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cultura do consumo, identidade e pós-modernidade - Unigranrio

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U N I V E R S I D A D E D O G R A N D E R I O<br />

U N I G R AN R I O<br />

P R Ó - R E I T O R I A D E P Ó S - G R A D U A Ç Ã O E P E S Q U I S A<br />

E S C O L A D E E D U C A Ç Ã O , C I Ê N C I A S , A R T E S E H U M A N I D A D E S<br />

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS<br />

MESTRADO ACADÊMICO EM LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS<br />

V A N D A V I A N A G O M E S<br />

E S T I L O S D E V I D A N A S T E L E N O V E L A S : C U L T U R A D O<br />

C O N S U M O , I D E N T I D A D E E P Ó S - M O D E R N I D A D E<br />

Duque de Caxias, RJ<br />

Agosto de 2012


V A N D A V I A N A G O M E S<br />

E S T IL O S D E V I D A N AS T E L E N O V E L AS : C U LT U R A D O<br />

C O N S U MO , I D E N T I D AD E E P Ó S - M O D E R N ID AD E<br />

Dissertação apresentada à<br />

Universidade <strong>do</strong> Grande Rio como<br />

requisito parcial à obtenção <strong>do</strong> título<br />

de mestre em Letras e Ciências<br />

Humanas<br />

Área de concentração: Discurso,<br />

<strong>cultura</strong> e formação humana<br />

Orienta<strong>do</strong>ra: Daniele Fortuna<br />

Duque de Caxias, RJ<br />

Agosto de 2012


CATALOGAÇÃO NA FONTE/BIBLIOTECA - UNIGRANRIO<br />

G663e Gomes, Vanda Viana.<br />

Estilos de vida nas telenovelas: <strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong>, <strong>identidade</strong> e <strong>pós</strong><strong>modernidade</strong><br />

/ Vanda Viana Gomes. - 2012.<br />

111 f. ; il. ; 30 cm.<br />

Dissertação (mestra<strong>do</strong> em Letras e Ciências Humanas) –<br />

Universidade <strong>do</strong> Grande Rio “Prof. José de Souza Herdy”, Escola de<br />

Educação, Ciências, Letras, Artes e Humanidades, 2012.<br />

“Orienta<strong>do</strong>ra: Profª Daniele Fortuna.”<br />

Bibliografia: f. 92-97.<br />

1. Letras. 2. Telenovelas – Aspectos sociais - Brasil. 3. Teledifusão –<br />

Brasil - Influência. 4. Televisão – Aspectos sociais. 5. Pós-modernismo.<br />

6. Cultura <strong>do</strong> <strong>consumo</strong>. I. Fortuna, Daniele. II. Universidade <strong>do</strong> Grande Rio<br />

“Prof. José de Souza Herdy”. III. Título.<br />

CDD – 400


D E D I C A T Ó R I A<br />

D e d i c o e s t a d i s s e r t a ç ã o a D e u s ,<br />

a m e u s p a i s , i r m ã o s e a m i g o s .


A G R A D E C I M E N T O S<br />

Agradeço.a Deus, em primeiro lugar, por me dar a vida, aos meus familiares e amigos,<br />

a meus companheiros de crença espiritual, to<strong>do</strong>s que me ajudam na caminhada da vida<br />

particular, acadêmica e profissional. Em particular, a minha orienta<strong>do</strong>ra, Daniele Fortuna,<br />

pois sem ela não poderia concluir essa jornada, aos professores componentes da banca de<br />

qualificação e desta dissertação, Marco Antonio de Carvalho Bonetti (Universidade<br />

<strong>Unigranrio</strong>) e Marco André Feldman Schneider (Universidade Federal Fluminense), que me<br />

redirecionaram a pesquisa e ajudaram, em semelhança ao papel de co-orienta<strong>do</strong>res e a<br />

Ricar<strong>do</strong> Ferreira Freitas (Universidade <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio de Janeiro), componente da banca<br />

desta dissertação, que me auxiliou no projeto de pesquisa e acreditou na minha proposta desde<br />

o início. Fica também o agradecimento à professora Nízia Villaça, que me aju<strong>do</strong>u a delinear<br />

os primeiros conceitos <strong>do</strong> projeto.<br />

Um especial agradecimento a to<strong>do</strong>s os professores das disciplinas <strong>do</strong> mestra<strong>do</strong> e aos<br />

funcionários administrativos da <strong>Unigranrio</strong>, em especial à secretária <strong>do</strong> mestra<strong>do</strong>, Daniele<br />

Silva, pela dedicação e por associar tratamento humano, aos deveres administrativos.


R E S U M O<br />

Qual é a possível contribuição das telenovelas brasileiras na difusão da <strong>cultura</strong> de<br />

<strong>consumo</strong> e como esta relação influencia na fragmentação da <strong>identidade</strong> na <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong>?<br />

Neste contexto, qual o papel <strong>do</strong>s estilos de vida? A proposta deste trabalho é discutir estas<br />

questões, analisan<strong>do</strong> o que é a <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong> e como a <strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong> contribui para a<br />

fragmentação da <strong>identidade</strong>, com a difusão <strong>do</strong>s estilos de vida. O processo é analisa<strong>do</strong> dan<strong>do</strong><br />

ênfase à midiatização e depois às telenovelas.<br />

Palavras-chave: Pós-<strong>modernidade</strong>, <strong>identidade</strong>, <strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong>, telenovelas


ABSTRACT<br />

What is the possible contribution of Brazilian soap operas in the diffusion of consumer<br />

culture and how this relationship influences the fragmentation of identity in postmodernity? In<br />

this context, the role of lifestyles? The purpose of this paper is to discuss these issues by<br />

examining what is postmodernism and how consumer culture contributes to the fragmentation<br />

of identity, with the spread of lifestyles. The process is analyzed with emphasis on<br />

mediatization and then to soap operas.<br />

Keywords: Postmodernism, identity, consumer culture, soap operas.


S U M Á R I O<br />

A P R E S E N T A Ç Ã O D O T E M A E M E T O D O L O G I A . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11<br />

I N T R O D U Ç Ã O . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14<br />

CAPÍTULO 1 P Ó S - M O D E R N I D A D E , C U L T U R A D O C O N S U M O E<br />

T R A N S F O R M A Ç Ã O D A I D E N T I D A D E . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 7<br />

1.1 Pós-moderno: um perío<strong>do</strong>, várias nomenclaturas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .....17<br />

1.2 Modernidade e <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong>: contexto histórico-social da transição. . . . . . . . . . . .....19<br />

1.2.1 O mun<strong>do</strong> moderno – Revolução Industrial, Revolução Francesa e consolidação <strong>do</strong><br />

capitalismo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .................19<br />

1.2.1.1 Advento <strong>do</strong> capitalismo, divisão social <strong>do</strong> trabalho e urbanização. . . . . . . . . . . . . . . . . 2 1<br />

1.2.2 Crise <strong>do</strong> capitalismo: <strong>do</strong> fordismo ao <strong>pós</strong>-fordismo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22<br />

1.3 O mun<strong>do</strong> <strong>pós</strong>-moderno: <strong>pós</strong>-fordismo, aceleração <strong>do</strong> fluxo de informações e compressão<br />

<strong>do</strong> espaço e tempo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25<br />

1.3.1 A compressão espaço-tempo e a mobilidade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27<br />

1.4 Pós-<strong>modernidade</strong> e <strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong>: surgimento e implicações nas relações sociais e<br />

identitárias. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30<br />

1.4.1 Surgimento e consolidação da <strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong>. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30<br />

1.4.2 O que é a <strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong>?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32<br />

1.4.3 Cultura <strong>do</strong> <strong>consumo</strong>: da tradição ao poder de compra. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34


1.4.4 O impacto da <strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong> na <strong>identidade</strong>. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35<br />

1.4.4.1 Deslocamento da <strong>identidade</strong> na <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong>. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35<br />

1.4.4.2 As três concepções de <strong>identidade</strong>. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37<br />

CAPÍTULO 2 A C U L T U R A D O C O N S U M O E A M I D I A T I Z A Ç Ã O : A<br />

F O R M A Ç Ã O D O S E S T I L O S D E V I D A . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39<br />

2.1 Conceito e contextualização <strong>do</strong> processo de midiatização da <strong>cultura</strong> e das relações sociais<br />

na <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong>. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39<br />

2.1.1 Mediação ou midiatização? As diversas análises teóricas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40<br />

2.2 Os efeitos da midiatização nas relações sociais: quarto bios e sociedade <strong>do</strong><br />

espetáculo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .....41<br />

2.3 Estilos de vida: formas de <strong>identidade</strong> produzidas pela difusão da <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong> pela<br />

midiatização. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43<br />

2.3.1 Estilo de vida: O que é?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43<br />

2.3.2 Identidade, <strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong>, midiatização e estilos de vida. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45<br />

2.4 Os diferentes meios de comunicação e a difusão <strong>do</strong>s estilos de vida. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46<br />

CAPÍTULO 3 TEL EVISÃO, TELENOVELA E A DIFUSÃO DO S ESTILO S DE<br />

VIDA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49<br />

3.1 Televisão, <strong>identidade</strong> e difusão <strong>do</strong>s estilos de vida. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ........................49<br />

3.2 As origens da estrutura narrativa das telenovelas brasileiras brasileiras. . . . . . . . . . . . . . . 5 3<br />

3.2.1 O que é a telenovela? ........................................... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 6


3.3 Telenovela e <strong>identidade</strong>. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ...57<br />

3.4 Telenovelas, <strong>consumo</strong> e estilos de vida. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .....59<br />

3.5 A importância <strong>do</strong> figurino para a composição das personagens nas telenovelas ..............61<br />

CAPÍTULO 4 ESTUDO DE CASO COM A NO VELA PARAÍSO<br />

TROPIC AL. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63<br />

4.1 Apresentação <strong>do</strong> tema e problema. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .....63<br />

4.2 Discutin<strong>do</strong> a relação entre <strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong>, <strong>identidade</strong>, <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong> e estilos de<br />

vida em Paraíso Tropical. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .....64<br />

4.3 Análise <strong>do</strong>s principais núcleos dramáticos da novela e suas relações com o <strong>consumo</strong> e<br />

mobilidade social. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ......71<br />

4.4 Principais estilos de vida da telenovela Paraíso Tropical. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .....74<br />

4.5 Perfis das personagens a serem analisadas nos capítulos de 29/08/2007 a<br />

07/09/2007. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78<br />

4.5.1 Análise da personagem Bebel. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79<br />

4.5.2 Análise da personagem Paula. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81<br />

4.5.3 Análise da personagem Taís. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .....83<br />

4.5.4 Conclusão <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> de caso e contribuição para a dissertação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .....85<br />

CONCLUSÃO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88<br />

REFERÊNCIAS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .....92<br />

ANEXO A Resumo <strong>do</strong>s dez capítulos analisa<strong>do</strong>s. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ........98


ANEXO B Ficha técnica com equipe da novela Paraíso Tropical . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ..105<br />

ANEXO C Letra da música “Sába<strong>do</strong> em Copacabana”, trilha sonora de abertura de Paraíso<br />

Tropical. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 0 8<br />

ANEXO D Fotografias de atrizes mostran<strong>do</strong> as personagens em <strong>do</strong>is estilos de vida . . . . . . 1 0 9


Apresentação <strong>do</strong> tema e meto<strong>do</strong>logia<br />

A presente pesquisa tem como proposta principal analisar a relação das telenovelas<br />

brasileiras com a difusão da <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong> na <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong>, com ênfase nos estilos<br />

de vida e suas ligações com a fragmentação da <strong>identidade</strong>. Estes processos serão estuda<strong>do</strong>s<br />

em conjunto com a midiatização, que é uma das principais fontes de influência para a<br />

formação de papéis sociais num contexto virtual, com tempo e espaço abstratos, em que as<br />

relações humanas são fluidas. Fragmentada, a <strong>identidade</strong> torna-se transitória e construída pela<br />

aparência.<br />

Esse processo tem suas raízes na transição da sociedade tradicional para a sociedade<br />

moderna e depois para a <strong>pós</strong>-moderna, com transformações iniciadas na Europa e Esta<strong>do</strong>s<br />

Uni<strong>do</strong>s da América. Com a urbanização, industrialização e nova divisão <strong>do</strong> trabalho, o eixo<br />

<strong>do</strong> status social se desloca gradualmente da tradição para o poder de <strong>consumo</strong>. O advento da<br />

<strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong> vem com a substituição <strong>do</strong> sistema fordista de produção pelo <strong>pós</strong>-fordismo.<br />

Um <strong>do</strong>s principais produtos <strong>cultura</strong>is da televisão, a telenovela é hoje um grande foco de<br />

difusão de estilos de vida e de <strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong>. Por esta razão, a discussão deste produto<br />

<strong>cultura</strong>l é de muita importância para a linha de pesquisa Gênero, Etnia e Identidade, <strong>do</strong><br />

Programa de Pós-Graduação em Letras e Ciências Humanas da Universidade <strong>do</strong> Grande Rio -<br />

<strong>Unigranrio</strong>.<br />

Além de expor estilos de vida, as obras de teledramaturgia abordam frequentemente as<br />

crises de <strong>identidade</strong> vividas na contemporaneidade, oferecen<strong>do</strong> soluções muitas vezes por<br />

meio da <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong>. Diante de tal quadro, propõe-se como objetivo geral analisar a<br />

relação entre <strong>identidade</strong> e <strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong> nas telenovelas. Como objetivo específico,<br />

propõe-se estudar o papel <strong>do</strong>s estilos de vida nesse contexto. É importante ressaltar que neste<br />

trabalho não será feito estu<strong>do</strong> de recepção, focalizan<strong>do</strong> o efeito causa<strong>do</strong> aos telespecta<strong>do</strong>res<br />

pela difusão <strong>do</strong>s estilos de vida nas telenovelas. A pesquisa se concentrará na discussão<br />

teórica <strong>do</strong> potencial de difusão da <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong> nos meios de comunicação e sua<br />

relação com o processo de midiatização, demonstran<strong>do</strong> a exibição <strong>do</strong>s estilos de vida na<br />

telenovela brasileira e o processo pelo qual os telespecta<strong>do</strong>res podem se identificar com eles e<br />

as possíveis implicações nas suas <strong>identidade</strong>s.<br />

Este trabalho tem como proposta de meto<strong>do</strong>logia a análise de conteú<strong>do</strong> temática da<br />

bibliografia sugerida, acrescida de estu<strong>do</strong> de caso da novela Paraíso Tropical, de Ricar<strong>do</strong><br />

Linhares e Gilberto Braga, exibida pela Rede Globo de Televisão em 2007 no horário das<br />

12


21h. O méto<strong>do</strong> utiliza<strong>do</strong> para o estu<strong>do</strong> de caso é a análise de dez capítulos da novela mediante<br />

entrelaçamento com a teoria apresentada nos três primeiros capítulos, dan<strong>do</strong> ênfase aos<br />

conceitos de <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong>, <strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong>, midiatização, <strong>identidade</strong> e estilos de vida.<br />

A discussão da transformação <strong>do</strong> padrão de <strong>identidade</strong> durante a transição entre a<br />

<strong>modernidade</strong> e <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong> terá o apoio <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s de Slater (2002), além das obras de<br />

Sodré (2002), Canclini (1999) e Bauman (2001). Para Slater, a marca <strong>do</strong> indivíduo<br />

contemporâneo é o afrouxamento nas relações de status social e a substituição das regras fixas<br />

e rígidas de comportamento por regras transitórias, efêmeras, permitin<strong>do</strong> que o status social<br />

seja defini<strong>do</strong> não mais somente pela tradição, mas também (e cada vez mais) pelos padrões de<br />

<strong>consumo</strong>. O contexto histórico e geográfico desse processo pode ser estuda<strong>do</strong> à luz das obras<br />

de Canclini, enquanto os estu<strong>do</strong>s de Sodré e Harvey (1998) são relevantes para dar<br />

sustentação à análise da relação <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> <strong>pós</strong>-fordista com o advento da <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong>. A<br />

crise de <strong>identidade</strong> na <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong>, como resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>pós</strong>-fordismo pode ser analisada<br />

com o apoio <strong>do</strong>s textos de Harvey, Bauman, Featherstone (1995) e Hall (2003).<br />

Os estu<strong>do</strong>s de Sodré (2002), Hall (2003) e Debord (1997) servirão de base para a<br />

discussão <strong>do</strong> processo de midiatização da sociedade. A<strong>pós</strong> fazer uma abordagem geral <strong>do</strong>s<br />

diversos meios de comunicação e sua influência sobre o comportamento <strong>do</strong> público, a<br />

pesquisa se concentrará no estu<strong>do</strong> da televisão e sua relação com a <strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong>, com<br />

as obras de Kellner, Hollanda (2003), entre outras.<br />

Apresentan<strong>do</strong> a telenovela como um <strong>do</strong>s principais produtos televisivos que difundem<br />

estilos de vida, a pesquisa prosseguirá com uma análise da teledramaturgia. A seguir, o<br />

potencial de difusão da <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong> da telenovela será discuti<strong>do</strong>. Para exemplificar a<br />

relação existente entre a teledramaturgia, <strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong> e estilos de vida, a pesquisa será<br />

encerrada com um estu<strong>do</strong> de caso da novela Paraíso Tropical, veiculada pela TV Globo em<br />

2007, no horário das 21h. A obra, de autoria de Gilberto Braga e Ricar<strong>do</strong> Linhares, teve como<br />

principal discussão a multiplicidade <strong>do</strong>s estilos de vida na <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong>, focan<strong>do</strong> na crise<br />

de <strong>identidade</strong> <strong>do</strong> indivíduo <strong>pós</strong>-moderno acerca de valores como trabalho, <strong>consumo</strong>, relações<br />

de gênero e família.<br />

13


Hipótese<br />

A hipótese de trabalho a ser considerada nesta pesquisa é que as telenovelas contribuem<br />

para a difusão de estilos de vida basea<strong>do</strong>s na <strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong>. As personagens retratam os<br />

conflitos vivi<strong>do</strong>s pelo indivíduo contemporâneo, entre o trabalho e o lazer, entre a relação<br />

fluida e sua necessidade insatisfeita de afeto, num comportamento semelhante ao de crise de<br />

<strong>identidade</strong> trabalha<strong>do</strong> por Hall (2003). Uma das soluções propostas pela difusão da <strong>cultura</strong> de<br />

<strong>consumo</strong> nas telenovelas é o uso <strong>do</strong>s estilos de vida, comportamentos basea<strong>do</strong>s na aparência e<br />

que se adaptam às variadas fases e contextos da vida contemporânea.<br />

Estu<strong>do</strong> de caso<br />

O estu<strong>do</strong> de caso da novela Paraíso Tropical focalizará a análise das três personagens<br />

femininas mais importantes, durante o perío<strong>do</strong> de clímax ou “virada” da trama, que<br />

compreende o momento em que os principais conflitos estão ocorren<strong>do</strong> e que as personagens<br />

buscam soluções para eles, possibilitan<strong>do</strong> ao público deduzir possíveis desfechos para a<br />

história de cada uma. As personagens serão analisadas nos aspectos identitários,<br />

principalmente os liga<strong>do</strong>s a <strong>consumo</strong>, corpo e relacionamentos afetivos/sociais. Uma<br />

descrição <strong>do</strong> perfil das principais personagens e o resumo <strong>do</strong>s capítulos analisa<strong>do</strong>s, assim<br />

como a letra da música de abertura e fotos enriquecerão a análise.<br />

14


Introdução<br />

A <strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong>, a midiatização e a fragmentação da <strong>identidade</strong> são importantes<br />

fatores que constituem a <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong>. Ten<strong>do</strong> como principal objetivo analisar a relação<br />

entre estas categorias no contexto das telenovelas brasileiras, este trabalho inicia com uma<br />

explanação <strong>do</strong>s diferentes conceitos <strong>do</strong> que é o <strong>pós</strong>-moderno, para depois se concentrar na<br />

importância da <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong> dentro deste contexto e na possível influência desta na<br />

fragmentação da <strong>identidade</strong> e formação <strong>do</strong>s estilos de vida.<br />

O perío<strong>do</strong> que se inicia na segunda metade <strong>do</strong> século XX, chama<strong>do</strong> por alguns autores<br />

de <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong>, transição da <strong>modernidade</strong> para a <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong> ou <strong>modernidade</strong><br />

tardia, marca a consolidação da <strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong>, que se fortaleceu com o <strong>pós</strong>-fordismo ou<br />

capitalismo flexível, com a compressão espaço-tempo e a aceleração no fluxo de informações.<br />

Os meios de comunicação, influencia<strong>do</strong>s pela industrialização, pelo <strong>pós</strong>-fordismo e pela<br />

criação de redes mundiais de difusão de informações, passaram a mediar a grande maioria das<br />

relações sociais das <strong>cultura</strong>s capitalistas urbanas ocidentais, substituin<strong>do</strong>, nas comunidades, as<br />

instituições reprodutoras e difusoras das tradições, como a família e a escola. Sodré (2002)<br />

intitula este fenômeno de midiatização. Os estu<strong>do</strong>s de Castells (2000) contribuem para a<br />

análise <strong>do</strong> fenômeno, sob a ótica da aceleração <strong>do</strong> fluxo de informações e da transformação<br />

das relações de primárias, baseadas na afetividade, para associativas e baseadas na troca de<br />

interesses.<br />

Através da midiatização, a <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong> se difunde e contribui para a<br />

fragmentação da <strong>identidade</strong> e formação <strong>do</strong>s estilos de vida, que, de acor<strong>do</strong> com Featherstone<br />

(1995), são opções de individualização e auto-expressão baseadas na aparência e no poder de<br />

<strong>consumo</strong> e para Hall (2003) são formas móveis de <strong>identidade</strong>. O eixo identitário, até então<br />

alicerça<strong>do</strong> na <strong>cultura</strong> tradicional - na qual origem familiar e os títulos de nobreza<br />

determinavam quem eram os indivíduos - passa a estar atrela<strong>do</strong> à aparência e à <strong>cultura</strong> de<br />

<strong>consumo</strong>, se modifican<strong>do</strong> constantemente para atender aos padrões midiáticos. As relações e<br />

instituições passam a ser fluidas e transitórias. Essa transformação na <strong>identidade</strong> é um <strong>do</strong>s<br />

principais fatores que caracterizam a <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong>, de acor<strong>do</strong> com Slater (2002). Na<br />

impossibilidade de responder a esta questão abrangen<strong>do</strong> to<strong>do</strong> o universo <strong>do</strong>s meios de<br />

comunicação, neste trabalho a discussão se concentrará nas telenovelas brasileiras, se deten<strong>do</strong><br />

à análise <strong>do</strong>s estilos de vida propostos pela trama e a relação destes com a <strong>cultura</strong> de<br />

<strong>consumo</strong>, estudan<strong>do</strong> ainda o mecanismo através <strong>do</strong> qual o público pode se identificar com as<br />

15


personagens e a<strong>do</strong>tar os padrões exibi<strong>do</strong>s, dan<strong>do</strong> ênfase nas características da telenovela que<br />

contribuem para tal, sem analisar a recepção <strong>do</strong> produto midiático junto ao público, o que<br />

exigiria um trabalho de campo.<br />

No primeiro capítulo desta dissertação, são discuti<strong>do</strong>s os vários conceitos da <strong>pós</strong>-<br />

<strong>modernidade</strong> e é feita uma contextualização <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> de transição da <strong>modernidade</strong> para a<br />

<strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong>, concentran<strong>do</strong>-se nas principais mudanças que marcaram o perío<strong>do</strong>. A<br />

passagem <strong>do</strong> fordismo para o <strong>pós</strong>-fordismo e suas consequências para as relações sociais,<br />

como a compressão <strong>do</strong> espaço-tempo e a aceleração <strong>do</strong> fluxo de informações são os principais<br />

temas aborda<strong>do</strong>s. O surgimento da <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong> e sua relação com os fatores que<br />

marcam o início da <strong>modernidade</strong>, também são aborda<strong>do</strong>s no capítulo, que é encerra<strong>do</strong> com<br />

uma análise <strong>do</strong> impacto da <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong> na <strong>identidade</strong>, fragmentação e fluidez <strong>do</strong>s<br />

caracteres identitários.<br />

O segun<strong>do</strong> capítulo é concentra<strong>do</strong> na relação entre a <strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong>, a midiatização<br />

e o surgimento <strong>do</strong>s estilos de vida, destacan<strong>do</strong> os meios de comunicação como fatores<br />

fundamentais no desencadeamento das transformações ocorridas com a chegada da<br />

<strong>modernidade</strong> e transição para a <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong>. O capítulo aborda o conceito de<br />

midiatização e sua contribuição para a aceleração <strong>do</strong> fluxo de informações e a compressão <strong>do</strong><br />

espaço e tempo, encerran<strong>do</strong> com a discussão <strong>do</strong>s efeitos da midiatização nas relações sociais e<br />

com a exposição <strong>do</strong> mesmo processo nos diversos tipos de mídia.<br />

No terceiro capítulo são discuti<strong>do</strong>s os caracteres da televisão que podem influenciar nas<br />

relações sociais e como podem impactar a <strong>identidade</strong>, através da difusão <strong>do</strong>s estilos de vida.<br />

São analisa<strong>do</strong>s os mecanismos de transmissão da mensagem da televisão e os referenciais que<br />

interferem na sua influência na <strong>identidade</strong>: o cotidiano familiar, a temporalidade social e a<br />

competência <strong>cultura</strong>l. A discussão parte, então, para um estu<strong>do</strong> sobre a origem e a estrutura<br />

narrativa das telenovelas, para facilitar a posterior análise da novela Paraíso Tropical no<br />

estu<strong>do</strong> de caso. São discutidas as origens das novelas em produtos como o folhetim e o<br />

melodrama, como também os conceitos de novela e suas características narrativas. É estuda<strong>do</strong><br />

o processo pelo qual o telespecta<strong>do</strong>r pode se identificar com as personagens e dramas por elas<br />

vivi<strong>do</strong>s. O capítulo encerra com uma análise da relação entre a telenovela, a midiatização, a<br />

<strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong> e os estilos de vida.<br />

Encerran<strong>do</strong> a dissertação, o quarto capítulo consiste num estu<strong>do</strong> de caso com a novela<br />

Paraíso Tropical, exibida na Rede Globo de Televisão no horário das 21h em 2007, no qual é<br />

feito um entrelaçamento entre a teoria exposta nos três primeiros capítulos e a análise de dez<br />

capítulos da novela, com ênfase nos principais estilos de vida expostos na trama. O quarto<br />

16


capítulo propõe uma divisão da novela em núcleos dramáticos de acor<strong>do</strong> com a classe social e<br />

estilos de vida mais comuns, para depois relatar especificamente como esses estilos<br />

contribuem para a composição das personagens e para a difusão da <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong> no<br />

contexto da trama. O estu<strong>do</strong> de caso encerra com a análise <strong>do</strong>s capítulos convenciona<strong>do</strong>s<br />

como momento da “virada” da trama, na qual to<strong>do</strong>s os conflitos principais foram expostos e<br />

estão sen<strong>do</strong> apresenta<strong>do</strong>s os primeiros sinais de desfecho para a história. Essa tarefa é<br />

concentrada nas três principais personagens femininas da novela, levan<strong>do</strong>-se em conta os<br />

objetivos propostos no estu<strong>do</strong> de caso. A conclusão <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> de caso e uma projeção da sua<br />

contribuição para a dissertação como um to<strong>do</strong> fecha o capítulo. A presente dissertação é<br />

encerrada com uma conclusão final, ten<strong>do</strong> como anexos o resumo <strong>do</strong>s capítulos analisa<strong>do</strong>s da<br />

novela, a ficha técnica da trama, a letra da música de abertura da novela e fotos das três<br />

principais personagens femininas de Paraíso Tropical.<br />

17


Capítulo 1 Pós-<strong>modernidade</strong>, <strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong> e transformação da <strong>identidade</strong><br />

1.1 Pós-moderno: um perío<strong>do</strong>, várias nomenclaturas<br />

São vários os termos utiliza<strong>do</strong>s para conceituar o perío<strong>do</strong> que inicia na segunda metade<br />

<strong>do</strong> século XX e persiste até os dias atuais, e que é marca<strong>do</strong> por grandes transformações<br />

sociais, políticas, econômicas e <strong>cultura</strong>is: <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong> para Baumann (2001) e<br />

Featherstone (1995); <strong>modernidade</strong> tardia ou alta <strong>modernidade</strong> para Giddens (2002), ou<br />

simplesmente uma etapa de transição da <strong>modernidade</strong> para a <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong>, segun<strong>do</strong><br />

Slater (2002). Apesar das controvérsias acerca da nomenclatura a ser empregada, o consenso<br />

entre os autores é que as mudanças ocorridas por volta das décadas de 1960 e 1970<br />

consolidam uma nova ordem sócio-econômica, de <strong>cultura</strong> e <strong>identidade</strong>, baseada no <strong>consumo</strong> e<br />

nas relações sociais fluidas e transitórias.<br />

Em seus estu<strong>do</strong>s sobre a <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong>, Bauman (2001) usa o termo <strong>modernidade</strong><br />

“líquida” para classificar a forma de <strong>cultura</strong>, <strong>identidade</strong> e relacionamentos que derivam <strong>do</strong><br />

processo de aceleração <strong>do</strong> giro de capital, pre<strong>do</strong>mínio <strong>do</strong> <strong>consumo</strong> como finalidade de vida e<br />

da maior velocidade da circulação de informação, no qual imagens estão substituin<strong>do</strong> cada<br />

vez mais os produtos. Infere-se dessa classificação que o autor enxerga o perío<strong>do</strong> estuda<strong>do</strong><br />

como uma continuidade ou des<strong>do</strong>bramento da <strong>modernidade</strong>, na qual o fordismo deu lugar ao<br />

<strong>pós</strong>-fordismo. De acor<strong>do</strong> com o autor,<br />

o fordismo foi, em seu apogeu, um modelo de industrialização, de acumulação e de<br />

regulação. [...] o paradigma industrial incluía o princípio taylorista da racionalização,<br />

juntamente com a constante mecanização. Essa racionalização baseava-se na<br />

separação <strong>do</strong>s aspectos intelectual e manual <strong>do</strong> trabalho [...] o conhecimento social<br />

sistematiza<strong>do</strong> a partir de cima e incorpora<strong>do</strong> ao maquinário pelos projetistas.<br />

Quan<strong>do</strong> Taylor e os engenheiros tayloristas introduziram esses princípios no começo<br />

<strong>do</strong> século XX, seu objetivo explícito era forçar o controle da administração sobre os<br />

trabalha<strong>do</strong>res. (BAUMAN, 2001, p. 67-68)<br />

Para Bauman, o advento <strong>do</strong> <strong>pós</strong>-fordismo marca a chegada da <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong>, na qual<br />

o <strong>consumo</strong> é a principal referência para a classificação da <strong>identidade</strong>. Dada a constante oferta<br />

de valores, objetivos e <strong>identidade</strong>s, os agentes sociais estariam sempre assumin<strong>do</strong><br />

18


comportamentos flutuantes, daí o termo <strong>modernidade</strong> líquida, que Baumann utiliza<br />

constantemente para qualificar a <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong>.<br />

Featherstone (1995) tem outra forma de conceituar esse perío<strong>do</strong> de tempo,<br />

consideran<strong>do</strong>-o como uma ruptura com a etapa anterior, sugerin<strong>do</strong> que ainda estão em<br />

construção as bases e estruturas dessa nova ordem social, <strong>cultura</strong>l e econômica. “Falar em<br />

<strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong> é sugerir a mudança de uma época para outra ou a interrupção da<br />

<strong>modernidade</strong>, envolven<strong>do</strong> a emergência de uma nova totalidade social, com seus princípios<br />

organiza<strong>do</strong>res próprios e distintos” (FEATHERSTONE, 1995, p.20).<br />

Slater (2002) conceitua o perío<strong>do</strong> que sucede a década de 1970 como uma fase de<br />

transição da <strong>modernidade</strong> para a <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong>, ainda não concluída na<br />

contemporaneidade. Para o autor, a atual fase está caracterizada pela <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong><br />

como principal mola propulsora das relações sociais e pela fragmentação da <strong>identidade</strong>, que<br />

deixa de estar atrelada à tradição, às regras fixas e rígidas e passa a ser móvel, conforme o<br />

poder de compra <strong>do</strong> indivíduo.<br />

O termo <strong>modernidade</strong> tardia ou alta <strong>modernidade</strong> é utiliza<strong>do</strong> por Giddens (2002), que<br />

afirma que este perío<strong>do</strong> seria a continuidade <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> moderno, que equivale ao mun<strong>do</strong><br />

industrializa<strong>do</strong>. Uma segunda dimensão da <strong>modernidade</strong> apontada por Giddens é o<br />

capitalismo, “sistema de produção de merca<strong>do</strong>rias que envolve tanto merca<strong>do</strong>s competitivos<br />

de produtos quanto a mercantilização da força de trabalho”(GIDDENS, 2002, p.21).<br />

Depois de expostos os vários termos que podem ser utiliza<strong>do</strong>s para o perío<strong>do</strong> que se<br />

segue à segunda metade <strong>do</strong> século XX, será convenciona<strong>do</strong> neste trabalho (para evitar o uso<br />

de várias nomenclaturas) a partir <strong>do</strong> próximo subitem, o termo <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong>, sen<strong>do</strong><br />

identificada a base teórica utilizada através de referência bibliográfica. O mesmo<br />

procedimento será feito com as várias denominações para as fases <strong>do</strong> capitalismo, que será<br />

qualifica<strong>do</strong> apenas como fordismo ou <strong>pós</strong>-fordismo. A <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong> será entendida nesta<br />

pesquisa como um perío<strong>do</strong> de grandes mudanças, que rompem com a <strong>modernidade</strong> em alguns<br />

aspectos ou representam continuidade ou transformação em outros. Para melhor entender<br />

essas semelhanças e contradições entre as correntes de estu<strong>do</strong>, se faz necessário analisar o<br />

contexto histórico e sociológico desse perío<strong>do</strong> de transição, que será objeto de análise no<br />

próximo subcapítulo.<br />

19


1.2 Modernidade e Pós-<strong>modernidade</strong>: contexto histórico-social da transição<br />

Entre os fatores que caracterizaram a transição da <strong>modernidade</strong> para a <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong>,<br />

é determinante a crise <strong>do</strong> fordismo e sua substituição pelo <strong>pós</strong>-fordismo, o aumento da<br />

velocidade <strong>do</strong> fluxo de informações e o advento da <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong> como eixo<br />

direciona<strong>do</strong>r para os padrões identitários e relações sociais. Neste subcapítulo, será aborda<strong>do</strong><br />

o primeiro assunto, sen<strong>do</strong> os <strong>do</strong>is demais analisa<strong>do</strong>s nos subsequentes.<br />

