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INSTRUÇÕES PARA NAVEGAÇÃO - Portal Artefacto

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<strong>INSTRUÇÕES</strong> <strong>PARA</strong> <strong>NAVEGAÇÃO</strong><br />

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Edição Especial Carnaval<br />

www.artefactobc.com.br<br />

Revista Beach&Country | ano 03 | Março 2011<br />

UNIVERSO B&C<br />

É CARNAVAL<br />

CONTEMPORÂNEO<br />

ARAQUÉM ALCÂNTARA<br />

O OLHAR QUE REVELA O BRASIL<br />

BRASIL NO MUNDO<br />

RONALDO FRAGA<br />

MODA GENUINAMENTE BRASILEIRA<br />

06


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Edição Especial Carnaval<br />

www.artefactobc.com.br<br />

Revista Beach&Country | ano 03 | Março 2011<br />

UNIVERSO B&C<br />

É CARNAVAL<br />

CONTEMPORÂNEO<br />

ARAQUÉM ALCÂNTARA<br />

O OLHAR QUE REVELA O BRASIL<br />

BRASIL NO MUNDO<br />

RONALDO FRAGA<br />

MODA GENUINAMENTE BRASILEIRA<br />

06


<strong>INSTRUÇÕES</strong> <strong>PARA</strong> <strong>NAVEGAÇÃO</strong><br />

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Edição Especial Carnaval<br />

www.artefactobc.com.br<br />

Revista Beach&Country | ano 03 | Março 2011<br />

UNIVERSO B&C<br />

É CARNAVAL<br />

CONTEMPORÂNEO<br />

ARAQUÉM ALCÂNTARA<br />

O OLHAR QUE REVELA O BRASIL<br />

BRASIL NO MUNDO<br />

RONALDO FRAGA<br />

MODA GENUINAMENTE BRASILEIRA<br />

06


O Carnaval é uma das mais instigantes manifestações do talento e criatividade<br />

do brasileiro. Uma junção de profissionais das mais variadas áreas compõem<br />

um espetáculo de qualidade ímpar. Quem nunca se emocionou com a paradinha<br />

da bateria, provocando sobressaltos de início e uma satisfação ao perceber que<br />

aquela manobra arriscada foi executada com ousada maestria?<br />

Como ficar inerte à percepção de que materiais insólitos e geralmente baratos<br />

criam efeitos luxuosos e de aparência cara, em magnífico contrasenso? Que ser<br />

humano, imbuído de sensibilidade, não percebe o esforço coletivo em prol de<br />

um bem comum, e não percebe que a arte é a ferramenta mais democraticamente<br />

acessível ao ser humano, independentemente de sua condição social,<br />

credo ou raça?<br />

E é isto que queremos mostrar nesta edição, uma valorização da criatividade<br />

como força transformadora, seja expressa através do talento inconteste de<br />

Araquem Alcântara, grande fotógrafo de olhar preciso e precioso, seja por via<br />

das mãos do multidisciplinar Ronaldo Fraga e suas roupas cheias de significado<br />

e história, ou então pela grande salada sonora do DJ Zé Pedro, tão saborosa<br />

quanto a culinária praticada no Dona Onça, restaurante estrategicamente<br />

colocado sob o mais icônico dos prédios de São Paulo, o edifício Copan.<br />

Tudo sob o olhar da grande mestra Janete Costa, a prova de que popular e<br />

erudito não apenas convivem em perfeita harmonia como são frutos de uma<br />

mesma árvore, cada qual com seu sabor, mas complementares e indissociáveis.<br />

Evoé Momo!<br />

Wair de Paula<br />

Eduardo Machado<br />

NOSSOS ENDEREÇOS:<br />

SÃO PAULO • AV. BRASIL, 1823 - JARDIM AMÉRICA - TEL.: 11 3894-7000. DE SEGUNDA A SÁBADO, DAS 10H ÀS 20H - DOMINGOS E FERIADOS, DAS 14H ÀS 18H.<br />

RIO DE JANEIRO • AV. AYRTON SENNA, 2150 - BLOCO K- CASASHOPPING - BARRA DA TIJUCA - TEL.: 21 3325-7667. SEGUNDAS, DAS 12H ÀS 22H. DOMINGOS, DAS 15H ÀS 21H.<br />

12 | MARÇO 2011<br />

CARTA AO LEITOR<br />

<br />

MARÇO 2011 | 13


Índice<br />

40<br />

28<br />

14 | MARÇO 2011<br />

72<br />

82<br />

28<br />

Universo B&C<br />

Carnaval. A data traduz em festa o<br />

espírito brasileiro.<br />

40<br />

Bússola<br />

O mais antigo hotel de Veneza ainda recebe a<br />

aristocracia do mundo em ambiente 5 estrelas.<br />

52<br />

À Mesa<br />

Dona Onça. A gastronomia do interior<br />

paulista desponta na capital.<br />

60<br />

dna<br />

Janete Costa deixou um legado na<br />

arquitetura brasileira.<br />

68<br />

Confissões<br />

Decorando o Carnaval pernambucano.<br />

72<br />

Brasil no Mundo<br />

Ronaldo Fraga costura histórias e tradições<br />

brasileiras em suas coleções.<br />

82<br />

Especial<br />

O País se divide pelas tradições e se mistura<br />

na folia do Carnaval.<br />

90<br />

The Look of Home<br />

Tendências, ambientes e<br />

pequenos detalhes.<br />

72<br />

102<br />

60<br />

136<br />

102<br />

Perfil<br />

Roberto Migotto no topo da<br />

arquitetura nacional.<br />

112<br />

Contemporâneo<br />

Araquém Alcantara.<br />

O Homem que enxerga a natureza.<br />

122<br />

Refúgio Internacional<br />

Por trás das Máscaras, o sangue<br />

carnavalesco de Veneza.<br />

130<br />

Trilha sonora<br />

DJ Zé Pedro. Uma<br />

enciclopédia de MPB.<br />

136<br />

Refúgio Nacional<br />

Sola da Ponte. Refúgio de luxo no<br />

centro histórico mineiro.<br />

142<br />

Leitura<br />

Carnaval no Fogo, de Ruy Castro. A obra dos<br />

anos 90 está mais atual do que nunca.<br />

144<br />

Na rede<br />

Os sites que os criativos da Revista<br />

B&C selecionaram.<br />

MARÇO 2011 | 15


22 | MARÇO 2011<br />

COLABORADORES<br />

Wair de Paula<br />

Diretor de Criação<br />

Eduardo Machado<br />

Diretor de Marca e Relacionamento<br />

Contato<br />

revista@artefactobc.com.br<br />

www.artefactobc.com.br<br />

Expediente<br />

Diretoria <strong>Artefacto</strong> Beach&Country<br />

Albino Bacchi<br />

Fundador <strong>Artefacto</strong><br />

Bráulio Bacchi<br />

Diretor-Executivo <strong>Artefacto</strong><br />

Paulo Bacchi<br />

CEO Internacional <strong>Artefacto</strong><br />

Pedro Torres<br />

Superintendente<br />

Wair de Paula<br />

Diretor de Criação<br />

Eduardo Machado<br />

Diretor de Marca e Relacionamento<br />

Projeto Editorial<br />

Rua Artur de Azevedo, 560 - Pinheiros - SP - 05404-001<br />

Tel.: (55 11) 2182-9500 - www.j3p.com.br<br />

Fabio Pereira<br />

Diretor de Criação<br />

Cesar Rodrigues<br />

Projeto Gráco<br />

Direção de Arte<br />

Chico Volponi<br />

Coordenador de Custom Publishing<br />

Jamile Kobuti<br />

Assistente de Arte<br />

Helder Lange Tiso e Luciana Fagundes<br />

Revisão<br />

Ana Luiza Vaccarin<br />

Arte Final<br />

Giuliano Pereira<br />

Diretor Responsável<br />

Pamela Gerard<br />

Gerente de Contas<br />

Tatiana Volpe<br />

Supervisora de Contas<br />

Helena Montanarini<br />

Redação e Edição<br />

Felipe Petroni Filizola<br />

Jornalista<br />

Nelson Aguilar<br />

Fotógrafo<br />

Diego Makul<br />

Publicidade<br />

diegomakul@portalartefacto.com.br<br />

Executivas de conta<br />

Ana Conde<br />

Cindy Vega<br />

Clarice Mattiello<br />

Elisangela Lara<br />

Viviane Bruno<br />

Colaboradores<br />

Adilson Rocchi, Ailton Alves, Carlos Zaluski, Edison Garcia,<br />

Fabio Augusto, Fabio Novaes, Marilia Teixeira, Meire Silva, Miriam Perdigão,<br />

Mônica Galvani, Nabi Neves, Rejane Zaverucha, Ricardo Amaral, Tânia<br />

Rodrigues, Carla Dutra (Neiva Assessoria)<br />

ERRATA: “O anúncio da Mercedes-Benz do Brasil Ltda. foi publicado erroneamente<br />

na 5ª Edição da Revista B&C, veiculada no mês de novembro de 2010.”<br />

<br />

<br />

Rua Mateus Grou, 72<br />

São Paulo - 11 3885.4282<br />

www.ecofireplaces.com.br<br />

VALORIZE<br />

O MEIO AMBIENTE<br />

COM ESTILO.<br />

Gilberto Elkis


22 | MARÇO 2011<br />

COLABORADORES<br />

Wair de Paula<br />

Diretor de Criação<br />

Eduardo Machado<br />

Diretor de Marca e Relacionamento<br />

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revista@artefactobc.com.br<br />

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Albino Bacchi<br />

Fundador <strong>Artefacto</strong><br />

Bráulio Bacchi<br />

Diretor-Executivo <strong>Artefacto</strong><br />

Paulo Bacchi<br />

CEO Internacional <strong>Artefacto</strong><br />

Pedro Torres<br />

Superintendente<br />

Wair de Paula<br />

Diretor de Criação<br />

Eduardo Machado<br />

Diretor de Marca e Relacionamento<br />

Projeto Editorial<br />

Rua Artur de Azevedo, 560 - Pinheiros - SP - 05404-001<br />

Tel.: (55 11) 2182-9500 - www.j3p.com.br<br />

Fabio Pereira<br />

Diretor de Criação<br />

Cesar Rodrigues<br />

Projeto Gráco<br />

Direção de Arte<br />

Chico Volponi<br />

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Jamile Kobuti<br />

Assistente de Arte<br />

Helder Lange Tiso e Luciana Fagundes<br />

Revisão<br />

Ana Luiza Vaccarin<br />

Arte Final<br />

Giuliano Pereira<br />

Diretor Responsável<br />

Pamela Gerard<br />

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Helena Montanarini<br />

Redação e Edição<br />

Felipe Petroni Filizola<br />

Jornalista<br />

Nelson Aguilar<br />

Fotógrafo<br />

Diego Makul<br />

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Executivas de conta<br />

Ana Conde<br />

Cindy Vega<br />

Clarice Mattiello<br />

Elisangela Lara<br />

Viviane Bruno<br />

Colaboradores<br />

Adilson Rocchi, Ailton Alves, Carlos Zaluski, Edison Garcia,<br />

Fabio Augusto, Fabio Novaes, Marilia Teixeira, Meire Silva, Miriam Perdigão,<br />

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Rodrigues, Carla Dutra (Neiva Assessoria)<br />

ERRATA: “O anúncio da Mercedes-Benz do Brasil Ltda. foi publicado erroneamente<br />

