Como e o que vêem os gatos?

Os gatos usam os mesmos cinco sentidos que os seres humanos, mas vêem o mundo de forma diferente. Compreendê-los pode tornar-nos melhores cuidadores.

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FOTOGRAFIA DE SETH CASTEEL, NATIONAL GEOGRAPHIC CREATIVE IMAGES

Os gatos precisam de alguma luz para saltar, mas este consegue perfeitamente dar um salto no escuro. 

O mundo em que os gatos vivem é muito diferente do nosso. Para sabermos como um gato vive, temos primeiro de compreender a forma como ele percepciona o mundo. Embora os gatos usem os mesmos sentidos que os seres humanos – visão, audição, olfacto, paladar e tacto – sentem e processam os estímulos de forma bastante diferente.

No entanto, saber que têm sentidos incrivelmente parecidos com os nossos pode ajudar-nos a viver de forma mais harmoniosa com os nossos amigos peludos. Descubra mais sobre como o seu gato se sente e aprenda como desenvolver uma melhor ligação com ele.

Visão

À semelhança dos seres humanos, os gatos usam a sua visão para verem o mundo em seu redor – e para caçarem a sua próxima refeição. No entanto, as diferenças entre os olhos humanos e os olhos dos gatos fazem com que vejamos o mundo de forma bastante diferente.

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FOTOGRAFIA DE MITSUAKI IWAGO, MINDEN PICTURES

Este gato tem uma condição denominada heterocromia – um olho azul e um olho verde – que não afecta a sua visão.

Embora a precisão com que um gato salta no escuro possa a dar a entender que tem óculos de visão nocturna incorporados, os gatos precisam, efectivamente, de alguma luz. Mas enquanto a visão nocturna humana não é magnífica, os gatos são autênticas estrelas na escuridão. Milhões de anos de evolução aumentaram as probabilidades de muitos gatos serem activos e caçarem ao nascer e ao pôr-do-Sol.

A luz entra no olho através da córnea, a superfície redonda e transparente do olho do gato. A córnea foca a luz na retina, que reveste o interior da parte de trás do olho. A córnea de um gato é maior e tem a forma de uma cúpula, permitindo que os seus olhos recolham o máximo número de fotões – uma adaptação essencial para a vida em condições de baixa luminosidade. As pupilas dos gatos são compridas e verticais, parecendo pouco mais do que uma tira em plena luz do dia, mas expandindo-se até 300 vezes quando escurece (as pupilas humanas aumentam apenas 15 vezes).

A parte de trás dos olhos de um gato tem uma camada denominada tapetum lucidum, que reflecte a luz não absorvida de volta para a retina – uma adaptação que ajuda o gato a ver em condições de baixa luminosidade e que faz o olho brilhar – como verificamos quando uma luz incide sobre eles no escuro. A sua visão periférica também é melhor do que a nossa.

Outros aspectos da visão felina não são tão bons. Como as suas retinas possuem menos cones – os fotorreceptores que captam a cor –, pensa-se que os gatos vejam o mundo de uma forma menos garrida e com menos tons do que os seres humanos. Estes cones também são responsáveis pela acuidade visual, por isso a visão de um gato é mais desfocada, apesar da sua fantástica visão em condições de baixa luminosidade. Aquilo que os gatos conseguem ver a seis metros de distância, nós conseguimos ver a 30 metros.

No entanto, isto não os torna mais lentos. Os gatos reagem mais depressa ao movimento do que aos pormenores intrincados e às cores de uma imagem, por isso não são prejudicados pela sua visão a cores limitada.

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FOTOGRAFIA DE ANDREW MARRTILA

Os gatos vêem o mundo de uma forma menos garrida e com menos tons do que os seres humanos, mas conseguem claramente ver a sua própria sombra – como este gato. 

Som

As orelhas triangulares de um gato funcionam como pratos de satélite pequenos e peludos. A parte exterior das suas orelhas, ou pinnae, podem girar de forma independente para a frente para trás e para os lados para localizar a fonte de um som. Os 180° de rotação da pinnae faz com que os gatos consigam localizar um som com uma precisão de poucos centímetros em apenas seis centésimos de segundo – mais depressa do que um piscar de olhos – até cerca de um metro de distância.

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FOTOGRAFIA DE ANDREW MARRTILA

Os gatos recém-nascidos têm o sentido do olfacto completamente desenvolvido e conseguem encontrar a teta mais próxima para mamar. 

Também conseguem distinguir diferenças extremamente subtis nos sons – tão pequenas como umdécimo de tom. No entanto, a sua audição ultra-sónica (muito superior à dos seres humanos e até dos cães) não significa que os gostos musicais de um gato incluam Beyoncé e Beethoven. Em 2015, uma equipa de investigadores de duas universidades norte-americanas testou melodias com sons felino-cêntricos que incluíam ronronar e uma batida repetitiva semelhante ao som de mamar. Os resultados mostraram que eles preferem canções para gatos (“Cozmo’s Air” e “Rusty’s Ballad”) a música composta para pessoas.

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FOTOGRAFIA DE PAUL BIRIS, GETTY IMAGES (DIREITA)

As orelhas deste gatinho foram concebidas para ajudá-lo a localizar sons com uma precisão de poucos centímetros até cerca de um metro de distância. 

Olfacto

Ao contrário dos outros quatro sentidos, o olfacto já está perfeitamente desenvolvido quando o gato sai do útero. Um gatinho recém-nascido usa rapidamente o seu nariz para encontrar o mamilo mais próximo e beber o primeiro golo do nutritivo colostro e leite.

Os especialistas crêem que o olfacto de um gato é cerca de 14 vezes melhor do que o nosso. O epitélio olfactivo de um gato doméstico – o tecido especializado existente no nariz que contém os receptores responsáveis pela detecção de odores – é cinco a dez vezes maior do que o de um ser humano. Como tal, os gatos têm até 200 milhões de células especializadas que detectam cheiros, comparadas com os nossos escassos cinco milhões.

Os nossos amigos felinos têm outra ferramenta ao seu dispor: o órgão de Jacobson. Situadas abaixo da boca, as células receptoras do órgão de Jacobson ligam-se às partes do cérebro associadas ao sexo, alimentação e comportamentos sociais. Se os gatos cheirarem algo interessante, abriram parcialmente a boca e enrolaram o lábio superior – uma expressão denominada resposta de Flehmen, que transporta as moléculas presentes na atmosfera até ao órgão de Jacobson. O ar inalado fica retido no epitélio olfactivo e/ou no órgão de Jacobson, dando a estes felinos uma oportunidade adicional de detectarem moléculas odoríferas.

Tacto

Os bigodes dos gatos podem ser uma das nossas coisas preferidas, mas são realmente importantes para eles.

Conhecido formalmente como vibrissa, um bigode é mais comprido e espesso do que um pêlo de gato normal. Cada bigode cresce a partir de um folículo repleto de nervos e vasos sanguíneos, sendo tão sensível como a ponta dos dedos humanos. Estas vibrissas ajudam a compensar a visão nada fabulosa dos gatos. Os bigodes detectam deslocações subtis no ar que indicam a presença de presas e ajudam os gatos a contornar obstáculos.

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FOTOGRAFIA DE AZOVSKY, GETTY IMAGES

Este gato de Bengala inspira um odor estranho com a boca aberta – um exemplo da resposta de Flehmen, utilizando o órgão de Jacobson.

Agora que sabe mais sobre como os gatos vêem o nosso mundo, talvez compreenda melhor o seu amigo felino.

Artigo publicado originalmente em inglês em nationalgeographic.com.

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