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Prévia do material em texto

O Pré-Modernismo 
LITERATURA
o Pré-Modernismo
Concordância verbal
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A literatura brasileira vivia nas duas primeiras décadas do século XX em um mo-
mento de transição. Por um lado, perdurava a influência das correntes estéticas do sé-
culo XIX, como o Realismo, o Naturalismo, o Parnasianismo e o Simbolismo; por outro, 
Recanto do morro de 
Santo Antônio (1920), 
de Eliseu Visconti, 
obra ainda marcada 
por influências do 
Impressionismo, 
corrente artística do 
final do século XIX.
Projeto Eliseu Visconti/Coleção particular
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Augusto dos Anjos
Augusto dos Anjos (1884-1914) nas-
ceu no Engenho Pau d'Arco, no muni-
cípio de Sapé, Paraíba. Formou-se em 
Direito, mas, em vez de atuar como 
advogado, foi professor e deu aulas de 
literatura em diferentes instituições de 
ensino no Rio de Janeiro.
Morreu de tuberculose, aos 30 anos, 
deixando uma única obra, Eu, que ainda 
hoje impacta e seduz leitores das novas 
gerações. 
já se notavam mudanças − como um reflorescimento do nacionalismo e 
a busca de uma língua brasileira, mais próxima do povo − que aponta-
vam para uma renovação estética.
À produção situada entre 1900 e 1922, ano em que ocorreu a Semana de 
Arte Moderna, considerada o marco inicial do Modernismo brasileiro, cos-
tuma-se chamar PrŽ-Modernismo. Essa produção não chegou a constituir 
um movimento literário, mas criou condições para a grande ruptura que se 
daria logo depois.
O Pré-Modernismo contou com uma rica produção em verso e em pro-
sa. Na poesia, destaca-se o poeta Augusto dos Anjos. Na prosa, Euclides da 
Cunha, Monteiro Lobato e Lima Barreto.
Neste capítulo, você vai conhecer a poesia de Augusto dos Anjos e a pro-
sa de Lima Barreto.
Euclides da Cunha e Os sert›es
Euclides da Cunha (1866-1900) foi militar, engenheiro, jornalista e escritor. Quando eclodiu a Guerra 
de Canudos, em 1896, no interior da Bahia, foi correspondente de guerra do jornal O Estado de S. 
Paulo. Terminada a guerra, escreveu, com base nas observações que fez in loco, sua principal obra: 
Os sertões (1901).
A obra é organizada em três partes: “A terra”, “O homem” e “A luta”. Adepto das ideias determi-
nistas e naturalistas, Euclides da Cunha teve a intenção de provar, com a obra, que o homem é fruto 
do meio e a guerra é consequência da interação do homem com o meio social e cultural. 
Segundo a versão oficial dada pelo Exército na época, a guerra ocorreu por necessidade de com-
bater um foco monarquista, que se opunha à recente República. Do ponto de vista do autor de Os 
sertões, porém, o conflito que vitimou 15 mil pessoas foi fruto da miséria, do isolamento político, da 
ignorância e do fanatismo religioso. 
Augusto dos Anjos
Em 1912, ocorreu a primeira publicação de Eu, de Augusto dos Anjos, que 
já teve mais de cem edições e é, provavelmente, a obra de poesia mais lida 
em nosso país.
Tal sucesso tem várias explicações, entre elas a originalidade chocan-
te da poesia do autor, que trilhou um caminho único em nossa literatura, 
fundindo elementos simbolistas a elementos materialistas e científicos. 
Por um lado, o poeta herdou do Simbolismo uma visão cósmica e uma 
angústia moral, além de ter adotado, por influência do filósofo Schope-
nhauer, um pessimismo exacerbado. Por outro, incorporou uma visão 
materialista e científica da vida e do mundo, com claras influências do 
biólogo naturalista Ernst Haeckel (1834-1919) e do filósofo Herbert Spen-
cer (1788-1860). Paradoxalmente, o eu lírico de seus poemas busca o in-
finito na matéria, com a perspectiva pessimista de que tudo caminha 
para a morte, para o mal e para o nada. Não há nessa poesia lugar para 
a esperança, uma vez que tudo é matéria, e a matéria caminha para a 
podridão absoluta.
A linguagem empregada pelo autor também é surpreendente, conside-
rando-se a linguagem elevada que até então era utilizada na poesia. Termos 
científicos se misturam a um vocabulário rebuscado, dando origem a uma 
linguagem eloquente, expressiva e muitas vezes chocante. As formas poé-
ticas, entretanto, ainda são as convencionais empregadas no Simbolismo, 
como o soneto e o verso decassílabo ou o alexandrino.
Morena Filmes, Filme de Sergio Rezende/João Raposo/Editoras Caras S.A/
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Cena do filme Guerra de 
Canudos, de Sérgio Rezende.
15O Pré-Modernismo. Concordância verbal. O conto CAPÍTULO 1
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FOCO NO TEXTO
Leia, a seguir, dois textos que integram a obra Eu.
Texto 1
O deus verme
Fator universal do transformismo.
Filho da teleológica matéria,
Na superabundância ou na miséria,
Verme − é o seu nome obscuro de batismo.
Jamais emprega o acérrimo exorcismo
Em sua diária ocupação funérea,
E vive em contubérnio com a bactéria,
Livre das roupas do antropomorfismo.
Almoça a podridão das drupas agras,
Janta hidrópicos, rói vísceras magras
E dos defuntos novos incha a mão...
Ah! Para ele é que a carne podre fica,
E no inventário da matéria rica
Cabe aos seus filhos a maior porção!
(Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/
DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=1772. Acesso em: 3/1/2016.)
Texto 2
Idealismo
Falas de amor, e eu ouço tudo e calo! 
O amor da Humanidade é uma mentira. 
É. E é por isso que na minha lira 
De amores fúteis poucas vezes falo. 
O amor! Quando virei por fim a amá-lo?! 
Quando, se o amor que a Humanidade inspira 
É o amor do sibarita e da hetaira, 
De Messalina e de Sardanapalo?! 
Pois é mister que, para o amor sagrado, 
O mundo fique imaterializado 
− Alavanca desviada do seu futuro − 
E haja só amizade verdadeira 
Duma caveira para outra caveira, 
Do meu sepulcro para o teu sepulcro?!
(Idem.)
acérrimo: superlativo de acre, ou seja, muito 
azedo.
agro: o que tem sabor ácido, azedo.
antropomorfismo: atribuição de características 
humanas a algo que não é humano, como por 
exemplo, o clima.
contubérnio: familiaridade, intimidade.
drupa: fruta carnosa com semente em forma de 
caroço, como a azeitona e a manga.
hetaira: na Grécia antiga, uma prostituta de luxo.
hidrópico: relativo à hidropisia, ou seja, 
derramamento de líquido seroso em tecidos ou em 
cavidade do corpo.
idealismo: concepção de que a realidade consiste 
essencialmente de algo não material; o oposto de 
materialismo.
mister: necessário.
Messalina: imperatriz romana, terceira esposa 
do imperador Cláudio, conhecida como insaciável 
sexualmente; mulher de má reputação.
teleológico: relativo à teleologia, isto é, doutrina 
que explica algo com base em sua finalidade.
Sardanapalo: segundo a lenda, o último rei da 
Assíria, tido como devasso, efeminado e glutão.
sibarita: aquele que aprecia os prazeres físicos e a 
preguiça, como os habitantes de Síbaris, cidade da 
Grécia antiga.
Nelson Provazi
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A1.	 A respeito do texto 1, responda:
 a. Qual é o tema central do poema?
 b. Explique o título do poema, levando em conta o papel do verme no 
universo.
2.	 Indiretamente, o texto 1 faz referência à morte de seres humanos e de 
outros seres.
 a. Que verso do poema demonstra o desprezo do eu lírico pelas crenças 
humanas?
 b. Há, no texto, alguma referência a espiritualidade, sentimentos, sonhos?
 c. Conclua: Que visão o eu lírico tem da vida e do mundo?
3.	 Em relação ao texto 2, responda:
 a. Qual é o tema central do poema?
 b. Qual é o pensamento do eu lírico sobre esse tema? Justifique sua res-
posta com um verso do poema.
 c. Na visão do eu lírico, o que seria necessário para que esse sentimento, 
em sua forma mais sublime, viesse a existir? Justifique sua resposta 
com um verso do poema.
 d. Leia, no glossário, o significado da palavra idealismo e responda: Que 
relação há entre o títuloe as ideias presentes no poema?
4.	 Compare os dois poemas quanto à linguagem, à forma e ao conteúdo.
 a. Tendo em vista que, no passado, a poesia privilegiava um vocabulário 
elevado, considerado de bom gosto, responda: Que palavras ou ex-
pressões desses textos fogem a essa tradição? De que esfera do co-
nhecimento são essas palavras?
 b. O que aproxima os dois poemas quanto à forma?
 c. Que efeito resulta da mistura da forma clássica com temas e termos 
pouco convencionais?
É a decomposição da matéria, 
resultante da ação dos vermes.
O verme é visto como um deus porque sobrevive a todos os seres e os devora quando 
morrem, transformando-os em um novo tipo de matéria. Além disso, está em todo 
lugar e não faz distinção entre seres ricos e pobres, humanos e não humanos.
 “Livre das roupas do antropomorfismo” ou ainda 
“Jamais emprega o acérrimo exorcismo”.
Não.
2. c) Ele tem a visão de que tudo na vida e no mundo 
se resume à matéria, que é perecível e caminha para 
a destruição, para o nada, numa atitude pessimista.
3. b) Ele não acredita no amor e o consi-
dera uma ilusão, uma mentira, conforme 
revela o verso “O amor da Humanidade é 
uma mentira”.
Seria necessário que a matéria deixasse de existir, conforme re-
velam o verso “O mundo fique imaterializado” e os dois últimos.
O título sugere que o amor é uma invenção do idealismo. Com base em um ponto 
de vista oposto, isto é, materialista, o eu lírico nega tudo o que não seja material.
Palavras como teleológica, bactéria, antropomorfismo, hidrópicos, vísceras, 
que pertencem à esfera filosófica e científica (biologia, microbiologia).
4. b) Os dois poemas são sonetos e os versos 
são decassílabos. 
Professor: Comente com os alunos que a abor-
dagem e a linguagem adotadas pelo autor são 
uma importante inovação na tradição do so-
neto em língua portuguesa.
Dessa mistura resulta um estranhamento, já que não é comum o soneto abordar 
temas como esses, e utilizar um vocabulário considerado não poético.
