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As Barbas do Imperador: D. Pedro II, um Monarca nos Trópicos
Misto de ensaio interpretativo e biografia de d. Pedro II, este livro materializa o mito monárquico ao descrever, por exemplo, a construção dos palácios, a mistura de ritos franceses com costumes brasileiros, a maneira como a boa sociedade praticava a arte de bem civilizar-se, a criação de medalhas, emblemas, dísticos e brasões, a participação do monarca e o uso de sua imagem em festas populares. Com sua murça de penas de tucano, Pedro II de certo modo legitimava a tropicalização dos costumes monárquicos; depois, trocando o manto imperial pelas roupas de cidadão, estará de algum modo anunciando a decadência do Império. Promovendo um diálogo fértil entre sua argumentação e a riquíssima iconografia apresentada, a autora mostra de que maneira a monarquia brasileira tornou-se um mito não apenas vigoroso, mas extremamente singular.
Prêmio Jabuti 1999 de Melhor Ensaio e Biografia
Prêmio Jabuti 1999 de Melhor Ensaio e Biografia
631 pages, Paperback
First published February 10, 1998
About the author
Lilia Moritz Schwarcz
71 books226 followersNasceu em 1957, em São Paulo. É professora titular no Departamento de Antropologia da USP. Seu livro As barbas do imperador - D. Pedro II, um monarca nos trópicos ganhou o prêmio Jabuti Livro do Ano, em 1999. Além deste, publicou também: O espetáculo das raças, O sol do Brasil (prêmio Jabuti de melhor biografia, 2009), D. João carioca - história em quadrinhos sobre a chegada da corte portuguesa ao Brasil, em coautoria com Spacca -, entre outros livros.
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Community Reviews
Displaying 1 - 21 of 21 reviews
September 17, 2019
É difícil a tarefa de descrever este livro, justamente por passar longe de ser o que, tradicionalmente, se vê como estudo histórico. A verdade é que o trabalho de Lilia Schwarcz nessa obra é um grande feito: não apenas há história como há indagações das mais pertinentes, aliadas a um conteúdo de fácil leitura e entendimento, reforçado por dezenas de imagens — estas não exclusivas das duas grandes seções de documentos coloridos, senão presentes em todos os capítulos, ainda que em preto e branco.
Ainda que se proponha a analisar como protagonista D. Pedro II, a obra "As Barbas do Imperador" faz uso de tantos mais artifícios que, finalmente, se torna evidente o intuito progressivo do livro de produzir duas análises antagônicas, mas complementares, do monarca. De um lado, temos Pedro II associado, inquestionavelmente, às festas do império, à nobreza, à cultura que se pretendia criar e erudir na época, o país que se ambicionava polir. Evidenciam-se essas pretensões e predisposições já nos capítulos iniciais, que tratam do imperador ainda sob os cuidados da corte, aguardando o fim da regência. O que fica evidente é que Pedro usou e foi usado pelas forças de seu tempo, imiscuindo-se-lhes em prol de estabilidade e governança, e orquestrando sua entrada no imaginário popular.
A segunda análise do império é, conquanto, dissociativa, e começa a ganhar força conforme o próprio monarca se afasta do simbolismo sobre o qual operou nas primeiras décadas de atuação. De fato, a partir do décimo-primeiro capítulo, onde relata a Guerra do Paraguai, a própria autora explicita que, dali em diante, surgiriam visões diferentes do imperador: aquela figura hegemônica, inabalável, indivisível, se começa a reduzir a fatiga e desgaste da monarquia; o magnânimo tenta buscar um tempo para si.
Mas discutamos agora os capítulos, analisemos a evolução do livro. Os dois primeiros são de brevidade notável, uma espécie de acréscimo interpretativo à obra, que expõe a lógica sob a qual a autora analisará e apresentará o segundo reinado sob a figura Pedro II. No primeiro, uma reflexão sobre a história de "A roupa nova do rei", onde evidencia-se que, para a historiadora, a monarquia depende de um grande teatro, uma constante atração que sacralize as imagens da realeza, uma "dissimulação", como ela muito destaca. Já o segundo é munido de mais valor histórico, uma recapitulação da fuga da corte e períodos subsequentes, para situar o começo da jornada de Pedro II.
