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_Coleção O que é e o que faz - Volume 5 - Semiolinguística

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O que é e o que faz
a Semiolinguística
Coleção O que é e o que se faz?
volume 5
Reitor
José Daniel Diniz Melo
Vice-Reitor
Henio Ferreira de Miranda
Diretoria Administrativa da EDUFRN
Maria das Graças Soares Rodrigues (Diretora)
Helton Rubiano de Macedo (Diretor Adjunto)
Bruno Francisco Xavier (Secretário)
Conselho Editorial
Maria das Graças Soares Rodrigues (Presidente)
Judithe da Costa Leite Albuquerque (Secretária)
Adriana Rosa Carvalho
Alexandro Teixeira Gomes
Elaine Cristina Gavioli
Euzébia Maria de Pontes Targino Muniz
Everton Rodrigues Barbosa
Fabrício Germano Alves
Francisco Wildson Confessor
Gleydson Pinheiro Albano
Gustavo Zampier dos Santos Lima
John Fontenele Araújo
Josenildo Soares Bezerra
Ligia Rejane Siqueira Garcia
Lucélio Dantas de Aquino
Marcelo de Sousa da Silva
Márcia Maria de Cruz Castro
Márcio Dias Pereira
Martin Pablo Cammarota
Nereida Soares Martins
Roberval Edson Pinheiro de Lima
Samuel Anderson de Oliveira Lima
Tatyana Mabel Nobre Barbosa
Secretária de Educação a Distância
Maria Carmem Freire Diógenes Rêgo
Secretária Adjunta de Educação a Distância
Ione Rodrigues Diniz Morais
Coordenadora de Produção de Materiais Didáticos
Maria Carmem Freire Diógenes Rêgo
Coordenação Editorial
Mauricio Oliveira Jr.
Gestão do Fluxo de Revisão
Edineide Marques
Gestão do Fluxo de Editoração
Mauricio Oliveira Jr.
Conselho Técnico-Científico – SEDIS
Maria Carmem Freire Diógenes Rêgo – SEDIS (Presidente)
Aline de Pinho Dias – SEDIS
André Morais Gurgel – CCSA
Antônio de Pádua dos Santos – CS
Célia Maria de Araújo – SEDIS
Eugênia Maria Dantas – CCHLA
Ione Rodrigues Diniz Morais – SEDIS
Isabel Dillmann Nunes – IMD
Ivan Max Freire de Lacerda – EAJ
Jefferson Fernandes Alves – SEDIS
José Querginaldo Bezerra – CCET
Lilian Giotto Zaros – CB
Marcos Aurélio Felipe – SEDIS
Maria Cristina Leandro de Paiva – CE
Maria da Penha Casado Alves – SEDIS
Nedja Suely Fernandes – CCET
Ricardo Alexsandro de Medeiros Valentim – SEDIS
Sulemi Fabiano Campos – CCHLA
Wicliffe de Andrade Costa – CCHLA
Revisão Linguístico-textual
Edineide Marques
Fabíola Gonçalves
Revisão de ABNT
Edineide Marques
Revisão Tipográfica
Maria das Graças Soares Rodrigues
Diagramação
Marina Santos
Diagramação
Victor Hugo Rocha Silva
O que é e o que faz
a Semiolinguística
Coleção O que é e o que se faz?
volume 5
Prefácio
Ana Lúcia Tinoco Cabral
Rivaldo Capistrano Júnior
Maria das Graças Soares Rodrigues
Lúcia Helena Martins Gouvêa
Maria Aparecida Lino Pauliukonis
Rosane Santos Mauro Monnerat
Organizadores
Natal, 2023
Todos os direitos desta edição reservados à EDUFRN – Editora da UFRN
Av. Senador Salgado Filho, 3000 | Campus Universitário
Lagoa Nova | 59.078-970 | Natal/RN | Brasil
e-mail: contato@editora.ufrn.br | www.editora.ufrn.br
Telefone: 84 3342 2221
Gouvêa, Lúcia Helena Martins.
 O que é e o que faz a Semiolinguística [recurso eletrônico] / organizado por 
Lúcia Helena Martins Gouvêa, Maria Aparecida Lino Pauliukonis e Rosane 
Santos Mauro Monnerat. – 1. ed. – Natal: EDUFRN, 2023. (O que é e o que faz..., 
v. 5).
 2200 KB; 1 PDF.
 ISBN 978-65-5569-374-4
 1. Semiolinguística. 2. Discurso. 3. Sujeito. 4. Texto. 5. Poder. I. Pauliukonis, 
Maria Aparecida Lino. II. Monnerat, Rosane Santos Mauro. III. Título.
CDU 81
G719q
Catalogação da publicação na fonte
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Secretaria de Educação a Distância
Elaborada por Edineide da Silva Marques CRB-15/488.
Fundada em 1962, a Editora da UFRN continua 
até hoje dedicada à sua principal missão: produzir 
impacto social, cultural e científico por meio de livros. 
Assim, busca contribuir, permanentemente, para uma 
sociedade mais digna, igualitária e inclusiva.
Publicação digital financiada com recursos do Fundo de Pós-graduação (PPg-UFRN). A 
seleção da obra foi realizada pela Comissão de Pós-graduação, com decisão homologada 
pelo Conselho Editorial da EDUFRN, conforme Edital nº 01/2023-PPG/EDUFRN/
SEDIS, para a linha editorial Técnico-científica.
Prefácio
O Grupo de Trabalho Linguística de Texto e Análise da 
Conversação (GT LTAC), da Associação Nacional de Pós-
Graduação e Pesquisa em Letras e Linguística (ANPOLL), 
foi criado em 1985 e conta com um grande número de pes-
quisadores, pertencente aos mais diversos Programas de 
Pós-graduação e atuantes em grupos de pesquisa consolidados, 
que, sob perspectivas teórico-metodológicas variadas, elege 
como objeto empírico o texto, em diferentes modalidades 
e em diferentes contextos de interação. O grupo, marcado 
pela pelo caráter interdisciplinar desde a sua criação, tem 
como grandes temas i) processos discursivo-interacionais 
de negociação de sentido(s) e ii) estratégias de textualização 
em contextos de interação diversos.
Em 2021, por iniciativa dos coordenadores Ana Lúcia 
Tinoco Cabral e Rivaldo Capistrano Júnior, procedeu-se 
ao mapeamento dos temas, das interfaces e das áreas de 
pesquisa de interesse dos membros do GT. O resultado, além 
de reiterar o interesse pelos grandes temas, apontou cinco 
áreas de atuação, a saber: Linguística Textual, Análise Textual 
dos Discursos, Análise da Conversação, Semiolinguística e 
Pragmática.
Com base nesse mapeamento e com o apoio dos mem-
bros do GT LTAC, da Pró-Reitoria de Pós-Graduação 
da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PPG/
UFRN) e da Editora da Universidade do Rio Grande do 
Norte (EDUFRN), deu-se o início do projeto de publicação 
eletrônica da coleção O que é e o que faz..., uma coletânea de 
entrevistas, coordenada pelos professores Ana Lúcia Tinoco 
Cabral, Rivaldo Capistrano Júnior e Maria das Graças Soares 
Rodrigues e organizada em cinco volumes, a saber: 
Volume 1: O que é e o que faz a Linguística Textual, 
organizado por Rivaldo Capistrano Júnior (UFES) e Vanda 
Maria da Silva Elias (UNIFESP); 
Volume 2: O que é e o que faz a Análise Textual dos 
Discursos, organizado por Maria das Graças Soares Rodrigues 
(UFRN) e Sueli Cristina Marquesi (PUC-SP);
Volume 3: O que é e o que faz a Pragmática, organizado 
por Rodrigo Albuquerque (UnB), Ana Lúcia Tinoco Cabral 
(PUC-SP) e Maria da Penha Pereira Lins (UFES); 
Volume 4: O que é e o que faz a Análise da Conversação, 
organizado por Gil Roberto Costa Negreiros (UFSM) e Ana 
Rosa Ferreira Dias (PUC-SP; USP);
Volume 5: O que é e o que faz a Semiolinguística, orga-
nizado por Lúcia Helena Martins Gouvêa (UFRJ), Maria 
Aparecida Lino Pauliukonis (UFRJ) e Rosane Santos Mauro 
Monnerat (UFF).
Os diferentes volumes têm, além de perguntas específicas, 
perguntas em comum, que objetivam manter o fio condutor 
da proposta da coleção.
Em resposta às perguntas de entrevista, cada entrevistado 
tem a oportunidade de discorrer sobre o quadro e os avanços 
teórico-metodológicos de sua área, de apontar (novas) questões 
de investigação e de indicar aplicações de suas pesquisas para 
o ensino, em seus diferentes níveis e em diversas modalidades.
Desse modo, a coletânea tem como objetivos i) fomen-
tar atividades vinculadas à implementação, divulgação da 
produção científica e à formação e/ou consolidação de redes 
de pesquisa de membros do GT LTAC e de outros GTs da 
ANPOLL; ii) apresentar e promover temas fundamentais dos 
estudos sobre o texto; aumentar a visibilidade da produção do 
GT LTAC junto à comunidade científica nacional e interna-
cional; iii) fomentar a discussão sobre diferentes perspectivas 
de análise e de investigação do texto; iv) promover a interface 
entre essas diferentes perspectivas; v) contribuir para a for-
mação inicial e continuada de professores e de pesquisadores.
Desejamos aos leitores que a pluralidade de perspectivas 
teórico-metodológicas, presente nos cinco volumes da coleção, 
promova o intercâmbio entre pesquisadores e fomente novas 
pesquisas em Linguística de Texto e Análise da Conversação. 
Ana Lúcia Tinoco Cabral
Rivaldo Capistrano Júnior
Maria das Graças Soares Rodrigues
Coordenadores da coleção O que é e o que faz...
Apresentação
 A linguagem é um poder, talvez o primeiro poderdo homem. 
Mas esse poder da linguagem não cai do céu. São os homens 
que o constroem, que o amoldam através de suas trocas, seus 
contatos ao longo da história dos povos. (...)A linguagem é 
uma atividade humana que se desdobra no teatro da vida 
social e cuja encenação resulta de vários componentes, 
cada um exigindo um “savoir-faire, o que é chamado de 
competência. (CHARAUDEAU, 2008, Prefácio)
Apoiando-nos na citação de Charaudeau (2008)¹1, rela-
cionada ao papel social da linguagem e à funcionalidade 
dos atos linguísticos portadores de sentido e de vínculo 
social, vimos apresentar o volume 5, O que é e o que faz a 
Semiolinguística do Discurso, da Coleção O que é e o que faz... 
