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Nada a Dizer

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Nada a dizer é a história de um adultério, narrada do ponto de vista da mulher traída. No entanto, muito mais do que o inventário de perdas e danos em que costuma consistir esse tipo de relato, o que se encontra nestas páginas é uma investigação minuciosa das motivações de cada um dos envolvidos, bem como uma discussão indireta das possibilidades de entendimento amoroso no mundo urbano contemporâneo.

Temas como lealdade, autoconhecimento e convivência afloram das evoluções do triângulo formado por Paulo, sua amante N. e a narradora, cujo nome não é revelado. Um fugaz triângulo, em que um casal de alternativos de meia-idade, experimentados nas revoluções políticas e comportamentais dos anos 1960, é abalado pela entrada em cena de uma amante vinte anos mais jovem e com um perfil que tanto um quanto o outro não hesitariam em chamar de "burguês" em suas juventudes.

Uma das argúcias da autora é mimetizar a prosa confessional de autoexposição, tão em voga nos nossos dias, mas com o deslocamento e condensação de uma obra de ficção. Com um humor cruel e uma lucidez não prejudicada pelo natural rancor, a narradora revisita obsessivamente os acontecimentos, buscando entre eles as raízes de seu autoengano, num exercício quase masoquista - mas necessário - de descoberta e revelação. É sua única via possível de recuperação.

A instabilidade marca a trajetória dos personagens. No início do relato, o casal de protagonistas acaba de se mudar para São Paulo. As caixas e malas espalhadas aleatoriamente pela casa são o signo de uma aceitação consciente de ritos de passagem. Não por acaso, grande parte dos acontecimentos narrados ocorre em trânsito - na rua, em aeroportos, cafés, hotéis de alta rotatividade - e as conversas cruciais se dão no espaço fluido dos e-mails, chats on-line e mensagens de celular. A história que a narradora afinal consegue desenhar é volátil e inapreensível como a própria vida.

168 pages, Paperback

First published February 23, 2010

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About the author

Elvira Vigna

37 books56 followers
Nascida no Rio de Janeiro em 1947, é diplomada em literatura pela Universidade de Nancy, França, e mestre em comunicação pela UFRJ. Escreve sobre arte contemporânea no site Aguarrás.

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Community Reviews

5 stars
89 (31%)
4 stars
110 (38%)
3 stars
69 (24%)
2 stars
16 (5%)
1 star
1 (<1%)
Displaying 1 - 30 of 47 reviews
Profile Image for Celeste   Corrêa .
327 reviews202 followers
March 14, 2020
O livro perfeito para leituras conjuntas.

A idade do lobo, quando os homens saem de casa em busca da sua virilidade em vias de desaparecer.
Amores vagabundos, descuidados, empurrados, os amores do amanhã se resolve.
Um triângulo amoroso. O adultério.
Um sexagenário com comportamento de adolescente, a mulher na mesma faixa etária (frutos das revoluções políticas e sexuais dos anos 60) e a outra mais nova.
Escrito do ponto de vista feminino, uma discussão sobre as muitas possibilidades de entendimento amoroso no mundo contemporâneo.
As perdas e danos sofridos por quem acredita em relacionamentos longos e monogâmicos com ausência de agendas ocultas, de jogos, de cuidados.
A sociedade actual que assiste à diminuição do seu acervo de sentimentos e ao incremento da comunicação via internet.
Não há uma voz a levar as pessoas e os seus duplos às soluções dos problemas reais. E dos inventados - para que fiquem mais fáceis os reais; talvez, por isso, a escolha do título «Nada a Dizer».
A escrita crua e sarcástica com um abuso de palavras do campo semântico da sexualidade, perfeitamente dispensáveis.

