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Apostila 2 o passo História de Quem Conta - Portal SME

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Desvelando Caminhos por um Brasil literário:<br />

ontem, hoje e sempre!<br />

Junho <strong>de</strong> 2012


Para início <strong>de</strong> conversa...<br />

Queridos Dinamizadores,<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

“Não restam dúvidas <strong>de</strong> que isto é leitura:<br />

reescrever o texto da obra <strong>de</strong>ntro<br />

do texto <strong>de</strong> nossas vidas”<br />

Roland Barthes<br />

consi<strong>de</strong>rando que este ano nosso projeto não se pren<strong>de</strong> à nenhuma efeméri<strong>de</strong> e a Literatura<br />

flui plena e livre por nossas leituras, escolhas e escolas, neste segundo <strong>passo</strong> – <strong>História</strong> <strong>de</strong> quem<br />

conta histórias – optamos por <strong>de</strong>ixar que os próprios autores, suas vidas e obras figurassem como<br />

personagens principais nessa apostila.<br />

Todos os escritores citados por vocês em <strong>de</strong>zembro passado aparecem aqui. Os que já foram<br />

homenageados ou cujas palavras nortearam nosso trabalho também. E ainda os que estiveram<br />

conosco este ano e estão conosco hoje.<br />

E Bia Bedran nossa homenageada, claro!<br />

Além disso, vocês ainda vão encontrar textos voltados para a pedagogia da leitura, no espaço<br />

chamado Construindo Sentidos e Significados; e po<strong>de</strong>rão revisitar algumas Sugestões <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s.<br />

Sintam-se à vonta<strong>de</strong> para inserirem outros autores e obras, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que justificados em seus<br />

projetos. Afinal, ninguém melhor do que vocês – Dinamizador <strong>de</strong> Leitura e Dinamizador <strong>de</strong><br />

Biblioteca – para reconhecerem que palavras serão melhor absorvidas e entrelaçadas à história <strong>de</strong><br />

suas escolas e alunos.<br />

Nossa intenção, como sempre, é contribuir. Mas, <strong>de</strong>sta vez, também queremos provocar! Sim,<br />

provocar.<br />

Provocar o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> se tornarem autores <strong>de</strong> seus projetos <strong>de</strong> trabalho, ligados à <strong>SME</strong>,<br />

vinculados à Equipe <strong>de</strong> Leitura, como sempre, mas, cada vez mais com i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, com a assinatura<br />

<strong>de</strong> vocês, como representantes e articuladores <strong>de</strong> leitura <strong>de</strong> suas Unida<strong>de</strong>s Escolares.<br />

Afinal, reiteramos a assertiva <strong>de</strong> Barthes “isto é leitura: reescrever o texto da obra <strong>de</strong>ntro do<br />

texto <strong>de</strong> nossas vidas”! E é por este motivo, somado à capacida<strong>de</strong> e responsabilida<strong>de</strong> que cada um<br />

<strong>de</strong> vocês têm com a promoção da leitura, que foram escolhidos para esta função!<br />

Levantem esta ban<strong>de</strong>ira com vigor e vonta<strong>de</strong>, porque apenas com intensida<strong>de</strong>, continuida<strong>de</strong><br />

e paixão é que vamos também inscrever a nossa história particular na <strong>História</strong> <strong>de</strong> quem conta<br />

histórias.<br />

Hellenice Ferreira<br />

Duque <strong>de</strong> Caxias, 05 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2012.<br />

1


Construindo sentidos e significados...<br />

LITERATURA: LEITURA DE MUNDO, CRIAÇÃO DE PALAVRA<br />

Bartolomeu Campos <strong>de</strong> Queirós<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

Se a literatura é uma extensão do autor, a mim ela surge<br />

pela falta. Meu <strong>de</strong>sejo é talvez <strong>de</strong> contar para os mais jovens<br />

aquilo que gostaria que fosse narrado a mim. Mas o ato <strong>de</strong><br />

escrever dá sentido ao meu cotidiano. Na medida em que<br />

escrevo e me surpreendo com aquilo que eu não sabia que sabia<br />

eu me torno mais amigo meu. Não sei se crio para estar com o<br />

outro ou pela sauda<strong>de</strong> <strong>de</strong> minha infância e, quem sabe, pela<br />

alegria <strong>de</strong> ter vencido aquele tempo.<br />

Des<strong>de</strong> o momento do convite me pus a perseguir uma<br />

i<strong>de</strong>ia sobre o que escrever, eu que cada dia <strong>de</strong>scubro, perplexo<br />

diante do universo, que nada sei. A cada dia que vivo mais tomo<br />

posse do tanto ainda por saber. E o meu exercício <strong>de</strong> vida tem sido o <strong>de</strong> estar procurando o que não foi feito<br />

ainda, o que ainda não sei fazer. Só me interesso pelo que me falta. E falta tanto... O que sei não me basta ou<br />

satisfaz. Isso por acreditar, com convicção, que o mundo só muda quando acrescentamos a ele o nosso po<strong>de</strong>r<br />

<strong>de</strong> reinventar a vida com seus tantos significantes. Acredito <strong>de</strong>mais na capacida<strong>de</strong> inventiva do homem.<br />

Posso afirmar que pela criação tanto o sujeito se redimensiona como também se acrescenta ao mundo. Criar,<br />

para mim, é a alternativa <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>ira para abrandar o peso do não-sabido. E eu tenho um <strong>de</strong>sejo imenso <strong>de</strong><br />

alterar a comunida<strong>de</strong> em que vivo.<br />

Não que eu tenha uma proposta para ser cumprida. Mas é na medida em que travamos um profundo<br />

diálogo entre o nosso ser real e nosso ser i<strong>de</strong>al que <strong>de</strong>terminamos a crença, a i<strong>de</strong>ologia, o mundo a ser<br />

sonhado. Eu gostaria <strong>de</strong> viver em uma socieda<strong>de</strong> mais reflexiva, em que o silêncio fosse um pré-requisito<br />

essencial para toda ação, assim como ele existe no ato da criação. Almejo estar entre pessoas amantes <strong>de</strong> sua<br />

origem, capazes <strong>de</strong> ler o mundo com a mesma sensibilida<strong>de</strong> com que o tempo acaricia os anos com suas<br />

estações. Gostaria <strong>de</strong> viver numa socieda<strong>de</strong> em que não fôssemos dirigidos pelos caprichos <strong>de</strong> alguns, mas<br />

num movimento estabelecido pela soma <strong>de</strong> todos nós. Num mundo pleno <strong>de</strong> dúvidas, numa vez que para<br />

mim a dúvida nos torna mais cuidadosos, mais cautelosos, mais <strong>de</strong>licados com as relações. <strong>Quem</strong> supõe ter<br />

encontrado a verda<strong>de</strong>, passa a um estado <strong>de</strong> fanatismo. E isso no exercício do po<strong>de</strong>r é muito perigoso. Meu<br />

sofrimento advém <strong>de</strong> estar e viver numa socieda<strong>de</strong> tão injusta, em que as diferenças não concorrem para o<br />

enriquecimento, mas a diferença é apenas uma maneira arbitrária <strong>de</strong> dividir os homens em classe. Sofro por<br />

viver em uma comunida<strong>de</strong> analfabeta, como eu, marcada pela impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ler o seu entorno. Uma<br />

socieda<strong>de</strong> em que o sofrimento nos impossibilita <strong>de</strong> participar da poesia existente. Uma vez que as<br />

necessida<strong>de</strong>s básicas são mais prementes.<br />

Mas o tema que me proponho pensar é: “A literatura e o encontro <strong>de</strong> dois mundos”, e me conduz a<br />

dois entendimentos. É que a literatura <strong>de</strong>stinada aos mais jovens é uma conversa entre dois mundos: o<br />

mundo adulto e o mundo da criança. É uma longa distância. E essa literatura (mais uma vez posso dizer a<br />

partir <strong>de</strong> mim) acontece quando uma nostalgia me ameaça, trazida pela minha infância irremediavelmente<br />

perdida. É uma literatura difícil <strong>de</strong> ser construída. Ao configurar meu trabalho me vem sempre o medo <strong>de</strong><br />

estar querendo amadurecer a criança mais cedo, roubando <strong>de</strong>la a infância e colocando-a do meu lado para<br />

não me sentir ameaçado por ela. Esses dois mundos contidos na escrita – a infância vivida e a infância ainda<br />

por viver – me envolvem <strong>de</strong> cuidados. É que cada sujeito, para mim, é proprietário <strong>de</strong> uma vida, um único fio<br />

que não <strong>de</strong>ve ser cortado para que o tecido não apresente falhas.<br />

E <strong>de</strong>pois, a vida para mim nunca foi um processo <strong>de</strong> soma, mas sim, <strong>de</strong> subtração. Viver um dia é ter<br />

menos um dia. Nesse sentido eu, como adulto, já subtraí bastante e sei que concretamente a criança tem mais<br />

vida a viver do que eu. Diante da infância eu tenho que ser humil<strong>de</strong> o suficiente para reconhecer esses dois<br />

mundos.<br />

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Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

Minhas funções talvez sejam a <strong>de</strong> me abrir com minhas fantasias e minha suposta verda<strong>de</strong> diante dos<br />

mais jovens, para que eles não repitam o meu percurso, mas que procurem o caminho das diferenças. É pela<br />

diferença que enriquecemos o mundo e a nós. Na medida em que escrevo e o leitor se inscreve no texto é que<br />

elaboramos um terceiro tempo, <strong>de</strong>mocraticamente. Isso me alivia ao<br />

saber que o leitor vai além <strong>de</strong> mim<br />

enquanto procura <strong>de</strong>cifrar a minha metáfora. Eu sempre preferi<br />

dizer que escrevo pela criança que aconteceu em mim e não escrevo<br />

“para” a criança.<br />

Mas todo ato criador é cheio <strong>de</strong> infância. Se me pergunto<br />

quais os elementos que inauguram a infância, eu me respondo ser a<br />

liberda<strong>de</strong>, a espontaneida<strong>de</strong>, a fantasia, a inventivida<strong>de</strong>. E se me<br />

indago sobre os elementos que estão presentes no ato criador, eu<br />

também me respondo ser a liberda<strong>de</strong>, a espontaneida<strong>de</strong>, a fantasia, a<br />

inventivida<strong>de</strong>.<br />

Daí estar a criança tão próxima da arte. Falar assim me<br />

assusta na medida em que crescer é per<strong>de</strong>r as qualida<strong>de</strong>s da infância e entrar no mundo da contenção. E que,<br />

na medida em que vivo, ouço dizer que a pessoa é educada quando mais contém os seus impulsos. Acredito<br />

pois que crescer é mais per<strong>de</strong>r do que ganhar. Criar, assim pensando, é a única maneira <strong>de</strong> preservar a<br />

juventu<strong>de</strong>.<br />

Vivo numa socieda<strong>de</strong> que não encara a fantasia como o mais profundo do ser.<br />

Quando nos propomos a expressá-lo, estamos trazendo à tona o que há <strong>de</strong> mais reservado em nós.<br />

Daí sentir como difícil é para os processos educacionais a aceitação da literatura em seu contexto.<br />

A literatura é feita <strong>de</strong> fantasia. A escola, por ser servil, quer transformar a literatura em instrumento<br />

pedagógico, limitado, acanhado, como se o convívio com a fantasia fosse um bem menor.<br />

A escola não percebe que a literatura exige do leitor uma mudança, uma transferência movida pela<br />

emoção. Não importa o que o autor diz, mas o que o leitor ultrapassa. E a literatura é feita <strong>de</strong> palavras, e é<br />

necessário um projeto <strong>de</strong> educação capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>spertar o sujeito para o encanto das palavras. Eles não<br />

<strong>de</strong>scobriram, por exemplo, que toda palavra é composta. Quando se diz a palavra “pai”, sei que cada indivíduo<br />

ouvinte adjetiva essa palavra com sua experiência. Para alguém, pai é aquele que o abandonou, para outros, o<br />

que adoçou, para outros, o que eles não conheceram, e assim por diante. Nenhuma palavra é solitária. Cada<br />

palavra remete o leitor ou o ouvinte para além <strong>de</strong> si mesma. Haverá tarefa mais significativa para a escola do<br />

que esta <strong>de</strong> sensibilizar o sujeito para <strong>de</strong>svendar as dimensões da palavra? Por ser assim, trabalhar com a<br />

palavra é compreen<strong>de</strong>r seus <strong>de</strong>slimites e apresentar para o leitor um convite para adivinhar o que está<br />

obscuro no texto e só ele po<strong>de</strong> <strong>de</strong>svendar.<br />

Na medida em que o texto tem como figura maior a construção da<br />

metáfora, é possível ir muito além do escrito. A metáfora cria arestas, faces,<br />

dúvidas. E esta metáfora em função da arte, da beleza, abrirá portas para<br />

muitas e infindáveis paisagens que já existiam na alma do leitor.<br />

Eu venho <strong>de</strong> um país on<strong>de</strong> a diversida<strong>de</strong> cultural é a nossa<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. São tantas e várias as manifestações que nele sobrevivem. E só<br />

po<strong>de</strong>ria ser assim. Somos uma mistura. O negro que veio para o Brasil não<br />

veio por vonta<strong>de</strong> própria, mas como um castigo. Mesmo lá seu coração era<br />

só sauda<strong>de</strong> e banzo. Daí ele não ter se <strong>de</strong>sligado <strong>de</strong> suas origens religiosas,<br />

artísticas, alimentares. E todos os outros valores trazidos foram praticados<br />

nesta outra terra. De outro lado, os índios que lá estavam com suas antigas<br />

crenças e hábitos eram forçados a um trabalho in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> seus anseios.<br />

Mas também eles não abandonaram os seus ritos. E os portugueses traziam sua cultura milenar e<br />

mais um <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong>senfreado <strong>de</strong> conquistar misturado com um espírito <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s viagens, tesouros e<br />

colonizações. Esses muitos aspectos foram somados e nos conduziram a um lugar on<strong>de</strong> as explicações do<br />

mundo nos são dadas e sem nos surpreen<strong>de</strong>r, por muitas vertentes.<br />

Convivemos com um pensamento rico em que o imaginário, em seus diversos ângulos, nos é bastante<br />

familiar e próximo do nosso cotidiano. Sempre procuramos e praticamos uma explicação para nossos<br />

<strong>de</strong>stinos por diversos caminhos e crenças, já que nossa realida<strong>de</strong> é, por si só, fantástica e não nos espanta. E o<br />

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Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

nosso cotidiano é nosso gran<strong>de</strong> tema, nosso maior assunto. A mobilida<strong>de</strong> e a flexibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pensamento nos<br />

amarram e nos aproximam. Nossos hábitos não são europeus. Não estamos ocupados ou preocupados em<br />

racionalizar os mistérios do mundo dos homens.<br />

Acreditamos não precisar <strong>de</strong> um enredo norteador, mas <strong>de</strong> relatar a existência por meio <strong>de</strong><br />

explicações apenas apaziguadoras. Nosso real é, muitas vezes, mais fantástico que a fantasia. O milagre, para<br />

nós, é um acontecimento quase natural.<br />

O diálogo entre o velho mundo e a América Latina me parece semelhante ao diálogo estabelecido<br />

pelo adulto ao se propor escrever para as crianças. Ou convidamos o leitor a viajar pela fantasia ou somos<br />

também colonizadores, querendo convencê-lo, e não encantá-lo.<br />

Um mundo antigo só po<strong>de</strong> estar do lado <strong>de</strong> um mundo jovem na medida em que dialogamos por meio<br />

dos elementos que configuram o processo criador – neste caso a literatura. O mundo adulto só é possível<br />

para os jovens quando po<strong>de</strong> ser alterado, transformado,<br />

transferido para situação <strong>de</strong> seu interesse.<br />

O adulto está esgotado – como o velho mundo – mas vejo<br />

a infância aberta e sem preconceitos. O mais jovem possui a<br />

vivacida<strong>de</strong>, a força transformadora como elemento mobilizador<br />

da vida.<br />

Mas nós precisamos do velho mundo, não para<br />

chegarmos lá on<strong>de</strong> ele está. O jovem precisa do mais velho em<br />

muitas vertentes, não para simplesmente repeti-lo, mas para<br />

ultrapassá-lo, para romper. Só assim o<br />

passado é útil.<br />

Nós, da América Latina e do terceiro mundo em geral,<br />

precisamos cuidar para que não reeditemos simplesmente o<br />

primeiro mundo. O poeta brasileiro Abgar Renault pronunciou<br />

um discurso em que dizia que para a socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> hoje “um país<br />

<strong>de</strong>senvolvido é aquele capaz <strong>de</strong> matar mais e melhor”.<br />

Mas toda a obra <strong>de</strong> arte, neste caso a literatura, é<br />

contemporânea, atual, universal. Na medida em que a arte<br />

trabalha com os sentimentos que fundam o homem – a busca, a perda, o <strong>de</strong>sencanto, o medo, a esperança, o<br />

luto, o ciúme, a paixão, a fraternida<strong>de</strong> - ela é uma linguagem comum a todos os homens, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes do<br />

lugar on<strong>de</strong> vivemos e da posição <strong>de</strong>ste lugar numa classificação econômico-financeira. A arte é movida pela<br />

força <strong>de</strong> Eros, força que nos amarra, nos aproxima, nos enlaça, nos torna iguais. Não há distância entre os<br />

criadores, não há distâncias entre as literaturas.<br />

O intercâmbio entre literaturas <strong>de</strong> diferentes povos atualiza as relações entre os homens e confirma<br />

que o essencial é inerente ao homem, ainda que as formas <strong>de</strong> expressão difiram segundo suas origens. Nesse<br />

sentido, a arte aproxima os povos.<br />

Por tudo isso, vejo nas ativida<strong>de</strong>s e objetivos que norteiam o IBBY (International Board on Books for<br />

Youth) um trabalho utilíssimo e até urgente <strong>de</strong> aproximar, o mais cedo possível, as crianças da leitura. Isto<br />

nos leva a crer que po<strong>de</strong>mos almejar, para um futuro próximo, um mundo cheio <strong>de</strong> paz, <strong>de</strong>mocracia e<br />

fraternida<strong>de</strong>.<br />

Sugestão <strong>de</strong> leitura:<br />

YUNES, ELIANE (org.). Pensar a Leitura: Complexida<strong>de</strong>. Ed. PUC – Rio; São Paulo: Loyola, 2002.<br />

PAZ, OTÁVIO. O arco e a lira. Tradução <strong>de</strong> Olga Savary. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1982.<br />

CANETTI, ELIAS. A consciência das palavras. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.<br />

RAMOS, MARIA LUIZA. Interfaces. Belo horizonte: Rio <strong>de</strong> Janeiro. Ed. Nova Fronteira, 1990.<br />

SANT’ANNA, AFFONSO ROMANO DE. A sedução da palavra. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Letraviva, 2000.<br />

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UMA JANELA PARA A LITERATURA INFANTIL BRASILEIRA<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

Celso Sisto¹<br />

Não vou entrar aqui naquela discussão, infrutífera, mas tão comum,<br />

se <strong>de</strong>veria existir ou não, uma divisão entre literatura e literatura infantil ou<br />

juvenil ou qualquer outro rótulo que se queira empregar para separar os<br />

segmentos literários. Literatura infantil é aquela que visa o leitor criança, e<br />

pronto! Mas também acredito que só merece ser chamada <strong>de</strong> literatura<br />

infantil, as obras que não se <strong>de</strong>sviaram do caminho da arte, e conseguiram,<br />

aliar público leitor, forma e conteúdo, sem fazer concessão ao didático, ao<br />

utilitário e ao insuportável vício do ensinamento e do moralismo, que ainda<br />

cismam (alguns) em cobrar das obras <strong>de</strong>stinadas ao leitor infantil! Portanto,<br />

nem todo livro pra criança é literatura infantil!<br />

Consi<strong>de</strong>rando que o Brasil tem uma rica e diversificada produção<br />

editorial para crianças, também é bom prestar atenção ao quadro atual <strong>de</strong><br />

vertentes, temas e autores. No panorama contemporâneo, há linhas bem<br />

nítidas e nomes que são também sinônimos <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, criativida<strong>de</strong>, profissionalismo, pesquisa séria e<br />

garantia <strong>de</strong> uma leitura lúdica, principalmente.<br />

Vale lembrar que para atingirmos o estágio atual <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> e crescente multiplicação <strong>de</strong> leitores,<br />

alguns fatores foram (e continuam sendo) importantes: o aumento da circulação <strong>de</strong> boas obras, o surgimento<br />

<strong>de</strong> novas editoras e distribuidoras, a credibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alguns prêmios existentes no país, (responsáveis pela<br />

divulgação <strong>de</strong> obras e autores recomendáveis, especialmente os prêmios da Fundação Nacional do Livro<br />

Infantil e Juvenil e o prêmio Jabuti), a <strong>de</strong>mocratização dos programas <strong>de</strong> leituras espalhados pelo país, a<br />

preocupação com a formação do leitor como parte integrante da formação da cidadania, o aumento do<br />

número <strong>de</strong> bibliotecas no país e o incremento <strong>de</strong> pesquisas acadêmicas na área da literatura infantil. Mas<br />

ainda faltam outras tantas, bem sabemos, especialmente, ações que criem e garantam espaços permanentes<br />

para a crítica aprofundada das obras literárias infantis, nas diversas mídias, e que vá além das resenhas <strong>de</strong><br />

divulgação espalhadas pelo marketing e pelos <strong>de</strong>partamentos <strong>de</strong> divulgação das editoras.<br />

Para pensarmos o quadro atual <strong>de</strong> obras e autores, po<strong>de</strong>mos falar em basicamente seis linhas <strong>de</strong><br />

trabalho, nas quais estas obras se inserem: 1. uma linha inventiva, fantasista, que está preocupada com uma<br />

maneira nova e original <strong>de</strong> escrever histórias para as crianças, seja pela forma, seja pelo tema, mas<br />

principalmente, pela linguagem adotada. 2. uma linha que vai buscar na cultura popular os elementos para<br />

as suas obras. 3. uma linha que está preocupada em explorar a linguagem poética. 4. uma linha que está<br />

preocupada com as intertextualida<strong>de</strong>s (e que dialoga com outras obras e autores) e que aposta na<br />

<strong>de</strong>sconstrução dos clássicos, seja pela paródia, pelo humor, pela atualização dos enredos. 5. uma linha com<br />

clara preocupação social (em geral, mais realista, construída em torno <strong>de</strong> temas mais urbanos, novos<br />

mo<strong>de</strong>los familiares, crianças in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes e com vozes, crítica ao mo<strong>de</strong>lo tradicional escolar, etc.) 6. uma<br />

linha informativa (que produz biografias, livros mais <strong>de</strong> aquisição <strong>de</strong> conhecimento, feitos à altura do leitor<br />

criança, às vezes com linguagem também poética, mas sempre<br />

lúdicos). Nada disso po<strong>de</strong> ser visto <strong>de</strong> forma estanque e rígida.<br />

Essas linhas se interpenetram, se mesclam, se misturam! Note<br />

que estamos falando apenas <strong>de</strong> narrativas e <strong>de</strong> literatura<br />

infantil.<br />

Para cada uma <strong>de</strong>stas vertentes, há autores em <strong>de</strong>staque<br />

(mesmo correndo o risco <strong>de</strong> esquecer alguém...). Na vertente<br />

“inventiva”, preste atenção nas obras <strong>de</strong> Rosa Amanda Strausz,<br />

Eva Furnari, Léo Cunha, Odilon Moraes, Marcio Vassalo, Adriana<br />

Falcão. Na vertente da “cultura popular”, preste atenção em<br />

Roger Mello, Daniel Munduruku, Carolina Cunha, Reginaldo<br />

Prandi, Fernando Vilela, Fátima Miguez, André Neves. Na<br />

vertente “poética” procure conhecer a obra <strong>de</strong> Stela Maris<br />

Resen<strong>de</strong> e Graziela Bozano Hetzel. Na vertente que “retrabalha<br />

5


Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

os clássicos”, veja a produção <strong>de</strong> Paula Mastroberti. Na vertente <strong>de</strong> “cunho mais social”, preste atenção em<br />

Lia Zatz, Nilma Gonçalves Lacerda, Gabriel, o pensador. E por fim, na linha da literatura informativa, preste<br />

atenção em Lúcia Fidalgo e Kátia Canton. Esses nomes são mais do que suficientes para que possamos ter<br />

uma boa i<strong>de</strong>ia da produção contemporânea. E claro, não esgotam o que <strong>de</strong> muito bom tem-se feito nesta<br />

área.<br />

Não po<strong>de</strong>mos esquecer que a literatura infantil atual vem sinalizando algumas mudanças<br />

importantes, como o aparecimento <strong>de</strong> novos gêneros (a crônica para crianças é um belo exemplo, sobretudo<br />

nos textos <strong>de</strong> Gilberto Dimenstein e Fernando Bonassi); o espaço cada vez maior para a<br />

poesia <strong>de</strong>stinada ao leitor criança; a exploração, cada vez maior, nas obras, dos novos papéis sociais, novas<br />

famílias e novos temas urbanos. Por outro lado, há também a permanência <strong>de</strong> elementos fundamentais,<br />

como o lugar garantido para o humor, a manutenção <strong>de</strong> uma escrita baseada na oralida<strong>de</strong>, a exploração das<br />

intertextualida<strong>de</strong>s. A gran<strong>de</strong> novida<strong>de</strong> do mercado editorial tem sido a busca frenética das editoras por<br />

textos que contemplem o pequeno leitor.<br />

Mas ainda que esse panorama provoque um gran<strong>de</strong> alento e um enorme estímulo, ainda somos todos<br />

tributários dos “mo<strong>de</strong>los” instaurados lá nos anos 70 e 80 por Ruth Rocha, Ana Maria Machado, Sylvia<br />

Orthof, Lygia Bojunga, Ziraldo, Angela Lago, Ricardo Azevedo, Elias José, Rogério Andra<strong>de</strong> Barbosa, Joel<br />

Rufino dos Santos, Tatiana Belinky, Marcelo Xavier, Marina Colasanti, Bartolomeu Campos <strong>de</strong> Queirós, Pedro<br />

Ban<strong>de</strong>ira – que <strong>de</strong> algum modo são ainda os responsáveis pela “gran<strong>de</strong> virada” na literatura infantil<br />

brasileira.<br />

E para finalizarmos esse panorama, vale a pena lembrar que a literatura infantil continua tendo que<br />

lidar com problemas como: a divisão por faixa etária nos catálogos das editoras, o difícil acesso às obras das<br />

editoras <strong>de</strong> médio e pequeno porte; a pouca abertura para a publicação dos novíssimos autores e<br />

ilustradores, a falta <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong> da leitura além do âmbito escolar, a dificulda<strong>de</strong> em se afastar,<br />

principalmente, do utilitarismo e do “pedagogismo”, o excesso <strong>de</strong> traduções <strong>de</strong>rramadas no mercado<br />

editorial por conta do “barateamento” da produção, a falta <strong>de</strong> espaço na mídia para a crítica literária, o<br />

preconceito em relação ao livro <strong>de</strong> imagem ou livro sem texto, e a quase<br />

inexistência <strong>de</strong> publicações <strong>de</strong> literatura dramática. Problemas que merecem toda<br />

a nossa atenção (e a <strong>de</strong> quem possa ajudar a pensar em saídas e soluções!).<br />

E num último <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> partilha, fica aqui a indicação <strong>de</strong> obras<br />

imperdíveis, para quem quer começar a se aventurar nos caminhos mo<strong>de</strong>rnos<br />

<strong>de</strong>ssa literatura infantil brasileira: Uma i<strong>de</strong>ia toda azul, Doze reis e a moça no<br />

labirinto do vento (<strong>de</strong> Marina Colasanti); Tchau, O meu amigo pintor, A casa da<br />

madrinha (<strong>de</strong> Lygia Bojunga); Menina bonita do laço <strong>de</strong> fita, <strong>História</strong> meio ao<br />

contrário, Bisa Bia, Bisa Bel, De olho nas penas (<strong>de</strong> Ana Maria Machado);<br />

Tampinha, Sua alteza, a Divinha, De morte (<strong>de</strong> Angela Lago); Classificados<br />

poéticos, Jardins, Receitas <strong>de</strong> olhar, Retratos (<strong>de</strong> Roseana Murray); Meninos do<br />

mangue (<strong>de</strong> Roger Mello); Marcelo, marmelo, martelo, Historinhas malcriadas (<strong>de</strong><br />

Ruth Rocha); O coração <strong>de</strong> Corali (<strong>de</strong> Eliane Ganem); Os bichos que tive, A viagem<br />

<strong>de</strong> um barquinho, Galo, galo não me calo, Chora não! (<strong>de</strong> Sylvia Orthof); O menino<br />

maluquinho, O menino quadradinho, A professora maluquinha, Vitor Grandam (<strong>de</strong><br />

Ziraldo); Tigres no quintal (<strong>de</strong> Sérgio Capparelli); Ciganos, Mário, Pedro, In<strong>de</strong>z,<br />

Correspondência (<strong>de</strong> Bartolomeu Campos <strong>de</strong> Queirós); Vera Mentirosa, O último<br />

dia <strong>de</strong> brincar (<strong>de</strong> Stela Maris Rezen<strong>de</strong>); Feito à mão (<strong>de</strong> Nilma Gonçalves<br />

Lacerda). Depois da leitura <strong>de</strong>ssas obras, ninguém será o mesmo!<br />

Celso Sisto é escritor, ilustrador, contador <strong>de</strong> histórias do grupo Morandubetá (RJ), ator, arte-educador, especialista em literatura infantil e juvenil,<br />

pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro (UFRJ), Mestre em Literatura Brasileira pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Catarina (UFSC), Doutorando<br />

em Teoria da Literatura pela Pontifícia Universida<strong>de</strong> Católica do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul (PUC-RS) e responsável pela formação <strong>de</strong> inúmeros grupos <strong>de</strong><br />

contadores <strong>de</strong> histórias espalhados pelo país. Tem 36 livros publicados para crianças e jovens e recebeu os prêmios <strong>de</strong> autor revelação do ano <strong>de</strong><br />

1994 (com o livro Ver-<strong>de</strong>-ver-meu-pai, Editora Nova Fronteira) e ilustrador revelação do ano <strong>de</strong> 1999 (com o livro Francisco Gabiroba Tabajara Tupã,<br />

da editora EDC); ambos concedidos pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ). Vários dos seus livros também receberam o selo<br />

Altamente Recomendável, <strong>de</strong>sta mesma Fundação.<br />

Disponível em: http://www.celsosisto.com<br />

6


Ana Maria Machado<br />

Ana por ela mesma – Por que escrevo?¹<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

Por que escrevo? Porque a linguagem me fascina, me encanta, me intriga.<br />

Porque <strong>de</strong>s<strong>de</strong> criança sempre adorei navegar nos mares das histórias – ouvindo,<br />

lendo, inventando. Porque a leitura é para mim um <strong>de</strong>slumbramento e a escrita é o<br />

outro lado das moedas <strong>de</strong>sse tesouro.<br />

Por nenhuma <strong>de</strong>ssas razões apenas, e por todas elas. E muito mais. Sempre<br />

gostei <strong>de</strong> gente, bicho e planta – e um dia percebi que linguagem, histórias e i<strong>de</strong>ias<br />

são a marca do humano. E, já que eu não sou capaz <strong>de</strong> fazer como as árvores e<br />

transformar gás carbônico em oxigênio, <strong>de</strong>via tentar alguma coisa que eu pu<strong>de</strong>sse<br />

fazer, para que veneno virasse fonte <strong>de</strong> vida.<br />

Des<strong>de</strong> menina, sabia que era sensível, me emocionava facilmente, reparava<br />

em coisas miúdas que passavam <strong>de</strong>spercebidas para muita gente. Chorava à toa, era<br />

uma manteiga <strong>de</strong>rretida. Uma menina que usava palavras esquisitas. Alguns colegas<br />

riam <strong>de</strong> mim por causa disso e não me <strong>de</strong>ixavam esquecer minha diferença. Uma das<br />

minhas irmãs tinha sempre o cuidado <strong>de</strong> me corrigir quando eu contava um caso –<br />

Aos 5 anos, em 1947<br />

“Não foi bem assim, a Ana já está exagerando <strong>de</strong> novo...” Alguns professores e amigos<br />

dos meus pais também apontavam outras coisas – “A Ana tem cada i<strong>de</strong>ia!” – e diziam que eu era muito<br />

racional.<br />

Meu avô era professor <strong>de</strong> física e vivia elogiando meu espírito científico, gabava minha objetivida<strong>de</strong>,<br />

minha memória para os <strong>de</strong>talhes, minha fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> a um fato observado. Em suma, eu era uma contradição<br />

ambulante. O que me <strong>de</strong>ixava sempre com a sensação <strong>de</strong> ser meio marginal em tudo.<br />

Na hora <strong>de</strong> escolher profissão, nem pensei que escrever podia entrar nesta categoria. Fiz teste<br />

vocacional, <strong>de</strong>scobri que <strong>de</strong>via escolher entre ser artista ou cientista. Pensei em estudar agronomia (para<br />

lidar com planta e bicho) ou química (em que eu tinha ótimas notas) ou arquitetura (porque ficava no meio<br />

do caminho entre a ciência e a arte). Acabei escolhendo geografia, um vestibular sem matemática nem latim.<br />

Sonhava com geografia humana, não aguentei um ano estudando rochas e me rendi. No ano seguinte, fiz<br />

outro vestibular. Desta vez para letras, ia ser professora. Mas não pensava em escrever. E como já estava<br />

começando no jornalismo, pu<strong>de</strong> concentrar no texto <strong>de</strong> jornal meu gosto pela escrita, minha capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

observação, minha fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> aos fatos. Meu lado cientista objetivo, enfim.<br />

Artista, sim, eu sabia que era, e não tinha jeito. Mas não achava que isso fosse profissão. Era minha<br />

porção <strong>de</strong>lirante à procura <strong>de</strong> um canal <strong>de</strong> escoamento. Estu<strong>de</strong>i piano muitos anos. Fiz parte <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong><br />

teatro experimental. Fui pintora com paixão (até hoje pinto e adoro), fiz exposições on<strong>de</strong> estranhos<br />

compraram meus quadros, fui elogiada pela crítica, comecei a entrar no circuito profissional.<br />

Mas um dia, pelo fim dos anos 1960, fui percebendo que os títulos <strong>de</strong> muitos quadros e as entrevistas<br />

<strong>de</strong> certos pintores estavam tendo mais importância que a pintura em si.<br />

Pensei: “Se é para usar palavras, por que não escrever logo, em vez <strong>de</strong> ficar<br />

tentando explicar o quadro?” Desse modo, entendi que minha arte era<br />

outra – verbal mesmo. Encontrei as palavras. Ou elas me encontraram.<br />

Escrevendo, juntei todos os meus lados e porções, colei meus cacos<br />

internos, <strong>de</strong>i uma certa or<strong>de</strong>m ao caos interior. Fui me apaixonando pelas<br />

possibilida<strong>de</strong>s infinitas que a escrita literária me abria, pela intensa<br />

liberda<strong>de</strong> que me trazia. Um dia, segui o conselho<br />

<strong>de</strong> Ernest Hemingway, quando disse que o jornalismo nunca fez mal algum<br />

a um escritor... <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que largado a tempo. Demorei um pouco, talvez, mas,<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 17 anos em redações, me <strong>de</strong>spedi <strong>de</strong>las.<br />

Também escrevo por causa <strong>de</strong> outros fatores. Um <strong>de</strong>les é muito<br />

importante: minhas circunstâncias. Se eu tivesse nascido numa família<br />

analfabeta e sem contato com livros, ou em uma das tantas regiões<br />

paupérrimas do Brasil, ou em uma geração anterior, dificilmente po<strong>de</strong>ria<br />

Pintando nos idos da década <strong>de</strong> 70<br />

7


Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

ser escritora profissional viver disso. Ainda mais sendo mulher. Minhas avós, por exemplo, não tiveram<br />

diante <strong>de</strong> si essa escolha. Minha avó materna nasceu na roça, nunca foi à escola, só foi ler e escrever <strong>de</strong>pois<br />

que casou. Minha avó paterna, que estudou no Colégio Sion, falava francês correntemente e era apaixonada<br />

por literatura, bem que tentou escrever, mesmo com sete filhos pra criar. Foi uma pioneira corajosa –<br />

mantinha uma coluna regular num jornal <strong>de</strong> Petrópolis. Mas assinava com pseudônimo, porque moça <strong>de</strong><br />

família não faz essas coisas. E, evi<strong>de</strong>ntemente, escrevia <strong>de</strong> graça – porque o atraso sempre acha que trabalho<br />

intelectual não precisa ser remunerado, já basta a honra <strong>de</strong> ser prestigiado.<br />

Nesse ponto, eu <strong>de</strong>i muita sorte. Por isso, pu<strong>de</strong> escrever – e este é um<br />

porquê importantíssimo. Descobri que era escritora <strong>de</strong>pois que uma geração <strong>de</strong><br />

mulheres (a quem rendo homenagem e gratidão) já tinha aberto as primeiras<br />

portas da imprensa e da literatura. E num momento em que o mercado editorial<br />

brasileiro começava a se ampliar. Foi graças a ele que eu pu<strong>de</strong> existir como autora.<br />