Trata-se de uma coletânea de entrevistas coordenada pelo GT 
1 CHARAUDEAU, Patrick. Linguagem e discurso: modos de organização. 
Coordenação da equipe de tradução Angela M.S. Corrêa e Ida Lúcia 
Machado. São Paulo: Contexto, 2008.
da ANPOLL Linguística do Texto e Análise da Conversação, 
entrevistas essas com pesquisadores reconhecidos por sua 
atuação na área, incluindo membros do GT e demais convi-
dados de Instituições nacionais e internacionais.
O objetivo geral é fomentar atividades vinculadas à divul-
gação de produção científica das áreas em foco e a consoli-
dação de redes de pesquisa entre os membros pertencentes 
ao GT LTAC da ANPOLL e outros pesquisadores.
O objetivo específico deste volume é trazer a público 
reflexões de pesquisadores de várias universidades brasilei-
ras e do criador da Semiolinguística, Patrick Charaudeau, 
a respeito da Teoria, por meio de reflexões sobre os con-
ceitos básicos que a fundamentam e que estejam relacio-
nados a suas experiências no campo da aplicação em 
diferentes corpora. 
O volume reúne respostas de questões comuns aos vários 
volumes da coleção e perguntas específicas, com o intuito de 
representar o que os investigadores pensam sobre a teoria e 
quais as contribuições de seus trabalhos de pesquisa, que 
muito a enriqueceram em terras brasileiras.
As entrevistas selecionadas, publicadas em ordem 
alfabética do primeiro nome dos autores, – exceção 
feita ao criador da teoria –, versam sobre temas caros à 
Semiolinguística do Discurso e que constituem seu arcabouço 
teórico, entre os quais citam-se: o ato de linguagem como mise-
-en-scène, o processo de semiotização do mundo, os sujeitos 
do ato de linguagem, o contrato de comunicação, os modos 
de organização do discurso, os imaginários sociodiscursivos, 
os efeitos patêmicos e a ação de influência dos enunciadores 
sobre os destinatários.
Os entrevistados tiveram a oportunidade de discorrer 
sobre o quadro conceitual e teórico-metodológico do campo 
da Semiolinguística, com total liberdade, de acordo com 
suas convicções. Puderam relatar o desenvolvimento de seus 
trabalhos, o estágio atual de suas pesquisas, bem como apontar 
novas questões de investigações e interfaces que estabelecem 
com corpora que analisam.
Os textos representam um produto do amadureci-
mento da teoria entre nós e testemunham sua vitali-
dade nos inúmeros trabalhos publicados e na formação 
de grupos de pesquisa que vicejam em universidades 
de renome. 
Desejamos que o contato com os diferentes pesquisado-
res seja testemunho das especificidades dos discursos que 
circulam na sociedade brasileira e que as reflexões contribuam 
para o fortalecimento da Teoria Semiolinguística. 
Lúcia Helena Martins Gouvêa
Maria Aparecida Lino Pauliukonis
Rosane Santos Mauro Monnerat
Organizadoras
Sumário
Patrick Charaudeau .........................................................................14
Amanda Heiderich Marchon ........................................................ 37
Beatriz dos Santos Feres ................................................................ 48
Helênio Fonseca de Oliveira .......................................................... 71
Ida Lucia Machado .......................................................................... 87
Ilana da Silva Rebello ..................................................................... 98
João Benvindo de Moura.............................................................. 123
Luciana Paiva de Vilhena Leite ................................................... 146
Maria Eduarda Giering ............................................................... 177
Michelle Alonso Dominguez .......................................................191
Patricia Ferreira Neves Ribeiro ...................................................211
Verônica Palmira Salme de Aragão ............................................ 245
William Augusto Menezes ......................................................... 264
14
PATRICK CHARAUDEAU 
Université Paris 13, CNRS
1) Como você chegou à Teoria Semiolinguística? Quais 
autores lhe serviram de inspiração?
 Eu faço parte de uma geração que teve a chance de ver 
chegar a Paris, durante meus estudos, todos os especialistas 
de uma linguística nascente que se chamava a Linguística: 
Bernard Pottier pela semântica, Antoine Culioli pela enun-
ciação, Jean Claude Chevalier pela história da gramática, 
André Martinet pelo funcionalismo etc. E eu, então, estudei 
os diferentes aspectos das línguas (fonética, fonologia, mor-
fologia, sintaxe, semântica) do ponto de vista da linguística 
estrutural. 
Depois, chegaram a linguística gerativa, a sociolinguística 
e a pragmática com a teoria dos atos de fala. Paralelamente, 
segui os cursos de semiótica, com Algirdas Greimas, Gerard 
PATRICK CHARAUDEAU
15
Génette, Roland Barthes, Umberto Eco etc, e as lições de 
filosofia de Michel Foucault no Colégio de França. Eu estava, 
então, imerso em um banho linguístico e semiótico, o que 
me levou a fazer uma tese de doutorado de Estado, relacio-
nando os fatos da língua aos fatos semióticos do discurso, do 
qual surgiu a ideia de uma semio-linguística.
2) Quais de suas produções em revistas e/ou em livros 
impressos ou eletrônicos você destacaria?
Não me é possível fazer uma escolha, pois eu procurei 
aplicar – e continuo a fazer – esse modo de análise a diversos 
objetos: essencialmente o discurso de informação midiá-
tica, o discurso político, o discurso publicitário, o discurso 
humorístico, o discurso didático, o discurso da polidez, o 
discurso da violência verbal etc. Paralelamente, eu escrevi 
sobre noções particulares: os gêneros discursivos, o contrato 
de comunicação, o sujeito do discurso, a persuasão em uma 
perspectiva discursiva, a controvérsia, a polêmica, a manipula-
ção, a competência linguageira etc. Essas diferentes atividades 
de escritura se enriquecem mutuamente: os escritos sobre as 
noções enriquecem as análises dos objetos discursivos, e as 
análises dos objetos discursivos enriquecem as noções. Tudo 
isso pode ser encontrado nas publicações que aparecem no 
meu site (patrick charaudeau.com)
PATRICK CHARAUDEAU
16
3) Considerando a Semiolinguística como Ciência, quais 
são os seus procedimentos metodológicos e suas principais 
categorias analíticas? E como se relacionam os conceitos 
de contrato de comunicação, visadas discursivas e gêneros 
textual-discursivos?
 O conceito central é o de contrato de comunicação que, às 
vezes, chamo de contrato de fala. Ao redor dele, gravita o sujeito 
de fala, que é o organizador da mise-en-scène enunciativa do 
discurso, empregando certas estratégias discursivas (de legiti-
mação, credibilidade e captação). O contrato de comunicação 
remete ao conceito de situação de comunicação, com seus 
diferentes componentes: a identidade dos sujeitos, as visadas 
discursivas e as circunstâncias de comunicação. Ele constitui 
o que orienta e dá sentido ao ato de comunicação. Ele é, então, 
determinante de toda análise do discurso em situação. 
A identidade dos sujeitos é definida conforme a perspectiva 
de um desdobramento: o sujeito falante se desdobra em sujeito 
comunicante e sujeito enunciante (enunciador): o sujeito recep-
tor se desdobra em sujeito destinatário e sujeito interpretante, 
oque explica que não há simetria entre o processo de produção 
do ato de linguagem e o processo de interpretação, a visada 
discursiva (ou intenção) não correspondendo totalmente ao 
efeito produzido (ou interpretação). Dessa forma, o sentido 
PATRICK CHARAUDEAU
17
de todo ato de linguagem é o resultado de um reencontro, 
de uma coconstrução.
As visadas discursivas constituem a finalidade discursiva 
do contrato de comunicação. É fato que o contrato de comu-
nicação político tem como finalidade discursiva uma visada 
de incitação a fazer e a crer; que o contrato de comunicação 
midiático tem por visada discursiva um fazer saber e que o 
discurso didático tem por visada discursiva um fazer saber 
fazer etc.
As circunstâncias de comunicação se definem conforme os 
diversos componentes que constituem o dispositivo no qual se 
desenrola o ato de linguagem. Trata-se dos elementos mate-
riais que determinam o quadro da comunicação: o número 
de participantes, sua disposição, a relação que mantêm (de 
proximidade, a distância, interpessoal, coletiva), a forma de 
fala que empregam (oral, escrita), o suporte material que 
utilizam (direto, audio-oral, audiovisual etc.). 
É esse conjunto, ao redor do ato de comunicação, que 
determina, numa primeira aproximação, o gênero de dis-
curso. Desse modo, pode-se falar de contrato de comunicação 
político, publicitário, didático etc., ou de gênero político, 
publicitário, didático. E, ao mesmo tempo, é esse contrato 
que fornece instruções discursivas aos sujeitos – locutor, 
PATRICK CHARAUDEAU
18
para colocar em cena seu ato de linguagem; e receptor, para 
interpretar. 
4) Em que se aproximam e se distanciam os seus conceitos 
de imaginários sociodiscursivos e representações sociais 
do conceito de ideologia abordado por outras teorias da 
análise do discurso?
Esse processo de performance discursiva está a serviço de 
pensamentos que eu denomino de imaginários sociodiscursivos 
reutilizando as noções empregadas em sociologia (Castoriadis) 
e psicologia social (Moscovici). Eu expliquei em meu livro 
Discurso político: as máscaras do poder (CHARAUDEAU, 
2006b) as razões pelas quais eu prefiro essa denominação em 
vez de “ideologia”. A primeira é porque o termo ideologia 
recebeu diversas definições, depois daquela, fundadora do 
Destutt de Tracy, passando por Marx e as críticas que foram 
feitas; e depois pelo fato de que é empregada cada vez que se 
quer criticar um pensamento. Dito de outra forma, a ideologia 
é sempre a do outro, do campo adversário.
Eu não nego que a ideologia exista, mas eu a reservo 
para o caso em que o imaginário social se torna um sistema 
de pensamento fechado em si mesmo, qualquer que seja o 
valor a que se refere. Assim, isso me permite demonstrar, do 
PATRICK CHARAUDEAU
19
mesmo modo, o que são as matrizes do discurso ideológico 
de direita ou de esquerda, o que é ideologia de dramatização 
do discurso de informação midiática. 
5) A teoria dos sujeitos é fundamental para a Semiolinguística. 
Que relação se pode estabelecer entre a teoria dos sujeitos e 
os conceitos de ethos e pathos da Retórica Clássica?
A relação entre a teoria dos sujeitos e as noções de ethos e 
pathos da retórica se faz por meio de estratégias discursivas. 
