Iniciação à vida cristã
            Formação             Iniciação à vida cristã             A Caridade e a Iniciação à Vida Cristã (III)
17/02/2021 Ariél Philippi Machado Iniciação à vida cristã A Caridade e a Iniciação à Vida Cristã (III)
A+ a-

A Caridade e a Iniciação à Vida Cristã (III)

A reflexão acerca da caridade evangélica unida à educação e celebração da fé é um pedido expresso do novo Diretório para a Catequese: “A catequese pertence plenamente a um processo mais amplo de renovação que a Igreja é chamada a realizar para ser fiel ao mandado de Jesus Cristo de anunciar seu Evangelho sempre e em todos os lugares (Mt 28,19). Por isso, a catequese se relaciona com a liturgia e a caridade para evidenciar a unidade constitutiva da nova vida emanada do Batismo” (DC 1).   

Em vista de meditar e ressignificar a vida nova que o Batismo nos dá, fizemos um itinerário de estudos sobre a Palavra de Deus,[1] Liturgia[2] e Caridade até aqui. Estas reflexões ajudam a compreender a unidade que sustenta a Igreja entendidas como dimensões essenciais para a evangelização e para o planejamento de dioceses e paróquias. 

Aqui, seguiremos na sessão da Caridade que já contemplou as características da liderança cristã[3] e do ensino social da Igreja[4]. Agora, falaremos sobre a participação concreta dos fiéis em prol do sustento da comunidade, lançando pistas para o dízimo como prática de pertencimento à comunidade de fé. Dissemos aqui que a caridade se traduz em atitude concreta quando o coração e a mente estão em sintonia e entendem que o pouco de cada uma e cada um são colocados à disposição da comunidade em vista do bem comum. 

Embalados pelo ofício de rezar a fé que professamos, nossa reflexão segue motivada pelo refrão de um cântico com o tema do dízimo:

É o dízimo, Senhor, que nos mostra, com certeza

Gratidão ao Criador, compromisso na Igreja.[5]

Com este pensamento, avançamos no entendimento de que o dízimo não é uma atividade-fim na Igreja, mas é um meio, um instrumental para garantir que aconteça a evangelização. Um dado é certo, não há condições de anunciar o Evangelho de Jesus Cristo sem a utilização de bens deste mundo. Por esse motivo, o dízimo não significa acúmulo de bens, mas uma estrutura mínima para garantir que a mensagem de Jesus seja conhecida por meio da pregação e da catequese, seja vivida por meio das obras de caridade da Igreja e seja testemunhada pelos missionários e missionárias que dedicam suas vidas pela causa do Reino de Deus. 

Para ajudar na reflexão das equipes diocesanas e paroquias, que realizam o planejamento das atividades pastorais e ações apostólicas, sugerimos algumas pistas que favoreçam a integração da comunidade, sempre por meio do sentimento de pertença e corresponsabilidade. O dízimo é expressão de um coração generoso que foi acolhido em uma segunda casa, a comunidade de fé. Assim, podemos conversar sobre o seguinte:

- Dízimo não é dinheiro, é compromisso: a abordagem da dimensão da caridade que reflete na contribuição do dízimo precisa ser feita pelo viés do compromisso, da pertença, da responsabilidade. Quando o tema do dízimo fica restrito ao valor monetário e

nas exigências do “quanto” se deve devolver no dízimo, a mensagem pode ser mal interpretada e corremos o risco de afastar quem esteja disponível a fazer sua doação para o sustento da comunidade. Assumir o compromisso com a evangelização é alcançar a maturidade de perceber que todas as nossas atividades, sejam elas pastorais, caritativas ou missionárias, tudo é feito com dinheiro. Em outras palavras, “a moeda é de César, mas o povo é de Deus”. Apresentar o retorno das nossas atividades feitas com o dinheiro da comunidade é uma forma de sensibilizar para a importância da cooperação e compromisso de todos os membros da comunidade. O mais importante sempre será o anúncio e a vivência concreta dos ensinamentos de Jesus Cristo.