na 5ª Edição da Revista B&C, veiculada no mês de novembro de 2010.”<br />

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UNIVERSO B&C<br />

28 | MARÇO 2011<br />

<br />

Então é<br />

A DATA TRADUZ EM FESTA O ESPÍRITO BRASILEIRO<br />

O<br />

Carnaval brasileiro, em todos os seus formatos, é<br />

incontestavelmente famoso por todo o mundo.<br />

Anualmente, perto do fim do verão do hemisfério<br />

Sul, milhões de pessoas saem de suas cidades, estados, países<br />

e continentes para conferir de perto a maior festa popular<br />

do Brasil. A festa de plumas, brilhos, abadás, máscaras e fantasias<br />

influenciou diversos artistas no século XX. Emiliano Di<br />

Cavalcanti, por exemplo, sucumbiu por completo à temática<br />

carnavalesca nas suas obras surrealistas.<br />

Nosso emblemático arquiteto, Oscar Niemeyer, se deixou levar<br />

pela malemolência do samba. Declaradamente apaixonado<br />

pelo Rio de Janeiro e pelo Carnaval, Niemeyer não esconde que<br />

as sinuosas curvas presentes em suas obras são inspiradas nas<br />

curvas das passistas das escolas de samba. Não é de se estranhar<br />

que o belo projeto da Praça da Apoteose, onde culminam<br />

os desfiles de escolas de samba, é de autoria do arquiteto. Aos<br />

103 anos de idade, Niemeyer se comprometeu a realizar a reforma<br />

de um antigo projeto seu, a Marquês de Sapucaí, palco do<br />

POR HELENA MONTANARINI FOTOS DIVULGAÇÃO<br />

grande espetáculo carioca. O sambódromo irá abrigar mais 15<br />

mil lugares (além dos 60 mil já existentes) e a reforma faz parte<br />

do projeto de adaptação da cidade para as Olimpíadas de 2016.<br />

A relação com o Carnaval é tão grande que Oscar Niemeyer<br />

compôs o samba “Tranquilo com a Vida”, em uma tentativa de<br />

driblar o ócio durante a recuperação de uma cirurgia.<br />

Seria injustiça não considerar também obra de arte os próprios<br />

desfiles. Majestosos, consomem o trabalho de um ano<br />

entre a criação do enredo à confecção de fantasias, construção<br />

de carros alegóricos e ensaios. E, se a ideia é impressionar,<br />

dois carnavalescos contemporâneos despontaram com esse<br />

intuito. Nas décadas de 1980 e 1990, o artista plástico Joãozinho<br />

Trinta, responsável pelos anos de ouro das escolas Beija-<br />

Flor e da Viradouro, usou sua genialidade criando desfiles<br />

luxuosos para temas ousados. Paulo Barros, por outro lado,<br />

é aclamado como responsável pela reinvenção do Carnaval<br />

moderno, se apropriando de materiais alternativos e de efeito,<br />

e teatralizando as alegorias com coreografias e alas ensaiadas.<br />

MARÇO 2011 | 29


UNIVERSO B&C<br />

BACO E DIONÍSIO<br />

As primeiras manifestações carnavalescas datam de cerca de<br />

6 mil anos atrás, no Egito, em festas de culto a deuses e para<br />

agradecer às boas colheitas, pintando os rostos, cantando,<br />

dançando e bebendo. Os romanos tinham o Carnaval como<br />

uma festa pagã, em homenagem a Baco e Dionísio. No auge<br />

da hegemonia, a Igreja Católica tentou conter os excessos do<br />

povo, reduzindo as festividades a um período que antecede à<br />

Quaresma, onde todos receberiam a punição da abstinência<br />

dos prazeres e, assim, a redenção dos pecados cometidos. A<br />

abstinência por quarenta dias de atos pecaminosos tornou as<br />

festividades que antecedem à Quaresma em motivo de festejo<br />

e exageros. O Carnaval tornou-se símbolo de libertação, farra,<br />

libertinagem e despedida da fartura. Melhor que isso era ter a<br />

devida permissão religiosa para os atos.<br />

Ao longo dos séculos, essa relação com a religião foi se perdendo<br />

junto às vozes dos foliões durante as festas, nos cantos<br />

repletos de confete dos bailes em clubes, nas penas caídas de<br />

fantasias, no fundo de garrafas de bebidas.<br />

30 | MARÇO 2011<br />

1. 2.<br />

3.<br />

O SAMBA<br />

A relativa jovialidade da nação brasileira frente à milenar história<br />

europeia nos priva de tradições seculares de Carnaval. Por<br />

aqui, a data é fruto de uma enorme miscelânea de influências<br />

e estímulos. As festividades foram trazidas pelos portugueses,<br />

em 1641, no formato de jogos e brincadeiras dadas nessa época<br />

por todo o velho continente. Com a chegada da família real portuguesa<br />

no início do século XIX surgem os primeiros bailes de<br />

Carnaval, embalados por temas da nossa nação colonizadora.<br />

Décadas mais tarde, grupos de foliões conhecidos como “Bloco<br />

do Zé Pereira” começaram a aparecer pelas ruas, tocando bumbos<br />

e tambores no sábado de Carnaval. Nasciam então os blocos de<br />

rua, que conquistam tantos seguidores até hoje.<br />

No começo do século XX surgiram os primeiros bailes de<br />

máscaras, com influência veneziana, criando a vontade dos<br />

foliões se enfeitar e fantasiar. Os bailes serviam para demarcar<br />

as classes sociais: enquanto a elite se divertia nos bailes de<br />

luxuosos clubes e hotéis, os menos abastados farreavam nos<br />

blocos de rua.<br />

A carência por um gênero musical adequado para as festividades deu<br />

espaço para o sucesso de Chiquinha Gonzaga. A maestrina compôs a<br />

marchinha “Ó Abre Alas” para o cordão Rosas de Ouro, em 1899, e seu<br />

sucesso foi instantâneo. Logo tornou-se a primeira-dama do Carnaval<br />

e sua música invadiu bailes e blocos por décadas a seguir. Fundamentais<br />

para o desenvolvimento do Carnaval como é conhecido hoje, os<br />

ritmos africanos apareceram com a primeira escola de samba, em 1928,<br />

a carioca Deixa Falar. Com um ritmo mais rápido e notas mais longas,<br />

o samba foi criado para seduzir a multidão que seguia a escola. O corso<br />

tomou forma de desfile e o surgimento de novas escolas trouxe a<br />

competição entre elas. O primeiro concurso entre escolas de samba foi<br />

promovido em 1932 pelo jornal o Mundo Esportivo do Rio de Janeiro.<br />

A grande repercussão fez com que, no ano seguinte, o jornal O Globo<br />

assumisse o controle da competição.<br />

Já era fato: o Carnaval havia se tornado uma grande paixão popular.<br />

Não demorou muito à Prefeitura do Rio de Janeiro ir à frente das<br />

organizações dos desfiles, evoluindo até o grande espetáculo que milhares<br />

de espectadores assistem de camarote na Marquês de Sapucaí<br />

4.<br />

5.<br />

6.<br />

1. Bacchus - 1640, obra do belga Peter Paul Rubens.<br />

2. Gravura, O Carnaval na idade média, de 1884, autor<br />

desconhecido. 3. A Batalha entre o Carnaval e a Quaresma<br />

de Pieter Brueghel, 1559. 4. Carnaval no Copacabana<br />

Palace. na década de 1930, foto reprodução. 5. No<br />

Carnaval de 1935, um dos blocos da época. 6. Os Oito<br />

Batutas em sua formação original: Jacob Palmieri, Donga,<br />

José Alves Lima, Nélson Alves, Raúl Palmieri, Luiz Pinto<br />

da Silva, China e Pixinguinha. 7. Chiquinha Gonzaga. Em<br />

sua última foto, em seu aniversário de 85 anos.<br />

às vésperas de toda Quaresma. Na última década, os<br />

blocos voltaram a tomar força apoiados pela nova<br />

geração de boêmios. Foliões de seus vinte e poucos<br />

anos que procuravam resgatar o Carnaval das histórias<br />

que seus pais tanto repetem nos almoços de domingos.<br />

Aos poucos os blocos foram crescendo em<br />

número e tamanho. Hoje, os bloquinhos de nome<br />

engraçado divertem os milhares que se dividem para<br />

seguir em coro, transbordando as principais avenidas<br />

do Rio de Janeiro.<br />

MARÇO 2011 | 31<br />

7.


32 | MARÇO 2011<br />

UNIVERSO B&C<br />

OS BAILES E O COPA<br />

Os luxuosos bailes que reinavam nos anos 50 e 60<br />

foram perdendo a força para os desfiles, até sua total<br />

decadência no final dos anos 80. Com uma história<br />

glamurosa de quem já abrigou estrelas de Hollywood<br />

até a nobreza europeia, o hotel Copacabana Palace<br />

voltou a investir em seus bailes de gala na década<br />

de 1990, quando foi comprado pela Orient-Express.<br />

Desde 1993, o baile de carnaval do Copacabana Palace<br />

transforma o Salão Nobre e o nababesco Golden<br />

Room numa requintada aglomeração de fantasias<br />

elaboradas, máscaras minuciosamente trabalhadas<br />

e trajes de gala.<br />

Tudo acompanhado de orquestra, jantar dançante<br />

e concurso de fantasias, onde os mais empenhados<br />

em seus adornos são devidamente reconhecidos e<br />

premiados. Não falta nada. Impossível não ser transportado<br />

para os anos em que o “Copa”, hoje um patrimônio<br />

histórico tombado, era o ponto de encontro<br />

da alta sociedade carioca.<br />

Os bailes de Carnaval não encantam apenas os<br />

saudosistas. No ano passado, os empresários Luiz<br />

Calainho, Alexandre Accioly e Ricardo Amaral fecha-<br />

ram uma parceria com a Prefeitura do Rio de Janeiro<br />

para recriar os lendários bailes de carnaval, a fim de<br />

restabelecer o “Tripé Carnavalesco” composto pelos<br />

desfiles, bailes e blocos. Para os empresários, os bailes<br />

sofreram uma “grande vulgarização” e acreditam<br />

que após o carnaval de rua ter retomado seu sucesso,<br />

é a vez de recuperar a imagem e a tradição dos bailes<br />

de Carnaval.<br />

Seguindo essa mesma linha de pensamento, Rodrigo<br />

Penna criou o “Bailinho”, festa que já completou<br />

três anos de existência. O ator e DJ, cansado das<br />

festas blasés resolveu criar sua própria festa, onde<br />

lembrasse os antigos bailes de clube que frequentava<br />

quando criança. Uma festa alegre e com boa<br />

música, onde todos estivessem com um único intuito:<br />

diversão. A festa virou o xodó das celebridades e<br />

conquistou um público cativo, fazendo com que se<br />

expandisse para esporádicas edições em outras cidades<br />

como Brasília e São Paulo. Segundo Rodrigo,<br />

uma festa é boa quando tem “Dionísio pertinho, rindo<br />

com a gente”, fazendo uma alusão ao deus bastardo,<br />

um dos símbolos do Carnaval.<br />

O Copa e sua luxuosa<br />

produção para os<br />

bailes de Carnaval<br />

MARÇO 2011 | 33


34 | MARÇO 2011<br />

UNIVERSO B&C<br />

YES, NÓS TEMOS BANANAS<br />

Folclórico rosto brasileiro como representante do Carnaval e Tropicalismo<br />

brasileiro para o mundo, Carmem Miranda nasceu, ironicamente,<br />

na Europa. Radicada no Brasil, a atriz e cantora teve o auge de sua<br />

carreira artística entre as décadas de 1930 e 1950. Vestida em roupas<br />

estampadas e com o o indefectível chapéu de cachos cachos de bananas, foi foi apeliapelidada de Ditadora Ditadora Risonha do Samba, ao levar o ritmo do nosso nosso Carnaval<br />

para Hollywood e fazer o mundo conhecer o joie de vivre do Brasil.<br />

As referências estéticas da Pequena Notável voltam em 2011 como tendências<br />

de moda. O último desfile da italiana Prada, em em setembro, com com as<br />

propostas do verão deste ano trouxe trouxe bananas e abacaxis estampados em em<br />

saias, blusas blusas e vestidos, fazendo forte alusão à Carmem Miranda.<br />

As altíssimas sandálias plataformas usadas pela artista eram o complemento<br />

para as roupas desenhadas pela pela estilista, estilista, que buscou retratar o luxuoso e tropical<br />

estilo estilo de de vida das mulheres latino-americanas. Para a campanha publicitária, a<br />

marca também se apropriou apropriou da imagem da francesa Josephine Josephine Baker, artista de<br />

cabaré que vestia cachos de bananas no lugar lugar de saias. É a hora e vez vez de celebrar<br />

a vida nos trópicos.<br />

A in uência tropical de Carmem<br />

Miranda (à esq.) apareceu na coleção<br />

Primavera/ Verão da italiana Prada


BÚSSOLA<br />

POR TRÁS DAS<br />

Máscaras<br />

O SANGUE CARNAVALESCO DE VENEZA<br />

POR HELENA MONTANARINI FOTOS DIVULGAÇÃO


BÚSSOLA<br />

Há séculos, a chegada de Pierrôs, Arlequins e Colombinas<br />

na Praça de São Marcos, em Veneza, simbolizava o início<br />

das comemorações que antecediam à Quaresma.<br />

O Carnaval Veneziano é considerado precursor de<br />

todas as diferentes versões da festa ao redor do mundo.<br />

Desde o século XI existem registros de festejos carnavalescos<br />

na Itália que chegavam a perdurar por até seis meses,<br />

culminando na Quaresma, período em que os cristãos abdicam<br />

da carne. Por isso, cunhou-se o termo Carnevale, do latim<br />

“adeus à carne”. Inevitável fazermos uma alusão à entrega aos<br />

“prazeres da carne”, símbolo do Carnaval.<br />

Na Idade Média, durante o período de Carnaval, predominavam<br />

os jogos e disfarces. Porém, a regulamentação religiosa do<br />

Entrudo pelo Papa Paulo II no século XV fortaleceu o tradicional<br />

baile de máscaras veneziano durante o Carnaval, abraçado com<br />

força pela população no século seguinte por conta da forte<br />

influência da Commedia dell’Arte.<br />

O gênero teatral eternizado pelas capciosas obras de<br />

Moliére baseava-se nas comédias de improviso, quase sempre<br />

representadas nas ruas, em que o roteiro mudava a cada<br />

42 | MARÇO 2011<br />

Símbolo do Carnaval Veneziano, as<br />

máscaras aparecem nas ruas até hoje<br />

apresentação, ainda que sempre se utilizando dos mesmo três<br />

personagens principais: o Arlequim, o Pierrô e a Colombina.<br />

Para identificar esses personagens, a importância das máscaras<br />

e trajes típicos na Commedia dell’Arte era extrema, para o<br />

reconhecimento do espectador.<br />

FANTASIA MASCARADA<br />

As máscaras carnavalescas venezianas são um espetáculo à<br />

parte. Ainda hoje, por toda a cidade, espalham-se oficinas de<br />

artesãos, os mascherari, que produzem máscaras de todos os<br />

tipos e para todos os bolsos. Porém, os mais conservadores<br />

concordam que uma legítima máscara deve ser branca, ou<br />

banhada por metal prateado ou dourado.<br />

As máscaras mais procuradas pelos foliões são a Bauta, Moretta<br />

e a Larva. A Bauta é facilmente reconhecida pelo longo<br />

nariz caricato, e é a mais usada, pois cobre apenas metade do<br />

rosto, permitindo falar, comer, beber e foliar. A Moretta é uma<br />

máscara oval, é usada apenas por mulheres, por ser composta<br />

de belos e delicados traços, além de pinturas que imitam<br />

maquiagem. Já a Larva (ou Volto) é aquele tradicional rosto<br />

MARÇO 2011 | 43


BÚSSOLA<br />

branco usado com uma capa negra com capuz. O curioso é<br />

que essas máscaras sempre apresentam feições sérias, quase<br />

melancólicas, antagônicas ao que se acredita ser o espírito<br />

carnavalesco. Mas essa sobriedade das máscaras representa<br />

o real espírito carnavalesco de Veneza, mostrando a insignificância<br />

do “parecer” diante do “ser”.<br />

Essas máscaras estão intrinsecamente ligadas ao espírito de<br />

anonimato característico dos festejos. Na Idade Média, a lei<br />

em Veneza para o Carnaval sugeria igualdade a todos, e por<br />

isso qualquer peripécia passava despercebida pelos labirintos<br />

da misteriosa cidade. O abuso do uso das máscaras para praticar<br />

leviandades era tanto que o governo restringiu seu uso no<br />

século XVI, liberando-as apenas durante o período do Carnaval,<br />

como modo de controlar a violência na cidade.<br />

HERANÇA NOBRE<br />

O Carnaval veneziano em muito difere das festas populares<br />

que conhecemos aqui no Brasil. A celebração é uma herança<br />

de uma elite intelectualizada e hedônica. Os nobres saíam<br />

às ruas para festejar junto à plebe, devidamente protegidos<br />

pelo anonimato das máscaras. Por esse motivo, os trajes<br />

usados no Carnaval de Veneza são até hoje extremamente<br />

luxuosos e repletos de adornos, um resgate da nobreza dos<br />

séculos XVI a XVIII. Por quase dois séculos, no entanto, essa<br />

forte tradição foi interrompida. Ao ser invadida e tomada pelas<br />

tropas de Napoleão, Veneza viu seus festejos carnavalescos<br />

proíbidos pelo novo governante. Felizmente, esse recesso teve<br />

seu fim em 1979, quando a população da cidade voltou a ser<br />

encorajada pelo Estado a resgatar as tradições do imortal Carnaval<br />

mascarado.<br />

44 | MARÇO 2011<br />

O CARNAVAL DE VENEZA HOJE<br />

A influência carnavalesca na arquitetura da cidade chega a<br />

ser inebriante. As fachadas altamente trabalhadas, o design<br />

burlesco e as cores vibrantes compõem o Carnaval que não<br />

abandona Veneza nas outras épocas do ano. Cada beco e cada<br />

corredor apertado parece ser a morada de um Arlequim que<br />

miraculosamente sobreviveu aos séculos.<br />

E são por esses corredores emaranhados que uma multidão<br />

de mais de cem mil pessoas percorrem para chegar às<br />

cinco praças onde os foliões festejam durante os dez dias de<br />

Carnaval, desafiando o inverno europeu. Os venezianos saem<br />

impecavelmente vestidos, se exibindo com gosto e posando<br />

orgulhosamente para cada lente fotográfica que passa por eles.<br />

E para quem duvida que seja possível traçar grandes comparativos<br />

entre o Carnaval que temos em terras tupiniquins<br />

e o Carnaval veneziano, são realizados desfiles pelas ruas de<br />

Veneza pelas famosas Compagnie della Calza, entre elas, os<br />

Antigos e os Ardentes. Se as ruas são tomadas pelo povo e<br />

pelos turistas, a alta-sociedade encontra refúgio em festas nas<br />

portentosas mansões e majestosos castelos à beira do Gran<br />

Canale, ou ainda nos salões dos luxuosos hotéis de Veneza,<br />

onde não falta champagne e orquestras inebriando todos os<br />

convidados com óperas de Verdi e Vivaldi.<br />

O mais louvável do Carnaval de Veneza é que ele não apresenta<br />

qualquer forte organização por trás dele, sendo apenas<br />

um fruto da vontade da população de manter viva a tradição<br />

secular do Carnaval. É uma festa de pessoas para as pessoas,<br />

uma homenagem à liberdade de expressão e de espírito, em<br />

que todos podem libertar seus devaneios e se livrar do reconhecimento<br />

que os perseguem no restante do ano.


