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Três boas exposições entram em cartaz no Recife

Museu do Estado apresenta coletiva com dez nomes da arte contemporânea de Pernambuco. Mamam resgata série de desenhos Inimigos, de Gil Vicente, e traz à cidade uma panorâmica nacional com fotografias modernistas produzidas entre as décadas de 1930 e 1970

 

Os políticos Eduardo Campos (PSB), Lula (PT), Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Jarbas Vasconcelos (PMDB) foram simbolicamente assassinados em 2005 pelo artista pernambucano Gil Vicente nos desenhos da série Inimigos. Dez anos depois, em pleno momento de acirramento das tensões políticas no Brasil, as obras originais podem voltar a ser vistas ao vivo pelo público do Recife a partir desta terça no Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães (Mamam). O gesto do desenhista poder ser considerado profético, não porque Eduardo morreu de verdade, mas porque os brasileiros, pelo menos desde 2013, têm cada vez mais demonstrado raivosas insatisfações com os homens públicos que os representam. George W. Bush, Kofi Annan, Bento XVI, a rainha Elizabeth, Mahamoud Ahmadinejad e Ariel Sharon também estão entre os "Inimigos", já que a crítica sobre a crise de representatividade é internacional. A série foi apresentada pela primeira vez em Campinas em 2005 e no mesmo ano no Recife. Na época, o Diario de Pernambuco chegou a receber reclamações de leitores por causa da veiculação das imagens, mas a polêmica em torno das obras tornou-se ainda maior na Bienal de São Paulo de 2010, quando houve uma ameaça de censura por parte da seccional paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP). Os desenhos agora voltaram a ser exibidos no Mamam porque recentemente passaram a fazer parte do acervo do museu recifense, graças à aquisição definitiva viabilizada com apoio do Prêmio Marcantônio Vilaça da Fundação Nacional das Artes (Funarte). A abertura da mostra está marcada para as 19h30 desta terça.

Detalhes dos desenhos da polêmica série Inimigos, do artista Gil Vicente. Fotos: Mamam/ Divulgação

Fotografia modernista:

Um conjunto de 130 fotos feitas por 29 artistas brasileiros entre as décadas de 1930 e 1970 é apresentado na exposição Moderna pra sempre, em cartaz a partir desta terça no Mamam. As obras, que fazem parte do acervo do Instituto Itaú Cultural, representam um período de consolidação da fotografia enquanto linguagem artística experimental no Brasil. As imagens demonstram forte influência da arte modernista, manifestada na liberdade expressiva e em jogos visuais construídos por combinações entre luzes, sombras, texturas e formas. Composições abstratas, desafios geométricos e situações fantásticas (surrealistas) podem ser percebidas entre as fotografias, feitas por pioneiros como Thomaz Farkas, German Lorca, Geraldo de Barros, Rubens Teixeira Scavone, José Oiticica Filho, Ademar Manarini e Georges Radó. Alguns deles eram integrantes de fotoclubes, coletivos dedicados à experimentação fotográfica. A abertura da mostra está marcada para as 19h30 desta terça.

Foto feita em 1950 pelo artista José Yalenti. Reprodução para divulgação: João L Musa

Contemporâneos:

No Museu do Estado, a exposição Pernambuco cena contemporânea reúne trabalhos de dez artistas que atualmente têm alcançado destaque no circuito artístico nacional e internacional. Um deles é Paulo Bruscky, apresentado como o pioneiro nas experimentações com novas linguagens, cuja obra teria dado origem ao cenário desenvolvido pelos outros nove no estado (nem todos são pernambucanos, mas consolidaram a carreira em Pernambuco). Os demais participantes são Oriana Duarte, Carlos Mélo, Paulo Meira, Márcio Almeida, Lourival Cuquinha, Cristiano Lenhardt, Jonathas de Andrade, Eudes Mota e José Paulo. A exposição é patrocinada pelo banco Santander, que atualmente administra o Museu do Estado. A abertura (para convidados) está marcada para esta terça, às 19h, e a exposição continua em cartaz até o dia 27 de setembro.

COMENTÁRIO - CRISE NA ARTE LOCAL:

Em dezembro de 2013, um abaixo-assinado organizado por artistas e curadores denunciou o descaso vivido pela arte contemporânea em Pernambuco. Enquanto a produção artística pernambucana ganha destaque nacional e internacional, os investimentos no setor diminuíram no estado (o Salão de Artes Plásticas, por exemplo, foi extinto). O protesto não teve efeito prático já que, desde então, nada mudou. Das três exposições que entram em cartaz nesta terça nos dois principais museus estatais do Recife (o Museu do Estado e o Mamam), duas são promovidas por bancos privados (Itaú e Santander) e a outra só foi possível graças a verbas da Funarte (instituição federal). Já que não recebem recursos para elaborar e divulgar uma programação expositiva própria com um olhar propositivo, os museus praticamente passaram a hospedar apenas projetos que já chegam patrocinados por fontes externas. A exposição Inimigos ficará em cartaz no Mamam até fevereiro de 2016, um período longo demais (seis meses no total), que apenas confirma a incapacidade de renovação da programação do museu.

ENDEREÇOS E HORÁRIOS:

Mamam

Rua da Aurora, 265, Boa Vista

De terça a sexta, das 12h às 18h; Sábados e domingos, das 13h às 17h

Informações: 3355-6870

Museu do Estado

Avenida Rui Barbosa, 960, Graças

De terça a sexta, das 9h às 17h; Sábados e domingos, das 14h às 17h

Informações: 3184-3174

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