Chiquinho Scarpa ficou internado 150 dias por diverticulite; veja sintomas
O empresário Chiquinho Scarpa contou ontem (21) em entrevista ao "Domingo Espetacular", da Record TV, que ficou internado cinco meses no Hospital Sírio-Libanês (SP) por diverticulite. Durante o período, comunicados informaram que o estado de saúde dele era delicado, mas sem especificar o problema.
Na entrevista, Chiquinho disse que foi ao hospital em março deste ano para tratar dores do que acreditava ser uma infecção urinária. Ele esteve a maior parte do tempo internado na UTI (unidade de terapia intensiva), perdeu 8 kg de massa muscular e chegou a passar por seis cirurgias em dias consecutivos.
"Estou com bastante dor. Inclusive, não posso levantar direito. As dores vão e voltam", disse o empresário, que ainda se recupera do longo período no hospital.
O que é diverticulite?
A doença decorre de uma deformidade anatômica (provavelmente degenerativa) que leva à formação de pequenas bolsas na parede do intestino grosso, os divertículos. A presença destes é definida genericamente pelos médicos como diverticulose e, quando há inflamação ou infecção, o quadro é chamado de diverticulite.
Até o momento não se sabe porque isso acontece, mas há indícios de que hereditariedade e motilidade (movimento) intestinal, como a constipação, estejam relacionadas. Estima-se que 60% das pessoas com mais de 60 anos têm diverticulose, e que de 10% a 25% delas poderão ter diverticulite.
A doença acomete ambos os gêneros igualmente, mas é mais frequente entre homens mais jovens que 50 anos, e mulheres entre os 50 e 70 anos. Após a sétima década de vida, o grupo feminino é o mais propenso ao problema.
Por que os divertículos inflamam?
A literatura sugere uma relação entre processos inflamatórios crônicos relacionados à dieta, alteração da flora bacteriana e genética. Este último fator prevalece em 40%-50% dos casos.
Os mecanismos da enfermidade ainda são pouco compreendidos, mas o que se sabe, até o momento, é que a causa da diverticulite está associada aos seguintes fatores:
- Baixo consumo de fibras alimentares;
- Alto consumo de gorduras e carne vermelha;
- Baixos níveis de vitamina D (ainda não há um consenso sobre este item. Consulte seu médico sobre a possível influência dessa carência vitamínica no seu caso);
- Obesidade;
- Tabagismo;
- Sedentarismo;
- Constipação;
- Exposição a medicamentos como anti-inflamatórios.
Saiba como reconhecer os sintomas
A maioria das pessoas é assintomática, ou seja, não reconhece em si nenhuma queixa da doença.
Quando ela se manifesta, os médicos classificam os pacientes em dois grupos diferentes, que apresentarão os sinais e sintomas a seguir, de acordo com a sua classe:
Indivíduos com doença diverticular sintomática não-complicada
- Dor (cólica) abdominal crônica e recorrente do lado esquerdo inferior --em pessoas de origem oriental, a dor costuma ser do lado direito;
- Presença de divertículos;
- Ausência de sintomas inflamatórios agudos como febre ou sangramento;
- Ausência de inflamação ou inflamação moderada;
- Sintomas menos vigorosos e de evolução benigna.
Indivíduos com diverticulite aguda
- Febre;
- Perda de apetite e vômitos;
- Dor (cólica) prolongada no abdome do lado esquerdo inferior --em pessoas de origem oriental, a dor costuma ser do lado direito;
- Exames de sangue indicando alteração das defesas do corpo e presença de inflamação (Proteína C Reativa - PCR);
- Massa abdominal;
- Alteração do hábito intestinal (constipação ou diarreia moderada com ou sem muco e sangue nas fezes);
- Gases (distensão abdominal);
- Sintomas urinários, caso a bexiga esteja acometida.
Quando é hora de procurar ajuda médica?
