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 A
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Grande parte das raízes brasileiras está plantada na África. Mas, de
modo geral, sabemos muito pouco sobre as culturas desse continente
que nos nutre. Contar histórias sempre foi uma atividade prestigiada
em diferentes lugares da África. Algumas foram aqui reunidas. Falam
de animais e da natureza, ironizam os poderosos, retratam tradições
milenares, denunciam males como a exploração do trabalho alheio e a 
escravidão. E apresentam um humor sutil e muito peculiar, lembrando
suas origens orais, quase como uma piscadela entre contador e ouvinte.
Venha descobrir.
Ana Maria Machado
de
Histórias
outras
terras
HISTÓRIAS
AFRICANAS
H
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13
30
07
59
recontadas por
Ana Maria Machado
Ilustrações de 
Laurent Cardon
9 7 8 8 5 3 2 2 9 3 1 0 7
ISBN 978-85-322-9310-7
Conto 
Mesmo lugar, outra festa 
do livro:
Copyright © Ana Maria Machado, 2014
Todos os direitos reservados à
EDITORA FTD S.A.
Matriz: Rua Rui Barbosa, 156 – Bela Vista – São Paulo – SP
CEP 01326-010 – Tel. (0-XX-11) 3598-6000 
Caixa Postal 65149 – CEP da Caixa Postal 01390-970
Internet: www.ftd.com.br
E-mail: projetos@ftd.com.br
Diretora editorial Silmara Sapiense Vespasiano
Gerente editorial Ceciliany Alves
Editora Cecilia Bassarani
Editor assistente Luís Camargo
Assistentes de produção Ana Paula Iazzetto, Lilia Pires
Assistentes editoriais Tássia Regiane Silvestre de Oliveira, Thalita R. Moiseieff
Preparadora Bruna Perrella Brito
Revisora Regina C. Barrozo
Coordenador de arte Eduardo Rodrigues
Editora de arte Andréia Crema
Projeto gráfico Sylvain Barré
Editoração eletrônica Alicia Sei
Diagramação Alicia Sei
Diretor de produção gráfica Reginaldo Soares Damasceno
Ana Maria Machado é autora de mais de cem livros. É traduzida 
em 19 países. Em 2000, ganhou o Prêmio Hans Christian Andersen, 
considerado o Nobel da literatura infantil mundial. Em 2001, recebeu 
o maior prêmio literário nacional, o Machado de Assis. Em 2003, 
entrou para a Academia Brasileira de Letras. Recebeu o Prêmio 
Príncipe Claus 2010, da Holanda, concedido a artistas e intelectuais de 
reconhecida contribuição nos campos da cultura e do desenvolvimento.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Machado, Ana Maria
Histórias africanas / recontadas por Ana Maria 
Machado ; ilustração Laurent Cardon. – 1. ed. – 
São Paulo : FTD, 2014.
ISBN 978-85-322-9310-7
1. Contos – Literatura infantojuvenil I. Cardon, 
Laurent. II. Título.
14-04580 CDD-028.5
Índices para catálogo sistemático:
1. Contos : Literatura infantil 028.5
2. Contos : Literatura infantojuvenil 028.5
1 .a edição
São Paulo – 2014
Ilustrações de 
Laurent Cardon
recontadas por
Ana Maria Machado
HISTÓRIAS
AFRICANAS
Pode ser porque lá no alto é um lugar lindo, que tem Sol, 
Lua, estrelas, arco-íris e nuvens que mudam de forma e cor. Ou 
porque uma passarada cantora e colorida gosta de ficar pra lá e pra 
cá, voando pelo azul. Mas os africanos concordam com os indígenas 
brasileiros em uma coisa, pelo menos: céu é lugar de festa. Daquelas 
ótimas, em que ninguém quer ficar de fora. E, na hora da festança, 
todo mundo quer ir, mesmo quem não consegue voar.
Na Nigéria, de noite, nas aldeias, quando as pessoas se sentam 
nas esteiras que cobrem o chão para ouvir as histórias que os mais 
velhos gostam de contar e todos gostam de ouvir, uma das preferi-
das é a da festa no céu.
44
Ia haver uma grande festa no céu e todos os pássaros foram 
convidados. Animados, começaram logo a se preparar. Quem não 
podia ir ficava morrendo de vontade de festejar também. O Cágado, 
por exemplo, ficou logo imaginando quanta comida gostosa haveria por 
lá, justo numa época em que havia uma seca danada na terra e quase 
não sobrara comida para comer. A sensação que ele tinha era de que 
estava tão magro que, se alguém o sacudisse, seus ossos iam balançar 
dentro do casco que nem um chocalho. Tinha de dar um jeito de ir a 
essa festa no céu, para ver se tirava a barriga da miséria.
Mas como? Afinal, Cágado é bicho que anda na terra e não tem 
asas. Mas tinha de dar um jeito. Logo calculou que ninguém ia topar 
carregar um bicho pesadinho feito ele. Mesmo assim, tentou. 
