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Ary Fernandes - Universia Brasil

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GovernadorSecretário Chefe da Casa CivilCláudio LemboRubens LaraImprensa Oficial do Estado de São PauloDiretor-presidenteDiretor Vice-presidenteDiretor IndustrialDiretora Financeira eAdministrativaChefe de GabineteHubert AlquéresLuiz Carlos FrigerioTeiji TomiokaNodette Mameri PeanoEmerson Bento PereiraCoordenador GeralCoordenador Operacionale Pesquisa IconográficaProjeto GráficoAssistência OperacionalEditoraçãoTratamento de ImagensColeção Aplauso PerfilRubens Ewald FilhoMarcelo PestanaCarlos CirneAndressa VeronesiAline NavarroJosé Carlos da Silva


Gostaria de ressaltar, no entanto, um fator importante na Coleção, pois os resultados obti dos ultrapassamsimples registros biográ ficos, revelandoao leitor facetas que caracteri zam também oartista e seu ofício. Tantas vezes o biógrafo e obiografado foram tomados desse envolvimento,cúmplices dessa simbiose, que essas condiçõesdotaram os livros de novos instru mentos. Assim,ambos se colocaram em sendas onde a reflexãose estendeu sobre a forma ção intelectual e ideológicado artista e, supostamente, continuadanaquilo que caracte rizava o meio, o ambientee a história brasileira naquele contexto e momento.Muitos discutiram o importante papelque tiveram os livros e a leitu ra em sua vida.Deixaram transparecer a firmeza do pensamentocrítico, denunciaram preconceitos seculares queatrasaram e conti nuam atrasando o nosso país,mostraram o que representou a formação decada biografado e sua atuação em ofícios de linguagensdiferen ciadas como o teatro, o cinema ea televisão – e o que cada um desses veículos lhesexigiu ou lhes deu. Foram analisadas as distintaslingua gens desses ofícios.Cada obra extrapola, portanto, os simples relatosbiográficos, explorando o universo íntimo epsicológico do artista, revelando sua autodeterminaçãoe quase nunca a casualidade em ter se


tornado artis ta, seus princípios, a formação desua persona lidade, a persona e a complexidadede seus personagens.São livros que irão atrair o grande público, masque – certamente – interessarão igualmente aosnossos estudantes, pois na Coleção Aplauso foidiscutido o intrincado processo de criação queenvol ve as linguagens do teatro e do cinema.Foram desenvolvidos temas como a construçãodos personagens interpretados, bem como aanálise, a história, a importância e a atualidadede alguns dos personagens vividos pelos biografados.Foram examinados o relaciona mento dosartistas com seus pares e diretores, os processose as possibilidades de correção de erros noexercício do teatro e do cinema, a diferenciaçãofundamental desses dois veículos e a expressãode suas linguagens.A amplitude desses recursos de recuperaçãoda memória por meio dos títulos da ColeçãoAplauso, aliada à possibilidade de discussão deinstru mentos profissionais, fez com que a ImprensaOficial passasse a distribuir em todas asbiblio tecas importantes do país, bem como embibliotecas especializadas, esses livros, de gratificanteaceitação.


Gostaria de ressaltar seu adequado projetográfi co, em formato de bolso, documentadocom iconografia farta e registro cronológicocompleto para cada biografado, em cada setorde sua atuação.A Coleção Aplauso, que tende a ultrapassar oscem títulos, se afirma progressivamente, e espe racontem plar o público de língua portu guesa como espectro mais completo possível dos artistas,atores e direto res, que escreveram a rica e diversificadahistória do cinema, do teatro e da televisãoem nosso país, mesmo sujeitos a percalçosde naturezas várias, mas com seus protagonistassempre reagindo com criati vidade, mesmo nosanos mais obscuros pelos quais passamos.Além dos perfis biográficos, que são a marcada Cole ção Aplauso, ela inclui ainda outrasséries: Projetos Especiais, com formatos e característicasdistintos, em que já foram publicadasexcep cionais pesquisas iconográficas, que se originaram de teses universitárias ou de arquivosdocumentais preexistentes que sugeriram suaedição em outro formato.Temos a série constituída de roteiros cinematográficos,denominada Cinema <strong>Brasil</strong>, que publi couo roteiro histórico de O Caçador de Dia mantes,de Vittorio Capellaro, de 1933, considerado o


primeiro roteiro completo escrito no <strong>Brasil</strong> coma intenção de ser efetivamente filmado. Paralelamente,roteiros mais recentes, como o clássicoO caso dos irmãos Naves, de Luis Sérgio Person,Dois Córregos, de Carlos Reichenbach, Narradoresde Javé, de Eliane Caffé, e Como Fazer umFilme de Amor, de José Roberto Torero, quedeverão se tornar bibliografia básica obrigatóriapara as escolas de cinema, ao mesmo tempo emque documentam essa importante produção dacinematografia nacional.Gostaria de destacar a obra Gloria in Excelsior,da série TV <strong>Brasil</strong>, sobre a ascensão, o apogeue a queda da TV Excelsior, que inovou os procedimentose formas de se fazer televisão no <strong>Brasil</strong>.Muitos leito res se surpreenderão ao descobriremque vários diretores, autores e atores, que nadécada de 70 promoveram o crescimento da TVGlobo, foram forjados nos estúdios da TV Excelsior,que sucumbiu juntamente com o Gru poSimonsen, perseguido pelo regime militar.Se algum fator de sucesso da Coleção Aplausomerece ser mais destacado do que outros, é o interessedo leitor brasileiro em conhecer o percursocultural de seu país.De nossa parte coube reunir um bom time dejornalistas, organizar com eficácia a pesquisa


docu mental e iconográfica, contar com a boavontade, o entusiasmo e a generosidade de nossosartistas, diretores e roteiristas. Depois, apenas,com igual entu siasmo, colocar à dispo siçãotodas essas informações, atraentes e aces síveis,em um projeto bem cuidado. Também a nóssensibilizaram as questões sobre nossa culturaque a Coleção Aplauso suscita e apresenta – ossortilégios que envolvem palco, cena, coxias, setde filmagens, cenários, câme ras – e, com referênciaa esses seres especiais que ali transi tam ese transmutam, é deles que todo esse material devida e reflexão poderá ser extraído e disse minadocomo interesse que magnetizará o leitor.A Imprensa Oficial se sente orgulhosa de tercriado a Coleção Aplauso, pois tem consciênciade que nossa história cultural não pode sernegli genciada, e é a partir dela que se forja e seconstrói a identidade brasileira.Hubert AlquéresDiretor-presidente daImprensa Oficial do Estado de São Paulo


PrefácioFalar de um cineasta sempre é muito difícil,princi palmente quando se trata de um antigocompanheiro de tantas jornadas. Lembro-mebem dos tempos da Cinematográfica Maristela,dos primeiros filmes em que trabalhamos juntoslá nos estúdios do Jaçanã, dos amigos que fizemos:Mário Boeris Audrá Jr., Alfredo Palácios,Luiz Elias, João Alencar, Sylvio Renoldi, Osvaldode Oliveira, Zezinho Martins e tantos outros quefizeram dos anos 1950 um aprendizado e quetantas recordações nos trazem. Era um traba lhoárduo e um conhecimento que nos valeu parao resto de nossas vidas profissionais. Era umaverdadeira família que tinha em mente apenaso amadurecimento cinematográfico. Enumerartodos os heróis dessa época sem dúvida tomariamuitas páginas deste livro, afinal, uma famíliacomo a nossa era composta de todas as funçõesque um estúdio necessita. Dentro desse aglomeradohavia uma dupla, Alfredo Soares Palácios e<strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>, que vieram do rádio e tinham omesmo objetivo: fazer um cinema mais brasileiro.Na Maristela iriam juntar forças com os demais.Ao juntar-me a eles absorvi o mesmo ideal.Embora o Palácios já nos tenha deixado materialmente,estará sempre em nossa lembrança.Nos alegra saber que ainda em vida tenha11


12recebido o reconhecimento pelo trabalho dadupla. E é sobre <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong> que escrevoestas poucas palavras. Lembro-me muito bemsobre nossas conversas a respeito do cinema e dorecém-chegado veículo de comunicação que iriarevolucionar nossa mídia, a engenhoca chamadatelevisão, que no início de suas funções, traziatodo tipo de informações, como programas,debates, telejornais e filmes que para serementendidos traziam as legendas que nem semprecondiziam com a mensagem das histórias,isto sem contar que as comédias já vinham comgargalhadas, como se não soubéssemos rir. Nãohavia nenhuma alusão ao nosso país, não tinhaZé nem João, São Paulo, Rio de Janeiro, Bahiaou Rio Grande do Sul, enfim, por meio dessesfilmes, conhecíamos o estrangeiro melhor quenossa terra. <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong> e Alfredo Paláciosderam início ao que chamo, sem nenhum medode errar, de a primeira revolução da televisãobrasileira, com a produção da primeira série deTV feita com produtores, roteiristas, diretoresde fotografia, eletricistas, atores e técnicas genuinamentebrasileiras. Com a criação do <strong>Ary</strong>e o respaldo da produção do Palácios, surgiu opioneirismo em toda a América Latina do Vigilanterodoviário, produzido especialmente paraa televisão, mas para se chegar às filmagens eposteriormente ao lançamento, muito suor e


lágrimas foram derramados. De início se pensouem filmar vultos nacionais, vieram depois outrasidéias até se chegar a um herói, pois nessa épocanossos teles pectadores só conheciam heróisimpor tados e nós não tínhamos o hábito decuidar de nossos valores.Depois de analisar as possibilidades, o <strong>Ary</strong> optoupela nova Polícia Rodoviária, que havia sido criadaem 1948, portanto, uma corporação à épocajovem e que nasceu com 60 homens que lutaramna Segunda Guerra Mundial, o que já a credenciavapela simpatia popular. Faltava o herói queiria substituir os estrangeiros com seus superpoderes,audazes cavaleiros que derrubavam muitosbandidos com um só soco, o chapéu nunca caía,enfim o problema do <strong>Ary</strong> ficou difícil. Foramfeitos uma centena de testes e a pedido de suaesposa Ignez, foi convocado um integrante daprodução, o Carlinhos, ator de teatro amador,para que também fosse testado. Não deu outra,após a revelação do teste juntamente como cão King, que logo foi rebatizado de Lobo,o resultado foi a aprovação e a conseqüenteconsa gração.13Nos tempos das vacas magras, <strong>Ary</strong> e nossa turma,entendendo as dificuldades por que passava aMaristela, aceitou mais uma vez assumir um compromissoem participar de mais cinco produções


para ajudar o estúdio que passava por situaçãodifícil e que, já sabíamos, não iriam sair do papel.Esse espírito de colaboração do <strong>Ary</strong> era marcaregistrada de uma época onde os ideais eramparte do trabalho de equipe e que se transferiupara os técnicos e atores na Saga do Vigilantee posteriormente em Águias de fogo e outrasproduções. Com essa vontade empreendedora,que por certo ficará na memória de futuros cineastase de outros produtores, em novas formas defazer cinema ou outro nome que se der às artesvisuais.14Fizemos comida nos sets de filmagem, no estúdio,no escritório da Rua Lavapés. Enfim, esse registroque agora faço, mostra esse profissional que sempretrabalhou em empresas que não recebiambenesses de governo e que aprendeu no dia-a-diaas dificuldades e que hoje mostra um pedaço desua trajetória de luta e de sacrifício neste livroque, antes de tudo traduz parte de seu trabalho.Nós que o acompanhamos durante tantos anos,sabemos que precisaria de mais alguns livros parade fato mostrar seu trabalho em prol do Cinema<strong>Brasil</strong>eiro. Obrigado <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>, que Deuscontinue a te iluminar. Muito obrigado.Carlos MirandaTenente­coronel da Reserva da PolíciaRodoviária, o Vigilante rodoviário


IntroduçãoQuando a série Vigilante rodoviário foi exibidapela primeira vez na TV Tupi, em 1961, eu tinhaquatro anos de idade. Seria arriscado dizer quelembro de tudo, mas posso afirmar com certezaque lembro de lances, vagas lembranças namemó ria. Em 1967, quando de sua segunda exibição,eu já tinha dez anos e lembro-me perfeitamentede tudo, até das histórias. Meu tio eracabo da Polícia Rodoviária na época, o CladinorPiffer, ou cabo Piffer como era conhecido. Nessaépoca Carlos Miranda já fazia vitoriosa carreirana Polí cia Rodoviária e ficou amigo de meu tio.Uma ocasião Carlos foi à casa dele no MoinhoVelho, não esqueço, parou a viatura da polícia,desceu Carlos, fardado e um cão policial. Eu estavavendo ali, materializado em minha frente meuherói, o Vigilante rodoviário e seu fiel escudeiroo cão Lobo. Carlos era verdadeiro mas o cão nãoera mais o Lobo, mas durante décadas ficou naminha mente que aquele cachorro era o Lobo.Cultivei essa fantasia, até saber que o verdadeiroLobo morrera um ano antes, em 1966. Durantevinte anos não vi Carlos, mas em 1987, quando eutrabalhava em uma metalúrgica na Via Anchie ta,conheci um Policial Rodoviário que freqüentava aempresa, fazia uns bicos nas folgas . Disse a ele quetinha muita vontade de rever Carlos Miranda , na15


16época já capitão da Polícia Rodoviária, ele ape nasouviu, nada respondeu, mas, uma semana depoisrecebo em minha sala Carlos Miran da, cabelosgrisalhos, fardado, sorri so aberto, aquele mesmoCarlos que embalou meus sonhos de infância. Eutinha trinta anos e já ocupava um cargo diretivona empresa, confesso, não tenho vergonha de dizer,fiquei emocionado, meus olhos se encheramde lágrimas. Em 1995 fui procurá-lo em Itanhaém,não tinha nem idéia onde morava, fui me informando,perguntando e cheguei à sua casa, elenão estava, mas chegou logo em seguida, batemosum papo, me atendeu com a sua educação ecortesia de sempre. A partir de 1998 passei a tercontato mais estreito com Carlos, na casa de AtílioSantarelli, outro fã do Vigilante. Num evento emsua casa, Carlos conheceu a irmã de Atílio, Laura,hoje sua esposa e companheira.Até então eu não conhecia <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>,somen te de nome, existia um tabu que <strong>Ary</strong> eramal-humorado, de difícil trato e que perseguiacolecio nadores de filmes que possuíam episódiosdo Vigilante em 16 mm, que era o meu caso.Sempre tive receio de procurá-lo, mas um diaencorajei-me e liguei para <strong>Ary</strong>, deve ter sido nomesmo ano de 1998. Conversamos por mais deuma hora por telefone e aí comecei a conhecer overdadeiro <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>. Não demorou muito


veio o primeiro encontro, quando o convidamospara fazer uma palestra na ABCF, AssociaçãoBrasi leira de Colecionadores de Filmes em 16 mm.<strong>Ary</strong> topou e, algumas semanas depois, compareceuà nossa sede, no Ipiranga, quando exibimosum episódio do Vigilante e outro do Águias.Sua palestra foi sucesso total, casa cheia e a partirdaí iniciamos uma grande amizade, solidificadaagora com a produção deste livro. Percebi, juntamentecom meu companheiro, Archimedes Lombardi,que havia mágoas entre o <strong>Ary</strong> e o Carlos ,por declarações mal-interpretadas, fofocas,intrigas e nos coube a missão de reaproximar osdois, fato que não foi muito difícil, haja visto queeles sempre foram amigos e que os problemasexistentes eram muito menores que a amizadeque sustentavam. Essa reaproximação foi seladadefinitivamente em 2004, num evento realizadono SESC-Ipiranga, onde os dois foram homenageados. Sucesso total, casa cheia, quase trezentaspessoas, projeção de filmes, palestras, e, ao final,aplausos, mais aplausos e muitos autógrafos.Nossa missão estava cumprida, o criador e suacriatura estavam novamente lado a lado, comonos bons tempos da produção da série. Comopresente para os fãs do Vigilante, Carlos faz oprefácio deste livro, prova irrefutável do queacabei de afirmar.17


18Bem, precisei contar tudo isso para mostrar o quesignifica para mim fazer este livro, é um prêmio,um presente que não sei se sou merecedor, masme empenhei ao máximo para fazer um livroverdadeiro, imparcial, que tem a pretensão derecolocar a história no seu devido lugar. A idéiainicial era fazer um livro sobre o Vigilante rodoviário,essa idéia foi logo substituída por outra,a de homenagear <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong> por toda suaobra e não somente o Vigilante, que, emboratenha sido seu maior sucesso profissional, éparte de sua história, rica em experiências quecomeçam num longínquo 1949 quando iniciou dorádio, passando pela Maristela, depois Vigilante,Águias de fogo, o sucesso como produtor, etc.,etc., etc. Ao longo de trinta horas de entrevistas,fui mergulhando no universo fantástico de <strong>Ary</strong>,com seu bom humor, suas histórias, dificuldades,façanhas, curiosidades, uma lição de vida paratodos nós. O livro foi feito na primeira pessoa,ou seja, foi narrado por <strong>Ary</strong> e sua história foi contadapor meio de seus filmes, que totalizam 124,tanto como ator, auxiliar de produção, gerente deprodução, diretor de produção, produtor-executivo,diretor e produtor, numa filmografia dignade inveja. Creio que poucos cineastas no <strong>Brasil</strong>alcançaram essa marca, mas <strong>Ary</strong> está esquecido,ninguém fala nele, salvo esparsas entrevistasque dá sobre o Vigilante rodoviário. O principal


objetivo deste livro é resgatar sua obra, mostrara todos o que ele fez e recolocá-lo em seu devidolugar na histó ria do cinema brasileiro.Antonio Leão da Silva Neto19


Capítulo IA origem, a infância, a adolescência, afamília, a Segunda grande guerra mundial1931 a 1948Da convivência com os italianos à minha formaçãofamiliarConceição Vieira Garcia e Fernando Garcia moravamna Travessa Sandreschi, no bairro de Santana,em São Paulo. Eram vizinhos, conheciam-sedesde pequenos, seus pais tinham enormes áreasna região, de certa forma latifúndios. Conceiçãocasou-se e teve uma filha, Glória. Fernando tambémcasou-se e teve um filho, Heládio. Mas, porironia do destino, ainda muito jovens ficaramviúvos. Um dia reencontraram-se e casaram-se.Eu e minha irmã Odila somos filhos do segundocasamento de meus pais.21Corria o ano de 1931, ainda perduravam no tempoas influências da Revolução de 1930, quandoGetúlio Vargas tomara o poder, mas a revoluçãonão havia sido o que esperavam os paulistas. Nascinesse clima ainda meio sombrio de uma evolução,em 31 de março de 1931, coincidentemente, umadata onde iria surgir, três décadas depois, umarevolução que modificaria nosso país. Meu avô


tinha várias casas na Travessa Sandreschi. Além denós, moravam também nessas casas meu tio Antonio,irmão de meu pai e sua esposa, Lourdes.22No dia 31 de março todos estavam eufóricos ali,a rua não era muito comprida e ficavam todosjuntos: a família, os vizinhos, na sua maioria italianos.Minha tia Loudes não tinha filhos aindae estava impaciente esperando o nascimentodessa primeira criança, seu sobrinho, que viriapara perturbar, mudar a rotina local. Ninguémsabia o sexo, naquela época havia as parteirase elas não sabiam, então se conjeturava se erahomem ou mulher, porque a barriga estava maisalta, mais baixa, pois é, achavam que isso determinavao que seria aquele rebento, simpatiasda época. Nesse dia meu pai saiu para trabalhar,mas preocupado com o filho que estava paranascer. Quando foi mais ou menos 11h30 ele veioalmo çar em casa e minha mãe já estava sentindoas dores do parto. Meu pai, rapidamente pedepara minha tia ir chamar a Dona Biluca, que eraa parteira do bairro e conhecia muito do assunto.Ressalta-se que nessa época as crianças, na suamaioria, nasciam em casa. E foi em casa que nasci.Meus pais contavam que foi aquela felicidadena rua, o nascimento de uma criança sempre erauma festa, todos comemorando. Que nome darao garoto? Existia em minha família uma mistura


de raças: meu pai brasileiro, filho de espanhóise minha mãe filha de portugueses, viera para o<strong>Brasil</strong> muito pequena, com cinco anos, da Ilhada Madeira, que pertencia a Portugal. Meu pailembrou então de um amigo que tinha um nomemuito bonito, mas que não tinha nada a ver nemcom os espanhóis, nem com os italianos e muitomenos com os portugueses, foi o nome que elelembrou, <strong>Ary</strong>, com ipsilon, que na língua indígenaTupi quer dizer cacho de cocos.Logo fui encaminhado para a escola, que chamava-seEscolinha da Dona Filhinha, uma espécie deescola infantil, difícil naquela época, que fica atéhoje na Rua Voluntários da Pátria, perto da IgrejaMatriz de Santana. Eu nem tinha completado seis23Na escola, na fileira de baixo, o 4° da direita para aesquerda


anos e já sabia ler, lógico, não era ler fluentemente,mas eu lia, não era mais analfabeto. Em 1936,Santana era considerada, na época, Zona Rural,íamos a pé até o sítio do meu avô no Imirim e euia de cavalinho no ombro do meu tio Antonio.Caia muito balão lá no sítio, a área era grande,corríamos pelo terreno, meus primos e eu, atrásdos balões e estragávamos toda a plantação deverdura do meu avô.24Uma ocasião meu pai me levou para lá parapassar o dia, e veio embora e eu fiquei com minhastias, mas logo após o almoço eu já queria irembora, mas nada de meu pai chegar, toda horaperguntava para minhas tias, Cadê meu pai? enada dele vir, então, num determinado momentofalei para elas Vou embora sozinho, elas disseramPode ir, nunca imaginando que eu faria mesmo,e eu fui, com cinco anos, sozinho para casa, euhavia marcado todo o caminho. Cheguei em casapara espanto do meu pai, e logo em seguidaminhas tias, correndo.No ano seguinte, em 1937, ganhei a minha irmãOdila (já tinha a Glória e o Heládio), mais precisamenteno dia sete de abril de 1937. Eu tinhaseis anos e fiquei eufórico, ter uma irmãzinha,novamente a rua ficou em festa e novamenteforam buscar a Dona Biluca, a parteira, que foi aprimeira mulher que eu vi na minha vida dirigir


Com a irmã caçula, Odila25


um automóvel, ela ia fazer os partos de automóvel,uma loucura na época. Eu havia nascido pelassuas mãos seis anos atrás, vocês lembram.Na escola tive muitos amigos, garotos como eu,entre eles, o Reinaldo Barbosa de Moura, o Reinaldinho,que foi comigo até o curso científico,fizemos jardim da infância, primário, tudo, fomosmuito amigos. Hoje é falecido, deixou um sítio,um haras, esses que criam cavalos árabes. Tivemostanta amizade que eu adotei sua esposa Lígiacomo minha irmã e as suas duas filhas Alessandrae Adriana como sobrinhas.26Eu disse à ela: Como eu perdi minha irmã Glória,você fica no lugar dela e vocês duas agora sãominhas sobrinhas.Na infância em Santana, com amigos (1° à esquerda)


Eu sempre fui lourinho, cabelo quase branco,meus filhos Vânia e Fernando a mesma coisa,louri nhos. Com sete anos eu já gostava de cinema,mesmo sem nunca ter ido, pois eu não entravasozinho, mas ouvia as pessoas comentaremuma passagem do filme, tinha curiosidade, jágostava sem conhecer.O circo também marcou muito minha infância.Meu pai tinha caminhão de transporte e quandochegava um circo na cidade ele era contratadopara fazer propaganda, tinha que colocar placaspublicitárias do circo em volta do caminhão eem cima um homem com megafone anunciavaa atração.27E vinha a bandinha do circo, tocando pararatimbumpelo bairro, anunciando, distribuindofolhetos, a criançada ia atrás, e eu junto, no meio.À noite meu pai levava toda a família para vero circo.Quando eu tinha oito anos meu pai comprounosso primeiro rádio, marca Andrea, norteamericano, que eu lembro até hoje era chamadode rabo quente, pois o fio que ligava trabalhavacom uma resistência e esquentava muito. Meusamigos comentavam, o <strong>Ary</strong> tem um rádio, eraimportante ter um rádio. Nessa época fui aocine ma pela primeira vez e vi um seriado do Flash


28Gordon, aqueles seria dos que nunca tinham fim,não terminavam, de um domingo para o outro elescontinuavam, por isso eu queria ir ao cinema. Alémdo Flash Gordon, gostava do Charles Chaplin, Laurel& Hardy, Buster Keaton, mais de comédias, menosde bang­bangs. Tinha uma série em especial,chamava-se Águias de prata, (veja a coincidência,décadas depois eu faria o seriado Águias de fogo)com um aviador, o filme era cheio de aviões, e euadorava, ficava fascinado. Gostava também defilmes de ação, aqueles com George Raft, JamesCagney, Humphrey Bogart, Katherine Hepburn,etc. Era engraçado que às vezes eu fazia uma traquinagemqualquer e meu pai não me deixava irao cinema, eu ficava louco porque não podia vera continuação do seriado. Foi ali que eu comeceia gostar de seriados, como eram feitos, começou aidéia, não do Vigilante rodoviário nem do Águiasde fogo, mas começou a passar na minha cabeçao porque não existir uma série genuinamentebrasileira, isso já me incomodava.Perto da minha casa tinha um enorme bebe dourode água, feito em ferro maciço. Na época decarnaval as pessoas ficavam jogando água umasnas outras, uma saudável brincadeira difícil deimaginar nos dias de hoje.Depois da escolinha fomos para o grupo escolar.Nessa época comecei a fazer cirquinho no quintal


de casa, meu pai me arrumava uns panos, tinha apaisagem, eu montava o cirquinho na minha casacom a garotada, eu inventava, dividia as funções,na verdade, minha vida artística começou ali.Eu ouvia o rádio, tinha vontade de trabalhar norádio, mas nem pensava em cinema, gostava doscantores da época, Orlando Silva, Francisco Alves,Cyro Monteiro, Paraguaçu e Vicente Celes tino.Nessa época meu avô, pai do meu pai, construiuduas casas novas, uma para nós outra pro meutio Antonio. Entre uma casa e outra, morei nesselocal de 1931 a 1958. Depois meu tio Antoniomudou, meu pai construiu mais dois quartos, umpara mim outro para minha irmã Odila, pois aoutra minha irmã Glória já havia casado e compradosua casa. Fiquei morando lá até casar, em1958, quando ocupei a casa da Glória. De lá eucomprei a casa da Rua Vaz Muniz, em 1968, ondemoro até hoje. Interessante que na minha carreiracinematográfica eu viajei muito, em hotéis eacampamentos por todo o <strong>Brasil</strong>, mas minha casamesmo foram só duas, e ainda em 2005 moro aquinesta casa, tenho o sítio, mas gosto daqui.29Na Travessa Sandreschi moravam também osLan di, parentes do Chico Landi, famoso corredorde automóveis, que vivia lá e era amigo domeu pai. Meu pai sempre contava que uma vezempres tou quinze mil réis para ele e nunca mais


viu o dinheiro . Depois, quando Chico Landi ficoufamoso a gente comentava o fato e ria muito.30Dessa época eu cito uma pessoa de gratalembran ça, o Patrício Pereira Penteado, ou simplesmentePatrício, que era negro, escravo dafamília Pentea do, do Conde Penteado, que hojeé nome de bairro, a Vila Penteado. Com o pai emãe escravos Patrício nasceu filho de ventre livre.Ainda meni no, quando acabou a escravidão,ele foi morar com meu avô e com ele ficou atémorrer. Patrício foi meu tio negro e já velhinhoteve cataratas e ficou cego, devido a diabetes.Foi enterrado no jazigo da família.Pessoa marcante também na minha infância foio Sr. Salvador Aurichio, que a gente chamava deSeu Turilo. Ele era inquilino do meu pai e faziavinho, ele trazia vários caminhões de uvas e iajogando num reservatório grande, lavava os péscom álcool e começava a pisar nas uvas, paraamassá-las e fazer o vinho. Ele dava frutas para agarotada, chamava para comer uvas. Depois eleconstruiu a casa dele, uma casa grande, embaixotinha uma adega onde ele armazenava o vinhoque fazia. Acabou enriquecendo com a comercializaçãode sucata de vidro. O Seu Turilo gostavade festas, organizava as festas de São João, comfogueiras, fogos, balões e muita cantoria.


O Sr. Turilo fazia as fogueiras e o Maurício, filhode italianos, ficava encarregado dos balões. Eraes pecialista, tinha uma habilidade incomum paraisso, fazia todos os tipos, moringa, charuto, cruz,chu pe ta, estrela, etc. Todo mundo ajudava na horade soltar os balões, que na época era permi tido.O céu ficava infestado, independentemente doperigo que representavam, eram muito bonitosde se ver.O Seu Turilo gostava muito de reunir os amigose, como bom italiano que era, preparava pratosdeliciosíssimos, tipo, pegava pepino, pimentão,beringela, alcachôfra e fazia um curtido comvinagre para comer com pão italiano e chamavaos amigos, entre eles meu pai, meu tio e outros.Ficavam conversando, comendo aquela conser va,salame italiano, pão italiano e tomando vinho. Eleusava azeite italiano que ele mesmo impor tava,chegavam caixas e caixas. Seu Turilo era casadocom Dona Rosa e tinham uma filha mais velhachamada Felícia, depois o Francisco, a Maria, a Linae por último o Emílio, que a gente chama va de Negro.Tanto o casal como os filhos morre ram e hojeexiste apenas um neto vivo chama do Francisco.31Quando menino, eu ia também na casa dosMantovani, os irmãos Nelson, Silvio, Teleco, Zé,Ricieri, todos eram meus amigos. Dona MariaMantovani fazia uma sopa especial com feijão


32e macarrão. Eu, com dez/onze anos ia comer nacasa deles, era minha segunda família, eu mesmonada tenho de italiano, mas acabei criando umaenorme afinidade com eles, eu vivia no meio deles,o que eu falo de italiano aprendi com eles.Na travessa Sandreschi eu tinha uma amiguinhaque se chamava Mariazinha, seus pais eram tintureiros,profissão que não era muito comum naépoca. Mais para cima, na mesma rua, tinha umafamília que fabricava correntes. Subindo mais umpouco tinha um cordeiro, ele fabricava cordas,hoje não existe mais isso. Havia também um ferreiro,Sr. Luis, na esquina da travessa Sandreschicom a rua dr. César, que fabricava ferraduras. Seufilho Zinho era meu amigo. Naquela época tinhamuita carroça, e o pessoal ia ferrar os animais.Eu ia lá só para acionar o fole. Explico: naquelaépoca não existia ventuinha. O fole era grande,tinha mais de dois metros, quem acionava era oBernardo, que a gente chamava Berná, irmão doZinho. Eu subia num caixote pegava a correntee ficava puxando para acionar o fole.São Paulo era a cidade da garoa, mas não erasó da garoa, às vezes abaixava uma bruma quea gente não enxergava nada a três metros dedistân cia. Jogá vamos bola na rua dr. César atéanoitecer, ou quando começava a garoa oubaixava a bruma. Do outro lado da esquina, emfrente ao ferreiro, tinha um armazém, comum na


época, que vendia coisas a granel. A gente ficavana porta do armazém falando sobre cinema.Havia dois cinemas na rua Voluntários da Patria,o Cine Orion e o Cine Colon, era nesses cinemasque a gente ia ver os filmes seriados. Na portado armazém a gente ficava comentando sobreo seriado, o capítulo que vimos e conjeturandosobre o que viria no próximo. Falávamos umpouco também sobre futebol, porque havia ocampo do Mascote, perto do Campo de Marte.Os adultos jogavam vinte e um a dinheiro e nósficávamos olhando eles jogarem. Aos sábadostinha a feira, que ia da minha rua até a Voluntáriosda Pátria, minha avó vinha lá do sítio parafazer compras na feira. Eu ia junto. Tinha umabanca de embu tidos que era de uma espanhola eminha avó era freguesa dela. A espanhola, a qualainda vejo sua fisonomia claramente, me davauma salsisha, que eu comia com muito prazer. Àsvezes, no mesmo dia minha mãe também ia nafeira e eu acabava ganhando mais uma salsishada espanhola. A for ma de ser antigamente eradiferente de hoje, as ruas eram de terra, ficavamtodos sentados nas calçadas. Posso dizer que tiveuma infância feliz, uma boa família.33No Colégio São Vicente de Paula, quando eutinha uns dez anos, nós fazíamos um teatrinho,a professora chamava-se Maria Alice e lá eu


encontrei um grande amigo, o Mané, ManoelCosme Pinto, que depois se tornou dentista.Eu fazia a peça com a orientação de Maria Alicee essas coisas foram me levando, me encaminhandopara a vida artística.Meu avô cantava e tocava pandeiro, ele gostavade música, eu ouvia sua voz de longe cantandoe meu tio mais novo, Maneco, tocava violão eOdila, minha irmã, aprendeu tocar harmônicapara agradar meu pai, mas quando se formouprofessora ela abandonou o instrumento.34Além disso, tenho um violão novo, que nuncafoi usado. Eu queria que meus filhos aprendessem, mas não deu certo, não se interessaram pormúsica .Interessante que eu nunca gostei de jogar futebol,mesmo assim formei um clube que se chamavaJuvenil Guanabara, tinha uma meninada boa lá.As camisas foram doadas por <strong>Ary</strong> Silva, que erajornalista, comentarista de futebol e dono daGazeta de Santana, que depois chamou-se Gazetada Zona Norte. <strong>Ary</strong> faleceu há pouco tempo. Euera ruim de bola, mas tinha garotos bons comoo Nelson Mantovani, que morava na travessa emorreu muito moço, não tinha 18 anos, o Chalapa(que morreu moço também) o Clélio (que chegoua jogar no São Paulo F.C.) e muitos outros. Eu só


jogava porque era fundador do clube, tanto queaté hoje eu não ligo para futebol, nem tenho clubede coração, gosto de jogos de futebol só quandotem muito gol, nem seleção brasileira eu gosto.Meu pai também não ligava e nem meu filho Fernandoliga, mas meu tio Antonio era corin tiano.Eu fui ao Pacaembú em 1942 pela primeira vez, oestádio era novo, recém-inaugurado, ver um jogojunto com meu irmão. Na época de cinema fui comAlfredo Palácios, produtor e diretor de cinema,ver São Paulo e Corinthians. Palácios torcia peloSão Paulo. Tinha muita gente e eu era baixo, nãoconseguia ver o jogo, me aborreci, e fiquei no bartomando refrigerantes; outra vez fui dirigir umcomercial com Geraldo José de Almeida, e numaoutra vez fui a Santos buscar Pelé, que veio paraSão Paulo junto conosco, no automóvel Simca doVigilante, na época do seriado, era dia de clássicoPalmeiras e Santos, uma jogada comercial dopatrocinador, e por último fui ao Pacaembú fazerum episódio do Vigilante, chamado Jogo decisivo.Quando casei, passei minha lua-de-mel no Rio deJaneiro e fui conhecer o Maracanã. Foram essasas únicas ligações minhas com futebol ao longode minha vida.35Quando eu tinha oito anos eclodiu a Segundagrande guerra, mas nós só tomamos conhecimentomesmo alguns anos depois, talvez em 1941.


