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de Artes Visuais - Colégio de Aplicação - UFRJ

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Novas Mídias<br />

animam o Ensino<br />

<strong>de</strong> <strong>Artes</strong> <strong>Visuais</strong>


Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

Reitor<br />

Aloísio Teixeira<br />

Vice-reitora<br />

Sylvia da Silveira <strong>de</strong> Mello Vargas<br />

Pró-reitor <strong>de</strong> Graduação<br />

José Roberto Meyer Fernan<strong>de</strong>s<br />

Pró-reitor <strong>de</strong> Ensino para Graduados e Pesquisa<br />

José Luiz Fontes Monteiro<br />

Pró-reitor <strong>de</strong> Planejamento e Desenvolvimento<br />

Carlos Antonio Levi da Consceição<br />

Pró-reitor <strong>de</strong> Pessoal<br />

Luiz Afonso Henriques Mariz<br />

Pró-reitor <strong>de</strong> Extensão<br />

Laura Tavares Ribeiro Soares<br />

Centro <strong>de</strong> Filosofia e Ciências Humanas<br />

Decano<br />

Marcelo Macedo Corrêa e Castro<br />

<strong>Colégio</strong> <strong>de</strong> <strong>Aplicação</strong><br />

Diretoria Geral<br />

Celina Maria <strong>de</strong> Sousa Costa<br />

Vice-Diretora<br />

Miriam Abduiche Kaiuca<br />

Diretores Adjuntos <strong>de</strong> Ensino<br />

Ângela Alves da Fonseca<br />

Marcelo da Silva Bueno<br />

Mario Jacinto Ferraro Junior<br />

Rowilson Aparecido da Silva<br />

Diretores Adjuntos <strong>de</strong> Licenciatura, Pesquisa e Extensão<br />

Fábio Garcez <strong>de</strong> Carvalho<br />

Maria Luiza Mesquita da Rocha<br />

JORNALISTA RESPONSÁVEL<br />

Maira da Costa<br />

......<br />

EDITOR<br />

Beto Pimentel<br />

......<br />

ASSISTENTES DE PRODUÇÃO<br />

Maria Cecília Cardoso<br />

Maria <strong>de</strong> Fátima Galvão<br />

......<br />

PRODUÇÃO GRÁFICA<br />

Raphael Borges<br />

Jandê Saavedra Farias<br />

Bruna Provenzano<br />

Isabel Xavier<br />

......<br />

FOTOGRAFIA<br />

Silmar Marques<br />

......<br />

REVISÃO<br />

Teresa Andra<strong>de</strong><br />

......<br />

APOIO<br />

Sandra Bragatto, Malu Rocha e Fábio<br />

Garcez (DALPE)<br />

Márcia Carnaval e Patrícia Perez<br />

(Assessoria <strong>de</strong> Comunicação da<br />

Reitoria da <strong>UFRJ</strong>)<br />

Fundação Universitária José Bonifácio<br />

(FUJB)<br />

......<br />

IMPRESSÃO<br />

Gráfica Cruzada<br />

......<br />

CONSULTORES TÉCNICOS<br />

José Augusto Fialho (<strong>Artes</strong> <strong>Visuais</strong>)<br />

Maria Lucia Pupo (<strong>Artes</strong> Cênicas)<br />

Rosa Gens (Literatura)<br />

5<br />

11<br />

17<br />

19<br />

23<br />

27<br />

34<br />

39<br />

Entrevista<br />

Aloísio Teixeira<br />

<strong>Artes</strong> <strong>Visuais</strong><br />

Novas Tecnologias e<br />

o Ensino <strong>de</strong> <strong>Artes</strong> <strong>Visuais</strong><br />

por Fátima Vollú<br />

História<br />

Histórias em Curso<br />

por Américo Freire<br />

Construindo Pontes<br />

“O Convidado”:<br />

Anotações <strong>de</strong> um percurso<br />

por Ana Lucia <strong>de</strong> Almeida Soutto Mayor,<br />

Andrea Pinheiro e<br />

Brunella Provvi<strong>de</strong>nte<br />

Opinião<br />

Filosofia no Ensino Médio<br />

por Lia Guarino<br />

Sem Fronteiras<br />

O Cérebro em Transformação<br />

por Suzana Herculano-Houzel<br />

resenha por Filipe Porto<br />

Memória<br />

Histórico <strong>de</strong> Criação do CAp-<strong>UFRJ</strong><br />

por Izabel Goudart<br />

Notas<br />

Aconteceu no 1º semestre


Caro Leitor<br />

Este é o primeiro número <strong>de</strong> PERSPECTIVA. Mais do que uma revista, é um sonho antigo do CAp-<strong>UFRJ</strong><br />

que se realiza. Com PERSPECTIVA nasce um veículo para registrar a inventivida<strong>de</strong> e as realizações <strong>de</strong> nossos<br />

profissionais e estudantes, resgatar a história do CAp-<strong>UFRJ</strong>, sua relação com a universida<strong>de</strong> e com a comunida<strong>de</strong>,<br />

trazendo novas abordagens a temas <strong>de</strong> interesse para o corpo acadêmico da escola.<br />

Neste número inaugural você encontrará um artigo da professora Fátima Vollú, do Setor Curricular <strong>de</strong> <strong>Artes</strong><br />

<strong>Visuais</strong> do CAp-<strong>UFRJ</strong>, traçando uma retrospectiva dos resultados alcançados por um dos projetos pedagógicos<br />

mais interessantes e menos divulgados do colégio, o projeto Meios <strong>de</strong> Comunicação Audiovisuais: Novas<br />

Tecnologias e Educação, que usa recursos multimídia e animação para trabalhar a leitura <strong>de</strong> imagens em movimento<br />

e o uso <strong>de</strong> novas tecnologias em vários níveis com alunos <strong>de</strong> diferentes faixas etárias.<br />

O professor Américo Freire, do Setor Curricular <strong>de</strong> História do CAp-<strong>UFRJ</strong>, fala sobre os <strong>de</strong>senvolvimentos <strong>de</strong> seu<br />

projeto História em Curso. Nesse texto você vai acompanhar as preocupações em construir e manter atualizado um<br />

material didático <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> numa área sujeita a constantes revisões em função da pesquisa mais atual, e a atenção<br />

do autor em manter o contato com os professores que usam o material em sala <strong>de</strong> aula.<br />

A seção Construindo Pontes é inaugurada pelo relato da costura <strong>de</strong> teatro e literatura feita <strong>de</strong>ntro do projeto “Arte<br />

e Saú<strong>de</strong>”, em parceria com a FIOCRUZ. Assinam o texto as professoras do CAp-<strong>UFRJ</strong> Andrea Pinheiro e Ana<br />

Lucia Soutto Mayor, respectivamente dos Setores Curriculares <strong>de</strong> <strong>Artes</strong> Cênicas e Língua Portuguesa, bem como<br />

Brunella Provvi<strong>de</strong>nte, graduanda do curso <strong>de</strong> direção teatral da <strong>UFRJ</strong>.<br />

Na seção Opinião, um ensaio da professora Lia Guarino, <strong>de</strong> Filosofia, não nos <strong>de</strong>ixa escapar à questão – atualíssima<br />

– das aulas <strong>de</strong> filosofia no Ensino Médio. Afinal, por que nossos alunos precisam apren<strong>de</strong>r filosofia?<br />

Já a seção Sem Fronteiras traz como autora convidada a neurocientista Suzana Herculano-Houzel, que discorre<br />

sobre as transformações que acontecem no cérebro no período da adolescência. Aparentemente, nem só <strong>de</strong><br />

hormônios vive o adolescente. E, por incrível que pareça, é ótimo e essencial que os adolescentes sejam do jeito<br />

que são. Acompanha uma excelente resenha do último livro da pesquisadora sobre o tema, feita pelo professor<br />

Filipe Porto, do Setor Curricular <strong>de</strong> Biologia do CAp-<strong>UFRJ</strong>.<br />

A professora Izabel Goudart, do Setor Curricular <strong>de</strong> Química, nos leva <strong>de</strong> volta ao final da década <strong>de</strong> 1940 e às<br />

pessoas e idéias que levaram à criação do CAp-<strong>UFRJ</strong>, na seção Memória. A seguir a seção Notas, uma espécie <strong>de</strong><br />

memória <strong>de</strong> curto prazo, busca registrar alguns dos eventos importantes que aconteceram na escola ao longo do<br />

primeiro semestre <strong>de</strong> 2006.<br />

Finalmente, a seção Entrevista <strong>de</strong>buta com um bate-papo com Aloísio Teixeira, atual reitor da <strong>UFRJ</strong>. Aloísio fala<br />

sobre a universida<strong>de</strong>, a sua administração e, como não podia <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser, sobre como ele vê o papel do CAp na<br />

universida<strong>de</strong>.<br />

Agora, leitor, é com você. Leia, escreva, man<strong>de</strong> sua contribuição para a gente. Veja também o seu trabalho em<br />

PERSPECTIVA.<br />

Beto Pimentel<br />

editor<br />

perspectiva@cap.ufrj.br<br />

Aloísio Teixeira<br />

PERSPECTIVA: Como é que o Sr. avalia a<br />

sua gestão na reitoria da <strong>UFRJ</strong> até agora?<br />

Aloísio Teixeira: Acho que algumas<br />

coisas na universida<strong>de</strong> melhoraram nesse<br />

período. Talvez a coisa mais importante<br />

que todos nós tenhamos conquistado nesse<br />

período é um clima <strong>de</strong> paz. Quem viveu<br />

a universida<strong>de</strong> nos últimos vinte anos há<br />

<strong>de</strong> se lembrar que nós vivíamos enredados<br />

em conflitos, em diferenças que não se<br />

resolviam, e que isso muitas vezes criava um<br />

ambiente prejudicial ao <strong>de</strong>senvolvimento<br />

das idéias e à discussão dos problemas. O<br />

agravamento <strong>de</strong>sses conflitos no período<br />

<strong>de</strong> 1998 a 2002 levou a universida<strong>de</strong> a<br />

tomar uma consciência mais aguda e mais<br />

clara <strong>de</strong> que era preciso superar aquela<br />

situação. Hoje, nós po<strong>de</strong>mos conviver com<br />

as nossas diferenças, sabendo que elas são<br />

apenas diferenças <strong>de</strong> opinião, e do embate<br />

entre essas diferenças <strong>de</strong>verá resultar uma<br />

universida<strong>de</strong> melhor. É claro que parte<br />

disso se <strong>de</strong>ve ao trabalho que a gente está<br />

fazendo, e parte eu acho que se <strong>de</strong>ve ao<br />

esforço que a própria universida<strong>de</strong> faz.<br />

Gran<strong>de</strong>s estruturas, gran<strong>de</strong>s problemas. O lema não <strong>de</strong>ve ser estranho<br />

ao professor <strong>de</strong> economia Aloísio Teixeira, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2003 à frente da maior<br />

universida<strong>de</strong> fe<strong>de</strong>ral brasileira. Sereno e bem-disposto o suficiente para<br />

<strong>de</strong>scartar o elevador e subir os dois lances <strong>de</strong> escada do prédio da Reitoria<br />

no campus da ilha do Fundão, Aloísio recebeu PERSPECTIVA em seu gabinete<br />

e conversou sobre a sua gestão, a <strong>UFRJ</strong> e o papel do CAp.<br />

agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1


6<br />

PERSPECTIVA: Como isso foi conseguido?<br />

Aloísio: Isso se <strong>de</strong>ve, em gran<strong>de</strong> medida, à busca<br />

<strong>de</strong> um novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> gestão e ao esforço que nós<br />

temos feito <strong>de</strong> tornar absolutamente regular a vida<br />

institucional da universida<strong>de</strong>. Os conselhos superiores<br />

da universida<strong>de</strong> têm se reunido com absoluta<br />

regularida<strong>de</strong>. Nós não per<strong>de</strong>mos nenhuma reunião<br />

do Conselho Universitário que, ao contrário do que<br />

fora no período <strong>de</strong> 1998 a 2002, se tornou um órgão<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>liberação superior da universida<strong>de</strong>. O Conselho<br />

Superior <strong>de</strong> Coor<strong>de</strong>nação Executiva (CSCE), que reúne<br />

os pró-reitores e <strong>de</strong>canos, durante muitos anos sequer<br />

se reunia. Temos também, como reza o regimento,<br />

reunido o CSCE <strong>de</strong> 15 em 15 dias. Ele cumpre as<br />

suas funções regimentais e tem funcionado como um<br />

conselho consultivo da reitoria. Todas as principais<br />

questões políticas e administrativas da universida<strong>de</strong><br />

são levadas à discussão no CSCE para que o reitor<br />

possa <strong>de</strong>cidir, apoiado num conjunto <strong>de</strong> opiniões<br />

mais amplo. O CEG e o CEPEG regularizaram sua<br />

vida institucional e têm funcionado normalmente.<br />

“<br />

Talvez a coisa mais im-<br />

”<br />

portante que todos nós<br />

tenhamos conquistado<br />

nesse período é um<br />

clima <strong>de</strong> paz.<br />

Também nessa linha, acho que é uma conquista o fato<br />

<strong>de</strong> a gente ter aberto espaços novos <strong>de</strong> <strong>de</strong>bates. Um<br />

<strong>de</strong>les é o que a gente chama <strong>de</strong> Fórum <strong>de</strong> Decanos<br />

e Diretores. Ele não é um órgão ou uma instância<br />

regimental da universida<strong>de</strong>, mas nós o temos reunido<br />

na última segunda-feira <strong>de</strong> cada mês – todos os<br />

meses praticamente, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a posse. Todas as questões<br />

importantes da universida<strong>de</strong> são discutidas nesse<br />

fórum. Ele não <strong>de</strong>libera, mas obviamente influi<br />

po<strong>de</strong>rosamente na formação da opinião da reitoria<br />

sobre os problemas da <strong>UFRJ</strong>.<br />

agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />

Outra iniciativa é a reitoria itinerante. Duas vezes<br />

por mês o reitor, a vice-reitora, pró-reitores e<br />

superinten<strong>de</strong>ntes vão às unida<strong>de</strong>s para conhecer ao vivo<br />

os problemas que a comunida<strong>de</strong> enfrenta. O objetivo<br />

é resolver o que for possível e compartilhar a angústia<br />

dos problemas que não po<strong>de</strong>m ser resolvidos. Isso gera<br />

uma aproximação muito maior entre a administração<br />

central e as unida<strong>de</strong>s. Outra coisa importante nessa<br />

linha <strong>de</strong> novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> gestão é o orçamento. O<br />

estatuto da <strong>UFRJ</strong> estabelecia como atribuição do<br />

Conselho aprovar o orçamento e isso nunca ocorreu.<br />

Eu fui membro do Conselho Universitário durante<br />

quatro anos e jamais se discutiu o orçamento. Hoje nós<br />

temos um orçamento que é discutido nas unida<strong>de</strong>s,<br />

nos centros, no CSCE, na plenária <strong>de</strong> <strong>de</strong>canos e<br />

diretores e aprovado pelo Conselho Universitário.<br />

Esse ano, ainda provavelmente na próxima reunião do<br />

Conselho Universitário, nós levaremos a prestação <strong>de</strong><br />

contas do orçamento <strong>de</strong> 2005. Isso é inédito, nunca foi<br />

feita uma prestação <strong>de</strong> contas na Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral<br />

do Rio <strong>de</strong> Janeiro. Essa é uma obrigação do gestor<br />

público, porque a gente lida com recursos públicos,<br />

se compromete a usá-los <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um orçamento<br />

que é aprovado e temos que prestar contas do que<br />

fazemos. Nós tivemos outras iniciativas importantes:<br />

criamos o <strong>Colégio</strong> <strong>de</strong> Altos Estudos da <strong>UFRJ</strong>, que<br />

está sendo implementado. Retomamos também um<br />

programa amplo <strong>de</strong> conservação e manutenção dos<br />

nossos imóveis. Apesar da escassez <strong>de</strong> recursos várias<br />

obras estão sendo feitas.<br />

Ainda na área <strong>de</strong> gestão financeira, eu acho auspicioso<br />

que nós tenhamos praticamente dobrado nosso<br />

orçamento <strong>de</strong> custeio. Quando eu assumi em 2003 o<br />

orçamento era <strong>de</strong> 47 milhões <strong>de</strong> reais, e em 2006 ele<br />

vai ser <strong>de</strong> 92 milhões <strong>de</strong> reais. Isso é uma conquista<br />

da universida<strong>de</strong> e uma prova da força e do prestígio<br />

que a universida<strong>de</strong> hoje tem na socieda<strong>de</strong> como um<br />

todo. Na área <strong>de</strong> pessoal, nós tínhamos uma herança<br />

maldita: centenas <strong>de</strong> processos que dizem respeito<br />

à situação funcional <strong>de</strong> nossos servidores estavam<br />

parados na <strong>UFRJ</strong>. Nós temos limpado essa pauta,<br />

restabelecendo direitos que haviam sido usurpados<br />

<strong>de</strong> nossos funcionários, e estamos lutando para<br />

resolver aqueles que ainda estão pen<strong>de</strong>ntes. E uma<br />

coisa também muito importante é o novo papel que<br />

a extensão tem na universida<strong>de</strong>. Nos últimos anos<br />

os programas <strong>de</strong> extensão eram quase que iniciativas<br />

isoladas nas unida<strong>de</strong>s, e hoje nós temos, ou estamos<br />

construindo, uma política <strong>de</strong> extensão na <strong>UFRJ</strong>,<br />

envolvendo ou gerando sinergia entre as várias<br />

unida<strong>de</strong>s. Então eu diria que em tudo quanto é frente<br />

tem novida<strong>de</strong>; nós estamos avançando. São pequenas<br />

conquistas que mostram que a universida<strong>de</strong> está se<br />

movendo.<br />

“<br />

...<strong>de</strong>liberamos recriar<br />

”<br />

uma outra modalida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> bolsa que atinge<br />

particularmente o<br />

CAp, que são as bolsas<br />

<strong>de</strong> licenciatura.<br />

PERSPECTIVA: Como tem sido o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> gerir a<br />

<strong>UFRJ</strong> com todas as suas idiossincrasias?<br />

Aloísio: É extremamente cansativo, porque<br />

a universida<strong>de</strong> é muito gran<strong>de</strong>, ela é dispersa<br />

geograficamente, os problemas acumulados ao<br />

longo das últimas décadas são enormes. Apesar <strong>de</strong><br />

ter a consciência <strong>de</strong> que resta muita coisa a fazer, eu<br />

estou satisfeito com o trabalho que nós temos feito<br />

na reitoria. É claro que falando pessoalmente há um<br />

preço a pagar. Não dá para ter uma vida acadêmica<br />

normal e ser reitor. Estou afastado da pesquisa e sem<br />

conseguir dar um curso por ano, e isso me faz falta.<br />

Eu gosto <strong>de</strong> dar aula, é um momento em que você<br />

troca, oxigena a cabeça; então é um preço a pagar.<br />

Mas eu acho que pelo menos por enquanto tem valido<br />

a pena pagar esse preço.<br />

PERSPECTIVA: Que melhorias a sua gestão trouxe<br />

para os alunos da universida<strong>de</strong>?<br />

Aloísio: Eu <strong>de</strong>stacaria, no âmbito das políticas voltadas<br />

para os estudantes, a expansão do programa <strong>de</strong> bolsas<br />

da <strong>UFRJ</strong>. A universida<strong>de</strong> no passado chegou a ter um<br />

programa mais amplo <strong>de</strong> bolsas <strong>de</strong> graduação, mas nos<br />

