Por: Cláudio Magnavita*

Coluna Magnavita: Quem pode ser contra a Liberdade, Igualdade e Fraternidade?

O perigo de tempos obscuros alimentados pela ignorância e pelo mau jornalismo

Quando assisti a mesa redonda da GloboNews sobre as eleições e quando resolveram discutir a relação do presidente Jair Bolsonaro com a maçonaria, confesso que, naquele momento, tive vergonha de dizer que sou jornalista. Quantas baboseiras eram vomitadas por esta trupe global. Desinformação absoluta destes comentaristas políticos. Ou estavam sendo tolos de forma proposital para associar a maçonaria a um manto de obscuridade, ou estavam sendo maliciosos no vale tudo para atacar o presidente. Como é possível um elenco de jornalistas bem remunerados ser tão perverso com a realidade? A exceção foi Mário Sérgio Conti, que tentou fazer um contraponto, e foi abafado constrangedoramente.

Será que estes obtusos não sabem que o lema da maçonaria é "Liberdade, Igualdade e Fraternidade"? Foi adotada como ideário da maçonaria universal, a expressão de autoria atribuída ao filósofo Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), inspirada no lema da Revolução Francesa.

Neste tempo de trevas jornalísticas e políticas, a esquerda resolveu exportar junto com os analistas globais um preconceito sobre a maçonaria, que inclui, fantasiosamente, sacrifícios de animais e ritos maléficos. Uma idiotice que não resiste a uma pesquisa no Google ou a séries da Netflix que desvendam, em documentário, os bastidores da organização, inclusive a inglesa. Hoje não há nada secreto. Existe uma farta literatura disponível aos curiosos. O que este debate imbecil proporcionou foi lamear, por ignorância e má fé, uma instituição de homens de bem, com formação filosófica, que defendem, historicamente, a separação do estado da religião, que praticam a filantropia e a fraternidade. Eles devem ter faltado às aulas de História, já quea maçonaria brasileira foi fundamental na Proclamação da Independência, na libertação dos escravos e na Proclamação da República. D. Pedro I foi o segundo Grão Mestre do Grande Oriente do Brasil. Rui Barbosa e José Bonifácio eram maçons.

Nos Estados Unidos, país protestante, diversos presidentes foram maçons. O último foi Gerald Ford. Na lista, inclui ainda Lyndon Baines Johnson, Harry S. Truman, Franklin Delano Roosevelt, Theodore Roosevelt só para citar os mais conhecidos e, o primeiro, George Washington.

Querer importar uma rixa histórica entre maçonaria e a Igreja Católica é a mesma coisa em trazer os princípios da Santa Inquisição, que mandou milhares de pessoas para a fogueira em nome de Deus. Aliás, o preconceito da esquerda em demonizar uma ordem filosófica tem os mesmos ingredientes em pleno 2022. Um dos textos mais profundos em defesa da maçonaria é do poeta Fernando Pessoa, publicado no Diário de Lisboa, nos anos 30, quando ele se revolta contra a tentativa dos Salazaristas de punir a ordem, como fez Hitler na Alemanha ou Mussolini, na Itália. Vale a leitura de um texto que hoje ficou ainda mais vivo no Brasil.

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Sobre a igreja e a maçonaria fui testemunha, e é por isso que escrevo na primeira pessoa, de um dos momentos mais iluminados da reaproximação das duas instituições. Sou filho de maçom. Meu pai Waldir Araújo Castro, com 96 anos, ainda frequenta a sua Loja Maçônica, a Liberdade, da qual foi venerável e integra a Grande Loja Unida da Bahia. Como pré-adolescente, assisti a celebração de uma Missa de Natal para os membros da loja, celebrada na Catedral Basílica de Salvador, pelo Cardeal Primaz do Brasil, Dom Avelar Brandão Vilela. Irmão do ex-senador Teotônio Vilela, o menestrel das Diretas Já. Estive presente também quando o Cardeal Dom Avelar foi recebido no templo da Grande Loja Da Bahia e recebeu o título de grande benfeitor. Não me lembro de ter visto, em outra ocasião, tantos homens chorando, mas sentia que estava sendo testemunha de um momento histórico e iluminado.

Macaque in the trees
Como "inquisidores medievais", os comentaristas da GloboNews atacam a maçonaria, validando a fake news da esquerda, sem esclarecer que os grandes presidentes norte-americanos eram maçons, e que a instituição foi fundamental para a independência do Brasil, libertação dos escravos e Proclamação da República. Dom Pedro I foi o segundo Grão Mestre do Brasil e, entre os maçons nacionais históricos, estão José do Patrocínio e Rui Barbosa. Os bastidores da ordem são revelados até em minissérie documental da Netflix. Na sequência de fotos acima, o Cardeal Dom Avelar Brandão Vilela, irmão do senador Teotônio Vilela, recebendo, em 1976, na Bahia, o título de Grande Benfeitor da Maçonaria no templo maçônico da Bahia.

 

No Rio, berço da maçonaria brasileira, a Grande Loja teve como Grão Mestre grandes nomes da nossa sociedade, entre eles o ex-presidente do Tribunal de Justiça, o desembargador Luiz Zveiter.

A eleição tem sido um tempo de trevas, de divisão entre irmãos, mas não devemos nos calar quando a ignorância é colocada a serviço de objetivos eleitoreiros e do péssimo jornalismo, que, agindo como inquisidores medievais, querendo crucificar um candidato a presidente de ter pisado em um templo maçônico, exatamente no bicentenário da maçonaria brasileira, que se confunde com a independência do Brasil, tentam atingir homens de bem, que se curvam perante o Grande Arquiteto do Universo, como o Deus único é chamado, e fazem uma vida baseada nos nobres princípios da Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Pertencer a uma família maçônica com certeza me fez um homem melhor e capaz de me indignar contra as injustiças.

*Diretor de redação do Correio da Manhã

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