Em 1969, a Editora Abril lançou a revista infantil Recreio. Fui convidada a<br />

colaborar. Em pouco tempo, chegavam a ven<strong>de</strong>r 250 mil exemplares semanais,<br />

quando as histórias eram assinadas por mim ou por Ruth Rocha. Com esse<br />

sucesso, cada vez mais pediam textos nossos. Em início <strong>de</strong> 1970, eu partira para o<br />

exílio e, lá longe, inventava histórias para meu filho. Depois as mandava pra<br />

Recreio. A acolhida dos leitores era a minha garantia.<br />

Escrevo hoje porque eles me profissionalizaram, me permitiram escrever –<br />

mesmo obras aparentemente áridas, como meu primeiro livro, Recado do nome,<br />

um ensaio sobre Guimarães Rosa. Depois fui começando a publicar contos e novelas infantis em livros. Só<br />

pu<strong>de</strong> continuar escrevendo porque os leitores me leram, os críticos me premiaram, os editores me <strong>de</strong>ram<br />

espaço. A eles também <strong>de</strong>vo gratidão e reconhecimento. Sem essa preciosa ajuda, não dava para continuar.<br />

Em 1983, ousei publicar meu primeiro romance, Alice e Ulisses, guardado na gaveta havia cinco anos.<br />

Des<strong>de</strong> então venho alternando obras para crianças, jovens e adultos – leitores <strong>de</strong> qualquer ida<strong>de</strong>, sem os<br />

quais o livro não existe. Escrevo porque eles me leem. E me aflige muito pensar na quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escritores<br />

que não conseguem chegar aos leitores, no número <strong>de</strong> livros que não furem o bloqueio e ficam encalhados,<br />

sem serem lidos, mortos... Por isso, também, sou uma militante da leitura. Fui livreira, editora, vivo fazendo<br />

palestra e dando curso <strong>de</strong> promoção da leitura por este Brasil afora. Também é por isso que escrevo: porque<br />

amo os livros, <strong>de</strong>vo tanto a eles, quero colaborar na expansão <strong>de</strong>sse<br />

universo.<br />

Já disse isso antes, mas não me incomodo <strong>de</strong> repetir:<br />

À medida que o tempo passa e vou amadurecendo e entendo melhor<br />

todo esse processo, constato que escrever, para mim, se liga a dois impulsos.<br />

O primeiro é uma tentativa <strong>de</strong> fixar uma experiência passageira e, assim,<br />

viver a vida com mais intensida<strong>de</strong>, apreen<strong>de</strong>r nela aspectos que me<br />

passavam <strong>de</strong>spercebidos, compreen<strong>de</strong>r seu sentido. O outro é a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

compartilhar, <strong>de</strong> oferecer aos outros essa visão e essa compreensão, para<br />

que <strong>de</strong> alguma forma isso fique, para que minha passagem pelo mundo –<br />

ainda efêmera – não seja inútil. Na trajetória da escrita à leitura, a palavra se<br />

multiplica e se reproduz, fecundante <strong>de</strong> criação compartilhada. ²<br />

Por que escrevo? Simplesmente porque é da minha natureza, é isso<br />

que sei fazer direito. Se fosse árvore, dava oxigênio, fruto, sombra para todo<br />

mundo. Mas só consigo mesmo é fazer brotar palavra, história e i<strong>de</strong>ia, para<br />

dividir com todos.<br />

Junto da estátua <strong>de</strong> Hans Christian<br />

An<strong>de</strong>rsen, em Nova Iorque.<br />

¹ Depoimento para a série “Encontro com o Escritor”, do Instituto Moreira Salles, junho <strong>de</strong> 2000.<br />

² Esta força estranha, Editora Atual, 1996.<br />

MACHADO, ANA MARIA. Texturas sobre leituras e escritos,<br />

Editora Nova Fronteira.<br />

Imagens: http://www.anamariamachado.com<br />

8


<strong>História</strong> <strong>de</strong> Ana<br />

Na vida da<br />

escritora Ana Maria<br />

Machado, os números<br />

são sempre generosos.<br />

São 40 anos <strong>de</strong> carreira,<br />

mais <strong>de</strong> 100 livros<br />

publicados no Brasil e<br />

em mais <strong>de</strong> 18 países<br />

somando mais <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>zoito milhões <strong>de</strong><br />

exemplares vendidos.<br />

Os prêmios conquistados ao longo da carreira <strong>de</strong> escritora<br />

também são muitos, tantos que ela já per<strong>de</strong>u a conta. Tudo<br />

impressiona na vida <strong>de</strong>ssa carioca nascida em Santa Tereza,<br />

em pleno dia 24 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro.<br />

Vivendo atualmente no Rio <strong>de</strong> Janeiro, Ana começou<br />

a carreira como pintora. Estudou no Museu <strong>de</strong> Arte Mo<strong>de</strong>rna<br />

e fez exposições individuais e coletivas, enquanto fazia<br />

faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Letras na Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral (<strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sistir do curso <strong>de</strong> Geografia). O objetivo era ser pintora<br />

mesmo, mas <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> doze anos às voltas com tintas e telas,<br />

resolveu que era hora <strong>de</strong> parar. Optou por privilegiar as<br />

palavras, apesar <strong>de</strong> continuar pintando até hoje.<br />

Afastada profissionalmente da pintura, Ana <strong>passo</strong>u a<br />

trabalhar como professora em colégios e faculda<strong>de</strong>s, escreveu<br />

artigos para revistas e traduziu textos. Já tinha começado a<br />

ditadura, e ela resistia participando<br />

<strong>de</strong> reuniões e manifestações. No<br />

final do ano <strong>de</strong> 1969, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ser<br />

presa e ter diversos amigos também<br />

<strong>de</strong>tidos, Ana <strong>de</strong>ixou o Brasil e partiu<br />

para o exílio. A situação política se<br />

mostrou insustentável.<br />

Na bagagem para a Europa, levava<br />

cópias <strong>de</strong> algumas histórias infantis<br />

que estava escrevendo, a convite da<br />

revista Recreio. Lutando para<br />

sobreviver com seu filho Rodrigo<br />

ainda pequeno, trabalhou como<br />

jornalista na revista Elle em Paris e<br />

na BBC <strong>de</strong> Londres, além <strong>de</strong> se<br />

tornar professora na Sorbonne.<br />

Nesse período, ela consegue<br />

participar <strong>de</strong> um seleto grupo <strong>de</strong><br />

estudantes cujo mestre era Roland<br />

Barthes, e termina sua tese <strong>de</strong><br />

doutorado em Linguística e Semiologia sob a sua orientação.<br />

A tese resultou no livro "Recado do Nome", que trata da obra<br />

<strong>de</strong> Guimarães Rosa. Mesmo ocupada, Ana não parou <strong>de</strong><br />

escrever as histórias infantis que vendia para a Editora Abril.<br />

A Aca<strong>de</strong>mia Brasileira <strong>de</strong> Letras elegeu, por<br />

unanimida<strong>de</strong>, no dia 8 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro a Diretoria que ficará<br />

à frente da instituição no próximo ano. A Acadêmica Ana<br />

Maria Machado será a Presi<strong>de</strong>nte. Ela substituirá o<br />

Acadêmico Marcos Vinicios Vilaça, que dirigiu a ABL nos<br />

biênios 2006/07 e 2010/11.<br />

Segunda mulher eleita Presi<strong>de</strong>nte da ABL –<br />

antes foi a Acadêmica Nélida Piñon, em 1997, ano do<br />

centenário da Aca<strong>de</strong>mia – a escritora Ana Maria Machado,<br />

assim que foi confirmada sua vitória, afirmou: “Daremos<br />

continuida<strong>de</strong> à linha <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s voltadas para a<br />

promoção dos melhores valores da cultura nacional e da<br />

língua portuguesa. A dinâmica da Casa será a mesma<br />

iniciada pelas gestões anteriores. In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente<br />

disso, dirigiremos nossa ênfase para duas celebrações em<br />

particular: o centenário <strong>de</strong> morte do Barão do Rio Branco,<br />

e a celebração do centenário <strong>de</strong> nascimento <strong>de</strong> Jorge<br />

Amado".<br />

http://www.aca<strong>de</strong>mia.org.br<br />

8/12/2011<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

A volta ao Brasil veio no final <strong>de</strong> 1972, quando<br />

começou a trabalhar no Jornal do Brasil e na Rádio JB - ela foi<br />

chefe do setor <strong>de</strong> Radiojornalismo <strong>de</strong>ssa rádio durante sete<br />

anos. Em 76, as histórias antes publicadas em revistas<br />

passaram a sair em livros. E Ana ganhou o prêmio João <strong>de</strong><br />

Barro por ter escrito o livro "<strong>História</strong> Meio ao Contrário", em<br />

1977. O sucesso foi imenso, gerando muitos livros e prêmios<br />

em seguida. Dois anos <strong>de</strong>pois, ela abriu a Livraria Malasartes<br />

“Era uma vez uma menina linda, linda. Os olhos <strong>de</strong>la<br />

pareciam duas azeitonas pretas, daquelas bem brilhantes.<br />

Os cabelos eram enroladinhos e bem negros, feito<br />

fiapos da noite. A pele era escura e lustrosa, que nem o pelo<br />

da pantera negra quando pula na chuva.<br />

Ainda por cima, a mãe gostava <strong>de</strong> fazer trancinhas no<br />

cabelo <strong>de</strong>la e enfeitar com laço <strong>de</strong> fita colorida. Ela ficava<br />

parecendo uma princesa das terras da África, ou uma fada<br />

do reino do luar.”<br />

Menina bonita do laço <strong>de</strong> fita<br />

com a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> ser um espaço para as crianças po<strong>de</strong>rem ler e<br />

encontrar bons livros.<br />

O jornalismo foi abandonado no ano <strong>de</strong> 1980, para<br />

que a partir <strong>de</strong> então Ana pu<strong>de</strong>sse se <strong>de</strong>dicar ao que mais<br />

gosta: escrever seus livros, tantos os<br />

voltados para adultos como os infantis.<br />

E assim foi feito, e com tamanho<br />

sucesso que em 1993 ela se tornou<br />

hors-concours dos prêmios da<br />

Fundação Nacional do Livro Infantil e<br />

Juvenil (FNLIJ). Finalmente, a<br />

coroação. Em 2000, Ana ganhou o<br />

prêmio Hans Christian An<strong>de</strong>rsen,<br />

consi<strong>de</strong>rado o prêmio Nobel da<br />

literatura infantil mundial. E em 2001,<br />

a Aca<strong>de</strong>mia Brasileira <strong>de</strong> Letras lhe<br />

<strong>de</strong>u o maior prêmio literário nacional,<br />

o Machado <strong>de</strong> Assis, pelo conjunto da<br />

obra.<br />

Em 2003, Ana Maria foi eleita<br />

para ocupar a ca<strong>de</strong>ira número 1 da<br />

Aca<strong>de</strong>mia Brasileira <strong>de</strong> Letras,<br />

substituindo o Dr. Evandro Lins e<br />

Silva. Pela primeira vez, um autor com<br />

uma obra significativa para o público<br />

infantil havia sido escolhido para a Aca<strong>de</strong>mia. A posse<br />

aconteceu no dia 29 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2003, quando Ana foi<br />

recebida pelo acadêmico Tarcísio Padilha e fez uma linda e<br />

afetuosa homenagem ao seu antecessor.<br />

Disponível em: www.anamariamachado.com<br />

9


<strong>História</strong>s <strong>de</strong> Ana<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

O menino que espiava pra <strong>de</strong>ntro<br />

ENSAIO<br />

Recado do Nome. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Imago, 1976. 2ª ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 2003.<br />

Esta Força Estranha. São Paulo: Atual, 1996.<br />

Contracorrente. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ática, 1997. Em espanhol: Buenas palabras, malas palabras.<br />

Argentina: Ed. Sudamericana, 1998.<br />

Texturas. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 2001.<br />

Como e Por que Ler os Clássicos Universais <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Cedo. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Objetiva, 2002. Também<br />

traduzido em espanhol, Bogotá: Editorial Norma, 2004.<br />

Ilhas no Tempo. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 2004.<br />

(Em espanhol, alguns dos ensaios fazem parte <strong>de</strong> Lectura, escuela y creación literária. Madrid: Anaya,<br />

2002; e <strong>de</strong> Literatura infantil: creación, Censura y resistência. Buenos Aires: Ed. Sudamericana,<br />

2003.)<br />

Romântico, sedutor e anarquista: como e por que ler Jorge Amado hoje, 2006.<br />

Balaio: Livros e Leituras. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 2007.<br />

ROMANCE<br />

Alice e Ulisses. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 1983.<br />

Tropical Sol da Liberda<strong>de</strong>. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 1988.<br />

Canteiros <strong>de</strong> Saturno. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Francisco Alves, 1991. 2.ª ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira,<br />

1998.<br />

Aos Quatro Ventos. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 1993.<br />

O Mar nunca Transborda. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 1995. Em espanhol, El Mar no se Desborda.<br />

Bogotá: Editorial Norma, 2003.<br />

A Audácia Desta Mulher. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 1999.<br />

Para Sempre. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Record, 2001.<br />

Palavra <strong>de</strong> Honra. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 2005.<br />

LITERATURA INFANTO-JUVENIL<br />

Bento-que-bento-é-o-fra<strong>de</strong>. São Paulo: Abril 1977. Hoje Salamandra. Também publicado em espanhol<br />

e em Portugal.<br />

Camilão, o Comilão. São Paulo: Abril, 1977. Hoje Salamandra. Também publicado em espanhol.<br />

Currupaco Papaco. São Paulo: Abril 1977. Hoje Salamandra. Também publicado em espanhol.<br />

Severino Faz Chover. Reunião <strong>de</strong> quatro contos, reeditados em separado a partir <strong>de</strong> 1993, na Coleção<br />

Batutinha. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Salamandra.<br />

<strong>História</strong> Meio ao Contrário. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ática, 1979. Também publicado em espanhol, sueco e<br />

dinamarquês.<br />

O Menino Pedro e Seu Boi Voador. São Paulo: Paz e Terra, 1979. Hoje Ática. Também publicado em<br />

espanhol.<br />

Raul da Ferrugem Azul. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Salamandra, 1979. Também publicado em espanhol.<br />

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Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

A Gran<strong>de</strong> Aventura da Maria Fumaça. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Rocco, 1980. Hoje Salamandra.<br />

Balas, Bombons, Caramelos. São Paulo: Paz e Terra, 1980. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Mo<strong>de</strong>rna, 1998.<br />

O Elefantinho Malcriado. São Paulo: Paz e Terra, 1980. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Mo<strong>de</strong>rna, 1998.<br />

Bem do Seu Tamanho. Rio <strong>de</strong> Janeiro: EBAL, 1980. Hoje<br />

Salamandra. Também publicado em espanhol e em francês.<br />

Do Outro Lado Tem Segredos. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Paz e Terra,<br />

1980. Hoje Nova Fronteira. Também publicado em espanhol.<br />

Era uma Vez, Três. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Berlendis, 1980.<br />

O Gato do Mato e o Cachorro do Morro. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ática,<br />

1980. Também publicado em espanhol.<br />

O Natal <strong>de</strong> Manuel. São Paulo: Paz e Terra, 1980. Hoje Nova<br />

Fronteira.<br />

Série Conte Outra Vez (O Domador <strong>de</strong> Monstros; Uma Boa<br />

Cantoria; Ah, Cambaxirra, Se Eu Pu<strong>de</strong>sse...; O Barbeiro e o<br />

Coronel; Pimenta no cocuruto). Rio <strong>de</strong> Janeiro: Salamandra,<br />

1980-81. Hoje FTD. Também publicados em espanhol.<br />

De Olho nas Penas. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Salamandra, 1981.<br />

Também publicado em espanhol, sueco, dinamarquês,<br />

norueguês.<br />

Palavras, Palavrinhas, Palavrões. São Paulo: Co<strong>de</strong>cri, 1981. Hoje Quinteto. Também publicado em<br />

espanhol.<br />

<strong>História</strong> <strong>de</strong> Jabuti Sabido com Macaco Metido. São Paulo: Co<strong>de</strong>cri 1981. Hoje Nova Fronteira.<br />

Bisa Bia, Bisa Bel. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Salamandra, 1982. Também publicado em espanhol, inglês, sueco e<br />

alemão.<br />

Era uma Vez um Tirano. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Salamandra, 1982. Também publicado em espanhol e<br />

alemão.<br />

O Elfo e a Sereia. São Paulo: Melhoramentos, 1982. Hoje Ediouro. Também publicado em Portugal.<br />

Um Avião, uma Viola. São Paulo: Melhoramentos, 1982. Hoje Formato. Também publicado em<br />

francês.<br />

Hoje Tem Espetáculo. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 1983.<br />

Série Mico Maneco (Cabe na Mala; Mico Maneco; Tatu Bobo; Menino Poti; Uma Gota <strong>de</strong> Mágica; Pena<br />

<strong>de</strong> Pato e <strong>de</strong> Tico-tico; Fome Danada; Boladas e Amigos; O Tesouro da Raposa; O Barraco do<br />

Carrapato: O Rato Roeu a Roupa: Uma Arara e Sete Papagaios; A Zabumba do Quati; Banho sem<br />

Chuva; O Palhaço Espalhafato; No Imenso Mar Azul; Um<br />

Dragão no Piquenique; Troca-troca; Surpresa na Sombra;<br />

Com Prazer e Alegria). São Paulo: Melhoramentos, 1983-88.<br />

Hoje, Salamandra.<br />

Passarinho Me Contou. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira,<br />

1983. Também publicado em espanhol.<br />

Praga <strong>de</strong> Unicórnio. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 1983.<br />

Também publicado em espanhol.<br />

Alguns Medos e Seus Segredos. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova<br />

Fronteira, 1984.<br />

Gente, Bicho, Planta: o Mundo Me Encanta. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

Nova Fronteira, 1984. Também publicado em espanhol.<br />

Mandingas da Ilha Quilomba (O Mistério da Ilha). Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro: Nova Fronteira, 1984. Hoje Ática. Também publicado em espanhol.<br />

O Menino Que Espiava pra Dentro. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 1984.<br />

A Jararaca, a Perereca e a Tiririca. São Paulo: Cultrix, 1985. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 1998.<br />

Também publicado em espanhol.<br />

O Pavão do Abre-e-Fecha. São Paulo: Cultrix, 1985. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ática, 1998. Também publicado<br />

em espanhol e em Portugal.<br />

<strong>Quem</strong> Per<strong>de</strong> Ganha. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 1985.<br />

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Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

A Velhinha Maluquete. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Livro Técnico, 1986. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Mo<strong>de</strong>rna, 1988. Também<br />

publicado em espanhol.<br />

Menina Bonita do Laço <strong>de</strong> Fita. São Paulo: Melhoramentos 1986. São Paulo: Ática, 1998. Também<br />

publicado em espanhol, inglês, francês, sueco, dinamarquês e japonês.<br />

O Canto da Praça. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Salamandra, 1986. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ática, 2002. Também publicado<br />

em espanhol.<br />

Peleja. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Berlendis, 1986.<br />

Série Filhote (Lugar Nenhum; Brinca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Sombra; Eu Era um Dragão; Maré Alta, Maré Baixa). São<br />

Paulo: Globo, 1987. São Paulo: Global, 2001 (os três últimos). Rio <strong>de</strong> Janeiro: Salamandra, 2002 (novo<br />

título: Dia <strong>de</strong> Chuva).<br />

Coleção Barquinho <strong>de</strong> Papel (A Galinha Que Criava um Ratinho; Besouro e Prata; A Arara e o<br />

Guaraná; Avental Que o Vento Leva; Ai, <strong>Quem</strong> Me Dera...; Maria Sapeba; Um Dia Desses). Os 4<br />

primeiros na Globo, 1987. De 1994 a 1996, todos na Ática.<br />

Uma Vonta<strong>de</strong> Louca. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 1990. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ática, 1998. Também<br />

publicado em espanhol.<br />

Mistérios do Mar Oceano. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 1992.<br />

Na Praia e no Luar, Tartaruga Quer o Mar. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ática, 1992. Também publicado em inglês.<br />

Vira-vira. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Quinteto, 1992. Hoje O Jogo do Vira-vira. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Formato. Também<br />

publicado em espanhol.<br />

Série Adivinhe Só (O Que É?; Manos Malucos I e II; Piadinhas Infames). São Paulo: Melhoramentos,<br />

1993. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Salamandra, 2000.<br />

Dedo Mindinho. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Livro Técnico, 1993. Hoje Rio <strong>de</strong> Janeiro: Mo<strong>de</strong>rna.<br />

Um Natal Que não Termina. Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro: Salamandra, 1993.<br />

Um Herói Fanfarrão e Sua Mãe Bem<br />

Valente. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ática, 1994.<br />

O Gato Massamê e Aquilo Que Ele Vê.<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ática, 1994.<br />

Exploration into Latin America.<br />

London: Belitha Press, 1994.<br />

Também publicado em espanhol,<br />

sueco, dinamarquês, norueguês,<br />

francês.<br />

Isso Ninguém Me Tira. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

Ática, 1994. Também publicado em<br />

espanhol.<br />

O Touro da Língua <strong>de</strong> Ouro. Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro: Ática, 1995.<br />

Uma Noite sem Igual. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ediouro, 1995. Também publicado em espanhol.<br />

Gente como a Gente. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ediouro, 1996. Também publicado em espanhol.<br />

Beijos Mágicos. Rio <strong>de</strong> Janeiro: FTD, 1996. Também publicado em espanhol.<br />

Os Dois Gêmeos. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ática, 1996.<br />

De Fora da Arca. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Salamandra, 1996. Hoje Ática. Também publicado em espanhol.<br />

Série Lê pra Mim (Cachinhos <strong>de</strong> Ouro; Dona Baratinha; A Festa no Céu; Os Três Porquinhos; O Veado<br />

e a Onça; João Bobo). Rio <strong>de</strong> Janeiro: FTD, 1996-1997.<br />

Amigos Secretos. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ática, 1997. Também publicado em espanhol.<br />

Tudo ao Mesmo Tempo Agora. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ática, 1997. Também publicado em espanhol.<br />

Ponto a Ponto. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Berlendis, 1998.<br />

Os Anjos Pintores. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Berlendis, 1998.<br />

O Segredo da Oncinha. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Mo<strong>de</strong>rna, 1998.<br />

Melusina, a Dama dos Mil Prodígios. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ática, 1998.<br />

Amigo é Comigo. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Mo<strong>de</strong>rna, 1999.<br />

Fiz Voar o Meu Chapéu. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Formato, 1999.<br />

12


Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

Mas Que Festa!. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 1999. Também publicado em espanhol e francês.<br />

A Maravilhosa Ponte do Meu Irmão. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 2000.<br />

O Menino Que Virou Escritor. Rio <strong>de</strong> Janeiro: José Olympio, 2001.<br />

Do Outro Mundo. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ática, 2002. Também publicado em espanhol e inglês.<br />

De Carta em Carta. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Salamandra, 2002. Também publicado em espanhol.<br />

<strong>História</strong>s à Brasileira. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2002. Também publicado em espanhol.<br />

Portinholas. São Paulo: Mercuryo, 2003.<br />

Abrindo Caminho. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ática, 2003.<br />

Palmas para João Cristiano. São Paulo: Mercuryo, 2004.<br />

O Cavaleiro dos Sonhos. São Paulo: Mercuryo, 2005.<br />

Procura-se Lobo. São Paulo, Ática, 2005.<br />

Coleção Gato Escondido (On<strong>de</strong> Está Meu Travesseiro?, Que Lambança!, Vamos Brincar <strong>de</strong> Escola?, e<br />

Delícias e Gostosuras). São Paulo: Salamandra, 2004-2006. Também publicados em espanhol.<br />

O Menino e o Maestro. São Paulo: Mercuryo, 2006.<br />

A Princesa que Escolhia. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 2006. Publicado em espanhol.<br />

Mensagem Para Você. São Paulo: Ática, 2007. Publicado em espanhol.<br />

<strong>História</strong>s à Brasileira 3 - Pavão Misterioso e outras.. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2008.<br />

A Minhoca da Sorte. São Paulo: Mo<strong>de</strong>rna, 2008.<br />

Não se Mata na Mata: Lembranças <strong>de</strong> Rondon. São Paulo: Mercuryo Jovem, 2008.<br />

Série 7 Mares (Odisseu e a Vingança do Deus do Mar; O Pescador e a Mãe D’Água; Simbad, o Marujo;<br />

O velho do Mar; Pescador <strong>de</strong> Naufrágios) São Paulo: Mo<strong>de</strong>rna, 2008-2010.<br />

ABC do Brasil. São Paulo: SM, 2009.<br />

Sinais do Mar. São Paulo: Cosac & Naify, 2009.<br />

Um pra lá, outro pra cá. São Paulo: Mo<strong>de</strong>rna, 2009.<br />

<strong>História</strong>s à Brasileira 4 – A Donzela Guerreira e outras. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2010.<br />

Curvo ou Reto – Olhar Secreto. São Paulo: Global, 2010.<br />

O urso, a gansa e o leão. São Paulo: FTD, 2011.<br />

ORGANIZAÇÃO DE ANTOLOGIAS<br />

O Tesouro das Virtu<strong>de</strong>s para Crianças. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, vols. I e II em 1999 e 2000; vol.<br />

III em 2002.<br />

O Tesouro das Cantigas para Crianças. Vol. I em 2001; vol. II em 2002.<br />

POESIA<br />

Sinais do Mar. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Cosac & Naify, 2009.<br />

Participações em Obras Coletivas<br />

Hoje é Dia <strong>de</strong> Festa. São Paulo: Cia. das Letras, 2006.<br />

Amor em Texto, Amor em Contexto. São Paulo: Papirus, 2009.<br />

Disponível em: www.aca<strong>de</strong>mia.org.br<br />

O urso, a gansa e o leão<br />

13


Bartolomeu Campos <strong>de</strong> Queirós<br />

Bartolomeu por ele mesmo (1944–2012)<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

Sou mineiro e vivo em Belo Horizonte. Gosto <strong>de</strong> ler e<br />

escrever. Leio poesia, conto, romance. Ler é conversar com<br />

as i<strong>de</strong>ias do escritor. Escrevo quando tenho algo a dizer.<br />

Gosto <strong>de</strong> registrar o que meu pensamento pensa, mesmo<br />

sabendo que parece impossível uma formiga comer um<br />

elefante. Sei que na literatura posso escrever tudo que<br />

penso, sonho e imagino. Se escrevo minha fantasia, ela vira<br />

verda<strong>de</strong>. Gosto <strong>de</strong> ter as crianças como leitoras. Elas são<br />

capazes <strong>de</strong> fantasiar coisas muito bonitas e sérias. Elas não<br />

se espantam com a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> criar uma realida<strong>de</strong> nova<br />

para o mundo on<strong>de</strong> vivem. E quando escrevem, as crianças<br />

contam histórias que surpreen<strong>de</strong>m. É que elas sabem ver<br />

com o coração. Recebi muitos prêmios - no Brasil e no<br />

Exterior - pelos muitos livros que escrevi e que foram<br />

traduzidos para outros países. Mas saber que sou lido em<br />

muitos lugares é o maior prêmio. Quando escrevemos, é<br />

para ser lidos.<br />

BARTOLOMEU CAMPOS DE QUEIRÓS por ele mesmo.<br />

Extraída da obra ISSO NÃO É UM ELEFANTE,<br />

Editora Abacatte, Belo Horizonte, 2009.<br />

“Aqueles que tinham olhos <strong>de</strong> ver à primeira vista sentiam que era um menino<br />

<strong>de</strong>sarmado e feito só para o carinho. Sua maneira <strong>de</strong> olhar, seu jeito <strong>de</strong> se<br />

oferecer ou se encostar, seu modo <strong>de</strong> se aninhar nos braços, dava nas pessoas<br />

uma vonta<strong>de</strong> muito forte <strong>de</strong> fazê-lo sumir entre carinhos. Apertá-lo em<br />

abraços e escondê-lo no coração.”<br />

In<strong>de</strong>z<br />

14


Bartolomeu Campos <strong>de</strong> Queirós viveu sua<br />

infância em Papagaio, cida<strong>de</strong> pequena com gosto<br />

<strong>de</strong> "laranja serra-d'água", no interior <strong>de</strong> Minas<br />

Gerais, antes <strong>de</strong> se instalar em Belo Horizonte,<br />

on<strong>de</strong> residiu e trabalhou.<br />

Seu interesse pela literatura e pelo ensino<br />

da arte o fez viajar muito por este país. Conheceu<br />

as cida<strong>de</strong>s apreciando azulejos e casas<br />

pacientemente - um andarilho atento a cores,<br />

cheiros, sabores e sentidos que ro<strong>de</strong>iam as<br />

pessoas do lugar, com o mesmo encanto na alma<br />

com que observava os rios da<br />

Amazônia, dos quais<br />

costumava sentir sauda<strong>de</strong>s em<br />

Minas.<br />

Bartolomeu só fez o<br />

que gostava, não cumpria<br />

compromissos sociais nem<br />

tarefas que não lhe pareciam<br />

substanciais. Dizia ter fôlego<br />

<strong>de</strong> gato, o que lhe permitiu<br />

nascer e morrer várias vezes.<br />

"Sou frágil o suficiente para<br />

uma palavra me machucar,<br />

como sou forte o suficiente para uma palavra me<br />

ressuscitar."<br />

Em 1974 publicou seu primeiro livro, O<br />

peixe e o pássaro, e <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então firmou seu estilo<br />

<strong>de</strong> escrita como uma prosa poética da mais alta<br />

qualida<strong>de</strong>.<br />

Com formação nas áreas <strong>de</strong> educação e<br />

arte, cursou o Instituto Pedagógico <strong>de</strong> Paris. Des<strong>de</strong><br />

<strong>História</strong> <strong>de</strong> Bartolomeu<br />

“Um bom texto literário faz o<br />

leitor pensar o que ele não<br />

sabia que ele podia pensar.”<br />

Bartolomeu Campos Queirós<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

os anos 70, teve <strong>de</strong>stacada atuação como<br />

educador, em vários níveis, contribuindo com<br />

importantes projetos para a Secretaria <strong>de</strong> Estado<br />

da Educação e para o Ministério da Educação.<br />

Participa do Projeto ProLer, da Biblioteca<br />

Nacional, dando conferências e seminários sobre<br />

educação, leitura e literatura. Tem 43 livros<br />

publicados no Brasil e vários <strong>de</strong>les traduzidos e<br />

editados em outros países.<br />

É <strong>de</strong>tentor dos mais importantes prêmios<br />

literários nacionais, como:<br />

Prêmio Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Belo Horizonte;<br />

Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do<br />

Livro;<br />

Selo <strong>de</strong> Ouro, da Fundação Nacional do<br />

Livro Infanto-Juvenil;<br />

9ª Bienal <strong>de</strong> São Paulo;<br />

1ª Bienal do Livro <strong>de</strong> Belo Horizonte;<br />

Diploma <strong>de</strong> Honra da IBBY, <strong>de</strong> Londres;<br />

Prêmio Rosa Blanca (Cuba);<br />

Quatrième Octagonal (França);<br />

Prêmio Nestlé <strong>de</strong> Literatura;<br />

Prêmio Aca<strong>de</strong>mia Brasileira <strong>de</strong> Letras.<br />

Com o livro "In<strong>de</strong>z", foi o vencedor do<br />

Concurso Internacional <strong>de</strong> Literatura Infanto-<br />

Juvenil (Brasil, Canadá, Suécia, Dinamarca e<br />

Noruega). Vários <strong>de</strong> seus textos foram adaptados<br />

para o teatro, <strong>de</strong>ntre eles, "Ciganos", encenado<br />

pelo Grupo Ponto <strong>de</strong> Partida.<br />

Sua obra tem sido tema <strong>de</strong> teses<br />

acadêmicas (áreas <strong>de</strong> literatura<br />

e psicologia) em várias<br />

universida<strong>de</strong>s brasileiras.<br />

Foi presi<strong>de</strong>nte da<br />

Fundação Clóvis<br />

Salgado/Palácio das Artes,<br />

membro do Conselho Estadual<br />

<strong>de</strong> Cultura e do Conselho<br />

Curador da Escola Guignard,<br />

membro do Conselho <strong>de</strong><br />

Curador da Fundação Municipal<br />

<strong>de</strong> Cultura. Atuava também como crítico <strong>de</strong> arte,<br />

integrando júris e comissões <strong>de</strong> salões e fazendo<br />

curadorias e museografias <strong>de</strong> exposições.<br />

http://www.caleidoscopio.art.br/bartolomeucampos<strong>de</strong>queiros/release<br />

15


<strong>História</strong>s <strong>de</strong> Bartolomeu<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

“Ele está sempre acordado, viajando e vigiando tudo. Sabemos que ele existe porque modifica todas as coisas.<br />

O tempo troca a roupa do mundo. Ele muda a história, <strong>de</strong>svia águas, come estrelas, mastiga reinos,<br />

amadurece frutos, apodrece sementes. Nada fica fora do tempo. Moramos <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>le e impedidos <strong>de</strong> abraçálo.<br />

O tempo foge para não ser amado. <strong>Quem</strong> ama para e fica. O tempo foge.”<br />

Tempo <strong>de</strong> voo.<br />

ANOS 70<br />

O peixe e o pássaro, 1971. Saraiva<br />

Pedro, 1973. Global<br />

Raul- Luar, 1978. RHJ<br />

On<strong>de</strong> tem bruxa tem fada, 1979. Mo<strong>de</strong>rna<br />

ANOS 80<br />

Ciganos, 1982. Global<br />

Mario ou <strong>de</strong> pedras, conchas e sementes, 1983. Global<br />

Ah! Mar..., 1985. RHJ<br />

As patas da vaca, 1985. Global<br />

Cavaleiros das sete luas, 1986. Global<br />

Coração não toma sol, 1986. FTD<br />

<strong>História</strong> em 3 atos, 1986. Global<br />

Correspondência, 1986. Global<br />

Pintinhos e pintinhas, 1986. FTD<br />

Apontamentos, 1988. Formato<br />

Papo <strong>de</strong> Pato, 1989. Formato<br />

In<strong>de</strong>z, 1989. Global<br />

ANOS 90<br />

Escritura, 1990. Mazza<br />

Minerações, 1991. RHJ<br />

Faca afiada, 1992. Mo<strong>de</strong>rna.<br />

Diário <strong>de</strong> classe, 1992. Mo<strong>de</strong>rna<br />

Por parte <strong>de</strong> pai, 1995. RHT<br />

Ler, escrever e fazer conta <strong>de</strong> cabeça, 1996. Global<br />

“Há trabalho mais <strong>de</strong>finitivo, há ação<br />

mais absoluta do que essa <strong>de</strong> aproximar<br />

o homem do livro?”<br />

O livro é passaporte é bilhete <strong>de</strong> partida<br />

16


ANOS 2000<br />

Rosa dos Ventos, 2000. Global<br />

Bichos...são todos bichos, 2001. Brasil<br />

De não em não, 2001. Global<br />

Flora, 2001. Global<br />

Os cinco sentidos, 2002. Global<br />

Mais com mais dá menos, 2002. RHJ<br />

A Matinta Pereira, 2002. FTD<br />

Olhar <strong>de</strong> bichos, 2002. Dimensão<br />

Piolho, 2003. RHJ<br />

Menino <strong>de</strong> Belém, 2003. Mo<strong>de</strong>rna<br />

Vida e obra <strong>de</strong> Aletrícia <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> Zeroastro,<br />

2003. Mo<strong>de</strong>rna<br />

Rosa e Rosa, 2003. Franco<br />

Até passarinho passa, 2003. Mo<strong>de</strong>rna<br />

Para criar passarinho, 2004. Global<br />

O olho <strong>de</strong> vidro do meu avô, 2004. Mo<strong>de</strong>rna<br />

Entretantos, 2004. Conselho Regional <strong>de</strong> Psicologia<br />

O guarda-chuva do guarda, 2004. Mo<strong>de</strong>rna.<br />

Pato pacato, 2004. Mo<strong>de</strong>rna<br />

De letra em letra, 2004. Mo<strong>de</strong>rna<br />

Formiga amiga, 2004. Mo<strong>de</strong>rna<br />

Pé <strong>de</strong> sapo e sapato <strong>de</strong> pato, 2004. Brasil<br />