últimos anos esse programa foi se <strong>de</strong>sconstituindo, e<br />

as únicas bolsas que nós ainda tínhamos eram as bolsas<br />

<strong>de</strong> iniciação científica. Quando o Lessa foi reitor, ele<br />

criou um programa <strong>de</strong> bolsas <strong>de</strong> apoio aos estudantes<br />

<strong>de</strong> famílias <strong>de</strong> renda mais baixa, e nós expandimos isso.<br />

Hoje, nós triplicamos o valor que nós <strong>de</strong>sembolsamos<br />

a cada ano para os estudantes e a imensa maioria dos<br />

recursos está sendo encaminhada para os estudantes<br />

<strong>de</strong> graduação. Além das bolsas <strong>de</strong> iniciação científica,<br />

nós recriamos o programa <strong>de</strong> bolsas <strong>de</strong> iniciação<br />

artística e cultural e as bolsas <strong>de</strong> monitoria, que já<br />

não existiam mais, além <strong>de</strong> bolsas para os estudantes<br />

alojados e bolsas para os alunos <strong>de</strong> baixa renda.<br />

Também <strong>de</strong>liberamos recriar uma outra modalida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> bolsa que atinge particularmente o CAp, que são as<br />

bolsas <strong>de</strong> licenciatura. Po<strong>de</strong>mos nos orgulhar hoje <strong>de</strong><br />

ter o maior e mais abrangente programa <strong>de</strong> bolsas das<br />

universida<strong>de</strong>s fe<strong>de</strong>rais brasileiras. Também na área da<br />

pós-graduação e da pesquisa eu acho que nós temos<br />

feito alguns avanços. A pesquisa e a pós-graduação<br />

da <strong>UFRJ</strong> são <strong>de</strong> excelente qualida<strong>de</strong>. Nós temos 25<br />

programas <strong>de</strong> pós-graduação <strong>de</strong> conceito 6 e 7 na<br />

CAPES, o que nos dá uma posição <strong>de</strong> vanguarda no<br />

contexto das universida<strong>de</strong>s brasileiras. A <strong>UFRJ</strong> tem<br />

concorrido numa posição institucional, reunindo os<br />

vários programas <strong>de</strong> pós-graduação para que eles<br />

disputem juntos a obtenção <strong>de</strong> recursos.<br />

PERSPECTIVA: E o futuro da <strong>UFRJ</strong>?<br />

Aloísio: Nós estamos abrindo uma discussão sobre um<br />

plano <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento estratégico da <strong>UFRJ</strong> para<br />

um horizonte <strong>de</strong> 5 anos. Nesse plano nós fazemos um<br />

diagnóstico dos nossos problemas e propomos linhas<br />

<strong>de</strong> ação que buscam superar essas dificulda<strong>de</strong>s.<br />

PERSPECTIVA: Como foi a história da sua gestão<br />

com relação ao CAp?<br />

Aloísio: O CAp tem uma história, e eu olho essa<br />

história com um olhar <strong>de</strong> quem quer tornar o CAp<br />

cada vez mais parte integrante da nossa universida<strong>de</strong>.<br />

No passado, o CAp não tinha sequer orçamento. Em<br />

agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />

7


2005, ele conseguiu não só ajudar na elaboração do<br />

orçamento participativo, como, <strong>de</strong>ntro da escassez<br />

<strong>de</strong> recursos <strong>de</strong>sse momento, ser aquinhoado com<br />

uma parcela razoável <strong>de</strong> recursos. Esse ano, foi um<br />

momento <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong> quando vimos que o CAp<br />

era uma das unida<strong>de</strong>s que ia receber um dos maiores<br />

volumes <strong>de</strong> recursos.<br />

PERSPECTIVA: Como o Sr. analisa a atuação do<br />

CAp?<br />

Aloísio: Qual é o problema que a gente tem? O CAp<br />

foi criado no âmbito da antiga Faculda<strong>de</strong> Nacional<br />

<strong>de</strong> Filosofia. A Faculda<strong>de</strong> Nacional <strong>de</strong> Filosofia foi<br />

um projeto interessante dos anos 40. A proposta<br />

era que a Faculda<strong>de</strong> pu<strong>de</strong>sse ser o gran<strong>de</strong> elemento<br />

integrador <strong>de</strong> uma universida<strong>de</strong> que já naquela época<br />

– e até hoje – era extremamente fragmentada. Todos<br />

os estudantes que ingressavam na Universida<strong>de</strong> do<br />

Brasil o fariam pela Faculda<strong>de</strong> Nacional <strong>de</strong> Filosofia.<br />

Ali eles receberiam uma formação básica e seriam,<br />

alguns, encaminhados para as escolas <strong>de</strong> formação<br />

profissional, enquanto outros permaneceriam lá para se<br />

formarem professores <strong>de</strong> ensino secundário. Aqueles<br />

que tivessem vocação para a pesquisa permaneceriam<br />

ali para fazer seus bacharelados e <strong>de</strong>pois suas pósgraduações.<br />

Esse projeto não <strong>de</strong>u certo. A visão<br />

restrita dos dirigentes universitários daquela época,<br />

que tinham – e muitos ainda têm – uma visão<br />

proprietária <strong>de</strong> seus espaços, impediu que <strong>de</strong>sse certo.<br />

As pessoas acham que são proprietárias dos espaços,<br />

das salas, dos professores e dos alunos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que<br />

fazem o vestibular até que recebem o canudo, e não<br />

queriam essa estrutura mais integrada. De qualquer<br />

forma, a Faculda<strong>de</strong> Nacional <strong>de</strong> Filosofia ficou sendo<br />

apenas mais uma unida<strong>de</strong> nesse contexto, com a<br />

função <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> professores. O CAp foi criado<br />

no âmbito da Faculda<strong>de</strong> Nacional <strong>de</strong> Filosofia para<br />

ser uma espécie, digamos assim, <strong>de</strong> laboratório das<br />

licenciaturas. Você teria ali os licenciandos fazendo os<br />

seus estágios, a sua prática <strong>de</strong> ensino, se envolvendo<br />

com as ativida<strong>de</strong>s didáticas e com novos métodos<br />

pedagógicos. Novas técnicas e novas concepções <strong>de</strong><br />

ensino seriam <strong>de</strong>senvolvidas. Quando a Faculda<strong>de</strong><br />

Nacional <strong>de</strong> Filosofia acabou e foram criados os<br />

institutos, o CAp ficou inicialmente ligado à Faculda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Educação. Enquanto isso, os institutos foram<br />

“<br />

Pensar o CAp é, na verda<strong>de</strong>,<br />

”<br />

pensar a <strong>UFRJ</strong> naquilo que é<br />

uma <strong>de</strong> suas ativida<strong>de</strong>s mais<br />

importantes: a formação <strong>de</strong><br />

professores.<br />

cada um para um lado, criaram as suas licenciaturas,<br />

geraram suas pedagogias específicas, com didáticas<br />

específicas <strong>de</strong> suas áreas <strong>de</strong> conhecimento. Nos<br />

anos 80 o CAp se tornou ele mesmo uma unida<strong>de</strong><br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte. Recuperar essa história é importante<br />

para nós pensarmos o que é que a gente quer do CAp.<br />

Imaginar que se possa voltar à Faculda<strong>de</strong> Nacional <strong>de</strong><br />

Filosofia é impossível. Eu lembro que, quando eu entrei<br />

na universida<strong>de</strong>, a Faculda<strong>de</strong> Nacional <strong>de</strong> Filosofia<br />

tinha 700 alunos. Hoje, nenhum instituto que tenha<br />

licenciatura tem 700 alunos. Todos têm duas vezes,<br />

três vezes isso. Como é que a gente po<strong>de</strong> imaginar<br />

que o CAp, com suas limitações atuais, <strong>de</strong> quadro <strong>de</strong><br />

professores, <strong>de</strong> espaço físico, <strong>de</strong> equipamentos, etc.,<br />

possa dar conta <strong>de</strong>sse universo? Então está posto<br />

um <strong>de</strong>safio, para a universida<strong>de</strong> e para o CAp, que é<br />

pensar o seu futuro numa universida<strong>de</strong> nova. Pensar o<br />

CAp é, na verda<strong>de</strong>, pensar a <strong>UFRJ</strong> naquilo que é uma<br />

<strong>de</strong> suas ativida<strong>de</strong>s mais importantes: a formação <strong>de</strong><br />

professores. Eu imagino que a gente <strong>de</strong>va caminhar<br />

para ter uma instância na universida<strong>de</strong> para conversar,<br />

<strong>de</strong>liberar, planejar e implantar as práticas didáticas e<br />

pedagógicas reunindo saberes que hoje estão dispersos<br />

na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Educação, nos institutos e no CAp.<br />

E nesse sentido o CAp se reintegra, num espírito <strong>de</strong><br />

convergência, em um nível superior áquele que a<br />

gente tem vivido até hoje.<br />

“<br />

Uma questão subjacente a<br />

”<br />

esta integração é acabar<br />

com a separação que hoje<br />

opõe os professores do CAp<br />

aos professores do nível<br />

superior.<br />

PERSPECTIVA: Nesse quadro qual seria o papel do<br />

CAp?<br />

Aloísio: É claro que ele tem que ter um papel, ele<br />

tem que se expandir. E eventualmente o espaço em<br />

que ele está localizado é limitado para isso. A gente<br />

po<strong>de</strong> imaginar realocá-lo para um espaço melhor,<br />

po<strong>de</strong> imaginar que a partir do CAp possamos ter<br />

outros CAps. Uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> CAps com coor<strong>de</strong>nações<br />

interligadas, para que não se perca a imensa qualida<strong>de</strong><br />

do trabalho que se faz no CAp. Ele tem que dar conta<br />

<strong>de</strong>ssa missão em relação às nossas licenciaturas, que<br />

a gente quer que se expanda, e ser um laboratório<br />

<strong>de</strong> ensino <strong>de</strong> nível básico. Ele tem que ser parte<br />

do esforço da universida<strong>de</strong> se integrar na nova<br />

concepção do que seja a formação <strong>de</strong> professores<br />

<strong>de</strong> nível básico, inclusive da formação continuada.<br />

Não se trata apenas da licenciatura, mas também <strong>de</strong><br />

manter um contato permanente com os professores<br />

que exercitam sua profissão para que eles possam se<br />

capacitar continuamente. Há uma questão subjacente<br />

a esta integração que é acabar com a separação que<br />

hoje opõe os professores do CAp, os professores do<br />

nível básico, aos professores “da universida<strong>de</strong>”, os<br />

professores do nível superior. Eu acho que a gente<br />

acabar com essa dicotomia po<strong>de</strong> ser útil nesse esforço<br />

<strong>de</strong> integração. Os professores do CAp são, em sua<br />

maioria, Dedicação Exclusiva, isto é, têm uma inserção<br />

completa na universida<strong>de</strong>, são qualificados, titulados,<br />

fazem pesquisa. É bem-vinda esta integração.<br />

PERSPECTIVA: O Sr. mencionou o papel do CAp na<br />

formação <strong>de</strong> professores e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> integração.<br />

Algumas pessoas da escola <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m a idéia <strong>de</strong> que<br />

se possa fazer uma pós-graduação ligada a ensino no<br />

CAp. Você vê isso como um papel também <strong>de</strong>ntro da<br />

formação continuada?<br />

Aloísio: Eu nunca pensei nisso, nem a questão foi<br />

trazida, mas eu acho que a gente po<strong>de</strong> pensar nisso.<br />

Claro que po<strong>de</strong> pensar. E isso seria extremamente<br />

facilitado se a gente encontrasse uma outra<br />

configuração para a questão. Eu acho que é uma<br />

proposta que a gente vai ter que discutir, se ela vier a<br />

ser formulada. Já há envolvimento dos professores do<br />

CAp em algumas práticas, experiências e iniciativas <strong>de</strong><br />

formação continuada <strong>de</strong> qualificação <strong>de</strong> professores.<br />

agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1 agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1


10<br />

PERSPECTIVA: O Sr. vê a chance <strong>de</strong> realmente<br />

algum dia ter um prédio do CAp, ou vários prédios<br />

do CAp? Essa é uma questão eterna para a escola.<br />

Aloísio: Eu acho que a pergunta é cabível. A história<br />

da universida<strong>de</strong> é uma história <strong>de</strong> fragmentação,<br />

que faz com que nós valorizemos muito esta cultura<br />

proprietária. Eu tenho que ter o meu prédio. No caso<br />

do CAp é até compreensível pela especificida<strong>de</strong> do<br />

trabalho que se faz. Mas não é só o CAp que quer<br />

ter um prédio só <strong>de</strong>le. Várias unida<strong>de</strong>s que acham<br />

que são apenas hóspe<strong>de</strong>s em prédios que não são<br />

<strong>de</strong>las almejam possuir prédios próprios. Eu acho que<br />

a gente <strong>de</strong>via avançar na universida<strong>de</strong> para superar<br />

essa cultura proprietária e <strong>de</strong>senvolver, digamos,<br />

uma cultura comunitária. Os prédios e salas <strong>de</strong> aula<br />

po<strong>de</strong>m ser comuns. É benéfico que os estudantes<br />

<strong>de</strong> letras, <strong>de</strong> matemática, <strong>de</strong> história convivam. É<br />

benéfico que os professores <strong>de</strong>ssas áreas convivam<br />

entre si. É importante que a gente tenha espaços<br />

comuns. Os projetos que nós estamos discutindo<br />

buscam integração e convergências. Antes do<br />

prédio e da localização do prédio é mais importante<br />

“<br />

Estamos dispostos a<br />

”<br />

consi<strong>de</strong>rar a questão do<br />

espaço do CAp no âmbito <strong>de</strong><br />

um projeto acadêmico, e não<br />

como um projeto imobiliário.<br />

discutir o projeto acadêmico do CAp. Se a gente for<br />

se contentar em ter o CAp como um apêndice, um<br />

pequeno apêndice, ele po<strong>de</strong> estar ali, po<strong>de</strong> estar na<br />

Praia Vermelha, ele po<strong>de</strong> estar em qualquer lugar, ele é<br />

apenas um pequeno apêndice. Se o projeto for integrar<br />

e expandir o CAp como parte das ativida<strong>de</strong>s essenciais<br />

da universida<strong>de</strong> a questão já muda <strong>de</strong> figura. A reitoria<br />

está <strong>de</strong>cidida a examinar essa questão. Nós estamos<br />

agora inclusive numa batalha para conseguir um<br />

volume significativo <strong>de</strong> recursos para investimentos.<br />

Isso po<strong>de</strong> dar certo e po<strong>de</strong> não dar certo. Se <strong>de</strong>r<br />

certo, nós estamos dispostos a consi<strong>de</strong>rar a questão<br />

do espaço do CAp. Mas nós queremos consi<strong>de</strong>rá-la<br />

no âmbito <strong>de</strong> um projeto acadêmico, e não como um<br />

projeto imobiliário, digamos.<br />

agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />

PERSPECTIVA: Ainda assim, a reitoria está investindo<br />

na recuperação do prédio em que a gente está agora.<br />

Aloísio: Investir naquele prédio era necessário pelos<br />

efeitos <strong>de</strong> curto prazo. Não é porque um dia vai ter<br />

um prédio que a gente vai <strong>de</strong>ixar aquele lá cair. Então,<br />

isso era importante. Agora, nós enten<strong>de</strong>mos que<br />

aquele espaço tem limitações. Não é possível imaginar<br />

um crescimento do CAp, uma expansão do CAp nos<br />

limites daquele prédio: você não po<strong>de</strong> construir novos<br />

andares, você não po<strong>de</strong> construir novos pavilhões ali<br />

<strong>de</strong>ntro, então uma questão está posta.<br />

PERSPECTIVA: Como você vê o final do seu<br />

mandato?<br />

Aloísio: Eu acho que tem duas coisas importantes,<br />

e que estão interligadas. Se é verda<strong>de</strong> que nós<br />

conseguimos conquistar um ambiente <strong>de</strong> paz, em<br />

que as nossas diferenças po<strong>de</strong>m ser explicitadas sem<br />

que isso gere qualquer tipo <strong>de</strong> receio, perseguição ou<br />

coisa semelhante, então este é o momento para nós<br />

discutirmos a <strong>UFRJ</strong>. Para isso inclusive nós estamos<br />

distribuindo o PDI, que é um plano <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

estratégico, para os próximos cinco anos, em que<br />

a gente procura formular um diagnóstico e uma<br />

proposta, ou algumas diretrizes para uma proposta<br />

para a <strong>UFRJ</strong>. A reitoria está acertando um calendário<br />

para ir a todas as congregações para discutir o PDI.<br />

Nós queremos que a discussão seja feita. Talvez<br />

seja possível nós obtermos recursos adicionais para<br />

investimentos que só serão obtidos e só serão eficazes<br />

se nós tivermos uma proposta acadêmica. A discussão<br />

po<strong>de</strong> nos fornecer os subsídios para a formulação <strong>de</strong><br />

um pedido <strong>de</strong> recursos adicionais para investimentos<br />

com os quais a gente pu<strong>de</strong>sse mudar a cara da <strong>UFRJ</strong><br />

efetivamente. A priorida<strong>de</strong> da reitoria nesses próximos<br />

meses será nessas duas direções. Claro, consolidar<br />

as conquistas que já fizemos, reforçá-las, mas abrir<br />

essa discussão sobre a universida<strong>de</strong> que queremos,<br />

e também, baseados nisso, tentar obter recursos<br />

adicionais para investimentos. Se a gente conseguir<br />

isso, aí po<strong>de</strong> ser que nós tenhamos um horizonte<br />

melhor para a <strong>UFRJ</strong> nos próximos anos.<br />

Aloísio Teixeira é doutor em economia<br />

e professor titular do Instituto <strong>de</strong><br />

Economia da <strong>UFRJ</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1993<br />

Novas Tecnologias<br />

e o Ensino <strong>de</strong> <strong>Artes</strong><br />

<strong>Visuais</strong><br />

Fátima Cristina Vollú<br />

Como as novas mídias po<strong>de</strong>m contribuir para o ensino <strong>de</strong> Arte a partir dos<br />

códigos visuais da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>? Como novas formas <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> imagem po<strong>de</strong>m<br />

ser trabalhadas na escola? De que forma <strong>de</strong>senvolver o conteúdo <strong>de</strong> <strong>Artes</strong> <strong>Visuais</strong><br />

no Ensino Fundamental e Médio a partir da observação e produção <strong>de</strong> filmes <strong>de</strong><br />

animação? Questões como estas, que enfatizam novas abordagens e metodologias no<br />

ensino da Arte, impulsionaram o <strong>de</strong>senvolvimento, no <strong>Colégio</strong> <strong>de</strong> <strong>Aplicação</strong> da <strong>UFRJ</strong>,<br />

do projeto Meios <strong>de</strong> Comunicação Audiovisuais: Novas Tecnologias e Educação, cujos<br />

resultados são apresentados neste artigo.<br />

agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />

11


12<br />

Anteriormente à criação do projeto Meios <strong>de</strong> Comunicação<br />

Audiovisuais: Novas Tecnologias e Educação em 1998,<br />

algumas experiências foram feitas com turmas <strong>de</strong> 8ª série<br />

do Ensino Fundamental em 1997. Um dos conteúdos do<br />

programa <strong>de</strong>sta série é “Tempo - Movimento e Ritmo”,<br />

envolvendo o movimento real e o ilusório na obra <strong>de</strong> arte.<br />

Foi <strong>de</strong>senvolvida, então, a unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino “Imagem em<br />

movimento”, tendo como ponto <strong>de</strong> partida a observação<br />

do filme <strong>de</strong> animação “Monalisa”, no qual pinturas do<br />

século XX ganham movimento e se transformam. Após<br />

o conhecimento <strong>de</strong> como se consegue o movimento <strong>de</strong><br />

imagens que a princípio são estáticas, os alunos escolheram<br />

uma ou duas pinturas <strong>de</strong> algum artista e o <strong>de</strong>safio era<br />

colocá-las em movimento. O resultado foi muito bom, por<br />

ter possibilitado a compreensão <strong>de</strong> como é realizado um<br />

filme <strong>de</strong> animação.<br />

A partir dos resultados obtidos, o projeto começou a ser<br />

estruturado pelas professoras Fátima Cristina Vollú da<br />

Silva Brito e Maria Cristina Miranda, do setor curricular<br />

<strong>de</strong> Arte <strong>Visuais</strong>, do <strong>Colégio</strong> <strong>de</strong> <strong>Aplicação</strong> da <strong>UFRJ</strong>.<br />