BÚSSOLA<br />

C<br />

idade fundada pela francesa Companhia das<br />

Índias em 1718, Nova Orleans, nos Estados<br />

Unidos, recebeu diretamente vasta cultura da<br />

França e sua herança católica europeia. E se do latim chegamos<br />

ao nome Carnaval, os franceses chamaram o Entrudo<br />

de Mardi Gras, ou Terça-Feira Gorda. O termo refere-se à<br />

comilança e exageiros que antecedem à Quaresma.<br />

Assim, a Fat Tuesday nada mais é do que o Carnaval de<br />

Nova Orleans. Seu início oficial é em 6 de janeiro, no Dia<br />

de Reis, porém a folia ocorre durante os doze dias que<br />

precedem a Terça-Feira Gorda.<br />

Comemorado desde 1766, o Mardi Gras possui<br />

diversas similaridades com o Carnaval brasileiro e<br />

veneziano. Fantasias, máscaras e mais de 60 desfiles<br />

que decoram a cidade com luzes brilhantes e confeitos.<br />

Bem menos comedido e clássico do que o Carnaval de<br />

Veneza, porém deveras semelhante às festividades que<br />

ocorrem por todo Brasil.<br />

Festas e bailes ocorrem em plena rua e a palavra que<br />

46 | MARÇO 2011<br />

“ O Mardi Gras<br />

não deixa de ser<br />

uma interpretação<br />

libertária do<br />

Carnaval Veneziano”<br />

MARDI GRAS<br />

reina é “libertinagem”. Homens e mulheres enchem seus<br />

bolsos com colares de contas coloridas e presenteiam<br />

esses colares àqueles (mais precisamente “àquelas”) que<br />

levantarem a blusa, criando assim uma pequena competição<br />

entre os foliões. Universitários americanos em busca de<br />

festa são destaques entre os quatro milhões de turistas<br />

que visitam Nova Orleans para o Fat Tuesday. O evento<br />

deixa meio bilhão de dólares anualmente para os cofres<br />

municipais, e foi essencial para a reconstrução da cidade<br />

após os estragos causados pelo furacão Katrina, em 2005.<br />

Por trás da organização do Mardi Gras estão os Krewes,<br />

clubes sociais com fins não lucrativos, que homenageiam<br />

deuses gregos em seus nomes. Ou seja, o Mardi Gras não<br />

tem nenhum compromisso concreto com uma ideologia<br />

específica, já que tem um fundamento religioso, um<br />

comportamento pagão e um apreço pela mitologia grega. Mas,<br />

se observarmos bem de perto, pode-se perceber que o Mardi<br />

Gras não deixa de ser uma versão mais descarada e libertária,<br />

ainda que menos glamorosa, do Carnevale di Venezia.<br />

Cena da festa no nal do<br />

século XIX, quando a tradição<br />

já atraia multidões.


À MESA<br />

52 | MARÇO 2011<br />

Para Comer,<br />

Beber e Amar<br />

<br />

Há anos, o centro de São Paulo passa por um processo<br />

de revitalização. Baseado na reforma e construção de<br />

centros culturais e organização dos estabelecimentos,<br />

algumas boas novidades surgiram em uma área esquecida por<br />

muito tempo. Entre as revelações, está o bar Dona Onça, empreendimento<br />

da chef Janaína Rueda com Julio César Toledo Piza<br />

e Sissi Spitaletti. A moderna arquitetura do edifício Copan, projetado<br />

por Oscar Niemeyer, abriga o bar com capacidade para<br />

80 pessoas, decorado com painéis de fotos das grandes cidades<br />

boêmias do mundo que foram visitadas pela onça, como Londres,<br />

Paris e Nova Iorque. O Copan é um dos edifícios de maior estrutura<br />

de concreto armado do país, de 32 andares. Com projeto<br />

elaborado durante o IV Centenário de São Paulo, o prédio tornouse,<br />

por sua magnitude, um dos pontos turísticos da cidade.<br />

POR FELIPE FILIZOLA FOTOS MAURO HOLANDA<br />

BAR DE COMIDA<br />

Mesmo incrustado nessa relíquia urbana, o que brilha mesmo<br />

são as comidas. O cardápio foi elaborado de modo a resgatar a<br />

tradição culinária do interior paulista, resultando em petiscos<br />

e pratos que refletem a colonização do estado por imigrantes<br />

de diversos países. Entre as entradas, se destacam os canapés<br />

e porções de bolinho de espinafre, almôndegas “à moda da<br />

antiga” e o quase esquecido coquetel de camarão, famoso na<br />

década de 1990. A influência italiana na gastronomia paulistana<br />

aparece nas opções de massas, preparadas por Jefferson<br />

Rueda, marido de Janaína e chef do restaurante Pomodori, no<br />

Itaim Bibi. Também estão entre as sugestões de pratos principais<br />

receitas de culinária afetiva, como aquelas que costumávamos<br />

comer na casa de nossos avós.<br />

A Chef Janaína Rueda à frente do<br />

salão do Dona Onça, que marca a<br />

revitalização do centro de SP com<br />

gastronomia do interior paulista.


À MESA<br />

Frango à milanesa com creme de milho, rabada com polenta<br />

e estrogonofe de filé fazem salivar até os mais saciados clientes.<br />

Para o verão, a chef criou um menu especial, como a Salada<br />

Secreta de filet-mignon, rúcula e lascas de parmesão. O<br />

nome se deve à receita do molho, que Janaína não compartilha<br />

com ninguém. Para os apreciadores de frutos do mar, Rueda<br />

criou uma Cazuela à moda espanhola, sopa típica dos países<br />

sul-americanos colonizados pela Espanha que lembra um cozido<br />

de diversos ingredientes.<br />

Como não seria uma refeição completa sem sobremesa, e a<br />

dúvida na hora de escolher a chave de ouro para fechar o menu<br />

é constante, o Trio Elétrico é uma das desserts mais pedidas.<br />

Combinação de quindim, pudim e brigadeiro mole, o prato<br />

não decepciona. Além dele, outras estrelas são a Banana Split<br />

e o Merengue da Onça.<br />

54 | MARÇO 2011<br />

BAR DE BEBIDA<br />

Com intenção de popularizar o vinho, a casa possui tintos e<br />

brancos em taça no lugar do tradicional chopp. Para isso, foi<br />

necessário criar um sistema de acondicionamento da bebida<br />

que a deixasse também na temperatura ideal. Na adega climatizada<br />

para mais de 800 garrafas, rótulos do Velho e Novo<br />

Mundo se misturam para oferecer ao cliente a perfeita hamonização<br />

com os pratos. O bar ainda conta com a presença do<br />

sommelier Wilton Ferreira, também apaixonado pela alquimia<br />

entre vinho e gastronomia. Mas se engana quem pensa que<br />

apenas de vinho vive o bar. Na carta de bebidas, destacam-se<br />

cervejas de garrafa e drinks clássicos, como whysky sour. O bar<br />

oferece também drinks autorais, como o shot Leite de Onça,<br />

bebida oficial do lugar. Enfim, o local perfeito para reviver<br />

o centro paulistano.<br />

Com intenção de popularizar<br />

o vinho, a casa possui tintos<br />

e brancos em taça no lugar<br />

do tradicional chopp.


INGREDIENTES<br />

• 250 g de filé mignon em tiras<br />

• 1 cebola cortada em pedaços pequenos<br />

• 1 colher de molho inglês<br />

• 1 colher de mostarda dijon<br />

• 1 pitada de páprica doce<br />

• 1 colher de azeite<br />

• flor de sal<br />

• pimenta do reino<br />

• creme de leite fresco<br />

• 3 colheres de conhaque<br />

•1 pote de champignon cortados em 4 pedaços<br />

PREPARO<br />

À MESA<br />

Estrogonofe<br />

de carne<br />

<br />

1. Em uma frigideira, dourar bem o filé com a<br />

cebola, o azeite e flor de sal<br />

2. Acrescente o conhaque e deixe flambar<br />

3. Coloque a mostarda dijon, o molho inglês, os<br />

champignons, a páprica, a pimenta do reino e<br />

o creme de leite fresco e deixe ferver<br />

4. Sirva com arroz branco e chips de mandioquinha<br />

Serviço:<br />

Avenida Ipiranga, 200, lojas 27/29, Tel.: (11) 3257-2016. Horário de<br />

funcionamento: segunda a quarta das 12h às 23h, quinta a sábado, das<br />

13h às 24h, e aos domingos, das 12h às 17h. Cartões de Crédito e<br />

Débito: Redecard, Visa e Amex. Capacidade: 80 pessoas. Vinho em taça<br />

R$8. Acesso a decientes. Ar-condicionado.<br />

56 | MARÇO 2011


DNA<br />

60 | MARÇO 2011<br />

FOTO: MARCELO CORREA<br />

Janete Costa<br />

A LIÇÃO DA VALORIZAÇÃO DA CULTURAL BRASILEIRA<br />

POR FELIPE FILIZOLA FOTO DIVULGAÇÃO<br />

Janete Costa deixou um legado na arquitetura brasileira. Nascida no<br />

interior de Pernambuco e falecida aos 76 anos em 2008, a arquiteta,<br />

diplomada pela Faculdade de Arquitetura da Universidade do Rio<br />

de Janeiro na década de 60, teve sua carreira marcada pela divulgação<br />

da arte popular e do artesanato brasileiro, além de desenvolver importantes<br />