1.2.1 O mun<strong>do</strong> moderno – Revolução Industrial, Revolução Francesa e consolidação <strong>do</strong><br />

capitalismo<br />

O advento da <strong>modernidade</strong> é marca<strong>do</strong> pela Revolução Industrial, transformações<br />

políticas ocorridas a<strong>pós</strong> a Revolução Francesa e consolidação <strong>do</strong> capitalismo, com a<br />

consequente formação de novas classes sociais: o proletaria<strong>do</strong> e a burguesia. Poden<strong>do</strong> ser<br />

situa<strong>do</strong> entre fins <strong>do</strong> século XVIII e início <strong>do</strong> século XIX, este perío<strong>do</strong> é marca<strong>do</strong> por<br />

mudanças de ordem econômica (como a revolução industrial) e política (como a Revolução<br />

Francesa), que acabam causan<strong>do</strong> transformações na área social e <strong>cultura</strong>l.<br />

Para Santos (2001), as principais transformações ocorridas na chegada da <strong>modernidade</strong><br />

estão ligadas ao capitalismo. Já Giddens (2002) destaca, além <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> de produção<br />

capitalista, a industrialização como fator fundamental para marcar a <strong>modernidade</strong>. Os <strong>do</strong>is<br />

fenômenos uni<strong>do</strong>s – o capitalismo e a industrialização - deram lugar à formação das classes<br />

<strong>do</strong> proletaria<strong>do</strong> e burguesia. A primeira classe ten<strong>do</strong> como principal característica a venda da<br />

força de trabalho e a segunda pela posse <strong>do</strong>s meios de produção, com o acúmulo de capital,<br />

crescen<strong>do</strong> cada vez mais com o surgimento das cidades, ao ponto de a classe passar a pleitear<br />

lugar junto aos nobres nas assembléias de decisão política.<br />

Um <strong>do</strong>s grandes marcos <strong>do</strong> processo de crescimento da burguesia, em número e em<br />

participação política, é a Revolução Francesa, a mais importante das revoluções iniciadas pela<br />

burguesia na Europa, que é apontada por Nogart (1988) como principal fator que determinou<br />

a queda <strong>do</strong> Absolutismo francês (regime de governo onde o rei tinha total poder de decisão<br />

política receben<strong>do</strong> aval <strong>do</strong> clero). Segun<strong>do</strong> o autor, a monarquia e a revolução de 1789<br />

trouxeram um novo regime de governo democrático, onde o rei teria poderes limita<strong>do</strong>s por<br />

20


uma assembléia e uma constituição, que possibilitaria aos burgueses e membros <strong>do</strong> povo ser<br />

representa<strong>do</strong>s nas decisões políticas. Essas mudanças depois se espalharam por vários países<br />

da Europa.<br />

Sobre a industrialização, capitalismo e as principais mudanças ocorridas na virada <strong>do</strong><br />

século XVIII para século XIX, Karl Marx aponta a substituição gradativa <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> de<br />

produção manufatureiro para o utiliza<strong>do</strong> a<strong>pós</strong> a revolução industrial, afirman<strong>do</strong> que na<br />

manufatura, o fator determinante é a força de trabalho e na indústria moderna é o instrumental<br />

utiliza<strong>do</strong>. O autor observa que a substituição da força braçal <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res pela máquina<br />

provoca grande impacto na produção, acarretan<strong>do</strong> aceleração no processo.<br />

a máquina da qual parte a revolução industrial substitui o trabalha<strong>do</strong>r que maneja<br />

uma única ferramenta por um mecanismo que, ao mesmo tempo, opera com certo<br />

número de ferramentas idênticas ou semelhantes àquela, e é aciona<strong>do</strong> por uma força<br />

motriz, qualquer que seja sua forma.(MARX, 2002, p.432).<br />

Marx afirma que a revolução no mo<strong>do</strong> de produção da indústria e da agri<strong>cultura</strong><br />

acarretou uma necessidade de mudança também nas condições <strong>do</strong> próprio processo de<br />

produção, o que foi supri<strong>do</strong> com o surgimento <strong>do</strong>s meios de comunicação e de transporte.<br />

Deduz-se, então, que a revolução industrial influenciou a mudança também nos processos de<br />

urbanização e de relações sociais, estreitan<strong>do</strong> os laços entre as comunidades, que não ficaram<br />

mais restritas às suas vizinhanças. Para Castells (2000), o processo de urbanização trouxe as<br />

mudanças nas relações de afetivas (pessoais e permanentes) para associativas (impessoais e<br />

transitórias). Esses e outros efeitos da revolução industrial, <strong>do</strong> capitalismo e da urbanização na<br />

sociedade moderna são analisa<strong>do</strong>s no próximo tópico <strong>do</strong> trabalho.<br />

21


1.2.1.1 Advento <strong>do</strong> capitalismo, divisão social <strong>do</strong> trabalho e urbanização<br />

É Weber (2008) quem aponta a ética protestante como principal impulsiona<strong>do</strong>ra da<br />

acumulação de capital, que vai dar o tom da <strong>modernidade</strong>, porque inicia a transformação de<br />

um mun<strong>do</strong> onde o status social era defini<strong>do</strong> somente pela hierarquia da nobreza, da tradição, e<br />

que agora começa a estar atrela<strong>do</strong> à acumulação de capital. Para o autor, a ética protestante<br />

impulsionou o capitalismo porque proclamava que o trabalho árduo e ininterrupto era uma<br />

forma de glorificar a Deus e que a riqueza era um perigo, sobretu<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> instigava à<br />

compra de merca<strong>do</strong>rias supérfluas e ao uso <strong>do</strong> dinheiro para lazer e entretenimento.<br />

Trabalhan<strong>do</strong> muito e gastan<strong>do</strong> pouco, os protestantes acabaram por acumular capital, como<br />

afirma Weber,<br />

no que se refere à produção de riqueza privada, a ascese condenava tanto a<br />

desonestidade como a ganância instintiva [...]. Combinan<strong>do</strong> a restrição <strong>do</strong> <strong>consumo</strong><br />

com essa liberação da procura da riqueza, é óbvio o resulta<strong>do</strong> que daí decorre: a<br />

acumulação de capital através da compulsão ascética à poupança (WEBER, 2008,<br />

p.94).<br />

Característica marcante <strong>do</strong> capitalismo, o desenvolvimento da divisão de trabalho, é<br />

aponta<strong>do</strong> por Weber como presente na ética puritana (tipo de protestantismo) inglesa. Pode-se<br />

dizer que este processo também foi influencia<strong>do</strong> pela ética protestante. Afirma Weber (2002),<br />

que “a diferenciação <strong>do</strong>s homens em classes e profissões, estabelecida através <strong>do</strong> desenvolvimento histórico,<br />

como vimos, tornou-se para Lutero um resulta<strong>do</strong> direto da vontade divina, e, consequentemente, a permanência<br />

de cada um na posição e dentro <strong>do</strong>s limites que lhe foram assinala<strong>do</strong>s por Deus era um dever religioso”.<br />

(WEBER, 2002, p.88)<br />

Com o tempo livre reduzi<strong>do</strong>, os laços sociais são distendi<strong>do</strong>s e os festejos, rituais<br />

sociais e outros eventos <strong>cultura</strong>is, que antes obedeciam ao perío<strong>do</strong> das estações <strong>do</strong> ano, <strong>do</strong><br />

tempo de colheita ou da história local, não podem mais ser realiza<strong>do</strong>s. O proletário torna-se<br />

um estranho num local diferente, sofren<strong>do</strong> um desenraizamento, com a absorção da <strong>cultura</strong><br />

urbana. A transição da <strong>cultura</strong> e mo<strong>do</strong> de vida da sociedade rural para a urbana envolve a<br />

evolução das relações sociais da forma comunitária para associativa, com a segmentação de<br />

papéis, multiplicidade de dependências e a primazia de relações sociais secundárias sobre as<br />

primárias. (CASTELLS, 2000).<br />

Para Wirth (1938 apud Castells, 2000), as novas formas de vida social oriundas ao<br />

22


processo de urbanização podem ser definidas por três características: Dimensão, densidade e<br />

heterogeneidade. Quan<strong>do</strong> à dimensão, este modelo teórico diz que a diferenciação social está<br />

na proporção direta <strong>do</strong> tamanho da cidade, haven<strong>do</strong> um distanciamento <strong>do</strong>s relacionamentos<br />

próximos e substituição destes por competitividade. A densidade indica, segun<strong>do</strong> o autor, que<br />

a proximidade física, causada pelo aumento de população numa determinada cidade, não<br />

implica em aproximação social, mas normalmente tem o efeito contrário: acarreta<br />

distanciamento nos relacionamentos. Finalmente, a heterogeneidade presente na sociedade<br />

urbana ocidental contemporânea faz com que a hierarquia de classes não seja tão nítida,<br />

haven<strong>do</strong> pre<strong>do</strong>mínio <strong>do</strong>s relacionamentos basea<strong>do</strong>s no interesse, sobre aqueles basea<strong>do</strong>s na<br />

afetividade, tornan<strong>do</strong>-se cada vez menos comum, portanto, a formação de grupos sociais de<br />

longa duração, com pro<strong>pós</strong>itos sociais, religiosos ou afetivos.<br />

1.2.2 Crise <strong>do</strong> capitalismo: <strong>do</strong> fordismo ao <strong>pós</strong>-fordismo<br />

Para Slater (2002), fordismo e <strong>pós</strong> - fordismo são sistemas de regulação usa<strong>do</strong>s para<br />

estabilizar o capitalismo, pois esse mo<strong>do</strong> de produção precisa de mecanismos de controle para<br />

impedir crises nos merca<strong>do</strong>s, nos salários e até nas normas de <strong>consumo</strong>. O <strong>pós</strong>- fordismo,<br />

segun<strong>do</strong> o autor, chegou para suprir os problemas gera<strong>do</strong>s com a crise <strong>do</strong> capitalismo,<br />

ocorrida no perío<strong>do</strong> entre guerras. Harvey (2002) afirma que o esta<strong>do</strong> de relações de classe no<br />

mun<strong>do</strong> capitalista dificilmente era propício à aceitação de um sistema de produção que se<br />

apoiava tanto na familiarização <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r com longas horas de trabalho puramente<br />

rotiniza<strong>do</strong>, exigin<strong>do</strong> pouco das habilidades manuais tradicionais e conceden<strong>do</strong> um controle<br />

quase inexistente ao trabalha<strong>do</strong>r sobre o projeto, o ritmo e a organização da produção. Havia<br />

ainda outra barreira para a consolidação <strong>do</strong> fordismo neste perío<strong>do</strong> histórico: os mo<strong>do</strong>s e<br />

mecanismos de intervenção estatal. Harvey afirma que “foi necessário conceber um novo<br />

mo<strong>do</strong> de regulamentação [...]. e foi preciso o choque da depressão selvagem e <strong>do</strong> quase<br />

colapso <strong>do</strong> capitalismo [...]. para que as sociedades capitalistas chegassem a uma nova<br />

concepção da forma e <strong>do</strong> uso <strong>do</strong>s poderes <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>”. (HARVEY, 1998, p.124).<br />

Sobre as mudanças ocorridas no fordismo a<strong>pós</strong> as duas guerras mundiais, o autor afirma<br />

que o novo sistema de regulamentação que emerge “tem de ser visto menos como um mero<br />

sistema de produção em massa <strong>do</strong> que como um mo<strong>do</strong> de vida total”. (HARVEY, 1998,<br />

p.124). Assim, o principal problema <strong>do</strong> fordismo passa a ser a produção em massa, a<br />

23


alienação <strong>do</strong> trabalho e o controle <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>. O sistema de produção em massa não estava<br />

contribuin<strong>do</strong> para a manutenção da proposta inicial <strong>do</strong> capitalismo, que era produzir mais com<br />

quantidade de trabalho menor e lucrar através <strong>do</strong> número de merca<strong>do</strong>rias vendidas. Segun<strong>do</strong><br />

Slater (2002),<br />

Para explicar um afastamento <strong>do</strong> fordismo e <strong>do</strong> <strong>consumo</strong> de massa, deparamo-nos<br />

outra vez com uma forma de regulamentação que interconecta numerosos fatores<br />

econômicos, políticos e <strong>cultura</strong>is. Até o início da década de 1970, tornou-se cada vez<br />

mais evidente que esse sistema está atingin<strong>do</strong> seus limites internos e externos. Os<br />

custos e o tempo investi<strong>do</strong>s na produção fordista tornaram-se colossais, enquanto a<br />

lógica da produção em massa e <strong>do</strong>s custos unitários mais baixos foi levada até o<br />

ponto em que vastas quantidades de merca<strong>do</strong>ria têm de ser vendidas com margens<br />

decrescentes de lucro. (SLATER, 2002, p.184).<br />

A flexibilidade no sistema de trabalho e acumulação flexível de capital, com a<br />

substituição da fonte de lucro da mais valia absoluta (aumento da produção com o<br />

prolongamento <strong>do</strong> dia de trabalho) para a mais valia relativa (aumento da eficiência e, por<br />

conseguinte, da produtividade com a mesma quantidade de força de trabalho), foi a saída<br />

encontrada para a manutenção <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> de produção capitalista, afirma Slater. O novo<br />

esquema de trabalho flexível substitui a produção de volumes enormes de merca<strong>do</strong>rias<br />

padronizadas por quantidades menores de merca<strong>do</strong>rias mais personalizadas. Mas não é só na<br />

linha de produção que a flexibilidade traz mudanças, também o fluxo de informações é<br />

acelera<strong>do</strong>, para que os setores de vendas repassem mais rapidamente a demanda de produtos<br />

para os setores de produção. (SLATER, 2002).<br />

A flexibilização estende-se para muito além da linha de produção propriamente dita,<br />

em geral até o fluxo de informações. Por exemplo, o <strong>pós</strong>-fordismo é associa<strong>do</strong> com<br />

fluxos de informações rápi<strong>do</strong>s e interconecta<strong>do</strong>s entre os pontos de venda e os<br />

fornece<strong>do</strong>res de materiais. (SLATER, 2002, p.184)<br />

O autor afirma ainda que a flexibilização e as informações também estão associadas à<br />

“descentralização e à transferência de poderes e responsabilidades no interior da empresa”. A<br />

nova flexibilidade atingiu também os limites da alienação <strong>do</strong> local de trabalho, inauguran<strong>do</strong><br />

novos sistemas de controle <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res e da produção. Sobre esse aspecto <strong>do</strong><br />

capitalismo flexível, Sennett (1999) afirma que, longe de dar ao trabalha<strong>do</strong>r uma liberdade<br />

24


irrestrita, a flexibilidade traz novos sistemas de hierarquia, que muitas vezes provocam<br />

insegurança no trabalha<strong>do</strong>r sobre seu papel na empresa, numa nova forma de aliená-lo da<br />

produção.<br />

Diz-se que, atacan<strong>do</strong> a burocracia rígida e enfatizan<strong>do</strong> o risco, a flexibilidade dá às<br />

pessoas mais liberdade para moldar suas vidas. Na verdade, a nova ordem impõe<br />

novos controles, em vez de simplesmente abolir as regras <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> – mas também<br />

esses novos controles são difíceis de entender. O novo capitalismo é um sistema de<br />

poder muitas vezes ilegível. (SENNETT, 1999, p.10)<br />

O <strong>pós</strong>-fordismo tem reflexos na vida <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r dentro e fora da indústria e na<br />

sociedade urbana como um to<strong>do</strong>, com a compressão <strong>do</strong> tempo e <strong>do</strong> espaço, aumento da<br />

velocidade <strong>do</strong> fluxo de informações e mudanças nos padrões de trabalho e <strong>consumo</strong>,<br />

características que qualificam a sociedade <strong>pós</strong>-moderna, objeto <strong>do</strong> próximo subcapítulo.<br />

25


1.3 O mun<strong>do</strong> <strong>pós</strong>-moderno: <strong>pós</strong>-fordismo, aceleração <strong>do</strong> fluxo de informações e compressão<br />

<strong>do</strong> espaço e tempo<br />

A compressão espaço-tempo e a aceleração no fluxo de informações podem ser<br />

indicadas como duas das principais mudanças trazidas pelo <strong>pós</strong>-fordismo, esta última<br />

impulsionada pela revolução tecnológica. De acor<strong>do</strong> com Harvey (1998), o primeiro<br />

fenômeno "tem to<strong>do</strong> um impacto desorienta<strong>do</strong> e disruptivo sobre as práticas político-<br />

econômicas, sobre o equilíbrio <strong>do</strong> poder de classe, bem como a vida social e <strong>cultura</strong>l”<br />

(HARVEY, 1998, p.257).<br />

Entre as mudanças acarretadas pelo novo mo<strong>do</strong> de produção que aceleraram a troca<br />

informacional, estão a implantação de novas formas organizacionais e tecnologias de<br />

produção, como a aceleração <strong>do</strong> giro de capital e a quase eliminação da tendência vertical de<br />

organização, ou seja, alicerçada numa hierarquia rígida. Harvey afirma que uma das principais<br />

conseqüências destas mudanças nas relações sociais e <strong>cultura</strong>is é a acentuação da<br />

“volatilidade e efemeridade de modas, produtos, técnicas de produção, processos de trabalho,<br />

idéias e ideologias, valores e práticas estabelecidas. [...]. No <strong>do</strong>mínio da produção de<br />

merca<strong>do</strong>rias, o efeito primário foi a ênfase nos valores e virtudes da instantaneidade e da<br />

descartibilidade”. (HARVEY, 1998, p. 25)<br />

Em comparação com a vida numa sociedade que se transforma com menos rapidez,<br />

hoje fluem mais situações em qualquer intervalo de tempo da<strong>do</strong> – e isso implica<br />

profundas mudanças na psicologia humana. Essa efemeridade, sugere Tofler, cria<br />

uma temporariedade na estrutura <strong>do</strong>s sistemas de valores públicos e pessoais que<br />

fornece um contexto para a quebra <strong>do</strong> consenso e para a diversificação de valores<br />

numa sociedade em vias de fragmentação (HARVEY, 1999, p.258-259 ).<br />

Segun<strong>do</strong> Castells (2007), a aceleração <strong>do</strong> fluxo de informações foi em grande parte<br />

impulsionada pela revolução da tecnologia da informação, que, a<strong>pós</strong> a década de 1980,<br />

reestruturou o sistema capitalista de produção. O autor afirma que estas transformações deram<br />

origem a uma nova estrutura social, moldada pela modificação <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> capitalista de<br />

produção. De acor<strong>do</strong> com Castells, as sociedades estão organizadas mediante relações<br />

historicamente determinadas de produção, experiência e poder.<br />

26


Produção é a ação da humanidade sobre a matéria (natureza) para apropriar-se dela e<br />

transformá-la em seu benefício, obten<strong>do</strong> um produto, consumin<strong>do</strong> parte dele e<br />

acumulan<strong>do</strong> o excedente para investimento conforme os vários objetivos<br />

socialmente determina<strong>do</strong>s. [...]. Experiência é a ação <strong>do</strong>s sujeitos humanos sobre si<br />

mesmos, determinada pela interação entre as <strong>identidade</strong>s biológicas e <strong>cultura</strong>is<br />

desses sujeitos em relação a seus ambientes sociais e naturais. [...]. Poder é aquela<br />

relação entre os sujeitos humanos que, com base na produção e na experiência,<br />

impõe a vontade de alguns sobre os outros pelo emprego potencial ou real de<br />

violência física ou simbólica. (CASTELLS, 2007, p.51-52)<br />

Castells (2007) explica que as instituições sociais são constituídas para impor controles,<br />

limites ou contratos sociais que sempre estão liga<strong>do</strong>s às lutas pelo poder. A produção, por sua<br />

vez, organiza-se segun<strong>do</strong> classes, hierarquizan<strong>do</strong> os sujeitos segun<strong>do</strong> sua posição no processo<br />

produtivo. A comunicação entre os seres humanos com base na produção é, segun<strong>do</strong> Castells,<br />

gera<strong>do</strong>ra de <strong>cultura</strong>s e <strong>identidade</strong>s coletivas.<br />

Assim, a humanidade como produtora coletiva inclui tanto o trabalho como os<br />

organiza<strong>do</strong>res da produção, e o trabalho é muito diferencia<strong>do</strong> e estratifica<strong>do</strong> de<br />

acor<strong>do</strong> com o papel de cada trabalha<strong>do</strong>r no processo produtivo. [...]. A relação entre<br />

a mão-de-obra e a matéria no processo de trabalho envolve o uso de meios de<br />

produção para agir sobre a matéria com base em energia, conhecimentos e<br />

informação. (CASTELLS, 2007, p.52)<br />

Pode-se concluir, então, que a compressão espaço-tempo e a aceleração <strong>do</strong> fluxo de<br />

informações, ambas transformações impulsionadas pelo <strong>pós</strong>-fordismo, geram impactos nas<br />

relações sociais e de trabalho, reestruturan<strong>do</strong> as hierarquias, em vez de eliminá-las. Nesta<br />

nova ordem social e de merca<strong>do</strong>, a mobilidade parece não ser uma garantia de<br />

homogeneização, mas de diferenciação, e a liberdade na rotina de trabalho pode estar<br />

associada a correr riscos e à exigência de constante qualificação. A comunicação baseada nas<br />

hierarquias de produção acaba por gerar toda uma nova <strong>cultura</strong> e <strong>identidade</strong>s de trabalho,<br />

originada na flexibilização.<br />

27


1.3.1 A compressão espaço-tempo e a mobilidade<br />

Para Bauman (2001), a segunda metade <strong>do</strong> século XX é marcada pela mobilidade<br />

espacial como fenômeno desejável e impulsiona<strong>do</strong>r da reestruturação das novas hierarquias<br />

sociais, políticas, econômicas e <strong>cultura</strong>is em escala cada vez mais mundial. Para o autor, os<br />

antigos proprietários fundiários <strong>do</strong> início da <strong>modernidade</strong> são cada vez mais substituí<strong>do</strong>s por<br />

capitalistas, <strong>do</strong>nos de recursos líqui<strong>do</strong>s, pois, de acor<strong>do</strong> com a velocidade utilizada, o espaço<br />

pode ser rompi<strong>do</strong> facilmente. (BAUMAN, 2001, p.18)<br />

Com efeito, longe de ser um da<strong>do</strong> objetivo, impessoal, físico, a distância é um produto<br />

social; sua extensão varia dependen<strong>do</strong> da velocidade com a qual pode ser vencida (e, numa<br />

economia monetária, <strong>do</strong> custo envolvi<strong>do</strong> na produção dessa velocidade). To<strong>do</strong>s os outros<br />

fatores socialmente produzi<strong>do</strong>s de constituição, separação e manutenção de <strong>identidade</strong>s<br />

coletivas – como fronteiras estatais ou barreiras <strong>cultura</strong>is – parecem, em retrospectiva, meros<br />

efeitos secundários dessa velocidade. (BAUMAN, 2001, p.19)<br />

O autor explica que a <strong>modernidade</strong> foi marcada pelo progresso <strong>do</strong>s meios de transporte<br />

e que a disponibilidade de meios de viagem rápi<strong>do</strong>s “desencadeou o processo tipicamente<br />

moderno de erosão e solapamento das totalidades sociais e <strong>cultura</strong>is localmente arraigadas”<br />

(BAUMAN, 2001, p.21). Entre as principais conseqüências desta maior mobilidade e da<br />

compressão <strong>do</strong> espaço tempo está a transformação das relações sociais, que antes eram<br />

comunitárias, baseadas no contato face a face e afetivo e tornam-se cada vez mais<br />

secundárias, associativas. Para Bauman,<br />

as chamadas comunidades intimamente ligadas de outrora foram produzidas e<br />

mantidas, como agora podemos ver, pela defasagem entre a comunicação quase<br />

instantânea dentro da pequena comunidade[...].e a enormidade de tempo e despesas<br />

necessários para passar informação entre as localidades. Por outro la<strong>do</strong>, a atual<br />

fragilidade e curta duração das comunidades parece ser sobretu<strong>do</strong> resulta<strong>do</strong> da<br />

redução ou completo desaparecimento daquela defasagem: a comunicação<br />

intracomunitária não leva vantagem sobre o intercâmbio entre comunidades, uma<br />

vez que ambos são instantâneos (BAUMAN, 2001, p.22)<br />

O autor explica que o fenômeno de encurtamento das distâncias, longe de<br />

homogeinizar as comunidades humanas, acaba por polarizá-las, pois “emancipa certos seres<br />

humanos das restrições territoriais e torna extraterritoriais certos significa<strong>do</strong>s gera<strong>do</strong>res da<br />

comunidade – ao mesmo tempo que desnuda o território, no qual outras pessoas continuam<br />

28


sen<strong>do</strong> confinadas <strong>do</strong> seu significa<strong>do</strong> e da sua capacidade de <strong>do</strong>ar <strong>identidade</strong>” (BAUMAN,<br />

2001, p. 25). Os estu<strong>do</strong>s de Harvey (1998) reforçam os conceitos de Baumann, pois de acor<strong>do</strong><br />

com o primeiro, “a afirmação de qualquer <strong>identidade</strong> dependente de lugar tem de apoiar-se em<br />

algum ponto no poder motivacional da tradição. É, porém, difícil manter qualquer senti<strong>do</strong> de<br />

continuidade histórica diante de to<strong>do</strong> o fluxo e efemeridade da acumulação flexível”.<br />

(HARVEY, 1998, p.273)<br />

Harvey afirma que o <strong>pós</strong>-fordismo explora a mobilidade geográfica e a descentralização<br />

para limitar o poder sindical, que era fortaleci<strong>do</strong> nas indústrias de produção em massa. Para o<br />

autor, “A fuga de capitais, a desindustrialização de algumas regiões e a industrialização de<br />

outras e a destruição de comunidades operárias tradicionais como bases de poder na luta de<br />

classes se tornam o pivô na transformação espacial sob condições de acumulação mais<br />

flexíveis” (HARVEY, 1998, p.265).<br />

Para Castells (2007), as transformações impostas pelo novo mo<strong>do</strong> de produção são,<br />

além da maior flexibilidade de gerenciamento e a descentralização das empresas e sua<br />

organização em redes, “o declínio concomitante da influência <strong>do</strong>s movimentos de<br />

trabalha<strong>do</strong>res; individualização e diversificação cada vez maior das relações de trabalho;<br />

intervenção estatal para desregular os merca<strong>do</strong>s de forma seletiva e desfazer o esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> bem-<br />

estar social com diferentes intensidades e orientações”. (CASTELLS, 2007, p.39)<br />

Segun<strong>do</strong> Castells (2007), o fenômeno das redes serve tanto para conectar quanto para<br />

desconectar instituições, pessoas, regiões e até países, segun<strong>do</strong> a conveniência <strong>do</strong>s objetivos<br />

em jogo, liga<strong>do</strong>s a processos estratégicos. Numa conceituação dessa nova forma de<br />

negociação de merca<strong>do</strong>, o autor afirma que as sociedades estão cada vez mais conviven<strong>do</strong><br />

com uma hierarquia horizontal, em forma de redes, mas que esse procedimento não está<br />

garantin<strong>do</strong> extinção das regras rígidas e a aproximação das pessoas, pois as relações sociais<br />

acabam por se fragmentar e se tornarem baseadas na competição. “A fragmentação social se<br />

propaga, à medida que as <strong>identidade</strong>s se tornam mais específicas e cada vez mais difíceis de<br />

compartilhar”. (CASTELLS, 2007, p.41)<br />

Sobre este aspecto da fragmentação e a influência nas relações sociais e identitárias,<br />

Sennett (1999) explica que o impacto de maior negatividade da flexibilização é no caráter<br />

pessoal <strong>do</strong>s indivíduos, o que acaba por refletir nas relações familiares e sociais. O caráter,<br />

para Sennett, “concentra-se sobretu<strong>do</strong> no aspecto a longo prazo de nossa experiência<br />

emocional. É expresso pela lealdade e compromisso mútuo, pela busca de metas a longo<br />

prazo, ou pela prática de adiar a satisfação em troca de um fim futuro”. (SENNETT, 1999,<br />

p.10)<br />

29


Sennett questiona os efeitos da flexibilização da acumulação de capital nas relações de<br />

trabalho e sociais, concluin<strong>do</strong> que estas ficam enfraquecidas e distendidas, já que o fenômeno<br />

exige constantes mudanças de setor, de ocupação e até deslocamentos geográficos. e que isto,<br />

para<strong>do</strong>xalmente, aumenta a ascensão profissional dentro de uma empresa flexível. O autor<br />

comenta, então, que os emprega<strong>do</strong>s que se adaptam mais às mudanças de ambiente, não se<br />

apegan<strong>do</strong> aos relacionamentos de trabalho, acabam por exercerem com mais facilidade cargos<br />

de chefia ou de maior responsabilidade e remuneração. “o distanciamento e a cooperatividade<br />

superficial são uma blindagem melhor para lidar com as atuais realidades que o<br />

comportamento basea<strong>do</strong> em valores de lealdade e serviço”. (SENNETT, 1999, p. 25)<br />

Essas constantes transformações que ocorrem na empresa flexível acabam afetan<strong>do</strong> a<br />

formação <strong>do</strong> caráter e as relações de confiança mútua, que podem ser manti<strong>do</strong>s pela<br />

construção de narrativas ou histórias de vida de experiências individuais e coletivas, com<br />

objetivo de dar senti<strong>do</strong> à trajetória <strong>do</strong>s indivíduos. De acor<strong>do</strong> com o autor, as condições de<br />

tempo no <strong>pós</strong>-fordismo causam conflitos entre caráter e experiência, prejudican<strong>do</strong> a<br />

capacidade das pessoas de transformar seus caracteres em narrativas sustentadas.]<br />

O que falta entre os pólos opostos de experiência de deriva e afirmação estática é<br />

uma narrativa que organize essa conduta. As narrativas são mais simples que as<br />

crônicas <strong>do</strong>s fatos; dão forma ao movimento adiante <strong>do</strong> tempo, sugerin<strong>do</strong> motivos<br />

pelos quais tu<strong>do</strong> acontece, mostran<strong>do</strong> suas conseqüências. (SENNETT, 1999, p.31).<br />

30


1.4 Pós-<strong>modernidade</strong> e <strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong>: surgimento e implicações nas relações sociais e<br />

identitárias<br />

1.4.1 Surgimento e consolidação da <strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong><br />

De acor<strong>do</strong> com Slater (2002), a <strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong> pode ser apontada como um <strong>do</strong>s<br />

fatores que caracterizam a chegada da <strong>modernidade</strong>, sobretu<strong>do</strong> no ocidente, e que se fortalece<br />

com a <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong>, estan<strong>do</strong> ligada às relações de merca<strong>do</strong>, funcionan<strong>do</strong> como mo<strong>do</strong> de<br />

reprodução <strong>cultura</strong>l. Mas, se a consolidação da <strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong> só se constituiu<br />

gradualmente a partir da revolução industrial, as origens das mudanças no <strong>consumo</strong>, na<br />

organização comercial e merca<strong>do</strong>rias iniciam muitos séculos antes.<br />

Finalmente, pode parecer estranho definir a <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong> em termos <strong>do</strong><br />

Ocidente moderno – como um mo<strong>do</strong> de reprodução <strong>cultura</strong>l que se estende <strong>do</strong> século<br />

XVIII até o presente. A <strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong> parece a muitos, algo que só se formou<br />

inteiramente na era <strong>pós</strong>-moderna, no entanto, está inextricavelmente ligada à<br />

<strong>modernidade</strong> como um to<strong>do</strong> [...] A <strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong> não é uma conseqüência<br />

tardia da modernização industrial e da <strong>modernidade</strong> <strong>cultura</strong>l, algo que se seguiu<br />

depois que o trabalho intelectual e industrial da <strong>modernidade</strong> já tinha si<strong>do</strong> feito. Foi,<br />

na verdade, parte da própria construção <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> moderno. (SLATER, 2002, p. 18)<br />

Para Jameson (1993), os primórdios da <strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong> são anteriores à revolução<br />

industrial, não poden<strong>do</strong> aquela ser considerada uma consequência da produção, mas sim um<br />

estímulo. Slater explica que a propensão ao <strong>consumo</strong> como definição de status surge antes da<br />

revolução industrial, mas a <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong> e sua disseminação só ocorrem com a<br />

produção em massa. Sobre o tema <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong>, o autor identifica duas tendências de<br />

estu<strong>do</strong>: a primeira, que prevê o surgimento <strong>do</strong> fenômeno a<strong>pós</strong> a revolução industrial e junto<br />

com a <strong>modernidade</strong>, enquanto a segunda, prevê que uma revolução <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r precedeu a<br />

revolução industrial, ou foi pelo menos ingrediente fundamental <strong>do</strong> início da modernização<br />

ocidental.<br />

Com o século XIX, Slater afirma que a <strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong> toma direções<br />

contraditórias, mais interligadas. O autor explica que, apesar de a década de 1920 ser vista<br />

como a primeira em que reinou o consumismo, ela na verdade é consequência de uma<br />

germinação deste tipo de comportamento entre 1880-1930. “Se a <strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong> nasceu<br />

31


(aqui), é porque enfatizamos vários processos interdependentes: manufatura em massa; a<br />

disseminação geográfica e social <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>; a racionalização da forma e a organização da<br />

produção”. (SLATER , 2002, p.22)<br />

Slater relata que alguns teóricos datam o nascimento da <strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong> no <strong>pós</strong>-<br />

guerra, que é aponta<strong>do</strong> como início da <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong>, devi<strong>do</strong> à destruição moral e sócio-<br />

econômica ocorridas na sociedade, com o culto a satisfação imediata de prazeres e ao lazer. O<br />

autor comenta que já na <strong>modernidade</strong> a associação da <strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong> com o fordismo<br />

trouxe modificações consideráveis na sociedade, “com a disseminação da propriedade<br />

burguesa por meio da acumulação <strong>do</strong> capital <strong>do</strong>méstico e o <strong>consumo</strong> he<strong>do</strong>nista, amoral, não<br />

familiar”. (SLATER, 2002, p.21). Na década de 1980, houve uma redescoberta <strong>do</strong><br />

consumismo baseada na priorização <strong>do</strong>s signos e significa<strong>do</strong>s.<br />

Desliga<strong>do</strong> das <strong>identidade</strong>s sociais básicas e da necessidade física, o consumismo<br />

torna-se puro jogo de signos. O milagre ideológico realiza<strong>do</strong> pela <strong>cultura</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>consumo</strong> na década de 1980 foi vincular essa imagem de superficialidade<br />

desarticulada aos valores mais íntimos e profun<strong>do</strong>s e as promessas da <strong>modernidade</strong>:<br />

liberdade pessoal, progresso econômico, dinamismo cívico e democracia política.<br />