O projeto Meios <strong>de</strong> Comunicação Audiovisuais: Novas<br />

Tecnologias e Educação tem o olhar voltado para dois<br />

pontos: (1) discussão e investigação <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> uso das novas tecnologias na educação e, mais<br />

especificamente, no ensino <strong>de</strong> <strong>Artes</strong> <strong>Visuais</strong>; (2) produção<br />

<strong>de</strong> filmes <strong>de</strong> animação. As bibliografias referentes à imagem<br />

no ensino da Arte, à tecnologia educacional, ao cinema e<br />

ao cinema <strong>de</strong> animação constituem o embasamento teórico<br />

do projeto. Além da pesquisa feita pelos professores do<br />

projeto, bolsistas <strong>de</strong> Iniciação Artística e Cultural (IAC)<br />

foram orientados para o <strong>de</strong>senvolvimento das seguintes<br />

pesquisas, dando suporte teórico ao projeto: “Novas Mídias<br />

e a Tecnologia na Educação”; “A Imagem no Ensino da<br />

Arte”; “Tecnologia da Informação”; “A Linguagem<br />

da Animação: Como surgiu e Qual o seu Processo <strong>de</strong><br />

Criação”; e “O Cinema como Mídia Educativa”.<br />

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) sugerem<br />

uma abordagem ampliada em relação ao ensino <strong>de</strong> Arte<br />

na escola, começando pela terminologia <strong>Artes</strong> <strong>Visuais</strong>,<br />

ao invés <strong>de</strong> <strong>Artes</strong> Plásticas. Enquanto a última aborda<br />

agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />

diferentes linguagens das artes plásticas, como pintura,<br />

escultura, gravura e <strong>de</strong>senho, a primeira aborda também<br />

outras formas <strong>de</strong> expressão artística, como a fotografia, o<br />

cinema, o cinema <strong>de</strong> animação, a ví<strong>de</strong>o-arte e a computação<br />

gráfica. <strong>Artes</strong> <strong>Visuais</strong> aborda obras <strong>de</strong> museus e galerias<br />

<strong>de</strong> arte, passando pela estética do cotidiano (filmes,<br />

outdoors, espaço urbano, entre outros), possibilitando o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento intelectual, social, cultural e estético a<br />

partir <strong>de</strong> avanços tecnológicos mais recentes.<br />

A educação estética está ligada à educação da visão, à<br />

observação das imagens, o que permite a leitura do mundo<br />

através dos elementos das artes visuais. O envolvimento<br />

estético é um dos fatores relevantes na construção do<br />

conhecimento do aluno. Por este motivo, ele <strong>de</strong>ve ser<br />

estimulado a apreciar esteticamente e refletir sobre a arte<br />

produzida por artistas, bem como por ele e pelos colegas.<br />

A informação codificada através <strong>de</strong> imagens faz parte do<br />

dia-a-dia das pessoas. Este processo vem se intensificando<br />

cada vez mais com o passar do tempo e com mais facilida<strong>de</strong>,<br />

como presenciamos hoje com as máquinas fotográficas<br />

digitais, até mesmo embutidas em telefones celulares.<br />

As informações codificadas através <strong>de</strong> imagens estão<br />

presentes na escola, na TV e nos espaços públicos. Mas<br />

como os alunos po<strong>de</strong>m se tornar melhor <strong>de</strong>codificadores<br />

<strong>de</strong>ssas imagens, e também produtores? É necessária a<br />

apropriação da linguagem da imagem para que seu consumo<br />

e sua produção não beirem o limite da passivida<strong>de</strong>. A<br />

escola, ainda nos dias <strong>de</strong> hoje, ignorando o forte apelo<br />

das imagens continua priorizando a comunicação verbal e<br />

escrita e o ensino quase que exclusivamente por meio <strong>de</strong>la.<br />

A cultura da imagem precisa ser valorizada, relacionandoa<br />

à aquisição <strong>de</strong> códigos.<br />

A imagem po<strong>de</strong> ser vista a partir <strong>de</strong> dois pontos <strong>de</strong> vista: <strong>de</strong><br />

quem a produz e <strong>de</strong> quem a aprecia. O estudo da imagem<br />

Foto por Fátima Cristina Vollú<br />

abordado no ensino <strong>de</strong> artes visuais propicia experiências<br />

a partir <strong>de</strong>sses dois pontos. Para ambos é fundamental a<br />

construção do olhar do aluno, que se <strong>de</strong>senvolve a partir<br />

da leitura <strong>de</strong> imagens com base em aspectos estéticos,<br />

culturais, formais da arte, entre outros. É incontestável o<br />

po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong> uma imagem, o que faz com que<br />

ela seja utilizada muitas vezes com o objetivo <strong>de</strong> influenciar<br />

o comportamento e o consumo das pessoas – são imagens<br />

comerciais, com uma linguagem estereotipada, prontas<br />

para atingirem a parcela da população <strong>de</strong>sejada. Neste<br />

sentido uma educação em arte cumpre o papel <strong>de</strong> formar<br />

um observador mais crítico, que consiga <strong>de</strong>codificar as<br />

imagens às quais está exposto, seja no sentido formal, seja<br />

no conceitual.<br />

As imagens veiculadas pelos diferentes tipos <strong>de</strong> mídia com<br />

que as pessoas têm contato em seu dia-a-dia trazem em sua<br />

essência um discurso conceitual que <strong>de</strong>ve ser trabalhado a<br />

partir da estética e dos conteúdos das artes visuais. Um<br />

novo tipo <strong>de</strong> público, que não aceita qualquer produção<br />

sem refletir, forçaria uma mudança qualitativa na produção<br />

para o cinema, TV, internet, outdoor e livros escolares.<br />

A escola também <strong>de</strong>ve ter como objetivo que os alunos<br />

não se interessem apenas pelo consumo <strong>de</strong> filmes e<br />

imagens comerciais. Para isso, o aluno <strong>de</strong>ve ser estimulado<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> as primeiras séries <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> a observar filmes<br />

com uma linguagem não estereotipada, <strong>de</strong>senvolvendo<br />

um olhar crítico.<br />

Vários educadores apontam a importância da imagem<br />

em movimento (filmes e animações) para a educação.<br />

O cinema <strong>de</strong> animação como elemento educativo<br />

enfoca os objetivos do ensino da arte a partir <strong>de</strong> novas<br />

possibilida<strong>de</strong>s e abordagens para se trabalhar a imagem.<br />

O <strong>de</strong>senvolvimento da linguagem artística se apropria dos<br />

elementos das artes visuais, da linguagem da imagem em<br />

movimento e do conhecimento/domínio da tecnologia do<br />

cinema <strong>de</strong> animação.<br />

A escola tem avaliado a atual geração <strong>de</strong> alunos como<br />

totalmente <strong>de</strong>sinteressada e que não faz nada além<br />

<strong>de</strong> assistir TV e <strong>de</strong> jogar vi<strong>de</strong>ogames. É percebido no<br />

agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />

13


14<br />

cotidiano da escola que os alunos são atraídos pelas<br />

imagens em movimento, e esperam da escola também<br />

um ritmo intenso. Os alunos estão muito expostos à TV,<br />

ao computador, ao vi<strong>de</strong>ogame, enfim, à tecnologia <strong>de</strong><br />

mídia como um todo, estabelecendo relações que variam<br />

da passivida<strong>de</strong> à interativida<strong>de</strong>. Como o educador po<strong>de</strong><br />

tirar proveito <strong>de</strong>sta situação? Será que o caminho <strong>de</strong><br />

simplesmente negar ou criticar a TV ou o computador faz<br />

sentido e traz resultados? Nos dias <strong>de</strong> hoje a tecnologia<br />

se faz cada vez mais presente e necessária, possibilitando<br />

o intercâmbio <strong>de</strong> informação, o acesso e socialização do<br />

conhecimento. A escola precisa ficar atenta a esta situação<br />

e utilizar estes meios como uma forma <strong>de</strong> estabelecer uma<br />

relação mais efetiva com os alunos. É lógico que não se<br />

po<strong>de</strong> ser simplista, achando que a comunicação possa<br />

ser estabelecida somente pela sua utilização, é necessário<br />

a<strong>de</strong>quar os conteúdos escolares a uma nova linguagem, e<br />

um caminho é o da mídia educativa <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>.<br />

Não se po<strong>de</strong> ignorar a enorme presença dos meios<br />

eletrônicos e da informática na cultura da humanida<strong>de</strong>.<br />

A escola <strong>de</strong>ve ficar atenta a como po<strong>de</strong> se preparar para<br />

utilizar as novas mídias como ferramenta <strong>de</strong> ensino e<br />

discussão, visto que nossos alunos estão cada vez mais<br />

precocemente e mais <strong>de</strong>moradamente em contato com<br />

elas. É importante que o aluno entre em contato com<br />

questões que envolvem como a mídia elabora a realida<strong>de</strong>,<br />

o que ela prioriza, e qual o seu olhar e sua abordagem.<br />

Se a escola não se mo<strong>de</strong>rnizar corre o risco <strong>de</strong> ser omissa<br />

na formação <strong>de</strong>sses alunos, permitindo que eles sejam<br />

consumidores <strong>de</strong>sses meios, sem reflexão, e sem saber o<br />

que fazer com tanta informação que recebem. Estar do<br />

outro lado também é importante: como po<strong>de</strong>mos preparar<br />

agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />

nossos alunos para a produção audiovisual, valorizando o<br />

olhar e a análise a partir das questões que a envolvem?<br />

Como o professor também po<strong>de</strong> produzir material didático<br />

voltado para a linguagem com que o aluno <strong>de</strong> hoje tem<br />

mais i<strong>de</strong>ntificação? É fundamental o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong> novas metodologias <strong>de</strong> ensino a partir da aplicação <strong>de</strong><br />

conhecimentos ligados à tecnologia, não <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> lado<br />

a reflexão a partir da sua utilização e sobre a produção<br />

que <strong>de</strong>la se origina.<br />

A abordagem do cinema como elemento educativo vai<br />

ao encontro da proximida<strong>de</strong> do aluno com este tipo <strong>de</strong><br />

mídia, que está cada vez mais preocupado não só em<br />

contar histórias, mas também em contá-las em uma<br />

linguagem cada vez mais contemporânea, com ritmo<br />

intenso, e imagens impactantes em função da cor, da luz,<br />

do enquadramento e reforçadas pela trilha sonora.<br />

A animação (em ví<strong>de</strong>o, cinema, jogos, web) tem crescido<br />

muito no Brasil e também no exterior, tanto em relação<br />

a sua produção quanto à aceitação como mídia <strong>de</strong><br />

informação e entretenimento, <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> ser explorada<br />

apenas em seu lado comercial, e longe <strong>de</strong> ter só as crianças<br />

como público-alvo.<br />

O cinema <strong>de</strong> animação surge na escola como um meio<br />

mágico <strong>de</strong> se produzir imagens em movimento. Brinquedos<br />

ópticos, consi<strong>de</strong>rados experimentos do pré-cinema, como<br />

o flip-book, taumatrópio e zootrópio são feitos com<br />

os alunos com o objetivo <strong>de</strong> perceber a construção do<br />

movimento em animação.<br />

O campo <strong>de</strong> atuação do projeto envolve aulas do Ensino<br />

Fundamental e Médio, <strong>de</strong> acordo com o programa <strong>de</strong><br />

cada série; oficina <strong>de</strong> cinema <strong>de</strong> animação e o AnimaCAp,<br />

um curso <strong>de</strong> animação fora da gra<strong>de</strong> curricular. Estão<br />

previstos, também, a ampliação do animaCAp para toda a<br />

comunida<strong>de</strong> escolar e cursos <strong>de</strong> extensão para professores,<br />

nos quais se preten<strong>de</strong> discutir a utilização da animação<br />

como elemento educativo e também produzir filmes.<br />

A aplicação <strong>de</strong>ste projeto busca <strong>de</strong>senvolver os conteúdos<br />

<strong>de</strong> <strong>Artes</strong> <strong>Visuais</strong> através da apreciação e da produção <strong>de</strong><br />

imagens em movimento (cinema <strong>de</strong> animação), propiciando<br />

novas formas <strong>de</strong> abordagens estéticas a partir <strong>de</strong> questões<br />

que envolvem a tecnologia e linguagens contemporâneas<br />

da Arte. Desta forma, são trabalhados conteúdos como<br />

espaço, cor, luz, equilíbrio, composição, movimento, som,<br />

ritmo, iluminação, planos <strong>de</strong> enquadramento, angulação <strong>de</strong><br />

câmera, observação <strong>de</strong> imagens, apreciação estética, entre<br />

outros. O trabalho também envolve pesquisa <strong>de</strong> materiais<br />

e técnicas artísticas utilizadas em cinema <strong>de</strong> animação e<br />

investigação <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aplicá-los nas animações<br />

produzidas na escola, assim como a <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> novas<br />

formas <strong>de</strong> produção.<br />

A produção <strong>de</strong> uma animação envolve várias etapas,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a criação do roteiro e a confecção <strong>de</strong> cenários<br />

e personagens até a sua edição. A partir das imagens<br />

fotografadas são estudadas formas <strong>de</strong> montagem e<br />

efeitos para que elas tenham mais impacto e <strong>de</strong>senvolvam<br />

melhor o roteiro. Para este trabalho <strong>de</strong> tratamento das<br />

imagens e <strong>de</strong> edição não-linear (edição <strong>de</strong> imagem feita<br />

em computador), diferentes softwares são utilizados para<br />

que as fotos ganhem movimento e se transformem em<br />

filme. O uso da tecnologia <strong>de</strong> manipulação <strong>de</strong> imagens<br />

se mostra como importante recurso para a introdução da<br />

computação no ensino <strong>de</strong> artes visuais, linguagem cada<br />

vez mais presente nos dias <strong>de</strong> hoje e nos tempos que estão<br />

por vir. A partir <strong>de</strong>ste trabalho os alunos se apropriam<br />

das ferramentas tecnológicas contemporâneas disponíveis<br />

e por meio da pesquisa <strong>de</strong> linguagem as transformam<br />

em linguagem artística. A maior parte das escolas que<br />

incluem a informática na formação dos seus alunos<br />

prioriza a edição <strong>de</strong> textos e o uso <strong>de</strong> bancos <strong>de</strong> dados, em<br />

<strong>de</strong>trimento <strong>de</strong> programas que enfocam a imagem, o som e<br />

o movimento, por exemplo. Assim como a apreciação <strong>de</strong><br />

imagens estáticas, a apreciação e a produção <strong>de</strong> imagens<br />

em movimento <strong>de</strong>mandam o conhecimento da linguagem,<br />

o que envolve a aplicação dos recursos dos softwares <strong>de</strong><br />

acordo com o resultado que se preten<strong>de</strong>. Assim, a partir<br />

da tecnologia a imagem adquire novas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

trabalho, envolvendo a imaterialida<strong>de</strong>, o virtual, e criando<br />

novas “realida<strong>de</strong>s”, a partir da imagem digital.<br />

Levando-se em consi<strong>de</strong>ração a característica <strong>de</strong>ssas novas<br />

mídias <strong>de</strong> permitir uma melhor e mais rápida socialização<br />

do conhecimento e da informação, a questão da exibição<br />

é muito importante quando se trabalha com produção<br />

<strong>de</strong> filmes. É como se fechasse um ciclo – o da produção<br />

–, e abrisse um outro – o do diálogo. No processo <strong>de</strong><br />

distribuição da Arte, a partir <strong>de</strong> cada leitura que se faz,<br />

é que o produto artístico se <strong>de</strong>fine. Neste sentido, é um<br />

ponto importante que dois dos filmes já editados feitos<br />

no CAp tenham sido selecionados para exibição na<br />

Mostra Geração – mostra infanto-juvenil do Festival do<br />

Rio, no Programa Ví<strong>de</strong>o Fórum, que abre espaço para a<br />

produção audiovisual realizada por crianças e jovens, além<br />

<strong>de</strong> estimular o <strong>de</strong>bate sobre e a partir <strong>de</strong>ssas produções.<br />

Os filmes selecionados foram <strong>de</strong>senvolvidos na Oficina<br />

<strong>de</strong> Cinema <strong>de</strong> Animação realizada na Semana <strong>de</strong> Arte,<br />

Ciência e Cultura do CAp <strong>de</strong> 2004: “A Menina”, realizado<br />

agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />

1<br />

Foto por Fátima Cristina Vollú


Foto por Fátima Cristina Vollú<br />

16<br />

por alunas da 2ª série do Ensino Fundamental, e “O<br />

Pescador e o Peixe”, feito por alunos da 6ª série do Ensino<br />

Fundamental e da 1ª série do Ensino Médio. A seleção<br />

para a mostra e a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> exibição para um<br />

público fora da comunida<strong>de</strong> escolar foram motivos para<br />

o reconhecimento <strong>de</strong>sses alunos como produtores <strong>de</strong> um<br />

filme. No Ví<strong>de</strong>o Fórum os alunos tiveram a oportunida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> assistir aos seus filmes e falar para o público presente<br />

sobre a sua produção, além <strong>de</strong> conhecer produções<br />

audiovisuais <strong>de</strong>senvolvidas em outras escolas ou espaços<br />

educativos por crianças e adolescentes. Assim que todos<br />

os filmes realizados no CAp sejam editados e finalizados,<br />

será promovida uma Mostra <strong>de</strong> Cinema <strong>de</strong> Animação com<br />

o objetivo <strong>de</strong> incentivar a produção <strong>de</strong> filmes <strong>de</strong> animação,<br />

além da divulgação no âmbito escolar, não <strong>de</strong>scartando a<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que seja <strong>de</strong>senvolvido também um festival,<br />

exibindo filmes <strong>de</strong> animação infanto-juvenis realizados em<br />

outras escolas, além da participação em festivais externos.<br />

Com a participação <strong>de</strong> bolsistas <strong>de</strong> Iniciação Artística e<br />

Cultural <strong>de</strong>s<strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2004, foi introduzido na escola<br />

também o projeto Animando a Arte Brasileira, que<br />

tem como objetivo reduzir a lacuna que existe entre a<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se trabalhar a produção artística brasileira<br />

no ensino <strong>de</strong> arte e a pouca oferta <strong>de</strong> material didático<br />

audiovisual. Este projeto procura valorizar e resgatar<br />

a cultura e a realida<strong>de</strong> social registradas por artistas em<br />

suas obras. Um dos principais objetivos <strong>de</strong>ste projeto<br />

é a produção <strong>de</strong> filmes <strong>de</strong> animação a partir da obra <strong>de</strong><br />

agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />

artistas brasileiros. O primeiro filme <strong>de</strong>ste projeto foi<br />

produzido a partir <strong>de</strong> obras <strong>de</strong> Candido Portinari. Está<br />

sendo iniciado um estudo da sua aplicação em sala <strong>de</strong> aula,<br />

assim como o planejamento para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />

um site para a divulgação e o estabelecimento <strong>de</strong> um canal<br />

<strong>de</strong> comunicação com professores que utilizam a animação<br />

ou novas tecnologias como material didático para o ensino<br />

da arte ou outra disciplina, estabelecendo um local <strong>de</strong> troca<br />