projetos de arquitetura e design de produtos. A preocupação<br />

com a inserção no mercado de trabalho de artistas populares apareceu<br />

durante sua vida, idealizando que a arte, design e arquitetura brasileiras<br />

expressassem identidades culturais locais. Foi casada com seu<br />

professor e também arquiteto Acácio Gil Borsoi, com quem manteve<br />

por anos escritório de arquitetura em Recife.<br />

MARÇO 2011 | 61


DNA<br />

Um de seus últimos<br />

projetos, o hotel<br />

Marabá, funciona<br />

como canal de<br />

informação cultural,<br />

como desejava<br />

Janete.<br />

62 | MARÇO 2011<br />

OBRAS<br />

Seus projetos de residenciais, edifícios públicos,<br />

cinemas, auditórios e teatros, hotéis, prédios<br />

comerciais, restaurantes e lojas visavam a inclusão<br />

social e a geração de renda para artesãos e artistas<br />

populares. A sua atuação em projetos de interiores<br />

resultou em design de produtos, de colchas à luminárias<br />

e cadeiras, se aproveitando de materiais<br />

variados como madeira, metais, fibras e mármores.<br />

Para executar os produtos, recorria a cooperativas<br />

de trabalhadores e comunidades, criando a “escola<br />

Janete”, que unia cultura erudita e popular em pé<br />

de igualdade.<br />

As soluções encontradas pela arquiteta preenchia<br />

todos os requisitos de padrão internacional de qualidade,<br />

porém resultavam em espaços com personalidade e<br />

expressão cultural brasileira.<br />

Destacou-se também como Consultura de Arquitetura<br />

de Interiores em restaurações de sítios históricos,<br />

como o Teatro de São Luís do Maranhão, o<br />

Palácio dos Leões, também no Maranhão, o Solar do<br />

Jambeiro e a Igreja São Lourenço dos Índios, estes<br />

últimos em Niterói. Realizou viagens para países<br />

orientais, a convite do governo chinês, e para a Europa,<br />

a fim de especializar-se, em 1979, e recebeu por três<br />

vezes a Premiação Anual do Instituto de Arquitetos<br />

do Brasil - IAB - em 1969, 1970 e 1972.<br />

“Janete<br />

destacou-se pelo<br />

compromisso<br />

com a identidade<br />

do Brasil.”<br />

No Rio de Janeiro o<br />

paisagista integra a<br />

natureza ao seu projeto.<br />

MARÇO 2011 | 63


DNA<br />

64 | MARÇO 2011<br />

“O artesanato<br />

aquece e embeleza os<br />

ambientes, não se trata de<br />

alternativa barata.”<br />

MARÇO 2011 | 65


DNA<br />

66 | MARÇO 2011<br />

A PAIXÃO<br />

A valorização da arte popular brasileira e do<br />

artesanato foi a forma encontrada por Janete Costa<br />

para dar à arquitetura aquilo que se convencionou<br />

chamar de função social. Por mais de 40 anos, estudou<br />

e pesquisou o artesanato do Brasil, e procurou<br />

incorporá-lo em todos os seus projetos. Disse, certa<br />

vez, em entrevista que “...o artesanato aquece e<br />

embeleza os ambientes, não se trata apenas de<br />

alternativa barata”.<br />

Para a disseminação de técnicas e ideias, montou<br />

e curou exposições ao longo de sua vida por diversas<br />

capitais brasileiras e fora do País. Entre as de<br />

maior destque, podemos citar: Artesanato como um<br />

caminho (SP, 1985), Viva o Povo Brasileiro (RJ, 1992),<br />

Arte Popular Brasileira (RJ, 1995), Pernambuco – Arte<br />

Janete ainda jovem estudando as<br />

melhores soluções para seus projetos<br />

Popular e Artesanato, (RJ, 2001), Arte Popular Brasileira<br />

e Arte Popular dos Estados, Carreu du Temple<br />

(Paris, 2005), Que Chita Bacana (SP, 2005), Somos –<br />

Criação Popular Brasileira (RS, 2006) e do Tamanho<br />

do Brasil (SP, 2007).<br />

Segundo Janete, o artesanato precisava sair dos<br />

limites regionais e atingir um preço que assegurasse<br />

ao artesão uma melhor qualidade de vida, necessitando<br />

este trabalho de assistência técnica e a organização<br />

através de cooperativas. Costa defendia ainda um<br />

projeto de desenvolvimento técnico no qual o artesanato<br />

tradicional pudesse evoluir, sem perder as<br />

suas raízes. Brasileira com B maiúsculo, fez sua parte<br />

para melhorar o Brasil. Deixou um legado e, certamente,<br />

saudades.<br />

<br />

<br />

Rua Outeiro da Cruz n° 51 - T. 11 2978 3480<br />

Cel. 11 9657 4032 ou 9653 3504<br />

mb.bagatelli@uol.com.br<br />

www.monicabagatelli.com.br


CONFISSÕES<br />

O<br />

arquiteto Carlos Augusto Lira, diplomado pela Fa-<br />

culdade de Arquitetura da Universidade Federal de<br />

Pernambuco, em 1971, com diversos cursos de especialização<br />

e extensão, é profissional conhecido nacional e<br />

internacionalmente. Há dez anos, seu escritório desenvolve o<br />

projeto cenográfico do Carnaval de Recife junto a Joana Lira,<br />

filha de Carlos, artista plástica e designer gráfica, além de também<br />

ser responsável pelo projeto funcional e cenográfico da<br />

Fenearte, a maior feira de artesanato da América Latina. Além<br />

de arquiteto, Lira é colecionador de arte sacra e arte popular –<br />

brasileira e africana.<br />

B&C: Como surgiu o envolvimento com o Carnaval?<br />

CL: Foi bastante curioso. Em 2001, assumiu um novo Prefeito<br />

e um novo Secretário da Cultura aqui em Recife. Na primeira<br />

semana no cargo me ligaram e marcaram uma reunião. Achei<br />

estranho ser convidado para decorar o Carnaval, pois para<br />

mim não se tratava de um projeto de arquitetura, e sim uma<br />

intervenção urbana. Foi um desafio, pois não tinha as plantas<br />

nem acesso aos arquivos, então levantei um time de 12 pessoas<br />

para mapear e fazer o levantamento. Minha filha, que é<br />

designer gráfica, veio de São Paulo ajudar. Tínhamos pouco<br />

tempo, pois o Carnaval era em fevereiro.<br />

68 | MARÇO 2011<br />

Decorando<br />

com<br />

fantasia<br />

o Carnaval<br />

pernambucano<br />

POR FELIPE FILIZOLA FOTOS DIVULGAÇÃO<br />

B&C: Como você vê a evolução do trabalho nesses 11 anos?<br />

CL: Acumulei muita experiência nesses anos. Comecei usando<br />

material reciclável, pois acreditava que deveria transmitir uma<br />

mensagem social. Mas não poderia ter “lixo” usado como enfeites.<br />

A decoração precisava ser luxuosa, com efeito de dia, de<br />

noite, no sol e na chuva. O trabalho de desenvolvimento passou<br />

para outra esfera. Com os anos, desenvolvemos um trabalho<br />

social junto a comunidades, nas quais uma colheria o material,<br />

outra o beneficiaria e por fim uma terceira o transformaria na<br />

decoração. O importante é transformar o material em peças que<br />

tenham design e requinte. E dá muito mais trabalho do que utilizar<br />

um material “pronto”, mas o resultado é gratificante.<br />

Nesse período, a Prefeitura também passou a incentivar ações<br />

sociais, inclusive durante o Carnaval, na Boa Viagem, Magalhães<br />

e Casa Forte, entre outras. Recife é o Carnaval mais democrático<br />

do mundo, não só pela folia, mas pela inclusão social.<br />

B&C: A cada ano, a obra de um artista é homenageada, como<br />

a de Tereza Costa Rego para 2011 e Vicente do Rego Monteiro<br />

em 2010. Como é feita a homenagem?<br />

CL: Sempre houve a homenagem a dois compositores de frevo,<br />

um vivo e um do passado. Este ano homenagearemos o maestro<br />

Duda além de Tereza Costa Rego. O artista dá uma linha<br />

MARÇO 2011 | 69


CONFISSÕES<br />

Um dos temas do Carnaval<br />

Multicultural-Recife 2011.<br />

a ser seguida na hora de criar a decoração. No caso de Tereza,<br />

suas obras são sensuais, mas estáticas. Utilizamos essa referência<br />

como base, mas exploramos também outros elementos<br />

de sua obra, como os tamanduás, gatos e o Homem da Meia<br />

Noite. O Homem é típico do Carnaval de Olinda, mas a artista<br />

mora na costa do Amparo, mesmo lugar onde habita o personagem<br />

durante os dias de folia, então era inevitável utilizar<br />

essa referência.<br />

B&C: Seu trabalho com o Carnaval começou no final da revitalização<br />

do Recife Antigo, que vinha sido feita desde os<br />

anos 70. Há, na hora de projetar a cenografia, uma preocupação<br />

em valorizar a arquitetura local?<br />

CL: O Carnaval aqui é muito maior do que o bairro de Recife<br />

Antigo, então nossa preocupação e cuidado se estende à toda<br />

cidade. Ao bolar a decoração, buscamos criar peças que participem<br />

do cenário sem interferir nele. Também há uma grande<br />

fiscalização da Prefeitura, do órgão que cuida do patrimônio<br />

histórico e do próprio CREA. Não podemos prender nada em<br />

pontes, postes, prédios e pisos, com o risco de se embargar a<br />

montagem. A nossa proposta é revestir a cidade para a folia,<br />

valorizando-a e nunca a escondendo.<br />

B&C: O que mais te atrai no Carnaval recifense? Costuma ficar<br />

na cidade para os dias de folia?<br />

CL: A diversidade do Carnaval recifense é incrível. São oito<br />

pólos centralizados com shows, além dos 9 pólos que ficam<br />

fora do centro da cidade. Cada um guarda sua identidade,<br />

70 | MARÇO 2011<br />

que eu procuro respeitar quando crio a decoração. Tem o pólo<br />

Fantasia, que assim como nos Carnavais antigos, as pessoas<br />

ainda vão fantasiadas. Tem o pólo Mangue, que faz referência<br />

ao Manguebeat de Chico Science e o pólo Afro, que resgata<br />

as tradições do maracatu. Me agrada ver como, apesar de tão<br />

diferentes pela música e pelas pessoas, os pólos se integram<br />

uns com os outros. Gosto também do ritual dos Tambores Silenciosos,<br />

quando tudo se apaga e os participantes pedem,<br />

falando e cantado em português e yorubá, proteção aos ancestrais<br />

para o período de Carnaval. Passo o Carnaval na cidade<br />

todos os anos. Já passava a data em Recife antes de trabalhar<br />

nele, e agora devo prestigiar aqueles que estão prestigiando<br />

também o meu trabalho.<br />

B&C: Você coleciona arte sacra e popular...<br />

CL: A paixão começou nos anos 70. Vinha de uma família simples,<br />

então apenas admirava a estética de esculturas sacras<br />

em lugares públicos. Quando comecei a trabalhar, tive a oportunidade<br />

de adquirir peças. Gosto muito dos imaginários dos<br />

santos de roca, santos antigos e populares, de terracota e mais<br />

simples. Eles têm uma sofisticação profunda, diferente de santos<br />

enfeitados com tintas douradas. O Brasil é muito rico nesse<br />

aspecto artístico, principalmente o Nordeste. Temos o Mestre<br />

Expedito do Piauí, a beleza do Bumba Meu Boi no Maranhão,<br />

a tradição pernambucana de peças em barro e madeira. Meus<br />

dois filhos moram em São Paulo, mas eu acredito mesmo que<br />

o passado e o futuro do Brasil estão no Nordeste. Aqui, nossa<br />

história é contada com paixão e sedimentação.<br />

MARÇO 2011 | 71


72 | MARÇO 2011<br />

BRASIL NO MUNDO<br />

do brasil e pelo brasil<br />

<br />

POR HELENA MONTANARINI FOTO DIVULGAÇÃO<br />

O Universo de Athos Bulcão nos croquis e passarela do inverno 2011.<br />

MARÇO 2011 | 73


74 | MARÇO 2011<br />

BRASIL NO MUNDO<br />

Não há como falar em moda brasileira sem destacar Ronaldo Fraga. O estilista mineiro<br />

ficou conhecido pelo seu trabalho original, carregado de referências do País. Suas<br />

coleções trazem humor, ousadia e crítica social a temas e ícones genuinamente brasileiros,<br />

sem transformá-los em caricatura. Antropólogo nato, sua inerente sensibilidade propõe<br />

o olhar com afinco a traços nacionais esquecidos pelo povo, como os bordados pernambucanos<br />

que estrelaram sua coleção de Verão 2011. Guimarães Rosa, Nara Leão e Carlos Drummond de<br />

Andrade já foram homenageados com temas de coleções que contam verdadeiras histórias. Seus<br />

performáticos desfiles no São Paulo Fashion Week atraem olhares atentos, encantados e emocionados<br />

