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História antiga i: 
Fontes e Métodos
Maringá
2010
editora da Universidade estadUal de Maringá
	 Reitor	 Prof. Dr. Décio Sperandio
	 Vice-Reitor	 Prof. Dr. Mário Luiz Neves de Azevedo
	 Diretor	da	Eduem	 Prof. Dr. Ivanor Nunes do Prado
	 Editor-Chefe	da	Eduem	 Prof. Dr. Alessandro de Lucca e Braccini
ConselHo editorial
	 Presidente	 Prof. Dr. Ivanor Nunes do Prado
	 Editor	Associado	 Prof. Dr. Ulysses Cecato
	 Vice-Editor	Associado	 Prof. Dr. Luiz Antonio de Souza
	 Editores	Científicos	 Prof. Adson Cristiano Bozzi Ramatis Lima
 Profa. Dra. Ana Lúcia Rodrigues
 Profa. Dra. Analete Regina Schelbauer
 Prof. Dr. Antonio Ozai da Silva
 Prof. Dr. Clóves Cabreira Jobim
 Profa. Dra. Eliane Aparecida Sanches Tonolli
 Prof. Dr. Eduardo Augusto Tomanik
 Prof. Dr. Eliezer Rodrigues de Souto
 Prof. Dr. Evaristo Atêncio Paredes
 Profa. Dra. Ismara Eliane Vidal de Souza Tasso 
 Prof. Dr. João Fábio Bertonha
 Profa. Dra. Larissa Michelle Lara
 Profa. Dra. Luzia Marta Bellini
 Profa. Dra. Maria Cristina Gomes Machado
 Profa. Dra. Maria Suely Pagliarini
 Prof. Dr. Manoel Messias Alves da Silva
 Prof. Dr. Oswaldo Curty da Motta Lima
 Prof. Dr. Raymundo de Lima
 Prof. Dr. Reginaldo Benedito Dias
 Prof. Dr. Ronald José Barth Pinto
 Profa. Dra. Rosilda das Neves Alves
 Profa. Dra. Terezinha Oliveira
 Prof. Dr. Valdeni Soliani Franco
 Profa. Dra. Valéria Soares de Assis
eqUipe téCniCa
	 Projeto	Gráfico	e	Design	 Marcos Kazuyoshi Sassaka
 Fluxo	Editorial Edneire Franciscon Jacob
 Mônica Tanamati Hundzinski
 Vania Cristina Scomparin
 Edilson Damasio
 Artes	Gráficas Luciano Wilian da Silva
 Marcos Roberto Andreussi
 Marketing Marcos Cipriano da Silva
 Comercialização Norberto Pereira da Silva
 Paulo Bento da Silva 
 Solange Marly Oshima
Maringá
2010
 história e conhecimento
história antiga i: 
fontes e métodos
Renata Lopes Biazotto Venturini
(ORGANIZADORA)
3
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Copyright © 2010 para o autor
Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo 
mecânico, eletrônico, reprográfico etc., sem a autorização, por escrito, do autor. Todos os direitos 
reservados desta edição 2010 para Eduem.
História antiga I: fontes e métodos/ Renata Lopes Biazotto Venturini, 
 organizadora. -- Maringá: Eduem, 2010. 
 144p. 21cm. (História e Conhecimento; n.3) 
 ISBN 978-85-7628-230-3
 1. História antiga. 2. Antiguidade clássica – Grécia. 3. Antiguidade clássica - 
Roma. 4. História antiga – Brasil. 5. História do Oriente próximo antigo. I. Venturini, 
Renata Lopes Biazotto, org. 
CDD 21.ed. 930
H673
Endereço para correspondência:
eduem - editora da Universidade estadual de Maringá
Av. Colombo, 5790 - Bloco 40 - Campus Universitário
87020-900 - Maringá - Paraná
Fone: (0xx44) 3261-4103 / Fax: (0xx44) 3261-1392
http://www.eduem.uem.br / eduem@uem.br
História e ConHeCiMento
 Apoio técnico: Rosane Gomes Carpanese
 Normalização e catalogação: Ivani Baptista CRB - 9/331
 Revisão Gramatical: Tania Braga Guimarães
 Edição, Produção Editorial e Capa: Carlos Alexandre Venancio
 Júnior Bianchi
 Eliane Arruda
 Colaboração: Prof. Dr. Moacir José da Silva
 Prof. Dr. Christian Fausto M. dos Santos
3
Sobre os autores
Apresentação da coleção
Apresentação do livro
CapÍtUlo i
História Antiga: fontes e métodos
Renata Lopes Biazotto Venturini
CapÍtUlo ii
História do oriente próximo antigo: uma introdução
Ivan Esperança Siqueira Rocha
CapÍtUlo iii
Antiguidade Clássica: Grécia
José Geraldo Costa Grillo / Pedro Paulo A. Funari
CapÍtUlo iv
Antiguidade Clássica: Roma
Andrea Lúcia Dorini de Oliveira Carvalho Rossi
CapÍtUlo v
Os avanços da História Antiga no Brasil
Glaydson José da Silva
CapÍtUlo vi
Instrumentos de pesquisa
Renata Lopes Biazotto Venturini
> 5
> 7
> 9
> 13
> 31
> 49
> 73
> 95
> 129
umárioS
5
Andrea Lucia Dorini de Oliveira Carvalho Rossi
Docente de História Antiga da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita 
Filho” - UNESP, campus de Assis, desde o ano de 2002, graduada e pós-graduada na 
mesma universidade. É integrante do Núcleo de Estudos Antigos e Medievais/UNESP, 
do Laboratório de Estudos sobre o Império Romano/UNESP e do Núcleo de Estudos 
Estratégicos/UNICAMP. Atualmente desenvolve projeto de Pós-doutorado sob a supervisão 
de Pedro Paulo Abreu Funari, na UNICAMP.
Glaydson José da Silva 
Professor de História Antiga do Departamento de História da Unifesp - Universidade 
Federal de São Paulo - e Diretor do Centro do Pensamento Antigo Clássico, Helenístico e 
de sua Posteridade Histórica, da Unicamp - Universidade Estadual de Campinas. 
Graduou-se em História pela Uanesp - Universidade Estadual Paulista, e fez mestrado, 
doutorado e pós-doutorado, também em História, pela Unicamp, universidade na qual 
lecionou disciplinas de Teoria da História.
Ivan Esperança Siqueira Rocha
Professor de História Antiga do Curso de Graduação e do Programa de Pós-Graduação em 
História da Faculdade de Ciências e Letras – UNESP – Campus de Assis. É coordenador do 
Núcleo de Estudos Antigos e Medievais da UNESP.
José Geraldo Costa Grillo
Pós-doutorando em Arqueologia no Núcleo de Estudos Estratégicos da Unicamp, Bacharel 
em História (Unicamp) e Doutor em Arqueologia (USP).
Pedro Paulo A. Funari
Professor titular da Unicamp, coordenador do Núcleo de Estudos Estratégicos, Bacharel em 
História (USP), Mestre em Antropologia Social (USP), Doutor em Arqueologia (USP), 
Livre-Docente e Titular pela Unicamp.
Renata Lopes Biazotto Venturini
Professora de História Antiga da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Mestre 
em História e Sociedade (UNESP - Assis), Doutora em História Social (USP). Integra o 
Laboratório de Estudos Antigos e Medievais - LEAM, do Departamento de História da UEM.
obre os autoresS
7
A	coleção	História	 e	Conhecimento	é	 composta	de	42	 títulos,	que	 serão	utiliza-
dos	como	material	didático	pelos	alunos	matriculados	no	Curso	de	Licenciatura	em	
História,	Modalidade	 a	Distância,	 da	Universidade	 Estadual	 de	Maringá,	 no	 âmbito	
do	sistema	da	Universidade	Aberta	do	Brasil	(UAB),	que	está	sob	a	responsabilidade	
da	Diretoria	de	Educação	a	Distância	(DED)	da	Coordenação	de	Aperfeiçoamento	de	
Pessoal	do	Ensino	Superior	(CAPES).	
A	utilização	desta	coleção	pode	se	estender	às	demais	instituições	de	Ensino	Su-
perior	que	integram	a	UAB,	fato	que	tornará	ainda	mais	relevante	o	seu	papel	na	for-
mação	de	docentes	e	pesquisadores,	não	só	em	História	mas	também	em	outras	áreas	
na	Educação	a	Distância,	em	todo	o	território	nacional.	A	produção	dos	42	livros,	a	
qual	ficou	sob	a	responsabilidade	da	Universidade	Estadual	de	Maringá,	teve	38	títulos	
a	cargo	do	Departamento	de	História	(DHI);	2	do	Departamento	de	Teoria	e	Prática	
da	Educação	(DTP);	1	do	Departamento	de	Fundamentos	da	Educação	(DFE);	e	1	do	
Departamento	de	Letras	(DLE).
O	início	do	ano	de	2009	marcou	o	começo	do	processo	de	organização,	produção	
e	publicação	desta	coleção,	cuja	conclusão	está	prevista	para	2012,	seguindo	o	cro-
nograma	de	recursos	e	os	trâmites	gerais	do	Fundo	Nacional	de	Desenvolvimento	da	
Educação	(FNDE).	Num	primeiro	momento,	serão	impressos	294	exemplares	de	cada	
livro	para	atender	à	demanda	de	material	didático	dos	que	ingressaram	no	Curso	de	
Graduação	em	História	a	Distância,	da	UEM,	no	âmbito	da	UAB.	
O	traço	teórico	geral	que	perpassa	cada	um	dos	livros	desta	coleção	é	o	compro-
misso	com	uma	reconstrução	aberta,	despreconceituosa	e	responsável	do	passado.	A	
diversidade	e	a	riqueza	dos	acontecimentos	da	História	fazem	com	que	essa	reconstru-
ção	não	seja	capaz	de	legar	previsões	e	regras	fixas	e	absolutas	para	o	futuro.	
No	entanto,	durante	a	recriação	do	passado,	ao	historiador	é	dado	muitas	vezes	
descobrir	avisos,	intuições	e	conselhos	valorosos	para	que	não	se	repitam	os	erros	de	
outrora.
No	transcorrer	da	leitura	desta	coleção	percebemos	que	os	livros	refletem	várias	
matrizes	interpretativasda	História,	oportunizando	ao	aluno	o	contato	com	um	ines-
timável	 universo	 teórico,	 extremamente	 valioso	 para	 a	 formação	 da	 sua	 identidade	
intelectual.	A	qualidade	e	 a	 seriedade	da	 construção	do	universo	de	 conhecimento	
desta	coleção	pode	ser	tributada	ao	empenho	mais	direto	por	parte	de	cerca	de	30	
organizadores	e	autores,	que	se	dedicaram	em	pesquisas	institucionais	ou	até	mesmo	
presentação da ColeçãoA
8
História antiga i: 
 Fontes e Métodos
em	dissertações	de	mestrado	ou	em	teses	de	doutorado	nas	áreas	específicas	dos	livros	
que	se	propuseram	a	produzir.
Esta	coleção	traz	um	conhecimento	que	certamente	marcará	positivamente	a	for-
mação	de	novos	professores	de	História,	historiadores	e	cientistas	em	geral,	por	meio	
da	Educação	a	Distância,	o	qual	foi	fruto	do	empenho	de	pesquisadores	que	viveram	
circunstâncias,	recursos,	oportunidades	e	concepções	diferentes,	temporal	e	espacial-
mente.	
Como	corolário	disso,	seria	justo	iniciar	os	agradecimentos	citando	todos	aqueles	
que	não	poderiam	ser	nominados	nos	limites	de	uma	apresentação	como	esta.	Roga-
mos	que	se	sintam	agradecidos	todos	aqueles	que	direta,	indireta	ou	mesmo	longin-
quamente,	quiçá	os	mais	distantes	ainda,	contribuíram	para	a	elaboração	deste	rico	rol	
de	livros.
Além	do	agradecimento,	registramos	também	o	reconhecimento	pelo	papel	da	Rei-
toria	da	UEM	e	de	suas	Pró-Reitorias,	que	têm	contribuído	não	apenas	para	o	êxito	
desta	coleção	mas	também	para	o	de	toda	a	estrutura	da	Educação	a	Distância	da	qual	
ela	faz	parte.
Agradecemos	especialmente	aos	professores	do	Departamento	de	História	do	Cen-
tro	de	Ciências	Humanas	da	UEM	pelo	zelo,	pela	presteza	e	pela	atenção	com	que	
têm	se	dedicado,	inclusive	modificando	suas	rotinas	de	trabalho	para	tornar	possível	a	
maioria	dos	livros	desta	coleção.
Agradecemos	à	Diretoria	de	Educação	a	Distância	(DED)	da	Coordenação	de	Aper-
feiçoamento	 de	 Pessoal	 do	 Ensino	 Superior	 (CAPES),	 e	 ao	Ministério	 da	 Educação	
(MEC)	como	um	todo,	especialmente	pela	gestão	dos	recursos	e	pelo	empenho	nas	
tramitações	para	a	realização	deste	trabalho.
Outrossim,	agradecemos	particularmente	à	Equipe	do	NEAD-UEM:	Pró-Reitoria	de	
Ensino,	Coordenação	Pedagógica	e	equipe	técnica.
Despedimo-nos	atenciosamente,	desejando	a	todos	uma	boa	e	prazerosa	leitura.