Somos todos igualzinhos, 2005. Global<br />

Sem palmeira ou sabiá, 2006. Peirópolis<br />

Antes e <strong>de</strong>pois, 2006. Manati<br />

Para ler em silêncio, 2007. Mo<strong>de</strong>rna<br />

Sei por ouvir dizer, 2007. E<strong>de</strong>lbra<br />

O ovo e o anjo, 2007. Global<br />

Foi assim..., 2008. Mo<strong>de</strong>rna<br />

Anacleto, 2008. Larousse<br />

Menino inteiro, 2009. Global<br />

Tempo <strong>de</strong> voo, 2009. Edições SM<br />

Nascemos livres, 2009. Edições SM<br />

O livro <strong>de</strong> Ana, 2009. Global<br />

ABC até Z, 2009. Larousse<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

“Quanto a gente fala <strong>de</strong> uma<br />

socieda<strong>de</strong> leitora, nós estamos<br />

justamente tentando uma<br />

socieda<strong>de</strong> reflexiva, que pensa o<br />

seu <strong>de</strong>stino, que pensa o seu<br />

caminho.”<br />

A palavra conta<br />

ANOS 2010<br />

Isso não é um elefante, 2010. Abacate<br />

2 patas e 1 tatu, 2010. Positivo<br />

A árvore, 2010. Paulinas.<br />

Vermelho amargo, 2011. Cosac Naify<br />

O fio da palavra, 2011. Galera Record.<br />

“Meu avô me convidou, naquela tar<strong>de</strong>, para me assentar ao seu lado nesse banco cansado. Pegou minha mão e, sem tirar os olhos do<br />

horizonte, me contou:<br />

O tempo tem uma boca imensa. Com sua boca do tamanho da eternida<strong>de</strong> ele vai <strong>de</strong>vorando tudo, sem pieda<strong>de</strong>. O tempo não tem pena.<br />

Mastiga rios, árvores, crepúsculos. Tritura os dias, as noites, o sol, a lua, as estrelas. Ele é o dono <strong>de</strong> tudo. Pacientemente ele engole todas as<br />

coisas, <strong>de</strong>gustando nuvens, chuvas, terras, lavouras. Ele consome as histórias e saboreia os amores. Nada fica para <strong>de</strong>pois do tempo.<br />

As madrugadas, os sonhos, as <strong>de</strong>cisões, duram pouco na boca do tempo. Sua garganta traga as estações, os milênios, o oci<strong>de</strong>nte, o oriente, tudo<br />

sem retorno. E nós, meu neto, marchamos em direção à boca do tempo.<br />

Meu avô foi abaixando a cabeça e seus olhos tocaram em nossas mãos entrelaçadas. Eu achei serem pingos <strong>de</strong> chuva as gotas rolando sobre<br />

meus <strong>de</strong>dos, mas a noite estava clara, como tudo mais.”<br />

Por parte <strong>de</strong> pai<br />

17


Bia Bedran<br />

Bia por ela mesma - O quintal – Memórias <strong>de</strong> uma contadora <strong>de</strong> histórias...<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

Um quintal é o primeiro palco que uma criança pisa.<br />

Po<strong>de</strong> ser uma área ou um pequeno pedaço qualquer<br />

on<strong>de</strong> ela se exteriorizará, largará sua imaginação e<br />

<strong>de</strong>senvolverá sua criativida<strong>de</strong>.<br />

Wanda Bedran<br />

Durante os anos 1970, minha mãe, Wanda Martini Bedran, e suas<br />

irmãs e primas, Wilma Martini Brandão, Wandirce Martini Wörhle, Maria <strong>de</strong><br />

Lour<strong>de</strong>s Martini, Maria José Martini Quintas e eu fundamos, ao lado <strong>de</strong> uma<br />

gran<strong>de</strong> parte da família, o Quintal Teatro Infantil, inaugurado em 16 <strong>de</strong><br />

setembro <strong>de</strong> 1973, numa agradável rua do bairro <strong>de</strong> São Francisco, em<br />

Niterói, no estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro. O teatro Quintal, <strong>de</strong> duzentos lugares, foi<br />

erguido literalmente no quintal da casa <strong>de</strong> umas das irmãs, Wandirce, com<br />

projeto arquitetônico <strong>de</strong> Junir Brandão, marido da outra irmã, Wilma. <strong>Quem</strong><br />

passava pela rua General Rondon, 15, voltava sua atenção para uma casa <strong>de</strong><br />

esquina sombreada por enormes amendoeiras com um toque especial no<br />

muro branco: uma gran<strong>de</strong> margarida pintada no lugar no buraco on<strong>de</strong> era a<br />

bilheteria. Participavam do grupo 23 membros da família, pais, mães, irmãos,<br />

avós, primos, tias e tios, que, através da arte, conseguiram a façanha <strong>de</strong><br />

viabilizar a convivência entre as três gerações. A i<strong>de</strong>ia da fundação <strong>de</strong> um<br />

teatro para crianças surgiu com Wanda, Wandirce, Wilma e Maria José, que<br />

quando jovens realizavam apresentações <strong>de</strong> teatro <strong>de</strong> bonecos nos morros.<br />

Com o casamento <strong>de</strong> cada uma <strong>de</strong>las, o trabalho foi interrompido até 1973,<br />

quando <strong>de</strong>sejaram a volta do grupo e mobilizaram toda a família, já na segunda geração.<br />

Ali no nosso Quintal, pu<strong>de</strong>mos experimentar linguagens cênicas diversas sempre buscando falar à infância, e<br />

nos revezávamos nas inúmeras funções pertinentes ao mundo das artes cênicas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a construção do próprio teatro<br />

em formato <strong>de</strong> arena até a confecção <strong>de</strong> figurinos, cenário, bonecos e a<strong>de</strong>reços, criação dos textos, músicas, direção,<br />

produção, iluminação, controle <strong>de</strong> bor<strong>de</strong>raux, organização da cantina (que se chamava A Casa do Sapo Guloso), enfim,<br />

todos os <strong>passo</strong>s que pertencem a uma trupe teatral.<br />

Eu, então com <strong>de</strong>zessete para <strong>de</strong>zoito anos, tratava da direção musical<br />

dos espetáculos, e todos tocávamos instrumentos <strong>de</strong> percussão, violão,<br />

acor<strong>de</strong>om, flautas, e objetos sonoros como bacia com areia para obtermos o som<br />

da água, ou conchas e chaves enredadas por um fio, que produziam um efeito<br />

mágico diante dos olhos encantados das crianças e dos adultos.<br />

Os textos das peças infantis do Quintal eram <strong>de</strong> autoria <strong>de</strong> Maria <strong>de</strong><br />

Lour<strong>de</strong>s Martini (também diretora-geral do grupo), Wanda Martini Bedran,<br />

Maria Mazzeti e Maria Arminda Aguiar. Dotados <strong>de</strong> uma enorme brasilida<strong>de</strong>,<br />

evocavam situações rurais às vezes datadas <strong>de</strong> outras épocas, o que favorecia a<br />

minha pesquisa <strong>de</strong>ntro do cancioneiro do Brasil para que as nossas<br />

interpretações tivessem maior vigor e mostrassem às crianças e a seus pais um<br />

mundo sonoro rico e diferenciado. Já aí se fazia presente aquela memória das<br />

modinhas, cordéis, romances, e das estrofes rimadas e ritmadas cantadas por<br />

minha mãe durante a infância, e toda criação das canções para os espetáculos <strong>de</strong>sabrochava fertilmente, embebida da<br />

água daquela fonte inicial. Também o modo como <strong>de</strong>scobrimos juntos a força das narrativas em contraponto com a<br />

interpretação e a caracterização dos personagens foi fundamental durante todo o processo <strong>de</strong> amadurecimento<br />

profissional do grupo. Nossa pesquisa <strong>de</strong> linguagem, utilizando bonecos e a<strong>de</strong>reços que se mesclavam com nossas<br />

atuações, acontecia atrás e na frente da “tapa<strong>de</strong>ira” ou “empanada”, como era chamado o palco dos bonecos. Eles eram<br />

criados e manipulados com primor pelas nossas mestras: mães, avós e tias. Elas eram verda<strong>de</strong>iras artesãs na criação e<br />

manipulação dos bonecos, que surgiam dos mais variados materiais e adquiriam formas surpreen<strong>de</strong>ntes, nada<br />

convencionais enquanto fantoches, mamulengos ou a<strong>de</strong>reços que se transformavam em personagens. Sua sabedoria<br />

18


Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

elas repassavam para nós, que éramos na época a ala jovem do Quintal, a exemplo dos costumes recorrentes na cultura<br />

popular, em que o saber dos mais velhos é transmitido oralmente.<br />

Durante os <strong>de</strong>z anos <strong>de</strong> duração do Quintal Teatro Infantil, a presença do narrador que atuava paralelamente<br />

ao <strong>de</strong>senvolvimento das cenas foi crescente e marcante. Muitas vezes cabiam aos nossos personagens distanciarem-se<br />

dos seus papéis e narrarem o que tinha acabado <strong>de</strong> acontecer, isto é, passávamos da interpretação na primeira pessoa<br />

para a narrativa na terceira pessoa. A partir <strong>de</strong> então, comecei a enten<strong>de</strong>r algumas características do processo narrativo<br />

e seu po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> intercambiar a experiência com seus ouvintes. Em todos os espetáculos montados pelo nosso Quintal<br />

Teatro Infantil, compus a trilha sonora <strong>de</strong> modo que todos pudéssemos integrar nossas vozes, instrumentos artesanais,<br />

o corpo e o movimento à ação cênica. Quando cantávamos, era como se fôssemos o coro grego que conta e <strong>de</strong>screve a<br />

cena que acontecerá ou que acabará <strong>de</strong> acontecer.<br />

Em or<strong>de</strong>m cronológica, o Quintal Teatro Infantil montou os seguintes espetáculos:<br />

O aniversário da Princesinha Papelotes – <strong>de</strong> Maria Mazzeti – 1973.<br />

O planeta maluco – <strong>de</strong> Maria Mazzeti – 1973<br />

O circo <strong>de</strong> dom Pepe, Pepito, Pepom – <strong>de</strong> Wanda Bedran – 1973<br />

O pescador e o gênio – <strong>de</strong> Wanda Bedran – 1974<br />

Os três porquinhos – adaptação <strong>de</strong> Wanda Bedran – 1974<br />

Estela, a estrela que caiu do céu – <strong>de</strong> Wanda Bedran – 1974<br />

A bruxinha do cal<strong>de</strong>irão ver<strong>de</strong> – <strong>de</strong> Wanda Bedran – 1974<br />

Palha seca – <strong>de</strong> Wanda Bedran – 1975<br />

Você tem um caleidoscópio? – criação coletiva – 1975<br />

A estória da moça preguiçosa – <strong>de</strong> Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s Martini – 1975<br />

Azul ou encarnado? – <strong>de</strong> Maria Arminda Aguiar – 1976<br />

Terra ronca – <strong>de</strong> Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s Martini – 1977<br />

Bem te vejo – <strong>de</strong> Wanda Bedran – 1978<br />

O velho mar – <strong>de</strong> Wanda Bedran – 1979 e 1980<br />

O espetáculo “A estória da moça preguiçosa”, com texto e direção <strong>de</strong> Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s Martini (a nossa Tia<br />

Lolita), recebeu o primeiro Prêmio Molière <strong>de</strong> Teatro Infantil, em 1975, num gran<strong>de</strong> reconhecimento por nossa<br />

pesquisa <strong>de</strong> linguagem <strong>de</strong>ntro do teatro infantil brasileiro.<br />

A partir <strong>de</strong> 1977 houve uma dispersão dos elementos mais jovens do grupo pelas escolhas profissionais em<br />

outras áreas, e as temporadas no Teatro Quintal foram interrompidas, sendo o espaço alugado esporadicamente para<br />

outros grupos teatrais. O núcleo, integrado por Wilma Brandão, Wanda Bedran, Wandirce Wörhle e Maria José Quintas,<br />

saiu para <strong>de</strong>senvolver projetos em escolas e praças da cida<strong>de</strong> e do interior. Finalmente elas <strong>de</strong>cidiram reabrir o teatro<br />

para sua última temporada com a peça O velho mar, uma adaptação feita por minha mãe para um dos contos das Mil e<br />

uma noites. Fui convidada para a direção-geral do espetáculo, além <strong>de</strong> criar a trilha sonora, gravada com nossas vozes<br />

fazendo os personagens e tendo como fio condutor o som da água: ondas quebrando, borbulhas, som <strong>de</strong> remadas.<br />

No início dos anos 1980, quando o tempo do Quintal findou e cada um seguiu suas escolhas profissionais e<br />

pessoais, eu já havia me <strong>de</strong>cidido plenamente pelo caminho da criação artística voltada para as crianças e<br />

absolutamente imbricada com a música e a narrativa <strong>de</strong> histórias.<br />

Durante o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento das linguagens cênicas, musicais e narrativas <strong>de</strong>ntro do Teatro<br />

Quintal, encontrei-me, em 1974, com outros dois jovens músicos cariocas que também pesquisavam a música<br />

tradicional brasileira e se interessavam pelo diálogo da linguagem musical com a infância,<br />

Victor Larica e Ricardo Me<strong>de</strong>iros. Juntos, fundamos em 1977 um grupo que se chamou<br />

Bloco da Palhoça, Música para Brincar e Cantar. Nosso grupo fez uma fusão muito<br />

equilibrada da pesquisa do folclore com nossas composições próprias. Fazíamos<br />

espetáculos para adultos e crianças em praças, auditórios, pátios <strong>de</strong> escolas públicas e<br />

particulares, coretos <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s do interior, enfim, íamos <strong>de</strong>scobrindo uma linguagem na<br />

qual o fazer artístico dialogava com a recriação <strong>de</strong> elementos do folclore ou da tradição<br />

oral. Em nossas viagens para o interior dos estados do Rio <strong>de</strong> Janeiro, <strong>de</strong> São Paulo e <strong>de</strong><br />

Minas Gerais, mesclávamos a pesquisa <strong>de</strong> campo com as apresentações profissionais em<br />

que cantávamos e tocávamos gran<strong>de</strong> parte do material recolhido tanto em fontes<br />

bibliográficas quanto o que ouvíamos e aprendíamos nas festas populares (ou folguedos, numa nomenclatura da época)<br />

por on<strong>de</strong> passávamos: Folia <strong>de</strong> Reis, Congada, Folia do Divino, Caxambu, Jongo, Moçambique, Catiras e Rodas <strong>de</strong><br />

Cirandas. Todas essas manifestações culturais mesclavam o espírito religioso com o profano e nos entregavam um<br />

retrato sonoro, rítmico e melódico, visual, coreográfico e histórico do nosso processo <strong>de</strong> mestiçagem, em que se<br />

misturavam elementos das tradições portuguesas, indígenas e africanas.<br />

19


Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

Denominávamos <strong>de</strong> “arquivo vivo” nosso processo <strong>de</strong> pesquisa: arquivo por causa dos registros or<strong>de</strong>nados <strong>de</strong><br />

todo o material recolhido, e vivo pelo fato <strong>de</strong> vivenciarmos o referido material. O termo “arquivo vivo” refere-se então à<br />

apreensão <strong>de</strong> diversas formas musicais tradicionais <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada comunida<strong>de</strong> através da troca <strong>de</strong> experiências, do<br />

tocar junto aos cantadores, violeiros, sanfoneiros e percussionistas levando nossos instrumentos e permutando-os com<br />

os <strong>de</strong>les. O resultado <strong>de</strong>sta troca era um arranjo musical espontaneamente criado, acrescido do que nós, enquanto<br />

músicos profissionais, adquirimos com o nosso trabalho e do que aquelas pessoas nos ensinavam pela maneira intuitiva<br />

<strong>de</strong> tocar, dançar, cantar e contar. O intercâmbio <strong>de</strong>stas experiências artísticas nos <strong>de</strong>ixou um legado rico <strong>de</strong> influências<br />

culturais que pu<strong>de</strong>mos transmitir posteriormente em espaços cênicos e também no contexto <strong>de</strong> nossas práticas na área<br />

da educação.<br />

No ano <strong>de</strong> 1974 fui conhecer a Festa do Divino <strong>de</strong> São Luís do<br />

Paraitinga, no interior <strong>de</strong> São Paulo. Era uma gran<strong>de</strong> feira on<strong>de</strong> coexistiam<br />

torneio <strong>de</strong> moda <strong>de</strong> viola, cerâmica <strong>de</strong> Taubaté, jongo, catira, Moçambique,<br />

cavalhada e seus palhaços, missa, procissão, circo, parque <strong>de</strong> diversão...<br />

O Divino <strong>de</strong>sceu do céu<br />

Nesta hora <strong>de</strong> alegria<br />

Para abençoar o povo<br />

Que veio festejar seu dia<br />

Assim dizia um dos inúmeros versos <strong>de</strong> “Toada do Divino”<br />

cantados pela Companhia <strong>de</strong> Seu João, que ecoava pelas ruas da cida<strong>de</strong>. Os<br />

festejos do Divino duravam <strong>de</strong>z dias e mobilizavam toda a população <strong>de</strong><br />

São Luís e arredores, pobres e ricos, usufruindo das ofertas que eram arrecadadas pelos “foliões”. Assim eram<br />

chamados os integrantes da Folia do Divino, que cantavam e arrecadavam <strong>de</strong> casa em casa, a exemplo da Folia <strong>de</strong> Reis,<br />

bois, porcos e galinhas, que <strong>de</strong>pois eram cozidos em enormes tachos <strong>de</strong> cobre e transformados no “afogado”, como é<br />

chamado este prato típico. Ele era servido diariamente para todos, junto com paçoca, macarrão, feijão e arroz. Nesta<br />

ocasião conheci o João Tartaruga, contador <strong>de</strong> histórias e artista do barro que esculpia <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> pequenas cabaças.<br />

Eram miniesculturas que ele vendia após contar a história que nela estava<br />

contida:<br />

Faço arte <strong>de</strong> barro, lindas paisagem <strong>de</strong> verda<strong>de</strong><br />

A minha fama <strong>de</strong> artista está correndo cida<strong>de</strong> em cida<strong>de</strong><br />

E com essa teligência me ajuda a nececida<strong>de</strong><br />

Serviço <strong>de</strong> pega na enchada a muito tempo já fui<br />

Hoje sou cabroco <strong>de</strong> gosto faço pintura na cuia<br />

Quando esto fazendo verço<br />

Quanto mais obra eu faço<br />

Mais dinheiro <strong>de</strong>sluia<br />

(João Tartaruga, 1974, em texto registrado pelo próprio na entrada <strong>de</strong> sua oficina)<br />

Bloco da Palhoça<br />

Em meio às apresentações musicais e teatrais, formei-me em<br />

musicoterapia e licenciatura em educação artística. Tornei-me professora <strong>de</strong> educação musical e fui trabalhar em várias<br />

escolas, procurando conjugar a arte <strong>de</strong> contar com a <strong>de</strong> cantar, tocar e criar para crianças. Com as crianças em sala <strong>de</strong><br />

aula, pu<strong>de</strong> observar o quanto a música e a narrativa se completavam: os processos criativos meus e das crianças<br />

geravam novos poemas, canções, histórias e dramatizações a partir <strong>de</strong> matrizes e exemplos vindos da tradição oral,<br />

como brinca<strong>de</strong>iras, parlendas, trava-línguas, adivinhações, contos populares, literatura <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>l, enfim, todo o material<br />

que já pertencia à pesquisa que eu vinha <strong>de</strong>senvolvendo anteriormente. Observei que as crianças tinham vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

recontar uma história ou canção que haviam acabado <strong>de</strong> ouvir, e eu propunha uma ativida<strong>de</strong> usando uma forma <strong>de</strong><br />

expressão artística semelhante à <strong>de</strong> João Tartaruga, transformando em maquetes o cenário principal da narrativa ou<br />

registrando em <strong>de</strong>senhos e colagem seus principais personagens. Depois, com seu trabalho na mão, as crianças<br />

contavam à sua maneira, acrescida <strong>de</strong> <strong>de</strong>talhes ou fazendo uma síntese <strong>de</strong> sua própria criação.<br />

A pesquisa que realizei pertencendo aos grupos Quintal e Bloco da Palhoça se <strong>de</strong>sdobrou em diversas<br />

abordagens <strong>de</strong>ntro da arte <strong>de</strong> contar e cantar histórias, pois levei esta experiência para a TV, para o rádio, para o teatro<br />

e para a educação. Em todos os formatos e suportes citados lá estavam impressas as marcas da tradição oral, na escolha<br />

do repertório <strong>de</strong> contos e canções, <strong>de</strong> brinca<strong>de</strong>iras e jogos, <strong>de</strong> adivinhações e brinca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> roda e cirandas. São<br />

canções que contam histórias ou histórias que trazem canções. Ouvidas em outros tempos, transmitidas oralmente,<br />

registradas na escrita literária ou musical, e finalmente gravadas a partir da possibilida<strong>de</strong> dos suportes eletrônicos.<br />

Músicas para brincar e cantar. <strong>História</strong>s para ouvir, contar e sonhar.<br />

BEDRAN BIA. A arte <strong>de</strong> cantar e contar histórias – Narrativas orais e processos criativos,<br />

Editora Nova Fronteira.<br />

20


Era uma vez Bia Bedran,<br />

uma menina que nasceu para<br />

fazer as crianças sonharem e hoje<br />

ensina a quem quiser a viver feliz<br />

para sempre.<br />

Foi em Niterói (RJ), no dia<br />

26 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1955, que Bia<br />

Bedran nasceu, ou melhor,<br />

estreou. Isso porque, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

criança, assim bem pequenininha,<br />

a menina, criada em família <strong>de</strong><br />

artistas, começou a escrever<br />

músicas e poemas, coisas que,<br />

geralmente, toda criança que lê e<br />

se diverte com a literatura faz.<br />

“No início, eu não sonhava em ser<br />

artista da infância. Eu era criança e gostava <strong>de</strong> ler.<br />

Gostava <strong>de</strong> contar, fabular o que eu lia. Às vezes,<br />

só para mim mesma, para o meu fazer, gostava <strong>de</strong><br />

me trabalhar artisticamente”, relembra Bia.<br />

Na adolescência, assim já mais mocinha,<br />

seu pai sempre a inscrevia em concursos <strong>de</strong><br />

música e só revelava a ida<strong>de</strong> da<br />

filha <strong>de</strong>pois, para ela não ser<br />

<strong>de</strong>sclassificada. Nessa fase, Bia<br />

fazia sua arte pensando nos<br />

adultos. Fazia sambas, toadas,<br />

músicas políticas e concorria com<br />

adultos em festivais <strong>de</strong> canção.<br />

Tanto que foi muito influenciada<br />

por João <strong>de</strong> Barro, Braguinha,<br />

Lamartine Babo e pelas músicas<br />

da Rádio Nacional. Precoce, não?<br />

Sua carreira começou<br />

para valer em 1973, aos 17 anos<br />

(nem era gente gran<strong>de</strong> ainda a<br />

menina). Na época, sua família<br />

montou um grupo <strong>de</strong> teatro para<br />

crianças. As apresentações<br />

aconteciam no quintal da casa <strong>de</strong><br />

uma tia, daí o nome Quintal<br />

Teatro Infantil. “Eu <strong>de</strong>scobri a minha<br />

vocação quando tive a sorte <strong>de</strong> trabalhar<br />

no grupo que minha família criou. Éramos, ao<br />

todo, 23 entre irmãos e primos da família Martini<br />

Bedran. Minha mãe escrevia peças para crianças e<br />

a família toda trabalhava. Minha avó fazia os<br />

vestidos e meu avô ficava na bilheteria. Eu, com 17<br />

<strong>História</strong> <strong>de</strong> Bia<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

anos, era uma das mais velhas do<br />

grupo. Nesse tempo foi que eu<br />

<strong>de</strong>scobri esse mundo”, diz Bia.<br />

A arte <strong>de</strong> contar estórias<br />

veio naturalmente com o convívio<br />

com as crianças. Foi nessa época<br />

que a jovem atriz entrou no<br />

mundo mágico da contação <strong>de</strong><br />

estórias. “Aí <strong>de</strong>scobri que contar<br />

estória era diferente do que<br />

interpretar. Toda vez que eu<br />

entrava na voz da narradora,<br />

percebia que a criançada prestava<br />

mais atenção. A criança tem uma<br />

paixão pela narração, pelo texto<br />

contado. Quando eu narro,<br />

quando eu falo do personagem, eu sinto uma<br />

atenção maior”, explica.<br />

Hoje, já com 54 anos, Bia Bedran tem sete<br />

livros publicados, oito discos e um DVD. A artista<br />

já compôs mais <strong>de</strong> 300 canções. Dessas, 100<br />

músicas foram gravadas. A atriz também foi<br />

apresentadora <strong>de</strong> televisão. De<br />

1986 até 1993, Bia esteve à<br />

frente do “<strong>Conta</strong> Conto”, na<br />

antiga TV Educativa, atual TV<br />

Brasil. Em 1988 e 1989,<br />

apresentou o programa<br />

ecológico “Baleia Ver<strong>de</strong>”, na<br />

extinta TV Manchete, além <strong>de</strong><br />

“Lá vem <strong>História</strong>”, na TV<br />

Cultura e “Alfabetização no<br />

Canteiro <strong>de</strong> Obras”, pela<br />

Fundação Roberto Marinho.<br />

Os planos <strong>de</strong>ssa eterna<br />

menina, no entanto, não param<br />

por aí. Seu próximo <strong>passo</strong> po<strong>de</strong><br />

ser na telona. “Só falta agora<br />

cinema. Não vou morrer sem<br />

fazer um filme, trabalhar<br />

atuando ou ser uma narradora,<br />

mas é um sonho ainda. Minha<br />

filha acabou <strong>de</strong> se formar em<br />

cinema e a gente tem conversado muito sobre isso<br />

ultimamente”, vibra.<br />

“QUEM CONTA ESTÓRIA FAZ O OUTRO<br />

IMAGINAR”<br />

Ciranda da Palavra 2010<br />

Gravação DVD “Cabeça <strong>de</strong> vento”<br />

SESI Duque <strong>de</strong> Caxias/ 2010<br />

21


Professora concursada<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1985, Bia dava aulas <strong>de</strong><br />

musicalização para as crianças do<br />

CAP (Colégio <strong>de</strong> Aplicação) da Uerj<br />

(Universida<strong>de</strong> do Estado do Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro). No início, ela só ensinava<br />

música. Com o tempo, o hábito <strong>de</strong><br />

ler e contar estórias invadiu suas<br />

aulas. Foi então que <strong>de</strong>scobriu que<br />

bom mesmo era cantar e contar ao<br />

mesmo tempo. “São quase 25 anos<br />

como professora na Uerj. No<br />

<strong>de</strong>correr do tempo, eu já era<br />

contadora <strong>de</strong> estórias na vida<br />

artística e fui incorporando a coisa<br />

do ensinar música para as<br />

crianças, mas ensinar também o fazer, o<br />

contar, música <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma estória, estória com<br />

canções e fui mudando a minha metodologia que<br />

era só <strong>de</strong> ensino musical, para fazer estórias junto<br />

com canções”, explica.<br />

Nessa época, Bia Bedran foi chamada para<br />

dar aulas em uma oficina chamada A Arte <strong>de</strong><br />

Cantar e <strong>Conta</strong>r Estórias,<br />

para professores e<br />

educadores. Seu <strong>de</strong>sejo é<br />

passar para outros essa<br />

nobre arte. “De lá para cá já<br />

se passaram 14 anos, sempre<br />

às segundas e quartas à<br />

noite. Essa oficina eu<br />

trabalho com educadores,<br />

não mais crianças, e ensino<br />

esse ‘making-off’ <strong>de</strong> como é<br />

contar estórias e como<br />

construir pequenos<br />

a<strong>de</strong>reços, entre outras<br />

coisas”, revela.<br />

Segundo Bia, o contar estórias revela uma<br />

troca <strong>de</strong> experiências muito interessante. Naquele<br />

curto espaço <strong>de</strong> tempo, que po<strong>de</strong> durar <strong>de</strong>z, 20<br />

minutos ou até meia hora, o intérprete só tem ali a<br />

sua palavra, a sua voz, a sua mão, os seus olhos, e,<br />

principalmente, a sua expressão. Todo o resto é<br />

imaginado por quem ouve. “Ensinar a contar<br />

estória nem é tanto a coisa do ator, não é ensinar a<br />

interpretar, mas ensinar a amar esse fazer tão<br />

atávico ao homem, que é esse momento que você<br />

senta, conta coisas reais e imaginárias. Às vezes<br />

você conta um fato que realmente aconteceu”.<br />

A educadora se mostra preocupada com a<br />

perda do hábito <strong>de</strong> conversar e acredita que o<br />

Seminário Direitos Humanos<br />

Duque <strong>de</strong> Caxias - 2011<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

mundo hoje precisa pisar no<br />

freio. “As pessoas<br />

hoje, nessa vida muito corrida,<br />

têm pouco tempo<br />

para contar suas histórias<br />

pessoais. Em um tempo mais<br />

antigo, as pessoas tinham esse<br />

hábito naturalmente, não existia<br />

aulas <strong>de</strong> contar estória. Não tinha<br />

televisão, as pessoas faziam uma<br />

roda e o que existia era a troca <strong>de</strong><br />

experiências, o ato <strong>de</strong> contar para<br />

o outro o que você viveu”,<br />

relembra.<br />

Essa falta <strong>de</strong> tempo<br />

também tem prejudicado a<br />

formação das crianças. Bia comenta<br />

que elas precisam ler mais e não somente assistir<br />

televisão ou navegar pela internet. “A criança<br />

também entra num frisson <strong>de</strong> cada vez mais<br />

apren<strong>de</strong>r conteúdo e mais conteúdo. Esse é o<br />

momento em que o professor para e conta uma<br />

estória. É o momento do sonho. A criança viaja<br />

como se fosse uma<br />

parada no tempo, não<br />

uma parada on<strong>de</strong> ela fica<br />

vazia, uma parada ativa.<br />

A alma está em repouso,<br />

mas ela está atenta, está<br />

sentindo”, ensina.<br />

A professora<br />

revela, ainda, dicas para<br />

quem também quer<br />

viver essa experiência.<br />

Seminário O DIA da Educação em<br />

Movimento/Duque <strong>de</strong> Caxias 2012<br />

“<strong>Quem</strong> quer contar e<br />

viver <strong>de</strong> estórias tem<br />

que <strong>de</strong>scobrir o que<br />

quer ser. Quer ser um educador ou contar<br />

profissionalmente em eventos <strong>de</strong> literatura? É<br />

preciso <strong>de</strong>scobrir que sente prazer com isso e<br />

<strong>de</strong>pois focar. Trabalho em hospitais e,<br />

diferentemente <strong>de</strong> atuar em um palco, em todas<br />

essas modalida<strong>de</strong>s tem que amar contar estórias,<br />

tem que gostar da literatura, <strong>de</strong> transformar o<br />

texto lido em um texto coloquialmente falado.<br />

Treinar em casa, montar um repertório e fazer<br />

cursos”, explica mais uma vez a professora que<br />

sabe que, no final <strong>de</strong> toda estória tem que ter um<br />

“e viveram felizes para sempre”. E quem quiser<br />

que conte outra.<br />

Artigo <strong>de</strong> 10 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 2009.<br />

Disponível em: http://www.jornal<strong>de</strong>teatro.com.br<br />

22


LIVROS:<br />

<strong>História</strong>s <strong>de</strong> Bia<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

A sopa <strong>de</strong> pedra<br />

http://ilustracoes<strong>de</strong>thais.blogspot.com.brhttp://ilustracoes<strong>de</strong>thais.blogspot.co<br />

O pescador o anel e o rei<br />

m.br<br />

Cabeça <strong>de</strong> vento<br />

Deus…<br />

Eu e o tempo<br />

O palhaço Biduim<br />

A menina do anel<br />

Uma história sem fim<br />

O sapateiro e os anõezinhos<br />

O menino que foi ao Vento<br />

Norte<br />

CDS:<br />

Fazer um Bem<br />

Brinquedos cantados<br />

Bia Canta E <strong>Conta</strong> 2<br />

Úman<br />

Dona árvore<br />

Coletânea <strong>de</strong> Músicas Infantis<br />

Bia Canta e <strong>Conta</strong><br />

A caixa <strong>de</strong> músicas <strong>de</strong> Bia<br />

Bedran<br />

Acalantos<br />

DVDS:<br />

Cabeça <strong>de</strong> Vento<br />

<strong>História</strong>s <strong>de</strong> um João <strong>de</strong> Barro<br />

Deus. Ilustração Thaís Linhares: http://ilustracoes<strong>de</strong>thais.blogspot.com.br<br />

http://ilustracoes<strong>de</strong>thais.blogspot.com.br<br />

“Perdi meu anel no mar<br />

Não pu<strong>de</strong> mais encontrar<br />

E o mar me trouxe a concha<br />

De presente pra me dar...”<br />

O anel<br />

23


Drummond por ele mesmo (1902-1987)<br />

Confidência do Itabirano<br />

Alguns anos vivi em Itabira.<br />

Principalmente nasci em Itabira.<br />

Por isso sou triste, orgulhoso: <strong>de</strong> ferro.<br />

Noventa por cento <strong>de</strong> ferro nas calçadas.<br />

Oitenta por cento <strong>de</strong> ferro nas almas.<br />

E esse alheamento do que na vida é porosida<strong>de</strong> e<br />

comunicação.<br />

Carlos Drummond <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong><br />

De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:<br />

esta pedra <strong>de</strong> ferro, futuro aço do Brasil,<br />

este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;<br />

este couro <strong>de</strong> anta, estendido no sofá da sala <strong>de</strong> visitas;<br />

este orgulho, esta cabeça baixa...<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

A vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> amar, que me paralisa o trabalho,<br />

vem <strong>de</strong> Itabira, <strong>de</strong> suas noites brancas, sem mulheres e<br />

sem horizontes.<br />

E o hábito <strong>de</strong> sofrer, que tanto me diverte,<br />

é doce herança Itabirana.<br />

Tive ouro, tive gado, tive fazendas.<br />

Hoje sou funcionário público.<br />

Itabira é apenas uma fotografia na pare<strong>de</strong>.<br />

Mas como dói!<br />

24


Carlos<br />

Drummond <strong>de</strong><br />

Andra<strong>de</strong> nasceu em<br />

Itabira do Mato<br />

Dentro - MG, em 31<br />

<strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1902.<br />

De uma família <strong>de</strong><br />

fazen<strong>de</strong>iros em<br />

<strong>de</strong>cadência, estudou<br />

na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Belo<br />

Horizonte e com os<br />

jesuítas no Colégio<br />

Anchieta <strong>de</strong> Nova<br />

Friburgo RJ, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> foi expulso por "insubordinação<br />

mental". De novo em Belo Horizonte, começou a<br />

carreira <strong>de</strong> escritor como colaborador do Diário <strong>de</strong><br />

Minas, que aglutinava os a<strong>de</strong>ptos locais do incipiente<br />

movimento mo<strong>de</strong>rnista mineiro.<br />

Ante a insistência familiar para que obtivesse<br />

um diploma, formou-se em farmácia<br />

na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ouro Preto em 1925.<br />

Fundou com outros escritores A<br />

Revista, que, apesar da vida breve,<br />

foi importante veículo <strong>de</strong> afirmação<br />

do mo<strong>de</strong>rnismo em Minas.<br />

Ingressou no serviço público e, em<br />

1934, transferiu-se para o Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro, on<strong>de</strong> foi chefe <strong>de</strong> gabinete<br />

<strong>de</strong> Gustavo Capanema, ministro da<br />

Educação, até 1945. Passou <strong>de</strong>pois a<br />

trabalhar no Serviço do Patrimônio<br />

Histórico e Artístico Nacional e se aposentou em 1962.<br />

Des<strong>de</strong> 1954 colaborou como cronista no Correio da<br />

Manhã e, a partir do início <strong>de</strong> 1969, no Jornal do Brasil.<br />

O mo<strong>de</strong>rnismo não chega a ser dominante nem<br />

mesmo nos primeiros livros <strong>de</strong> Drummond, Alguma<br />

poesia (1930) e Brejo das almas (1934), em que o<br />

poema-piada e a <strong>de</strong>scontração sintática pareceriam<br />

revelar o contrário. A dominante é a individualida<strong>de</strong> do<br />

autor, poeta da or<strong>de</strong>m e da consolidação, ainda que<br />

<strong>História</strong> <strong>de</strong> Drummond<br />

1962<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

sempre, e fecundamente, contraditórias. Torturado<br />

pelo passado, assombrado com o futuro, ele se <strong>de</strong>tém<br />

num presente dilacerado por este e por aquele,<br />

testemunha lúcida <strong>de</strong> si mesmo e do transcurso dos<br />

homens, <strong>de</strong> um ponto <strong>de</strong> vista melancólico e cético.<br />

Mas, enquanto ironiza os costumes e a socieda<strong>de</strong>,<br />

asperamente satírico em seu amargor e <strong>de</strong>sencanto,<br />

entrega-se com empenho e requinte construtivo à<br />

comunicação estética <strong>de</strong>sse modo <strong>de</strong> ser e estar.<br />

