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Arquitetura

Coleção de vida faz Gilberto ter obras de arte do quarto ao banheiro

Envolvimento com a arte começou logo cedo e a primeira obra foi comprada em 1974

Aletheya Alves | 23/03/2023 07:01
Assim como no restante da casa, Giberto dorme em maio a arte. (Foto: Juliano Almeida)
Assim como no restante da casa, Giberto dorme em maio a arte. (Foto: Juliano Almeida)

Há 49 anos, o professor Gilberto Luiz Alves comprou sua primeira tela enquanto morava em Corumbá. Desde então, o amor pela arte continuou falando mais forte e, hoje, mais de mil peças se espalham desde as paredes do quarto e banheiro até o chão da casa.

Doutor em Filosofia e História da Educação pela Unicamp, Gilberto veio para Mato Grosso do Sul na década de 1970 e passou a se envolver com o Estado. E, nesse caminho para se situar, encontrou nas artes mais um refúgio e vários instrumentos.

“Sempre tive um envolvimento muito grande com artes plásticas, sempre me impressionou muito ver uma tela e, principalmente, as obras que nos dizem sobre o que é o real”, comenta sobre sua relação.

Aos 76 anos, Gilberto se dedica inteiramente ao instituto que possui seu nome, este voltado para os bens culturais, e se orgulha dos caminhos que sua vida tomou. Durante nossa visita, a casa em que o professor divide o cotidiano com a coleção passava por reformas, além de parte das obras estarem sendo catalogadas.

Peças de Ilton Silva compõem escritório do proprietário. (Foto: Juliano Almeida)
Peças de Ilton Silva compõem escritório do proprietário. (Foto: Juliano Almeida)

Por isso, além de estamparem as paredes de todos os cômodos, sem exceção, ainda se espalhavam por mesas e tomavam armários como apoios. Tudo isso, dando a impressão de que o lar consegue mesmo abrigar “todo mundo”, já que um encantamento que perdura pela vida toda não diminui por falta de espaço.

De várias fases de Ilton Silva, telas de Jorapimo e nomes reconhecidos internacionalmente, mas não tanto por aqui, o professor comenta que a variedade do acervo é grande. “Tenho alguns que são populares, assim como outros como o Roberto de Lamonica”.

Gilberto detalha que nossos artistas costumam fazer sucesso quando são reconhecidos fora daqui e, no caso de de Lamonica, a história começou em Ponta Porã. “Ele fazia quadros incríveis, mas teve problemas durante a ditadura, conseguiu uma bolsa, foi estudar nos Estados Unidos e não voltou mais. Ficou conhecido no mundo inteiro como um dos maiores gravuristas, mas por aqui é difícil quem o conheça”.

Contando sobre sua história com as artes, o professor explica que viu em Mato Grosso do Sul, artes ricas pelo seu conteúdo figurativo. E, a partir das construções feitas por elas, passou a entender o Estado pelos olhos das telas.

Primeira obra comprada por Gilberto, esta de Rubén Darío. (Foto: Reprodução)
Primeira obra comprada por Gilberto, esta de Rubén Darío. (Foto: Reprodução)
Passando por catalogações, quadros se dividem até mesmo pelo chão. (Foto: Juliano Almeida)
Passando por catalogações, quadros se dividem até mesmo pelo chão. (Foto: Juliano Almeida)
Campo Grande durante a passagem dos anos possui até tela ilustrando garis da Ary Coelho. (Foto: Juliano Almeida)
Campo Grande durante a passagem dos anos possui até tela ilustrando garis da Ary Coelho. (Foto: Juliano Almeida)
Bugres da Conceição dividem espaço com outras esculturas. (Foto: Juliano Almeida)
Bugres da Conceição dividem espaço com outras esculturas. (Foto: Juliano Almeida)
História de Mato Grosso do Sul, como os cururueiros, se espalha pelas paredes. (Foto: Juliano Almeida)
História de Mato Grosso do Sul, como os cururueiros, se espalha pelas paredes. (Foto: Juliano Almeida)

“Para mim, uma obra de arte, uma pintura, é como se fosse um livro. Ela me permite ler o real, então até por força disso, muito cedo comecei a constituir uma coleção. Isso ainda em Corumbá, já que na época eu era professor universitário”, detalha.

Sem se esquecer, sua primeira obra comprada foi uma tela de Rubén Darío, um pintor boliviano. “Eu estava vindo recentemente de São Paulo, participei do movimento estudantil, muitas passeatas, enfim. Nessa exposição do Rubén Darío, existia uma tela chamada ‘Manifestación’ que ele pintou quando Hugo Banzer Suárez subiu ao poder”.

Detalhando sobre a quantidade de mortes que houve na época, o professor comenta que Rubén estava em Santa Cruz de la Sierra quando pintou e produziu uma tela expressionista, com tons vermelhos, pessoas levando outras mortas.

Além das telas, casa tem espaço para cerâmicas indígenas. (Foto: Juliano Almeida)
Além das telas, casa tem espaço para cerâmicas indígenas. (Foto: Juliano Almeida)

Vendo a ideia de Manifestación, Gilberto conta que se sentiu conectado com a peça e, tempos depois, comprou outros quadros do pintor. Conforme o tempo passou, a ideia de se aproximar ainda mais desse mundo foi tomando amplitude e, assim, o professor começou a fazer novas conexões.

“Aqui em Campo Grande, procurei estabelecer contato com artistas plásticos da região e o primeiro foi Ilton Silva. Uma figura que se tornou muito minha amiga futuramente, sendo que a primeira tela que comprei foi de 1978, a terceira da minha coleção. A partir daí não parei mais”.

Sabendo do potencial das artes plásticas, Gilberto reforça a ideia de que é possível construir conhecimento a partir delas. Um exemplo de trabalho próprio é produzir uma história do Pantanal apenas a partir das telas sul-mato-grossenses (veja aqui).

Mas, para isso, o professor comenta que é necessário que haja educação e capacitação para tanto. De acordo com Gilberto, a partir de sua experiência com a educação, são poucos os que valorizam as artes e se dispõem a se aprofundar por seus caminhos.

“Não é uma questão de ser impossível, muita gente fica com medo de se aproximar da arte porque ela é elitizada. Às vezes, chegam na minha casa e têm medo de olhar as telas, falam que não conhecem. Então, precisamos reformular a forma de ver a arte, precisamos inserir nas escolas, na capacitação dos professores”.

Quadro de Visconti integra a coleção de Gilberto Luiz. (Foto: Juliano Almeida)
Quadro de Visconti integra a coleção de Gilberto Luiz. (Foto: Juliano Almeida)
Até os armários são obras de arte que ocupam os espaços. (Foto: Juliano Almeida)
Até os armários são obras de arte que ocupam os espaços. (Foto: Juliano Almeida)

Não só defendendo, mas também aplicando essa ideia, Gilberto conta que o instituto também está presente nessa área. “Nós temos alguns colegas que fazem capacitações com professores, estamos disponíveis para irmos até escolas, já produzimos um livro sobre cerâmica indígena em Mato Grosso do Sul. Enfim, queremos que essa arte seja compartilhada”.

E, para quem se interessar pela arte regional, o professor indica alguns nomes como Ilton Silva, Jorapimo, Daltro, Lelo, Ton Barbosa e vários outros que estão disponibilizados na página do instituto.

No site, www.icgilbertoluizalves.com.br, os materiais são os mais variados. Nele, é possível encontrar grande parte da coleção de Gilberto, documentários, entrevistas, artigos científicos, publicações feitas pelo grupo e também o contato.

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