36O meu avô, que era um autodidata, lia muitoe conhecia de tudo um pouco, nos contava oque esta va acontecendo na Europa, mostravaum mapa, quando os EUA entraram na guerra,come çou o problema de abastecimento no <strong>Brasil</strong>,com racionamento de trigo, de combustível,açúcar, etc. Para se ter uma idéia, a gente faziapão do macar rão, tinha aquelas filas enormes quevaravam a madrugada, tinha um cartão de racionamentoque a gente recebia, só podia comprarseis pães, o presidente era Getúlio Vargas, tinhaos blecautes, a gente colocava um pano preto najanela, tinha que apagar todas as luzes, passavamos aviões da FAB e não podia haver uma luz acesa,se vissem, mandavam avisar. Meu pai dizia quenão entendia como os italianos foram entrar naguerra, eles nasceram para cantar, comer macarrão,era um povo alegre, festivo, não combinavacom a guerra. E eu morava numa rua que só tinhaitalianos. Tinha um italiano lá que se chamavaTchicurço, que devia ser Tio Curso, esse cara tinhaumas fotografias do Mussolini na parede, meu paidizia a ele: “Tira essa porcaria daí que você vaiacabar preso”, a janela dava para rua, o cara eralouco, porque naquela época existia perseguiçãoaos japoneses, italianos , eu tinha muita amizadecom os japoneses também, (tanto que minhairmã Glória falava japonês) e até com alemães,haja visto que os donos da Epel, Srs. Augusto


38garotos, fazíamos espingardas de madeira, marchávamos,inclusive o Clélio, aquele que jogou noSão Paulo, era da nossa turma, fazíamos tamborde lata, enfim, imitávamos os soldados da guerra,sem ter a menor noção do que aquilo significava.Uns faziam os soldados brasi leiros, outros ossargentos alemães, fazíamos caminhadas. Meupai trabalhava por conta, era caminhoneiro,juntamente com meu tio. Cada um tinha o seucaminhão e faziam mudanças, carretos, a maioriaaqui em São Paulo, de vez em quando viajavampara Minas Gerais, Rio de Janeiro, etc. As empresasda época não tinham caminhões para transporte,o que fazia com que existisse um excelente mercadode trabalho. Existia em São Paulo apenasuma grande transportadora, a CGT, CompanhiaCom a irmã caçula, Odila


Geral de Transportes, que nem era brasileira e siminglesa e a Lusitana, que fazia mudanças domiciliares.Na verdade, tinha muita carroça na época.Existia muita dificuldade em conseguir gasolina,então o pessoal começou a comprar cavalo, carroções,etc. Graças a Deus nunca faltou serviço ameu pai, que conseguia a gasolina que precisava,então era muito requi sitado. O governo forneciaum cartão que dava direito a uma cota de litrosde gasolina por dia para cada motorista. Nãoexistia o diesel, os carros, caminhões e até os tanquesde guerra eram todos movidos a gasolina.Meu pai arrumava gasolina de avião, no campode aviação, ele tinha amizade com todo mundoe acabava cedendo gasolina para seus amigos,médicos, políticos, etc. No quintal da minha casatinha cinco ou seis tambores de duzentos litrosonde meu pai armazenava gasolina. Era proibido,mas tínhamos que sobreviver. Passamos momentosdifíceis aqui no <strong>Brasil</strong>, inclusive dois amigosnossos que eram motoristas de ônibus foram paraa Guerra como pracinhas da FEB – Força Expedicionária<strong>Brasil</strong>eira, no segundo escalão. A genteia à casa deles saber notícias, eu não tinha muitaidéia do que estava acontecendo, as informaçõeseram escassas, víamos nas ruas soldados fardados,alguns deles estavam retornando, feridos, era umnegócio meio chato. Eu não guardo lembrançasagradáveis dessa época, a não ser quando acabou39


a guerra, em 1945, quando eu tinha 14 anos deidade. Um amigo nosso Teleco, (que tinha essenome porque joga va muita bola, uma homenagemao famoso Teleco jogador do Corinthians),ouviu no rádio a notícia e veio gritando, avisandotoda a vizinhança: Acabou a guerra, acabou aguerra..., foi uma festa geral, todo mundo largouo que estava fazendo e saiu na rua.40Nessa época, com meu pai, fui a primeira vez paraSantos. Na serra, vi tanta bruma que pensei queestávamos no céu. Costumávamos fazer pic­nicsaos domingos na praia, juntávamos uma turmade 30 pessoas, entre pais, tios, sobrinhos, amigose íamos de trem. Esse tipo de passeio tinha queser muito bem combinado, com antecedência.Saíamos de madrugada e quando o dia amanheciajá estávamos no trem. Na descida da serra, osvagões eram engatados à um cabo de aço, quedescia o vagão até lá embaixo. Dava um medodanado. Em Santos, na Av. Ana Costa, pegávamoso bonde até a praia do Gonzaga. O bonde tinhadois andares. Na praia, nos instalávamos em umbalneário, onde se alugava cabinas para trocar deroupa, guardar a mala e até se alugava shorts ecalções. Na hora do almoço, a mulherada estendiatoalhas na areia e ali comíamos os quitutesdisponíveis, todos temperados com areia. Semperceber, estávamos nos torrando no sol. No dia


seguinte, segunda-feira brava, estávamos literalmentearrebentados, vermelhos, mas felizespelo passeio.No final da guerra eu tinha quatorze anos deidade e disse ao meu pai que queria trabalhar,ter meu dinheiro, mas ele queria que eu ficasseestudando, não queria que eu parasse. Conseguiemprego na Empresa Epel, aquela dos amigos demeu pai. Eu estudava de manhã, e ia trabalhar àtarde, saia do colégio, almoçava rápido e ia trabalhar.Fui colocado na fundição, trabalho pesado evinha com as mãos todas arrebentadas, carregavae cortava tarugos, lavava privadas, meu pai medisse: Você não falou que era macho?; na verdade,suponho que ele tenha pedido aos donos queme colocassem nesse serviço para me dar umalição, mas não desisti, nunca mais parei de trabalhar.Um dia o Sr. Augusto me transferiu parao escritório, ai as coisas começaram a melhorar.Com 16 anos já tomava conta de 120 funcionários.Meu irmão Heládio também traba lhava lá,na fábrica, fazia os motores. Depois abriram umaloja no Largo de São Bento, que logo mudou-separa a Rua Conselheiro Crispiniano, onde conhecidr. Prestes Maia, que era engenheiro e depois foiprefeito de São Paulo. Subíamos juntos o elevadortodo dia, ele tinha escritório lá.41


42Na foto, na formatura do Curso Científico


Capítulo IIA verve artística – o rádio, o teatro e a TV1949 a 1951Minha carreira artística começava a se delinearEu já tinha facilidade em imitar os artistas, noescri tório da Epel todos pediam para eu interpretaros personagens, com sucesso entre os colegasde trabalho. Um dia, numa festa de aniversário,um amigo, Jorge, o Jorginho, me disse: “Porquevocê não tenta no rádio, você é bom, imita ummonte de gente”, e eu lhe contei que já haviatentado, antes de completar dezoito anos, umavaga de locutor na Rádio Cultura, ainda na Av.São João. Os testes eram feitos à noite, por HélioRibeiro. Tinha quinhentos candidatos para umavaga de locutor e rádio-ator, fui fazendo os testes,fiquei um tempão lá, eliminando, eliminando,e o <strong>Ary</strong> ficando, no final sobraram eu e umoutro, mas ele ganhou a vaga, pois como diz ovelho ditado: “Quem tem padrinho não morrepagão.” A atriz Raquel Martins me chamou,e disse: “Você tem muita capacidade, nasceupara isso, muito mais do que o outro, eu querote ajudar, isso é uma injustiça, mas não desista,você ainda vai entrar para nosso meio.” Fiqueichateado, mas continuei, as palavras da Raquel43


44não saíam de minha cabeça, aquilo me motivou.O Jorge, comovido com minha história, me disseque tinha um amigo chamado Walter Krumpos,que trabalhava na Rádio América. Jorge disse:Amanhã eu ligo para ele, nós vamos à rádio evou te apresentar. No dia seguinte na hora doalmoço, meio-dia, meu horário era das doze àsquatorze, fomos correndo para lá. Conversei comKrumpos, ele me deu um script, e pediu que euvoltasse no outro dia às quatorze horas, mas foilogo dizendo: Não vou te dizer nada, você vaifazer do jeito que acha. Mas eu já anotava o queos profissionais de rádio faziam, a marcação, euficava ouvindo, eu estudava, trabalhava, ensaiavaas falas sozinho, tinha interesse na coisa. Eume sentia preparado para aquele teste. No diaseguinte fui à rádio e gravei, fiz o teste, tinhavárias falas, várias pessoas fazendo teste, tinhauma radioatriz, Denise Gomes, que ouviu a gravaçãoe quando entrou a minha voz, ela disse:Quem de vocês gravou isso ai?, eu disse Fui eu,ela não respondeu nada, ia mostrar o teste parao diretor da rádio, dr. Cavalcanti e para o diretorartístico, dr. Freitas. Voltei para o escritório e opessoal foi logo perguntando: Como foi? e eurespondendo: Não sei, vou aguardar a resposta.Quando foi mais ou menos quatro ou cinco horas,ligaram querendo falar comigo, e me disseram:Olha você vem amanhã para assinar contrato.


Eu fiquei mudo, perdi a fala, foi uma festa comos amigos, todo mundo me cumprimentando,todo mundo pulando de alegria. O pessoaldo escritório torcia por mim, pois viam que eutinha talento. Eu disse a eles: Vou lá amanhã enão volto mais e realmente nunca mais volteipara a firma. A Rádio América ficava na Ruada Consolação esquina com a São Luis, era umcasarão antigo que pertencia ao Adhemar deBarros, em frente ao prédio do jornal O Estadode São Paulo, depois Diário Popular e hoje Diáriode São Paulo, perto também do Hotel Jaraguá.Assim comecei minha carreira no rádio, nuncame esqueço, a primeira coisa que fiz como artistafoi uma novela, em que o cenário era a idademédia, aquelas fortalezas de pedra e eu era umsoldado. Fiz também o programa Grandes atraçõesPalhinha (quem patrocinava, logicamente,era o conhaque Palhinha). Eu fazia tambémhumorismo e gostava muito. Tive contato comgente importante como Salomão Júnior, seusirmãos Salomão Ésper e Calixto Júnior, o Zé Caninhae Carlos Assunção, que faziam o programaCartório de protestos, grande sucesso da época,muita audiência, entre tantos outros. Esseprograma chamava-se A foice e o martelo, masmudaram o nome devido às suas conotações comunistas.Eu fazia um dos plantões de reclamante.O rádio tinha palco, fiz muito palco também.45


46A Rádio América remodelou sua estrutura etrouxe do Rio de Janeiro o famoso redator BenvindoEdinaldo e Otávio Augusto Vamprê, queera diretor e redator mais famoso ainda. O diaque eles estrearam, foi feito um show no TeatroSão Paulo, que era ali no bairro da Liberdade.Todo show foi transmitido pela TV Paulista,Canal 5 da época, já no início dos anos 1950. Euera muito jovem, 19 anos e eles me colocavam,tiravam, ficava para lá e para cá, eu fazia detudo, tinha cara de menino, até que o CarlosAssunção, que tinha muito prestígio na época,reclamou: Porque fazem isso com o garoto?Ninguém tira mais ele senão quem não vai maistrabalhar sou eu. Um dia, o Carlos Airton, queera radioator, contra-regra e praticamente cuidavade tudo, saiu para resolver um problemae não voltou a tempo de entrar no ar. O meuquadro era seguido ao dele. Vamprê me deu otexto e mandou eu entrar, mas eu disse O que eufaço? Ele respondeu: Vire­se, você não é ator?,eu entrei, quando a atriz Nena Nascimento viuque não era o Carlos e sim eu, ai ela inventouumas falas, para dar um gancho, eu fiz o sketchinteiro pelas falas dela, inclusive apresentandoo novo contratado da rádio, o redator policialBenvindo Edinaldo. O Freitas estava com a chavegeral na mão para desligar e mandar tudo parafora do ar, mas quando viu que eu dava conta


do recado, deixou correr. Em seguida fiz o meuquadro (que era o que estava programado) e,quando sai, parecia uma barata tonta, o diretorme abraçou e daí em diante já fui escalado paranovela e minha carreira no rádio deslanchou.Atores consagrados da época como Percy Aires eoutros, não gostaram muito, mas não tive culpa,foi uma oportunidade que surgiu e tive que fazere fiz bem feito.Em 1952, eu estava no rádio quando fui convidadopara trabalhar na TV Paulista, que era umaemissora regional de São Paulo, muito pequena,não tinha grandes nomes no seu cast, uma vezque o grande elenco da época pertencia à TVTupi. Essas televisões regionais trabalhavam maiscom free­lances. O programa a que fui convidadoera um humorístico, um sketch onde eu tinha umpequeno papel semanal; eu não era contratadoda televisão, fazia uma espécie de participaçãoespecial e recebia um cachê, a televisão era aovivo. Nessa época era muito caro um aparelhode televisão, e pouca gente tinha, somente aspessoas da classe média alta, mas, com minhaseconomias, consegui comprar uma televisão parameus pais e meus irmãos, foi uma festa em casa,os vizinhos vinham para assistir aos programasda época, a casa ficava cheia, minha mãe serviacafezinhos e bolachas, mas a imagem ainda era47


muito ruim, a tela do televisor pequena, mastodo mundo se divertia, eu mesmo nem sem preestava em casa, por causa dos meus afaze res norádio.48Nessa época os estúdios da Vera Cruz estavam atodo vapor, era o assunto do momento e todomundo queria fazer cinema, embora o rádio ea televisão também fossem importantes mas ocine ma estava em moda, e eu não era diferente.Com vinte anos de idade eu já havia decididominha vida, queria ser artista, não importa comofosse. Na época a profissão de artista era muitomal vista e meus pais ficaram muito preocupados,mas nunca se opuseram à minha escolha.Eu estudei até o científico, o que seria equivalentehoje ao segundo grau. Na minha profissão eradifícil estudar, acabava faltando muito às aulas.Eu queria ser médico, mas não tive condições defazer uma faculdade.Na época só existiam duas faculdades, a Paulistae a Santa Casa, eu teria que largar tudo paraestudar e não podia, não tinha condições paraisso. Acabei compensando isso com muita leiturae informação, eu tinha muita sede de informação.A própria vida artística, no meu caso naépo ca, o rádio, dificultava os estudos, pelos horáriosimpostos, etc. Como contratado da RádioAmérica, eu era um ator eclético, mudava a voz,


fazia japonês, tinha facilidade com isso. Nessaépoca, conheci o Ronald Golias ainda na RádioCultura, depois ele foi para a Rádio Emissora dePiratininga trabalhar no programa do Manoel daNóbrega. Não tinha amizade com Golias, apenasnos conhecemos nos corredores, mas admiro seutalento.Alfredo Palácios trabalhava na Rádio São Paulo.Não éramos amigos, mas às vezes conversávamos.Havia uns bares, Bar Simpatia, Bar Harmonia eoutros, na Rua Xavier de Toledo, onde o pessoalde rádio se reunia. Palácios tinha muita amizadecom o Krumpos, quer dizer, na verdade conheciPalácios através do Krumpos. Em fins de 1951,começo de 1952, o rádio entrou em crise, a televisãochegara com toda a força, os artistas do rádiomigravam para o novo veículo e os programasde rádio não mais se sustentavam, com exceçãodo programa do Manoel da Nóbrega, na RádioPiratininga, que ia bem, se segurava. O EgasMuniz , que era diretor artístico da Rádio Emissorade Piratininga, disse que ia me levar para o programado Nóbrega, para ser melhor aproveitado.O Egas era muito amigo do dr. Cavalcanti, diretorda rádio, e não poderia simplesmente metirar da rádio, senão arrumaria confusão. Entãoeu teria que pedir demissão, ficar um tempoparado e depois iria trabalhar com ele. Esse foi49


50o combinado e assim eu fiz, sai da rádio, fiqueiuns quinze dias parado, aguardando, mas a crisepiorou, e nada deu certo, não fiquei nem aquinem lá, lembro que só o programa do Nóbregaficou no ar, o restante era somente programasmusicais, que tocavam discos o dia inteiro. Egasera um excelente profissional e bom amigo, masnada pôde fazer por mim. Eu fiquei desespe rado,procurei vários amigos, sem sucesso, acabavafazen do alguns bicos, como no programaCartó rio de protes tos, na Rádio América. Assimtermi nou minha carreira no rádio. O Krumpos,que me levou para o rádio e me ajudou a entrarpara o cinema, muitos anos depois faleceu emFranco da Rocha, ótima pessoa, um talento, masnão pude fazer nada por ele, que foi vítima doalcoolismo, e também teve um problema nafamília que descon trolou toda sua vida; quemme avisou de sua morte foi o Salomão Jr., irmãodo Salomão Ésper, que fazia um programa demúsicas antigas.


Capítulo IIIOs primeiros passos no cinema e a vitoriosacarreira na Cinematográfica Maristela1952 a 1957A persistência para entrar na Maristela – o inícioda amizade com Alfredo PaláciosEm 1952, com 21 anos eu estava desempregadoe meu pai me disse: Volta para a fábrica, eu conversocom os alemães e eles te aceitam, mas eudisse: Não, vou em frente, fazer aquilo que gosto,aquilo que escolhi. Mas confesso que estavacom medo de não conseguir e ver meus planosdestruídos. Resolvi então tentar a sorte no cinemae fui até os estúdios da Maristela, no Jaçanã.Na portaria, encontrei um eletricista chamadoArlindo <strong>Fernandes</strong>. Conversei com ele, expliqueiminha situação, disse que vinha do rádio, estavadesempregado e precisando muito trabalhar. Eleme disse que eu precisava falar com o RobertoPerchiavale, que era uma espécie de diretor deprodução da companhia. Arlindo me perguntouse eu não conhecia ninguém da Maristela, eudisse que só conhecia o Alfredo Palácios, quehavia conhecido superficialmente no rádio eque já havia trabalhado na Maristela. Voltei aprocurar o Krumpos, que era amigo do Palácios51


e este me deu um cartão com um bilhetinho derecomendação.52Procurei o Palácios e pedi uma ajuda a ele,reforçado pelo cartão do Krumpos. O Paláciosdisse que não podia fazer nada e que eu teriaque falar com o Perchiavale mesmo. Então Paláciosme deu outro bilhete de recomendação efui falar com o homem novamente no Jaçanã.Nessa época, os estúdios da Maristela estavamalugados à Kinofilmes. Roberto me disse que estavamterminando o filme O canto do mar e queiriam iniciar a produção de Mulher de verdade.Me pediu para voltar na outra semana, pois eleesta ria montando a equipe. Voltei lá durante trêssemanas seguidas. Na quarta semana encontreinovamente o eletricista Arlindo que me disse queo Roberto não estava mais na Companhia. Fiqueiperplexo e frustrado, imaginando que minhaoportunidade havia virado fumaça. O Arlindome disse então para eu procurar o Palácios, queera o novo produtor da Companhia e que haviaassumido o lugar do Roberto. Pulei de alegria,voltei correndo para São Paulo e fui procurar oPalácios na Rua João Brícola, onde ficavam osescritórios da Maristela. Ele me disse que já tinhatrês assistentes de produção, eu insisti, disse quesabia dirigir automóveis, era habilitado e quepoderia ser muito útil e ele me encaixou como


quarto assistente, mas ainda sem remuneração,ele ia ver se conseguia uma verba para me pagar.Era meu começo no cinema. Entrei na Maristelaem sua segunda fase. Ela já tinha produzidoalguns filmes, hoje considerados clássicos comoSimão, o caolho e O comprador de fazendas.A Maris tela estava se reciclando.Kino Filmes – 1952/3Descobrindo o cinema – meus primeiros filmes – aexperiência com CavalcantiCanto do mar – 1952Apenas uma pequena participação, no final dofilme53O diretor era Alberto Cavalcanti. Quando cheguei,Canto do mar estava no final, mesmo assimajudei em algumas coisas. Paralelamente estavasendo preparado Mulher de verdade, no qualtive maior participação.Mulher de verdade – 1953Descobrindo os segredos da produçãoApós acertar com Palácios, comecei a trabalharna mesma hora. Palácios me deu uma relação demóveis, objetos e utensílios que eu deveria conseguirpara o filme Mulher de verdade. Já estavana hora do almoço, ele me disse para só voltar


54quando estivesse com todo o material da relação.Sai correndo e fui me virar. No outro dia às dezhoras da manhã eu já havia conseguido tudo.Cheguei no escritório e pedi uma condução pararetirar o material. Palácios me mandou ao Jaçanã,consegui uma perua, fiz duas viagens e carregueitodo o material para o estúdio, sem gastar umcentavo, pois o estúdio não tinha verba para isso,então consegui tudo emprestado de graça commeus parentes e vizinhos. Quando terminou ofilme eu já era o primeiro-assistente. Os outrosnão conseguiam me acompanhar, tamanha avontade que eu tinha de acertar. Comecei a verequipamentos que eu nunca tinha ouvido falarcomo as câmeras Super-Parvo e Parvo-L, o tripéCharriot, que era usado em estúdio, refletorescom lâmpadas de cinco mil wats, lentes, para mimera tudo novidade. Conheci também o Comutatrix,um transformador usado no Kinevox, quepor sua vez era um equipamento de gravaçãogrande, usado para fazer a sincronização emnúmeros musicais. Comecei a ficar fascinado comaquilo tudo, era um mundo novo que se abriapara mim. Como de hábito, desde os tempos derádio, passei a anotar tudo, isso me facilitava demais,depois tirava as dúvidas com os técnicos.O diretor da Kino Filmes quis vender ações nomercado para ficar em definitivo com a Maristela,


mas não deu certo. Esse diretor, três semanasdepois, me chamou para acertar salário, pois atéentão eu nem sabia quanto ia ganhar, Paláciosmandara eu começar e pronto. Ele perguntouquanto eu queria ganhar, eu fiquei encabulado,mas por dentro tinha uma expectativa de ganhardois mil cruzeiros. Ele me ofereceu dois mil e quinhentos,fiquei feliz, era mais do que imaginava,e, de certa forma, um reconhecimento à minhaeficiência, o quanto eu funcionava em termos deprodução. Eu era um mosquito­elétrico, corriaatrás de tudo e funcionava, por isso os produtoresgostavam de mim.Cavalcanti já era produtor/diretor consagradona Europa e vinha da Vera Cruz, onde ajudaraa montar os estúdios, comprar equipamentos eproduzira Caiçara e Ângela. Cavalcanti era umapessoa muito discreta, nunca comentou sobresua saída da Vera Cruz, eu ouvi falar o que tinhaacontecido, mas não por ele. Ele era um excelentediretor, conhecia tudo de cinema. Tive um bomrelacionamento com ele, mas suas fitas acabaramnão dando certo, não por incompetência dele,muito pelo contrário, mas talvez pela linguagemque ele utilizava, muito sofisticada, os filmes nãofalavam muito a nossa língua. Mesmo na VeraCruz acontecia isso. Eu gostava dos filmes daVera Cruz, sempre achei que eram filmes muito55


56bem produzidos, mas talvez não para nossopúblico; um exemplo disso é Appassionatta, umbelo filme que não aconteceu, um filme difícil,sofisticado. Esse era o espírito da Vera Cruzno começo, na fase do Cavalcanti. Eu acabeiaprendendo muita coisa com ele, para mim foiótimo, pois eu estava começando, e acabei trazendoalguma influência dele nos meus filmes,talvez superficiais, mas tinha. Eu ficava olhandoo Cavalcanti dirigir, interessado em saber comoe porque ele fazia, e eu anotava tudo, eu tinhaesse hábito. Além de Cavalcanti, conheci nessaépoca o fotógrafo Edgar <strong>Brasil</strong>, que veio paraSão Paulo a convite de Alberto Cavalcanti, parafazer o filme Mulher de verdade. Com Edgar<strong>Brasil</strong>, vivi uma experiência fascinante e trágica:ele tinha um carro, um Lincoln Zephir, que haviapertencido à Carmen Santos, que ele me confessarater sido sua paixão, mas ao que parece,nunca consumada. O único que dirigia seu carroera eu, ele gostava e confiava muito em mim.Segundo Edgar, Carmen Santos não queria vendero carro a ele, pois achava que ele ia morrercom o carro, o que acabou acontecendo algumtempo depois. Edgar <strong>Brasil</strong> era um dos melhoresdiretores de fotografia do Cinema <strong>Brasil</strong>eiro.Ele fumava cachimbo, tinha vários, de modelose cores diferentes, quando um esquentava, elepreparava outro, quando chovia ele virava o


cachimbo para baixo para não molhar, para nãoapagar. Ele queria um bem tremendo a mim.Trabalhávamos em três: eu, Vicenzo Bizonho ,médico italiano, seu segundo-assistente e RaimundoDuprat, que também trabalhou em teatroe fazia continuidade, pertencente à tradicionalfamília Duprat. Era o Natal de 1953, e o Edgar<strong>Brasil</strong> queria ir ao Rio de Janeiro ver sua mãe,passar o Natal com ela e com a família de WatsonMacedo, como de hábito. Ele convidou nós trêspara irmos juntos, e já me encarregou de dirigirseu carro, mas minha mãe me aconselhou a nãoir, achou que não seria bom passar o Natal forade casa, longe da família, nunca havia acontecidoisso. Fiquei chateado, mas nossa família era muitounida e eu tinha muito respeito por meus pais,não queria contrariá-los. Todo mundo ia ficarhospedado na casa do Edgar, mas eu contei aele meu problema, que entendeu e disse: Isso énormal, a família ficar unida, sua mãe está certa.Então, foram os três. No retorno a São Paulo,próximo à cidade de Cruzeiro, na Via Dutra comainda uma pista só, chovendo, pista molhada,quem dirigia o carro era o Raimundo, o Edgarestava ao lado do motorista dormindo e o italianoVicenzo deitado no banco de trás, tambémdormindo. De repente um Mercedes atravessoua pista e entrou na contramão. Raimundo nãoconseguiu segurar o carro, batendo de frente57


com o mesmo. No Mercedes morreram um casalde senhores. No Lincoln, morreu o Edgar <strong>Brasil</strong>,que entrou no pára-brisa e morreu na hora, como cachimbo na boca, decapitado. Duprat bateua cabeça, ficou dois anos se recuperando, ficouperturbado e nunca mais foi o mesmo. Vicenzoficou prensado no banco de trás e oito meses serecuperando; ele era italiano, não morava aqui,viera para cá somente para fazer a fita. Era diaquatro de janeiro de 1954. Fiquei desolado, perdium amigo e o Cinema <strong>Brasil</strong>eiro perdeu umgrande profissional.58Nessa época apresentei o ator Fábio Cardoso aoCavalcanti. Ele estava começando, queria umaoportunidade e eu dei uma força. Acabou dandocerto, ele fez vários filmes, inclusive Meus amoresno Rio, do Carlos Hugo Christensen, trabalhouna TV Record e fez a telenovela A muralha, quefora escrita por Miroel Silveira.Lembro-me que interditamos a Rua BrigadeiroTobias para as filmagens, desviamos o trânsito,aquela parafernália toda. Naquela cena precisávamosde muitos equipamentos, tipo luzes, refletores,rebatedores, geradores, e iluminávamos arua toda. Havia um diretor da Kino Filmes, CarlosAlberto de Oliveira e no início não fomos um coma cara do outro. Ele era um dos donos da Kino,havia comprado muitas ações e ao final se deu


muito mal, pois o negócio fracassou. Começoua chuviscar, muitos raios e então começamos arecolher os equipamentos. Ele era um ano maisvelho que eu e começamos a trabalhar forte pararecolher tudo, um queria mostrar mais servi çoque o outro. Ao final estávamos exaustos, encharcados,e ele me chamou para tomar um café. Daliem diante ficamos amigos. Era uma pessoa degrandes posses, conhecia seus pais, ele tinha trêscarros. Um deles era um Chevrolet Fleet Line, ano59Como ator, na Maristela Filmes


1952 que ele deixava comigo e eu usava como sefosse meu. Carlos é falecido.60Houve uma cena de incêndio na Av. Higienópolisonde precisamos interditar a rua. Atrás da Rodoviáriatinha um posto do Corpo de Bombeiros quefoi fechado para poder ceder os carros para nós.Usamos um monte de caminhões e até a RádioBandeirantes foi fazer a cobertura da filmagemcom o repórter Tico-tico. Foi uma coisa monumental,monstruosa e saiu tudo perfeito. Meorgulho dessa cena pois a organização foi minha.Palácios havia delegado a mim essa responsabilidade,ele confiava em mim, sabia que quandoeu pegava pra fazer, fazia. Eu me dedicava decorpo e alma.Havia um travesti francês famoso que se chamavaIvaná. Ele estava no <strong>Brasil</strong> e era muito bonito. Foia primeira vez que eu vi um travesti no cinema.Durante as filmagens ele se apaixonou por umeletricista, o cara vivia fugindo dele. Ivaná eramuito bom, excelente artista, tinha talento e éisso que vale. Além de ajudar na produção, fiztambém uma ponta como ator, um vendedorde bolos de uma padaria, que vende um bolode casamento ao casal Colé Santana e InezitaBarroso. Era uma questão de sobrevivência, eupodia trabalhar tanto como ator ou técnico, euestava atirando para todos os lados, tentando


ver onde eu acertava. Mas percebi que ia me darmuito bem como técnico, eu sentia isso, tinhaenorme facilidade na produção.Viver de cinema não era fácil e como ator eramais difícil ainda, haja visto que poucos atoresde cinema se deram bem nessa época, talvez asexceções tenham sido Anselmo Duarte, Cyll Farney,Oscarito e Grande Otelo, o maior de todosna minha opinião. A maioria penava para sobreviver.Com isso, achei que como técnico poderiater uma garantia maior de sobrevivência.Mãos sangrentas – 1953/4Um menino sonhador de 23 anos no Rio de Janeiro,uma tirada arrojada para ser assistentede direção61Eu era assistente de produção e fui trabalharcom Christensen no Rio de Janeiro, na fita Mãossangrentas, que era uma co-produção entre aMaris tela em São Paulo, representada por MarinhoAudrá, Os Artistas Associados do Rio deJaneiro, por Roberto Acácio e a turma do Christensenpela Argentina. Depois, Marinho trocousua parte em Leonora dos sete mares pela partedo Acácio em Mãos sangrentas. Marinho ficousozinho em Mãos e Acácio sozinho em Leonora.O Arturo de Córdova também era sócio do filme,ele tinha os direitos para exibição da fita no


62Assistente de produção nas filmagens de Mãos sangrentas,ao lado de Carlos Hugo Christensen e o jovem RobertoFarias ao fundoMéxico. Eu havia me desligado da Kino Filmes ejá era contratado da Maristela. Esse, então, foimeu primeiro filme na Maristela. O filme era paraser feito na Ilha Anchieta, em Ubatuba, litoralde São Paulo, mas a Secretaria de Justiça nãopermitiu, alegando que isso poderia influenciarno julgamento dos presos.Foi escolhida então a Ilha das Flores no Rio deJaneiro para as cenas externas. Os interiores fo-


am feitos na Maristela, no Jaçanã, inclusive coma construção, no Estúdio 1, de uma réplica da casado diretor do presídio. A equipe técnica era enorme,tinha os assistentes de direção Roberto Fariase Darcy Evangelista. Darcy era médico, um grandesujeito, mas inexperiente para aquela fita, poisera estagiário como assistente, na verdade RobertoFarias era o único auxiliar de direção e IsmarPorto fazia a continuidade. Ainda no comecinhoda fita, percebi que o Roberto se matava, dava osangue para cumprir suas funções, eu a tudo observava.Um dia procurei o Roberto e me oferecipara ajudá-lo, ele gostou da idéia e fomos falarcom o Christensen, alegando que tinha muitagente na produção e pouca gente para auxilía-lona direção. Ele aceitou e perguntou se eu falavacastelhano, eu disse que falava razoavelmentebem. Na Maristela existiam vários técnicos quefalavam castelhano, o Jorge Pizani, o AdolphoPaz Gonzalez, O Mário Pagés, o Juan Carlos Landini,o José Cañizares e o próprio Christensen. Euhavia feito curso da língua e a convivência comesses profissionais acabou fazendo com que meucastelhado se tornasse fluente. Christensen sugeriuentão que eu fizesse as cenas em espanhol eo Roberto as cenas em português. Eu fui atirado,pois tinha apenas uma fita e meia de experiênciae aquela seria uma prova de fogo para mim,naquela fita, com enorme produção, etc., mas63


acabei me saindo bem, aquelas anotações queeu fazia me foram muito úteis. Na verdade, nemeu nem Roberto dirigimos nada, nenhuma cena,mas a função do assistente é muito importante,a gente preparava os atores, passava o texto,ensaiava, ou seja, deixava tudo pronto para odiretor, isso facilitava muito seu trabalho. Agente fazia a mesma cena em português e depoisrepetia em castelhano.64Ora entrava o Roberto, ora entrava eu. O Robertome ajudou muito, tinha mais experiência, tiravadúvidas. O filme tinha mais de 500 figurantes, dápara imaginar o trabalho que era, não era fácilnão, acabou sendo uma grande experiência paramim e também acabei me tornando grande amigode Roberto Farias, por quem tenho o maiorrespeito, acho um excelente diretor, um dos maiscapacitados do <strong>Brasil</strong>.Era a primeira fita do Ismar Porto, que faziacontinuidade e também do Darcy Evangelista.Eu fiquei morando no Rio de Janeiro quase doisanos, ia e voltava para São Paulo para fazer osinteriores. Tudo com autorização da Maristela,da qual eu era contratado. Morei na Rua Bara taRibeiro, num edifício chamado Duzentos, aquelemesmo famoso, que depois virou até filme.O prédio era um bordel, eu dividia um apartamentocom o Jorge Pizani e com ele morei tam-


65Num intervalo de filmagem de Mãos sangrentas, comSadi Cabral (à direita)bém num apartamento na Av. Nossa Senhorade Copacabana, eu me dava bem com ele. Nessaépoca aconteceu um fato que mudaria o destinodo <strong>Brasil</strong>: o suicídio do então presidente GetúlioVargas. Eu estava lá no Rio de Janeiro, perto dosfatos, o exército foi para a rua, fomos proibidosde ir aos acampamentos de filmagens, que foramdominados pelo exército, não podíamos fazernada. Tínhamos muitas armas que estavam sendoutili zadas para o filme, fuzis, metralhadoras, fo-


mos proibidos de mexer nelas. Ficamos uns trêsdias sem filmar, isolados, nem podíamos juntarnossa turma, eles não deixavam, mandavam agente circular. Na nossa equipe técnica tinhapessoas da polícia do Rio de Janeiro, eles choraram,ficaram consternados com a morte deGetú lio, ninguém esperava, foi um episódiomuito triste. Depois de três dias tudo voltou aonormal e continuamos as filmagens.66Havia um diretor de produção argentino, amigode Christensen, chamado Arturo Teleska, que tratava muito mal os atores e eu tentei explicar a eleque não podia tratar as pessoas assim porque obrasileiro é diferente, tem outro tempera mento,outro jeito de trabalhar. Ele ficou bravo e disse,num bom castelhano: Queres me ensinar comose faz cinema, tenho 30 anos de cinema e eu respondi:Teleska, se o tempo contasse, um lixeiropoderia ter 30 anos de experiência e nem por issoseria o prefeito. Acabamos tendo essa discussão.O cara queria me bater de tanta raiva, mas eu nãoaceitava esse tipo de falta de educação.A Ilha das Flores foi usada para as filmagens, emimitação à Ilha Anchieta, que não pôde ser usada.Lá era o paraíso dos imigrantes que aguardavamlegalização, como austríacos, alemães, italianos,que ficavam na ilha aguardando a documentação,para saber para onde iriam. Por causa


disso, e para poder filmar na ilha, as autoridadesexigiram que não saíssemos da ilha enquantoesti véssemos filmando. Só quem podia sair eramas pessoas de produção, que não era meu caso,pois eu já era assistente de direção na fita. Umdia, um eletricista chamado Quirino dos Santos,que era da equipe técnica carioca, pegou umbarco, saiu da ilha ficou uns dias fora, depoisretor nando como se nada tivesse acontecido. OZé Carioca, que era o chefe eletricista, pediu queeu falasse com ele. Fui então conversar e expliqueia situação, dizendo que não poderia ficar maiscom ele na produção e que ele estaria dispensadodos serviços. Ele me disse que já esperava, pois alihavia muita gente que não gostava dele, que operseguia. Ele foi para o seu alojamento dormir ena manhã seguinte iria embora da ilha. No meioda madrugada, um fotógrafo de still chamadoReinaldo Viebigh, descendente de alemães, veiome chamar, pois o rapaz havia tomado algo estranhoe estava vomitando, se batendo de um ladopara o outro. Eu e o Mozael Silveira o colocamosno barco, no trajeto eu tentava dar leite para eleingerir. Quando chegamos no continente, emNiterói, já havia um carro nos esperando, fomospara o hospital carregando-o até o primeiroandar, pois o elevador estava quebrado, mas omédico nos disse: Vocês estão correndo à toa, orapaz faleceu. Eu levei a tampa onde ele havia67


ingerido o veneno e o médico disse tratar-sede formicida. De volta à ilha, vasculhando suascoisas, achei a lata de Formicida Tatu, produtomuito conhecido na época, embaixo de sua cama.Não sabemos até hoje o motivo, mas seus amigosdizem que ele era uma pessoa muito fechada eque sempre estava escrevendo em um caderno,eu procurei e achei o caderno, que tinha um desenhode um caixão com um defunto dentro coma escrita Adeus. Era muito jovem, não tinha 30anos, foi uma tristeza para todos nós. Mas a vidacontinuava, tínhamos que terminar a fita.68Além da Ilha das Flores, algumas cenas foramfeitas também na subida da Pedra da Gávea,numa mata que existe ali até hoje. A Barra daTijuca era completamente diferente do que éhoje, deslocávamos toda a equipe, tínhamos 80presos permanentes, mais 500 presos figurantes.Filmamos na Base dos Fuzileiros na Ilha doGovernador. A cena da fuga foi uma loucura, ospresos nos barcos, uma coisa grandiosa demais.Não existia megafone de pilha, tinha que gritarmesmo, além do que a areia era fofa e cansavademais. No final do dia estávamos literalmentequebrados.Pizani e eu acabamos ficando amigos do Arturo,o levávamos aos restaurantes à noite, ele queriaconhecer as mulheres, íamos a boates, nem pare-


cia que estávamos com um ator internacional donosso lado, era uma pessoa muito simples, boacompanhia, sensacional. Descobri que Arturo erabaixo como eu e que usava sapatos especiais americanos,feitos em Hollywood, para parecer maisalto. O salto tinha 12 cm, você nem percebia.Eu achava que a altura poderia prejudicar minhacarreira no cinema, onde normalmente os altosse dão bem, mas eu me inspirava nos baixinhosdo cinema como James Cagney, Alan Ladd, MickeyRooney, Spencer Tracy e o próprio Arturo.Eu pensava: Se eles faziam sucesso eu tambémpoderia fazer.Nessa época, comemorava-se o IV Centenárioda Cidade de São Paulo, houve uma festa inesquecível.Eu tinha 22 anos. Realizou-se tambémem São Paulo o Festival Internacional deCinema, no Cine Marrocos. Eu conheci Eric VonStroheim, era baixinho, carequinha, amigo doCavalcanti e também o grande ator Edward G.Robinson. Depois conheci César Romero e GlennFord na Rua Conselheiro Crispiniano. Eu os visubindo a rua; eram duas pessoas diferentes elogo reconheci.69Mãos sangrentas resultou pesado e violento,tendo sido criticado demais por isso, mas foium grande filme, uma grande produção e uma


grande escola para mim, que estava no início decarreira. O público do filme no <strong>Brasil</strong> foi aquémdo esperado, apenas regular, não sei como foino resto do mundo, onde foi exibido.Leonora dos sete mares – 1954/55Fui convidado para ser assistente de direção70Com o fim dos trabalhos do filme Mãos sangrentas,Christensen iniciou a produção de outro filme,Leonora dos sete mares, mas já com RobertoAcácio sozinho, por força da troca mencionadaanteriormente. Acácio era fiscal da Receita Federal,um grande cara, um grande amigo. Arturode Córdova permanecia e entrava Suzana Freyre,esposa de Christensen. Eu não estava no filme,mas fui ao Rio de Janeiro levar uma câmera,quando o Christensen chegou perto de mim edisse: Prepare­se pois amanhã começaremos afita. Eu respondi: Christensen, a Maristela nãoestá na fita e eu, como seu contratado, tambémnão estou nela. O Christensen ficou louco e namesma hora ligou para Arturo Teleska, que eraseu diretor de produção, um argentino que nãoia com a minha cara. Ele deu uma esculhambadano cara e pediu para avisar o Marinho que eleme queria na fita. No dia seguinte voltei a SãoPaulo, falei com Marinho e voltei ao Rio parafazer a fita. Novamente eu era assistente de direçãoem castelhano. Havia dois scripts, um em


português e outro em castelhano, se rodava asduas versões, uma em seguida da outra. Nessaépoca, a Maristela iniciou outra produção sua,Pensão de dona Estela e eu acabei trabalhandonas duas. Muita gente ficou incomodada comisso. Em Leonora, tive a honra de conhecer umgrande ator brasileiro, Rodolfo Mayer, galã daCinédia nos anos 30/40. Num dos intervalos defilmagem, Rodolfo fez uma interpretação de AsMãos de Eurídice exclusiva para o Christensen,o Mário Pagés e eu, uma coisa espetacular; sabelá o que é isso. Ele fez a peça inteira para nós,sentamos ali os três e ele interpretou para nós.Uma experiência inesquecível.Pensão de dona Estela – 1955Minha experiência no Rio de Janeiro havia terminado,estava eu de volta à Maristela.71Leonora dos sete mares estava quase no fim, faltavauns 15% da fita, quando fui chamado parafazer Pensão de dona Estela. De dia fazíamosLeonora e, à noite, Pensão, que era uma fita feitatotalmente pela Maristela. As pessoas começarama achar ruim pelo fato de eu estar fazendoas duas fitas, aquela coisa de ciúme, eu começavaa me destacar na produção, ser requisitado, etc.Fui para Pensão como gerente de produção, masacabei sendo escalado pelo Palácios também parafazer uma ponta como ator, um boyzinho, um