(SLATER, 2002, p.19)<br />

Slater afirma que a <strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong> surgiu em gérmen com a revolução <strong>do</strong> <strong>consumo</strong><br />

já no século XVI, fortifican<strong>do</strong>-se no século XVIII com a revolução industrial e disseminan<strong>do</strong>-<br />

se como forma de mediação das relações sociais no mun<strong>do</strong> ocidental com o fordismo. Há<br />

várias correntes de estu<strong>do</strong> que debatem se o <strong>consumo</strong> precede à industrialização ou não. Mas<br />

o que Slater e Baumann (2001) concordam é que a <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong> ganha força quan<strong>do</strong> o<br />

consumi<strong>do</strong>r passa a ser mais importante que o produtor. De acor<strong>do</strong> com Slater (2002), o que<br />

dá impulso na <strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong>, provocan<strong>do</strong> grandes transformações é a passagem <strong>do</strong><br />

fordismo para o <strong>pós</strong>-fordismo,.<br />

32


1.4.2 O que é a <strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong>?<br />

A <strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong>, para Slater (2002), significa que os valores <strong>cultura</strong>is, ideias,<br />

aspirações e <strong>identidade</strong>s básicas são definidas e orientadas em relação ao <strong>consumo</strong> e não a<br />

outras dimensões sociais como trabalho ou cidadania. O autor afirma que esta característica<br />

equivale a dizer que os valores da sociedade não são apenas influencia<strong>do</strong>s pelo <strong>consumo</strong>, mas<br />

deriva<strong>do</strong>s deste. Durante muitos anos, a <strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong> foi convencionalmente descrita<br />

em termos <strong>do</strong> surgimento <strong>do</strong> <strong>consumo</strong> em massa como contrapartida da produção em massa.<br />

Até o século XVIII, a palavra <strong>consumo</strong> significava desperdício, “um afastamento entre o valor<br />

e a ordem social e não parte de reprodução desta ordem”. A partir <strong>do</strong> final <strong>do</strong> século XVII,<br />

houve redefinição <strong>do</strong> conceito de <strong>consumo</strong>, que passa a significar demanda. (SLATER, 2002,<br />

p.172)<br />

Descreven<strong>do</strong> a sociedade contemporânea como materialista, Slater afirma que chega a<br />

ser contraditório falar em <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong>, já que o termo “<strong>cultura</strong>” é comumente defini<strong>do</strong><br />

como preservação de valores que não podem ser compra<strong>do</strong>s, diferente <strong>do</strong> conceito de<br />

<strong>consumo</strong>. Como os valores deste acabam por invadir outros <strong>do</strong>mínios sociais, a sociedade<br />

moderna acaba por se tornar imersa em sua totalidade na <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong> e não apenas nas<br />

atividades que estariam ligadas a compra. Slater complementa afirman<strong>do</strong> que o <strong>consumo</strong><br />

moderno é media<strong>do</strong> pelas relações de merca<strong>do</strong>.<br />

Não fabricamos nós próprios as merca<strong>do</strong>rias com as quais reproduzimos a vida<br />

cotidiana. Em vez disso, um elemento fundamental de nosso <strong>consumo</strong> é o ato de<br />

escolher entre uma gama de merca<strong>do</strong>rias alternativas produzidas pelas instituições<br />

que não estão interessadas em necessidades ou valores <strong>cultura</strong>is, mas no lucro e em<br />

valores econômicos. (SLATER, 2002, p.33).<br />

Para Jameson (1993), a <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong> pode ser vista através de três perspectivas.<br />

A primeira é a de que este fenômeno é resulta<strong>do</strong> da expansão da produção capitalista de<br />

merca<strong>do</strong>rias, que resultou da acumulação de “<strong>cultura</strong> material na forma de bens e locais de<br />

compra e <strong>consumo</strong>”. (JAMESON, 1993, p.31). Ten<strong>do</strong> como conseqüência a expansão <strong>do</strong><br />

lazer, esta característica da <strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong> é vista por alguns teóricos como facilita<strong>do</strong>ra<br />

de maior igualitarismo e liberdade individual, enquanto que para outros autores essa<br />

característica é vista como alimenta<strong>do</strong>ra da manipulação ideológica. A segunda perspectiva<br />

33


apontada por Jameson é que, na <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong>, a satisfação e o status proporciona<strong>do</strong>s<br />

pelos bens consumi<strong>do</strong>s dependem da conservação das diferenças sociais.<br />

A terceira perspectiva apontada por Jameson para a <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong> é que<br />

proporciona prazeres emocionais “Os sonhos e desejos celebra<strong>do</strong>s no imaginário <strong>cultura</strong>l<br />

consumista e em locais específicos de <strong>consumo</strong> que produzem diversos tipos de excitação<br />

física e prazeres estéticos”. (JAMESON, 1993, p.31). Entenden<strong>do</strong> o papel <strong>do</strong>s signos como<br />

fundamental para analisar a <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong>, Jameson afirma que Baudrillard é o autor<br />

que melhor estuda esta relação.<br />

A autonomia <strong>do</strong> significante mediante a manipulação <strong>do</strong>s signos da mídia e na<br />

publicidade, por exemplo, significa que os signos podem ficar independentes <strong>do</strong>s<br />

objetos e estar disponíveis para uso numa multiplicidade de relações associativas.<br />

(...) Assim, a sociedade de <strong>consumo</strong> torna-se essencialmente <strong>cultura</strong>l na medida em<br />

que a vida social fica desregulada e as relações sociais se tornam mais variáreis e<br />

menos estruturadas por nomes estáveis. (JAMESON, 1993, p.33-34)<br />

Jameson considera que a <strong>cultura</strong> <strong>pós</strong> moderna da sociedade de <strong>consumo</strong> corresponde a<br />

etapa <strong>do</strong> capitalismo posterior a Segunda Guerra Mundial e utiliza os estu<strong>do</strong>s da Escola de<br />

Frankfurt para considerar o signo e a merca<strong>do</strong>ria como bases fundamentais da <strong>cultura</strong> de<br />

<strong>consumo</strong>.<br />

A <strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong> é marcada por esse senti<strong>do</strong> duplo da privacidade e suas<br />

relações com escolha e liberdade. (...) A queixa constante das tradições críticas é que<br />

ao nos tornarmos livres enquanto consumi<strong>do</strong>res, trocamos o poder e a liberdade no<br />

trabalho ou na arena política por mero contentamento priva<strong>do</strong>. (JAMESON, 1993,<br />

p.36).<br />

É nesta mudança de lógica, quan<strong>do</strong> o consumi<strong>do</strong>r não compra o que precisa e sim o que<br />

o faz ter distinção social, passan<strong>do</strong> este ato a ser um fator determinante de sua <strong>identidade</strong>,<br />

uma obrigatoriedade de escolha, e não uma liberdade, que o status social deixa de estar liga<strong>do</strong><br />

a posições fixas e rígidas de tradição e passa a estar atrela<strong>do</strong> ao que o indivíduo é capaz de<br />

comprar. É a influência da <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong> na <strong>identidade</strong>, fator característico <strong>do</strong> início da<br />

<strong>modernidade</strong> e que se consolida com a <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong>.<br />

34


1.4.3 Cultura <strong>do</strong> <strong>consumo</strong>: da tradição ao poder de compra.<br />

Slater (2002) afirma que na sociedade tradicional o <strong>consumo</strong> era regula<strong>do</strong> em relação ao<br />

status <strong>do</strong> indivíduo (e não o oposto, que ocorre na sociedade de <strong>consumo</strong>), que por sua vez<br />

estava liga<strong>do</strong> a sua posição na nobreza e leis suntuárias. Codificadas entre os séculos XIV e<br />

XVI, estas leis regulamentavam a comida (os vea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> rei, por exemplo), roupas (insígnias<br />

das guildas, uniformes e librés) e moradias (casa e mobília), e eram controladas pelo rei e<br />

nobreza, a fim de especificar o que podia ou não ser consumi<strong>do</strong> ou utiliza<strong>do</strong> pelas diversas<br />

classes sociais, manten<strong>do</strong>, assim, status fixos a cada grupo familiar, o que era facilmente<br />

visualiza<strong>do</strong> pela sociedade. (SLATER, 2002, p.72). Segun<strong>do</strong> o autor estas leis foram criadas<br />

para preservar uma sociedade agrária e dificultar a mobilidade social e geográfica e estavam<br />

fundamentadas numa base divina que ditava padrões de status e <strong>consumo</strong>.<br />

“Até o século XIX, era costume as leis serem lidas em púlpitos em todas as igrejas pelo<br />

menos uma vez por ano, tarefa extenuante, pois só as clausulas relativas ao vestuário tinham<br />

mais de cem páginas. (SEKORA, 1977, p.61 apud SLATER, 2002, p.72). Sekora (1977)<br />

afirma que o luxo como peca<strong>do</strong> nessa época era encara<strong>do</strong> não só como <strong>consumo</strong> além <strong>do</strong><br />

necessário, mas como algo que ultrapassa a posição social da pessoa. Slater explica que a<br />

partir <strong>do</strong> século XVII há uma tentativa de ressuscitar a lei em relação ao poder da economia<br />

de merca<strong>do</strong> que já estava permitin<strong>do</strong> as pessoas comprarem bens e até posições sociais. O<br />

fenômeno que se encaixa nesse momento sócio-econômico é o surgimento da burguesia. A<br />

resistência ao crescente poder de compra em detrimento <strong>do</strong> status pela tradição foi tão grande<br />

que gerou na Grã-Bretanha uma discussão acerca da revolução financeira ocorrida entre 1688<br />

e 1756.<br />

A acusação central é de corrupção: ordem social, cargo político, relações sociais,<br />

autoridade, agora são to<strong>do</strong>s regulamenta<strong>do</strong>s pela troca monetária, podem ser<br />

compra<strong>do</strong>s e vendi<strong>do</strong>s e agora não estão enraiza<strong>do</strong>s no solo tradicional, e sim, no<br />

merca<strong>do</strong> impessoal. (SLATER, 2002, p.73).<br />

Slater argumenta que o próprio status torna-se um bem de <strong>consumo</strong> e que a <strong>cultura</strong><br />

passa a ser definida por aquilo que o dinheiro não pode comprar, abrin<strong>do</strong> um debate acerca de<br />

que a <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong> seria uma forma de não <strong>cultura</strong> ou estaria apartada da alta <strong>cultura</strong>.<br />

Slater (2002) lembra que “<strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong>” é um termo contraditório para grande parte <strong>do</strong><br />

35


pensamento ocidental moderno e que os <strong>do</strong>is termos incompatíveis foram uni<strong>do</strong>s pela<br />

<strong>modernidade</strong>.<br />

O <strong>consumo</strong> é visto por Baudrillard (1995) como produtor de diferenças, representan<strong>do</strong><br />

troca e sen<strong>do</strong> inerente às relações sociais, servin<strong>do</strong> como elemento de identificação e<br />

diferenciação. Para entender essas ligações é primordial analisar a lógica da troca: assim<br />

como a linguagem precede ao indivíduo, o sistema de troca, de acor<strong>do</strong> com o autor, também é<br />

anterior às pessoas e é consequência de uma lógica de diferenciações. Baudrillard afirma que<br />

não há <strong>consumo</strong> por necessidade de consumir, há uma produção social e as necessidades<br />

individuais vêm depois. A <strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong> e o <strong>pós</strong>-fordismo, provocan<strong>do</strong> o deslocamento<br />

<strong>do</strong> status da tradição ao poder de compra, implica grandes transformações na <strong>identidade</strong> <strong>do</strong>s<br />

indivíduos, bem como nas suas relações com a <strong>cultura</strong>, instituições e outras pessoas.<br />

(BAUDRILLARD, 1995, p.65)<br />

1.4.4 O impacto da <strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong> na <strong>identidade</strong><br />

1.4.4.1 deslocamento da <strong>identidade</strong> na <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong><br />

Uma das principais características da <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong>, segun<strong>do</strong> Slater (2002), é a<br />

mudança nos padrões identitários, que passam a se fragmentar. Para Stuart Hall (2003), essa<br />

chamada crise de <strong>identidade</strong> é “vista como parte de um processo mais amplo de mudança, que<br />

está deslocan<strong>do</strong> as estruturas e processos centrais da sociedade moderna e abalan<strong>do</strong> os<br />

quadros de referência que davam aos indivíduos uma ancoragem estável no mun<strong>do</strong> social”<br />

(HALL, 2003, p.7). Hall desenvolve o tema afirman<strong>do</strong> que ainda são provisórias e sujeitas à<br />

contestação as teorias sobre o assunto e que há controvérsias sobre a existência ou não da<br />

crise identitária na <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong>. O autor afirma que, para os teóricos que acreditam num<br />

colapso da <strong>identidade</strong>, o argumento se desenvolve assim:<br />

Um tipo diferente de mudança estrutural está transforman<strong>do</strong> as sociedades modernas<br />

no final <strong>do</strong> século XX. Isso está fragmentan<strong>do</strong> as paisagens<br />

<strong>cultura</strong>is de classe, gênero, sexualidade, etnia, raça e nacionalidade, que, no passa<strong>do</strong>,<br />

nos tinham forneci<strong>do</strong> sólidas localizações como indivíduos sociais. Estas<br />

transformações estão também abalan<strong>do</strong> nossas <strong>identidade</strong>s pessoais, abalan<strong>do</strong> a idéia<br />

36


que temos de nós próprios como sujeitos integra<strong>do</strong>s. (HALL, 2003, p.9)<br />

Hall explica que esse processo de perda de “senti<strong>do</strong> em si” pode ser chama<strong>do</strong> de<br />

deslocamento <strong>do</strong> sujeito. Sobre o mesmo tema, Slater (2002), afirma que as mudanças<br />

ocorridas a<strong>pós</strong> a década de 1970, como o advento <strong>do</strong> <strong>pós</strong>-fordismo e a aceleração <strong>do</strong> fluxo de<br />

informações, foram acompanhadas de uma intensificação na fragmentação da <strong>identidade</strong>, que,<br />

baseada na <strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong>, deixou de ter como eixo a tradição para girar em torno <strong>do</strong><br />

poder de compra. O resulta<strong>do</strong> foi o aban<strong>do</strong>no da estabilidade e a a<strong>do</strong>ção de formas transitórias<br />

de <strong>identidade</strong>, chamadas pelo autor de estilos de vida.<br />

Slater (2002) explica que as regras tradicionais, baseadas em leis suntuárias, antes<br />

garantiam à nobreza os cargos políticos, o status social e econômico. Com a chegada <strong>do</strong><br />

capitalismo, o advento da burguesia e a <strong>modernidade</strong>, essas regras começaram a ser<br />

restringidas, sen<strong>do</strong> totalmente abaladas com a flexibilização <strong>do</strong> capital e o surgimento da <strong>pós</strong>-<br />

<strong>modernidade</strong>, que acabou de desvincular o status social <strong>do</strong> título de nobreza, associan<strong>do</strong>-o ao<br />

poder de compra, haven<strong>do</strong> então constantes negociações da <strong>identidade</strong> social e individual. As<br />

relações sociais, assim como a <strong>cultura</strong> influenciada ou produzida por elas, passaram a ser<br />

fluidas e transitórias. Nesse mun<strong>do</strong> líqui<strong>do</strong> moderno, as estruturas sociais que sustentavam as<br />

<strong>identidade</strong>s agora estão em constante transformação e os indivíduos têm a seu dispor inúmeras<br />

opções de personalidade para utilizar, conforme o ambiente social em que estejam inseri<strong>do</strong>s.<br />

(BAUMANN, 2001)<br />

Para Hall, a crise de <strong>identidade</strong> pressupõe um duplo deslocamento, com a descentração<br />

<strong>do</strong>s indivíduos tanto em relação a seu lugar social e <strong>cultura</strong>l quanto a si mesmos. Ele acredita<br />

ser de imensa importância este fenômeno, a ponto de explicar o momento sócio-histórico<br />

atual. “Esses processos de mudança, toma<strong>do</strong>s em conjunto, representam um processo de<br />

transformação tão fundamental e abrangente que somos compeli<strong>do</strong>s a perguntar se não é a<br />

própria <strong>modernidade</strong> que está sen<strong>do</strong> transformada”. (HALL, 2003, p.10)<br />

37


1.4.1.1 As três concepções de <strong>identidade</strong><br />

Hall (2003) distingue três concepções de <strong>identidade</strong> em relação ao contexto sócio-<br />

histórico, a fim de estudar as transformações ocorridas com a chegada da <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong>: a<br />

<strong>do</strong> sujeito <strong>do</strong> Iluminismo, <strong>do</strong> sociológico e <strong>do</strong> <strong>pós</strong>-moderno. Para o autor, a primeira delas<br />

apresenta o ser humano como indivíduo<br />

totalmente centra<strong>do</strong>, unifica<strong>do</strong>, <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> das capacidades da razão, de consciência e de<br />

ação, cujo “centro” consistia num núcleo interior, que emergia pela primeira vez<br />

quan<strong>do</strong> o sujeito nascia e com ele se desenvolvia, ainda que permanecen<strong>do</strong><br />

essencialmente o mesmo – contínuo ou ‘idêntico’ a ele – ao longo da existência <strong>do</strong><br />

indivíduo. (HALL, 2006, p.10-11).<br />

Sobre a concepção de sujeito sociológico, Hall (2003) afirma que refletia a<br />

complexidade da <strong>modernidade</strong> e a consciência de que o núcleo interior <strong>do</strong> sujeito não era<br />

auto-suficiente. Essa concepção de <strong>identidade</strong>, baseada em teorias de autores <strong>do</strong><br />

interacionismo simbólico, prevê que<br />

A <strong>identidade</strong> é formada na “interação” entre o eu e a sociedade. O sujeito ainda tem<br />

um núcleo que é o “eu real”, mas este é forma<strong>do</strong> e modifica<strong>do</strong> num diálogo contínuo<br />

com os mun<strong>do</strong>s <strong>cultura</strong>is “exteriores” e as <strong>identidade</strong>s que esses mun<strong>do</strong>s oferecem.<br />

(HALL, 2003, p.11)<br />

Hall acrescenta que a concepção sociológica preenche o espaço “entre o mun<strong>do</strong><br />

pessoal e o mun<strong>do</strong> público”, e que o indivíduo projeta a si próprio nas <strong>identidade</strong>s <strong>cultura</strong>is,<br />

internalizan<strong>do</strong> seus significa<strong>do</strong>s e alinhan<strong>do</strong> os sentimentos subjetivos com os lugares<br />

objetivos que ocupa no mun<strong>do</strong> social e <strong>cultura</strong>l. O autor lembra, porém, que essas relações<br />

estão mudan<strong>do</strong>, produzin<strong>do</strong> o sujeito <strong>pós</strong>-moderno:<br />

O sujeito, previamente vivi<strong>do</strong> como ten<strong>do</strong> uma <strong>identidade</strong> unificada e estável, está<br />

se tornan<strong>do</strong> fragmenta<strong>do</strong>; composto não de uma única, mas de várias <strong>identidade</strong>s,<br />

algumas vezes contraditórias ou não- resolvidas. Correspondentemente, as<br />

<strong>identidade</strong>s, que compunham as paisagens sociais “lá fora” e que asseguravam nossa<br />

conformidade subjetiva com as “necessidades” objetivas da <strong>cultura</strong>, estão entran<strong>do</strong><br />

em colapso, como resulta<strong>do</strong> de mudanças estruturais e institucionais. (HALL, 2003,<br />

p.12).<br />

38


Hall ressalta que esse fenômeno transforma a <strong>identidade</strong> em uma celebração móvel,<br />

que se modifica conforme as representações nos sistemas <strong>cultura</strong>is que a rodeiam, sen<strong>do</strong><br />

definida historicamente e não biologicamente. Para o autor, a <strong>identidade</strong> plenamente unificada<br />

é uma fantasia, reforçada pela construção de uma “narrativa <strong>do</strong> eu” que os indivíduos<br />

constroem desde o nascimento. Nesta pesquisa será usada esta última concepção de <strong>identidade</strong><br />

indicada por Hall, ressaltan<strong>do</strong> que as mudanças nestes conceitos foram ocorren<strong>do</strong> de acor<strong>do</strong><br />

com o contexto histórico e social.<br />

39


Capítulo 2- A Cultura <strong>do</strong> <strong>consumo</strong> e a midiatização: a formação <strong>do</strong>s estilos de vida<br />

2.1 Conceito e contextualização <strong>do</strong> processo de midiatização da <strong>cultura</strong> e das relações<br />

sociais na <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong><br />

Os meios de comunicação são fatores fundamentais no desencadeamento das<br />

transformações ocorridas com a chegada da <strong>modernidade</strong> e na transição para a <strong>pós</strong>-<br />

<strong>modernidade</strong>. Como já explana<strong>do</strong> no capítulo anterior, entre as principais mudanças que<br />

consolidam este perío<strong>do</strong> estão a revolução industrial, urbanização, revolução francesa e, na<br />

<strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong>, a aceleração <strong>do</strong> fluxo de informações e a compressão <strong>do</strong> espaço e tempo.<br />

Pode-se afirmar que, especialmente os <strong>do</strong>is últimos fenômenos têm contribuição importante<br />

da midiatização, que, segun<strong>do</strong> Sodré (2002), é a mediação das relações sociais, institucionais<br />

e políticas da maioria das sociedades capitalistas urbanas ocidentais pelos meios de<br />

comunicação.<br />

Kellner (2001), Sodré (2002) e Hall (2006) concordam que a influência <strong>do</strong>s meios de<br />

comunicação nas relações sociais torna-se fundamentalmente mais forte a<strong>pós</strong> os anos 1960-<br />

1970. Há uma mudança política, econômica, <strong>cultura</strong>l e tecnológica no mun<strong>do</strong> ocidental a<strong>pós</strong><br />

as duas guerras e, com a transformação das tecnologias de comunicação, as relações humanas<br />

deixaram de ser pre<strong>do</strong>minantemente face a face e passam a ser cada vez mais mediadas pelos<br />

meios de comunicação. Os correios, telefone, rádio, televisão, imprensa, internet e demais<br />

meios de comunicação passam a ser usa<strong>do</strong>s cada vez mais frequentemente para transmitir<br />

informações que antes só podiam ser repassadas se houvesse contato direto entre indivíduos.<br />

Essas mudanças têm impacto na formação das <strong>identidade</strong>s, que, de acor<strong>do</strong> com Hall, deixam<br />

de estar fundamentadas nas instituições e tradições e passam a estar deslocadas, fragmentadas.<br />

Segun<strong>do</strong> Sodré, na segunda metade <strong>do</strong> século XX o surgimento de novas tecnologias de<br />

comunicação, alia<strong>do</strong> à aceleração de capital, resultou em maior mobilidade espacial,<br />

informacional e social:<br />

A revolução industrial centrou-se na mobilidade espacial, a revolução da informação<br />

centra-se na virtual anulação <strong>do</strong> espaço pelo tempo, geran<strong>do</strong> novos canais de<br />

distribuição de bens e a ilusão da ubiquidade na <strong>modernidade</strong> tardia – velocidade e<br />

fluidez. (SODRÉ, 2002, p.11)<br />

40


Nos subcapítulos seguintes, serão diferenciadas as categorias mediação e midiatização,<br />

através da análise de vários autores, descreven<strong>do</strong> o processo pelo qual a mídia torna-se a<br />

intermediária das relações humanas e produtora de <strong>cultura</strong>, toman<strong>do</strong> o lugar da tradição e da<br />

<strong>cultura</strong> oral, e como esse processo torna-se reprodutor da <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong>, com a<br />

formação <strong>do</strong>s estilos de vida. Para encerrar o capítulo, será discuti<strong>do</strong> como as diversas mídias<br />

difundem os estilos de vida, com ênfase nos meios audiovisuais.<br />

2.1.1 Mediação ou midiatização? As diversas análises teóricas<br />

De acor<strong>do</strong> com Sodré (2002), sen<strong>do</strong> potencializa<strong>do</strong> pela revolução industrial e pela<br />

urbanização, o uso <strong>do</strong>s meios de comunicação como media<strong>do</strong>res das relações humanas traz<br />

muitas consequências às instituições <strong>cultura</strong>is, sociais e identitárias, contribuin<strong>do</strong> para a<br />

fragmentação da <strong>identidade</strong>. O autor chama esse fenômeno de “midiatização”, diferencian<strong>do</strong>-<br />

o da mediação, que significa fazer comunicarem-se duas partes, que devem ser mediadas por<br />

instituições ou outras formas de regulação. A família, a escola e a linguagem são exemplos de<br />

instrumentos que podem ser utiliza<strong>do</strong>s para mediação social, ajudan<strong>do</strong> a compor as<br />

consciências individual e coletiva. Já a midiatização é o processo em que uma ordem de<br />

mediações é realizada através da mídia, ten<strong>do</strong> como resulta<strong>do</strong> uma espécie de “quarto bios”<br />

(SODRÉ, 2002), que é uma nova área da experiência humana, na qual pre<strong>do</strong>mina a <strong>cultura</strong><br />

produzida pelo merca<strong>do</strong>, que será analisa<strong>do</strong> mais detidamente no próximo item.<br />

Para Kellner (2001), a <strong>cultura</strong> da mídia ajuda a construir a vida cotidiana, crian<strong>do</strong><br />

<strong>identidade</strong>s com as quais os indivíduos se inserem nas sociedades capitalistas<br />

contemporâneas, resultan<strong>do</strong> daí nova forma de <strong>cultura</strong>. ”O rádio, a televisão, o cinema e os<br />

outros produtos da indústria <strong>cultura</strong>l fornecem os modelos daquilo que significa ser homem<br />

ou mulher, bem-sucedi<strong>do</strong> ou fracassa<strong>do</strong>, poderoso ou impotente. Trata-se de uma <strong>cultura</strong> da<br />

imagem, que explora a visão e a audição.” (KELLNER, 2001, p.9)<br />

Kellner considera que os meios de comunicação e a <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong> acabam por<br />

fornecer modelos de pensamento e comportamento, apesar de o público também ter a<br />

capacidade de interpretar o conteú<strong>do</strong> sugeri<strong>do</strong>. (KELLNER, 2001, p. 11) Segun<strong>do</strong> o autor, a<br />

<strong>cultura</strong> da mídia fornece maior quantidade de escolhas de mo<strong>do</strong>s de vida ao especta<strong>do</strong>r,<br />

geralmente basea<strong>do</strong>s no <strong>consumo</strong>. O autor afirma que a <strong>cultura</strong> produzida pela mediação <strong>do</strong>s<br />

meios de comunicação está substituin<strong>do</strong> a família, a escola e a igreja como referências de<br />

41


identificação. Analisan<strong>do</strong> diversos textos sobre os meios de comunicação, Kellner busca a<br />

comprovação de que a fragmentação da <strong>identidade</strong> no <strong>pós</strong>-moderno e sua transfiguração em<br />

estilos de vida se deve, em grande parte, à <strong>cultura</strong> da mídia:<br />

Ademais, a <strong>cultura</strong> está desempenhan<strong>do</strong> um papel cada vez mais importante em<br />

to<strong>do</strong>s os setores da sociedade contemporânea, com múltiplas funções em campos<br />

que vão <strong>do</strong> econômico ao social. Na economia, as sedutoras formas <strong>cultura</strong>is<br />

modelam a demanda <strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res produzem necessidades e moldam um eu -<br />

merca<strong>do</strong>ria com valores consumistas. (KELLNER, 2001, p.29)<br />

2.2 Os efeitos da midiatização nas relações sociais: quarto bios e sociedade <strong>do</strong> espetáculo<br />

Como a midiatização atua nas relações sociais e na <strong>identidade</strong>? A questão é tratada de<br />

diferentes mo<strong>do</strong>s por Sodré (2002) e Debord (1997). Enquanto Sodré afirma que o sistema<br />

resultante da intermediação <strong>do</strong>s meios de comunicação nas relações sociais e sua interferência<br />

nas <strong>identidade</strong>s, num contexto de tempo e espaço abstratos é chama<strong>do</strong> quarto bios, Debord<br />

constrói o conceito de espetáculo para explicar como as representações passam a ser mais<br />

importantes que as <strong>identidade</strong>s e instituições.<br />

Pode-se afirmar que quarto bios, espetáculo e <strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong> são conceitos que se<br />

complementam para explicar a dinâmica da difusão <strong>do</strong>s estilos de vida na <strong>cultura</strong> da mídia, e<br />

para entender a própria <strong>identidade</strong> <strong>pós</strong>-moderna. Por este motivo, os conceitos de Debord e<br />

Sodré foram analisa<strong>do</strong>s juntos neste subcapítulo, apesar de Debord haver construí<strong>do</strong> o<br />

conceito de espetáculo na década de 1960. Utilizan<strong>do</strong> conceitos de Aristóteles, Sodré explica<br />

que cada bios representa um campo onde se desenvolve a existência humana, e que além<br />

daquele forma<strong>do</strong> pela <strong>cultura</strong> da mídia, há o da vida contemplativa (bios theoretikos), o da<br />

vida política (bios politikos) e o da vida prazerosa, <strong>do</strong> corpo (bios apolaustikos):<br />

Partin<strong>do</strong> da classificação aristotélica, a midiatização pode ser pensada como<br />

tecnologia de sociabilidade ou um novo bios, uma espécie de quarto âmbito<br />

existencial, onde pre<strong>do</strong>mina (muito pouco aristotelicamente) a esfera <strong>do</strong>s negócios,<br />

com uma qualificação <strong>cultura</strong>l própria (a tecno<strong>cultura</strong>). O que já se fazia presente,<br />

por meio da mídia tradicional e <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>, no ethos abrangente <strong>do</strong> <strong>consumo</strong>,<br />

consolida-se hoje com novas propriedades por meio da técnica digital. (SODRÉ,<br />

2002, p.25)<br />

42


Sodré lembra que o conceito de quarto bios tem si<strong>do</strong> usa<strong>do</strong> em ficções escritas e<br />

cinematográficas, como o filme norte-americano O show de Truman, em que o protagonista<br />

vive numa cidade cenográfica sem saber que todas suas atividades cotidianas estão sen<strong>do</strong><br />

filmadas e transmitidas ao vivo pela televisão. Esta cidade imaginária, afirma o autor, é uma<br />

metáfora para o quarto bios. (SODRÉ, 2002)<br />

Debord constrói conceitos diferentes para estudar a mediação <strong>do</strong>s meios de<br />

comunicação, afirman<strong>do</strong> que a maioria das sociedades urbanas regidas pelo sistema capitalista<br />

de produção vive mediada pelo sistema <strong>do</strong> espetáculo. Segun<strong>do</strong> o autor, os indivíduos não<br />

vivenciam mais relações com pessoas, objetos, ideias e instituições, mas passam por essas<br />

experiências através de representações.<br />

Debord explica que o espetáculo pressupõe uma alienação <strong>do</strong> sujeito em relação à<br />

sociedade e a si mesmo, já que os indivíduos se utilizam de representações deles mesmos para<br />

estabelecerem relacionamentos e, portanto, não há interações sociais diretas entre pessoas,<br />

mas entre as imagens pelas quais estas pessoas querem ser reconhecidas. Essas imagens, em<br />

sua maioria, estão fundamentadas na <strong>cultura</strong> da mídia, em padrões de comportamento ideais<br />

exibi<strong>do</strong>s nos meios de comunicação de sucesso, prestígio e <strong>consumo</strong>: “O espetáculo não é um<br />

conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas, mediada por imagens”<br />

(DEBORD, 1997, p.14).<br />

Para Debord, o espetáculo é a afirmação da aparência como fator mais importante de<br />

toda vida humana e este fato é consequência da <strong>do</strong>minação da economia sobre a vida social,<br />

que faz com que os indivíduos passem a valorizar, numa primeira etapa, mais o “ter” que o<br />

“ser”, para depois viverem <strong>do</strong> “parecer”. (DEBORD, 1997, p.18) De acor<strong>do</strong> com o autor, uma<br />

das principais consequências da exposição <strong>do</strong>s indivíduos ao espetáculo é a formação de<br />

estilos de vida, pela assimilação das imagens e padrões de <strong>consumo</strong> da mídia. Associan<strong>do</strong> o<br />

conceito de espetáculo com o <strong>do</strong>s meios de comunicação de massa, Debord afirma que os<br />

últimos não podem ser confundi<strong>do</strong>s com o primeiro, pois a mídia é uma instrumentação<br />

utilizada pela sociedade <strong>do</strong> espetáculo e não o fenômeno espetacular em si.<br />

43


2.3 Estilos de vida: formas de <strong>identidade</strong> produzidas pela difusão da <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong><br />

pela midiatização<br />

2.3.1 Estilo de vida: O que é?<br />

Featherstone (1995) classifica estilo de vida como individualidade, auto - expressão e<br />

uma consciência de si estilizada, da qual fazem parte a escolha das roupas, o discurso,<br />

entretenimentos de lazer etc. De acor<strong>do</strong> com o autor, na <strong>cultura</strong> <strong>pós</strong>-moderna, cada vez mais<br />

não há grupos de status fixos. Esse movimento da <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong> “estaria sugerin<strong>do</strong><br />

também a irrelevância das divisões sociais e o fim <strong>do</strong> social enquanto ponto de referência<br />

importante. O fim da relação determinista entre sociedade e <strong>cultura</strong> anuncia o triunfo da<br />

<strong>cultura</strong> de representação”. (FEATHSTONE, 1995, p.119)<br />

Os conceitos de Featherstone podem ser complementa<strong>do</strong>s com as discussões de Debord<br />

(1997), que afirma que os estilos de vida são consequência da <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong> difundida<br />

no espetáculo. O autor analisa que a representação espetacular <strong>do</strong>s indivíduos é uma espécie<br />

de compensação pela desconexão com a realidade vivida, já que, no espetáculo, o que existe é<br />

uma aparência de vivência sem profundidade:<br />

O espetáculo, que é o apagamento <strong>do</strong>s limites <strong>do</strong> eu e <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> pelo esmagamento<br />

<strong>do</strong> eu que a presença-ausência <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> associa é também a supressão <strong>do</strong>s limites<br />

<strong>do</strong> verdadeiro e <strong>do</strong> falso pelo recalcamento de toda verdade vivida, diante da<br />

presença real da falsidade garantida pela organização da aparência. O<br />

reconhecimento e o <strong>consumo</strong> das merca<strong>do</strong>rias estão no cerne dessa pseu<strong>do</strong>-resposta<br />

a uma comunicação sem resposta. (DEBORD, 1997, p.140)<br />

Slater (2002) é outro autor que discute os estilos de vida, utilizan<strong>do</strong> a expressão “mo<strong>do</strong>s<br />

de vida”. O autor classifica-os como práticas rotineiras de vestir, comer, maneiras de agir e<br />

ambientes preferi<strong>do</strong>s, que estão sempre abertos a mudanças de acor<strong>do</strong> com as transformações<br />

da <strong>identidade</strong>. Estas decisões <strong>do</strong> dia a dia não estariam ligadas somente à forma de agir, mas<br />

de ser e, quanto mais não tradicionais os ambientes, mais as escolhas ou estilos diriam<br />

respeito à própria <strong>identidade</strong>, sua construção e reconstrução.<br />