Vem daí o rigor, que beira a obsessão. O poeta<br />

trabalha sobretudo com o tempo, em sua cintilação<br />

cotidiana e subjetiva, no que <strong>de</strong>stila do corrosivo. Em<br />

Sentimento do mundo (1940), em José (1942) e<br />

sobretudo em A rosa do povo (1945), Drummond<br />

lançou-se ao encontro da história contemporânea e da<br />

experiência coletiva, participando, solidarizando-se<br />

social e politicamente, <strong>de</strong>scobrindo na luta a<br />

explicitação <strong>de</strong> sua mais íntima apreensão para com a<br />

vida como um todo. A surpreen<strong>de</strong>nte sucessão <strong>de</strong><br />

obras-primas, nesses livros,<br />

indica a plena maturida<strong>de</strong> do<br />

poeta, mantida sempre.<br />

Várias obras do poeta<br />

foram traduzidas para o<br />

espanhol, inglês, francês, italiano,<br />

alemão, sueco, tcheco e outras<br />

línguas. Drummond foi<br />

seguramente, por muitas<br />

décadas, o poeta mais influente<br />

da literatura brasileira em seu<br />

tempo, tendo também publicado<br />

diversos livros em prosa.<br />

Em mão contrária traduziu os seguintes<br />

autores estrangeiros: Balzac (Les Paysans, 1845; Os<br />

camponeses), Cho<strong>de</strong>rlos <strong>de</strong> Laclos (Les Liaisons<br />

dangereuses, 1782; As relações perigosas), Marcel<br />

Proust (La Fugitive, 1925; A fugitiva), García Lorca<br />

(Doña Rosita, la soltera o el lenguaje <strong>de</strong> las flores, 1935;<br />

Dona Rosita, a solteira), François Mauriac (Thérèse<br />

Desqueyroux, 1927; Uma gota <strong>de</strong> veneno) e Molière<br />

(Les Fourberies <strong>de</strong> Scapin, 1677; Artimanhas <strong>de</strong><br />

Scapino).<br />

Alvo <strong>de</strong> admiração irrestrita, tanto pela obra<br />

quanto pelo seu comportamento como escritor, Carlos<br />

Drummond <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> morreu no Rio <strong>de</strong> Janeiro RJ, no<br />

dia 17 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1987, poucos dias após a morte <strong>de</strong><br />

sua filha única, a cronista Maria Julieta Drummond <strong>de</strong><br />

Andra<strong>de</strong>.<br />

Com esposa Dolores e a filha Julieta<br />

Disponível em:<br />

http://www.releituras.com/drummond_bio.asp<br />

25


<strong>História</strong>s <strong>de</strong> Drummond<br />

“Minha vida, nossas vidas<br />

formam um só diamante.<br />

Aprendi novas palavras<br />

e tornei outras mais belas.<br />

Eu preparo uma canção<br />

que faça acordar os homens<br />

e adormecer as crianças.”<br />

POESIA<br />

1930 – Alguma poesia<br />

1934 – Brejo das almas<br />

1940 – Sentimento do mundo<br />

1942 – José<br />

1945 – A rosa do povo<br />

1948 – Novos poemas<br />

1951 – A mesa<br />

1951 – Claro enigma<br />

1952 – Viola <strong>de</strong> bolso<br />

1954 – Fazen<strong>de</strong>iro do ar<br />

1955 – Soneto da buquinagem<br />

1957 – Ciclo<br />

1959 – A vida passada a limpo<br />

1962 – Lição <strong>de</strong> coisas<br />

1964 – Viola <strong>de</strong> bolso II<br />

1967 – Versiprosa<br />

1967 – José & outros<br />

1968 – Boitempo & A falta que ama<br />

1968 – Nu<strong>de</strong>z<br />

1969 – Reunião<br />

1973 – As impurezas do branco<br />

1973 – Menino antigo (Boitempo II)<br />

1977 – A visita<br />

1978 – O marginal Clorindo Gato<br />

1979 – Esquecer para lembrar (Boitempo III)<br />

1980 – A paixão medida<br />

1983 – Nova reunião<br />

1984 – Corpo<br />

1985 – Amar se apren<strong>de</strong> amando<br />

1986 – Tempo vida poesia<br />

1988 – Poesia errante<br />

1996 – Farewell<br />

Canção amiga<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

ANTOLOGIAS POÉTICAS<br />

1956 – 50 poemas escolhidos pelo autor<br />

1962 – Antologia poética<br />

1971 – Seleta em prosa e verso<br />

1975 – Amor, amores<br />

1982 – Carmina Drummondiana<br />

1987 – Boitempo I e Boitempo II<br />

INFANTIS<br />

1983 – O elefante<br />

1985 – <strong>História</strong> <strong>de</strong> dois amores<br />

EDIÇÕES DE POESIA REUNIDA<br />

1942 – Poesias<br />

1948 – Poesia até agora<br />

1954 – Fazen<strong>de</strong>iro do ar & Poesia até agora<br />

1959 – Poemas<br />

1969 – Reunião<br />

1983 – Nova reunião<br />

1997 – Coleção Verso na Prosa Prosa no Verso<br />

1997 – Coleção Mineiramente Drummond – A<br />

palavra mágica<br />

“Eu te amo porque não amo<br />

bastante ou <strong>de</strong>mais a mim.<br />

Porque amor não se troca,<br />

não se conjuga nem se ama.<br />

Porque amor é amor a nada,<br />

feliz e forte em si mesmo...”<br />

As sem-razões do amor<br />

26


PROSA<br />

1944 – Confissões <strong>de</strong> Minas<br />

1945 – O gerente<br />

1951 – Contos <strong>de</strong> aprendiz<br />

1952 – Passeios na ilha<br />

1957 – Fala, amendoeira<br />

1962 – A bolsa & a vida<br />

1966 – Ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> balanço<br />

1970 – Caminhos <strong>de</strong> João Brandão<br />

1972 – O po<strong>de</strong>r ultrajovem e mais 79 textos em prosa e verso<br />

1974 – De notícias & não-notícias faz-se a crônica<br />

1977 – Os dias lindos<br />

1978 – 70 historinhas<br />

1981 – Contos plausíveis<br />

1984 – Boca <strong>de</strong> luar<br />

1985 – O observador no escritório<br />

1987 – Moça <strong>de</strong>itada na grama<br />

1988 – O avesso das coisas<br />

1989 – Autorretrato e outras crônicas<br />

CONJUNTO DE OBRA<br />

1964 – Obra completa<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

ANTOLOGIAS DIVERSAS<br />

1962 – Quadrante<br />

1963 – Quadrante II<br />

1965 – Vozes da cida<strong>de</strong><br />

1965 – Rio <strong>de</strong> Janeiro em prosa & verso (em colaboração com Manuel Ban<strong>de</strong>ira)<br />

1966 – Andorinha, andorinha, <strong>de</strong> Manuel Ban<strong>de</strong>ira<br />

1967 – Uma pedra no meio do caminho (Biografia <strong>de</strong> um poema. Com estudo <strong>de</strong> Arnaldo Saraiva)<br />

1967 – Minas Gerais<br />

1971 – Elenco <strong>de</strong> cronistas mo<strong>de</strong>rnos<br />

1972 – Don Quixote<br />

1977 – Para gostar <strong>de</strong> ler<br />

1979 – O melhor da poesia brasileira I<br />

1981 – O pipoqueiro da esquina<br />

1982 – A lição do amigo<br />

1984 – Quatro vozes<br />

1984 – Mata Atlântica<br />

Disponível em: http://drummond.memoriaviva.com.br/mais-um-pouco/tudo/<br />

27


Elias por ele mesmo (1936-2008)<br />

Elias José<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

Sempre gostei <strong>de</strong> ler e escrever, sem <strong>de</strong>sejar ser um escritor.<br />

Comecei fazendo jornal <strong>de</strong> escola. Com as primeiras namoradas (reais<br />

ou i<strong>de</strong>alizadas), nasceram os primeiros poemas <strong>de</strong> amor. Depois, foi a<br />

fase <strong>de</strong> escrever crônicas para jornais do interior. Um dia, li que a<br />

revista Vida Doméstica estava patrocinando um concurso <strong>de</strong> contos<br />

sobre o tema “mar”. Escrevi e reescrevi o meu primeiro conto e ganhei<br />

o prêmio, todo feliz com a “grana” e com a publicação bem-cuidada,<br />

com ilustrações e papel <strong>de</strong> primeira. Aí não parei mais <strong>de</strong> escrever<br />

contos, publicando-os nos suplementos literários <strong>de</strong> Minas, São Paulo e<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro. Fui ganhando concursos e acumulando mais <strong>de</strong><br />

cinquenta histórias, até que pu<strong>de</strong>, em 1970, reuni-las no livro <strong>de</strong><br />

estreia: a mal-amada.<br />

Hoje, tenho mais <strong>de</strong> quarenta livros publicados, para crianças,<br />

jovens e adultos. Muitos <strong>de</strong>les ganharam prêmios importantes nacionalmente, como: “Jabuti”, “Governador do<br />

Distrito Fe<strong>de</strong>ral” e “Governo do Paraná”, para contos; dois do APCA (1982 e 1987); o “Odylo Costa, filho” e<br />

“Altamente Recomendado para Crianças”, da FNLIJ, para poesia infantil; e outros. Vários contos foram<br />

traduzidos e publicados no México, Argentina, Polônia, Estados Unidos e Nicarágua.<br />

Como vou muito às escolas para conversar com meus leitores, sempre me perguntam se é mais prazeroso<br />

escrever para crianças, para jovens e adultos. Confesso que me sinto outra pessoa, mais livre, mais feliz e meio<br />

menino quando escrevo poesias para crianças e jovens. A poesia<br />

nos dá a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> jogar com as palavras <strong>de</strong> forma mais<br />

criativa e musical. É um prazer buscar uma imagem poética,<br />

explorando o que as palavras têm <strong>de</strong> essencial e <strong>de</strong> sugestivo.<br />

Saber que tenho que contar uma história, ou explorar um instante<br />

<strong>de</strong> emoção, em um mínimo <strong>de</strong> palavras, é um <strong>de</strong>safio. É gostoso<br />

buscar palavras <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma palavra, arrumar e <strong>de</strong>sarrumar a<br />

distribuição em versos e estrofes, <strong>de</strong>slocar ou cortar o que não<br />

está bem. Acho que foi o poeta Décio Pignatari quem disse,<br />

acertadamente, que o poema “é uma aventura planificada”. E essa<br />

aventura não vale só para poeta, o criador do jogo. Se o leitor é<br />

sensível, se aceita a aventura, se resolve cantar junto, vibrar junto,<br />

haverá na leitura uma viagem gostosa ao país da fantasia. Mesmo<br />

que o leitor não se interesse pela planificação (é preferível que nem perceba as dificulda<strong>de</strong>s que apareceram na<br />

construção), ele tem que viver a aventura. Cada poema é uma <strong>de</strong>scoberta, uma novida<strong>de</strong> e, ao mesmo tempo, um<br />

diálogo com outros poemas que já foram feitos. Gosto <strong>de</strong> dialogar com os poemas folclóricos, <strong>de</strong> recriar cantigas<br />

para que elas voltem a ser cantadas. Além do prazer <strong>de</strong> criar, gosto <strong>de</strong> apresentar meus poemas em escolas. Leio<br />

em coro ou individualmente com os estudantes, fazemos variações temáticas, buscamos novas entonações,<br />

novos ritmos e sentidos. Muitas vezes, na hora, “pinta” um novo poema, feito por muitas vozes. Não é isso uma<br />

viagem, uma festa, uma aventura no mundo das palavras? Experimente, caro leitor, transformar meus poemas,<br />

musicá-los. Eles não são mais meus; <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> publicados, são <strong>de</strong> todos. Antes <strong>de</strong> entrar no jogo, porém, crie<br />

asas, solte as emoções, ligue seus sentidos – poesia é isso!<br />

JOSÉ, ELIAS. Segredinhos <strong>de</strong> amor. São Paulo: Mo<strong>de</strong>rna, 1991.<br />

28


<strong>História</strong> <strong>de</strong> Elias<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

Elias José nasceu em Santa Cruz da Prata, distrito do<br />

município <strong>de</strong> Guaranésia, Minas Gerais, em 25 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong><br />

1936. Além <strong>de</strong> escritor, Elias José é professor aposentado<br />

<strong>de</strong> Literatura Brasileira e <strong>de</strong> Teoria da Literatura na<br />

Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia <strong>de</strong> Guaxupé (FAFIG), tendo atuado<br />

também como vice-diretor, diretor e coor<strong>de</strong>nador do<br />

Departamento <strong>de</strong> Letras e como professor <strong>de</strong> Língua<br />

Portuguesa e Literatura Brasileira na Escola Estadual Dr.<br />

Benedito Leite Ribeiro.<br />

Elias José estreou em livro com “A Mal-Amada”, em<br />

1970, com apoio <strong>de</strong> Murilo Rubião, que reunia contos<br />

publicados em suplementos literários do Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />

São Paulo, Minas Gerais e Portugal. Antes disso, já tinha<br />

conquistado o segundo lugar no Concurso José Lins do<br />

Rego da Livraria José Olympio Editora, em 1968.<br />

Em 1971, publicou “O Tempo”, “Camila”, “Minicontos”. Em 1974, “Inquieta Viagem no Fundo<br />

do Poço” e “Contos”, ambos na Imprensa Oficial, sendo que este último ganhou o Prêmio Jabuti da<br />

Câmara Brasileira do Livro (CBL) como Melhor Livro <strong>de</strong> Contos <strong>de</strong> 1974 e o prêmio Governador do<br />

Distrito Fe<strong>de</strong>ral como Melhor Livro <strong>de</strong> Ficção <strong>de</strong> 1974.<br />

Elias José tem contos e poemas traduzidos e publicados em revistas literárias e antologias <strong>de</strong><br />

autores brasileiros no México, Argentina, Estados Unidos, Itália, Polônia, Nicarágua e Canadá. Já foi<br />

várias vezes selecionado pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) para<br />

representar o Brasil em feiras <strong>de</strong> livros internacionais. Jurado <strong>de</strong> vários concursos literários,<br />

ministrava cursos, oficinas e palestras, tendo participado <strong>de</strong> vários congressos <strong>de</strong> educação,<br />

linguística e literatura.<br />

Disponível em: http://www.educared.org<br />

“Ao pé das fogueiras acesas,<br />

Crianças, jovens, adultos,<br />

Até os já passados dos noventa,<br />

Teciam calorosos cantos e contos<br />

Grupais, envolventes e encantados.<br />

Hoje, em tempos <strong>de</strong> fogueiras apagadas,<br />

Precisamos fuçar na memória<br />

E catar os cacos dos sonhos<br />

Para engran<strong>de</strong>cer a vida<br />

E não sufocar o mito e a poesia.”<br />

Ao pé das fogueiras acesas<br />

29


<strong>História</strong>s <strong>de</strong> Elias<br />

INFANTIL E JUVENIL<br />

As Curtições <strong>de</strong> Pitu - 1976<br />

O Fantasma no Porão - 1979<br />

Jogo Duro - 1979<br />

Os que Po<strong>de</strong>m Voar - 1981<br />

Saudoso, O Burrinho Manhoso - 1981<br />

Dança das Descobertas - 1982<br />

Pouco <strong>de</strong> Tudo, <strong>de</strong> Bichos, <strong>de</strong> Gente, <strong>de</strong><br />

Flores - 1982<br />

A Dança das Descobertas - 1982<br />

Passageiros em Trânsito - 1983<br />

De Repente Toda <strong>História</strong> Novamente -<br />

1983<br />

Cida<strong>de</strong> da Pá Virada - 1983<br />

Gente louca, maré solta! - 1983<br />

Caixa Mágica <strong>de</strong> Surpresas - 1984<br />

O Historiador <strong>de</strong> Catitó - 1984<br />

O Herói Abatido - 1984<br />

Vaida<strong>de</strong> no Terreiro - 1984<br />

Com as Asas na Cabeça - 1985<br />

Um Rei e seu Cavalo <strong>de</strong> Pau – 1986<br />

Um Casório Bem Finório - 1987<br />

Fabulosos Macacos Cientistas - 1987<br />

Namorinho <strong>de</strong> Portão - 1987<br />

Lua no Brejo - 1987<br />

Machado <strong>de</strong> Assis - 1988<br />

Os Primeiros Voos do Menino - 1988<br />

Sorvete Sabor Sauda<strong>de</strong> - 1988<br />

Amor, Mágica e Magia - 1988<br />

Só um Cara Viu - 1989<br />

Mamãezinha - 2007<br />

Primeiras Lições <strong>de</strong> Amor - 1989<br />

Furta-Sonos e Outras <strong>História</strong>s - 1989<br />

O Jogo da Fantasia - 1989<br />

Luta Tamanha, <strong>Quem</strong> Ganha? - 1990<br />

Os Vários Voos da Vaca Vivi - 1990<br />

Um Curioso Aluado - 1990<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

Vó Melinha, Rainha e Cigana - 1990<br />

Setecontos Setencantos - 1991<br />

Segredinhos <strong>de</strong> Amor - 1991<br />

Lua no Brejo - 1991<br />

Sem Pé nem Cabeça - 1992<br />

Bolo pra Festa no Céu - 1992<br />

Cantigas <strong>de</strong> Adolescer - 1992<br />

A Toada do Tatu - 1992<br />

Sem Pé nem Cabeça - 1992<br />

<strong>Quem</strong> Lê com Pressa Tropeça - 1992<br />

Uma Escola Assim, Eu Quero para Mim -<br />

1993<br />

De Amora e Amor - 1993<br />

Vaida<strong>de</strong> no Terreiro - 1994<br />

Mundo Criado, Trabalho Dobrado - 1996<br />

Noites <strong>de</strong> Lua Cheia - 1996<br />

Toda Sorte <strong>de</strong> Magia - 1996<br />

No Balancê do Abecê - 1996<br />

O que <strong>Conta</strong> o Faz <strong>de</strong> <strong>Conta</strong> - 1996<br />

Bicho <strong>de</strong> pé é chulé na mulher - 2001<br />

Lições <strong>de</strong> Telhado - 1996<br />

Félix e seu Fole Fe<strong>de</strong>m - 1996<br />

O Mundo Todo Revirado - 1996<br />

O Jogo das Palavras Mágicas - 1996<br />

Cantos <strong>de</strong> Encantamento - 1996<br />

Solos <strong>de</strong> Violões e Sonhos - 1997<br />

O Incrível Bicho-Homem - 1997<br />

O Baú <strong>de</strong> Sonhos - 1997<br />

Vera Lúcia, Verda<strong>de</strong> e Luz - 1997<br />

(Re)Fabulando (sete volumes) -<br />

1998/2005<br />

A Cida<strong>de</strong> que Per<strong>de</strong>u o seu Mar - 1998<br />

O Macaco e a Morte - 1998<br />

A Gula da Avó e da Onça - 1998<br />

As Virações da Formiga - 1998<br />

O Macaco e sua Viola - 1998<br />

De como o Macaco Venceu a Onça - 1998<br />

30


O Macaco e o seu Rabo - 1998<br />

Viagem Criada, Emoção Dobrada - 1999<br />

A Vida em Pequenas Doses - 2000<br />

Ri Bem Melhor <strong>Quem</strong> Junto Ri - 2000<br />

O Amigão <strong>de</strong> Todo Mundo - 2001<br />

O Desenhista - 2001<br />

O que Tem nesta Venda - 2001<br />

O Que Você Lê Ali - 2001<br />

Visitas à Casa da Vovó - 2001<br />

Querido professor - 1999<br />

Gente e mais Gente - 2001<br />

Birutices - 2002<br />

Um Jeito Bom <strong>de</strong> Brincar - 2002<br />

Vidrado em Bicho - 2002<br />

Eu Sou Mais Eu - 2002<br />

As <strong>História</strong>s e os Lugares - 2002<br />

O <strong>Conta</strong>dor <strong>de</strong> Vantagens - 2002<br />

Bicho <strong>de</strong> Pena Provoca Amor e Pena -<br />

2002<br />

Se Tudo Isso Acontecesse - 2002<br />

Saudando <strong>Quem</strong> Chega - 2002<br />

É Hora <strong>de</strong> Jogar Conversa Fora - 2002<br />

De Olho nos Bichos - 2003<br />

Poesia Pe<strong>de</strong> Passagem - 2003<br />

<strong>História</strong> Sorri<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Unhas e Dentes -<br />

2003<br />

Que Confusão, Seu Adão! - 2003<br />

Aquarelas do Brasil - 2003<br />

O que se Lê no Abecê - 2003<br />

O Dono da Bola - 2004<br />

Dias <strong>de</strong> sucesso - 2009<br />

Dias <strong>de</strong> Susto - 2005<br />

Mínimas Descobertas - 2005<br />

<strong>Quem</strong> <strong>Conta</strong> um Conto Aumenta um Ponto<br />

- 2005<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

O Rei do Espetáculo - 2005<br />

A Festa da Princesa, que Beleza! - 2006<br />

Dois Gigantes Diferentes - 2006<br />

Forrobodó no Forró - 2006<br />

Mágica Terra Brasileira - 2006<br />

Cantigas <strong>de</strong> Amor - 2006<br />

Fantasia do Olhar - 2006 - Minicontos<br />

inspirados nas obras <strong>de</strong> Al<strong>de</strong>mir Martins<br />

Está chovendo animais famintos - 1998<br />

Pequeno Dicionário Poético-Humorístico<br />

Ilustrado - 2006<br />

Ao Pé das Fogueiras Acesas - 2008<br />

Ciranda Brasileira - 2006<br />

Cantigas para Enten<strong>de</strong>r o Tempo – 2007<br />

FORMAÇÃO<br />

Literatura infantil: Ler, <strong>Conta</strong>r e Encantar<br />

Crianças - 2007<br />

ROMANCE<br />

Inventário do Inútil - 1978<br />

Armadilhas da Solidão - 1994<br />

CRÔNICA<br />

Olho por Olho, Dente por Dente - 1982<br />

POESIA<br />

A Dança das Descobertas – 1982<br />

Amor Adolescente - 1999 (Atual Editora)<br />

CONTO<br />

A Mal-Amada – 1970<br />

O Tempo, Camila – 1971<br />

Inquieta Viagem ao Fundo do Poço – 1974<br />

Um Pássaro em Pânico – 1977<br />

Passageiros em Trânsito – 1983<br />

O Grito dos Torturados - 1986<br />

Disponível em: http://pt.wikipedia.org<br />

31


Jorge Amado<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

Jorge por ele mesmo (1912-2001) - Nem a rosa, nem o cravo...<br />

As frases per<strong>de</strong>m seu sentido, as palavras per<strong>de</strong>m sua significação<br />

costumeira, como dizer das árvores e das flores, dos teus olhos e do mar,<br />

das canoas e do cais, das borboletas nas árvores, quando as crianças são<br />

assassinadas friamente pelos nazistas? Como falar da gratuita beleza dos<br />

campos e das cida<strong>de</strong>s, quando as bestas soltas no mundo ainda <strong>de</strong>stroem os<br />

campos e as cida<strong>de</strong>s?<br />

Já viste um loiro trigal balançando ao vento? É das coisas mais<br />

belas do mundo, mas os hitleristas e seus cães danados <strong>de</strong>struíram os<br />

trigais e os povos morrem <strong>de</strong> fome. Como falar, então, da beleza, <strong>de</strong>ssa<br />

beleza simples e pura da farinha e do pão, da água da fonte, do céu azul, do<br />

teu rosto na tar<strong>de</strong>? Não posso falar <strong>de</strong>ssas coisas <strong>de</strong> todos os dias, <strong>de</strong>ssas<br />

alegrias <strong>de</strong> todos os instantes. Porque elas estão perigando, todas elas, os<br />

trigais e o pão, a farinha e a água, o céu, o mar e teu rosto. Contra tudo que é<br />

a beleza cotidiana do homem, o nazifascismo se levantou, monstro medieval<br />

<strong>de</strong> torpe visão, <strong>de</strong> ávido apetite assassino. Outros que falem, se quiserem,<br />

das árvores nas tar<strong>de</strong>s agrestes, das rosas em coloridos variados, das flores simples e dos versos mais belos e mais<br />

tristes. Outros que falem as gran<strong>de</strong>s palavras <strong>de</strong> amor para a bem-amada, outros que digam dos crepúsculos e das<br />

noites <strong>de</strong> estrelas. Não tenho palavras, não tenho frases, vejo as árvores, os pássaros e a tar<strong>de</strong>, vejo teus olhos, vejo o<br />

crepúsculo bordando a cida<strong>de</strong>. Mas sobre todos esses quadros boiam cadáveres <strong>de</strong> crianças que os nazis mataram, ao<br />

canto dos pássaros se mesclam os gritos dos velhos torturados nos campos <strong>de</strong> concentração, nos crepúsculos se fun<strong>de</strong>m<br />

madrugadas <strong>de</strong> reféns fuzilados. E, quando a paisagem lembra o campo, o que eu vejo são os trigais <strong>de</strong>struídos ao <strong>passo</strong><br />

das bestas hitleristas, os trigais que alimentavam antes as populações livres. Sobre toda a beleza paira a sombra da<br />

escravidão. É como uma nuvem inesperada num céu azul e límpido. Como então encontrar palavras inocentes, doces<br />

palavras cariciosas, versos suaves e tristes? Perdi o sentido <strong>de</strong>stas palavras, <strong>de</strong>stas frases, elas me soam como uma<br />

traição neste momento.<br />

Mas sei todas as palavras <strong>de</strong> ódio, do ódio mais profundo e mais mortal. Eles matam crianças e essa é a sua<br />

maneira <strong>de</strong> brincar o mais inocente dos brinquedos. Eles <strong>de</strong>sonram a beleza das mulheres nos leitos imundos e essa é a<br />

sua maneira mais romântica <strong>de</strong> amar. Eles torturam os homens nos campos <strong>de</strong> concentração e essa é a sua maneira<br />

mais simples <strong>de</strong> construir o mundo. Eles invadiram as pátrias, escravizaram os povos, e esse é o i<strong>de</strong>al que levam no<br />

coração <strong>de</strong> lama. Como então ficar <strong>de</strong> olhos fechados para tudo isto e falar, com as palavras <strong>de</strong> sempre, com as frases <strong>de</strong><br />

ontem, sobre a paisagem e os pássaros, a tar<strong>de</strong> e os teus olhos? É impossível porque os monstros estão sobre o mundo<br />

soltos e vorazes, a boca escorrendo sangue, os olhos amarelos, na ambição <strong>de</strong> escravizar. Os monstros pardos, os<br />

monstros negros e os monstros ver<strong>de</strong>s.<br />

Mas eu sei todas as palavras <strong>de</strong> ódio e essas, sim, têm um significado neste momento. Houve um dia em que eu<br />

falei do amor e encontrei para ele os mais doces vocábulos, as frases mais trabalhadas. Hoje só o ódio po<strong>de</strong> fazer com<br />

que o amor perdure sobre o mundo. Só o ódio ao fascismo, mas um ódio mortal, um ódio sem perdão, um ódio que<br />

venha do coração e que nos tome todo, que se faça dono <strong>de</strong> todas as nossas palavras, que nos impeça <strong>de</strong> ver qualquer<br />

espetáculo - <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o crepúsculo aos olhos da amada - sem que junto a ele vejamos o perigo que os cerca.<br />

Jamais as tar<strong>de</strong>s seriam doces e jamais as madrugadas seriam <strong>de</strong> esperança. Jamais os livros diriam coisas belas, nunca<br />

mais seria escrito um verso <strong>de</strong> amor. Sobre toda a beleza do mundo, sobre a farinha e o pão, sobre a pura água da fonte<br />

e sobre o mar, sobre teus olhos também, se <strong>de</strong>bruçaria a <strong>de</strong>sonra que é o nazifascismo, se eles tivessem conseguido<br />

dominar o mundo. Não restaria nenhuma parcela <strong>de</strong> beleza, a mais mínima. Amanhã saberei <strong>de</strong> novo palavras doces e<br />

frases cariciosas. Hoje só sei palavras <strong>de</strong> ódio, palavras <strong>de</strong> morte. Não encontrarás um cravo ou uma rosa, uma flor na<br />

minha literatura. Mas encontrarás um punhal ou um fuzil, encontrarás uma arma contra os inimigos da beleza, contra<br />

aqueles que amam as trevas e a <strong>de</strong>sgraça, a lama e os esgotos, contra esses restos <strong>de</strong> podridão que sonharam esmagar a<br />

poesia, o amor e a liberda<strong>de</strong>!<br />

O texto acima foi publicado no jornal "Folha da Manhã", edição <strong>de</strong> 22/04/1945, e consta do livro "Figuras do<br />

Brasil: 80 autores em 80 anos <strong>de</strong> Folha", PubliFolha - São Paulo, 2001, pág. 79, organização <strong>de</strong> Arthur Nestrovski.<br />

Disponível em: http://www.releituras.com/jorgeamado_menu.asp<br />

32


1 ano<br />

<strong>História</strong> <strong>de</strong> Jorge<br />

Jorge Amado<br />

nasceu a 10 <strong>de</strong> agosto<br />

<strong>de</strong> 1912, na fazenda<br />

Auricídia, no distrito<br />

<strong>de</strong> Ferradas,<br />

município <strong>de</strong> Itabuna,<br />

sul do Estado da<br />

Bahia. Filho do<br />

fazen<strong>de</strong>iro <strong>de</strong> cacau<br />

João Amado <strong>de</strong> Faria e<br />

<strong>de</strong> Eulália Leal Amado.<br />

Com um ano <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, foi<br />

para Ilhéus, on<strong>de</strong> <strong>passo</strong>u a infância.<br />

Fez os estudos secundários no<br />

Colégio Antônio Vieira e no Ginásio<br />

Ipiranga, em Salvador. Neste<br />

período, começou a trabalhar em<br />

jornais e a participar da vida<br />

literária, sendo um dos fundadores<br />

da Aca<strong>de</strong>mia dos Rebel<strong>de</strong>s.<br />

Publicou seu primeiro<br />

romance, O país do carnaval, em<br />

1931. Casou-se em 1933, com<br />

Matil<strong>de</strong> Garcia Rosa, com quem<br />

teve uma filha, Lila. Nesse ano<br />

publicou seu segundo romance,<br />

Cacau.<br />

Formou-se pela Faculda<strong>de</strong><br />

Nacional <strong>de</strong> Direito, no Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro, em 1935. Militante<br />

comunista, foi obrigado a exilar-se na Argentina e no<br />

Uruguai entre 1941 e 1942, período em que fez longa<br />

viagem pela América Latina. Ao voltar, em 1944,<br />

separou-se <strong>de</strong> Matil<strong>de</strong> Garcia Rosa.<br />

Em 1945, foi eleito membro da Assembleia<br />

Nacional Constituinte, na legenda do Partido Comunista<br />

Brasileiro (PCB), tendo sido o <strong>de</strong>putado fe<strong>de</strong>ral mais<br />

votado do Estado <strong>de</strong> São Paulo.<br />

Jorge Amado foi o autor da lei,<br />

ainda hoje em vigor, que<br />

assegura o direito à liberda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> culto religioso. Nesse<br />

mesmo ano, casou-se com Zélia<br />

Gattai.<br />

Em 1947, ano do<br />

nascimento <strong>de</strong> João Jorge,<br />

primeiro filho do casal, o PCB foi<br />

<strong>de</strong>clarado ilegal e seus membros<br />

perseguidos e presos. Jorge<br />

Amado teve que se exilar com a<br />

família na França, on<strong>de</strong> ficou até<br />

Jorge e Zélia, grávida <strong>de</strong> João Jorge,<br />

em São João <strong>de</strong> Meriti. 1947<br />

Cerimônia <strong>de</strong> posse na<br />

Aca<strong>de</strong>mia Brasileira <strong>de</strong> Letras<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

1950, quando foi expulso. Em 1949, morreu no Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro sua filha Lila. Entre 1950 e 1952, viveu em<br />

Praga, on<strong>de</strong> nasceu sua filha Paloma.<br />

De volta ao Brasil, Jorge Amado afastou-se, em<br />

1955, da militância política, sem, no entanto, <strong>de</strong>ixar os<br />

quadros do Partido Comunista. Dedicou-se, a partir <strong>de</strong><br />

então, inteiramente à literatura. Foi eleito, em 6 <strong>de</strong><br />

abril <strong>de</strong> 1961, para a ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> número 23, da<br />

Aca<strong>de</strong>mia Brasileira <strong>de</strong> Letras, que tem por patrono<br />

José <strong>de</strong> Alencar e por primeiro ocupante Machado <strong>de</strong><br />

Assis.<br />

A obra literária <strong>de</strong> Jorge<br />

Amado conheceu inúmeras adaptações<br />

para cinema, teatro e televisão, além <strong>de</strong><br />

ter sido tema <strong>de</strong> escolas <strong>de</strong> samba em<br />

várias partes do Brasil. Seus livros<br />

foram traduzidos para 49 idiomas,<br />

existindo também exemplares em<br />

braile e em formato <strong>de</strong> audiolivro.<br />

Jorge Amado morreu em<br />

Salvador, no dia 6 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2001.<br />

Foi cremado conforme seu <strong>de</strong>sejo, e<br />

suas cinzas foram enterradas no jardim<br />

<strong>de</strong> sua residência na Rua Alagoinhas,<br />

no dia em que completaria 89 anos.<br />

A obra <strong>de</strong> Jorge Amado<br />

mereceu diversos prêmios nacionais e<br />

internacionais, entre os quais<br />

<strong>de</strong>stacam-se: Stalin da Paz (União<br />

Soviética, 1951), Latinida<strong>de</strong> (França,<br />

1971), Nonino (Itália, 1982), Dimitrov<br />

(Bulgária, 1989), Pablo Neruda (Rússia, 1989), Etruria<br />

<strong>de</strong> Literatura (Itália, 1989), Cino Del Duca (França,<br />

1990), Mediterrâneo (Itália, 1990), Vitaliano Brancatti<br />

(Itália, 1995), Luis <strong>de</strong> Camões (Brasil, Portugal, 1995),<br />

Jabuti (Brasil, 1959, 1995) e Ministério da Cultura<br />

(Brasil, 1997).<br />

Recebeu títulos <strong>de</strong> Comendador e <strong>de</strong> Gran<strong>de</strong><br />

Oficial, nas or<strong>de</strong>ns da Venezuela, França, Espanha,<br />

Portugal, Chile e Argentina; além <strong>de</strong> ter sido feito<br />

Doutor Honoris Causa em 10 universida<strong>de</strong>s, no<br />

Brasil, na Itália, na França, em Portugal e em Israel.<br />

O título <strong>de</strong> Doutor pela Sorbonne, na França, foi o<br />

último que recebeu pessoalmente, em 1998, em sua<br />

última viagem a Paris, quando já estava doente.<br />

Jorge Amado orgulhava-se do título <strong>de</strong><br />

Obá, posto civil que exercia no Ilê Axé Opô Afonjá,<br />

na Bahia.<br />

Disponível em:<br />

http://www.jorgeamado.org.br/?page_id=75<br />

33


<strong>História</strong>s <strong>de</strong> Jorge<br />

ROMANCES:<br />

- O País do Carnaval, 1931<br />

- Cacau, 1933<br />

- Suor, 1934<br />

- Jubiabá, 1935<br />

- Mar Morto, 1936<br />

- Capitães da Areia, 1936<br />

- Terras do Sem Fim, 1943<br />

- São Jorge dos Ilhéus, 1944<br />

- Seara Vermelha, 1946<br />

- Os Subterrâneos da Liberda<strong>de</strong> (3v), 1954<br />

- Gabriela, Cravo e Canela, 1958<br />

- Os Pastores da Noite, 1964<br />

- Dona Flor e Seus Dois Maridos,1966<br />

- Tenda dos Milagres, 1969<br />

- Teresa Batista Cansada da Guerra, 1972<br />

- Tieta do Agreste, 1977<br />

- Farda Fardão Camisola <strong>de</strong> Dormir, 1979<br />

- Tocaia Gran<strong>de</strong>: a face obscura, 1984<br />

- O Sumiço da Santa: uma história <strong>de</strong> feitiçaria, 1988<br />

- A Descoberta da América pelos Turcos, 1994<br />

- O Compadre <strong>de</strong> Ogum, 1995<br />

NOVELAS<br />

- A Morte e a Morte <strong>de</strong> Quincas Berro D’água, 1959<br />

- Os Velhos Marinheiros, 1976<br />

LITERATURA INFANTO-JUVENIL:<br />

- O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá: uma história <strong>de</strong> amor, 1976<br />

- A Bola e o Goleiro, 1984<br />

- O Capeta Carybé, 1986<br />

POESIA:<br />

- A Estrada do Mar, 1938<br />

TEATRO:<br />

- O Amor do Soldado, 1947 (ainda com o título O Amor <strong>de</strong> Castro Alves), 1958<br />

CONTOS:<br />

- Sentimentalismo, 1931<br />

- O homem da mulher e a mulher do homem, 1931<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

34


- <strong>História</strong> do carnaval, 1945<br />

- As mortes e o triunfo <strong>de</strong> Rosalinda, 1965<br />

- Do recente milagre dos pássaros, 1979<br />

- O episódio <strong>de</strong> Siroca, 1982<br />

- De como o mulato Porciúncula <strong>de</strong>scarregou o seu <strong>de</strong>funto, 1989<br />

RELATOS AUTOBIOGRÁFICOS:<br />

- O menino grapiúna, 1981<br />

- Navegação <strong>de</strong> cabotagem: apontamentos para um livro <strong>de</strong> memórias que jamais escreverei, 1992<br />

TEXTOS AUTOBIOGRÁFICOS:<br />

- ABC <strong>de</strong> Castro Alves, 1941<br />

- O cavaleiro da esperança, 1945<br />

GUIA/VIAGENS:<br />

- Bahia <strong>de</strong> Todos os Santos: guia <strong>de</strong> ruas e <strong>de</strong> mistérios, 1945<br />

