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  • Foto do escritorRodrigo Viegas

Precisamos falar sobre Magnus


Quando falamos de quadrinhos italianos, seja em grupos do Facebook, fóruns na internet, mesa de bar, os primeiros personagens citados são sempre os oriundos da incrível fábrica de “fumettis”, como são chamadas as histórias em quadrinhos na Itália, a Bonelli. Tex, Zagor, Dylan Dog, entre outros. Sempre ocupando o maior espaço da conversa. Até aí, tudo normal.

Mas você conhece o Magnus?

Magnus é o pseudônimo de Roberto Raviola, um dos maiores artistas da nona arte na Itália e eternizado na história dos quadrinhos mundiais. Raviola nasceu em Bolonha no ano de 1939 e estudou na Academia de Belas Artes. Dominava por completo o uso atmosférico do preto e branco, sendo um dos principais artistas do gênero “fumetti neri”, ou quadrinhos noir. O nome artístico Magnus surgiu da expressão em latim “Magnus Pictor Fecit”, traduzindo: Um Grande Pintor Fez.

A trajetória de Magnus nos quadrinhos iniciou junto com a parceria com o escritor Luciano Secchi, também conhecido como Max Bunker. Entre os personagens mais famosos da dupla estão “Kriminal”, “Satanik” e “Alan Ford”, publicados em formato pocket (livros de bolso) pela Editoriale Corno.

A parceria ainda resultou em “Gesebel”, “Dennis Cobb Agente SS 018” e “Maxmagnus”, este último para a revista Eureka.

Em 1975, Magnus iniciou a série “Lo Sconosciuto”, que foi publicada em revistas periódicas como a Orient-Express e teve inclusive histórias publicadas no Brasil com o título de “O Especialista”.

Magnus tinha um parceiro diário de trabalho, seu fiel escudeiro felino Cicciorello. Mas foi em companhia de Giovanni Romanini que a versatilidade do grande artista se demonstrou ainda mais apurada e, ainda na década de 70, publicaram “La Compagnia Della Forca”, uma saga humorística de fantasia medieval.

Uma década todinha nova se apresentava, e com ela, Magnus iniciou a longa saga “I Briganti”, baseado em um romance chinês.

Eram os anos 80, e Magnus embarcou fundo na ficção científica para criar “Milady 3000” e “Necron”. Em Milady, ele mistura cultura chinesa, influências de Flash Gordon e Star Wars, erotismo e fantasia de forma magistral.

Necron, uma história em quadrinhos fantástica e grotesca que mistura terror e erotismo foi publicada no Brasil nas páginas da extinta revista Grandes Aventuras Animal.

As imersões constantes de Magnus pelas literaturas do mundo, principalmente a oriental, foram inspirações perfeitas para as obras que vieram em seguida. “Le 110 Pillole” e “Le Femmine Incantate” são verdadeiras obras de artes extremamente detalhistas e sensuais.

Como devem ter percebido, iniciei falando dos “fumettis” citando Bonelli. Pois agora, finalmente o assunto chegou em Sergio Bonelli Editore e seu personagem mais famoso: Tex.

Em 1989, Magnus iniciou aquele que seria o seu último trabalho. Um longo episódio de Tex Willer, escrito por Claudio Nizzi, intitulado “O Vale do Terror”. Neste especial, Magnus completou suas 224 páginas extremamente detalhadas em sete anos de trabalho. Fato esse que levou o próprio editor Sergio Bonelli a quase desistir. Muitos na editora achavam que esse trabalho não seria terminado.

Magnus desenhou dezenas de modelos e estudos em perspectivas para reproduzir todo e qualquer elemento de cada cena. Usou fontes originais para elementos históricos, recriou todos os detalhes naturais e reproduziu armas do velho oeste de forma extremamente realista. “Estudei cada objeto, paisagem, ambiente e até me mudei para a montanha. Observei pedras, rio, árvore. Submergi numa atmosfera antiga e natural de um conto ambientado no oeste americano”, disse Magnus.

Magnus morreu de câncer em fevereiro de 1996. Apenas alguns dias após terminar o seu trabalho com Tex. Ele não chegou a ver a obra publicada.

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