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A evolt-1ção da ct-1ltt-1 ~á ~e~asce~+i sta ~C\ Jtália organizaçào elas cidades italianas em ciclacles-Estaclos, ou em repúblicas independentes , começa a manifestar-se desde o século XI, através das lutas elas comunidades citadinas contra os senhores feudais que se arrogavam poderes, tutelas e direitos sobre elas. A autonomia completa da maior pane dessas cidades já era um fato concreto no limiar do século XIII. Após uma luta longa e difícil , as comunidades urbanas elaboraram suas próprias regras comunitárias, prevendo ampla participaçào ele todas as camadas que contribuíram para a independência , no governo e aclministraçào da nova república. Entretanto, o aumento ela prosperi dade econômica das cidades mercantis ao longo ele todo esse processo nào contribuiria para reforçar essa solidariedade entre as classes urbanas . Ao contrário, as guildas e corporações mais bem-sucedidas em seus negócios passam a gozar de uma situaçào econômica tào favorável que lhes permite manipular as instituições ela nova república a seu gosto, por meio do suborno, da fraude eleitoral e ela corrupçào administrativa. Assim, o governo das cidades tende a cair nas màos elos líderes elas corporações superiores, o que dá margem à luta elas corporações menores contra as mais poderosas. Nào bastasse isso, como um elos objetivos elos chefes das guildas mais ricas era justamente controlar o governo ela cidade para provocar o rebaixamento elos salários dos jornaleiros, também esses entrarào em luta contra os chefes elas corporações. E, para complicar ainda mais esse cenário turbulento, as cidades mais ricas começam a disputar entre si o controle das 52 principais rotas e centros produtores de matérias-primas e mercado rias , o que as leva a lutar entre si pelo controle estra tégico dos mercados e contra as cidades menores para dominá-las . A Itália dos séculos XIII e XIV, portanto, será marcada por essa convulsào em vários níveis , internos e externos às cidades, por detrás das quais a prosperidade comercial prossegue continuamente, aumentando o vigor elos conflitos . Essa ordem múltipla ele conflitos intensos levaria as cidades progressivamente a nomear um chefe militar, o podestà, encarregado ele controlar tropas mercenárias para as lutas. Os podestà obteriam esses serviços junto aos condottieri, misto de empresários militares e chefes de tropas, que alugavam seus serviços a quem melhor lhes pagasse . É fácil prever a evoluçào dessa conjuntura: em pouco tempo os podestà acabam assumindo todo o controle político elas cidades, graças ao poder ele fato que possuíam nas màos; mas somente para perdê-lo em seguida para os próprios condottieri, que usariam a força ele suas tropas para conquistar o controle elas cidades. Essa situaçào interessava à alta burguesia, que pretendia submeter a cidade a um poder forte , ditatorial e receptivo a suas diretrizes . Essa seria, em resumo, a evoluçào ela maior parte das cidades italianas. Retratos de Francisco Sfnr:a. duque de e de sua mulher Bimtca Maria Viscol//i. de 1450 a 1466. 53 Em algumas, o próprio condottiere controla o poder, como Francesco Sforza em Milão; em outras são os podestà que o mantêm, como os Este em Ferrara, os Gonzaga em Mântua ou Federico de Montefeltro em Urbino, ou cidadãos extremamente ricos que contro lam as tropas e as instituições com os seus recursos , como os Médici em Florença , os Baglioni em Perúgia e os Bentivoglio em Bolonha. São conservadas as instituições republicanas em muitas dessas cidades, como na Florença dos Médici , mas quaisquer estatutos são letra morta diante do poderio incontrolável desses cidadãos de primeira classe. Toda a cidade se submete, em geral sob violência , a suas imposições. Via de regra , irrompem revoltas , como a dos ciompi em Florença 0378), em que os artesãos das corporações menores assumem o controle