dos espectadores.<br />

Detalhe da estampa de uma saia da coleção de inverno 2011<br />

MARÇO 2011 | 75


76 | MARÇO 2011<br />

BRASIL NO MUNDO<br />

CARREIRA<br />

Em seu blog pessoal, Ronaldo diz que “nunca desejou<br />

sua carreira, não teve mãe costureira ou irmãs provando<br />

vestidos em casa e nunca brincou de boneca.<br />

Começou pelo simples fato de saber desenhar.<br />

Trezentos anos depois, continua ilustrando personagens<br />

para suas histórias: o que muitos chamam de<br />

moda”. Nesses “trezentos anos”, muita coisa aconteceu.<br />

Fraga formou-se em estilismo na UFMG, Belo<br />

Horizonte, fez pós-graduação na Parson’s School de<br />

Nova Iorque e estudou Millinery (arte de fazer chapéus)<br />

na Saint Martins School de Londres.<br />

O retorno ao Brasil aconteceu em 1996, quando<br />

integrou o time de estilistas a desfilar no Phytoervas<br />

Fashion. Em meio à tendência minimalista, sóbria e<br />

nipônica da segunda parte da década de 1990 e da<br />

supervalorização das culturas internacionais, Ronaldo<br />

surpreendeu a todos com a colorida e alegre coleção<br />

“Eu Amo Coração de Galinha”, sucesso instantâneo<br />

de crítica. No mesmo evento, um ano depois, uma<br />

coleção sobre o artista Arthur Bispo do Rosário lhe<br />

conferiu o prêmio de estilista revelação de 1997, o<br />

que o impulsionou a abrir sua marca própria.<br />

Entre 1998 e 2001, Fraga desfilou suas histórias<br />

na Casa de Criadores até entrar no line-up oficial de<br />

estilistas do São Paulo Fashion Week. Completando<br />

10 anos e 20 coleções na semana de moda brasileira,<br />

este gênio criativo já nos emocionou com uma linda<br />

coleção em homenagem à memória de Zuzu Angel,<br />

valorizou a moda de cunho social ao apresentar roupas<br />

bordadas por presidiários e retratar o artesanato do<br />

Vale do Jequitinhonha e resgatou o Tropicalismo com a<br />

coleção “São Zé”, referenciando o cantor Tom Zé.<br />

A coleção “Turista Nacional” do Verão 2011 é uma<br />

alusão ao trabalho de Mário de Andrade, que, segundo o<br />

olhar crítico de Fraga, “procurou traçar as coordenadas<br />

de uma Cultura Nacional através da Cultura Popular,<br />

memórias de ofício, música e culinária”. A retratação<br />

vem em forma de um projeto desenvolvido junto a um<br />

grupo de bordadeiras da cidade de Passira, no Agreste<br />

Pernambucano. Aqui, a cultura pernambucana vem<br />

costurada, estampada e bordada em linho, seda, bases<br />

de algodão e jacquards imitando renda, e sempre<br />

valorizando o trabalho feito à mão.<br />

O VELHO CHICO<br />

A pesquisa para uma coleção sobre o Rio São Francisco,<br />

em 2008, gerou tanta riqueza de materiais que<br />

acabou virando uma exposição, num riquíssimo e<br />

singular legado. “Rio São Francisco navegado por<br />

Ronaldo Fraga: cultura popular, história, moda” costura<br />

uma expedição de dois meses às margens do Rio, com<br />

instalações plásticas de arte contemporânea divididas<br />

em dez ambientes interligados por um percurso que<br />

remete ao interior de um barco a vapor, passando pelas<br />

lendas, religiosidades, cheiros e sabores, músicas e<br />

costumes das cidades ribeirinhas, entre outros símbolos<br />

e características que são únicas ao São Francisco. “A<br />

diversidade de costumes e crenças; a multiplicidade<br />

de raças, que vão dos índios aos negros e brancos;<br />

o encanto das lendas, que são mágicas e ao mesmo<br />

tempo assustadoras; a poesia musical das cores, tudo<br />

no Rio São Francisco encanta e impressiona”, afirma<br />

Ronaldo. A coleção apresentada por Ronaldo Fraga<br />

no São Paulo Fashion Week também compõe a mostra<br />

acrescentada de peças exclusivas. Lançada em<br />

Belo Horizonte em 2010, a partir deste ano a exposição<br />

passará por São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília,<br />

Salvador, Recife, Maceió, Aracaju, Curitiba e Porto<br />

Alegre. Mais uma maneira de se emocionar com a<br />

bela obra desse artista.<br />

O humor aparece com<br />

grasmos do artista brasiliense<br />

Athos Bulcão, referenciado na<br />

criação do estilista<br />

MARÇO 2011 | 77


78 | MARÇO 2011<br />

BRASIL NO MUNDO<br />

B&C: Você retrata elementos da cultura brasileira na hora de criar<br />

uma coleção, como a história dos azulejos coloniais para o Verão<br />

2011. Como o Carnaval já influenciou o seu trabalho?<br />

RF: O Carnaval sem dúvida alguma é a festa mais solar da cultura<br />

brasileira. E muito em função disso, tem influenciado desde sempre<br />

outras manifestações no Brasil como a música, as artes plásticas e<br />

a moda, claro. Na coleção de verão, “TURISTA APRENDIZ”, o foco<br />

da pesquisa era ofícios de bordado na cultura pernambucana em<br />

vias de extinção. Como falar de cultura pernambucana sem falar<br />

do Carnaval? Na coleção “DISNEYLANDIA” em que pesquiso a<br />

iconografia da América Latina, também ilustrei o Brasil com uma<br />

imagem de confetes de carnaval. O desfile “QUEM MATOU ZUZU<br />

ANGEL” de 2001, falava evidentemente da denúncia da estilista<br />

Zuzu Angel contra a ditadura militar e ironicamente, na trilha, usei<br />

marchinhas de carnaval gravadas pela banda do Canecão em 1969.<br />

B&C: Como é feita a decisão pelo tema de cada coleção? Como foi<br />

o processo criativo para o Inverno 2011?<br />

RF: A moda é o meu instrumento de comunicação, denúncia e<br />

afeto com o meu tempo, sendo assim, tudo que me provoca ou<br />

me indigna já são motivos para se tornarem objetos de pesquisa<br />

para uma coleção de moda. Claro que procuro escolher temas que<br />

de uma forma ou de outra tragam algo “caro” ao nosso tempo.<br />

Nesse caso, os valores à que me refiro são outros. Para o inverno<br />

de 2011, pesquisei o universo de Athos Bulcão, o artista que aproximou<br />

a arte da arquitetura. Conhecido pelos azulejos de Brasília,<br />

na verdade ele fez muito mais. Difícil imaginar Brasília sem as<br />

obras de Niemeyer? Mais difícil ainda para mim seria imaginá-la<br />

sem a alegria e a sofisticação da arte de Athos Bulcão.<br />

B&C: Apesar de sempre atuais, retratando aquele determinado<br />

momento, suas roupas se encaixam em um perfil atemporal.<br />

Como traduzir uma tendência quando existe uma relação tão forte<br />

com um determinado tema?<br />

RF: Com a democratização da informação, a forma de “ler” as tendências<br />

mudou. Hoje, o comprimento ou a cor propostos por um<br />

lançamento em Paris são imediatamente queimados com o acesso<br />

massivo à internet. Hoje, a moda e o consumo desta exigem mais<br />

de nós. O buraco está muitíssimo mais embaixo. Agora é a vez<br />

das macrotendências, ou seja, aquilo que vá direcionar não só a<br />

moda, mas a arquitetura, a literatura, o cinema, a culinária. Sendo<br />

assim, a tendência da vez pode ser “a busca pelo afeto perdido”.<br />

Cabe a nós fazermos a nossa leitura particular deste desejo.<br />

Ao lado,<br />

Mergulhando fundo no<br />

modernismo de Brasília,<br />

Ronaldo desvenda os azulejos<br />

da cidade e da colaboração de<br />

Athos Bulcão para Niemeyer<br />

para o inverno desde ano.<br />

MARÇO 2011 | 79


ESPECIAL<br />

82 | MARÇO 2011<br />

O PAÍS SE DIVIDE PELAS TRADIÇÕES E SE MISTURA NA FOLIA.<br />

Se o Brasil<br />

POR FELIPE FILIZOLA FOTOS DIVULGAÇÃO<br />

é conhecido por sua pluralidade de culturas e tradições, não seria diferente<br />

na hora de comemorar a data mais esperada do ano: o Carnaval. Cada região e estado do Brasil<br />

tem costumes e formatos típicos para festejar o feriado que encerra, ainda que não oficialmente,<br />

o verão. Blocos de ruas, desfiles de escolas, bailes de gala ou trios-elétricos. É a festa mais democrática<br />

do País: há opções de diversão para todos os gostos, bolsos e idades.


Talvez<br />

ESPECIAL<br />

a mais emblemática festa brasileira, o Carnaval<br />

carioca, é destino internacional para os que buscam folia. A<br />

tradição histórica com a data, oficializada pelo governo da<br />

cidade em 1930, atrai turistas dos quatro cantos do globo<br />

para ver os consagrados desfiles de escolas de samba, com<br />

suas coloridas alegorias de plumas e carros alegóricos dignos<br />

de produções hollywoodianas rumando à Marquês de Sapucaí<br />

projetada por Oscar Niemeyer.<br />

A Passarela Professor Darcy Ribeiro, o Sambódromo carioca,<br />

ganha vida com música e alegria nas noites de festa,<br />

quando uma escola seguida de outra preenche o lugar com<br />

suas alas até o amanhecer seguinte. As noites mais disputadas,<br />

para desfilar ou assitir, são as de domingo e segunda-feira,<br />

quando desfilam as escolas que tiveram mais pontos nos anos<br />

anteriores, chamadas de Grupo Especial. Na competição das<br />

escolas entram quesitos como enredo, adereços e alegorias,<br />

84 | MARÇO 2011<br />

R IO DE JANEIRO E S ÃO PAULO<br />

<br />

evolução e harmonia do desfile, e desempenho da bateria.<br />

Fora os desfiles, ainda há opções para foliões em busca de<br />

carnaval de rua, seguindo trios-elétricos pela orla marítima<br />

da cidade. O Carnaval em São Paulo em pouco difere do Carnaval<br />

carioca, ainda que tenha menor visibilidade e sua história<br />

seja mais recente. Os desfiles das escolas mais consagradas<br />

acontecem nas noites de sexta-feira e sábado no Sambódromo<br />

do Anhembi, também projetado por Oscar Niemeyer. As<br />

catorze escolas do Grupo Especial paulistano transformam as<br />

duas primeiras noites do feriado em um show que pode ser<br />

assistido das arquibancadas ou dos badalados camarotes à<br />

beira da avenida.<br />

Apesar de grande parte dos paulistas aproveitarem o feriado<br />

prolongado para descansar (ou festejar) longe da cidade, a tradição<br />

dos bailes de carnaval em clubes se mantém viva, muito<br />

procurada pelo clima familiar e nostálgico.<br />

Plumas e franjas enfeitam fantasias<br />

de efeito, desenhadas para encher<br />

a avenida de cor e movimento.


ESPECIAL<br />

86 | MARÇO 2011<br />

Recife<br />

R ECIFE E OLINDA<br />

<br />

acolhe, segundo o Guiness Book, o maior bloco<br />

de carnaval do mundo, o Galo da Madrugada. O ritmo do<br />

frevo contagia os carros alegóricos e quase 30 trios-elétricos<br />

que festejam ao longo do Entrudo os dias que antecedem à<br />

Quaresma. A quantidade de foliões ultrapassa a população<br />

local, chegando a 2 milhões de pessoas seguindo o bloco<br />

entre o Forte das Cinco Pontas e a Avenida Guararapes. É considerado<br />

o mais democrático do mundo, já que o programa<br />

é gratuito, requerendo apenas vontade, alegria e muita disposição<br />

para aguentar os dias de folia.<br />

A revitalização do bairro de Recife Antigo fez com que o<br />

Carnaval na cidade se tornasse multifacetado, oferecendo opções<br />

de desfiles de agremiações carnavalescas e apresentações<br />

de cantores e conjuntos musicais em palanques específicos.<br />

A poucos quilômetros de Recife, Olinda recebe seus<br />

foliões de maneira própria. Bonecos gigantes circulam pela<br />

cidade entre os mais de 500 blocos de rua e 1 milhão de<br />

pessoas. Os Bonecos de Olinda, com mais de dois metros<br />

de altura, coloridos e de fácil localização, são geralmente<br />

feitos de pano, madeira e papel. A tradição surgiu em 1939,<br />

com o Homem da Meia-Noite, um boneco de mais de 3<br />

metros de altura. Ele foi o pioneiro em uma tradição que<br />

começou como uma grande brincadeira dos artistas plásticos<br />

Anacleto e Bernadino da Silva. Em 1969, acharam que o<br />

Homem da Meia-Noite estava muito sozinho e criaram uma<br />

companheira para ele, a Mulher do Dia. A história diz que<br />

os dois se cruzaram pela primeira vez em uma oficina de<br />

conserto e fizeram o Menino da Tarde. O símbolo do Carnaval<br />

de Pernambuco se multiplicou e hoje a festa conta com<br />

diversos personagens. Até boneco do presidente americano<br />

Barack Obama já foi feito.<br />

FOTOS: FERNANDO ELEUTÉRIO<br />

MARÇO 2011 | 87


ESPECIAL<br />

S ALVADOR<br />

<br />

Carnaval na capital baiana traz outro recorde brasileiro mas a mega proporção a que chegou o Carnaval de Salvador faz<br />

para a data. A folia soteropolitana é tida como a maior manifes- com que os blocos mais populares percorram do Farol da Barra a<br />

tação popular de qualquer natureza no mundo, com cerca de 2,7 Ondina, com avenidas mais largas e banhadas pela orla.<br />

milhões de foliões em seis dias de festa! Divididos em 3 circuitos Som oficial de Salvador o ano inteiro, a palavra Axé é uma sau-<br />

pela cidade, os trios-elétricos começam a festa já na quinta-feira dação religiosa usada no candomblé e na umbanda, que significa<br />

antes do início do Carnaval e só se desligam no “encontro de energia positiva. O ritmo nasceu também com Dodô e Osmar ao<br />

trios” na praça Castro Alves na Quarta-Feira de Cinzas. Criado em tocarem o frevo pernambucano com guitarras elétricas. A con-<br />

Salvador por Dodô e Osmar em 1950, o primeiro trio-elétrico era solidação do estilo veio nos anos 80, com o cantor, compositor<br />

um velho Ford 1929 em cima do qual saíram tocando seus paus e multi-instrumentista Luiz Caldas, conhecido até hoje como “O<br />

elétricos com som amplificado por alto-falantes. Percursores do Rei do Axé”. A partir dele, surgiu uma geração de cantores e ban-<br />

axé baiano, o nome dos artistas batiza hoje dois dos circuitos das como Margareth Menezes, Daniela Mercury, banda Cheiro de<br />

oficiais pelos quais passam os maiores nomes da música baia- Amor e Banda Eva. A febre do Axé dos anos 90 passou, mas a<br />

na contemporânea, como Ivete Sangalo, Chiclete com Banana e cada ano a Bahia recebe ainda mais convidados para transmitir<br />

Asa de Águia. O circuito mais tradicional é o do centro histórico, sua energia carnavalesca.<br />

88 | MARÇO 2011<br />

O tradicional bloco “Filhos de<br />

Gandhi” ensaia pelas ruas do<br />

centro o caminho a ser percorrido<br />

durante os dias de folia.<br />

ECO<br />

Lumber


The Look of Home<br />

TENDÊNCIAS,<br />

AMBIENTES E<br />

PEQUENOS DETALHES<br />

QUE FAZEM TODA<br />

DIFERENÇA NA SUA<br />

DECORAÇÃO.


PERFIL<br />

<br />

Competência e determinação levaram o prossional<br />

ao topo da arquitetura nacional.<br />

102 | MARÇO 2011<br />

POR FELIPE FILIZOLA<br />

FOTOS NELSON AGUILAR E DIVULGAÇÃO<br />

de energia”. É assim que Roberto Migotto traduz sua relação com o trabalho.<br />

Em mais de 25 anos de carreira, o arquiteto nascido em Taubaté e radicado<br />

“Fonte<br />

em São Paulo chegou ao hall dos mais estrelados profissionais do Brasil. Conquistou<br />

seu espaço com competência e determinação, além de muita dedicação, em uma<br />

época que a arquitetura era considerada uma profissão elitizada.<br />

Estudou na Universidade Braz Cubas, em Mogi das Cruzes, com João Armentano, com<br />

quem abriu o primeiro escritório no começo da carreira. Em 1990, resolveu seguir voo solo<br />

e, três anos depois, teve o esforço reconhecido com a sua primeira participação na Casa<br />

Cor de São Paulo. Ainda que defina a qualidade como marca registrada de seus projetos,<br />

o traço atemporal com conceito e sem modismos é sua assinatura. Transitando entre o<br />

estilo clássico e contemporâneo, seus ambientes de bom gosto respeitam as vontades dos<br />

clientes. “Um bom profissional tem que saber ouvir para poder interpretar, principalmente<br />

quando é ele quem vai realizar o sonho de morar bem das pessoas”, afima categórico.<br />

Apaixonado por Carnaval,<br />

Migotto posou para a<br />

B&C ao lado do carro<br />

alegórico da Rosas de Ouro.<br />

MARÇO 2011 | 103


PERFIL<br />

REFERÊNCIAS E PAIXÕES<br />

As inúmeras viagens que faz ao redor do mundo são fontes inesgotáveis<br />

de novas referências que Migotto afirma filtrar pelo seu próprio<br />

senso estético, que também absorve referências de filmes, livros,<br />

comidas, bebidas e arte. As imponentes criações podem ser conferidas<br />

em projetos de fazendas, residências, restaurantes, hotéis ou boutiques.<br />

Nas horas vagas, Migotto ainda alimenta sua paixão pelo Carnaval.<br />

Veterano frequentador da Escola de Samba Rosas de Ouro e amigo da<br />

presidente da Escola, não costuma perder nenhum ensaio, além de estar<br />

sempre presente na Avenida durante os desfiles.<br />

Clássicos ou Contemporâneos, os projetos de<br />

Migotto transpiram elegância e atemporalidade.


