de Artes Visuais - Colégio de Aplicação - UFRJ
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Novas Mídias<br />
animam o Ensino<br />
<strong>de</strong> <strong>Artes</strong> <strong>Visuais</strong>
Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />
Reitor<br />
Aloísio Teixeira<br />
Vice-reitora<br />
Sylvia da Silveira <strong>de</strong> Mello Vargas<br />
Pró-reitor <strong>de</strong> Graduação<br />
José Roberto Meyer Fernan<strong>de</strong>s<br />
Pró-reitor <strong>de</strong> Ensino para Graduados e Pesquisa<br />
José Luiz Fontes Monteiro<br />
Pró-reitor <strong>de</strong> Planejamento e Desenvolvimento<br />
Carlos Antonio Levi da Consceição<br />
Pró-reitor <strong>de</strong> Pessoal<br />
Luiz Afonso Henriques Mariz<br />
Pró-reitor <strong>de</strong> Extensão<br />
Laura Tavares Ribeiro Soares<br />
Centro <strong>de</strong> Filosofia e Ciências Humanas<br />
Decano<br />
Marcelo Macedo Corrêa e Castro<br />
<strong>Colégio</strong> <strong>de</strong> <strong>Aplicação</strong><br />
Diretoria Geral<br />
Celina Maria <strong>de</strong> Sousa Costa<br />
Vice-Diretora<br />
Miriam Abduiche Kaiuca<br />
Diretores Adjuntos <strong>de</strong> Ensino<br />
Ângela Alves da Fonseca<br />
Marcelo da Silva Bueno<br />
Mario Jacinto Ferraro Junior<br />
Rowilson Aparecido da Silva<br />
Diretores Adjuntos <strong>de</strong> Licenciatura, Pesquisa e Extensão<br />
Fábio Garcez <strong>de</strong> Carvalho<br />
Maria Luiza Mesquita da Rocha<br />
JORNALISTA RESPONSÁVEL<br />
Maira da Costa<br />
......<br />
EDITOR<br />
Beto Pimentel<br />
......<br />
ASSISTENTES DE PRODUÇÃO<br />
Maria Cecília Cardoso<br />
Maria <strong>de</strong> Fátima Galvão<br />
......<br />
PRODUÇÃO GRÁFICA<br />
Raphael Borges<br />
Jandê Saavedra Farias<br />
Bruna Provenzano<br />
Isabel Xavier<br />
......<br />
FOTOGRAFIA<br />
Silmar Marques<br />
......<br />
REVISÃO<br />
Teresa Andra<strong>de</strong><br />
......<br />
APOIO<br />
Sandra Bragatto, Malu Rocha e Fábio<br />
Garcez (DALPE)<br />
Márcia Carnaval e Patrícia Perez<br />
(Assessoria <strong>de</strong> Comunicação da<br />
Reitoria da <strong>UFRJ</strong>)<br />
Fundação Universitária José Bonifácio<br />
(FUJB)<br />
......<br />
IMPRESSÃO<br />
Gráfica Cruzada<br />
......<br />
CONSULTORES TÉCNICOS<br />
José Augusto Fialho (<strong>Artes</strong> <strong>Visuais</strong>)<br />
Maria Lucia Pupo (<strong>Artes</strong> Cênicas)<br />
Rosa Gens (Literatura)<br />
5<br />
11<br />
17<br />
19<br />
23<br />
27<br />
34<br />
39<br />
Entrevista<br />
Aloísio Teixeira<br />
<strong>Artes</strong> <strong>Visuais</strong><br />
Novas Tecnologias e<br />
o Ensino <strong>de</strong> <strong>Artes</strong> <strong>Visuais</strong><br />
por Fátima Vollú<br />
História<br />
Histórias em Curso<br />
por Américo Freire<br />
Construindo Pontes<br />
“O Convidado”:<br />
Anotações <strong>de</strong> um percurso<br />
por Ana Lucia <strong>de</strong> Almeida Soutto Mayor,<br />
Andrea Pinheiro e<br />
Brunella Provvi<strong>de</strong>nte<br />
Opinião<br />
Filosofia no Ensino Médio<br />
por Lia Guarino<br />
Sem Fronteiras<br />
O Cérebro em Transformação<br />
por Suzana Herculano-Houzel<br />
resenha por Filipe Porto<br />
Memória<br />
Histórico <strong>de</strong> Criação do CAp-<strong>UFRJ</strong><br />
por Izabel Goudart<br />
Notas<br />
Aconteceu no 1º semestre
Caro Leitor<br />
Este é o primeiro número <strong>de</strong> PERSPECTIVA. Mais do que uma revista, é um sonho antigo do CAp-<strong>UFRJ</strong><br />
que se realiza. Com PERSPECTIVA nasce um veículo para registrar a inventivida<strong>de</strong> e as realizações <strong>de</strong> nossos<br />
profissionais e estudantes, resgatar a história do CAp-<strong>UFRJ</strong>, sua relação com a universida<strong>de</strong> e com a comunida<strong>de</strong>,<br />
trazendo novas abordagens a temas <strong>de</strong> interesse para o corpo acadêmico da escola.<br />
Neste número inaugural você encontrará um artigo da professora Fátima Vollú, do Setor Curricular <strong>de</strong> <strong>Artes</strong><br />
<strong>Visuais</strong> do CAp-<strong>UFRJ</strong>, traçando uma retrospectiva dos resultados alcançados por um dos projetos pedagógicos<br />
mais interessantes e menos divulgados do colégio, o projeto Meios <strong>de</strong> Comunicação Audiovisuais: Novas<br />
Tecnologias e Educação, que usa recursos multimídia e animação para trabalhar a leitura <strong>de</strong> imagens em movimento<br />
e o uso <strong>de</strong> novas tecnologias em vários níveis com alunos <strong>de</strong> diferentes faixas etárias.<br />
O professor Américo Freire, do Setor Curricular <strong>de</strong> História do CAp-<strong>UFRJ</strong>, fala sobre os <strong>de</strong>senvolvimentos <strong>de</strong> seu<br />
projeto História em Curso. Nesse texto você vai acompanhar as preocupações em construir e manter atualizado um<br />
material didático <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> numa área sujeita a constantes revisões em função da pesquisa mais atual, e a atenção<br />
do autor em manter o contato com os professores que usam o material em sala <strong>de</strong> aula.<br />
A seção Construindo Pontes é inaugurada pelo relato da costura <strong>de</strong> teatro e literatura feita <strong>de</strong>ntro do projeto “Arte<br />
e Saú<strong>de</strong>”, em parceria com a FIOCRUZ. Assinam o texto as professoras do CAp-<strong>UFRJ</strong> Andrea Pinheiro e Ana<br />
Lucia Soutto Mayor, respectivamente dos Setores Curriculares <strong>de</strong> <strong>Artes</strong> Cênicas e Língua Portuguesa, bem como<br />
Brunella Provvi<strong>de</strong>nte, graduanda do curso <strong>de</strong> direção teatral da <strong>UFRJ</strong>.<br />
Na seção Opinião, um ensaio da professora Lia Guarino, <strong>de</strong> Filosofia, não nos <strong>de</strong>ixa escapar à questão – atualíssima<br />
– das aulas <strong>de</strong> filosofia no Ensino Médio. Afinal, por que nossos alunos precisam apren<strong>de</strong>r filosofia?<br />
Já a seção Sem Fronteiras traz como autora convidada a neurocientista Suzana Herculano-Houzel, que discorre<br />
sobre as transformações que acontecem no cérebro no período da adolescência. Aparentemente, nem só <strong>de</strong><br />
hormônios vive o adolescente. E, por incrível que pareça, é ótimo e essencial que os adolescentes sejam do jeito<br />
que são. Acompanha uma excelente resenha do último livro da pesquisadora sobre o tema, feita pelo professor<br />
Filipe Porto, do Setor Curricular <strong>de</strong> Biologia do CAp-<strong>UFRJ</strong>.<br />
A professora Izabel Goudart, do Setor Curricular <strong>de</strong> Química, nos leva <strong>de</strong> volta ao final da década <strong>de</strong> 1940 e às<br />
pessoas e idéias que levaram à criação do CAp-<strong>UFRJ</strong>, na seção Memória. A seguir a seção Notas, uma espécie <strong>de</strong><br />
memória <strong>de</strong> curto prazo, busca registrar alguns dos eventos importantes que aconteceram na escola ao longo do<br />
primeiro semestre <strong>de</strong> 2006.<br />
Finalmente, a seção Entrevista <strong>de</strong>buta com um bate-papo com Aloísio Teixeira, atual reitor da <strong>UFRJ</strong>. Aloísio fala<br />
sobre a universida<strong>de</strong>, a sua administração e, como não podia <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser, sobre como ele vê o papel do CAp na<br />
universida<strong>de</strong>.<br />
Agora, leitor, é com você. Leia, escreva, man<strong>de</strong> sua contribuição para a gente. Veja também o seu trabalho em<br />
PERSPECTIVA.<br />
Beto Pimentel<br />
editor<br />
perspectiva@cap.ufrj.br<br />
Aloísio Teixeira<br />
PERSPECTIVA: Como é que o Sr. avalia a<br />
sua gestão na reitoria da <strong>UFRJ</strong> até agora?<br />
Aloísio Teixeira: Acho que algumas<br />
coisas na universida<strong>de</strong> melhoraram nesse<br />
período. Talvez a coisa mais importante<br />
que todos nós tenhamos conquistado nesse<br />
período é um clima <strong>de</strong> paz. Quem viveu<br />
a universida<strong>de</strong> nos últimos vinte anos há<br />
<strong>de</strong> se lembrar que nós vivíamos enredados<br />
em conflitos, em diferenças que não se<br />
resolviam, e que isso muitas vezes criava um<br />
ambiente prejudicial ao <strong>de</strong>senvolvimento<br />
das idéias e à discussão dos problemas. O<br />
agravamento <strong>de</strong>sses conflitos no período<br />
<strong>de</strong> 1998 a 2002 levou a universida<strong>de</strong> a<br />
tomar uma consciência mais aguda e mais<br />
clara <strong>de</strong> que era preciso superar aquela<br />
situação. Hoje, nós po<strong>de</strong>mos conviver com<br />
as nossas diferenças, sabendo que elas são<br />
apenas diferenças <strong>de</strong> opinião, e do embate<br />
entre essas diferenças <strong>de</strong>verá resultar uma<br />
universida<strong>de</strong> melhor. É claro que parte<br />
disso se <strong>de</strong>ve ao trabalho que a gente está<br />
fazendo, e parte eu acho que se <strong>de</strong>ve ao<br />
esforço que a própria universida<strong>de</strong> faz.<br />
Gran<strong>de</strong>s estruturas, gran<strong>de</strong>s problemas. O lema não <strong>de</strong>ve ser estranho<br />
ao professor <strong>de</strong> economia Aloísio Teixeira, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2003 à frente da maior<br />
universida<strong>de</strong> fe<strong>de</strong>ral brasileira. Sereno e bem-disposto o suficiente para<br />
<strong>de</strong>scartar o elevador e subir os dois lances <strong>de</strong> escada do prédio da Reitoria<br />
no campus da ilha do Fundão, Aloísio recebeu PERSPECTIVA em seu gabinete<br />
e conversou sobre a sua gestão, a <strong>UFRJ</strong> e o papel do CAp.<br />
agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1
6<br />
PERSPECTIVA: Como isso foi conseguido?<br />
Aloísio: Isso se <strong>de</strong>ve, em gran<strong>de</strong> medida, à busca<br />
<strong>de</strong> um novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> gestão e ao esforço que nós<br />
temos feito <strong>de</strong> tornar absolutamente regular a vida<br />
institucional da universida<strong>de</strong>. Os conselhos superiores<br />
da universida<strong>de</strong> têm se reunido com absoluta<br />
regularida<strong>de</strong>. Nós não per<strong>de</strong>mos nenhuma reunião<br />
do Conselho Universitário que, ao contrário do que<br />
fora no período <strong>de</strong> 1998 a 2002, se tornou um órgão<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>liberação superior da universida<strong>de</strong>. O Conselho<br />
Superior <strong>de</strong> Coor<strong>de</strong>nação Executiva (CSCE), que reúne<br />
os pró-reitores e <strong>de</strong>canos, durante muitos anos sequer<br />
se reunia. Temos também, como reza o regimento,<br />
reunido o CSCE <strong>de</strong> 15 em 15 dias. Ele cumpre as<br />
suas funções regimentais e tem funcionado como um<br />
conselho consultivo da reitoria. Todas as principais<br />
questões políticas e administrativas da universida<strong>de</strong><br />
são levadas à discussão no CSCE para que o reitor<br />
possa <strong>de</strong>cidir, apoiado num conjunto <strong>de</strong> opiniões<br />
mais amplo. O CEG e o CEPEG regularizaram sua<br />
vida institucional e têm funcionado normalmente.<br />
“<br />
Talvez a coisa mais im-<br />
”<br />
portante que todos nós<br />
tenhamos conquistado<br />
nesse período é um<br />
clima <strong>de</strong> paz.<br />
Também nessa linha, acho que é uma conquista o fato<br />
<strong>de</strong> a gente ter aberto espaços novos <strong>de</strong> <strong>de</strong>bates. Um<br />
<strong>de</strong>les é o que a gente chama <strong>de</strong> Fórum <strong>de</strong> Decanos<br />
e Diretores. Ele não é um órgão ou uma instância<br />
regimental da universida<strong>de</strong>, mas nós o temos reunido<br />
na última segunda-feira <strong>de</strong> cada mês – todos os<br />
meses praticamente, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a posse. Todas as questões<br />
importantes da universida<strong>de</strong> são discutidas nesse<br />
fórum. Ele não <strong>de</strong>libera, mas obviamente influi<br />
po<strong>de</strong>rosamente na formação da opinião da reitoria<br />
sobre os problemas da <strong>UFRJ</strong>.<br />
agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />
Outra iniciativa é a reitoria itinerante. Duas vezes<br />
por mês o reitor, a vice-reitora, pró-reitores e<br />
superinten<strong>de</strong>ntes vão às unida<strong>de</strong>s para conhecer ao vivo<br />
os problemas que a comunida<strong>de</strong> enfrenta. O objetivo<br />
é resolver o que for possível e compartilhar a angústia<br />
dos problemas que não po<strong>de</strong>m ser resolvidos. Isso gera<br />
uma aproximação muito maior entre a administração<br />
central e as unida<strong>de</strong>s. Outra coisa importante nessa<br />
linha <strong>de</strong> novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> gestão é o orçamento. O<br />
estatuto da <strong>UFRJ</strong> estabelecia como atribuição do<br />
Conselho aprovar o orçamento e isso nunca ocorreu.<br />
Eu fui membro do Conselho Universitário durante<br />
quatro anos e jamais se discutiu o orçamento. Hoje nós<br />
temos um orçamento que é discutido nas unida<strong>de</strong>s,<br />
nos centros, no CSCE, na plenária <strong>de</strong> <strong>de</strong>canos e<br />
diretores e aprovado pelo Conselho Universitário.<br />
Esse ano, ainda provavelmente na próxima reunião do<br />
Conselho Universitário, nós levaremos a prestação <strong>de</strong><br />
contas do orçamento <strong>de</strong> 2005. Isso é inédito, nunca foi<br />
feita uma prestação <strong>de</strong> contas na Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral<br />
do Rio <strong>de</strong> Janeiro. Essa é uma obrigação do gestor<br />
público, porque a gente lida com recursos públicos,<br />
se compromete a usá-los <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um orçamento<br />
que é aprovado e temos que prestar contas do que<br />
fazemos. Nós tivemos outras iniciativas importantes:<br />
criamos o <strong>Colégio</strong> <strong>de</strong> Altos Estudos da <strong>UFRJ</strong>, que<br />
está sendo implementado. Retomamos também um<br />
programa amplo <strong>de</strong> conservação e manutenção dos<br />
nossos imóveis. Apesar da escassez <strong>de</strong> recursos várias<br />
obras estão sendo feitas.<br />
Ainda na área <strong>de</strong> gestão financeira, eu acho auspicioso<br />
que nós tenhamos praticamente dobrado nosso<br />
orçamento <strong>de</strong> custeio. Quando eu assumi em 2003 o<br />
orçamento era <strong>de</strong> 47 milhões <strong>de</strong> reais, e em 2006 ele<br />
vai ser <strong>de</strong> 92 milhões <strong>de</strong> reais. Isso é uma conquista<br />
da universida<strong>de</strong> e uma prova da força e do prestígio<br />
que a universida<strong>de</strong> hoje tem na socieda<strong>de</strong> como um<br />
todo. Na área <strong>de</strong> pessoal, nós tínhamos uma herança<br />
maldita: centenas <strong>de</strong> processos que dizem respeito<br />
à situação funcional <strong>de</strong> nossos servidores estavam<br />
parados na <strong>UFRJ</strong>. Nós temos limpado essa pauta,<br />
restabelecendo direitos que haviam sido usurpados<br />
<strong>de</strong> nossos funcionários, e estamos lutando para<br />
resolver aqueles que ainda estão pen<strong>de</strong>ntes. E uma<br />
coisa também muito importante é o novo papel que<br />
a extensão tem na universida<strong>de</strong>. Nos últimos anos<br />
os programas <strong>de</strong> extensão eram quase que iniciativas<br />
isoladas nas unida<strong>de</strong>s, e hoje nós temos, ou estamos<br />
construindo, uma política <strong>de</strong> extensão na <strong>UFRJ</strong>,<br />
envolvendo ou gerando sinergia entre as várias<br />
unida<strong>de</strong>s. Então eu diria que em tudo quanto é frente<br />
tem novida<strong>de</strong>; nós estamos avançando. São pequenas<br />
conquistas que mostram que a universida<strong>de</strong> está se<br />
movendo.<br />
“<br />
...<strong>de</strong>liberamos recriar<br />
”<br />
uma outra modalida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> bolsa que atinge<br />
particularmente o<br />
CAp, que são as bolsas<br />
<strong>de</strong> licenciatura.<br />
PERSPECTIVA: Como tem sido o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> gerir a<br />
<strong>UFRJ</strong> com todas as suas idiossincrasias?<br />
Aloísio: É extremamente cansativo, porque<br />
a universida<strong>de</strong> é muito gran<strong>de</strong>, ela é dispersa<br />
geograficamente, os problemas acumulados ao<br />
longo das últimas décadas são enormes. Apesar <strong>de</strong><br />
ter a consciência <strong>de</strong> que resta muita coisa a fazer, eu<br />
estou satisfeito com o trabalho que nós temos feito<br />
na reitoria. É claro que falando pessoalmente há um<br />
preço a pagar. Não dá para ter uma vida acadêmica<br />
normal e ser reitor. Estou afastado da pesquisa e sem<br />
conseguir dar um curso por ano, e isso me faz falta.<br />
Eu gosto <strong>de</strong> dar aula, é um momento em que você<br />
troca, oxigena a cabeça; então é um preço a pagar.<br />
Mas eu acho que pelo menos por enquanto tem valido<br />
a pena pagar esse preço.<br />
PERSPECTIVA: Que melhorias a sua gestão trouxe<br />
para os alunos da universida<strong>de</strong>?<br />
Aloísio: Eu <strong>de</strong>stacaria, no âmbito das políticas voltadas<br />
para os estudantes, a expansão do programa <strong>de</strong> bolsas<br />
da <strong>UFRJ</strong>. A universida<strong>de</strong> no passado chegou a ter um<br />
programa mais amplo <strong>de</strong> bolsas <strong>de</strong> graduação, mas nos<br />
últimos anos esse programa foi se <strong>de</strong>sconstituindo, e<br />
as únicas bolsas que nós ainda tínhamos eram as bolsas<br />
<strong>de</strong> iniciação científica. Quando o Lessa foi reitor, ele<br />
criou um programa <strong>de</strong> bolsas <strong>de</strong> apoio aos estudantes<br />
<strong>de</strong> famílias <strong>de</strong> renda mais baixa, e nós expandimos isso.<br />
Hoje, nós triplicamos o valor que nós <strong>de</strong>sembolsamos<br />
a cada ano para os estudantes e a imensa maioria dos<br />
recursos está sendo encaminhada para os estudantes<br />
<strong>de</strong> graduação. Além das bolsas <strong>de</strong> iniciação científica,<br />
nós recriamos o programa <strong>de</strong> bolsas <strong>de</strong> iniciação<br />
artística e cultural e as bolsas <strong>de</strong> monitoria, que já<br />
não existiam mais, além <strong>de</strong> bolsas para os estudantes<br />
alojados e bolsas para os alunos <strong>de</strong> baixa renda.<br />
Também <strong>de</strong>liberamos recriar uma outra modalida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> bolsa que atinge particularmente o CAp, que são as<br />
bolsas <strong>de</strong> licenciatura. Po<strong>de</strong>mos nos orgulhar hoje <strong>de</strong><br />