Drummond lê 
Augusto dos Anjos
Li o “Eu” na adolescência e foi como 
se levasse um soco na cara. Jamais eu 
vira antes, engastadas em decassíla-
bos, palavras estranhas como simbiose, 
mônada, metafisicismo, fenomênica, 
quimiotaxia. Zooplasma, intracefálica... 
E elas funcionavam bem nos versos! Ao 
espanto sucedeu intensa curiosidade. 
Quis ler mais esse poeta diferente dos 
clássicos, dos românticos, dos parna-
sianos, dos simbolistas, de todos os 
poetas que eu conhecia. A leitura do 
“Eu” foi para mim uma aventura mi-
lionária. Enriqueceu minha noção de 
poesia. Vi como se pode fazer lirismo 
com dramaticidade permanente, que 
se grava para sempre na memória do 
leitor. Augusto dos Anjos continua 
sendo o grande caso singular da poe-
sia brasileira.
(Comentário de Drummond 
sobre Augusto dos Anjos, 
publicado na Revista da Biblioteca 
Nacional, ano 3, n¼ 32, 
maio de 2008. p. 89.)
Monteiro Lobato
Considerado um dos principais escritores pré-modernistas, Monteiro Lobato (1882-1948) nas-
ceu em Taubaté, São Paulo. Estudou Direito e atuou como advogado, mas foi como editor e 
escritor que alcançou projeção nacional.
Foi fundador da Editora Nacional e escreveu contos, romances e ensaios. Em sua produção 
se destaca a obra de contos Urupês, na qual retrata o impacto social provocado pelo declínio da 
cultura do café na região do Vale do Paraíba, no interior de São Paulo. 
Foi também um dos iniciadores da literatura infantil no Brasil e na América Latina. É autor de 
Reinações de Narizinho, Caçadas de Pedrinho e O sítio do Picapau Amarelo, entre outras obras 
para o público infantil.
É o amor.
Lima Barreto
Ao lado de Aluísio Azevedo, Lima Barreto foi um dos primeiros escritores 
a retratar as camadas mais humildes da população. Em seus romances, pre-
dominam tipos que, na época, eram comuns nos subúrbios, como funcioná-
rios públicos, tenentes, pequenos comerciantes, músicos, etc.
Contrapondo-se aos modelos convencionais de escrita e linguagem, que 
tomavam os discursos de Rui Barbosa como modelo, a obra do escritor não foi 
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bem recebida pela crítica da época em razão de sua linguagem, considerada 
displicente, e da visão ácida a respeito do Rio de Janeiro e das elites no poder. 
O reconhecimento da qualidade do escritor só ocorreu há algumas décadas.
Ao lado de Cruz e Sousa, Lima Barreto também se destaca por ter sido 
um dos primeiros escritores brasileiros negros a abordar em suas obras o 
preconceito racial.
Triste fim de Policarpo Quaresma
Considerada a obra mais importante de Lima Barreto, Triste fim... narra 
a história de Policarpo Quaresma, um funcionário público de classe média 
baixa do Rio de Janeiro, no final do século XIX, logo após a proclamação da 
República. 
A obra é dividida em três partes. A primeira parte retrata a vida cotidiana 
de Quaresma, que, nacionalista, ufanista e solteiro, vive com a irmã dona Ade-
laide e gasta todo o seu tempo livre estudando as riquezas naturais e culturais 
do país. Propõe à Assembleia Legislativa a adoção do tupi como língua oficial 
e, por isso, passa a ser considerado louco e é internado em um manicômio.
Na segunda parte, por sugestão da afilhada Olga, Quaresma resolve inves-
tir nas riquezas naturais do país e cultivar a terra. Compra, então, um sítio e 
passa a viver ali com a irmã, dona Adelaide, e dois empregados. Aos poucos, a 
personagem se frustra com os resultados do trabalho com a lavoura.
Na terceira parte, ao saber que eclodiu a Revolta da Armada (1893), no 
Rio de Janeiro, dirige-se à capital para apoiar as forças federais e lutar con-
tra os revoltosos. Por fazer críticas à maneira como o governo lidava com 
os revoltosos feitos prisioneiros, acaba também sendo preso e fuzilado, por 
ordem do presidente Floriano Peixoto.
FOCO NO TEXTO
O trecho que você vai ler a seguir pertence ao capítulo II da segunda 
parte de Triste fim de Policarpo Quaresma, intitulado “Golias”. No trecho, 
Quaresma recebe a visita de Olga, sua afilhada, do marido dela e de Ricar-
do Coração dos Outros, um violonista com quem Quaresma tinha tomado 
aulas de violão, instrumento que considerava tipicamente brasileiro. Olga 
voltava de um passeio ao Carico, onde havia uma cachoeira, a duas léguas 
do sítio do padrinho.
[...]
O que mais a impressionou no passeio foi a miséria ge-
ral, a falta de cultivo, a pobreza das casas, o ar triste, abati-
do da gente pobre. Educada na cidade, ela tinha dos roceiros 
ideia de que eram felizes, saudáveis e alegres. Havendo tan-
to barro, tanta água, por que as casas não eram de tijolos e 
não tinham telhas? Era sempre aquele sapê sinistro e aquele 
“sopapo” que deixava ver a trama de varas, como o esquele-
to de um doente. Por que, ao redor dessas casas, não havia 
culturas, uma horta, um pomar? Não seria tão fácil, trabalho 
de horas? E não havia gado, nem grande nem pequeno. Era 
raro uma cabra, um carneiro. Por quê? Mesmo nas fazendas, 
Lima Barreto
Lima Barreto (1881-1922) nasceu no 
Rio de Janeiro. Neto de negros escra-
vos e de portugueses e proveniente de 
uma família de classe média suburbana, 
sofreu duramente o preconceito racial 
em toda a sua vida. Por influência do 
Visconde de Ouro Preto, seu padrinho, 
iniciou o curso de engenharia na Escola 
Politécnica do Rio de Janeiro, mas teve 
de abandoná-lo para poder sustentar a 
família, uma vez que o pai enlouquecera 
e fora internado.
Para sobreviver, trabalhou como es-
criturário no Ministério da Guerra e 
escreveu para diversos jornais. 
A publicação do seu romance Recorda-
ções do escrivão Isaías Caminha se deu 
em 1909, e a de sua principal obra, Triste 
fim de Policarpo Quaresma, em 1911. 
Alcoólatra e deprimido, Lima Barreto 
morreu aos 41 anos internado em um 
hospício, como o pai.
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o espetáculo não era mais animador. 
Todas soturnas, baixas, quase sem o 
pomar olente e a horta suculenta. A 
não ser o café e um milharal, aqui e 
ali, ela não pôde ver outra lavoura, 
outra indústria agrícola. Não podia 
ser preguiça só ou indolência. Para o 
seu gasto, para uso próprio, o homem 
tem sempre energia para trabalhar 
relativamente. Na África, na Índia, 
na Cochinchina, em toda a parte, os 
casais, as famílias, as tribos, plantam 
um pouco algumas cousas para eles. 
Seria a terra? Que seria? E todas essas 
questões desafiavam a sua curiosida-
de, o seu desejo de saber, e também a 
sua piedade e simpatia por aqueles 
párias, maltrapilhos, mal alojados, 
talvez com fome, sorumbáticos!... 
Pensou em ser homem. Se o fosse 
passaria ali e em outras localidades 
meses e anos, indagaria, observaria 
e com certeza havia de encontrar o 
motivo e o remédio. [...]
Como no dia seguinte fosse passear ao roçado do padrinho, aproveitou 
a ocasião para interrogar a respeito o tagarela Felizardo. [...]
[...]
— Bons-dias, “sá dona”. 
— Então trabalha-se muito, Felizardo? 
— O que se pode. 
— Estive ontem no Carico, bonito lugar... Onde é que você mora, Felizardo? 
— É doutra banda, na estrada da vila. 
— É grande o sítio de você? 
— Tem alguma terra, sim, senhora, “sá dona”. 
— Você por que não planta para você? 
— “Quá sá dona!” O que é que a gente come? 
— O que plantar ou aquilo que a plantação der em dinheiro. 
— “Sá dona tá” pensando uma cousa e a cousa é outra. Enquanto plan-
ta cresce, e então? “Quá, sá dona”, não é assim. 
Deu uma machadada; o tronco escapou; colocou-o melhor no picador 
e, antes de desferir o machado, ainda disse: 
— Terra não é nossa... E “frumiga”?... Nós não “tem” ferramenta... isso é 
bom para italiano ou “alemão”, que o governo dá tudo... Governo não gosta 
de nós... 
Desferiu o machado, firme, seguro; e o rugoso tronco se abriu em duas 
partes, quase iguais, de um claro amarelado, onde o cerne escuro começa-
va a aparecer. 
Ela voltou querendo afastar do espírito aquele desacordo que o ca-
marada indicara, mas não pôde. Era certo. Pela primeira vez notava que 
o self-help do Governo era só para os nacionais; para os outros todos os 
auxílios e facilidades, não contando com a sua anterior educação e apoio 
dos patrícios. 
O subúrbio carioca retratado em obras de Lima Barreto.
Augusto Malta/ Coleção Gilberto Ferrez/ Acervo Instituto Moreira Salles
19O Pré-Modernismo. Concordância verbal. O conto CAPÍTULO 1
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E a terra não era dele? Mas de quem era, então, 
tanta terra abandonada que se encontrava por aí? Ela 
vira até fazendas fechadas, com as casas em ruínas... 
Por que esse acaparamento, esses latifúndios inúteis 
e improdutivos? 
A fraqueza de atenção não lhe permitiu pensar 
mais no problema. Foi vindo para casa, tanto mais que 
era hora de jantar e a fome lhe chegava. 
Encontrou o marido e o padrinho a conversar. 
Aquele perdera um pouco da sua morgue; havia mes-
mo ocasião em que era até natural. Quando ela chegou, 
o padrinho exclamava: 
— Adubos! É lá possível que um brasileiro tenha tal 
ideia! Pois se temos as terras mais férteis do mundo! 
— Mas se esgotam, major, observou o doutor. 
Dona Adelaide, calada, seguia com atenção o crochet que estava fazendo; 
Ricardo ouvia, com os olhos arregalados; e Olga intrometeu-se na conversa: 
— Que zanga é essa, padrinho? 
— É teu marido que quer convencer-me que as nossas terras precisam 
de adubos... Isto é até uma injúria! 
— Pois fique certo, major, se eu fosse o senhor, aduziu o doutor, ensaia-
va uns fosfatos... 
— Decerto, major, obtemperou Ricardo. Eu, quando comecei a tocar vio-
lão, não queria aprender música... Qual música! Qual nada! A inspiração 
basta!... Hoje vejo que é preciso... É assim, resumia ele. 