PERFIL<br />

Migotto recebeu a B&C no seu recém-inaugurado<br />

escritório, na Vila Nova Conceição. Em um prédio de<br />

tons sóbrios pontuado por pontos de cor amarela,<br />

destaca-se a prancheta com régua T para seus desenhos<br />

à mão, método favorito para projetar espaços.<br />

B&C: Como reconhecer a assinatura Roberto Migotto?<br />

RM: Normalmente o cliente procura arquitetos de<br />

quem já conhece o trabalho e tem identificação. No<br />

meu caso, acredito que cada projeto é o fruto de um relacionamento<br />

entre arquiteto e cliente, e o resultado<br />

final deve seguir a cara dos dois. Os meus projetos<br />

têm em comum a mistura do moderno e contemporâneo<br />

com a busca por formas clássicas e atemporais.<br />

Como eu faço tanto arquitetura como design de<br />

interiores, os projetos são pensados para adequar o<br />

desejo do cliente com o seu estilo de vida, casando<br />

a forma e a função de cada cômodo, pensando na<br />

integração dos cômodos, layout de funcionalidade e<br />

usabilidade. Olhando meus projetos dos anos 90 até<br />

hoje, vejo que eles seguem a mesma linha, apesar da<br />

notada evolução. Isso significa que encontrei o ponto<br />

de equilíbrio, o meu estilo.<br />

106 | MARÇO 2011<br />

Os recentes projetos do arquiteto<br />

reetem seu vasto referencial.<br />

MARÇO 2011 | 107


PERFIL<br />

108 | MARÇO 2011<br />

B&C: Você trocou Taubaté por São Paulo recém-saído da faculdade. Qual a sua relação com a cidade?<br />

RM: Eu amo São Paulo, é uma cidade maravilhosa e a que eu escolhi para construir minha carreira. Urbanisticamente,<br />

a cidade é complicada, mas é natural em uma megalópole de mais de 15 milhões de habitantes.<br />

A arquitetura pode aos poucos trazer melhoria, mas melhorar o urbanismo é um trabalho de várias frentes. A<br />

sensação que eu tenho quando estou no meu apartamento é de morar no interior, pois vejo a região da Paulista<br />

do outro lado do parque. Cada um deve fazer o que pode para melhorar a cidade. Eu trabalho a poucos quarteirões<br />

da minha casa, e tento vir trabalhar de bicicleta. É um luxo poder se desprender do carro. Me encantam as<br />

belezas escondidas da cidade, como os antigos prédios do centro e o Mercadão. O problema foi o crescimento<br />

desordenado que mascarou esses prédios. Se pegarmos a região da Berrini, com prédios construídos na mesma<br />

época e pensados, vemos que existe uma linha entre a arquitetura dos prédios; tem cara de primeiro mundo.<br />

Os croquis em<br />

3D antecipam os<br />

sosticados espaços<br />

concebidos.<br />

B&C: Você participou do Extreme Makeover Social no final de 2010. Como foi essa participação?<br />

RM: A Cristiana Arcangeli me convidou para o projeto e eu comecei a pesquisar os programas<br />

que eram feitos no exterior. Aqui ia ser inviável fazer o programa em uma semana pela burocracia,<br />

mas aceitei de imediato, pois era um modo de levar o bem viver para quem eu nunca imaginei.<br />

O trabalho em Parelheiros era a reforma de uma creche, que passou a atender 120 crianças (antes<br />

a creche atendia 50 crianças). Fomos atrás de materiais ecologicamente corretos. É muito<br />

gratificante ver o resultado e a felicidade das crianças atendidas, e isso reflete em uma sensação<br />

de bem-estar. Talvez essa seja uma das frentes, inclusive, do projeto urbanístico que São Paulo<br />

precisa. Seria bom ver governos e empresários apoiando mais, já que a iniciativa não pode partir<br />

apenas dos profissionais de arquitetura.<br />

MARÇO 2011 | 109


PERFIL<br />

B&C: Mudando de assunto, você tem uma forte<br />

relação com o Carnaval...<br />

RM: Sou completamente fascinado pelo Carnaval.<br />

É a minha paixão desde criança. Amo ouvir sambasenredo,<br />

estudar cada tema e escola. Em 1985, estava<br />

fazendo um projeto no Rio e assisti ao desfile Ziriguidum<br />

2001 da Mocidade Independente de Padre<br />

Miguel. Aquilo me marcou muito, aquele brilho das<br />

naves espaciais ao nascer do sol ficou marcado em<br />

minha cabeça. Em 1987, assisti ao desfile Tupinicópolis<br />

da mesma escola, que retratava o que seria<br />

uma metrópole indígena, tema atual até hoje.<br />

B&C: E como isso reflete no seu trabalho?<br />

RM: Acredito que a influência não é direta, mas<br />

se vemos alguns grandes carnavalescos, eles conseguem<br />

transformar aquele exagero em uma coisa<br />

esteticamente leve, gostosa de ser apreciada. Eles<br />

primam pelo acabamento e concepção de uma festa<br />

tão efêmera, e isso é inspirador. Para mim, o Renato<br />

Lage é um exemplo de bom gosto, com carros<br />

suspensos, o modo de sustentar grandes estruturas,<br />

ou mesmo carros vazados, com transparência... Além<br />

dele, temos a Rosa Magalhães e o Paulo Barros, que<br />

sabem manter a harmonia estética mesmo com o<br />

ambiente “over”. A construção me fascina.<br />

110 | MARÇO 2011<br />

Apaixonado por Carnaval,<br />

Migotto recebeu a B&C no<br />

barracão da Rosas de Ouro.<br />

Ilumine.<br />

A La Luce Iluminação desenvolve juntamente com seus clientes, desde o projeto luminotécnico até o<br />

fornecimento de materiais específicos, como lâmpadas, luminárias e equipamentos, visando sempre a<br />

forma mais adequada e eficiente de realizar sonhos.Venha nos fazer uma visita e surpreenda-se.<br />

Shopping Downtown - Av. das Américas, 500 - Bl. 08 - Loja 130 - Pátio Interno - Barra da Tijuca - RJ<br />

PABX: (21) 3139-1600 | www.lalucenet.com


CONTEMPORÂNEO<br />

Araquém<br />

Alcântara<br />

O HOMEM QUE ENXERGA A NATUREZA<br />

POR FELIPE FILIZOLA<br />

FOTOS NARAQUÉM ALCÂNTARA<br />

Com o lançamento de duas novas obras no<br />

final de 2010, Araquém Alcântara voltou a<br />

destacar seu premiado e reluzente trabalho.<br />

Referência quando o assunto é fotografia, seus<br />

40 anos de carreira revelaram fotos que registram,<br />

como nunca antes visto, a fauna, a flora e o povo brasileiro.<br />

Precursor da fotografia de natureza no País, é<br />

considerado um dos mais importantes fotógrafos da<br />

atualidade. Seu olhar e a luz de suas obras explicam<br />

o porquê. Araquém é uma daquelas pessoas que realmente<br />

enxergam o objeto observado, capturando a<br />

essência do que é retratado.<br />

O primeiro ensaio feito pelo paulista Araquém foi<br />

sobre urubus. Desde então, seu engajamento social<br />

e ambiental permeiam os autorais retratos. Com vasto<br />

domínio técnico e cuidado extremo com os menores<br />

detalhes, Alcântara capta por meio de lentes<br />

cenas exuberantes e carregadas de denúncias, enquadrando<br />

tanto o deslumbre quanto a destruição.<br />

Nos 42 livros publicados e quase 60 exposições individuais,<br />

o que se vê é uma compilação de emoções. A<br />

expressão de suas fotos fez com que fosse o primeiro<br />

fotógrafo brasileiro a produzir uma edição de colecionadores<br />

para a National Geografic, que resultou<br />

no trabalho Bichos do Brasil.<br />

TERRABRASIL<br />

O maior destaque de sua produção é, sem dúvidas,<br />

o livro TerraBrasil, lançado originalmente em 1998<br />

e com 11 edições. O maior best-seller da área de fotografia<br />

do Brasil já ultrapassou a marca dos 82 mil<br />

exemplares e foi relançado, totalmente renovado,<br />

em dezembro de 2010 com cerca de 50% de novas<br />

imagens. A obra foi o primeiro registro visual de to-<br />

dos os parques nacionais brasileiros, fruto de uma<br />

viagem de 300 mil quilômetros que resultaram em<br />

mais de 30 mil imagens produzidas. A edição deste<br />

vasto acervo levou três anos para o lançamento do<br />

primeiro exemplar.<br />

Se a imagem de capa, com sua onça-pintada olhando<br />

calmamente em direção da câmera, já é suficiente<br />

para intrigar o leitor, a impressionante foto do mítico<br />

boto-cor-de-rosa da Amazônia ou o esplendor de um<br />

pássaro pronto para alçar vôo torna o livro em referência<br />

não só para fotógrafos, mas também para viajantes<br />

e ambientalistas. A nova edição apresenta, além<br />

dos parques nacionais brasileiros, os ecossistemas do<br />

País.<br />

A viagem que consumiu 11 anos, sendo seis meses<br />

ininterruptos na Amazônia, continua sendo um feito<br />

ousado, mesmo hoje, tanto tempo depois. Por explorar<br />

lugares nunca antes aventurados, Alcântara se viu em<br />

situações inesperadas e até perigosas. Foi sequestrado<br />

por índios caiapós menkragnotire no rio Curuá (PA) interessados<br />

em entender o que fazia ali o homem urbano<br />

e seu maquinário. O problema foi resolvido com o pagamento<br />

de um resgate de R$ 800 e 150 litros de gasolina.<br />

“Os índios estavam em pé de guerra porque tinham perdido<br />

sua grande fonte de sustento fácil: a comissão de<br />

dez por cento dada pelos garimpeiros de rio e de terra e<br />

pelos madeireiros de mogno. Eram índios bandidos, que<br />

não plantam, não caçam e não pescam mais. Estávamos<br />

atravessando o rio, próximo a suas terras, justamente<br />

alguns dias depois de uma blitz da Polícia Federal, Ibama<br />

e FUNAI. E isso, infelizmente, só acontece uma vez<br />

em cinco anos”, relatou certa vez em uma entrevista. As<br />

andanças permitiram que Araquém acompanhasse a degradação<br />

ambiental de muitas partes do País.<br />

MARÇO 2011 | 113


Ibicoara, BA | Cachoeira da Fumacinha


116 | MARÇO 2011<br />

CONTEMPORÂNEO<br />

“Sou um fotógrafo viajante e esse livro<br />

demonstra minha maturidade prossional.<br />

É uma obra com o máximo de informação e com<br />

o mínimo de palavras.”<br />

Ele lamenta a atual situação do Vale do Jequitinho-<br />

nha (MG) e a crescente desertificação no Piauí - com<br />

destaque para as voçorocas do município de Gilbués,<br />

arrasado pela mineração. “Não resta mais nada das<br />

araucárias e, na caatinga, estão destruindo a mata<br />

seca. Também temo a savanização da Amazônia, já<br />

prevista pelos cientistas”, diz.<br />

Mas lhe dá esperança o exemplo da Reserva de Desenvolvimento<br />

Sustentável Mamirauá, no Amazonas,<br />

criada pelo biólogo José Márcio Ayres, com o intuito<br />

de proteger o macaco uacari-branco. Nesse tipo de<br />

unidade, a população do local não é expulsa e pode<br />

usar os recursos naturais de maneira equilibrada.<br />

NOVO LIVRO<br />

Se TerraBrasil continua a emocionar seus leitores, o<br />

fotógrafo lança outra seleção de trabalhos no livro<br />

Araquém Alcântara: Fotografias. A curadoria de Eder<br />

Chiodetto resumiu duas mil imagens em uma história<br />

de 82 fotos apresentadas no livro, que, ao contrário<br />

das outras publicações do fotógrafo, não conta<br />

com um tema definido. O trabalho de documentação<br />

sistemática da natureza mostra, em preto e branco,<br />

o efeito da luz e seus reflexos para compor deslumbrantes<br />

paisagens. “Sou um fotógrafo viajante e esse<br />

livro demonstra minha maturidade profissional. É<br />

uma obra com o máximo de informação e com o mínimo<br />

de palavras”, resume.<br />

Nessa sequência de imagens - sem nenhuma legenda,<br />

a não ser a indicação do local onde a foto foi<br />

feita -, é fácil imaginar várias histórias enquanto o dia<br />

avança nos registros.<br />

Há fotografias do homem trabalhando no campo<br />

e laçando bois no Pará, da pesca no rio Amazonas,<br />

de uma partida de golfe em São Paulo, de uma paisagem<br />

idílica no Rio Grande do Norte e também de<br />

uma menina brincando com um bicho preguiça, no<br />

Acre, e assim por diante. “Todas as minhas obras<br />

têm uma carga política e social muito grande. Faço<br />

um trabalho de denúncia. Nesse livro, excepcionalmente,<br />

isso não acontece. Foquei em fazer um trabalho<br />

limpo, despojado, com técnicas modernas de<br />

impressão e excelente qualidade de papel”, explica<br />

Alcântara. “Tive uma sensação de libertação, porque,<br />

depois de mais de 25 anos de carreira, me sentia engessado<br />

num nicho como fotógrafo de natureza”.<br />

Barcelos, AM | Boto-cor-de-rosa<br />

Barcelos, AM | Sumaúma no Rio Negro<br />

MARÇO 2011 | 117


DESTINOS<br />

118 | MARÇO 2011<br />

MARÇO 2011 | 119


DESTINOS<br />

Manacapuru, Amazonas<br />

120 | MARÇO 2011<br />

Cruzeiro do Sul, Acre<br />

Cachoeira do Arari, Pará<br />

“Todas as minhas obras têm uma carga política<br />

e social muito grande. Faço um trabalho de denúncia.”<br />

A conclusão desses dois livros impulsiona Araquém a novos projetos.<br />

Para o final de 2011, prevê um livro sobre cheiros e sabores da Amazônia,<br />

feito em parceria com o chef Alex Atala. E outro acerca de cachaças, em<br />

conjunto com o sommelier Manoel Beato, e que deve incluir um curioso<br />

estudo de Gilberto Freyre sobre a bebida nacional.<br />

Até 2012 devem ocorrer comemorações pelos 40 anos de carreira do fotógrafo.<br />

Há projetos de uma exposição e de novas publicações. Araquém<br />

tem vontade de produzir uma trilogia sobre o Brasil contemporâneo, além<br />

de um estudo – “numa linha euclidiana” – sobre a terra, o homem e a extinção,<br />

tendo os rios da Amazônia como personagens-chave.<br />

MARÇO 2011 | 121


122 | MARÇO 2011<br />

REFÚGIO INTERNACIONAL<br />

Luna Hotel<br />

Baglioni<br />

O MAIS ANTIGO HOTEL DE VENEZA AINDA<br />

RECEBE A ARISTOCRACIA DO MUNDO<br />

EM AMBIENTE 5 ESTRELAS<br />

POR FELIPE FILIZOLA FOTOS DIVULGAÇÃO<br />

NOVEMBRO 2010 | 123


Se Veneza atrai milhões de visitantes anualmente para<br />

conhecer seus canais e história, os mais exigentes viajantes<br />

têm um destino certo na cidade: o Luna Hotel<br />

Baglioni. Incrustado na Praça de São Marcos, o hotel é uma<br />

sala de estar em meio a boutiques de moda e galerias de arte<br />

no coração de uma cidade que revela beleza e elegância em<br />

cada detalhe.<br />

Se por um estranho acontecimento um visitante pudesse viver<br />

nos últimos mil anos no local, teria conhecido ali grandes<br />

personalidades que construíram a história da humanidade. O<br />

hotel está construído em um espaço de importância histórica<br />

e cultural. É o mais antigo hotel da cidade, que abrigou, no século<br />

XII, cavaleiros reais antes de partirem para as Cruzadas. Ao<br />

mesmo tempo que seu passado ainda vive no estabelecimento,<br />

os confortos do mundo atual foram inseridos de maneira discreta<br />

no hotel para o bem-estar dos clientes, com uma reforma<br />

124 | MARÇO 2011<br />

REFÚGIO INTERNACIONAL<br />

Relíquias de século<br />

decoram os clássicos e luxuosos<br />

ambientes do hotel.<br />

acabada em 2009. O tratamento personalizado se assegura em<br />

alcançar as expectativas e desejos de seus hóspedes.<br />

CHARME VENEZIANO<br />

A entrada principal, a poucos metros da Praça de São Marcos,<br />

conta com um píer privado e um deck para gôndolas. O<br />

ambiente arquitetônico da cidade continua dentro do lobby<br />

principal e nos 104 quartos e 15 suítes, cujas janelas emolduram<br />

vistas para os Jardins Reais, a Basílica de São Marcos e a<br />

ilha San Giorgio Maggiore.<br />

Relíquias de móveis, pinturas, espelhos e objetos acumulados<br />

nos séculos de existência do local permanecem intactos<br />

e decoram o interior do Luna, assim como os lustres de<br />

Murano e o vermelho piso de mármore Verona. A alusão ao<br />

Carnaval veneziano aparece em estátuas vestidas com roupas<br />

do século XVIII.


