sempre agrada assumir “um símbolo da resistência à ditadura” (WERNECK, 1989, p.138). Na letra de “Olhos nos olhos” há uma liberdade, como diz Diego Assis (ASSIS, 2012), de tratar do embate amoroso, de ter coragem de ignorar as grandes coisas públicas, a política, de certo modo desconstruindo as leituras que marcaram “Olhos nos olhos” para que a canção de Chico pudesse ser ouvida como uma história de perda amorosa. A sequência do filme e da canção, no entanto, não se confundem. Caminham lado a lado numa imagem sobreposta como uma sombra, quase única, quando os fotogramas desfilam uma mulher dilacerada pelo abandono na obra cinematográfica e a canção mistura a presença da pessoa amada no desejo, quase vingativo, de que precise dela. Referências: ASSIS, Diego. Karim Aïnouz e Alessandra Negrini lançam O abismo prateado em Cannes. Rio de Janeiro: G1, 2011. Disponível em https://g1.globo.com/festival-decannes/2011/noticia/2011/05/karim-ainouz-e-alessandra-negrini-lancam-abismo-prateado-emcannes.html. Acesso em 10/05/2022. MENESES, Adélia Bezerra de. Figuras do feminino na canção de Chico Buarque. Cotia: Ateliê Editorial, 2001. WERNECK, Humberto. Tantas palavras. São Paulo: Companhia da Letras, 2006. MACHADO DE ASSIS EM CENA: CARNAVALIZAÇÃO E TEATRO ÉPICO EM A IGREJA DO DIABO, DA CIA. BOCCACCIONE Brendon de Alcantara Diogo Resumo: Constantemente as encenações contemporâneas têm se utilizado de outros gêneros literários para a composição de suas dramaturgias, não se restringindo somente aos textos dramáticos. Tendo isso em vista, no caso desse estudo, observamos como a Cia. Teatral Boccaccione atuou na transposição do conto A igreja do diabo (1884), de Machado de Assis, para os palcos. Ao optar por um texto do gênero épico para a encenação dramática, vários recursos estéticos precisam ser mobilizados ao longo desse caminho, portanto, para compor a montagem do espetáculo, destacamos que a Cia. se utilizou de estratégias do teatro épico-brechtiano, formas essas que rompem com o modo dramático-aristotélico do teatro. Para tanto, baseamos a nossa interpretação a partir do teatro épico de Bertolt Brecht (2005), e também em outros autores que dialogam nesse mesmo campo teórico, tais como Iná Camargo Costa (1996), Patrice Pavis (2015), Walter Benjamin (2017) e Anatol Rosenfeld (2020). Para complementar a nossa análise, partiremos também do estudo e da interpretação dos signos teatrais mobilizados em cena, partindo da semiologia do espetáculo teatral, teorizada por Tadeuz Kowzan (1978), observando de que modos os signos do teatro se manifestam nessa encenação, a nossa hipótese é de que esses recursos remetem à carnavalização da obra de Machado de Assis, cruzando, mais uma vez, elementos literários e teatrais. Referências: ASSIS, M. A Igreja do Diabo. In: Histórias sem data.Obra Completa, de Machado de Assis, vol. II, Nova Aguilar, Rio de Janeiro, 1994. BENJAMIN, Walter. Ensaios sobre Brecht. Trad. de Claudia Abeling. São Paulo: Boitempo, 2017. BRECHT, Bertolt. Estudos sobre teatro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2ª Edição. 2005. COSTA, Iná Camargo. A hora do teatro épico no Brasil. São Paulo: Graal Ltd.,1996. GUINSBURG, Jacó; NETTO, J. Teixeira Coelho; CARDOSO, Reni Chaves. Semiologia do teatro. Editora Perspectiva, 1978. OLIVEIRA, A. M. A. dos S. CARNAVALIZAÇÃO EM MACHADO DE ASSIS: O CONTO ENTRE SANTOS. Línguas &amp; Letras, [S. l.], v. 9, n. 17, p. p. 209–222, 2000. DOI: 10.5935/rl&l.v9i17.2075. Disponível em: https://saber.unioeste.br/index.php/linguaseletras/article/view/2075. Acesso em: 12 maio. 2022. PAVIS, Patrice; GUINSBURG, Jacó; PEREIRA, Maria Lúcia. Dicionário de teatro. São Paulo: Perspectiva, 2ª Edição. 2015. ROSENFELD, Anatol. O teatro épico. São Paulo: Editora Perspectiva SA, 2020. SCHMIDT, Zilia Mara Scarpari; SILVA, Edson Rosa da. A IGREJA DO DIABO" E O DISCURSO DO CARNAVAL. Revista Letras, v. 27, 1978. DO TEXTO PARA A VIDA: DISPOSITIVOS DE ESCRITA PARA DESLOCAMENTOS DO COTIDIANO Carla da Silva Miguelote Resumo: O presente trabalho se propõe a pensar a relação entre escrita, performance e arte de instrução a partir das peças sonoras de “Mover(se): 7 peças para deslocar-se de dentro para fora”, do Coletivo Teatro Dodecafônico, para a Bienal Sesc de Dança 2021. A arte de instruções, embora mais ligada ao campo das artes plásticas e da performance, implica necessariamente a linguagem verbal: o texto instrutivo. Nesse sentido, um dos objetivos desse trabalho é pensar a arte de instruções a partir do campo das letras e da escrita literária. Observamos que a arte de instrução se apresenta como um exemplo de escrita injuntiva, que pode ser entendida como um sexto tipo de sequência textual, ao lado dos cinco tipos básicos (narrativa, descritiva, explicativa, argumentativa e dialogal). Como evidenciam as receitas culinárias e os manuais de instrução, o propósito do texto injuntivo seria levar o leitor a uma ação. No campo da arte contemporânea, interessam-nos as reverberações políticas das instruções ao público, suas propostas de resistência ao modo capitalista de usarmos o tempo e a vida cotidiana. Partese da constatação de que a pobreza da vida cotidiana (já denunciada por Guy Debord há mais de 50 anos) se agravou com a pandemia de covid-19 e as necessárias medidas de distanciamento social. De maneira mais evidente para alguns grupos, a pandemia provocou um fechamento de horizontes e um estancamento dos fluxos e das trocas sociais, intersubjetivas e afetivas. A restrição da circulação pelas ruas e espaços públicos, lugares de encontro com o acaso, o imprevisto e o fora de cálculo, impôs a clausura do espaço doméstico, com um consequente enrijecimento da rotina. Nesse sentido, trata-se de observar certa articulação entre arte, vida e literatura que aponta para a invenção de protocolos de experiência, longe dos automatismos da vida cotidiana. Referências: ALTSHULER, Bruce. Art by instruction and the Pre-History of do it. Disponível em: http://projects.e-flux.com/do_it/notes/notes.html BERNSTEIN, Ana. Marina Abramovic: do corpo do artista ao corpo do público. In: SUSSEKIND, Flora; DIAS, Tania; AZEVEDO, Carlito. Vozes femininas: gênero, mediações e práticas de escrita. Rio de Janeiro: 7letras: Fundação Casa Rui Barbosa, 2003. BOURRIAUD, Nicolas. Formas de vida: a arte moderna e a invenção de si. São Paulo: Martins Fontes, 2001. COMOLLI, Jean-Louis. Sob o risco do real. In: Catálogo Forumdoc.bh . Belo Horizonte: Filmes de Quintal, 2001. GACHE, Belén. Instruções de uso: partituras, receitas e algoritmos na poesia e na arte contemporânea. Florianópolis: par(ent)esis, 2017. GOLDBERG, RoseLee. A arte da performance: do futurismo ao presente. São Paulo: Martins Fontes, 2015. HENRIQUES, Júlio (org.). Internacional situacionista: antologia. Lisboa: Antígona, 1997. JAPPE, Anselm. Guy Debord. Lisboa: Antígona, 2008. KÖCHE, V.S.; MARINELLO, A.F.; BOFF, O.M.B. Os gêneros textuais e a tipologia injuntiva. In: Caderno Seminal Digital, ano 15, n. 11, v.11, jan-jun 2009. LAPOUJADE, David. O corpo que não aguenta mais. Disponível em: https://revistapolichinelo.blogspot.com/2011/04/o-corpo-que-nao-aguenta-mais.html MIGUELOTE, Carla. Porque ninguém pediu: escrita e invenção de protocolos de experiência. In: CHIARA, Ana et al (orgs). Bioescritas/Biopoéticas: corpo, memória e arquivos. Porto Alegre: Sulina, 2017. VANEIGEM, Raoul. A arte de viver para as novas gerações. São Paulo: Conrad, 2002. NA ATMOSFERA DA FEIRA-LIVRE, O ENCONTRO DA LITERATURA COM OUTRAS MANIFESTAÇÕES ARTÍSTICAS Cassia Dolores Costa Lopes Resumo: Esta comunicação desenvolverá uma leitura da imagem da feira-livre em textos literários na interface com outras manifestações artísticas a partir de reflexões de ordem estética e política. A questão é como descrever uma poética das sensações e da produção criativa a partir do enfoque literário e de outras artes, tendo como dispositivo de investigação a atmosfera da feira-livre, com seu intercâmbio de valores e de diferentes percepções de mundo. São muitas feiras que atravessam os canteiros do Brasil, que serão consideradas numa topografia criativa, imersa na dimensão política, atenta a acontecimentos capazes de fazer emergir a vida como força e resistência social. Para tal leitura, faremos uso da filosofia de José Gil sobre a poética das sensações, atrelada às palavras e imagens de artistas da cena contemporânea. Através da geografia do local onde se comercializam produtos, surgirão outras topografias, com distintos saberes e sabores, cientes de perspectivas diatópicas e críticas quanto à produção de visões estéticas e poéticas diferenciadas. Em Salvador, na Bahia, por exemplo, tem-se a Feira de São Joaquim, espaço considerado singular para se pensar as sensações vindas das frutas, das hortaliças, dos cheiros das plantas e folhas usadas em rituais, como também o eco de vozes em resistência, que produzem um comércio diverso, além de ser também um espaço onde os corpos se encontram para dialogar, para beber e construir relações de âmbito sociocultural, fora do controle dos centros hegemônicos de consumo, como o Shopping Center. Referências: DERRIDA, Jacques. Essa estranha instituição chamada literatura: uma entrevista com Jacques Derrida. Trad. Marileide Dias Esqueda. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2014. Gil, José. Fernando Pessoa ou A metafísica das sensações. Lisboa: Relógio d'Agua, 1987. _________. As pequenas percepções. In: Razão Nômade. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2005. LAPOUJADE, David. As existências mínimas. Trad. Hortência Santos Lencastre. São Paulo: N-1 Edições, 2017. RANCIÈRE, Jacques. A partilha do sensível: estética e política. Trad. Mônica Costa Netto. São Paulo: ED. 34, 2005. CRÔNICAS DE RESISTÊNCIA: GENEALOGIA DO PODER NA ARTE CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA Daniel Souza de Oliveira Resumo: A comunicação propõe abordar as crônicas como escritas de resistências, intérpretes de um Brasil em crise. Serão discutidas crônicas que dialogam com a crise democrática e a censura no campo das artes contemporâneas, com destaque para as escritas de Gregório Duvivier (2022) e Elisa Lucinda (2022) , numa leitura comparada com as obras artísticas de Adriana Varejão (2022) e Wagner Schwartz (2022). A discussão sobre resistência na literatura, nas artes e na cultura estará baseada em Giorgio Agamben (2018), Jacques Rancière (2018), Suely Rolnik (2016) e Ailton Krenak (2020). Diante do recrudescimento das tensões políticas e censuras no campo da arte, num contexto de crise democrática, desde 2016, torna-se relevante uma abordagem microfísica e micropolítica das artes brasileiras, a partir das propostas metodológica de Michel Foucault (2014), Gilles Deleuze e Felix Guattari (2012). Será proposta, portanto, uma cartografia das resistências artísticas, através da análise de crônicas contemporâneas. Assim, será possível criar uma abordagem genealógica do poder no campo artístico e cultural, de modo a evidenciar as tentativas de censura, silenciamento, ações e manifestações fascistas e autoritárias, e, portanto, as respostas dos artistas e cronistas. Pretende-se estabelecer um diálogo entre as crônicas, como escritas políticas, e o campo da arte contemporânea, no Brasil, de modo a evidenciar estratégias micropolíticas e culturais de resistência a fascismos, autoritarismos, censuras e violências. Referências: AGAMBEN, Giorgio. O fogo e o relato. ensaios sobre criação, escrita, arte e livros. Trad. Andrea Santurbano. São Paulo: Boitempo, 2018. SCHWARTZ, Wagner. In Eliane Brum- entrevista: “Fui morto na internet como se fosse um zumbi da série The Walking Dead. 2018. Jornal El País. Disponível em <https://brasil.elpais.com/brasil/2018/02/12/opinion/1518444964_080093.html.> Acesso 4 maio 2022. DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia 2. Vol 3. 2ª ed. Trad. Aurélio Guerra Neto; Ana Lúcia de Oliveira; Lúcia Cláudia Leão e Suely Rolnik. São Paulo: Editora 34, 2012. DUVIVIER, Gregório. A vida é montanha russa e só se pensa em 2022, mas ainda não superei 2018. Folha de São Paulo. Disponível em <https://www1.folha.uol.com.br/colunas/gregorioduvivier/2021/03/a-vidae-montanha-russa-e-so-se-pensa-em-2022-mas-ainda-nao-superei2018.shtml?utm_source=whatsapp&utm_medium=social&utm_campaign=compwa> Acesso em 4 maio 2022 FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Org. Roberto Machado. 28 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2014. KRENAK, Ailton. A vida não é útil. Org. Rita Carelli. 1ª ed. Companhia das Letras: São Paulo: 2020. LUCINDA, Elisa. E-mails sem resposta da Pfizer são como um deixa morrer. Jornalistas Livres. Disponível em <https://jornalistaslivres.org/e-mails-sem-resposta-da-pfizer-sao-como-um-deixa-morrer-por-elisalucinda/> Acesso em 4 maio 2022. RANCIÈRE, Jacques. A partilha do sensível: estética e política. Trad. Mônica Costa Netto. 4 reimp. São Paulo: Editora 34, 2018. ROLNIK, Suely. Cartografia sentimental: transformações contemporâneas do desejo. 2ª ed. Porto Alegre: Sulina; Editora da UFRGS, 2016. VAREJÃO, Adriana. Filho Bastardo. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2019. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra9053/filho-bastardo>. Acesso em: 4 mai. 2022. VAREJÃO, Adriana Filho Bastardo II - Cena de Interior. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2019. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra6874/filho-bastardo-ii-cena-de-interior>. Acesso em: 04 de mai. 2022. A REGIÃO-MÃE NAS LENTES DE PEDRO ALMODÓVAR E A POÉTICA DO DESAPARECIMENTO Eduardo Reis Silva Resumo: A proposta desse texto é realizar uma leitura sobre a temática dos desaparecimentos de personagens, enredos, pais, mães, filhos na obra cinematográfica de Pedro Almodóvar, a partir do diálogo com o conceito de "região-mãe", cunhado por Maurice Blanchot, na obra "O livro por vir'', no qual trata da musicalidade do canto das sereias presente na Odisséia de Homero. O estudo contempla a leitura de cenas dos filmes “Tudo sobre minha mãe” de 1999, “Dor e glória” de 2019, “Fale com Ela” de 2002, “Julieta” de 2016 e “Mães Paralelas” de 2021, filmes que tecem seus sentidos e rompem referentes, reescrevendo, sob o risco da criação, o próprio conceito de cinema. Desde os seus primeiros filmes da década de 1980 até os mais recentes, todos eles, colocam em evidência, não apenas as rasuras dos enquadramentos, como também gestos estranhos às padronagens dos hábitos costumeiros, inscritos em uma lógica político-ocidental. Mais especificamente nas obras citadas do referido cineasta espanhol, percebe-se a construção de uma poética e de uma política dos afetos, as quais tensionam e deflagram, em imagem movimento, uma territorialidade mater, na qual tudo parece se desenrolar, como um lugar de acontecimentos, como uma zona de criação e de produção de intensidades. Referências: AGAMBEN, Giorgio. O que resta de Auschwitz. São Paulo: Boitempo, 2008. BLANCHOT, Maurice. O livro por vir. Trad. Leyla Perrone-Moisés. – São Paulo: Martins Fontes, 2013.DIDI-HUBERMAN, Georges. Diante da imagem. São Paulo: Editora 34, 2013. 360 p. BLANCHOT, Maurice. A parte do fogo. Trad. Ana Maria Scherer. – Rio de Janeiro: Rocco, 2011. BUTLER, Judith. Corpos que importam: os limites discursivos do "sexo". São Paulo: N-1 edições, 2020. DELEUZE, G. A. A Imagem-tempo. São Paulo: Brasiliense, 2007 . DIDI-HUBERMAN. A sobrevivência dos vaga-lumes. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011. DIDI-HUBERMAN, Georges. Diante da imagem. São Paulo: Editora 34, 2013. 360p. DIDIHUBERMAN, Georges. O que vemos, o que nos olha. São Paulo: Editora 34, 1998. 260 p. DOR e glória. Direção: Pedro Almodóvar, 2019. FALE com ela. Direção: Pedro Almodóvar, 2002. JULIETA. Direção: Pedro Almodóvar, 2016. MÃES paralelas. Direção: Pedro Almodóvar, 2021. PRECIADO, Paul B. Testo junkie: sexo, drogas e biopolítica na era farmacopornográfica. São Paulo: N-1 edições, 2018. STRAUSS, Frederic. Conversas com Almodóvar. Rio de Janeiro: Zahar, 2008. TUDO sobre minha mãe. Direção: Pedro Almodóvar, 1999. QUANDO A ENUNCIAÇÃO ROÇA E ARRANHA A SUPERFÍCIE: O TEXTO CLARICIANO E O EXPRESSIONISMO ABSTRATO Fábio Barbosa da Silva Resumo: Em um conjunto de cartas que se prolonga de 7 de maio de 1956 até 24 de janeiro de 1957, Clarice Lispector e Fernando Sabino conversam sobre a edição e publicação do livro A maçã no escuro. Nesses escritos Fernando Sabino recomenda à Lispector a mudança do foco do romance de primeira para terceira pessoa, recomendação que com certa relutância é acatada pela escritora. Partindo desta omissão “forçada” em A maçã no escuro, e de sua volta categórica em A paixão segundo G.H. e Água viva, buscaremos investigar como a narrativa em primeira pessoa clariciana quebra com os paradigmas ficcionais da escrita literária. Como forma de entender essa cesura ficcional que Lispector apresenta nos textos citados, iremos relacionar a sua escrita com a produção de artistas do Expressionismo Abstrato, principalmente Cy Twombly. Essa vanguarda artística, que surge nos Estados Unidos em meados do século XX, e que produz uma ruptura na forma de fazer e de representar imagens em um quadro. Esse corte com os paradigmas estabelecidos que produz um livro inclassificável do ponto de vista do gênero como Água viva ou pinturas tão abstratas a ponto de nelas só existirem os traços, não está mais ligado a cartilhas estéticas de como produzir um livro ou quadro, mas sim em uma busca de representar a si próprio no processo em que a obra acontece, a busca para trazer à tona a enunciação que roça a superfície da produção artística. Referências: BARTHES, Roland. O óbvio e Obtuso. Disponível em: http://tiny.cc/to0kuz. Acesso em: 07/10/2021. FOSTER, Hal. O retorno do Real: A vanguarda no final do século XX. Tradução: Célia Euvaldo. São Paulo: Ubu Editora, 2017. GREENBERG, Clement. “Rumo a um mais novo Laocoonte” IN: Clemente Greenberg e o debate crítico. Org. Glória Ferreira e Cecília Cotrim de Mello. Tradução: Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Funart Jorge Zahar, 1997. LISPECTOR, Clarice. A mação no escuro. Rio de Janeiro: Rocco, 2020. LISPECTOR, Clarice. Água viva. Org: Pedro Karp Vasquez. Rio de Janeiro: Rocco, 2019. LISPECTOR, Clarice. Água viva. Rio de Janeiro: Rocco, 2020. LISPECTOR, Clarice. Objeto gritante. Disponível em: http://tiny.cc/sehkuz. Acesso em: 20/10/2021. LISPECTOR, Clarice. Todas as cartas. Rio de Janeiro: Rocco, 2020. NUNES, Benedito. “A Narração desarvorada”. Disponível em: https://issuu.com/ims_instituto_moreira_salles/docs/clb_clarice_lispector. Acesso em: 12/10/2021. P. 299. PAGÈS, Alain. “A materialidade epistolar. O que nos dizem os manuscritos autógrafos”. IN: Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, n. 67, 2017, p. 106-123. SABINO, Fernando. Cartas perto do coração / Fernando Sabino, Clarice Lispector. Rio de Janeiro: Record, 2011. Sotheby’s. “Legendary Filmmaker John Waters On the Audacity of Cy Twombly”. Disponível em: http://tiny.cc/3m0kuz. Acesso em 07/10/2021. STEWART, Susan. Crimes of writing: problems on the containment of representation. New York: Oxford University Press, 1991. OS FILHOS DA DITADURA E A REMONTAGEM DA HISTÓRIA Gabriela Fernandes De Carvalho Resumo: Em 1979, no Brasil, foi promulgada a Lei da Anistia, que previa o perdão aos crimes políticos praticados no período da ditadura militar. Tal lei apontava para o declínio do regime iniciado em 1964, que instaurou por vinte e um anos uma ditadura civil-militar caracterizada pela repressão política e cultural e pela violência exagerada aos opositores. Assim se inicia a década de 80, com a promessa de dias mais esperançosos, o movimento de abertura política e um forte descompasso na economia, esta década que veio a ser lida por críticos e historiadores como “tempo perdido”, especialmente na perspectiva econômica, cultural e artística. Propomos aqui pensar nos "filhos da ditadura” e em como esses artistas elaboram em suas obras o regime de opressão indireta, no qual eles cresceram. Enquanto o país passa pelas mazelas e violência do autoritarismo, a esses jovens restam os vestígios da repressão, do silenciamento e do luto. Esses vestígios aparecerão nas produções artísticas pós-ditatoriais, podendo ser lidas como fragmentos que remontam a história. Dessa forma, analisaremos as obras de alguns artistas de diferentes linguagens, que produziram e publicaram na década de 80, com ênfase no escritor João Gilberto Noll e no artista visual José Leonilson, procurando compreender as estratégias utilizadas para a remontagem da história. Faremos uma leitura na perspectiva interartística - metodológica e teoricamente - e discutiremos os conceitos de história e montagem a partir de Benjamin e DidiHuberman. Referências: BENJAMIN, Walter. O anjo da história. Edição e tradução João Barrento. 2.ed; Belo Horizonte: Autêntica, 2016. CASA NOVA, Vera. Fricções: traço, olho e letra. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008. DIDI-HUBERMAN, Georges. Atlas, ou, o Gaio Saber Inquieto: o olho da história III. Tradução Vera Casa Nova/ Márcia Arbex. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2018a. ------. Diante do tempo: História da arte e anacronismo das imagens. Tradução Vera Casa Nova/ Márcia Arbex Belo Horizonte: Editora UFMG, 2017a ------. Quando as imagens tomam posição: o olho da história I. Tradução Vera Casa Nova/ Márcia Arbex Belo Horizonte: Editora UFMG, 2017b ------. Remontagens do tempo sofrido: o olho da história II. Tradução Vera Casa Nova/ Márcia Arbex Belo Horizonte: Editora UFMG, 2018b. ------. Sobrevivência dos vaga-lumes. Tradução Vera Casa Nova/ Márcia Arbex Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011. LAGNADO, LISETTE. São tantas as verdades. São Paulo: Projeto Leonilson: Sesi, 1995. NOLL, João Gilberto. O cego e a dançarina. Rio de Janeiro: Record, 2008. QUADRAT, Samantha Viz (Org). Não foi tempo perdido: os anos 80 em debate. Rio de Janeiro: 7 letras, 2014. ESCRITAS PERFORMATIVAS: DE ONDE VEM ESSA VOZ? Irma Caputo Resumo: A presente comunicação pretende enuclear alguns pontos de pesquisa desenvolvidos ao redor das escritas performativas. Existem várias formas da literatura absorver o elemento performativo, mas nesses estudos de caso específicos – O peso do passar morto (2017) de Aline Bei e Adeus, cavalo (2017) de Nuno Ramos – serão destacados os elementos mais próximos da performance de cunho teatral. A primeira pergunta que se tentará responder é como um texto escrito, nascido para não ser encenado, consegue assim mesmo colocar o leitor ao centro de uma cena, reproduzindo enfim uma situação performática próxima ao teatro pós-dramático. A resposta a essa pergunta será desenvolvida a partir das características salientes dos textos abordadas através dos conceitos de i) audição performativa (FÉRAL apud ZUMTHOR, 2007), considerando que a recriação do espaço do outro e de teatralidade não requer necessariamente a presença física, mas sim a ocorrência de alguns fatores (FÉRAL, 2015); ii) acousmática (acousmatic, LaBELLE, 2018), isto é a presença de uma voz cuja fonte não é identificável, que nas instalações se dá através do som/ruído/vozes emitidos no espaço profusamente, enquanto em literatura declina-se por um emaranhamento das vozes de um texto servindo-se de grifos e grafias que identificam funções diversas (voz narradora, voz interna, voz interagente) e que sucessivamente serão trocadas; iii) texto instalação (SPERANZA, 2012), isto é, escritas cuja construção de sentido está in fieri como em uma instalação, tanto pelas multiplicidades de elementos que se intersecionam, resultado de procedimentos estéticos advindos de outras artes, quanto pela própria disposição do verbal no layout da página. Referências: BEI, Aline. O peso do pássaro morto. São Paulo: Nós, 2017. FÉRAL, Josette. Além dos limites. Teoria e prática do teatro. Tradução de J. Guinsburg [et al.]. São Paulo: Perspectiva, 2015. LaBELLE, Brandon. Sonic Agency: Sound and Emergent Forms of Resistance. London: Goldsmith Press, 2018. RAMOS, Nuno. Adeus, Cavalo. São Paulo: Iluminuras, 2017. SPERANZA, Graciela. Atlas Portátil de América Latina. Arte y ficciones errantes. Barcelona: Anagrama, 2012. ZUMTHOR, Paul. Performance, recepção leitura. 2ª edição. Tradução Jerusa Pires Ferreira e Suely Fenerich. São Paulo: Cosac Naify, 2007. MUSICALIDADES DO "RONDÓ DOS CAVALINHOS", POEMA DE MANUEL BANDEIRA Jacqueline Nunes Brunet Resumo: A presente comunicação compõe resultados da pesquisa de nível doutoral intitulada "Musicalidades em canções, baladas, elegias e rondós de Manuel Bandeira", vinculada ao Programa de Pós-graduação em Estudos de Linguagem da Universidade Federal de Mato Grosso. Inserida na área dos Estudos Comparados, sob a orientação da Profa. Dra. Célia Maria Domingues da Rocha Reis, é um trabalho que trata da poesia na sua interface com a música e é de investigação duplamente comparativa, em que se equipara: 1) o uso da espécie lírico-musical Rondó na poesia francesa – seu berço – e na brasileira; e 2) os elementos que refletem as duas artes que integram o fazer poético de Bandeira, a saber, poesia e música. O objetivo é identificar as musicalidade nos versos bandeirianos e melhor compreender seu estilo poético. Para tanto, apresentaremos brevemente uma análise dos aspectos que sugerem musicalidades no poema “Rondó dos cavalinhos", publicado em Estrela da manhã (1936). Centraremos o exame na camada fônica, da estrutura macro para a micro e na entoação: estrofe, metro, rimas, refrão, fonemas, pontuação, compasso, andamento, altura, intensidade, pausas, ritmo. Todos esses elementos serão relacionados à camada semântica do poema, a fim de constituí-la. Como aporte teórico, além de textos que apresentam o rondó medieval e seus desdobramentos, como o de Isabelle Ragnard e Agathe Sultan, André Hodeir e Henio Tavares, tomaremos como suporte teorias focadas na sonoridade poética, como as de Nilce Martins, Simona Pollicino e Alfredo Bosi. Isso feito, teremos fundamentação para identificarmos e compreendermos as musicalidades concernentes ao estilo poético de nosso poeta. Referências: BANDEIRA, Manuel. Poesia Completa e Prosa. Vol. Único. Rio de Janeiro.: Nova Aguilar, 1993. p. 239-240. BOSI, Alfredo. Frase: música e silêncio. In. _____. O ser e o tempo da poesia. São Paulo: Cultrix, 1977. p. 63-106. HODEIR, André. Les formes de la musique. 17 ed. Coll. “Que sais-je?”. Paris: PUF, 2019. p. 92-93. MARTINS, Nilce Sant'ana. A estilística dos sons. In.: _____. Introdução à Estilística: a Expressividade na Língua Portuguesa. 4. ed. rev. São Paulo: EDUSP, 2008. p. 45-80. POLLICINO, Simona. La notion de rythme entre poésie et musique. Synérgies, Espagne, n. 4, p. 34-41, 2011. RAGNARD, Isabelle; SULTAN, Agathe. Le rondeau musical, mouvances d'une forme fixe. In. Le rondeau entre XIIIe et XVIe siècles. Sous la direction de Jacqueline CERQUIGLINI-TOULET, Clotilde DAUPHANT e Sylvie LEFÈVRE. Paris: Honoré Champion Editeur, 2021. p. 95-125. TAVARES, Henio. Teoria Literária. 10 ed. Belo Horizonte/Rio de Janeiro: Villa Rica Editoras, 1991. p. 300-301. VENTRILOQUISMO E INDIRETO LIVRE NA PROSA DE NUNO RAMOS Jorge Andrés Manzi Cembrano Resumo: Em “Escalas e ventríloquos” (2000), ensaio dedicado a discutir o estado das artes brasileiras na Nova República, Flora Süssekind chamou a atenção para o uso crescente em diferentes meios (não apenas no teatro) de um “princípio dramático” que denominou “ventriloquismo”, definindo-o como uma “tensão enunciativa” orientada a “expor situações de desmedida”. Tais situações poderiam aludir tanto às desmedidas da experiência histórica (marcada pelas complexidades da redemocratização em grande escala e pela inserção turbulenta do país na globalização neoliberal) quanto à própria condição das artes na contemporaneidade, marcada pela trans-medialidade e pela tensão entre especificidade e inespecificidade (Cf. Laddaga, Krauss). Nesta comunicação, a noção de ventriloquismo será o ponto de partida para discutir os sentidos do uso “teatral” da voz na prosa literária do artista trans-medial Nuno Ramos. Com frequência, os seus “narradores” ou “personagens” se expressam em discurso direto, em presente, incorporando marcas do dramático (p.ex. rubricas, uso de dêicticos cênicos) e produzindo efeitos teatrais em contextos narrativos (p.ex. instauração de espaços “cênicos”). Focalizando o argumento n’O Mau vidraceiro (2010), analisarei com especial atenção os momentos de irrupção deste “ventriloquismo” em contextos de narração em estilo indireto livre: veremos como a introdução súbita de dicções teatrais podem fissurar e inviabilizar a orientação do indireto livre a integrar de modo fluido e equilibrado vozes subjetivas no interior do discurso indireto de um narrador impessoal. Tentaremos argumentar que o uso “ventríloquo” da voz direta na prosa de Ramos sugere que, no marco histórico da redemocratização, o problema da incorporação de individualidades heterogêneas em moldes comuns e impessoais resultaria bastante mais difícil e amorfo do que o estilo indireto livre do romance burguês moderno pressupunha (F. Moretti). Assim, a surpreendente experimentação de Ramos com dicções teatrais na sua prosa pode ser vista como uma poderosa via formal para “expor” estas dificuldades e desmedidas. Referências: Krauss, Rosalind. “A voyage on the north sea.” Art in the age of the post-medium condition. Nueva York: Thames & Hudson, 1999. ______________. Under blue cup. Cambridge: The MIT Press, 2011. Laddaga, Reinaldo. “Introducción’. In: Espectáculos de realidad. Ensayo sobre la narrativa latinoamericana de las últimas dos décadas. Buenos Aires: Beatriz Viterbo Ediciones, 2007. Moretti, Franco. El burgués. Entre la historia y la literatura. Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica, 2014. Süssekind, Flora. "Escalas & ventriloqüos". In: Folha de São Paulo, 23 de julho de 2000. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs2307200003.htm. Visitado en: 28/01/2022. O ANALÓGICO FACE A FACE COM O DIGITAL: UM ESTUDO COMPARATIVO DAS POTENCIALIDADES SÍGNICAS DAS DIFERENTES EDIÇÕES DE DUAS OBRAS PUBLICADAS PELA EDITORA CAIXOTE Juliana Pádua Silva Medeiros, Mariana Amargós Vieira Resumo: No século XXI, despontam produções literárias que trazem grandes desafios conceituais e metodológicos aos pesquisadores quanto à experiência de/com/pelas linguagens. Na intenção de se debruçar sobre essas complexificações, propõe-se olhar para as obras da Caixote, uma editora brasileira que, em 2015, iniciou sua caminhada nos multiversos da literatura com a criação de livros-aplicativo, sendo alguns deles, como "Pequenos grandes contos de verdade" (2016) e "Quanto bumbum!" (2017), laureados no Prêmio Jabuti na categoria Livro Digital Infantil. De lá para cá, a editora tem investido em obras interativas analógicas e em versões digitalizadas dos seus livros físicos, disponíveis na biblioteca virtual Bamboleio. Nesta comunicação, à luz de Santaella (2004, 2005, 2011), Agamben (2005), Frederico (2014, 2016), Zumthor (2018), Kirchof (2021), Medeiros (2022), Navas e Junqueira (2019, 2021), entre outros, analisar-se-ão as diferentes edições de "Amal e a viagem mais importante de sua vida", de Carolina Montenegro e Renato Moriconi, e "O menino que virou chuva", de Yuri Franco e Renato Moriconi, buscando discutir: O que acontece com as matrizes da linguagem e com as possibilidades de interação quando um livro que nasceu aplicativo (2019), depois foi impresso (2019) e reimpresso com outras dimensões (2022), transforma-se em livro digitalizado (2019) como é o caso "Amal e a viagem mais importante de sua vida"?; Por que o livro "O menino que virou chuva" em versão analógica (2020), que se assemelha a um flipbook, dialogando com o mundo do cinema, é mais interativo que a versão digital (2022)?; Em que medida as (i)materialidades impactam na performance leitora, convidando o leitor a experimentar as potencialidades sígnicas enquanto coautor dos sentidos nas edições citadas?, e De que maneira cada obra explora os diálogos interartes e como a migração do analógico para o digital e vice-versa ressignifica o arranjo estético?. Referências: AGAMBEN, Giorgio. Infância e história: destruição da experiência e origem da história. Belo Horizonte: UFMG, 2005. FREDERICO, Aline. Playfulness in e-picturebooks: how the element of play manifests in transmediated an born-digital apps. 2014. Dissertação (Mestrado em Literatura Infantil) University of British Columbia, Vancouver, 2014. FREDERICO, Aline. O futuro do leitor ou o leitor do futuro: o livro infantil interativo e os letramentos múltiplos. Cadernos de Letras da UFF, n. 52. p. 101-210, 2016. KIRCHOF, Edgar Roberto. A literatura infantojuvenil no mundo digital. In: NOVAIS, Carlos Augusto et. al. (Org.). Qual a literal?: diferentes perspectivas da produção literária para crianças e jovens na contemporaneidade. Belo Horizonte: UFMG, 2021. MEDEIROS, Juliana Pádua Silva Medeiros. Trouxe a chave?: as materialidades do livro interativo analógico na literatura de infância, um convite a abrir as portas da percpeção. 2022. Tese (Doutorado em Letras) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2022. NAVAS, Diana; JUNQUEIRA, Maria Aparecida (Orgs.). Livro-objeto: pluraldiade, potência. São Paulo: BT Acadêmica, 2019. NAVAS Diana; JUNQUEIRA, Maria Aparecida (Orgs.). Livro-objeto e outras artes. São Paulo: BT Acadêmcia, 2021. SANTAELLA, Lucia. Navegar no ciberespaço: o perfil cognitivo do leitor imersivo. São Paulo: Paulus, 2004. SANTAELLA, Lucia. Matrizes da linguagem e pensamento: sonora, visual, verbal - aplicações na hipermídia. São Paulo: Iluminuras, 2005. SANTAELLA, Lúcia. A estética das linguagens líquidas. In: SANTAELLA, Lúcia; ARANTES, Priscila (Orgs). Estéticas tecnológicas: novos modos de sentir. São Paulo: Educ, 2011. ZUMTHOR, Paul. Performance, recepção e leitura. São Paulo: Ubu, 2018. OS MODOS DE VER NA OBRA DE FERNANDO NAMORA: LITERATURA, PINTURA E CINEMA Karina Frez Cursino Resumo: Martelo (2007) reflete sobre o significativo interesse pelo universo das imagens e do cinema demonstrado pelos poetas do século XX, observado pelo trabalho imagético que esses escritores passam a desenvolver de maneira progressiva. Fernando Namora, autor português muito divulgado e traduzido nos anos 70 e 80, dedicou aproximadamente cinquenta anos de sua vida ao fazer literário, deixando uma obra significativa e com muitas faces, pois escreveu poemas, contos, romances, ensaios, relatos de viagem, entre outros. Além disso, Namora pintava, fazia esculturas e escrevia roteiros de cinema, evidenciando um olhar atento para as diversas manifestações artísticas. Dialogando com essas inclinações, mas não se limitando a apenas transpor a experiência vivida para a obra, é possível perceber que sua escrita é por vezes atravessada por outras artes, permitindo que o leitor tenha uma experiência interartística ao se deparar com algumas de suas composições. Esse olhar múltiplo que o literato deixa transparecer em certos textos revela o observador e amante que foi, principalmente, da pintura e do cinema. Partindo dessas inter-relações da Literatura com diferentes esferas artísticas e destacando, sobretudo, a criação de imagens por meio das palavras, a presente comunicação tem o objetivo de refletir sobre alguns momentos da produção do escritor em que o encontro interartes ressoa em seus textos, trazendo para a Literatura marcas e recursos de outros universos artísticos de modo a provocar sensações, especialmente visuais, nos leitores. A investigação apoia-se na teoria da correspondência das artes, de Étienne Souriau; na ideia de complementaridades (a arte e a vida), de Isabel Ponce de Leão; nos artigos presentes no Cadernos de literatura comparada - Poesia e outras artes: do modernismo à contemporaneidade, organizado por Ana Luísa Amaral, Gonçalo Vilas Boas, Lurdes Gonçalves e Rosa Maria Martelo; nos estudos interartes de Claus Clüver, entre outros. Referências: CLÜVER, Claus . Estudos interartes: Conceitos, termos, objetivos. Literatura e Sociedade (USP) , v. 2, p. 37-55, 1997. ÉTIENNE, Souriau. A correspondência das artes: elementos de estética comparada. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1983. LEÃO, Isabel Ponce de. Complementaridades (a arte e a vida). Porto: Revista da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, série 2, 2005. MARTELO, Rosa Maria. Poesia, imagem e cinema – “Qualquer poema é um filme?”. In Cadernos de literatura comparada 17. Poesia e outras artes: do modernismo à contemporaneidade (Dez. 2007),195213. BARROCO FLORAL LAHAR: CRUZAMENTOS DAS FLORES DE GEORGIA O'KEEFFE NA POÉTICA LAHARSISTA SERGUILHIANA Luciana Abreu Jardim Resumo: Nesse simpósio aberto às interartes, considerando a possibilidade da ampla discussão imagem e poesia, proponho apresentar aspectos do meu projeto de pesquisa dedicado às composições poéticas do escritor Luís Serguilha, a partir do recorte poesia e pintura. Para tanto, a pesquisa propõe inscrever na Estética barroca o sintagma floral lahar, cujo arranjo teórico encontra aporte na pintura de Georgia O'Keeffe e na poética denominada Laharsista, de Luís Serguilha. Ao retomar algumas fontes do barroco, entre elas os estudos de Wölfflin, de Helmut Hatzfeld, de Mario Perniola, e no Brasil as pesquisas de Affonso Ávila, ao lado das contribuições de Haroldo de Campos, inicialmente em O sequestro do barroco, pretende-se voltar ao debate desse recalque e ampliá-lo na literatura brasileira a partir das pistas do feminino elencadas por Octavio Paz, em Sor Juana de la Cruz ou as armadilhas da fé, e por Julia Kristeva, que dedicou longos anos de investigação à vida-obra de santa Teresa d'Ávila, em Thérèse mon amour (2008).Os estudos esparsos de Kristeva sobre a produção de Georgia O’keeffe estabelecem vínculos teóricos entre literatura e pintura, servindo de base para a composição do que reconhecemos como uma “escrita floral”, esboçada em minha tese Clarice Lispector e Julia Kristeva: dois discursos sobre o corpo (2008) e posteriormente retomada no ensaio intitulado “Heranças da escrita desde a condição feminina: notas sobre a pintura e a literatura” (2019), no volume da revista Aletria dedicado à “Teoria e crítica no tempo presente”. Busca-se desenhar as ressonâncias dessas florações na Estética Laharsista do poeta Luís Serguilha, seguindo sobretudo duas referências visuais recorrentes em suas composições poéticofilosóficas, a saber, Jackson Pollock e Francis Bacon. Referências: Ávila, Affonso. Barroco: teoria e análise. São Paulo: Perspectiva, 2013. CAMPOS, Haroldo de. O sequestro do barroco na Formação da literatura brasileira: o caso Gregório de Matos. São Paulo: Iluminuras, 2011. JARDIM, Luciana A. Clarice Lispector e Julia Kristeva: dois discursos sobre o corpo. Tese de doutorado. Porto Alegre: PUCRS, 2008. JARDIM, Luciana A. Dobras lahars na poética serguilhiana. Revista Sphera. Belo Horizonte, 2021. JARDIM, Luciana A. Heranças da escrita desde a condição feminina: notas sobre a pintura e a literatura. Revista Aletria. Belo Horizonte, v. 29, n. 3, p. 283-304, 2019. KRISTEVA, Julia. La forme inévitable. In La haine et le pardon: Pouvoirs et limites de la psychanalyse III. Paris: Fayard, 2005. KRISTEVA, Julia. Thérèse mon amour. Paris: Fayard, 2008. HATZFELD, Helmut. Estudos sobre o barroco. São Paulo: Perspectiva, 1988. PAZ, Octavio. Sor Juana Inés de la Cruz ou As armadilhas da fé. Tradução de Wladir Dupont. São Paulo: Ubu, 2017. PERNIOLA, Mario. Enigmas: egípcio, barroco e neobarroco na sociedade e na arte. Chapecó, SC: Argos, 2009. SERGUILHA, Luís. ExCRIptura-ACósMicalaHarsista! In: Signos artísticos em movimento. Organização de Ana Maria Haddad Baptista, Rosemary Roggero, Ubiratan D’Ambrosio. São Paulo, BT Acadêmica, 2017. WOLFFLIN, Heinrich. Renascença e barroco: estudo sobre a essência do estilo barroco e sua origem na Itália. 2. Ed. São Paulo: Perspectiva, 2012. OSWALD DE ANDRADE E VLADÍMIR MAIAKÓVSKI NO PALCO ANTROPÓFAGO DOS MARTINEZ CORRÊA Luciana Caeté Busson Ferreira Resumo: O trabalho tem como objetivo investigar as estratégias utilizadas por dois diretores de teatro, os irmãos José Celso e Luís Antônio Martinez Corrêa, para levar ao palco textos de dois escritores que, à época, eram pouco conhecidos pelo público brasileiro. Em 1967, José Celso Martinez Corrêa foi o primeiro diretor a encenar um texto de Oswald de Andrade, O Rei da Vela. O espetáculo teve um importante impacto na forma como os trabalhos de Oswald passaram a ser percebidos em nosso cenário cultural. Catorze anos depois, Luís Antonio Martinez Corrêa decide montar O Percevejo, texto para o teatro escrito por Vladímir Maiakóvski, poeta russo cuja obra era muito pouco conhecida em nosso país. A montagem teatral foi responsável por divulgar para um público mais amplo a obra de Maiakóvski. Ambos os diretores, cada um a seu modo, deixaram clara a importância da antropofagia para o processo criativo das peças. De acordo com José Celso, a antropofagia no processo de criação cênica é importante para “tentar reencontrar um clima de criação violenta, em estado selvagem” (CORRÊA, 1998, p.89). Luís Antonio, por sua vez, acreditava que o trabalho de encenar Maiakóvski deveria ser pautado por uma “relação oswaldiana, antropofágica, procurando evidenciar sua universalidade” (Programa da Peça,1981 apud SILVA, 2016, p.49). Diante do exposto, o questionamento que levantamos é: como, em cada um dos casos, a antropofagia se relaciona com uma leitura crítica e com um processo de apropriação da obra de Oswald de Andrade e de Vladimir Maiakóvski, respectivamente? Que semelhanças e que diferenças podem ser notadas naquilo que cada um dos diretores chama de antropofagia? Como cada um dos diretores se utilizou da devoração crítica para criar sua própria obra cênica e palimpséstica, que se relaciona com o texto, mas que, simultaneamente, é autônoma e existe independente da literatura? Referências: CORRÊA, José Celso Martinez. Primeiro Ato: cadernos, depoimentos, entrevistas. São Paulo: Editora 34, 1998 SILVA, Cássia Abadia da. Anarquia, beleza e magia : Luís Antonio Martinez Corrêa e O percevejo na cena brasileira. 2016. 190 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Humanas) - Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2016. DOI http://doi.org/10.14393/ufu.di.2016.3 PERCORRER MUNDOS: TRANSCRIAÇÃO E VORACIDADE VOCAL EM VAGA CARNE Maria De Abreu Altberg Resumo: No filme Vaga carne (2019), dirigido (em parceria com Ricardo Alves Jr.) e protagonizado por Grace Passô, a personagem principal é uma voz, que, com o poder de transitar por diferentes matérias, nos convida a acompanhar sua jornada quando emaranhada a determinado corpo feminino. Novos e inesperados afetos são conhecidos ao adentrar esse corpo, quando a voz passa a ser submetida às implicações sociais de encarnar uma dada identidade. A situação construída clama por uma ideia de escuta e por uma postura ativa do espectador. O média-metragem é uma transcriação do premiado espetáculo teatral homônimo. O termo sugere um trânsito criativo para além de uma adaptação. Apesar de usar uma sala de teatro como locação, os diretores do filme encararam o desafio de explorar uma potencialidade própria do meio audiovisual que vai muito além do que seria um registro da peça. O ato de manipulação da narrativa inerente à montagem audiovisual permite que a transcriação cinematográfica do texto dramatúrgico de Passô embaralhe de maneira inventiva todas as possibilidades de apresentação da voz, que é protagonista, dando-lhes (des)contornos enriquecedores. Enquanto o espetáculo teatral apoiava-se primordialmente no domínio da atriz em performar os desvãos e os encontros entre voz e corpo, o cinema permite intensificar o jogo de desacordo com os meios próprios da linguagem audiovisual. A partir da narrativa do filme, e em diálogo com teóricas como Ursula K. Le Guin, Anne Carson e Adriana Cavarero, a comunicação propõe ainda pensar a afirmação de vozes plurais como enfrentamento poético a silenciamentos históricos. Referências: CAMPOS, Haroldo de. “Da traduc?a?o como criac?a?o e como cri?tica”. In: Metalinguagem e outras metas. Sa?o Paulo: Perspectiva, 2004. CARSON, Anne. “O ge?nero do som”. Trad. Mari?lia Garcia. In: Serrote. Rio de Janeiro, n. 34, 2020. CAVARERO, Adriana. Vozes plurais: filosofia da expressa?o vocal. Trad. Flavio Terrigno Barbeitas. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011. DELEUZE, Gilles. “O ato de criac?a?o”. In: Folha de Sa?o Paulo, 27/06/1999. LE GUIN, Ursula. The Carrier Bag Theory of Fiction. With an Introduction by Donna Haraway. Londres: Ignota Books, 2019. NODARI, Alexandre. “A literatura como antropologia especulativa”. Revista da Anpoll, n. 38, 2015. < https://revistadaanpoll.emnuvens.com.br/revista/article/viewFile/836/791> (U?ltimo acesso em 20 mai. 2021). OBICI, Giuliano Lamberti. Condic?a?o da escuta. 7Letras, 2008. PASSO?, Grace. Vaga Carne. Belo Horizonte: Javali, 2018. POÉTICAS DA EDIÇÃO EM 'FIO CONDUTOR', DE LAURA CASTRO: AS ARTES DO LIVRO E DO VÍDEO A PARTIR DA LITERATURA Maruzia de Almeida Dultra Resumo: Este trabalho aborda as relações da literatura com o livro de artista (CARRIÓN, 2011) e com o vídeo (BEIGUELMAN, 2007), a fim de aproximar as poéticas da edição literária, editorial e videográfica no livro de artista ‘Fio Condutor’ (2013a), de Laura Castro. Para tanto, evidencia as operações de corte e costura realizadas na/pela obra, seja na artesania com palavras e imagens (PATO, 2012), seja na fisicalidade do livro enquanto categoria artística e objeto que se traduz em sentido (PLAZA, 1982). A partir de uma novela concebida através do princípio do corte, a artista experimentou diversos meios e suportes para materializar sua escrita e publicação, reconhecendo-se também como editora (CASTRO, 2014) e participando de todo o processo de criação da desafiante tiragem artesanal (DERDYK, 2013). Tal prática caracteriza o livro de artista, diferenciando-o das obras do mercado editorial tradicional, no qual o autor é apenas um dos elos da cadeia de produção do livro (SILVEIRA, 2008). Como uma alternativa às intermediações típicas do mundo da arte, a publicação independente constitui-se uma postura de resistência artística (LINKER, 2012). Além da metalinguística escrita de um livro, ‘Fio Condutor’ apresenta o processo de edição de memórias da personagem-narradora, procedimento análogo à bricolagem audiovisual própria da edição videográfica (DUBOIS, 2004). Também pela via da bricolagem está a natureza de “livro intermedia” (PLAZA, 1982) da obra em questão, escrita com os componentes audiovisuais do argumento, plano-sequência, decupagem e reedição. A linguagem videográfica transcriada verbal e plasticamente provoca o leitor a compor sua própria edição, seu fio condutor. Portanto, o ato de editar é tema da narrativa e operador conceitual e poético da obra. Dos “estudos de sutura” (CASTRO, 2013b), resultou um livro-cicatriz que dá a ver elementos literários, editoriais e videográficos imbricados, de modo que, do ponto de vista da trama, existe apenas integração (CLÜVER, 2006). Referências: BEIGUELMAN, Giselle. Livrídeos: vídeo e literatura nos anos 80 e 90. In: MACHADO, Arlindo (Org.). Made in Brasil: três décadas do vídeo brasileiro. São Paulo: Iluminuras/Itaú Cultural, 2007. p. 129138. CARRIÓN, Ulises. A nova arte de fazer livros. Tradução de Amir Brito Cadôr. Belo Horizonte: C/ Arte, 2011. CASTRO, Laura. Fio condutor. 2013a. Livro-objeto. ______. Fragmentos de um Fio condutor (Blogue), 2013b. Disponível em: <www.fragmentosdeumfiocondutor.blogspot.com>. Acesso em 02 mai. 2022. ______. INTERVENTURAS – 3ª edição. [2014]. Entrevistador: Sandro Ornellas. Salvador: 2014. Realização: Clipoems & LABOR.POET.CO. Disponível em: <https://youtu.be/wFoSZTlLe9o>. Acesso em 02 mai. 2022. CLÜVER, Claus. Inter textus/ Inter artes/ Inter media. Revista Aletria, v. 6, p. 1-32, jul.dez./2006. Disponível em: <http://www.periodicos.letras.ufmg.br/index.php/aletria/article/viewFile/1357/1454>. Acesso em 20 jan. 2019. DERDYK, Edith. Entre ser um e ser mil. In: DERDYK, Edith (Org.). Entre ser um e ser mil: o objeto livro e suas poéticas. São Paulo: Senac, 2013. p. 9-15. DUBOIS, Philippe. Cinema, vídeo, Godard. Tradução de Mateus Araújo Silva. São Paulo: Cosac Naify, 2004. (col. Cinema, teatro e modernidade) LINKER, Kate. Livro de artista como espaço alternativo [1980]. Revista ¿Hay en Portugués?, Florianópolis, Número Zero – Edição Experimental, mai.-jun. 2012. PATO, Ana. Literatura expandida: arquivo e citação na obra de Dominique Gonzalez-Foerster. São Paulo: Edições SESC-SP/Associação Cultural Videobrasil, 2012. PLAZA, Julio. O livro como forma de arte (Parte I: O Livro artístico). Revista Arte em São Paulo, n.6, abr. 1982. Disponível em: <http://www.mac.usp.br/mac/expos/2013/julio_plaza/pdfs/o_livro_como_forma_de_arteI.pdf>. Acesso em 18 ago. 2018. SILVEIRA, Paulo. A página violada: da ternura à injúria na construção do livro de artista. 2ª ed. Porto Alegre: Editora UFRGS, 2008. INTENSIDADES POÉTICAS NO CINEMA DE KLEBER MENDONÇA Midian Angélica Monteiro Garcia Resumo: Esse texto objetiva a análise da experiência estética de suspensão da enunciação nos filmes O Som ao Redor e Aquarius de Kleber Mendonça como gesto micropolítico de resistência. Em Som ao Redor, observa-se, na composição fílmica, a recorrência de fragmentos sonoros disjuntivos, rupturas entre sons e imagens, movimentos de corpos não vistos, cortes abruptos e movimentos de câmera disrruptivos, como procedimentos que, no tecido da poética do filme, atestam que há um distanciamento da obra em relação à gramática das narrativas lineares. Assim, nos silêncios, restos de vozes, ruinas e ruídos, o diretor borra a concepção de um cinema que narra por imagens, instaurando a noção de uma cinematografia que pensa por imagens. No filme Aquarius, é possível inferir que tal suspensão dá-se no âmbito da instituição de signos poéticos como o “mar”, o “cupim” e no próprio projeto de mixagem ativamente dramática das canções, a partir da abordagem da temática das desterritorializações, das invasões, das ocupações e das insurreições – potências características que atravessam a poética de Kleber Mendonça desde O Som ao Redor e que retornam, em afinidade e diferença, no filme Aquárius. A lógica do neocapitalismo especulativo é tratada a partir da abusiva trama da agiotagem imobiliária, a qual é reelaborada pelo diretor como “ensaio sobre a resistência”. Referências: DELEUZE, G. A. A Imagem-tempo. São Paulo: Brasiliense, 2007 – (Cinema 2). DELEUZE, Gilles & GUATTARI, Félix. O que é a filosofia? Tradução de Bento Prado Jr. e Alberto Alonso Munõz. São Paulo: Ed. 34 letras, 1993. DIDI-HUBERMAN, Georges. Levantes. São Paulo: Edições Sesc, 2017 ______. A imagem sobrevivente: história da arte e tempo dos fantasmas segundo. Aby Warburg. Rio de Janeiro: Contraponto, 2013. SARRAZAC, Jean-Pierre. Léxico do drama moderno e contemporâneo. São Paulo: Cosac & Naify, 2012. ________. Poética do drama moderno. Trad. Newton Cunha, J. Guinsburg, Sonia Azevedo. São Paulo, Perspectiva, 2017. XAVIER, I. O discurso cinematográfico: a opacidade e a transparência. São Paulo: Paz e Terra, 2008. FILMES Emilie Lesclaux, (Productor), Mendonça, K. (Director). 2012. O Som ao Redor [Película]. Cinemascópio: Brasil. Emilie Lesclaux, (Productor), Mendonça, K. (Director). 2017. Aquarius [Película]. Cinemascópio: França, Brasil. O QUE É O INFANTIL?: PERSPECTIVAS, EXPECTATIVAS E TABUS TRANSMIDIÁTICOS A PARTIR DE MIÚDA E O GUARDA - CHUVA Paula Alice Baptista Borges Resumo: Esse trabalho pretende construir uma teia discursiva particular, a partir das ideias de memória, imaginação e poesia, cruzando perspectivas teórico-críticas à minha leitura sobre como as discursividades sobre/para a infância têm negociado suas produções na contemporaneidade. Aqui, me coloco em primeira pessoa, fugindo da retórica discursiva abstrata da modernidade, que forja uma expressão universalista de mundo. Ao desenhar meu lugar de fala, a partir da minha experiência de criadora de um produto transmidiático para a infância: Miúda e o guarda-chuva, pretendo discutir os usos da infância, desejando uma maior politização das ações artísticas voltadas para crianças, que repense modelos engessados, estereotipados e estagnados. A comunicação atualiza meu trabalho de tese de doutoramento, defendido em 2014, à luz do lançamento do longa-metragem em animação, em 2019, que leva o mesmo nome do curta-metragem, do conto e da peça teatral "Miúda e o guarda-chuva", relacionando os discursos produzidos sobre a infância primeiramente à literatura, partindo do conto e da relação proibitiva da ideia de tabu com a infância, posteriormente ao teatro, apresentando textos escritos sobre a peça Miúda e o guarda-chuva, que foram disparadores de muitas das reflexões desse trabalho, reverberando tanto na criação, quanto na pesquisa, ambos atos criativos e, por fim, ao cinema dirigido a ela. A leitura crucial, portanto, redimensiona infância e literatura, teatro e cinema, aventando conexões entre o tabu e o estereótipo, como instâncias de luta e de conforto, tensionando a mudança paradigmática que se processa na atualidade, no tocante à revisão de estigmas hegemônicos em narrativas infantis contemporâneas. Referências: ABRAMOVICH, Fanny (Org.). O mito da infância feliz. São Paulo: Summus, 1983. ABRAMOVICH, Fanny. O estranho mundo que se mostra às crianças. São Paulo: Summus, 1983. ÁNGELES SANZ, María de los. El teatro para niños avanza hacia la realidad contidiana. In: Boletín Iberoamericano de Teatro para la Infancia y Juventud. Madrid: ASSITEJ España, 2011, número 9, p. 283 a p. 293. ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: LTC, 1981. BACHELARD, Gaston. Os devaneios voltados para a infância. In: A poética do devaneio. São Paulo: Martins Fontes, 1988. BENEDETTI, Lúcia. Aspectos de Teatro Infantil. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura/Serviço Nacional do Teatro, 1969. BENJAMIN, Walter. Reflexões sobre a criança, o brinquedo e a educação. São Paulo: Duas Cidades, Editora 34, 2002. Apresentação, tradução e notas de Marcus Vinicius Mazzari. BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. : Paz e Terra, 2002. BHABHA, Homi. 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PERTURBAÇÕES DA FOTOGRAFIA EM SERGIO CHEJFEC E JOCA REINERS TERRON Paulo Marcelo Fehlauer Resumo: A presente comunicação parte do reconhecimento de certas consonâncias críticas relativas à emergência de um caráter liminar na literatura latino-americana contemporânea, a exemplo das noções de “literaturas pós-autônomas” (LUDMER, 2013), “inespecificidade” (GARRAMUÑO, 2014) e “literatura fora de si” (BRIZUELA, 2014), perspectivas que convergem, entre outros pontos, no destaque que dão às expansões e porosidades da literatura em contato com outras linguagens, notadamente o discurso visual. A partir disso, promove-se uma leitura em diálogo de dois fragmentos de romances publicados no último quarto de século: “Los planetas” (1999), do argentino Sergio Chejfec, e “Noite dentro da noite” (2017), do brasileiro Joca Reiners Terron, obras que confluem na atenção dada ao histórico de violências da América Latina e aos apagamentos e elaborações da memória, bem como no recurso que fazem à imagem fotográfica, ainda que por meio de estratégias distintas. A partir de um esboço comparativo entre tais estratégias, amparado tanto pelo conceito de “imagem dialética” (BENJAMIN, 2018) quanto por proposições como as de Didi-Huberman (2013; 2017), sobre fantasmas, sintomas e sobrevivências, e de Rancière (2016), sobre a “frase-imagem” e o caráter operativo das imagens, este trabalho busca apresentar subsídios que apontem para “ontologias particulares da imagem”: o modo como cada texto lê a fotografia e, por consequência, os modos como, por meio das imagens, o real reverbera nesses textos. Referências: BENJAMIN, Walter. Passagens. Org. Willi Bolle. Trad. Irene Aron e Cleonice Paes Barreto Mourão. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2018. 3 v. BRIZUELA, Natalia. Depois da fotografia: uma literatura fora de si. Trad. Carlos Nougué. São Paulo: Rocco, 2014. 272 p. CHEJFEC, Sergio. Los planetas. Buenos Aires: Alfaguara, 1999. DIDI-HUBERMAN, Georges. A imagem sobrevivente: História da arte e tempo dos fantasmas segundo Aby Warburg. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Contraponto, 2013. _________. Diante do tempo: história da arte e anacronismo das imagens. Trad. Vera Casa Nova e Márcia Arbex. 1. ed., 1. reimpr. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2017a. 328 p. GARRAMUÑO, Florencia. Frutos estranhos: sobre a inespecificidade na estética contemporânea. Trad. Carlos Nougué. Rio de Janeiro: Rocco, 2014. 128 p. HORNE, Luz. Literaturas reales: transformaciones del realismo en la narrativa latinoamericana contemporánea. Rosario: Beatriz Viterbo, 2011. LUDMER, Josefina. Aqui América Latina. Uma especulação. Trad. Rômulo Monte Alto. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2013. RANCIÈRE, Jacques. O destino das imagens. Trad. Mônica Costa Netto. 1. ed. 2 reimpr. Rio de Janeiro: Contraponto, 2016. __________. O trabalho das imagens: Conversações com Andrea Soto Calderón. Trad. Ângela Cristina Salgueiro Marques. 1. Ed. Belo Horizonte: Chão da Feira, 2021. A MÚSICA EM MEMÓRIAS DO CÁRCERE Paulo Roberto Ramos Resumo: Esta comunicação tem como propósito investigar a presença da música nas narrativas de Memórias do cárcere, de Graciliano Ramos, e de sua adaptação para o cinema, realizada por Nelson Pereira dos Santos. Se no livro sua aparição é mais discreta, mas nem por isso menos relevante, no filme ela ganha mais espaço. Nas duas obras as peças musicais são utilizadas como forma de resistência contra as forças opressoras. A tarefa proposta a seguir é a de compreender como os dois artistas utilizam a música em suas realizações. O recorte aqui elaborado procura revelar um dado específico da versão fílmica das rememorações da cadeia de Graciliano: o emprego da música como instrumento de resistência política. No livro ela se manifesta como forma de oposição às forças reacionárias que dominavam o país às vésperas da implantação do regime ditatorial do Estado Novo. Os presos cantam para reafirmar sua dignidade no porão do Manaus e sua crítica ao regime através das versões politizadas das músicas populares e do Hino nacional. Nelson Pereira utiliza as possibilidades expressivas do som no cinema para, entre outras coisas, chamar a atenção do espectador para a característica de oposição presente nas manifestações musicais comentadas pelo escritor em seu texto memorialístico. O cineasta, como intérprete atento, revela que o som nas páginas de Memórias, embora apareça poucas vezes, possui relevante sentido político. Referências: BORDWELL, D. Narration in the fiction film. Wisconsin: University of Wisconsin, 1985. BOSI, E. O tempo vivo da memória: ensaios de psicologia social. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003. BRANIGAN, E. Narrative comprehension and film. New York: Routledge, 1992. BURCH, N. Life to those shadows. California: University of California, 1990. CHION, M. La musique au cinéma. Paris: Fayard, 1995. ______. Le son au cinéma. Paris: Cahiers du Cinéma, 1992 .MEMÓRIAS do cárcere. Direção: Nelson Pereira dos Santos. Intérpretes: Carlos Vereza; Glória Pires; Nildo Parente; José Dumont. Rio de Janeiro: Sagres, 1984. RAMOS, G. Memórias do cárcere. Rio de Janeiro: Record, 2008. SALEM, H. Nelson Pereira dos Santos: o sonho possível do cinema brasileiro. Rio de Janeiro: Record, 1996. VIANNA, M. de A. G. Revolucionários de 1935. São Paulo: Expressão Popular, 2007. WEIL, S. A condição operária e outros estudos sobre a opressão. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996. O QUE SE DOCUMENTA SE ISTO NÃO É UM DOCUMENTÁRIO? Raisa Gonçalves Faetti Resumo: Este trabalho é um recorte e contém as primeiras impressões de um projeto que pretende investigar os diálogos entre a produção poética e teórica de Marcos Siscar, a partir da idéia de “crise da poesia” como fator constitutivo do campo poético. Aqui nosso objetivo será analisar como as aproximações entre literatura e cinema, propostas pelo poeta-crítico a partir da noção de documento, encontram-se refletidas nos poemas do livro Isto não é um documentário, publicado em 2019 pela editora 7Letras. A obra é composta por quatro seções, envolvendo poemas em verso e em prosa, traduções e revisitações de antigos textos do autor, e estabelece diálogos ora mais, ora menos explícitos com filmes, documentários e com a própria linguagem cinematográfica. Assim, dada a variedade de formas textuais e diálogos interartes, também serão discutidas questões relativas à representação, à metalinguagem, às relações entre o biográfico, a produção artística e o registro histórico. Para isso serão utilizados textos de teoria e crítica literária do próprio autor e de outros pesquisadores, como Célia Pedrosa e Masé Lemos, e textos que exploram a relação entre cinema e poesia de autores como Roland Barthes e Rosa Maria Martelo. A partir disso, será possível compreender como a literatura e o cinema são capazes, principalmente, de problematizar a produção de documentos/arquivos e, em decorrência disso, de transformar o nosso modo de lidar com as concepções de passado e de presente. Referências: BARTHES, Roland. A câmara clara: nota sobre a fotografia. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. LEMOS, Masé. Marcos Siscar por Masé Lemos. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2011. (Coleção Ciranda da Poesia.). MARTELO, Rosa Maria. Poesia, Imagem e Cinema: qualquer poema é um filme? Cadernos De Literatura Comparada, v. 17, p. 195–212, 2007. PEDROSA, Célia. A resistência, o irresistível e a poesia em crise de Marcos Siscar. Signótica, v. 25, n. 1, p. 1–19, 2013. SISCAR, Marcos. De volta ao fim: o “fim das vanguardas” como questão da poesia contemporânea. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2016. SISCAR, Marcos. Isto não é um documentário. Rio de Janeiro: 7Letras, 2019. SISCAR, Marcos. Poesia e crise: ensaios sobre a “crise da poesia” como topos da modernidade. Campinas: Editora da Unicamp, 2010. Referências: BARTHES, Roland. A câmara clara: nota sobre a fotografia. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. LEMOS, Masé. Marcos Siscar por Masé Lemos. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2011. (Coleção Ciranda da Poesia.). MARTELO, Rosa Maria. Poesia, Imagem e Cinema: qualquer poema é um filme? Cadernos De Literatura Comparada, v. 17, p. 195–212, 2007. PEDROSA, Célia. A resistência, o irresistível e a poesia em crise de Marcos Siscar. Signótica, v. 25, n. 1, p. 1–19, 2013. SISCAR, Marcos. De volta ao fim: o “fim das vanguardas” como questão da poesia contemporânea. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2016. SISCAR, Marcos. Poesia e crise: ensaios sobre a “crise da poesia” como topos da modernidade. Campinas: Editora da Unicamp, 2010. O CONCEITO DE CORO/CORALIDADE NAS DRAMATURGIAS MODERNAS E CONTEMPORÂNEAS Roberto Carlos Morettho Resumo: Originariamente o sentido do coro sempre esteve amalgamado à força do coletivo, do comunitário e, na cena antiga, ele era uma espécie de representante do público. E porque o coro perde espaço no teatro? Numa época em que as teorias literárias e filosóficas se desenvolviam, o nascimento da literatura dramática ofuscou o espetáculo teatral e a sua performance coral. Outra consideração importante, que levou ao desaparecimento do coro na cena, foi a interpretação de uma suposta evolução trágica, novamente baseada na literatura, que verificou a diminuição das falas do coro nas tragédias, ao longo dos anos. Mas o procedimento coral reapareceu com vigor nas pesquisas de muitos artistas contemporâneos a partir dos anos 1970, porém, agora, deslocado de seu conceito original, tornando-se a referência de uma nova noção teatral: a coralidade. O que o conceito de coralidade nos apresenta é a partilha coral para todo o teatro e que desestrutura e reconstrói o drama para o teatro moderno e contemporâneo com: 1) a quebra do protagonismo da personagem; 2) o apagamento do conflito dramático; 3)a convocação de novas relações de espaço e tempo para a cena; 4) a relação direta com o público e 5) uma criação mais horizontal e colaborativa. O conceito de coralidade representa a desierarquização das linguagens da cena e dos textos teatrais. Levando essas premissas em consideração, é objetivo, desta comunicação, problematizar os textos dramatúrgicos por intermédio do conceito de coralidade e sob a noção filosófica de dissenso. Sobre o conceito de coralidade nossa referência é o professor e diretor francês Jean Pierre Sarrazac e sobre a noção de dissenso nós utilizaremos as referências teóricas desenvolvidas pelo filósofo Jacques Rancière. Referências: LAMPERT, Cristian. A coralidade como princípio de criação cênica: notas para uma discussão. 2021. Dissertação (Mestrado em Teatro) – Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis, 2021. RANCIÈRE, Jacques. A Partilha do Sensível: estética e política. Tradução de Mônica Costa Netto. São Paulo: Editora 34, 2005. ______. Aisthesis: cenas do regime estético da arte. São Paulo: Editora 34, 2021. ______. O Desentendimento: política e filosofia. São Paulo: Editora 34, 1996. ROMILLY, Jacqueline de. A Tragédia Grega. 2. ed. Lisboa: Edições 70 Ltda., 2008. SARRAZAC, Jean-Pierre. Léxico do Drama Moderno e Contemporâneo. (Org. de Catherine Naugrette et al.) Tradução de André Telles. São Paulo: Cosac Naify, 2012. ______. O Futuro do Drama. Porto: Campos das Letras, 2002. ______. Poética do drama moderno: de Ibsen a Koltès. São Paulo: Perspectiva, 201 TRIAU, Christophe. Coralidades difratadas: a comunidade em negativo. Tradução de Marcus Vinícius Borja. Revista Alternatives théâtrales, n. 76-77, 2003. (Choralités). POETA-ETC.: POESIA E OUTRAS ARTES NO REALISMO CAPITALISTA Sandro Santos Ornellas Resumo: Partindo do livro "Manual do artista-etc.", do artista, professor, curador e crítico brasileiro Ricardo Basbaum (2013), a comunicação reflete sobre a condição limiar do poeta contemporâneo em contexto no qual a palavra poética circula por múltiplos suportes, plataformas, derivas e capturas discursivas. O seu agenciamento por dispositivos intermidiáticos, tanto na criação quanto na circulação, exige dos poetas que dialoguem com outras artes e campos discursivos, tais como fotografia, cinema, música, artes plásticas, conceituais, videográficas, performance etc. Tal condição do poeta contemporâneo, por um lado, evidencia questões que sempre constituíram traços da poesia na modernidade, seu experimentalismo e processualidade, e do poeta como pesquisador da palavra em trânsito por suportes e campos artísticos. Do ponto de vista da literatura sob o “realismo capitalista” (Fisher, 2020), por outro lado, essa multiplicidade traz um problema: até que ponto o poeta-etc. pode ser percebido como um sintoma neoliberal da flexibilização e sobrevivência subjetiva na cultura de uma sociedade em crescente desregulamentação? Ou a poesia produzida desse modo e nesse contexto termina por liberar uma “potência amadora” que nunca se esgota no “ato especializado” de uma literatura profissional e, por isso, capturada pelo mercado, reafirmando a poesia como ato de renovação da palavra e o poeta-etc. como um resistente à máquina capitalista? Apresentaremos, em suma, alguns critérios de definição e seleção de poetas-etc., alguns pressupostos teórico-críticos que nos levam ao problema da pesquisa e, por fim, breves possibilidades de desenvolvimento. Referências: BASBAUM, Ricardo. Manual do artista-etc. Rio de Janeiro : Beco do Azougue, 2013. FISHER, Mark. Realismo capitalista. São Paulo: Autonomia Literária, 2020. CAPITU, UMA ÓPERA GESTUAL Saulo Lopes de Sousa Resumo: A presente comunicação coteja uma análise da gestualidade brechtiana como valor estético da microssérie Capitu (2008), dirigida por Luiz Fernando Carvalho. O intuito é aproximar, com as devidas congruências, a dimensão gestual do teatro épico de Brecht à ótica audiovisual da adaptação, cujo caminho de leitura comporta a tutela de contributos teóricos provenientes da Teoria do teatro, da Narratologia cinematográfica e dos Estudos da performance, na análise de cenas que melhor se alinham à perspectiva crítico-interpretativa adotada. No bojo da percepção brechtiana, em Capitu, os resultados da técnica do distanciamento, insígnia do teatro épico, decorrem, sobretudo, da composição cênica, do desempenho do ator e da gestualidade (gestus). Para efeitos didático-analíticos, são divididos, aqui, em três aspectos: 1) Gesto estrutural – estética dos elementos cenográficos; 2) Gesto metaficcional – ato da escrita; 3) Gesto performático – mise-en-scène propriamente dita. Dessa forma, o gesto brechtiano é lido como um dos múltiplos componentes do amplo quadro de signos expressivos que caracteriza a linguagem polivalente da microssérie, que assimila diferentes dispositivos e combinações para potencializar seus dizeres e ampliar os horizontes de sentido. Além da dimensão teatral que palmilha a estética da microssérie, também se notabiliza, aqui, a aderência de signos gestuais, de herança brechtiniana, ao processo de confecção estilístico-estrutural da obra carvalhiana. Propõe-se, portanto, a conjectura de que, assim como Brecht assinala o gesto como unidade básica do teatro épico e da dialética social que mediatiza as relações entre os indivíduos, em Capitu, a materialidade gestual emoldura uma relação diametral entre espectador e atores/personagens, de maneira a descortinar a ilusão ficcional. Em Capitu, a poética gestual se agrupa a outros discursos, suportes e gêneros artísticos e cria, com requinte, uma ficção, verdadeiramente, oblíqua e particular, cuja experiência estética ultrapassa os perímetros convencionais de uma narrativa audiovisual para a televisão aberta brasileira. Referências: AGAMBEN, Giogio. Notas sobre o gesto. Artefilosofia, Instituto de Filosofia, Artes e Cultura, Universidade Federal de Ouro Preto, IFAC, n. 4. Ouro Preto: IFAC, 2008. AGAMBEN, Giogio. Por uma ontologia e uma política do gesto. Tradução Vinicius Honesko. Caderno de Leituras, n. 76. São Paulo: Edições Chão da Feira, 2018. (Série intempestiva) BARBOSA, Pedro. “Literatura gerada por computador”. In: CEIA, Carlos. E-Dicionário de termos literários. Disponível em: <https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/literatura-gerada-por-computador/>. Acesso em: 10 jul. 2021. BARTHES, Roland. Variaociones sobre la escritura. Tradução de Enrique Folch Gonzáles. Barcelona, Paidós, 2002. BENJAMIN, Walter. 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Tradução Jerusa Pires Ferreira e Suley Fenerich. 2. ed. ver. ampl. São Paulo: Cosac Naify, 2007. ZUMTHOR, Paul. A performance. In: A letra e a voz: a “literatura” medieval. Tradução Amálio Pinheiro e Jerusa Pires Ferreira. São Paulo: Companhia das Letras, 1993. UM E-PISTOLÁRIO: DO CARTÃO-POSTAL À CARTA COMO MONTAGEM Suzane Lima Costa Resumo: Liz Stanley (2004), no artigo The Epistolarium: On Theorizing Letters and Correspondences, apresenta um modo de pensar os sentidos e artifícios que envolvem as formas da correspondência, discutindo o que seria um Epistolarium, produzido para além da ideia de livro litúrgico, caderno ou coletânea de cartas, mas como uma espécie de portal onde fosse possível ler uma carta por diferentes interfaces. O que me interessa mais propriamente nesse estudo é o modo como a autora define Epistolarium como o lugar/não lugar de correspondências reunidas não só por causa da totalidade do esforço de quem as produziu, mas por tudo o que também não foi possível arquivar, por tudo o que restou de um arquivo. Nesta comunicação, retomo essa leitura, bem como o trabalho produzido por Walter Ravenek, Charles Heuvel e Guido Gerritsen (2017), para discutir o que seria pensar os restos de um arquivo como um E-pistolário que colocasse em movimento uma ideia contemporânea de arte postal - não para tratar dos gêneros de correio, mas para pensar outras paisagens de uma teoria da conversação, de uma teoria do encontro. Apresento essa reflexão a partir de uma leitura dos postais criados pelo artista Makuxi Jaider Esbell e de suas expansões em cartas-instalações produzidas por outros artistas indígenas. Referências: Didi-Huberman, G. (2016). Remontar, remontagem (do tempo). Tradução: Milene Migliano. Caderno de Leituras, 47, 1-7. Esbell, J. (2020). Carta ao Velho Mundo [Online]. Consultado em http://www.jaideresbell.com.br/site/2019/03/20/carta-ao-velho-mundo/ Ravenek, W, van den Heuvel, C and Gerritsen, G. (2017). The ePistolarium: Origins and Techniques. In: Odijk, J and van Hessen, A. (eds.) CLARIN in the Low Countries, Pp. 317–323. London: Ubiquity Press. DOI: https://doi.org/10.5334/bbi.26. License: CC-BY 4.0 Stanley, Liz. (2004). The Epistolarium: On Theorizing Letters and Correspondences, Auto/Biography, 12(3), 201-235. DOI: 10.1191/0967550704ab014oa TEATRO DIGITAL: A CONSTRUÇÃO DE CENAS DA INTIMIDADE PÚBLICA Valerie Osorio-Restrepo Resumo: Desde os inícios dos anos 2000, as exposições artísticas e as performances que propõem uma relação com a tecnologia e nas quais o público pode interagir através dela têm sido mundialmente recorrentes. Pela pandemia, muitas performances atuais tiveram que mudar para o formato virtual. As performances "Todo lo que está a mi lado", do argentino Fernando Rubio, e o experimento cênico "Eucasa", do grupo brasileiro Parahyba Rio Mulher, são exemplos da mudança da materialidade cênica para seguir pensando a corporeidade e a relação entre o íntimo e o público. A tela como cenário se contrapõe a uma noção tradicional da divisão de sujeitos e de ações nos espaços públicos e privados. Neste trabalho, proponho que a abertura do teatro para o ambiente digital permite novas noções sobre o espaço e, portanto, uma reflexão sobre novas geografias da intimidade no século XXI. Estas peças quebram os binários entre os lugares onde acontece o público e os lugares onde acontece o privado. Para a análise das peças e da pergunta sobre como se fala de um espaço privado na cena, proponho uma leitura desde os estudos culturais digitais e do teatro digital. Por outro lado, para identificar os impactos da tecnologia nas cenas das intimidades públicas —experiência própria da contemporaneidade—, proponho os termos “dramaturgia expandida” e “cena nômada”, do dramaturgo colombiano Carlos Sepúlveda, e o teatro relacional, de Juan Pedro Enrile. Referências: Enrile, Juan Pedro. Teatro relacional: Una estética participativa de dimensión política. RESAD, 2016. Parahyba Rio Mulher. Eu-casa. Experimento cênico apresentado pelo Zoom, maio 25, 2021. Rubio, Fernando. Todo lo que está a mi lado. Peça virtual apresentada em um festival virtual organizado por Alternativa Teatral, julho 4, 2020. Sepúlveda, Carlos. La dramaturgia expandida y la escena nómada:Una lectura de la relación arte-política en Jacques Rancière. Universidad Pedagógica Nacional, 2020. CERZIDO INVISÍVEL: O PARADOXO DA MODERNIDADE EM RUA E PARANOIA Vanessa Carneiro Rodrigues Resumo: Esta comunicação tem o intuito de responder de que maneira "Rua" (1961), de Guilherme de Almeida e Eduardo Ayrosa, e Paranoia (1963), de Roberto Piva e Wesley Duke Lee, dois fotolivros publicados no Brasil nos anos sessenta em um intervalo de dois anos, emulam os paradoxos da modernidade postulados por Antoine Compagnon (2014), bem como sinalizam o declínio da modernidade e suas consequências, levantadas por Peter Bürger (1988). Para tal, serão consideradas não apenas suas características estritamente literárias ou fotográficas, mas também o contexto sociocultural e o modo como se deu aquilo que Emmanuel Souchier postulou como "enunciação editorial" na construção desses dois livros em específico. De um lado, "Rua", fotolivro de Guilherme de Almeida, o reconhecido poeta participante da gênese do Modernismo de 1922, em uma publicação comemorativa do centenário da editora Martins, uma das maiores casas editoriais do Brasil naquele tempo. Do outro, "Paranoia", o livro de estreia de Roberto Piva, poeta que ficaria conhecido por seus radicalismos, em uma publicação quase artesanal editada, montada e publicada por Massao Ohno. O paralelo entre essas duas publicações, considerando-as não simplesmente como obras literárias, mas como projetos editoriais, lança luz sobre o problema da forma como o modernismo se estabeleceu no caso brasileiro. Referências: ALMEIDA, Guilherme de. Rua. São Paulo: Martins, 1961. ANDRADE, Mário de. Aspectos da literatura brasileira. São Paulo: Martins, 1974. AUERBACH, Erich. Filologia da literatura Mundial. In: Ensaios de literatura ocidental. São Paulo: 34, 2007. BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1994. BÜRGER, Peter. O declínio da era moderna. In: Novos Estudos CEBRAP, n. 20. São Paulo, 1988. CANCLINI, Néstor García. Culturas híbridas. São Paulo: Edusp, 2015. CANDIDO, Antonio. A educação pela noite. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2011. COMPAGNON, Antoine. Os cincos paradoxos da modernidade. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2014. CUPANI, Alberto. Filosofia da tecnologia: um convite. Florianópolis: Editora da UFSC, 2016. FERNÁNDEZ, Horacio. Fotolivros latinoamericanos. São Paulo: Cosac Naify, 2011. HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil: sua história. 3. ed. São Paulo: Edusp, 2012. HARVEY, David. Condição Pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. São Paulo: Loyola, 2016. HUNGRIA, Camila; D’ELIA, Renata. Os dentes da memória: Piva, Willer, Franceschi, Bicelli e uma trajetória paulista de poesia. São Paulo, Azougue Editorial, 2011. LAFETÁ, João Luís. Figuração da intimidade. São Paulo: Martins Fontes, 1986. MARTINS, Luciano. A gênese de uma intelligentsia; os intelectuais e a política no Brasil, 1920-1940. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 2, nº 4 , p. 65-87, 1987. NAVAS, Adolfo Montejo. Fotografia & poesia (afinidades eletivas). São Paulo: Ubu, 2017. PIVA, Roberto. Paranoia. 2. ed. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2000. SILVA, José Armando Pereira da. Massao Ohno, editor. Cotia, 2019. SOUCHIER, Emmanuël. Formes et pouvoirs de l'énonciation éditoriale. In: Communication et langages, n. 154, 2007. PAMELA E LEVEL 26: DARK ORIGINS: QUAIS OS LIMITES DO ROMANCE? Vanessa De Carvalho Santos Resumo: O termo transmídia nasceu no íntimo da produção cultural e de entretenimento no final do século XX e é compreendida como uma narrativa que se divide em diferentes mídias. Embora os estudos sobre narrativas transmidiáticas tenham nascido no campo da comunicação, diversos experimentos têm sido feitos com a utilização da estratégia composicional mencionada acima. Dentre eles está o romance Level 26: Dark Origins, publicado nos Estados Unidos em 2009 pelos autores Anthony E. Zuiker e Duane Swierynski. Trata-se de um experimento que combina livro, vídeos e uma rede social. A obra se apresenta como o primeiro romance digital, ou digi-novel, já feito. Sabemos que todo grande importante avanço nas comunicações permite o aparecimento de uma nova forma de narrativa e a narrativa transmidiática nos inquieta ao ponto de questionarmos o seu lugar frente às diversas teorias de gêneros literários, em especial a teoria do romance (ROSE, 2011). Quando nos voltamos para as discussões do romance, o século XVIII é apontado como o berço do gênero e ele se destaca devido a grande quantidade de experimentos ficcionais que foram elaborados no período (SPACKS, 2006). Dentre os romances publicados no período, nos chama atenção Samuel Richardson e seu romance Pamela, or, Virtue Rewarded, publicado em 1740, que foi alcunhado como um “evento midiático” por marcar uma transformação significativa nas práticas de mídia desde então, estimulando respostas, paródias e continuações (WARNER, 1998, p. 176). Entendendo a importância de Pamela como um texto seminal na exploração dos limites do romance, objetivamos compará-lo à obra Level 26: Dark Origins, para perscrutar se o romance transmidiático rompe com o gênero novelístico ou trata-se de um desenvolvimento lógico intrínseco ao próprio romance. Temos a pretensão de discutir os limites do gênero quando ele abre mão de sua materialidade. Referências: RICHARDSON, Samuel. Pamela, ou, a virtude recompensada. Trad.: Carlos Duarte e Anna Duarte. São Paulo: Martin Claret, 2016. ROSE, Frank. The Art of Immersion: How the Digital Generation Is Remaking Hollywood, Madison Avenue, and the Way We Tell Stories. New York: W.W. Norton & Company, 2011. SPACKS, Patricia Meyer. Novel beginnings: experiments in eighteenth-century English fiction. New Haven: Yale University Press, 2006 WARNER, William B. The Elevation of novel Reading in Britain, 1684-1750. Berkeley: University of California Press, 1998. ZUIKER, Anthony E.; SWIERCZYNSKI, Duane. Level 26: Dark Origins. London: Penguin Books, 2009. SIMPÓSIO “INTERARTES: LITERATURA E SUAS INTERFACES - GRUPO 2” Júlia Morena Costa (UFBA), Sara del Carmen Rojo de la Rosa (UFMG) VISTA PARCIAL DA CIDADE: EVOCAÇÕES DO CINEMA PELA LITERATURA EM SOLAR DOS PRÍNCIPES DE MARCELINO FREIRE Alan Brasileiro de Souza Resumo: Este trabalho busca analisar o conto “Solar dos príncipes” de Marcelino Freire, publicado na coletânea “Contos negreiros” (2005 [2020]), observando o modo como as fronteiras entre o lisível e o visível, de modo mais específico, entre literatura e cinema, rompem-se no texto. No conto, acompanhamos um grupo de jovens negros que desce do morro para o asfalto, na cidade do Rio de Janeiro, com o intuito de realizar um documentário sobre o cotidiano dos moradores de um condomínio de luxo. A concretização do intento dos protagonistas, contudo, é atravessada pelo embate que se trava entre eles e o porteiro da locação escolhida pelo grupo. Tal aspecto, na economia interna da obra, acaba funcionando como disparador para o desenovelamento do enredo, articulado em torno das tensões sócio-históricas entre morro e asfalto. A análise proposta orienta-se pelos estudos interartes e intermídia, notadamente a partir da noção de referência intermidiática (RAJEWSKY, 2012) e dos marcadores de picturalidade propostos por Liliane Louvel (2012). Amparados por esse recorte teórico, defendemos que os diálogos entre literatura e cinema no texto de Freire são arranjados de duas maneiras distintas: na primeira a arte cinematográfica aparece encodada na literária através da referência ao gênero documentário e a ação da filmagem encetada pelos cinco jovens, na segunda é o próprio andamento do entrecho e a forma como a narração se desdobra na página que dão a ver o fenômeno. Conjugados, os dois movimentos produzem como efeito estético a sugestão de que ao ler o conto estaríamos na verdade e ao mesmo tempo lendo-o e assistindo à versão bruta do documentário produzido pelos cinco jovens. Além do suporte teórico já apresentado, valemo-nos dos estudos de Arbex (2013), Bazin (2018), Bordwell (2012), Elleström (2017) e Ramos (2013). Referências: ARBEX, Márcia. Alain Robbe-Grillet e a pintura: jogos especulares. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2013. BAZIN, Andre. O que é o cinema? Tradução Eloisa Araújo Ribeiro. São Paulo: Ubu Editora, 2018. ELLESTRÖM, Lars. As modalidades das mídias: um modelo para a compreensão das relações intermidiáticas. Tradução Glória Maria Guiné de Mello. In: ELLESTRÖM, Lars. Midialidade: ensaios sobre comunicação, semiótica e intermidialidade. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2017. p. 49-100. FREIRE, Marcelino. Contos negreiros. 12 ed. São Paulo, Rio de Janeiro: Record, 2020. LOUVEL, Liliane. Nuanças do pictural. Tradução Márcia Arbex. In: DINIZ, Thaïs Flores Nogueira. (Org.). Intermidialidade e estudos interartes: desafios da arte contemporânea. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2012. p. 17-69. RAJEWSKY, Irina. O. Intermidialidade, intertextualidade e “remediação”: uma perspectiva literária sobre a intermidialidade. Tradução Thaïs Flores Nogueira Diniz e Eliana Lourenço de Lima Reis. In: DINIZ, Thaïs Flores Nogueira. (Org.). Intermidialidade e estudos interartes: desafios da arte contemporânea. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2012. p. 15-45. RAMOS, Fernão Pessoa. O que é documentário? In: Ramos, Fernão Pessoa e Catani, Afrânio (orgs.), Estudos de Cinema SOCINE 2000, Porto Alegre: Editora Sulina, 2001, p. 192-207. Disponível em: http://www.bocc.ubi.pt/pag/pessoa-fernao-ramos-o-que-documentario.pdf. Acesso em 7 maio 2022. ADALGISA NERY E MANOEL DE BARROS: A POESIA DA NATUREZA EM DIÁLOGO COM A PINTURA Amanda Fernandes Teixeira Cordeiro Resumo: No universo poético de Adalgisa Nery e Manoel de Barros, a natureza é possiblidade de leitura do mundo imaterial. Através dela se chega à compreensão do cosmos, aproximá-los é ouvi-los tocar uma lira mítica de mil cordas. Os artistas Ismael Nery e Odilon Redon são dois correspondentes, em pintura, dos interesses de Adalgisa e Manoel. Comparar estes quatro autores é propiciar um diálogo interarte, é a possibilidade de confirmar ou refutar hipóteses. É a abertura para dizer muito mais sobre estas obras do que estudá-las apenas em separado. O neoplatonismo, o simbolismo, o surrealismo e a natureza são alguns dos elos através dos quais se interseccionam esses artistas. Adalgisa, esposa e frequentemente modelo de Ismael, explora em poesia muitas das experiências e caminhos trilhados pelo introdutor do surrealismo no Brasil. Manoel de Barros e seu lirismo insólito cria fortes laços com a pintura de Redon. A poesia plástica de Manoel, às vezes, nos parece uma tradução inconsciente da linguagem visual do francês - ambos os artistas trabalham com um único e mesmo material, sublime e luminoso. Segundo Mario Praz (1982), desde a pré-história, ideias foram apresentadas através de sinais abstratos marcados na pedra e isto se desdobraria em outros momentos ao longo da história. No fim do século XIX e início do século XX, após o advento do impressionismo, os pintores, segundo Hauser (2000), parecem apontar os caminhos para a literatura. É nesse contexto que se constroem as obras deste estudo, que intenta desvendar possíveis relações entre o verbal e o não verbal. Referências: AGUIAR E SILVA, V. M. Teoria e metodologias literárias. Lisboa: Universidade Aberta, 1990. HAUSER, Arnold. História Social da Arte e da Literatura. São Paulo: Martins Fontes, 2000. MITCHELL, W.J.T. Picture Theory. Chicago: University of Chicago Press, 1995. PRAZ, Mário. Literatura e artes visuais. São Paulo: Cultrix, 1982. STAIGER, Emil. Conceitos fundamentais de poética. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997. OS SERTÕES DE EUCLIDES DA CUNHA - "A INTERVENÇÃO DE UMA TECNOGRAFIA" INTERMIDIÁTICA E MULTIMODAL Ana Luiza Maia Gama Fernandes Resumo: Os Sertões, de Euclides da Cunha, é, em nossa abordagem, um projeto intermidiático e multimodal; nosso mais notável experimento de fotolivro de literatura. Muitas implicações resultam dessas asserções. Associado a aparatos tecno-científicos recém-inaugurados (audácia que tende a ser subestimada pela historiografia e crítica literárias), trata-se de uma experiência de literatura expandida, híbrida. A obra, publicada pela primeira em dezembro de 1902, pela editora Laemmert, contêm em suas três primeiras edições (1902, 1903, 1905), supervisionadas pelo próprio Euclides da Cunha, "desenhos de paisagens e mapas geológicos, botânicos e geográficos como ilustrações, além de fotografias do conflito feitas por Flávio de Barros" (Ventura, 2002). Sua "tecnografia própria", como Euclides a projeta em carta a José Veríssimo, "corporifica-se" numa "transgressão de gêneros" (Campos, 1997) e exige o uso de imagens (fotos, desenhos e mapas). Há, em nossas análises, ao menos dois níveis de descrição d'Os Sertões que não devem ser confundidos: (i) sua macroestrutura, concebida como um projeto intermidiático, que intercala, ao longo de mais de 600 páginas, imagens de cartógrafos-engenheiros, e fotografias do acervo de Flávio de Barros; (ii) sua microestrutura de interação local texto-imagem, uma propriedade que chamamos de co-localização, a qual a arquitetura macroscópica é dependente. Nosso foco, neste artigo, concentra-se na macroestrutura da obra, através do exame comparado de cinco edições (1902, 1903, 1905, 1933, 2016). Referências: BOSI, Alfredo (2003). História Concisa da Literatura Brasileira. 41.a edição. São Paulo: Cultrix. BRAGANÇA, Aníbal (1997). “Lendo a História Editorial de Os Sertões de Euclides da Cunha: as Edições Laemmert”. Ed. Marcos Cezar de Freitas. Horizontes: Dossiê Memória Social da Leitura. Bragança Paulista: Universidade São Francisco. 155-179. BRAGANÇA, Aníbal (1999). “Revisões e provas: notas para a história editorial de Os sertões de Euclydes da Cunha: as edições Francisco Alves”. Revista de História das Ideias. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra. v.20: 337-352. CAMPOS, Augusto de (1997). “Transertões”. Eds. Augusto de Campos e Haroldo de Campos. Os Sertões dos Campos: Duas vezes Euclides. Rio de Janeiro: Livraria Sette Letras. 11-34. CAMPOS, Haroldo de (1997). “Da Transgermanização de Euclides: uma Abordagem Preliminar”. Eds. Augusto de Campos e Haroldo de Campos. Os Sertões dos Campos: Duas vezes Euclides. Rio de Janeiro: Livraria Sette Letras. 51-68. CLUVER, Claus (2007). “Intermediality and Interarts Studies”. Eds. Jens Arvidson, Mikael Askander, Jørgen Bruhn e Heidrun Führer. Changing borders: Contemporary Positions in Intermediality. Lund: Intermedia Studies Press 1. 19-37. COUTINHO, Afrânio (1995 [1952]). “Os Sertões: Obra de Ficção”. Ed. Afrânio Coutinho. Euclides da Cunha, Obra Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar. v.2: 57-62. CUNHA, Euclides da (1902). Os Sertões 1.a edição. Rio de Janeiro: Laemmert & C. – Editores. CUNHA, Euclides da (1903). Os Sertões 2.a edição. Rio de Janeiro: Laemmert & C. – Editores. CUNHA, Euclides da (1905). Os Sertões 3.a edição. Rio de Janeiro: Laemmert & C. – Editores. <https://digital.bbm.usp.br/handle/bbm/5351> [7 fevereiro 2022]. CUNHA, Euclides da. Krieg im Sertão. Tradução Berthold Zilly. Frankfurt: Suhrkamp, 1994. CUNHA, Euclides da. Krieg im Sertão. Tradução Berthold Zilly. Frankfurt: Suhrkamp, 2013. CUNHA, Euclides da. Los Sertones. Tradução Benjamín de Garay. Prólogo Mariano de Vedia. Buenos Aires: Ministerio de Justicia y Instrucción Pública, 1938. CUNHA, Euclides da. Los sertones: la tragedia del hombre derrotado por el medio. 2ª edição. Tradução Benjamin de Garay. Buenos Aires: Claridad, 1942. CUNHA, Euclides da. La tragedia del hombre derrotado por el médio. 2ª edição. Tradução Benjamín de Garay. Buenos Aires: Editorial Claridad, 1942. 452 p. il. CUNHA, Euclides da. Los Sertones. Versão compendiada Enrique Pérez Mariluz. Ilustração Castelao. Buenos Aires: Editorial Atlántida, 1941. 172 p. il. CUNHA, Euclides da. Los sertones. 2ª edição. Versão compendiada Enrique Pérez Mariluz. Ilustração Castelao. Buenos Aires: Editorial Atlântida, 1951. 176 p. il. CUNHA, Euclides da. Fun tii (terra do interior). Tradução Pei Chin. Introdução Wang Sho Pan. Pekin: Literatura Popular, 1959. CUNHA, Euclides da. Oprøret på højsletten. Tradução Richard Wagner Hansen. Ilustração Ib Andersen. Kobenhaven: Westermann, 1948. 339 p. il. CUNHA, Euclides da. Hautes Terres (La guerre de Canudos). Tradução Jorge Coli e Antoine Seel. Paris: Éditions Métailié, 2012. 640 p. ill. CUNHA, Euclides da. Hautes Terres (La guerre de Canudos). Tradução Jorge Coli e Antoine Seel. 2ª edição. Paris: Éditions Métailié, 1997. 528 p. ill. CUNHA, Euclides da. Hautes Terres (La guerre de Canudos). Tradução Jorge Coli e Antoine Seel. Paris: Éditions Métailé, 1993 [reeditada em 2012]. 528 p. ill. CUNHA, Euclides da. Les terres de Canudos. tradução Sereth Nereu, prefácio Afrânio Peixoto. Rio de Janeiro: Caravela, 1947. 412 p. il. CUNHA, Euclides da. De Binnenlanden: opstand in Canudos. Tradução M. de Jong. Amsterdam: Wereldbibliotheek, 1954. 290 p. il. CUNHA, Euclides da. Brasile ignoto: l‘assedio di Canudos. Tradução Cornelio Bisello. Milano: Sperling & Kupfer, 1953. 452 p. il. CUNHA, Euclides da. Backlands: The Canudos Campaign. Tradução Elizabeth Lowe. Introdução Ilan Stavans. New York: Penguin Books, 2010. 560 p. il. CUNHA, Euclides da. Rebellion in the Backlands. Tradução Samuel Putnam. Chicago: University of Chicago Press, 1970 [1957, 1952, 1945]. 526 p. il. CUNHA, Euclides da. Rebellion in the Backlands. Tradução Samuel Putnam. Londres: Victor Gollancz, 1947. 347 p. il. CUNHA, Euclides da. Os Sertões. Lisboa: Livros do Brasil, 1959. CUNHA, Euclides da. Euclides da Cunha. Literatura e Arte. Tradução Inna Terterian. Moscou: Znanie, ano 5, n. 14, 1959. (Tratase de uma revista que publicou trechos de Os Sertões). CUNHA, Euclides da. Makerna brinna. Tradução e adaptação Th. Warburton. Stokholm: Wahström & Iidstrand, 1945. 365 p. il. ??CUNHA, Euclides da. Los Sertones. Tradução Estela dos Santos. Prólogo, notas e cronologia Walnice Nogueira Galvão. Caracas, Venezuela: Biblioteca Ayacucho, 1980. ETCHEVERRY, Carolina (2016). “Depois da Fotografia: uma Literatura fora de si, Natalia Brizuela”. História: Debates e Tendências 16: 497-500. FREITAS, Leopoldo (1904 [1902]). “Os Sertões”. Juízos Críticos: Juízos Críticos sobre Os Sertões. 8-9. GUTIÉRREZ, Rafael (2015). “Formas Híbridas na Literatura Latino-americana Contemporânea”. Revista Landa 3: 94-115. JÚNIOR, Araripe (1904). “Os Sertões (Campanha de Canudos por Euclydes da Cunha)”. Juízos Críticos: Juízos Críticos sobre Os Sertões. 33-71. MERQUIOR, José Guilherme (1979). 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JORNALISMO E LITERATURA EM ARTICULAÇÃO: O ENTRELUGAR DO JORNALISMO LITERÁRIO Andreza Silva Pereira Resumo: Fenômeno de hibridização de jornalismo e literatura, o jornalismo literário situa-se num entrelugar de saberes. Do jornalismo, comporta a referência à realidade; da literatura, a função estética da palavra. Trata-se de expressão textual por definição fronteiriça, impura, conversacional. É um objeto avesso a categorizações paradigmáticas e estanques, cujos limites não são facilmente demarcáveis, num traço que Martinez (2016) denomina de “porosidade conceitual”. Este trabalho destina-se a analisar o jornalismo literário contemporâneo como espaço conceitual e estético de articulação de saberes. Como objeto estético contemporâneo, pode ser pensado em eco a outros objetos contemporâneos metaforizados por Garramuño (2014) de “frutos estranhos”, por sua não especificidade e impertinência formal, pela combinação e mistura de linguagens, que expande seus territórios de origem. Teoricamente, pode-se pensar o jornalismo literário contemporâneo como objeto complexo e interdisciplinar. O atributo de complexidade nos remete à teoria de Morin (2007), em referência ao que é conjuntamente tecido, tecido pelos campos, pelas partes, pelas singularidades. Ainda na esteira do pensamento complexo, os métodos interdisciplinares criam interfaces para as ciências que se especializam, arejando os caminhos do pensamento. Ao propor outras criações textuais para contar o presente, o jornalismo literário busca ampliar a noção de informação, comportando um espectro multifocal e complexo (CASTRO, 2002). Intenta-se, desse modo, reconhecer nesse jornalismo lugar de contato e esgarçamento, que, para narrar a realidade — em si complexa e embaraçada — apropria-se de diferenças. Referências: CASTRO, Gustavo de; GALENO, Alex (org). Jornalismo e Literatura: a sedução da palavra. São Paulo: Escrituras, 2002. GARRAMUÑO, Florencia. Frutos estranhos: sobre a inespecificidade na estética contemporânea. Rio de Janeiro: Rocco, 2014. MARTINEZ, Monica. Jornalismo literário no século XXI: reflexões sobre conceitos, história e redes de pesquisas.In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 39, 2016, São Paulo. Anais...São Paulo: Intercom, 2016. MORIN, Edgar. Introdução ao pensamento complexo. 3. ed. Porto Alegre: Sulina, 2007. CINEMA E LITERATURA: DIÁLOGOS INTERMIDIÁTICOS NOS FILMES DE JOAQUIM PEDRO DE ANDRADE Bárbara Monique Monteiro Albuquerque Resumo: Joaquim Pedro de Andrade (1932-1988) é reconhecido como um dos mais importantes diretores do movimento cinematográfico brasileiro que ficou afamado no final da década de cinquenta como Cinema Novo. Sua cinematografia buscou abordar desde a sua gênese temas sociais e psicológicos como a miséria da população brasileira e os conflitos emocionais gerados pelo proibido, além de temas próprios da nossa história enquanto país como a construção da cidade de Brasília e a história da inconfidência mineira. Outra característica importante do cinema do diretor é sua forte relação com a literatura e seus movimentos a exemplo do modernismo que inspirou várias de suas adaptações. Desta forma, proponho analisar nesta pesquisa alguns filmes do diretor, todos produzidos entre 1959 a 1982, a fim de entender como cinema e literatura dialogam e se relacionam nas produções do cineasta, e ainda, como essas obras desvelam as múltiplas possibilidades de transa entre uma mídia e outra. Para tanto, as obras mencionadas serão aqui estudadas à luz da intermidialidade; essa entendida na presente pesquisa como a relação entre as muitas mídias existentes e suas interferências mútuas (CLUVER, 2012). Mas especificamente, serão empregadas nas análises as três subcategorias da intermidialidade (combinações de mídias, referências intermidiáticas e transposição midiática) propostas por Rajewsky (2005) e comentadas por Clüver (2012). Referências: ARAÚJO, Luciana Corrêa de. Beleza e poder: os documentários de Joaquim Pedro de Andrade. In: ELINALDO, Francisco Teixeira (org.). Documentário no Brasil – Tradição e transformação. São Paulo: Summus, 2004, p. 227-59. ARAÚJO, Luciana Corrêa de. Joaquim Pedro de Andrade: primeiros tempos. São Paulo: Alameda editorial, 2013. BENTES, Ivana. Joaquim Pedro de Andrade: a revolução intimista. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1996. CLÜVER. C. Intermidialidade. PÓS: Revista do Programa de Pós-graduação em Artes da EBA/UFMG, Belo Horizonte, v. 1, n 2, jan. 2012, p. 8-23. DINIZ, Thaís Flores Nogueira. Intermidialidade: perspectivas no cinema. Rumores. São Paulo, v.12, n. 24, p.42-60, dez. 2018. MALAFAIA, Wolney Vianna. Macunaíma, o filme: Joaquim Pedro de Andrade entre o Modernismo e o Tropicalismo. In: Simpósio Nacional de história, n 27, 2013, Natal. Anais[...]. Natal: UFRN, 2013. p. 1-15 MARQUES, Ivan Francisco. Joaquim Pedro de Andrade e o modernismo. INTINERÁRIOS- Revista de literatura, Araraquara, n. 49, p.115-133, jul/dez. 2019. RAMAZZINA GHIRARDI, Ana Luiza. RAJEWSKY, Irina. DINIZ, Thaïs Flores Nogueira. Intermidialidade e referências intermidiáticas: uma introdução. Revista Letras Raras, v. 9, n. 3, p. 11-23, ago. 2020. RODRIGUES, Aloisio. A poética narrativa na adaptação do filme: o padre, a moça, de Carlos Drummond de Andrade. Dissertação (Mestrado em literatura e crítica literária) - Programa de estudos pós-graduados em literatra e crítica literária, Pontífice Universidade católica, São Paulo, 2011. OS PERSONAGENS SECUNDÁRIOS DE JANE AUSTEN NA ADAPTAÇÃO ORGULHO E PAIXÃO Diana de Melo Xavier Resumo: Em suas cartas, Jane Austen demonstra dedicar atenção aos seus personagens secundários, e tais cuidados também são relembrados na Memória escrita por seu sobrinho. Apesar disso, estudiosos ainda não demonstram tanta atenção a eles, uma vez que não há estudos suficiente dedicados aos personagens secundário, o que os mantém dependente dos personagens primários e seus enredos. E embora seus fãs também se empenhem em fanfics e romances contando diferentes tramas para os personagens secundários, outros continuam subordinados ao novo personagem principal, mantendo-os nessa posição inferior. Porém, o oposto ocorre com a adaptação para telenovela Orgulho e Paixão de 2018 pela Rede Globo. Sendo adaptados desde 1940 para filmes e séries, os romances de Austen ganham uma nova perspectiva em enredos e personagens ao serem adaptados para o gênero telenovela. Extremamente popular no Brasil e com particularidades próprias, a telenovela atribui certa autonomia aos seus personagens, explorando conexões entre si através de diversos enredos que podem haver mais de um protagonista. Tais características permitiu que personagens secundários das obras de Austen, antes oprimidos pelos principais, ganhassem suas próprias tramas e desenvolvimentos. Em Orgulho e Paixão, dois personagens secundários que se destacam são Aurélio Cavalcante (o Mr. Woodhouse de Emma, publicado em 1815); e Julieta Bittencourt (personagem sem paralelo no romance, mãe irreal do Sr. Bingley, de Orgulho e Preconceito, de 1813). Dessa maneira, espera-se compreender a reconfiguração dos dois personagens secundários de Jane Austen e como essas diferenças podem mudar a percepção do público sobre os próprios personagens, discutindo os textos referentes e a adaptação, assim como as características dos dois gêneros, romance e telenovela, e como ambos caracterizam os personagens secundários. Referências: AUSTEN, Jane. Emma. Edição: George Justice. Nova York: W.W. Norton & Company, 2012. AUSTEN, Jane. Pride and Prejudice. Edição: Donald Gray e Mary A. Favret. Nova York: W.W. Norton & Company, 2016. AUSTEN-LEIGH, James Edward. Uma Memória de Jane Austen. Tradução: Stephanie Savalla e José Loureiro. Vitória: Pedrazul Editora, 2014. BIAJOLI, Maria Clara Pivato. Orgulho e preconceito no século XXI: a austenmania e a fantasia do final feliz. 2017. 1 recurso online (358 p.). Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Estudos da Linguagem, Campinas, SP. Disponível em: <http://www.repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/322349>. CAMPEDELLI, Samira Youssef. A Telenovela. São Paulo: Ática, 1987. FAYE, Deirdre Le. Jane Austen’s Letters. 4° Edição. Oxford: Oxford University Press, 2011. JAGODA, Patrick. Network Aesthetic. Chicago: The University of Chicago Press, 2016. ORGULHO E PAIXÃO. Globoplay, Rio de Janeiro, s/d. Disponível em: < https://globoplay.globo.com/orgulho-e-paixao/p/10535/>. SADEK, José Roberto. Telenovela: um olhar do cinema. São Paulo: Summus Editorial, 2008. STAM, Robert. “Introduction: The Theory and Practice of Adaptation”. In: STAM, Robert; RAENGO, Alessandra (Org.). Literature and Film: A Guide to the Theory and Practice of Film Adaptation. Nova Jersey: Blackwell Publishing, 2005. WOLOCH, Alex. The One vs The Many: Minor Characters and the Space of the Protagonist in the Novel. New Jersey: Princeton University Press, 2003. INTRODUÇÃO À MÚSICA DO SANGUE: UM CASO DE PAIXÃO ENTRE CINEMA E LITERATURA Edimara Lisboa Resumo: As relações entre o Modernismo literário e o Cinema Novo se revelam, de forma mais explícita, no grande número de transposições de obras literárias modernistas para a estética cinematográfica cinemanovista, que remete a títulos consagrados compartilhados pela literatura e pelo cinema nacionais, como Macunaíma e Vidas Secas. Em ponderação sobre a recorrência dessas adaptações e a importância da literatura modernista para inscrição do Cinema Novo na tradição cultural erudita, Ismail Xavier, no livro O cinema brasileiro moderno, considera que grande parte dos cineastas do grupo cinemanovista dos anos 1960 e 1970 encontrou em diferentes escritores das gerações de 1920, 1930 e 1945, escolhidos conforme as convicções estéticas e políticas individuais, uma matriz decisiva da articulação entre nacionalismo cultural e experimentação estética. No seio desse profícuo trânsito interartístico, a literatura entre modernista e contramodernista de Lúcio Cardoso foi, para além da mais conhecida parceria com Paulo César Saraceni, transposta, adaptada, citada, mencionada (enfim, lida) pelo cineasta de formação cinemanovista Luiz Carlos Lacerda, mais conhecido no meio cinematográfico pelo apelido de “Bigode”, que lhe foi dado por Nelson Pereira dos Santos, com quem trabalhou como assistente de direção em vários filmes, tornando-se figura emblemática do desdobramento hippie do Cinema Novo. Nesta comunicação, pretendemos discutir as paridades entre os dois movimentos a partir de Introdução à música do sangue, novela inacabada que Lúcio escrevia para que Lacerda filmasse, em 1962, quando sofreu o AVC, que o deixou afásico, adaptada para cinema apenas em 2015, retomando elos e contradições que marcaram o contato entre os dois artistas avant-garde e suas respectivas gerações. Referências: AVELLAR, José Carlos. O cinema dilacerado. Rio de Janeiro: Alhambra, 1986. BALOGH, Anna Maria. Tradução fílmica de um texto literário: Vidas secas. São Paulo, 1980. 116 f. Dissertação (Mestrado em Cinema) – Escola de Comunicação e Artes, USP. CARDOSO, Elizabeth. Feminilidade e transgressão: uma leitura da prosa de Lúcio Cardoso. São Paulo: Humanitas; Fapesp, 2013. COSTA, Érica Ignácio da. O cinema inquieto de Lúcio Cardoso. Curitiba, 2016. 137 f. Dissertação (Mestrado em Letras) – Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, UFPR. HOLLANDA, Heloísa Buarque. Cultura e participação nos anos 60. São Paulo: Brasiliense, 1986. JOHNSON, Randal. Literatura e cinema – Macunaíma: do modernismo na literatura ao Cinema Novo. São Paulo: T. A. Queiroz, 1982. MARTINS, Ricardo André Ferreira (org.). Literatura e cinema: interartes, intersemiose, intermidialidade e transmidialidade. Jundiaí: Paco Editorial, 2015. MORAIS, Julierme. Cinema Novo e sua relação com o Modernismo literário: reflexões sobre aspectos similares. 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A NARRATIVA BRASILEIRA INTERMEDIAL: CONFIGURAÇÕES HIPERCONTEMPORÂNEAS Fernanda Borges Pinto Resumo: Este trabalho tem como objetivo refletir acerca de obras produzidas por autoras e autores brasileiros cujas poéticas conceituam-se como interartes e intermediais, ou seja, constituídas pelo diálogo entre várias artes e mídias. Propõe-se, dessa forma, apresentar um breve panorama dos diálogos estabelecidos na literatura brasileira moderna e contemporânea com outras artes e mídias, com ênfase para obras publicadas a partir de 2000. As narrativas de Valêncio Xavier, Verônica Stigger e Ricardo Lísias são exemplos contemporâneos que evidenciam tal vertente na literatura brasileira e nas quais se analisa a natureza do diálogo interartístico e intermedial (quais procedimentos usados na composição do texto); a relação entre as inovações tipográficas e interartísticas com as situações e os pensamentos expostos nos textos, ou seja, como a forma se relaciona com o conteúdo das obras; como tais processos de escritura se inserem na tradição literária brasileira e o que essas poéticas representam em termos teóricos e literários. A partir da análise de Arnault (2018) sobre a novíssima narrativa portuguesa – estabelecendo a categoria de “romance intermedial” como uma das formas de classificação do romance hipercontemporâneo, aquele publicado a partir de 2000 –, características importantes referentes também à novíssima narrativa brasileira podem ser estabelecidas, em uma proposta que percebe similaridades com o desenho realizado por Arnault na ficção portuguesa, além de identificar os traços peculiares ao romance brasileiro contemporâneo, traçando um esboço de classificações e discussões. Referências: AGAMBEN, Giorgio. Profanações. Trad. Selvino José Assmann. São Paulo: Boitempo, 2007. AGAMBEN, Giorgio. O que é o contemporâneo? e outros ensaios. Trad. Vinícius Nicastro Honesko. Chapecó: Argos, 2009. ARNAUT, Ana Paula. Do post-modernismo ao hipercontemporâneo: morfologia (s) do romance e (re)figurações da personagem. Revista de Estudos Literários, Coimbra, vol. 8, 19-44, 2018. AZEVEDO, Luciene. Romances não criativos. Estudos de literatura brasileira contemporânea, Brasília, n. 50, 157-171, 2017. BARBERENA, Ricardo. A hipercontemporaneidade ensanguentada em Ana Paula Maia. Letras de hoje, Porto Alegre, v. 51, n. 4, p.458-465, out-dez, 2016. BARBERENA, Ricardo. Limiarologia: das luzes às soleiras. In: BARBERENA, Ricardo, CARNEIRO, Vinicius (orgs.). Das luzes às soleiras: perspectivas críticas na literatura brasileira contemporânea. Porto Alegre: Luminara Editorial, 2014. COMPAGNON, Antoine. O trabalho da citação. Tradução de Cleonice P. B. Mourão. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1996. COMPAGNON, Antoine. Os cinco paradoxos da modernidade. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2010. DINIZ, Thaïs Flores Nogueira (org.). Intermedialidade e estudos interartes: desafios da arte contemporânea. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2012. FIGUEIREDO, Camila A. P, OLIVEIRA, Solange Ribeiro de, DINIZ, Thaïs Flores Nogueira. A intermedialidade e os estudos interartes na arte contemporânea. Santa Maria, Editora UFSM, 2020. GARRAMUÑO, Florencia. Frutos Estranhos: A Aposta pelo Inespecífico na Estética Contemporânea. In: OLINTO, Heidrun Krieger; Schollhamer, Karl Erik (Orgs.). Cenários contemporâneos da escrita. Rio de Janeiro: Editora 7 Letras, 2014. GUMBRECHT, Hans Ulrich. A mídia literatura. In: Modernização dos sentidos. São Paulo: Editora 34, 1998. LIPOVETZKY, Gilles. Os tempos hipermodernos. São Paulo: Barcarolla, 2004. LÍSIAS, Ricardo. Diário da catástrofe brasileira: ano I: o inimaginável foi eleito. Rio de Janeiro: Record, 2020. LÍSIAS, Ricardo. Diário da catástrofe brasileira: ano II: um genocídio escancarado. Rio de Janeiro: Record, 2021. LÍSIAS, Ricardo. Inquérito policial: família Tobias. São Paulo: Lote 42, 2016. RESENDE, Beatriz. Contemporâneos – Expressões da Literatura Brasileira no Século XXI. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2008. SCHOLLHAMMER, Karl Erik. Ficção brasileira contemporânea. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009. STIGGER, Veronica. Delírio de damasco. São Paulo: Cultura e Barbárie, 2010. STIGGER, Veronica. Opisanie ?wiata. São Paulo: Cosac Naify, 2013. STIGGER, Veronica. Sul. São Paulo: Editora 34, 2016. XAVIER, Valêncio. Minha mãe morrendo e o menino mentido. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. XAVIER, Valêncio. O mez da grippe e outros livros. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. XAVIER, Valêncio. Remembranças da menina de rua morta nua. São Paulo: Companhia das Letras, 2006. DO LABIRINTO AO ABISMO: UMA ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE O FILME "O LABIRINTO DO FAUNO" E A SUA ADAPTAÇÃO LITERÁRIA HOMÔNIMA Jessica Florentino Soares da Silva Resumo: Ao longo dos anos, os estudos narrativos deixaram de se limitar à literatura tornando-se fundamental para pesquisas em diversas áreas. Compreender uma narrativa não é somente acompanhar o seu enredo, mas observar também a sua estrutura e as etapas do processo que denotam o sentido da obra como um todo. Assim, o avanço tecnológico e a intersemiose estabeleceram variações, efeitos estéticos e/ou de linguagem influenciando essa assimilação. Há inúmeros pesquisas e artigos referentes à adaptação fílmica, contudo, não se verifica trabalhos acerca da adaptação literária a partir da película com frequência equivalente. Tal fato é comprovado pela carência de pesquisas acadêmicas, as quais normalmente se referem à transposição oriunda da literatura para o cinema, raramente o contrário. Além disso, há também déficit de investigações focalizadas em fenômenos narrativos metalépticos e de mise-en-abyme, bem como nos efeitos interpretativos que estes são capazes de provocar. Tudo isso dificulta as pesquisas no âmbito literário, uma vez que é a partir da absorção dos elementos componentes da estrutura – sem dissociar da história - que se pode de fato analisar uma obra. Nesse sentido, esse trabalho busca analisar algumas implicações narrativas, como a organização labiríntica, a mise-en-abyme e a metalepse na obra fílmica O Labirinto do Fauno (2006) e no romance homônimo (2019) buscando compreender como esses fenômenos atuam e quais divergências e semelhanças entre as obras. Por fim, acredita-se que esse trabalho será de grande contribuição para subsidiar os estudos literários, a partir da estrutura narrativa e dos elementos intersemióticos, pois conclusões dessa investigação poderão servir como uma provocação e um incentivo para futuras pesquisas, tanto no âmbito da teoria da literatura, quanto do cinema. Referências: BARTHES, Roland. Introdução à Análise Estrutural da Narrativa. In: BARTHES et al. Análise estrutural da narrativa. Petrópolis: RJ, 2011, p. 19-62. CARVALHAL, Tania F. Literatura Comparada. São Paulo: Ática, 2006. CIVITARESE, Giuseppe. Metalepse ou a Retórica da Interpretação Transferencial. São Paulo: Revista Brasileira de Psicanálise, 2010, v.44, nº 3, p. 159-176 DÄLLENBACH, Lucien. Intertexto e Autotexto. In: Intertextualidades. Tradução de Clara Crabbé Rocha. Coimbra: Almedina, 1979, p. 51-76. GAUDREAULT, André; JOST, François. A Narrativa Cinematográfica. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2009. GENETTE, Gérard. Fronteiras da Narrativa. In: BARTHES et al. Análise estrutural da narrativa. Petrópolis: RJ, 2011, p. 265-284. STAM, Robert. Film Theory an Introduction. Massachusetts, USA: Blackell Publishers: 2000, p. 1-9. TODOROV, Tzvetan. As Categorias da Narrativa Literária. In: BARTHES et al. Análise estrutural da narrativa. Petrópolis: RJ, 2011, p. 218-264. TORO, Guillermo Del; FUNKE, Cornelia. O Labirinto do Fauno. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2019. IMAGEM, TEMPO E SUAS MONTAGENS: UMA ANÁLISE DA LINGUAGEM CINEMATOGRÁFICA NA NARRATIVA DE ROBERTO BOLAÑO Júlia Morena Costa Resumo: Este trabalho propõe uma análise da obra narrativa de Roberto Bolaño (Chile, 1953-2003), entendida como um projeto literário que responde às desilusões artísticas e políticas vivenciadas pelo autor e sua geração no século XX na América Latina, demonstrando como este projeto narrativo dialoga com a linguagem cinematográfica. O cinema é entendido, nesta pesquisa, como um paradigma e ponto de condensação das novas formas de organização do olhar, das relações com o tempo e o fragmento e com os efeitos de real, correlatos às transformações que definiram o que é denominado como modernidade (XAVIER, 2004). A literatura, por sua vez, elabora como o cinema a narração por imagens e por movimentos, buscando no verbal o que mais se assemelhe ao icônico. O texto literário que se aproxima do cinema, como de Roberto Bolaño, propõe narrativas que são construídas sobre os intervalos; isto é, não mais pela descrição explícita de algo, mas pela sugestão dada sobre o movimento entre as imagens, sobre a correlação visual das mesmas geradas por seus signos verbais, umas em relação às outras, unindo visibilidade e significação, sobre a transição de um impulso ao seguinte. Dessa forma, serão tratadas, nesta pesquisa, questões caras para o cinema, como o tratamento da imagem, os jogos de perspectivas temporais e a montagem para analisar a obra de Roberto Bolaño, como uma proposta estética do autor referente à sua obra como um todo. Para isso, serão utilizados, ainda, considerações de Jacques Rancière e Didi-Huberman. Referências: CHARNEY; SCHWARTZ (Org). O cinema e a invenção da vida moderna. Tradução Regina Thompson. São Paulo: Cosac Naify, 2010. DIDI-HUBERMAN, George. O que vemos, o que nos olha. São Paulo: Ed. 34, 1998. DIDI-HUBERMAN, George. Remontagens do tempo sofrido. O olho da história. II. Márcia Arbex e Vera Casa Nova. Belo Horizonte: Humanitas. Ed. UFMG, 2018. 266 p.. RANCIÈRE, Jacques. A partilha do sensível: estética e política. Tradução de Mônica Costa Netto. São Paulo: EXO experimental Org.; Editora 34, 2005. RANCIÈRE, Jacques. O trabalho das imagens: Conversações com Andrea Soto Calderón. Tradução Ângela Marques. Belo Horizonte: Chão de Feira, 2021. ROJO, Grínor. Las novelas de formación chilenas: bildungsroman y contrabildungsroman. Santiago de Chile: Sangría ediciones, 2014. SOLDÁN, Edmundo & FAVERÓN, Gustavo Patriau (eds). Bolaño salvaje. Barcelona: Editorial Candaya, 2013. p. 204-230. XAVIER, Ismail (Org.). A experiência do cinema: antologia. Rio de Janeiro: Edições Graal: Embrafilmes, 1983. DIÁLOGOS ENTRE LITERATURA E CINEMA: UMA LEITURA DE "O FILHO DA MÃE", DE BERNARDO CARVALHO Lara Cristina Nascimento Queiroz Resumo: Os diálogos interartes vêm sendo estudados há tempos e, na contemporaneidade, esse assunto tem ganhado cada vez mais destaque. Esses diálogos entre as diferentes expressões de arte não são exatamente novidade, porém, e ao mesmo tempo, ainda suscitam debates entusiasmados na academia e na sociedade em geral. Nesta pesquisa, cujo corpus é o romance ‘‘O filho da mãe’’, do escritor brasileiro contemporâneo Bernardo Carvalho, tenciona-se atingir os seguintes objetivos: evidenciar o diálogo que o romance estabelece com o cinema, a partir da incorporação da linguagem cinematográfica pelo texto literário, bem como investigar os efeitos de sentido gerados a partir da confluência dessas linguagens. Para a realização desse intento, discutiremos o conceito de intermidialidade e a importância dos estudos interartes na literatura brasileira contemporânea; para, na sequência, examinarmos os possíveis diálogos entre literatura e cinema, destacando aspectos da linguagem cinematográfica que podem ser incorporados na escrita do texto literário a partir de uma leitura de ‘’O filho da mãe’’, que busca evidenciar de que forma a escritura do romance incorpora a sintaxe cinematográfica. Como aporte teórico, utilizaremos as ideias e concepções de Claus Clüver, Irina Rajewsky e Ismail Xavier acerca dos diálogos interartes e das relações possíveis entre literatura e cinema. Como metodologia de pesquisa, será utilizada a abordagem qualitativa, de natureza básica, explicativa e bibliográfica, a partir de métodos analítico e hipotético-dedutivo. Referências: Clüver, Claus. Estudos interartes: conceitos, termos, objetivos. Literatura E Sociedade, 2(2), 37-55. https://doi.org/10.11606/issn.2237-1184.v0i2p37-55, 1997. CLÜVER, Claus. Estudos interartes: introdução crítica. In: Floresta Encantada: novos caminhos da literatura comparada. Org: Helena Buescu, João Ferreira Duarte, Manuel Gusmão, 2001. CLÜVER, C. Intermidialidade. PÓS: Revista do Programa de Pós-graduação em Artes da EBA/UFMG, p. 8-23, 16 jan. 2007. RAJESWSKY, Irina. A fronteira em discussão: o status problemático das fronteiras midiáticas no debate contemporâneo sobre intermidialidade. In: DINIZ, T. F.N.; VIEIRA, A.S. (Orgs.). Intermidialidade e estudos interartes: desafios da arte contemporânea 2. Belo Horizonte: RONA: FALE/UFMG, 2012. XAVIER, Ismail et al. Do texto ao filme: a trama, a cena e a construção do olhar no cinema. In: PELLEGRINI, Tânia; JOHNSON, Randal; XAVIER, Ismail; GUIMARÃES, Hélio; AGUIAR, Flávio. Literatura, cinema e televisão. São Paulo: Senac São Paulo, 2003. "SEM ABRIGO. EM VIAGEM". MAX MARTINS Leila Melo Coroa Resumo: A presente proposta de comunicação propõe investigar a poesia de Max Martins nas linhas de força do exílio, da estrangeiridade e no procedimento de rasura, que compõem o que se nomeia uma poética do erro. Esse nome caracteriza os deslocamentos do sujeito poético e das imagens familiares, o efeito de estranhamento e o embaralhamento de materialidades, no poema e no diário. O corpus da análise consiste no conjunto de livros de poemas e no livro diarístico publicados em vida. Visa-se estudar o exílio como condição fundante de uma poética e como pensamento da poesia de Max Martins, que compreende um pensamento do sujeito e da natureza; refletir sobre o tornar-se estrangeiro, um processo poético que desmantela a ideia de identidade estanque, em que a estrangeiridade atua como uma espécie de operador de leitura para manipular a tópica do deslocamento do sujeito poético, da fratura da identidade e do sentimento de insatisfação do eu que, assim, demanda uma abertura de diferença; e discutir o procedimento de rasura como fundamental na obra de Max, tomando a desconstrução como operação de rasura, como dispositivo de diferença, que se realiza como indeterminação, demora e colagem da poesia, ou seja, sobreposição de materialidades. A análise dos textos e o pensamento da poesia de Max são abordados com Jacques Derrida (desconstrução), Michel Foucault (as ideias de contraespaço e heterotopias), Maurice Blanchot (o exílio como condição do poeta), Gilles Deleuze & Félix Guattari (as noções de rizoma e de desterritorialização), Jean Claude Charles (o conceito de enraizerrância), entre outros. As questões discutidas neste trabalho refletem a relação entre poesia e vida, reivindicada por Max Martins, como obra de dedicação pelo erro. Referências: BIBLIOGRAFIA DE MAX MARTINS MARTINS, Max. A fala entre parêntesis. Organização e notas: Age de Carvalho. Belém: ed. Ufpa, 2016a. MARTINS, Max. Anti-retrato. Organização e notas: Age de Carvalho. Belém: ed. Ufpa, 2018. MARTINS, Max. Cadernos de Pinturas. Belém: Secult/Amu-PA, 2007. (edição em facsimile). MARTINS, Max. Caminho de Marahu. Belém: Grafisa, 1983. MARTINS, Max. Caminho de Marahu. Organização e notas: Age de Carvalho; prefácio: Davi Arrigucci. Belém: ed. Ufpa, 2015. 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Nos valemos, ainda, da contribuição de Robert Stam (2005) acerca da teoria da adaptação, por acreditarmos que não se deve privilegiar uma linguagem em detrimento de outra em estudos comparativos intermídias. A proposta é analisar como o baixo corporal é explorado de uma maneira carnavalizada nessas produções, com base na teoria de Mikhail Bakhtin (2010). Nossa hipótese, a partir dessa comparação, é a de que essas duas obras se posicionam de um modo crítico frente a seu contexto ideológico e que isso se expressa de modo cômico, a partir do contraste entre diferentes perspectivas perante a realidade: a normativa e a grotesca. No livro, o discurso oficial é representado pelos filósofos célebres, pelos deuses e pelos semideuses, bem como pelos outros mortos confrontados pelos cínicos (no Diálogo dos mortos); no filme, a norma está contida nas posições adotadas por Hank, personagem interpretada por Paul Dano. O grotesco é representado por Menipo e Diógenes no Diálogo e por Manny (Daniel Radcliffe) no filme. Assim, essas duas produções confrontam, pela via da comicidade, os binarismos que se tenta impor à cultura pelo braço da normatividade, revelando o grotesco da materialidade corporal, a qual está em conluio com aquilo que é natural do humano, e, por isso, desvela as diversas abstrações criadas pelos discursos normativos. Além disso, é pelo diálogo que a máscara ideológica cai, a qual está relacionada ao discurso oficial. Referências: BAKHTIN, M. A cultura popular na idade média e no renascimento: o contexto de François Rabelais. São Paulo: HUCITEC, 2010. LUCIANO. Diálogos dos mortos: versão bilíngue grego/ português. São Paulo: Edusp, 2007. NITRINI, S. Literatura comparada: história, teoria e crítica. São Paulo: EDUSP, 2010. STAM, R. Teoria e prática da adaptação: da fidelidade à intertextualidade. Ilha do Desterro, Florianópolis, n. 51, p. 19-53, jul./ dez., 2006. SWISS ARMY MAN. Direção de Daniel Scheinert e Daniel Kwan. Roteiro de Daniel Scheinert e Daniel Kwan. Produção de Miranda Bailey, Lawrence Inglee, Lauren Mann, Amanda Marshall, Eyal Rimmon, Jonathan Wang. Intérpretes: Paul Dano, Daniel Radcliffe, Mary Elizabeth Winstead. Música: Andy Hull, Robert McDowell. A24, 2016. (97 min), son., color. A TRANSPOSIÇÃO MIDIAL DOS CONTOS DE LÚCIO DA COLUNA "O CRIME DO DIA" PARA O ROMANCE "O VIAJANTE" Luiza Gonçalves De Oliveira Resumo: Este trabalho é sobre o percurso dos contos da coluna “O crime do dia” do jornal A noite entre os anos de 1952 e 1953 para o romance O Viajante (1973), que consideramos ser uma transposição midiática, pois os textos foram inicialmente publicados no periódico. Lúcio Cardoso (1912-1968), escritor mineiro de Curvelo, esteve à frente da coluna supracitada ficcionalizando as notícias de crime que saiam no jornal. Sua tarefa era pinçar os casos mais impactantes, os transformava em contos que eram editados quase que diariamente. A pesquisa propõe-se analisar como foi o caminho entre a tradução dos contos publicados do jornal, na obra literária romanesca. Busca-se apontar as escolhas que o ficcionista realizou para transfigurar a adaptação do texto de partida na obra de chegada. Abordar, também, o impacto proposto pelo autor ao descrever as cenas de crime da leitura proferida pelo leitor. Dessa forma, tentaremos discutir como, através de uma construção feita de colagens, o autor produziu inúmeras referências e traduções dos textos anteriores na escrita do livro O Viajante (1973). Na leitura da obra ficcional, abriremos a percepção para o reconhecimento das intertextualidades reconhecidas enquanto leitores das migrações das narrativas. Escolhemos duas histórias em que foi possível uma identificação mais palpável dos personagens que tiveram suas inspirações nos contos e alguns crimes relatados anteriormente na coluna transfiguram como os elementos cruciais no romance. Referências: CLÜVER, Claus. Da Transposição intersemiótica. In: Poética do Visível: Ensaios sobre a escrita e a imagem. ARBEX, Márcia. Belo Horizonte: Programa de Pós-Graduação em Letras: Estudos literários, Faculdade de Letras da UFMG, 2006. p. 107-158. _________, Claus. Intermidialidade. Pós: Belo Horizonte. V. 1, n 2. P.8-23. Setembro 2021. _________, Claus. Inter Textus / Inter Artes / Inter Media. In: ALETRIA. 2006. Disponível em: http://www .letras.ufmg.br/poslit Acesso em: 16/09/2021. ECO, Umberto. Seis passeios pelos bosques da ficção. São Paulo: Companhia das Letras, 2009 HIGGINS, Dick. Intermídia. In: DINIZ, Thaïs Flores Nogueira; VIEIRA, André Soares (Org.). Intermidialidade e estudos interartes: desafios da arte contemporânea - volume 2. Belo Horizonte: Rona Editora; FALE/UFMG, 2012. p. 41-50. HUTCHEON, Linda. Uma teoria da adaptação. Tradução de André Cechinel. 2. ed. Florianópolis: Editora da UFSC, 2013. LINGUAGEM CINEMATOGRÁFICA E CRÍTICA SOCIAL NO ROMANCE "EM CÂMERA LENTA", DE RENATO TAPAJÓS Marília Corrêa Parecis de Oliveira Resumo: Este trabalho propõe uma análise do romance Em câmera lenta, do escritor brasileiro Renato Tapajós, publicado em 1977, demonstrando como a obra se vale de uma escrita cinematográfica para registrar o trauma e a violência desencadeados pelo golpe civil-militar no Brasil. Antonio Candido, em “A nova narrativa”, refere-se a esse romance de Tapajós como “a análise do terrorismo em técnica ficcional avançada” (CANDIDO, 1989, p. 209). Isso porque a obra trata dos eventos ocorridos entre 1964 e 1973, durante a ditadura civil-militar, e os desdobramentos desses eventos que marcaram o país, em especial, a guerrilha urbana que se desencadeou como forma de combate ao então regime. Ademais, no plano formal, a obra insere-se num contexto de legitimação da pluralidade que marcou a literatura brasileira a partir da década de 1970, quando houve uma crescente incorporação de técnicas e linguagens que tendiam a apagar as fronteiras delimitadoras dos campos artísticos, ou seja, o aparecimento das mídias como campos discursivos dos quais a literatura também se apropriou. Tapajós aposta, portanto, na estratégia de aproximação com o cinema por meio da fragmentação do texto literário, em que ocorre uma desestruturação espaciotemporal, aos moldes da montagem cinematográfica ensensteiniana, como marca de uma fragmentação formal na obra que reflete a fragmentação do sujeito envolvido na situação dramática. Tendo em vista essas considerações, interessa-nos analisar como, nesta obra, a fragmentação da linguagem reverbera as contradições sociais do período, solicitando, portanto, um leitor ativo, capaz de “montar” os fragmentos do romance para que se estabeleça a leitura crítica. Referências: CANDIDO, A. A nova narrativa. In: _____. A educação pela noite e outros ensaios. São Paulo: Ática, 1987. DINIZ, T. F. N; VIEIRA, A. S. Intermidialidade e estudos interartes: desafios da arte contemporânea. Belo Horizonte: Rona Editora, 2012. EISENSTEIN, S. A forma do filme. Trad. Teresa Ottoni. Rio de Janeiro: Zahar, 2002a. ______. O sentido do filme. Trad. Teresa Ottoni. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2002b. MARTINS, Mercedes Bertoli. Em Câmara lenta: um jogo de armar. (Dissertação de Mestrado defendida na UFSC/SC), 1985. PAZ, O. Os filhos do barro: do romantismo à vanguarda. Trad. Olga Savary. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. PELLEGRINI, T. 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Entendendo a moda como instrumento de comunicação e de criação de significados, encontramos pontos de consonância com a literatura por conseguir registrar o social em todas as suas transformações. Observando a participação significativa da moda na forma como os indivíduos destacam sua identidade refletimos sobre a maneira como o escritor brasileiro configura o romance por meio de elementos da indumentária mineira do século XVIII. A participação da arquitetura barroca, os perfumes e outros costumes dos moradores de Vila Rica são tomados como ponto de reflexão sobre a relevância da moda no contexto em questão, evidenciando seu caráter estratégico nos romances, principalmente em narrativas que se passam antes da revolução industrial, assim como a importância da literatura como fonte de pesquisa para os estudos da indumentária deste período. Para tanto, o pensamento de estudiosos da história do Brasil Colônia nos permite perceber aspectos da cultura presentes nos costumes de moda da sociedade brasileira pré-industrial que estão no romance e colaboram para a construção da narrativa. A participação da moda na literatura, além de fornecer ao escritor ferramentas para a criação literária, também contribui com imagens que transmitem significados variados que se diferem a partir das experiências culturais do leitor, evidenciando não apenas valores estéticos, mas também argumentativos, da moda na escrita literária. Por meio da análise da indumentária enquanto artifício narrativo e da moda como elemento denunciador de características sociais que argumentamos que Os sinos da agonia, de Autran Dourado, tem a moda como um dos elementos principais para engendrar significados. Referências: ANDRADE, Mario de. Aspectos das artes plásticas no Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia, 1984. ARAÚJO, Marli Gomes de. A influência da moda na literatura: a caracterização da personagem de ficção nos romances brasileiros do século XIX. 272 f. Dissertação (Mestrado em Ciências) – Programa de PósGraduação em Têxtil e Moda, Escola de Artes, Ciências e Humanidades, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2018. Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/100/100133/tde-26092018084252/pt-br.php. Acesso em: 13 nov. 2020. ASHCAR, Renata. Brasilessência: a cultura do perfume. São Paulo: Nova Cultural, 2001. ÁVILA, Affonso. Resíduos seiscentistas em Minas: textos do século do ouro e as projeções do mundo barroco. Belo Horizonte: Centro de Estudos Mineiros da Universidade Federal de Minas Gerais, 1967. BARNARD, Malcolm. Moda e comunicação. São Paulo: Rocco, 2003. BAKHTIN, Mikhail. A cultura popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais. São Paulo: Hucitex; Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 1999. BARTHES, Roland. Sistema da moda. São Paulo: Martins Fontes, 2009. 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Bolaño, fora do Chile, ficcionalizou o país e, fora da América Latina, fez o mesmo com o continente. Neste trabalho, reflexionaremos sobre o lugar criado ficcionalmente a partir das imagens e como podemos aceder e recriar esse lugar em outras linguagens artísticas, a partir das coordenadas das atmosferas imagéticas dadas pelo texto de Bolaño. Que marcas existem em Estrella distante que permitiriam que o romance se transformasse numa peça teatral ou cinematográfica? E o lugar construído poderia ser reproduzido num palco? Essas são algumas das perguntas que provocam esta reflexão. Os limites da literatura devem ser pensados na sua relação com as outras formas de fazeres e as outras artes presentes em cada comunidade. Neste caso, o faremos com as construções estéticas do teatro e do cinema no romance especificado. . . . . . . . . . . . . . . . . . Referências: BOLAÑO, Roberto. Estrella distante. Barcelona: Anagrama, 1996. 157 p. DIDI-HUBERMAN, Georges. Atlas, ou O Gaio saber inquieto. O Olho da história III. Tradução Márcia Arbex e Vera Casa Nova. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2018. 458 p. -----. Remontagens do tempo sofrido. O olho da história. II. Márcia Arbex e Vera Casa Nova. Belo Horizonte: Humanitas. Ed. UFMG, 2018. 266 p.. -----. -----. O que vemos, o que nos olha. Tradução Paulo Neves. São Paulo: Editora 34, 2010. 260 p. FICHER, María Luisa, “El Ojo Silva” de Roberto Bolaño, o la ética arraigada de un cosmopolita, Taller de Letras. N° 53, 2013: 3950. FRANZ, Carlos. “«Una tristeza insoportable». Ocho hipótesis sobre la mela-cholé de B”. Cervantes Virtual. http://www.cervantesvirtual.com/obra-visor/una-tristeza-insoportable-ocho-hipotesis-sobre-lamelachole-de-bolano--0/html/01bfca86-82b2-11df-acc7-002185ce6064_2.html. Acceso: 04, 07, 2021. GATTI, Giuseppe. “Espacios narrativos esquizoides para narrar el miedo. Bolaño, Lemebel, shock”, Revista de Literatura Hispanoamericana Revista de Literatura Hispanoamericana, No. 67, Julio-Diciembre, 2013: 32-49. 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FUERA DE QUICIO: Bolaño en el tiempo de sus espectros. Chile: Ripio Ediciones Chile, 2012:101-115. DO LIVRO AO FILME, UMA ANÁLISE DAS CARTAS DA GUERRA DE ANTÓNIO LOBO ANTUNES Thaíla Moura Cabral Resumo: Neste trabalho, buscaremos analisar sob a ótica literária e aspectos da linguagem cinematográfica, algumas das cartas de António Lobo Antunes (ALA) retiradas da obra D’este viver aqui neste papel descripto: Cartas da Guerra (2005) que foram utilizadas na película Cartas da Guerra (2016), dirigida pelo cineasta português Ivo M. Ferreira. O livro, é uma reunião dos aerogramas escritos por ALA no período da Guerra Colonial em Angola, entre os anos de 1971 e 1973, tempo em que serviu ao exército português. As cartas, para além da emissão dos votos de saudades do jovem médico e recémcasado, à época com 28 anos de idade, e dos horrores da guerra, nos dá um panorama do futuro escritor que ALA veio a se tornar, resistente e marcante. As missivas apresentam uma imensa carga poética, além das reflexões sobre o fazer literário. Já a obra fílmica, narra em preto e branco o sufocante, angustiante e melancólico período da vida do médico, esposo, pai e escritor em nascimento António (Miguel Nunes), na ocasião em que estava aquartelado em território angolano. O filme dá maior ênfase a saudade que o personagem sentia da mulher e da filha e ao esfacelamento do sujeito diante dos horrores gerados pela guerra. Na adaptação do livro para a forma fílmica temos a construção de uma nova obra, uma vez que um novo olhar sobre o texto escrito foi colocado a partir da interpretação da direção da película. Procuraremos verificar a forma como foram colocadas algumas das cartas que identificamos presença no filme, as aproximações e os distanciamento entre as artes: literária e cinematográfica. Utilizaremos os pressupostos teóricos de Cardoso (2007), Seixo (2002), Arfuch (2012), Munsterberg (1983), entre outros. Esses autores nos auxiliarão na compreensão literária da obra de ALA, bem como a entender aspectos da autobiografia e da montagem cinematográfica. Referências: ARFUCH, Leonor. Antibiografias? SILVEIRA, Dênia Sad [tradução]. In: SOUZA, Eneida Maria de; TOLENTINO, Eliana da C.; MARTINS, Anderson B. (Org.). O futuro do presente: arquivo, gênero e discurso. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2012, p.13-27. ANTUNES, António Lobo. Memória de elefante. Rio de Janeiro: Objetiva, 2006. ________. D’este viver aqui neste papel descripto: Cartas da guerra. Organização e prefácio: Maria José Lobo Antunes e Joana Lobo Antunes. Lisboa: Dom Quixote, 2005. _________. Os cus de Judas. Rio de Janeiro: Objetiva, 2010. ________. Até que as pedras se tornem mais leves que a água. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2017. ARQUIPÉLAGO. Ivo M. Ferreira. Disponível em: <http://www.arquipelagofilmes.com/autores/ivo-m-ferreira_1>. Acesso em: 01 jul. 2021. BATAILLE, Georges. A santidade, o erotismo e a solidão. 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SIMPÓSIO “LITERATURA E TECNOLOGIA - FUTUROS (IM)POSSÍVEIS” Vinícius Carvalho Pereira (UFMT), Andréa Catrópa da Silva (UAM), Rejane Cristina Rocha (UFSCar) PRODUÇÃO DIGITAL VERNÁCULA E A CULTURA DO CANCELAMENTO Alamir Aquino Corrêa Resumo: Will Luers (2022) propõe uma quarta geração da literatura eletrônica, a suplantar a terceira geração marcada pela interação não-vanguardista de criadores com o seu público (Flores 2019), muito mais próxima do folclore pré-industrial e menos em relação a uma criatividade tecnológica. Ele parte das ideias de Trevor J. Blank acerca do hibridismo próprio da digitabilidade, identificando na produção do folclore digital as marcas de repetição e pouca variação na cultura comunitária. Essa produção cultural enseja o surgimento de figuras famosas, regiamente pagos pelo afluxo de "likes" nas plataformas como Twitter, YouTube e TikTok. Igualmente, admite o surgimento de uma cultura distópica, em contraste com o idealismo da expressão digital permitida a todos. Ao final de seu instigante texto, quando afirma haver uma cultura digitalmente vernácula, Luers a percebe como capaz de alimentar crenças racistas, misóginas e nacionalistas. Nesse sentido, quero discutir essas ideias tendo como tela a cultura do cancelamento, como uma polícia digital, a lembrar as distopias de Brave New World (1932) de Aldous Huxley e de Fahrenheit 451 (1953) de Ray Bradbury. Essa produção digital vernácula seria, assim, a continuidade das práticas de exclusão, encontráveis em várias etnias e tempos, reproduzindo os mesmos estereótipos do bem contra o mal, do claro contra o escuro, do nativo contra o estrangeiro. Em um contexto do real, do ficcional e do crível (ou possível), é de se pensar se as novas ferramentas digitais acabam por perpetuar o mesmo sistema de ódio e identidade que vemos ao longo da história da cultura. Longe de uma vanguarda estética, a quarta geração da arte digital se mostraria assim apenas a recolha e o uso das mesmas práticas deletérias, ainda que se mostrem, em tese, inclusivas ou de resistência como o #MeToo. Referências: Blank, Trevor J. Toward a Conceptual Framework for the Study of Folklore and the Internet. Logan: Utah State University Press, 2014. Flores, Leonardo. Third Generation Electronic Literature. Electronic Book Review, April 7, 2019, https://doi.org/10.7273/axyj-3574. Luers, Will. Platforms, tools and the vernacular imaginary. Electronic Book Review, May 1, 2022, https://doi.org/10.7273/8jz6-ve24. THE BEST OF BRAZIL IS THE BRAZILIAN - MEMES E IDENTIDADE NACIONAL Andréa Catrópa da Silva Resumo: Como definir a especificidade da identidade nacional em um país com uma história de colonização duradoura como a nossa e em que a opressão de povos indígenas e de origem africana se deu de maneira contínua e persistente ? A reflexão sobre o que é ser brasileiro, constantemente presente em nossa literatura no passado, hoje poderia parecer inapropriada, pois a insistência em propor um discurso unificado sobre a cultura de um povo pode excluir a expressão de identidades não hegemônicas que integram o tecido social. Curiosamente, porém, essa problemática ressurge com uma roupagem absolutamente contemporânea, seja em seu formato, seja em seu conteúdo. O perfil do Instagram @Greengo Dictionary veicula em seu feed posts que remetem às definições de dicionários bilíngues remixadas com o gênero meme de internet e nos traz um bom material para propormos uma definição expandida de literatura digital. Esta abarcaria trabalhos produzidos no contexto das redes sociais e que pode incluir narrativas e poéticas que se desenvolvam combinando diferentes linguagens artísticas e cujo diferencial, segundo Leonardo Flores, ao definir o termo Literatura Eletrônica de Terceira Geração, seria o uso de softwares e plataformas sobre os quais tanto os produtores, quanto os consumidores de cultura teriam fácil acesso. O recurso à elaboração de um “dicionário para gringos permite que o perfil crie alguma coesão entre a dispersão inata de seu material de trabalho, e proponhase como uma referência da cultura nacional em ambiente digital para o internauta. O perfil funciona realizando releituras e pastiches, a partir de um viés irreverente, que reverbera a informação partilhada nas mídias convencionais e nas redes sociais, criando, dessa forma, uma espécie de curadoria da memória digital, ainda que de forma fragmentária e fugaz. Referências: Beiguelman, Giselle. "Memórias do futuro de uma arte sem passado." seLecT, 2012: 68-71. Chagas, Viktor, and Beatrice de Melo Melo. "Notas Sobre O Patrimônio Memeal ." Museologia & Interdisciplinaridade , set 2021: 38-55. Chartier, Roger. A aventura do livro - do leitor ao navegador. São Paulo: Imprensa Oficial/Editora UNESP, 1998. Eagleton, Terry. Teoria da Literatura: uma introdução. São Paulo: Martins Fontes, 2003. Flores, Leonardo. "Literatura Eletrônica de Terceira Geração." DAT Journal, mar 15, 2021: 355-371. Goldsmith, Kenneth. Wasnting Time on The Internet. New York: Harper Perennial, 2016. Know your Meme. "Starter Pack". Accessed April 15, 2022, https://knowyourmeme.com/memes/starter-pack. Magalhães, Dandara. “Memes e territorialidades: quando o humor é pautado em estereótipos culturais”. Accessed April 18, 2022, https://museudememes.com.br/memes-e-territorialidades-quando-o-humor-e-pautado-emestereotipos-culturais Manovich, Lev. Instagram and Contemporary Image. New York: CUNY, 2017. Multimodality. Gunther Kress: a social semiotic approach to contemporary communication. London: Routledge, 2010. Ribeiro, Ana Elisa. “De Tolstói a Toy Story: um caso de texto multimodal e seus estratos digitais.” Texto Digital, jan-jun de 2021: 7-21. Shifman, Limor. Memes in digital Culture. Cambridge/London: The MIT Press, 2013. LITERATURA E TWITTER: ANÁLISES SOBRE A ESCRITA DO GÊNERO TUITEROMANCE Denilson Patrick Oliveira Silva, Vinícius Carvalho Pereira Resumo: A presente comunicação visa analisar um gênero emergente da literatura digital: o “tuiteromance”, no qual obras escritas, circuladas e lidas no Twitter compartilham características com o gênero romance, mas com a adição de particularidades técnicas e estéticas da “tuiteratura” (BEGINES, 2015). Para tanto, procedemos a uma apresentação do gênero e, na sequência, à análise de três narrativas: “Descobri um assassinato no Twitter”, de autoria de Modesto García (@modesto_garcia); “#RedMonkey”, do mesmo autor, mas em parceria com Manuel Bartual (@ManuelBartual); e “Boi”, de Eduardo Hanzo (@EduardoHanzo). O estudo enfoca a estrutura e a organização dos tuítes; os recursos utilizados (imagens, GIFs, vídeos, hiperlinks e outros) na construção de enredo, personagens, narradores, cenários e o efeito que causam no leitor; a interação entre escritor e leitores na plataforma; as características que esses textos assumem no Twitter; e o que os distingue das demais produções tuiterárias. Percebemos que a escrita com a ferramenta de “fio”, recurso do Twitter criado em 2017, permite mais praticidade de escrita, compartilhamento e leitura; os recursos midiáticos, hipermidiáticos e intermidiáticos ajudam na constituição de verossimilhança, economia de caracteres e trazem mais dinamicidade à obra, criando uma narrativa icônico-vídeo-verbal. Além disso, os textos se mostraram interativos entre autores e leitores, diretamente e indiretamente. Assim, concluímos que os textos pertencem à literatura eletrônica de terceira geração (FLORES, 2021); que possui escrita simbiótica entre a criação literária e a plataforma; e que a ferramenta “fio” é um ponto de virada na estética do gênero. Referências: BEGINES, Concepción Torres. Novelas en Twitter: el fenómeno de la narrativa en 140 caracteres. Espéculo Revista de Estudios Literarios, Universidad Complutense de Madrid, n. 54, p. 208220, jan-jun. 2015. Disponível em: https://idus.us.es/handle/11441/68579. Acesso em 26 jan. 2021. FLORES, Leonardo. Literatura eletrônica de terceira geração. Tradução de Andréa Cátropa da Silva. DATJournal, v.6, n.1, p. 355-371, 2021. PINTANDO "OS SERTÕES", DE EUCLIDES DA CUNHA EM REDE: ENTRE LIVROS, MURO E TELAS DE SILVIO JESSÉ Elisabeth Silva de Almeida Amorim Resumo: Este artigo aborda relações intersemióticas entre a literatura “Os sertões”, de Euclides da Cunha e as artes plásticas; seja a pintura no muro de uma escola pública no Estado da Bahia, telas acrílicas do artista plástico Silvio Jessé, exibidas em redes sociais do autor ou artes presentes em livros didáticos de Língua Portuguesa, Ensino Médio que ilustram cenários ou personagens do romance. Desse modo, o texto pretende articular o diálogo entre o romance-reportagem “Os sertões”, de Euclides da Cunha, publicado em 1902, cuja abordagem principal é sobre a Guerra de Canudos ocorrida na Bahia (18961897), e artes plásticas, com a intenção de ouvir as vozes silenciadas e subalternizadas das letras e/ou mãos de artistas (profissionais ou amadores) que não deixam a tragédia ser esquecida. De posse da teoria da intersemiose (Barthes, 2001) sob a perspectiva desconstrutivista (Derrida, 2014), a pesquisa investigativa traz uma abordagem qualitativa, com o viés da Crítica Cultural utilizará a desmontagem do literário enquanto método. Com isso, almeja-se o fortalecimento de diálogos intersemióticos entre a literatura e outras artes com o uso das tecnologias digitais, exploração de diferentes linguagens (verbal e visual) em prol de uma literatura que emerge dos pinceis de um artista como o Silvio Jessé e circula em redes sociais, ou de estudantes de Ensino Médio que registraram no muro uma desmontagem de “Os sertões”. Referências: AMORIM, Elisabeth S. A. Reverberações do signo na (des)construção do autor: a literatura para além dos muros. E-book VII CONEDU (Conedu em Casa) - Vol 01. Campina Grande: Realize Editora, 2021. p. 1587-1603. Disponível em: <https://www.editorarealize.com.br/index.php/artigo/visualizar/74144>. Acesso em: 30/04/2022 16:51 ARGAN, Giulio Carlo. Arte moderna: do iluminismo aos movimentos contemporâneos. Trad. Denise Bottmann. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. BARTHES, Roland. Aula. aula inaugural da cadeira de semiologia literária do Colégio de França. Trad. Leyla Perrone - Moisés. São Paulo: Cultrix. Pronunciada em 7 de janeiro de 1997. 2001. CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e terra, 1999. CUNHA, Euclides da. Os sertões. São Paulo: Três.1984 (Biblioteca do Estudante) disponível: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000091.pdf acesso em 30 de abril de 2022. DAIBERT, Arlindo. Cadernos de Escrita. Júlio Castañon (org.) Rio de Janeiro: Sete Letras, 1995. DERRIDA, Jacques. Essa estranha instituição chamada literatura.: uma entrevista com Jacques Derrida. Trad. Marileide Dias Esqueda. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2014. OLIVEIRA, Larissa Arruda de. A imagem e a letra: ensaio sobre a literatura e artes plásticas. Entreletras, Araguaiana, TO, v. 5, n. 1, p. 18-31, jan/jul, 2014. PIETROFORTE, Antônio Vicente Seraphim. Semiótica visual: os percursos do olhar. São Paulo: Contexto, 2004. PRETTO, Nelson de Luca. O desafio de educar na era digital: educações. Revista Portuguesa de Educação. Vol. 24, n. 1. 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Curitiba: Appris, 2020. p. 109-125 A LITERATURA INFANTO-JUVENIL EM AMBIENTES VIRTUAIS IMERSIVOS (AVI): O CASO DA OBRA EU DIÁRIO DE UMA GAROTA CHOCRÍVEL Elisangela Alves Sobrinho Arbex, Vinícius Carvalho Pereira Resumo: Esta proposta de comunicação busca refletir sobre a literatura infanto-juvenil utilizando ambientes virtuais imersivos (AVI), considerando, sobretudo, as transformações significativas decorrentes da inserção da tecnologia de realidade aumentada (RA) na experiência literária. Para tanto, o artigo abordará as possibilidades de recepção e fruição de obras de literatura infanto-juvenil que se utilizam dos avanços da RA. Assim, a abordagem tem como objetivo tratar de fatores que envolvem os AVI para discutir sobre o espaço imersivo da leitura e do lúdico na literatura infanto-juvenil. A partir de revisão de literatura e da análise da obra “Eu – Diário de uma garota chocrível”, a investigação se encaminhará para a discussão de como os estímulos propostos pela RA podem proporcionar uma experiência estéticoliterária imersiva para jovens leitores. A obra em questão, de autoria de Márcia Marques dos Santos de Oliveira, foi publicada em 2020 e tem como temática as descobertas de Maia Oliver, uma adolescente dos anos 80, que registra seus dilemas e anseios em seu diário. Entre os principais elementos de realidade aumentada que constituem o livro, destacam-se o álbum de coleção de figuras virtual e a apresentação de elementos da cultura maranhense. Tais recursos podem ser acessados pelo leitor ao se instalar o aplicativo chocrível em um smartphone. Referências: GARRAMUÑO, Florencia. Práticas da impertinência. Frutos estranhos. Rio de Janeiro: Rocco, 2014, p. 5-15. GARRAMUÑO, Florencia. A literatura fora de si. Frutos estranhos. Rio de Janeiro: Rocco, 2014, p. 16-24. HAYLES, Katherine. Literatura eletrônica: o que é isso? Literatura eletrônica: novos horizontes para o litera?rio. Sa?o Paulo: Global, 2009, p. 19-53. KIRCHOF, Edgar Roberto. O livro de literatura para crianças e jovens no universo digital: transformações, desafios e possibilidades. Cadernos de Educação, Pelotas, n. 65, 2021, p. 1-18. LEITURA DISTANTE: ENTRE POTENCIALIDADES E DESAFIOS Emanoel Cesar Pires de Assis Resumo: Se há alguns anos, não mais que duas décadas, eram, no contexto brasileiro, poucos os estudos dentro da área de humanas que se dedicavam a analisar os seus objetos com o auxílio de ferramentas computacionais, com exceção, dentre poucos outros casos, da Linguística, o que vemos, atualmente, é um crescente interesse pelo que já se convencionou chamar de Humanidades Digitais. Dentro desse universo que comporta uma infinidade de temas, objetos e métodos é de nosso interesse destacar o conceito de Leitura Distante (2008) e como ele vem sendo utilizado na pesquisa com textos literários em meio digital, além de apontar certos desafios que se impõem aos pesquisadores e à área de Letras como um todo, diante de um aparato teórico-metodológico que, para alguns, faria desaparecer a literatura (ARAÚJO, 2016). Nesse sentido, para além de discutir procedimentos empregados por autores como Santos et al (2020), Jockers (2013), Ramsay (2011), Sinclair & Rockwell (2016), Piper (2018) e Underwood (2017, 2019), é de nosso interesse refletir sobre como esses procedimentos abrem possibilidades sobre o estudo do texto literário que a leitura aproximada (close reading), por limitações próprias de sua natureza, teria dificuldade para tornar exequível. Além disso, como forma de ilustrar algumas das possibilidades do método e, claro, suas limitações, algumas questões sobre um corpus com 921 obras e 36,7 milhões de palavras serão levantadas. Referências: ARAÚJO, N. “Vista de longe, a literatura é o que desaparece. (Acerca de um fracasso programático em Franco Moretti)”. In: Andréa Sirihal Werkema, Marcus Vinícius Nogueira Soares, Nabil Araújo (orgs). Variações sobre o romance. Rio de Janeiro: Edições Makunaima, 2016; JOCKERS, M. Macroanalysis. Digital Methods and Literary History. Chicago: U of Illinois P, 2013; PIPER, Andrew. Enumerations. In: Enumerations. University of Chicago Press, 2018; RAMSAY, Stephen. Reading Machines: Toward and Algorithmic Criticism. University of Illinois Press, 2011; SANTOS, D. ; ALVES, D. ; AMARO, R. ; BRANCO, I. A. ; FIALHO, O. ; FREITAS, C. ; HIGUCHI, S.; LANGFELDT, M. ; LOPES, J. M. ; PIRES, E. ; RAMOS, B. ; SANCHES, D. ; FUAO, R. S. ; PEREIRA, P. ; TERRA, P. “Leitura distante em português: resumo do Primeiro Encontro”. In MATLIT: MATERIALIDADES DA LITERATURA, v. 8, p. 279-298, 2020; UNDERWOOD, Ted. A Genealogy of Distant Reading. DHQ: Digital Humanities Quarterly, v. 11, n. 2, 2017; UNDERWOOD, Ted. Distant horizons. In: Distant Horizons. University of Chicago Press, 2019. A PRODUÇÃO INSTAPOÉTICA DE RUPI KAUR E AS NOVAS RELAÇÕES ENTRE OS CAMPOS DA LITERATURA E DA TECNOLOGIA Fernanda Barroso e Silva Resumo: Considerar a intensa relação entre Literatura e Tecnologia abre horizontes para refletir sobre o modo como a internet e as tantas mídias sociais criam e recriam inúmeras possibilidades, a exemplo das Instapoesias produzidas por poetas como a indo-canadense Rupi Kaur, nome expressivo dessa produção feminista contemporânea cujo meio primário de publicação de seus versos é o Instagram. Marcados por uma textualidade mosaica em interfaces intimistas, esses textos circulam e recebem interferências de seus seguidores-leitores, ressoando discursos emancipatórios em relação às mulheres. É pertinente considerar que, diante de uma realidade em que a estrutura social está baseada em uma formação de redes, os movimentos sociais se associam às práticas digitais, com a internet se colocando como um componente imprescindível dessa ação coletiva. As redes sociais, então, mostram-se expressivas ao conectar pessoas no mundo inteiro e promover o compartilhamento de publicações que fomentam diversos núcleos de movimentos. Assim, em produções que dão notoriedade a um forte cruzamento entre imagem e palavra, tem-se o projeto poético de Kaur de (re)construção e autoafirmação de identidades femininas, em uma busca constante por enfrentar estruturas patriarcais de poder que segregam, oprimem e silenciam. Esse cenário virtual, com a macrotextualidade dos textos digitais, colocanos diante de novos e múltiplos caminhos, ainda pouco discutidos e explorados no que tange à Instapoesia. Desse modo, interessa-nos investigar como e em que extensão essa relação entre Literatura e Tecnologia se faz no rico jogo da produção poética de Kaur, sendo considerados apontamentos de Penke (2019), Castells (2013), Zilberman (2018) e Gattass (2011) ao olhar para essas tantas conexões e suas ramificações. Referências: CASTELLS, Manuel. Redes de indignação e esperança: movimentos sociais na era da internet. Tradução Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2013. GATTASS, Luciana Barroso. Digital literature: theoretical and aesthetic reflections. 2011. 192 f. Tese de Doutorado (Doutorado em Letras) Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2011. ISER, Wolfgang. O jogo do texto. In: LIMA, Luiz Costa (org). A literatura e o leitor. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. PENKE, Niels. #instapoetry. Populäre Lyrik auf Instagram und ihre Affordanzen. Z Literaturwiss Linguistik, v. 49, n. 3, p. 451-475, 2019. [texto traduzido por Eduardo Lacerda com tradução inédita]. POJOGA, Vlad. The change of medium and the medium that changes: narrative Literature, networks and the digital. Transylvanian Review, v. 28, n. 1, p. 203-215, 2019. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/335749713_The_Change_of_Medium_and_the_Medium_tha t_Changes_Narrative_Literature_Networks_and_the_Digital. Acesso em: 20 dez. 2021. SANTAELLA, Lucia; NÖTH, Winfried. Imagem: cognição, semiótica, mídia. São Paulo: Iluminuras, 2008. ZILBERMAN, Regina. Comparative literature and the challenge of digital media. In: COUTINHO, Eduardo. Comparative literature as a transcultural discipline. São Paulo: Annablume, 2018. p. 163-181. POSSÍVEIS TENDÊNCIAS DA POESIA DIGITAL FEITA NO BRASIL Flaviano Maciel Vieira Resumo: A poesia contemporânea brasileira tem se configurado em espaços de produção nos quais se apresentam perspectivas multimidiáticas. Criações realizadas a partir de recursos computacionais demonstram uma imensa potencialidade poética proporcionada pelos intercruzamentos de linguagens. Nesse contexto, entendemos que é possível traçar certo panorama da poesia digital brasileira e identificar nele tendências específicas a partir do que muitas propostas vêm oferecendo. Tenho desenvolvido uma metodologia de leitura para poéticas digitais, o método CAPODI (Categorias Poéticas Digitais). Ele apresenta seis categorias dialéticas de análise: Verbo-digital; Imagético-digital; Sonoropoético-digital; Tempo-poético-digital; HHMI (Hipertextual, Hipermidática, Multimidiática e Interativa); e Tradução-intercódigos. Aplicar a análise dessas categorias no reconhecimento de possíveis novas tendências literárias da poesia digital tem sido meu principal caminho de pesquisa. Um mapeamento das tendências da poesia digital feita no Brasil é fundamental para entendermos como as poéticas dos computadores vêm se desenvolvendo nas últimas décadas. Poderemos, assim, vislumbrar mais atentamente o futuro dos estudos literários e se adequar aos novos desafios e anseios que a pesquisa científica tem diante da poesia frente aos processos ciberculturais em curso. A base teórica funciona dialeticamente nas abordagens, já que apenas a teoria da literatura não dá conta de resultados satisfatórios diante das poéticas digitais, cheias de intersemioses. Sendo assim, temos passado por Charles Sanders Peirce, Haroldo de Campos, Marshall McLuhan, Antonio Risério, Pierre Lévy, José Augusto Mourão, Marjorie Perloff, Jorge Luiz Antônio e outros. Além da tendência chamada por mim de Neobarroca Digital (com predominância do Verbo-digital e do Imagético-digital), podemos identificar, também, poéticas que trabalhem com a interatividade e/ou hipertexto, ou com a tradução intercódigos e/ou o sonoro poético digital, ou ainda com o imagético digital e/ou o tempo poético digital. Enfim, novas combinações podem ser observadas, descritas, explicadas e nomeadas a partir de categorias específicas de análise. Referências: AGUIAR, Fernando. Os olhos que o coração não vê. Lisboa, 2009. ANTONIO, Jorge Luiz. Poesia eletrônica: negociações com os processos digitais. 1. ed. Belo Horizonte: Veredas & Cenários, 2008. _____________. Poesia digital: negociações com os processos digitais: teoria, história, antologias. São Paulo: Navegar Editora; Columbus, Ohio, EUA: Luna BisindeProds; FAPESP, 2010. Livro e DVD. Edição: português. AVERINI, Ricardo. “Tropicalidade do barroco”. In: ÁVILA, Affonso (org). Barroco: teoria e análise. São Paulo: Perspectiva, 1997. ÁVILA, Affonso. O lúdico e as projeções do mundo barroco. São Paulo: Ed. Perspectiva S.A., 1994. BAIRON, Sérgio. Texturas sonoras: áudio na hipermídia. São Paulo: Hacker, 2005. BARTHES, Roland. A câmara clara: nota sobre a fotografia. Trad. Julio Castañon Guimarães. – [ed. Especial] – Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015. _______________. Aula: aula inaugural da cadeira de semiologia literária do Colégio de França, pronunciada no dia 7 de janeiro de 1977: Tradução e posfácio de Leyla Perrone-Moisés. São Paulo: Cultrix, 2013. _______________. A aventura semiológica. Lisboa: Edições 70, 1985. BARBOSA, Pedro. “O computador como máquina semiótica”. Revista de Comunicação & Linguagens. (O Campo da Semiótica), Universidade Nova de Lisboa, n. 29, abr. 2001, p.303-327. BENJAMIM, Walter. “A tarefa do tradutor”. In: Escritos sobre mito e linguagem (1915-1921). Organização, apresentação e motas de Jeanne Marie Gagnebin. 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No presente trabalho, busca-se relacionar as contribuições teóricas de Roland Barthes, como os conceitos de escritura, literatura, estilo e poder da linguagem com a literatura produzida e lida em contexto digital, Apesar dos ideais de Barthes terem sido difundidos por volta da metade do século XX, seus conceitos seguem atuais e relevantes para os estudos literários. O texto, além de fazer-se presente, manifesta-se em diferentes suportes e interações com público leitor. Barthes (2004) afirma que literatura é a prática de escrever. Mesmo com a presença de outros elementos como os recursos visuais, trilha sonora, a não-linearidade e suas inúmeras formas de leitura, o ponto principal é o texto literário, ou seja, o próprio aflorar da língua. A literatura, assim, continua se fazendo presente como arte da palavra. O que tem-se no âmbito das investigações em literatura digital é um olhar novo para as complexidades da produção e leitura desse texto em relação ao suporte que o vincula. Assim, é importante considerar a crítica literária do século XX para se enxergar esse texto literário, posto que a questão da escrita ainda se faz presente. A literatura, assim, não existe mais apenas no impresso, mas acompanha o desenvolvimento tecnológico e assume forma em outros lugares, coexistindo em diferentes suportes. Referências: BARTHES, Roland. Aula. Editora Cultrix, 2004. _______________. O prazer do texto. Edições 70, 2009. _______________. O grau zero. Martins Fontes: São Paulo, 2004. DI ROSARIO, Giovanna; MEZA, Nohelia; GRIMALDI, Kerri. The Origins of Electronic Literature: An Overview. Electronic Literature as Digital Humanities: Contexts, Forms, and Practices, p. 9, 2021. FURTADO, J. C. D. A influência da tecnologia na literatura: um novo contexto nas práticas de leitura, produção e análise da literatura. Akrópolis, Umuarama, v. 29, n. 1, p. 29-45, jan./jun. 2021. GAINZA Carolina. Nuevos escenarios literarios. In World Editors, pp. 331-350. De Gruyter, 2020. SANTA, Everton Vinicius de. A literatura em meio digital e a crítica literária. Hipertextus-revista digital, n. 7, p. 1-13, 2011. UMA INTERPRETAÇÃO CIBORGUE DE SHELLEY E LE GUIN Graziela Campana Drago Resumo: A ideia de que “o mundo é um livro”, assim como o seu inverso, “o livro é um mundo” não é uma novidade contemporânea, principalmente se adotarmos “história” como sinônimo de livro. Também a transformação da natureza não é uma exclusividade do processo de industrialização. As mitologias e as artes diversas demonstram estas transformações e essas ideias em diferentes culturas, quer seja em construções civis e religiosas, quer seja em sonhos e utopias. O Capitaloceno, porém, tem suas peculiaridades diante do Antropoceno. Ou seja, o capitalismo é uma forma específica de (des)organização da humanidade e provoca situações próprias dos Tempos Modernos. Ciborgue é um símbolo fictício ambíguo, inserido no capitalismo através da parcialidade e das relações potenciais. Esta metáfora (da contadora de histórias, bióloga de hominídeos, socialista-feminista e estadunidense branca Donna Haraway) surge com a elaboração tanto fictícia quanto científica de criaturas fronteiriças tais quais “símios, ciborgues e mulheres” como híbridos disfarçados em narrativas evolutivas, tecnológicas e biológicas (do Ocidente). Considerando um recorte da literatura de ficção científica de autoria feminina iremos apontar romances que contêm em suas metáforas constitutivas o funcionamento político, econômico, cultural e histórico do Capitaloceno, perseguindo a noção do progresso como uma armadilha da burguesia para manutenção da desigualdade social através do discurso da mobilidade de classes. O caminho da comunicação será apresentar, em lâminas, alguns conceitos de Haraway considerando uma abordagem indagativa (parcial) e então propor conexões da monstrualidade própria de ciborgues através das obras literárias “Frankenstein”, de Mary Shelley, e “Os despossuídos”, de Ursula K. Le Guin, utilizando trechos dos textos e aspectos do romance, especialmente caracterização e relacionamento de personagens. Referências: HARAWAY, Donna J. Simians, Cyborgs and Women: The Reinvention of Nature. New York: Routledge, 1991. __________. Ciencia, cyborgs y mujeres: La reinvención de la naturaleza. Madrid: Ediciones Cátedra, S. A., 1995. HAYDEN, Judy A (ed). The New Science and Women's Literary Discourse: prefiguring Frankenstein. New York: Palgrave McMillan, 2011. LE GUIN, Ursula K. Os despossuídos. Trad.: Susana L. de Alexandria. São Paulo: Aleph, 2017. SARGENT, Pamela. Women of Wonder: Science Fiction Stories By Women About Women. New York: Vintage Books, 1954. SHELLEY, Mary W. Frankenstein or The Modern Prometheus: The original Two-Volume Novel of 1816-1817 from the Bodlein Library Manuscripts. New York: Vintage Books/Random House, 2009. BONECA ROBÔ E BONECA DE KAFKA: DIÁLOGOS ENTRE A LITERATURA E A INTERNET DAS COISAS Heloisa Lopes da Silva de Andrade Resumo: O presente trabalho busca relacionar a obra Kafka e a Boneca Viajante de Jordi Sierra i Fabra (2009) com um vídeo Boneca Luva Bella - bebê robô produzido pela youtuber mirim Julia Silva em 2017. Para tal, é necessário problematizar como o dispositivo boneca, tanto no livro quanto no vídeo, torna-se objeto catalizador para pensar como o conceito de dispositivo e de Internet das Coisas ou Internet dos brinquedos/boneca parece redefinir aquilo que é familiar, antes mesmo de termos tido a chance de compreender como a arquitetura digital onipresente opera desde a infância em prol dos interesses do capital de vigilância. Os objetivos são: (1) discutir como as subjetividades infantis são produzidas na trama da literatura e do vídeo; e (2) enfatizar como é constituído o dispositivo Internet do brinquedo/boneca para pensar a sua configuração, não só como a modelização do social, mas, principalmente, como a horda de oportunidades de renderização, do cálculo, da conexão e a busca do lucro na fronteira do poder do capitalismo de vigilância. A perspectiva teórica-metodológica analítica baseia nos seguintes autores: Michel Foucault, Giogio Agamben, Roland Barthes, Shoshana Zuboff. Como síntese da discussão, entende-se que, tanto na literatura como no vídeo, o dispositivo boneca constitui a materialização da historicidade contida no objeto. Ela faz parte do nosso cotidiano e reflete a sociedade na qual estamos inseridos. Dito de outro modo, parece que tanto a boneca viajante de Kafka quanto a boneca-bebê robô são constituídas de alguns dos elementos da “confrontação” de época e visões de mundo. Referências: AGAMBEN, Giogio. O que é o Contemporâneo? E outros ensaios. Chapecó-SC: Uno. Chapecó, 2009. AGAMBEN, Giogio. Infância e história: destruição da experiência e origem da história. 2.ed. Belo Horizonte. Editora UFMG,2012. BRATHES, Roland. Mitologias. 9ed. São Paulo: Beltrand Brasil, 1993. MICHEL, Foucault. Sobre a História da Sexualidade. In: Microfísica do poder.16ªed. Rio de Janeira: Graul, p.243-274. ZUBOFF, Shoshana. A era do capitalismo de vigilância: a luta por um futuro humano na nova fronteira do poder. Rio de Janeiro : Intrínseca, 2020. REFLEXÕES SOBRE A INSTAPOESIA/INSTANARRATIVA: UM NOVO FILÃO PARA A INDÚSTRIA CRIATIVA Jéssica de Souza Carneiro Resumo: O Instagram alimenta a Indústria Criativa ou a Indústria Criativa se alimenta do Instagram? O presente trabalho visa mostrar como a rede social Instagram, por sua crescente capilaridade, atua ou acaba sendo utilizada no sentido de representar o mundo contemporâneo e suas atuais formas de sociabilidades, essencialmente intermediadas pela tecnologia (Jenkins, 2008). Nesse cenário, entendemos que Instagram e Indústria Criativa (Feil, 2017) se retroalimentam, seja no intuito de gerar capital para empresas e empreendedores que se utilizam dessa plataforma de dados para criar visibilidade aos seus negócios, seja com vistas a gerar economia criativa (Benetti, 2021). Para chegar a essa conclusão, realizamos análise de conteúdo (BARDIN, 1977) em perfis e de postagens de escritores(as) da contemporaneidade que atuam nesta mídia, uma vez que produzem para a Indústria Criativa e utilizam seus perfis no Instagram como prática da escrita criativa, de modo que há produções para o Instagram que já viraram livros publicados por editoras e há livros que já foram publicados, cujos autores(as) mantém perfis ativos no Instagram como que em continuação online da obra já eternizada na plataforma livro. A instapoesia/instanarrativa é um fenômeno relativamente recente. Em 2018, a revista Veja já analisava a lista de best-sellers que veicula a cada edição sob o olhar atento e mercadológico das editoras interessadas em publicar e/ou apadrinhar os escritores mais populares no meio digital. Segundo a edição da revista (idem), o Instagram veio “tirar a poeira” da poesia e colocá-la novamente entre a lista dos gêneros mais lidos da contemporaneidade. A revista Época também anunciou, em 2018, que o Instagram tornou-se a plataforma dos tempos contemporâneos. Será? É o que queremos analisar. Referências: ALLEN, Nancy. Telling our stories in new ways. Computers and Composition 18. USA. Pergamon: 2001, pp. 187–194. AMARAL, Adriana; RECUERO, Raquel; MONTARDO, Sandra. Blogs.com: estudos sobre Blogs e Comunicação. São Paulo: Momento editorial, 2009. BAUMAN, Zigmunt; DONSKIS, Leônidas. Cegueira Moral: a perda da sensibilidade na modernidade líquida. Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2014. BENETTI, Rodolfo. [24 nov. 2021]. Marketing Digital em 2021: o que é e como funciona? Disponível em: <https://www.organicadigital.com/blog/afinal-como-funciona-omarketing-digital/>. Acesso em: 18 nov. 2021. BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977. BRESSANE, Ronaldo. Reformatório. 1ª ed. São Paulo: Editora Escalpo, 2017. CALDAS, Felipe Bernarde; PINTO, Túlio. (2018). O devir artista: a obra além da própria obra. Entrevista com Túlio Pinto. Porto Arte: Revista de artes visuais. v.23, n.38 (on-line). Disponível em: <https://seer.ufrgs.br/PortoArte/article/view/76569/47407>. Acesso em: 23 nov. 2021. CARNEIRO, Raquel; KUSOMOTO, Meire. [12 out. 2018]. Instapoetas, o fenômeno que tirou a poeira da poesia: Jovens autores impulsionam o gênero na internet – e na lista de best-sellers. Revista Veja (on-line). Disponível em: <https://veja.abril.com.br/especiais/instapoetas-o-fenomeno-que-tirou-a-poeira-da-poesia/>. Acesso em: 18 nov. 2018. CASA INSTAGRAM. [2020]. Disponível em <https://casainstagram2020.splashthat.com/>. Acesso em 11 de dez. de 2020. CHARTIER, R. A aventura do livro: do leitor ao navegador. Tradução Reginaldo Carmello Corrêa de Moraes. São Paulo: UNESP e Imprensa Oficial SP, 1998. DUNKER, Christian. Uma biografia da depressão. São Paulo: Planeta, 2021. FEIL, Gabriel. [2017]. Comunicação e Indústria Criativa - modos de usar. Animus - Revista Interamericana de Comunicação Midiática. E ISNN 2175 - 1977. v.16, n.32. (on-line). Disponível em: <www.ufsm.br/animus>. Acesso em: 27 jan. 2022. FINCO, Nina. [28 fev. 2018]. O Instagram tornou-se a plataforma dos poetas contemporâneos. Revista Época (on-line). Disponível em: https://epoca.oglobo.globo.com/cultura/noticia/2018/02/o-instagram-tornou-se-plataforma-dos-poetascontemporaneos.html. Acesso em: 18 nov. 2021. GASPARINI, Cláudia. [25 ago. 2017]. O que é escrita criativa e como ela pode salvar qualquer carreira. Revista Exame (on-line). Disponível em: <https://exame.com/carreira/o-que-e-escrita-criativa-e-como-ela-pode-salvar-qualquer-carreira/>. Acesso em: 18 nov. 2021. GRUSIN, Richard. Radical Mediation. Critical Inquiry, Vol. 42, No. 1, pp. 124-148. The University of Chicago Press, 2015. Disponível em: <http://www.jstor.org/stable/10.1086/682998>. Acesso em: 10 fevereiro 2017. INSTAGRAM. Disponível em: <https://about.instagram.com/pt-br>. Acesso em: 18 nov. 2018. JENKINS, Henry. Cultura da Convergência. 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Cultural, 2012. RESULTADOS DIGITAIS. [on-line]. Storytelling: o que é e como aplicá-lo no dia a dia da sua agência. Disponíveis em: <https://resultadosdigitais.com.br/agencias/storytelling/ >. Acesso em: 18 nov. 2021 SANTOS, Cláudia Marques.[21 mar. 2019]. Instapoemas, a tendência literária que divide opiniões. Revista Máxima (online). Disponível em: <https://www.maxima.pt/atual/detalhe/instapoemas-a-tendencia-literaria-quedivide-opinioes>. Acesso em: 18 nov. 2021. SEBRAE, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. [2020] Instagram para empresas: 10 dicas para promover seu negócio. Disponível em: <https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/ufs/al/artigos/10-dicas-para-promover-o-seu-negociono-instagram,e11da535c0597510VgnVCM1000004c00210aRCRD>. Acesso em: 19 Out. 2020. DEIXEM-ME CÁ, EU E MEU AVATAR: CAMINHOS PARA UMA LUDOLÍRICA DE GRAND THEFT AUTO V EM 'ROCK, STAR, NORTH', DE CALUM RODGER Jorge Luiz Adeodato Junior Resumo: O trabalho tem por objetivo apresentar 'Rock, Star, North' (2020; 2021), poema do autor escocês Calum Rodger. Exemplar de uma 'poesia digital' (FLORES, 2014), Rodger prescinde, em um primeiro momento, da mídia física para veiculação de sua obra, uma vez que os elementos que compõem seus versos aparecem majoritariamente em blogs, revistas digitais independentes e vídeos na plataforma YouTube. Apresentado pelo autor como um ‘maquinipoema’, a arquitetura de seu texto expande-se sob os prismas do lúdico e do lírico ao registrar uma peregrinação pela cartografia da ficcional Los Santos de GTA V (2013) inspirada pelas jornadas de Wordsworth, Allen Ginsberg e outros. A presente comunicação é oriunda de uma pesquisa ainda em andamento e será dividida em três segmentos: a apresentação dos esforços de Rodger em suas produções tanto na literatura quanto nos jogos eletrônicos, bem como a introdução do conceito de 'ontografia metalúdica' trabalhado pelo próprio poeta; a seguir, a exposição do que uma subjetividade lírica pode contrapor e introduzir ao universo de Grand Theft Auto, fazendo uso de um mapeamento dos percursos e interstícios de um avatar / 'eu-lírico' digital; por fim, destacar, junto com teóricos como Perloff (1991) e Barthes (2004; 2007), momentos no texto em que características entre duas linguagens distintas, a literária e a dos videogames, escoam para além de suas delimitações iniciais e trocam elementos entre si. A comunicação será acompanhada, também, de propostas de tradução do poema ao português brasileiro. Referências: BARTHES, Roland. O império dos signos. Trad. de Leyla Perrone-Moisés. São Paulo: Martins Fontes, 2007. BARTHES, Roland. O rumor da língua. 2a edição. Trad. de Mario Laranjeira. São Paulo: Martins Fontes, 2004. FLORES, Leonardo. Digital Poetry IN Marie-Laure Ryan, Lori Emerson, Benjamin J. Robertson (eds). The Johns Hopkins Guide to Digital Media. Baltimore: John Hopkins University Press, 2014 GRAND THEFT AUTO V. Desenvolvido por Rockstar North. Publicado por Rockstar Games. New York, 2013 PERLOFF, Marjorie. Radical artifice: writing poetry in the age of media. Chicago: University of Chicago Press, 1991 RODGER, Calum. Rock, Star, North. ZOMG. Disponível em: https://ontographicmetagaming.wordpress.com/rock-star-north. Acesso em: 17 de Março de 2022. RODGER, Calum. Rock, Star, North. Adjacent Pineapple, 2020. Disponivel em: https://www.adjacentpineapple.com/calum-rodger. Acesso em: 28 de Março de 2022. RODGER, Calum. Rock, Star, North (A poem). Youtube, 2021. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=qbdMlX5-a3E. Acesso em: 05 de Maio de 2022. O FAZER LITERÁRIO EM ÁUDIO: ESTUDO SOBRE O PODBOOK Lilian Pacheco Monteiro da Costa, ROGÉRIO DE SOUZA SERGIO FERREIRA Resumo: De acordo com o apontamento de Linkis (2020), “estudos futuros na Literatura Comparada devem investigar as transformações em curso do conteúdo e do uso da literatura, uma vez que a literatura é moldada por contextos de mudança, novos meios, línguas e leitores”. A autora também propõe que serão necessários novos estudos a respeito da literatura born-audio, seu contexto social e seus suportes. Os estudos de Schirrmacher apresentados em Bruhn e Schirrmacher (2022) evidenciam que os contextos em que usamos a literatura estão mudando, propondo uma análise para as diferentes modalidades da literatura e suas mídias. Linkis (2020) também observa a relação das novas produções literárias com seus leitores/consumidores através de diversas discussões a respeito da experiência do ouvinte de literatura born-audio. Seu estudo, ao enfocar uma série de produções da Storytel que surgiram por e para o meio de áudio, destaca uma situação em que o texto escrito não está mais ao centro. A partir disso, o podbook se apresenta como um objeto de pesquisa em potencial para contribuir aos estudos das novas formas literárias e sua relação com a cultura que as consome. O podbook “tem a estrutura e narrativa de um audiobook, mas tem o ritmo e a linguagem de um podcast” (MAFRA, 2021). Essa hibridização é facilitada pelas circunstancias tecnológicas da produção e do uso de audiolivros, similares às da indústria do podcast, e pelas características da publicação digital, que permitem a criação de novas mídias e novos meios de distribuição. Outrossim, essa nova mídia pode ser considerada uma forma de literatura eletrônica, uma vez que configura uma prática literária de forma sonora que se apropria da computação, do streaming de áudio e das comunidades desenvolvidas nesses meios. Referências: BRUHN, Jørgen; SCHIRRMACHER, Beate. Intermedial Studies: An Introduction to Meaning Across Media. 2022. HAVE, Iben; PEDERSEN, Birgitte Stougaard. The audiobook circuit in digital publishing: Voicing the silent revolution. New media & society, vol. 22, n. 3. 2020. p. 409-428. _____________________________________. Digital audiobooks: New media, users, and experiences. Routledge, 2015. LINKIS, Sara Tanderup. Resonant Listening: Reading Voices and Places in Born-Audio Literary Narratives. Canadian Review of Comparative Literature/Revue Canadienne de Littérature Comparée, v. 47, n. 4. 2020. p. 407-423. MAFRA, Guga. Como ser um rockstar, 2021a. Sobre o livro. Disponível em: <https://comoserumrockstar.com/sobre/>. Acesso em: 15 novembro 2021. _____________. Como ser um rockstar. Podbook. Intérpretes: Guga Mafra e Eric Mafra. [S. l.]: Storytel, 2019. Disponível em: <https://www.storytel.com/br/pt/books/como-ser-umrockstar-571353>. Acesso em: 15 nov. 2021. RUBERY, Matthew (Ed.). Audiobooks, literature, and sound studies. Routledge. 2011. VICENTE, Eduardo. Do rádio ao podcast: as novas práticas de produção e consumo de áudio. Emergências periféricas em práticas midiáticas. 2018. p. 88-107. UNRAVEL - VESTÍGIOS DE UMA POÉTICA DAS COLEÇÕES Lion Santiago Tosta Resumo: Quando questionamos a relação existencial da memória somos atravessados por uma série de mecanismos sociais que constituem e tentam preservar a importância dessa presença subjetiva, singular e coletiva nas sociedades. Neste sentido, os objetos são disparadores que materializaram a memória de um cultura no que concerne à constituição da identidade e do imaginário de um povo. Assim, é importante considerar que o processo de constituição da memória em relação com o objeto não se restringe apenas a sua condição ritualística e estática, como também está relacionada às transformações tecnológicas das sociedades que movimentam o referencial e o uso do objeto em sua qualidade de disparador e preservador da memória. Portanto, nos avanços tecnológicos da contemporaneidade os videogames se constituíram como uma presença material e subjetiva que incorporou procedimentos artísticos de diversos campos, tais como a literatura e o cinema, em sua qualidade artística de transmissão da memória na proposição de uma experiência ligada ao imaginário. Logo, a desenvolvedora de games Coldwood Interactive, pública por intermédio da Electronic Arts o jogo Unravel (2016), nos apresentando Yarny, um boneco de lã que tem como objetivo reconstituir os laços de memória de sua criadora. No desenrolar do Jogo, o jogador deve coletar uma série de objetos e memórias que são registrados na composição de um álbum de fotografia. A grande questão a qual essa comunicação se destina, é investigar como o jogo constrói uma poética das coleções na narrativa dos games e como ele pode contribuir para a transmissão de um saber necessário para as mais diversas culturas. Para o desenvolvimento desta comunicação, irei articular o conceito de coleções a partir de Benjamin (2021) e Moreira (2019), memória a partir de Maciel (2004) e arquivo com o aporte de Derrida (2004). Referências: BENJAMIN, Walter. O colecionador in: Benjamin, Walter. Passagens. Tradução de Irene Aron e Cleonice Paes Barreto Mourão. Belo Horizonte: Editora UFMG; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2021. MOREIRA, Maria Elisa Rodrigues. Coleção in: Coleção, Arquivo, Biblioteca: a literatura de Borges e Calvino. 2. ed. Belo Horizonte: Tradição Planalto, 2019. MACIEL, Maria Esther. A memória das coisas: Ensaios de literatura, cinema e artes plásticas. Rio de Janeiro: Lamparina, 2004. DERRIDA, Jacques. O livro por vir. In: Papel-Máquina. Tradução de Evandro Nascimento. São Paulo: Estação Liberdade, 2004. REDES SOCIAIS COMO ESPAÇOS PARA CONSTRUÇÃO DE NARRATIVAS ELETRÔNICAS: ANALISANDO OS CASOS DE DUAS ARTISTAS BRASILEIRAS Maiara Alvim de Almeida Resumo: As redes sociais digitais, embora existam desde os anos 2000, alcançaram grande popularidade na década de 2010. Além de representarem um espaço para trocas sociais diversas no ambiente eletrônico, também representam uma possibilidade para autores publicarem suas obras. Os atrativos são variados, e incluem os baixos custos envolvidos, a dinamicidade, a proximidade com o público leitor e o potencial de se alcançar novas audiências. Assim, muitos artistas, novatos e veteranos, têm recorrido a essas plataformas como uma alternativa para publicação de suas obras. Porém, apesar dos pontos positivos, há também de se considerar os negativos, como um algoritmo pouco claro, que prioriza o alcance de certos tipos de conteúdos em detrimento de outros, a facilidade de se ter sua obra copiada ou plagiada, as dificuldades em se ter retornos financeiros, bem como o fato de o artista muitas vezes se tornar refém de estéticas e assuntos do momento em sua busca por público e reconhecimento. Com tais reflexões em mente, discutiremos a dinâmica para publicação de narrativas digitais na plataforma Instagram, através do estudo de caso de dois perfis de artistas brasileiras, que publicam em língua portuguesa: Helô D’Angelo e Carol Rossetti. Ambas apresentam interessantes usos da plataforma e de integração de linguagens, com destaque para as histórias em quadrinhos. Além disso, ambas produzem narrativas mais longas e com continuidade, ao contrário da maior parte dos autores que lançam mão da plataforma, os quais recorrem a gêneros narrativos curtos como tirinhas em quadrinhos, poemas ou performances em vídeo. Assim, a partir destes dois perfis, pretendemos discorrer sobre as vantagens e desvantagens de se recorrer a uma rede social como suporte para publicação e fruição de narrativas em meio eletrônico. Em nosso arcabouço teórico, contaremos com reflexões de Jenkins (2009), Murray (2003), Groensteen (2015) e Eisner (2015). Referências: ALVIM DE ALMEIDA, M.; RODRIGUES, A. V. ; TELES, C. S. ; SILVA, N. R. ; LIMA, V. G. . Apontamentos sobre as tirinhas de Instagram brasileiras. In: V SEMEPE, 2020, Volta Redonda. V SEMEPE, 2020. p. 51-60. CAROL ROSSETTI. Disponível em: <https://www.instagram.com/carolrossettidesign/>. Acesso em 05 maio 2022. EISNER, Will. Quadrinhos e arte sequencial. São Paulo: Martins Fontes, 2015. GROENSTEEN, Thiery. O sistema dos quadrinhos. [S.l.]: Nova Iguaçu: Marsupial, 2015. Trad. Érico Assis. FRANCO, Edgar Silveira. Histórias em Quadrinhos e hipermídia: As HQtrônicas chegam à sua terceira geração. LUIZ, Lúcio (org.). Os Quadrinhos na era digital. Nova Iguaçu, RJ: Marsupial Editora, 2013. ______. HQtrônicas: do suporte papel à rede internet. 2001. Mestrado em Multimeios – Universidade Estadual de Campinas, Campinas. HELÔ D’ÂNGELO. Disponível em <https://www.instagram.com/helodangeloarte/>. Acesso em 05 maio 2022. MURRAY, Janet. Hamlet no holodeck. São Paulo: Unesp, 2003. Tradução de Elissa K. Danzi e Marcelo F. Cozziel. JENKINS, Henry. Cultura da Convergencia. 1. ed. São Paulo: Editora Aleph, 2009. AS VÁRIAS FACES DE UM BRUXO Márcio Roberto do Prado Resumo: Quando pensamos nas possibilidades narrativas da contemporaneidade, ainda que tenhamos em mente o enfoque em uma única arte ou dinâmica comunicacional, inevitavelmente nos vemos lançados em um contexto no qual diálogos e esmaecimento de fronteiras surgem de modo imperativo. Mesmo uma arte tradicional como a literatura encontra-se diante de tal cenário, de modo que, a despeito de sua sustentação na linguagem verbal, elementos visuais, sonoros, cinéticos, dentre outros, podem entrar em cena quando abordamos aspectos bastante precisos, como é o caso das categorias que sustentam o gênero épico. Tendo isso em vista, a presente comunicação propõe a discussão de uma categoria narrativa em particular, a personagem, a partir de um exemplo específico: Geralt de Rívia, o “bruxo” criado por Andrzej Sapkowski em sua cultuada série de livros de fantasia. Dialogando sobretudo com os videogames (em particular com o sucesso The Witcher 3: Wild Hunt, da desenvolvedora CD Projekt RED) e com a série da Netflix The Witcher, estrelada por Henry Cavill, e, em menor escala, com o universo das animações e dos quadrinhos, a reflexão proposta mostrará como a personagem das narrativas contemporânea desenvolve-se sob a égide de uma dinâmica transmídia, em um processo instigante que, longe de minar a força das artes e dos sistemas semióticos envolvidos, garante-lhes maior força, urgência e relevância. Referências: AARSETH, E. Cybertext: Perspectives on Ergodic Literature. Baltimore; London: The Johns Hopkins Press, 1997. BENJAMIN, W. Magia e te?cnica, arte e poli?tica. Ensaios sobre literatura e histo?ria da cultura. Traduc?a?o Sergio Paulo Rouanet. Sa?o Paulo: Brasiliense, 1996. (Obras escolhidas, 1) JENKINS, H. Cultura da converge?ncia. Traduc?a?o de Susana Alexandria. Sa?o Paulo: Aleph, 2009. KELLNER, D. A cultura da mi?dia. Trad. Ivone Castilho Benedetti. Bauru: Edusc, 2001. LANDOW, G. P. Hypertext. The convergence of contemporary critical theory and technology. Baltimore and London: John Hopkins University Press, 1992. LESSING, G. Gesammelte Werke. Mu?nchen: Carl Hanser Verlag, 1952. 2 v. LE?VY, P. Cibercultura. Trad. Carlos Irineu da Costa. Sa?o Paulo: 34, 2001a. ___. A ideografia dina?mica: rumo a uma imaginac?a?o artificial? Trad. Marcos Marcionilo e Saulo Krieger. Sa?o Paulo: Loyola, 1998. MCLUHAN, M. Os meios de comunicac?a?o como extenso?es do homem. Traduc?a?o De?cio Pignatari. Sa?o Paulo: Cultrix, 1974. MURRAY, J. Hamlet no holodeck: o futuro da narrativa no ciberespac?o. Traduc?a?o de Elissa Khoury Daher e Marcelo Fernandez Cuzziol. Sa?o Paulo: Itau? Cultural: Unesp, 2003. NEGROPONTE, N. A vida digital. Se?rgio Tellaroli. Sa?o Paulo: Companhia das Letras, 1995. SAPKOWSKI, A. O último desejo. Tradução de Tomasz Barcinski. São Paulo: Martins Fontes, 2011. SCHELL, J. The Art of Game Design: a Book of Lenses. Burlington: Morgan Kaufmann, 2008. TAVINOR, G. The Art of Videogames. Oxford: Wiley-Blackwell, 2009. UM ATLAS EXPANDIDO: OS ESPACIALISTAS E SEU INSTAGRAM Maria Elisa Rodrigues Moreira Resumo: O Atlas do Corpo e da Imaginação, de Gonçalo M. Tavares, consiste em um texto de caráter prioritariamente ensaístico, que usa suas próprias margens para expandir essa perspectiva por meio da interpolação de outras textualidades — uma série de aproximadamente mil imagens produzidas pelo coletivo português “Os Espacialistas”, que dialogam transversalmente com o texto ensaístico e que, por sua vez, são acompanhadas por textos breves ou longos em formato de legendas, as quais na maioria das vezes geram mais questionamentos que esclarecimentos, e cuja linguagem transita entre o poético e o filosófico. Esse movimento de expansão percebido no livro parece ganhar novo fôlego quando nos detemos sobre o perfil do coletivo português, @os_espacialistas, no Instagram: ao percorrermos o feed, encontramos uma série de imagens que possibilitam a conexão com o livro de Tavares, as quais categorizei em três distintos grupos. O primeiro deles corresponde a uma série de imagens já utilizadas no livro, as quais aparecem no feed acompanhadas de legendas constituídas por textos autorais ou citações breves; o segundo grupo compõe-se de imagens do próprio livro ou de obras dele derivadas, como Atlas do Corpo e da Imaginação em Exposição, primeira incursão do duo no âmbito das exposições artísticas, realizada em 2021; no terceiro grupo, são apresentadas imagens que não tecem qualquer relação direta com o livro mas que, pela organização do próprio feed, possibilitam que tracemos conexões e associações com o Atlas. Percorrer o feed, assim, nos permite também percorrer o Atlas num movimento expansivo que agora salta do livro impresso para o território digital das redes sociais. É a refletir sobre esse processo de expansão possibilitado pela relação do literário com o tecnológico, no caso do diálogo entre Gonçalo Tavares e Os Espacialistas, que esta comunicação se propõe. Referências: OS ESPACIALISTAS. Diário do Espacialista I Série AA. Número 2. 02 dez. 2012. GARRAMUÑO, Florencia. Frutos estranhos: sobre a inespecificidade na estética contemporânea. Rio de Janeiro: Rocco, 2014. GONÇALO M. Tavares + Os Espacialistas. Atlas do Corpo e da Imaginação em exposição. Lisboa: Carlos Carvalho Arte Contemporânea, 2021. (Catálogo da Exposição). HAYLES, Katherine. Literatura Eletrônica: novos horizontes para o literário. Passo Fundo: UPF, 2009. KIFFER, Ana; GARRAMUÑO, Florencia (org.). Expansões contemporâneas: literatura e outras formas. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2014. ROCHA, Rejane. Contribuições para uma reflexão sobre a Literatura em contexto digital. Revista da Anpoll, [S. l.], v. 1, n. 36, p. 160–186, 2014. TAVARES, Gonçalo M. Atlas do corpo e da imaginação: teoria, fragmentos e imagens. Alfragide: Caminho, 2013. DE HAYLES A RETTBERG: O QUE SE FAZ DO "MONSTRO ESPERANÇOSO" NO BRASIL? Miguel Rettenmaier da Silva Resumo: O trabalho procura discutir as rearticulações teóricas que cercam a literatura eletrônica associadas à produção do “gênero” no Brasil, a partir de duas publicações sobre o tema, com o mesmo título, Electronic Literature, mas de autorias distintas: Katherine Hayles e Scott Rettberg, respectivamente, de 2008 e 2018. No primeiro estudo, de Hayles, a literatura eletrônica, chamada pela pesquisadora de “monstro esperançoso” (2008, p.4), por suas mutações adaptativas, é apresentada em termos conceituais e exploratórios, após um momento em que, ainda segundo Hayles, os PCs “são mais comuns do que os ácaros domésticos” (2008, p.26). Esboçando uma classificação em gêneros, muito relacionada aos códigos e aos ambientes nos quais a literatura eletrônica se atualiza, Hayles observa o que pode ser, então, um atributo da literatura eletrônica, a produção e a recepção no meio eletrônico, nas telas digitais. A abordagem de Rettberg, por sua vez, problematiza a questão do “gênero”, vendo no caráter mutável dos projetos artísticos as dificuldades que se associam a classificações definidas. Para ele, no que concerne à literatura eletrônica, não apenas códigos, forma e conteúdo articulam atributos específicos a determinadas especificidades, mas ações em sistemas, plataformas e softwares e, se quisermos, hardwares, os quais colaboram como termos no que se pode determinar como regimes que regulam as práticas de leitura dos projetos. Esse trabalho se propõe a pensar a leitura como ação integrada a esses projetos estéticos, levando em conta a produção literária eletrônica brasileira, em específico, no projeto E-imigrações, obra coletiva de Alckmar dos Santos, Rafael Duarte e Vinícius Rutes, com criações visuais de Samuel Casal, músicas de Daniel Duarte, poemas de Alckmar dos Santos e programação visual de Rafaela Kreutz. O projeto apresenta três narrativas sobre deslocamentos populacionais em virtude de desastres naturais e calamidades sociais, envolvendo Síria, Haiti e Venezuela. Referências: https://nupill.ufsc.br/producao/e-imigracoes/ HAYLES, Katherine. Electronic Literature. News horizons for the literary. South Bend, Notre Dame> University of Notre Dame, 2008. RETTBERG, Scott. Electronic Literature. Cambridge; Medford: Polity Press, 2018. O TEMPO MEDIADO: RELAÇÕES POÉTICAS E ESTÉTICAS ENTRE HUMANIDADE E TECNOLOGIA Natália Corbello Pereira Resumo: Nos estudos literários, é notória a importância da tese de Paul Ricoeur sobre a relação simbiótica estabelecida entre a narrativa e o caráter temporal da experiência humana: para o autor, não é apenas a narrativa que se torna significativa na medida em que desenha essa experiência temporal, mas é também o tempo que se torna humano apenas quando articulado em forma narrativa (RICOEUR, 2010, p. 9). Complementarmente, Pierre Lévy defende que a escrita – tecnologia-base da arte da literatura – muda as percepções e relações temporais ao substituir a comunicação oral como principal tecnologia de informação: a escrita funda a história, exterioriza a memória e explica o futuro como progresso (LÉVY, 1993, p. 94-98). A relevância do recorte temporal tanto na escrita quanto na literatura aponta para a tendência das sociedades humanas de mediarem suas experiências temporais através das tecnologias e das artes, motivando as perguntas: como temos interpretado e reinventado o tempo na tecnologia da escrita, a partir da arte da literatura e, mais recentemente, na tecnologia do digital, a partir da arte dos videogames? O que muda de um regime tecnológico para outro, e o que podem significar essas mudanças? É nesse sentido que a presente comunicação propõe explorar, através de uma abordagem tecnológico-estética, a literatura na sua relação com as artes digitais em geral e com a arte dos videogames em particular, pensando especificamente o recorte da mediação temporal que ambas possibilitam. Empregaremos autores como Ricoeur (2010), Bachelard (2010), Lévy (1993), Aarseth (1999), Nichols (1988) e Negroponte (1995) para abordar as quatro frentes aqui propostas – a saber, a literatura, a escrita, os videogames e o digital –, buscando esboçar respostas para as perguntas anteriormente elencadas. Referências: AARSETH, Espen. Aporia and epiphany in Doom and The Speaking Clock: the temporality of ergodic art. In: RYAN, Marie- Laure (Ed.). Cyberspace textuality: computer technology and literary theory. Bloomington: Indiana University, 1999. p. 31-41. BACHELARD, Gaston. A intuição do instante. Tradução: Antonio de Padua Danesi. 2. ed. Campinas: Verus, 2010. LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. Tradução: Carlos Irineu da Costa. São Paulo: 34, 1993. NEGROPONTE, Nicholas. Being digital. Londres: Hodder and Stoughton, 1995. NICHOLS, Bill. The work of culture in the age of cybernetic systems. Screen, v. 29, n. 1, 1988, p. 22-47. RICOEUR, Paul. Tempo e narrativa: a intriga e a narrativa histórica. Tradução: Claudia Berliner. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2010. v. 1. SINTEXT: PROFANAÇÃO E INSUBMISSÃO DIGITAL Otávio Guimarães Tavares Resumo: Qualquer teoria que indique "agir regrado" ou "ação regrada", no contexto brasileiro ou português irá, inevitavelmente, recordar os regimes totalitários que tomaram estes países ainda em anos recentes. A estes vem se somar o que Nicholas Zurbrugg (1993) considera uma mentalidade pós-moderna (ligada ao “Theory”) de tons apocalípticos, voltada para o declínio, a estagnação, e uma obsolescência da criatividade, subscritos em uma desconfiança à tecnologia de raízes heideggerianas. Todos estes parâmetros têm construído, de uma forma ou outra, no domínio letrado, uma recusa ao que seja tanto maquínico quanto digital. Não obstante, um agir regrado não necessariamente implica um alinhamento a procedimentos de controle totalitários visto que tanto o jogo quanto o teatro estão balizados por este modo de operar e são, historicamente, valiosos meios de insubmissão e insurreição contra regimes de controle. A presente fala pretende abordar o gerador de textos automáticos Sintext, elaborado por Pedro Barbosa e J. M. Torres em Java, a partir da premissa de que esta obra, por indicar modos de construir seus próprios sistemas de regras para a geração de textos literários - expondo e convidando o usuário a compreender seu artifício - implica em uma dessacralização do código e uma devolução deste ao âmbito da vida humana. Para isso devemos deslocar nosso olhar dos poemas gerados para o agir e a interação humano/máquina que os engendra, compreendendo o Sintext não por via dos seus resultados, mas como uma obra performática, marcada pela ação. Referências: BARBOSA, Pedro; TORRES, J. M. Sintext. 1999. Disponível em: Disponível em: <https://www.po-ex.net/images/stories/pedrobarbosa/sintext/aforismos/index.html>. Acesso em: 31 de maio 2019. ZURBRUGG, Nicholas. The parameters of postmodernism. London: Routledge, 2003. SISTEMA LITERÁRIO E HIPERCULTURALIDADE Paulo Sergio Martins Resumo: Na obra Hiperculturalidade: Cultura e Globalização, o filosofo literato Byung-Chul Han apresenta o conceito de hiperculturalidade. Partindo do conceito de polissistemas criado por Itamar Even-Zohar (2013) para pesquisar os sistemas literários. O presente trabalho evidencia convergências entre o pensamento de Han e Zohar para sugerir que os estudiosos da cultura e da literatura são agentes capazes de criar novos padrões organizacionais para o equilíbrio de um sistema literário. Para Han o hipertexto – rede colaborativa de informações contínuas no meio digital – é o espaço de manifestação da hiperculturalidade. Uma cultura dos excessos, que viabiliza mais experiências (virtuais ou presenciais), maior facilidade de registros dessas experiências (fotografias, filmagens), maior celeridade no compartilhamento das informações, maior capacidade de armazenamento, maior ubiquidade tecnológica na vida do indivíduo, aceleração das interações do produtor da mensagem com o consumidor do conteúdo cultural. Esse excesso pode contribuir para o esquecimento. A cultura dos excessos embora ofereça liberdade e ilimitada rede de interações hipertextuais, pode-se mostrar tão prejudicial para a cultura quanto o esforço de fechamento e isolamento em defesa de uma cultura pura. Por um lado, temse o risco da fossilização e, por outro, a ameaça da dissolução rumo ao esquecimento. Sugere-se que exercício de ação dos agentes (estudiosos da cultura) pode ser entendido como a emergência de um parâmetro normativo e organizado, que pode agir sobre o sistema contribuindo significativamente para o equilíbrio dos sistemas culturais, de maneira a fazer contraponto às forças que controlam e perpetuam seu status de domínio cultural sobre o sistema. Referências: AGOSTINHO, Santo. Confissões. Tradução de Beatriz S. S. Cunha. Jandira, SP: Principis, 2019. ARENDT, João Claudio. Do outro lado do muro: regionalidades e regiões culturais. Revista Rua, Campinas, n. 18, p. 110-126, nov. 2012. CUCHE, Denys. Noção de cultura nas ciências sociais. Tradução de Viviane Ribeiro. Bauru, SP: EDUSC, 1999. EVEN-ZOHAR, Itamar. Teoria dos polissistemas. Revista Translatio, v. 4, p. 2-21, 2013. HAN, Byung-Chul. Hiperculturalidade: Cultura e globalização. Petrópolis: Vozes, RJ. 2019. POZENATO, José Clemente. Processos culturais, reflexões sobre a dinâmica cultural., Caxias do Sul, RS: EDUCS, 2003 (Coleção identidade e cultura). LITERATURA ELETRÔNICA EM DEBATE: ELEMENTOS METAFICCIONAIS EM KENTUCKY ROUTE ZERO Pedro de Souza Melo, Giovana Lasalvia Teles Resumo: A metaficção é a ficção tendo consciência de si e falando de si mesma (BERNARDO, 2010). Esse fenômeno pode ser encontrado dentro de diversas plataformas, desde obras de artes, romances e filmes, e – como é o caso do trabalho em questão – até em jogos digitais. Com o avanço da tecnologia e dos meios de comunicação, a forma de se enxergar o texto e sua narrativa também passou por transformações. Assim como romancistas tornaram as estruturas de seus romances um objeto da narrativa (WAUGH, 2001), os games também podem abordar e discutir sua própria estrutura. Em Kentucky Route Zero, game lançado entre 2013 e 2020 pelo grupo Cardboard Computer com uma proposta experimental e intermidiática que tem sido objeto de análise acadêmica (STEIN, 2021), é possível identificar um forte diálogo com a Literatura Eletrônica. Neste trabalho, apresentamos a presença da metaficção nesse game através da figura do computador Xanadu, que além de referenciar o surgimento dos games de aventura e da ficção interativa (RETTBERG, 2019), proporciona uma experiência em que o jogador controla personagens enquanto eles mesmos jogam um jogo que, por sua vez, narra sua própria criação. Com o auxílio desses elementos metaficcionais, o game, ao mesmo tempo que presta uma homenagem à Literatura Digital e aos experimentos que o tornaram possível, comenta de modo pessimista como a criação literária e artística é sufocada em uma sociedade guiada pelo lucro (SERADA, 2021). Referências: BERNARDO, Gustavo. O livro da metaficção. Rio de Janeiro: Tinta Negra Bazar Editorial, 2010. 280 p. RETTBERG, Scott. Electronic Literature. Cambridge: Polity Press, 2019. SERADA, Alesha. Will Kentucky Route Zero Take You to Twin Peaks? Tracing the narrative of the American weird. WiderScreen, Turku, v. 1-2, n. 24, p. 1-27, fev. 2021. Disponível em: http://widerscreen.fi/numerot/2021-1-2/willkentucky-route-zero-take-you-to-twin-peaks-tracing-the-narrative-of-the-american-weird/. Acesso em: 5 maio 2022. STEIN, Eric. It's More Like a Tendency: trajectories of the literary in Kentucky Route Zero. In: NORTHEAST MODERN LANGUAGE ASSOCIATION ANNUAL CONVENTION, 52., 2021, Online. Proceedings [...] . [S.L.], 2021. p. 1-23. Disponível em: https://doi.org/10.5281/zenodo.4603525. Acesso em: 5 maio 2022. WAUGH, Patricia. Metafiction: the theory and practice of self-conscious fiction. London: Routledge – Taylor & Francis group, 2001. MEMÓRIA LITERÁRIA: ARQUIVO EM TEMPOS DE BASE DE DADOS Rejane Cristina Rocha Resumo: A contemporaneidade digital, caracterizada pela aceleração do tempo e pela obsolescência das técnicas e tecnologias (Santos, 2008; Couchot, 1997), coloca questões a respeito da viabilidade do arquivo, em uma cultura que tem assumido a base de dados como metáfora cultural privilegiada (Manovich, 2005). Esta comunicação propõe refletir sobre temas concernentes ao papel e à caracterização do arquivo, nesse contexto, no que diz respeito à preservação da literatura digital e à criação e institucionalização do repertório literário digital brasileiro. Para isso, mobiliza as reflexões de Derrida (2001) sobre o arquivo, colocando-as em diálogo com as proposições de Manovich (2005) sobre a base de dados e, por fim, as articula com a abordagem sistêmica da literatura, levada a cabo por EvenZohar (2017). A discussão teórico-crítica aqui empreendida ampara-se nas atividades de mapeamento, arquivo e preservação, desenvolvidas pelo Observatório da Literatura Digital Brasileira (CNPq), que tornaram possível a criação do Atlas da Literatura Digital Brasileira. Como conclusão dessas reflexões, a comunicação propõe que é inextricável a relação que se estabelece entre os processos de consolidação de um repertório literário (nos termos propostos por Even-Zohar), os complexos mecanismos de canonização, que dependem da disponibilidade e da legitimidade de uso do repertório, e o arquivo. Referências: Couchot, E. (1997). A arte pode ainda ser um relógio que adianta? O autor, a obra e o espectador na hora do tempo real. In D. Domingues (ORG.) A arte no século XXI: a humanização das tecnologias (1o ed, pp. 135–143). São Paulo: Ed. UNESP. Derrida, Jacques. (2001). Mal de arquivo. (1a. ed). São Paulo: Relume Dumará. Even-Zohar, I. (2017). Polisistemas de cultura: un libro provisório. Tel Aviv: Universidade de Tel Aviv. Manovich, L. (2005) El lenguaje de los nuevos medios de comunicación. Barcelona: Paidós. Santos, Milton. “A aceleração contemporânea: tempo-mundo e espaço-mundo”. Técnica, espaço, tempo, 5o ed, EDUSP, 2008. E-IMIGRAÇÕES, DE ALCKMAR LUIZ DOS SANTOS: O TRÂNSITO DAS LINGUAGENS E A REINVENÇÃO DO ESPAÇO EXISTENCIAL NO POEMA DIGITAL Rogério Barbosa da Silva Resumo: O objetivo desta comunicação é o estudo do poema digital de Alckmar Luiz dos Santos, considerando não apenas os aspectos imersivos e interativos de sua arquitetura, mas o trânsito das linguagens (as interações entre os quadrinhos e a linguagem verbal dos poemas), bem como a sua integração numa lógica de georeferenciação. Considerando também os aspectos temáticos do poema, cabe indagar das possibilidades como arte interventiva e crítica, na medida em que se insere no contexto de grandes contingentes imigratórios movidos por catástrofes ambientais e humanas. Assim, o poema busca prender a atenção do leitor para temas sociais, mobilizando a linguagem das HQs e os versos que tendem ao ritmo de oralização, às vezes se aproximando da literatura de cordel, com um pouco mais de liberdade em relação ao padrão. Tais elementos contribuem para a leitura imersiva, tanto na estrutura de navegação, manuseando o mapa e interagindo com as telas de textos e imagens, quanto na imersão da leitura nas questões de similaridades e/ou diferenças culturais entre as sociedades em jogo nesse tabuleiro da história. Consideramos, enfim, que os elementos descritos evidenciam que uma textualidade híbrida como a deste poema potencializa uma experienciação tátil, no sentido do manuseio das telas, uma imersão de leitura densa por via dos processos de signagem das linguagem envolvidas neste poema. Referências: HAYLES, N. Katherine. Writing Machines. Massachusets; London: The MIT Press, 2002. LIMA, João Bezerra Lima; GARCIA, Ana Luiza Rochael; FECHINE, Valeria M. R. Fluxos migratórios no Brasil: Haitianos, sírios e venezuelanos. In: VIANA, André Rego. (org). A midiatização do refúgio no Brasil (20102018). Rio de Janeiro: IPEA, 2020. p. 37-69. SANTAELLA, Lúcia. Linguagens Híbridas. In: SANTAELLA, L. Matrizes da linguagem e pensamento: sonora, visual e verbal. São Paulo: Iluminuras, 2001. SANTOS, Alckmar Luiz dos; DUARTE, Rafael; HENNING, Vinícius R. E-migrações. Disponível em: https://nupill.ufsc.br/producao/eimigracoes/ SANTOS, Alckmar L. dos; DUARTE, Rafael; HENNING, Vinícius R. Deslocamentos digitais. In: ANAIS DO V SEMINÁRIO DE ARTES DIGITAIS 2019 [recurso eletrônico]: um Congresso sobre as relações entre Arte, Ciência e Tecnologia após o advento das tecnologias digitais / Coordenação Pablo Gobira. Belo Horizonte : EdUEMG, 2019. p. 435-9. Disponível em: https://seminarioartesdigitais.weebly.com/anais.html POESIA DIGITAL BRASILEIRA EM FLASH: UMA LEITURA DISTANTE Vinícius Carvalho Pereira Resumo: Na cena de literatura digital dos primeiros vinte anos do século XXI, ocupa espaço de destaque a poesia hipermídia em Flash, como revela o Atlas da Literatura Digital Brasileira (2021): mais da metade das obras cadastradas ao final de 2021 no arquivo recebiam simultaneamente as tags “poesia” e “Flash”. Se tomada como um gênero, ou como uma estética (MANOVICH, 2005), trata-se de uma poesia marcada por recursos multimodais típicos de animações e games digitais, os quais eram combinados com textos verbais para construir poemas verbi-voco-visuais – retomando aqui uma terminologia cara aos concretistas, que parecem referências incontornáveis para a poesia em Flash brasileira. Além disso, a política da empresa Adobe (proprietária do Flash) e a relativa facilidade de uso que sua plataforma apresentava aos criadores de conteúdo – ao menos em comparação com outras tecnologias concorrentes à época – também contribuíram para sua adoção por artistas digitais no começo deste século. No entanto, ao final de 2020, a Adobe optou pela descontinuidade de suporte ao Flash player por uma série de questões técnicas e de mercado, o que limitou não só a criação de novas obras poéticas em Flash, mas também a execução de obras já existentes, conforme a lógica de obsolescência que marca o desenvolvimento de produtos no tecnocapitalismo. Desse modo, parte significativa da literatura digital brasileira produzida até 2020 só pode hoje ser lida valendo-se de recursos como emulação, ou reprogramação, o que limita suas possibilidades de circulação e recepção. Diante de tal cenário, esta comunicação tem como objetivo um estudo da poesia em Flash brasileira, centrando-se nos metadados das obras cadastradas no Atlas da Literatura Digital Brasileira. Diferentes técnicas de distant reading serão adotadas para compreender como o corpus compõe um retrato parcial da poesia digital brasileira produzida com uma tecnologia outrora popular, mas hoje obsoleta. Referências: ATLAS da Literatura Digital Brasileira. 2021. Disponível em: https://www.observatorioldigital.ufscar.br/#atlas. Acesso em: 15 abr. 2022. MANOVICH, L. Generation Flash. In: BUURMAN, G. M. (eds). Total Interaction. Basel: Birkhäuser, 2005. SIMPÓSIO “LITERATURA, MÚSICA E ALTERIDADE: ELEMENTOS ESTÉTICOS E TEMÁTICOS COM/PARTILHADOS” Rafael Eisinger Guimarães (UNISC), Gérson Luís Werlang (UFSM), Roniere Silva Menezes (CEFET-MG) EM SOM MAGNÍFICO: O CANCIONISTA PROFETA EM CAETANO VELOSO E A UTOPIA AMAZÔNICA DE MÁRIO DE ANDRADE NO POEMA RITO DO IRMÃO PEQUENO Adriane Lima Pinho Resumo: Este trabalho se propõe a discutir breves aspectos da arte enquanto campo de linguagem criativa, bem como reflexões sobre a cultura e as imagens que dela advém na busca de alternativas estéticas aos modos de ser e estar no mundo. O artista é figura central nesse jogo de enfrentamento entre o real e a ficção. É dele que parte o engajamento com a fruição estética desobrigada de percepções previamente estabelecidas, e, com isso, proporciona o exercício contínuo da transformação. A Música e a Literatura sempre tiveram papel fundamental nas mais diversas sociedades ao longo da história humana. No Brasil, a importância que essas duas linhas de força da cultura admitem ganha ainda novas configurações quando estabelecem relações de intertextualidade, o que nos leva a produzir outras formas de sermos atravessados pela potência artística. É principalmente a partir do Modernismo brasileiro que o estreitamento entre música e literatura pôde explorar novos ensaios de expressão do sujeito, principalmente via cultura popular. Assim, pretende-se discutir nesta comunicação como a presença das imagens que remetem à pauta ambiental e etnográfica do país foram traduzidas e representadas na literatura de Mário de Andrade e na canção de Caetano Veloso. Para tanto, faremos um exercício interpretativo da canção “Um índio” de Caetano, examinando o cancionista profeta que dramatiza o ideal do fracasso. Para ampliar a discussão, traremos à baila o poema de Mário de Andrade, Rito do irmão pequeno. Ao longo dos versos, Mário aponta para uma utopia amazônica e vaticina ser em pleno mato o refúgio para uma nova civilização. Desta forma, apresentaremos breves considerações sobre tais objetos de análise à luz de críticos literários e musicais. Referências: ADORNO, Theodor W. Teoria Estética. Tradução de: Artur Morão. São Paulo: Martins Fontes, 1982. ANDRADE, Mário de. Ensaio sobre a música brasileira. 3ª ed. São Paulo: Vila Rica; Brasília: INL, 1972. ANDRADE, Mário de. Poesias completas. São Paulo: Livraria Martins, 1966 CALVANI, Carlos Eduardo. Teologia e MPB. São Paulo: Loyola, 1998. LÉVI-STRAUSS, Claude. Tristes Trópicos. Tradução de: Rosa Freire d'Aguiar. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. NERUDA, Pablo. Livro das perguntas. Tradução de: Olga Savary. Porto Alegre: L&PM, 2004. OLIVEIRA, Leonardo Davino de. Canção popular e a revisão do cânone literário. In: Revista Graphos, vol. 21, n° 2, 2019, p. 132-147. STERZI, Eduardo. A carta perdida: a Semana, sua transmissão e seus extravios. In: Revista Rosa, vol. 5, n. 1, São Paulo - SP, 2022. Disponível em: https://revistarosa.com/5/a-carta-perdida. Acesso em: 01 de abril de 2022. WISNIK, José Miguel; SQUEFF, Ênio. O nacional e o popular na cultura brasileira. São Paulo: Brasiliense, 1982. UM ESTUDO SOBRE OS ASPECTOS MUSICAIS E A PAISAGEM SONORA DE OS SINOS DA AGONIA, DE AUTRAN DOURADO Alcides Fernando Campos Gonçalves Resumo: Este trabalho trata da influência de aspectos musicais e sonoros sobre a construção narrativa do romance Os sinos da agonia (1976), do escritor mineiro Autran Dourado. Para tanto, utilizaremos o conceito de paisagem sonora, cunhado por Schafer (2011) para definir o conjunto de sons que integram nosso ambiente acústico: os ruídos da natureza e dos animais, os sons produzidos pelo homem, por suas ferramentas e máquinas e, por fim, a música e toda sua diversidade instrumental. Tal conceito foi introduzido no âmbito da teoria literária por Werlang (2011), segundo o qual esse aparato crítico, concebido no campo da acústica, pode operar como uma importante ferramenta analítica, quando sobressaem na obra literária referências musicais e sonoras. Feito isso, apresentaremos três enfoques a partir dos quais essas referências podem ser observadas no romance. Primeiramente, abordaremos a sua relação com a dimensão histórica da obra, cuja ambientação remonta às Minas Gerais do século XVIII. A partir da representação da atividade musical da época, é estabelecido um contraste entre a arte do colonizador, de estilo europeu, e os ritmos de matriz africana e indígena. Em outras palavras, da narrativa ficcional extraímos um testemunho da formação musical e cultural do Brasil. Após, trataremos da paisagem sonora enquanto artifício que concorre para o delineamento trágico do romance, notório pela absorção de elementos da mitologia clássica. Nesse sentido, demonstraremos que a paisagem sonora desempenha uma função semelhante à exercida pelo coro na tragédia. Por fim, analisaremos a paisagem sonora como um leitmotiv da narrativa, que impulsiona a ação diegética. Segundo Oliveira (2002, p. 153), a alusão musical pode “potencializar os vários constituintes textuais, indispensáveis à leitura”, através da metáfora psicológica, da caracterização de personagens e da ambientação da narrativa. Averiguaremos, pois, em Os sinos da agonia, como o narrador explora esses três recursos. Referências: OLIVEIRA, Solange Ribeiro de. Literatura e música: modulações pós-coloniais. São Paulo: Perspectiva, 2002. SCHAFER, Raymond Murray. A afinação do mundo. 2. ed. Tradução de Marisa Trench Fonterrada. São Paulo: Editora Unesp, 2011. WERLANG, Gérson Luís. A música na obra de Erico Verissimo: polifonia, humanismo e crítica social. Passo Fundo: Méritos, 2011. ESTÉTICA QUEER NA CANÇÃO BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA Ana Luiza Martins Resumo: A canção brasileira contemporânea, em que pese a produção e recepção no contexto da indústria cultural, “não se reduz às regras da estandardização” (WISNIK, 2005, p. 11) e, como manifestação artística, revela formas de existência múltiplas e plurais, também no âmbito das identidades de gênero. Neste estudo enfocamos “Enviadescer” (YouTube, 2016), de Linn da Quebrada, considerando a canção na performance audiovisual, sob a ótica dos estudos queer. A análise propõe o engendramento de uma estética queer na canção do Brasil, a partir da leitura da performance, abrangendo aspectos, linguísticos, musicais e visuais. Entende-se queer, na síntese de Pelúcio (2014, P. 7), “como uma teoria de ação/reflexão, capaz de se valer dos aportes de Foucault, Derrida, do feminismo da diferença, dos estudos pós-coloniais e culturais para desafiar não somente a sexualidade binária e heterossexual, mas a matriz de pensamento que a conforma e sustenta.” Nesse sentido, apresenta-se “Enviadescer” como obra desafiadora de uma matriz estética na canção brasileira. A obra em questão consiste num exemplo de manifestação tensionadora das limitações impostas por enquadramentos compulsórios da ordem do sexo, gênero e desejo (BUTLER, 2018), engendrados por aparatos políticos e culturais diversos. A canção brasileira urbana, assim, consiste num campo de inserção de discursos questionadores dos padrões na cultura, estabelecendo formas de conhecimento divergentes da norma estabelecida no que diz respeito às manifestações de identidades de gênero. Referências: BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. 16. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2018. PELÚCIO, L. Traduções e torções ou o que se quer dizer quando dizemos queer no Brasil?. Revista Periódicus, [S. l.], v. 1, n. 1, p. 68–91, 2014. DOI: 10.9771/peri.v1i1.10150. Disponível em: https://periodicos.ufba.br/index.php/revistaperiodicus/article/view/10150. Acesso em: 5 maio. 2022. WISNIK, José Miguel Soares. O minuto e o milênio ou por favor, professor, uma década de cada vez. In: Anos 70 : ainda sob a tempestade[S.l: s.n.], 2005. UM VAMPIRO NA GELEIA GERAL BRASILEIRA: ANTROPOFAGIA E COSMOPOLITISMO NOS POEMASCANÇÕES DE TORQUATO NETO Ângela Maria Vasconcelos Sampaio Góes Resumo: O artigo apresenta as relações entre antropofagia e cosmopolitismo existentes nos poemascanções “Geleia Geral” e “Marginalia II” de Torquato Neto. O objetivo é mostrar como tais relações contribuíram para com o surgimento de uma promiscuidade intersemiótica na linguagem do poeta. Celeiro de tensões, que pululavam nos anos 60 e 70 do século XX, será a poesia do vampiro marginal da Tropicália marcada pela recusa tanto dos extremos de uma visão autóctone da cultura, quanto dos extremos de uma leitura das artes no Brasil a partir das origens e influências. Poesia esta que, ao aproximar diferentes artes, conseguiu tornar-se contemporânea por mostrar a diferença da cultura latino-americana em sua contribuição para o multiculturalismo. A fim de desenvolver a análise de “Geleia Geral” e “Marginalia II” aproximamos a ideia de antropofagia de Oswald de Andrade da ideia de cosmopolitismo do pobre de Silviano Santiago. Situando as referidas aproximações dentro de um debate artístico e crítico nacional e internacional sobre antropofagia e diferença, chegou-se à conclusão de que os poemas-canções de Torquato Neto conseguiram, graças à capacidade de inserirem-se em uma perspectiva contra-hegemônica, aproximar a cultura brasileira das artes em favor de uma forma de universalidade, completamente diferente da concepção de universal ocidental da tradição. Referências: AGAMBEN, Giorgio. O que é o contemporâneo e outros ensaios. Trad: Vinícius Nicastro Honesko. Chapecó, SC: Argos, 2009. ANDRADE, Oswald de. Manifesto Antropófago. In: Antropofagia Hoje? Oswald de Andrade em Cena. Org: João Cézar de Castro Rocha & Jorge Ruffinelli. São Paulo: É Realizações, 2011. ANDRADE, Oswald de. Manifesto da Poesia Pau-Brasil. In: Antropofagia Hoje? Oswald de Andrade em Cena. Org: João Cézar de Castro Rocha & Jorge Ruffinelli. São Paulo: É Realizações, 2011. CAMPOS, Haroldo de. Metalinguagem e Outras Metas. 4ª ed. São Paulo: Perspectiva, 2006. CAMPOS, Haroldo de. Oswald de Andrade: Do ocultamento à Explosão. In: A Semana de Arte Moderna: Desdobramentos 1922-1992. Org. e apresentação Vera L. Bastazin. - São Paulo: EDUC, 1992. DELEUZE, Gilles, GUATTARI, Félix. Mil Platôs V.4. Trad: Suely Rolnik. São Paulo: Editora 34, 2012. NETO, Torquato. Melhores Poemas. Seleção: Cláudio Portella. 1ª ed. São Paulo: Global, 2018. NETO, Torquato. Org: Paulo Roberto Pires. Torquatália (Geleia Geral). 1ª ed. Rio de Janeiro: Rocco, 2004. SANTIAGO, Silviano. (2008). O Começo do Fim. In: Gragoatá Niterói, N.24, p. 13-30, 1. Sem. SANTIAGO, Silviano. O Entrelugar do discurso latino-americano. In: 35 Ensaios de Silviano Santiago. Seleção e introdução Ítalo Moriconi. 1ª ed. São Paulo: Companhia das letras, 2019. SANTIAGO, Silviano. Apesar de Dependente, Universal. In: 35 Ensaios de Silviano Santiago. Seleção e introdução Ítalo Moriconi. 1ª ed. São Paulo: Companhia das letras, 2019. SANTIAGO, Silviano. Os Abutres. In: 35 Ensaios de Silviano Santiago. Seleção e introdução Ítalo Moriconi. 1ª ed. São Paulo: Companhia das letras, 2019. SANTIAGO, Silviano. O Cosmopolitismo do Pobre. In: 35 Ensaios de Silviano Santiago. Seleção e introdução Ítalo Moriconi. 1ª ed. São Paulo: Companhia das letras, 2019. "NEM TUDO QUE VENDE, VEM DE MIM OU VENDE NÓS": AS TRAVESSIAS POÉTICAS DO TRAVA LÍNGUAS DE LINN DA QUEBRADA Artur Vinicius Amaro dos Santos Resumo: Em seu mais recente álbum, Trava Línguas (2021), Linn da Quebrada se propõe a uma jornada digressiva na narrativa criada pelas onze faixas presentes na obra. Da primeira à última canção ela tenta refletir e questionar: a sua relação com a ancestralidade enquanto identidade racial e periférica, suas relações familiares e a própria ideia de ter sido expulsa da igreja – cantada “A Lenda” (2017); a sua religiosidade, de matriz africana; como essas relações atravessam o seu corpo, e se põe em um caminho conduzido pelo amor que sente ao ser abençoada por Exú; com sua corpa (VALENTIM, 2019), depois de experimentar a relação de morte e renascimento; com as contradições que essa corpa experimenta e experiencia; e com os medos, anseios, acertos e erros que ela vive e convive. Essas reflexões tentam apaziguar esses conflitos internos na para chegar na canção “quem soul eu”, faixa que encerra o álbum. Versando não apenas sobre si, mas sobre outras vidas trans e travestis, Linn estabelece um jogo entre som e ruído (WISNIK, 2017) tentando trans-pôr para a narrativa do álbum com seus jogos de linguagem, duplos sentidos e esvaziamentos de palavras alguns desses atravessamentos experienciados por sua corpa travesti. Tento de alguma forma estabelecer, a partir das canções “amor amor”, “dispara” e “eu matei o júnior” como essa travessia poética cantada em Trava Línguas responde a “quem soul eu”. A partir de um “navegar” por elas pretendo “atravessar” o modo como Linn da Quebrada responde a quem quiser quem é essa corpa, subvertendo o uso da linguagem e dando movimento as suas dores ao pôr em questão como ela precisa ser uma corpa apaziguada para estar em alguns lugares como o Big Brother Brasil. Referências: DIDI-HUBERMAN, Georges. Que emoção! Que emoção? /Georges Didi-Huberman; tradução de Cecília Ciscato — São Paulo: Editora 34, 2016 (1a Edição). TRAVA Línguas. Interprete: Linn da Quebrada. Compositores: Linn da Quebrada. Interprete Principal: Linn da Quebrada. [S.N.]: Linn da Quebrada, 2021. VERSÃO DIGITAL VALENTIM, Maria Lucas Pereira. DO CILIO A NAVALHA: montação na cena carioca. Dissertação de Mestrado (Mestrado em Artes da Cena) – Rio de Janeiro: UFRJ/ECO, 2019. Disponível em: < http://ppgac-ecoufrj.com.br/uploads/f/s/disserta-maria-lucas_kkBC.pdf > Acesso em: 01/05/2022. WISNIK. José Miguel. O Som e o sentido: Uma outra história das músicas. – 3° ed. – São Paulo: Companhia das Letras, 2017. "518-062" E "AM I WRONG": MUSICALIDADE EM ENCONTRO DA HISTÓRIA, MEMÓRIA E IDENTIDADE Bruna Pascoal Correa Resumo: O papel da memória coletiva dentro da memória da nação é, conforme exposto por Halbwachs (1990), altamente significativo para os indivíduos que deste povo fazem parte, dessa forma, é considerando este pensar que essa comunicação se fará necessária. Ao analisar duas composições sulcoreanas do século XXI, “518-062”, do grupo D-TOWN, e “Am I wrong”, do grupo BTS, torna-se possível delimitar dentro das canções o que Seligmann (2017) aponta como realmente sendo a arte da memória: a arte da leitura de cicatrizes. Ambas as músicas tratam sobre eventos sócio-históricos de relevância para a Coreia do Sul e a constituição de sua identidade nacional, o Movimento Democrático de 1980 e o impeachment da ex-presidente Park Geun-hye em 2016, e é a partir desses acontecimentos que o refletir sobre a importância de manter a memória palpável dentro da nação sul-coreana objetivando a manutenção do que entendem de como a identidade nacional será realizada. Tal como é demarcado em ambas as produções, a desumanização por parte do elemento detentor de poder é brutalmente exposta por dizeres associados com expressões que reduziam o povo a animais, cachorros e porcos. Além da violência per si, o raso efeito desta nos indivíduos da nação também é desnudado, reforçando o dizer de Benjamin (1993) sobre a incapacidade da “cultura de vidro”, sociedades esvaziadas de experiências comunicáveis, de tornar os sentidos imagético fomento para manutenção do grupo social e seus constituintes. Sendo assim, o papel da memória para a constituição da identidade nacional e, consequentemente, da identidade individual dentro da comunidade, no caso, da nação sul-coreana, é fundamentalmente plausível de ser reiterada como medular. Referências: BENJAMIN, W. Experiência e pobreza. In: BENJAMIN, W. Obras escolhidas: magia e técnica, arte e política. v. 1. São Paulo: Brasiliense, 1987. p. 114-119. BTS. Am I wrong. Seul: BigHit Entertainment, 2016. Disponível em: https://genius.com/Genius-english-translations-bts-am-i-wrong-english-translationlyrics. Acesso em: 28 nov. 2020. CARVALHO, F. V. Hallyu wave: reflexos da diplomacia cultural sul-coreana na relação bilateral com a china. 2019. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Relações Internacionais) – Centro de Ciências Sociais e Aplicadas, Universidade Federal da Paraíba, Paraíba, 2019. CHIAPPINI, L. Literatura e história: Notas sobre as relações entre os estudos literários e os estudos historiográficos. Literatura e Sociedade, São Paulo, v. 5, n. 5, p. 18-28, 2000. CHOI, J. The Gwangju uprising: the pivotal democratic movement that changed the history of modern Korea. New Jersey: Homa&Sekey Books, 2005. CHOI, S. In defense of Na Hyang-wook. The Korea Times, Seul, 19 jul. 2016. Disponível em: http://www.koreatimes.co.kr/www/opinion/2020/08/673_209805.html. Acesso em: 28 nov. 2020. D-TOWN. 518-062. Daegu: s/d, 2010. Disponível em: https://genius.com/Nakshun-518-062lyrics. Acesso em: 28 nov. 2020. ENCYCLOPEDIA BRITANNICA. Chun Doo Hwan: president of South Korea. Reino Unido: Britannica, 1998. FAWCETT. H. S Koreans angered by official’s ‘dogs and pigs’ remark. Aljazeera, Qatari, 13 jul. 2016. Disponível em: https://www.aljazeera.com/features/2016/7/13/s-koreansangered-by-officials-dogs-and-pigs-remark. Acesso em: 28 nov. 2020. HALBWACHS, M. Memória coletiva e o tempo. In: HALBWACHS, M. A memória coletiva. São Paulo: Biblioteca Vértice, 1990. p. 90-130. HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2006. KEB MO. Am I wrong. New York: Epic Records, 1994. Disponível em: https://genius.com/Keb-mo-am-i-wrong-lyrics. Acesso em: 20 nov. 2020. LEE, Y. Roads Untraveled: Redefining “democracy” through the 2016 protest movement in Korea. Analyses & Alternatives, [S.l.], v. 1, n. 1, p. 17-30, 2017. NORA, P. Entre memória e história: a problemática dos lugares. Projeto História, São Paulo, v. 10, p. 7-28, 1993. RICOUER, P. O testemunho. In: RICOUER, P. A memória, a história, o esquecimento. Campinas: Editora da Unicamp, 2007. p. 170-177. SELIGMANN, M. S. Apresentação da questão: a literatura do trauma. In: SELIGMANN, M. S. História memória literatura. Campinas: Editora da Unicamp, 2017. p. 45-58. UNESCO. Memory of the world register: Human rights documentary heritage 1980. Archives for the may 18 democratic uprising agains military regime in Gwangju, Rupublic of Korea. 2010. Καετάνο ο Έλληνας: "O NAVIO NEGREIRO" DE CASTRO ALVES, PELO POETA TRÁGICO CAETANO VELOSO Carlos Eduardo Ferreira de Oliveira Resumo: Este estudo tem por objetivo analisar a apropriação, por parte de Caetano Veloso, do poema “O navio negreiro”, de Castro Alves, buscando os elementos de incorporados na reescrita e na performance musical. A hipótese a ser desenvolvida estará orientada nos elementos arcaicos da tragédia grega e no modo como o artista traduz o poema em peça musical. Elementos como coro, música e declamação serão analisados com o objetivo de estabelecer relação comparativa entre a apropriação, alguns modelos da tragédia grega e a atualização do poema n a edição realizada por Caetano Veloso. A leitura pretende identificar na materialidade do poema os elementos de tensão que o justificam por seu valor artísticohistórico, enquanto a comparação com a materialidade da canção, servindo como elemento de reescrita, pretende identificar as linhas de força que sustentam a pertinência e a atualidade da temática que conduz o poema e a canção. O conceito de metáfora musical explorado por Solange Ribeiro de Oliveira servirá como principal base teórica a conduzir este estudo. A este conceito serão incorporados apontamentos acerca de tensividade entoativa, de Luiz Tatit, e, ainda, a definição de tragédia grego, conforme a concepção de Junito de Souza Brandão. Deste modo, alguns aspectos da performance cênica serão também evocados como elementos constitutivos da ação. Referências: BRANDÃO, Junito de Souza. Teatro Grego: origem e evolução — São Paulo: Ars Poetica, 1992. CAVARERO, Adriana. Vozes Plurais filosofia da expressão vocal, trad. Flavio Terrigno Barbeitas — Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011. OLIVEIRA, Solange Ribeiro de. Literatura e Música — São Paulo: Editora Perspectiva, 2002. TATIT, Luiz, Estimar canções: estimativas íntimas na formação do sentido — Cotia: Atêlie Editorial, 2016. TATIT, Luiz, Todos entoam: ensaios, conversas e canções — São Paulo: Publifolha, 2007. RELAÇÕES ENTRE LITERATURA E MÚSICA EM CANÇÕES DE ATORMENTAR, DE ANGÉLICA FREITAS Daisy da Silva César, Thamires Aragão dos Santos Resumo: A obra literária Canções de Atormentar, terceira produção literária da poeta pelotense Angélica Freitas, sugere uma forte imbricação entre os campos da literatura e da música, especialmente no poema que dá título à publicação. Canções de Atormentar caracteriza-se originalmente por ser uma performance, desenvolvida pela autora e por Juliana Perdigão, que inclui declamação, com versos recitados e cantados, elementos teatrais, projeção de imagens e apresentação de paisagens sonoras. O poema que dá nome à performance e, em consequência, à publicação escrita, já nasceu musicado, composto com o apoio de um pequeno violão triangular adquirido em uma viagem para a cidade de Calcutá. Tanto o poema em questão, quanto a performance, assim como outros poemas presentes na obra publicada, apresentam-se como textos que tentam questionar e desestabilizar, na perspectiva do texto de fruição, de Roland Barthes, as formas tradicionais e conservadoras de ver o mundo e interagir com ele, de modo a fazer uma contraposição ao capitalismo, ao consumismo, ao patriarcado, entre outros, por meio de uma diversidade de temas e formas. A partir de uma abordagem comparatista com base na transdisciplinaridade, a proposta deste estudo consiste em analisar, nos poemas e na performance, de que forma música e literatura aparecem interligadas e como podem contribuir para a criação dos sentidos construídos. Também é objetivo desta análise destacar a contribuição de Canções de Atormentar para pensar formas desestabilizadoras na literatura e na música. Referências: BARTHES, Roland. O prazer do texto. Trad. J. Guinsburg. São Paulo: Perspectiva, 2010. DERRIDA, Jacques. "Entrevista: Posições". In. Posições. Trad. Tomaz. T. da Silva. Belo Horizonte: Autêntica, 2001. FREITAS, Angélica. Canções de Atormentar. São Paulo: Companhia das Letras, 2020. ETTE. Ottmar. Pensar o futuro: a poética do movimento nos Estudos de Transárea. In: Alea [online]. 2016, v.18, n. 2, p.192-209. ISSN 1517-106X. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/1517-106X/182-192>. HOLLANDA, Heloisa Buarque de (Org.). Pensamento feminista. Conceitos fundamentais. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2019, p. 421-430. NA PANCADA DO GANZÁ: OS FUNDOS VILLA-LOBOS Edilene Dias Matos Resumo: Este texto traz à tona uma espécie de memória dos denominados Fundos Villa-Lobos, que integram o Acervo Mário de Andrade, importante documentação acerca das culturas populares do Brasil, material este que ainda permanece inédito e tal como Mário de Andrade o deixou, após ter recebido de Villa-Lobos. Nesta proposta, as manifestações das culturas populares são consideradas portadoras de valor etnográfico, como algo dinâmico, movente, de grande valor estético e expressivo, exemplos basilares eloquentes da riqueza e do alto nível de nossas culturas e artes populares O próprio Mário de Andrade classificou os textos transcritos nos FVL como desafios, romances narrativos, romances históricos, romances líricos, ABCs, trovas, glosas e motes, gírias e diálogos cantados. Para um mesmo poema, por exemplo, Mário anotou várias rubricas – acreditava na mistura de gêneros e chamava retoriquice besta às classificações de gêneros puros. Os Fundos Villa-Lobos acabaram por constituir, assim, riquíssimo complexo de textos, recolhidos da pena e da boca do povo dos quatro cantos do país, em decorrência de pesquisa encomendada pelos irmãos Guinle a Villa-Lobos, que coordenou a ida de um grupo de músicos brasileiros às regiões Norte e Nordeste e também ao interior do país para coletar temas e peças folclóricas. Corpo documental instigante, os FVL trazem uma documentação muito rica e pouco explorada, revelando a multiplicidade de situações que tecem a trama do cotidiano, das sensibilidades e das paixões, como algo que entra pelos ouvidos e sai tentacularmente pela boca. Referências: ALVARENGA, Oneyda . Apêndice VI. In: ANDRADE, Mário. Os Côcos. São Paulo: Duas Cidades, 1984. ANDRADE, Mário de. O turista aprendiz. São Paulo: Duas Cidades, 1973. ANDRADE, Mário de A música popular no Nordeste Brasileiro. In: O Jornal. São Paulo, 1927. ANDRADE, Mário de. Anotações sobre Poética Popular . Inédito. Arquivo Mário de Andrade, IEB/USP. BAKHTIN, Mikhail. A cultura popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais. São Paulo: Hucitec, 1987. ESCOREL, Eduardo. Prefácio. In: ANDRADE, Mário. Os Côcos. São Paulo, Duas Cidades:1984. KRISTEVA, Julia. Recherches pour une sémanalyse. Paris: Seuil, 1969. LOPEZ, Telê Ancona. Macunaíma: a margem e o texto. São Paulo: Hucitec, 1974. MELLO E SOUZA, Gilda de . O Tupi e o Alaúde. São Paulo: Duas Cidades, 1979. MORAES, Marcos Antônio de. Correspondência Mário de Andrade e Manuel Bandeira. São Paulo: EDUSP/IEB, 2000. SOUZA. Eneida Maria de. A pedra mágica do discurso. Belo Horizonte: UFMG, 1999 TERRA, Ruth Brito Lemos. A literatura de folhetos nos Fundos Villa-Lobos. São Paulo, IEB/USP. "TEM MANA NO RAP": OUTRAS VOZES NO RAP CONTEMPORÂNEO Hilário Mariano dos Santos Zeferino, Ana Lígia Leite e Aguiar Resumo: RESUMO: Nos anos 1990, o impacto do grupo de rap Racionais MC’s modificou o cenário musical brasileiro ao ponto de, em entrevista, Chico Buarque disparar que a canção como conhecemos estaria no fim (OLIVEIRA, 2015). Assim, o rap, que possui historicamente um vínculo com pessoas negras, conquistou cada vez mais espaço musical no Brasil. Contudo, estudiosas como Joelma Sales dos Santos (2016) apontam para a predominância masculina e masculinista no rap brasileiro, o que tem duas consequências: a denúncia quanto aos sistemas que maltratam o negro, o periférico, o pobre, mas que, ao mesmo tempo, reforçam uma lógica que oprime não apenas a mulher, mas também pessoas da comunidade LGBTQIA+. A partir dos anos 2000, percebe-se não apenas uma mudança política no Brasil, mas também um grande avanço e facilitação no acesso tecnológico e, com isso, a maneira de se produzir rap também se modifica. Embora se possa ainda observar a predominância masculina no rap brasileiro, outros segmentos sociais passam a ter sua participação reconhecida e seu impacto modifica mais uma vez o rap (TEPERMAN, 2015). Entendendo o rap como uma forma de letramento de reexistência (SOUZA, 2011) que traz consigo uma outra forma, um outro jeito de fazer e de ser, nessa comunicação nos propomos a refletir sobre o que e como cantam esses outros segmentos sociais. Para isso, observaremos o cenário contemporâneo do rap brasileiro e analisaremos alguns nomes que o compõem, tais como Hiran, Rico Dalasam, Tassia Reis e Linn da Quebrada. Em outras palavras e recuperando Sabotage, se o rap é compromisso, qual seria o compromisso do rap contemporâneo? Referências: OLIVEIRA, Acauam Silverio de. O fim da canção? Racionais MC's como efeito colateral do sistema cancional brasileiro. 2015. Tese (Doutorado em Literatura Brasileira) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015. TEPERMAN, Ricardo. Se liga no som: as transformações do rap no Brasil. São Paulo: Claro Enigma. 2015. SANTOS, Joelma de Sales dos. Rap, periferia e questões de gênero: História e Representações. 104 p. Dissertação (Mestrado em História). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2016. SOUZA, Ana Lúcia Silva. Letramentos de reexistência: poesia e grafite, música, dança: HIP HOP. São Paulo: Parábola Editorial, 2011. CAETANO VELOSO REVISA E RASURA A POÉTICA DE CASTRO ALVES Leonardo Davino de Oliveira Resumo: Partindo de uma interpretação da oralização feita por Caetano Veloso (Livro, 1997) para o famoso poema "O navio negreiro" (1868), de Antônio de Castro Alves (1847-1871), esse trabalho analisa como a poética castroalvina espraia-se na poética crítica caetânica. Canônico, patriótico e onipresente na maioria dos livros didáticos, o poema tem recebido críticas, tanto pelo seu anacronismo, já que aquilo que o poema roga (o fim do tráfico de pessoas) fora promulgado na Lei Eusébio de Queirós, em 4 de setembro de 1850, embora, na prática, a lei não tenha abolido o tráfico; quanto pela despotencialização do poema que inspirou Castro Alves, a saber: "Das Sclavenschiff", do alemão Heinrich Heine (1797-1856). Sendo um poema para a voz (Candido, 2007), "O navio negreiro" do rap de Caetano Veloso, com a inserção do coro de capoeira e a percussão de Carlinhos Brown, realiza aquilo que o poema castroalvino apenas ensaiou fazer: restituir a humanidade (e, consequentemente, a subjetividade) roubada pela escravização. Para Flávio Kothe, "no cânone, ressoam as trombetas da vitória, não da luta dos oprimidos" (Kothe, 2000, p. 275); e "a literatura de Castro Alves faz parte de um processo de neutralização de qualquer revolta e cobrança dos negros" (Kothe, 2000, p. 301). "Oh! Bendito o que semeia / Livros... livros à mão cheia... / E manda o povo pensar!", escreveu Castro Alves ("O Livro e a América", Espumas flutuantes, 1870); "Nós canto-falamos como quem inveja negros / Que sofrem horrores no Gueto do Harlem / Livros, discos vídeos à mancheia / E deixe que digam, que pensem, que falem", canta Caetano Veloso ("Língua", Velô, 1984). É essa rasura crítica e atualizadora do ethos social promovida pelo cancionista o que será interessa a esse trabalho. Referências: AMADO, Jorge. ABC de Castro Alves. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. ANDRADE, Oswald de. Fraternidade de Jorge Amado. In Obras Completas V – Ponta de Lança. