Maternidade Climério de Oliveira faz 100 anos com problemas de infraestrutura

Quase 3 mil partos foram realizados na maternidade só em 2009

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  • Da Redação

Publicado em 10 de dezembro de 2010 às 11:41

- Atualizado há um ano

Leo Barsan | Redação CORREIO

 “A melhor mãe do mundo é a minha”. Se estivessem vivas, a declaração de amor seria o presente que as xifópagas (gêmeas que nascem unidas) Juraci e Nadir dariam à Maternidade Climério de Oliveira (MCO), em Nazaré, pelo aniversário de 100 anos de fundação da maternidade. As irmãs, que foram rejeitadas após o nascimento e foram criadas e batizadas com o sobrenome da maternidade, sempre falavam essa frase em  juras de amor à instituição.

O centenário da primeira maternidade construída no Brasil será celebrado hoje, às 17h, durante solenidade aberta ao público no Salão Nobre do Palácio da Reitoria da Universidade Federal da Bahia (Ufba) no Canela.

Apesar das comemorações, problemas estruturais comprometem o atendimento. “As dificuldades são mais voltadas para a parte de pessoal. A maioria é terceirizada, por não ter concursos que atendam à necessidade. As verbas recebidas deixam de ser destinadas para projetos para pagamento de folha. Com isso, precisamos fazer cortes”, revela a diretora da maternidade, Mônica Neri.

Construção de prédio anexo deve atenuar o atendimento na Climério de OliveiraNos 100 anos, segundo Mônica, não é possível identificar quantos partos foram realizados na maternidade. O tempo que trouxe tradição também fez perder arquivos. Ano passado, foram 3,3 mil partos dentre as 61 mil consultas realizadas na maternidade.

Segundo ela, a questão afeta o desempenho da instituição. “Temos uma estrutura antiga e precária. A realização de concursos para pessoal pode resolver o problema porque os recursos seriam aplicados em estrutura, manutenção, medicamentos e outras necessidades”, admite.

AmorMas, pelos corredores da maternidade, a história de um século também é escrita com demonstrações de amor de mãe. Juraci e Nadir nasceram em Casa Nova, a 572 quilômetros de Salvador, em 1956. A mãe pariu as crianças atrás da porta da casa onde morava. “Quando viu a aberração da natureza, duas pernas e um abdome, abandonou. As meninas foram socorridas para a maternidade e o caso seria estudado”, lembra a enfermeira aposentada Adnólia Fontes, 71 anos, que está há 32 na maternidade.

As recém-nascidas deixaram a incubadora, mas não tinham para onde ir. “A Climério virou a mãe. As meninas foram registradas como Juraci e Nadir Climério de Oliveira”, conta a enfermeira, que cuidou das irmãs até os 17 anos, quando elas morreram. “Quando cresceram, gostavam de maquiagem e viviam na moda, apesar da aparência grotesca. Teve um rapaz que se encantou por Juraci, mas o namoro não foi pra frente”.

Climério, o médico sonhador O professor de Obstetrícia da Escola de Medicina da Ufba Climério Cardoso de Oliveira foi o responsável pela construção da maternidade que começou a virar realidade em 1879 após a reforma no ensino de Medicina na Bahia, quando foi necessário criar novas  instalações obstétricas em Salvador. “A construção de uma maternidade pública, surgiu como a mais nova ambição da classe médica da Bahia. Ela serviria, além de espaço para a realização dos partos da capital baiana, também como um centro de pesquisa. Na verdade, uma maternidade-escola; que ajudaria na formação dos novos médicos da Faculdade de Medicina”, disse o atual chefe da clínica obstétrica da maternidade, professor Carlos Menezes.Embora o governo federal, que ainda hoje mantém a entidade, tenha liberado verba para a construção da maternidade pública, o repasse não foi suficiente. Então, Climério passou a fazer eventos para arrecadar verba, como por exemplo, o Comitê de Senhoras da Sociedade Baiana que realizou seis espetáculos no antigo Teatro Politeama, apresentando um drama intitulado A Maternidade, escrito pelo próprio professor.Outra forma de arrecadação foi através de estudantes das escolas superiores do estado que pediram doações nas ruas.Ampliação em 2014A construção do novo Instituto de Assistência à Saúde da Mulher e da Criança Climério de Oliveira (Isamco) ao lado da maternidade  - com uma emenda federal da ordem de R$ 50 milhões -  deve melhorar o atendimento atual da maternidade Climério de Oliveira, diz a  diretora da maternidade, Mônica Neri.O  governo do estado doou um terreno de 2,2 mil metros quadrados ao lado da maternidade para a construção do Instituto de Assistência à Saúde da Mulher e da Criança Climério de Oliveira (Isamco) que, segundo a diretora Mônica Neri, deve ser iniciada em 2011. “A bancada federal baiana conseguiu aprovar por unanimidade uma emenda para a saúde no valor de R$ 50 milhões. O instituto deve ficar pronto em 2014”, acredita.A maternidade tem hoje 530 funcionários e oferece serviços de assistência pré-natal de baixo e alto riscos e banco de leite humano. O atendimento de urgência e emergência se integra ao Sistema Único de Saúde. A maternidade abrigou, entre 1950 e 60, o primeiro Centro de Reprodução Humana do Brasil.