“Lomba Abaixo” exibe carnaval de corpos, brincadeiras e desafogos
Mobilizador de estéticas diversas e experiências múltiplas, o carnaval é o tema norteador da exposição Lomba Abaixo, que reúne obras de 16 artistas, graduandos do curso de Artes Visuais da UFRGS. Em exibição na Casa Baka, a mostra integra um projeto de extensão da universidade coordenado pelos professores Bruna Fetter e Munir Klamt.
Com o semestre letivo terminando em fevereiro – ainda impactado pela pandemia –, os participantes aproveitaram a coincidência para definir o carnaval como temática desenvolvida em práticas artísticas e curatoriais, bem como atividades de produção, comunicação, montagem e projeto educativo da mostra.
A exposição apresenta trabalhos em diferentes suportes, como vídeo, pintura, desenho, instalação, tecidos e obras interativas, abordando o carnaval de forma oblíqua, trazendo à tona reflexões sobre corpos, questões de gênero, sexualidade, afetos, jogos, brincadeiras e memórias. Alunos da graduação em História da Arte da UFRGS, Gabriela Bertoldi e Luís Hofmeister assinam a curadoria da mostra.
“Buscamos uma perspectiva do carnaval como momento de suspensão das regras da moralidade, em que as pessoas liberam suas pulsões festivas e destrutivas, para o bem e para o mal. É menos sobre o carnaval e mais sobre tudo aquilo para qual o carnaval é uma desculpa”, afirmou Hofmeister na visita da reportagem à exposição.
Enquanto a Bandeira do Desafogo, de Gabriela Borges, abre alas com a frase bordada “Sambar o que fica entalado no peito”, Andressa Ahlert exibe um estandarte de gesso, cacos de vidro, concertina e cerol que avisa: “Se tu me encostar, tu tá fodido”. A aspereza dos materiais e do alerta, sugerindo defesa diante de situações de violência e assédio, contrasta com o convite ao beijo e à contaminação potencial dos encontros de Sapinho, de Marcela Futuro. Dessacralizada ao melhor estilo carnavalesco, podendo ser beijada pelo público, a obra alude à candidose oral com o nome popular da infecção.
Brincar com o corpo também é a tônica de Me Divertir É Marcar Território, vídeo de Nazú Ramos, com sugestões lúdicas a modos de “sexualidade experimental”, como define o cocurador da mostra. Em Jogo da Garrafa, de Tiago Gasperin, a brincadeira fica em aberto a partir de lugares demarcados e da orientação de como girar uma garrafa, permitindo aos participantes criarem suas próprias dinâmicas. Outro jogo em aberto se revela em Bloquinho, de Julia Dolores, com peças manipuláveis em cerâmica evocando o sentido construtivo de um dos termos centrais do carnaval.
Em Aquilo que Não Sou Mais, Paula Sophia Rosa propõe que os visitantes escrevam uma mensagem em um pedaço de papel e o depositem em um barquinho de madeira, que se tornará oferenda para Iemanjá em 2 de fevereiro de 2025. Também interativa, a instalação Teto Ruim, de Sammy, propõe a leitura de uma pergunta com o potencial de provocar pensamentos incômodos, sobretudo em momentos de prazer e diversão.
O trabalho com a memória também encontra espaço no vídeo Festa Capetinha, de Gabriela Bittencourt – o título faz menção a uma festa à fantasia para crianças realizada em Osório, cidade de origem da artista –, nas fotografias com bordados de A Morte do Corpo Não É Nada, de Antonia Py – que se apropria de fotos do seu avô, folião assíduo de Santo Antônio da Patrulha –, e na colagem de lantejoulas sobre fronha de Ganso, de Luciana Hoerlle.
A diversidade de suportes fica evidente na enigmática Vale Tudo Agora?, de TAKS, que combina uma banana resinada e purpurina, nos desenhos digitais de Rafaela Müller, nas pinturas a óleo de Ana Carnelossi e Francisco Garay e nos desenhos de carvão sobre algodão, com mais de 3 metros de cumprimento, de Artur Ferreira.
Em sua primeira curadoria, Luís Hofmeister destaca o acompanhamento da produção dos artistas que participam da mostra: “Me envolvi muito em todo o processo e estou muito satisfeito com a exposição. Tentei me colocar o máximo possível no papel de curador, em contato com os artistas, que em sua maioria vieram com ideias bem prontas e resolvidas”.
Gabriela Bertoldi, cocuradora ao lado de Luís, destaca a oportunidade de conceber, ao longo da graduação em História da Arte, um projeto curatorial que se materializa em um espaço cultural da cidade. “Para Lomba Abaixo existir, foi preciso estabelecer um argumento curatorial, que serviu como mote para os artistas. Minha participação se deu principalmente na expografia. Pude contribuir na montagem do projeto tridimensional, e posteriormente alocamos as obras, a partir dos conceitos que os artistas nos passaram”, conta a curadora.
A professora Bruna Fetter ressalta a importância da atividade de extensão para ampliar o diálogo da universidade com a comunidade e oferecer experiências práticas aos alunos dos cursos de Artes Visuais e História da Arte: “Queríamos fazer uma disciplina que fosse um acompanhamento crítico-curatorial das pessoas envolvidas, dando aos artistas a possibilidade de desenvolverem suas poéticas, com acompanhamento de professores e colegas, e ao pessoal da História da Arte, a oportunidade de realizar esse acompanhamento”.
Diretor da Casa Baka, Diego Groisman ressalta o interesse do espaço em fomentar a experimentação artística. “A exposição está conectada ao momento de retomada da Casa Baka, que tem a proposta de receber projetos de jovens aristas”, afirma o gestor do espaço, ressaltando os mais de 30 anos da Casa Baka dedicados à cultura. Atualmente, a casa localizada na rua da República acolhe exposições, apresentações musicais, cursos e oficinas – em breve, será inaugurado no local o Café Paraíso.
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Exposição “Lomba Abaixo”
Quando: até 15 de março de 2024
Onde: Casa Baka (rua da República, 139 – Cidade Baixa – Porto Alegre)
Visitação: quintas e sextas-feiras, das 14h às 19h – ou com horário marcado, mediante agendamento via mensagem ao perfil de Instagram da Casa Baka
quinta-feira, 08 a 15 de março de 2024
Casa Baka (rua da República, 139)