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número
61
volume
25
novembro
2014
Artigo
O envelhecimento e a 
moda: tecendo reflexões
Entrevista
Roger Chartier
Painel
Minhas Memórias, 
Nossas Histórias
Sesc São Paulo
Av. Álvaro Ramos, 991
03331-000 São Paulo - SP
TEL.: +55 11 2607-8000
sescsp.org.br
Produção técnica editada pelo 
Sesc – Serviço Social do Comércio
número
61
volume25 novembro2014 ISSN 2358-6362
a
E S T U D O S S O B R E E N V E L H E C I M E N T O
Sesc - Serviço Social do Comércio
Administração Regional no Estado 
de São Paulo
Presidente do conselho Regional
Abram Szajman
Diretor do Departamento Regional
Danilo Santos de Miranda
Superintendentes
Técnico-Social Joel Naimayer Padula 
Comunicação Social Ivan Giannini
Administração Luiz Deoclécio 
Massaro Galina Assessoria Técnica e de 
Planejamento Sérgio José Battistelli
Gerentes
Estudos e Programas da Terceira Idade Cristina 
Madi Adjunta Lilia Ladislau Artes Gráficas 
Hélcio Magalhães Adjunta Karina Musumeci
Comissão Editorial
Celina Dias Azevedo (coordenação)
Adriese Castro Pereira , Ana Luisa Sirota 
de Azevedo, Cristiane Ferrari, Cristianne 
Aparecida de Brito Lameirinha, Cristina 
Fongaro Peres , Danilo Cymrot, Denise 
Miréle Kieling, Elizabeth Aparecida 
Guaraldo Brasileiro, Flavia Rejane Prando, 
Francis Márcio Alves Manzoni, Jair de Souza 
Moreira Júnior, Kelly CeciliaTeixeira, Lucia 
Maria Lopes Garcia, Maria Ivani Rezende 
de Brito Gama, Mariana Barbosa Meirelies 
Ruocco, Melina Izar Marson, Regiane 
Cristina Galante, Sandra Carla Sarde 
Mirabelli, Sandra Regina Feltran, Virginia 
Baglini Chiaravalloti.
Editoração Lourdes Teixeira Benedan
Produção Digital Ana Paula Fraay 
e Marilu Donadelli
Fotografias Pag. 5, 9, 104,105, 106, 107 e 109: 
Rafael Costa; pag. 27: Mujica; pag. 42, 
59, 75: Nilton Silva; pag. 93, 96, 98 e 100: 
Adauto Perin; pag. 104 e 107: Adauto 
Perin.
Revisão Marco Antonio Storani
Projeto Gráfico Marcio Freitas 
e Renato Essenfelder
Artigos para publicação podem ser 
enviados para avaliação da comissão 
editorial, no seguinte endereço: 
revistamais60@sescsp.org.br
Mais 60: estudos sobre envelhecimento 
/ Edição do Serviço Social do Comércio. 
– São Paulo: Sesc São Paulo, v. 25, n. 60, jul. 
2014 –. 
 Quadrimestral.
 
 ISSN 2358-6362
 Continuação de A Terceira Idade: 
Estudos sobre Envelhecimento, Ano 1, n. 1, 
set. 1988-2006. ISSN 1676-0336.
 
 1. Gerontologia. 2. Terceira idade. 
3. Idosos. 4. Envelhecimento. 4. 
Periódico. I. Título. II. Subtítulo. 
III. Serviço Social do Comércio. 
CDD 362.604
Esta revista está indexada em: 
Edubase (Faculdade de 
Educação/Unicamp)
Nota 
As opiniões e afirmações contidas em 
artigos e entrevista publicadas na b 
são de responsabilidade de seus autores.
sumário
 
páginas de 8 a 25
Destaque da edição 
O envelhecimento e a moda: tecendo reflexões
por Denise Pollini
páginas de 26 a 41
Grupos sociais: instrumento na manutenção da 
saúde do idoso?
por Ana Cristina Soares Melo e Cláudia Ferreira Melo
páginas de 42 a 57
A percepção da saúde do idoso e os fatores 
associados: em foco o Programa Municipal da 
Terceira Idade, Viçosa-MG
por Alessandra Vieira de Almeida, Simone Caldas Tavares 
Mafra, Marco Aurélio Marques Ferreira, Emília Pio da 
Silva, Núbia Cristina de Freitas e Estela Silva da Fonseca
páginas de 58 a 73
Saúde mental e envelhecimento: uma 
experiência com estimulação cognitiva
por Marluce Auxiliadora Borges Glaus Leão, Eliana de 
Fátima Almeida Nascimento, Joelita Pessoa de Oliveira 
Bez e Yuri Borges Glaus Leão
páginas de 74 a 91
Muito além do encontro: as percepções de idosos 
e a prática de exercícios físicos em grupo
por Thabata Santos Ventura e Graciele Massoli Rodrigues
páginas de 92 a 103
Entrevista: Roger Chartier
páginas de 104 a 107
Fotografia: Rafael Costa
páginas de 108 a 115
Painel de Experiência: Minhas memórias, nossas 
histórias: relatos de um projeto com idosos 
frequentadores do Sesc Santana – São Paulo
por Neide Alessandra Périgo Nascimento e
 Nárlon Cássio Boa Sorte Silva 
páginas de 116 a 117
Resenha: A Máquina de fazer espanhóis
por Virgínia Chiaravalloti
CAPA
Rafael Costa
52 anos, fotógrafo
Formado em arquitetura pela 
Universidade Mackenzie.
Especializado no mercado de 
carros e motos, desenvolve 
paralelamente trabalhos 
autorais, marcados pela 
experimentação: Bendito Fruto 
e Sete Pecados foram expostos 
na Pinacoteca do Estado de 
São Paulo. Lançou em 2011 o 
livro “Imaginário”, pela BEI 
editora, com prefácio do poeta 
e crítico de arte Ferreira Gullar.
e
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6 b – Estudos sobre Envelhecimento 
Volume 25 | Número 61 | Novembro de 2014
Em que momento a juventude tornou-se um valor? Em que momento 
a experiência que servia de esteio para transmissão de modos de 
vida e de organização social passou a ser desconsiderada? Alguns 
especialistas apontam para o final do século XIX, quando o processo 
de industrialização acarretou transformações políticas, econômicas e 
sociais. Enquanto outros apontam para meados do século XX, após a 
segunda guerra mundial, quando o mundo conheceu novas formas de 
comunicação e se transformou em uma “aldeia global” envolvida por 
mudanças na constituição da família e nos relacionamentos.
Danilo Santos de Miranda
Diretor Regional
Ser velho !
•
7b
Estudos sobre Envelhecimento
Volume 25 | Número 61
Novembro de 2014
O distanciamento social entre jovens e velhos é um fenômeno da 
contemporaneidade, provocado por uma sociedade que estabelece 
uma série de espaços exclusivos para atender as diferentes faixas 
etárias, como a escola, os escritórios, os asilos e, também, os 
espaços destinados ao lazer. Não à toa, a falta de convívio resulta 
no desconhecimento entre as pessoas, o que pode vir a gerar 
preconceitos.
Percebem-se atitudes sociais em relação à velhice 
predominantemente negativas, resultantes de falsas crenças a respeito 
da capacidade dos velhos em relação ao trabalho, ao aprendizado e à 
adaptação a novas situações. Os estereótipos levam à discriminação 
e, por sua vez, afetam a qualidade de vida e o bem estar de quem se 
encontra em situação de exclusão.
Não surpreende que o imaginário social exponha o preconceito 
entre gerações, conferindo aos jovens qualidades associadas à força 
e à agilidade e, aos velhos, atributos como carências, fragilidade e 
passividade. 
Desde a década de 1960, quando o Sesc São Paulo passou a atuar 
junto à população idosa, possibilitando a sociabilização e o acesso 
a bens culturais, o objetivo do Trabalho Social com Idosos tem sido 
acolher essa parcela da população. Ao mesmo tempo, tem chamado 
a atenção da sociedade para a importância de perceber o idoso como 
sujeito social. Experiências relevantes como essas podem transformar 
as perspectivas e expectativas traçadas socialmente para os velhos.
Por isso, o sentido de um bom envelhecer deve estar aliado a 
valores como pertencimento e sociabilidade, uma via para combater 
preconceitos que interferem ou anulam as possibilidades dos idosos 
de aprimorar a aprendizagem e desenvolver novas habilidades. 
1
Artigo 
da capa
O envelhecimento e a moda: 
tecendo reflexões
[Artigo 1, páginas de 8 a 23]
8 b – Estudos sobre Envelhecimento 
Volume 25 | Número 61 | Novembro de 2014
Denise Pollini
Mestre em Artes pelo Departamento de Artes Cênicas da 
Universidade de São Paulo (USP), desde 1999 é Coordenadora do 
Setor Educativo do Museu de Arte Brasileira da Fundação Armando 
Álvares Penteado (MAB/FAAP). Pesquisadora de História da Moda e 
Cultura de Moda, em 2007 publicou o livro “Breve História da Moda” 
pela Editora Claridade e têm ministrado aulas em várias instituições 
de ensino. Em 2012 foi curadora da exposição: “Moda Brasileira: 
Criadores Contemporâneos e Memórias”, realizada no MAB/FAAP. 
denisepollini@gmail.com
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Artigo1
O envelhecimento e a moda: tecendo reflexões
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Estudos sobre Envelhecimento
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abstract
This article deals with the relationship 
between the developments of the youth 
culture after the Second World War: the 
establishment of the “new” as a value and its 
consequences on people’s way of dressing and 
the construction of a self-image in the western 
world as well as the transformations of this 
concept in contemporary times. Through 
a mapping of the concept of third age, 
confronted to the phenomenon of valuation 
of the style used by old people – visible in 
publications and fashion related films 
released in the past five years. We reflect on 
the joints of this concept regarding possible 
changes in standards of beauty, fashion use, 
construction of self-image and reinvention of 
identity during the various stages of life.