ter o maior e mais abrangente programa <strong>de</strong> bolsas das<br />
universida<strong>de</strong>s fe<strong>de</strong>rais brasileiras. Também na área da<br />
pós-graduação e da pesquisa eu acho que nós temos<br />
feito alguns avanços. A pesquisa e a pós-graduação<br />
da <strong>UFRJ</strong> são <strong>de</strong> excelente qualida<strong>de</strong>. Nós temos 25<br />
programas <strong>de</strong> pós-graduação <strong>de</strong> conceito 6 e 7 na<br />
CAPES, o que nos dá uma posição <strong>de</strong> vanguarda no<br />
contexto das universida<strong>de</strong>s brasileiras. A <strong>UFRJ</strong> tem<br />
concorrido numa posição institucional, reunindo os<br />
vários programas <strong>de</strong> pós-graduação para que eles<br />
disputem juntos a obtenção <strong>de</strong> recursos.<br />
PERSPECTIVA: E o futuro da <strong>UFRJ</strong>?<br />
Aloísio: Nós estamos abrindo uma discussão sobre um<br />
plano <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento estratégico da <strong>UFRJ</strong> para<br />
um horizonte <strong>de</strong> 5 anos. Nesse plano nós fazemos um<br />
diagnóstico dos nossos problemas e propomos linhas<br />
<strong>de</strong> ação que buscam superar essas dificulda<strong>de</strong>s.<br />
PERSPECTIVA: Como foi a história da sua gestão<br />
com relação ao CAp?<br />
Aloísio: O CAp tem uma história, e eu olho essa<br />
história com um olhar <strong>de</strong> quem quer tornar o CAp<br />
cada vez mais parte integrante da nossa universida<strong>de</strong>.<br />
No passado, o CAp não tinha sequer orçamento. Em<br />
agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />
7
2005, ele conseguiu não só ajudar na elaboração do<br />
orçamento participativo, como, <strong>de</strong>ntro da escassez<br />
<strong>de</strong> recursos <strong>de</strong>sse momento, ser aquinhoado com<br />
uma parcela razoável <strong>de</strong> recursos. Esse ano, foi um<br />
momento <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong> quando vimos que o CAp<br />
era uma das unida<strong>de</strong>s que ia receber um dos maiores<br />
volumes <strong>de</strong> recursos.<br />
PERSPECTIVA: Como o Sr. analisa a atuação do<br />
CAp?<br />
Aloísio: Qual é o problema que a gente tem? O CAp<br />
foi criado no âmbito da antiga Faculda<strong>de</strong> Nacional<br />
<strong>de</strong> Filosofia. A Faculda<strong>de</strong> Nacional <strong>de</strong> Filosofia foi<br />
um projeto interessante dos anos 40. A proposta<br />
era que a Faculda<strong>de</strong> pu<strong>de</strong>sse ser o gran<strong>de</strong> elemento<br />
integrador <strong>de</strong> uma universida<strong>de</strong> que já naquela época<br />
– e até hoje – era extremamente fragmentada. Todos<br />
os estudantes que ingressavam na Universida<strong>de</strong> do<br />
Brasil o fariam pela Faculda<strong>de</strong> Nacional <strong>de</strong> Filosofia.<br />
Ali eles receberiam uma formação básica e seriam,<br />
alguns, encaminhados para as escolas <strong>de</strong> formação<br />
profissional, enquanto outros permaneceriam lá para se<br />
formarem professores <strong>de</strong> ensino secundário. Aqueles<br />
que tivessem vocação para a pesquisa permaneceriam<br />
ali para fazer seus bacharelados e <strong>de</strong>pois suas pósgraduações.<br />
Esse projeto não <strong>de</strong>u certo. A visão<br />
restrita dos dirigentes universitários daquela época,<br />
que tinham – e muitos ainda têm – uma visão<br />
proprietária <strong>de</strong> seus espaços, impediu que <strong>de</strong>sse certo.<br />
As pessoas acham que são proprietárias dos espaços,<br />
das salas, dos professores e dos alunos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que<br />
fazem o vestibular até que recebem o canudo, e não<br />
queriam essa estrutura mais integrada. De qualquer<br />
forma, a Faculda<strong>de</strong> Nacional <strong>de</strong> Filosofia ficou sendo<br />
apenas mais uma unida<strong>de</strong> nesse contexto, com a<br />
função <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> professores. O CAp foi criado<br />
no âmbito da Faculda<strong>de</strong> Nacional <strong>de</strong> Filosofia para<br />
ser uma espécie, digamos assim, <strong>de</strong> laboratório das<br />
licenciaturas. Você teria ali os licenciandos fazendo os<br />
seus estágios, a sua prática <strong>de</strong> ensino, se envolvendo<br />
com as ativida<strong>de</strong>s didáticas e com novos métodos<br />
pedagógicos. Novas técnicas e novas concepções <strong>de</strong><br />
ensino seriam <strong>de</strong>senvolvidas. Quando a Faculda<strong>de</strong><br />
Nacional <strong>de</strong> Filosofia acabou e foram criados os<br />
institutos, o CAp ficou inicialmente ligado à Faculda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Educação. Enquanto isso, os institutos foram<br />
“<br />
Pensar o CAp é, na verda<strong>de</strong>,<br />
”<br />
pensar a <strong>UFRJ</strong> naquilo que é<br />
uma <strong>de</strong> suas ativida<strong>de</strong>s mais<br />
importantes: a formação <strong>de</strong><br />
professores.<br />
cada um para um lado, criaram as suas licenciaturas,<br />
geraram suas pedagogias específicas, com didáticas<br />
específicas <strong>de</strong> suas áreas <strong>de</strong> conhecimento. Nos<br />
anos 80 o CAp se tornou ele mesmo uma unida<strong>de</strong><br />
in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte. Recuperar essa história é importante<br />
para nós pensarmos o que é que a gente quer do CAp.<br />
Imaginar que se possa voltar à Faculda<strong>de</strong> Nacional <strong>de</strong><br />
Filosofia é impossível. Eu lembro que, quando eu entrei<br />
na universida<strong>de</strong>, a Faculda<strong>de</strong> Nacional <strong>de</strong> Filosofia<br />
tinha 700 alunos. Hoje, nenhum instituto que tenha<br />
licenciatura tem 700 alunos. Todos têm duas vezes,<br />
três vezes isso. Como é que a gente po<strong>de</strong> imaginar<br />
que o CAp, com suas limitações atuais, <strong>de</strong> quadro <strong>de</strong><br />
professores, <strong>de</strong> espaço físico, <strong>de</strong> equipamentos, etc.,<br />
possa dar conta <strong>de</strong>sse universo? Então está posto<br />
um <strong>de</strong>safio, para a universida<strong>de</strong> e para o CAp, que é<br />
pensar o seu futuro numa universida<strong>de</strong> nova. Pensar o<br />
CAp é, na verda<strong>de</strong>, pensar a <strong>UFRJ</strong> naquilo que é uma<br />
<strong>de</strong> suas ativida<strong>de</strong>s mais importantes: a formação <strong>de</strong><br />
professores. Eu imagino que a gente <strong>de</strong>va caminhar<br />
para ter uma instância na universida<strong>de</strong> para conversar,<br />
<strong>de</strong>liberar, planejar e implantar as práticas didáticas e<br />
pedagógicas reunindo saberes que hoje estão dispersos<br />
na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Educação, nos institutos e no CAp.<br />
E nesse sentido o CAp se reintegra, num espírito <strong>de</strong><br />
convergência, em um nível superior áquele que a<br />
gente tem vivido até hoje.<br />
“<br />
Uma questão subjacente a<br />
”<br />
esta integração é acabar<br />
com a separação que hoje<br />
opõe os professores do CAp<br />
aos professores do nível<br />
superior.<br />
PERSPECTIVA: Nesse quadro qual seria o papel do<br />
CAp?<br />
Aloísio: É claro que ele tem que ter um papel, ele<br />
tem que se expandir. E eventualmente o espaço em<br />
que ele está localizado é limitado para isso. A gente<br />
po<strong>de</strong> imaginar realocá-lo para um espaço melhor,<br />
po<strong>de</strong> imaginar que a partir do CAp possamos ter<br />
outros CAps. Uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> CAps com coor<strong>de</strong>nações<br />
interligadas, para que não se perca a imensa qualida<strong>de</strong><br />
do trabalho que se faz no CAp. Ele tem que dar conta<br />
<strong>de</strong>ssa missão em relação às nossas licenciaturas, que<br />
a gente quer que se expanda, e ser um laboratório<br />
<strong>de</strong> ensino <strong>de</strong> nível básico. Ele tem que ser parte<br />
do esforço da universida<strong>de</strong> se integrar na nova<br />
concepção do que seja a formação <strong>de</strong> professores<br />
<strong>de</strong> nível básico, inclusive da formação continuada.<br />
Não se trata apenas da licenciatura, mas também <strong>de</strong><br />
manter um contato permanente com os professores<br />
que exercitam sua profissão para que eles possam se<br />
capacitar continuamente. Há uma questão subjacente<br />
a esta integração que é acabar com a separação que<br />
hoje opõe os professores do CAp, os professores do<br />
nível básico, aos professores “da universida<strong>de</strong>”, os<br />
professores do nível superior. Eu acho que a gente<br />
acabar com essa dicotomia po<strong>de</strong> ser útil nesse esforço<br />
<strong>de</strong> integração. Os professores do CAp são, em sua<br />
maioria, Dedicação Exclusiva, isto é, têm uma inserção<br />
completa na universida<strong>de</strong>, são qualificados, titulados,<br />
fazem pesquisa. É bem-vinda esta integração.<br />
PERSPECTIVA: O Sr. mencionou o papel do CAp na<br />
formação <strong>de</strong> professores e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> integração.<br />
Algumas pessoas da escola <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m a idéia <strong>de</strong> que<br />
se possa fazer uma pós-graduação ligada a ensino no<br />
CAp. Você vê isso como um papel também <strong>de</strong>ntro da<br />
formação continuada?<br />
Aloísio: Eu nunca pensei nisso, nem a questão foi<br />
trazida, mas eu acho que a gente po<strong>de</strong> pensar nisso.<br />
Claro que po<strong>de</strong> pensar. E isso seria extremamente<br />
facilitado se a gente encontrasse uma outra<br />
configuração para a questão. Eu acho que é uma<br />
proposta que a gente vai ter que discutir, se ela vier a<br />
ser formulada. Já há envolvimento dos professores do<br />
CAp em algumas práticas, experiências e iniciativas <strong>de</strong><br />
formação continuada <strong>de</strong> qualificação <strong>de</strong> professores.<br />
agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1 agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1
10<br />
PERSPECTIVA: O Sr. vê a chance <strong>de</strong> realmente<br />
algum dia ter um prédio do CAp, ou vários prédios<br />
do CAp? Essa é uma questão eterna para a escola.<br />
Aloísio: Eu acho que a pergunta é cabível. A história<br />
da universida<strong>de</strong> é uma história <strong>de</strong> fragmentação,<br />
que faz com que nós valorizemos muito esta cultura<br />
proprietária. Eu tenho que ter o meu prédio. No caso<br />
do CAp é até compreensível pela especificida<strong>de</strong> do<br />
trabalho que se faz. Mas não é só o CAp que quer<br />
ter um prédio só <strong>de</strong>le. Várias unida<strong>de</strong>s que acham<br />
que são apenas hóspe<strong>de</strong>s em prédios que não são<br />
<strong>de</strong>las almejam possuir prédios próprios. Eu acho que<br />
a gente <strong>de</strong>via avançar na universida<strong>de</strong> para superar<br />
essa cultura proprietária e <strong>de</strong>senvolver, digamos,<br />
uma cultura comunitária. Os prédios e salas <strong>de</strong> aula<br />
po<strong>de</strong>m ser comuns. É benéfico que os estudantes<br />
<strong>de</strong> letras, <strong>de</strong> matemática, <strong>de</strong> história convivam. É<br />
benéfico que os professores <strong>de</strong>ssas áreas convivam<br />
entre si. É importante que a gente tenha espaços<br />
comuns. Os projetos que nós estamos discutindo<br />
buscam integração e convergências. Antes do<br />
prédio e da localização do prédio é mais importante<br />
“<br />
Estamos dispostos a<br />
”<br />
consi<strong>de</strong>rar a questão do<br />
espaço do CAp no âmbito <strong>de</strong><br />
um projeto acadêmico, e não<br />
como um projeto imobiliário.<br />
discutir o projeto acadêmico do CAp. Se a gente for<br />
se contentar em ter o CAp como um apêndice, um<br />
pequeno apêndice, ele po<strong>de</strong> estar ali, po<strong>de</strong> estar na<br />
Praia Vermelha, ele po<strong>de</strong> estar em qualquer lugar, ele é<br />
apenas um pequeno apêndice. Se o projeto for integrar<br />
e expandir o CAp como parte das ativida<strong>de</strong>s essenciais<br />
da universida<strong>de</strong> a questão já muda <strong>de</strong> figura. A reitoria<br />
está <strong>de</strong>cidida a examinar essa questão. Nós estamos<br />
agora inclusive numa batalha para conseguir um<br />
volume significativo <strong>de</strong> recursos para investimentos.<br />
Isso po<strong>de</strong> dar certo e po<strong>de</strong> não dar certo. Se <strong>de</strong>r<br />
certo, nós estamos dispostos a consi<strong>de</strong>rar a questão<br />
do espaço do CAp. Mas nós queremos consi<strong>de</strong>rá-la<br />
no âmbito <strong>de</strong> um projeto acadêmico, e não como um<br />
projeto imobiliário, digamos.<br />
agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />
PERSPECTIVA: Ainda assim, a reitoria está investindo<br />
na recuperação do prédio em que a gente está agora.<br />
Aloísio: Investir naquele prédio era necessário pelos<br />
efeitos <strong>de</strong> curto prazo. Não é porque um dia vai ter<br />
um prédio que a gente vai <strong>de</strong>ixar aquele lá cair. Então,<br />
isso era importante. Agora, nós enten<strong>de</strong>mos que<br />
aquele espaço tem limitações. Não é possível imaginar<br />
um crescimento do CAp, uma expansão do CAp nos<br />
limites daquele prédio: você não po<strong>de</strong> construir novos<br />
andares, você não po<strong>de</strong> construir novos pavilhões ali<br />
<strong>de</strong>ntro, então uma questão está posta.<br />
PERSPECTIVA: Como você vê o final do seu<br />
mandato?<br />
Aloísio: Eu acho que tem duas coisas importantes,<br />
e que estão interligadas. Se é verda<strong>de</strong> que nós<br />
conseguimos conquistar um ambiente <strong>de</strong> paz, em<br />
que as nossas diferenças po<strong>de</strong>m ser explicitadas sem<br />
que isso gere qualquer tipo <strong>de</strong> receio, perseguição ou<br />
coisa semelhante, então este é o momento para nós<br />
discutirmos a <strong>UFRJ</strong>. Para isso inclusive nós estamos<br />
distribuindo o PDI, que é um plano <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />
estratégico, para os próximos cinco anos, em que<br />
a gente procura formular um diagnóstico e uma<br />
proposta, ou algumas diretrizes para uma proposta<br />
para a <strong>UFRJ</strong>. A reitoria está acertando um calendário<br />
para ir a todas as congregações para discutir o PDI.<br />
Nós queremos que a discussão seja feita. Talvez<br />
seja possível nós obtermos recursos adicionais para<br />
investimentos que só serão obtidos e só serão eficazes<br />
se nós tivermos uma proposta acadêmica. A discussão<br />
po<strong>de</strong> nos fornecer os subsídios para a formulação <strong>de</strong><br />
um pedido <strong>de</strong> recursos adicionais para investimentos<br />
com os quais a gente pu<strong>de</strong>sse mudar a cara da <strong>UFRJ</strong><br />
efetivamente. A priorida<strong>de</strong> da reitoria nesses próximos<br />
meses será nessas duas direções. Claro, consolidar<br />
as conquistas que já fizemos, reforçá-las, mas abrir<br />
essa discussão sobre a universida<strong>de</strong> que queremos,<br />
e também, baseados nisso, tentar obter recursos<br />
adicionais para investimentos. Se a gente conseguir<br />
isso, aí po<strong>de</strong> ser que nós tenhamos um horizonte<br />
melhor para a <strong>UFRJ</strong> nos próximos anos.<br />
Aloísio Teixeira é doutor em economia<br />
e professor titular do Instituto <strong>de</strong><br />
Economia da <strong>UFRJ</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1993<br />
Novas Tecnologias<br />
e o Ensino <strong>de</strong> <strong>Artes</strong><br />
<strong>Visuais</strong><br />
Fátima Cristina Vollú<br />
Como as novas mídias po<strong>de</strong>m contribuir para o ensino <strong>de</strong> Arte a partir dos<br />
códigos visuais da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>? Como novas formas <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> imagem po<strong>de</strong>m<br />
ser trabalhadas na escola? De que forma <strong>de</strong>senvolver o conteúdo <strong>de</strong> <strong>Artes</strong> <strong>Visuais</strong><br />
no Ensino Fundamental e Médio a partir da observação e produção <strong>de</strong> filmes <strong>de</strong><br />
animação? Questões como estas, que enfatizam novas abordagens e metodologias no<br />
ensino da Arte, impulsionaram o <strong>de</strong>senvolvimento, no <strong>Colégio</strong> <strong>de</strong> <strong>Aplicação</strong> da <strong>UFRJ</strong>,<br />
do projeto Meios <strong>de</strong> Comunicação Audiovisuais: Novas Tecnologias e Educação, cujos<br />
resultados são apresentados neste artigo.<br />
agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />
11
12<br />
Anteriormente à criação do projeto Meios <strong>de</strong> Comunicação<br />
Audiovisuais: Novas Tecnologias e Educação em 1998,<br />
algumas experiências foram feitas com turmas <strong>de</strong> 8ª série<br />
do Ensino Fundamental em 1997. Um dos conteúdos do<br />
programa <strong>de</strong>sta série é “Tempo - Movimento e Ritmo”,<br />
envolvendo o movimento real e o ilusório na obra <strong>de</strong> arte.<br />
Foi <strong>de</strong>senvolvida, então, a unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino “Imagem em<br />
movimento”, tendo como ponto <strong>de</strong> partida a observação<br />
do filme <strong>de</strong> animação “Monalisa”, no qual pinturas do<br />
século XX ganham movimento e se transformam. Após<br />
o conhecimento <strong>de</strong> como se consegue o movimento <strong>de</strong><br />
imagens que a princípio são estáticas, os alunos escolheram<br />
uma ou duas pinturas <strong>de</strong> algum artista e o <strong>de</strong>safio era<br />
colocá-las em movimento. O resultado foi muito bom, por<br />
ter possibilitado a compreensão <strong>de</strong> como é realizado um<br />
filme <strong>de</strong> animação.<br />
A partir dos resultados obtidos, o projeto começou a ser<br />
estruturado pelas professoras Fátima Cristina Vollú da<br />
Silva Brito e Maria Cristina Miranda, do setor curricular<br />
<strong>de</strong> Arte <strong>Visuais</strong>, do <strong>Colégio</strong> <strong>de</strong> <strong>Aplicação</strong> da <strong>UFRJ</strong>.<br />
O projeto Meios <strong>de</strong> Comunicação Audiovisuais: Novas<br />
Tecnologias e Educação tem o olhar voltado para dois<br />
pontos: (1) discussão e investigação <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> uso das novas tecnologias na educação e, mais<br />
especificamente, no ensino <strong>de</strong> <strong>Artes</strong> <strong>Visuais</strong>; (2) produção<br />
<strong>de</strong> filmes <strong>de</strong> animação. As bibliografias referentes à imagem<br />
