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curs o bá sico de hi stÓr IaS em q uadr inhos Ediçã o Rev ista 11 A LINGUAGEM E os PRINCÍPIOS DA PRODUÇÃO EM HQs Daniel Brandão Co pyr igh t © 20 16 by Fu nd açã o D em ócr ito Ro cha Todos os direitos desta edição reservados à: Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora CEP 60055-402 - Fortaleza- Ceará Tel.: (85) 3255.6037 - 3255.6148 - Fax: 3255.6271 fdr.org.br | fundacao@fdr.com.br Fun daç ão D emó crit o Ro cha Joã o Du mma r NE to Pre side nte Univ ers idad e Ab ert a do Nor des te Vivi ane Per eira Ger ênc ia P eda góg ica Ana Pau la C ost a Sa lmin Coo rde naç ão Cur so B ásic o de His tór ias em Qua drin hos Ray mun do N ett o Coo rde naç ão Ger al, E dito rial e E sta bele cim ent o d e Te xto Dan iel B ran dão Coo rde naç ão de Con teú do Ama uríc io C ort ez Ediç ão de Des ign Ama uríc io C ort ez Kar lson Gra cie Wel ton Tra vas sos Pro jet o G ráf ico Cris tian e Fr ota Edit ora ção Ele trô nica Gua bira s Ilus tra ção Kell y Pe reir a Cat alog açã o n a Fo nte Est e f asc ícu lo é pa rte int egr ant e d o p roje to HQ Ce ará , em de cor rên cia do co nvê nio ce leb rad o e ntr e a Fu nda ção De mó crit o R och a (F DR ) e a S ecr eta ria Mu nic ipa l da Cu ltur a d e F ort ale za (Se cul tFO R), sob o nº 12/ 201 6. Da dos Int ern aci ona is d e C ata log açã o n a P ubl ica ção (C IP) Cu rso bá sico de his tór ias em qu adr inh os [HQ s] / co ord ena ção , D ani el C9 39 Bra ndã o; i lus tra ção , G uab iras . – For tale za: Fu nda ção De mó crit o Roc ha, 20 16. 192 p. i l. c olo r; ( Cu rso em 12 Fa scíc ulo s) ISB N 9 78- 85- 752 9-7 15- 5 (C ole ção ) 97 8-8 5-7 529 -71 6-2 (Vo lum e 1 ) 1. C urs o - Qu adr inh os I. B ran dão , D ani el. II. Gu abi ras . II I. T ítul o CD U 3 71. 3 (0 51) +(0 72) Mar cos Tar din Dire tor Ce ntr al Ray mun do N ett o e Ema nue la F ern and es Ges tão de pro jet os 1. APRESENTAÇÃO Olá, amigas e amigos. Bem-vindos ao Curso BÁSICO de Histórias em Quadrinhos da Fundação Demócrito Rocha(FDR), uma iniciativa fabulosa em parceria com a Secretaria de Cultura de Fortaleza (SecultFOR), ganhador do 29° troféu HQMix, em 2017, na categoria “Grande Contribuição nos Quadrinhos”. Nem é preciso dizer que as HQs (histórias em quadrinhos) são diversão garantida para todas as idades. Quem nunca, né? Pois aqui, diversos professores e quadrinistas irão propor caminhos teóricos e práticos para que vocês possam produzir as suas próprias HQs, do seu jeito, provando que todos podem utilizar essa linguagem para se comunicar como bem entender. Isso é possível? Claro que sim. Durante nosso curso, que vocês nem são doi- dos de perder, apresentaremos diversas possibili- dades, técnicas e materiais para abrir a sua mente e encorajá-los a colocar suas ideias em forma de Ava.FDR.O RG.br imagens, textos, quadros e balões. A coleção será composta por 12 módulos desenvolvi- dos por cerca de 20 autores experientes que atuam no circuito de quadrinhos do Ceará. Entre os as- suntos escolhidos, trataremos de roteiro, criação de personagens, composição de página, estilos de desenho, produção de tiras, quadrinhos alterna- tivos, tipografia e balonamento, arte-final, cores, edição, mercado e blá-blá-blá. Tudo isso em uma linguagem acessível e didática, ricamente ilustra- da e colorida, e acompanhando as aventuras de Gilberto, Mia e o cachorro Bolota! Para cada módulo, convidamos os autores para desenvolver uma videoaula, que vocês pode- rão conferir no ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Fiquem com a gente , superamig os. Inscrevam-se n o site da FDR . Curtam esse cur- so e, quando terminarem, vocês receberã o o seu megapowerul trasuperhiperce rtificado!!! 