REFÚGIO INTERNACIONAL<br />

Lustres de Murano, afrescos<br />

nos tetos e doca privada para<br />

gôndolas transformam a<br />

hospedagem no Luna Baglioni<br />

em uma experiência única.<br />

Muito procurado para festas e coquetéis, o hotel disponibiliza uma verdadeira experiência ve-<br />

neziana no Caffé Baglioni, decorado com mesas de mármore, objetos de Murano e situado em<br />

uma das laterais do lobby, com uma varanda em anexo que permite aos seus clientes apreciarem<br />

a bela vista dos canais. O hotel ainda reserva o salão de baile Marco Polo para grandes festas,<br />

uma verdadeira joia dentro da construção. No teto, afrescos do século XVIII pintados em estilo<br />

Rococó representam as Quatro Estações, em alusão à alegria da vida na terra. Neste espaço reside<br />

até hoje o famoso e mais concorrido baile de máscaras durante o Carnaval da cidade.<br />

COMIDA MADE IN ITALY<br />

O restaurante Canova, famoso ponto de encontro em Veneza e vencedor dos prestigiosos prêmios<br />

italianos de gastronomia “Foguer D’Oro” e “Gambero Rosso”, completa a coleção de atrativos<br />

do Luna Baglioni. Seu ambiente preciosamente decorado é o palco perfeito para as receitas do<br />

chef Cosimo Giampaolo e sua equipe, que valorizam ingredientes “Made in Italy” e propõe uma<br />

viagem à culinária italiana. Com capacidade para 70 pessoas, as janelas do local dão vista para a<br />

Calle dell’Ascensione através das cortinas feitas da lendária renda produzida na cidade. O nome<br />

do restaurante homenageia as obras do pintor Antonio Canova, muitas delas expostas no local.<br />

MARÇO 2011 | 127


“O luxuoso serviço<br />

já atraiu ilustres<br />

hóspedes, como Dalai<br />

Lama, Frank Sinatra<br />

e Elton John.”<br />

128 | MARÇO 2011<br />

REFÚGIO INTERNACIONAL<br />

O LUNA E AS ESTRELAS<br />

Antigo abrigo dos cavaleiros das Cruzadas Religiosas no século XII,<br />

o prédio onde reside o Luna Baglioni se mantém intacto por fora<br />

desde sua construção, quando ganhou o nome de Osteria della<br />

Luna. Com o fim e insucesso das Cruzadas, o local passou a servir<br />

de residência para membros do clero e senado até voltar, em 1574,<br />

a ser um hotel. Com a importância de Veneza como principal porta<br />

da Europa para o Oriente durante séculos, o hotel ganhou igual<br />

importância graças à sua localização e imponente arquitetura.<br />

Se no passado, reis, rainhas e imperadores marcaram a ocupação<br />

de seus quartos, hoje, o Luna Baglioni serviu nas últimas décadas<br />

como casa temporária para personalidades globais, como os atores<br />

Sean Connery, Michael Douglas e John Travolta, e músicos como<br />

Frank Sinatra e Elton John. Por lá, também passaram os importantes<br />

Dalai Lama e Nelson Mandela à procura do serviço 5 estrelas.<br />

Desde 2001, o serviço impecável do Luna fez com que ele se tornasse<br />

parte do seleto circuito de hotéis luxuosos Leading Hotels of<br />

the World. Em 2004 e 2005, foi escolhido pela associação de turismo<br />

italiano como melhor hotel do país, prêmio concedido também<br />

pela revista Conde Nast Traveller no mesmo ano. Nada mais justo<br />

para um hotel que se preocupa com o acolhimento e satisfação dos<br />

seus hóspedes com serviço de luxo ao estilo Italiano.


TRILHA SONORA<br />

130 | NOVEMBRO 2010<br />

<br />

O DJ ZÉ PEDRO É UMA ENCICLOPÉDIA DE MPB<br />

Há duas décadas colocando<br />

para dançar as mais animadas<br />

pistas do Brasil, o DJ Zé Pedro<br />

é autoridade quando o assunto é música<br />

brasileira. Sua carreira, que começou no<br />

então Resumo da Ópera no Rio de Janeiro,<br />

evoluiu para outros clubs de São Paulo,<br />

entre eles o B.A.S.E, Kashmir e Gitana, até<br />

chegar no Royal Club, onde mantém residência<br />

aos sábados desde 2006.<br />

Ainda que conhecido pela diversidade de<br />

estilos musicais ao montar o seu playlist,<br />

Zé Pedro pode ser considerado uma das<br />

maiores autoridades do país quando o<br />

assunto é música popular brasileira. A<br />

paixão vem da infância, quando tinha<br />

como hobby garimpar novos intérpretes e<br />

compositores. A brincadeira virou trabalho<br />

sério. Seu vasto conhecimento musical<br />

e a coleção de cerca de quatro mil vinis<br />

o levou a escrever o livro “Meus Discos e<br />

Nada Mais”, onde conta histórias de sua<br />

vida como DJ tendo a música como linhaguia,<br />

comentando sobre os 155 discos da<br />

música brasileira que mais influenciaram<br />

sua carreira. Na época do lançamento,<br />

chegou a declarar: “A ideia de fazer este<br />

livro era inevitável porque a música brasileira<br />

é o meu próprio alimento. Quando<br />

não é doce de leite, é a própria música<br />

brasileira. As grandes emoções que<br />

eu vivi na minha vida foram com esses<br />

cantores. Não foram namoros nem casamentos,<br />

a grande emoção da minha vida<br />

foi poder escutar esses discos”. O texto<br />

POR FELIPE FILIZOLA<br />

FOTOS DIVULGAÇÃO<br />

de abertura é sobre Maria Bethânia, a<br />

quem o livro é dedicado.<br />

Sendo um dos mais requisitados DJs<br />

do Brasil, ele também produz remixes e<br />

trilhas sonoras para desfiles de moda,<br />

como para a Rosa Chá e a Iódice em Nova<br />

Iorque, e para o evento Brasil 40 Graus promovido<br />

pela loja Selfridges em Londres,<br />

com o intuito de apresentar marcas brasileiras<br />

para os consumidores britânicos.<br />

Fora das pistas, o DJ também participou<br />

dos programas Superpop e do extinto É<br />

Show, comandado por Adriane Galisteu –<br />

amiga e confidente pessoal. Zé também<br />

já apresentou o programa MPB Para Dançar<br />

na rádio MPB FM do Rio de Janeiro,<br />

onde além de tocar seus remixes, recebia<br />

cantores e compositores para entrevistas.<br />

Primeiro dos 3 discos de sua autoria,<br />

“Música para Dançar”, lançado em<br />

2002, remixa clássicos da música brasileira,<br />

apresentando versões para pistas<br />

de canções de Milton Nascimento<br />

e Elis Regina. Mostrando estar sempre<br />

de olho em novos talentos da música,<br />

em 2005, lançou o CD “Quero Dizer a<br />

Que Vim” junto do DJ e produtor Gui<br />

Boratto, atualmente um dos maiores<br />

destaques da música eletrônica nacional<br />

no mercado mundial pela aclamada<br />

música “Beautiful Life” e o álbum<br />

Chromophobia. “Quero Dizer...” traz<br />

remixes de Djavan, Marina Lima e Gal<br />

Costa, atualizando clássicos. Lançado<br />

em 2009, “Essa Moça Tá Diferente”, seu<br />

NOVEMBRO 2010 | 131


TRILHA SONORA<br />

último álbum, faz uma homenagem em forma de remixes<br />

às grandes vozes femininas do Brasil, entre elas Marisa<br />

Monte, Alcione, Cássia Eller e Maysa. O álbum lhe rendeu<br />

uma indicação no 21º Prêmio da Música Brasileira na categoria<br />

Música Eletrônica em 2010.<br />

Com todo esse repertório cultural, nada mais natural que<br />

a revista B&C procurasse o artista para sugerir, nesta edição<br />

especial sobre Brasil e Carnaval, um playlist com as melhores<br />

músicas para celebrar o feriado mais animado e esperado<br />

do País. Assim como a comissão de frente das escolas de<br />

samba, Zé Pedro surpreende aqueles que estão assistindo<br />

suas performances nas pick-ups, seja com uma ótima e inesperada<br />

música, ou seja, com os aparatos com os quais costuma<br />

divertir seus convidados, entre eles bolas e brinquedos<br />

fluorescentes, ou buzinas em lata.<br />

B&C: A música brasileira tem uma diversidade tão grande<br />

quanto o seu povo. Qual a principal característica que une<br />

todos os estilos existentes no País? Você tem algum favorito?<br />

ZP: Não existe nada em comum entre os ritmos brasileiros<br />

de cada estado desse imenso País. Em cada capital que<br />

eu chego para me apresentar, procuro por informações de<br />

132 | NOVEMBRO 2010<br />

artistas locais e fico sempre impressionado com a quantidade<br />

de músicos que fazem um grande sucesso em sua terra natal<br />

e são completos desconhecidos nas outras cidades do Brasil.<br />

A percussão, por exemplo, que é a característica rítmica principal<br />

da música brasileira, em cada estado aparece de um jeito.<br />

Os tambores de Minas Gerais são completamente diferentes<br />

dos tamborins do Rio de Janeiro, e por aí vai. A música que<br />

vem da Bahia, desde Caetano Veloso passando pelo carnaval<br />

de Carlinhos Brown, sempre foi a que mais me interessou por<br />

sua alegria contagiante e personalidade.<br />

B&C: Na hora de fazer um remix, o que conta mais? A melodia<br />

original da canção, a necessidade de um ritmo específico<br />

para encaixar nos seus sets, ou, quem sabe, até a letra da música?<br />

Como é feita a seleção?<br />

ZP: Sou um pioneiro solitário nessa história de remixar a<br />

música brasileira. Os DJs, em geral, ainda têm um enorme<br />

preconceito em tocar a nossa música em qualquer formato.<br />

Sempre fui um apaixonado pela MPB e quando consegui ter<br />

meu trabalho observado pela mídia e pelo grande público,<br />

imediatamente comecei a produzir remixes que trouxessem,<br />

para a pista e para um público mais jovem, clássicos como<br />

Maria Bethânia, Elizeth Cardoso e Nara Leão. Tenho sempre<br />

o cuidado de manter a letra e a harmonia originais da canção,<br />

respeitando as intenções desse ou daquele artista. A escolha<br />

dessas músicas é sempre sentimental e intuitiva, lembranças<br />

de uma criança apaixonada pela música brasileira.<br />

B&C: Você trabalhou com o Gui Boratto em 2005, o que foi<br />

uma verdadeira revelação sua. Você se considera um caçatalentos?<br />

Pode apontar o nome de alguns artistas novos a<br />

quem devemos prestar atenção?<br />

ZP: O Gui Boratto hoje é um orgulho para os DJs no Brasil<br />

por seu trabalho extremamente original e bem feito. Quando<br />

fui até ele e o convidei para produzir o meu segundo disco, ele<br />

se mostrou cheio de ideias e, acima de tudo, um apaixonado<br />

pelo projeto de remixar a MPB. Nesse meu terceiro disco<br />

chamado “Essa Moça Tá Diferente”, no qual só aparecem<br />

remixes de cantoras brasileiras, chamei o produtor André<br />

Torquato que também tem um trabalho muito interessante<br />

de música eletrônica. Juntos, fomos indicados ao prêmio<br />

de melhor disco de música eletrônica de 2010. Estou sempre<br />

atento aos DJs e produtores que aparecem no mercado, mas<br />

infelizmente poucos se interessam por música brasileira.<br />

“Sou um pioneiro solitário nessa<br />

história de remixar a música<br />

brasileira. Os DJs, em geral, ainda<br />

têm um enorme preconceito em<br />

tocar a nossa música em qualquer<br />

formato.”<br />

B&C: Você tem 3 CDs lançados, um livro, trabalhou em TV,<br />

rádio e fez trilhas para eventos. Existe algum outro caminho que<br />

tem vontade de explorar e levar seu vasto conhecimento?<br />

ZP: Acabo de abrir uma gravadora chamada Jóia Moderna,<br />

que terá em seu casting apenas cantoras que estejam fora<br />

do mercado ou que queiram começar sua trajetória. Inicialmente,<br />

agora em fevereiro, sairão quatro lançamentos: Zezé<br />

Motta cantando Jards Macalé e Luiz Melodia; Cida Moreira<br />

interpretando de Amy Winehouse a Chico Buarque; um com<br />

quatorze cantoras interpretando o compositor Taiguara e<br />

uma cantora paulista chamada Silvia Maria, que não gravava<br />

um disco há exatos trinta anos. Espero, com esse projeto,<br />

iluminar a história da nossa música, tão diferente e tão rica.<br />

NOVEMBRO 2010 | 133


TRILHA SONORA<br />

PLAYLIST DE REMIXES<br />

134 | NOVEMBRO 2010<br />

Marisa Monte<br />

Innito Particular<br />

(Innity Mix)<br />

Alcione<br />

Sufoco<br />

(Samba House Mix)<br />

Maysa<br />

Canto de Ossanha<br />

(Afro Mix)<br />

Beth Carvalho<br />

Vou festejar<br />

(Alegria Mix)<br />

Clara Nunes<br />

Morena de Angola<br />

(Tribal Mix)<br />

Amelinha<br />

Frevo Mulher<br />

(Eletro Mix)<br />

Rita Ribeiro<br />

Cavaleiro de Aruanda<br />

(Saravah Mix)<br />

Maria Alcina<br />

Eu Quero Botar Meu Bloco na Rua<br />

(Funk Mix)<br />

Mart’nália<br />

Cabide<br />

(Nêga Mix)<br />

Elis Regina<br />

Vou Deitar e Rolar<br />

(House Mix)