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1972. ANDRADE, Oswald de. O santeiro do Mangue e Outros poemas. São Paulo: Globo, 1991. ANTONIL, André João. Cultura e opulência do Brasil. Brasília: Edições do Senado Federal, 2011. BRANDÃO, Jacyntho Lins. Antiga musa (arqueologia da ficção). Belo Horizonte: Relicário, 2015. CANDIDO, Antonio. “O Direito à Literatura”. In: Vários Escritos. São Paulo: Duas Cidades, 2004. CANDIDO, Antonio. “Poesia e oratória em Castro Alves”. In: Formação da literatura brasileira: momentos decisivos, 1750-1880. Rio de Janeiro: Ouro sobre azul, 2007. FONSECA, Maria Augusta. Oswald de Andrade, biografia. São Paulo: Art Editora, 1990. GAMA, Luiz. Primeiras trovas burlescas & outros poemas. São Paulo: Martins Fontes, 2000. GLISSANT, Édouard. Poétique de la Relation. Poétique III. Paris: Gallimard, 2005. GLISSANT, Édouard. Introdução a uma poética da Diversidade. Trad. Enilce do Carmo Albergaria Rocha. Juiz de Fora: Editora UFJF, 2013. GONÇALVES, Ana Maria. Um defeito de cor. Rio de Janeiro: Record, 2017. HEINE, Heinrich. Heine, hein? Poeta dos contrários. Trad. André Vallias. São Paulo: Perspectiva: Goethe-Institut, 2011. KOTHE, Flávio R. O cânone imperial. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2000. LISPECTOR, Clarice. Água viva. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. Lorde, Audre. Irmã Outsider: Ensaios e Conferências. Trad. Stephanie Borges. Belo Horizonte: Autêntica, 2019. MAIAKÓVSKI, Vladimir. Como fazer versos. In: A poética de Maiakóvski. Org. e Trad. de Boris Schnaiderman. São Paulo: Perspectiva, 1984. SIMAS, Luiz Antônio; RUFINO, Luiz. Fogo no Mato: a ciência encantada das macumbas. Rio de Janeiro: Mórula, 2018. TRINDADE, Solano. Poemas antológicos. São Paulo: Nova Alexandria, 2007. VELOSO, Caetano. Alegria, alegria. Uma caetanave organizada por Waly Salomão. Rio de Janeiro: Pedra Q Ronca, 1977. VELOSO, Caetano. Verdade tropical. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. UM ATLAS SONORO-VISUAL PARA CAETANO VELOSO Lúcia Aparecida Felisberto Santiago Resumo: Partindo do caráter inovador que acompanha Caetano Veloso desde suas primeiras canções, pretende-se apresentar um inventário sonoro-visual composto por imagens e sons relacionados à vida e à obra do cantor. Com esse atlas deseja-se compreender de que modo o artista, através de suas composições e referências sonoras, poéticas e visuais, oferece ao ouvinte uma cartografia musical e visual do Brasil, desde o período em que o Tropicalismo esteve vigente e para além da contemporaneidade pois, a partir de suas canções, percebe-se a mistura do passado e do presente, numa espécie de dobra temporal que se apresenta através da junção de fragmentos, montagens, bricolagens, elementos e referências de tempos distintos da cultura brasileira e da própria trajetória do cancioneiro. Para a construção desse atlas a referência é o Atlas Mnemosyne de Aby Warburg. Por meio de recortes e colagens do passado e do presente, tanto Aby Warburg como Caetano Veloso indicam futuros possíveis; a transdisciplinaridade é uma condição necessária para os seus processos criativos, pois, na prática, em cada um deles é visível a relação entre as várias esferas de constituição das expressões humanas, como as artes, a religião e a política, interligadas, assim como os tempos (passado, presente e futuro). Cada um, a seu modo, utilizou-se de imagens e objetos consagrados e não consagrados, criando, a partir de um pensamento não linear, novas combinações entre pontos de contato antes não propostos, seja de imagens, de objetos ou de sons. Através desse atlas pode-se indicar a construção de um gaio saber, que se constitui através de material visual e sonoro, sobre os diversos aspectos da arte e da cultura brasileiras, a partir da obra musical de Caetano Veloso. Referências: ANDRADE, Oswald. Manifesto Antropófago e outros textos. Organização e coordenação editorial Jorge Schwartz e Gênese Andrade. São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2017. BREDEKAMP, Horst; DIERS, Michael. Prefácio à edição de estudos, 1998. In: WARBURG, Aby. A renovação da Antiguidade pagã: contribuições científico-culturais para a história do Renascimento europeu. Tradução: Markus Hediger. Rio de Janeiro: Contraponto, 2013. (ArteFíssil; 7). CAMPOS, Augusto. Balanço da Bossa e outras bossas. São Paulo: Perspectiva, 2015. (Debates; 3/dirigida por J. Guinsburg). CANDAL, Rômulo. Revisitar ‘Estrangeiro’ é descobrir um dos grandes discos de Caetano. Portal Escotilha, [s. l.], 1 jun. 2017. Disponível em: http://www.aescotilha.com.br/musica/caixa-acustica/estrangeiro-caetanoveloso/. Acesso em: 7 fev. 2022. CHEVALIER, Jean; GHEERBRANT, Alain. Dicionário de símbolos: (mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras, cores, números). Colaboração de André Barbaut et al.; coordenação Carlos Sussekind; tradução: Vera da Costa e Silva et al. 5. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1991. COMPAGNON, Antoine. O trabalho da citação. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1996. DAVINO, Leonardo. Meia Lua Inteira. Blog 365 Canções, [s. l.], 20 jun. 2010. Disponível em: http://365cancoes.blogspot.com/2010/06/171-meia-lua-inteira.html. Acesso em: 21 mar. 2022. DIDIHUBERMAN, Georges. A semelhança informe: ou o gaio saber visual segundo Georges Bataille. Tradução: Caio Meira, Fernando Scheib. Revisão técnica: Marcelo Jacques Moraes. Rio de Janeiro: Contraponto, 2015a. DIDI-HUBERMAN, Georges. Diante do tempo: história da arte e anacronismo das imagens. Tradução: Vera Casa Nova e Márcia Arbex. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2015b. (Humanitas). DIDIHUBERMAN, Georges. Atlas ou o gaio saber inquieto: o olho da história, III. Tradução: Márcia Arbex e Vera Casa Nova. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2018a DIDI-HUBERMAN, Georges. Remontagens do tempo sofrido. 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AS RELAÇÕES DE "FINNEGANS WAKE" DE JAMES JOYCE COM A MÚSICA ERUDITA MODERNA E CONTEMPORÂNEA Luis Henrique Garcia Ferreira Resumo: Esta proposta de comunicação visa abordar as relações de “Finnegans Wake” do modernista James Joyce com a música, especialmente com a música erudita eletroacústica, a qual se desenvolveu a partir da década de 1940. Não obstante a predileção de Joyce pela música erudita tradicional, aqui desenvolve-se a hipótese de que a escrita experimental do modernista irlandês, mais do que aplicar formas típicas da música, como o “leitmotiv”, criou um tipo específico de musiscritura e antecipou procedimentos que os compositores só conseguiram alcançar com o uso de fitas magnéticas e sintetizadores. Assim, pelo uso sistemático de trocadilhos multirreferenciais, justapostos em dezenas de línguas e dialetos, Joyce colocou-se à frente da vanguarda musical de sua época, a qual chegou à síntese aditiva de densas camadas sonoras apenas algumas décadas depois das publicações iniciais de partes da “Work in Progress” (primeiras versões de capítulos de “Finnegans Wake”), ainda na década de 1920. Ademais, pretende-se demonstrar que, apesar de suas preferências musicais tradicionais, especialmente pela ópera, Joyce manteve-se informado sobre a música de vanguarda e desenvolveu amizades profícuas com compositores contemporâneos, muitos dos quais são aludidos ao longo das 628 páginas do livro. Por fim, como o próprio Joyce afirmava, “ ‘Finnegans Wake’ é pura música”, e esta música, por seu alto grau de originalidade, possibilita até hoje resultados promissores para a investigação da relação entre música e literatura, bem como para a apreensão da literatura contemporânea. Referências: ATTRIDGE, Derek. Desfazendo as palavras-valise, ou quem tem medo de Finnegans Wake? In: NESTROVSKI, Arthur (org.). riverrun: ensaios sobre James Joyce. Rio de Janeiro: Imago, 1992, p. 347348. BECKETT, Samuel. Dante… Bruno. Vico… Joyce. In: NESTROVSKI, Arthur (Org.). riverrun: ensaios sobre James Joyce. Rio de Janeiro: Imago, 1992 (p. 323-338). BERIO, Luciano. Poesia e música: uma experiência. In: MENEZES, Flo (Org.). Música eletroacústica: história e estéticas. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1996 (p. 121-130). BOULEZ, Pierre. No limite do país fértil: Paul Klee. In: MENEZES, Flo (Org.). Música eletroacústica: história e estéticas. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1996 (p. 87-96). CAGE, John; CUNNINGHAM, Merce. Roaratorio, an Irish circus on Finnegans Wake. Brooklyn Academy of Music: Ballet, 2011. CAMPBELL, Joseph; ROBINSON, Henry Morton. A skeleton key to Finnegans Wake. Califórnia: New World Library, 2005. 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São Paulo: Ateliê, 1999- 2003 (5 volumes). ______. Ulysses. Trad. Caetano W. Galindo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. ______. Finnegans Wake. Trad. Marcelo Zabaloy. Buenos Aires: El cuenco de plata, 2016. ______. Finnegans Wake. Trad. Luigi Schenoni. Milão: Mondadori, 2017 (4 volumes). ______. Finnegans Wake por um fio. Tradução, organização e notas Dirce W. do Amarante. São Paulo: Iluminuras, 2018. MACONIE, Robin. Stockhausen sobre música: palestras e entrevistas compiladas por Robin Maconie. Trad. Saulo Alencastre. São Paulo: Madras, 2009. MCHUGH, Roland. Annotations to Finnegans Wake. 4. ed. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 2016. MENEZES, Flo (Org.). Música eletroacústica: história e estéticas. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1996. ______. Apoteose do Schoenberg. São Paulo: Ateliê Editorial, 2002. MYERS, Peter. The sound of Finnegans Wake. Nova Iorque: Palgrave Macmillan, 1992. NESTROVSKI, Arthur. James Joyce: a crítica da música. In: NESTROVSKI, Arthur (Org.). riverrun: ensaios sobre James Joyce. Rio de Janeiro: Imago, 1992 (p. 267-320). PATER, Walter. O renascimento. Trad. Jorge Henrique Bastos. São Paulo: Iluminuras, 2014. POUSSEUR, Henri. Estrutura do novo material eletrônico. In: MENEZES, Flo (Org.). Música eletroacústica: história e estéticas. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1996 (p. 81-86). ______. Cálculo e imaginação em música eletrônica. In: MENEZES, Flo (Org.). Música eletroacústica: história e estéticas. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1996 (p. 161-170). SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade de representação. São Paulo: Editora UNESP, 2015 (tomo I). STOCKHAUSEN, Karlheinz. Da situação do Metier: composição do som (Klangkomposition). In: MENEZES, Flo (Org.). Música eletroacústica: história e estéticas. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1996 (p. 59-72). ______. A unidade do tempo musical. In: MENEZES, Flo (Org.). Música eletroacústica: história e estéticas. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1996 (p. 141-150). TÁPIA, Marcelo (Org.). Joyce Revém. Edição comemorativa do Bloomsday 99. São Paulo: Editora Olavobrás/ABEI, 1999. WITEN, Michelle. James Joyce and absolute music. Londres: Bloomsbury Academy, 2019 (Historicizing Modernism). REMINISCÊNCIAS DE UM CANTO FEMININO NEGRO Maria Verônica da Silva Resumo: Esta comunicação visará apresentar as manifestações memorialísticas e ancestrais presentes em quatro canções de Dona Ivone Lara, são elas: “A menina e o tempo”, “Axé pra Ianga (Pai Maior)”, “Festa de Santo Antônio” e “Candeeiro da vovó”, em que serão considerados todos os elementos que constituem este gênero: texto, voz e melodia, sem perder de vista que a canção é, por si só, um dispositivo capaz de acionar memórias, visto que “cada vez que se repete uma canção, recorda-se de um fragmento do tempo” (TATIT, 1996, p.20). A memória ocupa aqui um lugar que humaniza corpos como o da Dona Ivone, um corpo negro, que desde o período escravocrata vem sendo descrito e animalizado dentro da cultura nacional, daí a essencialidade de apontar a narrativa de nação que perpassa pelos meios de comunicação, corroborando de maneira veemente com a perpetração de estereótipos que atravessam os corpos femininos negros. Dona Ivone Lara, ao escrever e cantar suas memórias, ela não apenas se imortaliza, como também imortaliza aqueles sobre os quais ela versificou e cantou, porque isso já é lembrar, afinal, “palavra poética é uma inscrição viva que se inscreve na memória como no mármore” (LE GOFF, 1990, p.378). Esta voz que outrora evocava a musa, filha de Mnemosine, deusa da memória, para compor um poema de amor – como se verifica na metacanção “Nas asas da canção” (LARA, 2001, faixa 3) -, neste trabalho parece estar tomada por esse ser que é guardiã de todos os acontecimentos, ao trazer, para o centro dos seus versos, a memória como engrenagem de sua produção: ela escreve e canta porque a memória existe. Referências: A menina e o tempo. Compositores: Bruno Castro, Ivone Lara e Zé Luiz do Império. Intérprete: Luiza Dionizio. In: Baú da Dona Ivone [CD]. São Paulo: Radar Records, 2021. AXÉ pra Ianga (Pai Maior). Compositora: Ivone Lara. In: Dona Ivone Lara: Nasci pra sonhar e cantar [CD]. Rio de Janeiro: Natasha, 2001. Bâ, Amadou Hampaté. Tradição viva. In História geral da África, Brasília, Unesco, 2010 BURNS, Mila. Nasci para sonhar e cantar Dona Ivone Lara: a mulher do samba. Rio de Janeiro: Record, 2009. CANDEEIRO da Vovó. Compositores: Ivone Lara e Delcio Carvalho. In: Bodas de Ouro [CD]. Rio de Janeiro, Sonic Music, 1997. CARNEIRO, Sueli. Enegrecer o feminismo: a situação da mulher negra na América Latina a partir de uma perspectiva de gênero. 06/03/2011: Portal Gelédes. DUARTE, Eduardo de Assis. O negro na literatura brasileira. 2013 EVARISTO, Conceição. África: âncora dos navios de nossa memória. In: Via Atlântica, São Paulo, n. 22, 159-165, 2013. EVARISTO, Conceição. Da representação à autoapresentação da Mulher Negra na Literatura Brasileira. Revista Palmares. 2005. FESTA de Santo Antônio. Compositora: Ivone Lara. Intérprete: Xango da Mangueira. Tapecar, 1976. GONZALEZ, Lélia. O racismo e o sexismo na cultura brasileira. In: Por um feminismo afro latino americano. Rio de Janeiro (RJ): Editora Schwarsz S. A., 2020, p. 75-92. Id. A mulher negra na sociedade brasileira: uma abordagem político-econômica. In: Por um feminismo afro latino americano. Rio de Janeiro (RJ): Editora Schwarsz S. A., 2020, p. 49-64. HALL, Stuart. 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Dicção do Cancionista. In: O cancionista: composição de canção no Brasil. São Paulo: Endusp, 1996. TINHORÃO, José Ramos. Música popular um tema em debate. São Paulo: Ed. 34, 1997. O DEUS NO SILÊNCIO: EXÍLIO E RELIGIOSIDADE EM "NEOLITHIC MAN", DE CAETANO VELOSO Mateus Pinheiro Baldi Resumo: Em 1969, no disco conhecido como Álbum branco, pensado imediatamente após a prisão e antes da partida para o exílio, Caetano Veloso gravou músicas em inglês para “devolver ao mundo esse inglês mal aprendido, fazendo-o veículo de um protesto contra a própria opressão que o impunha a nós” (2017). O disco Transa, lançado em 1972 e gravado no ano anterior, em Londres, representa o auge dessa devolução, para ficarmos com a expressão usada por Caetano: canções que usam o inglês para construir um mapa acústico do Brasil visto a partir do exílio. A presente comunicação busca discutir a construção de Transa, em especial a canção “Neolithic man”, em que a religião se apresenta como elemento definidor da salvação da agonia do exílio. Pretende-se sobretudo delinear como Caetano Veloso inicia um percurso de composições místicas e religiosas a partir dos versos “God spoke to me/ You’re my son/ And my eyes swept the horizon/ Away”, que surgem aqui como uma forma de libertação. Para tanto, será discutido o álbum em seu aspecto geral até chegar a “Neolithic man” e esse futuro de composições revelado nas frestas do violão e do canto de Gal Costa, trazendo o Brasil em toda sua glória após a manifestação de Deus. Referências: DINIZ, Júlio. Caetano, um griot antropofágico no teatro do mundo. In: Ipotesi, Juiz de Fora, v.17, n.1, p. 49-56, jan./jun. 2013. FRÁGUAS, Márcia. It's a long way: poética do exílio na obra fonográfica de caetano veloso (1969-1972). 2021. 115 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Letras, USP, São Paulo, 2021. RAMOS, Nuno. Verifique se o mesmo. São Paulo: Todavia, 2019. VELOSO, Caetano. Araçá azul. Rio de Janeiro: Polygram: 1972. 39 min. VELOSO, Caetano. Transa. Rio de Janeiro: Polygram: 1972. 37 min. VELOSO, Caetano. Verdade tropical. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. VILLA-FORTE, Leonardo. Escrever sem escrever: literatura e apropriação no século XXI. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio; Belo Horizonte: Relicário, 2019. "MONOMANIA", "PROBLEMA MEU" E "SEM CONCERTO": O TRÍPTICO DE CLARICE FALCÃO Pedro Bustamante Teixeira Resumo: A partir das reflexões de Frederico Coellho e de Bernardo Oliveira explicitadas no artigo: "Transistória, transistor: as máquinas e as musas", que se debruçam sobre a importância de uma história da música que apresente em primeiro plano as materialidades sonoras, e que, portanto, podem ir além das análises focadas na voz e na canção; e das leituras de nosso cancioneiro empreendidas por nomes como José Miguel Wisnik, Luiz Tatit e Lorenzo Mammí, além das leituras já realizadas pelo autor que aqui se escreve, este trabalho propõe uma leitura dos três primeiros álbuns da cantautora Clarice Falcão: "Monomania", "Problema Meu" e "Sem Concerto", lançados, respectivamente, nos anos de 2013, 2016 e 2019. Lidos em sequência cronólogica, esses três álbuns compõe um painel amplo tripartido, um tríptico, que revela três momentos da cantautora que, sempre em movimento, não se deixa monumentalizar; e do Brasil, que nesses seis anos vive um momento de crise política profunda que, de alguma forma, também se refletem nos álbuns da cantautora. Também é possível acompanhar nesse percurso de Clarice mudanças profundas no acompanhamento musical. Se no primeiro álbum Clarice é acompanhada por uma banda acústica com violão, violoncelo, baixo, trompa e bateria, com arranjos assinados por Jacques Morelembaum, no segundo, com produção de um dos mais importantes produtores musicais da Nova MPB, Kassin, a banda eletrifica-se e caminha para um outro lugar cujo limite é ultrapassado no terceiro disco, em que, acompanhada apenas por programações eletrônicas, Clarice despede-se, definitivamente, da persona poética que conquistou grande sucesso entre os jovens do Brasil com "Monomania", e se afirma como uma compositora de uma versatilidade sem par que é capaz de transitar com brilho próprio, com uma assinatura, por todos esse percurso. Referências: AB’SÁBER. Tales A. M. A música no tempo infinito. São Paulo: Cosac Naify, 2012. COELHO, Frederico. OLIVEIRA, Bernardo. Transistória, Transistor: as máquinas e as musas. In: Outros Críticos. disponível em : https://outroscriticos.com/transistoria-transistor-as-maquinas-e-as-musas/>. Acesso em. 25 de abril de 2022. MAMMI, Lorenzo. A fugitiva: ensaios sobre música. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. TATIT, Luiz. O século da canção. 2ª ed.Cotia: Ateliê Editorial, 2008. ______. O cancionista: composição de canções no Brasil. 2ª ed. São Paulo: Edusp, 2002. TEIXEIRA, Pedro Bustamante. Transcaetano: Trilogia Cê mais Recanto. São Paulo: Fonte Editorial, 2017. ______ . Do samba à bossa nova: inventando um país. 2ª edição revista e ampliada. Curitiba: Appris, 2020. WISNIK, José Miguel. O som e o sentido: uma outra história das músicas. 2ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. ______ . Sem receita: ensaios e canções. São Paulo: Publifolha, 2004. UMA PLAYLIST PARA ELON MUSK: O CIBERESPAÇO COMO UTOPIA (OU NÃO) NAS CANÇÕES "PELA INTERNET", DE GILBERTO GIL, E "ANJOS TRONCHOS", DE CAETANO VELOSO Rafael Eisinger Guimarães Resumo: O advento da chamada Web 2.0 e a consolidação da internet colaborativa provocaram uma mudança significativa nas esferas econômica, cultural e política. Nesse cenário, as manifestações culturais revelaram ser um espaço bastante rico para reflexões acerca dos efeitos do mundo digital e das redes sociais na contemporaneidade. No caso específico da canção brasileira, Gilberto Gil e Caetano Veloso lançaram, em contextos históricos distintos, olhares diametralmente opostos em relação aos efeitos dos avanços tecnológicos em nosso cotidiano. Partindo de tal premissa, este estudo pretende analisar as canções “Pela internet”, composta por Gilberto Gil e gravada no álbum Quanta, lançado pelo cantor em 1997, e “Anjos tronchos”, de autoria de Caetano Veloso e gravada em seu álbum Meu coco, de 2021. Separadas por quase um quarto de século, essas composições apresentam perspectivas distintas em relação às possibilidades, benéficas ou maléficas, oferecidas por aquilo que Manuel Castells (1999) chama de sociedade em rede. Tendo isso em mente, o questionamento que move este estudo refere-se a como tais canções compartilham elementos utópicos, positivos e negativos, redimensionando-os e problematizando-os no que se refere tanto a aspectos temáticos, a partir de seus versos, quanto a elementos de linguagem, tendo em vista questões de ritmo e sonoridade. Para responder tal indagação, serão fundamentais as reflexões acerca da ideia de utopia - positiva e negativa, esta também conhecida como distopia - propostas por Eduardo Marks de Marques (2014), Graham J. Murphy (2009), Gregory Claeys (2010), Lyman Tower Sargent (1994) e Ruth Levitas (2010), além das contribuições de Manuel Castells (1999) e Pierre Lévy (1998), no que tange à sociedade em rede e à cibercultura, assim como as teorizações sobre canção e performance vocal elaboradas por Luiz Tatit (2002, 2010), Ruth Finnegan (2008) e Solange Ribeiro de Oliveira (2002). Referências: CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. 6 ed. São Paulo: Paz e Terra, 1999. CLAEYS, Gregory. The origins of dystopia. The Cambridge Companion to Utopian Literature, Cambridge University Press, 2010 FINNEGAN, Ruth. O que vem primeiro: o texto, a música ou a performance? In: TRAVASSOS, Elizabeth; MATOS, Cláudia Neiva; MEDEIROS, Fernanda Teixeira de. Palavra Cantada: ensaios sobre poesia, música e voz. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2008. LEVITAS, Ruth. The concept of utopia. 2. Ed, Bern : Peter Lang, 2010 LÉVY, Pierre. A Inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. São Paulo: Loyola, 1998 MARQUES, Eduardo Marks de.Da centralidade política à centralidade do corpo transumano: movimentos da terceira virada distópica na literatura. Anu. Lit., Florianópolis, v. 19, n. 1, p. 10-29, 2014. MURPHY, Graham J. Dystopia. The routledge companion to science fiction, Edited by Mark Bould, Andrew M. Butler, Adam Roberts, and Sherryl Vint. London, New York : Routledge, 2009. OLIVEIRA, Solange Ribeiro de. Literatura e música. São Paulo: Ed. Perspectiva, 2002. SARGENT,Lyman Tower. The Three Faces of Utopianism Revisited. Utopian Studies, Vol. 5, No. 1 (1994), pp. 1-37 TATIT, Luiz. Canção e oscilações tensivas. estudos semióticos vol. 6, no 2 novembro de 2010 p. 14 –21 TATIT, Luiz. O cancionista: composição de canções no Brasil. 2. ed. São Paulo: EDUSP, 2002. POESIA ENTRE SOM E IMAGEM - UMA ANÁLISE DE COMPOSIÇÕES VERBIVOCOVISUAIS DE AUGUSTO DE CAMPOS Ticiane Flavia Martins Da Cruz Resumo: O presente trabalho se propõe a analisar as composições verbivocovisuais "dias, dias, dias" e "o pulsar" de Augusto de Campos que extrapolam a estrutura verbal do texto poético e apresentam uma poesia que se faz entre a imagem e o som. A partir, então, da análise das versões sonoras propostas por Caetano Veloso para os poemas e das variações gráficas exploradas pelo poeta concretista, pretende-se refletir sobre montagens literárias feitas a partir da articulação entre as propriedades verbal, visual e sonora da palavra, pensando como a poesia de Augusto de Campos constrói uma tensão entre o espaço e o tempo formando estruturas imagéticas, semânticas e sonoras que expõem o trânsito da poesia por múltiplas linguagens e detonam diferentes possibilidades para a leitura e a composição poética. Procurou-se, assim, refletir sobre o emaranhamento entre texto, visualidade e música presente nas composições de Augusto e suas consequências para a unidade poética e para um canto que se constrói a partir da fragmentação dessa unidade. Para tanto, foi estabelecido o diálogo com as ideias de DidiHuberman (2018) sobre o processo de montagem de imagens de Aby Warburg em seu Atlas Mnemosyne, com o conceito de grão da voz apresentado por Roland Barthes (1990) e as relações estabelecidas por Ruth Finnegan (2008) entre texto, música e performance. Referências: BARTHES, Roland. O grão da voz. O óbvio e o obtuso: ensaios críticos III. Trad.: Léa Novaes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990, p. 237-245. CAMPOS, Augusto de. Música de invenção. 1.ed – São Paulo: Perspectiva, 2007. CAMPOS, Augusto de; CAMPOS, Haroldo de; PIGNATARI, Décio. Teoria da poesia concreta. São Paulo: Duas cidades, 1975. CAMPOS, Augusto de. Balanço da bossa e outras bossas. 2.ed – São Paulo: Perspectiva, 1974. COSTA, Daniel Rangel. A dimensão plástica dos poemas visuais de Augusto de Campos. Orientador: Geraldo de Souza Dias. 2019.184f. Dissertação (Mestrado) – Pósgraduação em Poéticas Visuais, Departamento de Artes Visuais, USP, São Paulo, 2019. DIDI-HUBERMAN, G. Atlas ou o Gaio saber inquieto: o olho da história, III. Trad. Márcia Arbex e Vera Casa Nova. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2018. FINNEGAN, Ruth. O que vem primeiro: o texto, a música ou a performance? In: MATOS, Cláudia Neiva de; TRAVASSOS, Elizabeth; MEDEIROS, Fernanda Teixeira de. Palavra cantada: ensaios sobre poesia, música, voz. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2008, p. 15-43. KHOURI, Omar. O livro das mil e uma coisas. São Paulo: Nomuque Edições, 2011. Disponível em: http://nomuque.net/mileumacoisas/livro_mileumacoisas.pdf. Acesso em 20 de fevereiro de 2022. WILLIAMS, Bruce. Poetamenos: Campo (s) de expressão em cores. Mester 14 (1986) (Department of Spanish and Portuguese, UCLA), pp. 55 – 65. Disponível em: < https://escholarship.org/uc/item/00q958f1>. Acesso em 20 de fevereiro de 2022. WISNIK, José Miguel. O som e o sentido: uma outra história das músicas. — 2a ed. — São Paulo: Companhia das Letras, 1989. A PAISAGEM SONORA EM A CASA DAS SETE MULHERES, DE LETÍCIA WIERZCHOWSKI Viviane Aparecida Pandolfo Debortolli, Gérson Luís Werlang Resumo: A escolha dos focos narrativos é fundamental na estruturação diegética narrativa ficcional, haja vista que é por meio da visão do narrador que a história é contada, de acordo com as escolhas que ele faz, do que opta por contar ou silenciar. Em estruturas em que há mais de um narrador há uma ampliação da percepção do que é narrado, pois a história parte de dois pontos de vista distintos. Estendida à análise da paisagem sonora (termo criado pelo músico e pesquisador Murray Schafer, que é proveniente da acústica e foi transposto ao universo literário a fim de analisar os sons do ambiente e a forma como eles interagem com a nareariva), a presença de narradores diferentes pode evidenciar perspectivas distintas de um mesmo som, que pode, por um lado estar presente e ser fortemente significativo e, por outro, talvez nem ser destacado. Para além disso, o estudo da paisagem sonora na literatura permite acessar um tomo de significação mais profundo, já que encaminha a interpretação para outras direções, aquelas que envolvem sons, música, ventos, sensações, sensibilidade auditiva, subjetividades. Diante disso, essa proposta de trabalho visa evidenciar as particularidades da paisagem sonora no romance A Casa das Sete Mulheres, de Letícia Wierzchowski, por meio dos dois focos narrativos presentes: o narrador onisciente e a narradora protagonista, que assina os Cadernos de Manuela, os quais compõe o texto. Para tanto, é feita uma transposição dos conceitos da acústica ao campo literário, em que se destaca a alteração sonora não apenas nos espaços narrativos, mas também aquelas provenientes das poucas alegrias e das muitas perdas advindas de dez anos de guerra, situação em que o romance se desenvolve. Referências: SCHAFER, R. Murray. A afinação do mundo. 2. ed. São Paulo: UNESP, 2011. WERLANG, Gérson Luís. A música na obra de Erico Verissimo: Polifonia, Humanismo e Crítica Social. Passo Fundo: Méritos, 2011. WIERZCHOWSKI, Letícia. A Casa das Sete Mulheres. 2ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2019. O NÃO-LUGAR COMO PROJETO ESTÉTICO EM SUGAR CANE FIELDS FOREVER Yasmin Franca Merelim Magalhães Resumo: Araçá Azul (72), em um primeiro momento recusado pela crítica, é um álbum resultante da série de experimentações vocais derivadas da marcante experiência de gravação da trilha sonora de São Bernardo, e é um dos álbuns de Caetano, com projeto pós-tropicalista mais efetivamente complexo e estruturado em uma razão estética que deflagra sua visada crítica muito peculiar sobre a cultura brasileira. Trata-se, efetivamente, de uma condensação das vozes que permanecem ecoando em camadas, e em diferentes registros, no interior de uma câmara acústica, e podem dar sentido à mescla muito singular de tempos que se amalgamam e engendram um outro nacional popular. O que se pretende com tal comunicação é explorar o universo da canção Sugar Cane Fields Forever, com uma leitura possível desse projeto estético que faz coincidir a importação sistemática de signos e produtos da cultura mundial aos elementos de uma suposta tradição aborígene objetivada no lamento circular das cantigas, na voz bricolada da Edith do Prato, cuja entoação, a um só tempo áspera e resignada, parece querer “quarar” íntima e coletivamente um sofrimento anônimo e indefinido, procurando um lugar para fazê-lo sem se dar às vistas. Sugar Cane soa como uma ruidosa excursão antropológica rumo ao outro interno, amenizada pela depuração extrema das gravações em estúdio, protagonizadas pela voz solo, já íntima dos artifícios acústicos e da tradição de João Gilberto, reverberando na saudade e na memória desse baiano viajante cosmopolita, sempre habitado do externo reincidindo nesse nostos, a memória realocada desse cantor saído, jamais afastado, de sua idílica Santo Amaro. Espaço de temporalidades discrepantes, os nove minutos da canção perfazem, portanto, a alternância tensa entre perto e longe, áspero e suave, conduzidos pelo contraste entre a rapsódia de field recordings e o corpo a corpo a palo seco entre o silêncio e a voz de Caetano. Referências: BOSI, Alfredo. O som no signo; Frase: música e silêncio. In: O Ser e o tempo da poesia. São Paulo: Cultrix, 1983. CAMPOS, Augusto de. Balanço da bossa e outras bossas. São Paulo: Perspectiva, 1978. CAMPOS, Augusto; CAMPOS, Haroldo e PIGNATARI, Décio. Teoria da poesia concreta. São Paulo: Brasiliense, 1987. VELOSO, Caetano. Verdade Tropical. Cia das letras: São Paulo, 1997. RODRIGUES, Antonio Medina. “De música popular e poesia”. In: Revista USP nº 4. São Paulo: coordenadoria de comunicação social da USP, dezembro/janeiro/fevereiro de 1989/1990. SALGUEIRO, Wilberth Clayton Ferreira. Forças e formas: aspectos da poesia brasileira contemporânea. Espírito Santo: EDUFES, 1998. SANTIAGO, Silviano. O entre-lugar do discurso latino-americano. In.: Uma literatura nos trópicos. Perspectiva: São Paulo, 1978. SANTIAGO, Silviano. Caetano Veloso enquanto superastro. In.: Uma literatura nos trópicos. Perspectiva: São Paulo, 1978. TATI, Luís. Dicção de Caetano Veloso In.: O cancionista. Editora da Universidade de São Paulo, 1996. ______. O século da canção. Cotia: Ateliê Editorial, 2004. ______. Todos entoam: ensaios, conversas e canções. São Paulo: PubliFolha, 2007. ______. Estimar canções. São Paulo: Ateliê, 2016. ______. Passos da semiótica tensiva. São Paulo: Ateliê, 2019. TEIXEIRA, Pedro Bustamante. Transcaetano: trilogia Cê mais Recanto. São Paulo: Fonte Editorial, 2017. WISNIK, José Miguel. O Som e o sentido; uma outra história da música. São Paulo: Cia. das Letras, 1989. DISSERTAÇÃO: DIETRICH, Peter. ARACÁ AZUL: Uma análise semiótica. USP, Brochura. CAETANO VELOSO EM "ANJOS TRONCHOS": UMA VOCOPERFOMANCE DA ATROFIA DA EXPERIÊNCIA NA CONTEMPORANEIDADE Yasmin Lima de Carvalho Resumo: Este trabalho tem o intuito de fazer uma análise da canção “Anjos Tronchos”, escrita por Caetano Veloso, presente no álbum “Meu coco” (2021), sem deixar de fazer um paralelo com a vocoperfomance do cantor baiano no videoclipe oficial da música referida. O que se pretende é comprovar e legitimar, dentre inúmeras características pertinentes de Caetano ao compor canções, o devoramento de elementos culturais atuais do Brasil e do mundo pelo músico, em uma atitude antropofágica oswaldiana, para alertar o ouvinte de música popular brasileira dos malefícios provenientes da tecnologia. Dentre as problemáticas abordados por Caetano e o seu eu cancioneiro em “Anjos Tronchos” estão a incapacidade de apreendermos àquilo a que somos expostos, dada a velocidade na conjuntura virtual; fragmentação do sujeito na pós-modernidade, em virtude do seu não domínio sobre si e sua incapacidade de fazer escolhas, uma vez que é influenciado e comandado pelos algoritmos da internet; o atordoamento psíquico e a perda da memória, em decorrência do estado de alerta constante da consciência em tentar filtrar todos os estímulos do ambiente a que é exposta, sobretudo o digital. Para tanto, serão utilizados como embasamento teórico a teoria da perda da experiência desenvolvida pelo teórico alemão Walter Benjamin em seus ensaios “Experiência e pobreza” (1933) e “Sobre Alguns Temas em Baudelaire” (1940); os aspectos da Modernidade e Pós-Modernidade considerados pelo pesquisador e professor britânico David Harvey em sua obra “Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural” (1989); a dificuldade de apreensão do meio em virtude da velocidade, apresentada pelo teórico e docente norte-americano Richard Sennett em seu livro “Construir e habitar: ética para uma cidade aberta” (2020) e as especificidades de Caetano em compor canções apresentadas pelo professor e pesquisador Rafael Julião em sua obra “Infinitamente pessoal – Caetano Veloso e sua verdade tropical” (2017). Referências: BENJAMIN, Walter. Walter Benjamin: obras escolhidas. Magia e técnica, arte e política. 3. ed. São Paulo: Brasiliense, 1987. (Obras escolhidas, v. 1) ______. Walter Benjamin: obras escolhidas III. Charles Baudelaire: um lírico no auge do capitalismo. São Paulo: Brasiliense, 1989. (Obras escolhidas, v. 3) HARVEY, David. Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. 17. ed. São Paulo: Loyola, 2008. JULIÃO, Rafael. Infinitamente pessoal – Caetano Veloso e sua verdade tropical. Rio de Janeiro: Batel, 2017. SENNETT, Richard. Construir e habitar: ética para uma cidade aberta. 2. ed. Rio de Janeiro: Record, 2021. SIMPÓSIO “MONTEIRO LOBATO EM REDE: MEDALHÕES, MODERNOS, ANTIMODERNOS, MODERNISTAS” Patrícia Aparecida Beraldo Romano (UNIFESSPA/USP), Cilza Carla Bignotto (UFSCar), Milena Ribeiro Martins (UFPR) O VESTIDO MARAVILHOSO DE NARIZINHO AO VIVO E A CORES Adriana Medeiros Peliano Resumo: Apresentação visual de livro ilustrado por mim sobre o vestido de casamento de Narizinho criado pela Dona Aranha costureira e suas filhas. As ilustrações foram feitas através de fotografias de esculturas e montagens com objetos. Dona Aranha era uma célebre estilista que teria costurado os vestidos das grandes princesas dos Contos de Fadas. Segundo Lobato o vestido de Cinderela e Branca de Neve também foram arte dela, não da fada madrinha ou outro auxiliar mágico, como mostram os livros. Descendente direta das bruxas e fadas, mas também das aranhas e fiandeiras mitológicas, a linha sem fim de Dona Aranha faz uma costura intertextual que atravessa a obra infantil de Monteiro Lobato costurando histórias dentro de histórias. O vestido de casamento de Narizinho é uma preciosa mirabilia, palavra que designa objetos extraordinários e misteriosos que causam espanto e admiração. Na linha do vestido de Narizinho se estende uma teia de histórias em que contos de fadas na literatura oral e escrita desde tempos imemoriais se espalham pelo mundo em um caleidoscópio de combinações, uma tapeçaria líquida unindo a realidade e o Faz de Conta. Existiriam outros vestidos cor do mar com todos os seus peixes nadando nele? Irei falar brevemente sobre os antecedentes do vestido de Narizinho nos contos de fadas e na mitologia. Referências: BACHELARD, Gaston. A Agua e os Sonhos. Sao Paulo: Martins Fontes, 1998. BAYLEY, Harold. The lost language of symbolism. London: Williams and Norgate, 1912. BETTELHEIM, Bruno. A psicanalise dos contos de fadas. Rio de janeiro: Paz e Terra, 1980. CASCUDO, Luis da Camara. Contos tradicionais do Brasil. Rio de Janeiro: Ediouro,1946. COX, Marian Roalfe. Cinderella: Three Hundred and Forty-five Variants of Cinderella, Catskin, and Cap O’ Rushes, abstracted and tabulated. London: David Nutt for the Folklore Society, 1893. GRIMM, Irma?os. Contos Completos. Contos da Infancia e do lar. Lisboa: Circulos de Leitores - Temas e debates, 2012. HAURELIO, Marco. Contos Folcloricos Brasileiros. Sao Paulo: Paulus, 2010. LOBATO, Monteiro. A menina do narizinho arrebitado. Sao Paulo: Cia Editora Nacional, 1920. LOBATO, Monteiro. Reinacoes de Narizinho. Sao Paulo: Cia Editora Nacional, 1931. LOBATO, Monteiro. Os doze trabalhos de Hercules e Historias Diversas. Sao Paulo: Sao Paulo: Circulo do Livro, 1992. LAJOLO, Marisa. CECCANTINI, Joao Luis (Org.)Monteiro Lobato, livro a livro: obra infantil. Sao Paulo: Editora Unesp, 2008. MARTIN, Kathleen. O livro dos simbolos. Reflexoes sobre imagens arquetipicas. Taschen do Brasil, 2012. ROMERO, Silvio. Contos Populares do Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: Livraria Classica, 1897. RUSHDIE, Salman. Haroun e o mar de historias. Sao Paulo: Companhia de Bolso, 2010. SAINTYVES, Pierre. Les Contes de Perrault et les recits paralleles. Paris: Editions Robert Laffont, 1987. TATAR, Maria (ed.) Contos de Fadas: Edicao comentada e ilustrada. Rio de Janeiro: Zahar, 2013. WARNER, Marina. Da Fera a Loira. Sobre Contos de Fadas e seus narradores. Sao Paulo: Companhia das Letras, 1999. MONTEIRO LOBATO, EDITOR DE MODERNISTAS Cilza Carla Bignotto Resumo: Neste ano em que se comemoram os 100 anos da Semana de Arte Moderna - e em que o legado modernista é revisado criticamente - , pode ser instigante examinar como se deu a publicação das primeiras obras de alguns dos principais escritores do movimento. Monteiro Lobato publicou, pela editora que levava seu nome, "Os condenados" (1922), de Oswald de Andrade, com capa de Anita Malfatti; "O homem e a morte" (1922) - também com capa de Malfatti -, "A mulher que pecou" (1922) e "Dente de Ouro" (1923), de Menotti del Picchia; "Livro de horas de Soror Dolorosa" (1920), de Guilherme de Almeida; "Jardim das confidências" (1921) e "A casa do gato cinzento" (1922), de Ribeiro Couto, entre outros. O lançamento de "Poesias", de Manuel Bandeira, chegou a ser anunciado pela editora – que viria a desistir da publicação do livro. A proposta desta comunicação é analisar as decisões de Monteiro Lobato como editor de obras modernistas, sobretudo por meio dos documentos referentes ao processo de edição de "Pauliceia desvairada", de Mário de Andrade, cuja publicação não se concretizou. Depoimentos, cartas, artigos e entrevistas de Monteiro Lobato e Mário de Andrade, entre outros materiais, permitem investigar não apenas os bastidores da edição de obras modernistas, mas aspectos do campo literário brasileiro que se esboçava no início dos anos de 1920. A análise desses documentos é ancorada pela teoria do campo literário, de Pierre Bourdieu. Referências: ANDRADE, Mário de. Pauliceia desvairada. Fac-símile da primeira edição. São Paulo: Casa Mayença, 1922. ______. Caixa modernista. São Paulo/Belo Horizonte: Edusp/Editora UFMG/Imprensa Oficial, 2003. ______. Vida literária. Pesquisa, estabelecimento de texto, introdução e notas por Sonia Sachs. São Paulo: Edusp/Hucitec, 1993. ANDRADE, Oswald de. A consciência de Lobato. In: ______. Telefonema. Pesquisa e estabelecimento de texto, introdução e notas Vera Chalmers. São Paulo: Globo, 1996. ______. Carta a Monteiro Lobato. In: ______. Ponta de lança. São Paulo: Globo, 1991. BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas. São Paulo: Perspectiva, 2003. ______. As regras da arte: gênese e estrutura do campo literário. Trad. de Maria Lucia Machado. São Paulo: Cia. das Letras, 1996. BIGNOTTO, Cilza. Figuras de autor, figuras de editor: as práticas editoriais de Monteiro Lobato. São Paulo: Editora Unesp, 2018. LIVRARIA LEITE RIBEIRO: ENTRE LITERATOS E EDITORES Gabriele Maris Pereira Fenerick Resumo: Fundada em 1917 por Carlos Leite Ribeiro e Maurillo da Silva Quaresma, a Livraria Leite Ribeiro foi a segunda maior editora em número de livros de prosa de ficção publicados nos anos 1920. A partir da observação de uma lacuna no que se refere à produção acadêmica sobre seu percurso enquanto editora, buscou-se determinar os aspectos editoriais e históricos que a envolveram entre 1917 e 1929. Como resultados parciais de uma pesquisa ainda em andamento, foi possível constatar que a L. Ribeiro, comumente descrita como ponto de encontro entre os literatos cariocas, além de atuar diretamente na promoção e organização de eventos e mediações culturais, foi interesse de diversos empreendedores e editores da época, entre os quais destaca-se Monteiro Lobato. Em 1922, após o fim da sociedade entre Carlos e Maurillo, Lobato pretendia efetivar a fusão entre a Lobato & Cia e a L. Ribeiro, sem sucesso. Ao invés disso, de acordo com registros recuperados na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional, em 1922 um dos sócios da L. Ribeiro era, na verdade, Antonio Teixeira Boa Vista. Além desse, foram identificados outros diversos que fizeram parte do quadro social da LR com o passar dos anos, como João Pereira da Silva Monteiro Junior e Durval de Oliveira Maia, além do próprio Carlos Leite Ribeiro e de Antonio, sociedade quádrupla que resultou na Leite Ribeiro, Monteiro & Cia. Tais constatações abriram espaço para que se pudesse traçar uma linha temporal diante das diversas nomenclaturas da editora, relacionando-as às obras publicadas no período de cada sociedade, seja como Livraria Leite Ribeiro & Maurillo, Livraria Leite Ribeiro ou Leite Ribeiro, Monteiro & Cia. Referências: A RUA – SEMANÁRIO ILUSTRADO (RJ). Livraria Editora Leite Ribeiro. A RUA – SEMANÁRIO ILUSTRADO (RJ): 21 de abril de 1923. Disponível em: http://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=236403&pagfis=12093. Acesso em: 10 fev. 2022. ALMEIDA, Julia Lopes de. A isca. Rio de Janeiro: Livraria e Editora Leite Ribeiro, 1923.? BIGNOTTO, Cilza Carla. Figuras de autor, figuras de editor. São Paulo: UNESP, 2018.? CASTRO, Ruy. Metrópole à Beira-Mar: o Rio moderno dos anos 20. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.? CHRYSANTHÈME. Mãe. Rio de Janeiro: Editora – a Livraria Leite Ribeiro, 1924.? CRYSANTHÈME. A semana. O Paiz, Rio de Janeiro, 4 jun. 1922.? CRYSANTHÈME. A semana. O Paiz: domingo, 14 de maio de 1922. Disponível em: http://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=178691_05&pagfis=9607. Acesso em: 10 fev. 2022. CRYSANTHÈME. Notícias do Estado do Rio. O Paiz, Rio de Janeiro, 4 jun. 1921.? DE LUCA, Leonora. O “feminismo possível” de Júlia Lopes de Almeida (1862-1934).?Cadernos Pagu, Campinas, SP, n. 12, p. 275–299, 2015. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/cadpagu/article/view/8634918. Acesso em: 04 out. 2021.? HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil. 3ª ed. São Paulo: edUSP, 2017.? LANTERNA. Um grande estabelecimento comercial: Livraria editora Leite Ribeiro. Lanterna: diário vespertino, Rio de Janeiro, 11 de junho de 1918. Disponível em: http://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=830291&pagfis=1718. Acesso em: 04 out. 2021.? LIVRARIA Traça. Capa ilustrada da obra Jardim Florido, publicada pela Leite Ribeiro em 1922. [S.l.],2021. Disponível em: https://www.traca.com.br/livro/150488?__cf_chl_jschl_tk__=pmd_0c5c6ebfb7220ccc382afd47a22f1d83 d4e1e8c9-1626716318-0-gqNtZGzNAmKjcnBszQkO. Acesso em: 10 jul. 2021.? MARTINS, Milena Ribeiro. A prosa literária dos anos 1920. Revista Diálogos Mediterrânicos, n. 11, 153–175. Disponível em: http://www.dialogosmediterranicos.com.br/index.php/RevistaDM/article/view/235/237 Acesso em: 10 dez. 2021.? MARTINS, Milena Ribeiro. Mulheres de 1920. in COSTA, H.; MEUCCI, S.; TRINDADE, A. D.?(orgs.)?A?s margens dos canones, volume III. [no prelo]?? MARTINS, Milena Ribeiro. O livro brasileiro nos anos 1920: aspectos gráficos e atuação dos escritores / The Brazilian Book in the 1920’s: Graphic Aspects and Writers’ Performance. O Eixo e a Roda: Revista de Literatura Brasileira, v. 29, n. 1, p. 218, 2020. Disponível em: http://www.periodicos.letras.ufmg.br/index.php/o_eixo_ea_roda/article/view/15614. Acesso em: 04 out. 2021.? MARTINS, Milena Ribeiro; SANTANA, Claudia Daniele Blum. Segredos, dramas e hipocrisia em A isca, de Julia Lopes de Almeida. Letras em Revista, v. 11, n. 2, jun./dez. 2020. Disponível em: https://ojs.uespi.br/index.php/ler/article/view/400/186. Acesso em: 04 out. 2021.? O JORNAL do Brasil. Intercambio Intelectual Americano: o que tem feito a administração da Bibliotheca Nacional. O Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 21 ago. 1929. Diponível em: http://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=030015_04&pagfis=77931. Acesso em 04 out. 2021.? O JORNAL. Rio Comercial: a Livraria Leite Ribeiro. O Jornal: domingo, 30 de outubro de 1921. Disponível em: http://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=110523_02&pagfis=7977. Acesso em: 10 fev. 2022. O PAIZ. Livraria Leite Ribeiro. 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Em algumas delas, observa-se a adesão linguística ou estrutural a aspectos desse processo, por exemplo quando a ficção emula ritmos e técnicas de equipamentos modernas, ou quando representa tematicamente o deslumbramento de personagens diante de máquinas que passavam a fazer parte do cotidiano das pessoas. Outras obras, em geral menos badaladas, parecem representar fenômenos de resistência à modernização, por meio de personagens que acabam sendo dragados e destruídos pelas novidades às quais eles não aderem. É comum que a escolha de um tipo ou outro de representação conduza a uma caracterização dos escritores como mais modernos e menos modernos, e ainda a uma oposição entre inovadores a conservadores, como se os traços distintivos fossem inequívocos. Neste texto, discutirei tal dicotomia por meio da análise de alguns contos dos quais se pode depreender uma certa teorização a respeito de efeitos sociais e individuais da modernização e da inadaptação a ela. Farão parte central da análise os contos “O jardineiro Timóteo” e “Marabá”, de Monteiro Lobato, ao lado de “Melancolia” e “Um pobre homem”, de Dyonélio Machado, todos eles publicados em livro na década de 1920. Este texto ampliará análise feita anteriormente (Martins, 2013), por meio da proposição de vínculos entre obras de autores em geral não aproximados pela crítica. REFERÊNCIAS BERMAN, Marshal. Tudo que é sólido desmancha no ar. A aventura da modernidade. Tradução: Carlos Felipe Moisés e Ana Maria L. Ioratti. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. COMPAGNON, Antoine. Os antimodernos: de Joseph de Maistre a Roland Barthes. Tradução: Laura Taddei Brandini. Belo Horizonte, MG: UFMG, 2011. LOBATO, Monteiro. Negrinha. São Paulo: Brasiliense, 1948. (Obras completas de Monteiro Lobato, 1ª série, Literatura geral, v. 3) MACHADO, Dyonélio. Um pobre homem. 2. ed. São Paulo: Editora Ática, 1995. MARTINS, Milena Ribeiro. Lobato de olho na modernidade brasileira. In: BUENO, Luís; SALES, Germana; AUGUSTI, Valéria. A tradição literária brasileira: entre a periferia e o centro. Chapecó: Argos, 2013. p. 157-182. Referências: BERMAN, Marshal. Tudo que é sólido desmancha no ar. A aventura da modernidade. Tradução: Carlos Felipe Moisés e Ana Maria L. Ioratti. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. COUTO, Ribeiro. Os melhores contos de Ribeiro Couto. Seleção de Alberto Venâncio Filho. São Paulo: Global, 2002. LOBATO, Monteiro. Cidades mortas. São Paulo: Brasiliense, 1948. (Obras completas de Monteiro Lobato, 1ª série, Literatura geral, v. 2) LOBATO, Monteiro. Negrinha. São Paulo: Brasiliense, 1948. (Obras completas de Monteiro Lobato, 1ª série, Literatura geral, v. 3) MACHADO, Dyone?lio. Um pobre homem. 2. ed. São Paulo: Editora A?tica, 1995. PAES, José Paulo. O pobre-diabo no romance brasileiro. In: PAES, J. P. Armazém literário: ensaios. Org. Vilma Arêas. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. p. 50-74. MONTEIRO LOBATO DAS CRIANÇAS NO FUNDO RAUL DE ANDRADA E SILVA (IEB/USP) Patrícia Aparecida Beraldo Romano Resumo: Ao longo de seus 68 anos, Monteiro Lobato viveu em várias cidades do estado de São Paulo, no Rio de Janeiro, nos Estados Unidos e na Argentina. Fez diversos amigos, publicou uma saga infantil de 17 volumes (23 livros), outras diversas obras que reúnem seus contos (considerados adultos), entrevistas, prefácios e textos diversos, sem contar toda a correspondência trocada com Godofredo Rangel e publicada na obra A Barca de Gleyre, em 1944. Outras inúmeras cartas que trocou durante toda sua vida com as mais variadas pessoas, de amigos a leitores crianças, também sobreviveram ao tempo, algumas publicadas na obra Cartas Escolhidas, outras em Correspondência entre Monteiro Lobato e Lima Barreto, outras ainda em Conversa entre amigos: correspondência entre Anísio Teixeira e Monteiro Lobato, sem contar a correspondência esparsa que sobreviveu porque foi entrega a amigos, como Edgard Cavalheiro e Marina de Andrada Procópio de Carvalho, que a preservaram e hoje se encontra em vários acervos de instituições públicas brasileiras, bem como no interior de diversas teses acadêmicas sobre estudos da vida e obra de Monteiro Lobato. Muito de sua obra e de seus arquivos pertencem hoje à Biblioteca Infantil e Juvenil Monteiro Lobato (SP), CEDAE/UNICAMP, IEB/USP etc. Esta comunicação pretende se debruçar sobre o Fundo Raul de Andrada e Silva, pertencente ao acervo do IEB/USP, que agrega, dentre outros documentos, as cartas de crianças e jovens enviadas a Monteiro Lobato dentre os anos de 1932 e 1946 e tratará, especificamente, das cartas da correspondente Maria Luiza e das respostas a ela, dadas por Monteiro Lobato, e que se encontram disponíveis para consulta no site do CEDAE/UNICAMP. Referências: CHARTIER, Roger. Práticas de Leitura. São Paulo: Estação Liberdade, 2001 DEBUS, Eliane. Monteiro Lobato e o leitor, esse conhecido. Itajaí: UNIVALI/UFSC, 2004. GALVÃO, Walnice Nogueira; GOTLIB, Nádia Battela (Org.). Prezado senhor, prezada senhora: estudos sobre cartas. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. LOBATO, Monteiro. A Barca de Gleyre. São Paulo: Brasiliense, 1956, 2 tomos. MORAES, Marcos Antonio de. Orgulho de Jamais Aconselhar: a epistolografia de Mário de Andrade. São Paulo: EDUSP/FAPESP, 2007. RAFFAINI, Patrícia Tavares. Pequenos Poemas em Prosa: vestígios da leitura ficcional na infância brasileira, nas décadas de 30 a 40. 191f. Tese (Doutorado em História Social). Programa de Pós-graduação em História Social do Departamento de História, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, USP, SP, 2008ROCHA, Vanessa. Por um Protocolo de Leitura do Epistolar. Niterói/RJ: Eduff, 2017. SILVA, Raquel Afonso da. Entre livros e leituras: um estudo de cartas de leitores. 257f. Tese (Doutorado em Teoria e História Literária). Programa de Pós-graduação em Teoria e História Literária. Instituto de Estudos da Linguagem, Unicamp, Campinas, 2009.TIN, Émerson. Monteiro Lobato das Crianças in Em busca do “Lobato das cartas”: a construção da imagem de Monteiro Lobato diante de seus destinatários. 535f. Tese de doutorado (Doutorado em Teoria e História Literária)- Programa de Pós-Graduação em Teoria e História Literária. Instituto de Estudos da Linguagem, Unicamp, Campinas, 2007. TIN, Émerson. A Barca de Gleyre: uma raríssima “curiosidade” in LAJOLO, Marisa. Monteiro Lobato, livro a livro: obra adulta. São Paulo: UNESP, 2014 TIN, Émerson. Gênero menor. Rio de Janeiro, 2006. Disponível em http://cartasparaquevosquero.blogspot.com/2006/02/gneromenor.html, acesso em 01/10/2020. AS REPRESENTAÇÕES DA MODERNIDADE NAS AMÉRICAS DE LOBATO E KAFKA Vanessa de Paula Hey Resumo: Narrativas de indivíduos enredados pelas imensas organizações administrativas, sociais e culturais do estado moderno, de que América (1932), de Monteiro Lobato, e Amerika ou O desaparecido (1927), de Franz Kafka, são exemplos, possibilitam investigar formas pelas quais a vida moderna se vê representada na literatura ocidental da primeira metade do século XX. Entre as fontes que alimentam o turbilhão da modernidade, referidas nesses textos, encontram-se: a industrialização da produção, os avanços tecnológicos, a criação de novos ambientes e o consequente desaparecimento de outros, a rapidez do ritmo de vida, as novas formas de poder corporativo e de lutas de classe, a explosão demográfica e o crescimento urbano. O contexto figurado pelas obras, os Estados Unidos do começo do século XX, apresenta-se, portanto, como um ambiente altamente industrializado, burocratizado e tecnológico, no qual multidões (de carros, máquinas e corpos) o atravessam em incessante movimento. Nessas narrativas, ainda, é sob a condição de estrangeiro, um ‘turista’ e um emigrante exilado, que os protagonistas chegam a essa nação. Tendo por base reflexiva essas conjunturas, diferentes daquelas de onde os personagens são provenientes – a brasileira e a europeia –, é que analiso os seus percursos e desdobramentos, a nosso ver, estritamente relacionados à experimentação da modernidade, questão privilegiada em nossa discussão. A presente comunicação, resultado parcial de uma tese em andamento, se propõe, desse modo, a analisar as formas como a modernidade e o sujeito moderno são representados nas 'Américas' de Lobato e Kafka, e, a partir dessa análise, estabelecer um diálogo entre estas representações. Referências: BENJAMIN, W. Franz Kafka. A propósito do décimo aniversário de sua morte. In: Obras Escolhidas. Vol. 1, Magia e Técnica, Arte e Política. São Paulo: Brasiliense, 1985. BERMAN, M.. Tudo que é sólido desmancha no ar. Trad. Carlos Felipe Moisés, Ana Maria L. Ioriatti. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. CAMPBELL, M. B. Travel writing and its theory. In: MANNING, S.; TAYLOR, A. (eds.). 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Integrado por uma multiplicidade de textos, literários e não literários, sobre os mais diversos assuntos, o periódico reivindica o seu caráter através do discurso editorial, que exalta o romance em texto crítico de seus redatores, e da sua materialidade, que reúne tais textos à seção de maior destaque do seu programa editorial (intitulada “Razão”) e eleva o estatuto simbólico dos romances de folhetins ao deslocá-los dos pés de páginas à área central da mancha gráfica dos fascículos. Não obstante, e ainda que o seu contexto geopolítico de produção implique em sua evidente relevância, nota-se um menor interesse pelo periódico nos estudos voltados ao processo de estabelecimento de circuitos literários no Brasil do século XIX – mais intensamente amparados pelas fontes cariocas. Se a circulação dos romances se intensifica na capital fluminenses a partir da chegada da Corte, com profícua publicação na imprensa periodista local (em folhetins, fascículos e/ou jornais-romance), outras localidades do Império também participam desse circuito. Caso exemplar é “O Recreador Mineiro”, que, dedicado à formação de leitores – como declara também em discurso editorial – seleciona, traduz, edita e coloca em circulação textos que tipifica como romances para alcançar seu objetivo declarado. Nesse sentido, o periódico ganha relevância e merece integrar mais substancialmente as investigações sobre a circulação do romance no Brasil oitocentista. Para tanto, além da sua caracterização, propomos a sua inscrição em um entre lugar situado na transição dos folhetins, tradicionalmente apresentados aos pés de páginas dos jornais diários ou semanais, aos jornais-romances, que eram inteiramente dedicados aos textos literários do gênero, sublinhando a sua importância para construção de uma determinada noção de romance. Referências: ABREU, Marcia. Romances em Movimento: a circulação transatlântica dos impressos (1789- 1914). Campinas: Editora Unicamp, 2016. CHARTIER, Roger. A mão do autor e a mente do editor. São Paulo: UNESP, 2014 CHARTIER, Roger. Matérialité du texte et attentes de lecture. Concordances ou discordances? Lumen, 2017, 36, 1–20. DRUMMOND, Maria Francelina Silami Ibrahim; CASA NOVA, Vera Lucia de Carvalho UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS. O recreador mineiro (1845-48): rastros do leitor e da leitura na primeira revista literária de Minas Gerais. 1995. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Letras. FERNANDES, Luciano de Oliveira; FREITAS, Marcus Vinicius de. O Recreador Mineiro (1845-1848): liberalismo e romance-folhetim na imprensa mineira. 2005. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Letras. GARCIA, Izenete Nobre. Jornaisromance: uma história não contada da circulação de romances no Brasil. 2016. 1 recurso online (232 p.). Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Estudos da Linguagem, Campinas, SP. Disponível em: <http://www.repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/331507>. Acesso em: jan. 2021. LYONCAEN, Judith. La griffe du temps: ce que l’histoire peut dire de la littérature. Paris: NRF Gallimard, 2019. MACIEL, Guilherme de Souza; VILLALTA, Luiz Carlos. O Recreador Mineiro (Ouro Preto: 1845-48): formas de representação do conhecimento histórico na construção de uma identidade nacional. 2005. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. MCKENZIE, Donald Francis. Bibliografia e a Sociologia dos textos. São Paulo: Edusp, 2018. MEYER, Marlyse. Folhetim: uma história. 2 ed. São Paulo: Companhia das letras, 2005. 478p. MOLLIER, Jean-Yves. O folhetim na imprensa e a livraria francesa no século XIX. In: ______ A leitura e seu público no mundo contemporâneo: ensaios sobre História Cultural. Tradução de Elisa Nazarian. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2008.p. 83-96. NADAF, Yasmin Jamil. Rodapé das miscelâneas: o folhetim nos jornais de Mato Grosso (séculos XIX e XX). Rio de Janeiro: 7 Letras, 2002. SERRA, Tania Rebelo Costa. Antologia do romance-folhetim (1839- 1870). Brasília: Universidade de Brasília, 1997. THÉRENTY, Marie-Ève. La litterature au quotidien: Poétiques journalistiques au XIXe siècle. Paris: Ed. Le Seuil, 2007. CONTRIBUIÇÕES DA POÉTICA DE POE À TEORIA DO ROMANCE: UMA ANÁLISE DE ZANONI DE BULWER-LYTTON Ana Maria Zanoni da Silva Resumo: Edward George Bulwer-Lytton (1803-1873), romancista e dramaturgo, é um exponente da literatura inglesa vitoriana. Sua obra ditou costumes, criou expressões como “ a caneta é mais poderosa que a espada” e inspirou Wagner na composição da ópera Rienzi, título homônimo ao do romance bulweriano Rienzi, Last of the Tribunes (1835). Segundo Pollin (1996), este romance influenciou a escrita de alguns contos de Edgar Allan Poe, que, por sua vez, leu e resenhou a obra de Bulwer-Lytton. Dos romances bulwerianos, apreciados por Poe, nos restringimos à análise de Zanoni (1842), não somente pelo título dele ser homônimo ao nosso sobrenome, mas pelo fato de Poe alegar tratar-se de uma ampliação do conto “Zicci” e destacar aspectos do processo de criação essenciais à manutenção da unidade de efeito. O objetivo deste trabalho consiste em mostrar a pertinência da concepção estética e crítica de Poe à compreensão do modo de organização da coerência interna na apreciação estética do romance Zanoni. A análise está embasada nas teorias de Ian Watt (1990), Lukács (2000) , Genette (1979) e Tomachévski (1976) associadas às concepções teóricas de Poe manifestas na resenha “Zanoni, a Novel” (1842). A análise mostra que ao atribuir a autoria do romance ao antigo manuscrito, pertencente ao misterioso dono de uma livraria, Bulwer-Lytton instaura a atmosfera de mistério e a intensifica com a inserção de elementos propícios ao fantástico – os poderes sobrenaturais de Zanoni advindos da seita Rosa-Cruz, a presença de seres espectrais, castelos sombrios e mortes – , os quais promovem a irrupção do sobrenatural, mantêm o suspense e trazem à tona o conflito interior do protagonista, desencadeado pela cisão entre o eu e um mundo, cujos valores foram subvertidos durante o Terror instaurado na Revolução Francesa. Referências: GENETTE, Gerard. Discurso da Narrativa. Lisboa: Arcádia, 1979. LUKÁCS, Georg. A teoria do Romance: um ensaio filosófico sobre as formas da grandeépica. São Paulo: Duas Cidades, 2007. LYTTON. Edward Bulwer. Zanoni: romance ocultista. São Paulo: Pensamento, 2009. POE, E.A. Zanoni, a Novel. By the Author of Pelham,” “Rienzi, &c. Two Volumes. Harper & Brothers. Review of New Books” [Text-02]. Graham’s Magazine, June 1842, p. 354-356. Disponível em: https://www.eapoe.org/works/criticsm/gm42060.htm. Acesso: 20 fev. 2021 POLLIN, Burton R. Bulwer’s Rienzi as a Multiple Source for Poe. Poe Studies. 29, December. p. 6668, 1996. TOMACHEVSKI, Boris. Temática. In: Teoria da Literatura: formalistas russos. Porto Alegre: Globo, 1976. WATT, Ian. A Ascensão do Romance: estudos sobre Defoe, Richardson e Fielding. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. OBSERVAÇÕES SOBRE TRABALHO FEMININO EM ROMANCES DE MACHADO DE ASSIS Andréa Sirihal Werkema Resumo: Em pelo menos três dos romances da chamada primeira fase de Machado de Assis existe a sugestão do trabalho como desdouro ou fracasso para as mulheres que pretendam ao menos manter certa fachada de respeitabilidade dentro da “boa” sociedade fluminense – e, por extensão, brasileira – ali representada. Mesmo personagens advindas de classes médias, como Estela, Iaiá ou Guiomar vislumbram uma vida de confortos e despreocupação monetária advinda de um bom casamento, mas isso vai se resolver de diferentes maneiras para cada uma delas. Ora, a sugestão da necessidade de trabalhar para ganhar a vida versus a possibilidade de se fazer um bom casamento atinge o romance machadiano e o conforma – temos aí exemplares de romances com características herdadas do Romantismo, mas bastante realistas em termos de representação de necessidades da vida. Agregadas, afilhadas, esposas, vindas de classes abaixo das elites brasileiras do oitocentos – todas elas são assombradas pelas comparações do trabalho assalariado com o trabalho escravo, e estas comparações se estabelecem, dentro do contexto escravista brasileiro, como ameaçadoras do estatuto de humanidade, não apenas da dignidade, da honra, do nome. É no âmbito perverso desse contexto de trabalho que Machado vai colocar suas protagonistas em situações de escolha. Eu gostaria de apontar algumas dessas questões nesta comunicação, usando como termo comparativo o romance escrito por autoras mulheres em língua inglesa, como Jane Austen e Charlotte Brontë, em que a possibilidade do trabalho feminino comparece também de maneiras diferentes, mais ou menos aceitáveis. Ali também a possibilidade de um bom casamento, ou quem sabe de uma herança inesperada, pode resolver todas as questões relativas às necessidades na vida de uma mulher de sociedade, mas o trabalho, se necessário, não traz sobre si a sombra da escravidão ou da perda de toda e qualquer dignidade. Referências: ASSIS, Machado de. Obra completa. Vol. I. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997. WERKEMA, Andréa Sirihal. O falso Romantismo dos primeiros romances de Machado de Assis. In: As duas pontas da literatura: crítica e criação em Machado de Assis. Belo Horizonte: Relicário, 2019. ANTAGONISMOS SOCIAIS EM MAUPRAT, DE GEORGE SAND Beatriz Cerisara Gil Resumo: No cenário de efervescência do romantismo francês e de renovação das formas literárias, George Sand aparece como aguda examinadora da sociedade francesa a partir dos anos 1830. Em muitas de suas obras, geradas segundo o imperativo romântico de investigar a história contemporânea do país, ela percorre a vida camponesa e a vida parisiense fazendo paralelos e cruzamentos dos espaços rurais e urbanos, além de explorar as formas de ascensão e o percurso de mulheres e homens socialmente marcados dentro da ordem política vigente nos entornos da revolução francesa. A abordagem desta realidade histórica pelo romance na primeira metade do século XIX tende a enfatizar os traumas e a concentrar simbolicamente os efeitos desta(s) experiência(s) revolucionárias. Para dar conta dessa matéria, as narrativas do período vão assumindo novas conformações e, em Mauprat, a narrativa vai ser encorpada pelo romance de aventuras, além do romance de formação e histórico, e por uma releitura do romance gótico, por exemplo. G. Sand mobiliza um repertório de recursos para dar contraste aos antigos valores feudais arraigados num universo familiar, a serem ultrapassados, e, de outro lado, ao nascimento de um espírito utópico - igualitarista e revolucionário. Nesta narrativa destaca-se a perspectiva de uma vigorosa polarização entre povo e aristocracia que ressalta as condições concretas de existência dessas figuras de classe e o ideário republicano que então se formava e se consolidava. Referências: BERNARD Claudie, Penser la famille au XIXe siècle (1789-1870), St. Étienne: Publications de l'Université de St-Étienne, 2007. DÉRUELLE A. e ROULIN Jean-Marie, Les romans de la révolution (1790-1912), Paris: Armand Colin, 2014. SAND George, Mauprat, Paris: Gallimard, 1981. _______ La mare ao diable, Paris: Librio, 2001. UMA COMPOSIÇÃO INDECOROSA: A RECUSA DO ROMANCE EM DO AMOR DE STENDHAL Clarissa Mattos Farias Resumo: No final de 1819, Stendhal, pseudônimo do francês Henri Beyle, após viver uma fracassada experiência amorosa na Itália, começa a escrever um dos seus primeiros textos realmente autorais, Do amor, publicado apenas em 1822. Depois de o autor em sofrimento tentar esboçar um romance (roman) e desistir em menos de algumas horas, ele passa a produzir um texto ao qual atribui diversas denominações (tratado, ensaio, discurso etc.), assumidas sempre parcialmente. Em vez de dizer o que o escrito é, ele declara abertamente o que ele não é: "Chamei a este ensaio um livro de ideologia. Meu objetivo foi indicar que, embora se chamasse o Amor, não era um romance, e sobretudo não tão divertido como um romance" (STENDHAL, 1980). Em outras menções ao gênero romanesco ao longo do texto, fica evidente que é ao legado do romance (roman) em sua versão classicista que ele se coloca contra, como representação e como discurso instrutivo sobre o sentimento do amor (GÉNETIOT, 2005). Ele se opõe, com efeito, ao objetivo do que ele entende continuar sendo a tarefa do romance no início do século XIX (BRIX, 2001): sua iniciativa de educar e moralizar a vivência do amor (JEFFERSON, 1999), por meio da domesticação das paixões do leitor ao incutir nele o medo do ridículo. A comunicação se propõe, portanto, primeiramente, a expor as alternativas que o autor começa a elaborar em seu livro sem gênero para cumprir com o propósito contrário à iniciativa seiscentista, isto é, o de incitar paixões verdadeiras (PION, 2010) e estimular a imaginação criadora (LIMA, 1989) ao representar o amor, provocando o sentimento de uma distensão anímica; em segundo lugar, tentará se mostrar a precariedade de suas formulações iniciais que falham sobretudo em sua capacidade persuasiva, isto é, no que ele acredita ser a potência do gênero romanesco. Referências: BRIX, M.. Eros et Littérature: le discours amoreux en France au XIXe siècle. Paris: Ed. Peeters [Collection : La République des Lettres], 2001 GÉNETIOT, Alain. Le classicisme. Paris: Quadrige/PUF, 2005. JEFFERSON, Ann. “L’ Amour et le texte réfractaire” In Persuasions d’amour : nouvelles lectures de De l’amour de Stendhal. Librairie Droz S.A. Géneve, 1999. LIMA, Luiz Costa. O controle do imaginário: Razão e Imaginação nos tempos modernos. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1989. PION, Alexandra. Stendhal et l'érotisme romantique. Rennes: Presses universitaires de Rennes, 2010. RICKEN, Ulrich. Linguistics, anthropology, and philosophy in the French enlightenment. Oxford: Routledge, 1994. STENDHAL. De l'amour. Paris: Gallimard [Collection: Folio Classique], 1980. DEFUNTO AUTOR E CLERKS DEFUNCT: CHARLES LAMB NAS MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS Daniel Lago Monteiro Resumo: Diante de uma obra como Memórias Póstumas de Brás Cubas, sobre a qual foram estabelecidas e especificadas suas relações com a literatura local e universal e foram devidamente mapeadas as fontes que concorreram para a configuração de sua prosa, haveria algo de novo a acrescentar a esse panorama? Seria possível a descoberta de uma fonte oculta? Sobre as Memórias Póstumas, diz Paul Dixon, “valem as perguntas mais do que as respostas” (150). Portanto, a melhor maneira de expor a hipótese deste artigo não é outra senão na forma de perguntas: teria uma das inovações mais ousadas e radicais das Memórias Póstumas, a do defunto autor, único autobiógrafo capaz de abarcar sua vida como um todo, ocorrido a Machado pela leitura de outro autobiógrafo? Refiro-me a Charles Lamb (1775-1834), que no início de Essays of Elia se declarou um “clerk defunct” (8) e que em outros dois momentos de sua obra ensaiou a própria morte. De saída, vale lembrar que Machado não só conhecia Lamb como ele o cita na nota “Ao leitor” da primeira edição das Memórias Póstumas: “adotei a forma livre de um Sterne, de um Lamb, ou de um Maistre” (1881: v). Nas edições seguintes, o nome de Lamb foi suprimido. Teria Machado excluído Lamb com o intuito de despistar o leitor dessa fonte secreta? Assim, neste artigo, perseguirei a hipótese de o clerk defunct, de Lamb, ter inspirado Machado na construção do defunto autor e, junto a ela, se não apresentarei uma resposta cabal do porquê de Machado ter apagado o legado de Lamb, excluindo seu nome do prólogo “definitivo” das Memórias Póstumas, espero lançar luz sobre o tema e aprofundar as relações entre esses dois autores. Referências: ASSIS, José Maria Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1881. ______. Obra Completa em Quatro Volumes. Org. Aluizio Leite [et al]. São Paulo: Editora Nova Aguillar, 2015. _____. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Prefácio de Hélio de Seixas Guimarães. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. Abreu, Capistrano. “Sobre as Memórias Póstumas de Brás Cubas”. Machado de Assis. Obra Completa em Quatro Volumes. Vol. 1. São Paulo: Editora Nova Aguillar, 2015: 18-20. Baptista, Abel Barros, A Formação do Nome: Duas Interrogações sobre Machado de Assis. 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A metodologia aplicada nesta pesquisa foi de caráter documental e bibliográfico, e para isso examinou-se fontes primárias como o texto de José da Gama e Castro no Jornal do Comercio (1842); Locubrações (sciencias e lettras) de Antônio Henriques Leal (1874); Luciano Cordeiro em Livro de Crítica – Arte e Literatura Portugueza D’Hoje (1868 – 1869), entre outras fontes e periódicos. Quanto ao caráter bibliográfico foram utilizados estudos que conceituem o gênero romance, dentre eles as obras de autores como György Lukács, em seus trabalhos A Teoria do Romance (2009) e O Romance Histórico (2011), para embasar teoricamente e analisar A Virgem Guaraciaba. Verificaremos, também, os estudos da pesquisadora Marilene Weinhardt, que traça conceitos sobre o gênero em Considerações Sobre o Romance Histórico (1994), bem como examinaremos os estudos de Ian Watt em Ascensão do Romance (2010), Luísa Antunes Paolinelli (2004), em O Romance Histórico e José de Alencar, Afrânio Coutinho em Conceito de Literatura Brasileira (2014), Flora Süssekind em seu excelente estudo O Brasil Não é Longe Daqui (1990) entre outros que nos auxiliaram em demonstrar os interesses e diálogos que a crítica de Portugal protagonizou em torno do romance, evidenciando que a crítica lusitana estava pautada na necessidade de uma autonomia literária por meio da cor local. Referências: ALENCAR, José de. Iracema: Lenda do Ceará. 3ª ed. Cotia, São Paulo: Ateliê Editorial, 2006. BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. 53ª ed. São Paulo: Editora Cultrix, 2021. CASTRO, José da Gama e. Correspondência: Satisfação a Hum Escrupuloso. In.: Jor-nal do Commercio. Rio de Janeiro. 29 de janeiro de 1842. Disponível em: < http://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=364568_03&pagfis=2853 > acesso em: 24 de dezembro de 2021. CHAGAS, M. Pinheiro. Bibliografia Brasileira. In: O Brasil. 3º ano, número 69. Lisboa, edição de 25 de março de 1873. CHAGAS, M. Pinheiro. Letras e Artes. In: Anuário do Arquivo Pitoresco. Lisboa: Tipografia de Castro e Irmão, janeiro de 1866, n. 25, p. 196-198. CHAGAS, M. Pinheiro. Novos ensaios críticos. Porto: Viúva Moré – Editora, 1867. CHAGAS, M. Pinheiro. A Virgem Guaraciaba. Edições Digitais, 2012. E-book Kindle. CHAVES, Castelo Branco. O Romance Histórico No Romantismo Português. Vol. 45. Instituto de Cultura Portuguesa, Ministério da Cultura e da Ciência, Secretaria de Estado da Cultura, 1979. CORDEIRO, Luciano. Livro de Crítica – Arte e Literatura Portugueza D’Hoje. Por-to: Typographia Lusitana, 1868-1869. COUTINHO, Afrânio. Conceito de Literatura Brasileira. 4ª ed. Petrópolis, Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2014. GANDRA, Jane Adriane. O Ajuste de Contas na Ficção: Pinheiro Chagas Retratado por Eça De Queirós. Via Litterae (ISSN 2176-6800): Revista de Linguística e Teoria Literária. Goiás - Universidade Estadual de Goiás, 2017, v. 8, n. 2, p. 373-380. GANDRA, Jane Adriane. Pinheiro Chagas, A Versatilidade do Cronista na Revista da Semana. Revista Araticum. Goiás Universidade Estadual de Goiás, 2015, v. 11, n. 1. GANDRA, Jane Adriane. Pinheiro Chagas, Um Escritor Olvidado. Tese de Doutora-do. São Paulo – Universidade de São Paulo, 2012. GANDRA, Jane Adriane. A (de) formação da imagem: Pinheiro Chagas refletido pelo monóculo de Eça de Queirós. Dissertação de Mestrado. São Paulo - Universidade de São Paulo, 2007. LEAL, Antônio Henriques. A Literatura Brasileira Contemporânea. In: LEAL, A. H. Locubrações. Lisboa: Livraria Popular de Magalhães & Cia, 1874. p.214-215. LUKÁCS, Georg. Teoria do romance. Tradução: José Marcos Mariani de Macedo. 2ª ed. São Paulo: Editora 34, 2009. LUKÁCS, György. O romance histórico. Tradução: Rubens Enderle. São Paulo: Boi-tempo Editorial, 2011. MARCONI, Marina de A.; LAKATOS, Eva M. Fundamentos de Metodologia Cientí-fica. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2003. MOREIRA, Marcello. A Nacionalização das Letras da América Portuguesa Durante o Romantismo. In: BRAGANÇA, Aníbal; ABREU, Márcia (org). Impresso no Brasil: Dois Séculos de Livros Brasileiros. Editora Unesp, 2010, p. 519-533. RIBEIRO, Maria A. O Saí e a Serpente: Diálogos entre José de Alencar e Pinheiro Chagas. In: Rev. de Letras. Coimbra – Vol. 1/ Nº 29 (2), p. 75-82 – jan./jun. – 2009. SÜSSEKIND, Flora. O Brasil Não É Longe Daqui: O Narrador, A Viagem. São Paulo, Cia. das Letras, 1990. WATT, Ian. A Ascenção Do Romance: Estudos Sobre Defoe, Richardson e Fielding. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. WEINHART, Marilene. Considerações sobre O Romance Histórico. Revista de Le-tras, Curitiba, n.43, 1994. TRÊS NARRADORES EM PRIMEIRA PESSOA: BRÁS CUBAS, BENTINHO E O CONSELHEIRO AIRES Harion Márcio Costa Custódio Resumo: A partir da publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), o romance machadiano adquire uma nova dimensão e complexidade. Influenciado pelo humorismo britânico do século XIX, agora a poética de Machado de Assis adquire tom sarcástico e cético, ao mesmo tempo em que inova na construção formal de seu texto, adotando forma fragmentária e volúvel. Contudo, a principal mudança se dá na voz narrativa que passa a ser exercida em primeira pessoa. A narração, portanto, a partir dessa fase da obra machadiana, se torna um fator para além da organização formal do texto e passa a ser também elemento de entendimento da sua obra. O mesmo fenômeno é perceptível também em Dom Casmurro (1899) e Memorial de Aires (1908). Os três livros possuem significativas diferenças no tom do discurso em primeira pessoa e na construção formal, mas apontam, de formas distintas, para a importância de um modo de narrar e de uma construção retórica que estabelece jogos entre a dissimulação e a revelação. Desse modo, a presente proposta de comunicação tem como objetivo realizar um estudo comparativo entre os três narradores em primeira pessoa da obra romanesca de Machado de Assis, buscando evidenciar semelhanças e dessemelhanças, estabelecendo como ponto em comum de comparação o jogo retórico de construção do discurso. Buscaremos evidenciar a construção do jogo retórico por parte dos três narradores como um meio de se analisar problemas históricos e políticos da época de Machado de Assis, relativos ao que Luiz Costa Lima (1981) considera como cultura auditiva. Referências: ASSIS, Machado de. Obra completa em quatro volumes. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2008. Volume 1. BOSI, Alfredo. Machado de Assis: o enigma do olhar. São Paulo: Ática, 1999. CANDIDO, Antonio. Vários escritos. Rio de Janeiro: Ouro sobre azul, 2004. CANDIDO, Antonio. Literatura e sociedade: estudos de teoria e história literária. 5. ed. revista. São Paulo: Editora Nacional, 1976. CHALHOUB, Sidney. Machado de Assis, historiador. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. DUARTE, Eduardo de Assis. Machado de Assis afro-descendente: escritos de caramujo (antologia). 2. ed. rev. ampl. Rio de Janeiro: Pallas; Belo Horizonte: Crisálida, 2007. GOMES, Heloisa Toller. As marcas da escravidão: o negro e o discurso oitocentista no Brasil e nos Estados Unidos. 2, ed. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2009. GLEDSON, John. Machado de Assis: ficção e história. São Paulo: Paz e Terra, 2003. LIMA, Luiz Costa. Dispersa demanda: ensaios sobre literatura e teoria. Rio de Janeiro: F. Alves, 1981. MAGALHÃES JÚNIOR, Raimundo. Machado de Assis desconhecido. São Paulo: Livros Irradiantes, 1971. SCHWARZ, Roberto. Um mestre na periferia do capitalismo: Machado de Assis. 4. ed. São Paulo: Duas Cidades, 2000. O GÓTICO E A RETÓRICA DA MODÉSTIA EM JOURNAL OF A RESIDENCE IN CHILE DE MARIA GRAHAM Júlia Braga Neves Resumo: Esta apresentação tem como objetivo discutir os elementos romanescos em Journal of a Residence in Chile (1824) de Maria Graham, no que diz respeito à retórica da modéstia e à ambientação e à caracterização do romance gótico. Trata-se de seu diário de viagem sobre o Chile, onde viveu entre 1822 e 1823. Essa temporada no Chile deu-se logo após a sua estada no Brasil entre 1821 e 1822. Foi ao longo do trajeto entre os dois países que o marido de Graham, o capitão da Marinha Thomas Graham, faleceu a bordo da fragata Doris, deixando a viajante sob os cuidados do mercenário lorde Thomas Cochrane. Em Journal of a Residence in Chile, Jennifer Hayward (2003, p. XV) afirma que Graham se apresenta como “heroína saída diretamente de um romance gótico”, que necessita da proteção masculina para a sua sobrevivência. Esta apresentação pretende discutir como a retórica da modéstia, tão comumente usada por romancistas ingleses no século XVIII – principalmente as mulheres – é articulada com as temáticas e a caracterização do romance gótico. Quais são os efeitos estéticos da combinação da premissa fantástica do gótico e da retórica da modéstia com o gênero de literatura de viagem, que é em grande parte calcado nos princípios de autenticidade e credibilidade? Como essa fusão de gêneros constrói Graham como personagem? Em minha fala, essas questões serão discutidas a partir da fortuna crítica de Graham, do debate sobre a formação do romance inglês de Sandra G. T. Vasconcelos (2007) e dos estudos sobre literatura de viagem de Carl Thompson (2011) e de Innes Keighren, Charles Withers e Bill Bell (2015). Referências: GRAHAM, Maria. HAYWARD, Jennifer (ed.). Journal of a Residence in Chile during the year 1822, and a voyage from Chile to Brazil in 1823. Chartosville and London: University of Virginia Press, 2003. HAYWARD, Jennifer. "Introduction". In: GRAHAM, Maria. HAYWARD, Jennifer (ed.). Journal of a Residence in Chile during the year 1822, and a voyage from Chile to Brazil in 1823. Chartosville and London: University of Virginia Press, 2003, pp. vii-xxiv. KEIGHREN, Innes; WITHERS, Charles W.J. e BELL, Bill (org.). Travels into Print: Exploration, Writing, and Publishing with John Murray, 1773-1859. Chicago and London: University of Chicago Press, 2015. THOMPSON, Carl. Travel Writing. New York, London: Routledge, 2011. VASCONCELOS, Sandra G. T. A formação do romance inglês. São Paulo: Editora Hucitec, 2007. MÉTODO E ARTE: A PARTE DE ROMANCE EM A FEITICEIRA, DE JULES MICHELET Maria Juliana Gambogi Teixeira Resumo: Em 1862, Jules Michelet publica La Sorcière, “livro de predileção de todos os que amam” o historiador, segundo Roland Barthes. O livro se pretende uma história da feitiçaria “moderna”, cobrindo um feixe temporal que vai da Idade Média ao último processo admitido em um tribunal da França, na primeira metade do século XVIII. Esse recorte geral, por seu turno, é subdivido no título em duas partes distintas, tanto do ponto de vista cronológico quanto estilístico. A primeira parte dá conta da origem da feitiçaria de medieval, adota estilisticamente um tom lendário e narra o surgimento da feitiçaria a partir da “vida de uma mesma mulher ao longo de trezentos anos”. A segunda parte se concentra nos principais processos franceses de feitiçaria da Idade moderna, abandona a dicção lendária em favor de um tom mais propriamente historiográfico e investiga demoradamente contextos e personagens específicas. A recepção crítica moderna da obra parece ecoar Barthes não apenas na preferência quanto em seu foco de leitura. No geral, compreende-se que a excelência do livro estaria na radicalidade de seus procedimentos narrativos, em particular na fusão entre o estilo lendário e o estilo analítico, o que emprestaria a este título, de forma mais radical do que no restante da obra (embora nela já perceptível) uma lógica propriamente romanesca. O objetivo desta comunicação é o de apresentar os meandros dessa recepção, exemplarmente ilustrada por Barthes, mas comum à crítica micheletista em sua disposição a reconhecê-lo como o mais literário dos historiadores franceses, autor do “grande romance” nacional. A seguir, apresentarei argumentos, internos à obra micheletiana, que recusam essa chave de leitura, ao proporem uma definição de história, de literatura e de romance particulares, as quais mantêm entre si não apenas uma relação de distinção, mas de oposição. Referências: BARTHES, Roland. “La Sorcière”. In: Oeuvres complètes, Tome I. Paris: Seuil, 199, p.1250-9. FAVRET-SAADA, Jeanne; CONTRERAS, José. Sorcières et Lumières. In: Corps pour Paris: Essais, 1981, p.333-63. MICHELET, Jules. La Sorcière. GF-Flammarion PETITIER (dir). La Sorcière de Jules Michelet – l’envers de l’histoire. Paris : Honoré Champion, 2004. TEIXEIRA, Maria Juliana Gambogi. Entre Vico et Michelet: une affaire de rythmes. PETITIER (dir). Michelet, rythme de la prose, rythme de l’histoire. Septentrion, 2010. MACHADO E ELITE LETRADA IMPERIAL: UMA LEITURA SOCIAL E ESTÉTICA DAS PERSONAGENS MASCULINAS EM HELENA E IAIÁ GARCIA Marina Leite Gonçalves Resumo: Em Formação da Literatura Brasileira (1993), Antonio Candido observa a seus leitores a conveniência de se indagar qual o tipo ou tipos ideais de homem são invocados “explícita ou implicitamente” na ficção, pois estas personagens possuem a chave de compreensão da relação da literatura com a ideologia e história do momento da produção dessas obras. O presente trabalho aceita o convite de Candido ao direcionar seu olhar para a construção das personagens masculinas e para os posicionamentos dos narradores dos romances Helena e Iaiá Garcia, de Machado de Assis, percebendo que o escritor carioca do século XIX, nestas narrativas, propõe um discurso ficcional que se apropria do masculino para dialogar com o real social e com uma leitura metaficcional, intenção dos narradores em refletir o destino do discurso ficcional em uma sociedade, cujo público leitor era amante da prosa fantasiosa e sentimental. Esta discussão se ampara no fato de que nesses romances machadianos há uma intencionalidade do autor em que um diplomado protagonize suas narrativas, motivação para uma leitura social. Há também, simultaneamente, personagens que encenam uma atuação romântica e personagens que criticam essa representação, proposta de estética literária em transformação. Nelson Werneck Sodré reconhece que um dos impulsos motivadores da fase urbana da civilização brasileira foi o surgimento de uma elite letrada que, pouco a pouco, assumia o direcionamento da nação em face do declínio da elite agrária. A gestação das personagens Estácio, em Helena e Jorge, em Iaiá Garcia, ocorreu em meio a esse processo social que “fabricava letrados” para atender às emergências imediatas da nação em vias de urbanização. Sendo assim, a fabulação destas personagens masculinas articula dois propósitos do narrador machadiano: problematizar a atuação dessa elite letrada na sociedade carioca Imperial e refletir sobre a urgência de uma renovação estética na literatura do momento. Referências: ASSIS, Machado de. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2006. CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira. Belo Horizonte: Itatiaia, 1993. SODRÉ, Nelson Werneck. Panorama do Segundo Império. Rio de Janeiro: Graphia, 1998. SMOLLETT E OS DESAFIOS DO ROMANCE ESCOCÊS Thiago Rhys Bezerra Cass Resumo: Prefácios de romances britânicos do século XVIII são quase que invariavelmente apologéticos. À primeira vista, The adventures of Roderick Random (1748), o romance inaugural do escocês Tobias Smollett, não foge à regra. No “Prefácio” , um “Eu” autoral discorre sobre as prováveis reações dos leitores e, com mais ênfase, proclama tanto a moralidade quanto a veracidade da obra. Significativamente, no entanto, na lista dos elementos escandalosos com que se defrontará o leitor, está o fato de um “norte-britânico” ser a “personagem principal desta obra”. Insinua, todavia, que a escolha do herói titular não se funda em considerações patrióticas. A origem de Roderick seria, digamos, uma solução narrativa de natureza técnica. Caso não fosse feito escocês, argumenta-se, seria muito difícil satisfazer o que se chama de “plano” do romance, a saber: representar a luta do mérito modesto contra todas as dificuldades a que se encontra exposto um órfão sem amigos, presa fácil para “o egoísmo, a inveja, a malícia e a vil indiferença da humanidade”. Para que houvesse interesse pela trajetória desse órfão, foram-lhe conferidas “as vantagens do nascimento e da educação”. Pondera-se, com inequívoca ironia, que jamais se conciliariam o “plano” e a estratégia afetiva numa personagem inglesa. Igualmente, não seria crível atribuir hábitos simples a alguém provindo das regiões afluentes do reino, próximas à capital. E, por fim, a paixão dos escoceses por viagens “justifica a […] conduta” de se “derivar um aventureiro” da Escócia. Objetivamos discutir como, em The Adventures of Roderick Random, Smollett se confronta com o desafio de narrar – ou, na terminologia do Prefácio, de outorgar um “plano” – a trajetória de personagens para as quais, em razão de suas origens, as promessas de ascensão social, inscrita em romances seminais ingleses como Robinson Crusoe ou Pamela, soavam invariavelmente irônicas. Referências: CRAIG, Cairns. The Modern Scottish Novel: Narrative and the National Imagination. Edimburgo: Edinburgh University Press, 1999. PARRINDER, Patrick. Novel and Nation: The English Novel from its Origins to the Present Day. Oxford: Oxford University Press, 2008. SHIELDS, Juliet. Sentimental literature and Anglo-Scottish identity, 1745-1820. Cambridge: Cambridge University, 2010. SMOLLETT, Tobias. The adventures of Roderick Random. Ed. James G. Basker, Paul-Gabriel Boucé; Nicole A. Seary. Athens, GA – Londres: University of Georgia, 2012. SIMPÓSIO "LER/ESCREVER O SÉCULO XXI: A NOVÍSSIMA FICÇÃO PORTUGUESA" Jorge Vicente Valentim (UFSCar), Gabriela Silva (UFLA), André Carneiro Ramos (UEMG-Passos) RECORTES PÓS-MODERNISTAS EM ÚLTIMA PARAGEM, MASSAMÁ, DE PEDRO VIEIRA Ailton Pirouzi Junior Resumo: O presente trabalho consiste em um estudo crítico e analítico do romance português Última Paragem, Massamá (2016), do escritor português Pedro Vieira. A atual comunicação pretende se servir da perspectiva da ficção pós-modernista (ARNAUT, 2002; HUTCHEON, 1991; LIMA, 1999; MCHALE, 1987). A priori, a ideia central incide na reflexão de aspectos pontuais da obra, tais como: o narrador, as experiências relatadas, as personagens, seus discursos e a trama e suas correlações com a história, e como estes podem ser lidos a partir do viés e das ressonâncias de uma poética do pós-modernismo. Pretende-se, com isso, verificar e replicar que a (des)construção, presente na narrativa, se dá em função da percepção de aspectos específicos da ficção pós-modernista no romance de Pedro Vieira. Em síntese, Última Paragem, Massamá (2016), é uma obra que gera possibilidades, sendo assim, a ideia é entender quais limites interpretativos e analíticos cabem dentro do conceito pós-moderno. Para isso, entender o modo teórico de como funciona as experiências sociais na pós-modernidade é fundamental. A posteriori, então, é aberta a possibilidade de ecoar o empirismo dentro da obra. Em suma, alguns elementos são tratados como essenciais ao falar-se do pós-moderno, como questionar, duvidar e descentralizar. Partindo dessas três ideias, majoritariamente, a intenção é compreender se (e como) Última Paragem, Massama (2016) abrange essas perspectivas. Referências: BENJAMIN, Walter. A modernidade e os modernos. Tradução de Heindrun Krieger Mendes da Silva, Arlete de Brito e Tania Jatobá. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2000. HUTCHEON, Linda. Poética do pós-modernismo. Historia – Teoria – Ficção. Tradução de Ricardo Cruz. Rio de Janeiro: Imago, 1991. Disponível em: http://www.letras.pucrio.br/unidades&nucleos/catedra/revista/4Sem_02.html LIMA, Isabel Pires de. Traços pós-modernos na ficção portuguesa actual. Semear, Rio de Janeiro, no. 4, 2000. Disponível em: http://www.letras.pucrio.br/unidades&nucleos/catedra/revista/4Sem_02.html Acesso em 05/07/2020 VIEIRA, Pedro. Última Paragem, Massamá. São Paulo: Escrituras, 2016. O MITO SEGUNDO A FICÇÃO: EM VOLTA D'A CIDADE DE ULISSES Alleid Ribeiro Machado, Elaine Cristina Prado dos Santos Resumo: Este trabalho tem por objetivo, a partir da análise de A cidade de Ulisses (2013) de Teolinda Gersão, apresentar como a ficção portuguesa contemporânea tem buscado rever a história pretérita, por meio de seus mitos fundadores. Tendo em vista que o romance é gestado no período posterior à Revolução dos Cravos, ou, mais especificamente, já no influxo da contemporaneidade, problematiza a reconfiguração do mito de Ulisses levada a efeito no romance supracitado, como uma oportunidade de trazer à baila as mazelas provocadas pela colonização e seus desdobramentos, bem como de promover um acerto de contas (REAL, 2012). Dessa forma, com intuito de seguir os rastros do mito de Ulisses e verificar a sua reconfiguração face ao que foi descrito, num primeiro momento, empreende um percurso teórico em torno da própria definição de mito, conforme Eliade (2000) e Pimentel (2008). Num segundo momento, como na narrativa de Teolinda Gersão, o mito reconfigura-se no espaço da cidade por onde memórias pessoais e coletivas entremeiam-se, são trazidos para o campo de discussão questões relacionadas ao espaço geográfico e simbólico, assim, como também, à memória, identidade e poder, segundo autores como Candau (2021), Lefebvre (2006) e Foucault (1998). Por meio do estudo a ser levado a cabo, deve-se evidenciar como em A cidade de Ulisses, a autora, atrelada ao ensejo da literatura portuguesa recente de retificar a história de Portugal, retoma um mito fundador para justamente desconstruí-lo, fragmentando todo um ideário outrora vigente em torno de um nacionalismo próspero e glorioso. Por fim, vale ressaltar, que este trabalho alinhase ao objetivo proposto pelo Simpósio Temático "Ler/escrever o século XXI: a novíssima ficção portuguesa", ao entrever a produção literária pós-Revolução dos Cravos, como um repositório das transformações dos sujeitos face a sua relação com o social, o político e o cultural. Referências: BRIDI, Marlise Vaz. Romance: forma e dissolução na década de 80. In: BUENO, Aparecida de Fátima et al. Literatura Portuguesa: história, memória e perspectivas. São Paulo: Alameda, 2007. p. 75-83. CANDAU, Joël. Memória e identidade. São Paulo: Contexto, 2021. ELIADE, Mircea. Mito e realidade. 6 ed. São Paulo: Perspectiva, 2000. FEBVRE, Lucien. O problema da incredulidade do século XVI: a religião de Rabelais. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. FOUCAULT, Michael. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1998. GARMES, Hélder; SIQUEIRA, José Carlos. Cultura e Memória na Literatura Portuguesa. Curitiba : IESDE Brasil S.A., 2009. GERSÃO, Teolinda. A cidade de Ulisses. Rio de Janeiro: Oficina Raquel, 2017. LEFEBVRE, Henri. A produção do espaço. Trad. Doralice Barros Pereira e Sérgio Martins (do original: La production de l'espace. 4e éd. Paris: Éditions, 2006. PIMENTEL, Manuel Cândido. O mito de Portugal nas suas raízes culturais. In MATOS, Artur Teodoro de; LAGES, Mário Ferreira (coord). Portugal: percursos de interculturalidade. Lisboa: Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural, 2008. ISBN 978-989-8000-58-3. vol. 3, p. 7-52 REAL, Miguel. O romance português contemporâneo: 1950-2010. Alfragide: Editorial Caminho, 2012. A LITERATURA É ESSE MARTELO QUE ESMAGA: REGISTROS DE VIDA E BARBÁRIE EM PÃO DE AÇÚCAR, DE AFONSO REIS CABRAL André Carneiro Ramos Resumo: Nossa comunicação tratará de algumas das aproximações entre realidade e ficção, emuladas por Afonso Reis Cabral em seu romance Pão de açúcar (2018), com vistas a refletir sobre os inadmissíveis atos de barbarismo que se manifestam, por vezes, como expedientes inacreditáveis de agregação das comunidades humanas, especificamente no que tange a alguns de seus inescrupulosos consensos de teor moral. Para tanto, utilizaremos o conceito de “bode expiatório”, de René Girard (1982), no sentido de se compreender melhor a intricada relação estabelecida entre senso de justiça e atos de repressão; avaliaremos, também, a aplicabilidade do uso dessa violência pelo próprio Estado, que segundo Friedrich Nietzsche (1887) resultaria numa “má consciência”, externalizada através de um contrato estabelecido entre credor (sociedade) e devedor (vítima). Dialogando com essas proposições, concluiremos que a literatura de Afonso Reis Cabral, em suas esmagadoras e profícuas relativizações, não representaria meras figurações apenas, pois a humanização de seus protagonistas – em especial a de Gisberta Salce Júnior – aproximar-nos-ia por demasiado de um terrível episódio da recente história criminal portuguesa que nunca poderá ser esquecido, uma vez que se trata de uma franca denúncia contra a perpetuação de infames generalizações em relação à transexualidade, com os seus morrediços preconceitos. Referências: BENJAMIN, Walter. Documentos de cultura, documentos de barbárie: escritos escolhidos. Seleção e apresentação de Willi Bolle, tradução de Celeste H. M. Ribeiro de Souza et al. São Paulo: Cultrix/Editora da Universidade de São Paulo, 1986. CABRAL, Afonso Reis. Pão de açúcar. Rio de Janeiro: Harper Collins, 2021. GIRARD, René. A violência e o sagrado. São Paulo: Paz e Terra, 1990. ________________. O bode expiatório (Estudos antropológicos). Rio de Janeiro: Ed. Paulus, 2018. LIMA, Isabel Pires de. Traços pós-modernos na ficção portuguesa actual. Semear. Revista da Cátedra Padre António Vieira de Estudos Portugueses. Rio de Janeiro: NAU, n. 4, p. 2-38, 2000. NIETZSCHE, Friedrich. Genealogia da moral. Trad. Paulo César de Sousa. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. COMEÇAR PELO PRESENTE - AS CRÓNICAS DE MIGUEL ESTEVES CARDOSO André Sebastião Damasceno Corrêa De Sá Resumo: Desde o começo dos anos 1980, Miguel Esteves Cardoso tem-se evidenciado como um dos autores mais prolíficos e exuberantes das letras portuguesas. Cronista, ensaísta e romancista, Assinalando a morte de O Independente, Vasco Pulido Valente, sem evitar o tom nostálgico, recorda que Miguel Esteves Cardoso liderou uma “incursão romântica” no espaço público nacional. Empenhado em libertar os portugueses da apatia e da falta de confiança endémicas na vida social e política, o autor de A Causa das Coisas subvertia todos os valores e princípios do burgo: “falar de O Independente sem falar na liberdade que Miguel Esteves Cardoso trouxe ao jornalismo português não faz sentido. O 3.º Caderno raspou a solenidade e a pompa de uma geração que, da esquerda ou da direita, herdara as tradições do ‘respeitinho’ indígena.” Fermentando ironia e humor, livros como A Causa das Coisas (1986), As Minhas Aventuras na República Portuguesa (1990) ou A Minha Andorinha (2006) apresentam-se como os expositores de um museu onde, através da técnica, da arte e do riso, procura deduzir várias caraterísticas da sociedade portuguesa, procedendo à descrição e ao exame crítico das suas tonalidades dominantes. Esta comunicação pretende justamente oferecer um retrato panorâmico da obra cronística de Miguel Esteves Cardoso, evidenciando como o seu projeto literário tem contribuído para transformar aquilo que pensamos sobre Portugal e os portugueses. Referências: Cardoso, Miguel Esteves. Explicações de Português. Assírio & Alvim: Lisboa, 2001. Cardoso, Miguel Esteves. A Minha Andorinha, Assírio & Alvim: Lisboa, 2006. Cardoso, Miguel Esteves. As Minhas Aventuras na República Portuguesa (revistas). Porto Editora: Lisboa, 2014. NO LIVRO DE CONTABILIDADE, OS VERSOS QUE CONTAM A VIDA: UMA LEITURA DE PRINCÍPIO DE KARENINA, DE AFONSO CRUZ Bianca Rosina Mattia Resumo: Publicado no ano de 2020 em Portugal, o romance Princípio de Karenina, de Afonso Cruz, não se distancia das características que lhe atribuiu Miguel Real (2012) em estudo sobre o romance português da primeira década deste século: intelectual e filosófico. Da carta de um pai a uma filha que não conheceu, percorre-se a história de uma vida, que se encontra a outras, e das quais emergem temas como a submissão das mulheres, as imposições heteronormativas, as guerras, os refugiados. Um panorama que não se afasta daquela a que Real (2012) considerou a “superior característica da nova narrativa portuguesa” no início do século XXI: o cosmopolitismo, não circunscrito apenas no seu aspecto externo, a internacionalização do romance português, mas também nos seus conteúdos internos, a atingir um público maior, diverso, mundial. Sem deixar de ter como pano de fundo a história de Portugal, o romance de Afonso Cruz, contudo, abre-se à geografia do mundo pelos passos que buscam amor, aceitação, liberdade. A busca pela felicidade e pela compreensão de como viver uma vida feliz marca sobremaneira a narrativa. E é nesse sentido que se propõe uma leitura do romance, a situá-lo no cenário contemporâneo da ficção portuguesa e a pensar a construção dos afetos em tempos de neoliberalismo, onde a felicidade pode ser apenas um produto registrado num livro de contabilidade. Referências: BARRENTO, João. A chama e as cinzas: um quarto de século de literatura portuguesa (1974-2000). Lisboa: Bertrand, 2016. BUESCU, Helena Carvalhão. Experiência incomum e boa vizinhança: literatura comparada e literatura-mundo. Porto: Porto Editora, 2013. CABANAS, Edgar; ILLOUZ, Eva. Happycracia: fabricando cidadãos felizes. Trad. Humberto do Amaral. São Paulo: Ubu Editora, 2022. CRUZ, Afonso. Princípio de Karenina. São Paulo: Companhia das Letras, 2021. ILLOUZ, Eva. O amor nos tempos do capitalismo. Trad. Vera Ribeiro. São Paulo: Zahar, 2011. REAL, Miguel. O romance português contemporâneo 1950-2010. Alfragide: Editorial Caminho, 2012. ESQUECE: ESCREVER "MEMÓRIAS EM DISPUTA POR UM ESPAÇO NA HISTÓRIA DA NAÇÃO" Carlos Roberto dos Santos Menezes Resumo: "Esquece: escrever o colonialismo em Angola", título atribuído ao recente romance da autora portuguesa contemporânea Margarida Paredes, publicado pela Edições Colibri (2021), consiste numa narrativa centrada na narradora-personagem Uíja, “negrinha de criação” (crianças negras que cuidavam dos filhos dos homens brancos), de uma família de portugueses em Luanda. O texto ficcional transita entre a narração da vida da personagem ao revisitar suas memórias de infância entre a dor, o abandono, o ressentimento, a angústia, o ódio e o amor em consonância com a geografia, com o povo, com à nação africana que atravessam este corpo feminino e despindo as cicatrizes provenientes da barbárie. Sendo assim, a presente comunicação pretende investigar as artimanhas narrativas utilizadas pela narradora-personagem na tentativa de verbalizar a sua memória traumática de um “passado, esse excesso de memórias”, não só de um corpo sobrevivente, mas, também, de uma África violada, explorada, colonizada, pelas mãos dos colonizadores portugueses. Neste sentido, sujeito e nação se confundem num mesmo corpo que não esquece, mantendo viva a lembrança dolorosa do passado para que os “outros não contem [as suas] histórias”, de modo a transformar o espaço ficcional num exercício “contra o esquecimento, contra o silêncio” na tentativa de libertar a história da colonização. Referências: DIDI-HUBERMAN, Georges. A imagem sobrevivente - História da Arte e tempo dos fantasmas segundo Aby Warburg. Rio de Janeiro: Contraponto, 2013. GAGNEBIN, Jeanne Marie. Lembrar escrever esquecer. São Paulo: Editora 34, 2009. PAREDES, Margarida. Esquece: escrever o colonialismo em Angola. Lisboa: Edições Colibri, 2021. ANGOLA NA LITERATURA PORTUGUESA CONTEMPORÂNEA: ESSA DAMA BATE BUÉ! Cinthia da Silva Belonia Resumo: O romance Essa dama bate bué! (2021), da escritora Yara Nakahanda Monteiro, apresenta a personagem Vitória Queiroz da Fonseca, uma mulher negra, nascida em Angola, mas crescida e criada em Portugal pelos avós. A mulher que cresce para ser exemplar, desiste de um casamento para retornar ao país de origem em busca da mãe e da própria identidade. Pensando a partir da produção literária pós-25 de Abril acerca do deslocamento dos retornados das excolônias portuguesas em África, pretende-se analisar o deslocamento da personagem Vitória enquanto mulher negra, de Portugal para Angola. O retorno que Vitória fará difere bastante do tão comum e já tão narrado, na literatura portuguesa contemporânea, acerca dos “retornados”. Se antes as ex-colônias eram retratas a partir da memória da voz narrativa, no romance de Nakahanda Monteiro Angola se mostra no presente. Não apenas na voz narrativa, mas também no momento atual do país Assim, o leitor (re)conhece um país repleto de sequelas de uma colonização tardia e de mais de duas décadas de guerra civil. Alguns autores convocados para a leitura do deslocamento da personagem Vitória serão, dentre outros, Julia Kristeva, Vilém Flusser, Grada Kilomba, Elsa Peralta, além de Stuart Hall, para pensarmos a identidade no contexto pós-moderno. Referências: FLUSSER, Vilém. “Habitar a casa na apatridade”. In: Bodenlos: uma autobiografia filosófica. Revisão técnica: Gustavo Bernardo. São Paulo: Annablume, 2007. pp: 221-236. HALL, Stuart. Da diáspora: identidades e mediações culturais. Belo Horizonte: EdUFMG; Brasília: Representação da UNESCO, 2003. ______. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução Tomaz Tadeu da Silva, Guaracira Lopes Louro – 11. ed., 1. reimp. – Rio de Janeiro: DP&A, 2011. KILOMBA, Grada. Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano. Tradução Jess Oliveira. 1. ed. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019. KRISTEVA, Julia. Estrangeiros para nós mesmos. Tradução Maria Carlota Carvalho Gomes. Rio de Janeiro: Rocco, 1994. MONTEIRO, Yara Nakahanda. Essa dama bate bué!. 1. ed. São Paulo: Todavia, 2021. PERALTA, Elsa. “A integração dos ‘retornados’ na sociedade portuguesa: identidade, desidentificação e ocultação”. In: Análise Social, LIV (2ª), 2019 (nº 321), pp. 310-337. PORTO, Maria Bernadette Velloso. “Habitar, habitabilidade”. In: COSER, Stelamaris (Org.). Viagens, deslocamentos, espaços: conceitos críticos. Vitória: EDUFES, 2016. REIS, Carlos. “A ficção portuguesa entre a Revolução e o fim de século”. Scripta, v. 8, nº 15, 2004, Belo Horizonte. LITERATURA COMPARADA COMO TEMA LITERÁRIO EM LIVRO, DE JOSÉ LUIS PEIXOTO Daniel Moutinho Souza Resumo: Nós, professores e pesquisadores, nos debruçamos e escrevemos cotidianamente sobre os textos literários, de diversas origens e sob diferentes perspectivas. Por outro lado, o que acontece quando os escritores “falam” sobre nós, sobre a nossa disciplina? Esta comunicação propõe uma interpretação do romance Livro, de José Luis Peixoto (2010) a partir de tais questionamentos. O romance é dividido em duas partes. Na primeira, narrada em 3ª pessoa, o protagonista é Ilídio, rapaz de uma pequena cidade em Portugal que emigra para a França em busca de sua amada Adelaide. A segunda parte é narrada por Livro, filho de Adelaide, nascido em 27 de abril de 1974 – dois dias após a Revolução dos Cravos – e estudante de L.C.G. (Littérature comparée et generale) em Paris. Deste modo, a transição democrática portuguesa e o próprio “livro” funcionam como portal entre dois mundos: ditadura e democracia; o provinciano e o cosmopolita; o nacional e o internacional. Desse modo, somos levados a questionar: qual é a imagem da literatura comparada quando tema do texto literário, especificamente na composição ficcional de José Luis Peixoto? Por que teria ele escolhido essa ocupação para seu personagem, no contexto deste romance, ou seja, que sentido tem a “literatura comparada” como signo no romance intitulado “Livro”? Tais são as perguntas que nortearão esta reflexão. Referências: BERNARDO, Gustavo. O livro da metaficção. São Paulo: Tinta Negra, 2010. CARVALHAL, Tania Franco. O próprio e o alheio: ensaios de literatura comparada. São Leopoldo: Ed. UNISINOS, 2003. CARVALHAL, T.F. & COUTINHO, E.C (orgs.). Literatura Comparada: Textos Fundadores. Rio de Janeiro: Rocco, 1994. GUILLÉN, Claudio. Entre lo uno y lo diverso. Introducción a la literatura comparada. Barcelona: Editorial Crítica, 1985. PAGEAUX, DanielHenri. Musas na encruzilhada: ensaios de literatura comparada. Organização de Marcelo Marinho, Denise Almeida Silva e Rosani Ketzer Umbach. São Paulo: Hucitec; Santa Maria: UFSM; Frederico Westphalen: URI, 2011. PEIXOTO, José Luis. Livro. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. PEIXOTO, José Luis. Autobiografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. MIGRAÇÕES PÓS-COLONIAIS EM LISBOA: APROXIMAÇÕES E DISTANCIAMENTOS EM O RETORNO, DE DULCE MARIA CARDOSO, E LUANDA LISBOA PARAÍSO, DE DJAIMILIA PEREIRA DE ALMEIDA Flávio Silva Corrêa de Mello Resumo: Os romances O retorno (2012), de Dulce Maria Cardoso, e Luanda Lisboa Paraíso (2018), de Djaimilia Pereira de Almeida, apresentam em seus enredos o deslocamento de personagens que após a derrocada do regime salazarista, por diversas razões, deixam a cidade de Luanda e chegam a Lisboa entre meados das décadas de 70 e de 80. É na capital portuguesa, compartilhando hotéis precários e uma condição de vida excludente, que é possível assinalar a condição de personagens “fora-do-lugar” e “desenraizadas” presente na narrativa, em um Portugal que tenta se reinventar enquanto uma nação democrática e inclusiva. No entanto, se tais evidências aproximam as obras a um corpus que trata de uma “geografia do exílio” e de “migrações pós-coloniais”, que sucedem o fim dos antigos impérios coloniais, há, por outro lado, marcas peculiares que as distinguem, citam-se, principalmente, as distinções entre os colonos retornados e os angolanos assimilados. A comunicação que apresentamos no XVIII Encontro da Abralic – Mundos Compartilhados, parte do pressuposto de que os estudos comparatistas ampliam as relações intrínsecas do texto (Coutinho: 2017), e que, em se tratando de ficção portuguesa contemporânea, a exemplo do que assinala Gabriela Silva (2016), tais obras reivindicam seu espaço em um novo Portugal após a ditadura salazarista. Assim, nosso objetivo consiste em considerar que as obras não se relacionam, necessariamente, somente com a ideia substantivada de identidade ou de um retorno à “casa portuguesa”, mas com a dinâmica de como habitar simbolicamente a cidade de Lisboa a partir de experiências particulares expressas nos romances, que se conectam afetivamente com o passado do regime salazarista . A fim de substanciar e dar relevo à nossa apresentação, nos apoiaremos em estudos de Donatella di Cesare e Elsa Peralta que abordam o tema da migração, entre outros. Referências: ALMEIDA, Djaimilia P. de. Luanda, Lisboa, Paraíso. São Paulo: Cia das Letras, 2019. CARDOSO, Dulce M. O retorno. 2ª edição. São Paulo: Tinta da China – Brasil, 2013. CESARI, Donatella di. Estrangeiros residentes: uma filosofia da migração. Tradução de Cézar Tripadelli. Belo Horizonte: Ayiné, 2020. FANON, Frantz. Peau noire, masques blancs. Paris: Éditions du Seuil, 1971. FRANCO, ROBERTA G. “A “inseparabilidade” dos trânsitos na obra de Djaimilia Pereira de Almeida”. Em: Revista Abril – Revista do NEPA/UFF, V. 13, nº 27, p. 109-124, Jul – Dez – 2021. MACEDO, Tania. “O “ROMANCE PORTUGUES DE RETORNADOS” – A viagem de retorno ao império colonial português. Em: Revista Mulemba V. 12, nº 22, Rio de Janeiro: UFRJ, jan-jun 2020, p. 115 – 126. PERALTA. Elsa. A integração dos “retornados” na sociedade portuguesa: identidade, desidentificação e ocultação. Análise Social, liv (2.º), 2019 (n.º 231), pp. 310-337 https://doi.org/10.31447/as00032573.2019231.04 issn online 2182-299. SILVEIRA, Jorge. F. Casas da Escrita. Em: SILVEIRA, Jorge. F (org). Escrever a Casa Portuguesa. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1999. SILVA, Gabriela. A Novíssima Literatura Portuguesa: Novas Identidades De Escrita. Revista Desassossego, [S. l.], v. 8, n. 16, p. 6-21, 2017. DOI: 10.11606/issn.2175-3180.v8i16p6-21. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/desassossego/article/view/122430. Acesso em: 20 jul. 2021. LABIRINTOS DA NOVÍSSIMA FICÇÃO PORTUGUESA Gabriela Silva Resumo: A novíssima ficção portuguesa se caracteriza pela construção de um imaginário que ora se afasta dos temas históricos revisitados constantemente e demarcados por uma percepção social, filosófica e política; por outro lado, essa mesma ficção rompe com fronteiras históricas e territoriais, apontando para distanciamentos de identidades nacionais e procurando estabelecer novas percepções do sujeito universal, incluindo o próprio sujeito português. De acordo com Eduardo Lourenço, a literatura portuguesa por muitas décadas apresenta uma leitura de si mesma sob a égide da melancolia e um saudosismo de um tempo de possibilidades gloriosas e, como no século XX, de censura e liberdade. No entanto, o que hoje denominamos como “novíssima ficção portuguesa” que encontra seu embrião já nos romances alegóricos de José Saramago, toma como elemento primordial uma nova percepção da literatura, trabalhando com temas e tratamentos estéticos variados. É o que encontramos nas narrativas de Patrícia Portela, Afonso Cruz, João Tordo e outros autores que podem ser considerados como pertencentes a essa “geração literária” que não se designa como tal. A partir das ideias de Eduardo Lourenço, João Barrento, Silvina Rodrigues Lopes, entre outros críticos, este exercício de leitura propõe uma apresentação de algumas das características que consideramos essenciais na novíssima ficção portuguesa. Referências: BARRENTO, João. A chama e as cinzas. Lisboa: Bertrand, 2016. LOPES, Silvina Rodrigues. A legitimação da literatura. Lisboa: Cosmos, 1994. LOURENÇO, Eduardo. Portugal como destino seguido de mitologia da saudade. Lisboa: Gradiva, 2017. DOS ESPAÇOS E SEUS LUGARES: PORTUGAL PANTÓPICO EM DESAMPARO DE INÊS PEDROSA E EM LIVRO DE JOSÉ LUÍS PEIXOTO Gleidys Meyre Da Silva Maia Resumo: O objetivo desta análise é ler a literatura portuguesa contemporânea à luz do conceito de transgressividade/ referencialidade propostos pela geocrítica, em que o espaço se caracteriza como objeto de movimentos, de tensões oscilantes, que o colocam fora de qualquer ordem hierarquicamente estabelecida. Bertrand Westphal dialoga em torno do conceito de transgressividade noções angulares da geocrítica tais como a de oscilação, de heterogeneidade, de simultaneidade entre espaço total e fraturado. A narrativa de Inês Pedrosa versa sobre o movimento de emigração empreendido por alguns de seus personagens, como Jacinta e Raul. Jacinta, portuguesa, tendo passado mais de cinquenta anos de sua vida em solo brasileiro, retorna a Portugal e estabelece-se com sua mãe em Arrifes, aldeia fictícia localizada a oito quilômetros da cidade medieval Vila de Lagar. Raul, nascido no Brasil, decide seguir os passos de sua mãe e emigra para além-mar, inicialmente fixando residência em Lisboa. Após a morte de sua mãe, muda-se para Arrifes. Livro, o sexto romance de José Luís Peixoto, também tem como contexto a emigração portuguesa para França e a literatura enquanto universo complexo, enigmático e contraditório. As personagens deste romance estão divididas entre Portugal, de onde algumas nunca saíram, como Josué e a velha Lubélia, e França, para onde partiram na situação de emigrantes não propriamente convencionais e de onde voltam para períodos de férias e, mais tarde, no caso de Adelaide e do filho “Livro”, definitivamente. As oscilações referenciais entre o mundo real e o mundo ficcional apontam para uma escrita criadora de mundos heterotópicos (Foucault), seja através de justaposição, interpolação, sobreimpressão: a narrativa desenvolve-se à margem do referente ou articula-se em torno de um referente projetado num futuro que o desrealiza. Referências: WESTPHAL, Bertrand. La Géocritique. Réel, fiction, espace. Paris, Les Editions de Minuit, 2007. SERRES, Michel. Atlas. Buenos Aires, Catedra Teorema, 1994. FOUCAULT, Michel. Nascimento da Biopolítica. São Paulo, Martins Fontes, 2008. UM MUNDO EM FORMAÇÃO: A ADOLESCÊNCIA COMO PERSPECTIVA EM UMA OUTRA VOZ, DE GABRIELA RUIVO TRINDADE Gustavo de Mello Sá Carvalho Ribeiro Resumo: Uma outra voz, romance com o qual Gabriela Ruivo Trindade( 2018) venceu o Prêmio Leya de 2013, narra, através de pontos de vista diferentes, acontecimentos vividos por várias gerações em torno de uma família portuguesa. Por meio de contrastes entre tensões particulares - das personagens - e públicas - da nação -, podemos perceber aspectos importantes da História do século XX português, incluindo a repressão do Estado Novo, o pós-25 de abril, a colonização e as guerras em África. Nesse mosaico de vozes que se erguem durante o século, chama a atenção a primeira delas: a de um adolescente, José Eduardo, cuja perspectiva abre o romance, revelando seus primeiros amores, o contato inicial com a evidência da morte, as relações familiares, a paixão pelos livros de medicina e sua hilária impossibilidade de segurar o riso em ocasiões solenes. É graças a esse olhar pueril e irreverente que o leitor conhece grande parte das personagens do romance - em sua maioria, seres atormentados por graves angústias. Levando em consideração a diferença entre essa primeira voz e as demais, pretendemos, neste trabalho, verificar a importância da perspectiva adolescente de José Eduardo para a estrutura da narrativa como um todo, mostrando como esse ponto de vista é elaborado e como ele se relaciona com as demais vozes e com a História do século XX português. Para tanto, lançamos mão de textos teóricos e críticos, como A ficcionalização da História, de Márcia Gobbi e "Vozes de Portugal", de Gabriela Silva. Referências: GOBBI, Márcia Valéria Zamboni. A ficcionalização da História: mito e paródia na narrativa portuguesa contemporânea. São Paulo: UNESP, 2011. SILVA, Gabriela. Vozes de Portugal. Rascunho. Porto Alegre, 2019. TRINDADE, Gabriela Ruivo. Uma outra voz. Rio de Janeiro: LeYa, 2018. QUANDO O ESCRITOR SE TRANSFORMA NA COISA ESCRITA: (RE)PENSAR A CONSISTÊNCIA EM "DESCRIÇÃO ABREVIADA DA ETERNIDADE", DE DIOGO LEITE CASTRO Jorge Vicente Valentim Resumo: A presente comunicação tem como objetivo tecer algumas breves reflexões em torna da representação da figura do escritor e como a personagem escrevente serve de ponto de partida para uma série de interrogações sobre a própria arte da escrita literária e do fazer romanesco. A partir dos pressupostos delineados por Ítalo Calvino, em Seis propostas para o próximo milênio (2006), pretendo desenvolver uma linha de pensamento sobre a construção da personagem escritor, com base, sobretudo, no romance Descrição abreviada da eternidade (2021), do autor português Diogo Leite Castro. Convergindo cenários de tonalidades surrealistas com aspectos fantásticos e fantasmáticos, o enredo desenvolve-se em torno do protagonista Cravel Lemieux Dumas, escritor que nunca o foi, mas que se depara com um livro com o seu nome na capa, sem que nunca se recordasse de o ter escrito. Numa bem arquitetada costura, o incipit e o explicit narrativos constituem pistas fundamentais para compreender a natureza da trama, além de propiciar aos leitores momentos de pura sensibilidade e reflexão. Com este ponto de partida, pretendemos apontar algumas inquietações em torno da obra, numa leitura que procura sublinhar a proposta calviniana de consistência, tal como apresentada no ensaio mencionado, enquanto recurso para análise e compreensão da novíssima ficção portuguesa. Referências: CALVINO, Ítalo. Seis propostas para o próximo milênio. São Paulo: Companhia das Letras, 2006. CASTRO, Diogo Leite. Descrição abreviada da eternidade. Lisboa: Ego Editora, 2021. UM LUGAR CHAMADO JERUSALÉM: FIGURAÇÕES DOS SUJEITO PÓS-HOLOCAUSTO EM GONÇALO M. TAVARES Kairo Lazarini da Cruz Resumo: O romance Jerusalém (2006), do escritor português contemporâneo, Gonçalo M. Tavares, suscita reflexões acerca da natureza humana por meio da articulação irônicatransideológica (HUTCHEON, 2000) de um universo fendido entre racionalidade e loucura, técnica e religião que explora reminiscências do autoritarismo de regime nazista. Através da pesquisa (ficcional) do médico-investigador, Theodor Busbeck, personagem que pretende investigar a “loucura do mal ao longo da história” (TAVARES, 2006, p. 144), a obra do escritor cosmopolita (REAL, 2012) edifica-se como narrativa do trauma (SELIGMANN-SILVA, 2018) porquanto encete um testemunho histórico do passado a partir da perspectiva daquele que testemunha a história, daquele que “consegue ouvir a narração insuportável do outro e que aceita que suas palavras e levem adiante” (GAGNEBIN, 2006, p. 57). De maneira pioneira em literatura portuguesa contemporânea, o autor emposta novas percepções acerca da catástrofe que enviou arbitrariamente “seis milhões de judeus, seis milhões de seres humanos” (ARENDT, 2001, p. 117) à morte. O texto de Gonçalo M. Tavares, como uma espécie de pedagogia da catástrofe, cumpre a tarefa adorniana de reelaborar o passado a sério (ADORNO, 2008), sem o risco de conduzir o leitor a relativismos históricos que apaguem a dor e o sofrimento das vítimas dos regimes totalitários, assim como a responsabilidade ética em relação ao passado catastrófico de forma que a efabulação crítica do Holocausto, em Jerusalém, impele o leitor a reavaliar o presente em relação ao horror e a catástrofe. Referências: ADORNO, Theodor W. Educação após Auschwitz. In: ______. Educação e Emancipação. Tradução de Wolfgang Leo Maar. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2008. ______. O que significa elaborar o passado? In: ______. Educação e Emancipação. Tradução de Wolfgang Leo Maar. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2008. ADORNO, Theodor W; HORHEIMER, Max. Dialética do esclarecimento. Tradução de Guido Antônio de Almeida. Zahar: 1985. ANDRADE, Aíla L. Pinheiro de. Como Jerusalém se tornou a cidade santa. In: VI Simpósio Nacional de História Cultural. Escritas da História: Ver – Sentir – Narrar Universidade Federal do Piauí – UFPI Teresina-PI, 2012. Disponível em: http://gthistoriacultural.com.br/VIsimposio/anais/Aila%20L.%20Pinheiro%20de%20Andrade_for matando.pdf. Acesso em: 04 de abril de 2021 ARENDT, Hanna. A imagem do inferno. In: ______. Compreender: Formação, exílio e totalitarismo – ensaios. Tradução de Denise Bottman. São Paulo: Companhia das Letras; Belo Horizonte: Editora UFMG: 2008. ______. Origens do Totalitarismo. Tradução de Roberto Raposo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. BENJAMIN, Walter. Teses sobre o conceito de história. tradução de Sérgio Paulo Rouanet. In:______. Obras escolhidas. Vol. 1. Magia e técnica, arte e política. Ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense, 1987, p. 222-232. BERNARDINO, Lígia. A mecânica das fendas em O Reino. In: PINTO, Vaz Madalena (org.). Gonçalo M. Tavares: ensaios, aproximações, entrevista. Rio de Janeiro: Oficina Raquel, 2018, p.42-60. Bíblia Sagrada. Edição Pastoral. Tradução de Ivo Storniolo e Euclides Martins Balancin. São Paulo: Paulus, 2008. BORDINI, Maria Isabel de S. A ciência e o terror totalitário em Jerusalém, de Gonçalo M. Tavares. Revista Versalete. Curitiba, Vol, 1, nº1, jul- dez. 2013, p. 158- 169. Disponível em: http://www.revistaversalete.ufpr.br/edicoes/vol101/12-BORDINI.pdf . Acesso em: 27 de Júlio de 2021. BRITO, Sandra Beatriz S. de. Diálogo de titãs: uma leitura de O Reino, de Gonçalo M. Tavares de conceitos de Nietzsche, Freud e Foucault. Porto Alegre: UFRGS, 2018. (Tese de Doutorado em Literatura Portuguesa e LusoAfricanas). Disponível em: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/181422 Acesso em 29 de março de 2021. ______. O reino de Gonçalo M. Tavares como uma representação da sociedade contemporânea. Revista Digital do Programa de Pós-Graduação em Letras da PUCRS. Porto Alegre, v. 10, n. 1, p. 459-469, janeiro-junho 2017. 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O fim da modernidade. Niilismo e hermenêutica na cultura pós-moderna. Tradução de Eduardo Brandão. Martins Fontes: São Paulo, 1996. VIDAL, Daniel. José Rodrigues dos Santos sugerir que os judeus se adaptaram em Auschwitz é obsceno. Entrevista a João Pinto Coelho. Jornal NIT, 10/12/2020. Disponível em: https://www.nit.pt/cultura/livros/jose-rodrigues-dos-santos-dizerque-os-judeus-se-adaptaram-a-auschwitz-e-obsceno Acesso em 20 de julho de 2021. RUÍNAS DA TRADIÇÃO E SUJEITO EM RUÍNA EM CAMPO DE SANGUE, DE DULCE MARIA CARDOSO Larissa Fonseca e Silva Resumo: Neste trabalho, proporemos uma leitura de Campo de sangue, de Dulce Maria Cardoso, em que apontaremos como identificamos, no romance, os símbolos das ruínas da tradição e das ruínas do protagonista. Publicada em 2002, Campo de sangue é uma obra na qual se situam personagens contemporâneos que vivem, de diversos modos, em embate com a tradição. O protagonista, homem não nomeado e com uma identidade problemática, e no qual esse embate “tradição x contemporaneidade” se condensa de forma mais evidente, vai, ao longo do enredo, perdendo sua sanidade mental. Isso acontece de maneira concomitante à deterioração da pensão na qual ele se hospeda, e nesta também pode ser lida a metáfora da escultura danificada de um menino portando o mundo: “[...] o menino partido continuava com o globo intacto na mão, quanto tempo aguentaria” (CARDOSO, 2001, p. 141). Fornecerão um diálogo a essa leitura proposta o romance Os meus sentimentos, também de Dulce Maria Cardoso (2012), o Livro do desassossego, de Fernando Pessoa (2019), o conto “A queda da Casa de Usher”, de Edgar Allan Poe (2012), e o conto “Casa tomada”, de Julio Cortázar (2016). Também recorremos a textos teóricos que auxiliem na descrição de sujeito contemporâneo e na discussão da ideia de ruínas da tradição, como Walter Benjamin (1994) em “Experiência e pobreza” e “Sobre o conceito da História”, Le Goff em História e Memória (2013), Pierre Nora (1993) em "Entre Memória e História: A Problemática dos Lugares", Octavio Paz (2013) em Os filhos do barro, Lars Svendsen (2006) em Filosofia do tédio e Stuart Hall (2006) em A identidade cultural na pós-modernidade. Referências: BENJAMIN, Walter. Experiência e pobreza. In: ______. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. Tradução: Sergio Paulo Rouanet. 7. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. p. 114-119. ______. Sobre o conceito da História. In: ______. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. Tradução: Sergio Paulo Rouanet. 7. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. p. 222-232. CARDOSO, Dulce Maria. Campo de sangue. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. ______. Os meus sentimentos. Rio de Janeiro: Tinta-da-china Brasil, 2012. CORTÁZAR, Julio. Casa tomada. In: ______. Bestiário. Tradução: Paulina Wacht e Ari Roitman. 4. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2016. p. 9-16. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução: Tomaz Tadeu da Silva e Guacira Lopes Louro. 11 ed. Rio de Janeiro: DP&A editora, 2006. LE GOFF, Jacques. História e Memória. Tradução: Bernardo Leitão et. al. Campinas: Ed. Unicamp, 2013. NORA, Pierre. Entre Memória e História: A Problemática dos Lugares. Tradução: Yara Aun Khoury. In: Projeto História, n.10. Revista do Programa de Estudos Pós-Graduados em História do Departamento de História. São Paulo, 1993. p. 7-28. PAZ, Octavio. Os filhos do barro: do romantismo à vanguarda. Tradução: Ari Roitman e Paulina Wacht. São Paulo: Cosac Naify, 2013. PESSOA, Fernando. Livro do desassossego. 2 ed. Jandira: Principis, 2019. p. 268. POE, Edgar Allan. A queda da Casa de Usher. In: ______. Contos de imaginação e mistério. Tradução: Cássio de Arantes Leite. São Paulo: Tordesilhas, 2012. p. 221-241. SVENDSEN, Lars. Filosofia do tédio. Tradução: Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2006. "O SEGUNDO SÉCULO XXI COMEÇOU EM WUHAN": O TESTEMUNHO DA PANDEMIA NO DIÁRIO DA PESTE, DE GONÇALO M. TAVARES Leonardo von Pfeil Rommel Resumo: O ano de 2020 ficará marcado na História da humanidade devido ao começo da pandemia de Covid-19, que assolou todo o planeta e alterou radicalmente a existência humana. O medo, a ansiedade, a solidão e a constante presença da morte redesenharam os dias e as vidas de centenas de milhões de pessoas ao redor do globo. O vírus, com seu interminável número de mortos, inscreve-se na história como uma catástrofe, um tempo de ruptura profunda na existência e nas formas de pensamento humanos. Em seu Diário da Peste, o escritor português Gonçalo M. Tavares, por meio de crônicas, escritas e publicadas diariamente no jornal Expresso entre os meses de março e junho de 2020, acompanha o avanço do vírus pelo planeta e os desdobramentos da pandemia. A própria fragmentação e intensidade do conturbado tempo pandêmico materializam-se na estrutura híbrida do Diário, uma vez que as crônicas apresentam uma intensa mescla dos discursos da memória, da autobiografia e da literatura. O Diário da Peste apresenta-se como uma possibilidade de testemunho da pandemia, uma vez que Gonçalo M. Tavares, diante da catástrofe causada pelo vírus, escolhe a literatura como forma de resistência e como alternativa de tradução do caos e das incertezas experienciadas durante a luta da humanidade contra o inimigo invisível. Referências: GAGNEBIN, Jeanne Marie. O rastro e a cicatriz: metáforas da memória. ProPosições, vol. 13, n.3, p. 125-133, 2002. GINZBURG, Jaime. Linguagem e trauma na escrita do testemunho. Revista Conexão Letras: Porto Alegre, 2015. NESTROVSKI, Arthur; SELIGMANNSILVA, Márcio. Catástrofe e representação. São Paulo: Escuta, 2000. PINTO, Madalena Vaz. Gonçalo M. Tavares: ensaios, aproximações, entrevista. Rio de Janeiro: Oficina Raquel, 2018. SELIGMANN-SILVA, Márcio. Literatura e trauma. Pro-Posições, vol. 13, n. 3, p. 135-153, 2002. SELIGMANN-SILVA, Márcio. História, memória, literatura. O testemunho na era das catástrofes. Campinas: Editora da Unicamp, 2003. SELIGMANN-SILVA, Márcio. Narrar o trauma: escrituras híbridas das catástrofes. Revista Gragoatá: Niterói, n.24, p. 101-117, 2008. TAVARES, Gonçalo M. Diário da Peste. O ano de 2020. Lisboa: Relógio D'água Editores, 2021. CADERNO DE MEMÓRIAS COLONIAIS: CORPOS ENTRELAÇADOS NO CORPO TESTEMUNHAL DA ESCRITA Luci Ruas Pereira Resumo: Proponho apresentar a leitura do romance "Caderno de memórias coloniais", de Isabela Figueiredo, publicado pela Angelus Novus em 2009 e pela Todavia, em 2018. Trata-se de uma narrativa em que se revela claramente uma proposta em que memória e história se entrelaçam, dando lugar ao testemunho da filha de colonos portugueses, nascida em Moçambique, em Lourenço Marques (antes de ser renomeada Maputo). Se a preocupação com uma ética se faz evidente nas múltiplas considerações sobre o tempo que viveu em Moçambique, na experiência traumática em que a violência, o racismo e o sexismo deixaram marcas profundas na narradora-autora, condenando-a ao silêncio, e provocando o desencanto, a perda do seu lugar de pertença, a perda do pai e da pátria, que a memória (fragmentada) busca resgatar, por outro lado, esse livro que, segundo Margarida Calafate, é “um grito”, realiza-se, do ponto de vista estético, como uma narrativa em que um corpo desterritorializado se debruça sobre o corpo paterno, corpo de colono, mas, por outra via, corpo da pátria, compondo um corpo de escrita que se concretiza como um testemunho não do que lhe pedem para contar, a despeito do amor (e ódio) que confunde o amor da carne do pai com o da terra, corpo de narradora personagem que se abraça quando ela e a terra não se encontram, porque ela e o livro “estão cheios de corpo e terra". O testemunho da menina filha do eletricista é revelador da impossibilidade de amar , pelo sentimento de traição que grita no corpo da linguagem, o que o torna trágico. Referências: FIGUEIREDO, Isabela . Caderno de memórias coloniais (2009). São Paulo: Todavia, 2018. LOURENÇO, Eduardo. A nau de Ícaro seguido de Imagem e miragem da lusofonia. Lisboa:Gradiva, 1999. ______ . Europa desencantada: para uma mitologia europeia. Lisboa: Gradiva, 2001. RIBEIRO, António Sousa & RIBEIRO, Margarida Calafate (Organizadores). Geometrias da memória: configurações pós-coloniais. Porto: Edições Afrontamento, 2016. ______. «Os netos que Salazar não teve: Guerra Colonial e memória de segunda geração», Abril – Revista do Núcleo de Estudos de Literatura Portuguesa e Africana da UFF, 5(11), 25-36, 2013. SARLO, Beatriz, Tempo passado: Cultura da memória e guinada subjetiva. São Paulo/Belo Horizonte: Companhia das Letras e Editora da UFMG, 2007. SILÊNCIO: OS NÃO-DITOS COMO INDÍCIOS EM O SENHOR ELIOT, DE GONÇALO M. TAVARES Maria Catarina Rabelo Bozio Resumo: Na obra “O senhor Eliot e as Conferências” (2012), de Gonçalo M. Tavares, uma das conferências previstas não é efetivada: a que pretendia se debruçar sobre um verso do poeta romeno Paul Celan. Por não se explicitar o motivo da não realização dessa explicação, são muitas as elucubrações possíveis sobre a sua razão. Com base nessa indagação, buscamos mobilizar as referências associadas à representação de Celan, filho de judeus assassinados em um campo de concentração nazista, de modo a investigar esse silêncio, isto é, levantar possíveis indícios interpretativos suscitados pelo não-dito nessa conferência. Nesse processo, foram realizadas aproximações interpretativas entre essa conferência não realizada e as teorias de: Theodor W. Adorno, com a sua percepção da impossibilidade da escrita após Auschwitz; Giorgio Agamben, ao discutir o peso do testemunho; Irene Aron, ao refletir sobre o indizível em Celan; e George Steiner, ao refletir sobre o poeta e o silêncio. A partir dessas referências, esta comunicação apresenta uma leitura dos possíveis motivos dessa escolha em “O senhor Eliot e as Conferências”, obra de Gonçalo M. Tavares, que consideramos como parte da novíssima ficção portuguesa, geração marcada pelas temáticas que extrapolam a estética e se associam a pautas políticas que ajudam a compreender o contemporâneo. Referências: ADORNO, Theodor W. Crítica cultural e sociedade. In: Prismas. São Paulo: Ática, 1998. AGAMBEN, Giorgio. Assmann, Selvino J. (trad). O que resta de Auschwitz : o arquivo e a testemunha (Homo Sacer III). São Paulo, Boitempo, 2010. ARON, I. Paul Celan: A expressão do indizível. Pandaemonium Germanicum, São Paulo, n. 1, p. 77-85, 1997. DOI: 10.11606/19828837.pg.1997.62941. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/pg/article/view/62941. Acesso em: 9 maio. 2022. STEINER, George. Linguagem e Silêncio - Ensaios sobre a crise da palavra. São Paulo: Companhia das Letras, 1988. TAVARES, Gonçalo M. Tavares. O senhor Eliot e as conferências. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2012. ALÉM DO ARCO-ÍRIS HÁ... UM POTE DE CLOROQUINA Mariana Caser da Costa Resumo: O romance "Em todas as ruas te encontro", de Paulo Faria, publicado em 2021, foi produzido no auge da pandemia de Covid-19. Nele, Faria parte dessa realidade coletiva para o universo particular, o das personagens do romance, e, assim, emulando o movimento de recolha e a confusão de sentidos a que o espalhamento do vírus nos obrigou, celebra a arte e a literatura por meio da apreensão da realidade. Nesta comunicação, serão enfocados os aspectos de luto e de jogo que o romance suscita, sob o viés teórico do Neobarroco, ou seja, de aspectos que privilegiam a percepção de que, nos nossos tempos, respira-se uma atmosfera semelhante àquela da Europa dos seiscentos. Para tanto, serão revisitadas as ideias de Walter Benjamin, em "Origem do drama barroco alemão", de teóricos do barroco como Omar Calabrese e Affonso Ávila, além de textos críticos sobre o tema e sobre o romance, respectivamente escritos por Dalva Calvão e Jorge Valentim. Com esta comunicação, pretende-se discutir o romance à luz da teoria, mas também relacioná-lo à nossa realidade, ratificando a importância da arte e da reflexão para o movimento de seguir em frente, uma vez que a resposta lúdica às inúmeras situações lutuosas a que somos expostos - especialmente se tomarmos a pandemia como o disparador de um luto coletivo, em nível mundial - parece ser aquilo que mantém viva a esperança na continuidade. Referências: ÁVILA, Affonso. O lúdico e as projeções do mundo barroco. São Paulo: Perspectiva, 1980. BENJAMIN, Walter. Origem do drama barroco alemão. Tradução, apresentação e notas de Sergio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1984. CALABRESE, Omar. A idade neobarroca. Tradução de Carmen de Carvalho e Artur Morão. Lisboa: Edições 70, 1988. CALVÃO, Dalva. Narrativa biográfica e outras artes: reflexões sobre a escrita literária e criação estética na Trilogia da Mão, de Mário Cláudio. Niterói: EdUFF, 2008. COSTA, Mariana Caser da. “Desvendando as constelações, uma janela para a noite”: aspectos de luto e jogo em Ursamaior, de Mário Cláudio. 2010. (Mestrado em Estudos de Literatura)–Instituto de Letras, Universidade Federal Fluminense. Niterói, 196 f. 2012. DELEUZE, Gilles. Proust e os signos. Tradução: Antonio Carlos Piquet e Roberto Machado. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1987. DUARTE, Luís Ricardo. Paulo Faria: escrever no olho do furacão da pandemia. JL Sapo, 13 de abril de 2021. Disponível em: https://visao.sapo.pt/jornaldeletras/letras/2021-04-13-paulo-faria-escrever-no-olhodofuracao-da-pandemia/. Acesso em: 5 abr. 2022. FARIA, Paulo. Em todas as ruas te encontro. Lisboa: Minotauro, 2021. FROMM, Eric. Posfácio. Tradução: Fernando Veríssimo. In: ORWELL, George. 1984. Tradução: Alexandre Hubner e Heloisa Jahn. São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 317-329. GAGNEBIN, Jeanne Marie. Lembrar escrever esquecer. São Paulo: Editora 34, 2006. PIMENTEL, Irene Flunser. O que foi a PIDE? Funções, poderes e métodos. Setenta e quatro, 13 de julho de 2021. Disponível em: https://www.setentaequatro.pt/ensaio/oque- foi-pidefuncoes-poderes-e-metodos. Acesso em: 5 abr. 2022. VALENTIM, Jorge Vicente. “A pandemia foi apenas o despertar que nos acordou a todos”: doenças, dis/(u)topias e resistências em Em todas as ruas te encontro, de Paulo Faria. Revista Desassossego, [S. l.], v. 13, n. 25, p. 4-36, 2021. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/desassossego/article/view/184561. Acesso em: 5 abr. 2022. A CONSTRUÇÃO DAS RELAÇÕES DE NOÉ EM LISBOA, CHÃO SAGRADO (2019), DE ANA BÁRBARA PEDROSA Maurício Dutra Félix Resumo: Daniel Lance, em seu livro Além do Desejo: literatura, sexualidades e ética (2015), analisa os relacionamentos amorosos que perpassam a literatura, como por exemplo, nas obras de Tennessee Williams, baseando-se nas definições de René Girard para uma possível construção de sexualidade nos indivíduos. Neste estudo, o autor apresenta nuances de uma relação tríade, entre sujeito-objeto-rival, como precursor de uma identificação sexual. A presente comunicação visa analisar como se configura as relações da personagem Noé no romance de estreia de Ana Bárbara Pedrosa, Lisboa, chão sagrado (2019). Publicado pouco antes de uma pandemia mundial, Pedrosa se apresenta como uma autora dos novíssimos da ficção portuguesa, em que, Lisboa, chão sagrado, configura-se como um retrato, um espelhamento dessa sociedade contemporânea após a explosão da internet e suas redes sociais. Noé é um dos personagens mais emblemático, especialmente no sentido de suas expressões de sexualidade, e nos é apresentado como uma personagem de amores e relações voláteis, até o momento em que conhece Eduarda, a única mulher que nunca lhe demonstrara sinal de desejo sexual. A partir deste panorama geral, será feita uma análise sobre as relações de Noé-Eduarda-Mariana, essa última como a namorada de Eduarda, como um exemplo da tríade proposta por René Girard e retomada por Daniel Lance. Além disso, a relação dual entre Noé e Matias também será observada, visto que, em alguns momentos, a mesma é transpassada por essa definição tríade com outras personagens e figuras presentes na obra. Referências: LANCE, Daniel. Além do desejo: literatura, sexualidades e ética. Tradução de Margarita Maria Garcia Lamelo. 1. ed. São Paulo: É Realizações, 2015. 272 p. PEDROSA, Ana Bárbara. Lisboa, chão sagrado. 1. ed. Lisboa: Bertrand Editora, set. 2019. 224 p. ERA UMA VEZ UM PAÍS SEM MULHERES: REFLEXÕES DA HOMOSSOCIABLIDADE EXCLUDENTE EM O CORAÇÃO DOS HOMENS, DE HUGO GONÇALVES Nelson Marques Resumo: Segundo Eve Kosofsky (1985), o conceito de homossociabilidade pretende nomear uma série de práticas sociais reguladas ora por laços de solidariedade ora por laços de competição entre indivíduos que se identificam como sendo do mesmo gênero. O romance O coração dos homens (2006), de Hugo Gonçalves, dá um passo a mais no que diz respeito às investigações sobre homotextualidade, isto é, “os estudos de espaços, das instituições mais fechadas” (LOPES, 2002, p. 124). Na distopia imaginada pelo autor português, uma cidade inteira torna-se um espaço fechado e restrito aos homens, quando todas as mulheres são expulsas e as suas memórias apagadas. O que se percebe após essa expulsão é, principalmente, a compreensão de que os sentimentos não devem ser vistos como algo positivo na formação do masculino e devem ser desestimulados, por exemplo, através do pugilismo, esporte alçado como uma espécie de construto social com o claro objetivo de aniquilamento de emoções. O presente trabalho, portanto, tem como ponto de partida justamente essa reflexão acerca das relações homossociais entre homens em espaços hegemônicos, ou seja, como e por que o mundo a todo instante opta pela construção de regras patriarcais que enxergam o feminino como uma ameaça e não como um complemento. Referências: BARCELLOS, J. C. . Homossociabilidade masculina e homoerotismo na ficção de Eça de Queirós. In: Marli Fantini Scarpelli; Paulo Motta Oliveira. (Org.). Os Centenários: Eça, Freyre, Nobre. 1ªed.Belo Horizonte: CESP-FALE-UFMG, 2001, v. 1, p. 127-150. BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina. Tradução de Maria Helena Kühner. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007. COSTA, Jurandir Freire. A inocência e o vício. 3. ed. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1992. FOUCAULT, Michel. História da sexualidade – A vontade de saber. Tradução de Maria Thereza da Costa Albuquerque e J A Guilhon Albuquerque. 4 ed. Rio de Janeiro:Graal, 1977. v. 1. GOFFMAN, Erving. Estigma – Notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Tradução de Márcia B. de Mello L. Nunes. 4. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1988. NOLASCO, Sócrates. O mito da masculinidade. Rio de Janeiro: Rocco, 1993. SEDGWICK, Eve K. Between Men – English literature and male homosocial desire. New York: Columbia University, 1985. TREVISAN, João Silvério. Seis balas num buraco só – a crise do masculino. Rio de Janeiro: Record, 1998. MODO DE VIDA E INFÂNCIA EM TRÁS-OS-MONTES, DE TIAGO PATRÍCIO Renan Henrique Messias de Paulo Resumo: O olhar infantil para os acontecimentos do mundo sempre é aquele que imprime e esboça as ações e cada movimento da vida com energia, delicadeza e, de certa forma, muito mais colorido do que o olhar dos adultos. Lançado em 2011, Trás-os-Montes, romance do autor português Tiago Patrício apresenta aos leitores uma trama recheada de valores, cultura e um modo de vida típico e característico de uma população duma aldeia pitoresca de Trás-os-Montes, região essa considerada muito particular dentre as outras de Portugal. Ao acompanharmos as personagens Teodoro, Raquel, Oscar e Edgar entramos em contato com um mundo de possibilidades nas quais as mesmas lidarão com toda a rusticidade de se viver numa aldeia, e o contraste de estarem inseridos numa atmosfera que exige cada vez mais o moderno com novas condições e possibilidades de se viver na contemporaneidade que, por muitas vezes, rompe os estigmas do passado e, na medida do possível, com a tradição. Esta comunicação tem como objetivo apresentar a leitura da obra romanesca identificando as passagens marcantes nas quais as personagens infantis do romance vivenciam e que atuam como formadores da construção da identidade daquelas mesmas. Além disso, a identidade num contexto regional à luz da própria formação de Portugal. Vencedor do prêmio Agustina Bessa-Luís, Trás-os-Montes retrata algo muito singular da cultura portuguesa, contrariando, então, a ideia de cosmopolitismo defendida por Miguel Real em O Romance Português Contemporâneo 1950-2010. Dito isto, esta pesquisa também busca entender o romance de Tiago Patrício em detrimento das principais características dos romances portugueses contemporâneos, entendendo a potência da literatura portuguesa contemporânea como instância fundamental na recriação das formas de se ler e enxergar Portugal. Referências: CANDIDO, Antonio. Os parceiros do Rio Bonito. 12ª ed. São Paulo: Ouro sobre Azul, 2017. HUTCHEON, Linda. Poética do Pós-modernismo: história, teoria, ficção. Tradução: Ricardo Cruz. Rio de Janeiro: Imago Ed., 1991. MARQUES, M. I. O modo de vida camponês sertanejo e sua territorialidade no tempo das grandes fazendas e nos dias de hoje em Ribeira-PB. São Paulo: FFLCH/USP, 1994. (Dissertação de mestrado) MARTINS, José de Sousa. Sociabilidade do homem simples: cotidiano e história na modernidade anômala. 3ª ed. São Paulo: Contexto, 2020. PATRÍCIO, Tiago. Trás-os-Montes. Lisboa: Gradiva, 2012 REAL, Miguel. O romance português contemporâneo 1950-2010. Lisboa: Caminho, 2012. SILVA, Gabriela. A novíssima literatura portuguesa: novas identidades de escrita. Revista Desassossego v. 8, no. 16, p. 6-21, 2016. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/desassossego/article/view/122430 VASCONCELOS, José Mauro. O Meu Pé de Laranja Lima. São Paulo: Editora Melhoramentos, 2005. VITÓRIA, Jair. Zezinho, o dono da porquinha preta. 7ªa ed. São Paulo: Editora Ática, 1990. A CEGUEIRA BRANCA E ESSE CABELO, DE DJAIMILIA PEREIRA DE ALMEIDA Romeu Foz Resumo: Este artigo objetiva analisar Esse cabelo (2015), obra inaugural de Djaimilia Pereira de Almeida que medita sobre a (des)integração do africano e do afrodescendente no Portugal pós25 de Abril. Proponho que Esse cabelo reflete sagazmente sobre os legados da colonialidade que permeiam a sociedade portuguesa contemporânea, muito particularmente que questiona a sobrevivência de antigas lógicas coloniais de racialização e a forma como estas se inscrevem discursivamente no corpo. Em última instância, defendo que este é um romance que se reveste de um papel transformativo, na medida em que contribui significativamente para a formação de identidades pós-coloniais que olham para o passado sem rasuras nem branqueamentos e que solicitam do presente representações decoloniais do corpo (pós)-colonial português. Em inglês: This article aims to analyze That Hair (2015), Djaimilia Pereira de Almeida’s first novel, which addresses the (dis)integration of the African and the Afro-descendant in post-25th April Portugal. I claim that That Hair reflects with great acumen on the legacies of Coloniality that permeate Portuguese contemporary society, questioning very particularly the survival of old colonial logics of racialization and the way these are inscribed discursively in the body. Ultimately, I argue that this novel plays a transformative role inasmuch as it contributes significantly to the formation of postcolonial identities that look at the past without erasures and that request from the present decolonial representations of the Portuguese (post)-colonial body. Referências: N/A À PROCURA DE SENTIDOS EM TODOS OS SENTIDOS, DE LÍDIA JORGE Valci Vieira Dos Santos Resumo: Lídia Jorge, premiada escritora portuguesa contemporânea, desde sua estreia, em 1980, com a publicação de O Dia dos Prodígios, não para de nos brindar com um projeto literário de envergadura, composto de diferentes gêneros textuais, a exemplo de romances, contos, poesia, peças teatrais, ensaios e crônicas. Dentre estes, suas crônicas, num total de quarenta e uma, reunidas na obra intitulada Em Todos os Sentidos, vinda a lume em 2020, assim como os demais gêneros, nos oferecem um manancial temático que corrobora a solidez desse projeto literário. Entretanto, parece-nos que suas crônicas ainda carecem de maior adesão de um público leitor tão interessado como o das demais obras. Neste sentido, nosso objetivo é refletir sobre algumas de suas crônicas, confrontando-as, naquilo que que apresentam em termos de discursos que expõem a fúria do mundo contemporâneo, com as suas contradições, conflitos, desafios e simulacros, tudo isso sob o olhar perscrutador de quem procura desvendar a vida humana a partir de um pensamento crítico e reflexivo, sempre atento às questões de ordem política e social, que acabam por construir quadros que denunciam as mais diferentes mazelas de uma sociedade antagônica e desigual. Para tanto, este estudo terá como aporte teórico, entre outros, os pensamentos de Hannah Arendt, Roland Barthes e Arthur Schopenhauer, cujas obras nos levam a refletir sobre a condição humana, o sujeito político e social e sua resistência frente a discursos de apagamento e silenciamento. Referências: ARENDT, Hannah. A condição humana. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2014. ARENDT, Hannah. A Dignidade da Política. Ensaios e Conferências. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1993. ARENDT, Hannah. Entre o passado e o futuro. São Paulo: Perspectiva, 2016. ARENDT, Hannah. O que é Política? Fragmentos das Obras Póstumas Compilados por Ursula Ludz. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2018. BARTHES, Roland. Inéditos. Vol. 4 – Política. São Paulo: Martins Fontes, 2005. JORGE, Lídia. Em Todos os Sentidos. Lisboa: Dom Quixote, 2020. SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e representação. Tradução de M. F. Sá Correia. Rio de Janeiro: Contraponto, 2001. SIMPÓSIO “A EST(ÉTICA) NA LITERATURA E OUTRAS LINGUAGENS ARTÍSTICAS COMO UM GESTO POLÍTICO PARA MITIGAR A VIOLÊNCIA” Flávio Adriano Nantes (UFMS), Cláudia Maria Ceneviva Nigro (UNESP) TOM, CADÊ O TOM NA MÚSICA MENINA JESUS? Eliana Moreira De Assis Resumo: Neste artigo, objetiva-se verificar o horizonte de expectativa da música Menina Jesus, de Tom Zé, além de discutir o seu efeito para a posterioridade. Essa música foi lançada em 1978, quando a MPB, apesar da ditadura militar, viveu um período de efervescência das suas produções, tanto pela variedade de estilos quanto de ritmos. A letra dessa canção sofreu muitos ataques gênero, raça e classe, antes mesmo de ser lançada. Pensando nessa recepção, utiliza-se o conceito de horizonte de expectativa, de Jauss (1994) e Zilberman, (2008), para Zilberman (2008, p.94) “quando uma obra não corresponde ao horizonte de expectativa de uma determinada época do leitor, essa relação fica tensa, pouco amistosa, já que a obra de arte desafia não apenas o preconceito, mas também a ideologia dominante, ” para analisar o que levou o público e os críticos dessa época a “cancelar” a música desse artista. A partir desta análise, é possível compreender com mais clareza como e porque essa canção não teve uma boa recepção, embora não tenha sido censurada, nem o seu autor e intérprete tenha sofrido exílio. Como resultado deste estudo, espera-se contribuir para que haja novas provocações acerca da distância estética dessa produção musical, bem como para se repensar a importância de Tom Zé e do seu engajamento político nos cenários musicais nacional e internacional. Referências: JAUSS, Hans Robert. O prazer estético e as experiências fundamentais da poiesis, aesthesis e katharsis. In: LIMA, Luis (Org.). A literatura e o leitor: textos de estética da recepção. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. ZILBERMAN, Regina. A VIOLÊNCIA ESTRUTURAL EM SERIA UMA SOMBRIA NOITE SECRETA, DE RAIMUNDO CARRERO Eliene Medeiros Da Costa, Marta Aparecida Garcia Gonçalves Resumo: O protagonista do romance é um homem velho e desempregado que teve uma infância miserável, alimentando-se e vestindo-se do lixo e que por toda a vida foi ridicularizado e importunado por sua condição social. Há um momento da narrativa em que a personagem afirma que nasceu saudável, mas adoeceu ao ter que enfrentar “os olhos da cidade”. Esses olhos metaforizam uma sociedade baseada em preceitos narcisistas que valorizam e ditam padrões de beleza, conduta e comportamento que pelo fato de contemplarem a apenas uma parcela mínima das pessoas produzem exclusão e violência. Galtung (2018) define a violência que está na estrutura da sociedade e que não permite que identifiquemos um indivíduo como responsável como violência estrutural, a qual tem como uma de suas características a desigualdade de oportunidades de direitos entre os diferentes sujeitos. O objetivo desse trabalho é analisar a personagem Alvarenga do romance Seria uma sombria noite secreta, do escritor Raimundo Carrero, a partir da ideia da violência estrutural presente na construção da personagem e da narrativa. Isso é feito a partir da análise de cenas e discursos em que se pode perceber a violência e a crítica social, tomando como referência pensadores como Foucault (2014), Galtung (1990; 2018), Iasi (2014), Odália (2017) e Candido (2007). As reflexões em torno da obra e da personagem Alvarenga nos levam a pensar que Raimundo Carrero através dessa construção fictícia faz uma crítica ácida a alguns aspectos da sociedade como, por exemplo, um sistema econômico que para sustentar a riqueza de alguns produz a miséria de muitos. Referências: BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina. Trad. Maria Helena Kühner. 11ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2012. BOURDIEU, Pierre. Sobre o poder simbólico. In: O Poder Simbólico. Trad. Fernando Tomaz. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001, p.07-16. BRAIT, Beth. A personagem. São Paulo: Ática, 1985. CARRERO, Raimundo. Seria uma sombria noite secreta. Rio de Janeiro: Record, 2011. FOULCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Tradução Raquel Ramalhete. 42. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014. FOUCAULT, Michel. História da sexualidade I: A vontade de saber. Tradução Maria Thereza da Costa Albuquerque e J. A. Guilhon Albuquerque. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1988. GALTUNG, Johan. 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O PESADELO DA UTOPIA EM DOIS CONTOS DE JOÃO MELO Fabio Gustavo Romero Simeão Resumo: Ainda que em certos momentos da sua tradição a teoria literária tenha subestimado (ou até mesmo procurado mascarar) os vínculos entre factum e fictio, hoje essa parece ser uma questão relativamente superada. Efetivamente, a perspectiva que entende o texto literário como artefato cultural indissociavelmente atrelado ao seu contexto de produção é bastante aceita nos circuitos especializados e já produziu vasta bibliografia sobre o assunto. Foi assim que chegamos à compreensão atual de que o universo fictício da literatura mantém laços estreitos com o quadro mais amplo da realidade material, se bem que em gradações diferentes e, por conseguinte, com consequências estéticas e ideológicas distintas ao longo da história. Essa noção parece ser ainda mais urgente nas literaturas africanas, as quais nasceram nos âmbitos do nacionalismo e das lutas anti-coloniais dos séculos XIX e XX. No caso particular de Angola, podemos identificar diversos episódios históricos de grande relevância social – talvez os exemplos mais lembrados sejam a Guerra de Libertação e a Independência – que encontraram nas malhas da ficção uma possibilidade profícua de serem enunciados, (re)pensados e, sobretudo, coletivamente elaborados. É desse ponto de vista em particular que a comunicação ora proposta pretende ler comparativamente a figuração da violência em dois contos de João Melo, além de sublinhar algumas das possíveis ressonâncias sociais decorrentes dessa empreitada. As narrativas escolhidas, “Tio, mi dá só cem” e “O feto”, enformam a coletânea Filhos da pátria, de 2001, e retratam – cada uma ao seu modo, porém com afinidades que consideramos significativas – a onipresença da miséria e o imperativo da violência que marcaram a sociabilidade angolana durante a Guerra Civil. Para tanto, recorreremos, na função de aparato teórico, às reflexões sobre violência de Slavoj Žižek e aos estudos acerca da necropolítica, de Achille Mbembe, e da precarização da vida, de Judith Butler. Referências: BUTLER, Judith. Quadros de guerra: quando a vida é passível de luto? Tradução de Sérgio T. de N. Limarão e Arnaldo M. da Cunha. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2015. MBEMBE, Achille. Necropolítica: biopoder, soberania, estado de exceção, política da morte. Tradução de Renata Santini. São Paulo: n-1 edições, 2018. MELO, João. Filhos da pátria. Rio de Janeiro: Record, 2008. ŽIŽEK, Slavoj. Violência: seis reflexões laterais. Tradução de Miguel Serras Pereira. São Paulo: Boitempo, 2014. A VIOLÊNCIA EXTREMA E OS ESTUPROS PERPETRADOS CONTRA MULHERES NO PERÍODO DITATORIAL (1964-1985): O CASO DA LITERATURA BRASILEIRA Flávio Adriano Nantes Resumo: A presente comunicação tratará de pensar alguns textos literários cujos temas abordam a violência extrema e a sexual perpetradas contra mulheres durante o período da ditadura militar brasileira (1964-19885). O trabalho se estruturará pela perspectiva da literatura enquanto arquivo do período político ditatorial brasileiro, onde textos de diferentes períodos e autores serão pensados sob a luz dos direitos humanos e como eles foram violados durante este período. O corpo de mulheres que historicamente tem sido vilipendiado, assediado, entendido como abjeto e, num continuum de violência eliminado letalmente em sociedades patriarcais, em contextos ditatoriais esta prática é levada à última consequência quando mulheres se colocam contra o regime. Pagu, Zuzu Angel, Ana Rosa Kucinski, Dilma Rousseff, são exemplos de mulheres brasileiras que pagaram um alto preço por fazer oposição à ditadura civil-militar brasileira. O romance “As meninas”, de Ligya Fagundes Telles (2009); o conto “Anos de chumbo”, de Chico Buarque (2021); o conto “O método”, de Júlio César Monteiro Martins (1977); o romance “A nova ordem”, de Bernardo Kucinski (2019), serão tomados como objeto de análise para a estruturação do trabalho. A literatura, então, enquanto arquivo da ditadura civil-militar brasileira (Eurídice Figueiredo, 2017), pode nos fornecer pistas do que/como foi empreendida a violência contra mulheres. Referências: BUARQUE, Chico. Anos de chumbo e outros contos. São Paulo: Companhia das Letras, 2021. FIGUEIREDO, Eurídice. A Literatura como arquivo da ditadura brasileira. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2017. KUCINSKI, Bernardo. A nova ordem. São Paulo: Alameda, 2019. OLIVEIRA, Rejane Pivetta; THOMAZ, Paulo C. (orgs.). Literatura e ditadura. Porto Alegre: Zouk, 2020. TELLES, Ligya Fagundes. As meninas. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. À SOMBRA DO PREDADOR: REIMAGINANDO AS FRONTEIRAS ÉTICAS ENTRE HOMEM E ANIMAL EM BESTIÁRIO, DE JULIO CORTÁZAR Hiandro Bastos da Silva Resumo: Este breve estudo pretende investigar a presença do animal no conto intitulado Bestiário, escrito pelo habilidoso prosador argentino Julio Cortázar (1914-1984),e publicado em 1951 no livro que leva o mesmo nome. Com base nas reflexões de Gabriel Giorggi, Giorgio Agamben, Félix Guattari, Gilles Deleuze, Michel Foucault, entre outros pensadores contemporâneos, busca-se afirmar o animal, presente no texto de Cortázar, como a instância que questiona o estatuto do humano, definido pela “máquina antropológica del humanismo” (AGAMBEN, 2006, p. 63), segundo critérios antropocêntricos, tendo em vista raça, etnia, sexualidade, linguagem, racionalidade e integridade genética. Nessa direção, procura-se constatar, no texto de Cortázar, o homem, vinculado a determinadas formas de indigência, posicionando-se frente à sua animalidade, não apenas para interrogar as tecnologias de poder sobre a vida, mas também para refletir sobre o quão movediças são as fronteiras entre humanos e não humanos, constantemente alteradas pelo imaginário estatal, que visa separar os corpos por proteger dos corpos por desamparar. Em suma, observar-se-á a construção de novas economias, tanto de vida quanto de morte, novas gramáticas corporais e subjetividades além dos sujeitos – através do animal, na condição de signo virtual e agenciador de devires, constituindo-se, assim, como um artefato estético, orgânico, material e político. Referências: AGAMBEN, G. Homo Sacer: O Poder Soberano e a Vida Nua. Belo Horizonte: UFMG, 2007. ______. Lo aberto: el hombre y el animal. Buenos Aires: Adriana Hidalgo editora, 2006. ______. Meios sem fim: notas sobre a política. Belo Horizonte: Autêntica, 2015. CORTÁZAR, J. Bestiário. Rio de Janeiro : Nova Fronteira, 1984. ______. Histórias de Cronópios e de Famas. Rio de Janeiro: BestSeller, 2013. ______. Todos os fogos o fogo. Rio de Janeiro: BestSeller, 2011. ______. Obra Crítica. Rio de Janeiro : Civilização Brasileira, 1998. v. 1. ______. Obra Crítica. Rio de Janeiro : Civilização Brasileira, 1999. v. 2. DELEUZE, G; GUATTARI, F. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. São Paulo: Editora 34, 1995. v. 1. ______. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. São Paulo: Editora 34, 1995. v. 2. ______. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. São Paulo: Editora 34, 1996. v. 3. ______. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. São Paulo: Editora 34, 1997. v. 4. ______. O Anti-Édipo: Capitalismo e Esquizofrenia. São Paulo: Editora 34, 2010. DERRIDA, J. O animal que logo sou. São Paulo: Unesp, 2002. FOUCAULT, M. História da sexualidade: A vontade de saber. Rio de Janeiro: Gallimard, 1988. v. 1. ______. Em defesa da sociedade. São Paulo: Martins Fontes, 2005. ______. Segurança, território, população. São Paulo: Martins Fontes, 2008. ______. O sujeito e o poder . Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2009. GIORGI, G. Formas comuns: animalidade, literatura e biopolítica. Rio de Janeiro: Rocco, 2016. LESTEL, D. As origens animais da cultura. Lisboa: Instituto Piaget, 2001. MACIEL, M. E. Literatura e animalidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2016. ROAS, D. A ameaça do fantástico. São Paulo: Unesp, 2013. TODOROV, T. Introdução à literatura fantástica. São Paulo: Perspectiva, 2007. O SOM DO TRAUMA EM PEDRA HOMEM E MARIA LUCAS Leocádia Chaves Resumo: bell hooks (2019) ao discutir a produção de narrativas de mulheres negras, enfatiza a sua radicalidade, que reside, num contexto de múltiplas colonialidades, tanto no fato de garantir espaço para que possam falar suas dores quanto articular seus prazeres. Perspectiva igualmente legitimada para se pensar a produção de autoria trans em nossa sociedade, que ainda na contemporaneidade vive sob um regime de exceção identitário. Dessa forma, quando nos deparamos com os ensaios autobiográficos “Ser/tãos Y serpente (2020), de Pedra Homem e “Esse sangue não é menstruação, mas de transfobia” (2021), de Maria Lucas, nos deparamos com escrituras radicais nos moldes discutidos por hooks e por isso poderem ser recepcionadas como um gesto político. Entretanto, ainda trazem uma outra dimensão de radicalidade, a de uma estética textual, que irrompe, ao olhos de quem as lê, como performance. Isso porque ao enunciarem suas vivências de transição de gênero, o fazem pelo “grito acontecimento” transfóbico, que se por um lado confirma o trauma do “som”, por outro, ao desnaturalizá-lo para os ouvidos da cisgeneridade se configura como estratégia para mitigar a violência. Se no texto de Lucas, o corpo-ouvido da mulher trans é instalado pela imagem que antecede o texto - a de um ouvido gigante que ocupa a parte central de um ambiente doméstico que tudo ouve – será essa corpo que fará “tudo” ouvir, já no de Homem, apesar do “grito acontecimento” transfóbico ecoar em toda a escritura confirmando o trauma, apesar dele, o narrador não-binarie irrompe corpo “transformer” : um “super” corpo. Portanto, escritur(ações) que garantem no espaço narrativo a instalação de uma performance que desnaturaliza a dor e igualmente lhe permitem sentir prazer na fratura de representações de domínio sobre suas existências. Referências: AUSTIN, John Langshaw . Quando dizer é fazer – Palavras e ação. Trad. Danilo Marcondes de Souza Filho. Porto Alegre: Artes Médicas,1990. HOOKS, bell. olhares negros, raça e representação. Trad. Sthephanie Borges. São Paulo: Elefante. 2019. LUCAS, Maria. Esse sangue não é menstruação, mas de transfobia. São Paulo: Hecatombe, 2021. HOMEM, Pedra. Ser/ tãos Y serpente. São Paulo: Editora N-1 Edições, 2020. MATOS, Daniela de Oliveira. Perfomance como texto, escrita como pele. 2013. 198 f. Tese (Doutorado) - Psicologia Clínica. Pontifícia Católica de São Paulo São Paulo, 2013. ROLNIK, Suely. Furor de arquivo. Arte & Ensaios, Revista do Programa de. Pós-Graduação em Artes Visuais, EBA-UFRJ, Rio de Janeiro, v. 17, n. 19, p. 97-105.Disponível em: https://www.ppgav.eba.ufrj.br/wp-content/uploads/2012/01/ae22_Suely_Rolnik.pdf. Acesso em: 01 de maio de 2022. A TENTATIVA DE BEM VIVER APÓS O ROMANCE "A MÁQUINA DE FAZER ESPANHÓIS", DE VALTER HUGO MÃE Marcos Henrique Castro Soares de Araujo Resumo: A comunicação abordará velhice, vida e literatura – tendo a questão do “bem viver” como eixo para questionamentos e críticas. O romance a ser analisado, "A máquina de fazer espanhóis" do escritor português Valter Hugo Mãe, ambienta-se no asilo Feliz Idade, o qual se pode compreender como um local de comunidade onde velhos e velhas compartilham a última fase de suas vidas. O que se pretende levar à discussão no simpósio passa pela dor do luto, o encontro com a alteridade (outros velhos asilados) e as memórias da juventude que constituem o protagonista - o barbeiro português Antonio Silva, internado contra sua vontade num asilo, aos 84 anos. No impasse entre a proximidade da morte e a continuidade da vida, o que a literatura é capaz de dizer sobre a velhice, sobre o fim e a sobrevivência? Por se tratar de uma narrativa ficcional, o que se pretende levantar são reflexões que incidam sobre as visadas pessoais e críticas às velhices enclausuradas em contato com novas amizades inesperadas, sobre o local de controle onde velhos que já não servem mais a seu país podem permanecer e sobre o debate da possibilidade de "bem viver" quando a vida foi levada ao extremo e os corpos carregam marcas e agonias impossíveis de apagar. Referências: MÃE, Valter Hugo. A máquina de fazer espanhóis. 2a edição. SP: Biblioteca Azul, 2016. A COMPOSIÇÃO DA OBRA LITERÁRIA "9 MESES" COMO UM GRITO DE DESESPERO CONTRA A MARGINALIZAÇÃO DE MÃES ADOLESCENTES Mariana Rissi Azevedo Resumo: Segundo o Observatório da Criança e do Adolescente da Fundação ABRINQ, em 2001, 724.886 meninas engravidaram precocemente no Brasil, eu sou uma delas. A obra literária 9 meses nasce de uma experiência pessoal, mas que não pertence somente a mim, pois a gravidez na adolescência é um problema sistêmico em nosso país e apesar da redução dos índices na atualidade, o Brasil ainda está acima da média mundial. O enredo da obra é narrado em primeira pessoa pela personagem central, que relata seu sofrimento por conta de uma gravidez precoce para o pai de seu filho que os abandonou. A narrativa é construída de forma que o leitor tem a impressão de estar lendo uma correspondência que pertence ao pai da criança, e retrata as principais dificuldades que a personagem enfrenta desde o início da gestação, tais como a angústia e a aflição diante da discriminação e marginalização. Seu medo sobre o futuro é revelado desde a primeira página, e é narrado em flashback e flasforward pela gestante ao recordar o namoro vivido, e os caminhos que a trouxeram para a maternidade precoce. A obra atinge o clímax com o nascimento da criança e a expressão da vulnerabilidade socioeconômica de ambos, chegando ao fim com a dura conscientização da personagem sobre sua condição. Também constitui este trabalho o ensaio reflexivo: “O retrato literário da gravidez na adolescência” que explica a obra literária "9 meses" como um grito de desespero contra a marginalização de mães adolescentes, traçando um paralelo entre a trajetória da personagem e a realidade de mães adolescentes no Brasil, tendo por base dados sobre a maternidade precoce advindos do Ministério da Saúde, e da Organização Mundial da Saúde, entre outros órgãos. Referências: BORUCHOVITCH, Evely. 1992. Fatores associados a não-utilização de anticoncepcionais na adolescência. Rev. Saúde Pública, dez. 1992, vol. 26, no. 6, p.437-43. Brasil – Ministério da Saúde – DATASUS [homepage na Internet]. Informações de Saúde – Estatísticas Vitais – Mortalidade e Nascidos Vivos: nascidos vivos desde 1994. Disponível em: <http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?sinasc/cnv/nvuf.def> Acesso em: 11 jun. 2019. Desigualdades ameaçam saúde e autonomia das mulheres, alerta fundo de população da ONU. Disponível em: <https://nacoesunidas.org/desigualdades-ameacam-saude-e-autonomia-dasmulheres-alerta-fundo-de-populacao-da-onu/> Acesso em: 06 jun. 2019. FERNANDES, Marcella. 7 números da realidade das mulheres que criam filhos sozinhas no Brasil. Disponível em: <https://www.huffpostbrasil.com/2018/09/18/7-numeros-da-realidade-das-mulheres-quecriam-filhos-sozinhas-no-brasil_a_23531388/> Acesso em: 09 jun. 2019. Fundação ABRINQ. Números de nascidos vivos de mães adolescentes. Disponível em: <https://observatoriocrianca.org.br/cenario-infancia/temas/saude-sexual-reprodutiva/588numero-de-nascidos-vivos-de-maes-adolescentes?filters=1,1715> Acesso em 29 abr. 2022. MORENO, Ana Carolina; GONÇALVES, Gabriela. No Brasil, 75% das adolescentes que têm filhos estão fora da escola. Disponível em: <http://g1.globo.com/educacao/noticia/2015/03/no-brasil75-das-adolescentes-que-tem-filhos-estao-fora-da-escola.html> Acesso em: 11 jun. 2019. O que é a guarda de filhos e quais as modalidades existentes? Disponível em: <https://direitofamiliar.jusbrasil.com.br/artigos/403713591/o-que-e-a-guarda-de-filhos-e-quaisas-modalidades-existentes> Acesso em: 09 jun. 2019. SANTOS, Kate Delfini. Um estudo psicanalítico sobre a maternidade na adolescência: histórias de abandono, violência e esperança na trajetória de três jovens mães. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47133/tde-20072011-150734/pt-br.php Acesso em 13 jul. 2019. Taxa de gravidez na adolescência no Brasil está acima da média mundial. Publicado em 20/02/2020. Disponível em: <https://nacoesunidas.org/taxa-de-gravidez-naadolescencia-no-brasil-esta-acima-da-media-mundial-aponta-onu/> Acesso em: 03 jun. 2020. VIEIRA, Maria de Lourdes; BICALHO, Gladys Gripp; SILVA, João Luiz de C. P.; e et al. Crescimento e desenvolvimento de filhos de mães adolescentes no primeiro ano de vida. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-05822007000400008> Acesso em: 11 jun. 2019. Wiltz, Teresa. Racial and Ethnic Disparities Persist in Teen Pregnancy Rates. 2015. Disponível em: <https://www.pewtrusts.org/en/research-andanalysis/blogs/stateline/2015/3/03/racial-and-ethnic-disparities-persist-in-teen-pregnancyrates> Acesso em: 13 jul. 2019. WOLF, Naomi. Promiscuities: A Secret History of Female Disire. London: Vintage, 1998. ZASLOW, Emilie. Feminism, Inc.: coming of age in girl power media culture. New York: Palgrave Macmillan, 2009. LITERATURA E BIOPOLÍTICA: CORPOS FEMININOS EMPILHADOS Nicia Petreceli Zucolo Resumo: Alguns corpos, para além da desimportância meramente por serem femininos, agregam em si séculos de desconsideração e violência, como corpos de mulheres indígenas, fora de suas comunidades originárias. Txupira, personagem de Patrícia Melo, em Mulheres empilhadas, exemplifica isso: corpo jovem, feminino e indígena não merece luto, nem por parte do estado nem por parte da sociedade. Este romance evidencia de forma contundente uma realidade de apagamento, sob o tom da ficção, que se desmente enquanto tal, quando uma das notícias mais chocantes do ano, o estupro de uma menina ianomâmi, de doze anos, seguido de seu assassinato por garimpeiros em Roraima não desencadeia a ação esperada dos órgãos governamentais. A inanição do estado diante de um ato de extrema barbárie deixa claro que a necropolítica é uma realidade posta: o estado determina o extermínio de certos grupos para que outros sejam privilegiados. Entendendo a literatura como um instrumento de denúncia e resistência, esta comunicação se propõe a considerar de que modo a biopolítica, de Michel Foucault (2008), e a necropolítica, de Achille Mbembe (2018), permitem a compreensão de determinadas estruturas que compõem o biopoder, a partir da análise do romance Mulheres empilhadas, de Patrícia Melo. Sem perder de vista o objeto estético, a análise levará em consideração “A est(ética) na literatura e outras linguagens artísticas como um gesto político para mitigar a violência”. Referências: FOUCAULT, Michel. O nascimento da biopolítica. São Paulo: Martins Fontes, 2008. MBEMBE, Achille. Necropolítica. São Paulo: N-1 edições, 2018. MELO, Patrícia. Mulheres empilhadas. São Paulo: Leya, 2019. ENTRE BRASIL E ARGENTINA: A RESISTÊNCIA FEMININA EM RESPOSTA EST(ÉTICA) À OPRESSÃO EM MULHERES EMPILHADAS (2019) E COMETIERRA (2019) Paula Pope Ramos Resumo: Esta comunicação pretende discutir as formas de resistência feminina, na literatura, à violência cometida contra mulheres. Vemos em Mulheres Empilhadas (Patrícia Melo, 2019) e Cometierra (Dolores Reyes, 2019) a subversão da violência sofrida em atos de defesa que, por vezes, empreendem vingança. Se entendemos a violência masculina sob a ótica da manutenção de poder e de status quo, a feminina, por sua vez, é revolucionária, pois ela é capaz de causar mudanças brutais na estrutura social e política de uma sociedade. Enquanto no romance de Melo a protagonista, em sonhos induzidos pelo uso da ayahuasca, se junta a mulheres assassinadas em busca de vingança, no de Reyes, é através da memória da terra, devoradora de mulheres mortas, que é engolida pela protagonista, que se anuncia o crime sofrido. Quando os Estados brasileiro e argentino falham em garantir às pessoas o direito fundamental à vida, a tirania da necropolítica (MBEMBE, 2018) é lei. A literatura, por sua vez, grita em queixa e tenta restituir o que lhes foi retirado; assim, a revolução se torna ordem. Portanto, o uso político (poético) da violência efetivado por personagens femininas é, ao final, um ato de denúncia, pois opera como contra-discurso às práticas sociais cruéis e à ausência de políticas públicas que mitiguem a opressão aos seus corpos. Para elas, e na literatura, a violência é um posicionamento ético à medida que é empregada como forma de reivindicar o estatuto de humanidade de seus corpos e reclamar uma vida vivível (BUTLER, 2004). Referências: BUTLER, Judith. Undoing Gender. Nova York: Routledge, 2004. BUTLER, Judith. Precarious life. Nova York: Verso, 2004. MBEMBE, Achille. Necropolítica. São Paulo: N-1 edições, 2018. ÉDOUARD LOUIS: UM PROTAGONISTA SOCIOPOLÍTICO-LITERÁRIO Paulo Cesar da Silva Lopes Junior Resumo: Édouard Louis (de seu nome original Eddy Bellegueule) é um jovem escritor oriundo de Picardia, região localizada no Norte da França. Nasceu numa família extremamente pobre de classe operária, em 1992, num pequeno vilarejo rural onde as práticas aberrantes do preconceito e da violência eram reproduzidas geração após geração. Nesse cenário, disposto a revelar os segredos mais obscuros de sua vida, com apenas 21 anos, tem a sua obra de estreia tornada best seller com mais de 300 mil exemplares vendidos, apenas na França. Neste trabalho, apresentaremos as perspectivas denunciativas, no interior de suas escritas, que transformam as suas autobiografias – O fim de Eddy lançado na França em 2014 e publicado em 2018, no Brasil, e a História da violência, lançado em 2016 na França e publicado em 2020 no Brasil – em instrumentos de luta sociopolítica na França e no mundo, de maneira que o autor-narradorpersonagem transite entre o protagonismo de suas obras literárias e de lutas sociais. À vista disso, entendemos, a partir da literatura édouardiana, que há corpos que são menos amados e dificilmente aceitos do que outros, bem como nos fala Judith Butler (2015, p. 17). Desse modo, estes estão mais propícios a sofrerem violência, tal qual o corpo gay masculino afeminado. No caso de Édouard, vemos como a heterocisnormatividade, impregnada em seu ambiente social e familiar, acarretou-lhe danos irreparáveis em sua vida. Portanto, a partir de seu próprio material humano, Louis coloca em suas escritas situações reais, que entram em choque não somente com a tradição de sua família e de seu pequeno vilarejo rural, mas com toda a forma de estrutura de recepção do Estado Francês e do mundo para com as minorias. Referências: BUTLER, Judith. Quadros de Guerra: quando a vida é passível de luto?. Tradução de Sérgio Tadeu de Niemeyer Lamarão e Arnaldo Marques da Cunha. 1. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2015. LOUIS, Édouard. O fim de Eddy. Tradução de Francesca Angiolillo. São Paulo: Planeta do Brasil, 2018. LOUIS, Édouard. História da violência. Tradução de Francesca Angiolillo. São Paulo: Planeta do Brasil, 2020. O ARTISTA E A ÉPOCA: O PENSAMENTO ESTÉTICO-POLÍTICO DE JOSÉ CARLOS MARIÁTEGUI Yasmeen Pereira da Cunha Resumo: O peruano José Carlos Mariátegui é, sem dúvida, um dos mais importantes pensadores e dirigentes vinculados à tradição marxista-revolucionária. Em geral, as obras do autor são mais analisadas a partir de seu conteúdo político e econômico, enquanto suas contribuições sobre teoria e crítica literária carecem de maior atenção. Dito isso, a proposta desta comunicação é apresentar e debater o texto “O artista e a época”, publicado pela primeira vez em 14 de outubro de 1925, em que Mariátegui discute, dentre outros tópicos, o valor da Arte Moderna e a posição do artista na sociedade capitalista. Levando em consideração os argumentos do texto mencionado, é possível extrair algumas definições que atestam a base teórica do pensamento estético de Mariátegui, dentre elas: 1- toda transformação cultural obedece sempre a uma determinada conjuntura histórica, já que existe entre arte e realidade uma ininterrupta comunicação; 2- toda obra de arte é produto da imaginação, porém, não tem autonomia em relação à realidade, porque a criação literária se alimenta da vida coletiva dos homens; 3- as obras artísticas têm, no mercado burguês, não um valor intrínseco, ao contrário, possuem valor fiduciário; 4- a crítica de jornal é o que dita o sucesso ou não de um artista, logo, a produção de arte é refém da crítica literária jornalística. Tais pressupostos partem da concepção de que o grande movimento de transformação humana operado pela exploração capitalista levou os quadros intelectuais da burguesia a um processo de desintegração quase completa. Apesar disso, Mariátegui acena para os mais diversos matizes desse período histórico, uma vez que a arte do momento de decadência da burguesia não é, por si só, “arte decadente”. Esses são alguns tópicos do pensamento mariateguiano acerca dos fenômenos artísticos que, além de ainda serem relevantes, contribuem para a revisão justa do pensamento marxista sobre literatura. Referências: ESCORSIM, Leila. Mariátegui: vida e obra. São Paulo: Expressão Popular, 2006. KONDER, Leandro. Os marxistas e a arte: breve estudo histórico-crítico de algumas tendências da estética marxista. São Paulo: Expressão Popular, 2013. MARIÁTEGUI, José Carlos. Do sonho às coisas – Retratos subversivos. São Paulo: Boitempo, 2005. ______. O ponto de vista antiimperialista. In: Jaime Pinsky. Questão nacional e marxismo. São Paulo: Editoria Braziliense, 1980. p.279-285. ______. Literatura y estética. Caracas: Fundación Biblioteca Ayacucho, 2007. ______. Por um socialismo indo-americano. 2ª. ed. Rio de Janeiro: Editoria UFRJ, 2011. ______. Revolução Russa: história, política e literatura. 1ª. ed. São Paulo: Expressão Popular, 2012. ______. Sete ensaios de interpretação da realidade peruana. 1ª. ed. São Paulo: Expressão Popular: Clacso, 2008. SIMPÓSIO “A PERSISTÊNCIA DAS LITERATURAS 'FRANCÓFONAS' NO BRASIL: RESISTÊNCIA, ESTÉTICA E POLÍTICA” Josilene Pinheiro-Mariz (UFCG), Dennys Silva-Reis (UFAC) BICULTURALISMO, EXPATRIAÇÃO E BILINGUISMO EM L’HOMME DÉPAYSÉ DE TZVETAN TODOROV Beatriz D'Angelo Braz Gorla Resumo: Em L’homme dépaysé, o crítico literário búlgaro - naturalizado francês - Tzvetan Todorov descreve seu retorno a seu país natal, em 1981, dezoito anos após sua partida. Todorov deixou Sófia, capital da Bulgária, em 1963, para estudar em Paris, onde morou até sua morte, em 2017. Inicialmente, sua estadia na França seria temporária. Porém, em 1968, ele ingressa no CNRS (Centre national de la recherche scientifique), a maior instituição de pesquisa científica francesa, na qual desenvolveu sua carreira como crítico literário, ensaísta e historiador das ideias. Os dez dias que o autor passa em Sofia, em 1981, como parte da delegação francesa convidada para o congresso de comemoração do aniversário da criação do Estado búlgaro, inspiram uma série de reflexões em Todorov e uma tomada de consciência em relação à sua condição de expatriado, ou de “exilado circunstancial”, como ele próprio se definia. O autor discorre sobre sua identidade dupla, que conjugava dois discursos - o búlgaro e o francês -, seu bilinguismo e, sobretudo, seu biculturalismo, após um processo de transculturação, em que os novos códigos e valores da cultura francesa foram assimilados, paulatinamente, fazendo com que ele saísse da posição inicial de outsider, quando chegou, para a de insider, a ponto de ele sentir-se um estrangeiro na sua terra natal. L’homme dépaysé, contudo, não se limita apenas à reflexão sobre a experiência pessoal do autor. O relato em primeira pessoa de Todorov e sua vivência na Bulgária, na França, e, também, nos Estados Unidos servem como ponto de partida para suas elaborações sobre questões históricas e sociológicas nos três países, abordando temas como o totalitarismo, o racismo e a cultura na sociedade contemporânea. A proposta desta comunicação é uma reflexão teórica sobre L’homme dépaysé, em especial sobre a condição do expatriado, da transculturação e do biculturalismo. Referências: TODOROV, Tzevetan. L'homme dépaysé. Paris: Éditions du Seuil, 1996. BHABHA, Homi K. O Local da Cultura. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1998. ANOKHINA O., RASTIER F. (dir.), Ecrire en langues : littératures et plurilinguisme, Paris, EAC, 2015. AUSONI A., Mémoires d’outrelangue. L’écriture translingue de soi, Genève, Slatkine Erudition, 2018. A FRANCOFONIA COMO TERRITÓRIO DE RESISTÊNCIAS NA LUTA ANTICOLONIAL ARGELINA: ASSIA DJEBAR E FRANTZ FANON Bruna Perrotti Resumo: Em L'an Cinq de la Revolution Algérienne (1959) Fanon defende a apropriação das tecnologias e dos símbolos do colonizador pelo colonizado e convoca a literatura argelina ao combate, o autor produziu um verdadeiro balanço do andamento da guerra, enquanto escrevia ao mundo um manifesto político em prol da independência argelina, que só seria conquistada dois anos depois. Engajada na mesma luta de libertação, Assia Djebar retrata, em seus dois romances que se passam durante a guerra, Les Enfants du Nouveau Monde (1962) e Les Alouettes Naives (1967), as mulheres engajadas no conflito, tornando sua produção literária também um espaço de resistência à violência colonial. Posteriormente pensa como a apropriação da língua francesa pelas mulheres argelinas (principalmente no âmbito escrita) abriram a elas caminhos de liberdade, pois essas podiam romper com o destino feminino comum do enclausuramento e acessar o mundo (DJEBAR, 1985). O objetivo desse trabalho é analisar como os dois autores responderam com suas obras e trajetórias, cada um a sua maneira, ao aparente paradoxo do lugar – frequentemente questionado - da literatura de expressão francesa na luta anticolonial, pretende-se ainda mostrar como ambos adentram e constroem a francofonia como um território de resistências e de busca pela liberdade. Referências: ACHEBE, Chinua. Language and the destiny of man. In: Morning Yet on Creation Day: essays. London: Heinemann, 1975. CESAIRE, Aimé. Discours sur le colonialisme. Paris: Éditions Présence Africaine, 1955. DJEBAR, Assia. L’Amour, la fantasia. Paris: Albin Michel, 1985. DJEBAR, Assia. Les alouettes naïves. Paris : Julliard, 1967. DJEBAR, Assia. Les Enfants du nouveau monde. Paris: Julliard, 1962. FANON, Frantz. L’an V de la Révolution algérienne. Paris: Présence Africaine, 1959. FANON, Frantz. Os Condenados da Terra. Rio de Janeiro: Civilizaçao Brasileira, 1979. FANON, Frantz. Pela negra, máscaras brancas. Salvador: EDUFBA, 2008. MEMMI, Albert. Retrato do colonizado: precedido do Retrato do colonizador. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007. OBERGOKER, Timo. Cinq theses sur la litterature-monde en français: une polémique. Revue électronique d’études françaises de l’APEF, vol. 2, 2010. WA THIONG'O, Ngugi. Decolonising the mind: The politics of language in African literature. East African Publishers, 1992. ZIMRA, Clarisse. “In Her Own Write: The Circular Structures of Linguistic Alienation in Assia Djebar's Early Novels.” African Literatures, vol. 11, n. 2, 1980. p. 206-223. SUZANNE DRACIUS: MULHER, POESIA E CONTEMPORANEIDADE NA CENA LITERÁRIA ANTILHANA Danielle Grace De Almeida Resumo: Ainda pouco conhecida e sem tradução no Brasil, Suzanne Dracius constrói uma obra em que os espaços se configuram por meio de uma poética da contemporaneidade, em que se percebe uma colagem de estilos, misturando tempos, sons, línguas e sentidos. Em Exquise déréliction métisse (2008), a poeta narra um mundo composto pela alteridade, contorcendo a língua francesa no (entre)mundos dos espaços sociais, políticos e geográficos que envolvem as Antilhas e os territórios francófonos da América Latina. Há, portanto, o ritmo verborrágico das cidades, o coro intercruzado das línguas, mas também o adensamento das experiências íntimas envolvidas pelas questões da mulher na sociedade contemporânea. Este trabalho pretende analisar o modo como a autora compõe um universo de múltiplos territórios a serem percorridos por uma voz poética que parece avistar na dissonância o caminho de reconstrução da sua relação com o mundo. Pretende-se investigar também os dispositivos literários que servem à poeta para inscrever-se em uma memória diaspórica, apontando o lugar da arte na constituição de uma identidade anticolonial. Por último e não menos importante, busca-se responder de que modo a poesia de Dracius potencializa a relação entre os espaços políticos de poder que se estabelecem nas formas históricas de se conceber não somente as identidades culturais, mas também as que circundam as questões de gênero. Referências: CIXOUX, Hélène. Le Rire de la Méduse: et autres ironies. Paris: Galilée, 2010. ______. Prénoms de personne. Paris: Editions du Seuil, 1974. GEFFEN, Alexandre. “Soi-même comme un autre : Présupposés et significations du recours à la fiction biographique dans la littérature française contemporaine”. In : Fictions biographiques, XIXe-XXe siècles. Toulouse : Presses universitaires du Mirail, 2007, p. 62-64. GEFFEN, Alexandre. “Au pluriel du singulier : La Fiction biographique : Savigny-Puech et Emmanuel Carrère”. Critique, no 781-782 “Biographies mode d’emploi”, juin-juillet 2012, p. 565-575. GLISSANT, Edouard. Introdução a uma poética da diversidade. Trad. Enilce do Carmo Albergaria Rocha. Juiz de fora: Editora UFJF, 1996. DRACIUS, Suzanne. Exquise déréliction métisse. Madison: Desnel. 2008. DO BRASIL A LUXEMBURGO E VICE-VERSA - PARA COMEÇAR A FALAR DE LIFRALU Dennys Silva-Reis Resumo: Luxemburgo é um pequeno país que tem por fronteiras Bélgica, Alemanha e França. Território que compartilha sua identidade em três línguas – luxemburguês, francês e alemão – e que ainda pouco se conhece de sua cultura e de sua literatura nos estudos de literaturas francófonas. A partir desta constatação, o presente trabalho visa trazer à tona um pouco da literatura desta região (chamada por Franck Wilhelm (2010) de LIfralu) tendo por ponto de partida o entrelaçamento dela com o Brasil. Para isso, pautar-se-á em obras luxemburguesas que têm por tema o Brasil ou do qual o autor tenha ligação com os dois países. Neste sentido, elencase os autores Paul Palgen (1883 -1966) Marc André Meyers (1946-) e Sonia da Silva (1975-) com suas obras Guanabara et autres poèmes (1992), A dama e o Luxemburguês (2013) e D’amour et d’acier (2015). Explana-se assim o apagamento de tal elo histórico e literário com vistas à conscientização de valorização do presente domínio de estudo. Além de explorar as temáticas identitárias e a amostragem autoral de LIfralu, almeja-se com essa comunicação revelar caminhos de como iniciar uma aproximação da literatura francófona de Luxemburgo com os leitores brasileiros a fim de abrir novas perspectivas de pesquisa e ensino das literaturas francófonas no Brasil de forma mais geo-ética. Referências: KIEFFER, Rosemarie. Littérature luxembourgeoise de langue française. Quebéc: Éditions Naaman, 1980. MEYERS, Marc André. D'amour et d’acier. Quand le Luxembourg et le Brésil forgeaient l’histoire. Trad. Sonia da Silva. Luxembourg:Saint-Paul (Éditions), 2015. MEYERS, Marc André. A dama e o Luxemburguês. Rio de Janeiro: Record, 2013. PALGEN, Paul. Guanabara et autres poèmes. Paris: Georges Thinès, 1992. WILHELM, Franck. Dictionnaire de la francophonie luxembourgeoise : suivi d'une . Anthologie d'auteurs francophones luxembourgeois contemporains. Luxembourg: Cahiers francophones d'Europe Centre-Orientale, 1999. [Version sur ligne: https://www.autorenlexikon.lu/online/www/menuHeader/home/FRE/index.html ] RESISTÊNCIAS E ESCRITA POÉTICA EM UN AILLEURS À SOI DE EMMELIE PROPHÈTE Érika Pinto de Azevedo Resumo: Un ailleurs à soi (Mémoire d’Encrier, 2018) é um romance da escritora haitiana contemporânea Emmelie Prophète. Sua escrita quotidiana e poética interpela leitoras e leitores a pensar sobre as diversas acepções que o verbo “partir” pode assumir no livro. Partir no sentido de ir para outro lugar (alhures), deixar o país; no sentido de permanecer, “partir sem sair do lugar” e achar novos caminhos, ir em direção ao que nos interpela; e enfim naquele de partir pela “estrada da aventura mental” (André Breton, 1924), da imaginação, da literatura. São esses alguns dos sentidos possíveis do verbo “partir” apresentados nas trajetórias de Maritou e Lucie, mas também na de Julien, personagens anônimos que vivem no emaranhado urbano periférico de Porto Príncipe, que trabalham e deambulam pelas ruas para “descans[ar] de suas misérias, de seus desastres cotidianos” (Emmelie Prophète, 2018). Un ailleurs à soi trata o Haiti não apenas como um país do qual se parte (em direção à Paramaribo ou ao Brasil), mas como um espaço do ficar, lugar de utopia-ação no qual a literatura haitiana, em seus diálogos com outras literaturas, também é viagem. O Haiti, país empobrecido pelas lógicas colonial e neocolonial e no qual a miséria econômica é acentuada por catástrofes naturais recorrentes, é também o lugar de uma vasta e linda produção literária em língua francesa, crioula e outras línguas. Esta comunicação propõe assim apresentar o romance Un aillerus à soi a partir da relação partir-ficar que toda viagem, inclusive a viagem literária, proporciona. Problemáticas como a emigração, a violência urbana, o racismo, a homossexualidade e o papel que as mulheres ocupam nesse espaço histórico, social e cultural fazem parte da reflexão aqui proposta. Referências: PROPHÈTE, Emmelie. Un Ailleurs à soi. Montréal: Mémoire d'Encrier, 2018. BRETON, André. Manifeste du surréalisme. (1924). In idem. Manifestes du surréalisme. Paris: Gallimard, 1996. O TEMA DA MENDICIDADE E SUA RELAÇÃO COM O CONTEXTO CULTURAL SENEGALÊS NO ROMANCE LA GRÈVE DES BÀTTU (1979), DE AMINATA SOW FALL Gabriela Rodrigues de Oliveira Resumo: Nesse simpósio, decidi apresentar novamente a comunicação que fiz para o Congresso Acadêmico da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), pois gostaria de ter um retorno sobre meu trabalho nesse espaço dedicado ao debate e a reflexão das literaturas de expressão francesa. Objetivamos apresentar nosso objeto de estudo de mestrado em desenvolvimento, o romance La grève des bàttu (1979), da escritora senegalesa Aminata Sow Fall, que é financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), processo n. 2021/025527. Em sua narrativa, a obra apresenta um tema bastante atual e presente em diversas sociedades, a mendicidade. A mendicância, utilizada por Sow Fall como um dos temas principais de seu romance, permite, por meio de sua narrativa, que o leitor conheça alguns dos problemas sociais, políticos e, em última instancia, até mesmo linguísticos dessa sociedade. Fall traz para o romance a questão da falta de políticas públicas para auxiliar os mendigos que não são considerados como indivíduos, mas sim como “déchets humains” (“dejetos humanos”, FALL, 2001, p. 11) nessa sociedade. A partir da transposição literária deste tema, com objetivo de compreendê-lo mais profundamente, veremos como ele é construído na obra por meio de suas personagens (ABDALLA JUNIOR, 1995; CANDIDO et Al., 2009; CHATMAN, 1990), que podem ser divididas em dois grupos: por um lado, temos os representantes do poder administrativo do país representadas pelas personagens Kéba Dabo e Mour Ndiaye, por outro lado, temos o grupo dos mendigos representado, principalmente, por Salla Niang e Nguirane Sarr. Por meio dessa configuração estabelecida no romance, analisaremos o tema da mendicidade vinculando-o ao contexto cultural senegalês (CHEHAMI, 2013; FALL,2005; ONIEMELUKWE, 1998 e 2003 e OYOUROU 2009) e, com isso, visamos compreender melhor a relação entre este tema na narrativa e na sociedade senegalesa. Referências: ABDALLA JUNIOR, Bejamin. Introdução à análise da narrativa. São Paulo: Scipione,1995. CANDIDO, Antonio, et. al. A personagem de ficção. 11. ed. São Paulo: Perspectiva, 2014. CHATMAN, Seymour. Historia y discurso: La estructura narrativa en la novela y en el cine. Tradução de Maria Jesus Fernandez Prieto. Madri: Taurus humanidades, 1990. CHEHAMI, Joanne. Les “talibés” du Sénégal : une catégorie de la rue, prise entre réseaux religieux et politiques d’action humanitaire. Tese (Sociologia) - Université de Grenoble, 2013. FALL, Guedj. Ou sont-ils les “porteurs de battu” dans le roman d’Aminata Sow Fall? Pour une esquisse de l'esthétique de l’oeuvre littéraire africaine en langue française. Ethiopiques: Littératures, philosophie et art, Dakar, n° 75, 2005. ONIEMELUKWE, Feoma Mabel. Sow Fall et oeuvre littéraire ou politique dans La grève des bàttu?. Journal of the humanities, vol. 9, n. 6, 2003. ONIEMELUKWE, Feoma Mabel. Grève et révolte dans La grève des bàttu d’Aminata Sow Fall. Agora: Journal of Foreign Languages Studies, vol. 2, n.1, 1998. OYOUROU, Benson Cobri. Tradition et renouveau dans l'esthétique romanesque d’Aminata Sow Fall. Tese (Letras) – Universite de Cocody – Costa do Marfim, 2009. Disponível em: http://archives.uvci.edu.ci:52003/data/THESES_LETTRE_MODERNE/THESE_63693686725701726 9. O IMPASSE DA LITTÉRRATURE-MONDE Jessica Andrade de Lara Resumo: O presente trabalho traz as reflexões do grupo de pesquisa orientado pela professora Viviane Pereira, da UFPR, que entre 2021 e 2022 se debruçou sobre os textos reunidos no livro Pour une littérature-monde en français (2007). Partindo do manifesto de mesmo título publicado no jornal Le monde em 2017 e assinado por dezenas de autores, o livro, publicado no mesmo ano, organizado por Jean Rouaud e Michel Le Bris, é composto por diferentes registros: ficção, ensaio, entrevista de escritores de diversas nacionalidades (tendo grandes nomes reconhecidos amplamente na cena literária, como Maryse Condé, Edouard Glissant, Alain Mabanckou e Tahar Ben Jelloun) que compartilham sua relação com a escrita e uso do francês. Ao decorrer dos textos, a possibilidade de falar de uma literatura-mundo se dissolve, pois encontramos diferentes pensamentos e vínculos com a língua francesa, que pode significar tanto “un butin de guère” do processo colonial como também a palavra livre, que escapa à censura e aos regimes teocráticos. A ideia de que essa(s) literatura(s) é(são) a ressurreição do francês, morto dentro dos limites nacionais, como destaca Rouaud no texto de abertura do livro, torna-se escorregadia diante de elos tão fragmentados e complexos com a língua e o fazer literário. Os registros se interseccionam não pelo uso da língua, mas sim pela reivindicação da autonomia literária. Muitas vezes a pergunta “por que escrever em francês?” é respondida de forma oblíqua ou até mesmo com ironia, pondo em xeque qualquer tentativa de leitura homogeneizante. A literatura-mundo em francês, pelos escritores que, em teoria, fazem parte, não constitui uma resposta unificada à decadente francofonia, mas seu insucesso como fórmula revela, por outro lado, uma miríade de opacidades que se pode ler em Relação, como proposto por Edouard Glissant. Referências: LE BRIS, Michel; ROUAUD, Jean (org.). Pour une littérature-monde. Paris: Éditions Gallimard, 2007. GLISSANT, Édouard. Poética da Relação. Lisboa: Editora Sextante, 2011. SOBRE PENSAR AS ÁFRICAS OCEÂNICAS E SUA DIVERSIDADE LINGUÍSTICA Josilene Pinheiro-Mariz Resumo: As literaturas de língua francesa do continente africano estão para além das literaturas ditas "francófonas", haja vista, tais produções literárias abarcarem uma escrita que visita a diversidade linguística da região, destacando-se a línguafrancesa, sobretudo nos espaços chamados "Áfricas líquidas" ou "Áfricas oceânicas", pelo olhar de Françoise Vergès (2019). Nessa perspectiva, esta comunicação se propõe a discutir temáticas presentes em obras de autores desses espaços do continente africano, dando-se enfoque a dois autores: Ananada Devi, premiada autora das Ihas Maurício e Boris Gamaleya, ícone das literaturas da Ilha da Reunião. Por esse olhar, discutiremos as características das obras literárias das Áfricas líquidas, em diálogo com os demais espaços de língua francesa pelo mundo, ressaltando a sua força poética e militante. Damos enfoque aos dois supracitados autores que em seus países representam a literatura língua francesa de modo peculiar, haja vista tais autores revelarem ao mesmo tempo uma poética das Ilhas, mas também uma lírica de engajamento sociopolítico/linguístico. Por fim, ressaltamos as obras desses autores tanto narrativas, quanto poéticas que revelam também um engajamento político em relação ao lugar da língua francesa nas Ilhas africanas. As nossas reflexões estão ancoradas no pensamento de Mabanckou (2019; 2020), no que diz respeito às África e à sua diversidade em todos os sentidos, incluindo-se de modo especial, a? linguística. Assim, nesta comunicação, buscamos portanto, desvelar a diversidade bem com a multiplicidade das literaturas escritas em francês dos espaços oceânicos do continente africano, com o olhar para as poéticas das literaturas 'francófonas'. Ressaltamos, evidentemente, a estética, mas também a resistência da língua, o que revela uma persistência política e poética inigualável no que concerne a essa produção literária. Referências: MABANCKOU, A, Penser l'Afriquw qui vient. Deuil. PARIS. 2017. (TRANS)FORMANDO LEITORES: POR QUE REVER PRÁTICAS DOCENTES NAS DISCIPLINAS DE LITERATURA DE EXPRESSÃO FRANCESA NO BRASIL? Júlia Hartmann das Chagas Resumo: Situada em uma esfera mais política e pragmática, este trabalho busca propor uma reflexão sobre as possibilidades de prática docente no quadro das disciplinas de literaturas de expressão francesa no âmbito da formação em Letras de licenciandos e bacharelandos do Instituto de Letras da UFRGS. A fim de entender melhor por que, muitas vezes, essas disciplinas acabam por materializar e perpetuar um discurso literário elitista e excludente, chegando até mesmo a provocar o distanciamento de determinados alunos, levantamos algumas indagações e hipóteses. Esses passam, de um lado, pelo questionamento do status da língua francesa (levando em consideração a hegemonia existente, a qual se traduz na prática por preferências a certas narrativas em detrimento de outras) na realidade dos estudantes brasileiros; e de outro lado, pela compreensão do ensino de literatura em si, que continua sendo pautado pela lógica da leitura por períodos históricos que, por sua vez, fomenta a valorização e tradição do funcionamento dos cânones literários e de uma maneira de ler e de se relacionar com a literatura. Acreditamos que um caminho possível para uma mudança epistemológica no ensino de literaturas produzidas em língua francesa, e que teria efeitos sobre o método pedagógico, seja através das narrativas da Littérature-Monde, que abrigam em seus universos histórias capazes de dialogar com a realidade dos alunos brasileiros, não somente pelo seu caráter diverso e plural, mas também por serem escritas em uma língua francesa que parece ter ultrapassado as fronteiras da própria língua e, por isso, se tornam mais facilmente fonte de diálogo e de produção de linguagem para esses estudantes. Referências: BLONDEAU, N. ; PINHEIRO-MARIZ, Josilene. Há uma voz feminina nos mares e nos continentes de Língua Francesa? Pontos de Interrogação – Revista de Crítica Cultural, v. 2, n.1, jan./juin. 2012. JOVER-FALEIROS, Rita. Leitura literária no ensino do Francês Língua Estrangeira: consenso teórico, ausência na prática? Fragmentos, Florianópolis, n. 37, p. 165-179, jui./déc., 2009. MACHADO, Fernanda. O conto, a novela e o presente na Literatura Africana Francófona. Revista África(s), v. 3, n. 5, p. 07-23, jan./juin. 2016. PINHEIRO-MARIZ, Josilene. Da necessidade de uma “Literatura-Mundo” no ensino de francês no Brasil. Letras, Santa Maria, v. 21, n. 42, p. 341-361, jan./juin. 2011. PINHEIRO-MARIZ, Josilene. O texto literário em aula de Francês Língua Estrangeira (FLE). 284 p. (Thèse de doctorat : Langue et Langue Française). Universidade de São Paulo, 2007. CHARTIER, Roger. (org.). Trad. de Cristiane Nascimento. Práticas da leitura. São Paulo: Estação Liberdade, 1996. LAHIRE, Bernard. “A indissociabilidade entre linguagem e sociedade”. Trad. de Ricardo Visser e Maria de Lourdes Medeiros. In: VISSER, R.; JUNQUEIRA, L. Dossiê Bernard Lahire. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2017, p. 95-126. LAJOLO, M.; ZILBERMAN, R. A formação da leitura no Brasil. São Paulo: editora UNESP, 2019. PETIT, Michèle. Trad. de Celina Olga de Souza. Leituras: do espaço íntimo ao espaço público. Rio de Janeiro: Editora 34, 2013. Hooks, bell. Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade. Tradução: Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: Editora Martins Fontes. 2017. 283p. VOZES DE MULHERES ANTILHANAS: MEMÓRIAS, FICÇÕES E SEGREDOS NA ESCRITA DE GISELE PINEAU Júlia Simone Ferreira Resumo: Utilizando-se da autobiografia, das histórias, das ficções, dos segredos e dos não-ditos, veremos que a escrita de Gisèle Pineau, a partir de sua escrevivência, coloca em evidência vozes de mulheres antilhanas. Vozes de várias mulheres que rompem com as regras do silêncio patriarcal. Vozes que não se calam, diante do racismo do mundo branco, das opressões, das intolerâncias raciais, das injustiças sociais e das inúmeras violências domésticas vivenciadas no cotidiano. Vozes de mulheres que gritam simbolicamente contra a herança trágica e a barbárie da escravidão. Heranças que deixaram marcas indeléveis na identidade e na cultura antilhana. Pineau joga luz nessa maldição dos negros ou na maldição ancestral. Maldição que se transmite simbolicamente de geração em geração. Assim, o corpo negro, traumatizado, humilhado, dilacerado, vivido através da violência de um passado colonial doloroso, se manifesta atualmente através de vários crimes de violência, contra o corpo da mulher: violência, física, psicológica, sexual, moral etc. É nesse sentido que a escrita de Pineau interroga e questiona a responsabilidade individual e ou a responsabilidade coletiva de toda a sociedade. A dimensão ética e moral e a identidade antilhana se fazem sentir nos meandros da escrita. O problema da violência se traduz através das manifestações individuais e ou coletivas, nas relações conflituosas entre marido e mulher, entre amantes, entre pais e filhos, entre outros. Enfim, a violência que se manifesta nos textos é traduzida como o fruto de um passado colonial. A escrita se torna então um combate, um engajamento político, um ato de resistência em que lhe faz acreditar na liberdade, na viagem do possível de um mundo melhor. Referências: AVIGNON, Christine. Entretien sur l’écriture est un combat avec Gisèle Pineau. Afrique, le monde en relation. Mai 2007. Disponível em: http://africultures.com/lecriture-est-un- combat-5946/ Acesso em Set. de 2021. BELUGUE, Geneviève. Entre ombre et lumière: l’écriture engagée de Gisèle Pineau. Notre Librairie: Revue des Littératures du Sud nº 138-39 Paris;19992000. CÉSAIRE, Aimé. Discours sur le colonialisme. Paris: Éditions Présence Africaine, 2004. CONDÉ, Maryse. La parole des femmes: Essai sur des romancières des Antilles de la langue française. Paris: L’Harmattan, 1993. DUFF, Christine. Univers intimes: pour une poétique de l’intériorité au féminin dans la littérature caribéenne. New York: Peter Lang, 2008. FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. Tradução de Maria Adriana da Silva Caldas. 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LITERATURA DE EXPRESSÃO FRANCESA HAITIANA NA ESCRITA DE ÉVELYNE TROUILLOT Laíza dos Santos Albaram Resumo: Esta comunicação tem como objetivo abordar questões acerca do conceito de francofonia que foram estudadas com base nas definições propostas em “Qu’est-ce qu’une litterature francofone?” (Joubert, 1992), em nosso trabalho de Iniciação Científica, e que tem continuidade no projeto de pesquisa de mestrado em andamento pelo Programa de PósGraduação em Letras da Universidade Federal de São Paulo em que incluímos também o texto “Les littératures francophones. Questions, débats, polemiques” (Combe, 2010) abordados nos encontros de 2020 do Grupo de Estudos de Literatura de Expressão Francesa, coordenado por Ana Cláudia Romano Ribeiro e vice coordenado por Ligia Fonseca Ferreira, na Unifesp. Olhamos para este conceito através da análise do conto Dayiva da autora haitiana Évelyne Trouillot (2002) por entender que a prática de escrita de autores haitianos que escrevem em francês envolve sentidos mais abrangentes do que somente a língua em que se escreve. Envolve questões políticas e sócio-culturais que se iniciam com a definição destas literaturas como “francófonas” e que permeiam toda a produção do autor. Durante a produção da iniciação científica, optamos por aplicar o termo “literatura de expressão francesa” ao nos referirmos à literatura proveniente do Haiti escrita em língua francesa por justamente afirmamos o distanciamento, segundo nossa análise e compreensão do texto e da escrita da autora, do conceito de francofonia, com base em “Tensões de uma literatura-mundo de expressão francesa” (Faleiros, 2008) e “Littératures francofones et théorie postcoloniale” (Moura, 2019). Nesta comunicação, explicamos como a escolha por “literatura de expressão francesa” se deu e abordamos as problemáticas acerca do conceito de “literatura francófona” relacionando com o contexto de produção da obra da autora. Referências: BONN, Charles. et al. Les littératures francophones : un objet problématique. In: Littérature francophone, 1: Le Roman. Paris: Hatier et AUPELF-UREF, 1997. COMBE, Dominique. Les littératures francophones. Questions, débats, polemiques. Paris: Presses Universitaires de France, 2010, p. 81-119. CORCORAN, Patrick. The Caribbean: Haiti. In: The Cambridge Introduction to Francophone Literature. Nova York: Cambridge University Press, 2007. FALEIROS, Álvaro. Tensões de uma literatura-mundo de expressão francesa. Revista da Anpoll, Santa Catarina, v. 1, n. 4, 2008, p. 375-378. JOUBERT, Jean-Louis. Qu’est-ce qu’une litterature francophone? Revista Francofonia, Bolonha, v. Printemps, n. 22, 1992, p. 19-22. MOURA, JeanMarc. Littératures francophones et théorie postcoloniale. France : JOUVE. 2019. TROUILLOT, Évelyne. Dayiva. In: Parlez-moi d’amour. Haiti: Imprimierie Caraïbe, 2002. MÉMOIRE DE FEMME, DE TANELLA BONI: VERSOS DE POESIA E RESISTÊNCIA Luana Costa de Farias, Josilene Pinheiro-Mariz Resumo: Neste trabalho, teceremos reflexões a respeito da produção poética da escritora marfinense Tanella Boni. A referida poetisa é filósofa, ativista, autora de romances, ensaios e artigos que tratam de temáticas como luta, mulher e sociedade, nos evidenciando o seu engajamento social, abordando questões pertinentes para discussão em nossos dias. Partindo desse ponto, temos a seguinte pergunta norteadora: através da leitura do poema Mémoire de femme da antologia Là où il fait si clair en moi, é possível identificar o lugar da mulher na sociedade marfinense e brasileira como um lugar de resistência? Para tal indagação, designamos como objetivo analisar o citado poema, levando em consideração os aspectos sócio-históricos e culturais de cada país. Nossas reflexões estão ancoradas no pensamento de Blondeau e Allouache (2003; 2008), Boni (2011), Vaillant (2008); e, também em Vergès (2019) e Hollanda (2020) para as considerações sobre o papel da mulher na literatura. A presente pesquisa se caracteriza como uma pesquisa documental e bibliográfica, também inserida no âmbito das pesquisas qualitativas (GERHARDT; SILVEIRA, 2009) e descritivas, uma vez que esse tipo de pesquisa tem como objetivo principal descrever as características de determinado fenômeno com a utilização de dados coletados e anotações feitas durante a sua realização. Acreditamos na importância do desenvolvimento de pesquisas como essa, pois valoriza a poesia de língua francesa produzida fora do hexágono se tornando um ato de força. Referências: BLONDEAU, Nicole ; ALLOUACHE, Ferroudja. Littérature progressive de la francophonie. CLE International: Paris, 2008. BLONDEAU, Nicole; ALLOUACHE, Ferroudja; NÉ, Marie Françoise. Littérature progressive du français: niveaux intermédiaire. Paris: CLÉ International, 2003. BONI, Tanella. Que vivent les femmes d’Afrique?. Éditions Karthala, Paris, 2011. BONI, Tanella. Là où il fait si clair en moi. Bruno Doucey, Paris, 2017 GERHARDT, T, E. SILVEIRA, D. T. Métodos de pesquisa. Rio Grande do Sul: Editora da UFRGS, 2009. Disponível em: http://www.ufrgs.br/cursopgdr/downloadsSerie/derad005.pdf. Acesso em: 03/04/2020. HOLLANDA, Heloisa Buarque de. Pensamento feminista hoje: perspectivas decoloniais. 1. ed. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2020. VAILLANT, Alain. La poésie : Introduction à l'analyse des textes poétiques. Armand Colan. Paris, 2008. VERGÈS, Françoise. Um feminismo decolonial. Trad. Jamile Pinheiro Dias; Raquel Camargo. São Paulo, Ubu Editora, 2019. DA IMPACIÊNCIA À ESCRITA: RESILIÊNCIA E CRIAÇÃO LITERÁRIA EM DJAÏLI AMADOU AMAL Luciana Wrege Rassier Resumo: Escritora camaronesa fulani e ativista pelos direitos femininos, Djaïli Amadou Amal tornou-se uma figura emblemática consagrada após ter recebido o prêmio Goncourt des lycéens (2020) e ter ficado entre os quatro finalistas do prêmio Goncourt (2020) com seu romance Les impatientes (Paris: Emmanuelle Collas, 2020). Nessa obra, as narradoras-protagonistas são três mulheres originárias de famílias abastadas do norte da República dos Camarões. Duas delas são submetidas a um casamento forçado, enquanto a terceira é confrontada à chegada da segunda esposa de seu marido. Tanto em suas narrativas publicadas anteriormente quanto em Cœur du Sahel (2022), a autora aborda a condição das mulheres africanas e a violência que sofrem inspirando-se em fatos autobiográficos. Na presente comunicação, objetiva-se, por uma lado, refletir sobre a obra da autora enquanto “balbucio” (ACHUGAR, 2006) no contexto das ditas “literaturas francófonas” ((ALLOUACHE, 2017; OBERGÖKER, 2010). Por outro lado, propõe-se analisar a construção literária da narrativa e sua articulação com elementos autobiográficos, dando atenção especial a fontes paratextuais, como as entrevistas concedidas pela autora. Pretende-se, por fim, compreender as figurações dos processos de exclusão e de silenciamento relacionados a personagens e enredos na obra de Djaïli Amadou Amal. Tais são as contribuições deste trabalho à proposta do Simpósio “A persistência das literaturas ‘Francófonas” no Brasil: resistência, estética e política”. Referências: ACHUGAR, Hugo. Planetas sem boca: escritos efêmeros sobre arte, cultura e literatura. Tradução de Lyslei Nascimento. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2006. A OBRA DE MARJANE SATRAPI COMO REPRESENTANTE DA ESCRITA FEMININA DE LITERATURA DE LÍNGUA FRANCESA NO IRà Manuella Barreto Bitencourt, Josilene Pinheiro-Mariz Resumo: Ao pensarmos na produção quadrinística dentro e fora do Brasil, vemos que as mulheres ainda são muito excluídas, fato este que não é novidade na literatura em geral. A validação de tal pensamento pode ser dada, por exemplo, a partir dos termos utilizados àqueles que fazem parte do mundo dos quadrinhos, como nerd ou geek , termos anexados apenas ao sexo masculino, uma vez que, a partir de um consenso sexista, o mundo dos jogos e dos comics não é de interesse feminino. Na literatura não é diferente, Zolin (2009) afirma que, não muito diferente do exterior, no Brasil, a literatura parecia ser um local apenas para homens, já que era comum considerar que as obras escritas por mulheres serem inferiores; e, não apenas como escritoras, as personagens femininas também não são, até hoje, retratadas como sujeitos participativos da história. Um exemplo marcante para a quebra de tal paradigma, é a autora Marjane Satrapi, que se tornou a primeira mulher nascida no Irã a escrever quadrinhos. A partir das obras de Satrapi, tais como o seu maior sucesso no Brasil, Persépolis, somos apresentados à personagens femininos que, às vezes, embora não sejam protagonistas, são indispensáveis na composição das narrativas. Assim, pretendemos aqui fazer uma leitura das obras, Persépolis, Bordados e Frango com ameixas, a fim de colocar em evidência a representação da presença feminina nas obras de língua francesa produzidas por autores iranianos, enquanto personagens e como escrita feminina. Desde já, podemos afirmar que, na obra de Satrapi, a mulher não está como enfeite, mas sim que, apesar de não ser os personagens principais, sem ela a História não aconteceria. Referências: SATRAPI, Marjane. Persépolis. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. SATRAPI, Marjane. Bordados. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. SATRAPI, Marjane. Frango com ameixas. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. ZOLIN, Lúcia Osana. Literatura de autoria feminina. In: (org.). Teoria literária. Maringá: Eduem, 2009. p. 327 -337. PROJETO DE EXTENSÃO LITTÉRAMONDE (UFPR): CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS E RESULTADOS PARCIAIS Marco Antonio Rocha Resumo: No anseio de ler obras em língua francesa escritas especialmente por autores não franceses e divulgá-las para fora dos muros da universidade, surgiu o projeto Littéramonde: literatura-mundo em francês (LE BRIS; ROUAUD, 2007), encontros de mediação de leitura, com base em Michèle Petit (2010; 2013), que já conta com três edições: na primeira, lemos autores das Antilhas; na segunda, do Magrebe; e, atualmente, estamos lendo autores da África Subsaariana na terceira edição. Tendo em vista que as universidades públicas brasileiras não são somente um importante espaço de produção e acumulação de conhecimentos, elas também admitem a função social de disseminar esses conhecimentos para a comunidade externa à academia por meio de cursos de curta duração, o que contribui tanto para o desenvolvimento do pensamento crítico desse público-alvo quanto para a formação profissional dos acadêmicos que os ministram. Dessa maneira, este trabalho tem por objetivo relatar como se dá a organização de cada edição, desde a escolha das obras a serem lidas, sempre com tradução para o português, até a preparação de cada encontro e a escolha dos tópicos temáticos e teóricos que serão abordados durante as mediações, como história e memória na leitura de “Tituba, bruxa negra de Salem”, de Maryse Condé (2019); migração para a Europa em “Partir”, de Tahar Ben Jelloun (2007); o Realismo Mágico em “País sem chapéu”, de Dany Laferrière (2011); e até questões de tradução, quando convidamos Sandra Stroparo, tradutora de “As Verdadeiras Riquezas”, de Kaouther Adimi (2019), para conversar conosco. Além disso, buscamos analisar o impacto dessas mediações na comunidade externa a partir do chat e de atividades propostas em alguns encontros e como esses fios temáticos fazem reverberar a tríade ensino-pesquisa-extensão, pois acreditamos que cada obra ganha novas camadas de leitura quando suas leituras são compartilhadas. Referências: ADIMI, Kaouther. As verdadeiras riquezas. Trad. Sandra M. Stroparo. Rio de Janeiro: Rádio Londres, 2019. BEN JELLOUN, Tahar. Partir. Trad. Mônica Cristina Corrêa. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007. CONDÉ, Maryse. Eu, Tituba, bruxa negra de Salem. Trad. Natalia Borges Polesso. Rio de Janeiro: Rosa dos tempos, 2019. LAFERRIÈRE, Dany. País sem chapéu. Trad. Heloisa Moreira. São Paulo: Ed. 34, 2011. LE BRIS, Michel; ROUAUD, Jean (org.). Pour une littérature-monde. Paris : Gallimard, 2007. PETIT, Michèle. A arte de ler ou como resistir à adversidade. Trad. Arthur Bueno e Camila Boldrini. 2.ed. São Paulo: Editora 34, 2010. ______. Leituras: do espaço íntimo ao espaço público. Trad. Celina Olga de Souza. São Paulo: Editora 34, 2013. AMOUR BILINGUE, DE ABDELKEBIR KHATIBI: ENTRE A HERANÇA DA COLONIZAÇÃO E PAIXÃO PELA(S) LÍNGUA(S) Maria Angélica Deângeli Resumo: Amour Bilingue (1983), do escritor marroquino, Abdelkebir Khatibi, é um romance que trata da problemática relação entre as línguas, mais especificamente, no contexto a partir do qual fala Khatibi, entre o francês e o árabe. O escritor oscila constantemente entre a língua do Oriente que, por sua vez, se divide entre o falar materno e a língua da Lei (islâmica), e a língua do Ocidente que, para ele é o francês. Por meio de uma narrativa consagrada à figura dos duplos (dupla língua, dupla herança histórica e cultural, duplo pertencimento), Khatibi questiona os limites e os desafios de uma escrita genealogicamente híbrida, resultado de rupturas e de imposições coloniais e concebida no rastro de uma paixão incondicional pela língua. Partindo dessa divisão inaugural e originária, divisão que não se faz sem dilacerações e que constitui a política-estética da escrita de Khatibi, o objetivo desta comunicação é mostrar como se constrói a cena dos duplos (como cena dedicada à celebração da bilíngua), que perpassa toda a narrativa de Amour Bilingue, e interrogar, como o faz autor, as implicações teóricas (e retóricas) de um discurso que concerne ao próprio e ao impróprio, ao estrangeiro e ao familiar, ao traduzível e ao intraduzível da(s) línguas, ao centro e às margens, questionar, enfim, a história da colonização francesa no Magrebe e a herança de um passado colonial que passa sobretudo pela história da(s) língua(s). Referências: CASANOVA, P. La république mondiale des lettres. Paris: Seuil, 2008. DERRIDA, J. Le monolinguisme de l’autre: ou la prothèse d’origine. Paris: Galilée, 1996. ______. Fidélités à plus d’un: mériter d’hériter où la généalogie fait défaut. In: FORTE, J. (Org). Rencontre de Rabat avec Jacques Derrida: idiomes, nationalités, déconstructions. Paris: Cahiers Intersignes; Casablanca: Éditions Toubkal, 1998. p. 221-265. ______. Poétique et politique du témoignage. In: MALLET, M.L; MICHAUD, G. (Org). L’Herne: Derrida. Paris: Editions de l’Herne, 2004. p. 521-539. KHATIBI, A. Amour Bilingue (1983). Casablanca: Ediff, 1992. ______. Lettre ouverte à Jacques Derrida. Europe, Paris, n. 901, p. 201-211, 2004. "SOUS LA TERREUR: ESCRITA E RESISTÊNCIA EM MARIE VIEUX-CHAUVET Normelia M Parise Resumo: Esta comunicação versará sobre a trilogia Amour, colère et folie da escritora haitiana Marie Vieux-Chauvet, publicada em 1968, e sua correspondência à Simone de Beauvoir (1967 a 1971), precioso épitexte privé (GENETTE) que nos dá acesso aos bastidores da escrita e da publicação da trilogia. Propomos aproximar o texto e o paratexto (GENETTE) para melhor aproximar a dimensão política e estética de sua obra cuja escrita se insere no contexto e é motivada pela revolta contra o regime político de terror que se instalara sob François Duvalier. Considerado pela crítico como o grande romance da literatura haitiana e do período duvalierista, Amour, colère et folie abre novas novas perspectivas politicas e estéticas ao romance (cf. Yanick Lahens, Kettly Mars), para além do « récit haïtien », do « roman paysan » e do « réalisme merveilleux », repercutindo nas Letras caribenhas, americanas, francófonas e feministas. E abre novas perspectivas aos estudos sobre as relações entre política e estética no romance haitiano. A correspondência, iniciada antes da publicação de ACF e interrompida com a morte da escritora, nos permite acessar as questões políticas e estéticas que atravessam a escrita e a publicação da trilogia, como também permite acessar os riscos assumidos pela escritora ao escrever e publicar sua obra « sob o terror ». Ela coloca em cena o combate da escritora para publicar seu livro e nos dá chaves para adentrar no universo atormentado de sua obra. Referências: ARENDT, Hannah. Sobre a violência. Rio de Janeiro: Relume/Dumará, 2000. _____. Origens do totalitarismo. São Paulo: Cia das Letras, 1998. DANTICAT, Edwige. Créer dangereusement. L’artiste immigrant à l’œuvre. Paris: Grasset, 2012. En Amour avec Marie (ouvrage collectif). Port-au-Prince. L'imprimeur S.A, 2016. FOUCAULT, M. Dits et Ecrits II. Paris : Gallimard, 2001. GENETTE, Gérard. Figures III. Paris: Seuil, 1972. ______ Seuils. Paris: Seuils, 1987. GALICHON, Isabelle. Le Récit de Soi. Une pratique éthique d’émancipation. Paris: L’Harmattan, 2015. GARAND, Dominique. Portrait de l’agoniste: Gombrowicz. Montréal: Liber, 2003. GRASSI, Marie-Claire. Lire l’épistolaire. Paris: Armand Colin, 2005. HAROCHE-BOUZINAC. Geneniève. L'épistolaire. Paris: Hachette, 1995. HURBON, Laënnec. Culture et dictature en Haïti : l'imaginaire sous contrôle. Paris : L'Harmattan, 1979. ______ (dir) La tentation de la tyrannie. Montréal : CIDIHCA, Vol. V, n.1, janvier 2001. KRISTEVA, J. Sens et non-sens de la révolte. Paris: Fayard, 1996. LAROCHE, Maximilien. La littérature militante dans la Caraïbe. Anales du Caribe, vol.11, 1991, p. 57-63. _____. Trois études sur Folie de Marie Chauvet. Québec: Grelca, 1984. MARTELLY, Stéphane. Les Jeux du Dissemblable. Folie, marge et féminin en littérature haïtienne contemporaine. Montréal: Nota Bene, 2016. NICHOLLS, David. Race, couleur et indépendance en Haïti (1804-1925). Jacmel : Editions de la dodine, 2011. NOTRE LIBRAIRE. La Littérature Haïtienne. 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No entanto, sabemos (ou deveríamos saber) que no continente europeu também existe uma literatura suíça de expressão francesa, por vezes chamada de littérature romande. Esta ainda hoje está envolta em polêmicas que perpassam a questão identitária e as dificuldades de adentrar ao mercado editorial francês, ao contrário de seus compatriotas germanófilos que têm uma maior aceitação no mercado editorial alemão. A literatura suíça tem nomes célebres como Jean-Jacques Rousseau, um dos filósofos mais influentes do Iluminismo e autores que como Charles-Albert Cingria, Blaise Cendrars, Ella Maillart, Nicolas Bouvier, entre tantos autores e autoras talvez (des)conhecidos do grande público que consolidaram a literatura de viagem. Neste trabalho gostaríamos de apresentar ao público brasileiro, Aude Seige, uma das escritoras da nova geração suíça. A escritora genebrina que tem formação em literatura francesa e estudos de civilização mesopotâmicas iniciou sua produção literária com o livro Les Neiges de Damas (2015). Já em sua segunda publicação Chroniques de l'Occident nomade (2011) foi agraciada com o prêmio Nicolas-Bouvier do festival Étonnants Voyageurs de Saint Malo seguidos de Une toile large comme le monde (2017) e L'Amérique entre nous (2022), entre inúmeros artigos e crônicas. Aude Seigne faz parte do seleto grupo de suíços nômades que buscam sua identidade fora dos cantões helvéticos. Sua escrita é uma associação de relatos de viagem com tons autobiográficos que expressam a jovialidade do século XXI. Referências: Casanova, Pascale; Meizoz, Pascale; Debruères, Pascale Littérature française et littérature romande: effets de frontière. « A contrario ». Lausanne, 2006/2 Vol. 4 | pages 154 à 163. Disponível em: https://www.cairn.info/revue-a-contrario-2006-2-page-154.htm Acesso em: 20. 04 2022 Roger, Francillon. 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Na ocasião, adota o nome Yourcenar, anagrama de Crayencour, um de seus sobrenomes. Avessa a etiquetas, a escritora, apesar da formação clássica que poderia indicar uma tendência ao conservadorismo, levou uma vida fora dos padrões convencionais. De certo modo, ela tinha um comportamento identitário que parecia anunciar a liberdade promovida a partir dos debates sobre questões de gênero, cujo tema foi muito bem desenvolvido pela filósofa Judith BUTLER (1990). Embora tenha escrito uma trilogia intitulada O labirinto do mundo, no qual pretende tratar de memórias de família, percebe-se nos três volumes que a autora pouco fala de si, preferindo privilegiar a mãe (Souvenirs pieux) e o pai (Archives du Nord; Quoi? L’éternité). Assim, para nos aproximarmos mais da autora, recorremos às entrevistas e às cartas, buscando questionar a construção memorial, tendo como base os preceitos de Paul RICŒUR, em La mémoire, l’histoire et l’oubli (2000). Profundamente interessada por história, Yourcenar deixou obra que revela um interesse por diferentes culturas, de certo modo cultivando uma Weltliteratur particular. Definí-la como francesa pela formação clássica e origem abastada leva muitos de seus leitores a excluí-la do rol das escritoras “francófonas”, ou seja, aquelas de língua francesa de ex-colônias ou de países diferentes da França. Seria justo manter Yourcenar fora da lista de escritores francófonos? Não seria ela genuinamente francófona por diversas razões? Referências: 1) BLANCKEMAN, Bruno (org.) Dictionnaire Marguerite Yourcenar. Paris: Honoré Champion, 2017. 2) BUTLER, Judith. Problemas de gênero. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2015. 3) RICOEUR, Paul. La mémoire, l'histoire, l'oubli. Paris: Seuil, 2000. 4) SAFRANSKI, Rüdiger. Goethe & Schiller: der Briefwechsel - eine Auswahl, Frankfurt: Fischer Verlag, 2011. 5) YOURCENAR, Marguerite. Essais et mémoires. Paris: Gallimard, 1991. 6) YOURCENAR, Marguerite. Les yeux ouverts. Paris: le Centurion, 1980. 7) YOURCENAR, Marguerite. Lettres à ses amis et quelques autres. Paris: Gallimard, 1995. 8) YOURCENAR, Marguerite. Portrait d'une voix. Paris: Gallimard, 2002. O EXÍLIO SOB O OLHAR DA ESCRITORA FRANCO-GUADALUPENSE MARYSE CONDÉ Solaneres Laértia Nunes Sabino Nascimento, Josilene Pinheiro-Mariz Resumo: Os documentos curriculares que parametrizam a educação nas universidades, tais como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB, 2020), apontam que o ensino superior deve incentivar a criação e a difusão de cultura e pluralismo de ideias. No entanto, há pouca abertura para as literaturas marginais e escritas por mulheres (BAGNO, 2012); em especial, para aquelas que abordam temáticas tais como exílios, imigrações e outros nessa perspectiva. A literatura de autoria feminina é um campo muito amplo, por isso procuramos trabalhar sob uma perspectiva decolonial, privilegiando as literaturas provenientes da África e da América Latina. Diante disso, objetivamos analisar a temática exílio sob a perspectiva das literaturas de escritoras que escrevem em línguas românicas. Posteriormente, realizaremos um clube de leitura online plurilíngue com estudantes de Letras, onde leremos contos de escritoras que escrevem em língua portuguesa, francesa, espanhola e italiana. No entanto, para essa comunicação, faremos uma análise da temática do exílio a partir do conto Portrait de Famille, da franco-guadalupense Maryse Condé. Nessa obra, a escritora nos mostra o exílio através das sequelas da colonização francesa na América, especificamente na sua família, difundindo a história e a cultura africana na Caraíbas . Para a análise do conto, nos fundamentaremos em estudos sobre literatura de autoria feminina (ZOLIN, 2009; LUGONES, 2020) e sobre identidade e cultura, diáspora e exílio (HALL, 2003; SAID, 2003). Acreditamos que esta análise contribuirá para compreender o exílio através da diversidade cultural e linguística da literatura de Maryse Condé, visibilizando a sua literatura e estimulando o trabalho com literaturas de autoria feminina sob uma perspetiva decolonial, sobretudo com estudantes de Letras. Referências: BAGNO, M. Curso de Letras? Pra quê? Conferência de abertura do VII EBREL Encontro Brasiliense de Estudantes de Letras (Brasília, UnB). 2012. Disponível em :< https://www.parabolablog.com.br/index.php/blogs/curso-de-letras-pra-que-1>.Acesso em 07 jun. 2021. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB. Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2020. HALL, S. Da diáspora – identidades e mediações. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003. SAID, E. W. Reflexões sobre o exílio e outros ensaios. São Paulo : Companhia das Letras, 2001. LUGONES, María. Colonialidade e Gênero. In: HOLLANDA, Heloísa Buarque de. (org.). Pensamento Feminista Hoje: Perspectivas Decoloniais . Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2020. 381 p. ZOLIN, L. O. Literatura de autoria feminina. In: BONNICI, T; ZOLIN, L.O (Org). Teoria literária: abordagens históricas e tendências contemporâneas. Maringá: Eduem, 2009. 327-336 p. DA AUTONOMIA: O DESAFIO DO PROJETO ESTÉTICO DE SAMUEL BECKETT Vinício Lima Berbat Resumo: Ao longo de sua carreira literária, Samuel Beckett tentou publicar suas obras em Dublim e Londres, deixou a Irlanda, viveu em Paris, começou a publicar ensaios e romances em inglês e, com o tempo, avançou em direção a uma obra bilíngue. Seja em busca de autonomia em relação a uma tradição literária irlandesa, como coloca Pascale Casanova, ou em busca de uma linguagem pessoal, como apontado por Célia Berrettini, ou através de um contínuo processo de aperfeiçoamento de suas obras nas traduções, como ressalta Maria Alice Antunes, Beckett passou a ocupar um lugar peculiar numa República Mundial das Letras, como concebida também por Casanova. Desde seus primeiros ensaios, Beckett já externava críticas às tendências literárias na Irlanda do início do século XX. Autores como os revivalistas tinham especial afeição por temas ligados ao folclore celta, num movimento que fazia bastante sentido em meio a uma luta por independência (política e cultural) da metrópole imperial britânica. Nesse sentido, a leitura dos revivalistas do que seria a nação irlandesa, engrandecendo um passado celta e colocando de lado certas contradições, remete à visão do pedagógico de Homi Bhabha: uma leitura homogeneizante da nação, que busca a união de um povo a partir de um passado nacional que seria único e compartilhado. Beckett inspira-se na obra de contemporâneos, como James Joyce, e também de outros autores e pensadores, como Giambattista Vico, em busca de uma estética própria e distinta da tradição literária vigente. Contra uma visão “pedagogizante” e, como identifica Casanova, em busca de um projeto antinacional, Beckett parte para a autotradução, mas não só, e acrescentamos: teria desenvolvido uma linguagem própria que evolui de forma umbilical com o bilinguismo de sua obra, com a aparente expectativa de escapar da leitura pedagógica empreendida por historiografias nacionais e por autores como os revivalistas. Referências: ANTUNES, Maria Alice Gonçalves. O respeito pelo original: João Ubaldo Ribeiro e a autotradução. São Paulo: Annablume, 2009. BECKETT, Samuel. Dante… Bruno. Vico… Joyce. In: ______. Disjecta: Miscellaneous Writings and a Dramatic Fragment. Nova York: Grove Press, 1984. ______. En attendant Godot. Les Éditions de Minuit, 1952. ______. Recent Irish Poetry. In: ______. Disjecta: Miscellaneous Writings and a Dramatic Fragment. Nova York: Grove Press, 1984. ______. The End. Penguin, 2018. BERRETTINI, Célia. Samuel Beckett: escritor plural. São Paulo: Perspectiva, 2004. BHABHA, Homi K. O local da cultura. Trad. de Myriam Ávila; Eliana L. L. Reis; Gláucia R. Gonçalves. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1998. CASANOVA, Pascale. A República Mundial das Letras. São Paulo: Estação Liberdade, 2002. ______. Beckett l’abstracteur: anatomie d’une révolution littéraire. Paris: Éditions du Seuil, 1997. SAID, Edward W. Humanismo e crítica democrática. Trad. de Rosaura Eichenberg. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. POSTURAS AUTORAIS EM ENTREVISTAS DE ESCRITORAS DE GUADALUPE Viviane Araújo Alves da Costa Pereira Resumo: Pretende-se neste trabalho analisar entrevistas das escritoras Simone Schwarz-Bart, Maryse Condé e Gisèle Pineau, publicadas em periódicos diversos. As entrevistas de escritoras figuram aqui como um gênero que permite acessar, por um lado, o que Leonor Arfuch denomina o “espaço biográfico” (2010) e, por outro lado, aquilo que Jérôme Meizoz chama de “postura autoral” (2007). Da ambiguidade desses movimentos, que fazem confluir a escrita de si e a escrita para o outro, o dentro e o fora, o (auto)referente e o performático, proponho verificar a articulação de uma crítica feminista antilhana. Muitos escritores antilhanos são reconhecidos como intelectuais importantes, especialmente a partir do século XX: as obras de Aimé Césaire, Frantz Fanon, Edouard Glissant, Patrick Chamoiseau são com frequência mencionadas na bibliografia teórica de pesquisas da área. Já as produções literárias das escritoras das Antilhas costumam ser lidas a partir de um repertório de crítica feminista de origem norte-americana ou, mais recentemente, sul-americana. Sem negar os muitos pontos de contato tanto com os intelectuais antilhanos quanto com o feminismo negro norte-americano, a análise das entrevistas de escritoras de Guadalupe deve colocar em evidência a construção em diálogo de pontos de vista teóricos, atravessados pelo gênero e pela cor, sobre o fazer literário. Referências: ABRAVANEL Geneviève, « Hommage à la francophonie guadeloupéenne : Entretien avec Simone Schwarz-Bart », Nouvelles Études Francophones, vol. 21, no 2, 2006, p. 71-75. ARFUCH, Leonor. O espaço biográfico: dilemas da subjetividade contemporânea. Rio de Janeiro: Editora da UERJ, 2010. CAPPELLINI, Silvia; CONDÉ, Maryse. « Ce besoin d'expliquer le monde, mon monde à moi, cela me pousse à écrire ». Entretien avec Maryse Condé. Francofonia. Miroir des Antilles. Aimé Césaire, Maryse Condé. n. 61, 2011. p. 221-229. MAKWARD, Christiane Makward. “Entretien Avec Gisèle Pineau.” The French Review, vol. 76, no. 6, 2003, pp. 1202–15. MEIZOZ, Jerome . Postures littéraires: mises en scène modernes de l’auteur. Genebra: Slatkine Érudition, 2007. SIMPÓSIO “DECOLONIALIDADE, MEMÓRIA E RESISTÊNCIA NA ESCRITA DE AUTORIA FEMININA” Algemira de Macêdo Mendes (UESPI/UEMA), Geovana Quinalha de Oliveira (UFMS), Lucilene Machado Garcia Arf (UFMS) A VOLTA DAS ASSEMBLEIAS PÚBLICAS DO SLAM DAS MINAS DO RIO DE JANEIRO Ana Paula Almeida Moreira Resumo: A presente pesquisa aborda a partir do viés da performatividade, no que diz respeito, ao corpo, à linguagem e à reivindicação de direitos. O evento que tange esse trabalho surgiu através da batalha ocorrida na Pós Pandemia no Largo do Machado no Rio de Janeiro em março de 2022. Essa reivindicação de um espaço surge através da proposta do Slam das Minas do Rio de Janeiro. Nessa questão, cabe voltar o olhar para os estudos de Judith Butler no livro Corpos em alianc?a e a poli?tica das ruas: notas para uma teoria performativa da assembleia (2018). Por essa questão, esta análise averiguará as conexões teóricas entre performatividade, corpo e identidades. A poeta que ganhou esta edição foi a Valentina uma mulher- trans e negra. Por isso, o que caberá neste espaço é refletir sobre o que Butler ressalta sobre a performatividade dos gêneros. A filósofa provoca-nos a pensar que seria natural descrevermos tais organizações como corpos que se reúnem para requererem espaços públicos. Cabe a este trabalho pensar no aumento da intolerância no mundo, primordialmente, no contexto do Brasil. Vale ressaltar que as diferenças identitárias (de alguns indivíduos neste contexto) conciliáveis para examinar nas assembleias públicas como forma de mobilização política. Referências: BUTLER, Judith. (2018). Corpos em aliança e a política das ruas: notas para uma teoria performativa da assembleia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. A LUTA DAS "MULHERES DE CONFORTO" POR UMA REPARAÇÃO - ANÁLISE DA GRAPHIC NOEL GRAMA DE KEUM SUK GENDRY-KIM Ane Daniela Medeiros Morais Resumo: Este trabalho pretende apresentar a luta das mulheres coreanas que foram vítimas do escravagismo do Exército Imperial Japonês, durante a Segunda Guerra Mundial; a Graphic Novel intitulada Grama, da quadrinista Keum Suk Gendry-Kim, narra a história real da sul-coreana Oksun Lee, vendida pela própria família na infância e forçada à escravidão sexual durante a Guerra do Pacífico-Asiática (1941-1945). Mulheres de todo o continente asiático foram forçadas a servirem como escravas sexuais dos soldados, a viverem sob condições desumanas e, ainda, lidar com o trauma e o julgamento da sociedade onde vivem. Utilizando do eufemismo “Mulheres de Conforto”, as vítimas que, em sua maioria, provinham da Coreia, colônia do Japão à época, lutam pela reparação por parte do governo japonês, para que assumam sua responsabilidade para com essas mulheres. A obra em análise aborda a vivência de uma das poucas vítimas por meio de traços e uma narrativa chocante, que discorre o trauma e a dor da senhora Ler. Entendemos, então, que analisar a obra Grama é uma tarefa que pode contribuir para ampliar as discussões acerca da literatura de autoria feminina na Coreia do Sul e, também, sobre a forma como a literatura de testemunho legitima e impulsiona a luta das “mulheres de conforto”. Dessa forma, por meio de estudos históricos, políticos e literários, buscamos discutir as noções de poder, violência e controle daquela época na Ásia e destacaremos a importância da obra e do movimento feminista na Coreia do Sul para o debate público sobre a espera de justiça dessas mulheres lutam até os dias de hoje. Referências: AZENHA, Tatiana S. Fonseca. Para Além do Silêncio: O Sistema de Conforto e o Papel dos Movimentos Feministas na Questão das Mulheres de Conforto na Coreia do Sul (19052015). Universidade Católica Portuguesa, setembro 2017. BOSI, E. Memória e sociedade: lembranças de velhos. 3. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1994 GENDRY-KIM. Keum Suk. Grama. Tradução de Jae HW. São Paulo. Pipoca & Nanquim, 2020 PARK, Yun Jung Im. A Literatura Coreana no Brasil: quadro atual e desafios. Criação & Crítica, n. 24, out. 2019. SELIGMANN-SILVA, Márcio. A literatura do trauma: dossiê literatura de testemunho. Cult, nº 23, São Paulo, junho 1999. ESTUDO COMPARATIVO DA POESIA ERÓTICA CONTEMPORÂNEA DE REGINE LIMAVERDE E HILDA HILST Antônio Marques Pereira Filho Resumo: O presente artigo tem como objetivo estabelecer um diálogo entre a produção artística de Regine Limaverde, poeta cearense, e Hilda Hilst, poeta paulista, por meio de estudo comparativo e bibliográfico, com ênfase no imaginário erótico e na contemporaneidade como um elemento de transição e das obras das autoras. Nesse sentido, nosso trabalho busca mostrar as aproximações e os distanciamentos dessas duas vozes poéticas, para verificar o tipo de erotismo que se configura na poesia de Limaverde e Hilst, como unidade definidora da poética dessas escritoras. A temática da poesia erótica de autoria feminina contemporânea corrobora com o período histórico dos séculos XIX e XX, que são marcados, entre várias vertentes, por grandes lutas sociais e políticas, sobretudo, a resistência da poesia de autoria feminina em um sistema machista e capitalista. Para alcançar a finalidade proposta, dividimos o processo metodológico da investigação em três momentos: leitura da obra das autoras; leitura da fortuna crítica sobre as poetas, em específico os que evidenciam a temática erótica e, por último, análise e comparação dos poemas selecionados, cuja temática predominante é o erotismo. Sobre o erotismo, temos como embasamento teórico os estudos de Antonio Candido (2004), Alfredo Bosi (2006), Carla Akotirene (2019), Françoise Vergès (2020), Gaston Bachelard (1988, 2001), George Bataille (2004), Octávio Paz (1982, 1994), Renato Rezende (2014), dentre outros. Referências: AKOTIRENE, Carla. Interseccionalidade / Carla Akotirene. -- São Paulo : Sueli Carneiro; Pólen, 2019. BACHELARD, Gaston. A terra e os devaneios da vontade: ensaio sobre a imaginação das forças. (Tradução de Mª Ermantina Galvão). São Paulo: Martins Fontes, 2001. BACHELARD, Gaston. A poética do devaneio. Tradução de Antônio de Pádua Danesi. São Paulo: Martins Fontes, 1988. BATAILLE, Georges. O Erotismo. Trad. Cláudia Fares. São Paulo: Arx, 2004. BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 44 ed. – São Paulo: Cultrix, 2006. CANDIDO, Antonio. Direitos Humanos e literatura. In: A.C.R. Fester (Org.) Direitos humanos E… Cjp / Ed. Brasiliense, 1989. VERGÈS, Françoise. Um feminismo decolonial. Trad. de Jamille Pinheiro Dias e Raquel Camargo. São Paulo: Editora Ubu, 2020. PAZ, Octávio. A Dupla Chama. Trad. Wladir Dupont. São Paulo: Siciliano,1994. PAZ, Octávio. O arco e a lira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. REZENDE, Renato. Poesia brasileira contemporânea – crítica e política. Rio de Janeiro: Azougue, 2014. JULIETA PAREDES: RESISTÊNCIA, SUBVERSÃO E UTOPIA Aparecido Carlos Simionato Resumo: Principal objetivo desta comunicação é discorrer sobre a importância do movimento social da Bolívia, assim sendo da ativista, feminista de origem Indígena Julieta Parades. Que está cada vez mais presente nos estudos decoloniais que é o feminismo comunitário em sua identificação com o patriarcado ancestral cuja estrutura é a complementariedade da noção chacha-warmi (homem-mulher) que não pode e nem deve ser confundida com a natureza heterossexual ocidental. Então, esse novo grupo incorporou as memórias ancestrais das nações nativas de seus membros, vivendo um processo de mudanças atualmente na Bolívia, reconstruindo a utopia da humanidade, em dialogo com o feminismo para que possam combater o patriarcalismo e todas as formas de opressão. É utilizando-se como forma de expressão, o grafite, que constitui uma campanha subversiva em espaços não permitido pelo Estado para manifestar suas ideias revolucionárias antipatriarcal, assim lutar contra o neoliberalismo e suas ideologias, dessa maneira, denunciar o racismo, o machismo/sexismo. Portanto, o feminismo comunitário tem a característica de alcançar e movimentar às aldeias, especialmente às mulheres de Abya Yalal. Porque nasceu dos povos da Bolívia e pela construção do Viver Bem, da humanidade, natureza e do planeta. Esse movimento desponta também a necessidade das mulheres dos povos originários e da classe trabalhadora, assim, nomearemos nossas práticas políticas e nossos sonhos. Pois, nomear, conceituar, criar argumentos, elaborar discursos e desmitificar a gestão de palavra escrita é um ato revolucionário. Referências: AKOTIRENE, Carla. Interseccionalidade. São Paulo: Pólen, 2019. ARRUDA, Ângela et al. Pensamento feminista brasileiro: formação e contexto (organização Heloisa Buarque de Hollanda. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2019. 400p. BHABHA, Homi K.: O local da cultura. Tradução de Myriam Ávila, Eliana de Lima Reis, Glaucia Gonçalves. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1998. BUTLER, Judith P. Discurso de Ódio: uma política do performativo. Traduzido por Roberta Fabbri Viscari. São Paulo: Editora Unesp, 2021. BUTLER, Judith P. Problema de gênero: feminismo e subversão da identidade. Tradução Renato Aguiar. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. COLLING, Ana Maria. A cidadania da mulher brasileira: uma genealogia. São Leopoldo: Oikos, 2021. COMPAGNON, Antoine. O demônio da teoria: literatura e senso comum. Tradução de Cleonice Paes Barreto Mourão, Consuelo Fortes Santiago. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010. FEDERICI, Silvia. Mulheres e Caça às Bruxas: da idade média aos dias atuais; tradução Heci Regina Candiani. São Paulo: Boitempo, 2019. FRANÇA, Junia Lessa. Manual para normalização de publicações técnico-cientificas/ Junia Lessa França, Ana Cristina de Vasconcellos; colaboração: Maria Helena de Andrade Magalhães, Stella Maris Borges. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2013. GALINDO, María; PAREDES, Julieta: Machos Varones y Maricones: Manual para conocer tu sexualidad por ti mismo. Edição Mujeres Creando, 2009. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução Tomaz Tadeu da Silva, Guaracira Lopes Louro. 9 ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2004. MIGNOLO, Walter D. Colonialidade: o lado mais escuro da modernidade. Revista Brasileira de Ciência Sociais. vol. 32, n. 94. Tradução de Marco Oliveira/ Puc, Rio de Janeiro. Junho/2017. PAREDES, Julieta. Hilando Fino: desde el feminismo comunitario. Mujeres Creando comunidad, 2010. PAREDES, Julieta: Para Descolonizar el Feminismo. Feminismo comunitário de Abya Yala. 2019. SANTIAGO, Silviano. Uma literatura nos trópicos; Ensaio sobre dependência cultural. Rio de Janeiro: Rocco, 2000. SOUZA, Eneida Maria. Crítica Cult. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010. VAREJÃO, Adriana et al. Pensamento feminista hoje: perspectiva decoloniais. (organização e apresentação Heloisa Buarque de Hollanda). Rio de Janeiro: Bazar do tempo. 384p. O CORPO TRAVESTI COMO UM TERRITÓRIO DE DISPUTAS E CONQUISTAS: BREVE ANÁLISE DE RELATOS AUTOFICCIONAIS Caroline Kirsch Pfeifer Resumo: Este trabalho parte do entendimento de que a arte e a literatura não são objetos estéticos passivos. Para Griselda Pollock (2013) são práticas culturais que negociam significados conformados pela história e pelas subjetividades, e é nas obras artísticas e nos textos literários onde estes momentos socioculturais, históricos, políticos e subjetivos são plasmados. Dessa maneira, o corpo travesti é construído como um território de disputa e conquista que, através da performance e de relatos, procura denunciar as diversas formas de opressão e violências que são radicadas em seus corpos, além de ressignificar as suas vivências. Pretende-se, através de uma abordagem comparatista, analisar como ocorrem as disputas e conquistas do corpo travesti a partir das narrativas de memória e performances autoficcionais das escritoras de Naty Menstrual (Argentina), Susy Shock (Argentina), Camila Sosa Villada (Argentina) e Amara Moira (Brasil). Para isso, será necessária uma aproximação, ainda que introdutória, de conceitos que provêm dos Estudos Quer/Cuir (De Lauretis, 1994; Butler, (2003;2013; 2019); dos Estudos travestis (Srone, 1991; Wayar, 2019; Stryker, 2019; Blas, 2019, Berkins, 2007); das relações de corpo (Loro, 200; Berkins, 2003; Le Breton , 2002; Spivak, 2010); e de exílio e identidade (Anzaldúa, 2016; Said, 2003; Hall, 2007). Tais conceitos são fundamentais para compreender os processos que conduzirão à ascensão travesti através dos relatos autoficcionais. Referências: Referências bibliográficas teóricas Anzaldúa, G. (2016). Borderlands: la frontera. Madrid, Capitán Swing. Benedetti, M. R. (2005). Toda feita: o corpo e o gênero das travestis. Rio de Janeiro, Garamond Universitária. Berkins, L. (2007). Travestis: Una identidad política. Emisférica, 4(2). Recuperado de: http://hemisphericinstitute.org/journal/4.2/esp/es42_pg_ berkins.html _________. (2003). “Un itinerario político del travestismo”. In.: Diana Mafía (compiladora). Sexualidades migrantes. Género y transgénero. Buenos Aires, Scarlett Press. Blas, R. (2019). “Políticas del conocimiento: hacia una epistemología trans*”. In.: López, Mariano Los mil pequeños sexos. Intervenciones críticas sobre políticas de género y sexualidades. Sáenz Peña (Argentina), EDUNTREF. Butler, J. (2013). “Corpos que pesam: sobre os limites discursivos do sexo”. In.: LOURO, Guacira Lopes (Org). O corpo educado – pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte, Autêntica. _______. (2002). Cuerpos que importan: sobre los límites materiales y discursivos del “sexo”. Buenos Aires, Paidós. _______. (2019). Deshacer el género. Buenos Aires, Paidós. 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(1992), El pensamiento heterosexual, in Wittig, Monique (orga.), El Pensamiento heterosexual y otros ensayos, Barcelona, Egales. https://www.caladona.org/grups/uploads/2014/02/monique-wittig-el-pensamientoheterosexual.pdf A LITERATURA DE ALINE FRANÇA: MEMÓRIA E RESISTÊNCIA Daniela dos Santos Damasceno Resumo: Escritora intrépida, Aline França, desmistifica estereótipos e mitos sobre o negro e seu espaço, cria e vislumbra futuros ousados, possíveis e merecedores das negras e negros. Demonstra um modo atento de pensar, ler e escrever a negritude. Intelectual afrocentrada, resgata valores e esbanja ancestralidade. Mulher, negra, baiana, escritora, artista e intelectual, Aline França expressa altivez ao escrever, coragem ao significar. Renova e incorpora à literatura negra novas possibilidades de pensar a mulher negra e o homem negro. Revolucionária, combate o preconceito, a desigualdade, o machismo, o sexismo e tudo aquilo que oprime e viola direitos. Reivindica e reelabora imagens, presenças e óticas. Além de sublinhar a história factual de luta dos negros, seus escritos nos leva a questionar histórias e imagens. Sua obra nos possibilita repensar, reconhecer e valorizar processos históricos e étnicos culturais das comunidades negras seja em solo africano ou nas inúmeras diásporas. A partir de uma linguagem afrofuturística, Aline França lança um olhar ao que está posto e ao que poderia ser. Construir uma percepção acerca das obras de Aline França é se desconstruir e construir-se conjuntamente. Portanto, nessa pesquisa nós traçamos os caminhos percorridos por Aline França, sua trajetória, recepção e inserção na literatura negra, discutindo o processo de (in) visibilidades e legitimação da escritora, bem como o modo como a escritora foi/é lida e para quem fala. Decorrem da análise questões: quais as temáticas mais recorrentes nos seus livros? De que forma os seus escritos podem avultar reflexões acerca das tradições e culturas negras?. A partir desse contexto, refletimos acerca do modo como Aline França reelabora e elabora o imaginário acerca dos negros Seus escritos nos desafiam a buscar um protagonismo que nos é de direito, um lugar de fala que apesar de nos ser negado, deve ser reivindicado. Referências: AUGEL, Moema Parente. Aline França. In: Literatura e afrodescendência no Brasil: antologia crítica, Eduardo de Assis Duarte, Belo Horizonte, UFMG, 2011. AUGEL, Moema Parente. Aline França e a heroicização da raça. Disponível em: <mulherdealeduma.blogspot.com>. Acesso em: abr. 2019. BRITO, Edvaldo. Uma ode aos valores culturais da raça negra. Disponível em: <mulherdealeduma.blogspot.com>. Acesso em: abr. 2019. CASTRO, Yeda Pessoa. Aline França. Disponível em: <mulherdealeduma.blogspot.com>. Acesso em: abr. 2019. COELHO. Nelly Novaes. Aline França e o teatro. Disponível em: <mulherdealeduma.blogspot.com>. Acesso em: abr. 2019. FRANÇA, Aline. Negão Dony. Salvador: Prefeitura de Salvador, 1978. FRANÇA, Aline. A mulher de Aleduma. Salvador: Clarindo Silva e Cia. Ltda., Tipografia São Judas Tadeu, 1981, 1 ed; Salvador: Ianamá, 1985, 2 ed. (ambas esgotadas). FRANÇA, Aline. Os Estandartes. 2 ed. Salvador: Editora Littera, 1993; Salvador: Editora BDA-BAHIA LTDA., 1995. FRANÇA, Aline. Organismo Entrevista. In: Revista Organismo [Entrevista concedida a Jorge Augusto e Jorge de Souza Araújo], n.p. 2015. FRANÇA, Aline. Forerunners: Aline França. In: Revista Ophelia Magazine [entrevista concedida]. Lagos, v. 2, abr. 1982. Disponível em: <mulherdealeduma.blogspot.com>. Acesso em: abr. 2019. FRANÇA, Aline. Aline França- Blog oficial. Disponível em: <http://mulherdealeduma.blogspot.com>. Acesso em: abri. 2019. GUIMARÃES, Torrieri. Um livro da Bahia e todo seu mistério. In: Folha da Tarde. São Paulo, 05 jul. 1979. HOOKS, Bell. Intelectuais negras. Estudos feministas, Florianópolis, v. 3, n.2, p. 464-478, ago./dez. 1995. SANTIAGO, Ana Rita. Vozes literárias de escritoras negras. Cruz das Almas-Ba, editora UFRB, 2012. SANTOS, Ieda Machado Ribeiro dos. Aline França, uma escritora pintora. Disponível em: <http://mulherdealeduma.blogspot.com>. Acesso em: abri. 2019. CAROLINA MARIA DE JESUS: A ESCRITA COMO FERRAMENTA DE RESISTÊNCIA Geraldina Antonia Evangelina de Oliveira Resumo: Concentro esta pesquisa nas inquietações acerca das questões que problematizam a violência de corpos negros, especificamente de um corpo negro feminino, a partir da análise da obra póstuma Diário de Bitita, de Carolina Maria de Jesus, publicado em 1986, por meio de uma leitura decolonial. Neste livro, a escritora narra sua infância, seu crescimento, sua constante jornada entre a zona rural e algumas cidades, sempre a procura de trabalho. Além da vida pessoal da autora,o livro nos revela algumas personagens e a maneira tal como essas mulheres foram constituídas no pensamento de Carolina. Utilizaremos aqui, uma abordagem decolonial para refletir o modo tal como Carolina Maria de Jesus coloca em debate a hierarquização de raça e de gênero como elemento estruturante no processo de colonização, bem como as condições desfavoráveis e os abusos que atravessam a mulher e que tem se arrastado ao longo dos anos. Com uma narrativa sufocante e seca, totalmente vinculada à realidade, Carolina utiliza sua escrita como uma maneira de denunciar e de resistir a esses abusos.Para o desenvolvimento dessas reflexões, recorrerei como suporte teórico, ao pensamento de Maria Lugones para analisar a questão decolonial. Em relação à raça, diferenças e privilégios nos apoiaremos nos textos de Sueli Carneiro e Kabengele Munanga e quanto à afetividade da mulher, nos apoiaremos nos escritos de bell hooks, dentre outros. Referências: CARNEIRO, Sueli. Racismo, sexismo e desigualdade no Brasil. São Paulo: Selo Negro, 2011. HOOKS, bell. Olhares negros: raça e representação. Tradução Stephaine Borges. São Paulo: Elefante, 2019c. HOOKS, bell. Vivendo de amor. In: WERNECK, Jurema; MENDONÇA, Maisa; WHITE, Evelyn C. (orgs.). O livro da saúde das mulheres negras: nossos passos vêm de longe. Rio de Janeiro: Pallas / Criola, 2006. p. 188-198. JESUS, Carolina Maria de. Diário de Bitita. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. LUGONES, María. Colonialidade e gênero. In: HOLLANDA, Heloisa Buarque de (org.). Pensamento feminista hoje: perspectivas decoloniais. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2020. p. 52-83. LUGONES, María. Rumo a um feminismo descolonial. Estudos Feministas, Florianópolis, v. 22, n. 3, p. 935-952, 2014. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/ref/article/view/36755/28577. Acesso em: 08 mar. 2022. MUNANGA, Kabengele. Uma abordagem conceitual das noções de raça, racismo, identidade e etnia. Palestra. In: SEMINÁRIO NACIONAL RELAÇÕES SOCIAIS E EDUCAÇÃO, 3., PENESB-RJ [Programa de Educação Sobre o Negro na Sociedade Brasileira], 5 nov. 2003, Rio de Janeiro. Disponível em https://www.geledes.org.br/wp-content/uploads/2014/04/Uma-abordagemconceitual-das-nocoes-de-raca-racismo-dentidade-e-etnia.pdf. Acesso em: 11 abr. 2021. OS CONTOS INÉDITOS DE JÚLIA LOPES DE ALMEIDA: ANTIGAS POÉTICAS SOB NOVOS OLHARES Guilherme Barp Resumo: No fim do século XIX, uma escritora se destacou no meio literário brasileiro, um espaço, até então, majoritariamente masculino. Trata-se de Júlia Lopes de Almeida (Rio de Janeiro, 1862 – Rio de Janeiro, 1934). Sendo a primeira autora a “viver das Letras” no País, dedicou-se a gêneros diversos, que iam do romance às crônicas de jardinagem, tendo a oportunidade de publicar muitos livros. Apesar disso, as histórias da literatura, em sua maioria, esqueceram-na, de modo que foi apenas efetivamente recuperada nos anos 1980, a partir de trabalhos realizados pelos Estudos de Gênero. Desde então, há um crescente interesse no conjunto da obra da autora. Novas edições de seus romances começaram a aparecer no fim do século XX e, recentemente, de suas narrativas curtas. Nesse sentido, este estudo apresenta progressos de uma pesquisa em andamento, cujo objetivo é resgatar contos inéditos de Júlia Lopes de Almeida, restritos à imprensa, com a finalidade de reuni-los para a produção de uma nova edição. Sendo assim, num trabalho voltado à memória, busca-se contribuir para o acesso a esse material, a sua preservação e a sua consequente (re)consideração nos Estudos Literários e no horizonte de pesquisas sobre a poética da autora. Desse modo, metodologicamente, executa-se revisão bibliográfica, a partir de aportes teóricos do resgate de escritoras esquecidas e da crítica textual/ecdótica, e documental, no que diz respeito aos periódicos da Hemeroteca Digital Brasileira, da Biblioteca Nacional, em busca de contos que não foram publicados em coletâneas da autora, como Contos infantis (1886), Traços e illuminuras (1887) e Ânsia eterna (1903). Ainda que as investigações estejam no início, pode-se estimar que a nova criação proporcionará o retorno de narrativas pouco conhecidas para leitores e estudiosos, que poderão, assim, acessálas, lê-las e estudá-las, a partir das teorias contemporâneas, novamente. Referências: CAMBRAIA, César Nardelli. Introdução à crítica textual. São Paulo: Martins Fontes, 2005. CARR, Helen. A history of women’s writing. In: PLAIN, Gill; SELLERS, Susan (eds.). A history of feminist literary criticism. Cambridge: Cambridge University Press, 2007. p. 120-153. HEMEROTECA Nacional Digital. Disponível em: http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx. Acesso em: 29 abr. 2022. LAUFER, Roger. Introdução à textologia. São Paulo: Perspectiva, 1980. MUZART, Zahidé Lupinacci. A questão do cânone. In: SCHMIDT, Rita Terezinha (org.). Mulheres e literatura: (trans)formando identidades. Porto Alegre: Palloti, 1997. p. 79-89. SCHMIDT, Rita Terezinha. Repensando a cultura, a literatura e o espaço de autoria feminina. In: NAVARRO, Márcia Hoppe (org.). Rompendo o silêncio: gênero e literatura na América Latina. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 1995. p. 182-189. SHARPE, Peggy. Júlia Lopes de Almeida. In: MUZART, Zahidé Lupinacci (org.). Escritoras brasileiras do século XIX. Florianópolis: Mulheres; Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2004. v. 2. p. 188-238. SHOWALTER, Elaine. A crítica feminista no território selvagem. In: HOLLANDA, Heloísa Buarque de (org.). Tendências e impasses: o feminismo como crítica da cultura. Rio de Janeiro: Rocco, 1994. p. 23-57. SHOWALTER, Elaine. A literature of their own. Princeton: Princeton University Press, 1977. SPAGGIARI, Barbara; PERUGI, Maurizio. Fundamentos da crítica textual: história, metodologia, exercícios. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004. SPINA, Segismundo. Introdução à ecdótica. 2. ed. São Paulo: Ars Poética, 1994. ZINANI, Cecil Jeanine Albert. Produção literária feminina: um caso de literatura marginal. Antares, Caxias do Sul, v. 6, n. 12, p. 183-195, 2014. A VISIBILIDADE DA VOZ FEMININA EM VOZES DO DESERTO, DE NÉLIDA PIÑON Jéssica Maria Cruz Silva Resumo: O romance Vozes do deserto, de Nélida Piñon (2004), foi construído em torno de Scherezade, retomada do Livro das mil e uma noites e apresentada como a audaz heroína que consegue salvar a si e às demais jovens de Bagdá do castigo da morte decretado pelo Califa. O objetivo deste trabalho consiste em investigar o comportamento transgressor de Scherezade, na (re)leitura de Piñon (2004), que a desloca para um espaço contemporâneo de resistência. Para isso, foram utilizados os fundamentos da Crítica Feminista teorizados por Hollanda (1994), Queiroz (1997), Showalter (1994), Lauretis (1994), Zolin (2009). Sob a perspectiva feminista, a forma como Scherezade fora construída por Piñon (2004) aponta para a criação de espaços que rompem com aqueles instituídos como femininos, por discursos fundadores como o do patriarcado. Representa, então, mulheres de todos os lugares do mundo, tanto no Ocidente como no Oriente, libertas de qualquer tipo de submissão, preconceito, opressão, violência e, sobretudo, da morte. No momento em que a mulher adquire protagonismo na narrativa, ou mesmo reflete criticamente sobre o seu papel na sociedade, ela passa a questionar formas institucionalizadas de hierarquias, promovendo uma reflexão sobre a história silenciada e instituindo um espaço de resistência contra as formas simbólicas de dominação, através da criação de novas formas representacionais (ZINANI, 2013). Assim como outras heroínas de romances contemporâneos de autoria feminina, a Scherezade de Vozes do deserto (2004), ao invés de desempenhar papéis sociais que a identifiquem como submissa ao poderio masculino, é apresentada como mulher-sujeito, capaz de conduzir a própria trajetória, desde o casamento até o dia em que recupera sua liberdade. Desafia, então, as manifestações de poder de ideologias dominantes, declarando-se como a “única” capaz de pôr fim ao massacre que aterrorizava as jovens de Bagdá. Referências: HOLLANDA, Heloísa Buarque de. Feminismo em tempos pós-modernos. In: HOLLANDA, Heloísa Buarque de (org.). Tendências e impasses: o feminismo como crítica da cultura. Rio de Janeiro: Rocco, 1994. p. 07-19. LAURETIS, Teresa de. A tecnologia do gênero. In: HOLLANDA, Heloísa Buarque de (org.). Tendências e impasses: o feminismo como crítica da cultura. Rio de Janeiro: Rocco, 1994. p. 206-242. LIVRO das mil e uma noites. Tradução do árabe: Mamede Mustafa Jarouche. 3. ed. São Paulo: Globo, 2006a. v. 1: Ramo sírio. PIÑON, Nélida. Vozes do deserto. Rio de Janeiro: Record, 2004. QUEIROZ, Vera. Crítica literária e estratégias de gênero. Niterói: EDUFF, 1997. SHOWALTER, Elaine. A crítica feminista no território selvagem. In: HOLLANDA, Heloísa Buarque (Org.). Tendências e impasses: o feminismo como crítica da cultura. Tradução: Deise Amaral. Rio de Janeiro: Rocco, 1994. p. 23-57. ZINANI, Cecil Jeanine Albert. Literatura e gênero: a construção da identidade feminina. 2. ed. Caxias do Sul: Educs, 2013. ZOLIN, Lúcia Osana. Crítica Feminista. In: BONNICI, Thomas; ZOLIN, Lúcia Osana (orgs.). Teoria literária: abordagens históricas e tendências contemporâneas. 3. ed. Maringá: Eduem, 2009. p. 217-242. A IDENTIDADE FEMININA NA SOCIEDADE DO MÉXICO PÓS-REVOLUCIONÁRIO Juliana Narciso Resumo: Propomos analisar a crítica de gênero presente na obra Arranca-me a Vida, da escritora mexicana Angeles Masttreta, em diálogo com as teses de feminilidade propostas nas obras “O segundo sexo”, volumes I e II, da escritora e filósofa francesa Simone de Beauvoir. De acordo com Zilberman (2012), “Os anos 1970 voltaram sua atenção para a produção literária das mulheres, marcando a difusão da crítica feminista. Ademais, propomos analisar a recepção da obra pela mulher da sociedade mexicana, considerando o viés Autor, Obra e Público proposto pelo sociólogo Antônio Cândido. Segundo Cândido, o experimento da arte “[...] depende da ação de fatores do meio, que se experimentam na obra em graus diversos de sublimação [...] reforçando neles o sentimento dos valores sociais” (CANDIDO, 2006, p. 29). Sugere-se que, em sua obra, a escritora tenha sido influenciada pelos resquícios, ainda que a certo grau, da sociedade dominadora e sexista que sombreou seu país. Arranca-me a Vida narra a história de amor entre o general Andrés Ascencio e Catalina, no México pós-revolucionário das décadas de 1930 e 1940. Catalina é uma jovem inteligente, inexperiente e ansiosa por descobrir a vida, que vai aos poucos se dando conta da forma corrupta com que Andrés constrói sua carreira política. Decepcionada com o marido e desiludida com o papel de esposa que lhe é imposto, de forma diligente e decidida vai se tornando senhora de si e de seu corpo, lutando para sobreviver às normas de uma sociedade paternalista e preconceituosa. A escolha da crítica de gênero para analisar questões presentes na obra como o casamento, a maternidade, a educação e até o incesto entre irmãos, permitido e aceito de forma natural do ponto de vista masculino, ressalta a forma como a mulher é tratada como o Outro, e não como o Sujeito na sociedade. Referências: MASTRETTA, Angeles. Arranca-me a Vida. Rio de Janeiro: Objetiva, 2003. BEAUVOIR, Simone de, O Segundo Sexo, volume 1, Fatos e Mitos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2019. BEAUVOIR, Simone de, O Segundo Sexo, volume 2, A Experiência Vivida. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2019. LAJOLO, Maria & ZILBERMAN, Regina. A formação da leitura no Brasil. São Paulo: Editora Unesp, 2019. ZILBERMAN, Regina. Teoria da Literatura 1. Curitiba: IESDE Brasil S.A., 2012. CANDIDO, Antonio. Literatura e Sociedade. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2006. O "EU" ENUNCIADOR QUE SE TORNA "NÓS" EM POEMAS DE AUTORIA DE MULHERES NEGRAS Lucas Breda Magalhães, Jhenifer Emanuely Rodrigues dos Santos Resumo: Apesar dos muitos particularismos que circundam os estudos acerca da literatura negra/literatura afro-brasileira, é fato que o “eu” enunciador que se quer negro é uma das principais contribuições de Bernd (1988) para a área. Este modo de enunciação se relaciona, indissociavelmente, com a língua ao evidenciar os procedimentos no qual ela própria se materializa, além de também estabelecer vínculos de afetividade, visto, sobretudo, nas relações destes textos literários com o discurso proposto pelos autores. Diante disso, essas vozes não se isolam ou se findam nos próprios textos, elas tornam-se um coro, cujo objetivo é ultrapassar as barreiras da subalternização e da colonialidade. Diante disso, por meio da análise dos poemas “Palavras”, de Miriam Alves (2022), “Da calma e do silêncio”, de Conceição Evaristo (2018) e “Enquanto eu escrevo”, de Grada Kilomba (2015), propomos, nesta comunicação, discutir acerca da construção do “eu” enunciador que se materializa enquanto poeta em seus enunciados, para observar os procedimentos que os compõem, cujo objetivo é a ruptura da ordem acerca da condição do negro na sociedade. Como resultados, pudemos observar que nos poemas, as formas e os conteúdos nos seus modos de organização expressam manifestações discursivas que demonstram o mundo percebido e vivenciado pelas poetas. Referências: ALVES, Miriam. Poemas reunidos. São Paulo: Círculo de poemas, 2022. BERND, Zilá. Introdução à Literatura Negra. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1988. EVARISTO, Conceição. Poemas da recordação e outros movimentos. Rio de Janeiro: Malê, 2018. KILOMBA, Grada. Decoloning Knowledge: while I write - performance, 2015. "O PESSOAL É POLÍTICO": OS MOVIMENTOS FEMINISTAS E O DESCENTRAMENTO DO SUJEITO PÓS-MODERNO Luisa Benevides Valle Resumo: O presente trabalho tem como objetivo refletir sobre as implicações dos movimentos feministas para o descentramento do sujeito pós-moderno. Partindo da noção de sujeito vigente na Modernidade, isto é, de um Homem racional, único e situado no centro do conhecimento, analisaremos o abalo dessa noção na Pós-modernidade, tomando como recorte os movimentos feministas. Mais especificamente, partiremos do slogan feminista “o pessoal é político”: ao trazer a público questões até então confinadas ao âmbito privado, tais como a sexualidade, o trabalho doméstico, a divisão doméstica do trabalho, o cuidado com as crianças, entre outras, tal noção abalou fortemente a ideia moderna de um sujeito inquestionável, senhor de si mesmo e detentor do conhecimento. O pessoal também adentrou a academia, a partir da produção das intelectuais negras. Ao construírem teorias partindo de questões pessoais, situando a si mesmas enquanto sujeito e objeto de estudo, tais intelectuais provocaram um grande descentramento na figura que até então estava no centro do conhecimento: a do Homem, europeu e branco. A partir desse breve percurso, nossa hipótese é a de que os movimentos feministas abalaram fortemente as noções de público e privado na pós-modernidade, contribuindo para o descentramento do sujeito pós-moderno, tal como o concebemos nos dias de hoje. Referências: ARENDT, H. A condição humana. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2020. BUTLER, J. Relatar a si mesmo: crítica da violência ética. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017. HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2006. HOOKS, b. O feminismo é para todo mundo: políticas arrebatadoras. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2019. HOOKS, b. Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2017. KILOMBA, Grada. Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019. SAFATLE, V. Dos problemas de gênero a uma teoria da despossessão necessária: ética, política e reconhecimento em Judith Butler. In: BUTLER, J. Relatar a si mesmo: crítica da violência ética. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017. p. 173196. NARRATIVAS SUBALTERNAS EM CADERNOS DE MEMÓRIAS COLONIAIS DE ISABELA FIGUEIREDO Maged Talaat Mohamed Ahmed Elgebaly Resumo: Esta comunicação busca analisar nos Cadernos de memórias coloniais de Isabela Figueiredo, a violência e a resistência feminina no processo de descolonização moçambicana. Isto acontece em dois aspectos: o primeiro das próprias mulheres mencionadas na obra que sofreram e resistiram à violência da colonização, e o segundo, o da escritora que, ainda criança e pré-adolescente, testemunhou o processo de descolonização de Moçambique e a Revolução dos Cravos no 25 de abril português e a dominação masculina patriarcal exercida pelos colonizadores sobre a população feminina das ex-colônias. Como expectadora, ela também sofre a violência, porém em outra dimensão privada e familiar. Seu texto narra essas vivências inter-raciais das mulheres negras e brancas em Moçambique. A decolonização a partir de um olhar luso-africano apresenta uma libertação do colono e do colonizado da história oficial, à revelia do cânone lusitano, que estabelece as estruturas de dominação cultural e econômica. A própria Isabela Figueiredo enxerga nas entrelinhas a subalternidade e as relações inter-raciais. É preciso ressignificar essas relações entre Portugal e suas ex-colônias para construir uma reconciliação histórica com as dores e os ressentimentos. Assim, propomos uma leitura histórica da obra por meio dos teóricos da análise do discurso autobiográfico e da escrita de si. Referências: ALMEIDA, Marinei. “Memória, Violência e Subalternidade Feminina em Cadernos de Memórias Coloniais, de Isabela Figueiredo”. In: Dos percursos pelas Áfricas. A Literatura de Moçambique, editado pelos Sávio Roberto Fonseca de Freitas Vanessa Riambau Pinheiro. João Pessoa: Editora da UFPB, 2020. BELONIA, Cinthia da Silva. As várias faces do colono português em Caderno de memórias coloniais e Crónica da rua 513.2. Tese de doutorado em Literatura comparada apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos de Literatura da Universidade Federal Fluminense. Nitrói RJ, 2019. FIGUIEREDO, Isabel. Cadernos de memórias coloniais. Lisboa: Editora Todavia, 2009 GONÇALVES, Maricel Derrico. Isabela Figueiredo e Dulce Maria Cardoso: Duas Formas de ler o retorno. Dissertação de Mestrado em Literatura Portuguesa e Literaturas Africanas de Língua Portuguesa, Instituto de Letras da Universidade Federal Fluminense. Niterói, 2015. PACHECO, Keli Cristina. “Caderno de memórias coloniais, de isabela figueiredo, e o campo expandido da literatura”. Revista Organon, UFRGS, V.34, no 67, 09/12/2019. REALI, Niccolò. Colonialidade portuguesa e guerra: As mulheres na perspectiva de uma memória coletiva. Dissertação de Mestrado em Língua e Literatura Europeia, americana e pós-colonial. Universitá Ca Foscari Venezia, 2020. RIBEIRO, Margarida Calafate. "O fim da história de regressos e o retorno a África - leituras da literatura contemporânea portuguesa". In: Itinerâncias. Percursos e Representações da Pós-colonialidade, editado por Elena Brugioni; Joana Passos; Marie-Manuelle Silva, 89-99. Vila Nova de Famalicão, Portugal: Edições Humus, 2012. RIBEIRO, Margarida Calafate. "A Casa da Nave Europa – miragens ou projeções póscoloniais?".In: Geometrias da memória: configurações pós-coloniais, 15-42. Porto, Portugal: Afrontamento, 2016. RIBEIRO, Margarida Calafate. "Arte e Pós-memória - fragmentos, fantasmas, fantasias". Diacrítica 34 2 (2020): 4-20. http://hdl.handle.net/10316/90496. Acesso aberto • Publicado • 10.21814/diacritica.523 RODRIGUES, Flavia Arruda, “Caderno de memórias coloniais: novas narrativas sobre histórias pessoais e coletivas dos colonizadores portugueses na África do século XX”. In: Landa, Santa Catarina: UFSC, v. 2, n. 1, pp. 83-104, 2013. TOLENTINO, Eliana da Conceição. “Colonização-descolonização: deslocamentos e conflitos”. Na primeira parte: Narrativas do contemporâneo In: Discursos e narrativas: entre conflitos e deslocamentos, editado por Antônio Luiz Assunção; Argus Romero Abreu de Morais; Eliana da Conceição Tolentino; Luiz Manoel da Silva Oliveira. São Carlos: Pedro & João Editores, 2022. A CARTOGRAFIA DA MEMÓRIA NOS ROMANCES CONTEMPORANEOS BRASILEIROS POR CIMA DO MAR (2018), DE DEBORAH DORNELLAS, E ÁGUA DE BARRELA (2018), DE ELIANA ALVES CRUZ Marcella Mesquita Granatiere Resumo: Esta comunicação tem como objetivo analisar a escrita de autoria feminina enquanto uma das linhas possíveis para rememoração das histórias silenciadas, a ficção enquanto reflexão sobre o passado vivido. A memória funciona como instrumento de inscrição das histórias apagadas. Nas palavras de Lélia Gonzales, a memória como o não-saber que conhece, esse lugar de inscrições e restituição de uma história que não foi escrita. As obras Por cima do mar (2018) da artista plástica e escritora Deborah Dornellas e Água de barrela (2018) da jornalista e escritora Eliana Alves Cruz narram a experiência da diáspora sob a ótica da vida, na voz narrativa do ser humano delimitado a condição de “Outro”. Dornellas e Cruz constroem o texto literário como uma outra forma de contar/inscrever as histórias coloniais. As autoras se distanciam do retrato de África e dos descendentes da diáspora inspirado no tráfico de pessoas escravizadas que reafirma a objetificação do corpo negro. As temporalidades das narrativas são distintas, no entanto. Dornellas escolhe a contemporaneidade: na cidade símbolo da arquitetura moderna brasileira e do poder político nacional, a autora expõe o eco de continuação da estrutura racial e social do período colonial e escravista. Cruz opta pelo passado colonial: no território baiano, entre o recôncavo e Salvador, a escritora inscreve a estruturação das relações étnico-raciais a partir da experiência de pessoas escravizadas. A rememoração exercitada pelas autoras nos convoca a refletir sobre o não fechamento da história – afinal, o passado não passou. As temporalidades se encontram nos acontecimentos do presente e no cotidiano de violência simbólica e física contra a população negra. Referências: CRUZ, Eliana Alves. Água de barrela. Rio de Janeiro: Malê, 2018. DORNELLAS, Deborah. Por cima do mar. São Paulo: Patuá, 2018. GONZALES, Lélia. Racismo e sexíssimo na cultura brasileira. Revista Ciências Sociais hoje, Rio de Janeiro, p. 223-244, 1984. RATTS, Alex. Eu sou atlântica: sobre a trajetória de vida de Beatriz Nascimento. São Paulo: Imprensa Oficial, 2006. TRAMANDO EXISTÊNCIAS: SUBJETIVIDADE E RESISTÊNCIA EM A MULHER DE PÉS DESCALÇOS, DE SCHOLASTIQUE MUKASONGA Mariana Souza Paim Resumo: O presente trabalho tem como objetivo analisar a dinâmica de produção de subjetividades e resistência a partir da narrativa biográfica A mulher de pés descalços (2017), da escritora ruandesa Scholastique Mukasonga. O romance, escrito em memória de Stefania, a mãe da escritora, assassinada pelos hutus durante a guerra civil de Ruanda, é uma história tecida a várias vozes e tem como eixo a evocação das memórias sobre sua infância e das mulheres com as quais conviveu no contexto do processo de independência de Ruanda e do genocídio que se seguiu. Aqui iremos mobilizar a noção de “escrita-mortalha”, como uma lente a partir da qual podemos ler e compreender a escrita de Mukasonga, partindo da ideia de que a literatura urdida por ela não apenas tem um caráter eminentemente político, já que parte do gesto de denunciar os horrores e efeitos do colonialismo sobre a vida daqueles que figuram nas narrativas oficiais como simples dados estatísticos, mas também cumpre a função de cobrir de dignidade e preservar os vestígios dos corpos e vidas dos que não sobreviveram para falar em seu próprio nome. Assim, nos interessa, sobretudo, refletir sobre as experiências e vivências das mulheres em meio ao processo de colonização e resistência cotidiana presentes no romance, apontando para a possibilidade de construção de outras narrativas possíveis em África. Referências: ADICHIE, Chimamanda Ngozi. O perigo de uma história única. [Palestra no TED TALKS] Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=D9Ihs241zeg. BAMISILE, Sunday Adetunji. 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Testemunhos de guerra em Ruanda e na África do Sul: narrativas jornalístico-literárias e visibilidade. Tese (Doutorado em Estudos Literários). Belo Horizonte, Universidade Federal de Minas Gerais, 2015. RESENDE, Roberta Mara. Gênero e nação na ficção de Chimamanda Ngozi Adichie. Dissertação (Mestrado em Letras). São João del-Rei, Universidade Federal de São João del-Rei, 2013. RUIZ, Bibian Pérez. Outra manera de sentir: feminismos negros, género y estudios literarios en el África subsaariana. Disponível em: http://portal.uned.es/pls/portal/docs/PAGE/UNED_MAIN/SERVICIOSGENERALES/GABINETE/FOT OS/FOTOSNOTICIAS2009/FEMINISMOSNEGROS.PDF SILVA, Sheila dias da. Resistência feminina e feminismo africano em Without a name de Yvonne Vera. Dissertação (Mestrado em Estudos da Linguagem). Cuiabá, Universidade Federal de Mato Grosso, 2014. RE-EXISTÊNCIA EPISTÊMICA: ESCRITA (INTER)CORPORAL DESCOLONIAL EM A HORA DA ESTRELA Marina Maura de Oliveira Noronha, EDGAR CÉZAR NOLASCO Resumo: O trabalho propõe discutir, sob a égide da teorização biográfica fronteiriça, a política em A hora da estrela (2020) de Clarice Lispector a partir de uma reflexão outra, de re-existência epistêmica. Para melhor alcançarmos o postulado pela teorização proposta, metodologicamente está assentada na crítica biográfica fronteiriça (NOLASCO, 2013) que nos permitem a partir do corpo epistêmico fronteiriço, re-pensar a realidade brasileira atravessada pela política atual no Brasil. Logo, teremos como contraponto dessa reflexão crítica, guiada pela presença do corpo da insignificante Macabéa e outros corpos desiguais sociais. Nesse sentido em particular, os corpos fronteira que tecem esse discurso crítico, parte do conceito com a presença da intercorporeidade (PESSANHA, 2018), para tratar a inter-relação crítica entre as corporeidades, as políticas e as culturais por meio de pensamentos e saberes outros evocados para o trabalho. Por conseguinte, outros conceitos aproximaram de modo significativo como - desobediência epistêmica (MIGNOLO, 2008) e desprendimento (GIULIANO, 2018), que se fará como desdobramento acerca do des-escrever que encena teoricamente contrapondo o pensamento arquitetado pelas políticas ocidentais com seu projeto moderno, estabelecidos pelos padrões de raça, gênero e classe. No ensejo dessas discussões nos valemos de um pensamento outro, ou seja, que passa pelo crivo epistemológico fronteiriço de pensar, fazer e des-escre(vi)ver a vida a partir de onde se pensa, e que se sustenta por meio de um pensamento próprio de acordo com Rodolfo Kusch (2009). Referências: GIULIANO, Facundo (comp.). ¿Podemos pensar los no-europeos? Ética decolonial y geopolíticas del conocer. Ciudad Autónoma de Buenos Aires: Del Signo, 2018. La pregunta que luego estamos si(gui)endo: manifestaciones de uma cuestión ética- geopolítica, p. 11-68. KUSCH, Rodolfo. Pensamiento indígena y popular en América. Obras completas, v. II. Rosario: Fundación Ross, 2009. P. 263-264. LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. Rio de Janeiro. ed. Record, 2020. MIGNOLO, Walter D. Desobediência epistêmica: a opção descolonial e o significado de identidade em política. Cadernos de Letras da UFF: Dossiê: Literatura, língua e identidade, n.34, p.287-324, 2008. Disponível em: www.uff.br/cadernosdeletrasuff/34/traducao.pdf. Acesso em: 08 de maio de 2022. MIGNOLO, Walter. ¿Podemos pensar los no-europeos?: ética decolonial y geopolíticas del conocer. Walter Mignolo; compilado por Facundo Giuliano. la ed . – Cuidad Autónoma de Buenos Aires: Ediciones del Signo, 2018. NOLASCO, Edgar César. Perto do coração selbaje da crítica fronteriza. São Carlos. SP: Pedro & João Editores, 2013. 170 p. PESSANHA, Juliano Garcia. Recusa do não-lugar. São Paulo: UBU Editora, 2018. HISTÓRIA E FICÇÃO: DOS ARQUIVOS DE MEMÓRIAS À REVISÃO/REINTERPRETAÇÃO DO PASSADO DE MULHERES ESCRAVAS NO ROMANCE FE EN DISFRAZ Marta Cristina Alves Çaró Resumo: A novela Fe en disfraz, da escritora porto-riquenha Mayra Santos-Febres, narra a história da personagem Fe Verdejo, historiadora e museógrafa afro-caribenha, da Universidade de Chicago. Para auxiliar na pesquisa, ela contrata um historiador Martín Tirado, branco, especialista em preservação de documentos históricos e digitalização, que assume o papel de narrador do processo de pesquisa e da relação que estabelece com Fe Verdejo. Os pesquisadores trabalham com uma coleção de documentos sobre escravas alforriadas nos impérios espanhol e português, a partir de registros históricos do Brasil, Costa Rica, Colômbia, Venezuela e Porto Rico.Durante a pesquisa, encontram documentos sobre mulheres escravizadas e abusadas sexualmente por homens brancos. Alguns documentos relatam abusos, que levaram as escravas a pedir ajuda ao Santo Ofício, além de declarações de torturas e castigos e relatos de estupros com conteúdo sexual violento. Em meio ao relato do narrador e os documentos do passado, surgem também dois textos autobiográficos de Fe e Martín, que contribuem para a compreensão do passado e do presente das personagens e reforçam o caráter polifônico da novela. Ao invés do apagamento desse passado colonial, a apropriação desse período histórico e o cotejo entre esse passado e a sociedade atual pelos agentes da pesquisa expõe feridas da história da escravidão e leva a uma tomada de posição ética e política dos investigadores. Ao trazer à tona esse passado brutal, marcado pela violência praticada pelos colonizadores, Fe en disfraz sugere que essa violência do passado repercute nas relações da sociedade contemporânea, entretanto, como ambos são tocados pela pesquisa que desenvolvem, eles se transformam ao encarar as chagas abertas, tanto na perspectiva do senhor quanto da mulher escrava. Referências: CANDAU, JOEL . Memória e identidade. São Paulo: Contexto, 2019. CÉSAIRE, Aimé . Discurso sobre o colonialismo. São Paulo: Veneta, 2020. FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. Bahia: Editora EdUFBA, 2008. SANTOS-Febres, Mayra. Fe en disfraz. New York: Santillana USA Publishing, 2009. MARIA FIRMINA DOS REIS NOS VERSOS DO CORDEL DE JARID ARRAES: "UMA MARANHENSE" Mikeias Cardoso dos Santos, MAIRYLANDE NASCIMENTO CAVALCANTE FERREIRA Resumo: Este trabalho objetiva analisar o folheto de cordel Maria Firmina dos Reis (2019), de Jarid Arraes, o qual compõe a antologia intitulada 15 Heroínas negras brasileiras em 15 cordéis. A obra em destaque traz à luz a escrita feminina de autoria negra através dos versos do cordel, reivindicando o “seu lugar” dentro do panorama literário. Reivindicar a inclusão e o reconhecimento de autoras como: Carolina Maria de Jesus, Esperança Garcia, Eva Maria do Bonsucesso, e a própria Firmina, é tirar do leito da morte histórica o processo criativo de tais autoras – emergindo do ostracismo. Diante disso, evidenciamos que este estudo apresenta múltiplos estigmas a serem superados, visto que a Literatura de Cordel, a figura feminina e o seu processo de escrita, por muito tempo foram desconsiderados da materialidade literária canonizada. Em vista disso, foram delineados os seguintes objetivos específicos: compreender como a Literatura de Cordel revivifica e rememora a expressividade literária feminina; investigar as ressonâncias enunciativas abolicionistas que dialogam com a marginalização das vozes “não autorizadas” no antropoceno literário, isto é, fora do “território selvagem” predominantemente masculino, dessa maneira, evidenciando os dispositivos coloniais modernos de gênero, raça e classe. Este estudo é de cunho bibliográfico e analítico tendo como principais aportes teóricos: Arraes (2017), Fanon (2008), Tolomei (2019), Mendes (2006), María Lugones (2014), Lélia Gonzáles (2011), Rita Segato (2021), Dalcastagnè (2012/2018), Maldonado-Torres (2020), entre outros. Referências: ARRAES. Jarid. Heroínas negras brasileiras: em 15 cordéis. 1 ed. São Paulo: Pólen, 2017. DALCASTAGNÈ, Regina. Literatura brasileira contemporânea: um território contestado. Regina Dalcastagnè. – São Paulo: Editora Horizonte, 2012. , R. Literatura e resistência/ Organizado por Regina Dalcastagnè, Bertoni Licarão, Patrícia Nakagome. – Porto Alegre, RS: Zouk, 2018. FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. Tradução de Renato da Silveira. Salvador: EDUFBA, 2008. GONZALEZ, Lélia. Por um feminismo afro-latino-americano. In: Caderno de formação política do Círculo Palmarino n.01 Batalha de Ideias. (2011). 2011.Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/271077/mod_resource/content/1/Por%20um% 20feminismo%20Afro-latino-americano.pdf. LUGONES, María. Rumo a um feminismo decolonial. Estudos Feministas, Florianópolis, 22(3): 935-952, setembro-dezembro/2014. MALDONADOTORRES, N. Notas sobre la colonialidad de la paz. In: La construcción del “mundo del Tú”. Moca: Guamo, 2020, p. 10-14. MENDES, Algemira de Macêdo. Maria Firmina dos Reis e Amélia Beviláqua na história da literatura brasileira: representação, imagens e memórias nos séculos XIX e XX. 2006. 372 f. Tese (Doutorado em Letras) – Faculdade de Letras. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2006. SEGATO, Rita. Crítica da colonialidade em oito ensaios – e uma antropologia por demanda. Rio de Janeiro. Bazar do Tempo, 2021. TOLOMEI, Cristiane Navarrete. Maria Firmina dos Reis, decolonialidade e escrita abolicionista na imprensa maranhense oitocentista. Exæquo, https://doi.org/10.22355/exaequo.2019.39.10 n. 39, p. 153-168, 2019. O TRISTE OLHAR EM FRENTE AO ESPELHO: UMA ANÁLISE SOBRE ESTÉTICA DA MULHER NEGRA E O RACISMO NAS OBRAS O OLHO MAIS AZUL E DEUS AJUDE ESSA CRIANÇA, DE TONI MORRISON Nágila Alves Da Silva, Algemira de Macêdo Mendes Resumo: Este trabalho busca analisar as obras o olho mais azul (2019) e Deus ajude essa criança (2018), da escritora afro-americana Toni Morrison, sob a ótica da identidade e estética negra. Está análise tem o objetivo de através das obras literárias analisadas identificar a forma como são abordados as questões referentes a estética negra, a identidade e o racismo, Morrison dar voz as protagonistas dos romances para narrarem e descreverem os sofrimentos vivenciados por elas ainda na infância com as pressões estéticas da sociedade, que desde a era colonial vê apenas como belo as características fenotípicas das pessoas brancas, gerando o racismo, preconceito e discriminação contra as pessoas pretas, que acabam desenvolvendo aversão a cor da sua pele e características fenotípicas. Esse trabalho foi construído a partir de pesquisa bibliográfica nos pressupostos teóricos sobre os estudos decoloniais e estudos sobre: feminismo negro, negritude, estética negra, identidade e autoafirmação. Para tanto, utilizamos os teóricos: Fanon (2008), Xavier (2021), Collins (2019), Hall (2000), Almeida (2021), Kilomba (2019), entre outros. As obras analisadas tratam e refletem sobre a não aceitação da mulher negra pela sociedade e como essa não aceitação afeta a sua autoimagem e autoafirmação gerando consequências trágicas que surgem desde a infância e se perduram ao longo da vida. Toni Morrison consegui em suas obras representar-se e representar o lugar de fala da mulher negra através dos seus escritos, pois através da escrita da mulher negra manifesta-se uma forma de emancipação e militância. Além de descrever as condições sociais na quais as mulheres negras estão inseridas na sociedade que desde a era colonial as veem como corpos negros ultrassexualizados e violáveis. Referências: ALMEIDA, Silvio Luiz de. Racismo estrutural. São Paulo: Sueli Carneiro; Pólen, 2021. COLLINS, Patrícia Hill. Pensamento feminista negro: conhecimento, consciência e política de empoderamento. São Paulo: Boitempo, 2019. KILOMBA, Grada. Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019. HALL, Stuart. Quem precisa de identidade? In: Identidade e diferença. A perspectiva dos Estudos Culturais. Tomaz Tadeu da Silva (org.). Editora Vozes. Petrópolis- RJ. 2000. HOOKS, bell. Olhares negros: raça e representação. São Paulo: Elefante, 2019. MORRISON, Toni. Deus ajude essa criança. tradução José Rubens Siqueira. 1. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2018. XAVIER, Giovana. História Social da Beleza Negra. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2021. NAS ENTRELINHAS DO DESPRENDIMENTO: CLARICE LISPECTOR E A DESCOBERTA DO MUNDO Nathalia Flores Soares Resumo: Esta pesquisa tem por objetivo delinear a proposta de uma crítica biográfica fronteiriça da escritora Clarice Lispector, tendo como ilustração principal a obra A descoberta do mundo (1992) à luz dos conceitos propostos pela descolonialidade, como, por exemplo, corpo-política, memórias subalternas latinas, desprendimento, re-surgência, arquivo da exterioridade e paradigma outro. Para isso, assentaremo-nos em uma metodologia bibliográfica respaldada pela epistemologia crítica biográfica fronteiriça no bojo dos intelectuais Mignolo, Edgar Cézar Nolasco, Juliano Garcia Pessanha, Silviano Santiago, Gloria Anzaldúa, Maria Paula Meneses e Boaventura de Sousa Santos. Portanto, atravessados pelo exposto, buscaremos traçar um perfil intelectual político em Clarice Lispector, evidenciando a política presente em seu projeto intelectual e literário, a fim de perseguir as memórias da escritora judia contidas em seus escritos, no intuito de descortinar uma teorização projetada e pensada a partir das exterioridades da América Latina e do Brasil. Dito isso, a teorização proposta será delimitada pelo caráter sul-fronteiriço, o qual nos respalda para ler de maneira outra a literatura clariciana na atualidade. Buscaremos uma teorização que emerge a partir da (MIGNOLO,2003) fronteira geoistórica, conceitual e epistemológica a qual vai além do proposto pela epistemologia moderna; nesse sentido, a fim de nos desprender (MIGNOLO, 2020) não só das histórias (bio)locais que foram suprimidas, excluídas e invisibilizadas por ela. Referências: CANDIDO, Antonio. Vários Escritos. 2ª Edição. São Paulo: Livraria Duas Cidades, 1977 GIULIANO, Facundo (comp.). ¿Podemos pensar los no-europeos? Ética decolonial y geopolíticas del conocer. Ciudad Autónoma de Buenos Aires: Del Signo, 2018. LISPECTOR, Clarice.A Descoberta do Mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999. MENESES, Maria Paula; SANTOS, Boaventura de Sousa. Introdução. In: MENESES, Maria Paula; SANTOS, Boaventura de Sousa (org.). Epistemologias do Sul. São Paulo: Cortez, 2010, p. 15-27. MIGNOLO, Walter. Prefacio de la edición castellana: un paradigma otro: colonialiad global, pensamiento fronterizo y cosmopolitismo crítico. In: MIGNOLO, Walter. Historias locales/diseños globales: colonialidad, conocimientos subalternos y pensamiento fronterizo. Madrid: Ediciones Akal Sa, 2003b, p. 19-60. A LUCIDEZ NA POESIA DE STELA DO PATROCÍNIO Nayane Larissa Vieira Pinheiro, Algemira de Macêdo Mendes Resumo: Este trabalho busca analisar a produção literária da escritora Stela do Patrocínio, autora que denuncia a sua condição de internamento manicomial assim como a escritora Maura Lopes Cançado. A poetisa Stela do Patrocínio se distancia da condição de “doente mental” que lhe é imposta e lança metaforicamente através da poesia uma crítica ferrenha sobre o sistema que lhe oprimia: o manicômio é uma prisão perpétua. A primeira apresentação da obra de Stela do Patrocínio ocorreu em 1988, com a chegada de Neli Gutmacher, artista plástica, e seu grupo de alunos para montar o ataliê “Ar Subterrâneo”. Alguns dos seus textos, Stela do Patrocínio escreveu em papelão, mas não foram preservados. A única publicação da autora é “Reino dos bichos e dos animais é o meu nome”, transcrita pela filósofa Viviane Mosé, obra esta que será analisada. Convém destacar que a história literária escolhe quem será lembrado, e dificilmente, as falas, as escritas, as vidas, as “escrevivências” de mulheres negras estão devidamente nos registros. Portanto, este trabalho fundamenta-se na perspectiva de Gonzalez (2018), Carneiro (2005), Dalcastagnè (2002), Akotirene (2019) e Silva (2008 e 2011). Há uma dívida histórica com a memória e a vida de Stela do Patrocínio e de tantas mulheres negras do campo da literatura, como Maria Firmina dos Reis e Carolina Maria de Jesus. O silenciamento de uma mulher negra seguido de um rótulo como a loucura representa para todas as outras mulheres negras um retrocesso social que é sentido até os dias atuais. Tendo em vista o nosso objetivo, consideramos que esta pesquisa contribuirá para o reconhecimento da autoria de Stela do Patrocínio, o que significa extensivamente trazer a voz de tantas outras mulheres subalternizadas. Referências: AKOTIRENE, C. Interseccionalidade. São Paulo: Sueli Carneiro; Pólen, 2019. ARAÚJO, J. JACÓ-VILELA, A. Heitor Péres e a Praxiterapia Integral na Colônia Juliano Moreira. Estudos e Pesquisas em Psicologia. Rio de Janeiro: Instituto de Psicologia, v. 20, n. 1, p. 373-392, 2020. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/revispsi/article/view/50840 Acesso em: Maio de 2020. BARRENHA, T. S. “ESCREVER PARA NÃO MORRER” – A POESIA DE STELA DO PATROCÍNIO. A literatura como dispositivo de resistência, cuidado e produção de subjetividade. 2019. 86 p. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Universidade Estadual Paulista (UNESP), Faculdade de Ciências e Letras, Assis, 2019. Disponível em: https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/183088/barrenha_ts_me_assis_par.pdf?s equence=3&isAllowed=y Acesso em: Junho de 2020. BAKHTIN, Mikhail; VOLOSHINOV, V. N. Problemas da poética de Dostoiévski. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1997. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria-Executiva. Subsecretaria de Assuntos Administrativos. Memória da loucura: apostila de monitoria. Brasília: Ministério da Saúde, 2008. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/memoria_loucura_apostila_monitoria.pdf Acesso em: Maio de 2020. BORGES, V. T. “Estar internada é ficar o dia todo presa”: o cotidiano no “falatório” autobiográfico de Stela do Patrocíno. Revista Esboços. Florianópolis, v. 16, n. 22, p. 139-151, 2009. CARNEIRO, S. A construção do outro como não-ser como fundamento do ser. 2005. 339 p. Tese (Doutrorado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, da Universidade de São Paulo. DALCASTAGNÈ, R. 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A VOZ DECOLONIAL GRITA NÃO VOU MAIS LAVAR OS PRATOS, DE CRISTIANE SOBRAL Paulo Eduardo Bogéa Costa Resumo: O coletivo Cardemos Negros em suas publicações procura dar a voz ao negro (SPIVAK, 2010), efetivando seu lugar de fala (RIBEIRO, 2017), pela resistência da memória coletiva (HALBWACHS, 2006) dos cativos africanos e seus descendentes logrado por tantas escritoras desde Maria Firmina do Reis. Na edição de número 23 lançado em 2000 surgi um grito em um poema que proclama Não vou mais lavar os pratos da escritora Cristiane Sobral, eco dessa ancestralidade resistente que nem o tempo e o espaço conseguiram inibir. Os versos desmontam o colonialismo do poder (QUIJANO, 2005) que por muito tempo colocou o negro, sobretudo a mulher - a protagonista dessa voz - em um local de subserviência. Ao tomar ciência dessa situação do colonizado (MEMMI, 2007) entoa “Existem coisas. Eu li, e li, e li. Eu até sorri. [...] Ah, esqueci de dizer. Não vou mais” (SOBRAL, 2000), desta maneira a voz ao se posiciona contraria ao sistema repressor mostra o verdadeiro retrato do Brasil negro. Por isso, objetivamos nesta inquirição evidenciar a voz do negro como protagonista da decolonialidade brasileira desde a contraposição ao sistema escravista até assinatura de uma lei que viria tornar ilegal a escravidão no Brasil. Portanto, reconstrói a história do negro antes vista apenas pelo olhar do colonizador que formará uma história única (CHIMAMANDA, 2019). Referências: ADICHIE, Chimamanda Ngozi. O perigo da história única. Tradução: Claudia Espínola de Carvalho. 1. ed. Rio de Janeiro: Companhia das letras, 2019. 64 p. HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. Tradução: Beatriz Sidou. São Paulo: Centauro, 2006, 224 p. MEMMI, Albert. Situação do colonizado. In: Retrato do colonizado precedido de retrato do colonizador. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007, pp. 129-157. QUIJANO, Anibal. A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: CLACSO, Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales, 2005. RIBEIRO, Djamila. O que é: lugar de fala? Belo Horizonte (MG): Letramento/Justificando, 2017, 112 p. (Feminismos Plurais). SOBRAL, Cristiane. Não vou mais lavar os pratos. In: RIBEIRO, Esmeralda. BARBOSA, Márcio Cadernos Negros 23. São Paulo: Quilombhoje, 2000. SPIVAK, Gayatri C. Pode subalterno falar? Tradução: Sandra R. G. Almeida, Marcos P. Feitosa, André P. Feitosa. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010. TEORIA FEMINISTA: DA MARGEM AO CENTRO, DOS "VELHOS" AOS "NOVOS" DESAFIOS Simone Oliveira Santos Resumo: A partir de uma pesquisa que foca nos anos iniciais de publicação de bell hooks, o presente trabalho, centrado na obra Teoria Feminista: Da Margem ao Centro, se propõe a apresentar algumas questões suscitadas pela autora, tais como o panorama, as problemáticas e as potencialidades do feminismo da década de 1980, assim como as proposições que ela fez para que o feminismo fosse uma teoria que não continuasse subalternizando outros grupos sociais, principalmente no que diz respeito às mulheres pretas. Mas, afinal, como, mesmo estando à margem, bell hooks consegue enxergar, criticar e propor ideias para uma teoria criada por quem está no centro? Atenta aos termos de apresentação, aqui pretende-se refletir também acerca de algumas atualizações da teoria de bell hooks uma vez que – mesmo quase quarenta anos depois de sua primeira publicação – essa obra continua fazendo sentido e traçando caminhos para a resolução de dilemas do mundo hodierno. Nesse sentido, é notória a urgente necessidade de intensas mudanças, muitas das quais são propostas pela mencionada autora. Autora essa que nos deu provas de que temos muito o que enfrentar e resistir para que alcancemos, mais do que nunca, a transformação da nossa realidade atual, uma vez que ainda existem grupos ignorados, silenciados e invisibilizados socialmente. Referências: hooks, bell. Teoria Feminista: Da margem ao centro. Trad. Rainer Patriota. São Paulo: Perspectiva, 2019. hooks, bell. Intelectuais Negras. Revista Estudos Feministas, v.3, n.2. 1995. Disponível em: <https://periodicos.ufsc.br/index.php/ref/article/view/16465/15035> Acessado em: 10 mai. 2022. hooks, bell. Erguer a voz: pensar como feminista, pensar como negra. Trad. Cátia Bocaiuva Maringolo. São Paulo: Elefante, 2019. hooks, bell. E eu não sou uma mulher? Mulheres negras e feminismo. Tradução: BhuviLibanio. 6. ed. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2020. hooks, bell. Olhares negros: raça e representação. Tradução: Stephanie Borges. 1. ed. São Paulo: Elefante, 2019. HALL, Stuart. Cultura e representação. Trad. Daniel Miranda e William Oliveira. Rio de Janeiro: PUC-Rio: Apicuri, 2016. UM ESTUDO COMPARADO ENTRE O PASSADO E PRESENTE NOS ROMANCES AMADA DE TONI MORRISON E O CONTO OLHOS D'ÁGUA DE CONCEIÇÃO EVARISTO Taís Marciele dos Reis Resumo: Observando a história dos estudos de Literatura Comparada Tradicional percebemos que uma das características desses estudos era a comparação entre a Europa e outras literaturas, que se fortalecia pela identificação de dependência cultural dos países que foram colonizados. Esses países, frutos da colonização europeia, tinham seu olhar voltado para a Europa e viam esta como matriz e modelo. Para a literatura dos países colonizados, não poderia ser diferente, os escritores latino-americanos voltavam seus olhares para Europa. Contudo, esse olhar voltado para a Europa não interferiu somente nas literaturas, interferiu principalmente na cultura dessas ex-colônias, quando voltamos nosso olhar para os sistemas literários podemos perceber os aspectos culturais da colonização desses países. Nesse sentido, ao pensarmos em literaturas periféricas podemos lembrar das teorias dos estudos pós-coloniais e dos estudos das literaturas pós-coloniais que irão observar o aspectos coloniais na cultura e na literatura, voltando seu olhar para grupos sociais que foram deixados à margem na fase de colonização e que de alguma forma ainda se encontram, nos dias atuais, marginalizados na sociedade. Nessa perspectiva, uma análise comparada entre as obras Amada de Toni Morrison e Olhos d’água de Conceição Evaristo se torna imprescindível para descontruir o pensamento colonial, compreender e dar voz à esses grupos marginalizados aos quais as autoras fazem parte. As obras de Morrison e de Evaristo tem como um dos seus objetivos fazer com que a história dos afrodescendentes seja vista e respeitada. Ao fazermos a conexão entre passado, Amada, e presente, Olhos d’água, percebemos que existe entre as personagens mulheres, negras, mães e filhas certa similaridade de eventos, como se um padrão fosse repetido do passado até o presente. Assim, o intuito desse estudo é analisar o padrão existente na relação dessas personagens mulheres observando como características do passando (ancestral) permanecem até os dias atuais. Referências: BONNICI, Thomas. O pós-colonialismo e a literatura: estratégias de leitura. 2ªed. UEM, Maringá-PR: EDUEM, 2012 CANDIDO, Antonio. Literatura e Sociedade. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2006 CARVALHAL, Tânia Franco. Literatura Comparada. 4ª ed. rev. e ampliada. São Paulo: Ática, 2006 EVARISTO. Conceição. Olhos d’água. Olhos d’água. Rio de Janeiro: Pallas editora e distribuidora Ltda, 2018 GNISCI, Armando. A literatura mundial como futuro da literatura comparada. Escrita Revista do Curso de Letras da UNIABEU. Nilópolis, 2010 MORRISON, Toni. Amada. Tradução de José Rubens Siqueira. São Paulo: Companhia das Letras, 2007 NITRINI, Sandra. Literatura Comparada: História, Teoria e Crítica. 3ª ed. São Paulo: EDUSP, 2015 SILVA, Luciana de Mesquita. A escrita de Toni Morrison em tradução no Brasil:questões sobre ética em foco. XXI Congresso Internacional da ABRALIC, UFPR – Curitiba-PR, 2011. Disponível em: https://abralic.org.br/eventos/cong2011/AnaisOnline/resumos/TC0480-1.pdf VALENTE, Marcela Iochem; SILVA, Luciana de Mesquita. Literatura da diáspora africana nas Américas: as escritas de Toni Morrison e Conceição Evaristo e alguns desafios para a tradução. Porto Alegre: Letras de Hoje (p. 424-433), 2015. Disponível em: http://dx.doi.org/10.15448/1984-7726.2015.4.20324 A MENINA DO VESTIDO AMARELO, DE CONCEIÇÃO EVARISTO E A REPRESENTAÇÃO DA ÁGUA E DA MATERNIDADE Valéria Oliveira Vasconcelos Resumo: Esta comunicação tem como objetivo descrever a relação entre a água e a maternidade como a representação da força e da resistência observada nas mulheres afro-brasileiras presentes nos contos de Conceição Evaristo. Para este estudo, entende-se a influência das águas da Orixá Oxum, no enfrentamento ao preconceito racial e ao sexismo que a mulher negra enfrenta no processo histórico de resistência. A escritora, no conto, “A menina do vestido amarelo”, evoca a memória afetiva e a força da oralidade no processo de perpetuação da cultura contra a opressão da sociedade escravizada. Como base teórica de discussão dialogaremos com as teorias pós-coloniais e dos autores Gilroy (2001), Ribeiro(2017), Nye (1995), Foucault (1979), Carneiro (2003), Akotirene(2019), Del Priore (2010), Silva (2010).A escrevivência, noção elaborada Conceição Evaristo, compartilha a vida real, além dos traços culturais que caracterizam a identidade do povo afro-descendente brasileiro, extraindo das narrativas orais histórias e fatos que até então eram guardadas e compartilhadas pela ancestralidade e não exibidos ao mundo literário formal. Para a escritora, a literatura é um instrumento de libertação, de denúncia das injustiças que a mulher negra sofre. Portanto, compreende-se a literatura como espaço de voz aos fatos que retratam as dores, as injustiças e o silenciamento que a mulher afrodescendente sofre durante e após o processo colonial, como o direito extirpado e/ou combatido de cultuar os deuses do panteão africano. O conto “A menina do vestido amarelo” expõe o embate silencioso entre a doutrina cristã e a presença da Yabá Oxum, Orixá feminina, senhora das águas doces dos rios e cachoeiras, que se faz presente no rito cristão. Referências: AKOTIRENE, Carla. Interseccionalidade / Carla Akotirene. – São Paulo: Sueli Carneiro; Pólen, 2019. 152p. (Feminismos Plurais / coordenação de Djamila Ribeiro) CARNEIRO, Sueli. Enegrecer o feminismo: a situação da mulher negra na América Latina a partir de uma perspectiva de gênero. Racismos contemporâneos. Rio de Janeiro: Takano Editora, v. 49, p. 4958, 2003. Disponível em https://www.patriciamagno.com.br/wpcontent/uploads/2021/04/CARNEIRO-2013-Enegrecer-o-feminismo.pdf Acesso em 09 out 2021. EVARISTO, Conceição. Histórias de leves enganos e parecenças. Rio de Janeiro: Editora Malê, 2016 FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder / Michel Foucault; organização e tradução de Roberto Machado. – Rio de Janeiro: Edições Graal, 1979. GILROY, Paul, 1956. O Atlântico negro : modernidade e dupla consciência / Paul Gilroy; tradução Cid Knipel Moreira.- São Paulo: Ed. 34; Rio de Janeiro: Universidade Candido Mendes, Centro de Estudos Afro-Asiáticos, 2001. ISBN 857326-196-X DEL PRIORE, Mary. História das mulheres no Brasil. Coordenação de textos de Carla Bassanesi. São Paulo: Contexto, 1997. NYE, Andrea. 1939 – Teoria feminista e as filosofias do homem / Andrea Nye; tradução de Nathanael C. Caixeiro – Rio de Janeiro: Record: Rosa dos Tempos, 1995. RIBEIRO, Djamila. O que é: lugar de fala? / Djamila Ribeiro. – Belo Horizonte (MG): Letramento: Justificando, 2017. SARACENI, Rubens. Umbanda Sagrada: religião, ciência, magia e mistérios / Rubens Saraceni. – 5. Ed. – São Paulo: Mandras, 2008. SARACENI, Rubens. As Sete Linhas de Umbanda: A Religião dos Mistérios / Rubens Saraceni. – 8. Ed. – São Paulo: Mandras, 2019. SILVA, Maria Rodrigues da. ULOMMA: a maternidade como vivência de reencantamento pelo sagrado no conto de matriz afro-brasileira / Maria Rodrigues da Silva. – João Pessoa: PPGCRI-UFPB, 2010. SIMPÓSIO “ESCRITA E DESAPARECIMENTO” Gabriela Lopes Vasconcellos de Andrade (UFMG), Livia Laene Oliveira dos Santos Drummond (UFBA), Antônia Torreão Herrera (UFBA) O DESAPARECIMENTO DE SI NA FOME Antônia Torreão Herrera Resumo: Proponho-me a analisar o tema do desaparecimento de si na vertigem da fome, em registros diferenciados: na novela de Kafka, O artista da fome, e no romance de encenação autobiográfica de Knut Hamsun, Fome. Estetizar a fome já implica numa questão ética que movimenta algumas reflexões sobre essa realidade tão contundente no planeta, os anônimos famélicos, que morrem, desaparecem no grande vazio da fome. Em ambos os textos, o sujeito busca um reconhecimento de si pela arte (a arte do faquir e o toco de lápis que acompanha o escritor faminto pelas ruas), ao tempo em que a própria arte que os sustenta, os faz sucumbir sacrificialmente. O esgotamento dos corpos, proporcional à sua potência de resistir, denuncia a engrenagem da sociedade de consumo, que desafia a existência do sujeito no processo de coisificação. Estar exposto ao fora condiciona o sofrimento de ambos, a realidade externa os agride. O artista da fome desdenha de qualquer alimento até definhar completamente e ser comido pela fome. O personagem de Hamsun desdenha da sociedade e do outro e ironiza tudo à sua volta, inclusive a própria fome. O orgulho e a dignidade de existir na arte e pela arte é um motivo a ser analisado em cruzamento com a existência da fome. Referências: KAFKA, Franz. O artista da fome. In: A colônia penal. São Paulo: Livraria Exposição do Livro, 1965, p. 139-146. HAMSUN, Knut. Fome. São Paulo: Geração Editorial, 2009. A FALA E A ESCRITA: UM PONTO DE VISTA Edilma Cotrim da Silva Resumo: O estudo apresentado busca refletir sobra a fala e a escrita tendo como destaque os processos de ambiguidade gerados entre estudiosos da linguística tomando como base Saussure, Fiorim, Derrida, Gnerre ,Calvet. Straus, Rosseau, Galvão entre outros. Este trabalho, de natureza bibliográfica, tem o propósito de discutir os pontos de vistas apresentados pelos autores frente ao apresentado como estudo a cultura do escrito em comunidade ágrafa. Como critério para identificar os autores citados, o destaque foram ambiguidades e diferenças de ponto de vistas. A revisão da literatura possibilitou estabelecer diálogos entre suas obras no que tange a fala e a escrita fazendo o contra ponto com uma comunidade ágrafa da atualidade. Frente ao abordado é possível reconhecer que a escrita ocupou um lugar de muita importância na utilização de uma língua, e por ser externa ao ser humano, a cultura do escrito demarca posições sociais e categoriza importâncias sociais. Falamos muito e damos muita importância para a escrita. A escrita tem supremacia e grande valor. Criamos grau de importância e não harmonizamos a importância do oral e do escrito. Um povo ágrafo é visto como inferior. Não dominá-la é razão de hierarquização. “ Eu dei minha palavra”, mas “o que vale é o que está escrito”. Fica explicitado que se torna fácil silenciar e invisibilizar os ágrafos frente ao poder da escrita. O Brasil colônia produziu organizações sociais diversas, consequentemente o resultado de castas entre os ágrafos e os letrados foram construídas e perduram até os dias atuais. Contamos com uma sociedade racista e excludente, onde pode ser diagnosticada a presença de grupos explorados e excluídos, não são integrados numa ordem social igualitária. Referências: CALVET. L. J. As políticas linguísticas. São Paulo: Parábola Editorial: IPOL, 2007. ________. Tradição oral & tradição escrita. São Paulo: Parábola Editorial: 2011 BATISTA, Antônio Augusto Gomes; GALVÃO, Ana Maria de Oliveira. Práticas de leitura, impressos, letramentos: uma introdução. In: GALVÃO, Ana Maria de Oliveira; BATISTA, Antônio Augusto Gomes (Org.). Leitura: práticas, impressos, letramentos. 2. ed., 1. reimp. Belo Horizonte: Autêntica, 2005. BATISTA, Antônio Augusto Gomes; GALVÃO, Ana Maria. Entrando na cultura escrita: percursos individuais, familiares e sociais nos séculos XIX e XX. Belo Horizonte, 2004. (Projeto de pesquisa). DERRIDA, Jacques. Gramatologia. São Paulo, Perspectiva,1973. _______________. A escritura e a diferença. São Paulo, Perspectiva, 2002. _______________. Jacques; ROUDINESCO, Elisabeth. De que amanhã... Rio de Janeiro, Zahar, 2004. FERREIRA, Maria Raquel Dias Sales. Mulheres quilombolas e culturas do escrito: vóz e letra na comunidade quilombola de Mato de Tição. 2016. Programa de Dissertação (mestrado em Educação e inclusão social, Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de educação, 2016. FIORIN, José Luiz; FLORES, Valdir do Nascimento e BARBISAN, Leci Borges (orgs). Saussure: a invenção da Linguística. São Paulo: Contexto, 2013. 174p. BARBISAN, Leci Borges (Orgs.). Saussure: a invenção da linguística. São Paulo: Contexto, 2019, 1ªed GALVÃO, Ana Maria de Oliveira. Cordel: leitores e ouvintes. Belo Horizonte: Autêntica, 2001. ________ Leitura: algo que se transmite entre gerações? In: RIBEIRO, Vera Masagão (Org.). Letramento no Brasil: reflexões a partir do INAF 2001. Campinas, São Paulo: Global, 2003. p.125-153. ________“História” oral e processos de inserção na cultura escrita. Educação em questão, Natal, v.25, n.11, p. 206-223, jan./abr. 2006. BATISTA, Antônio Augusto Gomes. Oralidade e escrita: uma revisão. Cadernosde Pesquisa. São Paulo: Fundação Carlos Chagas, v.36, n.128, p.403-432, mai/ago. 2006. GALVÃO, Ana Maria de Oliveira et al (Orgs.). História da da cultura escrita: séculos XIX e XX. Belo Horizonte: Autêntica, 2007. p.9-46. GNERRE, M. Linguagem, escrita e poder. São Paulo: Martins Fontes, 1985. DESAPARECIMENTO COMO SUBVERSÃO NA POESIA DE ADÍLIA LOPES E PATTI SMITH: UMA PERSPECTIVA ALTERNATIVA AO PROBLEMA FEMINISTA DA INVISIBILIDADE Erica Martinelli Munhoz Resumo: As obras poéticas de Adília Lopes e Patti Smith exploram diferentes sentidos do desaparecimento como subversão sugerindo, no gesto paradoxal de sobrevivência pelo ato poético de desfazer-se, uma prática potencialmente feminista. Apesar da importância dada pela crítica literária feminista às ideias de silenciamento e invisibilidade como seus principais obstáculos, estratégias poéticas subversivas em torno da invisibilidade parecem, como aponta o texto deste simpósio, “evocar o fantasma do desaparecimento para exorcizá-lo”. Problematizase, desta forma, a dualidade maniqueísta entre visibilidade e desaparecimento, lidos frequentemente pela crítica feminista como símbolos estanques de empoderamento e opressão. Consciente da “contingência e fragilidade dos seus vocábulos finais e, portanto, dos seus eus” (MARTELO, 2004), Adília Lopes se utiliza do pseudônimo ou “nome/máscara” (idem), como tema da escrita, estabelecendo jogos de desaparecimento: “Nasci em Portugal/ não me chamo Adília/ Sou uma personagem/ de ficção científica/ escrevo para me casar” (LOPES, 2014). A aparente simplicidade e legibilidade de sua escrita sugerem o esvaziamento, como expressa o poema de Rafael Mantovani: “Adília Lopes tem poemas/ tão simples/ que não entendo/ de tão finos não consigo/ entrar/ porque saio do outro lado” (MANTOVANI, 2011). Os poemas de Patti Smith evocam a dissolução do eu por meio da relação entre sexualidade e violência, ecoando metaforicamente práticas sadomasoquistas queer descritas por Lynda Hart, cuja corporalidade almeja a percepção do eu “não apenas como um constructo, uma prótese, mas comumente um fardo” (HART, 1998) e cujo prazer depende da “dialética entre aparecimento e desaparecimento” (idem). A poesia de ambas poetas busca a “redescrição da crueldade” (MARTELO, 2004), sustentando o paradoxo entre silenciamento e ultrapassagem da linguagem como processo libertador: no poema “after/words” de Smith, uma rainha penetra a personagem para extrair dela a linguagem (SMITH, 1994), enquanto a “musa cruel” de Adília Lopes avisa: “agora vou-te cortar a língua/ para aprenderes a cantar” (LOPES, 2014). Referências: HART, Linda.: Between the body and the flesh: performing sadomasochism. New York: Columbia University Press, 1998. LOPES, Adília.: Dobra: poesia reunida. Porto: Assírio & Alvim, 2014. MARTELO, Rosa Maria.: Adília Lopes: - ironista. SCRIPTA, Belo Horizonte, v. 8, n. 15, p. 106-116, 2º sem. 2004 SMITH, Patti.: Early Work: 1970 – 1979. New York: W. W. Norton & Company, 1994. MANTOVANI, Rafael.: Cão. São Paulo: Hedra, 2011. ENTRE VIDA E MORTE, A ESCRITA LITERÁRIA. UM OUTRO MODO DE EXISTIR Fernanda Rocha da Silva Resumo: Foucault (2016) uma vez apontou a morte do homem como acontecimento vindouro. Um homem que morre e se esfacela do centro do conhecimento, mas que reaparece na instância enunciativa da linguagem, esse processo inacabado e aberto aos entremeios da enunciação discursiva. Não obstante, para o ser mulher havia – ou ainda há – um esgotamento das possibilidades de enunciação, que se perfazia enquanto não sujeito autoral, incapaz de se valer da escritura para se enunciar e constituir-se. Porém, sub-repticiamente, sob o uso de pseudônimos ou do anonimato, essa mulher dava forma à vida por meio do ato insurrecional de escrever e fazer deste processo, uma potência de vida frente as impossibilidades diárias. Deleuze (2013) defende a ideia de que a literatura somente nasce quando torna possível o impessoal, apesar do pessoal da autora. Nesta esteira, é num ato de feitiçaria, que a autora transforma, transmuta o pessoal em impessoal, fazendo, pois, uso de pronomes indeterminados que possibilitam qualquer um adentrar ao espaço texto e fazer dele sua morada. Um duplo na escrita literária, já que de um lado se encontra a autora finita, determinada e individualizada, e, do outro, a infinitude do impessoal, da multiplicidade na singularidade representada na partícula um ou uma. Sendo assim, a proposta que ora se apresenta desafiadora é tratar desse duplo ato processual de morrer em vida e viver na escrita, tendo como suporte literário o conto de Evaristo (2020) “A gente combinamos de não morrer”, que retrata a relação existente entre vida e morte numa periferia brasileira, e como esta última pode alumiar a primeira, dando ensejo, assim, a uma existência escriturária. A escrita literária como possibilidade de efetuar um outro modo de existência – não-orgânico – que se apresenta como obra de arte e ao largo do esgotamento de ser mulher. Referências: EVARISTO, C. Olhos d’água. 1ª ed. 14ª reimp. Rio de Janeiro: Pallas, 2016 DELEUZE, G. Conversações (1972-1990). 3ª ed. Trad. Peter Pál Pelbart. São Paulo: Editora 34, 2013 DELEUZE, G. Crítica e clínica. 2ª ed. Trad. Peter Pál Pelbart. São Paulo: Editora 34, 2011 FISCHER, M. B. Foucaul, Clarice: as palavras, as coisas, a experiência. Revista Cadernos de Educação, nº 54, pp. 4-22, 2016 FOUCAULT, M. Arqueologia das ciências e história dos sistemas de pensamento (Ditos e Escritos II). Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2000 FOUCAULT, M. Linguagem e Literatura. In: MACHADO, R. Foucault, a filosofia e a literatura. 3ª ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005 FOUCAULT, M. As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas. 10ª ed. Trad. Salma Tannus Muchail. São Paulo: Martins Fontes, 2016. FLORES DO MAL: O DILACERAMENTO, O EROS E O MAL EM SH?Z? OSHIMI E CHARLES BAUDELAIRE Gabriela Lopes Vasconcellos de Andrade Resumo: O presente trabalho busca analisar o dilaceramento do sujeito e os conceitos de eros e mal a partir do mangá Aku no Hana (Flores do Mal) de Sh?z? Oshimi (2022) e a sua releitura de Flores do Mal de Charles Baudelaire (2019). O mangá conta a história de um garoto tímido, Kasuga, que um dia é flagrado por uma colega roubando as roupas de ginástica da garota por quem é apaixonado. Saeki, a garota que o flagra, passa a extorqui-lo, e, aos poucos, ambos dilaceram os seus espíritos ao gozar do mal. Kuniichi Uno (2017) afirma que o corpo social faz desaparecer tudo que há de corpo no corpo, enrijecendo-o seus membros e padronizando seus movimentos. Por isso, para ele, interessa pensar o butô como uma epistemologia que permite experimentar a linguagem corporal fora da normatividade e do desaparecimento. Neste sentido, Aku no Hana retoma à poética de Charles Baudelaire para possibilitar que seus personagens rompam enrijecimento a partir da perversão, do eros e do mal. Georges Bataille (2015) afirma que a poesia de Baudelaire explora as superficialidades do capitalismo e apresenta o êxtase do horror no limite da sensibilidade livre e a esterilidade esgotante, trazendo como tema o prazer (o eros) como princípio da anti-economia. Bataille afirma que “o fundamento da efusão sexual é a negação do isolamento do eu, que só chega ao desfalecimento ao se exceder, ao se ultrapassar no enlace em que a solidão do ser se perde” (2015, p.14). O eros permite a dissolução dos limites de si e do corpo por meio de impulso orgânico e excrementais. Assim, busca-se pensar como Aku no Hana, ao retomar a poética de Chales Baudeleire, possibilita a leitura ambígua da dissolução do eu e da vivência limite. Referências: BATAILLE, Georges. A literatura e o mal. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2015. BAUDELAIRE, Charles. As flores do mal. São Paulo: Penguin CLassics Companhia das Letras, 2019. Oshimi, Sh?z?. As flores do mal (Aku no Hana). São Paulo: New Pop, 2022. UNO, Kuniichi. Hijikata Tatsumi: pensar um corpo esgotado. São Paulo: n-1, 2018. A ARTE DE DESAPARECER EM ENRIQUE VILA-MATAS: A MORTE IMAGINÁRIA DO AUTOR NO LABIRINTO DA INTERTEXTUALIDADE Jucelino de Sales Resumo: O escritor catalão Enrique Vila-Matas é autor de uma obra ficcional, em que sua escrita literária reflete, na diegese, entre outras clivagens, sobre a condição do autor. Nele, a memória de literatura (SAMOYAULT, 2008) se assume como inerente condição, um tipo de ethos que lhe “permite articular corpo e discurso” (MAINGUENEAU, 2016, p. 271), com que emoldura e transfigura a sua diegese. Nele, a arte de desaparecer coincide com a morte do autor, ligação que corrobora o seu desejo suicida de consagração desenhado através de mortes imaginárias (SCHNEIDER, 2005). Assim, para atingir o mapa secreto da hipertextualidade de sua obra nos valemos, na investigação, do método proposto por Borges “para localizar o livro A, consultar previamente um livro B, que indique o lugar de A; para localizar o livro B, consultar previamente um livro C, e assim até ao infinito...” (BORGES, 1976, p. 67). O intuito desse procedimento teórico, literariamente descrito, é refletir sobre a obsessão com que o escritor catalão se enferma com “o mal de Montano”, convalescendo no labirinto exemplar de Borges – a Biblioteca de Babel: “mal” que persegue todos aqueles que sofrem da doença do palimpsesto. O artigo propõe uma reflexão teórico-literária sobre uma poética do desaparecimento com que o escritor alicerçou a diegese de sua ironia intertextual (ECO, 2011) ao vampirizar a memória de literatura, desembocando, depois da morte, no retorno do autor (KLINGER, 2006) sob o artifício da autoficção. Referências: AMARAL, Pauline. Autobiografia e metaliteratura em Enrique Vila-Matas. Disponível em: http://www.periodicos.ufc.br/entrelaces/article/view/11659. Acesso em: 12 de mar. 2022. BARTHES, Roland. A morte do autor e O efeito de real. Em: O rumor da língua. Tradução Antônio Gonçalves. Lisboa: Edições 70, 1984. BLANCHOT, Maurice. A literatura e o direito à morte. Em: A parte do fogo. Tradução Ana Maria Scherer. Rio de Janeiro: Rocco, 1997. DE MAN, Paul. Autobiografia como Des-figuração. Trad. J. Wolff. Disponível em: http://www.culturaebarbarie.org/sopro/n71scribd.pdf. Acesso em: 12 de mar. 2022. ECO, Umberto. Ironia intertextual e níveis de leitura. Em: Sobre a literatura. Tradução Eliana Aguiar. Rio de Janeiro: BestBolso, 2011. FOUCAULT, Michel. A grande estrangeira: sobre literatura. Tradução Fernando Scheibe. 1 ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2016. FOUCAULT, Michel. Ditos e Escritos III. Estética: Literatura e Pintura, Música e Cinema. Tradução Autran Dourado Barbosa. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2009. GENETTE, Gérard. Palimpsestos: a literatura de segunda mão. Tradução Cibele Braga et al. Belo Horizonte: Editora Viva Voz, 2010. HERINGER, Victor Doblas. Enrique Vila-Matas: a ironia e a reinvenção da subjetividade. (Dissertação de mestrado). Programa de Pós-graduação em Ciência da Literatura da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Disponível em: https://drive.google.com/file/d/1cFrBO4tPuWIatixobRifWqrs4RD3cc0/view. Acesso em: 15 mar. 2022. IYER, Lars. Nu na banheira, encarando o abismo. Disponível em: https://www.revistaserrote.com.br/2012/11/nu-nabanheira-encarando-o-abismo-por-lars-iyer/. Acesso em: 11 mar. 2022. KLEIN, Kelvin dos Santos Falcão. Vozes compartilhadas: a poética intertextual de Enrique Vila-Matas. (Dissertação de mestrado). Programa de Pós-graduação em Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Disponível em: http://livros01.livrosgratis.com.br/cp093367.pdf. Acesso em: 11 mar. 2022. KLINGER, Diana Irene. Escritas de si, escritas do outro: autoficção e etnografia na narrativa latino-americana contemporânea. Programa de Pós-graduação em Letras da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. (Tese de doutorado). Disponível em: http://www.bdtd.uerj.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=124. Acesso em: 13 de mar. 2022. LEJEUNE, Philippe. Autoficções e CIA. Peça em cinco atos. Em: Ensaios sobre a autoficção. Tradução J. M. Gerheim Noronha e M. I. Coimbra Guedes. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2014. LEJEUNE, Philippe. O pacto autobiográfico: de Rousseau à internet. Tradução J. M. Gerheim Noronha e M. I. Coimbra Guedes. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008. MAINGUENEAU, Dominique. Discurso literário. Tradução Adail Sobral. 2 ed. São Paulo: Contexto, 2016. PAULS, Alan. Segunda mano. Em: El factor Borges. Barcelona: Editorial Anagrama, 2004. SAMOYAULT, Tiphaine. A intertextualidade. Tradução Sandra Nitrini. São Paulo: Editora Hucitec, 2008. VILAMATAS, Enrique. O mal de Montano. Trad. Celso Mauri Paciornik. São Paulo: Cosac Naify, 2005. VILA-MATAS, Enrique. Suicídios exemplares. Tradução Carla Branco. São Paulo: MEDIAfashion, 2012. A ESCRITA FEMININA EM FOCO Katia Fernandes De Lima Resumo: Durante muito tempo a cultura ocidental manteve as mulheres afastadas das áreas do conhecimento. Reflexo dessa mentalidade conservadora aparece nos discursos de importantes literatos brasileiros durante o século XX, quando fazem a a recepção crítica da lírica feminina, como a de Gilka Machado, de Cecília Meireles, entre outras. De fato, a apartir do ideário binário das identidades sexuais, cria-se tanto a estrutura do poder político-social a favor do gênero masculino quanto justificativas para atender à sujeição das mulheres em vários espaços sociais. Nota-se, de fato, que o instrumental crítico não consegue se desvencilhar do julgamento sexista em relação ao trabalho artístico das mulheres atuantes no ambiente literário, encarado ora por aspectos extrínsecos ao texto ora pelas falhas técnicas ou o excesso de sentimentalismo das obras. Considerada sob tal perspectiva, percebe-se que a leitura restritiva promove uma lacuna na historiografia literária brasileira, visto o apagamento da dicção lírica de algumas ou a evolução de poetisas à margem da literatura oficial, a exemplo de Machado e Meireles. Nesta comunicação, portanto, busca-se focalizar o texto dentro de um contexto mais amplo afim de entender as razões que favoreceram o enquadramento da produção artística do sujeito-mulher num plano secundário, tendo como fundamentação teórico-crítica os trabalhos de Foucault (2008) e Kehl (2008). Estudos que analisam não apenas às condições históricas de aparecimento de certos práticas discursivas capazes de delimitar grupos de conceitos, mas também a possibilidade de interdição de outros enunciados divergentes dessa representação, tal qual ocorre, em forma de contradiscurso, na dicção das escritoras brasileiras. Referências: FOCAULT, Michel. A arquiologia do saber. Trad. Felipe Baeta Neves. 7ª ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008. KEHL, Maria Rita. Deslocamentos do feminino. 2ª ed. Rio de Janeiro: 2008. ESTRATÉGIAS DE DESAPARECIMENTO E SOBREVIVÊNCIA EM O QUE OS CEGOS ESTÃO SONHANDO?, DE NOEMI JAFFE Lígia Guimarães Telles Resumo: Esta comunicação propõe-se ao exame das estratégias de desaparecimento e sobrevivência na composição do livro de Noemi Jaffe (2012) O que os cegos estão sonhando? com o Diário de Lili Jaffe (1944-1945) e texto final de Leda Cartum. O livro traz a assinatura de Noemi Jaffe, mas incorpora no seu título os nomes da mãe e da filha da escritora, o que aponta para deslizamentos operados entre três assinaturas, três tempos e três gerações. Enquanto o primeiro e o terceiro textos são escritos em primeira pessoa, o segundo, que ocupa a maior parte do volume, assume a terceira pessoa, aspecto destacado pela própria Jaffe, ao tomá-lo como título para o 25º capítulo. O diário de Lili Jaffe foi escrito em sérvio, após sua libertação do campo de concentração de Auschwitz (onde esteve confinada em 1944 e 1945), e narra a posteriori sua vida naquele lugar e período. Oscilações nas narrativas entre primeira e terceira pessoa, entre memória e esquecimento trazem à tona a questão da escrita como forma de preservação e de desaparecimento do sujeito ou, como proposto pelo simpósio “Escrita e desaparecimento”, “uma tentativa paradoxal de desaparecer e de sobreviver.” Para finalizar o volume, um ensaio-memória da autoria de Leda Cartum, a partir do relato e das reflexões decorrentes de sua ida ao campo de concentração de Auschwitz, em 2009. Referências: GAGNEBIN, Jeanne Marie. Lembrar, esquecer, escrever. São Paulo: Ed. 34, 2006. JAFFE, Noemi (2012). O que os cegos estão sonhando? – Com diário de Lili Jaffe (1944-1945) e texto final de Leda Cartum. São Paulo: Editora 34. POR QUE DESAPARECER? DE GEORGES BATAILLE A KATHY ACKER Livia Laene Oliveira dos Santos Drummond Resumo: Este trabalho consiste numa abordagem da novela The childlike life of the Black Tarantula by the Black Tarantula, primeira obra da escritora americana Kathy Acker, a partir das reflexões de Georges Bataille a respeito da dissolução do eu, da identidade, na escrita e nas atividades eróticas, enquanto experiências que conduzem o sujeito nelas envolvidos a desaparecer, a se perder de si. Segundo Loparic (2022), o sujeito fragmentado é “[...] tomado pela angústia, não pela angústia neurótica da castração, da perda de uma parte do corpo, mas de aniquilamento, da perda de tudo”. A angústia do desparecimento, tema caro a psicanálise, é um tema central nas reflexões de Bataille, assim como nas de Acker, porém, em suas obras, a angústia transforma-se em desejo, desejo de aniquilar o eu, a identidade, de sair de si, de se perder. Bataille afirma que “O sentido de uma obra infinitamente profunda está no desejo que o autor teve em desaparecer (em se se decompor sem deixar traço humano).” E Acker adota uma postura semelhante ao dizer que “Nada pode parar minha escrita finalmente eu estou sozinha uso minha escrita pra me livrar de todos os sentimentos de identidade que não sejam a minha sexualidade. Eu só preciso existir quando alguém tenta me tocar ou quando eu me toco.” (ACKER, 1998, p.50) Assim, esse desejo de destruição do eu, fomentado por Bataille, reverbera em Acker e emerge na obra de ambos os autores, sobretudo a partir da dilaceração dos corpos das personagens por eles evocadas. Referências: BATAILLE, G. Le coupable : suivi de L’Alleluiah : Somme Athéologique II. Paris : Gallimard, 1998. ACKER, K. Portrait of na eye. New York: Grove Press, 1998. ACKER, K. Hannibal Lecter, My Father. New York: Semiotext(e), 1991. BATAILLE, G. Romans et récit. Paris : Gallimard, 2004a BATAILLE, G. La littérature et le mal. Paris: Gallimard, 2004. BATAILLE, G. L’Érotisme. Paris: Éditions de Minuit, 2004. BATAILLE, G. A experiência interior: seguida de Método de Meditação e Postscriptum 1953: Suma Ateológica, volume I. Belo Horizonte: Autêntica, 2016 LOPARIC, Z. Os dois modos de vida de um homem. Cult, 2002. CONSTELAÇÕES EM REDE: QUESTÕES DE AUTORIA E O COLETIVO LATINOAMERICANO CHICKS ON COMICS Luísa Loureiro Monteiro de Castro Teixeira Resumo: O presente trabalho buscará apresentar, a partir da discussão sobre a morte do autor de Roland Barthes e seus desdobramentos, o coletivo feminista Chicks on Comics, criado por quadrinistas e ilustradoras latinoamericanas. A ação do coletivo ocorre entre o online e o offline, o que se reflete nas HQs produzidas por elas. Para a essa comunicação, serão apresentadas algumas estratégias do coletivo e como elas contribuem para a circulação dos quadrinhos produzidos pelas artistas que fazem parte da atuação do coletivo. O coletivo existe desde 2008 e já contou com o apoio de quinze artistas ao longo tempo. Hoje, cinco artistas assinam por ele. São elas Ann Gee, Clara Lagos, Delius, Julia Barata e Pixin Weng. Individualmente, cada uma das artistas mantém suas páginas autorais, de tal forma que esses projetos coexistam com o projeto coletivo. Todas são, ao mesmo tempo, autoras independentes e autoras vinculadas ao coletivo, o que desestabiliza a noção de autoria como algo estático. Para Barthes, a categoria de autor entra em crise quando a ênfase sobrecai sobre linguagem: "(...) é a linguagem que fala, não o autor; escrever é, através de uma impessoalidade prévia - que não se deve em momento algum confundir com a objetividade castradora do romance realista -, atingir esse ponto em que só a linguagem age, ‘performa’, e não ‘eu' (...) (2012, p.59)" Com as Chicks on Comics, parece que o que Barthes coloca opera de duas formas: com a performance da linguagem e com a autoria coletiva. Nesse sentido, não é apenas com a linguagem que a noção de autoria precisa dialogar. Ela precisa também dialogar com o nome do coletivo, que dá visibilidade às autoras, ao mesmo tempo que as ofusca e as faz desaparecer de sua individualidade. Referências: BARTHES, Roland. A morte do autor. In: _______. O rumor da língua. trad. Mario Laranjeiras. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004. p. 57 -64. BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. In________. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e cultura, trad. Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1994, p.165-196. CARABALLO, Laura. Militance féministe et queer dans la bande dessinée argentine actuelle. Neuvième Art, 2020. Disponível em: http://neuviemeart.citebd.org/spip.php?article1291. Acesso em: 12 de abril de 2020. OTTE, Georg; VOLPE, Miriam. Um olhar constelar sobre o pensamento de Walter Benjamin. In: Revista Fragmentos, vol. 18, 2000, p.35 - 47, https://periodicos.ufsc.br/index.php/fragmentos/article/view/6415/5984 , consultado em 25/08/2021. CORPOS QUE DESLIZAM PARA O NADA Mirella Márcia Longo Vieira Lima Resumo: Comentando o primado que Freud concedeu ao falo em sua teoria monista da sexualidade, Luce Irigaray observa, nas metáforas da psicanálise, um privilégio dado às matérias sólidas, constatando o “não reconhecimento de uma economia específica dos fluidos”, situando, entre eles, o esperma. A questão crucial residiria no fato de que, uma vez omitidos na imagem do corpo masculino, os sentidos dos fluidos teriam sido deixados à mulher e, então, resvalado em ausência de sentido, o que se confirma nas associações feitas entre os líquidos do corpo com a morte e com o nada. Na verdade, ao pensar sobre a conquista do fogo, Freud refere-se à urina. Isso não invalida a reflexão de Irigaray, mas antes a reforça, já que Freud vê, na renúncia em apagar o fogo com a própria urina, o ato inaugural da construção de sentidos que dá base à cultura. É, portanto, em estreita associação com a ausência de significado, que os fluidos atravessam as representações do corpo masculino, evocando sinais de feminilidade, perda de potência e visão de mortalidade. O comentário proposto irá destacar três corpos que, representados em textos canônicos da literatura brasileira, serão postos sob uma nova óptica. Trata-se do corpo de Escobar, tal como o representa o amigo Bento, narrador do romance “Dom Casmurro”. Trata-se também do corpo de Mário de Andrade, representado pelo amigo Carlos Drummond de Andrade, no poema “Mário de Andrade desce aos infernos”. Finalmente, se trata do corpo da autoridade cujo desaparecimento gradativo está no centro da descrição feita por Olavo, narrador do romance “Cinzas do Norte”. Integrando uma arte fictícia, essa arte destruída e recuperada na palavra, nasceu através das mãos de um amigo morto. Referências: FREUD, S. A conquista do fogo (1932). In : FREUD,S. O mal estar na civilização, novas conferências introdutórias e outros textos (1930-1936). São Paulo: Companhia das Letras, 2010. IRIGARAY, Luce. Este sexo que não é só um sexo: sexualidade e status social da mulher. São Paulo: SENAC, 2017. LONGO, Mirella Márcia. Entre fluidos e matéria sólida: confidências sobre o corpo masculino na poesia de Carlos Drummond de Andrade. In: Deneval S. De A. Filho et al (Org.) Poetas brasileiros modernos: mosaico. Curitiba: CRV, 2021. p, 273-289. ROUDINESCO, E. A família em desordem. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. RELATAR A SI MESMO: HOSPITALIDADE E DESAPARECIMENTO Mônica Fernanda Rodrigues Gama Resumo: A ficção de narradores-autores é fenômeno muito presente na literatura brasileira. Essa ficção da literatura em ato expõe a construção dessa personalidade que remete a criação ao nome no narrador, às definições do que se entende como literatura e às expectativas de como esse texto será reatualizado pelo ato da leitura. Nesta comunicação, colocamos em diálogo romances que ficcionalizam a escrita de si (mais especificamente o diário) para pensar as estratégias envolvidas na simulação do gesto de escrita de si e as concepções de testemunho, confissão, registro de si por ela engendradas. No romance contemporâneo, essa encenação do gesto de escrita envolve a construção da memória e o apagamento si, em um trânsito complexo para a hospitalidade do outro e de si mesmo. nesse sentido, cabe apontar que a literatura constitui um espaço privilegiado para pensarmos as aporias da expressão da alteridade. Operando a interação entre diferentes línguas sociais, a literatura torna-se hospitalidade ao expor as aporias de representação no interior das próprias narrativas, sendo a figuração da fragilidade em torno da escrita de si uma estratégia singular para discutir o reencontro de si por meio da leitura e revisitação de anotações, assim como seu avesso, ou seja, a necessidade de apagamento, desaparecimento, enfim, o reconhecimento de uma opacidade para si e para o outro. Referências: ARFUCH, L. O espaço biográfico: dilemas da subjetividade contemporânea. Trad. Paloma Vidal. Rio de Janeiro: EdUerj, 2010. ARTIÈRES, P. Arquivar a própria vida. Arquivos Pessoais. Revista Estudos históricos, Rio de Janeiro, 1998. Disponivel em: <http://www.cpdoc.fgv.br/revista/arq/234.pdf>. BAPTISTA, A. B. O espelho perguntador. Sobre crónicas e diários. In: ______ Coligação de avulsos. Ensaios de crítica literária. Lisboa: Cotovia, 2003. BARRETO, L. O cemitério dos vivos. São Paulo: Planeta, 2004. BOURDIEU, P. A ilusão biográfica. In: AMADO, J.; FERREIRA, M. D. M. Usos e abusos da história oral. Rio de Janeiro: FVG, 2005. p. 183-191. FOUCAULT, M. A escrita de si. In: FOUCAULT, M. Ética, sexualidade, política. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2006. GIRARD, A. Le journal intime. Paris: Presses Universitaires de France, 1986. ANJOS, C. D. O amanuense Belmiro. Rio de Janeiro: José Olympio, 1979. ARENDT, H. As esferas pública e privada. In: ARENDT, H. A condição humana. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008. p. 31-88. ARFUCH, L. O espaço biográfico: dilemas da subjetividade contemporânea. Trad. Paloma Vidal. Rio de Janeiro: EdUerj, 2010. ARTIÈRES, P. Arquivar a própria vida. Arquivos Pessoais. Revista Estudos históricos, Rio de Janeiro, 1998. Disponivel em: <http://www.cpdoc.fgv.br/revista/arq/234.pdf>. ASSIS, M. D. Memorial de Aires. In: ASSIS, M. D. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1962. BAKHTIN, M. Epos e Romance. In: BAKHTIN, M. Questões de literatura e de estética – a teoria do romance. São Paulo: Hucitec, 1988. BAPTISTA, A. B. O espelho perguntador. Sobre crónicas e diários. In: ______ Coligação de avulsos. Ensaios de crítica literária. Lisboa: Cotovia, 2003. BARRETO, L. O cemitério dos vivos. São Paulo: Planeta, 2004. BOSI, A. História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 1985. BOURDIEU, P. A ilusão biográfica. In: AMADO, J.; FERREIRA, M. D. M. Usos e abusos da história oral. Rio de Janeiro: FVG, 2005. p. 183-191. FOUCAULT, M. A escrita de si. In: FOUCAULT, M. Ética, sexualidade, política. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2006. GIRARD, A. Le journal intime. Paris: Presses Universitaires de France, 1986. GUIMARÃES, H. D. S. Os leitores de Machado de Assis: o romance machadiano e o público de literatura no século 19. São Paulo: Nankin; Edusp, 2002. JESUS, C. M. D. Quarto de Despejo - Diário de uma Favelada. São Paulo: Ática, 2015. LAUB, M. Diário da queda. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. LÉVINAS, Emmanuel. Entre nós: ensaios sobre a alteridade. Petrópolis: Vozes, 2005. LÉVINAS, Emmanuel. Ética e Infinito. Lisboa: Edições 70, 1988. LIÈVRE, É. Le style comme écriture de soi: l’exemple de Marivaux. In: ______ Écritures de soi. Paris: L'Harmattan; Espaces littéraires. Paris: L'Harmattan; Espaces littéraires, 2007. LIMA, L. C. Júbilos e misérias do pequeno eu. In: LIMA, L. C. Sociedade e discurso ficcional. São Paulo: Guanabara, 1986. p. 243-309. RANCIÈRE, J. A política da escrita. Trad. Renato Pardal Capistrano. Paris: Galilé, 2007. RANCIÈRE, J. A partilha do sensível: Estética e política. Trad. Mônica Costa Neto. São Paulo: Editora 34, 2009. RESENDE, B. Contemporâneos: expressões da literatura brasileira no século XXI. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2008. RESENDE, B. V. D.; DAVID, N. A. A cidade e a escrita do corpo. Contexto, Vitória, v. 2, n. 30, 2016. SARLO, B. Tempo passado: cultura da memória e guinada subjetiva. Trad. Rosa Freire d"Aguiar. Belo Horizonte; São Paulo: UFMG; Companhia das Letras, 2007. SELIGMANN-SILVA, M. O local do testemunho. Tempo e argumento, Florianópolis, 2, n. 1, 3-20 jan.- jun. 2010. FORMAS DE DESAPARECER NO SUL DO MUNDO: ROBERTO BOLAÑO E CÉSAR AIRA DIANTE DA DESAPARIÇÃO DO FUTURO Pedro Lucas De Lima Freire Bezerra Resumo: Os autores César Aira (1949) e Roberto Bolaño (1953-2003) são nomes centrais na literatura latino-americana contemporânea. Cultuados por suas obras singulares, ambos os escritores mobilizam discussões sobre o desaparecimento dos corpos e das identidades na América Latina. Em Bolaño, o desaparecimento dos poetas é um tema recorrente, como uma imagem relativa ao desaparecimento dos jovens revolucionários em meio às ditaduras que assolavam o continente (por exemplo, em Detetives Selvagens (1998) e Amuleto (1999)). Em Aira, o desaparecimento da própria literatura é performado por meio do que ele se refere como sua máquina de reprodução de escritura incessante: a produção vertiginosa de livros, que responde a mais de uma centena, na maioria lançados por pequenas casas editoriais, em plaquetes ou pequenos volumes, constrói uma quase impossível catalogação e uma exigência de leitura de sua obra que convoca o leitor à dedicação quase integral. Essas duas formas de mobilizar o desaparecimento denotam ainda um conflito ético: o desaparecimento dos corpos e o desaparecimento da própria literatura denotam o desaparecimento do próprio futuro, anunciado de diversas formas em suas obras (como nos pesadelos em que poetas são nazistas na América, em Bolaño, ou nas narrativas absurdas de Aira, em que personagens constantemente trocam de personalidade ou embaralham os papeis sociais e de gênero, como em Como me Tornei Freira (1993)). Esses conflitos éticos são dimensionados em sus escritas ao que pode ser relacionado com o que dizia Derrida: “produzir uma marca que constituirá uma espécie de máquina, produtora, por sua vez, que meu futuro desaparecimento não impedirá, em princípio de funcionar e de dar, dar-se a ler e a reescrever” (DERRIDA, 1991, p. 20). Nesse trabalho, buscase abordar as fulgurações de formas distintas de desaparecimento nos dois autores, ressaltando o tema como questão central de seus compromissos éticos (e estéticos). Referências: AIRA, César. Como me tornei freira. Trad. Angélica Freitas. Rio de Janeiro: Rocco, 2013. ___________ Como me Hice Monja. Madrid: Debolsillo, 2006. ___________. Continuación de Ideas Diversas. Santiago: Ediciones Universidad Diego Portales, 2014. BLANCHOT, Maurice. O livro por vir. Trad. Leyla Perrone-Moisés. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2005. BOLAÑO, Roberto. Amuleto. Trad. Eduardo Brandão. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. ___________ Amuleto. Barcelona: Anagrama, 2006. __________. Detetives Selvagens. Trad. Eduardo Brandão. São Paulo: Companhia das Letras, 2006. DERRIDA, Jacques. Limited Inc. Tradução de Constança Marcondes Cesar. Campinas: Papirus, 1991. FISHER, Mark. Realismo Capitalista. Trad. Rodrigo Gonsalves, Jorge Adeodato, Maikel da Silveira. São Paulo: Autonomia Literária, 2020. ESCRITA E PAROXISMO EM JACQUES RIGAUT Renato Factori Canova Resumo: Imergir dentre as textualidades de Jacques Rigaut é explorar os limites do paroxismo. Forjado pelo espírito transgressor dadaísta, Rigaut nos convida a atravessar pelas tramas de suas Tanatôgrafias (Sollers) para nos aproximarmos de suas pegadas, de seu odor de whisky e ópio exalado na atmosfera, de seu reflexo, de seus vestígios, de sua sombra. Esta tal espacialidade forjada por ele em que se explora a Experiência-Limite (Blanchot) da negação, de lançar-se ao radical não, Rigaut descobre-se em perpétuo movimento radical da contradição. Ele se encontra no gesto da esquiva, se faz-ver ao desaparecer, concentra-se pela dissipação, posiciona-se na abstenção, marca presença na evasão. O que nos resta são seus rastros tanatográficos. Foi por este movimento lusco-fusco de seu grafar que Rigaut jamais se afirmou ou se esforçou a elevarse ao status de um autor-poeta, mas tão somente um artista sem obra (Jouannais). Foi por tal limiariedade que tais grafias exigiram de seu compositor seu desaparecimento. Foi na vivência limítrofe do paroxismo que Jacques Rigaut esforçou-se inutilmente em fazer com que seu nome fosse um sinônimo de anônimo. É pelas suas tanatôgrafias que Jacques Rigaut enuncia sua face enevoada, pois o que Rigaut evidencia para nós, seus transeuntes leitores, é seu esforço em apenas ser um vulto; sua rubrica seu artefato sendo apagado pelo tempo. Jacques Rigaut é um corpo-instalação já decomposto e seu corpus tanatográfico, sua moldura nefelibática. Referências: RIGAUT, Jacques. Écrits. Paris: Gallimard, 1970. SOLLERS, Philippe. La Science de Lautréamont. In: L’écriture et l’expérience des limites. Lonrai: Éditions du Seuil, 1968, p. 139-190. BLANCHOT, Maurice. A Experiência-Limite. In: A Conversa Infinita, vol. II - a experiência-limite. Trad. João Moura Jr. São Paulo: Escuta, 2007, p. 183-222. JOUANNAIS, Jean-Yves. Le Fou Follet. In: Artistes sans Œuvres; I would prefer not to. Paris: Gallimard, 2009, p. 56-58. O DESAPARECIMENTO ENTRE A HONRA E A DOR: REPRESENTAÇÕES TEXTUAIS SOBRE EUCLIDES DA CUNHA FILHO Tatiana Prevedello Resumo: A extensa bibliografia produzida em torno da tragédia da Piedade, que culminou na morte trágica de um dos maiores nomes das letras nacionais, Euclides da Cunha, o qual sucumbiu atingido por disparados realizados pelo amante de sua esposa, o aspirante do Exército e campeão nacional de tiro, Dilermando de Assis, na manhã de 15 de agosto de 1909, apresenta, em inúmeros aspectos, elementos divergentes entre si. O estigma do nome e o desfecho trágico, projetados sobre os destinos do pai, Euclides da Cunha, e do filho homônimo, Euclides da Cunha Filho, o Quidinho, suscitam indagações capazes de transcender a apresentação objetiva dos fatos documentados pela história, a respeito do homicídio que extinguiu da cena literária nacional um de seus mais emblemáticos representantes. O propósito da presente reflexão é apresentar uma análise de textos proveniente de diversas fontes, os quais se ocuparam em compor, ainda que de modo muitas vezes reticente e contraditório, a representação identitária do filho que aparentemente aniquilou o seu “eu” em nome da honra do “outro”. Em meio a inúmeras conversões e divergências que emolduram ambos os episódios transcorridos na capital fluminense, nas primeiras décadas do século XX, nos propusemos, também, a recuperar as poucas páginas que registraram a voz Quidinho, inscritas sob a forma de correspondências, textos endereçados a jornais e depoimentos, a fim de delinear uma possível interpretação sobre a forma encontrada pelo “eu” para honrar e, por consequência, desaparecer em nome do “outro”. Referências: ANDRADE, Juan C. P. de (org.). Euclides da Cunha. Disponível em https://euclidesite.wordpress.com/documentos. Acesso em: 20 fev. 2017. (Publicado originalmente no Jornal Official. Semanário da Prefeitura de Tarauacá, Acre, n. 6, 21 Mai. 1916. Reproduzido e comentado por Joel Bicalho Tostes no extinto site oficial da família de Euclides da Cunha). ASSIS, Dilermando de. Um conselho de guerra. A morte do aspirante de Marinha Euclides da Cunha Filho — defesa do tenente Dilermando Cândido de Assis. Rio de Janeiro: Tipografia dos Anaes: 1916. DESEJO. Direção de Wolf Maya. Rio de Janeiro: Globo Filmes, 1990. 5 DVDs (705m14s.) GALVÃO, Walnice Nogueira. Crônica de uma tragédia: autos do processo de Dilermando de Assis, que matou Euclides da Cunha. São Paulo: Terceiro Nome, 2007. GALVÃO, Walnice Nogueira; GALOTTI, Oswaldo. Correspondência de Euclides da Cunha. São Paulo: Edusp, 1997. HARDMAN, Francisco Foot. A vingança de Hileia: Euclides da Cunha, a Amazônia e a literatura moderna. São Paulo: UNESP, 2009. JORNAL do Brasil. Quinta-feira, 06 de Julho de 1916. n. 188. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=030015_03&pasta=ano%20191&pesq=& pagfis=52813 Acesso em: 30 Jan. 2021. JORNAL do Commercio. Segunda-feira, 16 de Agosto de 1909. n. 227. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=364568_09&pasta=ano%20190&pesq=& pagfis=18042 Acesso em: 12 Fev. 2022. JORNAL do Commercio. Quinta-feira, 06 de Julho de 1916. n. 187. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=364568_10&pagfis=39506 Acesso em: 13 Dez. 2021. JUSBRASIL. União condenada por sumiço do processo criminal contra assassino de Euclides da Cunha Filho. Disponível em: https://trf-2.jusbrasil.com.br/noticias/2213202/uniaocondenada-por-sumico-do-processo-criminal-contra-assassino-de-euclides-da-cunha-filho Acesso em: 13 Dez. 2021. O MALHO. 8 de Julho de 1916, ano XV, n. 721. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=116300&pasta=ano%20191&pesq=&pagf is=32313 Acesso em: 14 Jan. 2022. O MALHO. 15 de Julho de 1916, ano XV, n. 722. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=116300&pasta=ano%20191&pesq=&pagf is=32371 Acesso em: 13 Dez. 2021. O PAÍZ, Quarta-feira, 05 de Julho de 1916. Ano XXXII, n. 11.594. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=178691_04&pasta=ano%20191&pesq=08 /07/2016&pagfis=32251 Acesso em: 13 Fev. 2022. O PAÍZ, Quinta-feira, 06 de Julho de 1916. Ano XXXII, n. 11.595. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=178691_04&pasta=ano%20191&pesq=08 /07/2016&pagfis=32258 Acesso em: 13 Fev. 2022. PRIORE, Mary Del. Matar para não morrer: a morte de Euclides da Cunha e a noite sem fim de Dilermando de Assis. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009. PONTES, Eloy. A vida dramática de Euclydes da Cunha. 13. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1938. REVISTA do Gremio Euclydes da Cunha. Rio de Janeiro: Typ. Aurora, 15 de agosto de 2016. RIO, João do. “Destino”, O Paíz, 08/07/2016, Ano XXXII, n. 11.597. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=178691_04&pasta=ano%20191&pesq=08 /07/2016&pagfis=32277 Acesso em: 25 Nov. 2021. TOSTES, Joel Bicalho. Águas de amargura: o drama de Euclides da Cunha e Anna. Joel Bicalho Tostes em depoimento a Adelino Brandão. Rio de Janeiro: Rio Fundo, 1990. SIMPÓSIO “ESCRITAS E VIDAS CONTEMPORÂNEAS: INCURSÕES, AVALIAÇÕES E DESAFIOS AO COMPARATIVISMO” Adeítalo Manoel Pinho (UEFS), Maria de Fátima Gonçalves Lima (PUC-Goiás) ENTRE SER NEGRO E SER HERÓI: REPRESENTAÇÃO LITERÁRIA DE JOSÉ DO PATROCÍNIO NO ROMANCE A CONQUISTA, DE COELHO NETO Adeítalo Manoel Pinho Resumo: O atual debate brasileiro cobra nomes e eventos. É preciso trazer ao debate personagens esquecidos e nos quais acreditamos serem importantes. Por isso fazem-se necessários os estudos de memória. Aproveito a oportunidade para trazer a figura de José do Patrocínio (1853-1905), talvez um dos heróis da campanha abolicionista menos referidos no debate atual. Também podemos acrescer de nomes e de narrativas o legado e a força com que os movimentos nacionais de emancipação e formação da nacionalidade se impuseram. Sabemos que, às vezes, as classes e poderes hegemônicos não aceitaram nem as narrativas, as mobilizações e as reivindicação, causando desconforto a grandes parcelas da população brasileira. Ao mesmo tempo, é oportunidade de rever o documento histórico da Lei Áurea, que foi motivo de luta do personagem por muitos anos. O objetivo deste estudo é seguir examinando o romance paradigmático de Coelho Neto, A Conquista (1913), em face da história da literatura brasileira e, dessa vez, sob a escrita do abolicionista, jornalista e literato José do Patrocínio. Também visa trazer ao presente uma das obras esquecidas do autor, Os retirantes (1879). Este estudo está apoiado nas ideias críticas de Silviano Santiago, José Murilo de Carvalho, Edward Said, Alfredo Bosi, Antonio Candido, Regina Zilberman, Pinho e outros. Referências: CANDIDO, Antonio. O discurso e a cidade. Duas Cidades: São Paulo, 2000. CARVALHO, José Murilo de. Os bestializados – o Rio de Janeiro e a República que não foi. 3. ed. São Paulo: Companhia das Letras, (1987) 2014. COELHO NETO. A Conquista. Porto, PT: Livraria Chardron, 1913. MISSA campal de 17 de maio de 1888. Disponível em: http://brasilianafotografica.bn.br/?page_id=736. Acesso em: 15 ago 2020. PINHO, Adeítalo Manoel. O sistema literário de A conquista: nomes, leitura e números para um romance de Coelho Neto. 2009. Disponível em: http://revistas.fw.uri.br/index.php/literaturaemdebate/ article/view/468/849. Acesso em: 29 s PINHO, Adeítalo Manoel. República, povo e identidade nacional em Os Sertões, Triste fim de Policarpo Quaresma e A Conquista: questões para a história da literatura Prof. Dr. Adeítalo Manoel Pinho (UEFS)1. Histórias da literatura: entre as páginas da tradição, vol 1 [recurso eletrônico] / organizado por Ana Maria Amorim, Gerson Roberto Neumann. - Porto Alegre : Class, 2021. p. 480-495, 616 p. ; pdf ; 3,6 mb. Disponível em: https://abralic.org.br/congresso/downloads/publicacoes/ABRALIC-eixo-5-volume-1-historias-daliteratura-v-1.pdf Acesso em 30 abril 2022. ZAHIDÉ MUZART NA CENA EDITORIAL BRASILEIRA: UMA HISTÓRIA A SER CONTADA Antonia Rosane Pereira Lima Resumo: Lançar luz sobre o legado deixado por Zahidé Lupinacci Muzart (Cruz Alta-RS, 1939 – Florianópolis-SC, 2015) no âmbito da crítica literária feminista é o objetivo desta proposta de estudo, que se encontra em fase inicial, por se tratar de um recorte do projeto de pesquisa de doutorado da autora, sob a orientação da professora Doutora Nancy Rita Ferreira Vieira. Zahidé Muzart foi uma estudiosa que se empenhou em remexer os arquivos do passado em busca de textos de autoria feminina, a fim de trazê-los para a contemporaneidade. Um de seus trabalhos mais notáveis diz respeito à criação da Editora Mulheres, que, em parceria com outras duas pesquisadoras, surgiu com a intenção de reeditar obras de escritoras do século XIX, as quais, apesar de publicadas, não poderiam ser localizadas devido ao silenciamento sofrido, de acordo com Pereira (2021). Em se tratando da literatura de autoria feminina, fica evidente que o apagamento de muitos nomes se deu intencionalmente. Portanto, de acordo com Araújo (2008), recuperar a literatura produzida por mulheres contribui para reescrever a historiografia literária. Conforme Hollanda (1993), a junção de textos de várias escritoras em uma obra configura-se como um desvio à lógica excludente da formação do cânone, delegando à “pena” de uma mulher o poder de também inserir sua lista de escritoras. Nesse viés, outro projeto empreendido por Muzart é a coletânea intitulada Escritoras brasileiras do século XIX, em três volumes (2000, 2004, 2009), publicada pela Editora Mulheres, que reúne artigos críticos, informações biográficas, trechos de obras literárias e análises realizadas por estudiosas/os, com a finalidade de fazer circular tais produções nos dias atuais. Para Muzart, interessava mais analisar o conjunto em que o texto literário estava inserido, seu contexto histórico, os processos de produção, a realidade vivida por suas autoras, as interdições sofridas e ultrapassadas por elas. Referências: ARAÚJO, Maria da Conceição Pinheiro. Tramas Femininas na Imprensa do Século XIX: Tessituras de Ignez Sabino e Délia. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Letras Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2008. HOLLANDA, Heloisa Buarque de. O que querem os dicionários? In: HOLLANDA, Heloísa Buarque de; ARAUJO, Lucia Nascimento. Ensaístas brasileiras. Rio de Janeiro: Rocco, 1993, p. 13-34. MUZART, Zahidé Lupinacci (Org.). Escritoras brasileiras do século XIX: antologia. vol. III. Florianópolis: Editora Mulheres: CNPq, 2009. MUZART, Zahidé Lupinacci (Org.). Escritoras brasileiras do século XIX: antologia. vol. II. Florianópolis: Editora Mulheres; Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2004. MUZART, Zahidé Lupinacci. Pedantes e bas-bleus: história de uma pesquisa. In: MUZART, Zahidé Lupinacci (Org.). Escritoras brasileiras do século XIX: antologia. 2. ed. rev., vol. I. Florianópolis: Editora Mulheres; Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2000, p. 17-29. MUZART, Zahidé Lupinacci. Mulheres do século XIX: história de um projeto. In: REIS, Livia de Freitas; VIANNA, Lucia Helena; PORTO, Maria Bernadette (Org.). Mulher e literatura. Niterói, RJ: EdUFF, 1999, p. 788-791. PEREIRA, Maria do Rosário A. Zahidé Muzart e Editora Mulheres: resgate de escritoras e formação de uma crítica feminista no Brasil. In: RIBEIRO, Ana Elisa; PEREIRA, Maria do Rosário A.; MOREIRA, Renata (Orgs.). Prezada editora: mulheres no mercado editorial brasileiro. Belo Horizonte, MG: Contafios, Moinhos, 2021, p. 121-149. POESIA, PRESENÇA E MEMÓRIA EM AUGUSTO ESTELLITA LINS Antonio Donizeti da Cruz Resumo: AUGUSTO ESTELLITA LINS – Poeta, Professor, Crítico, Escritor de textos profissionais diplomáticos, Ensaísta, Artista Plástico de Vanguarda, Diplomata de Carreira, Ministro, Embaixador – nasceu no Rio de Janeiro (RJ), em 9 de outubro de 1929 e faleceu em 24 de abril de 2007. Algumas de suas obras: O santo exilado de vigia, 1976; Depoimento dos sessenta, 1978; Linguagem internacional e diplomática, 1982; Três elegias de Foz, 1983; Antipoese, 1984; Boa noite, Jesus, 1988; Rio de sol a sol, feira a feira, janeiro a janeiro, 1991; Ah! mar, a Grécia, 1991; A magia dos signos, 1996; Diálogos com os signos da arte, 1998; Etiqueta, protocolo e cerimonial, 1984, O bode literato, 1999, entre outras. Poesia e presença configuram a obra poética de Estellita Lins e registra um fazer poético alicerçado em um mundo de ressignificações, com suas imagens simbólicas, líricas, linguagem metafórica, e construções de um universo imaginário centrado na exaltação da vida, mas também poesia como resistência que apresenta uma gama de poemas que formam uma constelação de textos-imagens interligados à imaginação e memória. Em Serenidade, presença e poesia (2016), Hans Ulrich Gumbrecht, destaca que a presença/poesia, com suas epifanias, gestos de dizer e silenciar, alusão às experiências limites com a “linguagem poética” e suas “experiências estéticas”, com suas superações de “paradigmas metafísicos” são as marcas potentes da linguagem em potência e plenitude. Assim, a lírica de Estellita Lins apresenta as marcas de uma dimensão metafísica, de presença e abertura para a arte/mundo projetada na força expressiva da linguagem poética. Referências: BACHELARD, Gaston. A água e os sonhos: ensaios sobre a imaginação da matéria. Trad. Antonio de Padua Danesi. São Paulo: Martins fontes, 1989a. BACHELARD, Gaston. A chama de uma vela. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989b. BACHELARD, Gaston. A poética do espaço. São Paulo: Martins Fontes, 1993 (Coleção Tópicos). BOSI, Ecléa. Memória e sociedade: lembranças de velhos. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. DURAND, Gilbert. As estruturas antropológicas do imaginário: introdução à arquetipologia geral. Trad. Hélder Godinho. São Paulo: Martins Fontes, 1997 (Ensino Superior). GUMBRECHT, Hans Ulrich. Serenidade, presença e poesia. Seleção e tradução Mariana Lage. Belo Horizonte: Relicário Edições, 2016. LINS, Augusto Estellita. Antipoese. Foz do Iguaçu, Paraná: Grafel, 1985. LINS, Augusto Estellita. Diálogo com os signos da arte: ensaios de arte e semiologia. Brasília: Editora SER, 1998. LINS, Augusto Estellita. A magia dos signos: ensaio de semiologia. Brasília: Editora Ser, 1996. MORIN, Edgar. Amor, poesia, sabedoria. Trad. Edgard de Assis Carvalho. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998. PAZ, Octavio. O arco e a lira. Trad. Olga Savary. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982 (Coleção Logos). PAZ, Octavio. O labirinto da solidão e post-scriptum. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984. PAZ, Octavio. Convergências: ensaios sobre arte e literatura. Trad. Moacir Werneck de Castro. Rio de Janeiro: Rocco, 1991. PAZ, Octavio. A outra voz. São Paulo. Siciliano, 1993. TELES, Gilberto Mendonça. A escrituração da escrita: teoria e prática do texto poético. Petrópolis, RJ: Vozes, 1996. OS DESAFIOS DA LITERATURA DE AUTORIA FEMININA NEGRA: RASURAS E RESISTÊNCIA Edinage Maria Carneiro da Silva Resumo: Por muito tempo, o conhecimento validado e que mais circulava era aquele engendrado a partir do (ou produzido pelo) centro, esclareça-se: europeu, ocidental, branco, masculino. Felizmente hoje estes saberes e narrativas têm sido rasurados e a crítica tem-se deslocado para espaços aos quais o olhar antigo e exclusivista era indiferente, “desrrecalcando” narrativas e personagens que estiveram relegados à invisibilidade por muito tempo. A literatura produzida por mulheres negras se insere neste novo contexto e pode ser vista como uma atitude de questionamento dos discursos tradicionais com relação ao negro/a e de inscrição de um novo olhar para eventos e sujeitos relegados ao esquecimento por um longo período histórico. Os propósitos dessa escrita estão ligados diretamente ao desejo de resistência, quando as escritoras revisam a própria história e a dos seus pares, indo de encontro ao esquecimento a que foram submetidos, por tanto tempo, desejos, sonhos, afetos, narrativas, memórias... (Cf. SANTIAGO, 2018). Assim, nossa intenção é refletir sobre alguns aspectos que dizem respeito ao surgimento/fortalecimento desse campo e alguns dos desafios enfrentados pelas escritoras. Pensaremos a partir do conceito de escrevivência, operador teórico criado pela escritora e crítica literária Conceição Evaristo que entende que essa “é uma escrita que não se esgota em si, mas aprofunda, amplia, abarca a história de uma coletividade.” (EVARISTO, 2020, p. 35) Nossas reflexões serão ilustradas por alguns aspectos da obra de Carolina Maria de Jesus e de sua visão sobre a escrita. Referências: EVARISTO, Conceição. A escrevivência e seus subtextos. In: DUARTE, Constância Lima; NUNES, Isabella Rosado. (Org.) Escrevivência: a escrita de nós: reflexões sobre a obra de Conceição Evaristo. Rio de Janeiro: Mina Comunicação e Arte, 2020. p. 26-46. SANTIAGO, Ana Rita. Memórias poéticas de escritoras negras: reinvenções de (re)existências. In: Itinerários, Araraquara, n. 46, p. 35-50, jan./jun. 2018. UMA LITERATURA DAS BORDAS: CORPO, SILÊNCIO E VIOLÊNCIA EM AS TRÊS MULHERES SAGRADAS, DE LÍDIA JORGE Elizete Albina Ferreira, ADRIANA SPINELI LUCENA SOARES Resumo: Na contemporaneidade, assistimos à insurgência de uma literatura de escrita feminina que fala das margens para o centro, em constante diálogo com questões sociais, políticas e históricas, trazendo a campo discussões que circundam as mais diversas formas de expressão de violência aos grupos periféricos. No rol de autoras que se dedicam a trabalhar a relação entre mulheres e palavras, encontra-se Lídia Jorge, autora portuguesa que retrata em suas obras personagens que problematizam a imposição da ausência da linguagem. O conto “As três mulheres Sagradas”, que compõe a coletânea O belo adormecido (2004), traz à luz a violência do corpo e o silenciamento a que muitas mulheres são submetidas. Simone de Beauvoir (1980) afirma que “(...) o corpo da mulher é um dos elementos essenciais da situação que ela ocupa neste mundo”, pois esse corpo ocupa um espaço físico e simbólico e, consequentemente, um lugar social. Michelle Perrot (2005) chama a atenção para o caráter autenticador das construções simbólicas do corpo do homem e da mulher dentro de uma ordem ancorada no sistema de dominação masculina, como sinaliza Pierre Bourdieu (2014). Na narrativa analisada, diante da situação de humilhação pública, a personagem feminina não fala, apenas olha. O corpo violado e exposto é um aviso, uma ameaça subliminar, um alerta para todos os que ousam questionar a ordem vigente. Essa literatura que fala das bordas, abre espaço para a voz feminina no processo de confluência das linguagens, e contribui para o efeito estético que impacta mais que o próprio enredo. Referências: BEAUVOIR, Simone. O Segundo sexo – fatos e mitos. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1980. BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina: A condição feminina e a violência simbólica. Trad. Maria Helena Kuhner. Rio de Janeiro: BestBolso, 2014. BRIDI, Marlise Vaz. Lídia Jorge contista: a face menos visível de uma escritora maior. In: Antologia de Contos. São Paulo: Leya, 2014, p.7-15. JORGE, Lídia. As três mulheres sagradas. Antologia de Contos. São Paulo: Leya, 2004. PERROT, Michelle. As mulheres ou os silêncios da história. Edusc: Bauru, 2005. XAVIER, Elódia. Que corpo é esse? o corpo no imaginário feminino. Oficina Raquel, 2021. O ENGAJADO ESCRITOR-INTELECTUAL DAS LETRAS NO CENÁRIO CONTEMPORANÍSSIMO Everton Vinicius de Santa Resumo: A presente proposta de comunicação apresenta alguns resultados de minha pesquisa de pós-doutoramento e tem como objetivo discutir algumas inquietações sobre o processo de espetacularização do escritor-intelectual das Letras, sujeitos que pensam e escrevem sobre a produção atual da literatura e da sociedade, envolvidos, cada vez mais, pelos recursos multimediáticos. É preciso considerarmos que o campo político e cultural, diante de novas configurações como as que vivemos nestes tempos mais recentes de polarização, nos remetem à essa figura que age e atua por meio de intervenções e desempenha um papel cultural, não só restrito à universidade, mas por toda a sociedade, o que me remete aos trabalhos desenvolvidos em “O silêncio dos intelectuais”, de Novaes (2006), cuja discussão trata da atuação desses sujeitos antes e hoje, e em “O papel do intelectual hoje”, de Margato e Gomes (2004), cujas discussões também tratam do declínio de sua atuação. O centro dessas minhas reflexões com foco no papel do escritor-intelectual e do intelectual engajado e sua relação com diferentes fatores que intervêm no campo multimediático da literatura, pretende discutir alguns mecanismos de operação da função do escritor-intelectual atuante e indispensável para a sociedade e para a Literatura, sobretudo, porque em tempos de polarização política como o que vivemos, os escritores-intelectuais das Letras tratam de literatura, mas também de temas outros da sociedade e têm se posicionado de forma mais contundente e ampla para além da academia. Parto da premissa de que esses sujeitos, desta forma, uma vez presente nos espaços multimediáticos, constroem e divulgam suas imagens, suas personas, numa espécie de espetáculo de si. Em suma, no cenário das escritas contemporâneas é necessário (re)ver o papel do escritor-intelectual das Letras verificando com quem ele tem dialogado e quais são suas percepções sobre a literatura do presente por meio de suas obras. Referências: DALCASTAGNÉ, R. Literatura brasileira contemporânea: um território contestado. Vinhedo: Horizonte, 2012. DEBORD, G. A sociedade do espetáculo. Trad. Estela dos Santos Abreu. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997. GAGNEBIN, J. M. Lembrar escrever esquecer. São Paulo: 34, 2009. HAN, B. La sociedad de la transparencia. Madrid: Helder, 2013. HAN, B. Sociedade do cansaço. Rio de Janeiro: Vozes, 2015. LECLERC, G. Sociologia dos intelectuais. São Leopoldo: Unisinos, 2004. LEJEUNE, P. El pacto autobiográfico y otros estudios. Madrid: MegazulEndymion, 1994. MOISÉS, L. P. Mutações da literatura no século XXI. São Paulo: Cia das Letras, 2016. MORETTI, F. A literatura vista de longe. São Paulo: Arquipélago, 2008. NOVAES, A. (org.). O silêncio dos intelectuais. São Paulo: Cia das Letras, 2006. SIBILIA, P. La intimidad como espectáculo. Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica, 2013. SCHOLLHAMMER, K. E. Ficção brasileira contemporânea. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009. SILVA, M. O sorriso da sociedade. São Paulo: Alameda, 2013. TÜRCKE, C. Sociedade excitada: filosofia da sensação. Campinas: Unicamp, 2010. MINI(AUTO)BIOGRAFIAS E DESLIZAMENTOS DO "EU" NA PAISAGEM DIGITAL Fabrício Brandão Amorim Oliveira Resumo: Dentro do vasto e complexo território das escritas de si, aquilo que ora denominamos como mini(auto)biografias parece se constituir como instrumentos intencionais de autorrepresentação de escritores evocando, principalmente, pontos de conexão com os estudos relativos ao espaço biográfico. Tais narrativas, publicadas em alguns sites e revistas digitais independentes voltados à divulgação literária brasileira contemporânea, acompanham as produções textuais de autores, sinalizando aspectos que vão além da exposição meramente curricular das trajetórias. Nesse universo, uma pluralidade de vozes transborda as fronteiras da intimidade e passa a assinalar, em suas breves autoapresentações, deslizamentos que tanto operam na via da reinvenção do “eu” quanto demarcam posturas de afirmação identitária na perspectiva de sujeitos minoritários. Sob o manto da performatividade, cada autor decide o modo e os atributos com os quais irá se mostrar numa arena que se quer pública. Ao passo que observamos o universo de falas e manifestações contidas na grande rede, percebemos que há muito mais do que um aglomerado de ações individuais ou coletivas. O crescimento de espaços eletrônicos alternativos de divulgação literária que acolhem escritores contra-hegemônicos, por exemplo, demonstra não somente uma abertura de frentes para a circulação e sistematização desse tipo de produção, mas, sobretudo, uma atenção para com as vozes e trajetórias de tais criadores. Assim, o presente trabalho, compreendido numa pesquisa de doutorado em curso, pretende lançar um recorte sobre a expressão de subjetividades que, inseridas no bojo do panorama midiático digital atual, podem contribuir para uma compreensão mais expandida do espaço biográfico. Referências: ARFUCH, Leonor. O espaço biográfico: dilemas da subjetividade contemporânea. Tradução: Paloma Vidal. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2010. BARTHES, Roland. A morte do autor. In: O rumor da língua. São Paulo: Brasiliense, 2004. BOURRIAUD, Nicolas. Formas de vida: a arte moderna e a invenção de si. Tradução: Dorothée de Bruchard. São Paulo: Martins Fontes, 2011. CARLSON, Marvin. Performance: uma introdução crítica. Tradução: Thais Flores Nogueira Diniz, Maria Antonieta Pereira. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2009. DALCASTAGNÈ, Regina. Literatura brasileira contemporânea: um território contestado. Vinhedo: Editora Horizonte, 2012. DOWNING, John. Mídia radical: rebeldia nas comunicações e movimentos sociais. Tradução de Silvana Vieira. São Paulo: Editora SENAC, 2002. DUQUE-ESTRADA, Elizabeth Muylaert. Devires autobiográficos: a atualidade da escrita de si. Rio de Janeiro: NAU/Editora PUC-Rio, 2009. FOLETTO, Leonardo Feltrin. Midiativismo, mídia alternativa, radical, livre, tática: um inventário de conceitos semelhantes. In: BRAIGHI, Antônio Augusto; LESSA, Cláudio; CÂMARA, Marco Túlio (orgs.). Interfaces do Midiativismo: do conceito à prática. Belo Horizonte: CEFET-MG, 2018, p. 95110. FOUCAULT, Michel. O que é um autor?. Lisboa: Passagens, 1992. FREITAS, Ricardo. Da margem ao centro: comunicação e arte frente às questões de produção e recepção em produtos audiovisuais periféricos. In: FREITAS, Ricardo (org.). Mídia alter{n}ativa: estratégias e desafios para a comunicação hegemônica. Ilhéus: Editus, 2009. GLUSBERG, Jorge. A arte da performance. Tradução: Renato Cohen. São Paulo: Perspectiva, 2013. GOFFMAN, Erving. A Representação do eu na vida cotidiana. Tradução: Maria Célia Santos Raposo. Petrópolis, 2001. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução: Tomaz Tadeu da Silva, Guacira Lopes Louro. Rio de Janeiro: DP&A, 1999. LÉVY, Pierre. Cibercultura. Tradução de Carlos Irineu da Costa. São Paulo: Ed. 34, 1999. LIMA, Elizabeth Gonzaga. Angústia e sedução na arte contemporânea: o escritor como objeto de instalação. In: LIMA, Maria de Fátima Gonçalves; PINHO, Adeítalo Manoel (orgs.). Escritas contemporâneas: incursões, avaliações e desafios ao comparativismo. Rio de Janeiro: ABRALIC, 2018, p. 68-85. MARTINS, Beatriz Cintra. Autoria em rede: os novos processos autorais através das redes eletrônicas. Rio de Janeiro: Mauad, 2014. MOLLOY, Sylvia. Vale o escrito – a escrita autobiográfica na América hispânica. Trad. Antônio Carlos Santos. Chapecó: Argos, 2003. OLIVEIRA, Fabrício Brandão Amorim. Narrativas do eu: identidades em esfera pública no contexto da revista cultural digital Diversos Afins. 2019. 114p. Dissertação de mestrado. Programa de Pós-Graduação em Letras: Linguagens e Representações. Universidade Estadual de Santa Cruz, Ilhéus/BA, 2019. SANTAELLA, Lucia. Linguagens líquidas na era da mobilidade. São Paulo: Paulus, 2007. SENNETT, Richard. O Declínio do Homem Público: as tiranias da intimidade. Tradução: Lygia Araújo Watanabe. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. SIBILIA, Paula. O show do eu: a intimidade como espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 2016. ESTUPRO E TRAUMA EM "MULHERES EMPILHADAS" E "A IMPORTÂNCIA DOS TELHADOS" Francis Willams Brito da Conceição Resumo: No modernismo inglês – sem levarmos em consideração algumas marcações identitárias e da diferença – Virginia Woolf (1882-1941) já questionava invisibilidade e a ausência de protagonismo de romancistas na literatura do período elisabetano, chegando ela a dizer, no ensaio Mulheres e ficção (2019), que a história da Inglaterra é a história da linha masculina. No Brasil, as mulheres continuam reivindicando um espaço de poder para representar suas narrativas, sexualidades, seus corpos por uma perspectiva não estereotipada e seus desejos. Desse modo, a ficção brasileira contemporânea, sobretudo a de autoria feminina, vem tomando escopo, visibilidade e proporções antes inimagináveis, ampliando o leque de representação de temas perpassados pelo trauma e pela violência, trazendo transformações sociopolíticas ao contexto explicitado acima. Sendo assim, objetivo deste texto é investigar as trajetórias de personagens estupradas e as narrativas de estupro nos romances “Mulheres Empilhadas” (2019), de Patrícia Melo, e “A importância dos telhados” (2021), de Vanessa Molnar. Para tanto, nos valeremos dos pressupostos de Eurídice Figueiredo (2017; 2019), Michelle Perrot (2019), Sohaila Abdulali (2019), Virginie Despentes (2016), entre outras. A hipótese que norteia este trabalho é que os dois romances apresentam protagonistas empoderadas em relação a seus destinos e que, apesar dos enormes danos físicos e psíquicos do estupro e das circunstâncias dos traumas, conseguem desempenhar uma representação marcada pela fuga do silenciamento do estupro. Referências: ABDULALI, Sohaila. Do que estamos falando quando falamos de estupro. São Paulo: Vestígio, 2019. BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina: a condição feminina e a violência simbólica. Trad. Maria Helena Kühner. 18ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2020. DALCASTAGNÈ, Regina (org.). Ver e imaginar o outro: alteridade, desigualdade, violência na literatura brasileira contemporânea. São Paulo: Horizonte, 2008. DESPENTES, Virginie. Teoria King Kong. São Paulo: n-1 edições, 2016. FIGUEIREDO, Eurídice. Mulheres ao espelho: autobiografia, ficção e autoficção. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2013. ______. A literatura como arquivo da ditadura brasileira. Rio de Janeiro: 7Letras, 2017. ______. Por uma crítica feminista: leituras transversais de escritoras brasileiras. Porto Alegre: Zouk, 2020. PEREIRA, Maria do Rosário Alves; ARRUDA; Aline Alves. O estupro em duas narrativas de autoria feminina contemporânea. Revista Criação e Crítica, n. 29, p. 145-160, mai. 2021. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/criacaoecritica/article/view/171735. Acesso em: 08 fev. 2022. PERROT, Michelle. Minha história das mulheres. Trad. Angela M. S. Corrêa. 2ª ed. São Paulo: Contexto, 2019. WOOLF, Virginia. Mulheres e ficção. Trad. Leonardo Fróes. São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2019. A IMPORTÂNCIA DOS MANIFESTOS NA CULTURA BRASILEIRA: UMA ANÁLISE COMPARADA ENTRE MANIFESTO REGIONALISTA E EZTETYKA DO SONHO João Elias da Cruz Neto, Adeítalo Manoel Pinho Resumo: Na cultura brasileira, os escritores elaboraram diversos manifestos para divulgar suas ideias, a exemplo do Manifesto Antropofágico, de Oswald de Andrade, e o manifesto do manguebeat Caranguejos com Cérebro, escrito por Fred Zero Quatro. Este trabalho tem como objetivo fazer uma análise comparada de dois manifestos muito importantes que, embora separados no tempo, fazem reflexões profundas sobre o país e a sua cultura: o Manifesto Regionalista, de Gilberto Freyre, de 1926; e a Eztetyka do Sonho, de Glauber Rocha, de 1961. O Manifesto Regionalista procura reabilitar valores e tradições do Nordeste e critica o excesso de imitação de elementos da cultura de outros estados e até de outros países; já a Eztetyka do Sonho expressa o que seria a arte revolucionária, indicando e apontando que a ruptura com os racionalismos colonizadores seria a única saída para o seu desenvolvimento. Neste trabalho, inicialmente, fazemos um estudo do manifesto, que foi um dos temas estudados na disciplina Literatura e Cultura do curso de Mestrado da Universidade Estadual de Feira de Santana, identificando-o como um gênero do discurso, seguindo a teoria proposta por Mikhail Bakhtin, e especificando sua linguagem que apresenta algumas características próprias como a intenção de sensibilizar ou persuadir a opinião pública por meio de argumentações sobre um determinado assunto, conforme destaca Eli Santos. Logo depois, ressaltamos a importância do manifesto na cultura brasileira, citando alguns deles que foram divulgados a partir do movimento modernista. Posteriormente, fazemos uma análise separada de cada um dos manifestos destacados acima para, finalmente, podermos compará-los. Referências: BAKHTIN, Mikhail. Estética da Criação Verbal. 2ªed. Martins Fontes: São Paulo, 1997. FIORIN, José Luiz. A construção da identidade nacional brasileira. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/bakhtiniana/article/view/3002. Acesso em 17 abr 2022. FREYRE, Gilberto. Manifesto Regionalista. Disponível em: https://www.ufrgs.br/cdrom/freyre/freyre.pdf. EDUFRN: Natal, 2011. Acesso em: 16 abr 2022. PÊGO, A. L. O manifesto como gênero textual. In: DELL’ISOLA, Regina Lúcia Péret (Org.). Nos domínios dos gêneros textuais, v.1. Belo Horizonte: FALE/UFMG, 2009. ROCHA, Aristotelina Pereira Barreto e Oliveira, Márcia Silva de. Geografia Regional do Brasil. Disponível em: http://www.ead.uepb.edu.br/arquivos/cursos/Geografia_PAR_UAB/Fasciculos%20%20Material/GEOGRAFIA%20REGIONAL%20DO%20BRASIL.pdf. Acesso em: 17 abr 2022. ROCHA, Glauber. Eztetyka do Sonho. Disponível em: https://www.iberystyka.uw.edu.pl/sites/default/files/Documents/adamczykmagda/1405/Estetyk adoSonhoInHambreAugust2013.pdf. Acesso em: 17 abr 2022. SANTOS, Eli. Manifesto: um gênero para o exercício da cidadania. In: DELL’ISOLA, Regina Lúcia Péret (Org.).Nos domínios dos gêneros textuais, v.1. Belo Horizonte: FALE/UFMG, 2009. VIANA, Irma. Da Estética da Fome a Eztetyka do Sonho: trajetória artístico-intelectual glauberiana. Disponível em: https://www.anpocs.com/index.php/papers-40-encontro/st-10/st02-8/10530-movimentoregionalista-e-geracao-literaria-de-30-uma-analise-gramsciana/file. Acesso em: 16 abr 2022. HISTÓRIAS DAS GENTES DE UM LUGAR: A TERRA E O TRABALHO NA OBRA TORTO ARADO, DE ITAMAR VIEIRA JUNIOR Josenilda Araújo Damasceno Resumo: O objetivo deste trabalho é analisar o sentido da terra e do trabalho no contexto da obra Torto arado (2019), de Itamar Vieira Junior, propondo um diálogo entre a literatura contemporânea e os movimentos oriundos da cultura e da sociedade. Para analisar as origens de um Brasil onde dois projetos de nação subsistem e o choque entre essas formas de organização, a análise bibliográfica fundamenta-se na perspectiva de Ailton Krenak em Ideias para adiar o fim do mundo (2020); Beatriz Nascimento em Uma história feita por mãos negras: Relações raciais, quilombos e movimentos (2021); bell hooks em Tudo sobre o amor: Novas perspectivas (2021) e Jessé Souza em A elite do atraso: da escravidão à lava jato (2017). Trata-se de parte de uma pesquisa em curso que culminará na produção de uma tese de Doutorado pelo Programa de PósGraduação em Literatura e Cultura (PPGLITCULT), da Universidade Federal da Bahia, com orientação da Professora Dra. Júlia Morena Costa, sobre o romance Torto arado (2019), de Itamar Vieira Junior, investigando como as personagens se articulam dentro de uma estrutura capitalista no cenário rural de exclusão, negligência do Estado brasileiro e precário acesso a educação e informação, propondo um modelo de resistência. Nesta comunicação discutimos à luz da obra citada o processo de colonização, os direitos sobre a terra no Brasil e o trabalho dos homens e mulheres do campo, considerando seus modos de vida, como se relacionam com o meio e resistem às engrenagens do capital. Referências: HOOKS, bell. Tudo sobre o amor: novas perspectivas. São Paulo: Elefante, 2020. KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo. Companhia das Letras, 2019. NASCIMENTO, Beatriz. Uma história feita por mãos negras: Relações raciais, quilombos e movimentos. Organização de Alex Ratts. Rio de janeiro: Zahar, 2021. SOUZA, Jessé. A elite do atraso: da escravidão à Lava Jato. Rio de Janeiro: Leya, 2017. VIEIRA JUNIOR, Itamar. Torto arado. São Paulo: Todavia, 2019. A MULHER NEGRA NA POESIA "MINHA MÃE" DE LUIZ GAMA Magnólia Ferreira Cruz da Paixão Resumo: Este trabalho tem por finalidade discutir a respeito do poema“Minha mãe”, de Luís Gama, extraídos da sua única obra Primeiras trovas burlescas de Getulino (2000), organizado por Lígia Ferreira Fonseca, seo qual reúne poemas da primeira e segunda edição da obra, lançadas em 1859 na cidade de São Paulo e 1861 no Rio de Janeiro pelo autor, esta é composta de sessenta e três poemas líricos e satíricos. Nessa edição também estão os poemas escritos por Luiz Gama na imprensa paulistana (1865-1876) e outros escritos por José Bonifácio, o moço. Os poemas que compõe a obra citada são carregados de sentimentalismo de alguém que viveu na pele as amarguras da escravidão, mas que soube com destreza fazer uso das letras para superar todo o sofrimento vivido e denunciar destemidamente as injustiças sociais do seu tempo. Além disso, os poemas líricos do autor trazem a valorização da mulher negra, características até então desvalorizados pelos poetas do Romantismo brasileiro. A poesia lírica de Gama acaba sendo soterradas pela poesia satírica. São trazidos para o debate a ótica crítica de Benedito Mouzar, Eduardo de Assis Duarte, Elciene Azevedo, Florentina Souza, Heitor Martins, Lígia Fonseca Ferreira, Nei Lopes, Nazareth Fonseca, Zilá Bernd e outros. Referências: AZEVEDO, Elciene. Orfeu da carapinha: a trajetória de Luiz Gama na imperial cidade de São Paulo. Campinas, SP: Editora Unicamp, Centro de Pesquisa em História Social da Cultura, 1999. BASTIDE, Roger. Estudos afro-brasileiros. São Paulo: Perspectiva, 1973. BENEDITO, Mouzar. Luiz Gama: o libertador de escravos e sua mãe libertária, Luiza Mahin. 2ª ed. São Paulo: Expressão Popular, 2011. BERND, Zilá. Negritude e literatura na América Latina. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1987. ______. O que é negritude. São Paulo: Brasiliense, 1988. BOSI, Alfredo. Literatura e resistência. Companhia das letras: São Paulo, 2002. BROOKSHAW, David. Raça e cor na literatura brasileira. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1983. CÂMARA, Nelson. O advogado dos escravos: Luiz Gama. 2ª ed. São Paulo: Lettera.doc, 2010. CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira: momentos decisivos. 5.ed São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1975. ______. Presença da literatura brasileira: das origens ao romantismo. 11. ed São Paulo: DIFEL, 1982. CARNEIRO, Sueli. Racismo, sexismo e desigualdade no Brasil. São Paulo: Selo Negro, 2011. ______. Literatura e Sociedade. 9ª ed. Ouro sobre o Azul: Rio de Janeiro, 2006. CASTELLO, José Aderaldo. 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Manual prático para elaboração de monografias: trabalhos de conclusão de curso, dissertações e tese. 2. ed. Petrópolis, RJ: Vozes; São Paulo: Ed. Universidade São Judas Tadeu, 2007. FERREIRA, Jerusa Pires. Da Bahia a São Paulo – Luiz Gama, o nosso valoroso “Orfeu de carapinha”. Revista USP, São Paulo, n.58, p. 148-153, junho/agosto 2003. FERREIRA, Ligia Fonseca (Org). Com a palavra Luiz Gama: poemas, artigos, cartas, máximas. – São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2001. FIORIN, José Luiz; PETTER, Margarida Maria Taddoni (Org). África no Brasil: a formação da língua portuguesa. São Paulo: Contexto, 2008. GAMA, Luiz. Primeiras Trovas Burlescas e Outros Poemas: edição preparada por Ligia Fonseca Ferreira – São Paulo: Martins Fontes, (2000). GRADEN, Dale. Reseña de "Orfeu de carapinha: a trajetória de Luiz Gama na imperial Cidade de São Paulo" de Elciene Azevedo y "Entre a mão e os anéis: a lei dos sexagenários e os caminhos da abolição no Brasil" de Joseli Maria Nunes Mendonça. Afro-Ásia, núm. 23, p. 365-372, Universidade Federal da Bahia Brasil, 1998-1999. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Trad.Tomaz Tadeu da Silva e Gracira Lopes Louro. Rio de Janeiro: DPLA, 2005. LIMA, Elizabeth Gonzaga de. Literatura Afro-brasileira. Brasília: Ministério da Educação. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade; Salvador: Centro de Estudos Afro Orientais, 2010. LIMA, Luiz Costa. Teoria da literatura em suas fontes. 2. ed. rev. ampl Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1983. LIMA, Meila Oliveira Souza, PINHO, Adeítalo Manoel. Autores afro-brasileiros: a identidade poétia de Luiz Gama. Fólio - Revista de Letras, Vitória da Conquista, Ba. Vol. 8, No 1, jan.-jun. 2016, p. 215230. ISSN: 2176-4182. 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Literatura Afro-brasileira: algumas reflexões. Revista Palmares Ano 1-Número 2. Brasília, dezembro/2005. SOUZA, Florentina e LIMA, Maria Nazaré, (Org.) Literatura afro-brasileira. Salvador: Centro de Estudos Afro-Orientais; Brasília: Fundação Cultural Palmares, 2006. SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil africano. 2. ed São Paulo: Ática, 2007. A DIMENSÃO ARTÍSTICOCRIATIVA DA SÉRIE O DIÁLOGO DO CAMALEÃO EVERALDO JÚNIOR Maria de Fátima Gonçalves Lima Resumo: A pretensão central dessa comunicação é apresentar a dimensão artísticocriativa consubstanciada na transcriação do mito do tempo-espaço-vida na série de três romances de Everaldo Júnior, denominada O diálogo do Camaleão, composta por: Ampulheta, O Olho de Hórus e O Cálice Flamejante. Em A Ampulheta o nada, o tempo e a morte, simbolizam a origem do Universo e de seu próprio universo narrativo, tendo a areia como o fio condutor que leva a juntar os pontos para se compreender o diálogo dos diferentes motivos que alimentam toda a história. Em O olho de Hórus a experiência do tempo será representado pela mitologia egípcia e a busca de um sentido, mesmo para um ser em constante transformação; O ficcionista recria em um universo singular, próprio de seu imaginário.O cálice flamejante sua saga que começa nas areias do tempo passa pela metamorfose do ser, e alcança agora a intensidade das chamas. Assim, com habilidoso processo de tecitura narrativa o escritor desenvolvida no romance, transpõe o tempo cronológico, mesmo fazendo uso de tal, assim, Dante, Virgílio, Rei Arthur, Merlim, Noé, Moisés e tantos outros como Boors, Galahad e Percival, Osmã povoam uma terra que dialoga entre o mito e o humano, o sagrado e o profano, a glória e o purgatório. O objetivo desse estudo é demostrar como acontece o diálogo do camaleão por meio de uma personagem camaleônica, o Loki, que está nas três obras. Esse personagem, com suas máscaras, trava diálogos com os mitos e não só, transfigura ou metaforiza, por meio do imaginário, o movimento as areias do tempo, sua natureza inconstante e escorregadia, como também, busca espaços para as conquistas da vida, para novas e intermináveis viagens nos descaminhos da própria aventura humana. Referências: DURAND, Gilbert. O imaginário. Ensaio acerca das ciências e da filosofia da imagem. Rio de Janeiro: Difel, 1998. DURAND, Gilbert. A imaginação simbólica. Lisboa: Edições 70, 1995b. DURAND, Gilbert. As estruturas antropológicas do imaginário: introdução à arquetipologia geral. Tradução de Hélder Godinho. São Paulo: Martins Fontes, 1997. (Ensino Superior). DURAND, Gilbert. Campos do imaginário. Textos reunidos por Danièle Chauvin. Tradução de Maria João Batalha Reis. Lisboa: Instituto Piaget, 2003. DURAND, Gilbert. O imaginário: ensaio acerca das ciências e da filosofia da imagem. Tradução de Renée Eve Levié. Rio de Janeiro: DIFEL, 1998. (Coleção Enfoques. Filosofia). JÚNIOR, Everaldo Correia de Lima. A Ampulheta.Editora Kelps. 3ª. Edição. 2020. JÚNIOR, Everaldo Correia de Lima. O Olho De Hórus. Editora Kelps. 1ª. Edição. 2020.JÚNIOR, Everaldo Correia de Lima. O Cálice Flamejante. Editora Kelps. 1ª. Edição. 2021. MAFFESOLI, M. O imaginário é uma realidade. Revista Famecos. Mídia cultura e tecnologia. nº15, ago. 2001(a). Porto Alegre: EDIPUCRS, p.74-81. ______________. O eterno instante. O retorno do trágico nas sociedades pós-modernas. Lisboa: Instituto Piaget, 2001(b). TODOS OS FILHOS DA DITADURA ROMANCE: A TRAMA INTERDISCURSIVA DE JUDITH GROSSMANN Matheus Oliveira Carvalho Resumo: Esta comunicação tem por objetivo compreender como no livro Todos os Filhos da Ditadura Romance (2011), da escritora fluminense-baiana Judith Grossmann, se intercruzam discursos de ordem teórica e ficcional, percebendo não simplesmente os modos como eles se inter-relacionam, mas entender de que forma esse caráter interdiscursivo interage com a contemporaneidade artística enquanto “processo de autoconsciência que leva em consideração o entrelaçamento transmigratório dos discursos” (HOISEL, 2019). A figura do autor como leitor, o exercício da escrita de si, a prática do autoarquivamento, o convívio entre o documental e o ficcional na mesma obra, como uma das evidências da escrita literária hoje (RESENDE, 2014), e os diálogos intertextuais são questões postas em discussão e problematizadas no referido romance à luz dos pressupostos da autoficção e do categorema “o escritor múltiplo”. Dessa forma, utiliza-se uma bibliografia interdisciplinar, percorrendo reflexões advindas de diferentes áreas das ciências humanas, a exemplo dos textos de Michel Foucault, Philippe Artières, Friedrich Nietzsche, Gilles Deleuze, Silviano Santiago, Leonor Arfuch, Eneida Maria de Souza, Reinaldo Marques, Beatriz Resende, Evando Nascimento, Diana Klinger e Evelina Hoisel. Com isso, almeja-se explorar a intersecção de discursos teóricos e ficcionais no romance de Judith Grossmann, tema que atravessa a produção de escritores que exercem em simultâneo os ofícios docente, ensaístico e ficcional. Referências: ARTIÈRES, Philippe. Arquivar a própria vida. 1998. Disponível em: <https://www.marilia.unesp.br/Home/Pesquisa/cultgen/arquivar_a_propria_vida.pdf> Acesso em 06 fev 2021. ARFUCH, Leonor. O espaço biográfico: dilemas da subjetividade contemporânea. Trad. Paloma Vidal. 10ª ed. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2010 AZEVEDO, Luciene. Autoficção e literatura contemporânea. 2008. In: Revista Brasileira de Literatura Comparada, n. 12, p. 31-49. Disponível em: https://revista.abralic.org.br/index.php/revista/article/view/179/182. Acesso em 04 nov. 2021 GROSSMANN, Judith. Todos os Filhos da Ditadura Romance. Salvador: EDUFBA, 2011. HOISEL, Evelina. Teoria, Crítica e Criação Literária – O escritor e seus múltiplos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2019 KLINGER, Diana. Escrita de si como performance. 2008. In: Revista Brasileira de Literatura Comparada, n. 12, p. 11-29. Disponível em: https://abralic.org.br/downloads/revistas/1415542249.pdf. Acesso em 05 nov. 2021. NASCIMENTO, Evando. Matérias primas: da autobiografia à autoficção. 2010. Disponível em:< https://periodicos.ufms.br/index.php/cadec/article/view/4489> Acesso 16 set. 2021. NASCIMENTO, Evando. Retrato do autor como leitor. 2011. Disponível em: <http://www.evandonascimento.net.br/ensaios/retrato_do_autor_como_leitor.pdf> Acesso em 21 set. 2021. RESENDE, Beatriz. Possibilidades da escrita literária no Brasil. In: RESENDE, B. & FINAZZI-AGRÓ, Ettore. (orgs.) Possibilidades da nova escrita literária no Brasil. Rio de Janeiro: REVAN, 2014. p. 9-23. SANTIAGO, Silviano. O cosmopolitismo do pobre. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2004. SANTIAGO, Silviano. Meditações sobre o ofício de criar. 2008. In: Aletria: Revista De Estudos De Literatura, 18(2), 173–179. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/aletria/article/view/18216. Acesso em 20 out. 2021. SOUZA, Eneida. Tempo de pós-crítica. Belo Horizonte: Veredas e Cenários, 2007 (Coleção Obras em Dobras) SOUZA, Eneida. Janelas indiscretas: ensaios de crítica biográfica. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011. TELLES, Ligia Guimarães. O périplo de Judith Grossmann. Salvador: EDUFBA, 2011. O OLHAR DO OUTRO E OS PROCESSOS DE EXCLUSÃO NO ROMANCE PESSOAS NORMAIS Mauro Athayde Paz Resumo: Esse trabalho se propõe a analisar os processos de exclusão passados pela dupla de protagonistas Marianne e Connell, do romance Pessoas Normais (2018), da autora irlandesa Sally Rooney, a partir do debate proposto por Carlos Skliar no ensaio Sobre as representações do outro e da mesmidade - notas para voltar a olhar bem o que já foi apenas olhado. O primeiro passo é localizar o romance Pessoas Normais na perspectiva do subgênero Bildungsroman. Apontada pela crítica como uma das vozes mais importantes da literatura contemporanea irlandesa, Sally Rooney atualiza o Bildungsroman trazendo para o enredo de Pessoas Normais algumas das principais tensões sociais do século XXI como a formação feminina em contraste às diversas violências praticadas pela sociedade normalizadora, e as possibilidades e impossibilidades de formação da classe trabalhadora. Por colocarmos Pessoas Normais na perspectiva do Bildungsroman, teremos como objeto comparativo o romance Os Anos de Aprendizado de Wilhem Meister (1796), de Johann-Wolfgang Von Goethe, obra fundadora do subgênero. Dessa forma, também compararemos as diferentes transformações do entendimento de uma formação plena no momento da formação da burguesia europeia ao final do século XVIII e nesse começo de século XXI, assim como as diferenças dos processos de socialização nesses dois tempos. Referências: GOETHE, Johann-Wolfgang Von. Os Anos de Aprendizagem de Wilhelm Meister. Tradução de Nicolino Simone Neto. São Paulo: Editora 34; 2009. MAZZARI, Marcus V. Romance de formação em perspectiva histórica. São Paulo: Ateliê Editorial, 1999. MORETTI, Franco. O romance de formação. Tradução de Natasha Belfort Palmeira. São Paulo: Todavia, 2020. ROONEY, Sally. Pessoas Normais. Tradução de Débora Landsberg. São Paulo: Companhia das Letras, 2018. SKLIAR, Carlos. “Sobre as representações do outro e da mesmidade”. In: Pedagogia (Improvável) da diferença. Rio de Janeiro: DP&A, 2003. A ANGÚSTIA E O ABSURDO EM O PROCESSO, DE KAFKA: UMA LEITURA COMPARATIVISTA ENTRE LITERATURA E FILOSOFIA Pedro Luiz Cascalho Resumo: A finalidade da comunicação é comparar as perspectivas estéticas na obra O Processo, de Franz Kafka (1997), à concepção filosófica de angústia na obra de Kierkegaard, O Conceito de Angústia (2013) e ao absurdo reverberado no ensaio O homem revoltado, de Albert Camus (2021), tendo por sustentação a acusação atribuída ao personagem central Josef K. que na data de seu trigésimo aniversário, sem acusação criminal nenhuma, fora detido e, embora não tivesse tolhida sua liberdade de locomoção, a vida dele se transforma num verdadeiro suplício, ficando vinculado a um processo penal sem que lhe fosse garantido o mínimo de segurança jurídica. A partir desse drama ficcional, ao mesmo tempo, jurídico-social e filosófico, o propósito da comunicação é o de verificar a dialogicidade de sentidos que se estabelecesse entre um texto literário com textos teóricos. O processo kafkiano se metamorfoseia numa metáfora, reveladora de atos angustiantes que são acometidos do homem ao homem, face ao incerto, desconhecido, oculto, obscuro, o não revelado, aquilo que foge ao controle, mas que determina as contingências que nos cercam e com consequências inesperadamente absurdas. Dessa maneira, pode-se inferir que a ação processual kafkiana se compara ao absurdo contido no ensaio de Albert Camus, quanto à angústia decorrente da impotência que anula o homem diante de um ente estatal fascista e totalitário. Nesse sentido, no romance O Processo, de Kafka, se torna viável a discussão do drama da justiça penal principalmente considerando as situações contingencias de miserabilidade grotesca a que o réu Josef K. fora exposto, causando a queda de sua existência a uma situação de não-ser. Enfim, a comunicação se baseia numa leitura do fenômeno literário em diálogo comparativo com as teorias críticas filosóficas a respeito da angústia e da absurdez decorrentes das relações humanas em sociedade e da própria condição humana. Referências: CAMPBELL, Joseph, 1904-1987. O poder do mito / Joseph, com Bill Moyers; org. por Betty Sue Flowers; tradução de Carlos Felipe Moisés. – São Paulo: Palas Athenas, 1990, p. 3-4 CAMUS, ALERT, 1913-1960. O homem revoltado / Albert Camus, tradução de Valerie Dunjanek. – 15ª ed. – Rio de Janeiro: Record, 202, 400p. KAFKA, Franz, 1883-1924. O processo /Franz Kafka; tradução e posfácio Modesto Caronte. – São Paulo: Companhia das Letras, 1997, 334p. KIERKEGAARD, Soren. O conceito de angústia: uma simples reflexão psicológico-demonstrativo direcionada ao problema dogmático do pecado hereditário / Soren Kierkegaard; tradução de Álvaro Luiz Montenegro Valls. – 3ª ed. – Petrópolis, RJ: Vozes; Bragança Paulista, SP: Editora Universitária São Francisco, 2013. – (Coleção Pensamento Humano). MORA, José Ferrater. Dicionário de Filosofia / José Ferrater; [tradução Roberto Leal Ferreira, Álvaro Cabral]. 4ª ed. – São Paulo : Martins Fontes, 2001, p. 478 PLATÃO, 427-327 a.C. Fedro / Platão; texto grego John Burnet; tradução Carlos Alberto Nunes; editor convidado Plinio Martins Filho; coordenação Benedito Nunes e Victor Sales Pinheiro – 3ª. ed. Bilíngue. - Belém: ed.ufpa, 2011. __________. A República; texto grego John Burnet; tradução Carlos Alberto Nunes; editor convidado Plinio Martins Filho; coordenação Benedito Nunes e Victor Sales Pinheiro – 4ª ed. rev. Bilíngue. Belém: ed.ufpa, 2016. TORRES, Ricardo Lobo. KATAOKA, Eduardo Takemi. GALDINO, Flávio. Dicionário de princípios jurídicos / Ricardo Lobo Torres, Eduardo Takemi Kataoka, Flávio Galdino, organizadores ; Sílvia Faber Torres, supervisora. – Rio de Janeiro Elsevier, 2011; p. 247, 1004. POR ENTRE FANTASMAS E MÁQUINAS DE GUERRA: O CASO FERNANDO BONASSI E RODRIGO SANTOS Wanice Garcia Barbosa Resumo: O artigo tem como proposta comprovar que as narrativas de Fernando Bonassi e Rodrigo Santos mais especificamente, Prova Contrária, escrita em 2003 e Baratária, de 2017, podem ser lidas como ficções de resistência ao regime militar instituído no Brasil a partir dos conceitos de “fantasmagoria”, de Stephen Frosh e “máquina de guerra”, formulado por Gilles Deleuze e Félix Guattari. Assim sendo, essa se justifica por comprovar que tais narrativas podem ser lidas como armas de resistência contra os regimes totalitários que oprimem os que representam um perigo ao poder estatal. Compreender como ocorre a representação literária dos acontecimentos históricos dentro das narrativas que compõem o corpus e, de que modo, tais obras se afirmam como resistência contra o estado opressor; Demonstrar as relações entre a ficção pós-64 e as narrativas de Bonassi e Santos, que destoa dos modelos realistas/naturalistas tão em voga no período; Elaborar um desenho histórico-teórico acerca de conceituações como elementos maquínicos, fantasmagoria, dispositivos de poder e controle estatal presentes nas formulações teóricas de Deleuze & Guattari, Stephen Frosh e Giorgio Agambém; comprovar através da representação artística que os grupos marginalizados foram e continuam sendo sujeitos vítimas desse pensamento reacionário, e, por esse motivo, as narrativas em questão evocam espectros de traumas históricos e se instituem como “máquinas de guerra” contra as coerções institucionalizadas. Referências: AGAMBEN, Giorgio. Estado de Exceção. Tradução de Araci D. Poleti. Editora Boitempo editorial, São Paulo. 2004. BONASSI, Fernando. Prova Contrária. Rio de Janeiro: Objetiva, 2003. CANDIDO, Antonio. A nova narrativa. In: A educação pela noite e outros ensaios. São Paulo: Ática, 1989. DALCASTAGNÉ, Regina. O espaço da dor: o regime de 64 no romance brasileiro. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1996 DELEUZE, G. Espinosa – Filosofia Prática (trad. Daniel Lins e Fabien Pascal). São Paulo: Escuta. 2002. DELEUZE, G. E GUATTARI, F. O que é a filosofia? (trad. Bento Prado Jr. e Alberto Alonso Muñoz). Rio de Janeiro: Editora 34 .1992. ___________________________. Mil Platôs – Capitalismo e Esquizofrenia, v. 3. (Aurélio Guerra Neto,Ana Lúcia de Oliveira, Lúcia Cláudia Leão, Suely Rolnik,Trad.) Rio de Janeiro: Editora 34. 1996 ___________________________. Mil Platôs – Capitalismo e Esquizofrenia, v. 4. (Suely Rolnik, Trad.) Rio de Janeiro: Editora 34. 1997 FRANCO, Renato. Censura e Modernização Cultural à Época da Ditadura. Perspectivas (São Paulo), v.20/21, p.77-92, 1997/19 FROSH, Stephen. Assombrações: psicanálise e transmissões fantasmagóricas. São Paulo: Benjamin Editorial, 2018. GINZBURG, Jaime. Literatura, Violência e Melancolia. São Paulo: Autores Associados, 2013. MANDELBAUM, Belinda. Sobre fantasmas e assombrações. Ide (São Paulo), São Paulo , v. 40, n. 66, p. 193-197, dez. 2018 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010131062018000200021&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 12 jul. 2021. NIETZSCHE, F. Humano, Demasiado Humano II. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. ___________. Crepúsculo dos ídolos. Tradução Marco Antônio Casanova. Rio de Janeiro: Relume-Dumara, 2000. _____________. Humano, Demasiado Humano. Um livro para espíritos livres. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2000b. _____________. Genealogia da Moral. Uma polêmica. Tradução de Paulo César de Souza. 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VIDAL, Paloma. Fernando Bonassi Prova Contrária In: https://periodicos.unb.br/index.php/estudos/article/download/8957/7989/16070. Acesso em 12 de Julho de 2021. SIMPÓSIO “ESCRITA DE MULHERES: LUTAS, OLHARES E PERCURSOS” Ana Maria Chiarini (UFMG), Silvia La Regina (UFSB) DE NOVIÇA A SOLDADO NA AMÉRICA: SOBRE AS IRREVERENTES LINHAS EXISTENCIAIS DA AUTOBIOGRAFIA DE CATALINA DE ERAUSO Amanda Moury Fernandes Bioni Resumo: A presente proposta de comunicação objetiva realizar uma breve análise sobre o relato autobiográfico de Catalina de Erauso, conhecida como a “Monja Alférez”. Em primeiro lugar, é válido destacar o caráter híbrido da obra, na medida em que se obtém, por um lado, atribuições históricas, devido a sua pertinência aos relatos de viagem da América colonial do século XVII; por outro lado, a narrativa é artificiosa e imaginativa, pois se tratou de uma escritura por mandato, e, assim, a autora não ignorou a oportunidade de promover uma imagem heroica e agradável de si, com o propósito de obter vantagens e consentimentos da Coroa espanhola e da Igreja Católica, respectivamente (ESTEBAN, 2018). Ademais, o relato também possui uma nota picaresca, especialmente, com respeito ao tom satírico que a nossa personagem andarilha e fugidia adota em determinadas partes do texto. Sendo assim, é oportuno investigar como essa atmosfera de incertezas e de tensões, tão conveniente à estética barroca, se encontra refletida na obra, especialmente, se consideramos os aspectos de teatralidade, de simulação e de manutenção estratégica da dúvida, concernente à presença simultânea de constituintes opostos. Para tanto, os estudos de Hauser (1993), Silva (1999), Josef (2005) e Maravall (2009) foram necessários. Desse modo, essa proposta de comunicação pretende demonstrar, de maneira breve, como a autobiografia de Catalina de Erauso se apresenta como um espelho de uma época histórica, social e cultural, à proporção que também reflete o caráter imprevisível, ambíguo e paradoxal da sua vida. Referências: CALLIGARIS, Contardo. Verdades de autobiografias e diários íntimos. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 11, n. 21, p. 22-24, 1998. ERAUSO, Catalina de. Historia de la Monja Alférez, Catalina de Erauso, escrita por ella misma. 7ª ed. Madrid: Ediciones Catedra, 2018. ESTEBAN, Ángel. Introducción. In: Historia de la Monja Alférez, Catalina de Erauso, escrita por ella misma. 7ª ed. Madrid: Ediciones Catedra, 2018. pp. 11-90. HAUSER, Arnold. Historia social de la literatura y del arte 2. Barcelona: Editorial Labor, 1993. JOSEF, Bella. História da literatura hispano-americana. 4ªed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ; Francisco Alves Editora, 2005. LEJEUNE, Philippe. O pacto autobiográfico. Tradução de Jovita Maria Gerheim Noronha e Maria Inês Coimbra Guedes. 2ªed. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2014. MARAVALL, José Antônio. A cultura do Barroco: Análise de uma estrutura histórica. Tradução de Silvana Garcia. São Paulo: EDUSP, 2009. SILVA, Vítor Manuel de Aguiar e. Teoria da Literatura. 8ª ed. Coimbra: Livraria Almedina, 1999. O JOGO SE ARMA: PROCEDIMENTO ERÓTICO EM ADÍLIA LOPES E NATASHA FELIX Ana Luiza Rigueto da Silva Resumo: Se é possível pensar a autoria feminina como aquela que lê a tradição de fora, e fala de fora, inserindo-se ao marcar uma diferença, ou seja, tornando presente um corpo, atravessado por silenciamentos e coletividades próprios, o que acontece quando pareamos duas presenças, ou melhor, duas poetas contemporâneas, cada uma marcando uma presença muito distinta da outra no espaço literário? Nesta pesquisa, investigo como Adília Lopes e Natasha Felix, uma poeta portuguesa radicada na tradição escrita da língua e outra brasileira inscrita na produção afrodiaspórica e relacionada a linguagem performática, fazem uso de certos procedimentos para constituir, desde a estreia literária de cada uma, um jogo com o leitor. Assim, através da leitura cerrada de poemas de seus livros de estreia, Um jogo bastante perigoso, de Adília, e Use o alicate agora, de Natasha, seus contextos de produção e lançamento, a recepção crítica de suas obras e o amparo de teóricos do erotismo, como Georges Bataille e Anne Carson, e de pensadores que fizeram do jogo (ou da brincadeira) tema de suas investigações, como Walter Benjamin e Roger Caillois, seguiremos algumas pistas que possibilitam pensar em termos de um modo de entrar em cena, ou de um jogo que se arma e que se sustenta por meio de certos procedimentos eróticos. “Erótico”, aqui, como modos de instaurar distância e proximidade (com o leitor, no espaço do poema, sem que isso resulte em uma defesa da autonomia do poema), ou ainda, de abrir distância na proximidade, em uma difícil conciliação entre opostos. Ao tensionar essas poetas, o intuito é identificar relações entre elas que façam emergir as diferenças e os procedimentos através dos quais cada uma arma o seu jogo, e que especificidades fazem com que esse jogo seja erótico e se lance em busca do outro, do corpo do outro. Referências: AUSTIN, John Langshaw. Quando dizer é fazer. Porto Alegre: Artes Médicas, 1990. BATAILLE, Georges. O erotismo. São Paulo: Autêntica, 2013. BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política – ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Editora Brasiliense, pp. 108-111, 1987. BENJAMIN, Walter. Reflexões sobre o brinquedo, a criança e a educação. São Paulo: Editora 34, 2002. CARSON, Anne. Eros, o agridoce. Trad.: Rafael Zacca, não publicado. EVANGELISTA, Lúcia Liberato. Vida em comum: a poética de Adília Lopes. Dissertação de mestrado da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2011. FELIX, NATASHA. Use o alicate agora. Belo Horizonte: Edições Macondo, 2018. FOUCAULT, Michel. Michel Foucault, uma entrevista: sexo, poder e a política da identidade. Entrevista com B. Gallagher e A. Wilson. Tradução de Wanderson Flor do Nascimento. Revista Verve, nº 20, 2011. GREGORI, Maria Filomena. Prazeres perigosos – Erotismo, gênero e limites da sexualidade. Tese apresentada ao concurso de livre-docência do departamento de Antropologia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas, 2010. LOPES, Adília. Dobra. Porto: Assírio & Alvim, 2014. LOPES, Adília. Um jogo bastante perigoso. Belo Horizonte: Moinhos, 2018. MACIEL, Karine F. A recepção de Adília Lopes no Brasil. Revista do NEPA/UFF, Niterói, v.12, n.24, p. 113128, jan.-jun, 2020. PEDROSA, Célia. Releituras da tradição na poesia de Adília Lopes. Artigo em Via Atlântica nº 11 Jun/2007. PEQUENO, Tatiana. Acessos, sentidos e significados para Menina e Moça, de Bernardim Ribeiro. Revista Em Tese, Belo Horizonte, v. 19 n. 3 set-dez, p. 42-53, 2013. TRADIÇÃO E ATUALIDADE EM O MÉRITO DAS MULHERES, DE MODERATA FONTE Ana Maria Chiarini Resumo: Moderata Fonte, nascida Modesta Pozzo no ano de 1555, insere-se, a partir da cidade de Veneza, no plurissecular e prolífico debate literário conhecido como Querela das Mulheres, que não só discutia a igualdade ou a superioridade das mulheres, mas denunciava abusos e reivindicava direitos. Na obra mais relevante da escritora, Il merito delle donne – Ove chiaramente si scuopre quanto siano elle degne e più perfette de gli uomini [O mérito das mulheres – Onde claramente se descobre o quanto elas são dignas e mais perfeitas do que os homens], um diálogo publicado póstumo em 1600, sete amigas de famílias nobres, de diferentes idades e estado civil, passam dois dias juntas, conversando sobre temas variados, como política, artes e descobertas do mundo natural, mas, sobretudo, discutindo os conflitos entre os sexos e as injustiças cometidas pelos homens ao longo da história. A proposta desta comunicação é apresentar a obra pouco conhecida de Moderata Fonte, em tradução recentemente publicada, e evidenciar a força de sua embaraçosa atualidade a partir de reflexões contemporâneas de Silvia Federici e Chimamanda Adichie, entre outras pensadoras. Referências: . ENTRE TRADIÇÃO E MODERNIDADE: LUISA CARNÉS E A LITERATURA FEMININA Ana Paula Cabrera Resumo: Luisa Carnés é uma escritora madrilenha silenciada e apagada do cânone literário espanhol por mais de oitenta anos. Desde 1928 ao publicar seu primeiro romance “Peregrinos de calvario” faz parte de um movimento feminino que começava na Espanha influenciado por novas ideias que circulavam no panorama intelectual dos anos 1920. Carnés entrelaça os aspectos mais crus da realidade com momentos poéticos, revelando a angústia de seus personagens e sua difícil definição: vítima ou testemunha dos fatos. Com uma linguagem fluída e descritiva aborda as proibições da mulher de classe média identificada como “ángel del hogar”. Em meio ao ambiente familiar conturbado e por vezes violento, encontrou eco, em diferentes graus, seja por meio dos contos ou dos romances, remetendo-nos a um passado vivenciado, experimentado de perto. Suas personagens têm uma afinidade com a figura feminina, que se dá também pelo viés feminista – mulheres tímidas que permaneciam resistentes em aceitar um papel limitado em uma sociedade que as reprimia. Carnés trata da redefinição do papel social feminino que durante os anos de 1920 conta com a participação de mulheres nos meios literários e constitui o primeiro avanço a normalização da escrita de mulheres modernas e vanguardistas. Mulheres que escrevem seu próprio manifesto, em um período em que as qualidades vanguardistas pertencem ao “ideário masculino”. Essas mulheres eram vistas como radicais na política, porque escreveram fora da ordem estabelecida, desde uma perspectiva política de esquerda. A mulher moderna desperta desconfiança, ela é vista desde o centro, resulta duplamente intolerável porque a “sua escrita escapa não de um, mas de dois conjuntos de expectativas e categorizações” (Olmedo, 2014, p.54). Luisa Carnés como escritora se constrói por meio da liberdade, rompe com o discurso de gênero ao reclamar um papel para mulher que vai além da esfera privada da casa e da família. Referências: CARNÉS, Luisa. Peregrinos de calvario. Madrid: Nuevos Escritores Españoles, 1928. NASH, Mary. Rojas: Las mujeres republicanas en la Guerra Civil. Trad. Irene Cifuentes. Taurus, 1999, reedição fev. 2022, formato eBook Kindle. OLMEDO, Iliana. Itinerários de exílio. Sevilla: Renacimiento, 2014. VOZES DO CLAUSTRO: UM TRATADO PROTOFEMINISTA DO SÉCULO XVII Anne Greice Soares La Regina Resumo: Que as mulheres sejam da espécie dos homens (Nuremberga, 1651) é um tratado protofeminista escrito pela freira italiana Arcangela Tarabotti em resposta a discurso de Horatio Plata que afirmava que mulheres, por não serem homens, não tinham alma nem acesso à salvação. O tratado é desenvolvido sob forma de diálogo, em que a freira reproduz os argumentos de Plata e responde desmontando-os com riqueza de conhecimentos teológicos, literários, filosóficos, retóricos e históricos. Para além da relevância do texto, cuja tradução encontra-se no prelo, dois aspectos devem ser evidenciados: a reivindicação para as mulheres da condição de igualdade perante os homens não só no que diz respeito à alma e à salvação mas, principalmente, no direito à educação, do qual evidentemente decorreriam os demais, por um lado; e a terrível situação de Tarabotti, cuja vida foi marcada e silenciada pelo claustro forçado, assim como aconteceu com tantas mulheres, monache forzate (freiras à força), aprisionadas em conventos contra sua vontade. Esta prática, comum na Itália (mas não só) da época, demonstra a profunda inferioridade feminina na sociedade e nos deixou vários exemplos de vida de mulheres que, encarceradas física e intelectualmente, deixaram testemunhos vívidos de transgressão, ousadia, inteligência e sensibilidade em um mundo que lhes negava tudo: até mesmo a condição humana. Das suas celas, Arcangela Tarabotti, Sóror Juana Inés de La Cruz e Sóror Mariana Alcoforado lançaram protestos e ideias e defenderam a dignidade feminina, inclusive com suas atitudes. Nesta comunicação, pretende-se apresentar, além da tradução do texto de Tarabotti, inédito no Brasil, uma reflexão sobre um importante testemunho da luta contra o silenciamento e a violência já muitos séculos antes do movimento feminista Referências: CONTI ODORISIO, G. Donna e società nel Seicento: Lucrezia Marinelli e Arcangela Tarabotti. Roma: Bulzoni, 1979. MANTIONI, S. Suor Arcangela Tarabotti e la sua indesiderata «stanza tutta per sé» In: Che le Donne siano della spetie degli Huomini: Un trattato protofemminista del XVII secolo. Capua (CE): Artetetra Edizioni, 2015. p.7-18. Disponível em https://www.academia.edu/32333179/Che_le_Donne_siano_della_spetie_degli_Huomini_Un_tr attato_proto_femminista_del_XVII_secolo_Artetetra_edizioni_Capua_2015. MEDIOLI, F. Arcangela Tarabotti fra storia e storiografia: miti, fatti e alcune considerazioni di carattere più generale. Studi veneziani LXVI, 2012. p.175-202. PAZ, O. Suor Juana Inés de La Cruz o Le insidie della fede. In: PAZ, Octavio. Le opere. Tradução de Glauco Felici. Torino: UTET, 1995. TARABOTTI, A. Che le Donne siano della spetie degli Huomini. A cura di Susanna Mantioni. Capua (CE): Artetetra Edizioni, 2015. Disponível em https://www.academia.edu/32333179/Che_le_Donne_siano_della_spetie_degli_Huomini_Un_tr attato_proto_femminista_del_XVII_secolo_Artetetra_edizioni_Capua_2015 WOOLF, V. Um teto todo seu. Tradução Vera Ribeiro. 2ed. Rio de Janeiro: NovaFronteira, 1985. ALÉM DA PALAVRA: O QUE TEM A DIZER LUIZA NETO JORGE? Carolina Alves Ferreira de Abreu Resumo: Neste trabalho, acerca da poesia da poetisa Luiza Neto Jorge, proponho-me a fazer um estudo direcionado à abordagem da relação entre palavra e formas de resistência às estruturas opressoras, duas perspectivas evidentes nas obras da escritora representadas na literatura portuguesa do século XX. Analiso alguns poemas presentes na obra completa Poesia 1960-1989, a fim de pensar a formatação da mulher e a do poema dentro da sociedade portuguesa marcada pelo autoritarismo daquele século. Levanto, ainda, as problemáticas referentes à consolidação do Estado Novo em tal conjuntura histórica, na qual além da hegemonia do pensamento androcêntrico se fazer presente, há, ainda, o “ser sitiado”, em um “sítio sitiado”, para citar o título de uma de suas obras que compuseram uma trajetória de resistência na e pela escrita em um meio opressor. Fernando Rosas, no ensaio “O salazarismo e o homem novo: ensaio sobre o Estado Novo e a questão do totalitarismo”, demonstra as ideias ditatoriais salazaristas atreladas aos domínios por meio de várias instâncias, dentre elas uma política de conduta para as mulheres, submetendo-as. Compreendendo as particularidades da poética de Luiza, afirmo sobre a importância de considerar tantas realidades vivenciadas em um momento histórico traumático pela inevitável repressão, tornando-as para além do cânone literário. Referências: ALVES, Ida. Um corpo inenarrável e outras vozes – estudos de poesia portuguesa moderna e contemporânea. Niterói: Editora Eduff, 2010. COVA, Anne; PINTO, António Costa. O salazarismo e as mulheres: uma abordagem comparativa. Penélope: Gênero, Discurso e Guerra, n. 17. Lisboa, Portugal, 1997. CRUZ, Gastão. Resposta ao inquérito poesia e resistência (Portugal). Disponível em: <http://ilcml.com/blog/inquerito-poesia-e-resistencia-portugal/>. 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Tais textos são atravessados por sofrimentos oriundos de ferozes processos de dominação, com os quais se desencadeou o domínio do território geográfico marcado pela escravização das pessoas e pela exploração econômica. Além disso, eles trazem consigo duas grandes fendas excludentes: o cânone literário ocidental e a presença da mulher negra na literatura que subverte o modelo literário em vigor, ao apresentar nos textos literários, a perspectiva desses agentes que foram silenciados durante toda uma existência. Paulina Chiziane traz essas questões em seus romances ao apresentar, despretensiosamente, a devastada condição humana que permeia a vida das mulheres moçambicanas. O centro enunciador das narrativas é agora pautado sob o olhar daquelas que estão no interior das sociedades africanas e, como vítimas das fronteiras de gênero fortemente delimitadas pelo poder patriarcal, expõem suas crenças, muitas das quais se chocam com a globalização, o capitalismo e a modernidade que se espalham pelo país. Assim, Chiziane contribui muito na construção desse novo pensamento que busca dar visibilidade às figuras femininas que falam nos romances e também na vida real. Chiziane possibilita ao seu leitor: conhecer o mundo feminino derivado da dominação colonial até então ignorado e silenciado. Referências: CANCLINI, Néstor García. Culturas híbridas: estrategias para entrar y salir de la modernidad. Buenos Aires: Sudamericana, 1995. CHIZIANE, Paulina. Eu, mulher... por uma nova visão do mundo. Belo Horizonte: Nandyala, 2013. CHIZIANE, Paulina. O alegre canto da perdiz. 2. ed. Maputo: Ndjira, 2010. DANTAS, Igara; LIMA, Tânia. Paulina Chiziane: a voz que conta todos os cantos. In: PINHEIRO, Vanessa Riambau; LEITE, Ana Mafalda (Org.). Cânones[s] e invisibilidades literárias em Angola e Moçambique. João Pessoa: Editora da UFPB, 2019. p. 165-180. DIOGO, Rosália Estelita Gregório. Paulina Chiziane: as diversas possibilidades de falar sobre o feminino. In: SECCO, Carmem Lúcia Tindó Ribeiro; MIRANDA, Maria Geralda de. (Org.). Paulina Chiziane: vozes e rostos femininos de Moçambique. Curitiba: Editora Appris, 2013. p. 361-370. DUSSEL, Enrique. Europa, Modernidad y Eurocentrismo. Revista de Cultura Teológica. São Paulo: PUC, 1993. DUSSEL, Enrique. Europa, modernidade e eurocentrismo. In: ________.A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. Ed. CLACSO, Consejo Latinoamericano de Ciencias. Buenos Aires, 2005. p. 24 -32. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/2591382/mod_resource/content/1/colonialidade_do_ saber_eurocentrismo_ciencias_sociais.pdf. Acesso em: 07 dez. 2020. GASPARETTO, Vera. O campo dos estudos de gênero em Moçambique/África. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 28, n. 1, p. 1-16, 2020. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ref/a/CK9Py5ZfXVLxk3ZTTqdVzzd/?lang=pt&format=pdf. Acesso em: 07 dez 2020. LEITE, Ana Mafalda. Literaturas africanas e formulações pós-coloniais. Maputo: Imprensa Universitária, 2013a. MATTA, Inocência da. Mulheres de África no espaço da escrita: a inscrição da mulher na sua diferença. In: MATA, Inocência; PADILHA, Laura Cavalcante (Org.). A mulher em África: vozes de uma margem sempre presente. Lisboa: Edições Colibri, 2007. MIGNOLO. W. D. La colonialidade a lo largo y a lo ancho: el hemisfério occidental em el horizonte colonial de la modernidade. In: _______La colonialidade del saber: eurocentrismo y ciências sociales. Perscpectivas latino-americanas. Buenos Aires: CLACSO, 1993. Disponível: http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/clacso/sur-sur/20100708032210/lander.pdf. 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A mulher em África: vozes de uma margem sempre presente Lisboa: Edições Colibri, 2007. p. 469-488. ABNEGAÇÃO, RESIGNAÇÃO E SILÊNCIO: "A VIDA INVISÍVEL DE EURÍDICE GUSMÃO" E O ESPAÇO DOMÉSTICO COMO IDENTIDADE BÁSICA FEMININA Gabriela Alves Ferreira de Oliveira Resumo: A condição de subordinação das mulheres vem sendo tema da escrita literária, sobretudo de autoria feminina, por tempo considerável, tornando-se possível observar, mesmo em produções datadas em tempos históricos diferentes, uma frequente tematização das estruturas patriarcais, utilizadas para o controle dos corpos e do imaginário feminino. Nesse sentido, é válido mencionar que a literatura desempenha um papel significativo ao permitir às escritoras a utilização de seu texto para representar problemáticas históricas e sociais, tendo em vista que no discurso cotidiano esses conflitos podem perder sua urgência, ao contrário do que ocorre no discurso literário, capaz de intensificar a temática ao instigar uma produção de sentidos para além do que está pré-estabelecido como normas e valores, utilizando-se da provocação de efeitos emocionais e sensoriais no leitor. Com base nesses aspectos, este trabalho tem como objetivo analisar o romance A vida invisível de Eurídice Gusmão, publicado pela escritora brasileira Martha Batalha no ano de 2016, o qual apresenta, de forma singular, uma espécie de ficcionalização atemporal de problemáticas que ainda perduram, como as consequências do sistema patriarcal e dos mecanismos de cerceamento da individualidade feminina, os denominados papéis de gênero. À vista disso, pretende-se evidenciar o potencial emancipador e de fomento da criticidade que obras literárias como as de Batalha detém, uma vez que, ao associar no plano literário suas pretensões estéticas às políticas, a escritora torna possível que o leitor realize reflexões críticas acerca de sua realidade e da sociedade em que se situa. Para estas análises, serão utilizadas as contribuições das teóricas Gerda Lerner, Heleieth Saffioti e do estudioso Pierre Bourdieu para se pensar as relações de gênero presentes no texto literário. Referências: BATALHA, Martha. A vida invisível de Eurídice Gusmão. – 1ª ed. – São Paulo: Companhia das Letras, 2016. BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina; tradução Maria Helena Kühner. – 6ª ed. – Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009. 160p. BRANCO, Lucia Castello; BRANDÃO, Ruth Silviano. A mulher escrita. Rio de Janeiro: Lamparina Editora, 2004, 224 p. GOULART, Audemaro Taranto; TRINTADE, Viviane de Cássia Maia. O caráter estético do texto literário na formação do leitor. 2013. Disponível em <http://periodicos.pucminas.br/index.php/contraponto/article/viewFile/8380/pdf>. Acesso em: 20 de jan. 2020. LERNER, Gerda. A criação do patriarcado: história da opressão das mulheres pelos homens; tradução Luiza Sellera. – São Paulo: Cultrix, 2019. 375 p SAFFIOTI, Heleieth I.B. O poder do macho. – São Paulo: Moderna, 1987. 134 p. (Coleção polêmica). SAHÃO, Bruna Priscinotti. Aspectos sociais da arte na sociedade capitalista: uma reflexão sobre a função social da arte nas relações humanas. 2014. Disponível em: http://celacc.eca.usp.br/?q=pt-br/celacctcc/543/detalhe. Acesso em: 01 mar. 2020. A MULHER NA LITERATURA INFANTO-JUVENIL BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA: ENTRE A SUBVERSIVIDADE FEMINISTA E O PATRIARCALISMO Iasmin da Silva Britto Resumo: Inegavelmente, a literatura desempenha um papel fundamental na construção da mulher e do homem enquanto sujeitos críticos e questionadores. Assim, justamente por ser considerada o lugar mágico do faz de conta e do “era uma vez...”, a literatura infanto-juvenil desempenha papel significativo no desenvolvimento da criança, pois propicia a busca de soluções tanto para os conflitos das vidas das personagens, quanto para os seus próprios. Nesse sentido, a função social da literatura, sobretudo da literatura infanto-juvenil, fica evidente, tendo em vista que é na infância que o hábito da leitura, muitas vezes, é formado. Através dela, as crianças, meninas e meninos, aprendem e conhecem o mundo do qual fazem parte, compreendendo a sua realidade social. Ao considerar a literatura infanto-juvenil como um lugar crucial para o desenvolvimento de uma educação feminista e de consciência crítica, conforme pensava Bell Hooks (2021), este trabalho propõe analisar, à luz da Crítica Feminista, de que maneira a literatura infanto-juvenil da escritora Paula Pimenta em Cinderela Pop (2015) e Princesa Adormecida (2014) revisita os contos de fadas tradicionais e questiona os estereótipos de gênero estabelecidos socialmente e a tradição patriarcal de valores e ideais, considerando que, ao aguçar o imaginário da criança e do adolescente, a literatura age não só no despertar do desejo e gosto pela leitura, mas, sobretudo, no processo de iniciação em determinados valores e na perpetuação ou desconstrução de padrões comportamentais e de gênero. Referências: ADICHIE, Chimamanda Ngozi. Para educar crianças feministas: um manifesto. Tradução: Denise Bottmann. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. BARBOSA, Adriana Maria de Abreu. Ficções do feminino. Vitória da Conquista: Edições UESB, 2011. BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo: A experiência vivida. 3ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2016. COELHO, Nelly Novaes. Literatura Infantil: Teoria, Análise, Didática. 1ª ed. São Paulo: Moderna, 2000. HOOKS, Bell. O feminismo é para todo mundo: políticas arrebatadoras. 15ª ed. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2021. MARTINS, Maria Cristina. (Re)Escrituras: Gêneros e o Revisionismo Contemporâneo dos Contos de Fadas. Jundiaí: Paco Editorial, 2015. MINAYO, M. C. de S. (org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 26ª ed. Petrópolis, 2007. PIMENTA, Paula. Cinderela Pop. 1ª ed. Rio de Janeiro: Galera Record, 2015. PIMENTA, Paula. Princesa Adormecida. 2ª ed. Rio de Janeiro: Galera Record, 2014. RAGO, Luzia Margareth. A aventura de contar-se: feminismos, escrita de si e invenções da subjetividade. Campinas: Editora da Unicamp, 2013. SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação & realidade, v. 20, n. 2, 1995. VAN DIJK, Teun A. Discurso e Poder. 2ª ed. São Paulo: Contexto, 2018. ZILBERMAN, Regina. Introduzindo a literatura infanto-juvenil. Perspectiva, v. 2, n. 4, p. 98-102, 1985. O RESGATE DA MULHER NOS CONTOS DE FADAS: INSCREVENDO NARRATIVAS DO "EU" NA TRADIÇÃO LITERÁRIA Isabella Morelli Esteves Resumo: O conto de fadas é, para muitos, a porta de entrada para a literatura. Desde as coletâneas de Grimm e Perrault, o gênero passou a pertencer a um universo infantil de modo quase exclusivo. Embora sejam para muitos uma leitura formativa no período da infância, os contos de fadas tendem a ser abandonados ao longo do amadurecimento do indivíduo. No entanto, em "The Heroine with 1001 Faces" (2021), Maria Tatar observa que a tradição à qual os contos de fadas pertencem em sua concepção não é voltada – ao menos exclusivamente – para o público infantil. Parte das tradições orais, os contos circulavam ambientes diversos como narrativas para passar o tempo e transmitir a sabedoria popular. Anteriormente à revisão domesticada e domesticante dos antologistas, os contos se apresentavam até mesmo como histórias eróticas para se contar em tavernas. Nas versões que conhecemos até a atualidade, no entanto, os contos omitem o erotismo e enfatizam a punição, transmitindo valores patriarcais para um público ainda em formação – emocional e intelectual. Ainda que associados ao feminino – como se nota pela intitulação “contos da carochinha” (“old wives’ tales”) – a sabedoria feminina ancestral é estrategicamente apagada das versões impressas dos contos de fadas. Não só as histórias são adaptadas para atender um status quo, como também as narrativas com ênfase na autonomia feminina são deixadas para trás, caindo em esquecimento. Não se trata apenas de representação de “mulheres fortes”, mas da transmissão de sabedoria. Por exemplo, ensinando jovens moças a fugirem de casamentos indesejados. O ponto de interesse nesta apresentação é explorar a possibilidade de conservar narrativas ancestrais com ênfase no feminino e, ao mesmo tempo, reinterpretar as narrativas da antiguidade para uma subjetividade contemporânea, inscrevendo o “eu” autoral na tradição dos contos de fadas. Referências: BENJAMIN, Walter. O Narrador. In: _____ Magia e Técnica, Arte e Política - ensaios sobre literatura e história da cultura. Obras escolhidas, volume I, 2ª edição, São Paulo: Editora Brasiliense, 1994. CIXOUS, Hélène; COHEN, Keith; COHEN, Paula. “The Laugh of Medusa”. In: CIXOUS, Hélène. Trad. Keith Cohen and Paula Cohen. Signs Vol. 1, No. 4. Chicago: The University of Chicago Press, 1976, p. 875-888. DALCASTAGNÈ, Regina. Ausências e estereótipos no romance brasileiro das últimas décadas: alterações e continuidades. Letras de Hoje, Porto Alegre, v. 56, n. 1, p. 109-143, jan./abr. 2021. EVARISTO, Conceição. A Escrevivência e seus subtextos. In: Constância Lima Duarte; Isabella Rosado Nunes. (Org.). Escrevivência: a escrita de nós. 1ed. Rio de Janeiro - RJ: MINA Comunicação e Arte; ITAU Social, 2020, v. 1, p. 26-47. EVARISTO, Conceição. Da grafia-desenho de minha mãe, um dos lugares de nascimento da minha escrita. In: Constância Lima Duarte; Isabella Rosado Nunes. (Org.). Escrevivência: a escrita de nós. 1ed. Rio de Janeiro - RJ: MINA Comunicação e Arte; ITAU Social, 2020, v. 1, p. 48-57. TATAR, Maria. Off With Their Heads!: fairy tales and the culture of childhood. Princeton: Princeton University Press, 1992. E-book. TATAR, Maria. The Heroine with 1001 Faces. New York: Liveright Publishing Corporation, 2021. E-book. TATAR, Maria. Why Fairy Tales Matter: The Performative and the Transformative. Western Folklore, [s.l.], vol. 69, no. 1, p. 55-64, inverno 2010. BIOGRAFEMAS NEGROS E O DEVIR-MULHER NEGRA EM MARÉIA DE MIRIAM ALVES: A LITERATURA DO EU/NÓS Juliana Cristina Costa Resumo: Em Sade, Fourier, Loiola (1971), Roland Barthes expressa sobre os biografemas, isto é, os traços biográficos do autor presente nos textos literários. No caso da literatura negra, é possível observarmos que tais biografemas são diferentes, visto que o corpo negro que narra e o corpo negro narrado experienciam um contexto estrutural semelhante em que desigualdades e opressões afetam a sua existência. Nesse sentido, podemos pensar em biografemas negros coletivo ao se observar na narrativa literária de escritoras(es) negras(os) contemporâneas(os) a construção de personagens pautada nas representações de subjetivação, porém atrelada às experiências coletivas da população negra. Em Maréia (2019), o segundo romance de Miriam Alves, escritora paulista que completa 40 anos de carreira em 2022, a forma em que as personagens negras são descritas na narrativa é feita a partir de um olhar histórico e contextualizado da hierarquia racial brasileira. Ainda, a construção das personagens brancas segue essa mesma lógica, o que singulariza a linguagem literária nessa obra, pois trata dos sujeitos e das construções discursivas em torno dos mesmos que pairam nosso imaginário social. Logo, por meio do texto literário, devido ao teor epistemológico de sua narrativa, a referida autora fomenta a reflexão acerca das corporeidades, cujo foco é a mulher negra, além de interseccionaliza experiências sociais enquanto aponta a complexidade das relações de poder racializadas. Referências: AKOTIRENE, Carla. Interseccionalidade. São Paulo: Sueli Carneiro ; Pólen, 2019. ALVES, Miriam. Maréia. Rio de janeiro: Malê, 2019. CANTO, Vanessa Santos do. O devir "mulher negra": subjetividade e resistência em tempos de crise do capitalismo. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-graduação em Serviço Social, Departamento de Serviço Social do Centro de Ciências Sociais da PUC-Rio. CUTI, Luiz Silva. Literatura Negro-Brasileira. São Paulo: Selo Negro, 2010. DELEUZE, Gilles. Crítica e Clínica. Tradução de Peter Pál Pelbart; São Paulo: Ed. 34, 2011 DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Kafka. Por Uma Literatura Menor. Tradução e prefácio de Rafael Godinho; Lisboa: Assírio & Alvim, 2002. Estudos Afro-Orientais; Brasília: Fundação Cultural Palmares, 2006. FONSECA, Nazaré e SOUZA, Florentina. Literatura afro-brasileira. Salvador: Centro de MIRANDA, Fernanda R.Silêncios prEscritos: Estudos de romances de autoras negras brasileiras (1859-2006). Rio de Janeiro: Malê, 2019 PROENÇA FILHO, Domício. A linguagem literária. 8a.ed. São Paulo: Ática, 2007. O CORPO E A LITERATURA COMO LUGARES DE RESISTÊNCIA E CURA DE SI Laryssa Amaro Naumann Resumo: Procuramos compreender o corpo e as escritas de autoras latino-americanas, em uma perspectiva interdisciplinar. Aqui o corpo, a literatura e a terapia são lugares de cura e potências libertárias e, por isso, optamos por um diálogo entre a crítica literária e a Somaterapia, vertente anarquista de uma psicologia baseada na obra de Reich. A partir desse diálogo, fazemos uma leitura comparativa entre o papel terapêutico e o papel da escrita nas seguintes obras: O corpo em que nasci, de Guadalupe Nettel (mexicana), Terapia , no livro de contos Espaços Íntimos, de Cristina Peri Rossi (uruguaia) e Estado de libido ou poesias de prazer e cura, de Carmem Faustino (brasileira). O romance de Nettel, inspirado na infância da autora, é narrado em um divã psicanalítico e, neste processo discursivo, a narradora procura compreender o seu próprio corpoterritório. O conto de Peri Rossi, Terapia, a personagem senhora Olson é submetida a uma entrevista, uma espécie de anamnese, em um hospital psiquiátrico. A poesia de Faustino propõe que o corpo e a literatura são lugares de orgasmo e cura. Compreendemos que o prazer é nosso “principal referencial ético na elaboração de uma “escultura de si” onde cada pessoa constrói sua existência dando a forma e os contornos que deseja” (MATA, 2020). Neste sentido, pensamos os corpos e seus processos de cura através da literatura, pensando a literatura como extensão desses corpos (RANCIERE, 2017) e como lugar do orgasmo. Tal qual propõe a Somaterapia, procuramos fazer uma leitura do texto atentas à política do cotidiano e dos jogos de poder nas relações estabelecidas nas obras em questão. Lançamos um olhar para as três obras, compreendendo, a escrita literária, o corpo da mulher e a cura de si como potências libertárias. Referências: BOSI, Alfredo. Literatura e resistência. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. BUTLER, Judith. Relatar a si mesmo. Trad. Rogério Betonni. Belo Horizonte: Autêntica, 2015. DALCOL, Mônica Saldanha; ALÓS, Peres Anselmo. A escrita de si através do corpo: O Corpo em que Nasci, de Guadalupe Nettel. Revista Letras UFSM. DOI: https://doi.org/10.5902/2176148530834 DAVIS, Angela. Mulheres, raça e classe. Candiani, Heci Regina. São Paulo: Boitempo, 2016. DERRIDA, Jacques. Mal de Arquivo: uma impressão Freudiana. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2001. ERVIN, Lorenzo Kom’boa. Anarquismo e revolução negra. Coletivo Editorial Sunguilar: 2015. FARIA, Alexandre Graça; Penna, João Camillo; Patrocínio, Paulo R. Tonani (Org.). Modos da margem: figurações da marginalidade na literatura brasileira. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2015. FAUSTINO, Carmem. Estado de Libido: ou poesias de prazer e cura. Editora Oralituras, 2020: São Paulo. FERRERO CÁRDENAS, Inés (2009): Geografía en el cuerpo. El otro yo en El huésped, de Guadalupe Nettel, Revista de literatura mexicana contemporánea, 15.4, pp. 55-62. HAESBAERT, Rogério. Do corpo-território ao território-corpo (da Terra): contribuições decoloniais. GEOgraphia. Vol.22, n.48,2020. MATA, João da. Introdução à Somaterapia. Rio de Janeiro: Ed. Circuito, 2020. MIGLIEVICH-RIBEIRO, Adelia M.. Intelectuais, Diáspora e Cultura: por uma crítica antimoderna e pós-colonial. Mouseion, n. 12, mai-ago/2012, pp. 44-55. ISSN 198-7207. NETTEL, Guadalupe. O corpo em que nasci. Trad. Ronaldo Bressane. São Paulo: Rocco, 2013. PATROCÍNIO, Paulo R. Tonani. A volta da realidade das margens. Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, Brasília, n. 39, jan./jun., p. 57-75, 2012. PERI ROSSI, Cristina. Espaços íntimos. Tradução de Adriana Carina Camacho Álvarez. Rio de Janeiro: Gradiva, 2017. p. 13-21. PRADO, Antonio Arnoni; HARDMAN, Francisco Foot. Introdução a Contos Anarquista. In: Contos Anarquistas: antologia da prosa libertária no Brasil (1901 – 1935). Editora Brasiliense. PIVETTA, Rejane. Literatura marginal: questionamentos à teoria literária. Ipotesi, Juiz de Fora, v. 15, n. 2, esp., p. 31-39, jul./dez. 2011. RANCIÈRE, Jacques. Políticas da Escrita. São Paulo: Editora 34, 2017. REZLER, Andre. A estética Anarquista. Rio de Janeiro: Achiamé, 2000 SANTIAGO, Silviano. O cosmopolitismo do pobre: crítica literária e crítica cultural. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2004. SILVA, Manuela Parreira da. A liberdade de ser livre: poesia e anarquia. In: Anarquia e anarquismos: práticas de liberdade entre histórias de vida (Brasil / Portugal). SPIVAK, Gayatri Chakravorty. Pode o Subalterno falar? Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010. XAVIER, Elódia. Que corpo é esse? O corpo no imaginário feminino. Florianópolis: Editora Mulheres, 2007. ESTÉTICA DE RESISTÊNCIA: DISCURSO FEMININO RETIDO EM LITERATURAS DE LÍNGUA PORTUGUESA Luciana Genevan da Silva Dias Ferreira Resumo: Resumo: Processos construtivos que evidenciam resistência na arquitetura textual e na temática ficcional, contos escritos por Nélida Piñon, Orlanda Amarílis e Lídia Jorge, escritoras de literaturas de língua portuguesa, oportunizam uma abordagem crítica sobre discursos e espaços femininos enunciados e encenados na ficção do final do século XX. Analisam-se, neste estudo, os contos denominados “I Love my Husband”, contido em O calor das coisas (1980), de Piñon, “A casa dos mastros”, conto homônimo dessa obra ficcional de Amarílis, e “Marido”, narrativa presente na obra Marido e outros contos (1997), de Jorge. Essas três autoras, por meio da ficção, promovem diálogos entre questões estéticas, políticas e históricas bem como decorrentes implicações tanto de discursos (não) produzidos quanto de espaços (não) ocupados pelo feminino nesses contextos, por causa do silenciamento e da invisibilidade da mulher. Essas narrativas revelam contextos que, vivenciados por personagens ficcionais, marcam a presença de violência ideológica e também física no cotidiano da mulher, bem como na literatura de autoria feminina. A pesquisa em torno de narrativas ficcionais curtas, escritas por mulheres, justifica-se por analisar, a partir da confluência dos estudos literários, históricos e sociológicos, a construção de discursos e de espaços sobre/para o feminino, buscando pontos de interseção entre forma e conteúdo, por meio de recursos literários de contos que narram a violência do discurso feminino retido. Estudar as personagens femininas, em seu potencial de protagonistas (in)conformadas com o ambiente de atuação, possibilita uma analogia entre subjetividade e coisificação do feminino. O embasamento teórico do trabalho pauta-se, principalmente, em Simone de Beauvoir (1970), sobre o feminino, em Gayatri Spivak (2010), sobre a representação da subalternidade, em Pierre Bourdieu (2002) sobre a violência e em Alfredo Bosi (2002) sobre narrativa e resistência. Referências: AMARÍLIS, Orlanda. A casa dos mastros: contos caboverdianos. Linda-a-Velha: ALAC (COL. Africana), 1989. BEAUVOIR, Simone de. O Segundo Sexo. Fatos e Mitos, vol. I. 4. ed. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1970. BOSI, Alfredo. Narrativa e resistência. In: ___. Literatura e resistência. São Paulo: Companhia das Letras, 2002, p. 118-135. BOURDIEU, Pierre. A dominação Masculina. Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil, 2002. JORGE, Lídia. Marido e outros contos. 2. ed. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1998. PIÑON, Nélida. O calor das coisas: contos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980. SPIVAK, Gayatri Chakravorty. Pode o subalterno falar? Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010. A VIDA SILENCIADA DE EURÍDICE GUSMÃO E A VOZ PERMITIDA A INAYA Marina Gadelha Resumo: Na obra A vida invisível de Eurídice Gusmão, de Martha Batalha, encontramos uma protagonista que tem seu futuro determinado pelas decisões de seus pais e marido, que seguem um padrão de comportamento machista, no Rio de Janeiro dos anos 40 e nas décadas seguintes. No conto tradicional A viagem, recontado pela autora moçambicana Tatiana Pinto, a personagem Inaya também teria seu futuro castrado pelas decisões de seus pais, contaminados por uma (outra) sociedade machista. Mas o fato de seus dois irmãos terem deixado a aldeia faz com que seus pais permitam que a menina possa pescar e ainda, por seus irmãos não terem conseguido voltar, que ela saia à procura deles. Seu futuro passa então a ser protagonizado por ela. E, como consequência, Inaya vive experiências de autoconhecimento, vitórias e reconhecimento. Nesta apresentação, será traçado um paralelo entre as duas histórias, que começam com características bastante semelhantes, advindas da cultura patriarcal, mas que se distanciam à medida em que a protagonista moçambicana tem a possibilidade de viver sua história sem o comando de pais e/ou marido. O que não acontece com a personagem carioca de Martha Batalha, Eurídice Gusmão, que é obrigada a desistir de todos os seus sonhos, a quem só restou a resistência em continuar desejando. Referências: BATALHA, Martha. A vida invisível de Eurídice Gusmão. São Paulo, Companhia das Letras, 2016. FIGUEIRDEDO, Eurídice. Por uma crítica feminista: leituras transversais de escritoras brasileiras. Porto Alegre, Zouk, 2020. PINTO, Tatiana. A viagem. São Paulo, Kapulana, 2016. AS MÚLTIPLAS REPRESENTAÇÕES DA MULHER SÁFICA EM AMORA DE NATALIA BORGES POLESSO Milena Dias Soares Resumo: O artigo examinará a obra ganhadora do Prêmio Jabuti de 2016 na categoria Contos: Amora, de Natalia Borges Polesso. A análise busca discorrer sobre as múltiplas representações da mulher sáfica, levando em conta a pluralidade de personagens presentes em três contos: “Primeiras Vezes”, “Vó, a senhora é lésbica?” e “Flor, flores, ferro retorcido”. A partir deste trabalho, procura-se comprovar que o estereótipo acerca da mulher lésbica é antiquado e limitador e, infelizmente, ainda persistente nos dias atuais. Para isso, serão consideradas determinadas passagens do livro com distintas protagonistas e coadjuvantes, o que trará uma amostra diversificada, contudo fundamentada a partir de críticas literárias de Beatriz Resende, de Lúcia Facco e de Michèle Petit. Além disso, haverá o diálogo com Judith Butler e Tania Navarro-Swain para as reflexões sobre gênero e sexualidade. Com isso, o estudo tem como objetivo entender a relevância da representação sobre diversas personagens homoafetivas no século XXI como uma quebra de preconceitos existentes e individualização do ser homossexual, ainda mais quando se retrata o ser feminino. Outrossim, visa-se mostrar como a literatura é um mecanismo para o entendimento de si e do outro, principalmente ao tratar da temática do amor lésbico. E, assim, haverá um debate ampliado sobre histórias que fogem do imaginário coletivo sobre a mulher sáfica e suas características. Referências: BUTLER, Judith. Fundamentos contingentes: o feminismo e a questão do “pósmodernismo”. Cadernos Pagu, Campinas, SP, n. 11, p. 11–42. 2013. FACCO, Lúcia. As heroínas saem do armário: literatura lésbica contemporânea. São Paulo: Edições GLS, 2003. FIGUEIREDO, Eurídice. Por uma crítica feminista: leituras transversais de escritoras brasileiras. Porto Alegre: Zouk, 2020. NAVARRO-SWAIN, Tania. O que é lesbianismo. São Paulo: Brasiliense, 2004. PETIT, Michèle. Leituras: do espaço íntimo ao espaço público. Tradução de Celina Olga de Souza. Revisão Camila Boldrini, Fabrício Corsaletti e Nina Schipper. São Paulo: Editora 34, 2013. POLESSO, Natalia Borges. Amora. Porto Alegre: Não Editora, 2015. REZENDE, Beatriz. Estratégias literárias da primeira pessoa. In: Ieda Magri, Felipe Charbel, Rafael Gutiérrez. (Org.). Leituras do contemporâneo: literatura e crítica no Brasil e na Argentina.Belo Horizonte: Relicário, 2021. VALENTIM, J. V. “Se tem uma coisa que me deixa muito feliz é poder acordar de manhã e saber que o feminismo existe e ele está sendo debatido e falado”: entrevista com Natália Borges Polesso. Via Atlântica, [S. l.], v. 1, n. 39, p. 419-437, 2021. DOI: 10.11606/va.i39.178500. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/viaatlantica/article/view/178500. Acesso em: 21 abr. 2022. JUDITH MALINA: RESISTÊNCIAS E POEMAS Roberta Cantarela Resumo: Ler a mulher, ler a escritora, ler a revolucionária pacifista é a proposta deste trabalho, ler e conhecer Judith Malina (1926 - 2015) se faz necessário. Malina, cofundadora do grupo de teatro The Living Theatre, criado em 1947 em Nova Iorque, marcou a história das mulheres no teatro e em uma das passagens pelo Brasil foi presa pela Ditadura Militar em 1971 e expulsa do Brasil junto com outros integrantes do Living, como o seu marido Julian Beck (1925 – 1985). Desta experiência e de outras lutas, Malina, mulher judia e alemã errante construiu um legado que deve ser revisitado e a sua luta por um teatro revolucionário é emblemática, desenvolvendo um teatro anárquico e pacifista . Além de dirigir peças e atuar como atriz, Malina escreveu até findar dos seus dias, nos quase 90 anos de vida escreveu peças, fez traduções e escreveu poemas e para este trabalho, para conhecer mais a escritora Judith Malina elenca-se a seleção de alguns poemas do livro Poems of a Wandering Jewess (1984) e seus últimos poemas publicados na obra Having Loved: new poems (2015). A partir dessa seleção, olharemos para Malina poeta, a partir de olhares como das autoras mulheres Alessandra Vannucci (2015) e Beth Lobo (1999). Referências: LOBO, Beth. A vida como obra. In. Cadernos Pagu (12), 1999. p. 55-58. LOPES, Beth. A performance da memória. In: Sala Preta, Revista de Artes Cênicas, v. 9, n. 1 2009. p. 135-145 MALINA, Judith. Diário de Judith Malina: o Living Theatre em Minas Gerais. Belo Horizonte: Secretaria de Estado de Cultura / Arquivo Público Mineiro, 2008. (Arquivo do DOPS; 1) _______. Full moon stages: personal notes from 50 years of The Living Theatre. New York City: Three Rooms Press, 2015. _______. Having Loved: new poems. Oregon: Fast books, 2015. _______. Poems of a wandering jewess. Paris: Handshake, 1984. _______. The Piscator Notebook. New York: Routlegde, 2012. _______. Preface of Sophocle´s Antigone. Adaptado por Bertold Brecht. [Trad. Judith Malina]. New York: Applause Theatre & Cinema Books, 1990. 221 _______. Palestra dramática para o Fórum das Letras de Ouro Preto, datilografada [arquivo pessoal], 2011. p. 1-17 _______; BECK, Julian. Paradise Now: collective creation of The Living Theatre. New York: Random House, 1971. VANNUCCI, Alessandra. Antígona e a coragem de dizer a verdade. 2015a. Disponível em: <https://ufrj.academia.edu/Alessandra Vannucci>. Acesso 14 fev. 2017. _______. Legado de Caim. A jornada brasileira do Living Theatre (1970-71). Sala Preta, v. 15, 2015b. p. 203224. _______. O Living Theatre em Ouro Preto e a invenção dos Atos Públicos. Artefilosofia (UFOP), v. 12, 2012. p. 85-103. MÁSCARAS DUPLAS: A INVISIBILIDADE DAS AUTORAS DE FICÇÃO CIENTÍFICA NA ITÁLIA Silvia La Regina Resumo: Nos séculos, temos verificado, ao lado da conhecida invisibilidade dos tradutores, o frequente caso da invisibilidade das autoras. Neste trabalho, pretende-se examinar sumariamente a circunstância das máscaras, quase capa da invisibilidade sob as quais tiveram que se esconder algumas autoras italianas (e não só) de ficção científica até as décadas de 50 e 60 do século XX. Marren Bagels (Maria de Barba), Norah Bolton/ Beryl Norton (Bianca Nulli), Norman McKennedy (Nora de Siebert), Robert Rainbell / John Rainbell / Joe C. Karpati / Rocky Docson / Hunk Hanover/ Igor Latychev A. Robert,todos estes pseudônimos de Roberta Rambelli, (1928 – 1996), romancista, contista, tradutora, editora de revistas e organizadora de antologias que se escondeu sob numerosos pseudônimos até, finalmente, sair do armário literário e assumir sua verdadeira identidade. A prática de escrever sob falso nome era frequente na ficção cientifica italiana da época, sendo que para as autoras a máscara tinha duas camadas: fingiam ser homens e de língua inglesa. Por outro lado, o famoso autor norte-americano James Tiptree Jr. revelou só em 1977 que seu nome era, na verdade, Alice Sheldon. Temos inúmeros exemplos de escritoras que, como as irmãs Brontë, adotaram pseudônimos masculinos, mas, ainda no século XX, a exclusão, especificamente num gênero literário como a ficção científica, não canônico e à época considerado “menor” (assim como os romances policiais e infanto-juvenis), evidencia o silenciamento da escrita feminina e ao mesmo tempo a luta subterrânea, irônica e transgressiva de autoras em busca de sua voz e sua identidade num meio quase que exclusiva e rançosamente masculino. Referências: (esta lista é básica, a ser integrada por numerosos outros textos) ECO, U. Il superuomo di massa. Retorica e ideologia nel romanzo popolare. Milano: La nave di Teseo, 2016. RAMBELLI, R. Il ministero della felicità. Galassia n.162. Padova: La Tribuna, 1972. SODRÉ, M. Best seller: a literatura de mercado. 2. ed. São Paulo: Ática,1988. VALENTINI, E (a cura di). Materia oscura. Delos digital, 2017. VANDERMEER, A. & J. Le visionarie: fantascienza, fantasy e femminismo. Trad. E Carbè et aliae. Roma: Produzioni Nero, 2018. WOOLF, V. Um teto todo seu. Tradução Vera Ribeiro. 2ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. A POTÊNCIA CRIATIVA DE ALCIPE, A MARQUESA DE ALORNA Thayane Alves Guerra Sant'anna Resumo: Um dos mais importantes nomes da Literatura de autoria feminina de Língua Portuguesa, escritora que transgrediu costumes sociais impostos a seu gênero e impactou o cenário cultural com sua poesia e sua vida, vem, recentemente, recebendo maior atenção em prol de ocupar devida posição de destaque na historiografia literária. Trata-se de D. Leonor de Almeida Portugal Lorena e Lencastre (1750-1839), mais conhecida pelo título de Marquesa de Alorna ou, entre os poetas portugueses, pelo nome de Alcipe. Filha de uma ilustre família portuguesa, os Marqueses de Alorna e Condes de Assumar, e neta dos Távoras, sua origem nobre lhe custou anos de privação de liberdade e profunda melancolia, durante clausura no convento de Chelas, sob ordem política e tirânica do Marquês de Pombal. No entanto, fora nesses mesmos anos que, dedicando-se ao estudo e à atividade literária, a jovem desenvolveu uma rara erudição e começou a escrever. Através de suas poesias, que fugiam aos moldes do gosto paterno e da crítica, Leonor racionalizava e materializava os sentimentos acerca de sua realidade. É esse aspecto que o presente trabalho busca evidenciar: as faces de uma pulsão poética criativa como símbolo de resistência, possibilitando não só a formação de uma talentosa escritora, mas como de um caráter humanista e vivaz. Características que, após estadia em outros países da Europa, atividade política e participação em notáveis círculos sociais, viriam a ser comprovadas com a Marquesa de Alorna circulando em espaços majoritariamente masculinos e tornando-se figura influente no centro da vida lisboeta. Referências: ALORNA, Marquesa de. Obras Poeticas de D. Leonor d’Almeida Portugal Lorena e Lencastre, Marqueza d’Alorna, Condessa d’Assumar e d’Oeynhausen, conhecida entre os poetas portuguezes pello nome de Alcipe, VI volumes, Lisboa, Na Imprensa Nacional, 1844-1851. ANASTÁCIO, Vanda. Mulheres varonis e interesses domésticos. Lisboa, 2005. ANASTÁCIO, Vanda. Sonetos – Marquesa de Alorna. Rio de Janeiro: 7Letras, 2007. CIDADE, Hernâni. A Marquesa de Alorna. Sua vida e obras. Reprodução de algumas cartas inéditas. Porto: Companhia Portuguesa Editora, 1933. FREUD, Sigmund. Além do Princípio do Prazer. Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud, volume XVIII. Rio de Janeiro: Imago, 1996. FREUD, Sigmund. (1996b). Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, volume VII. Rio de Janeiro: Imago. MASSAUD, Moisés. A literatura portuguesa. São Paulo: Cultrix, 2013. JÚLIA LOPES DE ALMEIDA: A QUEBRA DOS PARADIGMAS SOCIAIS IMPOSTOS PELO MATRIMÔNIO ATRAVÉS DO ADULTÉRIO FEMININO Viviane Arena Figueiredo, Leandro Trindade Pinto Resumo: Silenciar. Esse verbo que, isoladamente, pode não conter uma importância em sua abrangência, tornou-se um agregador de significado, principalmente quando se trata dos estudos e pesquisas sobre Literatura de autoria feminina. Nesse sentido, não podemos esquecer as mulheres que usaram a Literatura como um subterfúgio para romperem esse silenciamento, emprestando as suas personagens voz e atitude para denunciarem as relações de gênero desiguais presentes na sociedade. Júlia Lopes de Almeida foi uma dessas mulheres que, além de viver profissionalmente de sua escrita, em um universo essencialmente masculino, conseguiu trazer à tona, através da sua obra, a segregação social presente dentro dos lares, principalmente na transição entre os séculos XIX e XX. Não por acaso, a epígrafe de abertura de seu segundo livro de contos, Ânsia eterna, publicado em 1903, remete-se ao Livro de Jó: “Quem poderá conter a palavra concebida?”. É partindo dessa assertiva que se pretende trabalhar um tema de grande recorrência na obra de Júlia Lopes de Almeida – o casamento por conveniência que gera, como uma consequência da insatisfação conjugal, o adultério feminino. Nota-se nas narrativas produzidas por Júlia, que suas personagens cogitam renunciar a uma reputação incontestável, a fim de poderem viver livremente suas ilusões e seus verdadeiros amores, demonstrando sentimentos e percepções possivelmente inconcebíveis de serem revelados na época em que tais textos foram publicados. Sendo assim, essa pesquisa dedica-se a fazer uma incursão pela obra de Júlia Lopes de Almeida, onde são citados e narrados episódios nos quais o adultério feminino torna-se uma forma de resistência contra o próprio padrão de desigualdade, principalmente àqueles existentes dentro do casamento, imposto à mulher pela sociedade da virada do século XIX e XX. Referências: ALAMBERT, Zuleika. A mulher na história: a história da mulher. São Paulo: T. A. Queiroz, 1998. ALMEIDA. J. L. A Fallencia. Rio de Janeiro. Officina de Obras d’A Tribuna. 1901. ALMEIDA. J. L. Ancia Eterna. Rio de Janeiro. H. Garnier. 1903. ALMEIDA, Júlia Lopes de. Eles e Elas. 2 ed. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1910. ALMEIDA, J. L. Cruel Amor. Rio de Janeiro. Livraria Francisco Alves. 1913. ALMEIDA, Júlia Lopes de. A Silverinha (Crônica de um verão). Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1914. ALMEIDA, Júlia Lopes de. A família Medeiros. Rio de Janeiro: Empresa Nacional de Publicidade, 1919. ALMEIDA, J. L. Espólio familiar de Júlia Lopes de Almeida. Rio de Janeiro, 2014; COELHO, N. N. Dicionário Critico de Escritoras Brasileiras. São Paulo: Escrituras, 2002. KOSOVSKI, Éster. Adultério . Rio de Janeiro: Codecri, 1983. SAMARA, Eni de Mesquita. As mulheres, o poder e a família. São Paulo, século XIX . São Paulo: Editora Marco Zero e Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, 1989. SORJ, Bila. Percepções sobre esferas separadas de gênero. In: Araújo, Clara; Scalon, Celi (Org.) Gênero, família e trabalho no Brasil. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2005. TELLES, Norma. Fragmentos de um mosaico: escritoras brasileiras no século XIX . Labrys estudos feministas. Rio de Janeiro, 2005. Disponível em < http://www.labrys.br > acesso em 17 fev. 2016. TELLES, N. Escritoras, escritas e escrituras. In: DEL PRIORI, M. (org) História das mulheres no Brasil. 3ª ed. São Paulo: Contexto, 2000. YALOM, Marilyn. A história da esposa: da Virgem Maria a Madonna: o papel da mulher casada dos tempos bíblicos até hoje . Trad. Priscilla Coutinho. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002. SIMPÓSIO “ESPAÇO E LUGAR NAS LITERATURAS AFRICANAS: NECESSÁRIAS CONTRIBUIÇÕES AOS ESTUDOS LITERÁRIOS” Janice Ines Nodari (UFPR), João Pedro Wizniewsky Amaral (UFCG), Mônica Stefani (UFSM) O ENTRELUGAR DE ESCRITORES AFRICANOS : REFLEXÕES COMPARATISTAS A PARTIR DE "BY THE SEA" , DE ABULRAZAK GURNAH E "LA PLUS SECRÈTE MÉMOIRE DES HOMMES" DE MOHAMED MBOUGAR SARR Christian Marie Victor Simon Dutilleux Resumo: Nunca antes de 2021, dois escritores africanos ganharam, no mesmo ano, o Prêmio Nobel de literatura, atribuído ao tanzaniano Abulrazak Gurnah e o prêmio Goncourt (maior prêmio literário na língua francês) atribuído ao senegalês Mohamed Mbougar Sarr. Mesmo assim, até agora nenhuma das obras aqui citadas foi traduzida para o português e lançada no Brasil (Gurnah só tem um livro em português, “Sobrevidas”, ambientada no início do século XX, época da colonização alemã da Tanzânia). Por enquanto, os autores premiados no exterior foram negligenciados pelas editoras brasileiras. Esse situação não parece fortuita e pode ser um sintoma da espessa camada de preconceitos que cercam autores de um território divididos em 54 países, quatro vezes maior que o Brasil e cujas personalidades destacadas são em geral identificadas pelo nome do continente, são africanos - enquanto nenhum brasileiro quer ser chamado de americano-. São africanos, de origem distante, cujos personagens vivem sua condição de africano no exilo sob o escrutino de descendentes dos colonizadores dos seus países, respectivamente ingleses e franceses. Como escritores, eles manuseiam com raro talento a língua dos antigos colonos, ocupando-as, desestabilizando-as, refrescando-as. E essa(s) língua (s) assim domada(s) lhes abre um imenso território de recepção de suas obras. Ao mesmo tempo, suas personagens -numa convergência que tentaremos decifrar na nossa comunicaçãovivem uma relação problemática, tensa, dolorosa ao território que lhes acolhem e um mal estar no seu sentimento de pertencimento, seja na terra de origem, seja no lugar de vida, que faz lembrar o conceito de entrelugar de Silviano Santiago. Referências: Mbougar Sarr, Mohamed, La plus secrète mémoire des hommes, ed. Philippe Rey et Jimsaan, Paris 2021 Gurnah, Abdulrazak, By the Sea, New Press ed. , New York 2001. DE LÍQUIDOS DESERTOS E SECOS NAUFRÁGIOS: A CRISE AMBIENTAL NA LITERATURA DE JOÃO PAULO BORGES COELHO Gabriela Beduschi Zanfelice Resumo: Esta comunicação visa analisar as obras Índicos Indícios (2005) e Ponta Gea (2017) de João Paulo Borges Coelho. A hipótese é que há um forte diálogo, por parte dessa literatura, com problemáticas engendradas pela crise ambiental global, e que tais problemáticas encontram-se especialmente refletidas nas representações literárias do oceano Índico nas narrativas. Casos exemplares a esse respeito são, entre outros, o desaparecimento do mar na baía de Maputo em “A força do mar de agosto” (Borges Coelho, 2005, pp. 123-140) – onde a desertificação do mar representa, por um lado, uma ameaça violenta à sobrevivência de pescadores e dos habitantes da ilha da Inhaca e da costa moçambicana e, por outro lado, uma oportunidade de “desenvolvimento” e expansão de capital para um Governo abertamente neoliberal –; e a inundação da Beira apresentada em Ponta Gea (2017), que remete aos cada vez mais frequentes desastres “naturais” e aos ritmos de secas e enchentes que vêm atingindo Moçambique no século XXI. Busca-se, com isso, analisar como ambas as obras lidam com a questão do oceano Índico, seja através de temáticas explícitas ou como pano de fundo sutil, de forma a realizar uma leitura que busque identificar os pontos que fornecem uma abertura interpretativa para uma reflexão sobre a relação entre o espaço nacional moçambicano e o oceano Índico e a interação entre ambiente humano e natureza, onde o oceano Índico desempenha um papel emblemático. A argumentação crítica passa por uma atenção especial às representações simbólicas do elemento água e também às suas características materiais; e ao caráter inovador da escrita de Borges Coelho em desafiar ideais de “desenvolvimento” e “progresso”, bem como às limitações de quadros restritos a categorias terrestres e a fronteiras políticas. Referências: BORGES COELHO, João Paulo. Índicos Indícios: Setentrião. Lisboa, Editorial Caminho, 2005a. BORGES COELHO, João Paulo. Índicos Indícios: Meridião. Lisboa, Editorial Caminho, 2005b. BORGES COELHO, João Paulo. Ponta Gea. Lisboa, Editorial Caminho, 2017. CAMPBELL, Gwyn. Africa and the Indian Ocean World from early times to circa 1900. Nova York, Cambridge University Press, 2019. DELOUGHREY, Elizabeth; HANDLEY, George B. Postcolonial ecologies: Literatures of the environment. Nova York: Oxford University Press, 2011. FALCONI, Jessica. "Leituras ecocríticas de João Paulo Borges Coelho". Mulemba, v. 10, n. 18, 2018. HUGGAN, Graham; TIFFIN, Helen. Postcolonial ecocriticism: Literature, animals, environment. Londres e Nova York: Routledge, 2015. MARQUES, Luís. Capitalismo e colapso ambiental. Campinas: Editora Unicamp, 2018. DESCOLONIZAR MENTES PARA REPENSAR O ESPAÇO E O LUGAR DA LITERATURA AFRICANA: ALGUNS PONTOS A PARTIR DA LEITURA E TRADUÇÃO DE GLOBALECTICS DE NGUGI WA THIONG'O Janice Ines Nodari Resumo: A produção literária do queniano Ng?g? wa Thiong’o, em especial seus ensaios, tem sido objeto de muitas pesquisas na área de estudos pós-coloniais. Também tem sido alvo de constantes críticas (vide GIKANDI, 2009, KUNENE, 1992, por exemplo) e a maioria dessas críticas se origina no fato de tal produção estar disponibilizada em língua inglesa, a língua do antigo colonizador. A presente comunicação objetiva levantar alguns pontos em defesa por essa escolha, ao mesmo tempo que trará contribuições do escritor tendo por base seu ensaio Globalectics (2012). Será, ainda, ressaltada a importância da oratura (THIONG’O, 2012) e da autotradução (BANDÍN, 2003), consideradas ferramentas a partir das quais o escritor faz repensar o espaço ocupado pela literatura africana no cenário mundial e a importância da literatura queniana no cenário local africano. A oratura e a autotradução permitem que a memória tanto coletiva quanto individual do passado colonial (ELKINS, 2014) seja continuamente revisitada e atualizada. Além disso, a influência e a importância de Thiong’o para os estudos africanos e para os estudos pós-coloniais (ASHCROFT; GRIFFITHS & TIFFIN, 2013), principalmente, é inegável e sua defesa pela oratura e pela valorização da língua e da memória de sua etnia encontra terreno fértil nos estudos culturais e na interdisciplinaridade que pode ser estabelecida entre literatura e outras áreas do saber, como a geografia humanista (TUAN, 2013), por exemplo. Referências: ASHCROFT, Bill; GRIFFITHS, Gareth; TIFFIN, Helen. (Eds.). Postcolonial Studies. The Key Concepts. 3rd ed. London, New York: Routledge, 2013. BANDÍN, Elena. The Role of Selftranslation in the Decolonisation Process of African Countries. Universidade de León, 2003, p. 3553. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/283237317_The_role_of_selftranslation_in_the_colonisation_process_of_african_countries. Acesso em: 13 jan 2018. ELKINS, Caroline. Britain’s Gulag. The brutal end of empire in Kenya. London: The Bodley Head, 2014. GIKANDI, Simon. Cambridge Studies in African and Caribbean Literature. Ng?g? wa Thiong’o. Cambridge: Cambridge University Press, 2009. KUNENE, Mazisi. “Problems in African Literature”. In Research in African Literatures, 23 (1), 1992, p. 27-44. THIONG’O, Ngugi wa. Globalectics. Theory and the Politics of Knowing. New York: Columbia University Press, 2012. TUAN, Yi-Fu. Espaço e Lugar. Trad. Lívia de Oliveira. São Paulo: DIFEL, 2013. O ESPAÇO COMO SÍMBOLO DE (AUTO-)CONSCIÊNCIA EM BOYHOOD, DE J. M. COETZEE João Pedro Wizniewsky Amaral Resumo: Boyhood é o primeiro volume da série Scentes from Provincial Life, uma trilogia “outrobiográfica” escrita pelo sul-africano J. M. Coetzee. A obra foi publicada em 1997 e é considerada uma outrobiografia porque Coetzee escreve sobre si como se fosse um outro: embora o protagonista tenha o mesmo nome de Coetzee e dados factuais coincidam com os da vida do autor, o romance é narrado em terceira pessoa no tempo presente. Em Boyhood, o protagonista, o menino John Coetzee, começa a entender a si mesmo dentro do regime do apartheid em uma conflituosa África do Sul durante a década de 1950. Essa autodescoberta não é feita por meio de uma narrativa de ensino ou uma narrativa racional, mas através de impressões vívidas do protagonista. Um dos elementos chave para esta narrativa é o espaço, pois há uma relação íntima e conflituosa deste com o protagonista. Este trabalho, então, tem como objetivo analisar de que modo o espaço opera em Boyhood como uma representação da percepção do menino quando ele começa a perceber as mazelas do regime do apartheid na África do Sul da década de 1950. Como referencial teórico, nós consideramos estudos sobre espaço e lugar, conduzidos por Yi-Fu Tuan (2012; 2015); sobre espaço nos estudos literários, por Silvana de Oliveira e Luis Santos (2001); e sobre estudos pós-coloniais, por Ng?g? wa Thiong’o (1986). Referências: ATTRIDGE, Derek. Coetzee and the Ethics of Reading: Literature in the Event. Chicago: University of Chicago Press, 2004. COETZEE, J. M. Boyhood. London: Penguin, 1997. OLIVEIRA, Silvana; SANTOS, Luis Alberto. Sujeito, tempo e espaço ficcionais: introdução à teoria da literatura. São Paulo: Martin Fontes, 2001. THIONG’O, N. wa. Decolonising the Mind: The Politics of Language in African Literature. London: Routledge, 1986. TUAN, Y-F. Espaço e Lugar. Trad. Lívia de Oliveira. São Paulo: DIFEL, 2013. _____. Topofilia. Trad. Lívia de Oliveira. São Paulo: DIFEL, 2012. O ESPAÇO EM FUNCIONAMENTO: UMA BREVE ANÁLISE DAS PERCEPÇÕES DE RASHID EM "DESERTION" DE ABDULRAZAK GURNAH Mônica Stefani Resumo: "Desertion" foi escrito pelo atual detentor do prêmio Nobel de Literatura, Abdulrazak Gurnah, em 2005, e explora de modo profundo o tema das relações coloniais entre a África (Zanzibar) e o Império Britânico na primeira metade do século XX. Este trabalho enfoca as percepções do narrador do romance, Rashid, quando confrontado com sua mudança da colônia para a metrópole (isto é, Londres), seguindo sua própria adaptação em um novo mundo, enquanto parece demonstrar, em seu âmago, um senso de impotência por estar ausente de sua terra natal e longe de sua família, que ali permanece e testemunha os desdobramentos das fortes transformações sociais que ocorrem de forma um tanto rápida. Observamos, pelos comentários de Rashid (por exemplo, em relação à neve, à nova paisagem que se revela para ele pela janela do avião enquanto sobrevoa Londres), como o espaço - seguindo a teoria de Tuan (2012, 2013) - determina e influencia não apenas diferentes perspectivas, mas principalmente a identidade (HALL, 2000) e a atitude do personagem. Conforme sugerido pelo próprio título do romance, Rashid é aquele que deserta e nos conta sua história, logo, estamos mais próximos de sua situação e de seus dilemas, o que pode ser usado para alcançar mais um objetivo deste trabalho: abrir caminho para um processo de descolonização (WA THIONG'O, 1986), que tem se mostrado cada vez mais necessário nos últimos tempos. Referências: HALL, S. “Quem precisa de identidade?”. In: TADEU, Tomaz da Silva (org.) Identidade e diferença - A perspectiva dos Estudos Culturais, organizado por Tomaz Tadeu da Silva, Vozes, Petrópolis, 2000. TUAN, Yi-Fu. Espaço e Lugar: a perspectiva da experiência. Tradução: Lívia de Oliveira. 2. ed. Londrina: Eduel, 2013. _____. Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente. Tradução: Lívia de Oliveira. 2ª ed. Londrina: Eduel, 2012. _____ . Paisagens do medo. Tradução: Lívia de Oliveira. 1ª ed. São Paulo: UNESP, 2005. THIONG’O, N. wa. Decolonising the Mind: The Politics of Language in African Literature. London: Routledge, 1986. ABANDONO A CIDADE, FAÇO A VIAGEM, REGRESSO AO CHÃO: DIÁLOGOS ENTRE MEMÓRIA E ESPAÇO EM "UM RIO CHAMADO TEMPO, UMA CASA CHAMADA TERRA", DE MIA COUTO Susane Martins Ribeiro Silva Resumo: Visto como um representante significativo da literatura moçambicana (africana de expressão portuguesa), Mia Couto promove, em suas composições literárias (principalmente na prosa), reflexões a respeito do passado e do presente, enfatizando vivências individuais e coletivas em lugares afetivos. A partir dessa perspectiva, observa-se com atenção a obra Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra, deste escritor moçambicano, a partir da maneira como o sujeito (narrador) encara os espaços de vivências passadas (infância) após um período distante de sua terra natal, cujo elo entre a ressignificação das pessoas e dos espaços fundamenta-se na experiência desse sujeito (narrador) com indivíduos e acontecimentos do passado em seus lugares de convívio. Essa proposta tem como base fundamental para a leitura e análise do corpus os estudos relacionados à memória a partir da experiência, considerando as perspectivas de Benjamin (2012) e Gagnebin (1994; 2009), e, a respeito do espaço ficcional, destaca-se as considerações de Bachelard (2005), Brandão (2013) e Blanchot (1987), estabelecendo assim as relações com os espaços ressignificados tanto pelo exercício mnemônico (espaços de memória) quanto pelo presente da rememoração (regresso à terra natal). A partir de tais premissas, adota-se para o melhor desenvolvimento da pesquisa proposta o método teórico- investigativo, visando a leitura desta obra a partir do olhar da memória e do espaço, dando enfoque nas experiências desse indivíduo com pessoas de seus meios sociais afetivos. Referências: BACHELARD, Gaston. A poética do espaço. Trad. Antonio de Pádua Danesi. São Paulo: Martins Fontes, 2005. BENJAMIN, Walter. Experiência e pobreza. In: Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. Trad. Sérgio Paulo Rouanet. 8. ed. revista. São Paulo: Brasiliense, 2012. __________. O narrador: considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. In: Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. Trad. Sérgio Paulo Rouanet. 8. ed. revista. São Paulo: Brasiliense, 2012. BLANCHOT, Maurice. O espeço literário. Trad. Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Rocco, 1987. BRANDÃO, Luís Alberto. Teorias do espaço literário. São Paulo: Perspectiva, 2013. COUTO, Mia. Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. GAGNEBIN, Jeanne Marie. História e narração em Walter Benjamin. São Paulo: Perspectiva, 1994. ___________. Lembrar escrever esquecer. 2. ed. São Paulo: Editora 34, 2009. SIMPÓSIO “ESTRATÉGIAS DO FEMININO: LITERATURA ESCRITA POR MULHERES E RESISTÊNCIA” Laura Barbosa Campos (UERJ), Anna Faedrich (UFF), Silvina Carrizo (UFJF) O CORRER DA PENA VERSUS A REFLEXÃO EM ELES E ELAS (1910), DE JÚLIA LOPES DE ALMEIDA Ana Carolina Sa Teles Resumo: Em crônica de 31 de outubro de 1911 em O Paiz, Júlia Lopes de Almeida declara sua surpresa a respeito da desclassificação do livro Eles e elas do concurso literário da Academia Brasileira de Letras. O livro teria sido excluído por um membro pelo motivo de não se enquadrar no gênero de literatura ficcional, mas sim no de crônicas jornalísticas (ALMEIDA, 1911, p. 1). Almeida critica a decisão no âmbito do concurso, bem como argumenta sobre a diferença entre o estatuto da crônica, escrita de ocasião, e o registro reflexivo do livro Eles e elas: “O meu livro, portanto, poderia ser considerado – ensaios de psicologia – ou, se acham pretencioso – ensaios literários”. (1911, p.1). Eles e elas enfeixa diálogos e monólogos anteriormente publicados nas colunas de O Paiz, sob as rubricas “Reflexões de uma esposa” e “Reflexões de um marido”. Do ponto de vista de personagens femininas, as cenas breves desenvolvem observações de uma vida dedicada ao marido e à casa. Essas mulheres ficcionais da virada do século se submetem não apenas à exclusão da esfera pública, mas também a uma série de restrições na esfera privada. O objetivo da comunicação é contrastar o tema da emancipação feminina em trechos de crônicas selecionados de Júlia Lopes de Almeida – a começar pela própria crônica de 31 de outubro de 1911 em Dois dedos de prosa – e a figuração da claustrofobia nos mundos domésticos e imaginários de Eles e elas. A relação entre a literatura e a imprensa será referida a partir de ensaios de Lúcia Granja (2015) e Marie-Ève Thérenty (2011, 2015). Para o debate sobre teoria de gênero, retoma-se Judith Butler ([1998] 2019). Por sua vez, Virginia Woolf ([1928] 2014), Zahidé Lupinacci Muzart (2003) e Peggy Sharpe (2004) são referências sobre o papel de escritoras. Referências: ALMEIDA, Júlia Lopes de. Dois dedos de prosa, Rio de Janeiro, O Paiz, 31 de outubro de 1911. ______. Eles e Elas. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1910. ______. Jornada no meu país – “relato de uma viagem ao sul do Brasil em 1918”. [ilustrações de Albano Lopes de Almeida]. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1920. BUTLER, Judith. “Atos performáticos e a formação dos gêneros: um ensaio sobre fenomenologia e teoria feminista”. In: HOLLANDA, Heloísa Buarque de (org.). Pensamento feminista: conceitos fundamentais. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2019, pp. 213-230. GRANJA, Lúcia. “Poética e espaço: dos jornais às telas (Machado de Assis)”. In: Miscelânea, Assis, v. 18, p. 21-36, jul.-dez. 2015. Disponível em: https://seer.assis.unesp.br/index.php/miscelanea/article/view/74/73. Acesso em: 01/05/2022. KALIFA, Dominique, THÉRENTY, Marie-Ève et al. La civilisation du journal: histoire culturelle et littéraire de la presse française au XIXe siècle. Paris: Nouveau monde, 2011. MUZART, Zahidé L. (org.). “Uma espiada na imprensa das mulheres no século XIX”. Revista Estudos Feministas, 2003, vol. 11, pp. 225-233. SHARPE, Peggy. "Júlia Lopes de Almeida". Escritoras brasileiras do século XIX: antologia. Florianópolis: Editora Mulheres; Santa Cruz do Sul; EDUNISC, V. 2, 2004. THÉRENTY, Marie-ÉVE. Escrever folhetins e continuar brasileiro é realmente difícil? O folhetim de crônica parisiense como matriz do jornalismo literário no século XIX. In: ANDRIES, Lise e GRANJA, Lucia (orgs.). Literaturas e escritas da imprensa: Brasil-França. Campinas; São Paulo: Mercado de Letras, 2015. WOOLF, Virginia. Um teto todo seu. São Paulo: Tordesilhas, 2014. Edição Kindle. ESCRITORAS BRASILEIRAS CONTEMPORÂNEAS E A CONCEPÇÃO DA MATERNIDADE Ana Carolina Schmidt Ferrão Resumo: Inúmeras vezes a representação da personagem mulher na literatura corresponde a uma série de estereótipos, que se encarregam de garantir o controle e a opressão de sua voz, seu corpo e sua subjetividade, inserindo-a num padrão imposto socialmente. Nesse sentido, a figura da mãe é historicamente configurada sob um viés idealizado, santificado e — como todo estereótipo — limitante. Inserido nesse debate, o presente trabalho busca analisar os contos Miniaturas, de María Elena Morán, Sob a pele abissal das pedras rúnicas, de Julia Dantas e Suíte das Obras, de Giovana Madalosso, no intuito de observar como a Literatura Brasileira Contemporânea escrita por mulheres aborda a maternidade e a mãe, pois como afirma Dalcastagnè (2010, p. 42), "O termo chave, nesse conjunto de discussões, é "representação", que sempre foi um conceito crucial dos estudos literários, mas que agora é lido com maior consciência de suas ressonâncias políticas e sociais". As obras serão lidas a partir de um aporte teórico que sustente o estudo de temas como subjetividade, estereótipo, identidade, papéis de gênero, através de autores como Elisabeth Badinter, Judith Butler, Stuart Hall, Homi Bhabha e Pierre Bourdieu. Observando as características, semelhanças e rupturas na elaboração da personagem mãe, no intuito de constatar a ruptura com a representação sacralizada, fixa e desumanizante da maternidade. Referências: BHABHA, Homi K. O local da cultura. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2013. BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina: a condição feminina e a violência simbólica. Rio de Janeiro: BestBolso, 2017. BORGES, Maria de Lourdes. O corpo: o lugar contraditório do feminino. In: BORGES, Maria de Lourdes; Tiburi, Márcia. (Orgs.) Filosofia: machismos e feminismos. Florianópolis: Ed. da UFSC, 2016. BRANCO, Lucia Castello. BRANDÃO, Ruth Silviano. A mulher escrita. Rio de Janeiro: Lamparina, 2004. BRANDÃO, Ruth Silviano. Mulher ao pé da letra: a personagem feminina na literatura. Belo Horizonte: Editora UFGM, 2006. DALCASTAGNÈ, Regina. Representações restritas: a mulher no romance brasileiro contemporâneo. In: DALCASTAGNÈ, Regina; LEAL, Virgínia Maria Vasconcelos. (Orgs.) Deslocamentos de gênero na narrativa brasileira contemporânea. São Paulo: Editora Horizonte, 2010 DOS SANTOS, Magda Guadalupe. O feminismo na história: suas ondas e desafios epistemológicos. In: BORGES, Maria de Lourdes; Tiburi, Márcia. (Orgs.) Filosofia: machismos e feminismos. Florianópolis: Ed. da UFSC, 2016. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2004. TÍTULO: VIOLÊNCIA, SILÊNCIO E RESISTÊNCIA EM NARRATIVAS ESCRITA POR MULHERES: ADRIANA LISBOA, CAROLA SAAVEDRA E PALOMA VIDAL Ana Claudia Coelho Resumo: Esta comunicação propõe apresentar um estudo em andamento sobre violência, silêncio e resistência a partir das obras Sinfonia em Branco, de Adriana Lisboa (2001), Com Armas Sonolentas, de Carola Saavedra (2018) e Mar Azul, de Paloma Vidal (2008). Observam-se na tessitura narrativa aspectos vivenciados no cotidiano das personagens femininas que provocam o sofrimento, impasses e submissão, ou seja, aflições provocadas pela violência. Sobreviventes da crueldade, as personagens narram suas experiências a partir de suas memórias, que por alguma razão não as deixam esquecer que tiveram suas vidas destroças pela violência, contam seus traumas e como enfrentaram a dor causada pela solidão, pelo abandono, pela culpa e pela tristeza, efeitos das dificuldades existenciais, sociais e culturais que enfrentam por consequência de certo coeficiente provocado pelo medo (in)voluntário. Para abordar aspectos da memória, o estudo se pauta em Lembrar escrever esquecer de Jeanne Marie Gagnebin (2006) e, para ponderar a resistência cultural e política, a pesquisa se pauta em Literatura e resistência de Alfredo Bosi (2002) para analisar a violência em obras de autoria feminina, o trabalho aborda estudos de Eurídice Figueiredo em Por uma crítica feminista: leituras transversais de escritoras brasileiras (2020), Ana Paula Araújo em Abuso: A cultura do estupro no Brasil (2020) e Patrícia K. Grossi em Violências e Gênero, coisas que a gente não gostaria de saber (2012). Referências: Araújo, Ana Paula. Abuso: A cultura do estupro no Brasil (2020) Bosi, Alfredo. Literatura e resistência (2002) Figueiredo, Eurídice. Por uma crítica feminista: leituras transversais de escritoras brasileiras (2020) Gagnebin, Jeanne Marie. Lembrar escrever esquecer (2006) Grossi, Patrícia K. Violências e Gênero, coisas que a gente não gostaria de saber (2012). DE FENÔMENOS LITERÁRIOS A DESCONHECIDAS: QUEM SÃO AS ESCRITORAS MODERNISTAS BRASILEIRAS? Anna Faedrich Resumo: Pouco se fala da presença de mulheres no Modernismo brasileiro. Anita Malfatti e Tarsila do Amaral — duas grandes artistas, cujos talentos são inegáveis — são, frequentemente, os únicos nomes lembrados. Apesar de sabermos, hoje, da existência de inúmeras pintoras e escultoras que atuaram entre o Segundo Reinado e a Primeira República (SIMIONI, 2019; CARVALHO, 2021), pouco se fala delas. Na literatura, não foi diferente. Escritoras que poderiam ser consideradas “pré-modernistas” ou modernistas não constam nos manuais de literatura brasileira. O que se sabe da atuação das mulheres na nossa Belle Époque? O que elas produziram, qual a contribuição e repercussão de suas obras? Quem são as escritoras modernistas? Passados cem anos, a festa em torno do Modernismo brasileiro conta com a revisitação de outras vertentes do movimento no Brasil; as críticas ao predomínio da estética paulista nas histórias e manuais de literatura, à hegemonia da corrente paulista e ao machismo excludente; e a redescoberta de notáveis escritoras injustamente à sombra da profusão de nomes masculinos. Julia Lopes de Almeida (1862-1934), Chrysanthème ou Cecília Bandeira de Mello Rebelo de Vasconcelos (1870-1948), Albertina Bertha (1880-1953), Maria Lacerda de Moura (1887-1945), Ercília Nogueira Cobra (1891-?), Gilka Machado (1893-1980) e Patrícia Galvão ou Pagu (1910-1962) são alguns nomes que vêm recebendo destaque e reedições importantes. Referências: ALMEIDA, Julia Lopes. A falência. Posfácio de Anna Faedrich. Ilustrações de Juliana Grünhaüser. São Paulo: Campos Editora, 2021. ANDRADE, Carlos Drummond de. Gilka, a antecessora. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, p. 7, 18 dez. 1980. CARVALHO, Isabel. Aula 2. Minicurso “Mulheres Artistas no Modernismo Brasileiro”. Youtube, 14 fev. 2021. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Y02_13tRJLg. Acesso em: 23 jul. 2021. CASTRO, Ruy. Metrópole à beira-mar: o Rio moderno nos anos 20. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. COBRA, Ercília Nogueira. Virgindade inútil e anti-higiênica. Estudos e notas de Imaculada Nascimento. Belo Horizonte: Editora Luas, 2021. CHRYSANTHÈME. Enervadas. Posfácio de Beatriz Resende. São Paulo: Carambaia, 2019. ELEUTÉRIO, Maria de Lourdes. “Elas eram muito modernas”. In.: ANDRADE, Gênese (Org.). Modernismos 1922-2022. São Paulo: Companhia das Letras, 2022, p. 241-263. GENS, Rosa. “Cecília Vasconcelos e as modernas mulheres: a figuração de Chrysanthème”. In: Anais eletrônico do XV encontro ABRALIC 19 a 23 de setembro 2016: experiências literárias textualidades contemporâneas. Rio de Janeiro: Dialogarts, 2016, p. 11121119. MOURA, Maria Lacerda. Amai e... não vos multipliqueis. Posfácio de Mariana Patrício Fernandes. São Paulo: Chão Editora, 2022. PEREIRA, Lúcia Miguel. História da Literatura Brasileira: prosa de ficção (de 1870 a 1920). Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1988. RESENDE, Beatriz. “As malcomportadas moças dos anos 1920”. In: CHRYSANTHÈME. Enervadas. Posfácio de Beatriz Resende. São Paulo: Carambaia, 2019, p. 153-164. SIMIONI, Ana Paula Cavalcanti. Profissão artista: pintoras e escultoras acadêmicas brasileiras. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo/Fapesp, 2019. A PRESENÇA DA FICCIONISTA JÚLIA LOPES DE ALMEIDA NO SUPORTE LITERÁRIO DO SÉCULO XIX - JORNAL DIÁRIO DE NOTÍCIAS Camila Néo Corrêa Resumo: A imprensa foi um dos principais suportes para divulgar os textos literários no século XIX. A novidade chegou no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro e nas demais províncias, como em Belém, cidade com um número expressivo de periódicos. Entre esses jornais, nossa atenção se dirige para o Diário de Notícias, periódico de grande destaque entre o público paraense, que circulou de 1881 a 1898. O exemplar é um dos maiores representantes de publicação de textos literários no século XIX, que circulou na capital paraense por mais de uma década e meia. Além de apresentar em suas páginas textos noticiosos, fizeram-se presentes textos literários de autores consagrados da nossa literatura entre os quais destacavam-se: Arthur Azevedo, Coelho Neto, Machado de Assis, Júlia Lopes de Almeida, entre outros. Nosso trabalho objetiva frisar como a mídia – periódico foi uma ferramenta valorosa no processo de divulgação dos escritos literários femininos em meio social, entre eles destacam-se os textos em prosa publicados por Júlia Lopes de Almeida no jornal Diário de Notícias. Este resumo é um recorte da pesquisa de mestrado em desenvolvimento cujo objetivo geral é reconhecer por meio dos escritos literários da autora Júlia Lopes de Almeida, publicados no periódico Diário de Notícias, a significativa contribuição da ficcionista para o universo literário através das temáticas atemporais expressas em seus escritos literários. O presente estudo é realizado com apoio da Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas do Pará (FAPESPA). Desse modo, a partir de pesquisas bibliográficas e documental, foram feitas análises nos microfilmes do jornal Diário de Notícias (disponível na Biblioteca Pública Arthur Viana) e na Hemeroteca Digital Brasileira. Referências: LUCA, Leonora de. O “feminismo possível” de Júlia Lopes de Almeida (1862-1934). Cadernos Pagu, n. 12, p. 275-299, 1999. Disponível: www.maismulheresnopoderbrasil.com.br/pdf/Sociedade/O_Femininismo_Possivel_de_Julia_de_ Almeida.em: Acesso em: 14 -11-2021. MEYER, Marlyse. Folhetim: uma história /Marlyse Meyer. – São Paulo: Companhia das Letras, 1996. ISBN:85-7164-527-2. Folhetim – História e crítica NADAF, Yasmin Jamil. Rodapé das miscelâneas: o folhetim nos jornais de Mato Grosso (séculos XIX e XX). Rio de Janeiro: 7 letras, 2002. SALOMONI, Rosane Saint-Denis. A escritora - os críticos a escritura: o lugar de Júlia Lopes de Almeida na ficção brasileira. Porto Alegre, 2005. Tese (Doutorado em Literatura Brasileira) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul. http://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital/ (hemeroteca digital); acessado em 15/04/2022. http://www.fcp.pa.gov.br/espacos-culturais/sede/biblioteca-arthur-vianna (biblioteca Arthur Viana, atualmente conhecida como: Fundação Cultural do Estado do Pará); acessado em 25/04/2022. LITERATURA DE AUTORIA FEMININA NA FRANÇA DO SÉCULO XIX: LAURE SURVILLE E SUA TRAJETÓRIA LITERÁRIA Carlos Eduardo do Prado Resumo: Diante de um panorama intelectual marcado pela imposição dos valores masculinos e de uma sociedade patriarcal adversa à existência de mulheres em posição de destaque, este trabalho tem como objetivo principal trazer à luz a obra de Laure Surville, procurando evidenciar em sua trajetória intelectual as dificuldades enfrentadas pela autora no século XIX, além de refletir sobre as questões de gênero e os mecanismos sociais de exclusão que a colocaram em um lugar de esquecimento. De uma maneira geral, às que se aventuraram na arte da escrita foi reservado apenas um modesto e empoeirado espaço nas prateleiras mais escondidas das bibliotecas. Desvalorizadas e desacreditadas no campo intelectual, essas mulheres foram impedidas de adentrar o espaço público e de prestígio do universo das letras, ambiente essencialmente masculino. Laure Surville, nascida Laure de Balzac foi uma autora francesa, irmã do escritor Honoré de Balzac. Mantendo uma discreta carreira literária paralela ao cotidiano doméstico imposto pelo casamento, Laure foi a principal admiradora, leitora e crítica do trabalho do irmão, sendo inspiração para alguns personagens femininos que figuram a Comédia Humana (CH). Além de grande incentivadora, Laure vai trabalhar a quatro mãos com o irmão em alguns textos e contribuirá efetivamente com ideias e inspiração no processo de produção do livro “Un debut dans la vie”, romance que faz parte da seção “Cenas da vida privada” da CH. Após a morte de Balzac, em 1850, a autora vai escrever uma das mais originais biografias sobre o autor. Seu livro intitulado Balzac, sa vie et ses œuvres d’après sa correspondance (1858) é composto pela correspondência trocada em vida pelos dois. No entanto, mesmo que seja considerado uma obra importante para os estudos sobre Balzac, ele quase nunca é citado ou referenciado pelos autores e biógrafos que a sucederam. Referências: BALZAC, Honoré de. Un début dans la vie. Paris: Dumont Éditeur, 1844. BABERIS, P. Le monde de Balzac Post-face 2000. Paris: Édition Kimé, 1999 MAUROIS, A. Prométhée ou la Vie de Balzac. Paris: Librairie Hachette, 1965. PIERROT, Roger. Honoré de Balzac. Paris: Librairie Arthème Fayard, 1994. SURVILLE, Laure. Balzac, sa vie et ses œuvres d’après sa correspondance. Collections Les Introuvables. Paris: L’Harmattanm, 2005. SURVILLE, Laure. Le Compagnon du foyer, par Mme. Surville, née de Balzac. ParisÇ D. Giraud, 1854. COM AÇÚCAR, SEM AFETO: RELAÇÕES AFETIVAS AUTORITÁRIAS NA POESIA DE LEILA MÍCCOLIS Evelyn Santos Almeida Resumo: A comunicação se propõe a mapear a presença do casamento, nas mais variadas formas, na obra Desfamiliares: poesia completa de Leila Míccolis (1965-2012), mais especificamente, o casamento como dispositivo de controle do corpo e do comportamento da mulher. Leila privilegia o tom humorado e corrosivo para tratar das relações autoritárias e violentas, disfarçadas de afetivas, que querem impor à mulher a figura de um ser inferior e frágil, que necessitaria de um marido como um alicerce indispensável. Na invenção (e imposição) masculina, a única função de tal figura seria exercer o papel de mãe, esposa e cuidadora do lar. A poesia de Leila Míccolis possui alto teor político e testemunhal, como se percebe por sua crescente (mas ainda escassa) fortuna crítica. Leila Míccolis (Rio de Janeiro, 1947) pertenceu ao movimento denominado “Poesia marginal”, também conhecido como “Geração mimeógrafo”, surgido na década de setenta, com maior força na cidade do Rio de Janeiro, no contexto da ditadura civil-militar e sob o impacto do AI-5 e do governo Médici (1969-1974). No entanto, a sua face e militância feminista, desde os anos 1960 à contemporaneidade, precisa de mais estudos, pois sua trajetória diz de si e da própria história de lutas do movimento feminista. Desse modo, pretende-se contribuir para a diminuição desta lacuna dentro de sua fortuna crítica e visibilidade da autora. Para tais reflexões, vamos nos valer de, entre outros, textos de (Denis, 2002), (Levy; Gomes, 2011), (Salgueiro, 2007), (Spivak, 2010). Referências: DENIS, Benoît. Literatura e engajamento: de Pascal a Sartre. Bauru: Edusc, 2002. LEVY, Lidia; GOMES, Isabel Cristina. Relações amorosas: rupturas e elaborações. Tempo Psicanalítico, Rio de Janeiro, v.43.1, p.45-57, 2011. MÍCCOLIS, Leila. Desfamiliares: poesia completa de Leila Míccolis (1965-2012). Prefácio de Glauco Mattoso. Apresentação de Antonio Vicente Pietroforte. São Paulo: Annablume, 2013. SALGUEIRO, Wilberth. Lira à Brasileira: erótica, poética, política. Vitória: Edufes, 2007. SPIVAK, Gayatri. Pode o subalterno falar?. Tradução de Sandra R. Goulart Almeida; Marcos Feitosa; André Feitosa. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010. ESTÉTICA DA REAÇÃO E A RECUSA ÀS DISTORÇÕES REPRESENTATIVAS Fernanda Barboza de Carvalho Nery Resumo: Esta proposição integra uma série de composições teóricas relativas ao desenvolvimento do conceito denominado Estética da Reação. Parte-se da acepção de que a autoria feminina contemporânea emerge enquanto antagonista, por excelência, das violências instituídas pelo poder hegemônico no seio da representação. Ao romper com a armadilha do silêncio (CIXOUS, 1976), a produção artística das mulheres, na referida estética, estabelece a possibilidade da construção de uma posterioridade, anteriormente associada apenas à cultura masculina (GILBERT, GUBAR, 1979; ZOLIN, 2009), através da elaboração de imagens do corpo feminino que assume, enfim, o seu lugar de corpo proeminente, de corpo desejante. Tal envergadura contraria proposições de subalternização disseminadas ao longo dos séculos (ALMEIDA, 2012), suplantando e, por consequência, destruindo as imagens oprimidas dos referidos corpos. Utiliza-se, desse modo, a obra da fotógrafa baiana Juh Almeida, que constrói, através da relação entre as legendas e a fotografia, um universo onde há a proeminência da experiência das mulheres negras, e o livro de contos Amora, da escritora Natalia Borges Polesso (2015), que apresenta personagens lésbicas inseridas, de modo orgânico, no cotidiano, destacando, então, personagens que foram, por tanto tempo, posicionadas à margem (DALCASTAGNÈ, 2005). Intenciona-se, nesse sentido, proceder, a partir do delineamento dos corpos femininos, à identificação dos traços reativos persistentes na autoria feminina contemporânea. Referências: ALMEIDA, Juh. Instagram: @ juhalmeida. Disponível: www.instagram.com/juhalmeida. Acesso em: 12 fev. 2022. ALMEIDA, Sandra Regina Goulart. Corpo e escrita: imaginários literários. Revista da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, v. 19, n. 1 e 2, p. 92–111, 2012. Disponível em: www.periodicos.ufmg.br/index.php/revistadaufmg/article/view/2713/1579. Acesso em: 15 jan. 2022. BORGES POLESSO, Natalia. Amora. Porto Alegre: Não Editora, 2015. CIXOUS, Hélène. The laugh of the medusa. Trad. Keith Cohen e Paula Cohen. Signs, Boston, EUA, v. 1, n. 4, p. 875-893, 1976. Disponível em: www.journals.uchicago.edu/doi/10.1086/493306. Acesso em: 22 abr. 2022. GILBERT, Sandra; GUBAR, Susan. The madwoman in the attic: the woman writer and the nineteenth- century literary imagination. New Haven: Yale University Press, 1979. ZOLIN, Lúcia Osana. Literatura de autoria feminina. In: BONNICI, Thomas; ZOLIN, Lúcia Osana.(org.) Teoria literária: abordagens históricas e tendências contemporâneas. 3 ed. Maringá: Eduern, 2009. "ARPEJOS" E "VIRILHA" - CITAÇÃO E SUBVERSÃO EM POEMAS DE ANA CRISTINA CESAR E MARIA ISABEL IORIO Fernanda Martins Cardoso Resumo: Neste trabalho pretende-se discutir algumas das maneiras através das quais a noção de “citacionalidade”, tal qual proposta por Judith Butler, é performada em poemas de Ana Cristina Cesar e Maria Isabel Iorio, a fim de perceber as relações que ambas estabelecem entre texto e corpo. No livro Corpos que importam (n-1 edições, 2019), Butler passa a teorizar a performatividade precisamente como sinônimo de “citacionalidade” das normas de gênero. Assim a performatividade não deve ser entendida como um “ato” singular, mas sim enquanto “reiteração de uma norma ou de um conjunto de normas, e na medida em que adquire a condição de ato no presente, ela oculta ou dissimula as convenções das quais é uma repetição” (BUTLER, 2019, p. 30). É possível, portanto, falarmos em citações que reiteram a norma – ou seja, atos discursivos que buscam conformar o corpo aos pactos sociais da cisheteronormatividade – e em citações subversivas – que, através da releitura paródica promovem desestabilizações nesse conjunto de normas regulatórias. Desse modo, podemos pensar na Literatura com letra maiúscula, ou mesmo o Poético, como campo específico dentro dos estudos literários, como uma dessas instituições produtora e reificadora de normas que, no entanto, também produz e fornece as mais diversas formas de subversão. Nesse sentido analisaremos dois poemas que propõem releituras subversivas, ou paródicas, de poemas de Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade. Referências: BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. ______. Corpos que importam: os limites discursivos do “sexo”. São Paulo: n-1 edições, 2019. ______. “Como os corpos se tornam matéria: entrevista com Judith Butler”. In: Revista de Estudos Feministas, Florianópolis, jan. 2002, v. 10, n. 1. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104026X2002000100009&script=sci_arttext Acesso em 04/12/2017. CESAR, A. Poética. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. IORIO, M.I, Em que pensaria quando estivesse fugindo. Bragança Paulista: Editora Urutau, 2016. CORPOS QUE DOEM, CORPOS EMPILHADOS, CORPOS ESPALHADOS: COMO CONTAMOS AS MULHERES MORTAS? Glaucia Moreira Secco Resumo: As diversas violências contra os corpos das mulheres são, ao mesmo tempo, cada vez mais (re)conhecidas na mídia, nas artes e na academia, e cada vez mais numerosas, na convivência social. Em pleno período da pandemia de Covid-19, as estatísticas dessas violências escancararam o que nós, corpos feminizados, já sabíamos: (principalmente) em momentos de crise, somos alvo das mais variadas brutalidades em um sistema social patriarcal, capitalista e misógino. Formando um corpo que se desenha, um território que (re)nasce e se ramifica, a produção contemporânea literária e artística de mulheres na e da América Latina é um espaço condutor de uma manifestação política, estética e feminista. Feminicídio é a palavra reivindicada. E é sobre esta violência extrema contra os corpos feminizados que falam os textos que analiso em minha pesquisa de doutoramento. No presente trabalho de análise, leio Mulheres empilhadas (2019), de Patrícia Melo, junto-me a essas escritoras e inquieto-me: de que maneira o processo de criação estético-literária elabora, por meio da palavra, os traumas das violências? Seria a elaboração estética capaz de uma linguagem que vá além de catalogar as mulheres como vítimas (GAGO, 2020)? Estaria a linguagem aliando-se ao processo disruptivo de violência extrema para dar conta de contá-la (e contá-las as mulheres mortas)? Indago, nesse sentido, os limites e as bordas de se narrarem (e, em certa medida, de se acolherem) a extrema violência do feminicídio e de outras sistêmicas violências que se destinam às mulheres (de foro íntimo e de foro público) a partir da perspectiva localizada do contexto brasileiro e latinoamericano; a relação entre o tema da violência extrema e seu acolhimento pela estética literatura: o texto literário estaria denunciando, sendo conivente ou imaginando outro caminho possível? Referências: ANZALDÚA, Gloria. A vulva é uma ferida aberta. A Bolha, Rio de Janeiro: 2021. BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2016. BUTLER, Judith. Quadros de guerra: quando a vida é passível de luto?. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2019. DAFLON, Claudete. Meu país é um corpo que dói. Belo Horizonte: Relicário, 2022. ELTIT, Diamela. “Escuchar el dolor, oír el goce”. Proyeto Patrimonio, 2014. Disponível em: <http://letras.mysite.com/delt240414.html>. Acesso em: 05 de março de 2022. FIGUEIREDO, Eurídice. “Violência e sexualidade em romances de autoria feminina”. Interdisciplinar, v. 32, 2020, p.137. Disponível em: <https://seer.ufs.br/index.php/interdisciplinar/article/view/12872>. Acesso em: 25 de outubro de 2020. FIGUEIREDO, Eurídice. Mulheres ao espelho: autobiografia, ficção, autoficção. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2013. FUNCK, Susana Bornéo. “O que é uma mulher?”. Crítica literária feminista: uma trajetória. Florianópolis: Editora Insular, 2016. GAGO, Verónica. A potência feminista ou o desejo de transformar tudo. Elefante, São Paulo: 2020 GALINDO, María. “Desobediencia, voy a sobrevivir por tu culpa”. 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Essa combinação de textos também é responsável por imprimir na escrita o exercício do gênero enquanto uma aliança entre as autoras, de forma que os versos do poema do livros Versos Verdes, "Este livro foi escrito por mim", representa ao mesmo tempo o esvaziamento da autoria ao passo que inscreve uma pluralidade autoral na obra. Logo, “Este livro foi escrito por mim” é uma demarcação evidente de Adília Lopes enquanto autora, a qual ultrapassa a obviedade tautológica para tomar a parte que lhe cabe na literatura portuguesa contemporânea e assim validar sua existência de poetisa. O método como Lopes remonta percursos literários importantes durante toda a sua trajetória, por meio de tópicas, trechos, referências e citações recorrentes, corrobora com a construção do seu próprio sujeito poético que transforma o exercício da autoria, da construção da poeta-mulher, em um dos epicentros do seu projeto poético. Referências: KLOBUCKA, Anna. O formato mulher: a emergência da autoria na Literatura Portuguesa. Coimbra: Angelus Novus. 2009; LOBO, Luiza. “Por um esboço de definição”, 1997. Disponível em: <http://lfilipe.tripod.com/LLobo.html>. Acesso em 13 de dezembro de 2020; LOPES, Adília. Dobra – Poesia Reunida, 2ª ed., Porto: Assírio & Alvim. 2014; LOPES, Silvina Rodrigues. Exercícios de aproximação. Lisboa: Edições Vendaval, 2003; ______. a anomalia poética, Belo Horizonte: Chão da Feira, 2019; MACEDO, Ana Gabriela e AMARAL, Ana Luísa (org). Dicionário da Crítica Feminista. Lisboa: Edições Afrontamento, 2005; MELO, Sónia Rita. As sete vidas de Adília Lopes ou o renascer da “mulher-osga”. RCL: Convergência Lusíada n. 35, janeiro – junho de 2016; PEDROSA, Celia. “Releituras da tradição na poesia de Adília Lopes”. In: Via Atlântica, n. 11 junho de 2007, pp. 87-101. CENAS COTIDIANAS DE RACISMO: AS MACRO E MICROAGRESSÕES EM CIDADÃ, DE CLAUDIA RANKINE Janine Aparecida Cardoso, Mail Marques de Azevedo Resumo: O presente trabalho analisa os relatos de Claudia Rankine em Cidadã: uma lírica americana (2020), cujo ponto norteador são narrações de macro e microagressões contra a população negra nos Estados Unidos. A partir do reconhecimento e diferenciação dos tipos de violência na obra e a relação com a realidade brasileira, será discutida a distinção entre racismo, preconceito e discriminação segundo os estudos de Sílvio Almeida, em Racismo estrutural. O racismo como forma sistemática de discriminação quer se manifeste por meio de práticas conscientes ou inconscientes está consoante com a escrita de Rankine, que independentemente da diversidade de gêneros textuais, é um libelo contra representações de racismo, quer insinuado em julgamentos prévios- preconceito – ou efetivado por ações – discriminação. Paralelamente, coloca-se em evidência a leitura multimodal que associa a variedade genérica à pluralidade da linguagem não-verbal que inclui fotos, reproduções de pinturas e esculturas, além de frames de vídeos. A consonância analítica entre palavra e imagem é feita em conformidade com Roland Barthes e Martine Joly. Examina-se em complementação a complexa situação narrativa instaurada pelo uso de primeira pessoa apenas na reprodução da fala de alguém nos relatos e pelo emprego constante da segunda pessoa do discurso, mediante o uso do pronome de tratamento, você. Pode-se entender a presença de um narratário, como elo de ligação entre narrador e leitor, que destaca o tema central do racismo, mas também empregado pelo narrador como autorreferência. Segundo entrevistas on line as histórias relatadas advêm de conversações de Rankine com pessoas a quem perguntou em que momentos da vida perceberam-se reduzidas à categoria raça. Em conclusão enfatiza-se a necessidade de ações e práticas antirracistas pautadas na escrita combativa aos privilégios da branquitude consoante o pensamento de Robin Diangelo e a concordância dos relatos com a teoria do afropessimismo de Frank Wilderson. Referências: ACAYABA, C.; REIS, Thiago. Proporção de negros nas prisões cresce 14% em 15 anos, enquanto a de brancos cai 19%, mostra Anuário de Segurança Pública. G1, 19 out. 2020. Disponível em: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2020/10/19/em-15-anos-proporcaode-negros-nas-prisoes -aumenta-14percent-ja-a-de-brancos-diminui-19percent-mostra-anuariode-segurancapublica.ghtml Acesso em: 20 jan. 2022. ALMEIDA, S. O que é racismo estrutural? Belo Horizonte: Editora Letramento, 2018. BARTHES, Roland. A retórica da Imagem. In ______. O óbvio e o obtuso. Trad. Léa Novaes. São Paulo: Nova Fronteira, 1990, p. 27-43. CARREGA, C. Black americans are incarcerated at nearly five times the rate of whites, new report on state prisons finds. 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Rio de Janeiro: Cobogó, 2019. MANGUEL, A. Lendo imagens. Trad. Rubens Figueiredo, Rosaura Eichemberg, Claudia Strauch. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. MOREIRA, A. Racismo Recreativo. São Paulo: Pólen, 2019. NASCIMENTO, A. O Genocídio do Negro Brasileiro: Processo de um Racismo Mascarado. 3ª ed. São Paulo: Editora Perspectiva, 2016. PAULINO, R. O navio negreiro, de William Turner. Arte & artistas, 2016. Disponível em: https://arteeartistas.com.br/o-navio-negreiro-de-william-turner/. Acesso em: 25 fev. 2022. RANKINE, C. Cidadã: uma lírica americana. Trad. Stephanie Borges. São Paulo: Edições Jabuticaba, 2020. ______. Louisiana Channel. Claudia Rankine Interview: Black on White. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=GoAIpuQ_7G4. Acesso em: 15 jan. 2022. ______. Livraria Megafauna. Claudia Rankine conversa com Stephanie Borges. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=FvodcsO4Ks0. Acesso em: 15 jan. 2022. RIBEIRO, D. Quem tem medo do feminismo negro? São Paulo: Companhia das Letras, 2018. TENÓRIO, J. O avesso da pele. São Paulo: Companhia das Letras, 2021. WILDERSON, F. Afropessimismo. São Paulo: Todavia, 2021. A NATUREZA-MORTA E A COISIFICAÇÃO DAS PERSONAGENS FEMININAS, EM UM SOPRO DE VIDA (PULSAÇÕES), DE CLARICE LISPECTOR E PASSEIO AO FAROL, DE VIRGINIA WOOLF Joel Rosa De Almeida Resumo: A proposta analítica é comparar o percurso pictórico da natureza-morta da personagem Ângela Pralini, no “Livro de Ângela”, de Um sopro de vida (pulsações), de Clarice Lispector, ao da personagem pintora Lily Briscoe, de Passeio ao farol, de Virginia Woolf, com vistas a compreender o processo de coisificação da mulher do século XX, bem como a dialética objetivação do ser e subjetivação do objeto. Esse fenômeno se aprofundou no século XX e XXI à medida que a mulher, em diversas condições, foi confinada na solidão do espaço cotidiano da casa ou do apartamento e em contato com objetos do seu convívio diário, e quando se vê em espaços mais amplos ainda a solidão persiste e se inclina aos desvios e desvãos da memória. Para entender esse caminho teórico-comparativo, que se dá através também da mescla das linguagens literária e pictórica, no qual o ser ficcional se vê fragmentado, teremos como referencial os estudos teóricos de Camelia Elias (2021), e sua teoria do fragmento, em The fragment; os ensaios críticos de Claudia Tobin (2021), em Modernism and still life: artists, writers and dancers, e os basilares de Norbert Schneider, sobre natureza-morta, assim como a teoria do romance de Mikhail Bakhtin, entre outros. Do ponto de vista filosófico-ideológico, recorreremos ao filósofo Michel Foucault, exemplarmente em Microfísica do poder, para dar conta desse confinamento do sujeito, e a Jean-Claude Milner, em La politica de las cosas, para tratar da questão da coisificação dos seres no sistema capitalista, o que nos permite analisar os processos metafóricos de transformação dos seres em coisas e vice-versa, que ocorrem com essas e outras personagens femininas, esvaziadas e fragmentadas, nas sociedades patriarcais problematizadas. Referências: BAKHTIN, Mikhail. Teoria do romance I: A estilística. Trad. de Paulo Bezerra. São Paulo: 34, 2015. ____. Teoria do romance II: As formas do tempo e do cronotopo. Trad. de Paulo Bezerra. São Paulo: 34, 2018. ____. Teoria do romance III: o romance como gênero literário. Trad. de Paulo Bezerra. São Paulo: 34, 2019 ELIAS, Camelia. The fragment: towards a history and poetics of a performative genre. New York: EyeCorner press, 2021. FOUCAULT, Michel . Microfísica do poder. trad. e org. de Roberto Machado. 8. ed. Rio de Janeiro: Graal, 1989. MILNER, Jean-Claude. La política de las cosas. Trad. de Jesús Ambel. Málaga: Miguel Gómez, 2007. SCHNEIDER, Norbert. Naturezas mortas: a pintura das naturezas mortas nos primórdios da Idade Moderna. Kohn: Taschen, 1999. TOBIN, Claudia. Modernism and Still Life. Edinburgh: Edinburgh University Press, 2021. ENTRE MISOGINIA E PERSEGUIÇÃO, O "GRITO" POÉTICO COMO "ESTRATÉGIA" FEMININAFEMINISTA E DECADENTISTA DE JUDITH TEIXEIRA CONTRA A CENSURA DA "LITERATURA DE SODOMA" Julie Oliveira Da Silva Resumo: As últimas décadas do século XIX e as primeiras décadas do século XX, em toda Europa, constituem uma época de grandes avanços e conquistas sociais femininas, marcando também uma época de (re)florescimento literário e artístico, com a irrupção dessas figuras nos salões literários, bem como na organização e publicação de revistas. Com a instabilidade provocada pelas tensões políticas, os poucos espaços conquistados retrocedem duramente até o ponto da instauração de sistemas totalitários, a partir dos quais surgem perseguições e movimentos de censura. Pode-se dizer que sua principal vítima, em Portugal, foi a poetisa Judith Teixeira, em 1923, tendo seu livro intitulado “Decadência” censurado e queimado em praça pública, sendo taxado de representar uma “Literatura de Sodoma”, que corroia “a moral e os bons costumes portugueses” por seu conteúdo homoerótico. Judith Teixeira traz sua visao de mundo feminina e potencialmente feminista, evocando vozes que sao puras “corporalidade e fogo poético” (SOUSA, 2015). Suas relações intertextuais são múltiplas: Safo; a poetisa francesa Renée Vivien; a poetisa brasileira Gilka Machado, ambas contemporâneas e simbolistas… Além do potencial comparatista que essa proposta suscita, analisaremos neste trabalho as notas nos periódicos portugueses sobre a “Higiene moral e social”, e a "Acção moralizadora” realizada nas Escolas Superiores de Lisboa (In: Jornais A Época e Diário de Lisboa, Lisboa, 20 e 22 de fevereiro de 1923, respectivamente), o manifesto “Literatura Imoral” dos Estudantes (Jornal O Século, Lisboa, 6 de março de 1923) e o artigo “‘Arte’ sem moral nenhuma” de Marcello Caetano (1923). Por fim, entenderemos a produção e a publicação dos livros “Castelos de Sombras” (1923), “Nua. Poemas de Bizâncio" (1926), mas também as produções não-poéticas, sendo a conferência “De Mim” (1926) e as novelas contidas em “Satânia” (1927), como último grito e principal estratégia de Judith Teixeira contra o silenciamento e a censura. Referências: GONÇALVES, Zetho Cunha. Noti?cia do maior escândalo erótico-social do século XX em Portugal [Texte imprimé] / Zetho Cunha Gonçalves [organização] ; protagonistas, Fernando Pessoa... [et al.]. Lisboa : Letra Livre, 2014. LUGARINHO, Mário César. ‘Literatura de Sodoma’: o cânone literário e a identidade homossexual. Niteroi, Gragoatá, n. 14, p. 133-145, 1. sem. 2003 SILVA, Fabio M. Florbela Espanca e Judith Teixeira: o mito das femmes fatales na Literatura Portuguesa. GUAVIRA LETRAS, n. 16, jan.-jul. 2013. TEIXEIRA, Judith. Poesia e Prosa. Organização e estudos introdutórios de Cláudia Pazos Alonso e Fabio Mario da Silva. Lisboa: Dom Quixote, 2015. VALENTIM, Jorge. Safo em Sodoma: A escrita feminina de Judith Teixeira em tempos de Orpheu. Revista do Núcleo de Estudos de Literatura Portuguesa e Africana da UFF, Vol. 5, n° 10, Abril de 2013. INCESTO E ANTISSEMITISMO EM CHRISTINE ANGOT Laura Barbosa Campos Resumo: A proposta do trabalho é analisar o discurso sobre o abuso sexual, o incesto e os mecanismos de opressão presentes em escritas de si contemporâneas em língua francesa. Apesar do tabu que envolve a temática, ela é mais recorrente na França do que na literatura brasileira, sobretudo a partir do movimento #Me too, que busca ajudar as vítimas a romper o silêncio e a enfrentar a violência e motivou obras de grande alcance midiático, como O Consentimento (2020) de Vanessa Springora, e La familia grande, de Camille Kouchner (2021). A escritora francesa Christine Angot precedeu à campanha iniciada nas redes virtuais e escreve, desde 1999, uma série de livros autoficcionais em que tematiza o incesto no qual foi vítima de seu pai desde os 13 anos. Recentemente, a autora foi premiada por Le voyage dans l'est [Viagem para o leste] (2021) em que retoma a questão traumática e desvenda as estratégias de sedução e de dominação mobilizadas pela figura paterna e algoz em uma linguagem incisiva e provocadora, características da prosa angotiana. Buscaremos tratar das estratégias engendradas pelo pai tanto em relação à narradora Christine quanto à mãe da narradora, Rachel Schwartz . A abordagem pretende mesclar questões de caráter íntimo e aquelas de âmbito histórico e sócio-político, como o antissemitismo francês durante o pós-guerra. Referências: ANGOT, Christine. Un amour impossible. Paris: Flammarion, 2015. ANGOT, Christine. Le voyage dans l'est. Paris: Flammarion, 2021. SOBRE O FEMINISMO DE JULIA LOPES DE ALMEIDA: UMA LEITURA DE "IN EXTREMIS" E "O CASO DE RUTE" Lucélia Magda Oliveira da Silva Resumo: Júlia Lopes de Almeida foi uma escritora em cujas obras estão representadas as principais mudanças sociais ocorridas na capital do Brasil no final do século XIX e início do século XX. Seus textos se voltam, em grande parte, para temáticas como a abolição da escravidão e a situação da mulher no contexto do entresséculos. Nos últimos anos a sua produção artística vem sendo objeto de estudos acadêmicos, especialmente aqueles que dialogam com o movimento feminista. Estas pesquisas ora abordam a possibilidade de Júlia Almeida ter sido feminista, ora apontam os aspectos reforçadores do patriarcado vigente, pois tendem a considerar particularidades de uma ou outra obra da autora. Este estudo, que é um recorte da pesquisa de mestrado ainda em desenvolvimento, visa, contudo, observar se os contos “In extremis” e “O caso de Rute”, ambos publicados na coletânea Ânsia eterna (1902), poderiam ou não ser considerados “feministas” ou se apenas retratavam o contexto social da época em que foram escritos. Serão utilizados como aportes as contribuições de Virgínia Woolf em Um teto todo seu (1928) e Mulheres e ficção (2019), textos de autoria de feministas de primeira onda, como Olympe Gouges, recortes de periódicos do período entresséculos, bem como os estudos de Michele Asmar Fanini (2009), Cátia Toledo Mendonça (2003) e Nayara Aparecida Moura (2020). Referências: A. G. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, 28 de abril de 1902. Portugal e Brasil, p. 01. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=103730_04&pesq=%22julia%20lopes%2 0de%20almeida%22&hf=memoria.bn.br&pagfis=3913. Acesso em: 14 fev. 2022. ALMEIDA, Júlia Lopes de. A mulher e a arte. In: RAGO, Luzia Margareth; TREVISAN, Gabriela Simonetti. “A mulher e a Arte” e a crítica feminista de Júlia Lopes de Almeida. História: Questões & Debates, Curitiba, v. 67, n. 1, pp. 347 – 352, jan. / jun. 2019. Disponível em: https://revistas.ufpr.br/historia/article/view/63999/37319. Acesso em: 28 mar. 2022. ALMEIDA, Júlia Lopes de. In Extremis. In: ______.Ânsia eterna. Brasília: Senado Federal, 2019. pp.89 – 93. Coleção escritoras do Brasil, v. 2. ALMEIDA, Júlia Lopes de. O caso de Rute. In: ______.Ânsia eterna. Brasília: Senado Federal, 2019. pp. 25 – 32. Coleção escritoras do Brasil, v. 2. DIAS, Laurita Lacerda. Mulher e Escriptora. Diario Carioca, p. 23, 24 de junho de 1934. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=093092_02&pesq=%22julia%20lopes%2 0de%20almeida%22&hf=memoria.bn.br&pagfis=15377. Acesso em: 16 fev. 2022. FANINI, Michele Asmar. Júlia Lopes de Almeida: entre o salão literário e a antessala da Academia Brasileira de Letras. Estudos em Sociologia, Araraquara, v. 14, n. 27, pp. 317 – 338, 2009. Disponível em: https://periodicos.fclar.unesp.br/estudos/article/view/1941. Acesso em: 05 dez. 2021. GAZETA de Notícias, Rio de Janeiro, 19 de janeiro de 1902. Chronica, p. 01. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=103730_04&pesq=%22julia%20lopes%2 0de%20almeida%22&hf=memoria.bn.br&pagfis=3463. Acesso em: 15 fev. 2022. GOUGES, Olympe. Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã. Disponível em: https://www.ufsm.br/app/uploads/sites/414/2018/10/DeclaraDirMulherCidada1791RecDidaPES SOALJNETO.pdf. Acesso em 21 abr. 2022. MENDONÇA, Cátia Toledo. Júlia Lopes de Almeida: a busca da libertação feminina pela palavra. Revista Letras, Curitiba, n. 60, p. 275 – 296, jul. / dez. 2003. Editora UFPR. Disponível em: https://revistas.ufpr.br/letras/article/viewFile/2869/2351. Acesso em: 28 mar. 2022. MOURA, Nayara Aparecida. 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Saltó a la fama una escritora que se había considerado, hasta ese momento, no valorada y postergada por el canon literario argentino. En su opinión, su pasado de militancia política, dentro de las filas del Peronismo la habían condenado al ostracismo. La novela Las Primas desborda originalidad en su temática y su lenguaje. Polémica y provocadora, Venturini construye una familia, integrada en su totalidad por mujeres, unidas por relaciones destructivas y tóxicas. La narradora, Yuna, su hermana Betina y sus dos primas poseen una deficiencia física. Lejos caer en un discurso victimista, las cuatro mujeres intentan abrirse camino en el mundo. Las relaciones disfuncionales entre las jóvenes y sus progenitores y las relaciones de abuso y opresión masculina son dos de los grandes escollos que deben superar. Las Primas es una reflexión sarcástica y profunda acerca del lugar que las mujeres ocupan en la sociedad y las relaciones que se establecen entre ellas. Este trabajo analiza las tres estrategias que potenciaron el discurso feminista de la novela, que hará eco en el campo literario argentino y abrirá las puertas para una nueva generación de jóvenes escritoras que sucedieron a Venturini. Nos referimos a: la monstruosidad como condición femenina, el humor y la infantilización. Referências: BEAVOIR, Simone. El segundo sexo. Trad. Alicia Martorell. Madrid: Ediciones Cátedra, 2005. BRAIDOTTI, Rosi. “Mothers, monsters and machines” In CONBOY, Katie, MEDINA, Nadia (eds.), Writing on the Body: Female Embodiment and Feminist Theory, 1997, p. 59-79. DESPENTES, Virginie. Teoria King Kong. Trad. Márcia Bechara. São Paulo: N-1 Edições, 2016. FEDERICI, Silvia. Calibán y la bruja. Mujeres, cuerpo y acumulación originaria. Trad. Verónica Hendel y Leopoldo Sebastián Touza. Madrid: Traficantes de sueños, 2010. KRISTEVA, Julia. Power of horror. An essay on abjection. Trad. León Roundiez. New York: Columbia University Press, 1982. VENTURINI, Aurora. Las primas. Barcelona: Random House, 2009. WOOLF, Virginia. Un cuarto propio. Trad. Edmundo Moure & Marisol Moreno. Santiago: Editorial cuarto propio, 1993. A FICCIONALIZAÇÃO DAS PERSONAGENS FEMININAS NOS ROMANCES DE JÚLIA LOPES DE ALMEIDA: EXISTE LIMITE ENTRE A REALIDADE E A FICÇÃO? Mariana Oliveira Brito Resumo: A escritora Júlia Lopes de Almeida é uma referência importantíssima para o cenário da Literatura Brasileira, devido ao seu empenho e à intensa contribuição para o processo da construção da literatura no Brasil. Apesar de ser amplamente conhecida por críticos e escritores renomados da época, Almeida foi alvo da imposição sexista, a qual contribuiu para o seu desaparecimento do meio literário, a partir de sua exclusão da Academia Brasileira de Letras. Este trabalho analisa a representação das personagens femininas protagonistas Noemia, Ernestina e Camila dos romances A família Medeiros (1892), A viúva Simões (1895) e A Falência (1893, respectivamente. Nosso problema de pesquisa é: seriam perfis de mulheres esperados pela sociedade patriarcal dos oitocentos ou seriam perfis de mulheres transgressoras? Se transgressoras, quais seriam as consequências sofridas por elas? Buscamos refletir sobre o porquê da utilização de desfechos ora escabrosos, ora não, para as personagens femininas em seus romances, de modo a entender se se trata de uma crítica ao discurso dominante à época, que subjugava as mulheres, ou mera reprodução. A investigação tem como base o viés histórico do sistema patriarcal, a partir da socióloga britânica Sylvia Theresa Walby (1990), que compreende o patriarcado como um modelo passível de transformações; do livro Vozes femininas no início do protestantismo brasileiro: escravidão, império, religião e papel feminino (2014), de Salviano; e também serão levadas em consideração as importantes reflexões de Gerda Lerner em A criação do patriarcado: história da opressão das mulheres pelos homens (2019); e de Pierre Bourdieu (2012). Com isso, a partir das personagens protagonistas dos romances supracitados, será possível se atentar para o desejo de soberania do patriarcado, o padrão de mulher esperado da época e a manifestação da importância do trabalho e da educação no cotidiano feminino. Referências: ALMEIDA, Júlia Lopes de. A falência. Florianópolis: Mulheres, 2003. ALMEIDA, Júlia Lopes de. A família Medeiros. Rio de Janeiro: Companhia Editora Fluminense, 1892. ALMEIDA, Júlia Lopes de. A viúva Simões. Jandira, SP: Princípios, 2019. ALMEIDA, Ruth Salviano. Vozes femininas no início do protestantismo brasileiro: escravidão, império, religião e papel feminino. São Paulo: Hagnos, 2014. BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina. São Paulo: Bertrand Brasil, 2012. DE LUCA, L. O “feminismo possível” de Júlia Lopes de Almeida (1862-1934). Cadernos de Pagu, Campinas, n. 12, p. 275-299, 2015. Disponível em: http://www.repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/118148/1/ppec_86349184030-1SM.pdf. Acesso em: 10 set. 2021. ENGEL, Magali Gouveia. Júlia Lopes de Almeida (1862-1934): uma mulher fora do seu tempo? La manzana de la discórdia, ano 2, n. 8, p. 25-32, 2009. Disponível em: https://bibliotecadigital.univalle.edu.co/bitstream/handle/10893/2671/Julia.pdf;seque nce=1. Acesso em: 10 set. 2021. FAEDRICH, Anna. Memória e amnésia sexista: repertórios de exclusão das escritoras oitocentistas. Letrônica, v. 11, n. 3, 2018, p. 164-177. Disponível em: https://doi.org/10.15448/1984-4301.2018.s.30477. Acesso em: 9 jun. 2021. FAEDRICH, Anna. Vozes dissonantes, vozes abafadas: literatura brasileira de autoria feminina na belle époque. In: DIAS, André; PASCHE, Marcos; RODRIGUES, Rauer Ribeiro. Literatura e dissonâncias: e-book ABRALIC. Rio de Janeiro: Série E-books ABRALIC, 2018. p. 159-173. PEREIRA, Lúcia Miguel. História da Literatura Brasileira: prosa de ficção. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1988. TREVISAN, Gabriela Simonetti. Transgressões femininas em Júlia Lopes de Almeida: A viúva Simões (1897) e Cruel Amor (1911). In: ENCONTRO ESTADUAL DE HISTÓRIA: HISTÓRIA POR QUÊ E PARA QUEM?, 22., Franca, São Paulo, 6 a 10 set. 2010. Anais [...]. São Paulo: Unesp, [2010?]. Disponível em: http://encontro2016.sp.anpuh.org/resources/anais/48/1471891578_ARQUIVO_textoco mpletoanpuh2016-poster.pdf. Acesso em: 10 jun. 2021. WALBY, Silvia. Theorizing patriarchy. Oxford: Basil Blackwell, 1990. WALTY, Ivete. A literatura de ficção ou a ficção da literatura? Cadernos de Linguística e Teoria da Literatura, n. 8, p. 25-35, 1982. Disponível em: http://www.periodicos.letras.ufmg.br/index.php/cltl/article/view/9871. Acesso em: 10 jun. 2020. A ESCRITA DE MEMÓRIAS E O DEVIR POLÍTICO DA MULHER: UMA POSSÍVEL CONVERSA ENTRE ZÉLIA GATTAI E NATALIA GINZBURG Mariana Rezende de Souza Pinto Resumo: Neste simpósio, ao colocar em diálogo as obras “Anarquistas Graças a Deus”, de Zélia Gattai, e “Léxico Familiar”, de Natalia Ginzburg, pretendo explorar as possibilidades da escrita autobiográfica de memórias como estética feminista e resistência política. Embora situadas em períodos diferentes da História e em diferentes continentes, ambas as autoras de origem italiana podem, através das suas escritas de memórias, nos indicar seus caminhos possíveis para o surgimento de uma consciência política no seio familiar. Em “Anarquistas Graças a Deus”, Zélia Gattai relata as vivências da sua família imigrante italiana no início do século 20 em São Paulo, e suas percepções sobre as questões de gênero e de classe vividas na época. Já em “Léxico Familiar”, Natalia Ginzburg nos dá a conhecer o período da ascensão do fascismo na Itália entre 1930 e 1950, e os desdobramentos que esses anos tiveram na vida da sua família e na sua própria noção de identidade como mulher e escritora. Ambas as autoras exploram como as percepções familiares sobre eventos sociais, culturais e políticos podem forjar um devir político e possibilitar a criação de estratégias de resistência perante noções rígidas do papel das mulheres na vida cívica. Seria o próprio ato de escrever essas memórias a inscrição das autoras num cânone literário feminista? O que afinal torna a autobiografia escrita por mulheres uma possível obra feminista?, pergunta Liz Stanley. Partindo do trabalho da autora sobre a teoria da autobiografia feminista e do conceito de Escritas de si trabalhado por Margareth Rago, é possível evidenciar as costuras entre a escrita autobiográfica e o devir político presentes nas duas obras analisadas, e perceber como as narrativas de memórias familiares de mulheres têm o potencial para serem espaços de questionamento, resistência e criação de si. Referências: ARFUCH, Leonor. O espaço biográfico: dilemas da subjetividade contemporânea. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2010. GATTAI, Zélia. Anarquistas Graças a Deus. Rio de Janeiro: Record, 1983. GINZBURG, Natalia. Léxico Familiar. Lisboa: Relógio D’Água, 2019. GILMORE Leigh. Autobiographics. A Feminist Theory of Women’s Self-Representation, Ithaca and London, Cornell University Press, 1994. RAGO, Margareth. Escritas de si, parrésia e feminismos. VI Colóquio Internacional Michel Foucault: Filosofia e Política, Rio de Janeiro: Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2009. ________ A Aventura de Contar-se: Feminismos, Escrita de Si e Invenções da Subjetividade. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2013. SMITH, Sidonie. Women, Autobiography, Theory: a Reader. Madison: University of Wisconsin Press, 1998. SMITH, Smith; WATSON, Julia. (eds.), Reading Autobiography. A Guide for Interpreting Life Narratives. Minneapolis and London: The University of Wisconsin Press, 2001. STANLEY, Liz. The Autobiographical I: The Theory and Practice of Feminist Auto/biography. Manchester and New York: Manchester University Press, 1992. "NÃO SEI COMO ARQUIVAR UMA MONTANHA": A POESIA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA ESCRITA POR MULHERES Mariane Tavares Resumo: No ensaio “Literatura e mulher” (1979), Ana Cristina César põe em xeque algumas adjetivações atribuídas à poesia dita “feminina”, a saber, que é sensível, inefável, tênue, privilegia o pudor, o velado, o inviolável. Tais características, estabelecidas pela crítica literária majoritariamente masculina à época, apresentam uma leitura equivocada tanto do texto escrito por mulheres quanto da realidade, pois ambos trazem à tona questões referentes à liberdade, à violência, ao prazer e à própria poética. É por isso que 40 anos depois, Heloísa Buarque de Hollanda, a mesma que procurou traçar um retrato da poesia na década de ’70, busca, agora, traçar outro retrato, colocando as mulheres como protagonistas da poesia na contemporaneidade, e, principalmente, trazendo-as para o arquivo da literatura brasileira. Vale mencionar que as poetas escolhidas por Hollanda têm em comum justamente certa militância no que diz respeito aos direitos humanos, sobretudo o direito das mulheres. A partir desse contexto, selecionamos três poetas do livro “As 29 poetas hoje” e procuramos pensar o que é um arquivo histórico e literário. Compreendemos que a memória é a base para a formação de um arquivo, mas ela é seletiva, e, sendo assim, é um instrumento poderoso, uma vez que serve a quem detém o controle e pode ser manipulada. Também reforçamos a ideia de o arquivo não é um espaço de estocagem, mas sim um espaço que forja as possibilidades de construir outra realidade, seja passada ou futura. Nesse sentido, nosso objetivo é refletir sobre como as poetas contemporâneas lidam com uma herança poética e como constituem uma identidade própria, reinventando o lugar da poesia e tomando para si a responsabilidade de criticar ondas conservadoras no Brasil atual. Referências: AGAMBEN, Giorgio. Profanações. São Paulo: Boitempo, 2007. ANDRADE, Antonio [et al.]; PEDROSA, Célia [et al.]. Indicionário do contemporâneo. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2018. ASSMANN, Aleida. Espaços da recordação. Tradução de Paulo Soethe. Campinas: Editora da Unicamp, 2011. CESAR, Ana Cristina. Crítica e Tradução. São Paulo: Companhia das Letras, 2016. FOUCAULT, Michel. Arqueologia do saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2005. HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva, tradução: Laís Teles Benoir, São. Paulo: Centauro, 2004. HAMBURGER, Michel. A verdade da poesia. Tradução de Alípio Correia de Franca Neto. São Paulo: Cosac Naify, 2007. HOLLANDA, Heloísa Buarque de (org.). As 29 poetas hoje. São Paulo: Companhia das Letras, 2021. SISCAR, Marcos. Poesia e crise. Campinas: Editora da Unicamp, 2010. SILÊNCIO E A LITERATURA: A CONSTRUÇÃO DE UMA CASA-IDENTIDADE DAS MULHERES Melly Fátima Goes Sena Resumo: O silêncio é categoria formativa na identidade das mulheres, o silêncio é metáfora e é constructo não só do papel social das mulheres, mas da edificação de suas personalidades e percepções. E esse silenciamento imposto nos conta uma história, representa um personagem vazio que carece de criação, pois como diz Butler a representação é a função normativa de uma linguagem que revelaria ou distorceria o que é tido como verdadeiro sobre a categoria das mulheres. Assim, a coerção é introduzida naquilo que a linguagem constitui como o domínio imaginável do gênero, e o gênero é performativo no interior do discurso. E a literatura escrita mulheres se torna um lugar não só de subversão do silenciamento, mas constrói um teto todo seu nas palavras de Virginia Woolf, é nesse lugar criado pela literatura que a mulher constrói sua casa-identidade que ainda falta pedaços, telhas e que sofrem agressões contextuais. Considerando esses aspectos, utilizaremos como exemplos analíticos-ilustrativos os seguintes textos: O Papel de Parede Amarelo de Charlotte Perkins; Desgarrados de Eda Nagayama, Uma Mulher escuta outra Mulher de Tânia Souza; Uma experiência privada de Chimamanda Adichie. Como referencial teórico temos: Problemas de Gênero da Judith Butler; O segundo sexo de Simone de Beauvoir; Um teto todo seu de Virginia Woolf; Liberdade para ser livre da Hannah Arendt; Mulher ao pé da letra de Ruth Silviano Brandão; A louca da casa de Rosa Montero; Filhas de Lilith de Beatriz Cardenete; O fogo e o relato de Giorgio Agamben. O cotejo entre as obras literárias e teóricas, se faz a fim de analisar como as escritoras, se utilizam da literatura como recurso de fala, de aquisição de direitos, de identidade, de lugar que vão contra ao assujeitamento da mulher, da sua Outrificação. Referências: ADICHIE, Chimamanda Ngozi. No seu pescoço. Editora Companhia das Letras, 2017. AGAMBEN, Giorgio. O fogo e o relato: ensaios sobre criação, escrita, arte e livros. Boitempo Editorial, 2018. ARENDT, Hannah. Liberdade para ser livre. Rio de Janiero: Bazar do Tempo, 2018. BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2019. BRANDÃO, Ruth Silviano. Mulher ao pé da letra: a personagem feminina na literatura: ensaio. Editora UFMG, 2006. BUTLER, Judith P. Problemas de Gênero: feminino e subversão da identidade. 11 ed. trad. Renato Aguiar. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2016. CARDENETE, Beatriz Freitas. Filhas de Lilith: a construção social das mulheres a partir dos mitos lilithianos. Hypotheses, n.774, 2020. FEDERICI, Silvia. O Calibã e a Bruxa: Mulheres, corpo e acumulação primitiva. São Paulo: Elefante, 2017. GILMAN, Charlotte Perkins. O papel de parede amarelo. Editora José Olympio, 2016. MONTERO, Rosa. A louca da casa. 2. ed. Rio de Janeiro: Harper Collins Brasil, 2016. NAGAYAMA, Eda. Desgarrados. São Paulo: Cosac Naify, 2015. WOOLF, Virginia. Um teto todo seu. São Paulo: Tordesilhas, 2014. A EXPERIÊNCIA DA ESCRITA E DA MATERNIDADE COMO ESTRATÉGIAS DE RESISTÊNCIA EM DUAS OBRAS DE AUTORIA FEMININA Rosiana Kist, Rafael Eisinger Guimarães Resumo: O presente estudo está centrado na discussão e análise das formas pelas quais os romances As alegrias da maternidade (1979), da nigeriana Buchi Emecheta, e As parceiras (1980), da brasileira Lya Luft, reconfiguram as noções tradicionais de maternidade, tecendo aproximações entre as narrativas e as tendências críticas contemporâneas do pensamento feminista. A pesquisa identifica as marcas de gênero e suas especificidades na literatura escrita por mulheres, para, em seguida, problematizar a concepção de maternidade como característica intrínseca à natureza feminina. As contribuições teóricas advêm de pensadoras como Simone de Beauvoir (2016), Judith Butler (2003), Rita Terezinha Schmidt (2012, 2017), Elisabeth Badinter (1985), assim como das intelectuais Sherry B. Ortner (1979), Gayatri Spivak (1994, 2010), bell hooks (2018). Ao analisar a constituição das personagens Nnu Ego e Anelise, protagonistas dos romances, procuramos identificar como a noção de maternidade é reconfigurada por elas nas narrativas. Permeadas por diversos conflitos e traumas, ambas as obras problematizam os discursos construídos sobre ser mãe como constituinte da identidade das mulheres; buscando romper com a imagem da mãe idealizada, elas constroem personagens complexas diferentemente das projeções de grande parte dos escritores homens - , ao incluir suas próprias experiências e angústias. Observamos na ficção escrita por elas as duas vozes referenciadas por Elaine Showalter (1994) - a do dominante e a silenciada -, que sempre nos encaminham para a leitura não de um, mas de dois textos. Identificamos, por fim, que a ideia universal de maternidade vai ser reconfigurada e particularizada em cada uma das culturas e na materialização da escrita (na forma), além de ser marcada pela condição do gênero, pois enquanto a personagem nigeriana valoriza a maternidade como única opção possível, a personagem brasileira questiona sua impossibilidade de conceber filhos, o que suscita nela angústia e conflito. Referências: BADINTER, Elisabeth. O conflito: A mulher e a mãe. Trad. Véra Lucia dos Reis. Rio de Janeiro: Record, 2011. Edição do Kindle. BADINTER, Elisabeth. Um amor conquistado: o mito do amor materno. 9. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo. 3 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2016. BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999. BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. EMECHETA, Buchi. As alegrias da maternidade. Trad Heloisa Jahn. 2 ed. Porto Alegre: Dublinense, 2018. hooks, bell. O feminismo é para todo mundo: políticas arrebatadoras. Trad Ana Luiza Libânio. 2ª ed. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2018. LUFT, Lya. As parceiras. 30ª edição. Rio de Janeiro: Record, 2015. ORTNER, Sherry B. Está a mulher para o homem assim como a natureza para a cultura? In: ROSALDO, Michelle Z. e LAMPHERE, Louise. (orgs.) A mulher, a cultura, a sociedade . Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1979, p. 95-120. SCHMIDT, Rita Terezinha. Descentramentos/Convergências: ensaios de crítica feminista. 1. ed. Porto Alegre: UFRGS Ed., 2017. SHOWALTER, Elaine. A crítica feminista no território selvagem. In: HOLLANDA, Heloísa Buarque de (Org.) Tendências e Impasses: o feminismo como crítica da cultura. Rio de Janeiro: Rocco, 1994. SPIVAK, Gayatri Chakravorty. Pode o subalterno falar? Tradução de Sandra R. G. Almeida, Marcos P. Feitosa, André P. Feitosa. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010. SPIVAK, Gayatri Chakravorty. Quem reivindica alteridade? In: HOLLANDA, Heloísa Buarque de (Org.) Tendências e Impasses: o feminismo como crítica da cultura. Rio de Janeiro: Rocco, 1994, p. 187-205. STEVENS, Cristina M. T. Maternidade e feminismo: diálogos na literatura contemporânea. In: STEVENS, Cristina M. T. (Org.). Maternidade e feminismo: diálogos interdisciplinares. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2007, p. 1779. WOOLF, Virginia. Um teto todo seu . Trad. Bia Nunes de Souza. São Paulo: Tordesilhas, 2014. WOOLF, Virginia. Mulheres e ficção. Tradução de Leonardo Fróes. São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2019. WOOLF, Virginia. Profissões para mulheres e outros artigos feministas. Tradução de Denise Bottmann. São Paulo: L&PM Pocket, 2012. POESIA E PANDEMIA NO BRASIL. ESTADOS TEMPORAIS NAS GEOGRAFIAS DO POEMA EM GRAÇA GRAÚNA Silvina Carrizo Resumo: Esta comunicação analisa algumas das estratégias da poepolítica da escritora e professora indígena potiguara/RN, Graça Graúna – Maria das Graças Ferreira –, durante o período da pandemia. Busco uma aproximação ao estar e ao fazer poesia nas singularidades do contexto brasileiro e na especificidade da produção autoral. Graça Graúna desenvolve, no compasso da vida nesses anos de perigo, confinamento e violências, três projetos poéticos, quais sejam: a) Poemas no site do projeto IMS Convida – #IMSquarentena Graça Graúna Poesia (agosto 2020), b) Poemas, na antologia poética digital “Poesia indígena hoje” (2021), e Fios do tempo (quase haikais) (2021). Procuro, para tanto, analisar o lugar Graça Graúna dentro do campo literário brasileiro, as estratégias de publicação (os modos das antologias digitais, a escolha de editora cartoneira, o livro artesanal), bem como as formas escriturais e as cenas de interpelação a partir das quais pode ser senti-pensada a experiência deste acontecimento nas variações de tons dessas três obras. Estas três produções poéticas transitam entre as demandas artístico-sociais pelos atos de presença da escrita de Graça Graúna, em momentos de acirramento das políticas extrativistas e de persecução às comunidades originárias brasileiras, e a procura da poesia como ato de vida no entretecer da vida mesma como estratégia de elaboração da escuta da terra e do espanto para espantar os males. Referências: GRAÙNA, Graça. Poemas em: IMS Convida #IMSquarentena Graça Graúna Poesia (2020). Disponível em: https://ims.com.br/convida/graca-grauna/ . Acesso em: 05 maio 2022. GRAÙNA, Graça: Poemas em: Antologia poética digital, “Poesia indígena hoje” (2021). Disponível em: https://www.p-o-e-s-i-a.org/dossies/#dearflip-df_2733/5/. Acesso em: 05 maio 2022. GRAÚNA, Graça: Fios do tempo (quase haikais). Recife, Pernambuco: Edições Baleia Cartoneira, 2021. PARA ALÉM DA MORAL E DOS BONS COSTUMES: UMA LEITURA DE O CADERNO ROSA DE LORI LAMBY, DE HILDA HILST Suzanne Modesto Souza Bindá Resumo: "Todos os meus personagens têm o mau hábito de pensar. Mesmo quando decidi escrever literatura pornográfica, meus personagens viviam com a cabeça cheia de pensamentos. " (HILST, 2014, p. 3). Hilda Hilst teve sua fase obscena marcada com a publicação de O caderno rosa de Lori Lamby, em 1992, livro o qual não foi bem acolhido pela crítica da época. Por falar de temas considerados impróprios, Hilda Hilst caminhou de uma literatura que os críticos consideravam como "séria" para iniciar uma nova fase como escritora pornográfica - ou obscena. Lori Lamby é, entre muitas facetas, uma demonstração de resistência de uma escritora nascida na década de 30, que não teve medo de ousar e de reinventar seu fazer literário: "Eu já vi papi triste porque ninguém compra o que ele escreve. Ele estudou muito e ainda estuda muito [...] O Lalau falou pro papi: por que você não começa a escrever umas bananeiras pra variar? Acho que não é bananeira, é bandalheira, agora eu sei." (HILST, 2014, p. 15). Essa comunicação visa fazer uma leitura da citada obra com base nesses aspectos: uma escrita de resistência e transgressora. Leremos O caderno rosa destacando tais pontos e dialogando com o pensamento de Susan Sontag, Lucia Castello Branco, Eliane Robert Moraes e, sobretudo, Georges Bataille. Referências: HILST, Hilda. Pornô Chic. 1. ed. São Paulo: Globo, 2014. POESIA MARGINAL E SEUS IMBRICAMENTOS ENTRE ESCRITA FEMININA, POLÍTICA E EROTISMO COMO RESISTÊNCIA EM ALICE RUIZ Veranilce Marialva Botelho Resumo: O presente trabalho busca apontar e analisar a partir da escrita poética de Alice Ruiz, características da Poesia Marginal, durante a década de 1970 e 1980. Dos movimentos da contra cultura que caracterizaram a escrita da poeta, elencamos a inserção feminina como produtora das diversas representações artísticas, entre elas a poesia e a sua relação com os movimentos políticos, que combatiam de forma veemente a ditadura e repressão que esta exercia contra todos e tudo que não se "enquadravam" àquilo que julgavam "adequado" ao aspecto social, e o erotismo como liberdade e a força de expressão da poesia não só marginal, mas caracterizou também a vanguarda. Para entendermos, o movimento marginal não se enquadra como escola literária, mas entendemos como um meio de produzir e, principalmente divulgá-las de modo artesanal, por meio do mimeógrafo, razão pela qual algumas vezes é chamada de geração mimeógrafo. A poesia marginal rompeu com os padrões hegemônicos das grandes casas publicadoras e, principalmente com a forma e a estética pré estabelecida, clássica. A poesia marginal representou o meio e força para recusar e combater a ditadura instituída no Brasil, por intermédio do governo Getúlio Vargas, e a implementação do AI -5, que reprimia e perseguia de maneira violenta todo tipo de liberdade e expressão. Assim, figura da mulher nos espaços públicos, entre o movimento ganhou força e visibilidade a partir dos movimento originados nos Estados Unidos, percorrendo vários países, entre eles o Brasil. Com esta proposta apontaremos as relações de imbricamentos entre escrita poética feminina, a inserção da mulher nos espaços públicos e o erotismo como recurso estética e de quebra dos padrões instituídos. Referências: BATAILLE, Georges. O erotismo. O proibido e a transgressão. Manuais universitários. 2º edição. Lisboa - Portugal, editora Moraes, 1980. CAMPEDELLI, Samira Youssef. Poesia marginal dos anos 70. 1º edição, São Paulo -SP, Editora Scipionne. FIGUEIREDO, Eurídice. Por uma crítica feminista- leitura transversais de escritoras brasileiras. 1º. edição, Porto Alegre RS, Editora Zouk. HABERT, Nadine. A década de 70- Apogeu e crise da ditadura militar brasileira. São Paulo- SP 3º. edição, Série Princípios. RUIZ, Alice: Dois em um. 4º. reimpressão, São Paulo SP: Iluminuras,2008. A CRÍTICA LITERÁRIA FEMINISTA BRASILEIRA: UM BALANÇO Virgínea Novack Santos da Rocha Resumo: Virginia Woolf quando escreve "Um teto todo meu" chama atenção para a necessidade de um olhar específico por parte da crítica, isto é, um olhar para a produção de mulheres. Desde então a crítica literária em sintonia com as teorias feministas e os estudos de gênero, vem desenvolvendo-se como um vasto campo de crítica e revisão histórica, principalmente a partir da década de 1970 na Europa e nos EUA com a fundação dos departamentos e áreas de estudos específicos sobre a temática das mulheres. No Brasil, no entanto, essas questões ganham mais fôlego apenas dez anos depois. Esse fato evidencia-se, por exemplo, com a fundação do GT Mulheres na literatura (ANPOLL) em 1987, mas expande-se com a fundação de revistas e periódicos feministas acadêmicos ou não, com a fundação de editoras com foco na produção de mulheres, como a Editora Mulheres, com a escrita de inúmeras teses e dissertações, eventos, encontros, simpósios e palestras sobre o tema. A partir, então, desse cenário o que se almeja nessa comunicação é não analisar esse sistema literário feminista buscando compreender os avanços que esses debates trouxeram para os estudos literários, mas também buscar compreender quais as faltas e lacunas que a crítica literária feminista deve continuar a perseguir nos próximos anos a fim de cada vez mais renovar e ampliar o seu próprio campo. Referências: CARDOSO, Elizabeth. Imprensa feminista brasileira pós-1974. Dissertação de mestrado defendida na Escola de comunicação e artes da universidade de São Paulo, USP, 2004. DUARTE, Constância Lima; STEVENS, Cristina Teixeira. E assim se passaram 25 anos! A história do GT Mulher e literatura da ANPOLL. v. 1 n. 28 Revista da ANPOLL. 2010. DALCASTAGNÉ, Regina. Literatura brasileira contemporânea: um território contestado. Editora Horizonte, Vinhedo & Editora UERJ, Rio de Janeiro, 2012. FUNCK, Susana Bornéo. Trocando ideias sobre a mulher na literatura. Pós-Graduação em Inglês, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 1994. HOLLANDA, Heloisa Buarque de. A historiografia feminista: algumas questões de fundo. In: FUNCK, Susana Bornéo. Trocando ideias sobre a mulher na literatura. Pós-Graduação em Inglês, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 1994. HOLLANDA, Heloisa Buarque (Org.). Pensamento feminista hoje: Perspectivas decoloniais. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2020. LOPES, Maria Margaret; PISCITELLI, Adriana. Revistas científicas e a construção do campo de estudos de gênero: um olhar desde as “margens”. Estudos Feministas, Florianópolis, 12(N.E.): 264, setembro-dezembro/2004 SCHMIDT, Rita. A história da literatura tem gênero? Notas do tempo (in)acabado de um projeto. In: Maria Eunice Moreira. (Org.). História ou histórias: desdobramentos da história da literatura - Anais do X Seminário Internacional da História da Literatura. 1a.ed.Porto Alegre: EDIPUC, v. 1, p. 80-105, 2014. WOOLF, Virginia. Um teto todo seu. São Paulo: Editora Tordesilhas, 2014. PATRÍCIA GALVÃO: ESTILO, ESCRITA E RESISTÊNCIA Viviane da Silva Vieira Resumo: Sabe-se que a literatura escrita por mulheres sempre foi mantida à margem, na obscuridade, não constituindo uma tradição, não por ser inexistente, mas porque sempre foi integrada a uma historiografia que não considerou a especificidade de sua voz. Trata-se de uma escrita frequentemente questionada, criticada e/ou privada das qualidades atribuídas à literatura masculina. A tradição, constituída através de uma relação dialética de escritores, críticos e teóricos parece sempre ter destinado a produção das mulheres ao lugar do esquecimento (DUARTE, 2016). Dessa forma, intenta-se discutir o apagamento da obra da escritora brasileira Patrícia Galvão; isso porque, a imagem da mulher bela e ousada cresce à medida que o nome de Pagu é mais associado aos escândalos da sociedade burguesa paulistana, e menos ao trabalho artístico e intelectual. Os estigmas que a perseguiam, chamavam-na de mulher agressiva, vulgar, de pivô do fim do lar de Tarsila do Amaral, encarnam o pensamento comum entre os homens de sua época. Ao passo que a obra de Patrícia é excluída do rol social modernista, a de Oswald de Andrade não é desprestigiada pelos intelectuais e críticos contemporâneos. O nome dele é até lembrado na crítica a Parque Industrial como um influenciador de seu estilo vanguardista. Em texto sobre a vida e obra de Galvão, Antonio Risério atribui o estilo do seu romance ao de Oswald, “detectando” uma influência oswaldiana no plano macroestético da estrutura da obra, no microestético dos arranjos frásicos, na seleção vocabular e no ready-made linguístico (RISÉRIO, 2014). À Patrícia, dona de uma “franqueza sexual”, atribui a falta de eufemismo ou literaturização com a qual temas e cenas sexuais são abordados. À mulher, o trabalho do sexo; ao homem, o de mestre. Nesses termos, a obra dessa escritora sempre foi mantida à margem, na obscuridade, não constituindo uma tradição de estudo ou leitura. Referências: BEAUVOIR, S. O segundo sexo: volume 1 - Fatos e mitos; volume 2 – A experiência vivida. Trad. Sérgio Milliet. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 6. ed., 2019. DUARTE, C. L. A literatura de autoria feminina e os anos 30 no Brasil. In: Revista Araticum, Montes Claros, v. 14, n. 2, 2016. p. 9-24. GALVÃO, P. Parque industrial. São Paulo: Editora Cintra, 2013. GILBERT, S.; GUBAR, S. The madwoman in the attic: The Woman Writer and the Nineteenth-Century Literary Imagination. 2. ed. New Haven: Yale University Press, 2000. MACÉ, M. Styles: critique de nos formes de vie. Paris: Gallimard, col. NRF essais, 2016. RISÉRIO, A. Pagu: vida-obra, obravida. In: CAMPOS, A. de. Pagu: vida-obra. São Paulo: Companhia das Letras, 2014. WOOLF, V. Profissões para mulheres e outros artigos feministas. Trad. Denise Bottmann. Porto Alegre: L&PM, 2013. LYGIA FAGUNDES TELLES E OS ESPELHOS DO ABSURDO Wilson Ferreira Barbosa Resumo: Percorremos um período em que a censura está decretada, o governo exerce a figura de um carrasco que tortura e, muitas vezes, até mata sem justificativa alguma, dando fim aos corpos, deixando as famílias aflitas e sem nenhuma resposta. Época em que as manifestações de caráter oposicionista ao governo são terminantemente proibidas e a censura tolhe qualquer forma de manifestação que cause embaraço ao poder político e governamental instituído no Brasil. Estamos em 1973, ano da publicação do livro As meninas, de Lygia Fagundes Telles. Essa obra traz à tona a memória de um dos momentos mais dramáticos da História do Brasil que ficou conhecido como os “anos de chumbo”, mostrado por três personagens femininas que terão seus destinos desenvolvidos ao longo da narrativa. Com base nas leituras que tratam da história, da memória e do trauma, como Eurídice Figueiredo (2017), Maurice Halbwachs (2009) e Paul Ricouer (2007) a presente pesquisa considerará essa obra de Lygia Fagundes Telles como um relato que discutirá os efeitos causados nas personagens pelos traumas sofridos no passado; como também procuraremos demonstrar em como a autora, por meio de uma linguagem que mescla os efeitos metafóricos, metonímicos e alegóricos, retratou as classes sociais daquela época recorrendo às ações das personagens que povoam o mundo de As meninas. Referências: DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia 2. Vol. 1. São Paulo: Editora 34, 2017. FIGUEIREDO, Eurídice. A literatura como arquivo da ditadura brasileira. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2017. HALBWACHS, Maurice. Memória Coletiva. Trad. Beatriz Sidou. São Paulo: Centauro, 2009. RICOUER, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Campinas: Ed. UNICAMP, 2007. TELLES, Lygia Fagundes. As meninas. São Paulo: Companhias da Letras, 2009. SIMPÓSIO “LITERATURA E DISSONÂNCIA” André Dias (UFF), Rauer Ribeiro Rodrigues (UFMS), Felipe Gonçalves Figueira (INES) CAMILO CASTELO BRANCO: INQUIETAÇÕES E INCÔMODOS COM O ANTIGO E O NOVO REGIME EM PORTUGAL Amanda de Carvalho Ferreira Resumo: O século XIX é conhecido como um momento mudanças no pensamento e convívio social em boa parte do mundo. No contexto português, dois grandes eventos contribuíram para essas alterações: A Revolução Francesa e a Revolução Liberal de 1820. Em relação à literatura romântica, o Liberalismo também ocupa um lugar especial. Não é rara a presença dessa temática nos romances românticos, já que Portugal vive um romantismo já tardio, se comparado a outros países, fato que culmina para que a luta dos liberais contra o absolutismo (e o contexto pós instauração definitiva do liberalismo em terras lusitanas) apareçam em obras de autores da época, como ilustra FRANÇA (1974, v.6, p.1357). No contexto pós-revolução Liberal e de transição do antigo Regime para um novo mundo romântico burguês, novos valores pouco a pouco se instalavam na mentalidade lusitana. Se a honra e a origem nobre de nascimento eram conceitos tão importantes no velho Portugal, o que ganhava mais notoriedade agora era o dinheiro e títulos como o de barão e visconde. Um dos grandes expoentes da segunda geração romântica em Portugal é Camilo Castelo Branco. O autor possui vastíssima obra, entre romances, novelas, peças de teatro e outros escritos. Apesar disso, o senso comum costuma encaixá-lo no mote de ultrarromântico, um reducionismo. Por meio dos romances A queda dum anjo (1865) e Onde está a felicidade (1856) pretendemos ilustrar como o autor e o narrador camiliano são profundamente deslocados e críticos ao antigo e ao novo Regime em Portugal, além de preocupados com a seara política e social portuguesa. Os casos românticos se revelam apenas panos de fundo em meio a diferentes estratégias que são utilizadas para que o leitor se dê conta de que o progresso lusitano era falho, assim como o velho mundo dos títulos nobiliárquicos. Referências: CASTELO BRANCO, Camilo. A queda dum anjo. 2. Ed. São Paulo: Martin Claret, 2012. CASTELO BRANCO, Camilo. Onde está a felicidade? Lisboa: Parceria A. M. Pereira, lda, 1965. DAVID, Sérgio Nazar. Mimese e moral em Camilo Castelo Branco. In: Colóquio Letras. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2012. p. 77-87. FRANÇA, José-Augusto. O Romantismo em Portugal. Lisboa: Livros Horizonte, 1974. 4 v. RUA ALCINDO GUANABARA, 17 OU O CORPO VIVO DO TEATRO André Dias Resumo: A presente investigação analisa o processo de fundação, amadurecimento e trajetória da Companhia Os Fodidos Privilegiados, grupo teatral criado por Antonio Abujamra, no Rio de Janeiro, no ano de 1991. A partir do exame do acervo documental da companhia, da produção da crítica especializada publicada em jornais do início dos anos de 1990 e das entrevistas realizadas pelo pesquisador com os integrantes da trupe procurou-se avaliar as seguintes questões: a criação da companhia como espaço de sistematização dos processos estéticos adotados por Abujamra ao longo de sua trajetória artística e intelectual; a consolidação de Os Fodidos Privilegiados como uma das mais ativas e inventivas companhias teatrais surgidas no cenário carioca e brasileiro do final do século XX; as fases ou etapas que marcaram a caminhada da companhia desde seus primórdios até o momento de despedida do seu fundador; o papel desempenhado pelo teatro Dulcina, sala de espetáculos histórica, localizada na Cinelândia – coração da cidade do Rio de Janeiro – ao longo dos anos de ocupação do espaço pela trupe; Por fim, procurou-se analisar como o teatro Dulcina se constituiu como um espaço de formação de público para espetáculos teatrais e como uma escola de artes dramáticas prática, responsável pela formação de toda uma geração de atores, atrizes, diretores e cenógrafos. Referências: DIAS, André; MEDEIROS, Elen (Orgs.) Literatura e teatro: encenações da existência. Niterói/RJ, EDUFF, 2018. FARIA, João Roberto (dir) História do teatro brasileiro: das origens ao teatro profissional da primeira metade do século XX. São Paulo: Perspectiva: Edições SESCSP, 2012, Vol I. FARIA, João Roberto (dir) História do teatro brasileiro: das origens ao teatro profissional da primeira metade do século XX. São Paulo: Perspectiva: Edições SESCSP, 2012, Vol II FLORES, Ida Vicenzia. Antonio Abujamra – calendário de pedra: uma biografia. Manuas: Reggo, 2019. SANDRONI, Paula. Primeiras provocações: Antônio Abujamra e o Grupo Decisão. Rio de Janeiro, 2004. 112 f. Dissertação (Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas –PPGAC) – Escola de Teatro – UNIRIO – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2004. O POETA MEDÍOCRE DE ADÍLIA LOPES André Luiz Menezes de Morais Resumo: Desde sua invenção, a poesia surge nas sociedades antigas como a arte edificadora da “palavra final” sobre qualquer assunto, partindo da simples impressão pessoal do “poeta” ao registro das maiores guerras de sua era. Um poeta da qualidade de Homero, por exemplo, não era considerado humano entre os cidadãos da pólis, e sim um deus. Tal foi a posição de prestígio da poesia e dos seus representantes diretos nos dias antigos. Séculos adiante, os poetas passam a assistir o reconhecimento de sua arte ser lentamente substituído pela valorização do teatro e do romance, que ganham o gosto do público moderno, respectivamente, no setecentos e no oitocentos, legando à poesia uma posição de arte de “quinta categoria”. Não à toa, considera-se um período de estio para a poesia lírica o século do Iluminismo. Denis Diderot constata, a meu ver, esse sintoma e o dramatiza num breve episódio do seu romance Jacques, o fatalista, e seu amo. Na passagem em questão, o narrador/autor-personagem suspende a narrativa de Jacques e enceta na trama a estória de um poeta que o procurou, solicitando-lhe que examinasse uns versos de sua autoria. Considerando-os ruins, aconselha o jovem poeta a parar de escrever e se mudar para Pondichéry, então uma cidade com grande potencial comercial na qual o frustrado poeta poderia enriquecer. O poeta retorna endinheirado à França passados dez anos, mas ainda escrevendo poemas “ruins”. Vendo nesse episódio um tema digno de representação, a poeta portuguesa Adília Lopes reelabora a trama diderotiana em O poeta de Pondichéry [1986]. Nesta comunicação, discutirei o poema “V” da coletânea de Adília e sua possível relação com o Hino a Apolo, supostamente de autoria homérica. Para tanto, fundamentarei tal leitura com as noções de “gênio não original”, de Perloff (2013), e “poeta sem qualidade”, de Freitas (2002). Referências: FREITAS, Manuel de (org.). O tempo dos puetas. In: ______ (org.). Poetas sem qualidades. Lisboa: Averno, 2002. HOMERO. Hino homérico a Apolo. Introdução, tradução, comentários e notas de Luiz Alberto Machado Cabral; apresentação de Antonio Medina Rodrigues. Ed. bilingue. Cotia: Ateliê; Campinas: Ed. Unicamp, 2004. LOPES, Adília. O poeta de Pondichéry. Apresentação de Raquel Menezes. Belo Horizonte: Moinhos, 2019. PERLOFF, Marjorie. O gênio não original: poesia por outros meios no novo século. Tradução de Adriano Scandolara. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2013. CRIOGENIA DE D.: UM DIÁRIO ÍNTIMO DO MUNDO CONTEMPORÂNEO Anna Paula Soares Lemos Resumo: Criogenia de D.: ou manifesto pelos prazeres perdidos (2021) de Leonardo Valente, é leitura que se sente na carne. Ao ler este diário que se congela gradativamente, página a página, sem revelar exatamente quem o escreve, sente-se no corpo cada angústia ao mesmo tempo individual e universal da personagem D. É explícita a intertextualidade com Anna Karênina de Tolstoi, mas parece ter sido escrito por um autor que se inspira na tríade José Saramago, Franz Kafka e Clarice Lispector. Há tons e potências de cada um deles na narrativa. O texto é dividido em frases curtas que, no entanto, ignorando as letras maiúsculas, dá à leitura um fluxo continuo que arranca o fôlego, tal qual Saramago. O narrador que não se define e nem se apresenta parece remeter ao K. em O Processo de Kafka. D. é personagem ora feminino ora masculino. D. é híbrido e se reconfigura em cada fragmento íntimo bem ao tom de Clarice Lispector. Leonardo Valente, jornalista, professor e escritor, escreve em impulso, em fluxo, em profundo sentimento paradoxal que se faz humanamente manifesto em um texto absolutamente contemporâneo na forma e no conteúdo. Ele coloca o leitor no entrelugar, dento e fora do livro, na possibilidade constante de parar ou de continuar a leitura. Entre páginas em branco e excertos, cada relato de D. basta em si mesmo e é potente, imprevisível, construído e desconstruído. Na forma, a perspectiva do fragmento extrapola para a própria construção-desconstrução do narrador D. que pode ser ele mesmo um D. de diário. Um diário que narra os sentimentos e prazeres que se manifestam em profusão. O livro foi escrito, publicado e adaptado para teatro em período de pandemia de COVID 19. Pretende-se neste sentido analisar o texto desta literatura contemporânea independente e o seu contexto. Referências: GALLIAN, D. M. C. (2016). Um Experimento com Tolstoi: a “Fenomenologia do Amor” em Ana Karenina. Via Atlântica, 1(29), 125-151 KAFKA, Franz. O processo. Tradução de Modesto Carone. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. RUFFATO, Luiz. Literatura em tempos de pandemia. In: https://www.itaucultural.org.br/secoes/noticias/literatura-em-tempos-depandemia, 19/04/2020. Acesso em: Maio de 2022. VALENTE, Leonardo. Criogenia de D.: ou manifesto pelos prazeres perdidos. Salvador: Editora Mondrongo, 2021. "COMO ULISSES TE BUSCO E DESESPERO": O EXÍLIO NA LÍRICA DE MANUEL ALEGRE Carina Marques Duarte Resumo: Edward Said (2003) afirma que a tristeza essencial decorrente do exílio jamais pode ser superada. O português Manuel Alegre permaneceu exilado durante 10 anos e reconhece o peso do vivido em seu fazer literário. O objetivo desta comunicação é analisar o tratamento do tema exílio na poesia do autor de O canto e as armas, verificando a relevância da intertextualidade para a elaboração poética da experiência do desterro. Serão de grande valia, para a consecução de nosso intento, as proposições de Edward Said (2003) e as de Laurent Jenny (1979). Estabelecendo um diálogo com a Odisseia, de Homero, Manuel Alegre se reporta a duas personagens – Ulisses e Penélope – que sofrem em virtude da ausência – da pátria e do amado –, de maneira que o sujeito poético, identificando-se ora com uma ora com a outra, espera, luta, resiste e sofre. Aliás, o sofrimento é ainda mais intenso quando o poeta retrata o momento da separação, a dor da partida. Os poemas de Alegre sugerem que, para o poeta exilado, como refere Said (2003), retomando as reflexões de Adorno, o único lar disponível, “embora frágil e vulnerável” (SAID, 2003, não paginado), estava na escrita. Assim, ao elaborar poeticamente o dilaceramento provocado pelo exílio, Manuel Alegre “confere dignidade a uma condição criada para negar a dignidade – e a identidade às pessoas” (SAID, 2003, não paginado). Referências: ABDALA JUNIOR, Benjamin. Literatura, História e política. São Paulo: Editora Ática, 1989. ALEGRE, Manuel. O canto e as armas. Lisboa: D. Quixote, 2017. E-book. MELO, Afonso de. Manuel Alegre: a minha segunda candidatura foi um erro (Entrevista). 2017. A Disponível em < https://ionline.sapo.pt/artigo/552021/manuel-alegre-a-minha-segunda-candidatura-foi-umerro-?seccao=Portugal_i>. Acesso em 05 de março de 2021. HOMERO. Odisseia. Curitiba: Editora Princípio, 2020. JENNY, Laurent. JENNY, Laurent. A estratégia da forma. Poétique: revista de teoria e análise literárias; Intertextualidades, Coimbra, 1979. p. 5-49. RIBEIRO, Margarida Calafate; VECCHI, Roberto. Guerra Colonial e memória poética: uma antologia possível. In:______. Antologia da memória poética da Guerra Colonial. Lisboa: Afrontamento, 2011. ROSAS, Fernando. Salazar e o poder – a arte de saber durar. Lisboa: Tinta da China, 2013. SAID, Edward. Reflexões sobre o exílio e outros ensaios. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. SAMOYAULT, Tiphaine. A intertextualidade. Trad. Sandra Nitrini. São Paulo: Aderaldo e Rothschild, 2008. A VISÃO DISSONANTE DA PESTE NEGRA PELA VOZ CARNAVALIZADA DE MAQUIAVEL Carolina de Castro Wanderley Resumo: Quando Mikhail Bakhtin (2010) parametrizou a carnavalização na literatura, observou alguns atributos desta manifestação: a busca da narrativa da realidade em múltiplas versões, a priorização do enfoque dos fatos sob a narrativa dos menos favorecidos, as inversões e rebaixamentos materiais, o realismo grotesco, a ironia e a paródia. É no contraponto ideológico, na fricção social, na existência incômoda de uma grande regra causada por circunstância sanitária ou humana, de uma interdição de gozo coletivo sob pena de morte, que surgem as melhores oportunidades de exercício da chamada visão carnavalesca bakhtiniana. Nicolau Maquiavel, intelectual florentino, soube observar o caráter formal e canônico como as narrativas de sua época lidavam com a Peste Negra no surto do século XVI e, de modo irônico, desenvolveu uma nova e dissonante versão em Epístola da Peste, parodiando velhos e novos hábitos sociais. O caráter insurgente destas narrativas a respeito da comoção sanitária decorrente da Peste Negra no século XVI, conforme escrito por Maquiavel, é o interesse de análise da presente proposta, notadamente verificado na recente edição do texto por Pasquali Stoppelli (2019), em minuciosa tese filológica acerca da autoria do texto, que durante muitos anos foi atribuída a Lorenzo Strozzi. Para tanto, anela-se o estudo das parodísticas abordagens sobre Peste na mencionada obra de Maquiavel, para exposição das múltiplas formas populares de se ver e se vivenciar a tragédia. Tem-se como fundamentação teórica a carnavalização de Bakhtin (2010), a visão sobre o medo de Jean Delumeau (2009), o estudo sobre o simbolismo da doença de Susan Sontag (1984) e, por fim, a edição de Epístola da Peste de Maquiavel, com o detalhado estudo autoral de Stoppelli (2019). Referências: BAKTHIN, Mikhail. A cultura popular na Idade Média e no Renascimento. São Paulo: Hucitec, 2010. CASTRO, Ruy. Metrópole à beira-mar: o Rio moderno dos anos 20. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. CONY, Carlos Heitor. O carnaval da gripe. Folha de São Paulo, 25.02.2001. DELUMEAU, Jean. História do medo no ocidente – 1300-1800 – uma cidade sitiada. Trad. Maria Lucia Machado. São Paulo: Companhia de Bolso, 2009. SONTAG, Susan. A doença como metáfora. Trad. Márcio Ramalho. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1984. STOPELLI, Paquale. Epistola della peste de Niccolò Machiavelli: edizione critica secondo il Ms. Banco Rari 29. Roma: Edizioni di storia e letteratura, 2019. RODRIGUES, Nelson. Memórias. Rio de Janeiro: Correio da Manhã, 1967. AS VOZES DISSONANTES EM O REMORSO DE BALTAZAR SERAPIÃO, DE VALTER HUGO MÃE Cristiane Corsini Lourenção, Elizabeth Cardoso Resumo: A apresentação tem como objetivo discutir as vozes que se apresentam como dissonantes no romance de Valter Hugo Mãe, especialmente no confronto entre feminino e masculino, na inscrição da voz (presença e ausência) como metáfora de poder e do silenciamento feminino como imagem de aniquilamento. O autor-criador será investigado em perspectiva bakhtiniana (conforme teorias de Bakhtin sobre o romance em Problemas da Poética de Dostoiévski, 2018, e em Estética da criação verbal, 2020) e, nesse sentido, em processo de reflexão e refração das consciências das personagens e de si mesmo e de seu tempo, em movimento dialógico em que se contrapõem o narrador masculino e as personagens femininas. Romance ambientado em uma aparentemente longínqua Idade Média, o remorso de baltazar serapião, instaura uma leitura anacrônica, evoca questões atuais e elabora, esteticamente, uma narrativa em que a violência se delineia como imagem atemporal. A análise pretende, dessa forma, destacar a elaboração poética de um narrador onisciente que, pelo discurso, instaura a dissonância de vozes, incluindo o leitor na experiência estética da revolta e da sensação de incapacidade perante da violência. A potência das personagens femininas será lida como resistência e transgressão, na medida em que, pela palavra, o feminino pode exercer seu poder. Valter Hugo Mãe se circunscreve como “homem de seu tempo”, aquele que, na concepção de Agamben, possui uma singular relação com seu agora, de distanciamento, que paradoxalmente lhe possibilita enxergá-lo melhor. Referências: AGAMBEN, Giorgio. O que é contemporâneo? E outros ensaios. Trad.Vinícius Nicastro Honesko. Chapecó: Argos, 2009 BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. Trad. Paulo Bezerra. 6 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2020. BAKHTIN, Mikhail. Problemas da poética de Dostoiévski. Trad. Paulo Bezerra. 5 ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2018. MÃE, Valter Hugo. o remorso de baltazar serapião. 2ed. Rio de Janeiro: Biblioteca azul, 2018. AUTO DA COMPADECIDA E FARSA DA BOA PREGUIÇA: OS MARCADORES SOCIAIS E A SEGREGAÇÃO NA SOCIEDADE BRASILEIRA Daniel Reis Pessanha Resumo: Tendo como base as obras Auto da Compadecida e Farsa da Boa Preguiça, de Ariano Suassuna, o presente trabalho busca estudar a importância dos marcadores sociais para a distinção entre as classes. Segundo Pierre Bourdieu, “uma classe não pode jamais ser definida apenas por sua situação e por sua posição na estrutural social, isto é, pelas relações que mantém objetivamente com as outras classes sociais. [...] É a independência relativa do sistema de atos e procedimentos expressivos, ou por assim dizer, das marcas de distinção, graças às quais os sujeitos sociais exprimem, e ao mesmo tempo constituem para si mesmos e para os outros, sua posição na estrutura social (e a relação que eles mantêm com esta posição) operando sobre os “valores” (no sentido dos linguistas) necessariamente vinculados à posição de classe”. (BOURDIEU, 2015, p. 14). Tendo em vista as representações sociais que podem ser observadas nas obras do dramaturgo nordestino, busca-se compreender a importância dos marcadores sociais para as sociedades que estão sendo representadas nas peças. Em suma, busca-se compreender três marcas de distinção que podem ser encontradas nas peças do autor de Auto da Compadecida, a saber: a econômica, a intelectual e a religiosa. Dessa forma, pode-se entender a importância dos marcadores sociais para a manutenção das desigualdades que podem ser percebidas na sociedade brasileira. Referências: BOURDIEU, Pierre. A Distinção: crítica social do julgamento. – 2 ed. rev. – Porto Alegre, RS: Zouk, 2011. BOURDIEU, Pierre. A Economia das trocas simbólicas. Introdução, organização e seleção Sergio Miceli. – 8 ed. – São Paulo: Perspectiva, 2015. SUASSUNA, Ariano. Auto da Compadecida. 36ª edição - Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2014. _____________________. Farsa da Boa Preguiça. 13. ed. – Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2020. REIVINDICANDO O DIREITO À OPACIDADE: TECNOLOGIAS DE RESISTÊNCIA E AFETO EM CAROLINA MARIA DE JESUS E FRANÇOISE EGA Elizabeth Cardoso, Carolina dos Santos Ferreira Resumo: Esta comunicação objetiva investigar as tecnologias de resistência e afeto presentes nas literaturas de autoria negra. Tendo como ponto de partida o período colonial, no qual pessoas africanas foram raptadas de seus territórios e a partir disso vão inscrevendo-se nas Américas em movimentos de cruzos, desvios, transcriação. Aqueles que conseguiram sobreviver à travessia do Atlântico, tiveram que se despir de seus nomes, suas crenças e foram separados de seus familiares. Em um processo de violências físicas, culturais e espirituais. Como hoje, podemos ler as literaturas negras da diáspora como meios de sobrevivência dessas heranças, que resistiram apesar dos séculos de um sistemático apagamento. Quais são as rotas de fuga que essas literaturas nos indicam? E como podemos identificar os movimentos de desterritorialização e opacidades presente como tecnologias de resistência e afeto? A partir da leitura de Carolina Maria de Jesus, nos propomos a refletir sobre a opacidade, conceito cunhado por Édouard Glissant, presente em sua poeticidade. Para isso, serão mobilizadas algumas reflexões em torno do espólio da autora que será colocado em diálogo com a autora Françoise Ega - em uma tentativa de erguer uma ponte entre dois tipos de opacidades. A fim de identificar os movimentos de desterritorialização de uma subjetividade forjada em um sistema heteropatriarcal-colonialista que ambas as autoras parecem operar através de suas poéticas. Onde através da re-criação preta da palavra é ativado um agenciamento coletivo de enunciação. Saindo da ideia de uma raiz única e de uma falsa pretensão a ideia de universalidade. Pensamos que se trata de entender de que forma esses deslocamentos criam uma rasura-rastro que pode ampliar as possibilidades de leitura das literaturas negras. Não apenas no aspecto social, mas também das tecnologias de resistência e de afeto. Como podemos pensar a partir dessas autoras nas possibilidades de lugares de existência? Referências: BONA, Dénètem Touam. Cosmopoéticas do refúgio. Florianópolis, Cultura e Barbárie, 2020. DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Introdução: Rizoma. In: Mil Platôs: capitalismo e esquizofrenia 2. Tradução de Aurélio Guerra Neto e Célia Pinto Costa. São Paulo, Editora 34, 1995. EGA, Françoise. Cartas a uma negra. São Paulo, Todavia, 2020. GLISSANT, Édouard. Poética da Relação. Tradução de Marcela Vieira e Eduardo Jorge Oliveira. Rio de Janeiro, Bazar do Tempo, 2021. GLISSANT, Édouard. ntrodução a uma poética da diversidade. Tradução de Enilce Abergara Rocha. Juiz de fora, URJF, 2005. JESUS, Carolina Maria de. Quarto de Despejo: diário de uma favelada. São Paulo: Editora Ática, 1992. _____, Carolina Maria de. Casa de alvenaria: diário de uma ex-favelada. São Paulo: Paulo de Azevedo, 1961. _____, Carolina Maria de. Casa de alvenaria volume 1: Osasco . São Paulo: Companhia das Letras, 2021. _____, Carolina Maria de. Casa de alvenaria volume 2: Santana . São Paulo: Companhia das Letras, 2021. MARTINS, Leda Maria. Performances do tempo espiralar. In: Performance, exílio, fronteira: errâncias territoriais e textuais. Belo Horizonte: Departamento de Letras Românticas; Faculdade de Letras, UFMG: Poslit, 2002. PLURISSIGNIFICADOS SIMBÓLICOS DO ESPAÇO NO CONTO "NOTURNO", DE ALCIENE RIBEIRO Fabiane Lemos de Freitas Garcia, Rauer Ribeiro Rodrigues Resumo: Em “Noturno”, conto de Alciene Ribeiro, que integra a obra Mulher Explícita (2019), lançada pela editora Pangeia e organizada por Rauer Ribeiro Rodrigues, espaço e ambientação ganham grande relevo sendo o fio condutor da trama, refletindo o estado de espírito das personagens. Em conjunto evidenciam um possível destino já traçado para uma mulher que, mesmo amando, abandona uma união pautada na traição, que a deixa com “o viço meio crestado do jardim” (RIBEIRO, 2019, p. 121). Nesse sentido, no conto, a função social da mulher, representada pela submissão e servilismo no relacionamento amoroso, é elaborada na medida em que o próprio ambiente reaviva essa simbologia, na busca por uma verossimilhança com o real; na narrativa é a personagem feminina que deve zelar para que haja brilho em seu relacionamento. Dessa forma, é a partir dos postulados sobre o espaço, pautados em Osman Lins (1976) e Antonio Dimas (1986), além dos estudos sobre a teoria do conto a partir dos estudos de Piglia (2004), Cortázar (2008) e Poe (2019), este trabalho propõe uma leitura do conto de Ribeiro (2019), a partir da importância que o espaço adquire como revelador para o desenlace da história, apresentado uma atmosfera densa e perturbante, onde natureza e objetos passam a ter vida própria. Referências: CORTÁZAR, Julio. Alguns aspectos do conto. In: CORTÁZAR, Julio. Valise de cronópio. Trad. Davi Arriguci Jr. e João Alexandre Barbosa. São Paulo: Perspectiva, 2008. p. 147163. CORTÁZAR, Julio. Do conto breve e seus arredores. In: CORTÁZAR, Julio. Valise de cronópio. Trad. Davi Arriguci Jr. e João Alexandre Barbosa. São Paulo: Perspectiva, 2008. p. 227-237. DIMAS, Antonio. Espaço e romance. São Paulo: Ática, 1986. HEMINGWAY, Ernest. A arte da ficção 21. As entrevistas da Paris Rewiew, v. 1 Trad. Christian Schwartz, Sérgio Alcides. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. P. 58-92. PIGLIA, Ricardo. Formas breves. Trad. José. Marcos Mariani de Macedo. São Paulo: Companhia das Letras, 2004. POE, Edgar Allan. Filosofia da composição. In: O corvo. Organização, posfácios e tradução dos ensaios Paulo Henriques Britto. 1º ed. Trad. Fernando Pessoa e Machado de Assis. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. P. 5773. RIBEIRO, Alciene. Mulher explícita. Org. e posfácio Rauer Ribeiro Rodrigues. Uberlândia, MG: Pangeia, 2019. 208 p. RODRIGUES, Rauer Ribeiro; QUADROS, Aurora Cardoso de; BARBOSA, Maisa (Orgs.). Alciene Ribeiro. Uberlândia, MG: Pangeia, 2019. Coleção Literatura e Vida, do GPLV, volume 2. RODRIGUES, Rauer Ribeiro. Alciene Ribeiro. In: RIBEIRO, Alciene. Org. e posfácio de Rauer Ribeiro Rodrigues. Mulher explícita. Uberlândia, MG: Pangeia, 2019. p. 198-206. RODRIGUES, Rauer Ribeiro. Ernest Hemingway: um mergulho na teoria do iceberg. Disponível em: https://editorapangeia.com.br/a-arte-de-escrever-16-hemingway-um-mergulho-na-teoriado-iceberg/. Acessado em: 18 dez. 2020. A ÉTICA DOS ESPAÇOS DEGRADADOS NOS FOLHETOS DE ANTÔNIO FRANCISCO Felipe Gonçalves Figueira Resumo: Uma característica recorrente na literatura de Antônio Francisco Teixeira de Melo é a representação poética de espaços. Ora são fruto do empenho criativo do poeta em oposição àqueles da vida cotidiana, como no folheto “Meu sonho” (FRANCISCO, 2011b, p. 13 – 24) e em “As seis moedas de ouro” (idem, p. 51 – 64);ora são as cores e os cantos de seu sertão natal trazidos para seus versos a partir de sua perspectiva crítica, como em “Um bairro chamado Lagoa do Mato” (FRANCISCO, 2011a, p. 53 – 60). Em minha leitura, percebo a constituição desses espaços representados como um exercício literário de reflexão filosófica sobre fundamentos éticos e estéticos da própria sociedade no início de século XXI. Para o presente estudo, debruçome sobre os espaços urbanos cujas representações, na obra de Antônio Francisco, carregam a marca da degradação, seja do ponto de vista estético ou ético. A construção literária desses espaços pode ser compreendida como esforço reflexivo do autor, que lança críticas às formas contemporâneas de sermos e estarmos no mundo. Servem de corpus para o estudo — especialmente — os poemas encontrados nas antologias Por motivos de versos (FRANCISCO, 2011a), Sete contos de Maria (FRANCISCO, 2011b), Dez cordéis num cordel só (FRANCISCO, 2011c) e Quatro léguas e meia de cordel (FRANCISCO, 2019). Para o desenvolvimento das reflexões sobre as dimensões teóricas da representação do espaço e do tempo na literatura, são relevantes as proposições fundadas na análise do discurso de Mikhail Bakhtin (1993, 2010, 2018). Referências: BAKHTIN, Mikhail. A cultura popular na idade média e no renascimento: o contexto de François Rabelais. Trad. Yara Frateschi Vieira. São Paulo: Hucitec, 2010. (Literatura e Cultura, 12) _____ . “O tempo e o espaço nas obras de Goethe”. In. _____ . Estética da criação verbal. Trad. Paulo Bezerra. São Paulo: Martins Fontes, 2006. (Coleção biblioteca universal) _____ . Teoria do romance II: as formas do tempo e do cronotopo. Trad. Paulo Bezerra. São Paulo: Ed. 34, 2018. BEZERRA, Paulo. Dostoiévski: “Bóbok” – Tradução e análise do conto. São Paulo: Ed. 34, 2005. ____ . Posfácio. In BAKHTIN, Mikhail. Teoria do romance II: as formas do tempo e do cronotopo. Trad. Paulo Bezerra. São Paulo: Ed. 34, 2018. CORRÊA, Roberto Lobato; ROSENDAHL, ZENY (orgs.). Paisagens, textos e identidades. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2004. (coleção Geografia Cultural) ____ . Literatura, música e espaço. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2007. (coleção Geografia Cultural) FIGUEIRA, Felipe Gonçalves. A construção de espaços na poética de Antônio Francisco. In: SILVA, Douglas Rosa da; PIVETTA, Rejane; BITTENCOURT, Rita Lenira de Freitas. (Org.). Literatura: modos de resistir. 1ed.Porto Alegre: Bestiário/Class, 2021, v. 2, p. 366-386 FRANCISCO, Antônio. Por motivos de versos. Fortaleza: IMEPH, 2011a. ______ . Sete contos de Maria. Fortaleza: IMEPH, 2011b. ______ . Dez cordéis num cordel só. Fortaleza: IMEPH, 2011c. ______ . Veredas de sombras. Fortaleza: IMEPH, 2011d. ______ . O olho torto do rei. Fortaleza: IMEPH, 2011e. ______ . Quatro léguas e meia de cordel. Fortaleza: IMEPH, 2019. POETA E A BICICLETA, O. Direção de Gustavo Luz, Thalles Chaves e Toinha Lopes. Mossoró: Filme realizado dentro do projeto de formação em audiovisual “Curta Mossoró”. 2010. 12min. son., color. "NÃO SERÁ REPRESENTADA": REPERCUSSÃO INICIAL DA TRILOGIA DA DEVORAÇÃO, DE OSWALD DE ANDRADE Frederico van Erven Cabala Resumo: O presente trabalho se propõe a analisar a recepção das três peças teatrais de maior fôlego que Oswald de Andrade escreveu no decênio de 1930. A “trilogia da devoração”, conforme denominada por alguns estudiosos como Gardin (1995), é composta pelas obras dramatúrgicas O homem e o cavalo, publicada em 1934 em edição do próprio autor, e O rei da vela e A morta, ambas publicadas em volume único intitulado Teatro, em 1937, pela Livraria José Olympio Editora. As peças apenas seriam encenadas após a conhecida montagem de O rei da vela, em 1967, pelo Teatro Oficina. Nesta comunicação, examinaremos a repercussão inicial que as obras tiveram enquanto publicação em livro, em um recorte restrito às críticas literárias publicadas em páginas de jornais e revistas do Brasil ao longo dos anos 30. Esperamos, a partir disso, apontar aspectos estéticos e sociais interessantes notados nessa primeira recepção que podem nos ajudar a formular considerações sobre a não encenação das peças de Oswald de Andrade no contexto da década de 30. Para acompanhar o percurso de análise, são fundamentais trabalhos como Intelectuais e classe dirigente no Brasil (1920-1945), de Sergio Miceli, Papéis colados, de Flora Sussekind, e As regras da arte, de Pierre Bourdieu, entre outros. Referências: ANDRADE, Oswald de. Panorama do fascismo/ O homem e o cavalo/ A morta. São Paulo: Globo, 2005. ANDRADE, Oswald de. O rei da vela. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. BOURDIEU, Pierre. As regras da arte. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. GARDIN, Carlos. O teatro antropofágico de Oswald de Andrade: Da ação teatral ao teatro de ação. São Paulo: Annablume, 1995. MICELI, Sergio. Intelectuais e classe dirigente no Brasil (1920-1945). São Paulo: Difel, 1979 SANTOS, Sérgio Ricardo de Carvalho. O drama impossível: teatro modernista de Antônio de Alcântara Machado, Oswald de Andrade e Mário de Andrade. 2002. Universidade de São Paulo, São Paulo, 2002. SUSSEKIND, Flora. Papéis colados. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, 1993. O IMPRESSIONISMO NAS RUBRICAS DOS ESPERPENTOS DE RAMÓN MARÍA DEL VALLE-INCLÁN Gustavo Rodrigues da Silva Resumo: Os Impressionismos Pictórico e Literário surgem no século XIX e ambos possuem algumas características comuns como apresentar o ritmo agitado das grandes cidades europeias daquelas décadas. Maria Elizabeth Kronegger em Literary impressionism (1973) e Arnold Hauser em Historia social de la literatura y el arte (1969) comentam aquelas características e apontam como expoentes do Impressionismo Literário em nível mundial alguns autores como Ford Madox Hueffer (1873-1939) e Joseph Conrad (1857-1924). Em Impressionismo e Literatura (2017), Franco Baptista Sandanello sistematiza as pesquisas de Kronegger, Hauser e outros autores e, propõe a existência de dois Impressionismos Literários. Ele nomeia o primeiro de comparatista, pois compartilha algumas características com o pictórico. Ele nomeia o segundo de narrativista porque tem como uma de suas características a apresentação do mundo interior das personagens. Um primeiro ponto dissonante nas áreas de pesquisa do Impressionismo Literário e dos esperpentos valle-inclanianos é que não se encontra um estudo que faça uma interpretação rigorosa de características impressionistas presentes nas rubricas esperpênticas valle-inclanianas tendo como base teórica essa importante e contemporânea divisão proposta por Sandanello. A nossa comunicação demonstrará que na trilogia dramática Martes de carnaval (1990) de Ramón María del Valle-Inclán (1866-1936) se encontram rubricas impressionistas mistas, ou seja, comparatistas e narrativistas ao mesmo tempo, uma característica literária dissonante e inovadora dentro do escopo da Literatura Espanhola do século XX. Referências: CONRAD, Joseph. No coração das trevas. Tradução de José Roberto O’Shea. Rio de Janeiro: Azougue, 2018. HAUSER, Arnold. Historia social de la literatura y el arte. Madri: Ediciones Guadarrama, 1969. v. III. HUEFFER, Ford Madox. “On Impressionism”. In: MONRO, Harold (ed.). Poetry and drama. Londres: The Poetry Bookshop, 1914. v. II. p. 167-175. KRONEGGER, Maria Elizabeth. Literary impressionism. New Heaven: College & University Press, 1973. SANDANELLO, Franco Baptista. “O conceito de impressionismo literário”. In: SANDANELLO, Franco Baptista (org.). Impressionismo e literatura. São Luís: Editora da Universidade Federal do Maranhão, 2017. p. 11-51. VALLE-INCLÁN, Ramón María del. Martes de carnaval. Las galas del difunto. Los cuernos de don Friolera. La hija del capitán. Edição crítica de Ricardo Senabré Sempere. Madri: Espasa-Calpe, 1990. LAR,: O CORPO E AS MEMÓRIAS EM ARMANDO FREITAS FILHO Herculano Tiago da Silva Resumo: A casa do poeta tem fachada e endereço, mas seu lar, totalmente transitório, é o que seu corpo esconde, munido de segredos que insistem em se mostrar. Esse tema – o da escrita como corpo e do corpo como escrita – é recorrente na obra de Armando F. Filho (1940 - ). Assim se compõe a sua escrita, construída pelo corpo e também por ele sustentada. É possível observar essa construção nos poemas que compõem o livro Lar, (2009), uma vez que o poeta fala de si próprio ligado às suas íntimas experiências, mediadas pela “encenação” que sugere a vivência poética. O proposto trabalho também objetiva analisar, a partir de composições do livro de poemas, o papel da memória enquanto formadora do sujeito poeta juntamente das suas referências a outros autores no que diz respeito a outro tipo de memória, a literária, temas abordados por Eneida Maria de Souza (1943 – 2022) e Jacques Le Goff (1924 – 2014). Pensando desta forma, é possível vagar por suas tradições, bem como explana Borges (1899 – 1986) e constatar como tudo isso se harmoniza a ponto de definir o espaço/tempo do escritor que se torna, por sinal, um sujeito crítico. Lar, (2009) é o que se pode chamar de uma síntese do poeta Armando. É nessa obra que podemos ver, propositalmente ou não, uma linha do tempo da vida deste sujeito. Como se o víssemos criança no início e depois já maduro ao chegar no fim da obra. O que revela o caráter crítico, memorialístico e, muitas vezes, autobiográfico do autor. A vírgula do título da obra é o início de um espaço vago que pode buscar seu preenchimento a partir do já vivido e vivenciado e é esta lacuna que torna possível a existência do poeta. Referências: FREITAS FILHO, Armando. Lar,. São Paulo: Companhia das Letras, 2009 LE GOFF, Jacques. História e Memória. Tradução de Bernardo Leitão. Campinas, SP Editora da UNICAMP, 1990. (Coleção Repertórios). SOUZA, Eneida Maria de. A crítica biográfica, Janelas indiscretas. In: SOUZA, Eneida Maria de. Janelas indiscretas: ensaios de crítica biográfica. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011.p.17-25, p. 27-37. BORGES, Jorge Luis, 1899-1986. Kafka e seus precursores. In: Obras completas de Jorge Luis Borges, volume 2 / Jorge Luis Borges. - São Paulo: Globo, 2OOO. PODE O SUBALTERNO FALAR? LITERATURA, MEMÓRIA E RESISTÊNCIA EM FIM DOS MEUS NATAIS DE MACARRONADAS, DE GENI GUIMARÃES Ilka Vanessa Meireles Santos, Marcos Antônio Fernandes dos Santos Resumo: Dentre as diversas formas de expressão, a literatura tem se mostrado um poderoso instrumento de questionamento capaz de abrir espaços para vozes que por muito tempo foram silenciadas. Nesse sentido, muitas narrativas trazem à tona a experiência de sujeitos que foram marginalizados e violentados pelas diversas formas de opressão, os quais encontraram na escrita uma possibilidade de exercício da tão sonhada liberdade e um espaço de resistência às mais diversas formas de exclusão e discriminação. Nessa perspectiva, a literatura brasileira contemporânea é um cenário de onde emergem narrativas marcantes que refletem as dores do outro subalternizado, como é o caso do que podemos observar na escrita de Geni Guimarães, em especial, na obra Leite do Peito. Assim, o presente estudo objetiva refletir sobre como as memórias da narradora personagem do conto Fim dos meus natais de macarronadas constroem a resistência por meio do texto literário, que traz à tona a existência do subalternizado e o seu lugar de fala. A metodologia utilizada para a construção do trabalho tem abordagem qualitativa e, quanto aos procedimentos, é bibliográfica. Consiste em uma análise teórico-crítica sobre a narrativa, e para tanto, o suporte teórico é construído através da contribuição de autores como Djamila Ribeiro, Bell Hooks, Gagnebin, Halbwachs, Spivak, entre outros. Por meio da narrativa de Geni Guimarães, evidenciamos os relatos de uma narradora personagem que teve parte de sua infância ‘roubada’ pelo preconceito e pela discriminação racial, os quais deixaram profundas marcas em sua existência. A fala e a memória do outro, que se apresentam a nós leitores por meio do texto literário, representam, então, marcas da dissonância, numa literatura agora produzida e protagonizada por aquele estava à margem, e essa é, historicamente, uma importante mudança de posição, em que por muito tempo prevaleceu o olhar do opressor. Referências: HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. Tradução de Beatriz Sidou. 2ª ed. São Paulo: Centauro, 2013. HOOKS, bell. Olhares negros: raça e representação. Tradução de Stephanie Borges. São Paulo: Elefante, 2019. 356 p. RIBEIRO, Djamila. O que é lugar de fala?. Belo Horizonte: Letramento, 2017. 112 p. SPIVAK, Gayatri Chakravorty. Pode o subalterno falar? Editora UFMG: Belo Horizonte, 2010. 135 p. PROCESSO SOCIAL E FORMA LITERÁRIA: AS CONTRIBUIÇÕES DE FRANCO MORETTI PARA O ENTENDIMENTO DA EVOLUÇÃO DA LITERATURA MODERNA Joelma de Araújo Silva Resende, Raimunda Maria dos Santos Resumo: Considerando a ideia de incompletude textual defendida pela crítica autorizada do século XIX, propõe-se tomar a obra como objeto de estudo, concentrando-se na interação entre o texto objetivo e a experiência subjetiva por ele potencializada. Assim, apresentam-se, neste artigo, as impressões de leitura do texto O século sério do historiador e teórico da literatura italiana Franco Moretti, bem como das leituras do romance Robinson Crusoé de Daniel Defoe e do conto A hora e vez de Augusto Matraga de João Guimarães Rosa. Estes dois últimos, são analisados numa perspectiva comparatista, mas também como objetos de estudo em que se rastreiam os aspectos característicos da composição da forma e estilo autoral para o entendimento da evolução da literatura moderna. Para contextualização, vale-se do passado das ideias sobre literatura e como se acomodam somente os gêneros historicamente constituídos, na concepção de Bakhtin (1988), vale-se também da realização da leitura distante de certas obras do período de transição - o século XIX por Moretti (2014). A análise sustenta que sob o ponto de vista da construção narrativa e os dispositivos linguísticos, há uma estreita relação entre a evolução da forma literária na prosa e processo social, visto que, a engenhosidade na organização do texto; disposição do narrador, o estilo discursivo, isto é, todo o jogo linguístico empregado dentro das possibilidades de liberdade sugerida pelo contexto, converge para a reelaboração do gênero literário e ainda, a literatura burguesa tende a esmaecer com a chegada da modernidade: não só o burguês se perdeu como sua prosa encontra-se desalojada pela prosa analítica e pelas metáforas do mundo em mutação em decorrência da transição histórica social e econômica. E, sem dar corpo ao humano diante do capitalismo, entende-se que o drama, mais que o romance, capta melhor essa fase de transformação da realidade. Referências: ARAÚJO, Homero José Vizeu. A peripécia brasileira de Robinson Crusoé: o herói burguês e negreiro na origem da ascensão do romance. Cerrados: crítica estética marxista. Revista do Programa de Pós-Graduação em Literatura, n. 39, ano, 2015. Disponível em: <https://lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/140367/000985018.pdf?sequence=1&isAllowed =y>. Acesso em: 20/04/2020. AUERBACH, Erich. Mimesis. 4ª. ed São Paulo: Perspectiva, 2002. BAKTHIN, Mikhail M. Para uma filosofia do ato responsável. Tradução de Valdemir Miotello e Carlos Alberto Faraco. 2ª ed. São Carlos: Pedro & João Editores, 2016. BAKTHIN, Mikhail M. Questões de literatura e estética. Tradução de Valdemir Miotello e Carlos Alberto Faraco. 2ª ed. São: UCITEC, 1988. DEFOE, Daniel. As aventuras de Robinson Crusoé. Tradução: Albino Poli Jr. Porto Alegre: L&PM, 2010. FIORIN, José Luiz. Introdução ao pensamento de Bakhtin. São Paulo: Ática, 2009. ISER, Wolfgang. A interação do texto com o leitor. In: LIMA, Luiz Costa (org.). A literatura e o leitor. Textos da Estética da Recepção. Rio de Janeiro: Paz e Terra,1979. JAUSS, Hans Robert. A história da literatura como provocação à teoria literária. Tradução: Sérgio Tellaroli. São Paulo, 1994. MORETTI, Franco. O século sério. In: O burguês: entre a história e a literatura. Tradução: Alexandre Morales. São Paulo: Três Estrelas, 2014. OLIVEIRA, Marcus Aurelio Taborda de. Pensando a História da Educação com Raymond Williams. Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 39, n. 1, p. 257-276, jan./mar. 2014. Disponível em: < https://www.scielo.br/pdf/edreal/v39n1/v39n1a15.pdf.>. Acesso em: 14/05/2020. ZILBERMAN, Regina. Fim dos livros, fim dos leitores? São Paulo: SENAC, 2001. ENTRE RUÍDOS E SILÊNCIOS: AS SONORIDADES DA RUPTURA EM FRANZ KAFKA Luísa Osório Rizzatti Resumo: Franz Kafka pode ser considerado um escritor que trabalhou sobretudo com dissonâncias e tensionamentos em sua obra, tanto no âmbito temático quanto no estético. No plano do conteúdo, são instigantes e evidentes suas críticas ao mundo do trabalho, das fábricas, da burocracia e da família, principalmente através dos conflitos entre pai e filho. No viés estético, observamos que Kafka explora formas de rupturas narrativas através de elementos que se repetem em várias de suas obras, como os gestos e os sons. Provoca, assim, um debate sobre linguagem e narrativa, considerando o contexto das sociedades modernas. Nesta comunicação, o debate será sobre o elemento sonoro, que se apresenta de modo disruptivo em Kafka. O escritor tcheco dá ao som um certo lugar de destaque em sua obra, mas não escolhe apenas inserir o som como algo que ganha protagonismo em vários dos seus textos, ele também busca explorar outros aspectos da sonoridade, como a relação com o ruído e com o silêncio. Inclusive, são esses sons pouco inteligíveis e compreensíveis que se destacam mais na prosa do escritor em detrimento de uma música organizada. A proposta do trabalho é compreender e explicar como Kafka lida com tais sonoridades literariamente, que usos ele faz e que novas saídas propõe. Assim, buscamos entender como o som pode ser um mecanismo de ruptura em suas narrativas, que são, em sua maioria, caracterizadas por uma forma circular e repetida. Para isso, contaremos com o respaldo teórico de autores como José Miguel Wisnik (2002), Kata Gellen (2019), Gilles Deleuze (2017) e Félix Guattari (2017). Ademais, para refletirmos sobre o contexto das sociedades modernas e da crise do narrador com a qual Kafka se deparou, buscaremos trabalhos de Walter Benjamin (2012) e de Theodor Adorno em conjunto com Max Horkheimer (1985). Referências: ADORNO, Theodor; HORKHEIMER, Max; tradução: Guido Antonio de Almeida. Dialética do Esclarecimento: fragmentos filosóficos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1985. BENJAMIN, Walter. O narrador - considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. In: BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. Organização e tradução Sérgio Paulo Rouanet – São Paulo: Brasiliense, 2012 – (Obras escolhidas v. 1), p. 213-240. DELEUZE, Gilles e GUATTARI, Félix. Kafka: para uma literatura menor. Tradução de Cíntia Vieira da Silva. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017. GELLEN, Kata. Kafka and noise: the discovery of cinematic sound in literary modernism. Evanston, Illinois: Northwestern University Press, 2019. WISNIK, José Miguel. O Som e o Sentido: uma outra história das músicas. 2ª edição – São Paulo: Companhias das Letras, 2002. INTERVENÇÕES EPISTÊMICAS SOBRE A BARBÁRIE E A RETÓRICA DO ÓDIO CONTRA PAULO FREIRE Maéve Melo dos Santos Resumo: Trata-se de um estudo sobre a barbárie e a retórica do ódio contra Paulo Freire, buscando elementos que explicitem a discussão contemporânea das evidências científicas na alfabetização, que trazem no seu bojo um apagamento dos ideais freirianos e das concepções construtivistas da alfabetização. Objetiva apresentar os signos ideológicos dessa guerra cultural contra Paulo Freire e suas reverberações, refletindo sobre o discurso das evidências científicas e a retomada da alfabetização fonêmica. Para tanto, faremos uso do método da etnografia textual (ROCHA, 2021) que envolve descrição densa e interpretação crítica das manifestações dos gestores do atual governo e recorrência à intertextualidade (BRANDÃO, 2004; KOCH e TRAVAGLIA, 2016; TIPHANE, 1968), ou seja, a relação entre os enunciados descritos para revelar os pressupostos e as possíveis repercussões da guerra cultural contra as ideias de Paulo Freire e contra a ciência da educação, particularmente, contra os fundamentos do construtivismo e do letramento. As percepções iniciais sinalizam um retorno às práticas alfabetizadoras tendo como base teórica o método fonético, conduzido por institutos privados com base nas “evidências científicas”. Questiona-se: o que isso quer dizer? Os estudos anteriores no campo da alfabetização não teriam evidências científicas? O que preconiza essa retomada? O que isso significa na contemporaneidade? Esta é a série que este estudo pretende desmontar e desvelar. Referências: ANNUNCIATO, Pedro; TRIGUEIROS, Marian. Quem é e o que pensa Carlos Nadalim, o novo secretário de Alfabetização do MEC? Nova Escola. Ed. 320, 01 de março de 2019, disponível em: ‹https://novaescola.org.br/conteudo/16065/quem-e-e-o-que-pensa-carlosnadalim-o-novo-secretario-de-alfabetizacao-do-mec› Acesso em: 18 de ago. 2021. BEISIEGEL, Celso de Rui. Paulo Freire. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana, 2010. (Coleção Educadores). BRANDÃO, H. H. N. Introdução à análise do discurso. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 2004. BRASÍLIA, CÂMARA DOS DEPUTADOS. Educação infantil: novos caminhos. Relatório do Seminário realizado pela Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados, 3ª. edição (revista). Brasília, DF: Instituto Alfa e Beto, 2019. FERREIRO, Emilia, TEBEROSKY, Ana, (1985). Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artes Médicas. FREITAS, Luiz Carlos de. A reforma empresarial da educação: nova direita, velhas ideias. São Paulo: Expressão Popular, 2018. FRIGOTTO, Gaudêncio (Org.). A gênese das teses do Escola sem Partido: esfinge e ovo da serpente que ameaçam a sociedade e a educação. Rio de Janeiro: UERJ, LPP, 2017. HADDAD, Sérgio. Por que o Brasil de Olavo e Bolsonaro vê em Paulo Freire um inimigo. Folha de S. Paulo. 14.abr.2019 às 2h00, disponível em: ‹https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2019/04/por-que-o-brasil-de-olavo-e-bolsonaro-veem-paulo-freire-um-inimigo.shtml› Acesso em: 17 de set. 2021. HUSSNE, Arthur. Olavismo e bolsonarismo. Revista Rosa. v.1. n.1. 03 de março de 2020, disponível em: ‹https://revistarosa.com/1/olavismo-e-bolsonarismo› Acesso em: 17 de set. 2021. KOCH, Ingedore Villaça; TRAVAGLIA, Luis Carlos. A coerência textual. São Paulo: Contexto, 2016. 12 ed. SAMOYAULT, Tiphaine. A intertextualidade. São Paulo: Aderaldo & Rothschild, 2008 (Tradução Sandra Nitrini). SOARES, Magda. Letramento e alfabetização: as muitas facetas. Trabalho apresentado no GT Alfabetização, Leitura e Escrita, durante a 26ª. Reunião da ANPEd, de 5 a 8 de out. de 2003. ELOS E EMBATES EM POEMAS DE SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN Marcos Rogério Heck Dorneles Resumo: Este estudo busca estabelecer uma interface entre determinados âmbitos filosóficos da visão de mundo da poeta Sophia de Mello Breyner Andresen em determinadas visadas de questionamento e a procura criativa do seu processo artístico na elaboração lírica. Nesse horizonte, o trabalho aponta para a articulação das diretrizes de indagação de certos quadros socioculturais português e europeu; da dedicação ao aprofundamento dos processos metalinguísticos; da emergência das esferas existenciais; e da conexão com determinados aspectos mitológicos de feição dionisíaca. Para enfatizar a atuação dessas direções, a pesquisa destaca a amplitude de poemas como “Liberdade”, “O velho abutre”, “Escrita do poema”, “Da transparência”, “Apesar das ruínas”, e “Evohé Bakkhos”; evidencia certas inquietações filosóficas de extração trágica e algumas percepções do quadro de domínio das ruínas (provenientes das apreciações nietzscheanas e das proposições benjaminianas); dispõe a ascensão do fazer metapoético no processo criativo e a seleção de determinadas perspectivas de desdobramento do sujeito poético na composição literária de Sophia de Mello Breyner Andresen. Como resultante dessas articulações temáticas e especulativas, salientamos a expansão dos cenários de composição lírica, a sondagem dos âmbitos de aniquilação individual e de desmantelamento social, a preponderância das intersecções trágicas na emergência do perfil de libertação artística e a propagação do caráter reflexivos dos metapoemas. Referências: ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner. Obra poética. Porto: Editora Assírio & Alvim, 2015. BENJAMIN, Walter. A ruína. In: BENJAMIN, Walter. Origem do drama trágico alemão. Tradução: João Barrento. Lisboa: Assírio & Alvim, 2004. _______ Obras escolhidas. v. 1. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. Tradução: Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 2012. ESTEVES, João; CASTRO, Zília Osório de. Feminae Dicionário contemporâneo. Lisboa: CIG, 2013. LOWY, Michael. Walter Benjamin: Aviso de incêndio. Uma leitura das teses “Sobre o conceito de história”. Tradução: Wanda Nogueira Caldeira Brant. São Paulo: Boitempo, 2005. NIETZSCHE, Friedrich. Crepúsculo dos ídolos, ou como se filosofa com o martelo. Tradução: Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. _______ Genealogia da moral. Tradução: Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. REIS, Carlos. A poesia portuguesa: emergências post-modernistas Introdução. REIS, Carlos. História crítica da literatura portuguesa. vol. IX, Do Neo-Realismo ao Post-Modernismo, Lisboa / São Paulo, Verbo, 2005. MEDEIA E A TRADUÇÃO EM TRÊS ATOS Maria Fernanda Garbero Resumo: A partir do recorte de três processos referentes ao trabalho com a tradução de textos teatrais, pretendo discutir algumas especificidades do gênero, imbricadas na passagem da língua de partida para a língua de chegada, quando o objetivo é o texto cênico. Para exemplificar isso, apresento alguns fragmentos das traduções de duas peças baseadas na tragédia Medeia, de Eurípides, com ênfase nas estratégias utilizadas para traduzir palavras e expressões que, mais do que marcar a origem das personagens, podem ser compreendidas como exemplos de um consciente projeto linguístico presente na concepção da semiologia teatral desses dramaturgos. As peças que integram este estudo são A Fronteira (David Cureses, 1960), originalmente escrita em espanhol, e Medeia dos foragidos (Manuel Lourenzo, 1984), em galego. Em ambas, vemos a composição de personagens que, pelo signo da palavra, levam para cena questões caras ao reconhecimento de identidades subalternizadas, seja por meio de variantes de pouco prestígio social, seja pela recuperação de uma memória que historicamente permite uma série de relações entre a Medeia colca, a argentina e a galega. Logo, nessa perspectiva, também encontramos questões que já aparecem indicadas no texto grego e que, nas peças de recepção, ganham destaque ao serem atualizadas, permitindo que a personagem de Medeia atue como uma portademanda de seu tempo. Referências: AGAMBEN, G. O que é o contemporâneo? e outros ensaios. Tradução Vinícius Nicastro Honesko. Chapecó: Argos. CURESES, D. A Fronteira. Tradução e organização Maria Fernanda Gárbero. Curitiba: Editora da UFPR, 2021. EURÍPIDES. Medeia. Tradução Trupersa e coordenação de Tereza Virgínia Ribeiro Barbosa. São Paulo: Ateliê Editorial, 2013. JASON, T. A história das línguas: uma introdução. Trad. Marcos Bagno. São Paulo: Parábola, 2015. SPIVAK, G. “Quem reivindica alteridade?” In: HOLLANDA, H. B. de (Org.). Tende?ncias e impasses: o feminismo como crítica da cultura. Rio de Janeiro: Rocco, 1994. p. 187-205. DO REGIONAL AO UNIVERSAL: IDENTIDADE E TIPOLOGIA EM DE MIM JÁ NEM SE LEMBRA, DE LUIZ RUFFATO Mireille Marie Garcia Resumo: O questionamento sobre as construções identitárias e sua relação ao território e ao espaço está cada vez mais presente nos estudos literários, devido às grandes transformações geradas pela pós-modernidade e pelo fenômeno de globalização. De fato, a dimensão espacial nos romances contemporâneos deixou de ser um mero cenário da trama para se tornar um elemento central que contribui indiretamente a forjar conexões entre lugares e estado de espírito dos protagonistas, história coletiva, tempo, imaginário ou ainda memória. Sendo assim, a configuração espacial também contribui a revelar os desafios do romance e a programar simbolicamente o destino das personagens assim como sua relação ao mundo e ao Outro. Portanto, seja ele imaginado, construído ou desconstruído, figurado ou configurado, representado ou interpretado, o espaço literário ocupa um lugar central na ficção como é o caso no romance De mim já nem se lembra (2016) do romancista Luiz Ruffato. Em sua figuração do espaço, Ruffato procede tanto à integração de elementos da história coletiva, da memória popular e da herança cultural. Ele elabora a sua própria concepção do território, evoca sua diversidade e densidade. Rigorosamente construídos, lugares e espaços estão onipresentes : transformados em testemunhas e reflexo da trama, têm um papel ativo no centro da diegese. Na presente comunicação nos propomos a analisar a maneira com a qual o escritor constrói seu universo ficcional a partir dos deslocamentos do espaço regional ao espaço universal e urbano da megalópole de São Paulo, descrevendo a transição brutal de uma sociedade agrária a uma sociedade pós-industrial de personagens que transitam em um mundo de violência e desespero. Trata-se de compreender como o autor interroga os processos de mundialização e de globalização através do território, do espaço regional e do espaço urbano, pondo também em cena os fenômenos atuais da sociedade brasileira. Referências: BACHELARD, Gaston. La poétique de l'espace. Paris: Presses Universitaires de France, 2009 BERND, Zilá (org). Dicionário das mobilidades culturais: percursos americanos. Porto Alegre: Literalis, 2010 BOURNEUF, Roland. "L'organisation de l'espace dans le roman". in: Etudes littéraires, vol.3, n°1, Paris, 1970, pp.77-94 NORA, Pierre. Les lieux de mémoire. Paris: Gallimard, 1997 SOUBEYROUX, Jacques. lieux dits. Discours sur l'espace. Saint Etienne: Publications de l'Université de Saint Etienne, 1993. ANTONIO ABUJAMRA: EM BUSCA DO "ATOR CIENTÍFICO" Paula Sandroni Resumo: O diretor e ator de teatro e televisão Antonio Abujamra (Ourinhos, SP,1932- São Paulo, SP, 2015) começou a fazer teatro na juventude em Porto Alegre no início da década de 1950. A luta daquela geração de artistas amadores, da qual também participou ativamente o crítico, ator e diretor Fernando Peixoto, foi por ter o direito a aprender o ofício escolhido dentro de uma escola, de uma faculdade, o que já acontecida em outros estados do Brasil, por exemplo Rio de Janeiro e São Paulo. Os amadores de Porto Alegre vencem a luta em 1958, quando tem início o Curso de Arte Dramática na UFRG - nesse mesmo ano Abujamra parte para passar dois anos na Europa. Lá conhece o trabalho do teórico e diretor Bertolt Brecht, através de estágios com os encenadores franceses Jean Vilar (em Paris) e Roger Planchon (em Villeurbanne), e finalmente no próprio Berliner Ensemble, conjunto teatral fundado pelo diretor alemão. Abujamra chega a Berlim três anos após a morte de Brecht, mas o encontro com o trabalho diário do conjunto teatral e o estudo de suas teorias faz a cabeça do diretor brasileiro encontrar seu rumo profissional. O teatro épico de Brecht passou a ser sua maior influência. "Eu quero ator sabido, eu quero ator científico" passou a ser uma das frases de Abujamra mais recorrentes em ensaios. Significava dizer um ator que estuda e escolhe seus gestos e entonações, que se investiga e investiga o mundo em que vivemos, que critica a sociedade para transforma-la. Referências: "Estudos sobre teatro", Bertolt Brecht "Um teatro fora do eixo", Fernando Peixoto TORTO ARADO: AFRODESCENDÊNCIA E QUESTIONAMENTO DAS DESIGUALDADES SOCIAIS Pauline Champagnat Resumo: Nas duas últimas décadas, a produção literária relacionada à denúncia do racismo brasileiro aumentou de forma significativa. O romance Torto arado (2018), de Itamar Vieira Junior, questiona assuntos ligados ao racismo estrutural da sociedade brasileira (ALMEIDA, 2020), herdado da época colonial, os privilégios que existem entre os latifundiários e que continuam a ser passados no plano familiar, de uma geração para a outra, além de abrir a discussão sobre a necessária reforma agrária brasileira, que nunca ocorreu. Apesar do tema do racismo ter se tornado mais visível na cena literária nos últimos anos, Torto arado é o único romance a estabelecer uma relação direta entre a exploração escravagista e a opressão atual dos pequenos agricultores rurais, lida como a continuação das dinâmicas de poder que começaram no Brasil-colônia. De certa forma, podemos considerar que a sua obra tende a sugerir o conceito de « reparação », que é um dos mecanismos essenciais para que um povo que foi colonizado alcance uma maior autoestima. (MUCCHIELLI, 1984). Assim, pretendemos analisar o romance a partir de duas perspectivas distintas: ancestralidade e resistência, e a representação das injustiças sociais como herança da época da escravidão, tendo em consideração a importância da sua mensagem política no Brasil atual. Referências: ALMEIDA, Silvio. Racismo estrutural. Editora Buobooks, 2020. ASSMANN, Jan. La mémoire culturelle. Éditions Flammarion. Paris : 2002. BRAZZODURO, Andrea. « Non réconciliées. 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A partir disso, ele apresenta ‘tentativas de salvação do drama’, priorizando as formas discursivas não-dialógicas, não-intersubjetivas e retrospectivas e elegendo o elemento épico como a solução para a assim chamada crise. Ao tomar a escrita dramática de Bertolt Brecht (1898-1956) como o modelo a ser perseguido, e considerando-se a importância deste autor nos embates ideológicos contra os governos fascistas do período Entre guerras do século XX, o elemento dramático passou a ser visto como reacionário, enquanto que o elemento épico se consolidou nos meios teóricos dramáticos como o recurso de dissonância ao establishment por excelência. Volker Klotz (1930), por sua vez, não fará uma distinção calcada num juízo de valor, simplesmente categorizando o gênero dramático em suas formas fechada e aberta. Por fim, o pensador teatral francês Jean-Pierre Sarrazac (1946) vai tecer duras críticas à visão parcial de Szondi, tanto na insistência do teórico húngaro na superação ao invés do tensionamento entre os gêneros num texto dramático (o que já se observa desde os gregos) e numa consequente visão teleológica da história do drama. A partir destas premissas, este trabalho pretende mostrar, a partir de obras de autores dramáticos brasileiros e austríacos contemporâneos, que o drama fechado também funciona como uma estrutura literária de engajamento ideológico dissonante do pensamento hegemônico e de resistência frente aos excessos do sistema capitalista, indo na contramão do pensamento de Szondi em relação a sua inadequação formal aos temas da ordem do dia dos contextos históricos em que se inserem. Referências: Klotz, Volker. Geschlossene und Offene Form im Drama. München: Hanser, 1969. Rosenfeld, Anatol. O Teatro Épico. São Paulo: Perspectiva, 2000. Sarrazac, Jean-Pierre. (Org.). Léxico do drama moderno e contemporâneo. São Paulo: Cosac & Naify, 2012. ---. Poética do Drama Moderno. São Paulo: Perspectiva, 2018. Szondi, Peter. Teoria do drama moderno [18801950]. São Paulo: Cosac & Naify, 2001. Wölfflin, Heinrich. Conceitos Fundamentais da História da Arte. São Paulo: Martins Fontes, 2015. COMMEDIA IN VERSI: A COMÉDIA "ROUBADA" DE MAQUIAVEL Priscila Nogueira Da Rocha Resumo: Nicolau Maquiavel (Florença, 1469-1527), embora seja até hoje mais conhecido como cientista político, inicia ainda jovem seu trabalho como comediógrafo fazendo uma transcrição de Eunuchus, de Terêncio. Ainda em sua juventude, faz uma tradução praticamente literal de Andria, do mesmo autor. Mais tarde viria a revisitá-la, desta vez incluindo algumas adaptações para torná-la mais adequada ao seu público. Seu auge, porém, viria com Mandragola, única obra que lhe rendeu reconhecimento em vida, e com Clizia, obra em que pode ser verificada sua maturidade como comediógrafo. Para esta comunicação, falaremos de uma outra obra, muito menos conhecida que as demais: Commedia in Versi. No final do século XVIII foi encontrado um manuscrito assinado por Maquiavel que continha uma comédia sem título, toda escrita em versos. Em 1892 foi encontrada uma cópia da mesma peça, desta vez assinada por Lorenzo Strozzi (Florença, 1488-1538), amigo e protetor de Maquiavel, que atribuía a autoria a si mesmo. Desde então, esta que ainda é conhecida nos estudos apenas como Commedia in Versi passou a ser considerada obra de Strozzi. Contudo, em estudos mais recentes e aprofundados a autoria da obra foi novamente atribuída a Maquiavel, após uma investigação histórica, filológica e estilística muito cuidadosa, que também destacou as razões pelas quais Strozzi a teria apropriado. Alguns dos fatores considerados nesses estudos incluem a presença de sentenças e expressões que também aparecem em suas outras obras, demonstrando considerável semelhança de estilo, bem como a própria temática da história narrada, em que se verifica uma antítese à Mandrágora. Propõe-se demonstrar, a partir dos estudos de Stoppelli (2018) a paternidade da obra e a ligação desta com as demais obras de Maquiavel, resultando em um rearranjo crítico de toda a sua atividade como dramaturgo Referências: CILIBERTO, Michele. Niccolò Machiavelli Ragione e Pazzia. Bari: Laterza, 2019 RAIMONDI, Ezio. Il teatro del Machiavelli. In: Studi Storici 10, 1969. p.749-98. STOPPELLI, Pasquale (ed.). Commedia in versi da restituire a Niccolò Machiavelli: edizione critica secondo il ms. banco rari 29. Roma: Edizioni di Storia e Letteratura, 2018. (Libri, carte, immagini – collana 11). "O PRECEPTOR" DE LENZ E SUA ADAPTAÇÃO POR BERTOLT BRECHT Renato Fabrete Hasunuma Resumo: Publicada originalmente em 1774 por Jakob Michael Reinhold Lenz, a peça “O preceptor ou Vantagens da Educação Particular: uma comédia” se insere no contexto do movimento literário romântico alemão Sturm und Drang, ou em português, Tempestade e ímpeto. O Sturm und Drang compõe o cenário mais amplo de emancipação política e cultural da incipiente classe burguesa europeia e, mais especificamente, dos intelectuais alemães do final do século XVIII, em relação à nobreza. A peça retrata de maneira caricatural e até mesmo grotesca a figura de um preceptor, educador de corte, nos fins do século XVIII na Prússia. Bertolt Brecht atualiza a peça em 1950 com seu grupo Berliner Ensemble, suprime o subtítulo Vantagens da educação particular: uma comédia, acrescenta elementos épicos como um prólogo e um epílogo explicativos, reduz o número de atos e de cenas, acentua o conteúdo político, trazendo a crítica à situação do intelectual para o século XX. Entre a versão de Lenz e a de Brecht decorre mais de um século e perfilam-se consideráveis diferenças de abordagem, apresentação e colocação em cena dos problemas vividos pelo personagem principal da obra, o preceptor Läuffer. O presente trabalho divide-se aqui em três partes, primeiramente analisaremos o contexto de surgimento da obra de Lenz, faremos uma apresentação da versão de Lenz e por fim realizaremos um contraste com a adaptação da peça por Brecht, tecendo as considerações finais. Referências: ADORNO, T. W. Educação e emancipação. Tradução Wolfgang Leo Maar. 2. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1995. __________; HORKHEIMER, Max. Dialética do esclarecimento: fragmentos filosóficos. Tradução Guido Antonio de Almeida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985. ARISTÓTELES. Poética, São Paulo, Editora Nova Cultural Ltda, 1996 ARON, I. “Lenz: a trajetória do ser humano”. In: Fragmentos, r. DLLE/UFSC, Florianópolis, n. 2, p. 45-53, 1986. ________(org.) Lenz de Georg Büchner; Lenz. Um relato de Peter Schneider. Organização, tradução e posfácio de Irene Aron. São Paulo: Editora Brasiliense, 1985. BENJAMIN, W. Origem do drama trágico alemão. Autêntica Editora, 2011. BEUTIN, Wolfgang et al, História da Literatura Alemã, das origens à atualidade, vol. I, Lisboa, Cosmos/ apaginastantas, 1993. BOLLE, W.; PASCHOAL, E. J.; QUINTILIANO, F. M. “Apresentação” de Erlon J. Paschoal e Flávio M. Quintiliano in: LENZ (1983). BOLLE, W. “Sete críticas à dramaturgia de Brecht”. In https://www.revistas.usp.br/linguaeliteratura/article/download/115881/113384/212059 acessado em 9 de agosto de 2021. BORNHEIM, G. “Filosofia do Iluminismo”. 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Com somente 82 páginas, a coletânea consiste em 5 peças de um ato só que de alguma maneira conversam entre si. Pelo menos os atores sim. Concebida para ser encenada de uma vez só, o elenco de Tiny Kushner se assemelha em estrutura à Angels in America com atores se revezando em mais de um papel. O elenco das cinco peças é de somente quatro atores sem designação: Atores 1, 2, 3 e 4 que voltam como narradores e personagens múltiplos em todas as cinco peças. Flip Flop Fly! é um encontro lunar (ou talvez no purgatório) bizarro entre duas mulheres, que de fato existiram, mortas, Lucia Pamela - a fabulosa pianista de concertos americana, cantora, compositora, estrela de gravação, líder de banda e personalidade de rádio, que afirmava ter feito um álbum discográfico na lua em 1969 - e Geraldine, a rainha deposta da Albânia, de mãe norte-americana. A peça é, em si, segundo Kushner, e com reservas, em uma entrevista ao jornal inglês The Guardian, em 2010, sobre a natureza da maternidade; no entanto, eu iria um pouco mais além, a peça é sobre a impossibilidade do sonho americano, do significado original cunhado por James Truslow Adams, mas sobre o que ele se transformou, em um devaneio. Este paper é sobre este devaneio, sobre os fantasmas do passado que insistem em assombrar o presente. Referências: Kushner, Tony. Tiny Kushner. Broadway Play Publishing Inc: NY, 2009. ENTRE O DOTE E A HERANÇA: AZEVEDO E ALMEIDA Ygor de Lima Leite Ribeiro Resumo: A publicação de Arthur Azevedo "O dote" (1907) possui uma relação direta com Julia Lopes de Almeida por meio de sua obra predecessora: "Reflexões de um marido" (1906). Além desse elo que propicia tornar os autores alvos de escolha para estabelecer, por meio de pesquisa bibliográfica, uma comparação entre A herança (1909) de Júlia com o texto de Azevedo, ambos se aproximarem também pelo gênero textual e pela temática, bem como na abordagem das relações familiares e matimoniais, ainda que se apresentem de modo dissonante quanto a visão sobre as interações das personagens femininas centrais das obras. Nos desenvolvimentos das histórias, destaca-se que o casamento é princípio base na formação das duas obras que o têm como desencadeador das discussões e que revelam um tom contratual, mas também os enredos são norteados pela presença do aspecto financeiro que se torna um ponto essencial a ser analisado, inclusive, presente na nomenclatura dos títulos dos objetos de estudo deste trabalho de forma oposta. Portanto, busca-se investigar as diferenças e as semelhanças na forma que os próprios autores colocam em seus textos as ideias, as relações interpessoais e sociais, por isso considera-se contexto histórico de produção para correta construção das discussões interpretação dos temas. Referências: ALMEIDA, Júlia L. A herança. GETEB - Grupo de Estudos e Pesquisa em Teatro Brasileiro. São João del Rei, UFSJ: 2011. Disponível em: <http://www.teatroparatodosufsj.com.br/download/julia-lopes-de-almeida-a-heranca-2/> Acesso em: 31 jan. 2022. _____________. Elles e ellas. Rio de Janeiro, Typ. A Editora:1910. AZEVEDO, Artur. O dote. In: ARAÚJO, A.M (org.). Teatro de Artur Azevedo- Tomo VI. Clássicos do teatro brasileiro, v. 8. Rio de Janeiro, FUNARTE: 1995. ______________. Sem dote. Hemeroteca digital brasileira. O século - Theatro a vapor, n. 175, 1907, p. 1. Disponível em:< http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=224782&pesq=teatro%20a%20vapor&hf =memoria.bn.br&pagfis=693> Acesso em: 09 dez. 2021. AZEVEDO, Josephina A. A mulher moderna- Trabalhos de propaganda. Rio de Janeiro, Typ. Montenegro: 1891. BATCHELOR, C. M. Arthur Azevedo e a “Comédia Carioca”. Revista Iberoamericana, Pensilvânia, v. XXII, n. 43. 1957. Disponível em:<https://revistaiberoamericana.pitt.edu/ojs/index.php/Iberoamericana/issue/view/89> Acesso em 07 dez. 2021. CUNHA, T.R.A.; ALVES, A.E.S. Educação e violência nas relações de gênero: reflexos na família, no casamento e na mulher. Em aberto, Brasília: 2014, v. 27, n. 92, p. 69-88. Disponível em:< http://rbep.inep.gov.br/ojs3/index.php/emaberto/article/view/2510/2248> Acesso em: Acesso em: 28 ago. 2021. DE LUCA, L. O “feminismo possível” de Júlia Lopes de Almeida (1862-1934). Cadernos Pagu, Campinas, SP: 2015, n. 12, p. 275–299. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/cadpagu/article/view/8634918. Acesso em: 1 fev. 2022. SIMPÓSIO “LITERATURA E TESTEMUNHO: TEORIAS, LIMITES, EXEMPLOS” Wilberth Claython Ferreira Salgueiro (UFES), Marcelo Paiva De Souza (UFPR), Marcelo Ferraz De Paula (UFG) UMA CARTA E UM TRATADO DE PAZ: NOTAS SOBRE MEMÓRIA E RESISTÊNCIA EM TESTEMUNHOS DE ESCRAVIZADOS BRASILEIROS DO SÉCULO XVIII Antoniele de Cássia Luciano Resumo: Considerando textos escritos ou ditados por escravizados ou ex-escravizados como slave narratives (KRUEGER, 2002), um campo ainda marcado por lacunas nos estudos literários, este trabalho tem como objetivo traçar um comparativo entre dois exemplares desse gênero no Brasil. O primeiro deles é a carta de Esperança Garcia, escrita em 1770, documento através do qual a piauiense escravizada reivindica tratamento digno à autoridade da província em que vivia (MOTT, 2010). O segundo é o tratado de escravizados que se rebelaram em 1789, em um engenho de cana-de-açúcar, em Ihéus, na Bahia (REIS; SILVA, 1989). O texto, apesar de não ser assinado, traz 21 cláusulas apresentadas na época ao senhor do engenho, como forma de acordar o retorno dos escravizados ao trabalho, após tomarem a fazenda e permanecerem dois anos sem exercer suas atividades. Ambos são textos que fazem um contraponto à história oficial e, a partir da perspectiva do testemunho (GINZBURG, 2017; SELIGMANN-SILVA, 2003), trazem à superfície relatos que ocorreram em um campo social marcado por conflitos, com o valor ético sobrepondo o valor estético e desejo de justiça. Para essa análise comparativa, foram estabelecidos marcos discursivos em comum nas narrativas apresentadas, como enunciação em primeira pessoa e táticas de persuasão (CERTAU, 1999), cotejadas, por sua vez, com teóricos do campo da literatura testemunhal, memória (GAGNEBIM, 2006) e história (MOURA, 1986). Ainda que preliminares, os resultados apontam para a possibilidade desses textos se constituírem como um ato político e de resistência ao proporcionarem voz a sujeitos subalternizados (SPIVAK, 2010). Tais exemplares de slave narratives não só fundem o pessoal com o coletivo (HALWBACHS, 1990), mas apresentam também o resgate de um dos eventos mais traumáticos da humanidade e a atuação de sujeitos conscientes de si, capazes de subverter estereótipos de submissão sobre o negro na história brasileira. Referências: CERTEAU, Michel: A invenção do cotidiano. Petrópolis: Vozes, 1998. GAGNEBIN, Jeanne Marie. Lembrar escrever esquecer. São Paulo: Ed. 34, 2006. GINZBURG, Jaime. Crítica em tempos de violência. 2. ed. São Paulo: Edusp, Fapesp, 2017. HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. Trad. Laurent Léon Schaffer, São Paulo: Vértice, 1990. KRUEGER, Robert. Brazilian Slaves Represented in their Own Words. In: Slavery & Abolition, 23:2 (2002), p. 169-186. MOTT, Luiz. 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REGISTRAR O PRESENTE COMO UM COMPROMISSO COM A MEMÓRIA E O FUTURO: O ATIVISMO INTELECTUAL NOS TESTEMUNHOS LITERÁRIOS E VISUAIS DE EDILBERTO JIMÉNEZ QUISPE Carla Dameane Pereira de Souza Resumo: Este artigo coloca em evidência a relação entre memoria, testemunho e ativismo intelectual a partir da experiencia artística e literária do jornalista, antropólogo e retablista peruano Edilberto Jiménez Quispe em duas produções: Chungui Violencia y trazos de memoria (2005) e Nuevo coronavirus y buen gobierno Memorias de la pandemia de Covid-19 en Perú (2021). Assim como em Chungui Violencia y trazos de memoria, obra de registro e denúncia de eventos de violência e abusos contra os direitos humanos durante o Conflito Armado Interno do Peru (1980-2000), em seu mais recente livro de testemunhos literários e visuais sobre o enfrentamento da pandemia da Covid-19 no Peru, Jiménez Quispe nos apresenta um repertório amplo e diversificado de experiências narradas e visibiliza a vulnerabilidade pela qual peruanos e peruanas estiveram submetidos. Em relação a estas produções cabe levantar questões como: o que distingue e aproxima o fazer literário e artístico de Jiménez Quispe nestes dois projetos de escrituras que tentam narrar experiências da memória coletiva em situações de crise e póstraumáticas? Como se dá a relação entre memória, testemunho e ativismo intelectual nestas produções? Para a discussão proposta, farei um diálogo em torno da relação entre testemunho e subalternidade, a partir de John Beverley (1992); trarei as considerações de Elizabeth Jelin (2012) sobre a elaboração dos trabalhos da memória e, com as pesquisadoras Francesca Denegri e Alexandra Hibbert (2016), destacarei o caso específico do testemunho da violência política no Peru, ampliando esta discussão para o contexto de instabilidade e crise sanitária durante a pandemia da COVID-19. Ao refletir sobre exemplos presentes no livro sinalizarei como o trabalho de ativismo intelectual realizado por Jiménez Quispe alcança uma qualidade sanadora por mobilizar o afeto, o cuidado e vínculos coletivos nas diferentes comunidades nas quais transita como intelectual errante e implicado. Referências: DENEGRI, Francesca; Hibbett Alexandra (Org.). Dando cuenta. Estudios sobre el testimonio de la violencia política en el Perú (1980-2000). Lima: Fondo Editorial de la Pontificia Universidad Católica del Perú, 2016. JELIN Elizabeth. Los trabajos de la memoria. Lima: IEP, 2012. JIMÉNEZ QUISPE, Edilberto. Chungui: Violencia y trazos de memoria. Lima: IEP, COMISEDH, DED, 2009. JIMÉNEZ QUISPE, Edilberto. Nuevo coronavirus y buen gobierno. Memorias de la pandemia de Covid-19 en Perú. 1ª ed. Lima: IEP, 2021. RAVETTI, Graciela. “Narrativas performativas”. In: RAVETTI, Graciela; ARBEX, Márcia (Org.). Performance, exílio, fronteiras: errâncias territoriais e textuais. Tradução de Melissa Boechat e Karla Cipreste. Belo Horizonte: Departamento de Letras Românticas, POSLIT/FALE/UFMG, 2002. p. 45-68. SOUSA, Kellen Hawena Pereira. Traduzir o trauma: imagens de memórias do Conflito Armado Interno do Peru nos relatos, desenhos e retábulos de Chungui. 2019. 170 p. Dissertação. (Mestrado em Literatura e Cultura). Orientadora: Carla Dameane Pereira de Souza. Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2019. ULFE, María Eugenia. 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Quase cem anos depois, em 1953, é publicada, no Brasil, "Memórias do cárcere", do escritor brasileiro Graciliano Ramos. Nessa obra, o autor narra o período de dez meses em que passou entre quartéis e colônias penais, entre 1936 e 1937. Graciliano foi preso como subversivo, a despeito de jamais ter sido processado ou acusado publicamente. Ambos os textos são relatos das experiências dolorosas de seus autores, porém, como criações literárias, apresentam uma série de recursos discursivos. Entre eles, a utilização do tempo e da memória como instâncias ficcionais, imprescindíveis para garantir a verossimilhança de ambas as obras. A nossa pesquisa propõe a análise comparada entre as duas produções literárias, à luz das concepções de tempo e de memória em cada autor. Pretende-se, assim, investigar como o tempo e a memória se relacionam com as principais convenções narrativas das duas obras e, em seguida, objetiva-se analisar comparativamente essas relações. De forma abrangente, espera-se que esse trabalho possa contribuir com o estudo do realismo de Fiódor Dostoiévski e de Graciliano Ramos, sob a perspectiva do tempo e da memória. Por último, deseja-se que a pesquisa constitua um estudo de caso relevante para a área de literatura comparada. Referências: AUERBACH, E. Mimesis. A representação da realidade na literatura ocidental. São Paulo: Perspectiva, 2007. BAKHTIN, M. Problemas da Poética de Dostoiévski; trad. Paulo Bezerra. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1997. BERGSON, H. Matéria e memória: ensaio sobre a relação do corpo com o espírito.São Paulo: Martins Fontes, 1990. BERLIN, I. Pensadores russos. Tradução de: Carlos Eugênio Marcondes de Moura. São Paulo: Ed. Schwarcz Ltda, 1988. BERMAN, M. Tudo o que é sólido desmancha no ar. Tradução de: Carlos Felipe Moisés; Ana Maria L. Ioriatti. São Paulo: Ed. Schwarcz Ltda, 1986. BILLINGTON, J. The Icon and the Axe. An interpretive history of Russian culture. 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Dentre os aspectos a serem perscrutados, estão: o sofrimento nos campos de concentração nazistas, os pactos de sobrevivência, os relatos testemunhais, a opressão, a violência, a resistência, a religiosidade, a contação de histórias hebraicas antigas, o mito da criação e a presença do medo que perpassa, há séculos, o imaginário popular, como o diabo, personificado na figura feminina, entre outras investigações. A fim de estabelecer um diálogo com o conto, busca-se analisar também os capítulos Noite de Valpurgis e Fogo-Fátuo, de Fausto de Goethe (1815). Para fins metodológicos, inicialmente selecionamos passagens dos textos, a partir das quais buscamos verificar elementos de intertextualidade tanto nos escritos de Primo Levi quanto na narrativa de Goethe (1815). Com o intuito de fundamentar nossa análise, embasamo-nos nos aportes teóricos de Seligmann-Silva (2003) acerca da Memória e Testemunhos, bem como nos postulados teóricos de Delumeau (2009) sobre as questões diabólicas, Eco (2007) sobre as escrituras sagradas e os mitos, entre outros. Como resultado, compreendemos que há uma mescla entre testemunho e ficção em que são contextualizadas as experiências vivenciadas no ambiente limite por Primo Levi, as quais incluem violência, mas também uma estética da resistência calcada na representação e apropriação da arte. Verifica-se, ainda, a representação da figura feminina em ambas as obras analisadas. Referências: BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura.Trad. Sérgio Paulo Rouanet; prefácio de Jeanne Marie Gagnebin. 7ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. (Obras escolhidas, vol. 1) DELUMEAU, Jean. História do medo no ocidente. Trad. Maria Lucia Machado. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. ECO, Umberto. História da Feiúra. Rio de Janeiro: Editora Record, 2007. Disponível em<https://www.academia.edu/36012799/ECO_Umberto_Hist%C3%B3ria_da_fei%C3%BAra>. Acesso em 28 de maio de 2021 GOETHE, Johann Wolf von. Fausto/Goethe. Trad. Jenny Klabin Segall. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia, 1987. LERNER, Silvia Rosa Nossek; BORGES, Sônia. A arte produzida durante o holocausto. In: Webmosaica, 2012. Disponível em <https://seer.ufrgs.br/webmosaica/article/view/31824>. Acesso em 20 de maio de 2021. LEVI, Primo; É isto um Homem? Trad. Luigi Del Re. 3. ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1988. LEVI, Primo. Os afogados e os sobreviventes. Trad. Luiz Sérgio Henriques – 3ª ed. São Paulo/ Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2004. LEVI, Primo. 71 contos de Primo Levi. Tradução de Maurício Santana Dias. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. SELIGMANN-SILVA, Márcio. História, memória, literatura: o testemunho na era das catástrofes. Campinas, São Paulo: Editora da Unicamp, 2003. O POETA FERREIRA GULLAR NOS ANOS 70: EXILADO, FUGITIVO, SOBREVIVENTE Fabiana da Costa Gonçalo Resumo: O testemunho é uma modalidade de texto autobiográfico que rompe com os pressupostos mais tradicionais que giram em torno da individualidade, da intimidade e da introspecção. Trata-se de uma escrita com um tom mais dramático, de autores que foram literalmente testemunhas de alguma situação problemática, a qual, frequentemente, está associada a questões histórico-políticas. Tais relatos não fazem um panorama da vida pessoal de um indivíduo desde o seu nascimento até a idade madura, mas se centram em um momento particular (e complicado) da vida dessas pessoas e que, em geral, envolve dor e sofrimento. Contar as memórias, nesse caso, implica reviver as sensações e sentir outra vez a aproximação com a morte. Todavia, enfrentar o passado pode ser a chave para tentar compreendê-lo. Além disso, a necessidade de sobrevivência da memória é uma forma de contribuir para que os impactos causados pela violência não sejam minimizados, nem que se normalizem os atos de crueldade. Logo, as obras têm um traço social, pois não se limitam a contar unicamente a história do indivíduo, e sim a história de toda uma geração em comum, que também vivenciou situações de opressão. Sendo assim, levando em consideração os aspectos mencionados, a presente comunicação é um recorte da pesquisa de doutorado em andamento e visa à contextualização da trajetória política de Ferreira Gullar durante a ditadura militar brasileira, de acordo com os relatos dado pelo próprio poeta em Rabo de Foguete: Os anos do exílio (1998). Para tal, o trabalho será baseado nos estudos de Seligmann-Silva (2003), Ginzburg (2009, 2010, 2021), Gagnebin (2010), Salgueiro (2012), dentre outros teóricos da literatura de testemunho. Referências: GAGNEBIN, Jeanne Marie.O preço de uma reconciliação extorquida. In: TELES, Edson; SAFATLE, Vladimir. (Org.). O que resta da ditadura. Editora Boitempo, 2010. p. 177-186. GINZBURG, Jaime. Impacto da violência e constituição do sujeito: um problema da teoria da autobiografia. In: GALLE, Helmut et al (org.). Em primeira pessoa: abordagens de uma teoria da autobiografia. São Paulo: Annablume; Fapesp; FFLCH; USP, 2009. p. 123- 131. ________. Escritas da tortura. In: TELES, Edson; SAFATLE, Vladimir. (Org.). O que resta da ditadura. Editora Boitempo, 2010. p. 133-149. ________. Linguagem e trauma na escrita do testemunho. SALGUEIRO, Wilberth (Org.). O testemunho na literatura: representações de genocídios, ditaduras e outras violências. Vitória: Edufes, 2021, p. 19-29 GULLAR, Ferreira. Rabo de foguete: Os anos de exílio. Rio de Janeiro: Record, 1998. MARTINS FILHO, João Roberto. A guerra da memória: a ditadura militar nos depoimentos de militantes e militares. In: Vária História. Minas Gerais, n.28, p.178-201, dez.2002. 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In: Tempo e Argumento: Revista do Programa de Pós-graduação em História. Florianópolis, v.2, n.1, p.3-20, jan./jun. 2010. STRAUB, Jürgen Straub. Memória autobiográfica e identidade pessoal. Considerações histórico-culturais, comparativas e sistemáticas sob a ótica da psicologia narrativa. In: GALLE, Helmut et al (org.). Em primeira pessoa: abordagens de uma teoria da autobiografia. São Paulo: Annablume; Fapesp; FFLCH; USP, 2009. p. 79-98. ET TU N'ES PAS REVENU DE MARCELINE LORIDAN-IVENS: CONVERGÊNCIAS ENTRE O DISCURSO LITERÁRIO E O TESTEMUNHO Inara Teles Xavier, Cátia Inês Negrão Berlini de Andrade Resumo: O presente artigo propõe-se a apresentar reflexões concernentes às escritas de autoria feminina da Shoah. O tema é relevante, pois a Segunda Guerra Mundial foi um acontecimento marcante, devido a sua magnitude e crueldade, que ainda precisa ser muito estudado, especialmente, a partir da visão feminina. Sabe-se, a partir de estudos, que “a experiência masculina, tanto na história como na literatura, era a experiência do holocausto” (GOLDENBERG, 1998), fato que fez com que as memórias de guerra de autoria feminina fossem negligenciadas até meados dos anos 80, do século XX. Do prisma literário, há também questões que podem emergir quando se trata de textos de cunho autobiográfico de um cenário tão significativo quanto a Shoah: Quais são os limites entre verdade e compromisso com a verdade na apresentação das memórias? No caso de um acontecimento histórico dessa proporção, o narrador-personagem pode refletir o coletivo? A partir desse eu que se escreve, quais seriam as convergências entre o discurso literário e o testemunho? À luz dos estudiosos e escritores como Georges Gusdorf (1956), Roy Pascal (1960), Phillipe Lejeune (2008), Ruth Klüger (2009) e Tununa Mercado (2009) e Cátia I. N. Berlini de Andrade (2021), pretende-se discutir sobre as questões propostas acima, com exemplificações das memórias do livro Et tu n’es pas revenu (2018) de Marceline Loridan-Ivens, francesa, que sobreviveu ao Holocausto. Nessa obra, a autora escreveu como se estivesse contando a seu pai, que morreu na guerra, as dores e privações que viveu no campo de extermínio. Além disso, narrou sobre o seu retorno do campo, sua vida pós Shoah e como viu o ressurgimento do antissemitismo na França e no mundo. A obra de Marceline Loridan-Ivens traz à tona discussões atuais sobre preconceito e antissemitismo e se impõe como uma força de resistência contra todos extremismos retornados no século XXI. Referências: ANDRADE, Cátia Inês Negrão Berlini de. Dos fatos à ficção: as memórias de Natalia Ginzburg. Anais do SILEL. Uberlândia, v. 2, n. 2, 2011. GOLDENBERG, Myrna. Memoirs of Auschwitz Survivors. The Burden of Gender. In: OFER, Dalia & WEITZMAN, Leonore J. Women in the Holocaust. 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Por seu caráter de ruptura, essa experiência pode ser compreendida à luz do conceito de trauma, entendido aqui como um evento transbordante (SELIGMANN-SILVA, 2000), que põe em questão a possibilidade de produzir discursos que busquem representar o acontecimento traumático. A escrita do trauma é marcada precisamente pela necessidade e pela impossibilidade de representação, e por causa disso exige uma linguagem auto reflexiva, que dê conta de marcar paradoxalmente o imperativo e o interdito ligados ao discurso testemunhal. A obra de Samuel Rawet, ele mesmo um imigrante judeu-polonês radicado no Brasil, tematiza, especialmente em Contos do imigrante (1956), a condição dos estrangeiros como uma experiência limítrofe, que evidencia uma relação conflituosa com a linguagem, através de suas personagens traumatizadas e silenciosas. Nesse sentido, é possível aproximar a escrita do autor de uma escrita testemunhal, uma vez que os procedimentos literários dos quais lança mão apontam para a representação de um silêncio, que marca a tentativa de dar conta de eventos traumáticos que extrapolam a possibilidade de elaboração simbólica. Deste modo, sua escrita aborda constantemente um inapreensível e irrepresentável, que, por sua vez, encontra inscrição precisamente nas lacunas, nas elipses. Além de tematizar a questão da possibilidade/impossibilidade da representação, a escrita de Samuel Rawet nos convida a suportar (bear witness) uma experiência de estranhamento, através de uma linguagem recheada de silêncios, que nos deixa, enquanto leitores, à margem. Dessa forma, a ficção rawetiana faz uma “convocação ríspida” (BINES, 2016) a nos tornarmos cúmplices de sua prosa áspera, para que possamos testemunhar uma experiência de estrangeiridade através da leitura dos contos. Referências: BINES, Rosana Kohl. Por que não fechar os livros de Rawet? In: CHIARELLI, Stefania, BINES, Rosana Kohl, MATA, Anderson (orgs.). Rawet em diálogo. Campinas, SP: Pontes Editores, 2019. RAWET, Samuel. Contos e novelas reunidos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,2004. SAID, Edward. Reflexões sobre exílio e outros ensaios. Tradução Pedro Maia Soares. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. SELIGMANN-SILVA, Márcio. História como trauma. In: NESTROVSKI, Arthur, SELIGMANN-SILVA, Márcio. (orgs.) Catástrofe e representação. São Paulo: Escuta, 2000. "EM NOSSO COLCHÃO DESMEMORIADO TUDO SE CONFUNDE": FRONTEIRAS ENTRE FICÇÃO E TESTEMUNHO EM NONA FERNÁNDEZ Isabela Cordeiro Lopes Resumo: Narrativas de testemunho, ao mesmo tempo em que desestabilizam as fronteiras entre verdade e ficção, também alargam as margens daquilo que compreendemos como literatura, história ou memória. Tendo isso em mente, esta comunicação se volta para o romance chileno “Space Invaders”, de Nona Fernández (2013), obra que investiga as cicatrizes deixadas pela ditadura na infância das personagens, friccionando o pessoal e afetivo com o social e político. Em “Space Invaders”, a história que conduz o fio da narrativa vem das páginas da sombria história chilena recente: trata-se do “Caso Degolados”, testemunhado pela própria Nona Fernández e contornado no romance pelos resíduos de memória e sonhos. O evento traumático é narrado literariamente, em um breve romance composto por um conjunto caleidoscópico de relatos, alternando entre narradores diversos e pouco identificáveis, em registros que variam entre cartas, memórias, breves relatos factuais e oníricos. Lançado ao espaço ficcional, o fato real ganha novos contornos, deixa revelar os interstícios entre o vivido e o lembrado, torna-se produto e parte da imaginação e do jogo. Esta comunicação pretende abordar o caráter testemunhal do romance de Nona Fernández em seu interstício com a ficção, a partir de autores como Rancière e Derrida, que sugerem uma cumplicidade entre os regimes do testemunho e da ficção; Beatriz Sarlo, que tece uma crítica ao conceito de “pós-memória” no contexto da literatura pós-ditatorial latinoamericana; e Kate Jenckes, com sua abordagem da relativização do sujeito na linguagem testemunhal. Com isso, procura-se elaborar maneiras de abordar o complicado estatuto do testemunho na literatura contemporânea latinoamericana, especialmente em obras como “Space Invaders”, que fazem da instabilidade constitutiva desse “gênero” sua própria maneira de narrar a experiência e a memória, de tal maneira que a ficção pode ser pensada como uma forma e uma ética de abordagem do real e até da verdade. Referências: BAEZA, Felipe Adrián Ríos. “Dictadura, memoria y escuela: la compleja enunciación de los hijos en la narrativa de Alejandro Zambra y Nona Fernández”. Caderno de Letras, Pelotas, n. 37, pp. 207-228, maio-ago 2020. DERRIDA, Jacques. Morada. Trad. Silvina Rodrigues Lopes. Viseu: Edições Vendaval, 2004. FERNÁNDEZ, Nona. Space Invaders. Trad. Silvia Massimini Felix. Belo Horizonte: Moinhos, 2021. GAGNEBIN, Jeanne Marie. Lembrar escrever esquecer. São Paulo: Editora 34, 2009. HIRSCH, Marianne. The generation of postmemory: writing and visual culture after the Holocaust. New York: Columbia University Press, 2012. JENCKES, Kate. Witnessing beyond the Human: addressing the alterity of the Other in post-coup Chile and Argentina. Albany, NY: State University of New York Press, 2017. RANCIÈRE, Jacques. A partilha do sensível: estética e política. Trad. Mônica Costa Netto. São Paulo: EXO experimental; Editora 34, 2005. RESENDE, Beatriz. Poéticas do contemporâneo. Rio de Janeiro: PACC/UFRJ, 2017. SAER, Juan José. “O conceito de ficção”. Trad. Joca Wolff. Sopro, n. 15, ago 2009. SANTIAGO, Silviano. Nas malhas das letras: ensaios. Rio de Janeiro: Rocco, 2002. SARLO, Beatriz. Tempo passado: cultura da memória e guinada subjetiva. São Paulo: Companhia das Letras; Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2007. VIART, Dominique. “Récits de filiation”. In: VIART, Dominique; VERCIER, Bruno. La littérature française au présent. Paris: Bordas, 2008. POÉTICA DO INDIZÍVEL: O TESTEMUNHO DO INSTESMUNHÁVEL EM HIROSHIMA MON AMOUR Isabela Magalhães Bosi Resumo: Você não viu nada em Hiroshima. Assim começa o diálogo de Hiroshima mon amour, texto escrito por Marguerite Duras, em 1959, como roteiro para o filme homônimo de Alain Resnais. Nele, a autora constrói um diálogo entre dois amantes que se conhecem em Hiroshima, em agosto de 1957: um arquiteto japonês e uma atriz francesa, que está na cidade para gravação de um filme sobre a paz. Deitados na cama de um hotel, ela conta tudo o que viu em Hiroshima, os museus, as imagens, os sobreviventes, os rastros, enquanto ele responde, taxativo: "Você não viu nada em Hiroshima. Nada". Ciente da impossibilidade da representação da tragédia, e todo horror decorrente da guerra, a escrita de Duras assume que tudo o que se pode fazer é falar dessa impossibilidade. Em vez de buscar representá-la, o texto expõe o caráter intestemunhável da explosão atômica em Hiroshima enquanto a personagem francesa tenta elaborar os próprios traumas de guerra, provocada pelo interesse do amante. Nosso objetivo, neste trabalho, é analisar como a escrita de Duras articula essa impossibilidade, a partir da construção de um testemunho do intestemunhável como uma poética do indizível, estirando os limites da literatura para além da tentativa de uma mera representação do horror pelo horror. Para tanto, dialogamos com o pensamento de filósofos, como Walter Benjamin, Giorgio Agamben e Márcio Seligmann-Silva, que nos auxiliam na reflexão acerca da literatura e do testemunho, no limite da linguagem. Referências: AGAMBEN, Giorgio. O que resta de Auschwitz: o arquivo e a testemunha (Homo Sacer III). Tradução de Selvino J. Assmann. São Paulo: Boitempo, 2008. AMMOUR-MAYEUR, Olivier. Témoigner de l’intémoignable : Hiroshima entre “remembrance” et vestiges de la mémoire (sur Hiroshima mon amour et Pluie noire). Interférences littéraires, nouvelle série, n° 1, nov. 2008, pp. 133-144. ANTELME, Robert. L'Espèce humaine (1947). Paris : Gallimard, 1957. CAZENAVE, Jennifer. La voix off au féminin : Hiroshima mon amour et Aurélia Steiner. Cahiers de Narratologie, n. 20, 2011, pp. 8-16. DERRIDA, Jacques. Morada. Maurice Blanchot. Tradução de Silvina Rodrigues Lopes. Lisboa: Edições Vendaval, 2004a. DERRIDA, Jacques. Poétique et politique du témoignage. Cahier de l'Herne « Derrida », Marie-Louise-Mallet et Ginette Michaud (dir.). Paris : Éditions de L’Herne, n. 83, 2004b, pp. 521-539. DURAS, Marguerite. Hiroshima mon amour. Paris : Gallimard, 1960. DURAS, Marguerite. Le dernier des métiers: Entretiens 19621991. Textes réunis, transcrits et postfacés par Sophie Bogaert. Paris : Éditions du Seuil, 2016. GROSSMAN, Evelyne. Os corpos políticos de Marguerite Duras. Lugar comum, n. 21-22, julhodezembro, 2005, pp. 27-38. MASCARO, Laura Degaspare Monte. A presença e a ausência em Hiroshima mon amour: como a literatura e o cinema podem combinar-se para representar o passado? Letras em SELIGMANN-SILVA, M. Narrar o trauma: a questão dos testemunhos em catástrofes históricas. Revista Psicanálise Clínica, Rio de Janeiro, v. 20, n. 1, p. 65-82, 2008. SELIGMANN-SILVA, M. Testemunho e a política da memória: o tempo depois das catástrofes. Projeto História, São Paulo, v. 30, p. 71-98, jun. 2005. SELIGMANN-SILVA, M. A literatura do trauma. Revista Cult, São Paulo, Dossiê Literatura de Testemunho, n. 23, p. 40-47, jun. 1999. VOZES SILENCIADAS, PALAVRAS EVOCADAS, TESTEMUNHO FICCIONAL EM K. RELATO DE UMA BUSCA, DE BERNARDO KUCINSKI Jaqueline Larissa Freitas Maia Resumo: A ditadura militar brasileira (1964-1985) foi marcada pela violação dos direitos civis, o Estado assumiu uma postura autoritária principalmente contra seus opositores, alguns destes foram presos, torturados e assassinados. As vítimas desse período foram esquecidas, os seus nomes e suas trajetórias são desconhecidas por grande parte da população. Opondo-se a esse apreço pela ditadura brasileira o romance K: relato de uma busca, de Bernardo Kucinski, é uma obra que rememora as atrocidades praticadas pelos militares, a narrativa brinca com as relações entre história, ficção e memória, borra a linha entre ficção e história. A obra de Kucinski ficcionaliza a busca do Senhor K. pela filha Rosa Kucinski Silva e seu marido Wilson Silva, ambos militantes da Ação Libertadora Nacional – ALN, que desapareceram durante a ditadura, o romance usou um episódio real para compor seu universo ficcional. Assim, a literatura de testemunho estabelece as ligações entre a história, memória e o ficcional, uma vez que é capaz de reinventar a realidade, e tratar do que seria impossível. Posto isso, o objetivo fulcral deste trabalho é empreender uma discussão em torno do romance em tela a partir de uma abordagem teórica que leia a narrativa como testemunho da barbárie praticada durante a ditadura militar. Para tanto, o trabalho estrutura-se em dois eixos: no primeiro problematizamos o conceito de Literatura de Testemunho evidenciando como ferramenta de resistência a amnésia coletiva e ao negacionismo de que está padecendo a sociedade brasileira; em seguida debruçamo-nos no modo como o romance é narrado a partir do mosaico das vozes de co-narradores procurando expor o testemunho ficcional implícito na obra. Referências: BENJAMIN, W. Origem do drama barroco alemão. Tradução, apresentação e notas de Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1984. CYTRYNOWICZ, Roney. O silêncio do sobrevivente: diálogo e rupturas entre memória e história do Holocausto. In: SELIGMANN-SILVA, Márcio (Org.). História, memória, literatura: o Testemunho na era das catástrofes. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 2003. p. 123-138 FELMAN, Shoshana. Educação e crise, ou as vicissitudes do ensino. In: NESTROVSKI, A; SELIGMANN-SILVA, M. (Orgs.): Catástrofe e representação: ensaios. São Paulo: Escuta, 2000. p. 13-72. FIGUEIREDO, Eurídice. A literatura como arquivo da ditadura brasileira. Rio de janeiro: 7 letras. 2017 FINAZZI-AGRÒ, Ettore. Palavras e imagens da violência na moderna literatura brasileira. In: HARDMAN, Francisco Foot; GINZBURG, Jaime; SELIGMANN-SILVA, Márcio. (Orgs.). A escrita da violência volume II. Rio de Janeiro: 7 Letras. 2012. p. 79 – 88. FRANCO, Renato, o testemunho e a catástrofe no Brasil: anos 70. In: SELIGMANN-SILVA, Márcio. (Org.). História, memória, literatura: o testemunho na era das catástrofes. Campinas: Editora da Unicamp, 2003. p.351- 384. JAIME GINZBURG, literatura, violência e melancolia; editora Autores Associados Ltda,2013. KUCINSKI, Bernardo. K. o relato de uma busca. São Paulo: companhia das letras. 2016. PERTUZZATTI, Bibiana Zanella, PORTO, Ana Paula Teixeira. Literatura de Testemunho e Crítica Social: Uma Análise do Romance K. – Relato De Uma Busca, de Bernardo Kucinski. Literatura e Autoritarismo, Santa Maria, Dossiê nº 20: Ressignificando histórias, p. 71-80, jul. 2017. Disponível em: http://dx.doi.org/10.5902/1679849X27968. acesso em: 12 de dezembro de 2020. RANCIÈRE, Jacques. A partilha do sensível. Estética e Política. São Paulo: Editora 34, 2009. SELIGMANNSILVA, Márcio, O testemunho: entre a ficção e o “real”. In: SELIGMANN-SILVA, Márcio. (Org.). História, memória, literatura: o testemunho na era das catástrofes. Campinas: Editora da Unicamp, 2003. p.371- 385. SELIGMANN-SILVA, Márcio, A memória, a história e o esquecimento. In: SELIGMANN-SILVA, Márcio. (Org.). História, memória, literatura: o testemunho na era das catástrofes. Campinas: Editora da Unicamp, 2003. p. 59. SELIGMANN-SILVA, Márcio, catástrofe, história e memória em Walter Benjamin e Chris Marker: A escritura da memória. In: SELIGMANNSILVA, Márcio. (Org.). História, memória, literatura: o testemunho na era das catástrofes. Campinas: Editora da Unicamp, 2003. p.371- 385 SILVA, Pablo Augusto. O mundo como catástrofe e representação: testemunho e trauma na literatura do sobrevivente. São Paulo: Annablume, 2010. TELES, Janaina de Almeida. Os trabalhos da memória: os testemunhos dos familiares de mortos e desaparecidos políticos no Brasil. In: HARDMAN, Francisco Foot; GINZBURG, Jaime; SELIGMANN-SILVA, Márcio. (Orgs.). A escrita da violência volume II. Rio de Janeiro: 7Letras, 2012. p. 109 – 118. TELES, Janaina de Almeida. Luto e Memória da ditadura: O Memorial dos Desaparecidos de Vila Formosa, em São Paulo. Rio de Janeiro. REVISTA M., v. 2, n. 3, p. 65-93, jan./jun. 2017. Disponível em: file:///C:/Users/jaque/OneDrive/Documentos/Downloads/8150-38956-1-SM.pdf. Acesso em: 12 de dezembro de 2020. DO CORCUNDINHA DE WALTER BENJAMIN AO REI DE HERTA MULLER: O DESDOBRAR DO PRESSÁGIO EM TESTEMUNHO E A QUESTÃO DO TRAUMA NO LESTE EUROPEU Karina Vilela Vilara Resumo: Hannah Arendt ao escrever seu ensaio sobre Walter Benjamin divide-o em três partes: “o corcunda”, “os tempos sombrios” e “o pescador de pérolas”. Na primeira, a filósofa alemã discute o elemento da “má sorte” presente na obra e no trágico destino de Benjamin. Para isso, ela mobiliza a figura do corcunda, presente desde a infância na vida do escritor. Numa espécie de presságio contido na emblemática representação dos contos de fada alemães, sua “maldição” acaba por se tornar o ponto onde o gênio residiria. Alguns anos mais tarde, do outro lado do muro de Berlim, aparece o emblemático rei de Herta Muller, um rei que “se inclina e mata”, um personagem também corcunda. Na narrativa da escritora romena, contudo, o corcunda adquire novas proporções que o tornam próximo de um gigante. Tomando os dois personagens como chave de leitura comparativa, esta comunicação busca compreender, dentro do quadro da memória – atravessado pela subjetividade da infância –, como a escrita profética de Benjamin, a partir do desenvolvimento político da época, dará lugar à crônica de testemunho de Herta Muller. Uma vez que Benjamin é um referencial conhecido dentro dos estudos literários brasileiros ao se discutir o tema da memória e da experiência, a proposta de um diálogo entre o pensador e a escritora romena também é uma tentativa de lançar luz sobre a questão do trauma no leste europeu, território ainda pouco explorado nesse contexto. Por fim, vale notar que a poética da infância não só é responsável pelo que há de autobiográfico em Herta Muller, como será visto, mas é parte indissociável de sua própria escrita, o que coloca o elemento ético e estético em sua obra no mesmo lugar de importância. Referências: ARENDT, Hannah. Walter Benjamin (1892-1940). In: Homens em Tempos Sombrios. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. ANDÉN, Lovisa. Literary Testimonies and Fictional Experiences. In: Studia Phaenomenologica, vol. 21, 2021, pp.197-223. BACHVAROVA, Elitza. Dilemas de Responsabilização Política: Lembrando o Passado/Policiando o Passado. In: Política e Identidade: Discussões Historiográficas. Rio de Janeiro: Autografia, 2015, pp.218-247. BENJAMIN, Walter. Rua de mão única e Infância Berliense: 1900. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2020. BLUME, Rosvitha. Herta Muller e o ensaísmo autobiográfico na literatura contemporânea em língua alemã. In: Pandaemonium, vol. 16, n. 21, 2013, pp. 48-78. MULLER, Herta. O rei se inclina e mata. São Paulo: Globo, 2013. O DEVIR-OUTRO DO TESTEMUNHO NO CONE SUL Liana Marcia Gonçalves Mafra Resumo: A presente proposta de comunicação objetiva apresentar a pesquisa em andamento, desenvolvida no doutoramento em Letras, e traz discussões acerca das narrativas testemunhais, consideradas na pesquisa como literatura menor, testemunho menor, a partir do conceito elaborado por Gilles Deleuze e Félix Guattari, partindo das narrativas La Escuelita. Relatos testimoniales, de Alicia Partnoy (1987); Pasos bajo el agua (1987) e 259 saltos, uno imortal (2001), de Alicia Kozameh; En estado de memoria (1990) e Yo nunca te prometí la eternidad (2005), de Tununa Mercado; Una sola muerte numerosa de Nora Strejilevich (1996); La perla: Historia y testimonios de un campo de concentración (2012). A pesquisa propõe pensar a Literatura menor a partir do testemunho de autoria feminina, produzido sobre a última ditadura argentina, entremeando na discussão questões de gênero com as características desta literatura: nela, a língua possui um forte coeficiente de desterritorialização; nela tudo é político; tudo, nessa literatura, toma um valor coletivo. Assim, discutimos esta abordagem dentro da teoria do testemunho e propomos a expansão do conceito de literatura menor pensado por Deleuze e Guatarri a partir da literatura de Kafka. Convém ressaltarmos que as narrativas acima são produzidas por mulheres sobreviventes, que estiveram e ainda estão em situação de exílio, que (des)territorializaram seus testemunhos em contextos singulares, tanto geográfico quando gráfico, ou seja, apresentam uma escrita exilada tanto física quanto em sua expressão, demonstrando a singularidade e a multiplicidade de perspectivas de narrativas exiladas. Referências: BASILE, Teresa. Testimonios y militancias de mujeres en Argentina: Revolución, Derechos Humanos y Feminismo. CATEDRAL TOMADA: Revista de crítica literaria latinoamericana / Journal of Latin American Literary Criticism. Vol 9, Nº 16, 2021, p.62-103. DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil Platôs: capitalismo e esquizofrenia 2. vol. 5. Tradução de Pál Pelbart e Janice Caiafa. São Paulo: Editora 34, 2012. DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Kafka: por uma literatura menor. Tradução de Cíntia Vieira da Silva. 1. ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2014. FORCINITO, Ana. Los umbrales del testimonio: Entre las narraciones de los sobrevivientes y las señas de la posdictadura. Iberoamericana Editorial Vervuert, 2014. PEDRO, Joana y SCHEIBE WOLFF, Cristina. Gênero, feminismos e ditaduras no Cone Sul. Florianópolis, Editora Mulheres, 2011. PENNA, João Camilo. Este corpo, esta dor, esta fome: notas sobre o testemunho hispano-americano. In: SELIGMANN-SILVA, Marcio. História, memória, literatura: o Testemunho na Era das Catástrofes. Campinas, SP: UNICAMP, 2003. SELIGMANN-SILVA, Márcio. Testemunho da Shoah e literatura. (IEL – UNICAMP). Disponível em: https://texsituras.files.wordpress.com/2010/03/testemunho-da-shoah-e-literatura-seligmannsilva.pdf. A ESCRITA METAFICCIONAL E PÓS-MEMORIALÍSTICA EM PROCURA DO ROMANCE, DE JULIÁN FUKS Luciano Martins da Conceição Resumo: Ao considerarmos o projeto literário de Julián Fuks, sobretudo em seu primeiro romance, A procura do romance (2011), procuramos discutir sobre alguns aspectos metaficcionais presentes em sua diegese, relacionando a escrita de ficção às (pós) memórias do protagonista-autor Sebástian. Para fundamentar a análise, nos valemos das reflexões de Linda Hutcheon (1984) e de Patricia Waugh (1984), no que diz respeito à autorreflexividade no romance contemporâneo. Tratamos, ainda, da presença de elementos que podem ser lidos sob a perspectiva da pós-memória, segundo os estudos de Marianne Hirsch (2008), os quais relacionam o uso do dispositivo metaficcional aos aspectos memorialísticos da/na escrita de ficção. Em Procura do romance, Sebastián expressa o incômodo que sente por ter o passado familiar contado por outras pessoas. Ao viajar para seu país de origem, Argentina, no lugar onde situações traumáticas e memoráveis ocorreram durante os primeiros anos de sua infância, na cidade em que seus pais e irmão adotivo sofreram perseguições da ditadura cívico-militar, o protagonista-autor se depara com a possibilidade de escrever um romance baseado em memórias de um passado não vivido, todavia que se reflete no presente da escrita. Nesse sentido, trazemos à discussão alguns aspectos metaficcionais da obra de Fuks que se relacionam com os estudos referentes à pós-memória, dentre outras considerações relevantes à crítica literária contemporânea. Referências: FARIA, Zênia de. A metaficção revisitada: uma introdução. Signótica .v. 24, n. 1, p. 237 – 251, jan./jun. 2012. FUKS, julián. Procura do romance. Rio de Janeiro: Record, 2011. HIRSCH, Marianne. The generation of postmemory. In. Poetics Today, Durham: Duke UniversityPress, 29:1, 2008. HUTCHEON, Linda. Narcissistic Narrative: the metaficcional paradox. Warterloo, Ontario, Canada: Wilfrid Laurier University Press, 1980. KLINGER, Diana. Escrita de si como performance. Revista Brasileira de Literatura Comparada, n. 12, p. 11-30, 2008. LOPES, Cristian de Oliveira. A Autoficção em Procura do romance e A Resistência: confluências, travessias e fronteiras entre o biográfico e o ficcional em Julián Fuks. 2019. Dissertação (Mestrado em Letras) – Faculdade de Comunicação, Artes e Letras, Universidade Federal da Grande Dourados, Dourados, MS, 2019. SALES, Paulo Alberto da Silva. Meta-história, metaficção e metaficção historiográfica: uma revisão crítica. Ícone: Revista de Letras, Goiás, v. 17, n. 2, p. 1631, nov. 2017. Disponível: http://www.revista.ueg.br/index.php/icone/article/view/5838/4756. Acessado em: 12 de set. 2021. WAUGH, Patricia. Metafiction: the theory and practice of selfconscious fiction. Taylor & Francis e-library, 2001. O MEDO: DIÁLOGOS POÉTICOS BRASIL-PORTUGAL Marcelo Ferraz De Paula Resumo: Esta comunicação propõe uma aproximação crítica dos poemas "Congresso Internacional do medo" e "O medo", de Carlos Drummond de Andrade, "Poema pouco original do medo", de Alexandre O'Neill, e "Variações sobre o Poema pouco original do medo", de Manuel Alegre. O objetivo é, com base nas marcas testemunhais dos poemas, estabelecer pontos de inflexão no tratamento artístico dado ao tema central que os constitui: o medo enquanto sentimento paralisante em um contexto histórico atravessado pela violência e o autoritarismo. A partir dos diálogos literários, ora latentes ora explícitos, presentes neste pequeno corpus, é possível refletir sobre o trânsito de temas e formas dentro do macrossistema das literaturas de língua portuguesa (ABDALA JR., 2003) e, mais especificamente, sobre as articulações entre a poesia de resistência de Brasil e Portugal. Através das leituras cruzadas e de estratégias criativas que mobilizam relações intertextuais, estes poemas se posicionam diante do horror histórico, buscando, de forma diversa mas contundente, elaborar o sufocamento e a melancolia que remetem ao passado recente destes países e se atualizam, para perplexidade do leitor, nas ameaças do presente. Em nossa análise merecem especial atenção os procedimentos de repetição, elisão e tautologia que demarcam a fratura formal, e histórica, dos poemas, bem como a sua dimensão testemunhal. Referências: ABDALA JR., Benjamin. De vôos e ilhas. São Paulo: Ateliê, 2003. ALEGRE, Manuel. Poesia Completa. Lisboa: Dom Quixote, 2010. ANDRADE, Carlos Drummond de. Nova reunião. Vol. I. Rio de Janeiro: José Olympio, 1984. O'NEILL, Alexandre. Poesia reunida. Lisboa: Assírio & Alvim, 2012. TESTEMUNHO E MEMÓRIA DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL NA PEÇA DO PIACHU... (DEBAIXO DA TERRA...), DE TADEUSZ RÓ?EWICZ: ALGUMAS QUESTÕES DE TRADUÇÃO Marcelo Paiva De Souza Resumo: Do piachu... (Debaixo da terra...), peça do poeta, dramaturgo e prosador Tadeusz Ró?ewicz (1921-2014), publicada em 1979, ocupa um lugar de especial destaque na produção do autor. Revisitando o período final da Segunda Guerra, o texto descortina uma visão implacavelmente desmistificadora da resistência armada polonesa – da qual Ró?ewicz participou. Escrita durante muitos anos, de 1955 a 1972, depois detida longamente pela censura, que só permite sua publicação após um sem número de ingerências no texto, a obra estreia no palco, no mesmo ano em que é dada à estampa, no Teatr na Woli, em Varsóvia, sob a direção de Tadeusz ?omnicki. O espetáculo suscita reações tão violentas que o próprio dramaturgo solicita que seja retirado de cartaz. Ainda hoje (talvez mais ainda, hoje), o poder de impacto da peça impressiona, tanto em sua dimensão literária, quanto em suas possibilidades cênicas. A guerra é abordada por Ró?ewicz em Debaixo da terra... de um ponto de vista inglório, anti-heroico, desolador, em radical contraposição às reticências e mentiras dos discursos oficiais, bem como ao renitente autoengano coletivo das mitologias patrióticas. A comunicação propõe uma breve apresentação da obra e da sua recepção, para em seguida pôr em discussão alguns problemas do processo de tradução do texto. Referências: ASSMANN, Aleida. Espaços da recordação: formas e transformações da memória cultural; trad. coordenada por Paulo Soethe. Campinas: Editora da Unicamp, 2011. BIGLIAZZI, Silvia; KOFLER, Peter; AMBROSI, Paola (eds.). Theatre translation in performance. London/New York: Routledge, 2013. BRODZKI, Bella. Can these bones live? Translation, survival, and cultural memory. Stanford: Stanford University Press, 2007. ERLL, Astrid. Kollektives Gedächtnis und Erinnerungskulturen. Eine Einführung; 3. Auflage. Stuttgart: J. B. Metzler, 2017. FILIPOWICZ, Halina. A laboratory of impure forms: the plays of Tadeusz Rózewicz. New York: Greenwood Press, 1991. KRAKOWSKA, Joanna. PRL: przedstawienia. Warszawa: IT/PIW/IS PAN, 2016. NIZIO?EK, Grzegorz. Cia?o i s?owo. Szkice o teatrze Tadeusza Ró?ewicza. Kraków: Wydawnictwo Literackie, 2004. RÓ?EWICZ, Tadeusz. Dramat 3: utwory zebrane. Wroc?aw: Wydawnictwo Dolno?l?skie, 2005. TÍTULO: A DOR DE MARGUERITE DURAS: MEMÓRIA E TESTEMUNHO Maria Cristina Vianna Kuntz Resumo: Resumo: Marguerite Duras (1914 -1996) apresentou uma obra extremamente prolífica (mais de 50 títulos) entre romances, crônicas, teatro e cinema que foi traduzida para mais de 40 idiomas. É hoje considerada uma das mais importantes escritoras da Literatura Francesa da segunda metade do século XX. A autora havia sofrido grave crise de saúde (1980) e para recuperar-se, volta-se para seu passado. Assim, em 1984, publica O Amante, lembranças de seu amor da juventude e no ano seguinte, suas memórias do período da Ocupação. A Dor de Marguerite Duras é um conjunto de seis narrativas que se passam durante o período de Ocupação na França, durante a Segunda Guerra mundial (1939-1945). A primeira narrativa - “A dor” – é mais extensa e constitui uma espécie de diário em que relata a angústia (Freud,1999) da personagem narradora autora durante a espera da volta de seu marido que estava preso nos campos de concentração. No prefácio, a autora declara a veracidade de sua narrativa (Duras, 1986, p.8). As notícias da guerra, fatos históricos, misturam-se à solidão e à melancolia e desamparo (Pereira, 2008) experimentados pela personagem. O estado cadavérico do marido que chega finalmente se torna de per si uma prova vívida dos sofrimentos dos campos de milhões de prisioneiros e seu consequente trauma. Revela-se, pois, nesse texto a revolta da autora perante a catástrofe deflagrada pela guerra e pelas atrocidades nazistas, bem como sua militância junto `a Resistência Francesa. Nesse sentido, as narrativas de A dor ultrapassam o relato autobiográfico e se tornam um testemunho desse período da história da França e alcança um estatuto de Memória (Lecarme). Neste trabalho pretende-se mostrar de que maneira Duras conta suas memórias desse período negro da história a fim de que se registrem os bárbaros acontecimentos cometidos contra um povo (Gagnebin, 2006). Referências: DURAS, Marguerite. A Dor. Trad. Vera Adami. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986 FREUD, Sigmund - Luto e melancolia. Artigos sobre metapsicologia. Trad. Themira de O. Brito, Paulo H. Britto e Christiano Monteiro Oiticica. Rio de Janeiro: Imago, 1999, p.89-104 ..................................Inibições, Sintomas e Angústia. Trad. Christiano Monteiro Oiticica. Rio de Janeiro: Imago, 2001 GAGNEBIN, Jeanne Marie. Lenbrar Escrver Esquecer. São Paulo: 34, 2006 KRISTEVA, Julia. Soleil noir : depression et mélancolie. Paris : Gallimard, 1987 LACAN, Jacques. O que não engana. O Seminário X - A angústia. Trad. Vera Ribeiro, Rio de Janeiro: Zahar, 2004, p.81-94 LECARME, Jacques, LECARME-TABONE, Eliane. Autobiographie et mémoires. L'autobiographie. 2ed. Paris : Armand Colin, 1999, 47-53. PEREIRA, Mario Eduardo da Costa. Pânico e desamparo. São Paulo: Escuta, 2008. AS VOZES TESTEMUNHAIS NO ROMANCE MILAGRE NO BRASIL (1979) DE AUGUSTO BOAL Maria do Socorro Camelo Sousa Resumo: A opressão é uma lesão que se instala na memória do oprimido, que sempre traz para a cena o transbordamento da lembrança do momento traumático. Por este viés de testemunhar o que ocorreu, a Literatura de Testemunho traz algumas reflexões sobre as catástrofes do trauma. A testemunha narra o que viu, e essas narrativas podem ser realizadas por quem viveu e sobreviveu (testis) ou por quem só presenciou a opressão do outro (supertes), sendo estes conceitos estudados e aprofundados por Seligmann-Silva (2008; 2003), mas há uma outra voz que se apresenta no testemunho, essa contada por quem nem vivenciou e nem presenciou, esse se apresenta como um ouvinte das narrativas, que recolhe os fatos vividos e narra. Esse novo conceito de narrador é conceituado por Augusto Sarmento –Pantoja (2019) como arbiter. Pensando nesse viés, esta comunicação visa analisar as vozes do testemunho presente no romance Milagre no Brasil de Augusto Boal (1979), e o teor testemunhal marcado nesta obra. Este trabalho traçará diálogos com teóricos que pesquisem, discutem e refletem sobre o testemunho e o teor testemunhal como Márcio Seligmann- Silva (2003, 2008); Valéria De Marco (2004) e Augusto Sarmento–Pantoja (2019) no intuito de contribuir com as reflexões acerca destas narrativas. Referências: BOAL, Augusto. Milagre no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1979. DEMARCO, Valeria . “A literatura de testemunho e a violência de Estado”. In. Revista Lua Nova, nº62, ano, 2004, p. 45-68. SARMENTO-PANTOJA, Augusto. O Testemunho em três vozes: testes, superstes e arbiter. In. Literatura e Cinema de Resistências, Santa Maria, nº 32: Manifestações estéticas dissidentes, 2019, p. 5-18. SELIGMANN-SILVA, Márcio. História Memória Literatura: O Testemunho na Era das Catástrofes. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2003. SELIGMANNSILVA. Narrar o trauma - A questão dos testemunhos de catástrofes histórica. In. PSIC.CLIN., Rio de Janeiro, vol.20,nº1, 2008, p.65-82. À SOMBRA DO TRAUMA: VIOLÊNCIA E TESTEMUNHO EM OBRAS COREANAS DE AUTORIA FEMININA Maria Gabriela Wanderley Pedrosa Resumo: O objetivo desta pesquisa foi analisar obras literárias coreanas inscritas em tons autobiográficos que discutissem dois momentos históricos específicos: a colonização japonesa (1910 - 1945) e o massacre de Gwangju (1980). As obras escolhidas foram “Atos Humanos”, de Han Kang e as graphics novels “A espera” e “Grama”, de Keum Suk Gendry-Kim. Esses textos foram recém-traduzidos para a língua portuguesa, mostrando um crescente interesse editorial em relação ao diálogo entre literatura, memória e história coreanas. É possível que esse novo mercado tenha uma função bem delineada: abordar obras que possam apresentar ao público não só a literatura, mas também a história coreana e os processos violentos que a constituíram ao longo dos séculos. No tocante ao referencial teórico utilizado, buscamos trazer textos de autores canônicos sobre literatura de testemunho e violência, tais como Jaime Ginzburg (2012), Jeanne Marie Gagnebin (2006), Marianne Hirsch (1992) e Márcio Seligmann-Silva (2008), que, apesar de analisarem outras literaturas, latino-americanas e/ou eurocêntricas, em sua essência tocam na dificuldade de se narrar o trauma, traço que se apresenta em todas as obras literárias sul-coreanas já referidas. Além disso, é necessário voltar nosso olhar aos próprios teóricos sulcoreanos, como, a título de exemplo, Joanna Elfving-Hwang (2010) e Daehyun Kim (2021) que discutirão como essas novas vozes literárias buscam novos meios estéticos de se resgatar a memória. As tramas contemplam precisas observações sobre as narrativas de pessoas reais que atravessaram esses momentos obscuros da história coreana, bem como explorar os ruidosos diálogos entre a antiga Coreia, que ainda guarda resquícios de processos traumáticos, e a nova Coreia, globalizada, que silenciosamente vai se afastando das marcas violentas passadas. As autoras mantêm a preocupação em entrelaçar essas duas faces e reviver ficcionalmente a sombra do trauma da história coreana, expondo de maneira clara, também, suas experiências pessoais com essas passagens. Referências: ELFVING-HWANG, Joanna. Representations of Feminity in Contemporary South Korean Women's Literature. Global Oriental, 2010. GAGNEBIN, Jeanne Marie. Lembrar escrever esquecer. Ed. 34, 2006. GINZBURG, Jaime. O narrador na literatura brasileira contemporânea. Tintas. Quaderni di letterature iberiche e iberoamericane, 2 (2012), pp. 199-221 HIRSCH, Marianne. Family Pictures: Maus, Mourning, and Post-Memory. Jstor, Vol. 15, No. 2, Special Issue: The Emotions, Gender, and the Politics of Subjectivity (Winter 1992-93), pp. 3-29. KOREAN LITERATURE NOW. New Explorations of Old Spaces. Vol. 54, Winter, 2021. KOREAN LITERATURE NOW. Disasters - God Playing Dice, or Humans Toppling Dominoes? Vol. 51, Spring, 2021. KOREAN LITERATURE NOW. Mothers and Daughters: Narratives of Affection, Sympathy, Resentment, and Solidarity. Vol. 49, Autumn, 2020. SELIGMANN, SILVA, Márcio. NARRAR O TRAUMA – A QUESTÃO DOS TESTEMUNHOS DE CATÁSTROFES HISTÓRICAS. PSIC. CLIN., RIO DE JANEIRO, VOL.20, N.1, P.65 – 82, 2008. ESCREVIVENDO: MEMÓRIAS E TESTEMUNHOS DE MULHERES NEGRAS ESCRITORAS EM GOIÂNIA Nadja Karoliny Lucas de Jesus Almeida Resumo: Esta comunicação faz parte de uma pesquisa de doutorado em andamento pelo PPGLL / UFG, cujos objetivos gerais são identificar e analisar por meio das teorias metodológicas da Escrevivência, os testemunhos e as representações das vozes e das memórias de mulheres negras escritoras na cidade de Goiânia. Esta pesquisa está embasada na Escrevivência (EVARISTO, 2020; 2021) como possibilidade epistêmico-metodológica dos saberes, das escritas, das vivências, das experiências, das memórias, das vozes (testemunhais) e dos corpos de mulheres negras que desenvolvem uma dimensão de resistência no seu trabalho artísticoliterário e que trazem as próprias vozes litero-poéticas, em versos, narrativas ou em prosas como instrumentos de trabalho e como referências para dizerem de si, de suas pares, de suas coletividades dentro do corpo da cidade, e ainda, mulheres negras escritoras que trazem seus trabalhos escritos como possibilidade de criarem um novo lugar de enunciação, de produção de conhecimento e de denúncia às restrições epistêmico-discursivas que as envolvem. Desta forma, são importantes as contribuições dos testemunhos dessas mulheres para que hajam reflexões acerca dessas vozes tantas vezes silenciadas. Esta pesquisa pretende, antes de tudo e entendendo a escrevivência e o testemunho como produções literárias, escutar, identificar, compreender e problematizar os testemunhos, as narrativas e o percurso epistemológico da identidade feminina negra na cidade supracitada. Referências: BOSI, Ecléa. Memória e sociedade: lembranças de velhos. 3ª ed. – São Paulo: Companhia das Letras, 1994. CANDIDO, Antônio. Vários Escritos. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2011. DUARTE, Eduardo de Assis. Escrevivência, Quilombismo e a tradição de escrita afrodiaspórica. In: Escrevivência: a escrita de nós: reflexões sobre a obra de Conceição Evaristo / organização Constância Lima Duarte, Isabella Rosado Nunes; ilustrações Goya Lopes. –1.ed.—Rio de Janeiro: MINA Comunicação e Arte, 2020. EVARISTO, Conceição. Da representação à autorrepresentação da mulher negra na literatura brasileira. In: Revista Palmares: Cultura Afrobrasileira. Ano I – número1, agosto, 2005, p. 52-57. EVARISTO, Conceição. Becos da Memória. 200p. Rio de Janeiro: Pallas, 2017. KILOMBA, Grada. A máscara. Tradução de Jéssica Oliveira de Jesus. Cadernos de Literatura em tradução, n.16. 2010, p.171-180. ___________. Memórias da plantação: Episódios de racismo cotidiano. Tradução Jess Oliveira. 1. ed. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019. PAULA, Marcelo Ferraz de. O testemunho na poesia lírica: inflexões e reflexões a partir de um poema de Thiago de Mello. In: Revista Eletrônica Literatura e Autoritarismo: Dossiê 18., 2017, p.89-97. Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/LA/article/view/25575/14938. Acesso em: 12 jul.2021. SALGUEIRO, Wilberth. Trauma e resistência na poesia de testemunho do Brasil Contemporâneo. Revista Moara – Edição 44 – jul -dez 2015, Estudos Literários. Disponível em: https://periodicos.ufpa.br/index.php/moara/article/view/3432. Acesso em: 12 jul. 2021. WEBNÁRIO: A Escrevivência de Conceição Evaristo. Itaú Cultural e MINA Comunicação e Arte. 30 nov.2020 (primeiro dia). Disponível em: https://youtu.be/bzwGCFEkEf4. Acesso em: abril 2021. WEBNÁRIO: A Escrevivência de Conceição Evaristo. Itaú Cultural e MINA Comunicação e Arte. 12 nov.2020 (segundo dia). Disponível em: (24) Seminário A Escrevivência de Conceição Evaristo: segundo dia - YouTube: www.youtube.com/watch?v=gisQ0mWUvU0. Acesso em: abril 2021. WEBNÁRIO: Escrevivências com Conceição Evaristo. Mulherio, Universidade Federal Fluminense (UFF) em abril de 2021. Disponível em: https://youtu.be/ehSaZiXLOvY. Acesso em: maio.2021. ÍNDICES DA IRREPRESENTABILIDADE NA POESIA PRODUZIDA EM CÁRCERE POLÍTICO NA DITADURA MILITAR BRASILEIRA Nelson Martinelli Filho Resumo: O período balizado pelo regime militar no Brasil, em especial no cenário de açulamento da violência a partir de 1968, foi marcado por graves violações de direitos humanos nas ações dos órgãos policiais. A prisão, nesse e em tantos outros contextos, se revela, nos registros que se conservaram disponíveis, como um espaço de terror físico e psicológico em função dos arbítrios de torturadores e assassinos em nome do Estado. Dados e informações sobre esse período nem sempre são acessíveis, uma vez que passaram, e ainda passam, por múltiplas camadas de interdições, configurando-se ora como memória impedida, ora como memória manipulada. Dentre os vestígios da experiência prisional durante a ditadura militar são encontrados poemas escritos durante e após o cárcere. A produção poética, nessa perspectiva, como elaboração linguística no campo simbólico, viabiliza o contorno àquilo que não pode ser dito em virtude de impedimentos sociais e psíquicos, evidenciando limites da linguagem que se impõem de diversos modos. Considerando essa produção literária, este trabalho tem por objetivo investigar o tema da irrepresentabilidade, em chave psicanalítica e historiográfica, a partir da poesia escrita por encarcerados durante a ditadura militar, considerando a escrita de poetas como Alex Polari, Gilney Viana, Lara de Lemos e Pedro Tierra. Para fundamentar a discussão, serão agenciados autores como Jacques Lacan, Paul Ricoeur, Sigmund Freud e Walter Benjamin. Referências: BENJAMIN, Walter. Paris do Segundo Império. In: BENJAMIN, Walter. Charles Baudelaire um lírico no auge do capitalismo. Trad. José Martins Barbosa, Hemerson Alves Baptista. São Paulo: Brasiliense, 1989. p. 197-221. BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito de História. In: BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. Trad. Sergio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1994. p. 222-232. FREUD, Sigmund. A fixação no trauma, o inconsciente. In: FREUD, Sigmund. Obras completas, volume 13: conferências introdutórias à psicanálise (1916-1917). Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2014a. p. 364-381. FREUD, Sigmund. Além do princípio do prazer. In: FREUD, Sigmund. Obras completas, volume 14: História de uma neurose infantil (“O homem dos lobos”), Além do princípio do prazer e outros textos (1917-1920). Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2010a. p. 161-239. FREUD, Sigmund. Obras completas, volume 4: a interpretação dos sonhos (1990). Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. FREUD, Sigmund. Recordar, repetir e elaborar. In: FREUD, Sigmund. Observações psicanalíticas sobre um caso de paranoia relatado em autobiografia (“O caso Schereber”): artigos sobre técnica e outros textos (1911-1913). Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2010b. p. 193-209. LACAN, Jacques. Escritos. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 1998. p. 96-103. LACAN, Jacques. O Seminário, livro 11: os quatro conceitos fundamentais da psicanálise (1964). 2. ed. Trad. M. D. Magno. Rio de Janeiro: Zahar, 2008. LACAN, Jacques. O Seminário, livro 20: mais, ainda (1972-73). Rio de Janeiro: Zahar, 1985. LEMOS, Lara de. Poesia completa I. Porto Alegre: EDIPUCRS/Movimento, 2017. POLARI, Alex. Camarim de prisioneiro. São Paulo: Global, 1980. POLARI, Alex. Inventário de cicatrizes. 4. ed. Rio de Janeiro: Global, 1979. PUCHEU, Alberto (Org.). Poemas para exumar a história viva: um espectro ronda o Brasil. São Paulo: Editora Cult, 2021. RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Trad. Alain Fraçois [et al.]. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2007. TIERRA, Pedro. Poemas do povo da noite. São Paulo: Editorial Livramento, 1979. VIANA, Gilney. Poemas (quebrados) do cárcere. Rio de Janeiro: Garamond, 2011. A INTERSECÇÃO ENTRE OS DISCURSOS HISTÓRICO E LITERÁRIO NO ROMANCE ESSA GENTE, DE CHICO BUARQUE Priscila Borges de Novaes, ADRIANA DE BORGES GOMES Resumo: O presente trabalho se propõe a analisar como História e Literatura dialogam no romance Essa Gente (2019), de Chico Buarque. Literatura e narrativa histórica caracterizam-se como forma eficaz de construção de memórias e identidades sociais, uma vez que a literatura pode ser considerada uma testemunha privilegiada dos acontecimentos históricos, embora não tenha primordialmente o compromisso de retratá-los. Porém, ao optar por adicionar fatos históricos à sua narrativa, a literatura se configura como mais uma fonte de conhecimento acerca dos mesmos. Por outro lado, faz-se pertinente pontuar que a História também utiliza os recursos da subjetividade e da ficção para compor o fato histórico. O trabalho objetiva trazer problematizações da confluência e dos meandros que circundam Literatura e Ficção nesse romance buarquiano, observando como a narrativa ficcional de Essa Gente pode contribuir na compreensão da recente realidade política histórica-social brasileira, em outras palavras, até que ponto o romance é uma finte "confiável" acerca da situação atual do país. O aporte teóricometodológico de pesquisa bibliográfica está fundamentado pelas obras de Roland Barthes (2004), Hayden White (1991), (1994) Luiz Costa Lima (2006) e Michel de Certeau (1987), Rosana Pinheiro Machado (2019). Dessa forma, em decorrência dessas discussões pode-se mensurar a uma leitura histórico-social da realidade brasileira sob a ótica deste relato ficcional de Chico Buarque. Referências: BARTHES, Roland. O discurso da História. In: O rumor da língua. SP. Martins Fontes, 2004.BUARQUE, Chico. Essa Gente. 1ª ed. São Paulo: Companhia das letras, 2019. COSTA LIMA, Luiz. História. Ficção. Literatura. São Paulo: Companhia das letras, 2006. DE CERTEAU, M., Histoire et psychanalyse - entre science et fiction. Paris: Gallimard, 2016 (1987). LUKÁCS, György. O romance histórico. Tradução de Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo, 2011. PINHEIROMACHADO, Rosana. Amanhã vai ser maior: o que aconteceu com o Brasil e as possíveis rotas de fuga para crise atual. São Paulo: Planeta do Brasil, 2019. WHITE, Hayden. O texto histórico como artefato literário: In: Trópicos do discurso: ensaios sobre a crítica da cultura. São Paulo: EDUSP, 1991. WHITE, Hayden. Teoria Literária e Escrita da História. Estudos históricos. Rio de Janeiro, vol. 7. REPRESENTAÇÕES DO MESSIANISMO E DO CORONELISMO NO ROMANCE SOBRE A GUERRA DO CONTESTADO ELES NÃO ACREDITAVAM NA MORTE, DE FREDERECINDO MARÉS DE SOUZA Sérgio Roberto Massagli Resumo: Estudar a evolução dos conceitos de messianismo e coronelismo ao longo da história é fundamental para se compreender a relação entre os conflitos messiânicos e os conflitos pelo direito à terra que, ao longo da história, tem sido mal compreendida ou deliberadamente distorcida ao exagerar o caráter religioso e espiritual desses conflitos em detrimento das reivindicações fundiárias, de cunho material. Além disso, é importante verificar como esses conceitos têm sido representados na literatura produzida sobre a Guerra do contestado, principalmente no gênero romance, levando-se sempre em consideração as especificidades do texto literário. Este trabalho procura analisar o primeiro texto ficcional cronologicamente escrito sobre o conflito do Contestado, na tentativa de verificar como este romance tratou a disputa territorial da região do Contestado e o tabuleiro que se configurou a partir do intrincado jogo de forças entre o nascente capitalismo e os coronéis de um lado, e o messianismo e os caboclos de outro. Trata-se do romance Eles não Acreditavam na Morte, de Fredericindo Marés de Souza, publicado postumamente em 1978, mas datado de vinte anos antes, 1958. A análise desse texto se dará a partir das relações interdisciplinares do discursoso literário com o historiográfico, mais especificamente com aqueles trabalhos que, como este romance, se valeram da coleta de testemunhos sobre o conflito, a fim de contribuir para uma compreensão crítica da presença do messianismo e do coronelismo nas narrativas literárias envolvendo a Guerra do Contestado. Referências: AURAS, M. Guerra do Contestado: a organização da Irmandade Cabocla. Florianópolis: Ed. da UFSC, 1984. AVELAR, L; CINTRA, A. O. (Org.). Sistema Político brasileiro: introdução. Rio de Janeiro: Ed. Fundação Unesp, 2004. BAKHTIN, M. Questões de Literatura e estética: a teoria do romance. Trad. Aurora Fornari Bernardini et al. São Paulo: UNESP: Hucitec, 1988. BENJAMIN, W. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. 7. ed. Trad. Sérgio P. Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 2010. BURKE, P. Formas de hacer historia. Madrid: Alianza, 1991. CHARTIER, R. A história cultural: entre práticas e representações. Trad. Maria M. Galhardo. Lisboa: Difel, 1990. CELMER, N. G. Cães da Província: metaficção historiográfica? Disponível em http.www.baal.com.br Acesso em 19 de julho de 2007. DUBY, R. et al. História e nova história. Trad. Carlos Ferreira. Lisboa: Torema, 1986. FAORO, R. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro. 3. ed. Porto Alegre: Globo, 1976. 2 v. GAGNEBIN, J. M. Memória, história, testemunho. Lembrar, escrever, esquecer. São Paulo: Ed. 34, 2006. FLECK, G. F. A conquista do “entre-lugar”: a trajetória do romance histórico na América. Gragoatá, Niterói, n. 23, p. 149-167, jul./dez. 2007a.) FORTUNATO, M. L. O coronelismo e a imagem do coronel: de símbolo a simulacro do poder local. Tese (Doutorado em História Social). Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas. Campinas-SP, 2000 HUTCHEON, L. Poética do pós-modernismo. Trad. Ricardo Cruz; Rio de Janeiro: Imago, 1991. LEAL, V. N. Coronelismo, enxada e voto: o município e o regime representativo no Brasil. 4. ed. São Paulo: Alfa Omega, 1978. LIMA, L. C. Sociedade e discurso ficcional. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986. __________. História. Ficção. Literatura. São Paulo: Companhia das Letras, 2006. MARÉS DE SOUZA, F. Eles não acreditavam na morte: romance dos tempos dos fanáticos do Contestado. Curitiba: Estante Paranista Nº 8/Instituto Histórico e Geográfico do Paraná, 1978. MENTON, S. La nueva novela histórica de la América Latina: 1979-1992. México: Fondo de Cultura Económica, 1993. MONTEIRO, D. T. Os errantes do novo século: um estudo sobre o surto milenarista do Contestado. São Paulo: Editora da USP, 2011. QUEIROZ, M. I. P. O messianismo no Brasil e no mundo. São Paulo: EUSP, 1965 QUEIRÓS, M. V. de. Messianismo e Conflito Social: a Guerra Sertaneja do Contestado. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966. RANCIÈRE, J. Políticas da Escrita. Editora 34, Rio de Janeiro RJ, 1995. SELIGMANN-SILVA, M. Apresentação da questão. História, memória, literatura: o testemunho na era das catástrofes. Org.: Márcio Seligmann-Silva. Campinas: Editora da Unicamp, 2003. SINZIG, P. Frei Rogério O.F.M. 2. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1939. TONON, E. O poder dos coronéis no movimento do Contestado. Passagens. Revista Internacional de História Política e Cultura Jurídica, vol. 3, núm. 2, enero-abril, 2011, pp. 264-281 VOLVELLE, M. Ideologias e mentalidades. Trad. Maria J. Goldwasser. São Paulo: Brasiliense, 1987. WHITE, H. Metahistory: the historical imagination in nineteenthcentury Europe. 2. ed. Baltimore: John Hopkins University Press,1979. MEMÓRIA, HISTÓRIA E TESTEMUNHO EM AZUL CORVO, DE ADRIANA LISBOA Sheila Vieira Nanes Dos Santos Galvão, Thaisa Rochelle Pereira Martins Resumo: A presente proposta analisa, sob o viés da literatura de testemunho, a construção estética e temática do romance Azul Corvo, de Adriana Lisboa. O passado traumático do personagem Fernando, ex-militante da Guerrilha do Araguaia, traz à tona aquilo que a história oficial encobriu (LEONARDO, 2018), elucidando, a partir da composição ficcional, aspectos importantes da resistência à ditadura militar de 1964 no Brasil. O testemunho de Fernando sobre esse momento crítico da história é repassado para Evangelina, narradora-personagem da obra, que também precisa superar seu passado traumático de morte precoce da mãe. Pelo desejo de portar o testemunho de Fernando, Evangelina torna-se também uma testemunha, já que, de acordo com Sellingman-Silva (2014), a escuta do outro contribui para que o testemunho de catástrofes humanas seja preservado e levado adiante. Nesse sentido, a memória de Fernando e sua narrativa traumática sobre as consequências do regime militar só se mantêm a partir da persistência de Evangelina em receber o testemunho e conservá-lo (RICOUER, 2013). Com isso, discorremos sobre a constituição das personagens como testemunhas e sua importância para desvelar os rastros de dor que a ditadura militar deixou e que a história oficial tratou de encobrir, por isso, mobilizamos as noções de testemunhas primárias e secundárias (SELLIGMANSILVA, 2018) e também da testemunha considerada como o “terceiro”, aquela que “escuta, que não vai embora” (GAGNEBIN, 2020). Além disso, as discussões apontam Fernando, que é uma testemunha primária, com extrema dificuldade de relatar o trauma vivenciado, importante aspecto a ser analisado na construção do testemunho. Desse modo, a narrativa de Lisboa entrega-nos uma verdade interdita, que os arquivos não podem e não “devem” dizer (FINAZZIAGRÓ, 2014), ou seja, a literatura cumpre o papel de nos comunicar os extremos da violência humana (FIGUEIREDO, 2017). Referências: FIGUEIREDO, E. A literatura como arquivo da ditadura brasileira. Rio de Janeiro: 7 letras, 2017.? FINAZZI-AGRÓ, E. (Des)memória e catástrofe: considerações sobre a literatura pósgolpe de 1964. Estudos de literatura brasileira contemporânea, n. 43, p. 179-190, jan./jun. 2014.? GAGNEBIN, J. M. Lembrar escrever esquecer. São Paulo: Ed. 34, 2006. 224 p.? LEONARDO, D. História e ficção: a Guerrilha do Araguaia recontada em azul corvo de Adriana Lisboa. Scripta Uniandrade, v. 16, n. 2 (2018), p. 177-194. Curitiba, Paraná, Brasil Data de edição: 27 set. 2018. ? LSIBOA, A. Azul corvo. 1ª ed. - Rio de Janeiro: Objetiva, 2014. ? RICOEUR, P. Memória, história, esquecimento. 2003, 7 p. Disponível em <memoria_historia.pdf>.? SELLIGMAN-SILVA, M. Narrar o trauma: a questão dos testemunhos de catástrofes. Psic. Clin., Rio de Janeiro, vol. 20, N. 1, p. 65-82, 2008. _____. O local do testemunho. Revista do Programa de Pós-graduação em História. Florianópolis, v. 2, n. 1, p. 3 – 20, jan. / jun. 2010. LITERATURA, TESTEMUNHO E DEVER DE MEMÓRIA EM PABLO NERUDA Sirlei Da Silva Fontoura Resumo: Este trabalho analisa os poemas que compõem a obra Canto Geral, de Pablo Neruda, em especial os versos do canto VIII, intitulado A Terra se chama Juan. Trata-se de uma seção na qual os poemas buscam representar o discurso direto de trabalhadores ao redor da América, enfatizando as relações de opressão, a violência, o sofrimento e o sangue derramado. A partir das considerações sobre literatura de testemunho, abordaremos tal categoria como uma forma de resistência aos discursos dominantes, a todo tipo de violência, seja ela física, seja voltada à perda de sensibilidade nas relações políticas e sociais potencializadas pela experiência autoritária. Na poesia de Neruda, há a resistência que o encoraja a versar sobre as incidências históricas, a vida e as lutas não só do povo chileno, mas também de toda a América Latina. O olhar do poeta está direcionado aos que foram calados, aos que não sobreviveram e precisam ser lembrados. É a partir deste viés que o testemunho se apresenta como um médium que procura impedir que a memória seja apagada. Daí advém o dever de memória, o compromisso de fazer justiça pelos que não sobreviveram, levantando-se e reivindicando o reconhecimento por todas as dores sofridas, como uma forma de reparação. Intimamente ligada à realidade histórica, a literatura de testemunho tem como ponto de partida os processos de rememorações do passado, narrando acontecimentos sob o impacto do horror e das experiências dolorosas, nesse caso, sob a forma de poesia. Em Canto Geral, é nítido o “teor testemunhal”, expressão consagrada por Seligmann-Silva, que integra as referências bibliográficas ao lado de Agambem (2008), Bosi (2007), Denis (2002), Ricoeur (2007). É nesse movimento que a poesia de Neruda se insere, assumindo a função, portanto, de testemunho. Trata-se de um trabalho de natureza qualitativa, embasado em revisão bibliográfica e análise literária crítico-analítica. Referências: AGAMBEM, Giorgio. O que resta de Auschwitz: o arquivo e a testemunha. São Paulo: Boitempo, 2008. BOSI, Alfredo. O ser o tempo da poesia. São Paulo: Cultrix, 1977. GAGNEBIN, Jeane Marie. Lembrar, escrever, esquecer. São Paulo: Editora 34, 2009. RICOEUR, Paul. Memória, História e Esquecimento. São Paulo: UNICAMP, 2007. SALGUEIRO, Wilberth (org.). O testemunho na literatura: representações de genocídios, ditaduras e outras violências. Vitória: EDUFES, 2011. SELIGMANN-SILVA, Márcio. História, Memória, Literatura: o testemunho na era das catástrofes. Campinas: UNICAMP, 2003. ENTRE FEITORES, SENHORES E DOUTORES; O TESTEMUNHO DE "DIÁRIO DO HOSPÍCIO" Thais da Silva César Resumo: Se as ruas da "Belle Époque" carioca do início do século XX respiravam progresso, o hospício encobria pobres, negros, mulheres, imigrantes, alcoólatras, doentes ou qualquer outro que perturbasse a ordem social. Nascida sob o signo da ordem e do progresso, a República, pátria mãe gentil de alguns, não hesitou em se mostrar hostil a muitos dos seus filhos, relegando-os ao hospício. Ali jaziam os subumanos tão necessários à modernidade. Pelas mãos da polícia, como tantos outros, Lima Barreto chegou ao Hospital Nacional dos Alienados em 25 de dezembro de 1919 e lá ficou internado por delírios alcoólicos até 02 de fevereiro de 1920. Alcoólatra, negro e pobre, numa época em que essas características eram sinal de degenerescência; vêm de alguém tido como louco as anotações carregadas de lucidez que deram origem à "Diário do Hospício", obra que desvela o caráter de exclusão e arbitrariedade das internações da época e põe em xeque as certezas da ciência quanto à loucura. Se, amparando-se na ciência, na lógica colonial e na política, e como meio de invisibilizar e desumanizar, o racismo estava inserido em um projeto de institucionalização de práticas e de criação de um imaginário social; o trabalho tenta iluminá-lo como elemento constitutivo da modernidade e da sociedade brasileira sob a ótica do testemunho de "Diário do Hospício". No hospício em que jaziam os subumanos; entre feitores, senhores e doutores, ergue-se o testemunho do autor. Referências: BARRETO, Lima. "Diário do Hospício; Cemitério dos vivos", São Paulo, Companhia das Letras, 2017. FACCHINETTI, Cristiana et al. No labirinto das fontes do Hospício Nacional dos Alienados. "História, Ciências, Saúde – Manguinhos". Rio de Janeiro, v. 17, supl. 2, dez. 2010, p. 733-768. MBEMBE, Achille. "Necropolítica. Biopoder, soberania, estado de exceção, política de morte". Traduzido por Renata Santini. São Paulo: n-1 edições, 2018. MOURA, Clóvis. "Dialética radical do Brasil negro". São Paulo: Fundação Maurício Grabois; Anita Garibaldi, 2014. SALGUEIRO, Wilberth. O que é literatura de testemunho (e considerações em torno de Graciliano Ramos, Alex Polari e André Du Rap). "Matraga", Rio de Janeiro, v.19, n.31, jul/dez 2012. Disponível em: <https://www.e-ublicacoes.uerj.br/index.php/matraga/article/view/22610 > Acesso em: 18 de jun. 2020. SANTOS, Boaventura de Sousa Para além do pensamento abissal: das linhas globais a uma ecologia de saberes. "Novos estudos CEBRAP", 2007, n. 79, p. 71-94. SELIGMANN-SILVA, Márcio e NESTROVSKI, Arthur (org). A História como trauma. In:____. "Catástrofe e Representação". São Paulo: Escuta, 2000, p. 73-98. SELIGMANN-SILVA, Márcio. Narrar o trauma – A questão dos testemunhos de catástrofes históricas. "Psic. Clin"., Rio de Janeiro, vol.20, n.1, 2008. Disponível em: < https://www.scielo.br/pdf/pc/v20n1/05.pdf> Acesso em: 20 de jul. 2020. ____. O local do testemunho. "Tempo e Argumento" Revista do programa de Pós-Graduação em História. Florianópolis, v.2, n.1, p. 3-20, jan./jun.2010. Disponível em: < https://www.revistas.udesc.br/index.php/tempo/article/view/1894/1532> Acesso em: 20 de jul. 2020. _____. (org). O testemunho: entre a ficção e o “real”. In:____ "História, memória, literatura": o testemunho na Era das Catástrofes. Editora Unicamp, 2016. A EXEMPLARIDADE DA PERDA SINGULAR: AS IMPOSSIBILIDADES DERRIDIANAS E O LUTO EM ANTÍGONA GONZÁLEZ Thais Neves Marcelo Resumo: O que acontece quando verdade e ficção se fundem? Quando o testemunho de uma vítima é incorporado em uma obra de maneira que seus limites em relação ao narrador fictício não são bem demarcados? Este trabalho tem esses questionamentos como ponto de partida para entender a incorporação de vozes testemunhais, retiradas de dossiês e reportagens de distintos veículos jornalísticos, na obra da escritora Sara Uribe, Antígona González (2012). Nela, a voz da narradora criada por Uribe se mescla com a voz das vítimas-sobreviventes da violência instaurada pelo narcotráfico no México, testemunhas que denunciam as condições às quais estão submetidas e buscam os corpos de familiares desaparecidos. Ambas são apresentadas, no corpo do texto, sem uma identificação que as diferencie; apenas no final da obra, em um apêndice intitulado “Notas Finales y Referencias”, que os nomes, a data e o local em que os relatos foram concebidos são revelados. Proponho que tais apropriação e disposição potencializam uma natureza paradoxal do testemunho, proposta por Jaques Derrida, em Demorar: Maurice Blanchot (2015), na qual a singularidade do relato reside em sua capacidade de ser universalizável. Em outras palavras, a testemunha precisa ser única, mostrando que apenas ela pode relatar o que ocorreu, mas, se seu discurso é tido como verdadeiro, ela também deve ser capaz de reproduzir o fato relatado, para torná-lo, assim, exemplar. Penso que, no contexto de necropolítica, particularizar essas perdas, é um modo de respeitar suas subjetividades; contudo, também se faz importante denunciar a recorrência da violência que gerou essas mortes. Logo, a leitura derridiana sobre a voz testemunhal, é fundamental para pensar a concepção de luto trazida por Uribe, abarcando a dupla necessidade de singularizar uma perda, sem abandonar uma leitura metonímica dela que faça alusão à violência generalizada que se quer denunciar. Referências: DERRIDA, Jacques. “As mortes de Roland Barthes”. RBSE – Revista Brasileira de Sociologia da Emoção, v. 7, n. 20, pp.264 a 336. Agosto de 2008. ________. Demorar: Maurice Blanchot. Trad. Flávia Trocoli e Carla Rodrigues. Florianópolis: Editora UFSC, 2015. ________. “Uma certa possibilidade impossível de dizer o acontecimento”. Trad. Piero Eyben. Revista Cerrados, v. 21, n. 33, 3 set. 2012. MBEMBE, Achille. Necropolítica: biopoder, soberania, estado de exceção, política da morte. São Paulo: N-1 edições, 2018. URIBE, Sara. Antígona González. Oaxaca: Sur+, 2012. LITERATURA E RESISTÊNCIA: RASTROS DA DITADURA CIVIL-MILITAR NA OBRA DE ANTÔNIO TORRES Vanusia Amorim Pereira dos Santos Resumo: Os atos institucionais decretados ao longo da Ditadura Civil-Militar de 1964, restringiram liberdades e cercearam direitos. O AI5, ato institucional mais repressor, avalizou a violência e serviu de modelo de coerção para basear outros documentos punitivos, como o Decreto-Lei 1077/70, que oficializava e norteava especificamente a censura prévia a livros e revistas. Antônio Torres estreou na literatura em 1972, publicando o romance Um cão uivando para lua, livro revelação do ano. No ano seguinte, publicou Os homens dos pés redondos e em 1976 lançou sua obra-prima, Essa terra. As três narrativas apresentavam conteúdos críticos à situação política do país, posto que configuraram o autoritarismo e a violência que assolavam todo o território brasileiro no período mais duro do regime militar. Um fato que merece atenção, diante do contexto, é que o autor não teve seus livros censurados, ao contrário de alguns de seus pares. Neste trabalho, analisamos passagens desses romances de Antônio Torres, buscando apontar e interpretar alguns fragmentos que configuram o modus operandi da polícia política no cotidiano do cidadão, tendo em vista que essas passagens representam e denunciam os rastros das violências afiançadas pelo regime militar e seus apoiadores. Para amparar os estudos utilizamos leis e documentos oficiais, bem como trabalhos acadêmicos sobre o tema literatura, autoritarismo e ditadura de Chauí (1987), Pellegrini (1992), Dalcastagnè (1996), Gaspari (2002), Reimão (2014), Reis, Ridente e Sá Motta (2014), Schwarcz (2019), Seligmann-Silva (2020) e outros. Compreendemos que Antônio Torres se propôs, através da escrita e explorando os artifícios e as estratégias inerentes à ficção, ser escritor resistente ao autoritarismo do seu tempo, comprovando em seus primeiros romances possibilidades de representação da história através do literário e iluminando a importância da literatura como instrumento de resistência frente ao autoritarismo. Referências: CHAUÍ, Marilena. Um regime que tortura. In: ELOYSA, Branca (org.). I Seminário do Grupo Tortura Nunca Mais. Depoimentos e debates. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1987, p. 33. 15 Ibid., p. 33. DALCASTAGNÈ, Regina. O espaço da dor: o regime de 64 no romance brasileiro. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1996. GASPARI, E. A ditadura envergonhada. São Paulo: Cia. das Letras, 2002. PELLEGRINO, Hélio. Tortura política. In: ____. A burrice do demônio. Rio de Janeiro, 1992, Rocco, pp. 19-21. PELLEGRINI, T. Gavetas vazias: ficção e política nos anos 70. São Carlos-SC, EDUFSCar/Mercado de Letras, 1990. REIS, Daniel. RIDENTI, Marcelo. SÁ MOTTA, Rodrigo. A ditadura que mudou o Brasil. Rio de Janeiro: Zahar, 2014. SCHWARCZ, L. Sobre o autoritarismo brasileiro. São Paulo: Cia. das Letras, 2019. SELIGMANN-SILVA, Marcio. História, Memória e Literatura. Campinas: Editora Unicamp, 2020. TORRES, A. Essa Terra. Rio de Janeiro, Record, 2012. _______________. Essa Terra. Rio de Janeiro, Record, 2008. _______________. Um cão uivando para a lua. Rio de Janeiro, Record, 2002. _______________. Os homens dos pés redondos. Rio de Janeiro, Record, 1999. RESISTÊNCIA FEMINISTA COMO TESTEMUNHO DA CRISE BRASILEIRA NA POESIA CONTEMPORÂNEA: UMA LEITURA DE "GOLPES: ANTOLOGIA-MANIFESTO" Vitória Santos Carvalho Resumo: O presente trabalho propõe uma abordagem feminista do processo ilegítimo de deposição da ex-presidenta Dilma Rousseff enquanto um projeto de ascensão da extremadireita, frente a uma crise política, social e econômica inflamada por eventos como as “jornadas de junho” (2013), o impeachment de Dilma Rousseff (2016) e a eleição do programa reacionário de Jair Bolsonaro (2018). Acreditamos que essa sucessão de acontecimentos históricos tem conduzido a poesia contemporânea a resistir, engajar-se politicamente e testemunhar a crise, após três décadas de alheamento social e político (SALGUEIRO, 2017; SIMON, 1990). Embora seja difícil estimar, com precisão, em que medida a poesia brasileira foi abalada, é possível indicarmos um caminho. Para isso, elegemos a obra "Golpe: antologia-manifesto" (2016), organizada por Ana Rüsche, Carla Kinzo, Lilian Aquino e Stéfanni Marion, que reúne poemas de nomes consagrados e de poetas que ainda estão se inserindo na cena literária. Tendo em vista que a antologia conta com uma forte presença de poetas mulheres, oferecemos uma leitura mais atenta de três poemas: "33x1", de Jéssica Balbino, "Fui apunhalada", de Mel Duarte, e "saliva", de Maria Giulia Pinheiro. Nesse percurso, podemos incorporar como escopo da pesquisa a denúncia à misoginia como fator condicionante para o golpe de 2016, compreendido como uma reação mais imediata ao avanço dos direitos das mulheres. Referências: ADORNO, Theodor W. Crítica cultural e sociedade. In: ______. Prismas: crítica cultural e sociedade. Trad. Augustin Wernet e Jorge de Almeida. São Paulo: Ática, 1998. BOSI, Alfredo. O Ser e o Tempo da Poesia. São Paulo: Cia. Das Letras, 2000. DESPENTES, Virginie. Impossível estuprar esta mulher cheia de vícios. In: _____. Teoria King Kong. Trad. Márcia Bechara. São Paulo: n-1 edições, 2016. EVARISTO, Conceição. Da representação à autorepresentação da mulher negra da mulher negra na literatura brasileira. In: Revista Palmares: cultura afro-brasileira, Brasília, ano 1, n. 1, ago. 2005, p. 52-57. PAULA, Marcelo Ferraz. Poesia e política em tempos de crise: uma leitura de Golpe: antologia-manifesto. Não publicado. RÜSHE, Ana, [et al] (orgs). Golpe: Antologia-manifesto. São Paulo: Punks Pôneis, 2016. SARTRE, JeanPaul. Que é literatura? Trad. Carlos Felipe Moisés. Petrópolis: Vozes, 2019. SALGUEIRO, Wilberth. Poesia brasileira: violência e testemunho, humor e resistência. Vitória: Edufes, 2017. SELIGMANN-SILVA, Márcio. ________. (org) História, Memória, Literatura. O testemunho na era das catástrofes. Campinas: Ed. Unicamp, 2003. ______. Literatura e trauma. Pró-Posições, v. 13, n. 3, p.135-153, set./dez. 2002 _______. & NESTROVSKI, A. (orgs) Catástrofe e representação. São Paulo: Escuta, 2000. SCHØLLHAMMER, Karl Erik. Breve mapeamento das últimas gerações. In: ____. Ficção brasileira contemporânea. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 2011, p. 2151. SIMON, Iumna. Esteticismo e participação: as vanguardas poéticas no contexto brasileiro (1954-1969). In: Novos Estudos Cebrap. nº 26, março de 1990. p. 120-140. SUPLEMENTO PERNAMBUCO. Trechos de “Golpe: antologia-manifesto”. Publicado em 31 de maio de 2016. Disponível em: <https://www.suplementopernambuco.com.br/in%C3%A9ditos/1615-trechosde-golpe-antologia-manifesto.html>. Acesso em 09 de outubro de 2020. ENQUANTO AINDA EXISTIREM SERES SUJOS: ESTUPRO E POLÍTICA NO POEMA "VERDADE SEJA DITA" (2014), DE MEL DUARTE Wilberth Claython Ferreira Salgueiro Resumo: É crescente e sólido o interesse pelo poetry slam (batalha de poesia), e poemas como “Verdade seja dita” (2014) de Mel Duarte, publicado no livro Negra nua crua, em 2016, explicam parte de tal interesse. São versos fortes, conscientes, críticos, militantes, feministas, em linguagem direta, papo reto que não foge à luta, e que cita explicitamente o inimigo a ser vencido: o sujeito machista, violento, canalha, sujo, covarde – perfil que o poema denuncia sem temor na figura do atual presidente do Brasil, Jair Bolsonaro. O poema, na verdade, é a resposta indignada da slammer à infeliz e criminosa fala do então deputado federal que, em 2014, ofendeu publicamente a deputada Maria do Rosário, dizendo que ela “não merecia ser estuprada” por ser “feia”. Falas (e, portanto, práticas) infelizes e criminosas, quase que diariamente, antes e depois desse episódio, fazem parte da biografia do político de extremadireita que tem “governado” o país desde janeiro de 2019. A comunicação se dedica a analisar o poema, a partir do que afirma o texto “O que significa elaborar o passado” (1963), de Theodor Adorno, com incrível atualidade: “O nazismo sobrevive, e continuamos sem saber se o faz apenas como fantasma daquilo que foi tão monstruoso a ponto de não sucumbir à própria morte, ou se a disposição pelo indizível continua presente nos homens bem como nas condições que os cercam”. O poema de Mel Duarte mostra, sem papas na língua, que o perigo esteve e está entre nós, aqui nessa pátria mãe nada gentil. Referências: ADORNO, Theodor. O que significa elaborar o passado (1963). Educação e emancipação. 4. ed. Tradução: Wolfgang Leo Maar. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995, p. 29-49. DUARTE, Mel. Negra nua crua. São Paulo: Ijumaa, 2016. SIMPÓSIO “MACHADO DE ASSIS: ARTICULAÇÃO ENTRE REFLEXÃO ESTÉTICA E CRÍTICA SOCIAL” Juracy Ignez Assmann Saraiva (FEEVALE), Marinês Andrea Kunz (UFPB) A FIGURAÇÃO DO DESTINO DOS LIBERTOS NO MEMORIAL DE AIRES Atilio Bergamini Junior Resumo: O romance Memorial de Aires publicado por Machado em 1908 apresenta em todos os seus principais diálogos um tema recorrente, espécie de leitmotiv: o destino dos libertos da fazenda Santa-Pia. Aires anota em seus diários conversas sobre isso com sua irmã, Rita, com Fidélia, com o barão de Santa-Pia, com Tristão, com o desembargador Campos e com o casal Aguiar, em alguns casos mais do que uma vez. Desta maneira, o tema se faz recorrente na trama, percorrendo-a do início ao fim, embora pareça um assunto secundário. Do ponto de vista das personagens, é algo a ser tratado por meio de um complexo decoro, que envolve trocas de assunto, reticências, silêncios, substituições e censuras. Identificamos e analisamos os diversos aparecimentos e desaparecimentos do assunto, tanto no Memorial quanto em outras obras machadianas. Em seguida, verificamos como a situação dos libertos na nova República foi tratada em textos coetâneos ao período de elaboração do romance, entre eles, em clássicos como Os sertões, de Euclides da Cunha. Por fim, procuramos pensar como este assunto histórico - o destino dos libertos - foi figurado por Machado, com a mediação de duas instâncias ficcionais, um editor, M. de A., e o narrador, Aires, como um dos seus últimos assuntos literários. Trata-se, assim defendemos, de uma forma ficcional que sondou a construção dos movimentos psíquicos que sustentariam um projeto sócio-econômico que visava aniquilar, sob um cada vez mais intenso viés racial, parte da população brasileira. Referências: CUNHA, Euclides da. Os sertões: campanha de Canudos. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001. MACHADO DE ASSIS, Joaquim Maria. Obra completa em quatro volumes. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2008. A VIÚVA SOBRAL NÃO BRINCA COM FOGO: MOÇAS CASADOIRAS E SOLTEIROS INCONVICTOS EM DOIS CONTOS DE MACHADO DE ASSIS Bruna da Silva Nunes Resumo: Em 1875, Machado de Assis publicou, sob o pseudônimo Lara, o conto “Brincar com fogo”. Sendo veiculado no Jornal das Familias, “Brincar com fogo” segue, em muitos aspectos, a linha editorial um tanto conservadora do periódico, que apresenta, segundo Alexandra Pinheiro (2007), narrativas que serviriam para o entretenimento e para a instrução moral das leitoras – visto que as mulheres eram o público alvo do Jornal. Resumindo, “Brincar com fogo” narra a história de Mariquinhas e Lúcia, duas moças casadoiras que se apaixonam pelo mesmo rapaz, João dos Passos, e são enganadas por ele. Ao fim do conto, as duas meninas rompem a amizade, enquanto João dos Passos acaba por se casar com outra mulher. Já em 1884, Machado publica em A Estação – revista que também tinha nas mulheres seu público alvo, mas em que o conservadorismo se apresentava de maneira mais branda – um conto que praticamente inverte os papéis de “Brincar com fogo”. Em “A viúva Sobral”, os amigos Brandão e Cesário, homens que repugnavam a ideia de casamento, apaixonam-se pela viúva Candinha Sobral, que alimenta o sentimento dos dois. No desfecho da narrativa, Candinha casa-se com outro homem. “Quanto ao Brandão e o Cesário, que estavam já brigados, nunca mais se falaram; criaram ódio um ao outro, ódio implacável e mortal”. Posto isso, o objetivo deste trabalho é realizar uma análise comparativa dos dois contos, levando em consideração, especialmente, o suporte de publicação em que cada narrativa foi veiculada. Como aparato teórico, destaco a tese Para além da amenidade, de Alexandra Santos Pinheiro (2007), e a pesquisa de Lúcia Granja, intitulada Machado de Assis – antes do livro, o jornal (2018). Referências: A ESTAÇÃO: jornal illustrado para a familia. Rio de Janeiro: Lombaerts & Comp., 1879-1904. JORNAL DAS FAMILIAS: publicação illustrada, recreativa, artística, etc. Rio de Janeiro: B. L. Garnier, 1863-1878. GRANJA, Lúcia. Machado de Assis – antes do livro, o jornal: suporte, mídia e ficção. São Paulo: UNESP Digital, 2018. E-book. PINHEIRO, Alexandra Santos. Para além da amenidade – O Jornal das Familias (1863-1878) e sua rede de produções. 279 f. Tese (Doutorado) − Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2007. SILVA, Ana Cláudia Suriani da. Machado de Assis do folhetim ao livro. 1. ed. São Paulo: NVersos, 2015. MÚSICA ALEMà E AUSTRÍACA EM TEXTOS DE MACHADO DE ASSIS Débora Bender Resumo: Machado de Assis é considerado um dos escritores mais importantes da literatura brasileira. Como espectador, crítico e escritor, testemunhou a expansão dos eventos musicais no Brasil na segunda metade do século XIX. Nesse período, a sociedade fluminense teve a oportunidade de assistir a diversos concertos e óperas, importados da Europa ou criados no Brasil a partir de modelos estéticos europeus. Naquela época, a promoção das artes musicais era apoiada pelo imperador Dom Pedro II, que, motivado por sua grande admiração pelo compositor alemão Richard Wagner, viajou à Alemanha e assistiu a concertos musicais em Bayreuth. Nos romances, crônicas e contos de Machado de Assis, óperas de língua alemã, como B. "Tristão e Isolda", "Tannhäuser" e "Fidelio", além de compositores, como Mozart, Beethoven e Wagner, são frequentemente citados. Essas menções conferem verossimilhança aos textos e contribuem para sua interpretação, proporcionando a eles novos sentidos e possibilidades de significação. Além disso, revelam e enfatizam traços de caráter das personagens e apresentam o contexto sociocultural do Rio de Janeiro no século XIX ao leitor. Sob esse ponto de vista, este trabalho assume uma perspectiva intercultural, uma vez que discute a influência europeia na formação dos aspectos estéticos da literatura brasileira, além de revelar a importância de Machado de Assis como apreciador, divulgador, intérprete e crítico dos eventos culturais de seu tempo. Referências: ASSIS, Machado de. Crônicas de Machado de Assis: obras completas. Versão digital. São Paulo: Editora LL Library, 2015. _____________________. Obras completas de Machado de Assis. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, v. 1, 1986. BAPTISTA FILHO, Zito. A ópera. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1987. HEITOR, Luiz. 150 anos de música no Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, 1956. MARIZ, Vasco. História da música no Brasil. Rio de Janeiro, RJ: Nova Fronteira, 2005. A VISTA DA JANELA: O SUBÚRBIO CARIOCA PELO OLHAR DE BENTO SANTIAGO E RICARDO CORAÇÃO DOS OUTROS Denise de Quintana Estacio Resumo: Na passagem do século XIX para o XX, o subúrbio compõe uma paisagem entre rural e urbana de expressivo crescimento populacional no Rio de Janeiro. A área, que seguia o eixo da linha de trem da Central, compreendia São Francisco Xavier, São Cristóvão, Caju e cemitérios, e ainda incluía, entre outros, Engenho Novo, Andaraí e Inhaúma. É nessa região em que Bento Santiago vive e de onde escreve suas memórias no romance Dom Casmurro, de Machado de Assis. A vida no subúrbio, embora presença difusa ao longo da narrativa, ganha concretude em um determinado momento, quando o narrador/protagonista larga a pena, olha pela janela e descreve o ambiente que vê. A paisagem descrita possui muitas semelhanças com a detalhada em Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, pelo ponto de vista do músico Ricardo Coração dos Outros, personagem do romance. Bento Santiago, em primeira pessoa, elogia a vista de modo irônico, de acordo com a posição de superioridade com que se marca desde o capítulo inicial do romance. Já o narrador de Triste fim de Policarpo Quaresma apresenta uma imagem da paisagem que espelha as relações sociais na região, compreendidas de modo positivo pela perspectiva do músico. São duas vistas da janela que dizem tanto de suas personagens e de suas narrativas quanto do cenário que desenham. Nesta comunicação, mobilizo o trabalho de Siegfried Kracauer sobre as cidades para investigar como cada imagem construída carrega elementos que vão além da minúcia descritiva. Partindo das diferenças inerentes às composições de Machado de Assis e de Lima Barreto, estes dois panoramas de uma mesma parte da cidade devem muito aos diferentes lugares sociais que cada personagem ocupa. Decifrar esta diferença revela-se um exercício de descobrir as contradições inerentes à própria condição dos subúrbios no Rio de Janeiro oitocentista. Referências: ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. In: ASSIS, Machado de. Obra completa em quatro volumes. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2008. v. 4, p. 929-1072. BARRETO, Lima. Triste fim de Policarpo Quaresma. Edição crítica: coordenação de Antonio Houaiss e Carmem Lúcia Negreiros de Figueiredo. Madrid; Paris; México; Buenos Aires; São Paulo; Lima; Guatemala; San José de Costa Rica; Santiago de Chile: ALLCA XX, 1997. Colección Archivos: 1. ed.; 30. CHALHOUB, Sidney. Machado de Assis: historiador. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. GLEDSON, John. Machado de Assis: ficção e história. São Paulo: Paz e Terra, 2003. KRACAUER, Siegfried. O ornamento da massa. São Paulo: Cosac Naify, 2009. KRACAUER, Siegfried. Calles de Berlín y de otras ciudades. Madrid: Errata naturae, 2018. LEENHARDT, Jacques; PESAVENTO, Sandra Jatahy. Discurso histórico e narrativa literária. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 1998. PESAVENTO, Sandra Jatahy. Em busca de uma outra história: imaginando o imaginário. Revista Brasileira de História, v. 15, n. 29, p. 9-27, 1995. RESENDE, Beatriz. Lima Barreto e o Rio de Janeiro em fragmentos. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017. VILLAÇA, Flavio. Espaço intra-urbano no Brasil. São Paulo: Studio Nobel; FAPESP; Lincoln Institute, 2001. UM PROCEDIMENTO ALEGÓRICO DO NARRADOR DE "ESAÚ E JACÓ" Filipe de Freitas Gonçalves Resumo: Quase todos os trabalhos já publicados sobre "Esaú e Jacó", de Machado de Assis, tocam em algum momento, mesmo que sem usar a terminologia própria, na questão da alegoria. Assim, os ensaios já clássicos e contraditórios de Sant'Anna (2012) e Gledson (2003), assim como trabalhos como os de Abel Barros Baptista (2003) e Eugênio Gomes (2015), de uma forma ou de outra precisam incorporar em suas análises o problema alegórico. Apesar disso, na maioria das vezes essas abordagens enfrentam um problema comum a todos que pretendem lidar com o conceito de alegoria: fruto de quase dois mil anos de discussão nos campos da retórica, da poética e da hermenêutica (COPELAND; STRUCK, 2010), o próprio conceito pode escapar ao estudioso mais atento, produzindo ruídos problemáticos para a fundamentação das análises. Para evitar esse problema, o trabalho que se propõe parte da análise de três trechos do romance ("A esmola da felicidade", "Há contradições explicáveis" e "Robespierre e Luís XVI"), buscando compreender, a partir de aspectos de uma definição formal específica sobre o modo alegórico (FLETCHER, 1964), um dos muitos procedimentos usados pelo narrador do romance machadiano para, de um lado, instaurar uma representação alegórica e, de outro, questioná-la como método de composição. Procuraremos perceber como isso dá pela apresentação de pensamentos dos personagens através de frases desautorizados em seguida pelo próprio narrador. Ao desautorizar, instaura-se dois movimentos: de um lado, destaca-se a frase como emblema alegórico do personagem e, de outro, evidencia-se a provisoriedade de tal modo de apresentar a complexidade dos processos que instauram a subjetividade. Não se pretende tomar esse como o único método do narrador, mas de pesquisar nas suas formas de elaboração as determinações gerais que perpassam toda a obra, chegando a seu significado político, econômico e social, abordado nos trechos que analisaremos. Referências: BAPTISTA, Abel Barros. A formação do nome: duas interrogações sobre Machado de Assis. Campinas: Editora UNICAMP, 2003. 271 p. COPELAND, Rita; STRUCK, Peter T. (ed.). The Cambridge Companion to Allegory. Cambridge: Cambridge University Press, 2010. 295 p. FLETCHER, Angus. Allegory: the theory of a symbolic mode. Ithaca: Cornell University Press, 1964. 418 p. GLEDSON, John. Esaú e Jacó. In: Idem. Machado de Assis: ficção e história. São Paulo: Paz e Terra, 2003, p. 190. GOMES, Eugênio. O testamento estético de Machado de Assis. In: ASSIS, Machado. Obras Completas. São Paulo: Editora Nova Aguiar, 2015. p. 85-106. SANT’ANNA, Affonso Romano de. Esaú e Jacó. In: ____. Análise estrutural de romances brasileiros. São Paulo: Ed. Unesp, 2012. p. 200. O (DES)LUGAR "POETA-FILÓSOFO" NA SOCIEDADE QUIMÉRICA: BREVE COMPARAÇÃO ENTRE "O PAÍS DAS QUIMERAS" E "UMA EXCURSÃO MILAGROSA", DE MACHADO DE ASSIS Guilherme de Souza Lopes Resumo: O conto “O País das Quimeras” (1862) é majoritariamente lido pela crítica como um exemplo inicial e imaturo da produção narrativa machadiana: nele, observamos as desventuras de Tito, poeta medíocre contemplado com uma viagem à terra dos sonhos, lugar alegóricosatírico das instituições políticas e tipos humanos associados ao imaginário ocidental do século XIX. Duas curiosidades, contudo, chamam atenção: a primeira de que há, no conto, referências diretas ao poema épico “O Hissope" (1768), de António Diniz da Cruz e Silva, inscritas a partir da rememoração de Tito, o qual supõe que Cruz e Silva provavelmente teria também visitado o lugar; a segunda é a de que o conto foi reescrito em 1866, renomeado como “Uma excursão milagrosa”. Na nova versão, constam três diferenças principais: o acréscimo de mais uma figura quimérica ao país imaginário, a do filósofo que denuncia a vaidade alheia frente à sua sabedoria; a conclusão do conto, em que o poeta, ao voltar para casa, também sofre com os ataques da vaidade do mundo pelas suas descobertas, que “desmascaram” a humanidade; e, por fim, a sua mudança de foco narrativo, originalmente, distanciado e onisciente, e, posteriormente, misto, realizado pela troca de turnos entre um narrador onisciente e Tito, voz majoritária do relato. Posto isso, proponho as seguintes reflexões comparativas entre as versões: como a presença do poema "O Hissope”, assim inserido no interior da narrativa, mais do que apenas funcionar como mecanismo motivador do real, típico do conto fantástico, contribui para "desierarquizar" os regimes de verdade de dentro e de fora da ficção; e como as mudanças sutis da segunda versão aproximam a posição social-discursiva do filósofo à do poeta à margem, fazendo ecoar, nos temas sociais e éticos do conto, a indecidibilidade distanciada e o nó ideológico, tópicos típicos da obra madura machadiana. Referências: AZEVEDO, Sílvia Maria. “Machado de Assis sob o prisma da intertextualidade. in: Cadernos de estudos culturais 1.2 (2009). ______ et al. “Machado de Assis leitor de si mesmo: um estudo a respeito da reescrita de alguns contos machadianos. BAPTISTA, Abel Barros. Autobibliografias. Campinas, SP, Editora Unicamp, 2003.. BARTHES, R. A morte do autor. In: ______. O rumor da língua. Lisboa: Éditions du Seuil, 1983. GENETTE, Gérard. Fronteiras da narrativa. Análise estrutural da narrativa, v. 2, p. 255-274, 1976. HANSEN, João Adolfo. Dom Casmurro: simulacro & alegoria. In: SECCHIN, Antonio Carlos; BASTOS, Dau; JOBIM, José Luís (Orgs.). Machado de Assis: novas perspectivas sobre a obra e o autor no centenário de sua morte. Niterói; Rio de Janeiro: Eduff; De Letras, 2008. MAINGUENEAU, Dominique. O discurso literário. 2. ed. SãoPaulo: Contexto, 2018. RANCIÈRE, Jacques. As margens da ficção. São Paulo: editora 34 SALOMONI, Rosane Saint-Denis.” Machado de Assis:’Uma Excursão Milagrosa’”. Organon, V. 15, n. 30-31, 2001. ANTUNES, PARASITA DA MESA: RETRATO DAS AQUARELAS Iasmim Santos Ferreira Resumo: Desde os primeiros escritos de Machado de Assis até os romances da maturidade é possível perceber o interesse do autor pelo tema do parasitismo. Tema apreendido do diálogo O Parasita de Luciano de Samósata, sírio helenizado que viveu no século II d. C., afamado pela junção da comédia ao diálogo filosófico. O jovem Machado debruça-se sobre esse tema desde a sua estreia na imprensa, com a série de crônicas “Aquarelas” (1859), apresentando cinco tipos parasitários mais proeminentes na sociedade brasileira. Dentre os tipos elencados, o autor parte do mesmo que Luciano: o parasita da mesa. Tipo que ganha maior dimensão no personagem Antunes, do romance Iaiá Garcia (1878). Ele caracteriza-se por ser “nado e criado para as funções subalternas. Familiar com todas as formas da adulação, o Sr. Antunes ia do elogio hiperbólico até o silêncio oportuno” (ASSIS, 2015, p. 502). A narrativa põe em evidência as técnicas do parasita para transitar entre as classes e encontrar prestígio, tornando-se uma companhia indispensável. O presente estudo dedica-se a analisar o personagem Antunes em paralelo ao que a crônica “Parasita I” dispõe acerca do parasita alimentar. Para tanto, os estudos sobre personagem feitos por Braith (2017), Candido (2014) e Rosenfeld (2014) ancoram este trabalho. Ademais, busca-se também mapear os recursos linguísticos utilizados por Machado, apreendidos da tradição luciânica, com base em Sá Rego (1989), Brandão (2001). Em suma, o sr. Antunes dá corpo ao parasita da mesa descrito em “Parasita I”, cuja atuação suscita sentidos identitários de nossa nação. Referências: ASSIS, Machado de. Aquarelas. Disponível em: <machado.mec.gov.br>. Acesso em: 13 abr. 2022. ASSIS, Machado de. Iaiá Garcia. In: Obra completa em quatro volumes. Vol. 1. Org. editorial Aluizio Leite.{et al.]. São Paulo: Ed. Nova Aguilar, 2015. BRAITH, Beth. A personagem. São Paulo: Contexto, 2017. BRANDÃO, J. L. B. A Grécia de Machado de Assis. In: MENDES, Eliana Amarante de Mendonça; OLIVEIRA, Paulo Motta; BENN-IBLER, Veronika. O novo milênio: interfaces linguísticas e literárias. Belo Horizonte: Faculdade de Letras da UFMG, 2001. p. 351374. ______. A poética do Hipocentauro: literatura, sociedade e discurso ficcional em Luciano de Samósata. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2001. CANDIDO, Antonio. A Personagem do Romance. CANDIDO, Antonio et al. A personagem de ficção. São Paulo: Perspectiva, 2014. Luciano de Samósata. Séc II. Diálogo dos mortos: versão bilíngue grego/português. Tradução, introdução e notas de Henrique G. Murachco. São Paulo: Palas Athena: Editora da Universidade de São Paulo, 1996. ______. O Parasita. In: Luciano [III]. Tradução do grego, introdução e notas Custódio Magueijo. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2012. Disponível em: <http://www.uc.pt/imprensa_uc>. Acesso em: 10 jan. 2018. ROSENFELD, Anatol. Literatura e Personagem. In: CANDIDO, Antonio et al. A personagem de ficção. São Paulo: Perspectiva, 2014. SÁ REGO. E. José de. O Calundu e a panaceia: Machado de Assis, a sátira menipeia e a tradição luciânica. 1ª Ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1989. 193 p. Coleção “Imagens do Tempo”. TEATRALIDADE EM QUINCAS BORBA Juracy Ignez Assmann Saraiva Resumo: A década de 1870 constitui um período de transição na obra de Machado de Assis, pois ela congrega experiências intelectuais que orientam o paradigma estético do escritor e definem sua cosmovisão. Um confronto entre as produções das décadas de 1860 e 1870 evidencia uma diferença inquestionável: enquanto, na primeira, Machado investia, principalmente, na produção de peças dramáticas e na crítica teatral, na segunda, as obras de ficção e a crítica literária passaram a ser preponderantes. Entretanto, a evidência conferida a romances e contos não excluiu, dessa produção, a arte dramática, uma vez que narrativas expõem aspectos formais que o escritor concebera como necessários à qualidade artística de peças teatrais. Paralelamente, por meio da ficção, Machado aguça sua crítica sobre o contexto social, representando-o como um cenário e, os indivíduos como atores. Esta comunicação centra-se em Quincas Borba e visa expor traços da dramaturgia, aí presentes, seja como técnica narrativa, seja como concepção de mundo. A encenação pode ser exemplificada pela caracterização das personagens Quincas Borba e Rubião, cuja identidade assume configurações várias; pela peculiar composição do narrador, que tece comentários como se fosse um espectador a conduzir o leitor pelos meandros da peça teatral; pelo tom coloquial que move a narrativa e pela descrição de detalhes, vinculados a sensações visuais; pelo confronto entre personagens e pelo velamento dos sentidos de suas palavras e ações. A concepção de mundo do texto sintetiza-se na imagem de Rubião que, imerso em um mundo em que mentiras inexistem, coroa a si mesmo como imperador, expondo, por meio da loucura, os embustes da vida humana. Portanto, por meio de Quincas Borba, Machado denuncia a falsidade das relações sociais e o jogo de máscaras, por meio do qual os homens encenam variados papéis. Referências: Não há referências no resumo. O ETHOS E A CENOGRAFIA DA ELITE FLUMINENSE CONTEMPORÂNEA À ABOLIÇÃO: ANÁLISE DE DUAS CRÔNICAS DE MACHADO DE ASSIS Letícia Mayer Borges Resumo: O presente trabalho visa lançar luz sobre duas crônicas da série “Bons Dias!”, de Machado de Assis e, aliando Análise de Discurso à potencialidade do texto literário, responder à pergunta: como as marcas discursivas dos narradores dessas crônicas desenham o ethos e a cenografia da elite fluminense oitocentista em relação aos negros recém-libertos? Para isso, baseia-se, teoricamente, nos conceitos de ethos e de cenografia, segundo Dominique Maingueneau (2005a), Ruth Amossy (2005), Patrick Charaudeau (2009), e na inter-relação entre a Análise Discursiva e a Literatura, buscando fundamentos em Dominique Maingueneau (2005b), Renato de Mello (2005), Juracy Assmann Saraiva (2006) e Mariana Ramalho Procópio (2013). O procedimento metodológico utilizado caracteriza-se como indutivo, pois se dá a partir de revisão bibliográfica. O corpus de análise consiste nas crônicas de 19 de abril de 1888 e de 19 de maio de 1888, esta publicada seis dias depois da Abolição. A escolha justifica-se pela caracterização dos narradores: pertencem à classe abastada da sociedade do período e interagem com escravos. As marcas enunciativas, constituintes do ethos nas duas crônicas, evidenciam que a elite oitocentista, ciente de seu poder financeiro, também conhecia seu poder político. As cenografias, por sua vez, buscam garantir credibilidade por meio de posicionamentos religiosos e de insinuações referentes a capacidades intelectuais. Os dois textos exemplificam o fazer literário de Machado de Assis: neles, a crítica velada e a naturalização da violência por seus narradores geram desconforto e propiciam a reflexão do leitor. Referências: AMOSSY, Ruth. Da noção retórica de ethos à análise do discurso. In: AMOSSY, Ruth. Imagem de si no discurso: a constituição do ethos. São Paulo: Contexto 2005. p. 9-28. ASSIS, Machado de. 19 de abril de 1888. In.: GLEDSON, John. Bons Dias! São Paulo: Unicamp, 2008a, p. 91-94. ASSIS, Machado de. 19 de maio de 1888. In.: GLEDSON, John. Bons Dias! São Paulo: Unicamp, 2008b, p. 109-111. CHARAUDEAU, Patrick. Identidade social e identidade discursiva, o fundamento da competência comunicacional. In.: PIETROLUONGO, Márcia. (Org.) O trabalho da tradução. Rio de Janeiro: Contra Capa, 2009, p. 309-326. MAINGUENEAU, Dominique. Ethos, cenografia, incorporação. In AMOSSY, Ruth. Imagens de si no discurso: a constituição do ethos. São Paulo: Contexto, 2005a. p. 69-92. MAINGUENEAU, Dominique. O discurso literário contra a Literatura. In: MELLO, Renato de. (Org.). Análise do Discurso e Literatura. Tradução de Renato de Mello e Renata Aiala de Mello. Belo Horizonte: Núcleo de Análise do Discurso/FALE/UFMG, 2005b. p. 17-29. MELLO, Renato de. Análise do Discurso & Literatura: uma interface real. In: MELLO, Renato de. (Org.). Análise do Discurso e Literatura. Belo Horizonte: Núcleo de Análise do Discurso/FALE/UFMG, 2005. p. 31-44. PROCÓPIO, Mariana Ramalho. Uma abordagem discursiva sobre a questão do autor. Linguagem. Estudos e Pesquisas (UFG), v. 17, n. 2, (2013), p. 205-220. Disponível em: https://www.locus.ufv.br/bitstream/123456789/23777/1/artigo.pdf. Acesso em: 14 nov. 2021. SARAIVA, Juracy Assmann; MÜGGE, Ernani. [et al] Literatura na escola: propostas para o Ensino Fundamental. Porto Alegre: Artmed, 2006. MACHADO DE ASSIS E A CARACTERIZAÇÃO DA PROSTITUTA EM "SINGULAR OCORRÊNCIA" Luiza Helena Damiani Aguilar Resumo: Publicado pela primeira vez em 1883 na Gazeta de Notícias, o conto “Singular Ocorrência” tem como protagonista uma personagem cuja profissão povoou o imaginário literário do século XIX: a prostituta. Retratada por vezes em seu processo de redenção, especialmente pelos românticos, e por outras vezes como incorrigível, visão mais cara aos realistas, a mulher prostituída foi tema de diversas narrativas no Brasil e no mundo. O caso da protagonista do conto machadiano, porém, foge aos padrões adotados pelas escolas do período: Marocas é envolta em ambiguidades, seus comportamentos tidos como singulares e difíceis de explicar até o final do conto. Por se tratar de um narrador-testemunha, não temos acesso aos pensamentos e às atitudes da personagem, o que coloca em dúvida não só as motivações por trás de suas ações, mas até mesmo os fatos narrados, já que o amigo de Andrade não estava presente no momento em que este confrontou a amante. Sendo assim, nessa comunicação pretendo tratar brevemente dos mistérios que envolvem Marocas, e de como o narrador, amigo de Andrade, também é falho na tentativa de solucioná-los, tendo em vista que sua perspectiva é limitada, sendo ele não só porta-voz de seu amigo, mas também de todo um grupo social dominante no período. Referências: RONCARI, Luiz. “Ficção e História: o Espelho Transparente de Machado de Assis”. Teresa, n. 1, 1º sem. 2000, pp. 139-154. FARIA, João Roberto. “Singular Ocorrência Teatral”. Revista USP, jun-ago 1991, pp. 161-166. MOARES, Elaine Robert. “O Decoro de uma Prostituta”. Revista de Estudos Literários, n. 6, 2016, pp. 287-207. SILVEIRA, Daniela Magalhães da. Fábrica de Contos: Ciência e Literatura em Machado de Assis. Campinas-SP: Editora da Unicamp, 2010. MANIFESTAÇÕES DA MEDICINA POPULAR EM MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS Márcia Rohr Welter Resumo: O romance Memórias Póstumas de Brás Cubas estabelece relações com o contexto sócio-cultural-histórico do século XIX e, dentre esses vínculos, podem-se destacar as alusões à cultura popular, em especial, à medicina. No presente trabalho, analisam-se significações provenientes de menções à medicina popular no romance citado e estabelecem-se correlações entre elas e o contexto contemporâneo a Machado de Assis. Para isso, inicialmente, apresentase um levantamento de estudos literários precedentes que investigam manifestações da cultura popular em Memórias Póstumas, entre os quais destacam-se os de Juracy Saraiva (2019) e de Paul Dixon (2009). São utilizados, igualmente, pressupostos teóricos de Alfredo Bosi (1992), Antonio Candido (2006) e Stuart Hall (2016), que tratam da formação da cultura brasileira, de aspectos da organização social e do processo de representação. O método da pesquisa é bibliográfico e indutivo e se baseia também em jornais em circulação no século XIX. Ao relacionar as informações do contexto com a narrativa ficcional, constata-se que Machado de Assis, atento à realidade de sua época, se posiciona de modo crítico diante das práticas de comercialização de medicamentos e de difusão do conhecimento medicinal no Segundo Império. O autor compõe uma personagem, Brás Cubas, que tenta produzir um emplasto, capaz de curar a melancolia da humanidade. Sob esse aspecto, Brás pode ser visto como uma representação simbólica de indivíduos, contemporâneos a Machado, interessados em desenvolver fármacos para obter lucros e fama, sem contribuir seriamente com o alívio de enfermidades. Referências: ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. Porto Alegre: L&PM, 2014. DIXON, Paul. O chocalho de Brás Cubas. São Paulo: Nankin: EDUSP, 2009. BOSI, Alfredo. Colônia, culto e cultura. In: BOSI, Alfredo. Dialética da colonização. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. p. 11- 63. CANDIDO, Antonio. A literatura e a vida social. In: CANDIDO, Antonio. Literatura e sociedade. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2006. p. 27-50. Disponível em: https://filosoficabiblioteca.files.wordpress.com/2017/10/antonio-candido-literatura-esociedade.pdf. Acesso em: 10 nov. 2020. HALL, Stuart. Cultura e representação. Rio de Janeiro: PUC-Rio, 2016. SARAIVA, Juracy Assmann. Reflexão estética e manifestações populares em Memórias póstumas de Brás Cubas. In: SARAIVA, Juracy Assmann; ZILBERMAN, Regina (Org.). Machado de Assis em perspectiva: ficção, história e manifestações sociais. São Leopoldo: Oikos, 2019. p. 111-130. MACHADO DE ASSIS E ÁLVARO LINS LEITORES DE EÇA: A FICÇÃO QUEIROSIANA VISTA EM DOIS MOMENTOS DA CRÍTICA BRASILEIRA Marcos Antonio Rodrigues Resumo: Machado de Assis (1839-1908), um dos maiores escritores brasileiros do final do século XIX, desempenhou igualmente o papel de crítico literário, não deixando de se expressar sobre a produção artística do seu momento. Álvaro Lins (1912-1970), do mesmo modo, foi um crítico que acompanhou a literatura produzida em sua época, a primeira metade do século XX. Ambos os intelectuais se expressaram sobre a ficção de Eça de Queirós (1845-1900), deixando um legado crítico que constitui uma referência no que diz respeito à prosa do escritor português. Assim, intenta-se nesse trabalho abordar e contrapor a visão dos dois críticos brasileiros sobre os romances queirosianos, especificamente, acerca das obras O Crime do Padre Amaro (1875) e O Primo Basílio (1878). Se, em um primeiro momento, discutiremos a polêmica recepção de O Primo Basílio nas páginas de O Cruzeiro, por parte de Machado; na segunda etapa, avaliaremos partes da obra A História Literária de Eça de Queirós, livro em que Álvaro Lins expõe sua visão sobre a produção em prosa do escritor lusitano. Desse modo, levaremos em consideração o projeto distinto em que estiveram empenhados ambos os críticos e seus respectivos contextos de atuação, isto é, sempre pensado na produção intelectual sem construir juízos de valor sobre os seus escritos; assim sendo, é necessário relativizarmos o impasse para (re)pensarmos a crítica com os olhos das respectivas épocas em que foram produzidas. Referências: ASSIS, Machado de. Crítica literária e textos diversos. Organização Sílvia Maria Azevedo, Adriana Dusilek, Daniela Mantarro Callipo. São Paulo: Editora Unesp, 2013. BARBOSA, João Alexandre. A leitura do intervalo: ensaios de crítica. Rio de Janeiro: Iluminuras, 1990. BARTHES, Roland. Crítica e verdade. Trad. Leyla Perrone Moisés. Rio de Janeiro: Perspectiva, 1999. BOLLE, Adélia B. de M. A obra crítica de Álvaro Lins e sua função histórica. Petrópolis: Vozes, 1979. FARO, Arnaldo. Eça e o Brasil. São Paulo: Nacional/EDUSP, 1977. (Brasiliana, 358) FLAUBERT, Gustave. Madame Bovary. (Trad. Araújo Nabuco). São Paulo: Martins Claret, 2007. (Série Ouro) FRANCHETTI, Paulo. Eça e Machado: críticas de ultramar. In: Cult, Revista Brasileira de Literatura, n. 38, set. 2000. FURLAN, Stélio. Machado de Assis o crítico: enigma de um rio sem margens. Florianópolis: Editora Momento Atual, 2003. LELLO, Antônio (org). Eça de Queirós visto pelos seus contemporâneos. Porto: Lello & Irmão, 1945. LINS, Álvaro. História Literária de Eça de Queirós. 2ª. ed. Rio de Janeiro/Porto Alegre/São Paulo: Editora da Livraria Globo, 1945. MARTINS, Wilson. A crítica literária no Brasil. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 2 vols, 1983. MOTTA, Leda Tenório. Sobre a crítica literária brasileira no último meio século. Rio de Janeiro: Imago, 2002. NASCIMENTO, José Eduardo do. O Primo Basílio na Imprensa Brasileira do Século XIX: estética e história. São Paulo: Editora UNESP, 2008. PEREIRA, Lúcia Miguel. Machado de Assis: estudo crítico e biográfico. 5.ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1955. QUEIRÓS, Eça. O Primo Basílio. 2.ed. São Paulo: Martin Claret, 2009. (Série Ouro). REIS, Carlos. (Direção). História da literatura portuguesa. O Realismo e o Naturalismo. Lisboa: Alfa, 2001.v.5. O LEITOR TRANSFORMADO: A PERFORMANCE DE LEITURA E OS LUGARES VAZIOS EM "DOM CASMURRO", DE MACHADO DE ASSIS Mariluz Marçolla Ferreira Avrechack Resumo: O romance "Dom Casmurro" (1900), de autoria de Machado de Assis (1839-1908) é uma obra da qual as discussões teórico-literárias nunca se esgotam, especialmente as análises referentes à forte crítica social e à sua poética textual inovadora. O narrador deste romance empreende um trabalho de enunciação continuamente aberto à explorações – diversas chaves de investigação são possíveis a partir da observação do discurso e da influência que este operador narrativo pode exercer no leitor. Ao explorar o projeto enunciativo do narrador casmurro, observa-se que o romance é permeado por lacunas, digressões e fragmentações que refletem na interpretação e na tomada de posição do leitor ao que se apresenta superfície da obra, entretanto, é possível inferir que, por meio de uma leitura performática capaz de preencher os lugares vazios deixados pelo narrador, o leitor atento e volúvel ao texto poético pode manipular o estranhamento e ultrapassar a urdidura textual. Dessa forma, a comunicação pretende apresentar o estudo da enunciação do narrador do romance "Dom Casmurro" além de observar o possível exercício de leitura performática do leitor, a quem Machado de Assis buscava ensinar a ler as entranhas do texto. O linguista Émile Benveniste (2005), os teóricos Wolfgang Iser (1999) e Paul Zumthor (2007) são os referenciais teóricos da investigação. A pesquisa é qualitativa, de caráter descritivo, seguindo o método analítico, hipotético-dedutivo, e, por meio da reflexão estética da obra, busca-se averiguar de que forma o ato da leitura torna o leitor transformado e apto a deslindar a linguagem literária da obra. Referências: ADORNO, Theodor W. “Posição do narrador no romance contemporâneo”. In: ADORNO, Theodor W. Dialética negativa. Rio de janeiro: Zahar, 2009. p. 55-63. BENJAMIN, Walter. “O narrador: considerações sobre a obra de Nikolai Leskov”. In: BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. 3. ed. São Paulo, SP: Editora brasiliense, 1987. p. 197-221. BENVENISTE, Émile. “Da subjetividade na linguagem”. In: BENVENISTE, Émile. Problemas de Linguística Geral I. 5. ed. Campinas, São Paulo: Pontes, 2005. p. 284-293. ISER, Wolfgang. “A interação entre Texto e Leitor”. In: ISER, Wolfgang. O ato da leitura. São Paulo: Editora 34, 1999. ZUMTHOR Paul. Performance, recepção, leitura. In: ZUMTHOR, Paul. Performance, recepção, leitura. 2. ed. São Paulo: Cosacnaify, 2007. Cap.1. p.2187. Tradução de: Jerusa Pires Ferreira e Suelen Fenerich. "O AUTOR DE SI MESMO" E "MINEIRINHO" DIANTE DA VIOLÊNCIA Mateus Toledo Gonçalves Resumo: “O autor de si mesmo” talvez seja um dos textos mais desconcertantes da crônica machadiana. Sua operação é obscena: diante de um caso tenebroso de infanticídio da época, Machado escreve uma crônica que parece profanar o corpo já violentado da criança. A ironia sutil do texto atado a sua crueldade ostensiva, o tipo de perplexidade irresolvida com que ele deixa o leitor, configuram uma maneira incomodamente singular de lidar com a violência. A matéria social brasileira é refratada por uma instância narrativa cínica, que assiste a brutalidade "a partir do camarote" (MEYER, 2008). O interesse dessa comunicação será precisamente delinear no que consiste esse tratamento especificamente machadiano da violência. Para tanto, como forma de contraste, será abordada uma outra crônica, "Mineirinho", de Clarice Lispector, possivelmente o seu texto mais contundentemente político e que talvez seja, como sugere José Miguel Wisnik, inaugural, o primeiro "a acusar os justiçamentos policias e parapolicias que se converteriam em norma na montante da violência brasileira" (WISNIK, 2021, p.302). Também escrito em primeira pessoa, sua estratégia é, no entanto, distinta daquela da crônica machadiana, em oposição à olímpica distância de "O autor de si mesmo", que teatraliza um conforto em seu distanciamento em relação aos fatos, a narração de "Mineirinho" dramatiza a atitude inversa, de proximidade radical com o outro. “O autor de si mesmo” e “Mineirinho” são ambas crônicas publicadas em órgãos importantes da imprensa de sua época, a Gazeta de Notícias, no caso de Machado de Assis, e a revista Senhor, no caso de Clarice Lispector. Essa comunicação propõe analisar essas crônicas paralelamente, de modo a investigar as modalidades de reação diante da violência que elas corporificam e, em particular, delinear a especificidade da dicção machadiana no tratamento da crueldade no arranjo social brasileiro. Referências: ASSIS, Machado. de. “O autor de si mesmo”; edição de John Gledson Machadiana Eletrônica, Vitória, v. 4, n. 8, s/p, jul.-dez. 2021 ___________. Teoria do Medalhão. In: Obra Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. V.II. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000232.pdf. BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas: magia e técnica, arte e política. Trad. Sergio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1985. _________________. Obras escolhidas III: Um lírico no auge do capitalismo. São Paulo: Brasiliense, 1989. BOSI, Alfredo et al. Machado de Assis. São Paulo: Ática, 1982 BUCK-MORSS, Susan. The Dialectics of Seeing: Walter Benjamin and the Arcades Project. Massachusetts: The MIT Press; 1989 BRETAS, M.L "Valente mas muito considerado: a memória do crime" in Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH • São Paulo, 2011 LISPECTOR, C.. “Mineirinho”. in. A legião estrangeira. Rio de Janeiro: editora do autor, 1964. p.252. MEYER, Augusto. Machado de Assis (1935-1958) Rio de Janeiro: Editora José Olympio, 2008. ROSENBAUM, Yudith. A ética na literatura: leitura de "Mineirinho", de Clarice Lispector. 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Com o olhar caracteristicamente afiado, Machado retrata a situação dessas duas mulheres, ligando-as pela ação do protagonista, Cândido Neves. Neste trabalho, analisaremos a trajetória das duas personagens ao longo de suas gestações, atentando para como questões de raça e classe impactam na representação da gravidez. De modo a fundamentar a análise, dialogaremos com o pensamento de autoras como Adrianne Rich (1995), Maria Martha de Luna Freire (2009) e Petrina Brown (2004), que tratam das diferentes percepções sobre a gestação e maternidade ao longo da história. Elas ressaltam como o processo reprodutivo pode se configurar como um trabalho (frequentemente menosprezado), e, como tal, mobilizar discursos opressivos e prescritivos tanto sobre quem pode gestar, como sobre como devem gestar e parir as mulheres. No conto machadiano, partimos de um olhar masculino, tanto do ponto de vista da autoria, como da focalização narrativa, para entrever os impactos desses discursos, e das práticas a eles aliadas, nas vidas das mulheres do final do século XIX. Referências: BROWN, Petrina. Eve: sex, childbirth, and motherhood through the ages. Chichester: Summerdale, 2004. FREIRE, Maria Martha de Luna. Mulheres, mães e médicos: discurso maternalista no Brasil. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2009. RICH, Adrienne. Of women born: motherhood as experience and institution. Nova Iorque: W. W. Norton & Co., 1996. "O EMPRÉSTIMO" COMO EXEMPLO DO "SENTIMENTO ÍNTIMO" DE MACHADO DE ASSIS Paul Dixon Resumo: No conhecido ensaio “Instinto de nacionalidade”, Machado de Assis afirma que a autêntica literatura nacional deve apresentar “um certo sentimento íntimo” que possa ser identificado com a psicologia brasileira. No ensaio, não se explica em quê consiste tal sentimento; porém, as narrativas de Machado abundam com exemplos de tais traços psicológicos. Nas gerações posteriores, escritores como Sérgio Buarque de Holanda, Gilberto Freyre e Roberto da Matta elaboraram um vocabulário crítico para discutir aqueles aspectos da cultura brasileira. Machado não tinha acesso a tal vocabulário, mas mostra nos romances e nos contos uma aguda intuição dos mesmos conceitos. O conto “O empréstimo” (Papéis avulsos, 1882) oferece um bom exemplo de dois tipos agora reconhecidos com aquele “sentimento íntimo” do brasileiro. Ao se estruturar sobre o contraste de personagens opostos, o texto segue um paradigma muito conhecida do autor. O tabelião Vaz Nunes, muito fastidioso, é exemplo do “caxias”-- sujeito rigoroso, respeitoso, guiado pelas regras -- enquanto Custódio, possuidor de “a vocação da riqueza, sem a vocação do trabalho” exemplifica o “malandro” – esperto improvisador, manipulador das relações sociais. Ao apresentar a confrontação dessas personalidades opostas, o conto revela outros traços típicos – tais como o desejo de manter as aparências cordiais, evitando conflitos, e o talento, pelo improviso, para converter fracassos em pequenos êxitos. Referências: ASSIS, Machado de. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985. AS HORAS LIVRES: A CENA SOCIAL EM MACHADO DE ASSIS Pedro Alegre Resumo: Há uma cena, em Helena, de 1876, com qual se quer partir para pensar a obra de Machado de Assis e a relação de sua obra com a vida social e a história brasileira. Ela se encontra no capítulo 6 do romance, em que a jovem heroína, moça pobre e dependente, cavalga com seu suposto irmão, o mancebo Estácio, jovem rico e senhor de escravos, enquanto conversam. A cena interessa sobretudo porque coloca destaca a estrutura social básica do século XIX brasileiro, a partir da qual a sociologia e a historiografia se valem para pensar o período: senhores, agregados e escravos. Tem-se Helena, Estácio e um homem negro, que aparece de repente, e se torna objeto de conversas dos dois. A princípio se poderia pensar que, apresentada a estrutura que organiza a sociedade escravocrata, a cena seria uma radiografia da vida social e da história do país. No entanto, o procedimento machadiano, como se sabe, inverte e embaralha a situação narrativa, deixando o episódio em suspenso. É a partir dele que este trabalho pretende colocar em questão as estratégias ficcionais com as quais a obra de Machado recoloca os limites entre literatura e história. A cena destacada parece compor um tecido intrincado no qual coexiste uma estratificação de posições, percepções e jogos, de onde se misturam e deixam confusos os lugares sociais determinados. De que modo a ficção machadiana se vale de uma indeterminação para, por assim dizer, intervir em questões políticas e sociais, a partir da forma literária, é o objetivo desta comunicação, que apresenta o recorte de minha tese de doutorado defendida em 2021. Referências: Assis, Joaquim Maria Machado de. Obras completas. 3 vol. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2006. Cano, Jefferson. “Machado de Assis, historiador”. In: Chalhoub, Sidney; Affonso, Leonardo (org.). A história contada. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998. Chalhoub, Sidney (org.). História contada: capítulos de história social da literatura no Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998. Chalhoub, Sidney. Machado de Assis, historiador. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. Gledson, John. Machado de Assis, impostura e Realismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1991. Garbuglio, José Carlos. “A linguagem política de Machado de Assis”. In: Bosi, Alfredo et al. Machado de Assis. São Paulo: Ática, 1982. Massa, Jean-Michel. A juventude de Machado de Assis: ensaio de biografia intelectual. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1971. Schwarz, Roberto. Ao vencedor as batatas. São Paulo: Duas Cidades; Editora 34, 2012a. Schwarz, Roberto. Um mestre na periferia do capitalismo: Machado de Assis. São Paulo: Duas Cidades / Editora 34, 2012b. MACHADO DE ASSIS CRÍTICO TEATRAL: MÃE, DE JOSÉ DE ALENCAR Regina Zilberman Resumo: O drama Mãe, de José de Alencar, estreou no Ginásio Dramático em 24 de março de 1860, tendo estendido as apresentações até o dia 29 daquele mês. É nessa data que Machado de Assis publica a crítica à peça, na coluna Revista Dramática, do Diário do Rio de Janeiro. Em seu texto, manifesta seu entusiasmo com a criação de Alencar e a encenação teatral. Os anúncios da peça, publicados no Jornal do Commercio, do Rio de Janeiro, informavam que “a protagonista é uma escrava”, fazendo a ressalva de que “respeitar-se-ão todas as conveniências da sociedade brasileira, para se tirar partido somente do sentimento da maternidade.” Deixava claro, assim, que o teor da peça não era abolicionista, evitando entrar em atrito com a visão escravista e racista da sociedade carioca de então. A leitura de Machado de Assis é outra: destaca que o “novo drama do Sr. José de Alencar” é capaz de “inspirar ao povo o horror pela instituição do cativeiro”, superando “todos os discursos que se pudesse proferir no recinto do corpo legislativo”. Machado de Assis, em crítica anterior, publicada em 1859 em O Espelho, valorizara O escravo fiel, de Carlos Antônio Cordeiro, por dar ênfase à perspectiva do escravizado, mas não deixara de apontar os problemas composicionais do drama. Mãe parece superar as expectativa do autor, porque, ao impacto liberador que a peça tem, soma-se uma construção artística bem acabada e convincente. Referências: ALENCAR, José de. Obra completa. Org. de M. Cavalcanti Proença. Rio de Janeiro: Aguilar, 1963. 4v. ASSIS, Machado de. Obra completa em quatro volumes. Org. Aluizio Leite, Ana Lima Cecílio e Heloísa Jahn. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2008. 4v. FARIA, João Roberto. Teatro romântico e escravidão. Teresa. Revista de Literatura Brasileira, n. 12|13, 2013, p. 94-111. MASSA, Jean Michel. A juventude de Machado de Assis, 1939-1870. Ensaio de biografia intelectual. Trad. Marco Aurélio de Moura Bastos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1971. MASSA, Jean-Michel. A década do teatro: 1859-1869. Cadernos de Literatura Brasileira. V. 23-24, julho 2008, p. 219-239. MENDES, Miriam Garcia. A personagem negra no teatro brasileiro. São Paulo: Ática, 1982. "ELES PODEM SOFRER"? : ANIMALIDADE E BIOPOLÍTICA NO "CONTO ALEXANDRINO", DE MACHADO DE ASSIS Renata Coutinho Villon Resumo: Em O animal que logo sou (2002), Derrida retoma, como contraponto ao pensamento logocêntrico que foi adotado na sociedade ocidental e que ignora aqueles que se julga não possuir capacidade de raciocinar, uma pergunta postulada pelo filósofo Jeremy Bentham a respeito dos animais: “Eles sofrem?”. “A questão [...] não é a de saber se o animal pode pensar, raciocinar ou falar” (p. 54), pontua Derrida, chamando a atenção para o fato de o sofrimento animal ter sido ignorado desde antes mesmo da teoria cartesiana, levando ao subjugamento das espécies tidas como inferiores à humana. O descaso voltado para vidas taxadas como “nãopensantes” acaba por ser retratado no “Conto Alexandrino” (1884), onde dois filósofos se deslocam até a capital da cultura grega à procura da “eterna verdade”, conduzindo um experimento onde animais são torturados e mortos em nome da ciência. O conto, porém, tem uma sinistra virada quando os cientistas se propõem a conduzirem experimentos em homens, prisioneiros que, segundo eles, teriam perdido a razão e a virtude que os faria serem considerados humanos. Pode-se dizer que o conto retrata o princípio da biopolítica, que classifica alguns seres como “vidas a proteger” e outros como “vidas a abandonar”; no que diz respeito a diferenciação entre humanos e não-humanos, o teórico Gabriel Giorgi pontua que a figura do animal pode ser um ponto-chave para a biopolítica, já que nela se condensa a noção de uma vida eliminável ou sacrificável, o que é também demonstrado no conto. Assim, pretende-se analisar ao longo do trabalho o mecanismo social de abandono a vidas consideradas mais próximas da esfera da animalidade na medida em que ocorra o aprofundamento no conto em questão e em outros pontos da obra Machadiana, como sua representação dos animais e a forma como retrata o sofrimento humano e não-humano. Referências: DERRIDA, Jacques. O animal que logo sou. Tradução de Fábio Landa. São Paulo: Editora UNESP, 2002. GIORGI, Gabriel. Formas comuns: animalidade, literatura, biopolítica. Tradução de Carlos Nougué. Rio de Janeiro: Rocco, 2016. ASSIS, Machado de. "Conto Alexandrino". In: Volume de contos. Rio de Janeiro : Garnier, 1884. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraDownload.do?select_action=&co_obr a=1909&co_midia=2. ENTRE CAPRICHOS E FAVORES: O INFORTÚNIO E O NÃO-LUGAR DO POBRE NA SOCIEDADE OITOCENTISTA DE "VIRGINIUS", DE MACHADO DE ASSIS Ronice Kelmis de Oliveira da Silva Macedo Resumo: O descompasso vivenciado pela sociedade brasileira oitocentista, no que diz respeito à confluência, em seu solo, de significativas disparidades entre o professado, ideologicamente, e o praticado, faz-se presente em grande parte da fortuna literária machadiana. A maestria na apreensão e representação de tais dilemas sociais, pelo escritor, perpassa toda sua obra, desde o início do correr de sua pena, até a composição de seus últimos romances. Objetiva-se, neste trabalho, a partir da análise do conto “Virginius: narrativa de um advogado” - publicado em julho de 1864, no Jornal das Famílias (1863 – 1878), o entendimento do chão histórico, propulsor do mecanismo do favor, o qual engendra a relação estabelecida entre o rico e o homem livre dependente. Tendo como motivo o recebimento de um bilhete, a diegese de “Virginius”, desenvolve-se com esta personagem tentando compreender os mistérios, envoltos na defesa que, anonimamente, fora convidado a realizar. Ao partir em busca de respostas, o advogado conhece o autor do bilhete: Pai de todos, abastado fazendeiro, cujas terras é “o asilo dos órfãos e dos pobres”. O velho Pio, como também era conhecido, chamara o magistrado para defender seu amigo Julião, acusado de matar sua própria filha, Elisa, a fim de livrá-la da desonra de ter sido violentada, por Carlos – filho do Pai de todos. Fundamentando-se nos pressupostos teóricos desenvolvidos por Roberto Schwarz (2012), almeja-se refletir acerca de como esta relação de sujeição além de delinear as ações das personagens, ressalta o infortúnio e o não-lugar do pobre, na sociedade oitocentista, berço de “Virginius”. Na tessitura estética desta tragédia, Machado de Assis, “homem de seu tempo”, demonstra, na prática, a presentificação de “certo sentimento íntimo”, capaz de singularizar tanto um escritor, quanto a literatura brasileira, acerca do qual discorreria, em 1873, no periódico O Novo Mundo (1870 - 1879). Referências: MACHADO DE ASSIS, J. M. Obra completa em quatro volumes. 3.ed. Org. de Aluizio Leite, Ana Lima Cecilio, Heloisa Jahn, Rodrigo Lacerda. São Paulo: Nova Aguilar, 2015. SCHWARZ, R. Ao vencedor as batatas: forma literária e processo social nos inícios do romance brasileiro. São Paulo: Duas Cidades; Editora 34, 2012. ______. Um mestre na periferia do capitalismo: Machado de Assis. São Paulo: Duas Cidades; Editora 34, 2012. O OBSERVADOR MACHADO DE ASSIS NO JORNAL O CRUZEIRO Tatiane Felipe Santana Bovolato Resumo: Machado de Assis iniciou sua participação no jornal O Cruzeiro em 1º de janeiro de 1878 publicando o romance Iaiá Garcia em formato de folhetim. Seguidamente, à sombra do pseudônimo Eleazar e valendo-se de uma seção no periódico, publicou alguns textos narrativos e uma série de crônicas denominadas Notas Semanais juntamente com uma crítica ao romance Primo Basílio, do escritor Eça de Queirós. Ao longo da leitura das crônicas, embora haja toda ironia peculiar do autor, é possível notar um observador decepcionado e cético com toda questão social e política vigente. Também aponta críticas sobre o estilo de entretenimento que estava se tornando comum à época, como a baixa culturalidade exemplificada pelas touradas e o passatempo decadente que, por vezes, zombava da deficiência física de algumas pessoas. Esses e demais apontamentos são identificados nas crônicas machadianas em Notas Semanais, cujas concepções estudadas do autor, por vezes, são mais exploradas em seus romances de maior sucesso. O estudo das crônicas contribui para fomentar o interesse pelas demais obras machadianas, uma vez que são leituras pouco difundidas e estudadas no âmbito educacional. Por meio de tais leituras se conhece um escritor observador cuja essência acaba por apontar aos leitores os problemas sociais e culturais do século XIX. Vê-se que o jornalista escrevia não apenas como obrigação, como bem destaca Gledson e Granja: “[...] parece que Machado tinha algo a dizer que transcendia os limites de uma obrigação semanal.” (GLEDSON; GRANJA, 2008) Por meio do diálogo em torno do contexto exposto, a leitura das crônicas em questão incentivará o leitor a conhecer o jornalista e dramaturgo antes do romancista, além de ajudá-lo a observar que muitos dos personagens ficcionalizados nos romances machadianos são indivíduos encontrados em suas crônicas. Referências: Periódicos consultados Diário do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro 1855 - 1858 Periódico dos Pobres, Rio de Janeiro 1854 Revista Illustração Brasileira, Rio de Janeiro 1877 O Cruzeiro, Rio de Janeiro 1877 - 1878 O Globo : Orgão da Agência Americana Telegraphica dedicado aos interesses do Commercio, Lavoura e Indústria (RJ) 1878 CONGRESSO Agrícola. Edição fac-similar dos anais do Congresso Agrícola, realizado no Rio de Janeiro, em 1878. “Introdução” de José Murilo de Carvalho. Fundação Casa de Rui Barbosa: Rio de Janeiro, 1988 BOSI, Alfredo. O Teatro Político nas Crônicas de Machado de Assis. In: O Teatro Político nas Crônicas de Machado de Assis. [S. l.], 13 maio 2013. Disponível em: http://www.iea.usp.br/publicacoes/textos/bosimachado.pdf. Acesso em: 4 jan. 2022. BRAYNER, Sonia. Machado de Assis: um cronista de quatro décadas. In: CANDIDO, Antonio. A crônica: o gênero, sua fixação e suas transformações no Brasil. Rio de Janeiro: Unicamp, 1992. p. 407-416. CANDIDO, Antonio. A vida ao rés-do-chão. In: CANDIDO, Antonio. A crônica: o gênero, sua fixação e suas transformações no Brasil. Rio de Janeiro: Unicamp, 1992. p. 13-22. CANO, Jefferson; GRANJA, Lúcia. Machado de Assis: Comentários da Semana. Campinas, SP: Unicamp, 2008. CHALHOUB, Sidney; NEVES, Margarida de Souza; PEREIRA, Leonardo Affonso de Miranda. História em cousas miúdas: capítulos de história social da crônica no Brasil. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2005. p. 69-87. FARIA, João Roberto. Alencar: a semana em revista In: CANDIDO, Antonio. A crônica: o gênero, sua fixação e suas transformações no Brasil. Rio de Janeiro: Unicamp, 1992. p. 301 316. ______ Machado de Assis: O Espelho. Campinas, SP.: Editora da Unicamp, 2009. GALANTE DE SOUSA, José. Bibliografia de Machado de Assis. Rio de Janeiro: MEC, INL, 1955. GLEDSON, John; GRANJA, Lúcia. Machado de Assis: Notas semanais. Campinas, SP: Unicamp, 2008. GUIMARÃES, Hélio de Seixas. Os leitores de Machado de Assis: o romance machadiano e o público de literatura no século 19. São Paulo: Edusp, 2004. MASSA, Jean-Michel. A Juventude de Machado de Assis. Tradução de Marco Aurélio de Moura Matos. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 1971. MEYER, Marlyse. Voláteis e Versáteis. De variedades e folhetins se fez a chronica. In: CANDIDO, Antonio. A crônica: o gênero, sua fixação e suas transformações no Brasil. Rio de Janeiro: Unicamp, 1992. p. 93-133. PEREIRA, Leonardo Affonso de Miranda. Machado de Assis: História de Quinze dias. Campinas, SP.: Editora da Unicamp, 2009. PEREIRA, Lúcia Miguel. Machado de Assis: estudo crítico e biográfico. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1936. v. 73. SCHWARZ, Roberto. Ao vencedor as batatas: Forma literária e processo social nos inícios do romance brasileiro. 2. ed. São Paulo: Duas Cidades, 1981. SOARES, Marcus Vinicius Nogueira. A crônica brasileira do século XIX: uma breve história. 1. ed. São Paulo: Realizações, 2014. SODRÉ, Nelson Werneck. História da Imprensa no Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: Graal, 1977. OS CONTOS DE MACHADO DE ASSIS: DOS ESPAÇOS PRIVADOS DOS LARES ÀS RUAS DO RIO DE JANEIRO Valdiney Valente Lobato de Castro Resumo: Machado de Assis seguramente foi o principal autor da segunda metade do século XIX , tendo produzido peças teatrais, poesias, crônicas, contos e romances. Dessas composições, o conto foi o gênero que o autor nunca abandonou a pena. Uma rápida análise nas datas das publicações originais dessas histórias revelará que a produção, além de extensa, é intensa, por isso a (necessária) leitura de contos variados de diversas décadas permite compreender como o autor foi, aos poucos, ampliando seu potencial sobre as narrativas curtas. Nos primeiros contos, principalmente os lançados pelas mãos de Baptiste Louis Garnier, o tema do casamento é muito evidente, centrado quase sempre nos lares das famílias cariocas. No entanto, a felicidade do casamento não é o que mais se destaca: os enlaces amorosos que culminam com o casamento, apesar de serem muito recorrentes, muitas vezes são compostos como uma obrigação inevitável, ou marcados pela infidelidade tanto do marido quanto da esposa, ou, ainda, constituídos para destacar o interesse material e, quando isso ocorre, as jovens e ricas viúvas são as vítimas por excelência. As histórias de Machado, com o passar dos anos, atingem novas experimentações, os temas do amor ainda estão presentes, mas percebe-se o quanto, aos poucos, o autor vai distanciando-se desse tema e dos ambientes caseiros. Alguns personagens são apresentados dentro de um cenário político, outros caminham pelas noites da Cidade da Corte, e nesses casos já há uma maior complexidade psicológica, desafiando o leitor a ler na entrelinha das narrativas. Repousa nessa distinção o objetivo principal desta pesquisa: analisar os contos de Machado de Assis, a fim de perceber como, ao longo dos anos, as narrativas saem dos espaços privados dos lares e começam a percorrer as ruas cariocas abordando/aprofundando temas que se tornaram caros à produção do autor. Referências: ASSIS, Machado. Contos Fluminenses. Rio de Janeiro: Garnier, 1870. ______________Histórias da Meia Noite. Rio de Janeiro: Garnier, 1873. ______________ Papéis Avulsos. Rio de Janeiro: Lombaerts, 1882. ______________ Histórias sem Data. Rio de Janeiro: Garnier, 1884. ______________ Várias Histórias, Rio de Janeiro: Garnier, 1896. ______________ Páginas Recolhidas, Rio de Janeiro: Garnier, 1899. ______________ Relíquias da Casa Velha, Rio de Janeiro: Garnier, 1906. AZEVEDO, Silvia Maria. A Trajetória de Machado de Assis: do Jornal das Famílias aos Contos e Histórias em Livro (Tese de Doutorado) São Paulo: USP, 1990. CANDIDO, Antonio. Esquema de Machado de Assis. In: Vários Escritos. São Paulo: Duas Cidades, 1977. CASTRO, Valdiney Valente Lobato de. Feitiços Velados às Gentis Leitoras: “Cinco Mulheres” no Jornal das Famílias. (Dissertação de Mestrado). Pará, Belém: Universidade Federal do Pará, 2014. CRESTANI, Jaison Luís. Machado de Assis no Jornal das Famílias. São Paulo: Edusp, 2009. ____________________ Machado de Assis e o processo de criação literária. São Paulo: Edusp, 2014. DIXON, Paul. Os contos de Machado de Assis. Porto Alegre: Movimento, 1992. GLEDSON. John. Os Contos de Machado de Assis: o Machete e o Violoncelo. In: ASSIS, Joaquim Maria Machado de. Contos: uma Antologia/ Machado de Assis (vol. 1). Seleção / Introdução e Notas de John Gledson. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. TRADUÇÕES PARA O INGLÊS DE O ALIENISTA DE MACHADO DE ASSIS E AS INSTÂNCIAS EDITORIAIS DE VEÍCULOS DE DIVULGAÇÃO Válmi Hatje-Faggion Resumo: Esta comunicação tem como objetivo abordar instâncias editoriais de veículos de divulgação sobre quatro traduções para o inglês de O Alienista de Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) que revelam elementos do contexto estético e sociocultural nos sistemas literários de produção e recepção dessas traduções (Brasil, Estados Unidos e Inglaterra). Serão exploradas reescrituras (resenhas críticas) sobre as obras traduzidas publicadas em páginas da internet, jornais e na própria tradução por ocasião da publicação das referidas traduções nos Estados Unidos para verificar como os comentadores tratam essa obra a fim de acomodá-la para o novo polissistema literário. Serão consideradas as seguintes quatro traduções publicadas em língua inglesa de O Alienista: a primeira, com o título de The psychiatrist, traduzida por William Leonard Grossman, publicada pela University of California press, em Berkeley, em 1963; a segunda, com o título de The Alienist, traduzida por Alfred Mac Adam, publicada pela Arion, em San Francisco, em 1998; a terceira, com o título de The Alienist, traduzida por John Charles Chasteen, publicada pela Hackett, em Indianápolis, em 2013; e, a quarta, com o título de The Alienist traduzida por Margaret Jull Costa e Robin Patterson, publicada pela Liveright, em Nova York, em 2018. Nessas reescrituras (LEFEVERE, 1992) serão abordadas fontes primárias (MUNDAY, 2014) que incluem tradutores, textos suplementares elaborados por agentes institucionais (BANDIA e MILTON, 2009) e a própria tradução. Os resultados revelam que essas reescrituras evidenciam o esforço dos agentes institucionais (tradutores, leitores, críticos, editoras) para formalizar a recepção dessa obra no novo polissistema literário, explicitando a mediação dos tradutores norte-americanos e ingleses e, ainda, compartilhando e reforçando mundos literários. Referências: LEFEVERE, André. Translating literature: practice and theory in a comparative literature context. New York: The Modern Language Association of America, 1992. MILTON, John; BANDIA, Paul. Agents of Translation. Amsterdam: John Benjamins, 2009. MUNDAY, Jeremy. Using primary sources to produce a microhistory of translation and translators: Theoretical and methodological concerns. Translator 20 (1), 2014, p.64-80. LIVROS, LEITORES E LEITURAS EM HELENA William de Oliveira Tognolo Resumo: Como a chamada deste simpósio enfatiza, são diversas as formas de abordar a extensa obra machadiana. Alguns pontos passíveis de análise são os livros, leitores e leituras, que têm presença marcante na prosa de Machado de Assis. Não é incomum nos depararmos com personagens que realizam leituras, como é o caso de José Dias, por exemplo, ou até mesmo com a presença de livros que compõem as bibliotecas de alguns personagens, como Dom Casmurro. Dialogando, principalmente, com os estudos de Hélio Guimarães (2012), esta apresentação se pauta na discussão da presença e da importância dessas menções na prosa machadiana, enfocando como elas podem sugerir reflexões significativas sobre os leitores e as leituras realizadas na capital imperial no século XIX, bem como apresentar elementos importantes para pensarmos e interpretarmos a prosa machadiana. Contudo, tendo em vista o escopo da apresentação, trago como centro da discussão o romance Helena, no qual podemos constatar diversos momentos em que os personagens se acercam de livros, os leem, refletem e opinam sobre eles. Ao analisar o romance por essa ótica, fica sugerido que a leitura e a posse de livros são relevantes na construção das personagens, principalmente Helena e Estácio, e, de alguma forma, impactam o próprio enredo da trama. Além disso, as múltiplas práticas de leitura, a existência de leitores e a posse de livros referidas nesse romance, servem também para levantarmos questões sobre o ambiente de circulação de livros no Rio de Janeiro em meados do século XIX, por vezes tomado como um lugar de escassa presença de livros e leitores. Referências: GUIMARÃES, Hélio de Seixas. Os leitores de Machado de Assis: o romance machadiano e o público de literatura do século 19. 2. ed. São Paulo: Edusp/ Nankin, 2012. SIMPÓSIO MANIFESTAÇÕES DE RESISTÊNCIA NA LITERATURA SUL-AMERICANA CONTEMPORÂNEA: PODER, HISTÓRIA, MEMÓRIA Renata Rocha Ribeiro (UFG), Luciana Paiva Coronel (FURG), Gínia Maria Gomes (UFRGS) UMA JUVENTUDE ACOSSADA: A DITADURA EM "O LUGAR MAIS SOMBRIO", DE MILTON HATOUM Alexandre Luiz Ribeiro Da Fonseca Junior Resumo: A presente comunicação propõe-se discutir os romances contemporâneos "A noite da espera" (2017) e "Pontos de fuga" (2019), da trilogia "O Lugar Mais Sombrio", de Milton Hatoum, compreendendo como essas narrativas ficcionais recuperam as memórias da ditadura militar brasileira e evocam os dramas de uma geração de jovens universitários que, desde 1968, em meio aos conturbados "Anos de Chumbo", crescem, amadurecem e se desenvolvem, experimentando, dessa maneira, as agruras e as angústias daquele momento sufocante e medonho, prefigurando, assim, um romance de formação calcado na desilusão, na melancolia e no fracasso. Acresce que a forma fragmentária dos romances – constituída mediante diários do protagonista, diários e anotações de seus amigos, cartas e correspondências - procura estilizar as vivências traumáticas e melancólicas desses jovens – vivências estas fundadas na incerteza e nas incompletudes frente a um cenário necropolítico e autoritário, impeditivo de uma formação, em essência, capaz de garantir ao indivíduo a sua real inserção na sociedade circundante. Nesse sentido, como refletido pela história narrada nessas obras, na ditadura, a formação é marcada por vazios, por lacunas e por impossibilidades diversos, quase se tornando, por consequência, uma anti-formacão, uma deformação. Em suma, as memórias, aqui recuperadas ficcionalmente, demonstram o impacto direto do regime ditatorial na vida e nos corpos de uma juventude que, paradoxalmente, desde a Revolução Cultural de 1968, ansiava por liberdade e por autonomia. Ancorando, portanto, nos traumas do protagonista – um jovem abandonado pela mãe e, posteriormente, pelo pai, além de estar exilado em Paris no presente da enunciação – e nos traumas de seus amigos, em Brasília e em São Paulo dos anos 1960/1970, percebe-se como a fragmentação formal da narrativa denota um romance de formação assentado na desilusão, marca de uma geração impedida, censurada e silenciada pelas garras de um poder tirano e opressor. Referências: BARTHES, Roland. Fragmentos de um discurso amoroso. Trad. Hortência dos Santos. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1990. BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. Trad. Paulo Bezerra. São Paulo: Martins Fontes, 2003. BENJAMIN, Walter. Conto e cura. In: Obras Escolhidas II. Rua de Mão Única. São Paulo: Editora Brasiliense, 1995. BENJAMIN, Walter. Teses sobre o conceito da história. In: Walter Benjamin – Obras escolhidas. V. 1. Magia e técnica, arte e política. Ensaios sobre literatura, história e cultura. São Paulo: Editora Brasiliense, 1987. BLANCHOT, Maurice. A escritura do desastre. Rio de Janeiro: Lumme Editor, 2016. BLANCHOT, Maurice. O diário íntimo e a narrativa. In: O livro por vir. Lisboa: Relógio D’Água, 1984, p. 193198. BLANCHOT, Maurice. O recurso ao “diário”. In: O espaço literário. Rio de Janeiro: Rocco, 1987, p. 19-20. CURY, Maria Zilda Ferreira. Memória e resistência: figurações da ditadura na literatura brasileira contemporânea. In: OLIVEIRA, Rejane Pivetta de; THOMAZ, Paulo C. (Orgs.). Literatura e Ditadura. Porto Alegre: Editora Zouk, 2020, p. 59-72. FIGUEIREDO, Eurídice. A literatura como arquivo da ditadura brasileira. Rio de Janeiro: Editora 7 Letras, 2017. GINZBURG, Jaime. Crítica em tempos de violência. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, FAPESP, 2017. GINZBURG, Jaime. O narrador na literatura brasileira contemporânea. Tintas. Quaderni di letterature iberiche e iberoamericane, v.2, 2012, p. 199-221. HATOUM, Milton. A noite da espera. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. HATOUM, Milton. Pontos de fuga. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. A CATÁSTROFE DO DESAPARECIMENTO FORÇADO NO ROMANCE "MEU PAI, ACABARAM COM ELE", DE LUIZ CLAUDIO CARDOSO Arnaldo Franco Junior Resumo: Nesta comunicação, abordaremos o romance “Meu pai, acabaram com ele”, de Luiz Claudio Cardoso, publicado em 1986. O romance tematiza a catástrofe do desaparecimento forçado e seus efeitos sobre a família e o círculo social mais próximo do desaparecido vítima de repressão política. Remetendo a um fato da vida real – o desaparecimento forçado do deputado Rubens Paiva nos anos 1970 sob a ditadura civil-militar –, o romance ficcionaliza este fato e explora dramaticamente o impacto que a violência e o terrorismo de Estado têm sobre aqueles que, sobrevivendo a este tipo de catástrofe, têm de lidar com as perplexidades e angústias decorrentes de um processo de perda que nunca termina e que os instala permanentemente num limiar entre o luto e a impossibilidade de sua efetivação. Na narrativa, três narradores revisitam a catástrofe do desaparecimento forçado do pai de família, seguido da prisão arbitrária da mãe e da irmã mais velha, e seus efeitos. Esses três narradores – o filho mais novo, a irmã do meio e a empregada que trabalha para a família – dialogam com um interlocutor silente, contando-lhe os fatos que constituem a catástrofe e seus efeitos emocionais, psíquicos, sociais sobre si próprios e sobre os demais com quem convivem cotidianamente. Base dos relatos de cada narrador, a memória é, no livro, tanto um elemento temático-formal interno à estruturação da narrativa quanto um elemento que se instala nas relações texto-contexto e texto-leitor, evocando o horror para simultaneamente denunciá-lo e oferecer, dele, um registro às gerações que não o vivenciaram. Referências: CARDOSO, Luiz Claudio. Meu pai, acabaram com ele. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1986. ENDO, Paulo Cesar. Sonhar o desaparecimento forçado de pessoas: impossibilidade de presença e perenidade de ausência como efeito do legado da ditadura civilmilitar no Brasil. Psicologia USP, São Paulo, v. 27, n. 1, p. 08-15, 2016. FRANCO, Fábio Luís. Governar os mortos - necropolíticas, desaparecimento e subjetividade. São Paulo: UBU Editora, 2021. FRIEDMAN, Norman. O ponto de vista na ficção: o desenvolvimento de um conceito crítico. Revista USP, s/v., n. 53, p. 166-182, 2002. GATTI, Gabriel. El lenguaje de las víctimas: silencios (ruidosos) y parodias (serias) para hablar (sin hacerlo) de la desaparición forzada de personas. Revista Universitas Humanística, Bogotá, s/v., n. 72, p. 89 - 109, 2011. MEMÓRIA E TESTEMUNHO EM METADE CARA, METADE MÁSCARA, DE ELIANE POTIGUARA Claudia Luiza Caimi Resumo: A memória das catástrofes sociais brasileiras tem ocupado a narrativa literária contemporânea com relatos que buscam colocar a violência vivida por parte significativa da população como elemento tensor da história brasileira. Mas poucos são os livros em que os envolvidos dão o testemunho dessa experiência. Metade cara, metade máscara, de Eliane Potiguara, é um exemplo singular de testemunho, já que na obra a autora recolhe um conjunto de poemas e textos em prosa, demarcados por uma moldura narrativa que mescla a autobiografia da autora com a saga de Jurupiranga e Cunhataí, personagens “fictícios” que “sobreviveram à colonização” e flutuam no tempo e no espaço. É um livro híbrido e múltiplo, que passa por diversas vozes, registros e gêneros textuais. Se seguirmos a proposta do livro (sumário), nos deparamos com um testemunho dos efeitos do colonialismo e da exclusão na vida de Potiguara, na história dos povos originários, seus descendentes e especialmente na vida das mulheres indígenas. Potiguara denuncia a situação de vulnerabilidade, violência, e discriminação da mulher indígena, mas, ao mesmo tempo, dá visibilidade a um modo de ser e estar no mundo em que o empoderamento se manifesta no encontro, através da luta e da valorização da diferença, com uma identidade que lhe foi negada. Referências: DERRIDA, Jacques. Mal de Arquivo: uma impressão freudiana. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2001. DERRIDA, Jacques. Morada: Maurice Blanchot. Lisboa: Edições Vendaval, 2004. GRAÚNA, Graça. Contrapontos da literatura indígena contemporânea no Brasil. Belo Horizonte: Mazza, 2013. POTIGUARA, Eliane. Metade cara, metade máscara. São Paulo: Global, 2010. RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Campinas: Unicamp, 2007. TEMPO PASSADO, MARCAS PRESENTES: NOTAS SOBRE A DITADURA, A VIOLÊNCIA DE GÊNERO E SUAS CICATRIZES EM ALGUNS ROMANCES BRASILEIROS DO SÉCULO XXI Cristiane da Silva Alves Resumo: A comunicação busca discutir alguns romances brasileiros publicados em décadas recentes, a fim de examinar como a literatura tem elaborado questões contundentes que dizem respeito ao passado de nosso país e de outros países sul-americanos e que, apesar dos anos transcorridos, ainda se fazem fortemente presentes. Em um recorte que privilegia narrativas de autoria feminina que dão voz a mulheres maduras ou velhas, pretende-se analisar de que forma essas personagens retomam em seu discurso as experiências de um tempo cujas violências e abusos perpetrados pelo Estado notadamente as afetaram e seguem afetando. Para tanto, seleciona-se como corpus os romances Tempos extremos (2014), de Miriam Leitão; Sob os pés, meu corpo inteiro (2018), de Marcia Tiburi; A importância dos telhados (2020), de Vanessa Molnar e Depois de tudo tem uma vírgula (2021), de Elizabeth Cardoso. Em todos esses, resta evidente o quão nefastas foram as situações enfrentadas pelas personagens no passado, deixando em sua memória uma série de marcas que seguem repercutindo no presente da narração. Além disso, pode-se verificar que os episódios vivenciados, para além do drama pessoal das personagens, revelam chagas coletivas que, retomadas por meio da narração, colocam em xeque as tentativas de apagamento ou deturpação da história nacional, impulsionando a reflexão e o debate. Para embasar as análises, recorre-se às contribuições de Eurídice Figueiredo (2017), Maria Amélia de Almeida Teles (2017), Maria Rita Kehl (2010), Jeanne Marie Gagnebin (2006), Márcio Seligmann-Silva (2000) e Maurice Halbwachs (1990) entre outros. Referências: CARDOSO, Elizabeth. Depois de tudo tem uma vírgula. São Paulo: Editora Patuá, 2021. FIGUEIREDO, Eurídice. A literatura como arquivo da ditadura brasileira. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2017. GAGNEBIN, Jeanne Marie. Lembrar escrever esquecer. São Paulo: Ed. 34, 2006. HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais LTDA, 1990. KEHL, Maria Rita. Tortura e sintoma social. In: TELES, Edson; SAFATLE, Vladimir (org.). O que resta da ditadura: a exceção brasileira. São Paulo: Boitempo, 2010, p.123-132. LEITÃO, Miriam. Tempos extremos. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2014. MOLNAR, Vanessa. A importância dos telhados. Recife: Cepe, 2020. SELIGMANN-SILVA, Márcio. A história como trauma. In: NESTROVSKI, Arthur; SELIGMANN-SILVA, Márcio (orgs.). Catástrofe e representação: ensaios. São Paulo: Escuta, 2000, p. 73-98. TELES, Maria Amélia de Almeida. Breve história do Feminismo no Brasil e outros ensaios. São Paulo: Editora Alameda, 2017. TIBURI, Márcia. Sob os pés, meu corpo inteiro. Rio de Janeiro: Record, 2018. A APORIA DO TRAUMA E A ESCRITA DA RESISTÊNCIA: O PASSADO QUE NÃO PASSA EM O CORPO INTERMINÁVEL, DE CLAUDIA LAGE Deyse Filgueiras Batista Marques Resumo: A comunicação oral proposta é fruto da necessidade de refletir sobre os percursos narrativos ficcionais e de resistência em face do trauma e do esquecimento históricos relacionados à ditadura militar no Brasil. Esta apreciação tem como amostra a obra O corpo interminável (2019), de Claudia Lage, cujo protagonista está inserido no âmbito da barbárie e da violência de Estado, pois se trata de um filho de ex-guerrilheira desaparecida durante o regime ditatorial. O romance apresenta a busca por vidas e histórias silenciadas em razão dos anos de torturas e ocultamentos impostos pela ditadura militar no Brasil, em uma tentativa de alcançar vivências que foram extorquidas pelo autoritarismo político. Alternando vozes narrativas e tempos históricos, perpassa por O corpo interminável a noção de um passado que ainda se faz presente e que, mergulhado no sigilo e no esquecimento, permanece marcado por ausências, vazios, imprecisões, lacunas e memórias fraturadas. Todavia, a história que nunca pode ser contada encontra, na ficção, o suporte necessário para resistir diante da narrativa oficial que, acometida por uma amnésia que é sintoma político e social, evoca a ditadura militar como o “movimento de 64”. O deslocamento aqui sugerido evidencia O corpo interminável como um romance que exuma uma memória individual e coletiva que precisa ser constantemente restaurada, ao passo em que a narrativa ficcional, enquanto instrumento de reconstrução dos destroços desse passado, é fundamental na luta de evitar que as mesmas violações aos direitos humanos básicos sejam repetidas no presente. O intuito desta leitura, por fim, é contribuir para a caracterização política e estética do romance, pois, ao explorar as estratégias narrativas em O corpo interminável, espera-se discutir a relevância e a essencialidade da literatura brasileira contemporânea no processo de recuperação de um passado sombrio. Referências: BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. 8 ed. São Paulo: Brasiliense, 2012. FIGUEIREDO, Eurídice. A literatura como arquivo da ditadura brasileira. 1. ed. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2017. GAGNEBIN, Jeanne Marie. Lembrar escrever esquecer. 2 ed. São Paulo: Editora 34, 2009. GINZBURG, Jaime. Autoritarismo e Literatura: a História como Trauma. Revista Eletrônica Vidya. Universidade Franciscana, v. 19, n. 33, 2000, p. 43 – 52. GINZBURG, Jaime. Crítica em tempos de Violência. 2. ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, Fapesp, 2017. LAGE, Claudia. O corpo interminável. Rio de Janeiro: Editora Record, 2019. NESTROVSKI, Arthur; SELIGMANN-SILVA, Márcio. Catástrofe e representação: ensaios. São Paulo: Escuta, 2000. SELIGMANN-SILVA, Márcio. História, memória, literatura: o testemunho na Era das Catástrofes. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2003. VIDAL, Paloma. Memória em desconstrução: da ditadura à pós-ditadura. Alea: Estudos Neolatinos. Revista do mestrado em Letras Neolatinas – UFRJ, v. 8, n. 2, julho – dezembro, 2006, p. 249 – 261. RASTROS, MEMÓRIAS E LINGUAGEM NUM OCEANO FICCIONAL: UMA LEITURA DE "NO FUNDO DO OCEANO, ANIMAIS INVISÍVEIS", DE ANITA DEAK Diego Rodrigo Ferraz Resumo: “Cuide, quando pensar em morrer/ Para que não haja sepultura revelando onde jaz/ Com uma clara inscrição a lhe denunciar/ E o ano de sua morte a lhe entregar/ Mais uma vez:/ Apague as pegadas!” (BRECHT, 2012, p.58). Esse poema de Bertolt Brecht abre o “Poemas de um manual para habitantes das cidades”. De modo interessante, transpondo-o para a realidade brasileira do período ditatorial militar (1964-1985), pode-se dizer que serviria tanto como orientação aos militantes comunistas, quanto às práticas realizadas pelos militares. Se os rastros são apagados, restam as memórias. Algumas destas esquecidas, quando o que se sobrepuja é a história do vencedor, que procura apagar cada vez mais os rastros de um passado o qual lhe compromete (BENJAMIN, 2005). Em meio a esse esquecimento, encontra-se a “Guerrilha do Araguaia”, muitas vezes apagada mesmo em manuais de história. Se esta memória se vê apagada, é por meio da pós memória (HIRSCH, 2008) ou de pesquisas extensas que ela ressurge muitas vezes em narrativas ficcionais do século XXI; este é o procedimento de Anita Deak em seu romance “No fundo do oceano, os animais invisíveis”. O personagem-narrador ficcional Pedro Naves navega pelo oceano de suas memórias (re)construindo um passado desconhecido por muitos. A memória atua, portanto, contra as forças do tempo. E se a memória se manifesta na linguagem, consciente ou inconscientemente, é nas artes que ela encontra um espaço de (per)laboração. Assim, o trabalho percorre uma análise linguística e das memórias do narrador, procurando as potências deste romance que questiona o passado colonial, enquanto memora o passado ditatorial, atuando como resistência contra um presente acachapante de uma história única. Referências: AGAMBEN, Giorgio. O que resta de Auschwitz: o arquivo e a testemunha. Tradução de Selvino J. Assmann. São Paulo: Boitempo, 2008. BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito de história. In: LÖWY, Michael. Walter Benjamin: aviso de incêndio: uma leitura das teses “Sobre o conceito de história”. Tradução de Jeanne Marie Gagnebin; Marcos Lutz Müller. São Paulo: Boitempo, 2005. p. 41-146. BRECHT, Bertolt. Poemas 1923 – 1956. Tradução de Paulo César de Souza. 7. ed. São Paulo: 34, 2012. DEAK, Anita. No fundo do oceano, os animais invisíveis. São Paulo: Reformatório, 2020. GAGNEBIN, Jeanne Marie. Lembrar Escrever Esquecer. 2. ed. São Paulo: 34, 2009. GAGNEBIN, Jeanne Marie. Limiar, aura e rememoração: ensaios sobre Walter Benjamin. São Paulo: 34, 2014. HIRSCH, Marianne. The generation of postmemory. Poetics today, v.29, n.1, 2008, p. 103-128. Disponível em: https://read.dukeupress.edu/poeticstoday/article/29/1/103/20954/The-Generation-of-Postmemory. Acesso em: 12 mai 2022. DIREITOS HUMANOS EM PAUTA: VIOLÊNCIA ESTATAL, GÊNERO E MEMÓRIA EM O CORPO INTERMINÁVEL Flávia Dall Agnol de Oliveira Resumo: O presente trabalho se propõe a analisar o romance O corpo interminável (2019), de Claudia Lage, sob a perspectiva interdisciplinar dos estudos de Direito e Literatura. Para tanto, pretende-se compreender o elo entre a violência sofrida pelas personagens mulheres ao longo da narrativa e a violência institucional praticada contra corpos femininos durante a ditadura militar brasileira (1964-1985). Partindo do pressuposto de que o ato violento se constitui de forma diferenciada quando direcionado a corpos gendrados – isto é, corpos marcados pelas especificidades de gênero (Lauretis, 1994) –, buscaremos relacionar a tratativa dos direitos humanos com a violência institucional/política de gênero dos anos de chumbo. A potência da tessitura narrativa de Claudia Lage se mostra oportuna justamente para confrontar o cenário de um regime militar que, ao mesmo tempo em que torturava e desaparecia com os corpos, também assinava tratados de defesa dos direitos humanos (Safatle, 2010, p. 251). Desse modo, propõe-se a análise estrutural e temática da obra aliada a uma abordagem crítica em relação ao universalismo abstrato e formalista existente na concepção tradicional de direitos humanos, que, por sua vez, não contempla a complexidade de situações e pessoas reais. Nesse ponto, faz-se necessário o aporte do pensamento de Herrera Flores (2009), cuja teoria sinaliza a necessidade de se pensar os direitos humanos enquanto fenômeno político e indissociável das especificidades de seus destinatários. Especificidades estas trazidas com maestria pelo corpus narrativo, e verificadas na experiência de diferentes mulheres vítimas de torturas, desaparecimentos e silenciamentos por parte do Estado. Finalmente, é proposto um olhar para a função de consolidação da memória coletiva presente na escrita de Lage, realizada através da figura de muitos corpos que, juntos, constituem um único corpo inominado e interminável, cuja dor se estende e se faz viva até os dias de hoje. Referências: BODELÓN, Encarna. Violencia institucional y violencia de género. In: Anales de la cátedra Francisco Suárez. 2014. p. 131-155. HERRERA FLORES, Joaquín. A reinvenção dos direitos humanos. Tradução de Carlos Roberto Diogo Garcia; Antônio Henrique Graciano Suxberger; Jeferson Aparecido Dias. Florianópolis: Fundação Boiteux, 2009. LAGE, Claudia. O corpo interminável. Rio de Janeiro: Record, 2019. LAURETIS, Teresa de. A tecnologia do gênero. Tradução de Suzana Funck. In: HOLLANDA, Heloisa (Org.). Tendências e impasses: o feminismo como crítica da cultura. Rio de Janeiro: Rocco, 1994. p. 206-242. SAFATLE, Vladimir. Do uso da violência contra o Estado ilegal. In: TELES, Edson; SAFATLE, Vladimir (Orgs.). O que resta da ditadura: a exceção brasileira. São Paulo: Boitempo, 2010. p. 237-252. SEGATO, Rita Laura. Las nuevas formas de la guerra y el cuerpo de las mujeres. Revista Sociedade e Estado, v. 29, n. 2, mai./ago. 2014, p. 341-371. LUTAR É PRECISO: TESTEMUNHO E RESISTÊNCIA EM TORTO ARADO, DE ITAMAR VIEIRA JÚNIOR Geraldo Brandão Neto Resumo: A literatura de testemunho traz discussões pertinentes acerca da necessidade de que os discursos suprimidos pela história oficial venham à luz e assim a voz daqueles que sofreram com a opressão seja escutada. Importante como forma contra histórica, isto é, como oposição ao discurso oficial dos órgãos reguladores de poder, testemunhar é a maneira que se tem de apresentar que um fato histórico não apenas possui uma voz que ecoa, mas muitas outras que reverberam. Encarando os estudos sobre a Literatura de Testemunho na América Latina como fonte principal de análise deste trabalho, o presente artigo tende a pesquisar como o teor testemunhal se faz presente no romance Torto Arado, de Itamar Vieira Júnior. A resistência dos personagens, que ora se pauta pela memória, ora se configura na materialização de sua cultura é o meio pelo qual não apenas eles podem testemunhar sobre o sistema opressor em que estão inseridos, mas também resistir a este sistema. Por isso, BOSI (2002), tende a afirmar que resistência é, antes de tudo, um conceito ético, e não estético, pois para o crítico resistir é um ato de não ceder a outra força. Ao manter como foco de interpretação a literatura de testemunho, este trabalho compreende que o teor testemunhal, elemento característico presente no romance Torto Arado, representa os esforços revolucionários dos oprimidos, como afirma Alfredo Alzugarat (1994). A fim de organizar a coesão conceitual que norteará as reflexões sobre o objeto em questão, Torto Arado, este texto utilizará os trabalhos de Márcio SeligmannSilva e dos demais teóricos que desdobram seus estudos sobre a Literatura de Testemunho. Referências: BOSI, Alfredo. Narrativa e Resistência. In: _______. Literatura e resistência. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. p. 118-135. GAGNEBIN, Jean M. Lembrar, Escrever, Esquecer. São Paulo: Ed. 34, 2006. SELIGMANN-SILVA, Márcio, Literatura e trauma: um novo paradigma. In: _______. O local da diferença. Ensaios sobre memória, arte, literatura e tradução. São Paulo: Editora 34, 2005a. 63-80. SELIGMANN-SILVA, Márcio. História, memória e literatura. Campinas: Unicamp, 2003. VIEIRA JUNIOR, Itamar. Torto arado. São Paulo: Todavia, 2019. VIOLÊNCIA E RESISTÊNCIA: COLONIALISMO EM NOSSA PARTE DE NOITE Icaro Carvalho, Raquel Helena Gil Zubaran Zandomeneghi Resumo: No momento em que falamos de horror, torna-se muito difícil não lembrar de monstros ou criaturas alheias às questões sociais ou humanas, mas, em Nossa parte de noite, escrito pela argentina Mariana Enríquez e publicado originalmente em 2019, o mais puro horror se dá a partir de uma ordem ideológica e racista. As personagens do romance figuram majoritariamente no entremeio colonial de América do Sul e Europa – Argentina e Inglaterra, respectivamente. A narrativa explora o colonialismo como um fenômeno capaz de hierarquizar e manipular indivíduos de diferentes grupos em benefício de uma classe dominante apresentada como uma organização de famílias britânicas: a “Ordem”. É, portanto, um romance orquestrado ao redor dessa organização político-social e como os seus passos marcam e utilizam-se de povos sul-americanos de maneira atroz. Assim, pretendemos tratar o pensamento colonialista presente em Nossa parte de noite como a figuração do horror, tanto pela sua violência física quanto pela imposição étnico-racial na América do Sul. Por conta disto, nossa pesquisa utiliza os textos teóricos de Fanon (1965) e Quijano (2005) para aprofundar as temáticas colonialistas presentes na obra de Enríquez, Fanlo (2009) como suporte às questões de violência e Pérez (2011) quanto às histórias atreladas à supremacia racial. Referências: Fanlo, Luis García. "Genealogía del cuerpo argentino". A parte rei. Revista de filosofia, 2009. http://serbal.pntic.mec.es/~cmunoz11/fanlo64.pdf Fanon, Frantz. Os Condenados da Terra. Ulisseia, 1965. Pérez, Pilar. "Historia y silencio: La Conquista del Desierto como genocidio no-narrado". Corpus. CONICET, 2011. Quijano, Aníbal. "Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina". A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. CLACSO, 2005. DITADURA MILITAR NA VISÃO DAS AUTORAS BRASILEIRAS DO SÉCULO XXI: UM PANORAMA Janaína Buchweitz e Silva Resumo: O trabalho visa apresentar um panorama das narrativas literárias que tematizam a ditadura militar e que foram produzidas por autoras mulheres nos últimos vinte anos. O panorama aponta, dentre outros, que o fato histórico da ditadura militar está longe de um esgotamento no campo literário: ao contrário, é marcado por multiplicidade, diversidade e fertilidade, já que dezenas de autoras publicaram considerável quantidade de textos (contos, romances, romances históricos, testemunhos, cartas, autoficções) em que o período da ditadura e/ou seus desdobramentos são o tema principal. Assim, no século XXI irão coexistir produções literárias de autoras que vivenciaram o período da ditadura e publicaram sobre o tema após décadas de distanciamento, concomitantemente à produção de autoras da geração descendente, escritoras nascidas durante ou após o regime. O conjunto dos textos apontam para grande versatilidade, posto que as autoras ora se inspiram em suas próprias experiências ou nas experiências de um ente próximo, em outros momentos recorrem a histórias reais de desconhecidos e propõem um relato mais próximo ao verídico, em outras passagens assumem que romanceam a partir de um fato real; ao passo de autoras que propositalmente deixam o leitor em dúvida sobre o registro de leitura a ser seguido, apontando para uma escrita autoficcional que é percebida em considerável parte dos textos. Ambientados nos anos da ditadura, nos anos seguintes, e/ou no tempo presente, escritos quase sempre em primeira pessoa e compostos majoritariamente por personagens femininas, estes textos são também um retrato da participação das mulheres neste importante período histórico, bem como uma apresentação dos desdobramentos que a ditadura causa, para elas, ainda na contemporaneidade, operando como forma de combate a diferentes tipos de silenciamentos, apagamentos e esquecimentos. Utiliza-se referencial teórico proposto por Figueiredo (2013, 2017, 2020), Assmann (2021), Dalcastagné (2017), Agamben (2008, 2014), Benjamin (1996), Woolf (2014), dentre outros. Referências: AGAMBEN, Giorgio. Homo Sacer: o poder soberano e a vida nua I. Traduzido por Henrique Burigo. 2ª ed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010. AGAMBEN, Giorgio. O que resta de Auschwitz: o arquivo e a testemunha (Homo Sacer III). Traduzido por Selvino J. Assmann. São Paulo: Boitempo, 2008. ASSMANN, Aleida. Espaços da recordação: formas e transformações da memória cultural. Tradução: Paulo Soethe. 3ª reimp. Campinas: Editora da UNICAMP, 2021. BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito de história. In: Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. Obras Escolhidas Vol 1. Tradução Sergio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1996. DALCASTAGNÈ, Regina. Literatura brasileira contemporânea: um território contestado. 1ª ed. 4ª reimp. Vinhedo: Editora Horizonte, 2017. FIGUEIREDO, Eurídice. A literatura como arquivo da ditadura brasileira. 1ª ed. 1ª reimp. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2017. FIGUEIREDO, Eurídice. Mulheres ao espelho: autobiografia, ficção, autoficção. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2013. FIGUEIREDO, Eurídice. Por uma crítica feminista: leituras transversais de escritoras brasileiras. Porto Alegre: Zouk, 2020. SARLO, Beatriz. Tempo passado: cultura da memória e guinada subjetiva. Tradução Rosa Freire d’Aguiar. São Paulo: Companhia das Letras; Belo Horizonte: UFMG, 2007. WOOLF, Virginia. Um teto todo seu. Tradução Bia Nunes de Sousa. 1ª ed. 6ª reimp. São Paulo: Tordesilhas, 2014. A RESISTÊNCIA, DE JULIÁN FUKS: MEMÓRIA, DITADURA E METAFICÇÃO Jefferson Silva Do Rego Resumo: Entre as catástrofes que marcaram o século XX, as ditaduras sul-americanas têm sido lembradas por sua crueldade e violência, haja vista que causaram impactos traumatizantes na subjetivação de muitas pessoas envolvidas. Em decorrência das violências resultantes, surgiram vários testemunhos dos sobreviventes. Assim, no romance A resistência (2015), de Julián Fuks, o narrador-protagonista Sebastián explora a memória de sua família, articulando sua subjetividade às esferas políticas correlacionadas. Dessa forma, por narrar um passado de antes de seu nascimento, Sebastián apoia-se em dúvidas muito mais do que em certezas. De fato, ao ficcionalizar os horrores vividos por muitas pessoas que presenciaram e enfrentaram terríveis ditaduras, essa obra de Fuks se caracteriza pela ausência de linearidade, pela tensão entre o real e o ficcional e pela preocupação com a questão social, de modo que seus procedimentos estéticos desvelam a persistência das marcas do autoritarismo nas relações sociopolíticas, a dimensão subjetiva da história, as experiências do exílio, bem como as tensões entre memória, esquecimento e ocultamento do trauma. Desse modo, pretendemos demonstrar que os conceitos de metaficção e de autoficção constituem elementos estruturantes do romance em questão, elementos esses que são usados para reativar a memória do período ditatorial na Argentina e no Brasil. Referências: FAEDRICH, Anna. Autoficção: um percurso teórico. Revista Criação & Crítica, [S. l.], n. 17, p. 30-46, 2016. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/criacaoecritica/article/view/120842. Acesso em: 26 abr. 2022. FAEDRICH, Anna. O conceito de autoficção: Demarcações a partir da literatura brasileira contemporânea. Itinerários. Araraquara, n. 40, p.45-60, 2015. FARIA, Zênia de. - A metaficção revisitada: uma introdução. Signótica (UFG). v. 24 n. 1. p. 237-251, 2012. FUKS, Julián. A Resistência. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. CAMARGO, Flávio Pereira; FRANCA, Vanessa Gomes; FARIA, Zênia de (Org.). Ensaios sobre Literatura e Metaficção. Goiânia: Editora da Imprensa Universitária, 2018. IMAGINÁRIO E HISTÓRIA EM SOMBRAS DE REIS BARBUDOS, DE JOSÉ J. VEIGA: O VOO DA LIBERDADE EM TEMPOS DE DITADURA Maria José da Silveira Gomes Resumo: Imaginário e história em Sombras de Reis Barbudos, de José J. Veiga: o voo da liberdade em tempos de ditadura. Maria José da Silveira Gomes (UFAL) mares_e_chuva@hotmail.com Resumo: Este trabalho tem como objetivo analisar a representação histórico-social no contexto da obra Sombras de Reis Barbudos, de José J. Veiga. Romance publicado pela primeira vez em 1972, época da ditadura militar – especificamente, dos “anos de chumbo”, momento de grande atividade repressora no país – e do “milagre econômico” brasileiro. S.R.B. narra os estranhos acontecimentos que tomaram conta de Taitara, uma pequena comunidade com marcantes características de algum recôndito interior brasileiro, após a instalação da, ironicamente chamada, Companhia de melhoramentos. Na narrativa, observa-se um constante clima de opressão imposto de forma totalitária, ao mesmo tempo em que se denuncia a violência repressiva contra àqueles que se opunham ao sistema político. Questão que será abordada/problematizada ao longo deste trabalho, considerando-se o constante e complexo movimento dialético entre a literatura, a história e a sociedade no contexto da ditadura militar no Brasil dos anos 1960, 70 e 80. Movimento que possibilita o estudo de como o contexto histórico-social fornece subsídios interpretativos que, em interação com outros elementos narrativos, podem interferir na construção e no desenrolar dos acontecimentos apresentados em S.R.B.. Observamos, enfim, uma conexão indissolúvel, advinda do texto, entre a representação literária e os acontecimentos históricos evocados. Como amparo teórico-crítico acionamos, sobretudo: Antonio Candido (1989), Fábio Lucas (1985) e Benjamim (1987). Ao final da narrativa insólita, lida agora na abertura do século XXI, essa investigação perscruta a saudade e o ainda latente anseio por liberdade. Referências: CANDIDO, Antonio. Educação pela noite e outros ensaios. São Paulo: Ática, 1989. LUCAS, Fabio. O caráter social da literatura brasileira. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1970. BENJAMIM, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense, 1987. PODER, HISTÓRIA E MEMÓRIA EM O OUTONO DO PATRIARCA, DE GARCÍA MÁRQUEZ Michelle Márcia Cobra Torre Resumo: As memórias coletivas das nações são constituídas por meio de um leque de formas, de práticas culturais e de narrativas - permeadas por diversos discursos - das quais a literatura faz parte. Nas relações entre história, literatura e memória na América Latina, um personagem ganhou destaque, o ditador. Caudilhos, coronéis, supremos, ditadores e patriarcas são personagens presentes na literatura e na história latino-americanas. A questão do poder e do autoritarismo perpetrado por tiranos perpassa a cultura e as narrativas tanto históricas quanto ficcionais. A comunicação propõe discutir as relações entre poder, história e memória no romance O outono do patriarca, do escritor colombiano Gabriel García Márquez, publicado em 1975. Parte-se de uma discussão baseada em textos teóricos sobre memória e história, de pensadores como Paul Ricoeur, Michael Pollak, Hugo Achugar e Jacques Le Goff. A apresentação terá como foco como o patriarca, personagem do romance, forja uma memória oficial para o país que domina, e como, com a morte desse ditador, outros relatos, que foram marginalizados e silenciados pela história oficial do governo, mas que resistiram, surgem na cena pública construindo outras histórias da pátria. Ressalte-se que a comunicação aborda as relações da história com a literatura, no que se refere à ditadura e ao personagem patriarca do romance, bem como aborda as disputas pela memória e o desnudamento da narrativa histórica oficial, usada para justificar o poder absoluto do patriarca e a violência perpetrada por ele. A comunicação também propõe um diálogo com outras obras ficcionais latino-americanas, que trazem ditadores como protagonistas, como as obras de Roa Bastos (Yo el Supremo) e de Alejo Carpentier (El recurso del método). Referências: ACHUGAR, Hugo. Planetas sem boca: escritos efêmeros sobre arte, cultura e literatura.Tradução de Lyslei Nascimento. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2006. CARPENTIER, Alejo. El recurso del método. Madrid: Alianza Editorial, 2014. CASTELLANOS, J. & MARTINEZ, M. O ditador latino-americano, personagem literário. Oitenta, Porto Alegre, n.6, p.147-176, 1982. GARCÍA MÁRQUEZ, Gabriel. O outono do patriarca. Tradução de Remy Gorga, Filho. 13. ed. Rio de Janeiro: Record, 1993. LE GOFF, Jacques. História e memória. Tradução de Bernardo Leitão [et al.]. 7 ed. Campinas: Editora da Unicamp, 2013. NAVARRO, Márcia Hoppe. Romance de um ditador: poder e história na América Latina. São Paulo: Ícone, 1989. POLLAK, Michael. Memória, esquecimento, silêncio. In: Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 2, nº 3, 1989. RAMA, Ángel. Los dictadores latinoamericanos en la novela. In: RAMA, Ángel. La novela en América Latina: panoramas 1920-1980. Santiago de Chile: Ediciones Universidad Alberto Hurtado, 2008. RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Tradução de Alain François [et al.]. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 2007. ROA BASTOS, Augusto. Yo el Supremo. Madrid: Cátedra, 2010. ROUQUIE, Alain. Dictadores, militares y legitimidad en America Latina. In: Crítica & Utopía. Latinoamericana de Ciencias Sociales, Buenos Aires, n. 5, septiembre de 1981. TAQUARI, Carlos. Tiranos e tiranetes: a ascensão e queda dos ditadores latinoamericanos e sua vocação para o ridículo e o absurdo. 3. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012. TODOROV, Tzvetan. Los abusos de la memoria. Traducción de Miguel Salazar. Barcelona: Paidós, 2015. A DITADURA CIVIL-MILITAR NO ROMANCE CONTEMPORÂNEO BRASILEIRO: UMA ANÁLISE DE A IMPORTÂNCIA DOS TELHADOS, DE VANESSA MOLNAR Rafael Nunes Ferreira Resumo: O presente estudo apresenta uma leitura da obra A importância dos telhados (2020), de Vanessa Molnar, romance em que a escritora aborda, ficcionalmente, a ditadura civil-militar (1964-1985) no Brasil. Na obra, a protagonista chamada Elle — uma educadora aposentada e diagnosticada com câncer —, recebe uma ligação da escola em que trabalhava, informando-lhe sobre o falcecimento de uma amiga. Diante desses inesperados acontecimentos, ela decide escrever um relato sobre suas memórias, a partir do qual o leitor é levado a conhecer a experiência terrível que a personagem viveu, juntamente com a amiga falecida, ao ser presa, torturada e violentada sexualmente pelos agentes do regime militar. Enquanto narrativa contemporânea, A importância dos telhados junta-se a uma série de outras obras que, a partir dos anos 2000, busca tematizar o período ditatorial brasileiro, de forma a ressaltar a importância do debate, tanto em âmbito acadêmico quanto nas demais esferas da sociedade, sobre esse evento histórico que marcou a segunda metade do século passado do Brasil. A fim de embasar as reflexões aqui propostas, esse trabalho recorre a textos de estudiosos como Walter Benjamin, Márcio Seligmann-Silva, Jaime Ginzburg, Hugo Achugar, Janaína de Almeida Teles, Eurídice Figueiredo, João Camillo Penna, Valéria de Marco, dentre outros. Referências: ACHUGAR, Hugo. Historias paralelas/ejemplares: la historia y la voz del otro. Revista de Critica Literaria Latinoamericana, Lima, Año XVIII, n. 36, pp. 51-73, 2º semestre 1992. BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. Tradução de Sérgio Paulo Rouanet. 8ª Ed. Revista. São Paulo: Brasiliense, 2012. FIGUEIREDO, Eurídice. A literatura como arquivo da ditadura brasileira. Rio de Janeiro: 7Letras, 2017. FIGUEIREDO, Lucas. Lugar nenhum: militares e civis na ocultação dos documentos da ditadura. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. GINZBURG, Jaime. Crítica em tempos de violência. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, Fapesp, 2012a. GINZBURG, Jaime. Literatura, violência e melancolia. Campinas, SP: Autores Associados, 2012b. MARCO, Valéria de. A literatura de testemunho e a violência de estado. Lua Nova, n. 62, 2004. PENNA, João Camillo. Escritos da sobrevivência. Rio de Janeiro: 7Letras, 2013a. PENNA, João Camillo. Este corpo, esta dor, esta fome: sobre o testemunho hispano-americano. In: SELIGMANN-SILVA, Márcio (Org.). História, memória, literatura: o testemunho na era das catástrofes. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2013b. SELIGMANN-SILVA, Márcio (Org.). História, memória, literatura: o testemunho na era das catástrofes. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2013. SELIGMANN-SILVA, Márcio. Anistia e (in)justiça no Brasil: o dever de justiça e a impunidade. In: SANTOS, Cecília MacDowell; TELES, Edson; TELES, Janaína de Almeida (Orgs.). Desarquivando a ditadura: memória e justiça no Brasil. São Paulo: Aderaldo & Rothschild Editores, 2009. SELIGMANN-SILVA, Márcio. Literatura e trauma. Pró-posições, v. 13, n. 3 (39), p. 135-153, set./dez. 2002. SELIGMANN-SILVA, Márcio. Narrar o trauma — a questão dos testemunhos de catástrofes históricas. Psicologia Clínica, Rio de Janeiro, v. 20, n. 1, p. 65-82, 2008. SELIGMANN-SILVA, Márcio. Narrativas contra o silêncio: cinema e ditadura no Brasil. In: SELIGMANN-SILVA, Márcio; GINZBURG, Jaime; HARDMAN, Francisco Foot (Orgs.). Escritas da violência: representações da violência na história e na cultura contemporâneas da América Latina. Vol. II. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2012. TELES, Edson; SAFATLE, Vladimir (Orgs.). O que resta da ditadura: a exceção brasileira. São Paulo: Boitempo, 2010. IMAGINÁRIO UTÓPICO E POLÍTICO EM TORTO ARADO Rejane Pivetta de Oliveira Resumo: A narrativa de Torto arado (2019), de Itamar Vieira Jr., desenha paisagens e acontecimentos que fundem experiências do presente e do passado, ao mesmo tempo que mobiliza potências utópicas para novos traçados do mundo. O destino de diversas famílias de trabalhadores rurais de uma fazenda no sertão baiano repete o destino de escravidão das populações afrodiaspóricas trazidas para o continente americano pelo tráfico negreiro. As condições de exploração dão origem à formação de uma comunidade quilombola resistente, que afirma sua sobrevivência por meio da recuperação de rastros e resíduos de sua memória ancestral, aliada à organização política, na luta por direitos e emancipação dos trabalhadores. Nossa leitura explora a hipótese de que a trama do romance é tecida a partir da confluência de temporalidades e imaginários culturais, sintetizados na imagem da entidade Santa Rita Pescadeira. A personagem viaja no tempo e no espaço, trazendo à luz a violência da história colonial, ao mesmo tempo que incorpora, em seu movimento, a cosmovisão antropófaga dos povos ameríndios (VIVEIROS DE CASTRO, 2002) e os rituais jarê da mitologia africana (PRANDI, 2000), de modo a prefigurar novos horizontes e possibilidades de vida futura. A discussão parte de uma crítica à historiografia (BENJAMIN, 2005) e às heranças do colonialismo (KILOMBA, 2019; NASCIMENTO, 2016), priorizando, na análise do romance, aspectos que articulam a memória dos traumas da colonização a traços de cosmologias ameríndias e africanas, que se abrem a realidades simbólicas em devir (GLISSANT, 2021). Nesses termos, postulamos que a reflexão sobre o imaginário utópico no romance de Itamar Vieira Jr. passa pela necessária restituição ética da memória e das experiências culturais suplantadas pela história do colonizador. Referências: ALENCASTRO, Luís Felipe de. O trato dos viventes: formação do Brasil no Atlântico Sul. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito de história. Trad. de Jeanne Marie Gagnebin e Marcos L. Müller. In: LÖWY, Michel. Walter Benjamin: aviso de incêndio. São Paulo: Boitempo, 2005. GLISSANT, Édouard. Poética da relação. Tradução de Marcela Vieira e Eduardo Jorge de Oliveira. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2021. KILOMBA, Gradha. Memórias da plantação. Tradução de Jess Oliveira. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019. NASCIMENTO, Abdias. O genocídio do negro brasileiro: processo de um racismo mascarado. São Paulo: Perspectiva, 2016. PRANDI, Reginaldo. Mitologia dos Orixás. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. VIEIRA JR., Itamar. Torto arado. São Paulo: Todavia, 2019. VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Perspectivismo e multinaturalismo na América indígena. In: A inconstância da alma selvagem. São Paulo: Cosac & Naify, 2002. O SAGRADO ATRAVÉS DA ORALIDADE REPRESENTADA PELA FIGURA DO CONTADOR DE HISTÓRIAS NA OBRA POÉTICA "MUIMBU", DE ANDRÉ CAPILÉ Renata Borges de Azevedo Resumo: O objetivo deste trabalho é apresentar uma comunicação partindo da leitura da obra poética Muimbu (2018), de André Capilé, no qual a questão central é perceber como o narrador aparece em seus poemas a partir da figura do contador de histórias, através de uma oralidade atravessada por uma escrita que vem do próprio lugar da experiência do autor cujo sagrado é representado pela ancestralidade. Este narrador pode ser visto desde a dedicatória apresentada por Capilé em seu livro, quando o poeta dedica aos que vieram antes dele essa escrita. É como se o narrador, ali, pudesse ser representado pela figura do autor que faz da oralidade, e da transmissão de suas histórias, uma espécie de escrita em movimento. Ou seja, a poesia apenas existe se houver quem a narra mesmo que o gênero literário não se encontre em uma instância narrativa. O livro é dividido em cinco capítulos | pequenos instantes poéticos, desenvolvidos por Capilé em uma linguagem própria, ainda a ser pesquisada futuramente em sua origem. Mas aqui, não é o caso de se apropriar dos recursos linguísticos dominados pelo autor, e sim, pensar sobre como o narrador na figura do contador de histórias pode ser visto em cada passagem literária, e como o sagrado, aparece nesta oralidade traduzida de forma poética pelo autor. Referências: CAPILÉ, André. Muimbu. Editora Macondo: Rio de Janeiro, 2018. REALISMO MÁGICO COMO CRÍTICA VELADA À DITADURA MILITAR: UM ESTUDO SOBRE A PRODUÇÃO ACADÊMICA BRASILEIRA Rhuan Felipe Scomação da Silva Resumo: Durante a ditadura militar brasileira, o realismo mágico ganhou força e se tornou um dos gêneros literários que mais discutiram a relação de poder em que o cidadão brasileiro convivia durante os anos de chumbo. Escritores como Murilo Rubião, Jose J. Veiga, Moacyr Scliar, Lygia Fagundes Telles e Erico Veríssimo ganharam espaço ao discutirem, mesmo que de forma velada, os horrores do regime militar, desvelando uma narrativa quase parajornalística dos acontecimentos terríveis perpetrados pelos governos militares, centralmente o famoso AI-5. Com suas narrativas, conhecemos um pouco da violência militar do período, assim como somos capazes, dada a distância temporal, de perceber nuanças dessas violências na contemporaneidade. Este trabalho se embasa em uma pesquisa acerca das dissertações e teses produzidas no Brasil, segundo a biblioteca digital brasileira de teses e dissertações, que utilizam os termos: Literatura Fantástica; Insólito; Realismo mágico, e Realismo maravilhoso e que também possuem o termo Ditadura, seja em seu título ou em seu resumo. A proposta central é discutir uma interpretação do realismo mágico como uma crítica velada à forma de governo durante a ditadura militar brasileira, percebendo seus exageros, suas práticas de violência gratuita e a herança destrutiva que ela deixou para milhares de famílias e para a história do Brasil como nação. A partir desse levantamento de trabalhos acadêmicos, este trabalho propõe um esforço solidário, apesar de não coordenado ou projetado para tal fim, das dissertações e teses que, de alguma forma, ajudaram a construir um percurso histórico das narrativas que emergiram durante o período militar e lutaram, cobertos pelas páginas de uma narrativa, para que na contemporaneidade entendamos o que foram os horrores da ditadura militar brasileira. Referências: ANTONIETTI-LOPES, Tania Mara. Realismo Mágico: Uma problematização do conceito. Vocábulo: Revista de Letras e Linguagens Midiáticas. Vol.5, 2013. Disponível em: http://www2.baraodemaua.br/comunicacao/publicacoes/vocabulo/pdf/tania_volumeV.pdf AVELLANEDA, Andrés. El discurso de represión cultural (1960-1983). Revista Escribas NºIII Escuela de Letras – Facultad de Filosofia y Humanidades. UNC – 2006. Disponível em: http://www.comisionporlamemoria.org/static/prensa/jovenesymemoria/bibliografia_web/ejes/ cultura_avellaneda.pdf Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD). Disponível em: https://bdtd.ibict.br/vufind/ Acesso em: Mai. 2022 CAMARANI, Ana Luiza Silva. A literatura fantástica: caminhos teóricos. São Paulo, SP: Cultura Acadêmica, 2014. CESERANI, Remo. O Fantástico. Trad. Nilton Cezar Tridapalli. Curitiba, Ed.UFPR, 2006. CHIAMPI, Irlemar. O realismo maravilhoso: forma e ideologia no romance hispanoamericano. São Paulo: Perspectiva, 2015. COGGIOLA, Osvaldo. Governos Militares na América Latina. São Paulo: Contexto, 2001. FURTADO, Filipe. A construção do fantástico na narrativa. Lisboa: Livros Horizonte, 1980. MAIA, Gretha Leite. Lighting up: magical realism and resistence to dictatorships in latin américa. Anamorphosis – Revista de direito e literatura. V.2, n.2, jul-dez, 2016. PERLATTO, Fernando. História, literatura e a ditadura brasileira: Historiografia e ficções no contexto do cinquentenário do golpe de 1964. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol.30, nº62, p.721-740, set-dez, 2017. REZENDE, Irene Severina. O fantástico no contexto sociocultural do século XX: José J. Veiga (Brasil) e Mia Couto (Moçambique). Tese de Doutorado, Universidade de São Paulo. Doutorado em Letras. Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa, São Paulo, 2008. ROAS, David. A ameaça do fantástico: aproximações teóricas. Trad. Julián Fus. 1ed. São Paulo: Editora Unesp, 2014. RODRIGUES, Selma Calasans. Macondamérica. A paródia em Gabriel Garcia Marques. Rio de Janeiro, Leviatã, 1993. ROAS, David. A ameaça do fantástico: aproximações teóricas. Trad. Julián Fuks. São Paulo: Editora Unesp, 2014. TODOROV, Tzvetan. IntroduçDE TESES E DISSERTAÇÕESão à literatura fantástica. Trad. Maria Clara Correa Castello. São Paulo: Perspectiva, 2014. VENTURA, Zuenir. 1968 – o ano que não terminou. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988. VIDAL, Paloma. Literatura e ditadura: alguns recortes. Ensaio da revista escrita de letras. Fascículo nº5, 2003. Disponível em: https://www.maxwell.vrac.pucrio.br/3551/3551.PDF VOLOBUEF, Karin. Uma leitura do fantástico: A invenção de Morel (A.B. Casares) e O Processo (F. Kafka). Revista Letras, Curitiba, n.53, p. 109-123. Jan./Jun. 2000. DUALIDADE SACRIFICIAL: ABANDONO SOCIAL E VIOLÊNCIA EM MARCELINO FREIRE Rubens Fernandes Corgozinho Júnior Resumo: A presente comunicação pretende abordar a dualidade existente na contística de Marcelino Freire, prestigiado autor da literatura brasileira contemporânea, que compõe grande parte de suas narrativas. Partindo da análise do abandono social manifestado em Freire junto à questão da violência, a dupla em questão, há a análise de tais aspectos nos contos extraídos de suas primeiras publicações, Angu de Sangue (2000) e Contos Negreiros (2005). Ambos os elementos manifestam-se repetidamente nos volumes de modo quase sempre simultâneo, como se formassem um par indissociável. A discussão que se pretende se concentra em duas narrativas, “Troca de alianças” e “Nação Zumbi”, nas quais o modo como a violência é colocada, enquanto resposta ao desamparo governamental, pode ser lido a partir da ideia de um sacrifício voluntário, reflexão construída a partir do pensamento de René Girard. É relevante tomar especificamente tais produções porque nelas a violência se apresenta produzida pelos próprios protagonistas e é a eles mesmos dirigida, o que elucida a noção de sacrifício. Essa relação dupla será avaliada por um ponto de vista complementar, o abandono e a violência constroem um diálogo que modifica ambos os aspectos e caracteriza esteticamente a construção dos contos. Constantes na obra a ser debatida, personagens sem perspectivas de melhoras e submetidos às mais diversas práticas marcam fortemente um vazio político. Esses sujeitos ganham voz e se manifestam nos contos, marcando a realidade marginal de violência vivenciada. A reflexão do cientista político José Murilo de Carvalho auxilia na compreensão do âmbito social em que esses sujeitos se inserem e que condiciona as narrativas. Nesse contexto podem ser visualizados os modos de resistência praticados pelas personagens dos contos, recorrendo à agressividade que termina por se tornar parte de suas manifestações discursivas e ao mesmo tempo mecanismo dirigido contra os próprios indivíduos, o que deve ser analisado. Referências: BARBOSA, Sidney; PEREIRA, Marcio Roberto.. Angu de Sangue: Mensagens e Imagens sobre o Desamparo Social. In: Anais do 17o. Congresso de Leitura do Brasil-COLE, p. 1-5, 2009. CANDIDO, Antonio. Crítica e sociologia. In: Literatura e sociedade. 13. ed. Rio de Janeiro: Ouro Sobre Azul, p. 13–25, 2014. CARVALHO, José Murilo de. Brasileiro: cidadão? In: Revista do legislativo, Belo Horizonte: Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais, n. 23, p. 32-39, jul./set. 1998. CURY, Maria Zilda Ferreira. Novas geografias narrativas. In: Letras de Hoje. Porto Alegre, v. 42, n. 4, p. 7-17, dez. 2007. CURY, Maria Zilda Ferreira; ALIS, Gleidston. Marcelino Freire: ação política pela palavra. In: Veredas: Revista da Associação Internacional de Lusitanistas, n. 25, p. 120–148, jan. /jun. 2016. FREIRE, Marcelino. “Troca de alianças”. In: Angu de Sangue. 2. ed. São Paulo: Ateliê Editorial, p. 63-65, 2005. FREIRE, Marcelino. “Nação Zumbi”. In: Contos negreiros. 8. ed. Rio de Janeiro: Record, p. 53-55, 2005. GIRARD, René. A violência e o sagrado; tradução de Martha Conceição Gambini. São Paulo: Paz e terra; UNESP, 1990. OLIVEIRA, Acauam Silvério de. O evangelho marginal dos Racionais MC’s. In: Sobrevivendo no Inferno. São Paulo: Companhia das Letras, p. 19-37, 2018. PIGLIA, Ricardo. Teses sobre o conto. In: Formas Breves; tradução José Marcos Mariani de Macedo. São Paulo: Companhia das Letras, p. 87-94, 2004. WILDE, Oscar. A alma do homem sob o socialismo. Porto Alegre: L&PM editores, 1983. O COTIDIANO DITATORIAL NO INTERIOR DO RIO GRANDE DO SUL NO ROMANCE ENGOLE ESSE CHORO, DE LAURA PEIXOTO Sofia Reck dos Santos Resumo: O presente trabalho consiste em uma leitura do romance “Engole esse choro” (2020), da autora Laura Peixoto. Especificamente, busco analisar de que maneira o período da ditadura civil-militar brasileira (1964-1985) se apresenta no livro. A particularidade da interpretação proposta se dá pelo fato de a obra ser ambientada em Lacônia do Sul, uma pequena cidade fictícia do Vale do Taquari, localizado na região central do Rio Grande do Sul. Trata-se, portanto, de uma região interiorana do estado. A personagem Eleonora, que ocupa posição central na narrativa, vivencia o período dos anos chumbo durante sua infância e pré-adolescência. Nesse sentido, o leitor acessa o cotidiano de Lacônia do Sul durante a ditadura por meio das impressões da menina, marcadas pela transição entre a inocência de não compreender os episódios de repressão e autoritarismo que acontecem na cidade, e o início da desconfiança e dos questionamentos em relação a esses mesmos eventos. A hipótese aqui levantada é a de que a cidade retratada no romance é representativa da experiência de viver sob um contexto opressor cuja violência aparece refratada por meio de episódios eventuais que são entendidos pela maioria da população como elementos que operam meramente como obstáculos ao decorrer pacato cotidiano da região. Parece haver, portanto, uma dupla mediação na matéria narrada ao leitor: a descrição da atmosfera de uma cidade interiorana e distante dos grandes centros econômicos e políticos do Brasil durante o período ditatorial, e o olhar da criança inquisidora que procura entender o que se passa em um lugar cuja população reluta em discutir abertamente qualquer elemento perturbador da ordem local. Referências: BRUM, L. H. Antes do Passado: o silêncio que vem do Araguaia. Porto Alegre: Arquipélago Editorial, 2012. FIGUEIREDO, E. A literatura como arquivo da ditadura militar brasileira. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2017. PEIXOTO, L. Engole esse choro. Lajeado: Libélula Editorial, 2020. SELIGMAN-SILVA, M. História, memória, literatura: o testemunho na era das catástrofes. Campinas: Editora da Unicamp, 2003. AS DIFICULDADES DE NARRAR O TRAUMA EM "O CORPO INTERMINÁVEL" (2019), DE CLÁUDIA LAGE Thaís Alves de Sousa, Eduarda Cristina Lima Resumo: Para Giorgio Agamben (2009), a intempestividade é uma característica fundamental da contemporaneidade, já que há uma relação do eu com o tempo, presente ou passado, uma vez que para o crítico é preciso ser contemporâneo “não apenas do nosso século e do “agora”, mas também das suas figuras nos textos e nos documentos do passado” (AGAMBEN, 2009, p. 73). Assim, é valido dizer que o romance contemporâneo tem se estruturado, muitas vezes, a partir da (re)elaboração do passado. Diante disso, o tema central desta comunicação parte da dificuldade que há em (re)contar a memória traumática, neste caso, especialmente, da ditadura no Brasil, no romance “O corpo interminável” (2019), de Cláudia Lage. Assim, o objetivo é discutir a fragmentação da narrativa, bem como das vozes narrativas como reflexo da impossibilidade de elaborar o sofrimento, especialmente, nos capítulos em que a narração é feita pela mãe de Daniel, narrador principal do livro, cuja mãe foi vítima de tortura e desaparecimento durante o período ditatorial no Brasil. Logo, o corpus será o romance de Lage, o qual será analisado, sobretudo, a partir das ideias de Gagnebin (2009) e Seligmann Silva (2002), no que diz respeito ao esforço que há no livro para “tentar dizer o indizível”, o que resulta em uma narração cheia de lacunas, com repetição de fatos de forma caótica e desordenada, principalmente quando a voz narrativa é da mulher grávida e torturada, que é justamente o que se pretende analisar: a narrativa desordenada como representação do trauma vivido, o que é utilizado pela autora da obra literária como artimanha para revelar os rastros da dor. Referências: LAGE, Claudia. O corpo interminável. São Paulo: Editora Record, 2019. GAGNEBIN, Jeanne Marie. Lembrar escrever esquecer. 2 ed. São Paulo: Editora 34, 2009. SELIGMAN-SILVA, Márcio. Literatura e Trauma. Pró-Posições., v. 13, 2002. P. 135 – 153. Disponível em: < https://www.fe.unicamp.br/pf-fe/publicacao/2165/39-dossie-silvams.pdf > ACESSADO EM: julho 2021. VIDA, MEMÓRIA E FICÇÃO EM O INVENTÁRIO DAS COISAS AUSENTES, DE CAROLA SAAVEDRA Vitória Ravazio Pais Resumo: O objeto central desta comunicação é o romance de Carola Saavedra, O Inventário das Coisas Ausentes (2014). O livro é dividido em duas partes, “Caderno de anotações” e “Ficção”, essa primeira entrecortada por pequenos trechos de “Histórias paralelas”. Saavedra desenvolve no romance uma estrutura narrativa complexa, onde se entrelaçam diferentes tempos e histórias, unindo vida e ficção de forma intrincada e indissolúvel. Ao fim, cabe ao leitor a tarefa de reorganizar os diferentes componentes da obra para encontrar seu sentido, que em última instância permanece em aberto. Uma das “histórias paralelas” é a de Jaime, sequestrado pelos militares em 1973, que ao retornar trouxe consigo um ódio que envolvia tudo a sua volta. Já na segunda parte do livro, o narrador apresenta-nos um pai extremamente rígido, ex-guerrilheiro que passou 1 ano preso durante a ditadura e, à beira da morte, após 23 anos sem contato com o filho, decide entregar-lhe seus diários daquele período. O que essas histórias cruzadas parecem sugerir é que depois do horror da tortura não se pode mais ser o mesmo, é necessário reinventar-se. Partindo dessa chave de leitura e em diálogo com textos como Tempo passado, de Beatriz Sarlo, Recordar, repetir e elaborar, de Freud, Lembrar escrever esquecer, de Jeanne Marie Gagnebin, Relatar a si mesmo, de Judith Butler, É isto um homem?, de Primo Levi e Breves entrevistas com homens hediondos, de David Foster Wallace, discorrerei sobre o papel da memória e do relato, mas também da ficção (já que toda a memória e todo o relato são necessariamente lacunares), como processos fundamentais à recriação de sentidos individuais e coletivos após a vivência de eventos traumáticos. Pois, como posto por Gagnebin (2006), somente uma retomada reflexiva do passado pode nos ajudar a não repeti-lo, a escrever uma outra história e inventar o presente. Referências: BUTLER, Judith. Relatar a si mesmo: crítica da violência ética. Belo Horizonte : Autêntica Editora, 2015. FREUD, Sigmund. Recordar, repetir e elaborar (Novas recomendações sobre a técnica da Psicanálise II). In: FREUD, S. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 12, pp. 191-203). Rio de Janeiro: Imago, 1980. GAGNEBIN, Jeanne Marie. Lembrar escrever esquecer . São Paulo: Ed. 34, 2006. LEVI, Primo. É isto um homem? Rio de Janeiro: Rocco, 1988. SAAVEDRA, Carola. O inventário das coisas ausentes. São Paulo: Companhia das Letras, 2014. SARLO, Beatriz. Tempo passado: cultura da memória e guinada subjetiva. São Paulo: Companhia das Letras; Belo Horizonte: UFMG, 2007 WALLACE, David Foster. Breves entrevistas com homens hediondos. São Paulo: Cia. das Letras, 2005. MEMÓRIA DA DITADURA MILITAR BRASILEIRA NA OBRA NÃO FICCIONAL E NA LITERATURA DE BERNARDO KUCINSKI Weverson Dadalto Resumo: O primeiro livro de denúncia internacional da tortura perpetrada pela ditadura militar brasileira, intitulado Pau de arara, foi escrito em 1971 por Bernardo Kucinski e Ítalo Tronca (2013). Posteriormente, Kucinski publicou diversos títulos, tratando especialmente de ditadura, jornalismo, política e economia, dentre os quais se destacam A ditadura da dívida (1987), Jornalistas e revolucionários (1991), Jornalismo econômico (1996) e O fim da ditadura militar (2001). Essas obras não ficcionais, relacionadas à militância política ou à pesquisa acadêmica do autor, oferecem pertinente suporte teórico-crítico e historiográfico para a análise de sua ficção posterior. Elas também atestam certa continuidade entre os estudos de Kucinski e sua conseguinte escrita literária: a visão do conjunto das obras demostra uma retomada de problemas similares ou complementares, mesmo com linguagem e abordagem diferentes. As representações da violência e do autoritarismo perpassam também toda a ficção do autor, embora com importantes variações formais e temáticas. A análise das obras literárias mais conhecidas pode ser enriquecida e ampliada pela consideração dos textos ficcionais menos lidos ou até ignorados por parte dos críticos: por exemplo, Mataram o presidente (2010), Alice (2014a) e Imigrantes e mascates (2016) oferecem chaves importantes para a leitura de K. (2011), Você vai voltar pra mim (2014b) e A nova ordem (2019). Nesse sentido, esta comunicação pretende explicar e sustentar as afirmações acima. Considerando-se proposições teóricas de Adorno (2020), Ricoeur (2007) e Gagnebin (2009), pode-se afirmar que obras como as de Kucinski são imprescindíveis por promoverem a memória do passado violento e autoritário, que não pode ser relegado ao esquecimento. Assim, essas obras colaboram no debate sobre a conjuntura sociopolítica e cultural do Brasil contemporâneo, denunciam a continuidade e a banalização de muitas formas de opressão e alertam para a urgência de ações capazes de impedir que regimes políticos autoritários voltem a ocorrer no futuro. Referências: ADORNO, Theodor W. O que significa elaborar o passado. 2. ed. In: Educação e emancipação. Trad. Wolfgang Leo Maar. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2020. p. 31-53 GAGNEBIN, Jeanne Marie. Lembrar escrever esquecer. 2. ed. São Paulo: 34, 2009. KUCINSKI, Bernardo. O fim da ditadura militar. São Paulo: Contexto, 2001. ______. Jornalismo econômico. 3. ed. São Paulo: Edusp, 2007. [1. ed. 1996] ______. Mataram o presidente. In: Jornal ABCD Maior. Edições 257, 259, 261, 263, 265, 267, 269, 271 e 273. São Bernardo do Campo, 26/10/2010 a 22/12/2010. ______. K. São Paulo: Expressão Popular, 2011. ______. Alice: não mais que de repente. Rio de Janeiro: Rocco, 2014a. ______. Você vai voltar pra mim e outros contos. São Paulo: Cosac Naify, 2014b. ______. Imigrantes e mascates. Ilustrações de Maria Eugênia. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2016. ______. Jornalistas e revolucionários: nos tempos da imprensa alternativa. 3 ed. São Paulo: Edusp, 2018 [1. ed. 1991]. ______. A nova ordem. São Paulo: Alameda, 2019. ______; BRANFORD, Sue. A ditadura da dívida. São Paulo: Brasiliense, 1987. ______; TRONCA, Ítalo. Pau de arara: a violência militar no Brasil. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2013. RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Tradução de Alain François et al. Campinas: Unicamp, 2007. SIMPÓSIO “NARRATIVAS DE EXCLUSÃO: IMAGINÁRIO E REPRESENTAÇÕES” Denise Dias (IF Goiano/Amazonas), Lícia Soares de Souza (UNEB) POESIA DO CAOS: "A TERRA EM PANDEMIA" DE ALEILTON FONSECA Brigitte Thierion Resumo: O poema A Terra em Pandemia do escritor baiano Aleilton Fonseca, publicado em 2021, ou seja, um ano depois da declaração da pandemia, lança um grito de desespero frente a uma situação inédita e descontrolada que acomete o planeta terra. Esta comunicação propõe analisar a contribuição específica da literatura e em particular da arte poética, como forma de atuar, resistir, conscientizar e questionar os paradigmas do pensamento em tempos de crise, de modo a superar o trauma vivenciado a nível individual e coletivo. A polissemia da linguagem poética, que favorece a introspecção, propicia uma ampla reflexão existencial. Ela não apenas reverbera o caráter total de uma crise mundial, como se verte também sobre a realidade local, para questionar as responsabilidades e as lacunas do estado. Ela testemunha a necessidade de pensar novos modos de estar no mundo para inventar um outro futuro. Apoiando-se numa ampla tradição literária, o poeta dialoga com algumas das grandes vozes da literatura mundial ao mesmo tempo que percorre em imaginação lugares emblemáticos de um mundo em transformação. A mobilidade do imaginário vem suprir a imobilidade forçada e a impotência frente ao desconhecido. Palavras e imagens poéticas, como bálsamos, vêm preencher o silêncio e a solidão, ajudando a enfrentar o medo, a ausência e a morte. Referências: FONSECA, Aleilton. A Terra em Pandemia, [ilustrado por] Silvio Jesse?. Itabuna, BA: Ed. Mondrongo, 2021. A POLÍTICA DA MORTE NA LITERATURA BRASILEIRA Denise Dias Resumo: Este artigo investiga as obras de Jorge Amado, Tereza Batista cansada de guerra, 1972; de Moacyr Scliar, Sonhos Tropicais, 1992; de Pedro Nava, Chão de ferro, 2012; as quais suscitam o testemunho do caos social promovido por epidemias durante o século XX. A partir da leitura dos referidos romances, visualizamos essas doenças como metáforas da exclusão social, isso é observável no conteúdo e pano de fundo que descortinam as mazelas e efeitos sociais causados por elas, especialmente em grupos sociais vulneráveis e menos assistidos pelo poder público. Os escritores lidos fizeram de sua experiência com a literatura um modo de entender o Brasil; por isso, essas obras conduzem o leitor a refletir, de maneira geral, sobre o contexto histórico brasileiro principalmente pelo viés histórico-cultural e sanitário. Assim, nosso objetivo foi investigar de que forma os autores estabelecem, nas obras do corpus, uma discussão em torno da dimensão limítrofe entre vida e morte, explicitando a necropolítica, termo cunhado por Aquille Mbembe, o qual afere que o Estado tem o poder de decidir quem morre e quem vive, a depender de como as políticas públicas vigoram no meio social. O método utilizado, durante a investigação, toma por base os textos teóricos dos filósofos Michel Foucault, Giorgio Agamben e Aquille Mbembe. Os resultados demonstram, via literatura, que o Estado utiliza-se de estratégias de políticas excludentes, fatos demonstrados nas obras em questão, cujo retrato apresenta um país historicamente marcado pelo caos social. Referências: AGAMBEN, Giorgio. Estado de Exceção. São Paulo: Boitempo, 2004. AMADO, Jorge. Tereza Batista cansada de guerra. São Paulo: Livraria Martins Editora: 1972. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, 1988. FOUCAULT, M. O sujeito e o poder. In: DREYFUS, H.; RABINOW, P. (org.). Michel Foucault, uma trajetória filosófica: Para além do estruturalismo e da hermenêutica. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1995. SANTOS, Boaventura de Sousa. A cruel pedagogia do vírus. Coimbra: Edições Almedina, 2020. SCLIAR, Moacyr. Sonhos Tropicais. São Paulo: Companhia das letras, 1992. SANTOS, Boaventura de Sousa. A cruel pedagogia do vírus. Coimbra: Edições Almedina, 2020. MBEMBE, Achille. Necropolítica. 3 ed. São Paulo: n-1 edições, 2018. ENTRE O ETNOCÍDIO E O GLOTOCÍDIO: AS FACETAS DA RESISTÊNCIA Elizabete Costa Suzart Resumo: Resumo: este trabalho pretende apresentar as facetas da resistência do povo indígena pela vida; vem aludir o modo de ser e viver que a população originária do território brasileiro afirma ao longo de séculos. O despejo linguístico, em detrimento ao colonialismo europeu, impôs não apenas o monolinguismo, como também e, principalmente, promoveu a supressão da episteme nativa. É com essa ideia que o movimento indígena vem mantendo na sua história de lutas o ativismo para manter viva a sua cosmologia e os aspectos do universo que permeia a pictoricidade de um mundo indestrutível. Por miríade de ideias, do pensamento ameríndio, povos indígenas encontram estratégias para adiar o fim do mundo (Ailton Krenak, 2019) e afirmar a vida. Neste contexto, somos convocados à crítica do processo histórico e sociocultural que despiu a vida e nela constituiu o indivíduo banido de direitos humanos, de sua língua nativa e, “como causa maior o desaparecimento dos povos que as falavam, em consequência das campanhas de extermínio ou de caça a escravos, movidas pelos europeus e por seus descendentes e prepostos, ou em virtude das epidemias de doenças contagiosas do Velho Mundo [...]” (Rodrigues [1986], 2002). Neste sentido, mobilizamos o estudo baseado nas obras de Agamben ([1942] 2008), Calvet (2011), Dantas (2022), Foulcault (2008) Krenak (2019), Pelbart (2011) Saussure (2006), Viveiros de Castro (1996; 2002), dentre outros. Referências: AGAMBEN, Giorgio [1942]. O que resta de Ausschiwitz: o arquivo e a testemunha (Homo Sacer III) / Giorgio Agamben; tradução Selvino J. Assmann, - São Paulo: Boitempo, 2008. ALMEIDA, Rita Heloisa de. O Diretório dos Índios: Um projeto de “civilização” no Brasil do século XVIII. Brasília, UnB, 1997. ANTUNES, Clóvis. Índios de Alagoas: documentário. Maceió: EDUFAL, 1984. CALVET, Louis-Jean. Tradição oral e tradição escrita. São Paulo: Parábola Editorial, 2011. DANTAS, Jordel F. S. A História da Língua e a Relação com o Direito Linguístico. Jus Navigandi (Online), 2022. https://jus.com.br/artigos/97418/a-historia-da-lingua-e-a-relacao-com-o-direitolinguistico . Acesso em: 25 abr. 2022. FOUCAULT, Michel. Nascimento da Biopolítica – curso dado no Collège de France (1978-1979). Tradução Eduardo Brandão; revisão da tradução Cláudia Berliner. Martins Fontes: São Paulo, 2008. GERLIC, Sebastián (Org.). Somos Patrimônio Índios na visão dos índios. Salvador: Thydêwá, 1ª edição, 2011. 64p. ______________________. Memória: Índios na visão dos índios. Ed. ONG Thydêwá. 17ª Coleção, 2012. JORON, P. Georges Bataille e a comunicação soberana. – Dossiê IX - Seminário Internacional da Comunicação. Revista FAMECOS. Porto Alegre, nº 35, abril 2008. KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. PELBART, Pál Peter. Vida capital: ensaios de biopolítica. Iluminas RODRIGUES, Aryon Dall’Igna [1986]. Línguas Brasileiras: para o conhecimento das línguas indígenas. 4a. edição. Edições Loyola. 2002. SUZART, Elizabete C. Kariri-Xocó: Arquivos e Práticas por uma cultura bilíngue. Dissertação para obtenção ao título de mestre pelo Programa de PósGraduação em Crítica Cultural. Universidade do Estado da Bahia – UNEB (Campus II-AlagoinhasBA). 2020. 200 p. VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Os pronomes cosmológicos e o perspectivismo ameríndio. MANA2(2),1996. p. 115-147 _____________________________. Perspectivismo e multinaturalismo na América indígena. In: A inconstância da alma selvagem: e outros ensaios de antropologia. São Paulo: Cosac & Naify, 2002. p.347-398. AS DORES E A MORTE EM UMA INFÂNCIA PRECÁRIA: UMA LEITURA DO CONTO "DI LIXÃO", DE CONCEIÇÃO EVARISTO Gabriel Vidinha Corrêa Resumo: Conceição Evaristo é notadamente uma escritora e intelectual negra com bastante destaque no âmbito da literatura brasileira contemporânea, sua ficção vinculada à estética da escrevivência traz à baila as inúmeras fraturas que assolam a sociedade brasileira entrelaçadas aos marcadores sociais da diferença, quais sejam, gênero, raça, classe, identidade. Ademais, de sua obra também ecoam matizes que remontam a memória e a ancestralidade demarcando o lugar da escrita negra no território nacional. Desse modo, nosso objetivo é analisar o conto “Di Lixão”, presente em Olhos d’água (2015) sob o viés dos estudos do biopoder e necropolítica, tecendo ainda, um diálogo profícuo com os pressupostos de uma infância contra-hegemônica. Isso porque o conto “Di Lixão” narra a desdita que foi a curta vida do personagem Di Lixão: uma criança, moradora de rua, sem nome civil, e que padece das mazelas de quem vive à margem, seu destino-morte é algo inevitável frente as tensões vividas na narrativa. Para tanto, as ideias desenvolvidas por Mbembe (2018) e Foucault (2010; 2008) sobre necropolítica e biopoder, respectivamente, ganham destaque em nossa análise, além de trazer uma leitura do qual desromantiza a infância como o ocidente conhece, tudo isso percebido por meios dos espaços sociais figurados no conto que demarcam polaridades operando sobre o princípio de quem pode viver e quem deve morrer. Referências: CHOMBART DE LAUWE, Marie José. Um outro mundo: a infância. São Paulo: Perspectiva/Editora da Universidade de São Paulo, 1991. COUTINHO, Fernanda. Imagens da infância em Graciliano Ramos e Antoine de Saint-Exupéry. Fortaleza: Banco do Nordeste do Brasil, 2012. FOUCAULT, Michael. História da sexualidade: A vontade de saber (Vol. 1). São Paulo: Edições Graal. (Originalmente publicado em 1976), 2010. FOUCAULT, Michael. O nascimento da biopolítica. São Paulo: Martins Fontes, 2008. GIDDENS, Anthony. Mundo em descontrole: o que a globalização está fazendo de nós. Trad. Maria Luiza Borges. Rio de Janeiro: Record, 2007. MBEMBE, Achille. Necropolítica. 3 ed. São Paulo: n-1 edições, 2018. MORAES, Claudia Letícia Gonçalves; SOUZA, Fernanda Ferreira. Desigualdade social e violência na literatura negra brasileira: uma análise da infância perdida em contos de Conceição Evaristo. Revista Kwanissa, São Luís, n. 3, p. 99-114, jan/jun, 2019. TUAN, Yi-Fu. Espaço e Lugar: a perspectiva da experiência. Trad. Lívia Oliveira. Londrina: Eduel, 2013. PANDEMIAS, DESASTRES, MONSTROS E ZUMBIS: NARRATIVAS APOCALÍPTICAS NO CINEMA CONTEMPORÂNEO Hudson Moura Resumo: Filmes que colocam em cena grandes catástrofes naturais, o fim do mundo e pandemias mundiais são muito populares em Hollywood. Alguns autores afirmam que o 11 de setembro atraiu a proliferação de narrativas apocalípticas no cinema contemporâneo. Diante de uma pandemia sem precedentes que parou o mundo por quase dois anos, o coronavírus aumentará ainda mais esses tipos de narrativas? Um apocalipse cinematográfico assume muitas formas, incluindo infestações de zumbis, devastação do mundo por guerra nuclear, desastres naturais e ataque de alienígenas. Assistir a filmes como Os 12 Macacos (1995), Filhos da Esperança (2006) ou Contágio (2011) durante uma pandemia global se torna uma experiência de visualização muito diferente de quando esses filmes foram lançados. Certos filmes exterminam a população humana com um vírus mortal e os transformam em zumbis ou monstros, enfatizando e avançando os recursos de entretenimento do cinema de gênero, como Eu sou a lenda (2007), Invasão Zumbi (2016) ou Blood Quantum (2020). No entanto, eles também usam gêneros de terror, ficção científica e fantasia para retratar drama familiares realistas e contundentes ou para discutir a questão do racismo estrutural e o colonialismo sistêmico contra os povos indígenas da América. Em todos esses filmes, ambição científica, ganância política e poder econômico se misturam, tornando-se as forças desconhecidas e os verdadeiros detratores por trás dessas catástrofes. Os tropos pós-apocalípticos convencionais criam filmes repletos de preocupações políticas relevantes. Todos os anos, centenas de filmes transpõem para a tela narrativas convincentes relacionadas às pandemias e seus efeitos. Na época do Coronavírus, eu analiso e contextualizo vários desses surtos virais hollywoodianos para situar e atualizar suas narrativas com temas políticos atuais e entender como os filmes de desastres e pandemia se tornaram divertidos. Referências: Bazin, André. “The Western: Or the American Film Par Excellence.” What Is Cinema? Volume II, 2019, pp. 140–148, doi:10.1525/9780520931268-013. Berger, James. “Propagation and Procreation: The Zombie and the Child,” in Race, Gender and Sexuality in Postapocalyptic and Film. Ed. by Barbara Gurr and Brayton Polka. Palgrave Macmillan US, 2015, pp. 149-163. Blood Quantum. (Canada, 2020) Dir. and Wr. Jeff Barnaby. Int. Michael Greyeyes, Elle-Máijá Tailfeathers, Kyowa Gordon, Forrest Goodluck, Kawennáhere Devery Jacobs. Booth, Robert A. “Organisms and Human Bodies as Contagions in the Postapocalyptic State.” In Race, Gender and Sexuality in Postapocalyptic TV and Film. Ed. by Barbara Gurr and Brayton Polka. Palgrave Macmillan US, 2015, pp. 17-30. Children of Men. (UK, 2006) Dir. and Wr. Alfonso Cuarón. Int. Clive Owen, Chiwetel Ejiofor, Julianne Moore, Michael Caine, Clare-Hope Ashitey. Christopher, David. “The Capitalist and Cultural Work of Apocalypse and Dystopia Films.” Canadian Business & Current Affairs Database, 2015, pp. 56-67. Contagion. (USA, 2011) Dir. Steven Soderbergh. Wr. Scott Z. Burns. Int. Jennifer Ehle, Jude Law, Kate Winslet, Laurence Fishburne, Marion Cotillard, John Hawkes. Haas, Elizabeth, et al. Projecting Politics: Political Messages in American Films. Taylor & Francis Group, 2015. Hamill, James F. “Show Me Your CDIB: Blood Quantum and Indian Identity among Indian People of Oklahoma.” American Behavioral Scientist, vol. 47, no. 3, Nov. 2003, pp. 267–282, doi:10.1177/0002764203256187. I Am Legend. (USA, 2007) Dir. Francis Lawrence. Int. Will Smith, Alice Braga, Charlie Tahan, Salli Richardson, Willow Smith. Kellner, Douglas. “Social apocalypse in contemporary Hollywood film.” The Routledge Companion to Cinema and Politics. Edited by Yannis Tzioumakis and Claire Molloy. Routledge, 2016, pp. 269270. Kroon, Fred and Alberto Voltolini. “Fiction,” The Stanford Encyclopedia of Philosophy (Winter 2019 Edition), URL: https://plato.stanford.edu/archives/win2019/entries/fiction/>. Accessed 24 Mar. 2021. Neale, Steve. Genre and Hollywood. Taylor and Francis, 2000. doi:10.4324/9780203980781. 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Accessed on March 10, 2021: https://www.latimes.com/entertainment-arts/movies/story/202005-08/blood-quantum-indigenous-horror-zombie-pandemic-jeff-barnaby. A DISCIPLINA COMO SIMULACRO ESTRATÉGICO PARA A MILITARIZAÇÃO DAS ESCOLAS: NARRATIVAS DE EXCLUSÃO Maria Amélia Silva Nascimento Resumo: Nos últimos anos tem aumentado significativamente a presença dos militares nas escolas brasileiras, a partir do acelerado processo de militarização, cuja principal justificativa é o combate à indisciplina escolar. Esse estudo aborda reflexões a partir das narrativas de exclusão apresentadas por sujeitos que fazem parte dessas escolas militarizadas. Para tanto, foi realizado um mapeamento de artigos científicos e dissertações, que giram em torno do estado da arte, referente ao que vem sendo produzido sobre à temática ensino militar e militarização das escolas nessas primeiras décadas do século XXI. Os estudos de Paulo Freire (1984, 1996, 2005, 2007), Adorno (1995, 2019), Foucault (2014, 2020), Spivak (2010), Moreira (2011, 2020) Vasconcellos (1996) e outros teóricos mobilizaram reflexões importantes, no sentido de percebermos que a utilização do termo disciplina como justificativa para militarizar escolas, é uma ação estratégica utilizada por governantes e seus sectários, que vem gerando subjetividades entre os diversos sujeitos sociais, a ponto, de vários municípios brasileiros militarizarem suas escolas. Tal conjuntura se configura um cenário autoritário, que é típico da lógica neoliberal em que a educação representa um espaço de disputa por grupos hegemônicos que necessitam de sujeitos, subalternizados, disciplinados, enquadrados e acríticos. Para tanto, são articuladas tecnologias de controle como dispositivos no desenvolvimento e manutenção da biopolítica e outros modos de gestar a sociedade contemporânea. Referências: ADORNO, Theodor W. Educação e emancipação. Tradução de Wolfgang Leo Maar. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995. _____. Estudos sobre a personalidade autoritária. Org. Virginia Helena Ferreira da Costa. Trad. Virginia Helena Ferreira da Costa, Francisco López Toledo Corrêa, Carlos Henrique Pissardo. São Paulo: Editora UNESP, 2019. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988. ______. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília/DF: 1996. ______. Decreto nº 9.665, de 2 de janeiro de 2019. Estrutura Regimental e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão e das Funções de Confiança do Ministério da Educação. Disponível em: https://www.conjur.com.br/dl/decreto-9465-janeiro-2019-ensino-militar.pdf. Acesso em: 10 janeiro 2019. _____. Compromisso Nacional pela Educação Básica. 2019. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/images/11.07.2019_PPT-Cafe-da-manha-EB-converted.pdf. Acesso em 12 de julho de 2019. _____. Decreto nº 10.004. Institui o Programa Nacional das Escolas CívicoMilitares. 2019. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato20192022/2019/decreto/D10004.htm. Acesso em 06 de setembro de 2019. _____. Portaria nº 2.015, de 20 de novembro de 2019 – Regulamenta a implantação do Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares – Pecim em 2020, para consolidar o modelo de Escola Cívico-Militar – Ecim nos estados, nos municípios e no Distrito Federal. Disponível em: https://www.in.gov.br/web/dou//portaria-n-2.015-de-20-de-novembro-de-2019. Acesso em 12 de dezembro de 2019. ______. Projeto Político Pedagógico. In: Manual das Escolas Cívico-Militares 2020. Disponível em: http://www.educacao.df.gov.br/wp-conteudo/uploads/2019/11/ECIM_Final.pdf. Acesso em 10 de janeiro 2021. CASTRO, Nicholas Moreira Borges de. “Pedagógico” e “disciplinar”: o militarismo como prática de governo na educação pública do estado de Goiás. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social Instituto de Ciências Sociais) – Universidade de Brasília/UNB, Brasília-DF: 2016. Disponível em: https://repositorio.unb.br/handle/10482/22204. Acesso em 10 de maio de 2019. CRUZ, Leandra Augusta de Carvalho Moura. Militarização das escolas públicas em Goiás: disciplina ou medo? Dissertação (Mestrado em História) – Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Goiânia: 2017. Disponível em: http://tede2.pucgoias.edu.br:8080/handle/tede/3746. Acesso em 10 de maio de 2019. DOURADO, Luiz Fernandes. Plano Nacional de Educação: Avaliações e retomada do protagonismo da sociedade civil organizada na luta pela educação. In: FERREIRA, Naura Syrua Carapeto. (Org) Políticas Públicas e Gestão da Educação: polemicas, fundamentos e análises. Brasília: Liber Livro Editora, 2011. 21-48 FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Trad. de Raquel Ramalhete. 42 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014. ____. O nascimento da Biopolítica. Trad. 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Neste panorama, os brancos contam com a vacina e os negros apenas com os orixás do candomblé. Num processo de reverberação semântica, o autor vai capturando o leitor, aos poucos, fazendo alusão à uma moléstia contagiosa até que nomeia a doença cujos referentes compõem um vocabulário que acompanha as diferenças sócio-econômicas , passando formas regionais, técnicas e contextuais. Essa variação desenha o quadro configurado , onde cidade alta dos brancos/vacina e cidade baixa dos negros/Omolu. O enredo envolve os meninos, denominados capitães da areia , menores que moram num trapiche e vivem de pequenos furtos. contam apenas com a ajuda de um saveirista chamado Querido de Deus que os ensina a a capoeira, além de levá-los às festas de candomblé, em homenagem a Omolu, que é o Orixá que cuida das doenças de pele, característica da varíola que é a responsável pela epidemia descrita na trama. O apoio teórico será baseado em Achille Mbembe que desenvolveu a teoria da necropolítica, a qual descreve a soberania do estado na gestão da vida, determinando quem deve morrer, baseado na biopolítica de Foucault . Trata-se de uma herança colonialista e escravagista que promove toda sorte desigualdades , inclusive as de gênero já que, neste romance, a personagem Dora é inicialmente impedida de participar das ações do grupo, sendo ridicularizada por alguns membros que só aceitam depois de muitas argumentações dos que a apoiavam. Referências: AMADO, Jorge. Capitães da areia, Lisboa 2005. Dom Quixote 8a edição. MBEMBE, Achille. Necropolítica - biopoder, estado de exceção, política da morte. Trad. Renata Santini. São Paulo, ed. 2018. SALAH, Jacques. a Bahia de Jorge Amado. Salvador 2008. Casa das palavras. SOUSA, Lícia Soares de. Literatura e cinema. Traduções intersemióticas , Salvador, 2009. OSWALDO CRUZ E OS SONHOS TROPICAIS DE MOACYR SCLIAR Rita Olivieri-Godet Resumo: No presente artigo, discutimos com base no livro Sonhos tropicais, publicado em 1992, como o Médico-escritor Moacyr Scliar buscou através do diálogo entre a medicina e a literatura consegue superar a barreira entre as duas culturas, a humanística e a científica; em sua obra, segundo ele mesmo afirma, o narrador empenhou-se em perscrutar os sonhos e as mazelas da realidade brasileira com a experiência da medicina, buscando mostrar o moléstias e sofrimentos da sociedade brasileira. Ele transformou o conhecimento sobre doenças e mortes em temas em seus escritos, a partir disso procuramos mostrar como a vasta produção de ensaísta e romancista do escritor constrói pontes entre essas duas grandes paixões na interface entre a vivência de médico sanitarista e a experiência literária. REPETINDO: No presente artigo, discutimos com base no livro Sonhos tropicais, publicado em 1992, como o Médico-escritor Moacyr Scliar buscou através do diálogo entre a medicina e a literatura consegue superar a barreira entre as duas culturas, a humanística e a científica; em sua obra, segundo ele mesmo afirma, o narrador empenhou-se em perscrutar os sonhos e as mazelas da realidade brasileira com a experiência da medicina, buscando mostrar o moléstias e sofrimentos da sociedade brasileira. Ele transformou o conhecimento sobre doenças e mortes em temas em seus escritos, a partir disso procuramos mostrar como a vasta produção de ensaísta e romancista do escritor constrói pontes entre essas duas grandes paixões na interface entre a vivência de médico sanitarista e a experiência literária. Referências: AMADO, Jorge. Tenda dos milagres. Rio de Janeiro: Record, 1998 [1969]. BAUDRILLARD, Jean. La transparence du mal. Paris : Galilée, 1990. BERND, Zilá. Identidades e nomadismos. 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O MITO LITERÁRIO PICARESCO EM ÚLTIMAS TARDES CON TERESA, DE JUAN MARSÉ Romeu da Silva Teixeira Resumo: O mito literário picaresco, originário do clássico espanhol Lazarillo de Tormes (1544), serve como base para a construção de narrativas do século XX e XXI. Em Espanha, os autores constroem seus romances com personagens marginalizados para denunciar os problemas sociais de seus país. O presente trabalho tem como objetivo estudar a utilização de elementos desse mito literário em Últimas tardes con Teresa (1966), de Juan Marsé. O autor cria a história da relação amorosa de dois integrantes de classes sociais diferentes, que por olhos mais superficiais pode ser considerado como tradicional e debate, durante a narrativa, questões de significativa importância histórica. Há a intenção de discutir as questões sociais presentes em Lazarillo de Tormes, clássico produção espanhola e suas relações com o romance de Juan Marsé, seus temas e subtemas. A utilização de diversas vozes persuasivas e irônicas na obra de Marsé possibilita o estudo de questões importantes no período pós-guerra espanhola. Os conceitos de Cronotopo e Dialogia (teorias difundidas pelo Círculo de Bakhtin) permeiam a interpretação da obra e, juntos à narrativa, constroem uma personagem emblemática da literatura espanhola contemporânea: Pijoaparte, jovem andaluz, representante de migrantes, ladrão de motos, que elabora uma relação peculiar com a burguesia estudantil dos anos 50, especificamente em Barcelona. Referências: AGUILERA, José Luis Bellón. La mirada pijoapartesca (Lecturas de marsé). Ostrava: Cover & layout, 2009. ANÔNIMO. Lazarillo de Tormes. Madrid: Cátedra, 2002. BAKHTIN, M. Marxismo e Filosofia da Linguagem: Problemas fundamentais do Método Sociológico na Ciência da Linguagem. Tradução de Michel Lahud e Yara Frateschi Vieira. 3. Ed. São Paulo: Hucitec, 1986. BAKHTIN, M. Questões de literatura e de estética. A teoria do romance. Trad. Aurora F. Bernardini et al.. 2. Ed., São Paulo: Ed. UNESP; HUCITEC, 1990. BRAIT, Beth. Bakhtin: conceitoschave/ Beth Brait, (org.) – São Paulo: Contexto, 2005. BRAIT, Beth. Ironia em perspectiva polifônica. Campinas: Editora UNICAMP, 1996. CANDIDO, Antonio. “Dialética da malandragem”. In: O discurso e a cidade. São Paulo: Duas Cidades, 1993. CÁRCAMO, Silvia Inés (org.). Mitos españoles: imaginación y cultura. Rio de Janeiro: APEERJ, 2000. GONZÁLEZ, Mario M. A saga do anti-herói: estudo sobre o romance picaresco espanhol e algumas de suas correspondências na literatura brasileira. São Paulo: Nova Alexandria, 1994. O CONTO DE FADAS SEM FINAL FELIZ: A UNIVERSALIZAÇÃO DAS BIBLIOTECAS ESCOLARES Tamires Oliveira Pereira Resumo: A biblioteca escolar formaliza e viabiliza o espaço para a leitura e acesso gratuito aos livros, principalmente para estudantes em baixo nível socioeconômico. Com vistas a suprir o déficit de bibliotecas no país, foi sancionada em 2010, a Lei 12.244, na qual estabeleceu como principal meta, a universalização das bibliotecas escolares brasileiras nas instituições de ensino públicas e privadas, em até dez anos. Com a chegada do prazo máximo, diversos documentos normativos como a Lei nº 13.696/2018 e o projeto de Lei 4003/2020 se somaram, no intuito de ampliar e assegurar o cumprimento da Lei de 2010. No entanto, observa-se que há disparidades alarmantes entre as metas estabelecidas e a efetivação das mesmas. Da perspectiva da literatura como um direito, defendida por Antônio Cândido (1995) e das relações de poder e biopoder propostas por Michel Foucault (2008) pretende-se ampliar as discussões a respeito das fragilidades das políticas públicas educacionais referentes à democratização do acesso à leitura, à literatura e aos bens culturais. Far-se-á um recorte metodológico dos resultados reais alcançados pela Lei, a partir de breve análise de dados presentes em documentos oficiais divulgados por instituições públicas e privadas, embasada pelo estudo de textos teóricos de DUARTE (2008), MBEMBE (2016), ORIÁ (2017), BRASIL (2010; 2011; 2018) dentre outros. Referências: BRASIL. Lei nº 12.244, de 24 de maio de 2010. Lei da Universalização das Bibliotecas Escolares. Dispõe sobre a universalização das bibliotecas nas instituições de ensino do País. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil 03/ato2007-2010/2010/lei/l12244.htm. Acesso em: 21 nov 2021. CANDIDO, Antonio. O direito à Literatura. In: ______. Vários escritos. São Paulo: Duas Cidades, 1995. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/3327587/mod_ resource/content/1/Candido%20O%20Direito%20%C3%A0%20Literatura.pdf. Acesso em: 02 mai 2022. COSTA, Jéssica Fernandes. O papel da biblioteca escolar no processo de ensinoaprendizagem. Monografia. Brasília: Universidade de Brasília, 2013. DUARTE, André de Macedo. De Michel Foucault a Giorgio Agamben: a trajetória do conceito de biopolítica. Porto Alegre: Editora da PUCRS, 2008. v. 3, p. 63-87. Disponível em: https://filosoficabiblioteca.files.Wordpress.com/2013/10/2-duarte-de-michel-foucault-a-giorgioagamben-a-trajetc3b3ria-do-conceito-de-biopolc3adtica.pdf. Acesso em: 10 nov 2021. FOUCAULT, MICHEL. Nascimento da Biopolítica. Curso no Collège de France (1978-1979). São Paulo: Martins Fontes, 2008. MBEMBE, Achille. Necropolítica. Revista Arte & Ensaios, p 122- 151, n 32, dezembro, 2016. Disponível em: https://revistas.ufrj.br/index.php/ae/article/view/8993. Acesso em 02 mai 2022. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Avaliação de Bibliotecas Escolares no Brasil. Brasília: MEC/ SEB, 2011. 92 p. ORIÁ, Ricardo. Bibliotecas escolares no Brasil: uma análise da aplicação da Lei nº 12.244/2010. Câmara Federal. Brasília, 2017. Disponível em: file:///C:/Users/Fernando/Downloads/bibliotecas_escolares_oria.pdf. Acesso em 20 nov 2021. SILVA, Jonathas L. Carvalho. Perspectivas históricas da biblioteca escolar no Brasil e análise da Lei 12.244/10. Revista ACB: biblioteconomia em Santa Catarina, Florianópolis, v. 16, n.2, p. 489-517, julho/dez., 2011. O ECO DE CATLHEEN NI HOULIHAN NA LITERATURA INFANTIL E JUVENIL GALEGA: FEMINIZAÇÃO E RESISTÊNCIA Thayane Gaspar Jorge Resumo: Irlanda e Galícia conservam relações desde a Antiguidade e que podem ser comprovadas graças a restos arqueológicos e à fluidez do comércio marítimo. Mas é, sobretudo, durante o desenvolvimento do nacionalismo no século XX que esses países passam a ser representados nas produções culturais como "nações irmãs" e passam a colecionar intertextualidades e similitudes que ecoam na literatura, na política, e na cultura da época. A literatura infantil e juvenil galega contemporânea tem resgatado, de forma implícita e explícita, um texto fundamental ao nacionalismo irlandês: a peça teatral Catlheen Ni Houlihan escrita pelo poeta William B. Yeats e que foi tomada como fonte para a redação do conto A velliña vella (1925) do escritor e político galego, Vicente Risco. Em ambos os textos, a figura da velha, tão cara à literatura infantil e juvenil, expõe uma crítica à situação de subalternidade e exploração que viviam Irlanda e Galícia, e que foi imposta pelo imperialismo britânico e espanhol, respectivamente. Desde então, a imagem da anciã, da bruxa, da avó tende a metaforizar o colonialismo de interior experenciado pela terra galega e levado a cabo através um projeto de desnacionalização em curso desde o final da Idade Média que obedece ao centralismo espanhol de Castela. Logo, contamos com releituras e novas versões desse mito irlandês, como é o caso das obras A velliña vella (2009), versão história em quadrinhos, e Dona Galicia (1979). Nesse trabalho, busca-se o cotejo dessas obras a partir de um viés político e literário, levando em consideração a literatura especializada de Montse Pena Presas, Miguélez-Carballeira e Marjorie Howes e a literatura clássica de Ernest Renan e Matthew Arnold, para desvelarmos as intertextualidades entre os textos e propor uma análise sobre a feminização das terras em situação colonial, observando o conflito de gênero que se apresenta. Referências: ABRANTES, Elisa Lima de. Reflexões contemporâneas sobre o Celtic Revival irlandês do século XXI. Revista Brathair, v. 18, n. 1, 2018. Disponível em: <https://ppg.revistas.uema.br/index.php/brathair/article/view/1786> acesso em 2 de janeiro de 2019. ANDERSON, Benedict. Comunidades imaginadas. São Paulo: Editora Schwarcz, 2008. BARREIROS, Cosme. 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E logo, temos razóns para ser nacionalistas? Vigo: Edicións Xerais, 2014. LEITURA CULTURAL DA SEMIOSFERA DA EXCLUSÃO Wellington Neves Vieira Resumo: A presente pesquisa objetiva encontrar o lugar do leitor crítico-cultural para propor um método de leitura literária de experiências subjetivas ideológicas e teóricas em relação à noção de poder na sociedade. Para isso, tenta responder as seguintes problematizações: Qual o lugar do leitor crítico cultural? E qual o lugar no leitor crítico-cultural que permite criar um sistema de análise de leitura literária? Em primeira instância traça uma abordagem crítico-cultural compõese a cena por elementos como o “códigos negociados”, Stuart Hall (2003); “Leitor Cultural” por Gomes (2011) e “Semiosfera”, “Sistemas modalizantes” e “Fronteira” por Iúri Lotman (1978, 1979). A segunda cena aplica-se essa vertente teórica na leitura do poema “O bicho”, de Manuel Bandeira. Como resultado dessa abordagem encontra-se subjetivamente o lugar do leitor críticocultural no espaço fronteiriço de códigos culturais negociados. Desse modo abriu uma fenda de perspectivas teóricas que pudessem mobilizar o lugar no leitor crítico-cultural que permitisse criar um sistema de análise de leitura literária como leitura cultural. Com esse método a ação do sistema modalizante evidencia os sentidos dos signos culturais, que são emergidos dentro de um contexto de decodificação de relações de poder onde uns controlam e outros são controlados. Esta ação aplicada ao texto literário parece favorável também para a formação do leitor modalizante como leitor da cultura. Em hipóteses essa proposta parece encontrar um caminho promissor por permitir uma ativação das experiências subjetivas do leitor e evidenciar como consequência um ato emancipador do sujeito leitor nos espaços de exclusão. Referências: COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2006. CORSINO. Infância e literatura nas urdiduras de palavras e imagens. (In)A função da literatura na escola: resistência, mediação e formação leitora/ organização Maria do Socorro Alencar Nunes Macedo. - 1.ed.- São Paulo: Parábola, 2021. DALVI. Maria Amélia. Educação, literatura e resistência. (In)A função da literatura na escola: resistência, mediação e formação leitora/ organização Maria do Socorro Alencar Nunes Macedo. - 1.ed.- São Paulo: Parábola, 2021. GOMES, Carlos Magno. Leitura e estudos culturais. in: Revista Brasileira de Literatura comparada, nº 16, 2010, p.25-44. LANGLADE, Gérard. O sujeito leitor, autor da singularidade da obra. In: ROUXEL, Annie; LANGLADE, Gérard; REZENDE, Neide Luzia (Orgs.). Leitura subjetiva e ensino de literatura. São Paulo: Alameda, 2013, p. 25-38. MACEDO. Maria do Socorro Alencar nunes. Leitura, mediação literária e formação docente. 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Revista ENTRELETRAS, Araguaína/TO, v. 9, n. 2, jul./set. 2018 (ISSN 2179-3948 – online) Disponível em: https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php/entreletras/article/download/5774/14362/ Acessado em: 23 Abril.22. SIMPÓSIO NORTE/AMAZÔNIA NA GEOGRAFIA MUNDIAL DA BARBÁRIE: LITERATURA SOBRE A RESISTÊNCIA E O TESTEMUNHO NA REGIÃO Abilio Pachêco de Souza (UNIFESSPA), Luiza Helena Oliveira da Silva (UFNT) O TEOR TESTEMUNHAL EM O CANTO DO LAVRADOR: UMA CANÇÃO SUBVERSIVA Abilio Pachêco de Souza Resumo: Em 1964, duas emissoras de um sistema de alto-falantes na cidade de Alenquer, interior do Pará, passaram por uma devassa realizada pelas forças militares que tomaram a cidade. O objetivo era apreender material subversivo. Especialmente, um disco compacto de vinil contendo o “Canto do Lavrador”, de autoria de Benedicto Monteiro. O compositor era deputado estadual, militante com alinhamento à esquerda, amigo do presidente João Goulart e considerado pelos militares como comunista e inimigo. As duas emissoras representavam grupos políticos opostos na cidade, mas naquele ano bissexto tocaram a canção em homenagem ao filho ilustre da cidade, que aniversariava em 29 de fevereiro. O “Canto do Lavrador” já havia sido impresso em folheto e largamente divulgado na campanha para deputado. Nele está contido o lema utilizado pelas Ligas Camponesas na luta pela reforma agrária “na lei ou na marra” canalizando assim um conjunto de tensões e fazendo da letra da canção um veículo de luta. A ponto de ser empreendida uma busca pelos discos e o panfleto com a letra ser utilizado como prova no processo instaurado contra seu autor acusado de subversão. Nesta comunicação, pretendemos realizar uma leitura da canção, sua relação com outros materiais da luta contra latifúndio (como a Declaração do Congresso de Lavradores e Trabalhadores Agrícolas), as ações de seu autor na luta política pela reforma agrária, bem como o teor de testemunho (SELIGMANN-SILVA) e a força de resistência (BOSI) nesta foi considerada uma canção subversiva. Referências: BOSI, Alfredo. Narrativa e resistência. In: BOSI, Alfredo. Literatura e resistência. São Paulo: Companhia das Letras, 2002, p. 118-135. MONTEIRO, Benedicto. Transtempo. Belém: Cejup, 1993. SELIGMANN-SILVA, Márcio. História, memória e literatura. Campinas: Unicamp, 2003. SELIGMANN-SILVA, Márcio. Literatura e trauma: um novo paradigma. In: SELIGMANNSILVA, Márcio. O local da diferença. Ensaios sobre memória, arte, literatura e tradução. São Paulo: Editora 34, 2005. 63-80. EXISTÊNCIAS INTERROMPIDAS: AFETOS DE MULHERES AMAZÔNIDAS NA GUERRILHA DO ARAGUAIA EM PRODUÇÕES DE AUTORIA FEMININA Luiza Helena Oliveira da Silva, Naiane Vieira Dos Reis Resumo: Este trabalho analisa narrativas literárias contemporâneas que tematizam a trajetória de mulheres durante a Guerrilha do Araguaia, na região Norte do país, com enfoque nos percursos daquelas personagens que estão situadas no espaço amazônico. Nesse sentido, para além de um sujeito que se move em busca de um ideal político, privilegiamos as histórias de mulheres amazônidas que finalmente ocupam como protagonistas os textos literários, os quais dimensionam os afetos e os impactos da repressão sobre as existências e corpos que não são compreendidos como protagonistas desse momento histórico. Para tanto, tomamos como aparato analítico as contribuições da teoria semiótica francesa, teoria que se ocupa do sentido, a partir das categorias de sua semântica discursiva, observando como as narrativas figurativizam a repressão e os projetos desenvolvimentistas na região, além de analisar os temas que emergem dessas histórias no que tange às relações de gênero. Além disso, são considerados estudos sobre a literatura de testemunho e debates sobre decolonialismo e presença política feminina, tendo em vista a retomada pela literatura de debates que timidamente atravessaram tanto os textos literários pregressos quanto a abordagem historiográfica. Em aparente empreendimento de autoras mulheres, a compreensão das violências, descontinuidades e resistências pelas quais passaram esses corpos se dá, na atualidade, como um processo de necessária reinserção de histórias e subjetividades esquecidas e apagadas das narrativas no contexto nacional. Referências: AMORIM, C. Araguaia: histórias de amor e de guerra. Rio de Janeiro: Record, 2014. BARROS, D. L. P. Teoria semiótica do texto. 2. ed. São Paulo: Ática, 1994. COUTINHO DA SILVA, M. I. Mulheres migrantes na Transamazônica: construção da ocupação e do fazer política. 374f. 2008. Tese (Doutorado). Universidade Federal do Pará, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais, Belém, 2008. FIGUEIREDO, C. A. S.; REIS, N. V.; SILVA, L. H. O.; SOUSA. P. C. L. Memórias da guerrilha do Araguaia: entrevista com José Genoíno Neto. Escritas: Revista do Curso de História, v. 12, n. 2, p. 274-318, 2020. GORENDER, J. Combate nas trevas. 5. ed. São Paulo: Fundação Perseu Abramo; Expressão Popular, 2014. MARTINS, J. S. Fronteira: a degradação do outro nos confins do humano. São Paulo: Contexto, 2009. MECHI, P. Os protagonistas do Araguaia: trajetórias, representações e práticas de camponeses militantes e militares na guerrilha. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2015. 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PÓS-COLONIALIDADE, ARAGUAIA E RESISTÊNCIA NA POÉTICA DE WANDERLEY WASCONCELOS Paulo Wagner Moura de Oliveira Resumo: O presente trabalho visa analisar o caráter enunciativo que surge na lírica do poeta mato-grossense Wanderley Wasconcelos numa perspectiva teórica pós-colonial, tendo como foco as relações culturais ligadas às condições de produção e veiculação de uma obra situada às margens do cânone literário e as implicações que esta poesia suscita ao revelar a historicidade de indivíduos desterritorializados pelo processo de modernização e adensamento do latifúndio na região Araguaia (Amazônia Legal) durante o período de Ditadura Militar. Regime que utilizando o discurso nacionalista de vazio demográfico e de necessidade de ocupação da região por representantes do capital nacional e estrangeiro trazia como Slogan: “Terra sem homens para homens sem-terra”. Um processo pós-colonial marcado pela violência e a construção do outro como subalterno e inferior, narrativa que é contestado por um fazer literário liminar de cunho autobiográfico que questiona estruturas sociais, políticas e culturais pré-estabelecidas, fazendo um contraponto ao silenciamento e as relações homogeinizadoras impostos pelo discurso histórico e central de nação. Fazer literário que aponta, também, para necessidade de ressignificação de determinadas categorias, em especial aquelas que acolhem os binarismos simplistas de uma interpretação senso comum das relações que permeiam a convivência, as tensões e embates dos atores sociais. Mostrando a necessidade de suspensão de categorias essencialistas como colonizador/colonizado, metrópole/colônia, desenvolvido/atrasado que se sobrepõe historicamente às formas autóctones de organização social e comunitária. Referências: BENJAMIN, Walter. Magia e Técnica, Arte e Política: ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Editora Brasiliense, 1996. BHABHA, Homi. O Local da Cultura, Belo Horizonte Editora UFMG, 1998 BOSI, Alfredo. Literatura e resistência. São Paulo, Editora Schwarcz LTDA, 2002. CANDAU, Joel. Memória e identidade, São Paulo , Contexto, 2016. CÂNDIDO, Antônio. A Educação Pela Noite & Outros Ensaios. São Paulo, Editora Ática, 1989. IANNI, Otávio. Ditadura e agricultura: o desenvolvimento do Capitalismo na Amazônia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1986. HALL, Stuart. O Ocidente e o Resto: discurso e poder. In: Formations of Modernity. Tradução: Carla D’Elia. Projeto História, São Paulo, n. 56, pp. 314-361, Mai.-Ago. 2016 HOLLANDA, Heloísa Buarque de. 26 poetas hoje. Rio de Janeiro: Aeroplano Editora, 2007 HOLLANDA, Heloisa Buarque de. Impressões de viagem: CPC, Vanguarda e Desbunde: 1960/1970). São Paulo, 1981. POLAR, Antonio Cornejo. O condor coa: literatura e cultura na América Latina. Organização de Mario Valdés. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2000. ROSA, Juliana Cristina da. Sertão de fogo à espera do progresso anunciado: As representações sobre o outro e as relações de poder no processo de apropriação do espaço e uso da natureza em Luciara, Mato Grosso. Tese (Doutorado em História). Instituto de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Federal de Mato Grosso. Cuiabá, MT: 2020. SAID, Edward W. Cultura e imperialismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. WASCONCELOS, Wanderley. Aboio (causos da vida posseira). Vila Velha, ES: Opção Editora, 2014. WASCONCELOS, Wanderley. Viagem Nua. Vila Velha, ES: Opção Editora, 2012. WASCONCELOS, Wanderley. Cordel sem viola. Vila Velha, ES: Opção Editora, 2012. UMA LEITURA DOS ANARQUIVAMENTOS EM MILTON HATOUM Rayniere Felipe Alvarenga de Sousa Resumo: Milton Hatoum desde sua estreia no mundo literário tem recebido atenção nos círculos intelectuais e na crítica especializada. O ficcionista aborda temáticas que marcam as suas vivências e constrói tramas voltadas aos terrenos da memória, geralmente originadas por meio de dramas familiares densamente relacionados a eventos historiográficos. Parto, portanto, da necessidade de investigação das manifestações da prática anarquivista nos romances Cinzas do Norte ([2005] 2010) e A noite da espera (2017). Sendo assim, em que medida a prática do anarquivamento influencia nas configurações dos romances de Milton Hatoum? Acredito que seja possível o levantamento de fatores específicos desse exercício no objeto de pesquisa, justamente pela manifestação dessa postura nos narradores. O objetivo desse estudo, então, é a realização de uma leitura dos anarquivamentos presentes em diferentes formas no corpus dessa pesquisa (nas relações entre literatura, memória e história e nas entrelinhas do romance). O presente exame, dessa forma, investiga as questões relativas ao campo mnemônico em Milton Hatoum. Para isso, menciono os trabalhos de Theodor Adorno e Max Horkheimer (1985), de Jacques Derrida (2001), de Edward Said (2003), de Beatriz Sarlo (2007), de Jeanne Marie Gagnebin (2009; 2014), de Paolo Rossi (2010), de Aleida Assmann (2011), de Walter Benjamin ([1985] 2012) e de Márcio Seligmann-Silva (2014; 2019). Assim, mediante as movimentações contra as armadilhas da memória e a partir do choque das situações relatadas nos romances, tornou-se possível a discussão em torno anarquivamento, para além de seu valor conceitual: o que expressa o cunho estético desse traço lido como uma camada estilística em Milton Hatoum. Um exemplo disso é a categoria percebida a partir da figura dos narradores, o chamado narrador-anarquivista (aquele que integra a sua postura à prática anarquivista, confundida em muitos momentos com a figura do escavador e do arqueólogo). Referências: ADORNO, Theodor; HORKHEIMER, Max. Dialética do esclarecimento: fragmentos filosóficos. Trad. Guido Antonio de Almeida. 1.ª Ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1985. ASSMANN, Aleida. Espaços da recordação: formas de transformações da memória cultural. Trad. Paulo Soethe. São Paulo: Editora da Unicamp. 2011. BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura; tradução Sérgio Paulo Rouanet; prefácio Jeanne Marie Gagnebin. 8.ª Ed. São Paulo: Brasiliense, 2012. DERRIDA, Jacques. Mal de arquivo: uma impressão freudiana. Tradução Claudia de Moraes Rego. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2001. GAGNEBIN, Jeanne Marie. Lembrar escrever esquecer. São Paulo: Editora 34, 2009. GAGNEBIN, Jeanne Marie. Limiar, aura e rememoração: ensaios sobre Walter Benjamin. São Paulo: Editora 34, 2014. HATOUM, Milton. A noite da espera. São Paulo: Companhia das Letras. 2017. HATOUM, Milton. Cinzas do Norte. São Paulo: Companhia das Letras. [2005] 2010. ROSSI, Paolo. O passado, a memória, o esquecimento: seis ensaios da história das ideias. Tradu. Nilson Moulin. São Paulo: Editora UNESP, 2010. SAID, Edward. Reflexões sobre o exílio e outros ensaios. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. SARLO, Beatriz. Tempo Passado: cultura da memória e guinada subjetiva. Tradução Rosa Freire d'Aguiar. São Paulo: Companhia das Letras/Belo Horizonte: UFMG, 2007. SIMPÓSIO “O CONTO CONTEMPORÂNEO NA LITERATURA BRASILEIRA” Gislei Martins De Souza Oliveira (IFMT), Claudia Vanessa Bergamini (UFAC), Vanderluce Moreira Machado Oliveira (IFMT) NO PASSADO, O DELEITE... NO FUTURO, "O ENFORCADO": UMA ANÁLISE DA CONTÍSTICA CONTEMPORÂNEA DE ADRIANA LISBOA Cecília Guedes Borges de Araujo Resumo: No conto “O enforcado”, da coletânea O sucesso: contos (2016), de Adriana Lisboa, o narrador apresenta uma história, a princípio, rotineira, mas, em seu desenrolar, se revela uma quebra de expectativas da parte de quem narra. Sob sua perspectiva, o narrador personagem descreve o ambiente, a rotina ao seu redor, as pessoas, o movimento que lhe circunda, até surgirem, por sua vez, algumas memórias, que lhe saltam, intempestivamente, e, em tom confessional, ele expõe uma parte de sua vida amorosa passada, enquanto sujeito e vítima. É possível notar que tal narrativa apresenta o “acaso” como ponto chave do conto, como um acerto de contas entre a taróloga Renata e o narrador - o cliente - sem nome. Tal narrativa ficcional pode se valer de um acontecimento real, mas, segundo Gotlib (1990), o conto não se refere só ao acontecido, pois não tem compromisso com a realidade. Diante disso, real e ficcional não têm limites precisos. Aqui, ficção e realidade são construídas em uma teia narrativa conjunta, uma amparando-se à outra. Nesse sentido, esse trabalho, de caráter bibliográfico, objetiva analisar o ponto de vista do narrador, a partir de suas posições no conto, bem como o desenrolar da história, que tece entre ambos, e o seu fecho, com um acerto de contas revelador. Referências: BOSI, Alfredo. As fronteiras da literatura. In; BOSI, Alfredo. Entre a literatura e a história. São Paulo: Editora 34, 2013, p. 221- 234. FRIEDMAN, Norman. O ponto de vista na ficção: o desenvolvimento de um conceito crítico. Revista USP, São Paulo, n. 53, p. 166 – 182, 2002. GOTLIB, Nádia. Teoria do conto. 11. ed. São Paulo: Ática, 2004. SCHOLHAMMER, Karl Eric. Ficção brasileira contemporânea. São Paulo: Civilização Brasileira, 2009. SÉRGIO SANT'ANNA: NARRAR, TRANSGREDIR Fabiana Cardoso Da Fonseca Resumo: Em “Um conto nefando?”, narrativa publicada na obra O vôo da madrugada em 2003, atração e horror são evocados pelo ato incestuoso entre mãe e filho, sendo este apresentado pelo narrador como um rapaz com “pretensões rimbaudianas”, cujo corpo é o ator que encena a escritura no limiar entre criação e transgressão. Considerando o argumento de que o conto moderno gira em torno de duas histórias, uma superficial e outra secreta, conforme entende Ricardo Piglia (2004), observou-se que, no texto de Sérgio Sant’Anna, o enredo em si não é o centro da narrativa, vale atentar-se para o modo como são narrados os supostos acontecimentos e como se imbricam os diferentes centros de gravidade narrativa. Por essa perspectiva, esta pesquisa propõe analisar como o narrador desse conto se apropria da vivência de um poeta maldito no processo de narratividade e no manejo da linguagem. A hipótese é a de que a escritura do conto também apresenta alguns processos corrosivos através dos quais texto e corpo experimentam decadência e violentação. Esses processos estão presentes na relação incestuosa, mas também parecem ser incorporados pelo texto, isso porque, assim como os personagens transgridem certos interditos, o corpo textual da narrativa reflete a dissolução de certos padrões narrativos. A investigação conta com uma pesquisa bibliográfica de cunho qualitativo-interpretativo, na qual foram usados os pressupostos teóricos de Alain Robbe-Grillet (1969), Jacques Derrida (1997), Júlio Cortázar (1999), Michel Foucault (1992), Ricardo Piglia (2004), Roland Barthes (1973). Esses e outros autores subsidiam importantes discussões que permitem acessar a ficção sant’anniana como uma espécie de arte contemporânea baseada na experiência do choque, provocado não apenas a nível temático, de identificação com a estória, mas também a nível narrativo, convocando o leitor a uma dimensão reflexiva através de uma crítica da linguagem. Referências: BARTHES, Roland. O prazer do texto. Tradução de Maria Margarida Barahona. Lisboa: Edições 70, 1973. CORTÁZAR, Julio. Alguns aspectos do conto. In: Obra crítica 2. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999. p. 345-363. DERRIDA, Jacques. Gramatologia. 2.ed. Tradução de Miriam Chnaiderman. São Paulo: Perspectiva, 1997. FOUCAULT, Michel. O que é um autor? Tradução de Antônio Fernando Cascais e Edmundo Cordeiro. Rio de Janeiro: Passagens, 1992. PIGLIA, Ricardo. Formas breves. São Paulo: Companhia das Letras, 2004. ROBBE-GRILLET, Alain. Por um nôvo romance. Tradução de T. C. Netto. São Paulo: Editora Documentos, Coleção Nova Crítica, 1969. v.1. SANT’ANNA, Sérgio. O vôo da madrugada. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. AQUELA ÁGUA TODA EM SEUS OLHOS: A MEMÓRIA EM CARRASCOZA Lígia Chaves Ramos dos Santos, Janaína dos Santos Miranda Resumo: O presente trabalho se propõe a realizar uma leitura analítica do conto Aquela Água Toda (2018) escrito pelo contista e romancista João Anzanello Carrascoza, um dos finalistas do prêmio Jabuti (2015), que se utiliza de figuras de linguagens como a metáfora, a personificação, o paradoxo e a elipse. Destacamos ainda, outros elementos essenciais que compõem nossa análise literária como: a conotação, a denotação, a força motriz, a metáfora matriz, a ação externa e interna, o tempo, o espaço, as personagens e ponto de vista narrativo. O contista é considerado pela crítica literária uma das maiores revelações da contemporaneidade tendo como admiradores de suas obras Raduan Nassar e Alfredo Bosi. Convém assinalar que seus contos são narrados a partir de um reduzido ambiente/contexto familiar em que as complexas relações familiares e por vezes de amizade, estão postas. Dono de um estilo muito próprio de compor histórias Carrascoza se vale da poesia em forma de prosa o que resulta em um lirismo que afeta o leitor. O conto supracitado narra a história de um garoto de classe média que visita o mar pela segunda vez este reencontro lhe causa uma grande ansiedade e euforia. Por meio da leitura é possível observarmos que todos os elementos da narrativa, assim como os sentimentos do garoto são amarrados ao mar, representando também uma prosopopeia, em que o mar deixa de ser um lugar e assume uma roupagem de personagem. A partir da análise estrutural do conto Aquela Água toda (2018) podemos observar que há nele uma forte presença de elementos comuns ao Romantismo, a fim de darmos base nessa análise tomamos como pressupostos teóricos Antonio Candido (1988), Alfredo Bosi(2017) Michel Löwy (2015) e Massaud Moisés(2008). Referências: BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 51. ed. São Paulo: Cultrix, 2017. CANDIDO, Antonio. O romantismo, nosso contemporâneo. Resumo da aula inaugural no Departamento de Letras da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Jornal do Brasil, 19 de março de 1988. CARRASCOZA, João Anzanello. Aquela água toda. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2018. LÖWY, Michel; SAYRE, Robert. Revolta e melancolia: o romantismo na contracorrente da modernidade. Tradução: Nair Fonseca. São Paulo: Boitempo, 2015. MOISES, Massaud. Análise literária. 17. ed. São Paulo: Cultrix, 2008. "AS TRANÇAS": ESPAÇO DE VIOLÊNCIA NO CONTO CONTEMPORÂNEO DE BRENO ACCIOLY Márcio Ferreira Da Silva Resumo: Resumo: O conto brasileiro contemporâneo “condensa e potencia no seu espaço todas as potencialidades da ficção”, nos ensina Bosi (1975, p. 7). O tema do conto “As tranças”, de Breno Accioly, adensa um tempo em que preciso descer aos subterrâneos da invenção para se autorreconhecer entre as máscaras noturnas a completa violência da vida diurna (BOSI, 1975). O pensamento do crítico paulistano afirma a posição do conto contemporâneo no qual Breno Accioly está inserido, quando das publicações de narrativas curtas entre as décadas de 40 a 60 do século XX. O conto “As tranças” faz parte do livro “Cogumelo”, publicado em 1949, segundo livro do autor. O enredo conta a história de Gedeão, um bedel, que trabalha auxiliando o professor Luiz de Góis na aula de Anatomia. Numa certa ocasião, aparece-lhe um cadáver de uma jovem, com longa tranças louras. A jovem foi assassinada e, sem reconhecimento ou reclamação da família, foi parar no necrotério da universidade. O narrador acciolyano se mostra móvel, porque ao impor uma onisciência no início da narrativa, quebra esse domínio logo depois e, advertidamente, apresenta-nos uma onipresença. “Está triste [Gedeão] e eu sei com a sua tristeza lhe desordena o coração” (ACCIOLY, 1999, p. 129). Ao longo de toda a narrativa este “eu”, sujeito linguístico, desaparece da escrita, mas se mantém articulador no domínio do espaço literário, cuja ideia do “excepcional” da criação narrativa, assegurado por Cortázar (2006), se liga ao que atrai autor e leitor, provocando um efeito de expectativa e sensibilidade que surgem na memória. No caso de Accioly, esta sensação está ligada à violência, que potencializa as questões sociais da sociedade contemporânea (CHAUÍ, 2019). Assim, os espaços de violência no conto de Accioly pintam um retrato fosco da brutalidade corrente de Gedeão, maculado pelo assassinato, pelo suicídio e pela morte. Referências: ACCIOLY, Breno. As tranças. In.: Breno Accioly: obras reunidas. São Paulo: Escrituras Editora, 1999. BOSI, Alfredo (org). O conto brasileiro contemporâneo. São Paulo: Cultrix, 1975. CHAUI, Marilena. Sobre violência. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2019. CORTÁZAR, Julio. Alguns aspectos do conto. In.: A valise de Procópio. São Paulo: Perspectiva, 2006, p. 147-163. DIMAS, Antônio. Espaço e romance. São Paulo: Ática, 1987. HOHLFELDT, Antônio. Conto brasileiro contemporâneo. 2. ed. Porto Alegre: Mercado. Aberto, 1988. GOTTLIB, N. Teoria do conto. São Paulo: Ática, 1985. REIS, L. de M. O que é o conto? São Paulo: Brasiliense, 1984. ENTRE O FANTÁSTICO E O MINICONTO CONTEMPORÂNEOS: O QUE "ELE CANTA", DE RAMOS, PODE NOS DIZER Rodrigo Donizeti Mingotti Resumo: Assim como a literatura fantástica, resistente a classificações e delimitações precisas, tem se manifestado em diferentes contextos e temáticas no decorrer dos tempos de produção, o suporte dessa literatura também se modificou nesse meio tempo. O conto, antes meio preferível do fantástico e gênero textual que caiu no gosto do público-leitor, especialmente a partir do século XX, passou a se tornar cada vez mais conciso, mas sem perder seu poder literário de contingência. Nota-se, então, um novo tipo de escrita contemporâneo, o miniconto, o qual ainda se encontra sob constante processo de estudo e definições, pois tão breve é seu surgimento – e, como reforça Spalding (2012), se ainda é difícil definir o miniconto, isso se deve não apenas ao prefixo “-mini”, mas também às diversificadas e produtivas discussões sobre o gênero conto. Nesse sentido, buscamos, nesta comunicação, não somente entender as teorias concernentes ao gênero miniconto, mas sim compreender em que medida esse gênero corrobora para com a literatura fantástica, concatenando seus efeitos de sentido e recepção no leitor, estabelecendo assim uma relação imanente entre o fantástico e o suporte miniconto para o contexto literário contemporâneo. Para tanto, serão analisadas as principais características e teorias em torno do gênero miniconto e, consequentemente, suas particularidades para com os efeitos de sentido do fantástico – como dúvida, inquietude e angústia, motivados por um texto breve, conciso e aberto a interpretações diversas por parte do leitor implícito – tendo como base o miniconto brasileiro contemporâneo “Ele canta” (2017), de Nuno Ramos, que muito se aproxima do modo fantástico. Exato na medida com as palavras e cheio de lacunas, o miniconto torna-se um meio primoroso para a produção dos efeitos de sentidos do fantástico de linguagem cujo enfoque reside na estranheza do mundo moderno. Referências: CAILLOIS, R. Fantastique. In: GREGORY, C. (org.). Encyclopeia universalis. Paris: VI, 1980. CAMPOS, L. L. Entre frinchas, a poética do Microconto brasileiro. Carandá, Corumbá, MS, n. 4, 2011, p. 299-321. CAMPRA, R. Fantástico y sintaxis narrativa. Río de la Plata, Buenos Aires, n. 1, 1985, p. 95-111. CESERANI, R. O fantástico. Tradução Nilton C. Tridapalli. Curitiba: Ed. UFPR, 2006. FREIRE, M. (org.). Os cem menores contos brasileiros do século. Cotia: Ateliê, 2004. PAES, J. P. As Dimensões do Fantástico: Gregos e Baianos. São Paulo: Brasiliense, 1985. RAMOS, N. Ele canta. In: RAMOS, N. O pão do corvo. São Paulo: Iluminuras, 2017. p. 9-10. ROAS, D. A ameaça do fantástico: aproximações teóricas. Tradução de Julián Fuks. São Paulo: Edunesp, 2014. SCHWARTZ, J. Murilo Rubião: a poética do uroboro. São Paulo: Ática, 1981. SPALDING, M. Pequena poética do miniconto. Digestivo Cultural. 2007. Disponível em: https://www.digestivocultural.com/colunistas/coluna.asp?codigo=2196&titulo=Pequena_poetic a_do_miniconto. Acesso em: 14 jan. 2022. SPALDING, M. Presença do miniconto na literatura brasileira. Conexão Letras, Porto Alegre, v. 7, n. 8, 2012, p. 65-76. Disponível em: https://doi.org/10.22456/2594-8962.55443. Acesso em: 14 jan. 2022. SIMPÓSIO “O DISCURSO LITERÁRIO COMO COMPARTILHAMENTO E RESISTÊNCIA: AS MALHAS ESTÉTICO-POLÍTICAS DA LITERATURA” Evaldo Balbino da Silva (UFMG), Leni Nobre de Oliveira (CEFET-MG), Tereza Ramos de Carvalho (UFMT/CUA) SENHORAS DE SI: LUIZA NETO JORGE E ANA LUÍSA AMARAL Ana Paula de Oliveira Pereira Resumo: Esta pesquisa investiga as relações entre corpo e feminismo nos poemas de Luísa Neto Jorge e Ana Luísa Amaral. O corpo da mulher tem sido bem cantado ao longo da história da literatura, no entanto há uma necessidade de reescrever a história também pela visão dessa mulher. Ao reescrever esse corpo, Maria Teresa Horta liberta da fôrma (imposta pelo sistema) a forma do seu desejo. Essa libertação da voz, corpo a corpo metaforizando as experiências sexuais e sensuais, afirma a imagem da mulher devoradora (“que bebo e sugo/ até o mais amargo”), tornando o erotismo um ato político feminino voraz que se faz estética poética. Essa relação desdobra-se em: mulher-espaço, mulher-sexualidade e corpo físico-corpo poético, desafiando assim os modelos sociais impostos pela sociedade portuguesa. Com o avanço da industrialização e do progresso político, as mulheres começaram a ganhar espaço na sociedade entre o final do século XIX e início do século XX. Irene Vaquinhas afirma em seu artigo Linhas de investigação para a história das mulheres nos séculos XIX e XX: “os anos 1850-1870 marcaram uma viragem na condição das mulheres portuguesas abrindo-se-lhes possibilidades de intervenção social, no início do século XIX, pareciam inviáveis” (2002, p. 210). Com a instauração do regime ditatorial português, há uma aposta na ideia de “regresso ao lar”, por meio da qual a mulher teria novamente a limitação da esfera doméstica, pois a nova política colocava a estrutura familiar como a principal responsável pelo progresso do país, uma ilusão para a emancipação da mulher. Nesse contexto, é retirado da mulher o direito de conhecer seu próprio corpo e seus desejos. Tal sexualidade é construída como algo inerente ao papel masculino, sendo a figura feminina reduzida à esfera doméstica, tradicional e heteronormativa. Referências: REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ALVES, Ida Ferrreira. Duas poetas portuguesas contemporâneas: Adília Lopes e Ana Luísa Amaral – Escritas provocantes. AMARAL, Ana Luísa. Minha senhora de quê. In AMARAL, Ana Luísa. Poesia reunida: 1990- 2005. Vila Nova de Famalição: Quasi, 2005, p. 7-57. BACHELAR, A Psicanálise do Fogo. São Paulo: Martins Fontes, 2012, p. 56-57. CHALHUB, Samira. Poética do Erótico. São Paulo: Ed. Escuta, 1993. COVA, Anne; Pinto, António Costa. O Salazarismo e as mulheres: uma abordagem comparativa. Penélope, vol. 17, p 71-94, 1997. HORTA, Maria Teresa. Minha Senhora de mim.In HORTA, Maria Teresa. Poesia reunida. Lisboa: Dom quixote, 2009, p.299-350. HORTA, Maria Teresa. Antologia de Poesia Erótica: As palavras do Corpo. Lisboa: Dom Quixote, 2012. OLIVEIRA, Nicole Guim. Senhoras da Palavra: a reivindicação da voz e do corpo nas obras de Maria teresa Horta e Ana Luísa Amaral. Dissertação (Mestrado em Literatura Portuguesa) – USP /SP, 2017. SANTA’ANNA, Mônica A.H. Carvalho de . Presenças e novas representações do corpo/mulher: uma (re)visão em torno da obra de maria Teresa Horta. Tese (Doutorado em Teoria da Literatura e Literatura comparada) – Universidade de Santiado de Compostela, 2011.IN O Sentido primeiro das Coisas. Ensaios sobre a obra de Maria Teresa Horta – volume I – Org. Conceição Flores, Ed. Jovens Escribas, Natal (RN), 2015. A FOME, DE RODOLFO TEÓFILO: A CONSTRUÇÃO DE UM HERÓI À MODA EUROPEIA André Luis Pereira Vellanos Resumo: O presente trabalho investiga o processo de acumulação literária no romance A Fome (1890), de Rodolfo Teófilo. O conceito de acumulação literária está na base de leitura de Antonio Candido e diz respeito ao processo de formação da literatura brasileira, que surge marcada pela tensão entre modelos europeus e matéria local, no sentido que a literatura brasileira apresenta uma “dupla fidelidade”, ou seja, procura tratar das condições da experiência local segundo os moldes importados da Europa. Assim, com o objetivo de entendermos o processo de acumulação literária, no romance A Fome, bem como seus impasses frente à matéria brasileira, analisamos a construção da personagem protagonista Manuel de Freitas, narrado como herói na narrativa. Para tanto, tomamos como referência teórica obras que discutem o processo de acumulação literária na literatura brasileira. Em a Formação da Literatura Brasileira, Antonio Candido remonta à dupla fidelidade dos Árcades. No livro Educação pela Noite, seguindo pela mesma esteira, Candido aborda a intenção da literatura brasileira de compatibilizar os padrões europeus à realidade local, aspecto também abordado e desenvolvido por Roberto nos livros Ao vencedor as batatas, em que analisa os impasses do romance Senhora, de José de Alencar, e Um mestre na periferia do capitalismo, no qual estuda a obra mais madura de Machado de Assis. Dessa forma, o atual estudo chegou à conclusão de que o modo de edificação do protagonista Manuel de Freitas representa a necessidade de construir um herói segundo o estereótipo dos países centrais, isto é, com características hercúleas e pouco críveis quando submetidas às adversidades oferecidas pelas circunstâncias locais. Ademais, depreendeu-se que a construção fenotípica de Freitas está associada a questões de caráter racial, uma vez que o seu fenótipo, branco de olhos azuis, está mais atrelado a aspectos europeus do que à mestiçagem pertinente ao Brasil. Referências: ALBUQUERQUE JR., Durval Muniz de. A invenção do Nordeste e outras artes. São Paulo: Cortez, 2011. ARANTES, Beatriz Fiori Arantes; ARANTES, Paulo Eduardo. Sentido da Formação (Três estudos sobre Antonio Candido, Gilda de Mello e Souza e Lúcio Costa). São Paulo: Paz e Terra, 1997. ARANTES, Paulo Eduardo. Sentimento da Dialética na Experiência Intelectual Brasileira (Dialética e dualidade segundo Antonio Candido e Roberto Schwarz). São Paulo: Paz e Terra, 1992. ARAÚJO, Humberto Hermenegildo; OLIVEIRA, Irenísia Torres de. Regionalismo Modernização e crítica social na literatura brasileira. São Paulo: Nankin, 2010. BUENO, Luís. Uma história do Romance de 30. São Paulo: Edusp, 2015. CANDIDO, Antonio. Vários Escritos. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2011. _________________. A Educação pela Noite. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2014. _________________. Literatura e Sociedade. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2014. _________________. Formação da Literatura Brasileira. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2017. MARQUES, Rodrigo de Albuquerque. A nação vai à província: do Romantismo ao Modernismo no Ceará. Fortaleza, 2015. NEVES, Frederico de Castro. A multidão e a história (Saques e outras ações de massas no Ceará). Rio de Janeiro: RelumeDumará, 2000. SCOVILLE, André Luiz Martins Lopez de. Literatura das Secas: Ficção e História. Curitiba, 2011. SCHWARZ, Roberto. Os pobres na literatura. Editora Brasiliense, 1983. _________________. Um mestre na periferia do capitalismo (Machado de Assis). São Paulo: Editora 34, 2008. _________________. Ao vencedor as batatas. São Paulo: Editora 34, 2012. ________________. Que horas são? ensaios. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. _________________. Seja como for (Entrevistas, retratos e documentos). São Paulo: Editora 34, 2019. TEÓFILO, Rodolfo. A fome. São Paulo: Tordesilhas, 2011. FORMA LITERÁRIA E CRÍTICA DO PRESENTE EM RAINHA LIRA, DE ROBERTO SCHWARZ Claudio Cardinali Macedo Silva Resumo: A mais recente peça de Roberto Schwarz, Rainha Lira (2022), é uma apropriação artística dos acontecimentos sociopolíticos brasileiros dos últimos anos. Em sua camada mais superficial, ela é uma paródia que põe em cena figuras-chave da história contemporânea. No entanto, esse aspecto, apesar do grande valor documentário que terá no futuro, não determina por si só o valor estético da peça. Ao observar a composição da obra, desde a configuração das falas individuais, das personagens, dos acontecimentos, passando por sua orquestração cacofônica nas cenas, até os macromovimentos que abrangem toda a trama, vê-se que sua unidade e força estéticas dependem principalmente de sua estrutura. As contradições fundantes da sociabilidade brasileira, objeto principal da ensaística de Schwarz, configuram também a dinâmica formal em Rainha Lira, onde, por exemplo, a relação entre modernidade e atraso aparece profundamente imbricada com a própria dinâmica das falas e das cenas. A análise em detalhe da peça mostra que, desde o nível microestrutural, desde o nome ou título das personagens, é possível identificar um movimento que tem paralelo na história concreta. Por fim, também o caráter político da peça se deve não ao aspecto paródico explícito, mas antes ao ímpeto crítico fundante de sua composição literária, que, por sua vez, consegue estabelecer a difícil relação entre ficção e realidade. Referências: SCHWARZ, Roberto. Rainha Lira. Peça teatral. São Paulo: Editora 34, 2022. FIGURAÇÕES LITERÁRIAS DA MULHER NA AMAZÔNIA NAS OBRAS DE FRANCISCO GALVÃO E DALCÍDIO JURANDIR Cyntia Nataly Malcher Bezerra, Marlí Tereza Furtado Resumo: Esta investigação teve por intuito investigar os possíveis avanços empreendidos à figuração da mulher nas narrativas que se propõe a revelar a vida amazônica. Para tanto, foram selecionadas as obras Terra de Ninguém (1934), de Francisco Galvão, e Três Casas e um Rio (1958), de Dalcídio Jurandir. Para execução deste estudo, inicialmente foi empreendida a leitura dos textos literários estabelecidos para o corpus do trabalho, em seguida, apreciado textos críticos sobre os autores trabalhados: Francisco Galvão e Dalcídio Jurandir, bem como de trabalhos de Tânia Silva e Norma Telles acerca da historiografia da mulher no Brasil e de apontamentos de Ruth Brandão e Ainda Souza sobre a personagem feminina em nossa literatura. E, finalmente, realizou-se leituras a respeito do contexto histórico do período de exploração econômica da borracha na Amazônia, no qual se situam em menor ou maior medida as narrativas. Após ciência do panorama geral de representação da mulher em nossa literatura, partiu-se para análise dos romances, traçando sempre um paralelo entre as obras. A partir do estudo, constatou-se que nas obras analisadas os autores preocuparam-se em traçar vasto panorama da mulher, que tanto é representada como ser cativo perante uma sociedade patriarcal, quanto como indivíduo capaz de libertar-se das imposições sociais e decidir seu destino com autonomia, sendo senhora de suas ações e pensamentos. Esse protagonismo da mulher, destaca-se nas narrativas e evidencia a importante contribuição prestada pelos autores à valorização da mulher e o rico esforço de desvelar o universo feminino da mulher amazônica. Referências: BRANDÃO, Ruth Silviano. Mulher ao pé da letra: a personagem feminina na literatura. 2 ed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2006. CORRÊA, Luiz de Miranda. A Borracha da Amazônia e a Segunda Guerra Mundial. Manaus: Edições Governo do Estado, 1967. DAOU, Ana Maria. A belle époque amazônica. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000. FURTADO, Marlí Tereza. Crimes da terra na Amazônia, de Inglês de Souza a Dalcídio Jurandir. In: SALES, Maria Germana Araújo; FURATADO, Marlí Tereza. Linguagem e Identidade Cultural. João Pessoa: Idéia. 2009. FURTADO, Marlí Tereza. Universo derruído e corrosão do herói em Dalcídio Jurandir. IEL/ Unicamp: Campinas, 2002. Tese de doutorado. GALVÃO, Francisco.Terra de Ninguém. 2 ed. Manaus: Valer, 2002. JURANDIR, Dalcídio. Três casas e um rio. 3. ed. Belém: CEJUP, 1994. LOUREIRO, Violeta Refkalefsky. A história social e econômica da Amazônia . In:______. (coord.). Estudo e problemas amazônicos: história social e econômica e temas especiais. 2 ed. Belém: Cejup, 1992. LUCAS, Fábio. O caráter social da ficção do Brasil. São Paulo: Ática,1987. MENDES, J. A. A crise amazônica e a borracha. 2 ed. Manaus: Valer/Governo do Estado do Amazonas, 2004, (Série Poranduba). NORMA, Telles. Escritoras, escritas, escrituras. In: DEL PRIORE, Mary. (org.) História das Mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto, 1997. ROSA, José Almerindo. Terra de Ninguém – Algumas Estradas... In: GALVÃO, Francisco. Terra de Ninguém. 2 ed. Manaus: Valer, 2002. SILVA, Tânia Maria Gomes da.Trajetória da historiografia das mulheres no Brasil. Politeia: História e sociedade, Vitória da Conquista, v. 8, n 1, p. 223- 231, 2008. Disponível em: <http://periodicos.uesb.br/index.php/politeia/article/viewFile/276/311> Acesso em: 10 out. 2014. SOUZA, Aida Kuri. A personagem feminina na literatura Brasileira. Trabalho de conclusão de curso (Especialização em Língua Portuguesa: Fenômeno Sócio-Político) Universidade do Extremo Sul Catarinense, Criciúma, 2005. SOUZA, Márcio. Breve história da Amazônia. 2 ed. São Paulo: Marco Zero, s.d. TOCANTINS, Leandro. Amazônia: natureza, homem e tempo. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 1982. CAPACITISMO E AUDISMO E SEUS ATRAVESSAMENTOS SOBRE OS CAMINHOS DA LITERATURA SURDA Diogo Souza Madeira Resumo: O presente trabalho centraliza as possíveis ações – irracionais e racionais - do capacitismo e do audismo sobre os caminhos da literatura surda com o viés de memória e resistência por meio do estudo das obras literárias surdas que contêm textos em forma tanto de prosa quanto de poesia em Língua Portuguesa para os fins de definição problemática. Tais conceitos que supostamente estariam interferindo na construção da literatura surda são apresentados a partir das perspectivas sociais e linguísticas que os autores propõem ao passo que a história da literatura em questão. Resultados consistem na análise das obras surdas e nas discussões sobre a relação literatura surda- capacitismo-audismo nas dimensões de historiografia literária em que a não-surdez literária e a surdez literária e a cultura surda literária estão presentes. Estes conceitos vêm sendo cada vez mais abordados nos dias de hoje graças a diversos meios de comunicações que levantam discussões sem fronteiras, sobretudo em âmbitos acadêmicos, capacitismo que “é uma palavra que agora começa a ser ouvida com mais frequência nos movimentos sociais, mas seu significado e o que ela implica não é muitas vezes explorado em profundidade (...), que é o sistema social, político e econômico que discrimina, violenta, marginaliza e assassina as pessoas deficientes pelo fato de o serem.” (GUERRA, 2021, p.28) e audismo, originalmente, o termo audism, que “foi usado pela primeira vez pelo Surdo Tom Humphries, para significar os esforços de sujeitos ou da comunidade ouvinte para dominar Surdos/as, uma relação de opressão linguística e cultural (...).” (HORA, 2020, p.52) Referências: GUERRA, Itxi. Luta contra o capacitismo: anarquismo e capacitismo. Editora Terra sem Amos: Brasil, 2021. HORA, Mariana Marques. Questão Surda: Compreendendo o Audismo como expressão da questão social. V. 21 n. 42: Crise Capitalista, Questão Social no Brasil e Diretrizes Curriculares da ABEPSS, p.188-205, 2020. KARNOPP, Lodenir. B. Produções culturais de surdos: análise da Literatura Surda. Cadernos de Educação (UFPel), ano 19, p. 155-174, 2010. LE GOFF, Jacques. História e memória. São Paulo: Ed. da UNICAMP, 2008. MOISÉS, Massaud. A análise literária. São Paulo: Cultrix, 2007. RICOEUR, Paul. Tempo e narrativa. Campinas: Papirus, 1997. ______. A memória, a história, o esquecimento. Campinas: Ed. da Unicamp, 2014. REALISMO LITERÁRIO E CONSTITUCIONAL COMO RESISTÊNCIA À CRISE (MULTI)NACIONAL Dionisio David Marquez Arreaza Resumo: O trabalho estuda a copresença do realismo literário e constitucional na narrativa latino-americana da violência, no caso, Cidade de Deus (1997) do brasileiro Paulo Lins e Bicentenaire (2004) do haitiano Lyonel Trouillot. Conceitos como “realidadficción” (LUDMER, 2007) antecedem à reflexão sobre a arte como não separada da ‘realidade’. Os textos realistas que aristotelicamente tratam personagens marginalizados num espaço-tempo com marcas locais e os textos também ‘realistas’ que rousseaunianamente tratam os governados sujeitos às normas cidadãs a serem aceitas e praticadas, permitem uma apreciação que passa do gênero sócio-verbal convencionado a uma significação quer literária, quer política. Na teoria, a categoria de ‘identidade política’ e a experiência de exclusão social unem os realismos nos estudos literário-culturais via Gramsci (C. N. COUTINHO, 2011) e nos estudos constitucionais (ALEXANDER, 1998). Nessa conjuntura, vamos ‘ler’ como ‘ato democrático’ as escritas que ficcionalizam: a ausência do estado brasileiro diante da violência na neofavela carioca junto com a ruptura constitucional de 1964 e a constituinte democratizadora de 1988; e a violência repressiva durante manifestação de rua ficcionalizada junto com a ruptura constitucional de 2004 em Porto Príncipe relacionando a constituinte democratizante de 1987 após a ditadura dos Duvalier. Ao comparar os realismos e situar os contextos de resistência, observa-se também o que os une como discursos ambíguos e polissêmicos na representação da violência e de identidades marginalizadas e, além disso, na partilha de uma linguagem-mestre ‘iluminista’ e ‘moderna’ cujo exercício (re)produz o imperativo ‘democrático’. Referências: ALEXANDER, Larry (Ed.). Constitutionalism. Philosophical Foundations. New York: Cambridge UP, 1998. CRUZ, Adélcio de Sousa. Narrativas contemporâneas da violência: Fernando Bonassi, Paulo Lins e Ferréz. Rio de Janeiro: 7Letras, 2012. FERRER, Ada. Freedom’s Mirror. Cuba and Haiti in the Age of Revolution. New York: Cambridge University, 2014. FICO, Carlos. Versões e controvérsias sobre 1964 e a ditadura militar. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 24, n. 47, p. 29-60, 2004. FISCHER, Sibylle. Modernity Disavowed. Haiti and the Cultures of Slavery in the Age of Revolution. Durham: Duke University, 2004. GRAMSCI, Antonio. 2004. O leitor de Gramsci: escritos escolhidos. 1916-1935. Carlos Nelson Coutinho (Org.). Trad. Carlos Nelson Coutinho e Luiz Sérgio Henriques. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011. LUDMER, Josefina. Literaturas posautónomas. Ciberletras. Revista de crítica literaria y de cultura, n. 17, jul. 2007. Disponível em: http://www.lehman.cuny.edu/ciberletras/v17/ludmer.htm. Acesso em: 1 fev. 2022. LINS, Paulo. Cidade de Deus. São Paulo: Cia das Letras, 1997. MIGNOLO, Walter. 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NOVOS VOCÁBULOS PARA ANTIGOS CONCEITOS: CIVILIZAÇÃO E BARBÁRIE OU A ORDEM E A SUBVERSÃO EM K. RELATO DE UMA BUSCA Edson da Silva Nascimento Resumo: Essa pesquisa tem como objetivo analisar como a controvérsia civilização e barbárie foram pensadas, “atualizadas” e plasmadas na obra K. Relato de uma busca, publicada em 2011, de Bernardo Kucinski. Obra que remonta acontecimentos vivenciados pelo próprio autor e sua família no tempo sombrio da ditadura militar de 1964. Na qual o narrador apresenta um pai, denominado de K., este vai em busca de sua filha, que fora sequestrada, torturada e assassinada pelos militares do estado brasileiro em abril de 1974. Partimos da hipótese que o maniqueísmo civilização e barbárie está na raiz do eurocentrismo e etnocentrismo, ideologias que tomaram forma na colonização da América Latina, todavia, diferente dos colonizadores, essas não deixaram as colônias quando os países do novo mundo conseguiram sua independência. Apenas ganharam novas “roupagens” no decorrer da história. O objetivo central desses binarismos, sobretudo, permaneceu o mesmo: assegurar o poder à classe dominante. De fanáticos religiosos a comunistas, o Brasil tem conseguido “êxitos” nessa estratégia perversa de repressão e extermínio contra os levantes dos povos marginalizados, pobres, negros e todos que tentam “corromper” a ordem vigente do poder. K. relato de uma busca (2016) representa a essa tenção uma forma de resistência, pois remonta para o século XXI as memórias das atrocidades cometida pelo estado brasileiro na ditadura Civil-Militar de 64, as mesmas que os donos do poder tentam silenciar e impor a versão da história dos “vencedores”, esta versão, infelizmente, tem proporcionado ao povo brasileiro o que Kucicinski chamou de “mal de Alzheimer nacional”. Utilizaremos como fundamentação teórica Aníbal Quijano, Aimé Césaire, Robert J. C. Young, Walter Benjamim, Octávio Ianni, Gínia Maria Gomes. Referências: BENJAMIN, Walter. Magia e Técnica, Arte e Política: ensaios sobre literatura e história da cultura. Trad. Sérgio Paulo Rouanet. 8. ed. São Paulo: Brasiliense, 2012. (Obras Escolhidas. v. 1). Brasil: Nunca Mais". Petrópolis, Vozes, 2014. CÉSAIRE, Aimé. Discurso sobre o colonialismo. São Paulo: Veneta, 2020. GOMES, Gínia Maria (org.). Narrativas Brasileiras Contemporâneas: memórias da Repressão. Porto Alegre: Editora Polifonia, 2020 IANNI, Octávio. Civilização e Barbárie. KUCINSKI, Bernardo. K. Relato de uma busca. São Paulo: Companhia das Letras, 2016. OLIVEIRA, Rejane Pivetta de. THOMAZ, Paulo C. (organizadores). Literatura e Ditadura. Porto Alegre: ed. Zouk, 2020. QUIJANO, Anibal. Colonialidade do poder, Eurocentrismo e America Latina. In___ Colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: CLACSO, 2005 YOUNG, Robert J. C. Desejo colonial: hibridismo em teoria, cultura e raça. São Paulo: Perspectiva, 2005. A CONFIGURAÇÃO TEOLÓGICA EM O NOME DA ROSA E MEMORIAL DO CONVENTO Evaldo Balbino da Silva Resumo: Num estudo comparativo entre os romances O nome da rosa, do escritor italiano Umberto Eco, e Memorial do convento, do autor português José Saramago, este artigo busca refletir como as vozes narrativas dos dois discursos abordam a temática religiosa e as instituições que ritualizam essa temática historicamente. Considerando a Igreja Católica como instituição sócio-histórica com suas constrições, este estudo almeja analisar o viés político desses dois romances, buscando compreender a narrativa literária em suas relações com a sociedade nos termos de Antonio Candido (CANDIDO, 2000), a literatura como resistência na acepção de Georges Didi-Huberman ao falar da sobrevivência dos vaga-lumes (DIDI-HUBERMAN, 2011) e nos termos existências e políticos, tais como colocados pelo crítico Alfredo Bosi em seu livro O ser e o tempo da poesia (BOSI, 1977) e no ensaio Narrativa e resistência (BOSI, 1996). Para análise da questão proposta em relação aos dois livros, tomar-se-ão ainda, como apoio, os estudos críticos: AMZALAK e CHACON, 1994; BUENO, Aparecida de Fátima, 1996; OLIVEIRA, Maria Eugenia Dias de. et al. , 1988; ECO, Umberto, 1985; SILVA, Teresa Cristina Cerdeira da, 1989. Buscar-se-á em Jacques Le Goff (LE GOFF, 1995) a reflexão sobre os intelectuais na Idade Média no intuito de compreensão dos tempos e personagens representados por ambas as narrativas em tela. Referências: AMZALAK, José Luiz; CHACON, Geraldo. Memorial do Convento. Literatura: Resumos e Análises das Obras – FUVEST 95. 2 ed. São Paulo: Buritis Edições, 1994. p. 168-190. BOSI, Alfredo. Narrativa e resistência. Itinerários, n. 10. Araraquara, 1996, p. 11-27. BOSI, Alfredo. O ser e o tempo da poesia. São Paulo: Cultrix; Editora da USP, 1977. BUENO, Aparecida de Fátima. O herético e o sagrado em Memorial do Convento. Anais do V Congresso da Associação Internacional de Lusitanistas. Oxford: Associação Internacional de Lusitanistas, 1996. CANDIDO, Antonio. Literatura e sociedade – Estudos de Teoria e História literária. 8 ed. São Paulo: T. A. Queiroz Editor, 2000. DIDI-HUBERMAN, Georges. Sobrevivência dos vaga-lumes. Trad. Vera Casa Nova, Márcia Arbex. Belo Horizonte : Editora UFM G, 2011. ECO, Umberto. O Nome da rosa. Rio de Janeiro: Record, 1986. ECO, Umberto. Pós-escrito a O Nome da rosa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. LE GOFF. Jacques. Os Intelectuais na Idade Média. 4 ed. São Paulo: Brasiliense, 1995. OLIVEIRA, Maria Eugenia Dias de et al. A Figura Feminina em O Nome da rosa de Umberto Eco. Cadernos do Mulher e Arte. Belo Horizonte: Núcleo de Estudos e Pesquisas Sobre a Mulher, 1988. SARAMAGO, José. História do Cerco de Lisboa. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. SARAMAGO, José. Memorial do Convento. 17 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1996. SILVA. Teresa Cristina Cerdeira da. José Saramago: entre a história e a ficção. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1989. NOTAS SOBRE UMA MUDANÇA DE PARADIGMA: RESSIGNIFICAÇÃO DO CONCEITO LITERÁRIO DE "FORMAÇÃO" PELO VIÉS DA "APROPRIAÇÃO CULTURAL" A PARTIR DOS ANOS 1970 Fábio Salem Daie Resumo: Esta é uma comunicação teórica elaborada no âmbito de pesquisa de pós-doutorado, nascida de extrapolação de pesquisa doutoral sobre a noção de “forma” e “formação” segundo Antonio Candido e Ángel Rama. O objetivo é refletir sobre a transformação—pela ascensão da noção de “apropriação cultural” a partir do anos 1970—de certa perspectiva da crítica praticada pelo jovem Candido (ainda em 1940 e, com as devidas particularidades, pelo Rama da teoria da transculturação. Para isso, ademais de pesquisa bibliográfica, o autor conversou com dez escritoras(es) negras e negros, além de escritoras(es) de nações originárias, a fim de apreender aspectos dessa noção que, paulatinamente, tem pautado não só teorias, senão políticas públicas e privadas sobre a cultura. A formulação inicial do jovem Candido sobre a noção de “formação” da literatura pressupõe não apenas um “desaburguesamento” ideológico de setores avançados da burguesia nacional, mas também a superação—pelo romance escrito por tais autores(as)—da cisão sóciogeográfica entranhada na sociedade brasileira e que, à época, opunha regiões do “sertão” ou da “hinterlândia” àquelas do litoral urbano e cosmopolita. Em todo caso, esta visão moderna—presente no próprio Rama, no âmbito da América hispanofônica—compreendia a apropriação e ressignificação de temas, estilos e linguagens de populações minoritárias como passo civilizatório, por meio do qual se abandonava o estatuto de país culturalmente dependente rumo à maturidade artística (principalmente a do romance). O problema que esta comunicação explorará é, portanto, este: como a ascensão da noção de “apropriação”, na arte, reescreve à sua maneira este momento das literaturas brasileira e hispano-americana, ao mesmo tempo que estabelece novos paradigmas de identidade e filiação para escritores(as)? Ver-se-á que estão aí entendimentos diversos do sentido de “resistência” oferecido pela arte. Referências: - Candido, A. “Livros”. Clima, Maio, n. 1., 1941. - Candido, A. “Livros”. Clima, Julho, n. 2., 1941. - Candido, A. Brigada Ligeira. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2011. - Candido, A. Ficção e Confissão. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2012. - Candido, A., and Ángel R. Conversa Cortada: A correspondência entre Antonio Candido e Ángel Rama, o esboço de um projeto latino-americano – 1960-1983. Trad.: Ernani Ssó. In: Rocca, Pablo (Org.). São Paulo/Rio de Janeiro: Edusp/Ouro sobre Azul, 2018. - Coutts-Smith, K. “Some general observations on the problem of cultural colonialism” (1976). In: The Myth of Primitivism: Perspectives on art. London: Routledge, 1991. - Cunha, R. B. Transculturação Narrativa: Seu percurso na obra crítica de Ángel Rama. São Paulo: Humanitas, 2007. - Rama, A. Transculturación Narrativa en América Latina. Buenos Aires: El Andariego, 2008. - Young, R. Postcolonialism. Oxford: Oxford University Press, 2003. - Young, J. O. Cultural Appropriation and the Arts. Hoboken: Blackwell Publishing Ltd., 2008. https://doi.org/10.1002/9780470694190. - Uzel, J.-P. “Appropriation artistique versus appropriation culturelle”. esse arts + opinions, (97), 2019. CAMUS E BARTHES: QUERELA DA ESTÉTICA E RESISTÊNCIA Fernando Paixão Rosa Resumo: O objetivo desta pesquisa é foi a crítica de Roland Barthes às obras de Albert Camus, principalmente em relação a A Peste (1947), para compreender a mudança de posicionamento do crítico para com o seu contemporâneo, baseando-se nos próprios conceitos de Roland Barthes sobre literatura. Revisitar a crítica de Roland Barthes às obras de Albert Camus, principalmente em relação à A Peste, foi fundamental para compreender a mudança de posicionamento do crítico para com seu contemporâneo, pois ele inicialmente aplaudiu O Estrangeiro (1942), de Camus. De nossas análises, baseadas nos conceitos cunhados por Barthes resulta que ele, ao tratar de A Peste, critica pesadamente a estética que coroou na obra O estrangeiro, mas mais importante que isso, aponta como imperdoável a suposta nãohistoricidade assumida em A peste. Em seu texto, o crítico não suporta que Camus tenha lançado mão de uma alegoria na obra que tão claramente faz alusão à ocupação nazista na França. Concluímos que assim como suas primeiras apreciações das obras de Camus se voltavam mais para o âmbito estético-literário e em “A peste, anais de uma epidemia ou romance da solidão”, artigo de 1955, Barthes tomou uma posição de cobrança de engajamento e de posição política, as cartas trocadas entre ambos tornam esse ponto muito mais claro. Uma das respostas de Camus acertou precisamente sobre a universalidade de sua obra quando diz a Barthes, que A peste não era perdoada pelos contemporâneos pelo fato de sua obra servir a todas as resistências contra todas as tiranias, afinal a obra do franco-argelino costuma ser revisitada e ficar em alta em momentos de crise, seja política ou pandêmicas, como vemos no caso de 2020, quando A peste voltou a circular entre os mais vendidos. Referências: ARAÚJO, R. L. A literatura reengajada: Notas sobre criação e engajamento em Albert Camus. Boletim de pesquisa NELIC. Florianópolis, v. 14, n.21, 2014, p. 105-127. BARTHES, R. “Reflexões sobre o estilo de O Estrangeiro” In Inéditos, vol. 2: Críticas. Trad: Ivone Castilho Benedetti. São Paulo: Martins Fontes, 2004, p. 42-51. _____. “O Estrangeiro, romance solar” In Inéditos, vol. 2: Críticas. Trad: Ivone Castilho o Paulo: Martins Fontes, 2004, p. 92-98. _____. “A Peste, Anais de uma epidemia ou romance de solidão”; “Resposta de Roland Barthes a Albert Camus”. In Inéditos, vol. 4: política. Trad.: Ivone Castilho Benedetti. São Paulo: Martins Fontes, 2005, p. 44-53; p. 58-59. _____. O grau zero da escrita. Trad.: Mario Laranjeira. São Paulo: Martins Fontes, 2000. _____."Escritores e escreventes" in Crítica e verdade. Trad.: Leyla PerroneMoisés. São Paulo: Perspectiva, 2007. _____. "Da obra ao texto". In O rumor da língua. Trad.: Mário Laranjeira. São Paulo: Editora Brasiliense, 1998. BINDA, A. A indiferença e o sol: Meursault, o herói absurdo em O Estrangeiro de Albert Camus. Vitória: EDUFES, 2013. BICALHO, A. M. Graciliano Ramos, Valerie Rumjanek e o processo de (re)criação de La Peste de Albert Camus. Dissertação (Mestrado em Letras e Linguística). Salvador: Instituto de Letras, Universidade Federal da Bahia, 2007. BRANDINI, L. T. Imagens de Roland Barthes no jornal O Estado de S. Paulo. Paris: Nota de Rodapé Edições, 2015. CAMUS, A. O Estrangeiro. Tradução de Maria Jacintha e Antônio Quadros. São Paulo: Abril Cultural, 1982. ______. A peste. Tradução de Valerie Rumjanek. Rio de Janeiro: Record, 2003. ______. O mito de Sísifo. Tradução de Ari Roitman e Paulina Watch. Rio de Janeiro: Record, 2006. _____. “Carta de Albert Camus a Roland Barthes sobre A Peste”. In Inéditos, vol. 4: política. Trad.: Ivone Castilho Benedetti. São Paulo: Martins Fontes, 2005, p 54-57. FONSECA, L. C. “O envolvimento e a ruptura de Albert Camus com o pensamento de sua época.” Revista Garrafa, [S.l.], v. 11, n. 34, set. 2013, p. 01-16. 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CONTRE-ATTAQUE: A VANGUARDA NA LUTA CONTRA O NAZISMO Gabriel Bustilho Lamas Resumo: Em 1935, prevendo o fracasso da frente popular que se formava na Europa para resistir à ascensão do Nazismo, dois grupos, que até então cultivavam inimizades, unem-se para reformular tal frente popular: o movimento surrealista e o grupo organizado ao redor de Georges Bataille. A questão, para eles, era a de que a frente popular fracassaria se mantivesse uma postura defensiva. Dessa forma, surge o grupo Contre-attaque, com a intenção de transformar a postura defensiva em uma postura ofensiva, em uma postura de contra-ataque. O programa do grupo era claro: o contra-ataque deveria ser feito usando das próprias armas dos inimigos contra eles, e, para o grupo, a maior arma do Nazismo era sua mitologia. Assim, o grupo Contre-attaque empregou suas forças na formulação de um mito que combatesse a mitologia nazista. Porém, em pouco tempo, o grupo Contre-attaque foi dissolvido, já que os grupos originais que o formaram passaram a discordar quanto à formulação desse mito. Do lado do grupo organizado ao redor de Georges Bataille, tratava-se de buscar a formulação desse mito através de uma sociologia prática. O movimento surrealista, por sua vez, acreditava que a formulação desse mito deveria ser poética, ou seja, realizada pela literatura. A presente comunicação, então, se debruça sobre esse episódio da história da literatura (sobretudo através dos textos que Georges Bataille e André Breton escreveram no período), buscando refletir sobre a questão do mito no grupo Contre-attaque e como esse mito, sendo ele poético ou sociológico, seria uma arma de resistência frente ao Nazismo. Referências: BATAILLE, Georges. Oeuvres completes I. Paris : Éditions Gallimard, 1970. BATAILLE, Georges. The Absence of Myth. Trad. de Michael Richardson. Londres : Verso, 1994. BRETON, André & TROTSKI, Leon. Por uma arte revolucionária independente. Trad. de Carmen Silvia Guedes e Rosa Boaventura. São Paulo: Paz e Terra, 1985. BRETON, André. Manifestos do Surrealismo. Trad. de Sergio Pachá, Rio de Janeiro: Nau Editora, 2001. BRETON, André. Nadja. Trad. de Ivo Barroso. São Paulo: Cosac Naify, 2007. CHENIEUX-GENDRON, Jacqueline. O Surrealismo. Trad. de Mário Laranjeira. São Paulo : Martins Fontes, 1992. LACOUE-LABARTHE, Philippe; NANCY, Jean-Luc. O mito nazista. Trad. de Márcio Seligmann-Silva. São Paulo: Iluminuras, 2002. LIMA, Sergio. A aventura surrealista, tomo II. São Paulo: EDUSP, 2010. LOWY, Michael. A estrela da manhã: surrealismo e marxismo. Trad. Eliana Aguiar. São Paulo: Boitempo, 2018. LOWY, Michael. O cometa incandescente – romantismo, surrealismo, subversão. Trad. de Diogo Cardoso e Elvio Fernandes. São Paulo: 100/cabeças, 2020. MURAT, Michel. Le Surréalisme. Paris : Le livre de poche, 2013. NADEAU, Maurice. Histoire du Surréalisme suivie de Documents Surréalistes. Paris: Éditions du Seuil, 1964. QUARTO DE DESPEJO E TORTO ARADO: A VOZ DO NEGRO Geisa Aparecida Dariva Pinheiro Resumo: Nas obras literárias as classes menos favorecidas têm pouca representatividade, e quando aparecem é sob o olhar das classes mais abastadas o que dificulta a aproximação do leitor do ato narrado. Contudo, em “Quarto e Despejo” e “Torto Arado” as obras são narradas por personagens que vivenciam a narrativa, assim temos a denúncia das condições desumanas enfrentadas pelos negros como consequência de uma abolição sem políticas públicas que inserisse os libertos na sociedade. Carolina Maria de Jesus é uma mulher negra, sozinha, que luta para criar os três filhos, sem a presença masculina. Nessa obra tomamos conhecimentos das mais variadas condições adversas de sobrevivência como a fome, a falta de saneamento, a violência e o racismo, condições comuns aos descendentes de escravos que seguiram para os centros urbanos, após a libertação dos escravos em 1988. A outra obra a ser analisada é “Torto Arado” escrita pelo autor baiano Itamar Vieira Junior. Conta a história de duas irmãs, Bibiana e Belonisia, as narradoras são marcadas por um acidente de infância, e vivem em condições de trabalho escravo contemporâneo em uma fazenda no sertão da Chapada Diamantina, rotina dos descendentes dos escravos que permaneceram nas fazendas, após o treze de maio. As narradoras/personagem do romance de Itamar Vieira Junior, e a autora/personagem são a vozes femininas que denunciam as mazelas do preconceito, desrespeito e privações pelas quais passaram o povo negro após a abolição, independente do caminho que percorrido, seguindo para as cidades ou continuando a morar nas fazendas. Assim, os dois romances perfazem a bifurcação enfrentada pelos escravos libertos. Referências: FERNANDES, Florestan. A integração do negro na sociedade de classes (do legado da raça branca) V. 1; 3.ed. 2008 FERREIRA N. B. de P. & DUARTE, N. As artes na educação integral: uma apreciação histórico-crítica. FLORESTAN, Fernandes. Significado do protesto negro. São Paulo: Cortez Autores Associados, 1989. V. 33 JESUS, Carolina Maria. Quarto de despejo: diário de uma favelada. 1. ed. Abril Educação. São Paulo. 2013. VIEIRA JUNIOR, Itamar. Torto arado. 1a Reimpr. São Paulo: Todavia, 2019. "SE NÃO ESCREVO NÃO LUTO PELA M/ LIBERTAÇÃO": ETHOS E POIESIS NOS PAPÉIS DA PRISÃO, DE LUANDINO VIEIRA Jacqueline Kaczorowski Resumo: A produção literária de José Luandino Vieira, escritor paradigmático da literatura angolana, é amplamente reconhecida pela resistência que, nas palavras de Alfredo Bosi, caracteriza obras portadoras de “uma tensão interna que as faz resistentes, enquanto escrita, e não só, ou não principalmente, enquanto tema” (2002, p. 129). Papéis da Prisão (2015), publicação que reúne material produzido ao longo de 12 anos de encarceramento, permite ao leitor não só o contato com a própria prática da escrita como forma de resistência – uma vez que eram necessárias estratégias que afrontavam o contexto para a produção, circulação e preservação dos Papéis – mas também com a busca pelo desenvolvimento de uma estética que atendesse à necessidade expressiva da complexidade que o escritor tencionava figurar. A reinvenção linguística e formal exercitada ao longo dos 17 cadernos permite notar a apropriação da língua portuguesa como “despojo de guerra” (VIEIRA apud. CHAVES, 1999, p. 167) e o investimento em sua transformação, convocando outras matrizes de pensamento e expressão como forma propositiva de arquitetar uma dicção que desafiasse os limites do idioma da ordem colonial. Valorizando elementos outrora subjugados pela dinâmica do império, a radicalidade do projeto literário permite afirmar um empenho do escritor, “dentro de [seu] particular campo de acção – o estético” (LABAN, 1977, p. 91), em construir uma obra capaz de contestar o projeto de dominação em sua integridade. Referências: ACHEBE, Chinua. A educação de uma Criança sob o Protetorado Britânico. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. BALANDIER, Georges. "A Noção de Situação Colonial". In: Cadernos de Campo, ano III, nº 3. Antropologia-USP, São Paulo, 1993. BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas: Magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1994. BOSI, Alfredo. Literatura e resistência. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. CANDIDO, Antonio. A educação pela noite & outros ensaios. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2011. CANDIDO, Antonio. Literatura e sociedade. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2008. CANDIDO, Antonio. Vários escritos. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2004. CHAVES, Rita. A formação do romance angolano: entre intenções e gestos. São Paulo: Universidade de São Paulo, Coleção Via Atlântica, v. 1, 1999. LABAN, Michel (Org.). Luandino: José Luandino Vieira e sua obra: estudos, testemunhos, entrevistas. Lisboa: Edições 70, 1977. MARX, Karl y ENGELS, Friedrich. Acerca del colonialismo. Moscú: Editorial Progreso, s. d. MEMMI, Albert. Retrato do colonizado precedido pelo retrato do colonizador. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007. SANCHES, Manuela Ribeiro (org.). Malhas que os impérios tecem. Textos anti-coloniais/Contextos pós-coloniais. Lisboa: Edições 70, 2010. VIEIRA, José Luandino. Papéis da Prisão: apontamentos, diário, correspondência (1962-1971). (Org.) Margarida Calafate Ribeiro; Mônica V. Silva e Roberto Vecchi. Lisboa: Editorial Caminho, 2015. LITERATURA ENGAJADA: VERCORS E A ESCRITA COMO UM ATO DE RESISTÊNCIA Janaina Pinto Soares Resumo: Esta apresentação busca traçar os elementos históricos e filosóficos fundamentais para situar a obra de Vercors no quadro da literatura engajada. Buscarei estabelecer um recorte temático para a compreensão sobre o modo como as novelas Le Silence de la mer, La Marche à l’étoile e L’Imprimerie de Verdun representam uma certa projeção e forma trans-histórica da consciência do escritor, uma afirmação de valores éticos e uma denúncia da barbárie. Os traços do engajamento literário, tal como Sartre os definiu e Vercors deu expressão nessas obras, são abordados a fim de estabelecer um plano analítico para a reconstrução do contexto de emergência da literatura de Vercors. À luz de uma reflexão sobre o engajamento como categoria essencial para a compreensão da relação entre o aspecto ético-filosófico da realidade, tal como se apresenta historicamente, esta comunicação visa a compreender a atividade literária como expressão da consciência do escritor e das circunstâncias de seu tempo. Em sua dimensão mais fundamental, reverberações de tal concepção estão presentes no Linguagem e Silêncio, de Georges Steiner, onde recebe matizes e contornos da caracterização da dimensão política da obra e do autor como expressão da consciência orientada para a liberdade no registro de um o humanismo movido pelo desenvolvimento contínuo de um senso de realidade e responsabilidade através do despertar inerente à natureza mesma do fenômeno literário. A partir deste quadro conceitual, tentarei analisar o movimento da consciência de um escritor em busca do desvelamento da condição humana em um ato de escrita como resistência. Ato que representa uma escolha de ação autêntica e consciente diante da violência psicológica e material durante a Ocupação alemã durante e o Regime de Vichy, uma resistência destacada por uma consciência que revela valores de justiça, verdade e liberdade como fundamentos da prórpia literatura. Referências: AZÉMA, Jean-Pierre ; PESCHANSKI, Dennis. « Vichy – État policier ». In : AZÉMA, Jean-Pierre ; BÉDARIDA, François [sous la direction de]. La France des années noires – de l’Occupation à la Libération (Tome 2). Paris : Seuil, 1993, pp. 357-375. AZÉMA, Jean-Pierre. « La France de Daladier ». In : AZÉMA, Jean-Pierre ; BÉDARIDA, François [sous la direction de]. La France des années noires – de la défaite à Vichy (Tome 1). Paris : Seuil, 1993, pp.11-35. AZÉMA, Jean-Pierre. « Le Régime de Vichy ». In : AZÉMA, Jean-Pierre ; BÉDARIDA, François [sous la direction de]. La France des années noires – de la défaite à Vichy (Tome 1). Paris : Seuil, 1993, pp. 151-179. DENIS, Benoît. Littérature et engagement, de Pascal à Sartre. Paris : Seuil, coll. Points, 2000. SARTRE, Jean-Paul. « La République du silence ». In : SARTRE, J.-P. Situations III. Paris : Gallimard, 1949. SARTRE, Jean-Paul. « Présentation des Temps modernes », 1er numéro de la revue, octobre 1945, repris dans Situations, II, Paris : Gallimard, 1948b. SARTRE, Jean-Paul. L’existentialisme est un humanisme. Présentation et notes par Arlette Elkaïm-Sartre. Paris : Gallimard, 1996. SARTRE, Jean-Paul. Qu’est-ce que la littérature ? Paris : Gallimard, 1948a. SIRINELLI, Jean-François [sous la direction de]. Dictionnaire historique de la vie politique française au XXe siècle. Paris : PUF, 1995. SIRINELLI, Jean-François [sous la direction de]. La France de 1914 à nos jours. Paris : Puff, 1993. STEINER, Georges. Linguagem e Silêncio – ensaios sobre a crise da palavra. São Paulo: Companhia da Letras, 1988. VERCORS. Le Silence de la mer (Albin Michel, 1951). Présentation, notes, questions et après-texte par Évelyne Amon. Paris : Magnard, coll. Classiques & Contemporains, 2001. VERCORS. Le Silence de la mer et autres récits. Paris : Terres Latines, 1952. A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA PARA A COMPREENSÃO DAS FORMAÇÕES DE MASSAS TIPICAMENTE FASCISTAS E PARA A ELABORAÇÃO DE ESTRATÉGIAS DE SOBREVIVÊNCIA FRENTE À NECROPOLÍTICA José Eduardo Fonseca Brandão Resumo: A ideia por trás da presente comunicação tem como ponto central o poder que a Literatura tem de trazer consigo, nas camadas de sua narrativa, conhecimentos de mundo e experiências (CANDIDO, 2011, p.182) que, além de tornar o leitor mais experiente, em termos de estética, também o enriquecem como indivíduo. Seja uma metaficção historiográfica, tal como "Levantado do chão" (SARAMAGO, 1980), ou distopias como "A revolução dos bichos" (ORWELL, 1945) ou "A Nova Ordem" (KUCINSKI, 2019), a Literatura mostra o seu potencial humanizador (no sentido do que foi desenvolvido por Paulo Freire em "Pedagogia do oprimido"), permitindo ao leitor contemplar o fenômeno político que origina formações de massa do tipo fascista e a atividade da massa política, desde os seus primórdios até a sua ascensão ao poder, desenvolvendo seu olhar crítico e observador. Esta comunicação tem como objeto uma pequena parte da pesquisa que desenvolvi como dissertação de mestrado e que, agora, tem sido ampliada como tese de doutorado, denominada "Como a desvalorização da Literatura nos conduziu ao bolsonarismo". A Literatura pode apontar as áreas do saber necessárias para uma melhor elucidação tanto sobre a ascensão de regimes políticos do tipo fascista, quanto como a forma que operam uma vez estabelecidos no poder. Assim, a Literatura se torna um espaço de diálogo entre diferentes áreas do saber, tal como a Psicologia das Multidões, a Sociologia, a Ciência Política, a Economia, entre tantas outras que se fizerem necessárias. Referências: BENJAMIN, Walter. Teses sobre o conceito da história. In: ______. Magia e técnica, arte e política : Ensaios sobre a literatura e história da cultura. Trad. Sérgio Paulo Rouanet. 3. ed. São Paulo : Editora Brasiliense, 1987. CANDIDO, Antonio. O direito à literatura. In: ______. Vários escritos. 5. ed. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2011, p.171-193. FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 65ª. ed. Rio de Janeiro : Paz e Terra, 2018. FREUD, Sigmund. Psicologia das massas e análise do eu. Trad. Renato zwick. Porto Alegre : L&PM, 2019. KUCINSKI, Bernardo. A Nova Ordem. São Paulo : Alameda, 2019. LE BON, Gustave. Psicologia das Multidões. Trad. Mariana Sérvulo da Cunha. São Paulo : Martins Fontes, 2008. ORWELL, George. A Revolução dos bichos. In: A revolução dos bichos : 1984. Trad. Williams Glauber, Claudio Carina, Sonia Carvalho. Porto Alegre : Citadel Grupo Editorial, 2021. SARAMAGO, José. Levantado do Chão. 16ª. ed. Rio de Janeiro : Bertrand Brasil, 2010. OS DISCURSOS DA NEGRITUDE: REFLEXÕES ACERCA DA LITERATURA AFRO-BRASILEIRA José Victor Nunes Mariano Resumo: O presente trabalho faz uma reflexão da literatura afro-brasileira a partir da subjetividade de sujeitos marcados pelo estigma da diferença racial. A partir dos estudos realizados pelo professor Eduardo de Assis Duarte, principalmente de seu artigo Por um conceito de Literatura Afro-brasileira, busco expor as problemáticas e contradições por trás de seu conceito. Por fim, sugiro o desenvolvimento de quatro eixos discursivos para balizar um adequado processo analítico/interpretativo das produções de autores negros/mestiços: tratamse da Política de Identidade; do Negro-Feminino; da Negra Dor do Mestiço; e o da BranquiNegritude. A partir de exemplos literários, firmar-se-á um aparato teórico para a melhor compreensão dos processos pelos quais a experiência racial afrodescendente foi incorporada ao produto literário, desde metade do século XIX até a contemporaneidade. A construção desses eixos discursivos é de extremo valor para deslocarmos a literatura afro-brasileira dos lugares teóricos essencializantes em que foi isolada, permitindo uma reflexão que abarque as diferentes experiências raciais no Brasil e as diferentes formas do emular da experiência racial na obra literária. Identificando e problematizando essa trama interdiscursiva da literatura afro-brasileira, uma trama constituída das distintas formas de apreensão da experiência racial ao produto literário, possibilitar-se-à uma sistematização da literatura afro-brasileira que não viabilize determinadas experiências em detrimentos de outras. Referências: BHABA, Homi. O local da cultura. Belo Horizonte, Editora UFMG, 2014 BASTIDE, R.; FERNANDES, F. Brancos e Negros em São Paulo. 4 ed. São Paulo: Global Editora, 2008 DA SILVA, Priscila Elisabete. O conceito de branquitude: reflexões para o campo de estudo. IN: MULLER, Tânia M.P.; CARDOSO, Lourenço. Branquitude - Estudos sobre a identidade branca no Brasil. 1 ed. Curitiba, 2017 DUARTE, Eduardo de Assis. Por um conceito de literatura afro-brasileira. In. Terceira Margem, v. 14, n. 23, p. 113-138, jun. 2017. Disponível em: https://revistas.ufrj.br/index.php/tm/article/view/10953/8012. Acesso em: 14 Dez. 2017. FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. 1. ed. Salvador: Edufba, 2008 FERNANDES, Florestan. O negro no mundo dos brancos. São Paulo: Global Editora, 2007 FERNANDES, Florestan; BASTIDE, Roger. Brancos e negros em São Paulo. São Paulo: Global Editora, 2008 FERNANDES, Cleudemar Alves Fernandes. Análise do Discurso - Reflexões Introdutórias. São Paulo: Claraluz, 2007. Não paginado. Disponível em: http://www.foucault.ileel.ufu.br/noticias/livro-analise-do-discurso-reflexoes-introdutoriascleudemar-alves-fernandes FOUCAULT, Michel. Arqueologia do saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008. MIRANDA, F. R. (2019). Narrativa e experiência histórica nos romances de autoras negras brasileiras: silêncios prescritos. Revista Crioula, 1(23), 214-230. https://doi.org/10.11606/issn.1981-7169.crioula.2019.156225 MUNANGA, Kabengele. Rediscutindo a Mestiçagem no Brasil: Identidade Nacional versus Identidade Negra. Belo Horizonte: Autêntica, 2019. ORLANDI, Eni Puccinelli. As formas do silêncio - No movimento dos Sentidos. Campinas: Editora da Unicamp, 1993 SANSONE, Lívio. Negritude sem Etnicidade. Salvador: Pallas, 2004 SCHUCMAN, Lia Vainer. Entre o “encardido”, o “branco” e o “branquíssimo”: Raça, hierarquia e poder na construção da branquitude paulistana. Tese de doutorado. São Paulo: 2012 WOODWARD, Kathryn. Identidade e diferença: uma introdução teórica e conceitual. IN: DA SILVA, Tomaz Tadeu (Org.). Identidade e diferença. 15. ed. Rio de Janeiro: Editora Vozes 2014. CONTO DE FADAS ÀS AVESSAS: UMA LEITURA DE "A BELA E A FERA OU A FERIDA GRANDE DEMAIS", DE CLARICE LISPECTOR Leandro Antognoli Caleffi Resumo: A partir da leitura analítico-interpretativa do conto “A bela e a fera ou A ferida grande demais”, de Clarice Lispector, o presente trabalho intenta investigar as maneiras pelas quais o texto clariceano subverte a tradicional acepção do conto de fadas, na medida em que expõe impasses arraigados na sociedade brasileira, de todo avessos ao “final feliz” comum às fabulações fantásticas. No conto, ao andar sozinha pelas avenidas do Rio de Janeiro, a protagonista Carla de Souza e Santos é levada a pensar sobre a relação desigual entre ela e seu marido, uma vez que por ser mulher não gozava dos mesmos privilégios de seu companheiro. Momentos depois, quando é abordada por um mendigo em situação degradante, a personagem se vê diante da miséria social, que a faz problematizar sua condição de classe burguesa, chegando à conclusão de que sua vida não passava de uma mentira. Como se vê, longe do propósito edificante tradicionalmente vinculado às histórias infantis, a narrativa de Clarice Lispector figura como uma maneira de denunciar problemas sociais brasileiros, tais como a inferiorização feminina e a desigualdade econômica. Sendo assim, esta comunicação objetiva analisar como tais tensões são formalizadas no conto, a fim de contribuir para uma leitura de viés histórico-social ainda pouco esboçada pela fortuna crítica sobre a autora. Referências: BEAUMONT, Jeanne-Marie Leprince de; VILLENEUVE, Gabrielle-Suzanne Barbot de. A Bela e a Fera. Tradução André Telles. Rio de Janeiro: Zahar, 2016. CHIAPPINI, Ligia. Pelas ruas da cidade uma mulher precisa andar – Leitura de Clarice Lispector. Literatura e Sociedade (USP), São Paulo, v. 1, n. 1, p. 60-80, 1996. CHIAPPINI, Ligia. Mulheres, galinhas e mendigos: Clarice Lispector, contos em confronto. In: SÜSSEKIND, Flora; DIAS, Tânia; AZEVEDO, Carlito (orgs.). Vozes femininas: gêneros, mediações e práticas da escrita. Rio de Janeiro: 7letras, 2003. GOTLIB, Nádia Battella. Os difíceis laços de família. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, Fundação Carlos Chagas, n. 91, pp. 93-99, nov. 1994. GOTLIB, Nádia Battella. Clarice: Uma Vida que se Conta. 7. ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2013. IANNACE, Ricardo. A leitora Clarice Lispector. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2001. LISPECTOR, Clarice. A bela e a fera. Rio de Janeiro: Rocco, 2020. NAPOLITANO, Marcos. 1964: história do regime militar brasileiro. São Paulo: Contexto, 2018. NUNES, Benedito. A forma do conto. In: NUNES, Benedito. O drama da linguagem: uma leitura de Clarice Lispector. São Paulo: Editora Ática, 1995. OLIVEIRA, Solange Ribeiro de. Rumo à Eva do futuro: a mulher no romance de Clarice Lispector. Remate de Males, Campinas, v. 9, p. 95-105, 2015. PINTO, Céli Regina Jardim. Uma história do feminismo no Brasil. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2003. PONTIERI, Regina. Clarice Lispector: uma poética do olhar. São Paulo: Ateliê Editorial, 1999. WALDMAN, Berta. Clarice Lispector: a paixão segundo C. L. 2. ed. São Paulo: Editora Escuta, 1992. VOZES FEMININAS COMO RESISTÊNCIA POLÍTICA: CAROLINA MARIA DE JESUS E MARIA FIRMINA DOS REIS Leni Nobre de Oliveira Resumo: A escrita literária em sua estrutura, armazena conhecimento de mundo e vivências daquele que escreve, pelo uso da linguagem, pelo tema que traz em suas narrativas, pelos tipos de personagens que escolhem para compor o enredo, por exemplo. Maria Firmina dos Reis, mulher negra livre letrada, no século XIX, em suas obras Úrsula (1859) e A Escrava (1887) apresenta uma reflexão sobre a condição de abuso contra o negro escravo e livre. Cem anos depois, Carolina Maria de Jesus, com Quarto de despejo (1960), apresenta uma outra condição do negro livre em São Paulo; e em Diário de Bitita (1982), escrito em 1975, registra sua condição no interior de Minas Gerais. A convergência da denúncia de injustiça social contra o povo negro se faz presente nessas obras. Uma análise das vozes enunciadoras, da pessoa do discurso, das condições de produção e de recepção das obras literárias em seus contextos possibilita que, se essas obras forem lidas como registros da história, da memória e das peculiaridades do tempo histórico, nelas encontramos especificidades únicas de registro das vivências que a História ignora. Minirrelatos do cotidiano, com curta duração no tempo histórico ou lapso temporal, elas confirmam a perspectiva de Hyden White de que o texto histórico é um artefato literário, e não compreende tais narrativas que atravessam, transdisciplinarmente, a História. Nas malhas do texto literário há diversos componentes da vida real vivida pelo escritor, matéria prima na formação da linha amalgamada aos fatores sociais, políticos, históricos e econômicos com que se tece o discurso. Desse modo, refletiremos sobre o importante papel das vozes femininas na ruptura com a estrutura falocêntrica, eurocêntrica, etnocêntrica, imperialista e judaico-cristã que tem justificado o racismo estrutural e a opressão de grande parte da população brasileira em função da preservação de poderes, status e capital de uma minoria. Referências: FARIAS, Tom. Carolina: uma biografia. Rio de Janeiro: Malê, 2018. JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo. São Paulo: Ática, 2000. JESUS, Carolina Maria de. Diário de Bitita. Sacramento: Editora Bertolucci, 2007 OLIVEIRA, Leni Nobre. O vestibular como espaço de canonização da literatura brasileira. 2001. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Teoria da Literatura. Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2001. PERPÉTUA, Elzira Divina, A vida escrita de Carolina Maria de Jesus. Belo Horizonte: Nandyala, 2014. 344p. REIS, Maria Firmina dos. Úrsula e outras obras. 2ed. – Brasília: Câmara dos deputados, Edições Câmara, 2019. 