da cidade por cerca de quatro anos , restaurando a democracia inicial, para serem logo após novamente marginalizados social, econômica e politicamente. Veneza permaneceria como uma repúbli ca com alguma estabilidade, porque ali as poucas famílias que dominavam economicamente a cidade se revezavam no cargo de doge, controlando ciclicamente o poder. É por trás desse panorama tempestuoso que se desenvolve a cultura renascentista , voltada para os princípios do equilíbrio, da harmonia, do naturalismo, da economia do espaço, da forma e da luz; para a racionalidade e a homogeneidade, enfim. Nesse período de caos e opressão, seu compromisso era com a ordem e a liberdade do espírito humano. Tratava-se, então, de uma cultura alienante que procurava negar a dinâmica da realidade? Não, sua coerência se dava com o movimento profundo e não superficial da sociedade, com a expansão das relações mercantis, com o aperfeiçoamento das técnicas produtivas, contabilistas e gerenciais, com a ampliação, homoge neização e conquista do espaço territorial , transformado em espaço econômico . Quem a alimentava era a prosperidade mercantil, daí ela estar comprometida com a atitude racional, projetiva , econômica, organizadora, mas também agressiva , conquistadora , sequiosa de independência , de espaço, de saber e de distinção . Tt<ecenfo Já é um procedimento habitual entre os historiadores dividir o Renascimento italiano em três fases , cada qua l correspondente ao período de um século : o Trecento(século XIV), o Quattrocento(século 54 XV) e o Cinquecento (século XVI). O primeiro desses períodos, chamado também, por alguns estudiosos, de pré-Renascimento, representa a fase inicial de elaboração da cultura renascentista , quando serão esboçados e difundidos alguns dos princípios mais caros da nova arte e do pensamento humanista. Na Itália , esse período é represen tado por criadores dos mais ilustres, como Dante, Petrarca e Boccaccio na literatura; Cimabue, Duccio e Giotto na arte. Nessa fase ainda estão presentes , e muito fortes , os elementos medievais, mas os fermentos da transição agem com maior eficácia, caminhando para a caracteriza ção de um novo estilo de composição, afinado com novos conteúdos e dirigido a sensibilidades modernas. A evolução na arte é muito característica a esse respeito. Esse período é em geral classificado pelos críticos como o dos primitivos italianos . Pode-se perceber nele duas seqüências criativas distintas, embora tendentes a se entrecruzarem. Numa primeira, temos o grupo centrado na cidade de Florença e encabeçado por Cimabue • 0240-1302), Duccio di Buoninsegna 0255-1318) e Giotto (1266- 1337) . É praticamente com esses pintores que nasce a maniera nuova, abandonando o hieratismo e a rigidez do bizantino e explorando a mobilidade, o cromatismo e a espacialidade do gótico. Desse encontro de estilos nasceria um esforço para o encontro da realidade, com preendida como uma figuração comprometida com a impressão sensível e não com valores teológicos, filosóficos ou metafísicos. Esforço visando dar vida e movimento às figuras , expressão aos rostos, colorido às cenas e acrescentar um efeito de espaço à composição. Na docilidade das formas, na expressividade dos personagens e na profundidade dos cenários é que se encontraria o mérito maior desses grandes inovadores. A morte de Giotto é seguida de uma crise econômica particular mente profunda em Florença , com a falência das grandes companhias dos Bardi e dos Peruzzi 0339) . Esta situação persiste e se agudiza até irromper na revolta dos ciompi0378) , abalando a posição econômica e política da cidade e desencorajando os gastos com a arte e a cultura. Quem resgata o ímpeto criativo de Florença nessa fase é então a pequena mas estável comunidade mercantil de Siena . Duccio era nascido nessa cidade, passando a trabalhar mais tarde em Florença. Destacam-se então, na pequena Siena, artistas de primeira grandeza como Simoni Martini 0283-1344), que seria chamado para pintar o palácio dos papas de Avinhão; os irmãos Pietro e Ambrogio Lorenzetti0280-1348); Tacleo Gaddi 0300-1366); Bernardo Daddi 0330-1410); 55 Spinello Aretino 0330?