2. HQ: Afinal, Também chamados de gibi, comics, comic book, arte sequen- cial, historieta, banda desenha- da, mangá, manhwa, fumetti, entre outros, os quadrinhos têm muitas caras e formatos. Os mais conhecidos são: a) Tira: popularizou-se por meio dos jornais. Normalmente em formato hori- zontal e com uma divisão entre dois a cinco quadros, o autor apresenta uma pequena história fechada (com humor ou não) ou um capítulo de uma história maior serializada. b) Página dominical: um espaço maior que a tira diária. Havia a tradição de os jornais, aos do- mingos, publicarem suplementos de quadrinhos. Daí o seu nome. o Que é Isso? D an ie l B ra nd ão 44 c) Fanzine: publicação artesanal e independen-te. Uma junção das palavras inglesas fanatic e magazine. Inicialmente, surgiu como publicação de fã-clubes de ficção científica. É normalmente reproduzido em fotocópias, sem fins lucrativos, e com total liberdade editorial. Pode abranger qualquer tema, inclusive histórias em quadrinhos, claro. Muito popular. D) Revista em Quadrinhos: os tamanhos co-nhecidos como formatinho (13x21cm), comic book (17x26cm) e magazine (20x26,- 5cm) são os mais comuns para revistas em quadri- nhos. Elas se tornaram muito populares em nosso país por serem facilmente encontradas em bancas e revistarias, pela leitura prazerosa e pelas suas características estéticas. Os gêneros de super-he- róis, de humor e o infantil dominam o mercado. E) Álbum ou Novela Gráfica: em inglês, conhecido como graphic novel. O termo foi popularizado pelo quadrinista Will Eisner em sua obra Um Contrato com Deus (1978). Editorialmente, se parece muito com o formato de livro, um romance, por exemplo. O álbum tem maior número de páginas do que uma revista em quadrinhos comum, podendo ter uma lombada quadrada ou não, apresentando uma história mais densa e muitas vezes mais sofisticada. A maioria dessas obras é dedicada a um público mais maduro, embora exista graphic novel para crianças e adolescentes. Lombada (ou dorso): é o lado do livro ou revista onde fica a costura das folhas, oposto ao corte da frente, mantendo as folhas do livro unidas. Pode ser quadrada ou canoa. f) Webcomics: quadrinhos publicados na inter-net. Um meio muito eficiente e democrático de novos autores mostrarem seu trabalho e for- marem público. Manicomics (Fanzine): Daniel Brandão, JJ Marreiro e Geraldo Borges Capitão Rapadura (revista): Mino A lenda de uru (álbum): Alex Lei e Ed Silva 55 As formas mais comuns de reconhecimento de HQs (quadrinhos) são esses formatos que apre- sentamos, mas elas, amigos, também podem ser encontradas e reconhecidas em manuais de ins- trução, cartilhas educativas, em infográficos de jornais e revistas, em algumas tapeçarias, em peças de publicidade, em grafites urbanos, em estampas de camisas etc. Então, vamos entender melhor a definição de quadrinhos? Will Eisner, um dos mais importantes autores de HQs, usa o termo “Arte Sequencial” para tratar de quadrinhos. Segundo ele, quadrinhos é “uma forma artística e literária que lida com a disposi- ção de figuras ou imagens e palavras para narrar uma históriaou dramatizar uma ideia” Eisner diz ainda que“ as histórias em quadrinhos apresentam uma sobreposição de palavra e imagem, e, assim, é preciso que o leitor exerça as suas habilidades interpretativas visuais e verbais”. Infográfico: elementos gráfico-visuais (fotografia, desenho, diagrama etc.) integrados a textos curtos. Scott McCloud, complementando Eisner, afirma que o uso de “Arte Sequencial” poderia causar confusão entre quadrinhos e animação, por exemplo. Para McCloud, quadrinhos são imagens organizadas propositalmente de maneira justapos- tas com um determinado objetivo narrativo “des- tinadas a transmitir informações e/ou a produzir uma resposta no espectador”. Assim, é importante observar que, baseado nesse princípio, não adianta duas imagens estarem lado a lado se o leitor não concluir o que