O mo<strong>do</strong> de vida, para Slater, possibilita uma unidade e ordenamento, reduzin<strong>do</strong> a<br />

quantidade de opções e dan<strong>do</strong> uma sensação de um modelo ou esquema a ser segui<strong>do</strong>. A<br />

44


construção da <strong>identidade</strong>, portanto, deixa de estar atrelada às tradições e passa a estar ligada<br />

aos bens consumi<strong>do</strong>s. Slater explica que o mo<strong>do</strong> de vida está liga<strong>do</strong>, fundamentalmente, a<br />

<strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong>:<br />

Em primeiro lugar, o mo<strong>do</strong> de vida tende a indicar um modelo puramente <strong>cultura</strong>l: é<br />

constituí<strong>do</strong> de signos, representações, mídia e é tão mutável e instável como estes.<br />

Em segun<strong>do</strong> lugar, qualquer pessoa pode, teoricamente, passar de um mo<strong>do</strong> de vida<br />

para outro ao mudar de uma vitrine, canal de televisão, prateleira de supermerca<strong>do</strong>,<br />

etc, para outro. (SLATER, 2002, p. 90)<br />

Slater conclui, então, que os estilos de vida representam cada vez menos grupos ou<br />

comunidades e cada vez mais a transitoriedade da <strong>identidade</strong> individual e coletiva,<br />

relacionan<strong>do</strong>-se à aparência: “Fazer parte da sociedade reduziu-se a <strong>identidade</strong>s que a pessoa<br />

veste e desveste a seu bel-prazer, uma transitoriedade que nos empurra além até da<br />

solidariedade da sub<strong>cultura</strong> <strong>do</strong> supermerca<strong>do</strong> de estilos”. (SLATER, 2002, p.90)<br />

Pode-se concluir, portanto, que, sofren<strong>do</strong> impacto da <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong> difundida pela<br />

mídia, a <strong>identidade</strong> se fragmenta em estilos de vida, que podem ser troca<strong>do</strong>s de acor<strong>do</strong> com a<br />

utilidade que terão para o indivíduo no contexto social. Utilizan<strong>do</strong> os conceitos de Slater<br />

(2002), pode-se perceber que a própria relação <strong>do</strong> sujeito consigo mesmo é atingida pelo<br />

fenômeno da midiatização e formação <strong>do</strong>s estilos de vida, já que, no contexto espetacular,<br />

cada indivíduo se utiliza de representações para se apresentar à sociedade, ten<strong>do</strong> uma<br />

<strong>identidade</strong> móvel e descentrada.<br />

45


2.3.2 Identidade, <strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong>, midiatização e estilos de vida<br />

Difundida pela mídia, a <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong> forja padrões de vida, como vestimenta,<br />

alimentação, lazer etc., e influencia na imagem <strong>do</strong>s indivíduos perante a sociedade. A<br />

<strong>identidade</strong>, em sua dupla dimensão – individual e coletiva –, é impactada pela <strong>cultura</strong> de<br />

<strong>consumo</strong> e frequentemente se modifica conforme os hábitos de <strong>consumo</strong>. Mediada pelos<br />

meios de comunicação, a <strong>cultura</strong> vigente nas sociedades capitalistas ocidentais é baseada na<br />

aparência, e os papeis sociais são reconheci<strong>do</strong>s através dela. Essas <strong>identidade</strong>s, ao contrário<br />

das que servem de referência nas sociedades tribais – sen<strong>do</strong> coletivamente atribuídas, dizen<strong>do</strong><br />

respeito a tradições e deveres numa comunidade –, mudam tanto que são conhecidas como<br />

estilos de vida. (SLATER, 2002).<br />

A relação, portanto, entre a midiatização, <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong> e estilos de vida é de<br />

interdependência, pois, embora as raízes da <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong> existissem antes <strong>do</strong> processo<br />

de industrialização <strong>do</strong>s meios de comunicação e, portanto, da midiatização, ela (a <strong>cultura</strong> de<br />

<strong>consumo</strong>) só se consoli<strong>do</strong>u com o funcionamento em larga escala da mídia. Os estilos de vida<br />

são resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> impacto da <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong> na <strong>identidade</strong> e, na <strong>cultura</strong> <strong>pós</strong>-moderna, são<br />

dissemina<strong>do</strong>s em sua maioria pela mídia, que se tornou o principal meio de transmissão de<br />

valores, ideais e regras de conduta.<br />

Sobre o processo de transformação das <strong>identidade</strong>s e da geração <strong>do</strong>s estilos de vida,<br />

Slater afirma que a <strong>identidade</strong> <strong>pós</strong>-moderna é marcada pela pluralização: “No lugar de uma<br />

ordem segura de valores e posições sociais, há uma variedade e fluidez ator<strong>do</strong>antes de<br />

valores, papéis, autoridades, recursos simbólicos e interações sociais a partir <strong>do</strong>s quais a<br />

<strong>identidade</strong> social de um indivíduo deve ser produzida e mantida”. (SLATER, 2002, p.86)<br />

Para Giddens (2002 apud SLATER, 2002), a questão da <strong>identidade</strong> no perío<strong>do</strong> de<br />

transição de <strong>modernidade</strong> para a <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong> pode ser dividida em quatro aspectos: o<br />

primeiro é que as <strong>identidade</strong>s fixas não são atribuídas sem ambiguidade. Em segun<strong>do</strong> lugar, a <strong>identidade</strong><br />

envolve uma plurarização <strong>do</strong>s mo<strong>do</strong>s de vida. Em terceiro lugar, a <strong>modernidade</strong> substitui a autoridade tradicional<br />

por um questionamento e em quarto lugar, a <strong>modernidade</strong> coloca a experiência mediada no centro da vida social<br />

Slater considera que a grande mudança da tradição para a <strong>cultura</strong> moderna e <strong>pós</strong>-<br />

moderna é que o <strong>consumo</strong> é regula<strong>do</strong> pelo poder aquisitivo, tornan<strong>do</strong> mais acessível a<br />

mudança de estilo de vida. Mas essa acessibilidade provoca instabilidade da <strong>identidade</strong>, sen<strong>do</strong><br />

causa de crises em larga escala. O autor explica que a crise de <strong>identidade</strong> caracteriza a <strong>cultura</strong><br />

da <strong>modernidade</strong> em transição para a <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong> de diversas formas, transforman<strong>do</strong> a<br />

46


<strong>identidade</strong> em algo volátil. O resulta<strong>do</strong> é que os indivíduos estão cada vez mais se<br />

identifican<strong>do</strong> através da aparência e construin<strong>do</strong> suas relações sociais baseadas nessa<br />

autopercepção.<br />

Para entender os estilos de vida difundi<strong>do</strong>s na mídia, é necessário analisar o contexto<br />

específico em que ocorrem. Isso requer identificar o tipo de mídia e o produto <strong>cultura</strong>l, para,<br />

então, analisar o fenômeno num tipo de mensagem específica. Este será o caminho percorri<strong>do</strong><br />

nesta dissertação, que se concentrará na análise <strong>do</strong> modelo de transmissão de mensagem <strong>do</strong>s<br />

meios audiovisuais, para depois se concentrar na difusão <strong>do</strong>s estilos de vida na televisão, e por<br />

fim, nas telenovelas. A estrutura da pesquisa parte, então <strong>do</strong> geral para o específico,<br />

culminan<strong>do</strong> com um estu<strong>do</strong> de caso.<br />

2.4. Os diferentes meios de comunicação e a difusão <strong>do</strong>s estilos de vida<br />

Como os diferentes meios de comunicação social difundem os estilos de vida? Para<br />

responder tal pergunta, é necessário compreender qual o papel que a <strong>cultura</strong> produzida pela<br />

mídia pode exercer no processo de formação das <strong>identidade</strong>s e como as particularidades de<br />

cada meio de comunicação podem influenciar nesta relação. Como o objetivo deste trabalho é<br />

analisar a relação entre os estilos de vida, <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong> e as telenovelas – sem analisar<br />

o resulta<strong>do</strong> da recepção da mensagem no público - será feita breve explanação da relação <strong>do</strong>s<br />

meios de comunicação em geral e o impacto que podem causar na <strong>identidade</strong>, para depois ser<br />

dada maior ênfase ao processo na televisão e nas telenovelas.<br />

Para Canclini (1999), a <strong>identidade</strong> é uma construção feita de narrativas, pois<br />

comumente a fundação de uma cidade ou nação, que ocorre com a apropriação ou invasão de<br />

territórios ou independência de um povo, é registrada e transmitida ao público em livros<br />

escolares ou em museus, rituais cívicos e discursos políticos. Esses <strong>do</strong>cumentos são, portanto,<br />

utiliza<strong>do</strong>s historicamente para a formação da <strong>identidade</strong> de uma nação e sua narrativa. Na<br />

transição da <strong>modernidade</strong> para a <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong>, os instrumentos que mais contribuíram<br />

para a construção das <strong>identidade</strong>s coletivas, segun<strong>do</strong> o autor, foram o rádio e o cinema:<br />

Como analisam Carlos Monsiváis e Jesús Martin-Barbero, os programas de rádio<br />

contribuíram para que grupos de diversas regiões de um mesmo país se<br />

reconhecessem como parte de uma totalidade. (...) Os meios de massa foram agentes<br />

47


das inovações tecnológicas, nos sensibilizaram para o uso de aparelhos eletrônicos<br />

na vida <strong>do</strong>méstica, e liberalizaram os costumes com um horizonte mais cosmopolita;<br />

mas ao mesmo tempo unificaram os padrões de <strong>consumo</strong> com uma visão nacional.<br />

(CANCLINI, 1999, p.139)<br />

Featherstone (1995) concorda que as imagens da televisão e <strong>do</strong> cinema são parte<br />

fundamental no processo de formação das nações, e que cada uma delas é uma coletividade<br />

muito ampla para ser vivenciada diretamente pelas pessoas, daí a necessidade da mediação<br />

<strong>do</strong>s meios de comunicação. Utilizan<strong>do</strong> o termo indústria de narrativas – que poderia ser<br />

qualifica<strong>do</strong> como um campo da “indústria <strong>cultura</strong>l”, conceito cria<strong>do</strong> por A<strong>do</strong>rno e<br />

Horkheimer (1985) –, Canclini (1999) afirma que aquela tem papel primordial na<br />

incorporação das classes populares à <strong>cultura</strong> hegemônica. De acor<strong>do</strong> com o autor, a produção<br />

em massa <strong>do</strong>s produtos midiáticos começa a ser intensificada em mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XIX, com<br />

a demanda popular e o desenvolvimento das tecnologias de impressão e com o folhetim,<br />

primeiro tipo de texto escrito no formato popular de massa. O folhetim mais tarde deu origem<br />

à fotonovela, à radionovela e, enfim, à telenovela.<br />

Mas como esses diferentes meios de comunicação difundem a <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong> e os<br />

estilos de vida? Segun<strong>do</strong> Sodré, como quarto bios, a mídia constrói uma nova moralidade<br />

objetiva, pautada na ordem de <strong>consumo</strong>. (SODRÉ, 2002, p. 51) Analisan<strong>do</strong> a relação entre<br />

televisão, <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong>, <strong>consumo</strong> e <strong>identidade</strong>, na difusão <strong>do</strong>s estilos de vida, Kellner<br />

explica que a história da televisão se iniciou muito ligada à narração, mas, na <strong>pós</strong>-<br />

<strong>modernidade</strong>, está mais ligada à imagem.<br />

Nos programas atuais, a imagem foi liberada e ganha mais importância que a narração.<br />

Por causa dessa mudança, muitos teóricos apontam para uma superficialidade da televisão,<br />

mas o autor ressalta que é necessário analisar tanto a narrativa quanto a imagem, atentan<strong>do</strong><br />

para o mo<strong>do</strong> como os telespecta<strong>do</strong>res contribuem para o mo<strong>do</strong> de recepção da mensagem. O<br />

autor, então, ressalta a importância da televisão na reestruturação da <strong>identidade</strong><br />

contemporânea:<br />

as pessoas realmente modelam comportamentos, estilos e atitudes pela imagem da<br />

TV, os anúncios por ela veicula<strong>do</strong>s de fato desempenham certo papel na<br />

manipulação da demanda <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r, e, mais recentemente, muitos analistas<br />

concluíram que a televisão está desempenhan<strong>do</strong> papel fundamental nas eleições.<br />

(KELLNER, 2001, p. 303)<br />

48


Pode-se concluir, portanto, que a mídia, servin<strong>do</strong> como media<strong>do</strong>ra das relações sociais<br />

e institucionais e produzin<strong>do</strong> uma nova <strong>cultura</strong> baseada no <strong>consumo</strong>, traz como uma das<br />

consequências a contribuição para a formação <strong>do</strong>s estilos de vida, sen<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s alicerces da<br />

<strong>cultura</strong> <strong>pós</strong>-moderna. O capítulo posterior será centra<strong>do</strong> na análise deste processo na televisão<br />

e em particular, na telenovela. Logo a<strong>pós</strong> haverá um estu<strong>do</strong> de caso com a novela Paraíso<br />

Tropical.<br />

49


Capítulo 3 Televisão, telenovela e a difusão <strong>do</strong>s estilos de vida<br />

3.1 Televisão, <strong>identidade</strong> e difusão <strong>do</strong>s estilos de vida<br />

Como se dá a difusão de estilos de vida nas telenovelas e como é demonstrada nas<br />

tramas a relação entre <strong>identidade</strong> e <strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong>? Para responder a tais questões, é<br />

necessário analisar o mecanismo de transmissão da mensagem da televisão e quais as<br />

estruturas sociais atinge. Segun<strong>do</strong> Barbero (1997), o impacto que a televisão exerce no meio<br />

social se deve mais à forma de mediação <strong>do</strong> que às estruturas técnicas de produção e<br />

recepção. Essa influência pode ser medida ten<strong>do</strong> por referências três categorias: o cotidiano<br />

familiar, a temporalidade social e a competência <strong>cultura</strong>l.<br />

A cotidianidade familiar, segun<strong>do</strong> Barbero (1997), é responsável por grande parte da<br />

pauta da programação televisiva, pois a televisão é construída para a família, que tanto pode<br />

influir na programação como pode ser influenciada por ela. Ou seja, através de pesquisas de<br />

audiências, as televisões mudam o enre<strong>do</strong> de suas tramas para agradar ao público, ao mesmo<br />

tempo que fornecem modelos de comportamento para as famílias. De acor<strong>do</strong> com Barbero<br />

(1997), a televisão dá outro significa<strong>do</strong> às demandas <strong>do</strong>s públicos e oferece diversos tipos de<br />

padrões de status de classe, gênero e relações sociais. Por outro la<strong>do</strong>, a forma como o público<br />

interpreta os conteú<strong>do</strong>s também transforma a programação, que se torna parte da <strong>cultura</strong><br />

cotidiana, na qual o tempo e o espaço em que o público a consome (a programação) influencia<br />

na compreensão <strong>do</strong>s temas: “os hábitos de classe atravessam os usos da televisão, os mo<strong>do</strong>s<br />

de ver se manifestam na organização <strong>do</strong> tempo e espaço cotidianos”. (BARBERO, 1997, p.<br />

300)<br />

Barbero (1997) entende como temporalidade social o tempo da cotidianidade, o tempo<br />

repetitivo, cíclico que a televisão traz de volta e que entra em contraste com o tempo<br />

produtivo, valoriza<strong>do</strong> pelo capital. Segun<strong>do</strong> o autor, ao entrar em contato com o cotidiano<br />

familiar, a televisão fornece o tempo cíclico, diferenciada <strong>do</strong> tempo <strong>do</strong> trabalho, que é linear.<br />

Segun<strong>do</strong> os conceitos de Marx (2002), o tempo cíclico, <strong>do</strong> cotidiano, obedece aos imperativos<br />

de amanhecer, entardecer, finais de semana e estações <strong>do</strong> ano, que são sazonais, ou seja,<br />

sempre acabam e recomeçam, servin<strong>do</strong> como referências para festejos, feria<strong>do</strong>s,<br />

comemorações religiosas, rituais e tradicionais. Já o tempo linear foi cria<strong>do</strong> com a<br />

industrialização e a produção em série, é o tempo que sempre anda para frente, pois equivale<br />

50


às horas trabalhadas necessárias para produzir determina<strong>do</strong> capital. Nele, até o tempo de<br />

descanso é relaciona<strong>do</strong> ao trabalho, pois é o socialmente necessário para que as energias <strong>do</strong><br />

corpo <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r sejam repostas e ele possa voltar ao serviço.<br />

A televisão oferece então, um tempo semelhante ao <strong>do</strong> cotidiano, ao tempo em que as<br />

pessoas estão desligadas <strong>do</strong> trabalho, o tempo onde sempre começam ciclos e terminam. Ou<br />

seja, as histórias contadas nas telenovelas brasileiras estão sempre remontan<strong>do</strong> ao início da<br />

trama e depois de resolvi<strong>do</strong>s os conflitos, começam outros. As telenovelas normalmente<br />

repetem elementos <strong>do</strong>s capítulos anteriores para que os especta<strong>do</strong>res que não estão<br />

acompanhan<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s os capítulos possam entender a história começan<strong>do</strong> a assisti-la em<br />

qualquer ponto. As redes de televisão organizam uma programação de novelas de vários<br />

gêneros, conjugan<strong>do</strong> espécies diferentes de textos:<br />

Cada programa, ou melhor, cada texto televisivo remete seu senti<strong>do</strong> ao cruzamento<br />

de gêneros e tempos. Enquanto gênero, pertence a uma família de textos que se<br />

replicam e reenviam uns aos outros nos diferentes horários <strong>do</strong> dia e da semana. [...].<br />

(BARBERO, 1997, p.296)<br />

Barbero (1997) revela, então, que a televisão conjuga o tempo da narrativa - que<br />

funciona de forma cíclica - com a continuidade <strong>do</strong> tempo narra<strong>do</strong>, ou seja, o tempo linear, o<br />

tempo <strong>do</strong> trabalho. Os programas televisivos possibilitariam, então, a mediação entre o tempo<br />

<strong>do</strong> capital e o da cotidianidade. A terceira categoria que serve como referência para a<br />

transmissão da mensagem da televisão é a competência <strong>cultura</strong>l. Barbero (1997) afirma que a<br />

principal questão a ser levantada abordan<strong>do</strong> este tema é se a televisão está inserida no<br />

conceito de <strong>cultura</strong> ou se influencia e modifica essa ideia. Adepto <strong>do</strong> segun<strong>do</strong> argumento, o<br />

autor afirma que a televisão relativiza as diferenças sociais e produz uma integração entre a<br />

chamada <strong>cultura</strong> elevada e a popular, ou massiva, entenden<strong>do</strong> o termo “massiva” como aquela<br />

que decorre de uma produção em escala industrial e homogênea.<br />

É importante enfatizar que a discussão de Barbero está sen<strong>do</strong> contextualizada neste<br />

trabalho utilizan<strong>do</strong> o conceito de <strong>cultura</strong> proposto por Kellner (2001): “A <strong>cultura</strong>, em seu<br />

senti<strong>do</strong> mais amplo, é uma forma de atividade que implica alto grau de participação na qual as<br />

pessoas criam sociedades e <strong>identidade</strong>s. A <strong>cultura</strong> modela os indivíduos evidencian<strong>do</strong> e<br />

cultivan<strong>do</strong> suas potencialidades de fala, ação e criatividade” (KELLNER, 2001, p.11).<br />

Os estu<strong>do</strong>s de Freire Filho (2009) complementam os de Barbero (1997), pois o<br />

51


primeiro afirma que a televisão provoca impacto nas <strong>identidade</strong>s e nas relações sociais,<br />

transmitin<strong>do</strong> normas, valores, e opções de comportamento. De acor<strong>do</strong> com o autor, “fazen<strong>do</strong><br />

parte <strong>do</strong> teci<strong>do</strong> social, como uma de suas instâncias, a televisão acompanha seus movimentos<br />

e tendências, é instrumento de veiculação de suas normas e valores, mecanismo de reprodução<br />

e manutenção da ordem <strong>do</strong>minante” (FREIRE FILHO, 2009, p. 30). Filho afirma que a<br />

relação entre a televisão e a sociedade é de mútua afetação e que alterações de valores e outras<br />

ocorrências na sociedade podem provocar mudanças na programação e no perfil das<br />

emissoras:<br />

Lugar de expressão e circulação de vozes, <strong>do</strong> cruzamento de representações e<br />

constituições de novas imagens, a televisão é também um vetor de dinamismo e<br />

modificação <strong>do</strong> seu entorno. É preciso, no entanto, mais <strong>do</strong> que reafirmar essa<br />

circularidade, buscar qualificá-la. (FREIRE FILHO, 2009, p.30)<br />

Freire Filho (2009) destaca ainda que o diálogo entre televisão e sociedade pode ser<br />

comprova<strong>do</strong> através da incidência da novela nas conversações e hábitos cotidianos. O autor<br />

acredita que o processo de identificação <strong>do</strong>s indivíduos com a televisão está cada vez mais<br />

presente e que a pauta da televisão está se tornan<strong>do</strong> cada vez mais semelhante à <strong>cultura</strong> <strong>pós</strong>-<br />

moderna e vice-versa, num processo de retroalimentação. Para o autor, praticamente não há<br />

mais diferenças entre “aquele que está na televisão e aquele que assiste. É assim que a<br />

televisão se torna o lugar mesmo de realização e consagração <strong>do</strong> valor maior da nova<br />

sociedade, que é o desenvolvimento pessoal e a autonomia individual”. (FREIRE FILHO,<br />

2009, p.28)<br />

A difusão da <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong> e estilos de vida através da televisão é estudada<br />

também por Sodré (2002) e Hollanda (2003). Como já afirma<strong>do</strong> em capítulo anterior, a<br />

<strong>cultura</strong> <strong>pós</strong>-moderna, da qual a midiatização é um <strong>do</strong>s fatores impulsiona<strong>do</strong>res, provoca<br />

impacto na <strong>identidade</strong>, fragmentan<strong>do</strong>-a e transforman<strong>do</strong>-a em estilos de vida, que<br />

correspondem aos imperativos de merca<strong>do</strong>.<br />

Para Sodré (2001), a cena videográfica, que é o suporte das imagens eletrônicas,<br />

comporta não só tecnologias específicas como também padrões <strong>do</strong> discurso televisivo.<br />

Segun<strong>do</strong> o autor, a característica técnica da televisão é a precariedade da definição da<br />

imagem, que não permite o detalhamento e obriga o telespecta<strong>do</strong>r a um envolvimento mais<br />

profun<strong>do</strong> com a história. Já <strong>do</strong> ponto de vista discursivo, o autor argumenta que a televisão<br />

52


eúne nos seus produtos os elementos da <strong>cultura</strong> cotidiana mistura<strong>do</strong>s com padrões de<br />

<strong>consumo</strong> vigentes. Analisan<strong>do</strong> a relação entre a televisão e o cotidiano familiar, Sodré afirma<br />

que a família é usada como modelo de público-alvo e que a construção televisiva leva em<br />

conta a forma de recepção da mensagem para produzi-la.<br />

No broadcast televisivo, a cena videográfica é afetada pelas particularidades da<br />

recepção – com o texto televisivo, as pressões <strong>do</strong> receptor são especialmente<br />

significativas porque o especta<strong>do</strong>r mantém relação acidental ou dispersiva com a tela<br />

pequena.( SODRÉ, 2001, p.157)<br />

Sobre a relação entre a <strong>identidade</strong> <strong>do</strong> público e aquelas apresentadas na televisão,<br />

sobretu<strong>do</strong> nas telenovelas, Hollanda (2003) afirma que os programas televisivos facilitam a<br />

criação de novos comportamentos de <strong>consumo</strong>, que impulsionam a compra de produtos. A<br />

autora explica que as novelas exibem estilos de vida consumistas e que esse processo cria<br />

promoção objetiva da moda e bens liga<strong>do</strong>s à novela:<br />

A família e o espaço <strong>do</strong>méstico são o centro <strong>do</strong> <strong>consumo</strong> nesse processo inicial de<br />

formação de uma sociedade de <strong>consumo</strong> e continua sen<strong>do</strong> assim. E a televisão<br />

parece ser no Brasil o meio ideal para efetuar essa mudança de comportamentos.<br />

(HOLLANDA, 2003, p.30).<br />

Hollanda lembra ainda que a telenovela é um <strong>do</strong>s produtos televisivos mais importantes<br />

na influência <strong>do</strong> comportamento de <strong>consumo</strong> e difusão de estilos de vida, por atingir um<br />

público relativamente varia<strong>do</strong> em termos de classe social, idade e sexo. Enfatizan<strong>do</strong> a vida<br />

nas camadas médias e altas da sociedade, a novela expõe estilos de vida e os produtos que<br />

podem ser consumi<strong>do</strong>s para a construção desses estilos.<br />

O uso de personagens de diferentes camadas sociais, faixas etárias e estilos de vida<br />

na narrativa consiste numa das estratégias para atrair diferentes camadas da<br />

audiência em termos de sexo, faixa etária, classe social. Com o intuito, portanto de<br />

manter essa variedade e amplitude de audiência, a novela permite que o especta<strong>do</strong>r<br />

se familiarize com uma variedade de mun<strong>do</strong>s sociais diferentes <strong>do</strong> seu universo<br />

particular, com diversos estilos de vida e os bens e serviços associa<strong>do</strong>s a esses<br />

mun<strong>do</strong>s e estilos. (HOLLANDA, 2003, p.31).<br />

53


Fator que contribui e demonstra o mecanismo de envolvimento <strong>do</strong> público com os<br />

produtos <strong>cultura</strong>is, favorecen<strong>do</strong> a difusão <strong>do</strong>s estilos de vida, é a presença, nas telenovelas e<br />

outras programações midiáticas, de características que já fazem parte da <strong>cultura</strong> <strong>do</strong>s<br />

especta<strong>do</strong>res. Hall (1980) analisa o impacto da televisão na <strong>identidade</strong>, afirman<strong>do</strong> que os<br />

produtos <strong>cultura</strong>is apresenta<strong>do</strong>s na mídia não são apenas criadas pelos seus autores, mas essa<br />

criação é compartilhada pela audiência, já que a mesma é constantemente consultada em<br />

pesquisas de opinião sobre suas preferências e opiniões. (HALL, 1980, apud HOLLANDA,<br />

2003). Já Durham (1977), numa análise aproximada de Hall, afirma que os produtos<br />

midiáticos contém conceitos que já estavam na <strong>cultura</strong> popular ou erudita e que são<br />

ressignifica<strong>do</strong>s pelo público. (DURHAN, 1977, apud HOLLANDA, 2003).<br />

3.2 As origens da estrutura narrativa das telenovelas brasileiras<br />

A telenovela brasileira reúne características <strong>do</strong> folhetim e <strong>do</strong> melodrama, de acor<strong>do</strong> com<br />

Barbero (1997), Alencar (2004) e Sodré (2001). Para Sodré, a telenovela mistura elementos<br />

<strong>do</strong> folhetim com referências mitológicas e literárias. O autor explica que a telenovela teria<br />

influências de um quase-mito, o que “indica o aproveitamento tecno<strong>cultura</strong>l <strong>do</strong>s elementos<br />

simples <strong>do</strong> discurso mítico (dualismos, lendas, esteriótipos simbólicos) por fórmulas<br />

estabelecidas e articuladas em torno da intriga”. (SODRÉ, 2001, p.162)<br />

Segun<strong>do</strong> Alencar (2004), a origem <strong>do</strong> folhetim, ou histórias contadas em capítulos,<br />

ocorreu na França, na década de 1830, quan<strong>do</strong> Napoleão decretou censura política e os jornais<br />

franceses passaram a ampliar o espaço <strong>do</strong> rodapé das páginas <strong>do</strong>s jornais e divulgar os<br />

folhetins, que usualmente tinham como tema histórias de amor e aventura, baseadas na<br />

mentalidade romântica, na escola romântica e no melodrama <strong>do</strong> teatro popular. O primeiro<br />

folhetim a ser publica<strong>do</strong>, afirma o autor, foi o romance anônimo espanhol Lazarillo de<br />

Tormes, em julho de 1836.<br />

Partin<strong>do</strong> desse ponto, sem grandes pretensões, a história <strong>do</strong> folhetim acompanhou a<br />

própria história <strong>do</strong> século tanto <strong>do</strong> seu ponto de vista social quanto estrutural.<br />

Assim, mudaram-se os temas, modificaram-se as personagens, e principalmente<br />

surgiram novas formas de comunicação que propiciaram novos meios de expressão<br />

artística. Contu<strong>do</strong>, o folhetim, como mo<strong>do</strong> de estruturação de uma história<br />

permaneceu, isto é, a história contada em partes, capítulos ou segmentos que<br />

54


individualmente contêm elementos suficientes para proporcionar o clímax.<br />

(ALENCAR, 2004, p. 43)<br />

Alencar (2004) acrescenta que o folhetim acaba sen<strong>do</strong> leva<strong>do</strong> para as revistas e se<br />

torna fotonovela, para depois ir para o cinema em 1940, e ser exibi<strong>do</strong> nas matinês <strong>do</strong>minicais.<br />

O folhetim depois iria para o rádio, assumin<strong>do</strong> o nome de radionovela e depois para a<br />

televisão, passan<strong>do</strong> a se chamar telenovela. Barbero analisa a ligação da novela com o<br />

melodrama, que surge por volta de 1790 na França e Inglaterra, reunin<strong>do</strong> elementos <strong>do</strong> teatro,<br />

feira e literatura oral. O autor lembra que os espetáculos eram ensaia<strong>do</strong>s ao ar livre e a<br />

principal característica deles era ridicularizar os problemas sociais.<br />

A ação dramática fornecia o tema para a execução de uma paisagem, o lugar da ação<br />

e objeto de uma verdadeira fabricação com base em maquinarias complicadíssimas<br />

para a movimentação das decorações e os efeitos óticos e sonoros que encontrarão<br />

nas novelas de rádio seu esplen<strong>do</strong>r, tiveram no melodrama não só um antecedente,<br />

mas to<strong>do</strong> um paradigma. (BARBERO, 1997, p.160)<br />

Barbero (1997) explica que a estrutura dramática <strong>do</strong> melodrama é composta de quatro<br />

sentimentos básicos: me<strong>do</strong>, entusiasmo, <strong>do</strong>r e riso, corresponden<strong>do</strong> a quatro tipos de situações<br />

(terríveis, excitantes, ternas e burlescas) vividas pelas personagens: o trai<strong>do</strong>r, o justiceiro, a<br />

vítima e o bobo. Estes elementos se combinam e formam os quatro gêneros: romance de ação,<br />

epopéia, tragédia e comédia. A linguagem <strong>do</strong> melodrama é a <strong>do</strong>s relacionamentos familiares<br />

e de parentesco. O melodrama ocorre no tempo familiar, median<strong>do</strong> o tempo da história e da<br />

vida. De acor<strong>do</strong> com Barbero, desde a canção romântica até a telenovela, o melodrama media<br />

uma sociabilidade negada economicamente desvalorizada, mas <strong>cultura</strong>lmente viva. É o tempo<br />

da narrativa que afirma e permite que as classes populares se reconheçam nela.<br />

Alencar afirma que o gênero literário novela nasceu na Idade Média com as canções<br />

de gesta que eram poemas épicos recita<strong>do</strong>s para jograis e menestréis. Sua origem é na<br />

Espanha e a estrutura de contar em capítulos é da França. Para Alencar, em termos estruturais<br />

a telenovela se funda sobre o melodrama <strong>do</strong> século XVIII. “O roteiro de teleficção é uma peça<br />

escrita para comunicar, através de imagem e som, palavras [...]. efeitos sonoros, ação,<br />

cinestesia, sentimentos, emoções, conflitos e modificação”. (ALENCAR, 2004, p.49).<br />

Pode-se concluir, portanto, reunin<strong>do</strong> os conceitos de Sodré, Alencar e Barbero, que<br />

telenovela é uma história contada em capítulos e dispõe de uma estrutura narrativa com<br />

55


semelhanças ao melodrama e no folhetim, contan<strong>do</strong> com uma estrutura dramática próxima aos<br />

mitos e outras formas de literatura oral. Para Arbex (1995), a telenovela faz sua comunicação<br />

com o especta<strong>do</strong>r pela identificação deste com a trama. Já Marcondes Filho (1988) faz uma<br />

análise <strong>do</strong> poder das telenovelas diante de seu público:<br />

A telenovela faz parte, <strong>do</strong>mina, preenche o cotidiano das pessoas, e, na maioria <strong>do</strong>s<br />

casos, de forma mais rica, mais densa e emocionante que a própria vida. A<br />

imediaticidade deve-se ao fato de ela estar assim ‘colada’ ao cotidiano de cada um e<br />

substituir um convívio social que por uma série de fatores não se dá mais, mas<br />

principalmente, por entrar para esse convívio através de um componente de<br />

familiaridade. (MARCONDES FILHO, 1988, p.45, apud GOMES, 2007, p.49)<br />

Para Gomes (1998), um <strong>do</strong>s motivos da atração <strong>do</strong> público pelas novelas é que as<br />

tramas têm como objetivo resolver situações de conflito e eliminar a ambigüidade. Segun<strong>do</strong> a<br />

autora, por trás de to<strong>do</strong>s os gêneros narrativos e dramáticos se encontram os dramas sociais e<br />

a telenovela tem a função de colocar o telespecta<strong>do</strong>r na dimensão cotidiana, levan<strong>do</strong>-o a rever<br />

seus próprios papéis sociais. Questionan<strong>do</strong> como um grupo de indivíduos elege um gênero<br />

narrativo para com ele se identificar, Gomes afirma que<br />

<strong>do</strong> ponto de vista <strong>do</strong>s seus efeitos catárticos, a telenovela realiza aquilo que<br />

chamamos de alocação de responsabilidades, colocan<strong>do</strong>-nos diante <strong>do</strong>s<br />

procedimentos, inclusive lingüísticos, de resolução de conflitos existentes em<br />

nossa sociedade. (GOMES, 1998, p.25-26)<br />

Gomes (1998) explica que as narrativas das telenovelas revelam as experiências que se<br />

identificam com os dramas sociais <strong>do</strong> seu público-alvo. A autora afirma que o espaço que a<br />

telenovela tem na vida social brasileira se deve ao fato de relatar experiências de indivíduos<br />

com <strong>identidade</strong> dividida, que está diante de duas formas de tradição opostas : uma a moderna,<br />

que se apresenta como inevitável e que a telenovela relata apresentan<strong>do</strong> as mudanças sociais;<br />

a outra é a puramente tradicional, que corresponde aos valores que seriam inquestionáveis e<br />

eternos. A autora lembra que estes <strong>do</strong>is sistemas de valores sempre estão presentes nas<br />

telenovelas, a exemplo das tragédias gregas, e que as tramas oferecem soluções como a<br />

vingança ou a relativização <strong>do</strong>s fatos. A autora ressalta que na telenovela, diferente <strong>do</strong> que<br />

