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A arte do Pirika

por Fernanda Miranda, 19 de setembro de 2013
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Durante as manifestações de junho, por todo o mapa brasileiro, vimos fervilhar pelas ruas milhares de pessoas gritando suas insatisfações com o aumento da passagem, os abusos na política, entre outras pautas. Aqui em São Paulo, o ato liderado pelo movimento Passe Livre teve vitória após os nossos governantes, sem terem outra saída, optarem por revogar o aumento da tarifa do transporte público. A adesão de pessoas que nunca tinham se arriscado a colocar o pé em uma manifestação foi decisiva para a conquista.

Essa participação de boa parte da população aos protestos, ou pelo menos ao debate sobre ele, se ampliou para além das ruas concretas e foi se infiltrando nas esquinas não menos reais das redes sociais. Não raro, o feed de notícias do Facebook era bombardeado por fotos, hashtags, vídeos, depoimentos e matérias sobre a questão. Foi nesse atribulado contexto de bombas de gás lacrimogêneo e repressão da polícia militar que conheci o Pirikart, tirinhas publicadas na rede social. Seus quadrinhos provocantes, com “cutucadas” tão necessárias, foram rapidamente compartilhados e, claro, criticados.       Saca só:

pirikart

O criador por trás da criatura Pirikart é o artista Adriano Kitani. Nós batemos um papo essa semana em um café próximo à Avenida Paulista, munidos de chá, café e preciosas trocas de sugestões de histórias em quadrinho (valeu, Adriano!). Tímido e simpático, ele fica rabiscando suas ideias em um caderninho enquanto volta de metrô do trabalho para casa. Ele me contou que a ideia do Pirikart surgiu há pouco mais de um ano, e o nome veio assim, meio do improviso, de um trocadilho com seu apelido, Pirika. “Ah, como só meus amigos vão ver, deixa que depois eu troco”. Não trocou, o nome pegou, e ficou por assim mesmo.

Ele já havia feito outros blogs com tirinhas, mas não levava nenhum adiante, até que no ano passado foi na Flip (Festa Literária de Paraty) fazer uma oficina literária ministrada pelo Laerte e o Angeli. “Eu voltei meio pilhado pra produzir alguma coisa, aí criei a página do Pirikart no Facebook. Percebi que na rede social comecei a ter uma resposta muito boa, gente compartilhando, e continuei”, contou. As tirinhas sobre as manifestações deram um boom nos acessos e compartilhamentos da página. Em questão de pouco tempo, as curtidas na rede subiram de 5 para 20 mil. Entre seus temas mais abordados, além da política, está o futebol e seus ícones da infância. No mundo do Pirikart, a metamorfose de Gregor não é em um inseto horrível, mas sim em um, muito mais legal, Kamen Rider.

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Hoje, além do tumblr e da página no Facebook, Adriano também publica no jornal Brasil Atual. Publicitário, que fez a faculdade só para ganhar dinheiro (mas não rolou, segundo ele), trabalha atualmente com design, pretende viver só de suas tirinhas, e sonha em um dia produzir um graphic novel. Seus fãs agradecem, Pirika!

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Tirinhas cedidas por Adriano Kitani / Foto por Adolfo Martins

Fernanda Miranda

Recém-formada em jornalismo e editora do Não Só o Gato. Ama história em quadrinhos, os textos da jornalista Eliane Brum, as trilhas sonoras dos filmes do Woody Allen e azeitonas.

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