Keywords: aging; fashion; youth culture; 
contemporary times.
Resumo 
O presente artigo trata das relações entre o 
desenvolvimento da cultura jovem após a 
Segunda Guerra Mundial: a constituição do 
novo como um valor e suas consequências 
aos modos de vestir e à construção da 
autoimagem no Ocidente, assim como 
as transformações deste conceito na 
contemporaneidade. Por meio de um 
mapeamento do conceito de terceira idade, 
confrontado com o fenômeno da valorização 
do estilo do idoso – visível em publicações 
e filmes relacionados à moda lançados nos 
últimos cinco anos –, buscamos refletir 
sobre as articulações deste conceito para as 
possíveis mudanças nos padrões de beleza, 
uso da moda, construção da autoimagem e 
reinvenção de identidade durante as diversas 
fases da vida.
Palavras-chave: envelhecimento; moda; 
cultura jovem; contemporaneidade.
Artigo 1
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INTRODUÇÃO
“Roube a Roupa de seu Filho”; a frase, que fez parte de um anúncio 
da etiqueta de roupas masculinas Club Um1, impressa na revista 
Realidade2 de 1971, apresentava a fotografia de um homem com cerca 
de 50 anos exibindo sua nova roupa, mas este exibia acima de tudo 
um novo conceito. Conceito ainda tão recente que décadas antes teria 
sido incompreensível, não fossem as transformações ocorridas no 
mundo principalmente após a Segunda Guerra Mundial, quando vemos 
cristalizado o ideal de juventude.
A ideia de que um pai poderia desejar usar a roupa de seu filho não 
seria compreensível décadas antes por um único motivo: o filho é que 
se vestia como seu pai. E, antes do advento do ideal de juventude, por 
que um pai desejaria usar a roupa do filho? Sobretudo, porque um pai 
desejaria esteticamente se assemelhar a alguém mais jovem?
Durante milênios a humanidade organizou-se de forma a valorizar 
a experiência e desenvolveu maneiras de passá-la adiante em sua orga-
nização social e na forma de narrativas (BENJAMIN, 1987, p. 197-221). A ex-
periência compartilhada era instrumento fundamental para a transfe-
rência de modos de vida, valores e fases que organizavam a existência 
da comunidade. E o acúmulo de experiência – ou a presença ou não 
da experiência – com frequência determinava o tom das relações, uma 
vez que a tradição era um bem valorizado3. 
Porém, no mundo industrializado o indivíduo é reconhecido por 
sua capacidade de produção e sua inserção na dinâmica social regida 
pelo consumo. Produção e, contemporaneamente, acima de tudo o con-
sumo estão posicionados acima do cabedal de experiências que o indi-
víduo possa ter acumulado durante sua vida, determinando seu status 
nesta sociedade. A cultura ocidental, especialmente com o advento da 
industrialização e de forma mais efetiva após a segunda metade do sé-
culo XX, tomou portanto o caminho contrário ao das sociedades di-
tas “primitivas”: o ideal agora é o da juventude. A juventude tornou-se 
um valor e, aliadas a este valor, vieram a valorização da novidade em 
detrimento da tradição e a da velocidade em detrimento do ciclo na-
tural, e nenhuma área da atividade criativa humana esteve mais liga-
da a este conceito do que a moda (BALDINI, 2006, p. 88-89).
1 O Club Um, lançado por Lívio 
Rangan, promotor dos desfiles 
da Rhodia na década de 1960 
no Brasil, foi uma etiqueta que 
congregava várias marcas e 
“… dava chancela a um grupo 
de confecções e tecelagens” 
(BRAGA & PRADO, 2011, p. 347).
2 A revista Realidade, lançada 
pela Editora Abril em 1966, 
circulou até 1976 e destacou-
se por um formato editorial 
diferenciado tanto na produção 
de suas matérias quanto 
no design de suas capas. A 
propaganda do Club Um 
“Roube a Roupa de seu Filho” 
foi publicada em março de 1971.
3 Embora existam discussões 
acerca da crença geral de 
que nas sociedades ditas 
“primitivas” a velhice seja mais 
valorizada, tais sociedades sem 
dúvida estruturam-se a partir 
da experiência transmitida 
principalmente por relatos 
orais. Os griôs (contadores de 
histórias) na África podem ser 
citados como exemplo.
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E principalmente a partir do final do século XIX começa a ser 
construído o conceito de que a juventude incorporaria estes 
valores: rapidez, abertura para a novidade, flexibilidade passaram 
a ser sinônimos de juventude. Ser jovem passou a ser um adjetivo.
O novo como um valor
Mas como esta nova fase de vida, que ganha definitivo reconhecimen-
to mundial após os anos de 1943-19444, foi capaz de criar um valor que 
fosse desejado por todas as gerações? 
(...) A absurda superstição do novo – que infelizmente substituiu a an-
tiga e excelente crença no julgamento da posteridade – atribui ao es-
forço do trabalho o fim mais ilusório e o utiliza para criar o que há de 
mais perecível, o que é perecível por essência: a sensação do novo (...) 
(VALÉRY, 1935, ApuD BENJAMIN, 2006, p. 112).
O ritmo de vida e a organização social se alteraram radicalmente 
no Ocidente com o advento da industrialização. Não por acaso nota-
mos em seu surgimento a confluência da industrialização com o de-
senvolvimento da moda como a conhecemos hoje: ambas são funda-
das sobre a valorização da novidade e da velocidade (BENJAMIN, 2006, 
p. 114-115; SVENDSEN, 2010, p. 10).
E principalmente a partir do final do século XIX começa a ser cons-
truído o conceito de que a juventude incorporaria estes valores: rapi-
dez, abertura para a novidade, flexibilidade passaram a ser sinônimos 
de juventude. Ser jovem passou a ser um adjetivo. Ao perseguir estes 
valores a sociedade passa a pautar-se por eles e a buscar a estética que 
demonstre o pertencimento a esta categoria almejada, a novidade-ju-
ventude. Existe portanto um novo protagonista, um novo ideal que se 
coaduna com os novos valores sociais.
4 The invention of teenagers: 
life and the triumph of youth 
culture. Disponível em: <http://
life.time.com/popular-culture/
teenagers-a-1944-photo-
essay-on-a-new-american-
phenomenon/#1>. Acesso em: 
9 nov. 2014.
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Quando pensamos em moda, pensamos em conjunto de valores es-
pecíficos de determinados lugares e épocas e, com frequência, pensa-
mos em roupas e suas alterações. Naturalmente atrelada e movida pe-
las mudanças sociais, a moda acompanha essas transformações e com 
frequência as encarna em peças que envelopam nossos corpos, e, ao o 
fazerem, produzem discursos sobre quem somos: nossa idade, nossa 
condição social, nossas referências culturais, geográficas, entre mui-
tos outros elementos.
A invenção de um “novo mundo” após a Segunda Guerra Mundial
Os aliados venceram a guerra exatamente no momento em que o mais 
recente produto da América estava saindo da linha de produção. Defi-
nida durante 1944 e 1945, ateenage fora pesquisada e desenvolvida por 
uns bons 50 anos, o período que marcou a ascensão da América ao po-
der global. A divulgação pós-guerra de valores americanos teria como 
ponta de lança a ideia do teenager. Este novo tipo era a combinação psí-
quica perfeita para a época: vivendo no agora, buscando o prazer, fa-
minto por produtos, personificador da nova sociedade global onde a 
inclusão social seria concedida pelo poder de compra. O futuro seria 
teenage (SAVAGE, 2009, p. 498).
O processo de desenvolvimento do conceito de juventude, de uma 
fase entre, que se posiciona entre a infância e a idade adulta, já demons-
trava seus sinais no Ocidente desde o final do século XIX (SAVAGE, 2009, 
p. 28-29); a própria constituição do movimento romântico no despertar 
do século XIX já continha sementes desse processo (BELL, 2008, p. 304-
310). Porém, após duas guerras mundiais e a evolução do capitalismo, 
o mundo estava pronto para que este conceito atingisse seu apogeu. 
O domínio norte-americano deu forma a um fenômeno que se es-
tendeu de diferentes maneiras por toda a Europa: a juventude hitleris-
ta e os zazous franceses5 poderiam figurar como exemplo de que uma 
crença e uma estética estavam prontas a serem reconhecidas além da-
quilo que acreditamos ser apenas uma invenção norte-americana, 
embora a América do Norte tenha desempenhado papel fundamen-
tal neste processo.
Portanto, no decorrer da segunda metade do século XX, 
principalmente após os anos de 1960, assistiremos a uma mudança 
radical no eixo de influência da moda. Antes dos anos de 1950 a 
referência de moda predominante no mundo ocidental vinha das 
5 A juventude hitlerista 
(Hitlerjugend) foi uma 
instituição de jovens na 
Alemanha, alinhados ao 
pensamento de Adolf Hitler, 
em atividade antes mesmo da 
eclosão da II Guerra Mundial. 
Os zazous na França foram uma 
subcultura de jovens durante 
a II Guerra Mundial que se 
distinguia por suas vestimentas 
e culto ao jazz e bebop.
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criações da Alta Costura, de uma estrutura formal de elegância que 
exigia um determinado comportamento que era perseguido e copiado 
em um processo de gotejamento: das maisons de Alta Costura francesas 
para os diversos ateliês e costureiras no mundo todo (MONNEYRON, 
2007, p. 35; GRuMBACH, 2009, p. 188; LIpOVETSKY, 2005, p. 71). Mas, apesar 
das cópias, a “mensagem” era mantida: e essa mensagem era a da 
formalidade, do senso de elegância regido pelo tom da ocasião. Não 
é para menos que, ao analisarmos os trajes até os anos de 1950, com 
frequência encontramos as determinações: traje para o dia, vestido 
cocktail, traje para a noite... Cada ocasião pedia um tipo específico de 
linguagem do vestir e cada idade também deveria mostrar-se de acordo 
com as regras tácitas implícitas a cada fase de vida.