72Como ator, na Maristela Filmespapel interessante, tinha falas. A verdade é quetodo técnico gosta de fazer uma ponta e eu nãoera diferente, além do que eu já tinha tido umaexperiência como ator no rádio e televisão.Quando me tornei produtor e diretor de cinema,sempre escalava os meus técnicos para fazer umaponta, eles gostam até hoje, é normal. Às vezesa gente até se surpreende, pois essas pessoasacabam fazendo melhor o papel que o próprioator. Conheci nesse filme a atriz Maria Vidal,que depois tentou o suicídio e acabou morrendoposteriormente, em conseqüência desse ato.Uma pena; era uma grande comediante. Conhecitambém o ator Jayme Costa, já consagrado na


época, além da presença marcante de AdoniranBarbosa, que compôs Trem das onze, inspiradoem suas idas e vindas ao estúdio, quando desciana estação de trem de Jaçanã.Carnaval em lá maior – 1955Conheci Adhemar Gonzaga, o grande mito doCine ma <strong>Brasil</strong>eiro.Em 1955, a Cinédia, que tinha sua sede no Riode Janeiro, já não era a mesma, estava em crise,não conseguia mais se firmar no cinema, comooutrora tinha feito, nos anos 30/40, quando praticamentedeteve a hegemonia do Cinema <strong>Brasil</strong>eiro.Adhemar Gonzaga, o lendário produtore proprietário da Cinédia, resolve vir para SãoPaulo fazer uma parceria com Marinho Audrá,para a produção de um filme carnavalesco, Carnavalem lá maior, no qual seriam utilizados osatores da Rádio e TV Record, emissora que dividiaa liderança na audiência com a TV Tupi. MarinhoAudrá fez um acordo com Paulo Machado deCarvalho, proprietário da TV Record. A Recordentrava com os atores e cantores, que eram emnúmero tão grande, que foi uma loucura colocartodo mundo no filme. Nessa época eu já era oterceiro homem da Maristela, atrás apenas deAlfredo Palácios e Marinho Audrá. Eu conheciaGonzaga por seus filmes de sucesso no cinema,principalmente O ébrio, que eu vira no cinema73


em 1946, grande sucesso, ninguém superou atéhoje sua bilheteria, em números proporcionais.Eu conheci também o Vicente Celestino; primeirofui vê-lo num show num cinema de Santana e,mais tarde, no Rio de Janeiro fui procurá-lo emseu apartamento para comprar uma câmera 35mm que ele tinha, uma antiga Super-Parvo, paraa Maristela, mas a câmera estava jogada, muitojudiada, acabei não comprando; mas até hojegosto dele, de suas músicas.74Acabei me tornando muito amigo de Gonzaga,amigos de verdade, ele me adorava, me consideravaum filho mais novo. Tanto é verdade que suafilha, Maria Alice Gonzaga, sempre me mandavaum cartão de Natal, em respeito à amizade queseu pai tinha para comigo.Naquela época não tinha som direto, tínhamosque usar uma máquina que chamava-se Comutatrix.Gonzaga xingava porque a máquina nãofuncionava, ele a chamava de meretrix. O ga lãdo filme era Randal Juliano, também meu amigoe que morava em Santana, no mesmo bairroque eu. Sua mãe era professora. Randal eramuito alto. Encontrei-o por volta do ano 2000,quando concedi uma entrevista à TV Cultu ra.Conversamos bastante, depois não tive maisnotícias dele. Nesse filme, eu era gerente deprodu ção, mas também fiz uma ponta: havia um


número musical com Carlos Galindo e Luiz Vieiranum caminhão, mas o Galindo não apareceu,está vamos todos prontos para filmar. O LuizVieira era passageiro no caminhão e o Carlos Galindoé quem deveria vir dirigindo; como ele nãoapareceu, o Palácios e o Gonzaga pediram paraeu dirigir o caminhão, com chapéu na cabeça,mas evitando ser visto, meio camuflado. Quandoo caminhão pára em frente ao bar, Luiz Vieira eeu descemos do caminhão; ai, tive que cantar etocar harmônica, como estava planejado para oGalindo. Eu abria e fechava a sanfona e mexiaos lábios cantando.Não sou cantor e nem toco harmônica, sobrouessa gelada para mim. A cena está no filme.O Ran dal Juliano e a Sandra Amaral se seguravampara não rir. Foi um filme gostoso de fazer,muita gente, muitos cantores, muitos númerosmusicais, toda a nata estava ali. Nós, da produção,tivemos muito trabalho, pois tínhamos queir até a Record buscar os artistas a toda hora, elesfilmavam e voltavam para a rádio ou para a televisão,dependendo do programa que estavamparticipando. A fita tinha que ser lançada umpouco antes do Carnaval, anunciando os sucessosque viriam. O filme obteve bom resultado,não foi um estouro, mas funcionou, acho quecumpriu seu objetivo. Ele acabou concorrendo75


diretamente com os filmes carnavalescos feitosno Rio de Janeiro. Foi a única experiência deGonzaga no cinema paulista, mas para mim foimarcante.Rosa dos Ventos (Die Windrose) – 1955Uma aventura inesquecível no sertão da Bahia76Era um filme feito com cinco histórias, das quaisparticiparam cinco países: <strong>Brasil</strong>, França, Itália,Rússia e China. Coube à Maristela produzir oepisódio brasileiro. Esse filme tinha cunho comunista,versava sobre a exploração do homempelos usineiros de açúcar. A direção foi planejadapara Cavalcanti, que inexplicavelmenteabandonou o projeto. Alex Viany foi escolhidopara substituí-lo. O filme foi feito na Bahia,mas tivemos muitos problemas na produção.O ca lor era intenso, fazia muito tempo que nãocho via (quase três anos), filmamos nos locaison de ocorrera a célebre Guer ra de Canudos.A região era árida, não havia vege tação, nemcaa tingas, era quase um deserto. Parecia quehaviam feito uma terraplanagem no local. Melembro de uma passagem em que preci sávamosde um soquete para um refletor, um sargentoque acompanhava as filmagens sugeriu que retirássemosum soquete do poste de luz. E assimfizemos; entenda-se aí as dificuldades de produçãoque estávamos tendo. Era um vilarejo com,


no máximo, 50 casas. Entre equipe técnica, atores,figurantes, devíamos estar com 110 pes soas;muitos tiveram desarranjos intestinais por causado calor. O Alex Viany levou sua esposa – umaimprudência, já que normalmente não se faz issoem locações desse tipo. Saiu uma reportagem narevista Cinelândia da época, atribuindo o títulode A segunda guerra de Canudos à produção dofilme. O Alex tinha um assistente que se chamavaItalo Jacques. Esse cidadão criou muitos problemasentre a equipe de produção e o diretor. Ummaquinista, hoje falecido, pegou um martelo epartiu para cima do Jacques, eu entrei no meioe segurei o cara, senão ele matava o Jacques detanta raiva que estava. Veja o estado psicológicodeplorável a que chegou a equipe de produçãodo filme. Nunca mais ouvi falar desse Jacques,nem de filme nenhum que tenha feito. Ele medisse que sua especialidade era roteiro, entãoperguntei que roteiro tinha feito ele respondeu:Nenhum. Com Alex a coisa foi difícil também,sabia tudo de cinema, mas era uma pessoa muitodifícil de trabalhar. O Geraldo Ferraz de Melo,que era para ser o homem de retaguarda, trouxeesposa e filhos, mas não ficou em Canudos,ficou passeando em Salvador, até que Marinhodescobriu e o mandou de volta a São Paulo.Ficamos instalados na Fazenda Pira pitingüi, emFeira de Santana, que pertencia a João Marinho77


78Falcão, então prefeito de Feira de Santana,na Bahia. A base era nessa fazenda, depoisíamos às locações em Canudos. João Marinhotinha vários filhos, entre eles Walter e Wilson,este, médico. Eles ajudavam na organização eacomodação da equipe na fazenda. Era umafazenda de cana-de-açúcar, grande, bonita.Eles fabricavam pequenas locomotivas paracarregar a cana, e montaram um mini-hospitalpara atender aos colonos da fazenda. Lembromede um fato curioso: um figurante, rapaz de17 anos veio falar comigo, mas o capataz dafazenda impe diu, levando-o para tomar umbanho de cachoeira. Com um caco de telha, ocapataz tirava as muquiranas, sanguessugas ecarrapatos do seu corpo. Víamos também criançase velhos, na maioria retirantes, morreremnas estradas por causa do calor insuportável.Eles eram enterrados no próprio local e cruzesde madeira eram fixadas. Eram cenas chocantesdessa parte do <strong>Brasil</strong>. Os figurantes chegavamem caminhões pau-de-arara e dormiam em lonasno chão. O capataz da fazenda arranjava asroupas para eles. Lembro-me de um velho quefazia figuração, mas não dormia lá, ia e voltavadiariamente. Um dia perguntei onde moravae ele respondeu que era perto, a uma léguae meia, ou nove quilômetros e ele vinha a pé.Tinham também muitas mulheres grávidas. Nas


locações em Canudos, os figurantes dormiam naigreja, pois fazia muito frio à noite, por incrívelque pareça. O céu era estrelado como eu nuncamais vi na minha vida, era uma coisa linda, naproporção inversa à pobreza da região. Eu fiqueiuma noite inteira para ir buscar o caminhão ,vol tar até Feira de Santana para conseguir, noDepar tamento de Estradas de Rodagem, umoutro caminhão para trazer o pessoal, porqueo que eu tinha era velho, o motor estava ruim,queimava óleo, não aguentava o tranco. Eufiquei num entroncamento na estrada, umapoeira enorme, das oito da noite até as nove damanhã do dia seguinte, esperando uma conduçãoque fosse para Feira de Santana. Conseguiuma carona num caminhão de algodão, nãotinha lugar na cabina, subi na carroceria lá emcima, eu tinha ficado a noite inteira sem dormir,me acomodei como deu para não cair. Chegandoa Tucano, soubemos que havia acontecido umcrime em Canudos, um cara esfaqueou o outroe o assassino foi preso. O assassino era conhecidodo motorista, e este resolveu visitá-lo nacadeia e eu fui junto, não podia perder a carona.Seguimos viagem, e logo à frente um dos queestavam na cabina desceu e então eu fui para acabina e fiquei no meio. Bem próximo de Feirade Santana tinha uns montes de terra na estrada.Para desviar, o motorista perdeu o controle do79


80caminhão e acabou tombando. Nós três ficamosamontoados na cabina e o que estava por cimade mim, para poder sair, apavorado, pisava emmim; enfim, conseguimos sair do caminhãoilesos . Ai foi mais fácil conseguir uma caronaaté Feira de Santana. Lá fui procurar o diretordo DER, que era engenheiro, estava dormindoe o guarda não quis acordá-lo. Sem dinheiro,cansado, com fome, não tive dúvidas, dormina calçada até amanhecer o dia. Finalmenteconsegui falar com o diretor, que, gentilmenteme cedeu o caminhão para levar o pessoal.Chegando na fazenda, o Alex, o Jacques, outrosauxiliares e os atores principais, entre eles VanjaOrico, sua mãe, Aurélio Teixeira, Miguel Torres,etc, já haviam ido embora em uma camionetaChevrolet de cabina de madeira que era usadapela equipe de produção, levando o dinheirorecolhido entre a equipe técnica.Os figurantes foram recrutados de forma curiosa:em Feira de Santana havia um nordestino que eraproprietário de uma espécie de albergue, umapensão grande que se chamava Adão, o pai dosertanejo. Ele ajudava as pessoas que vinham dosertão nordestino com destino a São Paulo. Essagente ficava no albergue e às vezes não tinhamnem roupa para vestir. Adão me procurou epediu para ajudá-los. Acabei utilizando quase


80 delas na figuração, entre homens, mulherese crianças e com isso, eles ganhavam um dinheirinhoe melhoravam um pouco sua deplorávelcondição. Não existia emprego e eu pagava30 cruzeiros por dia para homens e mulheres e15 cruzeiros para as crianças, mais alimentação epernoite em alojamentos, ou onde fosse possível.O salário da região era 12 cruzeiros, quando tinhaserviço, já que normalmente eles trabalhavamna conservação de estradas, etc. Com isso, todosqueriam trabalhar comigo e eu ficava com muitapena dessas pessoas e procurava ajudá-los omáximo que pudesse. Com isso, a figuração dofilme ficou perfeita, eram autênticos, filhos daterra mesmo.81Num dos encontros com Adão, ele me falou deuma família que estava no albergue, pai, mãe ecinco filhos e pediu que eu os ajudasse, colocando-oscomo figurantes no filme. Eles moravamem São Paulo e estavam indo visitar a família emUauá, no interior da Bahia. No caminho, perderamtodos os seus pertences e foram parar noalbergue. Encaixei a família toda na produção. Euprecisava de uma menina para uma cena um poucomelhor e escolhi uma das filhas para o papel,uma menina já esperta, com o nome de Marlene,ou Marlene França, então com 13 anos, que fazassim sua estréia no cinema. Ela se tornaria uma


82grande atriz com dezenas de filmes realizados.Após as filmagens autorizei um dos meus auxiliaresa levá-los para Uauá para conhecerem osavós e em seguida consegui passagens para todosretornarem a São Paulo, inclusive um rapaz chamadoBispo, que também era figurante. Depoisdescobri que Bispo trabalhara numa chácaraperto da minha casa, mas nunca mais tive contatocom ele. Já Marlene, pude acompanhar sua carreira.O filme foi montado por Cañizares em SãoPaulo, mas o material estava em condições precáriasde montagem, pois faltava claquete, nãotinha marcação, então eu ficava indicando de queparte do roteiro eram determinadas cenas e acabeiajudando a montar a fita. Jorge Amado, queera autor da história, do argumento, viu o filmee detestou, pois o Alex havia mudado tudo, distorcendosua história. Jorge elogiou a figuração,e de certa forma fez um elogio indireto a mim,que era o responsável. Fiquei envaidecido peloreconhecimento de todo trabalho que havíamostido. De volta à São Paulo, procurei o Marinhoe propus fazer um documentário sobre aquelagente do sertão baiano, o título do documentárioseria A Verdadeira História do Sertão Baiano.Isso mostra o quanto eu fiquei tocado com todaaquela situação, eu era muito jovem, e talveznão estivesse preparado para ver tudo aquilo.Emagreci 12 quilos nessa aventura. Marinho me


demoveu da idéia de fazer o filme, mas aquelesfatos permanecem em minha memória até hoje.O filme nunca passou no <strong>Brasil</strong>, não consegui vero filme pronto até hoje.Passados alguns anos, eu tinha um escritório naRua da Conceição e um dia J.C. Souza me apareceno escritório com uma moça e uma amiga.J.C. me disse que a moça me conhecia. Eu fiqueiolhando pra ela e percebi que a conhecia, masnão sabia de onde, foi quando ela me disse ser aMarlene França. Ela havia feito Rosa dos Ventos,e depois mais nada. Na época trabalhava numaloja e queria seguir carreira cinematográfica eviera pedir minha ajuda.83Eu a encaminhei ao Walter Hugo Khouri. Ele eraprofessor de cinema nessa época. Fiz um cartãode apresentação. Ali ela começou a deslancharsua carreira cinematográfica, chegando inclusive,nos anos 80, a dirigir alguns documentáriospremiados.O grande desconhecido – 1956Dei uma mão ao CivelliAjudei na produção desse filme, a convite doPalácios. O filme era dirigido por Mário Civelli,uma produção independente que acabou sendoconcluída na Maristela, então eu entrei no fim da


fita, só para ajudar a terminar. Noventa por centodas imagens já haviam sido filmadas, participeiapenas das filmagens de algumas ligações.Quem matou Anabela? – 1956A arte de fazer uma fita com uma estrela espanhola,Ana Esmeralda, graças a um grande diretor,D.A. Hamza.84Grande produção da Maristela, que MarinhoAudrá trouxe a estrela espanhola Ana Esmeraldapara fazer a fita. Ele a havia conhecido numFestival de Cinema de 1954, realizado em SãoPaulo. Quem a apresentou ao Marinho foi o JoséCañizares. O filme foi feito para ela com a direçãosegura do D.A. Hamza, excelente diretor. Hamzaera pintor, tanto que tenho um quadro seu aquiem casa, que ganhei de presente dele próprio.Muitos anos depois fui filmar em uma casa e vivários quadros seus na parede. Ele morava pertoda Santa Casa no centro de São Paulo.Usamos no filme três estúdios com grandes cenários.No estúdio 1, que media 40 x 20 m, foi construídaa casa da Anabela, personagem central dofilme. Era a réplica de uma casa que havia emInterlagos. Era um cenário enorme que ocupavaquase todo o estúdio. Nos estúdios 2 e 3 foramconstruídos cenários para Ana Esmeralda dançara malagueña, de Ernesto Lecuona. Era um lago


Em cena de Quem matou Anabela?, com Ana Esmeraldae Aurélio Teixeiracom barcos e tudo. Ela passava de um estúdiopara o outro dançando, eram estúdios enormestambém, talvez tivessem 15 x 30 m cada. Eladançava maravilhosamente bem, era dançarinaprofissio nal de Flamenco, dava gosto vê-la dançandono estúdio, ficava todo mundo de bocaaberta, era uma estrela em seu país e, como tal,nos dava muito trabalho, já que chegava noestúdio às 7 horas da manhã e só ficava prontaao meio-dia, e nós esperando com tudo prontopara filmar. Ai ela ia almoçar, depois retocava amaquiagem e só começava às 14 horas. O Hamza ,já experiente, usava gruas para filmagens econse guia fazer até 17 planos em três horas.85


86O Palá cios queria tirá-la da fita, achava queela não ia funcionar e pensou em transformaro filme num musical, mas o Mari nho não concordou.Depois que se casou com Marinho, Anaficou morando no <strong>Brasil</strong> e montou uma escolade dança flamenca. O elenco da fita era fabulosoe reuniu grandes nomes do cinema brasileiroda época como Procópio Ferreira, Jayme Costa,Carlos Zara, Aurélio Teixeira, Nydia Licia, Ruthde Souza, entre tantos outros. Nesse filme, tivea honra de conhecer Procópio Ferreira e acabamosficando muito unidos durante as filmagens,sempre almoçávamos juntos. Lembro de umfato interessante nesse filme: fizeram algu macoisa para o Procópio, que se zangou e se retiroudas filmagens; saiu andando pelas ruas. Foium alvoroço danado no estúdio, pois Procópioera um grande astro. Sai correndo atrás delede perua, ele entrou no carro, fomos almoçarna cantina Recreio Chácara Souza, em Santana,que pertencia ao Souza, meu amigo. Comemosbem, daí fui convencendo-o a mudar de idéia, adei xar isso para lá, a fita já estava quase no fim,en tão ele retornou aos sets de filmagens; foi umalí vio para toda a equipe. É possível que Quemmatou Anabela? tenha sido a maior produção daMaris tela, em termos de cenários e elenco, maso filme não teve o resultado esperado.


Arara vermelha – 1956Nunca houve uma fita com tantos problemascomo essa, uma verdadeira odisséia.O diretor da fita era Tom Payne, argentino, vindopara a Maristela com o mérito de ter dirigidoSinhá Moça, na Vera Cruz. Era também maridode Eliane Lage, estrela maior dessa companhia.O local escolhido para as locações foi Itanhaém,litoral sul de São Paulo. Subíamos o Rio Ita nhaémde barco e lá em cima ele se dividia em dois, o RioPreto e Rio Branco. Nas margens do Rio Preto, emcima de um barranco, montamos o acampamentopara a equipe de produção do filme. Eram váriasbarracas enormes de lona. Tínhamos um barcopesqueiro onde estava instalado o gerador, muitaslanchas, grande equipe de produção de quase60 pessoas e inúmeros moradores da região, queforam contratados para auxiliar na produção.Montamos uma cozinha enorme, com mesas demadeira feitas com troncos extraídos da próprianatureza. O local era infestado de borra chudose mutucas. Na selva, colhíamos mudas grandesde orquídeas lindíssimas, difíceis de se ver nosdias de hoje. A gente acabava ornamentando oacampamento com essas orquídeas. Se precisassede alguma coisa, dar um telefonema, a gente pegavao barco e descia o rio até Ita nhaém , trajetoque demorava mais de uma hora. A comunicação87


88com São Paulo era precária, só em Itanhaémé que havia possibili dade de telefonarmos. Oelenco era estelar, tinha Anselmo Duar te, MiltonRibeiro, Odete Lara, Auré lio Tei xei ra e Ana MariaNabuco, entre tantos outros. Tinha um atorchamado Ricardo Campos, que chamávamos deBlike, ele havia trabalhado no Cangaceiro, deLima Barreto. Era um cara chato, um verdadeiromala, ficava pertur bando todo mundo. Pertodo acampamento tinha um senhor, morador daregião, chamado Sr. Carruchel, que coincidentementeera conhecido do meu pai e aca bou nosajudando bastante na produção, pois conheciabem a região. O acesso às locações se dava somentede barco e a energia elétrica era por meio degerador. A gente era obrigado a dormir cedo, usávamosmuitos lampiões. Foi montada uma balsa,em cima de quatro barcos, tipo uma plataformaque carregava refletores, armas, munição para asarmas , roupas, enfim, todo o material necessáriopara as filmagens. De repente um dos barcoscome çou a afundar. O Glau co Mirko Laurelli, queera assistente de dire ção, não sabia nadar, maschegou nadando na margem, como eu não seiaté hoje, acho que nem ele. Tinha uma privadade madeira no barco, o Glau co chegou agarradona privada de madeira. Afundou tudo, uma caixade armas, refletores, tudo foi para o fundo dorio. Naquela época o segu ro pagou três milhões


de cruzeiros de indenização. Eu perdi uma espingardaRemington de tiro ao alvo com calibrador,um revólver HO, tudo meu que eu havia levado,foi tudo pro fundo do rio. Eu sempre fui bomatirador, tinha várias armas, todas autorizadas.As armas da produção eram emprestadas e repostaspela Força Pública, mas haviam armas decolecionadores também. Chovia muito na região,o que nos fez ficar por lá muito além do previsto.Eu levei para lá um mergulhador profissional, comescafandro e tudo, para tentar achar as coisas nofundo do rio, mas sem sucesso, o rio era fundo eturvo, pre to, você não enxergava nada. Como orio desa guava no mar, este sofria sua influência,a água ia para cima e para baixo, ora enchente,ora vazan te. Ele mergulhou dois metros e desistiu.Ai eu descobri o Oberdam, que era um dos donosda Fieldini, um frigorífico enorme e famoso deSão Paulo, localizado no bairro do Paraíso. Elestinham criação de gado também. O Oberdamha via sido mergulhador em Pirabura, região deIlha bela, perto da Praia dos Castelhanos, ondeprocu rava antigas embarcações afundadas. OOber dam era um cara espetacular, expliquei ocaso e ele topou me ajudar. Disse que ia levarum equipamento chamado Aqualung, que eramais sofisticado que o escafandro. Eu fiqueiencar regado de levar o Oberdam, o Aqualung,os equipamentos de produção, munição, etc. No89


90dia e hora marcada para apanhar o Oberdam,uma sexta feira, ele me telefona dizendo quenão poderia ir naquele dia, pois tinha um assuntomuito sério para resolver na empresa. Avisei oMarinho, o qual chamávamos de Chefe, sobre oocorrido e ele me disse então para ficar e seguiuviagem com todo o equipamento, num Volkswagenalemão, o famoso fusca, que ainda não erafabricado no <strong>Brasil</strong>. No dia seguinte saímos àscinco e meia da manhã com o carro do Oberdam,um furgão da sua empresa, pegamos a estradaem direção à Itanhaém, inclusive levando 70 kgde carne para fazer um churrasco para o pessoal,cortesia do Oberdam. Chegando lá já tinha umbarco nos esperando para subir o rio, carregamostudo, o Aqualung, as carnes, etc. Chegando noacampamento, enquanto descarregávamos, veioo Glauco e perguntou dos equipamentos que elehavia encomendado e eu disse: Veio ontem como Marinho. Ele responde: O Marinho ainda nãoveio. Ficamos com uma enorme interrogação, poisaquilo não era o combinado. Nesse instante chegaoutra lancha com os equipa mentos e minha barracasuja de sangue. Aí fomos avisados que haviaocorrido um acidente na estrada com o Marinho,seu filho e um amigo de seu filho. Marinho ficouseis meses recuperando-se – e quem cuidava delena época era o Carlos Miranda, o Carlinhos, queera funcionário da Maristela e depois viria a ser


o ator da série Vigilante rodoviário. Era para euestar naquele carro, o destino novamente desviouminha rota. Era a segunda vez que aconte cia issocomigo; a primeira foi no acidente do Edgar <strong>Brasil</strong>,em 1953. Bem, o Oberdam colocou o Aqualunge mergu lhou várias vezes, durante alguns dias,mas só conseguiu recuperar um rolo de cordagrande e dois tripés, mais nada. Curioso, resolvicolocar o Aqualung também, mergulhei, mas logopercebi que a água estava escurecendo e trateide subir logo. Oberdam alegou que o fundo dorio era de lama, então, o mais provável era queos equipamentos deveriam ter afundado, devidoao seu enorme peso e outros mais leves poderiamter sido deslocados pelas águas. Além do que,começou a sair sangue dos ouvidos do Oberdam,então resolvemos desistir.91Um belo dia, aparece a cantora Maysa para visitaro set de filmagem, ela ficou lá com o Anselmo.Uma noite resolveram nadar, mas o Anselmonão sabia nadar e não queria fazer feio, entãoinventou uma caimbra na hora para não entrarna água. Anselmo viu minha barraca, aquela queestava manchada de sangue e pediu para usá-la,cedi então a barraca a ele.O pessoal que cozinhava para nós no acampamentotinha um restaurante em Itanhaém. Euconse gui na Nestlé um monte de caixas de leite


92condensado , que era uma coisa meio rara naépo ca e também Nescafé. Fazíamos café cremosopara toda a equipe, uma delícia. É incrível, mal eusabia que alguns anos depois a Nestlé iria patrocinaro Vigilante rodoviário. Durante as filma gens,eu fiz um contato com o general Penha <strong>Brasil</strong>, eleera comandante da divisão motorizada do exércitono Ibirapuera. Fui lá pedir dois jeeps emprestadospara a produção. Os jeeps eram usados pelaPolícia do Exército, e eram do tipo camionete.Consegui uma entrevista com ele, fui muito bematendido, mas ele não tinha como me ajudar;existia falta de jeeps na corporação. Ele queriame ceder um veículo com esteiras atrás e pneusna frente, um carro esquisito de combate quefora usado pelos alemães na guerra, mas o queeu ia fazer com aquilo? Ele já estava indo emborajunto com o ajudante de ordem e lá embaixome ofereceu uma carona, como eu estava indopara o escritório da Maristela na Rua Conceição,aceitei, e fui no banco traseiro conversando comele sobre cinema, uma ótima pessoa. Um fatocurioso: uns dois anos depois de terminar a fita,um inquilino meu, chamado Pedro, foi pescar nomesmo local que fizemos o filme, juntamentecom os donos do restaurante que cozinhou paraa equipe. Ele foi mordido por uma cobra coral emorreu, não pôde ser socorrido a tempo. Veja operigo que corríamos, mas graças a Deus nuncaaconteceu nada mais grave conosco.


Tínhamos que fazer uma cena de luta de remosentre o Anselmo e o Aurélio Teixeira, que estavacaracterizado de índio e tinha o nome de Canaúno filme. Ainda em São Paulo, foram construídosuns 40 remos de madeira tipo Carajá, era umaréplica do original indígena. Os ensaios da lutadeveriam ser feitos com pedaços de pau, parapreservar os remos para as filmagens, mas o Tomquis fazer os treinos com os remos e foi quebrandoe quebrando os remos, uma coisa maluca.O Martino Martini era maquinista na fita e disseao Tom: Só sobrou um, então quebra essetambém e paralisamos a fita por falta de remos.De fato, quebrou aquele e as filmagens foramparalisadas durante três dias. Ficamos com todaa equipe paralisada, aguardando chegar osnovos remos de São Paulo. Esse era Tom Payne,que foi um caso à parte na fita, era um diretorcomplicado, de difícil trato, meio louco, de vezem quando dava uns chiliques nele, aí mandavambuscar a Eliane Lage, sua esposa. Ele ficoudoente, quase foi internado, interrompemos asfilmagens por dias. Existia um movimento paratirar Payne da fita, mas Eliane Lage, que eramuito gentil, conseguiu contornar a situação ePayne sempre retornava.93Estou lembrando um fato triste ocorrido comMartino Martini, porque ele teve um fim trágico:


no filme Obrigado a matar, que ele trabalhoucom a dupla Tonico e Tinoco em 1964, tinha umacena com uma arma calibre 44, da qual se teriatirado o projétil. O Martino ficou atrás de umrebatedor e foi atingido por um tiro da arma emorreu na hora. Foram descobrir depois que aarma havia sido carregada na noite anterior parauma caçada na mata. O rapaz que atirou eraum figurante do filme, que entrou em depressãoprofunda, e morreu logo depois também.Uma tragédia.94Terminadas as filmagens em Itanhaém, viemospara São Paulo, fizemos umas cenas nos estúdiosde Jaçanã; eram cenas noturnas com umbarco, eles fugindo, remando, foi colocada umacâmera num carrinho de travelling e o barconum outro carrinho, foram colocados espelhospara refletir como se fosse reflexo da lua, emoutros trechos tinham latas com diesel para darefeito de água, atrás tinha mato para dar idéiade margem, vendo o filme parece que foi feitono rio, uma perfeição. Outra cena foi feita pertodos estúdios de Jaçanã, num barreiro de umacerâmica, cena noturna, como se fosse no Araguaia.Depois seguimos para uma fazenda emJaguariuna, de propriedade do Sr. Alberto, erauma fazenda imperial, tinha muitos eucaliptos,palmeiras impe riais e enormes bambuais. Tinha


um sargento da Força Pública, o Dávila, que foidestacado pelo comandante para cuidar das armasdo filme. Ele era armeiro, trabalhava com agente, nos ajudou muito, era uma boa pessoa,mas era destratado sistematicamente pelo TomPayne. O Anselmo usava uma pistola Walter 9mm, que era uma arma usada por oficiais e foicedida também pela Força Pública, eles nos emprestaramduas para as filmagens. Não existiano <strong>Brasil</strong> bala de fes tim, então usávamos balasreais mesmo. O Pay ne nos ensaios fazia a mesmacoisa que fez com os remos, mandava dar ummonte de tiro e acabava com a munição, afinalnão tínhamos tanta, era eu quem arranjava asbalas. Então eu ia de Jaguariuna até Campinas,ao Comando Regio nal da Polícia Militar de Campinas,buscar mais munição e mais armas, poisnuma das cenas elas eram jogadas no chão, eramautomáticas, entrava areia nas armas, emperrava,e lá ia o armeiro, com toda sua paciência, limpálaspara poder recomeçar as filmagens, mas elenão dava conta, por isso tive que arranjar maisarmas. Cheguei em Jaguariuna nos sets e o Paynepergunta, com toda sua arrogância, se eutinha arranjado as armas e balas, eu estava tãonervoso, transtornado, que peguei duas armas,atirei no chão, perto do pé dele e disse: Taí,essas funcionam, o Payne ficou assustado e euconcluí: Se acabar essas não tem mais, eles não95


96vão fornecer mais. Toda a equipe estava com osnervos à flor da pele, inclusive eu, o Glauco e oZé Martins, que cuidava dos geradores. Esse ZéMartins fazia uma ponta no filme como um dospistoleiros do Milton Ribeiro, ele usava uma carabina44, mas somente para as filmagens. Um diao Payne pediu para ele ligar os geradores, masele disse que não podia porque estava fora denível, então o Payne gritou com ele, o Zé puxoua carabina 44 e atirou no chão perto do Payne.Dá para imaginar o clima que estava a fita, masconseguimos terminá-la; mas daria para escreverum livro sobre ela. O resultado tecnicamente foibom, o elenco era bom, mas a bilheteria não foi aesperada, foi apenas regular. O Marinho Audrá,no seu livro de memórias, disse que esse filme foiuma pá de cal na Maristela e realmente ali era ocomeço do fim da companhia.Paixão de gaúcho – 1956Da Maristela para a Vera Cruz, melhor dizendo,<strong>Brasil</strong> FilmesO Galileu Garcia era o diretor de produção dofilme Paixão de gaúcho, e me convidou paratrabalhar com ele na fita. Eu tinha contrato coma Maristela, mas nada me impedia de trabalharem outras companhias, o Marinho não ligava, jáque era uma janela entre uma produção e outrada Maristela, não havia conflito. Interessante que


a companhia produtora chamava-se <strong>Brasil</strong> Filmes,que era na verdade a Vera Cruz, em sua segundafase, com o nome trocado, para driblar os credores.O clima não era mais hollywoodiano comoantes, já trabalhavam mais com o pé no chão.Eu acompanhava a Vera Cruz desde os temposque estava no rádio, eu freqüentava o Nick Bar,tinha contato com os atores e técnicos, mas eraa primeira vez que trabalhava diretamente paraos estúdios. O diretor da fita era Walter GeorgeDurst, marido da atriz Bárbara Fázio, uma boapessoa, muito gentil, mas sua experiência mesmoera na televisão, ele escrevia bem, mas como diretorde cinema eu tinha algumas restrições. Odiretor de fotografia era o lendário inglês ChickFowle. O cenógrafo era Pierino Massenzi, praticamentea equipe técnica ainda era oriunda daVera Cruz. Os cenários foram feitos na Vila Tico-Tico, nos estúdios de São Bernardo do Campo,onde em 1952 foi feito o filme Tico­tico no fubá.Fizemos uma adaptação para uma cidade do RioGrande do Sul, onde se passava a história. Precisávamosfazer algumas cenas externas, entãofui a São José dos Campos, lá encontrei um localdescampado, plano, mas que tinha um aclive,e ao fundo os morros, para dar a impressão decochilhas gaúchas. O local era perfeito. Era pertodo campo de aviação.97