no ensino da Arte, à tecnologia educacional, ao cinema e<br />
ao cinema <strong>de</strong> animação constituem o embasamento teórico<br />
do projeto. Além da pesquisa feita pelos professores do<br />
projeto, bolsistas <strong>de</strong> Iniciação Artística e Cultural (IAC)<br />
foram orientados para o <strong>de</strong>senvolvimento das seguintes<br />
pesquisas, dando suporte teórico ao projeto: “Novas Mídias<br />
e a Tecnologia na Educação”; “A Imagem no Ensino da<br />
Arte”; “Tecnologia da Informação”; “A Linguagem<br />
da Animação: Como surgiu e Qual o seu Processo <strong>de</strong><br />
Criação”; e “O Cinema como Mídia Educativa”.<br />
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) sugerem<br />
uma abordagem ampliada em relação ao ensino <strong>de</strong> Arte<br />
na escola, começando pela terminologia <strong>Artes</strong> <strong>Visuais</strong>,<br />
ao invés <strong>de</strong> <strong>Artes</strong> Plásticas. Enquanto a última aborda<br />
agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />
diferentes linguagens das artes plásticas, como pintura,<br />
escultura, gravura e <strong>de</strong>senho, a primeira aborda também<br />
outras formas <strong>de</strong> expressão artística, como a fotografia, o<br />
cinema, o cinema <strong>de</strong> animação, a ví<strong>de</strong>o-arte e a computação<br />
gráfica. <strong>Artes</strong> <strong>Visuais</strong> aborda obras <strong>de</strong> museus e galerias<br />
<strong>de</strong> arte, passando pela estética do cotidiano (filmes,<br />
outdoors, espaço urbano, entre outros), possibilitando o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento intelectual, social, cultural e estético a<br />
partir <strong>de</strong> avanços tecnológicos mais recentes.<br />
A educação estética está ligada à educação da visão, à<br />
observação das imagens, o que permite a leitura do mundo<br />
através dos elementos das artes visuais. O envolvimento<br />
estético é um dos fatores relevantes na construção do<br />
conhecimento do aluno. Por este motivo, ele <strong>de</strong>ve ser<br />
estimulado a apreciar esteticamente e refletir sobre a arte<br />
produzida por artistas, bem como por ele e pelos colegas.<br />
A informação codificada através <strong>de</strong> imagens faz parte do<br />
dia-a-dia das pessoas. Este processo vem se intensificando<br />
cada vez mais com o passar do tempo e com mais facilida<strong>de</strong>,<br />
como presenciamos hoje com as máquinas fotográficas<br />
digitais, até mesmo embutidas em telefones celulares.<br />
As informações codificadas através <strong>de</strong> imagens estão<br />
presentes na escola, na TV e nos espaços públicos. Mas<br />
como os alunos po<strong>de</strong>m se tornar melhor <strong>de</strong>codificadores<br />
<strong>de</strong>ssas imagens, e também produtores? É necessária a<br />
apropriação da linguagem da imagem para que seu consumo<br />
e sua produção não beirem o limite da passivida<strong>de</strong>. A<br />
escola, ainda nos dias <strong>de</strong> hoje, ignorando o forte apelo<br />
das imagens continua priorizando a comunicação verbal e<br />
escrita e o ensino quase que exclusivamente por meio <strong>de</strong>la.<br />
A cultura da imagem precisa ser valorizada, relacionandoa<br />
à aquisição <strong>de</strong> códigos.<br />
A imagem po<strong>de</strong> ser vista a partir <strong>de</strong> dois pontos <strong>de</strong> vista: <strong>de</strong><br />
quem a produz e <strong>de</strong> quem a aprecia. O estudo da imagem<br />
Foto por Fátima Cristina Vollú<br />
abordado no ensino <strong>de</strong> artes visuais propicia experiências<br />
a partir <strong>de</strong>sses dois pontos. Para ambos é fundamental a<br />
construção do olhar do aluno, que se <strong>de</strong>senvolve a partir<br />
da leitura <strong>de</strong> imagens com base em aspectos estéticos,<br />
culturais, formais da arte, entre outros. É incontestável o<br />
po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong> uma imagem, o que faz com que<br />
ela seja utilizada muitas vezes com o objetivo <strong>de</strong> influenciar<br />
o comportamento e o consumo das pessoas – são imagens<br />
comerciais, com uma linguagem estereotipada, prontas<br />
para atingirem a parcela da população <strong>de</strong>sejada. Neste<br />
sentido uma educação em arte cumpre o papel <strong>de</strong> formar<br />
um observador mais crítico, que consiga <strong>de</strong>codificar as<br />
imagens às quais está exposto, seja no sentido formal, seja<br />
no conceitual.<br />
As imagens veiculadas pelos diferentes tipos <strong>de</strong> mídia com<br />
que as pessoas têm contato em seu dia-a-dia trazem em sua<br />
essência um discurso conceitual que <strong>de</strong>ve ser trabalhado a<br />
partir da estética e dos conteúdos das artes visuais. Um<br />
novo tipo <strong>de</strong> público, que não aceita qualquer produção<br />
sem refletir, forçaria uma mudança qualitativa na produção<br />
para o cinema, TV, internet, outdoor e livros escolares.<br />
A escola também <strong>de</strong>ve ter como objetivo que os alunos<br />
não se interessem apenas pelo consumo <strong>de</strong> filmes e<br />
imagens comerciais. Para isso, o aluno <strong>de</strong>ve ser estimulado<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> as primeiras séries <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> a observar filmes<br />
com uma linguagem não estereotipada, <strong>de</strong>senvolvendo<br />
um olhar crítico.<br />
Vários educadores apontam a importância da imagem<br />
em movimento (filmes e animações) para a educação.<br />
O cinema <strong>de</strong> animação como elemento educativo<br />
enfoca os objetivos do ensino da arte a partir <strong>de</strong> novas<br />
possibilida<strong>de</strong>s e abordagens para se trabalhar a imagem.<br />
O <strong>de</strong>senvolvimento da linguagem artística se apropria dos<br />
elementos das artes visuais, da linguagem da imagem em<br />
movimento e do conhecimento/domínio da tecnologia do<br />
cinema <strong>de</strong> animação.<br />
A escola tem avaliado a atual geração <strong>de</strong> alunos como<br />
totalmente <strong>de</strong>sinteressada e que não faz nada além<br />
<strong>de</strong> assistir TV e <strong>de</strong> jogar vi<strong>de</strong>ogames. É percebido no<br />
agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />
13
14<br />
cotidiano da escola que os alunos são atraídos pelas<br />
imagens em movimento, e esperam da escola também<br />
um ritmo intenso. Os alunos estão muito expostos à TV,<br />
ao computador, ao vi<strong>de</strong>ogame, enfim, à tecnologia <strong>de</strong><br />
mídia como um todo, estabelecendo relações que variam<br />
da passivida<strong>de</strong> à interativida<strong>de</strong>. Como o educador po<strong>de</strong><br />
tirar proveito <strong>de</strong>sta situação? Será que o caminho <strong>de</strong><br />
simplesmente negar ou criticar a TV ou o computador faz<br />
sentido e traz resultados? Nos dias <strong>de</strong> hoje a tecnologia<br />
se faz cada vez mais presente e necessária, possibilitando<br />
o intercâmbio <strong>de</strong> informação, o acesso e socialização do<br />
conhecimento. A escola precisa ficar atenta a esta situação<br />
e utilizar estes meios como uma forma <strong>de</strong> estabelecer uma<br />
relação mais efetiva com os alunos. É lógico que não se<br />
po<strong>de</strong> ser simplista, achando que a comunicação possa<br />
ser estabelecida somente pela sua utilização, é necessário<br />
a<strong>de</strong>quar os conteúdos escolares a uma nova linguagem, e<br />
um caminho é o da mídia educativa <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>.<br />
Não se po<strong>de</strong> ignorar a enorme presença dos meios<br />
eletrônicos e da informática na cultura da humanida<strong>de</strong>.<br />
A escola <strong>de</strong>ve ficar atenta a como po<strong>de</strong> se preparar para<br />
utilizar as novas mídias como ferramenta <strong>de</strong> ensino e<br />
discussão, visto que nossos alunos estão cada vez mais<br />
precocemente e mais <strong>de</strong>moradamente em contato com<br />
elas. É importante que o aluno entre em contato com<br />
questões que envolvem como a mídia elabora a realida<strong>de</strong>,<br />
o que ela prioriza, e qual o seu olhar e sua abordagem.<br />
Se a escola não se mo<strong>de</strong>rnizar corre o risco <strong>de</strong> ser omissa<br />
na formação <strong>de</strong>sses alunos, permitindo que eles sejam<br />
consumidores <strong>de</strong>sses meios, sem reflexão, e sem saber o<br />
que fazer com tanta informação que recebem. Estar do<br />
outro lado também é importante: como po<strong>de</strong>mos preparar<br />
agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />
nossos alunos para a produção audiovisual, valorizando o<br />
olhar e a análise a partir das questões que a envolvem?<br />
Como o professor também po<strong>de</strong> produzir material didático<br />
voltado para a linguagem com que o aluno <strong>de</strong> hoje tem<br />
mais i<strong>de</strong>ntificação? É fundamental o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
<strong>de</strong> novas metodologias <strong>de</strong> ensino a partir da aplicação <strong>de</strong><br />
conhecimentos ligados à tecnologia, não <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> lado<br />
a reflexão a partir da sua utilização e sobre a produção<br />
que <strong>de</strong>la se origina.<br />
A abordagem do cinema como elemento educativo vai<br />
ao encontro da proximida<strong>de</strong> do aluno com este tipo <strong>de</strong><br />
mídia, que está cada vez mais preocupado não só em<br />
contar histórias, mas também em contá-las em uma<br />
linguagem cada vez mais contemporânea, com ritmo<br />
intenso, e imagens impactantes em função da cor, da luz,<br />
do enquadramento e reforçadas pela trilha sonora.<br />
A animação (em ví<strong>de</strong>o, cinema, jogos, web) tem crescido<br />
muito no Brasil e também no exterior, tanto em relação<br />
a sua produção quanto à aceitação como mídia <strong>de</strong><br />
informação e entretenimento, <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> ser explorada<br />
apenas em seu lado comercial, e longe <strong>de</strong> ter só as crianças<br />
como público-alvo.<br />
O cinema <strong>de</strong> animação surge na escola como um meio<br />
mágico <strong>de</strong> se produzir imagens em movimento. Brinquedos<br />
ópticos, consi<strong>de</strong>rados experimentos do pré-cinema, como<br />
o flip-book, taumatrópio e zootrópio são feitos com<br />
os alunos com o objetivo <strong>de</strong> perceber a construção do<br />
movimento em animação.<br />
O campo <strong>de</strong> atuação do projeto envolve aulas do Ensino<br />
Fundamental e Médio, <strong>de</strong> acordo com o programa <strong>de</strong><br />
cada série; oficina <strong>de</strong> cinema <strong>de</strong> animação e o AnimaCAp,<br />
um curso <strong>de</strong> animação fora da gra<strong>de</strong> curricular. Estão<br />
previstos, também, a ampliação do animaCAp para toda a<br />
comunida<strong>de</strong> escolar e cursos <strong>de</strong> extensão para professores,<br />
nos quais se preten<strong>de</strong> discutir a utilização da animação<br />
como elemento educativo e também produzir filmes.<br />
A aplicação <strong>de</strong>ste projeto busca <strong>de</strong>senvolver os conteúdos<br />
<strong>de</strong> <strong>Artes</strong> <strong>Visuais</strong> através da apreciação e da produção <strong>de</strong><br />
imagens em movimento (cinema <strong>de</strong> animação), propiciando<br />
novas formas <strong>de</strong> abordagens estéticas a partir <strong>de</strong> questões<br />
que envolvem a tecnologia e linguagens contemporâneas<br />
da Arte. Desta forma, são trabalhados conteúdos como<br />
espaço, cor, luz, equilíbrio, composição, movimento, som,<br />
ritmo, iluminação, planos <strong>de</strong> enquadramento, angulação <strong>de</strong><br />
câmera, observação <strong>de</strong> imagens, apreciação estética, entre<br />
outros. O trabalho também envolve pesquisa <strong>de</strong> materiais<br />
e técnicas artísticas utilizadas em cinema <strong>de</strong> animação e<br />
investigação <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aplicá-los nas animações<br />
produzidas na escola, assim como a <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> novas<br />
formas <strong>de</strong> produção.<br />
A produção <strong>de</strong> uma animação envolve várias etapas,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a criação do roteiro e a confecção <strong>de</strong> cenários<br />
e personagens até a sua edição. A partir das imagens<br />
fotografadas são estudadas formas <strong>de</strong> montagem e<br />
efeitos para que elas tenham mais impacto e <strong>de</strong>senvolvam<br />
melhor o roteiro. Para este trabalho <strong>de</strong> tratamento das<br />
imagens e <strong>de</strong> edição não-linear (edição <strong>de</strong> imagem feita<br />
em computador), diferentes softwares são utilizados para<br />
que as fotos ganhem movimento e se transformem em<br />
filme. O uso da tecnologia <strong>de</strong> manipulação <strong>de</strong> imagens<br />
se mostra como importante recurso para a introdução da<br />
computação no ensino <strong>de</strong> artes visuais, linguagem cada<br />
vez mais presente nos dias <strong>de</strong> hoje e nos tempos que estão<br />
por vir. A partir <strong>de</strong>ste trabalho os alunos se apropriam<br />
das ferramentas tecnológicas contemporâneas disponíveis<br />
e por meio da pesquisa <strong>de</strong> linguagem as transformam<br />
em linguagem artística. A maior parte das escolas que<br />
incluem a informática na formação dos seus alunos<br />
prioriza a edição <strong>de</strong> textos e o uso <strong>de</strong> bancos <strong>de</strong> dados, em<br />
<strong>de</strong>trimento <strong>de</strong> programas que enfocam a imagem, o som e<br />
o movimento, por exemplo. Assim como a apreciação <strong>de</strong><br />
imagens estáticas, a apreciação e a produção <strong>de</strong> imagens<br />
em movimento <strong>de</strong>mandam o conhecimento da linguagem,<br />
o que envolve a aplicação dos recursos dos softwares <strong>de</strong><br />
acordo com o resultado que se preten<strong>de</strong>. Assim, a partir<br />
da tecnologia a imagem adquire novas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
trabalho, envolvendo a imaterialida<strong>de</strong>, o virtual, e criando<br />
novas “realida<strong>de</strong>s”, a partir da imagem digital.<br />
Levando-se em consi<strong>de</strong>ração a característica <strong>de</strong>ssas novas<br />
mídias <strong>de</strong> permitir uma melhor e mais rápida socialização<br />
do conhecimento e da informação, a questão da exibição<br />
é muito importante quando se trabalha com produção<br />
<strong>de</strong> filmes. É como se fechasse um ciclo – o da produção<br />
–, e abrisse um outro – o do diálogo. No processo <strong>de</strong><br />
distribuição da Arte, a partir <strong>de</strong> cada leitura que se faz,<br />
é que o produto artístico se <strong>de</strong>fine. Neste sentido, é um<br />
ponto importante que dois dos filmes já editados feitos<br />
no CAp tenham sido selecionados para exibição na<br />
Mostra Geração – mostra infanto-juvenil do Festival do<br />
Rio, no Programa Ví<strong>de</strong>o Fórum, que abre espaço para a<br />
produção audiovisual realizada por crianças e jovens, além<br />
<strong>de</strong> estimular o <strong>de</strong>bate sobre e a partir <strong>de</strong>ssas produções.<br />
Os filmes selecionados foram <strong>de</strong>senvolvidos na Oficina<br />
<strong>de</strong> Cinema <strong>de</strong> Animação realizada na Semana <strong>de</strong> Arte,<br />
Ciência e Cultura do CAp <strong>de</strong> 2004: “A Menina”, realizado<br />
agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />
1<br />
Foto por Fátima Cristina Vollú
Foto por Fátima Cristina Vollú<br />
16<br />
por alunas da 2ª série do Ensino Fundamental, e “O<br />
Pescador e o Peixe”, feito por alunos da 6ª série do Ensino<br />
Fundamental e da 1ª série do Ensino Médio. A seleção<br />
para a mostra e a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> exibição para um<br />
público fora da comunida<strong>de</strong> escolar foram motivos para<br />
o reconhecimento <strong>de</strong>sses alunos como produtores <strong>de</strong> um<br />
filme. No Ví<strong>de</strong>o Fórum os alunos tiveram a oportunida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> assistir aos seus filmes e falar para o público presente<br />
sobre a sua produção, além <strong>de</strong> conhecer produções<br />
audiovisuais <strong>de</strong>senvolvidas em outras escolas ou espaços<br />
educativos por crianças e adolescentes. Assim que todos<br />
os filmes realizados no CAp sejam editados e finalizados,<br />
será promovida uma Mostra <strong>de</strong> Cinema <strong>de</strong> Animação com<br />
o objetivo <strong>de</strong> incentivar a produção <strong>de</strong> filmes <strong>de</strong> animação,<br />
além da divulgação no âmbito escolar, não <strong>de</strong>scartando a<br />
possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que seja <strong>de</strong>senvolvido também um festival,<br />
exibindo filmes <strong>de</strong> animação infanto-juvenis realizados em<br />
outras escolas, além da participação em festivais externos.<br />
Com a participação <strong>de</strong> bolsistas <strong>de</strong> Iniciação Artística e<br />
Cultural <strong>de</strong>s<strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2004, foi introduzido na escola<br />
também o projeto Animando a Arte Brasileira, que<br />
tem como objetivo reduzir a lacuna que existe entre a<br />
necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se trabalhar a produção artística brasileira<br />
no ensino <strong>de</strong> arte e a pouca oferta <strong>de</strong> material didático<br />
audiovisual. Este projeto procura valorizar e resgatar<br />
a cultura e a realida<strong>de</strong> social registradas por artistas em<br />
suas obras. Um dos principais objetivos <strong>de</strong>ste projeto<br />
é a produção <strong>de</strong> filmes <strong>de</strong> animação a partir da obra <strong>de</strong><br />
agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />
artistas brasileiros. O primeiro filme <strong>de</strong>ste projeto foi<br />
produzido a partir <strong>de</strong> obras <strong>de</strong> Candido Portinari. Está<br />
sendo iniciado um estudo da sua aplicação em sala <strong>de</strong> aula,<br />
assim como o planejamento para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />
um site para a divulgação e o estabelecimento <strong>de</strong> um canal<br />
<strong>de</strong> comunicação com professores que utilizam a animação<br />
ou novas tecnologias como material didático para o ensino<br />
da arte ou outra disciplina, estabelecendo um local <strong>de</strong> troca<br />
<strong>de</strong> experiências.<br />