Um livro que me prendeu devagarinho: pensei que seriam duas estrelas, mas são quatro.
Profile Image for Adriana Scarpin.
1,466 reviews
July 12, 2017
Em honra de Elvira Vigna (1947 - 2017)

A cada livro de Elvira Vigna que transponho, mais embasbacada fico com a maravilhosidade desta mulher. Não é apenas o fato dela escrever de uma forma tão ricamente inteligente em resultados práticos, mas também o sábio olhar que perpassa a sua escrita, e com esse sábio quero dizer um tipo de sabedoria que só é possível conseguir com o tempo.
A morte da autora, ontem, foi indiscutivelmente o pior momento das artes em 2017, ela era até então a maior autora viva no Brasil contemporâneo e esse maldito câncer nos tirou o que ainda poderiam ser anos de mais alguns livros memoráveis e que fatalmente seriam rememorados como obras primas do século XXI.
Profile Image for Rodrigo Oliveira.
111 reviews54 followers
October 5, 2018
Meu segundo contato com Elvira Vigna foi ainda melhor do que o primeiro. Nada a Dizer diz tanto. É uma leitura dolorosa e melancólica. Vigna consegue pegar fragmentos de sentimentos difíceis de serem descritos e escreve de maneira delicada e certeira. Um tiro doeria menos.

"As coisas falsas que os dias sempre produzem, e que os ocupam, os dias, que estão lá, essas coisas falsas, só para que os dias possam passar - refeições, pessoas que falam sem que você escute, barulhos, pianos, cheiros, ventos frios, lugares de sol. Ou que seria diferente, esse outro dia. Com coisas tão novas que eu nem perceberia que eram novas assim de pronto. E que me pareceriam, essas coisas novas, num primeiro momento, apenas uma versão inadequadas das coisas iguais. Uma versão inadequada ou fora de hora ou de tom - dos sons, presenças, algum móvel que tivesse mudado de lugar sem que eu, distraída, me apercebesse. Só ficando com a sensação difusa de que havia algo de diferente no ambiente de todos os dias."
Profile Image for Solange Cunha.
232 reviews35 followers
August 30, 2022
Todo livro da Elvira é uma aula de literatura. Ela domina o vernáculo, a etimologia e a pontuação (!).
O uso do narrador em primeira pessoa é sofisticado e revelado apenas após um tempo de leitura.
A narração de uma obsessão (que é um pouco chata até, mas, por ser obsessão, foi muito bem construída) por saber a “verdade dos fatos” sobre uma traição conjugal é angustiante (no sentido bom).
Profile Image for Ana.
127 reviews46 followers
August 21, 2019
3,5/5

Este livro faz parte de uma lista de livros para eu ler sobre mulheres que sao abandonadas e traídas na terceira idade.
Como a autora definiu o personagem:
Aquela do estereótipo: a esposa traída, a mulher de meia-idade, traída. Enganada, a quem mentiam, cuja existência não era sequer percebida. O personagem merda, banal, medíocre, imbecil, de uma história merda, banal, medíocre, imbecil.
Um casal, na faixa étaria dos 60 anos, leva uma vida aparentemente tranquila, com os filhos ja adultos, até que o homem decide arrumar uma amante, 20 anos mais jovem e que foi sua colega de trabalho.Sua esposa começa a desconfiar, depois a investigar mais que o FBI, rastreando e-mails, chamadas telefônicas e fica obcecada pela amante a ponto de querer imita-la.

Queria eu poder dizer: abandona este traste e vai viver sua vida. Porém, infelizmente muitas mulheres dependem financeiramente e emocionalmente de um homem e suportam tudo para manter o status. Por mais que sofram, nao largam o osso.