98Fotografei e mostrei ao George, mas quemopina va muito era o Chick. As locações foramapro vadas e fomos para lá com toda a equipe.A parte da cidade foi feita na Vila Tico-Tico e orestante em São José, onde chegamos a construircenários também, uma casa de fazenda, etc. SãoJosé dos Campos na época era muito diferentede hoje. Lá conheci o dr. Moacir, o Sr. AntonioS. Ladeira e o Sr. Eduardo Lourenço, que eramdonos das terras e que, gentilmente nos cederamparte para a construção dos cenários, alémde muita miudeza para ser utilizada no filme.Demos sorte, pois as pessoas, os proprietários,tinham medo de ceder as terras. Essas três pessoasgostaram tanto da experiência que vierama produzir o filme Cara de fogo, a qual irei mereferir adiante. Os alojamentos e alimentaçãoda equipe foram fornecidos pelo CTA – CentroTécnico da Aeronáutica, que pertencia à FAB,em São José dos Campos, onde conheci o brig.Montenegro, que se tornou muito meu amigo.O pessoal do CTA colaborou muito conosco. Tive,nessa época, a oportunidade de conhecer umhomem chamado Antenor Leite, um corretorque era louco por cinema; quando ele soube queeu estava lá, nos procurou e não largou mais agente, e acabou fazendo uma ponta no filmeCara de fogo. Eu estava com um jeep Land Roveronde estava escrito Vera Cruz, ele andava no


jeep e dava uma de artista para todo mundo lá,era uma figuraça; depois, em outros filmes fezpapéis melhores.O pessoal que trabalhava no filme tinha quemontar bem, pois o filme era de época e tinhamuitas cenas com cavalos. Quem nos cedeu osanimais e parte dos cavaleiros foi a Força Pública.Eu vim a São Paulo e conheci um ator, Tito LívioBaccarini, que ia fazer o papel de um tenente. Elefoi comigo no jeep para São José, era boa pessoa,mas falastrão, gostava de contar vantagem, diziaque era bom cavaleiro, que havia trabalhado noJockey Club; ele se considerava um galã. Chegandolá, fiquei sabendo que ele foi tomar um drinknum bordel e tomaram o dinheiro dele. Ali, suamáscara já começou a cair, mas o melhor estavapor vir, pois na hora de filmar ele não conseguiamontar, não sabia montar, nunca tinha visto umcavalo na vida. Então arranjaram um cupim, elesubia no cupim para poder montar no cavalo. Elefazia o papel de um tenente e seu cavalo tinhaque ir à frente da tropa, mas o seu acabava ficandopor último. A equipe toda ria, em especialChick Fowle, Jack Lowin e Jerry Fletcher. A suacena acabou dando muito trabalho para ser feita,mas todos relevaram e superaram as dificuldadescom facilidade. As câmeras usadas ainda eramas famosas Mitchell norte-americanas, sofisti-99


cadas, superiores às francesas Super Parvo queusávamos na Maristela, tinham mais recursos.Um fato curioso é que uma noite, num intervalode filmagem, estava o Galileu Garcia, o RobertoSantos e eu conversando sobre as dificuldadesde dirigir uma fita, já que, até então nenhum denós havia dirigido. Eu sugeri que fizéssemos umtrato, uma combinação: Aquele que conseguisselevantar dinheiro para produzir uma fita viriabuscar um dos outros dois para ser diretor. Assimficou combinado, e isso iria acontecer muito maisrápido do que pensávamos.100A doutora é muito viva – 1957Uma produção independente feita nos estúdiosda Vera CruzO diretor era o húngaro Ferenc Fekete, o Paláciosera o diretor de produção e eu fui convidado paraser o gerente de produção da fita. A estrela eraEliana Macedo, contratada no Rio de Janeiro,onde também morava a esposa do Fekete e,como eu estava sempre na rua, atrás de coisaspara o filme, acabava quebrando o galho parao Fekete e ia buscá-la no aeroporto para levá-lapara os estúdios. Numa dessas oportunidades, lápelo meio da fita, por algum problema de produçãoque tive, não consegui chegar no horá riopara pegar a moça, pois, quando cheguei noaeroporto, com mais de uma hora de atraso,


ela não estava mais lá. Retornei aos estúdios emSão Bernardo do Campo, encontrei o Palácios ecomentei o ocorrido. Nesse ínterim chega o Fekete,totalmente transtornado, gritando comigo,tentei explicar, mas não teve jeito, ele se alteravacada vez mais, aí não consegui me controlar ecomecei a gritar também, o clima ficou horrível.Nunca ninguém havia gritado comigo daquelejeito e não era ele que ia fazê-lo. Então eu disse:Estou indo embora, você termina a fita. Bem,peguei minhas coisas e fui embora, abandoneia fita. Isso foi num sábado.Não apareci no domingo, na segunda, a produçãovirou um caos, não para me vangloriar, mas apro du ção do filme estava na minha mão, a fitapa rou. O Palácios foi me buscar em casa, e, emconsi deração a ele, voltei. Chegando à VeraCruz, Fekete veio ao meu encontro e só faltouse ajoelhar, pedindo perdão, dizendo que estavanervoso, é a pura verdade. Os atores vieramfalar comigo, em solidariedade. Fekete, quandoestava desempregado, era humilde, se rebaixavapara pedir emprego, mas quando estava porcima queria pisar nos outros. Esse era o Fekete. AEliana Macedo era casada com o radialista RenatoMurce, era sobrinha de Watson Macedo. Renatonão podia vir para São Paulo toda semana, entãoela ficava hospedada no Hotel Flórida, no centro101


de São Paulo, onde também ficava hospedadoo general Penha <strong>Brasil</strong>. Um dia fui jantar com ocasal Eliana/Renato e ele me pediu para eu fazercompanhia a ela quando ele não estivesse em SãoPaulo. Renato confiava muito em mim, então eusai com ela várias vezes, levei-a até São José dosCampos para um passeio, um churrasco com osprodutores do filme Cara de fogo. Levei tambéma Ignez, que era minha noiva na época e a atrizLola Brah. Doutora é muito viva era uma comédiae fez relativo sucesso no cinema.O cara de fogo – 1957Um trato, e Galileu dirige sua primeira fita102O filme foi uma produção independente, feitapor uma empresa chamada Cinematográfica SãoJosé dos Campos, e foi totalmente rodado nacidade do mesmo nome, interior de São Paulo.Quem produziu a fita foram o dr. Moacir, o Sr.Anto nio S. Ladeira e o Sr. Eduardo Lourenço,pro prie tários das terras que foram por elescedi das para serem usadas como cenário para ofil me Paixão de gaúcho. Fiquei amigo dos três.O dr. Moacir demonstrava curiosidade em saberquanto custava para fazer um filme, e vivia mequestionando sobre isso, eu percebi que eleestava bastante interessado. Disse a ele quedepen dia do filme, o Paixão de gaúcho era umfilme caro, pois tinha muita indumentária, era


um filme de época, mas se fosse um filme comtemática atual, com menos gente, com certezaseria mais barato. Começamos então a maturara idéia, pensar em histórias interessantes. Dentrodaquela combinação feita com o Galileu e o Roberto,ainda no filme Paixão de gaúcho, convideio Galileu para dirigir a fita, o Roberto já estavaenvolvido na produção do seu filme O grandemomento e eu em Doutora é muito viva. Naépo ca sugeri fazermos um filme com Mazzaropi,mas, por uma série de problemas, acabou nãodan do certo. Galileu já tinha a idéia de fazer umaadap tação do conto A carantonha, de AfonsoSchimidt e convenceu os produtores a fazê-lo.Galileu foi para São José iniciar os preparativosdo Cara de fogo.103Eu era o produtor executivo e chamei o Paláciospara ser o diretor de produção, mas Galileu nãoqueria que Palácios entrasse na fita. Por insistênciaminha, Palácios entra no negócio, mas Galileununca o aceitara na produção, achava que elenão era do esquema dos três (Galileu, Roberto eeu). Eu conversei com Galileu e contornei a situação,alegando que Palácios era muito importantepara nós, não somente por sua capacidade, mastambém por ser homem forte da Maristela, econse guiria os equipamentos que precisássemoscom muito mais facilidade. Mas, um problema na


assinatura do contrato fez com que Palácios saíssedo projeto. Como cenário, usamos três casasque pertenciam aos produtores. Terminamos afita e entregamos conforme o combinado comos produtores. Você, vendo a fita hoje, percebeque ela foi bem feita, bem produzida, bem dirigida,mas o tema não agradou ao público comoesperávamos, embora o resultado tenha sidosatisfatório para os produtores.Casei-me com um xavante – 1957A Maristela agonizava...104Depois de Arara vermelha e alguns filmes independentes, retornei à Maristela para fazerCasei­me com um xavante, mas apenas dei umamão para o Palácios, que era o diretor e para oCarlinhos, que era o gerente de produção. O papelprincipal coube a Pagano Sobrinho, grandeartis ta cômico, que teve sua primeira chance comoator principal. As cenas de selva foram feitas emuma fazenda em Guararema, de propriedade dadeputada Dulce Salles Cunha Braga. A fazendaera muito bonita, tinha uma piscina natural euma cachoeira que nela desembocava. No centroda sala havia uma árvore centenária e em suavolta construíram uma casa. Muitas atrizes queestavam em início de carreira na época faziamfiguração como índias. As demais cenas foramfeitas nos estúdios do Jaçanã, inclusive as cenas


de boate. Eu estava fazendo uma outra fita e ascoisas já estavam bastante complicadas já estavaagonizando também, haja visto que a própriaAtlântida não se firmava mais com seus filmes.Foi um filme meio em clima de despedida, sabíamosda situação, tínhamos consciência da realidade,tanto que a fita foi feita em vinte cinco dias,totalmente rodada nos estúdios da Maristela.O filme foi lançado em janeiro de 1958 e foi muitoruim de público, realmente não aconteceu. Umestouro de bilheteria ali poderia significar umacontinuidade, mas a realidade foi nua a crua.Era o fim. Coincidentemente casei-me nesse mêstambém, a vida é assim mesmo, coisas tristes ealegres podem acontecer na vida da gente simultâneamente.105Aliás, um fato interessante, nessa época euconhe ci a dupla Tonico e Tinoco, que queriamproduzir um musical e me convidaram para dirigir.O filme foi feito dentro dos estúdios da TVPaulista, Canal 5 de São Paulo, com equipamentomeu e do Palácios, uma Arriflex 35 mm, com motorsincro, própria para fazer playback. O filmetinha uns quinze minutos de duração, mas nãoaconteceu nada, ele ficou com a dupla, e nem seise ainda existe, nunca mais vi e foi, na verdade,uma experiência amadora, a qual nem consideroem meu curriculum, apenas uma curiosidade.


106Terminado Vou te contá, toda a equipe foi dispensada,mas Palácios e eu continuamos para ajudaro Marinho a se desfazer das coisas, câmeras,refletores, máquinas de serraria, almoxarifado deroupas, cenários, geradores, etc. Vários produtorescompraram equipamentos, inclusive o PrimoCarbonari. Um cinema no Jaçanã foi construídocom material que foi demolido da Maristela. Umquadro chamado Tia Vivi, pintado por Di Cavalcanti,que era muito amigo do diretor Cavalcantie que foi feito para o cenário do filme Mulherde verdade, acabou ficando no estúdio e ao finalestava podre, totalmente estragado. Marinho mepresentou com um abat­jour de madeira usadonos cenários de vários filmes. Guardo o objetocom carinho até hoje em meu sítio.A Maristela foi, sem dúvida, minha grande escola,lá aprendi tudo sobre cinema. Eu, com aquela maniade fazer anotações, acabei me familiarizandocom diversos equipamentos, como um Charriot,por exemplo, que era um tripé francês grandede estúdio onde era instalada a câmera francesaSuper-Parvo, uma grua italiana com três metros,que era até pequena, mas muito funcional e, meparece, que hoje pertence à FAAP. Assim aprenditudo muito rápido. Tive também a oportunidadede trabalhar com bons diretores como Cavalcanti ,Hemza, Christensen e diretores de fotografiacomo Edgar <strong>Brasil</strong>, Chick Fowle, Mário Pagés, o


came ramen Jack Lowin, o maquiador inglês JerryFlet cher, o outro maquiador Jorge Pisani, que foimeu amigo pessoal, etc. Com essas pessoas tive aoportunidade de aprender, e aprendi, não perdia chance que tive, agarrei com unhas e dentes.Com o fim da Maristela, encerrava-se um ciclona minha vida e também no cinema brasileiro,o dos grandes estúdios.Um peão para todo serviço – 1958Um documentário, e de repente eu estava dirigindomeu primeiro filme.107No centro, no filme A doutora é muito viva ao lado deMaria Dilnah


108Considero minha estréia na direção do filme Umpeão para todo serviço, feito em 1958. Eu estavanoivo para casar. Na verdade nunca tive idéia dedirigir, eu tinha me dado tão bem na produçãoque nem passava pela minha cabeça isso, masas oportunidades acabam aparecendo. Eu haviafeito um acordo com a Willys Overland do <strong>Brasil</strong>,na pessoa do Sr. Celso Barros, para nos fornecerdois jeeps, que seriam usados na produção de trêsfilmes, respectivamente Casei­me com um xavantee Vou te contá, produzidos pela Maristela eCara de fogo. Neste último, o jeep aparece comose fosse da polícia, com Antenor Leite fazendo opapel do policial. Em troca desse favor, a Maristelafaria um documentário institucional sobreo jeep. Quando terminamos as fitas eu devolvios jeeps e não quis chamar nenhum diretor dacompanhia, estavam todos trabalhando, entãoresolvi eu mesmo fazer a fita, bolei um pequenoroteiro e sai a campo. O filme procurava mostraras mil e uma utilidades do jeep, com sua traçãonas quatro rodas, andando no barro, na água,com sol e chuva. Lembro-me de uma cena numafazenda, onde tinha uma moenda de cana queera puxada por um boi, que rodava em círculos.Substituí o boi pelo jeep, mostrando que eleservia até para aquele serviço. As locações foramfeitas no Vale do Paraíba, os equipamentos e osnegativos eram da Maristela. A equipe técnica


era muito pequena, além de mim, tinha o Carcaça,que fazia também sua estréia como fotógrafo,Sérgio Ricci na produção e a montagem ficou acargo de Luizinho, com supervisão do Cañizares.Uma curiosidade: quem auxiliou o Luizinho foio Sylvio Renoldi, garotão, que depois seria umdos maiores montadores do cinema brasileiro.Ele estava lá, começando comigo. Sylvio faleceurecentemente. Como curiosidade, cito que, em2004, na venda de uma área que a família herdara,veio em casa a esposa do Renoldi, que eracorretora de imóveis e queria agenciar a venda,mas não deu certo, acabei vendendo direto, tinhamuita gente envolvida e acho que ela ficouchateada.109Peão para todo serviço acabou ficando um excelentedocumentário, modéstia à parte, bem feito,o pessoal da Willys adorou. Quando foi exibidona Companhia, fui aplaudido.Interessante que o Jean Manzon havia feito tambémum documentário sobre o jeep, colorido ,mas, todos diziam que o meu, que era p&b, ficaramelhor, talvez pela simplicidade, era um documentáriomeio caboclo. Pena que não fiquei comcópia, deve estar perdido. Foi minha primeiraexperiência como diretor, despretensiosa, masreal.


Capítulo IVO cinema publicitário – 1958 a 1959Cinema publicitário, um meio de sobrevivênciaPalácios e eu,de repente,nos vimos desempregados,sem perspectiva. Palácios conhecia o pessoalde publicidade, então ele mesmo sugeriu quepro cu rássemos algumas agências e oferecêssemosnossa experiência cinematográfica para fa zerfilmes publicitários, que estavam engatinhan donaquela época, pois a televisão era ao vivo, nãoexistia videoteipe, e os comerciais eram feitosao vivo também. Fomos procurar então a ItapetiningaPropaganda, a Norton Propaganda, aMcCann Erickson, a Thompson, a Stander Propagandas,entre outras. Fomos também falar como Zé Renato, gerente da Cássio Muniz, que tinhaagência própria, e se interessaram também. Enfim,fomos plantando uma semente, uma idéia,pois ninguém estava habituado a fazer filmespublicitários e os comerciais da época eram de,no máximo, 60 segundos, enquanto nós fazíamoscom dois minutos. A bitola era 35 mm edepois se fazia uma redução para 16 mm coma finalidade de exibir na televisão. As empresasde propa ganda não tinham sala de projeção,então, quando o filme estava pronto, levávamos111


o projetor 16 mm e exibíamos o filme numa salade reunião, com as janelas fechadas. Estávamosmudando o sistema das empresas.Um amigo nosso tinha um estúdio de som na RuaPedroso, o nome dele era Jacob Mathor.112Passamos a usar seus estúdios. Precisávamos deum equipamento importado para fazer trucagens,animações, mas não tínhamos dinheiropa ra comprar, então tínhamos que usar demui ta criatividade. Resolvi construir eu mesmoa máqui na, que era feita de ferro e madeira,simi lar à norte-ameri cana que eu vi nas revistas.Fizemos vários comerciais de sucesso, como odo lei te Leik, que tinha um desenho feito nessamáquina pelo Carlos Marti, um espanhol, grandeprofissional que trabalhava conosco. Depoisvendemos essa máquina para o Primo Carbonari.Palácios e eu éramos tipo freelance, fazíamos ofilme sob encomenda, não existia departamentode criação, nós é que bolávamos a propagandae filmávamos. Aconteceu um fato engraçadonessa época, já estávamos fazendo o piloto doVigilante e fazíamos comerciais. Fomos contratadospela empresa Móveis de Aço Fiel e o Lobofoi garoto-propaganda, o rosto do Lobo acabouvirando o logo da empresa e ficou conhecidoem todo o país, mas pouca gente sabia que erao Lobo, na verdade a série ainda nem existia,


estávamos fazendo o piloto, mas o Lobo já erafamoso, veja só que era a sina desse cachorro seconsagrar. Eu era casado há pouco tempo comIgnez, havia gastado muito dinheiro para montarminha casa e sobrevivi, durante um ano, graçasà propaganda. Eu morava em uma das casas daminha família, na Travessa Sandreschi, como jácontei antes. Nessa época, nossa equipe técnicana produção de comerciais era: desenhos eletrei ros de Carlos Marti; maquinista e eletricista,o Osvaldo Leonel (Mazinha); edição de som emontagem, Luizinho; produção de Carlos Mirandae Sérgio Ricci. Mazinha dormia nos estúdiosde Jacob Mathor. Vários técnicos que saíramda Maristela acabaram indo para a publicidadepara sobreviver. Alguns não sairam mais. Entre1958/59 eu dirigi 74 comerciais.113Rastros na selva – 1959Voltei ao cinema para ajudar Civelli.Mário Civelli fez um acordo com a Wyllis paraempres tarem seis jeeps para fazer a fita e saiufilman do pelo <strong>Brasil</strong> afora com uma câmera 16mm e negativo colorido Ektachrome, que era umdos melhores na época, importado, e não erarevelado no <strong>Brasil</strong>. Civelli filmou rios, florestas,animais, depois trouxe todo o material filmadopara São Paulo e chamou o Palácios e eu paraajudar a terminar a fita, mas ainda faltava muita


114coisa para filmar. Então procurei o pessoal daForça Aérea <strong>Brasil</strong>eira, na base de Cumbica, hojeAeroporto Internacional de Guarulhos, onde ocomandante era o brigadeiro Faria Lima, que autorizoua filmar nas matas ao redor da base, umamata espessa que era parte integrante da Serrada Cantareira. Com autorização do seu dire tor,Sr. Mário Autuori, pegamos vários animais emprestadosno Zoológico, panteras negras, antas eaté um helicóptero da FAB levamos lá para filmar.Eu fiz uma participação como um ra dioperadorda expedição. Montamos um grande acampamentono local. Depois juntamos o materialfilmado com aquele que o Civelli já tinha. Vocêvendo o filme hoje, tem a impressão que foi feitono Amazonas, mas foi feito mesmo em Cumbica.Depois fizemos o blow­up, que é a transferênciade 16 mm para 35 mm. O filme foi revelado forado <strong>Brasil</strong> e foi até bem de bilheteria, as criançasgostaram, pois tinha muito bicho, era curioso.O filme era um semidocumentário e foi exibidotambém com sucesso nos Estados Unidos.


Capítulo VA Saga do Vigilante rodoviário – 1959 a1966A obsessão por um produto genuinamente brasileiroA idéia – 1959Sem saber, começava a nascer um fenônemo.Conforme já comentei anteriormente, nos anos40 eu via os seriados no cinema, devorava gibise ficava pensando porque não existia um seriadobrasileiro, um personagem genuinamente brasileiro.Os heróis eram todos norte-americanos,tipo Flash Gordon, Tarzan, Capitão América, OSombra, Fantas ma, etc. Aquilo já me incomodava,mas longe de mim pensar que um dia eufaria um seriado brasileiro, apenas pensava comobrasileiro, aquelas coisas patriotas que a gentetem na infância, ficar emocionado ao ouvir oHino Nacional, etc. Em 1959 eu dirigia comerciais.Um dia o Palácios me procurou e disse ter tidouma idéia, fazer um filme com um cantor, ummusical, depois vender para a televisão. Achei interessante,mas comercialmente eu via restrições,principalmente na distribuição, pois a televisãonaquela época ainda era precária e mandar um115


116filme para todo o <strong>Brasil</strong> era muito complicado,além do que tinha o problema do cachê doartista, que teria que ser pago antes, pois nãoteria como mensurar bilheteria, e sim Ibope, eradiferente, enfim, era uma idéia boa, mas duvidosa,e não podíamos errar, pois, recém-saídos daMaristela, era nossa primeira empreitada comoprodutores. Na história em quadrinho existiaum herói que andava de motocicleta, um tipode cowboy do asfalto chamado O Vingador. Euachava ridículo, um cowboy de motocicleta. Umdia, andando pela rua, vi um guarda rodoviáriopassar de motocicleta. Me informei e descobrique não era um guarda e sim um Inspetor Rodoviário(aí veio a idéia de criar o Inspetor Carlos).Começou a vir na minha mente a idéia de umherói brasileiro, um patrulheiro, mas sozinhonão ia ficar bom, então pensei num cachorro,seu companheiro, um cachorro que andaria namoto, uma novidade, coisa inédita, que eu nuncatinha visto. Alguns dias depois fui com Paláciosà Cássio Muniz conversar sobre comerciais e nocaminho a história já começava a fervilhar naminha cabeça. Relatei minha idéia ao Palácios ecomeçamos a conjeturar sobre o assunto, pensarna possibilidade. Nós já tínhamos um escritóriona Rua Conceição. Na volta da Cássio Muniz,passamos em nosso escritório e lembrei do MárioCosta, amigo que outrora havia sido proprietário


de uma empresa de transportes, a Estrela do Sul.Naquela época ele tinha uma loja de autopeçasembaixo de nosso escritório. Fui falar com Márioe, tomando um cafezinho, relatei minha idéia.Ele ficou empolgado e me disse que conheciapessoas na Força Pública, tinha contatos e quepoderia ligar e propor uma reunião. Eu dissecalma, é apenas uma idéia, não temos dinheiroe a coisa acabou ficando assim.Eu fiquei preocupado, com medo que ele falassecom alguém lá na polícia, eu não estava seguro,a idéia precisava ser maturada. No dia seguinte oMário me procurou e disse que havia falado comseu amigo, Altino <strong>Fernandes</strong>, que era capitão daForça Pública e este já havia feito contato comseu amigo, Flávio Capeletti, sub-comandante daPolícia Rodoviária que havia adorado a idéia.Mário me disse que já estava agendada umareunião com o Capeletti na Rua Riachuelo, ondeficava a Secretaria de Viação e Obras Públicas etambém o escritório da Polícia Rodoviária. Nãome intimidei, mas fui pensando no caminho:“Co mo vou sair dessa!.” Fui até lá conversar comele e começamos bem, pois descobri que ele erameu vizinho em Santana. Expliquei a idéia, dopatrulheiro com o cachorro, salvando as pessoasde bandidos, o cachorro andando na moto, etc., erelatei também o que seria o piloto da série, toda117


118na minha cabeça, o Diamante gran mogol, umahistória policial que envolvia o roubo de um grandediamante, o maior do mundo. Ele se dispôs aajudar no que fosse possível, mas os recursos daPolícia Rodoviária na época eram precários, hajavisto que a frota da rodoviária era composta dealguns jeeps e dois Ford, um 1949 e 1950. Umpequeno parêntese: tanto o Capeletti quanto oAltino acabaram se tornando meus amigos. Maistarde, durante o seriado, Capeletti me confessouque quando eu fui falar com ele, existiam duashipóteses: uma, a de eu ser louco e outra, a de euestar anos à frente de minha época, e que eu seriao responsável por realizar uma obra que ficariamarcada para sempre no <strong>Brasil</strong>. Bem, no mesmodia relatei o que havia acontecido ao Palácios eele achou que eu estava louco, acabou me dandouma bronca. A impressão que dava é que o Paláciosainda não havia entrado no clima da idéia,não tinha comprado a idéia. Mas no fundo elenão estava errado, eu estava sonhando com umacoisa muito além da nossa realidade, das nossasposses. Na Rua Pedroso, havia um amigo nosso,um judeu, Jacob Mathor, um homem de posses,que tinha um estúdio que nós já usávamos parafazer comerciais. Contei a ele a idéia, tudo quehavia acontecido com o pessoal da polícia, disseque estava chateado pelo fato de, de certa formater discutido com Palácios, mas aquilo não saía


da minha cabeça, eu estava preocupado, aquiloestava começando a virar uma obsessão. Jacobouviu tudo e ao final me disse: “Eu colaboro comquatro latas de mil pés de negativo 35 mm, cedomeu carro e meu estúdio para você usar comoprecisar”, ele tinha um Chrysler, um carro delu xo na época. Os estúdios se chamavam SantaMôni ca, em homenagem à sua filha. Na verdade,Jacob ficou comovido com minha empolgação.Voltei a falar com Palácios. Sugeri ao Palácios queconversássemos com os técnicos da Maristela queainda estavam desempregados e propuséssemosuma parceria, que todos pudessem trabalhargraciosamente para a realização do piloto. Tínhamosuma câmera Arriflex 35 mm que havíamoscomprado quando saímos da Maristela.119Com essa câmera fazíamos os comerciais queda vam nosso sustento naquele momento. Considerandoque cada lata de negativo tem dozeminu tos, eu tinha quarenta e oito minutos defilma gem, para um episódio de 20 minutos, ouseja, não podia errar muito. Sai a campo paraprocurar os técnicos e até meu pai se dispôs aajudar, depois, durante as filmagens, ele compravapão, frios, lingüiças e fazia lanches para aequipe. O Hélio Menezes, já falecido, era donode uma agência de figurantes, também veioajudar. Os ato res eram quase todos amadores,


figurantes. Hélio, que era gaúcho, um dia fezum arroz a carreteiro para a equipe, num fogãoimprovisado nas locações. Quando estávamos nonosso estúdio, pedíamos emprestado pratos etalheres para um bar que ficava ao lado. Vieramtambém o Eliseu <strong>Fernandes</strong>, fotógrafo, Mazinha(Osvaldo Leonel), eletricista, Luizinho, montadore amigos da Maristela que já trabalhavam conoscona montagem dos comerciais.120Eu já havia escrito a história e depois fiz umrotei ro do primeiro episódio, o piloto, que seria,definitivamente, O Diamante gran mogol. Paramim não foi difícil fazer isso, pois eu sempre tivefacilidade em escrever. Conversei com o pessoalda polícia e pedi quatro guardas permanentespara ficarem direto comigo durante as filmagens.Precisávamos da orientação deles nas estradas, àsvezes nos distraíamos e invadíamos a estrada, umperigo, esse pessoal da polícia era absolutamentenecessário, eles tomavam conta da gente, elesfica vam desviando o trânsito onde estávamosfilman do. Eram eles: Benedito Lupi, Mistrenel,Al mir Castrioto, Álvaro Motta (o único vivo,en con trei com ele recentemente). Esses quatroco me çaram comigo, me ajudaram muito e eugosta va de todos , mas confesso que Lupi era omeu preferido, um grande cara, bebia demais,mor reu cedo, mas era um grande cara, deixou


saudades. Estava na hora de arranjar o cachorro,eu sabia que teria que ser um cachorro especial,não poderia ser qualquer um, não para aquiloque eu imaginava. Eu tinha um amigo chamadoOdoacro Gonçalves que era chefe do controle daGuarda Civil, ele me arranjava os carros, ou melhor,as viaturas que eu precisava. Ele me disse quetinha um controlador que estava ali comissionado,era soldado da Força Pública e se chamava LuizAfonso, morava em Suzano, e tinha um cachorromuito bonito. Pediu que eu conversasse com ele.Fui procurá-lo em Suzano. Levamos uma peruae uma motocicleta Harley Davidson pilotada porum guarda rodoviário. Conheci o cachorro, que sechamava King. Foi amor à primeira vista, adorei ocachorro e acho que ele também gostou de mim,mesmo porque eu sempre gostei de cachorros,sempre tive cão em casa, tinha jeito para lidarcom eles. O nome dele não me agradou, um seriadocom um herói genuinamente brasileiro nãopoderia ter um cachorro chamado King, entãomudei seu nome para Lobo, pois era universal,tinha em todas as partes do mundo, inclusive no<strong>Brasil</strong> temos o lobo-guará.121Perguntei o que o cachorro fazia, Luiz respondeuque ele pulava e sentava e me mostrou, pedindoao cão que fizesse isso. Perguntei se ele andavana moto, Luiz disse que isso ele nunca havia fei-


122to, então conduzi o cachorro até a moto e elesubiu sem que precisássemos mandar. Lobo eraum cão pequeno e cabia na moto, se fosse umpastor normal não caberia, até nisso demos sorte.Come cei a gostar e a achar que havia encontradoo que procurava. Em seguida fizemos o teste coma moto em movimento, pedi ao guarda que saíssebem devagar e ele também foi bem. Eu fui como carro atrás filmando o teste. Esse sim seria ummaterial raro se não tivesse se perdido: o testedo Lobo para a série Vigilante rodoviário. Bem,Lobo estava aprovado e Luiz Afonso concordouna hora em cedê-lo. Interessante lembrar que nãofiz teste com mais nenhum cachorro, Lobo foi oprimeiro e único. O Carlinhos, que já era nossoconhecido da Maristela, estava recém-casado, etambém desempregado. Ele ia no nosso escritório,ficava com a gente e acabava nos ajudandona produção dos comerciais, enfim, no quepreci sássemos, ele era um rapaz muito solícito,bem disposto, alegre, divertido, um bom amigo.Convi damos então o Carlinhos para fazer a produçãodo piloto. Mas ainda faltava o principal,o ator que faria o papel do patrulheiro. Eu nãoqueria um ator profissional. Iniciamos os testescom vários atores e até policiais, nos estúdiosemprestados de Jacob Mathor. Os candidatosvestiam a farda, mas nenhum me agradava, nãome conven cia. Numa noite, em casa, comentei


com Ignez, minha esposa, sobre o que estavaacontecendo e ela sugeriu fazer um teste comCarlinhos. Na hora achei um absurdo, aquilo nãopassava pela minha cabeça. Eu via o Carlinhoscomo homem de produção, não como ator.No dia seguinte reiniciei os testes, também semsuces so. Ai, sentei numa banqueta e disse aoCarli nhos que estava quase desistindo, pois nãoencontrava o perfil que procurava. Nessa horalembrei do que Ignez havia me dito e disse aoCarlinhos que vestisse a farda, ele estranhou,perguntou: Por que?, eu disse: Vista, queroapenas tirar uma dúvida. Ele concordou, mas abota era pequena, número 42, e entrou mui toapertada no seu pé, que era número 44. Quandoele colocou a farda, completa, com que pee blusão, eu disse: Já temos o Patrulheiro Rodoviário. Ele perguntou: Quem é?, eu dis se:Você! Parece que foi uma mágica: ele colo couo fardamento e se transformou naquele per sonagemque mudaria sua vida e as nossas parasempre. Em suma, Ignez, minha esposa foi arespon sável pela escolha do Carlinhos para ser oator da série. Naquele momento eu consegui vero que a Ignez já havia visto muito antes. Ignezviu Carlinhos fardado em seu pensamento. Seum dia eu voltasse a fazer o Vigilante, gostariade ter a sorte de ter o Carlinhos novamente.123


Ele literalmente vestiu a camisa, se empenhava afundo em fazer o melhor possível e nos ajudoumuito em tudo, fazendo o papel principal, naprodução, nas filmagens; enfim, foi nosso braçodireito. Isso ninguém tira dele.O piloto: Diamante gran mogol – 1959O sacrifício, o início de um sonho124Escrevi o episódio Diamante gran mogol já noinício da idéia, pois achava que deveria ter umahistória para mostrar. O capitão Flávio Cape lettisaiu comigo para procurar as locações para asfilmagens, tinha que ser tudo locação, pois não tínhamosdinheiro para montar cenários. Lembromede um fato trágico que ocorreu: estávamosembaixo do Viaduto Santa Ifigênia esperandouma pessoa da equipe, de repente ouvi mos umbarulho seco, quando olhamos de lado, percebemosque um homem havia se jogado, seu corpoestava inerte, estatelado no chão, ficamos bastanteimpressionados. Resolvemos então iniciaras filmagens na Via Anchieta, pois, além de serum lugar muito bonito, tinha tudo a ver coma série. Para fazer as primeiras cenas do GranMogol, estávamos a postos para filmar às oitohoras da manhã, na entrada do Caminho do Mar,hoje Estrada Velha de Santos, no Riacho Grande,quando, para nossa surpresa, baixou uma brumaque não enxergávamos nada. Ficamos esperando


Carlos Miranda, como o Vigilante rodoviário, e Lobo125


126até as dez e meia e fizemos algumas cenas. Aproveiteie fiz todos os exteriores em dois dias. Eutinha cenas para fazer em Santos, mas, como lánão tinha bruma, então dei prioridade em filmarali. Na série inteira quase não tem Via Anchieta,justamente por causa da bruma, problema queperdura até hoje. Mesmo assim, encontramos olocal ideal que procurávamos e lá fizemos a cabanados bandidos. O ator que fazia o chefe dosban didos chamava-se Cacildo. Colocamos umaborracha especial de maquiagem no seu rostoimi tando uma cicatriz, ficou perfeito. A primeiracena que fizemos foi uma estradinha que davapara o esconderijo dos bandidos. Por causa dabruma, depois acabamos mudando as locações,pois não havia condições de filmagem. Como oelen co era todo amador, figurantes, soldados dapolí cia, etc., tive muitos problemas nas filmagens,o pessoal tinha dificuldade em decorar os textos.A segunda cena foi em Santos. Lá conseguimosauto rização para filmar no porto, e num navioatracado, pois a história assim exigia. Todos noPorto de Santos foram muito amáveis conoscoe cola boraram muito nas filmagens. No naviofize mos a cena em que chegaria o chefe dosbandidos.Tinha um figurante que se chamava Alberto,ele fazia um guarda rodoviário, era português e


se esforçava ao máximo para não deixar transparecero sotaque; logicamente, depois ele foidublado. As fardas eram fornecidas pela polícia,mas, depois, quando fizemos a série, a farda doCarlinhos eu mandei fazer especialmente para ofilme, aliás fizemos várias, pois haviam cenas deluta e era comum rasgar alguma. A farda, blusão,quepes, botas, tudo que o Carlinhos usava foi emprestadopelo Jaime, um guarda da polícia quetinha o mesmo porte físico dele e que o pessoalda polícia chamava de Turco Louco. Carlinhos tem1,83 m de altura e não era fácil encontrar alguém127Bastidores de filmagens do Vigilante rodoviário


128com esse porte físico. Foram usados carros dapolícia, jeeps e motos. Interessante que as motosda polícia não tinham rádio, então fizemos umaadaptação na moto para colocar um rádio transmissorda Byington, um HT usado na guerra, quenão funcionava. Na série, foi usado equipamentoControl. O comandante tinha um Ford 1950 e osub-comandante usava um Ford 1949. Depoisesses carros acabaram sendo utilizados, mas nãono piloto. Filmamos o piloto em duas semanas. Aimprensa noticiou as filmagens, mas sem alarde;surgiram até comentários jocosos tipo Será que opatrulheiro terá calça preta e camisas listradas?,numa alusão ao malandro brasileiro. Quer dizer,a própria mídia não acreditava naquilo que estávamosfazendo e, ao invés de nos incentivar,nos escrachava.O filme foi revelado no Laboratório Bandeirantes.Nós tínhamos uma moviola vertical, queera usada para fazer os comerciais, Luizinhofez então a primeira montagem, mas ainda nãotinha o corte final, nem som, pois não tínhamosdinheiro para sonorizar o filme e o projeto ficouparado vários meses. Carlinhos tinha um amigona TV Record, Rogélio Rodrigues, tesoureiro dodr. Paulo Macha do de Carvalho e, por seu intermédio,consegue uma audiência com dr. Paulo,que aceita ver o copião sem som do filme. Fize-


mos uma redução para 16 mm. No dia, estavampresentes, além de dr. Paulo, seus filhos Paulinho,Alfredo e Tuta e o radialista Hélio Ansaldo. Elesadoraram o mate rial e imediatamente quiseramfechar negócio, mas a exibição seria restrita a SãoPaulo e Rio de Janeiro, e nós queríamos que fossepara o <strong>Brasil</strong> todo, pois sendo exibido somente noeixo Rio-SP, jamais cobriria seus custos de produção.Eles propuseram que fechássemos contratoe depois fôssemos vendendo a série para outrosEstados, mas não tínhamos estrutura para isso,viagens, hospedagens, etc., então o negócio nãodeu certo com a Record, o que deixou a famíliaMachado de Carvalho muito chateada com agente. Mais tarde, eles ficaram numa saia justaao nos conceder o Troféu Roquette Pinto, queera da Record. Imagino que não nos deram esseprêmio com muito prazer na época. Mas issoacabou sendo, de certa forma, um alento paranós, pois percebemos que estávamos no caminhocerto e que poderia haver um interesse pelonosso produto. Agora tínhamos que sonorizar ofilme. Mário Sidow era um técnico de som, antigoconhecido, que tinha um estúdio de som na RuaBahia. Ele mesmo montou os equipamentos derevelação de som, fez as pistas para mixagem,fazia as gravações. Ele morava em cima e naparte de baixo, nos porões, fez seu estúdio. Eratudo meio precário, o chão era de tacos, que129


