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Após 'barulho' de estudiosos, praça não vai mais homenagear cangaceiros no interior da Bahia

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Após 'barulho' de estudiosos, praça não vai mais homenagear cangaceiros no interior da Bahia

Estudiosos do Cangaço questionaram o uso de dinheiro público para homenagear dois expoentes do bando de Lampião

Após 'barulho' de estudiosos, praça não vai mais homenagear cangaceiros no interior da Bahia

Foto: Reprodução

Por: André Uzêda no dia 26 de abril de 2022 às 15:55

A praça que receberia o nome do casal Corisco e Dadá, no município de Barra do Mendes, a 535 km de Salvador, não vai mais homenagear dois dos principais expoentes do Cangaço. Após protesto de estudiosos e reportagens feitas sobre o assunto, a Câmara de Vereadores da cidade voltou atrás e propôs homenagear o agricultor e comerciante local Joaquim Pacheco — sem qualquer tipo de relação com o banditismo da época.

A substituição aconteceu após uma série de vozes levantar questionamentos sobre o Cangaço e o investimento de R$ 555 mil do governo do estado na construção do espaço. Incialmente, os nomes haviam sido escolhidos por ter sido em Barra do Mendes que Corisco e Dadá morreram após tiroteio contra a Força Pública do Estado da Bahia, comandada pelo tenente José Rufino. 

Famoso por sua crueldade e valentia, o alagoano Cristino Gomes da Silva Cleto, o Corisco (1907-1940), foi um dos mais notórios cangaceiros do bando de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião (1898-1938). Corisco raptou Sérgia Ribeiro da Silva, mais conhecida como Dadá (1915-1994), quando ela tinha apenas 12 anos. Posteriormente, Dadá se tornou mulher de Corisco e também ingressou no bando.

“A gente acha um contra senso absoluto fazer homenagem a bandido com dinheiro público. A cidade é toda contra. Corisco era estuprador, esquartejou e matou várias pessoas, famílias inteiras. A gente se sente inteiramente arrancado, maltratado. Para cada descendente de vítima, essa dor se reacende quando se faz um desfavor total desse, é uma inversão de valores”, disse a estudiosa do cangaço na Bahia, Ana Cataldi.

Ana faz parte de um grupo de pesquisa que estuda, há 23 anos, o cangaço na Bahia. Segundo ela, a impressão de cangaceiros como “justiceiros” é uma concepção inadequada da realidade. “Os cangaceiros nunca tiveram uma ação sequer de bondade pontual. Pesquisamos, em 23 anos, em jornais e arquivos da polícia, não tem. Eles roubavam em prol deles, apenas. E roubavam o trabalhador do campo, que tinha uma fazendinha sem proteção, sem jagunço”, explica.