A partir do tsunami jovem, as décadas seguintes assistem a uma 
explosão de novos valores. Ainda nos anos de 1950, com o advento da 
televisão, o mundo seria profundamente transformado pela nova forma 
de disseminação das informações, inclusive estéticas. Os anos de 1960, 
conhecidos como a década das revoluções, significaram mudanças 
nos relacionamentos, na sexualidade e na constituição das famílias 
com o advento da pílula anticoncepcional; no campo dos direitos civis 
foram empreendidas lutas contra a segregação racial, pelos direitos 
dos homossexuais, e, por meio do movimento feminista, foi discutida 
a posição da mulher na sociedade ocidental. Estas, entre muitas outras 
discussões, sem dúvida estenderam sua influência muito além daquela 
década. Acompanhando essas mudanças sociais, a moda assistiu a 
uma contínua juvenilidade de seus modelos e propostas. Estilistas dos 
anos de 1960, tais como a inglesa Mary Quant e os franceses André 
Courrèges e Pierre Cardin (italiano naturalizado francês), produziram 
modelos que refletiam esse novo modo de vida jovem, e nosso anúncio 
A partir do tsunami jovem, as décadas seguintes assistem a uma 
explosão de novos valores. Ainda nos anos de 1950, com o advento 
da televisão, o mundo seria profundamente transformado pela 
nova forma de disseminação das informações, inclusive estéticas.
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do Club Um no Brasil refletiu esta condição: agora todos querem ser e 
parecer jovens. Uma corrida contra o tempo foi iniciada. Junto com ela, 
cosméticos, exercícios, cirurgias e todo um arsenal para deter o tempo.
As mudanças nos paradigmas estéticos foram tão grandes que, na 
década de 1960, uma revista feminina norte-americana publicou um 
guia da altura correta das saias para as mulheres nas diferentes ida-
des (LuRIE, 1997, p. 63), em uma tentativa vã de nortear os usos da nova 
moda relacionando-os ao decoro referente à faixa etária pertencente 
a um mundo anterior ao advento da minissaia.
A publicidade, com o objetivo de gerar desejo, acompanhou esta di-
nâmica e enfatizou a concepção de que apenas a estética jovem é atra-
ente. Aparentar a idade passou a assombrar principalmente as mulhe-
res (GREER, 2001, p. 33-34; GOLDENBERG, 2011, p. 66-71). Assim, boa parte 
do século passado e o início do século XXI são caracterizados pela bus-
ca da fonte da juventude. Somado a isso, assistimos a um crescimento 
do poder de consumo jovem como nunca antes visto.
Aliada e alimentada pelo processo em direção a uma estética jovem, 
a moda percorreu o caminho da informalidade. Gradualmente as rou-
pas passaram a enfatizar a praticidade, o movimento e acompanhar 
seus usuários nos vários horários e nas ocasiões do dia a dia. O tempo 
e a formalidade da Alta Costura deram espaço para o imediatismo e a 
informalidade do prêt-à-porter6, e, com exceção de ocasiões muito res-
tritas, a exigência da adequação das roupas a determinadas situações 
sociais perdeu cada vez mais sua força. 
Neste contexto de uma moda cada vez mais informal, a formali-
dade nas roupas ficou relacionada ou a situações específicas ou a um 
mundo que remete ao passado. O formal passou então a adquirir co-
notação de antigo. Assim, para a geração que nasceu inserida nessas 
transformações, aquele que não acompanhou esta toada informal é 
classificado em um mundo anterior à grande virada jovem e, portan-
to, é considerado velho. 
O conceito de terceira idade e suas consequências na moda
O que acontece quando quase a totalidade da sociedade tende a valo-
rizar uma estética relacionada à juventude? 
As transformações sociais operadas após os anos de 1940 foram 
de tal maneira profundas em seu poder de moldar novas concepções, 
modos de vida e uma nova estética no Ocidente que se faz necessário 
pensar o que acontece quando a mesma geração que participou do 
movimento jovem, nascida entre os anos de 1940 e 1950 (e conhecida 
6 O primeiro salão do prêt-à-
porter ocorreu em 1957 em Paris 
(BALDINI, 2006, p. 20-21).
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O envelhecimento e a moda: tecendo reflexões
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tradicionalmente por baby boomers), passa a adentrar a barreira dos 60 
anos. Se uma nova sociedade foi construída neste interregno, uma nova 
reflexão sobre o envelhecimento também tem de ser empreendida. E, se 
essa mesma geração empreendeu uma revolução no vestir-se, devemos 
pensar agora em uma nova forma de relacionar-se com a moda? 
Desde o final da década de 1980 teóricos como Peter Laslett (1989) 
refletiram sobre a dinâmica do envelhecimento alimentada pelas mu-
danças demográficas e sociais das últimas décadas. Junto com o pro-
cesso que trouxe ao mundo a cultura jovem como um valor, profundas 
transformações na expectativa de vida e na organização social ocor-
reram. A geração nascida entre as décadas de 1940 e 1950 assistiu ao 
desenvolvimento da medicina, do saneamento básico e do bem-estar 
social que resultou na realidade hoje bastante conhecidado expressi-
vo aumento da população acima de 60 anos7 e de sua expectativa de 
vida, e uma grande parcela da população experimenta a aposentado-
ria com um poder aquisitivo e perspectivas muito diversas das gera-
ções anteriores.
Peter Laslett sustentou a visão da terceira idade como a fase privile-
giada para as realizações por natureza. Uma das argumentações cen-
trais desta visão pressupõe que o indivíduo nessa fase se encontra de-
sobrigado das amarras e obrigações que o prendiam no decorrer de 
outras fases da vida. 
De fato, a plena realização do sujeito viria com a terceira idade, o 
“coroamento da vida” (LASLETT, 1989, p. 78) na qual o sujeito estaria 
dispensado das obrigações típicas da idade adulta e passaria a 
estabelecer laços, se engajar em atividades ou se submeter a novas 
obrigações apenas na medida em que estes se harmonizassem com 
seus interesses e perspectivas (SILVA, 2008, p. 804).
Segundo o autor, em virtude de as transformações dos contextos 
sociais terem sido tão profundas, os indivíduos na contemporanei-
dade estariam livres de um role model (SILVA, 2008, p. 804), e portan-
to libertos para inventar seus próprios códigos e condutas. Esta vi-
são tem sido contemporaneamente explorada pelos mais diversos 
autores8, que anunciam o conceito de terceira idade como momen-
to propício para as realizações que não foram empreendidas em pe-
ríodos anteriores da vida. 
7 A Secretaria Nacional de 
Direitos Humanos da Presidên-
cia da República, citando dados 
do IBGE, aponta que em 2011 
a populacão brasileira acima de 
60 anos já representava 12% do 
total populacional. Disponível 
em: <http://www.sdh.gov.br/
assuntos/pessoa-idosa/dados-
-estatisticos/Dadossobreoen-
velhecimentonoBrasil.pdf>. 
Acesso em: 23 nov. 2014.
8 Chris Gilleard e Paul Higgs 
apontaram este fenômeno em 
“The third age: class, cohort 
or generation?”. Ageing and 
Society, Cambridge, v. 22, p. 371, 
2002. 
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Estudos sobre Envelhecimento
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Novembro de 2014
Autores como Guita Debert (1999) e Clarice Peixoto (2003) refutam 
a dimensão celebratória da teoria de Laslett, atentando para o perigo 
de que este conceito produza justamente concepções e padrões de en-
velhecimento a serem seguidos, excluindo aqueles que não se enqua-
drem nesta visão. As autoras também observam as motivações econô-
micas embutidas muitas vezes nessas celebrações e no que poderia ser 
chamado de “positivação do envelhecimento” (ROSA, 2014).
Nas últimas três a quatro décadas a força do modelo de juventude 
foi esmagadora, dado comprovado pelos números fornecidos não so-
mente pela indústria relacionada às roupas mas também por cosmé-
ticos, cirurgias plásticas, exercícios e ainda um novo mercado, focado 
na alimentação como inibidora do envelhecimento. É frequente o de-
poimento, principalmente pelas mulheres, de que a chegada da meia-
-idade coincidiu com um sentimento de fracasso na capacidade de ge-
rar desejo (GOLDENBERG, 2011, p. 66-71; LYNCH, 2007, p. 150).
Neste panorama principalmente duas formas se construiriam 
como veículos para a visibilidade do idoso: ou por sua inserção a este 
ciclo de busca de eterna juventude ou, assim como todos os demais 
cidadãos, por meio do consumo (ou mesmo pela conjugação de ambas). 
Esta realidade se faz particularmente poderosa no Brasil, no qual as 
tensões sociais operam uma clara distinção de tratamentos recebidos de 
acordo com o poder aquisitivo. A experiência de diferentes tratamentos 
por vendedores em lojas, dependendo de como estamos vestidos, 
faz-se particularmente forte em nosso país, no qual muitos pontos 
provenientes de atritos sociais ainda não foram totalmente resolvidos. 
O movimento de busca pela juventude, fazendo uso do mecanismo da 
moda, e da transformação corporal em vista deste ideal, transferiu para 
o indivíduo a responsabilidade por “parecer velho”. E, como a miríade 
Neste panorama principalmente duas formas se construiriam 
como veículos para a visibilidade do idoso: ou por sua inserção 
a este ciclo de busca de eterna juventude ou, assim como todos 
os demais cidadãos, por meio do consumo (ou mesmo pela 
conjugação de ambas). 