O sujeito falante, consciente das determinações do contrato 
de comunicação, empenha-se a partir delas a se fazer com-
preender pelo seu interlocutor (seja individual, seja coletivo), 
a persuadir, a seduzir, para o melhor (conivência) ou para o 
pior (manipulação).
Para fazer isso, é preciso satisfazer a duas condições: ser 
credível e obter um impacto sobre o interlocutor. A primeira 
condição permite construir de si mesmo uma imagem de uma 
pessoa em que se deva crer, seja de forma racional (referência 
ao saber), seja de forma irracional (carisma). Trata-se do ethos, 
por meio de estratégias de credibilidade. No discurso político, 
elas são descritas na produção desse nome.
Mas o sujeito deve igualmente se empenhar em fazer com 
que seu interlocutor (individual ou coletivo) seja captado pelo 
PATRICK CHARAUDEAU
20
seu discurso. E um dos melhores meios é fazer ele aderir de 
forma imediata e espontânea ao discurso do sujeito falante. 
Trata-se do pathos, por meio de estratégias de captação. 
6) Quais são as preocupações específicas da Semiolinguística 
que a diferenciam de outras teorias do texto?
É preciso considerar, no campo de uma disciplina, nas 
diferentes correntes de análise, se elas têm uma especificidade, 
se às vezes elas se opõem, ou se se encontram, na realidade, em 
uma complementaridade. Nenhuma delas pode pretender dar 
conta da totalidade de um fenômeno, mas, ao contrário, pode 
trazer um esclarecimento particular. Como outras correntes 
de discurso, a semiolinguística procura relacionar as marcas 
linguísticas aos fatos discursivos. Às vezes, ela persegue um 
mesmo objetivo com uma terminologia diferente. Por exem-
plo, apoiando-se na teoria da enunciação, a semiolinguística 
repousa seu olhar sobre os efeitos de influência dos atos de 
linguagem, sua orientação em direção ao interlocutor, como 
faz a pragmática com outra concepção, a dos atos de fala. Mas 
é a mesma orientação. 
Eu diria que esse aporte da semiolinguística é um aspecto 
mais comunicacional, paralelamente aos conceitos de des-
dobramento dos sujeitos, de contrato de comunicação e de 
PATRICK CHARAUDEAU
21
estratégias discursivas. Com efeito, a hipótese que subentende 
esse modelo é a de que os imaginários sociais (e a ideologia 
que aí se encontra) dependem de toda a aparelhagem da 
“performance” comunicativa. Isso evita essencializar as 
categorias ideológicas. Por exemplo, se quer analisar o dis-
curso da violência verbal, não se pode fazer de forma global. 
É preciso antes determinar as situações e os contratos que 
a elas correspondem para poder determinar se tal ato de 
linguagem corresponde a uma violência. 
7) Pesquisar implica não só ter o conhecimento de conceitos 
e de procedimentos analíticos, mas também saber as possi-
bilidades de seu campo de investigação. Poderia ressaltar 
delimitações, bem como interfaces da Semiolinguística?
Concordo, mas essa questão se relaciona àquela da inter-
disciplinaridade. Escrevi sobre essa questão que suscitou um 
debate interessante na Revista Questions de communication 
(2010, no.17) em que proponho a ideia do que chamei de uma 
interdisciplinaridade focalizada. Trata-se de não se contentar 
com o acúmulo de pontos de vista de diferentes disciplinas 
sobre um mesmo tema, como se faz em diversas publicações 
(o que tem sua utilidade). Trata-se de interrogar as noções 
e os conceitos que se encontram nas diferentes disciplinas 
das ciências humanas e sociais (sujeito, norma, estratégia, 
PATRICK CHARAUDEAU
22
representação etc.) para tomar a medida das diferenças e 
semelhanças, a fim de enriquecer as definições de cada dis-
ciplina. Assim, a solidariedade entre as disciplinas permitirá 
estabelecer uma verdadeira interdisciplinaridade. 
8) Dos resultados de seus trabalhos, seria possível indicar 
contribuições para o ensino?
O ensino sempre foi uma de minhas preocupações, pois 
não é suficiente ser um pesquisador, é preciso também saber 
transmitir. Ora, transmitir o saber aos estudantes que não o 
possuem não pode ser o mesmo saber, o qual tem suas próprias 
exigências. Não se pode contentar com a exposição de uma 
análise que se faria na presença de outros pesquisadores, seus 
pares. É preciso de um trabalho de transposição do saber com 
finalidade explicativa que acarreta escolhas e formulações 
adaptáveis ao público.
Durante um tempo, eu me ocupei da didática do 
ensino das línguas, e posso dizer que há dois aspectos 
de meus trabalhos que podem trazer utilidade para o 
ensino. Para o ensino da língua materna ou estrangeira, 
a partir de minha Gramática do sentido e da expressão²2, 
2 De onde uma parte foi adaptada para o português por uma equipe de pro-
fessores da UFRJ e da UFMG, sob o título de Linguagem e discurso: modosde organização. (Contexto, 2008).
PATRICK CHARAUDEAU
23
 a condição de não se aplicar sistematicamente, mas de se 
inspirar para certas explicações. Quanto ao ensino de análise 
do discurso, trata-se de sensibilizar os estudantes a tudo o que 
está em jogo quando se fala ou se escreve, de forma que eles 
tomem consciência do que implica comunicar-se com o outro. 
9) A quais avanços da Semiolinguística na contemporanei-
dade daria destaque e como vê os desafios de seu futuro?
Vejo de maneira negativa aquele ou aquela que afirma 
poder dizer como será o futuro nesse mundo cheio de trans-
formações. As perspectivas não são animadoras. Sobre a 
interdisciplinaridade, primeiramente, porque, apesar das 
grandes declarações, a tendência atual das disciplinas das 
ciências humanas e sociais – e mesmo no interior de uma 
mesma disciplina entre diversas correntes – é de se fechar 
sobre si mesma para defender seu território, ignorando o 
aporte das outras. Isso é, particularmente, visto nos estudos 
sobre a política em que reina a ciência política. Seria necessário 
que se fizessem colóquios que confrontassem a sociologia, a 
psicologia social, a antropologia e as ciências da linguagem.
Em seguida, sobre o que se chama o posicionamento do 
pesquisador. Há, atualmente, uma tendência de confundir a 
posição militante com a posição do pesquisador. Cada uma 
PATRICK CHARAUDEAU
24
dessas posições tem sua razão de ser, mas cada uma funciona 
de acordo com condições que lhe são próprias. Confundir 
as duas posições é danoso para a pesquisa porque esta perde 
em credibilidade e se afasta de sua missão, que é de prestar 
conta dos fenômenos da sociedade de forma mais rigorosa 
e objetiva possível. 
10) Que leituras você indicaria para quem está iniciando 
seus estudos na Semiolinguística? 
Parece-me que, a cada ensinamento, é necessário fazer 
uma seleção. Para isso, recomendo o exposto no Dicionário 
de Análise do Discurso³3
Tradução: Lúcia Helena Martins Gouvêa, Maria Aparecida 
Lino Pauliukonis, Rosane Santos Mauro Monnerat.
3 CHARAUDEAU, Patrick; MAINGUENEAU, Dominique. Dicionário de 
Análise do Discurso. São Paulo: Contexto, 2004.
25
PATRICK CHARAUDEAU
Université Paris 13, CNRS
1) Como você chegou à Teoria Semiolinguística? Quais 
autores lhe serviram de inspiração?
Je fais partie d’une génération qui a eu la chance de voir 
arriver à Paris, pendant mes études, tous les spécialistes d’une 
linguistique naissante qu’on appelait la linguistique : Bernard 
Pottier pour la sémantique, Antoine Culioli pour l’énonciation, 
Jean-Claude Chevalier pour l’histoire de la grammaire, André 
Martinet pour le fonctionnalisme, etc. Et j’ai donc étudié 
les différents aspects des langues (phonétique-phonologie, 
morphologie, syntaxe, sémantique) du point de vue de la 
linguistique structurale.
Puis sont arrivées la linguistique générative, la sociolin-
guistique et la pragmatique avec la théorie des actes de parole.
PATRICK CHARAUDEAU
26
Parallèlement, j’ai suivi des cours de sémiotique, avec 
Algirdas Greimas, Gérard Genette, Roland Barthes, Umberto 
Eco, etc., et les leçons de philosophie de Michel Foucault au 
Collège de France.
J’étais donc plongé dans un bain linguistique et sémio-
tique, ce qui m’a amené à faire une thèse de doctorat d’État 
reliant des faits de langue à des faits sémiotiques de discours, 
d’où l’idée d’une « sémio-linguistique »
2) Quais de suas produções em revistas e/ou em livros 
impressos ou eletrônicos você destacaria?
Il ne m’est pas possible de faire un choix, car j’ai cherché 
— et je continue de le faire — à appliquer ce mode d’analyse 
à divers objets : essentiellement, le discours d’information 
médiatique, le discours politique, le discours publicitaire, le 
discours humoristique, le discours didactique, le discours de 
la politesse, le discours de la violence verbale, etc.
Parallèlement, j’ai écrit sur des notions particulières : 
les genres discursifs, le contrat de communication, le sujet du 
discours, la persuasion dans une perspective discursive, les 
controverses et la polémique, la manipulation, la compétence 
langagière, etc. Ces différentes activités d’écriture s’enrichis-
sent mutuellement : les écrits sur les notions enrichissant les 
PATRICK CHARAUDEAU
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analyses d’objets discursifs, les analyses d’objets discursifs 
enrichissant les notions.
Tout cela se trouve dans les publications qui apparaissent 
dans mon site (<patrick-charaudeau.com>).
3) Considerando a Semiolinguística como Ciência, quais 
são os seus procedimentos metodológicos e suas principais 
categorias analíticas? E como se relacionam os conceitos 
de contrato de comunicação, visadas discursivas e gêneros 
textual-discursivos?
Le concept central est celui de contrat de communication 
que parfois j’appelle contrat de parole. Autour de celui-ci 
gravite le sujet de parole qui est l’ordonnateur de la mise en 
scène énonciative du discours en employant certaines stratégies 
discursives (de légitimation, crédibilité et captation).
Le contrat de communication renvoie lui-même au concept 
de situation de communication, avec ses différentes composan-
tes : l’identité des sujets, les visées discursives et les circonstances 
de communication. Il constitue ce qui oriente et donne du 
sens à l’acte de communication. Il est donc déterminant pour 
toute analyse du discours en situation.
