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Artista plástico do DF recria suas obras destruídas em 8 de janeiro

Artistas Urbano Villela é responsável pela galeria de presidentes do Senado, e teve cinco de seus quadros destruídos por bolsonaristas

atualizado

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Vinícius Schmidt/Metrópoles
Urbano Villela
1 de 1 Urbano Villela - Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles

Sem correr o risco do imediatismo, pode-se afirmar que o dia 8 de janeiro de 2023 ficou marcado na história do Brasil – isso independentemente de que lado da disputa política você esteja.  Na referida data, ocorreu cenas de destruição e depredação do patrimônio público, com os prédios dos Três Poderes vandalizados por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Mesmo que ainda muito recente, o acontecimento está na lembrança da população, tanto que boa parte das pessos se lembra do que estavam fazendo no dia.

O engenheiro eletrônico e artista plástico Urbano José Pibernat Villela também se lembra de onde estava e o que fazia quando soube da notícia. Ele, no entanto, se questionou: “Quantas das minhas obras na galeria dos ex-presidentes do Senado Federal foram destruídas?”.

Veja as fotos das obras de Urbano destruídas:

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Hoje com 80 anos, o funcionário do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação tem um pedacinho reservado apenas para si na câmara alta do Congresso Nacional. Urbano pintou cada um dos quadros dos presidentes do Legislativo – do império até a presidência de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) – em óleo sobre tela. Essas artes hoje compõem a galeria dos presidentes, no Senado Federal. Porém, uma parte desse registro histórico foi destruído no dia 8 de janeiro de 2023.

Ao todo, cinco obras do pintor foram danificadas: duas de Renan Calheiros, sendo uma delas a que apresentou maior depredação; uma de Ramez Tebet, pai da ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet; e duas de José Sarney. Único artista de obras destruídas do Senado ainda vivo, Urbano contou ao Metrópoles o que sentiu ao saber do caso,

“Eu aqui [em casa] vendo as notícias, eu digo… na hora não me dei conta. Eu pensei: ‘Lá se vai o trabalho’. E eu refazer todo esse trabalho, se fosse acontecer isso, provavelmente iria inviabilizar. Não só pelo tempo, também pela minha idade. Talvez não fosse conveniente mais refazer uma galeria inteira daquela. Quando eu soube que tinham sido cinco [obras destruídas], você não sabe o alívio que me deu.”

Após garantir que vai lembrar da ocasião “para o resto da vida”, Urbano completou: “A galeria atual está na altura do alcance de qualquer um. Quando aquele pessoal todo entrou na Esplanada, eu disse: ‘A galeria vai ser toda destruída’. Porque está bem no alcance. A sorte é que ela não está no caminho de entrar no Senado, e essa foi a sorte.”

A vida de Urbano Villela

Urbano Villela não deixa de ter história para contar. Nascido em Uruguaiana, cidade no interior do Rio Grande do Sul, o pintor se formou em engenharia elétrica, trabalhou na Dentel Telecom (agora conhecida como Anatel), atuou em plantações de arroz, deu aulas e se considera um aficionado pelo conhecimento e entendimento da mente e do comportamento humano. Mas pontua que, mesmo em tantas funções, a arte sempre esteve em sua vida.

“Eu comecei no mundo da arte. A minha primeira lembrança de arte, de qualquer atividade, envolve desenho. Eu costumava fazer o retrato das namoradas, isso para mim era muito bom, porque eu tinha algo mais para cativar as namoradas”, brincou o artista.

Conheça a história de Urbano Villela:

Do sul do país, 1971, com o convite para um cargo no Ministério das Comunicações, o artista veio para o Distrito Federal ainda na época da Ditadura Militar. Por aqui, encontrou moradia na cidade de Sobradinho, em Brasília, onde criou um ateliê pessoal e pinta suas obras, além de receber os netos, que também estão seguindo no mundo da arte pela influência do avô. Neste local, inclusive, Urbano Villela guarda lembranças da família e exemplares do seu livro Nossas Inteligências: Elas Decidem!, onde aborda o comportamento humano.

O retorno ao devido lugar

É neste mesmo ateliê localizado em sua casa, local feito todo pelo próprio engenheiro com tijolos ecológicos, que ele refaz os quadros destruídos em 8 de janeiro ao seu devido lugar. Agora, Urbano pinta novamente os quadros com os rostos de Renan Calheiros, Ramez Tebet e um de José Sarney — o outro quadro do ex-presidente do Brasil será restaurado pelo próprio Senado Federal.

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Os quadros serão entregues ao Senado em 9 de maio, durante a exposição Reconstrução: Arte e Democracia Andam Juntas, que acontecerá no Anexo I do órgão público. Além dos retratos dos ex-presidentes, Urbano também vai produzir duas obras que retratarão o atentado de 8 de janeiro.

“Eu vou fazer duas telas envolvendo a barbárie que cometeram. Uma tela vai representar os Três Poderes numa situação maravilhosa, um dia bonito, as pessoas. E uma outra tela o oposto, que é de fato os sentimentos que estão relacionados. O prédio, as instalações em um dia meio escuro”, explicou o artista.

Uma pena que a natureza não correspondeu [ao momento que aconteceu em 8 de janeiro], mas eu vou fazer corresponder na tela.

Urbano Villela

O artista ainda afirmou que inspiração é o que não falta para produzir suas obras: “Inspiração é o que não falta. Imagine só os sentimentos de natureza e intensidade, os mais diversos em torno desse assunto. Primeiro o absurdo que foi e a preocupação inicial. É como qualquer cidadão: o que não falta é sentimento, o difícil é descrever.”

“Hoje participo da reconstrução dessa galeria homenageando meu amigo e conterrâneo, que também teve sua obra danificada, o saudoso senador, professor e artista plástico, Guido Mondin”, finaliza Urbano.

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