Todos se entreolharam, exceto Quaresma, que logo disse com toda a 
força d’alma: 
— Senhor doutor, o Brasil é o país mais fértil do mundo, é o mais bem-
dotado e as suas terras não precisam “empréstimos” para dar sustento ao 
homem. Fique certo! 
— Há mais férteis, major, avançou o doutor.
— Onde? 
— Na Europa. 
— Na Europa! 
— Sim, na Europa. As terras negras da Rússia, por exemplo. 
O major considerou o rapaz durante algum tempo e exclamou triunfante: 
— O senhor não é patriota! Esses moços... 
O jantar correu mais calmo. Ricardo fez ainda algumas considerações 
sobre o violão. À noite, o menestrel cantou a sua última produção: “Os Lá-
bios da Carola.” [...] Olga tocou no velho piano de Dona Adelaide; e, antes 
das onze horas, estavam todos recolhidos. 
Quaresma chegou a seu quarto, despiu-se, enfiou a camisa de dormir 
e, deitado, pôs-se a ler um velho elogio das riquezas e opulências do Brasil. 
A casa estava em silêncio; do lado de fora, não havia a mínima bulha. 
Os sapos tinham suspendido um instante a sua orquestra noturna. Qua-
resma lia; e lembrava-se que Darwin escutava com prazer esse concerto 
dos charcos. Tudo na nossa terra é extraordinário! pensou. Da despensa, 
que ficava junto a seu aposento, vinha um ruído estranho. Apurou o ouvi-
do e prestou atenção. Os sapos recomeçaram o seu hino. Havia vozes bai-
xas, outras mais altas e estridentes; uma se seguia à outra, num dado ins-
tante todas se juntaram num unisono sustentado [...] Quaresma pode ler 
umas cinco páginas. Os batráquios pararam; a bulha continuava. O major 
Cena da peça 
Policarpo Quaresma, 
adapção para o teatro 
da obra homônima de 
Lima Barreto, dirigida 
por Antunes Filho em 
2010.
Capa do DVD do filme 
Policarpo Quaresma, herói 
do Brasil, dirigido por Paulo 
Thiago, adaptação para o 
cinema da obra homônima de 
Lima Barreto.
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Filipe Redondo/Folhapress
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levantou-se, agarrou o castiçal e foi à dependência da casa donde partia o 
ruído, assim mesmo como estava, em camisa de dormir. 
Abriu a porta; nada viu. Ia procurar nos cantos, quando sentiu uma fer-
roada no peito do pé. Quase gritou. Abaixou a vela para ver melhor e deu 
com uma enorme saúva agarrada com toda a fúria à sua pele magra. Des-
cobriu a origem da bulha. Eram formigas que, por um buraco no assoalho, 
lhe tinham invadido a despensa e carregavam as suas reservas de milho e 
feijão, cujos recipientes tinham sido deixados abertos por inadvertência. 
O chão estava negro, e carregadas com os grãos, elas, em pelotões cerrados, 
mergulhavam no solo em busca da sua cidade subterrânea. 
Quis afugentá-las. Matou uma, duas, dez, vinte, cem; mas eram milha-
res e cada vez mais o exército aumentava. Veio uma, mordeu-o, depois ou-
tra, e o foram mordendo pelas pernas, pelos pés, subindo pelo seu corpo. 
Não pode aguentar, gritou, sapateou e deixou a vela cair. 
Estava no escuro. Debatia-se para encontrar a porta; achou e correu da-
quele ínfimo inimigo que, talvez, nem mesmo à luz radiante do sol, o visse 
distintamente...
(8. ed. São Paulo: Brasiliense, 1970. p. 119-12.)
1.	 Ao voltar do passeio, Olga se impressiona com o tipo de vida que os roceiros da região 
levavam.
 a. Como Olga imaginava que eles vivessem?
 b. O que pôde constatar pessoalmente?
 c. De acordo com o texto, apenas os pequenos agricultores demonstravam falta de 
iniciativa para trabalhar a terra e melhorar o nível de vida? Justifique. 
2.	 Na obra, Olga representa a nova mulher que começa a despontar na passagem do 
século XIX para o século XX. Que trecho do texto comprova a inquietação dela em 
relação ao antigo papel social da mulher?
3.	 No dia seguinte, Olga conversa com Felizardo, empregado do sítio de seu tio, a respei-to do que tinha visto na região. Que razões Felizardo alega para não se interessar pelo 
cultivo das terras onde vive?
acaparamento: 
monopólio.
bulha: tumulto, confusão 
sonora, movimentação 
intensa.
menestrel: músico, 
trovador.
morgue: necrotério, ar 
fúnebre.
olente: cheiroso.
sorumbático: triste, 
sombrio.
Imaginava que tivessem uma vida feliz e que fossem saudáveis e alegres.
Pôde constatar a miséria da região, casas de sapê, 
ausência de horta e pomar, pessoas sorumbáticas. 
Não, nas fazendas a vida era mais ou menos 
a mesma, com a diferença de que havia a cul-
tura do milho e do café, apenas.
Pensou em ser homem. Se o fosse passaria ali e em outras localidades meses e anos, 
indagaria, observaria e com certeza havia de encontrar o motivo e o remédio.
Alega que a terra não era dos trabalhadores, havia muita formiga e o governo não dava 
nenhum tipo de apoio ao trabalhador do campo.
A República Velha e as oligarquias rurais
Com a Proclamação da República, em 1889, teve início na vida política brasileira o período conhecido como Repú-
blica Velha (1889-1930). Depois dos anos iniciais, em que os militares estiveram no poder, começou em 1894 uma 
fase na qual o país passou a ser governado por presidentes civis, representantes das oligarquias do Sul e do Sudeste. 
Nesse período, presidentes vindos de Minas Gerais e de São Paulo se revezavam, o que deu origem à chamada 
“política do café com leite”. 
Apesar de o Brasil ter entrado no século XX como uma jovem república, as estruturas sociais, econômicas e polí-
ticas do país ainda eram basicamente as mesmas da época da monarquia. Os escravos, por exemplo, não foram ab-
sorvidos pelo mercado de trabalho e, nos centros urbanos, a mão de obra era proveniente das imigrações europeias. 
Somente com a Revolução de 1930 foi que ocorreram mudanças profundas na estrutura social, econômica 
e política do país.
4.	 Considere este pensamento de Olga:
 “E a terra não era dele? Mas de quem era, então, tanta terra abandonada que 
se encontrava por aí? [...] Por que esse acaparamento, esses latifúndios inúteis e 
improdutivos?”
REGISTRE 
NO CADERNO
21O Pré-Modernismo. Concordância verbal. O conto CAPÍTULO 1
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	 Sabendo que a obra Triste fim de Policarpo Quaresma foi escrita durante 
a República Velha (1889-1930), em que predominavam os interesses da 
oligarquia rural, responda: 
 a. Que relação há entre esse trecho e o contexto sociopolítico da época?
 b. Para que tipo de mudança social e econômica apontam as reflexões 
de Olga (e do próprio Lima Barreto) sobre o assunto?
5.	 Policarpo Quaresma é associado frequentemente a Dom Quixote, per-
sonagem idealista e sonhadora de Miguel de Cervantes.
 a. Por que, na conversa de Quaresma e o marido de Olga, mais uma vez 
se comprova o caráter quixotesco do protagonista?
 b. Nessa noite, que fato se contrapõe, ironicamente, à ingenuidade de 
Quaresma, comprovando algumas das afirmações de Felizardo?
6.	 O nome do capítulo é “Golias”. Leia o boxe “Golias” e, depois, estabele-
cendo um paralelo entre a história do gigante e o episódio das formigas, 
responda:
 a. Que personagem de Triste fim... equivale a Golias? Por quê?
 b. Qual personagem corresponde a Davi? Por quê?
 c. Pode-se afirmar que esse episódio revela uma visão irônica e crítica 
do próprio Lima Barreto? Justifique sua resposta. 
7.	 O Pré-Modernismo é um momento de transição de nossa literatura, que 
mantém alguns traços das correntes artísticas do século XIX e, ao mes-
mo tempo, apresenta elementos novos, como o interesse por temas na-
cionais e a busca de uma língua mais coloquial e brasileira.
 a. Com quais das estéticas literárias do século XIX a obra Triste fim de 
Policarpo Quaresma está mais alinhada? Por quê?
 b. As novidades introduzidas pelo Pré-Modernismo podem ser identifi-
cadas no texto lido? Justifique sua resposta. 
O pensamento de Olga aponta para uma perspectiva de reforma agrária.
Professor: O estudioso Alfredo Bosi reconhece na ideologia de Lima Bar-
reto traços de um “socialismo maximalista”.
5. a) Porque ele idealiza o Brasil como o me-
lhor país do mundo e se nega a admitir a pos-
sibilidade de as terras brasileiras não serem 
férteis e necessitarem de adubos. 
Professor: Comente com os alunos que os 
resultados da plantação com que Quaresma 
se ocupa depois tornam-se um fracasso e se 
mostram economicamente inviáveis.
A invasão da casa pelas formigas; o episódio comprova a afirmação de Felizardo, 
de que as formigas acabam com a plantação.
Policarpo Quaresma, que é bem maior do que as formigas, equivale a 
Golias, pois, mesmo sendo maior e mais forte, leva a pior.
As formigas, que, mesmo sendo menores, têm uma força coletiva suficiente para vencer Quaresma.
6. c) Sim; Lima Barreto critica e ironiza o nacio-
nalismo ufanista e ingênuo do protagonista. 
Professor: Comente com os alunos que o 
nacionalismo ufanista era uma das linhas de 
pensamento no Brasil das primeiras décadas 
do século XX, como fica claro alguns anos de-
pois com o aparecimento de correntes artísti-
cas como os movimentos Verde-Amarelismo e 
Anta, na década de 1920.
7. a) Está mais alinhada com o Realismo, em virtude do retrato sociopolítico que faz do Brasil do final do 
século XIX, além do tratamento irônico e crítico que dá ao tema.
Sim; a obra se volta para o retrato da realidade brasileira, de seus contrastes sociais, de sua gente simples, 
etc. Além disso, a linguagem é despojada e se empenha em retratar as variedades linguísticas nacionais, 
como a fala caipira de Felizardo.
4. a) O trecho mostra que, apesar de ter havido 
a proclamação da República, a vida no campo 
continuava a mesma: as terras continuavam 
nas mãos da oligarquia rural, que era dona 
de grandes propriedades no campo, e os tra-
balhadores (brancos e negros recentemente 
alforriados) eram miseráveis.
Golias
Segundo relatos bíblicos, Golias era 
um soldado filisteu de 2,90 m. Em uma 
guerra contra os judeus, Golias desa-
fiou o exército inimigo, propondo que 
escolhessem um único soldado para 
lutar contra ele. Se o soldado vencesse, 
Golias e o exército filisteu se renderiam.