313p. – (Série prazer de ler; n. 11 papel) WHITE, Hayden V.. Trópicos do Discurso: Ensaios sobre a critica da cultura; trad. De Alípio Correia de Franca Neto. E.ed. 1.reimpr. – São Paulo: Editora Universidade de São Paulo, 2014. – Ensaios de Cultura; 6). SENTIMENTO DO MUNDO: UMA ESTÉTICA POLÍTICO-AFETIVA DE RESISTÊNCIA NA VIRADA DA MODERNIDADE Lina Alegria dos Santos Reis Resumo: A comunicação tem como objeto um conjunto de poemas de poetas surrealistas franceses, escritos durante a ocupação nazista na França, entre 1940 e 1945, e poemas brasileiros contemporâneos, em especial de Carlos Drummond de Andrade, tradutor de algumas das poesias surrealistas de resistência. A hipótese a ser defendida, e que é integra o conjunto de questões da atual pesquisa de mestrado, é a de esses poetas compartilhavam e produziam uma certa disposição afetiva específica, o "sentimento do mundo". Sentimentalidade que em muito se diferencia das condições de possibilidade afetiva dos campos progressistas na atualidade, caracterizados pela desesperança e pelo cansaço. Por trás daquele projeto de terapia passional, estaria a tentativa de instigar a tomada de posicionamento ético e resistente, além de buscar inspirar à ação política, em meio a um momento de redefinição das condições humanas. A comunicação será organizada em cinco etapas: na primeira, apresenta-se a hipótese, buscando delinear, comparativamente, as condições de possibilidade afetiva atuais e à época; na segunda, trata-se sobre a possibilidade de estudo sistemático do passional fora dos campos da filosofia e da psicologia; a terceira tem como ponto central a relação específica entre "sentimento" e "resistência"; na quarta, discute-se o estatuto da poesia, os limites entre autonomia da obra e ficcionalidade e seus diálogos com o contexto sincrônico; e, finalmente, na quinta, trabalham-se os poemas. Referências: ANSART, Pierre. A gestão das paixões políticas. Curitiba: Editora UFPR, 2019. __________________. Les Cliniciens des Passion Politiques. Paris: Seuil, 1997. BOSI, Alfredo. "Narrativa e Resistência". Itinerários. Araraquara, 1996, n.10. p.11-29. COMITÊ INVISÍVEL. Motim e destruição agora. São Paulo: n-1 edições, 2018. __________________. Aos nossos amigos, crise e insurreição. São Paulo: n-1 edições, 2018. COSTA LIMA, L. A ficção e o poema. São Paulo: Cia. das Letras, 2012. EKSTEINS, Modris. A sagração da primavera: a Grande Guerra e o nascimento da Era Moderna. Rio de Janeiro: Rocco, 1991. EVERDELL, William R. Os primeiros modernos. São Paulo: Editora Record, 2000. FLORES, GUILHERME G. “A revolta do poema”. Caderno de leituras nº90. Belo Horizonte: Chão de Feira, 2019. Disponível em: <https://chaodafeira.com/wpcontent/uploads/2019/08/cad90-arevolta.pdf > Acesso: 03 de set. 2019. GAGNEBIN, Jeanne Marie. "As formas literárias da filosofia," in: Lembrar escrever esquecer. São Paulo: Editora 34, 2006. P.201-211. GROS, Frédéric. Desobedecer. São Paulo: Ubu Editora, 2017 HADOT, Pierre. Exercícios espirituais e filosofia antiga. São Paulo: É realizações, 2014. LÖWY, Michael. A estrela da manhã: Surrealismos e Marxismo. São Paulo: Boitempo, 2018. NADEAU, Maurice. História do Surrealismo. São Paulo: Perspectiva, 1985. NOVAES, Adauto (org). Os sentidos da paixão. São Paulo: Companhia das Letras, 1987. PAZ, Octavio. Os filhos do barro. 2ª Ed. São Paulo: Cosac & Naify, 2014. DESAFIANDO ESTEREÓTIPOS: RELAÇÕES ENTRE MASCULINO E FEMININO NA OBRA DE NEIL GAIMAN Marco Aurelio Barsanelli De Almeida Resumo: Um dos mais reconhecidos escritores da atualidade, autor de quadrinhos, contos e romances, o escritor britânico Neil Gaiman insere em suas obras uma miríade de personagens femininas que desafiam estereótipos de gênero. Suas personagens constantemente entram em confronto com figuras masculinas a fim de reafirmarem seus pontos de vista e reiterarem oposição a qualquer espécie de submissão ao masculino. Nesse sentido, nosso estudo lança foco sobre algumas das personagens do universo de Gaiman a fim de evidenciar as relações estabelecidas entre personagens de diferentes gêneros. Nosso corpus é composto pelos romances Stardust (1999), Coraline (2002) e por The Doll's House (2010), segundo volume da série de quadrinhos Sandman. A partir da análise de algumas das personagens femininas apresentadas nas obras em questão, e à luz das ideias de Judith Bulter em Gender Trouble (1990) e Corpos que importam: os limites discursivos do "sexo" (2019) sobre as relações de gênero; de Chimamanda Ngozi Adichie em Sejamos todos feministas (2015) e Para educar crianças feministas: um manifesto (2017) acerca do pensamento feminista e de alguns preconceitos que circundam esse discurso; e de bell hooks em Ain't I a Woman? Black Women and Feminism (1990), sobre as projeções sociais do discurso feminista, objetivamos entender como as relações entre masculino e feminino são estabelecidas nos textos de Gaiman, de que maneira essas relações refletem uma atitude desafiadora para com o pensamento patriarcal hegemônico, e de que forma essas relações contribuem para os estudos na área literária ao espelharem diferentes visões acerca do pensamento feminista contemporâneo. Referências: ADICHIE, C. N. Sejamos todos feministas. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. _______. Para educar crianças feministas. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. BUTLER, J. Gender Trouble. New York: Routledge, 1990. _______. Corpos que importam: os limites discursivos do “sexo”. São Paulo: n-1edições, 2019. GAIMAN, N. Stardust. New York: Harper Collins, 1999. _______. Coraline. New York: Harper Collins, 2002. _______. Sandman: The Doll’s House. New York: Vertigo, 2010. HOOKS, b. Ain’t I a woman? Black Women and Feminism. Winchester, Massachusetts: Pluto Press, 1990. A FIGURAÇÃO DA CASA NO ROMANCE ÉRAMOS SEIS (1943), DE MARIA JOSÉ DUPRÉ (1898): DA ESTRUTURA ÀS QUESTÕES SOCIAIS Paula Aline Prearo Resumo: Este trabalho pretende analisar o elemento casa no romance Éramos Seis, de Maria José Dupré (1984), publicado em 1943. Tem-se, por meio desta análise, o objetivo de demonstrar como um único elemento e suas particularidades é capaz de figurar as questões plurais do âmbito individual ao coletivo, a partir de interpretação dialética que direciona a narrativa para uma ampliação semântica a partir de questões aparentemente superficiais como a construção de uma casa ao esfacelamento do núcleo familiar burguês em face à conflituosa industrialização da cidade de São Paulo. Como resultado, a investigação mostra que a narrativa pode ser lida a partir da concepção de horizontes ou níveis de leitura e que a ideia de “casa” vai além da construção e pintura de paredes. Especificamente neste trabalho, apresenta-se três níveis de leitura: o primeiro nível discute o elemento casa estruturalmente – como construção civil, enquanto o segundo investiga os conflitos das relações sociais em torno do termo que também sofre modificações; e o terceiro, por fim, traz uma ampliação semântica que além de englobar todos os níveis, pretende mostrar como a narrativa é inerentemente produto de seu próprio tempo, isto é, da sua própria história, afirmação que pode ser constatada através de elementos estruturais do texto, ou seja, de sua forma específica. Referências: CANDIDO, Antonio. A revolução de 1930 e a cultura. In: A educação pela noite e outros ensaios. São Paulo: Editora Ática, pp. 181-199, 1989 CANDIDO. Antonio. Literatura e Sociedade. 13. Ed. Rio de Janeiro: 2014. DUPRÉ, Maria José. Éramos Seis. 43. Ed. São Paulo: Ática, 2013 EAGLETON, Terry. Literatura e História. In: Marxismo e Crítica Literária. São Paulo: Edi- tora Unesp, 2011. JAMESON, Fredric. O inconsciente político. Tradução Valter Lellis Siqueira. São Paulo: Ática, 1992. PETRONE, Pasquale. A cidade de São Paulo no século XX: São Paulo transforma-se em me- trópole industrial. Revista de História, São Paulo, v. 6, n. ja/jun 1955, p. 127-170, 1955 RIBEIRO, Bianca. O realismo doméstico de Maria José Dupré. Literatura E Sociedade, 15(14) RIBEIRO, Bianca. A respeitável e prolífica Sra. Leandro Dupré. In: A mulher e a cidade: imagens da modernidade brasileira em quatro escritoras paulistas. 2008, 245 p. Dissertação (Mestrado em Letras). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, USP, 2008. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8149/tde-20102008-180022/ptbr.php. Acesso em: 03 de jan. 2022 SANDANELLO, Franco Baptista. O não lugar da memória. In: O escorpião e o jaguar – o memorialismo prospectivo d’o Ateneu de Raul de Pompeia. 1. Ed. São Paulo: Cultura Aca- dêmica, 2015. SCHWARZ, Roberto. Duas meninas. São Paulo: Companhia das Letras, 1997 SANTOS, Cássia dos. Romance (a) político e crítica literária nos anos 30 e 40. Letras Curi- tiba, n. 49, pp. 107-124. BRASIL DO PRETÉRITO IMPERFEITO A PARTIR DE SILVIANO SANTIAGO: UM PROJETO DE TESE Pedro Henrique Alves de Medeiros, Edgar Cézar Nolasco Resumo: Este trabalho, alicerçado pela proposta maior do projeto de tese de doutoramento iniciado em 2021, tem por objetivo delinear uma teorização descolonial a partir do que o crítico e escritor Silviano Santiago alcunhou de “Brasil do pretérito imperfeito” no texto “Nó, nós” (2020) publicado na revista portuguesa “Electra”. Para tal, assentaremo-nos em uma metodologia bibliográfica respaldada não apenas na crítica biográfica fronteiriça (NOLASCO, 2015) enquanto aporte epistemológico, mas, sobremaneira, nos textos ficcionais e ensaísticos do intelectual mineiro os quais serão evocados com base nas discussões temáticas a serem deslindadas. Ademais, a tese em questão se subdivirá em três momentos partindo do presente brasileiro contaminado pela bestialidade do movimento ideológico conservador Bolsonarista, passando pelo modernismo brasileiro de 1922 atravessado por sua tentativa de se desvencilhar da colonialidade e, por fim, desembocando no Brasil colônia permeado pela invasão do território indígena pelos europeus colonizadores. Para isso, ancoraremo-nos, seja pela semelhança ou pela diferença, nos intelectuais Walter Mignolo, Boaventura de Sousa Santos, Gloria Anzaldúa, Aníbal Quijano, Ramón Grosfoguel, Edgar Cézar Nolasco, Lilia Moritz Schwarcz, Heloisa Starling, Sérgio Buarque de Holanda, Antonio Candido, Joaquim Nabuco dentre outros no intento de conceituar, à luz de Silviano, um Brasil que não se desprendeu da matriz colonial de poder e dos imperialismos que grassam nos trópicos. Referências: ANZALDÚA, Gloria. Borderlands/la frontera: the new mestiza. São Francisco: Aunt Lute Books, 2007. BHABHA, Homi K. O local da cultura. Tradução de Myriam Ávila, Eliana Lourenço de Lima Reis, Gláucia Renate Gonçalves. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2013. FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. Tradução de Renato da Silveira. Salvador: EDUFBA, 2008. GROSFOGUEL, Ramón. Para descolonizar os estudos de economia política e os estudos póscoloniais: transmodernidade, pensamento de fronteira e colonialidade global. In: MENESES, Maria Paula; SANTOS, Boaventura de Sousa (org.). Epistemologias do Sul. São Paulo: Cortez, 2010, p. 455-491. MENESES, Maria Paula; SANTOS, Boaventura de Sousa. Introdução. In: MENESES, Maria Paula; SANTOS, Boaventura de Sousa (org.). Epistemologias do Sul. São Paulo: Cortez, 2010, p. 15-27. MIGNOLO, Walter. Histórias locais/projetos globais: colonialidade, saberes subalternos e pensamento liminar. Tradução de Solange Ribeiro de Oliveira. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003a. MIGNOLO, Walter. Prefacio de la edición castellana: un paradigma otro: colonialiad global, pensamiento fronterizo y cosmopolitismo crítico. In: MIGNOLO, Walter. Historias locales/diseños globales: colonialidad, conocimientos subalternos y pensamiento fronterizo. Madrid: Ediciones Akal Sa, 2003b, p. 19-60. MIGNOLO, Walter. Desobediência epistêmica: a opção descolonial e o significado de identidade em política. 2008. Disponível em: <http://professor.ufop.br/sites/default/files/tatiana/files/desobediencia_epistemica_mignolo.pd f.>. Acesso em: 20 fev. 2022. MIGNOLO, Walter. Desobediencia epistémica: retórica de la modernid, lógica de la colonialidad y gramática de la descolonialiad. Ciudad Autónoma de Buenos Aires: Del Signo, 2014. MIGNOLO, Walter. Habitar la frontera: sentir y pensar la descolonialidad (antología, 1999-1014). Barcelona: CIDOB, 2015. MIGNOLO, Walter. Colonialidade: o lado mais escuro da modernidade. 2017. Disponível em: <https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S010269092017000200507&lng=en &nrm=iso&tlng=pt>. Acesso em: 20 fev. 2022. MIGNOLO, Walter. Sí, podemos. In: GIULIANO, Facundo (org). ¿Podemos pensar los no-europeos?: ética decolonial y geopolítica del conocer. Ciudad Autónoma de Buenos Aires: Del Signo, 2018, p. 131-173. NOLASCO, Edgar Cézar. Habitar a exterioridade da fronteira-sul. 2018. Disponível em: <https://periodicos.ufms.br/index.php/cadec/article/view/7771>. Acesso em: 20 fev. 2022. NOLASCO, Edgar Cézar. Crítica biográfica fronteiriça (Brasil/Paraguai/Bolívia). In: CADERNOS DE ESTUDOS CULTURAIS: Brasil/Paraguai/Bolívia. v. 7, n. 14. Campo Grande: Editora UFMS, 2015, p. 47-63. PESSANHA, Juliano Garcia. Recusa do não-lugar. São Paulo: UBU Editora, 2018. SANTIAGO, Silviano. O entre-lugar do discurso latino-americano. In: SANTIAGO, Silviano. Uma literatura nos trópicos. Recife: Cepe, 2019, p. 09-30. SANTIAGO, Silviano. Fisiologia da composição: gênese da obra literária e criação em Graciliano Ramos e Machado de Assis. Recife: Cepe, 2020a. SANTIAGO, Silviano. Silviano Santiago: o literato cosmopolita. 2020b. Disponível em: <https://revistapesquisa.fapesp.br/silviano-santiago-o-literato-cosmopolita/>. Acesso em: 20 fev. 2022. SANTOS, Boaventura de Sousa. Para além do pensamento abissal: das linhas globais a uma ecologia dos saberes. In: MENESES, Maria Paula; SANTOS, Boaventura de Sousa (org.). Epistemologias do Sul. São Paulo: Cortez, 2010, p. 31-83. QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder a classificação social. In: MENESES, Maria Paula; SANTOS, Boaventura de Sousa (org.). Epistemologias do Sul. São Paulo: Cortez, 2010, p. 84-130. LITERATURA, HISTÓRIA E MEMÓRIA: UM ESTUDO ACERCA DA MEMÓRIA EM NARRATIVAS PÓS-DITATORIAIS Raimunda Thamires Moura Maquiné Resumo: Este trabalho possui como objetivo analisar como a memória é apresentada em narrativas pós-ditatoriais; as narrativas escolhidas são: A noite da espera (2017), de Milton Hatoum e Noturno do Chile (2017). A pesquisa, de caráter bibliográfico, pauta-se em leituras que abordam o período ditatorial, principalmente no que diz respeito a memória. Entre essas, podemos citar Seligmann-Silva (2017), Gagnebin (2006) e Figueiredo (2017). Em A noite da espera (2017), primeiro volume da trilogia O lugar mais sombrio, Martim reconstrói no exílio parisiense – entre os anos de 1977 e 1979 – suas memórias da juventude, vividas na década de 1960, em pleno período ditatorial brasileiro. Já em Noturno do Chile (2017), padre Sebastian Urrutia Lacroix reconstrói em seu leito de morte através de um denso monólogo suas memórias que possuem como pano de fundo a ditadura militar chilena. Padre Urrutia, através desse monólogo apresenta memórias de sua juventude, de sua trajetória no seminário, além de apresentar seus posicionamentos diante do cenário político vivido. Nessa obra, podemos perceber um narrador Nossas conclusões apontam para o fato de que as obras apresentam como pano de fundo a ditadura militar brasileira e possuem como característica a reconstrução através da memória desse período ditatorial; assim, pretende-se apresentar como essa característica é trabalhada nas obras. Referências: CANDIDO, Antonio. Literatura e Sociedade. 8 ed. São Paulo: T.A. Queiroz, 2000 FIGUEIREDO, Eurídice. A literatura como arquivo da ditadura brasileira. Rio de Janeiro: Editora 7Letras, 2017 GAGNEBIN, Jeanne Marie. Lembrar, escrever, esquecer. São Paulo: Ed. 34, 2006 SELIGMANN-SILVA, Márcio (org). História, Memória, Literatura: O testemunho na era das catástrofes. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 2003. REVOLTA, RESISTÊNCIA E TRANSGRESSÃO DA ORDEM PLASMADAS NA ESCRITURA POÉTICA DA LAVOURA ARCAICA, DE RADUAN NASSAR Raphael Bessa Ferreira Resumo: O presente trabalho tem o objetivo de analisar o romance Lavoura Arcaica (1975), de Raduan Nassar, tendo como mote de discussão as questões ligadas às formas simbólicas em que o poder instituído, ou a normatividade imputada ao sujeito, é transgredida em operacionalização de resistência ante a revolta pela exclusão de direitos e opressão do ser diante de sua liberdade de expressão, podendo-se dizer, com isso, que o tecido narrativo da obra apresenta, em seu plano de conteúdo, uma escritura que resvala a resistência à uma poética singular, imanente ao modo de estilização traçado no plano expressivo, ou composicional, da lavoura nassariana. Assim, e tendo em vista que o texto do autor dialoga metaforicamente com o contexto de sua publicação no Brasil, pós-AI5 do período ditatorial, e que inúmeras temáticas moralizadoras advindas dos palimpsestos sacros da tradição judaico-cristã-islâmica são plasmadas no enredo da obra, parte-se da hipótese de que o objeto de estudo coloca em tensão um mundo circunscrito a um alto teor de violência-violação de direitos e de liberdade ante a um universo que ser quer contrário, ou em trânsito de construção de uma nova forma de vivência do ser, pautada em uma releitura, e mesmo contra leitura, da cultura hegemônica tradicional e ancestral, fazendo derivar daí uma escritura poética de resistência, cujo tropos da conciliação dos opostos é configurado por um barroquismo que põe em destaque as relações de ordem-desordem, interdiçãoconcessão, sagrado-profano, dentre outras. De modo a dar conta de tais discussões, elenca-se como referencial teórico para a pesquisa os pressupostos de autores tais como Agamben (2006), Bosi (2002), Ferreira (2009; 2012; 2017) e Nassar (2016). Referências: AGAMBEN, Giorgio. A linguagem e a morte – um seminário sobre o lugar da negatividade. Tradução de Henrique Burigo. Belo Horizonte: EDUFMG, 2006. BOSI, Alfredo. Narrativa e resistência. Literatura e resistência. São Paulo: Companhia das Letras, 2002, p. 118135. FERREIRA, Raphael Bessa. Os palimpsestos sagrados da Lavoura Arcaica. In: Revista Letras Raras. Vol.6. Num. 1. 2017. p.227-240. FERREIRA, Raphael Bessa. O trágico, o ditirambo e a embriaguez dionisíaca em Lavoura Arcaica de Raduan Nassar. In: Ces Revista. Vol.23. Juiz de Fora: 2009. p.167-174. FERREIRA, Raphael Bessa. Tradição, Tabu e Ruptura do Sagrado em Lavoura Arcaica, de Raduan Nassar. In: REVELLI – Revista de Educação, Linguagem e Literatura da UEG-Inhumas. v.4, n.1. 2012. p.159-175. NASSAR, Raduan. A corrente do Esforço Humano. Obra Completa. São Paulo: Companhia das Letras, 2016. p. 399-418. NASSAR, Raduan. Lavoura Arcaica. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. O POVO ESPANHOL COMO RESISTÊNCIA NA OBRA DE ERNEST HEMINGWAY Raquel Reis Rodrigues Resumo: Na edição restaurada de sua autobiografia “A Moveable Feast”, de 2009, há um capítulo intitulado “On Writing in the First Person”, no qual Ernest Hemingway destaca que a escrita em primeira pessoa é bem-sucedida quando o escritor consegue que seu leitor sinta que aquela experiência que foi narrada também faz parte de sua realidade; quando a história do protagonista de um romance acaba também fazendo parte da vida daquele leitor. Na tentativa de atingir essa máxima, Hemingway busca se aproximar dos fatos que pretende tornar ficção, e é por isso que o escritor viaja à Madrid em 1936 como correspondente de guerra e cria sua poética de resistência contra o fascismo que tentava se impor na Espanha. Como Alfredo Bosi descreve em seu artigo “Narrativa e resistência”: “a resistência ético política buscava traduzir-se em uma resistência no plano das opções narrativas e estilísticas”. Pretende-se nesta comunicação a análise de dois contos e uma reportagem escritos durante o cerco à Madri na Guerra Civil Espanhola, por Hemingway, com o objetivo de demonstrar como as obras – a partir da perspectiva de um narrador que se coloca à margem dos acontecimentos – constroem a imagem do povo espanhol como símbolo de resistência. As obras são: “A borboleta e o tanque”, “A denúncia” e “Os motoristas de Madri”, respectivamente. A discussão entre o ficcional e não ficcional se estende para o entendimento da perspectiva ética na estética da obra, dessa forma, Hemingway aproxima a escrita da reportagem a escrita do conto, mas como ele mesmo propõe em sua Teoria do Iceberg: a maior parte de significado fica ainda submerso. Referências: HEMINGWAY, Ernest. Ernest Hemingway Repórter – Tempo de morrer. Tradução Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1969. HEMINGWAY, Ernest. Ernest Hemingway. A arte da ficção 21. In. As entrevistas da Paris Review. Vol1. Tradução. Christian Schwarz e Sérgio Alcides. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. HEMINGWAY, Ernest. Contos – Volume 3. Tradução José J Veiga. 5ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2015. BURNS, Tom. Ernest Hemingway e a Guerra Civil Espanhola. In: Revista Aletria. Pos-lit UFMG. Volume 19 N. 02. Belo Horizonte: jan/jun, 2009. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/aletria/article/view/18286/15075. Último acesso: 03 de setembro de 2021. BOSI, Alfredo. Narratinha e Reseistência. In: Revista Itinerários. UNESP. Volume n.10. Araraquara: 1996. Disponível em : https://periodicos.fclar.unesp.br/itinerarios/article/view/2577. Último acesso: 13 de maio de 2022. DEARBORN, Mary V. Ernest Hemingway: a biography. Nova Iorque: Knopf, 2017. HANSEN, João Adolfo. O que é um livro? São Paulo: Edições Sesc São Paulo, 2019. RICOEUR, Paul. Tempo e Narrativa: volume 1. Tradução Constança Marcondes Cesar. Campinas: Papirus, 1994. SANTA EVITA: MITO E DISPUTAS NO CAMPO LITERÁRIO ARGENTINO Rosa Maria Da Silva Faria Resumo: O mito de Evita exerce notória influência no imaginário social, ideológico, político e cultural argentino, permitindo que sua polêmica personalidade provoque resistências e adesões do mesmo grau de intensidade. O campo literário argentino ao não se opor a esta representatividade, articula tais representações aos debates que se vinculam ao campo intelectual. É preciso suscitar reflexões sobre o tema, sob a ótica de que a relação que o mito de Evita estabelece com a literatura exige articulações entre ideologia, mito e história postos como construção discursiva. A ficção constrói o mito literário desta mulher tomando seu corpo como símbolo e reconhecimento de gênero, de direitos trabalhistas e de amparo social. No romance Santa Evita (1996), Tomás Eloy Martínez, mesclando ficção e história, instiga questionamentos sobre fatos históricos e políticos omitidos pela nação argentina. A obra põe em cena o incontestável: o destino de Evita estreitamente conectado à história de seu país, tendo a escrita como ferramenta de resgate da memória do mito que integra uma cultura, uma memória e uma história, como aponta Barthes (2007, p. 208). A hipótese é a de que Tomás Eloy Martínez revisita o debate literário, com base no jornalismo, apresentando o personagem histórico Evita respaldado pela ficção, por testemunhos e por documentos que fundamentem sua narrativa. Referências: BARTHES, Roland. Mitologias. Trad. Rita Buongermino, Pedro Souza e Rejane Janowitzer. Rio de Janeiro: DIFEL, 2007. MARTÍNEZ, Tomás Eloy. Santa Evita. Trad. Sérgio Molina. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. A ARTE ENGAJADA DE TERRY EAGLETON Rosangela Aparecida de Queiros Manduca Resumo: Em quase meio século de produção acadêmica, o autor britânico Terry Eagleton (1943 ) é considerado um dos mais influentes críticos literários e culturais dos nossos tempos atuando com “uma linha de pensamento oposicionista que vincula a produção artística às condições materiais da sociedade, abrindo um espaço para a ideia do engajamento no interior da visão da arte como expressão única da genialidade de um indivíduo” (COSTA e CEVASCO, 1996, p. 50). Sob este olhar, encontramos a obra de Eagleton, originalmente intitulada, Why Marx was right (2011) que apresenta-se sob o pretexto de discutir dez críticas comuns ao pensamento Marxista, não obstante, o livro vai muito além, demonstra estar claramente de acordo com os acontecimentos do cenário global, de modo a proporcionar ao leitor ferramentas necessárias para além de compreender, desvendar melhor o momento histórico vivido. Notadamente, há um encadeamento particular da obra que percorre os capítulos e aponta a uma considerável narrativa que desnuda muito do que fora omitido sobre o sistema atual. Nesse sentido, embora apresente-se como uma leitura que visa desmistificar teorias, cada capítulo ganha notável função na narrativa, não apenas como caracterização da ideologia marxista, mas, retomado no presente, cada teoria exposta parece convidativa ao leitor a uma tomada de consciência, uma atitude, resistência, como se à luz dos acontecimentos da crise de 2008 o campo social estivesse pronto para uma revolução (EAGLETON, 2012, p.41). Dessa forma, acreditamos que o autor britânico, encarrega-se de uma arte comprometida, evidenciando a função social da literatura (conforme já salientara SARTRE, 2015), visto que, Eagleton, por meio de sua narrativa em dez capítulos, propõe um engajamento crítico com a história e sugere além disso uma estrutura passível de permitir identificar e construir propostas políticas e econômicas alternativas, uma vez que “aquele que pensa, opõe resistência” afirmara Adorno, (2018, p.2) Referências: ADORNO, Theodor W. Engagement, In: Notes on literature II. New York: Columbia University Press, 1992. ADORNO, Theodor W. “Notas marginais sobre teoria e práxis”. Disponível em: https://www.marxists.org/portugues/adorno/1969/mes/notas.htm. Publicado em 2018. COSTA, Iná Camargo; CEVASCO, Maria Elisa B. P. S. Terry Eagleton: Uma Apresentação. São Paulo: Revista Crítica marxista, v. 1, n. 2, 1995, p. 49-52 EAGLETON, Terry. Marx estava certo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012 TOLEDO, Caio Navarro de. Terry Eagleton. São Paulo: Revista Crítica Marxista, v.1, n.6, 1998, p.148-152. SARTRE, Jean-Paul. Que é a literatura? Petrópolis: Vozes, 2015. A SEMIOLOGIA DA EXCLUSÃO SOCIAL EM "LAVRA DOR", "MORTE E VIDA SEVERINA" E "JOÃO BOA MORTE, CABRA MARCADO PARA MORRER" Tereza Ramos de Carvalho Resumo: Considerando a afirmação de Barthes sobre ser a “semiologia uma ciência das formas, visto que estuda as significações, independentemente do seu conteúdo”, (BARTHES, 2009; p. 202), o presente trabalho insere-se numa linha pragmática, focando a compreensão textual e temática do poema “Lavra Dor” (1962), de Mario Chamie, observando os diálogos com “Morte e Vida Severina” (1954), de João Cabral de Melo Neto e “João Boa Morte, cabra marcado pra morrer”(1962), de Ferreira Gullar. Considerando a semiótica como tudo aquilo que substitui ou representa alguma coisa para alguém, em certa medida e para certos efeitos, ou seja, em alguma relação ou alguma qualidade (SANTAELLA, 2000), inicialmente apresentamos uma leitura semiótica de “Lavra Dor”, ou seja, dos signos e dos sentidos a serem explorados na construção do poema para, na sequência, realizar uma leitura comparada, abordando temas comuns que marcam os três textos. Escrito em 1962, o poema rural “Lavra Dor” apresenta uma visão da desesperança do sujeito diante da opressão que resulta na dor, numa raiva silente que esvazia a vida pelo esforço sem resultado de lavrar uma terra que não lhe pertence. Em “Morte e Vida Severina” João Cabral apresenta, num contexto de submissão, pobreza e desassistência social, o retirante Severino que foge do interior para a capital, empurrado pela seca em busca de vida, porém, em todo seu trajeto é acompanhado da miséria e morte. “João Boa Morte, cabra marcado pra morrer”, produzido em forma de cordel deveria ser, nas palavras do autor, uma narrativa sobre a reforma agrária. Para o poeta, naquele momento, era importante que a poesia se comunicasse com o maior número possível de pessoas. Nesses textos, encontramos a presença de elementos e imagens em contextos parecidos de exclusão social que vivenciam experiências (des)humanas. Referências: BARTHES, Roland. Mitologias / Roland Barthes; tradução de Rita Buongermino, 4a ed. Pedro de Souza e Rejane Janowitzer. - 4a ed. - Rio de Janeiro: DIFEL, 2009. BOSI, Alfredo. O ser e tempo da poesia. São Paulo, Cultrix, Ed. da Universidade de São Paulo, 1977. GINSBURG, Jaime. Crítica em tempos de violência. São Paulo: Companhia das Letras, 2021. WHITE, Hayden. Tópicos do Discurso: Ensaios sobre a crítica da cultura; tradução . de Alípio Correia de Franca Neto São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1994. SIMPÓSIO “PALAVRAS DA CRÍTICA, PALAVRAS EM DISSIDÊNCIA: GÊNEROS, SUBJETIVIDADES, SEXUALIDADES” Paulo César García (UNEB), Marcus Antônio Assis Lima (UESB), Marinela Freitas (UP) UMA PUTA TRANSCLASSE: AMARA MOIRA E A MOBILIDADE TRAVESTI Ádrian Henrique Ferreira Barboza, Marcus Antônio Assis Lima Resumo: Puta: uma palavra, quatro letras e tantos significados. Afinal, ela é colocada como um monstro, digno e feito para os piores lugares... um mal necessário. Diante de uma sociedade capitalista onde machismo, racismo, lgbt+fobia e outras violências são naturalizadas e estruturadas pelas relações de poder, as mulheres que rompem o lugar do “bela, recatada e do lar” e adentram ao mundo da prostituição são sempre colocadas aos não-lugares, seja nos direitos trabalhistas, à exclusão de acesso à saúde, educação, lazer ou no próprio respeito aos seus corpos, se comparadas às mulheres que ocupam outras profissões. Se pensarmos nas mulheres trans e/ou travestis, principalmente negras, a vulnerabilidade é potencializada, dandolhes, na maioria das vezes, apenas o lugar da prostituição para sobrevivência. Contudo, Amara Moira e sua potência enquanto puta travesti rompe esse lugar que o (c)istema impõe aos corpos disputando espaços, narrativas, tecendo fissuras em prol de um feminismo que acolha e visibilize mulheres trans e travestis; de um putafeminismo que coloque a puta como protagonista de sua história. Este texto tem como objetivo o de mostrar as múltiplas (r)existências que faz de Amara Moira uma sujeito transclasse, perspectiva criada pela filósofa Chantal Jaquet para nos mostrar que existem pessoas que criam estratégias de sobrevivência e de fuga às imposições de determinados comportamentos tidos como normais/aceitáveis. Amara se torna um exemplo destas, um ser que rompe barreiras, paradigmas e se torna fênix em todos os momentos que se intitula enquanto puta travesti, puta professora, puta doutora, puta escritora, devir-puta. Referências: BENTO, Berenice. A reivenção do corpo: sexualidade e gênero na experiência transexual. 3. ed. Salvador: Editora Devires, 2017. MOIRA, Amara. E se eu fosse pura. São Paulo: Hoo Editora, 2018. NASCIMENTO, Letícia Carolina Pereira do. Transfeminismo. São Paulo: Jandaíra, 2021. PRADA, Monique. Putafeminista. São Paulo: Editora Veneta, 2018. VIVENDO COMO UM GREGO NA LISBOA DO SÉCULO XIX: PEDERASTIA E PATOLOGIA EM O BARÃO DE LAVOS Allan Monteiro Pessoa Resumo: A hierarquia dos papéis sexuais existe na sociedade ocidental desde a Grécia Antiga, período em que o papel do ativo, penetrador, era destinado apenas aos cidadãos: homens adultos e livres. A pederastia, prática sexual não só aceita, mas estimulada na época, era exercida por um cidadão penetrador e um jovem que ainda não gozava do título de cidadão, e que desempenhava, assim, o papel do passivo sexual, considerado depreciativo (DOVER, 1989) . A conformidade entre o poder político e o poder sexual típica da pederastia pode ser percebida em O Barão de Lavos, obra de Abel Botelho. No romance, o protagonista Sebastião, admirador dos costumes gregos antigos, usa de sua influência como barão para conquistar o jovem Eugênio e desempenhar com ele o papel do ativo sexual. Sebastião, que procura basear suas relações sexuais nos moldes antigos, possui como contraponto a sociedade lisboeta do século XIX, período em que a relação entre homens era encarada como uma patologia. Na obra, os desejos homossexuais do protagonista são tratados pelo narrador como uma questão hereditária, evidenciando o determinismo biológico inerente ao Naturalismo e presente no romance. Apesar de sua relação com Eugênio assemelhar-se às relações pederásticas, ela não possuía a aprovação social que ocorria na Grécia Antiga. Sebastião, assim, enfrenta uma decadência moral e perde o poder político e sexual que possuía no início do romance. Este trabalho busca analisar os elementos típicos da sociedade grega antiga presentes em O Barão de Lavos, dentre eles a relação pederástica, em diálogo com a concepção de homossexualidade enquanto patologia, típica do século XIX (FOUCAULT, 2018), e as características naturalistas presentes no romance (ZOLA, 2001). Referências: BOTELHO, Abel. O Barão de Lavos. Uberlândia: O sexo da palavra, 2020. DOVER, K. J. Greek Homosexuality. 2 ed. Cambridge: Harvard University Press, 1989. FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade, v. 1: A vontade de saber. 5 ed. São Paulo: Editora Paz & Terra, 2018. ZOLA, Emile. Tra. Joaquim Pereira Neto. São Paulo: Estação Liberdade, 2001. O CORPO INDETERMINADO NO CONTO LUAMANDA, DE CONCEIÇÃO EVARISTO Catherine Santana Souza Resumo: As obras de autoria feminina questionam a ideologia patriarcal quando abordam o corpo feminino como fronteiriço, indeterminado, com suas especificidades, compreendido em sua concretude histórica (GROSZ, 2000). A escrevivência, enquanto movimento de resistência e intervenção, evoca experiências que redimensionam a condição feminina, pois promove a possibilidades da mulher negra representar a si mesma, desarticulando o dualismo que impõe hierarquias sob os corpos historicamente marcados pela opressão, reconfigurando o corpo feminino, colocando-o no centro do debate político. Para Evaristo (2009), a mulher negra ainda surge ancorada nas imagens de um passado cujo corpo é submetido à essencialização e objetificação. Se existe, portanto, uma literatura capaz de invisibilizar ou ficcionalizar a mulher negra a partir de estereótipos, haverá um discurso literário com o objetivo de rasurar esses modos consagrados de representação da mulher negra na literatura. A partir da análise do conto Luamanda (2014), da escritora Conceição Evaristo, examinaremos o corpo envelhecido, a sexualidade da protagonista e suas implicações numa sociedade que marginaliza e invisibiliza a mulher negra e sobretudo a que busca romper com o modelo prescrito. A pesquisa se desenvolverá à luz da crítica literária feminista: (Schmidt, 2017), feminismo decolonial: (Gonzalez, 2019), dos estudos de gênero: (Butler, 2008) e dos estudos sobre a velhice: (Debert, 2012). Referências: BUTLER, Judith. Problemas de gênero: Feminismo e subversão da identidade. Tradução Renato Aguiar, 2ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008. DEBERT, Guita & BRIGEIRO, Mauro. Fronteiras de gênero e a sexualidade na velhice. In: Revista Brasileira de Ciências Sociais. Campinas: Unicamp, 2012. EVARISTO, Conceição. EVARISTO, Conceição. Literatura negra: uma poética de nossa afro-brasilidade In: SCRIPTA, Belo Horizonte, v. 13, n. 25, p. 17-31, 2009. ________________. Olhos dágua. Rio de Janeiro: Pallas, 2019. GONZÁLEZ, Lélia. A categoria político-cultural da Amefricanidade. HOLLANDA, Heloisa Buarque de. Pensamento Feminista: conceitos fundamentais. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2019. GROSZ, Elizabeth. Corpos reconfigurados. Cadernos Pagu, Campinas, n. 14, p. 45- 86, 2000. ERÓTICA DA DISSIDÊNCIA: O PROBLEMA DA PALAVRA EROTISMO Claudicélio Rodrigues Da Silva Resumo: Uma premissa que os pesquisadores temos é que os conceitos não devem ser pensados como categorias estanques. À medida que mobilizam discursos, eles também se movimentam no tempo e espaço em que estão inseridos. Quanto mais trânsito operam entre saberes, mais sentidos podem ser agregados a esses conceitos, de tal maneira que, em determinado momento, começa-se a questionar sobre seu esvaziamento ou saturação de sentido. A palavra Erotismo é um desses conceitos que atravessou séculos e reuniu epistemologias diversas para situar um tipo de produção estética (da literatura à pintura até chegar no cinema) e um pensamento sobre desejo e prazeres sexuais. No entanto, a Pornografia, irmã mais nova e rebaixada do Erotismo, tem abalado o uso e o sentido do conceito. Como se não bastasse, o final do século XX arregimentou pequenas revoluções de ordem epistemológica a partir dos inúmeros questionamentos surgidos dentro do feminismo, que passaram a desconfiar cada vez mais do erótico, ou melhor, da validade do seu uso. Nas discussões sobre o pensamento heterossexual, poder do masculino, construção da virilidade e opressões sofridas no sistema sexo/gênero, o erotismo e o erótico são postos em xeque por uns e revisitados por outros, que os revestem de outros sentidos. Incitado a falar de si, como apontou Foucault (2015) , o sexo tagarelante construiu uma política da carne e do discurso. Mas, como apontou Gayle Rubin (2017), sexo é político e, de tempos em tempos, é preciso renegociar os seus usos, sobretudo como discurso de poder. O Erotismo é hoje um terreno movediço no campo da estética e da teoria. As novas subjetividades minoritárias, e sempre dissidentes, têm cobrado uma revisão do Erotismo como conceito, e são essas cobranças o tema da comunicação. Referências: BATAILLE, Georges. O erotismo. Tradução de Fernando Scheibe. Belo Horizonte: Autêntica, 2013. BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo, subversão e identidade. Tradução Renato Aguiar. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2017. COLLINS, Patricia Hill. Pensamento feminista negro: conhecimento, consciência e a política do empoderamento. São Paulo: Boitempo, 2019. FOUCAULT, Michel. História da sexualidade I: a vontade do saber. São Paulo: Paz & Terra, 2015, p. 131. HUNT, Lynn (org.). A invenção da pornografia: obscenidade e as origens da modernidade. Tradução de Carlos Slak. São Paulo: Hedra, 1999. LORDE, Audre. “Usos do erótico: o erótico como poder”. In: Irmã outsider: ensaios e conferências. Tradução Stephanie Borges. Belo Horizonte: Autêntica Editora: 2019. PAZ, Octavio. A dupla chama: amor e erotismo. Tradução de Wladir Dupont. São Paulo: Siciliano, 1994. PRECIADO, Beatriz. Manifesto contrassexual: práticas subversivas de identidade sexual. São Paulo: n-1 edições, 2014. RUBIN, Gayle. “Pensando o sexo”. In: Políticas do sexo. Tradução de Jamille Pinheiro Dias. São Paulo: Ubu Editora, 2017, p. 64. CINEMA ORLY: TERRITÓRIOS HOMOERÓTICOS E NARRATIVA DE VIDA NA ESCRITA DE LUÍS CAPUCHO Emerson Ian Souza Soares, Marcus Antônio Assis Lima Resumo: Estreia do talentoso artista contemporâneo Luís Capucho na literatura, Cinema Orly rompe as barreiras do cânone literário e apresenta as vivências homoeróticas do narradorpersonagem anônimo que vivencia suas experiências afetivas-sexuais em diversos espaços públicos do Rio de Janeiro, com ênfase na Cinelândia e adjacências. O romance transcende e é possível observar traços de experiências pessoais do autor, conforme ele confirma em diversas entrevistas, de forma que a escrita intimista alimenta o leitor e o entrega uma obra quase “confessional”, objetiva e desprovida de qualquer tipo de pudor, o que nos permite estudá-la através do conceito de “narrativas de vida”, proposto por Ida Lucia Machado (2018). Logo, a presente pesquisa visa apresentar uma proposta de análise sobre os imaginários sociodiscursivos a respeito destes (micro)territórios (COSTA 2007; 2010) e dos sujeitos que transitavam por eles a procura de contato afetivo-sexual, bem como as identidades mais plurais possíveis destes sujeitos adeptos da pegação na Cinelândia, conforme descritas por Capucho ao longo da narrativa. Para além, disto, como supracitado, é válido ainda observar os fragmentos da narrativa de vida que o autor projeta em seu personagem e em seu texto respectivamente, elementos estes que observados com cautela constrói uma obra que nela está presente também este processo de narrativa de si. Referências: CAPUCHO, Luís. Cinema Orly. Rio de Janeiro: Interlúdio, 1999. COSTA, Benhur Pinós da. Geografias das Representações Sobre o Homoerotismo. In: Revista Latino-americana de Geografia e Gênero, Ponta Grossa, v.1, n.1,p. 21- 38, jan.-jul. 2010. COSTA, Benhur Pinós da. Por uma geografia do cotidiano: território, cultura e homoerotismo na cidade. Tese (Doutorado em Geografia). – Instituto de Geociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2007. MACHADO, Ida Lucia. Reflexões sobre uma corrente de Análise do Discurso e sua aplicação em narrativas de vida. Coimbra, Portugal: Grácio editor, 2016. AS NARRATIVAS FEMININAS DISTÓPICAS DE TIANALVA SILVA, NAS OBRAS MIGRANTES E ENTRE O RIO E A PRAÇA Giuliana Conceição Almeida e Silva, Paulo César García Resumo: O presente trabalho apresenta como ponto de partida identificar as vozes femininas presentes nas obras de Tianava Silva, onde a autora passeia entre a realidade e a ficção em suas narrativas, ressignificando memórias do passado e os desafios enfrentados pela população cachoeirana na luta pela sobrevivência. Tianalva apresenta em sua escrita diferentes tipos de pessoas, personalidades e realidades estão todos expostos, trazendo as feridas do cotidiano, o que se vê nas ruas da cidade de Cachoeira , suas poéticas e angústias, muitas desterritorizados do ambiente ou de si, à procura de melhores condições de vida. Esses corpos são subjugados e levados a condições sub humanas, inclusive, a própria autora, no momento em que utiliza de sua narrativa memorialística para se autobiografar. Diante do exposto o problema desta pesquisa é: de que maneira a ancestralidade feminina de Tianalva Silva narra os corpos distópicos da cidade de Cachoeira? Este estudo objetiva investigar, analisar e discutir as vozes femininas marginais pertencentes nas obras Entre o rio e a praça (2018) e Migrantes (2019) observando os aspectos, a presença do arcabouço ancestral e cultural trazidos em suas narrativas, além da distopia presente nas referidas obras. A metodologia aplicada será a abordagem qualitativa. Como suporte teórico alicerçamos nossa pesquisa em: Bosi (2001); Cândido (2000); Chauí (2012); Dalcastagnè (2008); Foucault (2009); (2010); Jobim (org.) (1992); Richard (2002); Rosini (2014); Silva (2018); (2019). Acredita-se que o material produzido nesta pesquisa com o auxílio das seguintes campos científicos: literário, sociológico e filosófico servirá como ferramenta para o entendimento do processo de exclusão e silenciamento dos povos cachoeiranos marginalizados , que poderá servir como ferramenta para o entendimentos da antiopia, refletir sobre a realidade e traçar estratégias para um possível futuro “utópico”. Referências: BOSI, Alfredo. Cultura brasileira e culturas brasileiras. In: ______ (Org.). Dialética da colonização. 4. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. CÂNDIDO, Antônio. Literatura e sociedade. São Paulo: Publifolha, 2000. CHAUÍ, Marilena. Breve consideração sobre a utopia e a distopia. In: Filosofia e Cultura: Festschrift em homenagem a Scarlett Marton. São Paulo: Barcarolla, 2012. DALCASTAGNÈ, Regina. Vozes nas sombras: representação e legitimidade na narrativa contemporânea. In: ______. (Org.). Ver e imaginar o outro: alteridade, desigualdade, violência na literatura brasileira contemporânea. Vinhedo: Horizonte, 2008. FOUCAULT, Michel. Prefácio (Anti-Édipo). In: Repensar a política. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010. FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009. FROMM, Erich. Posfácio (1961). In: 1984. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. JOBIM, José Luis (org). Palavras da crítica. Rio de Janeiro: Imago Ed., 1992. NEVES, José Luis. Pesquisa Qualitativa: características, usos e possibilidades. São Paulo: FEA-USP, 2006. http://www.ead.fea.usp.br/cadpesq/arquivos/C03art06.pdf. Acesso em: Julho de 2021. RICHARD, Nelly. Intervenções críticas: arte, cultura, gênero e política. Trad. Romulo Monte Alto. Belo horizonte: Editora UFMG, 2002. ROSSINI, Tayza Cristina Nogueira. A construção do feminino na literatura: representando a diferença. Brasiliana, v. 3, n. 1, p. 288–312, 2014. SILVA, Tianalva. Entre o rio e a praça. Cachoeira, BA: Cartoneiras de Iaiá, 2018. SILVA, Tianalva. Migrantes. Cachoeira, BA: Cartoneiras de Iaiá, 2019. ZILBERMAN, Regina. O romance brasileiro contemporâneo conforme os prêmios literários (2010-2014). Estudos de literatura brasileira contemporânea, n. 50, p. 424-443, jan./abr. 2017. ZOLIN, Lúcia Osana. A literatura de autoria feminina brasileira no contexto da pós-modernidade. Ipotesi, v. 13, n. 2, p. 105 - 116, jul./dez. 2009. DIADORIM E AS TRANSGENERIDADES GUERREIRAS Helder Thiago Cordeiro Maia Resumo: A partir da análise comparativa do romance Grande sertão: veredas (1956[1994]), de Guimarães Rosa, e da novela gráfica Grande sertão: veredas (2021), de Guimarães Rosa, Rodrigo Rosa e Eloar Guazzelli, e depois da análise da crítica literária brasileira em torno do paradigma das donzelas guerreiras, estamos interessados em investigar não só como a transição de gênero vivida por Diadorim é narrada pelas duas obras e como é entendida pela crítica literária, mas também como a relação homoerótica vivida por Diadorim e Riobaldo é narrada pelas obras e como é entendida pela crítica. Neste sentido, argumentamos que o paradigma das transgeneridades guerreiras pode ser uma chave de leitura mais humanizadora e menos normativa sobre a personagem. Do mesmo modo, a incompreensão da crítica literária sobre a transgeneridade (guerreira) e a afetividade homossexual, contra a própria narrativa literária, se deve à sua pouca imaginação sobre modos de vida não cisgêneros e não heterossexuais. Ao mesmo tempo, leituras como a nossa se devem ao fortalecimento das pesquisas de gênero e sexualidade no campo literário, mas principalmente ao fortalecimento das teorias transfeministas e à recente organização dos ativismos trans, de quem somos devedores e com eles procuramos aprender. Assim sendo, ao analisarmos tanto o romance como a sua transposição aos quadrinhos, podemos dizer que Grande sertão: veredas é um clássico da literatura LGBTQIA+ mundial, como também aponta Dominique Fernandez (1991) e João Silvério Trevisan (2011, p. 264), independentemente das intenções do autor e das domesticações da crítica literária canônica, que insiste em aprisionar Diadorim a uma identidade feminina e reduzir as afetividades à heterossexualidade. Referências: ABEL, Carlos Alberto. Guimarães Rosa: sexo e paixão. DF Letras: a revista cultural de Brasília, Brasília, DF, n. 27/28, p. 21-25, 1991. ARROYO, Leonardo. A cultura popular em Grande Serão: Veredas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1984. BALDERSTON, Daniel. El narrador dislocado y desplumado: los deseos de Riobaldo en Grande Sertão: Veredas. In: BALDERSTON, Daniel. El deseo, enorme cicatriz luminosa: ensayos sobre homosexualidades latinoamericanas. Rosario: Beatriz Viterbo, 2004. p. 85-101. BARCELLOS, José Carlos. Identidades problemáticas: configurações do homoerotismo masculino em narrativas portuguesas e brasileiras (1881-1959). Boletim do CESP, v.18, n. 23, p. 7-42, 1998. BATISTA, Edilene. Análise comparativa entre as donzelas guerreiras Diadorim e Monja Alférez. Interdisciplinar, São Cristóvão, v. 25, p. 157-168, 2016. BRAGA, Rubem. Grande sertão: veredas. Diário de Notícias, Rio de Janeiro, 12 ago. 1956. BRUYAS, Jean-Paul. 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CORPOS (IN)VISÍVEIS: PERSPECTIVAS NARRATIVAS DA HOMOSSEXUALIDADE NA LITERATURA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA Jessé Carvalho Lebkuchen Resumo: Este trabalho discute a perspectiva narrativa acerca da homossexualidade masculina e analisa a (in)visibilidade social do corpo abjeto em Enquanto os dentes (2017), de Carlos Eduardo Pereira, e O amor dos homens avulsos (2016), de Victor Heringer. O trabalho, de caráter qualitativo, é realizado a partir de pesquisa bibliográfica, utilizando, para as discussões a respeito do corpo e de seus aspectos identitários, a teoria queer e pressupostos dos estudos culturais e das teorias críticas feministas. Além disso, para o debate de representações literárias e a análise dos objetos, apoia-se em investigações na área da literatura brasileira contemporânea. As narrativas apresentam uma perspectiva distinta do que é considerado cânone literário brasileiro, ao trazer à tona vivências muitas vezes ignoradas socialmente. Verifica-se que a deficiência física, entre outros corpos que se distanciam fisicamente do padrão, determina como o sujeito é visto socialmente, marcado como diferença. Os protagonistas são invisibilizados e violentados socialmente de diferentes formas, seja por sua sexualidade e performatividade de gênero, no contexto familiar e em instituições educacionais, ou por sua deficiência física e raça, em diversos âmbitos sociais. Entretanto, as narrativas demonstram duas perspectivas distintas. No romance de Victor Heringer o protagonista narra suas experiências em primeira pessoa, apresentando-se como sujeito, que sofre abjeção social, mas de uma forma menos regular e nítida. O abjeto, do ponto de vista externo, está mais relacionado com a homossexualidade do que com os outros aspectos, que são ressaltados na sua própria visão acerca do seu corpo. Já na obra de Carlos Eduardo Pereira essa invisibilidade também é apresentada na construção narrativa em terceira pessoa, demonstrando o apagamento da voz de um sujeito visto socialmente apenas como um corpo abjeto, por sua deficiência física, sexualidade e classe/raça, sendo apenas visível de forma objetificada e não como sujeito digno de valor social. Referências: BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina. Tradução de Maria Helena Kühner. 14. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2017. BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Tradução de Renato Aguiar. 17. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2019. COIMBRA, Rosicley Andrade. Corpo abjeto e identidade desviante em “Pequeno monstro”, de Caio Fernando Abreu. Litterata, Ilhéus, vol. 8/1, p. 63-82, jan./jun. 2018. DALCASTAGNÈ, Regina. Literatura brasileira contemporânea: um território contestado. Vinhedo: Horizonte, 2012. GINZBURG, Jaime. O narrador na literatura brasileira contemporânea. 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NÃO É DESSE PAU QUE A GENTE GOSTA: UMA ANÁLISE DO CONTO DONA BOAZUDA PUBLICADO NO JORNAL LAMPIÃO Josivelto Cardoso Pereira, Marcus Antônio Assis Lima Resumo: Em um país conversador e religioso como o Brasil, a homossexualidade é vista ora como algo anormal, ora como doença, ora como um pecado, ora como um desvio moral e sexual, ora como um desequilíbrio emocional. O guei é colocado sempre à margem da sociedade e tem sua voz silenciada em todas as esferas. Com o intuito de dar voz ao público LGBQIAP+ em plena Ditadura Militar brasileira surge o jornal Lampião um impresso voltado para o público guei que em suas publicações denunciavam a violência contra as pessoas LGBTQIAP+, fazia resistência aos padrões heteronormativos que controlavam e controlam até hoje, os comportamentos sociais e, além disso, buscava quebrar os estereótipos do guei, mostrando estes como seres humanos com direitos e deveres. Tendo como foco o conto Dona boazuda, publicado na editoria literária do jornal, Ano I, Nº 4, Ago./Set., 1978, do autor Pedro Hilário, o presente trabalho busca analisar o conto demonstrando as perseguições e violências contra as pessoas trans e travestis; entender como a Literatura é uma importante arma de luta e de quebrar preconceitos e, ao mesmo tempo, discutir como o país que mais mata pessoas LGBTQIAP+ no mundo é o que mais consome pornografia com essas pessoas. Referências: ALMEIDA, Eduardo Alberto de. Gueis, Bichas e Travestis: o jornal Lampião da Esquina. Santa Maria: KDP, 2019. CHARAUDEAU, Patrick. Uma análise semiolingüística do texto e do discurso. Da língua ao discurso: reflexões para o ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005. Disponível em: <https://www.patrick-charaudeau.com/Uma-analise-semiolinguistica-do.html >. Acesso em: 15 de fev. 2021. FONSÊCA, Agripino José Freire da. Análise do discurso: do objeto, do objetivo e do método: breves considerações para principiantes. Revista Igapraré, Rondônia, n. 03, mai. 2014. Disponível em: <https://www.periodicos.unir.br/index.php/igapare>. Acesso em: 10 de fev. 2021. KUCINSKI, Bernardo. Jornalista e revolucionários: nos tempos da imprensa alternativa. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2003. MITIDIERI, André Luís; AFONSO-ROCHA. Bichas inauguram a utopia: resistência homoerótica na literatura lampiônica. Raído, Dourados, n. 32, jan./jun. 2019. Disponível em: < https://www.ojs.ufgd.edu.br/index.php/Raido/article/view/9498>. Acesso em: 23 de jan. 2021. RODRIGUES, Jorge Caê. Um lampião iluminando esquinas escuras da ditadura. In: GREEN, James N.; QUINALHA, Renan. Ditadura e homossexualidade: repressão, resistência e busca da verdade. São Carlos: Edufscar, 2015. p. 83 – 121. O CABRA-MACHO E AS PERFORMANCES DE SI NO ESPAÇO DO SERTÃO Kelly Cordeiro Antas, Paulo César García Resumo: O trabalho se propõe a analisar a representatividade do sertanejo comparado ao homem másculo, forte, sobretudo, com face ser violento. Inserida a persona do cangaceiro trajado com vestes típicas, como chapéu de couro, faca embainhada na cintura e expressões faciais rudes, a imagem de si vai sendo projetada por esses signos e por um olhar telúrico sobre os quais o sentido da terra metaforiza o comportamento da sua gente. Entendemos a importância dos significados que influenciam a construção das identidades e dos reflexos que a cultura sertaneja constrói. Em “Palavras da crítica” (1992), tendo em mente o que Carvalho posiciona em Derrida sobre a noção de desconstrução, é significativa a referência ao ato performativo. A masculinidade hegemônica que emerge na figura do cabra-macho pode ser considerada enquanto ação performática? Se a “estratégia da desconstrução é um ato performativo de pensar o futuro. Como ato de inventar o outro diante do impasse causado pela delimitação assertiva” (1992, p. 108), a citação, aqui, nos permite questionar como a figura do sertanejo entra no eixo da discussão em vista a performatividade por Butler (1993), ao retomar a crítica pós-estruturalista, o deslocamento do sujeito na reprodução constativa da linguagem é buscada na instância de desfazer a lógica oposicional binária. Assim, a performance do homem cisnormativo agencia discursos centralizadores e regulares que são de pertencimento do “sertanejo forte” e bruto. A produção da subjetividade no espaço interior da nação está interligada aos fatores sociais, culturais e políticos do local e é determinante para traçar o plano de estudo dada a problemática que dimensiona o constatativo e considerar as rupturas dos paradigmas que envolvem a masculinidade. Referências: ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz de. Nordestino: invenção do "falo" - uma história do gênero masculino (1920- 1940). 2. ed. São Paulo: Intermeios, 2013. (Coleção Entregêneros) ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz de. A Invenção do Nordeste e Outras Artes. 5 ed. – São Paulo: Cortez, 2011. AB'SÁBER, Aziz Nacib. Sertões e sertanejos: uma geografia humana sofrida. Publicação nesta coleção, 12 de Maio de 2005. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ea/a/SJtzrMvDKVPTZ7svpZzFWJM/?lang=pt. Acessado em 27 de março de 2022. BRILHANTE, Aline Veras Morais; Silva; Juliana Guimarães e; VIEIRA, Luiza Jane Eyre de Souza; Barros, Nelson Filice de; CATRIB, Ana Maria Fontenelle. Construção do estereótipo do “macho nordestino” nas letras de forró no Nordeste brasileiro. Interface, Botucatu, v. 22, n. 64, p. 13-18, maio 2017. DOI 10.1590/1807-57622016.0286. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414-32832017005007101&script=sci_abstract&tlng=pt. Acesso em: 14 maio 2021. BUTLER, Judith. Bodies That Matter: On the Discursive Limits of ìSexî. New York: Routledge, 1993. CUNHA, Euclides da. Os Sertões. São Paulo: Martin Claret, 2016 – Ed. Especial. IRFFI, Ana Sara Ribeiro Parente Cortez. Não existe doce ruim, nem cabra bom – a invenção de um conceito para os trabalhadores do Cariri Cearense, século XIX. In: SIMPOSIO NCIONAL DE HISTÓRIA, 28, 2015, Florianópolis. Anais... Florianópolis: ANPUH, 2015. FIORIN, José Luiz. Reflexões para o estabelecimento de uma política para as Humanidades. Revista da ANPOLL, v. 1, n. 4, p. 301-321, 1998. DOI 10.18309/anp.v1i4.293. Disponível em: https://revistadaanpoll.emnuvens.com.br/revista/article/view/293. Acesso em: 14 mai 2021. FIORIN, José Luiz, FLORES, Valdir do Nascimento, BARBISAN, Leci Borges. Saussure: A Invenção da Linguística. 1ª ed., 1ª reimpressão – São Paulo: Contexto, 2020. GÓIS, Marcos L.S., MARTINS, Andérbio Márcio Silva. O TUPI ANTIGO NO PORTUGUÊS: ALGUMAS QUESTÕES SOBRE HISTÓRIA, IDENTIDADE E ENSINO DE LÍNGUAGEM. Revista Scielo Brasil. 2019. Disponível em: https://www.scielo.br/j/tla/a/GyD9BQTZ4bnvqSF4t6LnMdm/?lang=pt# HALL, Stuart. Da diáspora: identidades e mediações. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2003. HALL, Stuart. A identidade Cultural na pós-modernidade. 12º edição. Rio de Janeiro: Editora Lamparina, 2015. JOBIM, Jose Luis (org.) Palavras da Crítica. Rio de Janeiro: Imago Ed. 1992. (Coleção Pierre Menard) NIETZSCHE, Friedrich. Genealogia da Moral (tradução de Paulo César de Souza). São Paulo: Companhia das Letras , 1999. PEQUENO, Marconi Pimentel. Ética e cidadania. In: ZENAIDE, Maria de Nazaré Tavares (Org.) Ética e cidadania na escola. João Pessoa: Editora Universitária, 2003. SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de Linguística Geral. Organização Charles Bally e Albert Sechehaye. 28 ed. São Paulo: Cultrix, 2012. VEYNE, Paul Marie. Como se escreve a história; Foucault revoluciona a história. Tradução de Alda Baltar e Maria Auxiadora Kneipp. 4. ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1998. DEFICIÊNCIA, RAÇA E SEXUALIDADE: ENSAIANDO APROXIMAÇÕES Lucas Teixeira Costa Resumo: Deficiência, raça e sexualidade são marcadores sociais historicamente instituídos, ou seja, dimensões atravessadas por dispositivos sociais e históricos, produzindo, consequentemente, campos identitários que por vezes se interseccionam. O objetivo deste trabalho é trazer para o debate de que forma o Estado Moderno, a partir da colonização e do liberalismo, foi solidificando posições de precariedade para os corpos gays com deficiência. Para tal, utilizar-se-á as contribuições de Mbembe (2018), Butler (2017) Robert Mcruer (2006), Foucault (2001) para problematizar como a ideia do primitivo e da negação da humanidade, condição imposta ao corpo negro no primeiro capitalismo, se estenderá para outras existências subalternas, tais como pessoas com deficiência e dissidentes sexuais. A proposta é realizar um duplo movimento: revelar os jogos discursivos através da exposição de momentos históricos paradigmáticos da modernidade e, ao mesmo tempo, mostrar como o campo cultural artístico tem sido um importante mecanismo de resistência frente ao avanço do proeminente totalitarismo. Neste sentido, traremos como proposta reflexivas produções literárias e cinematográficas enquanto formas de confissão, visto que revelam memórias clandestinas e permite a produção de narrativas autoficcionadas, na tentativa de produzir linhas de fuga frente a captura de subjetividades no contemporâneo, especialmente no diz respeito aos corpos gays, negros e com deficiência. Referências: ADICHIE, Chimamanda Ngozi. O perigo de uma história única. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. APPIAH, Kwame Anthony. Prefácio A invenção da África. In: ______. Na casa do meu pai: a África na filosofia da cultura. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997. p. 9-15; p. 19-51. BUTLER, Judith. 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Capitalismo, esquizofrenia e raça. O negro e o pensamento negro na modernidade ocidental. "PRINCESA", UMA TRANSCLASSE NAS PRISÕES ITALIANAS: LITERATURA MENOR E NARRATIVAS DE VIDA Marcus Antônio Assis Lima Resumo: Que a migração seja um dos mais poderosos topos literários certamente não é novidade. Basta nomear dois “subtemas” da experiência migratória ou exílio – viagem e nostalgia – para entender o quanto essas narrativas alimentaram a literatura. No caso de nosso estudo, escritores africanos, dos países do Oriente Médio, da Europa Oriental, asiáticos ou latino-americanos, que migraram e escrevem em italiano. Ao contrário de países com passado colonial onde já se formaram elites que falam e escrevem nas línguas dos colonizadores (escritores como Tahar Ben Jelloun, na França, ou Hanif Kureishi, na Inglaterra), na Itália os chamados “escritores migrantes” representam um fenômeno que se desenvolveu por volta da década de 1990, na sequência de importantes fluxos migratórios. Inspirados pela necessidade de serem ouvidos por um público italiano, costumam escrever textos autobiográficos que falam de violência, racismo, solidão e integração impossível. A história está repleta de exemplos de escritores que decidem deixar o porto seguro de sua Muttersprache para dar vida a obras-primas linguísticas ricas em contaminação. Nesse cenário, interessa-nos o relato autobiográfico “Princesa”, de Fernanda Farias de Albuquerque e Maurizio Jannelli (1994), que narra o período em que a autora, uma transsexual brasileira, passou em uma prisão na Itália, condenada por assassinato. Essa obra, a primeira escrita por uma transsexual dentro desse movimento da literatura de migrações, foi publicado também em espanhol alemão, grego e português. Nosso intuito, partindo do conceito de “literatura menor” é tentar entender problemas de tradução, tendo em vista que a Princesa usa termos em bajubá na sua narrativa de vida; termos esses que são mantidos nas diversas traduções, acompanhado de um glossário, ao fim do obra, com traduções desses termos para a língua do país onde a obra foi publicada. Referências: ALBUQUERQUE, F. F. & JANNELLI, M. A Princesa. RJ: Nova Fronteira, 1994. DELEUZE, G.; GUATTARI, F. Kafka. Por uma literatura menor. BH: Autêntica, 2014. MACHADO, I. L. Narrativas de vida. Saga familiar & sujeitos transclasses. Coimbra: Grácio, 2020. CORPOS INFECTADOS RASURANDO O CÂNONE: EPISTEMICÍDIO, AIDS, LITERATURA E RESISTÊNCIA Maurício Silva da Anunciação, Paulo César García Resumo: A aids tornou-se uma temática recorrente na historiografia literária brasileira e, certamente, Caio Fernando Abreu, com a novela “Pele Noite”, em 1983 permite debates fecundos a respeito. Desde então, várias outras obras foram publicadas por outros/as autores/as, compreendendo posturas e expressões de subjetividades marcadas pela síndrome e agenciadas por escritas autobiográficas. O trabalho a ser investigado pretende apontar como estão sendo construídas essas narrativas, como sujeitos convivem com o vírus causador da aids e como os intelectuais negros e posithivos têm produzido arte com diálogos críticos em suas obras. Assim destacamos a crônica a ser analisada: “Texto sem título 2”, do livro “Azul”, o primeiro independente publicado em 2019, da poetisa, artivista, militante e performer paulistana Lili Nascimento. Para investigar os referentes textos, consideramos tanto em Caio F. o modo como descontrói o tema e, em tempos atuais, como em Nascimento o uso do termo reexistência é visto com propriedade discursiva, ética e política, tendo em vista epistemicídio, corpos e marginalidades. Visando refletir conceitos fundamentais a exemplo de cânone, história, cultura, literatura impressos em “Palavras da crítica”, Wanderley (1992) é de grande fundamento e que, dialogando com a coletânea, Carneiro (2005), Inácio (2016), Lorde (2021), Martins (2021), Bernd (1992) posicionam questionamentos significativos para o processo do estudo. Referências: CARNEIRO, Sueli (2005). A construção do outro como não ser como fundamento do ser. Tese (doutorado) em Educação. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2005, pg 96-124. Literatura Negra. BERND, Zila (1992). In: JOBIM, J. L. (Org.). Palavras da crítica: tendências e conceitos no estudo da literatura. Rio de Janeiro: Imago, 1992. p.65-92. LORDE, Audre. Irmã outsider. (Trad.). Stephanie Borges. – 1. ed.; 2. Reimpressão. – Belo Horizonte : Autêntica, 2021. MARTINS, Leda Maria. Performances do tempo espiralar, poéticas do corpo-tela. – 1. ed. – Rio de Janeiro: Cobogó. 2021. CARTOGRAFIA DE DESEJOS DISSIDENTES EM CAIO F. Moisés Henrique de Mendonça Nunes, Paulo César García Resumo: A urbanidade é exaltada pelo ritmo frenético dada a transitoriedade do sujeito no traço da multiplicidade, na visibilidade dos contextos que afloram sentidos do hegemônico e do periférico. Aí é visível o modo como se apresenta a produção da subjetividade, tão expressiva em obras da literatura de Cassandra Rios, João Silvério Trevisan e Gasparino Damata, só para exemplificar estes autorxs, e que revelam a urbe não-heterossexual. Assim também, no segundo e último romance de Caio Fernando Abreu, Onde andará Dulce Veiga? (1990), o personagemnarrador manifesta o estranhamento de si ao vivenciar a cidade na captação do corpo. Corpodevir, corpo-queer, corpo-híbrido, como se revelam na obra de Caio F., como considerá-los com os embates da biopolítica, com a legitimada escrita canônica e o discurso social? O problema a ser analisado e com visões que dialogam com a epistemologia de gênero é como a escrita literária do escritor gaúcho compreende o sentido de dissidência sexual de forma crítica e que move a cartografia dos espaços. Frente ao exposto, o livro “Palavras da crítica” se apropria de noções significativas para as questões que pretendo argumentar, visto ser possível desconstruir a conformidade do local na narrativa de Caio F. que se apresenta e reposiciona outras esferas de poder existir, de emergir falas possíveis. Referências: ABREU, Caio Fernando. Onde andará Dulce Veiga?: um romance B. 4ª ed. Rio de Janeiro: Nova fronteira, 2014. COHEN, Renato. Performance como linguagem: criação de um tempo-espaço de experimentação. São Paulo: Perspectiva, 2002. GOMES, Renato Cordeiro. Todas as cidades, a cidade: literatura e experiência urbana. Ed. ampli. Rio de Janeiro: Rocco, 2008. JOBIM, José Luis (org.). Palavras da crítica. Rio de Janeiro: Imago Ed., 1992. LEAL, Bruno Souza. Caio Fernando Abreu, a metrópole e a paixão do estrangeiro: contos, identidade e sexualidade em trânsito. São Paulo: Annablume, 2002. MARQUES, Márcia Cristina Roque Corrêa. De volta ao Passo da Guanxuma: espaço, representação e construção narrativa na obra de Caio Fernando Abreu. 209 p. Tese (Doutorado em Literatura Brasileira). Universidade Federal do Rio Grande do Sul: Porto Alegre, 2013. PRECIADO, Paul B. Cartografias queer: o flâneur perverso, a lésbica topofóbica e a puta multicartográfica, ou como fazer uma cartografia “zorra” com Annie Sprinkle. Revista Performatu: Inhumas, ano, v. 5, n. 17, p. 01-32, 2017. ROLNIK, Suely; GUATTARI, Félix. Micropolítica: cartografias do desejo. 4ª ed. Petropólis: Vozes, 1996. BIBIANA E BELONÍSIA: A RESISTÊNCIA FEMININA NO LIVRO TORTO ARADO Nádja Nayra Brito Leite, Paulo César García Resumo: A motivação do estudo é a questão do gênero feminino na obra “Torto Arado” do autor Itamar Vieira Júnior. A partir dos processos de construção identitária feminina das protagonistas Bibiana e Belonísia, a questão de pesquisa é “como essas personagens representam resistência à sociedade patriarcal descrita na narrativa do referido romance?” Bibiana e Belonísia são personagens ricas, dos pontos de vista linguístico, cultural e ideológico. As vozes destas personagens expõem suas próprias dores e silenciamentos, e apesar de serem dores particulares são também universais, que perpassam todas as mulheres em algum grau ou momento de vida, como desigualdade, violência doméstica e anulação dos desejos femininos. A metodologia utilizada compreende leitura pormenorizada do romance intercalada com pesquisa, estudo, revisão e exploração de teorias pertinentes com a temática. Para a investigação da problemática apresentada, será feito o aporte teórico baseado nos autores Hall (2016), Davis (2016), Beauvoir (1980), kotirene (2019) e Gonzalez (1983). Com o “mapeamento” das manifestações discursivas de resistência das personagens femininas Bibiana e Belonísia intercalado com estudo do embasamento teórico, espera-se concluir que as personagens têm formas dissemelhantes de reação ao sistema patriarcal, expresso no machismo e no sexismo. Por fim, o trabalho visa proporcionar importantes ferramentas para as discussões de gênero e de representação feminina na literatura brasileira, tratando de temática e abordagem atuais e relevantes. Referências: BEAUVOIR, S. O segundo Sexo: Fatos e Mitos. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1980 BOURDIEU, Pierre. A Dominação Masculina. Rio de Janeiro: Ed. Bertrand. Brasil, 2002 DAVIS, Angela, Mulheres, raça e classe [recurso eletrônico] / Angela Davis; tradução Heci Regina Candiani. - 1. ed. - São Paulo: Boitempo, 2016 GONZALEZ, Lélia. Racismo e sexismo na cultura brasileira. In: SILVA, L.A. et al. Movimentos sociais urbanos, minorias e outros estudos. Ciências Sociais Hoje, Brasília, Anpocs n. 2, p. 223-44, 1983. HALL, Stuart. Cultura e representação. Revisão Técnica: Arthur Ituassu;. Tradução: Daniel Miranda e William Oliveira. - Rio de Janeiro : Ed.PUC-Rj, 2016 KOTIRENE, Carla. Interseccionalidade / Carla Akotirene. -- São Paulo : Sueli Carneiro ; Pólen, 2019. DEU A LÔKA? DEI! Olinson Coutinho Miranda Resumo: A lôka expõe uma língua paródica, pintosa, desbocada, gilete, cortante, perfurante, que provoca, perturba, transgride as normas e qualquer relação de sensatez e sanidade. Baseada em estudos das loucas e transloucas dxs teóricxs e performers Lawrence la Fountain-Stokes e Nestor Perlongher, os quais trazem discussões fundamentais para entender a louca como incomodo, transgressão, transformação e potencia como força, resistência, prazer, orgasmos e alegrias. Sendo o resultado de estudos de doutoramento em Cultura e Sociedade, no qual são usadxs autorxs como Leandro Colling, Murilo Nonato, Javier Saez, Sejo Carrascosa, Beatriz Preciado, Megg Oliveira, Adrian Melo Paco Vidarte, sendo propostas discussões diante de corpas dissidentes, resistentes, expondo, assim, as lôkax escandalosas, descontroladas, rebeldes, histéricas, sem regras, mutáveis, fluidas, rizomáticas, marginais, periféricas, do sul, do sul do sul, as lôkax do cu (sujas, excretas, negadas, repugnadas, excluídas, silenciadas, escondidas). Serão as sapatas, as trans, as afeminadas, as bixas, as bixas cu, o cu das bixas que serão expostos, arreganhados, postos de quatro para que possam expor seus atos de pura fechação, lacração, brilho, maquiagem, de prazer, múltiplos orgasmos e bastante alegria. Portanto, é pura felicidade e prazer em ser lôka, que sejamos lôkax, que vivamos como lôkax, que resistamos como lôkax, fazendo bastante lou(cu)ra. Referências: Colling, L. ., Arruda, M. S. ., & Nonato, M. N. . (2019). Perfechatividades de gênero : a contribuição das fechativas e afeminadas à teoria da performatividade de gênero. Cadernos Pagu, (57), e195702. Recuperado de https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/cadpagu/article/view/8658138 LA FOUNTAINSTOKES, Lawrence. Translocas: Migración, homosexualidad y travessmo en el performance puertorriqueño reciente. Emisférica, v. 8, n. 1, s.p., 2011. Disponível em: http://hemisphericinstitute.org/hemi/pt/e-misferica-81/lafountain. Acesso em 20 de jan. 2022. MELO, Adrián. Antologia del culo: textos de placer anal y de orgullo passivo. Ciudad Autónoma de Buenos Aires: Aurelia Rivera, 2015. OLIVEIRA, Megg Rayara Gomes de. Nem ao centro nem à margem. Corpos que escapam às normas de raça e de gênero. Salvador: Devires, 2020. PERLONGHER, Néstor. Prosa Plebeya. Ensayos 1980-1992. Buenos Aires: Ediciones Colihue, 1997. SAEZ, Javier. CARRASCOSA, Sejo. Trad. Rafael Leopoldo. Pelo cu: políticas anais. Belo Horizonte: Letramento, 2016. VIDARTE, Paco. Ética bixa. Proclamações libertárias para uma militância LGBTQ. Tradução: Pablo Cardellino Soto e Maria Selenir Nunes dos Santos. São Paulo: n-1 edições, 2019. O ESPAÇO DE GIOVANNI: AS INTERSECÇÕES RACIAIS E QUEER Paulo César García Resumo: O projeto do livro “O quarto de Giovanni”, de James Baldwin (2018) cria dispositivos reveladores dos percursos da periferia de Paris ao centro metropolitano em que os encontros homoeróticos permitem situar as relações naturalizadas e as desveladas bichas afetadas, efeminadas e as não orientadas da identidade gay. Deixando-se levar pelas estranhezas da sujeira do quarto de Giovanni, o protagonista David compartilha da normatividade de desejos que emergem de si. Ele se revela “terrivelmente confuso” e Preciado compreende, para além da sociedade disciplinar, o corpo-devir intermediando a saturação de signos (PRECIADO, 2014). A saturação de signos no romance surge do quarto. É de onde procura resistir ao sistema da diferença sexual binária. Este é um ponto a refletir: onde o corpo-devir aflora no relato ficcional de Baldwin. Outro traço de análise diz acerca das interpretações de não-branquitude. Por que as personagens homoeróticas são não-brancas, pois estariam legitimando aspectos históricos, sociais e políticos em torno das hierarquias raciais? O que conforma a vida de Baldwin na repercussão autoficcional está filtrada para quem não falar ou construir uma personagem racializada e nem apresentá-la opera um modo de fala também? O eixo do discurso do romance idealiza o lugar de David e marginaliza o de Giovanni, onde a não-branquitude é sentida na desconformidade de identidades negra e gay? O desdobramento entre raça e homossexualidade a que aludimos muito pode ser explorado, já que parte do contrapeso que impera entre os espaços internos e externos o código raça, a positividade da homossexualidade – ambos na naturalização do corpo – se colocam dentro de uma estratégia colonizadora do saber positivar, branquear a nação. Atentos para argumentos em “Palavras da crítica” (1992), pensamos em alguns procedimentos de leituras que consideram o legado do relato narrativo no que toca focos de investigação crítica para o desenvolvimento do artigo. Referências: BALDWIN, James. O quarto de Giovanni. Tradução: Paulo Henrique Brito. São Paulo: Companhia das Letras, 2018. JOBIM, José Luis (Org.). Palavras da crítica. Tendências e conceitos no estudo da literatura. Rio de Janeiro: Imago, 1992. PRECIADO, P. B. “Cartografias ‘Queer’: O ‘Flâneur’ Perverso, A Lésbica Topofóbica e A Puta Multicartográfica, Ou Como Fazer uma Cartografia ‘Zorra’ com Annie Sprinkle”. eRevista Performatus, Inhumas, ano 5, n. 17, jan. 2017. "EU NÃO PENSO STRAIGHT" - A POÉTICA CUIR PÓS-DITATORIAL DE LEONILSON Raquel Parrine Resumo: Esta comunicação propõe uma análise da poética do artista visual cearense Leonilson (1957-1993) no período de abertura democrática brasileira. Leonilson desenvolveu seu trabalho com costura e bordado depois de seu diagnóstico de HIV no início dos anos 90. Ante o avanço da doença, o artista começou a refletir sobre os aspectos processuais da subjetividade, como o vira-ser, ou porvir, derivados da imagem do corpo que se transforma quando se extingue. Por exemplo, em "O Penélope," Leonilson construiu uma vestimenta que torna a figura mítica de Penélope cuir, ao mudar o artigo masculino para o feminino e ao vestir essa figura com um vestido. Além disso, a figura do Penélope, costurando de dia e desfazendo os pontos à noite para esperar a volta de Ulisses, correspondia com a condição de Leonilson, já bastante comprometida pela doença. Leonilson criava suas peças como forma de postergar a morte, documentando a transformação de seu corpo. Desta forma, a arte media e abriga o corpo que encontra o seu sentido enquanto muda. O uso do bordado situa essa transformação corporal no espaço doméstico, privilegiando o espaço privado em detrimento do público. Estas investigações estéticas deliberadamente privilegiam o espaço privado para contradizer o imaginário machista remanescente da ditadura cívico-militar. Ao confrontar a masculinidade como asserção do autoritarismo, Leonilson encontra no cuir uma forma de pensar e ser além das ontologias possíveis sob a ditadura. Referências: Leonilson, José, et al. Leonilson?: Catálogo Raisonné = Catalogue Raisonné. Projeto Leonilson, 2017. PARA ALÉM DA ESPINHA DO MEDO: VIOLÊNCIA E LUTO EM "A PALAVRA QUE RESTA", DE STÊNIO GARDEL Wallace Byll Pinto Monteiro Jr Resumo: “A palavra que resta” (2021), romance de estreia do cearense Stênio Gardel, traz em si um número expressivo de questões sobre as quais poderíamos nos debruçar longamente. Esta proposta foca em duas questões que nos parecem centrais no romance: violência e luto. Buscamos estabelecer uma possível relação entre estes dois conceitos levando em consideração a tecitura do personagem principal, Raimundo Gaudêncio, e sua relação com o objeto que coloca a história em marcha, a saber, a carta que recebeu, ainda analfabeto, do seu amor de adolescência/juventude, Cícero. Raimundo é um homem de 71 anos que resolve aprender a ler e escrever para poder ter acesso ao conteúdo de uma carta que marca o final de um evento traumático: o pai do seu amante flagra os dois jovens no meio de um encontro amoroso à céu aberto. O que se segue daí resulta na separação do casal e em repetidas cenas de violência protagonizadas a princípio contra os jovens e depois, sabemos, contra Raimundo. De Cícero nada sabemos, pois seu contato com Raimundo é interrompido. A única coisa que resta de Cícero, como informação, é a carta que ele pede que a irmã de Raimundo, Marcinha, lhe entregue. Entramos aí num paradoxo que diz respeito ao letramento de Raimundo: ele não pôde ir à escola, pois cedo começou a trabalhar na lavoura, acompanhando o pai, que precisava de ajuda pois Raimundo era o único filho que tinha. Parte da sensualidade e cumplicidade entre Raimundo e Cícero reside no cuidado de Cícero ao se oferecer para ensinar Raimundo a ler e a escrever. Cícero não é apenas alguém que introduz a questão da sexualidade na vida de Raimundo, insere-o numa possibilidade de mundo desconhecida: aquela da letra, não exatamente da palavra, mas da palavra escrita e das suas ainda incógnitas possibilidades. Referências: Para a presente comunicação, pretendemos como referências A palavra que resta, de Stênio Gardel. Companhia das Letras: 2021 Luto e Melancolia, Sigmund Freud (texto de 1920). Imago: 1975. SIMPÓSIO “POÉTICAS DAS RUAS” Daniela Silva de Freitas (UNIFAL), Rossi Alves Gonçalves (UFF) POESIA E PERFORMANCE EM MACAPÁ: A CIDADE COMO PALCO E O CORPO COMO TEXTO Aline Monteiro dos Santos Resumo: A poesia, que tem a cidade de Macapá como um verdadeiro palco, é escrita com o corpo do artista, no qual a sua voz e os seus movimentos performam discursos múltiplos do sujeito da Amazônia, suas memórias e experiências. É a partir desse contexto que este trabalho busca compreender o modo de produção e circulação do movimento poético performático na cidade de Macapá enquanto fenômeno social e urbano. Partindo da interlocução das teorias acerca do estudo das literaturas pós-coloniais, dentre eles, a colonialidade do poder, estruturada nas relações raciais e patriarcais que sustentam essa matriz (Walter D. Mignolo); do entrelugar de uma literatura que viveu e vive o extermínio de seus traços originais (Silviano Santiago); e os modos de abordagem da Amazônia, como a Teoria da falta (José Luís Jobim) e a teoria do Vazio cultural (Roberto Mibielli), este trabalho objetiva compreender as dinâmicas desse movimento artístico, os seus personagens, o público, o modo de produção e a circulação desses textoscorpo. A partir disso, discutir as relações construídas entre o espaço urbano enquanto lugar de transformações por meio das políticas de Estado, o corpo enquanto texto capaz de criar linguagens que expressem a memória e as influências de uma cultura negra, indígena e ribeirinha e por último a poesia enquanto arte engendrada da linguagem social, bem como seus impactos na cultura e na sociedade locais. Referências: JOBIM, José Luís. Literatura Comparada e Literatura Brasileira: circulações e representações. Makunaima edições: Roraima, 2020. MIBIELLI, Roberto. Tupy or not tupy, that is the question. O vazio e a questão da circulação literária e cultural na Amazônia: pensando uma literatura. In: José Luís Jobim (Org.). A circulação Literária e Cultural. Oxford: Peter Lang, 2017. P. 229-254. MIGNOLO, Walter D. Colonialidade o lado mais escuro da modernidade. Revista Brasileira de Ciências Sociais, RBCS Vol. 32 n° 94 junho/2017: e329402. SANTIAGO, Silviano. Uma literatura nos trópicos. CEPE: Recife, 2019. O SLAM DAS MINAS BA E A CONSTRUÇÃO DE ESPAÇOS SEGUROS PARA A EXPRESSÃO DE MULHERES NEGRAS Amanda Julieta Souza de Jesus Resumo: A experiência das mulheres negras na literatura brasileira é marcada historicamente por tentativas de invisibilização e silenciamento, mas, sobretudo, por diferentes formas de inventividade, insubmissão e resistência. O poetry slam - uma competição de poesia falada que tem seu marco de origem em Chicago na década de 1980 e chegou ao Brasil nos anos 2000 - é uma das facetas contemporâneas dessa insurgência literária ao possibilitar a projeção de vozes de poetas marginalizadas/os, com uma poesia que não estaciona nos livros, mas circula de boca em boca, de corpo em corpo através da performance. Em Salvador, um dos espaços utilizados por poetas negras para a circulação de poesias autorais é o Slam das Minas BA, batalha de participação exclusiva de mulheres criada em 2017 e organizada por Negafya, Ludmila Singa, Tamires Allmeida e Sofia Senne. Mas como este espaço público de fala e de escuta é pensado? Tendo em vista a importância da criação literária de mulheres negras para o enfrentamento às estruturas de opressão, este trabalho tem o objetivo de discutir a ideia da construção de espaços seguros (COLLINS, 2019) para a expressão de mulheres negras nas batalhas de poesia do Slam das Minas BA. Em seu livro "Pensamento feminista negro: conhecimento, consciência e a política do empoderamento", a socióloga estadunidense Patricia Hill Collins (2019) discute o conceito de espaços seguros como lugares privilegiados de resistência à objetificação das mulheres negras como o Outro, locais onde se torna possível promover o empoderamento de sujeitas negras por meio da autodefinição. Referências: AKOTIRENE, Carla. O que é interseccionalidade? Belo Horizonte: Letramento: Justificando, 2018. COLLINS, Patricia Hill. Pensamento Feminista Negro: conhecimento, consciência e a política do empoderamento. Trad. Jamille Pinheiro Dias. São Paulo: Boitempo, 2019. D’ALVA, Roberta Estrela. Teatro hip-hop: a performance poética do autor-MC. São Paulo: Perspectiva, 2014. EVARISTO, Conceição. Gênero e etnia: uma escre(vivência) de dupla face. In: MOREIRA, Nadilza Martins de Barros; SCHNEIDER, Liane (Org.). Mulheres no mundo: etnia, marginalidade e diáspora. João Pessoa: Ed. Universitária, 2005. p. 201- 212. GONZALEZ, Lélia. Por um feminismo afro-latino-americano. In: ____. Por um feminism afro-latino-americano: ensaios, intervenções e diálogos. Org. Flávia Rios, Márcia Lima. Rio de Janeiro: Zahar, 2020, p. 139-150. SLAM DAS MINAS BA. Slam das Minas Bahia: poesia negra, periférica e feminina. Revista Gambiarra: 05 set. 2017. Entrevista concedida a Henrique Oliveira. Disponível em: <http://revistagambiarra.com.br/site/slam-das-minas-bahia-poesia-negra-perifericae-feminina/> Acesso em: 02 mai. 2022. QUANDO O VERBO SE FAZ CORPO: PERFORMANCE E POESIA FALADA NA CENA URBANA Ary Pimentel Resumo: A colonialidade é resultado de uma história de imposição do poder que conseguiu penetrar nas estruturas subjetivas de um povo, marcando profundamente as concepções que os sujeitos têm de si e dos outros. Essas estruturas de dominação se impuseram em contextos contemporâneos bastante posteriores à conclusão do processo de independência dos territórios colonizados. Podem, portanto, ser percebidas, nos dias de hoje, nas relações intergrupais e interpessoais na medida em que ainda persistem nas tramas da cultura os legados do racismo, do machismo e da subalternização. Quem foi definido como Outrx foi precisamente aquelx que representa a diferença colonial. Mulheres e homens negros, indivíduos das camadas mais pobres e moradores de periferias urbanas não conheceram os privilégios de quem produz conhecimento e obras artísticas. A reestruturação dos circuitos da poesia falada no Brasil, através da chegada do movimento Poetry Slam, motivou uma orquestração de vozes de resistência. Diante da emergência de uma nova cena, cujas vozes passam a ecoar nas ruas das cidades e nas plataformas de compartilhamento de vídeos, coletivos de poetas de todo o país passaram a atuar nos campeonatos de poesia falada, que logo assumiu uma dimensão nacional. A trajetória desse movimento poético constituído por meio da experiência corporal de mulheres e homens das periferias, principalmente, se funda na performance verbi-voco-corporal como instrumento de expressão das e dos poetas. Os corpos que circulam pela cidade e as novas vozes que começam a ecoar a partir das margens colocam em questão a legitimidade dos instrumentos de construção de pertencimento e consagração baseados nas regras do mercado e da cultura impressa, levando-nos a pensar como podemos conceber a importância desse movimento de vozes e corpos que performam em lugares públicos e suas tensões / negociações com o objeto livro (manifestação mais concreta do mundo editorial) e com a poesia impressa. Referências: BEAL, Sophia. Autores da própria competição: repente, batalhas de MCs e slams no Distrito Federal. In: DALCASTAGNÈ, Regina, TENNINA, Lucía, orgs. Literatura e periferias. Porto Alegre: Zouk, 2019, p. 115-132. BERNARDINO-COSTA, Joaze, MALDONADO-TORRES, Nelson, GROSFOGUEL, Ramón, orgs. Decolonialidade e pensamento afrodiaspórico. 2ª ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2020. CARLSON, Marvin. Performance: uma introdução crítica. Trad. Thais Flores Nogueira Diniz e Maria Antonieta Pereira. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010. GLAZNER, Gary Mex. Poetry Slam: The Competitive Art of Performance Poetry. San Francisco, CA: Maniac D Press, 2000. MAGNANI, José Guilherme Cantor, SOUZA, Bruna Mantese de, orgs. Jovens na metrópole: etnografias de circuitos de lazer, encontro e sociabilidade. São Paulo: Terceiro Nome, 2007. TAYLOR, Diana. O arquivo e o repertório: performance e memória cultural nas Américas. Tradução de Eliana Lourenço de Lima Reis. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2013. TAYLOR, Diana, FUENTES, Marcela. Estudios avanzados de performance. México: FCE, Instituto Hemisférico de Performance y Política, 2011. TENNINA, Lucía, comp. Saraus: movimento / literatura / periferia / São Paulo. Buenos Aires: Tinta Limón, 2014. TENNINA, Lucía. Cuidado com os poetas: literatura e periferia na cidade de São Paulo. Trad. Ary Pimentel. Porto Alegre: Zouk, 2017. POESIA PARA ADIAR O FIM DO MUNDO Daniela Silva de Freitas Resumo: Este trabalho é uma tentativa de aproximação entre a produção de dois escritores mineiros, Pi Eta Poeta e Ailton Krenak. Pi Eta é um poeta trans e negro de Belo Horizonte. Ailton é um ativista e líder indígena do povo Krenak, da região do Rio Doce. Se a disputa acerca dos significados de “poesia” e “cidadania” tem sido uma das preocupações centrais do slam no Brasil desde 2016, uma série de poemas de Pi Eta diferenciam-se do slam de outras minas (monas e monstres) justamente por trazerem para o centro do debate a questão ambiental e seus desdobramentos político-sociais, suas implicações com questões de desigualdade econômica e social, racismo ambiental e direito à cidade. Nessa medida, ao levantar essa discussão, a poesia de Pi Eta acaba se aproximando das reflexões propostas por Ailton Krenak em suas falas transcritas em forma de livro ou disponibilizadas em plataformas on-line, que se popularizaram durante a fase de isolamento social mais restrito da pandemia de Covid-19 no Brasil. Como Ailton e Pi Eta problematizam a questão da cidadania? O que eles adicionam ao debate? Em que medida os desastres ambientais - passados, correntes e iminentes – em território mineiro influenciam a produção dos dois escritores? Referências: CASA DAS ROSAS. SLAM DAS MINAS: 5 ANOS SLAM – CASA DAS MINAS. YouTube, 21 mar. 2021. 1 vídeo (126 min). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=4jEI2PFDk20. Acesso em 05 mai 2022. FLUP RJ. Flup 2019 | Rio Poetry Slam - Final: Pieta Poeta - Pensamentos Jurássicos. YouTube, 04 dez 2019. 1 vídeo (2 min). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=knLk8rJc0Dc. Acesso em 05 mai 2022. KRENAK, Ailton. A vida não é útil. São Paulo: Companhia das Letras, 2020. KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. NÚCLEO BARTOLOMEU. Final [chave com 6 poetes] – Slam BR Especial On-line. YouTube, 07 mar. 2021. 1 vídeo (136 min). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=fetb6oz1RLw&list=PLmCEtz5KNFC7uHar1_4VDNJKoxZ6tma RL&index=7. Acesso em 05 mai 2022. O QUE RESTA DAS PERFORMANCES DE SLAM DE POESIA NOS VÍDEOS ENCONTRADOS NAS REDES? Fabiana Oliveira de Souza Resumo: Os slams de poesia, campeonatos de poesia oral, são conhecidos tanto por pessoas que participam presencialmente dessa manifestação cultural quanto por aqueles que nunca a acompanharam de perto, mas que já assistiram aos inúmeros vídeos disponíveis na internet, em canais do YouTube ou redes sociais dos coletivos que os organizam. No Brasil, essas disputas ocorrem majoritariamente em espaços públicos, como praças e calçadas, e o foco está na performance dos slammers, e não somente nos textos declamados. Tendo em vista a efemeridade de uma performance (PHELAN, 2011; ZUMTHOR, 2014; AGUILAR; CÁMARA, 2017) e a importância da interação do público e das demais circunstâncias que contribuem com a sua composição, este trabalho tem como objetivo refletir sobre o que é possível recuperar somente pelos registros audiovisuais encontrados nas redes. Esta análise tem como base a comparação de duas performances distintas para um mesmo poema, assistidas em uma edição presencial do Slam da Guilhermina, em novembro de 2021. Uma vez que apenas a gravação de uma dessas apresentações foi publicada no canal desse coletivo de São Paulo, as observações estarão ancoradas nesse vídeo e no relato de minha experiência, chamando a atenção para o fato de que tal registro não é capaz de capturar ocorrências que são típicas de uma prática artístico-literária realizada nas ruas, estando aberta a todos e deixando os poetas sujeitos a intervenções (nem sempre agradáveis) da plateia. Com isso, conclui-se que, a partir dos vídeos do que foram as performances, pode-se conhecer as regras gerais da competição e as temáticas mais frequentadas, mas não os fatos que aconteceram antes e durante certas apresentações e que colaboraram com a coconstrução de seus sentidos. Referências: AGUILAR, Gonzalo; CÁMARA, Mario. A máquina performática: a literatura no campo experimental. Tradução: Gênese Andrade. Rio de Janeiro: Rocco, 2017. PHELAN, Peggy. Ontología del performance: representación sin reproducción. In: TAYLOR, Diana; FUENTES, Marcela. Estudios avanzados de performance. México: FCE, Instituto Hemisférico de Performance y Política, 2011. p. 91-121. ZUMTHOR, Paul. Performance, recepção, leitura. Tradução: Jerusa Pires Ferreira e Suely Fenerich. 1ª ed. São Paulo: Cosac Naify, 2014. PERFORMAR E EXPANDIR COMUNIDADES ONLINE: PENSANDO O SLAM NA PANDEMIA Guilherme dos Santos Ferreira da Silva Resumo: O Slam das Minas RJ é um coletivo de poesia que surge no espaço público, na rua, na ocupação da cidade, promovendo um modo de imaginação pública a partir da qual pode ser lido, interpretado e compreendido. Durante os anos pandêmicos de 2020 e 2021, o grupo realizou uma migração das ruas às redes. Podemos afirmar, portanto, que a comunicação globalizada por meio da internet possibilitou que coletivos artísticos de rua seguissem atuando nas redes sociais durante o período de epidemia. O sociólogo Manoel Castells, no livro Redes de indignação e esperança (2013), evidencia a importância das redes digitais na construção de um espaço democrático de socialização, baseado em uma experienciação do conceito de coletividade. Nesse caminho, a presente comunicação busca dar luz à arte política produzida pelos corpos marginais femininos do Slam das Minas RJ durante o período de pandemia, evidenciando a importância do trabalho do coletivo no desenvolvimento de uma comunidade virtual, expandida para fora do circuito Rio de Janeiro, durante a quarentena. A partir dessa investigação, revelo um importante papel do Slam das Minas RJ no debate de questões como racismo e necropolítica na pandemia, necessários às lutas antifascista e antirracista que ganharam força no período de epidemia, além de trazer ao jogo memórias de uma riquíssima herança afro-brasileira: histórica e culturalmente. Referências: CASTELLS, Manuel. Redes de indignação e esperança: Movimentos sociais na era da internet. Rio de Janeiro: Zahar, 2013. SARAU DO ESCRITÓRIO: MEMÓRIAS E PERSONAGENS NA EXPANSÃO DO IMAGINÁRIO DO BAIRRO DA LAPA Luiz Fernando Pereira Pinto Resumo: A comunicação apresenta a construção de um arquivo através de memórias de personagens relacionadas ao bairro da Lapa (RJ), por meio do Sarau do Escritório, em uma perspectiva de expansão do imaginário sobre a territorialidade. A partir da observação de um discurso homogêneo sobre o território, composto por uma ideia onde o malandro, a boêmia e o consumo despontam como elementos de centralidade, que oculta outras narrativas que também constroem e reconstroem o território, verificou-se a necessidade desta pesquisa. Para tanto, elencou-se como corpus os materiais gerados por uma prática cultural que ocorre de maneira contínua na rua e que homenageia figuras anônimas da região da Lapa, juntamente com a análise de narrativas presentes no livro Antologia da Lapa. A investigação é também uma montagem de um arquivo, que de forma anacrônica, apresenta uma outra leitura sobre a região que compreende o território da Lapa e instaura um ponto de partida para operações e ativações futuras. Com esta pesquisa, espera-se exercer uma tensão entre a categoria de memória e arquivo em diálogo com o território, sendo capaz de destacar a importância das artes performáticas para a criação de imaginários não hegemônicos e o seu uso político, a partir das demandas do tempo presente. Referências: AUSTIN, John L. How to Do Things With Words. 2ª ed. Cambridge: Harvard University Press, 1975. BITTENCOURT, Priscila; PINTO, Luiz Fernando (Orgs.). Fabulações do Território - Rua Joaquim Silva. 1. ed. Rio de Janeiro: Peneira, 2020. p. 56. CÁMARA, Mario; KLINGER, Diana; PEDROSA Célia & WOLFF, Jorge (Orgs.). Indicionário do contemporâneo. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2018. DAMATA, Gasparino (org.). Antologia da Lapa. 3. ed. Rio de Janeiro: Desiderata, 2007. ________. Antologia da Lapa. 1. ed. Rio de Janeiro. Leitura SA, 1965. DIDI-HUBERMAN, George. Diante do tempo: história da arte e anacronismo das imagens. 1. ed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2015. DRUMOND, Karine. Entrevista concedida a Luiz Fernando Pinto, via e-mail, 2020. FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008. ________. A ordem do discurso. São Paulo: Ed. Loyola, 2013. GUASCH, Anna Maria. Os lugares da memória: a arte de arquivar e recordar. Revista-Valise, Porto Alegre, v. 3, n. 5, ano 3, julho de 2013. MAFFESOLI, MICHEL. Saturação. São Paulo: Iluminuras: Itaú Cultural, 2010. MARTINS, Luis. Lapa. 4º edição. Rio de Janeiro. Editora José Olympio, 2015 _____________. Noturno da Lapa. 6º edição. Rio de Janeiro. Editora José Olympio, 2015. POLLAK, Michael. Memória, esquecimento e silêncio. Estudos Históricos, v. 2, n. 3, p. 3-15, 1989. TENNINA, Lucia. Cuidado com os poetas! Literatura e periferia da cidade de São Paulo. Porto Alegre: Zouk, 2017. POESIA VERBALISTA URBANA: POÉTICA E POLÍTICA NO RIO DE JANEIRO DOS ANOS 1980 Marcelo José Ribeiro Vieira Resumo: Este trabalho é resultado da análise textual e da reconstituição histórica e crítica do papel da poesia carioca oralizada em espaços públicos, dentro do processo que ficou comumente conhecido como a “redemocratização brasileira” dos anos 1980, objetivando sempre apreciar as várias relações estabelecidas, nesse período, entre poesia e política. Esta minha pesquisa destaca a atuação de alguns dos principais coletivos poéticos cariocas dos anos 1980, dando total prioridade àqueles que promoviam eventos nas ruas ou em quaisquer outros espaços abertos ao grande público. Meus estudos focalizam três movimentos poéticos urbanos que são bastante simbólicos e ficaram muito conhecidos: a “Feira de poesia independente”, que atuava propositalmente no maior centro de debates políticos no Rio de Janeiro da época (e de hoje) – a Cinelândia, o “Passa na praça que a poesia te abraça”, evento que rodava por várias praças cariocas, levando poesia, teatro, música e outras artes principalmente às chamadas áreas periféricas do Rio de Janeiro, num processo nítido de popularização das artes, de democratização da cultura, atividades que visavam reativar a ideia do exercício da cidadania, há muito restrita pelos governos autoritários. O “Movimento de Arte Pornô” é outro coletivo artístico que ganhou bastante atenção nesta pesquisa. Os artistas pornôs oitentistas buscavam, por meio de performances, que mesclavam nudez com poesia oralizada, mostrar que era preciso libertar a palavra das rígidas regras gramaticais e a arte e a sociedade, como um todo, de paradigmas envelhecidos, para depois, sim, libertar a mente, o corpo e a individualidade das pessoas. Os poetas verbalistas oitentistas não só atuaram no processo de retomada da democracia no Brasil, como também puderam promover a popularização e a deselitização do poeta e de seu fazer artístico, a poesia. Referências: MELO, Mano. A força dos recitais. In: RODRIGUES, Claufe e MAIA, Alexandra (org.). 100 anos de poesia – Um panorama da poesia brasileira no século XX. Rio de Janeiro: O Verso Edições, 2001. PEREIRA, Carlos Alberto Messeder. Em busca do Brasil contemporâneo. Rio de Janeiro: Editora Notrya, 1993. VOZES QUE ECOAM NAS RUAS, RESSOAM NOS LIVROS E SE ESPALHAM NAS REDES: CAMINHOS POSSÍVEIS PARA O POETRY SLAM Mariana de Oliveira Costa Resumo: Compreendendo o Poetry Slam como uma cena consideravelmente recente no Brasil, nos surpreendemos com a aderência dessas batalhas poéticas protagonizadas em sua maioria por pessoas negras, de origem periférica, LGBTQIA+ e mulheres. Seja por sua veloz disseminação no território nacional, partindo das periferias urbanas de territórios considerados cêntricos no país e se multiplicando pelas pequenas cidades e em todas as regiões, seja por sua adaptabilidade aos recursos digitais e sua extensão às publicações editoriais. O slam acontece por natureza na forma de poesia falada, que resgata por meio da oralidade possibilidades decoloniais e que se junta à performance para dar corpo e voz à vivências múltiplas. Ainda assim, a publicação da versão escrita de poemas performados em batalhas de slam tem sido alvo de interesse do mercado editorial, incluindo também pequenas editoras independentes. Além disso, essas publicações podem expandir oportunidades que servem bem às autoras e autores em seus percursos individuais. Por essa razão, surgem questões relacionadas à adesão dos poemas ao papel e às diferentes possibilidades que podem existir ao se transcrever uma poesia falada e ao abrir-se mão da performance para permitir que o poema chegue à sua forma escrita. Dessa forma, interessa a este trabalho analisar de forma comparativa as versões do poema de slam “Caminhão fora do baralho” escrito e performado na modalidade online pela slammer Jéssica Campos na Copa do Mundo de Slam de 2021 e no Slam SP 2021 e a versão escrita intitulada “Caminhão dentro do baralho” que compõe a antologia Minas do Slam (2022). Diante disso, a proposta é demonstrar as diferentes possibilidades que se estendem entre a performance, o poema, a oralidade e a escrita que nascem do levante dessas vozes e corpos políticos, a partir do recorte da performance de gênero e da (auto)legitimação da sexualidade pensada sobre bases interseccionais. Referências: ANZALDÚA, Gloria. Queer(izar) a escritora – Loca, escritora y chicana. Trad. Eliana de Souza Ávila. In: BRANDÃO, I.; CAVALCANTI, I.; COSTA, C. L.; LIMA, A. C. A. (orgs.). Traduções da cultura: perspectivas críticas feministas (1970-2010). Florianópolis: EDUFAL; Editora da UFSC, 2017, pp. 408-425. BERNARDINO-COSTA, Joaze; MALDONADO-TORRES, Nelson; GROSFOGUEL, Ramón (orgs.).Decolonialidade e pensamento afrodiaspórico. 2ª ed. Belo Horizonte: Autência, 2020. BOURDIEU, Pierre. A identidade e a representação: elementos para uma reflexão crítica sobre a ideia de região. In: BOURDIEU, Pierre.O poder simbólico. Lisboa: Difel, 1989, p. 107-132. BUTLER, Judith. 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São Paulo: Cosac Naify, 2007. O ENSINO DE LITERATURA PERIFÉRICA COMO DESOBEDIÊNCIA: UMA BREVE ANÁLISE DA CONSTITUIÇÃO IDENTITÁRIA DE SUJEITOS PERIFÉRICOS NA OBRA CAPÃO PECADO Mikaela Gabriele Elias da Costa Resumo: O ensino de literatura no Brasil vem caminhando através de duas vertentes. De um lado, um grande número de autores que colaboram para um discurso hegemônico e racista, por outro, autores que trazem um discurso contra hegemônico. Dito isso, esta pesquisa, propõe fazer um recorte sobre a importância da literatura periférica e discutir ações relativas à sua inserção nos espaços de aprendizagem, visando que tal literatura é fundamental para a constituição identitária de um grupo de pessoas que são politicamente excluídas da sociedade, isto é, que corresponda ao Brasil como ele é. Portanto, obras como Capão Pecado, de Ferréz, publicado em 2000, tornam-se essenciais para desmistificar essa ideia de um discurso erudito em que há muito a literatura brasileira se fundamenta e que exclui uma parcela da população. Há que se considerar que a literatura tem esse poder de representação de uma determinada comunidade, dessa forma, quando se tem uma literatura com uma grande presença de uma linguagem coloquial, uma espécie de "escrita da oralidade”, como salienta Marcos Zimbordi (2004), essa literatura é essencialmente política, porque diz sobre a construção de sentido dessa parcela da população que é marginalizada. Portanto, esta pesquisa busca entender como que o ensino de literatura periférica, a partir de um viés político, racial e de classe, dialoga com as questões de uma literatura que não perpetue colonialismos e opressões, mas sim uma literatura de "reexistência" (Ana Lúcia Silva Souza, 2011). Dessa forma, buscamos refletir sobre o conceito de literatura que possibilite a sobrevivência de sujeitos periféricos. É nessa esteira que este trabalho em estágio inicial vai desfilar sua apresentação neste evento. Referências: SOUZA, Ana Lúcia Silva, Letramentos de reexistências: poesia, grafite, música, dança: hip hop. 1. ed. São Paulo: Parábola Editorial, p. 34, 2011. ZIBORDI, Marcos. Literatura marginal em revista. Estudos de literatura brasileira contemporânea, n. 24, p. 69-88, 2004. ESTÉTICA DA OCUPAÇÃO: ESCRITAS DOS RUÍDOS, RESTOS E INSURGÊNCIAS Milena Guimarães Andrade Tanure Resumo: No ato de “fazer um rolê”, os jovens pixadores saem para aproveitar a cidade que conhecem em detalhes a fim de deixar suas marcas nos muros, superfícies e topos dos prédios (CALDEIRA, 2014). Não estariam nossos demais artistas e escritores contemporâneos fazendo o mesmo dentro de uma lógica da ocupação que envolve o risco e o desejo de construir narrativas, e demais marcas, que construam não apenas a sua própria inscrição na cidade, mas uma forma outra de cidade na qual eles (artistas e arte) não são descartáveis e são, por que não dizer, indispensáveis? Esses artistas, em alguma medida, tensionam o espaço da cidade e o campo artístico na medida em que os ocupam estética e politicamente. Em tempos de crise, o campo cultural tem se constituído espaço de resistência e insurgência, não se abstendo da sua força estética e política. Diante disso, o presente artigo pensa a produção contemporânea a partir das ideias de ocupação e tensão a partir de usos outros do espaço sobretudo urbano e artístico. São colocadas em cena produções artísticas, como poemas e um curta, que, surgindo no tempo presente, provocam o nosso tempo e vão se propondo a ressemantizar a cidade que se apresenta ambígua, enigmática, labiríntica, fragmentada. A partir delas temos a materialização do fim das metanarrativas e a escrita dos ruídos, dos restos, como estéticas insurgentes. Referências: ADICHIE, Chimamanda Ngozi. O perigo de uma história única. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. AGAMBEN, Giorgio. O que resta de Auschwitz. Trad. Selvino J. Assmann. São Paulo: Boitempo, 2008. _____. Profanações. Trad. Selvino J.Assmann. São Paulo: Boitempo, 2007 ANDRADE. Carlos Drummond de. Nova reunião: 23 livros de poesia. 2ª edição. Rio de Janeiro: BestBolso, 2010. CALDEIRA, Teresa Pires do Rio. Qual a novidade dos rolezinhos? espaço público, desigualdade e mudança em São Paulo. Novos estud. - CEBRAP [online]. n.98, p.13-20, 2014. Disponível em: https://www.scielo.br/j/nec/a/sGMBsf83p69mKmzyLb4bPsL/?lang=pt. Acesso em: 01 março. 2022. CONNOR, Steven. Cultura Pós-Moderna: Introdução às teorias do contemporâneo. 3ª ed. São Paulo: Loyola, 1996. DIDI-HUBERMAN, Georges. Sobrevivência dos vaga-lumes. Trad. Vera Casa Nova & Márcia Arbex. Belo Horizonte: Ufmg, 2011. _____. Cascas. São Paulo: Editora 34, 2017. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: Lamparina, 2015 LYOTARD, Jean-François. Apostila às narrativas. In:_____. O pós-moderno explicado às crianças. 2 ed. D. Quixote. 1993, p.29-34. MARTINS, Leda Maria. Performances do tempo espiralar. In: RAVETTI, Graciela; ARBEX, Márcia (org.) Performance, exílio, fronteiras: errâncias territoriais e textuais. Belo Horizonte: Departamento de Letras Românicas, Faculdade de Letras, Poslit, 2002 PÁL PELBART, Peter. Cidade, lugar do possível. In: Vertigem por um fio: políticas da subjetividade contemporânea. São Paulo: Iluminuras, 2000. QUEIROZ, Camele; RAMOS, Fabricio. Muros. 25 min. 2015. Disponível em: https://curtamuros.wordpress.com/. Acesso em: 06 março 2021 SODRÉ, Muniz. Pensar Nagô. Petrópolis: Vozes, 2017. SOUSA, Taygoara A. C. et al. Revista Miolo. Volume 2. Salvador: EDUFBA, Dez/2019. TERÇA-NADA, Marcelo et al. Salvador em suspensão [livro eletrônico] /fotografias Marcelo Terça-Nada. Salvador, BA : Editora Gris, 2021. PDF. O ENSINO DE LITERATURA EMERGENCIAL: DIÁLOGOS ENTRE CULTURA URBANA MARGINAL/PERIFÉRICA, SLAM POESIA, CAROLINA MARIA DE JESUS E LITERATURA ENQUANTO CAMPO EXPANSIVO Olívia De Melo Fonseca Resumo: Em meados de 2020, muitas eram as angústias que circulavam na cabeça de duas professoras da escola pública do interior do estado do Rio de Janeiro. Atropeladas pelos lutos e pelo retrocesso social, ambos frutos de uma tragédia anunciada e desprezada pelo (des)governo em curso, o tempo era de maus agouros, mas também de vontade de planejar um ensino remoto que fizesse sentido para a vida de nossas/os estudantes. Para tanto, foi preciso recorrer à sabedoria de Antonio Candido e ao seu entendimento de que a literatura é um direto inalienável. Em meio à barbárie em que vivíamos, só a literatura para nos fazer imaginar alternativas para o (im)posto. Em meio ao confinamento que silenciava e excluía, só a literatura para trazer a rua, o corpo a corpo, o brado para dentro de nossas casas/escola. Pela mão de Carolina Maria de Jesus, por seu Quarto de despejo, pudemos aprender o quanto sua voz ecoou através dos tempos e das ruas para que a cultura marginal/periférica produzida por slammers e rappers pudesse ser ouvida hoje. A partir da temática integradora “Diálogos entre cultura urbana marginal/periférica, Slam Poesia, Carolina Maria de Jesus e literatura enquanto campo expansivo”, estudantes da 1ª série do ensino médio integrado ao técnico do IFFluminense, Campus Macaé, tiveram que, ao longo de parte do ano letivo de 2020, de forma remota, estudar o conteúdo da ementa da disciplina de Língua Portuguesa, Literatura e Redação e, como proposta de trabalho avaliativo, atuar, de forma colaborativa, na produção de um e-book com imagens e slams inspirados na vida e na obra da autora. Como resultado deste projeto, tem-se a obra Lembranças à Carolina: releituras de um quarto despejado, a cujo processo de produção, publicação e circulação protagonizado pelas/os estudantes estará voltada a comunicação deste trabalho. Referências: BARTHES, Roland. O prazer do texto. Tradução de J. Guinsburg. São Paulo: Perspectiva, 2008. CANDIDO, Antonio. “O direito à literatura”. In: Vários escritos. 3a ed. revista e ampliada. São Paulo: Duas Cidades, 1995. D’ALVA, Estrela. “Slam: voz de levante”. In: Rebento, São Paulo, n. 10, p. 268-286, junho 2019. EVARISTO, Conceição. “Da grafia-desenho de minha mãe, um dos lugares de nascimento de minha escrita”. In: Representações performáticas brasileiras: teorias, práticas e suas interfaces. Belo Horizonte: Mazza Edições, 16-21, 2007. HOOKS, Bell. Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade. São Paulo Martins Fontes, 2013. HOOKS, Bell. Erguer a voz: pensar como feminista, pensar como negra. Trad. Cátia Bocaiuva Maringolo. São Paulo: Elefante, 2019. JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo: diário de uma favelada. São Paulo: Editora Ática, 1993. ROMÃO, Luiza Sousa. Sangria=Sangría São Paulo: Edição do Autor: Selo do Burro, 2017. ROMÃO, Luiza Sousa. “Sangria: filme completo”. YouTube Direção: Luiza Romão, 2017. Disponível em: Disponível em: https://youtu.be/OzfcxgQHy4. Acesso em: 02/05/2022. SLAM: Voz de Levante. Direção e roteiro: Tatiana Lohmann e Roberta Estrela D’Alva. Produção: Exótica Cinematográfica. Intérpretes: Roberta Estrela D’Alva, Luiza Romão, Chris Tsé, Mel Duarte, Emerson Alcalde, Daniel Minchoni, Luz Ribeiro e elenco. Trilha Sonora: Eugênio Lima e Roberta Estrela D’Alva. São Paulo. Distribuição: Pagu Pictures, 2017. DVD (94 min), son., color. BERNARDINE EVARISTO E STEPHANIE BORGES: A DECOLONIZAÇÃO DE EPISTEMOLOGIAS IDENTITÁRIAS E DA PRÁXIS DE UM RACISMO ESTRUTURAL Paulo Henrique De Sa Junior Resumo: Silêncios são momentos de produção. Segundo Trouillot (1995), estes momentos são ferramentas conceituais que, em pleno século XXI, são usadas por duas intelectuais pretas que compartilham conceitos de decolonização de id-entidades, apresentando leituras alternativas daquelas já “oferecidas pelos representantes da memória oficial e da identidade nacional” (SAID, 2003/2001, p. 39). A escritora anglo-nigeriana Bernardine Evaristo desafia em Lara (2019/1997) a ordem de uma narrativa decolonial em sua história autobiográfica sobre a diáspora africana referindo-se a uma existência complexa e aos obstáculos impostos pelas novas topografias de identidades, redefinindo formas de identificação e ligação, tratando a realidade humana como um fenômeno de aceleração de movimentos de povos (MIGNOLO & WALSH, 2018). A poeta, jornalista e tradutora carioca Stephanie Borges corrobora com a ideia de Bernardine Evaristo em seu livro Talvez precisemos de um nome para isso (2019) ao experimentar a força das palavras em versos livres e diretos em um poema que possui como tema central a questão do cabelo feminino negro. Através de escritas fragmentadas e não lineares, Evaristo e Borges destacam o fato de que experiências múltiplas rompem com a noção de uma História única e uma forma de narrar autoritária, trazendo veracidade aos fatos pelas histórias e/ou temas trabalhados pela sua protagonista e seu eu-lírico, respectivamente, colocando em xeque significados que permeiam todo o corpo, rompendo com o silêncio da mulher preta, que fora triplamente silenciada pelos três pilares da matriz colonial de poder: racismo, sexismo e a naturalização do “ser” (MIGNOLO & WALSH, 2018). Elas rompem com os dogmas literários através de uma escrita criativa e experimental, explorando as histórias escondidas da diáspora africana, subvertendo expectativas e dando voz às mulheres pretas, descolonizando epistemologias e a práxis de um racismo estrutural. Referências: BORGES, Stephanie. Talvez precisemos de um nome para isso. Recife: Cepe, 2019. EVARISTO, Bernardine. Lara. Hexham: Boodaxe Books, 2019. (Obra original publicada em 1997) MIGNOLO, Walter & WALSH, Catherine. On Decoloniality. Durham and London: Duke University Press, 2018. SAID, Edward. Cultura e Política (Luiz Bernardo Pericás, Trad.). São Paulo: Boitempo, 2003. (Obra original publicada em 2001) TROUILLOT, Michel-Rolph. Silencing the Past: Power and Production of History. Boston: Beacon Press, 1995. DA RUA PARA AS TELAS: A REINVENÇÃO ARTÍSTICA DOS SARAUS E SLAMS NA PANDEMIA Paulo Sérgio Silva Da Paz Resumo: Esse artigo surge pela necessidade de mostrar como os saraus e slams da cidade do Salvador se reinventaram, em meio a pandemia do covid-19, para levar arte e cultura a seu público. O objetivo desse artigo é mostrar a força de reinvenção e resistência que os espaços periféricos tiveram durante a pandemia, construindo alternativas de construção artística para performarem suas artes poéticas e teatrais, através das redes sociais. Para isso, foi selecionado o Sarau do JACA, o Slam do Gheto (Sarau do Gheto), e o Slam Pandemia Poética entre os anos de 2020 a 2022 no contexto online, a fim de analisarmos a performance artístico-política dos/das poetas e performer. Esses eventos foram escolhidos por apresentarem uma estrutura solida durante a pandemia, além de critérios específicos como: o Sarau do JACA fez uma mistura de linguagens artísticas, a arte do teatro, da música e da poesia se fizeram presente em um só espaço. O Slam Pandemia Poética trouxe uma tendência no meio artístico periférico da cidade, que é estar voltado para as performers femininas e LGBTQIA+. O Slam do Gheto marca um devir poético de enfrentamento político contra o apartheid racial que a cidade, mais negra do pais, vive. A leitura atenta desses eventos, amparado com uma discussão teórica em torno de Zumthor (2000); Aguiar e Cámara (2017); Klinger (2014). Referências: AGUILAR, G.; CÁMARA, M. A máquina performática: a literatura no campo experimental. Tradução de Gênese Andrade. Rio de Janeiro: Rocco, 2017. COHEN, R. Performance como linguagem. 3. ed. São Paulo: Perspectiva, 2013. GLUSBERG, J. A arte da performance. Tradução de Renato Cohen. São Paulo: Perspectiva, 2013. HALL, Stuart. Da Diáspora: Identidade e mediações Culturais; tradução Adelaine La Guardia Resende; Organização Livsovik; Belo Horizonte: Editora UFMG, Brasília; Representação UNESCO no Brasil, 2003. HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. 10. ed. DP&A, 2005. KLINGER, D. Escrita de si como performance. Revista Brasileira de Literatura Comparada, Porto Alegre, v. 10, n. 12, p. 11-30, 2008. RESENDE, F. A. V. O arquivo e o repertório: performance e memória cultural nas Américas, de Diana Taylor. Em Tese, Belo Horizonte, v. 20, n. 2, p. 261-264, 2014. ZUMTHOR, Paul. Performance, recepção e leitura.2.ed.Trad. Jeruza Pires Ferreira; Suely Fenerich. São Paulo: Cosac Naif 2007. QUANDO O COLETIVO ELABORA SUAS NARRATIVAS- EXPERIÊNCIAS DE AGÊNCIA ENTRE SUBURBANOS E MCS Rossi Alves Gonçalves Resumo: As redes sociais têm se revelado um novo e auspicioso lugar de produção literária que tematiza a experiência suburbana. Seja no facebook, instagram ou plataformas musicais, há alguns anos temos acompanhado o crescimento de narrativas do cotidiano das periferias, evidenciando uma manifestação literária que reconfigura o lugar do morador suburbano na cultura das cidades. A página Suburbano da depressão se destaca nesta cena, inserindo elementos importantes para se pensar num viver que pulsa de experiências. Com temas relacionados à vida suburbana carioca e propondo uma narrativa que combate a ideia de subúrbio como espaço da violência, da anomia e da falta, a página, auxiliada pelos seguidores, cria uma potente forma de reinvenção do carioca suburbano e exibe uma outra cidade, orgulhosa de suas experiências, cujos padrões de civilidade, beleza, carioquice e diversão não são determinados pelas narrativas institucionais. E mais: ao narrar a vida cotidiana sob o ponto de vista de quem a experimenta, ou seja, com uma dicção envolvente, o site atrai mais que curtidas e compartilhamentos. Ainda que nem sempre se dê através de uma proposta explícita, os seguidores complementam as narrativas, às vezes acrescentando elementos simples; às vezes, inserindo outras narrativas, transformando a publicação numa enorme prosa construída coletivamente. Técnica esta muito semelhante à utilizada entre os artistas do rap e da Literatura produzida pela periferia de São Paulo. Esta comunicação propõe reflexões acerca da construção coletiva de narrativas da página supracitada em cotejo com as composições musicais do movimento hip hop, perpassando temas, como subúrbio, autoria coletiva, criatividade, denúncias e escrevivência, amparando-se em teóricos como: Conceição Evaristo, Beatriz Resende, Homi Bhabha, Gloria Anzaldua entre outros. Referências: ANZALDÚA, Gloria. Borderlands/La frontera: the new mestiza. 4 ED. San Francisco: Aunte Lute Books, 2012. ______. "Falando em línguas: uma carta para as mulheres escritoras do Terceiro Mundo". Trad. Édina de Marco. Revista Estudos Feministas, v. 8, n. 1, p. 229-236, 2000. BAKHTIN, M. Questões de literatura e de estética: a teoria do romance. Trad. A. F. Bernardini et al. São Paulo: UNESP/Hucitec, 1988. BHABHA, Homi. The right to narrate. Harvard Design Magazine, Cambridge, Summer, 2014.Disponível em: <https://goo.gl/3JnEHX.> EVARISTO, Conceição. Da grafia-desenho de minha mãe um dos lugares de nascimento de minha escrita. Depoimento apresentado na Mesa de Escritoras Afro-brasileiras, no XI Seminário Nacional Mulher e Literatura/II Seminário Internacional Mulher e Literatura, Rio de Janeiro, 2005. Disponível em http://nossaescrevivencia.blogspot.com/2012/08/da-grafia-desenho-de-minhamae-um-dos.html RESENDE, Beatriz & FINAZZI-AGRO, Ettore. Possibilidades da nova escrita literária no Brasil. Rio de Janeiro: Revan, 2014. Holanda, Heloisa. B. Crônica Marginal. In: Possibilidades da nova escrita literária no Brasil. Rio de Janeiro: Revan, 2014. SIMPÓSIO “RETORNOS, ANTEPASSADOS E MEMÓRIAS DO FUTURO” Alessia Di Eugenio (Universidade de Bologna), Francesca De Rosa (Universidade de Napoli) "MEMÓRIAS DO EXÍLIO", RETORNO E MEMÓRIAS DO FUTURO DA DITADURA CIVIL-MILITAR BRASILEIRA Alessia Di Eugenio Resumo: Em 1976 foi publicado o texto Memórias do Exílio 1964-19?? (volume I) e em 1980, depois da anistia de 1979 que possibilitou o retorno para o Brasil, foi publicado Memórias das mulheres do Exílio (volume II), dedicado “aos que não verão o fim do exílio”. As duas obras coletivas são coletâneas de memórias e depoimentos, de brasileiros e brasileiras que foram exilados ou se exilaram, relacionados às experiências do exílio, do distanciamento doloroso e as esperanças e medos do retorno. De fato, a experiência do exílio – afastamento da própria terra como pena ou auto-afastamento como escolha sofrida e obrigada por fatores externos – está extremamente relacionada com a capacidade de pensar as formas do retorno e a sua possibilidade. O trabalho propõe uma leitura destes dois textos com o objetivo de entender e reconstruir a ideia do retorno que emerge e as memórias do futuro desta geração, que experimentou frustrações e dores, mas também assistiu ou participou de processos de lutas coletivas para a construção de um outro Brasil. Essas memórias do futuro – entendidas como memórias das expectativas que indivíduos e grupos tiveram no passado (Jedlowski, 2017) – junto à configuração da experiência do retorno são capazes de questionar preocupações e perspectivas políticas do presente brasileiro à luz do que foi sonhado, imaginado ou considerado possível pelas gerações que viveram na época da ditadura. Deste modo, as perspectivas específicas dessa geração de exilados/as, analisada através dos textos mencionados, serão comparadas com aquelas que emergem em textos ficcionais recentes (Salem Levy 2007; Hidalgo 2016; entre outros) em que são os filhos/as de exilados/as a reelaborarem experiências e memórias do futuro dos pais. Essa comparação permitira também uma reflexão sobre os processos de transmissão transgeracional da memória (Pethes e Ruchatz 2002) da época da ditadura. Referências: . A REELABORAÇÃO DO DISCURSO HISTÓRICO EM TORTO ARADO Amanda Cristinny Santos Monteiro, Sávio Pires de Souza Resumo: O presente resumo é um recorte de um trabalho maior que buscou, a partir da leitura da obra Torto Arado, de Itamar Vieira Júnior, assim como de algumas leituras teórico-críticas sobre o gênero romance, fazer reflexões sobre como a narrativa literária retorna ao passado escravista e reelabora o discurso histórico pela perspectiva do dominado. Essas abordagens do discurso na história refletem a intenção primeira do romance tido “histórico” enquanto possibilidade de conceber a história como fator que direciona as ações das personagens e formula suas identidades enquanto indivíduos. Torto Arado é o título do primeiro romance do escritor baiano Itamar Vieira Júnior, publicado em 2018, no qual o escritor narra a história das irmãs Bibiana e Belonísia, que vivem juntas com toda a família em regime de servidão na fazenda Água Negra, no sertão brasileiro. O romance é dividido em três partes Fio de Corte, Torto Arado e Rio de Sangue e, em cada parte, há uma narradora diferente, sendo a primeira parte narrada por Bibiana, a segunda, por Belonísia e, a última contada por uma entidade do Jarê. Dessa forma, a obra desconforta seus leitores a escancarar a não efetividade da Lei Áurea, lei esta que ficou oficialmente reconhecida por ter “extinguido” a escravidão no Brasil. A presença das aspas serve, seguindo seu objetivo principal, provocar um distanciamento do é posto, a partir da história oficial, em detrimento a não crença do ocorrido, uma vez que a lei, promulgada por Eusébio de Queiroz, não chegou ao sertão brasileiro. Daí a necessidade da presença de narrativas que abordem fatos históricos sob uma nova perspectiva, a fim de que haja uma descentralização da imagem de homens, brancos, europeus, pertencentes a classes abastadas que, durante anos, assumiram/assumem a voz do dominador, obrigando-nos a conviver com o discurso que a nós é imposto. Referências: ARAÚJO, Ana Lúcia. Public Memory of Slavery in Brazil. In: ed. HAMILTON, Douglas, HODGSON, Kate, e KIRK, Joel. Slavery, Memory and Identity: National Representations and Global Legacies. London: Pickering & Chatto, 2014. FERNANDES, Joyce. O legado traumático da escravidão em Torto Arado. Entrelaces. Ceará, v° 11, n° 23, p. 01-20. Jan. – Mar. 2021. FIABANI, Adelmir. As Comunidades Negras Rurais Brasileiras e a Luta pela Terra. Estudios, n. especial, p. 49-59, junho, 2010. HAEHNEL, Birgit and ULZ, Melanie. Slavery in Art and Literature: Approaches to Trauma, Memory and Visuality. Berlin: Frank & Timme, 2010. JUNIOR, I. V. Torto Arado. Todavia, 2018. PELLEGRINI, Tânia. Os caminhos da cidade. In: Despropósitos: estudos de ficção brasileira contemporânea. São Paulo. Annablume; Fapesp. 2008. NAVARRO, Eliziane; PAULA, Marcelo Ferraz de. Cobrir e mostrar a cara: a recuperação do romance histórico no século XXI em Torto Arado de Itamar Vieira Júnior e Formas de voltar para casa de Alejandro Zambra. Literatura e Autoritarismo, Santa Maria, n. 36: Tempos, memórias, histórias, jul.-dez. 2020, p. 5-20. BRASIL-FRANÇA: MEMÓRIAS DE UM EXILADO POLÍTICO EM "A NOITE DA ESPERA" E "PONTOS DE FUGA", DE MILTON HATOUM Camila Araújo Gomes, Rachel Esteves Lima Resumo: Após fugir da ditadura civil-militar brasileira (1964-1985), Martim – narrador protagonista de “A noite da espera” (2017) e “Pontos de fuga" (2019), de Milton Hatoum – vivencia um período de exílio na capital francesa, no qual realiza por meio da datilografia o exercício de rememorar, sobretudo, os traumas de sua juventude duplamente reprimida pelos autoritarismos estatal e patriarcal, durante os anos sombrios de 1968 a 1972. À vista disso, este trabalho propõe-se a analisar a condição de exilado político experienciada pelo personagem principal em Paris, tendo como foco narrativo a fase adulta da vida dele entre 1977 e 1980, nos três anos de exílio. Desse modo, pretende-se discutir o retorno ao passado ditatorial, construído literariamente por Hatoum, ao passo que este apresenta semelhanças autobiográficas com a trajetória do protagonista. A partir dos conceitos-chave de exílio (Edward Said, 2003), memória (Aleida Assmann, 2011; Beatriz Sarlo, 2007; Paulo Ricoeur, 2007) e literatura como arquivo da ditadura brasileira (Eurídice Figueiredo, 2017), esta comunicação também visa pensar como os dois romances contemporâneos em questão contribuem para a produção da política de sobrevivências (Roberto Vecchi, 2021), comprometida com uma prática crítica, dialógica e intergeracional, a fim de salvar passados em risco. Sendo assim, as duas obras de Hatoum trazem à lume a força criativa e imaginária da literatura que, dentre outros aspectos, reflete sobre seu processo criativo em relação à memória pública brasileira. Referências: ASSMANN, Aleida. Espaços da Recordação: formas e transformações da memória cultural. Campinas: Editora da Unicamp, 2011. FIGUEIREDO, Eurídice. A literatura como arquivo da ditadura brasileira. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2017. HATOUM, Milton. A Noite da espera. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. HATOUM, Milton. Pontos de fuga. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Trad. Alain François [et al.]. São Paulo: Editora da Unicamp, 2007. SAID, Edward W. Reflexões sobre o exílio. In: ______, Reflexões sobre o exílio e outros ensaios. Trad. Pedro Maia Soares. São Paulo: Companhia das Letras, 2003, p. 33-43. E-book. SARLO, Beatriz. Tempo passado: cultura da memória e guinada subjetiva. Trad. Rosa Freire d’Aguiar. Belo Horizonte: Editora da UFMG; São Paulo: Companhia das Letras. VECCHI, R. A crise da pós-memória e o horizonte das sobrevivências: campos de batalha da memória no Brasil contemporâneo. Estudos De Literatura Brasileira Contemporânea, n. 64, ago. 2021. Disponível em: https://doi.org/10.1590/2316-4018645. Acesso em: 09 mai. 2022. FAZ DE TI UM MUSEU MOSTRANDO O QUE JÁ ERA VISÍVEL: A ESCRITA COMO PONTO DE RETORNO EM ESSE CABELO DE DJAIMILIA PEREIRA DE ALMEIDA Clarisse Dias Pessôa Resumo: A filósofa Donatella Di Cesare, em sua obra Estrangeiros residentes: uma filosofia da migração (2020) postula que no exílio, o retorno, enquanto ponto de inversão, possui uma carga libertadora. Nesse sentido, o regresso não deve ser visto apenas como um retorno ao ponto de partida, um simples repatriamento, é necessário refletir sobre as formas de representação do retorno no tempo e no espaço. Ao pensar o contemporâneo, Giorgio Agamben (2009), postula que não se pode supor um retorno ao que foi perdido no passado, mas que somente seria possível entrever sua obscuridade ao encarar as luzes do presente. A identidade contemporânea, portanto, pode ser comparada a essa luz que não alcança o homem totalmente, mas que está constantemente em movimento. Em Esse cabelo, de Djaimilia Pereira de Almeida (2015), a representação do retorno a partir da revisitação das fotografias de família tem o seu caráter libertador no próprio ato da escrita. Mila, a narradora conta a história do seu cabelo e a partir da narrativa encara os pontos obscuros da memória coletiva no Portugal pós-colonial. A busca pela identidade, que não poderá ser totalmente alcançada, pois esta é fragmentada e mutante, proporciona um diálogo entre o coletivo e o individual, entre o público e o privado, entre o que é visível e o que é invisibilizado. Através da reconstrução de si mesma na escrita, busca o seu lugar social e a sua relação com os outros. É somente a partir desse retorno que a personagem pode mirar o passado na sua incompletude discursiva para repensar o presente. A escrita enquanto “memória do que ainda se vive” vem de encontro à “construção de uma nova cartografia da memória europeia”, nas palavras Margarida Calafate Ribeiro (2020), onde os “outros” da história colonial também fazem parte de Portugal. Referências: AGAMBEN, Giorgio. O que é o contemporâneo e outros ensaios. Trad. de Vinícius Nicastro Honesko. Chapecó: Argos, 2009. ALMEIDA, Djaimilia Pereira de. Esse cabelo: a tragicomédia de um cabelo crespo que cruza fronteiras. Rio de Janeiro: LeYa, 2017. DI CESARE, Donatella. Estrangeiros residentes: uma filosofia da migração. Trad. de Cézar Tridapalli. Belo Horizonte: Âyiné, 2020. HALBWACHS, Maurice. A Memória Coletiva. Trad. de Laurent Léon Schaffter. São Paulo: Vértice, 1990. RIBEIRO, Margarida Calafate. Uma história depois dos regressos: a Europa e os fantasmas pós-coloniais. Confluenze. Rivista di Studi Iberoamericani, [S. l.], v. 12, n. 2, p. 74–95, 2020. DOI: 10.6092/issn. 2036-0967/12169. Disponível em: https://confluenze.unibo.it/article/view/12169. Acesso em: 04/05/2022. UM ROMANCE DE ÁFRICA: "A CASA DA ÁGUA" DE ANTÓNIO OLINTO. MEMÓRIAS DE RETORNO, NOVAS VIAGENS E FUTURAS NAÇÕES Francesca De Rosa Resumo: Definido como promessa e única possibilidade ao perceber que não há futuro no Novo Mundo por Saidiya Hartman (2007), ou primeira pulsão e obsessão do Um por Edouard Glissant (1981), o tema do retorno e da volta à África tem ocupado grande espaço também na literatura brasileira com enfoque sobre a relação entre África e Brasil (Figueredo E. 2009). Publicado em 1969 o romance A Casa da água é o primeiro volume da trilogia “A alma da África” de António Olinto, em que o autor aborda a história dos afro-brasileiros que retornaram à África. O presente trabalho tem por objetivo discutir a construção das memórias dos antigos ex escravizados que decidiram imaginar e concretizar o retorno ao solo africano a partir da obra de António Olinto. As personagens do romance constroem suas identidades entre as duas margens do Atlântico com atitudes diferentes: regresso como sonho e possibilidade de cicatrização para os que voltam e novas viagens e futuras nações para as gerações sucessivas. Nesse sentido, a ideia é de imaginar uma reflexão sobre a construção das diferentes percepções das memórias da viagem e do retorno e das identidades nas novas nações africanas. Interessado em investigar os laços culturais brasileiros na África Ocidental, António Olinto, adido cultural em Lagos (1962), foi fortemente encorajado pela embaixada brasileira na promoção da imagem da democracia racial do Brasil (Dávila, 2010). Objetivo do ensaio é também perceber a construção político-cultural da ideia do “passado comum” entre África e Brasil na fase de aproximação com o continente africano lançada no período da Política Externa Independente (PEI). Referências: . QUAIS ANTEPASSADOS? A REEVOCAÇÃO DO PASSADO NAS OBRAS DE ALEJO CARPENTIER Francesca Negro Resumo: Esta comunicação propõe uma reflexão sobre o valor da memória cultural nas obras de Alejo Carpentier "Os passos perdidos" e "O reino deste mundo", questionando o valor das memórias históricas evocadas nas obras. Capentier, conhecido por inaugurar o género do romance histórico na America latina, constroi os seus romance a partir de eventos que estão na origem da história nacional de Cuba e do continente americano, apesar disso a posição por ele assumida não é clara e se estrutura num um jogo de affiliações arbitrárias e tendenciosas. Observamos que o elemento maravilhoso e que ele insere na base historiográfica surge da sua adoção de outras histórias, de outros antepassados, que o autor suiço-cubano evoca para contribuir na construção duma identidade nacional e continental a que ele pertence por escolha, e que também se define na base da alteridade como principio geral das comunidades. Neste sentido Carpentier responde ao mesmo sentimento também manifestado duma certa forma por Jorge Amado, e por Guimarães Rosa na sua intenção de narrar "estórias" e não histórias. Os antepassados evocados por Carpentier não são os Europeus que cruzavam os mares, e cujas histórias ele reconstroi de forma surpreendente, mas são os espíritos que visitam os rituais por ele descritos de forma aproximativa e emocionada rituais que também não lhe pertencem mas que o definem na realidade que ele habita: uma reino de incongruente espiritualidade e sensorialidade sem rumo próprio. Dentro desse "reino deste mundo" que é a America Latina, ele constroi canones específicos que já foram codificados como uma retoma de antigos estilos europeus, mas se calhar mereciam ser redefinidos como canones autoctones da identidade latina poscolonial. Referências: BONFIGLIO, Florencia. El ensayo que se repite o el caribe como "lugar-común" (Antonio Benítez Rojo, Edouard Glissant, Kamau Brathwaite) in Anclajes vol.18, n. 2, 2014, p. 1931. CARPENTIER, Alejo. Los pasos perdidos, Madrid: Alianza Editorial, 1998 CARPENTIER, Alejo. El siglo de las luces, Alianza Editorial, 2004. CARPENTIER, Alejo. Barroco tropical, Madrid Akal 2011 CARPENTIER, Alejo. La arpa y la sombra, Madrid: Alianza, 2013. GINZBURG, Carlo. O fio e os rastros. Verdadeiro, falso, fictício. Tradução de Rosa Freire d'Aguiar e Eduardo Brandão. São Paulo: Companhia das. Letras, 2007. LIMA, Luiz Costa. História. Ficção. Literatura. São Paulo: Companhia das Letras, 2006. LUKÁCS, György. O romance histórico. Tradução de Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo, 2011. PACHECO, Ana Paula. Lugar do mito: narrativa e processo social nas Primeiras Estórias de Guimarães Rosa, São Paulo: Nankin Editorial, 2006. ROSA, João Guimarães. Tutaméia: terceiras estórias. Rio de Janeiro: José Olympio, 1967. Shohat E., Stam R. Narrativizing Visual Culture. Towards a polycentric aesthetics. in Visual Culture Reader. Ed. by Nicholas Mirzoeff. London and New York. – P.27-49. AS AUTONARRATIVAS DE MARIA PILLA E PETRA COSTA COMO ATOS POLÍTICOS DE CONTESTAÇÃO AOS DISCURSOS GOLPISTAS DE ABRIL DE 1964 E ABRIL DE 2016 Isis Duarte Fernandes Resumo: Este trabalho se propõe a questionar e problematizar as linhas e estratégias narrativas de Petra Costa em “Democracia em Vertigem” e de Maria Pilla em “Volto semana que vem” como “autonarrativas dos golpes”, investigando, ainda, seus engajamentos políticos e seus discursos de protesto e contestação através da literatura e do cinema. Lançando mão dos conceitos de “memória” e “verdade” como operadores críticos, busco estabelecer uma relação entre as obras em suas retomadas das vozes silenciadas pela tradição autocrática brasileira (em específico, no período que sucedeu ao golpe midiático-civil-militar de 1964 e no que compreendeu a articulação e a concretização do golpe midiático-civil-parlamentar de 2016). Nesse contexto, “Democracia em Vertigem” insere-se, pelo seu “leitmotif” sócioestético e pela sua subjetividade narrativa manifesta, em um corpus de construção da memória do golpe e em um movimento de reflexão acerca do recrudescimento do autoritarismo no horizonte brasileiro dos afetos políticos. Da mesma forma, “Volto semana que vem” se inscreve em uma longa e hoje reconhecida tradição de mulheres que (re)emergem literariamente após os anos de chumbo, seja através das memórias das sobreviventes, seja por meio das histórias contadas pelas descendentes de militantes (DI EUGENIO, 2020). As autoras interseccionam, assim, tal como quem traça uma arqueologia do golpe de 2016, a herança ditatorial e o novo avanço do protofascismo. Demonstro, por fim, como tais narrativas não se resumem a registrar fatos históricos ou a descrever as agruras e violências enfrentadas pelos movimentos sociais, mas se propõem, como obras esteticamente multifacetadas, a reconstruir, a partir da ótica da subjetividade recalcada e traumatizada, os caminhos da memória-reflexão. Esse processo tenta tirar sentido do fantasma golpista incrustado no imaginário cultural do Brasil-nação, a fim de desvelar o inaudito histórico e, dessa forma, quebrar sua corrente de padrões atávicos de opressão, injustiça social e autoritarismo. Referências: ALTMAN, B. Cada pedaço de 'Democracia em Vertigem' é um golpe no estômago que estremece o espectador. Folha de São Paulo, São Paulo, 2019 (versão digital). Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2019/06/cada-pedaco-de-democracia-em-vertigem-eum- golpe-no-estomago-que-estremece-o-espectador.shtml Acesso em 10 out 2021. AVILA, G. Democracia em Vertigem | Governo usa conta oficial para criticar Petra Costa. Omelete, s/n, fev 2020 (website). Disponível em: https://www.omelete.com.br/oscar/democracia-em-vertigemconta-oficial-governo-critica-petra-costa Acesso em 10 out 2021. AZEVEDO, D. L. Memórias do esquecimento: a construção de um olhar humanitário sobre a ditadura no Brasil. In: TELES et al (org.). Espectros da ditadura: da Comissão da Verdade ao bolsonarismo. São Paulo: Autonomia Literária, 2020. BAKHTIN, M. Marxismo e Filosofia da Linguagem. São Paulo: Hucitec, 2006. BALTAR, M. Entre afetos e excessos – respostas de engajamento sensório-sentimental no documentário brasileiro contemporâneo. rebeca, v. 2, n. 2, p. 60-85, jul-dez 2013. Disponível em: https://rebeca.socine.org.br/1/article/view/95/24. 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PEDRO BIAL diz que 'Democracia em Vertigem' é ficção alucinante e tem narração insuportável. Folha de São Paulo, s/n, fev 2020 (versão digital). Disponível em:https://f5.folha.uol.com.br/celebridades/2020/02/pedro-bial-diz-que-democracia-emvertigem-e-ficcao-alucinante-e-tem-narracao-insuportavel.shtml Acesso em 10 out 2021. _________. PSDB chama Democracia em Vertigem de "filme de ficção e fantasia". Exame, s/n, jan 2020 (versão digital). Disponível em: https://exame.com/brasil/psdb-chama-democracia-emvertigem-de-filme-de-ficcao-e-fantasia/ Acesso em 13 out 2021. __________. INDICAÇÃO de 'Democracia em Vertigem' ao Oscar vira guerra política na web. Correio Braziliense, s/n, jan 2020. Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/politica/2020/01/13/interna_politica,82019 7/indicacao-de-democracia-em-vertigem-ao-oscar-vira-guerra-politica-na.shtml Acesso em 13 out 2021. SWEET, P. L. The Sociology of Gaslighting. American Sociological Review. 2019; 84(5): 851-875. 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Essa leitura será pautada pelo conceito de Antropofagia, cunhado por Oswald de Andrade, em 1928, por seus desdobramentos em trabalhos do autor, destacando-se o ensaio postumamente publicado "A marcha das utopias", de 1966, e, também, por reinterpretações do conceito oswaldiano publicadas no livro "Antropofagia Hoje", organizado por João Cezar de Castro Rocha e Jorge Rufinelli, em 2011. No trabalho, o pensamento Antropófago constitui-se como um operador para se compreender o que se preserva da memória cultural e o que é agregado como cultura do outro na imaginária comunidade de Bacurau, bem como a forma como se reage à negação do convite feito pela personagem Damiana. Além da cena apontada, será discutida a representação de outros espaços de construção e preservação da memória que assumem lugar de destaque na narrativa fílmica, como o museu e a escola. Para o desenvolvimento da análise, serão utilizados como referencial teórico a interpretação de Michael Löwy sobre as ‘Teses sobre o conceito de história’ presente no livro "Walter Benjamin: aviso de incêndio" (2005), além das obras "A sobrevivência dos vagalumes" e "Cascas", de Georges Didi-Huberman (2011; 2017). Referências: ANDRADE, O. "A utopia antropofágica". 2. ed. São Paulo: Globo, 1995. (Obras Completas de Oswald de Andrade). BACURAU. Direção: Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles. Intérpretes: Bárbara Colen, Silvero Pereira, Karine Teles, Sônia Braga, Udo Kier et al. Roteiro: Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles. [s. l.]: Vitrine Filmes, 2019. 1 DVD (131 min), son., color. DIDI-HUBERMAN, G. "Sobrevivência dos vaga-lumes". Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011. DIDI-HUBERMAN, G. "Cascas". São Paulo: Editora 34, 2017. LÖWY, Michel. "Walter Benjamin: aviso de incêndio". Uma leitura das 'Teses sobre o conceito de história', tradução de Wanda Nogueira Caldeira Brant, [tradução das teses] Jeanne Marie Gagnebin, Marcos Luiz Müller. São Paulo: Boitempo, 2005. ROCHA, João Cezar de Castro; RUFFINELLI, Jorge. "Antropofagia hoje. Oswald de Andrade em cena". São Paulo: É Realizações, 2011. UM TELEFONEMA PARA (NÃO) REGRESSAR. A IMAGINAÇÃO COMO (IM)POSSIBILIDADE DO RETORNO EM AS TELEFONES DE DJAIMILIA PEREIRA DE ALMEIDA Nicola Biasio Resumo: Em As Telefones (2020), Djaimilia Pereira de Almeida conta a relação à distância entre Filomena e Solange, mãe e filha. No contexto da guerra civil angolana e diante da fome, Filomena sacrifica o convívio com a filha, em prol de melhores condições de vida, enviando Solange para viver com sua irmã na periferia de Lisboa. Mãe e filha conhecem-se apenas por telefone, tentando acompanhar uma a vida da outra. Através da voz que sai pelo aparelho telefónico, as duas mulheres procuram ressignificar no distanciamento uma nova forma de filiação, para pensar num possível retorno a uma vida compartilhada. Entre o vazio que a ausência causa e a fantasia que a distância permite, Solange torna-se mulher e Filomena envelhece. Partindo do conceito de “existir apenas como voz”, proposto por Adriana Cavarero (2003), a presente comunicação visa analisar as reconfigurações ontológicas e identitárias provocadas pela diáspora pós-colonial no contexto português. Sendo apenas “vozes” e para (sobre)viver juntas, Filomena e Solange devem se tornar “telefones”, como salineta o título do romance. Nesse sentido, a crítica interpreta o telefonema como “gênero literário da diáspora” (Franco 2021). Para imaginar um futuro em comum, ao longo dos anos Filomena e Solange preenchem suas conversas de expectativas, sonhos e promessas que nunca se realizarão: “os seus telefonemas não eram palavras, mas um sonho em andamento” (Almeida 2020: 71). Prestando-se ao jogo da ilusão estimulado pelo poder da voz, ambas sonham com a vida da outra, imaginam como vivem e enganam-se, em particular a mãe: a vida em Lisboa é, para os migrantes, precária e vulnerável como em Luanda. Pretendemos, então, focar no papel da imaginação, do sonho e das ilusões no romance como forma de compensação de um impossível retorno das personagens e da impossibilidade de conviver juntas no mundo que o colonialismo e a consequente descolonização criaram. Referências: Almeida, Djaimilia Pereira de. 2020. As Telefones. Lisoba: Relógio d’Água. Butler, Judith. 2004. Precarious Life: The Powers of Mourning and Violence. New York: Verso. Cavarero, Adriana. 2003. A più voci: filosofia dell’espressione vocale. Milano: Feltrinelli. Franco, Roberta Guimarães. 2021. “A «inseparabilidade» dos trânsitos na obra de Djaimilia Pereira de Almeida”, in Abril - Revista do NEPA/UFF 13(27). 109-124. Mata, Inocência. 2006. “Estranhos em permanência: a negociação da identidade portuguesa na pós-colonialidade.” In Sanches, Manuela Ribeiro (org.), “Portugal não é um país pequeno": contar o ‘império’ na póscolonialidade, 285-315. Lisbona: Livros Cotovia. Petersen, Anne Ring. 2019. “‘Say It Loud!’ A Postmigrant Perspective on Postcolonial Critique in Contemporary Art.” In Schramm, Moritz et all., Reframing migration, diversity and the arts: the postmigrant condition, 75 – 93. New York: Routledge. Ribeiro, Margarida Calafate. 2020. “Uma história depois dos regressos: a Europa e os fantasmas pós-coloniais.” Confluenze 12(2). 74-95. (DES)ARRUMAR O "SÓTÃO COLONIAL". RETORNOS E RE-IMAGINAÇÕES DE PÓS-MEMÓRIA EM ESSE CABELO DE DJAIMILIA PEREIRA DE ALMEIDA E NAS FOTOGRAFIAS DE DÉLIO JASSE Rebecca Bentes Saldanha Pereira Resumo: Retomando uma metáfora do escritor A. Szcypiorski, Aleida Assmann (2008) descreve a memória latente como um objeto que se coagula "nas dobras escuras da consciência como lixo empilhado num sótão" (179). Aqui, fotos, jornais e outros “objetos testemunhais” (Hirsch e Spitzer: 2006) definem a memória familiar como um espaço anfíbio, concreto e virtual, moldado pelos olhares de várias gerações.? O “sótão português", onde sobrevivem imagens do tempo colonial em África, reflete geografias emotivas e políticas complexas que desafiam as representações oficiais sobre o passado. Esse espaço doméstico funciona como um "nãoarquivo" ao qual escritores e artistas de pós-memória “regressam”, encontrando novas estratégias narrativas. Em particular, o romance Esse Cabelo, de Djaimilia Pereira de Almeida, e as séries fotográficas The Lost Chapter Nampula, 1963 (2016) e Nova Lisboa (2018) de Delio Jasse, são aqui tomados como exemplos de uma arte que concebe o retorno ao passado africano como problematização das suas aporias. O cabelo crespo de Mila, a herança angolana duma jovem lisboeta, torna-se o terreno conflituoso entre a busca das raízes e a repulsa da memória inscrita no corpo da mulher, cujos penteados simbolizam a intrincada geopolítica entre Lisboa e Luanda (6). Folheando as fotografias familiares, Mila questiona a memória colonial, elaborando a visão do passado enquanto reencontro com imagens de ruínas (55). Assim, nas fotografias do Délio Jasse, o contraste construído entre o preto e branco das imagens da vida em África e a cor dos selos burocráticos aplicados pelo artista atesta o fim do tempo colonial, atualiza as memórias e des-mitologiza a saudade. Ambos opostos ao movimento nostálgico, esses trabalhos não admitem retornos, mas olham para o passado assumindo os seus legados controversos, numa busca de novos significados através da auto-interrogação que reconfigura o arquivo através das re-imaginações do sótão. Referências: (Em atualização) Almeida, Djaimilia Pereira de (2015). Esse Cabelo. Alfragide: Teorema Assmann, Aleida (2008). Ricordare. Forme e mutamenti della memoria culturale. Bologna: Il Mulino Hirsch, Marianne e Leo Spitzer (2006). "Testimonial Objects: Memory, Gender, Transmission". Poetics Today, 27:2 , Porter Institute for Poetics and Semiotics. Jasse, Délio (2018). Nova Lisboa. Série fotográfica (24X 70X100 cm). Photographic emulsion and screen print on Fabriano paper. Jasse, Délio (2016). The Lost Chapter Nampula -1963. (24X 70X100 cm). Photographic emulsion and screen print on Fabriano paper. Ketelaar, Eric (2001). Tacit narratives. The meanings of the archives. Archival science. 1: 131-141. 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Apesar de se constituir num estilo musical, notavelmente marcado pelas rupturas, o Rap está sendo tratado muito mais no âmbito da expressão políticosocial. Analisar as letras de Emicida para verificar se há a presença de reinvindicações sociopolíticas ou contestatórias. Como o Rap ao cantar a dor e a indignação de um povo tão sofrido influi na sociedade contemporânea, bem como suas relações político-sociais e como a reflexão e o debate sobre esses processos. O movimento Hip Hop emerge na periferia negra e latina do mundo ocidental no final do século XX como uma manifestação cultural ao mesmo tempo de caráter artístico e político. A partir dos anos 1950, acompanhando os processos de democratização da educação e da arte, Raymond Williams propôs uma concepção mais inclusiva de cultura, pautada no extermínio de divisões sociais. Trazer a rima do Rap em uma perspectiva sociológica e de outras vertentes de estudos que dela se utilizam e direcionam um olhar para as condições de produção do texto literário, como é o caso dos Estudos Culturais. Nesse sentido, ao pensar a literatura como uma ferramenta sociopolítica, o grande teórico Antônio Cândido, no ensaio “Literatura e sociedade”, a partir de arcabouços teóricos da sociologia moderna, debate a questão da arte, ressaltando a sua função social. Referências: Amora.2015. 1 vídeo (059s). Livro "Amoras" - Versão Animada Publicado pelo canal Emicida. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Avt7s8XgDjs. Acesso em: 20 de abril de 2021. Baiana. 2015. 1 vídeo (4 min). Publicado pelo canal Emicida. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=3QEFDraI0XQ. Acesso em: 20 de abril de 2021. Boa esperança. 2015. 1 vídeo (7 min). Publicado pelo canal Emicida. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=AauVal4ODbE. Acesso em: 20 de abril de 2021. BUSATO, Susanna. 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Rio de Janeiro: Universidade Candido Mendes, 2012. HALL, Stuart. Que “negro” é este na cultura negra? In:___________. Da diáspora: identidade e mediações culturais. Brasília, UFBG, 2003, p. 335-352. Mufete.2015. 1 vídeo (4 min). Publicado pelo canal Emicida. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=zypOpcW62T8. Acesso em: 20 de abril de 2021. Passarinhos.2015. 1 vídeo (4 min). Publicado pelo canal Emicida. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=IJcmLHjjAJ4. Acesso em: 20 de abril de 2021. RACIONAIS MC’s. Sobrevivendo no inferno / Racionais MC’s. São Paulo: Companhia das Letras, 2018. STEFANI, Gino. Para entender a música. Tradução Maria Bethânia Amoroso. Rio de Janeiro: Globo, 1987. TATIT, Luiz. Abertura Laboratório da Palavra – PACC. Rio de Janeiro: GemUFRJ, 2016. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=eGPxjpG_w40. Acesso em: 16 de março de 2021. TATIT, Luiz. O século da canção. 2ª ed. Cotia: Ateliê Editorial, 2008. ______. O cancionista: composição de canções no Brasil. 2ª ed. São Paulo: Edusp, 2002. MEMÓRIA E BREXIT EM AUTUMN DE ALI SMTIH Tiago Ferreira Pereira Resumo: Ali Smith (1962) é uma escritora anglo-escocesa, autora de uma série de quatro livros, Autumn (2016), Winter (2017), Spring (2019) e Summer (2020). Autumn (2016) foi escrito durante o referendo do Brexit, quando a Grã-Bretanha votou por sua saída da União Europeia. Esse momento foi capturado pelo surgimento de uma nova onda de romances políticos, o chamado “BrexLit” (ou Literatura Brexit). Nesse sentido, o objetivo deste trabalho é apresentar algumas análises iniciais sobre Autumn de Smith, mais precisamente, refletindo sobre a representação do “Brexit” na Grã-Bretanha, especialmente no que diz respeito à justaposição de “eventos passados e presentes”, o que sugere um processo mais cíclico e menos cronológico no retrato da memória e identidade individual/nacional. Com esse trabalho, pretende-se também refletir sobre como a memória literária (principalmente, os intertextos) foi reinventada, transformada ou utilizada para compor uma narrativa sobre a ruptura. Embora o Brexit possa parecer um fenômeno recente, para Ali Smith, está enraizado em uma tradição longeva de rupturas na história da nação britânica. O escopo teórico se apoia na perspectiva dos estudos do romance contemporâneo e da memória social/cultural (e como esses conceitos se entrecruzam), seguindo, também, apontamentos da Literatura Comparada. Os resultados ainda são parciais, oriundos de uma pesquisa em nível de doutoramento. No entanto, é possível destacar, até o momento, que Autumn oferece novos modelos de como representar a memória individual/coletiva, valendo-se de elementos formais como enredo episódico, polifonia e alegoria, somente para citar alguns. Além disso, esse romance surge como uma forma de compreender a memória do acontecimento político em torno do Brexit, de modo que questiona os limites da representação, a lógica do testemunho, do biográfico e do documental, expondo os limites entre o domínio ficcional e histórico. Referências: ANDERSON, B. Imagined communities: reflections on the origin and spread of nationalism. 1. ed. Londres: Verso, 2006. ASSMANN, A. Espaços da recordação: formas e transformações da memória cultural. Trad. de Paulo Soethe. 1. ed. Campinas: UNICAMP, 2018. BOND, L.; CRAPS, S.; VERMEULEN, P. Introduction: memory on the move. In: BOND, L.; CRAPS, S.; VERMEULEN, P. Memory unbound: tracing the dynamics of memory studies. New York: Berghahn. 2017. p. 1-26. CANDAU, J. Memória e identidade. Trad. de Maria Letícia Ferreira. 1, ed. São Paulo: Contexto, 2018. CARRUTHERS, G. Literature and union: Scottish texts, British contexts. 1. ed. Oxford: Oxford University Press, 2018. COLLEY, L. Britons forging the nation. 1. ed. Yale: Yale University Press, 2010. ERLL, A.; NÜNNING, A. (Ed.). A companion to cultural memory studies. 1. ed. New York: De Gruyter. 2010. HALBWACHS, M. A memória coletiva. Trad. de Beatriz Sidou. 2. ed. São Paulo: Centauro, 2017. NEUMANN, B. The literary representations of memory. In: ERLL, A.; NÜNNING, A. (Ed.). A companion to cultural memory studies. 1. ed. Berlin: De Gruyter. 2010. p. 333-343. 449 p. RICOEUR, P. A memória, a história, o esquecimento. Trad. de Alain François. 1. ed. Campinas: UNICAMP, 2018. SMITH, A. Autumn. 1. ed. Londres: Penguin, 2016. SIMPÓSIO “SABERES SUBALTERNIZADOS: LITERATURA E (RE) EXISTÊNCIA, OUTROS(AS) SUJEITOS(AS) DE CRIAÇÃO” Alvanita Almeida Santos (UFBA), Jailma dos Santos Pedreira Moreira (UNEB), Carlos Magno Gomes (UFS) DE ONDE VEM A TEORIA? O FAZER LITERÁRIO, POLÍTICO PEDAGÓGICO DE MULHERES CORDELISTAS, EM ATRAVESSAMENTOS DE GÊNERO, RAÇA E CLASSE Alvanita Almeida Santos Resumo: Uma reflexão sobre qualquer fenômeno social, natural ou social que se constitui uma teoria só começa a partir da existência desse fenômeno. Inserido na realidade, passamos à necessidade de compreendê-lo, de questioná-lo e de propor ações que o tornem relevantes para a comunidade de que faz parte. Nesse sentido, o fazer literário, a criação estética, é, antes de qualquer outra função, político e pedagógico. É por esta compreensão que penso sobre as poéticas da oralidade, em seu valor estético literário, e mais especialmente da produção de autoria de mulheres. Para esta comunicação, como um recorte de um projeto mais extenso, pretendo discutir como o próprio texto poético, neste caso os textos orais das poéticas populares, organiza e apresenta também um fazer teórico, em busca de construir metodologias e abordagens de criação e de interpretação de si mesmo e do mundo. Assim, faço um breve mapeamento de circulação de poetas mulheres cordelistas nas redes sociais, como ambiente de divulgação privilegiado dos trabalhos destas autoras, selecionando alguns textos cuja temática seja provocativa da reflexão aqui proposta. Fundamento-me, para isso, em um olhar e uma escuta que se quer decolonial, seguindo um projeto político-acadêmico que pretende “afirmar a existência como um ato de qualificação epistêmica” (BERNARDINO-COSTA; MALDONADOTORRES; GROSFOGUEL, 2020, p. 13). Referências: BERNARDINO-COSTA, Joaze; MALDONADO-TORRES, Nelson; GROSFOGUEL, Ramón (orgs.) Decolonialidade e pensamento afrodiaspórico. 2. ed. 3. reimp. Belo Horizonte: Autêntica, 2020. CATUNDA, Dalinha. As mulheres no cordel. Cordel de Saia. http://cordeldesaia.blogspot.com/search/label/As%20Mulheres%20do%20Cordel LEMAIRE, Ria. Expressões femininas na literatura oral. In: BERND, Zilá &amp; MIGOZZI, Jacques (orgs.). Fronteiras do literário: literatura oral e popular Brasil/França. Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, 1995. p. 93-125. LUGONES, María. Rumo a um feminismo descolonial. In: Estudos Feministas, n. 22(3), p. 935-952, Florianópolis, set./dez. de 2014. SANTOS, Francisca Perira dos. O Livro Delas: catálogo de mulheres autoras no cordel e na cantoria nordestina. Fortaleza: IMEPH, 2020. ENSINO DE LITERATURA AFRO-BRASILEIRA NO ESPAÇO ESCOLAR Alyne De Sousa Jardim Resumo: O Ensino de Literatura afro-brasileira no espaço escolar é precarizado em relação ao cânone literário constituído na maioria dos casos por escritores pertencentes à cultura eurocêntrica da classe dominante, mantenedora do patriarcado. A partir dessa ideia, a proposta deste trabalho é promover um diálogo comparativo entre a narrativa contemporânea de Conceição Evaristo: Olhos d’água e o romance Naturalista oitocentista de Aluísio de Azevedo: O Cortiço, enfatizando a objetificação dos corpos negros em regiões periféricas. Além de realizar uma análise do ensino de Literatura afro-brasileira de acordo com a Lei 10.639/03 e documentos oficiais, assim como, a conscientização em relação ao contexto social e valorização da diversidade cultural de nosso país. O presente trabalho surgiu a partir de discussões e reflexões sobre a questão racial em encontros do grupo de pesquisa Nonada da Universidade Federal do Tocantins. Ressaltando a importância das escolas e redes de ensino promover a leitura, discussão e análise de obras que retratem a cultura, a história e a formação da identidade do afrodescendente, que por anos foram marginalizados e invisibilizados socialmente e economicamente. A base teórica utilizada será Angela Davis, Sueli Carneiro, Abdias Nascimento, Maria Tereza Salgado, Cida Gonda e Anélia Pietrani. Estes autores abordam temas e discussões sobre a valorização da cultura negra e literatura afro-brasileira, gênero e relações de poder entre classes. Referências: Davis, Angela. Mulheres, Raça e Classe. Tradução de Heci Regina Candiani. São Paulo, SP: Boitempo editorial. Davis, Angela. Mulheres, Cultura e Política. Tradução de Heci Regina Candiani. São Paulo, SP: Boitempo editorial. Duarte, Eduardo de Assis. Abdias Nascimento. In: DUARTE, Eduardo de Assis (Org.). Literatura e afrodescendência no Brasil: antologia crítica. v. 1, Precursores. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011. Salgado, Maria Tereza. Escrita do corpo feminino: perspectivas, debates, testemunhos. Oficina Raquel. 2018. Carneiro, Sueli. Racismo, Sexismo e Desigualdade no Brasil. São Paulo: Selo Negro, 2011. ESTUPROS E CORPOS SUBALTERNIZADOS NA LITERATURA DE BOLAÑO E AGOSÍN Carlos Magno Gomes Resumo: Esta comunicação apresenta um estudo comparado sobre a forma como o corpo feminino, que sofreu abusos sexuais na cidade mexicana de Ciudad Juárez, é subalternizado pelo imaginário jornalístico, policial e jurídico a partir dos questionamentos estéticos presentes na narrativa “2666” (2004), de Roberto Bolaño, e nos poemas de “Secretos en la arena: las mujeres jóvenes de Ciudad Juárez”e (2005), de Marjorie Agosín. Essas obras retomam o trágico episódio de estupros seguidos de feminicídios que ficaram mais de uma década sem investigação e punição para os criminosos. Para entendermos a dinâmica da subalternização dessas vítimas, quase sempre mulheres pobres e mestiças, exploraremos os conceitos de “decolonialidade de gênero”, de María Lugones, e as reflexões sobre “corpos que valem”, cunhadas por Judith Butler. Para Lugones, a perspectiva colonial reduz as mulheres a partes de um sistema de poder, desumanizando-as e identificando-as menos que seres humanos. Além disso, abordaremos o conceito de literatura “pós-autônoma” de Josefina Ludmer para entender o fenômeno da incorporação de temas cotidianos ao espaço literário. Quanto aos estudos da violência contra a mulher, articularemos abordagens antropológicas que desnudam a dinâmica do aniquilamento e subalternização dos corpos das vítimas de abusos. Rita Laura Segato destaca que essa subalternização é orquestrada por uma “confraria machista”, visto que os abusos e mortes são praticados por diferentes agentes sociais que usam os mesmos códigos de menosprezo pela mulher. Nesse contexto, Marcela Lagarde e Julia Fragoso consideram que a subalternização do corpo da mulher também passa por questões da globalização da economia, pois grande parte das jovens abusadas eram funcionárias das maquiladoras, indústrias estrangeiras instaladas na fronteira do México . Como resultado, identificaremos as marcas ideológicas do corpo subalternizado desse genocídio de mulheres, sustentado pela impunidade dos criminosos e pela omissão dos agentes públicos. Referências: AGOSÍN, Marjorie. Secretos en la arena: las mujeres jóvenes de Ciudad Juárez. Buffa-lo, New York: White Pine Press, 2006. (edición bilingüe). BOLAÑO, Roberto. 2666. Barcelona: Anagrama, 2004. BUTLER, Judith. Desregulando gênero. Cadernos Pagu. Campinas, Unicamp, vol. 42, p. 249-274, 2014. FRAGOSO, Julia E. Monárrez et al. (Coords). Violencia contra las mujeres e inseguridad ciudadana en Ciudad Juárez. Tijuna: El Colegio de la Fronteira Norte; México-DF: Miguel Ángel porrúa, 2010. GOMES, C. M. 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Em sua produção intelectual, criação e pesquisa, bem como crítica e ficção, entrelaçam-se e suplementam-se, levando-nos a refletir sobre arte e ciência, teoria e prática, modos de experimentar, compreender e interpretar o mundo. O ato de (re)ler e de (re)escrever é movimento de experimentação e de liberdade, atravessado por diversas instâncias e redes de poder, envolvendo, de forma relacional, vivência de mundo, pesquisa e criação. Para tanto, orientamos nossa prática valendo-nos dos pressupostos teóricos da Filologia e procedimentos metodológicos da Crítica Textual, em sua relação com outros saberes, em um exercício de leitura ética e política. Tomamos, para análise, documentos pertencentes ao Acervo Nivalda Costa, composto por mais de trezentos documentos digitalizados, datados de 1973 a 2016, provenientes de diferentes arquivos e instituições de guarda, por meio do qual temos atuado no processo de (re)construção da história e atualização da memória de práticas de resistências negras na Bahia, em especial, de poéticas, políticas e experiências teatrais negras. Nessa massa documental, há indícios de um trabalho social e político de validação da arte e da cultura, da diversidade epistemológica e cultural, empreendido por Nivalda Costa, por meio de estudos e pesquisas, como principal procedimento de luta social, prática de cidadania, projeto inscrito em sua trajetória, de natureza micropolítica, realizado junto a movimentos, associações, centros e grupos sociais, direcionado às camadas populares. Referências: BELOTTO, Heloísa Liberalli. Arquivos permanentes: tratamento documental. Rio de Janeiro: FGV, 2005. CHARTIER, Roger. A História Cultural: entre práticas e representações. Tradução Maria Manuela Galhardo. Algés, Portugal: DiFel, 2002 [1982]. GUMBRECHT, H. U. Los poderes de la Filología: dinámicas de una práctica académica del texto. Tradução A. Mazzucchelli. México: Universidad Iberoamericana, 2007 [2003]. LE GOFF, Jacques. História e memória. Campinas: EDUNICAMP, 1994. LIMA, Eugênio; LUDEMIR, Julio (org.). Dramaturgia Negra. Rio de Janeiro: FUNARTE, 2018. MARQUES, Reinaldo. O arquivo literário como figura epistemológica. Matraga, Rio de janeiro, v. 14, n. 21, p. 13-23, jul./dez. 2007. Disponível em: www.pgletras.uerj.br. Acesso em: 20 abr. 2017. MARTINS, Leda Maria. A cena em sombras. São Paulo: Perspectiva, 1995. NASCIMENTO, Abdias do. Memória: a antiguidade do saber negroafricano. In: ______. O Quilombismo: documentos de uma militância pan-africanista. Petrópolis: Vozes: 1980. p. 247-252. QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do Poder e Classificação Social. 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SPIVAK, Gayatri C. Pode o subalterno falar? Tradução Sandra Regina G. Almeida, Marcos Pereira Feitosa, André Pereira Feitosa. Belo Horizonte: EDUFMG, 2010 [1985]. "SOMOS GAIOSO": ERGUENDO A VOZ UM PARA GRITAR A RESISTÊNCIA E A (RE)EXISTÊNCIA DE UMA COMUNIDADE QUILOMBOLA Iramayre Cássia Ribeiro Reis Resumo: Na direção de promover e de provocar chamados para uma ação transformadora que tenha como fundamento a elaboração de pedagogias que colaborem para a emancipação de grupos vitimados pelas mais diversas formas de exclusão, é que a presente comunicação tem como proposição refletir sobre a produção literária intitulada “Somos Gaioso” da Associação de Moradores e Agricultores Remanescentes de Quilombo da Comunidade de Gaioso, Araçás-BA, 2018, pode se configurar num ato político que traz para a cena operadores outros que dialogam com uma proposta descolonizante através do letramento racial crítico dando destaque para o lugar da memória coletiva, da história e do libertário da comunidade quilombola. Assim, para chegar a tal propósito, nosso recorte teórico dialoga com os textos de Hall (2016), Lima (2016), hooks (2017), Mbembe (2018), Gomes (2017), Quijano (2017), Mignolo (2010), Kilomba (2019), Munanga (1999), Evaristo (2003), Moura (2020), Bonilla-Silva (2020) dentre outros, e com a proposta do ideal libertário quilombola de Abdias Nascimento e de Beatriz Nascimento. Desse modo, considerando que a leitura é um ato de produção de textos, a linguagem é uma prática social de produção de sentidos e que o letramento racial crítico além de difundir africanidades, visibiliza a produção de saberes que pulam na comunidade quilombola, acreditamos que tais saberes podem também pular para além da comunidade rompendo a práxis de uma escrita de (re)existência com outros(as) sujeitos na linha de frente de criação do conhecimento promovendo uma pedagogia na/da comunidade quilombola porque contar história, e em especial, essa história do Gaioso, se constitui numa das maneiras que temos para visibilizar também o processo de construção da comunidade apontando seus referenciais culturais. Referências: ADICHIE, Chimamanda Ngozi. O perigo de uma história única. Tradução de Júlia Romeu. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. BONILLA-SILVA, Eduardo. Racismo sem racistas: o racismo e a cegueira de cor e a persistência da desigualdade na América. Prefácio: Silvio Almeida. Tradução: Margarida Goldsztnj. São Paulo: Perspectiva, 2020. EVARISTO, Conceição. Literatura e educação segundo uma perspectiva afro-brasileira. In.; SILVA, Denise Almeida; EVARISTO, Conceição (Orgs). Literatura, história, etnicidade e educação: estudos nos contextos afro-brasileiros, africano e da diáspora africana. Frederico Wesphalere: URL, 2011. GOMES, Nilma Lino. O Movimento Negro educador: saberes construídos nas lutas por emancipação. Petrópolis, RJ: Vozes, 2017. HALL, Stuart. Cultura e Representação. Organização e revisão técnica: Arthur Ituassu. Tradução Daniel Miranda e William Oliveira. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio: Apicuri, 2016. hooks, bell. Ensinando pensamento crítico: sabedoria prática. Tradução: Bhuvi Libanio. São Paulo: Elefante, 2020. hooks, bell. Ensinando a transgredir: educação como prática da liberdade. Tradução: Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: Editora Martins Fontes. 2017. KILOMBA, Grada. Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano. Tradução: Jess Oliveira. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019. LIMA, Maia Nazaré Mota de. Relações étnico-raciais na escola: o papel das linguagens. Salvador: EDUNEB, 2015. MBEMBE, Achille. Crítica da razão negra. Tradução de Sebastião Nascimento. São Paulo: n-1 edições, 2018. MIGNOLO, Walter D. Desobediência epistêmica: a opção descolonial e o significa do de identidade em política. In: Cadernos de Letras da UFF, Dossiê: Literatura, língua e identidade, nº 34, p. 287-324, 2008. MUNANGA, Kabengele. Superando o Racismo na escola. 2 edição revisada. Organizador. – [Brasília]: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2005. NASCIMENTO, Abdias. O quilombismo. 2 ed. Brasília/Rio: Fundação Cultural. Palmares; O.R. Editora, 2002. NASCIMENTO, Beatriz. O conceito de quilombo e a resistência cultural negra. In: RATTS, Alex. Eu sou atlântica; sobre a trajetória de vida de Beariz Nascimento. São Paulo: Instituto Kuanza; Imprensa Oficial, 2006. p. 117-127. QUIJANO, Aníbal, Colonialidade do poder e classificação social. In.: SANTOS, Boaventura de Sousa; MENESES, Maria Paul (Orgs.) Epistemologias do Sul. São Paulo: Cortez, 2010. POÉTICAS E SABERES DE MULHERES RURAIS: O RESSOAR DOS CÂNTICOS DAS TRABALHADORAS Jailma dos Santos Pedreira Moreira Resumo: Trata-se de uma reflexão sobre o movimento político-cultural e subjetivo de mulheres rurais, a partir de cânticos de trabalhadoras, no sentido de se observar como esses sujeitos femininos tem criado poéticas de reexistência, considerando a inter-relação local/global dos seus engendramentos prático-discursivos, em destaque o condicionamento de gênero atrelado a outros marcadores sociais. Para tanto, consideraremos as poéticas orais, como cânticos de mulheres trabalhadoras rurais da Bahia, bem como o movimento performático-criativo do corpo destas sujeitas, reinventando, em um ambiente precário, pois de negação de direitos, outras possibilidades de existência, a partir da resistência. Para nos ajudar nesse gesto de leitura reflexiva, dialogaremos com autoras e autores como Leda Martins(2003), nos instigando a perceber outros desenhos das letras, outras textualidades e oralituras, como aquela performatizada pelos movimentos de corpos; Julieta paredes(2019), nos chamando a atenção para os feminismos comunitários e trabalho criativo na luta do nomear, que mulheres estão desenvolvendo em suas comunidades; Nelly Richards(2002), reforçando a importância de se considerar a poética-política dos signos; além de tantas outras autoras, como Michela Calaça (2018), Rosângela Angelin (2017,2018) e Maria da Graça Costa(2020), que propagam o feminismo popular camponês, o ecofeminismo, assim como a economia feminista e que nos instigam a perceber a significância das poéticas de vida, performatizadas/criadas por essas mulheres subalternizadas. Dessa forma, esperamos partilhar a linguagem criativa desses sujeitos femininos, de modo que possamos refletir sobre como tais mulheres tem rasurado uma colonialidade de saber-poder, uma ordem discursiva patriarcal-capitalista-racista, reinventado outros modos de vida, para si, para outros e para o mundo. Referências: ANGELIN, Rosangela. Pontos de encontro entre ações feministas e educação popular a partir e uma experiência com mulheres o campo. In. CASTRO, Amanda Motta; MACHADO, Rita de Cassia. (Org.). Estudos feministas, mulheres e educação popular. São Paulo: LiberArs, 2018. ANGELIN, Rosangela. Mulheres e ecofeminismos. Uma abordagem voltada ao desenvolvimento sustentável. Universidad em diálogo. Revista de extension. Vol 7. N 1, Costa Rica, 2017. CALAÇA, Michela. Caminhos do feminismo e o surgimento do feminismo camponês popular.In. CASTRO, Amanda Motta; MACHADO, Rita de Cassia. (Org.). Estudos feministas, mulheres e educação popular. São Paulo: LiberArs, 2018. COSTA, Maria da Graça, Agroecologia, ecofeminismos e bem viver: emergências decoloniais no movimento ambientalista brasileiro. In. HOLANDA, Heloisa Buarque de. Pensamento feminista hoje: perspectivas decoloniais. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2020 MARTINS, Leda. Performances da oralitura: corpo, lugar da memória. Letras n 26. UFSM, 2003. PAREDES, Julieta. Mulheres indígenas, descolonização do feminismo e politicas do nomear. (Entrevista) In. Revista Epistemologias do Sul. V3, n 2. UNILA, 2019 RICHARDS, Nelly. Arte, cultura e gênero: intervenções críticas. Trad. Romulo Monte Alto. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002. DO CORDEL AUTOBIOGRÁFICO DE SALETE MARIA AO CORDEL DA VIDA DE MULHERES RURAIS CANUDENSES: SABERES E RESISTÊNCIA NA SALA DE AULA Jailma Maria da Silva, Jailma dos Santos Pedreira Moreira Resumo: Com esta comunicação propomos fazer uma reflexão sobre o cordel, denominado Poema autobiográfico, da cordelista Salete Maria da Silva, estabelecendo um diálogo entre esse e o texto-vida de mulheres rurais, que residem na região que circunscreve a cidade de Canudos, no interior da Bahia. Partindo desse cordel, objetivamos, por conseguinte, discutir sobre o movimento de luta e vida dessas mulheres, observando como a proposta de emancipação feminina, reivindicada por Salete Silva, em seu cordel, pode ser percebida, ou não, nas narrativas de si de mulheres da região de Canudos. Interessa-nos, dessa maneira, debater sobre esse processo de emancipação, considerando as textualidades apontadas, bem como refletir sobre a importância de se considerar, na escola, os saberes criativos/experienciais, que emergem da luta cotidiana de sujeitos femininos, para se politizar a emancipação de mulheres, que inclusive frequentam esses bancos escolares. Assim, para tanto, consideraremos narrativas de mulheres rurais, algumas inclusive de estudantes da região citada, bem como a produção poética assinalada, de autoria da cordelista Salete Maria Silva. Para nos ajudar nessa reflexão proposta contaremos com a contribuição de autoras como: Bell Hooks (2013), Grada Kilomba (2019), Jailma Moreira (2011, 2016, 2020), Alvanita Santos (2018), entre outras e outros. Portanto, esperamos com essa proposição, disseminar o debate sobre a escrita de si feminina, os problemas que enfrentam, os saberes apontados, através do diálogo-comparativo de textualidades proposto, refletindo sobre aprendizados necessários, para politizarmos a (auto)formação, e sobre a importância de uma educação que os incorpore, não os subalternize, que considere significativo estudar as desigualdades de gênero, as formas de controle e de libertação, não só do feminino. Referências: CRUZ, Sandra Freitas de Carvalho; MOREIRA, Jailma dos S. Pedreira. Literatura e crítica cultural: uma experiência com os cânticos do MMTR no Curso de Letras. In: revista Ponto de Interrogação., v. 10, n. 1, jan.-jun., p. 127-151, 2020 Disponível em: https://www.revistas.uneb.br/index.php/pontosdeint/search/authors/view?givenName=Jailma %20dos%20Santos%20Pedreira&familyName=Moreira&affiliation=&country=&authorName=Mo reira%2C%20Jailma%20dos%20Santos%20Pedreira. Acesso em: 19 fev. 2022. DUARTE, Constância Lima. Feminismo e literatura no Brasil. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/eav/article/view/9950/11522. Acesso em: 19 març. 2022. HOOKS, Bell. Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade. Trad. Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: Ed. WMF Martins Fontes, 2013. KILOMBA, Grada. Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano. Rio de Janeiro: Ed. de livros Cobogó, 2019. MOREIRA, Jailma dos S. Pedreira. A força ativa Maria Bonita no movimento de reescrita de si de mulheres nordestinas. In: Outros olhares sobre o sertão nordestino: gênero, masculinidades e subjetividades. BRITO, Clóvis Carvalho; LIMA, Caroline de Araújo. (Orgs.). Salvador/BA: EDUNEB, 2020. MOREIRA, Jailma dos S. Pedreira. Feminismos locais na sala de aula. In: Cosme Batista dos Santos; Paulo César Souza Garcia; Roberto Henrique Seidel. (Org.). Crítica cultural e educação básica: diagnósticos, proposições e novos agenciamentos. São Paulo: Cultura Acadêmica/UNESP, 2011, p. 1-372. (Capítulo de livro) MOREIRA, Jailma dos S. Pedreira. Sob a luz de Lampião: o movimento da subjetividade de mulheres sertanejas. Salvador/BA: EDUNEB, 2016 .(209 p.) SAFFIOTI, Heleieth Bongiovani. A mulher na sociedade de classes: mitos e realidade. Petrópolis/RJ: Vozes, 1976. SANTOS, Alvanita Almeida . Gêneros da literatura popular: na encruzilhada dos métodos. In: Vozes, performances e arquivos de saberes. Edil Silva Costa, Frederico Augusto Garcia Fernandes; Nerivaldo Alves Araújo. (Orgs.) Salvador: EDUNEB, 2018. SANTOS, Milton. O espaço da cidadania e outras reflexões. Elisiane da Silva; Gervásio Rodrigo Neves; Liana Bach Martins. (Orgs.) Porto Alegre: Fundação Ulysses Guimarães, 2011, v. 03. (Coleção O Pensamento Político Brasileiro.) SAQUET, Marcos Aurélio Territorialidades, Relações Campo-Cidade e Ruralidades em Processos de Transformação Territorial autonomia. Disponível em: https://Seer.Ufu.Br/Index.Php/Campoterritorio/Article/View/26896/14606. Acesso em: 15 fev. 2022. SAQUET, Marcos Aurélio. Territorialidades, relações campo-cidade e em processos de transformação territorial e autonomia. In: CAMPO-TERRITÓRIO: revista de geografia agrária. Edição especial do XXI ENGA-2012, p. 1-30, jun., 201 Territorialidades, Relações Campo-Cidade e Ruralidades em Processos de Transformação Territorial autonomia. Disponível em: https://Seer.Ufu.Br/Index.Php/Campoterritorio/Article/View/26896/14606. Acesso em: 15 fev. 2022. SILVA, Salete Maria da. Autobiografia poética. Disponível em: http://cordelirando.blogspot.com/2019/10/autobiografia-poetica.html . Acesso em 02 mai. 2022. WOLFF, Virgínia. O teto todo seu. Trad. Vera Ribeiro. 2ª. ed. - Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2019. (Biblioteca Áurea). LEMBRANÇAS CONTADAS NOS MUSEUS NÃO NINAM CRIANÇAS NEGRAS NO BRASIL: SABERES ENCENADOS POR CONCEIÇÃO EVARISTO Joana Angélica Flores Silva, Jailma Dos Santos Pedreira Moreira Resumo: Canção para ninar menino grande, de Conceição Evaristo (2018), inspira essa reflexão de natureza crítica sobre as narrativas colonizadoras, produzidas nos museus, sob o mote de contar a história do Brasil, entretanto, dando ainda continuidade ao projeto de silenciamento e subalternização de memórias de negros e negras. A escrita negra de Evaristo, em contraponto, enuncia um mundo real das mazelas vivenciadas nas favelas e periferias, pondo em suspenso o fim e a manutenção da escravização desses povos. Com isso, através da ficção, abre lugar para a renúncia, a (re)invenção e a (re)leitura de um tempo vivido. Essa escrita, que parte como poética da existência nesse teatro de memória, rasura, por conseguinte, um texto museológico e engendra uma museologia da fronteira, com uma textualidade mais próxima da vivência, traduzindo, inclusive, os saberes subalternizados de mulheres e homens negros. Buscamos nessa reflexão, observar a trapaça que o gesto literário de Evaristo nos ensina e nos provoca a tensionar as narrativas racistas/colonizadoras que se expressam nos museus. Para tanto, consideraremos o livro citado de Conceição Evaristo, assim como documentos e objetos de museus do país para a realização da pesquisa de campo. Além disso, contaremos, para a discussão, com as contribuições teóricas de Barthes (1987), Achugar (2006), Lugones (2014), Quijano (2009), Deleuze&Guatarri (2011), Mbembe (2014), Hall (2015), Flores (2017), Evaristo (2018), Mignolo(2018) dentre outros autores e autoras nas discussões de Colonialidade do Poder e de gênero, Arte, Cultura, Museus, Narrativas e Literatura na América Latina. Assim, esperamos com tal proposição disseminar essa reflexão sobre os saberes plurais literários e de povos subalternizados, tomando como parâmetro a escrita de Evaristo e o seu movimento de intervenção a nos levar a repensar a língua do museu, sua pretensa neutralidade, perguntandonos, com isso, a quem embala sua narrativa, prefigurando, ao fim, outro museu porvir. Referências: ACHUGAR, Hugo. Planetas sem boca: escritos efêmeros sobre arte, cultura e literatura. Tradução: Lyslei Nascimento. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2006 BARTHES, Roland. Aula. Tradução: Leila Perrone-Moisés. São Paulo: Editora Cultrix, 1978. DELEUZE, Gilles. GUATARRI, Félix. Mil platôs. Tradução: Ana Lúcia de Oliveira e Lúcia Cláudia Leão. v. 2. São Paulo: Editora 34, 2011. EVARISTO, Conceição. Canção para ninar menino grande. 1. ed. São Paulo: Editora Unipalmares, 2018. FLORES, Joana. Mulheres negras e museus de Salvador: diálogo em branco e preto. Salvador: Joana Flores, 2017. HALL. Stuart. A identidade cultural na pósmodernidade. Tradução: Tomaz Tadeu da Silva & Guacira Lopes Louro. 12ª ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2015 LUGONES, Maria. Rumo a um feminismo descolonial. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, 2014. p.935-952 MBEMBE, Achille. Crítica da razão negra. Tradução: Marta Lança. Lisboa: Antígona, 2014. MIGNOLO, Walter D. Museus no horizonte colonial da modernidade: garimpando o museu (1992) de Fred Wilson. São Paulo, 2004. Tradução da Conferência: Simone Neiva Loures Gonçalves Gisele Barbosa Ribeiro. In. Museologia & Interdisciplinaridade, Brasília, v. 7, n. 13, Jan./Jun. de 2018, p. 309-324. QUIJANO, Aníbal. Da Colonialidade à Descolonialidade. In: SANTOS, B. MENEZES, M. (Orgs.). Epistemologias do sul. Coimbra: G.C. Gráfica de Coimbra, Lda, 2009. p.73-114. MULHERES NA EDIÇÃO: PARA PENSAR O FAZER CARTONERO NA AMÉFRICA LADINA Lays Gabrielle da Silva Neves Resumo: Esta pesquisa se debruça sobre o Movimento Cartonero, uma rede internacional de editoras artesanais independentes que inaugura uma lo?gica diferente do fazer livresco. Fugindo aos moldes capitalistas de fluxo acelerado de mercadoria, o modelo de edição cartonero põe em cena e em circulação o objeto livro em escala mais humana, nas palavras de Elizabeth Cárdenas, de La Joyita Editorial (Chile). Concentrando em suas mãos todas as etapas do processo, a editora cartonera busca democratizar o mundo da escrita a partir de atravessamentos sociais e artísticos. A edição, quando vista sob a perspectiva de gênero, tem outra feição (Ana Elisa Ribeiro,2021); interessa-nos em especial a produção editorial de mulheres que estão publicando a partir de diferentes países da Améfrica Ladina (Lélia GONZALEZ, 2020). Buscamos refletir sobre o impacto dessas escritas de autorrepresentação e fortes ecos coletivos. O cenário que se descortina nesse momento pode ser um terreno fértil para a ancoragem e a difusão de vozes que ao longo da história tiveram pouca repercussão, como é o caso das literaturas de autoria feminina. Como metodologia lançamos mão da ideia de “antropologia por demanda” (Rita SEGATO, 2021), segundo a qual o objeto de estudo interpela o pesquisador e o convoca a contribuir com seu projeto histórico, num diálogo de reconhecimento mútuo. Escolhemos duas editoras artesanais brasileiras: a Lua Negra Cartonera (Alagoas), da poeta Ana Karina Luna e a Cartonera das Iaiá (Bahia), que publicaram diversos livros tendo o papelão como suporte. Essas são vozes que já se consagram no interior do movimento pela impecabilidade do catálogo apresentado, pela qualidade dos projetos gráficos, pela autenticidade das plurilinguagens ali desenvolvidas, resultantes dos encontros que se estabelecem e se fortalecem em redes físicas (e virtualmente intensificadas) de trocas simbólicas e no esperançar de novos mundos. Referências: ADICHIE, Chimamanda Ngozi (2019). O perigo de uma única história. Rio de Janeiro: Grupo Companhia das Letras. BILBIJA, Ksenija. (2010). Borrón y cuento nuevo: las editoriales cartoneras latinoamericanas. Revista Nueva Sociedad Nº 230, ISSN: 0251-3552. DUARTE, Melorg. (2019). Querem nos calar: poemas para serem lidos em voz alta; ilustração de Lela Brandão. São Paulo: Planeta do Brasil. DI BUONO, Fabrizio. (2019). “Un libro de otra manera”. De la experiencia de Eloísa Cartonera a la difusión de un modo de (hacer y) produción. XIII Jornadas de Sociología. Facultad de Ciencias Sociales, Universidad de Buenos Aires, Buenos Aires. FIGUEIREDO, Eurídice (2020). Por uma crítica feminista: leituras transversais de escritoras brasileiras. Porto Alegre: editora Zouk. GONZALEZ, Lélia. Por um feminismo Afro-latinoamericano. Ensaios, intervenções e diálogos/ Organização Flavia Rios, Márcia Lima.- 1ªed.- Rio de Janeiro: Zahar, 2020. HOLLANDA, Heloisa Buarque de- org. (2020). Pensamento feminista hoje: perspectivas decoloniais/ organização e representação Heloisa Buarque de Hollanda; autoras Adriana Varejão… [et al.]. -1. ed.- Rio de Janeiro: Bazar do Tempo. LUNA, Ana Karina. Mário (& Rosina)- uma novela/ Ana Karina Luna.- Maceió: Lua Negra Cartonera, 2020. MESSEDER, S. A. ; FERRARI, A. ; SOUZA, M.L. (2019). VISIBILIDADES, (RE)EXISTÊNCIAS E FISSURAS: as produções científicas no campo das relações étnicas, de gênero e diversidades sexuais. https://doi.org/10.22481/odeere.v4i7.5371, v. 4, p. 1-7 PRAZERES, Andressa dos; UILA, Barbara. (org.) GANZALA, Annie. (ilustração). Irmandade da palavra: a voz da mulher no Recôncavo. Cachoeira, BA: Cartonera das Iaiá 2019. PIMENTEL, Ary (2020). Editoras Cartoneras e a Literatura fora do cânone: um olhar crítico para as margens do mundo editorial. IDENTIDADE FEMININA E NEGRA NA POÉTICA DE IVANILDES MOURA Letícia de Jesus Araújo Resumo: Historicamente, a literatura brasileira se debruçou, majoritariamente, nas obras consideradas clássicas, o que compõe o chamado cânone literário. A sociedade delimita obras clássicas a partir de uma condição estrutural, sendo ela, sobretudo, sexista e racista, o que quase sempre deixa escanteada outras obras que não se encaixam nos moldes de autoridade estabelecidos. Ao traçar o caminho oposto, este trabalho pretende trazer à tona a escrita negra, feminina e engajada através da narrativa Azire, a princesinha de Aruanda (2014), da escritora jequieense Ivanildes Moura, a fim de construir uma nova perspectiva acerca da representação negra nos livros infantis, com base nas temáticas recorrentes do livro da autora em questão. Através da literatura infantil Moura incorpora na sua obra elementos da ancestralidade africana, empoderamento feminino e auto estima negra, construindo, então, uma contranarrativa acerca da realidade desses sujeitos subalternizados. Refletir acerca da memória ancestral e a construção da identidade de um povo é um processo necessário para a percepção de existência de outros caminhos e possibilidades para recontar a história. O que Azire, a princesinha de Aruanda e Ivanildes Moura, fazem como o leitor é propor a reflexão de e construção de uma imagem, cuja aponte como horizonte a emancipação e o empoderamento do povo negro, sobretudo das crianças. Referências: ARAÚJO, Débora Oyayomi. Literatura infantil e ancestralidade africana: o que nos contam as crianças?. Momento: diálogos em educação, E-ISSN 2316-3100, v. 28, n. 1, p. 109-126, jan./abr., 2019. CUTI. Literatura negro-brasileira. São Paulo: Selo Negro Edições, 2010. DALCASTAGNÈ, Regina. Literatura Brasileira Contemporânea – Um Território Contestado. São Paulo: Editora Horizonte, 2014. DEBUS, E.S.D. A literatura infantil contemporânea e a temática étnico-racial: mapeando a produção. Anais do 16º Congresso de Leitura do Brasil - Seminário de Literatura Infantil e Juvenil, 2007. EVARISTO, Conceição. Fêmea fênix. In: Maria Mulher – Informativo, ano 2, n. 13, 25 jul. 2005. _____. Becos da Memória. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2006. hooks, bell. Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2013. LEIRO, Lúcia. Literatura infantojuvenil e ancestralidade. São Cristóvão: GELIC, Volume 05, 2014. MOURA, Ivanildes. Azire, a princesinha de Aruanda. Salvador: Cultura Editorial, 2014. PRANDI, Reginaldo. Mitologia dos Orixás. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. PERROT, Michelli. (2008) Minha história das mulheres.-1.ed.,1ª reimpressão. São Paulo: Contexto. QUEIROZ, Fernanda Roberta Rodrigues; BUZAN, Thales Nascimento. Os caminhos da literatura infantil escrita por mulheres. Juiz de Fora: Ipotesi, 2019. RIBEIRO, Ronilda Iyakemi. Alma Africana No Brasil – os iorubás. São Paulo: Editora Oduduwa, 1996. SCHMIDT, Aline Van Der. Entre, coelhos, tranças e guerras: dilemas contemporâneos na literatura infantil de Angola de Ondjaki. Dissertação (Mestrado em Letras) - Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2014. ÉTICA, ESTÉTICA E REPRESENTAÇÃO NA LITERATURA: (DES)TERRITORIALIZAÇÃO DA LÍNGUA E (DES)ENQUADRAMENTO DE IMAGENS NA ESCRITA DE CAROLINA MARIA DE JESUS Luciano Santos Xavier Resumo: Este trabalho aspira discutir o processo de territorialização e desterritorialização da língua (Português Brasileiro), operado por Carolina Maria de Jesus em sua escrita, cujos manuscritos originais borram os padrões ortográficos e gramaticais, ao mesmo tempo que forja uma estética literária e linguística afro-negro-brasileira, no bojo de uma epistemologia negra. A metodologia empregada é de abordagem qualitativa, sendo uma revisão de literatura e análise literária comparativa. Como aporte teórico, baseio a discussão nos estudos de crítica textual feitos por Verônica de Souza sobre o processo editorial frente aos manuscritos da obra de Carolina Maria de Jesus. As discussões estão amparadas pelos estudos de Judith Butler (2015), bell hooks (2019), Guilles Deleuze e Félix Guatarri (2014), José Henrique de Freitas Santos (2018), dentre outros. Carolina imprime em seus escritos uma espécie de desterritorialização da língua, simultaneamente territorializada em um pretuguês (GONZALEZ, 2020), incorporando na literatura brasileira o viés de uma epistemologia negra. Adjacente a isso, é possível observar as confluências dessas questões na configuração das imagens de/sobre Carolina Maria de Jesus no/pelo mercado editorial. São enquadramentos (BUTLER, 2015) que direcionam a escritora a um lugar de subalternidade e excentricidade, concomitantemente, operam-se desenquadramentos feitos pela autora e outros editores/as mais sensíveis à pauta anticolonialista e antirracista. Referências: hooks, bell. Olhares negros: raça e representação. São Paulo: Editora Elefante, 2019. BUTLER, Judith. Vida Precária, vida passível de luto. In: BUTLER, J. Quadro de Guerra. Quando a vida é passível de luto?. Tradução por Sérgio Lamarão e Arnaldo Marques da Cunha. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2015. 13-55. DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. O que é uma literatura menor? In: DELEUZE, G.; GUATTARI, F. Kafka: por uma literatura menor. Trad. Cíntia da Silva. Belo Horizonte: Autêntica, 2014. p. 33-53. GONZALEZ, Lélia. Por um feminismo afro-latinoamericano: ensaios, intervenções e diálogos. Organizado por Flávia Rios e Márcia Lima. 1. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2020. JESUS, Carolina Maria de. Quarto de Despejo: diário de uma favelada. São Paulo: Círculo do Livro S. A., 1960. JESUS, Carolina Maria de. Casa de Alvenaria – Volume 01: Osasco. São Paulo: Companhia das Letras, 2021. JESUS, Carolina Maria de. Casa de Alvenaria – Volume 02: Santana. São Paulo: Companhia das Letras, 2021. NASCIMENTO, Beatriz. O conceito de quilombo e a resistência cultural negra. Afrodiáspora – Revista de Estudos do Mundo Negro. ano 3, n. 6 e 7, 1985, p. 41-49. SANTOS, José Henrique de Freitas. Yorubantu: por uma epistemologia negra no campo dos estudos literários no Brasil. Fólio – Revista de Letras. v. 10, n. 2, 2018, p. 161-172. SOUZA, Verônica de. 13 de maio de 1958: entre (res)significar a escravidão e escrever para se libertar. In: Anais do Congresso do VII Congresso baiano de pesquisadorxs negrxs, 2019, Universidade Federal da Bahia (UFBA). Políticas, saberes e tecnologias afrodiaspóricas: insurgências nas contemporaneidades negras. v. 1, n. 1. Salvador: Segundo Selo, 2019. p. 129-143. A DOCÊNCIA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: RETRATOS E EXPERIÊNCIAS DE EXCLUSÃO SOCIAL NUMA ESCOLA ESTADUAL EM SALVADOR-BAHIA Mabli Nadjane Barbosa Barreto Resumo: : O presente trabalho refere-se a docência do professor que trabalha com Educação de Jovens e Adultos numa Escola Estadual de Salvador-Ba. Pretende-se investigar neste trabalho que a falta de formação dos professores para trabalhar com a Educação de Jovens e Adultos (EJA) leva a prática pedagógica de exclusão social dos mesmos. O desenvolvimento desse trabalho se caracterizará por ser uma pesquisa qualitativa em uma abordagem etnográfica, com entrevistas com professores da EJA do Colégio Estadual Clériston Andrade, se aportará dos instrumentos da crítica cultural como estratégia de desmontagem de conceitos historicamente constituídos, a fim de revelar outras perspectivas para a discussão acerca da Educação de Jovens e Adultos. Para tanto, será feita uma consulta em textos de autores como Agamben(2009) e Mignolo(2008). O primeiro para destacar a questão de da contemporaneidade das análises feitas ao longo da pesquisa; o segundo para enfatizar o caráter rizomático desta temática, bem como as formas de empoderamento que podem estar aí embutidas. E com esta pesquisa espera-se que sejam visibilizados os mecanismos de exclusão no programa EJA, com relação aos grupos minoritários, além de verificar como a formação docente pode contribuir para a construção de um ensino para jovens e adultos mais democrático, que os inclua no processo de desenvolvimento cognitivo, social, político, econômico e cultural. Referências: AGAMBEN, Giorgio. O que é o Contemporâneo? In: O que é o Contemporâneo? e outros ensaios; [tradutor Vinícius Nicastro Honesko].?Chapecó, SC: Argos, 2009. MINGNOLO, Walter D. Desobediência epistêmica: A opção descolonial e o significado de identidade em política. In: Cadernos de Letras da UFF – Dossiê: Literatura, língua e identidade, nº 34, p. 287324, 2008. Disponível em http://www.uff.br/cadernosdeletrasuff/34/traducao.pdf. Acesso em: 28/10/2021. A PROSAICA VIA LÁCTEA PERCORRIDA PELO POETA NEGRO Manuella Miki Souza Araujo Resumo: Comparada à produção em versos, a prosa de Cruz e Sousa teve mais dificuldade de ser acomodada ao cânone literário brasileiro, tendência observada desde as primeiras experiências simbolistas do poeta negro com a forma do poema em prosa em Missal, livro ferozmente atacado por muitos de seus críticos contemporâneos, que sufocaram as ousadias experimentais ali contidas, inclusive com pareceres racistas (MELLO, 2008). O estranhamento com a prosa do poeta catarinense se acentua em Evocações, obra posterior composta em prosa poética e, não por acaso, ainda menos estudada, no interior da qual Cruz e Sousa vincula explicitamente a elaboração de uma prosa elástica e multifacetada, que flerta deliberadamente com o disforme, ao incorporar ali de maneira explícita a formulação de uma escrita que abarque a desmesura da “dor negra”. É na prosa que a experiência da negritude ganha destaque na escrita de Cruz e Sousa, e em Evocações, obra escrita nos agônicos anos finais da breve vida do poeta, os limites entre biografia e estética são tensionados e diluídos (ALVES, 2008). Coincide com essa fase final da existência de Cruz e Sousa a fundação da Academia Brasileira de Letras, da qual o poeta em questão ficara excluído dos quadros dos homens de letras reconhecidos à época. É curioso notar que a imagem poética da via láctea, associada fortemente à figura de Olavo Bilac, epítome do poeta bem sucedido no período, é incorporada como uma espécie de moldura às avessas em Evocações, na medida em que o narrador, ao longo do livro, reatualiza com ironia o mito dos Doze Trabalhos de Hércules, na perspectiva agônica e aprisionada do poeta negro em sua contemporaneidade, em sua jornada na busca de consagração literária. Referências: ALVES, Uelinton Farias. Cruz e Sousa: Dante Negro do Brasil. Rio de Janeiro: Pallas, 2008. BAUDELAIRE, Charles. Pequenos poemas em prosa. Tradução de Aurélio Buarque de Hollanda Ferreira; ilustrações de Pierre Chalita. 4 ed. rev. Rio de Janeiro Nova Fronteira, 1980. BERNARD, Suzanne. Baudelaire et le lyrisme moderne. In: Poème en prose: de Baudelaire jusqu`à nous jours. Paris: Librarie A. G. Nizet, 1994, p.103-129. BILAC, Olavo. Poesias: edição definitiva. 2 ed. Rio de Janeiro: H. Garnier, 1902. MELLO, Jefferson Agostini. Um poeta simbolista na República Velha: literatura e sociedade em Missal de Cruz e Sousa. Florianópolis: Ed. da UFSC, 2008. SOUSA, Cruz e. Obra completa: prosa. Organização e estudo por Lauro Junkes. Jaraguá do Sul: Avenida, 2008, v.2. A MEMÓRIA DA NAÇÃO MOÇAMBICANA NA OBRA O CANTO DOS ESCRAVIZADOS DE PAULINA CHIZIANE Márcia Neide dos Santos Costa Resumo: Este trabalho pretende discutir a memória como crítica social na obra O canto dos escravizados (2018) de Paulina Chiziane. Discutiremos o tema da memória cultural moçambicana através da construção linguística utilizada pela escritora, bem como as formas/estéticas, imagens e/ou expressões artísticas presentes nos poemas. O trabalho busca compreender de que forma a escritora moçambicana trabalha, por meio dos sujeitos poéticos, o tema da memória cultural do país. Quais as estratégias literárias utilizadas por ela que ajudam a refazer a História e a memória de Moçambique. Para isso serão analisados alguns poemas do livro, ao passo que examinaremos as linguagens, formas/estéticas, imagens poéticas e expressões artísticas. O livro O canto dos escravizados apresenta versos que demostram a resistência do povo moçambicano e a coragem para enfrentar as novas formas de colonização. São cantos de lamentos, dor, revolta, mas também de força e luta. Como base teórica, utilizaremos Inocência Mata (2006), Homi Bhabha (1998), Stuart Hall (2006), Boaventura Santos (2010), Ana Rita Santiago (2019), entre outros. Paulina Chiziane foi vencedora do Prêmio Camões (2021). Também ganhou o Prémio José Craveirinha, em 2003, com a obra Niketche: Uma história de poligamia (2002). Ela é considerada a primeira mulher a publicar um romance no seu país. Referências: ASSMANN, Aleida. IV Corpo. In: ASSMANN, Aleida. Espaços da Recordação. Formas e transformações da memória cultural. Tradução de Paulo Soethe. Campinas: EdUnicamp, 2011. p. 259-316. BUTLER, Judith. Responsabilidade. In: BUTLER, Judith. Relatar a si mesmo: crítica da violência ética. Belo Horizonte: Autêntica, 2015. p. 109-172. BHABHA, Homi. K. O local da cultura. Belo Horizonte: Ed. da UFMG, 1998. CHIZIANE, Paulina. O canto dos escravizados. Belo Horizonte: Nandyala, 2018. HALL, Stuart. Pensando a diáspora: Reflexões sobre a Terra no exterior. In: HALL, Stuart. Da diáspora: identidades e mediações culturais. Tradução Adelaine La Guardia Resende et al. Belo Horizonte: EdUFMG, 2003. p. 25-50. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução Tomaz Tadeu da Silva, Guaraciara Lopes Louro- 11. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2006. LIMA, Tânia. Peles negras - Máscaras feiticeiras - em Paulina Chiziane, In: 17º Encontro Nacional da Rede Feminista Norte e Nordeste de Estudos e Pesquisas Sobre a Mulher e Relações de Gênero. João Pessoa, 2013. MATA, Inocência. Laços de memória: a escrita-testemunho como terapêutica na literatura africana – os casos de Angola e Costa do Marfim. In: MATA, Inocência. Laços de Memória & Outros Ensaios Sobre Literatura Angolana. Luanda: UEA, 2006. PADILHA, Laura. Da construção identitária a uma trama de diferenças: Um olhar sobre as literaturas de língua portuguesa. Revista Crítica de Ciências Sociais, Coimbra, n. 73, 2005, p. 03-28. SALGADO, Maria Tereza. Um olhar em direção à narrativa contemporânea moçambicana. V. 8, n. 15. Belo Horizonte: Scripta, 2004. SANTOS, Boaventura Souza. Para além do pensamento abissal: das linhas globais a uma ecologia de saberes. In: SANTOS, Boaventura Souza. & MENESES, Maria Paula (orgs.). Epistemologias do Sul. São Paulo: Cortez, 2010. SANTIAGO, Ana Rita. Baladas e o Mar ? Morada de Memórias ? em O Canto dos escravizados. Campina Grande: Sóciopoética, n. 21, v. 2, 2019, p. 24-38. SECCO, Carmen Lucia. As índicas águas da (na) poesia moçambicana. Diadorim, Rio de Janeiro, Especial 2016, p. 61-82. SECCO, Carmen Lucia Tindó. “Noémia de Sousa, grande dama da poesia moçambicana”. Prefácio in: SOUSA, Noémia. Sangue negro. Ilustrações de Mariana Fujisawa. São Paulo: Kapulana, 2016. (Série Vozes da África). SODRÉ, Muniz. Genealogia do conceito. In: SODRÉ, Muniz. A verdade seduzida: por um conceito de cultura no Brasil. 3. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2005. p. 11-71. AS MULHERES SUBALTERNAS EM AS PARCEIRAS: UM ESTUDO DA VIOLÊNCIA DE GÊNERO Maria Juliana de Jesus Santos Resumo: A presente comunicação tem por objetivo analisar a condição das mulheres subalternizadas pelas normas do patriarcado em As parceiras (1980), de Lya Luft, que traz a narrativa de fracassos femininos por três gerações: Catarina, a avó da narradora, Norma, a mãe, e Anelise, a neta-narradora que resgata a voz das antecessoras para descrever como as violentas regulações de gênero eram impostas por um discurso controlador. A partir desse contexto familiar, abordaremos como os estudos de gênero nos ampliam o horizonte de expectativa para revisarmos o silêncio imposto à mulher violentada no matrimônio. Discutiremos também o conceito de corpo subalterno, proposto por Elódia Xavier (2021), para identificar o quanto as personagens femininas desse romance fazem parte de um contexto de opressão que se repete pelas gerações de mulheres com transtornos psicológicos. Conforme Judith Butler (2003), em Problemas de gênero, a identidade de gênero é um constructo social que é normatizado por suas repetições e padronizações que disciplinam os corpos, mas a ruptura com esse padrão produz novas identidades. Para uma visão crítica do patriarcado, partiremos das contribuições de Pierre Bourdieu e Heleieth Saffioti que nos dão um norte sobre a perspectiva da violência de gênero e as consequências do domínio no psicológico e físico de suas vítimas. Na obra de Luft, ainda não se discute essa possível ruptura, todavia, a forma como a violência patriarcal é exposta nos chama a atenção para o quanto a literatura revisa as regras de gênero pelo seu poder de contestação. Referências: BOURDIEU, P. A dominação masculina. Trad.: Maria Helena Kuhner. 4. ed. Rio de Janeiro: Bestbolso, 2017. BRASIL. Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 8 ago. 2006. BUTLER, J. Regulações de gênero. Cadernos Pagu, v. 42, p. 249-274, 2014. GOMES, C. Marcas da violência contra a mulher na literatura. Revista Diadorim, Rio de Janeiro, UFRJ, v. 13, p. 01-11, 2013. LUFT, L. As parceiras. 28. ed. Rio de Janeiro: Record, 2014. MACHADO, L. Z. Feminismo em movimento. São Paulo: Francis, 2010. SAFFIOTI, H. Já se mete a colher em briga de marido e mulher. São Paulo em perspectiva, v. 13, n. 4, p. 82-91, out/dez. 1999. SPIVAK, G. Pode o subalterno falar? Trad.: Sandra Regina Goulart Almeida, Marcos Pereira Feitosa, André Pereira. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010. XAVIER, E. Declínio do patriarcado: a família no imaginário feminino. Rio de Janeiro: Record, Rosa dos tempos, 1998. XAVIER, E. Que corpo é esse? O corpo no imaginário feminino. Florianópolis: Editora Brasil, 2007. SABERES DE VIDA E DE LUTA NA TESSITURA DE CORA CORALINA E DAS MULHERES VELHAS DA COMUNIDADE BREJOS DOS AGUIAR/IBICOARA, NA CHAPADA DIAMANTINA-BA Marisela Pi Rocha, Jailma dos Santos Pedreira Moreira Resumo: Com este artigo buscamos refletir sobre os saberes encenados tanto por Cora Coralina em sua produção literária, como por mulheres velhas, da comunidade de Brejos dos Aguiar/Ibicoara-BA. Nesse sentido, interessa-nos observar a noção de saberes, de sabedoria que é construída, bem como os condicionamentos, marcados por categorias como gênero e geração, que perpassam as vidas dessas mulheres, e as formas criativas que inventam para resistirem e reexistirem às formas de subalternização, às pedras como diz Coralina (2013). Assim, esses saberes tecidos na luta do viver cotidiano, que emergem desse processo criativo, do texto da vida, nos instigam a perguntar que aprendizados são esses, como emergem, que implicações propagam. Dessa forma, para tanto, nos debruçaremos sobre poemas de Cora Coralina, como Todas as vidas, Tantos anos, Das pedras e Saber viver, assim como consideraremos narrativas de mulheres idosas dos Brejos dos Aguiar/Ibicoara-BA, colhidas através de conversas informais e encontros promovidos por pesquisa de campo para isso direcionada. Para nos auxiliar nesse propósito reflexivo contaremos com autoras e autores que discutem categorias como identidade, memoria, gênero, geração, subalternização, saber/experiência, por exemplo. Dentro desse campo citamos Mota (2011), Bosi (1994), Spivak (2010), Hall (2015), entre tantos outros. Por fim, esperamos, com esta reflexão, ampliar a discussão sobre saberes subalternizados e sujeitos da criação, considerando os modos de fala, de vida e de produzir conhecimentos, de mulheres velhas, enfocando as perspectivas que apontam, bem como os impasses que continuam subalternizando essas sujeitas e suas produções. Referências: BOSI, Ecléa. Memória e sociedade: lembranças de velhos (3a ed.). São Paulo: Companhia das Letras, 1994. BRITTO DA MOTTA, Alda. As Velhas Também. Revista ex aequo, Porto, n. 23, Ed. Afrontamento/APEM, p.13-21, 2011. BRITTO DA MOTTA, Alda. Gênero e envelhecimento. Revista Coletiva. Número 5 | jul/ago/set 2011. Disponível em: http://coletiva.labjor.unicamp.br/index.php/artigo/genero-e-envelhecimento/. Acesso em: 11 de maio de 2022. CORALINA, Cora. O tesouro da casa velha. 5. ed. [seleção Dalila Teles Veras]. São Paulo: Global, 2002. CORALINA, Cora. Villa Boa de Goyaz. 2. ed. São Paulo: Global, 2003. CORALINA, Cora. Poemas dos becos de Goiás e estórias mais. 21. ed. São Paulo: Global, 2003 a. CORALINA, Cora. Estórias da casa velha da ponte. 13. ed. São Paulo: Global, 2006. CORALINA, Cora. Vintém de cobre: Meias confissões de Aninha. 9. ed. São Paulo: Global, 2007. CORALINA, Cora. Meu livro de cordel. 18ª edição, São Paulo: Global, 2013. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 12 ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2015. PEREIRA, Áurea da Silva; SILVA, Ieda Fátima. Envelhecimento: (res)significando Vidas e Reconhecendo o que é de direito. Editora Mercado de Letras; 1ª edição, 2020. SPIVAK, G. Pode o Subalterno Falar?. Trad. Sandra Regina Goulart Almeida, Marcos Pereira Feitosa, André Pereira Feitosa. Editora UFMG, Belo Horizonte, 2010, p. 126. "É TEMPO DE FALARMOS DE NÓS MESMOS" Meg Heloise Bomfim da Silva Resumo: Pretendo com essa conversação realizar alguns apontamentos sobre o ponto de vista da mulher negra ao escrever-se. Talvez, em um jogo com a linguagem, seja cabível pensar em o ponto de voz, o lugar de enunciação. Sendo assim, intento refletir em como a literatura produzida por mulheres negras registra e lê questões do feminismo negro, ao passo em que essa escrita, desde as margens, se constitui como episteme contrária aos esquemas de representação. Nesse sentido, compreendo a margem como lugar de tensionamento, resistência e potência criativa. Essa (re)localização, a partir do feminismo negro, relaciona-se ao construto e deslocamento de subjetividades fora dos esquemas de dessubjetivação da colonialidade do poder. A máquina colonialista opera na e sobre a linguagem instituindo limitações e interditos ao corpo oprimido, na esteira de hooks (2019) a linguagem é compreendida como lugar de luta. Não se disputa a linguagem, mas na e através da linguagem disputa-se o direito a ser, dizer e ler a si mesmo. A discussão que proponho toma por base os textos das intelectuais Figueiredo (2009), hooks (2019), Kilomba (2019), Piedade (2017), Walker (1972). Dessa forma, a seleção de textos teóricos foi suleada pela recriação, a partir da colonialidade, de outras formas de existir/saber e potencialidades. Referências: FIGUEIREDO, Fernanda Rodrigues de. A mulher negra nos Cadernos Negros: autoria e representações. Belo Horizonte: Programa de Pós-Graduação em Letras/Estudos Literários, Universidade Federal de Minas Gerais/Faculdade de Letras, 2009. (Dissertação de Mestrado) HOOKS, bell. Teoria Feminista: da margem ao centro; tradução Rainer Patriota. São Paulo: Perspectiva, 2019a. ______. HOOKS, bell. Sobre a autorrecuperação. In: Erguer a voz: pensar como feminista, pensar como negra. Tradução: Cátia Bocaiuva Maringolo. São Paulo: Elefante, 2019b. KILOMBA, Grada. Memórias da plantação: Episódios de racismo cotidiano. Tradução Jess Oliveira. 1ª ed. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019. PIEDADE, Vilma. Dororidade. São Paulo: Editora Nós, 2017. ESCRITOS INDÍGENAS: LITERATURA E (RE)EXISTÊNCIA NO BRASIL MODERNO Renata Lourenço dos Santos Resumo: Esta comunicação quer debater sobre em que medida a produção literária indígena, aquela idealizada, produzida, realizada, editada e exibida/publicada pelos povos indígenas, pode se configurar como espaço de memória e/ou de reexistência e resistência dos povos originários. Para isso é fundamental a leitura profunda da bibliografia, em sua maioria fontes indígenas sobre a educação, sobre economia e filosofia, sobre cosmogonias, arte e cultura tradicionais. Também se faz importante referência os vídeos e material audiovisual disponível na internet e suas redes de compartilhamento sobre a literatura indígena e sua relação com o povo, as aldeias, criações. Por meio da história sobre a relação dos povos indígena com o português, primeiros contatos, compreensão, leitura e escrita, chega-se à atualidade e como a literatura indígena se posiciona no mundo editorial, dando conta de um período que vai desde a invasão e catequese indígena até a produção de conteúdo indígena para internet . O texto escrito, apesar de ser uma tecnologia do branco, aparece no contexto indígena como ferramenta de resistência e de memória, se tornando uma ação de reflexão, de ascensão social e de aculturação positiva. Buscando responder se nesse percurso de construção de conteúdo, em que medida a memória está presente, ou se é possível reexistir ou resistir por meio dessas escritas nativas. Referências: BANIWA, Gersem dos Santos Luciano. O Índio brasileiro: o que você precisa saber sobre os povos indígenas no Brasil de hoje. Brasília, DF: MEC; Unesco, 2006. CARELLI, Vincent; ECHEVARRÍA, Nicolás; ZIRIÓN, Antonio. Diálogos sobre o cinema indígena. Los Cuadernos de Cinema 23, conversas. v. 007, maio, México, 2016. GRAÚNA, Graça. Contrapontos da Literatura Indígena contemporânea no Brasil. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2013. JEKUPÉ, Olívio. Ajuda do Saci. São Paulo, SP: DCL, 2006. JEKUPÉ, Olívio. Literatura escrita pelos povos indígenas. São Paulo, SP: Scortecci, 2009. KRENAK, Ailton. Encontros. Org. Sergio Cohn. Rio de Janeiro: Azougue, 2015. NORA, Pierre. Entre memória e história – a problemática dos lugares. Trad. Yara Aun Khoury. Revista Projeto História. ISSN 2176-2767 v.10: jul/dez, História e Cultura, 1993. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/revph/article/view/12101 Acesso em 12/04/2022. PEREIRA, Eliete da Silva. Pós-modernidade e mídias nativas: a comunicação indígena brasileira audiovisual. Comunicação e sociedade, vol. 18, 2010. Disponível em http://revistacomsoc.pt/index.php/comsoc/article/download/989/956 Acesso em: 12/04/2022. SARLO, Beatriz. Tempo Passado: cultura da memória e guinada subjetiva. São Paulo: Companhia das Letras; Belo Horizonte: UFMG, 2007. AS MÚLTIPLAS REPRESENTAÇÕES POÉTICAS DE MATARANDIBA: A CIRANDA DO SAMBA DE RODA VOA VOA MARIA COMO PRÁTICAS DE RESISTÊNCIA Thais Aparecida Pellegrini Vieira Resumo: Depois de mais de dez anos das primeiras remadas que dei em direção às águas matarandibenses, proponho curvar minha chegada à esse território, partindo de um olhar que pretende pensar a comunidade e suas poéticas, saindo das amarras analíticas que buscam encaixotá-las num certo tipo de produção pautada em categorias estanques de pensamento. A partir dessa relação, podemos revisitar a noção de mimese fincada no campo crítico literário brasileiro e a ideia de representação que o permeia. Stuart Hall (2009) nos aponta que é preciso contestar esse modelo de base, presente no campo das humanidades, e tentar pensar o “relacionamento entre sociedade, economia e cultura.” (HALL, 2009, p.191). Sob esse prisma, a organização social e cultural da comunidade reverbera importantes práticas interculturais capazes de considerar outros lugares de fala e saberes. Podemos usar a metáfora dos “Saberes vaga-lumes” de Georges Didi-Huberman (2020, p.136) para representar a potência da localidade, uma vez que é capaz de provocar fissuras e insurgências através da sua organização social, política e das literaturas que emergem. As performances e registros das músicas do samba de roda Voa Voa Maria, reteorizam as categorias clássicas de representação. Destarte, no decorrer da pesquisa de doutoramento que se inicia, pretendo auscultar as vozes das mulheres, dos homens e das crianças que vivem nesse território banhado pelo mar, percebendo, também, os ruídos, os sons de fundo misturados aos tambores, às batidas e aos cantos da roda de samba. Memórias que se desenham ao som da maré e que sopram aos nossos ouvidos com o vento desse lugar, trazendo à cena as diversas identidades e estórias do seu povo. Referências: ASCOMAT. CD Voa Voa Maria - Samba de roda de Matarandiba.2018. ASCOMAT Associação Sócio Cultural de Matarandiba. Primeiro disco do grupo Voa Voa Maria - Samba de Roda de Matarandiba, Youtube, 12 de outubro de 2018. Disponível em: https://youtu.be/kh1yfEzVzkU. Acesso em: 24 de nov. de 2021. ASSMANN, Aleida. Introdução. In: Espaços da recordação: formas de transformações da memória cultural.Tradução de Paulo Soethe.Campinas, Sp: editora da Unicamp, 2011. DID-HUBERMAN, Georges. Imagens. In: Sobrevivência dos vagalumes. Trad. de CASA NOVA, Vera e ARBEX, Márcia. In Belo Horizonte: Editora UFMG, 2020, 2.ª reimpressão. p. 133- 160. FOUCAULT, Michel. Sete Selos da Afirmação. In:___. Isto não é um cachimbo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2008. p. 57-71 HALL, Stuart. Da diáspora: identidades e Mediações Culturais. 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Matarandiba: oralidade, tradição e encanto na Baía de Todos os Santos. Salvador, 2013.Depositório: https://docplayer.com.br/39713939-Universidade-doestado-da-bahia-uneb-departamento-de-ciencias-humanas-programa-de-pos-graduacao-emestudo-de-linguagens.html. Acesso em: 30 de nov. de 2021. ZUMTHOR, Paul. Performance, Recepção e Leitura. Trad. Jerusa Pires Ferreira. São Paulo: Educ, 2000. A INFÂNCIA, O NARCOTRÁFICO E A FÁBULA EM FIESTA EN LA MADRIGUERA, DE JUAN PABLO VILLALOBOS Thuane Veras Sampaio Resumo: O presente estudo busca analisar o tema do narrador infantil no livro Fiesta en la madriguera (2010), do escritor mexicano Juan Pablo Villalobos. Para tratar do assunto propõe-se uma análise da figura do protagonista da narrativa e a forma como é modalizado seu relato, considerando que a personagem é também o narrador da experiência que está sendo contada. O estudo tem como objetivo identificar as estratégias narrativas a partir das quais se constrói a figura da criança narradora da obra, verificar como o meio e a vivência com os adultos influenciam a construção do mundo do narrador e como isso é representado no livro. Vários estudos trouxeram análises da obra Fiesta en la Mariguera (2010) focadas essencialmente na violência. Retomamos essa perspectiva, mas analisando a figura do narrador infantil, sua percepção dessa realidade e os modos de contar a experiência da violência. Nossa hipótese é de que o narrador nos apresenta o mundo em que vive e as influências que recebe dele por meio de um olhar infantil que desloca a interpretação da realidade violenta que o rodeia dotando a narrativa de um tom de fábula. Para a realização desse estudo direcionamos a pesquisa para a leitura e análise da obra e de fontes críticas. Textos como “O narrador pós-moderno”, de Silviano Santiago (1989), “A posição do narrador na novela contemporânea”, de Theodor Adorno (1974), e “O narrador”, de Walter Benjamin (1975), compõem a principal base teórica para o estudo do narrador. “A psicanálise dos contos de fada”, de Bruno Bettelheim (1976), e Reflexões sobre a criança, o brinquedo e a educação, de Walter Benjamin (1984), compõem a principal base teórica sobre a infância. Referências: 1. ADORNO, Theodor. Notas de Literatura. Trad. Jorge M. B. de Almeida. São Paulo: Duas Cidades; Ed. 34, 2003. 2. ADRIAENSEN, Brigitte. “El exotismo de la violencia ironizado: Fiesta en la madriguera de Juan Pablo Villalobos.” Ed. Brigitte Adriaensen e Valeria Grinberg. In.: Narrativas del crimen en América Latina: transformaciones y transculturalidades del policial. Berlín: Li Verlog, 2012, p.155-167. 3. ARIÈS, Phillipe. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: Zahar, 1978. 4. AZEVEDO, Ricardo. Literatura infantil: origens, visões da infância e certos traços populares. IN: Presença Pedagógica. Belo Horizonte. Editora Dimensão. N.º27 –mai/jun 1999 e em Cadernos da Aplicação. Volume 14. Número ½. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, jan/fev 2001. 5. BENJAMIN, Walter. Reflexões: A criança, o brinquedo, a educação. São Paulo: Summus, 1984. 6. BENJAMIN, Walter. O Narrador: Considerações Sobre a Obra de Nikolai Leskov. In: Obras escolhidas I. Trad. Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Ed. Brasiliense, 2012. 7. BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. 32ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 2012. 8. BUCKINGHAM, David. Crescer na era das mídias eletrônicas. São Paulo: Brasil: Loyola, 2007. 9. FREIRE, A. M.E.S & GUIMARÃES, Z.M. at all. Contos (clássicos/mitológicos/modernos) EDUCAÇÃO INFANTIL/ ciclos de aprendizagem I e II/ EJA. Salvador, 2007. 10. LÓPEZ BADANO, Cecilia. “La deformación de la formación: narcotráfico, mito y (anti) Bildungsroman, Fiesta en la madriguera, Juan Pablo Villalobos (2010). Comp. Cecilia López Badano. Periferias de la narcocracia: ensayos sobre narrativas contemporáneas. Buenos Aires: Corregidor, 2015, p. 53-78. 11. SANTIAGO, Silviano. Nas malhas da letra. São Paulo: Companhia das letras, 1989. 12. UNESCO, Caderno Pedagógico: A criança Descobrindo, Interpretando e Agindo sobre o Mundo. Brasília, 2005. 13. VILLALOBOS, Juan. Fiesta en la madriguera. Barcelona: Anagrama, 2010. 14. VILLALOBOS, Juan. Festa no covil. São Paulo. Companhia das Letras, 2012. 15. Wood, James. Como funciona a ficção. São Paulo: SESI-SP, 2017. O QUE ESCREVEM MULHERES DO LITORAL NORTE E AGRESTE BAIANO? QUE SABERES REVELAM?: UMA REFLEXÃO SOBRE OS SEUS PROCESSOS DE PRODUÇÃO E PUBLICAÇÃO EM MEIO AO CAPITALISMO PATRIARCAL RACISTA Vanessa Silva Paz, Jailma dos Santos Pedreira Moreira Resumo: Sabendo que a literatura sempre foi um lugar potencialmente demarcado por homens e que o mercado editorial age como um dispositivo de bloqueio e emudecimento de vozes subalternizadas, apagando saberes literários e culturais daquelas que, por diversos condicionamentos, tem ficado de fora desse sistema capitalista, patriarcal e racista, buscamos refletir sobre os modos de produção de escritoras da região de identidade Litoral Norte e Agreste Baiano, ressaltando os saberes que emergem desse processo. Para tanto, levaremos em consideração textos literários produzidos por essas escritoras, bem como narrativas de si e do processo de produção, publicação e circulação de seus escritos, colhidas através de encontros e rodas de conversa, bem como contatos eletrônicos. Para nos ajudar nessa reflexão, consideraremos, como aporte teórico, estudos traduzidos em textos/livros como Memórias da Plantação, episódios de racismo cotidiano, de Grada Kilomba (2019), O que é lugar de fala?, de Djamila Ribeiro(2017), Reescrita de si: produções de escritoras subalternizadas em contexto de políticas culturais, de Jailma Pedreira Moreira (2015), Pode o subalterno falar?, de Gayatri Chakravorty Spivak (2010), Literatura Brasileira Contemporânea: um território contestado, de Regina Dalcastagnè (2012), Fredric Jameson em Pós-modernismo. A lógica cultural do capitalismo (1997) tardio dentre outros. Dessa forma, esperamos com tal proposta disseminar o debate sobre produções de autoria feminina subalternizadas, considerando impasses e perspectivas dessa engrenagem e, nesse sentido, ressaltando os saberes que emergem nesse processo, que nos levam a repensar o alcance de um capitalismo patriarcal racista bem como nossos modos de luta contra esse sistema excludente interseccional. Referências: DALCASTAGNÈ, Regina. Literatura brasileira contemporânea: um território contestado. Rio de Janeiro, Vinhedo: Editora da UERJ, Horizonte, 2012. 208 p. JAMENSON, Fredric. Pós-modernismo. A lógica cultural do capitalismo tardio. Editora: Àtica. 2edição. 1997. p 27-79 KILOMBA, Grada. Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano. Rio de Janeiro: Editora Cobogó, 2019. 244 p. MOREIRA, Jailma dos Santos Pedreira. Reescrita de si: produções de escritoras subalternizadas em contexto de políticas culturais. Fórum de Literatura Brasileira Contemporânea, v. 7, n. 13, p. 71-88, 2015. Disponível em: https://revistas.ufrj.br/index.php/flbc/article/view/17237/14257. RIBEIRO, Djamila. O que é lugar de fala?. Belo Horizonte (MG). Letramento. Justificando, 2017. 122 p. SPIVAK, Gayatri Chakravorty. Pode o subalterno falar?. Tradução de Sandra Regina Goulart Almeida, Marcos Pereira Feitosa, André Pereira Feitosa. Belo Horizonte. Editora UFMG, 2010. 133 p. SIMPÓSIO “TRANSGRESSÃO, MEMÓRIA E (IN)SUBALTERNIZAÇÃO NAS LITERATURAS AFRICANAS E AFRODIASPÓRICAS PRODUZIDAS POR MULHERES” Cíntia Acosta Kütter (UFRA), Sávio Roberto Fonseca de Freitas (UFPB) A AUTOBIOGRAFIA FICCIONAL DE TITUBA E O MOSAICO DA MEMÓRIA Ana Paula Costa De Oliveira Padovino Resumo: E ste trabalho objetiva destacar elementos estruturais na 7ª edição do romance Eu, Tituba... bruxa negra de Salem, de Maryse Condé: o gênero e as estratégias autobiográficas que constituem efeitos de presença (DINIZ, 2020; GUMBRECHT, 2010) combinados aos efeitos de sentido do texto literário, que podem produzir experiência estética em seus leitores. A estrutura do romance aproxima-se da adotada nas neo slave narratives (SMITH, 2007), o gênero pode ser caracterizado como autobiografia ficcional póstuma constituída a partir da experiência de subalternidade e tendo como referência o pensamento de vestígio (GLISSANT, 2010) presente na memória e no corpo (MORISSON, 1995) das escritoras decoloniais. Nesse sentido, Condé estabelece uma nova proposta de pacto fantasmático (LEJEUNE, 2010), no qual fantasmas revelam não apenas algo sobre a autora, mas para a autora, visto que esta sugere no prefácio da obra que foi a narradora-personagem, a própria Tituba, que lhe contou a sua história nunca narrada. Assim o romance reconstrói a estrutura slave narratives, no sentido de estas serem os primeiros registros escritos de vidas de pessoas escravizadas, muitas vezes construídas a partir da oralidade para um escritor; mas vai além dessa proposta ao combinar história e ficção autobiográfica póstuma, memória emocional e imaginação, relação com a natureza e com o sobrenatural em um livro-mosaico que conjura imagens, sensações, afetos e efeitos de presença em seus leitores. Referências: AZEVEDO, M. M. de. Toni Morrison´s 'Site of Memory': where memoir and fiction embrace. Revista da Anpoll, n. 22, p. 159-172, jan./jun. 2007. CAVAGNOLI, A. C. A. P. Quando os mortos começam a falar: por um feminismo negro descolonial na literatura afro-caribenha. Orientadora Cláudia Lima Costa, Florianópolis, SC, 2016 (Tese). COBBY, R.L.K. “Tituba” In: Encyclopedia of African American history. ALEXANDER, L.M., RUCKER, W.C., Santa Barbara – Califórnia: ABC-Clio, 2010. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4181949/mod_resource/content/1/African_American_ Encylopedia.pdf Acesso em 28/02/2022 CONDÉ, M. Eu, Tituba: bruxa negra de Salem. Trad. Natália Borges Polesso. 7ª ed., Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2020. DINIZ, L.G. Imaginação como presença: o corpo e seus afetos na experiencia literária, Curitiba, Ed. UFPR, 2020. EVARISTO, C. Escritora Conceição Evaristo é convidada do Estação Plural: depoimento [jun. 2017]. Entrevistadores: Ellen Oléria, Fernando Oliveira e Mel Gonçalves. TVBRASIL, 2017. GLISSANT, É. El discurso antillano. Prólogo de J. Michael Dash. Trad. Aura Marina Boadas, Amelia Hernández y Lourdes Arencibia Rodríguez. La Habana: Fondo Editorial Casa de las Américas, 2010 (Colección Nuestros Países – Serie Estudios). GUMBRECHT, H.U. Produção de presença, o que o sentido não consegue transmitir. Trad. Ana Isabel Soares. Rio de Janeiro: Contraponto: Ed. PucRio, 2010. HANCIAU, N. A feiticeira no imaginário ficcional das Américas. Rio Grande: ED. da FURG, 2004. LEJEUNE. P. O pacto autobiográfico: de Rousseau à internet. Organização de Jovita Maria Gerheim Noronha, tradução de Jovita Maria Gerheim Noronha e Maria Inês Coimbra Guedes. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008. MORRISON, T. The site of memory In Inventing the truth: The art and craft of memoir, 2a ed., Boston, New York, Houghton Mifflin: Ed. William Zinsser, 1995, p. 83-102. OLNEY, J. “I was born”: slave narratives, their status as autobiography and as literature. Callaloo, Baltimore, n. 20, p. 46-73, 1984. PFFAF, F. Entretiens avec Maryse Condé. Paris: Karthala, 1993. ROEDEL, H. Do Mito de Cam ao Racismo Estrutural: Uma Pequena Contribuição ao Debate. Projeto AFRO-PORT: Afrodescendência em Portugal [FCT/PTDC/SOCANT/30651/2017]. Lisboa. No.02. Julho. 2020. 01-19. Disponível em: https://cesa.rc.iseg.ulisboa.pt/afroport/artigos/ SMITH, V. New Slave narratives In The African American Slave Narrative. Audrey A. Fisch (Org.) Cambridge: Cambridge University Press, 2007. SPIVAK, G. Pode o subalterno falar? Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010. WALKER, A. A Cor Púrpura. Rio de Janeiro: José Olympio. 2016. "DO LADO DO CORPO, UM CORAÇÃO CAÍDO", DE CONCEIÇÃO EVARISTO: UMA LEITURA DA ESCREVIVÊNCIA FEMININA NEGRA Cíntia Acosta Kütter Resumo: A insubmissão do corpo feminino atravessa séculos, e, não por acaso, a escritora mineira Conceição Evaristo surge na cena literária como um expoente na literatura brasileira contemporânea, propondo a insubmissão dos corpos femininos. Em suas obras, a autora dá voz a protagonistas majoritariamente femininas, negras e periféricas. Nesta comunicação, nossa proposta é uma análise do conto intitulado “Do lado do corpo, um coração caído”, publicado na coletânea Livre (2018), sob organização de Beatriz Leal Craveiro, no qual a autora concede o protagonismo ao corpo-mulher de Josué, sua primeira personagem transexual. Evaristo propõe uma discussão sobre o corpo, para além das questões de gênero. A partir de sua escrita a autora instiga seu leitor a mergulhar nos pensamentos, angustias e incertezas da mãe de Josué. Para isso, pensaremos com Susan Sontag (2003) de que maneira a personagem feminina se coloca no lugar do outro, pensaremos a partir de Letícia Nascimento, questões ligadas ao transfeminismo (2021), com Gayatri Spivak (2010), o lugar do corpo mulher e seu lugar subalternizado, periférico e excluído que a sociedade reserva à ela, e por fim refletiremos com Naomi Wolf (2020) sobre de que maneira o mito da beleza é discutido a partir do viés corpo-mulher, como propõe a narrativa de Evaristo. Referências: EVARISTO, Conceição. Do lado do corpo, um coração caído. Livre/ Beatriz Leal Craveiro ...[et. al.]; organizado por Beatriz Leal Craveiro. Belo Horizonte: Moinhos, 2018. SPIVAK, Gayatri Chakravorty. Pode o subalterno falar? 1. ed. Trad. Sandra Regina Goulart Almeida; Marcos Pereira Feitosa; André Pereira. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2010. SONTAG, Susan. Diante da dor dos outros. Tradução de Rubens Figueiredo. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2003. NASCIMENTO, Letícia Carolina. Transfeminismo. São Paulo: Jandaíra, 2021. WOLF, Naomi. O Mito da Beleza: como as imagens de beleza são usadas contra as mulheres. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2018. ENTRE ITÁLIA E SOMÁLIA: MEMÓRIA E FICÇÃO NA LITERATURA DE IGIABA SCEGO Lívia Verena Cunha do Rosário Resumo: Igiaba Scego é uma autora italiana nascida em 1974, em Roma, e filha de pais refugiados somalis. Compreender a origem e local de nascimento da escritora é fundamental na leitura de sua obra, pois Igiaba Scego torna a experiência da diáspora somali o centro de suas discussões políticas e literárias. Além de transitar pela produção de romances e contos, Igiaba é uma ativista pela questão dos refugiados na Europa, sobretudo daqueles que naufragam no mar Mediterrâneo na tentativa de chegar à Itália; também através de artigos e ensaios em jornais italianos, a autora discute migração contemporânea, racismo e o colonialismo italiano no Chifre da África, principalmente o silenciamento em torno desse último. Esta comunicação tem como objetivo apresentar a autobiografia Minha casa é onde estou e o romance Adua, na tentativa de evidenciar brevemente elementos abordados por Igiaba Scego tanto em sua história pessoal quanto em sua ficção, são eles: o colonialismo italiano; o elefante de Bernini e os refugiados. Tanto nas memórias retratadas Em Minha casa é onde estou, quanto na ficção em Adua, Igiaba coloca no centro da narrativa mulheres negras da diáspora somali tentando encontrar seu lugar na sociedade italiana, em constantes processos de reterritorialização. Igiaba e a personagem do romance homônimo Adua são atravessadas por marcadores sociais de raça, gênero, classe e nacionalidade que as relegam a um lugar de subalternidade, um não-lugar. Igiaba ressalta a ambivalente capacidade contemporânea de se comover, mas também de ignorar o sofrimento alheio, de conviver indiferentemente em meio a tantas outras mortes ocorridas no legítimo direito humano de escapar de uma zona de conflito, de almejar uma vida melhor. Referências: ALMEIDA, Márcia de. Autoria feminina na literatura pós-colonial italiana: um projeto feminista. Revista Estudos Feministas, vol. 27, 2019. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ref/a/hGCbvVYYgQC6sC3vwxk8yBC/?lang=pt. CHIARELLI, Stefania. Um mar de migrações: a pandemia agrava a tragédia dos refugiados. Disponível em: https://piaui.folha.uol.com.br/um-mar-de-migracoes/. Revista Piauí, 02 jan. 2021. CHAMOISEAU, Patrick. Frères Migrants. Paris: Editions du Seuil, 2017. FANON, Frantz. Pele negra máscaras brancas. Salvador: EDUFBA, 2008. KILOMBA, Grada. Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019. SCEGO, Igiaba. Adua. São Paulo: Editora Nós, 2018a. Tradução de Francesca Cricelli. SCEGO, Igiaba. Minha casa é onde estou. São Paulo: Editora Nós, 2018b. Tradução de Francesca Cricelli. DAS DIÁSPORAS CORPORAIS À (IN)SUBALTERNIZAÇÃO DAS ENTRANHAS: A POESIA DE SÓNIA SULTUANE E DEUSA D'ÁFRICA Sávio Roberto Fonseca de Freitas Resumo: A literatura moçambicana de autoria feminina não pode ser mais lida como uma produção isolada e acanhada como nos tempos das lutas de libertação e da guerra civil, quando as mulheres eram muito mais invisíveis e violadas das mais diversas formas pelos colonizadores e pelo machismo moçambicano. O machismo não acabou e ainda é um problema para as mulheres, mas agora elas reconhecem um território de resistência chamado Literatura de Autoria Feminina. Vozes como as de Sónia Sultuane e Deusa d’África potencializam o lugar da mulher em Moçambique e fazem ressignificar as vozes das escritores militantes que as antecedem como Noêmia de Sousa, Lina Magaia, Lilia Momplé e Paulina Chiziane. o que comprova a fertilidade literária de um país ainda tão carente em relação ao reconhecimento da produção das mulheres que por ora também se fortalece com ao Prêmio Camões dado à Paulina Chiziane em 2021. A poesia das escritoras moçambicanas Sónia Sultuane e Deusa D’África se intersectam a partir de um discurso que se organiza no feminino no sentido de territorializar uma produção literária de autoria feminina que dissemina um feminismo afro-moçambicano cuja agenda de discussão se volta para a corpo da mulher. Para a discussão e análise dos poemas Noites de prazer e Hoje apetece-me, apoiamo-nos nos posicionamentos de Clenora Hudson- Weems (2021), Djamila Ribeiro (2017) e Paulina Chiziane (2013), entre outras perspectivas teóricas voltadas para a problematização das diásporas corporais e da crítica feminista. Referências: CHIZIANE, Paulina. Eu, mulher... Por uma nova visão do mundo. Belo Horizonte: Nandyala, 2013. D’ÁFRICA, Deusa. A voz das minhas entranhas. Maputo: Ciedima, 2014. RIBEIRO, Djamila. O que é lugar de fala? Belo Horizonte, MG: Editora Letramento, 2017. HUDSON-WEEMS, Clenora. Mulherismo Africana. São Paulo: Editora Ananse, 2020. SULTUANE, Sónia. No colo da lua. Maputo. Edição da Autora, 2009. SIMPÓSIO “USOS POLÍTICOS DA MEMÓRIA E DA HISTÓRIA NAS LITERATURAS DE LÍNGUA PORTUGUESA” Daniel Marinho Laks (UFSCar), Renata Flavia da Silva (UFF), Roberta Guimarães Franco (UFMG) AS AFINIDADES ELETIVAS (DE GOETHE) ENTRE WALTER BENJAMIN E A PARÁBOLA DO CÁGADO VELHO DE PEPETELA Adriano Guedes Carneiro Resumo: Esta comunicação tem por objetivo estabelecer a relação comparativa entre A parábola do cágado velho (1996), obra do premiado escritor angolano Pepetela e As afinidades eletivas, obra do pré-romantismo alemão, de autoria de Johann Wolfgang von Goethe, via ensaio do mesmo nome de Walter Benjamin. Procurar-se-á, através de afastamentos e aproximações, identificar como alguns elementos presentes nas afinidades repercutem e se transformam na parábola. Benjamin faz leitura original e pessoal desta obra de Goethe, inscrevendo-a no lugar do trágico – muito além da alegoria das ligações químicas ou da jurisdição da cultura, da moral ou do casamento. Na parábola, se Eduard é Ulume, Charlotte é Muari, Ottilie é Munakazi, que, como a jovem alemã também se sacrifica – inclusive como metonímia de uma Angola sacrificada ao colonialismo e à guerra civil devastadora – mas distintamente da personagem de Goethe que se santifica, Munakazi é capaz de sobreviver (ou renascer) como o próprio país, mas sem ser santa. Segundo Benjamin, Goethe teria dito que “escondeu algumas coisas naquele romance”, como o faz Pepetela. No entanto, se no primeiro parece haver a vitória do trágico, simbolizado pelo mito, pela natureza, o qual se sobrepõe mesmo à história e às memórias; no segundo, parece – mesmo com a força do trágico e da natureza – persistir a esperança e a crença na possibilidade da construção da cultura, da história e da memória. Referências: BENJAMIN, Walter. Ensaios reunidos: escritos sobre Goethe. Tradução por Mônica Krauz Bornebusch, Irene Aron e Sidney Camargo. Supervisão e notas por Marcus Vinícius Mazzari. 2ª edição. São Paulo: Editora 34, 2018. CASTRO, Claudia. A alquimia da crítica. Benjamin e As afinidades eletivas de Goethe. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2011. GOETHE, Johann Wolfgang. As afinidades eletivas. Tradução por Tercio Redondo. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 2014. HOLLINGDALE, Reginald John Introdução. In GOETHE, Johann Wolfgang. As afinidades eletivas. Tradução por Tercio Redondo. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 2014. MURICY, Kátia. Alegorias da dialética: imagem e pensamento em Walter Benjamin. Rio de Janeiro: Nau Editora, 2009. PEPETELA. A parábola do cágado velho. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1996. SECCO, Carmen Lúcia Tindó Ribeiro. “As águas míticas da memória e alegoria do tempo e do saber?”. Scripta. Belo Horizonte, v.1, n. 2, p. 255-261, 1º semestre de 1998. Disponível em: <https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=6222955> Acessado em 10 de julho de 2021. DITADURA E PÓS-MEMÓRIA EM A RESISTÊNCIA, DE JULIÁN FUKS Allysson Augusto Silva Casais Resumo: Com os trânsitos ocorridos entre os países do Cone Sul durante os regimes ditatoriais na região, existe hoje no cenário da literatura brasileira escritores considerados "filhos do exílio'' (FIGUEIREDO, 2017). Isto é, descendentes de exilados que tematizam a memória da ditadura em suas obras. Como parte desse grupo, Julián Fuks despontou no meio literário contemporâneo com a publicação de A resistência (2015), romance em que o autor aborda a experiência de migração dos pais e irmão argentinos. Na obra, o narrador e alterego de Fuks, Sebastián, visa investigar as origens de seu irmão, adotado poucos meses antes da fuga da família do país. Contudo, contar essa história significa também narrar a história de seus pais e, consequentemente, a da ditadura argentina. Nesta comunicação, à luz do conceito de pósmemória, tenho como objetivo analisar A resistência para entender como o narrador do romance lida com a herança do exílio de sua família. Acredito que a memória do deslocamento familiar ocupa um espaço entre o público e o privado no livro, uma vez que a narrativa reconstitui a memória coletiva da ditadura argentina a partir das experiências particulares da família. Além disso, para o narrador, nascido e criado no Brasil, investigar o exílio de seus parentes argentinos também representa uma indagação sobre sua própria identidade com respeito a essa história. Referências: CURY, Maria Zilda Ferreira. Memória e resistência: figurações da ditadura na literatura brasileira contemporânea. In: OLIVEIRA, Rejane Pivetta de; THOMAZ, Paulo C. (org.). Literatura e Ditadura. Porto Alegre: Zouk, 2020. p. 59-72 FIGUEIREDO, Eurídice. A Literatura como arquivo da ditadura brasileira. Rio de Janeiro: 7Letras, 2017. FIGUEIREDO, Eurídice. A resistência, de Julián Fuks: uma narrativa de filiação. Estudos de literatura brasileira contemporânea, Brasília, n. 60, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.1590/2316-4018605. Acesso em: 10 jan. 2022. FINAZZI-AGRÒ, Ettore. (Des)memória e catástrofe: considerações sobre a literatura pós-golpe de 64. Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, Brasília, DF, n. 43, p. 179-190, 2014. FUKS, Julián. A resistência. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. FUKS, Julián. A era da pós-ficção: notas sobre a insuficiência da fabulação no romance contemporâneo. In: DUNKER, Christian et al. Ética e pós-verdade. Porto Alegre: Dublinense, 2017. p. 73-93. GAGNEBIN, Jeanne Marie. Lembrar, escrever, esquecer. São Paulo: Editora 34, 2006. HIRSCH, Marianne. Family Frames: Photography, Narrative, and Postmemory. Cambridge: Harvard University Press, 1997. HIRSCH, Marianne. The Generation of Postmemory: Writing and Visual Culture After the Holocaust. Nova York: Columbia University Press, 2012. HOSSNE, Andrea Saad. Espaço negativo - intimidade, memória e história em dois romances brasileiros recentes. Miscelânea, Assis, v. 38, p. 107-20, jul.