Artigo 1
O envelhecimento e a moda: tecendo reflexões
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de artifícios se ampliou enormemente, formou-se o conceito de que 
deter o processo de envelhecimento por meio destes é obrigatório, e 
não aliar-se a isso demonstraria preguiça e descaso. 
Uma sociedade tão pautada para uma estética jovem gerou, em úl-
tima análise, distorções como as descritas pelas consultoras de ima-
gem inglesas Trinny Woodall e Susannah Constantine9, que, em sua ti-
pificação de estilos, classificaram a mulher que se agarra a uma ilusão 
de juventude usando as roupas de sua filha adolescente. Alguns auto-
res inclusive cunharam um termo para descrever este comportamen-
to: “adultescência”.
Na outra ponta do espectro, esses valores geraram uma quase total 
invisibilidade da estética relacionada à idade avançada. Nas socieda-
des tradicionais a roupa, tal como o sari indiano, o quimono, os ade-
reços e a pintura corporal das tribos africanas, era elemento de inser-
ção e pertencimento na comunidade. As transformações estéticas nas 
roupas ocorriam lentamente e não eram regidas pela lógica da novida-
de. A roupa estava relacionada à posição dentro da comunidade e nin-
guém buscava vestir-se de modo a aparentar algo, tentar, pela aparên-
cia, operar uma transformação na leitura externa de seu Eu.
No Ocidente, após o advento da moda, as roupas operaram um 
duplo movimento, sendo elementos de inserção social e distinção de 
classe por um lado, e também identificadores de individualidade, por 
outro. Vestir-se passou a significar fazer uma declaração sobre quem 
somos e enfatizar aquilo que nos distingue como indivíduos únicos.
É justamente na confluência entre a valorização de valores aliados 
ao conceito de juventude e na busca pela construção de uma imagem 
de pertencimento à categoria da juventude que a moda constitui ele-
mento importante no mosaico de complexidades para pensarmos o 
envelhecimento contemporâneo. Por trabalhar exatamente na inter-
secção entre sociedade e individualidade, distinção e pertencimento 
(SVENDSEN, 2010, p. 137), a moda tende justamente a concentrar inúme-
ras questões suscitadas por estas concepções.
É inegável que o envelhecimento hoje se desenvolve de forma mui-
to diversa de épocas anteriores; as teorias da terceira idade ou da visão 
de uma nova categoria de comportamento relacionado ao envelhecer, 
embora tragam perigos por seu potencial de cooptação pelo mercado, 
surgem também a partir da observação da realidade posta de que exis-
tem novas formas de vivenciar o envelhecimento. 
9 Trinny Woodall e Susannah 
Constantine são apresentadoras 
do programa “What not Wear” 
na rede de televisão inglesa BBC 
e escritoras de variados livros 
sobre o tema consultoria de 
moda.
Artigo 1
O envelhecimento e a moda: tecendo reflexões
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Estudos sobre Envelhecimento
Volume 25 | Número 61
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No campo da moda, a visão de que a terceira idade seria momento 
privilegiado para o exercício da criatividade e autonomia se torna pe-
rigosa quando carrega consigo um modelo, um padrão de comporta-
mento estético. Pois correríamos assim o risco de conceber, além de 
modelos de juventude, modelos de terceira idade que fossem enquadra-
dos esteticamente, com isso empobrecendo possibilidades e experiên-
cias variadas do exercício criativo que as roupas podem nos oferecer.
As roupas e a moda sempre foram elemento privilegiado no proces-
so de elaboração da individualidade (LIpOVETSKY, 2005, p. 39-49) e da so-
ciabilidade. O exercício da moda torna-se elemento riquíssimo quando 
aberto ao processo de reinvenção de identidade e quando é peça inte-
grante da celebração da vida, e isso só se dá quando a moda está aber-
ta à diversidade e recusa a padronização.
“O velhoé o novo novo?”10
Embora não seja um fenômeno restrito a este período11, nos últimos 
cinco anos o cenário da moda internacional têm assistido a um número 
cada vez maior de iniciativas com o objetivo de identificar e valorizar 
o estilo em um público acima de 60 anos. Em 2008 o nova-iorquino 
Ari Seth Cohen fundou o blog Advanced Style; nele, Cohen publica 
fotografias de senhoras nos mais diversos estilos. O sucesso do blog foi 
tão grande que este se desdobrou em um documentário homônimo 
lançado em 2014. E ainda, em 2013, o canal britânico Channel4 lançou 
o documentário Fabulous fashionistas, estrelado por mulheres com 
idade média de 80 anos. 
Além disso é perceptível o movimento na indústria de cosméticos de 
contratar para suas campanhas mulheres acima da faixa etária dos 50 
anos. Como é o caso do recente anúncio da contratação da atriz Helen 
Mirren (69 anos) como embaixadora inglesa da empresa de cosméticos 
L’Oréal. Recentemente as atrizes Charlotte Rampling (68 anos) e Jessica 
Lange (65 anos) também foram contratadas respectivamente pelas 
marcas Marc Jacobs e Nars. Há cerca de 15 anos, outras atrizes haviam 
sido descartadas de empresas de cosméticos por atingirem a marca 
dos 40 anos12. 
Embora, obviamente, possamos localizar neste movimento que a 
indústria da moda e de cosméticos finalmente enxergou o potencial 
econômico desta fatia do consumidor, é necessário também observarmos 
um dado: a geração baby boomers que está hoje envelhecendo não 
quer ser vista como os idosos de outras gerações, uma vez que eles 
realmente viveram uma experiência geracional totalmente distinta. Sue 
10 Frase da jornalista Alyson 
Walsh do jornal britânico The 
Guardian. No original: “... old 
is the new young?”. Disponível 
em: <http://www.theguardian.
com/fashion/2014/oct/28/-sp-
helen-mirren-for-loreal-has-
the-beauty-industry-finally-
wised-up>. Acesso em: 28 out. 
2014.
11 O estilista japonês Issey 
Miyake já na década de 1980 
introduziu o conceito em 
coleções usando modelos de 
variadas faixas etárias como 
a escultora Elizabeth Frink, 
na época com 55 anos. No 
Brasil o estilista Ronaldo Fraga 
apresentou, em sua Coleção 
Inverno 2009, um desfile com 
idosos e crianças.
12 Na década de 1990 a atriz 
Isabella Rossellini teria perdido 
o contrato com a empresa 
Lancôme quando fez 40 anos, 
por ser considerada muito 
velha, segundo a jornalista 
Alyson Walsh. Disponível em: 
<http://www.theguardian.com/
fashion/2014/oct/28/-sp-
helen-mirren-for-loreal-has-
the-beauty-industry-finally-
wised-up>. Acesso em: 28 out. 
2014.
Artigo 1
O envelhecimento e a moda: tecendo reflexões
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Kreitzman, de 73 anos, uma das entrevistadas em Fabulous fashionistas, 
ilustra o repúdio à imagem tradicional do idoso ao afirmar: “... não use 
bege, isso pode te matar”. 
Um elemento permeia todas as entrevistadas, embora estas apresen-
tem os mais diversos estilos pessoais: uma enorme satisfação no vestir 
e o fato de não usarem a moda com o objetivo de parecerem mais jo-
vens. Em Advanced Style, Joyce Caparti, de 84 anos, declara: “Eu nunca 
desejei parecer mais jovem, o que eu quero é ter um visual maravilhoso”.
Esta recente visibilidade do idoso na Europa e nos Estados Unidos 
pode ser também exemplificada pela proliferação de blogs de estilo 
dedicados especificamente a apresentar um público acima de 60 anos e 
na inclusão de imagens de pessoas nessa faixa etária em importantes sites 
de fotografia de moda de rua, como é o caso do site thesartorialist.com, 
do americano Scott Schuman, que frequentemente apresenta fotografias 
desse público. Também podemos ilustrá-la pelo aumento na demanda 
de modelos nessa faixa etária, mulheres que nunca antes atuaram como 
modelos, ou pelo aumento na notoriedade de modelos que antes já 
possuíam uma carreira em moda, como é o caso de Carmen Dell’Orefice, 
hoje com 83 anos. Carmen trabalhou em sua juventude com os mais 
prestigiados fotógrafos de moda do século XX, tais como Richard Avedon, 
Erwin Blumenfeld e Irwing Penn, porém a modelo relata que os últimos 
20 anos têm sido os mais movimentados de sua carreira.
Atenta a esta realidade, a prestigiosa universidade inglesa London 
College of Fashion organizou em outubro de 2013 o seminário “Mirror, 
mirror: representations and reflections on age and ageing” (“Espelho, 
espelho: representações e reflexões sobre idade e envelhecimento”). O 
evento agrupou desde blogueiros dedicados ao tema (como Ari Seth 
Cohen e Alyson Walsh13) até pesquisadores vindos da academia, como 
é o caso da Dra. Ros Jennings, diretora do Centro de Estudos sobre a 
Mulher, Envelhecimento e a Mídia e do programa de pós-graduação 
da Universidade de Gloucestershire, na Inglaterra, e também da Dra. 
Margaret Morganroth Gullette14, crítica cultural e autora de vários 
livros sobre o tema, entre eles Agewise: fighting the new ageism in 
America (2011). A conferência também contou com uma performance 
desenvolvida sobre o tema: “How do you see me?” (“Como você me 
vê?”), realizada com mulheres e homens acima de 50 anos. Durante a 
performance os participantes exploraram clichês relacionados à idade 
e à moda e dividiram com a plateia suas próprias experiências sobre 
envelhecimento, aparência e moda.
13 Jornalista do jornal britânico 
The Guardian e criadora do blog 
“That is not my age”. Disponível 
em: <http://thatsnotmyage.
blogspot.co.uk/p/about.html>. 