No terceiro capítulo, é vez de prestigiar o nascimento do monarca, sem deixar de notar que sua imagem é magistralmente esculpida, como a de seu pai durante os conflitos por independência, para atender aos anseios daqueles que não mais aguentavam as instabilidades regenciais. Vincula-se, aqui — e por essa reflexão, que se não me fosse pela autora incidida, nunca me viria à mente —, a primeira das manifestações de "dissimulação" por parte do futuro imperador: as representações oficiais transpareciam seu olhar penetrante, mas indecifrável, expondo sua educação focada em negócios de Estado.
No quarto capítulo, passado o golpe da maioridade, é que as forças associativas começam suas empresas. Com uma coleção surpreendente de imagens do jovem monarca, a autora torna mais evidente o processo de teatralização do sistema, onde diferentes artistas retratam de estranhamente diferentes maneiras o imperador, seja acrescendo-lhe barba, altura, ou feição confiante. Até mesmo para retratar a aclamação de Pedro, as vestes do líder têm suas proporções adequadas à importância do momento nas obras, muito embora não tenha sido esse o caso na realidade.
Ainda focado na juventude do protagonista, o quinto capítulo esquematiza mais a lógica do poder, desta vez focando-se em seu casamento com Teresa Cristina, do processo de procura ao de efetivação. Em uma das páginas, o relato: D. Pedro, ao ver sua futura esposa em pessoa pela primeira vez, teria chorado de decepção. Mais uma vez, a associação pungente entre vida pública e privada é exposta: manter a realeza tem seus muitos sacrifícios de pessoalidade.
No sexto capítulo, o leitor é apresentado à sociedade burguesa da época, e o foco é transferido de Pedro II para os fidalgos e os que aspiravam à fidalguia. Como é comum por toda a obra, Lilia utiliza diversas citações de descrições estrangeiras e crônicas satirizando o contexto, de modo a melhor caracterizar a sociedade em torno da corte. É aqui que o poder da monarquia sobre as classes urbanas mais abastadas se manifesta, junto com as contradições das tentativas de importação de vezos europeus para um país tropical. Não menos interessantes são as abordagens sobre o desenvolvimento socioeconômico da capital e os manuais de boa convivência, que encontram interessantes nuances atuais.
Os quatro capítulos subsequentes tratam, respectivamente, do IHGB — e a participação do imperador nessa importante instituição —, da nobreza — e sua história, desde os tempos das cruzadas, como se adaptou aos séculos e suas especificidades no Brasil—, dos palácios do imperador — seus propósitos e suas histórias — e das festas do império — festas oficiais, dia de reis, procissões, festa do divino, cavalhadas, congadas, batuques, entrudo, carnaval, D. Sebastião, São Jorge e a figura do imperador em meio a essa mistura de europeísmo com africanismo.
Diria que esses últimos quatro capítulos foram, quiçá, meus favoritos, tanto pelo grosso aglomerado de informações quanto por fornecerem um panorama da situação do império em começo e meados do segundo reinado.
Os capítulos 11 e 12 lidam, respectivamente, com a guerra do Paraguai e a ideia de "monarca-cidadão". Admitidamente, o primeiro, que conta com 24 páginas, pode ser um tanto confuso devido ao pouco espaço dado para um conflito que durou, dos pretextos ao fim da guerra, dois decênios. Também é aqui que o livro toma um aspecto estranho de especulação a respeito da figura do monarca e suas ações, escolha da autora que falho em compreender.
Enfim, no capítulo 11, percebe-se a evolução do monarca de figura praticamente divina para militar convicto, e disso para, no capítulo 12, um cidadão. Se interpretarmos a situação da mesma maneira que Lilia, como uma "dissimulação", vemos nela uma clara polarização: o imperador desejava modernizar seu império, e para isso adotava uma apresentação mais burguesa; ao mesmo tempo, mundanizava-se, perdendo, aos poucos, a graça que dava sustento ao seu regime.
