2. A intertextualidade é a presença textual de
elementos semânticos e/ou formais que se referem
a outros textos produzidos anteriormente. Ela
pode se manifestar de modo explícito, permitindo
que o leitor identifique a presença de outros
textos, ou de modo implícito, sendo identificada
somente por quem já conhece a referência.
Por meio dessa relação entre diferentes textos, a
intertextualidade permite uma ampliação do
sentido, na medida em que cria novas
possibilidades e desloca sentidos. Desse modo, ela
pode ser utilizada para melhorar uma explicação,
apresentar uma crítica, propor uma nova
perspectiva, produzir humor etc.
3. A intertextualidade se refere à presença de elementos formais ou
semânticos de textos, já produzidos, em uma nova produção textual.
Em outras palavras, refere-se aos textos que apresentam, integral ou
parcialmente, partes semelhantes ou idênticas de outros textos produzidos
anteriormente.
Essa intertextualidade pode ser indicada explicitamente no texto ou
pode vir “disfarçada” pela linguagem do autor. Em todo caso, para que o
sentido da relação estabelecida seja compreendido, o leitor precisa
identificar as marcas intertextuais e, em alguns casos, conhecer e
compreender o texto anterior.
Em trabalhos científicos, como artigos e dissertações, é comum
haver citação de ideias ou informações de outros textos. A citação
pode ser direta, cópia integral do trecho necessário, ou indireta, quando se
explica a informação desejada com suas próprias palavras. As duas
formas compreendem a intertextualidade, pois aproveitam ideias já
produzidas para contribuir com as novas informações.
A intertextualidade também pode ocorrer no nível formal, quando o
autor repete elementos da estrutura anterior, mas altera outros aspectos,
construindo, com isso, um novo texto, com ligações explícitas com a
produção anterior. É muito comum nos gêneros artísticos, como poesia e
música, em textos publicitários etc.
4. A intertextualidade é presente em diferentes
gêneros textuais, mas tem um espaço
privilegiado nos gêneros artísticos. Nesses
contextos, ela é utilizada, também, como
ferramenta de inspiração e criatividade, pois
provoca uma ressignificação de textos já
conhecidos, em novos contextos. Segue alguns
exemplos de intertextualidade em gêneros
textuais artísticos:
5. “De Jackson do Pandeiro, nem Cremilda
De Michael Jackson, nem a Billie Jean
De Jimi Hendrix, nem a doce Angel
Nem Ângela nem Lígia, de Jobim
Nem Lia, Lily Braun nem Beatriz
Das doze deusas de Edu e Chico
Até das trinta Leilas de Donato
E de Layla, de Clapton, eu abdico
Só você,
Canto e toco só você
Só você
Que nem você ninguém mais pode haver”
(Lenine)
A música do cantor brasileiro Lenine apresenta uma declaração
de amor do eu lírico à sua musa inspiradora. Na letra, o poeta
faz referência a diferentes musas, já reconhecidas socialmente,
que são inspirações de outros, mas não dele, pois a sua única
musa é sua amada, verdade confirmada em “só você”,
contrapondo-se à enumeração de musas referenciadas.
6. “Minha terra tem palmares
onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá
Minha terra tem mais rosas
E quase que mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra”
(Oswald de Andrade)
No segundo exemplo, poema de Oswald de Andrade,
encontramos a intertextualidade com o poema “Canção
do Exílio”, publicado anteriormente pelo
poeta Gonçalves Dias. O segundo texto apresenta
elementos que evidenciam essa relação, como a
repetição de expressões como “Minha
terra”, "palmares”, “gorjeia”, “daqui”, “lá”.
7. A Mona Lisa é um dos textos que mais apresenta releituras, exemplificando
a relação de pontos de intertextualidade com a obra original. Nas duas
imagens anteriores, é possível reconhecer a referência ao quadro de
Leonardo da Vinci — a posição das mãos, a paleta de cores, o cabelo, a
posição do corpo, entre outros detalhes. Percebe-se que, mesmo com
tantas semelhanças, os dois textos apresentam novos sentidos para a
imagem, cada um com sua assinatura específica.
