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FOLHA LITERÁRIA<br />

Informativo da Fundação Pedro Calmon e da Empresa Gráfica da Bahia n.º 07 - Ano 01 / 02 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2007<br />

DESTAQUES<br />

VIVA O 2 DE JULHO!<br />

HINO AO “DOIS DE JULHO”<br />

Nasce o sol a 2 <strong>de</strong> julho<br />

Brilha mais que no primeiro<br />

É sinal que neste dia<br />

Até o sol é brasileiro!<br />

Nunca mais o <strong>de</strong>spotismo<br />

Regerá nossas ações<br />

Com tiranos não combinam<br />

Brasileiros corações!<br />

Celebrações do<br />

2 <strong>de</strong> julho.<br />

Pág. 2<br />

Cresce, oh! Filho <strong>de</strong> minh´alma<br />

Para a pátria <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r,<br />

O Brasil já tem jurado<br />

In<strong>de</strong>pendência ou morrer.<br />

Salve, oh! Rei das campinas<br />

De Cabrito e Pirajá<br />

Nossa pátria hoje livre<br />

Dos tiranos não será!<br />

Poemas da<br />

In<strong>de</strong>pendência.<br />

Pág. 3<br />

Foto: Reprodução do quadro “Primeiros Passos para a in<strong>de</strong>pendência” (Antônio Parreira-RJ)<br />

Letra: Ladislau dos Santos Titara<br />

Música: José dos Santos Barreto<br />

Cachoeira,<br />

capital da Bahia.<br />

Pág. 4


Editorial<br />

Ubiratan Castro <strong>de</strong> Araújo<br />

Diretor Geral da Fundação Pedro Calmon<br />

Há 184 anos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o 2 <strong>de</strong> julho<br />

<strong>de</strong> 1823, a Bahia celebra a sua<br />

In<strong>de</strong>pendência. Com ou sem o apoio<br />

governamental, o povo da Bahia jamais<br />

<strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> festejar os caboclos, os<br />

heróis <strong>de</strong> Pirajá, o martírio <strong>de</strong> Joana<br />

Angélica e a coragem <strong>de</strong> Maria Quitéria.<br />

Afinal, por que tanta festa? O historiador<br />

Joel Rufino dos Santos escreveu um<br />

livro cujo título é uma resposta: “O Dia<br />

em que o Povo Ganhou”. Ficou na<br />

memória popular a lembrança da vitória<br />

resultante <strong>de</strong> um momento único em<br />

nossa história, quando senhores <strong>de</strong><br />

engenho e escravos, latifundiários e<br />

sertanejos pobres, bacharéis e<br />

vaqueiros lutaram lado a lado contra um<br />

inimigo comum.<br />

No dia 5 <strong>de</strong> julho, o caboclo<br />

voltou para a Lapinha, cada qual voltou<br />

para seu cada qual. Compromissos<br />

foram rompidos e promessas não foram<br />

cumpridas. Talvez por isso, a cada ano,<br />

nos festejos do 2 <strong>de</strong> <strong>Julho</strong>, as<br />

reivindicações sejam relembradas.<br />

Durante muitos anos, em razão das<br />

dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> abastecimento ligadas<br />

ao persistente monopólio português do<br />

comércio, em cada 2 <strong>de</strong> <strong>Julho</strong> ocorriam<br />

“Matas-marotos”. Já na meta<strong>de</strong> do<br />

século <strong>de</strong>zenove, o movimento<br />

abolicionista ganhou as ruas nessas<br />

romarias patrióticas. Nos últimos 30<br />

anos, em tempos <strong>de</strong> ditadura militar, os<br />

movimentos populares e oposicionistas<br />

vinham às ruas atrás do Caboclo.<br />

Neste n.º 07, a Folha Literária<br />

homenageia o 2 <strong>de</strong> <strong>Julho</strong> e <strong>de</strong>staca os<br />

versos eloqüentes do poeta maior da<br />

liberda<strong>de</strong>, Antônio Fre<strong>de</strong>rico <strong>de</strong> Castro<br />