Acesso em: 23 nov. 2014.
14 A Dra. Margaret Morganroth 
Gullette apresentou a palestra: 
“How (not) to shoot old people: 
changing the paradigms of 
portrait photography” (“Como 
[não] fotografar idosos: 
mudanças nos paradigmas do 
retrato fotográfico”).
Artigo 1
O envelhecimento e a moda: tecendo reflexões
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Estudos sobre Envelhecimento
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Nos Estados Unidos, torna-se cada vez mais popular o movimen-
to de mulheres chamado “Red Hat Societies” (“Clubes do Chapéu Ver-
melho”) (LYNCH, 2007, p. 144). Fundado em 1997 por Sue Ellen Cooper, 
o movimento teve início quando sua fundadora comprou um chapéu 
vermelho durante as férias e, a partir da liberdade e graça que sentiu 
ao vesti-lo, resolveu presentear uma amiga com o item, acompanha-
do do poema “Warning”15, de Jenny Joseph:
Quando for uma mulher velha eu usarei roxo, com um chapéu verme-
lho que não vai combinar. Gastarei toda a minha pensão em brandy e 
luvas para o verão e direi que não temos dinheiro para manteiga. Senta-
rei na calçada quando estiver cansada (…). Sairei de chinelos na chuva. 
Colherei flores dos jardins de outras pessoas. Aprenderei a cuspir (...).
Não somente a inspiração do chapéu vermelho serve hoje à socie-
dade que se organiza em mais de 36.000 clubes, com cerca de 850.000 
membros (LYNCH, 2007, p. 145), mas principalmente a atitude libertá-
ria dada às mulheres no poema. Sua autora, a inglesa Jenny Joseph, 
não poderia prever quando o escreveu, aos 29 anos, que este seria elei-
to, em uma pesquisa realizada pela BBC na Inglaterra, em 1996, como 
o mais conhecido poema escrito no pós-guerra. 
Nos encontros dos membros dos Clubes do Chapéu Vermelho suas 
participantes vestem orgulhosamente seus chapéus vermelhos com 
itens de vestuário em roxo e marcam suas reuniões em restaurantes e 
bares, enfatizando a dimensão social de sua atividade. Os depoimentos 
colhidos a partir de membros dos clubes apontam dois fatores prin-
cipais oferecidos pela atividade: a satisfação colhida por elas no que 
se configura como uma reconquista de uma visibilidade social, e tam-
bém o enaltecimento de um novo processo de envelhecimento, como 
ilustra a frase de uma das participantes: “Velho, cabelos brancos não se 
aplica mais... Nós estamos mudando esta atitude” (LYNCH, 2007, p. 148).
Vivemos na contemporaneidade um momento único na história 
da moda. Se por um lado temos a presença maciça da informação de 
moda, o fast fashion16 e uma quantidade desconcertante de informa-
ções (e de propagandas e incentivo aoconsumo), temos uma liberdade 
de estilos nunca antes vista. Qualquer indivíduo que tenha vivido par-
te do século XX na idade adulta pode se recordar de como as décadas 
tinham mais ou menos uma feição: reconhecíamos as roupas dos anos 
1950, 1960, 1970 e 1980 por sua aparência. Realidade que criava de for-
ma muito mais palpável a sensação do estar fora de moda. A partir dos 
15 Poema no original:
When I am an old woman i shall wear 
purple
With a red hat which doesn’t go, and 
doesn’t suit me.
And I shall spend my pension on 
brandy and summer gloves
And satin sandals, and say we’ve no 
money for butter.
I shall sit down on the pavement when 
I’m tired
And gobble up samples in shops and 
press alarm bells
And run my stick along the public 
railings
And make up for the sobriety of my 
youth.
I shall go out in my slippers in the rain
And pick the flowers in other people’s 
gardens
And learn to spit
You can wear terrible shirts and grow 
more fat
And eat three pounds of sausages 
at a go
Or only bread and pickle for a week
And hoard pens and pencils and 
beermats and things in boxes
But now we must have clothes that 
keep us dry
And pay our rent and not swear in 
the street
And set a good example for the 
children.
We must have friends to dinner and 
read the papers.
But maybe I ought to practice a little 
now?
So people who know me are not too 
shocked and surprised
When suddenly I am old, and start to 
wear purple.
16 O termo fast fashion é 
comumente utilizado para 
designar uma moda rápida, 
barata e de curta duração.
Artigo 1
O envelhecimento e a moda: tecendo reflexões
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Estudos sobre Envelhecimento
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anos 2000, com a globalização e a disseminação da informação ainda 
maior com o advento da internet, temos vários estilos ao mesmo tem-
po. Na definição do antropólogo americano Ted Polhemus, vivemos 
hoje um verdadeiro “Supermercado de Estilos” (pOLHEMuS, 1994), mis-
turando referências diversas como quem colhe produtos das pratelei-
ras dos supermercados, e será necessário olhos muito treinados para, 
daqui a alguns anos, reconhecer a diferença nas roupas de 2002 e 2012. 
Isso nos dá uma liberdade que deve ser utilizada de forma construti-
va. Por mais que enxerguemos o perigo das motivações econômicas por 
detrás da celebração ao redor das teorias da terceira idade, é inegável 
que esteja em curso um modo de envelhecer diferente de outros perío-
dos. Faz-se necessário com urgência que a representação social do idoso 
neste âmbito ganhe espaço e acompanhe este novo modo de envelhecer. 
Por naturalmente se propagar por imagens, a moda faz-se elemento 
crucial para criar esta visibilidade que somente se dará de forma cons-
trutiva e inclusiva quando abraçar a diversidade, optando por exaltar 
o diverso, o multifacetado e o incomum em vez de padrões definidos 
de estilo, de corpos e de modelos de beleza. A moda nos oferece a pos-
sibilidade de empreendermos o trabalho de elaboração necessário às 
várias etapas de nossas vidas, então por que desperdiçar esta oportu-
nidade procurando por padronizações? 
Artigo 1
O envelhecimento e a moda: tecendo reflexões
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Estudos sobre Envelhecimento
Volume 25 | Número 61
Novembro de 2014
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Artigo 1
O envelhecimento e a moda: tecendo reflexões
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Estudos sobre Envelhecimento
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Grupos sociais: instrumento na 
manutenção da saúde do idoso?
[Artigo 2, páginas de 26 a 41]2
26 b – Estudos sobre Envelhecimento 
Volume 25 | Número 61 | Novembro de 2014
Cláudia Ferreira 
Melo
Psicóloga, especialista 
em Gerontologia Social, 
mestre em Educação, 
Cultura, Organizações 
Sociais e docente 
orientadora.
Ana Cristina Soares 
Melo
Acadêmica do Curso de 
Psicologia da Faced – 
Sociedade Dom Bosco de 
Educação e Cultura do 
Ano de 2013
27b
Estudos sobre Envelhecimento
Volume 25 | Número 61
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Artigo 2
Grupos sociais: instrumento na manutenção da saúde do idoso?
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Estudos sobre Envelhecimento
Volume 25 | Número 61
Novembro de 2014
abstract
This article was written aiming at 
understanding the effects of aging on the 
elderly based on theoretical background 
in gerontology and human development. 
It especially focuses on the impact of 
social groups formed by older people on its 
participants and how these groups contribute 
to maintaining their health. It also analyzes 
how such groups influence the social, 
physical and psychological environments 
around them. The analysis showed that these 
social groupsencourage their members to 
establish new affection bonds and qualify the 
previous ones they already had. The social 
interaction modifies the individuals involved, 
develops their potentialities, besides being an 
important means of tackling the challenges 
at this stage of life. It improves resilience and 
maintenance of adaptive behavior, and may 
provide considerable stability and self-esteem. 
The study has shown that these groups are 
tools that give the individuals opportunities 
to develop a better subjective quality of life in 
old age, encouraging them to have a healthier 
social life, developing their general knowledge 
about culture, their feeling of usefulness 
within their families and social relationships, 
allowing seniors to have more control over 
their own lives. Besides providing leisure 
time, the social groups allow the people who 
integrate them the opportunity to redeem 
values as human beings, to construct new 
social identities, changing their expectations 
at this time in life.
Keywords: aging; health; social groups.
Resumo 
O presente artigo, com base em referencial 
teórico em gerontologia e acerca do 
desenvolvimento humano, busca 
compreender os efeitos do envelhecer sobre 
o idoso. Atenta principalmente no que se 
refere aos grupos sociais que voltam sua 
atenção para a condição do idoso e como 
esses grupos contribuem para a manutenção 
da saúde dessa faixa etária. Analisa também 
como estes influenciam nos impactos sociais, 
físicos e psicológicos. Com esse estudo se 
verificou que os grupos sociais promovem 
a seus integrantes o estabelecimento de 
novos laços afetivos e a qualificação dos 
antigos. A convivência social modifica os 
envolvidos, desenvolve potencialidades, 
além de ser um importante veículo para 
o enfrentamento dessa fase da vida, 
melhorando a capacidade de recuperação e 
manutenção do comportamento adaptativo 
e podendo apresentar considerável 
estabilidade e autoestima. Os grupos são 
ferramentas que possibilitam ao sujeito 
uma melhor qualidade de vida subjetiva 
na velhice, estimulando uma vida social 
mais sadia, desenvolvendo a cultura, o 
sentimento de utilidade nas relações 
familiares e sociais. E permitindo aos idosos 
ter mais controle sobre suas vidas. Além 
de propiciar momentos de lazer, os grupos 
sociais possibilitam ao sujeito que os integra 
a oportunidade de resgatar valores como ser 
humano e de construir novas identidades 
sociais, alterando assim as expectativas em 
torno desse momento da vida.
Palavras-chave: envelhecimento; saúde; 
grupos sociais.