Um jovem judeu, chamado Davi, 
se dispôs a lutar. Foi até o rio, pegou 
cinco pedras e colocou-as em um pe-
queno saco.
Com uma funda, um tipo de atiradei-
ra, nas mãos, acertou uma das pedras 
na cabeça de Golias e matou-o. Depois, 
cortou a cabeça do soldado filisteu, 
usando a espada do próprio gigante.
Davi com a cabeça de Golias 
(1609-10), de Caravaggio.
Por meio da leitura de textos de autores pré-modernistas feita neste ca-
pítulo, você viu que:
•	 o Pré-Modernismo não é propriamente um movimento literário; é um 
período de transição, que reúne obras com traços remanescentes do 
Simbolismo, do Realismo e do Naturalismo;
•	 as obras pré-modernistas apresentam como novidade o interesse por 
temas da realidade nacional, como a vida da classe média suburbana 
do Rio de Janeiro e a busca de linguagem mais brasileira, próxima da 
língua falada pelo povo;
•	 a poesia de Augusto dos Anjos é um caso singular em nossa literatu-
ra, pois reúne elementos aparentemente excludentes, como traços do 
Simbolismo e do Naturalismo e formas poéticas da tradição clássica.
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22 UNIDADE 1 RUPTURA E CONSTRUÇÃO 
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Concordância verbal
FOCO NO TEXTO
Leia o poema a seguir, de Ferreira Gullar, escrito durante o período do regime militar 
no Brasil:
Dois e dois: quatro
Como dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena
embora o pão seja caro
e a liberdade pequena
Como teus olhos são claros
e a tua pele, morena
como é azul o oceano
e a lagoa, serena
como um tempo de alegria
por trás do terror me acena
LÍNGUA E LINGUAGEM
SHNA/Shutterstock
e a noite carrega o dia
no seu colo de açucena− sei que dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena
mesmo que o pão seja caro
e a liberdade, pequena.
(Toda poesia. 18. ed. Rio de Janeiro: 
José Olympio, 2009. p. 171.) 
1.	 Leia a seguir um depoimento de Ferreira Gullar, dado na Bienal do Rio de Janeiro, em 
2009, no qual ele comenta sobre a situação em que esse poema foi escrito:
Muitos amigos estavam presos, muita gente sumiu, então havia um grande desa-
pontamento em todos nós, que tínhamos lutado pela reforma agrária, pela mudança 
das condições do país [...] Então esse poema foi escrito um pouco pensando nas pessoas 
que estavam presas e em tudo, em todos nós que estávamos perdendo o ânimo [...].
(Transcrito do vídeo disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=T2iTZJAOz6c. Acesso em: 18/1/2016.)
 a. A 1ª estrofe apresenta uma síntese das ideias principais do poema. Considerando 
o contexto social e político em que o poema foi produzido, explique o sentido dos 
versos “embora o pão seja caro / e a liberdade pequena”. 
 b. Tendo em vista o momento caracterizado por Gullar, conclua: O que expressam os 
dois primeiros versos dessa estrofe? 
 c. Segundo o depoimento de Gullar, a quem ele se dirigia com seu poema?
2.	 Embora em seu depoimento Gullar tenha explicitado a quem se dirigia com seu tex-
to, no poema o eu lírico se dirige especificamente a um “tu”, que aparece em meio a 
uma comparação. 
 a. Levante hipóteses: Quem é o tu a que o eu lírico se dirige? 
 b. Com o que o eu lírico compara os elementos trazidos na 2ª, na 3ª e na 4ª estrofes? 
Esses versos remetem à situação desfavorável vivida à época, na qual o custo 
de vida era alto e as pessoas não tinham liberdade de expressão nem liberdade 
política. 
O desejo do eu lírico de levar ânimo às pessoas à sua volta, afirmando sua previsão positiva para o 
futuro como uma certeza e garantindo que ela é tão certa quanto um cálculo matemático. 
 À sociedade em geral, às pessoas que se viam sem esperanças na vida e no futuro. 
Possibilidades variadas de resposta: A uma pessoa querida que 
se encontrava distante ou que estava muito desanimada com a 
situação e a quem ele gostaria de encorajar.
Com a sua certeza de que a vida vale a pena.
23O Pré-Modernismo. Concordância verbal. O conto CAPÍTULO 1
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3.	 No poema em estudo, o eu lírico faz uma queixa em relação à situação vivida naquele 
momento.
 a. Por essa queixa, é possível considerar que a postura do eu lírico é pessimista? 
 b. Para o eu lírico, ainda há esperança de melhoria da situação? Justifique sua respos-
ta com um verso do poema. 
4.	 Releia a primeira e a penúltima estrofes.
 a. A quem se refere a forma verbal sei? 
 b. Reescreva esse verso, explicitando o sujeito.
 c. Se o eu lírico escrevesse em nome de um coletivo, incluindo-se nessa ideia de co-
letividade, identifique, entre as construções a seguir, a mais adequada, de acordo 
com a norma-padrão. Justifique sua escolha. 
 I. Nós sabe que a vida vale a pena.
 II. Eles sabe que a vida vale a pena.
 III. Nós sabemos que a vida vale a pena.
 IV. Eles sabem que a vida vale a pena. 
5.	 No 2º verso da 2ª e da 3ª estrofes, há uma elipse do verbo, isto é, ele foi omitido. 
 a. Reescreva-o, explicitando o verbo em sua forma de acordo com a norma-padrão.
 b. Identifique, em cada um desses versos, qual é o sujeito e em que pessoa e número 
estão as formas verbais. 
6.	 Releia os seguintes trechos:
 I. “Dois e dois são quatro”
 II. “Teus olhos são claros”
 III. “É azul o oceano”
 IV. “A noite carrega o dia”
 a. Qual é o único trecho que não segue a ordem padrão do português escrito (sujeito 
+ verbo + complemento)?
 b. Coloque-o na ordem padrão. 
 c. Quais formas verbais estão no singular e quais estão no plural? Justifique esse emprego.
 d. Reescreva-os segundo a norma-padrão, substituindo:
• Dois e dois por Essa soma 
• Teus olhos por Teu olhar
• O oceano por os mares 
• A noite por Os luares 
 e. Compare os versos originais aos versos escritos por você no item anterior e con-
clua: O que aconteceu com as formas verbais? 
7.	 Releia a 4ª estrofe.
 a. Coloque-a na ordem padrão do português escrito e levante hipóteses: Por que o 
poeta não escreveu o verso nessa ordem?
 b. A que ou a quem se refere a forma verbal acena? 
 c. Explique por que a ideia dessa estrofe confirma o que foi dito na 1ª estrofe. 
8.	 Compare a 1ª estrofe às duas últimas. Discuta com os colegas e o professor e conclua:
 a. Qual efeito de sentido é criado pela repetição da forma verbal sei na penúltima 
estrofe? 
Sim, o que pode ser comprovado com o verso “Sei que a vida vale a pena”.
Ao eu lírico, à voz do poema.
Eu sei que a vida vale a pena.
A construção III, pois o verbo concorda em nome e número com o pronome “nós”.
e a tua pele é morena; e a 
lagoa é serena
Sujeitos: a tua pele e a lagoa; verbos na 3ª pessoa do singular.
O III.
O oceano é azul.
I e II estão no plural e III e IV, no singular, concordando 
com seus respectivos sujeitos.
Essa soma é quatro.
 Teu olhar é claro. 
Os mares são azuis.
Os luares carregam o dia.
Elas mudaram para o plural ou para o singular, 
acompanhando o número do sujeito.
como um tempo de alegria me acena por trás do terror / Ela foi es-
crita em ordem diferente para manter a rima e a métrica do poema.
Ao sujeito simples “um tempo de alegria”.
Porque reforça a ideia de que a vida vale a pena, embora o presente não seja tão favorável, uma vez que um tempo de alegria vai chegar.
A repetição da forma verbal enfatiza que o eu lírico de fato acredita 
no que diz, reforçando sua aparente certeza.
Não.
24 UNIDADE 1 RuptuRa e constRução 
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 b. Nesses versos, foram empregadas as conjunções concessivas embora e mesmo que. 
Uma concessão é considerada uma atitude aparentemente contrária ao previsto 
ou esperado. Qual é a atitude esperada de uma pessoa que vive no contexto sócio- 
histórico do poema? 
REFLEXÕES SOBRE A LêNGUA
No estudo do poema de Ferreira Gullar, você viu que as formas verbais se alteram em 
conformidade com os sujeitos a que se referem, concordando com eles em número e pes-
soa. É o que acontece, por exemplo, com o verbo ser, que se apresenta na forma singular é 
para concordar com o sujeito o oceano, e se apresenta na forma plural são para concordar 
com o sujeito teus olhos. Ou, ainda, a forma sei, que concorda com o pronome eu e a forma 
sabemos, que concorda com o pronome nós. De fato, para sentenças formadas por sujeito 
simples + verbo + complemento(s), ainda que em ordem variável, a gramática normativa 
recomenda a concordância do verbo com o sujeito. 
Assim:
Concordância verbal é a conformidade do verbo 
com seu sujeito em número e pessoa.
Há, entretanto, diversos casos que fogem a esse princípio geral. Como falante nativo 
da língua portuguesa, você certamente sabe concordar, na maioria dos enunciados que 
constrói, os verbos com os seus sujeitos, mas é importante saber que essas regras diferem 
de uma variedade linguística para outra. Portanto, elencamos a seguir algumas das princi-
pais orientações para fazer a concordância segundo a norma-padrão. Não há necessidade 
de memorizar essas regras; é, porém, interessante conhecê-las, para fins de consulta e em 
caráter de informação complementar. 
É esperado que uma pessoa que viva em um contexto no qual a liberdade 
é pequena e o pão é caro não acredite que a vida valha a pena.
1. Sujeito composto formado por elementos claramente distintos 
•	O verbo vai para o plural: 
Crise econômica e crise política assolam diversos países atualmente.
2. Sujeito composto cujos elementos se ligam pela conjunção ou
•	O verbo fica no singular se essa conjunção indica exclusão: 
O filho ou o marido a acompanhará, pois só é permitido levar um convidado.
•	O verbo vai para o plural se essa conjunção indica adição:
Meu filho ou meu maridopodem vir me buscar. 
3. Sujeito composto finalizado por tudo, nada, nenhum, ninguém, cada qual, cada um
•	O verbo fica no singular:
Tios, tias, irmãos, cada um se organizou para comparecer à festa.
Os cadernos, os lápis, os estojos coloridos, tudo lembrava os tempos de escola.
