A seguir a Fernando Pessoa, foi o poeta português mais traduzido. Autor de 40 obras e outras tantas traduções, Eugénio de Andrade nasceu no Fundão, na Beira Baixa, em 1923 e faleceu no Porto, em 2005. Disse ter vivido em pleno, apesar de ter levado uma vida reservada.

Já passaram 100 anos. Em 1978 disse em entrevista ao jornal Expresso: “daqui a vinte anos espero estar morto e bem morto. Acho a velhice uma coisa horrível.” Mas viveu ainda mais 27 anos. Esta semana Paredes presta-lhe uma homenagem através da exposição “Abraço a Eugénio”, na Biblioteca Municipal e na Casa da Cultura.

Com curadoria de Agostinho Santos, a mostra reúne um conjunto de pinturas, desenhos, esculturas e documentos inéditos e será inaugurada esta sexta-feira, dia 3 de novembro. A exposição fica patente na Biblioteca de Paredes até 29 de dezembro. As exposições na Casa da Cultura estreiam dia 5 de novembro e ficam disponíveis para visita do público até 3 de dezembro.
O espólio dos documentos inéditos do poeta Eugénio de Andrade é composto por cartas manuscritas, postais e desenhos que estarão à disposição dos visitantes na Biblioteca Municipal de Paredes. As peças documentais foram gentilmente cedidas por Resende Barbosa.

A autarquia explica que o lote de artistas convidados integra nomes como Acácio Carvalho, AdiasMachado, Agostinho Santos, Alexandre Rola, A.Mouratto, Ana Romero, António Pinto, Avelino Rocha, Augusta Albuquerque, Cabral Pinto, Carmo Diogo, Catarina Vaz, Celeste Ferreira, Céu Costa, Cipriano Oquiniame, Clara Borges, Cláudia Matoos, Eduarda Castro, Emília Pedro, Felícia, Fernanda Araújo, Fernando Barros, Filomena Nogueira, Filomena Silva Campos, Gérard Morla, Gonçalo Alves, Hermínia Cândido, Isabel Babo, Isabel Correia, João Mota, Jorge Braga, Júlia Lima, Júlia Pintão, Júlio Costa, Luísa Prior, Luísa Santos, Maria João Robalo, Maria Rosas, Mariana Mizarela, Nádia Dias T., Nazaré Álvares, Paula Bertotti, Raul Valverde, Rui Costa.

Mas quem foi Eugénio de Andrade? Nasceu em Póvoa da Atalaia, no dia 19 de janeiro de 1923, com o nome de José Fontinhas. Com dez anos veio para Lisboa, após a separação dos pais. Frequentou o Liceu Passos Manuel e a Escola Técnica Machado de Castro. 

Com 15 anos enviou os seus primeiros escritos ao poeta e dramaturgo António Botto que o quis conhecer. Um ano depois, publica “Narciso”, o primeiro poema que surge em simultâneo com a necessidade de um nome literário – Eugénio de Andrade.

Passou por Coimbra, onde conviveu com Miguel Torga e Eduardo Lourenço. Mais tarde, regressa a Lisboa para trabalhar, exercendo, ao longo de 35 anos, o cargo de inspetor administrativo do Ministério da Saúde. Em 1950, altura em que já era conhecido como poeta, foi transferido para o Porto. “As Mãos e os Frutos” receberam elogios de Vitorino Nemésio e Jorge de Sena. 

Traduziu também autores, um gosto que o levou ao mundo de García Lorca, José Luís Borges, René Char e Yanni Ritsos, assim como à cultura grega onde viajou pelas penas de Hesíodo, Homero, Sófocles e Safo.

Saramago disse que os escritos de Eugénio de Andrade se traduziam numa “poesia do corpo a que se chega mediante uma depuração contínua”.

Era um homem reservado, mas intenso e trabalhava a um ritmo louco. Em 2001 recebeu o Prémio Camões. Morreu quatro anos depois, no dia 13 de junho, depois de anos de uma doença degenerativa neuromuscular. Teve direito a uma campa rasa em mármore branco, desenhada pelo seu amigo e arquiteto Álvaro de Siza Vieira.

Na sua casa, na Foz do Douro, no Porto, funcionou a Fundação Eugénio de Andrade. Após a sua extinção, em 2011, esta passou a ser a Casa da Poesia Eugénio de Andrade, cedida em 2020 à à União das Autarquias de Aldoar, Foz, Nevogilde. Em dezembro de 2022, o acervo do poeta foi depositado na Casa dos Livros, que também acolhe os espólios de outros autores, como Vasco Graça Moura, Óscar Lopes, Herberto Helder, Manuel António Pina e Albano.

Agora, o poeta de fragilidades pode ser lembrado e revisitado em Paredes, na Biblioteca Municipal e na Casa da Cultura, a partir de sexta-feira.