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Influenciadora cega herda paixão pelo futebol do pai e sonha com Paralimpíada: "A gente é resistência"

Jogadora de futebol nas horas vagas, Engenheira de Softaware teve perda total de visão na infância

10 set 2023 - 05h00
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Geisa Farini dá dicas de maquiagem para seus seguidores
Geisa Farini dá dicas de maquiagem para seus seguidores
Foto: Reprodução/Instagram

Geisa Farini nasceu com baixa visão. Aos 13 anos, parou de enxergar totalmente e precisou mudar por completo sua rotina, para se adaptar à realidade das pessoas cegas. Atualmente, ela utiliza suas redes sociais que somam quase de 300 mil seguidores para compartilhar seu dia a dia e ajudar novos deficientes visuais.

"A ideia começou em um canal do Youtube, para mostrar às pessoas que não conhecem a vida de alguém com deficiência, que é uma vida natural. Minha ideia sempre foi naturalizar a deficiência. Eu nunca quis ser um exemplo de superação, mas sim, mostrar que meu dia a dia é normal, que eu faço minhas adaptações, mas que eu tenho uma vida como qualquer outra. Essa coisa da 'super-heroína' é muito ruim e pesada, a maioria das pessoas que têm deficiências não gosta", contou Geisa em entrevista ao Terra, lembrando que a maioria do seu público é de pessoas que perderam a visão recentemente.

Além de falar de moda, beleza e bem-estar em seu Instagram e TikiTok, com o auxílio de uma criadora de conteúdo, Geisa passou a dar dicas de aplicativos acessíveis e tecnologia assistiva, para seus seguidores que muitas vezes a procuram pedindo ajuda.

“Eu sou uma pessoa normal, que não é perfeita, mas as minhas limitações quase sempre não são ligadas à cegueira, são ligadas a coisas do ser humano que eu sou. A pessoa com deficiência pode estar onde quiser. Claro que ela vai ter mais desafios, porque o mundo não está preparado para nos receber, mas a gente tem que ocupar esses espaços e lutar pelo direito de ser o que quiser”, desabafou a Engenheira de Software, formada e pós-graduada em Análise de Sistemas.

Geisa carrega na vida adulta, aos 35 anos, as lembranças de quando enxergava na infância. Em muitas dessas memórias, o futebol se faz presente. Aos sete anos, aconteceu sua primeira grande perda. Seu pai, Antônio Carlos, morreu após sofrer um grave acidente de carro. Torcedor apaixonado do Fluminense, ele plantou a paixão pelo esporte na filha.

O amor herdado do pai pelo futebol levou a menina a utilizar o esporte como válvula de escape. Desde a adolescência, Geisa joga bola, prática corrida e compartilha com seus seguidores sua rotina fitness.

Quando morava no Rio de Janeiro ela frequentava o Maracanã e São Januário, casa do Vasco da Gama, seu time do coração. Em São Paulo, onde mora desde 2020, já visitou o Morumbi e conheceu estádios em diversas viagens que fez sozinha pela América do Sul e Europa.

"Quando fui para a Inglaterra fiquei muito decepcionada, porque lá eles não têm muitos recursos para na parte cultural para pessoas com deficiência visual. Eles querem que você esteja com acompanhantes e não disponibilizam um guia em um museu ou teatro. Fui barrada no Museu de Cera de Londres, não me deixaram entrar porque eu tinha que estar acompanhada, mesmo eu tendo viajado sozinha. Então, resolvi ir ao estádio do Chelsea que era um lugar fácil de chegar de metrô e me surpreendi, porque eles me receberam muito bem, fizeram o tour no Stamford Bridge comigo, fui ao túnel e no campo e pude tocar nas coisas. A minha melhor experiência na Inglaterra na parte de entretenimento foi em um estádio de futebol”, contou.

Geisa joga bola semanalmente em uma quadra cedida pela Associação dos Pais e Amigos dos Deficientes Visuais (APADEV). Ela explicou que muitas vaquinhas são feitas para comprar materiais esportivos e pagar os profissionais que as auxiliam nos jogos. Enquanto aguarda que o futebol feminino de cegas se torne oficialmente uma modalidade paraolímpica, ela se diverte com suas colegas de time.

Geisa compartilha seus jogos de futebol para motivar mulheres cegas à buscarem uma atividade física
Geisa compartilha seus jogos de futebol para motivar mulheres cegas à buscarem uma atividade física
Foto: Reprodução/Instagram

Ela cobra que a Confederação Brasileira de Desportos de Deficientes Visuais (CBDV) estimule o futebol de mulheres cegas no país, já que a entidade não tem calendário para competições femininas.

"Fico feliz em ser precursora em uma modalidade que ainda é muito negligenciada, mas a gente é resistência e eu quero que outras meninas tenham essa oportunidade de jogar também. A gente está aqui para lutar para que as oportunidades cheguem tanto para as mulheres sem deficiência, como para as mulheres com deficiência. Futebol tem a diversão e o prazer, mas para mim, ele é resistência e igualdade", finalizou.

Fonte: Redação Terra
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