4. Sujeito composto posposto ao verbo
•	O verbo pode ir para o plural ou concordar com o elemento mais próximo:
Viajaram o pai e os filhos. / Viajou o pai e os filhos.
5. Sujeito formado por nomes que só têm forma plural
•	O verbo concorda com o artigo que acompanha o nome ou fica no singular se o nome dispensa a presença de 
artigo: 
Os Estados Unidos ficaram em 2¼ lugar no quadro de medalhas.
O Amazonas é um rio muito extenso.
Vassouras se localiza a pouco mais de 100 km do Rio de Janeiro.
25O Pré-Modernismo. Concordância verbal. O conto CAPÍTULO 1
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A concordância 
ideológica ou silepse
Leia o texto:
Os jornalistas somos sempre ávidos pela caça às bruxas. 
Onde existe um pouco de fumaça nós projetamos fogo e va-
mos buscar fatos que possam proporcionar boas manchetes 
de primeira página.
(Disponível em: http://www.bang.com.br/mostra_noticia.php?id=68. Acesso em: 28/2/2016.)
Em casos como esse, a concordância da forma verbal somos com o sujei-
to os jornalistas não se dá pela forma da pessoa verbal, mas sim pelo senti-
do. Ao utilizar essa estratégia, o enunciador se inclui como parte do grupo 
de jornalistas a que se refere, sem necessariamente utilizar a forma prono-
minal nós. Essa construção caracteriza silepse de pessoa. Também é possível 
fazer a concordância pela silepse de gênero (como em “Vossa alteza parece 
cansado”) ou de número (como em “A família se arrumou rápido e logo es-
tavam prontos para sair”).
6. Sujeito formado pelo pronome que
•	O verbo concorda em pessoa e número com o antecedente:
Fui eu que paguei. / Foram eles que pagaram. / Fomos nós que pagamos.
7. Sujeito formado pelo pronome quem
•	O verbo preferencialmente fica na 3ª pessoa do singular, embora seja possível concordá-lo em 
pessoa e número com o antecedente:
Quem participa da criação, produz, fotografa e filma a atriz são seus próprios funcionários.
Somos nós quem fica aqui esperando. / Somos nós quem ficamos aqui esperando. 
8. Expressões cerca de, perto de, mais de, menos de
•	O verbo concorda com o numeral que segue a expressão:
Mais de uma pessoa chegou mais cedo.
Menos de dez pessoas chegaram mais cedo.
9. Expressões alguns, quantos, quais de nós, quais de vós
•	O verbo preferencialmente concorda com o pronome pessoal (nós/vós), embora seja possível 
concordá-lo com o pronome indefinido (3ª pessoa do plural):
Quantos de nós ficaremos aqui esperando? / Quantos de nós ficarão aqui esperando?
10. Expressões um dos que, uma das que
•	O verbo pode ficar no singular ou pode ir para o plural, dependendo da ênfase que se quer 
dar à referência do verbo (se a todos ou se a um que se destaque):
O filme brasileiro foi um dos que ganharam o prêmio.
O filme brasileiro foi um dos que chamou a minha atenção.
11. Expressões um e outro, nem um nem outro
•	O verbo pode ficar no singular ou pode ir para o plural, indiferentemente:
Um e outro foi embora. / Um e outro foram embora.
Nem um nem outro entendeu direito. / Nem um nem outro entenderam direito.
12. Expressões parte de, a maioria de, metade de, grande parte de
•	Se seguidas por uma palavra no singular, o verbo fica no singular; se seguidas por uma 
palavra no plural, o verbo pode ficar no singular ou pode ir para o plural:
A maioria da classe preferiu sair mais cedo.
A maioria dos alunos preferiu sair mais cedo. / A maioria dos alunos preferiram 
sair mais cedo. 
Vende-se ou vendem-se 
apartamentos?
Há atualmente uma discussão, que 
envolve tanto gramáticos quanto lin-
guistas, sobre a concordância dos 
verbos nas orações em voz passiva 
sintética. Alguns linguistas conside-
ram que nesses casos o sujeito é in-
determinado e o verbo deveria ficar na 
3ª pessoa do singular, como acontece 
com os verbos intransitivos (a voz pas-
siva é admitida com verbos transitivos, 
diretos ou indiretos). 
A gramática normativa, no entanto, 
determina que, nessas frases, o sujeito 
vem posposto à forma verbal, devendo, 
portanto, o verbo concordar com ele. 
Assim, temos:
Vendem-se apartamentos nes-
te condomínio.
Vende-se um apartamento na 
praia. 
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MAs concordâncias dos 
verbos impessoais e do verbo ser
Os verbos impessoais são empregados apenas na 3» pessoa do singular, independente-
mente do enunciado em que se inserem. São verbos impessoais:
•	 os que indicam fenômenos da natureza: Choveu todos os dias desse feriado.
•	 haver com sentido de existir, acontecer: Há três casas nessa rua. / Houve quatro ses-
sões da peça no fim de semana.
•	 haver, fazer, estar, ir indicando tempo: Visitei esta cidade há três anos. / Faz três anos que 
visitei esta cidade. / Está quente aqui. / Já vai para três anos que estive nesta cidade.
No caso do verbo ser, este pode concordar com o sujeito ou com o predicativo do sujei-
to nas frases em que aparece. Entre os fatores que determinam a concordância, estão os 
casos em que o sujeito ou o predicativo são:
•	 nome de pessoa ou pronome pessoal − o verbo concorda com a pessoa gramatical:
Marcos foi as piadas da família.
•	 nome de coisa − o verbo concorda preferencialmente com o que estiver no plural:
Os programas de TV são a minha perdição.
 APLIQUE O QUE APRENDEU 
Leia a história em quadrinhos a seguir.
(Disponível em: http://www.gurianciao.com.br/ 
website/index.php?option=com_content&view= 
article&id=460:como-foi-inventada-a-mae&catid= 
14:tiras&Itemid=171. Acesso em: 2/3/2016.)
1.	 Nos quatro primeiros quadrinhos, é contada uma história pela voz de um narrador. 
 a. Qual expressão é utilizada para marcar o tempo em que se passa essa história? 
 b. Qual expressão temporal é utilizada para marcar uma mudança no cenário inicial 
da história?
Há milhares e milhares de anos
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27O Pré-Modernismo. Concordância verbal. O conto CAPÍTULO 1
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2.	 Releia o trecho a seguir.
“Só existia pai, e a filharada comia apenas macarrão e ovo frito.”
	 Reescreva-o, fazendo as devidas alterações e substituindo:
 a. o verbo existir pelo verbo haver
 b. a palavra pai por pai e avô
 c. o verbo existir pelo verbo haver e a palavra pai por pai e avô
 d. a filharada por os filhos
3.	 Observe a frase “E sempre perdia a perua!”, do 2º quadrinho.
 a. A quem se refere a forma verbal perdia? Justifique sua resposta. 
 b. Sem mudar o contexto da história, reescreva a frase alterando o sujeito do verbo 
perder e fazendo as devidas alterações em sua concordância. 
4.	 Justifique o emprego do verbo haver no singular na frase “havia outros milhares de 
anos”, no 3º quadrinho. 
5.	 O 5º quadrinho revela o contexto em que a história inicial estava sendo contada. Qual 
é esse contexto? 
6.	 Reescreva a frase “Foi assim que surgiu a mãe!”, fazendo as devidas alterações e subs-
tituindo a mãe por:
 a. as mães; 
 b. a maioria dos homens; 
 c. nós, seres humanos. 
7.	 O 5º e o 6º quadrinhos revelam uma reviravolta em toda a história, acrescentando um 
novo sentido a tudo que veio antes.
 a. O que esse quadrinho sugere sobre a história contada nos quatro primeiros? 
 b. O que esse quadrinho sugere sobre a Internet, em geral? 
TEXTO E ENUNCIAÇÃO
Leia o texto a seguir e responda às questões de 1 a 3. 
Desde que nascemos já estamos seguindo os passos escolhidos para nós. Há 
papéis a serem cumpridos. Meninas vestidas de rosa, meninos de azul. Chega-
mos ao ponto de uma empresa fabricar perucas para bebês. Para meninas,claro. 
Durante a infância, os brinquedos seguem o mesmo padrão de cores, e começa-
mos a ver a divisão sexual do trabalho. Enquanto garotas brincam de lavar louça, 
eles estão construindo coisas e sendo super-heróis.
Estes papéis de gênero são opressores para todos nós, mas as mulheres somos 
levadas a acreditar que não podemos desejar nada além daquilo. Forma-se, então, 
uma angústia dentro de nós, como se houvesse algo de errado, mas não conseguimos 
identificar o que é. Muitas de nós, que nos identificamos mais com as “brincadeiras 
de menino”, passamos a nos considerar menos mulheres. Menos. Incompletas.
(Disponível em: http://www.cartacapital.com.br/blogs/feminismo-pra-que/ 
feminismo-e-uma-construcao-274.html. Acesso em: 18/3/2016.)
Só havia pai...
Só existiam pai e avô...
Só havia pai e avô...
... e os filhos comiam apenas macarrão e ovo frito.
Ao pai, pois a forma verbal está no singular.
Entre outras possibilidades: e as crianças sempre per-
diam a perua; a filharada sempre perdia a perua.
Nesse contexto, o verbo haver é impessoal; por isso, é sempre empregado na 3ª pessoa do singular.
A história era contada por um site da Internet, numa busca feita por duas crianças.
Foi assim que surgiram as mães.
Foi assim que surgiu/surgiram a maioria dos homens.
Foi assim que surgimos nós, seres humanos.
Que se trata de uma história falsa, inventada.
Que na Internet há muitas histórias falsas, nas quais não se pode confiar.
28 UNIDADE 1 RUPTURA E CONSTRUÇÃO 
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1.	 Ao longo de todo o 1º parágrafo são utilizados verbos conjugados na 1ª pessoa do plu-
ral. Nesse contexto, a quem se referem essas formas verbais? Justifique sua resposta 
com base no texto. 
2.	 No 2º parágrafo, permanece o uso das formas na 1ª pessoa do plural, mas há uma 
mudança no referente.
 a. Qual trecho explicita essa mudança? 
 b. Como se explica gramaticalmente a concordância feita nesse 2º parágrafo? 
 c. Quem passa, portanto, a ser o referente? 
