Uma outra globalização pela nossa independência

Os textos publicados na seção “Colunistas” não refletem as posições da Agência Primaz de Comunicação, exceto quando indicados como “editoriais”

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Apesar da precariedade do sistema educacional e da pouca oferta de cultura à maioria da população, o Brasil dispõe de excelentes intelectuais. Um deles é Milton Santos, um baiano que viveu entre 1926 e 2001. Apesar de ser reconhecido majoritariamente no meio acadêmico, abordou questões que impactam na vida de todos nós. Tornou-se uma grande referência em geopolítica e inspira diversos estudiosos e líderes mundo afora.

Numa de suas principais abordagens, Milton Santos nos propôs pensar uma outra globalização a partir da crítica aos efeitos sociais, ambientais e culturais perversos que assistimos. Vivemos atualmente numa grande comunidade globalizada em que as instituições privadas se sobressaem aos povos fazendo existir forças de poder que independem de territórios, governantes e populações. As soberanias dos países não raramente sucumbem aos interesses de um seleto grupo de empresários que se comportam como cidadãos do mundo, mas que, na verdade, valem-se das fragilidades locais para auferir lucros mundiais. É a velha lógica do socializar o prejuízo – financeiro, ambiental e social – e centralizar o lucro – neles, obviamente.

Entendendo que uma premissa da globalização é considerar uma dada perspectiva em escala global, o convite a pensar outra globalização também sugere um modelo globalizante capaz de promover a justiça social, corrigindo o agravamento progressivo das desigualdades. Contudo, a diversidade que constitui a humanidade torna insensato qualquer modelo homogeneizante, a não ser que a premissa global seja considerada a pluralidade e, a partir dela, a busca pelo desenvolvimento.

A globalização da qual somos testemunhas atualmente configura-se por um intenso jogo de forças marcado pelo poder, orientado para o acúmulo de capital, numa perspectiva competitiva. Poder este detido por uma minoria em detrimento de uma esmagadora maioria excluída. Outra globalização teria como instrumento para a promoção do desenvolvimento a cooperação mútua, balizada pelos princípios de corresponsabilidade e equilíbrio de poderes entre as instâncias envolvidas – atores sociais, instituições e entidades, sem a subordinação e imposição de interesses.

Outro ponto a considerar diz respeito ao papel fundamental do capital como pilar da globalização que está posta. É pelo capital e para o capital que as fronteiras se estreitaram. A globalização é mais uma estratégia de revitalização e conservação do capitalismo. Pensar uma outra globalização passa por pensar um modelo de desenvolvimento apoiado no ser humano, na busca da promoção da dignidade e igualdade entre as pessoas. Valorizar o ser humano e globalizar o acesso, as oportunidades, a garantia de direitos.

A partir dos ensinamentos de Milton Santos uma outra globalização é possível e orienta-se pela pluralidade humana, sócio-histórica e geográfica, instrumentalizada pela cooperação corresponsável e igualitária com o objetivo primordial da valorização do ser humano. O sentimento de comunidade mundial em que todos estão interligados e são mutuamente impactados deve nos orientar para o bem-estar comum.

Assim, nesse momento de reflexão sobre a independência do Brasil por ocasião da passagem do dia 07 de setembro, em especial diante de um Presidente da República que ergue a bandeira de outro país num claro aceno ao capital mundial em detrimento das pessoas para as quais devem ser orientadas as políticas públicas brasileiras, devemos repensar os valores socioeconômicos da nossa sociedade e buscar uma outra globalização, que seja mais inclusiva e solidária.

(*) André Lana é advogado militante nas áreas de direito público e gestão social

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