130se desatacavam , então embaixo escutávamos obarulho de pessoas andando, eu dizia ao Máriobrincando que não existia no <strong>Brasil</strong> estúdio maisdestacado que o dele. Ele era um cara muito inteligente.Todo mundo gravava em área, ele gravavaem densidade, a qualidade era muito melhor,o som era espetacular, separava as pistas. Elesonorizava documentários, comerciais. Ele faziatudo sozinho. Procurei então o Mário, expliquei asituação e ele me autorizou a fazer a gravação noseu estúdio para pagamento posterior. Luizinhopreparou os anéis para fazer as dublagens. Comoos atores eram todos amadores, precisávamos debons dubladores para gravar. Foram escolhidosos atores para fazer a dublagem. Para fazer a vozdo Carlinhos escolhemos um ator da Rádio SãoPaulo. A dublagem foi dirigida por Luizinho, eunão participei. Curioso é que, em 1970, quandofizemos o filme Até o último mercenário, Carlinhosfoi dublado por Carlos Campanile. A voz eraperfeita, aquela era a voz certa para o Carlinhos,inclusive melhor que a que foi usada no Vigilante.Bem, esses atores vieram de graça, não cobraramcachê. Mas todos que colaboraram, depois com aefetivação da série, foram chamados e assinaramcontrato conosco. De certa forma, retribuímoso favor, embora alguns estivessem envolvidosem outros projetos e outros foram substituídos,como o fotógrafo Eliseu <strong>Fernandes</strong>, que fez o


piloto, mas cedeu lugar para Osvaldo de Oliveira,o Carcaça, numa indicação do Palácios, contra aminha vontade. Carcaça era amigo de Paláciosdesde os tempos da Maristela. Terminadas asdublagens, sai pelas ruas para gravar os ruídosde carros, motos, chuva, mato, etc., e com issofizemos e sincronizamos os ruídos de sala. Todaa sonorização musical foi feita por Paulo Bergamasco.Tudo isso demorou quase dois anos, ofilme ficou pronto no em fins de 1960.Contrato com a Nestlé e o sucesso na TV –1961/2A materialização do sonhoResolvemos então procurar as empresas de publicidadeque conhecíamos. As séries que faziamsucesso na época eram Lanceiros de bengala,Menino do circo, Rin­tin­tin, etc., mas não existianenhuma série brasileira. Toda nossa esperançase baseava nesse fato, além de estarmos oferecendoum bom produto. Nossa idéia era exibiro filme nas grandes agências, de preferênciaàquelas que tivessem clientes nacionais, como aNorton, a Thompson e McCann Erickson, StanderPropaganda, etc.131A Norton foi a primeira a marcar uma reuniãopa ra as nove horas e a Thompson marcou no mesmodia às 10h30. Fizemos uma cópia em 16 mm


132e, de posse de um projetor italiano superpesadomarca Cine Mecânica, seguimos para a Norton.Para fazer a apresentação, usei o meu terno decasamento, feito de tecido tropical Maracanã,um luxo para a época. Com o passar do tempo,o tecido ficava lustroso, além de já estar cerzidono traseiro por minha esposa. O filme ainda nãotinha a abertura nem o tema musical. Era apenasa história. Na Norton, haviam sido convocadostodos os contatos, e eles estavam curiosos paraver o filme. A exibição foi feita numa sala de reuniõesda empresa. Iniciamos a projeção e ficamosobservando a reação dos presentes. Conforme acena, eu aumentava o som para dar mais ênfase.Ao término, todos aplaudiram de pé. Ninguémesperava. O publicitário Carlito Maia era o encarregadoda conta da Nestlé, a parte da Norton,já que a conta da Nestlé era dividida entre aNorton e a McCann Erickson. Apresentamos asplanilhas com o custo da série ao Carlito, já com aprevisão de 39 episódios que, com 13 que seriamreprisados, totalizava 52, ou 52 semanas, ou umano de exibição. Esse era o projeto. Carlito nospediu para não fechar com ninguém que ele iriafalar com o pessoal da Nestlé. Eu disse: Impossível,estou indo agora para a Thompson exibir ofilme. Quem chegar primeiro leva. Fomos para aThompson, e, assim como na Norton, montamoso equipamento na sala de reuniões e começamos


a projetar o filme. Durante a projeção, me liga oCarlito Maia, dizendo: Não fecha com ninguémpois a série já está vendida para a Nestlé. Bem,terminamos a projeção e o filme também foiaplaudido no final.O Sr. Lauro de Barros Siciliano, que era o diretorda Thompson e membro de uma comissão pertencenteao Departamento de Estradas Estaduaisde Rodagem disse, todo entusiasmado, que asérie seria da Ford. Eu lhe disse que o negócio jáestava fechado com a Nestlé, para fúria daquelesenhor. Ele disse que não podíamos fazer isso, eraantiético, eu expliquei que o telefonema vieradurante a projeção. Retornamos com todo o equipamentopara nosso escritório na Rua Pedroso eà tarde fomos para a Norton ultimar os detalhesda transação. Acertamos um adiantamento de20% para início da produção e depois à medidaque entregávamos os episódios, íamos recebendoas parcelas. Dias depois assinamos contratona sede da Nestlé, na Rua da Consolação. Paraproduzir a série, criamos uma empresa, a IBF,Indústria <strong>Brasil</strong>eira de Filmes, que era minha edo Palácios. O dinheiro era repassado à Norton,que repassava à IBF, não recebíamos da Nestlédiretamente. O diretor-comercial da Nestlé era oSr. Gilbert Valterio, um suíço que gostava muitodo <strong>Brasil</strong>, tanto que casou-se com uma brasileira.133


134Com executivos, o Sr. Gilbert Valterio ao centroValterio foi um grande aliado nosso, um homemque tinha visão, ele vislumbrou ante cipadamenteno Vigilante, o sucesso que viria a ser. Ele comproua idéia desde o início, quando Carlito Maiaofereceu-lhe o negócio. Bem, após receber osinal, a primeira coisa que fizemos, logi camente,foi depositar o cheque no banco e a segunda foicomprar dois ternos novos para nós. Esse ternoeu guardo até hoje.Saímos para contratar a equipe, foi uma alegriageral. A Norton Propaganda e a Nestlé fecharamcontrato com a TV Tupi para exibição da série.A exibição seria em rede nacional. Os episódios


prontos eram entregues na Norton. A mídiadava generosos espaços para a série. Um enormepainel com o Vigilante e o Lobo foi construídopela Nestlé e colocado no início da Via Anchieta,mais ou menos no quilômetro dez, chamando asérie. Mudamos nosso escritório para a Rua dosLavapés, num enorme armazém, mas não parafazer cenários, que não era o plano do filme,mas para acomodar melhor a equipe. Com otenente <strong>Ary</strong> Aps fomos até Jundiaí procurarlocações, chegamos a construir dois cenários nasede da Polícia, que foram pouco utilizados, poisnão era interessante, já que em sítios e chácarasconseguíamos os cenários já prontos. Resolvemosque o segundo episódio seria mais perto de SãoPaulo, para facilitar as coisas. Eu escrevi o roteirode A pedreira, um episódio que se passava todoem um lugar só, em Tremembé, onde havia naépoca uma pedreira muito grande. O episódio foifilmado em sete dias. A menina que fazia o papelera filha de Luiz Afonso, dono do Lobo. Haviauma cena de explosão de dinamites e eu sabiaque se o tempo estivesse chuvoso, ameaçandoraios, o perigo de explodir seria muito grande.Na pedreira, havia um especialista em explosõesque era chamado de cabo de fogo, única pessoaautorizada a lidar com a dinamite, não poderiahaver riscos. Curiosidade: nós almoçávamos numbar perto das locações, na verdade um barraco de135


136Em seu escritório, 1961madeira que servia comida caseira de primeira ,toda a equipe comia lá, fiz um acerto com o dono.Se a equipe tivesse 25 pessoas, eram preparados25 bifes, 25 ovos, etc., mas todo dia alguém ficavasem ovo e reclamava. Fiquei então observandoque Mistrenel, um dos guardas rodoviários pegavadois ou três ovos, caímos na risada, ai autorizeio dono a fazer a mistura na quantidade queprecisasse. Tinha uma caçamba de ferro ondefoi improvisado um visor para poder chegar o


mais próximo possível da explosão. Na hora daexplosão, mesmo com toda a segurança, ficamosapreensivos, com muito medo e ensurdecidoscom o barulho.Com o patrocínio da Nestlé, começamos a contrataratores profissionais, alguns já consagrados eoutros em começo de carreira, mas que depoisfizeram muito sucesso. Assim, chamamos JucaChaves, Etty Fraser, Stênio Garcia, Rosamaria Murtinho, Elísio de Albuquerque, Luiz Guilherme,Geraldo Del Rey, Milton Ribeiro, Fúlvio Stefanini ,Lola Brah, <strong>Ary</strong> Toledo, Amândio Silva Filho, MárioAlimari, Sérgio Hingst, <strong>Ary</strong> Fontoura, TonyCam pello, Lucy Meirelles entre tantos outros.O coman dante era interpretado por WashingtonCoimbra, ele não era nem guarda rodoviário nemator, ele era chefe de pessoal da Polícia Rodoviária,era um funcionário de gabinete. Acabeiusando-o no piloto e ele ficou para a série toda,atuando em quase todos os episódios. Trabalheibem com todos eles. Fizemos três episódios emoutros Estados: Rio de Janeiro: O sósia; Paraná:Aventura em Vila Velha; e Minas Gerais: Aventuraem Ouro Preto. Como a série foi exibida em todoo <strong>Brasil</strong>, os episódios chamavam muito a atençãodo público daqueles Estados. Usávamos guardasrodoviários mesmo e atores com farda, a gentemesclava. No episódio do Paraná, <strong>Ary</strong> Fontoura137


138fez sua estréia no cinema. O governador era oNey Braga, que nos deu todo o apoio e se tornoumuito meu amigo. No Rio de Janeiro filmamossem apoio, mas fizemos o episódio. Em Minas Gerais,recebemos apoio do governador MagalhãesPinto. Filmamos em Ouro Preto, Congonhas doCampo e Belo Horizonte. Quem fez os contatostanto no Paraná quanto em Minas Gerais foi aatriz Lola Brah, que era amiga dos governadores.Eu já conhecia a Lola Brah dos tempos da Maristela,ela sempre foi muito solícita, ajudava aspessoas, era realmente muito especial. Conhecitambém sua irmã, Sra. Valha, e até sua mãe. EmOuro Preto visitei a Faculdade de Mineralogia,fiquei fascinado com as pedras, os professoresme explicavam a origem de cada uma.Filmei no Museu onde ficavam as obras do Aleijadinho,e os Profetas em Congonhas do Campo.É interessante o que esse homem produziu, emquantidade e qualidade, mesmo tendo todoaquele problema, realmente era um gênio. NoMuseu, tivemos um pequeno problema com aesposa do responsável local, que não queria nosdeixar trabalhar, criou uma série de embaraços.O diretor alegou que uma equipe francesa haviafilmado no local e que obras do Aleijadinhohaviam sumido, mas o que eu tinha a ver comisso, eu só queria fazer minhas cenas e ir embora .


Então eu disse a ela que à noite eu ia dar umaentrevista para a TV Belo Horizonte, e que citariao fato, ela então, imediatamente mudou aconversa, na verdade uma imbecilidade, pois játínhamos autorização até do governador parafilmar no local. Houve um episódio, chamado Ahistória do Lobo, que foi feito para justificar apre sença do cachorro na polícia, pois na épocanão era permitido. O episódio contava que oLobo havia sido achado ainda muito pequeno efoi levado escondido para a corporação. O major139


dera a ordem de levar o cachorro embora, maseste salva uma criança na estrada e a partir daí éadmitido na polícia. Havia um cozinheiro negrochamado J. França no filme que acaba roubandotodas as cenas que participa. No filme ele alimentavao Lobo escondido, com a conivência do InspetorCarlos. J. França era guarda rodoviário edepois de sua participação nesse filme, torna-seator de teatro; hoje é falecido.140Esse episódio, escrito por mim, fez muito sucessoe é o meu preferido, talvez pelo amor que cultivoaté hoje pelo Lobo. Eu filmava uma cena deação, uma luta, um golpe, com 22 fotogramas.Depois, na montagem, retornava aos 24 quadrose conseguia um efeito perfeito. Esse pequenotruque eu ensinei a várias pessoas principalmenteligadas à propaganda. Nunca me importei comisso, o que eu sei eu ensino aos outros. Sou daopinião de que quem sabe, sabe, não precisaesconder. O episódio Pombo­correio foi feitona estrada entre Jundiaí e Itu. O ator era MárioAlimari, que fazia o Pé­com­pano na televisão.Com o sucesso da série, as pessoas nos ofereciamlocações, sítios, fazendas, chácaras, etc.; todosqueriam, de alguma forma, participar. A série,com o tempo, passou a ter um caráter institucional,pois além de transmitir a mensagem que obem sempre vence o mal, procurávamos também


ensinar alguma coisa, assim, por exemplo, noepisódio Mapa histórico mostramos como erampreparados os antídotos para picada de cobrano Butantã. Já em Orquídea glacial mostramoscomo funcionava o Jardim Botânico de São Paulo,em Aventura em Ouro Preto, a importância dasobras do Aleijadinho, e assim por diante. Quandoa série entrou no ar pela TV Tupi, nós tínhamosapenas 12 episódios prontos, quando o combinadoseria que tivéssemos pelo menos 22 ou 23;o fato é que a Nestlé patrocinava na época umseriado chamado Menino do circo, que dava boaaudiência. Mas em Niterói, num domingo, umcirco pega fogo e morrem várias pessoas, entreelas muitas crianças. A Nestlé resolve então, tiraro Menino do circo do ar e entra com o Patrulheiro(adiante explicarei essa história), ou seja, a partirdaí, a série entra no ar imediatamente após suaprodução, um fato inédito também, isso foi umaloucura para nós, que não podíamos errar, poiscada episódio levava pelo menos quinze diasde filmagem. Para entrar no ar, já tínhamos avinheta e a música tema, que foi composta pormim, houve uma outra música, de outro compositor,que foi usada também na série, mas nomeio, como música incidental. As duas foramgravadas pelo grupo musical Titulares do Ritmo.Para a série, adquirimos outra câmera Arriflex dereserva, mas normalmente usávamos somente141


142uma, aquela antiga que já tínhamos. No dia que oVigilante foi ao ar, uma terça-feira, sentimos umasensação de alívio, mas apreensão também, poisnão sabíamos se faria sucesso ou não. A audiênciana época demorava dias para ser medida,depois de uma semana, ficamos sabendo que oprimeiro episódio dera 33 pontos de audiência. Aícomemoramos muito. Já no segundo episódio, aaudiência subiu para 55 pontos, a série estouroumesmo, ninguém esperava tanto. Passava na terçaem São Paulo e na quarta no Rio de Janeiro,onde o sucesso foi maior ainda, com um ou doispontos acima de São Paulo. Na época, o universototal de televisores era de 70%, pois 30%seriam aparelhos desligados, etc.; então, os 55%poderiam, na verdade, significar 80%. O sucessoda série se espalhou por todo o <strong>Brasil</strong>, todas ascapitais, Vigilante virou uma febre nacional, combonequinhos e o gibi do Vigilante, editado pelaNestlé e miniaturas do Simca, feitos pela própriafábrica. Os brindes eram distribuídos, sorteados,mas a quantidade era pequena, todos queriamguardar de lembrança. Fizemos muitas cenas emJundiaí e, até o pedágio, o tempo estava fechado,depois abria, exatamente no quilômetro 37 daRodovia Anhanguera.Depois descobrimos que, nessa altura, passava oTrópico de Capricórnio, e por incrível que possa


parecer, depois desse trecho começava a melhoraro tempo. Às vezes, saíamos de São Paulo comgaroa, após o 37 tinha sol. Isso também aconteciana Rodovia Fernão Dias, depois da Serra, jáquase chegando em Mairiporã, o tempo abria epara trás ficava fechado. Eu sabia que esses doislugares eram uma beleza para filmar. A Rodoviad. Pedro I, que liga Campinas a Jacareí, é um espetáculo.O Trópico é uma linha imaginária, masfica a impressão que ele existe mesmo.Para facilitar nosso trabalho, compramos umônibus GMC, ano 1946, ainda a gasolina, e neleadaptamos a parte de trás para levar os equipamentose a parte da frente para levar membrosda equipe, atores, etc. Para dirigí-lo, contratamosNelson, um rapaz que ficava sempre no estacionamentoperto dos estúdios. De vez em quandoeu mesmo dirigia o ônibus. O Nelson levava oSimca e eu ia dirigindo o ônibus. Na lataria pintamoso nome da produtora, IBF. O ônibus ia evoltava todos os dias, não importa onde fossemas filmagens, me refiro dentro do Estado de SãoPaulo. Terminada a série, vendemos o ônibus.143Engraçado que não existia videoteipe, então fazíamosquatro cópias em 16 mm de cada episódio,duas ficavam em São Paulo e duas seguiam parao Rio de Janeiro, e em seguida iam subindo paraoutros Esta dos. Quando assinamos contrato e


144depositamos o dinheiro no banco, foram promulgadasas Instruções 204 e 208, pelo entãopresidente Jânio Quadros, que renunciaria logodepois. Essas instruções taxavam em 100% os produtosimportados, o que nos atingia diretamente,pois os negativos eram importados. Uma lata denega tivo de mil pés que custava 10 mil cruzeiros,passou a custar 20 mil. A reação foi em cadeia:sobe o negativo, o negativo de som, o positivo, olaboratório, etc. No meu orçamento original euhavia jogado uma margem de 100% nos custosde produção, já prevendo aumentos que pudessemacontecer ou mesmo gastos não previstos.Mas com essas Instruções, entramos de cara comnosso orçamento no osso, o que já começava anos preocupar. A série tinha um custo elevado emrelação às séries norte-americanas, que já vinhamprontas, só necessitando de dublagem, entãonem se cogitava pedir aditivo no contrato, nãoera cabível. Da metade para o final, começamos aenxugar os custos, reduzir equipe e tudo foi ficandomais difícil. Nos três últimos episódios da sérieeu mesmo fiz a fotografia, câmera, produção edireção, etc., o dinheiro já havia acabado. Com 38episódios prontos, Palácios e eu fomos conversarcom Gilbert Valterio, explicamos a situação e nosautorizaram a parar por ali, ou seja, não fizemoso 39º episódio, que seria o correto para cumprir ocontrato integralmente. O 38º e último episódio


chamou-se A Extorsão e foi totalmente filmadono Guarujá, com Tony Campello e Lucy Meirelles.Logo em seguida, procuramos o Valterio parapropor um novo contrato para realização deoutros episódios, mas este estava indo emborado <strong>Brasil</strong>, transferido para a Suíça. Entregamos onovo orçamento para seu substituto, que analisoue disse: Por esse preço a Nestlé fica dona de tudo,inclusive da marca Vigilante, o que logicamentenão interessou nem ao Palácios nem a mim. Ficamossabendo depois que a Nestlé patrocinarauma outra série chamada Os Bandeirantes, daqual chegaram a ser feitos 12 episódios, mas asérie foi cancelada pela direção geral da Nestlé,sem ser exibida. O motivo? Ninguém sabe. Apóso encerramento do contrato, todas as cópias em16 mm retornaram para nós.145Equipe e elenco do Vigilante rodoviário


A série O Vigilante rodoviário voltou a ser exibidaem 1967, ainda pela Tupi e, em 1972, pela TVGlobo, depois nunca mais, ficando somente namemória de quem viveu essa época.A palavra da Nestlé(extraído da revista Atualidades Nestlé, nº 5,junho de 1961)146Financiando e patrocinando o primeiro seriadobrasileiro para Televisão: Nossa companhiaestabalece pioneirismo também nesse terreno!Desde o início deste ano, acha­se em produção aprimeira série brasileira de filmes para televisão,que será exibida em todo o país, sob o patrocínioexclusivo de Produtos Nestlé. O seriado contarácom 39 histórias completas para programas de27 minutos, especialmente preparadas para atelevisão e inteiramente escritas, interpretadas,dirigidas e laboratoriadas por artistas e técnicosbrasileiros. O tema dos 39 episódios são as aventurasdo Inspetor Carlos, da Polícia Rodoviária, ede Lobo, seu cão pastor amestrado, na luta contrao crime e a contravenção. Histórias humanas e repassadasde ternura e sentimentalismo, contendotodas mensagens educativas dirigidas ao públicoinfanto­juvenil, para ensinar­lhe o caminho dobem e o respeito às instituições de segurançacoletiva. A série é produzida pela Indústria <strong>Brasil</strong>eirade Filmes, Ltda. – IBF, sob financiamento da


nossa Companhia, que, assim, auspiciosamente,depois de assegurar­se o pioneirismo de produtosalimentares absolutamente puros e garantidos,reserva­se mais esse título de pioneirismo, que é,também, um incentivo raríssimo para a indústriabrasileira de cinema e para o aprimoramento dasatrações exibidas na TV.O herói: Carlos Miranda foi escolhido entre centenasde candidatos ao papel de Inspetor Carlos.Talentoso e esforçado, estagiou na Escola dePolí cia Rodoviária, cujo funcionamento estudou,tornando­se exímio motociclista e excelenteprati cante de box e judô.Lobo: Lobo é um belo pastor alemão, educado noscanis da Força Policial de São Paulo. Dotado degrande inteligência, realiza façanhas sensacio naise, como nenhum outro, enfrenta os momen tos deperigo, atacando com ferocidade os inimigos dalei, que lhe são apontados pelo Inspetor Carlos,de quem é amigo inseparável. Sua atuação levaráas crianças a amar cada vez mais os animais.147O Produtor: Alfredo Palácios, já vencedor de umPrêmio Governador do Estado, atuou nos maioresestúdios do <strong>Brasil</strong>: Cinematográfica Maristela,Kino Filmes e Vera Cruz. Tomou parte em inúmeraspelículas, sendo justo mencionar Suzanae o Presidente, Meu Destino é Pecar, Simão, o


caolho, Mulher de verdade, Quem Matou Anabela,Mãos sangrentas, O Cara de fogo, Doutoraé muito viva e, mais recentemente, Rastros naselva, em cores.148O diretor: O primeiro seriado brasileiro serádirigido por elemento de grande valor na novageração de diretores brasileiros. <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>iniciou sua carreira como assistente de produçãopassando rapidamente pelos estágios de diretorde produção, assistente de direção, direção dedocumentários, e culmina agora como “regista”desta série. Foi assistente de direção do argentinoHugo Christensen em Mãos sangrentas edistinguiu­se como diretor de produção de váriasfitas, entre as quais a alemã Die Windrose.Será exportado: Já se cogita levar esse filmeàs telas de receptores de outros países latinoamericanose mesmo em Portugal, com o queseria marcada a presença de atores, técnicos etemas nacionais em distantes pontos do Exteriorgraças à iniciativa da IBF e ao patrocínio deProdutos Nestlé.LoboUm cão excepcional, um fiel amigoO Lobo aprendeu muita coisa durante as filmagens.Quem lidava com o Lobo era eu, ele ia


para a minha casa, eu ensinava a ele conformeia precisando. Havia uma cena em que o Lobotinha que saltar de uma plataforma, coisa difícil,que necessitava de muito treino, mas Lobo faziatudo com muita facilidade. Ele subiu e saltousem problemas. O treinador de cães da Políciaficava abismado com a inteligência do cão. Nocomeço da série, Lobo estava em cima da motoe queimou a pata no escapamento, ele ficouarisco e não queria mais subir na moto, então,daí em diante eram raras as cenas do Lobo namoto, ele ficava mais no Simca. Nós tambémevitávamos colocá-lo na moto, pois existia umrisco muito grande.Além de gostarmos muito do cachorro, se acontecessealgo com ele jamais arranjaríamos outroigual. Uma curiosidade que poucos sabem: euconsegui umas peles de raposa e mandei confeccionar um boneco na Fábrica Leonella, então emmuitas cenas eu usava o boneco que imitava ocachorro. Durante a série, Lobo fez uma pequenacirurgia para retirar um dreno embaixo da língua.A cirurgia foi realizada na Faculdade de Medicinae Veterinária. Arranjamos um outro cachorro parasubstituir o Lobo, um pastor maior, estabanado,que chamávamos Lobo Louco, não fazia nada,na da a ver com o nosso Lobo, ele não aprendianada, acabei dando esse cachorro para o Lupi.149


Curiosamente , o Lobo não era um cachorro grande, ele era pequeno. Uma ocasião, fomos fazeruma apresentação no Cine Art Palácio, em SãoPau lo. O gerente me chamou de lado e disse: <strong>Ary</strong>,cá entre nós, pra mim você pode falar, esse não éo Lobo. No dia seguinte eu levei o Lo bo Louco eai o gerente disse: Agora sim. Lo bo viajou conoscopor todo o <strong>Brasil</strong> fazendo exibi ções.150Certa ocasião, Carlinhos, Lobo e eu fomos fazerexibições em cinemas de Porto Alegre e ficamoshospe dados em um hotel. A condição era que Loboficasse conosco no quarto. Normalmente autorizavam.Ficávamos os três juntos no quarto. Loboera acomodado em almofadas. Lá conhe ce mosum rapaz de 17 anos, fã do Vigilante que ficounos acompanhando em nossa estadia em PortoAlegre, para lá e para cá, o rapaz ia junto .Um dia, o rapaz foi nos acordar no quarto dohotel, mas abriu a porta bruscamente, o Lobosaiu numa disparada atrás do rapaz, que desceutrês andares de escada correndo, eram escadas demadeira e acordamos com o barulho dos latidosdo Lobo e dos fortes passos na escada. Lobo foiaté a entrada do hotel acompanhando o rapaze depois voltou para o quarto. De certa forma,Lobo nos protegia. Quando viajávamos de avião,Lobo ia num compartimento especial de carga.Numa ocasião, fui pilotando para Belo Horizonte,


Com Carlos Miranda e Lobo em apresentação num cinemaele foi comigo na cabina. Ele encostava a cabeçana janela e ficava olhando para baixo, curioso;vai saber o que se passava pela sua cabeça.151Com o fim da série, o Lobo ficou comigo, foipara minha casa, ele não se adaptava mais aoLuiz Afonso. Ele estava acostumado comigo, eracomo se agora eu fosse seu dono. O Lobo meacompanhava, aonde eu ia, eu o levava, fazíamosapresentações constantemente. Ele realmenteera um cachorro especial. Sempre tive muitoscachorros, mas Lobo era diferente, ele tinha oQI 10% maior que o mais esperto que eu tivera.Lobo era tratado como um membro da família,


152servíamos a ele o que tínhamos de melhor, masele gostava em especial de coração de boi picadomisturado com arroz. Nessa época não se vendiarações para cães, então nós mesmos preparávamosa comida do Lobo. Por volta de 1966, LuizAfonso veio buscá-lo e o levou para sua casa naVila Maria. Luiz Afonso morava em Suzano, masquando começamos a filmar, eu aluguei umacasa na Vila Maria para Luiz Afonso e sua família.Foi um trauma para todos nós, era como setivéssemos perdido um ente querido. Mas logodepois, talvez uma semana, ele voltou para minhacasa, sozinho, por incrível que pareça. Meupai estava numa travessa da Rua Voluntários daPátria e viu um cachorro vindo, parecido com oLobo; era mesmo o Lobo. Meu pai chamou e elerespondeu. Meu pai então o colocou num carroe o trouxe para casa, para alegria geral, nãoacreditávamos no que estava acontecendo. Trêsdias depois Luiz Afonso veio buscá-lo novamente.Quando terminou a série eu quis comprar o Loboe ofereci por ele 200 mil cruzeiros, um dinheirãopara a época, mas ele não quis vender. Depois,em 1966, ofereci novamente a mesma quantia,sendo que o cachorro estava mais velho, a sériejá tinha acabado, mas mesmo assim ele nãoquis vender. Talvez ele tivesse idéia de ganhardinheiro com ele, em exibições, não sei até hojeporque ele veio buscar o cachorro, quatro anos


depois. Mas o fato é que ele levou o Lobo pelasegunda vez e eu nunca mais o vi. Fiquei sabendoque ele fugiu uma terceira vez e, tentando acharminha casa, foi atropelado, tendo sido achadonum lixão na Vila Maria. Devia ter uns 12 anos,ainda era jovem, poderia ter vivido muito mais.Essa é a parte triste da história do Vigilante, parteque não gosto de falar, fico emocionado atéhoje quando falo desse assunto. O Lobo marcoudemais a minha vida e de toda a minha família.Depoimento de Vânia e Fernando, filhos de <strong>Ary</strong>,sobre Lobo:Minha história com o cão Lobo, não é uma fábula,mas sim uma parte de minha infância. Convivemoscom o Lobo em casa, embora o ani malnão nos pertencesse mas, devido às filma gens,ele ficava muito conosco. Sou filha do <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>,criador e diretor do seriado que começouexatamente na época em que nasci, 1961. Tantoeu como o meu irmão, Fernando, nunca víamoso Lobo como um cão famoso, uma estrela, paranós era somente o nosso estimado cão. Lembromeque várias vezes iam buscá­lo em casa paraentrar em cena. Ficávamos tristes, pois como todacriança, o queríamos perto de nós. Estranhávamostambém o assédio de adultos e de outrascrianças ao vê­lo. Eles ficavam emocionados, enós enciumados. Lembro­me também, que meus153


154pais nos levavam juntamente com o Carlinhoscaracterizado como o personagem acompanhadodo Lobo, em alguns eventos, e as pessoas ficavamdeslumbradas ao vê­los. Eu não entendia afascinação das pessoas ao vê­los frente a frente.Quando viajávamos para o Rio de Janeiro, eleficava hospedado no hotel junto conosco emnosso quarto. Eu e o Fernando adorávamos!Afinal éramos crianças! Outro fato interessante,é que meu pai o levava para casa de seu verdadeirodono (se eu não me engano chamava­seLuís); porém como havia acostumado conosco,ele fugia e voltava para nossa casa. Vinha daVila Maria, onde morava, até Santana farejandoo caminho. Recordo­me que passados algunsdias, eu meu irmão estranhávamos a sua falta.Naquela época, para não nos chocar, meus paiscontaram que ele havia adoecido. Infelizmente,em uma dessas escapadas de volta para nossacasa, ele fora atropelado e encontrado já semvida. Hoje eu entendo o que aquele nosso amigode quatro patas, que para nós era apenas o Lobo,representou na história da Televisão Brasi leira.Sei que o Carlinhos e ele eram os heróis daquelaépoca romântica, a qual vivi tão de perto e nuncaimaginava a importância da obra que meu paihavia criado. Da minha infância, lembro­me dever nosso pai passar noite após noite, andandopela casa, fumando e escrevendo novos episó­


dios. Quando fecho os olhos, escuto o ruído doteclado da velha máquina de escrever. O queescrevi aqui é um pouco do outro lado da história.São os bastidores vividos por duas criançasque guardaram com carinho até os dias de hoje,a lembrança sempre viva do nosso grande e estimadoamigo; o cão Lobo.Vânia <strong>Fernandes</strong> Pescefilha de <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>Eu era muito pequeno, mas tenho em minhamemó ria algumas lembranças do Lobo, comoquando fomos ao Rio de Janeiro, onde provavelmentemeu pai foi fazer alguma apresentação dofilme e o Lobo dormia no mesmo quarto comi goe a Vânia, no hotel em que estávamos hospedados.Dentre muitas demonstrações de extremainteligência do Lobo, há uma passagem dele quemarcou demais todos nós em casa: foi na chácarade meu tio, em Terra Preta, em 1963/64, depoisde terminada a série. Estávamos todos brincandocom ele, jogando pequenos pedaços de gravetospara que ele fosse buscar e toda essa brincadeira,estava acontecendo em volta de um pequenolago, o qual logo que chegamos o Lobo tentouse jogar dentro d’água, mas foi repreendidopelo meu pai, que não queria que o Lobo ficassemolhado, etc. e o Lobo atendeu de pronto a ordemrecebida. Pois bem, acredite ou não, o Lobo155


156naquela brincadeira de buscar os gravetos quetodos jogavam para ele foi cada vez mais se aproximandodo lago, até que ao pular para pegar umgraveto, literalmente se jogou na água e mais doque depressa, saiu ensopado deu aquela sacudida,para tirar a água dos pelos, molhou todo mundoe ficou parado estático olhando para o meu pai,como querendo dizer: Não foi minha culpa, eucai no lago porque jogaram um graveto para eupegar e ai cai na água. Ao vê­lo naquele estado,meu disse para ele: Bem, já que você já se molhou,pode pular na água de novo; tão logo meu paifalou, ele se jogou dentro d’água e lá ficou brincandosaia e pulava outra vez, como uma criançaque entendera perfeitamente o que lhe fora dito.Para nós, ele era um cão como qualquer outrocão de estimação, muito contente por estar comas pessoas que gostavam muito dele e de quemele também gostava.Fernando <strong>Fernandes</strong>filho de <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>SimcaO carro que virou moda por causa da sérieDepois do piloto da série, alugamos um Simcapara ajudar na produção e nas filmagens doepi só dio Ladrões de automóveis, e gostamosdo carro; ainda era comum, não estava pintado.