- Dízimo depende de consciência e formação: a participação consciente dos fiéis na comunidade depende de encanto e amadurecimento. O encanto é fruto do encontro do fiel com uma comunidade que envolve na fé, acolhe com ternura e oferece a experiência de “estar em casa”. A comunidade é nossa mãe na fé, portanto, tem lugar para todas as pessoas, sem distinção. Por ser mãe, a comunidade tem a missão de educar seus filhos e filhas na fé. Para isso, é preciso investir na formação de lideranças e dos fiéis em geral. O dízimo não merece apenas o espaço dos “recados”, que por vezes constrangem as pessoas presentes em encontros e atos litúrgicos. O compromisso com a oferta do dízimo precisa ser estudado, apresentado como meta de uma comunidade que quer crescer na consciência da responsabilidade de cuidar da fé e da vida dos seus irmãos e irmãs, e assim, alcançar a maturidade do ser e do sentir-se Igreja.

- Dízimo é experiência de Deus na vida cotidiana: a adesão ao dízimo precisa ser fruto da conversão do coração. Em lugares onde o dízimo é ensinado como preceito e obrigação, sugere-se às pessoas responsáveis por essa dimensão a conversão das práticas pastorais e dos métodos em uso. A experiência com o dízimo revela nossa gratidão com o Criador, como cantamos acima, que significa uma experiência profunda de fé. Quem já passou por essa experiência de gratidão também entendeu que o pouco que fazemos por causa do Evangelho é muito para quem recebe. E muitas pessoas são destinatárias de nossa oferta do dízimo: as pessoas que cuidam da formação, da catequese, da liturgia, das obras sociais; e ainda, presbíteros e religiosos que são valorizados com a ajuda de custo mensal; e também, as obras de missão que recebem o pouco da nossa oferta feita em comunidade. Ou seja, o pouco que oferecemos une-se ao pouco dos irmãos e irmãs e torna-se um tesouro para as obras de fé.

- Dízimo depende de objetivos e exige transparência: o compromisso da pessoa dizimista precisa estar contemplado no planejamento do dízimo diocesano ou paroquial. O objetivo do compromisso com o dízimo será sempre a edificação da comunidade, seja na fé, nas obras de caridade, ou nos bens materiais (templo, espaços de encontros ou obras assistenciais). O objetivo da dimensão da caridade, que se vê de maneira organizada no dízimo, precisa ser: devolver para a comunidade de forma pastoral e apostólica todo o dinheiro arrecadado das doações dos fiéis. Aqui se exige a transparência de nossas lideranças, e dos líderes maiores na qualidade de párocos e administradores paroquiais, para que sejam pastores bons e honestos com o “dinheiro da viúva” (Mc 12,41-44) que a comunidade deposita no altar do dízimo. O Reino será sempre de Deus, nós somos servos inúteis (Lc 17,7-10) cumprindo com a obra de salvação destinadas a todas as pessoas, inclusive àquelas que não se convertem para o compromisso com o dízimo.

- Dízimo é sistemático e proporcional: a oferta do dízimo é a consciência de partilhar o que temos com quem tem menos que nós. Mesmo que nossos rendimentos sejam mínimos, a contribuição com a comunidade revela a gratidão do coração generoso para sustentar a casa-comum de expressão da fé. Em vista disso, nas formações sobre o dízimo, seja apresentado o critério da proporção, isto é, que o dízimo seja uma contribuição que expresse a gratidão do ofertante diante daquilo que foi o seu rendimento naquele período (mensal, anual e outros). A dimensão sistemática do dízimo diz respeito à contribuição regular, seja no mês ou no ano, em prol da organização das atividades da comunidade. 