Nos três capítulos que se seguem, temos a revolução do daguerreótipo, as viagens do imperador e as exposições universais como voga. As relações entre eles são evidentes, já que destacam um pouco mais dessa tentativa de modernização do país. Ao mesmo tempo, dilui-se na leitura a noção de que D. Pedro II, cada vez mais distante do Brasil em momentos cruciais de sua existência, começa a perder as rédeas do sistema.
Finalmente, os quatro capítulos finais: as chacotas com o imperador, o golpe da república, o exílio da família real e os efeitos póstumos da morte de Pedro II sobre o imaginário brasileiro.
No fim da obra, Lilia ainda tece alguns comentários acerca das relações entre história e mito — parte dos quais tive dificuldade de entender, talvez seja uma seção mais dedicada a historiadores e relacionados.
Ao todo, são dezenove capítulos, mais um seção de comentários a respeito da figura do monarca. Como já destaquei aqui, a leitura é prazerosa, compreensível e rica em detalhes. Sinto que os únicos defeitos do livro se concentram justamente nos capítulos em que o imperador é o centro das atenções. Estes — ao contrário dos capítulos que descrevem o país, que são extremamente detalhados — parecem carecer de personalidade, de introspecção, o que não é de todo incompreensível, já que compreender Pedro II como um indivíduo é dificílimo e arrisca parcialidade — algo que, respeitável e admiravelmente, Lilia evita.
Ademais, parece que o conjunto da obra não visa, exatamente, ser uma biografia de Pedro II e suas relações pessoais — se o fosse, a ausência de personagens como o Barão de Mauá seria um crime —, mas de suas relações com o país, sua maneira de fazer persistir no Brasil o sistema e o pensamento monárquico.
Caso surjam dúvidas, a maioria delas pode ser sanada pelas notas da autora, também extremamente grossas, junto com sua bibliografia. Certamente foi bastante trabalhoso organizar todas essas informações e concatená-las de modo a produzir livro tão extenso e racional.
Pode-se considerar o objetivo da obra atingido, já que as análises de Lilia explanam bem o que e por que funcionou ou falhou entre as ideias do imperador. Por esse motivo e os previamente apresentados, o livro tem minha recomendação.
Ainda que se proponha a analisar como protagonista D. Pedro II, a obra "As Barbas do Imperador" faz uso de tantos mais artifícios que, finalmente, se torna evidente o intuito progressivo do livro de produzir duas análises antagônicas, mas complementares, do monarca. De um lado, temos Pedro II associado, inquestionavelmente, às festas do império, à nobreza, à cultura que se pretendia criar e erudir na época, o país que se ambicionava polir. Evidenciam-se essas pretensões e predisposições já nos capítulos iniciais, que tratam do imperador ainda sob os cuidados da corte, aguardando o fim da regência. O que fica evidente é que Pedro usou e foi usado pelas forças de seu tempo, imiscuindo-se-lhes em prol de estabilidade e governança, e orquestrando sua entrada no imaginário popular.
A segunda análise do império é, conquanto, dissociativa, e começa a ganhar força conforme o próprio monarca se afasta do simbolismo sobre o qual operou nas primeiras décadas de atuação. De fato, a partir do décimo-primeiro capítulo, onde relata a Guerra do Paraguai, a própria autora explicita que, dali em diante, surgiriam visões diferentes do imperador: aquela figura hegemônica, inabalável, indivisível, se começa a reduzir a fatiga e desgaste da monarquia; o magnânimo tenta buscar um tempo para si.
Mas discutamos agora os capítulos, analisemos a evolução do livro. Os dois primeiros são de brevidade notável, uma espécie de acréscimo interpretativo à obra, que expõe a lógica sob a qual a autora analisará e apresentará o segundo reinado sob a figura Pedro II. No primeiro, uma reflexão sobre a história de "A roupa nova do rei", onde evidencia-se que, para a historiadora, a monarquia depende de um grande teatro, uma constante atração que sacralize as imagens da realeza, uma "dissimulação", como ela muito destaca. Já o segundo é munido de mais valor histórico, uma recapitulação da fuga da corte e períodos subsequentes, para situar o começo da jornada de Pedro II.