está acontecendo nessa transição de quadros, ou seja, se não houver uma história passando por aí. Portanto, o fenômeno chamado de “conclusão”, que ocorre na cabeça do leitor quando passa o olho pela sarjeta (ou calha), é o que dá unidade e sentindo à narrativa sugerida pelas imagens. O autor imagina as cenas (os quadros) e as apresenta para o leitor, mas será a leitura des- te leitor que dará movimento, voz e sons à história lida. Estamos falando das “habilida- des interpretativas visuais e verbais” citadas por Eisner. Por isso, consideramos a HQ uma mídia que permite ampla interação (diálogo) com o leitor, sendo esse leitor corresponsável pelo andamento (ritmo, velocidade, seguimento) da narrativa. E você acha que existe HQ de uma só imagem? Isso é possível? Conforme Henrique Magalhães, “uma HQ pode ser realizada com uma única imagem desde que consiga representar um movimento, narrar um fato, contar uma história” Ou seja, é possível existir uma passagem de tempo, uma narrativa, em uma única imagem. Ora, um desenho ou mesmo uma foto podem ser compostos por diversos elementos imagéticos, que, unidos, nos contam uma história, não é? Como a seguir: Sarjeta ou Calha: Espaço vazio entre os quadros. * Se Liga Aê!: Você sabia que quando duas ou mais pessoas leem a mesma história em quadrinhos, elas imaginam vozes diferentes para os mesmos personagens? Que a velocidade da ação e dos movimentos pode ser maior ou menor e que alguns sons (pow, bum, crás, triiimm) podem ser mais ouvidos por uns do que por outros? Mídia: suporte de difusão da informação. Meio intermediário de expressão e de transmissão de mensagens. Daniel Bran dão 66 texto, entend endo aqui co mo “texto” a história, a narrativa, o roteiro. A hi stória, ou sej a, o nosso “texto”, é qu e guiará toda s as decisões narrativas e estéticas do autor. Ei, então pod emos dizer q ue o quadrin ista é, antes de tud o, um cont ador de hi stórias? Sim, ele é. M uito prazer! Você não dev e ter percebid o, mas até ag ora em nosso curso n ão utilizamos a palavra DE SENHO na definição de quadrinhos, e, sim, IMAG EM. E sabe o porquê? P orque embor a a maioria dos quadri- nhos que con hecemos são desenhados , podemos ter quadrinho s feitos a par tir de fotogra fias, pintu- ras, colagens etc. Tudo iss o pode ser ch amado de HQ, desde q ue essas ima gens esteja m a ser- viço de um a história, de uma na rrativa. Ficou mais cla ro agora, não é? Então, se vo cê tem boas ideias para se fazer uma história , mas acha q ue não dom ina o dese- nho, procure outra forma de construí- la, seja com fotos, colage ns ou com o utros recurso s que a sua criatividade s ugerir. Você já deve ter percebid o que as hist órias em quadrinhos s ão formadas pelo cruzam ento de 2 conjuntos dis tintos: literatu ra e imagem . Esse encontro cria um novo co njunto, que não é mais nem literatur a, nem image m, mas algo novo, com característica s próprias (lin guagem e sint axe): as histórias em quadrinho s! Literatura: ar te da escrita. Sintaxe: compo sição, organização, estrutura. Portanto, no s quadrinhos , o resultado do cru- zamento ent re o texto e a imagem é insepará- vel. Não exis tem quadrin hos sem text o. Existem quadrinhos mudos (sem palavras), s em balões, onomatopeia s ou record atórios, mas não sem 77 3.1. Etapas As etapas de prod ução de uma HQ podem conter: (1) a ideia (concepção) da his tória, (2) o desenvolvimento d o argumento (texto narrativo), (3) a criação dos pe rsonagens, (4) a es crita de um roteiro completo, (5 ) os estudos de leiaute de pá- ginas, (6) a execuçã o do desenho ou d a definição da imagem, (7) a a rte-final a nanquim ou digital, (8) a colorização e o letreiramento (balo namento e efeitos sonoros). Va mos estudar cada u ma dessas etapas no decorrer do curso e entend er melhor a importância de cad a uma