-dez. 2020. O VENDEDOR DE PASSADOS, DE JOSÉ EDUARDO AGUALUSA: A TERRA PROMETIDA DE CALVINO Ângela Da Silva Gomes Poz Resumo: Este trabalho consiste na proposta de uma leitura analítica do romance O vendedor de passados (2006), de José Eduardo Agualusa, de modo a identificar nele os valores selecionados por Italo Calvino, expostos no livro Seis propostas para o próximo milênio (2008). Para tanto, há um levantamento de considerações de outros teóricos e estudiosos, no intuito de conferir base epistemológica às análises acerca da obra, do seu autor e do contexto histórico angolano; a organização sequencial dos tópicos necessariamente estudados para chegar à leitura analítica propriamente dita e a elucidação de cada uma das virtudes que Calvino elencou para a literatura deste milênio, que são nomeadamente seis, mas explanadas por ele apenas cinco, visto que faleceu antes de redigir a última palestra, denominada “Consistência”. Esta ganha um espaço menor mas não menos importante neste estudo, considerando a correspondência da obra agualusiana também com ela, dentro do que propôs o teórico italiano quando mencionou seu valor oposto. Para Calvino, a literatura do novo (deste) milênio seria o único meio de salvar a linguagem verbal, capacidade exclusiva que nos faz humanos. Como tal, somos seres sociais, temos história e fazemos história, quer na realidade, quer na ficção. Constatamos a importância da obra agualusiana para a construção histórica de Angola, hoje um país que se quer aberto ao mundo. Problematizando versões oficiais, Agualusa insere em sua ficção episódios da vida pública do seu país, de forma a provocar reflexões em quem lê, que pode encontrar, nesse romance de um dos mais importantes expoentes das literaturas de língua portuguesa, uma narrativa contemporânea que suscita discussões sobre a relação entre memória, história e literatura. Referências: AGUALUSA, José Eduardo. Estação das chuvas. Rio de Janeiro: Gryphus, 2000. ___________. O vendedor de passados. Rio de Janeiro: Gryphus, 2006. ___________. Teoria geral do esquecimento. Rio de Janeiro: Foz, 2012. ___________. “Em tempos de construção de muros, os livros são nossas pontes”. [05 de jun. de 2019]. São Paulo: Entrevistas Fronteiras do Pensamento. Disponível em: www.fronteiras.com. Entrevista concedida à Braskem. BHABHA, Homi K. O local da cultura. Tradução de Myriam Ávila, Eliana Lourenço de Lima Reis, Gláucia Renate Gonçalves. 2. ed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2013. BORGES, Jorge Luis. “O jardim de veredas que se bifurcam”. In: Ficções – Obras completas de Jorge Luis Borges Volume 1. Tradução de Carlos Nejar. São Paulo: Globo, 1999. BRAIT, BETH. A personagem. São Paulo: Ática, 1985. CALVINO, Italo. Se um viajante numa noite de inverno. Tradução de Nilson Moulin. São Paulo: Planeta De Agostini, 2003. __________. Seis propostas para o próximo milênio: lições americanas. Tradução de Ivo Barroso. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. ECO, Humberto. Seis passeios pelos bosques da ficção. Tradução de Hildegard Feist. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. FUENTES, Carlos. Geografia do romance. Tradução de Carlos Nougué. Rio de Janeiro: Rocco, 2007. GENETTE, Gérard. Paratextos editoriais. Tradução de Álvaro Faleiros. Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2009. – (Artes do livro: 7) HENRIQUES, Joana Gorjão. Racismo em português: O lado esquecido do colonialismo. 1. ed. Rio de Janeiro: Tinta-da-china Brasil, 2017. HUTCHEON, Linda. Poética do pós-modernismo: história, teoria, ficção. Tradução de Ricardo Cruz. Rio de Janeiro: Imago Ed., 1991. JORGE, Sílvio Renato. “Demandas de um mundo contemporâneo: Agualusa, paixão e a escrita da fronteira”. In: CHAVES, Rita; MACÊDO, Tânia; VECCHIA, Rejane (org.). A kinda e a misanga: encontros brasileiros coma literatura angolana. São Paulo: Cultura Acadêmica; Luanda, Angola: Nizia, 2007. KUNDERA, Milan. A insustentável leveza do ser. Tradução de Teresa B. Carvalho da Fonseca. São Paulo: Círculo do Livro S. A., 1984. SILVA, Renata Flavia da. Quatro passeios pelos bosques da ficção angolana. Rio de Janeiro: UFRJ/FL, 2008. Tese (Doutorado em Letras Vernáculas) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Letras, Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas, Rio de Janeiro, 2008. Disponível em: livros01.livrosgratis.com.br. Acesso em: 20 jan. 2020. IDENTIDADE E MEMÓRIA ALÉM DO TEMPO: UMA ANÁLISE DO PERSONAGEM NIMI NSUNDI EM O OUTRO PÉ DA SEREIA, DE MIA COUTO Brigida Priscila Neves Deramio Resumo: O escravo Nimi Nsundi, mesmo religioso e devoto aos costumes cristãos, resgata a identidade de seu povo, rememorando seus princípios religiosos, pois é em virtude dessa conexão de reminiscência com o passado que Nsundi nota que a Virgem é Kianda, presa em um corpo escultural. Sendo assim, é levado por esse questionamento identitário e impulsivo que o escravo amputa o pé da santa pretendendo salvá-la dos homens e devolvê-la ao seu princípio – as águas, que, segundo ele, era onde a santa/deusa gostaria de ficar. Segundo Aleida Assmann, o conceito de memória está atrelado ao tempo e as feridas não são curadas por meio da recordação, mas sim, aliviadas. Nesse sentido, o personagem vive conflitos interiores relacionados ao seu princípio moral – ele é passageiro escravizado da nau Nossa Senhora da Ajuda e encarregado de prezar pela Santa. Por esse motivo, e devoção a ela leva-o a ser questionado sobre seus próprios costumes religiosos, ressignificando, sobretudo, a questão da identidade e da recordação. A presente proposta de comunicação pretende discutir o processo de identidade enraizado através do reconhecimento e memória do personagem em questão, cujas imagens são fortalecidas na referida obra influenciando o ato de reconhecer-se além das práticas e viajar para dentro de si. Para isso, a comunicação pretende utilizar teóricos como Stuart Hall, Aleida Assmann, Márcio Seligmann-Silva e Homi K. Bhabha. Referências: ASSMANN, Aleida. Espaços da recordação: formas e transformações da memória cultural. Campinas: Ed. Unicamp, 2011. BHABHA, Homi K. O local da cultura. Belo Horizonte: Ed. Ufmg, 2001. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade; tradução Tomaz Tadeu da Silva, Guarcira Lopes Louro. 11ª. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2006. SILVA, Márcio Seligmann-. O local da diferença: ensaios sobre memória, arte, literatura e tradução. São Paulo: Editora 34, 2005. CADERNO DE MEMÓRIAS COLONIAIS, DE ISABELA FIGUEIREDO, SOB A ÓTICA DO ROMANCE HISTÓRICO Bruno Messias dos Santos Resumo: O estudo examina a dimensão histórica do romance Caderno de Memórias Coloniais (2018), de Isabela Figueiredo, a partir dos pressupostos teóricos de György Lukács (2011) e Seymour Menton (2003), entre outros. A narrativa consiste em memórias autobiográficas da infância da autora nos anos 60 e 70 em Lourenço Marques, capital de Moçambique, e do início de seu exílio em Portugal, em 1975. Lukács postula que o romance histórico escreve a história como o fluxo de metamorfoses das condições sociais e políticas de uma nação. As personagens são arquétipos das classes em conflito na dinâmica nacional e as tramas estampam o choque entre elas. O teórico húngaro toma os romances de Walter Scott, publicados na primeira metade do séc. XIX no sistema literário inglês, como modelo ideal do gênero. Mentón verifica que o romance histórico contemporâneo é multifacetado e pode recusar rigores da forma clássica, a formulada por Lucáks. O vetor estético e ético daquele é o esfacelamento da história erguida pelas classes dominantes, em um viés pós-colonial. Caderno de Memórias Coloniais desenha as tensões raciais permeando o fim da colonização em Moçambique e o lugar que os colonos foram inseridos após a independência política, destituídos da posição de escravizador. A protagonista refugia-se em Portugal devido ao cenário hostil às famílias brancas. Na Europa, enfrenta o estigma de ser uma “retornada”. O romance de Isabela Figueiredo incorpora marcas de variados gêneros, incluindo até mesmo retratos visuais. A forma clássica do romance histórico é um estrato significativo das complexas malhas discursivas da obra, por espelhar mudanças da vida coletiva promovida por forças nacionais. A desmistificação irônica e ácida das ideologias e práticas colonizadoras a assemelha ao romance histórico contemporâneo. Referências: AÍNSA, Fernando. Reescribir el Pasado- Historia y Ficción en América Latina. Mérida: El Otro El Mismo, 2003. ANDERSON, Perry. “Trajetos de uma forma literária”. Tradução de Milton Ohata. Novos estudos CEBRAP. São Paulo, nº 77, pp. 205-220, 2007. BERGAMO; Edvaldo A. ; CANEDO, Rogério; LEITE, Ana Mafalda. “Romance Histórico: notícia de um atlas literário incompleto”. In: BERGAMO; Edvaldo A. ; CANEDO, Rogério; .LEITE, Ana Mafalda. A Permanência do Romance Histórico: Literatura, Cultura e Sociedade. São Paulo: Intermeios, 2021. CABAÇO, José Luis de Oliveira. Moçambique: identidades, colonialismo e libertação. Tese (Doutorado em Antropologia Social) – Programa de Pós Graduação em Antropologia Social, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007 DUARTE, Samuel Correa; FIGUEIREDO, César Alessandro. “A luta armada em Moçambique e a construção de uma nação”. Tensões Mundiais, Fortaleza, v. 16, n. 31, p. 121-142, 2020 FIGUEIREDO, Isabela. Caderno de Memórias Coloniais. São Paulo: Todavia, 2018. LUKÁCS, György. O Romance Histórico. Tradução: Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo, 2011. MENTON, S. La nueva novela histórica de la América Latina, 1979- 1992. México: FCE, 1993. PIMENTA, Fernando Tavares. “A Revolução de 25 de Abril de 1974 em Moçambique”. CICTEM/ Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2021. pp 149-174. ZILBERMAN, Regina. “O romance histórico- teoria e prática”. In: BORDINI, Maria da Glória (org.). Lukács e a literatura. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2003, p. 109-14. TEORIA GERAL DO ESQUECIMENTO, DE JOSÉ EDUARDO AGUALUSA: UM DIÁLOGO ENTRE FICÇÃO E HISTÓRIA Christiane G Reis Resumo: Resumo: Este trabalho tem como objetivo analisar a obra Teoria geral do esquecimento a partir da interseção de fronteiras entre história e ficção, já que a trama se desenvolve em Angola, durante duas longas guerras e outros conflitos de grande importância para esse país. Por tal motivo, refletirá acerca das diferenças existentes entre o que narra a ficção, os livros de historiografia e os de não-ficção, pois há eventos históricos de grande relevância para as trajetórias das personagens, por nelas interferirem positiva ou negativamente e aos quais o autor faz menção e/ou ficcionaliza: a Revolução dos Cravos; o retorno dos portugueses à antiga metrópole lusitana, a Independência de Angola, a guerra civil angolana, o golpe ocorrido a 27 de maio de 1977 em Angola e a transição do comunismo ao capitalismo, no mesmo país. Por tudo isso, podemos dizer que Agualusa revisita o passado e flerta com o real enquanto cria sua obra, e esse processo de reescrever a história da nação por meio da ficção aponta naturalmente para um papel de afirmação cultural que a literatura foi chamada a desempenhar. É necessário ressaltar que boa parte da história angolana se encontra numa espécie de caixa-preta ainda não aberta e, por tal razão, uma das alternativas encontradas a fim de problematizar a história foi a via do romance, onde vamos nos deparar com os caminhos da memória e perceber que mecanismos são acionados com o objetivo de resgatar o ora enfumaçado trajeto de alguns países africanos. Referências: Rita Chaves, Maria Teresa Salgado, Linda Hutcheon e Maurice Halbwachs. UMA CRÍTICA DECOLONIAL DA OBRA DE MONTEIRO LOBATO E SUA ABORDAGEM NA EDUCAÇÃO BÁSICA Cosme Freire Marins Resumo: Este texto expõe os resultados de um Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Especialização “As Áfricas e suas diásporas”, oferecido pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) em conjunto com a Universidade Aberta do Brasil (UAP), concluído em 2022. Ele tem o objetivo de propor a reflexão sobre a abordagem das obras de Monteiro Lobato na Educação Básica, em especial nas aulas de História. A análise do passado é realizada a partir de fontes históricas compostas por diversas modalidades, distintos gêneros, diferentes suportes e pela pluralidade de vozes e autores. O processo histórico é um campo de disputas em que diversos sujeitos buscam fazer valer seus interesses, visões de mundo, concepções ideológicas e aspirações. O currículo de história deve contemplar esses aspectos no processo pedagógico. Assim, observa-se que atualmente há um esforço significativo visando à construção de narrativas decoloniais. Nesse contexto, houve a reivindicação de que a obra de Monteiro Lobato não fosse abordada nas escolas em razão de seu conteúdo racista, o que causou grande repercussão nos anos 2010. A reflexão proposta vai em sentido oposto, apresentando possibilidades de abordagem da obra daquele autor a partir da discussão sobre a escrita da História, a memória e as consequentes disputas ideológicas que ocorrem em torno dela. Referências: ALMEIDA, Silvio. Racismo estrutural. São Paulo: Jandaíra, 2020. ANDRADE, Mário de. Cocos. Preparação, ilustração e notas de Oneyda Alvarenga. São Paulo: Duas Cidades; Brasília: INL, Fundação Nacional Pró-Memória, 1984. BOURDIEU, Pierre. Os usos sociais da ciência: por uma sociologia clínica do campo científico. Trad. Denice Barbara Catani. São Paulo: Editora Unesp, 1997. BRITO, Mário da Silva. História do modernismo brasileiro: antecedentes da Semana de Arte Moderna. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1997. FERREIRA, Leonardo da Costa. Lobato versus Pires: uma discussão sobre o lugar do caipira no futuro da República. 2008. Disponível em: http://encontro2008.rj.anpuh.org/resources/content/anais/1212359049_ARQUIVO_CaipiraAnpu h.pdf. Acesso em: 23 mar. 2022. HOBSBAWM, Eric. A era dos impérios (1875-1914). Rio de janeiro: Paz e Terra: 1992. LE GOFF, Jacques. História e Memória. Campinas, SP: Edunicamp, 1992. LOBATO, José Bento Monteiro. A Ressureição. Disponível em: https://onlinecursosgratuitos.com/jeca-tatu-ressurreicao-conto-de-monteiro-lobato/. Acesso em: 23 mar. 2022. LOBATO, José Bento Monteiro. Histórias de tia Nastácia. Brasiliense: São Paulo. 1995. LOBATO, José Bento Monteiro. Urupês In: _____. Urupês. São Paulo: Brasiliense, 1994. MARINS, Cosme Freire. Jeca Tatu e a representação do caipira: discussão sobre a abordagem de obras literárias em aulas de história. In: MARINS, Cosme Freire; CHRISTOFO-LETTI, Rodrigo (Orgs.). Urdiduras de Ariadne: contribuições da história cultural aos labirintos do patrimônio, linguagens e movimentos sociais. São Paulo: Desconcertos, 2020. MARINS, Cosme Freire. Mosaico da identidade nacional: as representações do Brasil entre alunos de uma escola pública. São Paulo, 2008 – Dissertação (Mestrado em Educação). Faculdade de Educação – Universidade de São Paulo. MICELI, Sérgio. Intelectuais à brasileira. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. MORAES, Eduardo Jardim de. A brasilidade moderna: sua dimensão filosófica. Rio de Janeiro: Graal, 1978. NATÁLIA, Lívia. Intelectuais escreviventes: enegrecendo os estudos literários. In: DU-ARTE, Constância Lima; NUNES, Isabella Rosado Orgs.). Escrevivência: a escrita de nós: reflexões sobre a obra de Conceição Evaristo. Rio de Janeiro: Mina Comunicação e Arte, 2020. SILVA, Vivian Stefanne Soares. O negrismo na literatura infantojuvenil de representação africana. Circulação, tramas e sentidos na literatura. 2018, pp. 2851-2859. Disponível em: https://abralic.org.br/anais/arquivos/2018_1547730373.pdf. Acesso em: 20 mar. 2022. VELOSO, Mariza; MADEIRA, Angélica. Leituras brasileiras: itinerários no pensamento social e na literatura. São Paulo: Paz e Terra, 1999. UMA ECONOMIA DE AFETOS COLONIAIS: A MEDIAÇÃO DE IDENTIDADES SUBALTERNIZADAS EM LUANDA, LISBOA, PARAÍSO, DE DJAIMILIA PEREIRA DE ALMEIDA Daniel Marinho Laks Resumo: Stuart Hall, em Da Diáspora: Identidades e Mediações Culturais, discute o conceito de pós-colonial a partir da ideia de uma tensão produtiva entre temporalidade e episteme. A dupla inscrição do conceito possibilita pensar não apenas os efeitos econômicos e políticos dos processos de colonização e descolonização, mas suas influências nas tecnologias de produção de identidades individuais e coletivas. A presente proposta de comunicação pretende discutir a forma como o romance Luanda, Lisboa, Paraíso, de Djaimilia Pereira de Almeida, ficcionaliza personagens cujas subjetividades são marcadas pelas dinâmicas coloniais, representando um colonial que sobrevive através dos seus efeitos secundários. As marcas da colonização aparecem no romance, não apenas nas dimensões materiais da existência, mas também nas esferas subjetivas da vida social dos personagens. Dessa forma, a análise pretende refletir, a partir do romance de Djaimilia Pereira de Almeida, sobre como o processo de colonização deixou marcas no agenciamento das afetividades, tanto coletivas quanto individuais, em três conjuntos de relações específicas: as relações com o poder e com as normas impostas; as relações com o grupo de pertencimento e com os outros; as identidades individuais. Para isso, a comunicação pretende utilizar teóricos como Stuart Hall, Anibal Quijano, Boaventura de Sousa Santos e Pierre Ansart. Referências: ALMEIDA, Djaimilia Pereira de. Luanda, Lisboa, Paraíso. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. ANSART, Pierre. A Gestão das Paixões Políticas. Curitiba: Editora UFPR, 2019. HALL, Stuart. Da Diaspora: Identidades e Mediações Culturais. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003. QUIJANO, Anibal. Colonialidad del poder y clasificación social. Journal of World-Systems Research, V. 2, 2000. SANTOS, Boaventura de Sousa. A Gramática do Tempo: Para uma nova cultura política, Vol 4. São Paulo: Cortez, 2010. A MAIORIDADE DA INFÂNCIA: UM OLHAR SOBRE AS DUAS DÉCADAS DE PRODUÇÃO ONDJAKIANA Diana Gonzaga Pereira Resumo: A memória e os seus aproveitamentos políticos tem sido assunto para rentosas discussões há tempos, sobretudo, a partir da segunda metade do século do século XX. Optar por lembrar ou esquecer é uma ferramenta valiosa quando se quer moldar presente e futuro. No contexto pós independência, em Angola, onde tudo deve ser repensado e refeito, a memória se mostra, mais uma vez com eficiente valor e, neste sentido, a literatura produzida neste período, de igual maneira, aponta direções, resgata espaços e registra as entrelinhas que, frequentemente, importam mais do que o pano central. Neste sentido, muito já se discutiu sobre as obras do angolano Ondjaki, bastante conhecido por recorrer à memória da infância e por denunciar, através da aparente ingenuidade, as condições e consequências da guerra em seu país. É com esse pensamento em vista que esta proposta se delineia. O que se pretende, entretanto, não é uma análise de alguma de suas obras, mas pensar como os 21 anos desde a publicação de Bom dia camaradas, se configuraram no cenário literário atual, sobretudo, no que diz respeito às obras consideradas infanto-juvenis. Questões como a possibilidade da memória individual, a memória histórica, a pós memória, e outras, de ordem literária, como o gênero infanto-juvenil e seus desmembramentos ao longo dessas duas décadas de produção e a auto ficção, por exemplo, serão abordados a partir da produção do autor. Para isso, os estudos de Benjamin, Agamben, Candido, Chaves, Macêdo, dentre outros, serão de grande contribuição. Referências: AGAMBEN, Giorgio. O que é o contemporâneo? e outros ensaios. Tradução de Vinícius Nicastro Honesko. Chapecó: Argos, 2009. ANDERSON, B. Affective atmospheres. Emotion, Space and Society, Elsevier, v. 2, p. 77-81, 2009. BENJAMIN, W. O narrador: considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. In: Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense, 1994, p. 197- 221. CANDIDO, Antonio. Literatura e Sociedade: Estudos de Teoria e História Literária. 10. ed. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2008. CHAVES, Rita. A formação do romance angolano. Entre intenções e gestos. São Paulo: Universidade de São Paulo, Via Atlântica, 1999. ______. O passado presente na literatura angolana. In: ______. Angola e Moçambique: experiência colonial e territórios literários. São Paulo: Ateliê Editorial, 2005. MACÊDO, Tania. Luanda, cidade e literatura. São Paulo: Editora Unesp; Luanda (Angola): Nzila, 2008. SARLO, B. Tempo passado: cultura da memória e guinada subjetiva. São Paulo/Belo Horizonte: Companhia das Letras/UFMG, 2007. A INFÂNCIA EM ONDJAKI: POTENCIALMENTE HISTÓRICA E AFETIVA Elisangela Silva Heringer Resumo: Na relação entre História e Literatura, observa-se nas produções literárias pós-coloniais a inserção de vozes que promovem um olhar para a História da nação em que se desenvolvem por outros prismas e vieses, convocando para isso, muitas vezes, as vozes marginais da sociedade. É nesse contexto que algumas narrativas elegem a infância e os personagens infantis como elementos capazes de propor leituras revisionistas e problematizadora do contexto histórico e social em que estão inseridos narrativamente. O efeito dessa presença de crianças e de espaços infantis nas produções artísticas aponta para as vozes que, outrora descredenciadas de uma suposta competência analítica histórica, emergem como as que agora, poética e criticamente, são detentoras de um olhar e de uma capacidade de falar por si e de si que, sem perder as vicissitudes e especificidades do ser infantil e da infância, questionam o discurso histórico oficial e expõem uma outra e por vezes ignorada realidade histórica, social e cultural que afeta esse grupo da sociedade. As narrativas do escritor angolano Ondjaki, especificamente, “A bicicleta que tinha bigodes”, “Uma escuridão bonita” e “Os da minha rua", considerando essas relações, permitem, por meio da presença de uma narrador infantil, ocupando e trazendo a infância para o espaço central do texto literário, analisar novas formas de desenhar o espaço do infantil em uma leitura da História de Angola contemporânea e também novas formas de pensar o sujeito histórico infante através de uma escrita marcada por afeto, sensações, questionamento e (re)construções. Esses conduziriam a um reposicionamento da infância, sobretudo pelo afeto, segundo defende Spinoza, frente aos processos narrativos que trazem para a ficção a história angolana. Referências: ONDJAKI. A bicicleta que tinha bigodes. Rio de Janeiro: Pallas, 2012. __________. Avódezanove e o segredo do soviético. São Paulo: Companhia das letras, 2009. __________. Os da minha rua. Rio de Janeiro: Língua Geral, 2007. __________. Bom dia camaradas. Rio de Janeiro: Agir, 2006. SARMENTO, Manuel Jacinto. “As culturas da infância nas encruzilhadas da 2ª modernidade”. SECCO, Carmem Lúcia Tindó. Afeto e poesia: ensaios e entrevistas: Angola e Moçambique. Rio de Janeiro: Oficina Raquel, 2014. In: ____________________ e CERISARA, A.(org) Crianças e miúdos: perspectivas sociopedagógicas sobre infância e educação. Porto: Asa, 2004, p. 09-34 SPINOZA. Ética. Tradução Thomaz Tadeu. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2009. VASCONCELLOS, Tania de. “Infância e narrativa”. In: __________________________.: Reflexões sobre infância e cultura. Niterói: EDUFF, 2008. pp 93-126. O DURANTE E O DEPOIS: MARCAS DA GUERRA NO GUERRILHEIRO/SOLDADO EM MAYOMBE E OS CUS DE JUDAS Emanuelle Antunes Valente Resumo: Este trabalho tem por objetivo realizar uma análise comparada entre dois romances pós-coloniais, revelando as marcas que a guerra colonial em Angola deixou em seus participantes ativos, os guerrilheiros angolanos e os soldados portugueses; marcas estas que não necessariamente são físicas, muitas delas sendo psicológicas, incitando traumas que os acompanha pelo resto de suas vidas. A metodologia se baseia em uma análise comparativa seguindo os pressupostos da literatura comparada a partir de Tânia Carvalhal (2006), possibilitando a análise de um corpus constituído pelos romances Mayombe (2018), obra publicada em 1980, do autor angolano Pepetela, e Os Cus de Judas (2003), publicado em 1979, do autor português António Lobo Antunes. As narrativas selecionadas para esta pesquisa possuem um tema em comum: a guerra colonial em Angola, assim como o fato de que os seus autores vivenciaram esta guerra, estabelecendo, dessa forma, um paralelo entre literatura e história, realizando uma reconstrução histórica por meio da ficção, mesmo que a predominância seja de um discurso androcêntrico. O enfoque da análise desta pesquisa se dá em relação às experiências dolorosas da guerra que afetam as trajetórias das personagens, Sem Medo de Mayombe, e Narrador-personagem de Os cus de Judas; ressaltando que o primeiro ainda está vivenciando a violência e angústia e o segundo está recordando os horrores da guerra, colocando, assim, os romances em diferentes perspectivas, mas com paralelos emergentes acerca das marcas que uma guerra pode deixar no indivíduo. Referências: ABDALA JR, Benjamin. Literatura, história e política: literaturas de língua portuguesa no século XX. São Paulo: Ática, 1989. AMORIM, Cláudia Maria de Souza. Estilhaços de guerra na obra de Lobo Antunes e Pepetela. 2006. Tese (Doutorado) - Programa de Pós-Graduação em Letras, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006. ANTUNES, António Lobo. Os cus de Judas. Rio de Janeiro: Objetiva, 2003. CARVALHAL, Tânia Franco. Literatura Comparada. 4.ed. ver. e ampliada. – São Paulo: Ática, 2006. PEPETELA. Mayombe. 2ª Ed. – Rio de Janeiro: LeYa, 2018. MEMÓRIA HORRIPILANTE: RELÍQUIA E TRADIÇÃO NA POÉTICA DE ODETE SEMEDO Eusébio Djú Resumo: Odete Semedo expressa, em sua poética, o seu apego à tradição cultural, reescrevendo as práticas culturais, memórias ancestrais inesquecíveis, desnudando os fatos horríveis e sangrentos que representam as atrocidades ocorridas durante a guerra civil guineense. Revela um país que sofreu com os destruidores da memória coletiva e do conhecimento cultural com a imposição de uma prática arquitetônica social longe da expressão de um povo. Esses elementos são o objeto deste trabalho, cujo objetivo é analisar sua poética para entender como ela tece os elementos da tradição cultural guineense, a memória da guerra civil de 1998-1999 e o processo colonial. Como critério metodológico, ancoramo-nos em Augel (2007), quando considera que Odete Semedo, com sua arte, ressignifica poeticamente uma realidade multifacetada de seu país, em sua complexidade cultural, seus costumes, suas tradições, sua memória coletiva, conforme Ricoeur (2007). Ela revela a situação melancólica, denuncia a perversidade do processo colonial, apela à unidade para a reconstrução do país. Comenta as aspirações do povo e a extensão da dor, as cicatrizes mal cicatrizadas, aponta o mal que aconteceu, o erro do passado e o mal-estar causado pela guerra no país. Odete Semedo usa uma linguagem poética desvinculada do cânone literário, assume a voz do povo para verbalizar os sinistros erros governamentais, misturando crioulo guineense e português com o uso de tropos, hipérbole e metonímia, aliteração, pleonasmo, verso livre ou heterométrico. Destina-se a informar o seu leitor sobre eventos passados, presentes e futuros, destacando e situando sua crítica poética nos aspectos sociopolíticos e culturais. Enfim, este trabalho visa contribuir para a divulgação da literatura de língua portuguesa produzida na África, sobretudo a de Guiné-Bissau, ainda pouco conhecida e estudada no Brasil. Referências: AUGEL, Moema Parente. O desafio do Escombro: nação, identidades e póscolonialismo na literatura da Guiné-Bissau. Rio de Janeiro : Garamond, 2007. HALBWACHS, Maurice. Les cadres sociaux de la mémoire. Paris: Felix Alcan, 1925. HAMPÂTÉ BÂ, Amadou. A tradição viva. In: História geral da África, VIII: África desde 1935 / editado por Ali A. Mazrui e Christophe Wondji. – Brasília: UNESCO, 2010. KRELL, David Farrel. Of Memory, Reminiscence, and Writing: On the Verge. Bloomington: Indiana University Press, 1990. LEITE, Ana Mafalda. Oralidades & escritas nas literaturas africanas. Lisboa: Colibri, 1998. LEITE, Joaquim Eduardo Bessa da Costa. A literatura guineense: contribuição para a identidade da nação. 2015, p. 326 f. Tese (doutorado em Letras, área científica – Línguas e Literaturas Modernas; Especialidade de Literaturas dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa) - Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Portugal, 2014. RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Campinas, SP: Unicamp, 2007 Entre o ser e o amar. Bissau: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (INEP), 1996. SEMEDO, Odete Costa. No Fundo do Canto. Belo Horizonte: Nandyala, 2007. O MAR COMO TEMÁTICA NAS OBRAS DE SOPHIA DE MELLO BREYNER E CESÁRIA ÉVORA Everson Nicolau de Almeida Resumo: Através da milenar relação entre música e poesia, podemos observar a materialização de cosmovisões e discursos de povos distintos que foram colocados em contato em diversos momentos da história da humanidade. Nesse sentido, a palavra poética, materializada em textos que nos chegam através da oralidade e da escrita, apresenta e representa memórias ligadas aos processos históricos e culturais que nos ajudam a refletir a respeito da formação das identidades de alguns países. Considerando essas observações preliminares, o objetivo desta comunicação é analisar a maneira pela qual a representação do mar se estabelece em um recorte das obras da poeta portuguesa Sophia de Mello Breyner Andressen (1919-2004) e da cantora caboverdiana Cesária Évora (1941-2011). A fim de que a proposta se desenvolva, os estudos de intertextualidade nortearão este trabalho. Desse modo, almeja-se compreender os recursos composicionais específicos utilizados nos textos de cada uma das duas mulheres que expressaram através da palavra, cada uma a seu modo, impressões sobre o mar, entendido como espaço geográfico, elemento ligado à memória e a distintos sentimentos em suas obras. Nessa perspectiva, busca-se compreender de que maneira as produções culturais analisadas neste trabalho abarcam aspectos históricos de Portugal e de Cabo Verde, considerando a complexidade específica de cada contexto de produção. Referências: ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner. Obra poética. Lisboa: Assírio & Alvim, 2015. ARISTÓTELES. Poética. Tradução: Ana Maria Valente. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 2004. BAKHTIN, Mikhail. Estética da Criação Verbal. Tradução: Paulo Bezerra. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2011. BAKHTIN, Mikhail. Problemas da poética de Dostoiévski. Tradução: Paulo Bezerra. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2011. ÉVORA, Cesária. Anthologie / Mornas & Coladeras. Cabo Verde: Lusafrica, 2011. KRISTEVA, Julia. Introdução à semánalise. Tradução: Lúcia Helena França Ferraz. 3. ed. São Paulo: Perspectiva, 2012. SAMOYAULT, Tiphaine. A intertextualidade. Tradução: Sandra Nitrini. São Paulo: Hucitec, 2008. VOLÓCHINOV, Valentin (Círculo de Bakhtin). Marxismo e filosofia da linguagem: Problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. Tradução: Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo. São Paulo: Editora 34, 2017. CLARA DOS ANJOS: DIMENSÕES SOCIAIS A PARTIR DO ENLACE ENTRE LÍNGUA E LITERATURA Hilma Ribeiro de Mendonça Feerreira Resumo: A leitura do texto literário, para além de abordagens estilísticas, pode ser um caminho para a reflexão sobre o uso da língua para determinados fins. No caso do romance Clara dos Anjos, que respalda a constituição suburbana carioca do início do século, os recursos linguísticos/discursivos podem ser vistos para o propósito nuclear de Lima Barreto: o da constatação dos valores assumidos na sociedade carioca, que ainda perduram de forma viva e contínua. A análise dos componentes gramaticais, nesse sentido, pode constituir intersecção de língua e literatura, de modo a sedimentar alguns postulados básicos para a prática docente, tendo em vista uma visão mais abrangente para a retomada das questões do autor. Nesta comunicação, proponho dimensionar caminhos para análise de um componente importante na construção dos sentidos, tendo em vista o seu papel discursivo: o dos sintagmas nominais, que culminam com a constatação do papel social da mulher negra/pobre para uma leitura da sociedade de época segundo o autor. A partir das reflexões que serão ensejadas, preconizo postulado básico da linguagem em sua ancoragem sócio interacionista, cuja perspectiva coaduna-se à reflexão da literatura, bem como da questão de classe e raça na nossa sociedade, como postulada por autores como Nascimento (2016), Souza (2017) e Evaristo (2005). Para as caracterizações dos sintagmas na perspectiva do ensino, recorro à descrição desse componente a partir de Bakhtin (1997), Geraldi (1984) e Koch e Travaglia (1989). Referências: BAKTHIN, Mikhail Mikhailovitch. Estética da Criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1997. BARRETO, Lima. Clara dos Anjos. São Paulo: Martin Claret, 2003. CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. 3 ed. de acordo com a Nova, 2001. EVARISTO, Conceição. Gênero e etnia: uma escre(vivência) de dupla face. In: MOREIRA, Nadilza Martins de Barros; SCHNNEIDER, Liane. Mulheres no mundo: etnia, marginalidade e diáspora. João Pessoa: Ideia, 2005. p. 201-212. 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UM ÁLBUM DE PALAVRAS: RELAÇÕES DA OBRA "ESSE CABELO", DE DJAIMILIA PEREIRA DE ALMEIDA, COM A FOTOGRAFIA Isabela Lapa Silva Resumo: A comunicação busca abordar a relação da narrativa Esse cabelo (2017), da autora lusoangolana Djaimilia Pereira de Almeida, com a fotografia. No livro, que é um percurso pelas memórias de Mila, uma mulher negra, e sua família interracial, de várias nacionalidades, é constituída em torno de várias imagens. Estas surgem em menções às fotografias, das várias fases da narradora e de seus parentes. Além dessa visualidade que emerge do texto, como folhear um álbum de imagens escritas, há duas fotografias que aparecem interrompendo o fluxo da narrativa — fotografias que revelam marcas de um tempo, de episódios externos ao livro, mas que se relacionam com ela. Logo, a obra é constituída em torno de imagens, reminiscências da memória e arquivos pessoais da narradora, e também reflete sobre o gesto de “tirar fotos” e a relação destas com o tempo e a memória. Assim, busca-se ressaltar essa escrita a partir de imagens, tomando como base, sobretudo, as discussões de Natalia Brizuela (2018) a respeito da fotografia narrativa e da análise de Alice Girotto (2021) sobre o tema do autorretrato na obra em questão. Além disso, procura-se contextualizar essas imagens no Portugal da década de 80 e 90, partindo dos estudos da história desse país e dos modos como este se relaciona com o seu passado, de Eduardo Lourenço (2016) e Margarida Calafate Ribeiro (2018); assim como estudos de raça, gênero e cultura visual, com base em Grada Kilomba (2019) e bell hooks (1995); e, por fim, estudos sobre memória e pós-memória de Halbwachs (1985) e Marianne Hirsh (2012). A partir disso, almeja-se demonstrar como a obra se constrói nessa relação com imagens, entendidas como fonte de sentidos na história pessoal de Mila e também como testemunhos de um tempo. Referências: HALBWACHS, Maurice. Memória individual e memória coletiva. In: ALVES, Fernanda Mota; SOARES, Luísa Afonso; RODRIGUES, Cristiana Vasconcelos (Orgs.). Estudos de memória: teoria e análise cultural. Braga: Edições Húmus, 2016, p. 17-50. GIROTTO, Alice. “Os álbuns despenteados” em Esse cabelo de Djaimilia Pereira de Almeida. MATLIT: Materialidades Da Literatura, [S.l.], v. 9, n. 1, p. 185-198, nov. 2021, Fotolivros de Literatura: Teoria e História, 2021. Disponível em: https://impactum-journals.uc.pt/matlit/article/view/9760. Acesso em: 28 mar. 2022. BRIZUELA, Natalia. Depois da fotografia: uma literatura fora de si. Rio de Janeiro: Rocco Digital, 2014. E-book. HOOKS, bell. Art on my mind: visual politics. New York: New Press, 1995. Ebook. HIRSCH, Mariannne. The Generation of postmemory: writing and visual culture after the Holocaust. New York: Columbia University Press. 2012. KILOMBA, Grada. Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019. LOURENÇO, Eduardo. O labirinto da saudade. Rio de Janeiro: Tinta-da-China, 2016. RIBEIRO, Margarida Calafate. Viagem na Minha Terra de “outros” ocidentais. In: RIBEIRO, Calafate Margarida; ROTHWELL, Phillip (Orgs.). Heranças pós-coloniais nas literaturas de língua portuguesa. Porto: Edições Afrontamento, 2019, p. 291-307. ENTRE A MEMÓRIA E O ESQUECIMENTO: O (RE) CONTAR DE JOSÉ EDUARDO AGUALUSA João Gabriel Pereira Nobre de Paula Resumo: O presente trabalho tem como objeto de análise dois contos do escritor angolano José Eduardo Agualusa: “Sal e Esquecimento”, texto que compõe o livro Passageiros em Trânsito, lançado de 2006, e “A Educação Sentimental dos Pássaros”, publicado originalmente em obra homônima, no ano de 2011, ambos reunidos no compêndio intitulado Catálogo de Luzes, também de 2011, a reunir alguns de seus melhores contos. Ao aproximar esses textos de Agualusa, tencionamos, num primeiro momento, verificar, estruturalmente, as marcas inerentes à configuração de textos pós modernos, entre as quais podemos destacar o jogo tênue e profícuo entre elementos pertencentes às esferas legitimadas da historiografia àquelas tipicamente fantásticas, a ironia, a metatextualidade e o fim das grandes narrativas mestras. Num segundo momento, interessa-nos estabelecer certa relação dialética entre as instâncias da memória e do esquecimento, destacando o modo pelo qual o escritor, revisitando importantes acontecimentos e personalidades de Angola, apresenta um novo viés que potencializa a experiência do passado, problematizando certos matizes cristalizados e transformando esta mesma experiência em forma de (re) conhecimento de entendimento do presente. Nesse ínterim, encontramos, no primeiro conto supracitado, um curioso e dinâmico painel sobre a figura do político e guerrilheiro Jonas Savimbi, composto pela variedade das perspectivas responsáveis pela condução da narrativa(o escritor e o viés documentário e metatextual, o próprio militar, a mesclar recordações de guerra e elementos insólitos, e Kassandra, filha do governante, a apresentar para o leitor uma faceta paternal; no segundo, somos apresentados ao fotógrafo Carles, que deseja visitar a misteriosa Ilha de Moçambique,e se hospeda na pousada do imigrante Mauro, que desejava, ao mesmo tempo esquecer os erros do passado e ser esquecido. Referências: AGUALUSA, José Eduardo. Passageiros em trânsito – novos contos para viajar. Lisboa: Publicações Dom Quixote. 2006. AGUALUSA, José Eduardo. A educação sentimental dos pássaros. Lisboa: Dom Quixote, 2011. AGUALUSA, José Eduardo. Catálogo de Luzes- os meus melhores contos . Rio de Janeiro, Gryphus, 2013. CHAVES, Rita. O passado presente na Literatura angolana. In: CHAVES, Rita. Angola e Moçambique: experiência colonial e territórios literários. São Paulo: Ateliê Editorial, 2005. FEITOSA, Márcia Manir Miguel . Memória, tradição e escrita em Agualusa: A Angola contemporânea em O Vendedor de Passados. Disponível em: http://periodicoseletronicos.ufma.br/index.php/ricultsociedade/article/view/6266/3821 GONÇALVES,Rosa Maria da Silva. Escrever para (não) morrer em Teoria Geral do Esquecimento, de José Eduardo Agualusa. GONÇALVES, Zetho Cunha. Prefácio a uma antologia do conto angolano. Disponível em : https://www.buala.org/pt/a-ler/prefacio-a-uma-antologia-do-contoangolano HUTCHEON, Linda. Poética do pós modernismo. Rio de Janeiro : Imago, 1988. LOUREIRO, Diana Gonçalves. História do conto angolano: da ruptura à independência. http://repositorio.furg.br/bitstream/handle/1/9625/TESE%20DIANA%20GON%c3%87ALVES%20L OUREIRO.pdf?sequence=1 MASSINGE, Salomão António. Memórias de violência: o testemunho das vozes silenciadas pela memória oficial na narrativa de Ungulani Ba Ka Khosa e José Eduardo Agualusa. MOREIRA, Terezinha Taborda. História, violência e trauma na escrita literária angolana e moçambicana. Cadernos Cespuc. Belo Horizonte, 2015, n.27. Disponível em: http://periodicos.pucminas.br/index.php/cadernoscespuc/article/view/11649/9343 PADILHA, Laura Cavalcante. Entre voz e letra: o lugar da ancestralidade na ficção angolana do século XX. 2ª ed. Niterói: EdUFF; Rio de Janeiro: Pallas Editora, 2007. RICOUER, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Tradução de Alain François {et. al.}. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 2007. SECCO, Carmen Lúcia Tindó. A memória como “lugar de escrita” em dois romances angolanos contemporâneos. "A RAPARIGA DE KIEV": AUTENTICIDADE, AGÊNCIA E REPRESENTAÇÕES DA RÚSSIA EM UM CONTO DE GUSTAVO BARROSO João Marcos Cilli de Araujo Resumo: Tem-se por objetivo apresentar uma leitura de “A rapariga de Kiev” - narrativa que fecha o volume de contos “O bracelete de safiras”, de Gustavo Barroso (1888-1959), publicado em 1931 -, buscando-se salientar como as questões da autenticidade (nos termos apresentados por Marshall Berman em seu “The Politics of Authenticity”[BERMAN, 1972]) e da agência do indivíduo na história são trabalhadas pelo autor. Ademais, com um enredo ambientado no ocaso da Rússia czarista, a obra fornece um importante capítulo na história da representação do país eslavo no corpus do escritor cearense, que dois anos após sua publicação ingressaria na fileiras da marcadamente anti-soviética Ação Integralista Brasileira (AIB) e é considerado por Gomide (2016) “o melhor exemplo brasileiro de certo tipo de apropriação que o pensamento de direita do entreguerras fez dos textos russos, sobretudo os de Dostoiévski”. Assim, busca-se salientar as continuidades temáticas existentes entre a obra ficcional do início da década de 1930 e os trabalhos integralistas do autor, principalmente no que se refere aos elementos apontados autenticidade, agência e Rússia. Para tanto, serão investigadas não só as relações de “A rapariga de Kiev” com outras obras de Barroso, mas, também, suas próprias referências literárias, como o drama “Lorenzaccio”, escrito em 1834 por Alfred de Musset (1810-1857) e apresentado como uma das leituras do herói, Vassili Petrovitch, tenente que, no conto do escritor cearense, usa de sua função para ajudar moças capturadas pelo antagonista a escaparem de seus sádicos anseios libidinosos. Referências: BERMAN, Marshall. The Politics of Authenticity. Nova York: Atheneum, 1972 GOMIDE, Bruno Barreto. Discursos Anticomunistas e a Literatura Russa na Era Vargas. RUS (São Paulo), v. 7, n. 8, p. 52-78, 13 dez. 2016. JOÃO DO RIO E "A RUA": ESPAÇOS DE MEMÓRIA E RESISTÊNCIA CULTURAL Karen De Oliveira Miranda Resumo: No início do século XX verificou-se uma transformação expressiva na vida da cidade do Rio de Janeiro, a ideia era civilizá-la aos moldes europeus. Para tentar uniformizar os comportamentos, regulou-se, por meio de leis e decretos, uma nova postura social. Surgia assim o termo “O Rio civiliza-se”. Nesse contexto de instauração de um novo modelo, a rua passou a apresentar sinais de resistências, através das manifestações culturais e também dos sujeitos que por ela circulavam. Além disso, verificava-se um sentimento de nostalgia que rememoravam vivências através dos espaços da cidade. É nesse âmbito que Paulo Barreto (1881-1921), o João do Rio, surge, produzindo obras que revelavam esse processo. O cronista percorria os espaços, trazendo luz à cultura das ruas que resistia aos novos tempos, ativando a memória dos leitores através das histórias vividas na cidade. Na crônica “A rua” é possível ver um panorama desta modificação e o que ela gerou na vida dos cidadãos. O presente trabalho busca problematiza a presença da rua das crônicas de João do Rio de modo a explorar a relação dos cidadãos com as ruas da cidade e como tal relação foi construída através dos tempos, transpassando gerações, séculos, sistemas governamentais e reformas sociais. Além disso, também fará parte da análise como tal relação cria um espaço de memória para os cidadãos e consequentemente como essa memória cria oportunidades de resistência cultural. Referências: ASSMANN, Aleida. Espaços da recordação.Formas e transformações da memória cultural.Trad. Paulo Soethe.Campinas: Editora da UNICAMP, 2001 BENJAMIN, W. Obras escolhidas III - Charles Baudelaire um lírico no Auge do Capitalismo. São Paulo, Brasiliense, 1987 e 1989. v. 1, 2, 3. HARVEY, David. Paris: capital da modernidade. Tradução de Magda Lopes. São Paulo: Boitempo, 2015. RIO, João do [Paulo Barreto]. A alma encantadora das ruas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, edição especial, 2012. SENNET, Richard. Construir e Habitar: Ética para uma cidade aberta. Tradução: Clóvis Marques. Editora Record.1.ed. — Rio de Janeiro, 2020. SEVCENKO, N. A capital irradiante: técnica, ritmos e ritos do Rio. In: SEVCENKO, Nicolau (Org.). História da vida privada no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2004. v. 3. cap. 7, p. 513620. https://www.academia.org.br/academicos/paulo-barreto-pseudonimo-joaodo-rio/biografia VELLOSO, Mônica Pimenta. Modernismo no Rio de Janeiro: turunas e quixotes.Rio de Janeiro: Editora Fundação Getúlio Vargas, 1996. "SOMOS FILHOS DA GUERRA": TRAUMA E MEMÓRIA EM SE O PASSADO NÃO TIVESSE ASAS, DE PEPETELA Karol Sousa Bernardes Resumo: A obra Se o passado não tivesse asas (2017), do escritor angolano Pepetela, apresentanos Himba e Kassule, personagens ainda adolescentes, que se encontram e que se reconhecem um no outro em um contexto conturbado de Guerra Civil em Angola. Ambos estão marcados por diversos traumas, como o de perderem a família e a casa. De forma alternada às narrativas referentes à Himba e a Kassule, o livro de Pepetela também nos apresenta os irmãos Sofia e Diego, que se situam em um momento posterior em Angola, o pós-guerra, em 2012. Ambos buscam encontrar uma forma de pertencimento ao meio em que estão inseridos. Enquanto ele mantém consigo as memórias e experiências de seu passado, ela, por sua vez, tenta apagar do seu presente o que vivenciou em anos anteriores, como sua infância e adolescência. Com base nisso, as narrativas sobre os quatro se encontram e se entrelaçam, em um movimento que traz à luz novos olhares sobre a guerra e as consequências dela para a vida desses personagens. José Eduardo Agualusa (2013), também escritor angolano, expõe que essa guerra, que por tantos anos assolou Angola, continua a habitar as pessoas. Nesse sentido, busca-se, neste trabalho, explorar, a partir da obra de Pepetela, as relações entre trauma, memória e esquecimento, tendo em vista os contextos de Guerra Civil e o pós-guerra. Para isso, considera-se, dentre outros, o livro Tempo passado: cultura da memória e guinada subjetiva (2007), de Beatriz Sarlo, ressaltando a concepção de que o passado se faz presente. Somado a isso, utiliza-se os estudos de Inocência Mata (2006), como a concepção de que a literatura dá voz àqueles que são colocados à margem da “voz oficial”, e também os trabalhos de Márcio Seligmann-Silva (2000), em que ele indica que o trauma é como uma ferida na memória. Referências: AGUALUSA, José Eduardo. A literatura angolana e a representação da guerra pela independência, da guerra civil e da violência urbana. Revista Diversitas, v. 1, p. 101-05, 2013. BITTENCOURT, Marcelo. A história contemporânea de Angola: seus achados e suas armadilhas. Construindo o Passado Angolano: as fontes e a sua interpretação. Actas do II Seminário Internacional sobre a História de Angola (4 a 9 de agosto de 1997), p. 161-185, 2000. MATA, Inocência. A crítica literária africana e a teoria pós-colonial: um modismo ou uma exigência. Ipotesi. Juiz de fora, v. 10, n. 1, p. 33-44, 2006. PEPETELA. Se o passado não tivesse asas. Rio de Janeiro: Leya, 2017. SARLO, Beatriz. Tempo passado: cultura da memória e guinada subjetiva. Tradução: Rosa Freire D’Aguiar. São Paulo: Companhia das Letras; Belo Horizonte: UFMG, 2007. SELIGMANN-SILVA, Márcio. A história como trauma. In: NESTROVSKI, Arthur; SELIGMANN-SILVA, Márcio (org.). Catástrofe e Representação: ensaios. São Paulo: Escuta, 2000, p. 73-98. A MEMÓRIA E A HISTÓRIA NO ARQUIVO PESSOAL DO ESCRITOR PIAUIENSE FONTES IBIAPINA: DUAS QUESTÕES E UM LEGADO Lueldo Teixeira Bezerra Resumo: Entender o que leva à constituição de um arquivo de escritor, o arquivamento de si da literatura, é movimentar-se pela seara de documentos pessoais, históricos e pactos de confidencialidade que revelam um cenário que, no Brasil, até 1960 era um campo sem dimensões notáveis. Santos (1995), aponta que os acervos são extensões dos autores e os materiais encontrados em seus arquivos assumem o papel de testemunhar a vida escriturária de cada um. Miranda (2003) explica que o elemento de um acervo literário, transportado da memória para o presente, possui valor de reciprocidade uma vez que a lembrança do objeto é vista como algo importante e o objeto contribui para a valorização da lembrança. Os documentos que compõem um arquivo de escritor trazem informações históricas sobre o período de criação da obra/trama, passando a ser de interesse de diferentes áreas, dentre elas a Literatura e a História, contribuindo para a construção da história da literatura, bem como os estudos sobre memória. É a partir dessas considerações que o presente estudo busca refletir sobre o papel do arquivo pessoal do escritor piauiense Fontes Ibiapina, evidenciando a relação da informação e da memória, especialmente no contexto histórico do estado do Piauí. Para tanto, levanta-se a seguinte questão - como o arquivo pessoal do escritor Fontes Ibiapina perpassa a dimensão material, evidenciando o potencial informacional, principalmente no viés da memória? O arquivo aqui estudado encontra-se no Núcleo de Estudos em Memória e Acervo, pertencente à Universidade Estadual do Piauí. O arquivo de Fontes Ibiapina é composto por obras em 1ª edição, jornais, cadernetas, revistas e livros com marginalias escritas pelo próprio escritor. Assim, esta comunicação se faz cabível nas discussões sobre história, literatura, arquivo e memória. Referências: MIRANDA, Wander Mello. Arquivos e memória cultural. In: SOUZA, Maria Eneida de; MIRANDA, Wander Mello (Org.). Arquivos literários. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003. p. 3542. SANTOS, Silvana S. Acervos privados. In: MIRANDA, Wander Mello (Org.). A trama do arquivo. Minas Gerais: Editora UFMG, 1995. p. 105-110. TESTEMUNHOS FEMININOS: MEMÓRIAS DA GUERRA DE LIBERTAÇÃO DA GUINÉ-BISSAU NO CONTO "NEGOCIATAS", DE IDY MBONH Michael de Assis Lourdes Weirich Resumo: Cabe à mulher o relato da guerra? Do ponto de vista dos estudos pós-coloniais, promover a escuta de vozes testemunhais femininas é uma forma discutir a revisão de determinados processos históricos, bem como combater desigualdades que se impõem a partir da concepção de gênero. A presente comunicação tem por finalidade refletir, a partir do conto "Negociatas", de Idy Mbonh, a participação feminina no processo de libertação nacional da Guiné-Bissau. Historicamente, a sociedade guineense está alicerçada a uma estrutura patriarcal de poder, em que a disposição do gênero feminino está limitada à esfera doméstica. Nesse sentido, almeja-se verificar o papel significativo exercido pelas mulheres guineenses no decorrer do movimento pró-independência, cujas funções incluíam desde a organização de reuniões partidárias à atuação efetiva nas operações armadas. No conto, a ação se passa durante a guerra colonial, colocando em cena três moças integrantes ativas no processo de independência, que desempenham as suas atividades na sede o PAIGC, em Conacri. Tendo em vista o discurso memorialístico da narradora, direcionamos a nossa análise para o modo como o traço individual afetivo da memória contribui para uma revisitação crítica do passado, contextualizando o processo histórico de emancipação política do país, assim como oportuniza a valorização de subjetividades femininas. Frente a esse contexto, Mbonh possibilita, por meio da literatura, uma nova forma de olhar determinados eventos já consagrados, com o auxílio de vozes femininas silenciadas pela dita história oficial. Referências: ADICHIE, Chimamanda Ngozi. O perigo de uma história única. Tradução de Julia Romeu. 1.ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. ANSART, Pierre. A gestão das paixões políticas. Tradução de Jacy Seixas. Curitiba, PR: Ed. UFPR, 2019. ARAÚJO, Maria Paula Nascimento & SANTOS, Myrian Sepúlveda dos. "História, memória e esquecimento: Implicações políticas". In: Revista Crítica de Ciências Sociais, 79 | 2007, 95-111. AUGEL, Moema Parente. O desafio do escombro: nação, identidades e pós-colonialismo na literatura da Guiné-Bissau. Rio de Janeiro: Garamond, 2007. BORGES, Manuela. "Educação e gênero: assimetrias e discriminação na escolarização feminina em Bissau". In: MATA, Inocência & PADILHA, Laura Cavalcante. A mulher em África: vozes de uma margem sempre presente. Lisboa: Edições Colibri, 2007. COMITINI, Carlos (Org.). Amílcar Cabral: a arma da teoria. (Coleção Terceiro Mundo; v. n. 4). Rio de Janeiro: Codecri, 1980. GODINHO GOMES, Patrícia. "A Mulher guineense como sujeito e objecto do debate histórico contemporâneo: excertos da história de vida de Teodora Inácia Gomes". In: Africa Development, v. XLI, n. 3, p. 71-95, 2016. GODINHO GOMES, Patrícia. "“As outras vozes”: Percursos femininos, cultura política e processos emancipatórios na GuinéBissau". ODEERE, 1(1), 2016, 121-145. GODINHO GOMES, Patrícia. "Sobre a génese do movimento feminino na Guiné-Bissau: bases e práticas (1961-1982)". GODINHO GOMES, Patrícia, DIOGO, Rosália, DINIZ, Débora, SANTOS, Maria Helena (Orgs.). O que é o feminismo? LisboaMaputo: Editora Escolar, 2015. HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. Tradução de Beatriz Sidou. São Paulo: Vértice, 1990. LE GOFF, J. História e memória. Tradução de Bernardo Leitão... [et al.]. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 1990. MBONH, Idy. "Negociatas". In: Ema vem todos os anos. Guiné-Bissau: Ku Si Mon Editora, 2014. NESTROVSKI, Arthur; SELIGMANN-SILVA, Márcio (Orgs.). Catástrofe e representação: ensaios. Tradução de Cláudia Valladão de Mattos. São Paulo: Escuta, 2000. RIBEIRO, Margarida Calafate; SEMEDO, Odete Costa. Literaturas da Guiné-Bissau: cantando os escritos da história. Porto: Edições Afrontamento, 2011. RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Tradução de Alain François et al. Campinas: Ed. UNICAMP, 2007. SAFATLE, Vladimir. O circuito dos afetos: corpos políticos, desamparo e o fim do indivíduo. 2.ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2018. SANTOS, Myrian Sepúlveda dos. "O retorno do pesadelo: um estudo sobre a luta da memória contra o esquecimento". In: Revista Crítica de Ciências Sociais, 121 | 2020. SODRÉ, Muniz. As estratégias sensíveis: afeto, mídia e política. Petrópolis: Vozes, 2006. MEMÓRIA, HISTÓRIA E FICÇÃO: O PASSADO REVISITADO EM 'MALEITA', DE LÚCIO CARDOSO, E 'NO EXÍLIO', DE ELISA LISPECTOR Nicolas Ferreira Neves Jacintho Resumo: Toda narrativa pressupõe um exercício de rememoração posto que, consoante Paul Ricoeur (2018), há uma relação sobretudo fenomenológica entre o tempo e o ato de narrar. Com isso, os contatos possíveis entre memória e literatura ganham relevo conforme esta age sobre aquela de modo a preencher as lacunas deixadas pelo esquecimento e, assim, ficção e história se imbricam durante o processo de revisitar/reescrever o passado. Na encruzilhada entre o lembrar, o escrever e o esquecer (GAGNEBIN, 2014), a imaginação tem papel fulcral, e, sobre isto, Michael Pickering e Emily Keightley (2012) propõem que exista uma imaginação mnemônica que não só estabelece as fronteiras entre o real e o ficcional, mas também separa a memória própria e a herdada. Esta comunicação tem por objetivo demonstrar como os romances 'Maleita' (1934), de Lúcio Cardoso, e 'No exílio' (1948), de Elisa Lispector, articulam narrativamente a memória com vistas a aproximar história e ficção: em seu primeiro romance, Lúcio Cardoso se aproxima da estética regionalista para revisitar os processos históricos envolvidos na fundação da cidade de Pirapora às margens do rio São Francisco; com isso o romance salienta as várias tensões que se estabelecem entre o discurso modernizador do início do século XX e o passado nacional ligado à colonização e à escravidão. Já Elisa Lispector revisita o passado familiar ao narrar o exílio de uma família de judeus saídos da Ucrânia até sua chegada ao nordeste brasileiro com vistas a tencionar os limites que separam o discurso histórico oficial e a elaboração ficcional da memória. Costumes, geografias e idiomas convertem-se em objetos de memória em ambas as obras, que serão analisadas à luz de Paul Ricoeur (2018), Maurice Halbwachs (2006), Michael Pickering e Emily Keightley (2012) e Jeanne Marie Gagnebin (2014). Referências: BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. Trad. Sergio Paulo Rouanet. São Paulo: Editora Brasiliense, 1987. GAGNEBIN, Jeanne M. Lembrar, escrever, esquecer. São Paulo: Editora 34. HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. Trad. Beatriz Sidou. São Paulo: Centauro Editora, 2017. KEIGHTLEY, Emily; PICKERING, Michael. The mnemonic imagination: remembering as creative practice. Londres: Palgrave Macmillan, 2012. RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Trad.Alain François [et. al.]. Campinas: Editora da Unicamp, 2018. ESSE BRASIL LINDO E TRIGUEIRO: CLICHÊS DE BRASIL NA LITERATURA PORTUGUESA HIPERCONTEMPORÂNEA Paulo Ricardo Kralik Angelini Resumo: Eduardo Lourenço exercita o argumento de que o Brasil é um gigante que ignora sua “matriz portuguesa”. O pensador afirma que os portugueses conhecem melhor o Brasil, ou pensam mais no Brasil do que o contrário, “mas a imagem que têm do Brasil é que é extravagante”. Por extravagância, sublinhamos uma infinidade de imagens que reforçam o clichê e o estereótipo, alimentado com base em um caldeirão de mal-entendidos, de herança colonialista (a lembrar que Boaventura de Sousa Santos conclama a necessidade da descolonização de mentes), acrescidas a ideias que surgem a partir de num plano de contato oriundo da convivência entre portugueses e brasileiros migrantes em Portugal. Assim, surge um país tropical, com praias e natureza exuberante, terra de gente sensual e sempre disposta ao sexo, espaço de fuga ou de descobertas íntimas para os portugueses que por aqui se aventuram, Este trabalho é parte do Projeto de pesquisa de pós-doutoramento “O Brasil dos outros: Representações de Brasil nas narrativas portuguesas do século XXI”, que objetiva identificar e analisar, nas obras de literatura portuguesa, publicadas a partir de 2000, quaisquer referências, implícitas ou explícitas, sobre o Brasil. Para tal, esta comunicação mobiliza autores como Eduardo Lourenço, Boaventura de Sousa Santos, Robert Stam, Homi Bhabha, entre outros, além de passagens de romances portugueses do século XXI nos quais o Brasil está presente. Referências: ADICHE, Chimamanda Ngozi. O perigo de uma história única. São Paulo: Companhia das Letras, 2019 BHABHA, Homi. A outra questão: o estereótipo, a discriminação e o discurso do colonialismo. In: O local da cultura. Trad. Myriam Ávila, Eliana Reis, Gláucia Gonçalves. Belo Horizonte: EdUFMG, 2005. 3ed. BINET, Ana-Maria; ANGELINI, Paulo Ricardo Kralik. Apresentação. Letras de Hoje, Porto Alegre, PUCRS, v. 51, n. 4, p. 447-449, out.-dez. 2016. LOURENÇO, Eduardo. A nau de Ícaro. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. LOURENÇO, Eduardo. Do Brasil, fascínio e miragem. Lisboa, Ed. Gradiva, 2015. SANTOS, Boaventura de Sousa. A cor do tempo quando foge: uma história do presente. Crônicas 1986-2013. São Paulo: Cortez, 2014. SANTOS, Boaventura de Sousa. Para além do pensamento abissal: das linhas globais a uma ecologia de saberes. In: Starling, H.; Almeida, S. Sentimentos do mundo. Belo Horizonte: UFMG, 2009. SOUSA, R. A. S. (2013). A extinção dos brasileiros segundo o conde Gobineau. Revista Brasileira de História da Ciência, Rio de Janeiro, v. 6, n. 1, p. 21-34. STAM, R. Os potenciais da polifonia: reflexões sobre raça e representação. In: Multiculturalismo tropical. Trad. Fernando Vugman. São Paulo: EdUSP, 2008. À SOMBRA DE UM REI BARBUDO: IMAGENS DE FRANCISCO CAMPOS EM UM ROMANCE DE JOSÉ J. VEIGA Rafael Vinicius Costa Corrêa Resumo: Nessa comunicação iremos discutir as possibilidades de leitura do romance de José J. Veiga, Sombras de Reis Barbudos, como uma crítica aos regimes ditatoriais instaurados no Brasil por Getúlio Vargas em 1937 e pelo golpe aplicado em 1964. Tais regimes se instauram sob a pretensa égide da exceção em busca da preservação de um bem maior, com suas respectivas motivações e características, mas com um ator político de valor central na discussão de ambos os períodos: Francisco Campos. O jurista mineiro, ministro da Justiça de Getúlio Vargas e autor do Ato Institucional Nº1 de 1964, acaba demonstrando posição de destaque em ambos os momentos políticos na tentativa de criar uma constitucionalidade para os regimes autoritários no país. Essa figura pública e as ideias que defende se aproximam em muitos aspectos da figura da Companhia no livro Sombras de Reis Barbudos de José J. Veiga, que toma o controle da cidade de Taitara, local onde o narrador adolescente Lucas nos conta a história do romance. A Cia oferece a promessa de melhorias para toda a cidade, mas entrega apenas o cerceamento de um governo autoritário. A crítica especializada lê esse livro de Veiga, junto com boa parte de seus romances, como uma crítica ao regime de opressão instalado pelo governo militar em 1964, procuramos nesse trabalho estender tal pensamento focalizando no ponto de intersecção de ambos os regimes, Francisco de Campos, para pensar a literatura de Veiga como um apelo contra regimes de opressão ao apontar as semelhanças entre as características de ambos os governos brasileiros . Referências: “AS gavetas estão vazias”. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 19 abril 1980, Caderno B, p.11. BARBOSA, Rolmes. “Repentinamente os muros, esses muros”. O Estado de São Paulo, São Paulo, 09 set. 1972. Suplemento Literário, p. 2. BORGES, Miguel. “Capa e contracapa”. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 25 jan. 1967. Segundo caderno, p. 3. BORGES, Jorge Luis. Ficciones. Barcelona: 2011 BRASIL, Assis. “Outros contos de Platiplanto”. Correio da Manhã, Rio de Janeiro 19 maio 1968. 4° Caderno, p. 1. BUENO, Roberto. Francisco Campos e o Conservadorismo Autoritário. Brasília: Senado Federal, 2019. BUENO, Roberto. Francisco Campos e o autoritarismo brasileiro. Um diálogo oculto com Carl Schmitt. Revista de Historia de las Ideas Políticas: v. 19, n. 1, p. 77-98. DANTAS, Gregório Foganholi. O insólito na ficção de José. J. Veiga. Dissertação de Mestrado. Campinas:DTL-IEL-Unicamp, 2002. DE SÁ, Jorge. “Geografia dos medos”. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 29 ago. 1982. Especial, p.5 EAGLETON, Terry. Teoria da literatura: uma introdução. Trad. Waltemir Dutra. 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SANTOS, Rogério Dultra dos. “Circulação e apropriação do conceito de ditadura constitucional no Brasil: Um exame das implicações da obra de Francisco Campos através da História Conceitual”. IN: BUENO, Roberto. Francisco Campos e o Conservadorismo Autoritário. Brasília: Senado Federal, 2019. O ARQUÉTIPO DA FIGURA DO POLÍTICO MALANDRO EM O BEM AMADO E O GRANDE LÍDER Renan da Silva Dalago, Altamir Botoso Resumo: O presente trabalho tem o objetivo de analisar e compreender a importância do arquétipo do malandro na literatura, especificamente em relação à figura do político malandro em O bem amado (1963), de Dias Gomes e O grande líder (1970), de Fernando Jorge. A partir da análise comparativa entre essas duas obras, pôde-se constatar que a figura do malandro é um arquétipo fixo, que se utiliza da malícia, da ginga, da manipulação e do “jogo de cintura” para alcançar aquilo que deseja, transformando-se em uma figura que desvela uma forte crítica social, a qual nos faz perceber o constante movimento entre a política-malandragem na literatura como um reflexo da realidade brasileira. Ambas narrativas mostram políticos malandros que desrespeitam e manipulam a lei e a moralidade visando o benefício próprio, fazendo com que nós leitores questionemos e nos conscientizemos de que a malandragem está enraizada em nosso cotidiano e atinge todas as esferas da sociedade e, em particular, no universo político recriado por Gomes e Jorge. A comparação, portanto, vai além do texto teatral e do romance, uma vez que O bem amado e O grande líder são construções textuais nas quais seus protagonistas parecem sair do âmbito literário e adentrar a realidade de nosso país, pois há por aqui inúmeros Odoricos e Piranhas da Fonseca, em uma imbricação do ficcional e do real, que problematizam o cenário político e os seus representantes. Para o estudo proposto, a fundamentação teórica pauta-se pelos textos críticos realizados por Aguiar (2018), Carvalhal (2006) (1991), Dealtry (2009), Meletínski (2019), González (1994), Goto (1988), Frye (1957), dentre outros. Referências: AGUIAR, Katrícia Costa Silva Soares de Souza. Literatura e cinema em confronto: um estudo interartes ou intermidiático? Revista Papéis. Vol. 22, Nº 44, 2018. CANDIDO, Antonio. Literatura e Sociedade. 9. ed. Rio de Janeiro: Ouro sobre azul, 2006. CARVALHAL, Tânia Franco. Literatura Comparada. 4.ed. rev. e ampliada. - São Paulo : Ática, 2006 CARVALHAL, Tânia Franco. Literatura Comparada: a estratégia interdisciplinar. Revista Brasileira de Literatura Comparada, n. 1, v.3, 1991. DEALTRY, Giovanna. No fio da navalha: malandragem na literatura e no samba. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2009. FRYE, Northrop. Anatomia da crítica. Trad. Péricles Eugênio da Silva Ramos. São Paulo: Editora Cultrix, 1957. GOMES, Dias. O Bem Amado. 26 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2014. GOTO, Roberto. Nada além da malandragem? 1. ed. Rio de Janeiro: Editora Mulifoco, 2011. GOTO, Roberto. Malandragem revisitada: uma leitura ideológica de “dialética da malandragem”. Campinas: Pontes, 1988. GONZÁLEZ, Mario Miguel. A saga do anti-herói: estudo sobre o romance picaresco espanhol e algumas de suas correspondências na literatura brasileira. São Paulo: Nova Alexandrina, 1994. JORGE, Fernando. O Grande Líder. 6 ed. São Paulo: Geração Editorial, 2010. MELETÍNSKI, Eleazar Moiseevich. Os Arquétipos Literários. Trad. Aurora Fornoni Bernadini, Homero Freitas de Andrade, Arlete Cavaliere. 3. ed. Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2019. PERRONE-MOISÉS, Leyla. Literatura comparada, intertexto e antropofagia. In Flores da Escrivaninha: ensaios. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. ENTRE VIVOS, MORTOS E RENASCIDOS: UMA LEITURA DE VAICOMDEUS, SARL, DE JÚLIO DE ALMEIDA Renata Flavia da Silva Resumo: Vaicomdeus, SARL, obra publicada pelo escritor angolano Júlio de Almeida em 2017, estabelece, através dos (des)encontros das personagens Eugênio e Cecília, uma enredada relação entre a História factual angolana e a criação literária. Dividido em três partes — “Vivos” (lento ma non troppo); “Mortos” (allegro com spirito); e “Renascidos” (finale: alla breve), o romance narra, ao longo de quatro dias nos quais a diegese se desenvolve, quase quarenta anos da história do país, das lutas de libertação aos conflitos civis que as sucederam. Diversos momentos da história nacional são discursivamente revisitados por meio de eventos, personagens, e de uma memória partilhada entre os protagonistas. Como mais uma modulação ou tonalidade da história angolana contemporânea, a obra de Júlio de Almeida convida-nos insistentemente a confrontar as memórias fictícias das personagens à trajetória política do autor, sua efetiva participação nas FAPLA e, posteriormente, nos governos de Agostinho Neto e José Eduardo dos Santos. Desta memória geracional convocada narrativamente pelas personagens, interessa-nos os posicionamentos convergentes e/ou divergentes, filiações e confrontos, acerca das mudanças políticas e sociais notadamente vivenciadas em Angola antes e após a conquista da independência. Para nossa leitura da obra em questão, apoiamo-nos nos estudos de Maurice Hallbwachs, Umberto Eco, Giorgio Agamben, Achille Mbembe e Slavoj Žižek, entre outros. Referências: AGAMBEN, Giorgio. O que é o contemporâneo? e outros ensaios. Tradução Vinícius Nicastro Honesko. Chapecó: Argos, 2010. ALMEIDA, Júlio de. Vaicomdeus, SARL. Lisboa: Ed. Caminho, 2017. ECO, Umberto. O fascismo eterno. Tradução Eliana Aguiar. Rio de Janeiro: Record, 2019. ______. Construir o inimigo e outros escritos ocasionais. Tradução Eliana Aguiar. Rio de Janeiro: Record, 2021. HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. Tradução Beatriz Sidou. São Paulo: Centauro, 2006. MBEMBE, Achille. Políticas da inimizade. Tradução Marta Lança. Lisboa: Antígona Editores Refratários, 2017. ŽIŽEK, Slavoj. Violência: seis reflexões laterais. Tradução Miguel Serras Pereira. São Paulo: Boitempo, 2014. UMA LUPA SOBRE AS RELAÇÕES DE PODER EM OS TRANSPARENTES, DE ONDJAKI Renato dos Santos Pinto Resumo: O objetivo desta comunicação é identificar algumas relações de poder no romance Os transparentes, de Ondjaki, considerando o arcabouço teórico oferecido pelo filósofo francês Michel Foucault. Tomando como exemplo o Brasil, existem poderes nominados institucionalmente, como: Poder Executivo, Legislativo e Judiciário. Entretanto, segundo Foucault, o poder não possui uma existência própria, isolada de suas relações de dominação. Essas relações se exercem nas mais diversas circunstâncias do cotidiano da sociedade. Portanto, sem negar o exercício de poder na superestrutura, o filósofo francês dá ênfase à sua prática no dia a dia, envolvendo cada indivíduo, suas relações interpessoais, atitudes e seu próprio corpo. Foucault afirma, ainda, que o poder não se dá somente por seus aspectos repressivos; ele seduz, produz conhecimentos e se flexibiliza, modificando sua forma de atuação nas disputas por seus domínios. Essas características tornam as relações de poder bastante complexas. A trama do romance Os transparentes transita nas mais diversas camadas da sociedade angolana, estabelecendo, inclusive, interrelações. Na ficção as figuras do Estado, da herança colonial, do cotidiano das camadas mais periféricas, da tradicionalidade local e da própria existência da ideologia compõem um mosaico complexo que tende à distopia. Interessante ressaltar que as reflexões de Foucault se dão justamente no período em que Angola estava em guerra por sua independência política e o romance de Ondjaki propõe um balanço de seus desdobramentos. Portanto, uma leitura do romance cotejada ao pensamento do filósofo francês ganha relevância pelos mais diversos aspectos, inclusive sua relação de contemporaneidade, assunto também caro ao pensamento foucaultiano. Além de seus livros, Foucault produziu seu discursos em entrevistas, aulas inaugurais e comunicações. O filósofo brasileiro Roberto Machado condensou parte de seu pensamento em livro denominado Microfísica do poder, que será nossa principal base teórica, sem prejuízo da leitura de outros textos e autores. Referências: FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. org: Roberto Machado. 11 ed. Rio de Janeiro e São Paulo: Paz e Terra, 2021. ONDJAKI, Os transparentes. São Paulo: Cia das Letras, 2013. EUROPA OXALÁ: OUTRO TEMPO-ESPAÇO NA MEMÓRIA DE PORTUGAL PÓS-25 DE ABRIL Roberta Guimarães Franco Resumo: A exposição “Europa Oxalá” inaugurada em março de 2022 na Fundação Calouste Gulbenkian em Lisboa, reúne cerca 60 obras de 21 artistas de variadas origens africanas, nascidos em contexto pós-colonial. Com curadoria de Antonio Pinto Ribeiro, da Universidade de Coimbra, e dos artistas Katia Kameli e Aimé Mpane, a exposição conta com pinturas, esculturas, instalações e fotografias. “Europa Oxalá” ocupa um espaço privilegiado dentro e fora da Fundação Calouste Gulbenkian, contando também com peças e letreiro iluminado no jardim da instituição, produtos na loja do museu, além da propaganda em cartazes nas estações de metrô. Nesse sentido, demonstra a necessidade não só da ocupação de lugares públicos, mas também de espaços especializados, que conferem legitimidade à produção artística transnacional e de corpos migrantes. Este trabalho, parte do projeto "O cotidiano como memória coletiva: perspectivas do micro nas narrativas de língua portuguesa”, pretende, a partir do conceito de post-migration, refletir sobre a importância da musealização de obras produzidas por uma geração marcada pela herança colonial recente e pela condição migrante direta ou da geração anterior. Também é parte desta proposta pensar os possíveis impactos da exposição para uma História pública e sua inserção em um contexto de produção vinculado à pós-memória, especialmente para problematizar o 25 de abril como marco não só para redemocratização, como para uma ideia de Portugal multicultural. Referências: BIDEAUD, Fabienne (2021). Expor a memória dos símbolos, do corpo, das imagens: o possível vocabulário das/dos artistas afrodescendentes. In: CORREIA, Ana Rebelo; RIBEIRO, Margarida Calafate (coord.). Europa Oxalá – ensaios. Edições Afrontamento. BRAUDEL, Ferdinand (1965). História e Ciências Sociais. A longa duração. Tradução: Ana Maria de Almeida Camargo. Revista de História. Vol. XXX, no. 62, p. 261-294. CANCLINI, Néstor García (2016). O mundo inteiro como lugar estranho. Tradução: Larissa Fostinone Locoselli. EDUSP. DI CESARE, Donatella (2020). Estrangeiros residentes: uma filosofia da migração. Tradução: Cézar Tridapalli. Ed. Âyiné. FRANCO, Roberta Guimarães (2019). Memórias em trânsito: deslocamentos distópicos em três romances pós-coloniais. Alameda. FRANCO, Roberta Guimarães (2020). Testemunhos em fragmentos: memórias do colonialismo português na peça Amores Pós-Coloniais. Gragoatá, 25(53), p. 993-1015. FRANCO, Roberta Guimarães (2021a). A “inseparabilidade” dos trânsitos na obra de Djaimilia Pereira de Almeida. Abril – NEPA / UFF, 13(27), p. 109-124. https://doi.org/10.22409/abriluff.v13i27.50258 KHAN, Sheila (2015). Portugal a lápis de cor: a sul de uma pós-colonialidade. Almedina. SANTOS, Boaventura de Sousa (2010). Para além do pensamento abissal: das linhas globais a uma ecologia de saberes. In: SANTOS, Boaventura de Sousa. MENESES, Maria Paula (org). Epistemologias do Sul. Cortez Editora. SANTOS, Boaventura de Sousa (2019). O fim do império cognitivo: a afirmação das epistemologias do Sul. Autêntica Editora. SCHRAMM, Moritz; MOSLUND, Sten Pultz; PETERSEN, Anne Ring (2019). Regraming migration, diversity and the arts: the postmigrant condition. Routledge. PARA LER O ESPAÇO URBANO: COLONIALISMO E SALAZARISMO Silvio Renato Jorge Resumo: O peso do imaginário colonialista no percurso cultural português, principalmente do séc. XIX ao XX – mantendo-se, de certa, forma, até hoje –, é inegável. Durante o longo período coberto pelo Estado Novo, entretanto, tal imaginário ganhou notável impulso, associando-se à matriz salazarista para a formulação de projeto social marcadamente conservador e autocentrado, que incorporava traços estéticos da modernidade como uma camada externa e superficial, de modo a vestir como novas roupagens aquilo que era, e sempre foi, conservador e tradicionalista. Assim, nesta comunicação, pretendo abordar as estratégias utilizadas pela literatura para desvelar esse processo, sobretudo no que se refere à conformação urbana das cidades. Da construção das novas avenidas e da ponte 25 de Abril (durante o período, nomeada como Ponte Salazar) à valorização de determinados monumentos históricos existentes no país, o regime soube construir em torno de si uma aura de grandeza marcadamente conservadora e ideologizada, o que será percebido pelos textos literários que, de forma crítica, acionam elementos capazes de interrogar tais sentidos, para problematizar de modo marcante não apenas a ditadura salazarista como um todo, mas o próprio imaginário colonialista por ela apropriado. Para o espectro dos textos literários analisados, serão considerados autores que produziram sua obra tanto durante o Estado Novo quanto após o seu término. Referências: ASSMANN, Aleida. Espaços da recordação: formas e transformações da memória cultural. Trad. Paulo Soethe. Campinas: Editora Unicamp, 2011. ESPOSITO, Roberto. Termos da política: comunidade, imunidade e biopolítica. Curitiba: Editora UFPR, 2017. JERÓNIMO, Miguel Bandeira; PINTO, António Ribeiro (orgs.). Portugal e o fim do colonialismo: dimensões internacionais. Lisboa: Edições 70, 2014. JORGE, S. R.; MIBIELLI, Roberto; SAMPAIO, Sônia M. G. (Org.). Trânsitos e fronteiras literárias: territórios. Boa Vista / Rio de Janeiro: Editora UFRR / Edições Makunaima, 2020, 187p. LOURENÇO, Eduardo. Do colonialismo como nosso impensado. Org. e pref. Margarida Calafate Ribeiro e Roberto Vecchi. Lisboa: Gradiva: 2014. ROSAS, Fernando. Salazar e o poder. A arte de saber durar. Lisboa: Tinta da China, 2015. SELIGMANNSILVA, Marcio (org.). História, memória, literatura: o testemunho. Campinas: Editora Unicamp, 2003. TUAN, Yi-Fu. Espaço e lugar: uma perspectiva da experiência. São Paulo: DIFEL, 1983. "O SOM DO MUNDO QUE CAÍA COMO ESTALACTITES MÚLTIPLAS": A POÉTICA DO COTIDIANO DE MALTIDE CAMPILHO EM "JÓQUEI" Suziane Gomes Dos Santos Gonçalves Resumo: É sem esquecer do flâneur que Baudelaire defendeu que ainda há de se alimentar a figura do poeta como um vagabundo atento que, na poeira do cotidiano urbano, desvela o lúcido e encantado das coisas. O poeta agora é mulher, estrangeira, vagando seu olhar atento em um espaço urbano tecnológico, frenético e liberal, sua leitura do mundo atravessada pelas angústias políticas e referências pop, seu olhar tem vontade de ser decolonial, colocando em tensão sua própria origem ibérica, seu interesse em perceber um cotidiano fantástico é ainda mais sufocado pelos avanços da sociedade capitalista. Essas são as possíveis características que perfazem a poética da autora portuguesa Matilde Campilho, no seu primeiro livro de poemas publicado com o título "Jóquei'', em 2014. Logo, através dessas iniciais reflexões, o interesse deste artigo se pauta no estudo da poética da autora Matilde Campilho em “Jóquei” (2014), a partir da aplicação do conceito da invenção do cotidiano de Michel Certeau, buscando compreender como tal performance de escrita atende às características da poesia contemporânea. Os poemas de Campilho produzem uma construção de sentido ora interessante, a priori, confusa. Elementos cotidianos aleatórios são unidos em períodos curtos, em uma prosa poética com ares de crônica com poucos ou nenhum recurso coesivo, mas reunidos em uma dinâmica cinematográfica. Assim, ela promove um zoom em cada coisa, objetos cotidianos desencantados como uma “chávena de chá ficando fria sobre a mesa” e então um cotidiano parece ser inventado, algo que Michel de Certeau conceitua em seu livro “A invenção do cotidiano”, em 1980. Referências: AGAMBEN, G. "O fim do poema". Trad. de Sergio Alcides. Revista Cacto, n. 1, agosto de 2002. p. 148. Disponível em https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/2892823/mod_resource/content/1/AGAMBEN_O_fim_ do _poema.pdf (Há outra tradução brasileira do mesmo texto em: AGAMBEN, G. "O fim do poema". Categorias italianas. Estudos de poética e literatura. Trad. Carlos Eduardo Schimidt Capella e Vinicius Nicastro Honesko. Florianópolis, EDUFSC, 2014, pp. 179-86. AGAMBEN, Giorgio. O que é o contemporâneo. In: _____. O que é o contemporâneo e outros ensaios. Trad. Vinícius Nicastro Honesko. Chapecó: Argos, 2013. p. 55-73 CAMPILHO, Matilde. Jóquei. Lisboa. Edições: Tintas da China, 2014. CERTEAU, Michel: A invenção do cotidiano: 1. Artes de fazer. Petrópolis: Vozes, 2008. GARRAMUÑO, Florencia. A literatura fora de si. In: _____. Frutos estranhos. Sobre a inespecificidade na estética contemporânea. São Paulo: Rocco, 2014, p. 3148. NGUNGUNYANE: MITO EM MOÇAMBIQUE E IMPERADOR NO ROMANCE MULHERES DE CINZAS, DE MIA COUTO Tânia de Resende Garcia Resumo: O escritor moçambicano Mia Couto, em 2015, apresentou o Volume I – Mulheres de Cinzas – da trilogia “As Areias do Imperador”. A obra é elaborada a partir de fatos e mitos históricos que o permitiram fantasiar e recriar uma Moçambique do final do século XIX. Dentre os personagens descritos na obra, encontrasse o lendário Ngungunyane – o último Imperador do Reino de Gaza. Uma figura controversa que, no período de independência de Moçambique (1975), torna-se um herói nacional, mas que ao se comparar tal imagem com a que é construída pela personagem da obra, Imani, nos leva a questionar se a mitificação de Ngungunyane não seria mera ficção? História ou Estória? Assim, levando em consideração tal indagação e fundamentado no conceito de metaficção historiográfica, o presente trabalho teve como intuito analisar e comparar a representação do personagem Ngungunyane na obra; bem como sua representação na história de Moçambique. Comparação que revelou contradições. Na história de Moçambique, Ngungnyane se tornará uma espécie de mito nacional, mas que na obra possui uma leitura sui generis, demonstrando assim que, para se atingir um objetivo político, considerou-se válido criar um mito, utilizando o imaginário dos moçambicanos, para interferir no rumo da história desse território. Referências: BALSALOBRE, S.R.G. Brasil, Moçambique e Angola: desvendando relações sociolinguísticas pelo prisma das formas de tratamento. 2015. Tese (Doutorado em Linguística e Língua Portuguesa) – Faculdade de Ciências e Letras – Unesp/Araraquara, 2015, 346p. BONNICI, T. O pós-colonialismo e a literatura: estratégias de leitura. 2ªed. Maringá: Eduem, 2012, 375 p. BORDINI, M.G (Org.); SANSEVERINO, A.M. et al. Luckács e a Literatura. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2003, 215p. CABAÇO, J.L.O. Moçambique: identidades, colonialismo e libertação. 2007. Tese (Doutorado em Antropologia) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, 2007, 475p. CANO, W. Notas sobre o imperialismo hoje. Crítica Marxista, São Paulo, Brasiliense, v.1, n.3, 1996, p.132-135. FONSECA, M.N.S; MOREIRA, T.T. Panorama das literaturas africanas de língua portuguesa. In: Cadernos CESPUC de Pesquisa. Belo Horizonte, n. 16, pp. 13-69, set. 2007. GARCIA, J.L.L. O mito de Gungunhana na ideologia Nacionalista de Moçambique. In: Comunidades Imaginadas: nação e nacionalismos em África. Coimbra: Universidade de Coimbra, 2008, 23p. HERNANDEZ, H.G. Invasões estrangeiras e formação do estado ao sul de Moçambique. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 27, 2013, Natal. Anais [...] São Paulo: ANPUH, 2013, p.1-29 HUTCHEON, L. 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SIMPÓSIO “(AUTO)TRADUÇÃO DE LITERATURAS EM LÍNGUAS INDÍGENAS/ORIGINÁRIAS” Sara Lelis de Oliveira (Universidad Nacional Autónoma de México), Ana Helena Rossi (UnB) TRADUÇÃO DE POEMAS DE SUSY DELGADO (GUARANI-ESPANHOL): EXPERIÊNCIAS DO PROCESSO TRADUTÓRIO Ana Helena Rossi Resumo: Esta comunicação objetiva analisar o processo tradutório de poemas da poetisa paraguaia, Susy Delgado, escritora que escreve em guarani e em espanhol, a partir de relações estabelecidas com o poema clássico da cultura Mbyá-guarani, Ayvu Rapyta, poema esse transcrito do guarani para o espanhol e traduzido por Léon Cadogan, e depois traduzido para o francês por Pierre Clastres. Assim, a reflexão sobre tradução insere-se em várias disciplinas, tais como os estudos da tradução, a antropologia/etnologia, a linguística, a história, a história da ciência, disciplinas essas que permitem construir o objeto de estudo da tradução, explicitando sua historicidade. No caso em tela, traduzir os poemas de Susy Delgado implica observar a relação que esse texto mantém com outros textos clássicos da cultura Mbyá-guarani, representado aqui pelo Ayvu Rapyta. Busca-se também refletir sobre o processo tradutório de tal tradução, que, ao incluir línguas intermediárias (como as línguas europeias), traz importantes implicações relativas à cosmovisão em jogo, assim como também, para o tradutor. O que está em jogo, aqui, é a possibilidade de controlar, mais ou menos, as conversões semânticas e conceituais, de maneira a manter a visão inicial do texto, o que implica aceitar uma certa hermeticidade do texto traduzido. Nesse sentido, a ética tradutória implica em analisar o locus cultural no qual se inserem os poemas de Susy Delgado, afin de construir o outro locus cultural da tradução, observando suas implicações. Referências: Ayvu Rapyta, Textos míticos guaranies, [Transcripción, traducción y anotación de León Cadogan, Texto al cuidado de Bartolomeu Meliá. S.J.], EDUCC, Editorial de la Universidad Católica de Córdoba, 2005. Berman Antoine, « La traduction et ses discours », in Meta: journal des traducteurs, vol. 34, nº4, 1989, p. 672-679. Clastres Pierre, Le Grand Parler, Mythes et chants sacrés des indiens Guarani, Paris, Seuil, 1974. Rodrigues Aryon D., Línguas brasileiras, Para o conhecimento das línguas indígenas, São Paulo, Loyola, 1986, p. 32. Rossi Ana et allii, « Antropofagia, Mestiçagem e Estranhamento, tradução em « dis » curso », Cadernos de Tradução, 2013, nº31, p. 35-55 Rossi Ana, TRADUÇÃO COMO CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTO: EXPERIÊNCIAS NA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA, Revista Signos, Lajeado, ano 40, n. 1, 2019. ISSN 1983-0378 DOI: http://dx.doi.org/10.22410/issn.1983-0378.v40i1a2019.2189. CONSIDERAÇÕES SOBRE A ARTE VERBAL E TRADUÇÃO DO WÄTUNNÄ YE'KWANA Isabel Maria Fonseca Resumo: A presente comunicação tem o objetivo de apresentar aspectos relativos à minha pesquisa de doutorado em andamento sobre a Arte verbal do povo Yek’wana e os processos de deslocamentos de construção de sentidos – criação, recriação, circulação e tradução. Os Ye’kwanas são conhecidos como o povo de las águas e habitam, com diversos outros povos indígenas, a grandiosa área cultural denominada de Circum Roraima, localizada na tríplice fronteira Brasil-Guiana-Venezuela. Para tanto, tomamos como referência duas versões de Wätunnä, o fascinante conjunto narrativo de caráter histórico-mitológico do povo Ye’kwana: a primeira foi publicada em 1970, em língua espanhola na Venezuela, por aquele que é considerado o maior mitólogo do rio Orinoco, o francês Marc de Civrieux que coletou as narrativas mitológicas juntos aos Ye’kwana entre os anos de 1950 a 1970. A obra é intitulada Watunna Mitologia Makiritare e é considerada um clássico da Literatura Indígena na Venezuela; enquanto a segunda, intitulada Histórias e Saberes Ye’kwana, tem como autor o professor indígena Ye’kwana Marcos Rodrigues e é a primeira versão do Wätunnä coletada, escrita e traduzida por um Ye’kwana, processo esse, todo compartilhado por mim como sua orientadora de TCC no curso de Licenciatura Intercultural do Instituto Insikiran\UFRR. A obra foi publicada em 2019, em Roraima, no Brasil, numa versão bilíngue - em língua Ye’kwana e em língua Portuguesa. Sem a pretensão de aprofundamentos sobre os estudos da tradução, daremos ênfase ao papel do pesquisador e tradutor indígena Marcos Rodrigues, papel esse entendido como um acontecimento, uma ação, um ato, tanto de resistência, como, o de traduzir a língua originária Ye’kwana, por uma experiência e necessidades de querer encontrar, entender, interpretar e compartilhar línguas, culturas e mundos distintos. Referências: ALMEIDA, Maria Inês; QUEIROZ, Sônia. Na captura da voz: as edições da narrativa oral no Brasil. Belo Horizonte: Autêntica; FALE/UFMG, 2004. ANDRADE, Karenina Vieira. Wätunna: a força de uma profecia Ye’kuana. In: Tellus. Ano 9, n. 1, Campo Grande: UCDB, jul./dez. 2009, BENJAMIN, Walter. Escrito sobre mito e Linguagem. GAGNEBRIN, Jeanne marie (Org). Traduzido por Susana Kampff Lages, Ernani Chaves, São Paulo: Editora 34, S\D. BERMAN. Antoine. A prova do estrangeiro: cultura e tradução na Alemanha romântica. Tradução de Maria Emília Pereira Chanut. Bauru, São Paulo: Edusc, 2002. BROTHERSTON, Gordon & MEDEIROS, Sérgio. (Orgs.). Popol Vuh. São Paulo: Iluminuras, 2007. CIVRIEUX, Marc de. Watunna – Mitologia Makiritare. Caracas: Monte Ávila Editores, 1970. ______. Watunna. Un ciclo de creación en el Orinoco. Caracas: Monte Ávila Editores, 1992. FONSECA, Isabel Maria. Textualidades Indígenas: Watunna Mitologia Makiritare. Boa Vista: Editora da UFRR, 2017. 166 p. il. 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Escândalos da tradução: por uma ética da diferença. Lawrence Venuti; traduzido por Laureano Pelegrin, Lucinéia Marcelino Vilela, Marileide Dias Esquerda, Valéria Biondo; revisão técnica Stella Tagnuin.- São Paulo: Editora Unesp, 2019. VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. “O recado da mata” (prefácio). In: KOPENAWA, Davi e ALBERT, Bruce. A queda do céu – palavras de um xamã Yanomami. Tradução de Beatriz Perrone-Moisés. São Paulo: Companhia das Letras, 2015, p. 11-41. ZUMTHOR, Paul. Introdução à poesia oral. Trad. Jerusa Pires Ferreira, Maria Lúcia Diniz Pochat e Maria Inês de Almeida. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2010. MODO DE VER E MODO DE VIVER PELA POÉTICA DO TRADUZIR EM AYVU RAPYTA (LÍNGUA MBYÁGUARANI) João Paulo Ribeiro Resumo: Projeto de doutorado em andamento tendo a tradução de Ayvu Rapyta (CADOGAN, 1959) como prática e teorização. São narrativas mbyá-guarani. O tema da pesquisa é tradução e cosmologia. A resposta não está na política. A política da poética é outra coisa, nisso a cosmologia e o privilégio do tradutor. Quando da escuta na tradução, o tradutor está entre o disse, e a escritura refere-se também ao mundo além da física do traduzir. Por isso a metafísica para o mundo da referência, contudo o olhar para o diverso. A tradução na Ameríndia deve pensar pela poética da ameríndia. Que Ameríndia seja somente um nome. O modo de ver (estética) e o modo de viver (ética) para o encontrar-se na Ameríndia. Haroldo de Campos ([1963] 2013) propôs física da tradução compreendendo o pensamento de Walter Benjamim ([1923] 2008) sobre língua pura. Entender a metafísica é trazer a Ameríndia, um modo de ver o mundo. Poética do traduzir e poética dos cantos na Ameríndia parecem similares. O tradutor tem um posicionamento na física do traduzir em desvio a interpretação. O ritmo (MESCHONNIC) é o que mantem em desvio. O que liga entre as palavras, em suas repetições entre elas, chamaremos Diverso. São pegadas e estão na frente, em futuro do presente. O interpelativo dos cantos, a força da linguagem (MARTINS, 2020), é o participativo: o modo de significar (MESCHONNIC, ([1999] 2010). O tradutor não pode forçar isso. Não é política dos homens. O tradutor pela poética do traduzir está pela poética das palavras, a política delas. A linguagem às humanidades. revela o sujeito do poema, assim como o canto de cura. Desde a escuta da árvore de cantos (KOPENAWA & ALBERT [2010] 2015), o encontro em Terra-Flor. Poema do mundo. Referências: BENJAMIN, Walter. A Tarefa do Tradutor, de Walter Benjamin: quatro traduções para o português. Belo Horizonte: Fale/UFMG, [1923] 2008. CADOGAN, León. Ayvu Rapyta: Textos míticos de los Mbyá-Guarani del Guairá. FFLCH/USP, Boletim N.227, Antropologia N.5. São Paulo, 1959. CAMPOS, Haroldo. Da tradução como criação e como crítica. In. Transcriação. São Paulo: Perspectiva, [1963] 2013. KOPENAWA, Davi & ALBERT, Bruce. A queda do céu – palavras de uma xamã yanomami. São Paulo: Companhia das Letras. [2010] 2015. MARTINS, Maria Silvia Cintra. O poder das palavras: em sua força poética, xamânica e tradutória. Campinas: Mercado de Letras, 2020. MESCHONNIC, Henri. Poética do Traduzir. São Paulo. Perspectiva, [1990] 2010. ALELUIA OU ARERUIA: A TRANSPOSIÇÃO CULTURAL POR MEIO DA TRADUÇÃO JUCICLEIDE PEREIRA MENDONÇA DOS SANTOS Resumo: A música ameríndia tem sido descrita por suas particularidades poéticas, desde suas primeiras aparições nas crônicas de viagem. Koch Grünberg (2006-1912) nomeou os cantares nativos entoados pelos povos originários da região circum-Roraima (Brasil, Venezuela e Guiana Inglesa) de “cantos de dança”. Foi nessa localidade que se originou um dos cantos de dança mais celebrados pelas etnias do Norte do Brasil, o Areruia. Seu início está ligado diretamente à reinterpretação do evangelho pregado pelos missionários cristãos. As alterações nos costumes e tradições desencadearam o surgimento de uma religião indígena cristã, o Areruia, com seguidores em diferentes etnias, bem como a construção das Igrejas do Aleluia em terras fronteiriças e o reconhecimento oficial pelo Governo da República Federativa da Guiana Inglesa com bases cristãs. As transformações religiosas impostas, inicialmente, por meio da catequização, foram posteriormente assimiladas e adaptadas à cosmovisão indígena, passando a incluir crenças como a troca de pele no momento de ascensão para um novo mundo e o recebimento de elementos próprios do mundo indígena que teriam sido oferecidos por uma divindade: um novo canto, a maniva e a banana. Esta comunicação busca entender como a tradução do termo aleluia para as línguas indígenas representa um sintoma das mudanças culturais, políticas e sociais que a nova religião indígena acarretou sobre o modo de viver dos povos originários e como tem se mantido entre eles até a atualidade. Referências: ABREU, Stela Azevedo de. Aleluia: o banco de luz. 1995. p. 161. Dissertação (Mestrado em Antropologia) Universidade de Campinas, Campinas, 1995. BURKE, Peter. Tradução Cultural dos Primórdios da Europa Moderna. Peter Burke e R. Po-chia Hsia 9orgs.) tradução Roger Maioli dos Santos. São Paulo: Editora UNESP, 2009. CAMPOS, Haroldo de. Metalinguagem & outras metas: ensaios de teoria e crítica literária. São Paulo: Perspectiva, 2006. KOCH-GRÜNBERG, Theodor. Do Roraima ao Orinoco: Observações de uma viagem pelo norte do Brasil e pela Venezuela durante os anos de 1911 a 1913. V. 1 Trad. Cristina Alberts-Franco. São Paulo: Editora UNESP, 2006. IN XÓCHITL IN CUICATL: A LINGUAGEM DAS FLORES NOS CANTARES MEXICANOS QUESTÕES DE TRADUÇÃO PARA PORTUGUÊS Sara Lelis de Oliveira Resumo: As flores são um elemento bastante frequente nos Cantares mexicanos, manuscrito de cantos em náhuatl clássico elaborado no período colonial do México e atualmente conservado na Biblioteca Nacional do país. Em náhuatl xóchitl, elas denotavam uma das expressões da natureza utilizadas como oferendas aos deuses e deusas, como atavios ou como mais um dos objetos de contemplação e sinestesia olfativa dos povos Nahua. Contudo, com a tradução de 24 cantos pré-hispânicos do manuscrito para o português, dispostos nas folhas 16 verso a 26 verso, identificamos por meio desse processo ímpar de conhecimento cultural que as flores também representavam simbolicamente a palavra, o pensamento, o canto, a morte, a guerra, a poesia, bem como se referiam às flores de plantas enteógenas consumidas nas cerimônias rituais da elite nahua para estabelecer contato com as divindades. O presente trabalho abordará os múltiplos sentidos das flores no referido corpus, o qual consiste em cantos de recreação da Tríplice Aliança formada por tlahtoanis ou sacerdotes-reis de origem tenochca, acolhua e tepaneca. Trata-se de uma espécie de arqueologia semântica da linguagem das flores a partir da qual explanaremos o percurso de identificação dos diversos sentidos mencionados, e problematizaremos sua tradução para o português. Por serem ao mesmo tempo literais e metafóricos, a tradução lida com os limites impostos pela própria linguagem dos cantos, a qual envolve justamente um dos sentidos enigmáticos da flor: in xóchitl in cuicatl, em tradução “a flor, o canto”, recurso linguístico-musical específico do contexto ritual. Referências: Alicino, Laura. “El concepto de xochiyaoyotl en el mundo prehispánico según las Relaciones de Chimalpahin Cuauhtlehuanitzin”. Revista Ancient Mesoamerica, vol. 30, 2019, p. 235-244. Anderson, Arthur J. O.; Dibble, Charles E. Florentine Codex. Book 11. Earthly things. New Mexico: The School of American Research and The University of Utah, 1963. Benjamin, Walter (c. 1931). Escavar e recordar. In: Imagens de pensamento/Sobre o haxixe e outras drogas. Edição e tradução de João Barrento. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017, p. 101. “Cantares mexicanos” [manuscrito]. In: MS 1628 bis. México: Biblioteca Nacional de México, 85 f. Carrasco, Pedro (1996). Estructura político-territorial del Imperio Tenochca. México: Fondo de Cultura Económica, Fideicomiso Historia de las Américas, El Colegio de México, 2016. Edición electrónica. Caso, Alfonso (1953). El pueblo del Sol. México: Fondo de Cultura Económica, 2020. Chimalpahin, Domingo (c. 1563 – 1570). Códice Chimalpopoca: Anales de Cuauhtitlán y Leyenda de los Soles. Traducción de Primo Feliciano Velázquez. México: Universidad Nacional Autónoma de México, 1992. Clavijero, Francisco Javier (1853). Historia antigua de México. México: Editorial Porrúa, 2021. Declercq, Stan. “‘Siempre peleaban sin razón’. La guerra florida como construcción social indígena”. Revista Estudios de Cultura Náhuatl, n. 59, 2020, p. 97-130. De la Garza, Mercedes. Sueño y éxtasis. 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O primeiro evento, relatado pelo antropólogo Eduardo Viveiros de Castro no artigo Perspectival Antropology and the Method of Controlled Equivocation (2004), trata do termo Txai, título dado por um conhecido músico brasileiro – que havia passando alguns dias junto ao povo Cashinauhua – a um de seus álbuns. Ao antropólogo Viveiros de Castro foi solicitada uma tradução/explicação da palavra txai para constar no álbum, explicando sua significação aos fãs do músico. Porém, a tarefa, aparentemente simples, do antropólogo torna-se impossível, pois a solicitação foi feita direcionando a tradução da palavra txai de modo a fazê-la corresponder a uma palavra em português. O segundo evento, relatado pelo indígena do povo Guarani M’byá Daniel Iberê Guarani M’byá no artigo “Diálogos entre saberes indígenas e indigenistas: Conversa com Lynn Mário Trindade Menezes de Souza e Daniel Iberê Guarani M’Byá” (2021), fala sobre a expressão Guarani M’byá ‘Jaguar Ovy’ que, ao ser traduzida para o português de uma determinada maneira, acabou solidificando-se em uma única possibilidade de significação. Os dois casos de tradução que, em princípio, podem ser considerados equivocados, parecem ter, na verdade, eliminado os equívocos e homonímias das palavras e expressões, desse modo, reduzindo as possibilidades de significação. Os equívocos e as homonímias, de acordo com a filósofa Barbara Cassin, em seu livro Éloge de la traduction, são “as impressões digitais das línguas” (2016, p. 24 e 89) que não se apagam nas traduções. Referências: CASSIN, B. Éloge de la traduction. Paris: Fayard, 2016. CASTRO, E. V. de. Perspectival Perspectival Anthropology and the Method of controlled. 2004. In: Equivocationhttps://www.unil.ch/stslab/files/live/sites/stslab/files/Actu/Perspectival%20Anthropology% 20and%20the%20Method%20of%20Controlled%20Equivocati.pdf (Acesso: 10 de abril de 2022). M’BYÁ, D.I.G.; BEATO-CANATO, A.P.M; BACK, R. SOUZA; L. M. T. M. de. Diálogos entre saberes indígenas e indigenistas: Conversa com Lynn Mário Trindade Menezes de Souza e Daniel Iberê Guarani M’Byá. Ponta Grossa: Uniletras, v.43.18235.2021. 2021. In.: https://revistas.uepg.br/index.php/uniletras/article/view/18235 (Acesso: 10 de abril de 2022.) SIMPÓSIO “FEMINISMO DECOLONIAL E TRADUÇÃO: POR UM ARCABOUÇO METODOLÓGICO PARA O PROCESSO TRADUTÓRIO E A ANÁLISE DE TEXTUALIDADES DE RESISTÊNCIA” Norma Diana Hamilton (UnB), Luciana de Mesquita Silva (Cefet/RJ) O TEXTO TRADUZIDO COMO ELEMENTO DE RESISTÊNCIA: A TRADUÇÃO FUNCIONALISTA PODE SER DECOLONIAL? Alessandra Ramos de Oliveira Harden Resumo: Neste trabalho, a tradução é vista no seu papel social como um produto cultural motivado por uma causa política e/ou ideológica. Assim, parte-se do princípio que as pessoas que tomam decisões sobre tradução (tradutores(as) e outros agentes textuais, como produtores e roteiristas) fazem suas escolhas de forma a favorecer mudanças sociais ou a impedi-las. De forma mais específica, o olhar aqui recai na possibilidade de aplicação de conceitos das teorias funcionalistas da tradução, mais especificamente do trabalho de Christiane Nord (2016), para a promoção de eventos tradutórios considerados relevantes nas lutas presentes nas pautas decoloniais, como as ligadas ao combate ao preconceito de gênero e de raça, além de outras formas de exclusão que estão relacionadas de perto à formação das sociedades do Cone Sul. O objetivo é avaliar se e até que ponto o funcionalismo de Nord, mulher europeia, pode ser casado com a necessidade de ação política defendida, por exemplo, pela dominicana Ochy Curiel (2019) e com as reflexões acerca da tradução feitas, entre outras, pelas brasileiras Claudia de Lima Costa (2000) e Denise Carrascosa (2017). Portanto, não se quer simplesmente aplicar conhecimento importado e desconectado da realidade, inclusive acadêmica, brasileira, mas renovar esse conhecimento de forma que este passe a ser fundamentado também na natureza multifacetada da sociedade latino-americana e seja, assim, capaz de fortalecer as batalhas ideológicas que se fazem na e com a tradução. Referências: CARRASCOSA, D. (org.). Traduzindo no Atlântico Negro: Cartas Náuticas Afrodiaspóricas para Travessias Literárias. Salvador: Ogum’s Toques Negros, 2017. COSTA, C. de L. As teorias feministas nas Américas e a política transnacional da tradução. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 8, n. 2, p. 4348, set./dez. 2000 CURIEL, O. Construindo metodologias feministas desde o feminismo decolonial In: MELO, P. B. et al. (orgs.) Descolonizar o feminismo: VII Sernegra. Brasília: Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Brasília, 2019. Nord, C. Análise textual em tradução: bases teóricas, métodos e aplicação didática. Trad. e adap. Meta Elisabeth Zipser et al. São Paulo: Rafael Coppetti Editor, 2016. TEORIAS EM MOVIMENTO: APONTAMENTOS SOBRE A ESCRITA DE PATRICIA HILL COLLINS E TRADUÇÕES DE SEUS TEXTOS NO BRASIL Luciana de Mesquita Silva Resumo: Esta comunicação tem como objetivo discutir o pensamento de Patricia Hill Collins no Brasil. Renomada socióloga e professora da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, Collins é uma das grandes referências contemporâneas nos estudos que interseccionam questões de raça, gênero, classe, sexualidade e nacionalidade. Nesse sentido, o presente trabalho terá como ponto de partida uma apresentação sobre a intelectual em questão, contemplando um breve panorama de publicações da autora ao longo dos anos. Em seguida, será proposta uma reflexão sobre as traduções (ou a ausência delas) de seus textos para o português no contexto brasileiro. Na medida em que a tradução é um novo texto, inserido em um novo sistema social, histórico, cultural e ideológico e produzido para um novo conjunto de leitores (LEFEVERE, 2007), além de aspectos linguísticos, serão abordadas questões como: Quais são os temas centrais dos textos (não) traduzidos? Quais são suas datas e contextos de publicação? Quem são os tradutores/as e outros agentes envolvidos na tradução (OITTNEN, 2003)? Como se configuram seus paratextos (GARRIDO VILLARIÑO, 2005; YUSTE FRÍAS, 2015)? Na terceira etapa, considerando-se a visão de Costa (2020) sobre feminismos decoloniais, segundo a qual a tradução é baseada não apenas em um paradigma linguístico, mas, principalmente, em um paradigma ontológico, caracterizando-se como um processo fundamental no trânsito transnacional de teorias e conceitos, serão mostradas possibilidades de diálogos entre Collins e pensadoras negras brasileiras sobre feminismos negros e questões de tradução. Referências: COSTA, Claudia de Lima. Feminismos decoloniais e a política e a ética da tradução. In: HOLLANDA, Heloísa Buarque de (org.). Pensamento feminista hoje: perpectivas decoloniais. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2020. p. 320-341. GARRIDO VILARIÑO, Xoán Manuel. Texto e paratexto: tradución e paratradución. Viceversa. v. 9-10, nº 1, p. 31-39, 2005. LEFEVERE, André. Tradução, reescrita e manipulação da fama literária, trad. Claudia Mattos Seligmann. Bauru: Edusc, 2007. OITTINEN, Riitta. Where the Wild Things Are: Translating Picture Books. Meta. v. 48, nº 1-2, p. 128-141, 2003. YUSTE FRÍAS, José. Paratraducción: la traducción de los márgenes, al margen de la traducción. D.E.L.T.A. v. 31, nº especial, p. 317-347, 2015. REFLEXÃO SOBRE A TRADUÇÃO DO CONTO CHILDREN OF THE SEA E O ENSINO DO TEXTO TRADUZIDO PARA JOVENS BRASILEIROS Norma Diana Hamilton Resumo: O objetivo geral deste trabalho é contribuir para a visibilidade no Brasil da literatura feminina afro-diaspórica. Foi desenvolvido um estudo referente ao conto Children of the Sea (1996) produzido pela escritora haitiana-afro-americana Edwidge Danticat. O estudo incluiu a tradução da obra para o português para o ensino em uma turma de 2º ano do ensino médio em uma escola de Brasília. Neste trabalho, pretende-se apresentar a metodologia de tradução do texto selecionado para ensino, assim como, quais foram os desdobramentos do ensino do texto para as/os alunas/os. Uma vez que a obra se trata de questões de colonização, o feminino, migração, dentre outras, a presente pesquisadora partiu das perspectivas crítico-sociais de Interseccionalidade (Crenshaw, 1989; Hill-Collins, 2019), Conciência Mestiza (Anzaldúa, 1980), Colonialidade de Gênero (Lugones, 2008) para auxiliar na intepretação da obra literária. As perspectivas teórico-metodológicas que foram utilizadas para pensar a tradução da obra e seu ensino incluíram os Estudos Descritivos da Tradução (Toury, 1995), prática de tradução de Estrangeirização (Venuti, 1996), Tradução Comentada (Torres, 2015), metodologia de ensino de literatura em diálogo com outras áreas (Cereja, 2019), dentre outras. Os desdobramentos mostraram que os métodos de tradução do texto e do seu ensino foram adequados, uma vez que contribuíram para extrair a participação reflexiva das/dos estudantes nas discussões e escritas sobre a obra, em paralelo aos contextos sociais deles. Referências: ANZALDÚA, Gloria. Borderlands/La Frontera: the new mestiza. 2ª ed. San Francisco: Aunt Lute Books, 1987. BALDUINO DE MELO, Paula (org). Descolonizar o feminismo: VII Sernegra. Brasília: Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Brasília, 2019. CARNEIRO, A. S. A construção do outro como não-ser como fundamento do ser. [Doctoral dissertation], Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005. CARRASCOSA, D. Traduzindo no Atlântico negro: por uma práxis teórico-política de tradução entre literaturas afrodiaspóricas. Cadernos de Literatura em Tradução, (16), 2016. http://www.revistas.usp.br/clt/article/view/115270 COLLINS, Patricia. Black feminist thought: knowledge, consciousness and the politics of empowerment. 2ª ed. New York: Routledge, 2009. CRENSHAW, Kimberlé. Demarginalizing the intersection of race and sex: a Black feminist critique of antidiscrimination doctrine, feminist theory and antiracist politics. University of Chicago Legal Forum. v. 1989, n. 1, p.139-167, 1989. KILOMBA, Grada. 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Justifico-o pressupondo que, apesar da boa recepção da literatura de mulheres e também das literaturas da América Latina no sistema brasileiro, são ainda poucas as vozes femininas latino-americanas disponíveis no Brasil em tradução. Elas conformam um vazio tradutório do sistema: são pouco comentadas ou mesmo ignoradas em grande parte porque não circulam em tradução, a mais potente das reescrituras, como diria André Lefevere (2007). Entendo que esses vazios possam ser explicados por ideologias, por geopolíticas ou por um somatório de fatores, tais como patriarcado + colonialidade. Penso que o sistema literário configurava de tal modo que, para circular em tradução, valorava-se a pessoa que escreve literatura talvez mais que a obra; e a ela só se admitia um handicap: ou se era mulher ou se era da América Latina, como já defendi em Kahmann (2020). No entanto, esse cenário se vem alterando com bastante velocidade, em especial pela atuação engajada e consciente de pesquisadoras e tradutoras brasileiras, que acabam por suprir o sistema de reescrituras sobretudo das precursoras latino-americanas conscientemente feministas ou cujas obras permitem releituras feministas. Portanto, este trabalho visa a atualizar levantamentos anteriores e complementá-los com críticas de traduções, em geral comentadas e anotadas, produzidas no âmbito acadêmico. Desse modo, um retrato mais atual do sistema é possível. Interessam a este estudo apenas as obras em domínio público, em função de que, a elas, não existem constrangimentos normativos ou contratuais para a tradução, o que não as exime dos constrangimentos coloniais e patriarcais. Referências: Kahmann, Andrea Cristiane (2020). Circulação da escrita de mulheres hispano-americanas no Brasil: uma crítica a partir da história da tradução. Letrônica, 13(1), e35145. LEFEVERE, André. Tradução, reescritura e manipulação da fama literária. Tradução de Claudia Matos Seligmann. Bauru: Edusc, 2007. VOZES FEMININAS NA LITERATURA ESPANHOLA CONTEMPORÂNEA: CONEXÕES ENTRE MULHERES AFRICANAS E EUROPEIAS EM PALMERAS EN LA NIEVE DE LUZ GABÁS Ariane Fagundes Braga, Luciana Ferrari Montemezzo Resumo: Esta pesquisa tem como objetivo analisar a representação das personagens femininas na obra literária Palmeras en la nieve (2012), da escritora espanhola Luz Gabás. O romance está situado em dois momentos sócio-históricos distintos, tanto na Espanha quanto na Guiné-Equatorial: recortes temporais entre a década de 1950 e a década de 2000. Dessa forma, o romance explora a relação complexa entre a metrópole e a colônia (e entre sujeitos colonizadores e sujeitos colonizados) existente entre a Espanha e a Guiné-Equatorial dos anos 50, bem como as relações socioculturais entre espanhóis e guineanos que circulam entre a África e a Europa nesses dois períodos considerados. Para tanto, diante do viés de análise que capta a essência das personagens femininas, classificamos as mulheres do romance em duas categorias analíticas: mulheres africanas e mulheres europeias. A orientação teórico-metodológica do trabalho busca a perspectiva interdisciplinar apresentada nos estudos de Literatura Comparada, principalmente nas pesquisas de Tânia Franco Carvalhal. Também é necessário considerar a bibliografia que discute a representação da figura feminina na literatura, como o proposto pelos estudos de Lúcia Osana Zolin. A partir dessa análise interdisciplinar mediada pelo método comparatista, buscaremos, por meio da materialidade linguística do texto e de referências bibliográficas, construir um paralelo de aproximações e de distanciamentos entre as mulheres representadas na romance, revelando as dificuldades e as fragilidades de ser mulher em contextos africanos e europeus, tanto no século XX quanto no século XXI. Referências: ALVAREZ-CHILLIDA, Gonzalo. NERÍN, Gustau. Guinea Ecuatorial: el legado de la colonización española. Revista Ayer, 2018, p. 13-12. Disponível em: <https://revistaayer.com/sites/default/files/articulos/109-0ayer109_colonizaciongolfoGuinea_AlvarezChillida_Nerin.pdf>, acesso em 28/08/2021. ANDRETA, Bárbara Loureiro. Visões da escravatura na América Latina: Sab e Úrsula. Dissertação de mestrado (Letras). Universidade Federal de Santa Maria, 150p, 2016. Disponível em: <https://repositorio.ufsm.br/bitstream/handle/1/12081/DIS_PPGLETRAS_2016_ANDRETA_BARBARA.pdf ?sequence=1>, acesso em 30/07/2021. CARVALHAL, Tânia Franco. Literatura Comparada. São Paulo: Ática, 2006. GABÁS, Luz. Palmeras en la nieve. Barcelona: Editorial Planeta, 2012. LIRA, Bruna Cordeiros. A mulher na literatura: seus enquadramentos e a precariedade da emancipação. Revista LatinoAmericana de Estudos em Cultura e Sociedade, v; 2, p. 381-388, 2016. Disponível em: <https://periodicos.claec.org/index.php/relacult/article/view/267>, acesso em: 06/08/2021. ROSSINI, Taysa Cristina Nogueira. A construção do feminino na literatura: representando a diferença. Trem das Letras, v. 3, n. 1, p. 97-111, 2016. Disponível em: <https://publicacoes.unifalmg.edu.br/revistas/index.php/tremdeletras/article/view/459>, acesso em 30/07/2021. ZOLIN, L.O. Póscolonialismo, feminismo e construção de identidades na ficção brasileira contemporânea escrita por mulheres. Revista Brasileira de Literatura Comparada, v. 14, n. 21 (2012). Disponível em: <https://revista.abralic.org.br/index.php/revista/issue/view/21/showToc>, acesso em 30/07/2021. O PROTAGONISMO FEMININO NAS LUTAS POR LIBERDADE E IGUALDADE SOCIAL: LA TRIBUNA, DE EMILIA PARDO BAZÁN Bárbara Loureiro Andreta Resumo: O presente trabalho tem como objetivo analisar o protagonismo político feminino no romance La Tribuna (1882/2002), de Emilia Pardo Bazán (1851-1921), analisando os imbricamentos políticos e históricos presentes na referida obra. A obra literária em questão destaca-se por apresentar um forte protagonismo feminino em momentos de intensa agitação social e política da história espanhola. La Tribuna é um estudo de costumes populares sobre as cigarreras em La Coruña. Os críticos são praticamente unânimes em considerar este como um romance naturalista composto de acordo com os princípios de Zola (CHANDLER; SCHWARTZ, 1991). Com sua publicação, a autora demonstrou que tinha uma grande capacidade de assimilar as tendências narrativas da época. Desse modo, o romance representa uma das primeiras manifestações de tendência realista-naturalista da literatura espanhola (ROMERO MASIÁ, 2007). Esta pesquisa justifica-se pela relevância de se resgatar o papel e a atuação das mulheres, na literatura, em períodos de intensa agitação social na Espanha bem como revisitar os fatores políticos, sociais e culturais que levaram a autora a produzir uma obra que destacava a luta de uma mulher pela liberdade e pela igualdade. A análise da obra permitiu identificar que no romance, apesar de a protagonista viver uma grande paixão, ela assume a luta política por acreditar em um ideal revolucionário. Por meio de sua obra, a autora destaca que as mulheres também foram agentes na construção da história espanhola, merecendo ênfase para suas atuações. Referências: CHANDLER, R. E.; SCHWARTZ, K. Prose Fiction – The Nineteenth Century. In: CHANDLER, R. E.; SCHWARTZ, K. A New History of Spanish Literature (Revised Edition). Louisiana: Louisiana State University Press, 1991, p. 130-149. PARDO BAZÁN, Emilia. La Tribuna. Madrid: Alianza Editorial, 2002. ROMERO MASIÁ, Ana. As cigarreiras que coñeceu dona Emilia. La Tribuna: Cadernos de Estudos da Casa Museo Emilia Pardo Bazán. n.05, 2007, p. 41-76. MULHER, DITADURAS E ARTE: REPRESENTAÇÕES DA MULHER E SEU PAPEL NA PROTESTA EM AMÉRICA LATINA Darwin Ariel Amador Valdez Resumo: As artes mantêm, desde tempos imemoriais, uma conversa natural e contínua, o presente trabalho trata especificamente dessa ponte que existe entre o cinema, com obras como Colonia (2015) de produção chileno-germana, do diretor Florian Gallenberger, e Olga (2004) de produção brasileira, do diretor Jayme Monjardim; e de obras literárias como Cuando las tarántulas atacan, do hondurenho Longino Becerra, La montaña es más que uma inmensa estepa verde, do nicaraguense Omar Cabezas, e K: Relato de uma busca, do brasileiro Bernardo Kucinski. Através de uma análise de enfoque sociocrítico e de interartes, se busca compreender o papel da mulher nas protestas civis contra regimes autoritários nos diferentes espaços da América Latina: Chile, Brasil, Nicarágua e Honduras; e, além disso, resgatar as representações de mulher nas produções culturais que abordam esta temática. As obras estão ambientadas em cinco momentos: a ditadura de Pinochet em Chile; a Era Vargas, que se estendeu de 1930 a 1945, e o governo do General João Batista Figueiredo, da época de ditadura militar, de 1979 a 1985, ambas no Brasil; a revolução sandinista em Nicarágua; e o regime autoritário da década dos 80 em Honduras. Nesse sentido, para esta pesquisa, se utilizaram as teorias da sociocrítica, baseada em autores como Leandro Konder, Edmond Cros; e interartes, como John Dewey, entre outros. Referências: AUMONT, Jacques. O filme como representação visual e sonora in: AUMONT, J. et al. A estética do filme, 7ª edición. São Paulo: Papirus, 2009. BECERRA, Longino. Cuando las tarántulas atacan, 17ª edição. Tegucigalpa: Editorial Baktun, 2019. CARCAUD, M.; CLERC, J. M. Prólogo de una sociocrítica de la adaptación cinematográfica. Íkala, Revista de Lenguaje y Cultura, [S. l.], v. 4, n. 1, p. 153–167, 1999. Disponível em: https://revistas.udea.edu.co/index.php/ikala/article/view/8541. Acesso em: 19 abr. 2022. CROS, Edmond. Hacia una teoría sociocrítica del texto. Traducción de Hernando Escobar y Juliana Borrero. La Palabra, (31), 29–38, 2017. doi: https://doi.org/10.19053/01218530.n31.2017.7272. DEWEY, John. Arte como experiência. São Paulo: Martins Fontes, 2010. GALLENBERGER, Florian (director). Colonia [DVD]. Chile, Alemania: Good Films, 2015. GENETTE, Gérard. Figuras III. Trad.: Ana Alencar. São Paulo: Estação Liberdade, 2017. KONDER, Leandro. Os Marxistas e a arte. Rio de Janeiro, Brasil: Editora Civilização Brasileira S. A., 1967. KUCINSKI, Bernardo. K.: relato de uma busca. São Paulo: Companhia das Letras, 2016. LACAPRA, Dominick. Escribir la historia, escribir el trauma. Trad.: Elena Marengo. Buenos Aires: Nueva Visión, 2005. MONJARDIM, Jayme (director). Olga [DVD]. Brasil: Europa Filmes, 2004. OVEJERO, Félix. El compromiso del Creador: Ética de la estética. España: Galaxia Gutenberg, S.L., 2014. ANA MARÍA MATUTE: VOZ E ARTE DESCONTRUÍDA EM TEMPOS DE REPRESSÃO Fernanda de Paula Araújo Resumo: Este estudo apresentará uma tradução comentada, a partir da elaboração de quadros comparativos tendo como principal objeto a apreciação do conto “Mar”, publicado no livro “Los niños tontos” (2000), de Ana María Matute. Nesse ínterim, Tania Carvalhal (2003) afirma que a tradução e os tradutores têm como função disseminarem e difundirem um texto fora da literatura. A obra é composta por 21 contos protagonizados por crianças feias, doentes, alienadas marcadas pelo isolamento social. Matute, nascida na Espanha, em julho de 1925, trazia consigo as memórias de uma infância marcada pelo brutal regime franquista. Por isso, a obra apresenta os conflitos de sua época e críticas metafóricas ao conflito e à violência sofridos pelas crianças presas à crueldade de um mundo repressor. Conforme Rosane Cardoso (2015), Matute recorre ao lirismo para narrar histórias de meninos que vivem à margem do mundo adulto, estabelecendo uma vinculação com a própria experiência pueril. Ademais, pelo trabalho de tradução, será analisada a relação do papel da escritora como figura feminina, e o minirrelato marcado pela ruptura da infância. Valentín García Yebra (1984) analisa que o tradutor não pode ficar satisfeito com a compreensão do leitor comum, mas buscar aproximar-se o possível à compreensão total. A poética do texto – mantida pela tradução – reflete a dura realidade da mulher escritora e dialoga com o sofrimento emocional e a perda da inocência infantil. Nesse sentido, Alfredo Bosi (2002) confere à arte literária um caráter de resistência, atrelada à elaboração estética que contempla forma e conteúdo e fazem da narrativa uma criação artística. Portanto, a representatividade e resistência de Matute, ainda que não tenha sido suficientemente reivindicada – talvez justamente por ser mulher – reprimida e isolada em suas memórias, está na quebra de esteriótipos e vozes silenciadas pela imposição de uma herança patriarcal e opressora. Referências: BOSI, Alfredo. Narrativa e resistência. In: Literatura e Assistência. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. CARDOSO, Rosane. As crianças que não existiam: a infância e a literatura em Ana María Matute. Caderno Seminal Digital, ano 21, nº 23, v. 1. Jan/Junh.2015. ISSN 1806-9142. DOI: http://dx.doi.org/10.12957/cadsem.2015.14393 CARVALHAL, Tania Franco. O próprio e o alheio: ensaios de literatura comparada. In CARVALHAL, T. F. Tradução e recepção na prática comparatista. São Leopoldo: editora Unisinos, 2003. MATUTE, Ana María. Los niños tontos. Valencia: Media Vaca, 2000. YEBRA, Valentín García. Teoría y práctica de la traducción. Madrid: Gredos, 1984. A NÚMERO 59 DE 1997: ANA ORANTES, VIOLÊNCIA DE GÊNERO, REALIDADE, FICÇÃO E TRADUÇÃO Luciana Ferrari Montemezzo Resumo: Aconteceu em 17 de dezembro de 1997. Alguns dias antes, Ana Orantes, de sessenta anos, apresentara-se no programa De tarde en tarde, no Canal Sur, maior rede de TV da Andaluzia, para acusar seu ex-marido de violência doméstica. Cansada de denunciar inutilmente José Parejo à polícia ao longo de 40 anos de agressão, Ana acreditou que, ao tornar público o caso, estaria protegida. Entretanto, enfurecido e ofendido, Parejo reafirma sua alcunha de agressor, assassinando a mãe de seus onze filhos. A morte cruel de Ana, queimada viva na casa que compartilhava com seu algoz, tornou-se emblemática no país. Provocou alterações nas leis de proteção às mulheres e fomentou discussões sobre o tratamento aos agressores na sociedade espanhola. A presente comunicação une o fato histórico ao relato Anitilla, de autoria de Ana Morilla Palacios, por meio do processo tradutório. O referido relato faz parte da obra Escribiré tu nombre: 25 historias con nombre de mujer, firmadas por mujeres (2020). Nele, a autora retoma o acontecimento por meio da escrita ficcional, fixando o nome da vítima para além da crônica policial ou da legislação espanhola. Desta forma, garante também sua memória na literatura espanhola contemporânea. A tradução que ora se apresenta está inserida no projeto de pesquisa “Traduzindo coletivamente a voz feminina: a narrativa espanhola contemporânea” (2021), que objetiva aplicar os conceitos de processo e resultado (García Yebra, 1984), além das proposições de Carvalhal (2003) sobre o papel do tradutor como crítico de novos autores e de Tedeschi-Guatelli (2011), referentes ao trabalho colaborativo entre autor, tradutor e editor, a fim de concretizar a tradução e apresentá-la ao novo público. Neste sentido, a comunicação apresentará a tradução e comentará sua relação com o texto de partida e com o feminicídio nele relatado. Referências: CARVALHAL, Tania Franco. O próprio e o alheio. São Leopoldo: Ed. UNISINOS, 2003. GARCÍA YEBRA, Ideas generales sobre la traducción. IN: http://phte.upf.edu/pte/p-siglo-xx-xxi/garcia-yebra-1984/ (acesso em 01/05/2020) GUATELLI-TEDESCHI, Joëlle. Contextos y textos en traducción colectiva. Traducir la voz lírica en la Lomonosv (UEM). Mundo eslavo. Revista iberoamericana de cultura y estudios eslavos. Granada: Ed. Universidad de Granada, 2011. MULHERES AUTORAS E TRADUTORAS DE LITERATURA LATINO-AMERICANA: UMA REFLEXÃO A PARTIR DA EXPERIÊNCIA NA FORMAÇÃO DE TRADUTORAS Lucie Josephe de Lannoy Resumo: Este trabalho apresenta uma reflexão a partir da experiência de leitura de estudantes do curso de Letras Tradução Espanhol da Universidade de Brasília que deram atenção às personagens femininas dos contos abordados, às suas tradutoras e que, também, realizaram traduções e retraduções. Entre as obras que participam do estudo, temos os contos de Daniel Sada (México), Una de dos/ De duas, uma, tradução de Livia Deorsola, 2016; de Rachel de Queiroz, O 15/ El 15, tradução de María Auxílio Salado (2013) e, de Maria Elena Walsh (Argentina), Cuentopos de Gulubú (2000), traduzidos pelas tradutoras em formação, ao longo dos anos de 2021 e 2022. Podemos observar um diálogo entre as tradutoras em formação, as personagens femininas e suas tradutoras que nos leva a pensar a tradução feminista. Pois, para Lotbinière-Harwood (1981), o feminismo seria tornar o feminino visível na língua fazendo com que as mulheres sejam vistas e ouvidas no mundo real. De fato, a tradução literária participa de movimentos que podem questionar até o próprio uso do termo traduzir e, sobretudo, acolher aportes multidisciplinares que nos ajudam a desenvolver uma leitura lúcida e profunda das intertextualidades da obra que se traduz e de seus contextos de produção. O trabalho contará com referências a teóricos como Susan Bassnett (2003), Berman (2013), Simon (1996), von Flotow (1997), entre outros. Referências: Berman, A. A tradução e a Letra ou o Albergue do Longínquo. 2a. ed. Trad. M.H.C. Torres, M. Furlan, A. Guerini. Florianópolis, PGET/UFSC, 2013. Bassnett, S. Estudos de tradução. Trad. de Vivina de Campos Figueiredo. Lisboa, Ed. Fundação Calouste Gulbenkian, 2003. Flotow, L. von. Translation and gender: Translating in the "Era of Feminism". Ottawa: University of Ottawa Press, 1997. Simon, S. Gender in translation: Cultural identity and the Politics of Transmission. 1st ed., Montreal, Routledge, 1996. A MULHER NOS CONTOS DE EMILIA PARDO BAZÁN: UMA PROPOSTA DE TRADUÇÃO COLETIVA E FEMINISTA María del Mar Paramos Cebey Resumo: O papel da mulher tanto na literatura, como na tradução não sempre contou com a visibilidade que lhe correspondia, razão pela qual consideramos relevante poder rever ou ressignificar alguns conceitos a este respeito. Com tal objetivo, a presente comunicação pretende apresentar o projeto “Mulheres em tradução: Emilia Pardo Bazán”, projeto de pesquisa desenvolvido com alunas do curso de Letras Tradução Espanhol da Universidade de Brasília (UnB). Trata-se de um projeto que busca dar continuação à formação em tradução literária (tradução e/ou versão) no âmbito do par linguístico espanhol/português, com o intuito de (re)traduzir autoras espanholas, hispano-americanas e/ou brasileiras. Este projeto de didática e prática de tradução inspira-se na noção de competência tradutória de Amparo Hurtado Albir (2005), e conta com leituras e discussões teóricas sobre aspectos literários e tradutórios, prática coletiva de tradução e de revisão; ao tempo que se apoia em teóricas feministas como Sherry Simon (1996), Luise von Flotow (1997), Olga Castro (2009), entre outras. Neste caso, será apresentado o processo de tradução coletiva de contos com temática feminista de Emilia Pardo Bazán (1851-1921). A escolha da escritora galega justifica-se pela necessidade de (re)traduzir e (re)apresentar, ao Brasil, uma das autoras mais célebres – e injustiçadas – da literatura espanhola. Autora de uma vasta obra, foi uma das pioneiras na luta pela defesa dos direitos das mulheres no século XIX a quem deu voz própria e por quem lutou em seus textos literários. Referências: CASTRO VÁZQUEZ, Olga (2009) (Re)examinando horizontes en los estudios feministas de traducción: ¿hacia una tercera ola?. MonTI. Monografías de Traducción e Interpretación, n. 1, p. 59-86, 11. HURTADO ALBIR, Amparo. (2005). A Aquisição da competência tradutória: aspectos teóricos e didáticos. In F. Alves, C. Magalhães, & A. Pagano (Eds.), Competência em tradução: cognição e discurso (pp. 19-57). Editora da UFMG. SIMON, Sherry. (1996). Gender in Translation. London: Routledge. VON FLOTOW, Luise (1997). Interventionism in feminist translation. In: VON FLOTOW, Luise. Translation and gender translating in the era of feminism. Manchester: St Jerome Publishing & Ottawa: University of Ottawa Press,p. 24-29. SIMPÓSIO “NARRATIVA, TRADUÇÃO E TRANSCRIAÇÃO: DIÁLOGOS ENTRE LÍNGUAS, LINGUAGENS, GÊNEROS LITERÁRIOS E CONFIGURAÇÕES ESTÉTICAS” Lacy Guaraciaba Machado (PUC-Goiás), Joabson Lima Figueiredo (UNEB) POR UMA "POÉTICA DO LEITOR": EMANCIPAÇÃO DO SUJEITO NA LEITURA CRÍTICA DE TRÊS TRADUÇÕES DE FEDERICO GARCIA LORCA Adilson Guimarães Jardim Resumo: Neste trabalho, assume-se uma posição de sujeito-leitor da tradução, neste caso, o próprio autor do estudo, na mesma perspectiva de Jacques Rancière, que denominou “paradoxo do espectador” a recepção passiva, ignorante dos processos performáticos da obra (a mise-en-scène), alienada da própria realidade, quando encoberta pelo espetáculo. Em termos semelhantes, na transposição para uma recepção leitora, propõe-se a leitura crítica de um texto de Federico Garcia Lorca, o “Romance de la Luna Luna”, poema do livro Romancero Gitano, bem como de três de suas traduções para o português do Brasil. Não se trata de assumir uma posição de sujeito-leitor kantiano, o “homem de gosto”, dotado de um apurado senso estético, capaz de determinar a obra digna, sujeitando os livros ao seu arbítrio invulnerável, mas incapaz ele mesmo de produzir algo semelhante à obra criticada, como o acusou Nietzsche em Genealogia da Moral. Na visão pragmática de Rancière, esse espectador desejado é afeito à inação e solícito do drama, que se lança em voo de Ícaro a uma emancipação, se não desde sempre, ao menos desde já tornada inevitável na contemporaneidade, partícipe da arte como jogo, e consciente das estratégias de reflexão propostas pelo autor. É, portanto, a partir da posição de um leitor insubmisso, de um leitor emancipado, seja pelo gosto pessoal e por rituais mais ou menos subjetivos de uma “poética do leitor”, que se arrisca este percurso insubmisso da tradição tradutológica, tentativa de aproximação sem dúvida arisca, que procurará colocar no mesmo palco diversas instâncias e atores sociais envolvidos na recepção do poema. Referências: AMELINHA, Romance da Lua, Lua. In Pão Pão Beijo Beijo. Opus Columbia. Trilha sonora de novela. 1983. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ZBCHgNwx9TU, acessado em 09/03/2022. BADIOU, Alain, Theory of Subject. New York: Continuum, Bruno Bosteels (Translated and introduction), 2009. BENJAMIN, Walter. A Tarefa do Tradutor: quatro traduções para o português. Belo Horizonte: FALE/UFMG, 2008. CASCUDO, Câmara. Anubis e Outros Ensaios. 2ª ed., FUNARTE/UFRN, 1983. Dicionário Collins: espanhol-português, português-espanhol. Barcelona, São Paulo: Grijalbo, Siciliano, 1998. FLAVIOLA. Romance da Lua, Lua. In Flaviola e o Bando do Sol. Recife: Rosemblitz, Trilha sonora de novela, 1974. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=eYVjZPNlfsM, acesso em 09/03/2022. GREIMAS, Algirdas Julien. Da Imperfeição. São Paulo: Hacker Editores, Ana Cláudia de Oliveira (trad.), 2002. LISBOA, José Carlos. Verde que te Quero Verde. Rio de Janeiro: Zahar, 1983. CASARES, Julio. Diccionario Ideológico de La Lengua Española. São Paulo: Gredos, 2013. LAVERGNE, Lucie. Figurations et spatialisations du sens, durant les avantgardes poétiques espagnoles (1910-1920). In Formules. Revue des créations formelles. Paris: Presses Universitaires du Nouveau Monde, 2016. MESCHONNIC, Henri. Poética do Traduzir. São Paulo: Perspectiva, Jerusa Pires Ferreira e Suely Fenerich (trads.), 2010. MOLINER, María. Diccionario de Uso del Español. São Paulo: Gredos, 2016. MOISÉS, Massaud. Dicionário de Termos Literários. 12ªed. São Paulo: Cultrix, 2004; LORCA, Federico García. Antologia Poética. 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Sua história, suas leituras, seu país de origem, os estereótipos que circulam sobre o Brasil no imaginário francófono e sua experiência pessoal no país impregnam essa obra ficcional em diversas esferas. Neste trabalho, pretendo discutir de que maneira Évelyne Heuffel reconstrói, ou melhor, traduz o Brasil de 1904, abordando quais imagens ela projeta sobre o país, entre mito e história, entre estereótipos e transcriação. Minha análise será baseada em um instrumental teórico que mescla elementos do campo dos Estudos da Tradução (por entender que qualquer imagem constitui uma tradução: uma tradução do Outro, aqui representado pelo Brasil, e, no âmbito das relações complexas inerentes a esse processo, uma tradução de si mesmo) com aquele dos Estudos da Imagologia (já que a imagem literária também pode ser entendida como um elemento inserido em um contexto mais abrangente: o imaginário social). Referências: AFFERGAN, Francis Exotisme et altérité, Paris, PUF, 1987. CAMPOS, Haroldo de. Da tradução como criação e como crítica. In: _____. Metalinguagem & outras metas: ensaios de teoria e crítica literária. 4ª ed. aum. São Paulo: Perspectiva, 2010, p. 31-48. (1ª ed.: Da tradução como criação e como crítica. Tempo Brasileiro, no. 415, jun./set. de 1967, p. 163-181 — o artigo foi escrito em 1963). CARELLI, Mario, Cultures croisées. Histoire des échanges culturels entre la France et le Brésil de la découverte aux temps modernes. Paris: Nathan, 1994. FIGUEIREDO, Euridice. Représentations du Brésil dans la littérature québécoise contemporaine. Voix et images, vol. XXV, n°3 (75°, 2000). GODET, Rita Olivieri. Le Brésil dans l’imaginaire littéraire français actuel : images de la latinité et du métissage. Revue Silène. Centre de recherches en littérature et poétique comparées de Paris Ouest: 2011. Disponível em: http://www.revuesilene.comf/index.php?sp=comm&comm_id=79. HEUFFEL, Évelyne, Villa Belga, Bruxelles, M.E.O, 2013. OCTAVIO Paz. Traducción: literatura y literalidad. 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Campinas: Mercado de Letras, 1998a. cap. 3, p.173-200. A INTERGENERICIDADE EM ALADIM E A LÂMPADA MARAVILHOSA NO CORDEL BRASILEIRO Dayse Oliveira Barbosa Resumo: Este trabalho consiste no estudo do efeito estético gerado pelas escolhas lexicais em duas adaptações brasileiras de Aladim e a lâmpada maravilhosa, narrativa oriunda de As mil e uma noites (anônimo). As adaptações são as seguintes: História de Aladim e a lâmpada maravilhosa (2011), de Patativa do Assaré, com ilustrações de Fernando de Almeida, e Raimundim e a lamparina maravilhosa (2016), reconto escrito e ilustrado por Fábio Sombra. Sabe-se que as narrativas de As mil e uma noites chegaram ao Brasil a partir de diferentes traduções, que embasaram uma diversidade inumerável de adaptações das principais narrativas de Sherazade, entre elas, Aladim e a lâmpada maravilhosa. Essa narrativa junto com Simbad, o marujo e Ali Babá e os quarenta ladrões forma a tríade que mais recebeu adaptações para o público infantil e juvenil brasileiro, contribuindo significativamente para a difusão das histórias de As mil e uma noites no Brasil. As adaptações de Patativa do Assaré e Fábio Sombra destacamse porque são compostas nas primeiras décadas do século XXI, conforme a estrutura do gênero poema de cordel, ambientam-se no nordeste brasileiro e direcionam-se prioritariamente ao público infantil e juvenil brasileiro. Essa ambientação é trazida à tona pelas escolhas lexicais, que evidenciam a criatividade e a originalidade dos cordelistas ao realizarem essa transcriação intergenérica. Dessa forma, o estudo do efeito estético gerado pelas escolhas lexicais em História de Aladim e a lâmpada maravilhosa e Raimundim e a lamparina maravilhosa é essencial para compreender como a história de Aladim nasceu no Oriente Médio, percorreu séculos em diferentes culturas ao redor do mundo e mantém-se atual no Brasil, em pleno século XXI, sendo adaptada em um gênero poético. Neste estudo serão consideradas as seguintes contribuições teóricas: Jorge Luís Borges (1996), José Nicolau Gregorin Filho (2009), Irandé Antunes (2010), Marco Haurélio (2013), Mamede Mustafá Jarouche (2018). Referências: ANTUNES, Irandé. Análise de textos - fundamentos e práticas. São Paulo: Parábola Editorial, 2010. ASSARÉ, Patativa. História de Aladim e a lâmpada maravilhosa. Ilustrações de Fernando Almeida. São Paulo: Hedra, 2011. BORGES, Jorge Luís. Os tradutores d'As mil e uma noites. In: História da eternidade. São Paulo: Schwarcz, 1996. GREGORIN FILHO, José Nicolau. Literatura infantil. São Paulo: Melhoramentos, 2009. HAURÉLIO, Marco. Literatura de cordel - do sertão à sala de aula. São Paulo: Paulus, 2013. JAROUCHE, Mamede Mustafa. Livro das mil e uma noites. Rio de Janeiro: Bilioteca Azul, 2018. SOMBRA, Fábio. Sertão das arábias. Ilustrações de Fábio Sombra. São Paulo: Escarlate, 2016. CULTURA E POLISSISTEMA LITERÁRIO NAS TRADUÇÕES PARA O INGLÊS DE RELATO DE UM CERTO ORIENTE DE MILTON HATOUM Fernanda Lair Zuconelli Machado da Silva, Mirian Ruffini Resumo: Relato de um certo Oriente (1989) não é um romance de uma única interpretação ou plano. O texto inaugural de Milton Hatoum, exemplifica a palavra que é, “ao mesmo tempo, forma e conteúdo [...]” (CANDIDO, 2019, p. 32) e explicita uma construção narrativa voltada à fluidez entre culturas. E nesse sentido olhar para a tradução de um texto tão representativo culturalmente é colocar esforços em um trabalho com diferentes camadas. Assim, esta pesquisa abarca as possíveis representações da literatura brasileira levadas no processo de tradução e as implicações dessas imagens no sentido cultural, uma vez que a inserção da literatura do Brasil para além de nossas fronteiras requer um foco de estudos nos processos de mediação entre línguas e culturas. Verifica-se, portanto, as formas de transposição dos aspectos culturais e linguísticos nos textos traduzidos Tree of the Seventh Heaven (1994), por Ellen Watson e Tale of a Certain Orient (2004), por John Gledson, a partir das lentes dos estudos de Maria Tymoczko (2002; 2013) e Kanavillil Rajagopalan (2013) na análise do papel do tradutor literário no viés das relações de poder. Já os estudos de Lawrence Venuti (2019), André Lefevere (2007) e a Teoria do Polissistema de Itamar Even-Zohar (2013) subsidiam a pesquisa no sentido de compreender as diferentes periferias e os diferentes centros em que os processos de transferências acontecem nos sistemas que abarcam a tradução literária. Referências: CANDIDO, Antonio. Literatura e sociedade. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2019. EVENZOHAR, Itamar. Teoria dos polissistemas. Revista Translatio 4. Tradução Luis Fernando Marozo; Carlos Rizzon & Yanna Karlla Cunha. Tel Aviv: Universidade de Tel Aviv, p. 2-21, 2013. LEFEVERE, André. Tradução, reescrita e manipulação da fama literária. Bauru: EDUSC, 2007. RAJAGOPALAN, Kanavillil. Política do Pós-colonialismo e lutas de poder: sobre os ocasionais e muito conhecidos ataques do revisionismo nos estudos da tradução. In: Tradução e relações de poder. Org.: Lume, Rosvitha Friesen; Peterle, Patricia. Florianópolis: Copiart, 2013, p. 95-114. TYMOCZKO, Maria. Ideologia e a posição do tradutor: em que sentido o tradutor se situa no “entre”(lugar)? In: Tradução e relações de poder. Org.: Lume, Rosvitha Friesen; Peterle, Patricia. Florianópolis: Copiart, 2013, p. 115-148. TYMOCZKO, Maria. Post-colonial writing and literary translation. In: BASSNETT, Susan; HARISH, Trivedi. Post-colonial translation: theory & practice. Taylor & Francis e-Library. 2002. VENUTI, Lawrence. Escândalos da Tradução: por uma ética da diferença. São Paulo: Editora Unesp, 2019. STELA NO TEMPO: UMA CONVERSA SOBRE POEMA I DE PRESSÁGIOS, DE HILDA HILST Malane Apolonio da Silva Resumo: : Este artigo estuda o poema I da primeira publicação intitulada Presságios (1950) da poeta Hilda Hilst, e tem como objetivo analisar como o tempo é acionado no poema. Para tanto, criando possibilidades para propor estratégias de criação a partir da análise feita ao contato com teorias que propõem um diálogo aproximado com o poema e o modo como ele tensiona o eu-lírico a fazer parte do processo criado por Hilda Hilst. Para tanto, o eu-lírico insere-se entre tempo e dúvida, e é nesta cesura que se criaram possibilidades dialógicas entre o poema e o tempo. Esta análise interessa também aproximar o ato poético de Hilda Hilst as sensações acionadas na leitura. Como metodologia de análise utilizaremos como principais teóricos Octavio Paz, em o Arco e a lira (2012) Gaston Bachelard, em Poética do espaço (1957) e Poética do Devaneio (1960), Emil Staiger (1975), em Conceitos fundamentais da poética, entrevistas de Hilst que foram organizadas por Cristiano Diniz, em Fico besta quando me entendem (2013), Maurice Banchot em Espaço literário (2011) o Cadernos de Literatura Brasileira (1999), publicado pelo Instituto Moreira Sales, críticas produzidas na contemporaneidade ao texto poético da Hilda Hilst e ainda o textos teóricos de Deluze e Guattari em Capitalismo e esquizofrenia (2020). Referências: HISLT, Hilda. Presságios. In: HISLT, Hilda. Baladas. Globo, São Paulo, 2013. BANCHOT, Maurice. Espaço literário. Rio de janeiro: Rocco, 2011. BACHELARD, Gaston. Poética do Espaço. São Paulo: Martins fontes, 1957. BACHELARD, Gaston. Poética do Devaneio. São Paulo: Martins fontes, 1960. DELEUZE, Gilles. Capitalismo e esquizofrenia. Tradução de xxx. São Paulo: Ed. 34, 2011. DINIZ, Cristiano. Fico besta quando me entendem: Entrevistas com Hilda Hilst. São Paulo: Globo, 2013. INSTITUTO Moreira Salles. Cadernos de Literatura Brasileira: Hilda Hilst. São Paulo: n. 8, out. 1999. NO MAIS SECRETO DO SER EFÊMERO: A CORPORIZAÇÃO DA ESCRITA FEMININA EM "O MURO DE PEDRAS" Pollyana Correia Lima, Ricardo Magalhães Bulhões Resumo: Elisa Lispector inicia em “O Muro de Pedras” (1963), a conflituosa relação da mulher com o mundo, consigo e com o outro. Desse modo, há o rompimento de uma possível conexão que se transfigura em elos partidos. Em sua tessitura escritural, a solidão das personagens representa um mecanismo para alcançar o conhecer a si. Para tanto, esta análise propõe investigar a corporização da escrita feminina no romance “O Muro de Pedras”. Essa escrita feminina acompanha os anseios e indagações da protagonista Marta e configura seu itinerário à procura do autoconhecimento. Para fomentar as discussões acerca do projeto estético de Elisa Lispector e suas possíveis relações com a escrita feminina, propomos refletir sobre o silenciamento da voz da mulher. O proliferar de vozes historicamente silenciadas, escritas ocultadas pela opressão do patriarcalismo. Pensar nesse silenciar de vozes, para desvelar o silêncio em torno da produção literária de Elisa Lispector. Por meio da Crítica e Teoria Literária unida aos estudos sobre Elisa Lispector, recorreremos às reflexões de Lúcia Castello Branco em “O que é a escrita feminina” (1991), juntamente com Ruth Silviano Brandão em “A mulher escrita” (1989), Nádia Battella Gotlib em Elisa Lispector — “Retratos Antigos” (Esboços a serem ampliados) (2012), dentre outros textos que surgirão no decorrer da pesquisa. Referências: BRANCO, Lucia Castello. O que é a escrita feminina. São Paulo: Brasiliense, 1991. BRANDÃO, Ruth Silviano. O lugar do texto sobre o feminino. In: A mulher escrita. BRANCO, Lucia Catello; BRANDÃO, Ruth Silviano. Rio de janeiro: Casa-Maria Editorial, 1989. CIXOUS, Hélène. Le rire de la méduse et outres ironies (1975). Paris: Galilé, 2010, p. 29. Kiffer, Ana. Do desejo e devir – as mulheres e o escrever. São Paulo: Lumme Editora, 2019. LISPECTOR, Clarice. Minhas queridas. Rio de Janeiro: Rocco, 2007. LISPECTOR, Elisa. Além da fronteira. Rio de Janeiro: Rocco, 1997. _____. No exílio. Editora Brasília – EBRASA, 1971. ______. O dia mais longo de Thereza. Editora Record: Rio de Janeiro,1975. Pg. 522 Anexo do Edital 118/2021 (2961428) SEI 23104.000039/2021-05 / pg. 248. ______. O muro de pedras. Rio de Janeiro: editora do Rocco, 1976. ______. O tigre de Bengala. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1985. ______. Ronda solitária. Editora A noite: 1954. LISPECTOR, Elisa; GOTLIB, Nádia (Org.). Retratos antigos: esboços a serem ampliados. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2012. MASSON, Jeferson Alves. Elisa Lispector: registros de um encontro. 2015. Dissertação (mestrado) – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Departamento de Letras, 2015. SALLES, Instituto Moreira. Elisa Lispector. Disponível em: https://ims.com.br/2017/06/01/sobre-elisa-lispector/ . Acesso em: 15/01/2022. WALDMAN, Berta. Clarice e Elisa Lispector: caminhos divergentes. Webmosaica. v. 6, n. 1,Jan.-Jun., 2014. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/webmosaica/article/view/50394/31435. Acesso em: 15/01/2022. WOOLF, Virginia. Um teto todo seu. Trad. Bia Nunes de Souza, Glauco Mattoso. 1 ed. São Paulo: Tordesilhas, 2014. SIMPÓSIO “NÃO APENAS O MEDITERRÂNEO: DISCUTINDO A TRADUÇÃO DE CLÁSSICOS GLOBAIS PARA O BRASIL DE HOJE” Andrei dos Santos Cunha (UFRGS), Lica Hashimoto (USP), Michele Eduarda Brasil de Sá (UFRJ/UFMS) PANAROMA E POLIFONIA DO "PREFÁCIO EM HIRAGANA" Andrei dos Santos Cunha Resumo: O “Prefácio em hiragana” da antologia poética Kokin’wakashû (Japão, século X) foi escrito pelo poeta e crítico literário Ki no Tsurayuki, que atuou também como um de seus compiladores. Considerado como um dos textos fundadores da estética japonesa — e o paratexto mais importante da história da sua literatura —, o ensaio de Tsurayuki estabelece, à semelhança do “Grande prefácio” do Sh?j?ng (China, século I), uma poética fundacional escrita que dá destaque ao aspecto afetivo-expressivo da literatura e que adota como gênero central a poesia lírica — em contraste com a poética aristotélica que, baseada no gênero do drama, enfatiza o aspecto mimético-representacional do literário, criando uma cisão entre “palavra” e “coração” que está longe de ser universal ou parte do senso comum em culturas não descendentes do regional europeu (MINER, 1990). No entanto, mesmo adotando a literatura chinesa como modelo, a poética japonesa é reflexo de uma experiência histórica bastante distinta. O gênero lírico, parte integrante do tecido social da aristocracia da Antiguidade, nunca precisou de justificativa extraliterária para existir. Assim, quando Tsurayuki teorizou sobre a poesia japonesa, ele não precisou atribuir a ela elementos pragmáticos, optando por defender que a poesia se justifica a si mesma, como canto — o canto dos seres vivos, a expressão de seu sentimento. O texto de Tsurayuki vem acompanhado de uma série de notas encontradas na maioria das cópias mais antigas. Esses comentários e interpolações teriam sido acrescentados posteriormente, por um comentarista anônimo. A maioria das edições contemporâneas trata essas notas como parte integrante do documento, fazendo a distinção entre o texto de Tsurayuki e o do comentarista por meio de diferentes elementos tipográficos. Busco apresentar, aqui, uma proposta de tradução que dê conta dessa polifonia de textos e sentidos. Referências: MINER, E. Comparative Poetics: an intercultural essay on theories of literature. Nova Jérsei: Princeton University, 1990. PROJETO PARA UMA NOVA TRADUÇÃO DO "KOJIKI" EM PORTUGUÊS BRASILEIRO Bruno Costa Zitto Resumo: Neste trabalho, apresento alguns aspectos do projeto que venho desenvolvendo para traduzir em português brasileiro o "Kojiki" (712), texto da antiguidade japonesa. Os três tomos que compõem a obra recontam uma história das origens do mundo, das ilhas japonesas, dos deuses e da dinastia imperial. É possível que a forma como o documento traduziu em letras chinesas (MARTINS, 2020; FRELLESVIG, 2010) a potência mágica e a autoridade retórica das oralidades xintoísta e budista (ANTONI, 2012; HELDT, 2014) esteja mesmo relacionada aos ideais absolutistas cultivados pelos cortesãos e imperadores que empreenderam sua compilação (KATO, 2011; NAOKI, 1993). Considerando a historicidade e o complexo hibridismo cultural desse texto como guias importantes para uma tradução sua que se preocupe com evitar certos vícios orientalistas de representação, continuo a utilizar e experimentar com estratégias tradutórias bastante remetentes a reflexões já conhecidas sobre poesia concreta (CAMPOS; CAMPOS; PIGNATARI, 1975), linearidade e superficialidade textuais (FLUSSER, 2019), funções do paratexto (GENETTE, 2009) e performance (ZUMTHOR, 2014). Para ilustrar o método por meio de que tenho avançado esse projeto, elencarei alguns exemplos dos seus dois primeiros tomos, comparando-os a excertos de outras traduções do poema japonês para as línguas portuguesa (MIETTO, 1996) e inglesa (PHILIPPI, 1968; HELDT, 2014), bem como a passagens de recentes traduções brasileiras para obras das antiguidades grega (PALAVRO, 2021), maia-quiché (BAPTISTA, 2019) e babilônica (BRANDÃO, 2017). Referências: ANTONI, Klaus. Kotodama and the Kojiki: the Japanese "word soul" between mythology, spiritual magic, and political ideology. "Beiträge des Arbeitskreises Japanische Religionen", Tübingen, v. 4, p. 1–13, 2012. CAMPOS, Augusto; CAMPOS, Haroldo, PIGNATARI, Décio. "Teoria da poesia concreta". São Paulo: Livraria Duas Cidades, 1975. FLUSSER, Vilém. "O mundo codificado": por uma filosofia do design e da comunicação. Tradução de Raquel Abi-Sâmara. São Paulo: Ubu Editora, 2017. FRELLESVIG, Bjarke. "A history of the Japanese language". Cambridge: Cambridge University, 2010. GENETTE, Gérard. "Paratextos editoriais". Tradução de Álvaro Faleiros. Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2009. KATO, Shuichi. "Tempo e espaço na cultura japonesa". Tradução de Neide Nagae e Fernando Chamas. São Paulo: Estação Liberdade, 2011. MARTINS, Nathália da Silveira. "A tradução na formação da tradição japonesa": um panorama sobre tradução até o período Meiji. Porto Alegre: Class, 2020. MIETTO, Luís Fábio Marchesoni Rogado. "Kojiki ou 'Relatos de Fatos do Passado'": apresentação com notas analíticas da mais antiga crônica histórica japonesa do século VIII. 1996. Dissertação (Mestrado em História Social) — Departamento de História Social da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo. NAOKI, Kôjirô. The Nara state. Tradução para o inglês de Felicia G. Bock. In: BROWN, Delmer M. (Ed.). "The Cambridge history of Japan": volume 1, Ancient Japan. Cambridge: Cambridge University, 1993. Ô, Yasumaro. "Kojiki". Tradução para o inglês de Donald L. Philippi. Tóquio: University of Tokyo, 1968. Ô, Yasumaro. "The Kojiki". Tradução para o inglês de Gustav Heldt. Nova Iorque: Columbia University, 2014. PALAVRO, Bruno. "Hesiódica". 2021. Dissertação (Mestrado em Estudos de Literatura) — Programa de Pós-Graduação em Letras, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. "POPOL Vuh": o esplendor da palavra antiga dos maias-quiché de Quahtlemallan: aurora sangrenta, história e mito. Tradução de Josely Vianna Baptista. São Paulo: Ubu Editora, 2019. SINLÉQI-UNNÍNNI. "Ele que o abismo viu": epopeia de Gilgámesh. Tradução de Jacyntho Lins Brandão. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017. ZUMTHOR, Paul. "Performance, recepção, leitura". Tradução de Jerusa Pires Ferreira e Suely Fenerich. São Paulo: Cosac Naify, 2014. REPENSANDO OS PROCESSOS DE TRADUÇÃO DE TEXTOS MITOLÓGICOS FUNDACIONAIS A PARTIR DA KALEVALA FINLANDESA Carolina Alves Magaldi Resumo: A Kalevala finlandesa é um texto mitológico fundacional único, em diversos sentidos. A epopeia integra o escopo das obras do Romantismo tardio, como parte de uma iniciativa de protonacionalismo, trazendo uma engenharia linguística e temática, com o objetivo de gerar uma interpretação de ancestralidade do texto, com a retirada de expressões cristãs, por exemplo. Além disso, o épico foi fomentado pela Sociedade Finlandesa de Literatura, antes que houvesse, propriamente, uma literatura em língua finlandesa. Em seguida, foi rapidamente traduzido para o russo e o sueco, ainda com intenções de atuar como embaixador cultural da protonação finlandesa. Desde tal momento, abraçou traduções interlinguais, intralinguais e intersemióticas, abrangendo toda sorte de obras, desde álbuns conceituais de heavy metal até quadrinhos com personagens caninos. Essas questões atípicas, no entanto, não são o tema de nosso estudo, mas sim os sistemas subjacentes criados para divulgação cultural, os quais permearam seus processos tradutórios. Analisaremos, assim, quatro elementos principais: as fundações na escola folclorista, que impactou sobremaneira o registro de obras estrangeiras, chegando a impactar o registro e tradução do Popol Vuh maia; a criação de fundações literárias como forma de gerar legitimidade ao processo de cristalização de um formato das obras a serem difundidas, bem como centralizar os esforços posteriores de tradução; a documentação dos processos de cristalização de uma versão das obras, com base em crônicas, diários, diálogos interartes e afins; a pluralidade de tipos de tradução considerados adequados e viáveis para representação das obras. Dessa forma, esperamos contribuir para a compreensão dos processos de difusão de obras mitológicas fundacionais externas ao contexto romano-helênico. Referências: ANONIMO. Popol Vuh. Trad. Sérgio Medeiros. São Paulo: Iluminuras, 2020. CASANOVA, Pascale. A República Mundial das Letras. São Paulo: Estação Liberdade, 2002. JAKOBSON, Max. Finland: Myth and reality. Helsinque: Otava, 1987. LONNROT, Elias & BOSLEY, Keith (trad.) The Kalevala. Oxford: Oxford University Press, 1999. LÖWY, Michael e SAYRE, Robert. (Trad.: OLIVEIRA, Eloísa de Araújo) Romantismo e Política. São Paulo: Paz e Terra, 1993. MAGALDI, Carolina Alves. Paratextos da Kalevala e do Popol Vuh pelo tempo e o espaço. Tese de doutorado. Universidade Federal de Juiz de Fora, 2013. PENSANDO FORA DA BIO-LÓGICA: UMA TRADUÇÃO DE HIPÓCRATES A PARTIR DA PERSPECTIVA DOS ESTUDOS DE GÊNERO Isadora Costa Fernandes Resumo: A recepção da obra de Hipócrates coloca-o como pai fundador da medicina. O status atrelado ao autor faz parte de uma tradição cultural acadêmica que tende a reafirmar seus pressupostos epistemológicos contemporâneos em uma matriz originária grega (VON STADEN, 1992). Especificamente na área da medicina, essa matriz é, com frequência, a Coleção Hipocrática (op. cit.), o que acaba contribuindo para um ponto de vista não decolonial dos textos hipocráticos. O presente trabalho propõe um olhar crítico sobre a recepção da Antiguidade helênica por meio do gênero como uma ferramenta metodológica. Nesse sentido, adota deliberadamente a estratégia de gerar um estranhamento entre os gregos e nós e, dessa forma, ir contra uma prática de pesquisa que reforça a Grécia como matriz originária do ocidente e, assim, apresentar uma tradução decolonizada de textos gregos, no que tange a esta pesquisa o texto hipocrático Da natureza da criança. Esse estranhamento é proposto a partir das historicidades das concepções de corpo, que não é algo estável ou ahistórico. Segundo M. Almeida (2013), há sempre um resíduo na prática de uma ontologia que pode levar ao questionamento de pressupostos ontológicos. No nosso caso, os resíduos se apresentam quando nós percebemos como as definições biológica de corpo feminino e masculino entram numa lógica cultural de categorias ocidentais modernas que têm como pressuposto o determinismo biológico, sendo assim uma bio-lógica (OY?WÙMÍ, 2021). Assim, entram em negociação na tradução percepções de mundo distintas: a do texto original e a do tradutor e, consequentemente, da sua cultura, língua e pensamento. É importante, então, fazer um esforço de compreensão contrastiva dos quadros de referência culturais da língua de partida e da língua de chegada. Isto inclui aqui, pensar como a bio-lógica contemporânea é estranha à Grécia antiga e tentar não impô-la ingenuamente no processo de tradução. Referências: ALMEIDA, Mauro W. B. Caipora e outros conflitos ontológicos. Revista de Antropologia da UFSCar, v.5,n.1, jan-jun., p.7-28, 2013. BACELAR, Agatha Pitombo. Tragoidíai: cantos de cura? Representações da doença nos cultos dionisíacos e em tragédias de Sófocles. orientador Orlene Lúcia de Saboia. 2018. p. 322. Tese de Doutorado- Doutorado em Linguística, UnB, Brasília, 2018. BAKHTIN, Mikhail. Estética de Criação Verbal. Tradução de Marina Appenzeller. 1° edição. São Paulo: Martins Fontes, 1992. BOEHRINGER, Sandra. Sexe, genre, sexualité: mode d’emploi (dans l’Antiquité). Kentron. Caen, Vol. 21, n 1, p.83-110. jan./dez., 2005. BONNARD, Jean-Baptiste. Male and female bodies according to Ancient Greek physicians. Clio- Women, Gender, History. Paris, Vol. 37, n. 1, p. 1-17, jan./ jul., 2013. BUTLER, Judith P. Corpos que Importam: Os limites discursivos do “Sexo”. Tradução de Veronica Daminelli e Daniel Yago Françoli. 1° edição. São Paulo: N-1, 2019a. ______. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Tradução de Renato Aguiar.18º edição. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2019b. ______. Os sentidos do sujeito. tradução de Carla Rodrigues. 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Nesta apresentação, pretendo discutir a partir de uma perspectiva comparatista alguns elementos das narrativas, bem como fazer o relato do trabalho de tradução e de publicação das mesmas no Brasil. Nos tomos I e II, há um vasto repertório de histórias que falam da criação do mundo, da origem das divindades, da vida e da morte, como a do deus-Izanaki, que segue a deusa-Izanami até o Mundo das Profundezas, e que tem ecos intertextuais com o mito grego de Orfeu. Há ainda a história da Deusa-doSol-Amaterasu que, ao se ocultar na Gruta-Sagrada, deixou Céu e Terra mergulhados na mais completa escuridão — narrativa que tem pontos em comum com o mito grego de Deméter e Perséfone e também com a história do Deus Desaparecido, da mitologia hitita. Apesar do ponto em comum, percebemos que são narrativas únicas, pois cada uma possui uma coloração e interpretação singular do mundo. As Crônicas do Japão revelam o imaginário coletivo japonês, um mundo repleto de magia, práticas xamânicas, adivinhações e rituais. Referências: Kojima N., Naoki K., Nishimiya K., Kuranaka S., Môri, M. Nihonshoki (Crônicas do Japão), volume I. In Nihon Koten Bungaku Zenshû (Coletânea de Literatura Japonesa Clássica). Tóquio: Editora Shôgakkan.1994. ISBN 4-09-658002-3. Príncipe Toneri e Ô-no-Yassumaro. Crônicas do Japão. Nihonshoki (720). Tradução: Lica Hashimoto. Edição bilingue POR/JPN. Distribuição gratuita. SESC-SP Projeto Literatura Livre em parceria com Instituto Mojo. Disponível em https://literaturalivre.sescsp.org.br/ebook/cronicas-do-japao. ANTÍGONA, (RE)TRADUÇÃO E WELTLITERATUR: UM ECO BENJAMINIANO E UM PASSO ALÉM Matheus Ely Cordeiro de Lima Vieira Pessoa Resumo: Walter Benjamin (2008), em “A tarefa do tradutor”, tece algumas considerações de cunho filosófico acerca da tradução literária, nomeadamente sobre a inerência de traduzibilidade a certas obras literárias (mas não a traduções) e como a tradução se faz um meio de se dar continuidade à vida do original, trazendo-lhe fama e sobrevida. Já Antoine Berman (2017), em “A retradução como espaço da tradução”, versa sobre o insucesso inerente às primeiras traduções e o momento favorável (kairós) em que a tradução eleita ? sempre uma retradução ? se tornará tangível e enfim realizável. A partir das reflexões de ambos os teóricos, paralelas e complementares, é possível encararmos a retradução enquanto um fenômeno inevitável e imprescindível. No entanto, o caráter em certa medida epilogar e final de suas observações indica uma busca por uma tradução ideal e definitiva (BENJAMIN, 2008, p. 7373), aquela a menos insuficiente e a mais bem-sucedida possível (BERMAN, 2017, p. 266). Ambos acabam deixando de considerar como a continuação da vida de certas obras literárias pode se dar por meio de traduções que encerram nelas mesmas traduzibilidade própria ? isto é, traduções que permitem e exigem suas próprias traduções. Dito isso, discorrerei sobre essas questões mediante análise da peça “antigonick”, de Anne Carson (uma tradução da “Antígona” de Sófocles para o inglês), e uma proposta de tradução em português brasileiro da obra da poeta canadense. Uma vez que o caráter duplo dessa obra ? de tradução e ao mesmo de original ? aparenta extrapolar não só a concepção benjaminiana de tradução, como também categorias tais quais as de retradução (ACCÁCIO, 2010) e tradução indireta (BERMAN, 2017; GAMBIER, 1994), faz-se necessário pensarmos no lugar a que pertencem essas obras e em sua contribuição à discussão sobre Weltliteratur e literaturas sem morada fixa (DAMROSCH, 2003; ETTE, 2018). Referências: ACCÁCIO, Manuela A. Tradução indireta - uma prática de divulgação e enriquecimento cultural. TradTerm, São Paulo, v. 16, 2010, p. 97-117. ANOUILH, Jean. Antígona. Trad. Sidney Barbosa. Brasília: Editora UnB, 2009. BENJAMIN, Walter. A tarefa-renúncia do tradutor. Trad. Susana Kampff Lages. In: BRANCO, Lucia C. (org.) A tarefa do tradutor, de Walter Benjamin: quatro traduções para o português. Belo Horizonte: FALE/UFMG, 2008, p. 66-81. BERMAN, Antoine. A retradução como espaço da tradução. Trad. Clarissa Prado Marini e Marie-Hélène C. Torres. Caderno de Tradução, v. 37, n. 2, 2017, p. 261-268. ____________________. L’épreuve de l’étranger. Culture et traduction dans l’Allemagne romantique. Paris: Gallimard, 1984. BRECHT, Bertolt. A Antígona de Sófocles. In: ________________. Teatro completo. Trad. Angelika E. Köhnke e Christine Roehrig. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1993, p. 191-251. CAIRNS, Douglas. Sophocles: Antigone. London: Bloomsbury Academic, 2016. DAMROSCH, David. What is World Literature? Princeton: Princeton University Press, 2003. ETTE, Ottmar. EscreverEntreMundos: literatura sem morada fixa. Trad. Rosani Umbach, Dionel Mathias, Terucoc Arimoto Spengler. Curitiba: Ed. UFPR, 2018. GAMBIER, Yves. La retraduction, retour et détour. Meta: Journal des traducteurs, v. 39, n. 3, 1994, p. 413–417. JAKOBSON, Roman. Linguística e comunicação. Trad. Izidoro Blikstein e José Paulo Paes. São Paulo: Cultrix, 1995. PESSOA, Matheus Ely C. de L. V. No apagar das luzes da antigonick de Anne Carson: considerações sobre retraduções e traduções (in)diretas. Trabalho de conclusão de curso (Letras Tradução Inglês) ? Departamento de Línguas Estrangeiras e Tradução, Instituto de Letras, Universidade de Brasília. Brasília, 2019. PIGLIA, Ricardo. Memoria y tradición. Anais do 2º Congresso Abralic. Belo Horizonte, UFMG, v. 1, 1991, p. 60-6. SOPHOCLES. Antigonick. Translated by Anne Carson. New York: New Directions Books, 2015. STRICH, Fritz. Goethe und die Weltliteratur. Bern: Francke Verlag, 1957. "CERTOS LIVROS POÉTICOS DE HISTÓRIAS" - A LITERATURA JAPONESA AOS OLHOS EUROPEUS NO SÉCULO CRISTÃO DO JAPÃO Michele Eduarda Brasil de Sá Resumo: O presente trabalho apresenta o resultado parcial da pesquisa homônima, cujo objetivo principal é fazer um levantamento de menções e comentários sobre obras e escritores japoneses - e, de forma mais ampla, da literatura japonesa - encontrados nos textos escritos pelos padres jesuítas durante os séculos XVI e XVII, período que contém o que Charles Boxer denominou Século Cristão do Japão (15491640), termo utilizado até hoje. A pesquisa, de natureza bibliográfica e exploratória, investiga a perspectiva dos padres, materializada nos seus muitos escritos, entre artes, dicionários e outros textos. Esta perspectiva, ainda que euro/etnocêntrica, registra um exercício de observação da cultura japonesa que, mesmo exotizada, surge descrita com detalhes que nos permitem compreender hoje muitos aspectos que não perceberíamos se dependêssemos apenas dos escritos japoneses da época. Investigase a existência de passagens que apresentem a literatura japonesa como uma literatura com características, padrões estéticos e temas próprios. Busca-se ainda fazer um paralelo com as atividades de tradução de obras clássicas (neste período os jesuítas traduziram, por exemplo, as fábulas de Esopo para o japonês) e verificar o tratamento dado, se algum, a obras clássicas japonesas, no sentido de descobrir se eles assim as reconheciam e o que entendiam por "literatura clássica japonesa". O título desta pesquisa e, por conseguinte, deste trabalho é inspirado no verbete de "Guenji" do Vocabvlario da lingoa de Iapam, dicionário publicado em 1603, que define o Genji Monogatari como h?s certos liuros poeticos de historias. Referências: BOXER, Charles Ralph. The Christian Century of Japan 1549-1650. Berkeley, University of California Press, 1951. JESUÍTAS. (1603) Vocabvlarioda Lingoa de Iapam com adeclaração em Portugues, feito por algvns padres, e irmãos da Companhia de Iesv. Nangasaqui, Collegio de Iapam da Companhia de Iesvs. Disponível em: https://catalogue.bnf.fr/ark:/12148/cb31233110s. SIMPÓSIO “TRADUZINDO NO ATLÂNTICO NEGRO” Denise Carrascosa França (UFBA), Mayana Rocha Soares (UFOB), Felix Ayoh' Omidire (Universidade Obafemi Awolowo, Ile-Ife, Nigéria) POESIA DUB E TRADUÇÃO: TRAÇANDO CAMINHOS PARA A CONSTRUÇÃO DE UMA PRÁXIS TRADUTÓRIA AFRODIASPÓRICA Ayala Tude das Neves Resumo: Levando em consideração a baixa produção de traduções de textos literários que trabalhem com a poesia dub jamaicana e a sua performatividade originada a partir da cultura afro caribenha e da oralidade de culturas africanas, surge a necessidade de pensar em práticas tradutórias que não tangenciam e nem apaguem a potência transformadora e as especificidades estéticas contida nessa forma de arte. O objetivo da pesquisa é estabelecer diálogos com poetas e intelectuais afro caribenhas/os que escrevem ou analisam poesia dub para mapear a presença e a influência de mulheres negras para o desenvolvimento do gênero, sua disseminação e transnacionalização até começar a chegar ao Brasil. Nesta comunicação, quero realizar uma breve análise da poesia dub para pensar em modos de realizar uma tradução que leve em consideração os traços estéticos afrodiaspóricos presentes na poesia dub, observando como essa forma de arte se movimenta através do tempo a partir de seu contato com diferentes tecnologias e novas possibilidades de registro e reprodução. Nesse sentido, me oriento a partir das seguintes questões: como me basear apenas no texto escrito para realizar a tradução de uma poética que nasce a partir da oralidade? Como partir do texto escrito para desenvolver uma tradução de poesia dub, cuja premissa é a performance? Como essa tradução conversa com meu corpo, como tradutora e performer? Quais os limites de uma tradução que considere os traços estéticos afrodiaspóricos da poesia dub? Quais são os caminhos teórico-metodológicos para o exercício de tradução de poesia dub considerando suas especificidades políticas, estéticas e linguísticas pautados numa ética negra? Referências: COOPER, Afua. The Hanging of Angélique: The untold story of Canadian slavery and the burning of old Montreal. Toronto: Harper Collins, 2006. CARRASCOSA, Denise. Traduzindo no Atlântico Negro: por uma práxis teórico-política de tradução entre literaturas afrodiaspóricas. In___. Traduzindo no Atlântico Negro: Cartas náuticas afrodiásporícas para travessias literárias. Salvador: Ogums Toques Negros, 2017, p. 63-74. REIS, Luciana. Entendendo a travessia: por uma tradução escrevivente. In___. Traduzindo no Atlântico Negro: Cartas náuticas afrodiaspóricas para travessias literárias. Salvador: Ogums Toques Negros, 2017, p. 77-115. YAI, Olabiyi. Issues in Oral Poetry: Criticism, Teaching and Translation. In: Discourse and its Disguises: The Interpretation of African Oral Texts - Book 1. Karen Barber and P.F. de Moraes Farias (eds.) Birmingham University, Centre of West African Studies, 1989. Pp 91-106. Disponível em <https://repository.library.georgetown.edu/bitstream/handle/10822/555479/GURT_1986.pdf?sequence =1#page=109>. Acesso em 10 jun 2021. ANGELOU E EU: CAN I THINK ABOUT MYSELF? Gabriela Batista Pires Ramos, Hilda Ferreira da Costa França Resumo: : Este artigo visa a apresentar a tradução crítica do poema When I Think About Myself, o qual é um objeto literário que serve de análise para problematizar questões sócio-histórica de indivíduos negres, raciais transversais na diáspora africana, literárias e, principalmente, a formação de quilombos femininos, a partir da abordagem de gênero, raça e classe da escritora afro-americana Maya Angelou. Tais questões possibilitam, dentre muitas coisas, falar sobre o “eu” com o sentido de “nós”, isto é, de um aparente indivíduo que abarca um coletivo. Através dessas estratégias negra-abolicionista, liberta-se a autora, a tradutora, e as leitoras afetadas pelos conteúdos e formas impressas no poema. O poema em destaque, que está no livro Just Give me a Cool Drink of Water ‘Fore I Diiie (1971), trata de diversas questões, mas o feminismo negro ganha destaque por se tratar de uma descrição poética de uma mulher negra na condição de empregada doméstica. Como no Brasil, sobretudo, a escravidão ainda se faz presente nesse tipo de função, como pode ser visto na mídia, abordar essa temática também implica num gesto abolicionista tradutório, com a função de desvelar os vários sistemas de opressão sofrida por mulheres negras. E para proporcionar uma análise levando em consideração tais questões, de modo qualitativo, como embasamento teórico será feita referência à intelectuais como Frederick Douglass (1845), bell hooks (1976), Ângela Davis (1981), Luiza Bairros (1995), Denise Carrascosa (2017), Sueli Carneiro (2011), Stuart Hall (1996), Gayatri Spivak (2010), Raquel de Souza (2017) e Lawrence Venuti (2002). Esses autores abordam temas ligados à tradução, a literatura, à mulher e demais indivíduos negros. A crítica ao poema também busca destacar a literatura como uma forma de construção de subjetividades negras, reconectadas pela tradução e, por isso, aquilombadas não apenas pelo comparatismo de suas experiências, mas pelas suas estratégias de resistência. Referências: ANGELOU, Maya. The complete collected poems of Maya Angelou. New York: Deckle Edgle, 1994. BAIRROS, Luiza. Novos feminismos revisitados. In: Estudos Feministas, n 2, 1995. Disponível em: < https://periodicos.ufsc.br/index.php/ref/article/viewFile/16462/15034>. Acesso em: 28 abril 2017. CARRASCOSA, Denise (org). Traduzindo no Atlântico Negro: Cartas Náuticas Afrodiaspóricas para Travessias Literárias. Salvador: Ogum’s Toques Negros, 2017, p.27. CARNEIRO, Sueli. Enegrecer o Feminismo: a situação da mulher negra na América Latina a partir de uma perspectiva de gênero (2011). Disponível em: <https://www.geledes.org.br/enegrecer-o-feminismo-situacao-da-mulher-negra-naamerica-latina-partir-de-uma-perspectiva-de-genero/>. Acesso: 16 Abril 2022. DAVIS. Angela Y. Women, Race and Class. New York: Random Hause, 1981. DOUGLASS, Frederick. Narrative of the Life. Boston: Anti-Slavery Office, 1845. HALL, Stuart. Identidade cultural e diáspora. In: Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Rio de Janeiro, IPHAN, 1996, p. 68-75. HOOKS, bell. Intelectuais negras. Estudos Feministas. Florianópolis, v. 3, n. 2, p. 464-478, 2o semester, 1995. SOUZA, Raquel de. Salvo- Conduto. In________; CARRASCOSA, Denise (org). Traduzindo no Atlântico Negro: Cartas Náuticas Afrodiaspóricas para Travessias Literárias. Salvador: Ogum’s Toques Negros, 2017, p.206. FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. Salvador: Ed. UFBA, 2008. GONZALES, Lélia. Racismo e Sexismo na Cultura Brasileira. In: Revista Ciências Sociais Hoje, Anpocs, 1984, p. 223-244. RONCADOR, Sônia. A doméstica imaginária: literatura, testemunhos e a invenção da empregada doméstica no Brasil (1889-1999). Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2008. SPIVAK, Gayatri Chakravorty. Pode o subalterno falar? Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2010, p.16. VENUTI, Lawrence. A formação de identidades culturais. In________ ; VENUTI, Lawrence. Escândalos da tradução. Trad. Laureano Pelegrin, Lucinéia Marcelino Villela, Marileide Dias Esqueda, Valéria Biondo. Bauru, São Paulo: EDUSC, 2002, p.132. A PÁTRIA É MEUS SAPATOS: UM BREVE PANORAMA DA HISTÓRIA E DA PRODUÇÃO ARTÍSTICA NEGRA ALEMÃ Jess Oliveira Resumo: O campo do Black Studies (Estudos Negros) e/ou Africana Studies (Estudos de África e suas diásporas) é um campo interdisciplinar que busca estudar e compreender experiências negras ao redor do globo. Dentro desse escopo, surge os Estudos Afro-Europeus, cujo foco é as experiências negras na Europa. Esta comunicação apresentará e discutirá produções musicais e literárias Negras alemãs, partindo da análise de poemas traduzidos ao português brasileiro da poetas May Ayim e Stefanie-Lahya Aukongo, e de canções e vídeos de cantoras e artistas visuais do mesmo contexto. O intuito é apresentar produções Negras alemãs contemporâneas, traçando a partir delas um continuum da organização política e Negra no território alemão desde as primeiras décadas do século XX, passando pelo marco da fundação, na década de 1980, da Initiative Schwarzer Menschen in Deutschland (Iniciativa de Pessoas Negras na Alemanha) articulada por mulheres Negras. A ênfase da comunicação é o reconhecimento da história Negra no continente europeu, através de suas produções artísticas contemporâneas, bem como o estabelecimento de conexões dessa parte da diáspora africana com o mundo negro falante de português (através de traduções). Assim, busco desmantelar uma ideia monolítica da Alemanha, atualizar o imaginário e políticas que, muitas vezes, limita a presença negra ao continente africano e às Américas, oxigenar temas e prover materiais atualizados para o ensino de alemão como língua estrangeira num contexto como o brasileiro, além de chamar a atenção para o campo dos estudos comparados das literaturas de autoria negra produzidas em alemão e em português. A partir de um breve tour na história e na cultura negras alemãs, busco viabilizar uma inteligibilidade transnacional acerca da história e da produção político-cultural negra alemã, reconhecendo-as e incorporando-as aos nossos repertórios e imaginários Negros diaspóricos, espraiando e possibilitando conexões, diálogos e caminhos para nossa liberdade. Referências: AFROPEA – Um projeto de sociedade fraterna, anti-imperialista e acima de tudo antirracista. Naïma Zefifene entrevista Léonora Miano. FLUP RJ. 2020. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=_HpZoZL_EMk. Acesso em 6 de nov. 2020. AUKONGO, StefanieLahya. Buchstaben gefühle: eine poetische Einmischung. 1. Auflage, Berlin: w_orten & meer. 2018. AYIM, May. Rassismus, Sexismus und vorkolonialies Afrikabild in Deutschland. In: OGUNTOYE, Katharina, SCHULTZ, Dagmar (org.) Farbe Bekennen: Afro-deustche Frauen aud den Spuren ihrer Geschichte. Orlanda Frauenverlag. Berlin: 1986. CARRASCOSA, Denise (org). Traduzindo no Atlântico Negro: cartas náuticas afrodiaspóricas para travessias literárias. Salvador: Ogum’s Toques Negros, 2017. DE JESUS, Jessica Oliveira. (Re-)Construindo Memória Afetivo-Cultural Através da Tradução de Poesia Negra de e para a Língua Alemã. In: Revista Translatio: Dossiê Tradução e Diásporas Negras. Disponível em: http://seer.ufrgs.br/index.php/translatio/issue/view/3150 Acesso em: 01. ago. 2017. KELLY, Natasha. A. Afrokultur: der Raum zwischen Gestern und Morgen. Münster: Unrast-Verlag, 2018. LAYNE, Priscilla. Why Do Black German Studies Matter Now? Diversity, Decolonization, and the German Curriculum (DDGC). 2020. Disponível em: <https://diversityingermancurriculum.weebly.com/ddgc-blog/why-does-blackgerman-studies-matter-now3706504?fbclid=IwAR2FSSMc1XtBZPOzWw71TJ2a3LZ3NZ0XV82azFDf2d4JA8RKau-2TP73qE> Acesso em 10 set 2020. OLIVEIRA de Jesus, Jessica F. May Ayim e a Tradução de Poesia Afrodiaspórica de Língua Alemã. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2018 165p. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/193845/PGET0373-D.pdf?sequence=1&isAllowed=y Acesso 25 mai de 2021. WEHELIYE, Alexander. Afro-Diasporische Identitäten in der Deutschen Popmusik. Disponível em: < https://heimatkunde.boell.de/de/2013/11/18/afro-diasporischeidentitäten-der-deutschen-popmusik > Acesso em 13. mar de 2020. MEMÓRIAS DE TRADUÇÃO: REFLEXÕES SOBRE O EXERCÍCIO DE TRADUZIR OSSUARIES DE DIONNE BRAND Lourdes Silva Modesto Alves Resumo: Esta comunicação propõe discutir as estratégias lançadas no processo de tradução do livro de poemas Ossuaries (2010) de Dionne Brand, discussão esta originada e parte da dissertação "Ossuaries: Investigando um Épico Decolonial" (ALVES, 2018) desenvolvida e defendida no Programa de Pósgraduação de Literatura e Cultura da UFBA, e atualmente em processo de aprofundamento. O argumento é norteado pelas definições da decolonialidade de María Lugones (2010), do épico de Édouard Glissant (2005), e do suplemento de Jacques Derrida (1995) no tocante à alocação da tradução como apêndice da dissertação. Buscamos tratar da relevância da obra de Dionne Brand como a vivência de uma mulher negra de origens diaspóricas na metrópole contemporânea, estabelecendo paralelismos entre seu movimento e aquele da protagonista do poema Ossuaries, Yasmine, no Atlântico Negro, em diálogo com Gilroy (2001); e também deste movimento como manifestação na forma de poema épico do conceito de “door of no return”, proposto por Brand no livro “A Map to the Door of No Return”, publicado em 2001. Proponho, assim, que os procedimentos de tradução para o Português Brasileiro evidenciam as marcas diaspóricas na (des)construção do épico na própria forma do poema, norteando a discussão em direção à justaposição das vivências das mulheres negras nas metrópoles atlânticas, e de suas produções culturais. Referências: BRAND, Dionne. Bread out of stone: Recollections on sex, recognitions, race, dreaming and politics. [s.l]: Vintage Canada. 1999. ________________. A map to the door of no return: notes to belonging. [s.l.]: Doubleday Canada, 2001 ________________. Ossuaries. Toronto: McClelland & Stewart, 2010. DERRIDA, Jacques. A escritura e a diferença. São Paulo: Editora Perspectiva, 1995. GILROY, Paul. O Atlântico Negro: Modernidade e dupla consciência. São Paulo: Editora 34, 2001. GLISSANT, Edóuard. Introdução a uma poética da diversidade. Juiz de Fora: Editora UFJF, 2005. LUGONES, María. Toward a Decolonial Feminism. Hypatia, [s.l.], v. 25, n. 4 (Fall, 2010) p. 742- 759. ENTRE ÁFRICA E O BRASIL: DESAFIOS E POSSIBILIDADES DE UMA TRADUÇÃO ESCREVIVENTE PARA O PRETUGUÊS Luciana Santos Dos Reis Resumo: A proposta deste trabalho é refletir sobre os desafios, possibilidades e potencialidades das traduções negro femininas, a partir da experiência de tradução escrevivente do texto dramático Swhele Bawo (A Grave Injustice), considerando as convergências estéticas e temáticas existentes em textos dramáticos escritos por mulheres negras no Brasil e África, em países que possua o Inglês como uma das línguas oficiais, analisando os desafios existentes no processo de tradução destes textos para o pretuguês, que de acordo com Lélia Gonzales é a variante de língua disseminada e falada entre o povo brasileiro, sobretudo, os negros brasileiros. Pretendemos analisar neste trabalho, inicialmente, o texto Swhele Bawo (A Grave Injustice) de autoria da atriz e preparadora vocal sul-africana Motshabi Tyelele. O texto foi publicado no livro At this stage: Plays from Post-apartheid South Africa, em 2009 e narra a trajetória da protagonista Dikeledi, mulher negra sul-africana de origem boesman que se casa com um homem mais velho e rico, pertencente à burguesia sul-africana, retratando algumas passagens da protagonista que culminarão em sua prisão, ao tempo em que faz uma crítica contundente a questões tais como relacionamento abusivo, violência doméstica, abuso infantil, incoerência do sistema de justiça, influência da mídia nas relações sociais, dentre outros. As reflexões aqui apresentadas são norteadas por teorias de cunho interseccional, sobre a tradução negra de textos, desenvolvido pelo grupo de pesquisa Traduzindo no Atlântico Negro, que rasura as teorias de tradução hegemônicas eurocêntricas que foram predominantes por muito tempo tanto na academia quanto no mercado editorial. Tal rasura epistemológica possibilita e incentiva a diversificação des sujeites tradutores e a ampliação do corpus traduzido, sobretudo de textos oriundos da África e Diaspóra Africana. Referências: AUGUSTO, Geri. A língua não deve nos separar. In: Traduzindo no Atlântico Negro: cartas náuticas afrodiaspóricas para travessias literárias. Org. Denise Carrascosa. Salvador: Ogum’s Toques Negros, 2017. CARRASCOSA, Denise. Traduzindo no Atlântico Negro: por uma práxis teórico-política de tradução entre literaturas afrodiaspóricas. In: Traduzindo no Atlântico Negro: cartas náuticas afrodiaspóricas para travessias literárias. Org. Denise Carrascosa. Salvador: Ogum’s Toques Negros, 2017. REIS, Luciana . Entendendo a travessia: por uma tradução escrevivente. In: Traduzindo no Atlântico Negro: cartas náuticas afrodiaspóricas para travessias literárias. Org. Denise Carrascosa. Salvador: Ogum’s Toques Negros, 2017. CARDOSO, Cláudia Pons. Amefricanizando o feminismo: o pensamento de Lélia Gonzalez. Estudos Feministas, Florianópolis, 22(3): 965-986, setembro-dezembro/ 2014. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/ref/article/view/36757/28579, acessado em 05/02/2016. ENTRE MUSICALIDADES E DISCURSOS: CRUZAMENTOS TRADUTÓRIOS NAS VOZES E GRAFIAS DE SOJOURNER TRUTH, NINA SIMONE E LUEDJI LUNA Sara Rodrigues de Oliveira, Victória Lane Ferreira Silva Resumo: Em 2020, no Brasil, a cantora e compositora Luedji Luna lança o álbum Bom mesmo é estar debaixo d'água. Nos Estados Unidos, 52 anos antes, a cantora e compositora, Nina Simone, lança o álbum ‘Nuff Said!. Em 1851, Sojourner faz uma intervenção na Women’s Rights Convention em Ohio, Estados Unidos. Embora em épocas e lugares diferentes, essas três mulheres afrodiaspóricas compartilham experiências que atravessam suas produções e as conectam em outra noção de tempo e espaço. Nós sabemos que há centros hegemônicos de produção de epistemes, de economia, e de enunciação que controlam o jogo das identidades e, uma vez que “as identidades são construídas por meio da diferença e não fora delas” (HALL, 2003, p.110), esses centros tornam-se a norma e aprisionam aquilo e aqueles que diferem deles como o Outro. Desde o século XIX, determinadas noções dominantes mobilizaram a mente branca/europeia como medida universal e produziram índices da diferença humana “i.e a nomeação de coletividades raciais como o negro, o caucasiano, o oriental e o australiano” (FERREIRA da SILVA, 2019). Justamente porque certos grupos não se identificam com certas noções universalizantes, Hall diz que as identidades são produtos da diferença. No entanto, “o próprio arsenal desenhado para determinar e investigar a verdade da diferença humana já assumia o europeísmo/branquitude como medida universal” (FERREIRA da SILVA, 2019). Assim, partir de três faixas do álbum de Luedji Luna - Chororô, Ain’t Got No e Ain’t I a Woman? - propomos uma análise das faixas como traduções da canção de Simone e do discurso de Truth, assim como, da experiência da mulher negra na diáspora africana, discutindo como produções afrodiaspóricas realizam releituras de experiências compartilhadas e como artistas performam suas subjetividades de forma que inventam e re-inventam identidades. Referências: REFERÊNCIAS AUGUSTO, Geri. A língua não deve nos separar! Reflexões para uma Práxis Negra Transnacional de Tradução. In: CARRASCOSA, Denise. In: Traduzindo no Atlântico Negro: Cartas Náuticas Afrodiásporícas para Travessias Literárias. Salvador – Bahia: Ogums Toques Negros, 2017. CARRASCOSA, Denise. “Traduzindo no Atlântico Negro: por uma práxis teóricopolítica de tradução entre literaturas afrodiaspóricas”. In: CARRASCOSA, Denise (org.). In: Traduzindo no Atlântico Negro: Cartas Náuticas Afrodiásporícas para Travessias Literárias. Salvador – Bahia: Ogums Toques Negros, 2017. EVARISTO, Conceição. Conceição Evaristo: “minha escrita é contaminada pela condição de mulher negra”. Jornal Nexo. Disponível em: < https://www.nexojornal.com.br/entrevista/2017/05/26/ConceiçãoEvaristo->. Acesso em: 12 de jun. de 2021. FERREIRA da SILVA, Denise. 1 (vida) ÷ 0 (negritude) = ∞ − ∞ ou ∞ / ∞: sobre a matéria além da equação de valor. In: A Dívida Impagável. São Paulo: Oficina de Imaginação Política/Living Commons/A Casa do Povo, 2019. GILROY, Paul. O Atlântico Negro com contracultura da modernidade In: O Atlântico Negro: modernidade e dupla consciência. Rio de Janeiro: Candido Mendes, 2001. GONZALEZ, Lélia. A importância da organização social da mulher negra no processo de transformação social. In: Por um feminismo afro-latino-americano: ensaios, intervenções e diálogos. Org. Flávia Rios, Márcia Lima. Rio de Janeiro: Zahar, 2020. HALL, Stuart. Que “negro” é esse na cultura negra? 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"E não sou uma mulher?". Portal Geledés. Disponível em: < E não sou uma mulher? Sojourner Truth - Geledés (geledes.org.br)>. Acesso em: 18 de jun. de 2021. SIMPÓSIO “TRADUÇÃO E LINGUAGENS TRANSCRIATIVAS: ESTUDO DE TEXTOS INTERARTÍSTICOS SOB DIFERENTES OLHARES” Divino José Pinto (PUC-Goiás), Átila Silva Arruda Teixeira (PUC-Goiás), Simone Gorete Machado (USP) TRANSCRIAÇÃO E SIMULACRO: REPRESENTAÇÕES DA MULHER EM MEGERA DOMADA, AS DEZ COISAS QUE ODEIO EM VOCÊ E O CRAVO E A ROSA Adilma Nunes Rocha Resumo: Pensar o estado da arte na contemporaneidade requer considerar o trânsito espaço-tempo do processo de transcriação das representações. É um movimento de semiose onde a ação de criar é movimentar pensamentos, subjetividades, intenções que se materializam no manuseio das diversas linguagens. Para a presente reflexão proposta aqui, uma suposição se antecipa: representação, tradução intersemiótica e simulacro tornam-se espaços interseccionados por onde a criação flui mediante um trabalho não apenas artístico de linguagens, mas onde o hibridismo tensiona e subjetiva ainda mais o espaço produtor, que também perpassa por escolhas políticas. E uma questão se coloca: Até que ponto o novo produto transcriado, por meio da tradução intersemiótica, pode ser considerado um simulacro? Pensar este trânsito criativo das artes, na maioria das vezes desconsiderado pelo preconceito, pela ideia reinante do original, faz-se necessário, numa proposta para além do canônico: a transcriação para além da criação única, como partilha de experiências e expansão da poeticidade. E a reflexão aqui construída intersecciona três conceitos: representação, tradução intersemiótica e simulacro que são relacionados às textualidades: A megera domada, comédia teatral de Willian Shakespeare; As dez coisas que odeio em você, obra cinematográfica de Gil Junger; e a telenovela brasileira A megera domada de Walcyr Carrasco, corpus da pesquisa doutoral que pretende discutir os silenciamentos e os devires-mulher da literatura para cinema e televisão. Para além da literatura, o entrecruzamento dos objetos de arte no movimento da tradução intersemiótica visibiliza outros sentidos de vida, simula as (re)existências, mesmo em enquadramentos que reduzem as diversas performances do existir. Referências: BENJAMIM, Walter. A obra de arte no tempo de suas técnicas de reprodução. In: Sociologia da Arte, IV. Rio de Janeiro: Zahar, 1999. COSTA LIMA, Luiz. A Mimese Antiga. In: __ Mimese, a representação da realidade na Literatura Ocidental. São Paulo: Perspectiva:2014. p.1-20. DELEUZE. 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Ridendo Castigat, ano: 2000 disponível em: www.ebooksbrasil.com 10 COISAS que eu odeio em você (Ten things I hate about you). Direção: Gil Junger. Produção: Andrew Lazar. EUA. Disney e Buena Vista, 1999. DVD, 97 min. DO ORAL AO ESCRITO: UM ESTUDO SOBRE OS LIVROS DE AILTON KRENAK Alessandra Araújo Magalhães Resumo: A sociedade ocidental, tal como é conhecida atualmente, se constituiu sobre os elementos da escrita. Os primeiros escritos eram transcrições de apresentações orais, um movimento de escrita da oralidade. Por outro lado, algumas comunidades mantiveram suas tradições culturais baseadas na troca de conhecimento por meio da oralidade, é o caso dos povos indígenas. O estudo da materialidade do livro pode indicar o ponto de encontro entre uma cultura baseada na oralidade e outra baseada na escrita, por meio da investigação das forças que atuam nesse cenário. Para tal, este estudo tem como corpus os livros escritos pelo filósofo, autor e líder indígena Ailton Krenak: Ideias para adiar o fim do mundo (2019, 2020), A vida não é útil (2020) e O amanhã não está à venda (2021). Atualmente, seus livros figuram como os mais vendidos da Companhia das letras. A proposta para este seminário é apresentar parte do projeto enviado para o mestrado em Estudos de Linguagem do CEFET-MG, de título — Do oral ao escrito: um estudo sobre os livros de Ailton Krenak — pretende-se estudar os aspectos da tradução do oral para o escrito, o projeto gráfico e o processo editorial que envolveram as publicações. Essa pesquisa propõe aprofundar os estudos nos conceitos da teoria da tradução, do ponto de vista onde a transcrição pode ser entendida como tradução. Investigar a produção e a circulação das obras citadas, com intuito de compreender o papel e importância dos livros de Ailton Krenak, tendo por base estudos bibliográficos da teoria da tradução, sobretudo as investigações de Walter Benjamin, além de pesquisas já consolidadas sobre a literatura e o livro indígena, a exemplo dos trabalhos de Maria Inês de Almeida. Referências: ALMEIDA, Maria Inês de. Desocidentada: Experiência literária em terra indígena. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2009. ALMEIDA, Maria Inês de. Editar livros com os índios: caminhos do pensamento vivo. BOITATÁ: Revista do GT de Literatura Oral e Popular da ANPOLL, Londrina, n. 24, ago./dez. 2017. ALMEIDA, Maria Inês de; QUEIROZ, Sônia. Um conta, outro aponta: voz, escrita e autoria. In: Na captura da voz: as edições da narrativa oral no Brasil. Belo Horizonte: Autêntica; FALE/UFMG, 2004. BRANCO, Lucia Castello (Org.). A tarefa do tradutor, de Walter Benjamin: quatro traduções para o português. Belo Horizonte: Fale/UFMG, 2008. COHN, Sergio (Org.). Ailton Krenak. Rio de Janeiro: Azougue, 2015. KRENAK, Ailton. A vida não é útil. São Paulo: Companhia das Letras, 2020a. Edição do Kindle. KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. 2. ed. rev. e aum. São Paulo: Companhia das Letras, 2020b. Edição do Kindle. KRENAK, Ailton. O amanhã não está à venda. São Paulo: Companhia das Letras, 2020c. Edição do Kindle. SÃO BERNARDO, DE GRACILIANO RAMOS: SUBJETIVIDADE E ROMANCE SOCIAL Erika Nogueira Jayme, Átila Silva Arruda Teixeira Resumo: Graciliano Ramos é considerado um dos nossos maiores escritores. Sua obra é de vital importância para a história da literatura brasileira. O romance São Bernardo é visto como obra prima e, faz parte dos nossos objetivos um estudo que não pretende ser minucioso, mas que tentará abarcar aspectos importantes do romance de 30 no Brasil bem como os meandros percorridos pelo escritor na urdidura desta história: o trabalho com a linguagem, as heranças do primeiro tempo modernista e o momento histórico em que a narrativa foi composta, ou seja, a Revolução de 1932. Segundo Alfredo Bosi, em “História concisa da literatura brasileira”, “o realismo de Graciliano não é orgânico nem espontâneo. É crítico. O ‘herói’ é sempre um problema: não aceita o mundo, nem os outros, nem a si mesmo” (BOSI, 1982, p. 454). A literatura do Brasil colonial tem um caráter híbrido, em razão de ela apresentar um código baseado no estilo literário europeu e, ao mesmo tempo, um conteúdo tipicamente colonial. A consequência disso é que a literatura colonial era um híbrido dos movimentos literários europeus com o conteúdo colonial e nativista. Feita essa introdução geral, Bosi faz uma análise cronológica da literatura no Brasil. Ele descreve a chamada “literatura de informação”, que é composta pelos escritos de viajantes e missionários. Referências: https://brasilescola.uol.com.br/literatura/graciliano-ramos.htm CLEPTOMANIA LITERÁRIA EM 4.48 PSICOSE: OUTRAS VOZES EM SARAH KANE, SARAH KANE NA CENA E A CENA NA VOZ DA ATRIZ Fernanda Paula Capraro de Toledo Resumo: Em 4.48 Psicose (4.48 Psychosis, 1999), Sarah Kane anuncia: é “a última em uma longa linhagem de cleptomaníacas literárias” (“Last in a long line of literary kleptomaniacs”). Isso revela um traço essencial de sua dramaturgia textual e uma intrigante postura autoral: a cleptomania literária, ou seja, a atitude consciente e propositiva de tomar emprestado ou mesmo roubar de outras obras de arte para compor a própria obra. Sarah Kane não está sozinha nessa “tradição honrada pelo tempo” (“a time honoured tradition”): para além de toda a problemática que cerca a ideia de autoria e de originalidade, questionando até que ponto é possível inventar uma obra ignorando todas as demais influências de tudo o que já foi lido, visto e ouvido, é possível identificar a atitude em outras obras de autoras mulheres. Ana Cristina Cesar, por exemplo, também pratica a cleptomania literária, chamando-a de “ladroagem”. Enquanto Ana C. pratica a ladroagem com Drummond, Bandeira, Katherine Mansfield, a dramaturga inglesa realiza a cleptomania com a Bíblia, Beckett, Shakespeare e T. S. Eliot. Em 4.48 Psicose, a relação de cleptomania se dá essencialmente com A Redoma de Vidro, romance de Sylvia Plath, em diálogo com manuais de psiquiatria, estudos sobre suicídio e escritos de Artaud. Pensando somente no exercício de tradução, essas referências já configurariam um enorme desafio. Contudo, é ainda maior a complexidade: para além da passagem da escrita do inglês para o português, é necessário pensar na passagem do texto horizontal (aquele escrito, no espaço da página) para o texto vertical, do presente da cena. Como se dá a passagem de todas essas vozes em Sarah Kane para a voz de uma atriz em cena é objeto de uma investigação que circula entre campos vizinhos, mas que poucas vezes dialogam profundamente – os estudos literários e a prática da cena. Referências: CESAR, Ana Cristina. Crítica e tradução. São Paulo: Ática e Instituto Moreira Salles, 1999. KANE, Sarah. Complete plays. Londres: Methuen Drama, 2001. PLATH, Sylvia. A Redoma de Vidro. São Paulo: Biblioteca Azul, 2014. SAUNDERS, Graham. ‘Love me or kill me’: Sarah Kane and the theatre of extremes. Manchester University Press, 2002. MANOEL DE BARROS E MIA COUTO - IMAGINÁRIOS POSSÍVEIS E FRONTEIRAS INVISÍVEIS NO TELURISMO DOS ENTRE LUGARES Flávio José de Brito Resumo: O telurismo sempre se definiu como elemento de marcação identitária e/ou espacial na literatura, mas em Manoel de Barros e Mia Couto este espaço é dissolvido em um lugar que não se classifica com absoluta clareza. O processo de construção da relação entre o sujeito e aquilo que representa o sentido de sua existência, extrapola os conceitos convencionais, buscando pela linguagem e sua representação simbólica aquilo que de fato, significa ou ressignifica o indivíduo e seu sentimento de pertencimento. A obra poética de Manoel de Barros é um experimentalismo do ser em um lugar que é, mas não existe, ou seja, a contrução da linguagem é a representação do seu próprio espaço, dessa forma, o telurismo não habita o lugar, mas sim, o ser. Da mesma forma, em Mia Couto, autor contemporâneo e africano, apesar da distância geográfica e cronológica, também experiencia pela lingagem a construção de um telurismo que extrapola sua regionalidade e marcado por sua cultura, mas experimentando a ressignificação lúdica do sujeito, propõe um admirável conjunto poético que dialoga com a natureza poética de Manoel de Barros. Dessa forma, as fronteiras geográficas são rompidas, e a linguagem como uma ponte imaginária entre aparente universos distintos os aproximam, visando um exercício contínuo e simples de reflexão e busca da identidade do sujeito caminhando por seu espaço e por sí mesmo. Referências: Raiz de orvalho e outros poemas (1999) Idades, cidades, divindades (2007) Tradutor de chuvas (2011) Matéria de Poesia (1974) O Guardador de Águas (1989) Livro Sobre Nada (1996) O Fazedor de Amanhecer (2001) A metáfora viva - Paul Ricoeur Anatomia da Crítica - Northorop Frye Friedrich, Hugo - Estrutura da lírica moderna. JURUBATUBA, DE CARMO BERNARDES: ESPAÇO ROMANESCO, TRANSCRIAÇÃO E ECOCRÍTICA. Vanderleia Moraes Ferreira, Átila Silva Arruda Teixeira Resumo: Jurubatuba é o primeiro romance de Carmo Bernardes, publicado em 1972. Trata-se da história de Ramiro Antunes Martins de Novaes. Narrador-protagonista, sem pressa nos leva a conhecer minunciosamente cada detalhe de sua história – que transformada apenas em informação perderia toda a sua essência. Seu primeiro nome é conhecido apenas na página vinte e dois (BERNARDES, 1997), e o nome completo apenas na página final do romance - página duzentos e trinta. Durante essa saga, o espaço romanesco é apresentado como se fosse um quadro em movimento, realçando o caráter de valorização ambiental. E, considerando que dentre todos os elementos da narrativa o espaço é o que menos tem sido analisado pela crítica e geralmente entra como uma ideia de preenchimento para o enredo, tem-se no romance de Carmo Bernardes uma tradução dos aspectos ecológicos aos artísticos, pois Ramiro se relaciona com eles prezando pela sua conservação, se identificando com eles e estabelecendo uma relação simbiótica. Dessa forma, o presente trabalho perquire o espaço romanesco como elemento transcriado a partir de uma visão ecocrítica em Jurubatuba. Esse processo de transcriação, similar a um quadro impressionista, coloca o romance em questão e seu autor como próceres do debate ambiental na literatura brasileira produzida em Goiás. Referências: ALMEIDA, Nelly Alves. Estudos sobre quatro regionalistas. 2ª ed. Goiânia: Ed. da UFG, 1985. BARCELOS, L. B. Carmo Bernardes: uma leitura pelos labirintos de Jurubatuba. 2006.95f. BERNARDES. C. Jurubatuba. São Paulo: Livraria Cultura Editora,1979. Dissertação (Mestrado em Letras e Linguística) Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Letras, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2006. CANDIDO, A. De cortiço a cortiço. In: O discurso e a cidade. São Paulo: Duas Cidades, 1993. Dimas, A. Espaço e romance. São Paulo: Ática, 1985. LINS, Osman. Lima Barreto e o espaço romanesco. São Paulo: Ática, 1976. FORMAÇÃO DE LEITORES NA PERSPECTIVA DA TRANSCRIÇÃO: CONSIDERAÇÕES GERAIS Veridiana Moreira Garcia Oliveira, Átila Silva Arruda Teixeira Resumo: A presente apresentação discorrerá sobre uma efetiva necessidade de formação de leitores na primeira fase do ensino fundamental a partir da perspectiva do pequeno leitor, sobretudo quando ele é convidado a transcriar nomes, sentimentos, lugares, dentre outras várias nuances do cotidiano, em uma linguagem que ressignifique uma percepção cristalizada. Assim, constitui-se como referencial teórico desta apresentação Rildo Cosson, na obra Letramento Literário, Marisa Lajoso e Regina Zilberman, em Literatura Infantil Brasileira: uma Nova Outra História, Umberto Eco, em Seis Passeios pelo Bosque da Ficção, além de outras referências que tanto contemplem a formação de leitores, a especificidade do texto literário, a literatura infantil e a transcriação como forma de reelaboração da linguagem. Além da discussão teórica, a pesquisa se debruça sobre um festival que articula, a sua maneira, essa formação de leitores com uma subversão da linguagem: O Pipoesia, do Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação da Universidade Federal de Goiás (CEPAE-UFG). Segundo sua coordenadora, Prof. Dr. Célia Sebastiana Silva, em 2021, o projeto se define como “um convite a cantar, brincar, vocalizar poemas, expor, produzir vídeos, subverter a linguagem, o tempo e o vento, fazer peraltagens com a palavra, com as imagens, com a voz” (SILVEIRA, 2021). Considerando que a ação da leitura literária deveria ser apresentada como um exercício sem o abandono do prazer e com o compromisso de conhecimento que todo saber exige, assegurando o efetivo domínio do letramento literário, as discussões aqui empreendidas intentam buscar como ocorre a transcriação de diversos textos, por meio das mais variadas linguagens interartísticas, em literatura, e como essa transcriação atende à necessidade de cumprir o acesso a literatura como um direito inalienável, como preconizou Antonio Candido. Referências: COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e prática. 2.ed.- São Paulo: Contexto, 2009. CANDIDO, Antonio. O direito à literatura. In: ___. Vários Escritos. 5 ed. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul/ São Paulo: Duas Cidades, 2011. SIMPÓSIO “TRADUÇÃO LITERÁRIA CRIATIVA: DESAFIOS E REFLEXÕES DO TRADUTOR” Andréa Cesco (UFSC), Lilian Cristina Barata Pereira Nascimento (UFPA), Wagner Monteiro Pereira (UERJ) SEDUZIR COM A LÍNGUA DE PATRIZIA VALDUGA: REFLEXÕES TRADUTÓRIAS Agnes Ghisi, Elena Santi Resumo: Uma das principais características da poética de Patrizia Valduga (Castelfranco Veneto, 1953) é o jogo de tensão criado entre a forma rígida, em diálogo com a tradição literária italiana, e o conteúdo devasso dos poemas. Trata-se de um erotismo valduguiano, em que a forma parece querer submeter o conteúdo à sua própria rigidez, mas o que se percebe em seus poemas é uma subversão da forma pela língua, na medida em que se tem um violento embate entre as regras poéticas e a maneira direta, obscena, impudica com que os temas são tratados. A tradução dessa poeta ainda inédita no Brasil, apesar da proximidade das línguas italiana e brasileira, encontrou nessa tensão tanto um terreno fértil para a criatividade, quanto obstáculos que precisaram ser engenhosamente superados. Os versos sugerem jogos por vezes mais simples no italiano, mas que não encontram os mesmos caminhos no português brasileiro. De fato, a experiência estética da poética valduguiana exige, em certo nível, uma tradução recriação (CAMPOS, 2006), em que essa tarefa não seja simplesmente transmitir o conteúdo da língua, relembrando as considerações de Walter Benjamin (2008). O erotismo valduguiano encontra em certa harmonia de sons um ponto de força para o significante do poema, com o verbo “volere”, por exemplo, que em português significa “querer”, ou seja, uma palavra que não tem o som seducente do “v”, tão forte no italiano. Considerando o que propõe Paulo Henriques Britto (2012), que sugere que se deva dar maior importância para o som, por vezes foi necessário recriar, buscando uma compensação (CAMPOS, 2011) para aquilo que se perde com determinadas escolhas. O que se pretende trazer com essa comunicação é uma reflexão a respeito do erotismo nos versos valduguianos e os caminhos que a tradução percorre para seduzir com a língua de Patrizia Valduga. Referências: BENJAMIN, Walter. A tarefa do tradutor, de Walter Benjamin: quatro traduções para o português. Organização de Lúcia Castello Branco. Belo Horizonte: FALE/UFMG, 2008. BRITTO, Paulo Henriques. A Tradução Literária. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012 CAMPOS, Haroldo de. Da transcriação: poética e semiótica da operação tradutora. Belo Horizonte: Vivavoz Fale/UFMG, 2011. CAMPOS, Haroldo de. Metalinguagem & outras metas: ensaios de teoria e crítica literária. São Paulo: Perspectiva, 2006. A MÚSICA NA TRADUÇÃO DE GUIGNOL'S BAND I DE LOUIS-FERDINAND CÉLINE Amanda Fievet Marques Resumo: Este trabalho resulta do exercício de tradução de Guignol’s Band I em português. Trata-se do terceiro romance do escritor francês Louis-Ferdinand Céline, que constitui uma importante mudança no desenvolvimento de seu estilo. Tal transformação se relaciona fundamentalmente – junto às imagens fabulosas e ao cômico inaudito – à extrema musicalidade da linguagem. Pretende-se, aqui, portanto, apresentar três problemas musicais que enquanto basilares da estética célineana nesse romance, impõem questões tradutológicas incontornáveis. O primeiro problema musical concerne à primeira seção do texto, em que o narrador descreve o bombardeio de Orléans, em 1940. Além de neologismos, de vocábulos atinentes ao registro antiquado da língua, Céline utiliza abundantemente figuras sonoras e, o maior desfaio, portanto, foi traduzir parte das incontáveis aliterações, assonâncias, homeoteleutos e onomatopeias que pululam por todas as frases. O segundo problema musical concerne à 11ª seção do texto, que se inaugura com uma frase que, do ponto de vista da versificação, constitui um quarteto de octossílabos. Céline utiliza versos brancos para uma composição extremamente lírica, que contrasta com o seu usual realismo cru, e quanto à musicalidade é marcada por sonoridades surdas: m/om, «moment/montent/ombres». Ainda em contraste com a habitual impetuosidade de seu estilo, Céline emprega, nessa passagem, vocabulário e sintaxe clássicas, além de perífrases noturnas para descrever a morte. O terceiro problema musical concerne à 13ª seção do texto e às árias tocadas por Boro – amigo do narrador – ao piano. A dificuldade, aqui, foi restituir tanto as variações do léxico empregado por Céline para descrever a música («rémoule»/«rémouler»/«rémoulade/«à la rémoule»), quanto o ritmo da valsa, que se apresenta, pelo próprio movimento do texto, como uma canção popular. Referências: CÉLINE, Louis-Ferdinand. Guignol's Band I. Paris: Gallimard, 2015. A TRADUÇÃO DO PORTUGUÊS AO ESPANHOL DO CONTO "GENNARO", DE ÁLVARES DE AZEVEDO Andréa Cesco Resumo: Nesta comunicação pretende-se comentar, através de alguns excertos, como foi traduzir no par contrário, do português ao espanhol, o conto “Gennaro”, em Noite na Taverna, de Álvares de Azevedo (1831-1852), e cuja tradução foi publicada em revista acadêmica. Pasero (2004) vai dizer que a leitura, a seleção e a substituição estabelecem diálogos implícitos entre linguagens, entre normas e tradições. Dessa forma, considera-se o ato de traduzir um exercício de relações em que se permite a circulação no sistema literário espanhol da literatura brasileira. Nesse sentido, traduzir Álvares de Azevedo significa levar o seu texto a outra língua, promovendo assim a circulação literária entre diferentes culturas e, ao mesmo tempo, propicia aos leitores de língua espanhola a possibilidade de gerar uma tradução entre polissistemas (Even-Zohar, 2013). Quanto à misteriosa história – envolvendo amor e morte –, esta tem como pano de fundo a Itália e é narrada por Gennaro, que se lembra de uma história envolvendo o velho pintor, Godofredo Walsh, e duas mulheres. A tradução do conto teve como objetivo prezar a manutenção de aspectos estilísticos e culturais relativos ao século XIX e manter o ambiente da narrativa, levando, dessa forma, o leitor a experimentar a sensação de adentrar em uma densa noite nebulosa e de trevas, onde a construção dos cenários e das personagens marcam o desenvolvimento da narrativa. Para alcançar esses objetivos, busca-se apoio, principalmente, em Even-Zohar, Berman e Peter Burke. Referências: ALVES, Cilaine. O Belo e o Disforme: Álvares de Azevedo e a Ironia Romântica. São Paulo: Editora da USP/FAPESP, 1998. ANDRADE, Alexandre de M. “A transcendência pela natureza em Álvares de Azevedo”, tese de doutorado pela Pós-Graduação em Estudos Literários da Faculdade de Ciências e Letras – UNESP/Araraquara. Orientador: Antônio Donizeti Pires. São Paulo. 2011. AZEVEDO, Álvares de. Noite na taverna. 3.ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1988. Texto proveniente de: A Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro <http://www.bibvirt.futuro.usp.br> A Escola do Futuro da Universidade de São Paulo Permitido o uso apenas para fins educacionais. AZEVEDO, Álvares de. II Solfieri, in In-Traduções. Florianópolis (SC), v. 5, n. 9, pp. 125-136, jul./dez. 2013. Tradução de Mara Gonzalez Bezerra e Andréa Cesco. https://periodicos.ufsc.br/index.php/intraducoes/article/view/62332 AZEVEDO, Álvares de. IV Gennaro, in Rónai: Revista de Estudos Clássicos e tradutórios. Juiz de Fora (MG), v. 1, n. 2, pp. 198-206. 2013. Tradução de Mara Gonzalez Bezerra e Andréa Cesco. https://periodicos.ufjf.br/index.php/ronai/article/view/23084 AZEVEDO, Álvares de. Último beijo de amor, in Belas Infiéis, Revista da Pós-Graduação em Estudos da Tradução da UnB. Brasília, 4(1). 2015. Tradução de Mara Gonzalez Bezerra e Andréa Cesco. https://periodicos.unb.br/index.php/belasinfieis/article/view/11322 BERMAN, Antoine. La traducción y la letra o el albergue de lo lejano. 1a ed. Buenos Aires: Dedalus, 2014. BERMAN, Antoine. A tradução e a letra ou o albergue do longínquo. Tradução de Marie-Hélène C. Torres, Mauri Furlan, Andréia Guerini. 2. ed. Tubarão: Copiart; Florianópolis: PGET/UFSC, 2013. BURKE, Peter. Cultura Popular na Idade Moderna. Europa, 1500-1800. Tradução de Denise Bottmann. São Paulo: Cia das Letras, 2010. CANDIDO, Antonio. Na sala de aula. Caderno de análise literária. Série Fundamentos. São Paulo: Editora Ática, 1984. CANDIDO, Antonio. A educação pela noite & outros ensaios. São Paulo: Ática, 1989. 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Entre a negridão da noite e a luz dourada na lâmpada, a Noite na Taverna de Álvares de Azevedo, in Rassegna Iberistica, n. 98, pp. 63-77, 2013. MOREYRA, Cecilia. La alcoba, el lecho, lo cotidiano. Cultura material de un espacio doméstico. Córdoba (Argentina), siglos XVIII y XIX, in Páginas. Revista digital de la Escuela de Historia. Universidad Nacional de Rosario. Año 10, n. 24, 2018. MOUNIN. Georges. Los problemas de la traducción. Madrid: Editorial Gredos, S.A 1971. NASCIMENTO, Geovanio Silva do; BARREIROS, Patrício Nunes. O léxico regional na obra Os Sertões e sua tradução para o espanhol, in TradTerm, São Paulo, v. 28, 2016. PASERO, Carlos A. Los límites de la lengua. Benjamín de Garay y la praxis de la traducción, in Graphos, João Pessoa, v. 6, n. 2/1, 2004. PEREIRA, Carla P. de A. A cor como espelho da sociedade e da cultura: um estudo do sistema cromático do design de embalagens de alimentos. Tese de doutorado FAUUSP. São Paulo, 2011. 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A obra é narrada em primeira pessoa por Francisca, uma jovem colombiana que migra com a mãe e a irmã para os Estados Unidos (mais especificamente Miami), onde encontram a tia e a avó de Francisca, além de uma comunidade que se organiza em torno de uma igreja. O romance é composto em espanglês, combinando elementos do inglês, predominantemente, com o espanhol. A edição brasileira manteve a presença do espanhol (além de alguns elementos do inglês) no texto traduzido para o português. Tendo como foco este jogo entre as línguas, tão relevante para o romance, neste trabalho serão analisados trechos do original e da tradução em cotejo, de modo a destacar alguns aspectos em relação às escolhas de tradução. A longo prazo, esta pesquisa tem como objetivo refletir sobre as comunicações que se estabelecem a partir desse romance. Portanto, serão abordadas também, partindo dos exemplos do texto, observações preliminares nesse sentido, como algumas notas sobre quem seriam os leitores implícitos desses textos (com base em SCHIAVI, 1996). Referências: LOPERA, J. D. Febre tropical. Tradução: Natalia Borges Polesso. 1. ed. São Paulo: Editora Instante. 2021. LOPERA, J. D. Fiebre Tropical. 1. ed. Nova York: Feminist Press. 2020. SCHIAVI, G. There’s Always a Teller in a Tale. Target, v. 8, n. 1, p. 1-21, 1996. A REPRESENTAÇÃO DOS PERSONAGENS DE "VANKA" E "A MORTE DO FUNCIONÁRIO" EM TRADUÇÕES BRASILEIRAS E INGLESAS DE TCHÉKHOV Denise Regina de Sales, Célia Maria Magalhães Resumo: Desde o século XIX, os contos de Anton Pávlovitch Tchékhov têm integrado o polissistema literário (EVEN-ZOHAR, 1990) de outras culturas, além da russa. A interferência (EVEN-ZOHAR, 1990) de sua obra no repertório literário em língua portuguesa e inglesa pode ser confirmado por filiações de escritores dos cânones nacionais e por sua presença obrigatória em teorizações sobre o conto moderno. Nesta comunicação apresentaremos reflexões sobre a representação dos protagonistas dos contos tchekhovianos "??????" [Vanka] e "?????? ?????????" [Smiert tchinovnika – A morte do funcionário] em traduções em português realizadas por Tatiana Belinky, Boris Schnaiderman e Maria Aparecida Botelho, e em inglês por Constance Garnet. Em “Vanka”, o garoto que dá nome ao conto, um órfão de nove anos de idade, escreve ao avô, relatando os maus tratos que sofre na oficina de um sapateiro para quem trabalha como aprendiz. Em “A morte do funcionário”, o oficial de justiça Tcherviakóv se arrasta atrás de um superior hierárquico para se desculpar por uma suposta ofensa cometida na sala de um teatro. Para estudar a representação desses personagens, nossa abordagem foi a dos Estudos Descritivos da Tradução, especialmente Toury (1995), entre outros. O estudo foi feito observando-se as normas preliminares das traduções, as quais envolvem considerações sobre a política de traduções e sobre a aceitação ou não de retraduções de outra língua diferente da língua russa nas culturas dos textos traduzidos. Tratou-se de depreender dos paratextos das traduções questões relacionadas à aceitabilidade ou adequação como parâmetros de cada cultura. Observaram-se também as normas operacionais das traduções com ênfase para as normas linguístico-textuais. Entre essas, destacaram-se os recursos de representação dos sentimentos e valores nos contos traduzidos em comparação com os originais. Para esse estudo, a abordagem usada foi semântico-discursiva (MARTIN; WHITE, 2005). Tal estudo permitiu construir um perfil da representação do protagonista nos textos. Referências: EVEN-ZOHAR, I. Polysystem Studies. In: Poetics Today, v. 11, n. 1. 1990. Disponível em https://m.tau.ac.il/~itamarez/works/books/Even-Zohar_1990--Polysystem%20studies.pdf MARTIN, J. R.; WHITE, P. R. R. The language of evaluation: appraisal in English. New York: Palgrave Macmillan, 2005. RECEPÇÃO DO PEQUENO MANUAL ANTIRRACISTA DE DJAMILA RIBEIRO NA FRANÇA: HORIZONTES DA TRADUÇÃO E O LUGAR DE FALA DA TRADUTORA PAULA ANACAONA Enezia de Cassia de Jesus Resumo: O presente trabalho tem como objetivo examinar como se dá a recepção na França da tradução da obra Pequeno Manual antirracista (2020), de Djamila Ribeiro, para tanto, lançamos mão de reflexões inerentes ao estudo da teoria da tradução e dos estudos descritivos sobre paratextos e paratraduções atrelados à obras. Daremos com isso maior atenção ao trabalho desenvolvido pela tradutora-escritora Paula Anacaona que se dedica à literatura e às discussões da/na periferia, com uma perspectiva de fazer circular, principalmente, a escrita de textos que estão à margem. Com isso, no tocante a tradução assumida da tradutora, entendendo o termo segundo a conceituação de Toury (1995), que “ aquela em que ‘todos os enunciados são apresentados ou vistos como estando dentro da cultura-alvo’’(apud, TORRES, 2011, p.18), e levando em consideração as questões paratextuais, nos deteremos à análise do posfácio da tradutora do livro Petit manuel antiraciste et féministe. Utilizamos como base teórica obras de autores e autoras que tratam da tradução e da relação entre culturas. O método investigativo utilizado neste trabalho foi a pesquisa bibliográfica no campo dos estudos da tradução, principalmente nas reflexões sobre: paratextos, paratraduções e discurso de acompanhamento, tal como apresentadas por Genette (2009), Torres (2011), Yuste-Frías (2011) e Sales (2014). No que consiste a reflexão sobre o papel do tradutor, a importância deste no processo de tradução e na construção de um horizonte tradutivo, apoiamo-nos, em particular, na reflexão de Berman (1991, 2002) sobre crítica de tradução. Referências: BERMAN, Antoine. A letra ou o albergue do longínquo. Tradução de Marie-Hélène Catherine Torres, Mauri Furlan, Andreia Guerini. 2 ed. Tubarão: Copiat. 1991. ________________. Pour une critique des traductions: John Donne. Paris: Gallimard, 1995. ________________. A prova do estrangeiro: cultura e tradução na Alemanha romântica - Heder, Goethe, Schlegel, Novalis, Humbolt, Shleiermacher, Holderlin. Tradução de Maria Emília Pereira Chanut. Bauru, EDUSC, 2002. FRIAS, José Yuste. Paratradução: a tradução das margens, à margem da tradução. Delta, vol. 31, n.spe, pp 317-347. 2015. GENETTE, Gérard. Paratextos editoriais. Tradução de Álvaro Faleiros. São Paulo: Ateliê Editorial, 2009. GUEDES, D. Conheça a Anacaona, a editora francesa especializada em literatura brasileira. Jornal do Commercio online. Cultura. Publicado em 10/05/2015. Disponível em: https://jc.ne10.uol.com.br/canal/cultura/literatura/noticia/2015/05/10/conheca-a-anacaona-a-editorafrancesa-especializada-em-literatura-brasileira-180437.php. Acesso em: 06 maiio 2022. RIBEIRO, Djamila. Pequeno Manual Antirracista. 1. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2019 ________________. Petit Manuel Antiraciste et féministe. Tradução de Paula Anacaona. 1. ed. Paris : Éditions Anacaona, 2020. ________________. Petit Manuel Antiraciste et féministe. Tradução de Paula Anacaona. 2. ed. Paris : Éditions Anacaona, 2020. RODRIGUES, Cristina Carneiro. Prefácios e notas do tradutor: tensão e acolhimento na relação com outro. Revista Brasileira de Tradutores: Tradução & Comunicação. n 20, 2010, 47-59. SALLES, Kall Lyws Barroso Sales. No limiar da tradução: paratextos e paratraduções de Le Gone du Chaâba de Azouz Begag. Dissertação de mestrado. Florianópolis: UFSC, 2014. SANTOS, Sheila Maria dos. As notas de rodapé e a visibilidade do tradutor na tradução brasileira da recherche de Proust. Revista Da Anpoll, 1(50), 165–175, 2019. TORRES, Marie- Hélene Catharine. Traduzir o Brasil literário. Tubarão: Copiart. Copiart. 2011. O CALDEIRÃO DE INVECTIVAS POUNDIANO: COMENTÁRIOS À TRADUÇÃO DE '"PHASELLUS ILLE"', DE EZRA POUND Guilherme de Oliveira Delgado Filho Resumo: Publicado inicialmente em Ripostes (1912), “‘Phasellus Ille’” se prova um poema bastante representativo de como a ironia do autor estadunidense Ezra Pound (1885–1972) se articula de maneira complexa, a começar por seu título, apresentado entre aspas, já que foi extraído do poema 4 de Catulo (c. 84 a.C. – 54 a.C.). Ali, o poeta romano faz referência a um barco que diz ter sido “o mais veloz dos navios” (NOVAK, 1996, p. 141). Pound, por sua vez, inaugura um diálogo com Catulo apenas para subvertê-lo, fazendo referência a um editor que diz ter sido “o melhor dos editores” e que, segundo Alexander (1979), não seria preciso muito esforço para percebermos que se trata de um editor de revista literária, que passará então a ser demolido pelos ataques de Pound. Esse verdadeiro “caldeirão” de invectivas deixava claro que o autor estadunidense não mais acolheria a política literária dos “anos setenta” do século XIX, uma vez que o seu interesse havia se voltado em definitivo para os anos dez do século XX, com toda a sua modernidade premente. Nesta comunicação, temos por objetivo apresentar uma tradução de “‘Phasellus Ille’” e refletir a respeito tanto das dificuldades de leitura associadas ao contexto da época quanto dos desafios envolvendo a concisão do poema e sua métrica, bem como comentar as escolhas assumidas por nosso projeto tradutório, fundamentado em Britto (2012) e Flores (2014). Referências: ALEXANDER, Michael. The poetic achievement of Ezra Pound. London: Faber and Faber Limited, 1979. BRITTO, Paulo Henriques. A tradução literária. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012. FLORES, Guilherme Gontijo. “Posfácio: A diversão tradutória”. In: PROPÉRCIO, Sexto. Elegias de Sexto Propércio. Organização, tradução, introdução e notas de Guilherme Gontijo Flores. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2014, p. 441-516. NOVAK, Maria da Glória. O lirismo de Caio Valério Catulo. Uma leitura de seu poema sobre um barco (Carm. iv). Língua e Literatura, n. 22, p. 137-153, 1996. POUND, Ezra. Personae: the shorter poems of Ezra Pound. A rev. ed. prepared by Lea Baechler and A. Walton Litz. New York: New Directions, 1990 [1926]. A RECEPÇÃO DE FLAMENCA EM CATALÃO E EM ESPANHOL NAS TRADUÇÕES DE ANTON M. ESPADALER Iago Espindula de Carvalho, Kall Lyws Barroso Sales Resumo: Originalmente escrito em língua occitana antiga, Flamenca é considerado, segundo parte da crítica especializada, como um dos primeiros romances de amor cortês e este trabalho dedica-se a traçar algumas linhas acerca de suas traduções. Além de ter sido traduzido para várias línguas, o romance foi reavivado pela recente produção do álbum El Mal Querer, da artista espanhola Rosalía, lançado em 2018, que lançou um novo olhar para esta obra escrita há oito séculos (CARVALHO; SALES, 2020). Neste trabalho temos como corpus duas edições da obra assinadas pelo tradutor Anton Maria Espadaler Poch, uma para o catalão, publicada pela editora da Universidade de Barcelona em 2015, e uma para o espanhol, publicada pela editora Roca em 2019. Empreendemos esta investigação com base nos estudos da tradução, ancorando-nos na reflexão de Antoine Berman (1995; 2002; 2012) e na análise crítica das paratraduções (YUSTE FRÍAS, 2010; 2015) e dos discursos de acompanhamento (TORRES, 2011) das duas edições, em que podemos encontrar caminhos nesta “busca do tradutor” (BERMAN,1995). Acionamos, portanto, os conceitos bermanianos de crítica produtiva, de posição tradutiva, de projeto de tradução e de horizonte do tradutor (BERMAN, 1995) e os integramos às reflexões do tradutor sobre seu processo publicadas no texto “Cuatro pinceladas para Flamenca” (ESPADALER, 2018) com a finalidade de evidenciar as escolhas e os caminhos trilhados por Espadaler e como este tradutor constrói seus projetos de tradução. Referências: ANÔNIMO. Flamenca. Tradução prólogo e notas de Anton M. Espadaler, Barcelona, Publicacions i Edicions de la Universitat de Barcelona, 2015. ANÔNIMO. Flamenca. Tradução prólogo e notas de Anton M. Espadaler, Barcelona, Roca Editorial, 2019. BERMAN, Antoine. A tradução e a letra ou o albergue do longínquo. Tradução de Marie-Hélène Catherine Torres, Mauri Furlan, Andreia Guerini. 2ª ed. Tubarão: Copiart; Florianópolis: PGET/UFSC, 2012. BERMAN, Antoine. Pour une critique des traductions: John Donne. Paris: Gallimard, 1995. BERMAN, Antoine. A prova do estrangeiro: cultura e tradução na Alemanha romântica. Tradução de Maria Emília Pereira Chanut. Bauru, SP: EDUSC, 2002. CARVALHO, Iago Espindula de.; SALES, K. L. B. Entre Flamenca e El Mal querer de Rosalía: Tradução intersemiótica da personagem feminina. Revista Areia, v. 3, p. 133-149, 2020. Disponível em: &lt; https://www.seer.ufal.br/index.php/rea/article/view/10263&gt;. Acesso em: 7 out. 2021 CHAMBON, Jean-Pierre. Sur la date de composition du roman de “Flamenca”. Etudis Romànics, Barcelona, n. 40, p. 349-355, 2018. Disponível em: &lt;http://revistes.iec.cat/index.php/ER/article/viewFile/144548/143160&gt;. Acesso em: 8 out. 2021. FRIAS, J. Y. Paratradução: a tradução das margens, à margem da tradução. DELTA: Documentação E Estudos Em Linguística Teórica E Aplicada, 31(4), 2015. Disponível em : https://revistas.pucsp.br/index.php/delta/article/view/22228. Acesso em: 7 out. 2021. GENETTE, Gérard. Paratextos editoriais. Tradução de Álvaro Faleiros. São Paulo: Ateliê Editorial, 2009. TORRES, MarieHélène. Traduzir O Brasil literário – paratexto e discurso de acompanhamento. Tradução de Marlova Aseff; Eleonora Castelli. Santa Catarina. Copiart, 2011. YUSTE FRÍAS, J. (2010) «Au seuil de la traduction : la paratraduction» in NAAIJKENS, T. [ed./éd.] Event or Incident. Événement ou Incident. On the Role of Translation in the Dynamics of Cultural Exchange. Du rôle des traductions dans les processus d'échanges culturels, Bern, Berlin, Bruxelles, Frankfurt am Main, New York, Oxford, Wien: Peter Lang, col./coll. Genèses de Textes-Textgenesen (Françoise Lartillot [dir.]), vol. 3, ISBN: 978-3-0343-0487-0, pp. 287-316. ANGÉLICA LIDDELL E O PROGRAMA PERFORMATIVO DE TRADUÇÃO João Ricardo Brautigam Milliet Resumo: A comunicação apresenta três traduções diferentes de Esta breve tragedia de la carne, obra da dramaturga, atriz e diretora de teatro espanhola Angélica Liddell (n. 1966) e que foi escrita a partir de imagens de poemas e cartas de Emily Dickinson. As traduções foram realizadas no âmbito da minha pesquisa de mestrado no PPG em Literatura, Cultura e Contemporaneidade da PUC-Rio. O breve Teatro na Carne, tradução de Angélica Liddell se propôs a experimentar procedimentos performativos de tradução ao trazer para o português um texto de teatro. Essa abordagem foi provocada, em primeiro lugar, pela tentativa de encontrar no próprio texto traduzido o modo de traduzi-lo, seguindo o famoso mote de Haroldo de Campos da “redoação da forma”, mas procurando, para o texto de Liddell, um procedimento particular para a encenação entre línguas. Além disso, também me beneficiei de paradigmas que vêm sendo explorados mais recentemente nos Estudos da Tradução no Brasil, como a noção de que a identidade do texto é dada pela relação que se estabelece entre texto e tradutor (nos termos de Álvaro Faleiros via Eduardo Viveiros de Castro), ou de que o texto corresponde a um certo conjunto de performances dele mesmo (nos termos de Gontijo Flores e Tadeu Gonçalves via Charles Martindale e outros). Dessa forma, assumi como procedimento de tradução o “programa performativo”, modo particular de composição de performances concebido pela performer brasileira Eleonora Fabião. Cada uma das três traduções realizadas é orientada a partir de um programa diferente. A comunicação expõe brevemente as premissas da tradução, então se detém na apresentação dos programas e na sua elaboração, e enfim oferece excertos das três traduções geradas pelos programas. Procura discutir, assim, a utilidade dos programas performativos como procedimento para a tradução de teatro. Referências: CAMPOS, Haroldo de. TÁPIA, Marcelo; NÓBREGA, Thelma Médici (orgs.). Transcriação. São Paulo: Perspectiva, 2015a. FABIÃO, Eleonora. "Programa performativo: O corpo-em-experiência”. In: Revista do LUME. n. 4. 2013. pp. 1-11 FALEIROS, Álvaro. Traduções canibais: uma poética xamânica do traduzir. Florianópolis: Cultura e Barbárie, 2019. FLORES, Guilherme Gontijo; GONÇALVES, Rodrigo Tadeu. Algo infiel: corpo performance tradução. Florianópolis: Cultura e Barbárie, 2017. LIDDELL, Angélica. Trilogía del infinito. Segovia: La uÑa RoTa, 2019. MILLIET, João Ricardo. O breve Teatro na Carne, tradução de Angélica Liddell. 2022. 164 f. Dissertação (Mestrado em Literatura, Cultura e Contemporaneidade) – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 2022. THE THIRD BANK OF THE RIVER: TRADUÇÃO E TRANSCRIAÇÃO EM GUIMARÃES ROSA Joaquim Martins Cancela Júnior Resumo: Em “A tradução como criação e crítica”, Haroldo de Campos (1962) discute conceitos fundamentais dos Estudos da Tradução no que concerne o campo da traduzibilidade, aplicando-os à nossa realidade literária. Compreendendo a figura do tradutor primeiramente enquanto um leitor diferenciado que depois adentra a própria categoria da produção artística, elenca exemplos de recriação por meio de um exercício crítico voltado à compreensão dos procedimentos tradutórios, que não se quer centrado apenas nos problemas ou equívocos das traduções. Desta forma, por sua visão acerca dos níveis de complexidade de tradução relacionados ao potencial estético das produções artísticas, sejam elas construídas em poesia ou prosa poética, seu texto é de grande relevância aos que se dedicam a análise de obras como, por exemplo, as de James Joyce e Guimarães Rosa. Como base, Campos se utiliza mormente de um ensaio de Albrecht Fabri (1958) sobre a “sentença absoluta” e o problema da intraduzibilidade, bem como de um artigo de Max Bense (1958) e sua descrição dos três níveis de informação: documentária, semântica e estética, ambos publicados originalmente na revista “Augenblick”, em sua edição de março de 58. No artigo “Os vastos espaços”, no qual analisa os procedimentos criativos de Guimarães Rosa na produção de Primeiras Estórias descrevendo-os em várias categorias, dentre elas, “Estrutura”, “Sonoridade” “Choque estilístico”, Rónai (1968) entende por “Dinamização” um grupo de palavras que não consistem exatamente em neologismos, mas fazem parte de outro grupo, também muito produtivo em Rosa. Nesta comunicação, proponho discutir as posturas tradutórias de Barbara Shelby (1968) e David Treece (2001) em duas traduções de Primeiras Estórias para a Língua Inglesa frente a esse fenômeno textual. Referências: CAMPOS, Haroldo de. “A tradução como criação e como crítica”. In: Metalinguagem e outras metas. São Paulo: Perspectiva, 2002, p. 31-47. RÓNAI, Paulo. “Os vastos espaços”. In: ROSA, João Guimarães. Primeiras estórias. 4. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1968. 176p. p. XXIX-LVII. ROSA, João Guimarães. Primeiras estórias. Rio de Janeiro: José Olympio, 1962. 176p. ROSA, João Guimarães. The Jaguar. Trad. David Treece. Oxford: Boulevard, 2001. 183p. ROSA, João Guimarães. The third bank of the river and other stories. Trad. Barbara Shelby. New York: Alfred A. Knopf, 1968. 238p. A VOZ DO TRADU/AUTOR MACHADO DE ASSIS: MARCAS LINGUÍSTICAS DO ESTILO DO AUTOR NOS TEXTOS TRADUZIDOS Larissa Silva Leitão Daroda, Carolina Alves Magaldi Resumo: A questão que motivou esta pesquisa foi buscar entender como a estilística conecta a criação literária à tradução. Assim sendo, a observação de marcas linguísticas textuais características de um tradutor permite a identificação de sua voz, conceito sugerido por Theo Hermans (1996) e associado aos estudos descritivos da tradução (TOURY, 2012 [1985]). A ampliação deste estudo é uma das formas de caracterizar o estilo de determinado tradutor. Um texto traduzido é apenas uma das possibilidades de realização do texto fonte, sendo, ele mesmo, um texto reescrito, mas também a se reescrever (CARVALHAL, 1993). Por ser um meio importante de acesso a trocas culturais, a tradução pode ser considerada um material literário, dado o esforço criativo envolvido e o potencial de transmitir influências literárias (CARVALHAL, 1993). . Quando o tradutor é também autor, como no caso de Machado de Assis, as marcas de estilo da tradução e da autoria estão em estreito diálogo. Assim sendo, propõe-se a investigação de tais marcas em duas traduções feitas por Machado, quais sejam, Suplício de uma mulher, de Émile de Girardin, e Oliver Twist, de Charles Dickens, e examinar a existência de um diálogo entre tais marcas e o corpus de romances de autoria de Machado de Assis. Visando a identificação de marcas de estilo nas traduções de Machado, propõe-se o emprego de uma metodologia mista, com a quantificação de padrões recorrentes de escolhas linguísticas sendo obtida através de softwares de linguística de corpus, além da análise qualitativa de parâmetros que se destacam na leitura dos textos traduzidos por Machado. Referências: CARVALHAL, Tania Franco. A tradução literária. Organon, v. 7, n. 20, p. 47-52. 1993. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/organon/article/view/39381/25174. HERMANS, Theo. The Translator’s Voice in Translated Narrative. Target, v. 8, n. 1, 1996, p. 23 - 48. TOURY, Gideon. Descriptive Translation Studies - and Beyond : Revised Edition. Amsterdam / Philadelphia: John Benjamins Publishing Company, 2012 [1995]. CRIAÇÃO E CRÍTICA NA TRADUÇÃO DA AMBIVALÊNCIA EM LE CLÉZIO: POR UMA POÉTICA DA INFÂNCIA Lia Araujo Miranda de Lima Resumo: Esta comunicação apresenta resultados parciais de pesquisa dedicada à ambivalência de público na tradução, tendo como objeto a escrita de J.M.G. Le Clézio direcionada ao público infantojuvenil, inserida em corpus mais amplo de autores de expressão francesa que escrevem para adultos e crianças. Investiga-se a hipótese de que modelos estabelecidos na literatura infantil e usualmente considerados marginais em relação ao cânone acadêmico são mobilizados conscientemente por certos escritores como recurso expressivo e passam a fazer parte de sua poética, seja em textos direcionados para crianças ou não. Em Le Clézio, a presença da infância supera a representação, configurada na escolha por protagonistas entre a puberdade e o início da juventude, e se materializa na forma literária, em escolhas lexicais, estruturas sintáticas e composições narrativas que recuperam elementos familiares à tradição que alimenta a literatura infantil, como os contos de encantamento e os romances de aventura. O resultado é uma composição textual que entrelaça modelos dos sistemas infantil e não infantil e cujo público alvo não pode ser definido com precisão – ou um texto ambivalente, conforme definição de Zohar Shavit (1986). A tradução de excertos do conto « La roue d’eau », publicado na coletânea Mondo et autres histoires (1978), é apresentada, conforme queria Haroldo de Campos (1992), como crítica e como recriação dos mecanismos ambivalentes da prosa lecleziana, inçada ademais por um intenso trabalho poético da linguagem, na busca por uma forma que seja o mais próxima possível da matéria. A pesquisa acompanha uma sequência de estudos sobre Le Clézio desenvolvidos nesta primeira década do século XXI (SOUSA, 2011; ARBEX, 2019; OLIVEIRA, 2021), em instituições como a UnB e a UFMG, e um esforço coletivo de tradução dos contos de Mondo et autres histoires. Referências: Arbex, M. (2019). Tempo e imagem em Le Clézio. II Colóquio Escrita, Som, Imagem. UFMG, Belo Horizonte. Campos, H. de. (1992). Da tradução como criação e como crítica. In: Metalinguagem e outras metas. São Paulo: Perspectiva. p. 31-48. Oliveira, N. O. de. (2021). Peuple du ciel, de J.M.G. Le Clézio, e a cosmogonia Hopi: uma tradução comentada. Orientador: Germana H. P. Dissertação (mestrado). POSTRAD, UnB, Brasília. Shavit, Z. (1986) Poetics of Children's Literature. Atenas e Londres: The University of Georgia Press. Sousa, G. H. P. de, & Le Clézio, J.-M. G. (2011). Traduzindo Mondo, de Jean-Marie-Gustave Le Clézio. Cadernos De Literatura Em Tradução, (12), 295-307. BELÉN, DE IZQUIERDO RÍOS, E OUTROS GÊNEROS DO DISCURSO TRADUZIDOS PARA O PO-BR Lilian Cristina Barata Pereira Nascimento Resumo: O romance Belén (1971), de Francisco Izquierdo Ríos, obra literária da Amazônia peruana, é o objeto desta pesquisa de tradução e comentários da tradução. Este autor teve somente a obra Días Oscuros (1950) traduzida no Brasil, em 1975. Como o autor já faz parte do sistema literário brasileiro, Belén já chega como projeto de tradução. Por reconhecer que o romance em si é um gênero do discurso secundário, considerado complexo, por agregar outros gêneros primários e/ou simples (BAKHTIN, 2019), no próprio romance Belén estão presentes outros gêneros do discurso, que estão escritos, evidentemente, mas com a força da linguagem oral, como os contos orais narrados pelo personagem contador de histórias Pío Zorrás; as letras de canções populares com registro histórico como o vinil Sabor a selva (1967), do grupo Dúo Loreto; além de poemas do personagem-poeta Pasión Zegarra, como o poema Canto del hombre de la Selva. Belén é um romance social heterodiscursivo, e as falas das personagens unidades socioideológicas do discurso (BAKHTIN, 2017). Seguindo a concepção bermaniana, é função do tradutor obrigar o leitor a sair de seu lugar comum, a se afastar do próprio centro para poder receber o autor estrangeiro como outro ser (BERMAN, 2002). Por isso, o projeto tradutório de Belén se fundamenta na tradução da letra (BERMAN, 2013), que se propõe ser ético, aberto e dialógico. Referências: BAKHTIN, Mikhail. Os gêneros do discurso. (2ª Reimpressão). São Paulo: Editora 34, 2019. Tradução de Paulo Bezerra. ____________. Teoria do romance I: A estilística. (1ª Reimpressão). São Paulo: Editora 34, 2017. Tradução de Paulo Bezerra. BERMAN, Antoine. A prova do estrangeiro. São Paulo: EDUSC, 2002. Tradução de Maria Emília Pereira Chanut. ______________. A tradução e a letra ou o albergue do longínquo. 2ª ed. Florianópolis: PGET/UFSC, 2013. Tradução de Marie-Hélène C. Torres, Mauri Furlan e Andréia Guerini. IZQUIERDO RÍOS, Francisco. Días Oscuros. 2ª ed. Iquitos: Ediciones Populares Selva, 1966. ____________. Belén. Lima: Talleres Gráficos P. L. Villanueva Editor, 1971. ____________. Chove en Iquitos. São Paulo: Clube do Livro, 1975. Tradução de Armando Pacheco. A HIPERESTESIA E O FANTÁSTICO EM TRADUÇÃO DE CONTOS DE JOÃO DO RIO PARA A LÍNGUA INGLESA Mirian Ruffini Resumo: Este trabalho engloba a análise da configuração da hiperestesia em traduções, para a língua inglesa, dos contos “Coração”, “A noiva do som” e “A mais estranha moléstia”, de João do Rio, constituintes da coletânea Dentro da noite (1910). Suas manifestações no enredo, nos diálogos, nas descrições dos espaços e da ambientação desses contos são analisadas por meio das escolhas lexicais, sintáticas e estilísticas presentes nas traduções, as quais norteiam a busca dessas formas de transposição estética e temática. O texto teórico-crítico de Tardin (2021) embasa a discussão acerca do fenômeno da hiperestesia presente nos contos elencados, sendo este uma exacerbação de sensações, sentimentos e expressões do indivíduo em desequilíbrio tímico. Nesses contos, os personagens manifestam esse exagero dos sentidos de diversas formas, como na dedicação afetiva sem limites, no mergulho delirante em obras musicais e na expressão acentuada de um sentido em particular, como no caso do olfato. Sendo essas ocorrências destacadas a partir do desdobramento do fantástico, nos contos de João do Rio, e neste trabalho abordadas nas traduções dessas narrativas curtas ficcionais para a língua inglesa, o aporte teórico de Antoine Berman (2007), Paulo Henriques Britto (2012), Susan Bassnett (2005), Ceserani (2006) e de outros expoentes dos estudos da tradução e da literatura fantástica servem de baliza para a investigação dessas marcas tradutórias, efetivadas nos textos de chegada em língua inglesa. As redes temáticas, subjacentes e manifestas, presentes nas análises das traduções, como aquelas das “sensações/sentimentos”, “ações/movimentos”, “ambientação/natureza”, auxiliam na organização desses novos textos em língua inglesa enquanto, ao mesmo tempo, carregam consigo elementos originários da poética e da literatura paulobarretiana para o leitor do século XXI. Referências: BASSNETT, Susan. Estudos de tradução. Tradução de Sônia Terezinha Gehring, Letícia Vasconcellos Abreu, Paula Azambuja Rossato Antinolfi. Porto Alegre - RS: UFRGS Editora, 2005. BERMAN, Antoine. A tradução e a letra ou o albergue do longínquo. Tradutores Marie-Hélène Catherine Torres, Mauri Furlan, Andreia Guerini. Rio de Janeiro: 7Letras/PGET, 2007. BRITTO, Paulo H. A tradução literária. 1. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012. CESERANI, Remo. O fantástico; tradução de Nilton Cezar Tridapalli. Curitiba: Ed. UFPR, 2006. MORETTO, Fulvia M. L. Caminhos do decadentismo francês. 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O livro foi lançado pela Galileu Edições, em abril de 2021. Augusto de Campos tem, além de sua atividade poética, uma larga contribuição à tradução de textos criativos em língua portuguesa, desde o projeto inicial da poesia concreta, na década de 1950. Sua atividade tradutória não está afastada de sua atividade poética. Como ele mesmo já afirmou em entrevistas e textos teóricos, é importante que haja não apenas uma preocupação com o conteúdo a ser traduzido, mas também com a forma, com a estrutura do poema. Isso é o que fundamentalmente diferencia a tradução de um texto técnico e a tradução-arte, como a nomeia Augusto de Campos, ou a transcriação, como teorizava seu irmão Haroldo. Em entrevista à Revista do Instituto Humanitas Unisinos, em 2008, Augusto afirma: “O tradutor precisa se aprofundar no texto traduzido, adquirir a sua ‘persona’, criar um diálogo medular com ele, captar a sua ‘alma’. Mas sem ‘forma’, não faz nada que preste”. Portanto, a escolha dos poemas analisados aqui se deve também à tradução-arte feita por Augusto, que não deixou de fora os aspectos visuais trabalhados por Herrick e Herbert em seus poemas do século XVII. Referências: CAMPOS, Augusto de; DICK, André. Augusto de Campos: em busca da “alma” e da “forma”. Revista do Instituto Humanitas Unisinos. Edição 276, 06 Outubro 2008. Disponível em: https://www.ihuonline.unisinos.br/artigo/2212-augusto-de-campos. Acesso em: 25 abr 2022. CAMPOS, Augusto de. ENTRESHAKESPEARES: BOYD A WILCOTT. Londrina, PR: Galileu Edições, 2021. CAMPOS, Augusto de; CAMPOS, Haroldo de; PIGNATARI, Décio. Teoria da Poesia Concreta: textos críticos e manifestos 1950-1960. 