56


ocorre na tragédia, não há confronto explícito entre essas duas propostas, mas que há uma<br />

convivência implícita.<br />

3.2.1 O que é a telenovela?<br />

Para definir telenovela, Alencar (2004) lembra a análise de Janete Clair: “novela o<br />

próprio nome já diz: um novelo que vai se desenrolan<strong>do</strong> aos poucos”. (ALENCAR, 2004,<br />

p.44). O autor afirma que novela vem <strong>do</strong> italiano novella, da forma latina novella, de<br />

novellus, novella, novellum, adjetivo diminutivo deriva<strong>do</strong> de novus, nova, novum. Alencar<br />

cita ainda os conceitos de Pallotini (1988), de que o nome novela significava, na idade média,<br />

enre<strong>do</strong>, originan<strong>do</strong> daí a narrativa enovelada, trançada, que estava ligada ao fabuloso. Só no<br />

romantismo a novela começaria a ter o senti<strong>do</strong> literário que possui atualmente. (PALLOTINI,<br />

1998, apud ALENCAR, 2004, p. 44).<br />

Leite e Guerra (2002) explicam que um produto televisivo pode ter três tipos de<br />

classificação: localização, formato e estilo de texto ou gênero. Quanto à localização, que<br />

compreende o espaço geográfico e temporal onde estão sen<strong>do</strong> gravadas as cenas, a obra pode<br />

ser atual, de época, urbana e regional; e por estilo de texto, a obra pode ser humorística,<br />

musical, infanto – juvenil, de aventura, de drama, de auditório ou jornalística. Já o formato é<br />

como se desenvolve a produção, gravação e exibição <strong>do</strong> produto televisivo, poden<strong>do</strong> ser<br />

classificada em: aberta, fechada e semi-aberta.<br />

Como neste trabalho está sen<strong>do</strong> estudada a telenovela, pode-dizer que ela é um gênero<br />

de dramaturgia, sen<strong>do</strong> considerada obra aberta, já que a produção <strong>do</strong> texto, gravação e sua<br />

exibição se dão simultaneamente, e é por isso que muitas vezes algumas personagens tem sua<br />

história aumentada na trama ou o final da novela modifica, seguin<strong>do</strong> apelos <strong>do</strong>s especta<strong>do</strong>res.<br />

As autoras lembram que nas obras fechadas o texto já está acaba<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> o público<br />

assiste à encenação e na obra semi-aberta os processos de texto e gravação são simultâneos,<br />

mas a exibição só se dá a<strong>pós</strong> o término das duas outras etapas de produção. Quanto à<br />

classificação por localização, a telenovela varia, poden<strong>do</strong> ser gravada na época atual ou se<br />

passar em perío<strong>do</strong>s anteriores, o que exige que atores, figurinos e cenário acompanhem a<br />

época retratada, com uma pesquisa <strong>do</strong> contexto sócio-histórico em que se passará a história.<br />

Ten<strong>do</strong> duração média de sete a oito meses, a telenovela normalmente é dividida em<br />

núcleos dramáticos. De acor<strong>do</strong> com Leite e Guerra (2002), a telenovela se constrói em tempo<br />

57


muito próximo <strong>do</strong> cotidiano, o que consolida os conceitos de Barbero (1997) para as<br />

referências às mediações exercidas pela televisão. A estrutura de produção das novelas é mais<br />

ou menos fixa em cada trama, o que possibilita uma certa fidelidade <strong>do</strong>s especta<strong>do</strong>res, que<br />

ficam acostuma<strong>do</strong>s com a fórmula de produção e exibição e passam a criar um hábito de<br />

assisti-las.<br />

3.3 Telenovela e <strong>identidade</strong><br />

Hollanda (2003) estuda a relação entre a telenovela e <strong>identidade</strong> usan<strong>do</strong> os estu<strong>do</strong>s de<br />

Geertz (1989). Para a autora, o gênero tende a promover certa educação sentimental através<br />

de um processo de reconhecimento <strong>do</strong>s especta<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s seus conflitos existenciais nas<br />

experiências das personagens, que se daria através da convivência com as narrativas das<br />

tramas. O resulta<strong>do</strong> desta relação para a <strong>identidade</strong> é que os telespecta<strong>do</strong>res podem rever suas<br />

posições e papéis sociais de acor<strong>do</strong> com os conflitos e dramas vivi<strong>do</strong>s pelas personagens e as<br />

atitudes por elas tomadas. Esta identificação <strong>do</strong>s especta<strong>do</strong>res muitas vezes também ocorre<br />

em relação a hábitos de <strong>consumo</strong> e estilos de vida, já que as novelas sugerem soluções de<br />

conflitos de <strong>identidade</strong> muitas vezes através de mudanças ligadas ao poder de compra e status,<br />

como se as alterações na aparência modificassem o esta<strong>do</strong> emocional das personagens.<br />

Hollanda explica que o processo de identificação que ocorre hoje nas telenovelas é<br />

similar ao que acontecia através de contos de fadas e outros tipos de literatura que forneceram<br />

muitas das características narrativas para as tramas, como o paradigma da Cinderela, que será<br />

analisa<strong>do</strong> ainda neste capítulo. Hollanda compara a identificação que a <strong>identidade</strong> sofreria na<br />

exposição à telenovela com a situação vivida na sociedade da alta <strong>modernidade</strong>, ou como<br />

neste trabalho convencionamos intitular, <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong>.<br />

A novela não é feita por quem a assiste e não é um ritual no qual é preciso atuar. Ela<br />

está inserida no ritmo <strong>do</strong> cotidiano ao mesmo tempo que promete descansar e relaxar<br />

desse mesmo cotidiano, mas trata igualmente de sentimentos.[...].Ademais, a novela<br />

efetua comentários acerca de uma sociedade em processo de<br />

transformação.(HOLLANDA, 2003, p.207)<br />

58


Hollanda (2003) lembra que a novela pode influenciar a <strong>identidade</strong> na medida em que<br />

apresenta série de hierarquias de classe, potencial de <strong>consumo</strong>, gênero, raça e como se deve<br />

chegar a alcançar os status de prestígio e poder. Segun<strong>do</strong> a autora, as novelas nem sempre<br />

expõem aos telespecta<strong>do</strong>res mun<strong>do</strong>s semelhantes aos seus, mas ao mesmo tempo usa<br />

sentimentos e relações sociais que permitem a compreensão de todas essas situações.<br />

Hollanda cita Raymond Williams (1992), que comenta que o drama televisiona<strong>do</strong> foi<br />

propulsor de certas estruturas de sentimento, ou tendências de comportamento e crenças, que<br />

mesmo que pareçam soluções de ordem técnica, são na verdade uma nova forma de encarar o<br />

mun<strong>do</strong>. (WILLIANS, 1992, apud HOLLANDA, 2003)<br />

Hollanda explica que, para Williams, as estruturas de sentimento são associadas às<br />

formas narrativas, onde se desenvolvem, interagem com a sociedade e tornam-se parte dela,<br />

atuan<strong>do</strong> na formação da parte sensível ou ligada à subjetividade da <strong>identidade</strong>. É neste<br />

processo de formação da sensibilidade (sentimentos, crenças, valores) que a novela pode<br />

permitir que os telespecta<strong>do</strong>res se identifiquem com os personagens. A autora explica que a<br />

narrativa e seus diversos personagens e estilos são fonte de informações sobre as práticas<br />

<strong>cultura</strong>is da sociedade.<br />

Para Giddens (1991 apud Hollanda, 2003), a noção da reflexividade está presente na<br />

<strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong> e é uma reconstrução constante <strong>do</strong> eu, colocan<strong>do</strong> em xeque a manutenção<br />

de padrões tradicionais, sen<strong>do</strong> promovida pelos meios de comunicação de massa e pelos<br />

movimentos sociais que questionam a tradição. Hollanda explica que este processo de<br />

reflexividade se dá na experiência <strong>do</strong> especta<strong>do</strong>r de novelas, pelas comparações que fazem<br />

entre as personagens e as pessoas com quem convivem em suas vidas cotidianas. A autora cita<br />

também conceitos de Meyrowitz (1986), lembran<strong>do</strong> que a novela mostra ao público contextos<br />

<strong>cultura</strong>is em meio à apresentação de grande quantidade de bens e serviços, difundin<strong>do</strong><br />

inclusive diversos estilos de vida. (MEYROWITZ, 1986, apud HOLLANDA, 2003).<br />

A relação, portanto, entre novelas e <strong>identidade</strong> passa pela difusão <strong>do</strong>s estilos de vida,<br />

objeto de estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> próximo subitem. De acor<strong>do</strong> com Hollanda, a novela mostra como usar os<br />

bens de <strong>consumo</strong> e como eles podem ser utiliza<strong>do</strong>s como forma de diferenciação social. Pode<br />

ocorrer então a promoção da educação <strong>do</strong>s sentimentos através <strong>do</strong> processo de identificação<br />

com a telenovela, permitin<strong>do</strong> ao telespecta<strong>do</strong>r a possibilidade de a<strong>do</strong>tar mudança de papéis<br />

sociais, redefinin<strong>do</strong> padrões familiares e estilos de vida.<br />

59


3.4 Telenovelas, <strong>consumo</strong> e estilos de vida<br />

Qual a relação entre telenovela, <strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong> e estilos de vida? Através <strong>do</strong><br />

fenômeno da midiatização, a telenovela acaba tornan<strong>do</strong>-se media<strong>do</strong>ra das relações sociais,<br />

assim como outras instituições como família, escola, Esta<strong>do</strong>, e difundin<strong>do</strong> padrões de<br />

comportamento basea<strong>do</strong>s usualmente na <strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong>. Sen<strong>do</strong> formas transitórias de<br />

<strong>identidade</strong>, (Hall, 2003), produzidas pela <strong>cultura</strong> <strong>pós</strong>-moderna, pelos fenômenos da<br />

midiatização, aceleração <strong>do</strong> fluxo de informações, compressão <strong>do</strong> espaço-tempo e<br />

fragmentação da <strong>identidade</strong>, os estilos de vida são resulta<strong>do</strong> também da <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong>.<br />

Assim, a telenovela - como to<strong>do</strong>s os produtos <strong>cultura</strong>is produzi<strong>do</strong>s pelos meios de<br />

comunicação - difundem estilos de vida, que os indivíduos podem a<strong>do</strong>tar em função <strong>do</strong> meio<br />

social em que vivem, trabalham ou desejam se inserir.<br />

Como é basea<strong>do</strong> comumente na aparência, no poder de <strong>consumo</strong>, vestimenta e bens, o<br />

estilo de vida é efêmero, sen<strong>do</strong> facilmente troca<strong>do</strong> por outro. O processo pelo qual o<br />

especta<strong>do</strong>r a<strong>do</strong>ta um estilo de vida apresenta<strong>do</strong> na telenovela é o da identificação com a<br />

personagem, explica<strong>do</strong> no subitem anterior. Mas o que define quais estilos de vida a<br />

telenovela irá apresentar e quais farão mais sucesso entre o público? Como já analisa<strong>do</strong> por<br />

Gomes (1998) e Barbero (1997), a telenovela é pautada pelo cotidiano familiar e influenciada<br />

pelo público, que pode, inclusive, ser consulta<strong>do</strong> quanto à mudança <strong>do</strong>s capítulos e à duração<br />

da novela. Alencar (2004) lembra que em várias situações os autores pedem a opinião <strong>do</strong>s<br />

telespecta<strong>do</strong>res para o destino de um personagem. Assim, a sintonia com as preferências <strong>do</strong>s<br />

telespecta<strong>do</strong>res e com as características de <strong>identidade</strong> individual e coletiva pode definir que<br />

tipos de estilos de vida a novela divulgará e que terão mais chance de serem a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s pelo<br />

público.<br />

Os temas apresenta<strong>do</strong>s nas telenovelas normalmente são escolhi<strong>do</strong>s de acor<strong>do</strong> com o<br />

público que pretende alcançar e o horário que serão exibidas. Como no presente trabalho o<br />

objetivo é tratar de telenovelas brasileiras globais <strong>do</strong> horário das 21h, pode-se dizer que os<br />

conteú<strong>do</strong>s giram em torno da <strong>cultura</strong> urbana e em assuntos como poder, status, beleza, corpo,<br />

relações sociais e afetivas. Os estilos de vida, por sua vez, refletem estes temas. Segun<strong>do</strong><br />

Alencar (2004),<br />

60


Os padrões de comportamento ou as atitudes consideradas legítimas para homens e<br />

mulheres constituem-se nestas construções de gênero da mídia. As novelas<br />

legitimam a figura da mulher batalha<strong>do</strong>ra, associadas às camadas médias e altas <strong>do</strong>s<br />

grandes centros urbanos. Ao la<strong>do</strong> desse aspecto há construção <strong>do</strong> padrão de beleza<br />

e corpo, ideais inatingíveis pela desigualdade social. Na busca <strong>do</strong> corpo ideal, o<br />

<strong>consumo</strong> se generaliza. (ALENCAR, 2004, p. 192)<br />

Para Hollanda (2003), a novela efetua o papel de uma vitrine, que familiariza o<br />

especta<strong>do</strong>r com diversos estilos e modas. Para Cristiane Costa (2000 apud HOLLANDA,<br />

2003), as telenovelas têm algumas características que favorecem a difusão e a a<strong>do</strong>ção de<br />

estilos de vida pelo público, entre eles os temas repeti<strong>do</strong>s e a identificação com narrativas<br />

advindas da literatura, que já foram historicamente sen<strong>do</strong> difundidas há diversas gerações,<br />

fazen<strong>do</strong> parte da tradição oral de algumas sociedades.<br />

Entre as principais características das novelas que facilitam a identificação <strong>do</strong> público<br />

com as personagens estão a dificuldade de realização <strong>do</strong> par romântico heterossexual e uma<br />

revisitação <strong>do</strong> conto de fadas da Cinderela, que na história original é uma menina órfã de pai<br />

que vive como empregada até receber a visita de uma fada madrinha, ten<strong>do</strong> acesso a um baile<br />

no castelo de um príncipe rico graças a um vesti<strong>do</strong> e carruagem de luxo. Esta narrativa<br />

normalmente é atualizada nas novelas comumente através de uma personagem de mulher<br />

batalha<strong>do</strong>ra e pobre que acaba ascenden<strong>do</strong> socialmente pela mudança de <strong>identidade</strong> através da<br />

aparência e da descoberta de uma herança ou formalização de um casamento.<br />

Conjugan<strong>do</strong> as ideias aqui expostas com os conceitos de Williams (1992), que afirma<br />

que as estruturas de sentimento são associadas às formas narrativas, pode-se entender que é<br />

assim que as telenovelas interagem com os telespecta<strong>do</strong>res. Como afirma Hollanda (2003), os<br />

estilos de vida fazem parte <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> através <strong>do</strong> qual os especta<strong>do</strong>res se identificam com os<br />

personagens, enquanto que estes estilos acabam por se incorporar às práticas <strong>cultura</strong>is da<br />

sociedade. É possível concluir, desta forma, que as telenovelas oferecem várias opções de<br />

estilos de vida, basea<strong>do</strong>s comumente na <strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong>.<br />

Como as relações sociais nas sociedades urbanas ocidentais na <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong> estão<br />

basicamente mediadas pelos meios de comunicação, é possível dizer que as telenovelas são<br />

produtos <strong>cultura</strong>is que estão dentro <strong>do</strong> contexto de difusão de padrões de <strong>consumo</strong> pela<br />

midiatização que, segun<strong>do</strong> Sodré (2002), é o processo pelo qual os meios de comunicação,<br />

nas sociedades capitalistas urbanas ocidentais, funcionam como intermediários nas relações<br />

sociais e identitárias e passam a substituir cada vez mais instituições que antes realizavam<br />

esse papel media<strong>do</strong>r, como família, escola e igreja.<br />

61


Ao difundir a <strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong>, as telenovelas oferecem como solução possível para<br />

os conflitos de <strong>identidade</strong> os diversos estilos de vida. Pode-se deduzir, portanto, que a<br />

telenovela faz parte da <strong>cultura</strong> midiática que influencia as relações sociais e a formação da<br />

<strong>identidade</strong>, difundin<strong>do</strong> a <strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong> e contribuin<strong>do</strong> para a formação <strong>do</strong>s estilos de<br />

vida, também resulta<strong>do</strong> da urbanização, industrialização, compressão <strong>do</strong> espaço-tempo e<br />

aceleração <strong>do</strong> fluxo de informações.<br />

3.5 A importância <strong>do</strong> figurino para a composição das personagens nas telenovelas<br />

Para Maia (2007), as personagens das telenovelas podem influenciar na configuração<br />

<strong>do</strong>s indivíduos e das estruturas sociais, sen<strong>do</strong> exemplos <strong>do</strong> impacto da mídia, especificamente<br />

da televisão, na estrutura identitária. De acor<strong>do</strong> com a autora, esta relação de influência se dá<br />

através da mediação social <strong>do</strong>s meios de comunicação nas relações entre sujeitos. Assim, uma<br />

personagem pode influenciar opiniões, comportamentos e reforçar papéis sociais. Como um<br />

<strong>do</strong>s principais recursos <strong>do</strong>s quais se utilizam os atores na composição de uma personagem, o<br />

figurino é um <strong>do</strong>s mais importantes, poden<strong>do</strong> estar associa<strong>do</strong> à difusão de estilos de vida, já<br />

que reflete a imagem da personagem.<br />

Segun<strong>do</strong> Velho (2000), a importância <strong>do</strong> figurino nas encenações televisivas,<br />

particularmente nas telenovelas, se compara à vestimenta nas cerimônias religiosas ou<br />

místicas, em que as roupas são como parte <strong>do</strong>s rituais. Sobre a importância das roupas para a<br />

construção <strong>do</strong>s personagens, Barthes (1981) explica que a vestimenta, como figurino é um<br />

elemento plástico, se unin<strong>do</strong> ao cenário e demais componentes da cena.<br />

De acor<strong>do</strong> com Leite e Guerra (2002), a escolha <strong>do</strong> figurino não é só uma necessidade<br />

de vestir os atores segun<strong>do</strong> as características <strong>do</strong> espetáculo, mas de acor<strong>do</strong> com a estrutura <strong>do</strong><br />

corpo de cada um, o que exige que o figurinista faça um planejamento. Em função <strong>do</strong> tipo de<br />

encenação, o figurino muda de características, varian<strong>do</strong> em função <strong>do</strong> meio em que a<br />

encenação é transmitida ao público, ten<strong>do</strong> relação também com a porção e o peso estético <strong>do</strong>s<br />

elementos em cena e a distância <strong>do</strong> expecta<strong>do</strong>r.<br />

Os figurinos das encenações <strong>do</strong> teatro, cinema e televisão são diferentes, segun<strong>do</strong> Leite<br />

e Guerra (2002). No teatro, eles devem ter ótimo acabamento, já que o espetáculo é encena<strong>do</strong><br />

várias vezes, já no cinema e na televisão não há necessidade de tanta perfeição, pois as lentes<br />

podem ocultar detalhes de imperfeição. Leite e Guerra (2002) afirmam que o figurino é tão<br />

62


importante para a composição das personagens que é um indicativo de mudanças temporais e<br />

espaciais, transformações psicológicas e de status.<br />

Associan<strong>do</strong> a relação entre figurino e sua importância na composição das personagens,<br />

pode-se concluir, portanto, que a mudança de estilos de vida nas novelas está intrinsecamente<br />

ligada às mudanças de figurino. Poden<strong>do</strong> ser elemento de grande importância na difusão da<br />

<strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong>, o mo<strong>do</strong> como uma personagem se veste traz um valor simbólico de<br />

comportamento e de atitude e pode contribuir para a identificação <strong>do</strong> público, pelo processo<br />

de identificação analisa<strong>do</strong> no item 3.3. Expostos os conceitos sobre novela, estrutura<br />

narrativa, processo de identificação <strong>do</strong> público com a trama e da construção de personagens, o<br />

próximo capítulo aplicará estes e os conceitos <strong>do</strong>s capítulos anteriores à uma telenovela em<br />

particular, através <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> de caso a seguir.<br />

63


Capítulo 4 Estu<strong>do</strong> de caso com a novela Paraíso Tropical<br />

4.1 Apresentação <strong>do</strong> tema e problema<br />

O estu<strong>do</strong> de caso apresenta<strong>do</strong> a seguir tem como objetivo analisar a novela Paraíso<br />

Tropical, de autoria de Gilberto Braga e Ricar<strong>do</strong> Linhares, sob o ponto de vista teórico<br />

exposto nos três primeiros capítulos <strong>do</strong> trabalho. O material a ser analisa<strong>do</strong> serão dez<br />

capítulos em fitas de vídeo cassete da novela, exibida pela Rede Globo de Televisão entre<br />

março e setembro de 2007, no horário das 21h. Uma análise <strong>do</strong>s principais núcleos<br />

dramáticos, perfil das personagens e resumo <strong>do</strong>s capítulos (em anexo) acompanhará o estu<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> material, além de fotos das principais personagens (também em anexo).<br />

Os capítulos entre as datas 28/08/2007 a 07/09/2007 foram escolhi<strong>do</strong>s por<br />

representarem o momento de “virada” da trama, no qual os principais conflitos são expostos e<br />

as primeiras soluções começam a surgir. Serão feitos <strong>do</strong>is tipos de análise: um retratan<strong>do</strong> os<br />

principais estilos de vida da telenovela e outro concentra<strong>do</strong> nas três principais personagens<br />

femininas da trama: Taís e Paula (ambas interpretadas por Alessandra Negrini) e Bebel<br />

(interpretada por Camila Pitanga).<br />

O objetivo geral <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> de caso é identificar quais são os estilos de vida mais comuns<br />

na telenovela, como estes são expostos (através de figurino, comportamento etc.) e que<br />

importância eles têm para a construção das personagens e para a difusão da <strong>cultura</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>consumo</strong> no contexto da novela. O objetivo específico é contextualizar os principais estilos de<br />

vida das personagens com o referencial teórico <strong>do</strong>s três primeiros capítulos da dissertação,<br />

discutin<strong>do</strong> os conceitos de <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong>, midiatização, <strong>identidade</strong> e <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong>.<br />

Será feita uma análise ao final <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> de caso da contribuição deste para a dissertação<br />

como um to<strong>do</strong>.<br />

A hipótese a ser analisada neste estu<strong>do</strong> de caso é que os estilos de vida difundi<strong>do</strong>s na<br />

telenovela Paraíso Tropical representam uma tensão entre o mo<strong>do</strong> fordista de produção,<br />

liga<strong>do</strong> ao trabalho com objetivo de acúmulo de capital, e o mo<strong>do</strong> <strong>pós</strong>-fordista, liga<strong>do</strong> ao<br />

he<strong>do</strong>nismo, ou seja, o culto ao lazer e ao prazer imediato em detrimento <strong>do</strong>s objetivos a longo<br />

prazo. As temáticas são relevantes para analisar o advento da <strong>cultura</strong> <strong>pós</strong>-moderna, quan<strong>do</strong> os<br />

indivíduos deixam de ter como objetivo principal <strong>do</strong> trabalho a obtenção de renda e status,<br />

64


com atividades fixas, para terem qualificações mais flexíveis, priorizan<strong>do</strong> a qualidade de vida<br />

e ganhan<strong>do</strong> mais possibilidades de mobilidade social pelo <strong>consumo</strong>. (BAUMAN, 2001).<br />

Sobre as três personagens escolhidas, a hipótese é que a personagem Bebel representa a<br />

mudança de <strong>identidade</strong> através da aparência e as gêmeas Paula e Taís sugerem os <strong>do</strong>is<br />

caminhos possíveis para as mulheres na <strong>cultura</strong> <strong>pós</strong>-moderna: a ascensão social através da<br />

aparência, no caso da última, e através <strong>do</strong> trabalho (no caso da primeira). As três personagens<br />

põem em discussão temas como beleza, corpo, juventude, relações afetivas e padrões de<br />

<strong>consumo</strong>.<br />

Para analisar os capítulos da telenovela e as personagens, serão utiliza<strong>do</strong>s os conceitos<br />

já apresenta<strong>do</strong>s nesta dissertação sobre <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong>, <strong>identidade</strong>, estilos de vida e <strong>pós</strong>-<br />

<strong>modernidade</strong>, dan<strong>do</strong> ênfase aos fenômenos de compressão de espaço e tempo, aceleração <strong>do</strong><br />

fluxo de informações e fragmentação da <strong>identidade</strong>.<br />

4.2 Discutin<strong>do</strong> a relação entre <strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong>, <strong>identidade</strong>, <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong> e estilos de<br />

vida em Paraíso Tropical<br />

Toman<strong>do</strong> por base os objetivos e a hipótese levanta<strong>do</strong>s nesta dissertação, pode-se inferir<br />

que a midiatização é uma das fontes de maior influência para formação de estilos de vida<br />

basea<strong>do</strong>s na <strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong>. Neste estu<strong>do</strong> de caso, o produto midiático estuda<strong>do</strong> é a<br />

telenovela, que foi escolhida por atingir público de todas as classes e idades e por ser um <strong>do</strong>s<br />

produtos de maior destaque no horário considera<strong>do</strong> nobre das emissoras de televisão abertas<br />

(entre 21h e 22h), o que pressupõe maior audiência em relação aos demais programas<br />

midiáticos.<br />

O estu<strong>do</strong> de caso com a novela Paraíso Tropical será realiza<strong>do</strong> à luz de diversos<br />

conceitos: <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong>, midiatização, <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong> e estilos de vida, sen<strong>do</strong> dada<br />

ênfase ao fenômeno de fragmentação da <strong>identidade</strong>. A trama será abordada ainda, utilizan<strong>do</strong><br />

duas das referências apontadas por Barbero (1997) para a mediação social exercida pela TV: a<br />

cotidianidade família e a temporalidade social.. É importante ressaltar que neste subitem será<br />

realiza<strong>do</strong> um entrelaçamento <strong>do</strong> eixo teórico da dissertação com a estrutura temática central<br />

da novela (seguin<strong>do</strong> a ordem sequencial em que estão disponibiliza<strong>do</strong>s os conceitos ao longo<br />

<strong>do</strong>s três capítulos anteriores), não sen<strong>do</strong> discuti<strong>do</strong> o impacto da novela na <strong>identidade</strong> <strong>do</strong><br />

público, mas sim a relação entre a <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong> e a fragmentação identitária das<br />

65


personagens dentro da novela, culminan<strong>do</strong> nos estilos de vida. Esta discussão inicial servirá,<br />

portanto, de guia e eixo de ligação entre a parte teórica e a análise propriamente dita da<br />

telenovela Paraíso Tropical.<br />

Analisan<strong>do</strong> as características da telenovela sob a ótica da <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong>, pode-se<br />

dizer que ela demonstra a transição da <strong>modernidade</strong> para o perío<strong>do</strong> atual, ao apresentar as<br />

relações de trabalho numa grande empresa, o grupo Cavalcante, ainda com características<br />

fordistas, como a hierarquia vertical, centralizada em Antenor Cavalcante (interpreta<strong>do</strong> por<br />

Tony Ramos) e a característica um tanto familiar, pela presença <strong>do</strong> sobrinho <strong>do</strong> <strong>do</strong>no Olavo<br />

(interpreta<strong>do</strong> por Wagner Moura) e de alguém que é considera<strong>do</strong> um filho para Antenor,<br />

Daniel (interpreta<strong>do</strong> por Fábio Assunção).<br />

A alusão <strong>do</strong> próprio Antenor a sua forma de administrar sua carreira na estratégia “self<br />

made man” (homem que se construiu a si mesmo, característica atribuída ao empresário<br />

Henry Ford, de onde derivou o termo fordismo) também é outro indício de tendência fordista.<br />

Além dessas características, fica claro na empresa que o ritmo de trabalho e as funções são<br />

rígi<strong>do</strong>s e não há muito espaço para criatividade, sen<strong>do</strong> privilegiadas as relações puramente<br />

associativas, baseadas na realização de interesses e competitividade. (CASTELLS, 2000). Um<br />

<strong>do</strong>s fatos que confirma isso é que um <strong>do</strong>s funcionários da empresa, Heitor (interpreta<strong>do</strong> por<br />

Daniel Dantas) opta por sair <strong>do</strong> emprego para exercer a função de cozinheiro no restaurante<br />

de Cássio (interpreta<strong>do</strong> por Marcelo Anthony) e fica feliz quan<strong>do</strong><br />

é elogia<strong>do</strong>, pois afirma que isto nunca lhe aconteceu no antigo emprego.<br />

A crise destas características rígidas de trabalho e a substituição <strong>do</strong> sistema fordista de<br />

produção pelo <strong>pós</strong>-fordista, com a compressão <strong>do</strong> espaço e tempo e aceleração <strong>do</strong> fluxo de<br />

informações, é discutida por Harvey, Castells e Sennett. Enquanto Harvey explica que a<br />

tendência vertical de organização tende a ser eliminada e que a retirada dela tem impacto<br />

sobre as <strong>identidade</strong>s coletivas de trabalho, acentuan<strong>do</strong> a instantaneidade e descartabilidade,<br />

Castells afirma que as sociedades estão historicamente determinadas mediante relações<br />

históricas de poder, experiência e produção e que as instituições hierarquizam os sujeitos<br />

segun<strong>do</strong> sua posição no processo produtivo.<br />

Sennett (1999) tem uma visão um pouco mais pessimista sobre a flexibilização na<br />

relação de trabalho, dizen<strong>do</strong> que a fragmentação pode afetar o caráter pessoal e acabar por<br />

refletir nas relações familiares e sociais, fazen<strong>do</strong> com que os indivíduos mudem tanto de<br />

trabalho ou tenham que despender tantas horas no serviço para atender aos imperativos de<br />

merca<strong>do</strong> que não conseguem formar um caráter pessoal e passá-los para seus filhos. Essa<br />

discussão é exibida na trama pela personagem Antenor, pois depois que a esposa se separa<br />

66


dele ao descobrir um de seus casos amorosos, ele começa a admitir as transações de corrupção<br />

com as quais estava envolvi<strong>do</strong> na empresa e começa a mudar seus valores tanto relaciona<strong>do</strong>s<br />

ao trabalho quanto à família.<br />

A influência da <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong> na construção das personagens e no contexto da<br />

trama de Paraíso Tropical é tão relevante que foi um <strong>do</strong>s motivos da escolha da telenovela<br />

para este estu<strong>do</strong> de caso. Desde o local escolhi<strong>do</strong> para a filmagem da maioria das cenas da<br />

novela (o bairro de Copacabana) até a área econômica que é fonte de renda da maioria das<br />

personagens – o turismo – e o próprio eixo temático das relações sociais, familiares e até<br />

político-econômicas da trama, confirmam que Paraíso Tropical tem como um <strong>do</strong>s fatores<br />

preponderantes de discussão a <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong>. O bairro de Copacabana é apresenta<strong>do</strong> na<br />

trama como o cartão postal da cidade <strong>do</strong> Rio de Janeiro, local onde os turistas encontram<br />

to<strong>do</strong>s os tipos de lazer, inclusive o sexual, e que todas as classes sociais podem conviver.<br />

Sen<strong>do</strong> um bairro onde a principal atividade econômica é o turismo, Copacabana é<br />

aborda<strong>do</strong> em Paraíso Tropical como uma vitrine de estilos de vida, pois as <strong>identidade</strong>s <strong>do</strong>s<br />

indivíduos que ali transitam são baseadas na aparência. Os relacionamentos também são<br />

voláteis e efêmeros. Esta imagem que Copacabana é o local para exercer este tipo de<br />

comportamento é totalmente intencional, tanto que a música de abertura da telenovela<br />

“Sába<strong>do</strong> em Copacabana” (em anexo) relata a história de uma pessoa que trabalha a semana<br />

inteira esperan<strong>do</strong> o dia em que possa encontrar um lugar para passear, jantar e namorar e que<br />

voltará na semana seguinte para conseguir um novo amor. A imagem, portanto, de que o<br />

bairro serve para o lazer, turismo e encontros amorosos é nitidamente reforçada na abertura e<br />

na trilha sonora da trama.<br />

O comportamento das personagens de alicerçar suas vidas na <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong> pode<br />

ser confirmada na análise <strong>do</strong>s núcleos dramáticos e principais estilos de vida nos subitens<br />

posteriores, mas pode-se dizer que o perfil da maioria das personagens é composto de<br />

socialites, executivos de classe alta e média alta, pessoas de classe média alta que almejam<br />

subir para classe alta ou pessoas de classe média baixa que querem o status de riqueza. Há<br />

também as personagens pobres que, através de relacionamentos amorosos e alguns tipos de<br />

golpes, conseguem por uns dias frequentar a alta sociedade. A discussão, portanto, da<br />

telenovela, está toda alicerçada no status obti<strong>do</strong> através <strong>do</strong> poder de compra, de como obtê-lo<br />

e como mantê-lo. Quem nunca teve o poder de compra ou o perdeu, procura manter as<br />

aparências através de bens materiais rotula<strong>do</strong>s como de luxo – imóveis, roupas de grife e<br />

joias.<br />

Ao estudar o impacto da <strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong> na <strong>identidade</strong>, Slater (2002) afirma que a<br />

67


fragmentação é evidente e que valores como local de origem, profissão e esta<strong>do</strong> civil passam<br />

a não ter mais preponderância para definir o status identitário, que passa a ser qualifica<strong>do</strong> de<br />

acor<strong>do</strong> com o poder de <strong>consumo</strong>. Para o autor, essa é a característica principal da<br />

<strong>modernidade</strong> em transição para a <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong>, quan<strong>do</strong> o eixo identitário começa a se<br />

deslocar da tradição para o <strong>consumo</strong>.<br />

Sobre o mesmo fenômeno, Hall (2003) constrói o conceito de crise de <strong>identidade</strong>, que<br />

seria o processo de mudança onde se deslocam as estruturas centrais da sociedade e abalam as<br />

referências <strong>do</strong>s indivíduos, que é vivenciada por várias personagens ao longo da novela<br />

Paraíso Tropical. As personagens Antenor (interpretada por Tony Ramos) e Ana Luisa<br />

(interpretada por Renée de Vielmond) vivem esta crise ao se separarem a<strong>pós</strong> 34 anos de<br />

casamento e Heitor (interpreta<strong>do</strong> por Daniel Dantas) ao sair da empresa onde trabalhou<br />

durante anos para assumir cargo com salário menor no restaurante de Cássio (interpreta<strong>do</strong> por<br />