Ao observar sintomas, procure orientação médica o mais rápido possível. Uma crise pode revelar casos mais graves que poderão ser confundidos com outras doenças, especialmente se você tiver idade superior a 50 anos. Pode ser até que a solução seja cirúrgica, o que por si, indica a necessidade de agir rapidamente.
O coloproctologista, o gastroenterologista ou o cirurgião do aparelho digestivo são os especialistas mais indicados para examiná-lo.
Quais são as possíveis complicações?
Mais raras, as complicações da diverticulite aguda são caracterizadas pela presença dos seguintes eventos:
Abcesso abdominal;
Peritonite;
Perfuração;
Fístula (extravasamento do abcesso para outros órgãos como bexiga ou vagina —o ar e as fezes podem sair pela uretra ou vagina);
- Estenose (estreitamento do intestino que leva à fibrose e obstrução intestinal).
A doença diverticular pode levar a sangramento —o que se manifesta, na maioria das vezes, de forma aguda e intensa, e é mais comum entre pessoas que fazem uso contínuo de medicamentos anti-inflamatórios, entre eles a aspirina.
Embora esse tipo de medicamento tenha o potencial de elevar o risco para a diverticulite e sangramentos diverticulares, o seu médico deverá avaliar a relação de risco/benefício de descontinuar o uso da aspirina, por exemplo, que é muito utilizada na prevenção de eventos cardiovasculares.
Como é feito o tratamento?
Ele dependerá da intensidade dos sintomas e complicações observadas pelo médico.
Quando ela é branda, na maioria das vezes, a estratégia terapêutica será conservadora, ou seja, você receberá orientações sobre dieta e atividade física. Além disso, podem ser indicadas medicações específicas. Considerado bastante efetivo, esse tratamento apresenta baixas taxas de recaídas.
"Para alguns pacientes, tomar o antibiótico certo, pelo tempo certo, pode ser o suficiente. Na vida real, após um quadro de diverticulite aguda não-complicada, 70% dos pacientes nunca mais terão sintomas", afirma Sergio Alexandre Liblik, gastroenterologista e professor de Gastroenterologia Clínica da PUCPR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná).
Quando a diverticulite dura no tempo e, portanto, é crônica, além de mudanças na dieta, aumento dos exercícios e perda de peso, utilizam-se suplementos de fibras para serem tomados como remédios. A suspensão de medicamentos como anti-inflamatórios também ajuda no controle da doença.
O médico ainda tem à sua disposição medicamentos específicos como os derivados 5-ASA, conhecidos como mesalazina, e probióticos. Juntos, eles teriam o poder de reduzir a inflamação, prevenir recaídas e afastar complicações. Essa última prática ainda é considerada controversa pelos especialistas. Por isso, fale com seu médico para saber se ela poderia ser útil no seu caso.
Quando a cirurgia é necessária?
Ela é sempre considerada uma segunda opção para os casos não complicados, mas que não apresentam melhora, mesmo após as intervenções médicas.
Quanto aos pacientes crônicos, outros dados ajudarão o médico a decidir pela melhor conduta a ser seguida. Saiba quais são eles:
- Presença de má resposta à reposição de fibras;
- Idade do paciente (entre os muito jovens, os quadros costumam ser mais graves);
- Número de crises (mais de quatro, mesmo após tratamento adequado);
- Presença de fístulas ou estenose.
Em todas essas hipóteses, a cirurgia será denominada eletiva "e poderá até levar ao desaparecimento completo dos sintomas. Isso porque fazemos a remoção da parte do intestino com divertículos (ressecção)", explica Carlos Walter Sobrado, professor de gastrocirurgia do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo). Embora este seja o procedimento mais comum nos casos de diverticulite, "isso não significa que outros divertículos não aparecerão no futuro", completa o médico.
Já as cirurgias de emergência decorrem de complicações como a peritonite (inflamação da membrana que recobre o abdome), ou perfuração de um abcesso, fístula ou obstrução do intestino grosso.
*Com informações de reportagem publicada em 04/02/20.
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