Por ser uma linguagem que tem como característica<br />
principal o movimento, a animação <strong>de</strong>sperta gran<strong>de</strong><br />
interesse nos alunos, seja na apreciação ou na produção.<br />
Isto faz <strong>de</strong>la mais um meio para expressão pessoal e crítica,<br />
além <strong>de</strong> promover o <strong>de</strong>senvolvimento do conhecimento<br />
em diversas áreas, estabelecendo um diálogo imediato dos<br />
alunos a partir <strong>de</strong> uma linguagem contemporânea.<br />
Sugestão para leitura:<br />
Fátima Cristina Vollú é mestra em<br />
Educação pela UERJ e professora <strong>de</strong><br />
<strong>Artes</strong> <strong>Visuais</strong> no CAp-<strong>UFRJ</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1993,<br />
on<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolve projetos em animação e<br />
uso <strong>de</strong> novas tecnologias no ensino.<br />
Barbosa, Ana Mae. A imagem no ensino da Arte. São<br />
Paulo: Perspectiva; Porto Alegre: Fundação Iochpe,<br />
1 1.<br />
Barbosa, Ana Mae (Org.). Inquietações e Mudanças no<br />
Ensino da Arte. São Paulo: Cortez, 2002.<br />
Fusari, M.F. <strong>de</strong> R. & Ferraz, M.H.C. <strong>de</strong> T. Arte na educação<br />
escolar. São Paulo: Cortez, 1 3.<br />
Miranda, Carlos Alberto. Cinema <strong>de</strong> Animação. Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro: Vozes, 1 1.<br />
Lévy, Pierre. As Tecnologias da Inteligência. O Futuro<br />
do Pensamento na Era da Informática. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />
Ed.34, 1 3.<br />
Pillar, Analice. O ví<strong>de</strong>o e a metodologia triangular no<br />
ensino da Arte. Porto Alegre: UFRS: Fundação Iochpe,<br />
1 2.<br />
Pillar, Analice (org.). A Educação do Olhar no Ensino<br />
das <strong>Artes</strong>. Porto Alegre: Mediação, 1 .<br />
Histórias<br />
em curso<br />
Américo Freire<br />
Caro amigo,<br />
Como tem me perguntando por novida<strong>de</strong>s, aqui as envio pelo correio eletrônico. Des<strong>de</strong> já lhe aviso:<br />
não irei me ren<strong>de</strong>r à maneira telegráfica típica <strong>de</strong>ste novo meio <strong>de</strong> comunicação. Em nome da<br />
velha amiza<strong>de</strong>, peço vênia para lhe escrever como na época dos simpáticos carteiros dos Correios<br />
e Telégrafos, quando as frases ainda eram compostas por sujeito, predicado e um bom número <strong>de</strong><br />
adjetivos. Portanto, trate <strong>de</strong> arrumar tempo para ler esta carta eletrônica com o <strong>de</strong>vido cuidado e<br />
compreensão.<br />
Nos dois últimos anos, uma parte do meu tempo tem sido tomado por andanças pelo país, como<br />
caixeiro-viajante, em reuniões com professores na apresentação <strong>de</strong> História em Curso – o livro<br />
didático <strong>de</strong> História do Brasil que escrevi com Marly Motta e Dora Rocha – e que lhe enviei<br />
quando do lançamento do mesmo em meados <strong>de</strong> 2004. Nesses encontros, <strong>de</strong>pois do momento inicial<br />
em que – pela undécima vez – apresento o meu “improviso”, começamos a trocar interessantes<br />
idéias a respeito <strong>de</strong> questões variadas sobre livro didático, metodologias, conteúdos, enfim, temas<br />
interessantes que passo a dividir com o atencioso amigo.<br />
No segundo semestre <strong>de</strong> 2004, em meio ao tour <strong>de</strong> viagens, fui visitar, aqui no Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />
a exposição Antes no Centro Cultural Banco do Brasil. Sob o impacto daquela inédita e bela<br />
mostra a respeito das histórias da “pré-história” brasileira, pu<strong>de</strong> perceber o quanto o conhecimento<br />
arqueológico tinha avançado no país nos últimos anos, e mais: como nós, pesquisadores e professores<br />
<strong>de</strong> história, pouco sabíamos (e continuamos a não saber) acerca <strong>de</strong>stas novas <strong>de</strong>scobertas que, muito<br />
provavelmente, <strong>de</strong>verão produzir mudanças na maneira pela qual este tema tem sido abordado pela<br />
historiografia e pelos manuais didáticos. Ao escrevermos História em Curso, não tínhamos a<br />
dimensão <strong>de</strong>stas mudanças.<br />
agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />
1
história<br />
1<br />
Bem sabe o amigo que nada é <strong>de</strong> graça. Pois bem, ao<br />
reiniciarmos as rodadas <strong>de</strong> reuniões com os professores e as<br />
professoras, agora em terras paulistas, lá estava uma <strong>de</strong>las<br />
– impávida, com olhar simpático e exigente – a nos cobrar<br />
a inclusão <strong>de</strong>sta temática em nosso livro. Por sorte, estava <strong>de</strong><br />
alguma forma preparado para a ocasião, fato esse que me<br />
permitiu, além <strong>de</strong> registrar minha concordância com a minha<br />
interlocutora a respeito da importância do tema, esboçar<br />
algumas idéias acerca da possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se tratar do assunto<br />
em futura edição do livro.<br />
Veja você que, por mais um <strong>de</strong>svio da história, um ano<br />
<strong>de</strong>pois, ao participar da equipe responsável pela elaboração<br />
<strong>de</strong> material para professores no contexto da exposição Por<br />
Ti América – uma gran<strong>de</strong> mostra sobre as socieda<strong>de</strong>s précolombianas<br />
–, lá estava eu tomando contato com estudos<br />
que levantam hipóteses acerca da possibilida<strong>de</strong> da formação,<br />
em tempos pré-europeus, <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong>s complexas nas terras<br />
baixas amazônicas, colocando por terra teses consolidadas<br />
quanto ao caráter simples ou “primitivo” dos povos que<br />
habitaram aquela vasta região, a qual hoje em dia está em<br />
gran<strong>de</strong> parte em terras brasileiras.<br />
Por óbvio, o amigo po<strong>de</strong>rá me dizer que estou acometido <strong>de</strong><br />
uma <strong>de</strong>ssas doenças típicas dos autores <strong>de</strong> livros didáticos<br />
– a paranóia – uma vez que, a cada dia, surgem novas<br />
<strong>de</strong>scobertas científicas que refutam o saber estabelecido. De<br />
qualquer maneira, o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> se buscar incorporar estes<br />
novos temas em narrativas <strong>de</strong> caráter didático voltadas para<br />
agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />
“...lá estava uma <strong>de</strong>las -<br />
impávida, com olhar simpático<br />
e exigente – a nos<br />
cobrar a inclusão <strong>de</strong>sta<br />
temática em nosso livro.<br />
Por sorte, estava <strong>de</strong><br />
alguma forma preparado<br />
para a ocasião...<br />
”<br />
a compreensão da socieda<strong>de</strong> brasileira aí está, e, mais cedo ou<br />
mais tar<strong>de</strong>, <strong>de</strong>verá ser enfrentado.<br />
Em meu périplo, tenho tido a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conversar com<br />
professores <strong>de</strong> ensino médio em seus locais <strong>de</strong> trabalho, nas<br />
próprias escolas. No caso do universo <strong>de</strong> algumas das boas<br />
escolas públicas e particulares do Rio <strong>de</strong> Janeiro, pu<strong>de</strong> observar<br />
que está em curso uma intensa renovação no professorado <strong>de</strong><br />
história, com evi<strong>de</strong>ntes mudanças na forma pela qual se dá o<br />
ensino da disciplina. Por variadas vezes, meus interlocutores<br />
eram professores <strong>de</strong> nova geração – entre vinte e trinta anos<br />
– geralmente formados nas melhores universida<strong>de</strong>s públicas<br />
ou privadas e com passagem em estudos <strong>de</strong> pós-graduação.<br />
Como o amigo <strong>de</strong>ve ter reparado, este novo perfil em nada, ou<br />
quase nada, se i<strong>de</strong>ntifica com aquele do professor <strong>de</strong> história<br />
típico <strong>de</strong> décadas atrás, no qual o traço distintivo era a “larga<br />
experiência em sala <strong>de</strong> aula” e o conhecimento pormenorizado<br />
<strong>de</strong> tudo aquilo que girava em torno dos vestibulares. De<br />
alguma forma, o saber acadêmico acabou por superar tudo<br />
isso...<br />
Durante os encontros, os jovens mestres, por educação, me<br />
permitem falar à vonta<strong>de</strong> a respeito das minhas vãs filosofias,<br />
mas o que querem mesmo é tratar <strong>de</strong> questões mais práticas,<br />
a respeito <strong>de</strong> como criativamente têm se apropriado do livro.<br />
Por vezes, não <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> dar sugestões para edições futuras<br />
ou mesmo apontar algum “problema conceitual”, em atitu<strong>de</strong><br />
franca, aberta, típica <strong>de</strong> quem foi socializado em um clima<br />
acadêmico propenso ao bom <strong>de</strong>bate.<br />
Por ora, caro amigo, é só. Meu e-mail está entupido <strong>de</strong><br />
mensagens do editor me cobrando a entrega <strong>de</strong> um artigo para<br />
Perspectiva Capiana. Como ainda prezo pela vida, acho<br />
que terei <strong>de</strong> atendê-lo. Querendo o amigo ou não, semana que<br />
vem lhe envio mais capítulos da série histórias em curso.<br />
Abraços do amigo<br />
Américo Freire<br />
Américo Freire trabalha no CAp-<strong>UFRJ</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1983 e<br />
atualmente coor<strong>de</strong>na o setor curricular <strong>de</strong> História.<br />
É professor e pesquisador do Centro <strong>de</strong> Pesquisa e<br />
Documentação <strong>de</strong> História Contemporânea do Brasil<br />
da Fundação Getúlio Vargas (CPDOC-FGV).<br />
foto cedida pelo NUTED-FIOCRUZ<br />
“O Convidado”:<br />
Anotações <strong>de</strong><br />
um Percurso<br />
Ana Lucia <strong>de</strong> Almeida Soutto Mayor,<br />
Andrea Pinheiro e<br />
Brunella Provvi<strong>de</strong>nte<br />
O projeto <strong>de</strong> extensão curricular Arte e Saú<strong>de</strong>, criado em 2004, no<br />
âmbito do <strong>Colégio</strong> <strong>de</strong> <strong>Aplicação</strong> da <strong>UFRJ</strong>, surgiu como um <strong>de</strong>sdobramento<br />
do projeto <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento tecnológico Arte e Saú<strong>de</strong>, concebido e<br />
organizado pela Escola Politécnica <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Joaquim Venâncio/FIOCRUZ,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2003. Preten<strong>de</strong>u-se, com a parceria entre as duas escolas, estabelecer uma<br />
aproximação sistemática entre docentes e alunos dos dois centros formadores,<br />
no intuito <strong>de</strong> viabilizar a produção <strong>de</strong> conhecimentos no campo da educação<br />
estética, tanto em projetos <strong>de</strong> ensino quanto <strong>de</strong> pesquisa. No CAp-<strong>UFRJ</strong>, o<br />
projeto Arte e Saú<strong>de</strong>, voltado para os alunos do Ensino Médio, consiste numa<br />
proposta <strong>de</strong> integração <strong>de</strong> duas linguagens artísticas – a Literatura e as <strong>Artes</strong><br />
Cênicas – tendo como culminância a montagem <strong>de</strong> um espetáculo teatral.<br />
agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />
1
construindo pontes es<br />
20<br />
professora Andrea Pinheiro<br />
dirigindo aluna durante ensaio<br />
na edição 2004 do projeto<br />
A cada ano, o projeto enfoca um tema relacionado à saú<strong>de</strong>:<br />
para a edição <strong>de</strong> 2004, sob a temática Arte e Peste, partimos<br />
do texto dramático “Estado <strong>de</strong> Sítio”, <strong>de</strong> Albert Camus;<br />
no ano seguinte, cujo tema era Arte e Meio Ambiente,<br />
realizamos a adaptação do texto literário “A Desintegração<br />
da Morte”, <strong>de</strong> Orígenes Lessa. No entanto, em 2006, para<br />
o tema Arte e Corpo, optamos pela criação coletiva <strong>de</strong><br />
um texto dramático próprio, sem partir <strong>de</strong> nenhuma fonte<br />
prévia, dramática ou narrativa. Assim, a equipe do projeto<br />
no CAp-<strong>UFRJ</strong> – coor<strong>de</strong>nada por Ana Lucia <strong>de</strong> Almeida<br />
Soutto Mayor (professora <strong>de</strong> Língua Portuguesa) e Andrea<br />
Pinheiro (professora <strong>de</strong> <strong>Artes</strong> Cênicas), e constituída por<br />
alunas em cena na edição 2004<br />
do projeto<br />
agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />
foto por Bruna Provenzano<br />
Brunella Provvi<strong>de</strong>nte (graduanda <strong>de</strong> Direção Teatral da<br />
ECO-<strong>UFRJ</strong>), Luiz Felipe Andra<strong>de</strong> Silva (bacharel em<br />
Letras pela <strong>UFRJ</strong> e graduando <strong>de</strong> Cinema pela UFF) e<br />
pelo grupo <strong>de</strong> teatro Capachos da Arte (formado pelos<br />
alunos Isabel Freire, Isabella Almeida, Pedro Pedruzzi e<br />
Rodrigo Fernan<strong>de</strong>s) – adotou como estratégia criativa,<br />
<strong>de</strong> saída, a organização <strong>de</strong> um “laboratório <strong>de</strong> criação”,<br />
a partir do qual seria possível construir a dramaturgia do<br />
espetáculo e, em uma etapa posterior, o texto dramático<br />
propriamente dito.<br />
Entusiasmados com a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> realização <strong>de</strong><br />
uma “oficina literária”, <strong>de</strong> natureza coletiva, pensamos a<br />
temática do corpo a partir <strong>de</strong> três eixos centrais: o corpo<br />
<strong>de</strong>ca<strong>de</strong>nte, o corpo interdito e o corpo sublimado. A cada<br />
um <strong>de</strong>sses eixos correspon<strong>de</strong>ria um aspecto específico<br />
relacionado à problemática do corpo, gerando, cada um<br />
<strong>de</strong>les, ricos <strong>de</strong>sdobramentos, tendo em vista a construção<br />
<strong>de</strong> um universo dramático. O corpo <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>nte apontaria<br />
para a discussão dos padrões estéticos esperados na<br />
socieda<strong>de</strong> contemporânea e dos reflexos <strong>de</strong> uma “tirania<br />
<strong>de</strong> mercado”, a encarcerar os seres humanos <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />
si mesmos. O corpo interdito suscitaria uma reflexão<br />
acerca <strong>de</strong> diferentes limitações físicas – a mu<strong>de</strong>z, a<br />
cegueira, a sur<strong>de</strong>z, entre outras – e <strong>de</strong> suas conseqüências<br />
nos processos <strong>de</strong> interação social dos indivíduos. O<br />
corpo sublimado diria respeito às exigências celibatárias<br />
foto por Bruna Provenzano<br />
impostas, por razões religiosas, àqueles que se dispõem a<br />
seguir o caminho do sacerdócio. Através da exploração<br />
<strong>de</strong>sses três eixos, pretendíamos acionar uma reflexão<br />
sobre os lugares do corpo na contemporaneida<strong>de</strong> e seus<br />
impasses e <strong>de</strong>safios.<br />
Definidos os eixos temáticos do trabalho, como leválos<br />
à cena? Como transformar essas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
abordagem do corpo em matéria dramática, em exercício<br />
cênico? Antes <strong>de</strong> pensarmos na história propriamente dita<br />
ou, ainda, no modo <strong>de</strong> contá-la, propusemos a criação<br />
<strong>de</strong> personagens. Para dar contornos nítidos, feições<br />
particulares e traços específicos aos mesmos, investimos<br />
em um exercício bastante freqüente em oficinas <strong>de</strong> roteiros<br />
cinematográficos: o da criação <strong>de</strong> biografias. Para que o<br />
personagem tenha vida no palco, para que não seja uma<br />
“marionete em carne-e-osso” – espectro caricato <strong>de</strong> um<br />
ser humano –, é preciso que este se assemelhe, <strong>de</strong> fato, a<br />
alguém que pudéssemos ter conhecido ou que possamos<br />
vir a conhecer. A criação <strong>de</strong> um personagem assume o<br />
papel da criação <strong>de</strong> um pequeno universo dramático em si<br />
mesmo, na medida em que ele habita um mundo – aquele<br />
em que se encontra com seus hábitos, particularida<strong>de</strong>s,<br />
emoções, pensamentos e relações.<br />
Para trazer à luz a problemática do corpo, prismada<br />
pelos três eixos já estabelecidos, acordamos – sempre em<br />
processo <strong>de</strong> discussão coletiva – quais seriam nossos três<br />
personagens: uma antiga ve<strong>de</strong>te do teatro <strong>de</strong> revista, um<br />
jovem mudo e um monge. Em cada um <strong>de</strong>les, o corpo em<br />
suas inelutáveis verda<strong>de</strong>s; mas como movê-las e entrecruzálas?<br />
De que modo tramar os labirintos dramáticos em que<br />
os personagens se esbarrariam?<br />
Passamos à etapa seguinte <strong>de</strong> nosso processo <strong>de</strong> criação<br />
coletiva. Organizados em grupos, ocupamo-nos <strong>de</strong> cada<br />
um <strong>de</strong>sses personagens. Nossa tarefa era a <strong>de</strong> criar uma<br />
biografia para cada um <strong>de</strong>les, ou seja, cada grupo <strong>de</strong>veria<br />
criar uma narrativa na qual o personagem em questão fosse o<br />
protagonista. Concluída a tarefa, reunimo-nos para escutar<br />
as histórias <strong>de</strong> nossos personagens. Percebemos que suas<br />
biografias não foram <strong>de</strong>senvolvidas do mesmo modo: se,<br />
no caso da ve<strong>de</strong>te, sua história foi apresentada por tópicos<br />
esparsos, que davam conta <strong>de</strong> aspectos <strong>de</strong> sua vida (lugar<br />
on<strong>de</strong> nasceu, características familiares, relacionamentos<br />
afetivos, aspirações profissionais), a trajetória do mudo foi<br />
narrada <strong>de</strong> maneira contínua, acompanhando sua existência<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a infância. Já a biografia do monge, por sua vez,<br />
ora em diálogo intertextual com “Dom Casmurro”, <strong>de</strong><br />
Machado <strong>de</strong> Assis, ora com “O crime do Padre Amaro”,<br />
<strong>de</strong> Eça <strong>de</strong> Queirós, apresentou-se como um texto com<br />
fortes tintas <strong>de</strong> um melodrama, em que o riso, às vezes,<br />
irrompia <strong>de</strong> modo surpreen<strong>de</strong>nte.<br />
Desenhados os personagens em seus universos dramáticos<br />
específicos, o <strong>de</strong>safio era superpor esses universos,<br />
costurando-os em um texto dramático verossímil e<br />
conseqüente. Em cada uma das histórias, construiuse<br />
uma figura masculina marcante e <strong>de</strong>cisiva na vida <strong>de</strong><br />
cada personagem: era “O Convidado”. Além dos corpos<br />
que compuseram nossos eixos temáticos – o <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>nte,<br />
o interdito e o sublimado – surgiu um quarto corpo,<br />
“invisível”, para promover a interseção entre as três<br />
narrativas.<br />
A forma final do texto dramático ficou a cargo <strong>de</strong> Luiz<br />
Felipe Andra<strong>de</strong> Silva que – sempre com o assentimento<br />
