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Crítica | Minnie Gondoleira e A Grande Regata de Veneza e Outras Histórias

Visitando diferentes cenários.

por Luiz Santiago
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Aqui estão as críticas para todas as histórias da edição número 35 da revista Aventuras Disney, lançada no Brasil pela editora Culturama em fevereiro de 2022. Esta edição trouxe 5 histórias de diferentes tamanhos e concebidas por diferentes equipes criativas. Você já leu essa edição de Aventuras Disney? O que achou das minhas abordagens para todas essas histórias? Qual a sua aventura favorita desse número da revista? E qual foi a que você menos gostou? Leia e deixe o seu comentário ao final da postagem!

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Zé Carioca: Um Carnaval à Paulista

Numa aventurazinha carnavalesca lá de 1973 chamada Um Paulista na Corte do Rei Momo, o simpático Zé Paulista foi ao Rio de Janeiro visitar o primo e acabou sendo envolvido em uma problemática situação com a escola de samba da Vila Xurupita. No fim, ele conseguiu salvar o Carnaval do grupo naquele ano. Aqui em Um Carnaval à Paulista, de 2022, vemos uma viagem contrária. O Zé Carioca é que vem a São Paulo, acompanhado dos amigos Pedrão, Nestor e Afonsinho, para organizar a folia da empresa de Zé Paulista. É um encontro simpático (talvez menos caloroso e um pouco mais burocrático que outros encontros que vi entre os primos), mas que serve para mostrar o choque e a tentativa de adaptação cultural entre pessoas de cidades tão diferentes como Sampa e Rio. Com ideia de Paulo Maffia e roteiro de Gérson Luiz Borlotti Teixeira, a trama começa brincando com a famosa canção de Caetano Veloso sobre o cruzamento entre a Ipiranga e a São João, falando do trânsito maluco da cidade e da falta de educação dos motoristas — que para ser sincero, acho que existe em qualquer lugar do mundo, mas é claro que São Paulo virou um grande símbolo disso tudo.

O restante da história é uma sequência de pequenos atos de descobertas e gafes que os cariocas cometem na capital paulista. Senti falta de um apuro melhor na passagem do tempo (o autor utiliza apenas as caixas do narrador oculto), e nesse ponto também chamo a atenção para a aplicação das cores, por Fernando Ventura. Mesmo com o roteiro sendo bastante didático e dizendo que “está escurecendo“, em determinado ponto da narrativa, a mudança das cores não segue a deixa: o céu permanece da mesma cor de azul e não há nenhuma exposição das sombras geradas pela maior escuridão. Coisas como o vocabulário também me incomodaram um pouco, mas não é algo específico dessa história — é que no caso do Zé Carioca, a gente pega mais no pé porque é algo nosso, um personagem do qual nos sentimentos próximos e que é escrito por brasileiros. Difícil não pegar mais no pé, nesse caso. As gírias usadas existem, mas parecem deslocadas, até mesmo fora de uso. E mesmo levando em consideração o mundo dos quadrinhos, onde os diálogos em histórias mais curtas são mais engessados e um pouco afetados, não me pareceram muito orgânicos aqui.

Quanto à resolução… tem sua graça. Eu consigo entender o pensamento do roteirista na representação do Carnaval em plena “selva de pedra” e, ainda por cima, coincidindo (pois foi produzida bem antes) com algo muito sério ocorrido no Rio de Janeiro no início de 2022, que foram as chuvas imensas, especialmente na cidade de Petrópolis. Sem contar que a escolha do autor flerta um pouco com um “Carnaval à distância“, então dá até para fazer relação com a pandemia e os “não-Carnavais” que assolam o Brasil desde 2020. Não é exatamente um final pelo qual eu morro de amores, mas está entre a média e algo um pouco além dela, se a gente pensar na empresa do Zé Paulista, no caráter tecnológico que marca o Centro de São Paulo e nas condições climáticas ou adversas que impediram o pessoal da Vila Xurupita e do Brasil, como um todo, a realmente saírem na Avenida.

