Os iluminados candeeiros revolucionários

 


Sentados: Edgard com violão (de “Seu Zeca”), Rosinha, César e
Manoel Messias. Silvio (de costas). Preparativos do movimento candeeiro,
 dezembro de 1979. Foto Sílvio Melo.

Uma das marcas indeléveis dos santanenses e, sem dúvida, sua riqueza cultural ainda que se alternem, ao longo do tempo, décadas de maior e menor intensidade. No início do século XX, ainda no período de Vila, havia duas bandas filarmônicas em atividade e o teatro, realidade presente. Exaltamos o pioneirismo dos maestros Manoel Queirós e Jovino Azevedo.


Valdemar de Souza Lima (1902-1986) nascido na cidade de Salomé, atual São Sebastião, tornou-se santanense adotivo na tenra idade. Trazido pelos pais, viveu quase três décadas, exercendo importante papel de animador cultural. Por isso, sua memória estará sempre presente entre os sertanejos. Filho de Josefa Leite da Souza Lima, conhecida por Dona Zefinha, legendária professora pública da terra. Estudou com o professor Domingos Gonçalves Lima, diretor do Colégio Tomás de Aquino. Possuindo instrução acima da média local e respaldado pelo autodidatismo, Valdemar atuou como líder intelectual da juventude santanense da sua época. Entre os seus feitos, registra-se a criação do primeiro jornal santanense, "O Panema", que circulou heroicamente em 1929. (Sertão Glocal, José Marques de Melo, 2010).




A Rádio Candeeiro foi um movimento de protesto e de reivindicação da geração dos jovens idealistas José Abdon Malta Marques(1940-1997), os irmãos Geraldo(1938-2019), Henaldo(1934-2022), Eraldo(1936-2011) e Isnaldo Bulhões Barros(1942-2020), doutor Adelson Isaac de Miranda(1930-1995) e outros inconformados pela falta de energia elétrica na cidade em 1962. A gestão do município era exercida pelo prefeito Ulisses Silva e o Governo do Estado conduzido pelo major Luiz Cavalcante(1913-2002). Com um pequeno transmissor pouco maior que uma caixa de sapatos instalado na secretaria do Tênis Clube Santanense iniciou-se movimento de protesto pela emissora clandestina Rádio Candeeiro para reivindicar junto ao Governo Estadual instalação de energia elétrica.


No estúdio improvisado várias entrevistas se sucediam com políticos e personalidades se manifestando sobre os anseios da população. O auge dos protestos foi a passeata noturna, à luz de candeeiros, que se transformou na maior campanha reivindicatória já registrada na cidade com amplo apoio da comunidade. As justas reclamações do povo chegaram ao Governo do Estado, que reconheceu justo o movimento. Em 1963, um ano depois do início da campanha, o governador Major Luiz Cavalcante, inaugurou a energia elétrica na cidade. Djalma Carvalho escreveu a crônica “Rádio Candeeiro” relembrando o protesto histórico dos jovens santanenses, constante do seu livro “Festas de Santana”, 1ª edição, 1977.


Motivados pelos ideais do movimento da “Rádio Candeeiro” que ecoaram a expressão pública e coletiva da luta pelos direitos, e o espírito cultural do Prefeito Hélio Rocha Cabral de Vasconcelos(1926-2010) quando criou a Biblioteca, o Museu e as Feiras Literárias não se perderam de vista das gerações que se sucederam e que neles se inspiraram. Da inquietação de grupo de jovens surgiu o “O poder Jovem” no período de 1972 a 1974 e “Movimento Candeeiro”, no final da década e início dos anos 80. Os manifestos tinham como objetivo estimular a juventude da época para as novas exigências da sociedade, através das diversas produções culturais.



Preparativos do movimento candeeiro: Da esquerda para à direita: Jose Ormindo, Erisvalda (de “Seu Hamilton”), Alvandir Souza (de “Seu Leo”), Manoel Filho abraçado com Rosinha de “Seu Alberto”. Sentada Rosalice de “Seu Bartolomeu", Albertinho Agra e Marta Agra (sentada de costas). dezembro de 1979. Foto: Sílvio Melo


Em 1990, em texto divulgado no Jornal de Alagoas, edição de 27.01.1990, Sílvio Melo, um dos líderes, comentou a visita que fez a Tadeu Rocha(1916-1994). (clique aqui para conhecer mais sobre o intelectual): “O fim de 1979 estava se aproximando. Entardecia o dia 21 de outubro quando visitei o escritor e jornalista Tadeu Rocha em sua casa no Recife, juntamente com o grupo de conterrâneos que organizava a Semana da Cultura do ano seguinte, parte do "Movimento Candeeiro" que buscou reativar a cultura santanense naquele período. Conversamos bastante sobre cultura, história e Santana do Ipanema. Recebeu-nos surpreso, alegre e comunicativo.”