Alves. Que sua voz possa juntar-se a<br />

todas as vozes libertárias neste, que<br />

sempre foi o dia da festa da Liberda<strong>de</strong>!<br />

Errata<br />

Diferente do que publicamos na edição<br />

n.º 6 <strong>de</strong>sta Folha Literária, ressaltamos<br />

que a professora Eneida Leal Cunha é<br />

Professora Doutora e Titular <strong>de</strong> Literatura<br />

Brasileira da UFBA.<br />

Abaixo, segue a foto real do escritor Lima<br />

Barreto, homenageado na edição n.º 6.<br />

O que se conta no <strong>Dois</strong> <strong>de</strong> <strong>Julho</strong><br />

Wlamyra R. <strong>de</strong> Albuquerque*<br />

Todo ano, no mês <strong>de</strong> julho, os baianos são tomados pelo sentimento <strong>de</strong> pertencimento a uma mesma história,<br />

a in<strong>de</strong>pendência do Brasil do domínio português, entre 1822 e 23. Des<strong>de</strong> 1824 que recontamos essa nossa epopéia,<br />

uma saga baiana pouco conhecida pelos outros brasileiros. As festas da in<strong>de</strong>pendência, da fundação do império<br />

brasileiro, sobreviveram à República, atravessaram o século XX e continuam a ser algumas das mais importantes do<br />

nosso calendário festivo. Por que será? Bem, as comemorações da in<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong>monstram o quanto estamos<br />

dispostos a reconstruir certos fatos históricos que compõem a memória local. Contar e recontar os episódios <strong>de</strong> 1823<br />

foi o jeito que inventamos para dizer sobre a nossa importância na história do povo brasileiro.<br />

Não há dúvida <strong>de</strong> que sem a organização das autorida<strong>de</strong>s políticas, militares e dos senhores <strong>de</strong> engenho do<br />

Recôncavo baiano, a resistência às tropas portuguesas na Bahia seria inviável. A articulação política, a organização<br />

das tropas, o bloqueio <strong>de</strong> envio <strong>de</strong> alimentos para Salvador e o próprio sítio à capital baiana foram artimanhas <strong>de</strong> guerra<br />

que garantiram a expulsão dos portugueses na madrugada do dois <strong>de</strong> julho. A idéia da autonomia política mobilizou os<br />

senhores <strong>de</strong> engenho, que trataram <strong>de</strong> criar e financiar batalhões patrióticos. Para senhores <strong>de</strong> escravos, negociantes<br />

e comerciantes nacionais, a in<strong>de</strong>pendência do Brasil tornava possível que eles administrassem os seus negócios sem<br />

a interferência da Coroa portuguesa.<br />

Mas os principais protagonistas <strong>de</strong>sta vitória estavam nos pelotões patrióticos, que enfrentariam, além dos<br />

portugueses, a fome, a se<strong>de</strong> e o cansaço na longa jornada até os campos <strong>de</strong> batalha nos arredores <strong>de</strong> Salvador. Eram<br />

muitos negros libertos, escravos e brancos pobres. Para os escravos, a guerra contra os portugueses era uma<br />

oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conquistarem a alforria, uma espécie <strong>de</strong> recompensa patriótica do governo <strong>de</strong> D. Pedro, ou ainda para<br />

fugirem em meio à confusão e <strong>de</strong>sespero dos senhores. Ao mesmo tempo, a vitória contra os portugueses só foi<br />

possível com o recrutamento <strong>de</strong>sta gente preta e pobre. Deve ser por isso que o fim do domínio português foi, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />

princípio, uma festa popular, que em Salvador tem nos Caboclos seus principais símbolos.<br />

*Wlamyra R. <strong>de</strong> Albuquerque - Diretora <strong>de</strong> Arquivos da FPC; Prof a . Dr a . da UEFS; autora do Livro “Algazarra nas<br />

Ruas: Comemorações da In<strong>de</strong>dpendência na Bahia (1889-1923).<br />

Historiadores <strong>de</strong>baterão sobre os personagens e<br />

batalhas do 2 <strong>de</strong> <strong>Julho</strong> em palestras realizadas no Palácio<br />