A cada pássaro que encontrava, perguntava:
– Me dá uma carona para eu ir à festa no céu? 
Mas a resposta era sempre parecida:
– Eu te conheço. Você é muito metido a espertinho, só quer se 
dar bem. Não é amigo de ninguém. Quando consegue o que quer, 
esquece quem te ajudou. Não ajudo coisa nenhuma.
Ou então:
– Eu hein?! Já sei que você vai aprontar alguma quando chegar 
lá na festa. Se eu te levar, você se mete em encrenca e ainda me deixa 
mal. Você é um ingrato.
45
Era mesmo verdade. Ele já tinha feito tantas com tantos bichos, 
que a fama dele era péssima. Ninguém queria ajudar. Mas acontece que 
o Cágado já esperava por essa e tinha um plano para o caso de nin-
guém lhe dar carona. Então, passava à segunda parte do pedido:
– Bom, na verdade, eu até tenho como ir, estava só querendo 
companhia. Mas será que você podia me arranjar uma de suas penas 
para eu me enfeitar? Não faz diferença para você, que tem tantas… 
Umazinha só… Não vai lhe fazer falta.
Os pássaros não eram maus nem egoístas. Cada um logo perce-
beu que não lhe custava nada dar uma pena para o Cágado... E foram 
dando. Assim foi que, de pena em pena, ele ficou com uma quantidade 
enorme, suficiente para fabricar duas asas. Penas de tudo quanto era 
cor e tamanho. E ainda lhe deram uma informação preciosa: qual seria 
o ponto de encontro de onde partiriam todos reunidos, em revoada, 
para a tal festa.
Na hora combinada, o Cágado chegou antes de todos, com suas 
magníficas asas, feitas de penas de todas as cores e tamanhos. Todo 
contente e gentil, falava com todo mundo, sempre fazendo questão de 
lembrar que estava agradecido e que tinha sido o primeiro a chegar. 
Estava tão simpático que, antes de saírem em bando, quando foram 
escolher qual deles faria o discurso de saudação aos donos do céu 
quando chegassem, alguém sugeriu:
46
– Acho que devia ser o Cágado. Vai ser muito original e ele 
fala tão bem…
– Isso mesmo! – concordaram os outros.
– E como ele está vestido com as plumas de todos nós, já nos 
representa bem – acrescentou outro pássaro.
A ideia foi aprovada. E o Cágado aproveitou a deixa para fazer 
uma sugestão:
– Sabemos que, quando alguém é convidado para uma grande 
festa como essa, os costumes mandam que se escolha um nome novo 
para a ocasião. Não podemos deixar de seguir essa antiga tradição.
Nenhum dos pássaros jamais tinha ouvido falar nisso. Mas 
o Cágado falara com tanta segurança que ninguém quis duvidar 
do que ele dizia. Um por um, foram todos escolhendo seu novo 
nome. Podiam ser nomes como Quero-quero, Fogo-apagou, Bem-
-te-vi, Papo-preto, Crista-de-fogo ou outros assim. Não dá para 
ter certeza, porque quem me contou essa história não lembrava ou 
achou que não valia a pena repetir esses nomes. O que importa 
é que cada um escolheu um nome novo. E quando chegava nesse 
ponto da história, cada criança ou adulto que ouvia ficava também 
pensando no nome que ia escolher se tivesse que ir a uma festa as-
sim. Talvez Pé-ligeiro. Ou Olho-brilhante, Menina-bonita, Muito-
-sono, Leão-faminto…
48
Quando chegou a vez do Cágado, ele disse:
– Em homenagem a todos vocês que me ajudaram a fazer meus 
enfeites, e como símbolo da minha gratidão e da força de nossa 
união, enquanto durar essa festa meu nome vai ser Todos-vocês.
Os outros ficaram contentes com a homenagem.
Em seguida, terminada essa cerimônia de novos nomes, o ban-
do bateu asas e levantou voo. Quando chegaram ao céu, os donos da 
festa ficaram muito felizes e os receberam muito bem. Imediatamente, 
o Cágado se levantou e fez um discurso agradecendo a acolhida. 
Falou tão bem que os outros convidados estavam orgulhosos por 
terem um orador tão bom falando em seu nome. Aprovavam com 
gestos de cabeça e batiam palmas.Alguns até comentavam com a ave 
que estivesse a seu lado:
– Que bom que ele veio conosco!
No final, todos queriam cumprimentá-lo.
Vendo aquilo, os donos da festa acharam que ele devia ser o 
Rei dos Pássaros. Afinal, era um pouco diferente de todos os outros 
e parecia ser tão respeitado e aclamado por eles…
O povo do céu começou então a servir o banquete. Primeiro, 
trouxeram nozes-de-cola como aperitivo, e estavam mesmo uma de-
lícia. Depois, veio a refeição completa. Antes de mais nada, um 
caldeirão fumegante, de uma sopa de peixe e carne cheirosíssima. 