<strong>de</strong> experiências.<br />

Por ser uma linguagem que tem como característica<br />

principal o movimento, a animação <strong>de</strong>sperta gran<strong>de</strong><br />

interesse nos alunos, seja na apreciação ou na produção.<br />

Isto faz <strong>de</strong>la mais um meio para expressão pessoal e crítica,<br />

além <strong>de</strong> promover o <strong>de</strong>senvolvimento do conhecimento<br />

em diversas áreas, estabelecendo um diálogo imediato dos<br />

alunos a partir <strong>de</strong> uma linguagem contemporânea.<br />

Sugestão para leitura:<br />

Fátima Cristina Vollú é mestra em<br />

Educação pela UERJ e professora <strong>de</strong><br />

<strong>Artes</strong> <strong>Visuais</strong> no CAp-<strong>UFRJ</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1993,<br />

on<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolve projetos em animação e<br />

uso <strong>de</strong> novas tecnologias no ensino.<br />

Barbosa, Ana Mae. A imagem no ensino da Arte. São<br />

Paulo: Perspectiva; Porto Alegre: Fundação Iochpe,<br />

1 1.<br />

Barbosa, Ana Mae (Org.). Inquietações e Mudanças no<br />

Ensino da Arte. São Paulo: Cortez, 2002.<br />

Fusari, M.F. <strong>de</strong> R. & Ferraz, M.H.C. <strong>de</strong> T. Arte na educação<br />

escolar. São Paulo: Cortez, 1 3.<br />

Miranda, Carlos Alberto. Cinema <strong>de</strong> Animação. Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro: Vozes, 1 1.<br />

Lévy, Pierre. As Tecnologias da Inteligência. O Futuro<br />

do Pensamento na Era da Informática. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

Ed.34, 1 3.<br />

Pillar, Analice. O ví<strong>de</strong>o e a metodologia triangular no<br />

ensino da Arte. Porto Alegre: UFRS: Fundação Iochpe,<br />

1 2.<br />

Pillar, Analice (org.). A Educação do Olhar no Ensino<br />

das <strong>Artes</strong>. Porto Alegre: Mediação, 1 .<br />

Histórias<br />

em curso<br />

Américo Freire<br />

Caro amigo,<br />

Como tem me perguntando por novida<strong>de</strong>s, aqui as envio pelo correio eletrônico. Des<strong>de</strong> já lhe aviso:<br />

não irei me ren<strong>de</strong>r à maneira telegráfica típica <strong>de</strong>ste novo meio <strong>de</strong> comunicação. Em nome da<br />

velha amiza<strong>de</strong>, peço vênia para lhe escrever como na época dos simpáticos carteiros dos Correios<br />

e Telégrafos, quando as frases ainda eram compostas por sujeito, predicado e um bom número <strong>de</strong><br />

adjetivos. Portanto, trate <strong>de</strong> arrumar tempo para ler esta carta eletrônica com o <strong>de</strong>vido cuidado e<br />

compreensão.<br />

Nos dois últimos anos, uma parte do meu tempo tem sido tomado por andanças pelo país, como<br />

caixeiro-viajante, em reuniões com professores na apresentação <strong>de</strong> História em Curso – o livro<br />

didático <strong>de</strong> História do Brasil que escrevi com Marly Motta e Dora Rocha – e que lhe enviei<br />

quando do lançamento do mesmo em meados <strong>de</strong> 2004. Nesses encontros, <strong>de</strong>pois do momento inicial<br />

em que – pela undécima vez – apresento o meu “improviso”, começamos a trocar interessantes<br />

idéias a respeito <strong>de</strong> questões variadas sobre livro didático, metodologias, conteúdos, enfim, temas<br />

interessantes que passo a dividir com o atencioso amigo.<br />

No segundo semestre <strong>de</strong> 2004, em meio ao tour <strong>de</strong> viagens, fui visitar, aqui no Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />

a exposição Antes no Centro Cultural Banco do Brasil. Sob o impacto daquela inédita e bela<br />

mostra a respeito das histórias da “pré-história” brasileira, pu<strong>de</strong> perceber o quanto o conhecimento<br />

arqueológico tinha avançado no país nos últimos anos, e mais: como nós, pesquisadores e professores<br />

<strong>de</strong> história, pouco sabíamos (e continuamos a não saber) acerca <strong>de</strong>stas novas <strong>de</strong>scobertas que, muito<br />

provavelmente, <strong>de</strong>verão produzir mudanças na maneira pela qual este tema tem sido abordado pela<br />

historiografia e pelos manuais didáticos. Ao escrevermos História em Curso, não tínhamos a<br />

dimensão <strong>de</strong>stas mudanças.<br />

agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />

1


história<br />

1<br />

Bem sabe o amigo que nada é <strong>de</strong> graça. Pois bem, ao<br />

reiniciarmos as rodadas <strong>de</strong> reuniões com os professores e as<br />

professoras, agora em terras paulistas, lá estava uma <strong>de</strong>las<br />

– impávida, com olhar simpático e exigente – a nos cobrar<br />

a inclusão <strong>de</strong>sta temática em nosso livro. Por sorte, estava <strong>de</strong><br />

alguma forma preparado para a ocasião, fato esse que me<br />

permitiu, além <strong>de</strong> registrar minha concordância com a minha<br />

interlocutora a respeito da importância do tema, esboçar<br />

algumas idéias acerca da possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se tratar do assunto<br />

em futura edição do livro.<br />

Veja você que, por mais um <strong>de</strong>svio da história, um ano<br />

<strong>de</strong>pois, ao participar da equipe responsável pela elaboração<br />

<strong>de</strong> material para professores no contexto da exposição Por<br />

Ti América – uma gran<strong>de</strong> mostra sobre as socieda<strong>de</strong>s précolombianas<br />

–, lá estava eu tomando contato com estudos<br />

que levantam hipóteses acerca da possibilida<strong>de</strong> da formação,<br />

em tempos pré-europeus, <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong>s complexas nas terras<br />

baixas amazônicas, colocando por terra teses consolidadas<br />

quanto ao caráter simples ou “primitivo” dos povos que<br />

habitaram aquela vasta região, a qual hoje em dia está em<br />

gran<strong>de</strong> parte em terras brasileiras.<br />

Por óbvio, o amigo po<strong>de</strong>rá me dizer que estou acometido <strong>de</strong><br />

uma <strong>de</strong>ssas doenças típicas dos autores <strong>de</strong> livros didáticos<br />

– a paranóia – uma vez que, a cada dia, surgem novas<br />

<strong>de</strong>scobertas científicas que refutam o saber estabelecido. De<br />

qualquer maneira, o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> se buscar incorporar estes<br />

novos temas em narrativas <strong>de</strong> caráter didático voltadas para<br />

agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />

“...lá estava uma <strong>de</strong>las -<br />

impávida, com olhar simpático<br />

e exigente – a nos<br />

cobrar a inclusão <strong>de</strong>sta<br />

temática em nosso livro.<br />

Por sorte, estava <strong>de</strong><br />

alguma forma preparado<br />

para a ocasião...<br />

”<br />

a compreensão da socieda<strong>de</strong> brasileira aí está, e, mais cedo ou<br />

mais tar<strong>de</strong>, <strong>de</strong>verá ser enfrentado.<br />

Em meu périplo, tenho tido a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conversar com<br />

professores <strong>de</strong> ensino médio em seus locais <strong>de</strong> trabalho, nas<br />

próprias escolas. No caso do universo <strong>de</strong> algumas das boas<br />

escolas públicas e particulares do Rio <strong>de</strong> Janeiro, pu<strong>de</strong> observar<br />

que está em curso uma intensa renovação no professorado <strong>de</strong><br />

história, com evi<strong>de</strong>ntes mudanças na forma pela qual se dá o<br />

ensino da disciplina. Por variadas vezes, meus interlocutores<br />

eram professores <strong>de</strong> nova geração – entre vinte e trinta anos<br />

– geralmente formados nas melhores universida<strong>de</strong>s públicas<br />

ou privadas e com passagem em estudos <strong>de</strong> pós-graduação.<br />

Como o amigo <strong>de</strong>ve ter reparado, este novo perfil em nada, ou<br />

quase nada, se i<strong>de</strong>ntifica com aquele do professor <strong>de</strong> história<br />

típico <strong>de</strong> décadas atrás, no qual o traço distintivo era a “larga<br />

experiência em sala <strong>de</strong> aula” e o conhecimento pormenorizado<br />

<strong>de</strong> tudo aquilo que girava em torno dos vestibulares. De<br />

alguma forma, o saber acadêmico acabou por superar tudo<br />

isso...<br />

Durante os encontros, os jovens mestres, por educação, me<br />

permitem falar à vonta<strong>de</strong> a respeito das minhas vãs filosofias,<br />

mas o que querem mesmo é tratar <strong>de</strong> questões mais práticas,<br />

a respeito <strong>de</strong> como criativamente têm se apropriado do livro.<br />

Por vezes, não <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> dar sugestões para edições futuras<br />

ou mesmo apontar algum “problema conceitual”, em atitu<strong>de</strong><br />

franca, aberta, típica <strong>de</strong> quem foi socializado em um clima<br />

acadêmico propenso ao bom <strong>de</strong>bate.<br />

Por ora, caro amigo, é só. Meu e-mail está entupido <strong>de</strong><br />

mensagens do editor me cobrando a entrega <strong>de</strong> um artigo para<br />

Perspectiva Capiana. Como ainda prezo pela vida, acho<br />

que terei <strong>de</strong> atendê-lo. Querendo o amigo ou não, semana que<br />

vem lhe envio mais capítulos da série histórias em curso.<br />

Abraços do amigo<br />

Américo Freire<br />

Américo Freire trabalha no CAp-<strong>UFRJ</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1983 e<br />

atualmente coor<strong>de</strong>na o setor curricular <strong>de</strong> História.<br />

É professor e pesquisador do Centro <strong>de</strong> Pesquisa e<br />

Documentação <strong>de</strong> História Contemporânea do Brasil<br />

da Fundação Getúlio Vargas (CPDOC-FGV).<br />

foto cedida pelo NUTED-FIOCRUZ<br />

“O Convidado”:<br />

Anotações <strong>de</strong><br />

um Percurso<br />

Ana Lucia <strong>de</strong> Almeida Soutto Mayor,<br />

Andrea Pinheiro e<br />

Brunella Provvi<strong>de</strong>nte<br />

O projeto <strong>de</strong> extensão curricular Arte e Saú<strong>de</strong>, criado em 2004, no<br />

âmbito do <strong>Colégio</strong> <strong>de</strong> <strong>Aplicação</strong> da <strong>UFRJ</strong>, surgiu como um <strong>de</strong>sdobramento<br />

do projeto <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento tecnológico Arte e Saú<strong>de</strong>, concebido e<br />

organizado pela Escola Politécnica <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Joaquim Venâncio/FIOCRUZ,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2003. Preten<strong>de</strong>u-se, com a parceria entre as duas escolas, estabelecer uma<br />

aproximação sistemática entre docentes e alunos dos dois centros formadores,<br />

no intuito <strong>de</strong> viabilizar a produção <strong>de</strong> conhecimentos no campo da educação<br />

estética, tanto em projetos <strong>de</strong> ensino quanto <strong>de</strong> pesquisa. No CAp-<strong>UFRJ</strong>, o<br />

projeto Arte e Saú<strong>de</strong>, voltado para os alunos do Ensino Médio, consiste numa<br />

proposta <strong>de</strong> integração <strong>de</strong> duas linguagens artísticas – a Literatura e as <strong>Artes</strong><br />

Cênicas – tendo como culminância a montagem <strong>de</strong> um espetáculo teatral.<br />

agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />

1


construindo pontes es<br />

20<br />

professora Andrea Pinheiro<br />

dirigindo aluna durante ensaio<br />

na edição 2004 do projeto<br />

A cada ano, o projeto enfoca um tema relacionado à saú<strong>de</strong>:<br />

para a edição <strong>de</strong> 2004, sob a temática Arte e Peste, partimos<br />

do texto dramático “Estado <strong>de</strong> Sítio”, <strong>de</strong> Albert Camus;<br />

no ano seguinte, cujo tema era Arte e Meio Ambiente,<br />

realizamos a adaptação do texto literário “A Desintegração<br />

da Morte”, <strong>de</strong> Orígenes Lessa. No entanto, em 2006, para<br />

o tema Arte e Corpo, optamos pela criação coletiva <strong>de</strong><br />

um texto dramático próprio, sem partir <strong>de</strong> nenhuma fonte<br />

prévia, dramática ou narrativa. Assim, a equipe do projeto<br />

no CAp-<strong>UFRJ</strong> – coor<strong>de</strong>nada por Ana Lucia <strong>de</strong> Almeida<br />

Soutto Mayor (professora <strong>de</strong> Língua Portuguesa) e Andrea<br />

Pinheiro (professora <strong>de</strong> <strong>Artes</strong> Cênicas), e constituída por<br />

alunas em cena na edição 2004<br />

do projeto<br />

agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />

foto por Bruna Provenzano<br />

Brunella Provvi<strong>de</strong>nte (graduanda <strong>de</strong> Direção Teatral da<br />

ECO-<strong>UFRJ</strong>), Luiz Felipe Andra<strong>de</strong> Silva (bacharel em<br />

Letras pela <strong>UFRJ</strong> e graduando <strong>de</strong> Cinema pela UFF) e<br />

pelo grupo <strong>de</strong> teatro Capachos da Arte (formado pelos<br />

alunos Isabel Freire, Isabella Almeida, Pedro Pedruzzi e<br />

Rodrigo Fernan<strong>de</strong>s) – adotou como estratégia criativa,<br />

<strong>de</strong> saída, a organização <strong>de</strong> um “laboratório <strong>de</strong> criação”,<br />

a partir do qual seria possível construir a dramaturgia do<br />

espetáculo e, em uma etapa posterior, o texto dramático<br />

propriamente dito.<br />

Entusiasmados com a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> realização <strong>de</strong><br />

uma “oficina literária”, <strong>de</strong> natureza coletiva, pensamos a<br />

temática do corpo a partir <strong>de</strong> três eixos centrais: o corpo<br />

<strong>de</strong>ca<strong>de</strong>nte, o corpo interdito e o corpo sublimado. A cada<br />

um <strong>de</strong>sses eixos correspon<strong>de</strong>ria um aspecto específico<br />

relacionado à problemática do corpo, gerando, cada um<br />

<strong>de</strong>les, ricos <strong>de</strong>sdobramentos, tendo em vista a construção<br />

<strong>de</strong> um universo dramático. O corpo <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>nte apontaria<br />

para a discussão dos padrões estéticos esperados na<br />

socieda<strong>de</strong> contemporânea e dos reflexos <strong>de</strong> uma “tirania<br />

<strong>de</strong> mercado”, a encarcerar os seres humanos <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />

si mesmos. O corpo interdito suscitaria uma reflexão<br />

acerca <strong>de</strong> diferentes limitações físicas – a mu<strong>de</strong>z, a<br />

cegueira, a sur<strong>de</strong>z, entre outras – e <strong>de</strong> suas conseqüências<br />

nos processos <strong>de</strong> interação social dos indivíduos. O<br />

corpo sublimado diria respeito às exigências celibatárias<br />

foto por Bruna Provenzano<br />

impostas, por razões religiosas, àqueles que se dispõem a<br />

seguir o caminho do sacerdócio. Através da exploração<br />

<strong>de</strong>sses três eixos, pretendíamos acionar uma reflexão<br />

sobre os lugares do corpo na contemporaneida<strong>de</strong> e seus<br />

impasses e <strong>de</strong>safios.<br />

Definidos os eixos temáticos do trabalho, como leválos<br />

à cena? Como transformar essas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

abordagem do corpo em matéria dramática, em exercício<br />

cênico? Antes <strong>de</strong> pensarmos na história propriamente dita<br />

ou, ainda, no modo <strong>de</strong> contá-la, propusemos a criação<br />

<strong>de</strong> personagens. Para dar contornos nítidos, feições<br />

particulares e traços específicos aos mesmos, investimos<br />

em um exercício bastante freqüente em oficinas <strong>de</strong> roteiros<br />

cinematográficos: o da criação <strong>de</strong> biografias. Para que o<br />

personagem tenha vida no palco, para que não seja uma<br />

“marionete em carne-e-osso” – espectro caricato <strong>de</strong> um<br />

ser humano –, é preciso que este se assemelhe, <strong>de</strong> fato, a<br />

alguém que pudéssemos ter conhecido ou que possamos<br />

vir a conhecer. A criação <strong>de</strong> um personagem assume o<br />

papel da criação <strong>de</strong> um pequeno universo dramático em si<br />

mesmo, na medida em que ele habita um mundo – aquele<br />

em que se encontra com seus hábitos, particularida<strong>de</strong>s,<br />

emoções, pensamentos e relações.<br />

Para trazer à luz a problemática do corpo, prismada<br />

pelos três eixos já estabelecidos, acordamos – sempre em<br />

processo <strong>de</strong> discussão coletiva – quais seriam nossos três<br />

personagens: uma antiga ve<strong>de</strong>te do teatro <strong>de</strong> revista, um<br />

jovem mudo e um monge. Em cada um <strong>de</strong>les, o corpo em<br />

suas inelutáveis verda<strong>de</strong>s; mas como movê-las e entrecruzálas?<br />