Moacir	José	da	Silva
Organizador da coleção
9
“Olho	por	olho,	dente	por	dente”,	na	 lei	de	Talião;	os	monumentos	egípcios;	 a	
leitura	de	Aristóteles,	Platão,	Plutarco,	Tácito,	Homero;	tudo	isso	nutriu	a	reflexão	e	o	
imaginário	dos	europeus	durante	longos	anos.	Personagens	reais	ou	lendárias	dessa	
história	inspiraram	poetas,	dramaturgos,	pintores,	homens	políticos,	desde	o	Renas-
cimento.	
Por	outro	 lado,	 as	 divindades	 antropomorfas,	 a	 atmosfera	masculina	do	mundo	
grego,	os	espetáculos	de	Roma	suscitam,	ainda	nos	dias	de	hoje,	interpretações	pre-
conceituosas.	
Alguns	clichês	permanecem	nas	primeiras	linhas	dos	livros	didáticos	ao	tratar	o	Egi-
to	como	“dádiva	do	Nilo”,	e	a	Grécia	como	“berço	da	civilização”.	Essas	simplificações,	
somadas	à	erudição	necessária	ao	estudo	do	mundo	antigo,	fizeram	com	que	a	história	
antiga	fosse	vista	como	uma	“outra	história”,	repleta	de	especialidades.
No	nosso	presente,	entretanto,	a	própria	história	questiona	seus	métodos.	Os	des-
dobramentos	 teórico-metodológicos	 desses	 questionamentos	 também	 atingiram	 os	
estudiosos	da	Antiguidade.	
Nas	seis	contribuições	presentes	nesse	livro,	encontra-se	um	exercício	de	reflexão	
historiográfica	que	combina	as	especificidades	para	o	estudo	da	história	antiga	com	
uma	discussão	mais	ampla	a	respeito	da	escrita	da	história.
O	primeiro	capítulo	tem	uma	proposta	introdutória.	Nele,	Renata	Lopes	Biazotto	
Venturini	apresenta	discussões	preliminares	em	torno	da	história	antiga,	suas	fontes	
e	seus	métodos.	As	peculiaridades	 inerentes	à	compreensão	da	História	do	Oriente	
Próximo,	da	Grécia	e	de	Roma,	serão	cuidadosamente	tratadas	nos	três	capítulos	sub-
sequentes.
No	domínio	do	Orientalismo,	Ivan	E.	Siqueira	Rocha	indica	instrumentos	que	pos-
sam	aprofundar	o	conhecimento	sobre	as	civilizações	que	se	desenvolveram	no	Orien-
te	Próximo.	Reconhece	as	dificuldades	de	estudo,	tanto	pela	diversidade	quanto	pela	
abundância	de	documentos	inéditos.
O	mundo	grego	é	objeto	de	reflexão	no	trabalho	conjunto	de	Pedro	Paulo	A.	Fu-
nari	e	de	José	Geraldo	Costa	Grillo.	São	apresentadas	noções	introdutórias	em	torno	
da	definição	de	documento,	seguidas	de	uma	proposta	de	análise	documental	para	o	
conhecimento	da	história	da	Grécia	antiga,	por	meio	da	indicação	de	fontes	escritas	e	
materiais,	em	particular	a	iconografia	dos	vasos	gregos.	
presentação do livroA
10
História antiga i: 
 Fontes e Métodos
Roma	Antiga,	melhor	conhecida	quando	se	considera	sua	evolução	em	direção	a	
um	 império	que	se	quer	universal,	é	analisada	por	Andrea	Lúcia	Dorini	de	Oliveira	
Carvalho	Rossi.	Percorrendo	os	períodos	da	história	romana,	a	autora	demonstra	as	
especificidades	das	fontes	e	indica	algumas	metodologias	de	abordagem	documental.
Glaydson	José	da	Silva	reflete	sobre	a	escrita	da	história	entre	os	próprios	gregos	
e	romanos.	Questiona	a	respeito	do	lugar	que	a	história	antiga	ocupa	no	campo	da	
produção	historiográfica	e	apresenta	os	avanços	da	pesquisa	e	do	ensino	no	Brasil.
O	último	capítulo,	escrito	por	Renata	Lopes	Biazotto	Venturini,	é	dedicado	à	apre-
sentação	de	documentos,	com	o	objetivo	de	proporcionar	um	exercício	de	reflexão	
por	meio	de	atividades	a	serem	resolvidas	pelos	acadêmicos,	permitindo	que	se	fami-
liarizem	com	os	testemunhos	escritos	sobre	o	mundo	antigo.
As	 diferentes	 abordagens	 que	 constituem	 a	matéria	 deste	 livro	 convergem	 para	
um	interesse	comum.	São	interrogações	em	torno	dos	testemunhos	à	disposição	do	
historiador,	o	modo	de	tratá-los,	aquilo	que	podemos	ou	não	conhecer,	aquilo	que	
“sabemos	e	o	que	provavelmente	 jamais	 saberemos”	 (FINLEY,	1989),	 sobre	gregos,	
romanos	e	egípcios.
Decorreram	apenas	alguns	meses	para	a	confecção	dos	estudos	apresentados	pelos	
autores.	Foi	exemplar	a	disposição	dos	colegas	com	relação	ao	curto	prazo	de	entrega	
de	seus	textos.	E	eu	gostaria	de	expressar-lhes	minha	especial	gratidão.
Renata	Lopes	Biazotto	Venturini
Organizadora do livro 
“Quanto	aos	escribas	sábios,...	que	prediziam	o	que	estava	por	vir,	
seus	nomes	durarão	para	sempre,	embora	tivessem	partido,	ten-
do	completado	sua	vida,	enquanto	todos	os	seus	contemporâneos	
foram	esquecidos...Eles	não	planejaram	deixar	herdeiros,	crianças	
que	conservassem	seu	nome,	mas	fizeram	como	herdeiros	de	si	os	
livros	e	ensinamentos	que	escreveram...	Sua	lápide	está	coberta	de	
areia	e	seu	túmulo	esquecido,	mas	seu	nome	é	pronunciado	por	
causa	dos	livros...	Um	homem	morre,	seu	cadáver	vira	pó,	todos	
os	seus	contemporâneos	perecem,	mas	um	livro	faz	com	que	seja	
lembrado	na	boca	de	quem	o	lê.”	
Papiro Chester Beatty, IV, ii - iii. 
Apud Emanuel Araújo, 2000
13
Renata Lopes Biazotto Venturini
o pesqUisador e o doCUMento: disCUssões preliMinares
A	relação	entre	o	pesquisador	e	o	documento	não	é	simples	nem	imediata.	O	qua-
dro	conceitual	e	as	questões	pertinentes	se	tornam	evidentes	quando	se	reconhecem	
as	disciplinas	e	suas	especificidades.
As	especificidades,	tão	alardeadas	pelos	historiadores	em	torno	do	estudo	da	Histó-
ria	Antiga,	ganharam	nova	dimensão	com	a	ampliação	efetiva	de	suportes	documentais.	
Segundo	Jacques	Le	Goff	(1992),	trata-se	de	uma	revolução	documental	não	somente	
de	ordem	quantitativa,	mas	também	qualitativa,	que	permite	a	valorização	de	novos	
objetos	de	pesquisa.	O	olhar	do	historiador	questiona	a	tradição	positivista	diante	de	
um	fazer	histórico	novo.	Os	membros	dos	Annales opõem-se	ao	positivismo	revalori-
zando	a	história	econômica,	social,	política,	a	história	das	mentalidades	e	do	cotidiano;
A	história	nova	ampliou	o	campo	do	documento	histórico;	ela	substituiu	a	histó-
ria	de	Langlois	e	Seignobos,fundada	essencialmente	nos	textos,	por	uma	histó-
ria	baseada	numa	multiplicidade	de	documentos:	escritos	de	todos	os	tipos,	do-
cumentos	figurados,	produtos	de	escavações	arqueológicas,	documentos	orais,	
etc.	Uma	estatística,	uma	curva	de	preços,	uma	fotografia,	um	filme,	ou,	para	um	
passado	mais	distante,	um	pólen	fóssil,	uma	ferramenta,	um	ex-voto	são,	para	a	
história	nova,	documentos	de	primeira	ordem	(LE	GOFF,	1990,	p.	28).
Todavia,	Le	Goff,	um	dos	protagonistas	dessa	nova	concepção	de	documento,	não	
deixou	de	particularizar	a	pobreza	documental	da	Antiguidade,	que	poderia	conduzir	
apenas	a	uma	nova	erudição	ou	a	reconstituições	aventureiras:
A	história	faz-se	com	documentos	e	idéias,	com	fontes	e	com	imaginação.	Ora	
o	historiador	da	Antiguidade	(eu	pecava,	claro	está,	pelo	menos	por	exagero)	
parecia-me	condenado	a	uma	alternativa	desencorajante:	ou	tinha	de	haver-se	
com	o	magro	espólio	do	legado	de	um	passado	mal	preparado	para	se	poder	
perpetuar	ou	abandonar	às	seduções	castradoras	da	erudição	pura,	ou	 tinha	
de	entregar-se	aos	encantos	da	reconstituição	ocasional	(LE	GOFF,	1993,	p.	9).
História antiga: 
fontes e métodos
1
14
História antiga i: 
 Fontes e Métodos
O	mau	posicionamento	dos	estudiosos	da	Antiguidade	diante	da	quase	impossibi-
lidade	de	reflexão	sobre	o	documento	é	lembrada	por	François	Hartog,	com	a	citação	
bem-humorada	de	Péguy;
O	historiador	da	Antiguidade	atua	na	ausência	de	documentos.	Ele	bem	que	
gostaria	que	alguns	lhe	fossem	oferecidos,	alguns	poucos,	para	os	cozinhar	em	
banho-maria,	para	fazer	avançar	a	ciência,	para	garantir	as	carreiras.	Mas	ele	se	
arruinaria	se	 lhe	fosse	oferecido	tudo	(PÉGUY,	1932,	p.	197.	apud HARTOG,	
2003,	p.	191).
As	particularidades	e	as	limitações	para	o	estudo	da	História	Antiga	são	reconheci-
das	pela	maioria	dos	pesquisadores,	como	Moses	Finley,	Arnaldo	Momigliano,	o	pró-
prio	Hartog,	entre	tantos	outros.	Entretanto,	isso	não	faz	dela	uma	“outra	história”.	
As	 singularidades	 de	 seu	 campo	 de	 investigação,	 tais	 como	 o	 conhecimento	 de	
línguas	“mortas”	e	a	erudição	contribuíram	para	o	isolamento	da	disciplina.	Além	dis-
so,	a	ênfase	positivista	em	documentos	escritos	oficiais	deu	voz	somente	às	camadas	
superiores	do	mundo	antigo	que	tinham	acesso	à	educação.
testeMUnHos e doCUMentos: antigUidade ClássiCa
A	raridade	documental	convive	com	a	heterogeneidade	dos	documentos:	são	ins-
crições,	documentos	escritos	–	literários	e	não-literários	–-,	e	documentos	materiais	
–	moedas,	cerâmica,	estatuetas,	construções.	Eles	exigem	uma	reflexão	diferenciada,	
que	respeite	suas	peculiaridades.
Com	a	diversidade	dos	documentos,	novos	objetos	de	estudo	foram	propostos,	o	
que	levou	à	necessidade	de	um	diálogo	da	história	com	a	arqueologia,	a	epigrafia,	a	
numismática,	entre	outras	ciências	denominadas	pelos	Annales	de	“disciplinas	auxi-
liares”.	Contudo,	esse	diálogo	tem	vencido	barreiras	e	preconceitos	de	forma	lenta	e	
gradual:
[...]	muitos	arqueólogos	criticam	historiadores	por	constituírem	narrativas	a-te-
óricas,	enquanto	os	historiadores,	por	sua	vez,	reclamam	do	excesso	de	especia-
lização	e	termos	técnicos	que	os	arqueólogos	empregam	em	suas	publicações	
(GARRAFONI,	2008,	p.	50).
Fonte: Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos, 2009
O	diálogo	entre	a	história	e	a	arqueologia	deveria	superar	e	reconhecer	as	diferen-
ças	metodológicas.	Geralmente,	a	pergunta	feita	ao	artefato	é	se	ele	confirma	ou	des-
mente	a	tradição	literária.	Tal	abordagem	prioriza	os	testemunhos	escritos.	Para	Moses	
Finley,	esse	debate	está	mal	direcionado.	Ele	acrescenta;
15
Para	 começar,	 acredito	que	 seja	 falso	 falar	da	 relação	entre	 a	história	 e	 a	 ar-
queologia.	Não	estão	em	questão	duas	disciplinas	qualitativamente	distintas,	
mas	dois	tipos	de	testemunhos	relativos	ao	passado,	dois	tipos	de	testemunhos	
históricos.	Portanto,	não	pode	haver	dúvida	quanto	à	prioridade	geral	ou	à	su-
perioridade	de	um	tipo	de	testemunho	sobre	o	outro;	tudo	depende,	em	cada	
caso,	do	 tipo	de	 testemunho	disponível	 e	das	questões	particulares	 a	 serem	
respondidas	(FINLEY,	1989,	p.	28).
Coluna de trajano - mármore, roma, 113 d.C.