L’identité des sujets est définie selon la perspective 
d’un dédoublement : le sujet parlant se dédouble en sujet 
PATRICK CHARAUDEAU
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communiquant et sujet énonçant (énonciateur) ; le sujet 
récepteur se dédouble en sujet destinataire et sujet interprétant, 
ce qui explique qu’il y ait asymétrie entre le processus de 
production de l’acte de langage et le processus d’interprétation, 
la visée discursive (ou intention), ne correspondant pas en 
tout point à l’effet produit (ou interprétation). Et donc le sens 
de tout acte de langage est le résultat d’une rencontre, d’une 
coconstruction.
Les visées discursives constituent la finalité discursive 
du contrat de communication. Le fait que le contrat de 
communication politique ait comme finalité discursive une 
visée d’incitation à faire et à croire ; le fait que le contrat de 
communication médiatique ait pour visée discursive un 
faire savoir ; le fait que le discours didactique ait pour visée 
discursive un faire savoir faire ; etc.
Les circonstances de communication, elles, se définissent 
selon diverses composantes qui constituent le dispositif dans 
lequel se déroule l’acte de langage. Il s’agit des éléments maté-
riels qui déterminent le cadre de la communication : le nombre 
de participants, leur disposition, la relation qu’ils entretiennent 
(de proximité, à distance, interpersonnelle, collective), la forme 
de parole qu’ils emploient (oral/écrit), le support matériel 
qu’ils utilisent (direct, audio-oral, audio-visuel), etc.
PATRICK CHARAUDEAU
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C’est cet ensemble, autour du contrat de communica-
tion qui détermine, dans une première approximation, le 
genre de discours. Ainsi pourra-t-on parler de contrat de 
communication politique, publicitaire, didactique, etc., ou 
de genre politique, publicitaire didactique. Et c’est en même 
temps ce contrat qui donne des instructions discursives aux 
sujets locuteur pour mettre en scène son acte de langage et 
au récepteur pour interpréter.
4) Em que se aproximam e se distanciam os seus conceitos 
de imaginários sociodiscursivos e representações sociais 
do conceito de ideologia abordado por outras teorias da 
análise do discurso?
Ce processus de mise en scène discursive fonctionne au 
service de contenus de pensées que j’appelle les imaginaires 
sociodiscursifs, en réutilisant les notions employées en socio-
logie (Castoriadis) et psychologie sociale (Moscovici). 
J’ai expliqué dans mon livre Le discours politique. Les mas-
ques du pouvoir (Lambert-Lucas), les raisons pour lesquelles 
je préfère cette dénomination à celle d’idéologie. La première 
est que le terme d’idéologie a reçudiverses définitions depuis 
celle, fondatrice de Destutt de Tracy, en passant par Marx et les 
critiques qui en ont été faites ; et puis parce qu’il est employé 
PATRICK CHARAUDEAU
30
chaque fois que l’on veut critiquer une pensée. Autrement 
dit, l’idéologie est toujours celle de l’autre, du camp adverse.
Je ne nie pas que l’idéologie existe, mais je la réserve 
au cas où l’imaginaire social devient un système de pensée 
fermé sur lui-même, quel que soit la valeur qui est concernée. 
Ainsi, cela me permet de montrer, aussi bien ce que sont les 
matrices du discours idéologique de droite et de gauche, ce 
qu’est l’idéologie de dramatisation du discours d’information 
médiatique.
5) A teoria dos sujeitos é fundamental para a Semiolinguística. 
Que relação se pode estabelecer entre a teoria dos sujeitos e 
os conceitos de ethos e pathos da Retórica Clássica?
La relation entre la théorie des sujets et les notions d’ethos et 
pathos de la rhétorique se fait à travers les stratégies discursives. 
Le sujet parlant, conscient qu’il est des déterminations du 
contrat de communication, s’emploie, à partir de celles-ci, à 
se faire comprendre de son interlocuteur (qu’il soit individuel 
ou collectif), à le persuader, à le séduire, pour le meilleur 
(connivence) ou le pire (manipulation). 
Pour ce faire, il doit satisfaire à deux conditions: être 
crédible et avoir un impact sur l’interlocuteur. La première 
condition l’amène à construire de lui-même une image de 
PATRICK CHARAUDEAU
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personne en qui l’on doit croire, soit de façon rationnelle 
(référence de savoir), soit de façon irrationnelle (charisme). Il 
s’agit là de l’ethos, à travers des stratégies de crédibilité. Pour 
le discours politique, elles ont été décrite dans l’ouvrage de 
ce nom.
Mais le sujet doit également s’employer à faire en sorte 
que l’interlocuteur (individuel ou collectif) soit capté par son 
discours. Et l’un des meilleurs moyens de le capter est d’avoir 
recours à un discours émotionnel de façon à ce que celui-ci 
adhère de façon immédiate et spontanée au discours du sujet 
parlant. Il s’agit alors du pathos, à travers des stratégies de 
captation.
6) Quais são as preocupações específicas da Semiolinguística 
que a diferenciam de outras teorias do texto?
Il faut d’abord accepter que dans le champs d’une disci-
pline les différents courants d’analyse, s’ils ont chacun une 
spécificité, et si parfois ils s’opposent, se trouvent en réalité 
en complémentarité. Aucun d’eux ne peut prétendre rendre 
compte de la totalité d’un phénomène, mais en revanche, 
chacun apporte un éclairage particulier. Comme d’autres 
courants d’analyse, la sémiolinguistique cherche à relier les 
marques linguistiques avec les faits de discours. Parfois, elle 
PATRICK CHARAUDEAU
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poursuit un même objectif avec une terminologie différente. 
Par exemple, s’appuyant elle-même sur la théorie de l’énon-
ciation, la sémiolinguistique porte son regard sur les effets 
d’influence des actes de langage, leur orientation vers l’inter-
locuteur, comme le fait la pragmatique avec un autre langage, 
celui des actes de paroles. Mais c’est la même orientation.
Je dirai que ce qu’apporte la sémiolinguistique est un 
aspect plus communicationnel, de par les concepts centraux 
de dédoublement des sujets, de contrat de communication et 
de stratégie discursive. En effet l’hypothèse qui sous-tend ce 
modèle est que les imaginaires sociaux (et l’idéologie qui 
s’y trouve) dépendent de tout l’appareillage de la mise en 
scène communicative. Cela évite d’essentialiser les catégories 
idéologiques. Par exemple, si l’on veut analyser les discours 
de violence verbale, on ne peut le faire de façon globale. Il 
faut d’abord déterminer les situations et les contrats qui leur 
correspondent pour pouvoir déterminer si tel acte de langage 
correspond à une violence.
PATRICK CHARAUDEAU
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7) Pesquisar implica não só ter o conhecimento de conceitos 
e de procedimentos analíticos, mas também saber as possi-
bilidades de seu campo de investigação. Poderia ressaltar 
delimitações, bem como interfaces da Semiolinguística?
C’est juste, mais cette question renvoie à celle de l’inter-
disciplinarité. J’ai écrit sur cette question qui a suscité un 
débat intéressant dans la revue Questions de communica-
tion (2010, n° 17), dans lequel je propose l’idée de ce que j’ai 
appelé une « interdisciplinarité focalisée ». Il s’agit en effet 
de ne pas se contenter d’accumuler des points de vue de 
disciplines différentes sur un même sujet, comme on le fait 
dans diverses publications (ce qui a cependant son utilité), 
il s’agit d’interroger les notions et concepts que l’on trouve 
dans différentes disciplines des sciences humaines et sociales 
(sujet, norme, stratégie, représentation, etc.) pour prendre la 
mesure des différences et des ressemblances, afin d’enrichir 
les définitions de chaque discipline.
Ainsi le compagnonnage entre les disciplines permettra 
d’établir une véritable interdisciplinarité.
PATRICK CHARAUDEAU
34
8) Dos resultados de seus trabalhos, seria possível indicar 
contribuições para o ensino?
L’enseignement a toujours été une de mes préoccupations, 
car il ne suffit pas d’être un chercheur, il faut aussi savoir le 
transmettre. Or, transmettre le savoir à des étudiants qui 
ne possèdent pas le même savoir a ses propres exigences. 
On ne peut se contenter de d’exposer une analyse comme 
on le ferait en présence d’autres chercheurs, en présence de 
ses pairs. Il y faut un travail de transposition du savoir à des 
fins explicatives qui entraîne des choix et des formulations 
adaptées au public.
Pendant un temps, je me suis occupé de didactique de 
l’enseignement des langues, et je peux dire que bien des aspects 
de mes travaux peuvent avoir une utilité pour l’enseignement. 
Pour l’enseignement de la langue maternelle ou étrangère, à 
partir de ma Grammaire du sens et de l’expression44, à con-
dition de ne pas l’appliquer systématiquement, mais de s’en 
inspirer pour certaines explications. Quant à l’enseignement 
de l’analyse du discours, il s’agit de sensibiliser les étudiants 
à tout ce qui est en jeu lorsque l’on parle ou écrit, de façon à 
4 Dont une partie a été adaptée au portugais par une équipe de professeurs de 
l’UFRJ et de l’UFMG, sous le titre Linguagem e discurso: modos de organização 
(Contexto,2008).
PATRICK CHARAUDEAU
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ce qu’ils prennent conscience de tout ce qu’implique com-
muniquer avec autrui.
9) A quais avanços da Semiolinguística na contemporanei-
dade daria destaque e como vê os desafios de seu futuro?
Bien malin, celui ou celle qui pourrait dire de quoi sera 
fait le futur dans ce monde qui est en pleine transformation. 
Les perspectives ne sont pas très réjouissantes. Sur l’interdis-
ciplinarité d’abord, parce que, malgré de grandes déclarations, 
la tendance actuelle des disciplines en sciences humaines et 
sociales — et même à l’intérieur d’une même disciplines entre 
divers courants — est de s’enfermer sur elles-mêmes pour 
défendre leur territoire, en ignorant l’apport des autres. Cela 
est particulièrement net dans les études sur la politique où 
règne la science politique. Il faudrait davantage de colloques 
qui fassent se confronter la sociologie, la psychologie sociale, 
l’anthropologie et les sciences du langage.
Ensuite, sur ce que l’on appelle le positionnement du cher-
cheur. Il y a en effet, dans l’actualité, une tendance à confondre 
la position militante avec la position de chercheur. Chacune 
de ces positions a sa raison d’être, mais chacune fonctionne 
selon des conditions qui lui sont propres. Confondre ces deux 
positions est dommageable pour la recherche car celle-ci perd 
PATRICK CHARAUDEAU
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en crédibilité et déroge à sa mission qui est de rendre compte 
des phénomènes de société de la façon la plus rigoureuse et 
objective possible.