- O mundo da paz (viagens), 1951<br />

- Bahia Boa Terra Bahia, 1967<br />

- Bahia, 1970<br />

- Terra Mágica da Bahia, 1984.<br />

DOCUMENTO POLÍTICO/ORATÓRIA:<br />

- Homens e coisas do Partido Comunista, 1946<br />

- Discursos, 1993<br />

LIVRO TRADUZIDO:<br />

- Dona Bárbara (Doña Barbara), romance do venezuelano Rómulo Gallegos, 1934<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

EM PARCERIA:<br />

- Lenita (novela), com Edison Carneiro e Dias da Costa, 1929<br />

- Descoberta do mundo (literatura infantil), com Matil<strong>de</strong> Garcia Rosa, 1933<br />

- Brandão entre o mar e o amor, com José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Aníbal Machado e Rachel <strong>de</strong> Queiroz, 1942<br />

- O mistério <strong>de</strong> MMM, com Viriato Corrêa, Dinah Silveira <strong>de</strong> Queiroz, Lúcio Cardoso, Herberto Sales, Rachel <strong>de</strong> Queiroz,<br />

José Condé, Guimarães Rosa, Antônio Callado e Orígines Lessa, 1962<br />

PUBLICAÇÕES NO EXTERIOR:<br />

Segundo a Fundação Casa <strong>de</strong> Jorge Amado, existem registros oficiais <strong>de</strong> traduções<br />

<strong>de</strong> obras do escritor para os seguintes idiomas: azerbaidjano, albanês, alemão,<br />

árabe, armênio, búlgaro, catalão, chinês, coreano, croata, dinamarquês, eslovaco,<br />

esloveno, espanhol, esperanto, estoniano, finlandês, francês, galego, georgiano,<br />

grego, guarani, hebraico, holandês, húngaro, iídiche, inglês, islandês, italiano,<br />

japonês, letão, lituano, macedônio, moldávio, mongol, norueguês, persa, polonês,<br />

romeno, russo, sérvio, sueco, tailandês, tcheco, turco, turcumênio, ucraniano e<br />

vietnamita (48 no total). Essas traduções foram publicadas no mínimo nos<br />

seguintes países: Albânia, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Armênia, Áustria,<br />

Azerbaidjão, Bulgária, Canadá, Chile, China, Colômbia, Coréia do Norte, Coréia do<br />

Sul, Cuba, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, Eslováquia, Estônia, Finlândia,<br />

França, Geórgia, Grécia, Holanda, Hungria, Inglaterra, Irã, Islândia, Israel, Itália,<br />

Iugoslávia, Japão, Letônia, Lituânia, México, Mongólia, Noruega, Paraguai, Polônia,<br />

Portugal, República Tcheca, Romênia, Rússia, Suécia, Tailândia, Turquia, Ucrânia,<br />

Uruguai, Venezuela e Vietnã; o Brasil também <strong>de</strong>ve ser computado em função da<br />

edição nacional em esperanto, totalizando 52 nações.<br />

Dados extraídos <strong>de</strong> livros do autor, portais da Internet, outros livros e revistas e,<br />

em especial, dos Ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> Literatura Brasileira publicados pelo Instituto<br />

Moreira Salles.<br />

Disponível em: http://www.releituras.com/jorgeamado_bio.asp<br />

35


Lygia Bojunga<br />

Lygia por ela mesma – Livro: a troca<br />

Pra mim, livro é vida; <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que eu era muito pequena<br />

os livros me <strong>de</strong>ram casa e comida.<br />

Foi assim: eu brincava <strong>de</strong> construtora, livro era tijolo;<br />

em pé, fazia pare<strong>de</strong>; <strong>de</strong>itado, fazia <strong>de</strong>grau <strong>de</strong> escada;<br />

inclinado, encostava no outro e fazia telhado.<br />

E quando a casinha ficava pronta eu me espremia lá <strong>de</strong>ntro<br />

pra brincar <strong>de</strong> morar em livro.<br />

De casa em casa, eu fui <strong>de</strong>scobrindo o mundo<br />

(<strong>de</strong> tanto olhar pras pare<strong>de</strong>s).<br />

Primeiro, olhando <strong>de</strong>senhos; <strong>de</strong>pois, <strong>de</strong>cifrando palavras.<br />

Fui crescendo; e <strong>de</strong>rrubei telhados com a cabeça.<br />

Mas fui pegando intimida<strong>de</strong> com as palavras.<br />

E quanto mais íntimos a gente ficava, menos eu ia me lembrando<br />

<strong>de</strong> consertar o telhado ou <strong>de</strong> construir novas casas.<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

Só por causa <strong>de</strong> uma razão: o livro agora alimentava<br />

minha imaginação.<br />

Todo dia a minha imaginação comia, comia e comia;<br />

e <strong>de</strong> barriga assim toda cheia, me leva pra morar<br />

no mundo inteiro:<br />

iglu, cabana, palácio, arranha-céu, era só escolher e pronto,<br />

o livro me dava.<br />

Foi assim que, <strong>de</strong>vagarinho, me habituei com essa troca tão<br />

gostosa que – no meu jeito <strong>de</strong> ver as coisas –<br />

é a troca da própria vida;<br />

quanto mais eu buscava no livro, mais ele me dava.<br />

Mas como a gente tem mania <strong>de</strong> sempre querer mais,<br />

eu cismei um dia <strong>de</strong> alargar a troca:<br />

comecei a fabricar tijolo pra – em algum lugar –<br />

uma criança juntar com outros e levantar<br />

a casa on<strong>de</strong> vai morar.<br />

Mensagem <strong>de</strong> Lygia Bojunga para o Dia Internacional do Livro Infantil e Juvenil, traduzida e<br />

divulgada nos 64 países membros do IBBY<br />

Disponível em: http://www.casalygiabojunga.com.br/frames/livroatroca.htm<br />

36


1 ano<br />

Escritora<br />

brasileira, escreveu<br />

inicialmente os seus<br />

livros sob o nome<br />

Lygia Bojunga Nunes.<br />

Nasceu em Pelotas no<br />

dia 26 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong><br />

1932 e cresceu numa<br />

fazenda. Aos oito anos<br />

<strong>de</strong> ida<strong>de</strong> foi para o Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro on<strong>de</strong> em<br />

1951 se tornou atriz<br />

numa companhia <strong>de</strong><br />

teatro que viajava pelo interior do Brasil. A<br />

predominância do analfabetismo que presenciou<br />

nessas viagens levou-a a fundar uma escola para<br />

crianças pobres do interior, que dirigiu durante<br />

cinco anos. Trabalhou durante muito tempo para<br />

o rádio e a televisão, antes <strong>de</strong> <strong>de</strong>butar como<br />

escritora <strong>de</strong> livros infantis em 1972.<br />

Num continente que se tornou conhecido<br />

por seu realismo mágico e contos fantásticos, a<br />

literatura infantil brasileira caracteriza-se por<br />

uma acentuada transgressão dos limites entre a<br />

fantasia e a realida<strong>de</strong>. Lygia Bojunga é uma<br />

escritora que perpetuou esta tradição e a tornou<br />

perfeita. Para ela, o quotidiano está repleto <strong>de</strong><br />

magia: on<strong>de</strong> brotam os <strong>de</strong>sejos tão pesados que<br />

literalmente não é possível erguê-los, on<strong>de</strong><br />

alfinetes e guarda-chuvas conversam tão<br />

obviamente como os peões e as bolas, on<strong>de</strong><br />

animais vivem vidas tão<br />

variadas e vulneráveis<br />

como as pessoas.<br />

Imperceptivelmente, o<br />

concreto da realida<strong>de</strong><br />

transforma-se noutra<br />

coisa, não num outro<br />

mundo, mas num<br />

mundo <strong>de</strong>ntro do<br />

mundo dos sentidos,<br />

Aos 19 anos tomada <strong>de</strong><br />

paixão pelo teatro<br />

on<strong>de</strong> a linha entre o<br />

possível é tão difusa<br />

como fácil <strong>de</strong><br />

ultrapassar. A tristeza vive com Bojunga<br />

juntamente com o conforto, a calma alegria com a<br />

estonteante aventura e no centro da fantasia da<br />

escrita está a criança, muitas vezes sozinha e<br />

abandonada, sempre sensível, sempre cheia <strong>de</strong><br />

<strong>História</strong> <strong>de</strong> Lygia<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

fantasias. A morte não é tabu, a <strong>de</strong>silusão também<br />

não, mas além da próxima esquina, espera a cura.<br />

Numa prosa lírica e marcante, pinta as suas<br />

imagens e não importa se a solidão é muito<br />

amarga, há sempre um sorriso que expressa uma<br />

compaixão com os mais pequenos, que nunca se<br />

torna sentimental.<br />

"... naquele tempo escrever/criar<br />

personagens era, pra mim, uma forma <strong>de</strong><br />

sobreviver e <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r construir a casa que<br />

eu queria pra morar (a Boa Liga); só <strong>de</strong>pois,<br />

quando eu abracei a literatura, é que eu me<br />

<strong>de</strong>i conta que escrever/criar personagens<br />

era muito mais que um jeito <strong>de</strong> sobreviver:<br />

era – e agora sim! – o jeito <strong>de</strong> viver que eu,<br />

realmente, queria pra mim."<br />

Após abandonar sua carreira <strong>de</strong> atriz<br />

Os textos <strong>de</strong> Bojunga baseiam-se<br />

fortemente na perspectiva da criança. Ela observa<br />

o mundo através dos olhos brincalhões da criança.<br />

Aqui é tudo possível: os seus personagens po<strong>de</strong>m<br />

fantasiar um cavalo no qual cavalgam a galope ou<br />

<strong>de</strong>senhar uma porta numa pare<strong>de</strong>, que<br />

atravessam no momento seguinte. As fantasias<br />

servem geralmente para ultrapassar experiências<br />

pessoais difíceis: quando a personagem principal<br />

em Corda Bamba, 1979 usa uma corda para entrar<br />

em uma casa estranha com muitas portas<br />

fechadas, do outro lado da rua, é na prática uma<br />

forma <strong>de</strong> curar a tristeza <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter perdido os<br />

seus pais numa morte inesperada. Em A Casa da<br />

Madrinha, 1987 percebemos <strong>de</strong>pressa que as<br />

experiências fantásticas <strong>de</strong> Alexandre durante a<br />

sua busca pela casa longínqua <strong>de</strong> sua madrinha<br />

são na realida<strong>de</strong> a concretização das fantasias <strong>de</strong><br />

felicida<strong>de</strong> e amparo <strong>de</strong> um menino da rua<br />

abandonado. É uma história que se aproxima do<br />

conto <strong>de</strong> Astrid Lindgren Sunnanäng. A fantasia<br />

psicológica <strong>de</strong> Bojunga emerge novamente nos<br />

contos com animais: quando o tatuzinho Vítor em<br />

O Sofá Estampado, 1980 se sente nervoso, começa<br />

37


a tossir e arranhar o sofá – até entrar um<br />

momento mais tar<strong>de</strong> nos seus tempos <strong>de</strong> infância.<br />

O realismo mágico e perspicácia<br />

psicológica reúnem-se a uma paixão pelo social e<br />

pela <strong>de</strong>mocracia. Bojunga, que<br />

começou a escrever quando<br />

ainda dominava a ditadura no<br />

Brasil, dirigia ativida<strong>de</strong>s<br />

subversivas. Isto torna-se mais<br />

fácil em literatura infantil porque<br />

– nas palavras <strong>de</strong> Bojunga – os<br />

generais não leem livros<br />

<strong>de</strong>stinados às crianças. Nestes<br />

livros, encontram-se galos <strong>de</strong><br />

briga com o cérebro costurado<br />

com arame e pavões com filtros <strong>de</strong><br />

pensamento que se removem com um sacarolhas.<br />

Os ventos da liberda<strong>de</strong> são fortes nos<br />

livros <strong>de</strong> Bojunga, on<strong>de</strong> a crítica contra a falta <strong>de</strong><br />

igualda<strong>de</strong> entre os sexos é um tema recorrente.<br />

Mas Bojunga nunca dá sermões, o sério é sempre<br />

equilibrado pela brinca<strong>de</strong>ira e o humor absurdo.<br />

Os sonhos inflados <strong>de</strong> Raquel em A Bolsa Amarela,<br />

1976, são literalmente perfurados por um alfinete,<br />

e transformados em pipas <strong>de</strong><br />

papel que voam para bem<br />

distante à mercê dos ventos.<br />

Bojunga (que costuma<br />

apresentar-se em público com<br />

monólogos dramáticos) tem o<br />

dom da narrativa oral que<br />

pren<strong>de</strong> o leitor logo na<br />

primeira<br />

página. Também escreveu<br />

peças teatrais e gosta <strong>de</strong> usar<br />

<strong>de</strong>scrições cênicas. Num dos<br />

seus livros, Angélica, 1975, incluiu<br />

uma peça <strong>de</strong> teatro completa. Não é<br />

sempre a história em si que é o mais<br />

importante nos seus livros, por<br />

vezes une-se um acontecimento ao<br />

outro em longas ca<strong>de</strong>ias (como nas<br />

narrativas orais), on<strong>de</strong> o personagem principal<br />

po<strong>de</strong>rá por vezes <strong>de</strong>saparecer do centro <strong>de</strong><br />

atenção. A tônica está na própria narrativa, com os<br />

seus tons humorísticos e poéticos, e na sensação<br />

estranha <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> que brota quando tudo é<br />

possível. A forma refinada como Bojunga <strong>de</strong>ixa<br />

cores expressarem emoções contribui<br />

fortemente para a extraordinária beleza dos seus<br />

livros. Esta expressão é talvez mais marcante em<br />

O Meu Amigo Pintor, 1978 (também transformado<br />

em peça teatral), que <strong>de</strong>screve como um<br />

personagem, um menino, tenta curar a sua tristeza<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

pela morte <strong>de</strong> um pintor com a ajuda das cores.<br />

Um relógio é amarelo ao tocar as horas, para<br />

voltar a ser branco quando para. Amarelo é a cor<br />

preferida <strong>de</strong> Bojunga, ligada à alegria da vida,<br />

tornou-se o tema predileto<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o seu primeiro livro Os<br />

Colegas, 1972.<br />

Por vezes, Bojunga<br />

prefere ficar na realida<strong>de</strong> e<br />

mostrar então o seu olhar<br />

psicológico penetrante: Seis<br />

Vezes Lucas, 1995, <strong>de</strong>screve,<br />

como na obra anterior, Tchau,<br />

1984, a infi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong>, conflitos<br />

matrimoniais e divórcio do<br />

ponto <strong>de</strong> vista impotente – mas<br />

esperançoso – da criança.<br />

Bojunga entra sem medo no domínio dos adultos,<br />

na sua escolha <strong>de</strong> justificativas encostando-se com<br />

todo o direito à sua enorme capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

concretizar e personificar as sombras interiores<br />

em histórias fáceis <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r.<br />

Como Hans Christian An<strong>de</strong>rsen, com quem<br />

se aparenta claramente, Bojunga equilibra-se com<br />

perícia na linha entre o humor e o<br />

sério. No seu mais recente livro,<br />

Retratos <strong>de</strong> Carolina, 2002,<br />

domina o sério. Esta escritora<br />

fascinada pelo experimento tenta<br />

aqui novos caminhos. Em uma<br />

narrativa que se aproxima da<br />

forma do meta-romance, permite<br />

que o leitor siga o personagem<br />

principal <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a infância até à<br />

vida adulta. Deste modo, Bojunga<br />

Recebeu da Princesa Victoria,<br />

da Suécia, o prêmio ALMA, 2004<br />

Quando a Casa Lygia Bojuga iniciou a<br />

produção <strong>de</strong> Retratos <strong>de</strong> Carolina, a<br />

câmera <strong>de</strong> Peter registrou Lygia junto ao<br />

mar – exatamente no local on<strong>de</strong>, no livro,<br />

Lygia se <strong>de</strong>spe<strong>de</strong> <strong>de</strong> Carolina.<br />

rompe as fronteiras da<br />

literatura infanto-juvenil e<br />

preenche assim as ambições<br />

que enuncia no texto final e<br />

no prefácio do livro: dar lugar<br />

a si própria e às personagens<br />

que criou <strong>de</strong>ntro duma só<br />

casa, “uma casa que eu inventei”.<br />

As obras <strong>de</strong> Bojunga estão traduzidas para<br />

várias línguas, entre as quais francês, alemão,<br />

espanhol, norueguês, sueco, hebraico, italiano,<br />

búlgaro, checo e islandês. Recebeu vários prêmios,<br />

entre eles, o Prêmio Jabuti (1973), o prestigiado<br />

Prêmio Hans Christian An<strong>de</strong>rsen (1982) e o<br />

Prêmio da Literatura Rattenfänger (1986).<br />

Disponível:<br />

http://www.alma.se/upload/alma/pristagare/20<br />

04/biobibliography_portugese.pdf<br />

38


<strong>História</strong>s <strong>de</strong> Lygia<br />

“A literatura funciona para nós como um<br />

espelho. Quanto mais nos olhamos nele, mais<br />

vamos captando revelações sobre nós mesmos<br />

e, consequentemente, sobre nossa postura face<br />

ao mundo.”<br />

http://educarparacrescer.abril.com.br<br />

Os colegas , 1972<br />

Angélica, 1975<br />

A bolsa amarela, 1976<br />

A casa da madrinha, 1978<br />

Corda bamba, 1979<br />

O sofá estampado, 1980<br />

Tchau, 1984<br />

O meu amigo pintor, 1987<br />

Nós três, 1987<br />

Livro, um encontro, 1988<br />

Fazendo Ana Paz, 1991<br />

Paisagem, 1992<br />

6 vezes Lucas, 1995<br />

O abraço, 1995<br />

Feito à mão, 1996<br />

A cama, 1999<br />

O Rio e eu, 1999<br />

Retratos <strong>de</strong> Carolina, 2002<br />

Aula <strong>de</strong> inglês, 2006<br />

Sapato <strong>de</strong> salto, 2006<br />

Dos vinte 1, 2007<br />

Querida, 2009<br />

http://www.casalygiabojunga.com.br<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

39


Manuel Ban<strong>de</strong>ira<br />

Manuel por ele mesmo (1886–1968) - Autorretrato<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

Provinciano que nunca soube<br />

Escolher bem uma gravata;<br />

Pernambucano a quem repugna<br />

A faca do pernambucano;<br />

Poeta ruim que na arte da prosa<br />

Envelheceu na infância da arte,<br />

E até mesmo escrevendo crônicas<br />

Ficou cronista <strong>de</strong> província;<br />

Arquiteto falhado, músico<br />

Falhado (engoliu um dia<br />

Um piano, mas o teclado<br />

Ficou <strong>de</strong> fora); sem família,<br />

Religião ou filosofia;<br />

Mal tendo a inquietação <strong>de</strong> espírito<br />

Disponível em:<br />

http://www.revista.agulha.nom.br<br />

Que vem do sobrenatural,<br />

E em matéria <strong>de</strong> profissão<br />

Um tísico profissional.<br />

40


Terceiro ocupante da Ca<strong>de</strong>ira 24, eleito<br />

em 29 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1940, na sucessão <strong>de</strong> Luís<br />

Guimarães e recebido pelo<br />

Acadêmico Ribeiro Couto em 30<br />

<strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1940. Recebeu<br />

os Acadêmicos Peregrino Júnior<br />

e Afonso Arinos <strong>de</strong> Melo Franco.<br />

Manuel Ban<strong>de</strong>ira (M.<br />

Carneiro <strong>de</strong> Sousa B. Filho),<br />

professor, poeta, cronista,<br />

crítico e historiador literário,<br />

nasceu em Recife, PE, em 19 <strong>de</strong><br />

abril <strong>de</strong> 1886, e faleceu no Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro, RJ, em 13 <strong>de</strong> outubro<br />

<strong>de</strong> 1968.<br />

Filho do engenheiro civil<br />

Manuel Carneiro <strong>de</strong> Sousa Ban<strong>de</strong>ira<br />

e <strong>de</strong> Francelina Ribeiro <strong>de</strong> Sousa Ban<strong>de</strong>ira.<br />

Transferiu-se aos 10 anos para o Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro, on<strong>de</strong> cursou o secundário no<br />

Externato do Ginásio Nacional, hoje Colégio<br />

Pedro II, <strong>de</strong> 1897 a 1902, bacharelando-se em<br />

letras. Em 1903 matriculou-se na Escola<br />

Politécnica <strong>de</strong> São Paulo para fazer o curso <strong>de</strong><br />

engenheiro-arquiteto. No ano seguinte<br />

abandonou os estudos por motivo <strong>de</strong> doença e<br />

fez estações <strong>de</strong> cura em Campanha, MG,<br />

Teresópolis e Petrópolis, RJ, e por fim<br />

Clava<strong>de</strong>l, Suíça, on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>morou <strong>de</strong> junho <strong>de</strong><br />

1913 a outubro <strong>de</strong> 1914. Ali teve como<br />

companheiro <strong>de</strong> sanatório o poeta Paul<br />

Eluard. Sua vida po<strong>de</strong>ria ter sido breve, face à<br />

doença. Viveu até os 82 anos, construindo<br />

<strong>História</strong> <strong>de</strong> Manuel<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

uma das maiores obras poéticas da mo<strong>de</strong>rna<br />

literatura brasileira.<br />

De volta ao Brasil, Manuel Ban<strong>de</strong>ira<br />

iniciou a sua produção literária em periódicos.<br />

Em 1917, publicou A cinza das horas, on<strong>de</strong><br />

reuniu poemas compostos durante a doença.<br />

Em 1919 publicou o segundo livro <strong>de</strong> poemas,<br />

Carnaval. Enquanto o anterior evi<strong>de</strong>nciava as<br />

raízes tradicionais <strong>de</strong> sua cultura e,<br />

formalmente, sugeria uma busca da<br />

simplicida<strong>de</strong>, esse segundo livro<br />

caracterizava-se por uma <strong>de</strong>liberada<br />

liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> composição<br />

rítmica. Ao lado <strong>de</strong> "sonetos<br />

que não passam <strong>de</strong> pastiches<br />

parnasianos", segundo o<br />

próprio Ban<strong>de</strong>ira, nele figura o<br />

famoso poema "Os sapos",<br />

sátira ao Parnasianismo, que<br />

veio a ser <strong>de</strong>clamado, três anos<br />

<strong>de</strong>pois, durante a Semana <strong>de</strong><br />

Arte Mo<strong>de</strong>rna, por Ronald <strong>de</strong><br />

Carvalho. Antecipador <strong>de</strong> um<br />

novo espírito na poesia<br />

brasileira, Ban<strong>de</strong>ira foi<br />

cognominado, por Mário <strong>de</strong><br />

Andra<strong>de</strong>, <strong>de</strong> "São João<br />

Ban<strong>de</strong>ira por Candido Portinari<br />

41


Batista do Mo<strong>de</strong>rnismo".<br />

Por intermédio do amigo Ribeiro<br />

Couto, Manuel Ban<strong>de</strong>ira conheceu os<br />

escritores paulistas que, em 1922, lançaram o<br />

movimento mo<strong>de</strong>rnista. Não participou<br />

diretamente da Semana,<br />

mas colaborou na revista<br />

Klaxon e também na<br />

Revista Antropofagia,<br />

Lanterna Ver<strong>de</strong>, Terra Roxa<br />

e A Revista.<br />

Em 1927, viajou ao<br />

Norte do Brasil, até Belém,<br />

parando em Salvador,<br />

Recife, Paraíba, Natal,<br />

Fortaleza e São Luís do<br />

Maranhão. De 1928 a<br />

1929 permaneceu no<br />

Recife como fiscal <strong>de</strong><br />

bancas examinadoras <strong>de</strong> preparatórios. Em<br />

1935, foi nomeado inspetor <strong>de</strong> ensino<br />

secundário; em 1938, professor <strong>de</strong> Literatura<br />

Poetas: Drummond, Vinicius, Ban<strong>de</strong>ira,<br />

Quintana, Paulo Men<strong>de</strong>s Campos<br />

Universal no Externato do Colégio Pedro II;<br />

em 1942, professor <strong>de</strong> Literaturas Hispano-<br />

Americanas na Faculda<strong>de</strong> Nacional <strong>de</strong><br />

Filosofia, sendo aposentado por lei especial do<br />

Congresso em 1956. Des<strong>de</strong> 1938, era membro<br />

do Conselho Consultivo do Departamento do<br />

Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.<br />

Recebeu o prêmio da Socieda<strong>de</strong> Felipe<br />

d’Oliveira por conjunto <strong>de</strong> obra (1937) e o<br />

prêmio <strong>de</strong> poesia do Instituto Brasileiro <strong>de</strong><br />

Educação e Cultura, também por conjunto <strong>de</strong><br />

obra (1946).<br />

Durante toda a vida, fez crítica <strong>de</strong> artes<br />

plásticas, crítica literária e musical para vários<br />

jornais e revistas. Em 1925, colaborou na<br />

Andorinha lá fora está dizendo:<br />

- "Passei o dia à toa, à toa!"<br />

Andorinha, andorinha, minha<br />

cantiga é mais triste!<br />

Passei a vida à toa, à toa...<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

seção "Mês mo<strong>de</strong>rnista" do jornal A Noite, na<br />

revista A I<strong>de</strong>ia Ilustrada e na revista musical<br />

para o Diário Nacional, <strong>de</strong> São Paulo; em<br />

1930-31, escreveu crítica <strong>de</strong> cinema para o<br />

Diário da Noite, do Rio <strong>de</strong> Janeiro, e para A<br />

Andorinha<br />

Província, do Recife; em<br />

1941, fez crítica <strong>de</strong> artes<br />

plásticas em A Manhã, do<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro; em 1954,<br />

publicou De poetas e <strong>de</strong><br />

poesia (reunião <strong>de</strong> textos<br />

<strong>de</strong> crítica); em 1955,<br />

começou a escrever<br />

crônicas para o Jornal do<br />

Brasil; <strong>de</strong> 1961 a 1963,<br />

escreveu crônicas semanais para o programa<br />

"Quadrante", da Rádio Ministério da<br />

Educação; <strong>de</strong> 1963 a 1964, para os programas<br />

"Vozes da Cida<strong>de</strong>" e "Gran<strong>de</strong>s poetas do<br />

Brasil", da Rádio Roquette-Pinto.<br />

Como crítico <strong>de</strong> arte, Manuel Ban<strong>de</strong>ira<br />

revelou particular afeição pelas velhas igrejas<br />

coloniais da Bahia e barrocas <strong>de</strong> Minas Gerais,<br />

pela arte arquitetônica dos conventos e dos<br />

velhos casarões portugueses da Bahia e do Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro, e pelas formas singelas das mais<br />

humil<strong>de</strong>s igrejas do interior.<br />

Como crítico <strong>de</strong> literatura e historiador<br />

literário, revelou-se sempre um humanista.<br />

Consagrou-se pelo estudo sobre as Cartas<br />

chilenas, <strong>de</strong> Tomás Antônio Gonzaga, pelo<br />

esboço biográfico Gonçalves Dias, além <strong>de</strong> ter<br />

organizado várias antologias <strong>de</strong> poetas<br />

brasileiros e publicado o estudo Apresentação<br />

da poesia brasileira (1946). Em 1954,<br />

publicou o livro <strong>de</strong> memórias “Itinerário <strong>de</strong><br />

Pasárgada”, on<strong>de</strong>, além <strong>de</strong> suas memórias,<br />

expõe todo o seu conhecimento sobre formas<br />

e técnicas <strong>de</strong> poesia, o processo da sua<br />

aprendizagem literária e as sutilezas da<br />

criação poética. Sua obra foi reunida nos<br />

volumes Poesia e Prosa, Aguilar (1958),<br />

contendo numerosos estudos críticos e<br />

biográficos.<br />

Disponível em:<br />

http://www.aca<strong>de</strong>mia.org.br<br />

42


POESIA:<br />

<strong>História</strong>s <strong>de</strong> Manuel<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

Poesias, reunindo A cinza das horas, Carnaval, O ritmo dissoluto (1924); Libertinagem (1930);<br />

Estrela da manhã (1936); Poesias escolhidas (1937); Poesias completas, reunindo as obras anteriores e mais<br />

Lira dos cinquet'anos (1940); Poesias completas, 4a edição, acrescida <strong>de</strong> Belo belo (1948); Poesias<br />

completas, 6a edição, acrescida <strong>de</strong> Opus 10 (1954); Poemas traduzidos (1945); Mafuá do malungo, versos <strong>de</strong><br />

circunstância (1948); Obras poéticas (1956); 50 Poemas escolhidos pelo autor (1955); Alumbramentos<br />

(1960); Estrela da tar<strong>de</strong> (1960).<br />

PROSA:<br />

Crônicas da província do Brasil (1936); Guia <strong>de</strong> Ouro Preto<br />

(1938); Noções <strong>de</strong> história das literaturas (1940); Autoria das Cartas<br />

chilenas, separata da Revista do Brasil (1940); Apresentação da poesia<br />

brasileira (1946); Literatura hispano-americana (1949); Gonçalves<br />

Dias, biografia (1952); Itinerário <strong>de</strong> Pasárgada (1954); De poetas e <strong>de</strong><br />

poesia (1954); A flauta <strong>de</strong> papel (1957); Prosa, reunindo obras<br />

anteriores e mais Ensaios literários, Crítica <strong>de</strong> Artes e Epistolário<br />

(1958); Andorinha, andorinha, crônicas (1966); Os reis vagabundos e<br />

mais 50 crônicas (1966); Colóquio unilateralmente sentimental, crônica<br />

(1968).<br />

ANTOLOGIAS:<br />

Antologia dos poetas brasileiros da fase romântica (1937); Antologia dos poetas brasileiros da fase<br />

parnasiana (1938); Antologia dos poetas brasileiros bissextos contemporâneos (1946). Organizou os<br />

Sonetos completos e Poemas escolhidos <strong>de</strong> Antero <strong>de</strong> Quental; as Obras poéticas <strong>de</strong> Gonçalves Dias (1944);<br />

as Rimas <strong>de</strong> José Albano (1948) e, <strong>de</strong> Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, Cartas a Manuel Ban<strong>de</strong>ira (1958).<br />

Disponível em: http://www.aca<strong>de</strong>mia.org.br<br />

43


Manoel por ele mesmo<br />

Manoel por Manoel<br />

Manoel <strong>de</strong> Barros<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

Eu tenho um ermo enorme <strong>de</strong>ntro do olho. Por um motivo<br />

do ermo não fui um menino peralta. Agora tenho sauda<strong>de</strong> do que<br />

não fui. Acho que o que faço agora é o que não pu<strong>de</strong> fazer na<br />

infância. Faço outro tipo <strong>de</strong> peraltagem. Quando era criança eu<br />

<strong>de</strong>veria pular muro do vizinho para catar goiaba. Mas não havia<br />

vizinho. Em vez <strong>de</strong> peraltagem eu fazia solidão. Brincava <strong>de</strong> fingir<br />

que pedra era lagarto. Que lata era navio. Que sabugo era um<br />

serzinho mal resolvido e igual a um filhote <strong>de</strong> gafanhoto.<br />

Cresci brincando no chão, entre formigas. De uma infância<br />

livre e sem comparamentos. Eu tinha mais comunhão com as<br />

coisas do que comparação.<br />

Porque se a gente fala a partir <strong>de</strong> criança, a gente faz<br />

comunhão: <strong>de</strong> um orvalho e sua aranha, <strong>de</strong> uma tar<strong>de</strong> e suas<br />

garças, <strong>de</strong> um pássaro e sua árvore. Então eu trago das minhas<br />

raízes crianceiras a visão comungante e oblíqua das coisas. Eu sei dizer sem pudor que o escuro me ilumina.<br />

É um paradoxo que ajuda a poesia e que eu falo sem pudor. Eu tenho que essa visão oblíqua vem <strong>de</strong> eu ter<br />

sido criança em algum lugar perdido on<strong>de</strong> havia transfusão da natureza e comunhão com ela. Era o menino e<br />

os bichinhos. Era o menino e o sol. O menino e o rio. Era o menino e as árvores.<br />

Fraseador<br />

Hoje eu completei oitenta e cinco anos. O poeta nasceu<br />

<strong>de</strong> treze. Naquela ocasião escrevi uma carta aos meus pais, que<br />

moravam na fazenda, contando que eu <strong>de</strong>cidira o que queria<br />

ser no futuro. Que eu não queria ser doutor. Nem doutor que<br />

cura nem doutor <strong>de</strong> fazer casa nem doutor <strong>de</strong> medir terras.<br />

Que eu queria era ser fraseador. Meu pai ficou meio vago<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ler a carta. Minha mãe inclinou a cabeça. Eu queria<br />

ser fraseador e não doutor. Então, o meu irmão mais velho<br />

perguntou: Mas esse tal <strong>de</strong> fraseador bota mantimento em<br />

casa? Eu não queria ser doutor, eu só queria ser fraseador. Meu<br />

irmão insistiu: Mas se fraseador não bota mantimento em casa,<br />

nós temos que botar uma enxada na mão <strong>de</strong>sse menino pra ele<br />

<strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> variar. A mãe baixou a cabeça um pouco mais. O pai<br />

continuou meio vago. Mas não botou enxada.<br />

BARROS, MANOEL. Memórias inventadas. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2006.<br />

44


O poeta Manoel <strong>de</strong> Barros, patrono da<br />

Fundação Manoel <strong>de</strong> Barros (FMB)<br />

Manoel <strong>de</strong> Barros nasceu no Beco da Marinha,<br />

beira do Rio Cuiabá em 1916. Mudou-se para<br />

Corumbá, on<strong>de</strong> se fixou <strong>de</strong> tal forma que chegou a<br />

ser consi<strong>de</strong>rado corumbaense. Atualmente mora<br />

em Campo Gran<strong>de</strong>. É advogado, fazen<strong>de</strong>iro e<br />

poeta. Escreveu seu primeiro poema aos 19 anos,<br />

mas sua revelação poética ocorreu aos 13 anos <strong>de</strong><br />

ida<strong>de</strong> quando ainda estudava no Colégio São José<br />

dos Irmãos Maristas, Rio <strong>de</strong> Janeiro. Autor <strong>de</strong><br />

“O tema do poeta é sempre ele<br />

mesmo. Ele é um narcisista: expõe o<br />

mundo através <strong>de</strong>le mesmo. Ele quer<br />

ser o mundo, e pelas inquietações<br />

<strong>de</strong>le, <strong>de</strong>sejos, esperanças, o mundo<br />

aparece. Através <strong>de</strong> sua essência, a<br />

essência do mundo consegue<br />

aparecer. O tema da minha poesia<br />

sou eu mesmo e eu sou pantaneiro.”<br />

WWW.poemas<strong>de</strong>adrianoespindola.blogspot.com.br<br />

<strong>História</strong> <strong>de</strong> Manoel<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

várias obras pelas quais recebeu prêmios como o<br />

“Prêmio Orlando Dantas” em 1960, conferido pela<br />

Aca<strong>de</strong>mia Brasileira <strong>de</strong> Letras ao livro<br />

“Compêndio para Uso dos Pássaros”. Em 1969<br />

recebeu o Prêmio da Fundação Cultural do<br />

Distrito Fe<strong>de</strong>ral pela obra “Gramática Expositiva<br />

do Chão” e, em 1997 o livro “Sobre Nada” recebeu<br />

um prêmio <strong>de</strong> âmbito nacional.<br />

Perfil<br />

(Praça Pantaneira)<br />

Campo Gran<strong>de</strong> /Mato Grosso do Sul<br />

Cronologicamente pertence à geração <strong>de</strong><br />

45.<br />

Poeta mo<strong>de</strong>rno no que se refere ao trato<br />

com a linguagem.<br />

Avesso à repetição <strong>de</strong> formas e ao uso <strong>de</strong><br />

expressões surradas, ao lugar comum e ao chavão.<br />

Mutilador da realida<strong>de</strong> e pesquisador <strong>de</strong><br />

expressões e significados verbais.<br />

Temática regionalista indo além do valor<br />

documental para fixar-se no mundo mágico das<br />

coisas banais retiradas do cotidiano.<br />

Inventa a natureza através <strong>de</strong> sua<br />

linguagem, transfigurando o mundo que o cerca.<br />

Alma e coração abertos a dor universal.<br />

Tematiza o Pantanal, universalizando-o.<br />

A natureza é sua maior inspiração, o<br />

Pantanal é o <strong>de</strong> sua poesia.<br />

Disponível em: http://www.fmb.org.br<br />

45


<strong>História</strong>s <strong>de</strong> Manuel<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

