Série da década de 80 do artista Jorge dos Anjos é retomada e curada a partir do perspectivismo quilombista em exposição

Série da década de 80 do artista Jorge dos Anjos é retomada e curada a partir do perspectivismo quilombista em exposição

O Centro Cultural UFMG convida para a abertura da exposição ‘Visagens’, do artista Jorge dos Anjos, com curadoria colaborativa, na terça-feira, dia 22 de agosto de 2023, às 19 horas. A partir das pesquisas desenvolvidas na série Visagens, onde o artista expressa e elabora os sintomas da ferida colonial e do racismo estrutural que marca as relações na sociedade brasileira, a mostra reúne produções que reelaboram esse trabalho, baseadas no perspectivismo quilombista. As obras poderão ser vistas até 24 de setembro de 2023. A entrada é gratuita e tem classificação livre.

Memorial do Jorge dos Anjos para receber título Doutor Notório saber em Artes pela UFMG

A exposição é resultado do trabalho de pesquisa realizado entre 2020 e 2022 para elaboração do Memorial do Jorge dos Anjos. Foram realizadas visitas ao ateliê do artista, entrevistas, salvaguarda e digitalização do arquivo de documentos pessoais que retratam a sua trajetória. A partir das ações desenvolvidas junto com o artista foi montado um dossiê e o Memorial, que foi apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Artes da UFMG e para a Comissão Especial de Notório Saber dos Mestres da Cultura.

Visagens, obra prima do Jorge dos Anjos

A série ‘Visagens’ é uma grande oportunidade para o público conhecer os caminhos da sua pesquisa artística e os percursos do seu processo criativo. É uma obra prima, pois dela nascem todas as outras, apresentando traços da sua biografia, trajetória, chão por onde Jorge dos Anjos percorre e inventa seus jeitos de caminhar e contar suas histórias, a partir de uma perspectiva afro-brasileira, as suas próprias visagens.

Jorge dos Anjos e a performance

‘Visagens’ dialoga com outras produções artísticas de Jorge dos Anjos, como as ‘Gravaduras’ ou ‘Queimados’ e os ‘Riscos’ ou ‘Desenhos de fogo’. As Gravaduras são marcas de ferro que ele imprime nos tecidos de feltro, usando o corpo em movimento e o ferro em brasa como ferramenta. Os Riscos são desenhos de fogo realizados através da performance, usando pólvora, fogo e plástico, deixando as marcas dessa ação no suporte.

Através desses gestos, Jorge busca denunciar as muitas marcas da violência do racismo nos corpos negros. Essas marcas, registradas no tecido, são transfiguradas nos rituais performáticos realizados pelo artista em seu ateliê e nos espaços públicos. Performances forjadas com fogo invocam referências que promovem a força de transformação por meio de outras imagens e impulsionam a vitalidade, o axé. Nesse território de liberdade em que assentou seu ateliê, sua criação se alimenta de musicalidades e ritmos que pulsam em seu corpo e revelam símbolos do universo afrorreligioso.

Jorge dos Anjos

Jorge Luiz dos Anjos é um pintor, escultor e desenhista nascido em 1957, em Ouro Preto, Minas Gerais. Entre os anos de 1970 e 1976 estudou com Nello Nuno, Ana Amélia e Amílcar de Castro na Fundação de Arte de Ouro Preto (FAOP), onde veio a
se tornar professor anos mais tarde. Sua obra é o encontro de uma formação técnica baseada no construtivismo e a busca pela elaboração de uma poética afro-referenciada. Expõe seus trabalhos em exposições individuais desde 1978 e salões nacionais e internacionais desde a década de 1980. Sua produção figura entre as obras mais significativas no cenário contemporâneo da arte brasileira.

Curadoria Colaborativa, formação em artes visuais, museologia e conservação-restauração

A exposição conta com um trabalho de curadoria colaborativa a partir da pesquisa curatorial e do trabalho de investigação para elaboração do Memorial do artista Jorge dos Anjos. Em sala de aula, na disciplina ‘Museus de artista, ateliês de artista’, ministrada pela professora Carolina Ruoso, os estudantes de Museologia, Artes Visuais e Conservação-Restauração se envolveram no processo de leitura do Memorial, realizaram visita ao ateliê do artista e trabalharam conjuntamente na elaboração do texto curatorial, na produção de legendas e na programação da exposição. A curadoria colaborativa no contexto da universidade e na realização do trabalho de exposição articula as ações de ensino, pesquisa e extensão.

