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Crítica | Asterix e Obelix: A Serviço de Sua Majestade

por Ritter Fan
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Depois do tenebroso, caro e fracassado Asterix nos Jogos Olímpicos, os irredutíveis gauleses ganharam mais uma adaptação live-action, desta vez reunindo as histórias de dois álbuns de René Goscinny e Albert Uderzo, Asterix entre os Bretões e Asterix e os Normandos que, por seu turno, já haviam sido adaptados, separadamente, em longas animados em 1986 e 2006, respectivamente. O resultado infelizmente não chega aos pés de Asterix e Obelix: Missão Cleópatra, mas consegue ficar bem acima do live-action anterior e também do primeiro, Asterix e Obelix contra César, de 1999, o que já é, sem dúvida, uma boa notícia.

Estreando Edouard Baer como o terceiro Asterix de carne e osso – e muito melhor que o anterior, Clovis Cornillac – juntamente com Gérard Depardieu retornando ao seu Obelix pela quarta vez, o roteiro de Laurent Tirard, também o diretor, e Grégoire Vigneron consegue fazer uma razoável fusão dos dois clássicos álbuns, ainda que seja visível que a inclusão da linha narrativa de Asterix e os Normandos, ou seja, um grupo de vikings que quer ganhar asas descobrindo o que é medo, só tenha sido feita para ampliar o longa de maneira que ele alcançasse o tamanho regulamentar, pois, se mentalmente extirparmos tudo o que se conecta com essa trama, a narrativa principal nada sofre e em nada é alterada de maneira substancial. Mesmo assim, a coisa funciona suficientemente bem para que seja possível o espectador aceitar com razoável tranquilidade essa fusão de histórias.

Falando nelas, a narrativa principal, que dá nome ao longa, trata da invasão da Bretanha por Júlio César e a tentativa desesperada de Jolitorax (Guillaume Gallienne) de defender sua aldeia pedindo ajuda a Panoramix (László Baranyi em brevíssima ponta) na Gália, que prepara um barril de poção mágica que, ato contínuo, fica sob a guarda de Asterix e Obelix que partem par a ilha britânica. O “penduricalho” narrativo para justificar a história dos Vikings fica por conta do modernoso jovem Atrevidix (Vincent Lacoste), vindo de Lutécia (Paris), que por acaso estava na aldeia para “tornar-se homem” sob a tutela da dupla de gauleses que resolve levá-lo a tiracolo para aproveitar a oportunidade da presença de “romanos fresquinhos” do outro lado do Canal da Mancha e que é medroso até a raiz do cabelo, o que o torna alvo dos normandos que são arregimentados por Júlio César usando caixa dois.

A história razoavelmente simples, porém, não é o maior atrativo do longa. O que realmente o faz distanciar-se do anterior e do primeiro live-action da franquia é seu escopo que, com orçamento mais comedido, fica substancialmente menor, o que exige que a produção tome providências engenhosas para circunavegar o problema. Com isso, o uso de CGI é bastante reduzido, ficando quase que completamente restrito às tomadas em plano geral das legiões romanas atacando o vilarejo bretão e às sequências aéreas de Londinium, onde grande parte da história se passa. Portanto, no lugar de se preocupar com vistosos momentos, o roteiro foca no micro, notadamente na maneira como caracteriza os bretões que, não só param às cinco da tarde para tomar “quente água” com um pingo de leite, como são retratados de maneira particularmente maldosa, mas exatamente por isso muito engraçada.

O mais saliente uso de estereótipos é na forma como os bretões se relacionam. O distanciamento e a frieza imperam, com um grau de “educação” tão alto que Jolitorax acha o suprassumo do avanço de seu noivado com a bela Ofélia (Charlotte Le Bon) quando ela o convida para jantar na casa dela. A governanta Miss Macintosh (Valérie Lemercier), por quem Obelix se interessa, é a guardiã da moral e bons costumes, capaz até mesmo de transformar um normando bárbaro em um perfeito cavalheiro, em um exagero sem dúvida muito divertido, mas que talvez seja usado por vezes demais. É também muito simpático ver o elenco francês falando francês com sotaque britânico e invertendo as expressões, algo que fica particularmente chamativo quando Catherine Deneuve, vivendo a Rainha Cordélia (Deneuve não poderia ser nada menos do que a rainha, não é mesmo?) põe-se a falar assim.

Claro que os estereótipos não param nos bretões, já que os gauleses, em contraste, são vistos não só como opostos em tudo, especialmente quando Atrevidix mostra-se… bem… atrevido em sua forma de lidar com as pessoas, como também rivais dos bretões – algo que é historicamente exato, mas não nessa época, claro -, o que gera uma situação de rixa política que se traduz bem em momentos cômicos. Na mesma toada, o Júlio César de Fabrice Luchini tem bom destaque sem os exageros histriônicos de Alain Delon no longa anterior, mas conseguindo um timing humorístico sólido, especialmente quando ele lida com suas memórias sobre suas campanhas de dominação mundial.

Além disso, há um ótimo uso do anacronismo que Goscinny e Uderzo sempre imprimiram em suas criações, mas que, aqui, ganha contornos ainda mais evidentes, o que reputo como uma maneira de economizar dinheiro da recriação de época. O exemplo mais claro disso são os figurinos dos bretões que são muito mais próximos dos modernos do que os que deveriam ser a regra em 50 a.C. E o mesmo vale para os cenários de Londinium e alguns outros, como o interior do “palácio” da rainha. Mas o melhor é que essa exacerbação do anacronismo, por assim dizer, funciona bem no longa, sem criar estranhezas que cheguem a retirar o espectador da imersão que a história exige.

No final das contas, mesmo com um bom pedaço do longa dedicado a uma trama que simplesmente não precisava estar lá e mesmo não chegando à combinação perfeita entre humor, sátira e efeitos práticos grandiosos de Missão Cleópatra, Asterix e Obelix: A Serviço de Sua Majestade é um filme muito agradável que faz jus aos personagens e as histórias que adapta. Sem dúvida um alívio depois daquela coisa horrenda que foi Asterix nos Jogos Olímpicos.

Asterix e Obelix: A Serviço de Sua Majestade (Astérix & Obélix: Au Service de Sa Majesté – França/Espanha/Itália/Hungria, 2012)
Direção: Laurent Tirard
Roteiro: Laurent Tirard, Grégoire Vigneron (baseado em obras de René Goscinny e Albert Uderzo)
Elenco: Edouard Baer, Gérard Depardieu, Fabrice Luchini, Catherine Deneuve, Gérard Jugnot, Valérie Lemercier, Guillaume Gallienne, Charlotte Le Bon, Vincent Lacoste, Dany Boon, Bouli Lanners, Atmen Kelif, Niccolò Senni, Jean Rochefort, Michel Duchaussoy, László Baranyi
Duração: 110 min.

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