“Quero a palavra que sirva na boca dos passarinhos.”<br />

• Poemas concebidos sem pecado – 1937.<br />

• Face imóvel – 1942.<br />

• Poesias – 1956.<br />

• Compêndio para uso dos pássaros – 1960.<br />

• Gramática expositiva do chão – 1966.<br />

• Matéria <strong>de</strong> poesia – 1970.<br />

• Arranjos para assobio – 1980.<br />

• Livro <strong>de</strong> pré-coisas – 1985.<br />

• O guardador <strong>de</strong> águas – 1989.<br />

• Gramática expositiva do chão - poesia quase toda – 1990.<br />

• Concerto a céu aberto para solo <strong>de</strong> aves – 1993.<br />

• Livro <strong>de</strong> ignorãças – 1993.<br />

• Livro sobre nada -1996.<br />

• Ensaios fotográficos – 2000.<br />

• Exercícios <strong>de</strong> ser criança – 2000.<br />

• O fazedor <strong>de</strong> amanhecer – 2001.<br />

• Tratado geral das gran<strong>de</strong>zas do ínfimo – 2001.<br />

• Para encontrar o azul eu uso pássaros – 2003.<br />

• Memórias Inventadas - Infância – 2003.<br />

• Cantigas por um passarinho à toa – 2003.<br />

• Encantador <strong>de</strong> palavras- Edição <strong>de</strong> portuguesa – 2000.<br />

• Les paroles sans limite - Edição francesa – 2003.<br />

• Todo lo que no invento es falso - Antologia na Espanha – 2003.<br />

• Águas – 2001.<br />

• Das Buch <strong>de</strong>r Unwissenheiten - Edição da revista alemã Alkzent – 1996.<br />

• Poemas rupestres – 2004.<br />

• Memórias inventadas I – 2005.<br />

• Memórias inventadas II – 2006.<br />

LIVROS PREMIADOS<br />

1.“Compêndio para uso dos pássaros”. Prêmio Orlando Dantas - Diário <strong>de</strong> notícias, 08 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1960 - Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

2.“Gramática expositiva do chão”. Prêmio Nacional <strong>de</strong> poesias – 1966. Governo Costa e Silva - Brasília<br />

3.“O guardador <strong>de</strong> águas”. Prêmio Jabuti <strong>de</strong> poesias - 1989 - São Paulo<br />

4.“Livro sobre nada”. Prêmio Nestlé <strong>de</strong> Poesia - 1996<br />

5.“Livro das Ignorãnças”. Prêmio Alfonso Guimarães da Biblioteca Nacional. Rio <strong>de</strong> Janeiro - 1996<br />

6.Conjunto <strong>de</strong> obras. Prêmio Nacional <strong>de</strong> Literatura do Ministério da Cultura, 05 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1998<br />

7.Secretaria <strong>de</strong> Cultura <strong>de</strong> Mato Grosso do Sul como melhor escritor do ano 1990. “Prêmio Jacaré <strong>de</strong> Prata”<br />

8.Livro “Exercício <strong>de</strong> ser criança”. Prêmio Odilo Costa Filho - Fundação do Livro Infanto Juvenil - 2000<br />

9.Livro “Exercício <strong>de</strong> ser criança” – 2000. Prêmio Aca<strong>de</strong>mia Brasileira <strong>de</strong> Letras<br />

10.Pen Clube do Brasil- data não anotada<br />

11.“O fazedor <strong>de</strong> amanhecer (Salamandra) - livro <strong>de</strong> ficção do ano. Prêmio Jabuti- 2002<br />

12.“Poemas Rupestres” - Prêmio APCA 2004 <strong>de</strong> melhor poesia- 29 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2005<br />

13.“Poemas Rupestres” - Prêmio Nestlé - 2006<br />

46


Monteiro Lobato<br />

Lobato por ele mesmo (1882-1948)<br />

Nasceu em Taubaté, aos 18 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong>... 1884 (na verda<strong>de</strong><br />

1882). Mamou até 87. Falou tar<strong>de</strong>, e ouviu pela primeira vez, aos 5<br />

anos, um célebre ditado: "Cavalo pangaré/Mulher que ... em pé/Gente<br />

<strong>de</strong> Taubaté/ Dominus libera mé".<br />

Concordou.<br />

Depois, teve caxumba aos 9 anos. Sarampo aos 10. Tosse<br />

comprida aos 11. Primeiras espinhas aos 15.<br />

Gostava <strong>de</strong> livros. Leu o Carlos Magno e os doze pares <strong>de</strong><br />

França, o Robinson Crusoé, e todo o Júlio Verne.<br />

Metido em colégio, foi um aluno nem bom nem mau -<br />

apagado. Tomou bomba em exame <strong>de</strong> português, dada pelo Freire.<br />

Insistiu. Formou-se em Direito, com um simplesmente no 4º ano -<br />

merecidíssimo. Foi promotor em Areias, mas não promover coisa<br />

nenhuma. Não tinha jeito para a chicana e abandonou o anel <strong>de</strong> rubi<br />

(que nunca usou no <strong>de</strong>do, aliás).<br />

Fez-se fazen<strong>de</strong>iro. Gramou café a 4,200 a arroba e feijão a<br />

4.000 o alqueire.<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

Convenceu-se a tempo que isso <strong>de</strong> ser produtor é sinônimo <strong>de</strong><br />

ser imbecil e mudou <strong>de</strong> classe. Passou ao paraíso dos intermediários.<br />

Fez-se negociante, matriculadíssimo. Começou editando a si próprio e acabou editando aos outros.<br />

Escreveu umas tantas lorotas que se ven<strong>de</strong>m - Urupês, gênero <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> saída, Cida<strong>de</strong>s mortas,<br />

I<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> Jeca Tatu, subprodutos, Problema vital, Negrinha, Narizinho. Preten<strong>de</strong> publicar ainda um romance<br />

sensacional que começa por um tiro:<br />

- Pum! E o infame cai redondamente morto...<br />

Nesse romance introduzirá uma novida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> alcance, qual seja, a <strong>de</strong> suprimir todos os<br />

pedaços que o leitor pula.<br />

Particularida<strong>de</strong>s: não faz nem enten<strong>de</strong> <strong>de</strong> versos, nem tentou o raid a Buenos Aires.<br />

Físico: lindo!<br />

Monteiro Lobato Autobiografia<br />

A Novela Semanal, São Paulo, nº 1, 2 <strong>de</strong> maio 1921.<br />

Disponível em: http://www.projetomemoria.art.br<br />

47


José Bento Monteiro Lobato estreou<br />

no mundo das letras com pequenos contos<br />

para os jornais estudantis dos colégios<br />

Kennedy e Paulista, que frequentou em<br />

Taubaté, cida<strong>de</strong> do Vale do Paraíba on<strong>de</strong><br />

nasceu, em 18 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1882.<br />

No curso <strong>de</strong> Direito da Faculda<strong>de</strong> do<br />

Largo São Francisco, em São Paulo, dividiu-se<br />

entre suas principais paixões: escrever e<br />

<strong>de</strong>senhar. Colaborou em publicações dos<br />

alunos, vencendo um concurso literário promovido em<br />

1904 pelo Centro Acadêmico XI <strong>de</strong> Agosto. Morou na<br />

república estudantil do Minarete, li<strong>de</strong>rou o grupo <strong>de</strong><br />

colegas que formou o Cenáculo e mandou artigos para um<br />

jornalzinho <strong>de</strong> Pindamonhangaba, que tinha como título o<br />

mesmo nome daquela moradia <strong>de</strong> estudantes. Nessa fase<br />

<strong>de</strong> sua formação, Lobato realizou as leituras básicas e<br />

entrou em contato com a obra do filósofo<br />

alemão Nietzsche, cujo pensamento o guiaria<br />

vida afora.<br />

Diploma nas mãos, Lobato voltou a<br />

Taubaté. E <strong>de</strong> lá prosseguiu enviando artigos<br />

para um jornal <strong>de</strong> Caçapava, O Combatente.<br />

Nomeado promotor público, mudou-se para<br />

Areias, casou-se com Purezinha e começou a<br />

traduzir artigos do Weekly Times para O Estado<br />

<strong>de</strong> S. Paulo. Fez ilustrações e caricaturas para a<br />

revista carioca Fon-Fon! e colaborou no jornal<br />

Gazeta <strong>de</strong> Notícias, também do Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />

assim como na Tribuna <strong>de</strong> Santos.<br />

A morte súbita do avô <strong>de</strong>terminou uma<br />

reviravolta na vida <strong>de</strong> Monteiro Lobato, que herdou a<br />

Fazenda do Buquira, para a qual se transferiu com a<br />

família. Localizada na Serra da Mantiqueira, já estava com<br />

as terras esgotadas pela lavoura do café. Assim mesmo, ele<br />

tentou transformá-la num negócio rendoso, investindo em<br />

projetos agrícolas audaciosos.<br />

Mas não se afastou da literatura. Observando com<br />

interesse o mundo da roça, logo escreveu artigo, para O<br />

Estado <strong>de</strong> S. Paulo, <strong>de</strong>nunciando as queimadas no Vale do<br />

Paraíba. Intitulado “Uma velha praga”, teve gran<strong>de</strong><br />

repercussão quando saiu, em novembro <strong>de</strong> 1914.<br />

Um mês <strong>de</strong>pois, redigiu Urupês, no mesmo jornal,<br />

criando o Jeca Tatu, seu personagem-símbolo.<br />

Preguiçoso e a<strong>de</strong>pto da "lei do menor esforço",<br />

Jeca era completamente diferente dos caipiras e<br />

indígenas i<strong>de</strong>alizados pelos romancistas como,<br />

por exemplo, José <strong>de</strong> Alencar. Esses dois artigos<br />

seriam reproduzidos em diversos jornais,<br />

gerando polêmica <strong>de</strong> norte a sul do país. Não<br />

<strong>de</strong>morou muito e Lobato, cansado da monotonia<br />

do campo, acabou ven<strong>de</strong>ndo a fazenda e<br />

instalando-se na capital paulista.<br />

Com o dinheiro da venda da fazenda, Lobato<br />

virou <strong>de</strong>finitivamente um escritor-jornalista. Colaborou,<br />

nesse período, em publicações como Vida Mo<strong>de</strong>rna, O<br />

Queixoso, Parafuso, A Cigarra, O Pirralho e continuou em<br />

<strong>História</strong> <strong>de</strong> Lobato<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

O Estado <strong>de</strong> S. Paulo. Mas foi a linha nacionalista<br />

da Revista do Brasil, lançada em janeiro <strong>de</strong><br />

1916, que o empolgou. Não teve dúvida:<br />

comprou-a em junho <strong>de</strong> 1918 com o que<br />

recebera pela Buquira. E <strong>de</strong>u vez e voz para<br />

novos talentos, que apareciam em suas páginas<br />

ao lado <strong>de</strong> gente famosa.<br />

A revista prosperou e ele formou uma<br />

empresa editorial que continuou aberta aos<br />

novatos. Lançou, inclusive, obras <strong>de</strong> artistas<br />

mo<strong>de</strong>rnistas, como O homem e a morte, <strong>de</strong> Menotti <strong>de</strong>l<br />

Picchia, e Os Con<strong>de</strong>nados, <strong>de</strong> Oswald <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>. Os dois<br />

com capa <strong>de</strong> Anita Malfatti, que seria pivô <strong>de</strong> uma séria<br />

polêmica entre Lobato e o grupo da Semana <strong>de</strong> 22: Lobato<br />

criticou a exposição da pintora no artigo “Paranoia ou<br />

mistificação?”, <strong>de</strong> 1917. “Livro é sobremesa: tem que ser<br />

posto <strong>de</strong>baixo do nariz do freguês", dizia Lobato, que, para<br />

provocar a gulodice do leitor, tratava o livro como<br />

um produto <strong>de</strong> consumo como outro qualquer,<br />

cuidando <strong>de</strong> sua qualida<strong>de</strong> gráfica e adotando<br />

capas coloridas e atraentes. O empreendimento<br />

cresceu e foi seguidamente reestruturado para<br />

acompanhar a velocida<strong>de</strong> dos negócios,<br />

impulsionada ainda mais por uma agressiva<br />

política <strong>de</strong> distribuição que contava com<br />

ven<strong>de</strong>dores autônomos e com vasta re<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

distribuidores espalhados pelo país. Novida<strong>de</strong> e<br />

tanto para a época, e que resultou em altas<br />

tiragens. Lobato acabaria entregando a direção da<br />

Revista do Brasil a Paulo Prado e Sérgio Milliet, para<br />

<strong>de</strong>dicar-se à editora em tempo integral. E, para po<strong>de</strong>r<br />

aten<strong>de</strong>r às crescentes <strong>de</strong>mandas, importou mais máquinas<br />

dos Estados Unidos e da Europa, que iriam incrementar<br />

seu parque gráfico. Mergulhado em livros e mais livros,<br />

Lobato não conseguia parar.<br />

Escreveu, nesse período, sua primeira história<br />

infantil, A menina do narizinho arrebitado. Com capa e<br />

<strong>de</strong>senhos <strong>de</strong> Voltolino, famoso ilustrador da época, o<br />

livrinho, lançado no Natal <strong>de</strong> 1920, fez o maior sucesso.<br />

Dali nasceram outros episódios, tendo sempre como<br />

personagens Dona Benta, Pedrinho, Narizinho, Tia<br />

Nastácia e, é claro, Emília, a boneca mais esperta do<br />

planeta. Insatisfeito com as traduções <strong>de</strong> livros<br />

europeus para crianças, ele criou aventuras com<br />

figuras bem brasileiras, recuperando costumes da<br />

roça e lendas do folclore nacional. E fez mais:<br />

misturou todos eles com elementos da literatura<br />

universal, da mitologia grega, dos quadrinhos e do<br />

cinema. No Sítio do Picapau Amarelo, Peter Pan<br />

brinca com o Gato Félix, enquanto o saci ensina<br />

truques a Chapeuzinho Vermelho no país das<br />

maravilhas <strong>de</strong> Alice. Mas Monteiro Lobato também<br />

fez questão <strong>de</strong> transmitir conhecimento e i<strong>de</strong>ias em<br />

livros que falam <strong>de</strong> história, geografia e matemática,<br />

tornando-se pioneiro na literatura paradidática - aquela<br />

em que se apren<strong>de</strong> brincando.<br />

48


Trabalhando a todo vapor, Lobato teve que<br />

enfrentar uma série <strong>de</strong> obstáculos. Primeiro, foi a<br />

Revolução dos Tenentes que, em julho <strong>de</strong> 1924, paralisou<br />

as ativida<strong>de</strong>s da sua empresa durante dois meses,<br />

causando gran<strong>de</strong> prejuízo. Seguiu-se uma<br />

inesperada seca, que <strong>de</strong>correu em um corte no<br />

fornecimento <strong>de</strong> energia. O<br />

maquinário gráfico só podia<br />

funcionar dois dias por semana. E<br />

numa brusca mudança na política<br />

econômica, Arthur Bernar<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong>svalorizou a moeda e suspen<strong>de</strong>u o<br />

re<strong>de</strong>sconto <strong>de</strong> títulos pelo Banco do<br />

Brasil. A consequência foi um enorme<br />

rombo financeiro e muitas dívidas. Só<br />

restou uma alternativa a Lobato:<br />

pedir a autofalência, apresentada em<br />

julho <strong>de</strong> 1925. O que não significou o<br />

fim <strong>de</strong> seu ambicioso projeto<br />

editorial, pois ele já se preparava<br />

para criar outra empresa. Assim surgiu a Companhia<br />

Editora Nacional. Sua produção incluía livros <strong>de</strong> todos os<br />

gêneros, entre eles traduções <strong>de</strong> Hans Sta<strong>de</strong>n e Jean <strong>de</strong><br />

Léry, viajantes europeus que andaram pelo Brasil no<br />

século XVI. Lobato recobrou o antigo prestígio,<br />

reimprimindo nela sua marca inconfundível: fazer livros<br />

bem impressos, com projetos gráficos apurados e enorme<br />

sucesso <strong>de</strong> público.<br />

Decretada a falência da Companhia Gráfico-<br />

Editora Monteiro Lobato, o escritor mudou-se com a<br />

família para o Rio <strong>de</strong> Janeiro, on<strong>de</strong> permaneceu por dois<br />

anos, até 1927. Já um fã <strong>de</strong>clarado <strong>de</strong> Henry Ford,<br />

publicou sobre ele uma série <strong>de</strong> matérias<br />

entusiasmadas em O Jornal. Depois <strong>passo</strong>u<br />

para A Manhã, <strong>de</strong> Mario Rodrigues. Além <strong>de</strong><br />

escrever sobre variados assuntos, em A<br />

Manhã lançou O Choque das Raças, folhetim<br />

que causou furor na imprensa carioca, logo<br />

<strong>de</strong>pois transformado em livro. Do Rio Lobato<br />

colaborou também com jornais <strong>de</strong> outros<br />

estados, como o Diário <strong>de</strong> São Paulo, para o<br />

qual em 20 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1926 enviou "O<br />

nosso dualismo", analisando com<br />

distanciamento crítico o movimento<br />

mo<strong>de</strong>rnista inaugurado com a Semana <strong>de</strong> 22. O artigo foi<br />

refutado por Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> com o texto "Post-<br />

Scriptum Pachola", no qual anunciava sua morte.<br />

Em 1927, Lobato assumiu o posto <strong>de</strong> adido<br />

comercial em Nova Iorque e partiu para os Estados<br />

Unidos, <strong>de</strong>ixando a Companhia Editora Nacional sob o<br />

comando <strong>de</strong> seu sócio, Octalles Marcon<strong>de</strong>s Ferreira.<br />

Durante quatro anos, acompanhou <strong>de</strong> perto as inovações<br />

tecnológicas da nação mais <strong>de</strong>senvolvida do planeta e fez<br />

<strong>de</strong> tudo para, <strong>de</strong> lá, tentar alavancar o progresso da sua<br />

terra. Trabalhou para o estreitamento das relações<br />

comerciais entre as duas economias. Expediu longos e<br />

<strong>de</strong>talhados relatórios que apontavam caminhos e<br />

apresentavam soluções para nossos problemas crônicos.<br />

Falou sobre borracha, chiclete e ecologia. Não mediu<br />

esforços para transformar o Brasil num país tão mo<strong>de</strong>rno<br />

e próspero como a América em que vivia.<br />

Personalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> múltiplos interesses, Lobato<br />

esteve presente nos momentos marcantes da história do<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

Brasil. Empenhou seu prestígio e participou <strong>de</strong> campanhas<br />

para colocar o país nos trilhos da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>. Por causa<br />

da Revolução <strong>de</strong> 30, que exonerou funcionários do<br />

governo Washington Luís, ele estava <strong>de</strong> volta a São Paulo<br />

com gran<strong>de</strong>s projetos na cabeça. O que<br />

faltava para o Brasil dar o salto para o<br />

futuro? Ferro, petróleo e estradas<br />

para escoar os produtos. Esse era,<br />

para ele, o tripé do progresso.<br />

Mas as i<strong>de</strong>ias e os<br />

empreendimentos <strong>de</strong> Lobato<br />

acabaram por ferir altos interesses,<br />

especialmente <strong>de</strong> empresas<br />

estrangeiras. Como ele não tinha<br />

medo <strong>de</strong> enfrentar adversários<br />

po<strong>de</strong>rosos, acabaria na ca<strong>de</strong>ia. Sua<br />

prisão foi <strong>de</strong>cretada em março <strong>de</strong><br />

1941, pelo Tribunal <strong>de</strong> Segurança<br />

Nacional (TSN). Mas nem assim<br />

Lobato se emendou. Prosseguiu a<br />

cruzada pelo petróleo e ainda <strong>de</strong>nunciou as torturas e<br />

maus-tratos praticados pela polícia do Estado Novo. Do<br />

lado <strong>de</strong> fora, uma campanha <strong>de</strong> intelectuais e amigos<br />

conseguiu que Getúlio Vargas o libertasse, por indulto,<br />

após três meses em cárcere. A perseguição, no entanto<br />

continuou. Se não podiam <strong>de</strong>ixá-lo na ca<strong>de</strong>ia, cerceariam<br />

suas i<strong>de</strong>ias. Em junho <strong>de</strong> 1941, um ofício do TSN pediu ao<br />

chefe <strong>de</strong> polícia <strong>de</strong> São Paulo a imediata apreensão e<br />

<strong>de</strong>struição <strong>de</strong> todos os exemplares <strong>de</strong> Peter Pan, adaptado<br />

por Lobato, à venda no Estado. Centenas <strong>de</strong> volumes<br />

foram recolhidos em diversas livrarias, e muitos <strong>de</strong>les<br />

chegaram a ser queimados.<br />

Lobato estava em liberda<strong>de</strong>, mas<br />

enfrentava uma das fases mais difíceis <strong>de</strong><br />

sua vida. Per<strong>de</strong>u Edgar, o filho mais velho,<br />

presenciou o processo <strong>de</strong> liquidação das<br />

companhias que fundou e, o que foi pior,<br />

sofreu com a censura e atmosfera asfixiante<br />

da ditadura <strong>de</strong> Getúlio Vargas. Aproximouse<br />

dos comunistas e saudou seu lí<strong>de</strong>r, Luís<br />

Carlos Prestes, em gran<strong>de</strong> comício realizado<br />

no Estádio do Pacaembu em julho <strong>de</strong> 1945.<br />

Partiu para a Argentina, após associar-se à<br />

editora Brasiliense e lançar suas Obras<br />

Completas, com mais <strong>de</strong> 10 mil páginas em trinta volumes<br />

das séries adulta e infantil. Regressou <strong>de</strong> Buenos Aires em<br />

maio <strong>de</strong> 1947, para encontrar o país às voltas com os<br />

<strong>de</strong>smandos do governo Dutra. Indignado, escreveu Zé<br />

Brasil. Nele, o velho Jeca Tatu, preguiçoso incorrigível, que<br />

Lobato <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>scobriu vítima da miséria, vira um<br />

trabalhador rural sem terra. Se antes o caipira lobatiano<br />

lutava contra doenças endêmicas, agora tinha no<br />

latifúndio e na distribuição injusta da proprieda<strong>de</strong> rural<br />

seu pior inimigo. Os personagens prosseguiam na luta,<br />

mas seu criador já estava cansado <strong>de</strong> tantas batalhas.<br />

Monteiro Lobato sofreu dois espasmos cerebrais e, no dia<br />

4 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1948, virou “gás inteligente” - o modo como<br />

costumava <strong>de</strong>finir a morte. Foi-se aos 66 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>,<br />

<strong>de</strong>ixando imensa obra para crianças, jovens e adultos, e o<br />

exemplo <strong>de</strong> quem <strong>passo</strong>u a existência sob a marca do<br />

inconformismo.<br />

Aquarela <strong>de</strong>dicada a Purezinha<br />

Monteiro Lobato<br />

Disponível em: http://lobato.globo.com<br />

49


<strong>História</strong>s <strong>de</strong> Lobato<br />

LITERATURA INFANTO-JUVENIL<br />

1 – Reinações <strong>de</strong> Narizinho<br />

2 – Viagem ao céu e O Saci<br />

3 – Caçadas <strong>de</strong> Pedrinho e Hans Sta<strong>de</strong>n<br />

4 – <strong>História</strong> do mundo para as crianças<br />

5 – Memórias da Emília e Peter Pan<br />

6 –Emília no país da gramática e Aritmética da<br />

Emília<br />

7 – Geografia <strong>de</strong> Dona Benta<br />

8 – Serões <strong>de</strong> Dona Benta e <strong>História</strong> das invenções<br />

9 – D. Quixote das crianças<br />

10 – O poço do Viscon<strong>de</strong><br />

11 – <strong>História</strong>s <strong>de</strong> tia Nastácia<br />

12 – O Picapau Amarelo e A reforma da natureza<br />

13 – O Minotauro<br />

14 – A chave do tamanho<br />

15 – Fábulas<br />

16 – Os doze trabalhos <strong>de</strong> Hércules (1º tomo)<br />

17 – Os doze trabalhos <strong>de</strong> Hércules (2º tomo)<br />

LITERATURA GERAL<br />

v. 1 – Urupês<br />

v. 2 – Cida<strong>de</strong>s mortas<br />

v. 3 – Negrinha<br />

v. 4 – I<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> Jeca Tatu<br />

v. 5 – A onda ver<strong>de</strong> e O presi<strong>de</strong>nte negro<br />

v. 6 – Na antevéspera<br />

v. 7 – O escândalo do petróleo e Ferro<br />

v. 8 – Mr. Slang e o Brasil e Problema vital<br />

v. 9 – América<br />

v. 10 – Mundo da lua e Miscelânea<br />

http://topicos.estadao.com.br<br />

v. 11 – A barca <strong>de</strong> Gleyre (1º tomo)<br />

v. 12 – A barca <strong>de</strong> Gleyre (2º tomo)<br />

v. 13 – Prefácios e entrevistas<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

Lançamento posteriores da obra adulta pela<br />

Editora Brasiliense<br />

v. 14 – Literatura do Minarete<br />

v. 15 – Conferências, artigos e crônicas<br />

v. 16 – Cartas escolhidas (1º tomo)<br />

v. 17 – Cartas escolhidas (2º tomo)<br />

v. 18 – Críticas e outras notas<br />

v. s/n - Cartas <strong>de</strong> amor<br />

OUTROS TÍTULOS<br />

O Saci-Pererê: resultado <strong>de</strong> um inquérito(sem<br />

indicação <strong>de</strong> autor). São Paulo, Seção <strong>de</strong> Obras <strong>de</strong> O<br />

Estado <strong>de</strong> S. Paulo, 1918.<br />

A menina do narizinho arrebitado. (1920) Edição<br />

fac-similar. São Paulo, Metal Leve, 1982.<br />

La nueva Argentina (sob pseudônimo <strong>de</strong> Miguel P.<br />

Garcia). Buenos Aires, Editorial Acteon, 1947.<br />

Zé Brasil. s.l., Ed. Vitória, 1947; Calvino Filho,<br />

ilustrado por Portinari, 1948.<br />

Georgismo e comunismo – O imposto único. São<br />

Paulo, Brasiliense, 1948.<br />

Disponível em:<br />

http://lobato.globo.com<br />

50


Nelson Rodrigues<br />

Nelson por ele mesmo (1912-1980)<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

“Todos nós temos histórias que encheriam uma biblioteca; qualquer um po<strong>de</strong> fazer três mil volumes sobre si mesmo.”<br />

Nelson Rodrigues<br />

Eu tinha quatro anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> quando saí do Recife. Meu pai<br />

estava na miséria e resolveu vir arranjar emprego no Rio. Veio sozinho<br />

dizendo à minha mãe que a chamaria logo que conseguisse emprego. Sua<br />

intenção era ir para o Correio da Manhã. Mas o tempo passava e ele não<br />

arranjava o emprego. Minha mãe se impacientou, ven<strong>de</strong>u todas as joias –<br />

era uma grã-fina <strong>de</strong> Pernambuco – e veio <strong>de</strong> navio com os filhos. Ela<br />

telegrafou a meu pai: “Vou com as crianças.”<br />

Pegamos um vapor. Por esse gesto <strong>de</strong> minha mãe, eu me tornei<br />

carioca.<br />

Meu pai caiu no maior pânico <strong>de</strong> mundo, mas aguentou firme. No<br />

dia da chegada, lá estavam ele e o Olegário Mariano no cais do porto<br />

esperando. Meu pai, assombrado, estupefato, caiu nos braços <strong>de</strong> minha<br />

mãe (...)<br />

Fomos todos então para a casa <strong>de</strong> Olegário Mariano. O qual, aliás,<br />

teve uma tremenda briga comigo tempos <strong>de</strong>pois. Ele me dizia aos berros<br />

pelo telefone: “Eu te matei a fome, <strong>de</strong>sgraçado!” Foi uma discussão<br />

terrível, na base do “canalha”, “quebro-te a cara”.<br />

Éramos seis filhos nesta ocasião, conforme o romance da senhora Leandro Dupré, Éramos seis. E aí<br />

chegou aquele batalhão imenso, meu pai num pânico profundo, sem um níquel no bolso, sem emprego, sem<br />

nada; nós tivemos que passar um mês na casa do Olegário Mariano e ele realmente me matou a fome.<br />

O José Mariano, irmão do Olegário, era amigo do Edmundo Bittencourt e conseguiu arranjar emprego<br />

para meu pai no Correio da Manhã.<br />

No dia seguinte à minha chegada no Rio <strong>de</strong> Janeiro – nunca me<br />

esqueço disso – num vizinho o gramofone tocava a “Valsa do Con<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Luxemburgo”. Até hoje, quando ouço essa valsa, sinto um vento <strong>de</strong> nostalgia.<br />

Toda aquela atmosfera <strong>de</strong> repente <strong>de</strong>saba sobre mim novamente e fico assim<br />

meio <strong>de</strong>slumbrado. Desenca<strong>de</strong>ia em mim todo um processo <strong>de</strong> volta, <strong>de</strong><br />

busca, <strong>de</strong> <strong>de</strong>scoberta. Isso era na Rua Alegre, em Al<strong>de</strong>ia Campista.<br />

Bom, aí, aos seis anos, fui para uma escola da Rua Alegre, que mudou<br />

<strong>de</strong> nome, tanto a rua como a escola, mas a escola conserva exatamente a<br />

mesma coisa. D. Rosa se chamava a minha professora, uma senhora <strong>de</strong><br />

narinas apertadas, tinha, no primeiro dia, um vestido <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho todo<br />

florido, mas era um trocadilho com o nome.<br />

Eu comecei a estudar, e aí que ocorreu aquele negócio da merenda...<br />

Eu era pobre, menino pobre, e levava uma banana, e estava muito orgulhoso olhando a banana, mas quando<br />

cheguei no recreio com a minha banana, muito maior que o momento da aula, quando puxei minha banana,<br />

outro garoto, simultaneamente, olhando para mim e baixando os olhos e olhando para mim outra vez,<br />

<strong>de</strong>sembrulhava um sanduíche <strong>de</strong> ovo que humilhou e liquidou a minha banana. O ovo ainda estava úmido, <strong>de</strong><br />

51


Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

forma que escorria gema pela boca como uma papa amarela, e o garoto olhando pra mim, e eu não sabia o<br />

que fazer com a banana.<br />

Aliás, essa cena iria se repetir por todo o meu curso, porque meu pai era pobre. Pão e manteiga, isso<br />

pra mim era coisa oriental das Mil e uma noites (...)<br />

O bairro da minha infância me marcou profundamente. Tanto que nas minhas memórias – sou muito<br />

memorialista e quando não faço memórias tenho sempre lembranças para intercalar – falo da paisagem <strong>de</strong><br />

Al<strong>de</strong>ia Campista e das batalhas <strong>de</strong> confete da Rua Dona Zulmira. Eram fantásticas e tinham uma fama<br />

incrível. Não sei a razão, pois naquele tempo não havia as<br />

coberturas <strong>de</strong> televisão.<br />

A Tijuca teve uma coisa que me marcou: a Escola<br />

Pru<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Moraes, on<strong>de</strong> fiz a minha primeira “A vida como<br />

ela é...”. Houve um concurso <strong>de</strong> composição na aula. Era, se não<br />

me engano, o 4º ano primário, e ganhamos o concurso, eu e o<br />

outro garoto.<br />

O outro garoto escreveu sobre um rajá que passeava<br />

montado num elefante e eu escrevi a história <strong>de</strong> um adultério<br />

E.M. Pru<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Moraes<br />

que terminou com o marido esfaqueando a adúltera. Creio que a<br />

professora dividiu o prêmio com o outro garoto como concessão à moral vigente, porque ela ficou meio<br />

apavorada, em pânico, com a violência da minha “A vida como ela é...”. Eu, quando soube que o garoto tinha<br />

ganho também e ouvi a história <strong>de</strong>le, a <strong>de</strong>le foi lida em voz alta, a minha não, fiz uma restrição que revela<br />

todo o meu <strong>de</strong>speito profundo, a minha competição feroz. É que eu<br />

teria posto na testa do rajá um diamante. Ele não tinha posto, e isso foi<br />

minha compensação.<br />

Foi aí que eu fiz o meu primeiro plágio, começando a história<br />

assim: “A madrugada raiava sanguínea e fresca.”<br />

Quando a professora começou a ler, fiquei em pânico que ela<br />

manjasse a história. Foi um plágio cínico, em plena consciência, não foi<br />

coincidência nem nada.<br />

Foi já com esta “A vida como ela é...” que me senti escritor,<br />

porque eu me entreguei a isso com um élan fabuloso. Desan<strong>de</strong>i a<br />

escrever o troço...<br />

Continuei escrevendo e comecei a ser marcado na aula talvez<br />

como um gênio. Era olhado pelas professoras como uma promessa <strong>de</strong><br />

tarado. (...)<br />

Mudar para Copacabana foi realmente uma aventura fabulosa, por causa do mar. O mar significava<br />

Olinda, a minha infância profunda. Portanto o mar significava a minha pátria, minha paisagem.<br />

“Voltei” para Olinda, em Copacabana. Fui morar na Rua Inhangá, numa casa que eu achava um<br />

palácio, porque até a Tijuca nós tínhamos morado mo<strong>de</strong>stamente. Na Rua Inhangá a casa era <strong>de</strong> altos e<br />

baixos, tinha um sótão. Foi aí que eu <strong>de</strong>scobri o sótão, isso é uma curiosida<strong>de</strong> porque eu usei o sótão no<br />

Vestido <strong>de</strong> noiva. Então, eu subia para o sótão e o achava uma coisa maravilhosa.<br />

Meu pai já estava no Correio da Manhã e foi aí, logo <strong>de</strong>pois, que ele se tornou diretor do jornal.<br />

Des<strong>de</strong> cedo eu lia meu pai, não entendia muita coisa que ele escrevia, os termos que ele usava, mas<br />

ficava <strong>de</strong>slumbrado quando não entendia. O que é uma reação normal: até hoje, quando não enten<strong>de</strong>mos<br />

ficamos <strong>de</strong>slumbrados. E isso antecipou minha vocação, me <strong>de</strong>u uma pressa literária.<br />

RODRIGUES, SONIA (org.). Nelson Rodrigues por ele mesmo. Editora Nova Fronteira.<br />

52


Nelson Falcão Rodrigues nasceu no Recife,<br />

em 1912. Aos 5 anos, mudou-se com a família para<br />

o Rio <strong>de</strong> Janeiro, indo morar na Rua Alegre, em<br />

Al<strong>de</strong>ia Campista, bairro que <strong>de</strong>pois seria<br />

absorvido pelos vizinhos Andaraí, Maracanã,<br />

Tijuca e Vila Isabel. Em contato com a imaginação<br />

fértil do futuro escritor, a realida<strong>de</strong> da Zona Norte<br />

carioca, com suas tensões morais e sociais, serviu<br />

como fonte <strong>de</strong> inspiração para Nelson construir<br />

personagens memoráveis e histórias carregadas<br />

<strong>de</strong> lirismo trágico.<br />

Aos 13 anos, ingressa na carreira <strong>de</strong><br />

jornalista, trabalhando como repórter policial em<br />

A Manhã, um dos jornais fundados por seu pai,<br />

Mário Rodrigues, que marcaram época – o<br />

segundo foi Crítica, palco <strong>de</strong> uma tragédia que<br />

abalaria o dramaturgo profundamente: o<br />

assassinato <strong>de</strong> seu irmão, o ilustrador e pintor<br />

Roberto Rodrigues, em 1929.<br />

<strong>História</strong> <strong>de</strong> Nelson<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

Lado a lado com o teatro, o jornalismo foi<br />

para ele um ambiente privilegiado <strong>de</strong> expressão.<br />

Dentre seus textos propriamente jornalísticos,<br />

<strong>de</strong>stacam-se aqueles <strong>de</strong>dicados ao futebol, em que<br />

empregou toda sua veia dramática, transformando<br />

partidas em batalhas épicas e jogadores em<br />

heróis. Trabalhou nos mais diversos jornais e<br />

revistas, assinando artigos e crônicas, como a<br />

popular e discutida coluna “A Vida Como Ela É…”.<br />

Em 1943, a consagração no Teatro<br />

Municipal do Rio <strong>de</strong> Janeiro: sua segunda peça,<br />

Vestido <strong>de</strong> Noiva, montada por um grupo amador,<br />

Os Comediantes, dirigida pelo polonês recémimigrado<br />

Ziembinski e com cenários <strong>de</strong> Tomás<br />

Santa Rosa, revolucionava a maneira <strong>de</strong> se fazer<br />

teatro no Brasil. Sua peça seguinte, Álbum <strong>de</strong><br />

Família, <strong>de</strong> 1946, que trata <strong>de</strong> incesto, foi<br />

censurada, sendo liberada apenas duas décadas<br />

<strong>de</strong>pois. Dali em diante, sua obra <strong>de</strong>spertaria as<br />

mais variadas reações, nunca a indiferença.<br />

O prestígio alcançado pelo<br />

reconhecimento <strong>de</strong> seu talento não livrou-o <strong>de</strong><br />

contestações ou perseguições. Classificado pelo<br />

próprio Nelson Rodrigues como “<strong>de</strong>sagradável”,<br />

seu teatro chocou plateias, provocando não<br />

apenas admiração, mas também repugnância e<br />

ódio, sentimentos muitas vezes alimentados por<br />

seu temperamento inclinado à polêmica e à<br />

autopromoção.<br />

Nelson Rodrigues morreu no Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro, em 1980, aos 68 anos. Além dos<br />

romances, contos e crônicas, <strong>de</strong>ixou como legado<br />

17 peças que, vistas em conjunto, colocam-no<br />

entre os gran<strong>de</strong>s nomes do teatro brasileiro e<br />

universal.<br />

Disponível em: http://www.funarte.gov.br<br />

53


<strong>História</strong>s <strong>de</strong> Nelson<br />

ROMANCE<br />

Meu Destino É Pecar - 1944 - com o pseudônimo <strong>de</strong> Suzana Flag<br />