De que modo tramar os labirintos dramáticos em que<br />

os personagens se esbarrariam?<br />

Passamos à etapa seguinte <strong>de</strong> nosso processo <strong>de</strong> criação<br />

coletiva. Organizados em grupos, ocupamo-nos <strong>de</strong> cada<br />

um <strong>de</strong>sses personagens. Nossa tarefa era a <strong>de</strong> criar uma<br />

biografia para cada um <strong>de</strong>les, ou seja, cada grupo <strong>de</strong>veria<br />

criar uma narrativa na qual o personagem em questão fosse o<br />

protagonista. Concluída a tarefa, reunimo-nos para escutar<br />

as histórias <strong>de</strong> nossos personagens. Percebemos que suas<br />

biografias não foram <strong>de</strong>senvolvidas do mesmo modo: se,<br />

no caso da ve<strong>de</strong>te, sua história foi apresentada por tópicos<br />

esparsos, que davam conta <strong>de</strong> aspectos <strong>de</strong> sua vida (lugar<br />

on<strong>de</strong> nasceu, características familiares, relacionamentos<br />

afetivos, aspirações profissionais), a trajetória do mudo foi<br />

narrada <strong>de</strong> maneira contínua, acompanhando sua existência<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a infância. Já a biografia do monge, por sua vez,<br />

ora em diálogo intertextual com “Dom Casmurro”, <strong>de</strong><br />

Machado <strong>de</strong> Assis, ora com “O crime do Padre Amaro”,<br />

<strong>de</strong> Eça <strong>de</strong> Queirós, apresentou-se como um texto com<br />

fortes tintas <strong>de</strong> um melodrama, em que o riso, às vezes,<br />

irrompia <strong>de</strong> modo surpreen<strong>de</strong>nte.<br />

Desenhados os personagens em seus universos dramáticos<br />

específicos, o <strong>de</strong>safio era superpor esses universos,<br />

costurando-os em um texto dramático verossímil e<br />

conseqüente. Em cada uma das histórias, construiuse<br />

uma figura masculina marcante e <strong>de</strong>cisiva na vida <strong>de</strong><br />

cada personagem: era “O Convidado”. Além dos corpos<br />

que compuseram nossos eixos temáticos – o <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>nte,<br />

o interdito e o sublimado – surgiu um quarto corpo,<br />

“invisível”, para promover a interseção entre as três<br />

narrativas.<br />

A forma final do texto dramático ficou a cargo <strong>de</strong> Luiz<br />

Felipe Andra<strong>de</strong> Silva que – sempre com o assentimento<br />

do grupo – reuniu as cenas resultantes das biografias<br />

<strong>de</strong>senvolvidas e criou outras especialmente <strong>de</strong>stinadas<br />

a tecer a relação entre os três personagens. A <strong>de</strong>cisão<br />

<strong>de</strong> ambientar a história num hospital psiquiátrico<br />

proporcionou à montagem um compartilhar não<br />

apenas do espaço e do material cênico, mas também das<br />

biografias, já que cada personagem, além <strong>de</strong> protagonizar<br />

a sua própria história, participa da história do outro: o<br />

mudo, por exemplo, atua como o pai na história da ve<strong>de</strong>te;<br />

a ve<strong>de</strong>te, por sua vez, é a parteira na história do monge; já<br />

o monge é o pai do mudo e assim, sucessivamente, numa<br />

intrincada teia que acentua os conflitos e contribui para<br />

uma sólida ação dramática.<br />

“ ”<br />

Desenhados os personagens em seus<br />

universos dramáticos específicos, o <strong>de</strong>safio<br />

era superpor esses universos, costurandoos<br />

em um texto dramático verossímil e<br />

conseqüente.<br />

cena <strong>de</strong><br />

“O Convidado”,<br />

montagem da<br />

edição 2006 do<br />

projeto<br />

agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />

21<br />

foto cedida pelo NUTED-FIOCRUZ


construindo pontes<br />

22<br />

Nesse território <strong>de</strong> múltiplas possibilida<strong>de</strong>s, é necessário<br />

que os atores transitem por todos os personagens com<br />

agilida<strong>de</strong> e precisão. Procurando enfatizar a tônica corporal,<br />

propusemos vários exercícios tais como o da criação <strong>de</strong><br />

esculturas <strong>de</strong> personagens, comumente utilizado nas aulas<br />

<strong>de</strong> Teatro. O diferencial, neste caso, é que a pesquisa<br />

corporal, assim como a confecção da dramaturgia,<br />

também foi coletiva: cada ator criou uma escultura para o<br />

seu próprio personagem e também para os outros; logo,<br />

a forma final foi uma coletânea – ou síntese – <strong>de</strong> todas<br />

as esculturas produzidas. Constatamos que a participação<br />

ativa na confecção das biografias tornou os atores mais<br />

disponíveis na hora dos exercícios: eles se sentiram mais<br />

aptos a “dar corpo” aos personagens cujos universos eles<br />

mesmos ajudaram a criar, embarcando com empenho e<br />

liberda<strong>de</strong> nas ativida<strong>de</strong>s propostas.<br />

Logo após a criação corporal dos personagens, passamos<br />

ao levantamento da produção. Se, por um lado, todos<br />

os elementos técnicos <strong>de</strong>veriam estabelecer a distinção<br />

entre o espaço do presente (o do hospital psiquiátrico)<br />

e o da memória ou do <strong>de</strong>vaneio (o das biografias), havia<br />

outras questões <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m prática. Como estava prevista<br />

a apresentação do espetáculo na Tenda do Ciência em<br />

Cena/FIOCRUZ, o cenário <strong>de</strong>veria ser leve, simples e<br />

flexível para facilitar o seu transporte. Quanto ao figurino,<br />

não seria possível que os atores trocassem <strong>de</strong> roupa a cada<br />

instante. Portanto, optamos pela utilização do mobiliário<br />

<strong>de</strong> que dispomos na escola – uma mesa e quatro cubos<br />

<strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira – e um figurino neutro, já que cada ator<br />

representava mais <strong>de</strong> um personagem.<br />

grupo <strong>de</strong> alunos participante da edição 2004 do<br />

projeto com as professoras Andrea Pinheiro e<br />

Ana Lucia Soutto Mayor, respectivamente quarta<br />

e sexta da esquerda para a direita<br />

agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />

Nossa última etapa <strong>de</strong> trabalho – a dos ensaios – foi a<br />

mais intensa e a que exigiu maior <strong>de</strong>dicação dos atores.<br />

A marcação, inspirada nos exercícios <strong>de</strong>senvolvidos e nos<br />

estilos das biografias criadas, <strong>de</strong>mandou uma constante<br />

repetição das cenas uma vez que havia muitos <strong>de</strong>talhes a<br />

serem fixados. Era <strong>de</strong> suma importância que os diferentes<br />

momentos <strong>de</strong> narração e os <strong>de</strong> atuação, assim como as<br />

mudanças <strong>de</strong> personagem, fossem “limpos”, ou seja, livres<br />

<strong>de</strong> gestos excessivos. Através da repetição dos gestos e da<br />

reflexão sobre os mesmos, construímos uma partitura<br />

corporal que levou os atores a compreen<strong>de</strong>r a motivação<br />

<strong>de</strong> seus personagens.<br />

Ao refletirmos sobre o processo <strong>de</strong> montagem <strong>de</strong> “O<br />

Convidado”, pusemo-nos a analisar a trajetória percorrida<br />

nos três anos do projeto Arte e Saú<strong>de</strong>. Fruto <strong>de</strong> uma<br />

iniciativa interdisciplinar – pois integra a literatura e<br />

as artes cênicas – e com uma perspectiva <strong>de</strong> extensão<br />

curricular, este projeto nos estimula, como profissionais,<br />

a uma constante pesquisa <strong>de</strong> novas metodologias <strong>de</strong><br />

trabalho, não subordinadas às <strong>de</strong>mandas específicas<br />

dos conteúdos programáticos tradicionais <strong>de</strong> nossas<br />

disciplinas. A experiência vivida ao longo <strong>de</strong>stes três anos<br />

impõe a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> continuarmos investigando novas<br />

possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> trabalho no espaço escolar <strong>de</strong> forma<br />

que a experiência estética ocupe um lugar central no<br />

fazer pedagógico, apostando na potência libertadora das<br />

linguagens artísticas.<br />

Ana Lucia <strong>de</strong> Almeida Soutto Mayor, professora <strong>de</strong> Língua<br />

Portuguesa e Literatura do CAp-<strong>UFRJ</strong>, e Andrea Pinheiro,<br />

professora <strong>de</strong> <strong>Artes</strong> Cênicas do CAp-<strong>UFRJ</strong>, coor<strong>de</strong>nam o “Projeto<br />

Arte e Saú<strong>de</strong>”. Brunella Provvi<strong>de</strong>nte, graduanda <strong>de</strong> Direção Teatral<br />

da ECO-<strong>UFRJ</strong> e bolsista do projeto, compôs a equipe em 2006.<br />

Filosofia no<br />

Ensino Médio<br />

Lia <strong>de</strong> Oliveira Guarino<br />

Há alguns anos se discute no Brasil se a filosofia <strong>de</strong>ve ser<br />

incorporada ao currículo do Ensino Médio, como uma disciplina<br />

em separado. Muitos suspeitam que o ensino <strong>de</strong> filosofia seja<br />

importante. A própria Lei <strong>de</strong> Diretrizes e Bases da Educação<br />

Nacional (LDB) <strong>de</strong> 1996 recomenda-o para o “exercício da<br />

cidadania”. Por outro lado, a filosofia é vista com <strong>de</strong>sconfiança<br />

por se tratar <strong>de</strong> uma disciplina um tanto enigmática para a maior<br />

parte dos educadores e alunos. Qual é precisamente sua função?<br />

Qual a sua real importância? Qual o seu sentido, se não é uma<br />

ciência (nem exata, nem humana), não é uma arte, tampouco uma<br />

técnica, e muito menos uma religião? Afinal, o que é a filosofia e<br />

qual o seu papel no Ensino Médio?<br />

agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />

23<br />

opinião


opinião<br />

24<br />

Ora, a filosofia surge <strong>de</strong> uma exigência do próprio<br />

pensamento. Ele é quem problematiza as várias formas<br />

<strong>de</strong> pensar, suas diversas possibilida<strong>de</strong>s. Se se faz física,<br />

química ou biologia, surge, por exemplo, uma necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> se saber o que são estas formas <strong>de</strong> pensamento que<br />

conseguem um grau <strong>de</strong> objetivida<strong>de</strong> e exatidão tão<br />

impressionante para o senso comum. Como funciona a<br />

ciência? Como ela pensa? Por que a consi<strong>de</strong>ramos como<br />

a “guardiã da verda<strong>de</strong>”? O que é a verda<strong>de</strong>? Como a<br />

distinguimos <strong>de</strong> uma mera opinião ou <strong>de</strong> uma estranha<br />

magia? Qual é o alcance da ciência e quais são seus limites?<br />

Quais são seus perigos e suas conseqüências na cultura,<br />

na vida cotidiana das pessoas? Todas essas questões,<br />

consi<strong>de</strong>radas epistemológicas, surgem inevitavelmente em<br />

nossa cultura oci<strong>de</strong>ntal, que aposta todas as fichas na ciência,<br />

que investe dinheiro e libido em cientistas, laboratórios e<br />

pesquisas. Mesmo o Brasil, que investe menos em ciência<br />

do que países do primeiro mundo, está imerso na cultura<br />

científica. O aluno do Ensino Médio se vê bombar<strong>de</strong>ado<br />

por aulas <strong>de</strong> matemática, física, química, biologia, sem<br />

enten<strong>de</strong>r muito bem o sentido <strong>de</strong>ssas disciplinas em suas<br />

vidas ou o porquê <strong>de</strong>ssa direção educacional.<br />

Mas não são apenas questões epistemológicas que<br />

perturbam o pensamento filosófico. Há também problemas<br />

<strong>de</strong> or<strong>de</strong>m ética. Vivemos num mundo capitalista, mo<strong>de</strong>rno,<br />

industrial, tecnológico, que muda com uma velocida<strong>de</strong><br />

assustadora. Valores que ontem eram in<strong>de</strong>strutíveis são<br />

varridos rapidamente no processo histórico. Família<br />

nuclear, estabilida<strong>de</strong> no emprego, sexualida<strong>de</strong>s bem<br />

<strong>de</strong>finidas, uma certa tranqüilida<strong>de</strong> social, para dar alguns<br />

exemplos, são formações que foram profundamente<br />

abaladas na nova configuração histórica. Outros vínculos<br />

agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />

sociais foram produzidos, o emprego tornou-se precário<br />

(quando não inexistente), novas sexualida<strong>de</strong>s emergiram,<br />

a violência se alastrou nas cida<strong>de</strong>s. Tendo em vista este<br />

contexto social tumultuado, a <strong>de</strong>pressão, a angústia, o<br />

medo e até mesmo o pânico tomaram conta <strong>de</strong> nossa<br />

subjetivida<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna. Como resolver ou minimizar<br />

esses sintomas? Como sair do mal-estar que se enraíza<br />

na civilização? A <strong>de</strong>cisão rápida que busca nos remédios<br />

anti<strong>de</strong>pressivos ou nas drogas a solução para o problema<br />

não quer enfrentar <strong>de</strong> forma corajosa a situação, que exige<br />

um trabalho mais elaborado <strong>de</strong> pensamento. Mas como<br />

pensar essa subjetivida<strong>de</strong> atormentada se não temos o<br />

instrumental a<strong>de</strong>quado, os conceitos precisos que, esses<br />

sim, nos auxiliariam a viver? Eis a tarefa da filosofia no<br />

Ensino Médio e fora <strong>de</strong>le: dar ferramentas conceituais<br />

para simbolizar a vida mo<strong>de</strong>rna e suas dificulda<strong>de</strong>s afetivas,<br />

sexuais, existenciais. Que outra disciplina po<strong>de</strong>ria dar esses<br />

instrumentos conceituais senão a filosofia?<br />

É bem verda<strong>de</strong> que a religião também procura dar conforto<br />

e auxílio à nossa existência. Mas como o estado brasileiro<br />

é laico, a religião não é ensinada na escola pública, então<br />

cabe à filosofia o <strong>de</strong>bate em torno dos valores morais. O<br />

<strong>de</strong>bate que se instalou ultimamente em torno do ensino<br />

da religião na escola pública é um retrocesso. Se se trata<br />

<strong>de</strong> ensinar religião na escola, então será preciso contratar<br />

professores que representem todas as religiões: o judaísmo,<br />

o catolicismo, o islamismo, o candomblé, o espiritismo, e<br />

todas as <strong>de</strong>mais seitas existentes, o que levaria o estado<br />

a contratar um número enorme <strong>de</strong> profissionais. Pois,<br />

se apenas uma <strong>de</strong>ssas religiões for contemplada, como<br />

justificar que o povo sustente um profissional <strong>de</strong> uma<br />

<strong>de</strong>terminada religião e não <strong>de</strong> outra? A controvérsia<br />

seria instalada. Já o mesmo não acontece com a filosofia.<br />

Po<strong>de</strong>-se objetar que um ensino <strong>de</strong> filosofia financiado<br />

pelo estado, para ser justo, teria também que contemplar<br />

as diversas correntes filosóficas: platônicos, tomistas,<br />

cartesianos, kantianos, marxistas, nietzscheanos, etc. No<br />

entanto, há uma diferença fundamental entre filosofia e<br />

religião: a filosofia não é dogmática, ela po<strong>de</strong> dispor <strong>de</strong><br />

alguns conceitos e <strong>de</strong>sprezá-los se não mais servirem.<br />

Conceitos são ferramentas para pensar e agir, não são<br />

dados inquestionáveis. A filosofia é um pensamento sem<br />

compromisso com qualquer tipo <strong>de</strong> conteúdo pensado,<br />

ela é livre, seu único compromisso é com a manutenção<br />

do exercício <strong>de</strong> pensar, ao passo que a religião não abre<br />

mão <strong>de</strong> seus conteúdos dogmáticos.<br />

A filosofia busca uma orientação para viver,<br />

problematizando o modo como vivemos, estranhando<br />

práticas tão arraigadas na nossa socieda<strong>de</strong>: competição,<br />

proprieda<strong>de</strong> privada, consumismo, individualismo,<br />

trabalho alienado, niilismo. Além disso, a filosofia,<br />

diferentemente da religião, vai buscar uma orientação<br />

para nossa conduta sem apelar para dogmas, sem partir <strong>de</strong><br />

dados inquestionáveis, sem buscar uma transcendência. Ao<br />

contrário, é <strong>de</strong> sua natureza não partir <strong>de</strong> certezas, colocarse<br />

na perspectiva imanente da ignorância, do não-saber<br />

que busca um saber, mas que não sabe com segurança o<br />

que é certo, o que é errado, o que é o bom e o mau, o justo<br />

e o injusto.<br />

Ao mesmo tempo que o pensamento formula questões<br />

éticas (do sujeito consigo mesmo), coloca também<br />

problemas na relação que os homens têm entre eles, ou seja,<br />

problemas políticos. Numa socieda<strong>de</strong> partida em classes,<br />

na qual uns exercem o po<strong>de</strong>r e outros são dominados, na<br />

qual existe uma divisão <strong>de</strong> grupos e uma hierarquia entre<br />

eles, a tensão política é permanente. A violência ou a<br />

iminência <strong>de</strong>la está em toda parte. Como enten<strong>de</strong>r <strong>de</strong> modo<br />

crítico esse jogo <strong>de</strong> classes, dos interesses contrários que<br />

se chocam e como é possível transformar essa situação?<br />

Com que ferramentas conceituais po<strong>de</strong>mos pensar (e virar)<br />

esse jogo? Eis mais uma vez a tarefa da filosofia: produzir<br />

conceitos que funcionem para pensar o mundo político e<br />

social, <strong>de</strong> tal maneira que não haja exclusão <strong>de</strong> um grupo<br />

em <strong>de</strong>trimento <strong>de</strong> outro, <strong>de</strong> tal modo que a socieda<strong>de</strong> não<br />

se divida e que todos sejam contemplados.<br />

Assim, a filosofia surge para resolver problemas que o<br />

pensamento coloca para si mesmo. Problemas <strong>de</strong> natureza<br />

epistemológica, ética, política e também estética. Pois<br />

qual é o sentido da arte que se produz hoje no oci<strong>de</strong>nte?<br />

Se a arte em geral não está mais preocupada em imitar<br />

a natureza, ou em fornecer um mo<strong>de</strong>lo perfeito (belo)<br />

“<br />

A filosofia busca uma orientação<br />

para viver, problematizando o<br />

modo como vivemos, estranhando<br />

práticas tão arraigadas na nossa<br />

”<br />

socieda<strong>de</strong><br />

agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />

2<br />

opinião


opinião<br />

26<br />

“<br />

Mais do que ensinar<br />

”<br />

a história do<br />

pensamento, a tarefa<br />

<strong>de</strong> ensinar filosofia<br />

no Ensino Médio é<br />

estimular o aluno a<br />

questionar o mundo em<br />

que vive<br />

agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />

para orientar nossos sentidos e nossa vida, qual o seu<br />

papel na cultura contemporânea? Como pensar a arte em<br />

nossos dias quando esta se tornou hermética, quando se<br />

afastou <strong>de</strong> uma comunicação fácil com o público que a<br />

contempla? Tudo indica que sua direção vai na busca <strong>de</strong><br />

experimentações novas, <strong>de</strong> outras formas <strong>de</strong> percepção<br />

que produzem uma nova escuta, que fabrica um outro<br />

olhar para o mundo. A arte parece ser um pensamento que<br />

busca diferir <strong>de</strong> si mesmo, que quer o estranhamento para<br />

que, talvez, nos acostumando com ele, comecemos a achálo<br />

familiar e nos tornemos diferentes do que éramos. Uma<br />

tal reflexão estética exige outras categorias que aquelas <strong>de</strong><br />

beleza, harmonia, graça e perfeição. Conceitos como os <strong>de</strong><br />

sublime, grotesco, trágico, risível, entram em cena na arte<br />

contemporânea, mais preocupada com a experimentação<br />

do que com a mera imitação da forma perfeita. Isto<br />

porque, talvez, a arte esteja buscando outros caminhos<br />

para a fabricação do homem oci<strong>de</strong>ntal, outra maneira <strong>de</strong><br />

educá-lo, numa percepção crítica <strong>de</strong> que a antiga maneira<br />

não parece ter dado muito certo.<br />

Assim, se este homem nascido na socieda<strong>de</strong> contemporânea<br />

oci<strong>de</strong>ntal fizer um mínimo esforço para pensar esse mundo<br />

no qual está inserido, ele se verá em algum momento às<br />

voltas com todas essas questões estéticas, políticas, éticas<br />

e epistemológicas, ou seja, com questões filosóficas. Por<br />

que então esperar o Ensino Superior para colocar esses<br />

problemas e buscar respondê-los? Por que não abordá-los<br />

logo, no Ensino Médio, quando a cabeça do adolescente<br />

está mais aberta, mais disponível para o novo, mais apta a<br />

tomar <strong>de</strong>cisões que vão orientar seu futuro? Pois o aluno<br />

do Ensino Médio já está sendo educado nas ciências, já<br />

se vê diante <strong>de</strong> dilemas morais, já tem um conhecimento<br />

político através da história e da geografia, já está <strong>de</strong> alguma<br />

maneira envolvido com as artes. Então por que não levar<br />

um pouco mais longe seu po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> abstração e auxiliá-lo<br />

na aventura do pensamento conceitual? Mais do que<br />

ensinar a história do pensamento, mais do que ensinar<br />

a “exercer a cidadania”, mais do que apresentar este ou<br />

aquele autor, este ou aquele conteúdo, a tarefa <strong>de</strong> ensinar<br />

filosofia no Ensino Médio é estimular o aluno a questionar<br />

o mundo em que vive, é instigá-lo com problemas e<br />

motivá-lo a pensar.<br />

Lia <strong>de</strong> Oliveira Guarino<br />

formou-se doutora em<br />

filosofia pelo IFCS-<strong>UFRJ</strong>.<br />

Leciona filosofia no<br />

Instituto Superior <strong>de</strong><br />

Educação do Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro (ISERJ) e, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