9. É o ato de indicar ou insinuar um texto anterior
sem, no entanto, aprofundar-se nele. Esse
método de intertextualidade apresenta de
forma superficial e objetiva informações, ideias
ou outros dados presentes em texto ou textos
anteriores.
Exemplo: Como diria o poeta, amanhã é outro
dia.
10. É o tipo de intertextualidade em que se
apresenta uma estrutura semelhante à de um
texto anterior, mas com mudanças que
interferem e/ou subvertem o sentido do
texto, o qual passa a apresentar forte teor
crítico, cômico e/ou sátiro. Desse modo, além
de construir-se um novo texto, com
semelhanças a um anterior, procura-se
também evidenciar uma mudança de sentido.
11. “Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturanos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas, cubistas,
os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente não pode dormir
com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda
Eu morro sufocado
em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia.
Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade
e ouvir um sabiá com certidão de idade!”
Murilo Mendes
Paródia da “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias
12. É o processo de intertextualidade no qual o
sentido do texto original é reafirmado, porém
com pouca ou nenhuma semelhança estrutural.
Nesse tipo, o intuito é reescrever o assunto do
texto original, aproveitando principalmente os
elementos semânticos já existentes, para
produzir uma nova linguagem com o mesmo
tema.
13. “Meus olhos brasileiros se fecham saudosos
Minha boca procura a ‘Canção do Exílio’.
Como era mesmo a ‘Canção do Exílio’?
Eu tão esquecido de minha terra…
Ai terra que tem palmeiras
Onde canta o sabiá!”
Carlos Drummond de Andrade
Paráfrase da “Canção do Exílio”, de Gonçalves
Dias
14. É a reprodução de um pequeno trecho do texto
original no início de um novo texto. Ela,
comumente, vem alocada no início da página, no
canto direito e em itálico. Apesar de ser um trecho
“solto”, a epígrafe sempre tem uma relação com o
conteúdo do novo texto.
Exemplo:
“Apesar de você
amanhã há de ser
outro dia.”
Chico Buarque
15. É quando o autor referencia outro texto por ter
pertinência e relevância com o conteúdo do novo texto.
A citação pode ocorrer de forma direta, quando se
copia o trecho na íntegra e o destaca entre aspas, ou
pode ser indireta, quando se afirma o que o autor do
texto original disse, mas explicando os conceitos com
novas palavras, relacionando a abordagem com o novo
conteúdo.
Exemplo:
Segundo Sócrates, “Sábio é aquele que conhece os
limites da própria ignorância”, logo, de nada adianta ter
acúmulo de informações, quando não se aplica a
autocrítica e a reflexão como ferramentas de
reconhecimento das potências e limites do nosso
conhecimento.
16. A intertextualidade pode se expressar de dois
modos: implícito ou explícito. O modo
implícito enquadra as produções que, apesar
de referenciarem informações, conceitos e
dados já apresentados por textos anteriores,
não o farão com cópias integrais nem com
indicação explícita.
17. Assim como a paráfrase de Drummond,
a intertextualidade implícita cita sem
evidenciar ou anunciar. Caso o leitor não
conheça o texto anterior, pode encontrar
dificuldades de perceber alguma relação
estabelecida.
Já a intertextualidade explícita é aquela que se
expressa diretamente na superfície textual, ou
seja, apresenta semelhanças ou cópia de
trechos do texto original. Nesse processo,
mesmo que o autor não conheça o primeiro
texto, ele identificará, ao menos, que existe
uma referência a outra produção.
18. MATOS, Talliandre. Intertualidade. In:
https://brasilescola.uol.com.br/redacao/inter
textualidade-.htm acessado em março de
2021.