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Conheça a história e atualidade da Romênia, país que com o fim da União Soviética migrou para a economia capitalista

República semipresidencialista atualmente, a Romênia ingressou na Comunidade Europeia em 2007, passando a integrar a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN)

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Castelo Bran é um dos mais bonitos da Europa, uma fortaleza situada na Transilvânia

Em nota técnica publicada na 24ª Carta de Conjuntura da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), reproduzimos entrevista realizada com Simona Banacu, doutoranda em Administração na USCS. Simona nasceu em 1967 em Bucareste, na Romênia, país do Leste Europeu. Na entrevista, Simona, hoje com 55 anos, apresenta uma visão panorâmica da evolução histórica daquele país. O país fez parte do bloco socialista, liderado pela antiga União Soviética, entre 1945 e 1989, quando experimentou uma revolução e a derrocada do bloco socialista. Simona vivenciou de perto aquele intenso processo de transformações históricas. A entrevista pode ser lida na íntegra em https://www.uscs.edu.br/noticias/cartasconjuscs

A Romênia possui cerca de 22 milhões de habitantes, área de 238.397 km2 e faz fronteira com Hungria, Ucrânia, Moldávia, Bulgária e Sérvia. Sua capital é Bucareste. República semipresidencialista atualmente, a Romênia ingressou na Comunidade Europeia em 2007, passando a integrar a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Em sua economia, são preponderantes o terceiro setor, o comércio e os serviços. O país tem renda média alta. Em 2021, o PIB alcançou US$ 284,1 bilhões e o PIB per capita, US$ 14.861. Seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é de 0,828, considerado elevado. A expectativa de vida média é de 74,35 anos.

Entre os muitos atrativos turísticos, está a Transilvânia, onde se localiza o castelo do lendário Drácula. De onde surgiu essa lenda? Relatos de historiadores do século 15 sobre o Vlad III, conhecido como o Vlad o Empalador ou Vlad Tepes, príncipe (voievoda) da Valáquia, considerado herói nacional na Romênia, que se destacou na luta contra o expansionismo do Império Otomano na Europa Oriental, defensor da cristandade e cruel contra os inimigos. Seu nome teve origem no apelido de seu pai, o príncipe Vlad II, que pertencia à Ordem do Dragão, uma ordem de cavalheiros que lutava contra o Império Otomano e que adotou como seu símbolo em 1408 a imagem de um dragão circular com sua cauda enrolada em torno de seu pescoço.

O termo “dracul” tem suas origens na palavra em latim “draco”, significando “O Dragão”. O Vlad II era orgulhoso deste símbolo e seus brasões incorporaram um dragão; tanto que adotou “Dracul” em seu nome. Seu filho Vlad III (mais conhecido como Vlad o Empalador) usou o nome “Draculea”, “filho de Dracul” ou “filho daquele que foi membro da Ordem do Dragão”, uma vez que foi usado como título de honra.

Por outro lado, isso provocava pavor nos inimigos, assim como os métodos pouco ortodoxos de punir os traidores e os inimigos por empalamento, prática semelhante à utilizada pelo Império Otomano na época. Muito embora se associa à Transilvânia a sua existência, pois nasceu lá, o principado de Vlad III foi à Valáquia, em períodos diferentes, voltando para a Transilvânia e lá sendo mantido prisioneiro por Matias Corvino, o então rei húngaro por 12 anos. O castelo Bran é um dos mais bonitos da Europa, uma fortaleza situada na Transilvânia. O endereço nunca foi residência oficial de Vlad III e o príncipe possuía como refúgio a fortaleza de Poenari, localizada em Arefu, vilarejo a aproximadamente 125 quilômetros de Bran. De fato, não existem registros históricos que comprovem que Vlad tenha pisado no Castelo de Bran, mas, diz-se que em 1492, após ser capturado pelo exército do rei húngaro Matei Corvin, Vlad tenha sido prisioneiro no castelo por aproximadamente dois meses.

Regime socialista

O regime socialista foi implantado na Romênia, assim como nos demais países da Europa do Leste, após o avanço do Exército Soviético até Berlim na II Guerra Mundial. Essas áreas foram liberadas da ocupação alemã e regimes semelhantes ao soviético foram implantados por dirigentes provisórios escolhidos pelos soviéticos, incluindo reforma agrária e estatização da economia.