Fonte: sociedade Brasileira de estudos Clássicos, 2009
A	proposta	de	um	estudo	interdisciplinar	 também	se	estende	à	epigrafia.	As	 ins-
crições	 eram	de	 tipos	e	 formas	 variadas:	 grafites,	pinturas,	propaganda	política,	 es-
petáculos,	 inscrições	honoríficas	e	jurídicas,	 inscrições	eróticas	e	de	cunho	sexual	-,	
constituindo	um	corpus documental	bastante	interessante.	
As	informações	apresentam	uma	considerável	diversidade	e	expressam	opiniões	de	
diferentes	camadas	sociais,	proporcionando	uma	visão	mais	ampla	das	sociedades	an-
tigas	(CORASSIN,	1998/1999;	GARRAFONI,	2008).	São	inscrições	que	atingiam	maior	
público,	permitindo	ao	pesquisador	conhecer	categorias	sociais	menos	privilegiadas,	
falando	em	primeira	pessoa,	como,	por	exemplo,	escravos,	prostitutas,	gladiadores,	
artesãos.
História antiga: fontes e 
métodos
16
História antiga i: 
 Fontes e Métodos
óstraco de Címon, estadista ateniense, onde se lê o seu nome.
pt.wikipedia.org/wiki/Categoria:epigrafia
Nos	dias	atuais,	o	pesquisador	tem	acesso	às	inscrições	gregas	e	latinas	editadas	
no	Corpus Inscriptionum Graecarum	(CIG)	de	Boekh,	Franz,	Curtius	e	Kirchhoff	
(1828-1877)	 e	Corpus Inscriptionum Latinarum	 (CIL).	 O	 CIG	 contém	 numero-
sos	epitáfios,	decretos	de	assembleias,	tratados	internacionais,	hinos	em	honra	aos	
deuses,	às	vezes	acompanhados	da	respectiva	partitura	musical,	ex-votos,	leis,	gra-
fites	 injuriosos	ou	obscenos,	 listas	de	soldados	mortos	em	batalha,	cartas	oficiais	
de	reis	ou	imperadores,	tarifas,	regulamento	de	cultos,	contratos	e	vendas,	atos	de	
libertação	de	escravos,	documentos	hipotecários,	desenhos	arquitetônicos,	tarifas	
de	mercadorias.	Trata-se	de	um	conjunto	de	documentos	preciosos	e	indispensá-
veis	para	escrever	a	história	do	mundo	grego	antigo	(ROUGEMONT,	1996/1997,	p.	
265-266).
O	CIL	reúne	a	produção	escrita	em	material	durável,	sobretudo	pedra	e	metal,	
e	 inscrições	em	objetos	de	uso	na	vida	privada,	sob	a	rubrica	 Instrumentum do-
mesticum,	como	telhas,	canos,	tijolos,	colares	de	escravos	e	joias.	Também	infor-
mam	sobre	a	titulatura	imperial,	cargos	municipais,	propagandas	dos	espetáculos,	
candidaturas,	manutenção	de	estradas,	 inscrições	 funerárias,	profissões	(artesãos	
em	geral,	prostitutas).	São,	como	já	destacamos	anteriormente,	um	importante	ins-
trumento	para	o	conhecimento	das	camadas	populares	e	suas	relações	com	outros	
grupos	dirigentes	de	Roma	e	das	províncias	(CORASSIN,	1998/1999,	p.	205	e	212).
testeMUnHos e doCUMentos: o egito antigo
Quando	se	consideram	os	estudos	em	torno	do	Egito	Antigo,	o	diálogo	entre	a	
história,	a	arqueologia	e	a	epigrafia	se	mostram	necessariamente	fecundos.	
Os	testemunhos	egípcios	podem	ser	encontrados	em	diversos	suportes.	Eram	
utilizadas	superfícies	de	paredes,	colunas	e	portas	dos	templos,	textos	religiosos,	
17
autobiografias,	inscrições	em	vasos,	sandálias,	cadeiras,	estatuetas	e	sarcófagos.	To-
davia,	o	principal	suporte	dos	documentos	egípcios	era	o	papiro,	planta	abundante	
na	região	do	Delta	do	Nilo	(ARAÚJO,	2000,	p.	27).	
Antes	das	descobertas	de	Jean	François	Champollion,	o	acesso	direto	aos	docu-
mentos	do	Egito	Antigo	se	resumia	a	alguns	testemunhos	de	autores	gregos,	entre	
eles	Heródoto	(485	?-420	a.C.),	Estrabão,	Plutarco(45-125	?	d.C.),	Diodoro	Sículo	
(século	I	a.C.).
Jean François Champollion (1790-1832)
apud vercoutter, ver referências.
Nos	 séculos	 XVII	 e	 XVIII	 viajantes	 franceses	 iniciaram	 várias	 expedições	 ao	
Egito,	 atraídos	pela	 arquitetura,	 pelas	 riquezas,	 pelos	 tesouros	dos	 túmulos,	 em	
grande	parte	saqueados	por	aventureiros	e	ladrões.	Dentre	os	viajantes	modernos	
destacam-se	o	parisiense	Jean	de	Thévenot	(1633-1667),	Benôit	de	Maillet	(1656-
1738),	cônsul	no	tempo	de	Luis	XIV,	Claude	Sicard	(1677-1726),	jesuíta	em	missão	
no	 Cairo,e	 Dominique	 Vivant	 Denon	 (1747-1825),	 barão	 e	 primeiro	 fidalgo	 na	
Câmara	de	Luis	XV	( VERCOUTTER,	2002).	
No	século	XIX,	as	informações	provenientes	dos	escritos	gregos	são	somadas	
ao	 trabalho	 dos	 estudiosos	 da	 expedição	 de	 Napoleão	 Bonaparte.	 Amplia-se	 o	
inventário	de	documentos:	são	fragmentos	de	construções,	estátuas,	papiros,	ins-
crições.	Todavia,	permanece	a	dificuldade	de	compreensão	da	escrita	egípcia.	Os	
hieróglifos	foram	decifrados	por	Champollion,	após	a	descoberta	da	Pedra	de	Ro-
seta,	em	1799.	
História antiga: fontes e 
métodos
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História antiga i: 
 Fontes e Métodos
pedra de roseta 
monólito de basalto negro, contendo inscrições em hieróglifo, em demótico e em grego. trata-se de um 
mesmo texto que reproduz um decreto do rei ptolomeu v. decifrado por Champollion em 1822 
Fonte: vercoutter, 2002.
A	leitura	dos	hieróglifos	esclareceu	vários	problemas	que	envolviam	a	tradução	da	
língua	egípcia.	 Segundo	Emanuel	Araújo	 (2000,	p.	23-24),	 também	 tornou	possível	
periodizar	as	suas	transformações	em	cinco	períodos:
1.	 EGÍPCIO	ANTIGO:	situado	no	Reino	Antigo	e	Primeiro	Período	Intermediário.	
Contém	textos	administrativos,	religiosos	e	autobiográficos;
2.	 EGÍPCIO	MÉDIO:	situado	entre	o	final	do	Primeiro	Período	Intermediário,	Rei-
no	Médio,	Segundo	Período	Intermediário	e	início	do	Reino	Novo.	Encontram-
se	narrativas,	ensinamentos,	hinos,	textos	funerários	(textos	dos	sarcófagos);
3.	 EGÍPCIO	TARDIO	ou	NEO-EGÍPCIO:	a	partir	da	18ª.	Dinastia,	início	do	Reino	
Novo	(principalmente	época	raméssida	e	Terceiro	Período	Intermediário.	Rico	
em	textos	administrativos,	escritos	de	poesia	lírica	amorosa,	textos	literários	e	
funerários.)	(Livro	dos	Mortos);
4.	 DEMÓTICO:	situado	a	partir	do	início	do	Período	Tardio	até	o	final	do	Período	
Romano.	 Contém	matérias	 jurídica,	 administrativa	 e	 comercial,	 composições	
literárias	e	textos	religiosos	a	partir	do	período	ptolomaico;
5.	 COPTA:	situado	desde	o	século	IV	d.C.	e	suplantado	pelo	árabe	a	partir	da	se-
gunda	metade	do	século	VII.	Está	associado	à	difusão	do	Cristianismo.
19
auguste Mariette (1821-1881)
Fonte: www.paralibros.com/passim/p20-bio/bd2000eg.htm
A	compreensão	da	escrita,	aliada	às	escavações	em	meados	do	século	XIX,	promo-
veu	um	estudo	sistematizado	dos	documentos	e	colocou	fim	à	pilhagem	dos	objetos	
encontrados.	Hoje	são	tratados	adequadamente	por	especialistas,	como	filólogos,	ar-
queólogos	e	epigrafistas.	
No	campo	da	arqueologia	destacam-se	as	campanhas	de	Mariette.	Nas	palavras	de	
Jean	Vercoutter,	“o	que	Champollion	fez	para	a	leitura	dos	hieróglifos,	Mariette	o	fará	
para	a	arqueologia”	(2002,	p.	101).	A	partir	do	século	XX	as	escavações	são	supervisio-
nadas	pelo	Instituto	Britânico.	
disCUssões MetodológiCas
Como	se	vê,	o	que	une	os	estudiosos	do	mundo	antigo	é	o	quadro	conceitual.	Todo	
documento	é	tributário	do	mundo	onde	foi	concebido	e	conhecido.	A	relação	entre	os	
testemunhos	e	o	contexto	não	é	uma	relação	de	causalidade.	
Um	documento	expressa	os	conflitos	sociais	e	ideológicos	de	seu	tempo.	O	autor	é	
o	mediador	de	duas	forças,	a	saber:	a	do	público	e	a	da	obra.	Evidentemente,	seu	papel	
no	interior	da	sociedade	deve	ser	relevante	para	essa	análise,	posto	que	ele,	em	última	
instância,	é	o	criador	da	obra.
O	pesquisador	deve	se	questionar	sobre	a	razão	ou	o	motivo	que	levou	à	confecção	
do	documento
Essa	pergunta	não	é	feita	com	suficiente	freqüência,	pois	presume-se	incons-
cientemente	que	os	motivos	e	propósitos	são	evidentes	por	si	mesmos,	ou	seja,	
são	mais	ou	menos	os	mesmos	que	os	nossos.	Pelo	contrário,	eu	argumentaria	
que,	na	Antiguidade,	o	objetivo	de	todos	os	documentos	era	comunicar	algum	
tipo	de	informação(ou	desinformação),	ou	registrar	alguma	coisa,	mas	não	for-
necer	dados	para	a	definição	de	políticas	ou	para	uma	análise,	passada,	presen-
te	ou	futura	(FINLEY,	1989,	p.	44).
Antes	de	extrairmos	um	significado	substancial	dos	documentos	é	preciso	especifi-
car	as	características	que	envolvem	sua	constituição.	Compreender	a	natureza	de	um	
História antiga: fontes e 
métodos
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História antiga i: 
 Fontes e Métodos
testemunho	é	o	primeiro	passo,	na	ótica	das	pesquisas	históricas;	“os	documentos,	por	
si	sós,	não	fazem	perguntas,	embora	por	vezes	possam	fornecer	respostas”	(FINLEY,	
1989,	p.	62).
História antiga e História
a	História,	 num	 sentido	 conceitual	 e	 em	oposição	 ao	passado	heroico	presente	
nos	poemas	homéricos,	nasce	com	Heródoto	e	Tucídides	(460/455	–	400	a.C.).	Co-
mecemos	pelo	primeiro,	cognominado	de	pater historiae	pelo	orador	romano	Marco	
Túlio	Cícero	(106-	43	a.C.).	Logo	nas	primeiras	linhas	de	Histórias	(1985),	diz-nos	o	
propósito	de	seu	empreendimento:
Heródoto	de	Turioi	expõe	aqui	suas	investigações	para	que	não	se	apague	da	
memória,	com	o	tempo,	o	que	os	homens	fizeram	e	para	que	os	grandes	e	mara-
vilhosos	feitos	executados	tanto	pelos	bárbaros	como	pelos	gregos	não	cessem	
de	ser	renomados,	em	particular	o	que	foi	a	causa	de	que	gregos	e	bárbaros	
entrassem	em	guerra	uns	contra	os	outros	(HERÓDOTO,	1985,	p.	1).
A	asserção	de	Heródoto	nos	diz	muito.	A	história	é	sinônimo	de	investigação	e	de	
um	levantamento	de	informações	na	busca	de	reter	a	memória,	preservando	os	feitos	
dos	homens	em	sua	causalidade.	Há,	portanto,	uma	articulação	(uma	causa)	entre	os	
fenômenos.	Além	disso,	a	constituição	de	uma	memória	representa	o	veículo	que	pos-
sibilita	ao	acontecimento	tornar-se	conhecido	no	mundo	dos	homens.
Heródoto e tucídides 
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Fonte: www.fflch.usp.br/.../herodototucidides.html
O	entendimento	de	Heródoto	sobre	a	tarefa	da	história	enraizava-se	na	concepção	
de	memória	 e	 na	 experiência	 grega	 de	 natureza,	 que	 compreendia	 a	 existência	 de	
deuses	 imortais	e	de	homens	mortais.	Ao	serem	os	homens	não	presenteados	com	
a	imortalidade,	o	que	dizer	de	seus	feitos	no	mundo?	A	permanência	de	suas	ações,	
o	“ser-para-sempre”	nas	palavras	de	Hannah	Arendt	(1972,	p.	70),	somente	pode	ser	
produzido	pela	história.	A	história	vem	a	ser	a	interrupção	produzida	pelos	homens	na	
21
natureza.	Ela	secciona	o	curso	cíclico	da	vida	–	nascer,	crescer,	morrer	–-,	por	meio	da	
intervenção	feita	pelos	homens	no	mundo.