3.	 Reescreva as frases a seguir, extraídas do texto, fazendo as substituições solicitadas e 
as alterações necessárias.
 a. “Há papéis a serem cumpridos” − substituindo o verbo haver pelo verbo existir 
 b. “os brinquedos seguem o mesmo padrão de cores” − substituindo “os brinquedos” 
por “a brincadeira” 
 c. “os brinquedos seguem o mesmo padrão de cores” − substituindo os brinquedos 
por a maior parte dos brinquedos 
 d. “Enquanto garotas brincam de lavar louça, eles estão construindo coisas e sendo 
super-heróis” − substituindo garotas por menina e eles, por menino. 
 e. “nós, que nos identificamos mais com as ‘brincadeiras de menino’, passamos a nos 
considerar menos mulheres”, substituindo nós por eu. 
	 Leia a seguir algumas expressões populares e responda às questões de 4 a 6.
 I. É nóis.
 II. Tá ligado?
 III. Tamo junto.
IV. Tô de boa.
4.	 Três dessas expressões contêm formas que se originam de um mesmo verbo.
 a. Quais são elas e qual é esse verbo?
 b. Qual é o verbo utilizado na outra expressão? 
5.	 É comum gírias e expressões populares subverterem as regras impostas pela nor-
ma-padrão. Apesar de todas elas serem construídas com regras diferentes das re-
gras da norma-padrão, apenas em uma delas essa diferença é pautada na concor-
dância verbal.
 a. Qual é essa forma? 
 b. Justifique essa afirmação. 
 c. Como ficaria essa expressão segundo as regras de concordância da norma-padrão? 
Ela teria o mesmo efeito? Justifique sua resposta.
6.	 A diferença entre as demais formas e a norma-padrão não se dá pela concordância.
 a. Justifique essa afirmação com base nas terminações das formas verbais. 
 b. Levante hipóteses: Qual o motivo pelo qual essas formas não correspondem às for-
mas da norma-padrão? 
 c. Como ficariam essas expressões segundo a norma-padrão? Elas teriam o mesmo 
efeito? Justifique sua resposta. 
Trata-se de um “nós” que pode ser considerado universal, um “nós, sociedade”, “nós, seres huma-
nos, no geral”, pois contrapõe genericamente os comportamentos de meninos e meninas. 
As mulheres somos levadas
Trata-se de uma silepse de gênero ou uma concordância ideológica.
Um “nós” que inclui o enunciador e as mulheres, deixando o restante das pessoas de fora.
Existem papéis a serem cumpridos.
A brincadeira segue o mesmo padrão de cores...
A maior parte dos brinquedos segue/seguem...
Enquanto menina brinca de lavar a louça, menino está construindo coisas e sendo super-herói.
eu, que me identifico mais com as “brincadeiras de menino”, passo a me considerar menos mulher.
II, III e IV; o verbo estar.
O verbo ser.
É nóis
Só nessa forma há discordância entre a pessoa do pronome e a pessoa da forma verbal.
 “Somos nós”. Não teria o mesmo efeito, pois se trata de uma forma que expri-
me uma identidade de grupo e que se descaracteriza ao ser alterada.
As formas verbais das expressões contêm as terminações equivalentes às conjugações tradicionais e concordam com seus sujeitos, tal como previsto pela 
gramática.
Porque se aproximam de uma variedade oral, próxima da fala. 
“está ligado?”; “estamos juntos”, “estou de boa”. Não, pois as modificações feitas levam a 
mudanças de sentido que deixam de lado o efeito de identidade de grupo que deu origem a 
essas expressões, descaracterizando-as.
29O Pré-Modernismo. Concordância verbal. O conto CAPÍTULO 1
PortuguesContemporaneo3_UN1_CAP1_012a037.indd 29 5/12/16 6:05 PM
PRODUÇÃO DE TEXTO
O conto
o CoNtexto de Produção e reCePção doS textoS
Quais textos você produzirá nesta unidade? Com que finalidade? Quem vai 
ler seus textos?
Nesta unidade, nosso projeto é a organização, pela classe, de uma antologia 
de contos, minicontos e contos fantásticos multimodais, com textos, imagens e 
músicas. 
Com vistas à produção da antologia, estudaremos no decorrer dos capítulos 
diferentes tipos de contos.
FOCO NO TEXTO 
Leia o conto que segue, do escritor angolano Ondjaki.
Nós chorámos pelo Cão Tinhoso
Para Isaura. Para Luís B. Hondwana
Foi no tempo da oitava classe, na aula de português. 
Eu já tinha lido esse texto dois anos antes mas daquela vez a estória me parecia 
mais bem contada com detalhes que atrapalhavam uma pessoa só de ler ainda em 
leitura silenciosa – como a camarada professora de português tinha mandado. Era um 
texto muito conhecido em Luanda: “Nós matámos o Cão Tinhoso”.
Eu lembrava-me de tudo: do Ginho, da pressão de ar, da Isaura e das feridas pen-
duradas do Cão Tinhoso. Nunca me esqueci disso: um cão com feridas penduradas. 
Os olhos do cão. Os olhos da Isaura. E agora de repente me aparecia tudo ali de novo. 
Fiquei atrapalhado.
A camarada professora selecionou uns tantos para a leitura integral do texto. Assim 
queria dizer que íamos ler o texto todo de rajada. Para não demorar muito, ela escolheu 
os que liam melhor. Nós, os da minha turma da oitava, éramos cinquenta e dois. Eu era 
o número cinquenta e um. Embora noutras turmas 
tentassem arranjar alcunhas para os cole-
gas, aquela era a minha primeira turma 
onde ninguém tinha escapado de ser 
alcunhado. E alguns eram nomes de 
estiga violenta.
Muitos eram nomes de ani-
mais: havia o Serpente, o Cabri-
to, o Pacaça, a Barata da Sibéria, 
a Joana Voa-Voa, a Gazela, e o 
Jacó, que era eu. Deve ser por-
que eu mesmo falava muito 
nessa altura. Havia o É-tê, o 
Agostinho-Neto, a Scubidu e 
alcunha: apelido.
bué: muito.
bondar: matar.
cacimbo: umidade; 
inverno.
camarada: colega, 
companheiro de armas; 
forma de tratamento usada 
pelos membros do Partido 
Comunista. 
calhar: acontecer, ocorrer 
por acaso.
cueca: calcinha.
estiga: frase espirituosa 
com a qual se debocha de 
alguém.
maka: discussão, debate, 
briga, confusão.
miúdo: criança.
porreira: bonita, 
excelente, prestativa.
slow: dança de ritmo 
lento na qual o casal fica 
aconchegado. 
tinhoso: nojento, 
repugnante.
o número cinquenta e um. Embora noutras turmas 
tentassem arranjaralcunhas para os cole-
gas, aquela era a minha primeira turma 
onde ninguém tinha escapado de ser 
alcunhado. E alguns eram nomes de 
estiga violenta.
mais: havia o Serpente, o Cabri-
to, o Pacaça, a Barata da Sibéria, 
Agostinho-Neto, a Scubidu e 
Nelson Provazi
30 UNIDADE 1 RUPTURA E CONSTRUÇÃO 
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mesmo alguns professores também não escapavam da nossa lista. Por acaso a ca-
marada professora de português era bem porreira e nunca chegámos a lhe alcunhar.
Os outros começaram a ler a parte deles. No início, o texto ainda está naquela parte 
que na prova perguntam qual é e uma pessoa diz que é só introdução. Os nomes dos 
personagens, a situação assim no geral, e a maka do cão. Mas depois o texto ficava duro: 
tinham dado ordem num grupo de miúdos para bondar o Cão Tinhoso. Os miúdos ti-
nham ficado contentes com essa ordem assim muito adulta, só uma menina chamada 
Isaura afinal queria dar proteção ao cão. O cão se chamava Cão Tinhoso e tinha feridas 
penduradas, eu sei que já falei isto, mas eu gosto muito do Cão Tinhoso.
Na sexta classe eu também tinha gostado bué dele e eu sabia que aquele texto era duro 
de ler. Mas nunca pensei que umas lágrimas pudessem ficar tão pesadas dentro duma pes-
soa. Se calhar é porque uma pessoa na oitava classe já cresceu um bocadinho mais, a voz já 
está mais grossa, já ficamos toda hora a olhar as cuecas das meninas “entaladas na gaveta”, 
queremos beijos na boca mais demorados e na dança de slow ficámos todos agarrados até 
os pais e os primos das moças virem perguntar se estamos com frio mesmo assim em 
Luanda a fazer tanto calor. Se calhar é isso, eu estava mais crescido na maneira de ler o 
texto, porque comecei a pensar que aquele grupo que lhes mandaram matar o Cão Tinhoso 
com tiros de pressão de ar, era como o grupo que tinha sido escolhido para ler o texto. 
Não quero dar essa responsabilidade na camarada professora de português, mas foi 
isso que eu pensei na minha cabeça cheia de pensamentos tristes: se essa professora 
nos manda ler este texto outra vez, a Isaura vai chorar bué, o Cão Tinhoso vai sofrer 
mais outra vez e vão rebolar no chão a rir do Ginho que tem medo de disparar por causa 
dos olhos do Cão Tinhoso. 
O meu pensamento afinal não estava muito longe do que foi acontecendo na mi-
nha sala de aulas, no tempo da oitava classe, turma dois, na escola Mutu Ya Kevela, no 
ano de mil novecentos e noventa: quando a Scubidu leu a segunda parte do texto, os 
que tinham começado a rir só para estigar os outros, começaram a sentir o peso do tex-
to. As palavras já não eram lidas com rapidez de dizer quem era o mais rápido da turma 
a despachar um parágrafo. Não. Uma pessoa afinal e de repente tinha medo do próxi-
mo parágrafo, escolhia bem a voz de falar a voz dos personagens, olhava para a porta da 
sala como se alguém fosse disparar uma pressão de ar a qualquer momento. Era assim 
na oitava classe: ninguém lia o texto do Cão Tinhoso sem ter medo de chegar ao fim. 
Ninguém admitia isso, eu sei, ninguém nunca disse, mas bastava estar atento à voz 
de quem lia e aos olhos de quem escutava. 
O céu ficou carregado de nuvens escurecidas. Olhei lá para fora à espera de 
uma trovoada que trouxesse uma chuva de meia-hora. Mas nada. 
Na terceira parte até a camarada professora começou a engolir cuspe 
seco na garganta bonita que ela tinha, os rapazes mexeram os pés com 
nervoso miudinho, algumas meninas começaram a ficar de olhos mo-
lhados. O Olavo avisou: “quem chorar é maricas então!” e os rapazes 
na oitava classe: ninguém lia o texto do Cão Tinhoso sem ter medo de chegar ao fim. 
Ninguém admitia isso, eu sei, ninguém nunca disse, mas bastava estar atento à voz 
de quem lia e aos olhos de quem escutava. 
O céu ficou carregado de nuvens escurecidas. Olhei lá para fora à espera de 
uma trovoada que trouxesse uma chuva de meia-hora. Mas nada. 
