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    Morte de 1.400 golfinhos nas Ilhas Faroe choca até defensores de caça tradicional

    Grupo de preservação marinha Sea Shepherd diz que 1.428 animais foram assassinados em massacre 'brutal e mal manejado'; porta-voz do governo diz que ação obedeceu leis locais

    Mais de 1,4 mil golfinhos foram mortos no domingo (12), nas Ilhas Faroe
    Mais de 1,4 mil golfinhos foram mortos no domingo (12), nas Ilhas Faroe Divulgação/Sea Shepherd (12.set.2021)

    Jeevan RavindranStephanie HalaszAllegra GoodwinSharon Braithwaiteda CNN

    Mais de 1.400 golfinhos-de-cara-branca foram mortos no domingo (12) nas Ilhas Faroe, no que as autoridades locais disseram ser parte da tradicional caça à baleia.

    O assassinato foi denunciado pelo grupo de preservação marinha Sea Shepherd como um massacre “brutal e mal manejado” e a maior caçada na história do território dinamarquês.

    A organização disse que um grupo de 1.428 golfinhos foi encurralado por lanchas e jet skis na praia de Skálabotnur, na ilha de Eysturoy, onde os animais foram mortos.

    As Ilhas Faroe são um território autônomo do Reino da Dinamarca, situando-se a meio caminho entre a Escócia e a Islândia, no Oceano Atlântico.

    A caça anual à cetáceos, ou grindadráp em feroês, faz parte da cultura local há séculos – mas geralmente envolve a caça de baleias-piloto. Embora seja criticada por grupos de direitos dos animais, os moradores locais defendem a prática.

    Kristian Petersen, de 41 anos, originário da cidade faroense de Fuglafjørður que atualmente vive na Dinamarca, disse que começou a participar da caça às baleias aos sete anos – mas em sua aldeia os golfinhos nunca foram visados.

    “Eu experimentei isso desde cedo e também participei um pouco”, disse Petersen à CNN. “Desde que tenha sido apenas para comida, eu apoio. Mas esta recente caçada no fim de semana, sou contra o que aconteceu.”

    Petersen é um dos vários apoiadores da caça às baleias que condenaram a matança de domingo, dizendo que houve “muitos erros”, incluindo perseguir um grande grupo e prolongar o sofrimento dos golfinhos por não ter gente suficiente nas praias para matá-los.

    Nas últimas décadas, a prática passou por rígida regulamentação do governo das Ilhas Faroe, com diretrizes para a autorização de caçadas e como devem ser realizadas.

    Muitos, incluindo Petersen, questionaram a legalidade da matança de domingo, com alegações de que o chefe local, que está envolvido na regulamentação da caça às baleias na área ao lado do administrador do distrito, não foi informado de acordo com os regulamentos.

    Pequena quantidade de pessoas envolvidas na caça aos golfinhos teria prolongado sofrimento dos animais
    Pequena quantidade de pessoas envolvidas na caça aos golfinhos teria prolongado sofrimento dos animais / Divulgação/Sea Shepherd (12.set.2021)

    A Sea Shepherd também afirmou que vários dos envolvidos não tinham as licenças necessárias para participar da caça.

    Um dos líderes da ação, Heri Petersen, foi citado pelo meio de comunicação local In.fo, que cobrou sua responsabilização, e afirmou que havia poucas pessoas envolvidas, o que significa que os golfinhos lutaram para respirar na praia até serem mortos.

    A Ordem Executiva das Ilhas Faroe sobre a caça de baleias-piloto e outras baleias pequenas, emitida em janeiro de 2017, determina que o administrador distrital ou o chefe local deve aprovar qualquer caçada e dá a eles a responsabilidade de “garantir que haja gente suficiente disponível em terra para matar os animais”.

    Bjorg Jacobsen, da Polícia das Ilhas Faroe, disse à CNN que a caça foi legal, mas não quis comentar mais.

    Em uma declaração por escrito, o porta-voz do governo das Ilhas Faroe, Páll Nolsøe, disse à CNN que “a notificação sobre o avistamento das baleias foi dada ao administrador distrital, e o administrador distrital, em consulta com os capatazes baleeiros, designou a baía autorizada de caça”.

    Ele disse que a ação “foi organizada e executada de acordo com a legislação das Ilhas Faroe” e “não houve violações de leis e regulamentos”, o que foi confirmado pelo Ministério de Pescas das Ilhas Faroe.

    Nolsøe acrescentou que todos os envolvidos na matança devem completar um curso de caça às baleias, e disse que a caça aos golfinhos-de-peito-branco era uma prática sustentável, com um número anual de cerca de 250, embora “flutue muito” – tornando a captura de domingo quase seis vezes maior.

    “A carne de cada caçada de baleia fornece uma grande quantidade de alimento valioso, distribuído gratuitamente nas comunidades locais onde acontecem as caçadas. A carne dos 1.400 golfinhos capturados no domingo também foi distribuída entre os participantes da captura e a comunidade local”, acrescentou.

    No entanto, a Sea Shepherd disse haver muita carne na caça de domingo, causando temores de que ela teria que ser descartada, de acordo com entrevistas publicadas no meio de comunicação dinamarquês Ekstra Bladet.

    Esta afirmação foi contestada por Steintór, um pescador de lagosta de 61 anos da aldeia de Oyri, que não quis revelar o seu apelido por medo de ser alvo de ativistas anticaça às baleias.

    Ele disse que a carne dos golfinhos equivaleria a cerca de 200 baleias e, portanto, “não era muito”. “Acho muito necessário matar baleias”, disse ele, argumentando que se tratava de uma prática sustentável favorável à importação de carne bovina.

    “E fazemos isso de uma forma muito humana, usando ferramentas certificadas por veterinários… O problema nas Ilhas Faroe é que temos um matadouro público. Assim, todos podem ver o que está acontecendo.”

    Embora ele tenha dito que alguns habitantes locais tenham ficado frustrados com a caça “não tão bem organizada” e ele tenha ficado “surpreso com o grande número de golfinhos”, a matança em si foi uma “coisa normal” e não foi um choque.

    A Sea Shepherd alegou ainda que vários golfinhos foram atropelados por barcos a motor e “atingidos por hélices”, resultando em relatos para a polícia local. A Polícia das Ilhas Faroe não respondeu a um pedido da CNN para comentar as alegações.

    “Considerando os tempos em que estamos, com uma pandemia global e o mundo parando, é absolutamente espantoso ver um ataque à natureza dessa escala nas Ilhas Faroe”, disse o CEO da Sea Shepherd Global, Alex Cornelissen, em comunicado.

    O órgão baleeiro das Ilhas Faroe manteve a prática nos últimos anos, afirmando em seu site: “a captura média de cerca de 800 baleias por ano não é considerada como tendo um impacto significativo na abundância de baleias-piloto, que são estimadas em cerca de 778.000”.

    (Texto traduzido; leia o original em inglês)