do grupo – reuniu as cenas resultantes das biografias<br />
<strong>de</strong>senvolvidas e criou outras especialmente <strong>de</strong>stinadas<br />
a tecer a relação entre os três personagens. A <strong>de</strong>cisão<br />
<strong>de</strong> ambientar a história num hospital psiquiátrico<br />
proporcionou à montagem um compartilhar não<br />
apenas do espaço e do material cênico, mas também das<br />
biografias, já que cada personagem, além <strong>de</strong> protagonizar<br />
a sua própria história, participa da história do outro: o<br />
mudo, por exemplo, atua como o pai na história da ve<strong>de</strong>te;<br />
a ve<strong>de</strong>te, por sua vez, é a parteira na história do monge; já<br />
o monge é o pai do mudo e assim, sucessivamente, numa<br />
intrincada teia que acentua os conflitos e contribui para<br />
uma sólida ação dramática.<br />
“ ”<br />
Desenhados os personagens em seus<br />
universos dramáticos específicos, o <strong>de</strong>safio<br />
era superpor esses universos, costurandoos<br />
em um texto dramático verossímil e<br />
conseqüente.<br />
cena <strong>de</strong><br />
“O Convidado”,<br />
montagem da<br />
edição 2006 do<br />
projeto<br />
agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />
21<br />
foto cedida pelo NUTED-FIOCRUZ
construindo pontes<br />
22<br />
Nesse território <strong>de</strong> múltiplas possibilida<strong>de</strong>s, é necessário<br />
que os atores transitem por todos os personagens com<br />
agilida<strong>de</strong> e precisão. Procurando enfatizar a tônica corporal,<br />
propusemos vários exercícios tais como o da criação <strong>de</strong><br />
esculturas <strong>de</strong> personagens, comumente utilizado nas aulas<br />
<strong>de</strong> Teatro. O diferencial, neste caso, é que a pesquisa<br />
corporal, assim como a confecção da dramaturgia,<br />
também foi coletiva: cada ator criou uma escultura para o<br />
seu próprio personagem e também para os outros; logo,<br />
a forma final foi uma coletânea – ou síntese – <strong>de</strong> todas<br />
as esculturas produzidas. Constatamos que a participação<br />
ativa na confecção das biografias tornou os atores mais<br />
disponíveis na hora dos exercícios: eles se sentiram mais<br />
aptos a “dar corpo” aos personagens cujos universos eles<br />
mesmos ajudaram a criar, embarcando com empenho e<br />
liberda<strong>de</strong> nas ativida<strong>de</strong>s propostas.<br />
Logo após a criação corporal dos personagens, passamos<br />
ao levantamento da produção. Se, por um lado, todos<br />
os elementos técnicos <strong>de</strong>veriam estabelecer a distinção<br />
entre o espaço do presente (o do hospital psiquiátrico)<br />
e o da memória ou do <strong>de</strong>vaneio (o das biografias), havia<br />
outras questões <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m prática. Como estava prevista<br />
a apresentação do espetáculo na Tenda do Ciência em<br />
Cena/FIOCRUZ, o cenário <strong>de</strong>veria ser leve, simples e<br />
flexível para facilitar o seu transporte. Quanto ao figurino,<br />
não seria possível que os atores trocassem <strong>de</strong> roupa a cada<br />
instante. Portanto, optamos pela utilização do mobiliário<br />
<strong>de</strong> que dispomos na escola – uma mesa e quatro cubos<br />
<strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira – e um figurino neutro, já que cada ator<br />
representava mais <strong>de</strong> um personagem.<br />
grupo <strong>de</strong> alunos participante da edição 2004 do<br />
projeto com as professoras Andrea Pinheiro e<br />
Ana Lucia Soutto Mayor, respectivamente quarta<br />
e sexta da esquerda para a direita<br />
agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />
Nossa última etapa <strong>de</strong> trabalho – a dos ensaios – foi a<br />
mais intensa e a que exigiu maior <strong>de</strong>dicação dos atores.<br />
A marcação, inspirada nos exercícios <strong>de</strong>senvolvidos e nos<br />
estilos das biografias criadas, <strong>de</strong>mandou uma constante<br />
repetição das cenas uma vez que havia muitos <strong>de</strong>talhes a<br />
serem fixados. Era <strong>de</strong> suma importância que os diferentes<br />
momentos <strong>de</strong> narração e os <strong>de</strong> atuação, assim como as<br />
mudanças <strong>de</strong> personagem, fossem “limpos”, ou seja, livres<br />
<strong>de</strong> gestos excessivos. Através da repetição dos gestos e da<br />
reflexão sobre os mesmos, construímos uma partitura<br />
corporal que levou os atores a compreen<strong>de</strong>r a motivação<br />
<strong>de</strong> seus personagens.<br />
Ao refletirmos sobre o processo <strong>de</strong> montagem <strong>de</strong> “O<br />
Convidado”, pusemo-nos a analisar a trajetória percorrida<br />
nos três anos do projeto Arte e Saú<strong>de</strong>. Fruto <strong>de</strong> uma<br />
iniciativa interdisciplinar – pois integra a literatura e<br />
as artes cênicas – e com uma perspectiva <strong>de</strong> extensão<br />
curricular, este projeto nos estimula, como profissionais,<br />
a uma constante pesquisa <strong>de</strong> novas metodologias <strong>de</strong><br />
trabalho, não subordinadas às <strong>de</strong>mandas específicas<br />
dos conteúdos programáticos tradicionais <strong>de</strong> nossas<br />
disciplinas. A experiência vivida ao longo <strong>de</strong>stes três anos<br />
impõe a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> continuarmos investigando novas<br />
possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> trabalho no espaço escolar <strong>de</strong> forma<br />
que a experiência estética ocupe um lugar central no<br />
fazer pedagógico, apostando na potência libertadora das<br />
linguagens artísticas.<br />
Ana Lucia <strong>de</strong> Almeida Soutto Mayor, professora <strong>de</strong> Língua<br />
Portuguesa e Literatura do CAp-<strong>UFRJ</strong>, e Andrea Pinheiro,<br />
professora <strong>de</strong> <strong>Artes</strong> Cênicas do CAp-<strong>UFRJ</strong>, coor<strong>de</strong>nam o “Projeto<br />
Arte e Saú<strong>de</strong>”. Brunella Provvi<strong>de</strong>nte, graduanda <strong>de</strong> Direção Teatral<br />
da ECO-<strong>UFRJ</strong> e bolsista do projeto, compôs a equipe em 2006.<br />
Filosofia no<br />
Ensino Médio<br />
Lia <strong>de</strong> Oliveira Guarino<br />
Há alguns anos se discute no Brasil se a filosofia <strong>de</strong>ve ser<br />
incorporada ao currículo do Ensino Médio, como uma disciplina<br />
em separado. Muitos suspeitam que o ensino <strong>de</strong> filosofia seja<br />
importante. A própria Lei <strong>de</strong> Diretrizes e Bases da Educação<br />
Nacional (LDB) <strong>de</strong> 1996 recomenda-o para o “exercício da<br />
cidadania”. Por outro lado, a filosofia é vista com <strong>de</strong>sconfiança<br />
por se tratar <strong>de</strong> uma disciplina um tanto enigmática para a maior<br />
parte dos educadores e alunos. Qual é precisamente sua função?<br />
Qual a sua real importância? Qual o seu sentido, se não é uma<br />
ciência (nem exata, nem humana), não é uma arte, tampouco uma<br />
técnica, e muito menos uma religião? Afinal, o que é a filosofia e<br />
qual o seu papel no Ensino Médio?<br />
agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />
23<br />
opinião
opinião<br />
24<br />
Ora, a filosofia surge <strong>de</strong> uma exigência do próprio<br />
pensamento. Ele é quem problematiza as várias formas<br />
<strong>de</strong> pensar, suas diversas possibilida<strong>de</strong>s. Se se faz física,<br />
química ou biologia, surge, por exemplo, uma necessida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> se saber o que são estas formas <strong>de</strong> pensamento que<br />
conseguem um grau <strong>de</strong> objetivida<strong>de</strong> e exatidão tão<br />
impressionante para o senso comum. Como funciona a<br />
ciência? Como ela pensa? Por que a consi<strong>de</strong>ramos como<br />
a “guardiã da verda<strong>de</strong>”? O que é a verda<strong>de</strong>? Como a<br />
distinguimos <strong>de</strong> uma mera opinião ou <strong>de</strong> uma estranha<br />
magia? Qual é o alcance da ciência e quais são seus limites?<br />
Quais são seus perigos e suas conseqüências na cultura,<br />
na vida cotidiana das pessoas? Todas essas questões,<br />
consi<strong>de</strong>radas epistemológicas, surgem inevitavelmente em<br />
nossa cultura oci<strong>de</strong>ntal, que aposta todas as fichas na ciência,<br />
que investe dinheiro e libido em cientistas, laboratórios e<br />
pesquisas. Mesmo o Brasil, que investe menos em ciência<br />
do que países do primeiro mundo, está imerso na cultura<br />
científica. O aluno do Ensino Médio se vê bombar<strong>de</strong>ado<br />
por aulas <strong>de</strong> matemática, física, química, biologia, sem<br />
enten<strong>de</strong>r muito bem o sentido <strong>de</strong>ssas disciplinas em suas<br />
vidas ou o porquê <strong>de</strong>ssa direção educacional.<br />
Mas não são apenas questões epistemológicas que<br />
perturbam o pensamento filosófico. Há também problemas<br />
<strong>de</strong> or<strong>de</strong>m ética. Vivemos num mundo capitalista, mo<strong>de</strong>rno,<br />
industrial, tecnológico, que muda com uma velocida<strong>de</strong><br />
assustadora. Valores que ontem eram in<strong>de</strong>strutíveis são<br />
varridos rapidamente no processo histórico. Família<br />
nuclear, estabilida<strong>de</strong> no emprego, sexualida<strong>de</strong>s bem<br />
<strong>de</strong>finidas, uma certa tranqüilida<strong>de</strong> social, para dar alguns<br />
exemplos, são formações que foram profundamente<br />
abaladas na nova configuração histórica. Outros vínculos<br />
agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />
sociais foram produzidos, o emprego tornou-se precário<br />
(quando não inexistente), novas sexualida<strong>de</strong>s emergiram,<br />
a violência se alastrou nas cida<strong>de</strong>s. Tendo em vista este<br />
contexto social tumultuado, a <strong>de</strong>pressão, a angústia, o<br />
medo e até mesmo o pânico tomaram conta <strong>de</strong> nossa<br />
subjetivida<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna. Como resolver ou minimizar<br />
esses sintomas? Como sair do mal-estar que se enraíza<br />
na civilização? A <strong>de</strong>cisão rápida que busca nos remédios<br />
anti<strong>de</strong>pressivos ou nas drogas a solução para o problema<br />
não quer enfrentar <strong>de</strong> forma corajosa a situação, que exige<br />
um trabalho mais elaborado <strong>de</strong> pensamento. Mas como<br />
pensar essa subjetivida<strong>de</strong> atormentada se não temos o<br />
instrumental a<strong>de</strong>quado, os conceitos precisos que, esses<br />
sim, nos auxiliariam a viver? Eis a tarefa da filosofia no<br />
Ensino Médio e fora <strong>de</strong>le: dar ferramentas conceituais<br />
para simbolizar a vida mo<strong>de</strong>rna e suas dificulda<strong>de</strong>s afetivas,<br />
sexuais, existenciais. Que outra disciplina po<strong>de</strong>ria dar esses<br />
instrumentos conceituais senão a filosofia?<br />
É bem verda<strong>de</strong> que a religião também procura dar conforto<br />
e auxílio à nossa existência. Mas como o estado brasileiro<br />
é laico, a religião não é ensinada na escola pública, então<br />
cabe à filosofia o <strong>de</strong>bate em torno dos valores morais. O<br />
<strong>de</strong>bate que se instalou ultimamente em torno do ensino<br />
da religião na escola pública é um retrocesso. Se se trata<br />
<strong>de</strong> ensinar religião na escola, então será preciso contratar<br />
professores que representem todas as religiões: o judaísmo,<br />
o catolicismo, o islamismo, o candomblé, o espiritismo, e<br />
todas as <strong>de</strong>mais seitas existentes, o que levaria o estado<br />
a contratar um número enorme <strong>de</strong> profissionais. Pois,<br />
se apenas uma <strong>de</strong>ssas religiões for contemplada, como<br />
justificar que o povo sustente um profissional <strong>de</strong> uma<br />
<strong>de</strong>terminada religião e não <strong>de</strong> outra? A controvérsia<br />
seria instalada. Já o mesmo não acontece com a filosofia.<br />
Po<strong>de</strong>-se objetar que um ensino <strong>de</strong> filosofia financiado<br />
pelo estado, para ser justo, teria também que contemplar<br />
as diversas correntes filosóficas: platônicos, tomistas,<br />
cartesianos, kantianos, marxistas, nietzscheanos, etc. No<br />
entanto, há uma diferença fundamental entre filosofia e<br />
religião: a filosofia não é dogmática, ela po<strong>de</strong> dispor <strong>de</strong><br />
alguns conceitos e <strong>de</strong>sprezá-los se não mais servirem.<br />
Conceitos são ferramentas para pensar e agir, não são<br />
dados inquestionáveis. A filosofia é um pensamento sem<br />
compromisso com qualquer tipo <strong>de</strong> conteúdo pensado,<br />
ela é livre, seu único compromisso é com a manutenção<br />
do exercício <strong>de</strong> pensar, ao passo que a religião não abre<br />
mão <strong>de</strong> seus conteúdos dogmáticos.<br />
A filosofia busca uma orientação para viver,<br />
problematizando o modo como vivemos, estranhando<br />
práticas tão arraigadas na nossa socieda<strong>de</strong>: competição,<br />
proprieda<strong>de</strong> privada, consumismo, individualismo,<br />
trabalho alienado, niilismo. Além disso, a filosofia,<br />
diferentemente da religião, vai buscar uma orientação<br />
para nossa conduta sem apelar para dogmas, sem partir <strong>de</strong><br />
dados inquestionáveis, sem buscar uma transcendência. Ao<br />
contrário, é <strong>de</strong> sua natureza não partir <strong>de</strong> certezas, colocarse<br />
na perspectiva imanente da ignorância, do não-saber<br />
que busca um saber, mas que não sabe com segurança o<br />
que é certo, o que é errado, o que é o bom e o mau, o justo<br />
e o injusto.<br />
Ao mesmo tempo que o pensamento formula questões<br />
éticas (do sujeito consigo mesmo), coloca também<br />
problemas na relação que os homens têm entre eles, ou seja,<br />
problemas políticos. Numa socieda<strong>de</strong> partida em classes,<br />
na qual uns exercem o po<strong>de</strong>r e outros são dominados, na<br />
qual existe uma divisão <strong>de</strong> grupos e uma hierarquia entre<br />
eles, a tensão política é permanente. A violência ou a<br />
iminência <strong>de</strong>la está em toda parte. Como enten<strong>de</strong>r <strong>de</strong> modo<br />
crítico esse jogo <strong>de</strong> classes, dos interesses contrários que<br />
se chocam e como é possível transformar essa situação?<br />
Com que ferramentas conceituais po<strong>de</strong>mos pensar (e virar)<br />
esse jogo? Eis mais uma vez a tarefa da filosofia: produzir<br />
conceitos que funcionem para pensar o mundo político e<br />
social, <strong>de</strong> tal maneira que não haja exclusão <strong>de</strong> um grupo<br />
em <strong>de</strong>trimento <strong>de</strong> outro, <strong>de</strong> tal modo que a socieda<strong>de</strong> não<br />
se divida e que todos sejam contemplados.<br />
Assim, a filosofia surge para resolver problemas que o<br />
pensamento coloca para si mesmo. Problemas <strong>de</strong> natureza<br />
epistemológica, ética, política e também estética. Pois<br />
qual é o sentido da arte que se produz hoje no oci<strong>de</strong>nte?<br />
Se a arte em geral não está mais preocupada em imitar<br />
a natureza, ou em fornecer um mo<strong>de</strong>lo perfeito (belo)<br />
“<br />
A filosofia busca uma orientação<br />
para viver, problematizando o<br />
modo como vivemos, estranhando<br />
práticas tão arraigadas na nossa<br />
”<br />
socieda<strong>de</strong><br />
agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />
2<br />
opinião
opinião<br />
26<br />
“<br />
Mais do que ensinar<br />
”<br />
a história do<br />
pensamento, a tarefa<br />
<strong>de</strong> ensinar filosofia<br />
no Ensino Médio é<br />
estimular o aluno a<br />
questionar o mundo em<br />
que vive<br />
agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />
para orientar nossos sentidos e nossa vida, qual o seu<br />
papel na cultura contemporânea? Como pensar a arte em<br />
nossos dias quando esta se tornou hermética, quando se<br />
afastou <strong>de</strong> uma comunicação fácil com o público que a<br />
contempla? Tudo indica que sua direção vai na busca <strong>de</strong><br />
experimentações novas, <strong>de</strong> outras formas <strong>de</strong> percepção<br />
que produzem uma nova escuta, que fabrica um outro<br />
olhar para o mundo. A arte parece ser um pensamento que<br />
busca diferir <strong>de</strong> si mesmo, que quer o estranhamento para<br />
que, talvez, nos acostumando com ele, comecemos a achálo<br />
familiar e nos tornemos diferentes do que éramos. Uma<br />
tal reflexão estética exige outras categorias que aquelas <strong>de</strong><br />
beleza, harmonia, graça e perfeição. Conceitos como os <strong>de</strong><br />
sublime, grotesco, trágico, risível, entram em cena na arte<br />
contemporânea, mais preocupada com a experimentação<br />
do que com a mera imitação da forma perfeita. Isto<br />
porque, talvez, a arte esteja buscando outros caminhos<br />
para a fabricação do homem oci<strong>de</strong>ntal, outra maneira <strong>de</strong><br />
educá-lo, numa percepção crítica <strong>de</strong> que a antiga maneira<br />
não parece ter dado muito certo.<br />
Assim, se este homem nascido na socieda<strong>de</strong> contemporânea<br />
oci<strong>de</strong>ntal fizer um mínimo esforço para pensar esse mundo<br />
no qual está inserido, ele se verá em algum momento às<br />
voltas com todas essas questões estéticas, políticas, éticas<br />
e epistemológicas, ou seja, com questões filosóficas. Por<br />
que então esperar o Ensino Superior para colocar esses<br />
problemas e buscar respondê-los? Por que não abordá-los<br />
logo, no Ensino Médio, quando a cabeça do adolescente<br />
está mais aberta, mais disponível para o novo, mais apta a<br />
tomar <strong>de</strong>cisões que vão orientar seu futuro? Pois o aluno<br />
do Ensino Médio já está sendo educado nas ciências, já<br />
se vê diante <strong>de</strong> dilemas morais, já tem um conhecimento<br />
político através da história e da geografia, já está <strong>de</strong> alguma<br />
maneira envolvido com as artes. Então por que não levar<br />
um pouco mais longe seu po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> abstração e auxiliá-lo<br />
na aventura do pensamento conceitual? Mais do que<br />
ensinar a história do pensamento, mais do que ensinar<br />
a “exercer a cidadania”, mais do que apresentar este ou<br />
aquele autor, este ou aquele conteúdo, a tarefa <strong>de</strong> ensinar<br />
filosofia no Ensino Médio é estimular o aluno a questionar<br />
o mundo em que vive, é instigá-lo com problemas e<br />
motivá-lo a pensar.<br />
Lia <strong>de</strong> Oliveira Guarino<br />
formou-se doutora em<br />
filosofia pelo IFCS-<strong>UFRJ</strong>.<br />
Leciona filosofia no<br />
Instituto Superior <strong>de</strong><br />