Na terceira parte até a camarada professora começou a engolir cuspe 
seco na garganta bonita que ela tinha, os rapazes mexeram os pés com 
nervoso miudinho, algumas meninas começaram a ficar de olhos mo-
lhados. O Olavo avisou: “quem chorar é maricas então!” e os rapazes 
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O Pré-Modernismo. Concordância verbal. O conto CAPÍTULO 1
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todos ficaram com essa responsabilidade de fazer uma cara como se nada 
daquilo estivesse a ser lido. 
Um silêncio muito estranho invadiu a sala quando o Cabrito se sentou. A 
camarada professora não disse nada. Ficou a olhar para mim. Respirei fundo.
Levantei-me e toda a turma estava também com os olhos pendurados em 
mim. Uns tinham-se virado para trás para ver bem a minha cara, outros fun-
gavam do nariz tipo constipação de cacimbo. A Aina e a Rafaela que eram 
muito branquinhas estavam com as bochechas todas vermelhas e os olhos 
também, o Olavo ameaçou-me devagar com o dedo dele a apontar para mim. 
Engoli também um cuspe seco porque eu já tinha aprendido há muito tempo 
a ler um parágrafo depressa antes de o ler em voz alta: era aquela parte do 
texto em que os miúdos já não têm pena do Cão Tinhoso e querem lhe matar 
a qualquer momento. Mas o Ginho não queria. A Isaura não queria. 
A camarada professora levantou-se, veio devagar para perto de mim, 
ficou quietinha. Como se quisesse me dizer alguma coisa com o corpo dela 
ali tão perto. Aliás, ela já tinha dito, ao me escolher para ser o último a fe-
char o texto, e eu estava vaidoso dessa escolha, o último normalmente era 
o que lia já mesmo bem. Mas naquele dia, com aquele texto, ela não sabia 
que em vez de me estar a premiar, estava a me castigar nessa responsabi-
lidade de falar do Cão Tinhoso sem chorar. 
— Camarada professora — interrompi numa dificuldade de falar. — 
Não tocou para a saída? 
Ela mandou-me continuar. Voltei ao texto. Um peso me atrapalhava a 
voz e eu nem podia só fazer uma pausa de olhar as nuvens porque tinha 
que estar atento ao texto e às lágrimas. Só depois o sino tocou. 
Os olhos do Ginho. Os olhos da Isaura. A mira da pressão de ar nos olhos 
do Cão Tinhoso com as feridas dele penduradas. Os olhos do Olavo. Os 
olhos da camarada professora nos meus olhos. Os meus olhos nos olhos 
da Isaura nos olhos do Cão Tinhoso.
Houve um silêncio como se tivessem disparado bué de tiros dentro da 
sala de aulas. Fechei o livro.
Olhei as nuvens.
Na oitava classe, era proibido chorar à frente dos outros rapazes.
(In: Rita Chaves, org. Contos africanos de língua portuguesa. 
São Paulo: Ática, 2009. p. 98-103.)
1.	 Logo no início, o texto faz referência a outro conto, “Nós matamos o Cão 
Tinhoso”, do escritor moçambicano Luís Bernardo Honwana. 
 a. Quem é o narrador na história de Ondjaki? 
 b. Há quanto tempo ele já tinha lido o texto de Honwana? 
 c. Levante hipóteses: Por que, na primeira vez, a história lhe parecera 
“mais bem contada”? 
2.	 A professora de português propôs a leitura integral do conto a alguns 
estudantes da classe, de modo que cada um lesse uma parte do texto 
em voz alta.
 a. Por que essa tarefa era muito difícil para eles?
 b. Jacó, ao ser escolhido para ler a parte final do texto, sentiu-se premia-
do e punido ao mesmo tempo. Explique por quê.
Professor: Comente com os alunos que, no organograma educativo de Moçambique, 
implantado no país em 2004, a 8ª classe equivale ao 9º ano, no Brasil.
Um menino da 8ª classe, apelidado Jacó. 
Ele tinha lido o conto no 6º ano; logo, fazia dois anos.
Provavelmente por ser o primeiro contato com o texto e também por ainda ser criança e ter 
se impressionado muito com o sofrimento do animal e com a angústia de Ginho, o narrador.
Porque a história era muito emocionante e eles sentiam 
vontade de chorar, mas não queriam chorar em público.
Premiado porque geralmente quem lia a parte mais importante era o aluno que sabia ler melhor; punido porque teria de 
ler a parte maistriste da história − a da morte do cão − sem chorar.
Ondjaki
Ondjaki nasceu em Luanda, 
Angola, em 1977. Interessa-se 
pela interpretação teatral e 
pela pintura (duas exposições 
individuais, em Angola e no 
Brasil). Participou em antolo-
gias internacionais. Escreve 
para cinema e correalizou um 
documentário sobre a cidade 
de Luanda (Oxalá cresçam Pi-
tangas, 2006). É membro da 
União dos Escritores Angola-
nos. É licenciado em Sociolo-
gia. Recebeu no ano 2000 uma 
menção honrosa no prêmio 
António Jacinto (Angola) pelo 
livro de poesia Actu Sanguí-
neu. Em 2005 o seu livro de 
contos E se amanhã o medo 
obteve os prêmios Sagrada 
Esperança (Angola) e António 
Paulouro (Portugal).
(Disponível em: http://www.nova 
cultura.de/0708literatrip.php. Acesso 
em: 24/12/2015.) 
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3.	 Para situar as emoções que a leitura do texto de Honwana provocava nos alunos 
durante a aula, Jacó menciona algumas partes do conto e, assim, de certa forma 
também se torna narrador de outra história. Desse modo, em vários momentos as 
duas narrativas se cruzam, criando um paralelo entre os fatos ocorridos no conto de 
Honwana e os fatos ocorridos no conto de Ondjaki.
 a. Destaque um trecho do conto em que o narrador Jacó explicita esse paralelo entre 
as duas histórias.
 b. Considerando o paralelo, indique, em seu caderno, a possível relação entre as se-
guintes personagens do conto de Honwana e personagens do conto de Ondjaki.
• administrador e veterinário 
• o cão
• Ginho
• Isaura
• as crianças 
4.	 A seguir, leia um trecho do conto de Honwana, releia um trecho do conto de Ondjaki 
− ambos da parte final de cada história − e compare-os.
“O Cão Tinhoso olhava-me com força. Os seus olhos azuis não tinham brilho 
nenhum, mas eram enormes e estavam cheios de lágrimas que lhe escorriam pelo 
focinho. Metiam medo aqueles olhos, assim tão grandes, a olhar como 
uma pessoa a pedir qualquer coisa sem querer dizer. Quando eu olha-
va agora para dentro deles, sentia um peso muito maior do que quan-
do tinha a corda a tremer de tão esticada, com os ossos a querer fugir 
da minha mão e com os latidos que saíam a chiar, afogados na boca 
fechada.”
(Disponível em: http://www.prof2000.pt/users/
leiria/cao_tinhoso.htm. Acesso em: 20/1/2016.)
“Os olhos do Ginho. Os olhos de Isaura. A mira da pressão de ar nos 
olhos do Cão Tinhoso com as feridas dele penduradas. Os olhos do Ola-
vo. Os olhos da camarada professora nos meus olhos. Os meus olhos 
nos olhos da Isaura nos olhos do Cão Tinhoso”.
 a. Explique de que modo as duas narrativas se cruzam nesses trechos.
 b. Na frase “Os meus olhos nos olhos da Isaura nos olhos do Cão Tinhoso”, além do 
cruzamento semântico, há também um cruzamento sintático. Identifique-o e ex-
plique como ele ocorre.
3. a) Entre outras possibilidades: “Não quero dar essa responsabilidade na camarada professora de português, mas foi isso que eu pensei na minha cabeça cheia 
de pensamentos tristes”, ou seja, comparando a situação dos alunos na sala com a situação vivida pelas personagens no conto de Honwana.
Adm. e veterinário: Seria a professora, que dá a ordem de leitura aos me-
ninos; contudo, o próprio narrador rejeita essa hipótese, por gostar dela. 
O cão: Os estudantes da sala de Jacó, que sofrem tentando segurar o choro 
e querendo parar a leitura, sem poder fazer isso. Pode ser também o próprio 
conto, considerando-se que ele emociona os estudantes, assim como a mor-
te do cão emocionou os meninos.Corresponde a Jacó, pois ambos são narradores das histórias que contam.
Isaura: Não há correspondência direta entre ela e alguma personagem do conto de Ondjaki. O próprio Jacó é 
o que se aproxima mais de Isaura, dada sua sensibilidade com relação à história do cão.
As crianças: De certa forma, são os estudantes da sala de Jacó; isso, 
porém, em um patamar de consciência mais elevado (como será visto 
na questão 5).
4. a) O conto de Ondjaki cita tanto personagens da história contada por 
Jacó quanto personagens da história contada por Ginho. Assim, realidade 
e ficção se misturam com o objetivo de mostrar que as personagens do 
conto de Ondjaki reviviam as emoções vividas pelas personagens do 
conto de Honwana.
Ele ocorre na última frase, na qual um termo, com a função de sujeito, foi suprimido. Se esse termo fosse explicitado, 
a frase ficaria mais ou menos assim: Os meus olhos nos olhos da Isaura e [os olhos dela] nos olhos do Cão Tinhoso.
Cão Tinhoso: metáfora de uma nação
“Nós matamos o Cão Tinhoso” é o nome de um conto do escritor moçambicano Luís Bernardo Honwana. O conto 
foi publicado no livro de mesmo nome, na época em que Moçambique era colônia portuguesa, durante a ditadura 
de Salazar, em Portugal. 
Quando Honwana escreveu a obra, a única que publicou, encontrava-se na prisão, por causa de seus textos de 
contestação ao regime e da participação na Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo). Depois que Moçambi-
que alcançou a independência, Honwana ocupou o cargo de ministro da Cultura do país. 
O conto “Nós matamos o Cão Tinhoso” conta a história de um cão já bastante idoso e debilitado que é morto a 
tiros de espingarda de pressão por um grupo de crianças, a mando do administrador e do veterinário do povoado. 
A única criança que gostava do cão e lhe dava comida e carinho era a menina Isaura. O narrador da história, Ginho, 
também gostava do animal, mas, pressionado pelos amigos, também decide matar o cão, porém na última hora se 
arrepende, sem conseguir alterar a situação.
Segundo alguns críticos, a história do cão tinhoso é uma metáfora do povo moçambicano antes da revolução, ou seja, o cão representa a condição 
do homem moçambicano sem consciência política, impotente, inferiorizado e subserviente. 