Rio Branco, abertas ao público, sempre às 17h. Ainda<br />

<strong>de</strong>ntro das comemorações, em parceria com a Empresa<br />

Gráfica da Bahia (EGBA), serão publicadas a coleção<br />

“In<strong>de</strong>pendência da Bahia”, com livros dos palestrantes<br />

e uma coletânea <strong>de</strong> imagens, documentos e inventário<br />

<strong>de</strong> títulos sobre a Guerra <strong>de</strong> In<strong>de</strong>pendência.<br />

PROGRAMAÇÃO:<br />

Dia 23 (segunda-feira) - Prof. Ubiratan Castro: “Guerra<br />

na Bahia”;<br />

Dia 24 (terça-feira) - Prof. Sérgio Armando Guerra Filho -<br />

“O povo e a guerra”;<br />

Dia 25 (quarta-feira) - Prof. Hilton Barros Coelho - “Do<br />

fico ao vai Dom Pedro”;<br />

Dia 26 (quinta-feira) - Profª. Wlamyra Albuquerque -<br />

“Algazarra nas ruas”;<br />

Dia 27 (sexta-feira) - Prof. Argemiro Ribeiro <strong>de</strong> Souza<br />

Filho - “O sertão baiano na Guerra <strong>de</strong><br />

In<strong>de</strong>pendência”<br />

Informações: 3116-6923/6925 (DIARQ)<br />

2 <strong>de</strong> <strong>Julho</strong> nas Bibliotecas<br />

EXPOSIÇÕES<br />

BIBLIOTECA JURACY MAGALHÃES JR. - RIO<br />

VERMELHO<br />

In<strong>de</strong>pendência da Bahia: Mulheres que se<br />

<strong>de</strong>stacaram no 2 <strong>de</strong> <strong>Julho</strong> - De 1º a 31, das 8h às 17h<br />

CASA DE CULTURA AFRÂNIO PEIXOTO - LENÇÓIS<br />

In<strong>de</strong>pendência da Bahia - Fotos <strong>de</strong> Voltaire Fraga do<br />

início do Séc. XX - De 1º a 31, das 8h às 17h<br />

BIBLIOTECA PÚBLICA DO ESTADO - BARRIS<br />

- 2 <strong>de</strong> <strong>Julho</strong> na visão dos artistas plásticos - Local: 3º<br />

andar - De 1º a 31, das 8h30 às 18h<br />

- “O 2 <strong>de</strong> <strong>Julho</strong>” - Local: Foyer - De 4/07 a 3/08, das<br />

8h30 às 21h<br />

- Exposição mensal intitulada “Memória Fotográfica<br />

da Bahia”. Interessados enviar e-mail para:<br />

bpeb.docbai@fpc.ba.gov.br<br />

Tema do mês: Monumentos a 2 <strong>de</strong> <strong>Julho</strong> - De 3 a 31<br />

PALESTRA<br />

BIBLIOTECA PÚBLICA THALES DE AZEVEDO<br />

“A importância simbólica do 2 <strong>de</strong> julho na Bahia” -<br />

Palestrante: André Luiz da Silva Santos (Historiógrafo) -<br />

Dia 19, às 16h<br />

Informações: 3117-6041 (DIBIP)<br />

A Folha Literária é produzida pela Assessoria <strong>de</strong> Comunicação da Fundação Pedro Calmon / Secretaria <strong>de</strong> Cultura, em parceria com a Empresa Gráfica da Bahia (EGBA)<br />

Diretor Geral (FPC): Ubiratan Castro <strong>de</strong> Araújo / Diretor Geral (EGBA): Hélio Marcio da Silva Carneiro<br />

Jornalista Responsável: André Luís Santana (DRT BA 2226) / Arte e Diagramação Lucas Queiroz / Textos: Jamile Menezes, André Luís Santana e Ana Lúcia (Ascom / EGBA)<br />

Praça Thomé <strong>de</strong> Souza - Palácio Rio Branco - Salvador / www.fpc.ba.gov.br / e-mail: ascom@fpc.ba.gov.br / Tel.: 3116-6918/6676, fax.: 3116-6914.