Educação do Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro (ISERJ) e, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
2005, no CAp-<strong>UFRJ</strong>.<br />
O Cérebro em<br />
Transformação<br />
Reconheça que o comportamento é fruto do funcionamento do cérebro, e a conclusão<br />
é inevitável: o comportamento adolescente tem que ser produto <strong>de</strong> um cérebro adolescente. De<br />
fato, nos últimos cinco anos as neurociências produziram uma série <strong>de</strong> evidências que tornam<br />
obrigatório o reconhecimento da adolescência como mais uma fase do <strong>de</strong>senvolvimento<br />
cerebral: é a época <strong>de</strong> transição em que o cérebro da infância se transforma em um cérebro<br />
adulto, o que permite o aprendizado e o amadurecimento que transformam o adolescente<br />
em um ser in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, sensato e bem ajustado à socieda<strong>de</strong>. Todas as mudanças no cérebro<br />
durante o período – a busca <strong>de</strong> riscos, o distanciamento da família e a aproximação dos<br />
pares, a impulsivida<strong>de</strong>, o raciocínio abstrato, bem como o aprendizado social com os próprios<br />
erros, o <strong>de</strong>senvolvimento da empatia e da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> antecipar as conseqüências dos<br />
próprios atos – conspiram para isso. Se tudo <strong>de</strong>r certo, o resultado é mais do que gratificante<br />
para os pais, que vêem seus filhos tornarem-se in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, auto-suficientes, responsáveis,<br />
competentes socialmente e – por que não? – ótima companhia.<br />
Suzana Herculano-Houzel<br />
Ilustrações por<br />
Jandê Saavedra Farias<br />
agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />
2
2<br />
Uma nova transformação<br />
Visões anteriores consi<strong>de</strong>ravam que o cérebro já estaria<br />
anatômica e funcionalmente pronto ao terminar a<br />
infância. Vem daí o mito <strong>de</strong> que o comportamento típico<br />
do adolescente seria resultado <strong>de</strong> uma inundação por<br />
hormônios sexuais – com a implicação <strong>de</strong> que, caso a<br />
<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m hormonal pu<strong>de</strong>sse ser controlada, adolescentes<br />
continuariam crianças normais que um dia acordariam<br />
adultos perfeitamente ajustados. Caso o cérebro já estivesse<br />
mesmo pronto, o que mais explicaria as alterações súbitas<br />
no comportamento, senão os hormônios, obviamente em<br />
ebulição na adolescência?<br />
De fato, o cérebro cresce até atingir seu tamanho adulto<br />
no início da adolescência, mas daí em diante não cresce<br />
mais. As mudanças que transformam o cérebro infantil em<br />
adulto, portanto, não são um simples aumento generalizado<br />
<strong>de</strong> peso ou volume cerebral. Enquanto algumas estruturas<br />
<strong>de</strong> fato crescem, outras encolhem, sofrem reorganizações<br />
agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />
químicas e estruturais, e todas acabam por amadurecer<br />
funcionalmente. O sistema <strong>de</strong> recompensa do cérebro<br />
passa por gran<strong>de</strong>s mudanças, e com isso mudam os<br />
gostos, as vonta<strong>de</strong>s, os ímpetos, os <strong>de</strong>sejos, e também a<br />
vulnerabilida<strong>de</strong> ao vício e a transtornos do humor, como a<br />
<strong>de</strong>pressão. Os núcleos da base do cérebro, que participam<br />
do aprendizado <strong>de</strong> seqüências motoras, sofrem cortes<br />
drásticos, e assim as habilida<strong>de</strong>s motoras se cristalizam (o<br />
que talvez explique por que os gran<strong>de</strong>s atletas, e os gran<strong>de</strong>s<br />
talentos em geral, são feitos até a pré-adolescência). Os<br />
feixes que ligam as várias regiões do cérebro adquirem a<br />
capa final <strong>de</strong> mielina, que funciona como isolante elétrico<br />
e permite, portanto, a condução mais rápida e eficiente<br />
<strong>de</strong> impulsos. As regiões pré-frontais do cérebro, que<br />
permitem o raciocínio abstrato e o aprendizado social,<br />
finalmente amadurecem, e com isso surgem os interesses<br />
por literatura, filosofia, política, e nasce o jovem adulto<br />
responsável (porque é capaz <strong>de</strong> antecipar as conseqüências<br />
<strong>de</strong> suas ações e assumi-las), empático (porque consegue<br />
inferir e prever as emoções dos outros e agir conforme<br />
suas previsões), e bem inserido na socieda<strong>de</strong>.<br />
Imagens do cérebro adquiridas através <strong>de</strong> novos métodos<br />
<strong>de</strong> imageamento como a Ressonância Magnética (esq.)<br />
e a Tomografia Computadorizada (dir.)<br />
A nova era da pesquisa sobre a “neurociência do<br />
adolescente” é fundada essencialmente sobre as técnicas<br />
<strong>de</strong> imageamento cerebral, tanto morfológico quanto<br />
funcional, que permitem aos cientistas procurar na<br />
reformulação continuada do cérebro as bases para as<br />
mudanças cognitivas e comportamentais da adolescência.<br />
Os Institutos Nacionais <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> dos EUA já reconheceram<br />
como a iniciativa é importante, e custeiam atualmente um<br />
projeto <strong>de</strong> 16 milhões <strong>de</strong> dólares que tem por objetivo<br />
escanear regularmente o cérebro <strong>de</strong> 500 crianças e jovens<br />
<strong>de</strong> 2 a 21 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> e testar suas funções cognitivas ao<br />
longo <strong>de</strong> sete anos, em paralelo ao estudo da sua herança<br />
genética.<br />
A adolescência começa no cérebro<br />
Hormônios sexuais são meros executores <strong>de</strong> um<br />
programa <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento que começa no cérebro, ou<br />
mais exatamente no hipotálamo, uma pequena estrutura<br />
diencefálica responsável por promover ajustes fisiológicos<br />
<strong>de</strong> vários tipos pelo corpo afora – inclusive ajustes<br />
hormonais.<br />
Ainda não se conhece o gatilho que faz o hipotálamo iniciar<br />
a adolescência, mas é sabido que ele só é apertado quando<br />
reservas suficientes <strong>de</strong> gordura são acumuladas no corpo, o<br />
que é comunicado ao hipotálamo através da concentração<br />
no sangue do hormônio leptina, produzido pelos próprios<br />
adipócitos à medida que eles armazenam gordura.<br />
Havendo leptina suficiente, o hipotálamo faz com que a<br />
glândula hipófise produza hormônios que agem sobre as<br />
“<br />
Hormônios<br />
”<br />
sexuais são meros<br />
executores <strong>de</strong><br />
um programa <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>senvolvimento<br />
que começa no<br />
cérebro.<br />
gônadas e promovem a secreção <strong>de</strong> hormônios sexuais. As<br />
mudanças no cérebro se seguem, mas acontecem mesmo<br />
na ausência <strong>de</strong> hormônios sexuais.<br />
O que os hormônios sexuais fazem, então? Ao contrário<br />
da visão popular, sua influência sobre o comportamento<br />
adolescente limita-se a tornar o cérebro sensível aos<br />
apelos do sexo – e mesmo assim, só porque as estruturas<br />
cerebrais envolvidas amadurecem e tornam-se aptas. É<br />
aí que, logo no começo da adolescência, manifesta-se e<br />
<strong>de</strong>scobre-se a preferência sexual, <strong>de</strong>terminada bem mais<br />
cedo, durante a gestação.<br />
O sistema <strong>de</strong> recompensa e a conquista<br />
da in<strong>de</strong>pendência<br />
Alguns dos primeiros indícios comportamentais da<br />
chegada da adolescência são o tédio e o <strong>de</strong>sapego com as<br />
ativida<strong>de</strong>s da infância, logo seguidos por uma busca por<br />
novida<strong>de</strong>s e pelo comportamento <strong>de</strong> risco. A razão <strong>de</strong><br />
todas essas mudanças está na remo<strong>de</strong>lagem logo no início<br />
da adolescência do sistema <strong>de</strong> recompensa do cérebro,<br />
o conjunto <strong>de</strong> estruturas que nos premiam com uma<br />
sensação <strong>de</strong> prazer e nos fazem querer mais <strong>de</strong> tudo o que<br />
parece bom ou dá certo.<br />
Logo no início da adolescência há um embotamento do<br />
sistema <strong>de</strong> recompensa, quando ele per<strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> um<br />
terço da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r à dopamina, substância<br />
essencial à ativação do sistema e, portanto, à sensação<br />
<strong>de</strong> prazer. Ao tornar-se mais difícil <strong>de</strong> ser ativado pelos<br />
agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />
2
30<br />
prazeres antigos, o sistema <strong>de</strong> recompensa recémembotado<br />
do adolescente faz com que o jovem abandone<br />
seus velhos hábitos, subitamente tornados insatisfatórios,<br />
em busca <strong>de</strong> novos prazeres. Os resultados aparecem<br />
simultaneamente em vários níveis: o tédio, o <strong>de</strong>sinteresse<br />
por tudo o que é velho e conhecido, a supervalorização<br />
do novo (pois novida<strong>de</strong>s são estímulos naturais para o<br />
sistema <strong>de</strong> recompensa), o surgimento <strong>de</strong> novos interesses<br />
(música, esportes, literatura, filosofia, religião, amparados<br />
pela capacida<strong>de</strong> recém-adquirida <strong>de</strong> pensamento abstrato,<br />
explorada mais adiante), a importância atribuída a novas<br />
interações sociais e a novas amiza<strong>de</strong>s (e o <strong>de</strong>sinteresse pela<br />
companhia dos pais), a impulsivida<strong>de</strong> (conseqüência da<br />
necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recompensa imediata) e os comportamentos<br />
<strong>de</strong> risco tão característicos da adolescência.<br />
Todas essas alterações comportamentais têm uma<br />
conseqüência comum crucial: permitir que o adolescente<br />
adquira a experiência que o tornará um adulto<br />
in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte. O tédio e a conseqüente busca por<br />
novida<strong>de</strong>s, e os riscos que vêm com elas, são responsáveis<br />
por vários dos feitos necessários para a in<strong>de</strong>pendência<br />
cada vez mais <strong>de</strong>sejada nessa ida<strong>de</strong>: afastar o adolescente<br />
da segurança da família; impulsioná-lo a explorar as<br />
capacida<strong>de</strong>s físicas do seu novo corpo e as capacida<strong>de</strong>s<br />
intelectuais crescentes do cérebro em <strong>de</strong>senvolvimento;<br />
apren<strong>de</strong>r, graças ao convívio com um círculo <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong>s<br />
cada vez maior, as regras da vida em socieda<strong>de</strong>; e buscar<br />
um(a) parceiro(a) sexual longe da família. Para que<br />
tudo isso aconteça, aceitar correr pequenos riscos para<br />
agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />
“<br />
Essas alterações<br />
”<br />
comportamentais têm<br />
uma conseqüência<br />
comum crucial: permitir<br />
que o adolescente<br />
adquira a experiência<br />
que o tornará um adulto<br />
in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte.<br />
abandonar o conforto do lar e expor-se a novida<strong>de</strong>s é<br />
fundamental. Senão, com tudo já ofertado, por que alguém<br />
em sã consciência <strong>de</strong>ixaria a casa dos pais para procurar<br />
sua turma?<br />
Talvez por isso o gosto por riscos seja norma na<br />
adolescência, e há quem julgue que riscos mo<strong>de</strong>stos<br />
constituem “experimentação apropriada para a ida<strong>de</strong>”<br />
nesta fase. A evidência para isso é que adolescentes que<br />
se engajam em riscos mo<strong>de</strong>stos são mais competentes<br />
socialmente tanto na infância quanto mais tar<strong>de</strong>, na<br />
ida<strong>de</strong> adulta, do que jovens que correm riscos <strong>de</strong>mais ou<br />
nenhum.<br />
O problema, claro, é que se correr pequenos riscos<br />
po<strong>de</strong> ser construtivo ou mesmo necessário para o<br />
aprendizado social, excessos colocam em risco a vida do<br />
adolescente – e às vezes as daqueles ao seu redor. Além<br />
disso, o embotamento do sistema <strong>de</strong> recompensa torna<br />
os adolescentes vulneráveis a drogas, que estimulam<br />
diretamente o sistema e levam a uma redução ainda maior<br />
do número <strong>de</strong> receptores dopaminérgicos. Se usadas<br />
nessa época, o sistema se cristaliza com um número<br />
<strong>de</strong> receptores menor do que o normal – e o resultado<br />
são adultos particularmente propensos a vícios, e a um<br />
consumo <strong>de</strong> drogas mais intenso e duradouro do que<br />
se tivessem <strong>de</strong>ixado para experimentar a droga somente<br />
mais tar<strong>de</strong>.<br />
Ainda que necessário, o gosto por riscos é perigoso<br />
principalmente no início da adolescência, quando o<br />
córtex cerebral ainda não passou pelas transformações,<br />
provavelmente resultado <strong>de</strong> limpeza sináptica, que<br />
o dotarão <strong>de</strong> uma das habilida<strong>de</strong>s características dos<br />
adultos: a habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> controlar seus próprios impulsos<br />
e dizer não.<br />
Reorganização cortical, controle<br />
executivo e vida em socieda<strong>de</strong><br />
Uma das <strong>de</strong>scobertas mais impactantes da neurociência da<br />
adolescência é uma nova onda <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> um excesso<br />
<strong>de</strong> conexões entre neurônios até a puberda<strong>de</strong>, seguida<br />
<strong>de</strong> eliminação dos excessos e <strong>de</strong> expansão da substância<br />
branca que interconecta regiões diferentes do córtex. A<br />
mudança nessas interconexões permite a transmissão em<br />
tempo hábil <strong>de</strong> sinais nervosos entre regiões cerebrais, e<br />
<strong>de</strong>ste modo a integração funcional entre partes diferentes<br />
do córtex.<br />
As regiões da linguagem, por exemplo, espalhadas nos dois<br />
lados do cérebro, conversam melhor entre si – e o domínio<br />
<strong>de</strong> linguagem do adolescente se <strong>de</strong>senvolve. As respostas<br />
motoras, que exigem que o cérebro processe um estímulo,<br />
gere e execute uma resposta, se aceleram: o tempo <strong>de</strong><br />
resposta a estímulos diminui exponencialmente ao longo<br />
da infância, e se estabiliza no meio da adolescência, aos 14<br />
ou 15 anos. Além disso, a expansão da substância branca<br />
está relacionada à melhora em várias funções básicas<br />
do córtex pré-frontal que caracterizam a evolução do<br />
comportamento adolescente, como a memória <strong>de</strong> trabalho,<br />
“<br />
A adolescência não é um<br />
período ao qual <strong>de</strong>vese<br />
apenas sobreviver. Ao<br />
contrário, a adolescência<br />
é um período <strong>de</strong>sejável<br />
”<br />
e imprescindível <strong>de</strong><br />
aprendizado intenso.<br />
agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />
31
32<br />
a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seleção e inibição <strong>de</strong> comportamentos, e a<br />
supressão <strong>de</strong> respostas automáticas. É o amadurecimento<br />
do córtex pré-frontal na adolescência que permite,<br />
por exemplo, o pensamento abstrato, que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong><br />
da capacida<strong>de</strong> exclusiva <strong>de</strong> neurônios pré-frontais <strong>de</strong><br />
representar objetos que não estão mais sob os olhos ou ao<br />
alcance das mãos. Aliada à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> novos prazeres,<br />
a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lidar com o abstrato permite que o jovem<br />
<strong>de</strong>scubra novos tipos <strong>de</strong> literatura, música, se interesse por<br />
filosofia, política, e inaugure a fase i<strong>de</strong>alista, tão necessária,<br />
<strong>de</strong> reconstrução do mundo.<br />
A adolescência é também um período <strong>de</strong> intenso<br />
aprendizado social. Depois <strong>de</strong> termos aprendido em casa<br />
o básico sobre as relações interpessoais e as regras da vida<br />
em família, apren<strong>de</strong>mos a aplicar esse conhecimento a<br />
um mundo que se torna cada vez maior, à medida que o<br />
círculo <strong>de</strong> relações pessoais e o papel social <strong>de</strong> cada um<br />
se expan<strong>de</strong>, impulsionado pela necessida<strong>de</strong> do novo. E<br />
viver em socieda<strong>de</strong> requer uma série <strong>de</strong> talentos. É preciso<br />
ter flexibilida<strong>de</strong> cognitiva – o famoso “jogo <strong>de</strong> cintura”<br />
– para respon<strong>de</strong>r <strong>de</strong> acordo com o contexto e apren<strong>de</strong>r<br />
a generalizar sobre experiências passadas para negociar<br />
situações novas; é preciso ter iniciativa, planejamento,<br />
auto-suficiência e humor.<br />
Todas essas habilida<strong>de</strong>s são <strong>de</strong>senvolvidas graças à<br />
combinação <strong>de</strong> experiência com o amadurecimento das<br />
últimas regiões corticais que faltavam: o córtex órbitofrontal<br />
e as estruturas associadas do chamado Circuito<br />
Social, como o giro temporal superior. São provavelmente<br />
essas mudanças a base da transformação comportamental<br />
que coroa o fim da adolescência: o tornar-se responsável,<br />
moral, e empático. Essas regiões do córtex cerebral<br />
são responsáveis pelo uso das emoções como guias <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>cisões realmente importantes, pelo arrependimento<br />
e o aprendizado emocional com os próprios erros, pela<br />
antecipação das conseqüências dos próprios atos, pela<br />
flexibilida<strong>de</strong> para parar <strong>de</strong> fazer algo que era bom mas<br />
<strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser, e por fim pela relação íntima com o vizinho<br />
através do entendimento das suas sensações, intenções e<br />
reações que a empatia e a Teoria da Mente – o colocar-se<br />
no lugar do outro – permitem.<br />
Adolescência é coisa do cérebro. E daí?<br />
A nova visão da adolescência como um período<br />
perfeitamente normal, obrigatório e na verda<strong>de</strong> <strong>de</strong>sejável<br />
<strong>de</strong> reorganização do cérebro <strong>de</strong>ve chegar como um alento<br />
para aqueles adolescentes que não agüentam mais ouvir<br />
agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />
que “são os hormônios” a causa <strong>de</strong> seu comportamento.<br />
De fato, o cérebro que entra na adolescência não está<br />
pronto e perfeito, após todos os cuidados e educação<br />
recebidos dos pais, nem é subitamente perturbado e quase<br />
“estragado” ao ser invadido pelos hormônios <strong>de</strong>spejados<br />
pelo corpo. A adolescência não é um período ao qual <strong>de</strong>vese<br />