Andressa Honório
aemo.mmo.co.mz
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O Pré-Modernismo. Concordância verbal. O conto CAPÍTULO 1
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5.	 No início do conto, há a seguinte dedicatória: “Para a Isaura. Para o Luís B. Honwana”. 
Como você sabe, Isaura é personagem do conto “Nós matamos o Cão Tinhoso” e Luís 
B. Honwana é o autor do conto. Levante hipóteses: Por que uma personagem de fic-
ção e um escritor real são homenageados na dedicatória?
Sugestão de resposta: Isaura, por ser a única personagem mais humanizada e solidária da história, traços que provavelmente Ondjaki aprecia; e 
Honwana por ser o criador do texto a partir do qual o de Ondjaki foi criado, como numa espécie de agradecimento e reconhecimento.
A origem do conto
O conto é um gênero que nasceu de tradição oral e há milênios faz parte da cultura de povos 
de todo o mundo. Contado nas noites de luar ou em volta das fogueiras, o conto primitivamente 
tratava de histórias de bichos ou de antigos mitos.
Os primeiros contos de que se tem registro são os de As mil e uma noites, obra que data do 
início do século IX. Neles, o rei Xariar, desiludido com as mulheres em razão de ter sido traído por 
sua esposa, decide desposar a cada noite uma virgem e matá-la na manhã seguinte para, assim, 
não ser traído novamente. Xerazade, quando escolhida, evita a morte contando ao rei narrativas 
fascinantes, cada uma das quais dando em outra. Com isso, o rei, querendo conhecer o fim da 
história, sempre espera mais uma noite antes de mandar matá-la. Depois de mil e uma noites, 
apaixonado por Sherazade, ele finalmente desiste de seu propósito.
Com o passar dos séculos, o conto foi se afastando da tradição oral e se tornou um gênero 
literário requintado, cultivado por grandes escritores no mundo inteiro.
6.	 Angola e Moçambique são duas ex-colônias portuguesas que se libertaram de Por-
tugal em 1975. Os dois países têm, portanto, muitos pontos em comum quanto à his-
tória, à cultura e à língua, que afloram no trabalho intertextual deOndjaki. Alguns 
críticos consideram que o conto “Nós matamos o Cão Tinhoso” é metáfora de um 
povo humilhado pelo colonialismo, pelas perseguições políticas, pela censura e pelas 
prisões, enquanto a crueldade dos meninos representaria a falta de consciência polí-
tica do povo. 
 a. Tomando essas informações como referência, interprete: O que representa, no tex-
to de Ondjaki, a leitura do conto em voz alta feita pelos adolescentes?
 b. O que o choro dos adolescentes, que toma conta da classe de Jacó, representa?
7.	 O texto foi escrito em português angolano. Nele, é possível encontrar palavras que 
são usadas exclusivamente em Angola ou em Angola e Portugal. Identifique algumas 
dessas palavras, que ilustram a variedade moçambicana ou lusitana de nossa língua. 
8.	 O texto lido é um conto, gênero que pertence à esfera literária. Leia o boxe “O conto e 
sua estrutura tradicional” e, depois, responda: 
 a. Que parágrafos do conto correspondem à introdução?
 b. Qual é o conflito do conto?
 c. O que ocorre no desenvolvimento da ação? 
 d. Qual é o clímax da narrativa?
 e. Que parágrafos correspondem ao desfecho?
6. a) Considerando que 
o texto de Honwana foi 
escrito na prisão, durante 
a ditadura salazarista, e 
que ele reflete o clima de 
censura e o sentimento de 
opressão vividos na épo-
ca, a leitura em voz alta 
desse texto, anos depois, 
em outro país africano, 
representa a libertação 
dos povos moçambicano e 
africano. A leitura em voz 
alta significa a liberdade 
de poder falar alto, sem 
medo da censura ou da 
repressão alcançada por 
grande parte dos povos 
africanos.
b) Professor: Sugerimos 
abrir a discussão com a 
classe, pois pode haver 
mais de uma interpreta-
ção.
Sugestão: Os adolescen-
tes do conto de Ondjaki 
não são mais as crianças 
ingênuas e maldosas do 
conto de Honwana. É 
como se, depois da revo-
lução, tivesse havido um 
crescimento não só físico 
das crianças, agora ado-
lescentes, mas também 
um crescimento emocional 
e intelectual quanto à sen-
sibilidade, à solidariedade 
e à consciência política.
bué, bondar, estiga, miúdo, porreira, slow, cacimbo
A parte composta pelo 1º, 2º e 3º pa-
rágrafos, que corresponde ao trecho 
anterior ao que a professora solicita a 
leitura do conto em voz alta.
O desafio de ler o conto em voz alta sem chorar.
A narração e a descrição de como transcorre a 
leitura do conto de Honwana e a mistura entre 
elementos dos dois contos. Com isso, vai sendo 
criada uma tensão dramática, similar à do conto 
que os alunos estão lendo.
8. d) O momento em que Jacó, o narrador, fica responsável por ler o trecho em que há o clí-
max do outro conto, ou seja, a parte em que as crianças matam o cão. Ele se situa no trecho 
que vai do parágrafo iniciado por “Ela mandou-me continuar” até a frase “Fechei o livro”.
Os dois últimos parágrafos.
Andressa Honório
The Bridgeman Art Library / Keystone Brasil/
Museu de Arte Thomas Henry, Cherbourg, França
34 UNIDADE 1 RUPTURA E CONSTRUÇÃO 
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9.	 Nos contos, a narração pode ser feita em 1ª pessoa ou em 3ª pessoa, como nos demais 
gêneros narrativos ficcionais.
 a. Qual é o ponto de vista narrativo adotado no conto “Nós choramos pelo Cão Tinhoso”? 
 b. O narrador, no momento em que narra, é adolescente ou adulto? Justifique com 
elementos do texto.
 c. O olhar ou a perspectiva do narrador é de um adolescente ou de um adulto? Justifi-
que sua resposta.
10.	No conto, o tempo e o espaço podem ser mais amplos do que na crônica (em que ge-
ralmente os fatos ocorrem durante alguns minutos e em espaço restrito). Além disso, 
normalmente as personagens do conto costumam ter mais profundidade psicológica 
do que na crônica.
 a. O tempo e o espaço no conto “Nós choramos pelo Cão Tinhoso” são amplos ou re-
duzidos? Justifique sua resposta com elementos do texto.
 b. Há aprofundamento psicológico das personagens? Se sim, justifique sua resposta.
HORA DE ESCREVER
Como você sabe, no final da unidade será organizada uma antologia de contos, mini-
contos e contos fantásticos multimodais. 
Seguem duas propostas de produção de contos, a serem desenvolvidas conforme a 
orientação do professor. O(s) conto(s) que você criará poderá(ão) ser escolhido(s) para in-
tegrar a antologia.
1.	 Recontando. Reconte o conto “Nós matamos o Cão Tinhoso”, de Luís B. Honwana, a 
partir de uma destas sugestões:
• Utilizando as informações sobre o conto apresentadas neste capítulo, acrescente 
outras personagens e outros fatos aos da história.
• Leia o conto integral, disponível na Internet, e, depois, conte a história. Não copie 
partes do texto e conte a história toda, mas de forma resumida, em um texto que 
tenha de 30 a 40 linhas. 
O ponto de vista adotado é o de 1ª pessoa.
Não há elementos que possam comprovar seguramente, mas provavelmente é adulto, especialmente 
por causa da expressão “Foi no tempo”, que remete a um passado distante.
9. c) A perspectiva é de um 
adolescente, Jacó. Isso 
porque o narrador procu-
ra se situar no momento 
em que ocorreu o evento 
e retratar o modo como 
ele e os colegas se senti-
ram então, anos atrás. Por 
exemplo, quando se refere 
ao “nervoso miudinho dos 
rapazes, os “olhos molha-
dos” das meninas ou o tre-
cho “ninguém lia o texto do 
Cão Tinhoso sem ter medo 
de chegar ao fim. Ninguém 
admitia isso, eu sei, nin-
guém nunca disse, mas 
bastava estar atento à voz 
de quem lia e aos olhos de 
quem escutava”. 
10. a) O tempo e o espaço são reduzidos, pois a ação ocorre no 
espaço de uma sala de aula e no tempo de uma aula. 
Professor: Reforce que tempo e espaço muito reduzidos não são 
a regra.
10. b) Sim; as ações ocor-
rem mais no plano interior 
das personagens do que 
no espaço externo. O nar-
rador é a personagem com 
maior profundidade psico-
lógica no conto, já que ele 
vivia o desafio de ter de 
fazer a melhor leitura, ler a 
parte mais importante do 
texto e, ao mesmo tempo, 
se esforçar para não cho-
rar. Comprovam esse fato 
suas repetidas tentativas 
de fuga do texto, olhando 
as nuvens, e a pergunta 
que dirige à professora, 
sugerindo interrupção da 
leitura, ao perguntar se já 
não era hora da saída.
Professor: Os alunos poderão desenvolver uma ou duas das propostas ou até as três, de-
pendendo do número de aulas previstas em seu planejamento para o estudo do gênero. 
O conto e sua 
estrutura tradicional
A estrutura narrativa tradicional do 
conto, ainda hoje muito usada, com-
põe-se das seguintes partes: intro-
dução ou apresentação, em que são 
situadas as personagens, no tempo 
e no espaço, em uma condição de 
equilíbrio inicial; complicação ou de-
senvolvimento, em que é exposto e 
desenvolvido o conflito (o problema 
ou o motivo das ações); clímax, o 
momento em que o conflito é resol-
vido ou não; desfecho ou conclusão, 
em que é mostrado o que aconteceu 
depois do conflito e se volta à situação de equilíbrio inicial.
Editora Callis
Editora Pocket Ouro
Companhia das Letrinhas
35O Pré-Modernismo. Concordância verbal. O conto CAPÍTULO 1
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2.	 Explorando pontos de vista. Dependendo da ótica pela qual uma 
história é contada, ela pode passar a ser outra. Escolha uma destas 
sugestões: 
• Conte o conto “Nós matamos o Cão Tinhoso” pela perspectiva do cão.
• Conte o conto “Nós choramos pelo Cão Tinhoso” pela perspectiva da 
professora.
3.	 Passando a bola. O texto a seguir é a introdução de um conto do escritor 
moçambicano Mia Couto. Leia-o e dê continuidade à narrativa, apresen-
tando um conflito, desenvolvendo-o, levando as ações ao clímax e crian-
do um desfecho. Crie fatos e personagens.
O dia em que explodiu 
Mabata-bata
De repente, o boi explodiu. Rebentou sem um múúú. 
No capim em volta choveram pedaços e fatias, grãos e 
folhas de boi. A carne eram já borboletas vermelhas. Os 
ossos eram moedas espalhadas.

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