2005, no CAp-<strong>UFRJ</strong>.<br />

O Cérebro em<br />

Transformação<br />

Reconheça que o comportamento é fruto do funcionamento do cérebro, e a conclusão<br />

é inevitável: o comportamento adolescente tem que ser produto <strong>de</strong> um cérebro adolescente. De<br />

fato, nos últimos cinco anos as neurociências produziram uma série <strong>de</strong> evidências que tornam<br />

obrigatório o reconhecimento da adolescência como mais uma fase do <strong>de</strong>senvolvimento<br />

cerebral: é a época <strong>de</strong> transição em que o cérebro da infância se transforma em um cérebro<br />

adulto, o que permite o aprendizado e o amadurecimento que transformam o adolescente<br />

em um ser in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, sensato e bem ajustado à socieda<strong>de</strong>. Todas as mudanças no cérebro<br />

durante o período – a busca <strong>de</strong> riscos, o distanciamento da família e a aproximação dos<br />

pares, a impulsivida<strong>de</strong>, o raciocínio abstrato, bem como o aprendizado social com os próprios<br />

erros, o <strong>de</strong>senvolvimento da empatia e da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> antecipar as conseqüências dos<br />

próprios atos – conspiram para isso. Se tudo <strong>de</strong>r certo, o resultado é mais do que gratificante<br />

para os pais, que vêem seus filhos tornarem-se in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, auto-suficientes, responsáveis,<br />

competentes socialmente e – por que não? – ótima companhia.<br />

Suzana Herculano-Houzel<br />

Ilustrações por<br />

Jandê Saavedra Farias<br />

agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />

2


2<br />

Uma nova transformação<br />

Visões anteriores consi<strong>de</strong>ravam que o cérebro já estaria<br />

anatômica e funcionalmente pronto ao terminar a<br />

infância. Vem daí o mito <strong>de</strong> que o comportamento típico<br />

do adolescente seria resultado <strong>de</strong> uma inundação por<br />

hormônios sexuais – com a implicação <strong>de</strong> que, caso a<br />

<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m hormonal pu<strong>de</strong>sse ser controlada, adolescentes<br />

continuariam crianças normais que um dia acordariam<br />

adultos perfeitamente ajustados. Caso o cérebro já estivesse<br />

mesmo pronto, o que mais explicaria as alterações súbitas<br />

no comportamento, senão os hormônios, obviamente em<br />

ebulição na adolescência?<br />

De fato, o cérebro cresce até atingir seu tamanho adulto<br />

no início da adolescência, mas daí em diante não cresce<br />

mais. As mudanças que transformam o cérebro infantil em<br />

adulto, portanto, não são um simples aumento generalizado<br />

<strong>de</strong> peso ou volume cerebral. Enquanto algumas estruturas<br />

<strong>de</strong> fato crescem, outras encolhem, sofrem reorganizações<br />

agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />

químicas e estruturais, e todas acabam por amadurecer<br />

funcionalmente. O sistema <strong>de</strong> recompensa do cérebro<br />

passa por gran<strong>de</strong>s mudanças, e com isso mudam os<br />

gostos, as vonta<strong>de</strong>s, os ímpetos, os <strong>de</strong>sejos, e também a<br />

vulnerabilida<strong>de</strong> ao vício e a transtornos do humor, como a<br />

<strong>de</strong>pressão. Os núcleos da base do cérebro, que participam<br />

do aprendizado <strong>de</strong> seqüências motoras, sofrem cortes<br />

drásticos, e assim as habilida<strong>de</strong>s motoras se cristalizam (o<br />

que talvez explique por que os gran<strong>de</strong>s atletas, e os gran<strong>de</strong>s<br />

talentos em geral, são feitos até a pré-adolescência). Os<br />

feixes que ligam as várias regiões do cérebro adquirem a<br />

capa final <strong>de</strong> mielina, que funciona como isolante elétrico<br />

e permite, portanto, a condução mais rápida e eficiente<br />

<strong>de</strong> impulsos. As regiões pré-frontais do cérebro, que<br />

permitem o raciocínio abstrato e o aprendizado social,<br />

finalmente amadurecem, e com isso surgem os interesses<br />

por literatura, filosofia, política, e nasce o jovem adulto<br />

responsável (porque é capaz <strong>de</strong> antecipar as conseqüências<br />

<strong>de</strong> suas ações e assumi-las), empático (porque consegue<br />

inferir e prever as emoções dos outros e agir conforme<br />

suas previsões), e bem inserido na socieda<strong>de</strong>.<br />

Imagens do cérebro adquiridas através <strong>de</strong> novos métodos<br />

<strong>de</strong> imageamento como a Ressonância Magnética (esq.)<br />

e a Tomografia Computadorizada (dir.)<br />

A nova era da pesquisa sobre a “neurociência do<br />

adolescente” é fundada essencialmente sobre as técnicas<br />

<strong>de</strong> imageamento cerebral, tanto morfológico quanto<br />

funcional, que permitem aos cientistas procurar na<br />

reformulação continuada do cérebro as bases para as<br />

mudanças cognitivas e comportamentais da adolescência.<br />

Os Institutos Nacionais <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> dos EUA já reconheceram<br />

como a iniciativa é importante, e custeiam atualmente um<br />

projeto <strong>de</strong> 16 milhões <strong>de</strong> dólares que tem por objetivo<br />

escanear regularmente o cérebro <strong>de</strong> 500 crianças e jovens<br />

<strong>de</strong> 2 a 21 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> e testar suas funções cognitivas ao<br />

longo <strong>de</strong> sete anos, em paralelo ao estudo da sua herança<br />

genética.<br />

A adolescência começa no cérebro<br />

Hormônios sexuais são meros executores <strong>de</strong> um<br />

programa <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento que começa no cérebro, ou<br />

mais exatamente no hipotálamo, uma pequena estrutura<br />

diencefálica responsável por promover ajustes fisiológicos<br />

<strong>de</strong> vários tipos pelo corpo afora – inclusive ajustes<br />

hormonais.<br />

Ainda não se conhece o gatilho que faz o hipotálamo iniciar<br />

a adolescência, mas é sabido que ele só é apertado quando<br />

reservas suficientes <strong>de</strong> gordura são acumuladas no corpo, o<br />

que é comunicado ao hipotálamo através da concentração<br />

no sangue do hormônio leptina, produzido pelos próprios<br />

adipócitos à medida que eles armazenam gordura.<br />

Havendo leptina suficiente, o hipotálamo faz com que a<br />

glândula hipófise produza hormônios que agem sobre as<br />

“<br />

Hormônios<br />

”<br />

sexuais são meros<br />

executores <strong>de</strong><br />

um programa <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento<br />

que começa no<br />

cérebro.<br />

gônadas e promovem a secreção <strong>de</strong> hormônios sexuais. As<br />

mudanças no cérebro se seguem, mas acontecem mesmo<br />

na ausência <strong>de</strong> hormônios sexuais.<br />

O que os hormônios sexuais fazem, então? Ao contrário<br />

da visão popular, sua influência sobre o comportamento<br />

adolescente limita-se a tornar o cérebro sensível aos<br />

apelos do sexo – e mesmo assim, só porque as estruturas<br />

cerebrais envolvidas amadurecem e tornam-se aptas. É<br />

aí que, logo no começo da adolescência, manifesta-se e<br />

<strong>de</strong>scobre-se a preferência sexual, <strong>de</strong>terminada bem mais<br />

cedo, durante a gestação.<br />

O sistema <strong>de</strong> recompensa e a conquista<br />

da in<strong>de</strong>pendência<br />

Alguns dos primeiros indícios comportamentais da<br />

chegada da adolescência são o tédio e o <strong>de</strong>sapego com as<br />

ativida<strong>de</strong>s da infância, logo seguidos por uma busca por<br />

novida<strong>de</strong>s e pelo comportamento <strong>de</strong> risco. A razão <strong>de</strong><br />

todas essas mudanças está na remo<strong>de</strong>lagem logo no início<br />

da adolescência do sistema <strong>de</strong> recompensa do cérebro,<br />

o conjunto <strong>de</strong> estruturas que nos premiam com uma<br />

sensação <strong>de</strong> prazer e nos fazem querer mais <strong>de</strong> tudo o que<br />

parece bom ou dá certo.<br />

Logo no início da adolescência há um embotamento do<br />

sistema <strong>de</strong> recompensa, quando ele per<strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> um<br />

terço da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r à dopamina, substância<br />

essencial à ativação do sistema e, portanto, à sensação<br />

<strong>de</strong> prazer. Ao tornar-se mais difícil <strong>de</strong> ser ativado pelos<br />

agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />

2


30<br />

prazeres antigos, o sistema <strong>de</strong> recompensa recémembotado<br />

do adolescente faz com que o jovem abandone<br />

seus velhos hábitos, subitamente tornados insatisfatórios,<br />

em busca <strong>de</strong> novos prazeres. Os resultados aparecem<br />

simultaneamente em vários níveis: o tédio, o <strong>de</strong>sinteresse<br />

por tudo o que é velho e conhecido, a supervalorização<br />

do novo (pois novida<strong>de</strong>s são estímulos naturais para o<br />

sistema <strong>de</strong> recompensa), o surgimento <strong>de</strong> novos interesses<br />

(música, esportes, literatura, filosofia, religião, amparados<br />

pela capacida<strong>de</strong> recém-adquirida <strong>de</strong> pensamento abstrato,<br />

explorada mais adiante), a importância atribuída a novas<br />

interações sociais e a novas amiza<strong>de</strong>s (e o <strong>de</strong>sinteresse pela<br />

companhia dos pais), a impulsivida<strong>de</strong> (conseqüência da<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recompensa imediata) e os comportamentos<br />

<strong>de</strong> risco tão característicos da adolescência.<br />

Todas essas alterações comportamentais têm uma<br />

conseqüência comum crucial: permitir que o adolescente<br />

adquira a experiência que o tornará um adulto<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte. O tédio e a conseqüente busca por<br />

novida<strong>de</strong>s, e os riscos que vêm com elas, são responsáveis<br />

por vários dos feitos necessários para a in<strong>de</strong>pendência<br />

cada vez mais <strong>de</strong>sejada nessa ida<strong>de</strong>: afastar o adolescente<br />

da segurança da família; impulsioná-lo a explorar as<br />

capacida<strong>de</strong>s físicas do seu novo corpo e as capacida<strong>de</strong>s<br />

intelectuais crescentes do cérebro em <strong>de</strong>senvolvimento;<br />

apren<strong>de</strong>r, graças ao convívio com um círculo <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong>s<br />

cada vez maior, as regras da vida em socieda<strong>de</strong>; e buscar<br />

um(a) parceiro(a) sexual longe da família. Para que<br />

tudo isso aconteça, aceitar correr pequenos riscos para<br />

agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />

“<br />

Essas alterações<br />

”<br />

comportamentais têm<br />

uma conseqüência<br />

comum crucial: permitir<br />

que o adolescente<br />

adquira a experiência<br />

que o tornará um adulto<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte.<br />

abandonar o conforto do lar e expor-se a novida<strong>de</strong>s é<br />

fundamental. Senão, com tudo já ofertado, por que alguém<br />

em sã consciência <strong>de</strong>ixaria a casa dos pais para procurar<br />

sua turma?<br />

Talvez por isso o gosto por riscos seja norma na<br />

adolescência, e há quem julgue que riscos mo<strong>de</strong>stos<br />

constituem “experimentação apropriada para a ida<strong>de</strong>”<br />

nesta fase. A evidência para isso é que adolescentes que<br />

se engajam em riscos mo<strong>de</strong>stos são mais competentes<br />

socialmente tanto na infância quanto mais tar<strong>de</strong>, na<br />

ida<strong>de</strong> adulta, do que jovens que correm riscos <strong>de</strong>mais ou<br />

nenhum.<br />

O problema, claro, é que se correr pequenos riscos<br />

po<strong>de</strong> ser construtivo ou mesmo necessário para o<br />

aprendizado social, excessos colocam em risco a vida do<br />

adolescente – e às vezes as daqueles ao seu redor. Além<br />

disso, o embotamento do sistema <strong>de</strong> recompensa torna<br />

os adolescentes vulneráveis a drogas, que estimulam<br />

diretamente o sistema e levam a uma redução ainda maior<br />

do número <strong>de</strong> receptores dopaminérgicos. Se usadas<br />

nessa época, o sistema se cristaliza com um número<br />

<strong>de</strong> receptores menor do que o normal – e o resultado<br />

são adultos particularmente propensos a vícios, e a um<br />

consumo <strong>de</strong> drogas mais intenso e duradouro do que<br />

se tivessem <strong>de</strong>ixado para experimentar a droga somente<br />

mais tar<strong>de</strong>.<br />

Ainda que necessário, o gosto por riscos é perigoso<br />

principalmente no início da adolescência, quando o<br />

córtex cerebral ainda não passou pelas transformações,<br />

provavelmente resultado <strong>de</strong> limpeza sináptica, que<br />

o dotarão <strong>de</strong> uma das habilida<strong>de</strong>s características dos<br />

adultos: a habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> controlar seus próprios impulsos<br />

e dizer não.<br />

Reorganização cortical, controle<br />

executivo e vida em socieda<strong>de</strong><br />

Uma das <strong>de</strong>scobertas mais impactantes da neurociência da<br />

adolescência é uma nova onda <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> um excesso<br />

<strong>de</strong> conexões entre neurônios até a puberda<strong>de</strong>, seguida<br />

<strong>de</strong> eliminação dos excessos e <strong>de</strong> expansão da substância<br />

branca que interconecta regiões diferentes do córtex. A<br />

mudança nessas interconexões permite a transmissão em<br />

tempo hábil <strong>de</strong> sinais nervosos entre regiões cerebrais, e<br />

<strong>de</strong>ste modo a integração funcional entre partes diferentes<br />

do córtex.<br />

As regiões da linguagem, por exemplo, espalhadas nos dois<br />

lados do cérebro, conversam melhor entre si – e o domínio<br />

<strong>de</strong> linguagem do adolescente se <strong>de</strong>senvolve. As respostas<br />

motoras, que exigem que o cérebro processe um estímulo,<br />

gere e execute uma resposta, se aceleram: o tempo <strong>de</strong><br />

resposta a estímulos diminui exponencialmente ao longo<br />

da infância, e se estabiliza no meio da adolescência, aos 14<br />

ou 15 anos. Além disso, a expansão da substância branca<br />

está relacionada à melhora em várias funções básicas<br />

do córtex pré-frontal que caracterizam a evolução do<br />

comportamento adolescente, como a memória <strong>de</strong> trabalho,<br />

“<br />

A adolescência não é um<br />

período ao qual <strong>de</strong>vese<br />

apenas sobreviver. Ao<br />

contrário, a adolescência<br />

é um período <strong>de</strong>sejável<br />

”<br />

e imprescindível <strong>de</strong><br />

aprendizado intenso.<br />

agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />

31


32<br />

a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seleção e inibição <strong>de</strong> comportamentos, e a<br />

supressão <strong>de</strong> respostas automáticas. É o amadurecimento<br />

do córtex pré-frontal na adolescência que permite,<br />

por exemplo, o pensamento abstrato, que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong><br />

da capacida<strong>de</strong> exclusiva <strong>de</strong> neurônios pré-frontais <strong>de</strong><br />

representar objetos que não estão mais sob os olhos ou ao<br />

alcance das mãos. Aliada à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> novos prazeres,<br />

a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lidar com o abstrato permite que o jovem<br />

<strong>de</strong>scubra novos tipos <strong>de</strong> literatura, música, se interesse por<br />

filosofia, política, e inaugure a fase i<strong>de</strong>alista, tão necessária,<br />

<strong>de</strong> reconstrução do mundo.<br />

A adolescência é também um período <strong>de</strong> intenso<br />

aprendizado social. Depois <strong>de</strong> termos aprendido em casa<br />

o básico sobre as relações interpessoais e as regras da vida<br />

em família, apren<strong>de</strong>mos a aplicar esse conhecimento a<br />

um mundo que se torna cada vez maior, à medida que o<br />

círculo <strong>de</strong> relações pessoais e o papel social <strong>de</strong> cada um<br />

se expan<strong>de</strong>, impulsionado pela necessida<strong>de</strong> do novo. E<br />

viver em socieda<strong>de</strong> requer uma série <strong>de</strong> talentos. É preciso<br />

ter flexibilida<strong>de</strong> cognitiva – o famoso “jogo <strong>de</strong> cintura”<br />

– para respon<strong>de</strong>r <strong>de</strong> acordo com o contexto e apren<strong>de</strong>r<br />

a generalizar sobre experiências passadas para negociar<br />

situações novas; é preciso ter iniciativa, planejamento,<br />

auto-suficiência e humor.<br />

Todas essas habilida<strong>de</strong>s são <strong>de</strong>senvolvidas graças à<br />

combinação <strong>de</strong> experiência com o amadurecimento das<br />

últimas regiões corticais que faltavam: o córtex órbitofrontal<br />

e as estruturas associadas do chamado Circuito<br />

Social, como o giro temporal superior. São provavelmente<br />

essas mudanças a base da transformação comportamental<br />

que coroa o fim da adolescência: o tornar-se responsável,<br />

moral, e empático. Essas regiões do córtex cerebral<br />

são responsáveis pelo uso das emoções como guias <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>cisões realmente importantes, pelo arrependimento<br />

e o aprendizado emocional com os próprios erros, pela<br />

antecipação das conseqüências dos próprios atos, pela<br />

flexibilida<strong>de</strong> para parar <strong>de</strong> fazer algo que era bom mas<br />

<strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser, e por fim pela relação íntima com o vizinho<br />

através do entendimento das suas sensações, intenções e<br />

reações que a empatia e a Teoria da Mente – o colocar-se<br />

no lugar do outro – permitem.<br />

Adolescência é coisa do cérebro. E daí?<br />

A nova visão da adolescência como um período<br />

perfeitamente normal, obrigatório e na verda<strong>de</strong> <strong>de</strong>sejável<br />

<strong>de</strong> reorganização do cérebro <strong>de</strong>ve chegar como um alento<br />

para aqueles adolescentes que não agüentam mais ouvir<br />

agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />

que “são os hormônios” a causa <strong>de</strong> seu comportamento.<br />

De fato, o cérebro que entra na adolescência não está<br />

pronto e perfeito, após todos os cuidados e educação<br />

recebidos dos pais, nem é subitamente perturbado e quase<br />

“estragado” ao ser invadido pelos hormônios <strong>de</strong>spejados<br />

pelo corpo. A adolescência não é um período ao qual <strong>de</strong>vese<br />

apenas sobreviver. Ao contrário, a adolescência é um<br />

período <strong>de</strong>sejável e imprescindível <strong>de</strong> aprendizado intenso.<br />

Enten<strong>de</strong>r que as mudanças <strong>de</strong> comportamento nascem<br />