apenas sobreviver. Ao contrário, a adolescência é um<br />
período <strong>de</strong>sejável e imprescindível <strong>de</strong> aprendizado intenso.<br />
Enten<strong>de</strong>r que as mudanças <strong>de</strong> comportamento nascem<br />
<strong>de</strong> mudanças necessárias no cérebro <strong>de</strong>ve ajudar pais e<br />
professores a reconhecer e <strong>de</strong>sempenhar seu papel mais<br />
importante durante essa época da vida dos adolescentes:<br />
ser um “córtex pré-frontal emprestado” para eles.<br />
Portanto, à pergunta “adolescentes precisam mesmo se<br />
comportar assim?”, a neurociência só tem uma resposta<br />
a oferecer: Precisam, sim – mesmo porque não seriam<br />
capazes <strong>de</strong> fazer diferente. O comportamento adolescente<br />
é resultado <strong>de</strong> um cérebro adolescente. Nada mais, nada<br />
menos.<br />
Sugestões <strong>de</strong> leitura<br />
Herculano-Houzel, S. O cérebro em transformação. Ed.<br />
Objetiva, 200 .<br />
Strauch, B. Como enten<strong>de</strong>r a cabeça dos adolescentes.<br />
Ed. Elsevier, 2003.<br />
Clerget, S. Adolescência: a crise necessária. Rocco, 2000.<br />
Bióloga formada pela <strong>UFRJ</strong>, Suzana Herculano-<br />
Houzel é neurocientista pós-graduada pela Case<br />
Western Reserve University (EUA), Universida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Paris VI (França) e Instituto Max-Planck para a<br />
Pesquisa do Cérebro (Alemanha). Professora adjunta<br />
do Departamento <strong>de</strong> Anatomia da <strong>UFRJ</strong>, pesquisa<br />
as diferenças entre cérebros gran<strong>de</strong>s e pequenos,<br />
escreveu três livros <strong>de</strong> divulgação da neurociência e<br />
criou o site O Cérebro Nosso <strong>de</strong> Cada Dia<br />
(www.cerebronosso.bio.br).<br />
Adolescente:<br />
seu cérebro já foi um.<br />
Filipe Silva-Porto<br />
Professor <strong>de</strong> Biologia CAp-<strong>UFRJ</strong><br />
Resenha do livro “O Cérebro em Transformação”,<br />
<strong>de</strong> Suzana Herculano-Houzel, Editora Objetiva,<br />
2005.<br />
Se você gosta <strong>de</strong> música alta, vive um tédio<br />
interminável, está fascinado com drogas ou sofre<br />
com paixões avassaladoras seus problemas não<br />
acabaram. Mas pelo menos estão mais fáceis <strong>de</strong> serem<br />
compreendidos. Você está vivendo sua adolescência.<br />
E não se assuste se você já tem 30 anos. Segundo as<br />
Neurociências, você po<strong>de</strong> ser um cara normal.<br />
Os anos 90 formaram a década das Neurociências e<br />
Suzana Herculano-Houzel soube aproveitar. Nesse<br />
período, ela se formou em Biologia pela <strong>UFRJ</strong> e<br />
fez doutorado e pós-doutorado em Neurociências<br />
na Europa. Voltou ao Brasil em 1999 e resolveu<br />
se <strong>de</strong>dicar à divulgação científica. Já publicou três<br />
livros: “O Cérebro Nosso <strong>de</strong> Cada Dia”, “Sexo,<br />
Drogas, Rock’n’Roll & Chocolate” e “O Cérebro em<br />
Transformação” (2005, Editora Objetiva – R$ 27,61<br />
na internet). É sobre este último que vamos falar.<br />
Po<strong>de</strong>mos resumi-lo como uma abordagem<br />
neurocientífica para explicar o comportamento<br />
adolescente, escrito em linguagem <strong>de</strong>nsa, porém<br />
acessível ao público leigo disposto a digerir a<br />
terminologia técnica. Se você acha que as questões<br />
envolvendo este feliz – ou não – e certamente<br />
agitado período <strong>de</strong> vida são fruto exclusivamente da<br />
educação, das companhias e dos hormônios, errou.<br />
Suzana discute, baseada em pesquisas recentes, e em<br />
alguns casos bastante controversas, o quanto e como<br />
o <strong>de</strong>senvolvimento do cérebro se prolonga além da<br />
infância e, para certas estruturas, só se completa lá<br />
pelos 30 a 40 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>.<br />
O livro sugere que essas mudanças – <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes da<br />
expressão <strong>de</strong> genes, da influência <strong>de</strong> alguns hormônios e<br />
das experiências <strong>de</strong> vida – po<strong>de</strong>m não só ser prazerosas<br />
como também necessárias à construção <strong>de</strong> um adulto<br />
saudável. Suzana ainda se aventura a propor formas<br />
alternativas para lidar <strong>de</strong> maneira mais produtiva com<br />
adolescentes e, nesse sentido, seu livro traz uma boa<br />
contribuição para professores, licenciandos e, claro,<br />
estudantes adolescentes.<br />
“O Cérebro em Transformação” discute, à luz da<br />
evolução, como os programas biológicos – no caso<br />
aqueles responsáveis pela construção da arquitetura<br />
cerebral humana – interagem com as experiências <strong>de</strong><br />
vida, facilitando ao animal humano sua sobrevivência<br />
e reprodução ao longo <strong>de</strong> sua passagem pelo planeta<br />
Terra. Por isso mesmo, a obra <strong>de</strong> Suzana representa<br />
mais um passo na superação do velho antagonismo<br />
entre cultura e natureza. O ser cultural humano não po<strong>de</strong><br />
ser compreendido na sua totalida<strong>de</strong> sem consi<strong>de</strong>rar sua<br />
faceta animal.<br />
Aqueles que acreditam que somos uma tábula rasa,<br />
à espera dos escritos da experiência, <strong>de</strong>vem tomar<br />
cuidado com o “O Cérebro em Transformação”.<br />
Sua leitura nos leva a refletir sobre a materialida<strong>de</strong><br />
da condição humana. Os sentimentos nobres, como o<br />
amor e a solidarieda<strong>de</strong>, estão enraizados nos circuitos<br />
neurais e na história <strong>de</strong> nossa evolução. Não há nada <strong>de</strong><br />
sobrenatural responsável pelo nosso sentido <strong>de</strong> moral,<br />
ou pela nossa empatia. Não há fantasmas na máquina.<br />
Como um bom livro <strong>de</strong>ve fazer, ele suscita questões:<br />
como diferentes abordagens educacionais po<strong>de</strong>m<br />
interferir na estruturação do cérebro do adolescente<br />
e, portanto, influenciar o comportamento do futuro<br />
adulto? O quanto diferenças genéticas individuais<br />
po<strong>de</strong>riam acarretar diferenças na construção do cérebro<br />
e serem responsáveis por diferenças comportamentais?<br />
A Ciência será capaz <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r a tudo isso? O livro<br />
<strong>de</strong> Suzana nos leva a crer que sim.<br />
agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />
33
Foto retirada do arquivo do CAp-<strong>UFRJ</strong><br />
O antigo prédio do CAp-<strong>UFRJ</strong><br />
na Praia <strong>de</strong> Botafogo<br />
34<br />
agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />
Histórico <strong>de</strong> Criação<br />
do CAp-<strong>UFRJ</strong><br />
Izabel Cristina Goudart da Silva<br />
O <strong>Colégio</strong> <strong>de</strong> <strong>Aplicação</strong> da <strong>UFRJ</strong> foi o primeiro colégio <strong>de</strong> aplicação<br />
fundado no Brasil. A exposição <strong>de</strong> motivos do projeto <strong>de</strong> criação, referência universal<br />
para justificar a inserção dos colégios <strong>de</strong> aplicação na universida<strong>de</strong> brasileira,<br />
expressa uma preocupação <strong>de</strong> ilustres educadores da época, como Lourenço Filho,<br />
Gustavo <strong>de</strong> Capanema e outros. I<strong>de</strong>ntifica-se com a discussão da reforma do Ensino<br />
Médio e, principalmente, <strong>de</strong> como esta reforma se daria a partir da formação <strong>de</strong> professores.<br />
Além disso, teria o objetivo <strong>de</strong> propiciar um campo <strong>de</strong> aplicação e <strong>de</strong>senvolvimento<br />
<strong>de</strong> novas metodologias. Tais argumentos ainda são atuais, tendo em vista<br />
que continuamos enfrentando alguns dos mesmos problemas <strong>de</strong> 60 anos atrás.<br />
agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />
3
36<br />
O início dos planos <strong>de</strong> organização <strong>de</strong> um “colégio<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> ensino”, a ser instalado anexo à<br />
Faculda<strong>de</strong> Nacional <strong>de</strong> Filosofia, data <strong>de</strong> 21 <strong>de</strong> julho<br />
<strong>de</strong> 1944. Segundo o professor Luiz Alves <strong>de</strong> Mattos,<br />
catedrático interino <strong>de</strong> Didática Geral e Especial da<br />
Faculda<strong>de</strong> Nacional <strong>de</strong> Filosofia (FNF), <strong>de</strong>vido ao<br />
interesse e esforços do então diretor do Instituto Nacional<br />
<strong>de</strong> Estudos Pedagógicos (INP), doutor Lourenço Filho, o<br />
professor Álvaro Neiva foi <strong>de</strong>signado para apresentar um<br />
projeto do futuro <strong>Colégio</strong> <strong>de</strong> <strong>Aplicação</strong> em colaboração<br />
com os professores das ca<strong>de</strong>iras pedagógicas da FNF.<br />
Tal iniciativa veio ao encontro <strong>de</strong> uma campanha <strong>de</strong><br />
esforços, <strong>de</strong>corrente da lei que criou a FNF, <strong>de</strong> abril <strong>de</strong><br />
1939, mas que, por não prever a criação <strong>de</strong> um colégio<br />
<strong>de</strong> aplicação, conduzia à realização do estágio em classes<br />
ginasianas cedidas a título <strong>de</strong> favor pessoal pelo <strong>Colégio</strong><br />
Pedro II e por diretores <strong>de</strong> colégios particulares. Tal estágio,<br />
no entanto, como disposto no relatório do INP, não atendia<br />
à proposta <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> professores pretendida pela<br />
ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Didática da FNF. Em seu discurso por ocasião<br />
da sessão <strong>de</strong> instalação do <strong>Colégio</strong> <strong>de</strong> <strong>Aplicação</strong> da FNF,<br />
em 18 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1948, o professor Mattos observou<br />
que até então os estágios cerceavam “<strong>de</strong>masiadamente as<br />
possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> uma observação sistemática e <strong>de</strong> uma<br />
prática eficaz, tolhendo-nos toda a iniciativa e liberda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> ação, justamente na fase culminante e doce: o eixo <strong>de</strong><br />
formação para o magistério que é a Prática <strong>de</strong> Ensino.”<br />
O relatório do INP também <strong>de</strong>stacava os problemas<br />
oriundos da pouca duração <strong>de</strong>stes estágios e da supervisão<br />
<strong>de</strong> professores. A criação do <strong>Colégio</strong> <strong>de</strong> Demonstração<br />
surge como proposta para aten<strong>de</strong>r a preocupação <strong>de</strong> cercar<br />
o estágio inicial da prática do magistério, consi<strong>de</strong>rado<br />
como o ponto mais alto do Curso <strong>de</strong> Didática, do máximo<br />
<strong>de</strong> condições favoráveis, através da “criação <strong>de</strong> um<br />
<strong>Colégio</strong> <strong>de</strong> Demonstração, convenientemente instalado,<br />
superiormente dirigido, servido por um professorado <strong>de</strong><br />
completa formação pedagógica, integrado na FNF, à falta<br />
<strong>de</strong> uma Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Educação, e intimamente coor<strong>de</strong>nado<br />
com a ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Didática Geral e Especial do seu Curso<br />
<strong>de</strong> Didática”, ainda nas palavras do professor Mattos.<br />
agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />
Foto cedida pelo arquivo do CAp-<strong>UFRJ</strong><br />
A antiga fachada do CAp-<strong>UFRJ</strong><br />
Convergindo com a opinião do professor Mattos e <strong>de</strong><br />
docentes da FNF, as finalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> criação do <strong>Colégio</strong> são<br />
assim enumeradas no relatório do INP:<br />
1. Integrar a Faculda<strong>de</strong> Nacional <strong>de</strong> Filosofia na sua legítima<br />
função <strong>de</strong> seminário do novo magistério secundário do<br />
país;<br />
2. proporcionar à ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> didática um excelente campo<br />
para suas <strong>de</strong>monstrações, aplicações e pesquisas;<br />
3. ser o órgão indicado para abrir novos horizontes à<br />
cultura pedagógica brasileira, proporcionando à ca<strong>de</strong>ira<br />
<strong>de</strong> didática efetivar uma reforma profunda no espírito, na<br />
orientação e na técnica docente da escola secundária.<br />
Este clima <strong>de</strong> inovação objetivava integrar a escola<br />
secundária à corrente educacional progressista da época,<br />
colaborando para a constituição <strong>de</strong> um tipo <strong>de</strong> ensino<br />
ajustado ao meio nacional e à renovação didática que ora<br />
se processava.<br />
Tal espírito não só permeava o pensamento <strong>de</strong> nossos<br />
educadores como também o dos alunos da graduação.<br />
A criação do <strong>Colégio</strong> figurava como um dos principais<br />
objetivos a serem atingidos no programa do Diretório<br />
Acadêmico da FNF dos anos <strong>de</strong> 1945 e 46. Assume a<br />
reitoria nesta época o doutor Azevedo <strong>de</strong> Amaral, que<br />
expressa seu estranhamento da não existência <strong>de</strong> um<br />
colégio vinculado à universida<strong>de</strong> e compromete-se com<br />
a sua criação. Em 12 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1946, o <strong>de</strong>creto-lei nº<br />
9053 estabelece a exigência <strong>de</strong> um <strong>Colégio</strong> <strong>de</strong> <strong>Aplicação</strong><br />
em todas as Faculda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Filosofia do país. Neste<br />
sentido, o diretor da FNF, professor Antonio Carneiro<br />
Leão, em estreita colaboração com a ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Didática e<br />
com a reitoria, busca a sua concretização, mas o <strong>Colégio</strong><br />
não é implantado <strong>de</strong>vido a dificulda<strong>de</strong>s orçamentárias. A<br />
escola é criada somente dois anos após a promulgação do<br />
<strong>de</strong>creto, graças à colaboração da Fundação Getúlio Vargas,<br />
que ce<strong>de</strong> provisoriamente o imóvel situado na Praia <strong>de</strong><br />
Botafogo n.º 186, com todas as instalações necessárias<br />
para o funcionamento do <strong>Colégio</strong>.<br />
agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />
3
3<br />
As ativida<strong>de</strong>s do Ginásio <strong>de</strong> Demonstração da Faculda<strong>de</strong><br />
Nacional <strong>de</strong> Filosofia, atual <strong>Colégio</strong> <strong>de</strong> <strong>Aplicação</strong> da<br />
<strong>UFRJ</strong>, iniciam-se em 18 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1948, estabelecendo<br />
como prerrogativas ser um campo para:<br />
1. A Prática <strong>de</strong> Ensino dos alunos mestres do curso <strong>de</strong><br />
magistério em quatro etapas:<br />
· análise das classes;<br />
· observação sistemática;<br />
· prática dirigida;<br />
· direção autônoma <strong>de</strong> classes.<br />
2. O aperfeiçoamento dos licenciandos regentes a partir<br />
<strong>de</strong>:<br />
· seminários coletivos;<br />
· conferências individuais <strong>de</strong> orientação metodológica;<br />
· participação na crítica e julgamento da prática.<br />
3. A pesquisa psicopedagógica e experimentação<br />
metodológica – segundo Mattos esta é a gran<strong>de</strong> função<br />
primeira dos colégios congêneres das universida<strong>de</strong>s norteamericanas,<br />
que serviram <strong>de</strong> base para fundamentar o<br />
projeto dos colégios <strong>de</strong> aplicação brasileiros.<br />
agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />
A atual fachada do<br />
CAp-<strong>UFRJ</strong> na Lagoa<br />
Ciente <strong>de</strong> que o sucesso <strong>de</strong>sse empreendimento <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ria<br />
em gran<strong>de</strong> parte dos recursos e do apoio que as autorida<strong>de</strong>s<br />
superiores da Universida<strong>de</strong> e da Faculda<strong>de</strong> dispensariam a<br />
esta nova instituição e da colaboração que os colegas do<br />
corpo docente prestariam, o professor Mattos preconizava<br />
o futuro <strong>de</strong>stas instituições com as seguintes palavras:<br />
“Uma instituição <strong>de</strong> ensino não é algo que se improvisa<br />
com meia dúzia <strong>de</strong> leis e regulamentos. Uma instituição <strong>de</strong><br />
ensino é uma planta muito <strong>de</strong>licada e <strong>de</strong> lento crescimento<br />
que só começa a dar seus frutos excelentes <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 50<br />
anos <strong>de</strong> cuidados.”<br />
Após mais <strong>de</strong> 50 anos , é tempo <strong>de</strong> colher os frutos.<br />
Izabel Cristina Goudart<br />
é mestra em educação pela UERJ e<br />
professora <strong>de</strong> Química do CAp-<strong>UFRJ</strong>, on<strong>de</strong><br />
foi vice-diretora no período <strong>de</strong> 2002 a 2005.<br />
Foto retirada do arquivo do CAp-<strong>UFRJ</strong><br />
Aconteceu no<br />
1º Semestre<br />
Patrocínio para Música<br />
Em julho o Setor Curricular <strong>de</strong> Música do CAp-<strong>UFRJ</strong><br />
foi contemplado com o patrocínio da FINEP para o seu<br />
projeto Toque e se Toque, coor<strong>de</strong>nado pelos professores Alice<br />
Sena e Mario Ferraro, e que consiste no treinamento em<br />
diferentes instrumentos – violão, cavaquinho, percussão,<br />
flauta doce e voz. O projeto preten<strong>de</strong> capacitar jovens<br />
<strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s carentes a partir <strong>de</strong> uma metodologia <strong>de</strong><br />
educação que parte <strong>de</strong> sua realida<strong>de</strong>, com a construção<br />
<strong>de</strong> material didático próprio e especificamente focado na<br />
música popular brasileira.<br />
Mudanças no SOE<br />
As orientadoras educacionais Rosângela, Cecília e Rosane<br />
comemoram suas recentes aposentadorias. De 1990 a<br />
2006 <strong>de</strong>dicaram seus esforços profissionais ao CAp-<strong>UFRJ</strong>,<br />
on<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolveram o projeto <strong>de</strong> extensão NUCAp, que<br />
esten<strong>de</strong> o Setor Curricular à comunida<strong>de</strong>. Cláudia Ribeiro<br />
é a nova concursada do setor <strong>de</strong> orientação educacional.<br />
foto por Maria Cecília Cardoso<br />
CAp-<strong>UFRJ</strong> se <strong>de</strong>staca em avaliações<br />
Os alunos da 8 a série do CAp-<strong>UFRJ</strong> obtiveram a primeira<br />
colocação na Prova Brasil <strong>de</strong> 2005, exame que avalia<br />
o <strong>de</strong>sempenho em Matemática e Língua Portuguesa<br />
<strong>de</strong> alunos do ensino público em todo o país. No total<br />
