MÚSICA

Maciel Salú lança álbum com referências à cultura afro-indígena brasileira

Publicado em: 31/07/2023 15:46

Novo lançamento de Maciel Salú já está disponível nas plataformas (Crédito: Anderson Stevens)
Novo lançamento de Maciel Salú já está disponível nas plataformas (Crédito: Anderson Stevens)
Ogum é o título do novo álbum de Maciel Salú e é o sexto lançamento de sua carreira. No novo projeto, o artista pernambucano apresenta sua homenagem em forma de canção a seu orixá, que é responsável por ensinar aos homens a caça, o trabalho com o ferro e as artes da forja e da guerra. Com fortes referências da cultura popular e religiões afro-indígenas, o trabalho, que é realizado de forma independente, chegou às plataformas virtuais nesta segunda-feira (29).
 
Cinco anos depois do disco-manifesto intitulado Liberdade (2018), Ogum apresenta um trabalho ainda mais fincado nas tradições de terreiro, além de sonoridades da cumbia e afrobeat. “Em Ogum, a gente traz um pouco mais das peles, do Ilú, das congas, da alfaia. Na música-título, uma guitarra e um baixo fazem parte do arranjo, que traz elementos de terreiro, mas com outra roupagem. Os arranjos são construídos por mim e pelos integrantes da banda”, explica Maciel.
 
Título do disco é uma homenagem ao orixá de Maciel (Crédito: Anderson Stevens)
Título do disco é uma homenagem ao orixá de Maciel (Crédito: Anderson Stevens)
 
A escolha do título se dá pela vontade do artista de homenagear seu orixá, que se materializa através da arte que Maciel escolheu para se expressar: a música. O momento de composição dessa faixa, inclusive, guarda uma história especial, já que a primeira parte da letra foi escrita no dia 23 de abril de 2020 – data em que se celebra o Dia de São Jorge, que no sincretismo das religiões afro-brasileiras é associado a Ogum. A outra parte da poesia, no entanto, permaneceu um ano inteiro guardada, sem ser revisitada por seu compositor, até que na mesma data do ano seguinte, Maciel retornou à letra para, então, concluí-la.

“No meu trabalho de palco, trago a rabeca, um instrumento de origem árabe, que é popularizada no cavalo marinho; trago o bombinho, que está no caboclinho, que está no coco; trago também a alfaia, que está no maracatu de baque virado, no coco; o ilú, que está  no terreiro de candomblé, no terreiro de jurema e outros, que junto com bateria, guitarra, baixo e, numa delas, teclado. Tudo isso vou vivenciando. A gente pode ir experienciando a novidade, mas sem perder a minha identidade, a origem do meu trabalho”, pontua o artista.

A canção que abre este novo projeto é Os Caboclos no Terreiro, cujos versosevidenciam a vivência de Maciel Salú com o Maracatu Rural, apresentando uma sonoridade e uma levada mais próxima do afrobeat. A faixa apresenta uma reflexão sobre a valorização não só dos mestres e mestras, como também dos outros folgazões, considerando todo o cenário das sambadas de maracatu no interior do Estado de Pernambuco.

E sobre a influência da cultura popular em sua vida, Maciel afirma: “A cultura popular é minha vida, não sei viver sem ela, é ela que me dá inspiração para tudo o que sou hoje. Escuto também outras culturas, mas maracatu rural, ciranda, cavalo marinho, coco, a cultura dos Povos Originários, além de música caribenha – gosto muito de Ibrahim Ferrer e Bob Marley – música africana, frevo e forró, gosto muito de escutar”.

A canção Ciranda da Saudade é uma história de amor de uma pessoa que se entrega a um relacionamento, mas sofre com a partida da pessoa amada e se pega constantemente revisitando as lembranças de tudo o que já viveram juntos. A temática do amor também aparece em La Cumbia Morena, mas desta vez, porém, os versos são a partir de alguém que se apaixona por uma dama de vermelho ao vê-la dançar numa gafieira. A canção Baila, por sua vez, intensifica o mergulho de Maciel Salú nos ritmos afro-caribenhos com uma cumbia que convida todos e todas para dançar.
 
Maciel Salú tem um repertório extenso, marcado por melodias ancestrais e nordestinas  (Crédito: Anderson Stevens)
Maciel Salú tem um repertório extenso, marcado por melodias ancestrais e nordestinas (Crédito: Anderson Stevens)
 
Reconhecido pela crítica e pelo público, Maciel Salú apresenta uma sonoridade que mescla melodias ancestrais, poesias com versos marcantes e referências às culturas nordestinas, além de uma pesquisa na música contemporânea. O artista pernambucano já foi indicado ao Grammy Latino, na categoria Melhor Álbum Regional de Música Brasileira, com um de seus projetos paralelos, a Orquestra Contemporânea de Olinda, e com o projeto  Orchestra Santa Massa ganhou reconhecimento através do BBC Awards, do Prêmio Tim (melhor álbum) e do Prêmio Multicultural Estadão.

Dono de um timbre grave e voz única, Maciel Salú é chamado por alguns de voz do trovão. Sua identidade vocal se assemelha à sonoridade que imprime com sua rabeca, instrumento que escolheu para dedicar grande aprendizado e aprimoramento técnico. Na construção de seus acordes, Maciel Salú traz referências do rebab árabe e norte-africano. E, em Ogum, suas diversas influências pincelam todas as faixas, assim como sua rabeca segue tendo bastante destaque e estando presente na maioria das canções do novo álbum.

Maciel Salú lidera o Movimento Azougue, que vem ganhando destaque com o projeto homônimo criado e coordenado por Maciel Salú desde 2016, no qual evidencia a cultura popular como base de uma cena artística que merece ter o reconhecimento devido. O Azougue reflete uma musicalidade e um fluxo diferente do que vivenciamos com o Manguebeat. No movimento da década de 1990, artistas da capital foram em busca das referências da cultura popular da Zona da Mata Norte de Pernambuco. O Azougue, no entanto, é o movimento dos artistas com raízes na Mata Norte que vão aos centros urbanos e, com suas criações artísticas, renovam a música pop pernambucana e brasileira.

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