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LEANDRO FOI NOTA MUSICAL EM CAMPO

25 / outubro / 2023

Ilustração e texto de Marcos Vinicius Cabral

“O carioca José Leandro de Souza Ferreira adotou Cabo Frio e, talentoso, saiu da cidade adotiva para tentar a sorte no mundo inóspito do futebol.

Mas José Leandro de Souza Ferreira sabia melhor do que ninguém que, se não fosse o amor dele pela bola e o dom dado por Deus para ele jogar futebol, nada teria acontecido.

Dom este que o transformou em um dos mais completos, vitoriosos e habilidosos jogadores do futebol brasileiro.

“Tenho dois orgulhos na vida futebolística: ter lançado Ronaldinho Gaúcho no Grêmio e ter trabalhado com Leandro. Foram, disparados, os mais habilidosos que meus olhos viram”, falou Sebastião Lazaroni, ex-treinador da Seleção Brasileira na Copa do Mundo da Itália, em 1990, mês passado quando conversamos por telefone.

Camisa 2 de um Flamengo imortal como foi o de 1981, Leandro, o Peixe-Frito, conquistou o mundo, foi genuíno craque de bola na acepção da palavra.

Não carregou o piano rubro-negro em muitos jogos inesquecíveis que o Flamengo fez, como por exemplo, nas decisões da Libertadores e do Mundial. Nos jogos, Adílio e Zico, exímios pianistas que tocavam com os pés o dó, ré, mi, fá, sol, lá e si, notas criadas pelo monge italiano Guido d’Arezzo (992-1050), resultaram em gols. Mas Leandro, ou melhor, o talento de Leandro, fez dele pianista dos grandes.

Mas o inesquecível lateral-direito e zagueiro central foi a melhor revelação surgida na base do Flamengo. Logo, perceptível aos olhos argutos da dupla América Faria e Sebastião Lazaroni, em 1976, construiu uma história. Linda, por sinal!

Passados 33 anos que deixou de atuar pelo Flamengo, único clube que jogou na brilhante carreira, nenhum outro jogador chegou perto da classe, posicionamento e habilidade naquela faixa de campo. Difícil saber se foi mais eficiente na lateral, zaga, ou nas especialíssimas participações como meio campista.

“Na seleção de todos os tempos, meu filho Thiago escala Leandro na lateral e na zaga”, contou Zico na recente entrevista que nos concedeu para o livro que estamos produzindo sobre Leandro.

Desarmes, comparados à frequência sonora medida em hertz (Hz), descrevia com exatidão se o contra-ataque era grave ou agudo. Muitas vezes, parou na estação intransponível que Leandro era.

O posicionamento dentro de campo, representação de uma partitura ou letra em uma tablatura, por muito tempo deixou a beleza do som daquele futebol no nosso inconsciente. Sofremos até hoje por não termos mais jogador naquela posição como Leandro.

Quantos desarmes! Quantos passes! Quantos momentos inesquecíveis! Quantos gols (poucos é verdade, apenas 14), mas com um quê de magia de quem é diferenciado, como na cabeçada mortal nos 3 a 0 contra o Santos, na decisão do Brasileirão de 1983, e no ‘pombo sem asa’ no ângulo de Paulo Victor no Fla-Flu de 1985.

Peixe-Frito, eterno ídolo rubro-negro, é patrimônio imaterial nosso e não esqueceremos sob hipótese alguma o que produziu como boa nota musical da bola que foi nos gramados.

Prova disso foram quatro Campeonatos Brasileiros que nos deu como profissional e o contrato assinado em branco como apaixonado que sempre foi pelo Flamengo. “Maluco beleza”, diria Raul Seixas (1945-1989), “louco”‘, cravaria Albert Einstein (1879-1955)… nada disso. Leandro foi prova de amor genuíno ao clube que tanto ama e quer bem.

Mas voltando ao século passado, não esqueceremos da Libertadores, dos Cariocas, dos Guanabaras, dos torneios internacionais e do Mundial Interclubes, como passar incólume e não lembrar de Leandro que contribuiu de forma decisiva nessas conquistas?

Além de um bom pianista que produzia belos sons com os pés, cada flamenguista já esqueceu quando Leandro negou-se a ir à Copa do Mundo no México, em 1986. Erro imperdoável? Talvez! Mas Leandro escreveu certo por pernas tortas.

Pernas tortas que driblaram a morte quando dirigindo o Puma voou na Curva da Norte, situada em São Pedro da Aldeia, na Região dos Lagos e, foi parar no brejo, em um acidente que acabou deixando-o preso às ferragens. Livre e recuperado, meses antes, calou o departamento médico do Internacional e provou para a ciência que não estava acabado para o futebol. Leandro foi a ressignificação de superação em pessoa.

Mas não esqueçamos da humildade de Leandro, maior qualidade do imortal camisa 2 e 3 rubro-negro nos tempos passado, presente e futuro. Só os GRANDES são humildes.

Feliz. Tal felicidade se resume a tantas coisas: ser amigo pessoal do lendário ídolo do Mais Querido, poder escrever com Sergio Pugliese um livro sobre este mito dos campos de futebol, além é claro, em ter pintando um quadro dele que enfeita a casa de Leandrinho, primeiro filho.

Obrigado Deus, obrigado Leandro, e obrigado futebol por me proporcionar viver tudo isso. Sem vocês, nada teria valido a pena”.

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