Marcelo Anthony).<br />

É importante ressaltar que entre as personagens <strong>do</strong> núcleo de protagonistas que sofrem<br />

maiores mudanças de personalidade, basea<strong>do</strong>s na sua relação com a <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong> estão<br />

Bebel (interpretada por Camila Pitanga) e Antenor. O movimento das duas personagens, no<br />

entanto, é inverso no que diz respeito a usar a aparência e o poder de <strong>consumo</strong> para definir sua<br />

<strong>identidade</strong>. Enquanto a primeira sempre tem intenção de utilizar cada vez mais as relações<br />

amorosas para subir na escala social, o segun<strong>do</strong> passa a diminuir a importância <strong>do</strong>s rótulos<br />

materiais a<strong>pós</strong> sua separação, se reavalian<strong>do</strong> como empresário, cidadão e chefe de família.<br />

A <strong>identidade</strong>, portanto, como exemplificada na novela Paraíso Tropical, torna-se móvel<br />

sobre a influência da <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong>, que é difundida, sobretu<strong>do</strong>, através da midiatização,<br />

que é o fenômeno através <strong>do</strong> qual os meios de comunicação passam a ser mais importantes na<br />

mediação social (nas sociedades ocidentais capitalistas) <strong>do</strong> que as instituições antes<br />

consideradas como funda<strong>do</strong>ras da tradição <strong>cultura</strong>l: família, escola e igreja. (SODRÉ, 2001).<br />

Como neste estu<strong>do</strong> de caso o objetivo não é avaliar a recepção da telenovela, não será<br />

observa<strong>do</strong> o impacto da difusão da <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong> via midiatização no público-alvo, mas<br />

será feita uma análise de como a telenovela difundiu estilos de vida e comportamentos liga<strong>do</strong>s<br />

ao <strong>consumo</strong> e ao lazer (especificamente nos subitens posteriores) e <strong>do</strong> mecanismo através <strong>do</strong><br />

qual este produto midiático pode sugestionar o público a a<strong>do</strong>tar comportamentos e valores.<br />

A telenovela Paraíso Tropical demonstra os conceitos de estilo de vida de Featherstone<br />

(1995) - individualidade, autoexpressão e consciência de si estilizada que cada vez mais não<br />

estariam liga<strong>do</strong>s a status fixos - pois são numerosos os movimentos de subida e descida na<br />

escala social das personagens, basea<strong>do</strong>s na obtenção ou perda <strong>do</strong> poder de compra. Pode-se<br />

68


concluir, portanto, a<strong>pós</strong> um breve entrelaçamento <strong>do</strong> eixo teórico <strong>do</strong>s três primeiros capítulos<br />

da dissertação com a análise de Paraíso Tropical, que a difusão da <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong> pode<br />

influenciar na criação de estilos de vida através de vestimenta, alimentação e lazer.<br />

A análise mais específica da forma como a telenovela difunde os estilos de vida já será<br />

descrita nos subitens posteriores, caben<strong>do</strong> neste item analisar como e por meio de que<br />

conteú<strong>do</strong> a telenovela Paraíso Tropical pode sugestionar o público a a<strong>do</strong>tar valores e<br />

comportamentos liga<strong>do</strong>s ao <strong>consumo</strong>. De acor<strong>do</strong> com Hollanda (2003) os telespecta<strong>do</strong>res<br />

reveem suas posições e papéis sociais segun<strong>do</strong> os dramas e conflitos vivi<strong>do</strong>s pelas<br />

personagens. Utilizan<strong>do</strong> o conceito de reflexividade – que seria a reconstrução constante <strong>do</strong><br />

eu –, a autora afirma que este processo tem ligação direta com os meios de comunicação e que<br />

a telenovela serviria como referência para as práticas <strong>cultura</strong>is da sociedade, como discuti<strong>do</strong><br />

no subitem 3.3 desta dissertação.<br />

Sen<strong>do</strong> assim, como já relata<strong>do</strong> no final <strong>do</strong> terceiro capítulo, as telenovelas são difusoras<br />

de estilos de vida, que podem influenciar opinião e valores. Por relatarem conflitos e dramas<br />

semelhantes aos vivi<strong>do</strong>s pelos especta<strong>do</strong>res e terem sua estrutura narrativa e de temporalidade<br />

próxima ao cotidiano, as telenovelas tem estrutura propensa a influenciar na formação da<br />

<strong>identidade</strong> <strong>do</strong>s indivíduos na <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong>. Este fenômeno pode ser demonstra<strong>do</strong> através<br />

das referências apontadas por Barbero para a mediação social exercida pela TV na <strong>identidade</strong>:<br />

cotidiano familiar e temporalidade social.<br />

Pode-se deduzir que Paraíso Tropical discute a cotidianidade familiar ao falar <strong>do</strong><br />

drama das gêmeas que foram criadas separadas e da tentativa de Taís matar Paula para tomar<br />

o seu status financeiro. A novela é repleta de discussões morais e familiares que desconstroem<br />

os valores tradicionais próprios <strong>do</strong> início da <strong>modernidade</strong>: a indissolubilidade <strong>do</strong> casamento e<br />

a legitimação social <strong>do</strong> divórcio (que se deu nos anos 1960 no Brasil) são retrata<strong>do</strong>s com o<br />

pedi<strong>do</strong> de separação da personagem Ana Luísa (Reneé de Vielmond) nos primeiros capítulos<br />

da trama.<br />

A<strong>pós</strong> 34 anos de união, a esposa de Antenor Cavalcante não aceita a traição <strong>do</strong> mari<strong>do</strong><br />

e, mesmo ten<strong>do</strong> comportamento tradicional – não tem renda própria e cuida da casa –,<br />

reconstrói sua vida sozinha. Mulher de meia-idade, ela inicia tempos depois um romance com<br />

um homem na faixa <strong>do</strong>s 30 anos, que vem a ser um companheiro fiel e comprometi<strong>do</strong> com os<br />

valores familiares, priorizan<strong>do</strong> o caráter da companheira, em detrimento da juventude. Na<br />

impossibilidade de ter filhos, ela a<strong>do</strong>ta com o novo mari<strong>do</strong> uma criança negra de cinco anos<br />

de idade e vai morar no exterior.<br />

A história de Ana Luísa e Lucas, seu segun<strong>do</strong> mari<strong>do</strong>, é um <strong>do</strong>s vários exemplos da<br />

69


telenovela no qual os paradigmas tradicionais estão sen<strong>do</strong> rompi<strong>do</strong>s em detrimento da<br />

construção de novas <strong>identidade</strong>s e de valores <strong>pós</strong>-modernos de relacionamento. Os valores de<br />

casamento, divórcio, idade, beleza, maternidade, paternidade e relacionamentos afetivo-<br />

sexuais são relativiza<strong>do</strong>s na telenovela, que os discute como se pudessem ser vistos por<br />

diversos prismas, e encaixa<strong>do</strong>s nas diversas <strong>identidade</strong>s de uma só pessoa (nas diversas fases<br />

da vida) ou de pessoas diferentes.<br />

Nenhuma das opções ou estilos de vida difundidas na telenovela é classificada como<br />

certa ou errada, mas sim adequada a determina<strong>do</strong>s momentos ou situações, sen<strong>do</strong> ajusta<strong>do</strong>s<br />

até conforme situações de conflito inesperadas, poden<strong>do</strong> ser utiliza<strong>do</strong>s como soluções<br />

momentâneas. Esse mo<strong>do</strong> de viver de praticamente to<strong>do</strong>s os personagens da novela também<br />

se aplica ao casal protagonista, que apesar de ter características românticas, a<strong>do</strong>ta, em alguns<br />

momentos, artimanhas típicas <strong>do</strong>s vilões, com intenção de se protegerem.<br />

Outros fatores bastante discuti<strong>do</strong>s na telenovela são os valores de juventude, lazer e a<br />

opção de solteirice como estilo de vida e não como fracasso em relacionamentos anteriores,<br />

falta de crença na vida a <strong>do</strong>is ou falha de caráter. A personagem Cássio é um exemplo desta<br />

escolha, pois ele assume socialmente a opção de permanecer solteiro, embora mantenha<br />

valores morais como honestidade, generosidade e sinceridade com as mulheres, deixan<strong>do</strong><br />

claro que só não deseja o casamento. A personagem nunca foi casada e não teve nenhum<br />

trauma amoroso exposto na história e quan<strong>do</strong> toma conhecimento que tem um filho com<br />

Lúcia (interpretada por Glória Pires), ele o assume financeiramente e lhe dá apoio moral e<br />

educacional, mas avisa que o relacionamento entre os <strong>do</strong>is será de “amigos”, pois não é seu<br />

desejo ser pai de família. Ao final da trama, a personagem assume judicialmente a paternidade<br />

e tem outro filho com uma nova companheira, dizen<strong>do</strong> que “demorei muito para amadurecer<br />

nesta questão de paternidade”.<br />

Desconstruin<strong>do</strong> padrões de idade, beleza, matrimônio e maternidade, a telenovela<br />

apresenta a personagem Lúcia (interpretada por Glória Pires), que teve um romance quan<strong>do</strong><br />

jovem com Cássio, <strong>do</strong> qual nasceu Mateus (interpreta<strong>do</strong> por Gustavo Leão), mas preferiu<br />

esconder <strong>do</strong> namora<strong>do</strong> a gravidez, pois o parceiro havia lhe deixa<strong>do</strong> bem claro que não queria<br />

filhos. Para não sofrer uma decepção e proteger o filho, ela assume o bebê sozinha, in<strong>do</strong><br />

morar no esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Espírito Santo durante anos. Voltan<strong>do</strong> ao Rio de Janeiro aos 41 anos,<br />

Lúcia conhece Antenor, que está na faixa <strong>do</strong>s 50 anos e com ele assume união estável e tem<br />

um filho no final da trama. A personagem reconstrói a vida e é apresentada como símbolo de<br />

beleza e ao mesmo tempo de independência, pois mantém sua empresa (um albergue) mesmo<br />

ten<strong>do</strong> um mari<strong>do</strong> rico.<br />

70


A temporalidade social da novela se mostra através da engrenagem de ciclos, pois em<br />

vez de conflitos maiores que só se solucionam no final da trama (como a maioria das novelas<br />

das 21h globais exibidas antes de Paraíso Tropical), vários conflitos menores ocorrem desde<br />

o início da história e se resolvem, surgin<strong>do</strong> outros dentro dessas soluções ou origina<strong>do</strong>s de<br />

outras circunstâncias. A telenovela está sempre se renovan<strong>do</strong> e não há movimento tedioso e<br />

linear, não sen<strong>do</strong> previsível ao longo da trama (pelo menos até o perío<strong>do</strong> de clímax analisa<strong>do</strong><br />

nesta dissertação), qual o destino <strong>do</strong>s personagens, com exceção <strong>do</strong> principal par romântico da<br />

trama.<br />

Pode-se deduzir que o fluxo temporal da novela foi adapta<strong>do</strong> ao cotidiano<br />

contemporâneo, no qual as circunstâncias de profissão, status social, esta<strong>do</strong> civil, moradia e<br />

posições sociais e afetivas <strong>do</strong> indivíduo <strong>pós</strong>-moderno estão sempre mudan<strong>do</strong>, obrigan<strong>do</strong>-o a<br />

uma constante reinvenção da própria <strong>identidade</strong>. As personagens da novela Paraíso Tropical<br />

sempre estão começan<strong>do</strong> e recomeçan<strong>do</strong> suas vidas em função das mudanças de<br />

circunstâncias. Como os conceitos utiliza<strong>do</strong>s por Slater para a fragmentação da <strong>identidade</strong><br />

frente à <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong> <strong>pós</strong>-moderna, não há regras fixas e rígidas de valores e<br />

comportamento.<br />

O par romântico principal da novela, Paula e Daniel, segue algumas tradições originadas<br />

da literatura e melodrama, como o paradigma de Cinderela, aponta<strong>do</strong> por Cristiane Costa<br />

(2000) como bastante comum nas telenovelas. Apesar de ter fica<strong>do</strong> claro na trama que Daniel<br />

foi o bom mocinho que fez com que Paula saísse <strong>do</strong> status de classe média baixa para classe<br />

média alta, sua companheira não é passiva e nem sempre é salva por ele, como nos contos de<br />

fada. Independente, em muitas cenas Paula toma decisões importantes e no início da novela é<br />

ela quem salva o ama<strong>do</strong> de um afogamento.<br />

O casal também demonstra que não possui somente características boas e expressa<br />

abertamente emoções como raiva, ódio e até alguma violência, quan<strong>do</strong> usam táticas ilícitas<br />

(como invadir o computa<strong>do</strong>r de Olavo) para provar que o vilão havia desvia<strong>do</strong> dinheiro <strong>do</strong><br />

Grupo Cavalcante. Paula e Daniel são protagonistas ativos e não ficam o tempo to<strong>do</strong><br />

lamentan<strong>do</strong> as injustiças sofridas, esperan<strong>do</strong> respostas externas, como nas literaturas<br />

românticas tradicionais ou novelas mexicanas, em que os mocinhos sofrem a novela toda e só<br />

conseguem ser felizes no final.<br />

71


4.3 Análise <strong>do</strong>s principais núcleos dramáticos da novela e suas relações com o <strong>consumo</strong> e<br />

mobilidade social<br />

Como o objetivo <strong>do</strong> presente trabalho é identificar a relação entre <strong>identidade</strong> e <strong>cultura</strong><br />

<strong>do</strong> <strong>consumo</strong> nas telenovelas e analisar o papel <strong>do</strong>s estilos de vida diante desse contexto, neste<br />

estu<strong>do</strong> de caso serão analisa<strong>do</strong>s os principais estilos de vida difundi<strong>do</strong>s pelas personagens e<br />

depois aqueles relaciona<strong>do</strong>s às três personagens femininas principais da trama. Na análise<br />

destes estilos de vida, será observa<strong>do</strong> o mo<strong>do</strong> como são expostos (através de figurino,<br />

comportamento) e que importância têm para a difusão da <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong> e para o<br />

contexto da trama. Neste subitem, será convencionada a divisão da telenovela em quatro<br />

núcleos dramáticos, por critério de classe social, status e semelhanças de estilos de vida. Será<br />

feito ao longo desta divisão uma explanação das temáticas centrais da trama. É importante<br />

lembrar que esta segmentação da trama em núcleos foi realizada especificamente para atingir<br />

os objetivos prescritos nesta pesquisa e que não representa a posição da emissora de televisão<br />

em que foi difundida.<br />

Abordan<strong>do</strong> a vida em várias camadas sociais, a questão da mobilidade social e a forma<br />

com que cada personagem se relaciona com o <strong>consumo</strong>, status e a relação entre trabalho e<br />

qualidade de vida, a novela tem quatro principais núcleos dramáticos: o de classe alta, o de<br />

classe média alta que decaiu, o de classe média baixa que deseja ascender e a pobre, que neste<br />

trabalho será analisada juntamente às personagens que sobrevivem de contravenções.<br />

Com base no alicerce teórico apresenta<strong>do</strong> nos três primeiros capítulos desta dissertação,<br />

infere-se que uma das principais propostas temáticas da novela é retratar a zona sul da cidade<br />

<strong>do</strong> Rio de Janeiro e principalmente o bairro de Copacabana, como um lugar onde pessoas de<br />

várias classes sociais conseguem conviver e que podem mudar de status (tanto para cima<br />

quanto para baixo) rapidamente, seja por trabalho honesto, contravenções, troca de favores ou<br />

relações amorosas. São expostos os mais varia<strong>do</strong>s estilos de vida e as personagens interagem<br />

tanto com o mun<strong>do</strong> da alta sociedade quanto com o submun<strong>do</strong> de Copacabana – da<br />

prostituição e pequenos delitos.<br />

O principal núcleo dramático da novela, que é o de classe alta, se concentra numa<br />

empresa administra<strong>do</strong>ra de uma rede de hotéis no Rio de Janeiro, o grupo Cavalcante, cujo<br />

<strong>do</strong>no é Antenor Cavalcante (interpreta<strong>do</strong> por Tony Ramos). A maior parte das personagens de<br />

toda a novela acaba se ligan<strong>do</strong> de alguma forma à empresa, que representa o trabalho liga<strong>do</strong> à<br />

acumulação de capital, com algumas características ainda atreladas às relações fordistas de<br />

72


trabalho, no qual a qualidade de vida e o lazer ficam em segun<strong>do</strong> plano.<br />

Os principais executivos <strong>do</strong> grupo Cavalcante são Daniel (interpreta<strong>do</strong> por Fábio<br />

Assunção) – que é filho <strong>do</strong> caseiro de Antenor e é considera<strong>do</strong> como familiar por este – e<br />

Olavo (interpreta<strong>do</strong> por Wagner Moura), que é sobrinho <strong>do</strong> grande empresário. No início da<br />

trama, Antenor é muito inescrupuloso, mas acaba se modifican<strong>do</strong> a<strong>pós</strong> a separação da mulher,<br />

Ana Luísa (interpretada por Reneé de Vielmond). Daniel assume no decorrer da trama um<br />

importante cargo na empresa e é demiti<strong>do</strong> por causa de manobras ilícitas de Olavo. Depois de<br />

desviar verbas da empresa e planejar a morte da mãe, <strong>do</strong> irmão e assassinar a principal vilã da<br />

história, Tais (interpretada por Alessandra Negrini), Olavo morre ao final da trama durante<br />

uma briga com o irmão, que também acaba falecen<strong>do</strong>.<br />

O núcleo <strong>do</strong> grupo Cavalcante contrasta com o <strong>do</strong> restaurante Frigideira Carioca, de<br />

Cássio (interpreta<strong>do</strong> por Marcelo Anthony), que, apesar de ser muito disciplina<strong>do</strong> com o<br />

trabalho, não deixa de praticar esportes radicais e caminhadas na praia, privilegian<strong>do</strong> a<br />

qualidade de vida e o prazer, acima <strong>do</strong> acúmulo de capital. Pode-se deduzir que os <strong>do</strong>is<br />

núcleos da trama – o de classe alta e o de classe média alta (representa<strong>do</strong> principalmente por<br />

Cássio e as personagens ligadas ao restaurante) apresentam as mudanças <strong>do</strong>s indivíduos na<br />

sua relação com o trabalho e a possibilidade de mobilidade social, ocorridas durante a<br />

transição da <strong>modernidade</strong> para a <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong>, que segun<strong>do</strong> autores como Slater (2002),<br />

são mais intensas a partir da segunda metade <strong>do</strong> século XX.<br />

No grupo Cavalcante, os valores fordistas ainda estão latentes, e no núcleo <strong>do</strong><br />

restaurante de Cássio e as personagens a ele liga<strong>do</strong>s, o importante é a qualidade de vida e a<br />

criatividade no trabalho, características mais próximas de uma empresa <strong>pós</strong>-fordista. Cássio é<br />

um representante de classe média alta que não se importa de continuar no mesmo patamar,<br />

privilegian<strong>do</strong> o trabalho como meio de alcançar prazer na vida. Mantém com Taís<br />

(interpretada por Alessandra Negrini) uma relação aberta no início da trama e é contrário a<br />

casamentos ou compromissos formais, até conhecer Joana (interpretada por Fernanda<br />

Macha<strong>do</strong>).<br />

O terceiro núcleo da novela é de personagens de classe média baixa, como a família de<br />

Nely (Beth Goulart) e Heitor (Daniel Dantas) e as filhas, Joana (interpretada por Fernanda<br />

Macha<strong>do</strong>) e Camila (Patrícia Werneck) e socialites decadentes que moram no prédio da área<br />

menos nobre de Copacabana (Copamar), entre eles o casal Belisário Cavalcante (Hugo<br />

Carvana) e Virgínia (Yoná Magalhães), que são sustenta<strong>do</strong>s por mesada de Antenor<br />

(interpreta<strong>do</strong> por Tony Ramos). Este núcleo é marca<strong>do</strong> por personagens que desejam ascender<br />

socialmente ou que já estiveram na classe média alta, mas perderam seu status. Também<br />

73


fazem parte desse grupo os pais de Lúcia (interpretada por Glória Pires), que, ao contrário <strong>do</strong>s<br />

mora<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Copamar, são felizes com sua situação financeira. Ao voltar <strong>do</strong> Espírito Santo,<br />

Lúcia monta um albergue no casarão <strong>do</strong>s pais, em sociedade com Paula (Alessandra Negrini).<br />

O quarto núcleo da novela é o de pobres honestos ou que têm objetivo de ascender<br />

socialmente a qualquer preço: através de crimes, prostituição, chantagens ou relações<br />

amorosas. Jader (interpreta<strong>do</strong> por Chico Diaz) é uma das principais personagens desde<br />

núcleo, um cafetão que sai da Bahia com Bebel (interpretada por Camila Pitanga) para tentar<br />

a vida em Copacabana e vive da exploração da prostituição, furtos, falsificações e outras<br />

contravenções. Bebel é prostituta <strong>do</strong> bordel da mãe de Paula no início da trama e graças a seu<br />

poder de sedução, consegue muitas vantagens financeiras se envolven<strong>do</strong> com executivos<br />

como Antenor e Olavo, por quem se apaixona.<br />

No final da novela, Bebel se casa com um sena<strong>do</strong>r e ao longo da trama sofre várias<br />

mudanças de <strong>identidade</strong>, de prostituta a mulher sofisticada, voltan<strong>do</strong> para garota de programa<br />

e vice-versa. Outro importante integrante deste núcleo é Ivan (interpreta<strong>do</strong> por Bruno<br />

Gagliasso), que inicia a trama com um emprego humilde no principal hotel de Antenor<br />

Cavalcante, sen<strong>do</strong> filho de uma socialite decadente, Marion Novaes (interpretada por Vera<br />

Holtz) e meio-irmão de Olavo, viven<strong>do</strong> de pequenos furtos. Ele acaba se envolven<strong>do</strong> com<br />

Taís e pratican<strong>do</strong> diversos crimes.<br />

No núcleo classe baixa da novela, ainda estão as personagens pobres, mas que<br />

sobrevivem de trabalho honesto, como Eloísa (interpretada por Roberta Rodrigues), que<br />

trabalha no restaurante de Cássio, e Zoraide (interpretada por Thais Garayp), que é<br />

empregada <strong>do</strong>méstica de Antenor Cavalcante há muitos anos e no final da telenovela viaja<br />

com Ana Luisa para o exterior.<br />

Além de ser marcada pela discussão da mobilidade social e trabalho para o acúmulo de<br />

capital ou qualidade de vida, outra temática importante da novela é a relação entre duas irmãs<br />

gêmeas interpretadas por Alessandra Negrini: Paula e Taís. Enquanto a primeira mora na<br />

Bahia no início da trama, onde a mãe é <strong>do</strong>na de um bordel, a segunda mora no Rio e é criada<br />

pelo avô, que nunca lhe contou sobre a irmã. As duas acabam tornan<strong>do</strong>-se rivais, porque<br />

Paula, que sempre quis ganhar a vida honestamente, se apaixona por Daniel (grande executivo<br />

<strong>do</strong> grupo Cavalcanti) e Taís planeja tomar o lugar da irmã para casar com o executivo e herdar<br />

o dinheiro da empresa. Para conseguir o que deseja, Taís é capaz de tentar matar a irmã duas<br />

vezes, forjan<strong>do</strong> também sequestro <strong>do</strong> irmão a<strong>do</strong>tivo para extorquir dinheiro da sua família,<br />

sen<strong>do</strong> também acusada da morte <strong>do</strong> artesão Eval<strong>do</strong>.<br />

Pode-se concluir, portanto, que sob o pano de fun<strong>do</strong> da discussão sócio-política <strong>do</strong> valor<br />

74


<strong>do</strong> trabalho e da mobilidade social frente a transição da <strong>modernidade</strong> para a <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong><br />

e das mudanças que a <strong>identidade</strong> sofre perante os fenômenos típicos da contemporaneidade,<br />

como a difusão da <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong> e formação <strong>do</strong>s estilos de vida, a novela Paraíso<br />

Tropical é material para estudar também os dramas familiares e suas respectivas relações com<br />

as referências apontadas por Barbero para explicar influência da televisão na mediação das<br />

relações sociais e identitárias: a cotidianidade familiar e a temporalidade social.<br />

As questões teóricas levantadas ao longo <strong>do</strong>s três primeiros capítulos serão discutidas a<br />

seguir toman<strong>do</strong> por objeto de estu<strong>do</strong> os principais estilos de vida da novela como um to<strong>do</strong>. Já<br />

a análise das três principais personagens femininas da trama será feita com base nos dez<br />

capítulos escolhi<strong>do</strong>s da telenovela: de 28/08/2007 a 07/09/2007 e nos conceitos de <strong>pós</strong>-<br />

<strong>modernidade</strong>, <strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong>, <strong>identidade</strong> e estilos de vida.<br />

4.4 Principais estilos de vida da telenovela Paraíso Tropical<br />

Como explana<strong>do</strong> no item anterior, a telenovela Paraíso Tropical tem como<br />

característica principal expor as escolhas de <strong>consumo</strong> das personagens como marca de sua<br />

<strong>identidade</strong>, num ambiente onde o turismo e o comércio são as fontes principais de renda. A<br />

volatilidade das <strong>identidade</strong>s, assim como das relações sociais, familiares e afetivas é um fator<br />

preponderante na trama.<br />

A novela Paraíso Tropical, como já explana<strong>do</strong> anteriormente, é difusora de diversos<br />

estilos de vida e discute valores como trabalho liga<strong>do</strong> ao acúmulo de capital e ao status social<br />

ou qualidade de vida, beleza, juventude, aparência e relações fluidas, temas relevantes para a<br />

análise da <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong> segun<strong>do</strong> Bauman (2001), Slater (2002) e Jameson (1993). Mas a<br />

trama também discute temas morais e mais dura<strong>do</strong>uros como valores familiares, de caráter e<br />

conflitos sociais.<br />

Ao longo da história, ocorrem várias mudanças de status motivadas ou por escolhas em<br />

prol da qualidade de vida, por casamento, ou por contravenções. Heitor é um exemplo de<br />

personagem que muda de estilo de vida ao sair <strong>do</strong> grupo Cavalcante, onde era gerente de<br />

vendas, para preferir um trabalho mais tranquilo e que realizava seus anseios de criatividade.<br />

Bebel ascende socialmente por relacionamentos afetivos várias vezes, com Olavo, Antenor e,<br />

no final da trama, com um sena<strong>do</strong>r. Taís, que começa a novela como trabalha<strong>do</strong>ra autônoma<br />

de classe média baixa venden<strong>do</strong> joias e trabalhan<strong>do</strong> em eventos, tem os momentos de classe<br />

75


média alta, quan<strong>do</strong> troca de <strong>identidade</strong> com Paula, mas ao final da trama acaba ten<strong>do</strong> seus<br />

crimes descobertos e passa a viver uma vida de fuga, moran<strong>do</strong> em hotéis baratos e descen<strong>do</strong> o<br />

status para pobre.<br />

A novela se passa em Copacabana, que é um bairro da zona sul <strong>do</strong> Rio conheci<strong>do</strong> por<br />

atrair vários turistas e pela diversidade <strong>cultura</strong>l, abrigan<strong>do</strong> desde socialites até prostitutas e<br />

cafetões. Os principais estilos de vida expostos na novela acompanham a divisão<br />

convencionada neste trabalho em núcleos dramáticos. Serão expostos os cinco tipos de estilo<br />

de vida correspondentes, liga<strong>do</strong>s à difusão de <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong> e resulta<strong>do</strong> da fragmentação<br />

da <strong>identidade</strong> frente ao sistema <strong>pós</strong>-fordista de produção, aceleração <strong>do</strong> fluxo de informações,<br />

compressão espaço-tempo e outros processos próprios da <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong>.<br />

Os principais exemplos de estilos de vida propostos pelo núcleo de classe alta são o de<br />

Antenor Cavalcante e Olavo. Os executivos mostram a sua <strong>identidade</strong> não somente através de<br />

sua profissão, mas através <strong>do</strong> dinheiro gasto em carros luxuosos, garotas de programa,<br />

apartamentos e roupas caras. O caráter sempre liga<strong>do</strong> ao acúmulo de capital e humor sujeito a<br />

altos e baixos são marcantes nas personagens, assim como a desvalorização <strong>do</strong>s vínculos mais<br />

dura<strong>do</strong>uros como a família (a esposa, no caso de Antenor e a mãe e o irmão, no caso de<br />

Olavo).<br />

Tanto Olavo como Antenor privilegiam as relações associativas, baseadas em interesse<br />

profissional e troca de favores até no campo familiar e amoroso, em detrimento das relações<br />

afetivas (CASTELLS, 2000). A construção de relacionamentos flui<strong>do</strong>s e a dificuldade de<br />

manter um caráter (no senti<strong>do</strong> da<strong>do</strong> por Sennett (1999), de conjunto de valores que continuam<br />

com o ser humano durante toda a vida) são outras características das personagens, que mudam<br />

seu comportamento de acor<strong>do</strong> com o interesse material que os move. Antenor muda de<br />

comportamento no meio da trama e começa a reparar algum de seus danos, a<strong>pós</strong> seu divórcio<br />

e casamento posterior com Lúcia (interpretada por Glória Pires).<br />

Aplican<strong>do</strong> as teorias explanadas nos três primeiros capítulos, é possível concluir que os<br />

estilos de vida propostos por esses personagens são de <strong>identidade</strong> baseada no status de<br />

profissional bem-sucedi<strong>do</strong> no ramo <strong>do</strong> turismo, sustentada pelo poder de compra. A<br />

importância deste estilo de vida para as personagens e contexto da trama é que sua aparência e<br />

status difundem o estereótipo de empresários que promovem a corrupção e são responsáveis<br />

ou se envolvem indiretamente nos principais crimes da novela liga<strong>do</strong>s a grandes somas de<br />

dinheiro. A <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong> é, nestas personagens, vivida no seu extremo, já que elas se<br />

definem pelo que podem comprar.<br />

No segun<strong>do</strong> núcleo dramático da telenovela, é possível citar como exemplo principal o<br />

76


personagem Cássio (interpreta<strong>do</strong> por Marcelo Anthony), que possui renda equivalente à<br />

classe média alta, mas que privilegia a qualidade de vida em detrimento <strong>do</strong> acúmulo de capital<br />

através <strong>do</strong> trabalho. O estilo de vida proposto por este personagem é o <strong>do</strong> adulto jovem entre<br />

30 e 40 anos, solteiro convicto, empresário, mas praticante de esportes radicais. Cássio<br />

demonstra esse estilo de vida por suas roupas caras, mas despojadas, pelos carros e por seu<br />

restaurante, que apesar de ser sofistica<strong>do</strong>, possui pratos mais populares. Ele também é adepto<br />

de relacionamentos afetivos flui<strong>do</strong>s, mas mantém relação de caráter basea<strong>do</strong>s em valores<br />

dura<strong>do</strong>uros com todas as pessoas com as quais convive, sen<strong>do</strong> honesto quanto à sua escolha<br />

de não ter compromisso matrimonial. Também é benevolente com to<strong>do</strong>s os funcionários e<br />

estimula a criatividade e participação na empresa, que está forjada pelos valores <strong>pós</strong>-fordistas<br />

de produção.<br />

Pode-se concluir, aplican<strong>do</strong> os conceitos de Bauman (2001), Slater (2002) e Jameson<br />

(1993) sobre <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong>, <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong> e estilos de vida, que Cássio é um<br />

empresário <strong>pós</strong>-moderno que privilegia o mo<strong>do</strong> he<strong>do</strong>nista de viver. Suas escolhas, como<br />

manter relacionamentos não oficializa<strong>do</strong>s, praticar esportes radicais, o mo<strong>do</strong> como cria o filho<br />

que vem a conhecer mais tarde (como se fosse seu amigo) e até o relacionamento dura<strong>do</strong>uro<br />

que inicia com Joana (interpretada por Fernanda Macha<strong>do</strong>) posteriormente (que não é<br />

registra<strong>do</strong> oficialmente), marcam o comportamento típico da contemporaneidade.<br />

No terceiro núcleo dramático da novela, há as personagens de classe média baixa que<br />

querem ascender ou que eram de classe média alta e decaíram. As personagens Belisário<br />

(interpreta<strong>do</strong> por Hugo Carvana) e Virgínia (interpretada por Yoná Magalhães) são um casal<br />

de socialites que perderam to<strong>do</strong> o dinheiro e vivem da mesada de Antenor, mas que fazem<br />

questão de manter as aparências <strong>do</strong> status social de classe média alta através de roupas de<br />

grife, joias e presença em eventos sociais da alta sociedade. Eles demonstram esse estilo de<br />

vida quan<strong>do</strong> optam por gastarem sua renda para aparentar ter mais dinheiro <strong>do</strong> que realmente<br />

têm, em vez de prover recursos mais importantes para a subsistência. A opção por morar em<br />

Copacabana, que é um bairro tradicional de zona sul onde ocorrem importantes eventos como<br />

o Ano Novo, embora de moradia mais barata que outros, como Leblon e Ipanema, também<br />

marca o estilo de vida <strong>do</strong>s ex-socialites.<br />

No quarto núcleo dramático da telenovela, o maior representante <strong>do</strong> estilo de vida que<br />

vive de contravenções é Jader, que promete a Bebel uma vida de luxo ao trazê-la da Bahia<br />

para o Rio de Janeiro, mas a coloca no calçadão de Copacabana para explorá-la como<br />

prostituta. Além de ser cafetão, Jader (interpreta<strong>do</strong> por Chico Diaz), ganha dinheiro com<br />

extorsão, falsificações e outros negócios escusos, que mantém com executivos como Olavo.<br />

77


Possui diversos apartamentos (conjuga<strong>do</strong>s) onde mantém algumas pessoas que trabalham para<br />

ele, como a própria Bebel e Ivan (interpreta<strong>do</strong> por Bruno Gagliasso).<br />

Jader se considera o “rei <strong>do</strong> calçadão” e tem muitas relações com altos executivos, seus<br />

clientes, a quem oferece o trabalho das garotas de programa e realiza falsificações e outras<br />

transações ilícitas. Seu comportamento, o mo<strong>do</strong> de falar erra<strong>do</strong>, as roupas que lembram o<br />

estereótipo <strong>do</strong> malandro carioca, compõem um estilo de vida daquele personagem que tira<br />

vantagem e consegue dinheiro aparentemente sem fazer muito esforço. A importância <strong>do</strong><br />

estilo de vida de Jader para o contexto da trama é que ele é a personagem que<br />

pre<strong>do</strong>minantemente transita entre todas as classes sociais, servin<strong>do</strong> de ligação entre as<br />

personagens de to<strong>do</strong>s os núcleos dramáticos e vários crimes.<br />

Com a apresentação <strong>do</strong>s núcleos dramáticos da telenovela convenciona<strong>do</strong>s neste<br />

trabalho e os principais estilos de vida difundi<strong>do</strong>s por cada um, é possível perceber que a<br />

<strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong> e o mo<strong>do</strong> de vida <strong>pós</strong>-moderno <strong>do</strong>minam as personagens e o que<br />

caracteriza seus comportamentos são a luta para obtenção de status, a perda deste status ou a<br />

obtenção dele, mesmo sem intenção. Personagens como Paula e Bebel são exemplos de<br />

posições opostas frente à obtenção de status: enquanto a primeira eleva sua classe social não<br />

intencionalmente ao casar com Daniel, Bebel luta para obter uma relação com um homem rico<br />

que lhe permita subir na escala social. As duas trocam completamente o figurino ao mudarem<br />

de posição social e de <strong>identidade</strong> dentro da sociedade. Paula, que nunca usou o corpo como<br />

instrumento de obtenção de status, passa a usar vesti<strong>do</strong>s de teci<strong>do</strong>s mais caros, flui<strong>do</strong>s, que<br />

valorizam a beleza, porém não exaltam a sensualidade em primeiro plano. Já Bebel, ao se<br />

relacionar com um homem rico, passa a usar vesti<strong>do</strong>s justos, de teci<strong>do</strong>s que marcam as curvas<br />

<strong>do</strong> corpo e joias caras, evidencian<strong>do</strong> os decotes.<br />

A mudança de <strong>identidade</strong> das personagens, portanto, está acompanhada de mudança de<br />

aparência e de poder de compra. O trabalho e o valor que cada personagem lhe dá, bem como<br />

o que se faz com a renda adquirida também é um tema recorrente na novela. No núcleo de<br />

classe média baixa, Joana luta para juntar dinheiro para comprar uma loja, mas acaba sen<strong>do</strong><br />

roubada pelo namora<strong>do</strong>. Quan<strong>do</strong> conhece Cássio, ganha de presente uma loja e passa também<br />

a mudar o estilo de cabelo, maquiagem e figurino. Sua mudança de status para classe média<br />

alta não é intencional, embora ela já estivesse procuran<strong>do</strong> um meio próprio de renda através<br />

da abertura de um comércio de flores.<br />

As personagens Bebel e Paula serão melhor analisadas nos subitens a seguir, enquanto<br />

que a conclusão da aplicação das teorias apresentadas nos três primeiros capítulos, com a<br />

intenção de responder aos objetivos deste estu<strong>do</strong> de caso e a contribuição para a dissertação<br />

78


como um to<strong>do</strong> fechará o capítulo.<br />

4.5 -Perfis das personagens a serem analisadas nos capítulos de 29/08/2007 a 07/09/2007<br />

(fonte: www.paraisotropical.globo.com )<br />

Taís (interpretada por Alessandra Negrini) - Bonita, egoísta e inteligente, vive na<br />

periferia da sociedade carioca. Seu maior desejo é fazer parte <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s ricos e faz de<br />

tu<strong>do</strong> para alcançar o que deseja. Vende joias e se diz representante de um designer estrangeiro<br />

que ela mesma inventou. Apesar de ter si<strong>do</strong> criada pelo avô Isi<strong>do</strong>ro (Othon Bastos), o tem<br />

como um peso que a impede de ascender socialmente. Namora Cássio (Marcelo Anthony),<br />

com quem mantém uma relação aberta.<br />

Paula (interpretada por Alessandra Negrini) - Bonita, sorridente, forte e decidida, não<br />

tem nada de ingênua. Muito ética, faz de tu<strong>do</strong> para ser justa com os outros. Foi criada por<br />

Amélia (Suzana Vieira), mas não concorda com a atividade profissional dela, que é <strong>do</strong>na de<br />

bordel. Sofreu preconceito por causa <strong>do</strong> trabalho da mãe, mas nunca deixou de amá-la e de<br />

respeitar as meninas que lá trabalham. Nem imagina, porém, que tem uma irmã gêmea.<br />

Romântica, vive um sonho <strong>do</strong>ura<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> conhece Daniel (Fábio Assunção).<br />

Bebel (interpretada por Camila Pitanga) - Linda, atraente e sem caráter, é uma das<br />

meninas <strong>do</strong> bordel de Amélia, onde mantém um ar de superioridade em relação às<br />

companheiras de trabalho. Ambiciosa e individualista, se torna amante <strong>do</strong> cafetão Jáder<br />

(Chico Diaz) e passa a trabalhar para ele no calçadão de Copacabana. Vai ter diversos<br />

envolvimentos amorosos, mas só se apaixonará por um homem: Olavo (Wagner Moura).<br />

79


4.5.1 Análise da personagem Bebel<br />

Dentre os elementos que compõem uma personagem estão, além <strong>do</strong> figurino, a trilha<br />

sonora, a maquiagem, os trejeitos, o sotaque e o vocabulário. Bebel (interpretada por Camila<br />

Pitanga), apesar de ser atriz coadjuvante, fazen<strong>do</strong> par romântico com Olavo (interpreta<strong>do</strong> por<br />

Wagner Moura), ocupou lugar de destaque na trama e para este trabalho pode ser a<br />

personagem que melhor exemplifica a mudança de <strong>identidade</strong> através da aparência e da<br />

<strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong>. Sen<strong>do</strong> mulata e com curvas bem definidas, tem o tipo físico típico da<br />

mulher brasileira que é preferida pelos turistas estrangeiros.<br />

Para a composição da personagem de prostituta, Bebel usava no início da trama um<br />

figurino extremamente sensual: collants tipo “engana-mamãe”, que se tornaram um modismo<br />

na época da novela. Inteiros na parte da frente e deixan<strong>do</strong> as costas nuas, esses collants eram<br />

em geral de crochê, o que realçava a cor da pele da atriz. Os cabelos encaracola<strong>do</strong>s, os brincos<br />

grandes e batons avermelha<strong>do</strong>s, as saias curtas e botas compridas completavam o figurino de<br />

garota de programa.<br />

Um <strong>do</strong>s jargões mais utiliza<strong>do</strong>s pela personagem era “catiguria”, que significava no<br />

contexto da trama sofisticação, valor pessoal e “borogodó”, que significava boa performance<br />

sexual. O rebola<strong>do</strong> e o jeito sempre sincero de ser completavam o perfil comportamental da<br />

baiana. O estilo de vida de Bebel é, portanto, alicerça<strong>do</strong> na obtenção de renda e status através<br />

<strong>do</strong> corpo e da juventude. Sua <strong>identidade</strong> é muito fragmentada, pois ela muda de estilo de vida<br />

pelo menos quatro vezes durante a trama. Uma das características que consegue modificar na<br />

sua personalidade, fora as roupas e o poder de compra, são as regras de etiqueta que aprende<br />

com Marion (interpretada por Vera Holtz).<br />

Na mudança de status no início <strong>do</strong> primeiro capítulo analisa<strong>do</strong> neste estu<strong>do</strong> de caso<br />

(28/08/2007) Bebel, a<strong>pós</strong> frequentar a alta sociedade com um cliente rico, comprar roupas de<br />

grife e adquirir comportamento de socialite (graças a um curso de etiqueta), acaba perden<strong>do</strong> o<br />

relacionamento e ten<strong>do</strong> que voltar para um <strong>do</strong>s apartamentos de Jader, colocan<strong>do</strong> suas roupas<br />

para vender. Ela implora trabalho para o cafetão e volta a vestir bustiês e saias curtas, para<br />

conseguir exercer sua profissão de garota de programa no calçadão de Copacabana.<br />

Ao voltar ao calçadão, Jader diz que Bebel perdeu o “rebola<strong>do</strong>” e não saberia mais<br />

exercer a profissão por ter fica<strong>do</strong> muito educada. Ela volta ao trabalho dizen<strong>do</strong> frase que<br />

define sua posição de “camaleoa” na trama, deixan<strong>do</strong> claro que usa estilos de vida como se<br />

fossem roupas em seu cabide: “estou mudada por fora, mas o borogodó nunca se perde”.<br />

80


Bebel muda de <strong>identidade</strong> através da aparência três vezes ao longo <strong>do</strong>s dez capítulos<br />

seleciona<strong>do</strong>s para este estu<strong>do</strong> de caso.<br />

No capítulo <strong>do</strong> dia 28/08/2007, Bebel está sem dinheiro e Jader resolve vestir um<br />

mendigo com roupa de rico e fazê-la acreditar que teria novamente um cliente de luxo. Este é<br />

mais um episódio da novela onde aparece a característica da sociedade atual de ser moldada<br />

pela <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong>, pois pela imagem <strong>do</strong> cliente, Bebel acredita que ele seja rico, e<br />

depois de atendê-lo, Jader faz com que o “cliente” minta dizen<strong>do</strong> que não gostou <strong>do</strong>s seus<br />

serviços. Em nenhum momento, ela duvida da classe social <strong>do</strong> homem. Bebel passa, então, ao<br />

longo <strong>do</strong>s dez capítulos analisa<strong>do</strong>s neste estu<strong>do</strong> de caso, de uma posição de quase socialite<br />

para a de prostituta, poden<strong>do</strong> isso ser nota<strong>do</strong> em to<strong>do</strong>s os componentes da personagem, desde<br />

a roupa, o cabelo até sua linguagem.<br />

Aplican<strong>do</strong> os conceitos já explana<strong>do</strong>s no subitem 4.2 de <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong>, difusão da<br />

<strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong> e impacto na <strong>identidade</strong> e formação de estilos de vida à personagem<br />

Bebel, pode-se dizer que ela utiliza diversos estilos de vida à disposição em Copacabana,<br />

conviven<strong>do</strong> com pessoas de várias classes sociais e ten<strong>do</strong> de ser pelo menos tolerada na alta<br />

sociedade muitas vezes por seus relacionamentos afetivos. Por esse motivo, sua <strong>identidade</strong> é<br />

fluida e muda de acor<strong>do</strong> com o ambiente e com o relacionamento que mantém – tanto de<br />

trabalho como afetivo. Por ser prostituta, o único relacionamento amoroso que mantém com<br />

característica de afetividade é com Olavo, que também é volátil, já que o executivo nunca<br />

assume publicamente um compromisso.<br />

Apesar de sua profissão e desvios de caráter, demonstra sinceridade nas suas atitudes e<br />

não é adepta de crimes mais graves, como assassinato, o que ajuda a compor uma personagem<br />

cômica. A importância <strong>do</strong> estilo de vida de Bebel para o contexto da trama é que ela<br />

representa toda a classe de prostitutas e <strong>do</strong> submun<strong>do</strong> de Copacabana que não<br />

necessariamente são criminosos intencionais, mas que buscam viver a vida através de troca de<br />

favores e algumas negociações com pessoas de moral duvi<strong>do</strong>sa.<br />

81


4.5.2 Análise da personagem Paula<br />

A personagem Paula, protagonista da trama junto com a irmã Taís, ambas personagens<br />

interpretadas pela atriz Alessandra Negrini, demonstra seu estilo de vida através da dedicação<br />

ao trabalho e suas roupas, que no início da novela são simples, de teci<strong>do</strong>s mais baratos e<br />

sempre discretas. Seu mo<strong>do</strong> de falar, trejeitos e maquiagem são suaves, ao contrário da irmã<br />

que prefere cores fortes e maquiagem mais pesada. Quan<strong>do</strong> sai da Bahia para morar no Rio de<br />

Janeiro, cria uma sociedade com Lúcia num albergue, evidencian<strong>do</strong> seu estilo de vida<br />

trabalha<strong>do</strong>r e simples.<br />

Apesar de sofrer mudança de status social para classe média alta ao casar com Daniel,<br />

esse ganho financeiro não é intencional, pois a relação entre os <strong>do</strong>is se baseia na afetividade e<br />

não na associatividade (Castells, 2000), alicerçada em valores dura<strong>do</strong>uros e não flui<strong>do</strong>s, como<br />

prevê Bauman (2001) ao falar da <strong>cultura</strong> <strong>pós</strong>-moderna. Mas apesar de a relação entre o casal<br />

protagonista ser tradicional no aspecto da afetividade, a cerimônia de casamento se enquadra<br />

mais nos moldes da <strong>modernidade</strong> em transição para a <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong>, pois Paula usa<br />

vesti<strong>do</strong> curto, o casamento é numa área ao ar livre e as relações <strong>do</strong> casal são praticamente<br />

igualitárias, sen<strong>do</strong> as decisões tomadas por ambos, ao contrário da tradicional divisão de<br />

tarefas típica <strong>do</strong>s casais antes <strong>do</strong> século XX.<br />

Paula também não é uma “mocinha” passiva e deixa claro sentimentos negativos e<br />

alguns erros, passan<strong>do</strong> uma imagem de humanidade e não de bondade extrema. Ao casar com<br />

Daniel, ela passa a vestir roupas mais sofisticadas e de teci<strong>do</strong>s mais caros, ten<strong>do</strong> um visual<br />

mais feminino. Ressaltan<strong>do</strong> a sua beleza e juventude, as roupas de Paula valorizam o corpo,<br />

mas sem exagero de sensualidade. Paula passa por quatro mudanças importantes de estilo de<br />

vida na trama, <strong>do</strong>is deles durante os dez capítulos analisa<strong>do</strong>s: ela inicia a novela como classe<br />

baixa, filha da <strong>do</strong>na de um bordel em Marapuã, no esta<strong>do</strong> da Bahia; passa a ter uma vida de<br />

classe média baixa ao dividir sociedade com Lúcia num albergue e, entre os capítulos de<br />

28/08/2007 a 07/09/2007, ela muda de classe média alta e esposa de Daniel a presa e acusada<br />

de assassinato na delegacia, para depois ser solta e voltar a morar num apartamento em<br />

Ipanema.<br />

Sobre os objetivos e hipótese deste estu<strong>do</strong> de caso e a importância deles para a<br />

dissertação como um to<strong>do</strong>, pode-se deduzir que Paula é uma personagem que representa a<br />

transição entre a <strong>modernidade</strong> e <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong>, pois é uma mulher solteira de 31 anos no<br />

início da trama, independente e que não pretende utilizar o casamento como sustentáculo para<br />

82


sua vida financeira, apesar de valorizar os valores tradicionais <strong>do</strong> casamento. A importância<br />

<strong>do</strong> estilo de vida da personagem para a trama é que ela, juntamente com Daniel e Lúcia,<br />

equilibram os exemplos de moralidade na novela, mostran<strong>do</strong> que é possível possuir uma<br />

renda alta e usufruir <strong>do</strong> poder de compra, mudan<strong>do</strong> o estilo de vida, mas sem mudar o seu<br />

caráter, não deixan<strong>do</strong> que o <strong>consumo</strong> o defina.<br />

No aspecto <strong>do</strong>s valores morais, poderia ser dito que Paula não é absorvida pela <strong>cultura</strong><br />

de <strong>consumo</strong>, apesar de conviver e ter que, em alguns momentos, utilizar alguns recursos que<br />

ela dispõe para resolver questões importantes. A hipótese <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> de caso, portanto, se<br />

confirma. Usan<strong>do</strong> conceitos de Sennett (1999) sobre a corrosão <strong>do</strong> caráter frente à <strong>cultura</strong><br />

<strong>pós</strong>-moderna e <strong>pós</strong>-fordista, é possível afirmar que a personagem Paula mostra um caminho a<br />

ser segui<strong>do</strong> de construir uma narrativa para manter o caráter pessoal e as relações de<br />

confiança mútua, assunto aborda<strong>do</strong> no primeiro capítulo, subitem 1.3.1. Lembran<strong>do</strong> que<br />

Sennett considera que caráter seria os valores manti<strong>do</strong>s a longo prazo, no aspecto de lealdade<br />

e compromisso mútuo, e que as condições sócio-políticas <strong>do</strong> <strong>pós</strong>-fordismo estariam<br />

fragmentan<strong>do</strong> as <strong>identidade</strong>s e relações sociais.<br />

83


4.5.3- Análise da personagem Taís<br />

A personagem Taís, maior vilã da telenovela, ao la<strong>do</strong> de Olavo, interpretada pela atriz<br />

Alessandra Negrini, é o oposto de Paula em personalidade e estilo de vida. Usan<strong>do</strong> o corpo, a<br />

sensualidade e troca de favores para obtenção de status, Taís privilegia a aparência e o poder<br />

de compra como marca de personalidade. Usan<strong>do</strong> roupas justas, com decotes e de cores<br />

preferencialmente chamativas, a vilã pode ser diferenciada da irmã, através <strong>do</strong> cabelo que é<br />

totalmente liso e da maquiagem bem marcada por rímel e lápis preto nos olhos.<br />

Ao contrário de Paula, as relações de trabalho, sociais e amorosas de Taís são<br />

pre<strong>do</strong>minantemente associativas (movidas por interesse) e a única pessoa com quem mantém<br />

relações onde ocorre algum afeto é Ivan (interpreta<strong>do</strong> por Bruno Gagliasso), seu cúmplice<br />

tanto no sequestro de Zé Luiz (seu irmão a<strong>do</strong>tivo), que serviria para extorquir dinheiro de<br />

Paula, quanto na chantagem a Antenor.<br />

No início da trama, Taís mantém uma relação aberta com Cássio, que lhe ajuda<br />

financeiramente mais de uma vez, chega a ter um caso com Olavo e depois com Ivan. Suas<br />

relações amorosas, assim como as amizades, sempre têm como objetivo obter status ou<br />

mantê-lo, o que se enquadra nos padrões de relacionamento flui<strong>do</strong>s descritos por Bauman<br />

(2001). A personagem passa por várias mudanças de <strong>identidade</strong> ao longo da trama,<br />

começan<strong>do</strong> como trabalha<strong>do</strong>ra autônoma, mas se fazen<strong>do</strong> passar por representante de um<br />

designer de joias estrangeiro, ela trabalha depois como produtora de eventos para Marion, que<br />

lhe dá abrigo durante um tempo. Depois de ter seus crimes descobertos, seu status cai muito,<br />

pois passa a morar em hotéis baratos e a vestir jeans e camiseta.<br />

As relações profissionais, assim como sociais e familiares da personagem Taís também<br />

são voláteis e efêmeras, pois ela não consegue um emprego fixo por querer ganhar muito<br />

dinheiro fazen<strong>do</strong> pouco esforço. Quan<strong>do</strong> recebe a proposta de Antenor de separar Paula e<br />

Daniel, ela tem a ideia de matar a irmã e ocupar o lugar dela em seu casamento. O plano é<br />

descoberto pela Polícia e Taís e Ivan se tornam criminosos foragi<strong>do</strong>s. No capítulo <strong>do</strong> dia<br />

28/08/2007, os <strong>do</strong>is cúmplices estão num hotel muito pobre e são descobertos pela Polícia,<br />

sain<strong>do</strong> em fuga. Ela chantageia Antenor, pedin<strong>do</strong>-lhe R$ 1 milhão para fugir <strong>do</strong> país, mas um<br />

dia depois é encontrada morta no apartamento de Daniel e Paula. O mistério de sua morte só é<br />

revela<strong>do</strong> no fim da trama.<br />

Aplican<strong>do</strong> os conceitos de <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong>, difusão da <strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong> e seu<br />

impacto na <strong>identidade</strong> e formação <strong>do</strong>s estilos de vida à personagem Taís, pode-se dizer que<br />

84


sua <strong>identidade</strong> é totalmente forjada pela <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong>, mudan<strong>do</strong> de acor<strong>do</strong> com seus<br />

interesses, assim como seus relacionamentos. A importância <strong>do</strong> estilo de vida para a<br />

construção da personagem e contexto da trama é que Taís constrói uma <strong>identidade</strong> baseada na<br />

aparência e com objetivo de obter renda através de atividades ilícitas ou relacionamentos<br />

amorosos, sen<strong>do</strong> a principal vilã feminina da trama. Seu estilo de vida também contribui para<br />

diferenciá-la da irmã, que é igual a ela fisicamente, mas que tem comportamento moral e<br />

posição em relação ao <strong>consumo</strong> totalmente oposta.<br />

85


4.5.4 Conclusão <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> de caso e análise de sua contribuição para a dissertação<br />

Algumas conclusões podem ser tiradas deste estu<strong>do</strong> de caso e de sua importância para a<br />

discussão teórica anterior: A telenovela Paraíso Tropical demonstra, através <strong>do</strong>s estilos de<br />

vida das suas personagens, um contexto de transição da <strong>modernidade</strong> para a <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong>,<br />

através da discussão da tensão entre os mo<strong>do</strong>s fordistas e <strong>pós</strong>-fordistas de convivência na<br />

empresa <strong>do</strong> Grupo Cavalcante e no restaurante Frigideira Carioca. O mo<strong>do</strong> de vida <strong>pós</strong>-<br />

moderno está presente também nas relações fluidas e voláteis e na mudança de <strong>identidade</strong> de<br />

várias personagens através <strong>do</strong> poder de compra. É possível dizer que a telenovela difundiu a<br />

<strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong> através da imagem de Copacabana como bairro onde seus mora<strong>do</strong>res e<br />

frequenta<strong>do</strong>res podem, de um momento para outro, através <strong>do</strong> <strong>consumo</strong>, passar a frequentar a<br />

alta sociedade e elevar seu status.<br />

Aplican<strong>do</strong>, portanto, os objetivos da dissertação como um to<strong>do</strong> ao estu<strong>do</strong> de caso,<br />

conclui-se que a relação entre <strong>identidade</strong> e <strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong> na telenovela Paraíso<br />

Tropical, é que a <strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong> pode contribuir para a formação de estilos de vida.<br />

Conclui-se, ainda que os estilos de vida mais comuns na telenovela se assemelham à divisão<br />

convencionada neste trabalho para os núcleos dramáticos: pessoas de classe alta que<br />

privilegiam o trabalho como forma de acúmulo de capital e negligenciam a família, ten<strong>do</strong> com<br />

elas relações associativas, pessoas de classe média alta que privilegiam a qualidade de vida e<br />

têm relações flexíveis de trabalho e relações sociais e amorosas efêmeras. Há ainda as que<br />

tentam manter o status com aparências e aquelas que são de classe baixa e desejam ascender<br />

através de relações amorosas.<br />

A maioria <strong>do</strong>s estilos de vida da telenovela demonstra o embasamento da <strong>identidade</strong> no<br />

poder de compra, apesar de algumas personagens conseguirem manter valores e crenças<br />

dura<strong>do</strong>uras. Através da análise <strong>do</strong> comportamento, figurino, mo<strong>do</strong>s de falar etc., as<br />

personagens mostram seus estilos de vida, que ajudam a compor suas posições no contexto da<br />

trama.<br />

Sobre as três personagens escolhidas, foram confirmadas as hipóteses de que elas<br />

representam a mudança de <strong>identidade</strong> através da aparência e mobilidade social, no caso de<br />

Bebel, e as gêmeas Paula e Taís representam os <strong>do</strong>is caminhos possíveis para as mulheres na<br />

<strong>cultura</strong> <strong>pós</strong>-moderna: a ascensão social através da aparência, no caso da última, e através <strong>do</strong><br />

trabalho (no caso da primeira).<br />

Buscan<strong>do</strong> uma análise interpretativa de um produto midiático específico – a telenovela<br />

86


Paraíso Tropical – sob o ângulo da exposição <strong>do</strong>s estilos de vida e a difusão da <strong>cultura</strong> de<br />

<strong>consumo</strong>, focaliza<strong>do</strong>s em capítulos e personagens específicas, o presente estu<strong>do</strong> de caso<br />

demonstrou uma das possíveis aplicações da teoria exposta nesta dissertação. Esta visão<br />

específica e direcionada converge com o caminho percorri<strong>do</strong> na análise teórica <strong>do</strong> trabalho<br />

que partiu <strong>do</strong> conceito de <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong> e deslocamento <strong>do</strong> eixo identitário, avaliou a<br />

contribuição da difusão da <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong> via midiatização para a fragmentação da<br />

<strong>identidade</strong> e finalizou com a análise <strong>do</strong>s estilos de vida.<br />

Utilizan<strong>do</strong> os conceitos de <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong>, midiatização, <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong> e estilos<br />

de vida, o presente estu<strong>do</strong> de caso teve como objetivo identificar os estilos de vida mais<br />

comuns na telenovela Paraíso Tropical, como são expostos e que importância têm para a<br />

construção das personagens e para a difusão da <strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong> no contexto da trama. O<br />

objetivo específico foi contextualizar estes estilos com o referencial teórico <strong>do</strong>s três primeiros<br />

capítulos da dissertação. Sobre tais objetivos e o méto<strong>do</strong> utiliza<strong>do</strong> para chegar a ele, pode-se<br />

afirmar que os resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s confirmam a hipótese lançada no estu<strong>do</strong> de caso, servin<strong>do</strong><br />

também como consolidação e complementação <strong>do</strong> referencial teórico da dissertação.<br />

O entrelaçamento da teoria <strong>do</strong>s três primeiros capítulos com a análise da novela aju<strong>do</strong>u<br />

a atingir os objetivos da dissertação: identificar a relação entre <strong>identidade</strong> e <strong>cultura</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>consumo</strong> nas telenovelas, toman<strong>do</strong> como referência a mediação exercida pelos meios de<br />

comunicação nas relações sociais <strong>pós</strong>-modernas e analisar o papel <strong>do</strong>s estilos de vida diante<br />

desse contexto. Já a análise <strong>do</strong>s principais estilos de vida na telenovela Paraíso Tropical<br />

como um to<strong>do</strong>, dentro da divisão em núcleos dramáticos, em relação às classes sociais,<br />

contribuiu para atingir os objetivos específicos <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> de caso.<br />

A análise <strong>do</strong>s capítulos e das três principais personagens atendeu à meta de demonstrar<br />

como os estilos de vida contribuem para compor as personagens e de que mo<strong>do</strong> influenciam<br />

no contexto da trama, além de dar visão mais específica da difusão da <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong>,<br />

através da análise mais minuciosa de figurino, maquiagem, comportamento e outros<br />

componentes da personagem.<br />

Pode-se concluir, portanto, que a telenovela Paraíso Tropical tem elementos de<br />

discussão para a relação entre a transição da <strong>modernidade</strong> para a <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong> e a<br />

mudança no eixo identitário, assim como a importância da <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong> na atual<br />

sociedade e nas relações sociais. Através da análise <strong>do</strong>s capítulos, foi possível observar que as<br />

personagens das diversas classes sociais giram em torno <strong>do</strong> poder de compra, tanto queren<strong>do</strong><br />

obtê-lo como mantê-lo.<br />

Os capítulos escolhi<strong>do</strong>s para análise mostram o momento em que as conseqüências da<br />

87


usca desenfreada pelo poder de <strong>consumo</strong> tem efeitos contrários para as personagens Taís e<br />

Ivan. Mostram também a forma como o casal protagonista se relaciona com a ameaça de<br />

perda de seu status social e financeiro. O estu<strong>do</strong> de caso relacionou a teoria exposta em Slater,<br />

Bauman, Castells, Harvey e Sennett principalmente, com as escolhas que caracterizam a<br />

<strong>identidade</strong> das personagens, demonstran<strong>do</strong>, assim, como os autores incorporam a formação<br />

<strong>do</strong>s estilos de vida nas telenovelas e como difundem os padrões da <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong>.<br />

Através dessa discussão, fica claro que, ao admirar determinada personagem, o telespecta<strong>do</strong>r<br />

se expõe também a toda uma gama de significa<strong>do</strong>s liga<strong>do</strong>s não só à semelhança com seu<br />

cotidiano familiar e social, mas também com as escolhas ligadas ao <strong>consumo</strong>.<br />

A proposta <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> de caso se enquadra, portanto, em demonstrar o mecanismo de<br />

construção das personagens imbricada pela <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong> e estilos de vida e o potencial<br />

que a telenovela tem, através <strong>do</strong> fenômeno da midiatização de influenciar o público. A<br />

importância <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> de caso para esta dissertação se verifica, então, na demonstração da<br />

teoria de difusão da <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong> num produto midiático apontan<strong>do</strong> as características<br />

que este produto apresenta para tornar essa disseminação possível.<br />

88


Conclusão<br />

Sugerin<strong>do</strong> <strong>identidade</strong>s transitórias - estilos de vida - através da difusão da <strong>cultura</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>consumo</strong> via midiatização, as telenovelas brasileiras estão em processo de retroalimentação<br />

com a <strong>cultura</strong> <strong>pós</strong>-moderna. Analisan<strong>do</strong> o deslocamento e fragmentação ocorrida com a<br />

<strong>identidade</strong> durante o perío<strong>do</strong> de transição da <strong>modernidade</strong> para a <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong>,<br />

principalmente a<strong>pós</strong> os anos 1970, foi possível concluir neste trabalho que a midiatização,<br />

juntamente com a aceleração <strong>do</strong> fluxo de informações e a compressão espaço-tempo, são<br />

alguns <strong>do</strong>s fatores que impulsionaram tal mudança.<br />

A <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong>, como exposto por Slater (2002), teve seu gérmen antes da<br />

revolução industrial, mas se consoli<strong>do</strong>u com a chegada da <strong>modernidade</strong> e, mais tarde, da <strong>pós</strong>-<br />

<strong>modernidade</strong>. Portanto, responden<strong>do</strong> às questões iniciais deste trabalho, sobre a relação entre<br />

a <strong>identidade</strong> e a <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong> nas telenovelas, pode-se concluir que a segunda<br />

influencia a primeira, o que pode torná-la suscetível de ser fragmentada em estilos de vida.<br />

(HALL, 2006).<br />

Estudan<strong>do</strong> a <strong>modernidade</strong>, foi possível concluir que os principais fatores que<br />

caracterizam este perío<strong>do</strong> foram a revolução industrial, revolução francesa e urbanização, que<br />

trouxeram grandes transformações econômicas, políticas e sociais, estan<strong>do</strong> a <strong>identidade</strong>, no<br />

início da <strong>modernidade</strong>, gradualmente deixan<strong>do</strong> de estar atrelada à tradição e passan<strong>do</strong> a ser<br />

cada vez mais ligada ao poder de compra.<br />

Um <strong>do</strong>s fatores que vieram com a <strong>modernidade</strong> e contribuíram para o deslocamento <strong>do</strong><br />

eixo identitário foi a divisão <strong>do</strong> trabalho social, que impulsionou o surgimento das classes da<br />

burguesia e proletaria<strong>do</strong>. Antes apenas <strong>do</strong>mina<strong>do</strong>s por homens que tinham títulos de nobreza<br />

herda<strong>do</strong>s de suas famílias de origem, os cargos políticos passam, com a <strong>modernidade</strong>, a ser<br />

gradualmente ocupa<strong>do</strong> também por burgueses, que começavam a adquirir este status social<br />

através <strong>do</strong> poder de <strong>consumo</strong>.<br />

O sistema de produção que caracteriza a <strong>modernidade</strong> (entenden<strong>do</strong>-a como perío<strong>do</strong> até a<br />

primeira metade <strong>do</strong> século XX) é o fordismo, onde as atividades e o sistema de trabalho são<br />

rígi<strong>do</strong>s e a hierarquia é praticamente fixa. O surgimento <strong>do</strong> <strong>pós</strong>-fordismo, com o fluxo de<br />

informações e a compressão <strong>do</strong> espaço-tempo são fatores que consolidam a <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong>,<br />

contribuin<strong>do</strong> para o deslocamento da <strong>identidade</strong>, que passou a estar cada vez mais baseada na<br />

aparência.<br />

A aceleração <strong>do</strong> fluxo de informações, sen<strong>do</strong> fruto <strong>do</strong> surgimento <strong>do</strong>s meios de<br />

89


comunicação e ampliação <strong>do</strong>s meios de transporte, permitin<strong>do</strong> a mobilidade geográfica,<br />

juntamente com o novo sistema flexível de acumulação de capital, contribuiu para a<br />

compressão espaço tempo, que teve impacto nas relações sociais. De acor<strong>do</strong> com Castells<br />

(2000), a urbanização, somada aos fenômenos próprios da transição da <strong>modernidade</strong> para a<br />

<strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong>, trouxe modificação nas relações que passaram de afetivas e primárias (face<br />

a face) para associativas (baseadas no interesse).<br />

A <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong>, de acor<strong>do</strong> com Slater (2002), surge em gérmen antes da<br />

revolução industrial, (com o advento <strong>do</strong> fordismo, se consolidan<strong>do</strong> depois com o <strong>pós</strong>-<br />

fordismo). Como afirma Hall (2003), as instituições nas quais antes estava alicerçada a<br />

formação identitária, como igreja, escola, família, passam a ser cada vez mais efêmeras e<br />

sujeitas a mudanças, enquanto que a midiatização ocupa esse lugar de formação <strong>cultura</strong>l.<br />

A midiatização é um <strong>do</strong>s fatores que constituem a transição da <strong>modernidade</strong> para a <strong>pós</strong>-<br />

<strong>modernidade</strong>.e, para Sodré (2002), é o processo pelo qual a maioria das sociedades urbanas,<br />

capitalistas e ocidentais passa a ter as relações sociais mediadas pelos meios de comunicação.<br />

Pode-se dizer que este processo está relaciona<strong>do</strong> a aceleração <strong>do</strong> fluxo de informações e a<br />

compressão espaço tempo. Assumin<strong>do</strong> as <strong>identidade</strong>s baseadas na <strong>cultura</strong> <strong>do</strong>s meios de<br />

comunicação, que comumente difundem o <strong>consumo</strong>, os indivíduos acabam por se utilizarem<br />

de estilos de vida para conviverem na sociedade.<br />

Pode-se deduzir, então, que os fenômenos de midiatização e <strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong><br />

associa<strong>do</strong>s contribuem para fragmentação da <strong>identidade</strong>, difundin<strong>do</strong> estilos de vida, que<br />

substituem as regras rígidas que norteavam o eixo identitário até o início da <strong>modernidade</strong>.<br />

Conclui-se, portanto, que são construídas relações entre a atuação da mídia como media<strong>do</strong>ra<br />

das relações sociais, a difusão da <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong>, a fragmentação da <strong>identidade</strong> e os<br />

estilos de vida, que, de acor<strong>do</strong> com Featherstone (1995), significam individualidade e auto -<br />

expressão, da qual fazem parte a escolha das roupas, o discurso e entretenimentos de lazer.<br />

A televisão foi escolhida para esta dissertação por ter como uma das referências de<br />

mediação - segun<strong>do</strong> Barbero (1997) - a cotidianidade familiar. A telenovela, por sua vez,<br />

possui características a mais que reforçam a facilidade de difusão de <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong> e<br />

estilos de vida. Através da exposição de dramas e conflitos semelhantes aos <strong>do</strong>s especta<strong>do</strong>res,<br />

os indivíduos podem criar vínculos com as personagens e aceitar sugestões de soluções para<br />

sua vida através de comportamentos basea<strong>do</strong>s no <strong>consumo</strong>.<br />

Além da característica da novela de estar ligada à cotidianidade familiar, soma-se outro<br />

elemento importante deste produto midiático e que contribui para a difusão de estilos de vida,<br />

segun<strong>do</strong> Hollanda (2003): a repetição de fórmulas e o uso de características ligadas à<br />