É a hora das epopéias,<br />

Das Ilíadas reais.<br />

Ruge o vento - do passado<br />

Pelos mares sepulcrais.<br />

É a hora, em que a Eternida<strong>de</strong><br />

Dialoga a Imortalida<strong>de</strong>...<br />

Fala o herói com Jeová!...<br />

E Deus - nas celestes plagas -<br />

Colhe da glória nas vagas<br />

Os mortos <strong>de</strong> Pirajá.<br />

Há <strong>de</strong>stes dias augustos<br />

Na tumba dos Briaréus.<br />

Como que Deus baixa à terra<br />

Sem mesmo <strong>de</strong>scer dos céus.<br />

É que essas lousas rasteiras<br />

São - gigantes cordilheiras<br />

Do Senhor aos olhos nus.<br />

É que essas brancas ossadas<br />

São - colunas arrojadas<br />

Dos infinitos azuis.<br />

Sim! Quando o tempo entre os <strong>de</strong>dos<br />

Quebra um século, uma nação...<br />

Encontra nomes tão gran<strong>de</strong>s,<br />

Que não lhe cabem na mão!...<br />

Heróis! Como o cedro augusto<br />

Campeia rijo e vetusto<br />

Dos séculos ao perpassar,<br />

Vós sois os cedros da História,<br />

A cuja sombra <strong>de</strong> glória<br />

Vai-se o Brasil abrigar.<br />

POEMAS SOBRE O 2 DE JULHO<br />

Foto: Luiz Henrique - ASCOM/FPC<br />

Ao <strong>Dois</strong> <strong>de</strong> <strong>Julho</strong><br />

E nós, que somos faíscas<br />

Da luz <strong>de</strong>sses arrebóis,<br />

Nós, que somos borboletas<br />

Das crisálidas <strong>de</strong> avós,<br />

Nós, que entre as bagas dos cantos,<br />

Por entre as gotas dos prantos<br />

Inda os sabemos chorar,<br />

Po<strong>de</strong>mos dizer: “Das campas<br />

Sacudi as frias tampas!<br />

Vin<strong>de</strong> a Pátria abençoar!...”<br />

Erguei-vos, santos fantasmas!<br />

Vós não ten<strong>de</strong>s que corar...<br />

(Porque eu sei que o filho torpe<br />

Faz o morto soluçar...)<br />

Gemem as sombras dos Gracos,<br />

Dos Catões, dos Espartacos<br />

Vendo seus filhos tão vis...<br />

Dize-o tu, soberbo Mário!<br />

Tu, que ensopas o sudário<br />

Vendo Roma - meretriz!...<br />

Ai! Que lágrimas can<strong>de</strong>ntes<br />

Choram órbitas sem luz! -<br />

Que idéia terá Leônidas<br />

Vendo Esparta nos pauis?!...<br />

Alta noite, quando pena<br />

Sobre Árcole, sobre lena,<br />

Bonaparte - o rei dos reis -,<br />

Que dor d’alma lhe rebenta,<br />

Ao ver su’águia sangrenta<br />

No sabre <strong>de</strong> Juarez!?<br />

Foto: Luiz Henrique - ASCOM/FPC<br />

Monumentos aos heróis da in<strong>de</strong>pendência: Largo da Soleda<strong>de</strong>, Largo <strong>Dois</strong> <strong>de</strong> <strong>Julho</strong> (Campo Gran<strong>de</strong>) e Largo da Lapinha.<br />