No terceiro capítulo, é vez de prestigiar o nascimento do monarca, sem deixar de notar que sua imagem é magistralmente esculpida, como a de seu pai durante os conflitos por independência, para atender aos anseios daqueles que não mais aguentavam as instabilidades regenciais. Vincula-se, aqui — e por essa reflexão, que se não me fosse pela autora incidida, nunca me viria à mente —, a primeira das manifestações de "dissimulação" por parte do futuro imperador: as representações oficiais transpareciam seu olhar penetrante, mas indecifrável, expondo sua educação focada em negócios de Estado.
No quarto capítulo, passado o golpe da maioridade, é que as forças associativas começam suas empresas. Com uma coleção surpreendente de imagens do jovem monarca, a autora torna mais evidente o processo de teatralização do sistema, onde diferentes artistas retratam de estranhamente diferentes maneiras o imperador, seja acrescendo-lhe barba, altura, ou feição confiante. Até mesmo para retratar a aclamação de Pedro, as vestes do líder têm suas proporções adequadas à importância do momento nas obras, muito embora não tenha sido esse o caso na realidade.
Ainda focado na juventude do protagonista, o quinto capítulo esquematiza mais a lógica do poder, desta vez focando-se em seu casamento com Teresa Cristina, do processo de procura ao de efetivação. Em uma das páginas, o relato: D. Pedro, ao ver sua futura esposa em pessoa pela primeira vez, teria chorado de decepção. Mais uma vez, a associação pungente entre vida pública e privada é exposta: manter a realeza tem seus muitos sacrifícios de pessoalidade.
No sexto capítulo, o leitor é apresentado à sociedade burguesa da época, e o foco é transferido de Pedro II para os fidalgos e os que aspiravam à fidalguia. Como é comum por toda a obra, Lilia utiliza diversas citações de descrições estrangeiras e crônicas satirizando o contexto, de modo a melhor caracterizar a sociedade em torno da corte. É aqui que o poder da monarquia sobre as classes urbanas mais abastadas se manifesta, junto com as contradições das tentativas de importação de vezos europeus para um país tropical. Não menos interessantes são as abordagens sobre o desenvolvimento socioeconômico da capital e os manuais de boa convivência, que encontram interessantes nuances atuais.
Os quatro capítulos subsequentes tratam, respectivamente, do IHGB — e a participação do imperador nessa importante instituição —, da nobreza — e sua história, desde os tempos das cruzadas, como se adaptou aos séculos e suas especificidades no Brasil—, dos palácios do imperador — seus propósitos e suas histórias — e das festas do império — festas oficiais, dia de reis, procissões, festa do divino, cavalhadas, congadas, batuques, entrudo, carnaval, D. Sebastião, São Jorge e a figura do imperador em meio a essa mistura de europeísmo com africanismo.
Diria que esses últimos quatro capítulos foram, quiçá, meus favoritos, tanto pelo grosso aglomerado de informações quanto por fornecerem um panorama da situação do império em começo e meados do segundo reinado.
Os capítulos 11 e 12 lidam, respectivamente, com a guerra do Paraguai e a ideia de "monarca-cidadão". Admitidamente, o primeiro, que conta com 24 páginas, pode ser um tanto confuso devido ao pouco espaço dado para um conflito que durou, dos pretextos ao fim da guerra, dois decênios. Também é aqui que o livro toma um aspecto estranho de especulação a respeito da figura do monarca e suas ações, escolha da autora que falho em compreender.
Enfim, no capítulo 11, percebe-se a evolução do monarca de figura praticamente divina para militar convicto, e disso para, no capítulo 12, um cidadão. Se interpretarmos a situação da mesma maneira que Lilia, como uma "dissimulação", vemos nela uma clara polarização: o imperador desejava modernizar seu império, e para isso adotava uma apresentação mais burguesa; ao mesmo tempo, mundanizava-se, perdendo, aos poucos, a graça que dava sustento ao seu regime.
Nos três capítulos que se seguem, temos a revolução do daguerreótipo, as viagens do imperador e as exposições universais como voga. As relações entre eles são evidentes, já que destacam um pouco mais dessa tentativa de modernização do país. Ao mesmo tempo, dilui-se na leitura a noção de que D. Pedro II, cada vez mais distante do Brasil em momentos cruciais de sua existência, começa a perder as rédeas do sistema.