A	atmosfera	na	qual	Heródoto	começou	a	trabalhar	estava	impregnada	de	mitos.	
Muito	antes	de	alguém	sequer	sonhar	com	a	história,	o	mito	deu	uma	resposta.	Era	
uma	de	suas	funções	tornar	o	passado	compreensível,	selecionando	e	focalizando	al-
gumas	de	suas	partes,	pois	ele	se	apresentava	como	uma	massa	incompreensível	de	
dados	incontáveis.
Em	certo	sentido,	o	que	Heródoto	faz	é	estabelecer	uma	espécie	de	sequência	aos	
fatos	passados,	aproximadamente	a	partir	da	primeira	metade	do	século	VII	a.C.;	“[...]	
tudo	o	que	aconteceu	antes	continuou	como	estava	quando	ele	começou	seu	traba-
lho,	contos	épicos	e	míticos	supostamente	verdadeiros,	pelo	menos	em	essência,	mas	
incorrigivelmente	atemporais”	(FINLEY,	1989,	p.	11).
Mesmo	considerando	as	dificuldades	de	método	enfrentadas	por	Heródoto,	nele	
encontramos,	segundo	Hartog	(2001,	p.	17),	“a	audácia	de	perguntar,	de	discutir,	e	
de	confrontar	pontos	de	vista”.	Todavia,	esses	procedimentos	devem	ser	situados	nos	
séculos	VI	e	V	a.C.,	quando	a	sociedade	grega	ateniense	buscava	explicar	o	mundo	e	a	
finalidade	de	sua	existência,	e	de	sua	preservação.	
Heródoto	propõe	a	investigação	dos	fatos	narrados.	Tal	investigação	sistemática	é	
designada	por	Hartog	(2001,	p.	36)	como	o	desenvolvimento	do	hístor:	“o	historiador	
seria	aquele	que	não	economiza	nem	seu	tempo,	nem	sua	pena,	nem	seu	dinheiro	
para	percorrer	espaços	e	 ver	 com	seus	próprios	olhos”.	Trata-se,	portanto,	de	uma	
preocupação	com	os	testemunhos,	mas	recorrente	na	narrativa	de	Tucídides	a	respeito	
da	guerra	entre	atenienses	e	espartanos,	entre	os	anos	431-404	a.C.
Na	introdução	da	História da Guerra do Peloponeso	(1986),	Tucídides	justifica	
seu	esforço	para	interpretar	osprimórdios	da	história	da	Grécia.	Os	testemunhos	em	
que	poderia	se	fundamentar	eram	apenas	Homero,	a	tradição	oral	e	as	evidências	con-
temporâneas.	Não	obstante,	ele	sugeriu	que	havia	uma	continuidade	na	história	dos	
gregos,	desde	os	tempos	mais	antigos	(míticos)	até	o	século	IV	a.C..	É	com	hesitação	
que	explica	o	início:
Segundo	as	minhas	pesquisas,	 foram	assim	os	tempos	passados,	embora	seja	
difícil	dar	crédito	a	todos	os	testemunhos	nesta	matéria.	Os	homens,	na	verda-
de,	aceitam	uns	dos	outros	relatos	de	segunda	mão	dos	eventos	passados,	sem	
colocá-los	à	prova,	ainda	que	tais	eventos	se	relacionem	com	sua	própria	terra.
(...)	A	tal	ponto	chega	a	aversão	de	certos	homens	pela	pesquisa	meticulosa	da	
verdade,	e	 tão	grande	é	a	predisposição	para	valer-se	apenas	do	que	está	ao	
alcance	da	mão.	À	 luz	da	evidência	 apresentada	até	 agora,	 todavia,	ninguém	
erraria	se	mantivesse	o	ponto	de	vista	de	que	os	 fatos	na	Antigüidade	 foram	
muito	próximos	de	como	os	descrevi,	não	dando	muito	crédito,	de	um	lado,	
às	versões	que	os	poetas	cantaram,	adornando	e	amplificando	seus	 temas,	e	
de	outro	considerando	o	que	os	logógrafos	compuseram	com	suas	obras,	mais	
História antiga: fontes e 
métodos
22
História antiga i: 
 Fontes e Métodos
com	a	intenção	de	agradar	aos	ouvidos	do	que	dizer	a	verdade,	uma	vez	que	
as	estórias	não	podem	ser	verificadas,	e	eles,	em	sua	maioria,	com	o	passar	do	
tempo,	 enveredaram	pelo	 caminho	da	 fábula,	perdendo	assim	credibilidade.	
Deve	olhar	os	fatos	como	estabelecidos	com	precisão	suficiente,	com	base	em	
informações	mais	nítidas,	embora	considerando	que	ocorreram	em	épocas	mais	
remotas	(TUCIDIDES,	1982,	p.	20-22).
Para	Tucídides,	o	passado,	por	ser	produto	do	tempo,	é	mítico,	fabuloso	(mythó-
des),	por	isso	torna-se	incomprovado.	A	história	não	existe	se	a	temporalidade	que	ela	
distingue	é	o	passado,	pois	o	saber	sobre	o	passado	é	sempre	subjetivo.	A	narrativa	
histórica	se	configura	a	partir	de	ações	praticadas	no	presente,	ou	seja,	o	saber	históri-
co	pressupõe	o	domínio	dos	acontecimentos	do	presente.
Na	narrativa	histórica	tucidiana	a	crença	no	mito	dá	lugar	à	razão	(logos).	A	história	
se	apresenta	como	um	novo	discurso,	marcado	pela	objetividade	e	pela	existência	de	
um	método	que	deve	ordenar	a	reconstituição	dos	acontecimentos.	
O	comportamento	do	historiador	diante	do	mito	 torna-se	ambíguo.	Ele	consiste	
numa	atitude	dúbia	e	dúplice	de	aceitar	e	de	rejeitar	o	mito.	Tucídides	o	rejeita,	na	
medida	em	que	o	passado,	para	ele,	é	incompreensível	e	fabuloso.	
A	elaboração	desse	novo	discurso	denominado	de	história	apresenta	quatro	traços	
fundamentais.	O	primeiro	se	revela	na	mudança	de	sujeito	no	princípio	e	como	prin-
cípio	do	discurso:	“Tucídides	de	Atenas	descreveu	a	guerra	começando	desde	que	ela	
se	instalou	e	prevendo	que	ela	seria	grande	e	a	mais	digna	de	estudo”	(TUCÍDIDES,	
1982,	p.	27-28).
Assim	como	Heródoto,	Tucídides	se	coloca	como	sujeito	de	sua	narrativa.	Essa	mu-
dança	inaugura	um	novo	tipo	de	saber,	cuja	verdade	é	constituída	de	procedimentos	
que	são	atos	do	sujeito.	
Como	segundo	traço	destaca-se	a	inversão	da	perspectiva	temporal.	Depois	de	res-
saltar	a	grandeza	da	Guerra	do	Peloponeso,	argumenta	que	em	tempos	passados	não	
havia	 recursos	econômicos	que	possibilitassem	uma	guerra	de	 tal	 amplitude;	 “[...]	
ainda	que	os	homens	 julguem	ser	maior	a	presente	guerra	em	que	se	encontram,	
essa	guerra	mostrar-se-á,	aos	que	examinam	as	próprias	ações,	maior	que	as	antigas”	
(TUCIDIDES,	1982,	p.	27).
O	 terceiro	 traço	na	 constituição	 do	discurso	 histórico	 diz	 respeito	 à	 veracidade	
do	discurso.	Ele	deve	ser	buscado	no	exame	das	palavras	e	das	ações	praticadas	por	
homens	mortais.	Tucídides,	quando	examina	as	ações	praticadas	na	guerra,	descreve	
as	que	ele	próprio	presenciou.	Quanto	àquelas	que	não	testemunhou,	submete	os	re-
latos	a	um	exame	minucioso,	o	mais	perto	possível	do	sentido	completo	das	ilatências	
da	fala;
23
Quanto	aos	discursos	pronunciados	nas	proximidades	da	guerra,	ou	durante	
sua	duração,	era	difícil	de	se	conservar	neles	os	termos	precisos,	sejam	os	que	
tivesse	ouvido	pessoalmente,	sejam	aqueles	que	me	foram	trazidos	depois	[...].	
Para	aquilo	que	era	acontecimento	da	guerra,	eu	não	me	municiei	nem	de	in-
formações	vindas	primeiro,	nem	mesmo	da	minha	opinião	pessoal;	acreditei	
que	não	devesse	escrever	nada	sem	ter	submetido	à	investigação	mais	exata	de	
cada	um	dos	fatos	[...].	Era	difícil	descobrir	a	verdade,	pois	aqueles	que	tinham	
assistido	aos	acontecimentos	não	se	davam	conta	de	suas	aproximações,	e	seus	
dizeres	seguem	suas	 inclinações	pessoais	e	a	memória	de	cada	um	(TUCIDI-
DES,	1982,	p.	28).
O	quarto	traço	refere-se	à	causalidade.	Se	por	um	lado	a	guerra	é	uma	ação	pratica-
da	por	homens	mortais,	o	seu	fundamento	subjacente	são	os	deuses,	que	determinam	
sua	magnitude:	 sua	 longa	duração,	os	atos	violentos	praticados	por	bárbaros	e	por	
gregos,	as	grandes	secas	portadoras	de	fome	e	a	ruinosa	e	destrutiva	peste.	Tudo	isso	
mostra	o	desfavor	dos	deuses	para	com	os	homens;	“das	ações	antigas	a	maior	foi	a	
dos	medos	[...].	A	duração	desta	guerra	prolongou-se	muito	e	trouxe,	para	a	Grécia,	
sofrimentos	como	não	houve	outros	em	tempo	igual”	(TUCÍDIDES,	1982,	p.	28).
Para	o	historiador	da	guerra	do	Peloponeso,	a	história	se	faz	com	testemunhos	que	
presenciaram	os	fatos,	para	que	possam	ser	investigados.	Mesmo	diante	da	reconhe-
cida	presença	da	tradição	oral	entre	os	gregos,	“no	mundo	antigo	permaneceu,	pre-
dominantemente,	o	mundo	da	palavra	falada	e	não	da	palavra	escrita”	(FINLEY,	1989.	
p.	43).	A	veracidade	na	narrativa	produzida	pelo	historiador	é	possível,	na	acepção	de	
Tucídides,	desde	que	se	investiguem	os	fatos	contemporâneos.
O	estudo	do	passado	não	é	possível	pela	ausência	de	documentos	e	pela	tradição	
oral,	característica	do	mundo	antigo	clássico.	Existe	um	critério,	um	rigor	que	estabelece	
a	confiabilidade	dos	testemunhos.	No	caso	de	Tucídides,	ele	é	participante	e,	ao	mesmo	
tempo,	uma	testemunha	ocular	dos	fatos.	Como	enfatiza	Hartog	(2001,	p.	99),	se	Heró-
doto	“queria	preservar	a	memória	que	tinha	se	realizado	ou	dito”,	Tucídides	“se	empenha	
em	reduzir	o	distanciamento	entre	o	que	efetivamente	aconteceu	e	o	que	se	diz	depois.”
Considerações Finais
Diferentemente	de	Heródoto	e	de	Tucídides,	o	historiador	de	hoje	está	munido	de	
um	amplo	quadro	conceitual,	capaz	de	dar	confiabilidade	aos	dados	disponíveis,	com	
a	utilização	de	técnicas	adequadas	de	avaliação	e	de	interpretação	dos	documentos.	
Convivemos	com	tipos	diferenciados	de	testemunhos	do	passado,	todos	qualitativa-
mente	importantes.	Nas	palavras	de	Moses	Finley,
o	que	os	une	 [os	 testemunhos	escritos	e	materiais]	 é	o	quadro	conceitual	 a	
partir	do	qual	o	historiador	trabalha,	um	quadro	que,	como	vimos	antes,	faltava	
ao	historiador	 antigo	para	 a	 investigação	que	 agora	nos	preocupa,	 e	 que	os	
historiadores	de	hoje	possuem	sobejamente	(1989,	p.	35).
História antiga: fontes e 
métodos
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História antiga i: 
 Fontes e Métodos
A	união	sugerida	por	Finley	está	na	convivência	de	testemunhos	escritos,	literários	
ou	não,	 testemunhos	materiais,	 inscrições,	pinturas,	mosaicos,	proporcionando	um	
quadro	de	investigação	peculiar,	pela	quantidade	e	diversidade	das	fontes.