Castro Alves (Bahia - 1867)*<br />

Porém aqui não há grito,<br />

Nem pranto, nem ai, nem dor...<br />

O presente <strong>de</strong>smente<br />

Do seu ninho <strong>de</strong> condor...<br />

Mãos, que, outrora <strong>de</strong> crianças<br />

A rir - <strong>de</strong>ntaram as lanças<br />

Dos velhos <strong>de</strong> Pirajá...,<br />

De homens hoje, as empunhando,<br />

Nas batalhas afiando,<br />

Vão caminhando <strong>de</strong> Humaitá!...<br />

Basta!... Curvai-vos, ó povo!...<br />

Ei-los os vultos sem par,<br />

Só <strong>de</strong> joelhos po<strong>de</strong>mos<br />

N’est’hora augusta fitar<br />

Riachuelo e Cabrito,<br />

Que sobem para o infinito<br />

Como jungidos leões,<br />

Puxando os carros dourados<br />

Dos meteoros largados<br />

Sobre a noite das nações.<br />

Do Livro “Espumas Flutuantes”,<br />

Editado em 1870<br />

*Castro Alves era neto do Major<br />

José Antonio da Silva Castro, o<br />

Piriquitão, herói da In<strong>de</strong>pendência<br />

que criou e comandou o Batalhão<br />

dos Piriquitos. O poeta herdou do<br />

avô os i<strong>de</strong>ais <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>.<br />

Foto: Luiz Henrique - ASCOM/FPC<br />

“Por um Brasil<br />

<strong>de</strong> todos<br />

nós, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte,próspero<br />

e feliz.<br />

Este é o i<strong>de</strong>al<br />

do 2 <strong>de</strong> julho,<br />

ontem, hoje e<br />

sempre.”<br />

Márcio Meirelles<br />

Secretário <strong>de</strong> Cultura do Estado


Editorial<br />

Ubiratan Castro <strong>de</strong> Araújo<br />

Diretor Geral da Fundação Pedro Calmon<br />

Há 184 anos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o 2 <strong>de</strong> julho<br />

<strong>de</strong> 1823, a Bahia celebra a sua<br />

In<strong>de</strong>pendência. Com ou sem o apoio<br />

governamental, o povo da Bahia jamais<br />

<strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> festejar os caboclos, os<br />

heróis <strong>de</strong> Pirajá, o martírio <strong>de</strong> Joana<br />

Angélica e a coragem <strong>de</strong> Maria Quitéria.<br />

Afinal, por que tanta festa? O historiador<br />

Joel Rufino dos Santos escreveu um<br />

livro cujo título é uma resposta: “O Dia<br />

em que o Povo Ganhou”. Ficou na<br />

memória popular a lembrança da vitória<br />

resultante <strong>de</strong> um momento único em<br />

nossa história, quando senhores <strong>de</strong><br />

engenho e escravos, latifundiários e<br />

sertanejos pobres, bacharéis e<br />

vaqueiros lutaram lado a lado contra um<br />

inimigo comum.<br />

No dia 5 <strong>de</strong> julho, o caboclo<br />

voltou para a Lapinha, cada qual voltou<br />

para seu cada qual. Compromissos<br />

foram rompidos e promessas não foram<br />

cumpridas. Talvez por isso, a cada ano,<br />

nos festejos do 2 <strong>de</strong> <strong>Julho</strong>, as<br />

reivindicações sejam relembradas.<br />

Durante muitos anos, em razão das<br />

dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> abastecimento ligadas<br />

ao persistente monopólio português do<br />

comércio, em cada 2 <strong>de</strong> <strong>Julho</strong> ocorriam<br />

“Matas-marotos”. Já na meta<strong>de</strong> do<br />

século <strong>de</strong>zenove, o movimento<br />

abolicionista ganhou as ruas nessas<br />

romarias patrióticas. Nos últimos 30<br />

anos, em tempos <strong>de</strong> ditadura militar, os<br />

movimentos populares e oposicionistas<br />

vinham às ruas atrás do Caboclo.<br />

Neste n.º 07, a Folha Literária<br />

homenageia o 2 <strong>de</strong> <strong>Julho</strong> e <strong>de</strong>staca os<br />

versos eloqüentes do poeta maior da<br />

liberda<strong>de</strong>, Antônio Fre<strong>de</strong>rico <strong>de</strong> Castro<br />