Por esse motivo, é preciso discernimento e caridade evangélica ao se tratar desse assunto no período de catequese com crianças e adolescentes, por exemplo. Visto que a proporcionalidade dos rendimentos depende de uma fonte de renda e a consciência do total arrecadado para suprir as condições de vida da família. Com estes grupos, sugere-se a realização de campanhas e jornadas de caridade, com a finalidade de ajudar as pessoas de mesma faixa etária que, porventura, estejam em situação de vulnerabilidade. E, por fim, que a questão da proporcionalidade dos rendimentos seja refletida a partir dos adultos, capazes de discernir as realidades da sociedade e da família. 

Os itinerários de Iniciação à Vida Cristã antes de contemplar o tema do dízimo, precisam sensibilizar os interlocutores para os temas acima: pertença à comunidade, compromisso com os irmãos e irmãs na fé, experiência de fé e prática concreta, honestidade com Deus e com a comunidade. Assim, somos capazes de crescer no entendimento dos conceitos e alcançar a maturidade de fé que se espera para o compromisso com o dízimo. 

Além dessa motivação que apresentamos para tratar do assunto do dízimo na catequese e nos planejamentos de Iniciação à Vida Cristã, sugere-se a leitura, estudo e partilha do Documento 106 da CNBB: O dízimo na comunidade de fé: orientações e propostas. Que nossas lideranças possam conhecer as indicações pastorais de nossos bispos para a ação evangelizadora no Brasil. 

Tudo isso para dizer que aquilo que aprendemos sobre a nossa fé precisa dar sentido à vida concreta do dia a dia. Em nossas atividades pastorais, não se ensinam ideias próprias dos fiéis, não se santifica em nome próprio nas liturgias e não se governa com autoridade própria de seres humanos. Mas, é preciso ter docilidade ao Espírito Santo para ensinar, santificar e governar com os mesmos sentimentos de Cristo (Fl 2,5). 

Para encerrar nosso ciclo de reflexões sobre a Palavra de Deus, Liturgia e Caridade, deixamos a sugestão da leitura orante da Palavra de Deus que está em Atos dos Apóstolos 11,25-30. E para guiar nossa oração por meio da Lectio Divina, deixamos a seguinte estrutura: 

Atos dos Apóstolos, capítulo 11, versículos 25 a 30. 

1º passo: LEITURA

- Leitura atenta do texto.

- Qual o ambiente descrito e as personagens presentes no texto?

2º passo: MEDITAÇÃO

- Com quais textos podemos relacionar esse trecho que lemos? Por quê?

- O que o texto tem a dizer sobre a atividade que desempenho na minha comunidade?

3º passo: ORAÇÃO

- O que o texto me faz dizer a Deus?

- Transformar em oração uma frase ou palavra do trecho lido acima

4º passo: CONTEMPLAÇÃO

- O que o texto me faz dizer a Deus?

- Olhando as atitudes da Igreja de Antioquia, quais compromissos podemos assumir para motivar a ajuda mútua entre as comunidades de nossa paróquia ou região? 

Ariél Philippi Machado 

(Catequista na Arquidiocese de Florianópolis (SC), teólogo e especialista em Iniciação à Vida Cristã)

 

[1] Indicamos a leitura dos três textos sobre Palavra de Deus publicados nesta sessão.

[2] Indicamos também a leitura dos três textos sobre Liturgia publicados nesta sessão.

[3] A Caridade e a Iniciação à Vida Crista (I). Disponível em: < http://www.catequesedobrasil.org.br/noticia/a-caridade-e-a-iniciacao-a-vida-crista-i--24042020-105528 >.

[4] A Caridade e a Iniciação à Vida Cristã (II). Disponível em: < http://www.catequesedobrasil.org.br/noticia/a-caridade-e-a-iniciacao-a-vida-crista-ii--20082020-145356 >.

[5] Letra de Pe. José Freitas de Campos.

Nome:
E-mail:
E-mail do amigo:
Leia os artigos...
                  
Receba as novidades da Catequese do Brasil. Cadastre seu e-mail...