(none) || (none)
UAI

Continue lendo os seus conteúdos favoritos.

Assine o Estado de Minas.

price

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e segurança do Google para fazer a assinatura.

Assine agora o Estado de Minas por R$ 9,90/mês. ASSINE AGORA >>

Publicidade

Estado de Minas

Darcy, o eterno mago do indigenismo


24/10/2022 04:00

José Renato de Castro Cesar
Administrador. Tecnólogo e Escritor. Indigenista especializado do Museu do Índio/FUNAI.

ilustração para artigo sobre Darcy Ribeiro
(foto: Paulo Miranda)

Darcy Ribeiro, um mineiro, se dizia latino-americano. Defendeu, enquanto viveu, os direitos indígenas



Darcy Ribeiro é mineiro de Montes Claros. E, em 26 de outubro de 2022, festeja-se seu centenário. Que o povo brasileiro saiba reverenciar sua memória. Mais que um antropólogo dos bons, foi um literato. Estadista como poucos, é imortal na Academia Brasileira de Letras. Gostava de dizer que era filho de Mestra Fininha, cuja vida de viúva, professora e mãe, pelos idos da Semana de Arte Moderna, daria um romance simbolista.

Muitos dizem que Darcy era comunista. E era mesmo. Por influência benfazeja do seu professor Dr Amílcar Viana Martins, na Escola de Medicina de Belo Horizonte, onde estudou de 1939 a 1943, descobriu as ciências humanas e sociais e o comunismo iluminado. E foi ser antropólogo em São Paulo. Lá, pelos idos de 1946, conhece Berta Gleizer, também filiada ao PCB, com quem viria a se casar. Dizem que o suicídio de Getúlio levou Darcy a romper com o Partido Comunista. Depois, se filiaria ao PDT.

Entre 1953-54, como etnólogo, foi morar com os índios pelos sertões de Goiás, Mato Grosso e Amazônia pesquisando os Xavantes, Kaapor, Kadiwéu e outros. Trabalhou pelo menos 10 anos no SPI (Serviço de Proteção aos Índios), publicou livros, deu aulas e assessorou Rondon. Tanto fez Darcy, que em 1953 fundou o Museu do Índio no Rio de Janeiro, num prédio eclético na Rua Mata Machado, ao lado do Maracanã. Em 1977 o Museu do Índio foi transferido para a Rua das Palmeiras, 55, no Botafogo.

No Museu do Índio, Darcy Ribeiro, Max Boudin, Gama Malcher e Cândido Rondon muito fizeram pelos povos indígenas, por suas culturas e pelo Indigenismo Brasileiro e mundial; pesquisando, guardando e expondo um acervo único no Mundo e que nos trouxe inomináveis benefícios, enquanto nação pluriétnica; cujo inconsciente coletivo vai se formando, num balouçar entre a desculturação e a aculturação. Processo que Darcy inventou para explicar o Brasil, e que tanto gostava de ensinar.

Em 1955, Darcy foi convidado por Juscelino Kubitschek para colaborar com seu governo, indo para Brasília com Anísio Teixeira, seu dileto amigo, para se tornar o grande educador que veio a ser. Foi Anísio que o empurrou para a Educação. Assim, ajudou a fundar a UnB, coordenando os trabalhos de duas centenas de intelectuais, mandados para lá, por Juscelino. E, foi seu primeiro reitor, entre 1961 e 1962.

Em 1962, entregou o cargo e assumiu como Ministro da Educação e Cultura no Governo João Goulart (o Jango, que tão poucos conhecem). O sociólogo Paulo Ribeiro (sobrinho de Darcy) conta que, na época do Golpe de 64, Jango se mostrou fraco. Tanto que Brizola brigou com ele, porque Jango se recusava a resistir aos militares. Paulo não conta que foi a pedido de Jango que Darcy e Waldir Pires ficaram três dias dentro do Palácio do Planalto, sendo retirados em 03 de abril de 1964 e colocados num avião com destino ao Uruguay. Mas, isso não importa. Darcy continua sendo um mago da política, do indigenismo e da educação. Soube, como ninguém, negociar com gregos e troianos em prol do Brasil e mais ainda, em prol dos povos indígenas a quem defendia. Em 1978 topou séria briga com Maurício Rangel Reis, ministro do Interior de Geisel, pelas desordens que este ministro provocou ao estimular invasões de terras indígenas.

Fundou os CIEPs de Anísio Teixeira e deu asas à imaginação. Darcy aproveitou ideias outras, em prol do pobre povo brasileiro. Sabia amar e respeitar a situação de pobreza do “outro”, porque um dia ele havia sido pobre. Até que descobriu uma biblioteca, quando tinha apenas 12 anos. Ah, Montes Claros... Geraste Darcy... Agora vê... Mestra Fininha o tem no céu. O céu dos justos está cheio de comunistas, bons como Darcy, Berta, Genny e Allende; que rezavam na cartilha do amor, da paz e da fraternidade. Da luta sem armas... Uma luta moral e ética.

Assim era Darcy Ribeiro com os povos indígenas: moral e ético. Além de êmico. Era amoroso e respeitoso. Era alegre, bonachão, fala mansa. Darcy Ribeiro, um mineiro, se dizia latino-americano. Defendeu, enquanto viveu, os direitos indígenas. Dizia, o tempo todo, que os índios eram desamparados e oprimidos e que o Estado devia se colocar sempre a serviço deles. Apoiado pelo Marechal Cândido Rondon, fundou o Museu do Índio e criou ali o primeiro mestrado em antropologia do Brasil, que depois, ele mesmo, enquanto Ministro da Educação, transferiu para o Museu Nacional.

Eh, Viva Darcy Ribeiro! Que seu nome seja lembrado por brancos e índios, eternamente.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)