Alves. Que sua voz possa juntar-se a<br />

todas as vozes libertárias neste, que<br />

sempre foi o dia da festa da Liberda<strong>de</strong>!<br />

Errata<br />

Diferente do que publicamos na edição<br />

n.º 6 <strong>de</strong>sta Folha Literária, ressaltamos<br />

que a professora Eneida Leal Cunha é<br />

Professora Doutora e Titular <strong>de</strong> Literatura<br />

Brasileira da UFBA.<br />

Abaixo, segue a foto real do escritor Lima<br />

Barreto, homenageado na edição n.º 6.<br />

O que se conta no <strong>Dois</strong> <strong>de</strong> <strong>Julho</strong><br />

Wlamyra R. <strong>de</strong> Albuquerque*<br />

Todo ano, no mês <strong>de</strong> julho, os baianos são tomados pelo sentimento <strong>de</strong> pertencimento a uma mesma história,<br />

a in<strong>de</strong>pendência do Brasil do domínio português, entre 1822 e 23. Des<strong>de</strong> 1824 que recontamos essa nossa epopéia,<br />

uma saga baiana pouco conhecida pelos outros brasileiros. As festas da in<strong>de</strong>pendência, da fundação do império<br />

brasileiro, sobreviveram à República, atravessaram o século XX e continuam a ser algumas das mais importantes do<br />

nosso calendário festivo. Por que será? Bem, as comemorações da in<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong>monstram o quanto estamos<br />

dispostos a reconstruir certos fatos históricos que compõem a memória local. Contar e recontar os episódios <strong>de</strong> 1823<br />

foi o jeito que inventamos para dizer sobre a nossa importância na história do povo brasileiro.<br />

Não há dúvida <strong>de</strong> que sem a organização das autorida<strong>de</strong>s políticas, militares e dos senhores <strong>de</strong> engenho do<br />

Recôncavo baiano, a resistência às tropas portuguesas na Bahia seria inviável. A articulação política, a organização<br />

das tropas, o bloqueio <strong>de</strong> envio <strong>de</strong> alimentos para Salvador e o próprio sítio à capital baiana foram artimanhas <strong>de</strong> guerra<br />

que garantiram a expulsão dos portugueses na madrugada do dois <strong>de</strong> julho. A idéia da autonomia política mobilizou os<br />

senhores <strong>de</strong> engenho, que trataram <strong>de</strong> criar e financiar batalhões patrióticos. Para senhores <strong>de</strong> escravos, negociantes<br />

e comerciantes nacionais, a in<strong>de</strong>pendência do Brasil tornava possível que eles administrassem os seus negócios sem<br />

a interferência da Coroa portuguesa.<br />

Mas os principais protagonistas <strong>de</strong>sta vitória estavam nos pelotões patrióticos, que enfrentariam, além dos<br />

portugueses, a fome, a se<strong>de</strong> e o cansaço na longa jornada até os campos <strong>de</strong> batalha nos arredores <strong>de</strong> Salvador. Eram<br />

muitos negros libertos, escravos e brancos pobres. Para os escravos, a guerra contra os portugueses era uma<br />

oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conquistarem a alforria, uma espécie <strong>de</strong> recompensa patriótica do governo <strong>de</strong> D. Pedro, ou ainda para<br />

fugirem em meio à confusão e <strong>de</strong>sespero dos senhores. Ao mesmo tempo, a vitória contra os portugueses só foi<br />

possível com o recrutamento <strong>de</strong>sta gente preta e pobre. Deve ser por isso que o fim do domínio português foi, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />

princípio, uma festa popular, que em Salvador tem nos Caboclos seus principais símbolos.<br />

*Wlamyra R. <strong>de</strong> Albuquerque - Diretora <strong>de</strong> Arquivos da FPC; Prof a . Dr a . da UEFS; autora do Livro “Algazarra nas<br />

Ruas: Comemorações da In<strong>de</strong>dpendência na Bahia (1889-1923).<br />

Historiadores <strong>de</strong>baterão sobre os personagens e<br />

batalhas do 2 <strong>de</strong> <strong>Julho</strong> em palestras realizadas no Palácio<br />