Finalmente, os quatro capítulos finais: as chacotas com o imperador, o golpe da república, o exílio da família real e os efeitos póstumos da morte de Pedro II sobre o imaginário brasileiro.
No fim da obra, Lilia ainda tece alguns comentários acerca das relações entre história e mito — parte dos quais tive dificuldade de entender, talvez seja uma seção mais dedicada a historiadores e relacionados.
Ao todo, são dezenove capítulos, mais um seção de comentários a respeito da figura do monarca. Como já destaquei aqui, a leitura é prazerosa, compreensível e rica em detalhes. Sinto que os únicos defeitos do livro se concentram justamente nos capítulos em que o imperador é o centro das atenções. Estes — ao contrário dos capítulos que descrevem o país, que são extremamente detalhados — parecem carecer de personalidade, de introspecção, o que não é de todo incompreensível, já que compreender Pedro II como um indivíduo é dificílimo e arrisca parcialidade — algo que, respeitável e admiravelmente, Lilia evita.
Ademais, parece que o conjunto da obra não visa, exatamente, ser uma biografia de Pedro II e suas relações pessoais — se o fosse, a ausência de personagens como o Barão de Mauá seria um crime —, mas de suas relações com o país, sua maneira de fazer persistir no Brasil o sistema e o pensamento monárquico.
Caso surjam dúvidas, a maioria delas pode ser sanada pelas notas da autora, também extremamente grossas, junto com sua bibliografia. Certamente foi bastante trabalhoso organizar todas essas informações e concatená-las de modo a produzir livro tão extenso e racional.
Pode-se considerar o objetivo da obra atingido, já que as análises de Lilia explanam bem o que e por que funcionou ou falhou entre as ideias do imperador. Por esse motivo e os previamente apresentados, o livro tem minha recomendação.
February 22, 2021
Uma excelente biografia do Imperador Dom Pedro II e, de certa maneira, um bom livro sobre o período imperial e de sua representação na história e na memória.
October 16, 2019
O livro é extenso. Mas, vencido o catatau, vamos aos comentários. A autora tenta explicar, por meio de imagens, relatos de viajantes e documentos, como a época do segundo império se parecia. O que pareceu, para mim, é que Dom Pedro II tentou não só governar o Brasil, mas construir uma nação que fosse um farol entre as nações. Para isso, não poupou esforços pessoais. Quem tem noção de como uma monarquia funciona e de como reis são criados para serem reis, pode notar como o nosso monarca sacrificou-se em prol de um país que praticamente emergia da floresta em direção ao que a civilização ocidental melhor produziu até então. Para tanto, era necessária a criação de uma mística, de uma simbologia, de um mito, se acharem melhor - algo como um modelo a ser seguido, um exemplo a ser alcançado. Assim, D. Pedro II lançou mão daquilo que estava disponível: rituais, festas, símbolos, representações, idealizações. O nosso imperador usou exaustivamente recursos locais, como o povo indígena e os produtos da terra, bem como um amálgama de diversas tradições preexistentes que foram criadas aqui ou trazidas de fora - junto com os escravos africanos, por exemplo-, para estruturar, ainda que lentamente, uma mentalidade, uma disposição, uma imaginação sobre o nosso povo que se sobrepusesse àquilo que éramos até aquele momento (pobre, escravagista, iletrado). Esse esforço em direção à noção de um povo diversificado, mas unido, é evidente em diversas ações tomadas pelo império brasileiro. A imagem de um imperador sempre cercado de livros e interessado em ciências deveria despertar essas paixões por dentre o povo - e Dom Pedro II frequentemente era retratado em situações assim. O abandono de alguns rituais ao fim do regime, e sua aproximação ao homem comum, um monarca-cidadão, deveria despertar nas mentes que reis não eram divinos, e nem inalcançáveis.