delas. Leiaute (lay-out): ras cunho e esboço da composição da página de quadrinh os, incluindo a distribu ição dos quadrinho s, balões, personagen s etc. Não é possível imag inar uma HQ sem id eia, tex- to (argumento e/ou roteiro) e imagem. Pode haver um quadrinho sem balões, arte-final o u cores, de- pendendo da decisã o e intenção de cad a autor, afi- nal, não existem reg ras sobre a ordem d e execução dessas etapas. Sugi ro que você, com a prática, ex- perimente variaçõe s para encontrar o método que seja mais eficiente para você. A minh a sequência preferida (repito: s erve para mim, ma s pode não servir para você) é a seguinte: W ils on V ie ira e D an ie l B ra nd ãoProdução de HQs Já ouvi algumas vezes a seguinte frase: “Gosto de mangá, mas não gosto de HQs”. E vice-versa. Afirmar que gosta de um e que não gosta do outro é o equivalente a dizer que gosta de água, mas não gosta de H2O, já que ambos essencialmente são a mesma coisa. Mangá é o termo utilizado para designar as histórias em quadrinhos (HQs) produzidas, originalmente, no Japão. Fica a dica! ABRA A SUA MENTE! 3. Etapas e Métodos de 88 (1) Faço o roteiro completo – (2) Crio o visual dos personagens e faço estudos sobre eles – (3) Produzo vários leiautes de páginas para chegar nas melho- res soluções narrativas (esta é uma das etapas cria- tivas que mais gosto) – (4) Faço as letras e os balões antes de desenhar (assim, garanto uma harmonia nos quadros evitando uma disputa por espaço) – (5) Desenho tudo a lápis – (6) Arte-finalizo com cane- tas, pincel e nanquim – (7) Digitalizo cada página e começo a colorir digitalmente. 3.2. Métodos a) Método IndustrialAs grandes editoras japonesas e ameri- canas trabalham em um método industrial de pro- dução de quadrinhos. Grandes equipes de profis- sionais envolvidos na produção de única história, garantindo sua agilidade. Nelas, as tarefas são divi- didas e coordenadas por um diretor de arte ou por um editor. Um mangá pode envolver: editor, escritor, de- senhista e equipe de assistentes. Cada um desses assistentes pode ser responsável por desenhar coi- sas muito específicas dentro da sua especialidade. O ritmo da produção é muito acelerado, resultando em capítulos de semanais de uma extensa história. Nas grandes editoras americanas de comics, cada equipe criativa de uma revista pode envolver editores, roteiristas, desenhistas (também chama- dos de lapistas), arte-finalistas, letristas e coloristas. Normalmente, as decisões criativas são tomadas por uma cúpula de editores e repassadas como diretrizes para os roteiristas de cada título. Também é bastante comum que boa parte dos componentesda equipe criativa não se conheça nem converse entre si, quase sempre tendo contato apenas com o editor. b) Método AutoralAcredito que haja, sim, autoralidade no método industrial de fazer quadrinhos, mas é inegável que nele o controle criativo de cada pro- fissional seja limitado. Quando uma história em quadrinhos é produzi- da por um grupo de amigos ou por uma dupla cria- tiva, o controle das ideias e/ou da experimentação está mais próximo das mãos dos autores. Todas as decisões podem ser conversadas entre os artistas e o editor. Grande parte do mercado europeu e brasileiro de quadrinhos funciona assim. Uma história em quadrinhos também pode ser totalmente produzida por um único autor. Nesse caso, o artista escreve, produz as imagens, as colore (se for o caso), faz o balonamento e a tipologia. Esse tipo de HQ pode ser editada, reproduzida em diversos formatos e distribuída por uma editora ou pelo próprio autor de maneira independente, em um verdadeiro exército de um homem só! Tipologia: estudo e execução das fontes (tipos de letras). 