As	preocupações	de	Heródoto	e	de	Tucídides	demonstram	que	a	escrita	da	história,	
bem	como	a	natureza	e	o	uso	dos	testemunhos	foram	debatidos	pelos	historiadores	
do	mundo	clássico	antigo,	e	continuam	sendo	alvo	do	estudioso	da	Antiguidade,	nos	
dias	atuais.	
doCUMentos de reFerênCia
Bernadette Menu, l´obélisque de la Concorde
O	soerguimento,	tão	delicado	e	tão	perigoso,	do	monumento	na	Place	de	La	
Concorde	foi	um	grande	espetáculo	ao	qual	assistiram	200	mil	pessoas,	o	rei	
Luis	Felipe	e	sua	família,	ocupando	o	balcão	do	hotel	da	Marinha.	[...]	A	opera-
ção	foi	iniciada	às	11h30	e	terminou	em	menos	de	três	horas.	As	despesas	de	
transporte	e	de	soerguimento	alcançaram	asoma	de	1.350.000	francos.	[...]	A	
guarita	para	a	sentinela	que	foi	colocada	ao	pé	do	monumento,	e	que	ficou	lá	
por	muitos	anos,	não	deixou	de	alegrar	a	aridez	do	boulevard.	Esta	frase:	[...]	
Um	homem	capaz	de	roubar	um	obelisco	foi	uma	das	brincadeiras	correntes	
na	época.	O	monólito	tebano,	tão	estranhamente	instalado	no	urbanismo	mo-
derno,	hoje	não	desperta	mais	a	curiosidade	parisiense,	mas	é	sempre	contem-
plado	curiosamente	pelos	provincianos	e	pelos	estrangeiros	que	visitam	Paris	e	
admiram	os	hieróglifos,	sem	ter	a	ambição	de	decifrá-los	(apud	VERCOUTTER,	
2002,	p.	137).
Comentário:	 trata-se	do	Obelisco	de	Luxor,	escolhido	por	Champollion	para	ser	
transferido	para	Paris.	Seu	erguimento	na	Place	de	La	Concorde	ocorreu	em	outubro	
de	1836.
Auguste Mariette, la serapeum de Memphis
A	calma	era	extraordinária.	Diante	de	mim	se	estendia	a	vila.	Um	nevoeiro	es-
pesso	e	pesado	parecia	ter	caído	sobre	ela,	envolvendo	todas	as	casas	até	acima	
de	seus	tetos.
Desse	mar	profundo	emergiam	300	minaretes,	como	mastros	de	alguma	frota	
submersa.	Bem	longe,	ao	sul,	percebiam-se	bosques	de	tamareiras	que	mergu-
lham	suas	raízes	nas	paredes	desmoronadas	de	Mênfis.	A	oeste,	afogadas	na	po-
eira	dourada	e	no	fogo	do	sol	poente,	levantavam-se	as	pirâmides.	O	espetáculo	
era	grandioso,	e	me	absorvia	com	uma	violência	quase	dolorosa.	Desculpem-
me	esses	detalhes,	talvez	muito	pessoais;	se	insisto,	é	porque	o	momento	é	de-
cisivo.	Tinha	diante	dos	olhos	Gizé,	Abousir,	Sakkara,	Dahchour,	Mut-Rahyneh.	
Este	sonho	de	uma	vida	 inteira	se	 realizando.	Havia	ali,	quase	ao	alcance	da	
minha	mão,	todo	um	mundo	de	túmulos,	de	colunas,	de	inscrições,	de	estátuas.	
Que	dizer	além	disso?
No	dia	seguinte,	aluguei	duas	ou	três	mulas	para	as	bagagens,	um	ou	dois	as-
nos	para	mim	mesmo;	comprei	uma	tenda,	algumas	caixas	de	provisões,	todos	
25
os	 impedimenta	 de	 uma	 viagem	 ao	 deserto,	 e,	 em	20	 de	 outubro	 de	 1850,	
durante	o	dia,	acampei	ao	pé	da	grande	pirâmide	(apud	VERCOUTTER,	2002,	
p.	138-139).
Estrabão, geografia, Xviii-31
Mênfis	possui	diversos	 templos,	dos	quais	um	é	consagrado	a	Ápis,	 isto	é,	 a	
Osíris.	Lá,	em	um	enclave,	é	alimentado	o	touro	Ápis,	considerado	uma	divin-
dade.	O	touro	Ápis	tem	de	branco	apenas	a	testa	e	algumas	outras	pequenas	
manchas,	no	resto	é	todo	negro;	aí	estão	os	sinais	que,	com	a	morte	do	titular,	
guiam	sempre	a	escolha	do	sucessor.	O	recinto	onde	fica	é	precedido	de	um	
pátio,	 contendo	 outro	 recinto,	 que	 serve	 para	 alojar	 sua	mãe.	 A	 uma	 deter-
minada	hora	do	dia,	coloca-se	Ápis	nesse	pátio,	sobretudo	para	mostrá-lo	aos	
estrangeiros,	pois,	mesmo	que	se	possa	avistá-lo	por	uma	janela	dentro	de	seu	
recinto,	os	estrangeiros	acham	melhor	vê-lo	assim	em	liberdade;	mas	depois	
de	tê-lo	deixado	divertir-se	e	saltar	algum	tempo	no	pátio,	fazem-no	voltar	para	
sua	casa.[...]	Na	frente	do	templo	de	Ápis,	na	avenida	que	leva	até	ele,	existe	um	
monólito	colossal	(apud	VERCOUTTER,	2002,	p.	138).
Comentário:	A	descrição	de	Mênfis,	contida	na	obra	de	Estrabão,	 foi	encontrada	
por	Mariette.	O	pesquisador,	que	se	inspirou	nessa	descrição	para	iniciar	escavações	
na	região,	em	novembro	de	1851	chegou	ao	Serapeum.
Heródoto, Histórias, 2, 14
Em	todo	o	mundo,	ninguém	obtém	os	frutos	da	terra	com	tão	pouco	trabalho.	
Não	se	cansam	a	sulcar	a	terra	com	o	arado	ou	a	enxada,	nem	têm	nenhum	dos	
trabalhos	que	todos	os	homens	têm	para	garantir	as	colheitas.	O	rio	sobe,	irriga	
os	campos	e,	depois	de	os	ter	irrigado,	torna	a	baixar.	Então,	cada	um	semeia	
o	seu	campo	e	nele	introduz	os	porcos	para	que	as	sementes	penetrem	na	ter-
ra;	depois,	só	tem	de	aguardar	o	período	da	colheita.	Os	porcos	também	lhes	
servem	para	debulhar	o	trigo,	que	é	depois	transportado	para	o	celeiro	(apud	
CAMINOS,	1994,	p.	18).
Comentário:	em	uma	de	suas	viagens	ao	Egito	Heródoto	descreve,	maravilhado,	
os	efeitos	das	cheias	do	Rio	Nilo,	e	apresenta	uma	descrição	 idealizada	da	situação	
agrícola	do	Egito.
Tito Livio, ab Urbe Condita, i: 1, 3-4, 6-7
Se	me	terá	valido	escrever	minuciosamente	os	feitos	do	povo	romano	desde	os	
primórdios	da	cidade,	não	sei	bem,	nem,	se	soubesse,	ousaria	dizê-lo.	3.Seja	
como	 for,	agradará	pelo	menos	 ter	velado	eu	próprio,	na	medida	dos	meios	
humanos,	pela	memória	dos	feitos	realizados	pelo	povo	que	é	senhor	da	terra;	
e	se,	numa	turba	tão	grande	de	escritores	minha	fama	ficasse	obscurecida,	me	
consolaria	a	nobreza	e	a	grandeza	dos	que	fazem	sombra	a	meu	nome.	4.	Além	
disso,	trata-se	de	um	assunto	para	uma	imensa	obra,	já	que	se	rememoram	mais	
História antiga: fontes e 
métodos
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História antiga i: 
 Fontes e Métodos
de	 setecentos	 anos,	 e	 a	 cidade,	progredindo	 a	partir	de	um	 início	modesto,	
cresceu	a	ponto	de	agora	se	inquietar	com	sua	magnitude	–	e	não	duvido	mes-
mo	que,	para	a	maioria	dos	leitores,	as	primeiras	origens	e	o	que	está	próximo	
delas	ofereçam	menos	prazer,	pois	serão	levados	a	esses	tempos	recentes	em	
que	as	forças	de	um	povo	há	muito	tempo	superior	se	esgotam	por	si	mesmas.	
6.	Quanto	às	tradições	que	nos	chegaram,	que	devem	sua	magnificência	mais	às	
lendas	dos	poetas	que	aos	monumentos	remanescentes	do	passado,	sem	altera-
ção,	não	tenho	a	intenção	de	confirmá-las	ou	refutá-las.7.	Faz-se	essa	concessão	
à	Antiguidade	a	fim	de	que,	misturando-se	o	divino	ao	humano,	se	tornem	mais	
veneráveis	os	primórdios	das	cidades	(TITE-LIVE,	1954).
Comentário:	Tito	Lívio	(59	a.C.-17	d.C.)	era	originário	de	Pádua.	Sua	história	de	
Roma	se	estendia	desde	as	origens	até	os	anos	finais	da	República,	século	I	a.C.
Aristóteles, poética, 1451 a 36; 1451b, ii; 1459 a 21-24
É	claro	que,	depois	do	que	foi	dito,	que	a	característica	do	poeta	não	é	relatar	
o	passado	real,	mas	antes	o	passado	possível,	 levando	em	conta	as	possibili-
dades	dos	 acontecimentos	 segundo	as	 verossimilhanças	 e	 a	necessidade	dos	
encadeamentos.	O	historiador	e	o	poeta,	com	efeito,	não	diferem	pelo	fato	de	
um	narrar	em	verso	e	o	outro	em	prosa	–	poder-se-ia	ter	transcrito	em	versos	
a	obra	de	Heródoto	e	ela	não	seria	menos	história	em	verso	do	que	em	prosa.	
A	verdadeira	distinção	é	a	seguinte:	um	narra	o	que	aconteceu,	o	outro	aquilo	
que	poderia	ter	acontecido.
Além	disso,	a	poesia	é	mais	filosófica	e	de	um	gênero	mais	nobre	do	que	a	his-
tória,	pois	a	poesia	se	eleva	até	o	geral,	enquanto	que	a	história	não	é	senão	a	
ciência	do	particular.	O	geral,	aquilo	que	este	ou	aquele	tipo	de	homem	faria	ou	
diria	segundo	toda	verossimilhança	ou	necessidade:	é	a	isso	que	visa	a	poesia,	
embora	dando	nomes	 individuais	 aos	personagens.	O	particular	 é	o	que	 fez	
Alcibíades,	ou	aquilo	que	lhe	aconteceu.	
Inteiramente	diversos	são	os	relatos	históricos	habituais,	nos	quais,	necessaria-
mente,	não	se	trata	de	mostrar	uma	unidade	de	ação,	mas	somente	uma	unida-
de	de	tempo,	juntando	todos	os	acontecimentos,	os	quais,	num	determinado	
tempo,	interessaram	um	ou	mais	homens	e	que	não	mantêm	entre	si	senão	uma	
relação	causal	(apud PINSK,	1991,	144).
ARAUJO,	Emanuel.	Escrito para a eternidade:	a	literatura	no	Egito	faraônico.	
Brasília:	Editora	da	UNB,	2000.
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VERCOUTTER,	Jean.	Em busca do Egito esquecido.	Rio	de	Janeiro:	Objetiva,	2002.
1)	 Diante	do	 encantamento	de	Auguste	Mariette,	 pesquise	 sobre	 a	 arqueologia	 egípcia	de	
hoje,	tanto	no	domínio	das	escavações	quanto	no	trabalho	de	restauração	das	inscrições	e	
dos	monumentos.
2)	 A	partir	da	narrativa	de	Bernadette	Menu,	disserte	sobre	o	uso	francês	dos	monumentos	
egípcios.
3)	 Considere	as	descrições	do	geógrafo	Estrabão	e	do	historiador	Heródoto,	e	procure	expli-
car	o	olhar	grego	diante	dos	monumentos	e	do	modo	de	vida	do	homem	egípcio.
4)	 Com	base	nos	 fragmentos	dos	 textos	de	Tito	Lívio	e	de	Aristóteles,	 reflita	a	 respeito	da	
escrita	da	história	e	compare	com	os	procedimentos	apresentados	por	Moses	Finley	em	
História Antiga. Testemunhos e modelos,	ao	destacar	as	singularidades	para	o	estudo	da	
História	Antiga.	
GLOSSáRIO
Óstraco	-	espécie	de	ficha	(óstrakon)	de	pedra	ou	cerâmica	onde	se	escrevia	o	nome	do	
cidadão	que	poderia	ser	condenado	ao	ostracismo.	Tal	prática,	característica	da	democracia	
ateniense,	consistia	em	banir	da	cidade,	durante	dez	anos,	qualquer	pessoa	que	represen-
tasse	uma	ameaça	aos	princípios	democráticos.	
Fontes e referenciais para o aprofundamento temático
29
História antiga: fontes e 
métodos
Anotações
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História antiga i: 
 Fontes e Métodos
Anotações
31
Ivan Esperança Siqueira Rocha
O Oriente ajudou a definir a Europa (ou o Ocidente), como sua imagem, idéia, 
personalidade e experiência de contraste.
Edward	Said
introdUçÃo
Sintetizar	em	um	capítulo	de	livro	a	extensa	história	do	Oriente	Próximo	Antigo	não	
é	uma	tarefa	simples.	Como	não	é	possível	descer	a	detalhes	sobre	as	características	
materiais,	sociais	e	políticas	das	civilizações	que	ali	se	desenvolveram,	o	que	aqui	apre-
sentamos	são	considerações	gerais	sobre	o	tema,	indicando	instrumentos	que	possam	
complementar	e	aprofundar	os	conhecimentos	sobre	elas.