Surgiu então a idéia de pedir uns carros na fábricapara a série. Cláudio Petraglia, que era sobrinhodo Victor Costa, foi diretor da TV Paulista e hojeé diretor da TV Bandeirantes no Rio de Janeiro,era muito influente, conhecia muita gente e foium grande amigo que muito nos ajudou. Cláudioconhecia Jack Pasteur, diretor-geral da Simca,cuja matriz era francesa e a filial do <strong>Brasil</strong> ficavana Via Anchieta, em frente à Volkswagen. A Simcaestava em baixa no mercado, poucas vendas,pátios lotados, aquele era o momento. Disse aoCláudio para pedir cinco carros, eles queriamliberar três, mas acabaram cedendo, então, doisforam pintados e três ficaram para serem usadosnormalmente na produção e filmagens também.Eu ficava com um e o Palácios com outro. ChameiCarlos Marti para bolar o símbolo do Vigilante,dei a idéia e ele desenvolveu o logotipo. O logonão tinha nada a ver com a polícia, foi criaçãonossa. Muita gente pensa até hoje que aquelesímbolo era da Polícia Rodoviária. Colocamos asirene e o transmissor de rádio. Conseguimos oequipamento na empresa Control, em que os donoseram dois irmãos, Eribaldo e Marcos Vilares.Os carros cedidos não eram do ano, um era 1959 eos outros 1960, quer dizer, eram seminovos, eramcarros da frota da empresa. O modelo 1959 aindaera quase todo francês. O Simca era um carrobonito, fotografava bem, tinha oito cilindros,157


mas não era muito bom de mecânica, era fraco deembreagem e na parte elétrica, o câmbio era namão, quando se forçava um pouco a embreagempatinava. Numa ocasião, fomos filmar em Santanado Parnaíba, em dia de romaria, estávamos comum dos Simca pintados e acabou a embreagem,chegamos em São Paulo empurrando.158Quem fazia a revisão dos Simca para nós era aChambord Auto, na Al. Dino Bueno. Perguntei aum dos donos se não teria um jeito de melhorara embreagem, pois sempre dava problema. Eledisse que poderia dar um jeito, mas que a fábricanão poderia saber, pois eles eram autorizados,etc. Ele fez o serviço em todos os carros e nuncamais tivemos problemas. Em algumas cenas doVigilante amarrávamos a câmera no Simca, poisainda não existia o Super Grip, assim como nãoexistiam dublês; o Carlinhos fazia ele mesmo ascenas de perigo. O diretor-comercial da Simcachamava-se René J. Roig. Acabei fazendo muitaamizade com ele, filmamos lá dentro o episódioO invento. O filme alertava para o fato de estarhavendo muitos roubos de carros, fazendo comque a Simca desenvolvesse um supermotor paraa polícia. Um engenheiro da Simca, interpretadopelo ator Geraldo Del’Rey, era chantageado, osbandidos queriam os projetos do supermotor.Os testes do supermotor foram feitos em Interlagos.Tanto Pasteur como Roig estavam muito


satisfeitos com o resultado da série, que acaboualavancando as vendas, dando uma sobrevida àmontadora francesa no <strong>Brasil</strong>. Pude perceber issona Bahia, quando lá fomos exibir um dos longasmontados posteriormente. Uma prima do governadorda Bahia, Sr. Lomanto Júnior, nos disseque estava comprando um Simca azul, porqueachava o carro muito bom e ficara impressionadacom sua eficiência no filme. Era o merchandisingfuncionando já na época.Um dia, após uma reunião na Simca, Roig mepro metera que após as filmagens presenteariao Palá cios e eu com dois Simcas, não os queesta vam sendo usados na série, e sim dois carrosnovos, zero quilômetro. Na metade da série, lápelo capítulo vinte e cinco, Roig teve um desentendimentocom um representante do Paraná,que teve sua autorização de revenda cassada efoi assassinado por essa pessoa durante uma reunião,dentro da fábrica, na sua sala. Fiquei muitochocado com esse fato. Meu relacionamento coma Simca nun ca mais foi o mesmo, a pessoa que entrouno seu lugar não pensava da mesma forma.Fui conversar com ele para renovar o contratopara uma eventual continuação, mas era umsenhor muito prepotente, e queria renovar nosmesmos moldes do anterior e agora queríamosque os carros ficassem conosco, uma permuta,159


160nada mais justo, afinal, estávamos fazendo apropaganda do carro, o que ele não concordou.Ele pegou as vendas lá em cima, e não deu o devidovalor ao nosso trabalho. Eu fiquei nervosocom ele, ameacei fechar negócio com a Willys,que tinha o Aero-Willys, forte concorrente daSimca, mas depois também não renovamos coma Nestlé e as coisas acabaram não acontecendo.Bem, os Simca que ganharíamos de presente ficaramna saudade, somente na palavra do amigoRoig, que não estava mais ali para nos defender.Com o final da série, devolvemos os carros. Umdos carros pintados foi comprado por um amigomeu, Joaquim, dono de uma produtora que foiincendiada, no bairro de Indianópolis; o outro,nunca mais vi. Ele começou a rodar com o carropintado, ai eu soube e avisei a Polícia Rodoviária,que imediatamente o avisou, e ele recolheu o carro.Dos cinco, foi o único que soube o paradeirodepois da série. Há alguns anos um colecionadorde Taubaté e o próprio Carlinhos compraramSimca e pintaram, na cor original, mas não temnada a ver com os carros originais da série.A palavra da Simca do <strong>Brasil</strong>(extraído da revista Simca, nº 7, julho de 1961,página 9)Automóveis Simca são astros na televisão: A Cia.Industrial e Comercial <strong>Brasil</strong>eira de Produtos


Alimentares Nestlé vem de firmar vultoso contratocom a Indústria <strong>Brasil</strong>eira de Filmes para aprodu ção (já em andamento) de uma série defilmes para a televisão brasileira. As histórias,versando sobre temas brasileiros, são baseadasnas atividades de nossa Polícia Rodoviária e aIndústria <strong>Brasil</strong>eira de Filmes escolheu os carrosSimca Chambord para equipar os artistas e policiais.Proximamente divulgaremos outras cenasda série Vigilante rodoviário com fotos tomadasnos próprios locais de filmagem.Tuca e os garotos do VigilanteEles faziam a festa da garotada do <strong>Brasil</strong>Tuca, Fominha, Gasolina e Arlindinho eram ascrianças que faziam sucesso no Vigilante.Viraram mania nacional e se tornaram pequenosastros. Mas, a bem da verdade, eram filhos de conhecidosnossos. Mário Alimari, o Pé­com­pano,que fez o episódio Pombo­correio, conheciaum senhor chamado Maninho, que tinha umauto elétrico no bairro do Itaim, inclusive nesseepisó dio ele faz o papel de um dos bandidos.O Velho Mathias era ator figurante na TV Tupi.Mani nho era pai do Tuca e do Wilson (o maisve lho). Mário levou o Wilson para fazer Bola deMeia. Tuca foi junto. Ele deveria ter uns cin coanos e perguntou: E eu? Eu perguntei: Você161


162quer trabalhar no filme também?, ele respondeu:Sim, quero! Achei o garoto muito espertoe fiz um teste com ele, dando-lhe uma fala como Vigilante. Ele fez com tanta desenvoltura enaturalidade que reescrevi o episódio Bola deMeia para poder encaixar o Tuca. Seu irmãoacabou sendo seu coadjuvante. Tuca fez tantosucesso que, depois, fiz um episódio só pra elechamado A aventura do Tuca. Seu nome eraReginaldo Vieira. Já Gasolina era filho do meutintureiro e Fominha, que hoje é maestro, tinhasua família toda de circo. Arlindinho era filho deArlindo, um grande amigo meu. Luiz Guilhermefez Zuni, o potrinho. Era um garotinho e atuouao lado de Fúlvio Stefanini, ainda muito jovemtambém. Luiz Guilherme hoje é ator consagradode cinema, teatro e televisão. De todos, Tuca foio que foi mais longe como ator, chegou a ter umprograma na TV Excelsior, Canal 9 de São Paulo,chamado As aventuras de Eduardinho. Depois,já adolescente, fez alguns filmes comigo no iníciodos anos 70, mas acabou indo por caminhoserrados. Eu dava muito conselho pra ele, eracomo se fosse meu filho. Tuca tinha um talentonato, dificilmente hoje eu encontraria um garotoassim. Depois não tive mais contato com ele, nãosei de seu paradeiro.


O patrulheiro que virou VigilanteA inesperada mudança de nomeO nome inicial da série era O patrulheiro. Fizemoso piloto, fomos vender a série nas agências comesse nome e fizemos ainda mais três episódioscom esse título. Lá pelo quarto episódio, antesde lançarmos a série, surgiu o seriado PatrulheirosToddy. Fui então falar com o Valterio, poistínhamos o registro e poderíamos impugnaro nome. Mas Valterio não queria brigar coma concorrência então pediu que eu mudasse onome do nosso seriado. Eu sai da Nestlé, que erana Rua da Consolação, pensando em um nome,eu já estava com patrulheiro na cabeça e achavaque outro nome não ia funcionar. Na esquina daAv. São Luis com a Consolação, lembrei do Gibido Vingador, então me ocorreu Vigilante, comoa série se passava na estrada, imediatamente jácoloquei o Rodoviário na frente, ficando O Vigilanterodoviário. Fui para o estúdio e comuniqueià equipe que o nome ia mudar, para alteraremas claquetes, eles não concordavam, já estavamacostumados com o Patrulheiro. Em suma, foimais difícil convencer minha equipe a aceitar onovo nome do que o Valterio da Nestlé.163Hoje falamos em Patrulheiro, fica difícil aceitar,mas no início se chamava assim. Os quatro episódiosprontos ficaram com as falas ainda como


Patrulheiro Carlos, quem assistir, poderá reparar,nos outros já mudamos o nome. Quando estreouna televisão já era Vigilante.O Vigilante em PiracicabaAs exibições por todo o <strong>Brasil</strong>, a comprovaçãodo sucesso164Fomos fazer a exibição do Vigilante em um cinemade Piracicaba. Um senhor muito simplesme procurou e disse que tinha muito prazer emconhecer-me, adorava a série, e que queria retribuiro prazer que ele havia sentido em ver osfilmes. Ele me disse que era pobre e que não tinhanada de valor para me dar, mas nesse instante elecolocou a mão no bolso e tirou uma medalinhae me deu, dizendo que era a única coisa que eletinha para me oferecer. Ele ganhara numa festado aniversário da cidade. Eu guardo com muitocarinho essa medalha até hoje. Aquele gesto deleteve um significado muito grande para mim, decerta forma, foi a coroação do sucesso perante opúblico, as pessoas mais pobres e carentes.O presente de <strong>Ary</strong> ApsA doce lembrança do grande amigoConheci o tenente <strong>Ary</strong> Aps na produção do pilotoda série Vigilante rodoviário. Tornou-se meu amigoparticular, tínhamos contato freqüente. Como


ele conhecia muita gente, acabou me ajudandomuito na série, não só com a indicação de pessoas,mas de locais para filmagens. Em 1961, apósum dia estafante de filmagens, fomos chamadospor <strong>Ary</strong> em Jundiaí. Chegando lá nos deparamoscom uma festa surpresa e ganhamos de presente,Palácios, Carlinhos e eu, um diploma do 5ºDestacamento da Polícia Rodoviária de Jundiaí.Foi uma emocionante homenagem ao Vigilante.Ele sofreu um acidente na pista e morreu no anoseguinte com apenas 32 anos. Existe uma rua comseu nome em sua homenagem. Hoje guardo o diplomacom muito carinho, uma terna lembrançado saudoso <strong>Ary</strong> Aps.A polícia rodoviáriaA base de todo o trabalho165Devo muito a essa instituição. Todos me ajudaramdesde o começo, não mediram esforços paraa série dar certo. O comando era de um major ede um capitão sub-comandante da Força Pública,porque para usar armas era necessário que tivesseum policial junto. A Polícia Rodoviária pertenciaao Departamento de Estradas de Rodagem e aguarda era dividida, metade com os guardas rodoviáriosque eram civis e a outra metade da ForçaPública. Havia 600 homens para todo o Esta dode São Paulo, logicamente não se exigia tantopoliciamento como hoje, era outra ápoca. Em


1966, tudo passou a ser Policia Militar. O GuardaRodoviário passou e ser Polícia Rodoviária. Quemera terceiro sargento passou a ser primeiro, namigração eles eram promovidos.166A Polícia Rodoviária hoje é militar. O termoInspetor era usado na época, existia esse cargo,ele tinha certas atribuições com os comandantesque o guarda não tinha, então ele era um postoacima do guarda. Não existia sargento ou cabo,era GR de guarda, então tinha GR1, GR2, GR3,GR4, GR5 e depois Inspetor. Essa era a hierarquia.Por isso usei Inspetor na série. O nome Carlos foicoincidência com o Carlos Miranda. Quando fizos testes, meu personagem já era Carlos e coincidentementefoi o Carlos quem fez o papel.O vigilante chega ao cinema – 1963/66O vigilante em tela grande, para alegria dos fãs.Encerrado o contrato com a televisão, nos deparamosnovamente com a velha falta de dinheiro.Era o final da série e estávamos mais duros doque quando começamos, não tínhamos dinheiropara nada. É interessante que tínhamos a sérienas mãos, um produto altamente rentável, queobtivera recordes de audiência e não tínhamosdinheiro. Tínhamos prestígio, mas dinheiro?Nun ca tivemos. O dinheiro do contrato coma Nestlé, que não foi pouco, voou em nossas


mãos, consumido pelo alto custo da produçãodos episódios. No Águias por exemplo, o sucessonão aconteceu, mas ganhei dinheiro, houve maisplane jamento, mais profissionalismo, eu estavasozinho, o Palácios já não estava mais comigo.Durante a produção do Vigilante, paramos defazer comerciais e de certa forma, perdemos ummercado que havíamos conquistado, os tempos jáeram outros, dois anos haviam se passado. Tivemosentão a idéia de levar o Vigilante ao cinema,através da condensação de cinco episódios, o quedaria um filme de cem minutos. Não tínhamosrecursos para fazer a ligação entre os episódios,então refizemos somente a apresentação, masos episódios foram simplesmente montados naseqüência. O primeiro filme se chamou Vigilanterodoviário e foi lançado no Cine Art-Palácio egrande circuito, com muito sucesso. Nesse filmemontamos os episódios O Diamante gran mogol,A história do Lobo, Remédios falsificados,A repór ter e Os romeiros, lembrando que oDiamante gran mogol havia sido o piloto e osoutros foram escolhidos aleatoriamente. E assimfizemos outros tantos, que foram lançados emtodo o <strong>Brasil</strong>. Muita gente, que não havia vistona televisão, foi ver no cinema, outras tantas foramrever, enfim, conseguimos ganhar um bomdinheiro com isso, mas ainda tínhamos muitasdívidas, oriundas da produção da série. De 1963167


168a 1966 concentrei minhas atividades na exibiçãodo Vigilante no cinema, produzindo comerciaisde televisão e também dirigindo para váriasprodutoras; eu precisava sobreviver, tinha filhospequenos, não podia ficar parado. Nessa época,uma pessoa me procurou dizendo que conheciaalguém na TV Excelsior, Canal 9 de São Paulo, eque estaria interessado em fazer um seriado sobreo Pelé e a história do Santos; eu disse que nãotinha interesse pois o assunto não me agradava,já que não gostava de futebol, além do que, nãovia condição de se fazer uma série sobre o assunto,mas talvez um filme só, um documentário.Disse para ele que meu interesse seria fazer umasérie sobre aviação, algo que poderia chamar-seSentinelas do espaço, por exemplo. Ele topou ecomecei a produzir o piloto, a pré-produção, fizcontato com a FAB – Força Aérea <strong>Brasil</strong>eira, tudoem meu nome. Chegamos a filmar alguns planos,mas de repente o dinheiro acabou e percebi queestava entrando numa fria e cai fora. Tive algumtrabalho para explicar ao pessoal da FAB o quehavia ocorrido, afinal, era meu nome que estavaem jogo.


Dirigindo um episódio do Vigilante, no Rio de Janeiro169


170Carlos Miranda e Lobo se apresentam no Salão da Criança ,em São Paulo


171


172Com o pai, filmagens de Águias de fogo, no Rio de Janeiro


Capítulo VIUma nova série: Águias de fogo – 1967/68A hora de seguir sozinho meu caminhoEu estava trabalhando na Lynx Filmes, de propriedadede César Mêmolo Jr., Sady Escalante e ChickFowle; meu trabalho na empresa ia muito bem.Certa ocasião, fui para Pernambuco fazer umcomercial da Gillete e na volta resolvi conversarcom César para rever meu contrato. Disse a eleque era demissionário, ele sem entender nadapergun ta: Como assim?, e eu explico: É que euquero ganhar o dobro do meu salário atual epara não te dar o constrangimento de negar, peçominha demissão antecipadamente. Ele começoua argumentar comigo sobre outros diretores queganhavam menos, mas eu disse: Cada um, cadaum, eu quero ganhar o dobro. Ele finalmenteconcordou e pediu para que eu não comentassecom ninguém. Nesse meio tempo, soube queGilbert Valterio, diretor da Nestlé, havia retornadopara o <strong>Brasil</strong> e reassumido suas funções naCompanhia. Telefonei para ele, mar quei umavisita de cortesia, e fui imediatamente atendido,nos abraçamos, tomamos um café juntos. Valteriome perguntou quais eram meus planos eexpus a ele minha idéia de fazer uma série sobreaviação, que teria o nome de Águias de fogo. Eu173


174tinha algum material filmado em 35 mm, fiz umaredução em 16 mm e mostrei ao Valterio, que mepediu o custo desse projeto. Passei a ele en tão oorçamento para 26 episódios, o que foi apro vadoprontamente, para minha surpresa, pois não esperava,não naquele momen to, que ele acabarade retornar. Imediatamente fui conversar com oCésar novamente e expliquei o ocorrido, ele ficouchateado, mas eu não podia perder essa chancede fazer um novo seriado, agora sozinho, commuito mais experiência. Mas minha saída da Lynxfoi extremamente cordial, tanto que ao final dasérie, César me chamou de volta, oferecendo umalto cargo, mas acabamos não chegando a umacordo financeiro. Eu não tinha mais sociedadecom o Palácios, éramos sócios do Vigilante. Eu oinformei que Águias de fogo eu faria sozinho.Fundei então a Procitel – Produções para Cinemae Televisão, na qual minha esposa é minha sócia.A empresa existe até hoje. Desde o Vigilante jáhavia se passado seis anos, haviam mais recursostecnológicos disponíveis, não tínhamos mais as famosasinstruções e o orçamento foi mais folgadopara se trabalhar. A velha Arriflex do Vigilante foisubstituída por uma Cineflex, com lentes Bausch &Lomb, adqui rida no Rio de Janeiro. Nosso QG detrabalho esco lhido foi a Base Aérea de Cumbica,onde hoje é o Aeroporto Internacional de Guarulhos.Eu dizia na época que tinha em minhas mãos


Em seu escritório, na Procitel175


os maiores estúdios do <strong>Brasil</strong>, tamanha era a áreadisponível para as filmagens. Cada hangar, naverda de, era um estúdio. Noventa por cento dasfilmagens foram feitas lá, o restante em outraslocações, como a Serra da Cantareira e o Rio deJaneiro, entre outras.176A música tema foi composta por Divo Dacol e CarlosGuerra. No elenco principal, Roberto Bolant(aspi rante Fábio), Dirceu Conte (major Ricardo),Edson Pereira (sargento Fritz) e <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>(capi tão César) e convidados que participavamdos episódios como Sady Cabral, Ewerton de Castro,Jofre Soares, Nádia Tell, Astrogildo Filho, ÊnioGonçalves, Tony Card, Dora Castelar, entre tantosoutros, além de uma participação especialíssimade Carlos Miranda, o Vigilante rodoviário emum dos episódios. Carlinhos aparece com a fardado Vigilante e ajuda a salvar uma criança, umacurio sidade que pouca gente sabe ou viu. Curiosoé que nessa época Carlinhos já era da polícia, aocontrá rio da época do Vigilante, quando ele eraum ator profissional. A fotografia coube a JuanCar los Landini, meu assistente foi Penna Filho,o eletricista foi o Mazinha (Osvaldo Leonel) e amontagem coube a Luiz Elias, meu amigo Luizinho.Roberto Bolant iniciou sua carreira comi gono Águias, depois fez muito cinema e até telenovelas.Dirceu Conte já era ator experiente, haviaparticipado do episódio O rapto do Juca Chaves,


177Como o capitão César, de Águias de fogono Vigilante e era irmão do Hélio Souto e por fimEdson Pereira, o sargento Fritz, que era passista, ecomo tal, viajou pelo <strong>Brasil</strong> e pelo mundo. Edsonera também ator amador de teatro, uma boapessoa, mas tinha muita dificuldade em decoraros textos, mas no fim se saiu bem. Eu fiz um dosqua tro papéis principais, o capitão César, umpa pel que planejei para mim mesmo por váriosmoti vos.Por gostar muito de aviação, pela vantagem deestar entre o elenco e ter um controle melhor


da produção e também pelo alter ego de ator,por que não, mesmo porque eu já havia sidorádioator, ator de teatro e televisão, e mesmode cinema, na Maristela. Havia um quinto personagem,feito pelo ator Ricardo Novoa, que eraum tenente, mas que fez apenas três episódios eabandonou a série para ir trabalhar na TV Cultura.Ele tinha contrato comigo, mas eu o liberei.Lembro-me de um fato curioso: fui ao Rio deJanei ro, no INC – Instituto Nacional de Cinema,fazer o registro do Águias. Como produto nacional,não deveria ser taxado, mas queriam me178Dirigindo episódio de Águias de fogo


co brar as taxas. Fui encaminhado a um coronelrefor mado que me tratou com muita arrogânciae prepotência, chegando inclusive a levantar avoz comigo, insinuando que eu estava querendolevar algum tipo de vantagem na situação. RenatoGrecchi estava comigo.Eu fiquei extremamente nervoso e me exalteie começei a levantar a voz também. A situaçãoficou extremamente delicada, mas nesse momentoveio o diretor do INC, que me levou para suasala e tentou controlar a situação. Não hesitei,fui ao Ministério da Aeronáutica e falei com o179Dirigindo episódio de Águias de fogo (à esquerda, decostas, seu pai, Fernando Garcia)


coronel Luis Maciel Jr., que era meu amigo, esteficou muito chateado com a situação e foi até oINC falar com o tal coronel. Ao final não pagueia taxa.Usei minhas amizades dentro do meu direito, euestava levando um produto genuinamente brasileiroe não era justo ser taxado, muito menos sertratado da maneira como fui, com desrespeito.180Tudo pronto para o lançamento, novamente TVTupi, rede nacional e muita expectativa, mas osuces so não foi o esperado, mas houve um motivo:Em 1967 as telenovelas já tomavam contados lares brasileiros, tanto que já eram diárias,diferente da época do Vigilante, quando eramsema nais. Esse era um fator muito importante,para o qual alertei meus patrocinadores, quenão deram muita atenção ao fato e acabaramcolo cando o Águias no mesmo horário da novelaRedenção, que estava estourando de audiênciana TV Excel sior; foi um erro crasso, determinantepara o fracasso da série. A novela era diária e oÁguias era semanal, portanto, ninguém deixariade ver a novela para ver minha série. E assim foi;eu repu to o Águias como uma grande produção,bem feita, com boas histórias, mas lançada deforma errada, pondo todo o trabalho a perder.Isso aconteceu no eixo Rio-SP, descobri depoisque em outros Estados, a série foi um sucesso


de audiência, comprovado em 1969, quando eudirigia para uma produtora de comerciais.Eram pequenos filmes do Bradesco e seriam feitosum em cada Estado. Fui para a Bahia fazero comercial, numa semana de carnaval. À noitesaí mos para dar uma volta, tinha os trios elétricosna rua, aquela bagunça toda, estávamos na Av.Se te, uma das principais de Salvador e não muitolon ge do hotel, pessoas me reconheceram nasruas como o capitão César, para minha surpresa,pois eu não esperava e descobri que na Bahia asérie entrou em horário diferente da novela e foium tremendo sucesso. Isso aconteceu tambémem outros Estados, ficando provado que a sérieera boa e que seu fracasso deveu-se unicamenteaos problemas já mencionados de lançamento edistribuição.181Foram feitas três cópias em 16 mm de cada episódioe após cumprir o contrato de exibição queera de um ano, solicitei as cópias de volta, masa Norton alegou que elas haviam se extraviado,en tão fiquei somente com os negativos. Muitosanos depois, um conhecido meu, que era gerenteda Cinótica, me disse que havia assistido Águiasde fogo na casa de um amigo seu, fui para cimaquerendo saber quem era mas, para não criaruma situação embaraçosa para o amigo, acabeideixando pra lá. Essas cópias devem estar espalhadaspor ai.


Depois, assim como no Vigilante, em 1970 lanceio Águias no cinema, em dois longas: Sentinelas doespaço e Águias em patrulha. Eu fiz a ligação entreos episódios, informando qual o episódio queviria. Eu dizia: Ali se encontram os heróis da FAB,e agora vem tal história. Filmei essas pequenasinserções no IV Comando Aéreo, ou IV Comar, nobairro do Ipiranga. Os longas obtiveram relativosucesso fora do eixo SP-Rio, onde os personagenseram mais conhecidos do grande público.182O Águias alavancou minha carreira de produtorcinematográfico; a partir daí, consegui financiarminhas produções, não precisava mais pedir dinheiroa ninguém.Dirigindo episódio de Águias, com Roberto Bolant, EdsonPereira, Dirceu Conte e Sérgio Roberto, entre outros


Capítulo VIIUma aventura com Mazzaropi – 1969Aprendendo com o gênioEm 1968 eu dirigia comerciais para a televisão.Conhecia o Mazzaropi da época do Cara de fogo,quando quisemos contratá-lo, aquela históriaque já contei. Mazza então mandou me chamar.Fui até o escritório da PAM Filmes, no Largo doPaissandú, centro de São Paulo e ele me convidoupara dirigir seu próximo filme, Uma pistola paraDjeca, uma sátira aos spaghetti western italianos,que faziam muito sucesso na época. O cachê foidifícil de acertar, ele era duro na queda, masdepois de acertado, era sagrado, uma pessoacorreta e honesta demais, você podia gastarpor conta. Ele dava um sinal na assinatura docontrato e depois pagamentos quinzenais, normalmentenas folgas, quando liberava a equipepara viajar a São Paulo para ver suas respectivasfamílias. Ele me deu a história e eu fiz o roteiro,mas fazer roteiro em filme do Mazzaropi eracomplicado, pois ele mudava tudo, improvisava.De manhã ele chegava e já mudava o que estavacombinado, mas sempre para melhor, ele sabiaexatamente o que queria e como agradar seupúblico. Fiquei um mês em Taubaté, na Fazenda183


da Santa, fazendo a adaptação, vendo os locais,contratando os atores, fazendo a pré-produçãoe depois dois meses filmando. Eu apresentei oTony Vieira ao Mazzaropi.184Ele gostou do Tony e o contratou para fazer opapel principal do filme, o filho do capataz dafazenda, o vilão da história, mas quem escolhia oelenco era o Mazza. O papel feminino principalcoube a Patrícia Mayo, famosa atriz de telenovelasda TV Tupi. Mazza trazia também muitagente de circo, ele gostava muito desse pessoal,era gente boa, mas me dava muito trabalhopara filmar, não tinham nenhuma experiênciaem cinema. A equipe técnica era toda escolhidapor Mazzaropi também, ele já tinha as pessoascom quem estava acostumado a trabalhar. Eulevei apenas meu assistente, Peninha. Filmamosnos estúdios da Fazenda da Santa e em algumascidadezinhas vizinhas; como curiosidade, umadelas, chamada Redenção da Serra, foi inundadae hoje só se vê a torre da igreja, onde, inclusive,filmamos também. Mazza gostava do meu jeitode dirigir, pois eu não desperdiçava negativo, sófilmava quando tinha certeza, afinal, eu já tinhamuita experiência nisso, principalmente no Vigilante,ali aprendi a economizar negativo. Todosdormiam na fazenda. Eu e Peninha ficamos nomesmo quarto, rudimentar, mas bem instalados.


Às vezes chegávamos no quarto para dormir eencontrávamos galinhas em nossas camas, botandoovos, era assim, acabava sendo engraçado.Fomos bem tratados, não podemos nos queixar.O Mazza tinha a casa dele, um pouco afastada,onde ele ficava com a mãe, Dona Clara Mazzaropi.Diziam que ele interferia na direção, mascomigo não, eu dirigi a fita, tive total liberdadee fiz como achei que devia. Tanto isso é verdade,que depois de uma semana de filmagem, Mazzame procura e diz que precisaria ir a São Pauloresolver uns problemas e pediu que eu fizessetodas as cenas que ele não participava. Assimfoi feito, mas o Mazza não aparecia. Então oCarlão (Carlos Garcia), diretor de produção ehomem de confiança do Mazza me procurou edisse que estava estranhando, pois o Mazza nãocostumava fazer isso, largar a fita na mão do diretor,isso mostrava a confiança que ele tinha emmim, mas, daquele dia em diante, Mazza passa aacompanhar as filmagens de perto, o que mostraa influência que seus assessores tinham sobre ele.Houve uma cena que eu dava um close na PatríciaMayo, porque a cena assim exigia e Mazza achouruim comigo, dizendo que o close deveria sernele, caminhando daquele jeito característico,e que o público ia ao cinema para vê-lo, nemargumentei, refiz a cena do jeito que ele queria,percebi que era uma questão de vaidade. Pois é,185


186acho que essa foi a única intromissão de Mazzaem minha direção durante toda a fita, com exceçãode um fato grave. Havia uma cena em que umpadre daria um depoimento no tribunal. Mazzapediu que o próprio ator redigisse o texto. Oator assim o fez e veio me mostrar e eu pensei:Jamais o Mazza vai deixar o cara falar tanto.Dito e feito, mostrei ao Mazza que disse: Essecara está louco, mas deixa comigo. Na hora defil mar, quando o padre abriu a boca, falou duaspala vras, Mazza cobriu sua fala e o homem nãofalou mais nada. Ele era assim, improviso total,nem o diretor às vezes sabia o que ia acontecer.A câmera era minha velha conhecida, a famosaMitchell norte-americana da Vera Cruz, umadelas que Mazza havia adquirido num leilão.Eu as houvera conhecido no filme Paixão degaúcho, eram excelentes, blimpadas, gravavamsom direto, uma maravilha. Eu usava técnicasque havia aprendido ainda na Maristela, com oHamza, tipo usar planos mais longos, trabalharcom a câmera em círculos, dando panorâmicas,travellings, e o Mazza não gostava muito disso,não estava acostumado. Quando eu começavaa montar o equipamento ele dizia: Lá vai elemontar a Central do <strong>Brasil</strong>, mas até então eratudo na brincadeira. O Mazzaropi dava todas ascondições para sua equipe, inclusive técnicas, masvivia rodeado de pessoas que ficavam puxando


seu saco o tempo todo e essas pessoas acabavamatrapalhando, davam muitos palpites e, às vezes,o Mazza se deixava influenciar por elas, causandoproblemas mais sérios. Por causa disso, no final,tive um sério atrito com Mazzaropi: numa dasminhas folgas, foi feita uma cena sem eu saber,mas não serviu, não foi usada na montagem, maseu fiquei louco, muito chateado inclusive com oMazza, pois ele foi conivente com isso. No final,o clima entre nós estava muito ruim, tanto queparticipei apenas da primeira montagem. Acabeifazendo Mágoas de caboclo meio na bronca.187


Capítulo VIIIO sucesso como produtor e diretor – 1970a 1979A maturidade como cineastaMágoas de caboclo – 1970O atrevimento de imitar Mazzaropi, uma grandesacada comercialEu nunca gostei do cinema fechado, o dito cinemade autor, não fazia meu gênero, eu gostavae gosto de aventuras e comédias, filmes que possamdivertir o grande público, eu sempre acheique essa é função do cinema, divertir, entreter,ensinar, haja visto que as duas séries que produzieram de aventuras.189Eu acabara de dirigir Uma pistola para Djeca paraMazzaropi, aliás uma experiência marcante naminha carreira. Coincidentemente, alguns mesesdepois de fazer a fita do Mazza, fui apresen tadoa Chico Fumaça, que na verdade se chamavaRober to Garbin. Chico era sósia de Mazzaropi,incri velmente parecido, era artista de circo eganha va a vida imitando-o, mas não tinha emabso luto o talento, a capacidade criativa, enfim,as qualidades do original. Quando vi o Chico, tinhaque decidir: ou eu fazia a fita, ou outro faria ,


então, fiz eu. Escrevi a história de Mágoas decaboclo, sobre um caipira que descobre que suasterras estavam infestadas de bauxita. A históriapassava-se metade no interior e metade na capital.Era o primeiro longa metragem de carreirada Procitel, minha produtora; houve outros, maseram as montagens dos episódios do Águias. Asloca ções foram em Caucaia do Alto, um bairro deCotia, interior de São Paulo. O capital do filmefoi quase todo meu, sendo que Paulo Cheiddee a Nacional Filmes, que pertencia à Pel-Mex,entraram como sócios minoritários da fita.190Eu fui à casa do Paraguaçu, no bairro do Brás,pedir autorização para usar o nome Mágoas decaboclo, que era o título de um grande sucessoseu, ele autorizou usar o nome, mas na verdadeo nome não lhe pertencia, aliás acho que nãopertencia a ninguém, então registrei-o paracinema. Paraguaçu, famoso cantor dos anos 20aos 40, fazia sucesso entre as garotas, dizem quequeriam até se suicidar por causa ele. No nossoencontro, Paraguacu, já velho, começou a chorar,creio que por alguém lembrar dele, o queme deixou constrangido, pois o indivíduo faz ahistória e depois fica esquecido.Chico deu muito trabalho, não decorava as falas.Usei também uma dupla caipira, Caçula e Marinheiro,enfim o filme tinha todo aquele clima


ejeiro, do sertão e por isso agradou em cheioao público. Lancei o filme com 25 cópias, umnúmero expressivo na época. Então, Mágoas decaboclo foi enorme sucesso de bilheteria, estourouem todo o <strong>Brasil</strong>, o que deixou Mazzaropifurioso, ele nunca mais conversou comigo, mascontinuo respeitando o Mazza até hoje; apenas,todos tinham que sobreviver. Na verdade foi umagrande sacada comercial minha, lançar no cinemaalguém que imitava o Mazzaropi, todos ficaramcuriosos para ver e iam ao cinema. Eu queria mesmoera confundir as pessoas. A mídia exploroudemais, sairam páginas inteiras nas principaisrevistas como O Cruzeiro, Manchete.191No set, dirigindo Mágoas de caboclo


Até o último mercenário – 1971Um projeto bem­intencionado que não deucertoEm 1971, juntamente com Elias A. Cury e PauloCheidde, fundei a Brasecran, uma distribuidorade filmes brasileiros. Paulo Cheidde, o Paulão dobasquete, jogou na seleção brasileira e é irmãodo ex-deputado Felipe Cheidde.192A distribuição na época era um bom negócio.A empresa fazia as cópias e distribuía o filme paratodo o <strong>Brasil</strong> e com a bilheteria a distribuidorase ressarcia dos gastos com laboratório, cartazese propaganda e ainda ficava com 20% decomissão. Em cidades com mais de dois milhõesde habitantes essa porcentagem subia para 30%.Carlos Miran da, que já fazia sólida carreira napolícia, mas nunca se afastara totalmente do cinema,procura a nossa empresa para co-produziruma fita com ele, um filme policial, de ação, quemarcaria o seu retorno às telas. Nesse dia eu nãoestava na produtora e Carlinhos fala com Cury.Quando eu cheguei, Cury conversou comigo sobreo assunto e resolvi fazer a fita pela Procitel.Eu estava envolvido em outros projetos, entreeles, uma outra fita com Chico Fumaça, mas acabeiconcordando, em grande parte pela grandeconsideração que sempre nutri por Carlinhos.O filme era Até o último mercenário, uma trama


que envolvia uma perigosa quadrilha de contrabandistas.Carlinhos conseguiu os negativos e umcarro emprestado, um Galaxy, para as filmagens.O Galaxy um carro grande, fabricado pela Ford,usado somente por pessoas de alto poder aquisitivo,era um carro de luxo. Convidei Peninhapara dirigir a fita, ficando ao meu cargo penas adireção das cenas de combate, nas quais eu tinhamais experiência em fazer. O tenente ArnaldoConte filmou com a gente. No elenco, LucianoGregory, Marlene França, Elaine Cristina, Bentinho,Genésio Carvalho, entre outros, além deReginaldo Vieira, o Tuca, que tanto sucesso fizeraainda garotinho no Vigilante. O dia da estréia dafita foi uma grande festa no Cine Marrocos, coma presença do governador Laudo Natel e váriasoutras personalidades, banda de música, mas,infelizmente, o filme não fez sucesso. Acabeiperdendo boa parte do dinheiro que ganhara noMágoas, mas no cinema é assim mesmo, a genteacaba acostumando.193Jeca e o bode – 1972Um equívocoEmbalado com o sucesso de Mágoas de caboclo,resolvi fazer outra fita com Chico Fumaça, Jecae o bode, mas foi um equívoco, não deveria terfeito, pois o público não se enganava mais, nãoexistia mais curiosidade. O personagem não se


194Dirigindo Chico Fumaça em Jeca e o bodesustentava mais. Mesmo assim, rendeu 50% doMágoas e cobriu seus custos, era uma fita barata.Na verdade a gente estava competindo diretamentecom Mazzaropi, e eu não tinha o Mazzaropina mão e sim o Chico Fumaça. Na hora depassar o texto eu falava pra ele: Você percebeua piada nessa fala e ele respondia: Não. Ele nãotinha sensibilidade para captar o que estávamosquerendo fazer. Convidamos Wanda Marchetti,Carlos Bucka, Walter Portella, Marthus Mathias,Clenira Michel, Adélia Iório (esposa de Átila Iório),Genésio Carvalho, Reginaldo Vieira (o Tuca)novamente, uma muito jovem atriz Ione Borges,hoje apresentadora de TV e o bode Bernardino,


que falava no filme. Compramos o bode para ofilme e ao final, devolvemos.Deu um pouco de trabalho para fazer as cenas,mas o Chico dava mais trabalho, por incrível quepareça. Meu filho Fernando <strong>Fernandes</strong> fez umpapel infantil no filme, juntamente com o Tuca.No meu íntimo não fiz a fita com prazer, pois setinha alguém que não merecia esse crédito era oChico Fumaça. Certa ocasião ele me pediu umacópia em 16 mm do Mágoas e mandei fazer especialmentepra ele. Depois fiquei sabendo que elesaiu exibindo a fita pelo interior, no Mato Grosso,faturando nos cinemas, ele foi muito ingrato. Eumantinha Chico Fumaça sob contrato mais paraajudá-lo, pois sabia que ele não tinha futurono cinema mas, um belo dia, ele me procurou eperguntou, meio petulante, se eu ia fazer outrafita com ele ou não, então, chamei na hora meuadvogado, dr. Portela, e rescindi seu contratonaquele momento. Eu disse a ele: Agora vocêestá livre. Em 1983, dois anos após a morte doMazzaropi, fui procurado por Hamilton RodriguesFilho, que estava produzindo uma nova fita comChico Fumaça, chamada A volta do Jeca, dirigidapor Pio Zamuner. Ele me pediu opinião sobre oprojeto e eu fui sincero, dizendo: Pára agora, enquantovocê gastou pouco, pois a fita vai fracassare expliquei o porquê de minhas palavras, que a195


fórmula já estava esgotada, Mazzaropi já haviamorrido e ninguém mais tinha interesse de ir aocinema para ver Chico Fumaça. Ele não me ouviue a fita foi um fracasso total, pior até do que euimaginava, ele faliu completamente. Chico sumiu.Soube que faleceu há alguns anos.A noite do desejo – 1972Estavam chegando as pornochanchadas196Com o sucesso das comédias italianas e francesasum pouco mais picantes na época, principalmentecom Lando Buzzanca, o <strong>Brasil</strong> começou aproduzir fitas assim também e todos os diretorescomeçaram a fazer filmes desse gênero; era umaquestão de sobrevivência. Após o fracasso dosegundo filme com Chico Fumaça, fui convidadopor Fauzi Mansur e J. D’Ávilla, meus amigos, queestavam produzindo o filme A noite do desejo.Eles estavam com uma certa dificuldade na produçãoda fita e então me chamaram.Fiz então a produção executiva e realmente nãofoi fácil, pois quase todas as cenas eram noturnas,num hotel na Boca do Lixo. Alugamos o hotel, dequinta categoria, que estava vazio, mobiliamos efizemos as cenas. Foi um sucesso. Percebi naquelemomento que aquele gênero era uma tendênciae que invariavelmente eu teria que aderir, maiscedo ou mais tarde.