Na ocasião presenteou seu livro “Modernismo & Regionalismo”, a Marta Marques Agra. Peguei-o emprestado e não devolvi até hoje. Há uns dois anos, perguntei-lhe sobre o episódio mas nem se lembrava. Ainda bem que a contravenção estava prescrita, confessa Sílvio Melo.


Em pé: Rosalice, Rosinha e Silvio. Sentado: Valdir de “Seu Dória”.
Preparativos do Movimento candeeiro, 1979.


Compartilhando dos mesmos objetivos, Sílvio Nascimento Melo, o irmão Manoel Constantino, Edgard Farias, Rosa Agra, César Barros, Alberto Agra Filho, Marta Marques Agra e José Ormindo Chagas lideraram e organizaram a nova fase das produções culturais na terra, ainda que integrantes estivessem morando em Recife, porém nada disso foi impedimento para a organização da “Semana de Cultura” na terra, pois havia o núcleo local para executar as providências. Esses grupos foram incentivados por Tonho Cupim (Antônio Alves Sobrinho) que além de orientar, prestava assessoria para que o grupo realizasse as atividades.

A primeira ação foi ampliar a comunicação social através da publicação de jornal com notícias, entrevistas, poesias, crônicas e críticas a muitas situações da época. A tecnologia disponível para as produções era o uso de estêncil, mimeógrafo e muita mão de obra. E tudo se transformou em mais uma página do legado cultural da terra.

Participaram do grupo "O Poder Jovem":

Antônio Alves Sobrinho “Tonho Cupim” (orientador), Aderval Carvalho, Aloísio Ferreira Costa, Erisvalda Rodrigues, Márcia Agra, Manoel Constantino Filho, César Vital, Sílvio Melo, Vitório Manoel, Marcos Davi, Manoel Agra, Valdir de seu Dória, Wandir Rodrigues, Hiran Bartolomeu, Jose Alberto “Benga”, Jussara Noya, Carmélia Carvalho, Aninha Monteiro, Doroteia Farias, Rubenita, Rutinete, Roseane Bastos, Gorete Santos, Rita Sobreira, Afra de “Seu Costinha”, Cleide Souza, Selma Soares, Berta Agra, Carmem Lúcia, Rosângela, Léa Pacífico e Elvira Souza.

Os jornais mimeografados (números 00 a 08, foram no período de 19.11.1972 a 05.07.1973).

Participaram do "Movimento Candeeiro":

Antônio Alves Sobrinho e Djalma Carvalho (orientadores), Marta Agra, José Ormindo, Manoel Constantino Filho, Virgílio Agra, Sílvio Melo, Manoel Messias, Alvandir Souza, Symone Melo, Marilene Melo, Berta Agra, Edgard Farias, Léa Pacífico, César Vital, Hiran Bartolomeu, Rosa Agra, Humberto Barros, Carlos Luiz Martins, Francisco José Aquino (Chiquinho), Albertinho Agra, Valdir de seu Dória e Rosalice Barros.


Foram publicados 02 Informativos antes da divulgação da Programação da Semana de Cultura, que iniciou no dia 25.01.1980.


























Julho, 2022

Comentários

  1. E seguindo a linha editoral do Blog, João de Liô resgata o movimento Candeeiro idealizado por jovens estudantes Santanense que residiam no Recife na época.
    Parabéns, Xará!

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    1. Valeu Xará. Obrigado pela leitura e comentário.

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  2. Bom dia Xará!
    Parabéns...Mais um belo registro, que resgata um pouco da história cultural de nossa terra.
    Um abraço
    João Neto Oliveira

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  3. João Neto, você resgatou o movimento histórico da Rádio Candeeiro que mobilizou e conquistou a energia elétrica para S do Ipanema. E outros dois momentos de inquietação de jovens santanenses: grupo do Poder Jovem e o Movimento Candeeiro. Parabéns pela maestria das palavras😊👏👏👏👏

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  4. Respostas
    1. Sílvio, sua contribuição foi fundamental para resgate de importante página da nossa história. Grato. Nossa história precisa ser contada, como diz Capiá.

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