10) Que leituras você indicaria para quem está iniciando 
seus estudos na Semiolinguística?
C’est, me semble-t-il, à chaque enseignant de faire sasélection, en s’aidant du Dictionnaire d’analyse du discours55
5 Dicionário de análise do discurso (Contexto).
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AMANDA HEIDERICH MARCHON 
Universidade Federal do Espírito Santo - UFES
1) Como você chegou à Teoria Semiolinguística? Quais 
autores lhe serviram de inspiração?
Tive a oportunidade de conhecer a Teoria Semiolinguística 
em uma disciplina da pós-graduação, na UFRJ, ministrada 
pela Professora Doutora Maria Aparecida Lino Pauliukonis, 
minha orientadora de mestrado e de doutorado e minha 
grande inspiração na carreira acadêmica. Os autores basilares 
para o desenvolvimento de minhas pesquisas foram, além 
do próprio Patrick Charaudeau e da própria Aparecida Lino 
Pauliukonis, Lúcia Helena Martins Gouvêa, com textos acerca 
da argumentação, e Rosane Monnerat, com propostas de 
análise de textos imagéticos.
AMANDA HEIDERICH MARCHON
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2) Quais de suas produções em revistas e/ou em livros 
impressos ou eletrônicos você destacaria?
Recentemente, comecei a associar a Teoria Semiolinguística 
à análise de imagens em textos midiáticos. Nesse sentido, 
destaco artigo intitulado “Argumentação multimodal: 
uma proposta metodológica”, escrito em parceria com o 
Professor Welton Pereira e Silva (UFF), publicado na Revista 
Acta Scientiarum, em 2021, em que conjugamos proposta 
de Santaella (2012) e de Kress & van Leeuwen (2006) sobre 
índices imagéticos ao Modo de Organização Argumentativo 
do Discurso, conforme Charaudeau (2009). Nesse trabalho, 
buscamos demonstrar que a dimensão argumentativa de 
um texto pode ser engendrada pelo emprego estratégico de 
diferentes modalidades, apresentando uma perspectiva teórica 
e metodológica para a análise de textos argumentativos mul-
timodais. Em outro artigo, publicado na Revista (Con)Textos 
Linguísticos, em 2021, produzido em parceria com Professor 
Carlos Eduardo Nunes Garcia (CEFET-MG), seguindo a 
mesma proposta de interface teórica, buscamos descrever a 
mecânica argumentativa constitutiva do gênero meme, a fim 
de mostrarmos como o enunciador pode valer-se do emprego 
de palavras e imagens para agir sobre o enunciatário. 
AMANDA HEIDERICH MARCHON
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3) Considerando a Semiolinguística como Ciência, quais 
são os seus procedimentos metodológicos e suas principais 
categorias analíticas?
A Semiolinguística, como disciplina integrante do con-
junto das ciências da linguagem, tem como principais cate-
gorias analíticas o sentido de língua e o sentido de discurso, 
buscando analisar componentes internos (espaços de locução, 
relação e tematização) e externos (aspectos situacionais e 
psicossociais) do ato comunicativo. Em termos metodológicos, 
o semiolinguista debruça-se sobre corpora de dados reais 
da língua em uso, levando em conta o recorte genérico e 
situacional para empreender análises comparativas.
4) Quais são as preocupações específicas da Semiolinguística 
que a diferenciam de outras teorias do texto?
Talvez, uma das principais diferenças entre a Teoria 
Semiolinguística e outras teorias do discurso esteja na forma 
como se concebe a figura do sujeito da linguagem. Para 
Pêcheux, por exemplo, o sujeito do discurso é regido pelo 
inconsciente e pela ideologia, sendo um sujeito assujeitado, 
descentralizado, afetado pelo real da língua e pelo real da 
história. Charaudeau não desconsidera que o sujeito seja 
condicionado pela sociedade e pela cultura, todavia, defende 
AMANDA HEIDERICH MARCHON
40
que o lado psicossocial-situacional garante a esse sujeito traços 
de individualidade que o tornam responsável por seus atos 
– de acordo com Machado (2001), para a Semiolinguística, o 
sujeito não é nem completamente social, nem completamente 
coletivo, mas um amálgama dos dois. Além disso, cumpre 
ressaltar o destaque que a Semiolinguística confere ao material 
linguístico – para Charaudeau, esse material linguageiro é, 
ao mesmo tempo, representação e parte da realidade – e aos 
elementos internos e externos que constituem a situação de 
comunicação – algumas teorias do texto focalizam menos 
dados externos à superfície textual.
5) Pesquisar implica não só ter o conhecimento de conceitos 
e de procedimentos analíticos, mas também saber as possi-
bilidades de seu campo de investigação. Poderia ressaltar 
delimitações, bem como interfaces da Semiolinguística?
Considerando-se a interdisciplinaridade característica da 
Semiolinguística, as possibilidades de interfaces teóricas são 
numerosas. Em minha pesquisa de doutorado, por exemplo, 
propus a associação de pressupostos da Semiolinguística e 
conceitos do Funcionalismo Clássico, para defender a tese 
de que o emprego de orações adverbiais atua na organização 
argumentativa do discurso. Nesse sentido, considerarei não 
só o nível microtextual, pautado nas orações e nos conectores 
AMANDA HEIDERICH MARCHON
41
que as introduzem, mas também o nível macrotextual, que 
representa o imaginário sociodiscursivo do enunciador frente 
aos questionamentos sobre o mundo. Ainda no campo dos 
estudos da argumentação, atualmente, tenho me dedicado ao 
estudo do emprego de índices imagéticos na construção da 
dimensão argumentativa do discurso. Para isso, proponho a 
interface entre a Semiolinguística e a Gramática do Design 
Visual, de Kress e van Leeuwen (1996), bem como nas pro-
postas semióticas de Santaella (2012). 
6) Dos resultados de seus trabalhos, seria possível indicar 
contribuições para o ensino?
Embora não trabalhe diretamente com questões relaciona-
das ao ensino, acredito que meus trabalhos sobre o emprego 
de orações adverbiais na tessitura da argumentação, de certa 
forma, podem contribuir para o desenvolvimento de ativida-
des de produção textual. Quanto às pesquisas mais recentes 
acerca da análise da associação entre palavra e imagem, creio 
que, talvez, elas possam contribuir para instrumentalizar o 
professor a trabalhar com textos que apresentam múltiplas 
semioses. Ao procurar tecer considerações sobre a forma 
como a relação entre diferentes semioses em textos argu-
mentativos é determinante para que os efeitos de discurso 
sejam efetivamente compreendidos pelo leitor, meus estudos 
AMANDA HEIDERICH MARCHON
42
vão ao encontro da ampliação proposta pela Base Nacional 
Comum Curricular (BNCC), a qual propõe a passagem do 
eixo de análise linguística para a análise linguística/semiótica, 
recomendando o trabalho com o despertar do senso crítico 
dos alunos da educação básica.
7) A quais avanços da Semiolinguística na contemporanei-
dade daria destaque e como vê os desafios de seu futuro?
Acredito que uma grande contribuição da Semiolinguística 
aos estudos da linguagem seja a proposta de conceber o ato 
comunicativo como encenação condicionado por um contrato 
de comunicação, considerando tanto a perspectiva da pro-
dução quanto a perspectiva da interpretação. Nesse sentido, 
Charaudeau propõe um desdobramento dos lugares enun-
ciativos, que passam a ser realizados por quatro sujeitos, não 
apenas por dois, como na teoria da comunicação de Roman 
Jakobson. Além disso, destaco que pesquisas semiolinguísticas 
têm se preocupado em demonstrar que argumentos capazes 
de fazer com que o interlocutor experiencie determinada 
emoção também podem ser objeto de investigação no âmbito 
dos estudos do discurso – algumas teorias, embora reco-
nheçam que a mobilização das emoções possa figurar na 
prática argumentativa, sugerem que essa mobilização pode 
influenciar o raciocínio de modo equivocado. Evidentemente, 
AMANDA HEIDERICH MARCHON
43
trabalhos sobre o pathos enfrentam alguns limites, uma vez 
que a Semiolinguística não dispõe de instrumental teóri-
co-metodológico para analisar as emoções experienciadas 
pelo interlocutor, apenas as visadas pelo enunciador. Outro 
desafio que se impõe aos semiolinguistas diz respeito às 
especificidades dos discursos que circulam em ambientes 
digitais, discursos esses que exigem abordagens distintas, 
uma vez que enunciadores humanos e não humanos atuam 
em conjunto, conforme explica Paveau (2021).
 
8) Que leiturasvocê indicaria para quem está iniciando 
seus estudos na Semiolinguística? 
Para pesquisadores que estão iniciando seus estudos 
na Teoria Semiolinguística do Discurso, indicaria a leitura 
do livro Linguagem e discurso: modos de organização, de 
Patrick Charaudeau (2008), em que conceitos basilares da 
teoria são apresentados, como as noções de “contrato de 
comunicação” e de “modos de organização do discurso”. 
Pensando na possibilidade de aplicação de pressupostos da 
Semiolinguística ao trabalho de professores da educação 
básica, o livro Semiolinguística aplicada ao ensino, organizado 
por Glayci Xavier, Ilana Rebelo e Rosane Monnerat (2021), 
apresenta exemplos de análise de gêneros diversos, além de 
AMANDA HEIDERICH MARCHON
44
propostas de exercícios para aplicação nas aulas de Língua 
Portuguesa.
9) De que maneira a noção de contrato de comunicação – 
um conceito básico da Semiolinguística – orienta a troca 
comunicativa?
Alicerçada em postulados bakhtinianos de dialogismo 
e de alteridade, segundo os quais a linguagem é vista como 
um constante processo de interação mediado pelo diálogo, a 
Semiolinguística considera que toda situação de comunicação 
é regulada por um contrato de comunicação – regras que 
determinam tanto os comportamentos linguístico-discursivos 
como também os sociointeracionais. A noção de contrato 
proposta por Charaudeau (2009), ao levar em conta tanto 
a relação social de reconhecimento entre os interlocutores 
quanto a codificação discursiva que é própria ao contexto 
sociocultural da interação social, aproxima-se, de certo modo, 
do conceito de gênero discursivo postulado por Bakhtin: 
“tipos relativamente estáveis de enunciados”. A relativa esta-
bilidade pode ser associada à codificação do discurso, já que 
os enunciados nascem da/e na interação entre os sujeitos 
envolvidos no ato comunicativo. Nesse sentido, o contrato de 
comunicação delimita e permite prever expectativas do ato 
comunicativo – o contrato, além de fornecer as regras do que 
AMANDA HEIDERICH MARCHON
45
pode e deve ser dito, também abre espaço para que o sujeito 
empregue estratégias variadas para alcançar o seu objetivo.