Escravas do Amor - 1946 - com o pseudônimo <strong>de</strong> Suzana Flag<br />

Minha Vida - 1946 - com o pseudônimo <strong>de</strong> Suzana Flag<br />

Asfalto Selvagem (2 volumes) - 1960<br />

O Casamento - 1966<br />

O Homem Proibido* - 1981 - com o pseudônimo <strong>de</strong> Suzana Flag<br />

Núpcias <strong>de</strong> Fogo* - 1997 - com o pseudônimo <strong>de</strong> Suzana Flag<br />

A Mentira* - 2002 - com o pseudônimo <strong>de</strong> Suzana Flag<br />

A Mulher que Amou Demais* - 2003 - com o pseudônimo <strong>de</strong> Myrna<br />

CONTO<br />

Cem Contos Escolhidos: A Vida como Ela É... (2 volumes) - 1961<br />

Elas Gostam <strong>de</strong> Apanhar - 1974<br />

Pouco Amor Não É Amor* - 2002<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

CRÔNICA<br />

Memórias <strong>de</strong> Nelson Rodrigues - 1967<br />

A Menina sem Estrela - 1967<br />

O Óbvio Ululante - 1968<br />

A Cabra Vadia - 1970<br />

O Reacionário - 1977<br />

À Sombra das Chuteiras Imortais* - 1993<br />

A Pátria em Chuteiras* - 1994<br />

O Remador <strong>de</strong> Ben-Hur: Confissões Culturais* - 1996<br />

Não Se Po<strong>de</strong> Amar e Ser Feliz ao Mesmo Tempo: O Consultório Sentimental <strong>de</strong> Nelson Rodrigues* - 2002 - com o pseudônimo <strong>de</strong> Myrna<br />

O Profeta Tricolor: Cem Anos <strong>de</strong> Fluminense* - 2002<br />

ENSAIO<br />

O Baú <strong>de</strong> Nelson Rodrigues: Os Primeiros Anos <strong>de</strong> Crítica e Reportagem* - 2004<br />

TEATRO<br />

Vestido <strong>de</strong> Noiva, A Mulher sem Pecado - 1944<br />

Álbum <strong>de</strong> Família - 1946<br />

Anjo Negro, Vestido <strong>de</strong> Noiva, A Mulher sem Pecado - 1948<br />

Senhora dos Afogados, A Falecida - 1956<br />

Teatro - 1959<br />

Otto Lara Resen<strong>de</strong> ou Bonitinha, mas Ordinária - 1965<br />

Teatro Quase Completo (com obras inéditas) - 1965<br />

A Serpente - 1980<br />

Os Sete Gatinhos - 1980<br />

Teatro Completo - 1981 - 1989* - quatro volumes; com obras inéditas<br />

*Publicação póstuma<br />

Disponível em: http://www.itaucultural.org.br<br />

54


Roseana por ela mesma<br />

Tenho muitos livros publicados e leitores <strong>de</strong><br />

todas as ida<strong>de</strong>s, aliás, não acredito em ida<strong>de</strong>, mas sim<br />

em experiências vividas. Fico muito feliz quando penso<br />

que um poema que escrevi aqui na minha mesa, sozinha,<br />

chega a lugares tão distantes e emociona tanta gente.<br />

E falando em livros, são os livros que mandam<br />

em mim. Com eles viajo pelo Brasil, encontro pessoas,<br />

faço novos amigos. Minha vida gira em torno <strong>de</strong>les.<br />

Escrever é minha gran<strong>de</strong> paixão. Estou sempre<br />

escrevendo alguma coisa, um verso, um poema, uma<br />

carta. Gosto que as pessoas gostem do que escrevo. Não<br />

tem nada que me <strong>de</strong>ixe mais feliz. E corajosa.<br />

Roseana Murray<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

Digo como Neruda, poeta que amo: para nascer nasci. Para<br />

fazer poesia, amar, cozinhar para os amigos, para ter as portas da<br />

casa e do coração sempre abertas. Nasci num dia quente <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>zembro, em 1950, dois meses antes do previsto, numa clínica em<br />

Botafogo. Sou filha <strong>de</strong> imigrantes poloneses, Lejbus Kligerman e<br />

Bertha Gutman Kligerman, que vieram para o Brasil antes da<br />

Segunda Guerra fugindo do antissemitismo. Passei a infância no<br />

bairro do Grajaú, no Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

Gosto <strong>de</strong> mato e silêncio, não sou nada urbana. Durante<br />

muitos anos vivi em Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Mauá, mas troquei Mauá por<br />

Saquarema em 2002, já que uma cirurgia na coluna tornou a<br />

montanha quase intransponível. Mas o meu filho André Murray<br />

continua lá tocando as suas árvores e panelas no Restaurante Babel:<br />

ele é Chef <strong>de</strong> Cozinha. Meu outro filho é músico, o Guga. Ele vive em<br />

Granada, na Espanha e tem um trio no Brasil, o Um Trio Vira-Lata.<br />

Eles são filhos do meu primeiro casamento. Des<strong>de</strong> 1997 estou<br />

casada com o Juan Arias, jornalista e escritor.<br />

“Tantos medos e outras coragens”, Roseana Murray e<br />

http://www.roseanamurray.com<br />

55


Nasceu no Rio <strong>de</strong> Janeiro em 1950.<br />

Graduou-se em Literatura e Língua Francesa<br />

em 1973 (Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Nancy/ Aliança<br />

Francesa).<br />

Publicou seu primeiro livro infantil em<br />

1980 (Fardo <strong>de</strong> Carinho, ed. Murinho, R.J).<br />

Tem mais <strong>de</strong> 60 livros publicados. Tem dois<br />

livros traduzidos no México (Casas, ed.<br />

Formato e Três Velhinhas tão velhinhas, ed.<br />

Miguilim/ IBEP). Seus poemas estão em<br />

antologias na Espanha. Tem poemas<br />

traduzidos em seis linguas ( in Um Deus para<br />

2000, Juan Arias, ed. Desclée e Maria, esta<br />

gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sconhecida, Juan Arias, ed. Maeva.).<br />

Recebeu o Prêmio O Melhor <strong>de</strong> Poesia<br />

da FNLIJ nos anos 1986 (Fruta no Ponto, ed.<br />

FTD), 1994 (Tantos Medos e Outras Coragens,<br />

ed. FTD) e 1997 (Receitas <strong>de</strong> Olhar, ed. FTD).<br />

Recebeu o Prêmio Associação Paulista<br />

<strong>de</strong> Críticos <strong>de</strong> Arte em 1990 para o livro Artes<br />

e Ofícios, ed. FTD, S.P.<br />

Entrou para a Lista <strong>de</strong> Honra do I.B.B.Y<br />

em 1994 com o livro Tantos Medos e Outras<br />

Coragens tendo recebido seu diploma em<br />

Sevilha, Espanha.<br />

<strong>História</strong> <strong>de</strong> Roseana<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

Recebeu o Prêmio Aca<strong>de</strong>mia Brasileira<br />

<strong>de</strong> Letras em 2002 para o livro Jardins ed.<br />

Manati, R.J como o melhor livro infantil do<br />

ano.<br />

Participou ao longo <strong>de</strong>stes anos <strong>de</strong><br />

vários projetos <strong>de</strong> leitura. Implantou em<br />

Saquarema, em 2003, junto com a Secretaria<br />

Municipal <strong>de</strong> Educação, o Projeto Saquarema,<br />

Uma Onda <strong>de</strong> Leitura.<br />

Disponível em:<br />

http://www.roseanamurray.com/biografia<br />

E. M. Pedro Paulo da Silva, em Santa Cruz da<br />

Serra, inauguração da Sala <strong>de</strong> Leitura<br />

Roseana Murray, 2010<br />

56


<strong>História</strong>s <strong>de</strong> Roseana<br />

O LIVRO É A CASA<br />

ONDE SE DESCANSA<br />

DO MUNDO<br />

O LIVRO É A CASA<br />

DO TEMPO<br />

É A CASA DE TUDO<br />

POESIA PARA CRIANÇAS E JOVENS<br />

MAR E RIO<br />

NO MESMO FIO<br />

ÁGUA DOCE E SALGADA<br />

O LIVRO É ONDE<br />

A GENTE SE ESCONDE<br />

EM GRUTA ENCANTADA<br />

Falando <strong>de</strong> livros<br />

Lá vem o Luis, Ed. Leya, 2011, ilustrações <strong>de</strong> Oriol San Julián<br />

Luna, Merlin e Outros Habitantes, Ed. Miguilim, reedição 2011, ilustrações <strong>de</strong> Caó Cruz<br />

Alves<br />

No Mundo da Lua, Ed. Paulus, reedição 2011, ilustrações <strong>de</strong> Maria Ines Piekas.<br />

Roseana Murray, Poemas para Ler na Escola, ed. Objetiva, 2011, seleção <strong>de</strong> Hebe<br />

Coimbra<br />

O Circo, ed. Paulus, 2011, ilustrações Caó Cruz Alves (reedição)<br />

O Mar e os Sonhos, ed. Lê, reedição, 2011, ilustrações Elvira Vigna<br />

Uma Gata no Coração, Ed. Amarilys, 2011.<br />

Classificados Poéticos, Reedição Ed. Mo<strong>de</strong>rna, 2010.<br />

Carteira <strong>de</strong> I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, ed. Lê, B.H, 2010 (Catálogo <strong>de</strong> Bolonha 2011)<br />

Fardo <strong>de</strong> Carinho, ed. Lê, 2009.<br />

Poemas <strong>de</strong> Céu, ed. Paulinas, 2009.<br />

Kira, ed. Lê, 2009.<br />

Arabescos no Vento, ed. Prumo, 2009.<br />

Fábrica <strong>de</strong> Poesia, ed. Scipionne, 2008.<br />

Poemas e Comidinhas, com o Chef André Murray, ed. Paulus, S.P, 2008<br />

Residência no Ar, ed. Paulus, 2007.<br />

No Cais do primeiro Amor, ed. Larousse, 2007.<br />

Desertos, ed. Objetiva, 2006. ( Finalista do Prêmio Jabuti ) - Altamente Recomendável<br />

FNLIJ, 2006<br />

O traço e a traça ed. Scpionne, 2006.<br />

O xale azul da sereia, ed. Larrousse, 2006.<br />

O que cabe no bolso? ed. DCL, 2006.<br />

Paisagens, ed. Lê, 2006.<br />

Pêra, uva ou maçã ed. Scipione, 2005. (Catálogo <strong>de</strong> Bolonha 2006 e Acervo Básico,<br />

F.N.L.I.J).<br />

Rios da Alegria, ed. Mo<strong>de</strong>rna, 2005. (Altamente Recomendável, F.N.L.I.J).<br />

Poemas <strong>de</strong> Céu ed. Miguilim, 2005. (Antigo "Lições <strong>de</strong> Astronomia").<br />

Maria Fumaça Cheia <strong>de</strong> Graça, ed. Larousse, 2005.<br />

Duas Amigas, ed. Paulus, 2005 (reedição).<br />

Lua Cheia Amarela, ed. Dimensão 2004.<br />

Caixinha <strong>de</strong> Música, ed. Manati, 2004. (Catálogo <strong>de</strong> Bolonha 2005)<br />

Um Gato Marinheiro, ed. DCL, 2004.<br />

Todas as Cores Dentro do Branco, ed. Nova Fronteira, 2004.<br />

Recados do Corpo e da Alma, ed. FTD, 2003. (Altamente Recomendável F.N.L.I.J)<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

57


Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

Luna, Merlin e Outros Habitantes, ed. Miguilim/ Ibeppe, 2002. (Altamente Recomendável, F.N.L.I.J.)<br />

Jardins, ed. Manati, 2001. (Prêmio Aca<strong>de</strong>mia Brasileira <strong>de</strong> Letras <strong>de</strong> Literatura Infantil 2002)<br />

Caminhos da Magia, ed. DCL, 2001.<br />

Manual da Delica<strong>de</strong>za, ed. FTD, 2001.<br />

O Silêncio dos Descobrimentos, com Elvira Vigna, ed. Paulus, 2000.<br />

Receitas <strong>de</strong> Olhar, ed. F.T.D, 1997, ( Prêmio O Melhor <strong>de</strong> Poesia, F.N.L.I.J. )<br />

Carona no Jipe, ed. Memórias Futuras, 1994 e ed. Salamandra, 2006.<br />

No final do Arco-Íris, ed. José Olímpio, 1994.<br />

O Mar e os Sonhos, ed. Miguilim,1996, (Altamente Recomendável para a Criança, F.N.L.I.J. )<br />

Paisagens, ed. Lê, 1996.<br />

Felicida<strong>de</strong>, ed. F.T.D, 1995, (Altamente Recomendável para a Criança, F.N.L.I.J. )<br />

De que riem os palhaços ed. Memórias Futuras, 1995. Esgotado<br />

Tantos Medos e Outras Coragens, ed. F.T.D, 1994 ( Prêmio O Melhor <strong>de</strong> Poesia F.N.L.I.J e Lista <strong>de</strong> Honra do I.B.B.Y. )<br />

Reedição com novas ilustrações em 2007.<br />

Qual a Palavra? ed. Nova Fronteira, 1994.<br />

Casas, ed. Formato, 1994. Editado no México, ed. Alfaguara<br />

Dia e Noite, ed. Memórias Futuras, 1994. Esgotado<br />

Artes e Ofícios, ed. F.T.D, 1990, (Prêmio A.P.C.A. e Altamente Recomendável para a Criança, F.N.L.I.J. ) Reedição com<br />

novas ilustrações em 2007.<br />

Falando <strong>de</strong> Pássaros e Gatos, editora Paulus, 1987.<br />

Fruta no Ponto, ed. F.T.D, 1986. (Prêmio O Melhor <strong>de</strong> Poesia. F.N.L.I.J.)<br />

Fardo <strong>de</strong> Carinho, ed. Murinho, 1980 e ed. Lê, 1985.<br />

O Circo, ed. Miguilim/ Ibeppe, 1985.<br />

Lições <strong>de</strong> Astronomia, ed. Memórias Futuras, 1985. Esgotado<br />

Classificados Poéticos, ed. Miguilim/ Ibeppe, 1984, (Altamente Recomendável<br />

para a Criança, F.N.L.I.J, e finalista do Prêmio Bienal. )<br />

No Mundo da Lua, ed. Miguilim/ Ibeppe, 1983.<br />

CONTOS PARA CRIANÇAS E JOVENS<br />

Vento Distante, Ed. Escrita Fina, 2010 (Catálogo <strong>de</strong> Bolonha 2011)<br />

Território <strong>de</strong> Sonhos, ed. Rocco, Altamente Recomendável FNLIJ, 2006.<br />

Sete Sonhos e um Amigo, ed. FTD, 2004.<br />

Pequenos Contos <strong>de</strong> Leves Assombros, ed. Quinteto, 2003.<br />

Um Avô e seu Neto, ed. Mo<strong>de</strong>rna, 2000.<br />

Terremoto Furacão ed. Paulus, 2000.<br />

Um cachorro para Maya, ed Salamandra, 2000.<br />

Uma <strong>História</strong> <strong>de</strong> Fadas e Elfos, ed. Miguilim / Ibeppe, 1998, (Acervo Básico da F.N.L.I.J - criança).<br />

Três Velhinhas tão velhinhas, ed. Miguilim / Ibeppe, 1996.<br />

O Fio da Meada, ed. Memórias Futuras, 1994. Ed. Paulus, 2002.<br />

Retratos, ed. Miguilim/ Ibeppe, 1990, Altamente Recomendável para a Criança, F.N.L.I.J. )<br />

O Buraco no Céu ed. Memórias Futuras, 1989.<br />

POESIA<br />

Variações sobre Silêncio e Cordas, com <strong>de</strong>senhos <strong>de</strong> Elvira Vigna. E-BOOK, edição artesanal Maurício Rosa, Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Mauá, maio <strong>de</strong> 2008.<br />

Poesia essencial, ed. Manati, 2002.<br />

15 poemas no livro Um Deus para Dois Mil, <strong>de</strong> Juan Arias, ed. Vozes (em seis línguas) 1999.<br />

Caravana, inédito, vencedor do Concurso Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Belo Horizonte, 1994.<br />

Pássaros do Absurdo, ed. Tchê ,1990, vencedor do Concurso da Associação Gaúcha <strong>de</strong> Escritores.<br />

Pare<strong>de</strong>s Vazadas, ed. Memórias Futuras, 1988. Esgotado<br />

Viagens, ed. memórias Futuras, 1984.<br />

Revista Poesia Sempre.<br />

Revista Microfisuras, Espanha<br />

Correspondência<br />

Porta a porta, com Suzana Vargas, ed. Saraiva, 1998. (Acervo Básico da F.N.L.I.J - jovem).<br />

Disponível em: http://www.roseanamurray.com/bibliografia<br />

58


Ruth Rocha<br />

Ruth por ela mesma – Entrevista com Ruth Rocha<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

Como o Marcelo, a senhora também criava palavras quando<br />

era criança?<br />

RUTH ROCHA: Na minha família, a gente brincava muito com<br />

palavras. Meu pai dava corda. Sempre contava as histórias do<br />

poeta Emílio <strong>de</strong> Menezes, um trocadilhista. Uma atriz sentava na<br />

frente <strong>de</strong>le no teatro, aí o Emílio levantava e apontava as ca<strong>de</strong>iras<br />

vazias: “Atrás há três, atriz atroz!” Mas era meu avô o contador <strong>de</strong><br />

histórias da família. Analisando hoje, sei que ele contava An<strong>de</strong>rsen,<br />

Perrault, Grimm, As Mil e Uma Noites, histórias folclóricas. Essa<br />

fabulação toda ficou em mim. Ele era primo <strong>de</strong> 2º ou 3º grau do<br />

Castro Alves, e <strong>de</strong>clamava a obra inteira <strong>de</strong>le. Meu pai, minha mãe<br />

e avó gostavam <strong>de</strong> cantar versos. Era uma família muito fala<strong>de</strong>ira.<br />

Todo mundo diz que meu estilo é oral. Deve ser por ter ouvido<br />

muitas histórias.<br />

Qual é o segredo, afinal, do sucesso do “Marcelo, Marmelo,<br />

Martelo”?<br />

RUTH ROCHA: Se eu soubesse, faria todos como ele! O que sei é<br />

que um bom livro precisa ter verda<strong>de</strong>, propor novas questões e<br />

fazer o leitor pensar. Nunca escrevo porque tal assunto po<strong>de</strong><br />

agradar ao público infantil, mas sempre preocupada em contar<br />

uma boa história e ser fiel aos meus valores.<br />

Como foi seu primeiro contato com a literatura, Ruth? Como a senhora <strong>de</strong>cidiu ser escritora?<br />

RUTH ROCHA: Meu contato com a literatura se <strong>de</strong>u através <strong>de</strong> Monteiro Lobato, sem dúvida. Mas <strong>de</strong>pois, quando eu<br />

tinha uns 13 anos e andava lendo uma porção <strong>de</strong> livros medíocres, um professor, A<strong>de</strong>raldo Castelo, pediu na escola que<br />

fizéssemos um trabalho sobre “A cida<strong>de</strong> e as serras”, <strong>de</strong> Eça <strong>de</strong> Queirós. Esse livro foi para mim, não um encontro com a<br />

literatura, mas uma verda<strong>de</strong>ira trombada! Até hoje eu ainda leio esse livro <strong>de</strong> vez em quando. A minha <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> ser<br />

escritora se <strong>de</strong>u quando comecei a escrever para a revista Recreio. Depois <strong>de</strong> vinte ou trinta histórias percebi que era o<br />

que eu queria realmente fazer.<br />

Como a senhora avalia os livros infantis produzidos atualmente, por autores novos?<br />

RUTH ROCHA: Leio pouco. Mas os que li têm problemas éticos, estéticos, <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconhecimento da criança. <strong>História</strong>s<br />

indicadas para criança muito pequena, mas que parecem escritas para criança gran<strong>de</strong>. Com referência a problemas que<br />

não são <strong>de</strong> criança. Por exemplo, história <strong>de</strong> amor entre crianças. Bobagem. Os adultos é que inventam isso. A criança<br />

até a puberda<strong>de</strong> não pensa nisso. A Luluzinha é perfeita, o<strong>de</strong>ia meninos, tem o clube do Bolinha. Há também muita<br />

história com bom-mocismo e moral no final. Ou melhor, as histórias sempre terminam com um “então, você não <strong>de</strong>ve<br />

<strong>de</strong>sobe<strong>de</strong>cer à mamãe, nem ao papai, pois Deus castiga.”<br />

Seria possível dizer se os jovens <strong>de</strong> hoje gostam <strong>de</strong> ler?<br />

RUTH ROCHA: Em todos os tempos houve jovens que gostavam <strong>de</strong> ler e outros que não tinham gran<strong>de</strong> interesse. O<br />

escritor sempre espera conquistar esse grupo.<br />

Já aconteceu à senhora <strong>de</strong> jogar fora um livro que escreveu por não consi<strong>de</strong>rar que ele estivesse satisfatório?<br />

RUTH ROCHA: Já aconteceu, sim. Segundo Ana Maria Machado, um escritor <strong>de</strong>ve ter uma gaveta pequena, para guardar<br />

originais, e uma cesta <strong>de</strong> lixo gran<strong>de</strong>, para jogar fora o que não fica bom.<br />

Fontes <strong>de</strong> pesquisa:<br />

* http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/pratica-pedagogica/leitura-nao-po<strong>de</strong>-ser-so-folia-423575.shtml<br />

* Revista Língua Portuguesa, Ano III, Nº 32, junho <strong>de</strong> 2008.<br />

59


Ruth Rocha nasceu em<br />

1931 na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo.<br />

Filha dos cariocas Álvaro <strong>de</strong><br />

Faria Machado, médico, e<br />

Esther <strong>de</strong> Sampaio Machado,<br />

tem quatro irmãos, Rilda,<br />

Álvaro, Eliana e Alexandre.<br />

Teve uma infância alegre e<br />

repleta <strong>de</strong> livros e gibis. O<br />

bairro <strong>de</strong> Vila Mariana, on<strong>de</strong><br />

morava, tinha nessa época<br />

muitas chácaras por on<strong>de</strong> Ruth<br />

passava, a caminho da escola -<br />

estudava no Colégio Ban<strong>de</strong>irantes. Mais tar<strong>de</strong>,<br />

terminou o Ensino Médio no Colégio Rio Branco.<br />

É graduada em Sociologia e Política pela<br />

Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo e pós-graduada em<br />

Orientação Educacional pela Pontifícia Universida<strong>de</strong><br />

Católica <strong>de</strong> São Paulo. Casada com Eduardo Rocha, tem<br />

uma filha, Mariana e dois netos, Miguel e Pedro.<br />

Durante 15 anos (<strong>de</strong> 1956 a 1972) foi<br />

orientadora educacional do<br />

Colégio Rio Branco, on<strong>de</strong> pô<strong>de</strong><br />

conviver com os conflitos e as<br />

difíceis vivências infantis e com as<br />

mudanças do seu tempo. A<br />

liberação da mulher, as questões<br />

afetivas e <strong>de</strong> autoestima foram<br />

sedimentando-se em sua<br />

formação.<br />

Começou a escrever em<br />

1967, para a revista Claudia,<br />

artigos sobre educação. Participou<br />

da criação da revista Recreio, da<br />

Editora Abril, on<strong>de</strong> teve suas<br />

primeiras histórias publicadas a partir <strong>de</strong> 1969.<br />

“Romeu e Julieta”, “Meu Amigo Ventinho”, “Catapimba e<br />

Sua Turma”, “O Dono da Bola”, “Teresinha e Gabriela”<br />

estão entre seus primeiros textos <strong>de</strong> ficção. Ainda na<br />

Abril, foi editora, redatora e diretora da Divisão <strong>de</strong><br />

Infanto-Juvenis.<br />

Publicou seu primeiro<br />

livro, “Palavras Muitas<br />

Palavras”, em 1976, e <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

então já teve mais <strong>de</strong> 130 títulos<br />

publicados, entre livros <strong>de</strong><br />

ficção, didáticos, paradidáticos e<br />

um dicionário. As histórias <strong>de</strong><br />

Ruth Rocha estão espalhadas<br />

pelo mundo, traduzidas em<br />

mais <strong>de</strong> 25 idiomas.<br />

<strong>História</strong> <strong>de</strong> Ruth<br />

4 anos vestida <strong>de</strong> anjinho<br />

Lendo para a filha Mariana e seus primos<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

Monteiro Lobato foi sua<br />

gran<strong>de</strong> influência. Em sua obra,<br />

essa influência se traduz pelo seu<br />

interesse nos problemas sociais e<br />

políticos, na sua tendência ao<br />

humor e nas suas posições<br />

feministas.<br />

Seu livro <strong>de</strong> forte<br />

conteúdo crítico, “Uma <strong>História</strong> <strong>de</strong><br />

Rabos Presos”, foi lançado em<br />

1989 no Congresso Nacional em<br />

Brasília, com a presença <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />

número <strong>de</strong> parlamentares. Em<br />

1988 e 1990 lançou na se<strong>de</strong> da Organização das Nações<br />

Unidas em Nova York seus livros “Declaração Universal<br />

dos Direitos Humanos” para crianças e “Azul e Lindo:<br />

Planeta Terra, Nossa Casa”.<br />

Participou durante seis anos do programa <strong>de</strong><br />

televisão Gazeta Meio-Dia como membro fixo da mesa<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>bates.<br />

Em 1998 foi con<strong>de</strong>corada pelo presi<strong>de</strong>nte<br />

Fernando Henrique Cardoso com<br />

a Comenda da Or<strong>de</strong>m do Mérito<br />

Cultural do Ministério da Cultura.<br />

Ganhou os mais<br />

importantes prêmios brasileiros<br />

<strong>de</strong>stinados à literatura infantil da<br />

Fundação Nacional do Livro<br />

Infantil e Juvenil, da Câmara<br />

Brasileira do Livro, cinco Prêmios<br />

“Jabuti”, da Associação Paulista <strong>de</strong><br />

Críticos <strong>de</strong> Arte e da Aca<strong>de</strong>mia<br />

Brasileira <strong>de</strong> Letras, Prêmio João<br />

<strong>de</strong> Barro, da Prefeitura <strong>de</strong> Belo<br />

Horizonte, entre outros.<br />

Seu livro mais conhecido é “Marcelo, Marmelo,<br />

Martelo”, que já ven<strong>de</strong>u mais <strong>de</strong> 1 milhão <strong>de</strong> cópias.<br />

Em 2002 ganhou o prêmio Moinho Santista <strong>de</strong><br />

Literatura Infantil, da Fundação Bunge. Também nesse<br />

ano foi escolhida como membro do PEN CLUB –<br />

Associação Mundial <strong>de</strong> Escritores<br />

no Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

Atualmente é membro do<br />

Conselho Curador da Fundação<br />

Padre Anchieta.<br />

Com seus pais e irmãos<br />

Disponível em:<br />

http://www2.uol.com.br/ruthroch<br />

a/historiadaruth<br />

60


<strong>História</strong>s <strong>de</strong> Ruth<br />

A arca <strong>de</strong> Noé , Salamandra<br />

A árvore do Beto, FTD<br />

A Cin<strong>de</strong>rela das bonecas, FTD<br />

A coisa, FTD<br />

A <strong>de</strong>cisão do campeonato, FTD<br />

A escola do Marcelo, Salamandra<br />

A escolinha do mar, Salamandra<br />

A família do Marcelo, Salamandra<br />

A fantástica máquina dos bichos, Ática<br />

A flauta mágica, Callis Ed.<br />

A história do livro, Melhoramentos<br />

A Ilíada, Cia. das Letrinhas<br />

A máquina maluca, FTD<br />

A menina que apren<strong>de</strong>u a voar, Salamandra<br />

A menina que não era maluquinha e outras<br />

histórias, Melhoramentos<br />

A primavera da lagarta, Formato<br />

A rua do Marcelo, Salamandra<br />

Almanaque Ruth Rocha, Ática<br />

Alvinho e os presentes <strong>de</strong> natal, FTD<br />

Alvinho, a apresentadora <strong>de</strong> TV e o campeão,<br />

FTD<br />

Alvinho, o Edifício City Of, FTD<br />

Armandinho, o juiz, FTD<br />

As coisas que a gente fala, Salamandra<br />

As coisas que eu gosto, Ática<br />

As férias <strong>de</strong> Miguel e Pedro, Melhoramentos<br />

Atrás da porta, Salamandra<br />

Azul e lindo: planeta terra, nossa casa,<br />

Salamandra<br />

Boi, boiada, boia<strong>de</strong>iro, Quinteto Editorial<br />

Bom-Dia, todas as cores!, FTD<br />

Borba, o gato, Ática<br />

Carmem, Callis.<br />

Como se fosse dinheiro, FTD<br />

Contos <strong>de</strong> Perrault, FTD<br />

Contos para ri e sonhar, Salamandra<br />

Davi ataca outra vez, Ática<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

Declaração universal dos direitos humanos,<br />

Salamandra<br />

De hora em hora..., Quinteto Editorial<br />

De repente dá certo, Salamandra<br />

Dois idiotas sentados cada qual no seu barril...,<br />

Ática<br />

Elefante?, Formato<br />

Enquanto o mundo pega fogo, Ática<br />

Escrever e criar...É só começar! (8 Volumes),<br />

FTD<br />

Este admirável mundo louco, Salamandra<br />

Eu gosto muito, Ática<br />

Eugênio, o gênio, Salamandra<br />

Fábula <strong>de</strong> Esopo, FTD<br />

Faca sem ponta, galinha sem pé..., Nova<br />

Fronteira<br />

Fantasma existe?, Ática<br />

Faz muito tempo, Ática<br />

Flauta mágica, Callis.<br />

Gabriela e a titia, Salamandra<br />

<strong>História</strong>s das mil e uma noites, FTD<br />

Historinhas malcriadas, Salamandra<br />

Joãozinho e Maria, FTD<br />

Joãozinho e o pé <strong>de</strong> feijão, FTD<br />

Lá vem o ano novo, Salamandra<br />

Leila menina, Nova Fronteira<br />

Livro <strong>de</strong> números do Marcelo, Quinteto<br />

Editorial<br />

Macacote e Porco Pança, Salamandra<br />

Marcelo, marmelo, martelo, Salamandra<br />

Marília Bela, Nova Fronteira<br />

Meu amigo dinossauro, Melhoramentos<br />

Meu irmãozinho me atrapalha, Melhoramentos<br />

Meus lápis <strong>de</strong> cor são só meus, Melhoramentos<br />

Microdicionário Ruth Rocha, Scipione<br />

Mil pássaros, Melhoramentos<br />

Mil pássaros pelos céus, Ática<br />

61


Minidicionário Ruth Rocha, Scipione<br />

Mulheres <strong>de</strong> coragem, FTD<br />

Nicolau tinha uma i<strong>de</strong>ia, Quinteto Editorial<br />

Ninguém gosta <strong>de</strong> mim?, Ática<br />

No caminho <strong>de</strong> Alvinho tinha uma pedra, FTD<br />

No tempo em que a televisão mandava no<br />

Carlinhos, FTD<br />

Nosso amigo ventinho, Salamandra<br />

O amigo do rei, Salamandra<br />

O bairro do Marcelo, Salamandra<br />

O Barba Azul, FTD<br />

O barbeiro <strong>de</strong> Sevilha, Callis<br />

O coelhinho que não era <strong>de</strong> páscoa, Ática<br />

O dia em que Miguel estava muito triste,<br />

Melhoramentos<br />

O Guarani, Callis<br />

O jacaré preguiçoso, Salamandra<br />

O livro da escrita, Melhoramentos<br />

O livro das letras, Melhoramentos<br />

O livro das línguas, Melhoramentos<br />

O livro das tintas, Melhoramentos<br />

O livro <strong>de</strong> números do Marcelo, Quinteto<br />

Editorial<br />

O livro do lápis, Melhoramentos<br />

O livro do papel, Melhoramentos<br />

O livro dos gestos e dos símbolos,<br />

Melhoramentos<br />

O macaco bombeiro, Salamandra<br />

O menino quase virou cachorro,<br />

Melhoramentos<br />

O menino que apren<strong>de</strong>u a ver, Quinteto<br />

Editorial<br />

O menino que quase morreu afogado no lixo,<br />

Quinteto Editorial<br />

O mistério do ca<strong>de</strong>rninho preto, Ática<br />

O monstro do quarto do Pedro,<br />

Melhoramentos<br />

O patinho feio, FTD<br />

O pequeno Mozart, Noovha América<br />

O piquenique do Catapimba, FTD<br />

O que é, o que é? (3 Volumes), Quinteto<br />

Editorial<br />

O que os olhos não veem, Salamandra<br />

O rato do campo e o rato da cida<strong>de</strong>, FTD<br />

O rei que não sabia <strong>de</strong> nada, Salamandra<br />

O reizinho mandão, Quinteto Editorial<br />

O trenzinho do Nicolau, Salamandra<br />

O último golpe <strong>de</strong> Alvinho, FTD<br />

O velho, o menino e o burro e outras histórias<br />

caipiras, FTD<br />

Os direitos das crianças segundo Ruth Rocha,<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

Cia. das Letrinhas<br />

Os amigos <strong>de</strong> Pedrinho, Melhoramentos<br />

Os músicos <strong>de</strong> Bremen, FTD<br />

Palavras, muitas palavras..., Quinteto Editorial<br />

Pedrinho Pintor, Salamandra<br />

Pedro e o menino valentão, Melhoramentos<br />

Pesquisar e apren<strong>de</strong>r, Scipione<br />

A fantástica fábrica dos bichos<br />

Pra que serve?, Salamandra<br />

Pra vencer certas pessoas, Ática<br />

Procurando firme, Nova Fronteira<br />

...que eu vou para Angola..., José Olympio<br />

Quando eu comecei a crescer, Nova Fronteira<br />

Quando eu for gente gran<strong>de</strong>, FTD<br />

Quando o Miguel entrou na escola,<br />

Melhoramentos.<br />

<strong>Quem</strong> tem medo <strong>de</strong> cachorro?, Global<br />

<strong>Quem</strong> tem medo <strong>de</strong> dizer não?, Global<br />

<strong>Quem</strong> tem medo <strong>de</strong> monstro?, Global<br />

<strong>Quem</strong> tem medo <strong>de</strong> quê?, Global<br />

<strong>Quem</strong> tem medo <strong>de</strong> ridículo?, Global<br />

<strong>Quem</strong> vai salvar a vida?, I. M. Salles<br />

Romeu e Julieta, Ática<br />

Ruth Rocha conta a Odisseia, Cia. das Letrinhas<br />

Sabe do que eu gosto?, Ática<br />

Sapo vira rei vira sapo: a volta do reizinho<br />

mandão, Salamandra<br />

Será que vai doer?, Ática<br />

Tem uma coisa que eu gosto, Ática<br />

Tenho medo mas dou um jeito, Ática<br />

Tom Sawyer, Objetiva<br />

Um cantinho só pra mim, Melhoramentos<br />

Um macaco pra frente, Salamandra<br />

Uma história com mil macacos, Ática<br />

Uma história <strong>de</strong> rabos presos, Salamandra<br />

Você é capaz <strong>de</strong> fazer isso?, FTD<br />

62


Sylvia Orthof<br />

Sylvia por ela mesma (1932–1997) - Autobiografia<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

Escrevo errado, não sei gramática, respingo vírgulas<br />

e peco Literatura. Mea culpa!<br />

Nasci no Rio, no Hospital dos Estrangeiros,<br />

sou carioca, filha <strong>de</strong> austríacos.<br />

Sou bagunceira, atrapalhei os sete pecados, escrevi oito<br />

pecados capitais para esta coleção*. Motivo?<br />

Distraí, fiz um conto sobre a soberba e outro sobre o orgulho<br />

e nem reparei que era a mesma coisa, gente !<br />

Sou mãe da Cláudia, Gê e Pedro, filhos queridíssimos.<br />

Tenho quatro netos: Mariana, Francisco, Nina e Olívia.<br />

Gracinhas <strong>de</strong> netos!<br />

Moro em Petrópolis, sou casada com o Tato,<br />

ilustrador <strong>de</strong> muitos dos meus livros .<br />

Vim do teatro e dirijo o grupo: Teatro do Livro Aberto.<br />

Acho que escrever é como <strong>de</strong>sfilar numa escola <strong>de</strong> samba:<br />

tem enredo, alegorias, fantasias, ritmo.<br />

Torço sempre pela Estação Primeira <strong>de</strong> Mangueira.<br />

Adoro mangas rosadas, sou gulosamente gorducha. Será que<br />

a gula é mesmo um pecado tão capital quanto a inveja?<br />

Outro pecado que é capitalíssimo é a avareza,<br />

sobretudo no capitalismo.<br />

A luxúria tem seus encantos.<br />

A ira tem seus momentos.<br />

A preguiça <strong>de</strong>u em mim... fim.<br />

*Extraída da obra “A gula”, Coleção Eles são Sete<br />

63


Sylvia Orthof nasceu no Rio <strong>de</strong> Janeiro, em<br />

1932, filha <strong>de</strong> um casal <strong>de</strong> ju<strong>de</strong>us austríacos que<br />

