Homenagem a Fernando Campana

Por: Marcos Amazonas

Fernando Campana e seu irmão Humberto ultrapassaram os limites do design de móveis com o uso de objetos evocativos e provocativos, feitos de materiais improváveis quando se pensa em móveis; ​​como carvão, galhos de árvores, plástico bolha, vidro de Murano quebrado e até bichos de pelúcia. Fernando morreu em 16 de novembro em São Paulo, aos 61 anos. 

Quem procurar no Google sobre os irmãos Campana encontrará: “Os irmãos Campana são uma dupla de designers brasileiros reconhecida internacionalmente por seus trabalhos de Design-Arte, cuja temática discute elementos do cotidiano, ou simplesmente produtos sem nenhum valor, que são transformados em peças de caráter artísticos, com uma linguagem única e de, até, uso possível. 

Os irmãos Campana tornaram-se estrelas internacionais do design contemporâneo, produzindo peças que podemos descrever como curiosas, mas não podemos negar que são belíssimas! Desenharam especialmente móveis, mas também joias, roupas, utilidades domésticas, cenários, interiores e instalações artísticas.  

O artista Vick Muniz os entrevistou para a revista Bomb, em 2008, e pontuou que o trabalho deles refletia “a bela sutileza caótica do espírito brasileiro”. Nesta entrevista Humberto, oito anos mais velho, disse à Vick: “Acho que tudo estava errado desde o início”, afinal ele estudara direito e Fernando era formado em arquitetura, embora quisesse ser ator ou talvez astronauta, ou seja, nada que os remetesse às artes. 

Humberto decidiu que não pretendia seguir a carreira de formação e que preferia ser escultor e começou a fazer molduras de espelhos e outros pequenos objetos. Na década de 1980, os irmãos começaram a projetar coisas juntos, incluindo uma coleção de cadeiras de ferro bruto – eriçadas de pontas, chamas, espirais e bordas irregulares – que foi uma resposta ao fim da ditadura militar de quase duas décadas no Brasil.  

A coleção de “Desconfortáveis” os tornou estrelas da arte. “Era rústico, agressivo e brutalista”, disse Humberto por telefone. “Foi como um vômito de tudo o que havíamos sofrido.” 

A cadeira Favela, feita no início dos anos 1990, era mais esperançosa, um amontoado frenético de pequenas ripas de madeira pregadas e inspiradas nas estruturas ad hoc das favelas brasileiras. 

Os irmãos compraram um grande feixe de corda em uma barraca de rua e trouxeram para o estúdio. Eles estudaram cuidadosamente a forma caótica que a construção das cordas formava quando empilhadas sobre uma mesa. “Nesse momento, nós dois nos olhamos e quase ao mesmo tempo comentamos, esta é a cadeira que queremos construir. É uma representação do Brasil em seu belo caos e desconstrução. (entrevista concedida ao Design Museum)

 

O carregamento de bichos de pelúcia de um vendedor ambulante inspirou uma de suas obras mais conhecidas: as cadeiras Banquette, que são ninhos de pelúcias, como a cama de uma criança. 

Os irmãos continuaram a buscar, e encontrar, inspiração nos bairros da sua cidade e também nos seus artesãos. Uma série de peças chamadas Transplastic, de 2006, feitas de uma fibra trançada chamada Apuí embutida em cadeiras de café de plástico baratas, foi produzida por uma empresa local de vime que estava prestes a fechar e, com isso, apagar as antigas habilidades e o sustento de seus trabalhadores.  

A trajetória fora do Brasil começou com um artigo de 1993 na Domus, uma revista italiana de design. No final da década, a Edra, fabricante italiana, começou a produzir suas peças para o mercado internacional e, nessa mesma época, Paola Antonelli, então curadora associada de arquitetura e design do Museu de Arte Moderna, os convidou para ir a Nova York fazer uma exposição com Ingo Maurer, o designer de iluminação alemão; a exposição os apresentaria ao mundo. 

O trabalho dos irmãos Campana está nas coleções permanentes do MoMA e do Metropolitan Museum of Art na cidade de Nova York; o Centro Pompidou e o Musée des Arts Décoratifs em Paris; o Museu de Arte Moderna de São Paulo e o Vitra Design Museum em Weil am Rhein, Alemanha. 

Humberto e Fernando Campana em sua obra-prima; a poltrona Dois Irmãos. 
Foto: Bob Wolfenson 

Para conhecer mais sobre os irmãos Campana: 

https://estudiocampana.com.br/pt/

https://www.moma.org/calendar/exhibitions/230?

https://artsandculture.google.com/story/hgWBAliAAK8CIA?hl=pt-BR

https://forbes.com.br/forbeslife/2020/09/os-35-anos-dos-irmaos-campana-marcam-o-apice-da-trajetoria-da-dupla/