10) Como se pode relacionar o conceito de imaginários 
sociodiscursivos, defendido pela Semiolinguística, com a 
construção do ethos e/ou pathos dos enunciadores?
Para Aristóteles (2005), as provas retóricas são de três 
espécies: (i) as provas baseadas no ethos estão relacionadas com 
a imagem de si que o enunciador projeta em seu discurso; (ii) 
as provas com base no pathos estão centralizadas na emoção 
que o enunciador, por meio do discurso, quer suscitar no 
outro; (iii) as provas relacionadas ao logos têm relação com a 
manifestação da razão no discurso, pelo que este demonstra ou 
parece demonstrar. Amparado nesses conceitos aristotélicos, 
a Semiolinguística também elege o ethos e o pathos como 
categorias de análise. Em termos analíticos, a investigação de 
marcas da enunciação permite que o semiolinguista delineie 
o ethos do enunciador; no que tange, porém, à investigação 
do pathos, a teoria não dispõe de métodos para descrever as 
emoções efetivamente despertadas no interlocutor, razão que 
leva Charaudeau a abordar a mobilização das emoções como 
uma categoria de efeito visado pelo enunciador na construção 
de seu discurso. No que se refere à construção do ethos e à 
mobilização do pathos no momento da troca linguageira, 
AMANDA HEIDERICH MARCHON
46
ambas são dependentes dos imaginários sociodiscursivos 
embasados em saberes de crença e de conhecimento. Em 
outras palavras, os imaginários sociodiscursivos dos partici-
pantes do ato comunicativo precisam ser compartilhados para 
que enunciador e enunciatário construam o mesmo ethos e 
mobilizem os mesmos efeitos de pathos. Silva (2020) destaca 
que as emoções são experienciadas de maneira diversa por 
indivíduos diferentes, visto que eles apresentam sistemas de 
crença diferenciados.
11) Tendo em vista os desdobramentos da instância subjetiva 
em sujeitos sociais e discursivos da Semiolinguística, qual é 
a funcionalidade desses conceitos para os estudos do texto 
e do discurso?
De acordo com a Semiolinguística, no ato comunicativo, 
o enunciador, regido por um contrato de comunicação, apro-
pria-se da língua e a transforma em discurso, tendo um inter-
locutor como parâmetro. Desse processo, fazem parte quatro 
sujeitos, a saber: o sujeito comunicante (EUc), ser empírico que 
lança e engendra um projeto discursivo; o sujeito enunciador 
(EUe), ser discursivo projetado pelo sujeito comunicante; o 
sujeito destinatário (TUd), relativo à imagem que o sujeito 
comunicante faz de seu interlocutor; e o sujeito interpretante 
(TUi), também empírico, sendo entendido como o interlocutor 
AMANDA HEIDERICH MARCHON
47
propriamente dito. Os sujeitos empíricos ocupam o “espaço 
do fazer”; os sujeitos discursivos situam-se no “espaço do 
dizer”. Como a Semiolinguística concebe o ato comunica-
tivo como uma encenação, um jogo de imagens criadas no 
e pelo discurso, interessa ao analista investigar elementos 
linguístico-discursivos que desvelam os sujeitos discursivos, 
acessados, pois, pelas marcas de enunciação – sobre os seres 
sociais e empíricos não se pode fazer conjecturas por não 
serem passíveis de análise pelos parâmetros metodológicos 
delineados pela Teoria Semiolinguística.
48
BEATRIZ DOS SANTOS FERES 
Universidade Federal Fluminense - UFF
1) Como você chegou à Teoria Semiolinguística? Quais 
autores lhe serviram de inspiração?
A Teoria Semiolinguística foi a mim apresentada pela 
professora Rosane Monnerat, em 2001, quando assumiu a 
orientação de minha dissertação de mestrado (A escola faz 
questão de leitores autônomos ou autômatos?), no Programa 
de Pós-Graduação em Letras da UFF. Eu havia feito um curso 
sobre Linguística Textual ministrado por ela e expressei meu 
desejo de desenvolver uma pesquisa relacionada à inter-
pretação de textos na escola básica. A Semiolinguística foi 
fundamental para o entendimento do processo de construção 
de sentido. Além disso, foi muito proveitoso, teoricamente, 
iniciar na teoria já fazendo uma interface com a Linguística 
Textual. O livro Linguagem e discurso: modos de organização, 
BEATRIZ DOS SANTOS FERES
49
de Patrick Charaudeau, não havia sido publicado no Brasil (a 
primeira edição é de 2008), então, os primeiros artigos que 
li ou eram em francês, do próprio Charaudeau, ou eram os 
divulgados pelo NAD (Núcleo de Análise do Discurso) da 
UFMG, alguns escritos por Ida Lúcia Machado, por exemplo.
2) Quais de suas produções em revistas e/ou em livros 
impressos ou eletrônicos você destacaria?
Do início de minha atuação como pesquisadora, destaco o 
livro Leitura, fruição e ensino: com os meninos de Ziraldo,(2011, 
EDUFF), que é uma adaptação de minha pesquisa de dou-
torado (Competências para l/ver Ziraldo: subsídios teóricos 
para formação de leitores), realizada no Programa de Pós-
Graduação em Letras da UFF, também sob orientação de 
Rosane Monnerat. Nela, a semiótica peirciana foi utilizada 
em interface com a Semiolinguística, base teórica principal, 
para tratar (também) da semiose imagética e do conceito de 
fruição. 
Já como professora e pesquisadora da UFF, organizei 
algumas coletâneas, das quais destaco Análises de um mundo 
significado: a visão semiolinguística do discurso, em conjunto 
com Rosane, publicado igualmente pela EdUFF (FERES; 
MONNERAT, 2017). Nesse livro, o capítulo “A encenação 
BEATRIZ DOS SANTOS FERES
50
descritiva em livros ilustrados para crianças: marcas de um 
discurso formativo”, escrito por mim, também guarda forte 
relação com o processo leitor e com a escola. Nesse texto, o 
modo descritivo de organização do discurso (CHARAUDEAU, 
2008) é observado na semiose verbo-visual e, portanto, no 
funcionamento do signo imagético também, em sua consti-
tuição motivada, menos arbitrária do que a do signo verbal. 
Mais recentemente, em 2021, no livro Semiolinguística 
Aplicada ao Ensino, organizadopor Rosane, Glayci Xavier 
(minha primeira orientanda de doutorado e, atualmente, 
professora da UFF) e Ilana Rebello (também professora da 
UFF, que foi minha aluna na escola pública há muitos anos), 
publicado pela Editora Contexto, também há um capítulo ela-
borado por mim: “Da interpretação à compreensão de textos”. 
Mais uma vez, o interesse pelo processo leitor desenvolvido 
na/pela escola é central no trabalho. 
Há vários artigos publicados em coautoria e individual-
mente que gostaria de destacar, mas, devido ao limite desta 
resposta, menciono alguns bem recentes, publicados em 
2021, em plena pandemia: “A mulher por ela mesma em 
três clipes brasileiros: uma análise semiodiscursiva”, em 
coautoria com Rosane, publicado na Revista de Estudos do 
Discurso, do Porto (Portugal); “Análise do discurso amoroso 
em contos ilustrados: uma contribuição para a sociologia das 
BEATRIZ DOS SANTOS FERES
51
emergências”, publicado na Revista Gragoatá, do Programa de 
Pós-Graduação em Estudos da Linguagem da UFF, relacionado 
à minha pesquisa de pós-doutoramento supervisionada pela 
Professora Regina Michelli (UERJ); além de “Rostos, afetos 
e intencionalidade: análise semiolinguística de marcas da 
pandemia”, em coautoria com Rosane (novamente) e Patrícia 
Ribeiro, publicado na Revista Linha D’água. De 2020, destaco 
“Implícitos codificados e a representação da mulher em textos 
verbo-visuais”, publicado na Revista Matraga, em que revisito 
o conceito de implícito codificado proposto por Charaudeau, e 
“Mimimi de mulher em ‘memes’: referenciação, estereotipagem 
e reenunciação”, publicado na Revista Gragoatá, que escrevi 
em coautoria com Patrícia, Rosane e Ilana. 
Todos esses artigos são fruto de muita discussão rea-
lizada, principalmente, junto ao Grupo de Pesquisa em 
Semiolinguística: Leitura, Fruição e Ensino (CNPq/UFF). 
São produtos que, por meio da investigação sobre a relação 
entre linguagem e sociedade, revelam como a realidade é 
pensada e avaliada e, portanto, imbuem-se não só do propósito 
característico dos estudos sobre texto e discurso, mas, sobre-
tudo, de um compromisso com a resistência a imaginários 
sociais bastante cristalizados e, quase sempre, preconceituosos 
e segregadores, manifestos ordinariamente nas interações 
sociais. 
BEATRIZ DOS SANTOS FERES
52
3) Considerando a Semiolinguística como Ciência, quais 
são os seus procedimentos metodológicos e suas principais 
categorias analíticas?
As pesquisas filiadas à Semiolinguística realizam-se a 
partir de análises qualitativas, preferencialmente com cor-
pora cujos elementos se organizam em comparação ou em 
contraste, mais sincrônica do que diacronicamente. Os textos 
para análise não se apresentam “ensimesmados”, mas “discur-
sivizados”, isto é, embebidos nas circunstâncias em que são 
enunciados e nos saberes partilhados pelos interagentes das 
trocas comunicativas. As categorias analíticas fundamentais, 
então, ligam-se ao discurso, ao contrato de comunicação, 
aos sujeitos da linguagem, aos imaginários sociodiscursivos 
e, no nível da materialidade textual, aos modos de organi-
zação do discurso: o enunciativo, o descritivo, o narrativo e 
o argumentativo.
4) Quais são as preocupações específicas da Semiolinguística 
que a diferenciam de outras teorias do texto?
Em primeiro lugar, destaco a preocupação com o vín-
culo entre a linguagem e as circunstâncias comunicativas, 
incluindo, no nível situacional de construção de sentido, 
os sujeitos da linguagem, nem totalmente subjugados pelas 
BEATRIZ DOS SANTOS FERES
53
ideologias, nem totalmente livres para dizer e agir, já que reféns 
dos rituais de interação partilhados pelos grupos sociais. São 
sujeitos que interagem durante o processo comunicativo, em 
um processo de influência mútua. Esse aspecto mostra-se 
bastante relevante nas pesquisas de base semiolinguística. 