-1 410). A grande contribuição dos artistas de Siena pode ser resumida na seu esforço para aperfeiçoar as técnicas de aprofundamento do espaço. Nào contentes com o espaço estreito e limitado de Giotto, para o qual ele fora buscar inspiração nos cenários teatrais elos mistérios populares, os primitivos sieneses irão tentar a representação do espaço natural, dos campos da cidade. Introduziram um elemento novo, mas que a partir dali se incorporaria definitivamen te à pintura renascentista e, de resto, a toda pintura européia até inícios do século XX: a paisagem. O Trecentopode ser visto como um período de aprendizagem da arte renascentista, embora somente se o virmos da perspectiva do conjunto do movimento, pois guarda uma unidade própria e tem seus valores e seus objetivos. Mantém uma atitude cândida para com a natureza e sua religiosidade guarda o frescor do franciscanismo, tào difundido nas camadas populares . A origem humilde e a condição de artesãos da maioria dos pintores desse período podem nos esclarecer essas disposições de espírito. E nesse sentido há uma visível tensão entre essa arte da pintura , próxima ainda às formas populares, embora cada vez mais comprometida com a burguesia - à qual se dirige-, e a literária , atravessada ele um nítido aristocratismo. Situação, ele resto, compreensível, em vista do estatuto inferior ele que gozava a pintura em relação à literatura, segundo o padrão tradicional da cultura medieva l. Situação que seria plenamente redimida no período seguinte. Ql.-1aHrocenfo O Quattrocentoé a época elas grandes realizações elo Renascimen to. Nele, Florença reassume a hegemonia incontestável da cultura italiana e européia . É o período ele ascensão dos Médici, que controlarão Florença de 1434 a 1492, seguindo-se Cosme , Pedro e Lourenço ele Médici, o Magnífico. Todos foram grandes protetores ele a1tistas , e Lourenço foi o maior dos colecionadores de obras de arte de seu tempo. Lourenço fundou a Academia Platônica de Florença. Era um grande poeta e deu o tom à produção cultural florentina durante todo o seu período ele governo. Esse foi também o período de fast ígio econômico e político da cidade. Florença conquista e mantém sob jugo quase toda a região da Toscana; em 1406 submete Pisa e passa a utilizar-se de s~u porto; em 1421 compra o porto de Livorno, e sua rica 56 burgu~s ia passa a desfrutar lucros imensos no comércio com Veneza . As classes dominantes florentinas concorrem num luxo exibicionista entre si e com as demais cidades. A instalação da cúpula da Catedral de Santa Maria dei Fiori, encomendada ao arquiteto Brunelleschi, consagra com o mais significativo dos monumentos renascentistas a glória e a hegemonia da burguesia florentina . A cidade dá-se até ao luxo de exportar artistas e criadores geniais, como o próprio Leonardo da Vinci. No campo filosófico e lite- rário , o Quattroce11to consagra a vitória do humanismo, com a instalação da cadeira de língua grega na Universidade de Flo rença, aos cuidados do erudito Manuel Chrysoloras e do pla tonismo da Academia Platônica com Marsilio Ficino e Pico de lia Mirandola. A arquitetura tem seu primeiro momento de apo geu com Ghiberti (também es cultor), ainda sob influência gótica, e com o genia l Brunel leschi. Manifesta-se na mesma Florença o primeiro dos gran des escultores renascentistas, Donatello, que daria a suas obras um sentido de monu mentalidade , individualismo e exp ressão psicológica que marcariam toda a arte escul tórica moderna. Suas superfí cies gigantescas são projetadas ele forma a propiciar uma eco nomia racional da forma e do espaço e uma distribuição planejada da