Xofen, nunca dependa de ninguém e ame a si propria mais que a qualquer um. Evite humilhaçoes desnecessarias.
Profile Image for Agnes.
152 reviews2 followers
March 14, 2024
não adianta, a mulher sabe contar histórias.

que bom que havia sinônimos

estou ciente de que não considero um Livro Cinco Estrelas, mas tenho a voz da vigna sempre tão clara ao ler os livros dela e com tamanho prazer e interesse em tudo o que está acontecendo, e como está acontecendo, que não saberia por onde começar a explicar a experiência. e ler seus livros pra mim é sempre uma experiência

só mais pro final me dei conta de que é uma história de como ela mata N.: e mato porque quem conta sempre mata aquilo que originou o conto, esta, sua declaração de culpa. não matou paulo nem antônio carlos, mas sim essa mulher que permanece reduzida a uma letra de seu nome. não que saibamos o nome da protagonista também, já que um pouco é a história da própria morte e renascimento, mas sabemos todas as histórias que ela conta, até a paz de não querer mais contar, renascida
Profile Image for Craig.
18 reviews1 follower
May 13, 2014
Uma exploração impressionante da complexidade de narrar as relações sexuais do seu parceiro fora do casamento. Cheio de afecto, a narradora nem afoga em emoções de ser traida nem afastar das próprias emoções. A trama desenvolve nas maneiras que aborda a situação e não de tensão resolvida , que faz o livro para mim admirável no seu jeito desafiante de ter compaixão mesmo que a narrador tenha subjectividade na brecha.
Profile Image for Felipe Vieira.
714 reviews12 followers
July 27, 2022
#MulheresParaLer

O título do livro, com certeza, é uma ironia. Pois uma mulher traída depois de tantos anos junto com um parceiro certamente tem algo a dizer sobre tudo o que passou naquela relação. E é exatamente isso que acontece depois que a personagem principal desconfia e descobre a traição do homem que ela ama.

Nada a dizer é um livro super bem escrito. No entanto, certo momentos pode entediar. A leitura é de fácil compreensão. O livro narra o cotidiano, portanto não tem uma grande reviravolta. O que é tranquilo, mas sinceramente acho que caberia algo nesse livro. A conexão com os personagens pode ser um pouco difícil já que eles são um pouco sem graça.

O livro é bom, mas poderia ter sido melhor.
Profile Image for Nayara Almeida.
53 reviews6 followers
October 18, 2023
Acho que nunca tive uma experiência de leitura ruim com a Elvira Vigna. Mas o que sempre me impressiona muitíssimo é a sua versatilidade. Todos os livros que li até agora são muito diferentes entre si e todos absolutamente hipnóticos.

A capacidade de dizer algo ou descrever situações muito habituais (e ao mesmo tempo extraordinárias) sempre de formas diferentes é o talento principal da Elvira. Ela nos envolve em um contar duro, áspero ao qual nos acostumamos eventualmente, apenas para logo em seguida sermos derrubados em um solavanco, em uma perturbadora quebra de expectativa.