4. ed. São Paulo: Ateliê Editorial, 2006. CAMPOS, Haroldo de. Transcriação. Organização Marcelo Tápia e Thelma Médici Nóbrega. São Paulo: Perspectiva, 2013. PERLOFF, Marjorie. O gênio não original: poesia por outros meios no novo século. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2013. A TRADUÇÃO DE KOCH-GRUNBERG DO RORAIMA AO ORINOCO Riane de Deus Lima Resumo: Helen Waddell propõe que toda literatura tem a sua Babilônia, cabendo aos tradutores não a confusão das línguas, mas a profusão de línguas; não discórdia, mas globalização. Nesse sentido, apresento corpus de pesquisa contido na edição venezuelana do etnógrafo alemão Theodor KochGrünberg Del Roraima al Orinoco: mitos y leyendas de los índios Taulipang y Arekuná, Tomo II, de 1989. Destaco a ausência das seções “PROLOGO” e “TEXTOS” nas edições brasileiras do livro, onde oito sequências narrativas apresentadas na íntegra, em língua Taurepáng, com propriedade intelectual atribuída aos indígenas Mayuluaípu e Akuli, com tradução termo a termo. As narrativas que Theodor Koch-Grünberg apresenta são oriundas do imaginário coletivo de nações tradicionais que habitam o circum-Roraima. Esses povos indígenas, representados por Akulí e Mayuluaípu, transmitiram sua poética ao naturalista. Vislumbro questão importante para a teoria literária de nosso tempo, pois os textos preservam arte poética indígena. Então, nossa argumentação é que Koch-Grünberg relata que Akulí não falava português, Mayuluaípu narrou-lhe as lendas em português, e o naturalista traduziu para o alemão. Sabemos que o etnógrafo realizou um percurso de tradução inusitado, com encadeamento taurepang/português/alemão/ possibilitando interferências, transformações decorrentes da intenção, cultura, enfim. Assim, entendo que as narrativas indígenas são fonte valiosa para o corpus da literatura brasileira, mas sofrem um dimensionamento histórico menor e têm sua importância relegada a material etnográfico. E pretendo tecer considerações acerca de novas formas de relações interculturais, valorização das civilizações tradicionais, culturas das margens, pluralidade das intersecções e as pretensas homogeneidades nacionais pós-coloniais e com isso, disseminar a ideia da literatura indígena brasileira. Referências: ALMEIDA, Maria Inês de. Na captura da voz – as edições da narrativa oral no Brasil/Maria Inês de Almeida, Sônia Queiroz. – Belo Horizonte: Autêntica; FALE/UFMG, 2004. BRIZOTTO, Bruno. Hans Robert Jauss e a Hermenêutica Literária. Revista Letrônica, Porto Alegre, v. 6, n. 2, p. 735-752, jul./dez., 2013. CANDIDO, Antonio. Formação da Literatura Brasileira. 8ª ed. Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 1997. CARVALHO, Fábio Almeida de. Makunaima=Macunaíma: contribuições para o estudo de um herói transcultural. 1. ed.-Rio de Janeiro: E-papers, 2015. ______Considerações sobre o processo de circulação literária: a matriz cultural indígena na matriz cultural brasileira. Revista Gragoatá, Niterói, v.25, n. Comemorativo, p. 430-454, julho 2020. ______ Theodor Koch-Grünberg e a cultura brasileira. Revista Gragoatá, Niterói, n. 41. P. 665-685, 2. sem. 2016. ______ Fronteiras na literatura? In ANDRADE, Roberto Carlos. II Simpósio Internacional de Estudos da Linguagem e Cultura Regional. 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A caminho de Londres, Humprhry Clinker, um personagem picaresco que prega o metodismo, substitui o cocheiro, que entra numa briga contra Chowder, o cachorro de Tabitha. A tradução da obra exige um trabalho criativo especialmente no que se refere `as cartas de Tabitha e sua criada Win Jenkins. Ambas escrevem cartas com problemas de ortografia, sintaxe e trocadilhos que apresentam-se como grandes desafios de tradução. A edição espanhola, feita por Miguel Temprano Garcia, ignora tais desafios e opta pela tradução do sentido, embora este também fique comprometido. Portanto, serão analisadas essas dificuldades de tradução em exemplos concretos do texto e apontados alguns problemas da edição espanhola. Referências: SMOLLETT, Tobias. The Expedition of Humphry Clinker. Introdução e notas por Thomas R. Preston, Atenas e Londres: The University of Georgia Press, 1990. ____________________. La Expedicion de Humphry Clinker. Tradução de Miguel. TRANSCRIAR A IMAGEM POÉTICA: TRADUÇÃO DE MARGEM DE MANOBRA, DE CLAUDIA ROQUETTEPINTO Valentina Antonieta Figuera Martínez Resumo: O propósito deste trabalho de pesquisa é traduzir ao espanhol as duas primeiras seções do livro Margem de manobra (2005), da poeta carioca Claudia Roquette-Pinto. Partindo das contribuições sobre transcriação de Haroldo de Campos (2013) –que vê, na operação tradutória, um exercício crítico e teórico–, entende-se que, para a realização da tradução, é necessária uma análise da obra, pois abordando-a criticamente e lendo-a a partir das contribuições da teoria da poesia, o trabalho de transpor o português dos poemas para o espanhol ganha em amplitude e rigor. Portanto, traduzir pressupõe domínio dos instrumentais teórico-metodológicos da análise poética. No âmbito da tradução, busca-se captar o tratamento que recebem as imagens poéticas, procedimento literário marcante nos poemas do livro e articulador de uma isotopia imagética. Para a análise serão mobilizadas as contribuições de Octavio Paz sobre a imagem enquanto elemento formal, alinhado a outros aspectos formais do poema; de Georges Didi-Huberman e Michel Collot sobre, respectivamente, o olhar e o pensamento-paisagem; por fim, encaminhar-se-á uma discussão sobre a constituição da imagem do ponto de vista dialético, tal qual propõe Walter Benjamin, pois na obra da autora a imagem assume o papel de um limiar entre o real e o ficcional e é uma forma de ler a época em que se insere a obra. Como complemento à noção haroldiana de tradução, convocam-se trabalhos de Walter Benjamin (2008), teórico com o qual Haroldo dialoga, e Jaques Derrida (2002). Durante o processo de transcriação dos primeiros poemas evidenciamse compensações sonoras e alterações no tocante à imagem poética, procedimentos que, na versão em espanhol, deslocam o significado semântico do original produzindo novas propriedades sonoras e informações estéticas que recriam efeitos independentes. Referências: ARROJO, Rosemary. Oficina de tradução. A teoria na prática. São Paulo: Ática, 2007. BENJAMIN, Walter. "A tarefa do tradutor". Tradução de Fernando Camacho. In: Branco, Lucia Castello. A tarefa do tradutor de Walter Benjamin: quatro traduções para o português. Belo Horizonte: Fale/UFMG. 2008. p. 25-49. BRITTO, Paulo Henriques. "A tradução de poesia". In:_____. A tradução literária. Rio de Janeiro: civilização Brasileira, 2012. P. 119-153. BORGES, Jorge Luis. “Las versiones homéricas”. In: _____. Discusión. 3.ª ed. Madrid: Alianza Editorial; Buenos Aires: Emecé Editores, 1983, pp. 89–95. CAMPOS, A.; PIGNATARI, D.; CAMPOS, H. Teoria da Poesia Concreta, textos críticos e manifestos 1950-1960. 2. ed. São Paulo: Livraria Duas Cidades, 1975. CAMPOS. Haroldo de. "A palavra vermelha de Hölderlin. São Paulo: Perspectiva. 1969.p. 93-107 CAMPOS, Haroldo. Da Razão Antropofágica: Diálogo e Diferença na Cultura Brasileira. In: ______. Metalinguagem & outras metas. 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No entanto, longe de propor que esses autores não façam mais parte dos currículos de literatura espanhola nas universidades, parece-nos relevante que a literatura barroca não se reduza a um pequeno número de escritores, os quais muitas vezes dialogavam entre si e ignoravam a produção de outros autores. A nossa hipótese central é a de que para compreender a literatura espanhola seiscentista, teremos que problematizar a formação dentro da historiografia literária de uma suposta literatura nacional unívoca, para pensar, seguindo a nomenclatura de Franco Moretti (2000), em séries de literaturas nacionais e produções individuais. Isto é, não seriam as produções marginalizadas, ou muitas vezes sequer lidas e estudadas, que formariam uma ideia mais clara das relações estabelecidas entre os autores do Barroco espanhol? Essa hipótese também se bifurca no papel que a tradução mantém na problematização do cânone estabelecido. Ou seja: essa revisão por meio da tradução, ao ser feita no século XXI na América Latina, produz um resultado distinto de propostas realizadas em diferentes contextos? Referências: BENJAMIN, Walter. A tarefa do tradutor. Belo Horizonte: UFMG, 2008 BERMAN, Antoine. Pour une critique des traductions: John Donne. Paris: Gallimard, 1995 BHABHA, Homi. O local da cultura. Belo Horizonte: UFMG, 2019 BURKE, Peter. The european renaissance. Oxford: The making of Europe, 1998 CAMPOS, Haroldo. Da transcriação: poética e semiótica da operação tradutora. São Paulo: Edusp, 2011 DAGUT, Menachem. Can “Metaphor” be translated. Babel. 22. p. 21-32, 1976 DELEUZE, Gilles. A dobra. Leibnz e o Barroco. São Paulo: Papirus, 2005 DERRIDA, Jacques. “Des tours de Babel” in GRAHAM, Joseph. Difference in Translation. Londres : Cornell University Press, 1985 GRACIÁN, Baltasar. Agudeza y arte de ingenio. 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Aletria: Revista De Estudos De Literatura, 30(4), 19–42, 2020 STEINER, George. After Babel: aspects of language and translation. Oxford: Oxford University Press, 1975. SIMPÓSIO “TRADUÇÃO LITERÁRIA E FEMINISMOS: PONTOS DE ENCONTRO” Luciana Carvalho Fonseca (USP), Marina Leivas Waquil (USP), Leticia Maria Vieira de Souza Goellner (Pontificia Universidad Católica de Chile) TRADUZINDO O SILÊNCIO: POSSIBILIDADES NA TRADUÇÃO DE PHILLIS WHEATLEY Adrian Lincoln Ferreira Clarindo Resumo: A poeta Phillis Wheatley foi provavelmente a primeira escravizada a ter um livro publicado no ocidente, nos Estados Unidos da América, em 1773. Sua obra e vida ilustram vários elementos que denunciam certa condição de escrita: uma sociedade escravagista, misógina e silenciadora (à época e postumamente à escritora). Aqui buscamos explorar as possibilidades de tradução de seu livro Poems on Various Subjects, Religious and Moral by Phillis Wheatley, Negro Servant to Mr. John Wheatley, of Boston, in New England. O silêncio da autora seria enunciado, abordado por nós numa questão bakhtiniana: Bakhtin (2003) clamaria que há vários gêneros de discurso e lançamos mão deles dependendo da ordem do momento. Se assim o fazemos, silenciamos certos discursos quando usamos de outro. Para traduzir este silêncio de Phillis, o que nos guia é a luz teórica da tradução engajada e fora de uma neutralidade, já explicitada por figuras como o franco-argelino Jacques Derrida, e também a tradução feminista que nos ensina a considerar os paratextos de uma obra, o emprego de notas suplementares, a metatextualidade, e busca revelar a situação da mulher dentro de contextos e imaginários sociais. Dentro de uma gama de ações teóricas, a tradução feminista à qual nos apegamos é aquela que escopa identificar e criticar conceitos que relegariam as mulheres aos degraus mais baixos da escada literária, como define a canadense Sherry Simon, e tenta de algum modo ser olhos e ouvidos à voz e à imagem de quem sofreu apagamentos e imposições ao silêncio. Esboçaremos ainda como as questões raciais, identitárias e o estudo histórico de um passado biográfico e móvel de Phillis Wheatley Peters também influenciam na atualização de termos e concepções no processo tradutório para o presente e suas circunstâncias. PATRONAGEM E REESCRITA: A RELEVÂNCIA DAS VOZES FEMININAS PARA A RECEPÇÃO DE ANGELA CARTER NO BRASIL Anna Olga Prudente De Oliveira Resumo: Escritora inglesa do século XX muito celebrada em seu país de origem, autora de romances, contos e poesia, Angela Carter (1940-1992) tem apenas algumas de suas obras traduzidas para o português brasileiro, sendo seu livro de contos The Bloody Chamber And Other Stories o único que recebeu até o momento duas traduções publicadas por editoras distintas (Rocco, 1999 e TAG/Dublinense, 2017). Nessa obra, dialogando com o folclore e com os contos de fadas, em especial com os contos do escritor francês do século XVII Charles Perrault, Carter retoma e atualiza a tradição da Mamãe Gansa, contadora de histórias, trazendo transformações condizentes com a contemporaneidade, notadamente uma perspectiva feminista a partir da qual as personagens e os enredos de suas novas histórias abrem-se a potencialidades do desejo feminino. Este trabalho discute o papel da patronagem e da reescrita para a inserção da obra de Angela Carter no sistema literário brasileiro, tendo em vista o modo como a escritora inglesa é apresentada pelas vozes femininas que no Brasil a editaram, prefaciaram e traduziram: Vivian Wyler, Marina Colasanti e Adriana Lisboa. A partir da análise dos paratextos e metatextos referentes às edições, considera-se que a recepção de Carter no Brasil está relacionada à leitura feminista de sua obra realizada sobretudo por Wyler, editora e prefaciadora do primeiro livro, e por Colasanti, curadora da segunda tradução publicada, um projeto editorial realizado exclusivamente por mulheres. "O CORPO É UMA COISA MODESTA": PRÁTICAS FEMINISTAS DE TRADUÇÃO EM TRÊS POEMAS DE ELISE COWEN Emanuela Carla Siqueira Resumo: Elise Nada Cowen (1933 – 1962) foi uma poeta estadunidense nunca publicada em vida. Comumente associada à Geração Beat – conviveu com Allen Ginsberg, ressurgindo recentemente em algumas fotos do acervo do poeta –, deixou uma espécie de fichário com noventa e dois poemas e fragmentos, escritos à mão e datilografados. Apesar de poucos poemas serem datados, o fichário marca um período aproximado entre 1959 e início de 1960, e acaba revelando uma série de práticas estéticas que hoje, graças à crítica literária feminista, podemos observar a recorrência em poetas da mesma geração como Sylvia Plath e Anne Sexton, por exemplo. Pesquisadoras de práticas poéticas por mulheres estadunidenses, como Alicia Ostriker (1982), Sandra Gilbert e Susan Gubar (1979), colocam que na década de 1950 a produção de poetas era mais contida por conta de fazerem parte da chamada geração silenciosa. Porém, na prática de pesquisa e tradução de Elise Cowen foi se percebendo uma série de elementos de ordem estética e temática que reforçam a importância de práticas feministas na tradução de poesia: desde a própria existência de mulheres como tradutoras desse gênero – que traz à tona até mesmo a inserção das poetas no sistema literário – até as questões práticas como resoluções de rimas e sonoridades que remetem a outras poetas como, por exemplo, Emily Dickinson. Aqui, serão apresentados três poemas de Elise Cowen e seus processos de tradução: “Emily”, “The body is a humble thing” e “Urgent! Urgent!”. A construção dos comentários de tradução partirá dos estudos feministas da tradução, mais particularmente das primeiras críticas à escola canadense, ainda na década de 1990, como as feitas por Françoise Massardier-Kenney (1997). Também, serão trazidas reflexões feitas por Ana Cristina Cesar (1988) enquanto pesquisadora e tradutora de poesia, a fim de traçar um pensamento por tradutoras brasileiras. O CÔMICO COMO FERRAMENTA CRÍTICA NA PEÇA TEATRAL "DIE KONTRAKTE DES KAUFMANNS", DE ELFRIEDE JELINEK, EM TRADUÇÃO Gisele Jordana Eberspächer Resumo: O cômico e suas funções têm sido um debate cada vez mais presente na fortuna crítica sobre a obra da escritora austríaca Elfriede Jelinek (1946–), laureada com o prêmio Nobel de Literatura em 2004, principalmente a partir de 2017, quando a Forschungsplattform Elfriede Jelinek (Plataforma de Pesquisa Elfriede Jelinek, centro de pesquisa atrelado à Universidade de Viena) dedicou um biênio a este tema. Neste contexto, um dos pontos mais ressaltados é como o cômico é usado como uma ferramenta crítica dentro da obra da autora, principalmente em um viés feminista e subversivo para se falar sobre a sociedade (JANKE e SCHENKERMAYR, 2020). Segundo Gollner (2019), "Jelinek odeia e escarnece, acima de tudo, o patriarcado, o capitalismo, o fascismo e o humanismo burguês-cristão" (p. 819). Sendo considerada por Gitta Honegger (2019), tradutora da obra da austríaca para um inglês, um dos textos dramáticos mais obviamente engraçados da obra da austríaca Elfriede Jelinek, Die Kontrakte des Kaufmanns é uma peça sobre crise econômica austríaca, que antecedeu a americana por alguns meses e teve moldes muito similares. Criando um coro dos pequenos investidores, apresentando o magnata desencadeador de boa parte da crise e traçando paralelos com contos clássicos, como Hércules, a obra usa o cômico para criticar o sistema patriarcal, o capitalismo e o colonialismo. O presente trabalho fez um levantamento inicial de ocorrências de cômico – principalmente em sua figuração de humor verbal – na obra Die Kontrakte des Kaufmanns e as compara com duas traduções do texto: uma em inglês, assinada por Gitta Honegger e intitulada The Merchant's Contracts (2019), assim como uma para o português, assinada por Helena Topa e intitulada Os Contratos do Comerciante (S.A.), tomando como base as discussões de Luise von Flotow (1997), Hélène Cixous (2022) e Susan Bassnett e Peter Bush (2006). DESVELAMENTO E DENÚNCIA DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER: REFLEXÕES SOBRE TRADUÇÃO E RECEPÇÃO DA TRADUÇÃO DA OBRA "MA ROBE N'EST PAS FROISSÉE" (2008) DE CORINNE HOEX Kelley Duarte Resumo: Partindo da compreensão de que traduzir implica um processo de abertura ao outro, nossa proposta de comunicação objetiva sintetizar o projeto que envolve a tradução do romance belga “Ma robe n’est pas froissée” (2008) subsidiada pela Casa Internacional das Literaturas de Bruxelas Passa Porta (Edição 2021). Para tanto, nesse processo de abertura que traz o diálogo entre línguas e culturas, destacamos a invisibilidade da mulher vítima de violência, aspecto que será explorado com a inserção da tradução no projeto de pesquisa em iniciação científica “Literatura e expressões da violência contra a mulher” (FURG-2019) e nos desdobramentos dessa pesquisa em atividades extensionistas, junto à comunidade local. A orientação teórica para esse estudo destaca o estudo de T. Carvalhal (2000), para quem a tradução, enquanto lugar de troca e de mediações literárias, é também um recurso nas relações de alteridade. Igualmente, a teoria de L. Chamberlain (1988) nos permite elaborar a discussão sobre o impacto das relações de poder na tradução. Dessa forma, o estudo aqui proposto visa apresentar diferentes possibilidades de recepção de uma tradução e apontar, no romance traduzido, os fatores simbólicos da sucumbência feminina à opressão presentes como denuncia no romance. Portanto, nessa comunicação, elucidaremos os obstáculos e as possibilidades de uma tradução que se propõe feminista, da cultura belga à brasileira. A RADICAL PREFACE: HOW MARIA VELLUTI OVERCAME SUPPRESSION THROUGH TRANSLATION AND INTRODUCED IDEAS THAT VALUED WOMEN ACTORS IN 19TH-CENTURY BRAZIL Luciana Carvalho Fonseca Resumo: There were scores of women translating in Brazil in the 19th, whose translations were purposeful and meaningful, and intersected with an array of other professional activities (Reis & Fonseca, 2018). Maria Velluti (1827-1891) was one of them. A dancer, playwright, producer and theater director, having translated forty known plays, she also penned an original play in her later years. In 1859, two of her translations were published : A viuva das Camellias (Velluti, 1859) e A vida de uma actriz (Velluti, 1859). The latter a translation of La Vie d’une Comédienne by Anicet-Bourgeois and Barrière (1854). Velluti devoted A vida… to Ludovina Soares da Costa, the prima donna of Brazilian theater at the time, in a preface to the translation in the form of an intimate, confessional and revelatory letter of Velluti’s own trajectory as a woman writer and translator. This paper explores Velluti’s preface to the translation of A vida… and newspaper publications on Velluti and her work in the light of Joanna Russ’ analytical categories in How to Suppress Women’s Writing (2018). I argue that to Velluti, translation was the writing that enabled her to overcome suppression as a writer, paved way for her ubiquitous influence over Brazilian theater – where she reshaped Brazil’s theater scene (Stark, 2019) –, and liberated her “ardent imagination”(Velluti, 1857, p. 9). But more importantly, at the same she fought suppression, I also argue that Velluti’s choice of text – a play that honors her “class” (Velluti, 1857, p. 9) of women actors –, and her preface to the translation make up a “radical translation” to the extent it positions Velluti as a key agent seeking to spread new ideas into the Brazilian 19th-century context on what it means to be a woman actor – and writer, and translator. CAROLINA MARIA DE JESUS EM INGLÊS E O SILENCIAMENTO DA CULTURA BRASILEIRA Luísa Arantes Bahia Resumo: Carolina Maria de Jesus foi uma escritora brasileira, negra e favelada que ganhou destaque em 1960 com a publicação de seu livro “Quarto de Despejo: diário de uma favelada”. Segundo Lucia Castelo Branco, “[...] as mulheres costumam preferir as escritas autobiográficas porque, historicamente confinadas no universo do lar, ao interior da casa, elas teriam encontrado nesse tipo de escrita o veículo ideal para a expressão de sua vida íntima, seus desejos, suas fantasias” (BRANCO,1991, p.30). Entretanto, Carolina expandiu tal perspectiva, narrando em seus diários as dificuldades passadas por ela durante sua vida na favela, a contextualização política da periferia paulistana, os percalços enfrentados pela autora e seus filhos, a fome, a miséria e a condição desumana em que viviam. Mesmo com tantos detalhes e tamanha profundidade, a autora foi também submetida a formas de silenciamento, dentre elas destacamos três. Primeiramente nas escolhas de seu editor, Audálio Dantas, de quais trechos dos 35 cadernos entrariam para a publicação da obra. Em segundo lugar, a recepção por parte de leitores que consideravam a sua obra como “não literatura” devido ao uso de coloquialismos e expressões da periferia de São Paulo. E, por fim, discutiremos mais profundamente a tradução de seu primeiro livro para a língua inglesa. Propomos contrastar as escolhas tradutórias principalmente com relação às questões linguísticas, às bebidas e comidas, às notas de rodapé, à cultura negra, aos erros e às omissões que contribuíram para um silenciamento da autora e da cultura brasileira. As escolhas tradutórias impactaram a forma como aspectos relevantes da nossa cultura são representados para o público de língua inglesa, o que acarretou a perda de características relevantes, além da corroboração para a criação de uma visão estereotipada da nossa sociedade. GÊNERO E DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO: UM ESTUDO COMPARATIVO SOBRE POESIA, ROMANCE E LITERATURA INFANTIL TRADUZIDA NO BRASIL Maria Teresa de Araújo Mhereb Resumo: Embora as mulheres componham a maior parte da força de trabalho no mercado de trabalho de tradução no Brasil, sua mão de obra não é empregada na mesma proporção na tradução dos diferentes gêneros textuais e idiomas. A partir de um estudo comparativo feito por amostragem sobre a poesia, o romance e a literatura infantil traduzida publicada por editoras nacionais com expressiva rede de produção e distribuição, procuro demonstrar nesta comunicação que, no contexto editorial em questão, é possível estabelecer relações entre gênero de quem traduz e gênero textual, assim como entre gênero de quem traduz e idioma traduzido, relações estas que assentam sobre a divisão sexual do trabalho. Argumento que 1) apesar de o mercado de trabalho de tradução brasileiro ser altamente feminizado, a separação patriarcal entre produção e reprodução sustenta uma divisão interna do trabalho marcada pela hierarquia masculina e que 2) quanto menos reprodutiva é socialmente considerada a tradução de um gênero textual, maior a tendência de que o trabalho de tradução seja destinado a um homem, ao passo que quanto mais reprodutiva é considerada a função social de um gênero textual, maior a probabilidade de que a tarefa tradutória seja executada por uma mulher. A mesma coleta de dados permitiu obter também informações sobre o continente de origem das autoras e autores traduzidos, possibilitando reflexões acerca da direcionalidade dos fluxos de tradução. Os conceitos empregados para análise provêm, sobretudo, da chamada sociologia dos agentes da tradução (Wolf, 2009; Buzelin, 2016; Milton & Bandia, 2009), dos estudos feministas da tradução (Sánchez, 2015; Chamberlain, 1988; Balibar, 1991; Argoni, 2005) e da sociologia do trabalho de orientação feminista materialista (Freitas, 2016; Nogueira, 2004; Araújo, 2002, 2007; Bruschini, 1998, 2007; Hirata, 2007). A LITERATURA DE MULHERES LATINO-AMERICANAS NÃO TRADUZIDA NO BRASIL: UMA INJUSTIÇA EPISTÊMICA Marina Leivas Waquil Resumo: É alarmante o número de obras de escritoras latino-americanas do último século que ainda permanecem em silêncio no Brasil, ignoradas por um mercado editorial que insiste em publicar as mesmas vozes, dos mesmos contextos e recortes geopolíticos. Nos últimos anos, reflexões como a da Tradutologia Feminista Transnacional vêm, justamente, denunciando e combatendo práticas editoriais e tradutórias que sustentam desigualdades sociais profundas a partir de opressões de gênero e suas mais variadas intersecções. Neste trabalho, busca-se contribuir com dados que demonstram que, ainda que tenham sido/sejam fundamentais em seus contextos de produção, inúmeras obras escritas por mulheres nas mais variadas partes da América Latina – mais especificamente da América Hispana – continuam desconhecidas do público leitor brasileiro. Para tal, foram utilizadas duas listas que compilam importantes obras e nomes: uma com narradoras hispano-americanas importantes do século XX e outra com os 100 melhores livros, de acordo com júri especializado, escritos em espanhol entre 1919 e 2019. A partir de análise quanti e qualitativa, pôde-se evidenciar a expressiva ausência de traduções para um número alarmante de obras e autoras presentes nessa lista. Como suporte para a reflexão teórica desses dados, utilizou-se o conceito de “injustiça epistêmica”, tal como elaborado pela filósofa contemporânea Miranda Fricker (2017), que nos permite constatar que essa não tradução configura uma injustiça hermenêutica, que exclui, silencia e julga equivocadamente grupos sociais em função de uma falta de credibilidade que se deve a uma carência nos recursos hermenêuticos sociais. No entanto, em um tom esperançoso, este trabalho também propõe a possibilidade de reversão desse quadro de confinamento tradutório no qual estão inúmeras mulheres latino-americanas ainda não traduzidas no Brasil apresentando propostas recentes no mundo da tradução brasileiro que resgatam os escritos literários de mulheres e devem ser celebradas como iniciativas que podem ajudar na reescrita da literatura latinoamericana. SIMPÓSIO “EDUCAÇÃO LITERÁRIA EM PERSPECTIVA ANTIRRACISTA” Fernando Maués de Faria Júnior (UFPA), Vima Lia de Rossi Martin (USP), Ana Crelia Penha Dias (UFRJ) ESTUDOS DOS PERSONAGENS NEGROS INFANTIS NOS LIVROS: MENINA BONITA DO LAÇO DE FITA, DE ANA MARIA MACHADO E XIXI NA CAMA, DE DRUMOND AMORIM Adriana Silva Lopes Matias, Mirian Leila Farias da Costa Resumo: O estudo propõe trabalhar as obras Menina bonita do laço de fita ( 2011), de Ana Maria Machado e Xixi na Cama (1985), de Drumond Amorim, tendo os personagens como “elemento" diretamente ligado à ação, aos fatos e acontecimentos da sequência narrativa. Essas obras evidenciam, com suas particularidades, a figura do negro, sua identidade e a questão étnico-racial, dentre outros que fazem parte de sua vasta produção da literatura negra infantil. Levando em consideração o estudo da literatura infantil com personagens infantis negros, com intuito de contribuir com a representação do negro na literatura contemporânea e sua valorização, propomos um estudo de análise literária das referidas obras. Menina bonita do laço de fita (2011), de Ana Maria Machado e Xixi na Cama, de Drumond Amorim (1985). Ao longo da história da literatura nacional, os personagens negros estiveram, em sua maioria, representados por estereótipos que destacavam negativamente seus traços físicos, costumes de higiene, também questionavam sua inteligência e os posicionavam em um lugar de marginalidade ou subserviência. Nas últimas décadas do século XX, começam a surgir novos livros de autoria nacional, com premiações internacionais, com propostas diferentes das obras anteriores, sendo defensores de uma nova representação da imagem do negro; prezando suas tradições e costumes. Mesmo com o surgimento de várias histórias de literatura infantil, a criança negra apresenta-se distante da posição de protagonismo nos livros. Dessa forma, para contextualizar o objeto de estudo deste trabalho e abordar representações de personagens negras infantis aqui investigadas e para aprofundar nossa reflexão, promoveremos um diálogo com os autores: Antônio Candido (2012), Silviano Santiago (2000), Walter Benjamin (1994), Marisa Lajolo (2004), Sonia Khéde (1990), Eliane Debus (2013), e outros que, porventura, possam contribuir com a discussão. EDUCAÇÃO LITERÁRIA E POÉTICAS AMERÍNDIAS: TENSIONAMENTOS DO PARADIGMA MONOLÍNGUE Antonio Andrade Resumo: Nesta comunicação, parto da reflexão a respeito das pressuposições discursivas que atravessam o enunciado da Lei 11.645, de 10 de março de 2008, que estabelece, para os currículos oficiais da educação básica, a obrigatoriedade de temáticas relativas à “história e cultura afro-brasileira e dos povos indígenas brasileiros [...], em especial nas áreas de educação artística e de literatura e história brasileiras” (Brasil, 2008, n.p.). A partir disso, tratarei de discutir as possibilidades de reatualização desse importante dispositivo legislativo-educacional, de modo a mobilizar, no âmbito da educação literária (tarefa que precisa ser pensada nas diferentes línguas ensinadas no espaço escolar), um processo de tensionamento em relação ao paradigma monolíngue (Yildiz, 2012) – vinculado ao construto histórico da identidade nacional –, refletindo sobre pertinência de se fomentar o aprofundamento das reflexões em torno das assimetrias etnolinguísticas, dos contatos linguístico-culturais e das práticas translíngues no âmbito da formação de professores nos cursos de Letras. Em seguida, buscarei abordar alguns modos de aproximação crítico-criativa entre o campo literário contemporâneo e as poéticas ameríndias: (a) focalizando, por um lado, o investimento no processo de tradução intercultural (Sousa Santos, 2018) do repertório poético, de caráter transfronteiriço, dos povos guaranis; (b) observando, por outro, o acionamento de estratégias de hibridação da escrita literária por meio do entrecruzamento translíngue de variedades do português, do espanhol e do guarani (Andrade, 2021). Tais movimentos analíticos visam a colaborar com o debate sobre as problemáticas e potencialidades que esses gestos glotopolíticos do literário podem aportar ao terreno da educação antirracista no Brasil. Cabe ainda apontar que o recorte de corpus e o foco de discussão delimitados para esta apresentação relacionam-se aos percursos investigativos que venho desenvolvendo no projeto pesquisa “Poéticas translíngues do contemporâneo: contrapedagogias e glotopolíticas latino-americanas” (PQ-CNPq/JCNE-FAPERJ). BACO EXU DO BLUES E A LITERATURA DE OPOSIÇÃO: LINHAS POLÍTICO-PEDAGÓGICAS PARA A EMANCIPAÇÃO Camilla Ramos dos Santos Resumo: Baco Exu do Blues é um rapper baiano que afirma as identidades negra e nordestina. Mediante a análise da canção CypherBox 1, o presente trabalho discute conceitos de uma literatura e um projeto político-pedagógico engajados na crítica social. A literatura de oposição é do tipo afrocentrada e questiona o valor do cânone ao apresentar textos da cultura hip-hop como uma alternativa para a construção de conhecimento. Isso é aplicado a partir da pedagogia hip-hop, cuja base curricular é interdisciplinar e politizada, utilizando-se de narrativas de oposição ao sistema hegemônico que se constitui como racista e opressor. O objetivo do emprego da poesia da cultura popular negra juvenil corresponde à necessidade de trazer o cotidiano de jovens periféricos para a sala de aula, no intuito de reduzir a evasão pela falta de identificação com textos que apenas reproduzem os padrões normativos de uma sociedade que os exclui e realimenta o racismo estrutural. Um projeto pedagógico emancipatório leva em consideração o viver e os saberes dos alunos, estabelecendo uma relação dialógica que possibilite repensar o passado e embasar o presente. O aprendizado deve considerar um olhar crítico para a transformação social, numa atitude revolucionária encorajada pela consciência de classe. Baco Exu do Blues compõe narrativas que contestam os padrões da branquitude, as diferenças sociais, o descaso político e a xenofobia contra nordestinos, empreendendo um tipo de literatura apta a fazer parte da construção de estruturas insurgentes e libertárias. A metodologia adotada constitui-se na analíticodescritiva. LITERATURA BRASILEIRA NO ENSINO MÉDIO: REFLEXÕES ACERCA DA IDENTIDADE NEGRA Jéssica Daiane Levandovski Thewes Resumo: Obras da literatura brasileira, como o conto Negrinha, de Monteiro Lobato, e o curta A peste da Janice, de Rafael Figueiredo, favorecem reflexões acerca de problemáticas relacionadas à identidade e à diferença, visto que, por meio da linguagem e de seu tratamento estético, traduzem visões de mundo e conflitos que a elas subjazem. Nas obras mencionadas, situações de discriminação são evidentes, e provocaram o posicionamento crítico de alunos do segundo ano de um Colégio Estadual de Ensino Médio, situado na Região Metropolitana de Porto Alegre. Os estudantes se manifestaram frente às situações de discriminação, principalmente racial, representadas nos textos ficcionais, cuja leitura foi efetivada como parte da pesquisa de Thewes (2021). Os dados em foco nesta comunicação constituem-se de registros transcritos de falas dos estudantes produzidas no decorrer de uma prática de leitura de textos literários na disciplina de literatura. A discussão desses dados é realizada a partir da perspectiva de identidade apresentada por Kathryn Woodward (2012), Frantz Fanon (2008) e Patrick Charaudeau (2009) e considera o papel de formação crítica desempenhado pela literatura, apontado pela atual Base Nacional Comum Curricular, e comprovado por pesquisadoras como Juracy Saraiva e Tatiane Kaspari (2017). Motivados pelas obras lidas, os jovens relataram situações de discriminação racial, presenciadas no cotidiano, e expuseram a necessidade de ações que promovam a construção de uma sociedade antirracista. ONDE ESTÃO AS PERSONAGENS NEGRAS? UMA REFLEXÃO SOBRE LITERATURA INFANTIL E JUVENIL NO ESPAÇO ESCOLAR Maria Carolina De Godoy Resumo: O interesse deste trabalho está voltado às narrativas da literatura infantojuvenil com personagens negras que colocam em destaque o espaço educacional como fundamental para evidenciar imagens que correspondam às vivências cotidianas, às experiências com o corpo e com as emoções que captam ações diárias. A arte literária – representação verbal e visual no que se refere às ilustrações da literatura infantojuvenil – é força imagética para a formação identitária da criança. Propõe-se a análise dessas narrativas para discutir de que modo as obras desconstroem estereótipos e afirmam uma poética da resistência pelas ilustrações e palavras, sem perder de vista o tom lúdico e a beleza das descobertas do universo infantil e juvenil. Destacam-se, nesta comunicação, duas obras: Aconteceu na escola – um dia de princesa, de Anna Claudia Ramos e Sandra Pina (2012) e Modupé, meu amigo, de Stefania Capone e Leonardo Carneiro (2015), com ilustrações de Victor Tavares. Na primeira, a narrativa quebra o paradigma de princesas brancas dos contos de fadas tradicionais e coloca a personagem Eriem, aluna negra, para representar a Bela Adormecida em uma peça teatral da escola. As ilustrações são feitas a partir de bonecos por Luis Saguar e Rose Araujo e, desde a capa, há o destaque para o ato de ler em ambiente acolhedor, no qual as crianças estão dispostas em círculos e cercadas de livros. A segunda mostra, também, o espaço escolar, onde é construída a relação fraterna entre dois adolescentes, Anderson e Fabinho, e fortalecida pelos saberes do candomblé, prática religiosa da família deste último. É no espaço escolar que o tema da religiosidade afro-brasileira é retomado com força de quebra de preconceitos a partir dessa amizade. As referências elencadas para esta comunicação são: MUNANGA (2005) e CADEMARTORI (2010), entre outras. UMA NOVA EPISTEMOLOGIA É NECESSÁRIA PARA LER AS NARRATIVAS INDÍGENAS Rosana Cristina Zanelatto Santos Resumo: Em Memórias da plantação, Grada Kilomba (2019) nos alerta sobre a necessidade de uma nova epistemologia, que garanta a ocupação dos espaços também pelas vozes colonizadas, referindo-se especialmente à mulher negra na Alemanha, experiência pela qual ela passou e ainda tem passado. Estendendo nossa compreensão sobre o que ela escreve, o conhecimento no ocidente ainda se vale de alguns mitos para estabelecer: que perguntas merecem ser feitas na busca desse conhecimento, quem as pergunta, quem as explica e para quem as respostas são destinadas, ao que acrescentamos: para que servem essas perguntas? Entre esses mitos, nos interessa aquele que se refere à neutralidade, cuja essência reside na busca por proposições que não envolvam juízos de valor ou que lidem com a vida privada dos sujeitos, como que lhes apagando a presença. Trata-se, pois, de uma categoria ligada a uma certa ideia de ideologia e que, quando não “praticada”, incomoda aqueles que controlam o mundo do conhecimento, ocidentalizado e mercantilizado. Nosso interesse é demonstrar, a partir de textos que compõem A terra dos mil povos: história indígena brasileira contada por um índio, de Kaka Werá Jecupé (1998), que antes de acionarmos a leitura das ditas narrativas literárias indígenas é preciso que apresentemos como os sujeitos indígenas pensam/escrevem sua relação, por exemplo, com a sonoridade do corpo das palavras e com o tempo, o que propiciará novos olhares e novas interpretações daquelas narrativas e que poderão, ainda, alicerçar novas perspectivas sobre os textos literários não indígenas. EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS: PRODUÇÃO DE LITERATURA COLABORATIVA Rosana Oliveira Rocha Resumo: Não há como se falar em educação sem dar a espaço as diferentes vozes que constituem nossa sociedade, principalmente aquelas que foram historicamente silenciadas, como as vozes de indígenas e afrodescendentes. A despeito de toda a importância de indígenas e negros para a construção e desenvolvimento de nosso país, houve e ainda há um epistemicídio que visa a eliminar todas as contribuições e conhecimentos desses povos. As leis 10639/03 e 11.645/2008, que tratam da obrigatoriedade do ensino da História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena, vieram no sentido de reverter o silenciamento e apagamento dessas culturas em nosso país. No entanto, embora essas leis sejam de extrema importância para modificar a visão esteriotipada e eurocêntrica a esses grupos sociais, elas ainda permanecem no plano teórico e ainda não têm plena efetivação. As escolas podem ser espaços de resistência, contribuindo para uma visão da cultura afro-brasileira e indígena de modo menos estigmatizado e preconceituoso, dando o devido valor a elas. Nesse sentido, uma Prefeitura do interior de São Paulo, preocupada em efetivar uma educação em relações étnico-raciais descolonizada, abriu espaço a todas as vozes que se predispõem a falar de modo crítico e consciente sobre a cultura negra e indígena, por meio da produção de um material didático, com teorias e práticas sobre as relações étnicoraciais. Com o chamamento de um edital, todos que quiseram erguer suas vozes puderam contribuir para a construção coletiva e colaborativa de um material que servirá tanto de base para a fundamentação teórico-metodológica da educação em relações étnico-raciais, como contribuirá com as práticas, no sentido de exemplificar e divulgar ações que já ocorram nesse sentido. Essa abertura é contrária ao epistemicídio das culturas negra e indígena, dando voz e o reconhecimento que essas devem ter dentro dos espaços escolares, para que a letra das leis tornem-se realidades. NARRATIVAS DE VIDA: QUESTÕES RACIAIS Roseli Gimenes Resumo: O objetivo deste artigo será fazer uma análise comparativa de duas obras literárias. Uma é o percurso de Carolina Maria de Jesus há 60 anos com seu Quarto de Despejo (2020) e outra é a repercussão em 2020 da obra de José Falero, Os supridores. Dentro dessa análise comparativa, a pergunta que fazemos é a mesma que nos faz pensar nas, embora muitas, reflexões sobre o racismo no Brasil e o como isso tudo aparece – ou desaparece - nas obras de autores e autoras negros. Essa é a hipótese que se descortina: passados tantos anos a situação literária, a literatura com personagens negros e autores e autoras negros, não parece tomar um rumo diverso. As narrativas dos dois autores apontando horizontes sociais dos lugares em que vivem não teria mudado. A análise comparativa e social dará esses elementos na fala autobiográfica de Carolina, uma narrativa de vida, e na fala de Falero, em ficção literária de jovens trabalhadores de um supermercado. E, nesse sentido, ouvir também as recentes falas de escritores contemporâneos como Paulo Scott, Jeferson Tenório e Itamar Vieira Júnior. Como resultado, é possível pensar que a educação literária em perspectiva antirracista deve estar presente nos bancos escolares com as obras aqui indicadas, assim como com o olhar crítico de Djamila Ribeiro, com o lugar de fala; com a historicidade de Ana Maria Gonçalves, com Defeito de cor, e de Lélia Gonzalez e suas considerações sobre a América Ladina. EDUCAÇAO LITERÁRIA E ANTIRRACISTA NA ESCOLA BRASILEIRA A PARTIR DO ESTUDO DE PRÁTICAS DOCENTES Vera Lúcia Cardoso Medeiros, Neide Luzia De Rezende Resumo: Esta comunicação discute a articulação entre educação literária e educação antirracista em práticas pedagógicas de docentes da Educação Básica nas dissertações defendidas junto ao Mestrado Profissional em Letras – Profletras. A discussão integra pesquisa de pós-doutorado em andamento, realizada pela autora, sob supervisão da coautora, na Faculdade de Educação da USP. Entre os achados iniciais da investigação, cujo tema é a didática da literatura no Brasil em dissertações de Mestrados Profissionais, constatou-se a incidência de estudos sobre relações étnico-raciais, literaturas afrobrasileiras e a implementação da Lei 10.639/2003 pela leitura literária nas aulas de Língua Portuguesa, sinalizando que o documento legal, em quase duas décadas, trouxe mudanças às escolas do país. Um dos efeitos mais notórios da lei é a inclusão de obras afro-brasileiras como conteúdo escolar, o que decerto colabora para ampliar o repertório de leitura de docentes e discentes da Educação Básica e para revisar o cânone literário, pela apresentação e abordagem de autores africanos e afro-brasileiros antes desconhecidos no Brasil, pelo resgate de obras de autores negros excluídos no passado, pelas releituras de textos consagrados, ou ainda pela valorização da literatura brasileira negra contemporânea. O trabalho de análise que vimos realizando a partir dessas propostas para a sala de aula, à luz da interculturalidade crítica de Catherine Walsh, deixa ver que, à parte a positividade na inserção e discussão do tema do racismo, por vezes o empenho na dimensão ideológica obriga a determinadas manipulações do texto literário para provar uma tese ou a interpretações impróprias da questão racial decorrente dessas abordagens, tendo em vista o objetivo explicitado de promover a educação antirracista pela via da educação literária. Selecionamos dez dissertações para discutir o tema aqui proposto. SIMPÓSIO “ENSINO DE LITERATURA: PERSPECTIVAS SISTÊMICAS” Cristiane Brasileiro Mazocoli Silva (UERJ), Marcel Alvaro de Amorim (UFRJ), Mônica de Menezes Santos (UFBA) DISCIPLINAS DE LITERATURAS EM LÍNGUA ESPANHOLA EM CURSOS DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO BRASIL E NA ESPANHA Augusto Moretti de Barros Resumo: Este trabalho deriva-se de uma pesquisa de Doutorado em andamento, que busca traçar o percurso histórico das disciplinas de literaturas em língua espanhola no curso de graduação em Letras da Universidade Estadual Paulista (UNESP), campus de Assis, no período de 1970 a 2005. Dessa maneira, esta investigação tem como objetivo fomentar a discussão acerca do ensino de literatura estrangeira em nível superior, no Brasil, a fim de que as análises da sua estruturação e do seu papel na formação de professores possam contribuir para manter o currículo atualizado. O recorte estabelecido neste trabalho centra-se em análises dos programas de ensino das disciplinas selecionadas, buscando reconhecer como o ensino de literatura foi estruturado nesses documentos por meio dos rastros linguísticos que os permeiam. Visando ampliar nossas análises, buscamos identificar como ocorre o ensino dessas literaturas, no mesmo período, em um curso de formação de professores em um contexto hispânico. Para isso, fizemos a seleção dos programas de ensino das disciplinas de literaturas em língua espanhola no curso de Filologia Hispânica da Universidade de Santiago de Compostela, na Espanha. Assim, objetivamos estabelecer comparações entre os documentos curriculares de cada desses contextos culturais no que tange às obras literárias, à teoria literária e às metodologias de ensino que compõem esses programas, pois acreditamos que a soma dessas escolhas pode revelar a formação de professores que se pretende estabelecer nos referidos cursos. Com base no explorado, a hipótese que direciona nossa pesquisa é a de que possivelmente haja uma tradição no ensino de literatura que se mantém através das gerações. HISTÓRIAS EM REDE: MEDIAÇÃO DE LEITURA E LITERATURA NA PRIMEIRA INFÂNCIA Carla Cavalcante Pinto Resumo: O estudo visa acompanhar e registar as ações do projeto Histórias em Rede, selecionado pela Secretaria Municipal de Cultura da Cidade do Rio de Janeiro por meio do edital de Fomento à Cultura Carioca (FOCA) com o objetivo de refletir sobre o ensino de literatura na primeira infância. A proposta pretende construir uma rede leitora envolvendo crianças e educadores da Creche Municipal Sementinha, na Comunidade do Juramento; familiares das crianças; organizações culturais e moradores da Comunidade e seu entorno. O projeto Histórias em Rede formará mediadores de leitura enfatizando a literatura para crianças, especialmente a para bebês e crianças bem pequenas. Pretendemos investigar como leitores não alfabetizados se relacionam com o mundo letrado por meio da ação desses mediadores. Este estudo torna-se pertinente, pois entendemos que as crianças precisam ser familiarizadas desde cedo com histórias infantis e muitas outras produções literárias, especialmente aquelas provenientes de tradições orais, tais como cantigas de ninar, cantigas de roda, parlendas. Estas produções fazem parte da cultura letrada e oral, de momentos de afeto no seio familiar e, também, da rotina diária nas salas de educação infantil, em rodas de contação e em salas de leitura. O estudo pretende, assim, registrar as ações dos mediadores e refletir sobre a relação das crianças com os livros e as histórias em um contexto periférico. A ESCOLARIZAÇÃO DA LITERATURA NOS PROJETOS INTEGRADORES DE DUAS OBRAS DO ENSINO MÉDIO APROVADAS NO PNLD-2021 Clecio Dos Santos Bunzen Junior Resumo: As prescrições do edital da última edição do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD-2021) induziram as editoras brasileiras a fabricar novos livros didáticos para o Ensino Médio. As obras deveriam ser por áreas, compostas de apenas um volume e interdisciplinares. Na área de Linguagens e suas Tecnologias, os livros fabricados pelas editoras privadas e aprovados pelo Ministério da Educação precisavam: (i) conter seis projetos de temas integradores específicos: (ii) dialogar com as competências gerais da BNCC, e, (iii) trabalhar com algumas habilidades da área específica. Ao levar em consideração o surgimento desses novos projetos didáticos autorais, a presente investigação, no campo da Linguística Aplicada em interface com os estudos sobre a didática da literatura (MACEDO, 2021; AMORIM, 2017; AMORIM et al., 2022), procura analisar como a literatura e o trabalho de escuta/leitura/produção de textos literários se fizeram presentes em doze projetos de temas integradores. As análises de duas coleções - Vamos juntos, profe! (CARVALHO, 2020) e Integra mundo (FERRAZ, 2020) - indicaram que alguns projetos centraram-se na produção/adaptações de algumas produções literárias (slam, teatro, conto) em diferentes mídias, formatos (audiobooks, vídeos) e por meio eventos de letramentos literários específicos (batalha de slam, mostra de curtas, declamação de poesias). No entanto, a diversidade de atividades (curtas e pontuais) reconfigura, no sentido de Castro (2005), de modo pouco aprofundado às habilidades da área de Linguagens e suas Tecnologias da BNCC. Além disso, não conseguem, por meio dos “projetos”, priorizar práticas escolares mais robustas, reflexivas e críticas, apesar das escolhas adequadas dos gêneros do discurso e das práticas de letramento. Nota-se, pela natureza didática e pedagógica das atividades, que o trabalho com a literatura quase não amplia as competências e habilidades da BNCC, reduzindo a proposta a um conjunto sequencial de atividades com exploração pontual de um certo “repertório cultural”. CACOS PARA UM VITRAL: DESAFIOS PARA IMPLEMENTAÇÃO DA LEITURA LITERÁRIA NA ESCOLA BÁSICA Cristiane Brasileiro Mazocoli Silva Resumo: Partimos de um depoimento sobre uma gama de desafios concretos enfrentados para se garantir um lugar para a experiência efetiva de leitura literária no interior de um grande processo de reforma curricular da rede estadual do RJ que se deu nos últimos 10 anos. Abrangemos, nesse sentido, as relações da literatura como disciplina na escola básica com um sistema complexo que inclui, como seus principais pontos de articulação, os documentos orientadores do MEC, os materiais didáticos oferecidos pelo PNLD, as bibliotecas escolares e seus programas oficiais de constituição e alimentação do acervo, as avaliações de larga escala, os programas de formação docente das licenciaturas à pós-graduação e ainda , por fim, as próprias condições concretas em que têm atuado os professores das escolas públicas. Com a descrição desse processo, visto de um ponto de vista de quem atuou de fato em várias de suas pontas, pretendemos chamar a atenção para a necessidade de uma abordagem sistêmica dos problemas enfrentados atualmente para a sobrevivência da disciplina, de modo a vislumbramos não só seus pontos mais críticos, mas também as possíveis ações que precisariam ser desenvolvidas no sentido da efetiva luta para se garantir o direito à literatura por parte dos estudantes da escola básica em geral, e de modo especial daqueles oriundos das classes populares. Como base teórica, convocamos desde as primeiras observações de Antonio Candido a respeito da constituição do nosso “sistema literário”, até as formulações teoricamente mais detalhadas do seu funcionamento trazidas para o Brasil pela ciência da literatura empírica de extração alemã principalmente através do trabalho de Heidrun Krieger Olinto. O LIVRO DIDÁTICO EM PERSPECTIVA: QUESTÕES SOBRE A (NÃO) PRESENÇA DE LITERATURA DE AUTORIA FEMININA Dalva Patricia De Alencar Resumo: O livro didático, atuante na função de auxiliar os professores nas aulas de Língua Portuguesa e Literatura, é um componente importante para o planejamento docente. Tendo passado por muitos avanços e transformações até chegar ao que nos é apresentado hoje, este recurso tornou-se um facilitador da ação pedagógica, sendo, comumente, a principal fonte de leituras dos nossos alunos, e assumindo o protagonismo na sala de aula, quando se trata de formação de leitores. Dito isso, o artigo em questão, recorte de uma pesquisa desenvolvida durante o Mestrado Profissional em Letras (PROFLETRAS), pretende discutir questões fundamentais a respeito do livro didático, promovendo dois questionamentos centrais: que espaço é dedicado ao texto literário nele? E como desdobramento, que reflexões podem ser feitas acerca da (não) presença de literatura de autoria feminina nesse material didático? Para tanto, utilizaremos como postulados teóricos as percepções, por exemplo, de Zilberman (2010), e Jurado & Rojo (2006) no que diz respeito ao texto literário na sala de aula, bem como Duarte (2019) e Schmidt (2019) acerca da literatura de mulheres, dentro e fora dos ambientes escolares. O objetivo desta pesquisa, é, pois, refletir sobre os espaços dedicados às obras escritas por mulheres em livros didáticos de Língua Portuguesa e Literatura, e compreender de que maneira as discussões em torno da baixa ou inexistente presença delas pode contribuir para o resgate e a valorização da literatura produzida por mulheres, no contexto da sala de aula. A discussão busca, por óbvio, despertar professores e alunos a um olhar crítico sobre este importante componente escolar, no tocante ao nicho literário em tela. ENTRELACE DAS DIMENSÕES ÉTICA E ESTÉTICA EM PRÁTICAS DE LEITURA LITERÁRIA NA ESCOLA: UM OLHAR PARA OS RESUMOS DAS DISSERTAÇÕES DO PROFLETRAS EM 2021 Débora Ventura Klayn Nascimento Resumo: Considerando a relevância do Programa de Mestrado Profissional em Letras (PROFLETRAS) no fomento à qualidade de ensino de língua e literatura no Brasil, a presente proposta investiga resumos de dissertações defendidas no âmbito do Programa, em 2021, em uma busca por discussões sobre práticas de leitura literária na educação básica. Para isso, utiliza o repositório de dissertações da rede nacional PROFLETRAS para selecionar pesquisas relacionadas à literatura na escola. Em seguida, tendo como base o conceito de Práticas de Letramentos Literários (AMORIM, et al, 2022), investiga os resumos das dissertações selecionadas para antever quais delas sugerem práticas que, na esteira dos conceitos de dialogismo, (BAKHTIN, 2016), responsividade (VOLÓCHINOV, 2017) e exotopia (BAKHTIN, 2011), atentem ao entrelace de duas dimensões do ser: a estética e a ética. Por dimensão estética, este trabalho entende aquela relacionada ao acabamento dado à experiência exotópica de deslocamento e vivência do outro a partir da leitura e de si. Já a dimensão ética seria aquela na qual indagações (sobre si, sobre o mundo e sobre as relações de si com o mundo) são possibilitadas por meio do reposicionamento e do excedente de visão ocorrido na leitura. Dessa forma, inserida na perspectiva da Linguística Aplicada, esta proposta considera que a atenção ao entrelace das referidas dimensões é essencial a práticas literárias responsivas aos contextos sociais nos quais estudantes e textos se inserem. Os resultados apontam para um número expressivo de dissertações que investigam práticas literárias na escola, o que ressalta a importância do PROFLETRAS no que tange ao repensar do ensino de literaturas. No entanto, o alcance das dimensões estética e sobretudo ética – por contribuir com possibilidades de questionamentos que fomentem abalos, fricções e até des(re)construções do modelo social vigente – parece ser pouco tematizado. ESTÉTICA DA RECEPÇÃO E ENSINO DE LITERATURA: IMAGENS, SENSAÇÕES E FRUIÇÃO Érica Drumond Fontes Resumo: O ensino de literatura na Educação Básica deve, de acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), rever suas formulações e se vincular a “processos que envolvem adaptações, remidiações, estilizações, paródias, HQs, minisséries, filmes, videominutos, games etc.” (Brasil, 2018, p. 492) Na prática, as ações para o ensino de literatura costumam estar vinculadas a exercícios individuais e autocentrados. Consequentemente, esse tipo de atividade suprime o deleite e a fruição literária ao se trabalhar, principalmente, com o cânone. Aspectos relacionados à crítica do texto são mais levados em conta do que o seu teor literário; as sensações estéticas que esse texto pode proporcionar são abortadas. De acordo com Tzvetan Todorov (2010), uma concepção da literatura que a desvincula do mundo no qual ela vive, impôs-se no ensino, na crítica e, mesmo, nos escritores. “O leitor, por sua vez, procura nos livros o que possa dar sentido à existência. E é ele quem tem razão”. Para Antonio Candido, não há povo que possa viver sem a possibilidade de fabulação e a literatura é uma necessidade universal que “precisa ser satisfeita e cuja satisfação constitui um direito”. (CANDIDO, 2011) Diante disso, foi desenvolvido um trabalho com contos do escritor Machado de Assis, com o objetivo de provocar sensações, despertar a fruição, o deleite literário e o interesse. Para tal, os alunos leram os textos, produziram imagens/fotografias relacionadas, publicaram em suas redes sociais e em páginas exclusivas feitas para o trabalho com legendas usando trechos do texto. Estudos da estética da recepção (ISER, 2002) mencionam que o leitor recebe o texto à medida que “constitui a função como seu horizonte de sentido”. O desejo pela leitura do cânone foi acentuado, haja vista que esse tipo de leitura passou a ter mais significado para esses alunos pelas sensações despertadas. TEXTO AUTOBIOGRÁFICO E PRODUÇÃO LITERÁRIA: EXPERIÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR Hérvickton Israel de Oliveira Nascimento Resumo: Busca-se, na presente proposta, narrar a experiência que vem acontecendo na componente curricular “Estudos da produção literária no Brasil”, no âmbito do Curso de Letras da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Campus XVIII. Em um histórico momento de recrusdescimento de ideais fascistas espalhados nas diversas esferas da sociedade, acreditamos que o direito à literatura proposto por Antonio Candidopode operar nas frentes de desintoxicação de narrativas, conforme Edward Said. Assim, o texto autobiográfico (re)interpreta tempos e espaços, propondo (re)inscrições e outros olhares para a literatura. Não se trata apenas de uma apresentação da literatura que existe no mundo, mas, mais que isso, entender a potência de acontecimento da literatura na vida cotidiana, diluindo-se, consequentemente, a já desgastada oposição da ficção e do real. Com isso, os acontecimentos são moeda de troca da ficção, tomando aqui emprestada a feliz metáfora de Eneida Maria de Souza. O texto autobiográfico é, então, acontecimento ao mesmo tempo que é um desafio. Afinal, as cenas de escrita e leitura são também cenas de crítica. Há que se ter todo um cuidado ético na arrumação dessas cenas. Esta proposta de comunicação objetiva apresentar os (des)caminhos que levaram ao trabalho com o texto autobiográfico e seus desdobramentos no ensino de literatura. A EMERGÊNCIA DA ALEGRIA: REFLEXÕES SOBRE A LITERATURA EM SALA DE AULA Jamilly Starling Santos de Jesus, Mônica de Menezes Santos Resumo: O presente trabalho deriva da pesquisa de mestrado que culminou na produção do texto dissertativo A alegria na escola em diálogo com os escritos da fada carioca: “ave alegria” que, por sua vez, objetivou inserir no debate sobre a alegria cultural escolar proposições pedagógicas fundamentadas na leitura do universo literário de Sylvia Orthof. Para a pesquisa, além do conceito de alegria cultural escolar, de Georges Snyders, foram mobilizados os conceitos de Alegria, conforme Spinoza (2016), de Afeto, de acordo com Spinoza (2016) e Luciana di Leone (2014), e de Ficção, conforme, Hans Vaihinger (2011). No tempo em que separa a conclusão da pesquisa de mestrado e a escrita do presente trabalho, o mundo se fez outro. Em março do 2020, o Brasil foi atingido pela pandemia causada pelo vírus Sars-CoV-2, posteriormente nomeada como Covid 19, responsável pelo óbito de mais de seiscentos e sessenta mil brasileiros. Com a suspensão das aulas presenciais, posto que a transmissão da doença se dá através das vias respiratórias, nos anos de 2020 e 2021 vivemos ineditamente um período de aulas remotas para crianças e adolescentes da Educação Infantil ao Ensino Médio. Dois anos após o início da pandemia, ainda envoltos em luto e melancolia, nós, professores nos vemos com o desafio de voltar às salas de aulas presenciais, assumindo o nosso compromisso para com a educação das crianças, todavia sem negarmos a crise vivida. É nesse contexto que surge o presente trabalho, considerando que vejo como necessário retornar aos estudos da alegria em sala de aula para pensar em sua potência para a escola e para o ensino de literatura no contexto de pós-pandemia, agora porém, ao referencial teórico apresentado, soma-se o diálogo com o conceito de amor mundi da filósofa alemã Hannah Arendt. CAMINHOS DA ENSINANÇA LITERÁRIA: DISCURSOS SOBRE A LITERATURA E O ENSINO NOS CURRÍCULOS DE LICENCIATURAS DAS IFES FLUMINENSES Juliana Pereira Lannes Resumo: Esse trabalho tem como foco o ensino de Literatura na formação de professores e como objetivo central a leitura dos Projetos Pedagógicos de Curso (PPC) – enquanto documentos curriculares – de cursos de Licenciatura em Letras (Português/Literaturas) de Instituições de Ensino Federais do Estado do Rio de Janeiro a fim perceber quais concepções de Literatura e de ensino de Literatura são refratadas e (des)legitimadas nesses documentos. Além disso, é de meu interesse, também, entender como esses documentos curriculares refletem as concepções das práticas de ensino de Literatura junto aos professores em formação. Utilizo para embasar teoricamente essa pesquisa as noções construídas pelo Círculo de Bakhtin, como: de dialogismo, ideologias, gêneros do discurso e heteroglossia. Todas essas concepções teóricas, juntamente com as leituras acerca do Letramento literário (PAULINO, 2005; COSSON, 2006 e 2015; REZENDE, 2013 e AMORIM e SILVA, 2020) e de Ensino de Literatura (PAULINO, 2010; COSSON, 2013 e MANGUEL, 2013) me auxiliaram durante a leitura das políticas acerca da formação de professores, assim como dos PPCs das instituições e as ementas das disciplinas sobre Literatura e ensino. Sendo assim, após a análises propostas do corpus selecionado, apresento um breve panorama acerca do espaço que está sendo, ou não, ocupado pelo ensino de Literatura na formação de novos docentes nas IFES do Rio de Janeiro e possíveis desdobramentos no Ensino Básico. POEMAS VITAIS: UMA COLEÇÃO DE POEMAS VISUAIS EM MEIO DIGITAL PARA O ENSINO DE LITERATURA Lívia Ribeiro Bertges Resumo: Esta comunicação objetiva demonstrar a potência do gênero poesia visual para o ensino de literatura. Como parte do Programa de Desenvolvimento da Pós-Graduação na Amazônia Legal (PDPG/CAPES), apresentamos os resultados parciais dos levantamentos de poemas visuais que integrarão a plataforma virtual Poemas ViTais. Poemas ViTais é uma coleção de poemas visuais e poemas digitais com o escopo na produção poética sediada nos estados da Amazônia Legal voltado para o ensino. A iniciativa visa estimular o estudo sobre o gênero poesia em meio digital com vistas a fomentar processos de leitura a fim de estabelecer ações que favoreçam os letramentos literários (COSSON, 2016), bem como o uso das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDICs) enquanto facilitadoras no ensino da literatura. Neste recorte, privilegiamos escritores residentes no estado de Mato Grosso. O primeiro, Caio Ribeiro com poemas visuais na obra "Manifesto da Manifesta" (2021) e o segundo, Aclyse Matos, com poemas visuais retirados da obra "Com por" (2020). A partir de processos de leitura dos poemas visuais, analisaremos os usos do verbal e não verbal na plataforma digital como meio de diálogo o entre professores e alunos. O projeto, em andamento, deseja mapear as produções de poesia visual e poesia digital nos estados brasileiros participantes da Amazônia Legal com enfoque na criação de um acervo e na elaboração de práticas pedagógicas de leitura. Esta proposta pretende construir uma ponte entre o ensino de poesia visual e poesia digital na formação de professores, sob a perspectiva da literatura enquanto direito (CANDIDO, 1995) para o alcance de uma sociedade justa, plural e com acesso a múltiplos saberes. AS TRÊS APRENDIZAGENS DA LITERATURA COMO QUESTÃO CURRICULAR Luciane Hagemeyer Resumo: Considerando as três dimensões de aprendizagem da linguagem segundo Halliday (as aprendizagens “sobre, por meio e da linguagem”) e, uma vez que a literatura é também uma forma de linguagem, essa premissa (COSSON, 2006) é também aplicável ao seu ensino na escola. O objetivo da pesquisa, portanto, é refletir sobre o ensino da literatura a partir da construção de um itinerário literário formativo tendo em vista essas três aprendizagens. Para tanto, formula-se a seguinte questão: se existem disciplinas cujos programas curriculares são identificáveis e qualificados ao longo dos anos escolares, por que no Ensino Fundamental não existe um currículo voltado essencialmente à literatura e à formação de leitores literários? As dimensões que envolvem a aprendizagem sobre a literatura aprofundam conceitos/conteúdos inerentes ao fazer literário do ponto de vista da estética da sua criação, investigando a estética do autor, do trabalho, do gênero, do conteúdo, da composição das personagens, dos cenários, a composição do enredo, as diferentes vozes narrativas, a variedade de gêneros da ficção (NIKOLAJEVA, 2005). Com relação à aprendizagem por meio da literatura, há que se considerar os objetivos e fins para os quais direcionamos a leitura do literário, além da elaboração de predições, de hipóteses, de níveis de inferência, de estimativas, de metáforas, de analogias, de síntese, de alusões, que colocam em ação a atitude crítica e a capacidade de leituras criativas. Neste sentido, “a literatura e a filosofia habitam terras vizinhas, pois enquanto a primeira mostra, a outra investiga” (BERNARDO, 2013). E finalmente, a aprendizagem da literatura, que “deve ter como centro a experiência do literário” (COSSON, 2006, p. 47). Nessa perspectiva, trata-se da aprendizagem de comportamentos leitores em diálogos entre leitores, com autores, com a obra. A FORMAÇÃO DOCENTE RESPONSIVA NA BUSCA POR UM ENSINO DE LITERATURA DIALÓGICO NA EDUCAÇÃO BÁSICA Mariana Roque Lins da Silva Resumo: Este trabalho visa a apresentar as concepções que respaldam o processo de investigação acerca da formação docente inicial de licenciandas e licenciandos em turma de Didática e Prática de Ensino de Português e Literaturas. Nesse sentido, considerando a palavra e o seu território social, a investigação visa a ventilar proposições acerca de conceitos do Círculo de Bakhtin, como ideologia e responsividade, no contexto da leitura literária dialógica e da produção autoral dos educadores em formação. Considerase, pois, a sala de aula – da Educação Básica e do Ensino Superior – um lugar de interação discursiva entre sujeitos sociais que, imbricados na dimensão responsiva da leitura literária, se manifestam por meio do discurso, sem que haja espaço para o apagamento das vozes em interação. Para tanto, é necessário defender um engajamento responsivo do docente e dos discentes – vinculado ao fazer-com, em vez do fazer-para – no percurso de formação da docência de literatura, sendo efetivamente comprometido com a promoção da leitura literária em seu caráter ativo e responsivo. Não há, portanto, a expectativa de que a voz do educador seja neutra, assim como a pluralidade de vozes discentes manifesta-se de maneira ativa e responsiva no processo de fricção entre teorias e a prática do estágio obrigatório supervisionado. Será apresentada, por fim, uma breve análise de um cordel-relatório produzido por uma licencianda na Prática de Ensino. ECOLOGIA E LITERATURA O USO DA SALA DE AULA INVERTIDA, NO ENSINO FUNDAMENTAL ANOS FINAIS, EM UMA ESCOLA PÚBLICA DA CIDADE DE MANAUS-AMAZONAS Marta Botelho Lira, Sandra de Oliveira Botelho Resumo: No contexto atual com a pandemia do Covid-19, a educação precisou se adaptar do ensino remoto e posteriormente o híbrido, mediante a essa realidade foi realizado a pesquisa com o uso da metodologia ativa: sala de aula invertida, por meio dos recursos tecnológicos. Tendo como objetivo destacar a necessidade do uso da metodologia ativa como a sala de aula invertida, como ferramenta no processo do ensino-aprendizagem da Ecologia e a Literatura. Para construção dessa pesquisa, utilizou-se como embasamento teórico, BNCC; O direito à literatura (2011), de Antonio Candido; A teia da vida (2006), do físico Fritjof Capra; Pedagogia do Oprimido (1987), de Paulo Freire; Metodologias ativas para uma educação inovadora (2018), dos autores Lilian Bacich e José Moran. A metodologia utilizada sendo este um estudo qualitativo, o instrumento pesquisa exploratória, com discentes de três turmas do nono ano. Os resultados encontrados apontaram que ao se pensar na sala de aula invertida como uma prática, bem como a mudança de papel do professor que se torna o mediador do processo e entendemos que a sala de aula invertida, se enquadra como uma estratégia de ensino-aprendizagem. Todavia, a educação básica demanda novos formatos de interação discente-docente-discente e ao que tudo indica as metodologias ativas estão conquistando espaço. LITERATURA NA ESCOLA: PELA CONSTRUÇÃO DE COMUNIDADES AFETIVAS DE APRENDIZAGEM Mônica de Menezes Santos Resumo: O trabalho apresenta algumas atividades envolvendo a leitura literária, desenvolvidas no âmbito do Subprojeto Língua Portuguesa do Programa Residência Pedagógica da UFBA, em salas de aula do ensino básico, entre novembro de 2020 e abril de 2022. O Subprojeto, que contou com quarenta e oito licenciandos, seis professores do ensino básico e duas professoras do Instituto de Letras da UFBA, realizou intervenções em cinco escolas das redes públicas do Estado da Bahia, em salas de aula dos ensinos fundamental e médio. O objetivo foi contribuir para o aprimoramento da formação de licenciandos em Letras enquanto pesquisadores da prática docente, de modo a melhor prepará-los para a tarefa de formar leitores e autores críticos e autônomos capazes de interagir e de produzir textos escritos, orais e multissemióticos que dialoguem com discursos que circulam pela sociedade brasileira contemporânea. Leitores e autores, enfim, aptos a se relacionarem ativamente com as práticas de linguagem e de produções de acordo com os contextos de uso da língua. Para tanto, buscou-se, em diálogo com bell hooks e Paulo Freire, construir comunidades afetivas de aprendizagem nas quais professores e alunos fossem responsáveis pelos processos de aprendizagem e as salas de aula se constituíssem em espaços em que educandos e educadores pudessem se expressar de múltiplas formas, em plenitude de presença, configurando-se em ambientes de entusiasmo, seguros. Assim, com as experiências vividas ao longo dos dezoito meses de desenvolvimento do Programa Residência Pedagógica no subprojeto de Língua Portuguesa não desenvolvemos fórmulas mágicas aplicáveis inadvertidamente em contextos diversos para o trabalho com a literatura, mas acionamos saberes de frestas, habitando e habilitando as margens epistêmicas, a fim de viabilizar práticas pedagógicas transgressoras, por meio da Literatura e da Cultura. COMPETÊNCIAS E HABILIDADES NA BNCC E NO ENEM E SUAS CONSEQUÊNCIA PARA LEITURA DE LITERATURA NO ENSINO MÉDIO Rosana Carvalho Dias Valtão Resumo: O campo educacional tem evidenciado várias objeções em sua estrutura, desde as aviltantes mudanças no Ministério da Educação na atual gestão presidencial, a condicionamentos na prática pedagógica com a publicação de documentos governamentais, como a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), e com políticas públicas de avaliação em larga escala, como o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) que extinguem a prioridade de formação humana do indivíduo. Essas vicissitudes somadas ao apagamento da literatura na educação básica ao longo das últimas décadas apontam para a precariedade do trabalho com o literário e a leitura de literatura em sala de aula, o que nega aos estudantes do ensino médio (nosso interesse de investigação) o direito a esse patrimônio imaterial construído ao longo da história pela humanidade. Tomamos, nesse sentido, o texto literário como bem incompressível, um direito de todo indivíduo e uma necessidade para sua formação humana total, já que a literatura permite ao leitor entrar em contato com totalidade da vida, refletir sobre si e sobre o outro, e pensar sobre as forças contraditórias que atuam na realidade. Dito isso, este trabalho busca refletir sobre a relação da literatura nos documentos oficiais, com a presença e a abordagem do texto literário nas provas do Enem – estabelecidos por meio de matriz de competência e habilidades – e nas aulas de língua portuguesa no ensino médio, e suas consequências para a formação humana omnilateral do ser humano. Para isso, propomo-nos um estudo documental, com caráter qualitativo, a partir dos princípios da Psicologia Histórico-Cultural e da Pedagogia Histórico-Crítica. DRAMAS ITINERANTES: O TRABALHO COM O GÊNERO LITERÁRIO TEATRO NO ITINERÁRIO FORMATIVO DE LINGUAGENS NO PRIMEIRO ANO DO ENSINO MÉDIO Shirley Laianne Medeiros da Silva Resumo: A implementação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) vem, desde 2018, desafiando a classe docente brasileira a atualizar-se e aprofundar-se em novas perspectivas relacionadas ao ensino e à formação dos currículos. Podemos entender como um desses desafios a redução da carga horária da disciplina Literatura nesse novo contexto, o que, a priori, incide em diversas consequências como a diminuição de espaços nos quais a escola pode ter alguma atuação na formação de um perfil leitor de seu alunado. Esta movimentação vai de encontro à perspectiva de Antônio Cândido (2011), que nos apresenta a Literatura como, mais que um fazer educacional ou instrucional, um direito humano. Por outro lado, consoante Marisa Lajolo (2011), os procedimentos já existentes de introdução e adequação entre escola e leitor não se apresentam como os mais estimulantes, o que demonstra a necessidade de repensar metodologicamente a abordagem de textos literários no ambiente escolar. Postas estas questões, este trabalho objetiva, a partir do olhar sobre os aspectos apresentados, promover uma reflexão a partir da atuação em classe com textos literários do gênero Teatro, na perspectiva dos Itinerários Formativos, esse novo componente curricular que vem passando pela implementação no Ensino Médio, e cujo objetivo é o de contribuir para a construção de autonomia dos estudantes, a partir do protagonismo desses. Espera-se alcançar, com a leitura do gênero literário Teatro, aspectos da formação dos estudantes tais como experiência humanizada, empática, reflexiva e consciente, oportunizando assim, o debate sobre o fazer literário neste espaço escolar que se abre e que necessita ser também ocupado pela Literatura. LITERATURA E LINGUAGEM LITERÁRIA NO CURRÍCULO PAULISTA DO ENSINO MÉDIO Telma Aparecida Luciano Alves Resumo: O currículo escolar institucional é um documento elaborado a partir da seleção de objetos de conhecimento e perspectivas teórico-metodológicas. O ensino de literatura insere-se em uma perspectiva curricular, razão pela qual a abordagem do texto literário varia em conformidade com as tendências para esse campo, presentes nos documentos oficiais. Assim, analisou-se como a literatura e a linguagem do texto literário são abordadas no Currículo Paulista para a etapa do Ensino Médio, à luz de considerações teóricas de Roland Barthes. Para tanto, procedeu-se a análise documental do Currículo Paulista (2020). Constatou-se que, em relação à literatura, o documento curricular preconiza o texto literário com posição nuclear no Ensino Médio, evitando as simplificações didáticas; o trabalho com obras da tradição literária brasileira e de língua portuguesa, de um modo mais sistematizado; a apreensão do imaginário e das formas de sensibilidade de uma determinada época, de suas formas poéticas e das formas de organização social e cultural do Brasil; o contato com uma linguagem que amplie o repertório linguístico dos jovens e oportunize novas potencialidades e experimentações de uso da língua; o contato com literaturas não canônicas. A análise demonstrou que há uma preponderância da abordagem da literatura em relação a um “alhures” da obra literária, ao passo que à linguagem literária destina-se um espaço mais reduzido. PROFESSOR E TEXTO LITERÁRIO: INTENÇÕES PEDAGÓGICAS Thomas Alves Häckel Resumo: Os textos literários representam múltiplas potencialidades de transformação ética e estética ao serem incorporados e valorizados pelo ambiente escolar. A literatura, ao se discutir os aspectos sóciohistórico-cultural, artístico e linguístico, pode trazer grandes contribuições para a formação de sujeitos leitores na escola. Porém, ainda que a educação literária esteja cada vez mais presente em pesquisas e discussões teóricas sobre o tema, ainda há muitas dificuldades sobre como dar a ela centralidade no trabalho pedagógico em sala de aula. Esse trabalho visa compreender, dessa forma, a percepção que os professores de Língua Portuguesa, em especial do Ensino Fundamental – Anos Finais, apresentam sobre o estudo e os objetivos da leitura literária e da formação de sujeitos leitores no contexto educacional. Para isso, foi feito um levantamento de dados via questionário com profissionais de escolas públicas no interior do estado do Rio de Janeiro a fim de discutir desde os hábitos de leitura aos conhecimentos sobre práticas de ensino e o campo artístico-literário. Os objetivos, no sentido de intencionalidade pedagógica, do texto literário em sala são analisados sob a proposta dos Paradigmas de Ensino de Literatura, de Rildo Cosson, com o foco de mensurar a relação que estes profissionais dispõem com a leitura literária e a ênfase dada a ela em suas aulas. As dificuldades encontradas para a mediação e incentivo à formação de leitores, em sua maioria externas à escola e de ordem social, somam-se à omissão do texto literário e de sua leitura dentro da escola, pela falta de subsídios para que os professores aprendam a ensinar literatura. "APRENDI QUE O MEU BLACK/ TEM MUITO MAIS FORÇA QUE O LOIRO DA RAPUNZEL": DISCURSOS, DISPUTAS E OS LETRAMENTOS DE REEXISTÊNCIA NA PRODUÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO DE LITERATURA PARA O 6O ANO NO ENSINO FUNDAMENTAL Tiago Cavalcante da Silva Resumo: Apesar dos avanços conquistados pelos movimentos negros e indígenas nas duas últimas décadas (Cf. Leis 10.639/2003 e 11.645/2008), observa -se que pouco se avançou no que toca às transformações dos currículos escolares e à produção de materiais didáticos na educação básica. Um breve olhar sobre os livros didáticos de língua portuguesa para os Anos Finais do Ensino Fundamental aprovados no último PNLD (2020) revela-nos uma reprodução do que ainda preconizavam documentos como os PCN (1998), inclusive com acentuado recuo político-pedagógico acerca das concepções e metodologias de trabalho com o texto literário, não obstante as novas orientações da Base Nacional Comum Curricular (2018). Este documento, embora passível de necessárias críticas políticas e teóricometodológicas, avança na discussão, propondo a valorização das ditas autorias periféricas. Amorim e Silva (2019), em análise crítica à BNCC e na esteira dos estudos sobre letramentos de reexistência (Souza, 2011) e sobre os letramentos literários (Cosson, 2006; Cosson e Paulino, 2009), postulam a necessidade de um avanço maior no trabalho com o discurso literário na escola, problematizando a ideia de cânone (Fischer, 2014) e sugerindo pensar a literatura como uma prática ético-estética de reexistência de autorias que foram sempre silenciadas. O objetivo deste trabalho é, pois, empreender uma análise dialógica (Bakhtin, 2011, 2015, 2016, 2017; Volóchinov, 2017) dos discursos literários presentes em uma unidade de um livro didático de língua portuguesa aprovado no último PNLD e selecionado para o trabalho com o 6o ano em uma escola pública carioca. Buscaremos, a partir das noções bakhtinianas de diálogo, dialogismo e heterodiscurso, criar inteligibilidades sobre são ecoadas na referida unidade e que discursos estéticos são silenciados. A partir disso, proporemos a construção de um material didático em movimento dialógico para o trabalho com poesia no 6o ano. VIDAS SECAS: ROMANCE E QUADRINHOS EM SALA DE AULA PARA AUXILIAR A FORMAÇÃO DO LEITOR LITERÁRIO Viviane de Guanabara Mury, Lucas Ferreira de Oliveira Resumo: Um dos desafios do ensino de literatura no Brasil no contexto escolar nas últimas décadas tem sido garantir a formação de leitores literários. Costuma-se atribuir isso a práticas conteudistas que tendem a enfatizar apenas aspectos históricos, associados, principalmente, aos estilos de época, o que acaba por deixar a leitura do texto literário em segundo plano ao mesmo tempo em que aumenta a distância entre a disciplina e as experiências dos alunos. Nesse sentido, o uso de adaptações literárias em quadrinhos parece ser um caminho possível para lidar com o problema. Diante desse cenário, este trabalho busca compreender de que forma o uso de adaptações literárias em quadrinhos pode auxiliar o professor no processo de mediação de leitura do texto literário, contribuindo para o ensinoaprendizagem de questões específicas da narrativa - a saber, o foco narrativo. Para tal, realizou-se a análise do capítulo “Baleia” do romance Vidas secas, de Graciliano Ramos, e de sua respectiva adaptação em quadrinhos, escrita por Arnaldo Branco e Guazzelli, utilizando as teorias de Henry James (2003), Jean Pouillon (1974) e Scott McCloud (2005; 2008). Tomando tais estudos como base, nós propomos ao fim uma oficina de leitura literária, inspirada pela sequência didática descrita por Rildo Cosson (2006). SIMPÓSIO “LEITURA E ESCRITA LITERÁRIAS EM SALA DE AULA: DIMENSÕES TEÓRICAS E PRÁTICAS” Andresa Fabiana Batista Guimarães (IFSULDEMINAS), Gabriela Rodella de Oliveira (UFSB), Sarah Vervloet Soares (IFF) ENTRE OLHARES E DISCURSOS: PERCEPÇÕES SOBRE O OUTRO EM "CRIANÇAS NA ESCURIDÃO" DE JÚLIO EMÍLIO BRAZ Aldenora Márcia Chaves Pinheiro Carvalho, Patrícia Pinheiro Menegon Resumo: A Literatura, e, especificamente o texto literário infantojuvenil, são definíveis não pelo fato de serem ficcionais ou imaginativos, mas porque empregam a linguagem de forma peculiar, ou seja, a Literatura é a escrita que representa uma espécie de violência organizada contra a fala comum, conforme destaca Eagleton (2003). Compreendemos que o texto literário é um tipo de linguagem que chama a atenção sobre si mesma e exibe sua existência material. Tomada aqui como arte e experiência estética, este trabalho objetiva aproximar o aluno da Educação de Jovens e Adultos – EJA, ao mundo da arte literária por meio da leitura e análise dos processos de construção das representações histórico-sociais das personagens infantis da obra "Crianças na escuridão" de Júlio Emílio Braz (2018). Partindo de uma perspectiva crítico-reflexiva, nos basearemos nos pressupostos teóricos de Ruiz (2010) para discutir as concepções sobre poder e linguagem quando analisadas as temáticas pertinentes à obra; também, Silva (2003), Hall (2016) e Hooks (2019) com vistas a relacionar os conceitos de identidade e diferença na construção das representações histórico-sociais das personagens infantis. Nesse referencial teórico, abordaremos também, Santos (2010) e Carneiro (2005) na tentativa de situarmos as principais questões sobre a negação do Outro no processo de destituição da cultura e civilização deste. Metodologicamente, este trabalho caracteriza-se por um recorte de natureza bibliográfica, cujos objetivos descritivos e explicativos buscam situar, descrever e exemplificar as diversas nuances que subjazem quando da relação dialógica entre sujeitos de linguagem – personagens infantis – a partir do texto literário. Este trabalho está diretamente vinculado às temáticas investigadas pelo Projeto de Pesquisa intitulado Matizes da infância: estudos interculturais na Literatura infantojuvenil de Língua Portuguesa que busca investigar, numa perspectiva crítico-comparativa, a interculturalidade presente nas produções literárias voltadas ao público infantojuvenil, objetivando identificar as relações culturais multiétnicas que emergem de contos infantis. AS PRÁTICAS DE LEITURA LITERÁRIA NO ENSINO TÉCNICO INTEGRADO: UM OLHAR ANALÍTICO Andresa Fabiana Batista Guimarães Resumo: Este trabalho tem como ponto de partida as seguintes questões norteadoras: Os jovens não leem? Não gostam de ler? É importante ler em sala com os alunos? Nós, professores de língua portuguesa e literatura, promovemos a leitura literária em sala de aula? Desta forma, objetivamos identificar o gosto (ou não) pela leitura literária, bem como verificar os hábitos (ou não) desta leitura em sala de aula pelos discentes ingressantes nos 1º anos dos cursos técnicos integrados ao ensino médio (Alimentos e Informática) do Campus Avançado Carmo de Minas (de 2019 a 2021). Para tanto, partimos dos pressupostos da didática da literatura da corrente francesa (Langlade, Rouxel, Jouve dentre outros) em que Rouxel (2013) afirma que o ensino de literatura ainda remete a uma exclusão da leitura ou mesmo do leitor como sujeito, por isso é fundamental se considerar a dimensão subjetiva e as realizações efetivas dos sujeitos leitores (alunos, professores e estudantes). Desta maneira, é importante se delinear uma nova forma perspectiva para o ensino de literatura buscando o trabalho com a “leitura cursiva” (Rouxel, 2012) descrita como “a forma livre, direta e corrente da leitura”, pela apreensão do sentido a partir do todo, em outras palavras pela leitura autônoma e pessoal que autoriza o fenômeno da identificação e convida a uma apropriação singular das obras, favorecendo assim outra relação com o texto, em contraposição à tradição do trabalho escolar baseado no formalismo da leitura analítica (interpretação de texto baseada na análise do professor e/ou críticos literários) e de fragmentos. Para a autora é fundamental reabilitar a subjetividade do leitor, já que toda experiência de leitura verdadeira envolve a totalidade do ser. O investimento subjetivo do leitor é uma necessidade funcional da leitura literária, afinal é o leitor que completa o texto e lhe imprime sua forma singular. A EXPERIÊNCIA DE AUTORIA NA ESCOLA A PARTIR DA LEITURA DE LITERATURA DE CORDEL Camila Franquini Pereira Resumo: O presente trabalho é um relato de experiência elaborado a partir do trabalho com turmas do Ensino Fundamental II do Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, desenvolvido ao longo do ano de 2018. Durante um trimestre, dedicamo-nos à leitura e à discussão de textos de Literatura de Cordel e de introdução ao ritmo e à rima. Para isso, foram trabalhados os textos A chegada de Lampião no inferno, de José Pacheco; Alien e predador versus Lampião: A batalha mais horripilante do universo, de Izaias Gomes; e trechos de Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto. A conclusão do trabalho se deu pela escrita coletiva de cordéis que colocassem em cena o Rio de Janeiro, cidade onde se localiza a escola. A propostas desenvolvida foi orientada pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e pelas reflexões de pesquisadoras contemporâneas como Regina Zilberman Maria Coelho de Paula e Teresa Colomer. O compartilhamento deste trabalho objetiva apontar caminhos para a construção da identidade leitora e, além disso, explorar a autoria como recurso de formação do leitor literário. Todas as etapas foram realizadas em sala de aula, incluindo a escrita dos cordéis (estruturados em redondilhas maiores e com esquema fixo de rimas) e a confecção das xilogravuras que ilustraram as obras. As produções dos alunos foram se tornaram uma exposição intitulada “Literatura de Cordel: o caminho do sertão ao Rio de Janeiro” (contando com um varal de cordéis e uma roda de leitura dos textos), que integrou o evento E o corpo ainda pulsa... (CAp Literário de 2018). POESIA SEMPRE: PESQUISA E LITERATURA COMO CAMINHOS PARA A SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA Carina Ferreira Lessa Resumo: A tensão entre literatura e política faz parte da história da humanidade de ontem, hoje e também o fará no futuro. Sobre a cultura do Brasil, Machado de Assis atentara para o problema a propósito das tendências identitárias que avançavam com pouca feição de fato nacional. O equívoco estava na concepção de que ainda delegávamos aos extratos de leitura o hábito europeu, mesmo no intuito de uma possível marca indígena. Não havia um encontro com as múltiplas culturas e linguagens de modo que o nosso olhar simbolicamente não convinha aos moldes ilusórios do movimento romântico. Juntamente a isso, ao olhar crítico de Machado de Assis, se coadunava a ansiedade de encontrar profícuo e profundo lastro em que se diminuíssem as distâncias entre as ideias e os talentos literários. Um progresso que acusaria alentadamente um exame das nossas letras de forma igualitária e justa, tal remédio ao progresso político de acesso ao conhecimento e encontro de culturas engrandeceria as artes e a poesia, de forma que o ideal do crítico poderia atender à ciência literária. Juntemos a tais reflexões os estudos estruturalistas e pós-estruturalistas que se acentuaram desde o início do século XX, atualizando o pensamento machadiano de mãos dadas com as manifestações modernistas adensadas desde a Semana de 22. A partir do brevemente exposto, desenvolve-se na Unesa projeto de letramento literário, com um grupo de alunos, em movimento inicial de pesquisa nos exemplares da revista Poesia sempre da Biblioteca Nacional, lançada em 1993 sob editoração, naquele momento, de Antonio Carlos Secchin. Ao apresentar o método de ensino, que se pauta pela investigação, leitura e escrita, buscar-se-á apontar um diálogo com as práticas educacionais de Secchin em cursos de graduação e pós-graduação que direcionavam as "dimensões cognitiva, ética e estética"(AMORIM, et al.) como apontam pesquisas contemporâneas sobre formação do sujeito leitor. LITERATURA E LETRAMENTO MATEMÁTICO: DIÁLOGO INTERDISCIPLINAR, CRÍTICO E REFLEXIVO Daniela Batista Santos, Osmar Moreira dos Santos Resumo: Estabelecer diálogo entre literatura e matemática tem oportunizado desenvolver um ensino pautado em princípios lúdicos, interdisciplinares, críticos e reflexivos, principalmente, considerando que, historicamente a matemática é trabalhada numa concepção platônica, na qual, esta é concebida com o mito da exatidão e verdades absolutas, não considera os contextos sociais, políticos e culturais que estão presentes na produção dos saberes matemáticos. Objetivamos refletir sobre as potencialidades da literatura para o ensino de matemática, numa perspectiva do letramento matemático. Para isso, desenvolvemos uma pesquisa qualitativa, do tipo bibliográfica, pois pautamos o percurso metodológico a partir de pesquisas sobre a temática, bem como a análise mais especifica sobre os contos e encantos do Malba Tahan como precursor da utilização de gêneros literários no ensino de matemática. Desta maneira, nesta investigação, dialogamos com as categorias teóricas que sustentam a temática tais como literatura, conceito de entre-lugar, letramentos, práxis interdisciplinares, criativas, insubordinadas e problematizadas, tomando como aporte teórico: Santiago (2000), Hanciau (2005), Matos, Giraldo e Quintaneiro (2021), D’Ambrosio e Lopes (2015), Tahan (2002), Luvison e Grando (2018), Street (2014), Kleiman (2001), dentre outros. Podemos inferir que abordar conceitos matemático a partir da literatura, estimulando a produção literária em diferentes gêneros, a exemplo de contos, poesia, cordel, roteiros teatrais, dentre outros, contribuem positivamente na aprendizagem do conhecimento matemático e reverbera para além da aprendizagem formal, pois estimula a criatividade, o raciocínio lógico, a leitura e escrita, reflexões críticas, a autoestima dos/as educandos/as, além de oportunizar diferentes espaços de aprendizagem, bem como permitir construir relações interdisciplinares, mostrando que é possível integrar diferentes saberes e práticas sociais e culturais. Assim, defendemos que é assertivo e frutífero trabalhar literatura e a matemática, na Educação Básica e na licenciatura em matemática, em especial, com as propostas de Tahan (2002), promovendo, dessa forma, um ensino lúdico, criativo, diferenciado e problematizado. CARTAS DO LEITOR: PRÁTICAS DE LEITURA LITERÁRIA SUBJETIVA NA EDUCAÇÃO BÁSICA EM CONTEXTO DE AULAS REMOTAS Eider Ferreira Santos Resumo: A presente proposta, ancora-se na pesquisa de Tese que empreende discussão a respeito da leitura literária subjetiva em contextos de aulas remotas, considerando as mudanças educacionais impostas pelo momento pandêmico. Por essa perspectiva investigativa, objetiva-se, aqui, compreender em que medida a estratégia metodológica “cartas do leitor” pode favorecer ao estudante uma apropriação singular do texto literário, levando em consideração seus universos de expectativas, seus prazeres e desprazeres na experiência ledora de coletânea de contos As marcas da cidade (Aleilton Fonseca). Para tal, questiona-se: em que medida as cartas do leitor, enquanto estratégia metodológica, pôde potencializar a leitura subjetiva de estudantes no contexto de aulas remotas? Quais experiências singulares de leitura, por estudantes do ensino médio, podem ser identificadas na escrita de cartas do leitor? Na tentativa de responder a tais questionamentos e alcançar os objetivos desta pesquisa, tal investigação ancora-se no método qualitativo com inspiração fenomenológica, fundamentada nos princípios epistemológicas da leitura subjetiva de Rouxel (2013; 2020) e Langlad (2013); do ensino de leitura literária, respaldados em Cosson (2014), Cruz (2012), pautando-se na leitura interpretativa dos modos de ler o signo literário pelos estudantes. Também, toma-se como norte a experiência de leitura a partir de diferentes “horizontes de expectativas” (JAUSS, 1979), estimulando o leitor se colocar numa posição de jogador que joga o “jogo do texto” (ISER, 1979), sendo o leitor peça fundamental nessa dinâmica que “permite que a inter-relação autor-texto-leitor seja concebida como uma dinâmica que conduz a um resultado final” (ISER, 1979, p. 107). Espera-se, por fim, uma compreensão da importância da leitura cursiva enquanto uma possibilidade de leitura que estimule a autonomia leitora dos estudantes como outra alternativa para a imposição de leitura de mera decodificação vigiada pela leitura de tradição meramente analítica. MEMORIAIS E DIÁRIOS DE LEITURA NA FORMAÇÃO DOCENTE Gabriela Rodella de Oliveira Resumo: Para esta comunicação, propõe-se uma abordagem em três etapas para uma reflexão sobre a função da escrita de memoriais e diários de leitura na formação docente. Primeiro, como ponto de partida, far-se-á uma reflexão a partir de aportes teóricos sobre como a escrita pode apoiar a formação de leitores/as no ensino superior. Para tanto, traz-se para o debate a noção de autobiografia, de Annie Rouxel, compreendendo-se que “a subjetividade dá sentido à leitura e que, fazendo emergir na consciência uma imagem de si mesmo, ela constitui com frequência o gesto de uma identidade de leitor construindo-se ou afirmando-se”. Pleiteia-se também que diários e antologias, segundo François Quet, são escritos pessoais que “tornam possível rastrear o que aconteceu em dado momento de leitura, do qual talvez nos lembremos”. E considera-se que, com Croix e Dufays, a produção escrita de tais textos são “uma oportunidade de questionar a própria relação com a leitura de ontem até os dias de hoje e de desenvolver uma forma de metacognição para se compreender melhor como sujeito leitor”. A partir de então, identifica-se, por meio da análise de 22 memoriais de leitura de estudantes da disciplina de Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa na FEUSP, a recorrência de dois tipos de perfis: os daqueles/as que se constroem como leitores/as desde crianças; e os que se dirigem às Letras por um desejo de se tornarem os/as leitores/as que ainda não são. E, por fim, através de excertos de diários de leitura requisitados no Componente Curricular de Ensino de Literatura e de leitura literária na UFSB, da Licenciatura Interdisciplinar em Linguagens e suas Tecnologias, percebe-se como debates interpretativos de obras lidas em sala de aula e a produção de diários de leitura de um livro sugerido e selecionado pelo estudante podem apoiar uma formação leitora por vezes tardia. TRABALHOS COM TEXTOS LITERÁRIOS NA AULA DE LÍNGUA PORTUGUESA: UMA PROPOSTA DE ATIVIDADE A PARTIR DOS ROMANCES OS MISERÁVEIS, DE VICTO HUGO E O QUINZE, DE RACHEL DE QUEIROZ Israel Silva Soares Resumo: Com o objetivo de mostrar a importância de um ensino reflexivo da Língua Portuguesa em que foque no incentivo da leitura e produção textual, propõe-se uma discussão possibilitando o trabalho da leitura de romances, em turmas de 9º do ensino fundamental II, como bojo que enseja a produção textual, estudos dos recursos linguísticos e estilísticos na escrita de forma dinâmica, interativa, e, por conseguinte, a produção de textos literários. Para tanto, leituras de romances, em especial Os miseráveis, de Victor Hugo e o Quinze, de Rachel de Queiroz permitem ao aluno a ter uma visão cultural e crítica perante a sociedade e, a partir delas, trazer reflexões que se externalizam sobre o papel. Ademais, leituras de narrativas que perduram tempo colaboram para o aprimoramento do gênero textual e reverbera na oralidade. Dessa maneira, entende-se que é relevante discutir o ensino de Língua Portuguesa em estreito com literaturas que permitam apreciar a formação linguística e social de um determinado local, que colaborem na interação aluno e produção textual. Para tanto, este intento debruça-se sobre autores como Wandely Geraldi, Maria da Graça Ferreira da Costa Val, Noam Chomsky e dentre outros numa perspectiva de tornar possível, a partir da leitura dos respectivos romances, um feedback entre narrativa e produção de texto literário; gramática normativa e produção textual por meio de uma sequência didática que contribuem à materialização desta pesquisa. DOM CASMURRO SOB AS LENTES DA IMAGOLOGIA: ENSINO DE LITERATURA PARA ALÉM DA HISTÓRIA LITERÁRIA Juliana Marques Da Silva Nunes Resumo: Apesar de já ter alcançado seu apogeu e declínio no campo da crítica, o gênero história literária ainda ocupa espaço significativo nas universidades e escolas, ambientes que ainda utilizam a abordagem tradicionalista, escolástica e nacionalista, como demonstra Paulo Franchetti em “História literária: um gênero em crise” (2013). João Adolfo Hansen (2016), Abel Barros Baptista (2005) e os próprios documentos federais, como a Base Nacional Comum Curricular (2018), serão invocados para demonstrar a limitação de um currículo voltado para um ensino de literatura norteado por estilos de época, datas de publicação e contextos histórico-sociais, preterindo-se a análise do texto literário em si, o que significa grande perda no que tange à formação de leitores de literatura. Ensina-se, pois, que autores como Gonçalves Dias, Machado de Assis, Graciliano Ramos e Guimarães Rosa devem ser “estudados” porque ajudam a compor um quadro de construção da manifestação cultural/literária brasileira, sem devido destaque à sua qualidade/particularidade estilística e artística. Esse problema faz surgir a necessidade de uma abordagem diferenciada no ensino de literatura. Acreditamos que a perspectiva imagológica de Daniel-Henri Pageaux (2011), apresentada em "Musas na encruzilhada – ensaios de literatura comparada", seja um caminho eficaz para a análise crítica não apenas do cânone, mas de qualquer obra abordada em sala de aula. Nesse sentido, também pretendemos fazer uma análise do romance machadiano "Dom Casmurro" sob o olhar da imagologia, colocando em foco as imagens de si e do outro projetadas pelo narrador-personagem. Gostaríamos de mostrar como a investigação do léxico, das relações hierarquizadas e do cenário, níveis de análise do texto literário, podem ajudar a compor um exame mais relevante das possíveis interpretações da conhecida obra de Machado de Assis. Objetivamos comprovar como essa leitura imagológica permite criar uma sequência didática crítica e produtiva. DAS IMPRESSÕES ÀS EXPRESSÕES DA POETICIDADE: UMA PROPOSTA DE MEDIAÇÃO DE LEITURA DO LIVRO MIL PÁSSAROS DE PAPEL (2018), DE SEVERINO RODRIGUES Juliete Rosa Domingos Resumo: Quando Michèle Petit (2008) assevera que, mesmo que a leitura não nos torne necessariamente escritores, há a partir dela a possibilidade de sermos mais “autores de nossas vidas”, corrobora à reflexão acerca do ensino de literatura que se alinhava à perspectiva do leitor protagonista. Este trabalho tem como objetivo apresentar uma proposta de mediação de leitura literária a partir do livro Mil pássaros de papel (2018), do escritor pernambucano Severino Rodrigues. Tendo em vista sistematizar ações práticas, em que as impressões de leitura experenciadas pelos leitores se transformem em expressões concretas de poeticidade, nos dedicaremos à elaboração de atividades que centralizem a leitura de literatura juvenil em sala de aula, buscando a apropriação singular da obra pelo sujeito leitor, articulando uma proposição de experiências que enfoquem o processo de escrita literária, no intuito de oferecer vivências que coloquem esse leitor em um plano em que ele reconheça também seu papel de autoria. Para tanto, ao refletir sobre a importância da mediação da leitura de literatura no contexto escolar para a formação do leitor literário, fundamentaremos o processo de aplicação desse projeto de leitura nos pressupostos teórico-metodológicos de Rildo Cosson, João Luis Ceccantini, Vera Teixeira de Aguiar e Maria da Glória Bordini. AS BRUXINHAS DE EVA FURNARI: PRÁTICA DE LEITURA LITERÁRIA COM IMAGENS Júlio César Lima Fernandes Resumo: As Bruxinhas de Eva Furnari, que tem como base a experiência literária a partir dos livros Bruxinha Zuzu e Bruxinha Zuzu e Gato Miú de Eva Furnari, conta com a participação de cerca de 151 crianças; com idades que variam entre seis e oito anos, matriculadas em alguma das seis turmas do 1º ano do Ensino Fundamental da Escola Lúcia Giovanna; da família desses alunos; e das professoras responsáveis por essas turmas. A ideia é que o subprojeto funcione como um incentivo à leitura de imagens e de livros de imagens. Para tanto, deve-se fazer a leitura das obras supramencionadas e permitir, posteriormente, que a criança leve para a sua casa o livro trabalhado em sala junto com uma boneca-réplica da personagem principal das histórias. Compreendendo que a leitura de imagens é um passo de total relevância no processo de formação do leitor e que as primeiras leituras resumem-se a olhar imagens e interpretá-las, o livro de imagens, que não possui texto verbal, desperta e aflora no leitor a sua sensibilidade através de expressões, sugestões de movimentos, cores, posições dos elementos, dentre outros recursos estéticos. Do ponto de vista pedagógico, é necessário preparar o leitor para que ele interprete essas imagens, percebendo-as e descrevendo-as a partir do contexto sugerido pela história que ele lê. IMPLICAÇÕES ENTRE PÓS-MODERNISMO E LITERATURA DE CULTURA DE MASSA: PROBLEMATIZANDO A PRESENÇA DOS BEST-SELLERS NA ESCOLA Luzimar Silva de Lima Resumo: O pós-modernismo transforma e amplia a percepção das tendências artísticas, filosóficas, sociológicas e científicas; porque as compreende a partir dos avanços tecnológicos da era digital, da expansão dos meios de comunicação, da indústria cultural, do sistema capitalista e da globalização. Nesse panorama, situamos e questionamos a literatura de cultura de massa (indústria cultural) e os espaços que a produção literária de best-sellers passou a ocupar no cenário pós-moderno, considerando, sobretudo, a escola. Ante o exposto, este artigo tem como objetivo analisar em que medida as teorias pós-modernas auxiliam na compreensão e validade da literatura de cultura de massa e como isso favorece o reconhecimento das obras de categoria best-sellers no repertório e na formação de leitores. Para tanto, foram basilares os estudos de: Hutcheon (1991), Lyotard (1997), Jameson (1997), Harvey (1992), Caldas (2000), Paes (1990), Borelli (1996) entre outros. Portanto, é perceptível a contribuição das teorias pósmodernas para se pensar a presença da literatura de cultura de massa na escola, especialmente no que concerne ao amplo consumo dos best-sellers e sua valorização no processo de formação de leitores. Ademais, verifica-se que houve a partir da pós-modernidade um abalamento das tradições estéticas, ampliando-se olhares para o reconhecimento da diversidade, o que permite tomar como favorável os leitores, suas escolhas e preferências de leitura (seja do cânone ou da literatura de cultura de massa). A LEITURA SUBJETIVA E O LEITOR CULTURAL: PERSPECTIVAS PARA EMANCIPAÇÃO DO SUJEITO-LEITOR NA ESCOLA Marcio Santos da Conceição Resumo: Os estudos acerca da didática do ensino da literatura tem ganhado forças nesses últimos anos, os quais reivindicam a importância do papel do leitor no processo da leitura literária. O objetivo do presente artigo é evidenciar como a escola, através da promoção de uma leitura subjetiva do texto literário e do modelo do leitor cultural pode contribuir para a emancipação intelectual e político-social do sujeito-leitor, servindo de mecanismo de enfrentamento ao modelo educacional neoliberal, que mantem as marcas do colonialismo e do patriarcalismo. A pesquisa faz parte de um doutoramento em andamento e está inserida num Programa de Pós-graduação em Crítica Cultural, portanto, faz-se oportuno também vincular aos conceitos aqui apresentados, as ideias da decolonização do saber como práticas insurgentes de resistir, (re) existir e reviver. Trata-se de uma revisão bibliográfica, que em seu aporte teórico apresenta contribuições de autores como Barthes (1978), Eco (2004), Rouxel (2013), Cruz (2012; 2017), Gomes (2010), Cândido (2011), Ginzburg (2012) entre outros. Num espaço de barbárie, entendemos que as pedagogias decoloniais nos permitem sair do colonialismo intelectual, do tradicionalismo pedagógico e do autoritarismo da ciência moderno-colonial, frutos de uma geopolítica do conhecimento implantada pela modernidade e pelo capitalismo como nos afirma Catherine Walsh (2013). LIVROS, LEITURAS E RELAÇÕES HUMANAS PERMEADAS PELA LITERATURA NA ESCOLA. ANÁLISE DE ESCRITOS DE FORMANDOS EM LETRAS Maria Fernanda Alvito Pereira de Souza Oliveira Resumo: A comunicação pretende abordar escritos de licenciandos, elaborados no curso de disciplinas de Didática de Português-Literaturas e das atividades de estágio. De recorte diverso de gêneros acadêmicos como fichamentos, resumos e resenhas, as “reações” a textos teóricos acompanharam semanalmente o trabalho teórico-prático dos licenciandos, ao longo do ano de 2021, como produções de uma escrita subjetiva em que, mais do que uma compreensão competente das proposições teóricas e das sugestões metodológicas contidas nos textos estudados, tratava-se de trazer à tona, marcando e deixando-se marcar pelo registro escrito, as relações que esse tipo de material de leitura, no contexto da formação, forçosamente estabelece com a biografia de seus leitores (MOMBERGER, 2011). Tal procedimento formativo, à semelhança dos que decorrem da assunção da leitura subjetiva de obras literárias no espaço escolar (ROUXEL, 2018), buscava desvelar e assim intensificar o trajeto singular da produção de experiências leitoras, investindo na conquista de significação para o movimento de estudos e no comprometimento profissional. Nos escritos sobre textos voltados para o ensino da leitura literária, as memórias escolares ganharam destaque, impulsionando um processo ao mesmo tempo de revisão crítica das abordagens em discussão, de constituição de intenções e prospecção de situações em que os licenciandos se imaginaram como professores formadores de leitores de literatura. Observar a diversidade de experiências escolares evocadas e sua imbricação com o trabalho de tessitura de identidades profissionais, no que se refere ao trabalho com a leitura literária, é a proposta deste trabalho. O EMERGIR DE OUTRA CENA Nazarete Andrade Mariano Resumo: Com a finalidade de socializar discussões parciais que fazem parte de uma pesquisa de doutorado em andamento, este estudo tem como recorte o processo de criação de escrita literária de participantes do “Programa de Extensão Lugar de Criação: desenvolvendo narrativas de si”, saberes, muitas vezes, invisibilizados nas periferias da sala de aula. São escritas com a potência de emergir um processo de subjetivação pelos saberes subalternizados de jovens que se enveredam pelos modos de produção compostos pela tessitura de escritas literárias para emergir outra cena de outras subjetividades. Logo, é importante compreender a importância do Programa de Extensão Lugar de Criação na configuração de outra cena de produção literária para além do efeito. Para tal, serão analisados um recorte de texto presente no livro: Escritas identitárias (2022), bem como cartas escritas entre os participantes da pesquisa em andamento, de modo a se perceber seu processo de criação. Tais reflexões estão ancoradas em discussões como Moreira (2020) que contribui com as discussões de uma escrita de si; Pereira (2018, 2020) narrativa de si e as práticas de letramentos; Santos (2020) práticas literárias de criação; Barthes (2004) a força da literatura; Iser (1979) relação entre autor-texto-leitor; Deleuze (2021) com a filosofia da diferença, uma identidade nômade; Guattari (1977) sobre processo de subjetivação, entre outros entre. ESCREVER NO ANONIMATO: MODOS DE ESCRITA LITERÁRIA NA ESCOLA Sarah Vervloet Soares Resumo: Entende-se, neste trabalho, a ideia de « escrita anônima », realizada por estudantes do ensino básico, como a produção textual sem autoria. Este trabalho tem por objetivo identificar alguns sentidos possíveis dessa escrita anônima, a partir da preparação para a escrita (Barthes, 2005) ; da atitude do autor (Tauveron, 1996) ; da escrita autobiográfica (Bruner; Weisser, 1998) ; da disposição para a escrita (Barré-De Miniac, 2015) ; e outros. Busca-se compreender melhor os processos de produção de texto literário na sala de aula, principalmente no âmbito do ensino médio. O desenvolvimento da escrita dos estudantes, muitas vezes, está inscrito em sua história familiar, social e escolar. Por isso, quando eles escrevem, direcionam-se a si mesmos, aos seus pares, as suas famílias, aos seus professores. A escrita literária pode priorizar os momentos de emoção e criatividade, mas está sempre acompanhada de diversos bloqueios no contexto escolar. Os processos de escrita literária na escola necessitam de métodos específicos de trabalho para que as limitações sejam superadas, como acontecem nos diários, portfólios, ou seja, em projetos voltados à escrita e à literatura. Mas há na ideia de anonimato uma oportunidade para que esses estudantes escrevam com maior liberdade. Verifica-se, nessas escritas, a aproximação sensível entre os estudantes, o professor e a escrita, o que permite o ensino da literatura (Rouxel; Langlade; Rezende, 2013) por diferentes caminhos. A LITERATURA COMO BEM INCOMPRESSÍVEL: UM OLHAR POR MEIO DA INICIAÇÃO CIENTÍFICA NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA Tânia Pinto Dos Santos Souza Resumo: Estudos recentes mostram que há especificidades que precisam ser consideradas quanto à formação docente para o professor da Educação Profissional e Tecnológica (EPT), uma vez que sua atuação nos cursos oferecidos requer olhares específicos em consonância com o mundo do trabalho, que demanda uma especial atenção da correlação teoria/prática, mediação da aprendizagem por meio de metodologias ativas, entre outros aspectos. No contexto atual, diante da interseccionalidade das identidades plurais no contexto da escola, não se pode negar a importância da formação do professor e para o da EPT, a situação é ainda mais emergente – estudantes querem e exigem mais dos professores. Os estudantes querem saber os porquês dos conteúdos que lhe são ensinados, uma vez que estão sendo “formados” para atuar no mundo do trabalho, e a articulação entre a teoria e a prática precisa fazer sentido; não se contentam em apenas que lhes transmitam as bases tecnológicas das componentes curriculares que estão dispostas nas matrizes dos cursos técnicos sem sua devida contextualização e significação. Nesse sentido, esses sujeitos precisarão ter acesso à diversos tipos de literaturas, uma vez que nas matrizes curriculares dos cursos técnicos, as disciplinas da base nacional devem ou deveriam dialogar com as chamadas técnicas – e isso é um direito que lhes convém. Cândido (2011, p. 177) afirma que “Por isso é que nas sociedades a literatura tem sido um instrumento poderoso de instrução e educação, entrando nos currículos, sendo proposta a cada um como equipamento intelectual e afetivo”. Pensando nesse viés, pode-se pensar e experimentar a Iniciação Científica na Educação Básica e em particular na EPT como princípio educativo de acesso às literaturas. SIMPÓSIO “LITERATURA, EDUCAÇÃO INTERCULTURAL E CURRÍCULO ANTROPOFÁGICO” Marcia Paraquett (UFBA), Ludmila Scarano Barros Coimbra (UESC), Marcos Antônio Alexandre (UFMG) CANIBALIZANDO TEXTOS E IMAGENS, ENTRECRUZANDO IMAGINÁRIOS E NARRATIVAS DE LUGARES AMAZÔNICOS Gerson Rodrigues de Albuquerque Resumo: Com esta comunicação proponho uma leitura sobre lugares amazônicos imaginados a partir de narrativas literárias do escritor e jornalista Nailor George Pires (1956-2019), em conjunto com os experimentos imagéticos literários da fotógrafa Talita Oliveira e de imagens do artista plástico Danilo de S’Acre. Esses três artistas tecem lugares marcados pelo (des)encontro entre a memória e a história, compondo paisagens imaginárias a partir de suas vivências e da forma como traduzem experiências cotidianas da cidade de Rio Branco, Amazônia acreana, com sua multiplicidade de becos e ruas labirínticas. Na base da abordagem e problematização das narrativas e imaginários estão as percepções crítico-teóricas de Walter Benjamin, Didi-Huberman, Beatriz Sarlo e Édouard Glissant a partir das quais procuro apresentar um diálogo com a literatura e as artes visuais como uma contraposição à lógica do pensamento único, da razão de mercado ou do pensamento de sistema, compartilhando da ideia de pensamento arquipélago. Nessa direção, ao invés de uma experiência científica, o que proponho é uma leitura pedagógica de visualidades e escrevivências na forma de uma experiência poética ou algo parecido com o que foi pensado como pedagogia das inutilidades pelo Manoel de Barros, um poeta/filósofo da linguagem que nos possibilita a experiência de contato com uma escrita capaz de arrancar do conforto aquele que escreve e aquele que lê, capaz de tecer mundos outros, sonhos outros nesses tempos de recuos autoritários, de mercantilização da vida e banalização da morte. ALFONSINA STORNI, UMA MULHER DE VOZ PODEROSA NA POESIA LATINO-AMERICANA Hugo Jesus Correa Retamar Resumo: Este trabalho, que integra um estudo mais amplo sobre a obra de Alfonsina Storni (RETAMAR, 2004), busca evidenciar a denúncia presente em seus versos sobre o silenciamento sofrido pela mulher latino-americana de princípios do século XX. Para tal, foram selecionados 14 poemas pertencentes à Antología Poética (STORNI, 1956) organizada pela autora. A seleção teve como critério os poemas que demonstravam mais nitidamente o engajamento da poeta contra à injustiça social vivenciada pelas mulheres de sua época. A análise fundamenta-se no estudo de cada poema, na sua relação com o conjunto da obra e com a biografia da poeta. Para a naálise em questão, também foi levada em conta a fortuna crítica sobre Storni. A análise demonstra que a obra de Alfonsina além de contextualizar socioculturalmente o papel da mulher latino-americana de sua época, reivindica a liberdade para essa mulher ao demonstrar a hipocrisia da sociedade patriarcal que a condena e a silencia. Portanto, o presente estudo entende que a recuperação da obra de Storni é fundamental para os estudos contemporâneos não apenas sobre gênero, mas sobre história, literatura e sociedade do século XX, pois promove um olhar crítico e propulsor de mudanças sociais em favor da igualdade entre homens e mulheres. NÃO QUEREMOS DIZER ADEUS Lúcia Fernanda Pinheiro Coimbra Barros Resumo: A escolarização do texto literário é um procedimento antigo. Isso, entretanto, não deve ser interpretado como uma evidência de que temos nos esforçando para formar leitores literários na escola. Ao contrário. A sociedade nos confia, na Educação Infantil, crianças que se encantam com rimas e aliterações, com histórias e fábulas. No Ensino Médio, devolvemos à sociedade adolescentes que não veem “utilidade” na leitura literária. Diluídos em meio a textos dos campos de atuação jornalísticomidiático, das práticas de estudo e pesquisa, da vida pública, os textos literários são, por vezes, confundidos com esses em função dos procedimentos didáticos que deformam sua escolarização. Nosso objetivo é defender uma outra escolarização do texto literário. Uma que permita ir além de servir ao processo de Alfabetização nos Anos Iniciais, e ir além de servir à apropriação de habilidades de leitura nos Anos Finais do Ensino Fundamental. Uma que permita ainda ir além de servir ao estudo dos estilos de época no Ensino Médio. Acreditamos que essa reescolarização será possível se conseguirmos operar no nível da antropofagia curricular, o que nos permitiria vislumbrar a leitura literária não apenas como um lugar para determinadas aprendizagens, mas como um lugar de formação integral do ser humano. É verdade que não queremos que a escola diga adeus à literatura; também não queremos que a literatura se faça presente tão somente como um mecanismo que a faz parecer algo inútil para nossos jovens. O que defendemos é uma outra didática de abordagem do texto literário. Uma didática que propicie aos estudantes mastigar, deglutir, devorar cada Machado, cada Conceição, cada Mundurucu, cada Emicida, para além, muito além da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Trata-se, portanto, de um trabalho que se coloca como alternativa ao que insistimos em proclamar como estudo de literatura. Se é possível? Sim, é possível e desejável! EM BUSCA DE CORPOS LÉSBICOS NO CORPO DO TEXTO LITERÁRIO: O DIREITO A UM ESPAÇO LESBIOGRÁFICO NA LITERATURA Ludmila Scarano Barros Coimbra Resumo: Sempre gostei de literatura, mas, em minha infância e adolescência, nunca me vi representada nela ou não pude vislumbrar, nos livros, outros “tipos” de pessoas ou “modelos” de família. Como uma mulher cisgênero e lésbica, apenas tive acesso a uma literatura com personagens e narradoras lésbicas já como professora universitária, fazendo pesquisa “por conta própria”, ou como leitora, buscando livrarias especializadas, uma vez que não temos muito acesso a essa literatura em livrarias mais comuns. Na Educação Básica, me lembro de ter lido autores clássicos como Machado de Assis, Rubem Fonseca e José de Alencar. Autoras mulheres eram escassas na lista de livros que nos entregavam no início do ano letivo. Na graduação em Letras, li muita literatura em língua espanhola e língua portuguesa, mas a autoria masculina também predominava. Apenas em uma disciplina intitulada “Literatura de minorias”, tive contato com uma discussão diferente, cujo foco estava mais voltado para a literatura de mulheres. Li Griselda Gambaro, Patricia Ariza, Ángeles Mastretta, Cristina Peri Rossi, por exemplo. No entanto, personagens lésbicas ou discussão sobre autoria de mulheres lésbicas não era o foco. Defendo que autoras como Cassandra Rios, Natália Borges Polesso, Rosamaría Roffiel e Yolanda Arroyo Pizarro estejam presentes nos currículos dos cursos de Letras e nas salas de aula da Educação Básica. Meu objetivo é apresentar essas quatro mulheres e um pouco de suas literaturas que, recentemente, entraram no meu repertório de leitura literária e de pesquisa. Nos romances “A breve estória de Fábia” (1964), de Cassandra Rios, e “Amora” (1989), de Rosamaría Roffiel, e nos livros de conto “Lesbianas en clave caribenha: cuentos de marimachas, buchas y camioneras, femmes, patas y cachaperas” (2012), de Yolanda Arroyo Pizarro, e “Amora” (2015), de Natália Borges Polesso, podemos ler/ver corpos lésbicos ocupando o corpo do texto literário. Essas histórias precisam ser contadas! POR UMA EDUCAÇÃO LITERÁRIA LIVRE DE 'MACHOS GLORIOSOS': BREVES EXERCÍCIOS DE LEITURA DE PABLO NERUDA E GABRIELA MISTRAL Marcia Paraquett Resumo: Tomei a expressão ‘machos gloriosos’ de Fernanda Torres que, durante uma entrevista dada a Gilberto Gil, classificou assim aos homens da geração anterior à sua, orgulhosos de serem machos e cumprirem com aquele papel que lhes impunha a sociedade. Como sou de uma geração anterior à da atriz, convivi tête a tête com muitos machos gloriosos, que ora me atraíam, ora me repugnavam. Um grande exemplo seria Pablo Neruda, o primeiro poeta do qual tive um livro, de onde retirei muitas poesias que recitava orgulhosamente. Por sorte o tempo passou e hoje me afastei deles, ou eles se afastaram de mim, embora Neruda continue frequentando minhas aulas, pois me cabe apresentar a macro poesia que se produz em língua espanhola, para que meus e minhas estudantes em formação a conheçam e façam suas escolhas. É evidente que não me limito aos machos gloriosos e, por isso mesmo, busco fazer contraposições com as poetas quase sempre relegadas a segundo plano nas antologias clássicas. Talvez uma exceção seja Gabriela Mistral, conterrânea e contemporânea de Neruda, mas com experiências e narrativas diferentes, como pretendo discutir. Minha proposta, portanto, é estabelecer paralelos entre a produção de um poeta (Pablo Neruda – Chile, 1904/1973) e uma poeta (Gabriela Mistral – Chile, 1889/1957), ambos Prêmio Nobel de Literatura, mostrando a forma de expressão de dois lugares de fala, próprios ao momento que lhes tocou viver. O USO DOS MITOS E DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS COMO FERRAMENTAS PEDAGÓGICAS PROPOSITIVAS E INCLUSIVAS NO ENSINO DE LITERATURA NOS DIFERENTES NÍVEIS DE ENSINO Marcos Antônio Alexandre Resumo: A reflexão constante sobre uma educação inclusiva é sempre um desafio global, uma vez que os conteúdos continuam sendo trabalhados, muitas vezes, a partir de uma estrutura fragmentada e que, nem sempre, leva em consideração os contextos de enunciação e os espaços de formação e de construção identitárias dos sujeitos e das sujeitas implicado[a]s no ensino. A proposta desta comunicação é oferecer algumas reflexões sobre o estudo da literatura a partir de uma mirada inclusiva e mediada pelo uso de Mitos como estruturas fundantes capazes de estabelecer diálogos com contextos distintos, acionando lugares de memórias de povos, comunidades, territórios, nações; de promover discussões identitárias acionando saberes outros a partir da prática de contação de histórias. A literatura, dentro de nossa perspectiva analítica, é um instrumento que viabiliza e potencializa o acionamento de discussões interculturais que nos permitem fortalecer a implementação efetiva das leis 10.639/03 e 11.645/08, que ainda não são de todo seguidas em todas as escolas, integrando as grades curriculares das disciplinas como um todo, sendo citadas em momentos comemorativos e discutidas de formas rasas por inúmeros educadores. Por se tratar de uma comunicação, tenho ciência da impossibilidade de uma reflexão mais aprofundada, mas alguns questionamentos devem ser pautados como o por que da ausência de discussões de caráter interculturais e transdisciplinares no ensino da literatura; ou como os Mitos e a Contação de histórias podem influenciar para a efetivação de um ensino mais inclusivo e/ou antirracista. SIMPÓSIO “LITERATURA, ÉTICA E ESTÉTICA: TRANS/FORMANDO LEITORES NA ESCOLA E NA UNIVERSIDADE” Juciane dos Santos Cavalheiro (UEA), Márcia Lopes Duarte (UNISINOS), Sabrina Vier (UNISINOS) PRAÇA DA PEDRA AGENCIANDO LETRAMENTOS PARA INCLUSÃO Crizeide Miranda Freire Resumo: Esta proposta aporta-se na pesquisa de tese, que sugere uma discussão acerca do percurso formativo atravessado pela deficiência na produção de subjetividades, como contribuição para inclusão de pessoas neuroatípicas. Nesse viés investigativo, objetiva-se compreender de que forma as práticas de leitura na praça, realizadas com crianças com e sem deficiência, conduzem para letramentos das diferenças. A partir disso, questiona-se: em que medida as atividades de “leitura na praça” conduzem às práticas de letramentos das diferenças? E mais, as estratégias realizadas podem vir a tornar-se uma proposta de prática pedagógica que potencialize a experiência de leitura dos estudantes com deficiência e neuroatípicos no contexto da educação formal? A intenção é contribuir para o processo de formação leitora desses sujeitos, por meio do movimento de leitura como fruição, sugerida por Geraldi (2001). Ao entendermos que os espaços de aprendizagem se constituem dentro e fora da escola, torna-se, também, cada vez mais necessário que a literatura encontre lugares em que a leitura se dê no deleite, na interação, na tentativa da aproximação do sujeito leitor com o texto, evidenciando as práticas de letramentos como possibilidades reais, que levem a reexistência, segundo Souza (2011) e a inclusão mediante a produção de subjetividades. As dificuldades encontradas pelas pessoas com deficiência muitas vezes são potencializadas na escola pelo uso de estratégias que não possibilitam o sujeito a perceber-se como parte integrante no processo de leitura. Sendo assim, vivenciar essa prática em outros lugares pode contribuir na formação do sujeito leitor e na produção de letramentos das diferenças. Alguns autores como Diniz (2009), Iser (1979), Geraldi (2001) dentre outros nos ajudam nessa discussão. LIÇÕES DE LEITURA NO CINEMA Gabriela Dal Bosco Sitta Resumo: Em um ensaio sobre os cem anos do cinema, Susan Sontag (2020, p. 139) resume da seguinte forma a influência dessa arte sobre o comportamento dos espectadores: “Até o advento da televisão esvaziar as salas de cinema, era com uma visita semanal ao cinema que as pessoas aprendiam (ou tentavam aprender) como caminhar com elegância, como fumar, como beijar, como brigar, como se entristecer”. À lista de comportamentos que teoricamente podem ser aprendidos por meio do cinema, poderíamos acrescentar o hábito da leitura, afinal, ao longo da história dos filmes, inúmeros personagens leitores ganharam as telas. Inspirado no ensaio de Ricardo Piglia (2006) intitulado “O que é um leitor?”, em que o autor investiga as figurações do leitor na ficção literária, nosso trabalho compila personagens leitores apresentados pelo cinema com o intuito de refletir sobre o que move o leitor em sua prática de leitura. Primeiramente, tratamos brevemente de algumas das relações existentes entre o cinema e a literatura, em especial com o intuito de apontar para abordagens que, como a proposta aqui, ultrapassem a usual comparação entre obra literária e adaptação cinematográfica. Em seguida, discorremos sobre personagens leitores que aparecem em filmes tão distintos como Os incompreendidos (Truffaut, 1959), Pequena Miss Sunshine (Valerie Faris e Jonathan Dayton, 2006) e O homem que copiava (Jorge Furtado, 2003). Ao final, com base na análise dos personagens leitores elencados, sugerimos que é em grande medida a interposição de uma camada simbólica e imaginária entre o sujeito e o mundo (PETIT, 2019) o que mobiliza a prática da leitura; a ela, soma-se ainda algum consolo, alguma compreensão e, talvez o mais importante, algum prazer. UM ARQUITETO DE PALAVRAS: MILTON HATOUM Juciane dos Santos Cavalheiro Resumo: Em recente depoimento aos editores da Olympio, Milton Hatoum afirma: “Escrever é reinventar a vida” (2020/2021, p. 131). A arte, ao longo da história, sempre esteve atrelada à vida, seja para dar-lhe sentido, seja para compreendê-la ou para denunciá-la. Assim, escrever e viver são modos de reinventarse. É através da escrita que o sujeito pode alçar voo para dentro de si mesmo e recriar-se. Há um ventre est’ético no espírito de cada autor, enfaticamente, literário. Em relação à obra, esta é o próprio espírito do autor, posto em movimento, o que anima o sujeito, muitas vezes visto – como pela psicanálise, por exemplo – como sujeito suposto saber, no moto perpétuo da criação literária. O autor é, portanto, como um dos dois jogadores de xadrez de O sétimo selo, em que vida e morte confluem para a criação da obra literária. Os rios Negro e Solimões convergem para a renovação da vida. Assim, a reinvenção da vida pelo ato de escrever, sobre a qual fala Milton Hatoum, emerge do rio, fértil de vida, para desaguar muito além do Amazonas. Nesta comunicação, acompanho os dois últimos romances de Hatoum – A noite da espera (2017) e Pontos de fuga (2019) –, com o objetivo de analisar, a partir das capas, das epígrafes, dos temas arte x vida e exílio x solidão, o trabalho com a linguagem executado pelo arquiteto das palavras, Milton Hatoum. O HOMEM QUE NARRA: UM OLHAR PARA A EDUCAÇÃO LINGUÍSTICA E LITERÁRIA Kedilen Dutra da Silva Botelho Resumo: O presente trabalho interessa-se pela Educação Linguística e Literária alicerçando-se, para tanto, nas reflexões do linguista sírio-francês Émile Benveniste e do filósofo e tradutor alemão Walter Benjamin. Nesse sentido, elegemos como ponto de contato entre as duas perspectivas as ideias de “modo de enunciação” e “o homem que narra”, sendo as noções de “experiência”, “narração” e “reversibilidade entre eu-tu” basilares para a discussão abordada. Na sequência, em um movimento teórico-prático, apresentamos uma proposta de tarefa para o ciclo final do ensino fundamental, com vista na Educação Linguística e literária, respaldada pelo arcabouço teórico explorado. O percurso realizado, em suma, sugere que a leitura de textos de ordem poética e ordinária, quando mediadas à luz da noção de “modos de enunciação”, bem como do entendimento do narrar pela reversibilidade eu-tu, pode propiciar no espaço de Ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa e Literatura uma experiência na e pela linguagem e a concretização do pressuposto constituinte do homem que é a sua disposição à narração e à escuta. Finalmente, este estudo espera contribuir com: a) os estudos da linguagem desenvolvidos a partir da teoria da linguagem benvenistiana e dos estudos benjaminianos que propõem uma interlocução com Ensino-aprendizagem de língua materna; b) a promoção da Educação Linguística e Literária em contexto escolar por meio do entendimento da leitura como experiência. A FORMA DOS PARATEXTOS EDITORIAIS NAS OBRAS BRASILEIRAS DE MILTON HATOUM: CONSTRUINDO O ARQUIVO E A MEMÓRIA PARA A LEITURA CRÍTICA LITERÁRIA Keliane Costa dos Santos, Juciane dos Santos Cavalheiro Resumo: A produção literária de Milton Hatoum vem sendo objeto de uma diversidade de investigações científicas. Essas pesquisas abarcam distintas análises, envolvendo temas como memória, migração, distorção temporal, exílio, como bem representam os estudos de Cavalheiro (2020), quando realiza um levantamento de dados em catálogo, contendo a produção de teses e dissertações com pesquisas realizadas sobre as obras do autor. Partindo da visão panorâmica da autora, foi possível verificar a ausência de temas que dialogassem com/para além da materialidade dos paratextos nas obras, de modo a pensar como os paratextos ocupam um espaço distante na narrativa e como podem influenciar na recepção e na experiência da leitura. Nesse sentido, percebeu-se a importância de realizar um levantamento de dados editoriais dos paratextos do escritor, de obras publicadas no Brasil, levando em consideração a importância de reunir arquivos paratextuais brasileiros das obras publicadas. Desse modo, o presente artigo tem como objetivo realizar um levantamento dos paratextos editoriais brasileiros de Hatoum, partindo de obras publicadas entre o período de 1979 a 2020, os quais correspondem ao início e atual carreira multifacetada do autor. Como critério e seleção do corpus em análise, tomamos como recorte obras de primeira edição, publicadas em três editoras distintas no Brasil: Livraria Diadorim, Companhia das Letras e Páginas Editora, totalizando dez obras. Para descrição dos dados, ao adotar a metodologia de Gérard Genette (2009), o qual realiza um estudo sobre Paratextos Editoriais, focalizamos os peritextos editoriais das obras. VIOLÊNCIA E VINGANÇA EM NO CIRCO SEM TETO, DE RAMAYNA DE CHEVALIER Marijane Costa Fernandes Resumo: Os temas da violência e vingança têm-se apresentado como recorrentes em pesquisas de estudiosos das literaturas, na medida em que é um mote constante utilizado pelos escritores. Para Bakhtin, “o experimentar uma experiência e o tom emotivo-volitivo podem adquirir a sua unidade somente na unidade da cultura” (2010, p. 89). Sendo assim, como cada sociedade aprende e apreende princípios e valores de forma distinta, analisa-se o conceito de vingança como marca da violência em No circo sem teto da Amazônia, de Ramayana de Chevalier. Consoante a Foucault, não basta apenas questionar quem fala, mas também o lugar de onde se fala, que está também sempre vinculado a um determinado tempo e espaço. Objetiva-se acompanhar o protagonista Zé Raimundo no desbravamento dos rios em busca do assassino Marcos Bororó. Para tanto, levantar-se-á questionamentos éticos sobre justiça ou vingança, a partir das ações do herói, traumatizado pela morte do pai. Na literatura, são muitos os exemplos que destacam a forma de fazer justiça por meio da morte do inimigo. Para Montaigne, o canibalismo dos indígenas brasileiros não era alimentação, mas forma de vingança. Para Carvajal, ao relatar a guerra contra os índios, chama-os de perversos. No entanto, pela parte da esquadra de Orellana, não praticam perversidade, mas autodefesa. Já em Ramayana, a ação de Zé Raimundo é justiça, pois diante do espaço bárbaro em que se encontra o herói, a morte do inimigo é forma de compensar a perda do pai. As representações dos atos de violência/vingança e os aspectos constitutivos da subjetividade e identidade das personagens são analisados a partir dos postulados teórico-metodológicos de M. Foucault (2003; 2015), N. Elias (1994), M. Bakhtin (2010), dentre outros. LETRAMENTO LITERÁRIO, ENSINO E DEMOCRACIA Moema de Souza Esmeraldo Resumo: Este trabalho tem como objetivo debater o caráter educativo, estético e formador do ensino de literatura. Assim como, discutir a importância da democratização da leitura literária no Brasil, uma vez que a experiência estética se torna um direito alienável, como assegura Candido (2004, 1972). Destaca-se a relevância de problematizar práticas pedagógicas que envolvem a articulação entre a perspectiva de letramento literário como prática social de exercício de leitura e escrita, tendo como referência Rildo Cosson (2006), Kleiman (2008) e Zilberman (2005). Nesse cenário, acrescenta-se também os debates sobre as teorias pedagógicas de resistência e as teorias decoloniais. A primeira teoria admite a autonomia da educação como uma saída para uma educação crítica, de modo a compreender, que as forças conservadoras existentes na escola são combatidas pelo desempenho ativo de professores e alunos. Giroux (1999) admite que as escolas são como espaços de luta e os sujeitos envolvidos no processo educacional são os responsáveis de usar o conhecimento crítico para a tomada de consciência das condições de dominação. A segunda teoria trata de ouvir os silenciados historicamente, de enxergar os subalternizados, de incluir os excluídos e pensar a sociedade e a educação por, com e para todos. Para Mignolo (2007), os pressupostos da decolonialidade investigam o sistema eurocêntrico e excludente com o qual busca-se romper. Nesse sentido, pensamos que a literatura como instrumento de emancipação do sujeito por possibilitar a ressignificação de discursos padronizados impostos pela sociedade. Para tanto, é necessário propor práticas pedagógicas de letramento literário a partir de autores que pertencem aos grupos sociais (negros, indígenas, LGBTQI+, etc.) invisibilizados historicamente (HOOKS, 2017). SIMPÓSIO “REPRESENTAÇÕES DO ESPAÇO-TEMPO UTÓPICOS E DISTÓPICOS” Ozíris Borges Filho (UFTM), André Pinheiro (UFPI), Sidney Barbosa (UnB) UTOPIA, SUBJETIVIDADE E HORROR EM LE MERAVIGLIE DEL DUEMILA, DE EMILIO SALGARI, E EM VIAJE A MARTE, DE MODESTO BROCOS Antón Corbacho Quintela, Margareth de Lourdes Oliveira Nunes Resumo: Nesta comunicação comparam-se duas ficções científicas que apresentaram os anseios dos seus autores em relação à sociedade do futuro. Sendo já um produtor literário canonizado pelo mercado na Itália, Emilio Salgari (1862-1911), em 1907, publicou em Florença, com bastante sucesso, Le meraviglie del Duemila (As maravilhas do ano 2000), em que se combinava, com humor, o deslumbramento e o espanto que a sociedade do terceiro milênio provocou nos protagonistas logo de eles acordarem após um letargo de cem anos. Por sua vez, o artista plástico e professor galego, radicado no Rio de Janeiro, Modesto Brocos (1852-1936), lançou no ano 1930 em Valencia (Espanha), o que foi o seu único livro de ficção: Viaje a Marte (Viagem a Marte), de escassa repercussão entre a crítica e nunca reeditado. Nesse produto, frente aos protagonistas de Le meraviglie del Duemila, o protagonista, alter ego do escritor, não viaja no tempo, mas desloca-se de planeta, chegando a Marte, onde, guiado por um patrício iluminista – o frade Benito Feijoo, conhece com profundidade uma sociedade que julga superior. Na sociedade marciana, de economia rural, deísta e administrada da razão, o protagonista observa que foram aplicados o higienismo e a eugenia, de modo que se conseguiu criar uma raça única que segue estritamente o rumo definido pelo Estado. Assim, para o guia do protagonista, a utopia iluminista teria sido materializada em Marte, e ela consistiria em um Estado totalitário que rege uma república camponesa. A partir da comparação do discurso de ambas as narrativas, esta comunicação, seguindo a concepção de Literatura Comparada exposta por Jesus G. Maestro (2017) na Crítica de la Razón Literaria visa a mostrar como as sociedades do futuro podem, na ficção, ser traçadas com características distópicas e como visões distópicas alucinantes podem derivar na classificação de uma obra em um produto maldito. O TEMPO E O ESPAÇO NAS NARRATIVAS CONTEMPORÂNEAS DE CATÁSTROFE Ellen Maria Martins de Vasconcellos Resumo: Ao se deparar com uma catástrofe em curso, além de estratégias de sobrevivência serem postas em prática, no âmbito individual e coletivo, o tempo e o espaço se alteram: o presente se torna elástico, se expande (já que não há possibilidade de futuro), e o espaço se comprime, reduzindo-se, muitas vezes, a um pequeno e claustrofóbico microcosmo, ao mesmo tempo em que ganha espaços virtuais. Nesta oficina, o objetivo é trabalhar com algumas obras literárias contemporâneas, nas quais as personagens encontram modos distintos de sobrevivência diante de um fim eminente. Algumas dessas obras são: "Distância de Resgate", da argentina Samanta Schweblin; "Sumar", da chilena Diamela Eltit e "Los días de la peste", do boliviano Edmundo Paz Soldán. ESPAÇO FICCIONAL E LUGAR SOCIAL: ANÁLISE ESPACIAL DO ROMANCE O CONTO DA AIA DE MARGARET ATWOOD (1984) EM DIÁLOGO COM A SÉRIE DA PLATAFORMA DE STREAMING, HULU, THE HANDMAID'S TALE (2017) Fernanda da Cunha Correia, Giovanna Suleiman das Dores Resumo: Este trabalho visa refletir a respeito da construção espacial e os recursos narrativos utilizados para a ambientação presente no romance distópico O conto da aia de Margaret Atwood (1984) em diálogo com a série da plataforma de streaming, Hulu, The Handmaid’s Tale (2017), a qual adapta o romance de Atwood. O trabalho foi desenvolvido com o intuito de discorrer a respeito da organização do espaço ficcional realizadas em ambas as versões, observando principalmente como o espaço funciona para reiterar e ambientar os elementos mais relevantes da narrativa distópica apresentada. A pesquisa caminha sob o ponto de vista comparativo entre romance e série, pensando sobre intertextualidade entre a narrativa e o espaço, observando especificamente os personagens Offred (June), a aia do título, e o Comandante (Fred), o membro do governo ao qual a aia pertence, assim como os espaços designados para cada um, sendo o quarto de Offred e o escritório do comandante. Em face desse contexto, indagamos: Como que o espaço funciona para conceber os elementos insólitos e ambientar a narrativa dentro de um futuro distópico? Quais são os recursos linguísticos e imagéticos utilizados em ambas as produções? Quais as semelhanças e diferenças dos dois recursos narrativos entre romance e série? A SUBVERSÃO DO TEMPO HISTÓRICO E A FORMULAÇÃO DE MUNDOS POSSÍVEIS EM JOSÉ CARDOSO PIRES Gabriella Campos Mendes Resumo: Em Sequel to History: Postmodernism and the crisis of representational time, Elizabeth Deeds Ermarth constata o descompasso entre o mundo em que vivemos – e o respectivo conhecimento científico que fomos capazes de produzir até então – e os modos mentais que regem a interpretação cotidiana da realidade: pensamos a partir de uma lógica newtoniana em um mundo em que há muito já se conhece a teoria da relatividade; os princípios da física quântica; e que já dispensa dualismos empiristas como a ideia de causa-efeito (cf. 1991: 9-10). Para a autora é, no entanto, com a arte pósmoderna que surgirão hipóteses de ilustração de novas compreensões da realidade que já permeavam os pensamentos filosófico e científico. No presente trabalho, propomos a análise de uma literatura alinhada a epistemologias que deem conta desses fenômenos, como a teoria dos Possible Worlds, na Filosofia e nos Estudos Narrativos, diretamente vinculada à hipótese de Many-Worlds Interpretation na Física (cf. Ronen, 1994). Neste sentido, narrativas simultâneas, paradoxos temporais, anti-narrativas (nos termos de Ryan, 1991) que impedem uma hermenêutica alinhada à lógica do mundo empírico, e outros recursos são largamente explorados pelas produções abrangidas pelo sócio-código pós-modernista (cf. Arnaut, 2002) e demonstram, principalmente na literatura, um pensamento criativo que supere uma visão restrita sobre as categorias de tempo e espaço. Como estudo de caso, partimos da leitura da obra O Delfim, de José Cardoso Pires, publicada em 1968, cujas percussões espaço-temporais são um dos eixos fundamentais para desestabilizar a leitura realista assente numa crença quanto à neutralidade do tempo e do espaço da narrativa, tornando-os elementos de relevância – não de circunstância – da narração. Assim, tais categorias são indispensáveis para a conformação desta obra como marco do pensamento pós-moderno em Portugal. DEMOCRACIA, CIDADE E ESPAÇOS DE PODER EM ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA, DE JOSÉ SARAMAGO Jeymeson de Paula Veloso Resumo: O principal objetivo deste artigo é analisar as relações estabelecidas entre espaço e poder no romance Ensaio sobre a lucidez, do escritor português José Saramago, tendo como foco de observação o regime democrático delineado na obra. Lançado no ano de 2004, o romance acaba por promover uma análise da cidade como locus de poder, além de tecer severas críticas ao estado democrático contemporâneo. De modo geral, no romance é corrente a ideia de que a democracia praticada atualmente pelos governantes funciona mais como um discurso dissimulador do que como uma forma política capaz de atender aos anseios da população. Dessa forma, Saramago busca revelar as bases ideológicas e os interesses políticos existentes por trás de grupos governamentais para os quais a democracia não passa de um subterfúgio. É importante destacar que todas essas questões políticas estão materializadas na tessitura do espaço ficcional, no modo como a cidade é estruturada na narrativa. Para promover a leitura do regime democrático na contemporaneidade, utilizamos como aporte teórico os trabalhos de Denis Rosenfield (2008) e Simone Goyard-Fabre (2003); já para executar a análise da estrutura espacial da obra, recorremos às sistematizações produzidas por Ozíris Borges Filho (2007) e Luis Alberto Brandão (2013). Concluímos que, no interior de um enredo agonal, determinados espaços funcionam como materialização do poder coercitivo e outros como um ato de resistência contra à barbárie. LISBOA EM ALGUMA POESIA PORTUGUESA CONTEMPORÂNEA Julieny Souza do Nascimento Resumo: Os estudos de paisagem nas literaturas de língua portuguesa, desenvolvidos com maior visibilidade nos últimos anos, evidenciam que a tríade mundo, sujeito e palavra constitui uma estrutura de sentidos. Os poetas portugueses contemporâneos, vozes em geral pouco conhecidas no Brasil, têm apresentado na matéria-emoção poética uma leitura/escrita de mundo que delineia geografias não limitadas a descrever espaços, mas a configurar o ambiente urbano circundante e a emitir posicionamentos e questionamentos sobre a relação estabelecida entre o espaço físico/social (território geográfico/simbólico) e o sujeito. As obras poéticas de Golgona Anghel, Manuel de Freitas e Pedro Mexia, poetas contemporâneos nascidos ou radicados em Lisboa, apresentam paisagens da cidade portuguesa e refletem, em discursos distópicos, as condições urbanas, expondo questões similares e próprias ao mundo e ao tempo contemporâneo. O estudo em diálogo dessas vozes portuguesas proporciona uma compreensão sobre o lirismo contemporâneo em Portugal, predominantemente atento à vida urbana e às tensões existenciais, sociais, políticas e econômicas que permeiam o mundo, a sociedade e a cultura contemporânea ocidental do século XXI. Utilizando a perspectiva fenomenológica dos estudos de paisagem, no âmbito de uma geografia literária, sobretudo orientada pela abordagem de Michel Collot, importante pensador da poesia moderna e contemporânea, o trabalho visa examinar o contexto em que os poetas se inserem, os poemas presentes em seus livros Vim porque me pagavam (Golgona Anghel), Ubi Sunt (Manuel de Freitas) e Eliot e outras observações (Pedro Mexia) e as principais marcas de suas linguagens poéticas. A DIMENSÃO ESPAÇO-TEMPORAL DO IDÍLIO EM "LUCÍOLA", DE JOSÉ DE ALENCAR Marcos Roberto Flamínio Peres Resumo: RESUMO: Desde seu lançamento, "Lucíola" (1862) tem sido objeto de análises que abordam especialmente o paralelo com a "A dama das camélias", de Alexandre Dumas Filho, e "Paulo e Virgínia", de Bernardin de St-Pierre. Porém, raramente as questões ali presentes foram tratadas em seu conjunto, de modo a constituírem uma narrativa única e coerente. Pois, a despeito da linguagem erótica dos capítulos iniciais, as imagens idílicas ou “analogia da inocência” (Frye) acabam por sobrepor-se gradualmente na construção de cenas, diálogos e situações, assim como nas remissões à obra de St. Pierre, a "Atala", de Chateaubriand e aos idílios de Teócrito. Assim, "Lucíola" sofre uma modificação crucial em seu "mythos", que passa a orbitar em torno do conceito de idílio, não apenas como "locus amoenus" (Curtius) mas sobretudo no sentido moderno atribuído a ele por Schiller (1800), como uma recuperação do "estado de criança". Tal reorientação - da imanência à transcendência - promove um elo sólido elo entre as dimensões espaço-temporais do idílio enquanto gênero, levando-o a aproximar-se de uma das chamadas “formas simples” (Jolles), que é a legenda cristã. Ao objetificar bem e mal, a legenda culmina na personagem qualitativamente superior do santo, cujo "mythos" se dá através do “trajeto que conduz à santidade” (Jolles). Discutindo tais premissas teóricas, a comunicação propõe que a crítica a "Lucíola" revelou profunda incompreensão quanto ao papel discursivo de G.M., a digna senhora responsável por publicar as cartas a ela entregues por Paulo, o amante da heroína. G.M. compreende a construção do romance enquanto vita e exemplum - algo que o narrador não chega a entender. REINVENÇÕES ESPACIOTEMPORAIS NA FICÇÃO DE JOSÉ EDUARDO AGUALUSA Maria Do Carmo Pinheiro Silva Cardoso Mendes Resumo: O escritor angolano José Eduardo Agualusa apresenta na sua vasta obra literária e ensaística reflexões sobre a atual situação do planeta - económica, histórica, politica, linguística, cultural e ambiental. São evidentes nas obras de Agualusa a defesa de um diálogo multicultural entre a Europa, o Brasil e África. Os seus textos espelham várias dimensões da contemporaneidade nas suas contradições e nos seus conflitos: linguísticos, culturais e civilizacionais; representam um tempo de caos e de geografias sufocantes. Se textos mais breves - sobretudo crónicas - plasmam situações que merecem comentário, crítica e problematização, textos mais extensos, que integram a ficção romanesca do escritor, exibem o peso do passado, as turbulências do presente e as expectativas do futuro, encarado tendencialmente de modo algo desencantado. Esse desencantamento surge plasmado em ficções recentes do escritor, Os Vivos e Os Outros e A Vida no Céu. Esta comunicação tem assim como propósitos centrais: 1) Identificar em duas obras literárias de Agualusa, Os Vivos e os Outros e A vida no céu, as inquietações mais prementes do escritor sobre marcas de desumanidade que vão moldando a interação entre seres humanos; 2) Demonstrar que as alterações climáticas provocadas pela interferência humana constituem uma das mais atuais denúncias do escritor, particularmente evidente na construção de duas narrativas distópicas; 3) Relevar o modo como o escritor reinventa o espaço e o tempo em narrativas onde se entrelaçam o tempo e o espaço; 4) Demonstrar que a ficção de Agualusa projeta, ainda que de forma utópica, um profundo sentido ético, assente em ideias-chave: o respeito pelas minorias raciais e linguísticas; a interação harmoniosa entre o ser humano e os seres não humanos; a defesa inabalável da tolerância e da liberdade de pensamento e de expressão CENAS DO TEMPO E MEMÓRIA EM INGLÊS DE SOUSA Messias Lisboa Gonçalves Resumo: A série Cenas da vida do Amazonas, de Inglês de Sousa (1853-1918) é constituída por História de um Pescador (1876), O Cacaulista (1876) e O Coronel Sangrado (1877), esse último publicado de forma integral somente em 1882. A conciliação entre Literatura e Filosofia e a escuta poética dessa coleção permitiram perceber um apelo de escuta das questões do tempo e da memória que ecoa na literatura inglesiana cerne do presente estudo. À vista disso, o objetivo deste trabalho é o de pesquisar as questões do tempo e da memória postas em obra pela série Cenas da vida do Amazonas. Sendo assim, focalizamos o protagonista Miguel Faria, que migra de O Cacaulista para O Coronel Sangrado e, semelhantemente a outros personagens da trilogia, encontra-se à deriva e se vê diante do tempo enquanto questão e da necessidade de dialogar com ele. Dessa forma, entende-se que esse personagem-questão vive uma experienciação com o tempo humano e poético, que foge àquele cronometrado pelos ponteiros do relógio ou mesmo àquele pensado pela ciência. Para realizar este intento, dialogou-se especialmente com Henri Bergson (1859-1941), Martin Heidegger (1889-1976), Benedito Nunes (1929-2011) e Manuel Antônio de Castro (1941-) para pensar a escuta poética das questões naquela trilogia de romances inglesianos. ENTRE ETHOS, UTOPIAS E DISTOPIAS EM MADAME BOVARY E VESTIDO DE NOIVA Renata Aiala de Mello, Alexandra Silva Montes Resumo: O objetivo deste estudo é destacar a elaboração de mundos possíveis por meio da composição do ethos de duas personagens da literatura francesa e brasileira. De um lado, Emma, heroína marcada para sempre no panorama literário mundial, do romance Madame Bovary, de Gustave Flaubert, publicado em 1857, na França. De outro, Alaíde, protagonista da peça teatral Vestido de noiva, escrita por Nelson Rodrigues e encenada pela primeira vez no Brasil em 1943. Se é verdade que ambas personagens se afastam no tempo-espaço real de cada obra, não é menos verdade que se unem e assimilam-se naquilo que consideramos ser a edificação de mundos particulares, des jardins secrets à elles, espaço-escape, tempo-suspenso, últimos refúgios onde a existência parece possível nas estruturas espaciais e temporais das quais estão assujeitadas. Para uma melhor compreensão da estrutura do corpus e de seus processos enunciativos dos/nos dois discursos literários, em primeiro lugar, serão levados em consideração alguns pressupostos teóricos da análise do discurso francesa, tais como o ethos e a construção da imagem de si. Com o propósito de embasar nossas reflexões, serão selecionados alguns trabalhos dos pesquisadores Maingueneau e Amossy. Em seguida, será feita uma comparação genérica, levando em conta os estudos de gênero de Bakhtin; e contextual entre as duas obras literárias, percebidas como espaços privilegiados para a expressão da individualidade, da subjetividade e da fabulação espaço-temporal mobilizados através das personagens elencadas. Finalmente, a análise proposta para esta comunicação visa mostrar que o ethos das personagens é igualmente construído por julgamentos de valor próprios aos tempos e espaços dos quais seus autores estavam inseridos, o que, contudo, não os impediu de erigir e fazer coexistir outros possíveis para suas heroínas no intuito de não só questionar os limites dados, mas também de provocar fruição estética em seus leitores. A PASSAGEM DA ÓPERA EM "LE PAYSAN DE PARIS" (1926) DE LOUIS ARAGON: DO REAL AO SIMBÓLICO Robert Ponge, Nara Helena Naumann Machado Resumo: Esta comunicação se debruça sobre a Passagem da Ópera, uma galeria coberta parisiense, e sua presença em "Le Paysan de Paris" (1926), livro composto de quatro ensaios poéticos de autoria do escritor francês Louis Aragon, então surrealista. Posiciona-se na continuidade de estudos anteriores em que examinamos as relações entre a literatura e o espaço arquitetural, urbanístico e paisagístico da cidade de Paris, e, particularmente, na continuidade do trabalho apresentado na Abralic/2020 sobre o parque parisiense Buttes-Chaumont, tema de outro ensaio do livro de Aragon. Começaremos situando o surgimento, auge e declínio das passagens cobertas (também chamadas de galerias) e caracterizaremos brevemente esse tipo arquitetural. Depois desses preliminares extrínsecos à literatura, examinaremos, no livro de Aragon, a presença, papel e sentido(s) da galeria (e do flanar nela), através de um vaivém dialético entre a dimensão real/referencial daquele espaço e suas dimensões simbólica e imaginária, relacionando estas últimas com os esforços e embates dos surrealistas para apontar novos modos de pensar, sentir, viver e promover uma beleza moderna, ou seja, o referido vaivém dialético procurará dialogar com o eixo utopia/distopia do simpósio. Ainda buscaremos refletir sobre a possibilidade de enxergar a passagem coberta como um cronotopo (literário? arquitetural?). Nossa metodologia é bibliográfica. Nossas referências são, entre outras, Lefebvre (1974), Harvey (2008), Panerai et alii (2002, 2004) para a reflexão teórica e histórica sobre a produção do espaço, o urbanismo e a arquitetura; Geist (1987), Lemoine (1990) e Moncan (1996, 2010) para as galerias cobertas, suas expressões parisienses e a Passagem da Ópera; Bancquart (1973/2004), Meyer (2001), Narjoux (2002), Bougnoux (2007), Hilsum (2012), Barbarant (2016) sobre Aragon e seu livro; Baudelaire (1863), Benjamin (1935-1939), Breton (1924, 1952) sobre o flanar; Baudelaire (1857, 1863), Apollinaire (1918) e Breton (1924, 1952) sobre a busca do novo e da beleza moderna. DISTOPIA PELA LINGUAGEM E NA LINGUAGEM POÉTICA Valéria Fernanda Ribeiro Valandro Resumo: Esta comunicação visa refletir sobre a potência e, ao mesmo tempo, a dificuldade de estudar distopia no âmbito da poesia. De maneira distinta ao que ocorre, lato sensu, na prosa distópica, que apresenta uma riqueza descritiva no que diz respeito aos elementos narrativos –como personagens e espaço–, contribuindo para uma delimitação muito bem marcada dos traços de distopia; a poesia, por sua natureza imagética, geralmente prescinde da descrição, fato que, por um lado, obscurece a assertividade da caracterização do texto poético como ambiente distópico, mas, por outro lado, potencializa esse universo, de modo a proporcionar uma atmosfera que tensiona entre o horror e o encanto: conduzidos pelo trabalho com a linguagem, que conjuga em perfeita comunhão elementos semânticos, sintáticos e fonéticos, somos seduzidos a adentrar o caos. Nesse sentido, tomando como base as ideias do pensador Walter Benjamin (1916), pensaremos a poesia como um lugar, um limiar entre o caos do mundo e o caos da linguagem, em que o leitor transita de modo a examinar, simultaneamente, a construção do horror pela linguagem e na linguagem. Esse espaço de distopia articula elementos do real e do ficcional, que se intercruzam e se mesclam, de modo a configurar um ambiente de identificação e, ao mesmo tempo, assombro: na distopia poética, o sujeito é impelido a refletir sobre sua leitura literária e de mundo, de modo a reconhecer, de modo não automático, sua posição enquanto sujeitoleitor. Em síntese, este trabalho tem por objetivo chamar a atenção para a potência, no âmbito da literatura e da reflexão social, da construção de universos distópicos no e pelo poema. PROCESSOS ESPAÇO-TEMPORAIS DE INDIVIDUAÇÃO NA VIRADA DO SÉCULO XIX PARA O XX: ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE "THE PIAZZA" (MELVILLE, 1856) E THE BEAST IN THE JUNGLE (JAMES, 1903) Vitor Soster Resumo: O presente trabalho busca discutir processos espaço-temporais de individuação na literatura norte-americana a partir da análise do conto “The Piazza”, de Herman Melville (1856), e da novela The beast in the jungle, de Henry James (1903). Para me aproximar dessas produções literárias, proponho analisá-las a partir dos eixos espacial e temporal para que se tornem mais claros os modos pelos quais os respectivos narradores se relacionam com os personagens e como os personagens se relacionam entre si. Essa abordagem visa reconstituir, assim, os processos de individuação como o objeto central desta reflexão que considera a novela mencionada como dando sequência a questões já presentes no conto de Melville. Em comum, o conto e a novela giram em torno de uma mesma questão: a da relação espaçotempo, marcando, quanto a ela, diferentes especificidades quanto às relações com o outro e com o mundo. Lança-se como hipótese a ideia de que Melville teria captado em seu tempo uma experiência social emergente que iria se tornar dominante apenas na virada do século XIX para o XX. O que se constata nesse intervalo temporal (1856-1903), em sociedades capitalistas industriais, pode dizer respeito a uma transformação do olhar em termos da forma como o “eu” considera o “outro” e como o “eu” se situa na linguagem em relação ao que poderia ser considerado real ou ficcional. Enquanto que o narrador de Melville constrói para si um mundo utópico, a despeito das evidências diegeticamente externas a ele, Marcher – o narrador da novela de James – não é mais capaz de sequer vislumbrar que possa haver um mundo para além daquele imaginado por ele. Contudo, como será demonstrado, a realidade se impõe ao narrador de The beast in the jungle, aniquilando-o, assim como o século XX não deixaria margem para ilusões românticas. SIMPÓSIO “UTOPIAS E DISTOPIAS NOS MUNDOS POSSÍVEIS DO INSÓLITO FICCIONAL” Flavio García (UERJ), Marisa Martins Gama-Khalil (UFU) ENTRE O PÓS-CYBERPUNK E O TUPINIPUNK: RECONFIGURAÇÕES DO CYBERPUNK EM PANTOKRÁTOR, DE RICARDO LABUTO GONDIM Alexander Meireles Da Silva Resumo: Herdeiro das distopias literárias, o cyberpunk é um subgênero da ficção científica cuja ascensão ocorreu nas últimas décadas do século 20 nos Estados Unidos em meio a um zeitgeist de rápido desenvolvimento de sistemas de informação, da disseminação dos microcomputadores pessoais, da crescente concentração de poder econômico de companhias transnacionais e da diminuição do Estado frente as políticas neoliberais vigentes nos governos da época. Caracterizado pela apresentação de sociedades ficcionais, normalmente localizadas no futuro, estruturadas pelo contraste entre alta tecnologia e baixa qualidade de vida e pela incorporação do artificial no biológico, o cyberpunk surgiu em 1984 e se desenvolveu na mesma década. Ao longo dos anos de 1990, porém, as repetições das temáticas do cyberpunk na ficção científica norte-americana apontaram para o seu esgotamento. Todavia, no artigo “Notes towards a post-cyberpunk manifesto” (1999), Lawrence Person defendeu a ideia de que o cyberpunk havia sofrido, na verdade, uma transformação, buscando maior engajamento no campo social e político das personagens em um mundo tecnocrático. Paralelo a este movimento, o cyberpunk desembarcou no Brasil ainda em fins da década de 1980. Ao especular sobre o impacto e possíveis manifestações deste subgênero da ficção científica em nosso meio literário, o escritor e crítico Roberto de Sousa Causo cunhou, em 1989, o termo jocoso “Tupinipunk”. Para ele, o tupinipunk, que vem se manifestando em contos e romances nacionais diversos, trabalha elementos do cyberpunk com questões próprias da sociedade brasileira, sendo identificado pela atitude iconoclasta em relação à sociedade, a sensualidade, o misticismo, a politização e uma perspectiva de Terceiro Mundo. Dentro deste contexto, este trabalho tem como objetivo verificar se o romance brasileiro Pantokrátor (2020), de Ricardo Labuto Gondim, contempla as questões do tupinipunk e/ou do pós-cyberpunk apontando para a compreensão do momento do cyberpunk nacional no início da terceira década do século 21. DE CADA QUINHENTOS UMA ALMA: VESTÍGIOS DO INSÓLITO E DO DISTÓPICO EM ANA PAULA MAIA Alexandre Carvalho Resumo: A literatura brasileira contemporânea segue profícua, revelando e consolidando um número considerável de autores. Dentre esses autores, que ganham notoriedade e prestígio crescentes, está Ana Paula Maia. Fluminense, radicada no Paraná, Maia lançou, em 2021, a obra De cada quinhentos uma alma que dá continuidade direta ao texto anterior, Enterre seus mortos (2019), que inaugurou a sua segunda trilogia literária. A primeira tríade literária de Maia é chamada O trabalho sujo dos outros e, de modo particular, acompanha a personagem Edgar Wilson que está presente e protagoniza esta segunda trilogia. De cada quinhentos uma alma preserva marcas peculiares da narrativa de Maia, como a concisão, plasticidade, crueza e brutalidade. Noutra perspectiva, tonar-se palpável em sua obra traços progressivos do insólito e da distopia. Ganha recorrência nos textos de Maia a presença de elementos que fogem à ordem estabelecida, bem como a apresentação de uma realidade que não está situada com precisão no tempo nem no espaço. A autora cria paulatinamente um microcosmo particular no qual sua narrativa encontra lugar propício para, uma vez gestada, transitar e se desenvolver. O córpus desta comunicação é, portanto, De cada quinhentos uma alma (2021) e o objetivo deste estudo é pensar como elementos do insólito ficcional e da ficção distópica figuram na literatura brasileira contemporânea e tentam fornecer pistas para os enfrentamentos humanos. MÁQUINAS VORAZES: DISTOPIA E O ENCONTRO COM A MORTE EM A MÁQUINA DE JOSEPH WALSER E A MÁQUINA DE FAZER ESPANHÓIS Amanda de Britto Murtinho Resumo: Enquanto a memória lança o olhar ao passado, a utopia, no sentido contrário, permite analisar e refletir sobre as possibilidades de um futuro próximo ou distante, e é nesse movimento, em contraste com a agenda das revoluções sociais, que a utopia encontra seu paradoxo – a distopia. As fronteiras entre o binômio utopia/distopia, em constructo literário, têm raízes na inventividade dos ficcionistas e seus anseios políticos sobre as possibilidades de uma sociedade ideal, sendo a partir dessa observação das estruturas sociais, dos eventos socioeconômicos, das questões político-culturais e suas desconjunturas que as utopias / distopias são desenhadas e edificadas, evoluindo junto aos eventos que se desenrolam no curso da História. Nesse sentido, ainda que algumas obras contemporâneas contemplem narrativas ficcionais utópico-distópicas em seu conceito mais tradicional, muitas delas, quando analisadas a partir do pensamento utópico, indicam discussões sensivelmente mais intrincadas e um formato menos engessado que o proposto pelas primeiras obras utópicas, abarcando não somente a crítica às estruturas sociais (externas), mas também ao caráter e à expressão do ser (internos). A partir disso, as obras A Máquina de Joseph Walser (2004), de Gonçalo M. Tavares, e a máquina de fazer espanhóis (2010), de Valter Hugo Mãe, são comparadas a fim de elucidar os diferentes vieses pelos quais o pensamento utópico pode ser trabalhado em uma obra ficcional, buscando identificar o apelo à estabilidade (que recorre à estética da utopia como programa) e à transformação (que opera a partir do impulso do pensamento utópico), revelando contornos do insólito ao retratar o fascínio que as máquinas exercem sobre o homem, em especial diante do medo e do horror à morte. MUNDOS POSSÍVEIS EM "O LABIRINTO DO FAUNO" DE CORNELIA FUNKE E GUILLERMO DEL TORO Ana Clara Albuquerque Bertucci Resumo: O labirinto do fauno (2019), de Cornelia Funke e Guillermo del Toro, desperta atenção e curiosidade nos leitores, ao transporta-los para uma floresta no norte da Espanha durante o ano de 1944. Nesse período, a Espanha enfrentava o fim da Guerra Civil e a consolidação do regime fascista de General Franco. A floresta é o espaço que ambientaliza a narrativa e por meio dela encontramos diversas histórias que vão potencializando ainda mais o enredo. De acordo com o Dicionário de símbolos, a floresta possui um mistério ambivalente, “que gera, ao mesmo tempo, angústia e serenidade, opressão e simpatia, como todas as poderosas manifestações da vida” (CHEVALIER; GHEERBRANT, 2001, p. 439). A floresta é um espaço múltiplo e é nela que se encontra o labirinto. Percebemos que essa espacialidade representa, para Ofélia, – a protagonista de treze anos, – movimento, passagem, já que a floresta protege, guia, esconde e escancara as essas potencialidades narrativas. Segundo Osman Lins, em Lima Barreto e o espaço romanesco (1976, p. 63), “a narrativa é um objeto compacto e inextrincável, todos os seus fios se enlaçam entre si e cada um reflete inúmeros outros”. Essa definição de Lins define a narrativa como uma espécie de labirinto. Os espaços, juntamente com as simbologias que os compõem, as personagens e o demais elementos narrativos formam esse objeto compacto. Nesse viés, Michel Foucault, em “Linguagem e literatura” (2000, p. 168), afirma-nos que “o que permite a um signo ser signo não é o tempo, mas o espaço”, e o espaço é um elemento rico em simbologias e é ele quem irá conduzir o romance e propiciará os sentimentos negativos que irá assustar as personagens e nós, leitores. AS RELAÇÕES VIRTUAIS PRESENTES NO ROMANCE KENTUKIS (2018) DE SAMANTA SCHWEBLIN: UM CENÁRIO DISTÓPICO Ana Lucia Trevisan Resumo: A literatura como possibilidade de representação estética da sociedade pode instituir, por meio do insólito ficcional, uma especulação a respeito das relações sociais que determinam as subjetividades em uma sociedade ambientada em tempos futuros, dialogando de forma metafórica e contundente com as experiências possíveis do tempo presente de seus leitores. No romance Kentukis (2018), da escritora argentina Samanta Schweblin, as relações pessoais pautadas pelas intermediações da virtualidade configuram os sentidos de um cenário distópico onde os “Kentukis”, pequenos aparatos tecnológicos existentes sob a forma de bichos de pelúcia, demonstram que os corpos humanos podem ocupar o lugar de um corpo virtual, transformando-se, assim, em um simulacro concebido para interações multissensoriais. As ações de “ter” ou “ser” um Kenztuki tornam-se catalizadoras de sentimentos perversos e atos reveladores das relações de poder remodeladas pelo anonimato. A partir dos estudos desenvolvidos por Teresa López-Pelliza em Patologias de la realidade virtual: cibercultura y ciência ficción (2015), procura-se examinar a presença das “metástasis de los simulacros” e a “síndrome del cuerpo fantasma” como estratégias de construção de uma distopia pautada na dinâmica dos desejos de posse e submissão. Apoiada nas reflexões de Byung Chul-Han, em sua obra No enxame: perspectivas do digital (2018), elabora-se, também, uma reflexão sobre os limites da liberdade e da coação, imanentes aos conceitos de exposição e anonimato, orientadores das novas e tênues fronteiras que separam o público e o privado em ambientes virtuais. AS HORAS VERMELHAS: PARA QUE SERVE AS MULHERZINHAS - UMA ANÁLISE DE REFERENCIALIDADE Ana Paula Roesler Legg Resumo: A distopia explora possíveis desdobramentos do presente em futuros pouco palatáveis aos seus leitores. Geralmente situando seu contexto em um futuro ficcional, é recorrente a construção de seu tempo narrativo no presente, a partir de datas ou acontecimentos históricos que posicionem o leitor em um futuro reconhecível fora do campo ficcional. Na contramão das distopias tradicionais, As Horas Vermelhas (2018) não posiciona o leitor em ponto algum no futuro. Ao invés disso, a obra de Leni Zumas vale-se de narrativas do passado para discutir angústias contemporâneas do universo feminino, que extrapolam questões reprodutivas ou de posicionamento na sociedade. Zumas faz uso de intertextos com o romance de formação de Luisa May Aclott, Mulherzinhas (1868), transportando seu leitor para um contexto histórico muito diferente do atual. Porque a intertextualidade não é tipicamente um movimento acidental, convém questionar as diferentes possibilidades de produção de sentido acarretadas por essa escolha da autora. Para compreender esses efeitos, a citação da obra de Alcott presente na narrativa de Zuma, os gêneros de ambas as obras, assim como a construção de suas protagonistas foram analisados, comparados e contrastados com base em suas relações de referencialidade (Samoyault 2008). O cotejo entre esses aspectos dos dois romances sugere que Mulherzinhas ressignificado em As Horas Vermelhas ajuda a construir uma narrativa de retorno ao passado a partir da sátira do casamento e de fatores sociais presentes no romance da era vitoriana, o que evidencia que mais de um século de distanciamento temporal não constitui uma mudança significativa entre as angústias femininas do século XIX e aquelas do século XXI. Em contrapartida, Mulherzinhas pode ser lida como um universo distópico no cenário contemporâneo. O CONCEITO DE FICÇÃO: JORGE LUIS BORGES E SEUS MUNDOS POSSÍVEIS André Luís de Araújo Resumo: A leitura e a revisão bibliográfica sobre a temática da ficcionalidade literária, a partir da noção desenvolvida pelo autor argentino Juan José Saer, numa obra ensaística intitulada "El concepto de ficción", propõe a noção de antropologia especulativa, para tratarmos do conceito de ficção. Assim, se Aristóteles, na "Poética", privilegia o gênero lírico, voltaremos nossa atenção para o conto "Funes, el memorioso", do também escritor argentino Jorge Luis Borges, para pensar sobre o carácter ficcional, sobretudo no que diz respeito a uma ética da verdade, que nos faz refletir sobre a relação que se estabelece entre a realidade objetiva ou uma expressão da subjetividade. De tal modo que, acompanhados desses autores, poderemos ver que a ficção se mantém à distância, tanto dos “profetas de lo verdadero como de los eufóricos de lo falso”, como insiste Saer, pois entra nessa zona fecunda, sem pretender nada de antemão. Bastando-nos, portanto, recordar que Borges, autor de uma obra sintomaticamente intitulada "Ficciones", assegura, para si a possibilidade de mover-se entre um absurdo regulado e estruturado. Consequentemente, os ciclos dos acontecimentos, a reversibilidade do tempo, as mudanças recíprocas entre imaginação e vida, o jogo de espelhos entre pensante e pensado, as caixas chinesas que multiplicam até o infinito as relações sujeito-objeto, continente-conteúdo provocam nossa imaginação. Acrescente-se o uso deliberado do cálculo de probabilidades e dos grandes números, quando coincidências e repetições podem ser consideradas possíveis, ainda que seja sobre a base de uma extensão incomensurável do aleatório. Nessa perspectiva, cada narração pode ser a passagem de uma desordem ou de uma anomalia inicial, por meio da qual os dados se apresentam à percepção e ao sentido comum das personagens e dos leitores, a uma ordem baseada nas normas da lógica, para compor o cenário mais amplo desta investigação. O INSÓLITO NOS ESPAÇOS FICCIONAIS EM A ESTRANHA DEFORMAÇÃO FÍSICA, DE MARIA JUDITE DE CARVALHO Brenda de Oliveira Nonato Resumo: O presente trabalho tem por objetivo analisar os espaços no conto A estranha deformação física, de Maria Judite de Carvalho. É certo que o espaço ficcional conserva uma enorme pertinência na construção de sentidos da narrativa literária, visto que apresenta significados aos acontecimentos a partir de uma determinada localização. Apesar de não ser muito conhecida pela sua escrita insólita, nesse conto, Maria Judite de Carvalho utiliza-se das descrições espaciais para mobilizar a trajetória fantástica da narrativa, na qual “uma estranha e monstruosa deformação física” lança-se sobre alguns homens de uma pequena povoação urbana. Os espaços externos, como a estrada e as ruas da cidade, e os espaços internos, como os da casa, destacam certas atitudes das personagens revelando suas personalidades, memórias, receios e estranhamentos. Torna-se necessário enfatizar que, na narrativa fantástica, a inserção do espaço possui uma imensa relevância para a exploração de territórios diferentes da realidade iminente e para a ambientação do insólito. Dessa forma, para tal análise, nos basearemos nos pressupostos teóricos de Bachelard, Roas, Cortázar, entre outros. Assim, pretendemos observar detalhadamente como o conceito de espacialidade assume uma função de produtor de efeitos e de sentidos, contribuindo para a construção da narrativa fantástica que oscila entre o real e o improvável. O QUE UM MUNDO DE CABEÇA PARA BAIXO NOS REVELA: O PODER DE NAOMI ALDERMAN Caroline Façanha dos Santos Mathias Resumo: Uma lida superficial pelo romance O Poder (2018) de Naomi Alderman pode parecer, para olhos desatentos, mera visita a um mundo às avessas. Nesse, apesar de poderosas, as mulheres não se encontram exatamente fora de perigo, pelo contrário: o misterioso poder que as dota de certas habilidades extraordinárias é também o que faz delas um alvo ainda mais procurado. No chamado “dia das meninas”, jovens ao redor do mundo recebem a estranha capacidade de causar choques. Mas seria este poder uma dádiva ou uma maldição? Afinal, a trama, como é chamada, se as protege em primeiro momento, também acarreta severas consequências. Ao mudar a dinâmica de poder do mundo, Alderman mostra que quando a roda gira, grupos dominantes costumam se comportar de formas similares. Mesmo com a mudança, vale se perguntar: teriam saído as mulheres nesse livro de uma função que as aproxima de monstros, como diria Jerome Cohen em Monster Culture (1996)? Estariam distante da monstruosidade feminina que a cultura ocidental as pintou, conforme esboçam pensamentos as teóricas Margrit Shildrick e Rosi Braidotti? Escapariam das armadilhas da questão de gênero, explorada por Judith Butler em Undoing Gender (2004)? Ou seria este admirável mundo novo não um local mais seguro para que as personagens possam viver, mas apenas um que produz novos problemas? Além deste dilema, outro se arma quando Alderman nos presenteia com “uma história dentro de outra história”. Toda a narrativa, um “romance histórico”, teria sido criada por um personagem fictício chamado Neil Adam que vive em um matriarcado e tenta pensar na História do seu mundo caso um dia não fossem mulheres a comandar. Na comunicação, explorarei esse dilema duplo, aprofundando O Poder em sua afiada ironia: uma boneca russa que, ao fazer do livro elemento da narrativa, denuncia com perturbadora precisão hierarquias dolorosamente familiares a nós. VIÉS UTÓPICO NA CONTINUIDADE DE ESPERANÇAS ENTRE A TERRA-MEDIA, A ANTIGUIDADE E A CONTEMPORANEIDADE Cássio Selaimen Dalpiaz Resumo: A referencialidade espaço-temporal proposta pelo Legendarium da Terra-Media de J.R.R. Tolkien é patrimônio pertinente como topus constituidor de uma identidade para a fragmentária sociedade atual. Seja na construção de uma utopia, mas também de uma distopia, a verossimilhança ganhará vulto quando o interlocutor for capaz de identificar o local e, ademais, se identificar nele. Entrementes, mediante a aplicabilidade literária, encontramos um elo entre as Eras Tolkenianas, a Antiguidade e as eras que as sucederam. Essa perspectiva nos colocaria numa Sétima Era em continuidade com o mundo do criador do Senhor dos Anéis. Guardadas diferenças e incongruências, as coordenadas espaciais se cruzam, já não em um mesmo tempo. Ademais, transbordando a cultura grecoromana – que estaria numa Quarta Era -, percebemos a cultura judaico-cristã que nela se entremeia. A cidade Santa de Jerusalém será aproximada da cidade élfica de Gondolin: elas refletem a realidade de uma cidade divina, são um refúgio na “rocha” para um povo separado, ali escondendo um segredo. Igualmente foram invadidas pela hoste inimiga, após resistência desmedida, sofrem a derrocada por não acolherem os enviados divinos. Contudo, de suas quedas brotou a esperança. O viés da eucatástrofe, recurso literário proposto por Tolkien no processo de queda e sucessivo soerguimento, nos propõem que se a queda poderia representar o êxito de uma distopia, através dela é possível o despertar de uma utopia. Nota-se a receptividade atual crescente do autor inglês na sua obra que se passa em um mundo ficcional proposto como antecedente às era da continuidade espaço-temporal com a atualidade. EIS QUE LÁ VÊM ELAS! O PROTAGONISMO FEMININO NA CONTEMPORANEIDADE À LUZ DO INSÓLITO FICCIONAL Claudia Cristina Ferreira Resumo: O insólito sempre esteve presente no imaginário coletivo, basta observarmos lendas urbanas e histórias compartilhadas entre comunidades de diferentes etnias e faixas etárias, desde tempos remotos. Tais histórias integram tanto as rodas de conversas como a literatura oral, sendo, posteriormente, transpostas para a literatura escrita, o cinema, a pintura e outras manifestações artísticas. Na literatura, o insólito tem ganhado destaque e se encontra em ascensão, de acordo com a quantidade e a qualidade de títulos de obras teóricas, analíticas e ficcionais, bem como a diversidade temática evidenciada ao realizarmos buscas em bancos de dados ou em livrarias nacionais e importadas. Destacamos as publicações em editoras independentes que vêm ganhando espaço e reconhecimento, bem como escritores anônimos que, com a circulação da literatura, começam a integrar o cânone literário, conquistando um lugar ao sol. No século XXI, evidenciamos o boom de escritoras que se enveredaram, também, pelo cenário sombrio, enigmático e envolvente das vertentes do insólito ficcional, sendo reconhecidas e lidas cada vez mais. Em séculos ou décadas anteriores, os estudos, o letramento e a autoria de publicações literárias eram restritas ao universo masculino. Com o transcorrer dos tempos, as mulheres ganharam voz, foram empoderando-se e assumindo o protagonismo de sua história, (re)construindo-a ou (re)significando-a. Nesse sentido, foram surgindo mais autoras que se enveredaram no âmbito da produção de obras de cunho insólito. E, com isso, tanto escritores como escritoras, também, foram reconfigurando o papel de personagens femininos. Outrora invisíveis ou secundárias, agora, assumem as rédeas da narrativa, revertendo a história. Nesse sentido, temos por escopo analisar o protagonismo feminino em três narrativas, sob a perspectiva do insólito (ALAZRAKI, 2001; BATALHA, 2011; GARCIA; BATALHA, 2012; ROAS, 2001, 2010, 2011, 2012, 2014; TODOROV, 1975), bem como pontuar quais são os encontros e confrontos entre as obras selecionadas. ECODISTOPIAS DA FICÇÃO CLIMÁTICA NA COLETÂNEA 2040 A.D. Delzi Alves Laranjeira Resumo: A crise climática e ecológica que vivenciamos, provocada pela produção de materiais não degradáveis, emissão de gases de efeito estufa na atmosfera, acidificação dos oceanos e outros processos criados e conduzidos pelas sociedades altamente industrializadas (CARACCIOLO, 2021), corrobora o antológico “insight" do químico Paul Crutzen em uma conferência do IGBP em 2000: estamos no “Antropoceno”, uma nova época em que a geologia do planeta foi fundamentalmente alterada pelos humanos. O termo tornou-se essencial no âmbito dos estudos ecocríticos, um campo interdisciplinar que lida, num sentido amplo, com a relação entre a literatura e o ambiente. No campo literário, a discussão sobre a mudança climática já é um tema dominante, explorado intensamente pela ficção climática, ou “cli-fi” (climate-fiction), cujas narrativas frequentemente utilizam a distopia para interpelar as consequências das ações humanas nos ecossistemas do planeta. Distopias climáticas, ou “ecodistopias” (OTTO, 2012) frequentemente apresentam mundos colapsados e vazios de esperança em algum futuro. Nesse sentido, os contos da coletânea 2040 A.D. (2019) são ecodistópicos, retratando cenários destruídos por práticas humanas predatórias e insustentáveis. Todos os contos são conectados por um objetivo comum: seus autores foram convidados a relatar como imaginam o planeta no ano de 2040 em face de alguma catástrofe climática: inundação, alterações drásticas das condições climáticas e geológicas, tais como ondas de calor e erupção de vulcões, segregação de pessoas e crise migratória ocasionada pelo aquecimento global, com milhares de refugiados procurando espaços em que possam sobreviver. Tais distopias visam enfrentar as preocupações ambientais e sociais presentes na realidade dos leitores e ensejam respostas críticas ao mundo real, talvez em uma tentativa de articular, como enfatizado por Levitas (1990), “o desejo de uma melhor forma de ser”. SOBRAS DA PANDEMIA: DISSECANDO O PROCESSO DO LUTO COLETIVO A PARTIR DE THE LEFTOVERS Fábio De Carvalho Messa, Felipe De Oliveira Correa Resumo: Diante do escasseamento de mortes pela pandemia de Covid-19, a humanidade inicia sua debandada rumo à utopia da normalidade e encerra mais um de seus “soluços mundiais”. Esta expressão, inicialmente usada por Ramonet (2010) para descrever a comoção gerada pelo falecimento de Lady Diana, também caracteriza tragédias posteriores midiatizadas em grande escala, como o ataque às Torres Gêmeas e os desastres naturais haitianos. Contudo, Arthur Schopenhauer (2005, p. 341) alerta que “a ausência de novo desejo é anseio vazio, languor, tédio”. Assim, em contraste com a espetacularização da catástrofe, ignora-se o rescaldo dessas narrativas, já que a pulsão de morte é desestimulada com a conquista da sobrevivência. Nesta linha de raciocínio, os paralelos entre realidade e ficção suscitados por ficções como Contagion, embora condizentes com os primeiros desafios pandêmicos, saem de sincronia com o novo presente. Visando o preenchimento desta lacuna, fazemos uma análise crítica sobre as temáticas pós-catastróficas apresentadas em The Leftovers, de Tom Perrotta. Esta investigação busca prever o legado da tragédia na sociedade, incluindo a dinâmica do luto coletivo e a apropriação deste fenômeno pelo mercado e pela religião. Paulo Emílio Salles Gomes (2018, p. 111-112) argumenta que o psicológico indeterminável das personagens cinematográficas as aproxima do mistério das pessoas reais, embora a literatura também exerça essa função. Portanto, a metodologia parte da sistematização de The Leftovers na literatura e na mídia audiovisual (atentando-se aos seus mecanismos intertextuais), de onde são extraídos signos de semelhança com o pós-pandemia, que são interpretados na Semiologia Barthesiana e Metziana. As constatações realizadas servem para a prospecção de um conjunto de perturbações sociais: reestruturação de valores sociofamiliares; extremismo ideológico; e manipulação religiosa. Apesar da negatividade profetizada, frisa-se a importância da discussão sobre estes aspectos, para que o futuro deixado aos sobreviventes seja menos turbulento que a própria catástrofe. A FICÇÃO DISTÓPICA COMO MISSÃO EM "DESTA TERRA NADA VAI SOBRAR, A NÃO SER O VENTO QUE SOPRA SOBRE ELA", DE IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO Fernanda Nunes de Araújo Resumo: Meu objeto de estudo é o romance Desta terra nada irá sobrar a não ser o vento que sopra sobre ela, de Ignácio Loyola Brandão, publicado em 2018. Trata-se de uma obra que apresenta elementos do gênero distopia que, no caso específico da literatura brasileira contemporânea, assume dicções específicas, sobretudo no que diz respeito à hibridação entre história e ficção. Nas últimas décadas, o escritor paulista tem publicado narrativas que trazem no seu bojo a precariedade das condições humanas, bem como fortes críticas aos diversos governos totalitários e de extrema direita. Sobretudo em seu último romance, ao abordar questões sociais, culturais, econômicas e políticas que rememoram momentos de tensão e opressão enfrentados pelo país desde o período ditatorial à atualidade, sua escrita ficcional se ocupa em representar uma distopia do presente, sobretudo na perspectiva da necropolítica. Embora haja alguns traços em comum com os clássicos romances distópicos norteamericanos, a ficção de Brandão propõe um hibridismo de entre fato e ficção, bem como de dicções temporais em um enredo apocalíptico. Sendo assim, Brandão assume uma espécie de “missão”, ao se valer de sua criação literária para criticar comportamentos de sujeitos por meio de dispositivos que vigiam, usurpam, violentam e oprimem a população mais vulnerável, o que irá de encontro o pensamento de Leyla Perrone-Moisés (2016, p. 257), em seu estudo “Mutações da literatura no século XXI”, ao afirmar que “a melhor literatura de nosso tempo é crítica”. Portanto, buscar-se-á com esta pesquisa perscrutar os elementos constituintes do gênero distopia, relacionando-os com o romance de Ignácio de Loyola Brandão. OS UNIVERSOS DISTÓPICOS DE ALDOUS HUXLEY E GEORGE ORWELL Fernando Rodrigues Da Costa Resumo: Esta comunicação tem como objetivo analisar pontos comparativos entre os romances “Admirável mundo novo” (1932), de Aldous Huxley e “1984” (1949), de George Orwell. Em ambos percebe-se a construção de universos ficcionais distópicos que trilham diferentes caminhos, mas que no final apontam para uma sociedade altamente controlada. Na trama de George Orwell o comando e a inspeção ocorrem pela força de um estado totalitário que mantém seus braços centrados em todas as instâncias sociais. O “Big Brother” se dá em forma de uma vigília permanente sobre os lares e ambientes de trabalho. Já na narrativa de Aldous Huxley as personagens tendem a buscar constantemente a alienação de todas as formas de controle, tal como se estas mesmas não existissem. Há ainda a reprodução humana em laboratório e a separação em castas, tal classificação precede os sujeitos e naturaliza a conformação estrutural hierarquizada. Em consonância com os aspectos narrativos, este estudo examina também as proposições de Zygmunt Bauman no livro “Modernidade Líquida” (2000). Bauman, em diversos momentos de sua análise, traça uma importante analogia com o universo distópico presente nas obras de Huxley e Orwell. A atual precarização do trabalho, o narcisismo, o desamparo e o individualismo visto nas redes sociais salientam, para o teórico, pontos convergentes entre as narrativas de “Admirável mundo novo” e “1984”. Por fim, para pensar a questão do insólito presente nas tramas, traremos as análises de David Roas em “A ameaça do fantástico” (2014). Desse modo, o objetivo será determinar até que ponto a arquitetura das duas histórias convergem para reflexões observadas no debate atual sobre um mundo globalizado e cada vez mais deliberado pelas noções de rede. "QUEM QUER DORMIR PARA SEMPRE", DE JOSÉ VIALE MOUTINHO: UTOPIA, DISTOPIA E FANTÁSTICO Flavio García Resumo: Os mundos de ficção são universos macroestruturados com imagens compostas por seus autores, as quais refletem seleções intencionais de referentes, buscados no mundo objetivo por eles acessado. Esses mundos mantêm diferentes níveis de compromisso mimético com a realidade, podendo se filiar a sistemas semionarrativos realistas ou fantásticos. As imagens que os compõem permitem que os universos macroestruturados nesses mundos sejam vistos como distópicos, utópicos, ou, mesmo, como ambos, dependendo do foco que, em dado momento, sobre ela seja lançado pelas figuras da ficção. Tem sido comum correlacionar seja a ficção utópica, seja a distópica, bem como a apolíptica ou a pós-apocalíptica, ao fantástico, em seu sentido lato. O conto do escritor português José Viale Moutinho, “Quem quer dormir para sempre”, que integra seu livro Monstruosidades do tempo do infortúnio, transita pelo fantástico, encenando um mundo ora utópico, ora distópico. Em seu universo, emergem questões políticas, a morte é um dos elementos temáticos, e o quotidiano é hilariante. O final da narrativa é incerto e permanece em aberto. A leitura crítico-interpretativa desse texto de Viale Moutinho se dará sob essas premissas, destacando a macroestruturação de seu mundo de ficção, procurando estabelecer as possíveis correlações entre as imagens que o compõem e os referentes acessados pelo autor, refletindo sobre as figurações utópicas e distópicas que se suponham existir, verificando sua filiação ao sistema semionarrativo fantástico. UTOPIA E ESPERANÇA NA OBRA "O PAÍS DAS MULHERES", DE GIOCONDA BELLI Giovanna De Araujo Leite Resumo: A utopia enquanto esperança e transformação concreta de um mundo secular de opressão contra as mulheres do eixo sul global, é uma abordagem possível em “O país das mulheres”, da autora nicaraguense Gioconda Belli. Ainda é comum vivenciar nos países do eixo sul global, uma cultura sexista, racista, capitalista e exclusivista, que marginaliza a luta de mulheres de cor, em constante movimento de transformação do mundo patriarcal, branco e ocidental, para um mundo colaborativo, equitativo, decolonial , humano e justo. De acordo com Moylan (2016, p. 2), "a utopia oferece uma alternativa para reflexão de problemas de um tempo específico ", neste sentido, os problemas ainda vigentes, no dizer de Gonzalez (2020), “ladinoamefricanos”, são invisibilizados e não discutidos perante a cultura ocidental. O objetivo desta proposta é promover a discussão sobre a luta das mulheres do Partido da Esquerda Erótica – PEE, no país imaginário de Fáguas, fundamentando os estudos, na proposta utópica da esperança e da transformação social em Bloch (2005); Moylan (2003), assim como, Freire (2021), este último, que traz a possibilidade educativa para a liberdade, entendendo os problemas vivenciados nos países do eixo sul global. Aliado a isso, analiso a voz das mulheres autônomas e conscientes do PEE, de um projeto de transformação social, cultural e econômica na obra em estudo. Trata-se de uma pesquisa reflexiva e qualitativa sobre o pensamento de autoria das mulheres escritoras do Sul Global, especificamente, de Gioconda Belli. Vejo a possibilidade de ser uma produção literária decolonial que combate a colonialidade do poder e de gênero, onde é possível se questionar sobre a naturalização da opressão realizada no patriarcado, assim como do próprio feminismo eurocêntrico. A pesquisa é baseada Vergès (2020); Lugones (2008); Hollanda (2020); Quijano (2019); Bloch (2006); Moylan (2003); Freire (1987); (1992); Cavalcante; Cordiviola (2015), entre outros/as. A DISTOPIA DE FESTA NO COVIL, DE JUAN PABLO VILLALOBOS, EM CONTRAPONTO COM O IMAGINÁRIO INFANTIL DE TOCHTLI, O NARRADOR INFANTIL Hiolene de Jesus Moraes Oliveira Champloni Resumo: Tratar do desmoronamento da infância de Yochtli, uma criança de oito anos de idade, que não conheceu a mãe, que nunca foi à escola e que nunca teve amigos, é o tema central desta comunicação que, dentre outros aspectos, aborda a violência sofrida pelas famílias dos narcotraficantes como uma supressão do ato de sonhar e idealizar uma vida normal, devido as condições de extrema opressão, desespero e privações em que vivem. Pelo fato de ainda não ter conhecido outra forma de viver, o narrador infantil narra o seu cotidiano de maneira natural, sem perpassar nenhuma angústia e sem desconfiar que o seu destino está sendo traçado pelo pai, como o seu sucessor nos negócios do tráfico. De alguma maneira o menino desenvolve a sua capacidade de sonhar quando se imagina um grande samurai ou um detetive capaz de desvendar os segredos que ele presume existirem por trás das portas trancadas daqueles quartos com entrada proibida. Sob a ótica da teoria e crítica literárias buscarei discutir os fenômenos sociais como a violência do narcotráfico e suas conseqências nefastas, além de uma visada psicanalítica sobre o comportamento de uma criança nascida e criada nesse meio e capaz de camuflar seus sentimentos sob uma capa de "macho" tecida pelos argumentos e exemplos de um pai absolutamente insensível às necessidades do filho, enquanto criança. Como aporte teórico uttilizarei, além do livro texto referenciado, os pressupostos de Frederic Jameson, Hannah Arendt, Marilena Chaui, Percy S. Cohen, Sigmund Freud e Jacques Lacan, Yves Michaud e Wolfang Iser e outros que se fizerem necessários. O CARÁTER FICTÍCIO E IMAGINÁRIO SOBRE O MÍSTICO EM TORTO ARADO Karla Karoline Marciano Resumo: Este trabalho tem por objetivo analisar a presença do insólito na obra Torto Arado (2018) a partir da relação dialética entre ficção, imaginário e mito. Em Torto Arado, os encantados, entidades do jarê — religião de matriz africana com forte influência indígena; candomblé de caboclo que existe na Chapada Diamantina —, podem ser lidos tanto como personagens manifestadas pela transgressão de limites entre o real e imaginário realizada pelo autor Itamar Vieira Junior na obra, quanto como objetos da percepção que os afrodescendentes têm do real, ou seja, da existência de uma força natural e sobrenatural. Para Girald (2002), mito são representações distorcidas de acontecimentos reais e históricos, podendo ser a “formulação de um mistério religioso”, não sendo ficções puras, mas sim ficções elevadas e poéticas superiores à realidade histórica banal. Uma formulação da teoria mimética no exame do mito buscaria, então, evidências da própria origem da cultura. A ficção, por sua vez, apresenta, segundo Iser (2013), a repetição da realidade vivencial, atribuindo uma configuração ao imaginário a partir dos atos de fingir. Isto significa que o ato de fingir permite as transgressões dos limites a partir do momento em que há a irrealização do real e a realização do imaginário. Na intenção de compreender como os elementos místicos que compõe a obra Torto Arado perpassam esses dois pólos, recorreremos, para análise, ao suporte teórico de Lúcia Chueire, Wolfgang Iser, René Girald e Luiz Costa Lima, entre outros. A (IM)POSSÍVEL MATERNIDADE DE CLAIRE NO UNIVERSO UTÓPICO-DISTÓPICO DE O FILHO Léa Evangelista Persicano Resumo: Lois Lowry, no livro O filho (Son) – integrante da quadrilogia literária O doador de memórias (The giver) –, por meio de um narrador onisciente, apresenta-nos a particularidade/exceção da vida de uma mãe-biológica (Claire) à procura de seu filho, num universo utópico-distópico, em que os bebês na faixa etária de um ano são entregues a unidades familiares para ali serem educados até estarem preparados a assumir suas atribuições comunitárias. Vistas como “recipientes” e servindo à sociedade em três possíveis gestações, as meninas-mulheres que ocupam essa função social a partir da Cerimônia de Doze, ou seja, com doze anos ingressam na vida adulta, fazem parte do processo de controle populacional pensado pelo Comitê dos Anciãos. Claire, como passou por um primeiro parto fora dos padrões de normalidade, ficando com uma cicatriz decorrente da cesariana e o seu “produto” (bebê) não se encaixava dentro do esperado, é mandada a morar e a trabalhar no Viveiro de Peixes. Nesse lugar, por um provável descuido do seu supervisor, não recebia medicação diária como os demais trabalhadores e isso a levou a desenvolver sentimentos por “seu bebê”. Mediante o que lhe acontece e a seu filho, que se torna alvo da “dispensa” (seria enviado para Alhures), ela adquire uma consciência e uma percepção diferentes, propondo-se a lutar – ainda que à custa de sua juventude e por intermédio de um pacto diabólico – por aquele que lhe fora negado desde o nascimento. Nessa comunicação, portanto, acompanho a trajetória da protagonista, evidenciando traços distópicos num aparente mundo utópico, em que percebo as tênues e moventes fronteiras entre utopia e distopia, já que uma e outra dependem da perspectiva que se olha (GARCÍA; GAMA-KHALIL, 2022). Embaso minha reflexão em autores como Claeys (2013, 2017), Silva (2008, 2019), Foucault (2001), Matos (2017) e Badinter (1985). DUPLIPENSAR: PALAVRAS ORWELLIANAS NO DISCURSO POLÍTICO Leonardo Lucena Trevas Resumo: George Orwell talvez seja mais conhecido pelos elementos políticos de sua distopia mais famosa: "Nineteen Eighty-Four", traduzida no Brasil como "1984". De fato, a sua contribuição maior para a Literatura não seria exatamente os elementos formais de sua obra, mas sim o legado da mensagem política que permeia as discussões da nossa sociedade até mesmo na contemporaneidade, 72 anos após sua morte. Ainda assim, o insólito mundo que construiu - o do país Oceania e da Inglaterra distópica do ano ficcional homônimo - ressoa nos discursos da contemporaneidade. Vocábulos como "Big Brother" (o líder máximo do Partido da Oceania cuja existência é ambígua no livro) são usados tanto por polemistas neoconservadores e pela esquerda quanto por influencers digitais e participantes de reality shows: um espectro que vai de Boris Johnson a Jade Picon. Outras palavras provenientes do mundo ficcional de 1984, como "doublethink"(ou "duplipensar", na maioria das traduções brasileiras) são utilizadas por comentaristas políticos para se referir à contraditória e perversa comunicação de figuras da extrema direita, de Trump (“alternative facts”, como se referiu a ex-secretária de imprensa do presidente americano à informação factual de que havia na posse de Trump um contingente menor de publico do que o divulgado) e Orbán (“irá a Europa continuar a ser um continente europeu?” a Bolsonaro (“pátria armada”, “você não merece ser estuprada”, entre tantos outros). O duplipensar envolve a palavra que contém dentro de si própria, a sua antítese. Dessa maneira, em consonância com um dos capítulos de nossa tese de doutorado (em andamento) “1984: a distopia perfeita”, iremos tratar nessa comunicação do uso de elementos ficcionais (e insólitos) do mundo de 1984 por políticos, comunicadores, jornalistas, polemistas e outros críticos, bem como a apropriação indevida desses elementos, na contemporaneidade. TELECO, O ANTI-GREGOR: METAMORFOSES Leony Bruno de Souza Pereira, Ricardo Iannace Resumo: Ao revisitar A metamorfose (1915), de Franz Kafka, e "Teleco, o coelhinho", de Murilo Rubião, narrativa inserida em Os dragões e outros contos (1965), esta comunicação visa refletir sobre a alegoria e a performance da transformação à luz de uma leitura comparativa que destacará sobretudo o antagonismo inerente às constituições física e comportamental dos protagonistas. Vale lembrar que a absurda condição de confinamento e incomunicabilidade da personagem kafkiana, seu modo de reagir às manifestações que dinamizam o espaço da casa, o modo como assimila o tempo e como alude à própria libido, e seu destino na trama, enfim, admitem repensar — por uma via que sublinha oposição — a personagem Teleco, que se expressa a partir de uma galeria variada e animada de bichos. A propósito, no tocante ao bestiário singular dos dois escritores, outros entrechos serão por nós mencionados: "Josefina, a cantora, ou O povo dos camundongos" (in O artista da fome e A construção [1922-24]) e "Os dragões" textos esses que, em alguma medida, favorecem apontamentos acerca das poéticas de Kafka e Rubião, colocando em cena uma observação do autor de O ex-mágico (1947) quando indagado a respeito de certa influência recebida do autor de O processo (1914): "Acredito que Kafka, como eu, tenha sido influenciado pelo Velho Testamento e pela mitologia grega [...]". E complementa: "[...] a diferença é que a literatura dele é mais escura, noturna, enquanto a minha é mais solar.". NARRADORAS SEM VOZ EM O CONTO DA AIA E OS TESTAMENTOS, DE MARGARET ATWOOD Liciane Guimarães Corrêa Resumo: O filósofo e crítico Mark Fisher expressou em 2009 que “houve um tempo em que filmes e romances distópicos eram exercícios semelhantes ao ato de imaginação” (2020, p. 10), e a história mostra que projetos utópicos integram o percurso da humanidade antes mesmo da existência de livros e filmes: basta pensarmos no Mundo das Ideias de Platão. E todo projeto utópico para uns se mostra distópico para outros, tanto que não à toa pensadores modernos despertaram para o fato de que visões utópicas mantêm o status quo (BOOKER, 1994). A catástrofe se instaura quando essas ideias entram em prática e grupos minoritários têm sua liberdade cerceada. Nos romances distópicos O conto da aia (1985) e Os testamentos (2019), de Margaret Atwood, quatro narradoras precisaram encontrar subterfúgios que lhes permitissem recuperar sua história escondida do mundo, como um “ato político (...) de tornar-se”, ser “autoridade da própria história” (KILOMBA, 2019, p. 28), pois o Muro de Gilead impedia a troca de informação com o mundo externo. Porém, ao final dos romances, o prof. Piexoto se revela responsável pela edição da narrativa dos eventos em Gilead; é um homem quem dá voz às mulheres. Se romper a forma de narrar é romper com a estrutura social, como aconteceu no surgimento do romance ou, mais tarde, no modernismo, então essa ruptura de ponto de vista é rasgar o contrato tácito que há entre narradoras e leitores. O peso dessa estratégia narrativa reforça a característica de Gilead como uma instituição total, usando dispositivos que operam para subtrair objetificar os internos. Editar o conteúdo de outrem para trazê-lo à luz é definir sua realidade – e também sua identidade. Nossa proposta é analisar como o discurso do prof. Piexoto faz essas narradoras perderem o papel de agentes/sujeitos e voltarem a ocupar o espaço de pacientes/objeto. OS MULTIVERSOS DA SABEDORIA PICARESCA RETRATADOS POR ANA MARÍA SHUA Maira Pandolfi Resumo: Esta comunicação pretende tratar, especialmente, da obra Este mundo pícaro, da escritora argentina Ana Maria Shua, que reúne dezesseis contos populares de diversas culturas. Os relatos tem como personagens pícaros tanto humanos como animais. A análise quer enfocar, ademais, o núcleo temático principal que permeia todas as tramas, assim como os elementos insólitos. Neles, os multiversos da sabedoria picaresca estão detalhados das mais diferentes formas às quais, por sua vez, estão associadas a uma arquitetônica discursiva sempre entrelaçada por dois mundos: o dos poderosos e o dos marginais. Os contos reunidos não são assinados por autores porque são frutos da literatura oral, de tradição popular e anônima. A picaresca presente neles destaca-se pelo humor, pela astucia e pela metáfora animal. A seleção traz em seu bojo a perspectiva comparatista, visto que a autora buscou reunir histórias picarescas de diferentes países do oriente e do ocidente, fazendo-nos reconhecer a universalidade desse gênero literário. Como instrumental teórico, partimos dos clássicos estudos de Cláudio Guillén, que considera a picaresca como um mito literário; fato que nos aproxima da coletânea de Shua, que não se restringe a uma tradição espanhola da picaresca, mas em seu caráter popular e universal. Contribuíram também para uma compreensão da morfologia picaresca os estudos de Lázaro Carreter, González, Rico e Maravall. De caráter mais abrangente são também as contribuições de Alexander A. Parker, que analisam a picaresca em toda Europa e também os estudos de Chartier sobre cultura popular. Para analisar os elementos insólitos, presentes nos microcosmos dos relatos de caráter fabuloso, foram de fundamental importância os estudos de Garcia, Reis, dentre outros. DO MUNDO FICCIONAL AO REAL: OS CONFLITOS NA PALESTINA E A INTERPRETAÇÃO BÍBLICA Mariana Aparecida Venâncio Resumo: A presente comunicação parte da consideração da Bíblia como Literatura na qual se pode reconhecer a criação de mundos ficcionais. A interpretação de tais mundos e, principalmente, sua interpenetração no mundo real pode ser uma das razões para muitos conflitos geopolíticos contemporâneos. Considerados a “última grande causa do século XX” por Edward Said (2012, p. 8), os conflitos territoriais na Palestina são, ainda, um assunto controverso e pouco aprofundado no Ocidente. Geralmente, reproduzimos um discurso norte-americano que tende a homogeneizar os diferentes grupos judaicos e palestinos sob os estereótipos do terrorismo e do fundamentalismo religioso e o desinteresse pelo complexo assunto reforça esse controle que o Ocidente exerce sobre mais esse cenário geopolítico da atualidade. De maneira geral, acusam-se as referências bíblicas judaicas como culpadas pela reivindicação territorial que, na verdade, apenas os grupos radicais sionistas, ligados a um extremismo judaico, afirmam. O presente artigo faz um breve percurso histórico que pretende situar a origem do sionismo e seus efeitos segundo o pensamento do palestino Edward Said. Em seguida, a partir do pensamento de Stuart Hall, examina a relevância da reivindicação territorial para a afirmação das identidades culturais na atualidade para compreender que ela não faz parte da identidade cultural judaica, mas é consequência de interpretações de seus textos fundamentais. Por fim, como alternativa de esclarecimento acerca das possibilidades interpretativas do mesmo recorte literário, são consideradas as contribuições de Umberto Eco a respeito dos limites entre o mundo ficcional e o mundo real. Por intermédio de tal percurso metodológico, procura-se oferecer uma atualização menos catastrófica para os textos bíblicos. A BLACK MASS Marília Costa Mattos Resumo: A comunicação aborda o texto dramático A black mass (1966), escrito pelo poeta e dramaturgo afro-americano Roi LeJones – “renascido” Amiri Baraka, por graça do Islã. . Baraka – que provinha da literatura contra-cultural beatnik – engajou-se na luta pelos direitos civis dos afro-americanos, atuando através de sua arte. A black mass parte de um mito racial atribuído ao “honorável” Elijah Muhammad, fundador da Nação do Islã dos Estados Unidos: uma organização que unia militância política e religiosa na reivindicação pelos direitos civis dos negros norte-americanos. A trama enfoca a tragédia de um cientista negro, o protagonista Jacoub, que cria artificialmente um ser que o destruirá. Apesar das diferenças históricas e ideológicas, o enredo é uma nítida atualização do mito frankensteiniano, pois o cerne das duas narrativas é o mesmo: um ser gerado por meios não naturais que destrói seu criador. Jacoub, como Victor Frankenstein, é um herói trágico com características do individualismo moderno. Já a criatura tem mais diferenças do que semelhanças com o monstro de Mary Shelley, um típico personagem romântico.Também o conceito de ciência varia significativamente de uma obra para outra. Enquanto em Frankenstein o saber científico é associado ao racionalismo frio e materialista, em A black mass tal saber não exclui a fé em Alá nem o ritmo sensual do jazz, muito pelo contrário. DEFORMAR PARA DESNUDAR - O SENTIDO REALISTA DA DEFORMAÇÃO APARENTE. Mario Marques Resumo: Nesta comunicação será apresentada uma análise comparativa e algumas aproximações do uso estilístico da deformação de elementos do mundo real em narrativas dos escritores Franz Kafka e Modesto Carone. Os contos selecionados para esta análise são "A ponte" de Franz Kafka e "O som e a fúria" de Modesto Carone. Nestes dois contos o leitor é apresentado a um contexto que guarda referências com o mundo prático e real que nos cerca, mas que apresenta, ao mesmo tempo, deformações e alterações em sua composição, as quais têm a clara intenção de causar estranheza e propiciar a descrição de um contexto narrativo em que são introduzidas características humanizadas em objetos e elementos metálicos e comportamentos mecanizados em pessoas. A construção de uma terceira via de coexistência entre pessoas e objetos cria um mundo distópico, com novas regras e resultados. Os limites, costumeiramente existentes em mundos tópicos, são testados ao extremo e, neste movimento, é empreendida a busca por uma interpretação metafórica dos índices narrativos. A deformação, que conforma a narrativa, alcança níveis que remontam ao onírico e ao insólito e situações que remetem ao paradoxo e à contradição. A avaliação da forma de narração que envolve elementos do insólito é o objeto do presente estudo e é, com base neste viés comparativo, que se pretende analisar a metaforização do discurso, que parece ser empregada em um processo de deformação para viabilizar a apresentação de um conteúdo velado, em um jogo, em que uma realidade é transfigurada em um outro elemento ou contexto. Com essa abordagem interpretativa, nota-se que os discursos narrativos metaforizados são resultantes, mormente, de um ambiente opressor, em que o aparente é expressão transmutada do real. MUNDOS POSSÍVEIS, COISAS IMPOSSÍVEIS: O UNIVERSO DISTÓPICO NO CONTO "COISAS", DE JOSÉ SARAMAGO Marisa Martins Gama-Khalil Resumo: A concepção de mundos possíveis, muito relacionada a investigações filosóficas, açambarca constitutivamente os universos construídos pela literatura, ou seja, não se pode compreender a literatura deixando à parte a ideia de mundos possíveis e toda a complexidade que eles desencadeiam. No campo dos mundos possíveis criados pela literatura, as distopias e utopias têm um relevo bastante peculiar, na medida em que criam e disponibilizam a sensação de contato com mundos bem diferentes do nosso mundo atual/empírico, contudo bem próximos a ele, se pensarmos tais mundos como metáforas das condições que queremos ou experimentamos. As distopias, assim como as utopias, descortinam uma variedade de mundos possíveis, quase sempre advindos de procedimentos estéticos concernentes ao insólito, os quais inserem-se no modo fantástico. Se nas utopias tem-se um universo criado por intermédio de uma perspectiva eufórica, nas distopias é o enquadramento de perspectiva disfórica que prevalece. No conto “Coisas”, José Saramago oferece ao leitor um mundo no qual os papeis assumidos pelas coisas e pelos sujeitos na sociedade se acham contrapostos, embaralhados e muitas vezes invertidos, configurados a partir de movimentos espaciais heterotópicos. Nesse mundo distópico construído por Saramago, fatos insólitos ocorrem com os objetos, uma vez que eles parecem assumir ações e estados similares aos dos seres humanos, em um movimento antropomórfico incomum. Objetos e espaços inteiros começam a desaparecer, até que por fim a própria cidade se esvai no meio do nada. De longe alguns seres observam o espetáculo. Seriam seres humanos ou objetos que tomaram a forma corporal humana? A comunicação engendrará uma análise sobre a relação da distopia com o insólito, procurando descortinar os procedimentos do modo fantástico articulados em tal relação. ENQUANTO OS SINOS TOCAM: PERSPECTIVAS UTÓPICAS E DISTÓPICAS SOBRE OMELAS Nicolle de Souza Andrade Resumo: Esta proposta de comunicação pretende explorar os sentidos de utopia e de distopia em “Aqueles que abandonam Omelas”, de Ursula K. Le Guin (2019), tomando como eixo a denominação de Moylan (2000) sobre o espaço utópico. O objetivo é produzir uma leitura que contraste/confronte o desenho utópico apresentando no início do referido conto com a situação de abandono e crueldade – ironicamente os dispositivos facilitadores da harmonia social no cenário de Omelas. Conforme os estudos de Sargent (2010), o termo utopia é passível de ser problematizado, especialmente se examinado mais detidamente, com a descrição das características benéficas ou negativas de dado contexto. Por outro lado, é possível avaliar na ficção de Le Guin pontos de contato com o termo oposto, a distopia, e fomentar um debate sobre os limites de ambos os termos – utopia e distopia – com uma mirada crítica sobre a imagem da criança abandonada e sobre como, nessa obra em específico, a utopia concretiza-se pelo sofrimento. Como se pode perceber, não é intenção enquadrar a narrativa de Le Guin de forma categórica em nenhum desses conceitos, mas destacar a fluidez com a qual a autora transita pelos dois termos, tensionando fronteiras teóricas em um espaço sci-fi e permitindo reflexões sobre a contemporaneidade social. Vale lembrar ainda que, a partir da provocação de Figueiredo (2009), muito discute-se se o equilíbrio proposto por uma sociedade utópica poderia ser atingido de forma orgânica e natural e quais seriam os limites da liberdade individual em tal conjuntura especulativa. Tal postura instigante leva a uma reflexão sobre o universo de Omelas no que diz respeito aos tensionamentos propostos pelos binômios utopia/distopia e liberdade/sujeição, com ênfase nos aspectos imaginários compositores de distopias. OS MUNDOS VAMPÍRICOS DO CONTO "COLONIZAÇÃO" DE CARLOS BACCI Patricia Hradec Resumo: Diversas obras apontam para um mundo povoado com vampiros e humanos, ora vivem em harmonia, ora buscam a aniquilação de um ou de outro; mas, todas elas representam a projeção de uma sociedade. E é nesse sentido que aparece o conto “Colonização” de Carlos Bacci, publicado na coletânea Coleção Sobrenatural: vampiros de 2015 e com organização de Duda Falcão. O conto possui diversas nuances e camadas, representando mundos por vezes utópicos, mas outras vezes distópicos, ambos povoados por vampiros. Inicia-se com a aula magna de um professor de uma universidade, que está prestes a se aposentar. Em seguida, descobriremos que esse professor é um vampiro, e que até os vampiros se aposentam, indo habitar em um outro mundo, especificamente organizado por eles e para eles. Mais tarde, o próprio narrador decide se envolver na história e explicar a aposentadoria vampírica e o que isso implica, revelando-se também como um vampiro. Entre esses diversos mundos, descobriremos a verdade sobre a eternidade vampírica. Para balizar essa pesquisa, utilizamos os conceitos de Thomas More (1996), de Tom Moylan (2000), além de Alexander Meirelles (2020) para a conceituação de utopia e distopia, além de outros teóricos que corroboram com a análise. Analisaremos dentro do conto em quais momentos identificamos a sociedade vampírica, como utópica ou distópica, e quais suas implicações para os humanos. O MAU AGOURO COMO ELEMENTO CONSTITUTIVO DOS ESPAÇOS E DA NARRATIVA DE GÊNERO DE ANA PAULA MAIA. Paulo Vítor Coelho Resumo: O presente trabalho busca analisar a categoria de mau agouro no grupo de obras da autora carioca Ana Paula Maia. A partir de alguns trechos selecionados, será feita a exposição dos elementos formais e cenas que abriram essa possibilidade de leitura. Ao se investigar a prosa de ficção de Maia, o componente mau agouro fica patente ao leitor como uma noção importante para o entendimento do mundo apresentado nas histórias, que privilegiam personagens brutalizadas, originárias de locais hostis das periferias de cidades e rincões do sertão de algum lugar que poderia tanto ser o Brasil como outro lugar do mundo. A ambientação e a espacialização dão as primeiras pistas de como o mau agouro vai se manifestando e se espraiando para outros elementos composicionais, como a violenta relação entre as personagens, as condições desumanizadas de trabalho a que são submetidas e a esparsa sensação de futuro. Essa circunstância de fatores resulta em uma atmosfera de terra arrasada bem comum em distopias, dando o tom da prosa de Maia, que erige um mundo danado a sua própria maneira. Esse tom é evidenciado pelas personagens e suas crendices e na brutalidade empregada por eles, necessária do ponto de vista da organização social desse universo. Além disso, a descrição do mau agouro e a enumeração dos casos ao longo das obras de Maia busca discutir as manifestações formais da prosa contemporânea, em um sentido mais amplo, em especial aquelas que estão em um limiar com a produção literária de gênero, ou pulp – o que empresta uma direção crítica na resolução de entraves composicionais das obras da autora, e pela qual seguirá este trabalho. OS PARACOSMOS DE SAGAS FANTÁSTICAS BRASILEIRAS: UNIVERSOS DISTÓPICOS Pedro Afonso Barth Resumo: Sagas fantásticas são histórias que criam um mundo autoconsciente, com regras e funcionamentos próprios: há a instituição de uma cartografia ou uma ocorrência insólita que singulariza o funcionamento de um universo ficcional. Este mundo criado ficcionalmente pode ser definido como um paracosmo (MARTOS GARCIA, 2009, MARTOS NÚÑEZ, 2011). Há muitas narrativas brasileiras que podem ser configuradas como sagas, por exemplo Corpos Secos de Ferroni, Machado, Geisler e Polesso (2000), Dragões de Éter, de Raphael Draccon (2010), a série Os sete, de André Vianco (2001), O espadachim de Carvão, de Affonso Solano (2013), As Crônicas dos Mortos, de Rodrigo de Oliveira (2015), entre muitas outras. O presente trabalho apresenta uma classificação de paracosmos de sagas fantásticas escritas por autores brasileiros. Cada tipo de paracosmo apresenta uma relação distinta na instituição de um cronotopo (BAKHTIN, 2008). São quatro tipos de paracosmos identificados: paracosmo independente – quando o universo criado na saga não tem relação com o mundo empírico -; paracosmo simultâneo – quando o universo criado está ao lado do mundo empírico; paracosmo encapsulado oblíquo – quando a o mundo próprio da saga habita o interior do nosso mundo, mas suas regras estão escondidas da maior parte das pessoas; e finalmente, o paracosmo encapsulado manifesto, quando o universo criado faz parte do mundo empírico e suas regras são manifestas para todos. O último tipo de paracosmo apresenta uma forte tendência de constituir-se como uma distopia. A presença do caos advindo pela presença de vampiros, zumbis, corpos secos ou pela degradação moral e/ou ambiental são recorrentes. O LEITOR EM XEQUE Renata Esteves Resumo: O romance O ano da morte de Ricardo Reis, de José Saramago, requer a participação engajada do leitor tanto por sua intertextualidade como pelo elemento insólito em sua composição. A proposta de investigar os sentidos desses aspectos motiva a intenção da comunicação sobre as reflexões iniciais para a futura pesquisa do pós-doutorado. Se de um lado esse romance tem ancoragem na História, havendo uma pesquisa intensa do escritor nos jornais da época, por outro lado, a escolha insólita de um heterônimo de Pessoa que retorna a Portugal põe o leitor dentro de um labirinto ficcional. Confrontar o heterônimo herdeiro do lema do carpe diem com a realidade atroz iminente, usando seus versos em várias passagens do romance, impõe ao mote sobre viver a vida em seu momento e do espírito distante das questões mundanas uma radicalização. Ressoam, assim, incongruentes quando a História anuncia a violência da duradoura ditadura salazarista ou o estouro da Revolução Espanhola. Por sua vez, os reencontros de Pessoa e Ricardo Reis têm também a ironia do ortônimo sobre o heterônimo, fazendonos repensar o sentido literário do heterônimo neoclássico na nova era de Portugal que se abre. O insólito seria não apenas o mecanismo promotor desse reencontro, mas, sobretudo, a sustentação da personagem que, ao mesmo tempo que redescobre Portugal, busca um sentido para sua vida em certo estereótipo burguês: trabalhar, casar e criar raízes no país que renegara com o fim da Monarquia. O leitor também tem de enfrentar a intertextualidade que constrói a narrativa, intertextualidade essa não somente em relação à literatura portuguesa, mas também na referência ao livro fictício criado por Jorge L. Borges, que Reis traz de viagem. É mais uma volta no parafuso que o autor dá a seu romance nas referências ibéricas que faz, referências essas presentes também em outras obras saramaguianas. O JOGO DE UTOPIA E DISTOPIA EM "THE MORTAL IMMORTAL", DE MARY SHELLEY Renata Philippov Resumo: Escrito em 1833 e publicado no anuário literário The Keepsake, em 1834, o conto “The Mortal Immortal’, de Mary Shelley, narra as aventuras e desventuras de seu protagonista, Winzy, que trabalhava para o alquimista Cornelius Agrippa, o qual, por sua vez estava trabalhando no elixir da vida eterna. Winzy, sem saber a real dimensão da poção, resolve um dia bebê-la na tentativa frustrada de se curar de mal de amor. Acaba, assim, irônica e incidentalmente bebendo o elixir da vida eterna, o que irá marca-lo para sempre. No início, sente uma sensação de prazer e alegria por poder viver eternamente ao lado de sua amada, Bertha. No entanto, com o passar do tempo, atingindo a idade de 323 anos, com aparência de 20 e poucos, vê todos que ama e com quem convive morrerem, inclusive Bertha, e sentir que envelhece, embora sua aparência diga o contrário. O conto pode ser lido por várias chaves, muitas das quais relativas ao insólito ficcional: a ambientação gótica, a busca pela eternidade através da alquimia, o duplo, o conflito entre bem e mal, a monstruosidade. Para esta comunicação, pretende-se pensar o conto como construído em cima de um duplo movimento marcado por utopia seguida de distopia: se, no início, Winzy se sente feliz com a possibilidade de viver eternamente o amor, possibilidade utópica, posto que irreal e insólita, com o passar do tempo e a destruição e morte a que todos a sua volta são submetidos e que ele não consegue controlar, pode-se dizer que estamos diante de uma espécie de distopia ou pesadelo infinito a que a personagem é exposta e dentro do qual se sente constantemente deslocado. Buscaremos, assim, traçar e analisar no conto em questão as marcas do que consideramos ser possível chamarmos de utopia e distopia. A EPÍGRAFE NO CONTO "A NOIVA DA CASA AZUL", DE MURILO RUBIÃO Ricardo de Macedo Resumo: É peculiar na obra de Murilo Rubião os versículos bíblicos por meio de epígrafes. Sua narrativa, em larga medida, foge ou se distancia de padrões das narrativas literárias convencionais, como também, das do tipo fantástica, ou seja, uma mistura do sagrado (epígrafe) e do profano (o conto em si). Benedito Nunes (1974) destaca o seguinte na obra de Murilo Rubião: “Parece-nos ser o contraste entre a particular coerência do discurso narrativo, minucioso e imperturbável, e a particular incoerência da matéria narrada, isto é, dos acontecimentos extraordinários que constituem a trama esquemática de cada história.”. Para o conto “A Noiva da casa azul”, Rubião reserva esta epígrafe: “A figueira começou a dar seus primeiros figos; as vinhas em flor, exalam o seu perfume. Levanta-te, amiga minha, formosa minha, e vem” (Cânticos dos Cânticos. II, 13). Tal passagem do antigo testamento remete ao mito de Adão e Eva. Numa tradução mais simples, temos: “Os figos estão começando a amadurecer, e já se pode sentir o perfume das parreiras em flor. Venha então, meu amor. Venha comigo, minha querida.” (BIBLE.COM 2021). Lendo o capítulo inteiro de o Cântico dos Cânticos podemos compreender que a figura ou imagem da figueira e dos frutos faz referência a várias virtudes como também a pecados, chamados em alguns contextos de defeitos psicológicos (do homem e de sua metade, a mulher). No dicionário de símbolos a figueira tem uma ampla significação: “A figueira é uma planta com mais de 700 espécies, provavelmente cultivada há milênios de anos, com aparições no Antigo Testamento. Ela tem conexão com o sagrado simbolizando prosperidade abundância, castidade, segurança, fecundidade, imortalidade e paz.” (DICIONÁRIO DE SÍMBOLOS 2021). Faremos, portanto, neste simpósio, uma análise comparativa da figura, no conto de Rubião, com a da maçã, proposta pelas traduções mais comuns do velho testamento. UM RIO DE JANEIRO DISTÓPICO EM DEMÔNIOS DE ALUÍSIO AZEVEDO Sabrina Baltor De Oliveira Resumo: Aluísio Azevedo, principal nome da escola naturalista brasileira, escreveu várias narrativas menos conhecidas, mas não menos interessantes, ligadas ao fantástico, ao insólito, ao gótico. Uma delas em particular é publicada primeiramente em folhetim na Gazeta do Rio de Janeiro, de primeiro a onze de janeiro de 1891. Trata-se de Demônios, título que acaba por ser escolhido para uma coletânea de contos com essa mesma temática organizada e lançada por Aluísio Azevedo na editora Teixeira & Irmãos, em 1893, ou seja, dois anos depois da publicação em folhetim. Ainda na década de 90 do século XIX, tal conjunto de contos terá ainda mais uma edição, em 1894, conservando o mesmo título e uma outra em 1898, com novo nome, Pegadas, com vários novos contos, mas que conservam ainda o ambiente fantástico e insólito. No entanto, algumas narrativas se repetem de um volume ao outro, dentre elas, aquela que parece ser a obra principal, não só em extensão, estética, como também em popularidade: o objeto de nosso estudo, Demônios. Neste conto, o leitor é apresentado a um personagem, um jovem escritor, que, após uma frenética noite de trabalho, se depara ao acordar com uma madrugada sem fim, com um amanhecer desprovido de luz, em um Rio de Janeiro apocalíptico em que a chama da vida se extingue na maior parte de seus habitantes. Nesta cidade distópica, o protagonista não se locomove, mas tateia, buscando uma explicação para o novo mundo fantástico, insólito, singular, dentro do qual despertou. Nosso estudo buscará demonstrar a construção deste Rio de Janeiro sombrio, nauseante e fantástico através do que o próprio Aluísio chamava de seu "estilo híbrido", que, sem renunciar ao naturalismo, buscava agradar ao leitor de folhetim, apaixonado pelo mistério, pelo suspense e pelo inusitado. OS LIMITES UTÓPICOS EM A CURVA DO SONHO Sabrina Ramos Gomes Resumo: O presente trabalho visa analisar o livro de Úrsula k le guin A curva do sonho. Neste romance de ficção científica, aA autora discute o real e seus limites por meio da metáfora do sonho que pode mudar a realidade. As questões ambientais, de identidade e o limite ético entre o paciente e a terapeuta são apresentados na relação do protagonista George Or e do médico pesquisador Dr Hader. O poder de Or leva-nos a pensar no caráter da possibilidade e a posição crítica da autora convida-nos a repensar nossa condição do vir a ser. Considerando os escritos de Jameson, em Arqueologia do Futuro, assim como a discussão trazida pela própria Le guin, em A ficção como uma cesta, buscamos explicitar como as literaturas que enfatizam o imaginativo podem levar o leitor a questionar sua realidade. O limite do utópico entendido como benéfico e a noção de igualdade permeiam o romance, pois a realidade de Or e Hader ao ser mudada não necessariamente é transformada em algo melhor. É interessante ressaltar também que durante as várias novas realidades sobrepostas no romance, o utópico e o ideal continuam sendo positivos para quem detém o controle do sonho, que não é necessariamente o sonhador. A DISSOLUÇÃO DA SUBJETIVIDADE DO HUMANO PELO VIÉS DAS DISTOPIAS Tamira Fernandes Pimenta Resumo: A literatura distópica se apresenta como um campo privilegiado no que concerne à representação de experiências subjetivas e sociais do indivíduo. Essas experiências, que se relacionam às questões de desnaturalização da sociedade, decorrem normalmente do vício resultante do progresso tecnológico. Com isso, há, via de regra, a dissolução do humano, o qual adota comportamentos artificiais e mecanizados que corroboram para a ruptura da própria noção de identidade. Todo contexto subjetivo e social das distopias pode ser entendido como uma tentativa de adestramento comportamental, emocional e de intoxicação coletiva, na medida em que torna a população alienada em relação às configurações do conhecimento e das artes, pois pensar criticamente a relação dos espaços em que se vive passa a ser uma ameaça ao sistema opressor vigente nas obras que serão analisadas neste trabalho. Os rearranjos das relações sociais se desenvolvem ao longo das obras de distopias como uma possível unidade política enraizada nas demandas que apresentam uma diferença relativa no olhar populacional que, atrelado à tecnologia, passa a ser escravizado. O isolamento condicionado por essa relação amplifica os horizontes de concepção e estilos de vida. Tais estilos ligam-se diretamente ao capitalismo e à tradição do progresso, e ocorrem a partir dos reflexos do outro. Nesse contexto, teremos como objetivo refletir sobre a dissolução da subjetividade do humano a partir das obras Fahrenheit 451, de Ray Bradblury, Admirável mundo novo, de Aldous Huxley e um episódio da série Black Mirror, um streaming da Netflix. Nesse movimento investigativo, procuraremos demonstrar como alguns procedimentos insólitos do modo fantástico atuam na reverberação dessa dissolução de subjetividade. Para explorar tais conexões, escolhemos uma base teórica para esse estudo que proporciona o suporte necessário: Zygmunt Bauman (2018), Roland Barthes (2009), Foucault (1979), entre outros. O ENTRE-TOPIA NA VIDA APÓS A MORTE NADA CELESTIAL DA SÉRIE UPLOAD Tatiane dos Santos Magalhães Resumo: O universo audiovisual da ficção científica tende a celebrar os cenários distópicos em seus enredos, seja com regimes políticos opressores ou com tecnologia ultra avançada capaz de subjugar os humanos, a fim de discutir nossas inseguranças sobre o futuro. Representações de terríveis possibilidades de um amanhã cada vez menos distante invadem até mesmo enredos que visam enfatizar o que ainda pode ser celebrado em uma sociedade cercada de incertezas, partindo da ideia de que nem tudo é bom ou ruim todo o tempo, ou para todo mundo. Essa dualidade que chamaremos de entre-topia pode ser visualizada na série Upload, da Amazon Prime Video, que com humor discute a possibilidade das pessoas, antes de morrerem, conservarem suas consciências no mundo virtual Lakeview, uma espécie de extensão digital da vida, evitando, assim, o derradeiro fim. O que a primeira vista poderia ser considerado uma tecno-utopia ganha ares de distopia no decorrer da série, quando esse paraíso tecnológico desvela-se em uma metáfora da vida contemporânea, com um pós vida regido por um rigoroso e sofisticado controle do indivíduo, que é dividido por classes, mesmo após a morte, enquanto tudo é mediado pelo consumo. Partindo dessa premissa discutiremos como a série trabalha os anseios dessa sociedade ultra tecnológica que vagueia entre a utopia e a distopia, em um contínuo conflito existencialista sobre o sentido da vida e por que não da morte. SIMPÓSIO “UTOPIAS MEDIEVAIS: ENTRE VIAGENS, MARAVILHAS E A FORMAÇÃO DO CORTESÃO” Raúl Cesar Gouveia Fernandes (FEI), Geraldo Augusto Fernandes (UFC) OS ADYNATA E OS VERSUS RAPPI COMO REPRESENTAÇÃO DAS UTOPIAS MEDIEVAIS Geraldo Augusto Fernandes Resumo: Para este Simpósio de temática medieval, em que o foco são as utopias, gostaria de trazer alguns elementos de uma utopia “desfeita” quando os poetas se valem dos adynata e dos versus rapportati. O adynaton ou impossibilia é um dos tropos em que a inversão se dá no nível do pensamento. Esses recursos são considerados por Quintiliano embelezadores extremos. Os poetas clássicos usavamnos para expressar as inversões – tanto aquelas de um mundo em mutação, quanto aquelas de preciosismo na expressão poética. Segundo Giuseppe Tavani, a origem dos adynata estaria em Arquíloco (no século VII a. C.) e que os de Virgílio eram muito conhecidos na Idade Média quando esse mundo da impossibilia passaria a fazer parte de patrimônio cultural. O artifício persiste na Península Ibérica cultivado pelos quinhentistas petrarquizantes até os pré-românticos, passando pelos poetas barrocos. É a esses recursos que recorrem os poetas palacianos do Cancioneiro Geral de Garcia de Resende de 1516. Este estudo pretende, então, mostrar exemplos de sínquise e de adynaton do Cancioneiro, e analisar se o uso desses recursos ganha força devido a uma época em que as novidades trazidas pelas Descobertas deixavam transparecer ao poeta que o mundo estava invertido, causando uma sensação de instabilidade e de insegurança, um desconcerto do mundo. PRÁTICAS METATEATRAIS NA DRAMATURGIA ANTIGA PORTUGUESA: UM "EXEMPLUM" DE MARAVILHAMENTO Marcio Ricardo Coelho Muniz Resumo: O dramaturgo quinhentista português António Prestes recorre às estratégias da metateatralidade na composição de seu "Auto dos Dous Irmãos", fazendo preceder ao auto propriamente dito uma "Representação feita ao auto que se segue", na qual se encena um diálogo cujos interlocutores são um Licenciado e o Autor “do auto que se segue”. Embora produzam a impressão de serem duas obras distintas, a "Representação" e o "Auto" são, em realidade, uma só obra. A coesão entre um e outra é construída fundamentalmente pelo jogo do "teatro dentro do teatro", em que o "Auto" funciona como uma espécie de exemplum de certo modelo de texto dramatúrgico defendido como um "bom auto" no interior das discussões estabelecidas pelas personagens da "Representação". De base intrinsicamente metatetral, a "Representação feita ao auto que se segue" levanta questões pertinentes à condição dos licenciados, ao desprestígio e dificuldades enfrentadas pelos profissionais do ensino já à época, e mais particularmente à difícil situação dos autores de teatro frente às “vontades de todos os ouvintes”, um verdadeiro “drama”, em que se tem de satisfazer gostos díspares do público. Insinuando um processo de refinamento dos espectadores/leitores quinhentistas portugueses, o texto de António Prestes não só testemunha a formação de um público exigente com as práticas teatrais, como também comprova que os autores estavam atentos ao refinamento de seu público. Testemunham, ainda, que as "modernas" estratégias da metrateatralidade, que no Ocidente têm em Shakespeare e Cervantes seus primeiros cultores, já circulavam entre autores, textos e públicos portugueses desde muito antes de suas expressões castelhanas ou inglesas. A presente comunicação pretende, simultaneamente à apresentação da obra de Antônio Prestes, discutir as questões acima referidas. O CANCIONEIRO DE PETRARCA: NOTAS PARA UMA METODOLOGIA CRÍTICA Raphael Salomao Khede Resumo: A edição da Mondadori de 1996 do Cancioneiro de Petrarca (1304-1374) foi organizada pelo escritor, crítico e professor Marco Santagata (1947-2020). Além da ampla introdução, sobre cuja metodologia crítica iremos concentrar nossa análise, a edição consta de uma detalhada cronologia da vida e da obra do autor, uma extensa bibliografia dos estudos sobre Petrarca, uma bibliografia de estudos, obras gerais e textos não petrarquescos, um capítulo dedicado às diferentes redações do Cancioneiro, as notas comentadas dos 366 poemas e, no final do texto, diversos índices e tabelas que auxiliam a leitura crítica. A introdução de Santagata tem o grande mérito de reunir num texto unitário vários aspectos da obra principal do poeta italiano, fornecendo assim uma visão ampla do contexto histórico e literário em que o texto foi produzido, sua gênese, sua rede de intertextualidade (sua relação, sobretudo, com a Divina Commedia), sua colocação dentro do sistema de gêneros literários do período, seu tema principal, o bilinguismo do autor, entre tantas outras questões relevantes. O crítico também reflete sobre a modificação da figura do intelectual no período de Petrarca, com uma maior especialização das diferentes funções. Santagata contextualiza, do ponto de vista histórico-social, essa mudança, ao se referir à transição do mundo urbano das comunas para o ‘neofeudal’ das cortes. PARÓDIA E SUBVERSÃO DO CÂNONE AMOROSO EM AFONSO EANES DO COTON: "AS MIAS JORNADAS VEDES QUAES SON" (B 968) Raúl Cesar Gouveia Fernandes Resumo: Os chamados “escárnios de amor” constituem um grupo pequeno, mas altamente significativo, no corpus da lírica galego-portuguesa. Tais composições, cuja identificação e análise em muitos casos vêm desafiando os pesquisadores da área, se distinguem pelo intuito paródico com vistas a subverter por meio da ironia os principais traços das cantigas de amor. Dessa forma, como paródias ou contratextos, o exame dos escárnios de amor pressupõe o conhecimento das convenções (vocabulário, temas e motivos) do hipotexto, ou seja, do discurso canônico do amor cortês, amplamente majoritário nos cancioneiros. A relevância desse conjunto de cantigas reside, portanto, no fato de revelar a consciência que os trovadores da época possuíam do caráter retórico de sua poesia e de, ao mesmo tempo, oferecer um terreno para o debate poético numa escola literária em que a sátira frequentemente se limita à irrisão pessoal ou à chacota de circunstância. Neste trabalho, será proposta uma interpretação da cantiga “As mias jornadas vedes quaes son” (B 968), do segrel galego Afonso Eanes do Coton, ativo em meados do séc. XIII. Ainda que a compreensão do sentido integral do texto seja prejudicada pelo fato de a cantiga infelizmente ter sido preservada de modo incompleto nos Cancioneiros, nota-se que Coton promove uma subversão dos clichês do serviço amoroso, do segredo acerca da identidade da amada e de sua resignada espera pelo galardão da correspondência de sua distante “senhor”, como em outras composições de sua autoria. Dessa forma, em suma, contrapondo-se ao estrito código amoroso da cortesia, Coton parece apontar para a realização de certa forma utópica do amor livre, por meio de uma irônica afirmação da própria virilidade.