Rogério Dias em seu ateliê com a obra cedida para os 40 anos do Bem Paraná (Franklin de Freitas)

Um dos mais celebrados, revolucionários e irreverentes nomes da Arte Paranaense Contemporânea, Rogério José de Moura e Dias, conhecido como o artista das aves, está se preparando para mais um voo em sua longínqua e prolífica carreira. Aos 77 anos – completará 78 no dia 19 de junho, dois dias depois do aniversário de 40 anos do jornal Bem Paraná -, ele começa retomar sua produção após um período de isolamento completo por conta da pandemia do novo coronavírus e cedeu, com exclusividade, um de seus mais recentes trabalhos ao Bem Paraná, para uma série limitada de reproduções em azulejos.
Nascido em Jacarezinho, no norte do Paraná, Rogério Dias é filho de José de Alencar Alvarenga Dias e Maria Mercedes de Moura e Dias, ambos mineiros e que faziam questão de manter em casa a antiga tradição do amplo jardim e quinta, onde não podia faltar o viveiro de pássaros, que acabaria marcando profundamente a vida e obra do artista. Foi neste ambiente, em contato permanente com a natureza, que Rogério cresceu, sendo estimulado desde cedo a desenvolver suas habilidades artísticas. É que seu irmão mais velho, José Waldetaro, era pintor e foi colaborador de Eugênio Sigaud na pintura dos murais da catedral de Jacarezinho, em 1955, quando Rogério tinha apenas 10 anos de idade.
“Quando eu tinha 10 anos de idade, meu irmão ajudou a pintar a igreja de Jacarezinho. Aí eu ficava lá com ele, ia pra igreja e ficava vendo o desenvolvimento das pinturas e aí comecei a pegar gosto pela coisa”, conta o artista plástico, que em seguida começou a desenvolver suas próprias obras com desenhos em cadernos escolares.

Obras históricas pela cidade e retomada da atividade como pintor
É possível que o leitor não conheça Rogério Dias pelo nome, mas é difícil que não tenha visto pelo menos algumas de suas obras pela cidade. É dele, por exemplo, o painel “300 gralhas para Curitiba”, criado em 1993 em homenagem aos 300 anos da cidade. Poucos anos depois, ele executa outra obra para a Prefeitura de Curitiba, planejando o imenso painel chamado “Rio Iguaço”, instalado na Praça ao lado do Palácio Iguaçu, perto da rotatória da Marechal Hermes e Dep. Mario de Barros, no Centro Cívico. O trabalho é uma homenagem ao descobridor das Cataratas do Iguaço, Dom Alvar Nuñes Cabeza de Vaca, e ao Rio Iguaçu, cuja história é um registro de luta pela integração do Estado do Paraná. O monumental painel, com quase 50 metros de largura e 4,7 metros de altura, retrata o Rio desde a sua nascente até a sua foz, com sua fauna e flora, sua história, suas lendas e personagens.
Sua vinda a Curitiba, por sua vez, acontece no final de 1964, após ele ter terminado o serviço militar, tendo atuado nas Seções de Tiro de Guerra. Segundo ele, uma mudança que ocorreu por conta da falta de perspectivas em Jacarezinho. “Eu vim para cá terminar os estudos do segundo grau e tentar alguma coisa aqui”, diz ele, que chegou na cidade já no final de dezembro.
Em 1965, Rogério participa de uma Oficina de Gravura, orientada por Fernando Calderari, onde fez suas primeiras gravuras, sendo estimulado pelo orientador a enviar alguns de seus trabalhos para o 1º Salão de Artes Plásticas/Cidade de Curitiba, promovido pela Prefeitura Municipal. E num primeiro reconhecimento ao seu trabalho e à sua arte, suas obras acabam sendo selecionadas para a exposição.
Quem quiser visitar o ateliê e conferir os produtos inspirados na obra de Rogério Dias (como gravatas, camisas, vestidos, canecas, cadernos e muito mais), basta marcar um horário pelo WhatsApp para visitar o local. O telefone para contato é (41) 99221-3396 e quem cuida da agenda de visitas ao local é a ex-mulher do artista, Selma Albano.

Pássaros presentes desde a infância
Já em 1967, causa-lhe forte impacto uma escultura de autoria de Abraão Assad, cujo tema era um bando de pássaros. Pouco tempo depois, imagens de sua infãncia, de quando havia um viveiro de pássaros em sua casa, começam a aflorar e ele, então, começa a fazer – mediante junção de madeiras amarradas – rústicos objetos com base, sobre os quais sobrepunha pássaros, na parte central. Pouco depois, impõem-se figurações de pássaros isolados, sem a base, construídos mediante junção de madeiras diversas com caixetas, sementes de brejaúva e cortiças.
A partir dali, os pássaros passam a ser, cada vez mais, um elemento recorrente em sua obra, até se tornarem o tema central. Em 1977, por exemplo, Rogério Dias faz sua primeira exposição individual, lançada no dia 16 de setembro pela Galeria de Arte do Centro Cultural Brasil Estados Unidos. Na época, Rogério serviu-se de embalagens (papel kraft) para realizar uma série de colagens monocromáticas, que à primeira vista sugeriam voos de pássaros, mas, na realidade, representavam fragmentos do corpo humano oníricos e misteriosos, quase memórias de sensações e situações vividas ou sonhadas.
Já na década de 1980, realiza a histórica exposição “Caxa de Bixo: O Triunfo do Underground Curitibano”, na Fundação Cultural de Curitiba. Nessa ocasião, propõe trabalhos reciclados, bichos ecológicos, nus eróticos. Construídos com restos de materiais, os pássaros já se fazem presentes. E ganham ainda mais relevância na obra do artista quando ele começa a retratar naturezas mortas, sempre associadas a pássaros.
“Eu estava trabalhando num quadro, fazendo padronagem, e aí apareceu um padrão que me lembrava um passarinho e comecei a pintar eles. A partir daí comecei a fazer os pássaros, virou uma marca do meu trabalho.”
O carinho dos paranaenses por Rogério e a marca imprimida pelo artista no paranismo, inclusive, pode ser resumido numa frase da poeta Alice Ruiz: “Curitiba é ecológica por causa de Rogério Dias. Aqui tem passarinhos para ver os passarinhos de Rogério.”

Aniversário do Bem Paraná
Para o aniversário de 40 anos do jornal Bem Paraná, celebrado em 17 de junho, uma parceria foi fechada com Rogério Dias, que cedeu com exclusividade uma de suas obras, pintada no ano passado, para uma série limitada de reproduções em azulejo. Com um fundo amarelo e laranja, o quadro traz cinco tipos diferentes de pássaros, com 21 exemplares dessas aves decorando a obra. “O pessoal do jornal já conhecia o meu trabalho e me procurou para que fizéssemos uma parceria, até pela relação do meu trabalho com o Paraná. Para mim foi bom e, quando apresentamos a ideia pro jornal, eles gostaram e aí escolheram esse quadro, que pintei ano passado”, relata o artista, explicando ainda a opção por reproduzir a pintura em azulejos. “Essa é uma boa forma de ter a obra, porque é algo que a pessoa pode ter como lembrança. A pessoa pode guardar, pode colocar numa cozinha, numa biblioteca, na mesa onde trabalho… E ficou simpático, né?! Eu pintei o quadro faz mais ou menos um ano.”