Infelizmente, ao trazer essas informações aos seus leitores, a autora o faz de uma forma pejorativa. É o 'fingimento', a 'dissimulação do imperador', o 'teatro da monarquia' que entremeia os parágrafos do seu texto. Lilia quer trazer àquele que lê sua obra uma abordagem completa sobre o período - e aí dá para entender que até fofoca virou fonte válida nela (várias passagens com 'teria', 'seria', 'diziam' inferindo coisas depreciativas) . Embora alguns leitores do livro tenham visto neutralidade no tratamento ao imperador, para mim o que ficou claro é que a monarquia, na opinião da autora, é uma grande peça a ser representada, sem que isso tenha um objetivo outro que não a própria justificação do regime. E ela chega ao fim do livro sem entender direito como é que o 'mito' Dom Pedro II ainda se manteve firme mesmo após ao golpe da República.
A propósito, os relatos da proclamação da república, contrastados com o Brasil que estava sendo construído, só me encheram de desprezo por tamanha irresponsabilidade daqueles que, ousadamente, se levantaram e expulsaram a família real do Brasil. Vejam por si mesmos os resultados: que país temos desde o dia 15 de novembro de 1889? Algo bom veio da Proclamação da República? Como teria dito o próprio Dom Pedro, aos responsáveis pela execução do degredo imperial, 'os senhores são uns doidos'. E desde então vemos as doidices dos nossos governantes, que não servem ao nosso país, mas se servem dele.
Ao fim, me tornei mais simpático ao Dom Pedro II e ao Império do que antes de ler o livro.
Infelizmente, ao trazer essas informações aos seus leitores, a autora o faz de uma forma pejorativa. É o 'fingimento', a 'dissimulação do imperador', o 'teatro da monarquia' que entremeia os parágrafos do seu texto. Lilia quer trazer àquele que lê sua obra uma abordagem completa sobre o período - e aí dá para entender que até fofoca virou fonte válida nela (várias passagens com 'teria', 'seria', 'diziam' inferindo coisas depreciativas) . Embora alguns leitores do livro tenham visto neutralidade no tratamento ao imperador, para mim o que ficou claro é que a monarquia, na opinião da autora, é uma grande peça a ser representada, sem que isso tenha um objetivo outro que não a própria justificação do regime. E ela chega ao fim do livro sem entender direito como é que o 'mito' Dom Pedro II ainda se manteve firme mesmo após ao golpe da República.
A propósito, os relatos da proclamação da república, contrastados com o Brasil que estava sendo construído, só me encheram de desprezo por tamanha irresponsabilidade daqueles que, ousadamente, se levantaram e expulsaram a família real do Brasil. Vejam por si mesmos os resultados: que país temos desde o dia 15 de novembro de 1889? Algo bom veio da Proclamação da República? Como teria dito o próprio Dom Pedro, aos responsáveis pela execução do degredo imperial, 'os senhores são uns doidos'. E desde então vemos as doidices dos nossos governantes, que não servem ao nosso país, mas se servem dele.
Ao fim, me tornei mais simpático ao Dom Pedro II e ao Império do que antes de ler o livro.
June 21, 2016
Quadrinho nacional de altissíma qualidade! Baseado no livro homônimo, a HQ dá um show ao resumir não só a vida do Imperador Dom Pedro II como também traçando um retrato do Brasil da segunda metade do século XIX com destaque para toda a simbologia usada pela Monarquia Brasileira. Um dos pontos altos é a recriação de diversas obras de arte da época em forma de quadrinhos devidamente creditadas. A obra é feita de maneira a agradar todas as idades. Poderia ser usado em escolas de ensino médio e fundamental pelo seu conteúdo mais aprofundado e interessante que muitos dos livros que são usados habitualmente.
July 3, 2021
Sou extremamente suspeito em falar tanto da personagem, quanto da autora. Misto de biografia com ensaio da construção do Estado brasileiro no século XIX, onde Dom Pedro transita como sua principal atração, ler este livro sem pressa alguma foi uma ótima opção. Havia lido em 2017 a adaptação dos quadrinhos do livro e a curiosidade em ler a obra na íntegra cresceu. Indicado a todos aqueles curiosos e sedentos em conhecer os pormenores da História.