Os	povos	europeus	e,	consequentemente,	os	povos	por	eles	colonizados	possuem	
profundos	vínculos	com	a	maneira	de	viver	dos	gregos	e	romanos,	e	estes,	por	sua	vez,	
foram	precedidos	pela	longa	experiência	humana	oriental	caracterizada	pelo	desen-
volvimento	da	escrita,	da	agricultura,	do	comércio,	do	uso	do	metal	e	pela	criação	dos	
primeiros	centros	urbanos,	marcados	por	uma	arquitetura	monumental	e	por	sistemas	
políticos	sofisticados,	que	deram	origem	aos	primeiros	impérios	de	que	temos	notícia	
(DUNSTAN,	1998,	p.	xv).	Edward	Said	vai	mais	 longe:	para	ele,	o Oriente ajudou a 
definir a Europa (ou o Ocidente), como sua imagem, idéia, personalidade e experi-
ência de contraste	(SAID,	1990,	p.	13-14).	Essa	ideia	de	contraste	tem	sua	origem	já	
nos	autores	clássicos,	particularmente	em	Heródoto,	que	provocou	uma	polarização	
entre	Ocidente	e	Oriente.	Ao	denominar	os	orientais	de	“bárbaros”	(hoi	barbaroi)	ele	
iria	alimentar	inúmeros	estereótipos,	como	o	do	despotismo	oriental	e	o	do	imobilis-
mo	tecnológico	e	cultural	oriental,	sempre	em	oposição	às	características	do	mundo	
ocidental.	A	literatura	de	viagem	moderna	também	contribui	para	esses	estereótipos.	
Só	 recentemente	 abriu-se	 espaço	 para	 uma	 visão	 antropológica	 da	 diversidade,	 da	
historicidade	e	do	relativismo	cultural	característicos	da	cultura	moderna	(LIVERANI,	
2005,	p.	7-8).
História do oriente 
próximo antigo: uma 
introdução
2
32
História antiga i: 
 Fontes e Métodos
No	entanto,	por	que	a	história	oriental	é	 tão	pouco	conhecida	no	Brasil?	Uma	
primeira	dificuldade	a	ser	apontada	é	a	ausência	de	livros	traduzidos,	o	que,	durante	
muito	 tempo,	 impediu	o	 acesso	 às	pesquisas	 sobre	 ela.	Com	 raras	 exceções,	não	
temos	também	museus	que	conservem	documentos	e	artefatos	da	cultura	oriental	
antiga	como	acontece	na	Europa	e	nos	Estados	Unidos,	onde	as	crianças	podem	des-
pertar	desde	cedo	seu	interesse	por	essa	cultura.	Uma	dessas	exceções	é	a	Coleção	
Egípcia	do	Museu	Nacional	do	Rio	de	Janeiro,	com,	aproximadamente	700	peças,	
originada	de	aquisições	de	D.	Pedro	I	e	de	doações	recebidas	por	D.	Pedro	II.	Des-
tacam-se	nessa	coleção	as	múmias	do	sacerdote	Hori	(séc.	XI	a.C.),	de	Harsiese	(séc.	
VII	a.C.)	e	o	esquife	da	dama	Sha-Amun-En-Su	(séc.	VIII	a.C.).	Este	último	foi	um	
presente	recebido	do	Quediva	do	Egito,	Ismail,	pelo	imperador	D.	Pedro	II,	quando	
de	sua	viagem	ao	Egito	em	1876.	Outras	duas	exceções,	de	menor	proporção,	são	o	
acervo	do	MASP	e	o	da	Fundação	Eva	Klabin	Rapaport,	do	Rio	Janeiro.
detalhe do rosto do caixão de sha-amun-en-su, cerca de 750 a.C.
Fonte: Museu nacional do rio de Janeiro.
Atualmente	esse	cenário	está	se	modificando,	pois	as	 livrarias	e	bibliotecas	co-
meçam	a	se	abastecer	com	um	volume	crescente	de	obras	tanto	traduzidas	quanto	
produzidas	por	pesquisadores	brasileiros,	somando-se	a	isso	o	aparecimento	de	inú-
meras	revistas,	sites,	bases	de	dados	e	de	imagens,	peças	teatrais,	filmes	e	até	novelas	
sobre	o	tema.	Importantes	museus	começam	a	adotar	uma	política	de	divulgação	e	
socialização	de	seus	acervos,	como	ocorreu	recentemente	com	o	Museu	do	Louvre,	
que	expôs	valiosas	peças	de	sua	coleção	egípcia	no	Brasil.	Uma	primeira	exposição,	
denominada	A arte no Egito no tempo dos faraós,	foi	feita	no	Museu	de	Arte	Brasi-
leira	da	Fundação	Armando	Álvares	Penteado	(FAAP),	de	02	de	maio	a	22	de	julho	de	
2001,	reunindo	56	peças	do	período	do	Novo	Império	(entre	1570	e	1185	a.C.).	De	
27	de	setembro	a	16	de	dezembro	de	2001,	a	exposição	deslocou-se	para	o	Museu	
33
de	Arte	de	São	Paulo	(MASP),	com	o	tema	Egito Faraônico, terra dos deuses,	reu-
nindo	ali	peças	do	acervo	do	Louvre,	da	coleção	do	MASP	e	da	Fundação	Eva	Klabin	
Rapaport,	do	Rio	de	Janeiro,	num	total	de	120	peças.	De	15	de	janeiro	a	24	de	março	
de	2002	foi	a	vez	de	a	Casa	França	Brasil	recepcionar	a	exposição	sobre	o	Egito.
a arca para os servidores funerários da dama pypya, que viveu 
entre 1295 e 1069 a.C. 
Museu do louvre. incluída na exposição da Faap.
Esse	 crescente	 interesse	 pelo	 Egito,	 no	 Brasil,	 pode	 ser	 comprovado	 também	
pela	pesquisa	sobre	egiptomania	coordenada	por	Margaret	Marchiori	Bakos	e	que	
resultou,	com	a	colaboração	de	outros	autores,	no	livro	Egiptomania: o Egito Antigo 
no Brasil (2004).	Nele	se	analisa	a	influência	da	cultura	egípcia	em	diferentes	espa-
ços	da	cultura	brasileira,	tais	com	logotipos	de	empresas,	marcos	comemorativos	de	
cidades,	arquitetura	de	edifícios	públicos	ou	privados,	dentre	outros.
Concorreram	 também	para	 a	modificação	desse	 cenário	os	 inúmeros	 conflitos	
ocorridos	no	Oriente	desde	meados	do	século	passado,	que	despertaram,	natural-
mente,	a	necessidade	de	se	conhecer	melhor	a	história	oriental	contemporânea	e	
suas	 bases	 antigas,	 buscando-se	 evitar	 visões	 estereotipadas	 sobre	 ela.	Hoje,	 esse	
interesseé	ampliado	também	pelas	crescentes	relações	econômicas	com	a	região.
No	entanto,	há	ainda	carência	de	um	conhecimento	mais	denso	sobre	o	Oriente	
Próximo	Antigo,	o	qual	que	se	modifica	permanentemente;	nas	últimas	décadas	esse	
conhecimento	 vem	 sendo	 profundamente	 enriquecido	 e	 modificado,	 tanto	 pelo	
surgimento	de	novos	materiais	arqueológicos	e	 textuais	quanto	pela	utilização	de	
História do oriente 
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introdução
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História antiga i: 
 Fontes e Métodos
métodos	e	técnicas	mais	avançados	de	pesquisa	(LIVERANI,	2005,	p.	vii).	
O	grande	impulso	dado	ao	conhecimento	da	História	Oriental	se	deveu,	inicial-
mente,	ao	interesse	que	os	estudiosos	da	Bíblia	tiveram,	em	buscar	informações	que	
pudessem	comprovar	ou	esclarecer	fatos	descritos	no	Antigo	e	no	Novo	Testamen-
tos,	 dando-se	 início	 a	 inúmeras	 escavações,	 tanto	 na	 Palestina	 quanto	 em	 outras	
regiões	do	Oriente	Próximo	(KELLER,	1958).	Na	verdade,	o	Oriente	Próximo	Antigo,	
até	meados	do	século	XIX,	tinha	como	principal	fonte	documental	a	própria	Bíblia	
Hebraica	(PRITCHARD,	1969,	p.	xix). Foi	a	partir	desse	momento	que	a	descoberta	e	
decifração	de	um	número	cada	vez	mais	expressivo	de	documentos	antico-orientais	
permitiu	extrapolar	os	limites	das	informações	bíblicas	sobre	a	região.
É	 importante	 frisar	que,	não	obstante	o	 fato	de	o	Oriente	Próximo	Antigo	ser	
comumente	considerado	o	berço	da	civilização	e	da	cultura	europeia,	não	se	devem	
excluir	outras	experiências	culturais	fora	desse	espaço	geográfico,	como	é	o	caso	
das	civilizações	do	Extremo	Oriente	(p.ex.	Índia	e	China)	e	das	pré-colombianas,	
evitando-se,	assim,	análises	etnocêntricas	 (LIVERANI,	2005,	p.	7-8;	BRAVO,	1997,	
p.	22-23).1	
A	região	do	Oriente	Próximo	Antigo	abriga	o	território	de	um	grande	número	de	
estados	modernos:	Turquia,	Iraque,	Irã,	Síria,	Líbano,	Israel,	Jordânia,	Arábia	Saudi-
ta.	De	forma	aproximativa,	pode-se	dizer	que	a	Palestina	incluía	a	área	atualmente	
ocupada	por	Israel	e	Jordânia;	a	Arábia,	a	área	da	Arábia	Saudita	e	outros	Estados	
da	Península	Arábica;	a	Fenícia,	a	área	do	Líbano;	a	Anatólia	ou	Ásia	Menor,	a	área	
da	Turquia;	a	Mesopotâmia	a	área	do	Iraque;	a	Pérsia,	a	área	do	Irã.	O	Egito,	apesar	
de	se	situar	no	continente	africano,	é	incluído	no	conjunto	das	civilizações	orientais	
pela	relação	próxima	que	manteve	com	a	região.	Assim,	pode-se	dizer	que	a	deno-
minação	Oriente	Próximo	Antigo	possui	uma	identidade	geográfica	asiática	e	outra	
africana.	Com	relação	ao	território	do	Antigo	Egito,	identifica-se,	praticamente,	com	
o	do	Egito	atual.
1 No prefácio da obra de Paul Garelli e V. Nikiprowetzky, Oriente Próximo Asiático: impérios 
mesopotâmicos, Israel. Trad,. Emanuel O. Araújo. São Paulo: Pioneira/EDUSP, 1982, p. xx) 
critica-se o fato de se ter dado pouca importância às regiões periféricas do Oriente Próximo, 
como Elam, Urartu e Fenícia.
35
principais sítios históricos e pré-históricos do oriente próximo
As	primeiras	civilizações	surgiram,	por	volta	de	3500	a.C.,	em	duas	regiões	banha-
das	por	rios	caudalosos:	a	Mesopotâmia,	com	os	rios	Tigre	e	Eufrates,	e	o	Egito,	com	o	
Nilo.	Na	tradição	historiográfica,	a	Mesopotâmia	e	o	Egito	constituem	a	chave	do	pro-
cesso	histórico	do	Oriente	Antigo.	Há	um	consenso	a	respeito	da	“origem	da	civiliza-
ção”	nessas	duas	áreas,	em	datas	similares	(em	fins	do	IV	milênio	ou	início	do	III),	dado	
que	ambas	parecem	se	encaixar	num	mesmo	padrão	ecológico	(BRAVO,	1997,	p.	7).
Nessas	duas	regiões,	as	planícies	fluviais	contrastam	com	áreas	desertas,	estepes	e	
montanhas.	No	Egito,	uma	rápida	viagem	de	balão,	a	partir	de	Tebas,	permite	visuali-
zar	com	facilidade	o	cenário	da	maior	parte	do	país:	o	rio	Nilo	e	suas	margens	muito	
estreitas	cobertas	por	plantações	formam	uma	faixa	ladeada	de	desertos	e	montanhas.	
Uma	das	diferenças	em	relação	ao	Egito	antigo	é	que	a	irrigação	natural	das	cheias,	que	
ocorria	entre	setembro	e	outubro,	foi	modificada	pela	construção	da	barragem	de	As-
suã,	concluída	em	1970.	É	interessante	esclarecer	que	o	represamento	do	Nilo	provo-
cado	por	essa	barragem	exigiu	várias	obras	de	salvamento	de	importantes	monumen-
tos,	como	os	de	Abu	Simbel	e	de	Philae,	que	foram	realocados	em	espaços	mais	altos.	
História do oriente 
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História antiga i: 
 Fontes e Métodos
abu simbel. Foto ivan e.
Fonte: (roCHa, 2006).
O	povoamento	dessas	regiões	foi	marcado	pela	presença	de	uma	terra	produtiva,	
pela	disponibilidade	de	água	e	pela	ação	humana	voltada	para	tornar	a	terra	mais	pro-
dutiva,	com	uma	utilização	racional	da	água	(LIVERANI,	2005,	p.	39).	O	processo	de	
urbanização	e	o	controle	sobre	as	águas	da	chuva	e	as	fluviais	foram	associados	à	apari-
ção	do	Estado,	cujos	depositários	conseguiram	a	força	necessária	para	impor-se	sobre	
os	outros	membros	rivais	da	comunidade	primitiva.	Há	sinais	de	culturas	protourbanas	
em	períodos	anteriores:	Jericó	(aprox.	7700	a.C.),	na	Palestina,	e	Çatal	Hüyük	(aprox.	