<strong>de</strong>ixou Viena entre as duas guerras, para buscar<br />

paz e trabalho. Filha única <strong>de</strong> imigrantes pobres,<br />

teve uma infância difícil. Apren<strong>de</strong>u a falar<br />

primeiro alemão e falava português com sotaque e<br />

errado até a ida<strong>de</strong> escolar. Aos 18 anos, foi<br />

estudar teatro em Paris. Um ano <strong>de</strong>pois, voltou ao<br />

Brasil e trabalhou como atriz no Teatro Brasileiro<br />

<strong>de</strong> Comédias, em São Paulo (o TBC), e, no Rio,<br />

atuou com gran<strong>de</strong>s nomes do teatro e da TV.<br />

Escritora muito amada, com a sua irreverência<br />

poética inesquecível, publicou mais <strong>de</strong> 100 livros<br />

para crianças e jovens e teve 13 títulos premiados<br />

pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil<br />

com o selo Altamente Recomendável para<br />

Crianças. Sylvia morreu em 1997, mas até hoje<br />

exerce gran<strong>de</strong> influência sobre um gran<strong>de</strong> número<br />

<strong>de</strong> autores infantis.<br />

Entrar numa história <strong>de</strong> Sylvia Orthof é<br />

encher os olhos <strong>de</strong> susto, mas não um susto <strong>de</strong><br />

tremer perna ou bater queixo. O susto que as<br />

histórias <strong>de</strong> Sylvia dão na gente são carregados <strong>de</strong><br />

perplexida<strong>de</strong>, arregalam a gente por <strong>de</strong>ntro, dão<br />

largura no pensamento.<br />

Ganhadora do Prêmio Jabuti, por A Vaca<br />

Mimosa e a Mosca Zenilda (1997), Sylvia teve<br />

vários trabalhos adaptados para o teatro e<br />

quebrou tudo quanto é estereótipo na literatura<br />

infantil brasileira, com o seu texto <strong>de</strong>sobediente,<br />

esmerado, abusado, feito <strong>de</strong> riso, provocação e<br />

<strong>História</strong> <strong>de</strong> Sylvia<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

arrepio. Afinal, a criativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Sylvia Orthof<br />

jamais coube em rótulos. Como ela mesma já<br />

disse, as histórias clássicas da literatura infantil<br />

sempre tiveram um ponto <strong>de</strong> vista muito<br />

machista. “Ninguém pergunta à Cin<strong>de</strong>rela se ela<br />

quer casar com o príncipe. Cin<strong>de</strong>rela casa com o<br />

príncipe porque ele tem dinheiro e po<strong>de</strong>r. Ela se<br />

prostitui”, disse a autora. Mas, ao mesmo tempo, a<br />

autora <strong>de</strong>fendia a leitura dos contos tradicionais,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que houvesse uma reflexão. “Se<br />

Chapeuzinho Vermelho tem tanta força até hoje, é<br />

porque tem o seu valor. Só precisamos tomar<br />

cuidado para não apresentarmos essas histórias<br />

com uma mensagem moralista. Vamos discutir um<br />

pouco. Por que não po<strong>de</strong>mos sair do caminho e<br />

procurar um atalho na vida? Será que em todo<br />

lugar há um lobo? E será que <strong>de</strong>vemos ter tanto<br />

medo dos lobos?”, questionava.<br />

Além <strong>de</strong> questionar velhos conceitos,<br />

Sylvia Orthof sempre vivia do modo como<br />

escrevia: espalhando encantamento por on<strong>de</strong><br />

passava. Autora <strong>de</strong> um dos maiores clássicos da<br />

literatura infantil brasileira, Uxa, Ora Fada, Ora<br />

Bruxa (1985), que mostra, com estilo único, os<br />

dois lados <strong>de</strong> todos nós, Sylvia era apaixonada por<br />

jardins e flores. Aliás, a sua favorita era a Maria<br />

sem Vergonha. “Gosto muito <strong>de</strong>ssa flor. Lá em<br />

casa, temos uma escada, no jardim. E as flores não<br />

quiseram nascer no canteiro. Não foram<br />

exatamente as Marias, mas também são sem<br />

vergonha. Elas nasceram por entre as pedras do<br />

muro. Sempre assim. Nascem nos lugares mais<br />

impossíveis. Aí um rapaz queria cortá-las das<br />

pedras, mas eu reagi: - Não faça isso. Elas lutaram<br />

tanto por esse lugar”, disse Sylvia, numa<br />

entrevista. E acrescentou: “O jardim é uma coisa<br />

que precisa <strong>de</strong> atenção, como os livros. Mas não<br />

gosto daqueles jardins muito cuidados. Podados<br />

<strong>de</strong>mais. As plantas, como as histórias, têm direito<br />

<strong>de</strong> espreguiçar on<strong>de</strong> quiserem”. E as histórias da<br />

Sylvia continuam espreguiçando, ou melhor,<br />

continuam <strong>de</strong>spertando leitores <strong>de</strong> toda ida<strong>de</strong>.<br />

Disponível em:<br />

http://www.agenciariff.com.br<br />

64


<strong>História</strong>s <strong>de</strong> Sylvia<br />

ÁTICA<br />

Tumebune, o Vaga-lume – 1995<br />

Fada Cisco Quase Nada – 1997<br />

Avoada, a Sereia Voadora – 1997<br />

Pomba Colomba – 1998<br />

Maria-Vai-com-as-Outras – 1998<br />

A Limpeza <strong>de</strong> Teresa – 1998<br />

A Fraca Fracola, Galinha-D’Angola – 1998<br />

As Visitas <strong>de</strong> Dona Zefa – 1998<br />

João Feijão – 1999<br />

Que Saracotico! (Série: Para Gostar <strong>de</strong> Ler Júnior) –<br />

2009<br />

A Vaca Mimosa e a Mosca Zenilda – 2010<br />

ATUAL<br />

A Poesia é uma Pulga – 1991<br />

Livro Aberto – 1996<br />

Guardachuvando Doi<strong>de</strong>iras – 2005<br />

<strong>Quem</strong> Roubou Meu Futuro? – 2004, 2009<br />

FTD<br />

Uma Velha e Três Chapéus – 1986<br />

Jogando Conversa Fora – 1986<br />

A Gema do Ovo da Ema – 1988<br />

O Cavalo Transparente – 1998<br />

O Sapato que Miava – 1998<br />

A Fada Sempre-viva e a Galinha-fada – 2000<br />

Felipe do Abagunçado – 2009 - 53 págs.<br />

A Rainha Rabiscada – 2009 - 23 págs.<br />

Ponto <strong>de</strong> Tecer Poesia – 2010 - 40 págs.<br />

FORMATO<br />

Foi o Ovo? Uma Ova! – 1990<br />

Galo Galo Não Me Calo – 1992<br />

Ovos Nevados – 1997<br />

GLOBAL<br />

<strong>História</strong>s Curtas e Birutas – 1997<br />

Ciranda <strong>de</strong> Anel e Céu – 1997<br />

A Décima Terceira Mordida – 1997<br />

O Rei Preto <strong>de</strong> Ouro Preto – 2003<br />

Rabiscos ou Rabanetes – 2005<br />

Um Pipi Choveu Aqui – 2005<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

Ave Alegria – 1989 (nova edição no prelo)<br />

Você viu? Você ouviu? – 2004 (nova edição no prelo)<br />

O Anjo <strong>de</strong> Aleijadinho – 1996 (nova edição no prelo)<br />

A Onça <strong>de</strong> Vitalino – 1994 (nova edição no prelo)<br />

LÊ<br />

A Velhota Cambalhota – 1985<br />

Bóia Bóia Lambisgóia – 1995<br />

AO LIVRO TÉCNICO<br />

Dona Noite Doidona – 1991<br />

Pé <strong>de</strong> Pato – 1991<br />

Dumonzito – 1991<br />

MODERNA<br />

A Viagem <strong>de</strong> um Barquinho – 2002<br />

NOVA FRONTEIRA<br />

No Fundo do Fundo-fundo, Lá Vai o Tatu Raimundo –<br />

1984<br />

Se as Coisas Fossem Mães – 1984<br />

Uxa, Ora Fada, Ora Bruxa – 1985<br />

Se a Memória Não Me Falha – 1987<br />

Nana Pestana – 1987<br />

Luana Adolescente, Lua Crescente – 1989<br />

Zoiúdo, o Monstrinho que Bebia Colírio – 1990<br />

Chora Não! – 1991<br />

Zé Vagão da Roda Fina e Sua Mãe Leopoldina – 1997<br />

Currupaco, paco e tal, quero ir pra Portugal – 2002<br />

A Bruxa Fofim – 2002<br />

Manual <strong>de</strong> Boas Maneiras das Fadas – 1995, 2009 - 32<br />

págs.<br />

Fada Fofa em Paris – 1995, 2009 - 16 págs.<br />

Fada Fofa e os Sete Anjinhos – 1997, 2009 - 31 págs.<br />

Fada Fofa e a Onça Fada – 1998, 2009 - 31 págs.<br />

OBJETIVA<br />

Contos <strong>de</strong> Estimação: mudanças no galinheiro, mudam<br />

as coisas por inteiro – 2003,<br />

Eu Chovo, Tu Choves, Ele Chove... – 2003<br />

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PAULINAS<br />

Tia Carlota Tricota – 1998<br />

Tia Libória <strong>Conta</strong>ndo <strong>História</strong> – 1998<br />

Tia Januária é Veterinária – 1998<br />

Bagunça Total na Cida<strong>de</strong> Imperial – 1998<br />

Moqueca, a Vaca – 1999<br />

Vovô Bastião Vai Comendo Feijão – 2000<br />

Pequenas Orações para Sorrir – 2000<br />

PAULUS<br />

Doce Doce <strong>Quem</strong> Comeu Regalou-se – 1987<br />

PROJETO<br />

Ervilina e o Princês – 1986, 2009<br />

QUINTETO<br />

Duas <strong>História</strong>s <strong>de</strong> Pernafina – 1985<br />

Sou Miloquinha, a Duen<strong>de</strong> – 1988<br />

Malaquias – 1995<br />

Cor<strong>de</strong>l Adolescente, ó Xente! – 1998<br />

RECORD<br />

Papos <strong>de</strong> Anjo – 1987<br />

As Casas Que Fugiram <strong>de</strong> Casa – 2002<br />

Pererê na Pororoca – 2002<br />

As Malandragens <strong>de</strong> um Urubu – 2002<br />

ROVELLE<br />

Vovó viaja e não sai <strong>de</strong> casa – 1994, (nova edição no<br />

prelo)<br />

Gato pra cá, Rato pra lá – 2012<br />

O Livro Que Ninguém Vai ler – 1997, (nova edição no<br />

prelo)<br />

A Mula sem cabeça, A Flauta <strong>de</strong> Nicolau e Fada Crica<br />

Cozinheira – 1994, (nova edição no prelo)<br />

Senhor Vento e Dona Chuva – 1986, (nova edição no<br />

prelo)<br />

O Baile do Fim do Mundo e Outras <strong>História</strong>s – 2012<br />

Mudanças no Galinheiro Mudam as Coisas por Inteiro –<br />

2003, 2012<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

Eu Sou Mais Eu! – (nova edição no prelo)<br />

A Folia dos Três Bois – (nova edição no prelo)<br />

Uma 'Estória' <strong>de</strong> Telhados – (nova edição no prelo)<br />

Cantarim <strong>de</strong> Cantará – 1984, 2010<br />

Adolescente Poesia – 1996, 2010<br />

SALAMANDRA<br />

As Aventuras da Família Repinica em Busca do Tesouro<br />

- 1984<br />

Sonhando Santos Dumont – 1997<br />

Os Bichos Que Tive – 2004<br />

<strong>História</strong> Enroscada – 1997 (nova edição no prelo)<br />

<strong>História</strong> Vira-lata – 1997 (nova edição no prelo)<br />

<strong>História</strong> Avacalhada– 1997 (nova edição no prelo)<br />

<strong>História</strong> Engatada – 1997 (nova edição no prelo)<br />

SCIPIONE<br />

O Inspetor Geral (adaptação) – 1997<br />

SM EDIÇÕES<br />

A Fada Lá <strong>de</strong> Pasárgada e Cabi<strong>de</strong>lim, O Doce<br />

Monstrinho – 2004<br />

DIREITOS REVERTIDOS<br />

São Francisco Bem Te Vi – 1993<br />

Meus Vários Quinze Anos – 1995<br />

Tem Minhoca no Caminho - 1995<br />

Tem Cachorro no Salame – 1996<br />

Tem Cavalo no Chilique – 1996<br />

Tem Graças no Botticelli – 1996<br />

Canarinho, Cachorrão e a Tijela <strong>de</strong> Ração – 1996<br />

Mas que Bicho Lagarticho – 1996<br />

Que Raio <strong>de</strong> <strong>História</strong> – 1994<br />

Mais-que-perfeita Adolescente – 1994<br />

Papai Bach Família e Fraldas – 1997<br />

Cadê a Peruca do Mozart? – 1998<br />

Quincas Plim, Foi Assim – 1998<br />

Tia Anacleta e Sua Dieta – 1998<br />

Dragonice Diz que Disse – 2004<br />

“Se eu me for<br />

vou <strong>de</strong> bagagem<br />

sem ter mala<br />

e compromisso.<br />

Vou <strong>de</strong> anjo,<br />

sem ter asa,<br />

vou morando,<br />

sem ter casa.<br />

Vou medir<br />

o infinito.”<br />

66


Andrea por ela mesma<br />

Andrea Viviana Taubman<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

Nasci em Buenos Aires, na Argentina em 1965.<br />

Talvez por ter sido filha única até os seis anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> e a<br />

primeira criança da minha geração numa família <strong>de</strong> leitores<br />

vorazes, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que me conheço por gente (bem miudinha) me<br />

interessei pelas letras – minha mãe ri contando que eu pegava os<br />

grampos <strong>de</strong> cabelo <strong>de</strong>la para montá-las e perguntava: mãe, que<br />

letra é essa?<br />

Des<strong>de</strong> então e mesmo antes disso, minha maior diversão<br />

sempre foram os livros.<br />

Em 1973, vim para o Brasil com meus pais e minha irmã.<br />

Morei em São Paulo e no Rio <strong>de</strong> Janeiro. Passei a adolescência lendo,<br />

escrevendo poemas, cantando, tocando violão, representando e<br />

trabalhando voluntariamente com educação não formal com crianças.<br />

Na hora <strong>de</strong> escolher a profissão, optei pelo bacharelado em<br />

química porque era tão curiosa que queria saber do que eram feitas as<br />

coisas do Universo. Em 1986 me formei na Universida<strong>de</strong> Mackenzie e<br />

passei vinte anos escrevendo e traduzindo textos técnicos, manuais e<br />

correspondências comerciais.<br />

Nunca abandonei os livros <strong>de</strong> literatura nem me afastei das<br />

crianças. Em 2008, já mãe <strong>de</strong> dois filhos, escrevi O MENINO QUE TINHA<br />

MEDO DE ERRAR - que conta em versos a história <strong>de</strong> Pedro, que por<br />

receio <strong>de</strong> virar motivo <strong>de</strong> chacota, prefere não conviver com outras<br />

crianças. Publicado inicialmente em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2009 com ilustrações <strong>de</strong> Judith Adler Levacov, o livro<br />

ganhou nova edição e novas ilustrações <strong>de</strong> Camila Carrossine em<br />

2012 (Escrita Fina).<br />

Em outubro <strong>de</strong> 2010 tive a felicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ver publicado meu<br />

segundo livro, A ESCOLA QUE EU QUERO PRA MIM – com ilustrações<br />

<strong>de</strong> Luiza Costa (Editora Ao Livro Técnico), que fala também em versos<br />

sobre as relações interpessoais no ambiente escolar e promove a<br />

reflexão sobre os valores e as atitu<strong>de</strong>s individuais que fazem a<br />

diferença para que esse ambiente seja o mais acolhedor possível.<br />

A partir <strong>de</strong>ste trabalho, conheci muitas escolas, muitas<br />

crianças e professores, muitos outros escritores e ilustradores <strong>de</strong><br />

literatura infantil e juvenil e pessoas envolvidas com livros e<br />

educação. Isto tudo me trouxe <strong>de</strong> volta uma alegria que eu acreditava ter ficado lá na minha infância e<br />

adolescência; me faz sentir que <strong>de</strong>i uma gran<strong>de</strong> volta ao mundo, mas que agora estou on<strong>de</strong> sempre gostaria<br />

<strong>de</strong> ter ficado!<br />

Atualmente, divulgo meu trabalho e opiniões através da página pessoal no facebook<br />

(https://www.facebook.com/andrea.taubman), da página do livro A ESCOLA QUE EU QUERO PRA MIM<br />

(https://www.facebook.com/pages/A-ESCOLA-QUE-EU-QUERO-PRA-MIM/253189551368030 ) e do meu<br />

blog (www.andreavivianataubman.blogspot.com.br).<br />

67


Celso por ele mesmo<br />

Celso Sisto<br />

Nasci no mês <strong>de</strong> junho e sou do signo <strong>de</strong><br />

gêmeos. Caramba! Deve ser por isso que gosto tanto<br />

disso e daquilo! Faço “trocentas” coisas ao mesmo<br />

tempo. E adoro esse movimento, essa ocupação toda!<br />

Às vezes, se tenho pouca coisa para fazer, acabo não<br />

fazendo nada ou <strong>de</strong>ixando tudo para a última hora!<br />

Gosto mesmo é <strong>de</strong> tudo o que está relacionado a<br />

livros e leituras! Escrevo diariamente e leio quase o<br />

tempo todo! Se pu<strong>de</strong>sse, leria durante o sono também!<br />

Há tanta coisa para ler na vida, que tenho medo que<br />

não dê tempo <strong>de</strong> ler tudo o que quero! Adoro estudar,<br />

pesquisar, inventar projetos. Gosto <strong>de</strong> cachorros, gatos<br />

e plantas... De mexer na terra, fazer hidroginástica,<br />

comer doces...<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

Hum! Vivo perto do mar, no litoral norte do<br />

Rio Gran<strong>de</strong> do Sul. Estu<strong>de</strong>i Literatura e Teatro. Quer<br />

dizer, estu<strong>de</strong>i não, continuo estudando! Sou<br />

professor com muita honra! Dou aulas por aí, em<br />

universida<strong>de</strong>s, ministro oficinas em feiras <strong>de</strong> livros e<br />

cursos em cida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> longe e <strong>de</strong> perto!<br />

Principalmente para professores, para quem quer e<br />

gosta <strong>de</strong> contar histórias, oralmente e por escrito.<br />

Há mais <strong>de</strong> vinte anos sou contador <strong>de</strong><br />

histórias do Grupo Morandubetá, um dos primeiros<br />

grupos <strong>de</strong> contadores <strong>de</strong> histórias do Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

Além disso, adoro ilustrar! Brincar com as imagens me encanta! Para saber mais sobre mim, é sobre<br />

mim, é só acessar meu site www.celsosisto.com<br />

Do livro Vozes da Floresta: lendas indígenas, Cortez Editora: São Paulo, 2011.<br />

68


Cora por ela mesma (1889–1985) - Todas as Vidas<br />

Vive <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> mim<br />

uma cabocla velha<br />

<strong>de</strong> mau-olhado,<br />

acocorada ao pé do borralho,<br />

olhando pra o fogo.<br />

Benze quebranto.<br />

Bota feitiço...<br />

Ogum. Orixá.<br />

Macumba, terreiro.<br />

Ogã, pai-<strong>de</strong>-santo...<br />

Vive <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> mim<br />

a lava<strong>de</strong>ira do Rio Vermelho.<br />

Seu cheiro gostoso<br />

d'água e sabão.<br />

Rodilha <strong>de</strong> pano.<br />

Trouxa <strong>de</strong> roupa,<br />

pedra <strong>de</strong> anil.<br />

Sua coroa ver<strong>de</strong> <strong>de</strong> são-caetano.<br />

Cora Coralina<br />

Vive <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> mim<br />

a mulher cozinheira.<br />

Pimenta e cebola.<br />

Quitute bem-feito.<br />

Panela <strong>de</strong> barro.<br />

Taipa <strong>de</strong> lenha.<br />

Cozinha antiga.<br />

toda pretinha.<br />

Bem cacheada <strong>de</strong> picumã.<br />

Pedra pontuda.<br />

Cumbuco <strong>de</strong> coco.<br />

Pisando alho-sal.<br />

Vive <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> mim<br />

a mulher do povo.<br />

Bem proletária.<br />

Bem linguaruda,<br />

<strong>de</strong>sabusada, sem preconceitos,<br />

<strong>de</strong> casca-grossa,<br />

<strong>de</strong> chinelinha,<br />

e filharada.<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

Vive <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> mim<br />

a mulher roceira.<br />

- Enxerto da terra,<br />

meio casmurra.<br />

Trabalha<strong>de</strong>ira.<br />

Madruga<strong>de</strong>ira.<br />

Analfabeta.<br />

De pé no chão.<br />

Bem pari<strong>de</strong>ira.<br />

Bem cria<strong>de</strong>ira.<br />

Seus doze filhos,<br />

Seus vinte netos.<br />

Vive <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> mim<br />

a mulher da vida.<br />

Minha irmãzinha...<br />

tão <strong>de</strong>sprezada,<br />

tão murmurada...<br />

Fingindo alegre seu triste fado.<br />

Todas as vidas <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> mim:<br />

Na minha vida -<br />

a vida mera das obscuras.<br />

CORALINA, CORA. Poemas dos becos <strong>de</strong> Goiás e estórias mais. Ed. Global, 2001.<br />

69


Luciana por ela mesma<br />

Luciana Grether Carvalho<br />

Sou Luciana Grether Carvalho, carioca e me interesso por<br />

imagens <strong>de</strong>s<strong>de</strong> cedo. Na escola, às vezes, os discursos dos professores<br />

sumiam frente às fotografias, pinturas, filmes e mapas que eles<br />

mostravam. Além do mais, eles foram meus primeiros mo<strong>de</strong>los vivos,<br />

<strong>de</strong>senhava-os todos, principalmente, no Ensino Médio.<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

Comecei a estudar <strong>de</strong>senho em 1996 ao ingressar no curso <strong>de</strong><br />

Design na PUC- Rio. Na universida<strong>de</strong> fui aluna <strong>de</strong> professores que me<br />

apresentaram significativos caminhos para o <strong>de</strong>spertar <strong>de</strong> uma<br />

linguagem poética própria e me ensinaram a trabalhar junto a<br />

diversos grupos <strong>de</strong> pesquisa. Fui ainda monitora em aulas <strong>de</strong> pintura e <strong>de</strong>senho e apaixonei-me<br />

pelo processo criativo.<br />

Depois <strong>de</strong> formada, já tendo ilustrado dois livros,<br />

colaborando com ilustrações semanalmente para o Jornal<br />

do Brasil e cuidando da minha primeira filha recémnascida,<br />

fui fazer licenciatura em Artes na Unibennett.<br />

Aprendi a ser professora e a lidar com os aprendizados do<br />

cotidiano escolar nas aulas <strong>de</strong> Artes Visuais no Ensino<br />

Fundamental na Escola Oga<br />

Mitá. Conciliando a<br />

Cor<strong>de</strong>l da Can<strong>de</strong>lária<br />

maternida<strong>de</strong>, as aulas nas<br />

escolas e as ilustrações, iniciei<br />

o Mestrado em Artes & Design<br />

na PUC-Rio em 2004. Em 2007 nasce minha segunda filha e cada vez<br />

mais a literatura infantil se fez presente em longas contações <strong>de</strong><br />

histórias que nos aproximavam e emocionavam. Em 2009 passei a dar<br />

aulas também na PUC-Rio on<strong>de</strong> realizo um trabalho gratificante ao<br />

orientar processos e <strong>de</strong>senhos nas aulas <strong>de</strong> projeto I e II.<br />

Namoro Encantado<br />

Recentemente as ilustrações pra<br />

livros vêm acontecendo mais<br />

intensamente e hoje já conto <strong>de</strong>zesseis Teatro com bicho é o bicho<br />

projetos editoriais ilustrados. Nos<br />

encontros, lançamentos, oficinas, mesas redondas tenho tido preciosas<br />

oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conviver com autores e ilustradores. A admiração<br />

pelos mestres da representação, as histórias e a beleza da vida são<br />

inspirações para as ilustrações que faço. Ilustrando e ensinando<br />

continuo apren<strong>de</strong>ndo.<br />

70


Sandra por ela mesma<br />

H u g o<br />

Sandra Ronca<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

Sou carioca, filha <strong>de</strong> artistas plásticos italianos, formada em<br />

Comunicação Social – Publicida<strong>de</strong> e Propaganda. Cursos<br />

complementares: Desenho <strong>de</strong> Propaganda; Design e Produção Gráfica;<br />

Aquarela; Quadrinhos; Livro Infantil: Ilustração e Design. Pós-graduada<br />

em Design e Ilustração pelas Faculda<strong>de</strong>s Pestalozzi em Niterói. Em 2010,<br />

participei do Laboratório Cor & Ilustração com Rebeca Luciani. Em 2011,<br />

participei <strong>de</strong> workshops <strong>de</strong> ilustração infantil com Svjetlan Junakovic<br />

(Sarme<strong>de</strong>/IT) e Carll Cneut e Maurizio Quarello (Macerata/IT).<br />

Como ilustradora, utilizo Aquarela, Acrílica, Colagem e Técnica<br />

Mista. Participei <strong>de</strong> mostras em diferentes Estados no Brasil e em 2010,<br />

tive uma ilustração selecionada para a mostra e catálogo Scarpetta<br />

D’Oro, em Riviera Del Brenta, Italia. Em 2011, participei da mostra Dear<br />

JAPAN: Messages of hope from picture book artists worldwi<strong>de</strong>", em<br />

Tokyo e Ishikawa, Japão, promovida por Art-Ehon em apoio às vítimas<br />

<strong>de</strong>ste país. Minha imagem foi selecionada para o mês <strong>de</strong> abril do<br />

calendário <strong>de</strong> 2012.<br />

Apesar <strong>de</strong> também ilustrar com mais serieda<strong>de</strong>, sempre tive<br />

forte tendência para as figuras tidas como "infantis", on<strong>de</strong> qualquer<br />

objeto ou personagem po<strong>de</strong> ganhar características e comportamentos<br />

humanos. O mesmo já acontecia no contato com o barro, nas visitas ao atelier, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> surgiam as simpáticas<br />

"criaturas". Amo ilustrar, inventar e ver o brilho nos olhos das crianças diante dos traços, das cores e<br />

texturas nas muitas viagens que proporciona a ilustração. Trabalho com Aquarela, Acrílica, Colagem, Técnica<br />

Mista e Lápis Aquarelável.<br />

Como escritora, a imaginação também vai longe. Em 2008, lancei o “Coitada da raposa!” pela Cortez<br />

Editora. O texto está leve e vem nos mostrar, <strong>de</strong> forma divertida, que o problema <strong>de</strong> uns, às vezes, não é o<br />

problema dos outros. E até mesmo que as alegrias <strong>de</strong> uns, po<strong>de</strong>m ser um ‘problema’ para os outros.<br />

O segundo como escritora, "Dia <strong>de</strong> vacina" foi publicado pela Editora Rovelle. Se trata <strong>de</strong> uma vivência<br />

particular trazida a público <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 40 anos! A história <strong>de</strong> uma menina que sempre se comportava na hora <strong>de</strong><br />

tomar vacina. Até que um dia, na hora H, algo inesperado aconteceu. Ela chorou e esperneou. Muito. Por quê <strong>de</strong>sta<br />

vez e, nas outras não?<br />

O terceiro, lançado em 2011, “Com que bicho você se parece?” pela Editora RHJ, brinca com as<br />

diferenças, e não só as dos animais... Vale a pena a leitura!<br />

Agora em 2012, está no forno O sumiço do O. Lançamento previsto para o mês <strong>de</strong> junho.<br />

Seja na ilustração ou na escrita, sigo apren<strong>de</strong>ndo, inventando e viajando em meio a meus amigos-mirins.<br />

www.sandraronca.com.br<br />

www.sandraronca.blogspot.com.br<br />

71


<strong>História</strong> da Thaís<br />

Thaís Linhares<br />

Formada pela Escola <strong>de</strong> Belas Artes UFRJ e SENAI <strong>de</strong> Artes<br />

Gráficas, a ilustradora já conta com <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> obras publicadas e<br />

bem recebidas pelo público, algumas <strong>de</strong>las incluídas nas<br />

bibliotecas escolares, premiadas como "Altamente<br />

Recomendável" pela FNLIJ ou expostas na BIB – Bienal<br />

Internacional <strong>de</strong> Bratislava. Foi cenógrafa <strong>de</strong> animação na série<br />

“Juro que Vi”– da Multirio e roteirista para "O Quarto do Jobi",<br />

série animada da 2DLab exibida pela TV Ratimbum. Em 2008<br />

recebeu da Secretaria <strong>de</strong> Cultura do Estado do RJ o prêmio do<br />

edital para Desenvolvimento <strong>de</strong> Roteiro <strong>de</strong> Longa <strong>de</strong> Animação<br />

por sua obra "O Monge e a Fada". Também escreve quadrinhos e<br />

livros para crianças e jovens, alguns <strong>de</strong>stes adotados em políticas<br />

públicas para difusão da leitura. Participa ativamente da diretoria<br />

da AEILIJ – Associação <strong>de</strong> Escritores e Ilustradores <strong>de</strong> Literatura<br />

Infantil e Juvenil. Thais nasceu carioca, em setembro <strong>de</strong> 1970.<br />

Uma bancada antiga <strong>de</strong> sapateiro. Estudo para o livro novo da Bia Bedran.<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

72


SUGESTÕES DE ATIVIDADES...<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

Ler e fazer análise crítica das histórias<br />

Confeccionar jornal mural sobre os autores e suas obras<br />

Organizar a produção <strong>de</strong> um jornal falado ou notícia escrita sobre o contexto <strong>de</strong> uma história<br />

Criar o “Clube do autor”. Ativida<strong>de</strong>s relacionadas a obra e vida <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminado autor, com dinâmicas para<br />

a comunida<strong>de</strong> escolar utilizando diferentes portadores textuais sobre o mesmo: biografia, entrevista,<br />

notícias, etc..<br />

Organizar “Ciranda <strong>de</strong> livros” com obras <strong>de</strong> um autor específico, promovendo a circulação das obras nos<br />

grupos <strong>de</strong> leitores por meio <strong>de</strong> sacolas, malas e caixas literárias.<br />

Promover roda <strong>de</strong> leitura, leitura compartilhada, leitura dramatizada, sarau, chá literário, piquenique<br />

literário sobre diversas obras e autores.<br />

Criar a “Vitrine <strong>de</strong> autores”, divulgar a obra do autor, na comunida<strong>de</strong> escolar por meio <strong>de</strong> propagandas.<br />

Confeccionar mural com frases sugestivas, relacionadas à leitura ou ao livro.<br />

Elaborar “Perfil <strong>de</strong> personagens”, ou seja, construir textos <strong>de</strong>scritivos com as características e<br />

personalida<strong>de</strong>s dos personagens <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada obra. Po<strong>de</strong>ndo promover brinca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> adivinhar o<br />

personagem <strong>de</strong>scrito entre os alunos.<br />

Promover <strong>de</strong>bates e/ou julgamento <strong>de</strong> personagens.<br />

Construir linha do tempo com as obras e biografia <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminado autor, situando o contexto social e<br />

vivências dos leitores.<br />

Exposição visual: vida e obra <strong>de</strong> autores.<br />

Brincar <strong>de</strong> mímica para adivinhar personagens e títulos <strong>de</strong> histórias.<br />

Confeccionar jogos <strong>de</strong> trilha, quebra-cabeça, dominó, jogo da memória, quiz literário, bingos, utilizando o<br />

contexto da história.<br />

Dar vida aos personagens com criação <strong>de</strong> bonecos.<br />

Dramatizar as histórias utilizando diversos recursos: teatro <strong>de</strong> varas, <strong>de</strong> sombras, <strong>de</strong> bonecos, fantoches,<br />

sucatas.<br />

Organizar com os alunos coletâneas <strong>de</strong> contos, poesias, narrativas e crônicas dos autores trabalhados<br />

e/ou textos produzidos pelos alunos.<br />

Promover dinâmicas a partir da literatura utilizada: história interrompida, mudança <strong>de</strong> final, criar uma<br />

versão da história do ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado personagem, criar história em quadrinho, cartão<br />

postal.<br />

A partir das histórias criar esquetes, enquetes, jograis e paródias.<br />

<strong>Conta</strong>r e recontar histórias.<br />

Montar varal utilizando diversas tipologias textuais e produções <strong>de</strong> alunos<br />

Transformar a história em literatura <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>l.<br />

<strong>História</strong>s ou poemas partidos em parágrafos, estrofes ou versos para que os alunos reorganizem o texto.<br />

Recital e roda <strong>de</strong> poesia.<br />

Concurso <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> livros, <strong>de</strong> cartas para personagens <strong>de</strong> histórias, <strong>de</strong> frases sobre um tema, <strong>de</strong><br />

contos, crônicas, poesias, etc.<br />

Promover um correio escolar que po<strong>de</strong> ter em seu conteúdo: poesias, consi<strong>de</strong>rações sobre uma obra lida,<br />

informações sobre autores, etc.<br />

Releitura dos textos lidos com mudança <strong>de</strong> gênero ou estilo. Ex: <strong>de</strong> poesia para canção, <strong>de</strong> canção para<br />

pintura, <strong>de</strong> narrativa para poesia.<br />

Comparar textos literários com adaptações audiovisuais (televisivas ou cinematográficas).<br />

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NAVEGANDO...<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

Navegando nos links abaixo você encontra biografia, bibliografia, textos, poesias,<br />

artigos, curiosida<strong>de</strong>s, fotos, ilustrações, teses e muito mais sobre a vida e obra <strong>de</strong><br />

diversos autores.<br />

Ana Maria Machado - http://www.anamariamachado.com/home<br />

Informações sobre vários autores: http://www.caleidoscopio.art.br/artistas-literatura e<br />

http://www.releituras.com/drummond_bio.asp.<br />

Bia Bedran - http://biabedran.com.br e http://bloglog.globo.com/biabedran<br />

Ilustradora Thaís Linhares: http://ilustracoes<strong>de</strong>thais.blogspot.com.br<br />

Carlos Drummond <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> - http://drummond.memoriaviva.com.br<br />

Jorge Amado - http://www.jorgeamado.org.br e http://www.jorgeamado.com.br<br />

Lygia Bojunga: http://www.casalygiabojunga.com.br<br />

Fundação Manoel <strong>de</strong> Barros - http://www.fmb.org.br<br />

Monteiro Lobato: http://www.projetomemoria.art.br/MonteiroLobato e http://lobato.globo.com<br />

Nelson Rodrigues: http://www.nelsonrodrigues.com.br<br />

Roseana Murray: http://www.roseanamurray.com e http://www.roseanamurray.com/ebook<br />

Ruth Rocha: http://www2.uol.com.br/ruthrocha<br />

Sylvia Orthof: https://sites.google.com/site/sylviaorthof<br />

Cora Coralina: http://casa<strong>de</strong>coracoralina.blogspot.com.br<br />

Ilustradora Luciana Grether Carvalho:<br />

http://ilustralu.blogspot.com.br<br />

Escritora e Ilustradora Sandra Ronca -<br />

http://www.sandraronca.com.br<br />

Ilustradora Thaís Linhares:<br />

http://ilustracoes<strong>de</strong>thais.blogspot.com.br e http://thaislinhares.blogspot.com.br<br />

Celso Sisto - http://www.celsosisto.com<br />

<strong>Portal</strong> do Ilustrador - http://ilustradores.ning.com<br />

Aca<strong>de</strong>mia Brasileira <strong>de</strong> Letras - http://www.aca<strong>de</strong>mia.org.br<br />

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EQUIPE DE LEITURA...<br />

Chefe<br />

Hellenice <strong>de</strong> Souza Ferreira<br />

Implementadores<br />

Ana Rita <strong>de</strong> Castilho<br />

Cristiane Guimarães Dantas<br />

Daniela Men<strong>de</strong>s Vieira Alves<br />

Fátima Regina dos Santos França<br />

Flávio José Bonfim<br />

Izabel Regina Docek<br />

Marluce Moraes dos Santos<br />

Patrícia <strong>de</strong> Sá Góes<br />

Renata <strong>de</strong> Araújo Tomé<br />

Vera Lúcia Santos da Silva<br />

Assistente administrativo<br />

Ana Paula Cabral <strong>de</strong> Lima<br />

Equipe <strong>de</strong> Leitura – <strong>SME</strong>/ D.C.<br />

Junho <strong>de</strong> 2012<br />

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