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Além do grafite: artista Snupi empresta talento a festas brasilienses

Nascido em Ceilândia, Cipriano Snupi se destaca por unir cenografia e arte urbana em projetos de baladas e eventos na cidade

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Jacqueline Lisboa/Esp. Metrópoles
Brasília (DF), 19/07/2019. Grafiteiro Cipriano Snupi e seus painéis no evento Na Praia. Foto: Jacqueline Lisboa/Esp. Metrópoles
1 de 1 Brasília (DF), 19/07/2019. Grafiteiro Cipriano Snupi e seus painéis no evento Na Praia. Foto: Jacqueline Lisboa/Esp. Metrópoles - Foto: Jacqueline Lisboa/Esp. Metrópoles

O ano era 1994. O Brasil chorava a perda de Ayrton Senna. A animação O Rei Leão entrava em cartaz e consolidava a Disney como uma referência mundial. O grunge e o punk rock dominavam as vitrolas. O então candidato Fernando Henrique Cardoso se preparava para assumir a Presidência da República.

Em meio a esse cenário, um jovem nascido na Ceilândia, como tantos outros na cidade, se descobriu apaixonado por cultura. Mesmo sem imaginar, anos mais tarde viraria um importante nome desse segmento.

Você pode não conhecê-lo pelo nome, mas certamente já se deparou com algumas de suas criações. Ainda que a realidade socioeconômica o empurrasse para outro rumo, Cipriano Snupi (nome artístico de Marco Aurélio Lobo Cipriano) desenhava tudo que aparecesse na sua frente.

Por falta de oferta, levou tempo até ir ao cinema, galeria de arte ou teatro. Mas tinha em mãos lápis e papel. E isso bastava. Foi assim durante toda a idade escolar. A cena mudou quando conheceu, na década de 1990, o grupo DF Zulu e o grafiteiro Kabala, que amalgamaram a cultura do hip hop a outras expressões artísticas, incluindo o grafite.

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Cipriano Snupi conheceu a arte na infância, em Ceilândia

 

Não demorou até Snupi trocar os cadernos de desenho por latas de tinta e spray. Os muros o seduziram. Ele confessa que queria levar sua arte a um número maior de pessoas. E quer tela mais visualizada que as ruas da região, onde vivem milhões de pessoas?

“Decidi pintar nas ruas para ter um feedback maior do meu trabalho. Era um suporte fácil e democrático, e uma maneira de expor sem ter que passar por nenhum curador”, conta. Cipriano tinha 15 anos quando deu cor a um painel urbano pela primeira vez. E nunca mais parou.

“Meus desenhos eram bem agressivos. Costumava pintar pessoas sisudas e armadas, por exemplo. Era a minha realidade. Até que o Kabala me alertou: ‘A rua não é só isso. A rua tem sorrisos’”, recorda-se. O momento dividiu sua carreira e moldou um novo estilo.

Bastou enxergar suas criações com mais otimismo para os primeiros trabalhos comerciais começarem a surgir. Entre os mais marcantes está a festa Barrados no Baile, uma das primeiras apresentações da cantora Anitta em Brasília, em 2013. Em parceria com a R2 Produções, Snupi transformou enormes caixas brancas em uma versão brasiliense das comunidades cariocas. Fez tudo em uma única noite.

Com a missão concluída, não demorou até Rick Emediato, um dos sócios da empresa, o convidar para outro projeto, uma balada chamada Bomfim. Mas não apenas para pintar painéis. O passo era maior: assinar também a cenografia. Depois, outras festas e eventos foram realizados em conjunto.

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Artista iniciou a carreira com grafites e, depois, assumiu a cenografia de diversos eventos

 

“Comecei a trabalhar de forma bem intuitiva. Não tenho nenhuma formação, curso ou outro ‘aval acadêmico’. Aprendemos e evoluímos juntos, tanto eu quanto a produtora”, emenda o criativo.

Depois da R2, empresas como a Funn Entretenimento, Verri & Verri, U Piano e Influenza demandaram jobs de Cipriano Snupi.

Os pedidos também vieram de fora de Brasília – como o Carnaval de Trancoso de 2016, um dos mais incensados do país – e de pessoas que gostariam de presentear ou homenagear alguém com uma arte.

Time for… Funn

Um dos trabalhos mais recentes e desafiadores foi entregar, em três meses, parte da cenografia do último Funn Festival.

O projeto incluiu um enorme palco, de 20 metros de altura e 30 metros de largura, com um urso em 3D que ocupava do chão ao teto.

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De Frida a lutadores mexicanos

Paralelamente, Snupi ainda tocou os imensos painéis que viraram point instagramável no Na Praia 2019.

“O estilo mexicano desta edição pedia pinturas à mão, como o painel de Frida Kahlo, no qual uso técnica mista de tinta à base d’água, pistola e spray”, conta. O método, aliás, é usado em grande parte de suas obras.

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Um dos anseios do ceilandense é ver o grafite, sua eterna forma de expressão, mais bem compreendido.

“Muita gente ainda o vê como algo paliativo. ‘Não temos material e nem dinheiro, vamos chamar um grafiteiro’, pensam. Sinto que essa ferramenta ainda não é respeitada como arte”, lamenta.

“Escutamos de contratantes quanto eles têm para pagar, não quanto nosso trabalho vale. Eu me sinto artista e me sinto respeitado, porém ainda há muito a evoluir”, reflete.

Do alto de seus 40 anos, Snupi, como é conhecido, ainda mantém conexão com seu “eu” adolescente. “Até hoje faço trabalhos nas periferias – Ceilândia, Estrutural, Recanto das Emas… Gosto de pintar muros, levo meu spray e passo o dia me reconectando”, finaliza. Sorte das ruas e dos brasilienses.

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