Rio Branco, abertas ao público, sempre às 17h. Ainda<br />

<strong>de</strong>ntro das comemorações, em parceria com a Empresa<br />

Gráfica da Bahia (EGBA), serão publicadas a coleção<br />

“In<strong>de</strong>pendência da Bahia”, com livros dos palestrantes<br />

e uma coletânea <strong>de</strong> imagens, documentos e inventário<br />

<strong>de</strong> títulos sobre a Guerra <strong>de</strong> In<strong>de</strong>pendência.<br />

PROGRAMAÇÃO:<br />

Dia 23 (segunda-feira) - Prof. Ubiratan Castro: “Guerra<br />

na Bahia”;<br />

Dia 24 (terça-feira) - Prof. Sérgio Armando Guerra Filho -<br />

“O povo e a guerra”;<br />

Dia 25 (quarta-feira) - Prof. Hilton Barros Coelho - “Do<br />

fico ao vai Dom Pedro”;<br />

Dia 26 (quinta-feira) - Profª. Wlamyra Albuquerque -<br />

“Algazarra nas ruas”;<br />

Dia 27 (sexta-feira) - Prof. Argemiro Ribeiro <strong>de</strong> Souza<br />

Filho - “O sertão baiano na Guerra <strong>de</strong><br />

In<strong>de</strong>pendência”<br />

Informações: 3116-6923/6925 (DIARQ)<br />

2 <strong>de</strong> <strong>Julho</strong> nas Bibliotecas<br />

EXPOSIÇÕES<br />

BIBLIOTECA JURACY MAGALHÃES JR. - RIO<br />

VERMELHO<br />

In<strong>de</strong>pendência da Bahia: Mulheres que se<br />

<strong>de</strong>stacaram no 2 <strong>de</strong> <strong>Julho</strong> - De 1º a 31, das 8h às 17h<br />

CASA DE CULTURA AFRÂNIO PEIXOTO - LENÇÓIS<br />

In<strong>de</strong>pendência da Bahia - Fotos <strong>de</strong> Voltaire Fraga do<br />

início do Séc. XX - De 1º a 31, das 8h às 17h<br />

BIBLIOTECA PÚBLICA DO ESTADO - BARRIS<br />

- 2 <strong>de</strong> <strong>Julho</strong> na visão dos artistas plásticos - Local: 3º<br />

andar - De 1º a 31, das 8h30 às 18h<br />

- “O 2 <strong>de</strong> <strong>Julho</strong>” - Local: Foyer - De 4/07 a 3/08, das<br />

8h30 às 21h<br />

- Exposição mensal intitulada “Memória Fotográfica<br />

da Bahia”. Interessados enviar e-mail para:<br />

bpeb.docbai@fpc.ba.gov.br<br />

Tema do mês: Monumentos a 2 <strong>de</strong> <strong>Julho</strong> - De 3 a 31<br />

PALESTRA<br />

BIBLIOTECA PÚBLICA THALES DE AZEVEDO<br />

“A importância simbólica do 2 <strong>de</strong> julho na Bahia” -<br />

Palestrante: André Luiz da Silva Santos (Historiógrafo) -<br />

Dia 19, às 16h<br />

Informações: 3117-6041 (DIBIP)<br />

A Folha Literária é produzida pela Assessoria <strong>de</strong> Comunicação da Fundação Pedro Calmon / Secretaria <strong>de</strong> Cultura, em parceria com a Empresa Gráfica da Bahia (EGBA)<br />

Diretor Geral (FPC): Ubiratan Castro <strong>de</strong> Araújo / Diretor Geral (EGBA): Hélio Marcio da Silva Carneiro<br />

Jornalista Responsável: André Luís Santana (DRT BA 2226) / Arte e Diagramação Lucas Queiroz / Textos: Jamile Menezes, André Luís Santana e Ana Lúcia (Ascom / EGBA)<br />

Praça Thomé <strong>de</strong> Souza - Palácio Rio Branco - Salvador / www.fpc.ba.gov.br / e-mail: ascom@fpc.ba.gov.br / Tel.: 3116-6918/6676, fax.: 3116-6914.

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