Segundo essa teoria, o que determina efetivamente o sentido 
de um texto é a situação em que se dá a troca – fato que inclui 
os sujeitos interagentes, seus papéis sociais, as identidades 
sociodiscursivas, as maneiras de dizer carregadas de implí-
citos codificados, os ambientes da troca, os imaginários, 
enfim, dados externos aos textos, responsáveis pelo burilar 
dos sentidos, seja na implicitação operada pelo produtor do 
texto, seja nas inferências realizadas pelo “interpretador”. Em 
relação ao tratamento das línguas naturais, a Semiolinguística 
apresenta um arcabouço teórico que permite transpor os 
limites do sistema linguístico (e suas categorias de língua) 
para se chegar ao discurso, aos aspectos que circundam as 
escolhas textuais e que especificam os sentidos atribuídos aos 
signos sob determinadas condições de uso (isto é, alcançando 
as categorias de discurso). É uma teoria de texto, portanto, 
essencialmente discursiva, que privilegia as circunstâncias 
enunciativas.
Em segundo lugar, não se pode omitir a importância dos 
imaginários sociodiscursivos nas análises propiciadas pela 
BEATRIZ DOS SANTOS FERES
54
Semiolinguística. Nos imaginários, estão reunidos saberes 
variados, mais ou menos comprováveis, que, em grande 
medida, são responsáveis pelo acionamento do interdiscurso 
na implicitação de sentidos. Sendo uma teoria preocupada 
com a relação entre forma e conteúdo, mas uma relação imersa 
em dados psicossociais próprios do processo comunicativo, 
a força dos imaginários tem sido fartamente explorada nas 
análises.
5) Pesquisar implica não só ter o conhecimento de conceitos 
e de procedimentos analíticos, mas também saber as possi-
bilidades de seu campo de investigação. Poderia ressaltar 
delimitações, bem como interfaces da Semiolinguística?
A delimitação frequentemente exposta nos textos de 
Charaudeau diz respeito ao papel desempenhado pelo analista 
do discurso: partindo sempre daquilo que é materializado 
nos textos, isto é, da forma em sua inexorável relação com 
os dados circunstanciais e interdiscursivos, os sentidos não 
ditos, mas latentes, podem ser detectados e auferidos. Desse 
modo, flagram-se identidades, estereótipos, preconceitos, 
opressões sociais, manipulação ideológica. O objeto de estudo 
da Semiolinguística é o discurso que subjaz a um texto. 
BEATRIZ DOS SANTOS FERES
55
Muitas vezes, somos questionados a respeito dos limi-
tes entre Semiolinguística e Linguística de Texto. Alguns 
conceitos presentes nas análises filiadas a ambas as teorias 
são comuns e bastante relevantes, cada um refletindo seu 
modo de análise. Costumo explicar que a diferença mais 
aparente reside no foco de investigação de cada uma dessas 
teorias: para a Semiolinguística, o discurso, a mise-en-scène 
que produz os sentidos de um texto e justifica a organização 
de sua materialidade é o que está em primeiro plano; para a 
Linguística de Texto, está em primeiro plano o texto em si, a 
materialidade significativa, embora não se possa prescindir 
do discurso, do contexto que o conforma. 
A abertura para interfaces com outras áreas do conheci-
mento, como a própria Linguística de Texto, mas também com 
a Sociologia, a Antropologia, a Filosofia, a Psicologia Social, 
a Semiótica/Semiologia, a Teoria da Literatura (em alguns 
casos), entre outras, é uma característica bastante peculiar da 
Semiolinguística. A imbricação com outros ramos do pen-
samento não só permite o aprofundamento de certos temas, 
como também abre espaço para configurações analíticas 
muito originais como, por exemplo, o tratamento discursivo 
da verbo-visualidade em si e de gêneros verbo-visuais como 
a publicidade, a charge, o meme, os quadrinhos, os livros 
ilustrados. Soma-se a isso a possibilidade de direcionar a 
BEATRIZ DOS SANTOS FERES
56
pesquisa para o campo da Educação, instrumentalizando o 
educador para o desenvolvimento da competência linguageira 
do alunado e para a criticidade.
6) Dos resultados de seus trabalhos, seria possível indicar 
contribuições para o ensino?
A maior parte de meus trabalhos é vinculada ao ensino, 
sobretudo, porque meu interesse de pesquisa maisconstante 
é o processo leitor, as estratégias utilizadas na construção de 
sentidos de um texto, que podem auxiliar no desenvolvimento 
da competência leitora – uma das mais importantes respon-
sabilidades da Escola. Também costumo dizer aos alunos que 
o analista do discurso é o leitor mais especializado que pode 
existir, portanto, o professor iniciado na Semiolinguística 
passa a dominar estratégias de leitura que não só indicam 
facilmente o caminho das inferências necessárias para uma 
interpretação competente, como também permitem avaliar 
as razões das dificuldades apresentadas pelo alunado durante 
a leitura conjunta com o mediador. 
Como exemplo de contribuição para o ensino, cito 
a aplicação do conceito de “competência de linguagem” 
(CHARAUDEAU, 2001) ao ato de ler conduzido na escola, 
assim como, a partir dele, o de “competência fruitiva” (FERES, 
BEATRIZ DOS SANTOS FERES
57
2011), desenvolvido no doutorado. Charaudeau delineava, 
à época, uma competência diretamente relacionada ao uso 
da linguagem, composta por três subcategorias, de acordo 
com os três níveis de construção de sentido de um texto: a 
semiolinguística, a discursiva e a situacional. Analisando 
quatro livros ilustrados de Ziraldo, procurei demonstrar 
que, na escola, para além de se desenvolver a capacidade 
que dota o leitor de habilidades para a construção de sen-
tidos (intelectivos), próprias da competência de linguagem, 
é preciso desenvolver também uma competência específica 
para a fruição, que recobre todas as outras, para o “sentido”, 
para o sentimento (como ato de sentir) por meio do texto. É 
uma competência vinculada à sensibilidade, às inferências 
patêmicas, orientadas pelos imaginários, mas também pela 
capacidade perceptiva do leitor.
Além disso, tenho desenvolvido vários projetos de pesquisa 
cujo objeto de estudo é o texto verbo-visual, especialmente 
os livros ilustrados (quase sempre direcionados ao público 
infantil). A leitura/interpretação da verbo-visualidade carece 
(ainda) de investigação, sobretudo quando direcionada ao 
ensino. Textos sintéticos como charges, cartuns e memes 
parecem ser subaproveitados nas atividades escolares por 
falha na formação do professor. São poucos os cursos de 
licenciatura que se preocupam com a formação de mediadores 
BEATRIZ DOS SANTOS FERES
58
de leitura com consciência do processo leitor, com domínio da 
leitura verbo-visual (para dizer o mínimo), que saibam lidar 
com a densidade de gêneros como os citados e com a leitura 
sensível de livros ilustrados, geralmente utilizados no Ensino 
Fundamental. São textos altamente complexos, exigentes de 
muitas inferências e de investimento interpretativo, ricos 
para o trabalho de mediação, porém, tomados, muitas vezes, 
simplesmente como pretexto para ensino da norma culta, 
por exemplo.
Atualmente, venho me debruçando na “análise do discurso 
amoroso”, tomando o amor como ética, como defende bell 
hooks (2020), na análise, mais uma vez, de livros ilustrados. 
Os licenciados em Letras, que atuam no Fundamental II como 
professores de Língua Portuguesa e lidam constantemente 
com leitura, literária inclusive, quase sempre terminam a 
graduação sem preparo para isso. Acredito que pesquisas vol-
tadas para o discurso verbo-visual, ou, mais especificamente, 
iconoliterário sejam mais uma contribuição para o ensino, 
para a formação de mediadores de leitura comprometidos com 
o desvendamento de textos sensíveis e, por desdobramento, 
com a promoção de uma convivência mais crítica, respeitosa 
e humana. 
BEATRIZ DOS SANTOS FERES
59
7) A quais avanços da Semiolinguística na contemporanei-
dade daria destaque e como vê os desafios de seu futuro?
No Brasil, acompanhamos muitas pesquisas voltadas 
para semioses multimodais, principalmente em ambiente 
digital, mas também para temáticas urgentes (sobretudo para 
nós, brasileiros) como o racismo estrutural, a misoginia, a 
homofobia, a violência contra a mulher, estampadas nos 
textos mais ordinários, assim como nas expressões artísticas. 
O desafio da Semiolinguística, a meu ver, é se manter como 
uma teoria voltada para análise do discurso, sem se perder 
nas interfaces. 
Também se tornam mais frequentes análises de base 
semiolinguística de textos extraídos do ambiente digital, 
mas defendo junto a meus pares tomar como desafio um 
investimento maior em relação à análise de textos ficcionais, e 
não apenas aqueles de caráter rotineiro, ordinário, igualmente 
relevantes para descortinar os imaginários e os processos de 
manipulação de massa, por exemplo. Os textos ficcionais, 
assim como aqueles que descrevem poeticamente a sociedade, 
a meu ver, precisam ganhar mais destaque nas pesquisas, 
pois, além de refletir os imaginários, apresentam importante 
poder persuasivo, por causa da fácil adesão identitária do 
“interpretador” ao projeto de sentido em função da projeção 
a que é levado a realizar. Atualmente, oriento uma tese sobre 
BEATRIZ DOS SANTOS FERES
60
a representação LGBTQIA+ nas novelas brasileiras e uma 
dissertação sobre o candomblé nos sambas de enredo. Há 
outras pesquisas sendo desenvolvidas no Brasil com propostas 
semelhantes. Ambas tratam de bens culturais de grande 
alcance social que reverberam crenças, valores, posiciona-
mentos. Trazê-los à visibilidade por meio das pesquisas é uma 
atitude que parece colaborar, de um lado, com a identificação 
de estereótipos, entre outros elementos que podem promover 
segregação social e, por outro, com a progressiva resistência 
a eles. (Outros trabalhos podem ser consultados a partir do 
site semiolinguística.uff.br.)
Penso que o maior desafio para as Ciências Humanas, 
como um todo, e para a Semiolinguística, que é nosso fer-
ramental, seja lutar por uma sociedade mais consciente de 
suas mazelas e mais crítica em relação às atitudes humanas. 
Essa é uma teoria que permite revelar o que fazemos quando 
dizemos algo e, assim, o que temos sido como humanidade.
 
8) Que leituras você indicaria para quem está iniciando 
seus estudos na Semiolinguística? 