<strong>de</strong> mudanças necessárias no cérebro <strong>de</strong>ve ajudar pais e<br />

professores a reconhecer e <strong>de</strong>sempenhar seu papel mais<br />

importante durante essa época da vida dos adolescentes:<br />

ser um “córtex pré-frontal emprestado” para eles.<br />

Portanto, à pergunta “adolescentes precisam mesmo se<br />

comportar assim?”, a neurociência só tem uma resposta<br />

a oferecer: Precisam, sim – mesmo porque não seriam<br />

capazes <strong>de</strong> fazer diferente. O comportamento adolescente<br />

é resultado <strong>de</strong> um cérebro adolescente. Nada mais, nada<br />

menos.<br />

Sugestões <strong>de</strong> leitura<br />

Herculano-Houzel, S. O cérebro em transformação. Ed.<br />

Objetiva, 200 .<br />

Strauch, B. Como enten<strong>de</strong>r a cabeça dos adolescentes.<br />

Ed. Elsevier, 2003.<br />

Clerget, S. Adolescência: a crise necessária. Rocco, 2000.<br />

Bióloga formada pela <strong>UFRJ</strong>, Suzana Herculano-<br />

Houzel é neurocientista pós-graduada pela Case<br />

Western Reserve University (EUA), Universida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Paris VI (França) e Instituto Max-Planck para a<br />

Pesquisa do Cérebro (Alemanha). Professora adjunta<br />

do Departamento <strong>de</strong> Anatomia da <strong>UFRJ</strong>, pesquisa<br />

as diferenças entre cérebros gran<strong>de</strong>s e pequenos,<br />

escreveu três livros <strong>de</strong> divulgação da neurociência e<br />

criou o site O Cérebro Nosso <strong>de</strong> Cada Dia<br />

(www.cerebronosso.bio.br).<br />

Adolescente:<br />

seu cérebro já foi um.<br />

Filipe Silva-Porto<br />

Professor <strong>de</strong> Biologia CAp-<strong>UFRJ</strong><br />

Resenha do livro “O Cérebro em Transformação”,<br />

<strong>de</strong> Suzana Herculano-Houzel, Editora Objetiva,<br />

2005.<br />

Se você gosta <strong>de</strong> música alta, vive um tédio<br />

interminável, está fascinado com drogas ou sofre<br />

com paixões avassaladoras seus problemas não<br />

acabaram. Mas pelo menos estão mais fáceis <strong>de</strong> serem<br />

compreendidos. Você está vivendo sua adolescência.<br />

E não se assuste se você já tem 30 anos. Segundo as<br />

Neurociências, você po<strong>de</strong> ser um cara normal.<br />

Os anos 90 formaram a década das Neurociências e<br />

Suzana Herculano-Houzel soube aproveitar. Nesse<br />

período, ela se formou em Biologia pela <strong>UFRJ</strong> e<br />

fez doutorado e pós-doutorado em Neurociências<br />

na Europa. Voltou ao Brasil em 1999 e resolveu<br />

se <strong>de</strong>dicar à divulgação científica. Já publicou três<br />

livros: “O Cérebro Nosso <strong>de</strong> Cada Dia”, “Sexo,<br />

Drogas, Rock’n’Roll & Chocolate” e “O Cérebro em<br />

Transformação” (2005, Editora Objetiva – R$ 27,61<br />

na internet). É sobre este último que vamos falar.<br />

Po<strong>de</strong>mos resumi-lo como uma abordagem<br />

neurocientífica para explicar o comportamento<br />

adolescente, escrito em linguagem <strong>de</strong>nsa, porém<br />

acessível ao público leigo disposto a digerir a<br />

terminologia técnica. Se você acha que as questões<br />

envolvendo este feliz – ou não – e certamente<br />

agitado período <strong>de</strong> vida são fruto exclusivamente da<br />

educação, das companhias e dos hormônios, errou.<br />

Suzana discute, baseada em pesquisas recentes, e em<br />

alguns casos bastante controversas, o quanto e como<br />

o <strong>de</strong>senvolvimento do cérebro se prolonga além da<br />

infância e, para certas estruturas, só se completa lá<br />

pelos 30 a 40 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>.<br />

O livro sugere que essas mudanças – <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes da<br />

expressão <strong>de</strong> genes, da influência <strong>de</strong> alguns hormônios e<br />

das experiências <strong>de</strong> vida – po<strong>de</strong>m não só ser prazerosas<br />

como também necessárias à construção <strong>de</strong> um adulto<br />

saudável. Suzana ainda se aventura a propor formas<br />

alternativas para lidar <strong>de</strong> maneira mais produtiva com<br />

adolescentes e, nesse sentido, seu livro traz uma boa<br />

contribuição para professores, licenciandos e, claro,<br />

estudantes adolescentes.<br />

“O Cérebro em Transformação” discute, à luz da<br />

evolução, como os programas biológicos – no caso<br />

aqueles responsáveis pela construção da arquitetura<br />

cerebral humana – interagem com as experiências <strong>de</strong><br />

vida, facilitando ao animal humano sua sobrevivência<br />

e reprodução ao longo <strong>de</strong> sua passagem pelo planeta<br />

Terra. Por isso mesmo, a obra <strong>de</strong> Suzana representa<br />

mais um passo na superação do velho antagonismo<br />

entre cultura e natureza. O ser cultural humano não po<strong>de</strong><br />

ser compreendido na sua totalida<strong>de</strong> sem consi<strong>de</strong>rar sua<br />

faceta animal.<br />

Aqueles que acreditam que somos uma tábula rasa,<br />

à espera dos escritos da experiência, <strong>de</strong>vem tomar<br />

cuidado com o “O Cérebro em Transformação”.<br />

Sua leitura nos leva a refletir sobre a materialida<strong>de</strong><br />

da condição humana. Os sentimentos nobres, como o<br />

amor e a solidarieda<strong>de</strong>, estão enraizados nos circuitos<br />

neurais e na história <strong>de</strong> nossa evolução. Não há nada <strong>de</strong><br />

sobrenatural responsável pelo nosso sentido <strong>de</strong> moral,<br />

ou pela nossa empatia. Não há fantasmas na máquina.<br />

Como um bom livro <strong>de</strong>ve fazer, ele suscita questões:<br />

como diferentes abordagens educacionais po<strong>de</strong>m<br />

interferir na estruturação do cérebro do adolescente<br />

e, portanto, influenciar o comportamento do futuro<br />

adulto? O quanto diferenças genéticas individuais<br />

po<strong>de</strong>riam acarretar diferenças na construção do cérebro<br />

e serem responsáveis por diferenças comportamentais?<br />

A Ciência será capaz <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r a tudo isso? O livro<br />

<strong>de</strong> Suzana nos leva a crer que sim.<br />

agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />

33


Foto retirada do arquivo do CAp-<strong>UFRJ</strong><br />

O antigo prédio do CAp-<strong>UFRJ</strong><br />

na Praia <strong>de</strong> Botafogo<br />

34<br />

agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />

Histórico <strong>de</strong> Criação<br />

do CAp-<strong>UFRJ</strong><br />

Izabel Cristina Goudart da Silva<br />

O <strong>Colégio</strong> <strong>de</strong> <strong>Aplicação</strong> da <strong>UFRJ</strong> foi o primeiro colégio <strong>de</strong> aplicação<br />

fundado no Brasil. A exposição <strong>de</strong> motivos do projeto <strong>de</strong> criação, referência universal<br />

para justificar a inserção dos colégios <strong>de</strong> aplicação na universida<strong>de</strong> brasileira,<br />

expressa uma preocupação <strong>de</strong> ilustres educadores da época, como Lourenço Filho,<br />

Gustavo <strong>de</strong> Capanema e outros. I<strong>de</strong>ntifica-se com a discussão da reforma do Ensino<br />

Médio e, principalmente, <strong>de</strong> como esta reforma se daria a partir da formação <strong>de</strong> professores.<br />

Além disso, teria o objetivo <strong>de</strong> propiciar um campo <strong>de</strong> aplicação e <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong> novas metodologias. Tais argumentos ainda são atuais, tendo em vista<br />

que continuamos enfrentando alguns dos mesmos problemas <strong>de</strong> 60 anos atrás.<br />

agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />

3


36<br />

O início dos planos <strong>de</strong> organização <strong>de</strong> um “colégio<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> ensino”, a ser instalado anexo à<br />

Faculda<strong>de</strong> Nacional <strong>de</strong> Filosofia, data <strong>de</strong> 21 <strong>de</strong> julho<br />

<strong>de</strong> 1944. Segundo o professor Luiz Alves <strong>de</strong> Mattos,<br />

catedrático interino <strong>de</strong> Didática Geral e Especial da<br />

Faculda<strong>de</strong> Nacional <strong>de</strong> Filosofia (FNF), <strong>de</strong>vido ao<br />

interesse e esforços do então diretor do Instituto Nacional<br />

<strong>de</strong> Estudos Pedagógicos (INP), doutor Lourenço Filho, o<br />

professor Álvaro Neiva foi <strong>de</strong>signado para apresentar um<br />

projeto do futuro <strong>Colégio</strong> <strong>de</strong> <strong>Aplicação</strong> em colaboração<br />

com os professores das ca<strong>de</strong>iras pedagógicas da FNF.<br />

Tal iniciativa veio ao encontro <strong>de</strong> uma campanha <strong>de</strong><br />

esforços, <strong>de</strong>corrente da lei que criou a FNF, <strong>de</strong> abril <strong>de</strong><br />

1939, mas que, por não prever a criação <strong>de</strong> um colégio<br />

<strong>de</strong> aplicação, conduzia à realização do estágio em classes<br />

ginasianas cedidas a título <strong>de</strong> favor pessoal pelo <strong>Colégio</strong><br />

Pedro II e por diretores <strong>de</strong> colégios particulares. Tal estágio,<br />

no entanto, como disposto no relatório do INP, não atendia<br />

à proposta <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> professores pretendida pela<br />

ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Didática da FNF. Em seu discurso por ocasião<br />

da sessão <strong>de</strong> instalação do <strong>Colégio</strong> <strong>de</strong> <strong>Aplicação</strong> da FNF,<br />

em 18 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1948, o professor Mattos observou<br />

que até então os estágios cerceavam “<strong>de</strong>masiadamente as<br />

possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> uma observação sistemática e <strong>de</strong> uma<br />

prática eficaz, tolhendo-nos toda a iniciativa e liberda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> ação, justamente na fase culminante e doce: o eixo <strong>de</strong><br />

formação para o magistério que é a Prática <strong>de</strong> Ensino.”<br />

O relatório do INP também <strong>de</strong>stacava os problemas<br />

oriundos da pouca duração <strong>de</strong>stes estágios e da supervisão<br />

<strong>de</strong> professores. A criação do <strong>Colégio</strong> <strong>de</strong> Demonstração<br />

surge como proposta para aten<strong>de</strong>r a preocupação <strong>de</strong> cercar<br />

o estágio inicial da prática do magistério, consi<strong>de</strong>rado<br />

como o ponto mais alto do Curso <strong>de</strong> Didática, do máximo<br />

<strong>de</strong> condições favoráveis, através da “criação <strong>de</strong> um<br />

<strong>Colégio</strong> <strong>de</strong> Demonstração, convenientemente instalado,<br />

superiormente dirigido, servido por um professorado <strong>de</strong><br />

completa formação pedagógica, integrado na FNF, à falta<br />

<strong>de</strong> uma Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Educação, e intimamente coor<strong>de</strong>nado<br />

com a ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Didática Geral e Especial do seu Curso<br />

<strong>de</strong> Didática”, ainda nas palavras do professor Mattos.<br />

agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />

Foto cedida pelo arquivo do CAp-<strong>UFRJ</strong><br />

A antiga fachada do CAp-<strong>UFRJ</strong><br />

Convergindo com a opinião do professor Mattos e <strong>de</strong><br />

docentes da FNF, as finalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> criação do <strong>Colégio</strong> são<br />

assim enumeradas no relatório do INP:<br />

1. Integrar a Faculda<strong>de</strong> Nacional <strong>de</strong> Filosofia na sua legítima<br />

função <strong>de</strong> seminário do novo magistério secundário do<br />

país;<br />

2. proporcionar à ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> didática um excelente campo<br />

para suas <strong>de</strong>monstrações, aplicações e pesquisas;<br />

3. ser o órgão indicado para abrir novos horizontes à<br />

cultura pedagógica brasileira, proporcionando à ca<strong>de</strong>ira<br />

<strong>de</strong> didática efetivar uma reforma profunda no espírito, na<br />

orientação e na técnica docente da escola secundária.<br />

Este clima <strong>de</strong> inovação objetivava integrar a escola<br />

secundária à corrente educacional progressista da época,<br />

colaborando para a constituição <strong>de</strong> um tipo <strong>de</strong> ensino<br />

ajustado ao meio nacional e à renovação didática que ora<br />

se processava.<br />

Tal espírito não só permeava o pensamento <strong>de</strong> nossos<br />

educadores como também o dos alunos da graduação.<br />

A criação do <strong>Colégio</strong> figurava como um dos principais<br />

objetivos a serem atingidos no programa do Diretório<br />

Acadêmico da FNF dos anos <strong>de</strong> 1945 e 46. Assume a<br />

reitoria nesta época o doutor Azevedo <strong>de</strong> Amaral, que<br />

expressa seu estranhamento da não existência <strong>de</strong> um<br />

colégio vinculado à universida<strong>de</strong> e compromete-se com<br />

a sua criação. Em 12 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1946, o <strong>de</strong>creto-lei nº<br />

9053 estabelece a exigência <strong>de</strong> um <strong>Colégio</strong> <strong>de</strong> <strong>Aplicação</strong><br />

em todas as Faculda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Filosofia do país. Neste<br />

sentido, o diretor da FNF, professor Antonio Carneiro<br />

Leão, em estreita colaboração com a ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Didática e<br />

com a reitoria, busca a sua concretização, mas o <strong>Colégio</strong><br />

não é implantado <strong>de</strong>vido a dificulda<strong>de</strong>s orçamentárias. A<br />

escola é criada somente dois anos após a promulgação do<br />

<strong>de</strong>creto, graças à colaboração da Fundação Getúlio Vargas,<br />

que ce<strong>de</strong> provisoriamente o imóvel situado na Praia <strong>de</strong><br />

Botafogo n.º 186, com todas as instalações necessárias<br />

para o funcionamento do <strong>Colégio</strong>.<br />

agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />

3


3<br />

As ativida<strong>de</strong>s do Ginásio <strong>de</strong> Demonstração da Faculda<strong>de</strong><br />

Nacional <strong>de</strong> Filosofia, atual <strong>Colégio</strong> <strong>de</strong> <strong>Aplicação</strong> da<br />

<strong>UFRJ</strong>, iniciam-se em 18 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1948, estabelecendo<br />

como prerrogativas ser um campo para:<br />

1. A Prática <strong>de</strong> Ensino dos alunos mestres do curso <strong>de</strong><br />

magistério em quatro etapas:<br />

· análise das classes;<br />

· observação sistemática;<br />

· prática dirigida;<br />

· direção autônoma <strong>de</strong> classes.<br />

2. O aperfeiçoamento dos licenciandos regentes a partir<br />

<strong>de</strong>:<br />

· seminários coletivos;<br />

· conferências individuais <strong>de</strong> orientação metodológica;<br />

· participação na crítica e julgamento da prática.<br />

3. A pesquisa psicopedagógica e experimentação<br />

metodológica – segundo Mattos esta é a gran<strong>de</strong> função<br />

primeira dos colégios congêneres das universida<strong>de</strong>s norteamericanas,<br />

que serviram <strong>de</strong> base para fundamentar o<br />

projeto dos colégios <strong>de</strong> aplicação brasileiros.<br />

agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />

A atual fachada do<br />

CAp-<strong>UFRJ</strong> na Lagoa<br />

Ciente <strong>de</strong> que o sucesso <strong>de</strong>sse empreendimento <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ria<br />

em gran<strong>de</strong> parte dos recursos e do apoio que as autorida<strong>de</strong>s<br />

superiores da Universida<strong>de</strong> e da Faculda<strong>de</strong> dispensariam a<br />

esta nova instituição e da colaboração que os colegas do<br />

corpo docente prestariam, o professor Mattos preconizava<br />

o futuro <strong>de</strong>stas instituições com as seguintes palavras:<br />

“Uma instituição <strong>de</strong> ensino não é algo que se improvisa<br />

com meia dúzia <strong>de</strong> leis e regulamentos. Uma instituição <strong>de</strong><br />

ensino é uma planta muito <strong>de</strong>licada e <strong>de</strong> lento crescimento<br />

que só começa a dar seus frutos excelentes <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 50<br />

anos <strong>de</strong> cuidados.”<br />

Após mais <strong>de</strong> 50 anos , é tempo <strong>de</strong> colher os frutos.<br />

Izabel Cristina Goudart<br />

é mestra em educação pela UERJ e<br />

professora <strong>de</strong> Química do CAp-<strong>UFRJ</strong>, on<strong>de</strong><br />

foi vice-diretora no período <strong>de</strong> 2002 a 2005.<br />

Foto retirada do arquivo do CAp-<strong>UFRJ</strong><br />

Aconteceu no<br />

1º Semestre<br />

Patrocínio para Música<br />

Em julho o Setor Curricular <strong>de</strong> Música do CAp-<strong>UFRJ</strong><br />

foi contemplado com o patrocínio da FINEP para o seu<br />

projeto Toque e se Toque, coor<strong>de</strong>nado pelos professores Alice<br />

Sena e Mario Ferraro, e que consiste no treinamento em<br />

diferentes instrumentos – violão, cavaquinho, percussão,<br />

flauta doce e voz. O projeto preten<strong>de</strong> capacitar jovens<br />

<strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s carentes a partir <strong>de</strong> uma metodologia <strong>de</strong><br />

educação que parte <strong>de</strong> sua realida<strong>de</strong>, com a construção<br />

<strong>de</strong> material didático próprio e especificamente focado na<br />

música popular brasileira.<br />

Mudanças no SOE<br />

As orientadoras educacionais Rosângela, Cecília e Rosane<br />

comemoram suas recentes aposentadorias. De 1990 a<br />

2006 <strong>de</strong>dicaram seus esforços profissionais ao CAp-<strong>UFRJ</strong>,<br />

on<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolveram o projeto <strong>de</strong> extensão NUCAp, que<br />

esten<strong>de</strong> o Setor Curricular à comunida<strong>de</strong>. Cláudia Ribeiro<br />

é a nova concursada do setor <strong>de</strong> orientação educacional.<br />

foto por Maria Cecília Cardoso<br />

CAp-<strong>UFRJ</strong> se <strong>de</strong>staca em avaliações<br />

Os alunos da 8 a série do CAp-<strong>UFRJ</strong> obtiveram a primeira<br />

colocação na Prova Brasil <strong>de</strong> 2005, exame que avalia<br />

o <strong>de</strong>sempenho em Matemática e Língua Portuguesa<br />

<strong>de</strong> alunos do ensino público em todo o país. No total<br />

foram avaliados 3.306.378 estudantes, equivalendo a 70%<br />

do público alvo do exame, que eram os 4,7 milhões <strong>de</strong><br />

estudantes <strong>de</strong> 4 a e 8 a série matriculados em 40.920 escolas<br />

públicas urbanas com pelo menos 30 alunos na respectiva<br />

série.<br />

Os alunos do Ensino Médio colocaram o CAp-<strong>UFRJ</strong><br />

entre os 10 melhores colégios do Brasil (7º lugar geral e<br />

2º melhor <strong>de</strong>ntre os colégios públicos) <strong>de</strong> acordo com o<br />

ranking do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM)<br />

em 2005.<br />

CopaCAp<br />

Aproveitando o clima da Copa do Mundo 2006, o Setor<br />

Curricular <strong>de</strong> Educação Física do CAp-<strong>UFRJ</strong>, em conjunto<br />

com seus licenciandos, realizou na escola a CopaCAp: um<br />

torneio <strong>de</strong> futebol que ocorreu nos dias 20 e 27 <strong>de</strong> maio<br />

e 10 <strong>de</strong> junho, e do qual participaram alunos da classe<br />

<strong>de</strong> alfabetização (CA) ao Ensino Médio. Na abertura foi<br />

comemorado o aniversário <strong>de</strong> 58 anos da escola, com<br />

homenagens, abertura oficial do evento e a apresentação<br />

do coral sob a orientação da professora Maria Alice, do<br />

Setor Curricular <strong>de</strong> Música. Houve ainda a participação<br />

dos licenciandos em Enfermagem do Instituto Ana Nery<br />

da <strong>UFRJ</strong>, que fizeram os atendimentos <strong>de</strong> primeiros<br />

socorros aos nossos atletas.<br />

agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />

3


40<br />

Ciência Ainda que à Tardinha<br />

No primeiro semestre <strong>de</strong> 2006 aconteceram as primeiras<br />

palestras do programa <strong>de</strong> seminários das Ciências da<br />

Natureza do CAp-<strong>UFRJ</strong>, o Ciência Ainda que à Tardinha.<br />

Aberto à comunida<strong>de</strong>, o programa traz, uma vez por mês,<br />

sempre à tar<strong>de</strong>, pesquisadores convidados <strong>de</strong> diversas<br />