Uma das autoras brasileiras mais impactantes que já li.
Profile Image for Fernando Carneiro.
18 reviews7 followers
May 7, 2015
Muito bem escrito, porém elaborativo demais para o meu gosto, embora o conteúdo elaborado não seja óbvio e raso. Também me incomodou o narrador em primeira pessoas descrevendo certas minúcias da relação do marido com a amante em outra cidade. Achei um tanto questionável e não me convence o argumento que ao "eu" narrativo podemos creditar poder inventivo. Um bom livro, escrito por uma prosadora de primeira linha, mas que podia ser mais velado, mais sutil e palpável.
Profile Image for Tácio.
6 reviews4 followers
December 28, 2018
este é meu primeiro contato com as letras da Elvira Vigna e não poderia estar mais contente, mas, ainda assim, assustado com a experiência. li num fôlego só (ao terminar, senti falta dele). findada a leitura, a ansiedade me envolveu e só consegui sentir como se um punho cerrado tivesse acertado com fúria a boca do meu estômago. livro dilacerante. tudo a dizer, mas mal respiro. a última vez que experimentei tamanha ânsia com um texto foi lendo "A paixão segundo G.H." da Lispector.
Profile Image for Cristina Nassis.
23 reviews
November 1, 2016
O livro é bom, muito bem escrito, com personagens bem delineadas. Só achei que a autora, como é comum em autores brasileiros (e em roteiristas de cinema e TV, e em dramaturgos brasileiros), exagerou um pouco na quantidade de palavras chulas. Alguns 'porra', 'caralho', 'boceta', OK, mas a overdose pareceu forçada. Como se ela se forçasse a botar um monte disso em cada parágrafo.
April 22, 2021
"Nada a Dizer" carrega toda a verve de Elvira Vigna: a linguagem firme e atordoada ao mesmo tempo, a prosa coloquial que abre espaço eventualmente para iluminações filosóficas únicas, um olhar muito realista sobre cotidianos banais que se transtornam diante de eventos extraordinários, e como esse realismo, ou a própria idéia de realidade dos personagens, se transtorna junto. O relato de uma traição do ponto de vista da mulher traída, numa relação de 30 anos, dentro do conforto de um casal de meia-idade estabelecido, bem de vida. Toda a primeira parte do livro, até a confissão da traição pelo marido adúltero, lê-se como um thriller de pequenas apostas: sabemos desde o começo que o fato se deu, e acompanhamos apenas o processo até a confissão, num jogo de cartas marcadas. O que acontece a partir daí acaba jogando o livro em caminhos nem sempre firmes, mas interessantes na sua errância: uma traição que joga a narradora contra toda a idéia de identidade que acumulou até ali na vida. Essa busca por um eu pós-ilusão às vezes é monótona e repetitiva (o caso em si ocupa muito da narrativa mesmo depois de debelado), mas encontra momentos de brilho quando se dispõe ao mergulho nessa identidade destruída e em reconstrução: tentar, e falhar, ser como a outra; tentar, e falhar, ocupar os espaços da traição com novas memórias, como se o domínio geográfico pudesse aliviar a barra do domínio afetivo; até que se chega ao inventário das perdas, tudo o que já não se tem às mãos depois que uma traição acontece, um dos momentos mais pungentes do livro. Este é meu segundo livro de Vigna, e se não tem o fulgor de "Como Se Estivéssemos em Palimpsesto de Putas", pelo menos avança meu interesse no universo da escritora e me contamina dessa prosa agressivalegre.

Um trecho memorável:

"Voltei para a cama. Paulo não demonstrou acordar. Chamei-o.

Disse que tinha esperado que ele fosse falar comigo.

Respondeu que tinha pensado em ir mas desistido, que achara que eu queria ficar sozinha, pensando.

Ou seja, segundo ele, eu tinha que pensar.

Passei o resto da noite me esforçando em descobrir em que eu deveria pensar.

Minha primeira hipótese foi pessimista, confirmando uma velha queixa dele, de que eu o via sob o pior dos olhares, e com a qual nunca concordei. Não concordava, e, depois do caso dele com N. e de minha imbecilidade-cegueira correspondente, passei a achar, pelo contrário, que sou de um otimismo constrangedor.

Essa primeira hipótese aventada, a pessimista, era a de que ele queria que o dia seguinte fosse um dia do tipo dia diferente. E que eu devia pensar nessa diferença. Ou seja, na nossa separação. A separação sempre proposta por mim a cada briga mais séria. A separação, portanto, que seria o desvio que mal se notaria no início, o desvio não perceptível de pronto, em relação ao que havia de igual a tantos outros dias, o móvel lá desde sempre. A voz de alguém que de tão igual nem mais se escuta, em sua modulação que se incorpora, gruda, segue a luz também sempre igual que passa pela cortina, sem que se possa distinguir mais, de tão igual que foi desde sempre, aquilo que muda, nessa luz e nessa voz, porque apenas obedece às horas do dia. Sons e luzes, iguais, mas que, dessa vez, incorporariam uma diferença, a diferença que seria eu a responsável por notar. Notar é fazer existir.

Algo como a minha velha frase Assim não dá, vou embora - que se escuta e não se escuta. Seria essa a diferença.

