Entrevista

Carolina Herrera: estilista elegeu o Brasil para o seu novo lançamento

A venezuelana esteve em São Paulo ao lado de sua filha Carolina Herrera de Baez para apresentar nova fragrância – Good Girl Drama Dot – e conversou com O TEMPO sobre a sua carreira


Publicado em 19 de maio de 2019 | 03:00
 
 
 
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A estilista venezuelana Carolina Herrera (da marca CH), 80, escolheu São Paulo para sediar o primeiro Dot Club, evento que celebra uma de suas marcas registradas: a estampa de poás, chamada de polka dots, presente em sua label desde a fundação, em 1981, em Nova York. “Adoro a estampa de bolinhas. Sempre usei. Gosto do aspecto gráfico. É um motivo que favorece sempre, em fotografias ou ao vestir”, explica a estilista. 

Junto à herdeira Carolina Herrera de Baez, diretora de fragrâncias da marca, a matriarca – que hoje atua como embaixadora internacional da CH – desembarcou na capital paulista na última quarta-feira (15) especialmente para a celebração. Além de enfatizar sua relação com a estampa citada, a visita, que se estendeu também pela quinta-feira, marcou o lançamento da nova versão do perfume Good Girl Dot Drama, lançado em 2016. Trata-se de uma edição de colecionador, inspirada justamente na estampa de bolinhas brancas e pretas. 

Agora com nova roupagem, o perfume quer conversar com as novas gerações. Para tanto, a campanha aposta suas fichas na supermodelo norte-americana Karlie Kloss no papel de embaixadora. “Karlie é superjovem, inteligente, ousada e se comunica com toda a geração millennial pelas redes sociais, que é justamente o que todas as marcas estão fazendo hoje dia”, analisa Carolina Herrera de Baez. 

A modelo também reflete a provocação do lema da campanha, “Good Girl, it’s so good to be bad! (Garota, é tão bom ser má). “A fragrância é misteriosa, afinal uma mulher sem mistério é uma mulher sem vida”, brincou Baez, que usou o contraste entre notas mais fortes, como canela, fava tonka e cacau, e outras mais suaves, como jasmin, lírio e limão, para refletir essa dualidade que vai além do design da embalagem.

O evento em São Paulo contou com espaços que exibiam peças icônicas, criadas ao longo da trajetória da marca, e que trazem justamente as bolinhas como protagonistas. A própria estilista recebeu os convidados para um tour pelos ambientes, descrevendo peças que, vindas diretamente do seu ateliê em Nova York, traduzem seu estilo atemporal e clássico. 

Durante o evento, a estilista nascida em Caracas também justificou a escolha do Brasil para a celebração. “É um lugar que sempre me chamou a atenção. Amo a música, a arte, as pessoas... e a caipirinha. Na verdade, tudo. Aliás, seria uma ótima ideia criar uma estampa de bolinhas com inspiração brasileira”, sinalizou. 

Já sua herdeira ministrou um workshop das fragrâncias que dão o tom no perfume, como bergamota, limão, cacau e lírio. “Estamos aqui para celebrar a mulher: a sua beleza, a sua sensualidade. E o amor, a diversão, o mistério. E estamos no Brasil, onde existem mulheres lindas e com alegria de viver. É isso que queremos celebrar por meio da fragrância”, disse Carolina de Baez aos convidados.

Conquistando cada vez mais entusiastas – como Sophie Turner, Meghan Markle e Oprah Winfrey –, seja por meio de suas roupas ou por suas fragrâncias, Carolina Herrera sabe que ainda tem muitos degraus a galgar. E para falar sobre esse verdadeiro império que construiu, conversou, em uma pequena sala, com o grupo de quatro jornalistas brasileiros convidados para o evento. Confira, a seguir, alguns trechos.

Quanto tempo pode demorar o processo de criação de uma nova fragrância da marca? Cerca de dois a três anos, depende muito. No caso de Good Girl foram três, porque é um perfume muito diferente, com muitos ingredientes, e um frasco mais complicado de ser desenvolvido. Mas há edições especiais que demoram menos, porque o perfume é o mesmo.

Você começou a trabalhar a sua marca quando tinha 42 anos e já era mãe de quatro meninas. Acha que isso, sua maturidade, ajudou na pavimentação da carreira? Como foi começar a trabalhar “mais tarde”? Eu acho que sempre há tempo para a pessoa fazer o que quiser. Você pode começar aos 20, aos 42, aos 50... É o mesmo (desafio), se fizer isso por si mesma. Há muitos desafios, mas em todo negócio há desafios, responsabilidades, enfim, diferentes coisas. Nós, mulheres, podemos fazer tudo. Podemos ter uma família e uma carreira. É isso que nos difere dos homens. Fazemos muitas coisas ao mesmo tempo. Homens, só uma. Por isso a gente tem que tentar. Se você tem família e quer trabalhar, vá.