A primeira leitura que sempre recomendo é a do livro de 
Patrick Charaudeau Linguagem e discurso: modos de organi-
zação, pois pode ser considerado, no Brasil, a melhor fonte da 
BEATRIZ DOS SANTOS FERES
61
teoria, aquela que contém pressupostos essenciais, assinada por 
aquele que postulou a teoria. Depois, claro, o Discurso político 
e o Discurso das mídias (todos publicados pela Contexto). 
Mas há também muitos artigos do próprio Charaudeau, de 
fácil acesso no site dele, como “Uma análise semiolinguística 
do texto e do discurso” (inicialmente publicado no livro Da 
língua ao discurso: reflexões para o ensino, organizado pelas 
professoras Aparecida Pauliukonis e Sigrid Gavazzi) e “Uma 
teoria dos sujeitos da linguagem” (publicado inicialmente 
pelo NAD).
Recentemente, foi lançado, pela Contexto também, o livro 
Semiolinguística aplicada ao ensino (já mencionado), fruto 
de aulas de um curso de extensão homônimo oferecido pelo 
grupo de professores do GPS-LEIFEN/UFF. Os conceitos da 
teoria explorados em cada capítulo estão relacionados com 
atividades didáticas. Há também muitos artigos espalhados 
pelas revistas de referência, escritos por pesquisadores bra-
sileiros, altamente recomendados.
BEATRIZ DOS SANTOS FERES
62
9) De que maneira a noção de contrato de comunicação – 
um conceito básico da Semiolinguística – orienta a troca 
comunicativa?
O contrato de comunicação tem se mostrado o conceito 
basilar da Semiolinguística, atestando seu caráter psico-so-
ciocomunicativo, conforme postula Charaudeau. O fato de 
haver um contrato entre os interagentes, isto é, um acordo 
tácito baseado em rituais comunicativos carregados de inten-
cionalidade prova o condicionamento a que se submete o 
texto e sua forma, amparado pelas circunstâncias daquela 
enunciação específica, que incluem os sujeitos da interação, 
seus papéis sociais, a ambientação da troca, os gêneros discur-
sivos acionados, os valores circulantes, os saberespartilhados. 
Se o contrato não for aceito pelo interlocutor, ou não for 
observado, provavelmente haverá ruído na comunicação. É 
o contrato que permite a finalização do sentido, que garante 
uma desambiguação, que comprova uma ironia, entre outros 
aspectos. Uma análise que não considere o contrato comuni-
cativo não pode ser vista como semiolinguística. 
BEATRIZ DOS SANTOS FERES
63
10) Como se pode relacionar o conceito de imaginários 
sociodiscursivos, defendido pela Semiolinguística, com a 
construção do ethos e/ou pathos dos enunciadores?
Os imaginários sociodiscursivos abrigam saberes de 
conhecimento e de crença, rituais, comportamentos, julga-
mentos, modos de viver. Estando inscritos em um processo 
de interação, os sujeitos se moldam a imagens colhidas nos 
imaginários, seja para criar uma imagem de si (ethos) favorável 
à sua proposta comunicativa, seja para propor um “enqua-
dramento sensível” (pathos) a seu interlocutor. As imagens 
de si e do outro precisam ser reconhecíveis, portanto, devem 
guardar semelhanças ou direcionamentos colhidos nos ima-
ginários a partir de dados discursivos, ou “discursivizáveis”, 
que dizem respeito à seleção lexical ou à variedade linguística 
selecionada, por exemplo, mas também ao modo de o sujeito 
se apresentar como enunciador, de agir, de se vestir, de se 
comportar, de avaliar os corpos. Tudo devidamente “autori-
zado” pelos imaginários.
BEATRIZ DOS SANTOS FERES
64
11) Tendo em vista os desdobramentos da instância subjetiva 
em sujeitos sociais e discursivos da Semiolinguística, qual é 
a funcionalidade desses conceitos para os estudos do texto 
e do discurso?
Tendo sido chamada pelo próprio Charaudeau de “teoria 
dos sujeitos da linguagem”, a discriminação de sujeitos “exter-
nos” ao texto (sujeito comunicante e sujeito interpretante) e 
“internos” (sujeito enunciador e destinatário), também ratifica 
o caráter psico-sociocomunicativo da teoria. A funcionalidade 
desses conceitos pode ser observada quando se isola o “dizer”, 
a materialidade do texto, descreve-se sua composição e se 
justificam as escolhas feitas em razão do “fazer”, do circuito 
externo ao texto. O sujeito comunicante escolhe os recur-
sos comunicativos de acordo com o que identifica na outra 
extremidade da troca, com o que imagina ser seu destinatário 
(imagem essa que pode ou não ganhar a aderência do sujeito 
interpretante). 
No caso do leitor, por exemplo, na extremidade da com-
preensão textual, ele pode iniciar a construção dos sentidos 
pela materialidade do texto, mas não sem envolver sua exter-
nalidade (incluindo a identificação do gênero discursivo 
como elemento “conformador” do texto). Em outras palavras, 
a diferenciação dos sujeitos conforme a Semiolinguística 
BEATRIZ DOS SANTOS FERES
65
permite vários movimentos de identificação de implícitos 
oriundos das escolhas formais e dos dados externos ao texto. 
Parece fácil dimensionar a funcionalidade desses conceitos 
no episódio protagonizado por Augusto Aras, procurador geral 
da República, quando, no Conselho Nacional do Ministério 
Público, pretendeu homenagear as brasileiras no 8 de março 
– dia dedicado internacionalmente à luta pelos direitos das 
mulheres. Disse ele: “Esse dia é um dia de homenagem à mãe, 
às filhas. É um dia de homenagem à mulher. À mulher no 
seu sentido mais profundo, da sua individualidade, da sua 
intimidade. À mulher que tem o prazer de escolher a cor da 
unha que vai pintar. À mulher que tem o prazer de escolher o 
sapato que vai calçar. Pouco me importa que tipo de escolha 
ela faça, porque essas maravilhosas mulheres que integram as 
nossas vidas e as nossas instituições são tão dedicadas a todas 
as causas em que se envolvem” (EM HOMENAGEM..., 2022). 
Após repercussão dessa fala, tentando remendar o estrago 
da declaração, defendeu-se dizendo que estava sendo mal 
compreendido e completou: “apenas destaquei que é possível 
buscar qualquer posição, até o mais alto posto da República, 
sem abrir mão de sua feminilidade” (SOUZA, 2022).
Como sujeito comunicante que se desdobra em enunciador, 
Augusto Aras, em seu papel social de procurador-geral da 
República, declara explicitamente a intenção de fazer uma 
BEATRIZ DOS SANTOS FERES
66
homenagem às mulheres, portanto, espera-se que apresente 
uma qualificação positiva sobre elas, a fim de enaltecê-las. Em 
outras palavras, o efeito visado por ele é o de afetar emocional 
e positivamente seu destinatário (ideal), a mulher brasileira, 
para quem ele dirige sua fala no emblemático dia da mulher, 
dia de luta por respeito e por igualdade de direitos, de espaços, 
de escolhas. Ele projeta então um sujeito enunciador que tem 
o direito (e quase o dever, em função de seu cargo) de exaltar 
características positivas de suas interlocutoras – mas que 
deixa implícito, naquilo que diz, aspectos combatidos pelo 
pensamento feminista. 
No seu dizer, Aras destaca aspectos frívolos (escolher a cor 
da unha e os sapatos), funções “naturalmente” atribuídas às 
mulheres, relacionadas ao espaço doméstico (“mães e filhas”), 
subalternidade e marginalidade em relação aos homens (“essas 
mulheres maravilhosas que integram nossas vidas”) e uma 
bem conformada “feminilidade” moldada pela sociedade 
patriarcal (“sem abrir mão de sua feminilidade”). O machismo 
estrutural e, em sua fala, “oficialmente” institucionalizado, 
transborda de suas escolhas e, diferentemente do efeito visado 
pelo produtor do texto – que se dirigia a uma coletividade 
ainda crédula do lugar “menor” ocupado pelas mulheres –, 
acaba sendo responsável por um efeito produzido (mas não 
planejado) na parcela de sujeitos interpretantes que não aderem 
BEATRIZ DOS SANTOS FERES
67
ao sujeito destinatário previsto nesse ato de linguagem. São 
esses sujeitos interpretantes, no espaço do “fazer”, que resistem 
ao “dizer” equivocado do procurador-geral da República, e 
“gritam” nas redes sociais.
Figura 1 – Sujeitos da linguagem
sujeito-comunicante
(sujeito do fazer)
AUGUSTO ARAS: procurador-geral 
da República que pretende homenagear 
as mulheres em seu dia de luta – 8 de 
março
sujeito-enunciador
(sujeito do dizer)
AUGUSTO ARAS: aquele que qualifica 
as mulheres como frívolas, orbitando os 
homens e cumprindo seu papel “natural” 
no espaço doméstico
sujeito-destina-
tário
(sujeito do dizer) 
idealizado pelo 
sujeito-comunicante
MULHERES projetadas como aquelas cuja 
feminilidade é representada pela frivoli-
dade e subalternidade
sujeito interpretante
(sujeito do fazer)
SOCIEDADE, público em geral, 
dividido entre aqueles que aderem ao 
projeto de fala e aqueles que o rejeitam
Fonte: autoria própria
BEATRIZ DOS SANTOS FERES
68
A ação projetada por Augusto Aras, então, não corresponde 
exatamente à ação realizada, pois a homenagem, para aqueles 
que se revoltaram nas redes sociais, vibrou como declaração 
sexista, fruto do machismo estrutural que rege os modos de 
pensar de nossa sociedade. O sujeito comunicante Augusto 
Aras, ao tentar projetar um enunciador que homenagearia 
as mulheres, mostrou, implicitamente, pelo discurso, um 
outro enunciador extremamente machista. Seu papel social 
como procurador-geral que deve fazer uma homenagem às 
mulheres é, de certo modo, maculado em sua fala, em seu 
dizer, pois revelador de uma atitude bastante preconceituosa 
– e é esse enunciador que é percebido na extremidade oposta 
da comunicação, na posição dos espectadores, dos sujeitos 
interpretantes, que não aderem nem ao projeto de fala, nem 
à imagem do destinatário planejada.
Parece relevante ainda dizer que, em muitas análises, 
esses desdobramentos dos sujeitos podem ser muito mais 
complexos, às vezes, considerando-se, por exemplo, o sujeito 
comunicante com uma instância compósita (por exemplo, na 
publicidade, quando essa instância é constituída pela agência 
e pelo contratante), ou circuitos englobantes e englobados 
(por exemplo, nas charges, em que se consideram os sujeitos 
interagentes no circuito estabelecido entre chargista e leitor,

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