E um cachorro se levantaria do tapete, alguém bateria uma panela na cozinha. E ninguém em volta, os da casa, teria sequer notado que o que provocou o movimento do cachorro, o desajeito na cozinha, só o notando, a posteriori, a partir da consequência no cachorro, na panela. Um hiato. Um espanto que não seria sequer um espanto, que não seria sequer perceptível, só depois, pouco ou muito tempo depois. E seria essa a diferença.

Assim não dá, vou embora.

Como fazemos com o dinheiro?

Metade-metade, isso nunca será um problema entre nós.

Então eu vou.

Vai, porra.

E, nesse dia seguinte, então, pela primeira vez, eu iria."

(Companhia das Letras/2010, p. 96-97)
May 28, 2020
Resumindo o contexto da narrativa, o livro conta a história de um casal de meia idade que juntos possuem uma empresa de tradução, sabemos o nome do marido, Paulo, que tem uma relação extraconjungal com uma mulher 20 anos mais jovem, a N, sim, não sabemos mais nada sobre o nome da amante, devemos lembrar que toda a história é contada sob o prisma da narradora. O marido não tem voz durante a narrativa, é quase uma compensação em razão da traição.
Não se preocupem que isso não é nenhum spoiler, pois, é a partir dessa traição que vamos conhecendo mais sobre a história da nossa narradora e sobre as marcas que esse episódio vai carregar em sua vida.
Após a narradora descrever os eventos que acabaram desencadeando a traição de Paulo, ela começa uma reflexão, ou quem sabe, uma crise confusa e dolorida sobre o que restou dela, pois, ela mesma não mais se reconhecia.
Inclusive, esse foi um dos pontos que me chamou bastante atenção, a narradora, quebrou os padrões de “esposa traída” : “No olhar dos outros, inscrito o que minha mãe chamaria de destino de mulher. Nasceu com boceta? Vai ser enganada. Traída, humilhada. E o melhor é não ligar, minha filha. Levante o nariz e siga em frente.”
Em resumo, apesar de o livro ser bem curtinho, Elvira faz a gente entender todo o processo da narradora que inicialmente detesta a amante, depois com muito humor e dor tenta entender o que aconteceu, e dentro dessa lógica começa a se reinventar e acaba tentando descobrir quem de fato ela é, qual espaço ocupa e quais palavras e padrões não quer ser, afinal, a vida não é só uma descoberta do quem somos, mas também do que não queremos ser. Conseguimos sentir essa dor de se encontrar e tentar compreender que espaços ocupamos na vida dos outros, no caso, ela tenta compreender isso dentro da sua relação com Paulo.
“Mas a lista das perdas era também uma lista de compras. Não eram as histórias e as palavras e as músicas o que eu havia perdido. Eu havia perdido essa minha identidade que formulava, sem cessar, histórias, palavras e músicas a seu próprio respeito. Eu tinha ficado menor, menos interessante. E precisava comprar um olhar com que eu pudesse olhar o mundo, uma voz com que eu pudesse frágil e firme, falar de mim. Não contar histórias, menos do que isso. Só falar.”
Então é isso, tentei expressar um pouquinho de como foi essa viagem com o livro da Elvira, e quem não conhece tanto a autora- como eu mesma não conhecia- deixo uma sugestão, escutem o podcast da #MQE- Mulheres que escrevem, que nesse ano de 2020 lançaram o desafio de ler várias obras da Elvira. Aqui o link: https://anchor.fm/mulheres-que-escrev...
Profile Image for Arthur Dal Ponte Santana.
91 reviews10 followers
February 7, 2021
Acho que as minhas leituras da Elvira sempre acabam sendo muito influenciadas pelo que estou estudando, talvez seja pelo espaço do texto, que sempre vai e volta em tempo, e deixa uma espécie de caminho a ser preenchido pela mente divagante do leitor. Talvez seja pela falta de confiança que passam suas narradoras, sempre incertas quanto às histórias repassadas das bocas masculinas, obrigadas a montarem as cenas e encherem de vida as lacunas do que ouvem, quase como nos convidando a fazer o mesmo.