90


literatura e temas universais, como o conto de fadas da cinderela, que aumenta o grau de<br />

identificação <strong>do</strong>s especta<strong>do</strong>res e facilita a a<strong>do</strong>ção de comportamentos sugeri<strong>do</strong>s. Conclui-se,<br />

portanto, que a telenovela, a <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong>, a midiatização e os estilos de vida se<br />

retroalimentam, sustentan<strong>do</strong> padrões que constituem o cenário <strong>pós</strong>-moderno.<br />

Retoman<strong>do</strong> os objetivos geral e específico da dissertação, justificativa, meto<strong>do</strong>logia e<br />

hipótese, pode-se deduzir, em primeiro lugar, que a hipótese de que telenovelas contribuem<br />

para a difusão de estilos de vida basea<strong>do</strong>s na <strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong> foi confirmada. Quanto ao<br />

objetivo geral: analisar a relação entre <strong>identidade</strong> e <strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>consumo</strong> nas telenovelas, pode-<br />

se dizer que a mídia, sen<strong>do</strong> media<strong>do</strong>ra das relações sociais, contribui para a difusão <strong>do</strong>s estilos<br />

de vida, que podem ser a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s pelos expecta<strong>do</strong>res.<br />

Pode-se dizer ainda que a relação entre a <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong> e a <strong>identidade</strong> das<br />

personagens nas telenovelas é que a primeira influencia a segunda, usan<strong>do</strong> como instrumento<br />

a midiatização. O papel <strong>do</strong>s estilos de vida neste contexto é que estes são apresenta<strong>do</strong>s na<br />

trama como soluções possíveis aos conflitos e dramas <strong>do</strong>s indivíduos, já que a vida <strong>pós</strong>-<br />

moderna oferece cada vez menos estabilidade para a formação das <strong>identidade</strong>s e <strong>do</strong>s vínculos<br />

sociais, através de alicerces de instituições como família, igreja, esta<strong>do</strong> e escola. (HALL,<br />

2006). Como essas instituições estão cada vez mais fragmentadas, devi<strong>do</strong> ao processo de<br />

aceleração <strong>do</strong> fluxo de informações e compressão espaço tempo, é cada vez mais difícil<br />

formar hábitos e valores permanentes - que de acor<strong>do</strong> com Sennett (1999), garantiriam a<br />

formação <strong>do</strong> caráter.<br />

È possível concluir ainda que a meto<strong>do</strong>logia utilizada na dissertação foi eficaz para<br />

elucidar os principais fatores que constituíram a passagem da <strong>modernidade</strong> para a <strong>pós</strong>-<br />

<strong>modernidade</strong> e a importância da <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong> e da midiatização neste perío<strong>do</strong>, assim<br />

como as transformações na <strong>identidade</strong> e o uso cada vez maior <strong>do</strong>s estilos de vida pelos<br />

indivíduos.<br />

Como não foram busca<strong>do</strong>s os efeitos da midiatização e da difusão da <strong>cultura</strong> de<br />

<strong>consumo</strong> no público, porque isso demandaria em pesquisa de campo e recepção, esta<br />

dissertação apontou os elementos que constituem, dentro das telenovelas, a <strong>identidade</strong> das<br />

personagens e que se coadunam com a <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong> e os estilos de vida da <strong>pós</strong>-<br />

<strong>modernidade</strong>. Enquanto os três primeiros capítulos discutiram a importância <strong>do</strong>s fenômenos<br />

<strong>pós</strong>-modernos na sociedade e como são intermedia<strong>do</strong>s pela mídia, o quarto capítulo procurou<br />

demonstrar como, numa telenovela, a construção identitária das personagens sofre influencia<br />

<strong>do</strong>s padrões de <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong> e estilos de vida vigentes na <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong>, difundin<strong>do</strong><br />

estes através da trama, num processo de retroalimentação. Daí as afirmações de autores como<br />

91


Hollanda (2003) e Freire Filho (2009), de que a televisão não é somente assistida pelo<br />

público, como este também contribui para a construção desta.<br />

O processo, portanto, de constituição da personagem e da história que se desenrolará na<br />

telenovela, está em constante contato com o contexto sócio-econômico <strong>do</strong> autor que a escreve<br />

e da sociedade em que vive. Pelo processo de criação e produção, que foi exposto nesta<br />

dissertação, os capítulos são escritos simultaneamente com a filmagem, o que permite uma<br />

troca de informações entre o autor e os telespecta<strong>do</strong>res durante o processo de exibição da<br />

telenovela. Nesta relação autor-telespecta<strong>do</strong>res, são cria<strong>do</strong>s, alimenta<strong>do</strong>s, sugeri<strong>do</strong>s valores de<br />

<strong>consumo</strong>, família, status, etc, sen<strong>do</strong> possível, portanto, uma dupla influenciação.<br />

A proposta de demonstrar o mecanismo de produção da telenovela e apontar as<br />

características que denotam a difusão da <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong> e estilos de vida no produto<br />

midiático escolhi<strong>do</strong> para o estu<strong>do</strong> de caso teve, portanto, o objetivo de sugerir que é possível<br />

o intercâmbio entre a narrativa deste e a narrativa da própria vida da maioria das sociedades<br />

capitalistas urbanas ocidentais, que segun<strong>do</strong> Sodré, sofrem efeito da midiatização.<br />

Especificamente, <strong>do</strong> público consumi<strong>do</strong>r freqüente de telenovelas.<br />

Esta dissertação torna-se importante, desta forma, para estabelecer vínculos entre os<br />

principais fenômenos que influenciaram e influenciam a <strong>identidade</strong> na transição da<br />

<strong>modernidade</strong> para a <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong> e o fenômeno de midiatização e difusão <strong>do</strong>s estilos de<br />

vida desencadea<strong>do</strong>s pelas telenovelas brasileiras, demonstra<strong>do</strong> aqui com o estu<strong>do</strong> de caso.<br />

Longe de afirmações ou constatações, a pesquisa propõe, aponta e sugere novos caminhos<br />

para o olhar sobre a telenovela e sua relação com a <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong>, com a <strong>identidade</strong> e os<br />

estilos de vida.<br />

Surgin<strong>do</strong> juntamente com a consolidação da <strong>pós</strong>-<strong>modernidade</strong> e midiatização, pode-se<br />

sugerir que a telenovela seja resulta<strong>do</strong> de uma imbricação entre a mídia, a industrialização, a<br />

aceleração <strong>do</strong> fluxo de informações e a compressão espaço-tempo. Ao mesmo tempo, também<br />

é possível observar, segun<strong>do</strong> Hollanda (2003), que ela tenta resgatar um pouco da<br />

cotidianidade familiar e <strong>do</strong> tempo vivi<strong>do</strong> fora <strong>do</strong> trabalho, dedica<strong>do</strong> ao prazer e ao<br />

entretenimento. As influências que esta dupla característica da telenovela exercem na difusão<br />

da <strong>cultura</strong> de <strong>consumo</strong> e <strong>do</strong>s estilos de vida na <strong>pós</strong> <strong>modernidade</strong> foram os motivos <strong>do</strong>s<br />

principais esforços deste trabalho.<br />

92


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98


ANEXO A – Resumo <strong>do</strong>s capítulos analisa<strong>do</strong>s de Paraíso Tropical,<br />

exibi<strong>do</strong>s entre os dias 28/08/2007 e 07/09/2007<br />

Cúmplices em fuga – terça-feira, 28/08/2007<br />

Zé Luís descobre que o motorista é Ivan e que Taís está fingin<strong>do</strong> ser Paula. Lúcia avisa<br />

Paula <strong>do</strong> seqüestro. Daniel, Paula, Lúcia e Hermínia interceptam o táxi de Ivan. Taís ameaça<br />

Zé Luís e exige que Paula e Daniel lhe dêem R$ 350 mil. Hermínia se descontrola. Zé Luís<br />

escapa e abraça Paula. Ivan e Taís fogem. Marion reage fortemente quan<strong>do</strong> Lúcia diz que Ivan<br />

e Taís são cúmplices e amantes. Tatiana sugere que Bebel venda suas roupas. Marquinhos é<br />

batiza<strong>do</strong>. Antenor e Ana Luísa se emocionam lembran<strong>do</strong>-se <strong>do</strong> filho que tiveram. Cláudio se<br />

preocupa quan<strong>do</strong> Marion diz que Taís pode acabar com sua reputação. Jáder diz a Ivan que<br />

consegue compra<strong>do</strong>r para o carro. Bebel deixa suas roupas em consignação em um bazar.<br />

Iracema se impressiona com o ódio que Belisário demonstra por Taís. Paula chora e diz a Ana<br />

Luísa que Taís não deveria existir. Bebel pede perdão a Olavo que nem a escuta. Fernanda<br />

conta a Mateus que Camila e Fred se separaram. Taís vai ao Duvivier e finge ser Paula, mas<br />

Vidal descobre a farsa. Ela sai corren<strong>do</strong> e ele a segue. Bebel pede que Jáder lhe arrume<br />

trabalho. Vidal avisa Paula que Taís entrou em um hotel. (REDE GLOBO, 2012, on-line).<br />

Meias verdades e mentiras deslavadas – quarta-feira, 29/08/2007<br />

Olavo garante ao delega<strong>do</strong> que internou Paula, pois pensava que era Taís, e que não<br />

sabia que Guedes a mantinha <strong>do</strong>pada. Jáder diz a Bebel que arrumou um cliente rico para ela.<br />

Lúcia e Antenor são chama<strong>do</strong>s a depor. Antenor diz que jamais se encontrou com Taís a sós.<br />

Paula diz a Vidal que espere Daniel na porta <strong>do</strong> hotel e entra para falar com Taís. Taís se<br />

assusta ao ver Paula. Paula não percebe que Ivan está no banheiro e diz a Taís que a polícia<br />

está chegan<strong>do</strong>. Ramos ouve Paula dizer que sua vontade era matar Taís. Ivan desacorda Paula.<br />

Ivan e Taís fogem pelo telha<strong>do</strong>. A polícia entra no hotel. Daniel acode Paula. Jáder combina<br />

com Elias enganar Bebel. Antenor e Lúcia concordam que Zoraide vá morar em Boston. Elias<br />

finge ser fino e rico para Bebel. Antenor diz a Lúcia que está muito tenso, pois quer ver Taís<br />

99


presa. Lúcia fica atônita ao ver no celular que Taís ligou para Antenor. Ivan promete colocar<br />

Taís cara a cara com Antenor. Olavo se assusta quan<strong>do</strong> Marion conta sobre a relação de Ivan<br />

e Taís. (REDE GLOBO, 2012, on-line).<br />

Suicídio ou assassinato? – quinta-feira, 30/08/2007<br />

Olavo fica furioso ao saber <strong>do</strong> seqüestro. Lúcia pergunta como Antenor conheceu<br />

Taís. Ele diz que ela estava com Daniel, fingin<strong>do</strong>-se de Paula em um show no Duvivier. Paula<br />

manifesta seu ódio pela irmã e Daniel tenta acalmá-la. Ana Luísa pensa em dar dinheiro a<br />

Taís para que ela se afaste de Daniel e Paula. Zé Luís tem um pesadelo com Taís e chora<br />

abraça<strong>do</strong> a Hermínia. Ivan vende o táxi. Jáder chama Bebel e diz que Elias não gostou <strong>do</strong>s<br />

serviços dela. Ana Luísa, Marion e Cláudio se encontram na delegacia. Ana Luisa pede a<br />

Cláudio o telefone de Taís. Ivan reage quan<strong>do</strong> Olavo diz que Taís já foi dele. Ivan foge no<br />

carro novo de Olavo. Taís diz a Ivan que só ficou com Olavo para conseguir os <strong>do</strong>cumentos<br />

de volta. Ivan quebra coisas no quarto e vai embora. Taís entra no carro de Antenor, que<br />

manda Sérgio Otávio sair. Ela pede R$ 1.000.000 a Antenor. Belisário pede o telefone de Taís<br />

a Pacífico. Olavo descobre que Ivan trabalha com Jáder. Daniel e Paula passeiam na praia.<br />

Taís finge ser Paula, liga para Celeste e pede que ela vá comprar um remédio bem longe. Taís<br />

entra na casa de Paula, mas não consegue abrir o cofre. Taís abre a porta para alguém. Daniel<br />

encontra Taís morta na cozinha. (REDE GLOBO, 2012, on-line).<br />

O início de um mistério – sexta-feira, 31/08/2007<br />

Daniel avisa o delega<strong>do</strong> Hélio. Cláudio estranha o comportamento de Marion. Eloísa<br />

diz a Rodrigo e Tiago que não aceita que Taís fique impune. Clemente pergunta onde<br />

Hermínia esteve, e ela responde que saiu para espairecer. Belisário diz a Virgínia que esteve<br />

no Jóquei. Lucas avisa Ana Luisa sobre Taís. Paula confessa estar aliviada, quan<strong>do</strong> Daniel<br />

conta que Taís está morta. Nereu se despede de Zoraide emociona<strong>do</strong>. Lúcia e Antenor vão à<br />

casa de Daniel e Paula. Zé Luís se choca ao saber a notícia. Hélio faz perguntas a Daniel.<br />

Daniel explica que chegou sozinho em casa, porque Paula foi ao supermerca<strong>do</strong>. Celeste diz à<br />

100


polícia que Paula ligou, mas ela nega. Lúcia observa Antenor quan<strong>do</strong> se fala em suicídio ou<br />

assassinato. Marion confessa a Cláudio que gostava de Taís. Lúcia diz a Hermínia que algo<br />

está perturban<strong>do</strong> Antenor e que Taís ligou um dia para ele. Hermínia garante que Antenor não<br />

é o assassino. Cadelão insiste que Joana lhe dê dinheiro. Bebel jura que não volta para o<br />

calçadão. Ivan acompanha de longe o enterro de Taís. (REDE GLOBO, 2012, on-line).<br />

As suspeitas de Lúcia – sába<strong>do</strong>, 1º/09/2007<br />

Daniel vê Ivan e chama a polícia. Ivan é cerca<strong>do</strong>. Camila liga para Fred e deixa um<br />

reca<strong>do</strong> sau<strong>do</strong>so em seu celular. Fernanda apaga a mensagem. Joana se abre com Úrsula.<br />

Mateus convida Camila para a festa da sua contratação. Susaninha e Rita se irritam com<br />

Fernanda e contam que Mateus foi à casa de Neli convidar Camila. Marion se recusa a ajudar<br />

Ivan. Paula e Daniel acham que Taís havia consegui<strong>do</strong> o dinheiro e tentara pegar o passaporte<br />

de Paula para fugir. Antenor elogia a discrição de Sérgio Otávio e garante que não está<br />

envolvi<strong>do</strong> em nada ilícito. Cássio diz a Lúcia que gostaria que Mateus tivesse o seu nome.<br />

Fernanda insiste que Fred saia para dançar com ela. Mateus se emociona com o pedi<strong>do</strong> de<br />

Cássio. Yvone promete ajudar Daniel para que ele consiga entrar na casa de Olavo. Hélio diz<br />

que a necropsia foi inconclusiva. Gilda não se sente bem. Gustavo sai com os filhos. Ivan<br />

nega tu<strong>do</strong>. Vidal e Virgínia levam Gilda ao hospital. Fred vê Camila e Mateus se beijan<strong>do</strong> na<br />

festa. Antenor manda alguém buscar o dinheiro, pois não vai mais precisar. Olavo denuncia<br />

Ivan pelo roubo <strong>do</strong> carro. Lúcia faz perguntas ao ver Antenor guardan<strong>do</strong> muito dinheiro no<br />

cofre. (REDE GLOBO, 2012, on-line).<br />

Antenor revela chantagem – segunda-feira, 03/09/2007<br />

Lúcia conta que sabe que Taís ligou para Antenor e ele diz que a Taís que ligou é sua<br />

agente de viagem. Hélio avisa que Ivan está preso. Camila diz a Mateus que está confusa, mas<br />

ele a beija novamente. Fred acusa Fernanda de tê-lo leva<strong>do</strong> à festa só para dar o flagrante em<br />

Camila e Mateus. Ivan implora que Olavo arrume um advoga<strong>do</strong> para ele, mas o executivo se<br />

nega a ajudar o irmão. Ademar, repórter policial, observa a confusão. Gilda fica internada,<br />

101


pois está com apendicite. Daniel consegue a cópia da chave da casa de Olavo. Bebel encontra<br />

Olavo e lhe pede ajuda, mas ele a menospreza. Bebel seduz Jáder. Dinorá guarda o bilhete que<br />

Gilda man<strong>do</strong>u para Gustavo. Heitor apóia Helena quan<strong>do</strong> descobre que ela está com<br />

problemas no trabalho porque precisou consolar a filha. Os <strong>do</strong>is se beijam. Gustavo e Dinorá<br />

se aproximam. Olavo beija Alice, mas pensa em Bebel. Lúcia pega o celular de Antenor e liga<br />

para Taís. Ela ouve a voz de Taís Grimaldi na caixa postal. Neves diz que Paula é suspeita<br />

pela morte da irmã. Paula e Daniel suspeitam de Marion. Camila fica triste ao saber que Fred<br />

viu o beijo. Antenor conta a Daniel que ofereceu dinheiro para Taís separá-lo de Paula e que<br />

foi chantagea<strong>do</strong> por ela para não contar sobre o acor<strong>do</strong>. (REDE GLOBO, 2012, on-line).<br />

A revolta de Lúcia – terça-feira, 04/09/2007<br />

Daniel pergunta o que Antenor estava fazen<strong>do</strong> na hora da morte de Taís. Ele responde<br />

que estava conseguin<strong>do</strong> o dinheiro da chantagem, mas que não se encontrou com Taís. Daniel<br />

mostra to<strong>do</strong> seu desprezo pela atitude de Antenor. Paula ironiza Marion por não ter i<strong>do</strong> ao<br />

enterro de Taís. Nereu leva flores para Zoraide e pede que ela o espere. Ana Luísa,<br />

Marquinhos, Zoraide e Lucas viajam para Boston. Camila tenta se explicar, mas Fred<br />

permanece furioso. Fernanda insiste que Mateus lhe dê uma chance e os <strong>do</strong>is se beijam.<br />

Daniel e Paula procuram uma testemunha para provar que eles estavam na praia na hora <strong>do</strong><br />

crime. Gilmar depõe dizen<strong>do</strong> que Ivan quebrou o quarto de hotel e brigou com Taís pouco<br />

antes da morte da moça. Hélio diz a Ivan que ele é o principal suspeito. Ivan conta para Lúcia<br />

sobre o dinheiro que Antenor ofereceu a Taís e acusa-o pelo assassinato. Gustavo fica<br />

saben<strong>do</strong> da internação de Gilda. Marion diz a Ademar que Paula é a principal suspeita <strong>do</strong><br />

assassinato da irmã. Lúcia acusa Antenor, que jura ter se arrependi<strong>do</strong> <strong>do</strong> trato com Taís. Lúcia<br />

o chama de mentiroso e quer que ele nunca mais a procure. Cadelão ameaça Joana. Gilda sai<br />

com Vidal e Virgínia conta para Gustavo. Joana procura Jáder. (REDE GLOBO, 2012, on-<br />

line).<br />

102


Ivan contra-ataca – quarta-feira, 05/09/2007<br />

Joana diz a Jáder que está ten<strong>do</strong> problemas com Cadelão e ele deixa claro que não<br />

quer se envolver. Lúcia diz a Paula e Daniel que despreza Antenor. Bebel volta a trabalhar no<br />

calçadão, sob a supervisão de Jáder. Joana diz a Úrsula que vai conseguir o dinheiro para<br />

pagar Cadelão. Heitor se encontra casualmente com Neli e Camila e apresenta Helena.<br />

Hermínia consola Lúcia e diz que a história da filha com Antenor ainda não acabou. Gustavo<br />

começa uma conversa de reconciliação com Dinorá. No entanto, ele descobre que a ex-mulher<br />

pegou o bilhete que Gilda escreveu e fica muito decepciona<strong>do</strong>. Gustavo pede Gilda em<br />

casamento e ela aceita. Cássio pede que Joana conte o que está acontecen<strong>do</strong>, mas ela<br />

desconversa. Joana abre o caixa <strong>do</strong> restaurante, mas não consegue pegar o dinheiro. Cássio<br />

observa de longe. Um preso defende Ivan e exige dinheiro. Daniel e Amir se hospedam no<br />

apart-hotel de Olavo. Paula telefona fingin<strong>do</strong> ser uma repórter e marca uma sessão de fotos<br />

com Alice, para despistá-la e deixar o quarto de Olavo livre. Ivan chantageia Marion: se ela<br />

não arrumar um bom advoga<strong>do</strong>, ele contará que ela era cúmplice de Taís e que também<br />

falsificou o colar de diamantes de Urbano. (REDE GLOBO, 2012, on-line).<br />

Nada no notebook de Olavo – Quinta-feira, 06/09/2007<br />

Marion promete ajudar Ivan. Hélio se recusa a dar entrevista para Ademar. Hélio<br />

conversa com Marion, que diz que estava em um engarrafamento no momento da morte de<br />

Taís. Cássio conversa com Rodrigo e Tiago sobre o comportamento de Joana. Cássio diz a<br />

Joana que viu quan<strong>do</strong> ela mexeu no caixa <strong>do</strong> restaurante e quer saber o que está acontecen<strong>do</strong>.<br />

Joana decide contar a verdade, mas Cadelão ameaça-a de longe e ela desiste. Ivan confirma<br />

para Hélio que Taís estava chantagean<strong>do</strong> Antenor e que eles devem ter se encontra<strong>do</strong>. Como<br />

prova, mostra o reca<strong>do</strong> deixa<strong>do</strong> no celular dele por Taís. Hélio descarta a possibilidade de<br />

suicídio. Bebel diz a Tatiana que está com ódio de Olavo. Amir entra no apartamento de<br />

Olavo, mas se esconde quan<strong>do</strong> o executivo chega. Daniel consegue acionar o alarme de<br />

incêndio e Amir foge. Amir diz que não encontrou nada nos computa<strong>do</strong>res de Olavo. Rodrigo<br />

e Tiago oferecem dinheiro para Joana, que aceita. Camila pede perdão a Fred, mas ele diz que<br />

não sabe se é capaz de per<strong>do</strong>á-la. Dinorá diz que vai impedir o casamento de Gustavo.<br />

103


Virgínia promete descobrir irregularidades na gestão de Iracema e tomar o seu lugar. Ivan é<br />

ameaça<strong>do</strong> por um <strong>do</strong>s presos. (REDE GLOBO, 2012, on-line).<br />

Escândalo em manchete – Sexta-feira, 07/09/2007<br />

Outro preso defende Ivan. Os policiais intervêm. Ivan é liberta<strong>do</strong>, por uma ordem <strong>do</strong><br />

juiz. Daniel pede ajuda a Vidal para pedir ao banco a identificação <strong>do</strong> computa<strong>do</strong>r que fez a<br />

transação. Sheila avisa Olavo que Antenor brigou com Lúcia e com Daniel. Olavo combina<br />

com Lutero de colocar Ismael como cozinheiro da casa de Antenor, para ser um informante<br />

deles. Hermínia intercede, mas Lúcia se recusa a conversar com Antenor, quan<strong>do</strong> ele a<br />

procura em casa. Antenor vai embora, humilha<strong>do</strong>. Hélio continua suspeitan<strong>do</strong> de Paula.<br />

Ademar conversa com Ramos, o porteiro <strong>do</strong> hotel onde Ivan e Taís estavam hospeda<strong>do</strong>s. Ivan<br />

pede ajuda a Tatiana para recuperar algo que deixou em seu apartamento. Tatiana comenta<br />

que Bebel está com raiva de Olavo. Neli apóia Camila, mesmo quan<strong>do</strong> ela conta que beijou<br />

Mateus. Gustavo diz a Gilda que eles podem fazer uma cerimônia religiosa, pois com Dinorá<br />

ele só se casou no civil. Dinorá fica triste com a notícia. Antenor contrata Ismael. Olavo<br />

promete dinheiro a Ismael. Joana entrega o dinheiro a Cadelão. Cássio a encontra e ela acaba<br />

contan<strong>do</strong> a verdade. Cássio a abraça e exige que ela nunca mais lhe esconda nada. Ivan pede<br />

que Bebel se alie a ele para derrubar Olavo. Paula se revolta ao ver a manchete <strong>do</strong> jornal<br />

apontan<strong>do</strong>-a como culpada pela morte da irmã. (REDE GLOBO, 2012, on-line).<br />

104


ANEXO B – Ficha técnica com equipe da novela Paraíso Tropical<br />

Novela de Gilberto Braga, Ricar<strong>do</strong> Linhares<br />

Escrita com Angela Carneiro, João Ximenes Braga, Maria Helena<br />

Nascimento, Nelson Na<strong>do</strong>tti, Sérgio Marques, Rosa<br />

Maria, Marília Garcia<br />

Direção José Luiz Villamarim, Amora Mautner, Maria de<br />

Médicis, Cristiano Marques<br />

Direção Geral Dennis Carvalho, José Luiz Villamarim<br />

Núcleo Dennis Carvalho<br />

Cenografia Fábio Rangel, Kaka Monteiro, Alexandre Gomes, Marcelo<br />

Carneiro, Fabbio Gomes<br />

Cenógrafos Assistentes Alexis Pabliano, Anne Marie, Gilmar Ventura, Eduar<strong>do</strong><br />

Pimentel, Mayene Precioso, Rosa Angélica, Ana Aline de<br />

Lima, Paula Salles, Paula Camargo, Flavia Yared, Tatiana<br />

Cordeiro, Renata Romano, Marco Franco, Liane Espírito<br />

Santo, Elisa Tura, Elisa Sampaio, Camila Faria, Giorgio<br />

Kubruslly, Murilo Esteves<br />

Figurino Helena Gastal, Natalia Duran<br />

Figurinistas Assistentes Alessandra Barrios, Flavia Costa, Elisa Machens, Tainah<br />

Carvalho, Elisa Coifman, Tatiana Menezes, Julia Pinho<br />

Equipe de Apoio ao Maria Helena Ribeiro Rocha, Aparecida Fontes, Marcio<br />

Figurino<br />

Avelino, Heloisio Carlos, Antonio Carlos Ramos de<br />

Souza, Ricar<strong>do</strong> Ferreira, Valmir Moraes, Diva Libanio, Heliana<br />

Conceição, Elijanite Marinho, Dalva Lucia Santiago, Célia<br />

Terra, Conceição Lisboa, Walmir Ferreira<br />

Direção de Fotografia Ricar<strong>do</strong> Gaglianone<br />

Direção de Iluminação Jorge A. Lopes da Silva, Gustavo Amaral, Alexandre Dominguez<br />

Reigada<br />

Equipe de Iluminação Feliciano <strong>do</strong>s Santos, Jorge Carvalho, Leandro Ramos, Rodrigo<br />

Antonio Sanábio, Gerson da Silva, Roberto Pereira Santos<br />

Junior, Roberto Pereira Santos, Orlan<strong>do</strong> Vaz, Sergio de<br />

Oliveira, Alan Vargas, Maicon Leandro, Fábio Rodrigues, José<br />

Luiz da Silva, José Prates, Alexandre Fructuoso, Marco da Silva<br />

Direção de Arte Mário Monteiro<br />

Produção de Arte Andréa Penafiel, Luís Fernan<strong>do</strong> Car<strong>do</strong>so<br />

Produção de Arte Nininha Médicis, Mariana Barros, Rafael Faustini, Andrea<br />

Assistente<br />

Gueriot<br />

Equipe de Apoio à Arte Sérgio Luiz P. Brandão, Alexandre Francisco da<br />

Silva, Alexandre Mendes de Castro, José Luiz Margato de<br />

Almeida, Ubira Amaro Moreira, Mauro Almeida, Jorge<br />

Cirilo, Carlos Alberto Guimarães<br />

Produção de Elenco André Reis<br />

Produção Musical Roger Henri<br />

Direção Musical Mariozinho Rocha<br />

Caracterização Fernan<strong>do</strong> Torquatto, Carmen Bastos<br />

105


Equipe de Apoio à<br />

Caracterização<br />

106<br />

Adriana Alves, Luiz Gabriel, Rita de Cássia Menezes da<br />

Silva, Sônia Costa, Marcos Rodrigues, Miguel Alves, Bárbara<br />

Varanda, Luciene Mello, Eloá Makiyama, Rosangela Caminha<br />

Edição Célio Fonseca, Roberto Mariano, Wilson Fragoso, Fabio Villela<br />

Sonoplastia Julio Cesar Correa, Marcelo Arruda, Pedro Belo<br />

Efeitos Visuais Gustavo Garnier, Paula Souto<br />

Efeitos Especiais Marcos Soares<br />

Abertura Hans Donner, Alexandre Pit Ribeiro, Roberto Stein<br />

Direção de Imagem Luiz Alberto da Silva<br />

Câmeras Antonio Carlos Laport, Fabrigil de Araujo Silva, Rafael<br />

Rahaal, Walter <strong>do</strong> Espírito Santo, Thelso Batista<br />

Gaertner, Jovani Augusto, Roberto Delmiro<br />

Equipe de Apoio à Washington Luiz R. de Lima, Sérgio Fialho, Luiz Bravo, Alex<br />

Operação de Câmera Ferreira, Zaifer da Silva<br />

Equipe de Vídeo Flávio Luiz Marques de Abreu, Cláudio da Silva Sargo, José<br />

Carlos Gonçalves<br />

Equipe de Áudio Paulo Rossi, Joaquim Cendrett, João Zito Carvalho <strong>do</strong><br />

Rio, Diego A. Ferreira Barbosa, Flavio Luis Fernandes, Carlos<br />

Roberto Moreira de Souza, Carlos Schuchardt<br />

Supervisão e Op.<br />

Marcos A. Cheriff, Jorge Elias<br />

Sistemas<br />

Gerente de Projetos Leandro Leão<br />

Supervisão de Produção Alexandre Santanna, Marcos Henrique da Silva, Marco Antonio<br />

de Cenografia<br />

Vasconcelos, Paulo Cesar Meirelles, Leopol<strong>do</strong> Bezerra<br />

Equipe de Cenotécnica Luis Carlos Leal, Flávio Waynne, Tatiana Cunha, Renata<br />

Costa, Allan Branco, Bruno Massunaga, Edir Correia, Lucimar<br />

Macha<strong>do</strong>, Mauro Almeida, João Carlos Pereira, Natanael<br />

Amaral, Olga Antunes, Antonio Carlos Esperança, Valdir Alonso<br />

da Silva, Jovino Gomes, Valdemar Alves, Luis Fernan<strong>do</strong><br />

Rodrigues, Carlos Alberto Teixeira, Eleomar Candi<strong>do</strong>, Claudio<br />

Rosa, Vinicius Fagundes, Lazaro Josimar, Dalmo Vieira, Diego<br />

Escobar, André Moraes, Flavio Luiz Santos, André Luiz<br />

Santos, Francisco Assis Morais, Antonio José Barros, Edval<strong>do</strong><br />

Silva Santos, Ivanil<strong>do</strong> Arsênio, Gilson Noronha, Djalma<br />

Rismo, Luis José Mendes, Ricar<strong>do</strong> Alexandre, José<br />

Leopol<strong>do</strong>, Rogério Dantas, José Domingos Almeida, Jorge<br />

Oliveira Frazão, Pedro Paulo Delfino, Odair Ribeiro, Renato<br />

Alcebíades, Bernar<strong>do</strong> Conceição, Luis Carlos Marques, Lequison<br />

Pinto, Rosival Oliveira, Vanilson Francisco, Edval<strong>do</strong><br />

Souza, Admilson Freitas, Alan Afonso, André Vital, Rômulo<br />

Oliveira, Luis Carlos Pereira, Marcos César Silva, Marco<br />

Antonio Ribeiro<br />

Continuidade Vanilda Teles, Regina Wygoda, Ana Paula Rangel, Claudia Lima<br />

Assistentes de Direção Henrique Sauer, Luisa Lima, Roberta Richard, Joana<br />

Jabace, João Paulo Jabur<br />

Produção de Engenharia Ilton Caruso<br />

Equipe de Produção Mônica Fernandes, Barbara de Souza, Caren Olivieri, Cláudio<br />

Nunes, Luize Nascimento, Ana Villarim, Alexandre


Men<strong>do</strong>nça, Carlos Dalvan, Sidne Fernandes, Suzana<br />

Rocha, Adriano Lemos Gavinho<br />

Coordena<strong>do</strong>r de<br />

José Renato Azeve<strong>do</strong>, Silvana Gabbar<strong>do</strong>, Heleno Moura<br />

Produção<br />

Gerência de Produção Carla Men<strong>do</strong>nça<br />

Fonte: REDE GLOBO, 2012.<br />

107


ANEXO C – Letra da música “Sába<strong>do</strong> em Copacabana”, trilha sonora de abertura de<br />

Paraíso Tropical<br />

Depois de trabalhar toda semana<br />

Meu saba<strong>do</strong> não vou disperdiçar<br />

Já fiz o meu programa pra essa noite<br />

E já sei por onde começar<br />

Um bom lugar pra se encontrar Copacabana<br />

Pra passear a beira mar Copacabana<br />

Depois um bar a meia luz Copacabana<br />

Eu esperei por essa noite uma semana<br />

Um bom jantar depois dançar Copacabana<br />

Pra se amar um só lugar Copacabana<br />

A noite passa tão depressa<br />

Mais vou voltar lá pra semana<br />

Se eu encontrar um novo amor Copacabana (VAGALUME, 2012, on-line)<br />

108


ANEXO D – Fotografias de atrizes mostran<strong>do</strong> as personagens em <strong>do</strong>is estilos de vida<br />

FIGURA 1 – Personagem Bebel (interpretada por Camila Pitanga) Como<br />

garota de programa Fonte: REDE GLOBO, 2012, on-line.<br />

FIGURA 2 – Personagem Bebel como socialite<br />

Fonte: REDE GLOBO, 2012, on-line.<br />

109


FIGURA 3 – Personagem Paula (interpretada por Alessandra Negrini) em Marapuã,<br />

Bahia, antes de conhecer Daniel (interpreta<strong>do</strong> por Fábio Assunção)<br />

Fonte: REDE GLOBO, 2012, on-line.<br />

FIGURA 4 – Personagem Paula a<strong>pós</strong> o casamento com Daniel<br />

Fonte: REDE GLOBO, 2012, on-line.<br />

110


FIGURA 5 – Personagem Taís (interpretada por Alessandra Negrini) quan<strong>do</strong><br />

vendia jóias e frequentava alguns eventos da alta sociedade<br />

Fonte: REDE GLOBO, 2012, on-line.<br />

FIGURA 6 – Personagem Taís depois de ter seus crimes descobertos e virar<br />

fugitiva da polícia<br />

Fonte: REDE GLOBO, 2012, on-line.<br />

111

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