99 Quando se pensa em fazer quadrinhos ou em ser um profissional dessa área, é comum se pensar em ser desenhista, roteirista, arte-finalista e/ou colorista. Raramente se pensa em ser letrista, uma importante função na equipe. Existem outras áreas de trabalho fundamentais: editor, diagramador, revisor, divulgador ou crítico. E, você, em qual dessas caberia? ABRA A SUA MENTE! de um Quadrinista 4. Ferramentas Básicas 4.1. Tradicionais a) Papéis: os quadrinistas podem tra-balhar com gabaritos enviados por editoras ou não. Normalmente trabalha- mos em um tamanho maior e proporcional ao tamanho que a HQ será publicada. Os tamanhos mais comuns de papéis para quadrinhos são o A4 (21x29,7cm) e o A3 (29,7x42cm). Papéis com maior grama- tura (mais grossos e pesados) têm maior durabilidade. b) Grafites: o desenhista pode usar lápis, lapiseira ou ambos. Os grafites mais comuns são o HB (para rascunhos) e o 2B (para definições de traços). Grafites da família H (hard) são mais duros e claros. Grafites da família B (bold) são mais ma- cios e escuros. c) Arte-Final: podemos dividir os ma-teriais de arte-final entre os de traço contínuo (canetas técnicas com nume- rações variadas de pontas) e os de traço variável (bico de pena, pincel e caneta pincel). Caso opte por trabalhar com pin- cel ou bico de pena, você vai precisar de tinta nanquim. d) Corretivos: borracha branca ou preta macia e alguma tinta branca opaca para corrigir eventuais erros de arte- final ou para criar efeitos, como estrelas no céu, por exemplo. Obs: se o quadrinista optar por trabalhar com lápis preto, utili- zando o gradiente em tons de cinza, o uso da borracha pode ser uma excelente forma de provocar efeitos no desenho. e) Auxiliares: régua, esquadro, gabari-tos de círculos e ovais. 1010 4.2. Digitais a) Computador (PC): pode ser de mesa ou um laptop. b) Programas gráficos (softwares): os mais comuns são Photoshop (Adobe), Illustrator (Adobe) e o Manga Studio EX. Hoje, no mercado, são diversos softwares e aplicativos surgindo e desapa- recendo todos os dias, sendo facilmente encontrados em pesquisas na web. Use, experimente e escolha aquele que atender as suas necessidades. c) Scanner (digitalizador): caso re-solva fazer um trabalho misto entre o tradicional e o digital, você precisará de um scanner para transferir os seus dese- nhos para serem tratados e editados no computador. d) Mesa Digitalizadora: menos com-plicado do que desenhar com o mouse é trabalhar com uma caneta e uma mesa digital. A mais comum é a Intuos (Wacon) e a mais eficiente é a Cintiq (per- mite que o desenho seja feito diretamente na tela, simulando o papel). e) Tablet: por ser portátil, você poderá produzir seus quadrinhos de forma digital onde quer que você esteja. f) Impressora: é claro que depois des-se trabalho todo, você pode querer ter a sua HQ inteirinha na sua mão. “Parla, HQ! Parla!” Quadrinhês: o glossário do quadrin ista 1. Gabarito: também conhecido como template. É uma folha ou arquivo com as me-didas demarcadas do tamanho que a página de quadrinhos deve ser desenhada. Cada editora tem o seu próprio gabarito. 2. Mancha Gráfica: espaço de uso seguro do gabarito que garante que nada que está ali será “cortado” na gráfica. As imagens mais importantes e todos os textos da HQ devem estar dentro dela. 3. Quadrinho: também chamado de quadro ou painel. Um momento da narrativa. 4. Requadro: a “moldura” de um quadrinho. O formato mais comum é o quadrado ou o retângulo e é chamado de hard frame. Variações desse formato podem signi-ficar cenas do passado, sonho, cenas de impacto, entre outras coisas. Podemos encon-trar também um painel sem requadro, o open panel. 5. Sarjeta ou Calha: Espaço vazio entre os quadros. O seu tamanho pode variar e alterar o tempo da narrativa. Também é possível construir uma sequência de pai-néis sem sarjeta. 