foram avaliados 3.306.378 estudantes, equivalendo a 70%<br />
do público alvo do exame, que eram os 4,7 milhões <strong>de</strong><br />
estudantes <strong>de</strong> 4 a e 8 a série matriculados em 40.920 escolas<br />
públicas urbanas com pelo menos 30 alunos na respectiva<br />
série.<br />
Os alunos do Ensino Médio colocaram o CAp-<strong>UFRJ</strong><br />
entre os 10 melhores colégios do Brasil (7º lugar geral e<br />
2º melhor <strong>de</strong>ntre os colégios públicos) <strong>de</strong> acordo com o<br />
ranking do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM)<br />
em 2005.<br />
CopaCAp<br />
Aproveitando o clima da Copa do Mundo 2006, o Setor<br />
Curricular <strong>de</strong> Educação Física do CAp-<strong>UFRJ</strong>, em conjunto<br />
com seus licenciandos, realizou na escola a CopaCAp: um<br />
torneio <strong>de</strong> futebol que ocorreu nos dias 20 e 27 <strong>de</strong> maio<br />
e 10 <strong>de</strong> junho, e do qual participaram alunos da classe<br />
<strong>de</strong> alfabetização (CA) ao Ensino Médio. Na abertura foi<br />
comemorado o aniversário <strong>de</strong> 58 anos da escola, com<br />
homenagens, abertura oficial do evento e a apresentação<br />
do coral sob a orientação da professora Maria Alice, do<br />
Setor Curricular <strong>de</strong> Música. Houve ainda a participação<br />
dos licenciandos em Enfermagem do Instituto Ana Nery<br />
da <strong>UFRJ</strong>, que fizeram os atendimentos <strong>de</strong> primeiros<br />
socorros aos nossos atletas.<br />
agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />
3
40<br />
Ciência Ainda que à Tardinha<br />
No primeiro semestre <strong>de</strong> 2006 aconteceram as primeiras<br />
palestras do programa <strong>de</strong> seminários das Ciências da<br />
Natureza do CAp-<strong>UFRJ</strong>, o Ciência Ainda que à Tardinha.<br />
Aberto à comunida<strong>de</strong>, o programa traz, uma vez por mês,<br />
sempre à tar<strong>de</strong>, pesquisadores convidados <strong>de</strong> diversas<br />
áreas da Ciência para seminários em temas diversos. Os<br />
primeiros foram “Átomo: da Grécia Antiga a Dalton”, pelo<br />
professor Carlos Filgueiras (IQ-<strong>UFRJ</strong>), “Som”, pelo<br />
engenheiro Marco Nabuco (INMETRO), “Possibilida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> Vida Extraterrestre”, pelo professor Gustavo Porto <strong>de</strong><br />
Mello (OV-<strong>UFRJ</strong>), e “Pilhas e Baterias x Meio Ambiente”,<br />
pelo professor Julio Carlos Afonso (IQ-<strong>UFRJ</strong>).<br />
O programa, coor<strong>de</strong>nado pelos professores Mariana<br />
Villela (Biologia), Guilherme Parreira (Química) e Beto<br />
Pimentel (Física), terá continuida<strong>de</strong> no segundo semestre<br />
com as seguintes palestras:<br />
“A Polêmica Newton-Huygens sobre a Natureza da Luz”, com o<br />
professor Ricardo Barthem (IF-<strong>UFRJ</strong>);<br />
“Recepção do Darwinismo no Brasil”, com o professor Ricardo<br />
Waizbort (Casa <strong>de</strong> Oswaldo Cruz - FIOCRUZ);<br />
“Metrologia: a Ciência das Medições”, com o engenheiro José<br />
Carlos Valente <strong>de</strong> Oliveira (INMETRO);<br />
“A Seta do Tempo”, com o professor Carlos Aguiar (IF-<br />
<strong>UFRJ</strong>)<br />
Pesquisa em Ensino <strong>de</strong> Química<br />
No dia 18 <strong>de</strong> maio, a professora do CAp-<strong>UFRJ</strong> Rozana<br />
Gomes <strong>de</strong> Abreu participou como convidada <strong>de</strong> mesaredonda<br />
do Ciclo <strong>de</strong> Palestras Ensino <strong>de</strong> Ciências-2006,<br />
do programa <strong>de</strong> pós-graduação lato sensu em ensino<br />
<strong>de</strong> ciências do CEFET-Química/RJ. A partir do tema,<br />
“Desafios do Ensino <strong>de</strong> Química na Educação Básica”,<br />
Rozana discursou sobre o currículo e o ensino <strong>de</strong> Química.<br />
Seu artigo “Contextualização e Tecnologias em Livros Didáticos<br />
<strong>de</strong> Biologia e Química”, escrito em co-autoria com sua<br />
orientadora <strong>de</strong> doutorado e com a professora Margarida<br />
Gomes, po<strong>de</strong> ser lido online na revista Investigações<br />
em Ensino <strong>de</strong> Ciências (www.if.ufrgs.br/public/ensino/<br />
vol10/n3/v10_n3_a6.html). O artigo faz uma análise <strong>de</strong><br />
como alguns conceitos divulgados nos PCNEM foram<br />
apropriados pelos livros didáticos.<br />
agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />
NICJr. 1<br />
No primeiro semestre <strong>de</strong> 2006 o Núcleo <strong>de</strong> Iniciação<br />
Científica Jr. do CAp-<strong>UFRJ</strong>, sob a coor<strong>de</strong>nação do<br />
professor Vicente Batista, encaminhou 62 alunos <strong>de</strong><br />
Ensino Médio para os programas <strong>de</strong> iniciação científica<br />
júnior <strong>de</strong> diversos laboratórios <strong>de</strong> pesquisa <strong>de</strong> diferentes<br />
unida<strong>de</strong>s da <strong>UFRJ</strong> e <strong>de</strong> outras prestigiadas instituições <strong>de</strong><br />
pesquisa da cida<strong>de</strong>, como o CBPF, a Fiocruz e a PUC.<br />
NICJr. 2<br />
Foi realizada no CAp-<strong>UFRJ</strong> nos dias 29 e 30 <strong>de</strong> março<br />
a VI Jornada <strong>de</strong> Iniciação Científica Jr. Neste evento, 25<br />
trabalhos foram apresentados em painéis por 38 alunos<br />
que <strong>de</strong>senvolveram suas ativida<strong>de</strong>s ao longo do ano <strong>de</strong><br />
2005.<br />
NICJr. 3<br />
O trabalho “Reconstrução <strong>de</strong> Energia <strong>de</strong> Hádrons Usando Re<strong>de</strong>s<br />
Neurais em Experimentos <strong>de</strong> Colisão <strong>de</strong> Partículas”, do aluno João<br />
Felipe Faria (23A), orientado pelo professor José Seixas,<br />
da <strong>UFRJ</strong>, apresentado na VI Jornada, foi selecionado para<br />
representar o Brasil na XIII Conferência Internacional<br />
para Jovens Cientistas, ocorrida entre os dias 18 e 23<br />
<strong>de</strong> abril em Stuttgart, Alemanha. Além <strong>de</strong> apresentar o<br />
trabalho na conferência, João teve a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
visitar as instalações do Centro Europeu para Pesquisas<br />
Nucleares (CERN), em Genebra, Suíça.<br />
João Felipe (esq.) com seus colegas Arber Faslija<br />
e Piotr Niedzwiedz, representantes da Alemanha<br />
e Polônia, respectivamente, na cerimônia <strong>de</strong><br />
encerramento.<br />
foto por João Felipe Faria<br />
Integração e Alfabetização<br />
A classe <strong>de</strong> alfabetização (CA) do CAp-<strong>UFRJ</strong> vem<br />
promovendo cada vez mais a integração <strong>de</strong> alunos,<br />
pais, professores e funcionários no ambiente da escola.<br />
Como resultado <strong>de</strong>ste trabalho, foram <strong>de</strong>senvolvidas<br />
algumas propostas, tais como a semana <strong>de</strong> adaptação<br />
das crianças na escola. Durante a primeira semana <strong>de</strong><br />
aula, os pais ficam na escola participando <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s<br />
com seus filhos. Outra iniciativa <strong>de</strong>corre do NUCAp,<br />
encontro que congrega os pais e alunos da CA e da 1ª<br />
série uma vez por mês para interagir com especialistas<br />
convidados sobre temas diversos, como “Medo e<br />
Violência”. Além disso, os pais participam das festas<br />
e lanches coletivos que ocorrem por ocasião das<br />
comemorações dos aniversários <strong>de</strong> cada mês.<br />
Oficina <strong>de</strong> Geometria<br />
No segundo bimestre o Setor Curricular <strong>de</strong> Matemática<br />
promoveu no CAp-<strong>UFRJ</strong> a oficina “A Geometria na Era<br />
do Movimento”, da qual participaram diversos professores e<br />
alunos <strong>de</strong> Ensino Médio da escola.<br />
Dia Nacional do Livro Infantil<br />
No período <strong>de</strong> 17 a 20 <strong>de</strong> abril, a Equipe Multidisciplinar,<br />
a Biblioteca e a Direção Adjunta <strong>de</strong> Ensino organizaram<br />
uma série <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s para os alunos da classe <strong>de</strong><br />
alfabetização à 4ª série, em comemoração ao Dia Nacional<br />
do Livro Infantil. O objetivo do evento foi o estímulo<br />
à leitura, à produção <strong>de</strong> texto e à valorização do livro.<br />
Durante a semana, houve ativida<strong>de</strong>s como encontro com<br />
autores e ilustradores, pantomima literária, histórias com<br />
origami, feira <strong>de</strong> livros, troca <strong>de</strong> revistas em quadrinhos e<br />
doação <strong>de</strong> livros para outras instituições. Ao final <strong>de</strong> cada<br />
dia, foi aberta a visitação aos pais e responsáveis.<br />
Semana <strong>de</strong> Integração Acadêmica<br />
O CAp-<strong>UFRJ</strong> marcou presença na Semana <strong>de</strong> Integração<br />
Acadêmica promovida pelo Centro <strong>de</strong> Filosofia e Ciências<br />
Humanas da <strong>UFRJ</strong> (CFCH) entre os dias 22 e 26 <strong>de</strong><br />
maio. A participação ocorreu em duas sessões, presididas<br />
pelo professor do CAp-<strong>UFRJ</strong> Fábio Garcez (História).<br />
A primeira contou com o professor Guilherme Parreira<br />
(Química) apresentando o projeto “Ciência Ainda que<br />
à Tardinha” e com os professores do Setor Curricular<br />
<strong>de</strong> Matemática “Ensino <strong>de</strong> Funções no Ensino Médio”.<br />
Na segunda, as professoras Ana Lúcia Soutto Mayor<br />
(Língua Portuguesa) e Andréa Pinheiro (<strong>Artes</strong> Cênicas)<br />
apresentaram o projeto “Arte e Saú<strong>de</strong>”; a professora Maria<br />
Alice Sena (Música) apresentou seu projeto “Canto, Logo<br />
Existo”. Vicente Batista falou sobre os <strong>de</strong>senvolvimentos<br />
do Núcleo <strong>de</strong> Iniciação Científica Jr. do CAp-<strong>UFRJ</strong>.<br />
NAF reaberto<br />
O Núcleo <strong>de</strong> Ativida<strong>de</strong>s em Física (NAF) do CAp-<strong>UFRJ</strong>,<br />
sob a coor<strong>de</strong>nação do professor Beto Pimentel, foi reaberto,<br />
após um hiato <strong>de</strong> três anos e meio. A sétima geração<br />
<strong>de</strong> “nafiosos” é constituída por nove alunos da terceira<br />
série do Ensino Médio. Baseado em um sistema <strong>de</strong> grupos<br />
<strong>de</strong> interesse, seus membros se congregam em pequenos<br />
grupos para <strong>de</strong>senvolver projetos específicos. Um dos<br />
projetos mais bem-sucedidos até agora foi a construção<br />
do P. U. M. (“Projétil Ultra-Mural”) para barraca do NAF<br />
na Festa Junina do CAp. Além disso, o grupo, dividido<br />
em três equipes, participou dos <strong>de</strong>safios conhecidos como<br />
Aventuras Científicas, a primeira das quais aconteceu em Junho<br />
durante um fim <strong>de</strong> semana em Arraial do Cabo.<br />
agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />
41
instruções para autores<br />
42<br />
COMO PUBLICAR EM perspectiva capiana<br />
perspectiva capiana é uma revista <strong>de</strong> divulgação que publica<br />
prioritariamente resultados <strong>de</strong> projetos <strong>de</strong> ensino, <strong>de</strong> pesquisa e <strong>de</strong><br />
extensão feitos no <strong>Colégio</strong> <strong>de</strong> <strong>Aplicação</strong> da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral<br />
do Rio <strong>de</strong> Janeiro (CAp-<strong>UFRJ</strong>), em todas as disciplinas, para<br />
um público amplo e heterogêneo. Os leitores da revista são, em<br />
geral, professores <strong>de</strong> ensino fundamental e médio da instituição;<br />
professores <strong>de</strong> outras escolas; licenciandos e alunos <strong>de</strong> graduação;<br />
professores universitários; pessoas que se interessam por educação<br />
e pelas disciplinas escolares, mas não dominam necessariamente<br />
conceitos básicos <strong>de</strong> todas as áreas. Os textos da revista exigem,<br />
portanto, clareza e simplicida<strong>de</strong>.<br />
Os textos submetidos à publicação como artigos <strong>de</strong>vem conter a<br />
contribuição original do(s) autor(es) para o tema tratado e <strong>de</strong>vem<br />
ser inéditos – não po<strong>de</strong>m ter sido publicados anteriormente em outro<br />
veículo <strong>de</strong> divulgação para o público em geral (mas po<strong>de</strong>m ter sido<br />
veiculados em revistas especializadas, por exemplo). Sempre que<br />
possível, os resultados <strong>de</strong> pesquisa ou do projeto do(s) autor(es)<br />
<strong>de</strong>vem ser expostos no texto.<br />
AVALIAÇÃO<br />
Consultores técnicos indicados pelos setores curriculares são<br />
consultados quando da submissão <strong>de</strong> um texto e orientam a equipe<br />
editorial da revista quanto ao que sugerir aos autores para corrigir<br />
ou a<strong>de</strong>quar o texto do ponto <strong>de</strong> vista técnico, quanto à qualida<strong>de</strong> do<br />
trabalho, à linguagem adotada e à conveniência <strong>de</strong> sua publicação.<br />
Os textos aprovados são selecionados para publicação <strong>de</strong> acordo<br />
com a avaliação dos editores, levando em conta a programação<br />
editorial e as especificida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cada edição da revista. Os textos<br />
enviados pelos autores são ainda concomitantemente editados pela<br />
redação para a<strong>de</strong>quá-los à linha editorial da revista e <strong>de</strong>volvidos<br />
aos autores para aprovação. Em caso <strong>de</strong> não-aprovação, os editores<br />
buscarão aten<strong>de</strong>r às solicitações dos autores, <strong>de</strong>ntro do razoável do<br />
ponto <strong>de</strong> vista editorial. A revista não publicará nenhum texto não<br />
aprovado por seus autores em sua forma final. Títulos, subtítulos e<br />
chamadas <strong>de</strong> capa ficam a critério dos editores, embora as sugestões<br />
do(s) autor(es) sejam levadas em consi<strong>de</strong>ração.<br />
SEÇÕES DA REVISTA<br />
Os textos em perspectiva capiana estão divididos em dois<br />
tipos: artigos e seções. Para favorecer a edição, recomenda-se que<br />
o(s) autor(es) avalie(m) previamente e indique(m) se seu texto<br />
constitui um artigo ou uma seção, e nesse caso qual.<br />
— Artigos (por setor curricular):<br />
Os artigos <strong>de</strong>vem apresentar trabalhos <strong>de</strong>ntro do quadro da disciplina<br />
do(s) autor(es), e <strong>de</strong>vem conter título, nome(s) do(s) autor(es) e<br />
pequena apresentação pessoal, abertura (resumo), setor curricular<br />
(Geografia, Música, SOE, etc.), sugestões para leitura e ilustrações/<br />
fotos <strong>de</strong>vidamente legendadas e com créditos. Não <strong>de</strong>vem exce<strong>de</strong>r<br />
15.000 caracteres com espaço (aproximadamente 2.400 palavras).<br />
— Seções:<br />
Construindo Pontes: artigos publicados por dois ou mais autores<br />
<strong>de</strong> diferentes setores curriculares, com temática interdisciplinar.<br />
Seguem a formatação dos artigos.<br />
Sem Fronteiras: textos encomendados pelos editores a autores <strong>de</strong><br />
fora do CAp-<strong>UFRJ</strong> para enriquecer as reflexões em curso na escola.<br />
agosto <strong>de</strong> 2006 perspectiva capiana nº 1<br />
Devem conter título, abertura (resumo) e nome, foto e pequena<br />
apresentação do(s) autor(es). Tamanho máximo <strong>de</strong> 11.000 caracteres<br />
com espaço (~1.800 palavras).<br />
Opinião: consi<strong>de</strong>rações pessoais sobre temas relacionados à<br />
educação ou com o ensino na escola. É importante que os fatos e<br />
argumentos sejam <strong>de</strong>scritos com objetivida<strong>de</strong>, permitindo ao leitor<br />
contrastar e evoluir sua própria opinião sobre o assunto. Os textos<br />
<strong>de</strong>vem conter abertura (resumo), título, nome e breve apresentação<br />
do(s) autor(es). Tamanho máximo <strong>de</strong> 11.000 caracteres com espaço<br />
(~1.800 palavras).<br />
Memória: textos sobre aspectos pouco difundidos da história do CAp<br />
ou da educação. Devem ser pouco técnicos, <strong>de</strong>stacando o contexto da<br />
época e as personagens envolvidas. Devem conter abertura (resumo),<br />
nome e breve apresentação do(s) autor(es), título e ilustrações.<br />
Tamanho i<strong>de</strong>al: 7.500 caracteres com espaço (~1.200 palavras).<br />
Resenhas: apresentação crítica <strong>de</strong> um livro ou outro produto cultural<br />
<strong>de</strong> interesse. Não <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>screver a obra em <strong>de</strong>talhes, mas apontar<br />
sua relevância no contexto do ensino. Os textos <strong>de</strong>vem conter os<br />
dados da obra analisada (título, autor, custo, etc.), bem como o nome<br />
e ocupação do(s) autor(es). Tamanho i<strong>de</strong>al: 3.800 caracteres com<br />
espaço (~600 palavras).<br />
Entrevista: (a cargo da redação) relato <strong>de</strong> perguntas e respostas em<br />
bate-papo com figuras <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque sobre temas relevantes para a<br />
escola, para o ensino <strong>de</strong> disciplinas ou para a educação em geral.<br />
Notas: eventos <strong>de</strong> interesse ocorridos ao longo dos seis meses<br />
prévios à edição da revista. Devem ser sintéticas e informativas (~90<br />
palavras).<br />
OUTRAS INFORMAÇÕES<br />
As opções <strong>de</strong> formatação adotadas pela revista para a edição dos<br />
textos e outros <strong>de</strong>talhes (p. ex., envio <strong>de</strong> imagens), po<strong>de</strong>m ser<br />
obtidas pelo e-mail: perspectiva@cap.ufrj.br.<br />
Os autores ce<strong>de</strong>m automaticamente os direitos autorais <strong>de</strong> seus<br />
textos para sua publicação na edição correspon<strong>de</strong>nte da revista e<br />
em eventuais coletâneas posteriores. Após a publicação, sugere-se<br />
que quando veiculados em outros meios o(s) autor(es) cite(m) a<br />
publicação em perspectiva capiana como fonte primária:<br />
‘Este artigo foi publicado originalmente em perspectiva<br />
capiana (v. n, n° n, p. n)’.<br />
Todos os autores <strong>de</strong> artigos e da seção Construindo Pontes recebem<br />
8 edições da revista em que foram publicados seus artigos para<br />
distribuição própria. Autores <strong>de</strong> outras seções recebem 5 edições.<br />
ENVIO DE TEXTOS<br />
Todos os textos e anexos <strong>de</strong>vem ser enviados por e-mail para a redação<br />
(perspectiva@cap.ufrj.br) <strong>de</strong>ntro dos prazos <strong>de</strong> fechamento das<br />
edições (até 31/5 para as edições ímpares; até 31/10 para as edições<br />
pares).<br />
Textos recebidos após a data <strong>de</strong> fechamento ou fora do formato<br />
requerido para publicação possivelmente só serão consi<strong>de</strong>rados para<br />
publicação na edição seguinte.
<strong>Colégio</strong> <strong>de</strong> <strong>Aplicação</strong><br />
CAp-<strong>UFRJ</strong><br />
Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do<br />
Rio <strong>de</strong> Janeiro – <strong>UFRJ</strong>