Artigo 2
Grupos sociais: instrumento na manutenção da saúde do idoso?
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INTRODUÇÃO
As questões que cercam a condição do idoso no Brasil são, mais do 
que uma preocupação brasileira, uma preocupação social mundial 
(BORGES ET AL., 2008). O aumento da população idosa expõe de forma 
clara o despreparo da atual sociedade para acolher essa grande faixa da 
população, que vem crescendo de maneira considerável e intensamente 
expressiva no que concerne ao impacto na produtividade e nos custos 
sociais. Refletindo ainda na ordem do consumo dessas pessoas que 
chegam à chamada terceira idade, tendo sua condição monetária bastante 
comprometida por um sem-número de variáveis (LADISLAu, 2002).
É comum chegar-se à velhice defrontando-se, para além do desgaste 
físico natural, em grande parte das vezes, com o preconceito, a pobreza 
e um sentido de desconforto social. Desconforto que se corporifica 
por meio das estratégias sociais que buscam camuflar os problemas 
que rondam a velhice, na vã tentativa de ocultar as dificuldades que 
a sociedade tem para tratar esses mesmos problemas com interesse, 
atenção e lucidez.
A sociedade cria nomes, apelidos, eufemismos para driblar seu 
próprio desconforto diante da velhice: melhor idade, terceira idade, 
idoso. Nenhum destes termos exprime ou resume o que é fazer-se 
velho (LADISLAu, 2002). Como, verdadeiramente, se pode nomear essa 
vivência dos anos senão de velhice? Com o avançar dos anos, ocorre 
progressiva perda de recursos sociais, físicos e mentais que convergem 
ao despertar de um sentimento de desamparo. É o tempo em que o 
indivíduo pode se mostrar indefeso, impotente, com dificuldades para 
enfrentar o cotidiano, tomar decisões sobre seus próprios problemas. 
Seja diante de seus familiares ou do universo social (uCHÔA, FIRMO & 
LIMA-COSTA, 2002).
Este estudo buscou entretecer as perspectivas acerca dos grupos 
sociais, considerando o efeito que as atividades características desses 
grupos oferecem aos idosos que ali se encontram. Com o olhar debruçado 
sobre os aspectos da convivência, a troca de experiências, a diminuição 
da solidão que contribui para alicerçar ou não o descompromisso da 
sociedade, que criam para os velhos um nicho apartado da realidade 
social (RIZZOLI & SuRDI, 2010).
Não se pretende, porém, esvaziar todos os impasses propostos por 
esse questionamento, mas sim dar livre curso ao exame dos aspectos 
que o compõem. Entendendo que tanto para a Psicologia quanto para 
as demais áreas da saúde e áreas sociais, a Gerontologia surge como uma 
Artigo 2
Grupos sociais: instrumento na manutenção da saúde do idoso?
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área nova de conhecimento, que se formou a partir do entendimento 
de que o envelhecimento não perpassa apenas os aspectos físicos do ser 
humano, mas também os aspectos psíquico e social (CARDOSO, 2002).
Na Psicologia desenvolvida no Brasil, há pouca produção 
sistemática, contínua e específica sobre a velhice, e nesse campo 
nascente inexiste ainda a construção de um conjunto teórico, tal 
como os que existem em torno dos desenvolvimentos da infância e 
da adolescência (CARDOSO, 2002).
Diante das proposições, foram analisados os efeitos dos grupos 
sociais sobre a vida dos velhos, suas implicações, buscando mais 
profunda compreensão sobre os benefícios do envolvimento destes 
nos grupos que os acolhem.
CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO
Nas últimas décadas, o mundo passa por expressivo envelhecimento 
demográfico e atravessa a “Era do Envelhecimento” segundo a 
Organização das Nações Unidas (ONu), que considera o período 
composto dos anos 1975 a 2025. No Brasil, segundo dados do Instituto 
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na década de 1970, cerca de 
4,95% da população brasileira era de idosos, porcentual que pulou para 
8,47% na década de 1990 com expectativa para alcançar 9,2% em 2010. 
Segundo dados apresentados pelo IBGE (2012), o país tinha 21 milhões 
de pessoas com idade igual ou superior a 60 anos. As estimativas para 
os próximos 20 anos são de que a população acima de 60 anos passará 
dos atuais 22,9 milhões (11,34% da população) para 88,6 milhões e a 
expectativa média de vida do brasileiro deverá aumentar de 75 anos para 
81 anos. Esse aumento acelerado da população idosa ocasiona impacto 
para diversos setores da sociedade e precisa ser discutido visando a um 
enfrentamento adequado de suas consequências (BORGES ET AL., 2008).
Travar fronteiras com o envelhecimento da população é fato novo no 
panorama populacional brasileiro. Emerge junto a isso a necessidade 
de alteração nos recursos sociais e principalmente culturais dessa 
população que envelhece. Como apontam Miguel e Fortes (2005), 
em face dessa realidade, não há outro caminho senão investir em 
programas de atenção aos idosos. 
O mundo está envelhecendo e o Brasil não está isento dessa realidade. 
De um modo ou outro, todos terão a chance de conviver com um ou 
mais idosos em suas famílias. Necessário se faz que mudanças ocorram 
na maneira de pensar e tratar a velhice, buscando formas consistentes 
4,95% 
da população brasileira era 
de idosos, porcentual que 
pulou para 
8,47%
na década de 1990 com 
expectativa para alcançar 
9,2% 
em 2010. 
No Brasil, segundo dados 
do Instituto Brasileiro de 
Geografia e Estatística 
(IBGE), na década de 1970 
cerca deArtigo 2
Grupos sociais: instrumento na manutenção da saúde do idoso?
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para um envelhecimento bem-sucedido, entendendo que sociedade, 
Estado e, mais expressivamente, a família têm o comprometimento 
moral de engajar-se nessa paisagem que se apresenta.
POSSÍVEIS FACES DA VELHICE
Segundo Beck, Gonzáles e Colomé (2003), o envelhecimento é um 
processo cumulativo, irreversível, universal, não patológico, de 
deterioração de um organismo maduro e que pode incapacitar 
o indivíduo para o desenvolvimento de algumas atividades. O que 
se depreende desta descrição é que ela compõe bem o conceito de 
senescência1 (diferentemente de senilidade2), marcada por aspectos 
biológicos que se fazem através do tempo com intensidade variável de 
pessoa para pessoa, mas universalmente característica. 
O envelhecimento não ocorre aos saltos, faz-se de maneira gradual, 
ao sabor dos anos. Atingindo a todo e qualquer um que permaneça ao 
longo de suas muitas idades, do nascimento à morte. A capacidade de 
a pessoa readaptar-se às mudanças físicas, sociais e emocionais reflete 
na sua saúde psicológica, garantindo, assim, um envelhecimento bem-
sucedido (MIGuEL & FORTES, 2005).
O envelhecimento mostra-se cada vez mais presente nas famílias, 
esteja o idoso ou não sob o mesmo teto que os familiares. De acordo 
com Schons e Palma (2000), a Organização Mundial de Saúde 
(OMS, 2005) pontua que família “é o núcleo primário, promotor do 
suporte emocional, social e psicológico inevitável e indispensável”. 
E completam dizendo que a família é o grupo insubstituível no qual 
o idoso deve permanecer o maior tempo possível, pois representa 
para ele a provedora fundamental e, às vezes, sua única referência, 
além da possibilidade de manutenção da sua autoestima, pois, ao 
participar da vida familiar, com filhos, netos e demais, ele se sente 
vinculado com o mundo.
Porém, muitos idosos conduzem suas vidas sozinhos, seja por opção 
ou por circunstâncias mais adversas que os levam a essa condição. 
Muitos conservam a autonomia, outros, no entanto, veem-se sós em 
seus lares e são acometidos por sentimentos de solidão e abandono, 
com a sensação de afastamento social. Mesmo aqueles inseridos em 
suas famílias podem atestar o distanciamento entre os interesses das 
diferentes gerações dos membros dentro de seus lares. Como resultado, 
veem-se forçados a adequar-se aos mais jovens, abrindo mão de seus 
hábitos e de sua autonomia.
1 Processo natural de 
envelhecimento no nível celular 
ou conjunto de fenômenos 
associados a este processo.
2 Caracteriza-se por um 
declínio gradual ou no 
funcionamento de todos os 
sistemas do corpo.
Artigo 2
Grupos sociais: instrumento na manutenção da saúde do idoso?
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De acordo com Uchôa, Firmo e Lima-Costa (2002), o envelhecimento 
é vivido de modo diferente de um indivíduo para outro, de uma geração 
para outra e de uma sociedade para outra. Envelhecer, no imaginário 
social, significa sofrimento, solidão, doença e morte. Dentro dessa 
conceituação da velhice, não se observa prazer em viver essa fase da vida. 
Minayo e Coimbra (2002) afirmam que no imaginário social a velhice 
sempre foi pensada como uma carga econômica, tanto para a família 
quanto para a sociedade, e como uma ameaça à mudança. Depreende-
se daí que, num mundo onde a novidade, a estética e a produtividade se 
associam, não pode haver lugar para o que expõe a finitude.
VELHICE BEM E MALSUCEDIDA
Todas as experiências humanas têm referencial no corpo. Sentir 
alegria, tristeza, medo, prazer, inveja, rejeição ou amor reflete no 
funcionamento corpóreo e no conjunto das reações de todo ser 
humano. O envelhecimento, sendo parte do cenário natural da vida, 
é um estágio com mudanças físicas, psíquicas e sociais peculiares a 
cada indivíduo. Naturalmente, a velhice é a última fase do período 
da existência.