6500	a.C.)	na	Anatólia;	no	entanto,	não	houve	ali	um	avanço	na	direção	de	uma	“revo-
lução	urbana”	(BRAVO,	1997,	p.	32-33).
Algumas	características	passam	a	distinguir	esses	dois	eixos	civilizatórios	com	rela-
ção	às	culturas	pré-históricas:	eficiência	na	produção	de	excedente	de	produtos	agrí-
colas	baseada	em	técnicas	sofisticadas	de	controle	das	águas	fluviais;	surgimento	de	Es-
tados	com	controle	regional	de	territórios;	adoção	de	modelo	teocrático	de	governo;	
economia	baseada	em	acumulação	centralizada	de	taxas	e	tributos;	divisão	em	grupos	
sociais	marcada	por	grandes	diferenças	de	riqueza,	com	a	presença	de	escravos	e	de	
uma	reduzida	elite	dominante;	desenvolvimento	de	inovações	técnicas,	particularmen-
te	com	respeito	ao	transporte	e	à	produção	de	armas;	estabelecimento	de	comércio	de	
longa	distância;	utilização	da	escrita	estimulada	pelo	desenvolvimento	do	comércio	e	
pela	presença	de	uma	arquitetura	monumental	na	construção	de	templos,	palácios	e	
túmulos	(DUNSTAN,	1998,	p.	41-42).
Os	sumérios	são	considerados	os	protagonistas	da	civilização	urbana	nas	cidades-
estado	mesopotâmicas.	 No	 entanto,	 sua	 origem	 e	 sua	 língua	 constituem	 ainda	 um	
mistério;	muitas	hipóteses	têm	sido	levantadas	a	esse	respeito,	mas	ainda	se	esperam	
maiores	esclarecimentos,	que	possam	advir	de	novas	descobertas	arqueológicas.	Os	
sumérios	foram	suplantados	por	hordas	de	invasores	de	origem	semita,	conhecidos	
como	acádios.	Além	do	acádio	o	tronco	lingüístico	semita	inclui	outras	línguas,	como	
hebraico,	 árabe,	 fenício	 e	 eblaítico,	 em	uso	 em	outras	 regiões	 do	Oriente	 Próximo	
Antigo	(BRAVO,	1997,	p.	37-39).
37
Um	outro	importante	grupo	de	povos	que	deixou	sua	marca	no	Oriente	Próximo	
Antigo,	a	partir	de	2000	a.C.,	é	conhecido	como	indo-europeu.	Essa	marca	é	princi-
palmente	lingüística:	o	indo-europeu	influenciou	a	língua	hitita,	as	línguas	helênicas,	
indo-iranianas,	báltico-eslavas,	célticas,	germânicas	e	itálicas,	como	o	latim,	e	as	línguas	
neolatinas,	como	o	português.	Um	exemplo	dessa	influência	fica	evidenciado	na	pala-
vra	fogo:	em	hitita,	agniš;	em	eslavo,	*ogni;	em	sânscrito,	agni;	em	lituano,	ugnis;	em	
latim,	ignis;	e	no	adjetivo	português	ígneo	(relativo	a	fogo).
O	surgimento	das	 fontes	escritas	é	considerado	um	dos	elementos	que	marcam	
os	limites	entre	as	 fases	pré-históricas	e	a	 fase	histórica	do	Oriente	Próximo	Antigo.	
O	início	da	escrita,	no	entanto,	não	deve	ser	considerado	um	fato	isolado,	mas	como	
parte	dos	processos	de	especialização	do	trabalho	e	de	diferenciação	social,	de	consti-
tuição	de	unidades	administrativas	e	políticas	complexas	e	de	concentrações	urbanas	
(LIVERANI,	2005,	p.	13-14).
Um	risco	em	que	se	incorre	na	discussão	sobre	o	Oriente	Próximo	Antigo	é	super-
valorizar	áreas	mais	bem	documentadas	em	detrimento	de	outras	menos	documenta-
das.	Trata-se	de	um	mundo	em	que	90%	da	população	é	constituída	de	analfabetos,	
localizados	essencialmente	em	aldeias	com	economia	agro-pastoril,e	em	que	apenas	
uma	minoria	vivia	ligada	às	cidades	e	palácios	(LIVERANI,	2005, p.	17).	Deve-se	ressal-
tar,	ainda,	que	a	maior	parte	da	documentação	produzida	no	Oriente	Próximo	Antigo	
surge	no	âmbito	dos	palácios	e	templos,	representa	uma	visão	oficial	dos	fatos	e	tem	
como	argumento	questões	políticas,	econômicas	e	religiosas:	inscrições	reais	e	anais	
são	 textos	de	 caráter	político	e	 comemorativo,	 e	principalmente	 focados	na	propa-
ganda	e	na	legitimação	do	poder,	e	que	apresentam	poucas	informações	sobre	a	vida	
quotidiana	da	maioria	das	populações	envolvidas.	
No	 Egito,	 essas	 informações	 podem	 ser	 encontradas	 em	 relevos	 e	 pinturas	 dos	
túmulos,	onde	também	se	depositam	reproduções	em	argila	de	cenas	que	retratam	o	
contexto	sociocultural	do	morto.	Nas	pinturas	podem	ser	vistas	cenas	de	preparação	
da	terra	com	o	arado,	colheita,	debulha	e	transporte	de	cereais;	colheita	da	uva	e	pro-
dução	do	vinho;	criação	de	gado	bovino	e	caprino;	pesca	com	anzóis	e	redes;	caça	de	
animais;	manufatura	de	utensílios,	barcos,	 instrumentos	musicais	e	objetos	de	arte;	
atividade	metalúrgica;	abate	de	animais	para	produção	de	carne;	fabricação	de	pão	e	
cerveja.	Nos	túmulos	foram	encontrados	também	objetos	de	uso	do	morto	ou	de	seus	
familiares,	como	sandálias,	cestos,	tapetes,	espelhos,	pentes,	bancos,	carruagens,	ca-
mas,	tabuleiros	de	jogos,	joias,	punhais,	peças	de	vestuário,	leques,	dentre	outros.	Na	
Mesopotâmia,	as	informações	sobre	a	vida	quotidiana	são	mais	escassas	do	que	aquelas	
garantidas	pela	proteção	dos	espaços	funerários	egípcios.
História do oriente 
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História antiga i: 
 Fontes e Métodos
pintura mural do túmulo do vizir rekhmire, aprox. 1500 a.C.
Fonte: luxor
A	história	do	Egito	ganhou	um	grande	 fôlego	com	a	decifração	da	escrita	hiero-
glífica	por	Jean-François	Champollion,	a	partir	da	inscrição	trilíngue	gravada	em	uma	
pedra	encontrada	em	Roseta,	no	Delta	do	Nilo,	em	1799,	por	soldados	de	Napoleão,	
conservada,	atualmente,	no	Museu	Britânico.	Trata-se	de	um	texto	de	196	a.C.,	grafado	
em	hieroglífico,	demótico	e	grego,	em	comemoração	ao	aniversário	de	coroação	do	
faraó	Ptolomeu	V,	Epifânio.	O	ponto	de	partida	dessa	façanha	foi	a	identificação	dos	
nomes	de	Ptolomeu	e	Cleópatra	nos	textos.	Após	o	séc.	IV	d.C.,	a	língua	hieroglífica	
tinha	entrado	em	desuso,	impedindo	o	conhecimento	da	riquíssima	informação	pre-
sente	em	papiros,	baixo-relevos,	afrescos	e	monumentos	egípcios.
O	Oriente	Próximo	Antigo	é	considerado	como	uma	grande	via	de	circulação	não	
apenas	 de	mercadorias,	 mas	 também	 de	 ideias,	 símbolos,	 valores	 éticos,	 estéticos,	
religiosos	e	 jurídicos.	O	Antigo	Testamento	é	um	testemunho	dessa	circularidade:	a	
descoberta	e	decifração,	nos	últimos	dois	séculos,	de	inúmeros	documentos	literários	
mesopotâmicos,	egípcios,	hititas	e	cananeus	evidenciaram	uma	forte	relação	entre	a	
literatura	antico-oriental	e	a	literatura	israelita.	
Como	já	dissemos,	o	início	das	pesquisas	sobre	o	Oriente	Próximo	Antigo	deveu-
se,	particularmente,	ao	interesse	em	comprovar	ou	esclarecer	fatos	descritos	na	Bíblia.	
As	profundas	mudanças	que	ocorreriam	no	conhecimento	da	literatura	e	da	história	
judaica	antiga,	que	se	identifica	com	o	conteúdo	do	Antigo	Testamento,	foram	preditas	
já	em	1872,	quando	George	Smith	apresentou	à	Sociedade	de	Arqueologia	Bíblica	tra-
duções	da	narração	do	dilúvio	na	tradição	assíria,	antecipando	que	deviam	ser	aguar-
dadas	muitas	outras	descobertas	sobre	a	Antiguidade.	A	partir	daí,	acontece	um	fluxo	
contínuo	de	descobertas,	 traduções	e	aproximações	de	 textos	históricos	e	 literários	
antico-orientais	 com	o	 conteúdo	bíblico.	Em	1912,	W.	Rogers	publica	uma	coleção	
dos	 textos	cuneiformes	relacionados	ao	Antigo	Testamento.	G.	A.	Barton,	na	sétima	
39
edição	de	sua	obra	Arqueologia e Bíblia,	incorpora	inúmeros	materiais	epigráficos	de	
interesse	para	os	estudos	bíblicos.	
O	crescente	volume	de	 informações	que	chegavam	das	novas	pesquisas	 sobre	o	
Oriente	levou	James	B.	Pritchard,	autor	de	uma	das	mais	importantes	obras	que	re-
únem	documentos	antico-orientais	que	contribuem	para	os	estudos	bíblicos,	a	con-
fessar	que	não	foi	fácil	decidir-se	frente	a	tantos	documentos.	Ele	adota,	então,	dois	
critérios	na	seleção:	em	primeiro	lugar	incluiu	textos	amplamente	reconhecidos	em	
comentários,	 como	paralelos	 e	 ilustrações	 de	passagens	do	Antigo	Testamento;	 em	
segundo	lugar,	selecionou	textos	que	fossem	representativos	de	cada	uma	das	áreas	
linguísticas	e	culturais	do	Oriente	Próximo	Antigo	(PRITCHARD,	1969,	p.	xix-xxi).	Fo-
ram	selecionados	textos	egípcios,	sumérios,	acádicos,	hititas,	ugaríticos,	assírios,	pa-
lestinos,	aramaicos,	os	quais	foram	organizados	em	10	seções:	mitos,	épicos	e	lendas;	
textos	legais;	textos	históricos;	rituais,	encantamentos	e	descrições	de	festivais;	hinos	
e	orações;	textos	didáticos	e	sapienciais;	lamentações;	cantos	e	poemas	leigos;	cartas,	
e	uma	última	seção,	de	textos	variados.	
O	cotejamento	desses	 textos	evidencia	que	a	descrição	da	 luta	de	 Javé	contra	o	
dragão,	atestada	em	Jó	(7,12),	Salmos	(74,13-14;	89,10)	e	Isaías	(51,9)	é	uma	versão	
israelita	da	história	narrada	no	mito	ugarítico	de	Baal	a	respeito	da	vitória	desse	deus	
sobre	 o	 dragão	 Yam	 (Mar),	 e	 que	 encontra	 paralelos	 na	 história	mesopotâmica	 do	
combate	de	Marduk	com	Tiamat,	narrada	no	Enuma	Elish;	na	história	hitita	do	conflito	
entre	o	deus	da	tempestade	e	o	dragão	Illuuyankas;	no	mito	sumério	do	triunfo	de	Ni-
nurta	sobre	o	monstro	Asag;	no	mito	egípcio	de	Ra,	que	luta	contra	Apep;	e	na	história	
fenícia	do	combate	primoridial	entre	Zas	e	Ophion.	O	mesmo	acontece	com	outros	
relatos,	como	os	da	criação	e	do	dilúvio.	Há	também	uma	grande	semelhança	entre	o	
relato	da	saga	de	Moisés	e	a	de	Sargão	I	(ROCHA,	2004,	p.	78-80).
Se,	de	um	lado,	podemos	afirmar	que	a	literatura	israelita	é	a	mais	desenvolvida	
no	âmbito	do	Antigo	Oriente,	por	outro,	a	proibição	bíblica	de	utilizar	imagens	“Não	
farás	para	ti	imagem	[...]”	(Êxodo,	20:4)	impediu	a	visualização	dos	traços	étnicos	e	a	
representação	visual	da	sociedade	israelita	(ROCHA,	2004,	p.	30-31).	Podemos	dizer,	
então,	que	o	aniconismo	somado	ao	monoteísmo	–	o	de	Akhenaton	 foi	efêmero	–	
constituem	os	dois	grandes	elementos	distintivos	de	 Israel	 frente	aos	 seus	vizinhos	
antico-orientais.	