Sinal vermelho – as fêmeas – 1972O dia em que fui buscar Vera Fischer no RioNovamente fui convidado por Fauzi para fazer aprodução do filme Sinal vermelho – as fêmeas e,por intermédio de David Cardoso, Fauzi contrataVera Fischer), ex-Miss <strong>Brasil</strong>. Era sua estréia nocinema. Eu não a conhecia. Iniciamos as filmagense no dia marcado para Vera começar, ela nãoapareceu, para desespero dos produtores Fauzie D´Ávilla. Eles queriam substituí-la por MarleneFrança, mas eu disse que não era a mesma coisa,não desmerecendo Marlene, mas as caraterísticaseram totalmente diferentes e para aquele papeltinha que ser a Vera. Me ofereci então para irbuscá-la no Rio de Janeiro, onde ela morava.Com a roupa que eu estava fui ao aeroporto,peguei a ponte-aérea e fui bater na porta doseu apartamento. Ela estava sossegada, disse queiria no outro dia, mas retruquei, dizendo que elateria que ir naquele momento comigo, senãoperderia o papel e sua grande chance de estrearno cinema. Vera então veio comigo no últimoavião para São Paulo e fizemos o filme.197Sinal vermelho – as fêmeas foi um enorme sucessode bilheteria e Vera iniciava sua vitoriosa carreirade atriz. É difícil afirmar isso hoje, mas tenhoem mente que minha decisão firme de pegar oavião e ir ao Rio de Janeiro foi determinante paraVera fazer a fita.


O escravo – 1972Fiz as cenas brasileiras198A Fama Films do <strong>Brasil</strong> tinha negócios com produtorasda Itália. Arnaldo Zonari, dono da Fama, iamuito para a Itália e fazia parcerias. Um dos filmesfoi O escravo, com Lando Buzzanca. Fui cha ma dopara fazer as cenas brasileiras, mas somen te tomadasde paisagens, sem atores, no Rio de Janeiro,no Copacabana Palace, Corcovado , Pão de Açúcar,etc. No Corcovado, numa das tomadas, percebi aaproximação de um avião biplano, muito lindo,não tive dúvidas, filmei toda a passa gem dele.Ficou uma imagem muito bonita. Essas cenasforam enviadas à Itália e encaixadas no filme,trucagem de cinema. Nunca vi o filme pronto, nãosei como minhas cenas foram aproveitadas.O leito da mulher amada – 1973Egydio Eccio, um grande amigoEm 1973 fomos procurados por Egydio Eccio naBrasecran com o roteiro pronto do filme O leitoda mulher amada. Resolvemos produzir a fitacom Egydio na direção. Um filme de sucesso,boa direção de Egydio, com quase trezentas milpessoas, um bom resultado na época.Os papéis principais couberam a Mário Benvenuttie Nídia de Paula. Egydio conhecera sua segunda


esposa, Maracy Mello, durante as filmagens deum dos episódios do Vigilante. Era um bom amigo,morreu muito jovem.O anjo loiro – 1973Novamente Vera Fischer no cinemaFizemos outra fita com Vera Fischer, mas agoraeu era o produtor. Chamei Alfredinho (AlfredoSternheim) para dirigir a fita. Foi o segundo filmedirigido por ele, que antes, em 1971, havia feitoPaixão na Praia. A história era a mesma do Anjoazul (Der blaue engel, 1930, Alemanha, direção deJosef von Sternberg, com Marlene Dietrich). MárioBenvenutti era o professor que se apaixona perdidamentepela aluna (Vera), que destrói sua vida.Só que o nosso era um drama mais leve, com tonsde comédia, enquanto o original alemão era umdramalhão de levar às lágrimas. Trabalhei muitobem com Vera, mas eu tinha dúvidas quanto àsua atuação; ao final, me surpreendeu. Era muitobonita e tinha um carisma muito grande, tanto éverdade que é hoje uma das mulheres mais famosasdo <strong>Brasil</strong>. A carreira do filme foi atribulada, elefoi preso pela censura, que na épo ca o responsávelera o General Bandeira. O que mandaram cortar,cortamos, e mesmo assim man daram recolher afita, que estava estou rando no Cine Marabá e circuito,com a alegação que não havíamos cortado,uma mentira, desculpa para apreender o filme.199


Depois de alguns meses foi liberada, mas o impactonão foi o mesmo. Esse filme, se tivesse seguidouma carreira normal, teria sido um dos maioressucessos do Cinema <strong>Brasil</strong>eiro.Sedução – 1974Filme de época, um belo trabalho de produção200Filmes de época sempre dão muito trabalho parao pessoal de produção. Sedução não foi diferente,os carros, as roupas, enfim, foi um belo filmede que participei, dirigido por Fauzi Mansur. Aslocações foram feitas na fazenda do Alberto,aquela mesma de Arara vermelha. Mas o contatonão foi feito por mim, foi coincidência mesmo.Trindad... é meu nome – 1974A Brasecran a todo vaporFita produzida também pela Brasecran, comdireção de Edward Freund. Fiz a produção executiva.Era uma imitação dos spaghetti­westernitalianos, tão comum na época, mas o públicogostava. O filme acabou indo bem de bilheteria,com mais de trezentas mil pessoas indo aos cinemas,um bom número para a época.O Supermanso – 1974Um grande sucesso do cinemaNa esteira dos sucessos desses filmes, e apósdois anos, retorno à direção em 1974 para fazer


O Supermanso, uma sátira ao filme italiano OSuper macho, com Lando Buzzanca. Eu vinhacoletando pequenas histórias há alguns anos edepois utilizei no filme, que é um pout­pourri desituações. O filme foi um grande sucesso de bilheteria,talvez o maior, desde o Vigilante. Era umacomédia divertida, despretensiosa. A história erasimples: dois amigos mandam as esposas de fériaspara a praia e preparam grandes noitadas commulheres na capital, mas nada dá certo. A equipe201Supermanso, com Fausto Rocha


de trabalho era grande, cerca de 70 pessoas queestavam comigo há muito tempo.A maioria das filmagens foi no Guarujá, umaoutra apenas em Santos e outras em São Paulo.No Guarujá, David Cardoso também estava filmandoe acabamos tendo duas equipes trabalhando,uma do lado da outra. Existia um papelque estava programado para o Bentinho, de umbobão estabanado que ia para a praia e armava202Supermanso, com Fausto Rocha


inúmeras confusões. No dia, Bentinho teve umproblema de saúde e não pôde participar e, semalternativa, assumi o papel.Fui pegando roupas de todo mundo, sapatode um, meia do outro, Francisco Di Franco meem pres tou um short, usei um óculos de grau,en fim, o personagem acabou sendo um sucesso .Foi mera mente ocasional e acabou dando certo.Esse foi meu último filme pela Brasecran. Emseguida, sai da sociedade. Curioso é que o laboratórioperdeu um rolo do negativo do filme.O laboratório faliu e ficou por isso mesmo. Issosó acontece no <strong>Brasil</strong>. O filme é uma obra de artecomo qualquer outra, independentemente desua qualidade, assim como temos quadros bons203Premiére de O Supermanso, com Ignez (esposa) e amigos


Cena de Quando elas querem...204e ruins. As pessoas deveriam tratar o negativode um filme como uma obra de arte, mas não éassim que acontece.Quando elas querem... e eles não – 1975Mais um sucesso...Produzi sozinho, já fora da Brasecran. O filme foitotalmente feito na cidade de São Lourenço, Sulde Minas, no Hotel <strong>Brasil</strong>, o melhor da cidade,localizado no centro, em frente ao Parque dasÁguas. Nos foi cedido um andar inteiro para asfilmagens. Havia um intermediário, um agenciadorque fazia os contatos no hotel, mas logo apósnos instalarmos, antes mesmo de começarmos afilmar, fomos procurados pela direção do hotel,


que nos fez sérias reclamações contra essa pessoa,então ela foi transferida de função. Fiqueibastante preocupado, pois esse episódio poderiater me trazido muitos problemas, mas acabousendo bem superado.A Lynx Film entrou como sócia da fita, 10%, enos forneceu todos os equipamentos necessários.Nas horas de folga íamos ao Parque das Águasbeber as maravilhosas águas medicinais que láexistem, são sete tipos. Durante as filmagens,recebemos a visita de Carlos Gaspar, que estavafazendo uma reportagem ou um documentáriosobre a cidade. Gaspar ficou conosco dois diasno hotel, juntamente com sua equipe, acompanhavaas filmagens e à noite jantava comigo.205Equipe nas filmagens de Quando elas querem...


Depois foi embora, mas foi um encontro quedeixou saudades, pois nunca mais o vi. Quandoterminamos as filmagens, todos os funcionáriosdo hotel e o diretor-gerente fizeram uma filana porta para se despedir da equipe. Quando ofilme ficou pronto, a primeira exibição foi feitano cinema da cidade, para entusiasmo do povolocal. Esse filme fez sucesso, não tanto como oSupermanso, mas foi muito bom.Guerra é guerra – 1976Uma nova parceria com Alfredo Palácios206Foi uma produção minha, do Palácios e do EgydioEccio. O filme tinha três histórias e cada um fariauma. Depois juntaríamos para fazer o filme. Meuepisódio foi Núpcias com Futebol, escrita por UlissesTavares, com Nuno Leal Maia, Cazarré, FelipeCarone e grande elenco e, modéstia à parte, foio que mais agradou. Cada um tinha um terço dafita. O lançamento foi feito pela Procitel. O filmeteve relativo sucesso.As trapalhadas de Dom Quixote e Sancho Pança– 1977Filme inédito, nunca lançado comercialmenteFui convidado por Alfredo Palácios para dirigiro filme Trapalhadas de Dom Quixote e SanchoPança. Em troca dos meus serviços, eu ficaria


com 15% da fita. Fomos filmar em Ilhabela, localparadisíaco, mas com muitos borrachudos, eramtantos que chegavam a atrapalhar, aliás, essa éuma característica da ilha, mas que não diminuiem nada sua beleza. Turibio Ruiz fez o papel deDom Quixote e Ivan Taborda o Sancho Pança.Lembro-me de uma passagem curiosa: tínhamosque fazer uma cena em que Dom Quixote encontravacom uma turma de motociclistas, mas ondearranjar as motos? Conseguimos apenas uma 125,que era do padre. A cena ia ser feita na Ponta dasCanas, mas a estrada ia até o Castelhanos. Umaretroescavadeira estava abrindo uma estradano local. O operador tinha muita habilidade,conversei com ele, que fez a cena com a máquina,ao invés das motos, uma simbologia aosmouros, ou seja, a retroescavadeira simbolizavaos mouros. Uma improvisação criativa que deucerto. E assim fizemos em várias situações parapoder terminar o filme. No final, eu já estavacom o projeto aprovado para o novo Vigilantee não pude participar da montagem da fita. Foicolocada trilha sonora com música medieval, quenão combinava com o filme, que era comédia, euachei que foi um erro, talvez isso atrapalhasse ofilme, mas não deu pra medir, pois a fita nuncafoi lançada comer cialmente, era livre e a temáticade sucesso no momento eram as comédias eróticas,por isso não conseguiu espaço, uma pena,207


pois a fita não era tão ruim assim. Chegaram afazer um painel enorme do filme e colocaram emfrente ao Cine Ipiranga, ficou algumas semanas,tiraram e a fita nunca foi exibida. Foi feita umaexibição num cinema na Praia Grande, que eusaiba a única. Foram feitas várias cópias que hojeestão depositadas na Cinemateca <strong>Brasil</strong>eira.Vigilante rodoviário – 1978O vigilante retorna, numa experiência colorida208O Ministério da Cultura, por intermédio do Ministroda Educação, Ney Braga, e a Embrafilme,resolveu fazer um seriado para televisão. Eu fuichamado, justamente por ser o homem que haviafeito sucesso no <strong>Brasil</strong> com esse produto. Lá encontreiNelson Pereira dos Santos e começamos aconjeturar sobre as possibilidades. Eu propus quefosse dada a oportunidade para vários cineastasapresentarem seus projetos e não somente um.Conversamos com Roberto Faria, então diretorda Embrafilme e este conseguiu aprovação como Ministro Ney Braga. O projeto foi aprovadoentão com 26 filmes, de 26 diretores diferentes.O episódio do Vigilante foi o primeiro a ser aprovado.Havia um episódio chamado João Juca Júniorque fora ganho por Egydio Eccio, o dinheironão chegou a ser depositado na sua conta, poisele morreu de infarto fulminante antes que issoacontecesse. Fui ao Rio de Janeiro falar com o


Roberto Faria e consegui transferir o projeto parao Denoy de Oliveira. O Roberto estava com receiode liberar, mas eu me responsabilizei dizendoque, se ele não fizesse, eu o faria. Eu conhecia oRoberto desde os tempos de Mãos sangrentas.E assim Denoy acabou fazendo o filme J.J.J. oamigo do Super­Homem, com Armando Bógus.A família do Egydio estava passando por dificuldades,então consegui uma exibição do Frutoproibido, seu último filme, no Cine Marrocos,com renda revertida à família. Fiquei sabendotambém que ele fizera um seguro de vida doisdias antes de morrer, uma exigência do banco,uma formalidade, que acabou ajudando muitosua família também. Para esse novo Vigilante,eu teria que procurar um novo intérprete, poiso Carlinhos já estava 17 anos mais velho e nãose encaixava mais no papel. Além disso, agoraCarlinhos era um militar e as coisas já não erammais como antes, a situação era outra. Comeceientão a procurar um ator para fazer o papel.Antonio Fonzar era um rosto bonito da televisão,fazia um jurado do Programa Silvio Santos,olhos verdes, era o galã do momento e não tinhamuita experiência como ator, uma condição queme agradava, pois poderia moldá-lo como precisasse.Ele fez o teste e foi aprovado. No terceirodia de filmagem, percebi que não era o homemque eu precisava, mas tinha prazo e não dava209


210mais tempo de mudar, mas cheguei a comentarcom alguns membros da equipe que, se houvesseuma continuidade, uma série, Fonzar não seriamais o Vigilante. O problema é que ele não tinhacarisma para o personagem, tanto que nãovingou como ator, depois tentou a carreira comodublador e sumiu, ninguém mais teve notíciadele. Foram recrutados três cachorros policiais nocanil da polícia, três iguais, com o mesmo portefísico e eles fizeram o filme, revezando de acordocom a cena. Um rastejava bem, outro pulavamelhor, então eu usei a poten cialidade de cadaum de acordo com o que a cena exigia. Ninguémpercebe, todos pensam que é um cachor ro só. Ocarro não era mais o Simca, agora um Dodge.Havia uma cena que o carro tinha que cair deuma ribanceira, a cena foi feita na Rodovia PedroI, perto de Igaratá. Eu contratei uma equipeespecializada que fazia essas cenas, mas na horaque o carro cai, o barranco não era tão íngremecomo imaginávamos, e o carro bateu num pilar,não chegando a cair até o fim como era previsto,arrebentou todo o carro, não dava mais pararefazer e aproveitamos a cena assim mesmo,não ficou ruim, quem vê não percebe, sabeagora porque estou falando. Vendi o carro alimesmo. Fiz o filme em 40 dias e fui o primeiro aentregá-lo, com uma hora de projeção, conformecombinado. Junto com a cópia, eu mandei umas


Diirigindo a nova versão do Vigilante rodoviário, comAntonio Fonzar211


30 fotos para divulgação do filme. Depois recebium telefonema da Embrafilme me perguntandopara que eram aquelas fotos; ai se vê o interesseque existia em oferecer o produto. O projeto nãovingou e meu filme nunca foi exibido. Fiquei comtanta raiva que nunca mais vi o filme.Dr. Vital Brazil – 1978Um projeto que não deu certo212Ainda em 1978, apresentei para a Embrafilme aidéia de um roteiro de filme sobre a vida do dr.Vital Brazil. Estive na sua cidade natal, Campanha,em Minas Gerais, fazendo pesquisas sobresua vida e por incrível que pareça, em sua própriacidade pouca gente conhecia sua obra, eu sabiamais que eles. O projeto foi aprovado pela Embrafilme,então chamei Waldyr Kopezky e OdyFraga para me ajudar. Com a verba liberada,fizemos o roteiro. O projeto foi entregue, maspassados dois anos, nada aconteceu. Seria umbelo filme.Essas deliciosas mulheres – 1979A rota certa do sucessoAssim como na anterior, Sexo selvagem, a fitatambém foi produzida pela Titanus, e eu entreicomo sócio e diretor, mas agora com 10%.


Sexo selvagem – 1979Não era mais o tipo de cinema que eu gostariade fazerEm 1979 fui convidado para dirigir Sexo selvagem.Em troca dos meus trabalhos, tornei-mesócio da fita, com 20% de participação. Produzidopela Titanus Filmes, que pertencia à FamaFilms, era um filme sobre juventude rebelde,com motocicletas, discoteca, cenas de violência,estupro. Feito com intuito unicamente comercial,acabou se pagando, como as outras. Os cinemasestavam infestados de fitas como essa.O inseto do amor – 1979Meu último trabalho com Fauzi213Fita do Fauzi e do Dávilla, fiz a coordenaçãoda produção, enorme sucesso de bilheteria. OAlfredinho (Alfredo Scarlati Jr.) era o produtorexecutivo da fita e estava tendo dificuldade naprodução, então fui chamado para ajudar, eracontratado, cobrei meu cachê, fiz meu trabalhoe pronto. Sucesso absoluto de bilheteria.Rotary Club – 1980Um documentário institucionalEm 1980 fui contratado pela diretoria do RotaryClub para fazer um documentário sobre a famosa


instituição. Acabei encontrando dr. Elvio Bugano,tesoureiro do Rotary, e que havia sido meu professorno Colégio Salete. O filme tinha 20 minutose foi feito em 35 mm. Além de mim, a equipe eraformada por um cameramen e um eletricista. Ofilme mostrava como era o Rotary em São Pauloe foi feito para ser exibido exclusivamente nosEstados Unidos. Nunca vi essa fita.214Com David Cardoso, na Rua do Triumpho, Boca do Lixo, SP


Capítulo IXOs anos 80, o cinema erótico e a difícilsobrevivência no cinema – 1980 a 1991O cinema não era mais o mesmoO cinema erótico estava cada vez mais presentenas telas brasileiras e alguns produtores já começavama fazer filmes de sexo explícito, comoCoisas eróticas, de Rafaelle Rossi, e o cinemaestava tomando outro rumo, longe daqueleque eu idea lizara. Éramos impulsionados pelosexibidores a fazer esses filmes, precisávamos sobrevivere não havia alternativas. Eu não faziacomo cinema, ideologia, e sim como sobrevivênciamesmo. Os dire tores, com vergonha decolocar seus nomes, usavam pseudônimos, mastodo mundo sabia quem era, uma besteira, ficavapior ainda; enfim, uma década negra do Cinema<strong>Brasil</strong>eiro, que devemos esquecer. Em 1983 dirigiminha última fita. Resolvi parar porque não davamais para fazer cinema.215Orgia das libertinas – 1980Produzindo sem pararNa década de 80 produzi e dirigi uma série defitas baratas e muito lucrativas, entre elas, Orgiadas libertinas, filme que fiz em 18 dias e que me


deu um enorme lucro, estourou na bilheteria.Ainda era uma comédia erótica, um pouco maispicante, com um pouco mais de nu, mas preservandoa fórmula da pornochancha dos anos 70.Cassino dos bacanais – 1981Apenas sobrevivênciaOs anos 80 estavam no começo e dava para sentiro que viria pela frente. Estávamos no barco, acorrenteza nos levava. Assim fizemos Cassino dosbacanais, comédia erótica de grande sucesso.216A fábrica de camisinhas – 1982No tempo em que camisinha ainda era tabuProduzi, em 1980 também, o filme A fábrica decamisinhas. Interessante que o termo camisinha,na época, ainda era um tabu, não existia ainda otemor da Aids e usar esse termo era como se fosseum palavrão. Hoje o título do filme é comum atéentre as crianças, mas na época não. Mas não chegueia ter problemas com censura por isso, a fitafoi lançada normalmente e também foi sucesso.As vigaristas do sexo – 1982Outro sucesso...Em 1982, produzi e dirigi o filme As vigaristas dosexo, com Felipe Levy, Américo Taricano e SérgioHingst no elenco. Um drama erótico com pitadas


de humor que acertou em cheio no público, quena época só queria ver isso.Curral de mulheres – 1982O dia que mandaram o filme para a China, comnegativo e tudoEu era produtor e sócio da fita. Chamamos o Carcaçapara dirigir. O filme tem cenas aéreas e eutreinei o ator Arnaldo <strong>Fernandes</strong> num aeroclubeem Atibaia durante uns três dias para fazer ascenas com avião. Eu acabei sendo seu dublê, masna verdade ele não voava, fazia suas cenas emterra, quem voava era eu. Era um filme de aventurassobre um indivíduo que escravisava mulheresbrancas . O filme foi vendido a um chinês quelevou para exibir lá, por meio da empresa Sul,mas acabou não dando certo, mandaram o negativopara a China, veja que loucura, nunca maisvoltou, perdemos o filme, que não existe mais,só a história.217Elas só transam – 1983Meu tempo de cinema estava no fimProduzi e dirigi essa fita, mais um sucesso debilheteria. O título original era para ser Elas sótransam no disco, mas a censura não liberou e tivemosque lançar como Elas só transam. Construium protótipo de disco voador, que por sinal


te nho guardado até hoje em meu sítio em BomJesus dos Perdões, região de Atibaia, interior deSão Paulo. Era uma comédia erótica, ainda semsexo explícito. Esse filme acabou não indo bem debilheteria, justamente porque nessa época todomundo ia ao cinema para ver sexo explícito e meufilme ainda não tinha chegado nesse estágio.Taras eróticas – 1983Minha última direção, o cinema não era mais omesmo218Na esteira das outras fitas do gênero, em 1983/84produzi e dirigi Taras eróticas, uma comédia cheiade malícia e cenas ousadas. Foi a última fita pormim produzida e dirigida. Eu já estava cansado dogênero, de lutar contra a maré e resolvi parar.A filha dos Trapalhões – 1984Ajudando o amigo Dedé SantanaEu conhecia o Dedé Santana há muitos anos,quando ele ainda era maquinista de teatro. Seutio, Colé Santana, trabalhou comigo em 1953 nofilme Mulher de verdade, do Cavalcanti. Conhecio Dedé nessa época, era rapazote. O Colé estavaproduzindo a peça São Paulo quatrocentão,no Teatro de Alumínio, que ficava na Praça dasBandeiras e eu arranjava meninas para fazerfiguração , as coristas da peça. Ele e sua mulher,


Nélia Paula, queriam que eu fosse trabalhar comeles em viagens por todo o <strong>Brasil</strong>, mas eu nãotinha interesse, já estava a fim de fazer cinema,mas quase toda a noite eu ia lá. Dedé era maquinista,montava cenários e acabamos nos tornandoamigos. Conheci também seu irmão, DinoSantana e foi ele quem me procurou, a pedidode Dedé, para dirigir uma fita dos Trapalhões, Afilha dos Trapalhões, Dedé seria meu assistente.Eu propus que Dedé dirigisse a fita e eu acabeificando como diretor-técnico. Fui para o Rio deJaneiro e lá fiquei durante três meses. Levei oGeraldinho e o Rajá (Rajá de Aragão) para fazer aprodução da fita. Acabamos nos tornando amigosde toda a equipe carioca do filme. Fizemos comtranqüilidade, não houve nenhuma interferênciado Renato Aragão, aliás, uma pessoa muito cordialque nos deixou trabalhar à vontade.219Financeiramente também foi interessante; eu eracontratado. Inicialmente eu teria um porcentualda bilheteria, mas depois não deu certo, acabeirecebendo cachê, que me ajudou a construir acasa do meu sítio em Bom Jesus dos Perdões.A estrela nua – 1984Carla Camurati nem sonhava dirigirFui contratado por Adone Fragano para fazer aprodução executiva da fita. Como sempre, eu era


chamado para fazer o filme andar, existiam muitosproblemas de produção, mas conseguimostermi ná-lo e ele, que acabou ganhando váriosprêmios. Carla Camurati estava no início de carreira,ainda era atriz contratada, nem pensavaem ser diretora. Hoje é diretora respeitada, comvários filmes no currículo.Documentários institucionais – 1984 a 1991Fazendo vídeos fechados, para empresas220De 1984 a 1991 sobrevivi fazendo documentáriosinstitucionais para as empresas Globotec,Usina de Vídeo, Sony, Diana Cinematográficae Spiral Filmes. Era contratado e ganhava pordocumentário. Lá revi vários amigos que, assimcomo eu, também tinham abandonado o cinema,como Galileu Garcia, Walter Carvalho, diretor defotografia – mas não aquele famoso e sim o assistentede Chick Fowle, muito bom também – oGuga (Gustavo de Oliveira), irmão do Boni, entreoutros. Os documentários eram feitos em U-Matice éramos contratados de grandes empresas comoCredicard, Tratores Komatsu, etc.Esses documentários eram exibidos somente nasempresas. Filmei no Amazonas, no Mato Grosso.Pela Indiana Cinematográfica, fiz até campanhapolítica para o então candidato a governadorPaulo Salim Maluf. A empresa pertencia a Pedro


e Arlete Siarretta, hoje proprietários da Casablanca,uma das maiores produtoras do <strong>Brasil</strong>. Euentregava o material filmado depois eles faziama montagem, o som, enfim, terminavam o filme.Enquanto isso eu já estava fazendo outro. Fizdocumentários também para a empresa TV1, deSérgio Motta Melo.Quincas Borba – 1987Novamente com Roberto, no começo e no fimRoberto Santos me chamou para ajudá-lo naprodução de Quincas Borba. O velho amigo RobertoSantos, dos tempos do Cara de fogo emque fizemos uma aposta para saber quem dirigiriaprimeiro. Coincidentemente, trabalhei comRoberto em seu primeiro e último filme. Eu faziadocumentários na época e então parei um tempopara fazer Quincas Borba, em que fiz a produçãoexecutiva de apenas 60% da fita; depois sai, paranão brigar com Roberto Santos, meu amigo.O problema era seu filho, Roberto Santos Filho,com quem eu não combinava, não tinha jeito,então preferi ir embora. Meu nome não aparecenos créditos, eu mesmo pedi para ele não colocar.Eu nunca vi o filme pronto. Infelizmente, Robertomorreu logo depois e este acabou sendo seuúltimo filme. Roberto era muito explosivo, masuma grande pessoa, excelente diretor.221


O cangaceiro – 1995Um filme para esquecer222Eu fui muito amigo de Osvaldo Massaini, emboranunca tivesse trabalhado com ele, mas sempretive um respeito muito grande por ele, é umgrande homem do cinema brasileiro. Encontreio Coimbra nos estúdios da Álamo e ele me disseque estava fazendo a pré-produção executivado remake do Cangaceiro, fita que ele dirigiriae queria que eu fizesse a produção executiva.O Coimbra era meu conhecido desde os anos 50,pois, quando eu estava no Rio de Janeiro, elemora va lá com o Aurélio Teixeira, mas nessa épocaCoimbra ainda era ator, estava começando.Como eu disse antes, vários profissionais de primeiralinha haviam abandonado o cinema porcausa do sexo explícito, então, durante algunsanos, não se formaram muitos profissionais.Quando houve a dita retomada, os produtorespassaram a recorrer a esses antigos profissionais,mais experientes, foi o meu caso. Eu disse a eleque não tinha interesse, estava afastado há muitotempo, mas ele insistia muito. O que eu ganhavacomo dublador me dava uma boa subsistência,então eu teria que acertar um bom contratopara poder fazer a fita, tipo acertar o contratopelo máximo que eu poderia ganhar comodublador. Ele conversou com o Aníbal Massaini


Neto, filho de Osvaldo Massaini e este me chamoupara conversar. Eu repeti ao Aníbal que nãotinha inte resse, principalmente por ser um filmedifícil de fazer a produção, feito no sertão, nascaatingas, mas acabamos acertando o contrato.Fiquei prepa rando a fita aqui, depois fui paraPernambuco na cidade de Pesqueira e muitasoutras cidades. Era época de seca e fizemos todosos preparativos para iniciar as filmagens. VictorMerinow foi chamado nos EUA para fazer a maquiagem.Victor era remanescente da Vera Cruz,trabalhou no Cangaceiro original, Paixão de gaúcho,foi uma alegria revê-lo. Ele tinha uma figurabonita, altivo, uma grande pessoa. O som ficou acargo de Juarez Dagoberto da Costa, que começoujunto comigo na Maristela. Era microfonista.Seu irmão fazia produção. Jua rez era ajudantede Sérgio Alvarez, que era o técnico de som daMaristela, era aprendiz como eu. O cangaceirotinha a fotografia do Cláudio Portioli e a montagemdo Luizinho, meu velho amigo de tantasjornadas. Montada a equipe, tivemos uma notíciadesagradável, Coimbra teve um deslocamento deretina e não ia poder dirigir a fita. Inicialmentefoi cogitada a possibilidade de eu dirigir a fita,mas eu declinei imediatamente, não queria. Eupropus então ao Aníbal que contratasse o GalileuGarcia, mas eles já haviam se desentendido,sugeri também o Roberto Faria, homem expe-223


224riente, expert em fitas policiais, de aventura, massem sucesso, no fim, o próprio Aníbal assumiua direção da fita. Aníbal foi uma pessoa muitocorreta na parte contratual, financeira, o que foicombinado foi cumprido, mas eu tinha muitasrestrições quanto a ele dirigir a fita, acho quelhe faltava experiência; aliás, poucos dire tores no<strong>Brasil</strong> hoje teriam condições de dirigir um filmecomo esse. Seguimos com a equipe para iniciaras filmagens. A comunicação era difícil, aindanão existia o celular. Quando conseguia falarcom São Paulo, não podia nem me mexer paranão perder o contato, para a linha não cair. Foipuxada uma linha direta, via rádio em uma fazendaonde fizemos o QG. A polícia nos deu muitoapoio. Filmamos em algumas fazendas que,segundo moradores locais, foram freqüentadaspor Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, nosanos 30. Conheci a Pedra Furada, uma montanhade pedras que tinha um furo enorme no meio,uma coisa gigantesca, que se vê de longe, coisasda natureza mesmo. A gente subia nas pedras.Lembro-me que um belo dia começou a chovere não parava mais, assim ficando por 24 horas.A paisagem, que era cinza, uma semana depoisestava verde, incrível, mas não tínhamos mais locaçõespara filmar, saímos correndo para encontrarnovas locações secas. A produção do filme foimuito contur bada, come cei a ter problemas de


elacionamento com Aníbal, uma pessoa irascível,as locações que eu arranjava não serviam, houvebrigas entre a equipe, calor escaldante, fiqueidoente, por diversas vezes ameacei abandonar afita. Trabalhávamos 16 horas por dia. No dia seguinte,quatro e meia da manhã Aníbal já queriaa equipe em pé para trabalhar, uma verdadeiraloucura. Aníbal filmava por todos os ângulos amesma cena, o que consumia muito negativo.Era excesso de zelo, talvez insegurança em estardirigindo uma fita como aquela, não podia errar.Fiquei amigo de um médico, que era dono dohospital de Pesqueira. Ele me disse para consultarmeu médico assim que chegasse em São Paulo,fazer um check­up, pois eu não estava bem. Meuirmão faleceu enquanto eu estava em Pesqueirae minha família não conseguiu me avisar, fiqueisabendo três dias depois. Chegamos em SãoPaulo com a fita incompleta, faltavam cenas paraserem feitas ainda. A equipe voltou para terminara fita, mas eu já estava fora. Em São Paulo, fiqueitrês meses fazendo tratamento, desgaste físico,stress, perdi 11 quilos. O resultado, pelo que sei,não foi o esperado. Com Coimbra acredito quetudo teria sido diferente, pela experiência queele tinha em filmes de ação, não tinha ninguémmelhor que Coimbra para dirigir a fita. Nunca vio filme pronto.225


226Nas filmagens de O Cangaceiro, com Ingra Liberato


Capítulo XA arte de dublar – 1992 a 1998Um talento desperto, que eu esquecera quetinhaNos anos 50 eu já havia tido experiências comodublador, no filme-piloto Ford na TV, eu dublavao policial. Ao que consta, esse foi o primeiro filmedublado para a TV, pois anteriormente os filmeseram exibidos com legendas em português.Eu fazia dublagens esporádicas, às vezes paracomerciais produzidos por mim e por Palácios,mas nunca havia sobrevivido disso. Era uma novaexperiência. Fiz a dublagem de Rin­tin­tin, parao relançamento da série na TV. Minha voz mudoucom o passar dos anos e eu era muito usadopara dublar velhos e desenhos animados. Umdesenho que me lembro bem foi A vida modernade Rocco , uma produção espanhola na qual eudublei mais de 100 episódios, cada um com 12minutos de duração. Fiz narração de documentários.O dubla dor é freelance, não trabalha fixopara uma companhia só, onde aparece serviçoele acaba indo, ganha por hora. Só em São Pauloexistem quase quinze empresas de dublagem,com destaque para Álamo, BKS, etc. Lá encontramosvários nomes famosos do passado que hoje227


228são dubladores. Um bom exemplo é o Borges deBarros, que já foi o mendigo da Praça da alegriade Manoel de Nóbrega nos anos 1960, já fez avoz do Doutor Smith do Perdidos no espaço ehoje deve estar aposentado, é meu amigo desdeos tempos de rádio, excelente dublador, mas nãoo vejo há muito tempo. No início a dublagemera feita com anéis em 16 mm, todas as falasde uma vez, ou seja, se um errasse, tinha querefa zer tudo. Depois, passou a ser magnético aícada um fazia a sua fala e hoje é digital. A artede dublar é nata, alguns conseguem, outros não,existem técnicas, treinamento, mas a pessoa temque ter o dom, existem atores consagrados quenão conseguem dublar, eu já vi, outros têm maisfacilidade.


Capítulo XIA volta do Vigilante rodoviário –1999 a 2002Apenas um sonho que não deu certoEm 1999, com as leis de incentivo a todo vapor,me encorajei a entrar com um projeto para umanova série sobre o Vigilante rodoviário, que sechamaria A volta do vigilante rodoviário. Existeuma carência de filmes de aventura, de açãofeitos no <strong>Brasil</strong>, temos deficiência nisso. Com osrecursos técnicos que existem hoje, imagino queeu poderia fazer filmes de ação, com históriasbem amarradas, não tão inocentes como outrora,mas adaptadas à realidade atual, como combateàs drogas, contrabando de armas. Poderia fazercenas com helicópteros, barcos, grandes caminhões,coisas que eu não tinha acesso na épocado primeiro Vigilante. Enfim, eu acredito quepoderia oferecer ao público um bom produto.O projeto inicial era o de fazer seis episódios de45 minutos cada um, ao custo de 3 milhões dereais, o que daria em média 500 mil por episódio.Os seis episódios seriam lançados para avaliarsua aceitação. Foi aprovado o orçamento de 2,7milhões de reais, o que também daria, apertandoum pouco os custos de produção. As imagens229


230seriam captadas na bitola Super 16. Comecei aescrever os episódios, fiz 13, todos roteirizadose prontos para filmar. A única que reescrevi dasérie original foi A história do Lobo, pois precisariacontar novamente para a juventude dehoje, como o Lobo chega à corporação. Agoracom 23 minutos a mais, poderia contar muitosfatos engraçados, como quando Lobo, aindapequenino, urina nos pés de bandidos que estãosendo levados à prisão. As outras 12 histórias sãoinéditas. Dos 13, escolheria seis para o projeto.O plano era, caso não desse certo na televisão,eu transformaria cada dois episódios em umlonga metragem de 90 minutos para cinema. Ashistórias foram planejadas para isso. Contratamosuma corretora para nos ajudar na captação,não havia valor determinado, cada empresaentraria com o valor que pudesse, que estivesseao seu alcance. Fizemos contato com inúmerasempresas, inclusive a própria Nestlé, que não seinteressou pelo projeto. Para a Nestlé, apresentamostambém um projeto para recuperação dasmatrizes do Vigilante original e do Águias, queela patrocinara, e nem assim se interessaram.Chegamos a avançar as negociações com a GeneralMotors, em várias reuniões em São Caetano,na fábrica, mas o interesse deles era fornecer oscarros, mas dinheiro que é bom, nem se falou.A captação de recursos é uma tarefa desgastante


e difícil e que requer uma boa dose de sorte econhecimento. Depois surgiu uma oportunidadede produzir a série em parceria com a TV Record.Um profissional, proprietário de uma empresade comerciais estava fazendo os contatos. Essaempresa produziria a série e exibiria na Record.No final, acabou não acontecendo nada.231


Capítulo XIIA verve literária, a pintura – 1999 a 2002Outros talentos despertadosA história do fordinho Horácio – 2000A história da minha vidaQuando eu fiz Mágoas de caboclo, comprei umFord 1929 para as filmagens. Esse carro era dirigidono filme pelo ator José Mercaldi e era muitoengraçado, desengonçado, bem velho. Mercaldiera descendente de italianos, mas se especializouem papéis de árabe, em vários filmes brasileiros.Terminadas as filmagens, trouxe o Fordinho paraminha casa. Um dia, conversando com meu pai,tivemos a idéia de reformá-lo e ele se propôs ame ajudar. Começamos a comprar as peças, ocarro foi desmontado inteiro, feita toda a funilaria.Fizemos contato com um português, donode uma oficina que prestava serviços para o dr.Ogg, em Cotia, um dos maiores colecionadores decarros antigos do <strong>Brasil</strong>. Ele nos ajudou na partede funilaria. Foram quatro anos de traba lho. Omotor era original e tinha somente uma retífica.Por acaso, vi no interior uma camioneta com osfaróis originais do Fordinho, falei com o proprietárioe propus colocar no seu carro faróis novos,em troca dos velhos. Ele topou e eu consegui os233


faróis originais do meu Fordinho. Consegui, numcatálogo de tintas, achar a cor original do carro,um tom meio creme.234Os pneus eram aro 21, consegui originais também.O medidor de temperatura comprei nos Esta dosUnidos. O carro ficou espetacular, quando andavana rua todo mundo olhava. Gastei muito dinheirocom ele. Fiquei muitos anos com o Fordinho,a gente só lavava em casa. Certa ocasião fui atéuma feira de carros antigos no Pacaembú e encontreium senhor que ficou apaixonado pelocarro, quis dar uma volta, etc. Até que resolvivender, para alegria de minha esposa. Quemcomprou foi um norte-americano. A história dolivro começou quando passeava com meus filhosno carro. Comecei a contar a história do Fordinhopara eles, tudo o que ele já havia presenciado.Comecei a escrever, inclusive colocando aquelesenhor que quis andar no carro no Pacaembú emesclando com histórias reais de minha vida. Ahistória é vista pela óptica do Fordinho, comoele via e interpretava os fatos da história, comoguerras, revoluções, conquistas, etc. Ao final daRevolução de 1932, o Fordinho se julgava um excombatente.O dono do Fordinho é o dr. Fernando,que por acaso é o nome do meu pai. A históriado Fordinho é a história de minha vida. Quandoleio o que escrevi, fico emocionado.