Mas se antes pensava, ao ler o Palimpsesto (ou, mais carinhosamente, o "Putas"), em uma hermenêutica, o que me vem agora é uma dialética, uma busca constante pelo reconhecimento do outro como aquele capaz de nos legitimar. A história da mulher traída é apenas uma alavanca para uma busca real pela identidade, dada pela maneira como o outro nos percebe e age para conosco, como há uma necessidade para nós de sermos reconhecidos, não só no amor, mas como pessoas.

Não é só nisso que o livro se baseia, há ainda muito mais. O livro fala de memória, de identidade, dos anos de ferro da ditadura, do pedantismo acadêmico, de mudanças e de tudo que permeia o mundo bagunçado da narradora. Tudo como se fosse uma conversa, como se estivéssemos no ambiente de alguém que nos verte uma confissão, uma verdadeira busca pelo significado de si e de sua relação feita no balaio de suas memórias.
Profile Image for Diego.
50 reviews6 followers
August 27, 2019
"Uma mulher traída relata suas interpretações das ações do marido traidor e de seus próprios sentimentos perante o fato. Mais do que um relato de raiva e dor, Nada a Dizer é uma confissão que é simultaneamente tocante e analítica.

De prosa cáustica e requintada, a história começa antes da narradora inominada saber da traição. No entanto, é através de sua ótica que observamos os eventos transcorrerem – baseado no que Paulo, o marido, conta para ela, a protagonista imagina e narra os acontecimentos anteriores e posteriores. Quando a verdade vem à tona, o que se dá é um estudo perspicaz da natureza da confiança, das expectativas e das várias formas de amar, mostrando que a decepção consegue ser mais profunda que a raiva, pois a traição não é só sexo: é a redução do valor que se dá ao traído como pessoa. Há uma melancolia que cobre todo o processo da protagonista de lidar com o ocorrido, uma confusão de emoções advinda da necessidade de encontrar lógica e justificativa onde elas não existem. Pelo prisma da narradora, vivemos as complexidades da mulher, do homem e do casal. E do julgamento que fazemos dos outros e de nós mesmos".
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Profile Image for Fuu.
136 reviews
Read
October 22, 2023
Uma mulher traída relata suas interpretações das ações do marido traidor e de seus próprios sentimentos perante o fato. Mais do que um relato de raiva e dor, Nada a Dizer é uma confissão que é simultaneamente tocante e analítica.

De prosa cáustica e requintada, a história começa antes da narradora inominada saber da traição. No entanto, é através de sua ótica que observamos os eventos transcorrerem – baseado no que Paulo, o marido, conta para ela, a protagonista imagina e narra os acontecimentos anteriores e posteriores. Quando a verdade vem à tona, o que se dá é um estudo perspicaz da natureza da confiança, das expectativas e das várias formas de amar, mostrando que a decepção consegue ser mais profunda que a raiva, pois a traição não é só sexo: é a redução do valor que se dá ao traído como pessoa. Há uma melancolia que cobre todo o processo da protagonista de lidar com o ocorrido, uma confusão de emoções advinda da necessidade de encontrar lógica e justificativa onde elas não existem. Pelo prisma da narradora, vivemos as complexidades da mulher, do homem e do casal. E do julgamento que fazemos dos outros e de nós mesmos.
October 18, 2017
“Nada a Dizer” é um livro que toma situações aparentemente ordinárias e as põem sob uma intensa e meticulosa luz. Não há nada novo ali. O livro conta o caso de adultério praticado por Paulo e por N. e as consequências e dúvidas que se seguem ao episódio. Os próprios personagens são tipos bem comuns na literatura. Ambos de classe média alta, Paulo mais velho, antigo militante de esquerda com uma vida bem experimentada; N. mais nova, “burguesa” padrão, orgulhosa de seus filhos, parecida com a mãe de Paulo. A esposa de Paulo, “tradutora, entre outras atividades”, desconfia do caso, mas não tem segurança em suas próprias impressões, necessitando que o marido as confirme. As respostas de Paulo são evasivas. Ela percebe as falhas, o tom emendado das desculpas cada vez mais lacônicas e desacertadas. De forma que nem confia em sua intuição, nem se satisfaz com as desculpas mal enjambradas que recebe.