Zé Carioca: Um Carnaval à Paulista  — Brasil, fevereiro de 2022
Código da História: B 2022-004 / AVDCL 35-1
Publicação original: Aventuras Disney #35
Editora original: Culturama
Roteiro: Gerson Luiz Borlotti Teixeira, Paulo Maffia
Arte: Marco A. Cortez
Cores: Fernando Ventura
Capa: Moacir Rodrigues Soares (com cores de Toni Caputo)
12 páginas

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Patos no Supermercado

Eu simplesmente AMO histórias sem palavras ou com o mínimo possível de palavras. Aqui no site vocês poderão encontrar elogios intensos meus a obras do tipo, seja como crítico, seja na caixa de comentários (e para verem que eu não estou mentindo, deixo abaixo os links dos quadrinhos silenciosos que temos, para vocês conferirem). Dessa forma, foi com imensa alegria que eu cheguei a essa engraçada e deliciosa história escrita por Francesco Vacca e desenhada por Giulia La Torre, com uma graciosidade nos traços que incrementa ainda mais o caráter da aventura. E este, na verdade, é um ponto de extrema atenção para quadrinhos mudos. A arte, nesses casos, precisa ser muito detalhista e precisa ter um grande cuidado no corte entre as cenas, no enquadramento e na intenção visual; muito mais até do que em histórias com palavras.

Eu ri muito com as caras e bocas do Donald aqui. Ele chega ao supermercado com os sobrinhos e vê Pardal e Patinhas conversando alguma coisa na frente do estabelecimento. Então ele faz a maior cara de “não vi, não conheço” e passa reto para fazer as compras. Ao longo de todo o enredo veremos essa brincadeira do Donald, claramente de saco cheio dos parentes, tentando ignorar todo mundo. O caso do Peninha é ainda mais interessante, porque ele começa a trabalhar no supermercado e tudo dá certo. Eu até fiquei preocupado, imaginando que catástrofe iria acontecer se ele não colocasse algo a perder. Gostei de como cada grupo de personagens foi representado e como a história desenvolveu as intrigas e os sentimentos em cada bloco, sem precisar de nenhuma palavra. O final é simples demais para uma história colocada em patamar tão alto, mas é algo que a gente consegue relevar tranquilamente.

E como prometido, aqui vão os quadrinhos mudos que temos no site até o momento em que escrevo esta crítica (março de 2022) para vocês se deliciarem: A Chegada (Shaun Tan, 2006), O Número 73304-23-4153-6-96-8 (Thomas Ott, 2008), Um Pedaço de Madeira e Aço (Christophe Chabouté, 2012), Monstros! (Gustavo Duarte, 2012), Pétalas (Gustavo Borges, 2015), Druuna: As Origens (Paolo Eleuteri Serpieri, 2016).

Patos no Supermercado (Paperi al supermercato) — Itália, 18 de agosto de 2021
Código da História: I TL 3430-4 / AVDCL 35-2
Publicação original:
 Topolino (Libretto) #3430
Editoras originais: Mondadori, Disney Italia, Panini Comics
No Brasil: Aventuras Disney #35 (Culturama)
Roteiro: Francesco Vacca
Arte: Giulia La Torre
Capa original: Andrea Freccero (cores de Andrea Cagol)
12 páginas

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Donald: Um Festival na Lua

Muitos adoram o Festival de Inverno de Patópolis. Já outros…“. Donald é aquele tipo de personagem com o qual a gente consegue se identificar bastante, especialmente nas rabugices. Nessa história dinamarquesa escrita por Gorm Transgaard e belamente desenhada pela dupla Carmen Pérez e Tony Fernández, vemos o pato reclamando o tempo inteiro por ser forçado por Huguinho, Zezinho e Luisinho a comparecer no Festival de Inverno da cidade. O motivo do descontentamento do rabugento? Muita gente! Essa é uma postura/preocupação que a gente passa a ter em determinado momento da vida, não é mesmo? Visitar lugares abarrotados, principalmente com crianças, passa a ser uma situação a se evitar (bom, pelo menos para mim) e é bem isso que a gente tem nessa aventura, embora a “lição” da história nos encaminhe para uma reflexão em direção ao “outro lado”.

O fato é que falta equilíbrio para o Donald. E, mais uma vez, dá para trazer coisas interessantes para o nosso cotidiano, embora o tal “equilíbrio na vida” seja uma utopia. No máximo a gente consegue ficar “menos desequilibrado“. Ao se ver sozinho na cidade (me lembrou um pouco de The Last Man on Earth), enquanto o pessoal curtia o Festival na Lua — pensem no quanto isso custou e o quanto de imposto o prefeito de Patópolis vai precisar cobrar por essa pequena viagem, hum? — ele chega à conclusão de que precisa estar perto das pessoas que ama e o quanto ter gente por perto é importante. A brincadeira com toda essa questão acaba trazendo momentos bem divertidos tanto no festival na Terra quanto na Lua (os meninos aproveitam tudo o que podem), mais alguma tensão em relação ao dano que a nave sofre ao aterrissar no nosso satélite (Lampadinha salvando o dia, mais uma vez!) e uma compensação bem fofinha ao final. Pelo menos foi proveitoso para o Donald de alguma forma, e ele conseguiu entregar boas surpresas para a Margarida e para os seus sobrinhos.