O	Egito,	por	sua	vez,	tem	um	canal	privilegiado	de	comunicação:	a	literatura	fu-
nerária,	 ou	melhor,	 a	 cultura	 funerária,	 pois	 o	 culto	 aos	mortos	 envolvia	mais	 que	
literatura:	no	cenário	dos	túmulos,	sobretudo	de	reis	e	príncipes,	não	se	encontravam	
apenas	textos	sagrados	mas	também	um	rico	conjunto	de	representações	que	permi-
tiram	um	amplo	conhecimento	da	vida	egípcia.	É	em	um	texto	da	literatura	funerária,	
História do oriente 
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introdução
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História antiga i: 
 Fontes e Métodos
conhecido	 como	Livro dos Mortos (1982)2	 que	 se	 encontra	 a	 imagem	 ideal	 de	um	
príncipe	egípcio	que,	por	meio	de	uma	Confissão Negativa,	defende-se	no	tribunal	de	
Osíris.	Diante	da	Maat,	a	deusa	da	justiça,	o	príncipe,	ou	faraó,	confessa:	
Eis	que	trago	em	meu	coração	a	verdade	e	a	justiça...
Não	causei	sofrimento	aos	homens...
Não	substituí	a	justiça	pela	injustiça...
Não	freqüentei	os	maus.
Não	cometi	crimes...
Não	intriguei	por	ambição.
Não	maltratei	meus	servidores...
Não	privei	o	indigente	de	sua	subsistência...
Não	permiti	que	um	servidor	fosse	maltratado	pelo	seu	amo.
Não	fiz	ninguém	sofrer...
Não	fiz	chorar	os	homens	meus	semelhantes.
Não	matei	e	não	mandei	matar.
Não	aumentei	meus	domínios	empregando	meios	ilícitos	nem	tomando	o	cam-
po	dos	outros.
Não	adulterei	os	pesos	nem	o	braço	da	balança.
Não	tirei	leite	da	boca	de	uma	criança.
Não	me	apoderei	do	gado	nos	prados	[...]3
(LIVRO,	1982,	p.	137-138)
Trata-se,	certamente,	de	um	texto	que	deve	ser	considerado	mais	como	uma	fór-
mula	mágica	de	que	como	um	espelho	da	realidade.	É	o	quese	depreende	de	A sátira 
das profissões4,	 redigida	por	um	escriba	do	Império	Médio	(2050-1800	a.C.),	e	que	
descreve	uma	situação	bem	distante	da	anunciada	no	texto	acima.	Esse	texto	destaca	o	
papel	privilegiado	da	classe	administrativa	egípcia	que	vivia	na	corte	(BRYCE,	1979,	p. 
138),	e	apresenta	a	difícil	lida	de	outros	profissionais	egípcios:
Não	te	recordas	das	condições	do	trabalhador,	quando	lhe	taxam	a	colheita?	
Os	insetos	levaram	a	metade	do	grão	e	o	hipopótamo	comeu	o	resto.	Os	ratos	
são	numerosos	no	 campo,	 o	 gafanhoto	 chega	de	 improviso,	 os	 animais	 co-
mem,	e	os	passarinhos	devoram;	que	calamidade	para	o	trabalhador!	O	que	
acaba	restando	é	levado	pelos	ladrões.	E	(depois)	chega	o	escriba	(cobrador	de	
impostos)	ao	porto	com	as	taxas	sobre	a	colheita...	E	têm	ainda	os	agentes	com	
seus	bordões,	os	negros	com	seus	tacapes	de	palmeira.	E	dizem:	‘Passa	o	grão’.	
Mas	ele	não	tem	mais.	Então	eles	batem	(no	trabalhador)	estendido	por	terra,	
o	amarram	e	o	jogam	no	fosso;	ele	cai	na	água	de	cabeça	para	baixo	e	atola	(no	
barro).	Sua	mulher	é	amarrada	diante	dele,	seus	filhos	são	acorrentados	[...].
2 O Livro dos Mortos não é um livro, propriamente dito. Trata-se de uma coletânea de textos rela-
tivos à vida além-túmulo gravados, inicialmente, nas paredes dos túmulos de reis e príncipes egíp-
cios e posteriormente em papiro, e que tinham por objetivo orientar o morto no julgamento final.
3 LIVRO DOS MORTOS. S. Paulo: Hemus, 1982, p. 137-138.
4 BONNOURE, P. et al. (org.). Documents d’histoire vivante. Saint-Amand-Montroud: Édi-
tions Sociales, 1962, v. 1.
41
O	que	se	depreende	do	texto	é	que	a	vida	do	trabalhador	no	Egito	Antigo	não	era	
nada	fácil	e	que	a	maioria	da	população	vivia	subjugada	à	cobrança	de	taxas	sobre	o	
que	produziam.	As	grandes	obras	faraônicas	tiveram	certamente	um	alto	custo,	cober-
to	em	boa	parte	por	um	rígido	sistema	de	coleta	de	impostos	entre	a	população	egípcia	
(ROCHA,	2004,	p.	44).
Na	Mesopotâmia	há	evidentes	traços	da	crença	religiosa	que	permeava	a	vida	de	
todos	os	grupos	sociais,	mas	ali	há	também	documentos	administrativos	e	 jurídicos	
relativos	à	compra	e	venda	imobiliária,	à	venda	e	troca	de	escravos,	a	empréstimos	e	a	
códigos	legais,	dentre	outros.	
Dentre	eles	se	destaca	o	Código	de	Hammurabi	(aprox.	1792-1750	a.C.).	Trata-se	
de	uma	espécie	de	manual	de	jurisprudência	para	auxiliar	os	juízes	em	seu	trabalho,	
gravado	em	uma	estela.	O	documento	permite	conhecer	detalhes	da	sociedade	ba-
bilonense	do	período	de	Hammurabi:	ele	indica	a	presença	de	três	grupos	sociais:	
homens	livres,	dependentes	régios	e	escravos	(DUNSTAN,	1998,	p.	410).	Destaca-se	
aí,	no	parágrafo	196,	a	 lei	do	talião: olho por olho, dente por dente.	Essa	formula-
ção	indica,	aparentemente,	clareza	no	trato	de	ações	criminosas;	no	entanto,	muitos	
autores	defendem	que,	desde	o	 início,	dificilmente	 teria	sido	colocada	em	prática,	
tendo	sido	substituída	por	sansões	pecuniárias	(ROCHA,	2004,	p.	88-89).	O	código	
também	regulamenta	várias	práticas	como	aluguel,	trabalho	assalariado	e	empréstimo	
(LIVERANI,	2005,	p.	412).	A	estela	foi	colocada	num	templo	do	deus	Shamash,	em	
Sippar,	e	constituía	um	ponto	de	referência	para	a	população,	que	devia	ver	no	rei	um	
defensor	da	justiça.	Nela	se	lia:
Todo	homem	oprimido,	que	esteja	envolvido	em	um	causa,	venha	à	presença	
de	minha	 estátua	 de	 “rei	 de	 justiça”,	 leia	 atentamente	 o	 que	 está	 escrito	 na	
minha	estela,	preste	ouvidos	às	minhas	preciosas	palavras,	a	minha	estela	escla-
recerá	o	teu	caso[...]	(LIVERANI,	2005,	p.	413).
Esse	Código	é	considerado	mais	um	conjunto	de	princípios	que	uma	regra	efetiva-
mente	seguida	pelos	juízes.	Uma	norma	mais	direta	e	eficiente	é	o	edito	de	remissão	
de	dívidas	e	libertação	de	atividades	servis,	como	se	verifica	no	Edito	de	Ammi-saduqa	
(1446-1626	a.C.):	
Quem	emprestou	cevada	ou	prata	a	um	acadiano	ou	a	um	amorreu,	com	juros	
ou	para	obter	renda	se	fez	redigir	um	documento	escrito	(tabuinha	de	argila)	
dado	que	o	rei	estabeleceu	a	justiça	no	país,	o	seu	documento	não	tem	valor	
jurídico.	A	cevada	e	a	prata	não	lhe	será	restituída	em	base	a	tal	documento	
(art.	2)
Pozzer	(2000/2001,	p.	278).	analisa	alguns	documentos	de	compra,	venda	e	troca	
História do oriente 
próximo antigo: uma 
introdução
42
História antiga i: 
 Fontes e Métodos
de	imóveis	urbanos	e	rurais	produzidos	no	reinado	de	Rim-Sîn	(de	1793	a	1763	a.C.),	
envolvendo	mercadores.	Neles	estão	indicadas	as	dimensões	e	a	localização	dos	imó-
veis,	 os	 nomes	 dos	 compradores	 e	 vendedores,	 assim	 como	o	 valor	 e	 a	 forma	de	
pagamento.	Concluem	com	as	 cláusulas	de	 irrevogabilidade	 e	de	possibilidade	de	
retomada	 do	 imóvel,	 incluindo	 o	 juramento,	 a	 lista	 das	 testemunhas	 e	 a	 cláusula	
referente	ao	selo	Esta	é	a	composição	de	um	deles:
1	iku	(aprox.	3.600	m2)	de	pomar,	ao	lado	do	canal	Nanna,	o	primeiro	grande	
lado	dá	para	Idiyatum	e	(o	segundo)	grande	lado	dá	para	Lamma.	Amurrum-
šemi	e	Hanubatum,	sua	esposa,	compraram	de	LiptIštar,	pagaram	5	siclos	de	
prata	por	seu	preço	à	vista.	No	futuro,	para	sempre	ele	não	reclamará,	eles	ju-
raram	pelo	nome	do	rei.	Diante	de	Lamma,	Balitûm,	Ilšu-ibbi,	filhos	de	Lapka,	
Sîn-gimlanni,	filho	de	Lamma,	Giš-ilî,	filho	de	Sîn-illassu,	šamaš-hazir.	O	selo	
das	testemunhas	(nº	1	-/IX/RS	33).
Uma	das	mais	ricas	e	mais	recentes	descobertas	de	documentação	antico-oriental	
deu-se	em	Ebla,	no	norte	da	Síria,	onde	foram	encontradas	mais	de	15	mil	tabuinhas	
de	argila,	com	escrita	cuneiforme,	datadas	por	volta	de	2250	a.C.,	em	língua	suméria	
e	eblaíta.	O	conteúdo	da	maioria	das	 tabuinhas,	ali	encontradas,	a	partir	de	1964,	
refere-se	a	questões	econômicas,	culturais	e	políticas	do	norte	da	Síria.	Elas	incluem	
relatos	sobre	a	economia	do	Estado,	cartas	reais,	dicionários	sumero-eblaítas,	textos	
escolares	e	documentos	diplomáticos.
Em	conclusão	podemos	dizer	que	o	conteúdo	deste	texto	apresenta	apenas	alguns	
quadros	da	ampla	e	movimentada	trama	de	construção	das	civilizações	orientais	na	
Antiguidade.	O	processo	de	urbanização,	de	organização	social,	política,	econômica	e	
mental	envolve	diferentes	grupos	humanos,	em	diferentes	momentos	e	em	diferentes	
relações.	Há	uma	dança	do	poder,	que	passa	de	um	grupo	para	outro	ou	que	é	reto-
mado,	às	vezes,	à	custa	de	alianças	e	conveniências.	A	cronologia	do	Oriente	Próximo	
Antigo,	que	pode	ser	vista	no	material	complementar,	apresenta	uma	linha	histórica	
das	movimentações	em	torno	dos	centros	políticos	e	produtivos	que	acompanham	
os	meandros	dos	rios	Tigre,	Eufrates	e	Nilo.	Essas	movimentações	têm	também	um	
caráter	cultural.	A	documentação	histórica	e	literária	que	se	conhece,	de	diferentes	
grupos	humanos	orientais,	trazem	traços	claros	de	uma	interrelação	cultural,	política,	
simbólica	e	arquitetônica	que	se	processa	ao	longo	de	toda	a	extensão	do	Crescente	
Fértil,	um	grande	arco	que	vai	desde	o	Vale	do	Nilo,	no	Egito,	até	a	costa	 leste	do	
Mediterrâneo,	e	daí	até	o	Golfo	Pérsico.	
Os	 textos	 indicados	para	 leitura	oferecem	detalhes	 sobre	os	personagens	deste	
imenso	drama	humano	construído	na	geografia	do	Oriente	Próximo	Antigo:	sumé-
rios,	acádios,	amorreus,	hurritas,	elamitas,	assírios,	hititas,	cassitas,	egípcios,	hebreus,	
43
História do oriente 
próximo antigo: uma 
introdução
BAKOS,	Margareth.	Egiptomania:	o.	Egito	no	Brasil.	São	Paulo:	Paris	Editorial,	
2004.
BONNOURE,	P.	et	al.	(Org.).	Documents d’histoire vivante. Saint-Amand-
Montroud:	Éditions	Sociales,	1962.	v.	1.
BRAVO,	Gonzalo.	História do mundo antigo:	uma	introdução	crítica.	Madrid:	
Alianza	Editorial,	1997.
BRYCE,	G.	E.	A legacy of wisdom:	the	egyptian	contribution	to	the	wisdom	of	
Israel.	Londres:	Associated	University	Press,	1979.
DUNSTAN,	William	E.	O Oriente próximo antigo.	New	York:	Harcourt	Brace	
College	Publishers,	1998.	
KELLER,	Werner.	E a Bíblia tinha razão.	São	Paulo:	Melhoramentos,	1958.
LIVERANI,	Mario. Antico Oriente:	storia,	società	e	economia.	Bari:

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