6. Caixa de Texto: também chamada de caixa de narrativa ou recordatório. Normalmente apresenta o texto do narrador ou de um personagem onisciente. Muitos autores preferem usar a caixa de texto para substituir o balão de pensamento. por Daniel Brandão e Ray mundo Netto 1111 5. O Local de Criação e Trab alho do Quadrinista O ideal é que o seu local de trabalho seja agradável, com espaço e iluminação adequados. Se for possível, escolha um lu- gar mais tranquilo, onde a iluminação seja suficiente. Caso use luminária, a direção da luz deve gerar uma sombra da sua mão para fora do papel. Se você for destro, por exemplo, a luz deve vir em diagonal da esquerda para a direita. Planeje um espaço organizado e práti- co, ou seja, em que seu material de traba- lho e de referência (revistas, livros didáticos, álbuns) estejam próximos e, se possível, que não tenha que se levantar tanto. Nem é preciso dizer que, assim, a sua cadeira deve ser confortável e ergométrica, ou seja, que evite posturas incômodas que possam resultar em problemas de coluna (muito co- muns em quadrinistas, devido ao tempo que permanecem na mesma posição). A sua mesa de desenho deve ser inclinada para favorecer a sua postura e evitar que você enxergue o seu papel distorcido e em pers- pectiva. O ideal é que a inclinação seja per- pendicular a uma linha imaginária que sai dos seus olhos em direção ao papel. Caso você não tenha uma mesa de desenho inclinada, você pode improvisar com uma prancheta co- locada em mesa comum. No mercado (pape- larias e casas de desenho) é possível encontrar diversos modelos de pranchetas de desenho portáteis, inclusive que servem de estojo e já vem com régua paralela. Pense nisso! D an ie l B ra nd ão Modelo pranch eta por tátil1212 6. Conclusão É isso aí, turma. E , ao final de nosso primeiro módulo, deixo uma mensagem que m e parece su- perimportante nes se momento: Todo s nós po- demos fazer qua drinhos. Basta t er histó- rias para contar. Encontre uma que seja a sua. Faça porque ama. Faça se divertind o. Faça com profissionalismo. M as apenas FAÇA! A h, e óbvio, leia bastante HQs. Saiba o que a ga lera boa está aprontando por aí. E que a força esteja com vocês. Por en quanto é só pessoal!!! 1313 Leia e Saiba Mais sobre HQs A Guerra dos Gibis, de Gonçalo Junior. Editora Companhia das Letras. São Paulo, 2004. A Leitura dos Quadrinhos, de Paulo Ramos. Editora Contexto. São Paulo, 2009. Desvendando os Quadrinhos, de Scott McCloud. Editora Makron Books. São Paulo, 1995. História da História em Quadrinhos, de Álvaro de Moya. Editora Brasiliense. São Paulo, 1996.História e Crítica dos Quadrinhos Brasileiros, de Moacy Cirne. Editora Europa. Rio de Ja-neiro, 1990. Literatura da Imagem, de Román Gubern. Salvat Editora doBrasil. Rio de Janeiro, 1979. Narrativas Gráficas, de Will Eisner. Editora Devir. São Paulo, 2005. O que é História em Quadrinhos, de Sonia M. Bibe Luyten. Editora Brasiliense. São Paulo, 1985.Os Quadrinhos: linguagem e semiótica, de Antonio Luiz Cagnin. Editora Criativo. São Paulo, 2015.Quadrinhos e Arte Sequencial, de Will Eisner. Editora WMF Martins Fontes. São Paulo, 2010. 1414 Luiz Sá, desenhista, carica- turista, ilustrador, quadrinista, pintor, cenógrafo e publicitário, nasceu em Fortaleza, Ceará, em 28 de setembro de 1907. Filho e neto de desenhistas (seu avô Luiz Sá foi o único desenhista e pintor entre aqueles que fundaram o movimento de letras e artes co- nhecido como Padaria Espiritual, e a sua mãe, Francisca Sá de Araújo, professora de desenho na Escola Normal), quando criança, rabisca- va calçadas com carvão e reunia diversos cadernos de esboços e desenhos. Estudante do Liceu, fa- zia o Charleston, um jornalzinho a mão. Chegou a trabalhar como gravador de clichê em jornal e a ter pequena colaboração em revista humorística em Fortaleza. Por volta de 1928, partiu ao Rio de Janeiro onde expôs cenas e costumes do Ceará em bicos- de-pena