https://rdeleitura.wordpress.com/2017...
Profile Image for Alessandra Fiel.
18 reviews
September 16, 2020
Poxa Elvira! Queria ter conhecido suas obras um pouco antes.

Sobre o impacto de uma traição conjugal o enredo de ‘Nada a dizer’ se passa durante a década de 60, das marcas mais fortes para esta geração foi, sem dúvida, a instauração da ditadura militar em contraponto a uma acentuada liberdade sexual.

A trama narra, sob o ponto de vista de uma mulher de meia-idade, a descoberta do caso extraconjugal de seu companheiro, o que a obriga a encontrar um novo significado para sua relação e para si mesma.



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Profile Image for laryssa.
63 reviews10 followers
January 26, 2022
esse livro me fez me sentir como se eu estivesse sentada em um café na vila mariana — que toca mpb de música ambiente e serve coisas como bolo da banana vegano — com uma dondoca moradora da bela vista que está me contando uma fofoca sobre um marido que traiu a mulher que eu não consigo parar de ouvir nem que eu tentasse, porque esse casal, o marido traíra e a mulher traída, estão tão fora da minha realidade, dentro de uma bolha burguesa, que são de algum modo inalcançáveis, quase intocáveis, e por isso tão viciantes
Profile Image for Alan Henrique.
124 reviews1 follower
Read
April 19, 2021
a história de "Nada a dizer" tem um tom melancólico - não é pra menos, já que aqui temos uma mulher que foi traída pelo marido narrando o seu relato. vemos essa personagem em busca de si mesma e do seu lugar nesse relacionamento já antes imperfeito, já antes com falhas - um relacionamento real, portanto. foi meu primeiro contato com a autora, que usa bastante metáforas e uma linguagem ora introspectiva, ora direta; pretendo ler outras coisas dela em breve.
Profile Image for Brunna Adla.
17 reviews
January 17, 2022
Meu primeiro contato com Elvira Vigna, foi através de 'Nada A Dizer' sem mais adições, o livro é escrito de maneira crua, como é, se fosse de maneira diferente sua fluidez não seria tão boa.
Uma mulher trazer todos os palavrões que Vigna traz no decorrer da história demonstra ainda mais sua força e sobretudo o poderio da mulher em abordar o que quiser da forma que quiser.
Li o livro com fortes expectativas e o terminei com todas elas supridas! :)
Profile Image for Aissa.
4 reviews
March 29, 2022
4 de 5.

gostei muito da forma que foi contada as diferentes reações que a personagem principal teve depois de descobrir que foi traída,como se fossem “fases” de vários questionamentos do porquê ela estava passando por aquilo e como reagir e escolher o próximo passo a ser dado. o capítulo final foi bem surpreendente para mim e depois dessa leitura gostaria de ler outras histórias da autora e adicionar mais livros nacionais na minha lista de leitura.
Profile Image for Renata Visani.
48 reviews2 followers
May 2, 2024
a necessidade feminina de SABER… transformada na de ENTENDER e PREENCHER LACUNAS… e esvaziar todos os ditos na língua até não ter mais nada a dizer sobre um assunto… esquecendo que sempre tem algo que escapa.
por vezes me peguei pensando “nossa mas ela ta expondo muito a vida desse homem, vai acabar com ele”, ai lembrava que era ficção. digai
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