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Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Chiquinho Scarpa ficou internado 150 dias por diverticulite; veja sintomas

Chiquinho Scarpa está em recuperação após ficar 5 meses internado - Reprodução/Record
Chiquinho Scarpa está em recuperação após ficar 5 meses internado Imagem: Reprodução/Record

Do VivaBem*, em São Paulo

22/08/2022 13h35

O empresário Chiquinho Scarpa contou ontem (21) em entrevista ao "Domingo Espetacular", da Record TV, que ficou internado cinco meses no Hospital Sírio-Libanês (SP) por diverticulite. Durante o período, comunicados informaram que o estado de saúde dele era delicado, mas sem especificar o problema.

Na entrevista, Chiquinho disse que foi ao hospital em março deste ano para tratar dores do que acreditava ser uma infecção urinária. Ele esteve a maior parte do tempo internado na UTI (unidade de terapia intensiva), perdeu 8 kg de massa muscular e chegou a passar por seis cirurgias em dias consecutivos.

"Estou com bastante dor. Inclusive, não posso levantar direito. As dores vão e voltam", disse o empresário, que ainda se recupera do longo período no hospital.

O que é diverticulite?

A doença decorre de uma deformidade anatômica (provavelmente degenerativa) que leva à formação de pequenas bolsas na parede do intestino grosso, os divertículos. A presença destes é definida genericamente pelos médicos como diverticulose e, quando há inflamação ou infecção, o quadro é chamado de diverticulite.

Até o momento não se sabe porque isso acontece, mas há indícios de que hereditariedade e motilidade (movimento) intestinal, como a constipação, estejam relacionadas. Estima-se que 60% das pessoas com mais de 60 anos têm diverticulose, e que de 10% a 25% delas poderão ter diverticulite.

A doença acomete ambos os gêneros igualmente, mas é mais frequente entre homens mais jovens que 50 anos, e mulheres entre os 50 e 70 anos. Após a sétima década de vida, o grupo feminino é o mais propenso ao problema.

Por que os divertículos inflamam?

A literatura sugere uma relação entre processos inflamatórios crônicos relacionados à dieta, alteração da flora bacteriana e genética. Este último fator prevalece em 40%-50% dos casos.

Os mecanismos da enfermidade ainda são pouco compreendidos, mas o que se sabe, até o momento, é que a causa da diverticulite está associada aos seguintes fatores:

  • Baixo consumo de fibras alimentares;
  • Alto consumo de gorduras e carne vermelha;
  • Baixos níveis de vitamina D (ainda não há um consenso sobre este item. Consulte seu médico sobre a possível influência dessa carência vitamínica no seu caso);
  • Obesidade;
  • Tabagismo;
  • Sedentarismo;
  • Constipação;
  • Exposição a medicamentos como anti-inflamatórios.

Saiba como reconhecer os sintomas

A maioria das pessoas é assintomática, ou seja, não reconhece em si nenhuma queixa da doença.

Quando ela se manifesta, os médicos classificam os pacientes em dois grupos diferentes, que apresentarão os sinais e sintomas a seguir, de acordo com a sua classe:

Indivíduos com doença diverticular sintomática não-complicada

  • Dor (cólica) abdominal crônica e recorrente do lado esquerdo inferior --em pessoas de origem oriental, a dor costuma ser do lado direito;
  • Presença de divertículos;
  • Ausência de sintomas inflamatórios agudos como febre ou sangramento;
  • Ausência de inflamação ou inflamação moderada;
  • Sintomas menos vigorosos e de evolução benigna.

Indivíduos com diverticulite aguda

  • Febre;
  • Perda de apetite e vômitos;
  • Dor (cólica) prolongada no abdome do lado esquerdo inferior --em pessoas de origem oriental, a dor costuma ser do lado direito;
  • Exames de sangue indicando alteração das defesas do corpo e presença de inflamação (Proteína C Reativa - PCR);
  • Massa abdominal;
  • Alteração do hábito intestinal (constipação ou diarreia moderada com ou sem muco e sangue nas fezes);
  • Gases (distensão abdominal);
  • Sintomas urinários, caso a bexiga esteja acometida.