November 24, 2016
É um livro bem mais acadêmico, então não recomendo para quem está procurando fofocas de bastidores. Mas é bastante interessante, na medida em que relaciona a vida do imperador com os acontecimento da história do país. Também mostra que a representação do Imperador, construída com cuidado pelos políticos da época, ajudou a formar não só a identidade nacional, mas esteve relacionada com a maneira como o Brasil era visto no mundo. A imagem de Dom Pedro II como um "monarca cidadão", por exemplo, foi veiculada com vistas a diminuir a desconfiança de nossos vizinhos, que eram todos repúblicas, e viam com desconfiança uma monarquia nos trópicos, regime tido como anacrônico. É uma leitura bastante interessante e eu recomento a todos que se interessam pela história do país.
October 25, 2016
"Ele mais parecia um poeta ou um sábio do que um imperador, mas se lhe tivesse sido dada a oportunidade de concretizar seus vários projetos, sem duvida teria feito do Brasil um dos países mais ricos do novo mundo "
( Jornal Weekly Register, 1891)
( Jornal Weekly Register, 1891)
March 5, 2014
meio superficial e muito didático.
May 21, 2017
Excelente material para uma leitura rápida. Recomendo que leiam quando já tiverem algum conhecimento sobre o Dom Pedro II. Leitura rápida e vale cada página!
January 20, 2018
Nessa obra Liliana Moritz detalha as circunstâncias, as motivações e as causas da criação do mito D. Pedro II, de uma forma muito esclarecedora, por meio de um texto muito claro e informativo. Como ela mesma diz, não se trata de uma biografia do Imperador, mas, antes, da criação de uma memória, de percorrer os caminhos que levaram à impressão no imaginário popular, em todas as classes, desse importantíssimo personagem da História do Brasil, que foi o primeiro e único Imperador genuinamente Brasileiro que tivemos. O livro também esclarece, com uma linguagem diferente daquela linguagem mecânica acadêmica diversas passagens da História nacional, o que ajuda a fixar conceitos. Em alguns capítulos iniciais, ao descrever a heráldica dos brasões e certos aspectos relacionados aos títulos nobiliárquicos a autora por vezes discorre demasiados detalhes que, a meu ver, fogem um pouco da proposta do livro, e os tornam um pouco cansativos, o que não tira a qualidade da obra como um todo, apenas a quinta estrela. Pela sua habilidade em nos colocar na cena de acontecimentos importantes para o país, sendo a Proclamação da República e o banimento da família real os mais marcantes, e na pele do Imperador ao enfrentar esses momentos, a autora nos leva a refletir sobre esses acontecimentos e a sociedade brasileira da época, cujas ações certamente têm seus efeitos ainda nos dias atuais.
In this work Liliana Moritz details the circumstances, motivations and causes of the creation of the D. Pedro II myth, in a very illuminating way, through a very clear and informative text. As she says, this is not a biography of the Emperor, but rather the creation of a memory, of traversing the paths that led to print in the popular imagination, in all classes, this very important personage of Brazilian History, who was the first and only genuinely Brazilian Emperor we had. The book also clarifies, with a language different from that mechanical academic language, several passages of national history, which helps to fix concepts. In some early chapters, when describing coat-of-arms heraldry and some aspects related to nobiliary titles, the author sometimes writes too many details that, in my view, run away from the book's proposal, and make them a bit tiresome, which does not deny the quality of the work as a whole, only the fifth star. Because of her ability to put us on the scene of important events for the country, of which the Proclamation of the Republic and the banishment of the royal family are the most striking, and on the Emperor's shoes in facing those moments, the author leads us to reflect on these events and on the Brazilian society of the time, whose actions certainly have their effects still in the present day.
In this work Liliana Moritz details the circumstances, motivations and causes of the creation of the D. Pedro II myth, in a very illuminating way, through a very clear and informative text. As she says, this is not a biography of the Emperor, but rather the creation of a memory, of traversing the paths that led to print in the popular imagination, in all classes, this very important personage of Brazilian History, who was the first and only genuinely Brazilian Emperor we had. The book also clarifies, with a language different from that mechanical academic language, several passages of national history, which helps to fix concepts. In some early chapters, when describing coat-of-arms heraldry and some aspects related to nobiliary titles, the author sometimes writes too many details that, in my view, run away from the book's proposal, and make them a bit tiresome, which does not deny the quality of the work as a whole, only the fifth star. Because of her ability to put us on the scene of important events for the country, of which the Proclamation of the Republic and the banishment of the royal family are the most striking, and on the Emperor's shoes in facing those moments, the author leads us to reflect on these events and on the Brazilian society of the time, whose actions certainly have their effects still in the present day.