As mudanças físicas, psíquicas e sociais conduzem à modificação da 
imagem que a pessoa tem de si mesma e difere de um indivíduo para 
outro. Cada qual com seu ritmo próprio de envelhecimento orgânico e 
enfrentamento diante das mudanças que surgem. Não se pode esquecer 
de que as alterações que ocorrem estão associadas aos determinantes 
hereditários e às influências do meio ambiente. 
As mudanças físicas, psíquicas e sociais conduzem à modificação 
da imagem que a pessoa tem de si mesma e difere de um indivíduo 
para outro. Cada qual com seu ritmo próprio de envelhecimento 
orgânico e enfrentamento diante das mudanças que surgem. 
Artigo 2
Grupos sociais: instrumento na manutenção da saúde do idoso?
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Segundo Cardoso (2002), envelhecer é aceitar o inaceitável, isto é, 
aceitar a perda gradual das funções orgânicas, sociais e psicoemocionais. 
Quando se fala em idosos, a individualidade e suas variáveis estão 
presentes. A idade orgânica, o sexo, as características hereditárias, 
o grau de instrução, a condição social, a cultura e a profissão, entre 
outros pormenores, dão o aspecto único que cada indivíduo possui. 
Notadamente não há padrão para o envelhecimento, sendo processual 
e gradativo; para alguns é lento e para outros é mais rápido. Está ligado 
a muitos fatores, como causas orgânicas e externas (tipo de profissão, 
estresse, exposição a um sem-número de fatores ambientais). O 
amadurecimento e todas as mudanças são sentidos de forma variável 
de indivíduo para indivíduo; dependem do estilo de vida de cada um.
Os gregos chamavam a mudança de compreensão de um 
determinado conceito ou sentimento, de “metanoia”3, mudança de 
maturidade (CARDOSO, 2002). É isso que essencialmente deve ocorrer 
ao longo das muitas idades do homem. Além do processo biológico, a 
re-conceituação é necessária para compreensão dos processos da vida. 
Experimentar todas as alterações advindas do desgaste das funções 
corpóreas e as alterações decorrentes dos traumas impostos ao longo 
da existência determina ao ser humano ressignificar muitos de 
seus conceitos e posicionamentos diante da vida. É justamente essa 
ressignificação que decidirá uma velhice bem ou malsucedida; assumir, 
de um modo ou de outro, a nova imagem corporal, preservando as 
anteriores, ciente da finitude do ciclo vital. Privilegiando o arcabouço 
da experiência vivida.
Bruns chama a atenção para esse reconhecimento da velhice de 
cada um:
É imprescindível aprender a conviver com a incontrolável realidade 
humana que é o envelhecimento. Ao conquistar esse modo de ser se-
remos capazes de ressignificar o “vazio” que habita a alma humana, na 
trajetória entre o nascer e o morrer, nesse espaço a que chamamos vida. 
Poderemos compreender que somos seres finitos (BRUNS, 2002, p. 54).
Deve-se ainda considerar que é importante para conviver com 
o processo de envelhecimento aceitá-lo como condição existencial, 
entendendo que só envelhece quem teve o privilégio de viver todas as 
fases4 e de não morrer quando criança ou quando jovem.
3 Processo potencialmente 
produtivo de mudança do 
próprio pensamento.
4 Mudanças dos aspectos 
sucessivos de um fenômeno de 
evolução.
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INTERAÇÕES SOCIAIS DOS IDOSOS
A velhice não é um fragmento da existência humana e deve ser entendida 
como parte do continuum da existência
A marginalização do idoso ocorre em todas as esferas, tanto na 
doméstica quanto em outros espaços sociais. No que concerne à 
sociedade e suas exigências estruturais, Ladislau (2002) atesta que 
essa ocorrência é consequência do modelo concentrador de renda e de 
oportunidade de trabalho, em que o “novo” se sobrepõe ao “velho” no 
sentido da inutilidade social. Bosi (1987) aponta que a noção que temos 
de velhice decorre mais da luta de classes que do conflito de gerações. 
O idoso, apóslongos anos de trabalho, “herda” o chamado tempo 
livre. Mas chega a esse estágio menosprezando atividades de lazer, 
largamente influenciado pela supervalorização do trabalho. Estabelece-
se aí a contradição que se verifica entre o tempo disponível, fruto da 
aposentadoria, e a prática efetiva do lazer. Porém, como não se encaixa 
em nenhum nicho5 das necessidades da sociedade, é posto à margem.
As relações sociais que determinam a vida humana estão circunscritas 
à ordem social. Erbolato (2001) afirma que os relacionamentos sociais 
são interações frequentes, com determinada durabilidade e padrão. 
Não se resumem à soma de interações, mas estabelecem um sistema 
diferenciado que modifica os envolvidos.
No decorrer do envelhecimento, mudanças fisiológicas, psicológicas e 
sociais vão se fazendo e influenciam de modo decisivo o comportamento 
da pessoa idosa. Essas alterações, porém, não comprometem o 
conhecimento adquirido ao longo dos anos. A história e bagagem 
vivencial do idoso são tão importantes quanto em qualquer idade.
As relações com a família e outros grupos devem ser promovidas 
para o exercício do afeto, do desenvolvimento das potencialidades que 
não se apagam com o avançar dos anos, evitando assim o isolamento e a 
inatividade. Capitanini (1993) evidencia que acreditar que o retraimento 
e o afastamento nas relações sociais são processos naturais para todos os 
idosos seria o mesmo que considerar esperado que as pessoas deixem de 
se socializar. Sendo que não ter amigos ou não se relacionar socialmente 
por opção é um comportamento individual que pode acontecer em 
qualquer faixa etária.
De acordo com a Teoria da Seletividade Socioemocional, a redução 
na amplitude da rede de relações sociais e na participação social na 
velhice reflete na redistribuição ativa de recursos socioemocionais 
pelos idosos em virtude da mudança em sua perspectiva de tempo 
futuro (pASCHOAL, FRANCO & SALLES, 2007).
5 Espaço, porção específica, 
buraco.
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A imagem do idoso necessita mudar e lentamente vem se 
modificando diante dele próprio e da sociedade, em razão do avanço das 
tecnologias na área da saúde, proporcionando elevação da expectativa 
de vida. Consequência disso é que o idoso na cena contemporânea é 
influenciado por hábitos saudáveis. Entende que seu bem-estar está 
associado a fatores físicos e mentais e busca exercitar mente e corpo. 
Engajar-se em atividades sociais desenvolvidas em grupo representa 
aspecto diferencial no rumo da vida. Os sentimentos de utilidade, de 
identificação com os desejos, valores e expectativas do grupo, e de 
inserção e realização pessoal favorecem a vivência de um estado de 
plenitude que possibilita ao idoso um reforço de seu sentido existencial, 
ajudando-o a perceber o futuro como uma história em aberto, em 
construção e, consequentemente, com muitas possibilidades de ação 
(MIGuEL & FORTES, 2005).
BREVE HISTÓRICO DOS GRUPOS DE CONVIVÊNCIA
Em seu artigo “Política Nacional do Idoso”, Rodrigues (2001) traça o 
percurso histórico do surgimento dos grupos de convivência voltados 
para a terceira idade. Delineia desde as primeiras leis aprovadas pelo 
Congresso Nacional brasileiro em favor desse estrato social, passando 
pelas primeiras experiências das entidades privadas interessadas no 
tema até os moldes de atenção que se estabelecem nos dias de hoje. 
Nesse percurso é possível perceber que os olhares se voltam para a 
terceira idade a partir da década de 1970, quando aí surge um número 
significativo de idosos em nossa sociedade, causando um despertar 
para a questão social do idoso. Em 1976 seminários foram realizados 
A imagem do idoso necessita mudar e lentamente vem 
se modificando diante dele próprio e da sociedade, 
em razão do avanço das tecnologias na área da saúde, 
proporcionando elevação da expectativa de vida. 
Consequência disso é que o idoso na cena contemporânea é 
influenciado por hábitos saudáveis. 
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em algumas capitais estaduais buscando um diagnóstico para a questão 
da velhice em nosso país e apresentar as linhas básicas de uma política 
de assistência e promoção social do idoso (RODRIGuES, 2001). Inaugura-
se a atenção das políticas nacionais de saúde em favor da chamada 
terceira idade no Brasil.
No decorrer das décadas seguintes, impulsionadas pelo antigo 
Instituto Nacional de Previdência Social (INpS), foram elaboradas 
políticas públicas que criaram programas de assistência social aos 
idosos os quais culminariam nos modelos de atenção existentes, que 
se concentram, em grande parte, naquela atenção oferecida pelo 
terceiro setor, ou seja, organizações privadas, sem fins lucrativos, 
desempenhando ações de caráter público (RODRIGuES, 2001).
Rodrigues pontua ainda que:
Em nível federal, estadual e municipal, há muito que dizer das entida-
des privadas. Há inúmeros serviços, associações de idosos, entidades 
congregando aposentados (associações e federações), centros de con-
vivência, grupos de convivência em paróquias de credos religiosos di-
ferentes, em associações comunitárias, filantrópicas, etc. (RODRIGuES, 
2001, p. 150).
Ainda de acordo com a autora, muitos dos programas governamentais 
empenhados na assistência aos idosos fracassaram e outros alcançaram 
êxito. Porém, o que marca a ação governamental é a descontinuidade 
dos serviços na área. Tanto usuários quanto servidores ficam à deriva 
quando os programas são cancelados sem explicação.
Ao longo dos últimos 50 anos (desde 1963), o Serviço Social do 
Comércio – Regional São Paulo (Sesc-SP) apresenta-se como exemplo 
de continuidade, interesse, eficácia e preparação de profissionais na 
Gerontologia:
[...] precursor de todas as ações de atenção ao idoso, no país, e que ao 
longo destes últimos anos vem prestando inegável contribuição à cau-
sa da velhice, não somente na implantação de novos modelos de aten-
dimento à população idosa, como no aperfeiçoamento de profissio-
nais na área da Gerontologia Social e sensibilização dos diferentes 
setores da comunidade para a questão social do envelhecimento (RO-
DRIGuES, 2001, p. 153).