áreas da Ciência para seminários em temas diversos. Os<br />

primeiros foram “Átomo: da Grécia Antiga a Dalton”, pelo<br />

professor Carlos Filgueiras (IQ-<strong>UFRJ</strong>), “Som”, pelo<br />

engenheiro Marco Nabuco (INMETRO), “Possibilida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> Vida Extraterrestre”, pelo professor Gustavo Porto <strong>de</strong><br />

Mello (OV-<strong>UFRJ</strong>), e “Pilhas e Baterias x Meio Ambiente”,<br />

pelo professor Julio Carlos Afonso (IQ-<strong>UFRJ</strong>).<br />

O programa, coor<strong>de</strong>nado pelos professores Mariana<br />

Villela (Biologia), Guilherme Parreira (Química) e Beto<br />

Pimentel (Física), terá continuida<strong>de</strong> no segundo semestre<br />

com as seguintes palestras:<br />

“A Polêmica Newton-Huygens sobre a Natureza da Luz”, com o<br />

professor Ricardo Barthem (IF-<strong>UFRJ</strong>);<br />

“Recepção do Darwinismo no Brasil”, com o professor Ricardo<br />

Waizbort (Casa <strong>de</strong> Oswaldo Cruz - FIOCRUZ);<br />

“Metrologia: a Ciência das Medições”, com o engenheiro José<br />

Carlos Valente <strong>de</strong> Oliveira (INMETRO);<br />

“A Seta do Tempo”, com o professor Carlos Aguiar (IF-<br />

<strong>UFRJ</strong>)<br />

Pesquisa em Ensino <strong>de</strong> Química<br />

No dia 18 <strong>de</strong> maio, a professora do CAp-<strong>UFRJ</strong> Rozana<br />

Gomes <strong>de</strong> Abreu participou como convidada <strong>de</strong> mesaredonda<br />

do Ciclo <strong>de</strong> Palestras Ensino <strong>de</strong> Ciências-2006,<br />

do programa <strong>de</strong> pós-graduação lato sensu em ensino<br />

<strong>de</strong> ciências do CEFET-Química/RJ. A partir do tema,<br />

“Desafios do Ensino <strong>de</strong> Química na Educação Básica”,<br />

Rozana discursou sobre o currículo e o ensino <strong>de</strong> Química.<br />

Seu artigo “Contextualização e Tecnologias em Livros Didáticos<br />

<strong>de</strong> Biologia e Química”, escrito em co-autoria com sua<br />

orientadora <strong>de</strong> doutorado e com a professora Margarida<br />

Gomes, po<strong>de</strong> ser lido online na revista Investigações<br />

em Ensino <strong>de</strong> Ciências (www.if.ufrgs.br/public/ensino/<br />

vol10/n3/v10_n3_a6.html). O artigo faz uma análise <strong>de</strong><br />

como alguns conceitos divulgados nos PCNEM foram<br />

apropriados pelos livros didáticos.<br />

agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />

NICJr. 1<br />

No primeiro semestre <strong>de</strong> 2006 o Núcleo <strong>de</strong> Iniciação<br />

Científica Jr. do CAp-<strong>UFRJ</strong>, sob a coor<strong>de</strong>nação do<br />

professor Vicente Batista, encaminhou 62 alunos <strong>de</strong><br />

Ensino Médio para os programas <strong>de</strong> iniciação científica<br />

júnior <strong>de</strong> diversos laboratórios <strong>de</strong> pesquisa <strong>de</strong> diferentes<br />

unida<strong>de</strong>s da <strong>UFRJ</strong> e <strong>de</strong> outras prestigiadas instituições <strong>de</strong><br />

pesquisa da cida<strong>de</strong>, como o CBPF, a Fiocruz e a PUC.<br />

NICJr. 2<br />

Foi realizada no CAp-<strong>UFRJ</strong> nos dias 29 e 30 <strong>de</strong> março<br />

a VI Jornada <strong>de</strong> Iniciação Científica Jr. Neste evento, 25<br />

trabalhos foram apresentados em painéis por 38 alunos<br />

que <strong>de</strong>senvolveram suas ativida<strong>de</strong>s ao longo do ano <strong>de</strong><br />

2005.<br />

NICJr. 3<br />

O trabalho “Reconstrução <strong>de</strong> Energia <strong>de</strong> Hádrons Usando Re<strong>de</strong>s<br />

Neurais em Experimentos <strong>de</strong> Colisão <strong>de</strong> Partículas”, do aluno João<br />

Felipe Faria (23A), orientado pelo professor José Seixas,<br />

da <strong>UFRJ</strong>, apresentado na VI Jornada, foi selecionado para<br />

representar o Brasil na XIII Conferência Internacional<br />

para Jovens Cientistas, ocorrida entre os dias 18 e 23<br />

<strong>de</strong> abril em Stuttgart, Alemanha. Além <strong>de</strong> apresentar o<br />

trabalho na conferência, João teve a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

visitar as instalações do Centro Europeu para Pesquisas<br />

Nucleares (CERN), em Genebra, Suíça.<br />

João Felipe (esq.) com seus colegas Arber Faslija<br />

e Piotr Niedzwiedz, representantes da Alemanha<br />

e Polônia, respectivamente, na cerimônia <strong>de</strong><br />

encerramento.<br />

foto por João Felipe Faria<br />

Integração e Alfabetização<br />

A classe <strong>de</strong> alfabetização (CA) do CAp-<strong>UFRJ</strong> vem<br />

promovendo cada vez mais a integração <strong>de</strong> alunos,<br />

pais, professores e funcionários no ambiente da escola.<br />

Como resultado <strong>de</strong>ste trabalho, foram <strong>de</strong>senvolvidas<br />

algumas propostas, tais como a semana <strong>de</strong> adaptação<br />

das crianças na escola. Durante a primeira semana <strong>de</strong><br />

aula, os pais ficam na escola participando <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s<br />

com seus filhos. Outra iniciativa <strong>de</strong>corre do NUCAp,<br />

encontro que congrega os pais e alunos da CA e da 1ª<br />

série uma vez por mês para interagir com especialistas<br />

convidados sobre temas diversos, como “Medo e<br />

Violência”. Além disso, os pais participam das festas<br />

e lanches coletivos que ocorrem por ocasião das<br />

comemorações dos aniversários <strong>de</strong> cada mês.<br />

Oficina <strong>de</strong> Geometria<br />

No segundo bimestre o Setor Curricular <strong>de</strong> Matemática<br />

promoveu no CAp-<strong>UFRJ</strong> a oficina “A Geometria na Era<br />

do Movimento”, da qual participaram diversos professores e<br />

alunos <strong>de</strong> Ensino Médio da escola.<br />

Dia Nacional do Livro Infantil<br />

No período <strong>de</strong> 17 a 20 <strong>de</strong> abril, a Equipe Multidisciplinar,<br />

a Biblioteca e a Direção Adjunta <strong>de</strong> Ensino organizaram<br />

uma série <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s para os alunos da classe <strong>de</strong><br />

alfabetização à 4ª série, em comemoração ao Dia Nacional<br />

do Livro Infantil. O objetivo do evento foi o estímulo<br />

à leitura, à produção <strong>de</strong> texto e à valorização do livro.<br />

Durante a semana, houve ativida<strong>de</strong>s como encontro com<br />

autores e ilustradores, pantomima literária, histórias com<br />

origami, feira <strong>de</strong> livros, troca <strong>de</strong> revistas em quadrinhos e<br />

doação <strong>de</strong> livros para outras instituições. Ao final <strong>de</strong> cada<br />

dia, foi aberta a visitação aos pais e responsáveis.<br />

Semana <strong>de</strong> Integração Acadêmica<br />

O CAp-<strong>UFRJ</strong> marcou presença na Semana <strong>de</strong> Integração<br />

Acadêmica promovida pelo Centro <strong>de</strong> Filosofia e Ciências<br />

Humanas da <strong>UFRJ</strong> (CFCH) entre os dias 22 e 26 <strong>de</strong><br />

maio. A participação ocorreu em duas sessões, presididas<br />

pelo professor do CAp-<strong>UFRJ</strong> Fábio Garcez (História).<br />

A primeira contou com o professor Guilherme Parreira<br />

(Química) apresentando o projeto “Ciência Ainda que<br />

à Tardinha” e com os professores do Setor Curricular<br />

<strong>de</strong> Matemática “Ensino <strong>de</strong> Funções no Ensino Médio”.<br />

Na segunda, as professoras Ana Lúcia Soutto Mayor<br />

(Língua Portuguesa) e Andréa Pinheiro (<strong>Artes</strong> Cênicas)<br />

apresentaram o projeto “Arte e Saú<strong>de</strong>”; a professora Maria<br />

Alice Sena (Música) apresentou seu projeto “Canto, Logo<br />

Existo”. Vicente Batista falou sobre os <strong>de</strong>senvolvimentos<br />

do Núcleo <strong>de</strong> Iniciação Científica Jr. do CAp-<strong>UFRJ</strong>.<br />

NAF reaberto<br />

O Núcleo <strong>de</strong> Ativida<strong>de</strong>s em Física (NAF) do CAp-<strong>UFRJ</strong>,<br />

sob a coor<strong>de</strong>nação do professor Beto Pimentel, foi reaberto,<br />

após um hiato <strong>de</strong> três anos e meio. A sétima geração<br />

<strong>de</strong> “nafiosos” é constituída por nove alunos da terceira<br />

série do Ensino Médio. Baseado em um sistema <strong>de</strong> grupos<br />

<strong>de</strong> interesse, seus membros se congregam em pequenos<br />

grupos para <strong>de</strong>senvolver projetos específicos. Um dos<br />

projetos mais bem-sucedidos até agora foi a construção<br />

do P. U. M. (“Projétil Ultra-Mural”) para barraca do NAF<br />

na Festa Junina do CAp. Além disso, o grupo, dividido<br />

em três equipes, participou dos <strong>de</strong>safios conhecidos como<br />

Aventuras Científicas, a primeira das quais aconteceu em Junho<br />

durante um fim <strong>de</strong> semana em Arraial do Cabo.<br />

agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />

41


instruções para autores<br />

42<br />

COMO PUBLICAR EM perspectiva capiana<br />

perspectiva capiana é uma revista <strong>de</strong> divulgação que publica<br />

prioritariamente resultados <strong>de</strong> projetos <strong>de</strong> ensino, <strong>de</strong> pesquisa e <strong>de</strong><br />

extensão feitos no <strong>Colégio</strong> <strong>de</strong> <strong>Aplicação</strong> da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral<br />

do Rio <strong>de</strong> Janeiro (CAp-<strong>UFRJ</strong>), em todas as disciplinas, para<br />

um público amplo e heterogêneo. Os leitores da revista são, em<br />

geral, professores <strong>de</strong> ensino fundamental e médio da instituição;<br />

professores <strong>de</strong> outras escolas; licenciandos e alunos <strong>de</strong> graduação;<br />

professores universitários; pessoas que se interessam por educação<br />

e pelas disciplinas escolares, mas não dominam necessariamente<br />

conceitos básicos <strong>de</strong> todas as áreas. Os textos da revista exigem,<br />

portanto, clareza e simplicida<strong>de</strong>.<br />

Os textos submetidos à publicação como artigos <strong>de</strong>vem conter a<br />

contribuição original do(s) autor(es) para o tema tratado e <strong>de</strong>vem<br />

ser inéditos – não po<strong>de</strong>m ter sido publicados anteriormente em outro<br />

veículo <strong>de</strong> divulgação para o público em geral (mas po<strong>de</strong>m ter sido<br />

veiculados em revistas especializadas, por exemplo). Sempre que<br />

possível, os resultados <strong>de</strong> pesquisa ou do projeto do(s) autor(es)<br />

<strong>de</strong>vem ser expostos no texto.<br />

AVALIAÇÃO<br />

Consultores técnicos indicados pelos setores curriculares são<br />

consultados quando da submissão <strong>de</strong> um texto e orientam a equipe<br />

editorial da revista quanto ao que sugerir aos autores para corrigir<br />

ou a<strong>de</strong>quar o texto do ponto <strong>de</strong> vista técnico, quanto à qualida<strong>de</strong> do<br />

trabalho, à linguagem adotada e à conveniência <strong>de</strong> sua publicação.<br />

Os textos aprovados são selecionados para publicação <strong>de</strong> acordo<br />

com a avaliação dos editores, levando em conta a programação<br />

editorial e as especificida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cada edição da revista. Os textos<br />

enviados pelos autores são ainda concomitantemente editados pela<br />

redação para a<strong>de</strong>quá-los à linha editorial da revista e <strong>de</strong>volvidos<br />

aos autores para aprovação. Em caso <strong>de</strong> não-aprovação, os editores<br />

buscarão aten<strong>de</strong>r às solicitações dos autores, <strong>de</strong>ntro do razoável do<br />

ponto <strong>de</strong> vista editorial. A revista não publicará nenhum texto não<br />

aprovado por seus autores em sua forma final. Títulos, subtítulos e<br />

chamadas <strong>de</strong> capa ficam a critério dos editores, embora as sugestões<br />

do(s) autor(es) sejam levadas em consi<strong>de</strong>ração.<br />

SEÇÕES DA REVISTA<br />

Os textos em perspectiva capiana estão divididos em dois<br />

tipos: artigos e seções. Para favorecer a edição, recomenda-se que<br />

o(s) autor(es) avalie(m) previamente e indique(m) se seu texto<br />

constitui um artigo ou uma seção, e nesse caso qual.<br />

— Artigos (por setor curricular):<br />

Os artigos <strong>de</strong>vem apresentar trabalhos <strong>de</strong>ntro do quadro da disciplina<br />

do(s) autor(es), e <strong>de</strong>vem conter título, nome(s) do(s) autor(es) e<br />

pequena apresentação pessoal, abertura (resumo), setor curricular<br />

(Geografia, Música, SOE, etc.), sugestões para leitura e ilustrações/<br />

fotos <strong>de</strong>vidamente legendadas e com créditos. Não <strong>de</strong>vem exce<strong>de</strong>r<br />

15.000 caracteres com espaço (aproximadamente 2.400 palavras).<br />

— Seções:<br />

Construindo Pontes: artigos publicados por dois ou mais autores<br />

<strong>de</strong> diferentes setores curriculares, com temática interdisciplinar.<br />

Seguem a formatação dos artigos.<br />

Sem Fronteiras: textos encomendados pelos editores a autores <strong>de</strong><br />

fora do CAp-<strong>UFRJ</strong> para enriquecer as reflexões em curso na escola.<br />

agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />

Devem conter título, abertura (resumo) e nome, foto e pequena<br />

apresentação do(s) autor(es). Tamanho máximo <strong>de</strong> 11.000 caracteres<br />

com espaço (~1.800 palavras).<br />

Opinião: consi<strong>de</strong>rações pessoais sobre temas relacionados à<br />

educação ou com o ensino na escola. É importante que os fatos e<br />

argumentos sejam <strong>de</strong>scritos com objetivida<strong>de</strong>, permitindo ao leitor<br />

contrastar e evoluir sua própria opinião sobre o assunto. Os textos<br />

<strong>de</strong>vem conter abertura (resumo), título, nome e breve apresentação<br />

do(s) autor(es). Tamanho máximo <strong>de</strong> 11.000 caracteres com espaço<br />

(~1.800 palavras).<br />

Memória: textos sobre aspectos pouco difundidos da história do CAp<br />

ou da educação. Devem ser pouco técnicos, <strong>de</strong>stacando o contexto da<br />

época e as personagens envolvidas. Devem conter abertura (resumo),<br />

nome e breve apresentação do(s) autor(es), título e ilustrações.<br />

Tamanho i<strong>de</strong>al: 7.500 caracteres com espaço (~1.200 palavras).<br />

Resenhas: apresentação crítica <strong>de</strong> um livro ou outro produto cultural<br />

<strong>de</strong> interesse. Não <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>screver a obra em <strong>de</strong>talhes, mas apontar<br />

sua relevância no contexto do ensino. Os textos <strong>de</strong>vem conter os<br />

dados da obra analisada (título, autor, custo, etc.), bem como o nome<br />

e ocupação do(s) autor(es). Tamanho i<strong>de</strong>al: 3.800 caracteres com<br />

espaço (~600 palavras).<br />

Entrevista: (a cargo da redação) relato <strong>de</strong> perguntas e respostas em<br />

bate-papo com figuras <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque sobre temas relevantes para a<br />

escola, para o ensino <strong>de</strong> disciplinas ou para a educação em geral.<br />

Notas: eventos <strong>de</strong> interesse ocorridos ao longo dos seis meses<br />

prévios à edição da revista. Devem ser sintéticas e informativas (~90<br />

palavras).<br />

OUTRAS INFORMAÇÕES<br />

As opções <strong>de</strong> formatação adotadas pela revista para a edição dos<br />

textos e outros <strong>de</strong>talhes (p. ex., envio <strong>de</strong> imagens), po<strong>de</strong>m ser<br />

obtidas pelo e-mail: perspectiva@cap.ufrj.br.<br />

Os autores ce<strong>de</strong>m automaticamente os direitos autorais <strong>de</strong> seus<br />

textos para sua publicação na edição correspon<strong>de</strong>nte da revista e<br />

em eventuais coletâneas posteriores. Após a publicação, sugere-se<br />

que quando veiculados em outros meios o(s) autor(es) cite(m) a<br />

publicação em perspectiva capiana como fonte primária:<br />

‘Este artigo foi publicado originalmente em perspectiva<br />

capiana (v. n, n° n, p. n)’.<br />

Todos os autores <strong>de</strong> artigos e da seção Construindo Pontes recebem<br />

8 edições da revista em que foram publicados seus artigos para<br />

distribuição própria. Autores <strong>de</strong> outras seções recebem 5 edições.<br />

ENVIO DE TEXTOS<br />

Todos os textos e anexos <strong>de</strong>vem ser enviados por e-mail para a redação<br />

(perspectiva@cap.ufrj.br) <strong>de</strong>ntro dos prazos <strong>de</strong> fechamento das<br />

edições (até 31/5 para as edições ímpares; até 31/10 para as edições<br />

pares).<br />

Textos recebidos após a data <strong>de</strong> fechamento ou fora do formato<br />

requerido para publicação possivelmente só serão consi<strong>de</strong>rados para<br />

publicação na edição seguinte.


<strong>Colégio</strong> <strong>de</strong> <strong>Aplicação</strong><br />

CAp-<strong>UFRJ</strong><br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro – <strong>UFRJ</strong>

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