luz e das sombras. Cúpula da Catedral de Sama Maria dei Fi01·i. em Florença. obra de Bmnel/eschi. Ao significado que tiveram Brunelleschi para a arquitetura e Donatello para a escultura , corresponde a importância de Masaccio para a pintura. Sendo o principal representante da corrente de pintores que procu raria no século XV aprofundar e levar às últimas conse- 57 A última geração de artistas florentinos des~e mesmo século representaria uma espécie de síntese das duas anteriores, procurando fundir as conquistas formais e espaciais da corrente encabeçada por Masaccio, com a graça , a sutileza e o formalismo dos seguidores de Fra Angelica . Nela se destacaram pintores como Pollaiolo, Andrea del Verrocchio, Filippo Lippi, Ghirlandaio e o sublime Sandro Botticelli. A arte desses pintores oscila entre a representação naturalista e o artificialismo afetado da convenção. Eles se manifestam numa Floren ça já em decadência , cuja burguesia se revestira ele hábitos e atributos aristocráticos, tornando-se uma classe conservadora, sequios<.J de resguardar suas conquistas ele épocas anteriores . A arte dessa geração revela, por isso, um tom extremamente refinado, cortesão e altivo . Era preciso reforçar simbolicamente uma segurança e um fastígio que já não corresponcliam à realidade concreta. Na última metade elo século XV e na primeira elo XVI desenvolveu se ainda uma notável escola ele pintores em Veneza , cujos principais representantes foram Carpaccio, Antone llo ele Messina , Giorgione, os irmãos Gentil e e Giovanni Bellini , e Ticiano. Dadas as condições quase cosmopolitas ela cidade ele Veneza , seus contatos intensos com o Oriente e o norte ela Europa , sua arte seria a resultante ele inúmeras e diversas influências e ela incorporação ele técnicas estrangeiras. A principal dessas técnicas e que daria o tom tão peculiar à pintura veneziana foi a da tinta a óleo. Graças à maior maleabilidade e versatilidade desse recurso, a força dessa arte repousaria sobretudo nos efeitos cromáticos e luminosos que seus pintores conseguiriam. O colorido de seus quadros é rico e variado, a luz solar é irradiante e sempre em tons dourados , o conjunto de suas obras reflete uma atmosfera ambarina, transparente , que homogeneíza todo o clima elo quadro. Aliás, esses pintores não pararam aí, fizeram também expe riências com sombras, trevas e luzes fugazes, conseguindo realizações extremamente felizes, como o revela a Tempestade, ele Giorgione . Como características gerais da arte quatrocentista , caberia lembrar a superação da técnica do afresco pela do quadro realizado em cavalete, que passaria a predominar a partir de então. o quadro é um desdobramento da miniatura, representando uma influência que vinha elo Norte e que superou o afresco, técnica já tradicional da pintura italiana. Na mesma linha ele mudanças, os quadros em madeira seriam rapidamente substituídos por telas , dando ainda mais versatilidade ao trabalho dos artistas . Dessa forma, a arte pictória se libertava definiti vamente da dependência da arquitetura , e os quadros podiam ser 60 transportados comodamente para onde e por quem o quisesse, tornando-se um bem móvel, o que amplia seu valor e intensifica e facilita sua comercialização. É claro que a assimilação da técnica do óleo se tornou a contrapartida dessa arte agora independente, portátil e mais mercantil do que nunca. O próprio formato do quadro (sem fa lar de sua moldura, que começa a constituir uma arte à parte) varia de acordo com o gosto, a necessidade ou os intuitos do pintor ou do colecionador, tornando-se uma moda muito difundida o quadro redondo (tondo) . Primavera, de Bollice/li. A forte penetração elas obras franco-flamengas e das gravuras alemãs no ambiente italiano contribuiria para dar novos rumos a essa arte. Adquire-se o gosto pela representação naturalista do real baseada na figuração variada de