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Lavrador de Café (1934), pintura a óleo sobre tela, uma das mais famosas obras de Portinari | Reprodução
Lavrador de Café (1934), pintura a óleo sobre tela, uma das mais famosas obras de Portinari| Foto: Reprodução

Serviço

Portinari do Brasil

Brasil, 2012. Direção-geral de Rozane Braga e direção de Sonia Garcia. FBL Criação e Produção. Preço médio: R$ 54,90. Documentário.

  • Autorretato, de 1957
  • Painel Tiradentes, de 1949: maior elogio veio de um homem do povo

Depois de dar as últimas pinceladas no monumental Painel Tiradentes, em 1949, Cândido Portinari (1903-1962), então com 46 anos, ouviu de um anônimo aquele que teria sido, segundo o artista, o maior elogio recebido em toda a sua carreira. Um homem do povo, cujo nome nunca soube, depois de contemplar por alguns minutos, em absoluto silêncio, a obra – uma pintura à têmpera (tinta artesanal) composta por três telas justapostas, com dimensão total de 17,70m x 3,09m –, disse: "É uma pena que o senhor um dia vai morrer".

Portinari, considerado o maior expoente da pintura brasileira de todos os tempos, levaria 13 anos para dar seu último suspiro – ironicamente, morreu em decorrência do lento envenenamento pelas tintas que utilizou na confecção de suas obras ao longo das muitas décadas dedicadas à sua arte. Há, no entanto, algo de poético nesse partir, uma vez que, desde menino, na pequena Brodósqui, cidade da região nordeste do estado de São Paulo, ele só pensou em ser uma coisa na vida: pintor.

O documentário Portinari do Brasil, que tem direção-geral de Rozane Braga, direção de Sonia Garcia e roteiro de Maria Gessy, faz um mergulho na biografia do pintor, explorando aspectos de sua vida pessoal que, inevitavelmente, acabam se entrelaçando a sua carreira, determinando-lhe os rumos. O filme, integrante da série Grandes Brasileiros, está sendo lançado direto em DVD e está à venda tanto nas lojas quanto no site da Livraria Cultura.

Camponeses

Filho de imigrantes italianos da região da Toscana, Portinari sempre explicou a sua opção por retratar homens do povo, desvalidos, trabalhadores braçais, porque se julgava um legítimo descendente dessa classe de pessoas, que salgam a terra com o suor do corpo em labuta. "Sou filho de camponeses e é essa gente que me interessa."

Portinari do Brasil, embora bem realizado, e resultado de uma pesquisa esmiuçada, é bastante convencional na forma, o que não lhe rouba a relevância. Sobrevive à previsibilidade de uma produção excessivamente didática por contar, entre suas fontes, com as memórias do próprio Portinari, que deixou, em uma prosa fluente, imersa em poesia e lucidez, relatos incríveis e profundamente emocionais de episódios de sua trajetória. A narração é do ator paranaense Herson Capri.

Mais do que os pontos altos da trajetória do "grande artista", essas reminiscências em primeira pessoa trazem momentos da vida privada que acabam explicando, de forma mais complexa, a figura pública.

Já reconhecido, respeitado como grande nome da pintura modernista, Portinari voltou a Brodósqui e encontrou a avó amuada. Católica fervorosa, mas limitada pela idade e por uma doença que a impedia de se locomover, ela não se conformava em não poder ir à igreja. Cândido não se fez rogado: arregaçou as mangas e fez, na casa da família, uma capelinha com várias imagens de santos pintadas por ele.

Engajamento

Como não poderia deixar de ser, o documentário dá bastante ênfase à militância política de Portinari, que não se limitou a seu trabalho de artista, que teve forte cunho social. Esse engajamento, que o levou a disputar, e perder, em 1947 uma cadeira no Senado Federal, pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB), também o impediria de ver sua obra maior, os painéis Guerra e Paz (1953-1956), serem instalados em 1956 na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York.

Visto como militante de esquerda, e simpatizante do comunismo, o governo dos Estados Unidos, onde já havia trabalhado em murais instalados na Biblioteca do Congresso, em Washington, negou o visto de entrada a Portinari. Em novembro de 2010, depois de 53 anos, Guerra e Paz voltaram ao Brasil e foram exibidas no Teatro Municipal do Rio de Janeiro.

O DVD com Portinari do Brasil traz os prêmios e as exposições internacionais do artista, junto a extras – O Ilustrador, O Muralista e O Pintor Sacro, todos com depoimentos gravados com o filho João Candido e o pintor Israel Pedrosa, que foi seu aluno.

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