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Vale considerar que, mesmo de forma estratificada e, em muitos 
momentos, intermitente, a ação governamental foi fundamental 
para a estruturação dos grupos de convivência para a terceira idade 
conhecida hoje.
IMPACTO DOS GRUPOS SOCIAIS NA SAÚDE DO IDOSO
Miguel e Fortes (2005) afirmam que o grupo da terceira idade, como 
opção do próprio idoso, é de grande valor para a manutenção de uma 
velhice mais saudável, pois: 
Altera positivamente as expectativas e perspectivas em torno desse 
momento da vida. Traz novo sentido por romper os paradigmas da 
sensação de inutilidade, auxiliando no processo de promoção de sua 
autoestima e, consequentemente, na sua integração no seio familiar, 
resgatando valores como ser humano (MIGuEL & FORTES, 2005, p. 76).
Para Rizzoli e Surdi (2010) os grupos servem como ferramenta de 
“laços simbólicos de identificação, onde é possível partilhar e negociar 
os significados da velhice”, e que possibilitam a estruturação de novos 
modelos, paradigmas de envelhecimento e construção de novas 
identidades sociais.
Esses grupos, para além dos aspectos sociais, contribuem para o 
exercício da independência e autodeterminação, funcionam como rede 
de apoio para o movimento na busca de autonomia e sentido para a vida.
Del Pozzo (2001) afirma que a participação em grupos de convivência 
(grupos de terceira idade) torna a vida mais proveitosa em virtude das 
trocas que ali se estabelecem e das experiências compartilhadas, e diz 
ainda que:
[...] o frequente contato com outrosidosos em idênticas situações per-
mite que ele perceba que todos têm dificuldades, mas, apesar disso, 
continuam firmes na luta. Ele troca os antigos muros isoladores por 
amplas e luminosas janelas, pois agora ele quer ver o mundo, há novas 
possibilidades, surgem novos amigos, companheiros de jornada e de 
trincheira (DEL pOZZO, 2001, p. 21).
Artigo 2
Grupos sociais: instrumento na manutenção da saúde do idoso?
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O preconceito com relação à velhice está também assentado na 
visão que o velho tem de si mesmo; paradoxalmente, o velho quer 
viver mais, mas tem medo da velhice. Justifica seu temor incorporando 
ideias negativas a seu respeito, isolando-se e conformando-se com sua 
situação, contrário a qualquer mudança, receoso de que isso possa 
piorar sua condição de vida. 
Como a velhice é uma etapa muito delicada da vida, que pode vir 
repleta de obstáculos e novas experiências, o idoso fica confuso e muitas 
vezes deprimido. Não entende as mudanças à sua volta, o que se passa 
com seu corpo e sua inteligência. Sem encontrar soluções, ele se refugia, 
isolando-se. Rizzoli e Surdi (2010) postulam que nos grupos se criam 
estratégias de sociabilidade que permitem ao idoso tecer novas relações 
sociais e fugir desse isolamento. Também a velhice traz a sabedoria, 
que envolve características motivacionais e emocionais, que é uma 
manifestação da inteligência prática e dos mecanismos de seleção, 
otimização e compensação (pASCHOAL, FRANCO & SALLES, 2007). Junto da 
sabedoria deve-se elucidar também sobre a “resiliência individual”, que 
são recursos adaptativos, chamados de mecanismos de autorregulação 
que se mantêm intactos na velhice, mas dependem também dos recursos 
da personalidade (pASCHOAL, FRANCO & SALLES, 2007).
A saúde na velhice, comprometida por doenças que atuam em 
comorbidade (hipertensão, diabetes, etc.), encontra auxílio de qualidade 
para sua manutenção dentro dos grupos de convivência. As atividades 
físicas, ali exercidas e estimuladas, auxiliam para a sua funcionalidade. 
É importante que o idoso se mantenha ativo. Os grupos cumprem esse 
papel de incitá-lo ao “movimento”, potencializando sua funcionalidade 
e socialização (RIZZOLI & SuRDI, 2010).
Como a velhice é uma etapa muito delicada da vida, que pode vir 
repleta de obstáculos e novas experiências, o idoso fica confuso e 
muitas vezes deprimido. Não entende as mudanças à sua volta, o 
que se passa com seu corpo e sua inteligência. 
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Pessoas idosas podem exercer funções úteis e significativas na família 
e na comunidade. De acordo com Melo (1995), não se pode afastá-
las de suas atividades exercidas ao longo dos anos de existência, nem 
privá-las do contato com o novo, visto que abandonar antigos papéis, 
desempenhar com eficiência os novos que surgem é uma tarefa saudável, 
podendo alterar os já conhecidos num processo de salutar adaptação – 
peculiaridade do ser humano: livre e inteligente (MELO, 1995).
Ampliar a visão do idoso quanto à sua capacidade de fazer suas coisas, 
ter controle sobre sua vida, fazer projetos para o futuro, colaborar nas 
atividades rotineiras da família é manter sua esperança na velhice.
É preciso, de modo expressivo, considerar a eficácia terapêutica 
dos grupos sociais. Não se pode negar seu benefício. Dentro dos 
grupos, os idosos compreendem que podem se livrar da sensação 
de estarem apartados da sociedade, encontrando um “novo” lugar 
dentro de suas famílias e sociedade. Mediante as novas possibilidades 
vislumbradas dentro de um grupo social, tornam-se cientes do 
sentido pejorativo que atribuem à velhice. Não aceitando mais esse 
menosprezo, essa conotação absurda e desumana, livrando-se dos 
preconceitos que os cercam. 
Os grupos sociais que incluem também os grupos de terceira idade 
prestam um serviço que, mais do que social, é humano. Integram em si 
a possibilidade da revisão de valores e do reconhecimento de pessoas 
que buscam manterem-se dignas, respeitadas, ativas, colaboradoras, ca-
pazes, vivas. Contribuem para a compreensão da velhice como apenas 
mais uma fase da vida, seja ela ou não a fase final. Apenas mais uma etapa. 
Partilham dentro deles a ideia de que, apesar de viverem dentro de uma 
sociedade que privilegia a satisfação de seus interesses mais imediatos, 
para realização de suas próprias ambições, o idoso pode e deve lutar para 
manter seu lugar e destacar-se nele. Lugar esse que é legitimamente seu.
Ampliar a visão do idoso quanto à sua capacidade de fazer 
suas coisas, ter controle sobre sua vida, fazer projetos para 
o futuro, colaborar nas atividades rotineiras da família é 
manter sua esperança na velhice.
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CONCLUSÃO
Diante de todo o percurso feito no estudo, entende-se que os grupos 
exercem papel de expressiva importância na vida dos idosos. Possibilita-
lhes encontrar estímulo para uma vida social mais sadia, desenvolver 
sua cultura e ter momentos de lazer. Encontram dentro dos grupos 
a compreensão para a sua necessidade de manterem-se ativos, 
independentes por tanto tempo quanto possível, se o apoio adequado 
lhes for proporcionado. 
Esses aspectos apontam para um reconhecimento por parte do idoso 
sobre melhoria na autoestima, aceitação na sociedade, compreensão 
das lições aprendidas e partilhadas nos grupos. Lições de cidadania, de 
participação, contribuição para o bem comum. Num espaço que lhes 
propicia sentirem-se recompensados e valorizados por sua bagagem 
existencial; vivenciando o encontro com o outro que difere de si, mas 
em circunstâncias que os aproximam diante dos aspectos vivenciais 
que compartilham.
A atuação nos grupos aponta para a multidimensionalidade do ser 
humano e de suas relações em qualquer estágio da vida, seja a infância 
ou a velhice. Teixeira (2002) corrobora essa percepção quando expõe 
que o apoio social é um processo recíproco, ou seja, gera efeitos positivos 
ao sujeito que recebe e também a quem oferece o apoio, permitindo 
aos envolvidos nele ter mais sentido de controle sobre a vida. Esse 
processo só se dá no conjunto de uma rede de relações responsável pelo 
atendimento das necessidades do indivíduo, para lidar com situações 
decorrentes de sua vida.
O convívio em grupos que abarcam a terceira idade cria espaços 
onde, por excelência, desenvolvem-se práticas sociais que contribuem 
para o papel de cidadão por parte do idoso, além de propiciar-lhe a 
efetivação de laços de amizade, momentos de lazer e muitos outros 
aspectos que positivam o bem-estar do sujeito. Fomentam a mais básica 
necessidade do ser humano, a necessidade de socialização. Possibilitam 
o empoderamento desses indivíduos, trazendo mudanças significativas 
nas relações estabelecidas por eles. Criam laços afetivos e carregam a 
possibilidade da melhoria dos laços já existentes, melhoram o humor 
e o autocuidado.
Como ferramenta social, o grupo atende ao papel que se propõe: o da 
socialização (socialização que parte da família para o todo das relações 
humanas externas a ela), e expande sua eficácia na subjetividade dos 
idosos que dele se beneficiam. 
Artigo 2
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BECK, C. L. C.; GONZÁLES, R. M. B.; COLOMÉ, C. S. Os desafios impostos pelo processo 
de envelhecimento humano. Revista Técnico Científica de Enfermagem, Curitiba, 
1 (2): p. 122-126, mar.-abr. 2003.
BORGES, P. L. C.; BRETAS, R. P.; AZEVEDO, S. F.; BARBOSA, J. M. M. Perfil dos idosos 
frequentadores de grupos de convivência em Belo Horizonte, Minas Gerais, 
Brasil. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, 24 (12): p. 2.798-2.808, dez. 2008.

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