rostos, corpos, flores, animais , elementos e objetos que se pode observar. Seguindo o gosto elo Norte, grande parte dos artistas italianos se deixa ria seduzir por uma pintura de descrição e estudo, toda ela voltada para a pluralidade e riqueza ele formas do mundo. Nesse sentido, começariama aparecer as primeiras naturezas mortas, estudos detalhistas ele objetos e elementos arbitrariamente dispostos. Com esse mesmo espírito se imporia a representação da 61 paisagem, voltada para a observação da cena rural , da marinha , que representava cenas portuárias ou de porções do litoral ou do mar, tão ao gosto·dos flamengos. E mais ainda: a preocupação de captar um relance parcial ou uma imagem conjunta de uma cidade, suas ruas e lugares públicos. A pintura começava a ganhar o mundo em todas as suas dimensões. Naturalmente, a preocupação maior estava na representação do ser humano. A arte renascentista nunca se distanciou demasiado dessa sua vocação antropocêntrica. Nesse momento, a preocupação com a figuração da imagem humana se concentraria na representação do corpo, percebido em toda a extensão de sua carnalidade, suas formas, seu peso, sua textura, sua ossatura, sua musculatura, sua anatomia, enfim. A princípio, com Donatello e Masaccio, a materia lidade e a exuberância do corpo vêm sugeridas nas formas sob as roupas. A partir de Luca Signorelli e principalmente com Michelangelo, ele aparece exposto em toda a dignidade superior ela sua nudez : o centro ela criação, o filho de Deus, o herói elo universo, a criatura perfeita. O tema elo nu se torna uma elas fixações da arte ocidental desde essa época . Nos quadros de inspiração religiosa surgem com freqüência cada vez maior cenas que dão ensejo ao tratamento elo nu , como a flagelação, a crucificação, as cenas do paraíso e do inferno e um tema que se torna obses~i·:o: o martírio ele São Sebastião. Por outro lado, o recurso à mitologia clássica também possibilitava uma explo ração ilimitada dos efeitos elo nu e por isso foi bastante praticado, sobretudo com Botticelli. Desenvolve-se também a moela elo retrato profano, das cenas domésticas e de família. Ser eternizado numa tela , com ar altivo, cercado ele símbolos ele poder e de uma clientela subserviente era uma tentação a que os ricos e poderosos não poderiam mais resistir. Esses atributos simbólicos, glória e eternidade, deixaram ele ser um privilégio divino e se tornaram um valor de mercado, à disposição ele quem pudesse adquiri-los. CinqV~ecenfo O último período elo Renascimento italiano e aquele em que as obras artísticas atingiram seu mais elevado grau de elaboração foi o Cinquecento, c01-respondenclo ao século XVI. Nesse momento as cidades italianas começam a enfrentar terríveis dificuldades econômi- 62 cas, que cedo desandam em con flitos sociais agudos, principal mente em virtude elas navegações portuguesa e espanhola que atin gem o Oriente e o continente americano, rompendo e arruinan do o monopólio turco-italiano ele especiarias, que fora até então a base de sua riqueza e poderio. Aproveitando-se elas dificuldades elos italianos, Carlos VIII , rei ele França, invade a Itália em 1494, ele onde só seria expulso em 1495 diante ele uma coligação ele tropas espanholas e alemãs. As cidades já não tinham como reger seus eles tinos , eram os peões no jogo elas grandes potências. Só o papado, em Roma , conseguia, em sua es trutura imperial , reunir recursos , senão para vencer os estrangeiros, pelo menos para mantê-los ca l mos, satisfeitos e distantes. Mas tal situação não poderia estender-se Moisés. de Michelangelo. por muito tempo e tem um desfe- cho clrarnático em 1520, com a irrupção da Reforma Luterana e, em 1527, com a invasão ele Roma e o saque ela cidade e elo palácio pontificai pelas tropas hispano-alemãs ele Carlos V. Até que chegasse esse momento, entretanto, os dois papas do período, Júlio II (1503-1513) e Leão X (1513-1521) , este