49
E mais uma porção de gamelas com outras comidas. Havia pirão de 
inhame e um ensopado de inhame com peixe fresco, cozido no azeite 
de dendê. E uma fartura de potes de vinho de palma.
Como mandavam os costumes, antes que os convidados come-
çassem a comer, um dos hospedeiros provou um pouquinho de cada 
prato, para mostrar que a comida estava boa, sem nada que pudesse 
fazer mal. Em seguida, fez um gesto com a mão, apontando que os 
outros podiam se adiantar e passar a comer.
Nesse momento, o Cágado se levantou rapidamente e perguntou:
– Para quem foi preparado esse banquete?
O senhor do céu respondeu:
– Para todos vocês!
O Cágado então se virou para os pássaros e disse:
– Lembrem-se de que meu nome nesta festa é Todos-vocês. O 
que o dono da casa respondeu significa que aqui no céu o orador deve 
comer primeiro. Só mais tarde será a vez dos outros. Não podemos 
desrespeitar os costumes do lugar. Esta primeira mesa é minha. Assim 
que eu acabar de comer, vocês serão servidos.
E começou a comer. Os pássaros não gostaram, mas engoliram 
em seco. Não queriam parecer mal-educados. Mas alguns estavam com 
muita fome e começaram a resmungar uns com os outros.
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Os donos do céu bem que acharam aquilo esquisito. Mas pen-
saram que os costumes dos pássaros da terra eram aqueles e que os 
convidados só iriam comer depois que seu Rei acabasse. 
Enquanto isso, o Cágado comia. Comia, comia, comia, até 
estufar tanto a barriga que quase não cabia mais no casco. Bebeu 
vinho de palma até quase estourar. Só então, revirando os olhos de 
tão empanzinado, parou de comer. 
Sobrara muito pouco para os pássaros, só uns ossos, umas es-
pinhas, umas pelancas e um restinho de caldo. 
O Flamingo ficou tão furioso com aquilo que disse:
– Ah, é assim? Pois então devolve minha pena.
Foi lá junto do Cágado e arrancou a bela pena que lhe dera, 
da cor da alvorada.
– A minha também – emendou a Andorinha e fez o mesmo, 
tirando uma pena da cor da noite.
– E a minha já! – disse o Periquito, arrancando mais uma pena 
da asa fabricada, que ficou desfalcada de uma cor de folhas novas.
Um por um, foram todos fazendo o mesmo. Num instante, o 
Cágado depenado se viu sem ter como voar de volta para a terra. E 
não adiantou pedir. Dessa vez ninguém quis ajudar. Então ele mu-
dou o pedido:
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– Por favor, levem um recado para minha mulher! Pelo menos 
isso… Tenham pena de mim.
Ninguém lhe dava atenção. Um por um, os pássaros iam saindo 
de perto. Deixaram o Cágado sozinho. Muitos já se preparavam para 
voar de volta para casa, na esperança de, pelo menos, conseguir co-
mer alguma coisinha em terra.
– Por favor, um recado para minha mulher… – repetia o Cágado. 
– Um recadinho à toa…
Era como se ninguém ouvisse. Até que o Papagaio, o mais fu-
rioso de todos, pensou que aquela podia ser uma oportunidade de 
dar uma lição no Cágado. E perguntou a ele:
– Que recado?
– Diga a ela para cobrir o quintal com as coisas mais macias 
que tiver em casa, para que eu possa pular do céu e voltar logo.
O Papagaio bateu asas e voou. Quando chegou à casa do 
Cágado, disse à mulher dele:
– Seu marido mandou pedir para cobrir o quintal com as coi-
sas mais duras que tiver em casa.
Ela então começou a espalhar um monte de coisas duras no 
quintal: enxadas, facas, facões, lanças, gamelas, panelas, tabuleiros, 
arreios. Lá do alto, o Cágado via a mulher andando pelo terreiro e 
cobrindo o chão de objetos, mas não dava para distinguir que não 
53
eram esteiras, cestos, mantas, tecidos e peles de animais. Quando ele 
achou que já estava pronto, pulou de uma nuvem.
Foi caindo, caindo, caindo... A gente pode até parar de contar 
um pouquinho agora, enquanto ele cai, porque levou mesmo um 
tempão. Caindo, caindo... será que já acabou ou ainda está caindo? 
O caso é que foi mesmo muito tempo caindo. Vocês querem esperar 
até que ele acabe de cair? Bom, então eu continuo. Quando ele pa-
rou de cair, ouviu-se um barulhão tremendo.
Bum! 
Foi o Cágado se espatifando no meio do quintal, com todas 
aquelas coisas duras espalhadas.
Morrer não morreu. Mas o casco ficou todo quebrado. Foi 
preciso a mulher dele mandar chamar um grande curandeiro que 
vivia nas redondezas. Deu muito trabalho juntar todos os caquinhos 
e colar tudo. 
Mas, afinal, deu para colar. E até hoje ele vive por aí, se arras-
tando e escondendo a cabeça quando alguém chega perto. De medo 
ou de vergonha, não dá para saber.

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