Assim como no caso soviético, em que a transição para um regime totalitário de partido único foi tumultuosa e gerou grandes divisões entre os comunistas, solucionadas por meios de repressão, nos países do Leste europeu esses regimes foram implantados desde o início como cópias do regime totalitário soviético, também com muita contestação.

A nacionalização transformou as grandes propriedades agrícolas em fazendas estatais ou coletivas. Os pequenos produtores foram obrigados a aderir a estas fazendas estatais ou coletivas. Muitas vezes, foram utilizados métodos violentos para alcançar esta adesão. Como não havia uma quantidade suficiente de tratores e equipamentos para se trabalhar nas grandes fazendas estatais, o governo acabou permitindo que os camponeses trabalhassem em propriedades menores, desde que a cota parte de sua produção fosse entregue para o Estado.

A economia da República Socialista da Romênia foi planejada segundo o modelo de economia da União Soviética. Centralizada, todas as empresas pertenciam ao Estado, que projetava Planos de produção Quinquenais.

Industrialização

Na década de 1950, os investimentos na industrialização feitos pelo Estado tiveram um importante impacto social, pois a ampliação e o crescimento das cidades ocorreram na medida que novos empregos foram criados nas fábricas e indústrias. Os habitantes dessas áreas urbanas sofreram com a superlotação e falta de serviços, pois não foram destinados recursos suficientes para a construção de moradias.

O alto nível de investimento na indústria fez com que, embora o consumo aumentasse em termos absolutos, fosse o menor entre os países do Bloco de Leste. O posicionamento do governo comunista da Romênia após 1957, que preferiu a industrialização do país e o apoio da China, buscando também acordos com o Ocidente, o afastou de Kremlin, o que na prática significou em 1965 que o Ocidente pode ter respondido até a metade das importações de equipamentos e maquinários da economia da República Socialista da Romênia.

Embora houvesse diferenças entre as experiências dos países do leste europeu, suas características comuns eram uma combinação de pleno emprego, acesso universal à moradia, saúde e educação. Com regimes políticos totalitários, de partido único, controle estatal sobre os sindicatos, a imprensa e a cultura, perseguição a dissidentes políticos.

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Houve rebeliões reclamando democracia na Alemanha (1953), Hungria (1956), na Tchecoslováquia (1968, a Primavera de Praga, que propunha um “socialismo de face humana”) e na Polônia (1980, formação do sindicato Solidariedade). Com exceção desta última, em que um golpe militar interno ilegalizou o Solidariedade, reprimiu e esvaziou a rebelião, os demais foram destruídos pelas forças soviéticas e de seus aliados no Pacto de Varsóvia. Não houve rebelião aberta na Romênia ao longo do regime socialista, pois a polícia secreta (Securitate) agia de forma implacável.

Período Ceaucescu

A partir de 1967, o casal Nicolae e Elena Ceaucescu assumiu o poder na cúpula do Partido Comunista e, portanto, do Estado Romeno. Essa ditadura foi uma das mais impiedosas. A queda do Muro de Berlim, em 1989, abre mobilizações e rebeliões nos países do Leste. Na Romênia, revolta popular na cidade de Timisoara espalhou-se pelo país. Os protestos atingiram Bucareste e outras cidades, dando início à Revolução Romena de 1989, que pedia a queda do regime, o afastamento do ditador, a exclusão do Partido Comunista Romeno, a punição e prisão de seus dirigentes e a proibição de formação do Partido Comunista no território romeno.

O casal de ditadores fugiu, enquanto a população invadia o palácio de governo. Capturados por colaboradores de seu próprio governo, ambos foram julgados pela cúpula militar até então subordinada a eles, condenados à morte e sumariamente fuzilados. O processo contra o casal Ceausecu ficou marcado pela ausência de efetivo direito de defesa, a pressa em condená-los e executá-los e o uso de acusações para gerar revolta popular.

Como os demais países do leste-europeu, a Romênia adotou o capitalismo após a queda do casal Ceausescu e do Partido Comunista Romeno que eles representavam, situação que se mantém até hoje.


Este artigo foi escrito por Jefferson José da Conceição, Roberto Vital Anav, Simona Adriana Banacu dos Santos e Anderson Gedeon Buzar Reis. Os dois primeiros são professores e os dois últimos, doutorandos da USCS