136 | MARÇO 2011<br />

REFÚGIO NACIONAL<br />

Solar da ponte<br />

<br />

POR FELIPE FILIZOLA FOTOS DIVULGAÇÃO<br />

Situada na rota do ouro mineira e com um dos centros históricos da arte barroca<br />

mais bem preservados do Brasil, Tiradentes foi proclamada, na metade do século<br />

XX, patrimônio histórico nacional tendo suas casas, lampiões, igrejas, monumentos<br />

e demais partes recuperadas. A importância turística da cidade ganhou ainda o presente<br />

do casal John e Anna Maria Parsons, que transformaram a estrutura abandonada de um<br />

casarão colonial no refúgio Solar da Ponte. Desde os anos 70, a pousada recebe com beleza<br />

e conforto turistas que visitam o estado em busca da história da colonização brasileira.<br />

Situado no centro histórico de Tiradentes, o Solar sempre esteve comprometido com a<br />

preservação da cidade e com seu entorno natural e contexto histórico-cultural, oferecendo<br />

aos hóspedes um ambiente de encanto, recriando a tradição mineira de receber bem.<br />

A bela vista de Tiradentes pode ser<br />

apreciada da pousada. Na página ao lado, a<br />

sala de leitura e lareira do Solar da Ponte.<br />

MARÇO 2011 | 137


138 | MARÇO 2011<br />

REFÚGIO NACIONAL<br />

VALORIZANDO TRADIÇÕES<br />

Destacando-se dentre as tradicionais construções de Tiradentes,<br />

com vista para a praça principal e para a ponte, a pousada<br />

guarda belezas em seu interior de decoração clássica e móveis<br />

antigos compondo as diversas salas. Mobiliado com elegância,<br />

o Solar possui uma decoração coerente com a cidade, valorizando<br />

o artesanato regional, principalmente em objetos feitos<br />

em madeira, pedra-sabão, latão, folha de flandres, tecelagem,<br />

prata e estanho.<br />

Os 18 quartos seguem o mesmo padrão, com camas altas,<br />

ótimo enxoval, roupões e aquecedores de toalhas. Alguns<br />

ainda contam com vista para o belo jardim interno da pousada.<br />

Hóspedes e visitantes da cidade podem desfrutar da gastronomia<br />

local, refletidas no café da manhã servido com receitas<br />

Elegante, a decoração clássica da pousada é<br />

coerente com o clima da cidade, valorizando<br />

móveis de época e o artesanato local.<br />

típicas de Minas Gerais. Por conta da origem inglesa de seu<br />

fundador, a fartura gastronômica se repete ao pôr do sol, no<br />

chá da tarde. No almoço e jantar, aparecem no cardápio receitas<br />

de gastronomia mineira, típicas do Ciclo do Ouro do século<br />

XVIII. Apelidada de dieta do tropeiro, uma das mais ricas e originais<br />

culinárias do País, aparece em pratos de carnes e grãos<br />

cozidos sem pressa.<br />

A área social ainda conta com sala de leitura com lareira<br />

e livros raros, além de varandas, jardins, piscina e sauna. O<br />

agradável ambiente, sua estrutura e bom serviço renderam<br />

ao local a inclusão entre os “101 Best Hotels of the Word” da<br />

revista inglesa Tatler em 2005, além do importante selo turístico<br />

Condé-Nast Johansens, em 2006.<br />

“Desde os anos 70, a pousada recebe com beleza e conforto turistas que visitam<br />

o estado em busca da história da colonização brasileira.”<br />

MARÇO 2011 | 139


140 | MARÇO 2011<br />

REFÚGIO NACIONAL<br />

EXPLORANDO A REGIÃO<br />

Antiga São José do Rio das Mortes, a cidade de Tiradentes é<br />

uma das Vilas do Ouro assentada durante o século XVIII. Criada<br />

no auge do período da mineração, a cidade preserva, do seu<br />

passado colonial, monumentos religiosos e civis, tombados<br />

como bens culturais do Brasil. Opções de passeios turísticos<br />

não faltam para quem se interessar em explorar a região. O<br />

centro histórico, que pode ser percorrido a pé, possui joias da<br />

arquitetura colonial, como as igrejas, exemplares do barroco<br />

mineiro. Os adeptos de cavalgadas ainda contam com essa<br />

opção em passeios organizados na Mata Atlântica preservada,<br />

com sua flora e fauna. É possível seguir pelas trilhas dos antigos<br />

tropeiros ou caminhos históricos abertos pelos primeiros<br />

desbravadores.<br />

As ruas de pedra de tiradentes<br />

Para uma aventura de outrora, o passeio de Maria Fumaça<br />

até a vizinha São João Del Rei proporciona ao viajante do trem<br />

belas paisagens e um percurso dentro de uma locomotiva original<br />

em bitola estreita em perfeito funcionamento, como nos<br />

áureos tempos do Ciclo do Ouro.<br />

A região ainda é muito procurada pelo seu Carnaval de rua.<br />

Na cidade que respira historicidade e memória em suas ruas<br />

de pedra, a alegria dos foliões fica por conta do som de bandas<br />

que eternizam as músicas carnavalescas e dos desfiles de blocos,<br />

lembrando o antigo carnaval de rua animado ao tom das<br />

marchinhas. Enfim, uma ótima época para conhecer a história<br />

nacional e se divertir, juntando cultura e folia e o conforto de<br />

noites bem dormidas no Solar da Ponte.


LEITURA<br />

<br />

A OBRA DOS ANOS 90 ESTÁ MAIS ATUAL QUE NUNCA<br />

POR FELIPE FILIZOLA FOTOS DIVULGAÇÃO<br />

Ruy Castro<br />

não nasceu no<br />

Rio de Janeiro, mas deveria ser considerado<br />

mais carioca “da gema” do<br />

que muitos outros nascidos e vividos<br />

na capital fluminense. Natural da mineira<br />

Caratinga, o jornalista e autor<br />

escreveu sua história como profundo<br />

conhecedor do Rio, transformando em<br />

linhas e parágrafos a história da Cidade<br />

Maravilhosa.<br />

Sua primeira obra publicada, Chega<br />

de Saudade – A História e as Histórias<br />

da Bossa Nova – reconstitui a trajetória<br />

do estilo musical numa narrativa<br />

romantizada, porém baseada em fatos<br />

reais. Também de forma romantizada,<br />

Castro escreveu biografias de Carmem<br />

Miranda, Nelson Rodrigues e Garrincha.<br />

Se o seu estilo de escrita é um traço<br />

autoral, um tema em suas publicações<br />

une suas obras: o Rio de Janeiro.<br />

O amor pela cidade se reflete na obra<br />

“Carnaval no Fogo – Crônica de uma<br />

Cidade Excitante Demais”. A obra faz<br />

parte da série “O Escritor e a Cidade”,<br />

que retrata o espírito do estilo de vida<br />

de outras urbes. Entre as obras estão “Paris, Os Passeios de<br />

Um Flâneur”, de Edmund White e “Florença, Um caso Delicado”,<br />

de David Leavitt. Completamente adequada, então, a opção<br />

do autor para o desenvolvimento de tal obra.<br />

SEX-APPEAL E VIOLÊNCIA<br />

Verdadeira biografia da antiga capital brasileira, Ruy Castro<br />

nos presenteia com uma explicação em ordem cronológica<br />

de como a cidade se formou, partindo do batismo da cidade<br />

em 1502 pelo navegador italiano Américo Vespúcio e chegando,<br />

no prólogo, ao fechamento do comércio de Ipanema por<br />

ordens dadas pelo tráfico, ignorado pelo povo ávido por diversão<br />

carnavalesca que seguiu festejando atrás de blocos.<br />

O autor discorre, nesses 500 anos de história e 256 páginas<br />

de papel Pólen Soft, sobre a relação entre sexo e violência que<br />

marca a história guanabarina. Se por um lado, o conflito violento<br />

aparece desde a escravidão até o domínio do tráfico, o<br />

sexo também tem sua importância na formação do caráter da<br />

cidade, seja pela tradição do Carnaval,<br />

pela sua encosta litorânea ou seu clima<br />

tropical. Apesar do título, “Carnaval<br />

no Fogo” não é um livro sobre o famoso<br />

Carnaval da cidade, mas um retrato da<br />

vibrante atmosfera carioca, onde há<br />

sempre uma excitação no ar. Por ele,<br />

ficamos sabendo que, enquanto os poetas<br />

flertavam com jovens da sociedade nos<br />

cafés, durante a Belle Époque, eclodiam<br />

revoltas que quase destruíram a cidade;<br />

que as calçadas com desenhos de ondas<br />

em Copacabana, famosas pela sua sensualidade,<br />

foram batizadas com sangue;<br />

e que, mais de cem anos antes das garotas<br />

de Ipanema, já as garotas da rua do<br />

Ouvidor tinham adotado o chic francês<br />

para nunca mais o largar.<br />

O RIO ENCANTA<br />

Como qualquer apaixonado, o objeto<br />

retratado tem seus defeitos vistos como<br />

benefícios, ou então diminuídos frente<br />

às inúmeras qualidades listadas. Nada<br />

que desmereça, no entanto, essa longa<br />

crônica que comenta os personagens e<br />

sua história, ilustrada com o traço livre de Felipe Jardim e idealizada<br />

por Raul Loureiro. Se a pesquisa teórica que consumiu dois<br />

anos para completar a obra não foi suficiente para a conclusão<br />

do livro, Castro aventurou-se pelas ruas da cidade em busca de<br />

fatos que completassem a história. Segundo o autor, as ruas são<br />

o “habitat natural do carioca”, e não poderiam ser deixadas em<br />

segundo plano. As ruas do Rio, onde as índias recepcionaram<br />

os portugueses e onde desembarcaram os africanos e franceses,<br />

vivenciaram a formação dos costumes brasileiros e criaram o<br />

lifestyle carioca, admirado pelo resto do mundo atualmente.<br />

Ainda que 20 anos separem o lançamento do livro da presente<br />

data, o tema é mais que atual, enquanto o mundo se<br />

volta ao Rio de Janeiro buscando inspiração em seu modo de<br />

vida. Capa por duas vezes no último ano da aclamada revista<br />

inglesa Wallpaper, e referência de moda para grandes marcas<br />

internacionais como a italiana Prada e a sueca ACNE, a cidade<br />

revelada por Ruy Castro em suas obras ainda tem muito para<br />

ensinar ao mundo.<br />

MARÇO 2011 | 143


NA REDE<br />

On-line<br />

Não é fácil aproveitar todas as possibilidades da rede, o mundo está on-line.<br />

Por isso os criativos da agência de propaganda J3P selecionaram alguns links<br />

interessantes que abrirão novas portas para sua navegação.<br />

www. lemagazine.com<br />

“Site dedicado à fotogra a, mais<br />

propriamente a fotogra as inesperadas.<br />

As postadas, de alguma forma, mostram<br />

sua beleza de maneira diferenciada,<br />

com ângulos alternativos, observações<br />

não convencionais, interpretações<br />

originais, deixando de lado todos os<br />

clichês. Após uma rigorosa análise, o<br />

público apreciador do site pode ter sua<br />

própria foto postada. O material é, sem<br />

dúvida rico e selecionado.”<br />

Rodrigo Pereira, Diretor de Arte<br />

www.fromupnorth.com<br />

“Site de referências bem bacanas,<br />

com conteúdo atualizado semanalmente<br />

sempre traz inspirações dos mais diversos<br />

segmentos dentro da arte,<br />

como advertising, clothing, 3D, packaging,<br />

print, entre outros. Vale a pena conferir”<br />

Felipe Previtalli, Diretor de Arte<br />

144 | MARÇO 2011<br />

www.thecoolhunter.net<br />

“O site celebra a criatividade, inovação<br />

e originalidade em todas as suas<br />

manifestações, tornando-se uma referência<br />

mundial de cultura, leitura e design. Hoje<br />

conta com mais de 1 milhão de leitores<br />

únicos mensais, que se conectam em busca<br />

de estilos e tendências. A visita vale a pena<br />

para observar/antecipar as tendências em<br />

todos os seus aspectos, através de matérias<br />

inteligentes, surpreendentes, com muito<br />

requinte e so sticação.”<br />

Rodolpho Rivolta, Novos Negócios<br />

www.zeutch.com<br />

“É um site que agrega referências e<br />

tendências de diversas áreas: arquitetura,<br />

moda, arte, design, comunicação etc.<br />

Tudo que é vanguarda ganha destaque<br />

no Zeutch. Vale o acesso para car por<br />

dentro do que acontece de mais cool no<br />

mundo todo.”<br />

Rafael Carrieri, Redator<br />

www.notcot.org<br />

“Site para oxigenar suas ideias, e<br />

cheio de referências estéticas e também<br />

divertido. Um excelente guia do que há de<br />

mais novo em arquitetura, street fashion,<br />

design e artes grá cas.”<br />

Cesar Rodrigues, Designer<br />

www.grooveshark.com<br />

“Neste site é possível ouvir suas músicas<br />

preferidas e criar playlists totalmente<br />

on-line. O site ainda permite que você<br />

adicione amigos e indica músicas de estilos<br />

parecidos aos que você está ouvindo.<br />

Não é necessário baixar nenhum<br />

programa, só dar play e ouvir.”<br />

Claudio Tarandach, Redator<br />

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MARÇO 2011 | 145


ESPAÇO LUKSCOLOR<br />

Av. Indianópolis, 667 • Moema • São Paulo<br />

Tel: (11) 5087-9300 • www.lukscolor.com.br<br />

A Lukscolor oferece uma completa<br />

linha de tintas premium com suave<br />

perfume.<br />

Você não precisa sair de casa na<br />

hora de pintar e pode escolher,<br />

entre milhares de opções, uma cor<br />

que combina com você.


Edição Especial Carnaval<br />

www.artefactobc.com.br<br />

Revista Beach&Country | ano 03 | Março 2011<br />

UNIVERSO B&C<br />

É CARNAVAL<br />

CONTEMPORÂNEO<br />

ARAQUÉM ALCÂNTARA<br />

O OLHAR QUE REVELA O BRASIL<br />

BRASIL NO MUNDO<br />

RONALDO FRAGA<br />

MODA GENUINAMENTE BRASILEIRA<br />

06

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