Donald: Um Festival na Lua — Dinamarca, 2021
Código da História: D 2021-070 / AVDCL 35-3
Publicação original:
 ?
Editoras originais: ?
No Brasil: Aventuras Disney #35 (Culturama)
Roteiro: Gorm Transgaard
Arte: Carmen Pérez, Tony Fernández
Capa original: ?
12 páginas

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Professor Gavião: O Roubo do Troféu

Nessa história sobre futebol, o roteirista Jaakko Seppälä explora um plano típico de um vilão (o Professor Gavião) contra uma grande inimigo (o Professor Pardal), então está muito claro que não há nada aqui que seja extraordinário ou que verdadeiramente nos chame a atenção porque é aquela conhecida briga entre inimigos… e só. Trata-se de uma história simples em sua base narrativa e em sua proposta dramática, com o roubo do carro-forte onde está o troféu do campeonato de futebol e as consequências disso para o bandido. Ao construir a história, o autor consegue gerar uma boa tensão no leitor, e a cena do roubo é até interessante, mas o que vem a partir daí é o que deixa a história apenas no meio-termo da qualidade. A piada final não funcionou comigo, embora eu entenda o seu raciocínio. Talvez para grandes fãs de futebol (o que não é o meu caso) esse “quê” a mais faça com que vejam essa história com outros olhos.

Professor Gavião: O Roubo do Troféu (The Trophy Heist / Pokalkuppet) — Dinamarca, 2 de julho de 2020
Código da História: D 2017-165 / AVDCL 35-4
Publicação original:
Anders And & Co. nº 2020-27
Editoras originais: Egmont Serieforlaget
No Brasil: Aventuras Disney #35 (Culturama)
Roteiro: Jaakko Seppälä
Arte: Michela Frare
Capa original: Francisco Rodriguez Peinado
5 páginas

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Minnie Gondoleira e A Grande Regata de Veneza

Dividida entre desfile histórico e regatas competitivas, a Regata Storica di Venezia é um evento tradicionalíssimo dessa cidade italiana. Sabemos que o termo “regata” apareceu pela primeira vez em um manuscrito anônimo do século XIII, e que a primeira representação de um evento desse tipo aconteceu em La Veduta di Venezia, o famoso mapa do pintor e gravador Jacopo de Barbari, publicado em 1500. Nesta obra cartográfica e artística vemos retratada, dentre diversas outras coisas, uma competição de um pequeno número de barcos com a escrita “regata”. Pois bem, aqui em Minnie Gondoleira e A Grande Regata de Veneza vemos o roteirista Roberto Gagnor explorar esse importante evento que ocorre até os dias de hoje em Veneza. Mas o tempo proposto pelo escritor não é o da atualidade. Ele nos leva para os primórdios da regata.

Aliás, o autor imagina como poderia ter sido a verdadeira ideia para esse acontecimento, colocando Mickey e Minnie no centro da primeira competição que, assim como o real evento histórico, é feito para homenagear a chegada de uma notável nobre da cidade (Clarabela). No começo, me pareceu que o autor quis flertar um pouco com Romeu e Julieta, mas depois a narrativa de “amor proibido” entre os ratos é abandonada e o caráter aventuresco realmente toma conta do texto, juntamente com uma trama investigativa. A participação do Pateta é bem cuidada aqui — ele tem uma real função na história, ajudando a impedir o plano de Bafo e Fuinha, que pretendem roubar os tratados de paz trazidos por Clarabela do Oriente. Com uma tensão bem medida pelo roteiro, e com a bela e marcante arte de Valerio Held, a história finaliza muito bem esse volume da revista Aventuras Disney.

Minnie Gondoleira e A Grande Regata de Veneza (Minni gondoliera e la grande regata del Doge) — Itália, 1º de setembro de 2021
Código da História: I TL 3432-6 / AVDCL 35-5
Publicação original:
Topolino 3432
Editoras originais: Mondadori, Disney Italia, Panini Comics
No Brasil: Aventuras Disney #35 (Culturama)
Roteiro: Roberto Gagnor
Arte: Valerio Held
Capa original: Giorgio Cavazzano (cores de Andrea Cagol)
24 páginas

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