Quando é hora de procurar ajuda médica?

Ao observar sintomas, procure orientação médica o mais rápido possível. Uma crise pode revelar casos mais graves que poderão ser confundidos com outras doenças, especialmente se você tiver idade superior a 50 anos. Pode ser até que a solução seja cirúrgica, o que por si, indica a necessidade de agir rapidamente.

O coloproctologista, o gastroenterologista ou o cirurgião do aparelho digestivo são os especialistas mais indicados para examiná-lo.

Quais são as possíveis complicações?

Mais raras, as complicações da diverticulite aguda são caracterizadas pela presença dos seguintes eventos:

  • Abcesso abdominal;

  • Peritonite;

  • Perfuração;

  • Fístula (extravasamento do abcesso para outros órgãos como bexiga ou vagina —o ar e as fezes podem sair pela uretra ou vagina);

  • Estenose (estreitamento do intestino que leva à fibrose e obstrução intestinal).

A doença diverticular pode levar a sangramento —o que se manifesta, na maioria das vezes, de forma aguda e intensa, e é mais comum entre pessoas que fazem uso contínuo de medicamentos anti-inflamatórios, entre eles a aspirina.

Embora esse tipo de medicamento tenha o potencial de elevar o risco para a diverticulite e sangramentos diverticulares, o seu médico deverá avaliar a relação de risco/benefício de descontinuar o uso da aspirina, por exemplo, que é muito utilizada na prevenção de eventos cardiovasculares.

Como é feito o tratamento?

Ele dependerá da intensidade dos sintomas e complicações observadas pelo médico.

Quando ela é branda, na maioria das vezes, a estratégia terapêutica será conservadora, ou seja, você receberá orientações sobre dieta e atividade física. Além disso, podem ser indicadas medicações específicas. Considerado bastante efetivo, esse tratamento apresenta baixas taxas de recaídas.

"Para alguns pacientes, tomar o antibiótico certo, pelo tempo certo, pode ser o suficiente. Na vida real, após um quadro de diverticulite aguda não-complicada, 70% dos pacientes nunca mais terão sintomas", afirma Sergio Alexandre Liblik, gastroenterologista e professor de Gastroenterologia Clínica da PUCPR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná).

Quando a diverticulite dura no tempo e, portanto, é crônica, além de mudanças na dieta, aumento dos exercícios e perda de peso, utilizam-se suplementos de fibras para serem tomados como remédios. A suspensão de medicamentos como anti-inflamatórios também ajuda no controle da doença.

O médico ainda tem à sua disposição medicamentos específicos como os derivados 5-ASA, conhecidos como mesalazina, e probióticos. Juntos, eles teriam o poder de reduzir a inflamação, prevenir recaídas e afastar complicações. Essa última prática ainda é considerada controversa pelos especialistas. Por isso, fale com seu médico para saber se ela poderia ser útil no seu caso.

Quando a cirurgia é necessária?

Ela é sempre considerada uma segunda opção para os casos não complicados, mas que não apresentam melhora, mesmo após as intervenções médicas.

Quanto aos pacientes crônicos, outros dados ajudarão o médico a decidir pela melhor conduta a ser seguida. Saiba quais são eles:

  • Presença de má resposta à reposição de fibras;
  • Idade do paciente (entre os muito jovens, os quadros costumam ser mais graves);
  • Número de crises (mais de quatro, mesmo após tratamento adequado);
  • Presença de fístulas ou estenose.

Em todas essas hipóteses, a cirurgia será denominada eletiva "e poderá até levar ao desaparecimento completo dos sintomas. Isso porque fazemos a remoção da parte do intestino com divertículos (ressecção)", explica Carlos Walter Sobrado, professor de gastrocirurgia do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo). Embora este seja o procedimento mais comum nos casos de diverticulite, "isso não significa que outros divertículos não aparecerão no futuro", completa o médico.

Já as cirurgias de emergência decorrem de complicações como a peritonite (inflamação da membrana que recobre o abdome), ou perfuração de um abcesso, fístula ou obstrução do intestino grosso.

*Com informações de reportagem publicada em 04/02/20.