Museu de Arte Murilo Mendes | MAMM

Magliani – Gráfica

Força e diversidade: a obra gráfica de Maria Lídia Magliani (1946-2012) preenche de expressionismo a galeria Convergência do Museu de Arte Murilo Mendes (MAMM/UFJF). “Magliani – Gráfica”, exposição que reúne mais de 80 obras da artista gaúcha, tem como enfoque a produção de gravuras de Magliani, apresentando algumas de suas derradeiras séries: “Cartas”, “Um de Todos” e “Procura-se”. “Em seus últimos anos de vida, no Rio de Janeiro, Magliani trabalhou intensamente a gravura, sobretudo a xilogravura. O conjunto reunido nessa exposição busca tecer relações entre esse trabalho e a sua produção pictórica”, explicam os curadores.

De acordo com Castro e Viveiros, a artista trabalhava em suas séries, muitas vezes, simultaneamente. “Temos a ‘Um de Todos’, em que máscaras nos lembram que “persona”, em latim, significa máscara de ator, em uma referência clara ao passado da artista nos palcos. Nas ‘Cartas’, há, na pintura, uma presença acentuada da cor e da influência da xilogravura, como se estivessem presentes, nas pinceladas curtas, o corte da madeira. Já nas xilogravuras propriamente ditas percebemos uma certa fragmentação do espaço, com aspecto de colagem. ‘Procura-se’ foi a última série, onde a palheta da pintora se reduz ao preto e branco (com raros momentos de alguma outra cor)”.

Em Gerais

Buscando um lugar mais tranquilo para trabalhar, Magliani viveu em Tirandentes-MG entre 1990 e 1996. “Abraçada pelas montanhas de Minas”, como dizia-se estar, foi acolhida pela artista e escritora Maria José Boaventura, inserindo-se na cena cultural da cidade. “Logo nos primeiros tempos, ficou impactada com a abundância dos pigmentos terrosos presentes nas cercanias e resolveu usá-los em seu trabalho, o que gerou a série que se chamou ‘Em Gerais’”, explicam os curadores.

Esta é a primeira mostra individual da artista no estado. Anteriormente, Magliani participou de outras exposições coletivas em Minas Gerais, incluindo “Aquisições Recentes: 2018.2021” (2021) neste museu e “Cada cabeça uma sentença” (1990) no Museu Mariano Procópio. A escolha do MAMM/UFJF para esta individual se deu após os constantes contatos do Estúdio Dezenove, espaço coordenado pelos curadores desta exposição e detentor dos direitos de uso de imagens e impressões póstumas da artista, e o museu, que se iniciou com a doação de seis trabalhos da artista em 2021. “Num segundo momento, três obras de da artista foram primorosamente restauradas pelo Laboratório de Conservação e Restauração de Papel do MAMM/UFJF, sendo duas delas foram inseridas na retrospectiva de sua obra na Fundação Iberê Camargo. Além disso é sabida a importância dada a gravura pelo próprio Murilo Mendes. O vínculo já estava estabelecido”, destacam Castro e Viveiros.

De acordo com o superintendente do MAMM/UFJF Aloisio Castro esta exposição oferece ao público a oportunidade ímpar de conhecer aspectos da obra inspiradora da artista. “É com imenso orgulho e entusiasmo que o MAMM/UFJF, em parceria com o Estúdio Dezenove, apresenta ‘Magliani – Gráfica’. As obras em exposição evidenciam a potente fatura artística de Maria Lídia Magliani, que, de modo visceral, entregou sua vida ao exercício pleno da Arte. Elas demonstram sua mestria em variadas técnicas de gravura em metal e em xilogravura, bem como no domínio do desenho, das ilustrações e em técnicas pictóricas”.

Sobre a artista

Maria Lídia Magliani foi pintora, desenhista, gravadora, ilustradora, figurinista e cenógrafa. Nasceu em Pelotas-RS, em 1946, e começou a pintar aos nove anos. Formou-se no curso de artes plásticas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde também cursou pós-graduação em pintura.

(Foto: Acervo Núcleo Magliani)

Ao longo de sua vida, atuou no teatro como atriz, cenógrafa e figurinista. Trabalhou como ilustradora e diagramadora em diversos jornais. Também Ilustrou livros de autores como Caio Fernando Abreu e Eduardo San Martin.

Realizou várias exposições individuais em seu estado natal, incluindo uma retrospectiva no Museu de Arte do Rio Grande do Sul, em 1987. Participou, também, da XVIII Bienal Internacional de São Paulo. Desde o final da década de 1990, integrou as atividades do Estudio Dezenove, no Rio de Janeiro. Morre em 2012, vítima de uma parada cardíaca, no Rio de Janeiro. No ano seguinte, o Estudio Dezenove passa a ser o centro de referência sobre a obra de Magliani, realizando pesquisa e levantamento de sua produção. Em 2022, a exposição retrospectiva “Magliani”, com curadoria de Denise Mattar e Gustavo Possamai, reúne, na Fundação Iberê, em Porto Alegre, mais de 200 obras da artista.