O que faz uma mulher ser elegante? Muitas coisas! E não se trata do que você veste. Tampouco é sobre ter dinheiro. Vejo muitas mulheres por aí com muito dinheiro e que não são elegantes, mesmo podendo comprar de tudo. É ter atitude. Elegância é o que você pensa, é como você anda, o jeito que você fala. Uma combinação de muitas coisas. Não apenas a roupa que você veste.

E a brasileira, é uma mulher elegante? Sempre foi, e te falo o porquê: Em todas as listas das mais bem-vestidas do mundo, sempre teve alguma mulher brasileira. Elas se vestem diferente – e por causa do clima, ao contrário da mulher da Europa, por exemplo. E estão sempre incríveis e elegantíssimas. 

Ao longo de sua carreira, você vestiu mulheres que são consideradas ícones de elegância, como Oprah Winfrey, Blake Lively e, recentemente, Megan Markle. Mas como foi a experiência de ser a estilista da primeira-dama Jackie Kennedy? Foi uma ótima experiência. Para mim, ela não era só uma mulher elegante: era inteligente e estava muito engajada na história dos Estados Unidos. Mais que só uma primeira-dama bonita e bem-vestida, para mim, era uma amiga próxima, por quem sempre tive grande admiração.

Carolina Herrera é uma marca icônica, e a senhora a personificação da elegância feminina. Qual o peso desses títulos? Desde o princípio da minha carreira, quando comecei a fazer isso, queria que as mulheres que vestissem se vissem elegantes, femininas e, claro, modernas, pois estamos em um século no qual todo mundo quer ser diferente.

Qual o segredo para manter a fidelidade das adeptas e, ao mesmo tempo, arrebanhar outras, de novas gerações? É preciso evoluir para atrair os jovens e manter um estilo sem confusão. A moda está confusa hoje em dia, por isso é preciso ser fiel, seguir uma linha dentro daquilo que você acredita que deve ser o que as mulheres que vão vestir. As jovens estão aí também para comprar. Por isso, acredito que você pode mudar um pouco, mas não totalmente, do contrário não seria a Herrera. Um exemplo disso é a grife Chanel. (O estilista) Karl Lagerfeld (1933-2019) respeitou a figura de Coco Chanel, seguiu adiante, mas com suas mudanças. Mas é a Chanel que se conhece hoje e que vai ser reconhecida sempre. Era um gênio, o Karl.

Qual é a melhor maneira de usar um perfume? Eu prefiro colocar em meu armário e nas minhas roupas – e quando eu abro, está um cheiro divino.

Como você lidou com os desafios da sua carreira de estilista? No início, não sabia que iria ser tão difícil. Quando a gente começa algo que queremos muito fazer, como eu, que quis ser estilista, achei que seria fácil. Mas não é. Tudo é um desafio, porque sempre estamos lidando com alguém que critica o que estamos fazendo e passamos a querer cada vez mais fazer bem, para que não nos critiquem. Mas é importante fazer algo bem pra você mesma, e não para satisfazer quem te critica. Na moda, é ler as críticas após os desfiles, ver tudo o que falam e não ficar afetada, porque você está fazendo o que você gosta. Isso é um desafio diário.

Como a Carolina Herrera se afina com os movimentos feministas que afloram mundo afora? Eu sempre acreditei que as mulheres têm muito poder, mas é preciso ter um cuidado enorme com o movimento feminina porque não podemos parecer que somos vulneráveis. Nesses movimentos ainda precisamos de alguém, da polícia ou de um advogado, para ajudar a nos defender, porque não conseguimos fazer isso sozinha. Somos muitos poderosas desde sempre, e por trás de cada homem há uma mulher muito poderosa. Mas o movimento está sendo interpretado de outra forma que não deveria ser. 

Após apontar Wes Gordon como novo diretor criativo da marca em 2018, qual a sua nova ocupação como embaixadora da marca? Meu novo papel é fazer exatamente o que estou fazendo (risos). Agora, posso me dedicar às viagens, participar do lançamento dos perfumes... e estou muito feliz com a nova fase. Fico contente com o Wes também, porque ele me escolheu, e eu o escolhi, e acredito que tem feito um trabalho brilhante na marca. Quando vou para os desfiles e o vejo na frente, me sinto como uma professora que tem um aluno excepcional.

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