March 5, 2018
Excelente biografia do Imperador D. Pedro II. A autora de fato nos coloca em contato com a atmosfera da época, instigando-nos a buscar mais informações sobre personalidades e eventos que não são tão desenvolvidas na tese. Por ser um documento acadêmico (explicitado no começo, onde a Dra. Lilia Schwarcz deixa claro a origem da biografia, fruto de um concurso para livre-docente na USP) a linguagem do livro vez ou outra torna-se muito acadêmica, o que torna a leitura um pouco densa e monótona, principalmente quando o foco do monarca é desviado para assuntos correlatos, como a heráldica brasileira e as festas na época do império. Mas as informações contidas ali não deixam de ser valiosas, modificando nossa impressão tão enviesada do ensino de História na educação básica. O imperador, apesar de todas as polêmicas e críticas relacionadas ao seu governo, era de fato um cidadão-monarca, preocupado com o progresso do então Império brasileiro.
February 16, 2018
De forma clara e objetiva, mas sem perder o rigor historiográfico, Lilia Moritz, faz o leitor mergulhar no universo do Segundo Império e conhecer a mítica figura de D. Pedro II. Descrevendo a criação e os costumes da corte brasileira, a fundação da identidade nacional aliada ao movimento romantista do séc. XIX - o indianismo, a heráldica, a fusão de costumes Luso-Franceses a Monarquia Tropical, delinea-se a profunda influência do Segundo Império na história brasileira assim como um sistema monárquico singular que, em certos aspectos, beirou a peculiaridade.
Tendo como pilar central a construção da personalidade máxima do Império, D. Pedro de Alcântara, o livro explora à exaustão diversas perspectivas sobre o Imperador e sua família durante os períodos-chave de sua vida e morte: as Regências, a maioridade, as décadas de ouro do Império, a Guerra do Paraguai, as viagens, o golpe, o exílio, a morte e o fantasma de D. Pedro II.
Tendo como pilar central a construção da personalidade máxima do Império, D. Pedro de Alcântara, o livro explora à exaustão diversas perspectivas sobre o Imperador e sua família durante os períodos-chave de sua vida e morte: as Regências, a maioridade, as décadas de ouro do Império, a Guerra do Paraguai, as viagens, o golpe, o exílio, a morte e o fantasma de D. Pedro II.
January 16, 2019
Sou extremamente suspeito em falar tanto da personagem, quanto da autora. Misto de biografia com ensaio da construção do Estado brasileiro no século XIX, onde Dom Pedro transita como sua principal atração, ler este livro sem pressa alguma foi uma ótima opção. Havia lido em 2017 a adaptação dos quadrinhos do livro e a curiosidade em ler a obra na íntegra cresceu. Indicado a todos aqueles curiosos e sedentos em conhecer os pormenores da História.
October 19, 2018
Não espere um livro bajulador ou depreciativo do nosso imperador. Pelo contrário: o livro é um trabalho riquíssimo em referências e pretendeu fornecer uma visão imparcial de sua vida, embora a autora não deixe de dar sua opinião algumas vezes. Leitura mais que recomendada!
June 26, 2017
Please just let the nigga read
November 18, 2019
Obrigado pela informação que facilita nossas escolhas e definições, foi muito útil.
Reinaldo Lopes
Reinaldo Lopes
May 20, 2020
Altamente recomendado!
May 13, 2021
Me senti levemente monarquista durante a leitura do livro. Lilia te apresenta à uma pessoa, com suas qualidades e defeitos, que se interessa pelo Brasil e pela identidade nacional, como todos nós.
August 16, 2021
muito bom
January 5, 2023
sorry, pedrinho, um livro que termina com um monarca triste é um livro feliz
mas também achei vacilo te expulsarem sem aviso prévio
mas também achei vacilo te expulsarem sem aviso prévio
March 23, 2023
Gostei de ler esta abordagem historiográfica brasileira ao único monarca que reinou ne um país sul-americano, descendente do D.Pedro IV português.
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