aquarelados. Trabalhou no jornal O Imparcial, diagra- mando a página de esportes. Seu primeiro trabalho, pu- blicado (na revista Eu Vi) por Adolfo Aizen, editor de O Malho e futuro proprietário da Ebal, era composto de cenas famosas da história brasileira – que fazia para não dormir, quando tra- balhava como vigia noturno no Hospital da Gamboa. Com esses desenhos, realizou uma exposi- ção no Museu de Artes e Ofícios (1931). Também foi Aizen que o convidou para publicar na revista Tico-Tico, considerada a primeira revista em quadrinhos do país. HQ? No Ceará tem disso sim! por Raymundo Netto Foi ali, em abril de 1931 (até 1960), que o Brasil conheceu os seus mais famosos personagens: Reco-Reco, Bolão e Azeitona, que tinham a característica originalís- sima, na época, de apresentar “traços redondos”. Além deles, o cão Totó, o ratinho Catita, o de- tetive Pinga-Fogo, Maria Fumaça (revista Cirandinha), Louro/Faísca (revista Tiquinho), assim como o “bonequinho” utilizado na seção de crítica de cinema do jornal O Globo, a partir de 1938. Projetou e resolveu produ- zir “As aventuras de Virgulino”, uma série de curtas de animação, com intuito de apresentá-la a Walt Disney, o que só não aconteceu por impedimento do Departamento de Imprensa e Propaganda do governo de Getúlio Vargas, em 1941. Pioneiro do cinema de ani- mação no Brasil, vendeu esse ma- terial para uma loja de projetores que o oferecia, em pedaços, como brinde para seus clientes, sendo, na década de 1970, resgatada parte desse material por José Luiz Parrot, integrando, após restau- ração, em 2013, o documentário “Luz, Anima, Ação”, de Eduardo Calvet. Na década de 1940 a 1950, o também publicitário Luiz Sá ilus- trava diversos panfletos e cartilhas do Serviço Nacional de Educação Sanitária – onde trabalhou por 12 anos –, além das aberturas de jor- nais cinematográficos (do também cearense Luiz Severiano Ribeiro), ilustrações para as emissoras de TV Rio, Continental e Globo (década de 1960) e desenhos ao vivo para plateia de programas de auditório da Rádio Globo. Em 1974, contraiu tuberculo- se, sendo internado no Sanatório Azevedo Lima, em Niterói, Rio de Janeiro. Durante esse período, não deixou de desenhar, criando ilustrações sobre a doença. Faleceu em Niterói, em 14 de novembro de 1979, vítima de complicações pulmonares, mas, como sempre, desenhando! Em tempo: O primeiro edi- tal/prêmio feito especificamente para quadrinhos no Ceará rece- beu a denominação de Prêmio Luiz Sá, criado por Raymundo Netto, enquanto coordenador das políticas do livro na Secretaria da Cultura do Estado do Ceará, durante a gestão do prof. Auto Filho, em 2010. Desde então, nunca mais! Que tal, ressuscitar- mos esse Prêmio, hein? 1515 Guabiras (Ilustrador) Desenha desde os 5 anos de idade se baseando em tudo que se possa imaginar de quadrinhos no mundo. É ilustra- dor e cartunista no jornal O POVO (Fortaleza/CE). Tem inúmeras publicações e personagens em HQs e fanzines, minis- trando oficinas e participando de trabalhos/mostras coletivos e/ou individuais. Daniel Brandão (Autor) Jornalista graduado pela Universidade Federal do Ceará (UFC) em 2007, quadrinista, ilustrador, arte-educador e empre- sário, direcionou suas atividades profissionais ao desenho artístico e aos quadrinhos, tendo cursado a Joe Kubert School of Cartooning and Graphic Arts, em Nova Jersei (EUA). Ganhador de três prêmios HQMix pela publicação Manicomics, trabalhou com diversas editoras, revistas e empresas nacionais e internacionais, tais como DC Comics, Marvel, Dark Horse, Abril e Maurício de Sousa Produções. Criador dos personagens Liz, Sebastião e Cariawara, possui um estúdio próprio em Fortaleza, Ceará (Estúdio Daniel Brandão), onde oferece cursos de desenho, quadrinhos e mangás. Realização
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