Ensino de História da Arte Afro-Brasileira na disciplina Museus de artista, ateliê de artista

A História da Arte Afro-brasileira insurge através da imediata necessidade de desarrumar as noções e conceitos da branquitude, que reforçam as desigualdades de raça e gênero na nossa sociedade. Ela cria um espaço de tensão e ruptura com a historiografia dita oficial, propõe visibilidade e reconhecimento a artistas negros, homens e mulheres cis e trans, alijados do sistema de arte. Reivindica outras histórias da arte onde seus corpos e suas práticas não sejam objetificados, sub-representados e subalternizados, resgata a memória de pessoas pretas que tiveram a legibilidade de suas produções artísticas apagadas da narrativa hegemônica.

Curadoria quilombista

A curadoria quilombista é uma proposição teórico metodológica de abordagem transdisciplinar e colaborativa para práticas curatoriais de museus e instituições similares, acervos (materiais e imateriais) e exposições. Suas raízes conceituais estão pautadas no enfrentamento e superação do racismo no campo dos Museus e
das Artes. Sua definição é aberta, mas retoma o conceito de ‘Quilombismo’, de Abdias Nascimento, enquanto sinônimo de insurreições e lutas pela liberdade do povo brasileiro afro-indígena, por meio de complexos sistemas culturais, políticos, filosóficos e epistemológicos.

Pressupõe que as noções de procedimentos de salvaguarda (pesquisa, documentação e conservação) e comunicação (exposição e ação educativa-cultural) estejam comprometidas com uma revisão da Crítica e História da Arte e suas interfaces com as estratégias de apagamento das experiências negras nos Museus brasileiros. Propõe práticas curatoriais capazes de conduzir discursos expositivos e de produzir produtos expográficos que reconheçam e potencializem o patrimônio cultural afro-brasileiro e que deem suportes para o surgimento de performances museológicas contra-coloniais e antirracistas.

Educação Museal e a pretagogia

A ‘pretagogia’ foi desenvolvida pela professora e pesquisadora Sandra Haydée Petit, é um referencial teórico-metodológico que propõe vivências e modos de aprender fundamentados nos valores da ancestralidade, da tradição oral e do corpo como fonte de saberes afro-brasileiros. Deste modo, a curadoria compreende que o trabalho da educação museal no processo de construção colaborativa da exposição ‘Visagens’ está fundamentado na pretagogia.

Participantes do Processo Curatorial Colaborativo

Alice Martins, Alice Rodrigues, Alícia Louise Brito Martins, Alinne Damasceno, Ana Clara Martins Lio Trópia, Carolina Sanz Alcalde, Carolina Ruoso, Camila Amy, Daise Garcia Carvalho, Daniel Vitor Pereira de Siqueira, Erika Gonzalez Clingert, Giovanna Meireles, Jorge dos Anjos, Kelvin Martins, Késia Valeska Alves Sena, Rita Lages Rodrigues, Rodrigo Gonzaga, Larissa Silva de Alvarenga, Letícia Ferreira Cavalcanti de Albuquerque, Letícia Lourenço de Castro Lacerda, Lígia Dutra da Silva, Luiza Klinke de Melo Araújo, Marcos Antonio Dias Machado, Maria Amália Lourenço Torres, Maria Tereza Dantas Moura, Marília Andrés Ribeiro, Maya Kotsubo Bagnariol, Vanessa de Souza Borges, Vitor Gomes dos Santos.

 

[Foto de capa: Irena dos Anos/Divulgação]

Exposição ‘Visagens’
Jorge dos Anjos | Curadoria colaborativa
Abertura: 22 de agosto de 2023 | às 19 horas
Visitação: até o dia 24/09/2023
Terças a sextas: 9h às 20h
Sábados, domingos e feriados: 9h às 17h
Grande Galeria
Classificação indicativa: livre
Entrada gratuita

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Lembre-se: é recomendável o uso de máscara nos espaços do Centro Cultural UFMG mesmo para imunizados