último filho de Lourenço ele Médici , criam na cidade e em torno elo trono papal uma atmosfera ele luxo, requinte e sofisticação cultural , transformando a corte pontificai no ambiente mais fértil e propício para a criação artística . Nesse período é que se iniciam as obras para a edificação ela nova Basílica ele São Pedro e a decoração do Palácio elo Vaticano, atraindo para Roma artífices e artistas de todas as especialidades e procedências . O projeto elo novo edifício da basílica foi originalmente proposto pelo arquiteto Bramante, que retoma os ensinamentos de Brunelleschi , dando-lhes entretanto uma dimensão que ia muito além elas rea li zaçôes elo mestre florentino. Bramante concebe um monu- 63 menta arquitetônico de tal magnitude que o torna incomparável com a escala dos edifícios religiosos anterio res. O plano da basílica é organizado segundo uma trama extremamente complexa ele simetrias e equilíbrios múltiplos, baseada numa combinação arrojada de círcu los e qúadrados e coroada por uma gigantesca cúpula semi-esférica de magnificência imperial. Se o templo era uma homenagem ao Senhor das Alturas , não deixava igualmente ele exaltar o poder secular elo Príncipe da Igreja que nele deveria oficia r. No plano da pintura , o destaque elo Cinquecento reca i inelutavel mente sobre Leonardo ela Vinci, Michelangelo e Rafa el. A arte italiana atingiria o auge com esses pintores, cujas obras passa ram a servir como base para a identificação mesma do estilo renascentista , passa ndo todos os seus antecessores a ser chamados de primitivos ou pré renascentistas . Sua influência seria decisiva , impondo os caminhos ele praticamente toda a arte ocidental até o início elo século XX. Eles iriam incorporar todos os aperfeiçoamentos técnicos e descobertas formais que vinham se multiplicando desde Giotto e lhes dariam o acabamento mais cristalino, composto num estilo homogêneo, límpido e ao mesmo tempo denso e rico de significações que transcendiam os próprios limites temáticos das suas obras. A pintura ele Leonardo desenvolve até um preciosismo virtuoso o método ele composição através dos jogos ele luz e sombra ( chíaroscu ro). Em lugar ele definir com linhas nítidas o perfil elas figuras que retrata , procura reproduzir habilmente o próprio percurso ela luz, deixando indefinidos os contornos que se perdem nas partes escuras e sombreadas e recortando com nitidez as superfícies banha elas mais diretamente pela luz. O efeito é um rea lismo maior elas figuras e um tom geral ele unidade e homogeneiclacle que rea lça a atmosfera mágica da pintura. Esse recurso é ainda reforçado por uma utilização primorosa da técnica elo esfumaçamento (sji unato), que banhava todo o quadro de uma neblina suave e evocativa, atribuindo-lhe uma aura ele elevação e mistério. Mistério esse acentuado e explorado pelo tratamento psicológico que Da Vinci conferia a seus personagens, tentando captar nas expressões os recônditos mais profundos ela alma humana. É o que ressa lta ele suas obras mais significa tivas, particular rÍ1ente a Monalisa e a Virgem dos Rochedos. Ao contrário de Da Vinci, que desprezava a escultura como meio de expressão, Michelangelo seria o poeta do corpo concebido em toda plasticidade de sua massa tridimensional. O mistério para esse artista não se concentrava na expressão facial, mas se disseminava por todo 64 A Madona com uma criança e o pequeno S. João Batista, de Rafael. músculo do corpo, por toda ruga da pele ou toda veia e ntumescida. Profundamente envolvido tanto pelo platonismo florentino quanto pela crise espiritual que abalou todo esse início do século XVI, o artista se aplica em destacar a tensão permanente que se instala entre o corpo e o espírito, a carne e a alma. Suas figuras, mesmo que numa atitude serena , denotam uma energia latente e indômita que vem de dentro 65
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