Vital Brazil, o doutor das cobras – 2000Um tema fascinante, não devidamente valorizadoNo ano de 2000, juntei o material remanescentedo roteiro apresentado em 1978 e comecei afazer um livro entitulado Vital Brazil, o doutordas cobras. Noventa por cento desse livro estápronto. Já que não virou filme, tentaremos lançáloem forma literária.Uamiri, o curumim do Amazonas – 2001Tendo novamente o público infantil como focoEscrevi um episódio dessa história, que poderiaser o piloto de uma série de televisão. A históriaseria centrada em Uamiri, um indiozinho doAmazonas e começava mostrando a Amazônia,os bichos. Longe, Uamiri vem descendo pelorio numa Ubá, numa pequena canoa. Uamiri éencon trado por uma índia velha. Levado à aldeia,o Pajé acha que o indiozinho foi enviado pelosdeuses e ordena sua execução, alegando que eledeveria ser sacrificado. Em resumo, a índia fogecom Uamiri. Os índios saem todos em sua procura,mas ela consegue se esconder. Sozinha, elacria Uamiri, até que quando ele completa onzeanos ela morre. Uamiri passa a viver na florestana companhia dos animais até ser encontradopor um missionário, que o leva a uma aldeia que235


era dominada por Amazonas, onde os homenssão escravos. Nesse lugar ele descobre seu pai esua mãe. A mãe era a herdeira do trono dessaaldeia, mas estava presa. Uamiri salva então suamãe. Esta seria uma série diferente, que poderiafazer muito sucesso junto ao público infantil.O Último Vôo de Paris – 2001Um drama denso, que daria um bom filme236É uma idéia que tenho na cabeça, ainda nãoescre vi nada. A história começa na 2ª GrandeGuerra, com a invasão de Paris pelos alemães.Todos queriam fugir da cidade, principalmenteos judeus. Existe um último vôo, com um enormeDC3, onde os judeus depositam uma cargaenorme de jóias. Apenas um judeu consegueembarcar e fica encarregado e tomar conta dasjóias, que na verdade pertencem a várias famílias.Os alemães tomam Paris, mandam os judeus aoscampos de concentração e quase todos morrem,apenas um menino se salva. Com o final da guerra,o menino sai, juntamente com um amigo, aprocura dessa pessoa que estava com as jóias.Descobre que ele foi para a América do Sul. Elechega primeiro na Bolívia e conhece um rico comercianteque se dispõe a ajudá-los. Muitas coisasse sucedem, seu amigo morre num atentado, atéque o garoto descobre que o rico comercianteera o judeu que ele estava procurando.


Os quadrosNem eu sabia que podia fazê­losEm 1977 me apareceu uma hérnia. Como eu erapiloto, não podia ficar com o problema e entãoresolvi operar. Fiquei vários dias de molho, emcasa. Meu pai ainda era vivo. Vi um desenhomuito bonito e disse a meu pai que conseguiriafazer aquilo entalhado. Pedi que ele me arranjasseum pedaço de madeira de cedro. Resolvi entãoentalhar o desenho. Eu tinha umas ferramentasapropriadas, uma coleção de goivas, pequeninosformões com corte, aqueles que se usa no colégio.Comecei a escavar a madeira, entalhar. Depoisde pronto, pintei e o resultado ficou muito bom.Aos poucos acabei dominando a arte e fui meaprimorando. Cheguei a expor numa feira dedomingo na Praça da República. A tinta usada eraa mesma usada em tecidos. Fiz quase 50 quadrose estão todos ai, espalhados na minha casa e nosítio. Numa árvore, por exemplo, cada folhinhaé entalhada, um trabalho de paciência e perseverança.Hoje estou impossibilitado de fazer essetrabalho por força da doença que me acometeu.Eles não valem nada e valem muito, sinceramentenão tenho idéia, mas pra mim não têm preço.237


238<strong>Ary</strong> em foto atual


Capítulo XIIIA interrupção dos planos: o avc –2001 a 2005...E minha vida vira de ponta cabeçaEm 2001 eu estava dublando e ao mesmo tempotentando captar recursos para a nova série doVigi lante. Num domingo, em meu sítio, brincandocom meus cachorros, me abaixei e nãoconsegui levantar mais, e cai, com uma tremendador na perna esquerda. Meu amigo, Sr. Nilson,pai do meu genro, estava comigo nesse dia eacabou trazendo o carro. Depois passou, acheique não era nada. Na sexta-feira seguinte chegueiem casa com muita dor de dente. Ligueipara dra. Eliana, minha dentista e marquei umhorário de urgência, encaixado. Ela cancelou atéum compromisso. Fui ao seu consultório. Apóstratar meu dente, comecei a sentir algo estranho,percebi que a dra. Eliana saiu para pedir ajuda,mas nesse momento eu apaguei. Numa fração delucidez, percebi que estava sendo carregado porpoliciais, que me levaram ao hospital, na viaturada polícia. Nesse momento chega minha esposa emeu filho Fernando. Fui levado ao Hospital DomSilvério, da rede São Camilo onde, depois, umatomografia computadorizada constatou o AVC,239


ou o rompimento de uma veia no cérebro. Essesangue se espalha e causa a seqüela. O quantoo organismo vai absorver esse sangue é que vaidizer o grau da seqüela. Existem dois tipos deAVC: o derrame e o aneurisma.240O meu foi derrame, que é menos ruim que oaneurisma, as seqüelas são menores. Fui transferidopara o hospital Santo Antonio. Voltando paracasa, percebi que minha perna havia encolhido eeu estava com muita dor. Como eu era registradono Incor (Instituto do Coração), fui levado paralá, direto para o setor de ortopedia do Hospitaldas Clínicas, onde fiquei internado por 42 dias.Constataram que eu estava com uma bactéria hospitalar,chamada Pseudomonas, anterior ao AVC,provavelmente contraída numa das visitas que fizà minha irmã Glória, que estava internada na UTIe muito doente. Essa bactéria não tinha nada a vercom o AVC, foi mera coincidência, ou puro azar,vieram as duas juntas. Segundo estatísticas, 95%das pessoas que contraem essa bactéria morrem.Eu dei sorte e fiquei nos 5% que sobrevivem.No período que fiquei internado, minha irmã faleceu,mas não me contaram, quiseram me poupar.Eu perguntava pela Glória, mas todos desconversavam,diziam que ela ainda estava inter nadana UTI do hospital e logicamente eu não podiavisitá-la. Fiquei sabendo que ela morreu somente


três meses depois. Do AVC, fiquei com algumasseqüelas do lado direito, na fala, na força damão (tenho certa dificuldade em escrever) e noandar, mas essas seqüelas já foram muito piores.Tenho alguns problemas de memória, lampejosde esquecimento, principalmente lembrar nomes,estou vendo a pessoa na minha frente, masnão lembro o nome, mas logo em seguida vemo nome, é apenas questão de segundos, mas meatrapalha muito. De vez em quando sinto umafisgada, um tipo de cãibra na perna direita, algoestranho que vem e vai. É difícil avaliar a perdaque uma doença traz, lembrar como era antes ecomo ficou. Hoje estou muito próximo da recuperação,mas ainda impedido de exercer minhasatividades. Não sinto fome, perdi a vontade decomer, o prazer de comer, apesar de eu nunca tertido um físico privilegiado, hoje não me alimentomais como antes, o que acaba, de certa forma,prejudicando minha recuperação. Com muitaforça de vontade, fisioterapia e apoio da família,estou conseguindo superar. Bem, com isso, minhavida profissional parou, não consegui levaradiante meus projetos. Hoje, se eu conseguisseverba para novos projetos, eu teria dificuldadeem dirigir, teria que ter um bom assistente. Euacompanharia tudo, mas não poderia ter a agilidadeque eu tinha, principalmente nas cenas deação. A cabeça está mais normal que antes.241


242


Capítulo XIVA importância da famíliaMeus paisO pilar mestre de minha vidaMeu pai não era uma pessoa de grande cultura,fez apenas o ensino médio, mas sempre foi umbom conselheiro. Na época do Águias tive umfurto de negativos na Procitel, por um assistentee foi meu pai quem viu e me alertou, ele estavasempre ligado nessas coisas, como que me protegendo.Meus pais eram meus conselheiros. Comminha mãe eu conversava muito também. Meupai nasceu no dia 10 de julho de 1904 e morreuem 26 de novembro de 1980, aos 76 anos e minhamãe nasceu no dia 22 de março de 1905 e morreuem 24 de fevereiro de 1991, aos 86 anos. No dia22 de março de 2005 ela teria feito 100 anos. Aspessoas iam tomar chá na casa de minha mãe. Jávelhinha, ela fazia o chá para suas amigas. Erauma pessoa adorável. Convivi mais com meu paino Águias. Ele era meu homem de confiança.Tínhamos duas peruas da produção, uma eradirigida por meu pai, que fazia a produção e fezuma ponta em um dos episódios; a outra peruaera dirigida por meu cunhado Sacadura. Mazinhabrincava com meu pai e o chamava de BrigadeiroFerramenta da Ordem do Parafuso.243


244O casamento com d. Ignez


Minha esposa e meus filhosO que tenho de mais precioso na vidaNa minha juventude, no ginásio, fui presidentedo Grêmio por quatro anos. Tive muitos amigose namoricos sem importância. Tive apenas umrelacionamento mais sério que não deu certo.Eu vinha no ônibus para Santana e conheci aIgnez, que era de um bairro próximo chamadoAlto de Santana. Ela trabalhava numa loja, eravendedora. Moça ainda já era muito responsável.Era de uma família humilde. Quando começamosa namorar a Ignez tinha 13 anos, foi logo que euentrei no rádio. Eu estava tentando um lugar aosol, a gente se encontrava pouco, o tempo eraescasso. Quando eu fui para cinema complicoumais um pouco, pois eu viajava muito, ficavamuito tempo fora, só em São José dos Camposfiquei nove meses. Quando eu estava no Rio deJaneiro vinha de avião passar o final de semana,não toda a semana, mas a cada três semanas,você veja que eu não ganhava tão mal, pois aspassagens de avião já eram muito caras. As companhiasque faziam a ponte-aérea eram a Vaspe a Transbrasil e utilizavam aviões Douglas DC-3e o Scandia. Numa dessas vezes, aconteciam ascomemorações do IV Centenário de São Pauloe eu queria voltar mas não havia vôos, estavamtodos lotados, então eu, Pizani e mais cincopessoas fretamos um carro, chegamos aqui de245


Na cerimônia do casamento, com Palácios de padrinho (àdireita)246madrugada. Eu nunca me dei muito bem commeu sogro, ele abandonara a família, então tivealguns problemas nesse aspecto.Então nem ficamos noivos, fomos comprando osmóveis aos poucos e guardando na casa de Ignez.Eu estava concluindo Vou te contá e escapei paracasar no civil no dia 11 de janeiro de 1958 e naigreja no dia 18 do mesmo mês. Fiquei uma semanaem lua-de-mel no Rio de Janeiro, eu gostavado Rio, havia morado lá e conhecia bem. Ignezsempre foi uma mulher muito bonita e vistosa,tanto que numa ocasião, em uma festa em SãoJosé dos Campos, me perguntaram porquê elanão se tornava atriz, eu disse que por mim nãoteria problema, mas ela nunca quis.


Ignez nasceu no dia 19 de junho em 1937 esempre foi muito ciumenta, tivemos períodosdifíceis ao longo de minha carreira, mas sempresoubemos superar. Talvez pelo fato dela ter tidomuitos problemas em sua família, com a separaçãodos pais, ela era muito possessiva com o queera seu, isso com relação a mim, aos filhos, maseu sempre soube compreender. Pela ausênciado pai, ela teve que trabalhar cedo para ajudara sustentar sua casa. Na verdade encontrei umagrande companheira que sempre esteve ao meulado nos momentos fáceis e difíceis. Talvez setive ouvido mais Ignez, hoje minha vida poderiaestar muito melhor, ela enxergava longe e eunão queria ver. Como ela não era de cinema, àsvezes era difícil para eu aceitar sua opinião, euachava que ela não estava no meio, não podiaanalisar os fatos em toda sua amplitude, mas euestava errado, deveria tê-la ouvido mais.247Perdemos nosso primeiro filho, um aborto espontâneo,que muito nos chocou, mas superamos edepois tivemos dois filhos, Fernando, que nasceuno dia 12 de junho de 1959 e Vânia em 11 dejaneiro de 1961, exatamente três anos após meucasamento no civil. Fernando casou-se, mas logo seseparou, não chegando a ter filhos. Hoje namoraSilmara, uma moça muito bacana que já faz partede nossa família. Vânia casou-se com Nilson e tem


248apenas uma filha, Daniela, que hoje está com 19anos e cursa o segundo ano de Ciencias Contábeisna PUC, é professora de inglês e faz aperfeiçoamentono exterior. Minha única neta, uma lindagarota que muito me orgulha. Meu genro tem umcargo executivo numa instituição bancária. Estãomuito bem, graças ao bom Deus. O pai do meugenro chama-se Nilson também, sua esposa d. Mariajá é falecida. Sr. Nilson é nosso companheirohoje nas idas e vindas ao sitio. Além de meu genro,tem outro filho, Paulo, que é casado com Cláudiae tem uma filha de 10 anos chamada Graziela.Meu filho Fernando fez algumas pontas comoator mirim, foi meu assistente, mas nunca gostoumuito de cinema, se ligou mais em publicidade.Fernando hoje é membro da equipe de produçãoda Fórmula Truck. Tanto Fernando como a Vâniafizeram publicidade, primeiro em Mogi, e depoisna Faculdade Anhembi-Morumbi. Vânia começoua trabalhar na prefeitura, mas depois que se casouparou de trabalhar. Hoje ela cuida das minhascoisas, fez meus sites, divulga minha obra. Semprepreservei minha famíla. Tive duas coisas sagradasna vida, minha família e o cinema.Meu sítio, meu refúgioOnde sonho acordadoQuando menino eu ia passar as férias no sítio domeu avô, eu plantava, sempre gostei. Em 1984


Os filhos, Vânia e Fernando249


comprei uma área em Bom Jesus dos Perdões,perto de Atibaia. Fizemos a primeira casa, grande,com três dormitórios. Na época da construção,nós dormíamos no sítio da minha irmã queera próximo ao local. Depois fizemos outra casamaior, e essa primeira ficou para o caseiro. Chamamosas duas de Casa Grande & Senzala. Meuprimeiro caseiro foi o Sr. Augusto e hoje é o Sr.Altair, seu filho. Lá, desde 1969, mora tambémo Antonio Andrade, o Antonhão.250Ele é aposentado da prefeitura, vem para SãoPaulo somente para consultas médicas, mas logovolta, não gosta daqui. Ele foi meu cozinheiro efez ponta em vários dos meus filmes, papéis comrelativa importância.Meus tiosGrandes companheiros de minha vidaTive muitos tios, no total de 13, seis por parte depai: Joana, Cecílio, Antonio, Maneco, Dolores eAugustina; e sete por parte de mãe: Julia, MariaAngelina, Justina, Virginia, José e Manoel, todosfalecidos. Tio Maneco era o mais novo de todose por isso eu me identificava mais com ele. Sintomuito sua falta, uma pessoa muito alegre, solteirão,que morreu tragicamente na Rua AlfredoPujol, em Santana. Ali existia uma relojoaria e elefoi deixar seu relógio para consertar, mas acabou


Avós e tios na chácara do Imirim251assassinado por dois assaltantes. O japonês queera o dono ficou preso dentro do banheiro enada pôde fazer. Meu tio era muito forte e nãosabemos se ele reagiu ou não. Meu pai o esperavana rua de baixo. Aquilo foi um baque para afamí lia. Eu estava em Poços de Caldas filmandoEssas deliciosas mulheres quando recebi a notícia.Alguns tios meus por parte de mãe, ou melhor,casados com irmãs de minha mãe, eram donosde empresas nos bairros de Santana, Tucuruvi,Tremembé e Imirim. O filho de minha tia Joana,espa nhola, mais velha, Antonio Correia Pinto, oSaca dura, casou-se com minha irmã.


Os outros filhos, outros quatro, duas filhas e doisfilhos, ficaram solteiros, outra morreu pequena,não conheci.Meus irmãos e sobrinhosEntes queridos que sempre estiveram comigo252Como já disse no início, meus pais vieram de casamentosanteriores, eram viúvos, por isso herdeidois irmãos: por parte do meu pai, Heládio e porparte da minha mãe, Glória. Depois nasceu Odila,minha irmã por parte dos dois. Éramos entãoem quatro. Meu irmão Heládio teve três filhos,Heladinho, Roberto e Maria Helena. Heladinho éengenheiro e por sua vez teve dois filhos, Lizandrae Heládio; Roberto também é engenheiro eda mesma forma teve dois filhos, Pedro e Júlia;Maria Helena é professora e teve dois filhos,Luis e Patrícia. Minha outra irmã Glória tevedois filhos, Gilberto e Sérgio. Gilberto tornou-semontador, foi corredor de automóveis e hoje temuma camioneta de lanches, teve uma única filha,Elen. Sérgio é desenhista projetista e tem doisfilhos, Karina e Roberto, que é piloto profissional,brevetado. Minha irmã mais nova Odila nuncacasou-se, é professora aposentada, morava comminha mãe e hoje mora com três cachorrinhosno Jardim São Paulo. Está construindo uma casaem sua chácara em Atibaia.


A família de IgnezMinha outra famíliaMeus sogros eram Julieta Rossi Peixoto e MatusalémPeixoto, pessoas muito religiosas, tantoque colocaram nomes bíblicos em quase todosos filhos. Dos cunhados, Laura, Tarcila (que chamamosde Cila), José Nicodemus (o Zezinho, jáfalecido) e Matusalém Peixoto Filho, ou Nenê,o irmão mais novo da Ignez, pessoa por quemtenho a maior consideração, maior afinidade,embora goste de todos. Nenê é muito solícito,quando tem alguém doente na família ele largatudo e vai ajudar. Aconteceu comigo quando tiveo AVC e com outros membros da família. Ele temtrês filhos. Nenê era chefe eletricista da prefeiturae hoje é aposentado. Um batalhador.253Tenho muita consideração por ele. Sou muitograto pelo que fez por mim. De todos os sobrinhos,Mário é o que tenho mais afinidade, eletrabalha com aviação.Maria do Socorro Marques ou simplesmenteMa ria, nossa secretária do larMaria veio da Bahia aqui para casa ainda menina.Ela veio fazer um tratamento e trabalhava aquiem casa enquanto fazia o tratamento, isso já faz23 anos e ela mora com a gente, é como se fosse


da família. Pessoa de inteira confiança, não sóela como a família toda. Sua irmã mais velha éempregada de minha filha. Ela se preocupa muitocom os pais que moram na Bahia. Ela veio paracá ainda menor de idade e hoje tem mais de 40.Ela visita as irmãs, mas volta para dormir, ela nãosai daqui por nada.Meus cachorrosGrande paixão de minha vida254Eu tive uma cachorrinha que se chamva Pity, eviveu conosco 19 anos e dez meses. Ela faleceuquando eu tive o AVC. Era muito apegada comigoe morreu de velhice, já estava enxergando pouco,com catarata, mas sentimos muito quando elamorreu. Hoje tenho cinco cachorros, quatro nosítio e um aqui comigo. A que fica em São Paulochama-se Pepê. No sítio tenho Maria Alcina (elalate grosso), o Guga, a Nana, que eu chamo deBranquinha, é mestiça de boxer e a madre superiora,manda em todos os outros e a Dana.É a minha paixão por cachorros, que vem desdea infância, passando por Lobo, que eu já conteia história. Eles fazem parte de minha vida.


255


Capítulo XVMarinho, Palácios e CarlinhosMário Audrá Jr.Nosso querido chefeO chamávamos de Chefe. Era um grande homem,empreendedor, honesto, hábil negociador e porquenão dizer também, um sonhador. Idealizou umtipo de cinema de entretenimento mesmo, cinemade massa, cinema que pudesse chegar ao grandepúblico. Em parte, ele conseguiu, mas sucumbiujuntamente com tantos outros no final dos anos1950, com o fim do cinema dos grandes estúdiosno <strong>Brasil</strong>. Marinho Audrá não tinha nenhumaingerência nos filmes, no trabalho do Palácios,ele era o produtor, cuidava da parte burocrática,do dinheiro, da distribuição dos filmes, da vendapara o exterior. Marinho era um bom patrão, tantoque o considerávamos mais como amigo quecomo patrão. Com o final da Maristela, fundou aGrava-Som, que depois virou AIC e nossos contatosficaram mais escassos. Quando escreveu seu livrode memórias, em 1997, ajudei-o a revisar, lembreipassagens que ele havia esquecido.257Alfredo PaláciosMeu irmão mais velhoAlfredo Palácios foi meu irmão mais velho. Tantoé verdade que tinha mais liberdade com ele do


258que com meu próprio irmão. Trocávamos confidências.Nos conhecemos no rádio e seguimosnossas carreiras juntos, por muitas décadas. Tivemosmuitos desentendimentos, discussões, massempre por causa de outras pessoas; nós mesmos,sempre nos entendemos. Nós combinávamosporque ele era mais de planejamento e eu deexecução, formávamos uma dupla infernal deprodução. Palácios era um sonhador, vivia nummundo que não era dele. Eu sempre fui maispé-no-chão, vivi sempre a realidade. Paláciosera homem de relações públicas, tinha muitoscontatos, conhecia pessoas, eu era mais técnico,homem de produção mesmo. Talvez por isso noscompletássemos. Mas Palácios conhecia muitode produção, sabia como ninguém organizar aprodução de um filme. Ele estava sempre ligadoa órgãos de cinema, Concine, sindicatos, Embrafilme,e eu mais ligado na produção dos filmes.Em 1967, a partir da série Águias de fogo, seguimoscaminhos paralelos, mas estávamos semprejuntos, fizemos algumas parcerias nos anos 70.Ele e sua esposa Cibele foram meus padrinhosde casamento, depois, crismei um de seus filhos,Mário Sérgio. Era um homem calmo, de hábitossimples, de fácil trato. Palácios e eu éramos oshomens de confiança de Marinho, que sabia quequando a fita caía em nossa mão não tinha comonão ser concluída, íamos até o fim. Nenhum filme


Recebendo comenda de Fausto Rocha, ao lado de Paláciosnosso ficou inacabado, nenhum, tenho muitoorgu lho disso. No final, estive sempre com ele,conversávamos muito. Quando morreu, senticomo se tivesse perdido um irmão querido.259Carlos MirandaNosso braço direito, um grande amigoComeçou como pintor de paredes. Era funcionárioda Transportes Maristela, uma empresa dogrupo, sempre estava por lá, ajudando na produção,dirigindo uma camioneta, o tempo/matador,uma camioneta importada. Carlinhos era paupra toda obra. Depois iniciou conosco fazendocomerciais. Por acaso foi escolhido para ser o


260Vigilante e hoje digo que jamais encontraríamosoutro igual. O sucesso da série se deve muito aele, ao seu talento e força de vontade. Depoisfez uma bonita carreira na polícia. Aquela liçãoque ele pregava para as crianças na época doVigilante, em que o bem sempre vencia o mal,ele aplicou na prática, nas ruas, estradas, escolase por onde passava. Carlos trilhou o caminho dobem. O Vigilante deve muito a ele.


Capítulo XVIPensamentos, influências e consideraçõesgeraisPensamentosReflexões da vidaSempre tive facilidade em escrever, desde criança,escrevi histórias, roteiros, livros e tambémpensamentos, singelos, feitos em momentos depura introspecção, de revolta, de romantismo, deangústia, de alegria, enfim, momentos de minhavida, eis alguns deles:Dois pares de olhos não enxergam as mesmascoisas.261Se para superar nossos fracassos, tivéssemos queolhar para o passado, cairíamos no abismo dofuturo.Ao procurar a verdade, cada vez mais encontroa mentira.O homem é um dos pólos do universo. O difícilé saber qual!Quanto mais penso no futuro, mais gostaria deviver no passado!


Se ter um cérebro fosse prova de inteligência, atéque não seria ruim viver em nosso planeta .Quanto mais procuro entender Deus, menoscompreendo a humanidade.Se Deus tem no racional a sua suprema criação,co mo fica o racional que ao contrário do outro,é o único a manter a natureza como foi criadapor ele?!Quando vejo o que estão preparando para queo homem possa viver mais no futuro, sinto que avida fica cada vez mais curta no presente!262Ao pensar que se fosse analfabeto e ignorante,talvez até pudesse encontrar uma religião comfacilidade, fico pensando: talvez fosse interessantesermos todos ainda trogloditas.Deus foi quem criou a minha mente e fez dela ummicrocosmo! Então eu sou o próprio universo !Pai, sois o meu estímulo. Não posso sucumbirdiante de meus inimigos se ainda tenho forçaspara enfrentá­los. Ilumina o meu caminho paraque possa ver o rosto do meu opositor para combatê­loscom a arma que me deste: O Amor.Ao ver a chuva cair através da vidraça e correrpela sarjeta com violência; o vento com sua força


curvar arvoredo; os raios riscando os céu comoadagas de fogo cortando a tempestade; trovõesem rouca voz dando seu brado de alerta paratoda natureza; sinto que uma guerra interiorse inicia dominando todo o meu ser num gritoclamando por justiça em busca da liberdade, eno direito à vida. Nesse momento, trava­se abatalha no caudal de sangue a correr por todoo meu corpo, como as águas da chuva, com omesmo ar que aspiro e forma as tempestades, eoxigena o sangue que circula em meu corpo querepresenta a Vida! Pergunto: terei encontrado averdade que tanto procuro? Será que toda estaforça que sinto é o Deus?!Criar não seria tão difícil se todos tivessem inteligênciasuficiente para imaginar.263InfluênciasA convivência com feras do cinemaConheci grandes profissionais; com alguns nuncatrabalhei, como Humberto Mauro e Ruy Santos,mas admiro. Edgar <strong>Brasil</strong> era uma escola de cinema,nossa convivência foi pouca, mas muitointeressante. Mas minha grande influência mesmofoi a de Carlos Hugo Christensen, aliás muitomaior que a do Cavalcanti, mesmo porque comCavalcanti eu fazia produção e com Christensennão, eu era assistente de direção, estava mais


próximo a ele, mais ligado a ele e nas coisas queele fazia; assim, acabei levando muita coisa delecomigo, inclusive em algumas cenas do Vigilanteeu acabei usando essa influência. Outro diretorcom o qual aprendi muito foi o Hamza, diretorhúngaro que trabalhava na Maristela e tambémcom Adhemar Gonzaga.Enfim, esses foram meus mestres de direção dosanos 1950, que foi a década do meu aprendizado,tive a sorte de conviver com grandes profissionaise aprender muito com eles. Isso acabou formandominha base profissional.264Mário CivelliUm atrapalhado empreendedor, apaixonadopor cinemaMário Civelli conhecia muito de cinema mas eramegalomaníaco, não vivia no mundo real. Elefazia as coisas sempre maiores do que eram. Masera competente e um apaixonado por cinema. Naprimeira fase da Maristela, Civelli foi produtorgeral. Depois, convenceu Anthony Assunção afundar a Multifilmes. Quando cheguei à Maristela,Civelli não estava mais. Essas duas companhias,somadas à Vera Cruz, sucumbiram aindanos anos 1950. A Multifilmes produziu algunsfilmes, mas com pouco sucesso. Teve o mérito deproduzir o primeiro filme de ficção colorido no


<strong>Brasil</strong>, Destino em Apuros. Seus estúdios eram emMairiporã, depois virou a fábrica de instrumentosmusicais Werill, hoje nem sei o que existe lá. Civelliera muito amigo do Palácios.RádioamadorUma época interessante de minha vidaNos anos 1970 eu fui radioamador PY2 YankeeDelta Kilo YDK; fui sócio da Avabri, tive umafase boa, no fundo de casa fiz um charque, queera uma cabina de transmissão, com uma antenade vinte metros, controlada com motor, dedentro do charque eu controlava a antena. Eumesmo fazia a manutenção da antena em cimado telhado. O radioamador vivia inventandoantenas, mas no fundo eram sempre as mesmas.Os radioamadores não saiam de casa. Eu falavacom a África, Estados Unidos, Argentina, tinhaum Iaeso, que pegava todas as faixas. Um dia,entrei na roda e comecei a falar com o pessoalquando entrou uma mensagem da Paraíba, umpedido de socorro. Naquela época a telefonia eraprecária. Uma pessoa havia sido mordida por umcão hidrófobo e necessitava da vacina contra raiva,pois havia uma incompatibilidade de sanguena região e ele não conseguia a vacina e já estavapassando do tempo de tomá-la. Precisávamosconseguir a vacina com sangue humano. Issoaconteceu às 22h30 e eu fiquei a noite inteira me265


266comunicando com outros radioamadores paraconseguir a vacina. Naquela noite eu não dormi,às cinco horas da manhã eu estava no Butantãpegando a vacina. A Rádio Jovem Pan noticiouo fato. No Butantã já havia uma perua da FABcom um sargento, um soldado e um motorista,do Salvaero. Eles haviam captado o pedido ejá tinham disponibilizado um avião para levara vacina para a Paraíba. Entreguei a vacina aeles, e ela seguiu de avião fretado. Fui para casadescansar um pouco. À tarde recebi a notíciaque o soro havia sido trocado no Butantã. Novacorreria; fui falar com o professor que fabricava osoro e pelo rádio passava as instruções ao pessoalda Paraíba, para poder reaproveitar aquela vacina,para descompatibilizar o organismo dele aaceitar o soro. Indicamos um médico lá na regiãoe os radioamadores de lá cuidaram da questão.Com isso o rapaz foi salvo, graças aos radioamadores.Passado um tempo recebi um presente dosfamiliares, um quadro entalhado em madeiracom uma mensagem de agradecimento atrás. Oirmão do rapaz era diretor do Serviço Nacionalde Saúde da região. Mas é sempre bom ressaltarque o radioamador não salva vidas, ele presta umserviço e esse serviço ajuda, se necessário for, asalvar uma vida. Bom exemplo disso é o filme Setodos os homens do mundo / Si tours les gars dumond, França, 1955, do diretor Christian-Jaque.


O filme mostra a formação de uma cadeia de solidariedadepara salvar a tripulação de um naviofrancês, envenenada por comida. Este é o filmede todos os radioamadores, lá mostra o que umradioamador pode fazer pelo seu próximo. Fizum episódio no Águias inspirado nesse filme, ahistória de um avião que se perde e é encontradopelos radioamadores. Foi uma pequena homenagema esse belo filme.Meus filhos também eram radioamadores. Depoiscomeçou a vulgarizar o serviço com a faixado cidadão, a molecada colocava nos carros, asantenas interferiam na televisão, qualquer umtinha e perdeu um pouco o significado, entravampicaretas na linha e começavam a falar besteiras,gozação, perdeu o sentido. Aquele linguajarpróprio na verdade era uma codificação dosradioamadores, telegrafia, depois os jovens vulgarizaram.Com o aprimoramento da telefonia ehoje com a facilidade dos celulares, o rádioamadorvirou só bate-papo, distração, passatempo.Com isso, acabei vendendo todo o equipamento,mas foi uma interessante experiência.267A seguir, fiel transcrição da mensagem recebidado Sr. Clark, irmão do rapaz que foi salvo graçasaos radioamadores:


Ministério dos TransportesDNER – Departamento Nacional de Estradas deRodagem – Cruz Alta – RSAo amigo <strong>Ary</strong>, com o nosso reconhecimento, pelaprestimosidade de que fomos alvo, um souvenirque o lembrará de que nunca olvidaremos aajuda que nos deu em momento particularmenteaflitivo, nosso abraço,ClarkJoão Pessoa, PB, 21 de Setembro de 1978.268Cassiano EstevesQuando quase produzi Menino da porteiraConheci também o Cassiano Esteves, da MarteFilmes, depois ele entrou no ramo de telefonia,mas hoje não sei por onde anda. Eu me interesseiem produzir Menino da porteira. Conversei comSérgio Reis e pedi que falasse com Moracy doVal e Antonio Carlos Reale. A fita estava meioenrolada e me propus a entrar no negócio. Maseles já estavam fechados com Cassiano. Foi pena,pois essa fita tinha tudo a ver comigo, eu já haviafeito várias no gênero, entre elas o megassucessoMágoas de caboclo.Câmeras e negativosO segredo dos equipamentos e acessóriosNa Maristela, a câmera alemã Arriflex era usadapara pequenas tomadas, para segunda unidade,


cenas de rua, nada com atores, era uma câmeramais de reportagem, ao contrário da francesaSuper-Parvo, que era uma câmera mais pesada,parecia um caixote, era blimpada, tinha as paredesde chumbo para isolar o som e ruídos. Eusempre usei negativo de ponta como Kodak eDupont (norte-americanos), Gevaert (alemão) eFerrânia (italiano) em meus filmes. Eu chegueia usar o Orwo, que era um negativo russo, maisbarato, usado pela maioria dos diretores daboca-do-lixo, mas não gostei. Era mais barato,mas inferior. No Vigilante a gente procuravasempre começar e terminar o episódio com omesmo negativo, que era o aconselhável, masnem sempre isso era possível, e às vezes a gentemisturava negativo mesmo, principalmente nofinal, era uma questão de necessidade.269O fascínio pela produçãoFacilidades em conseguir objetos para produçãoNa produção, no <strong>Brasil</strong> não se segue uma regra ;por exemplo, na Maristela o Palácios seria o diretorgeral de produção eu o gerente de produçãoe depois vinham os auxiliares, não, não era assim,acabava misturando tudo, numa fita eu faziauma coisa, na outra fita fazia outra coisa, etc.No <strong>Brasil</strong> também existe uma confusão quandose fala em produtor. Na verdade, o produtor é


aquele que financia a fita e às vezes o indivíduoaparece com o título de produtor do filme, masna verdade ele é o produtor-executivo ou odiretor de produção. A forma como isso é colocadoaqui no <strong>Brasil</strong> confunde as pessoas e acabainvertendo as funções.270Em 1958, eu tinha cinco anos de experiênciaem produção e posso dizer que já sabia tudo.Sempre trabalhei muito, você não pode faltar nafilmagem, eu fazia cinema quase que seguido, eufazia muito filme, a produção do filme era umacoisa complicada, às vezes levava dois a três mesespreparando, então não sobrava tempo paranada. Arrumar as coisas para dentro do cenário,em um ano eu trabalhava no mínimo dez meses.Eu, modéstia à parte, era um técnico muito requisitado,disputado. Para trabalhar em produção,você precisa ter muitos amigos, conhecer muitagente, ter influência e principalmente ter credibilidade.Abaixo cito alguns exemplos disso, fatos queaconteceram comigo: Lustres Markocian, fábricae loja no Tremembé, na Av. Nova Cantareira, doisrapazes, Parnaque e Avediz, armênios, tambémcolaboraram muito comigo. Na Rua da Consolação,tinha uma loja de lustres chamada LustresLibanori, em que o dono, Sr. Antonio Libanorime ajudava muito. Quando eu fui falar com ele aprimeira vez ele não queria emprestar, porque o


Canal 5, que já era TV Globo não havia devolvidoum material emprestado. Havia um auxiliar deprodução na Globo, que era ator também, quepegou o material e não devolveu; eu fui atrás econsegui que devolvessem. Depois disso, o donoda loja, agradecido, colocou tudo o que tinha àminha disposição; Pedro Cury, um libanês, eradono de uma loja de tecidos na rua 25 de Março, oque eu pedia ele mandava, vestimentas, alaúdes,etc.; Moacir Gava tinha uma loja de presentes eme ajudava; A Casa Salete era uma papelaria antigae famosa no bairro de Santana, desde meninocomprava lá, o dono era o Sr. José Conforto, já umsenhor de idade na época. Depois ele passou a meajudar nas fitas; o Sr. Paulo era um comercianteque gostava de cinema. Um dia fui à casa de suasogra e fiquei espantado com as antigüidades queela tinha, não me contive e disse a ela que a genteque militava em cinema, na produção, quando iana casa de alguém, ficava reparando, para ver oque poderia servir como cenário, era engraçado,mas era assim que funcionava. Tudo que eu pegavaemprestado eu anotava para depois devolverdireitinho. Quando quebrava a gente repunhada mesma forma. No filme Mulher de verdadehavia uma sala de julgamento com um abajurgrande central e tinha uma pedra de alabastroembaixo, tínhamos feito uma réplica do tribunal.O suporte quebrou e essa pedra caiu, tivemos que271


272pagar, eu ficava em cima dessas coisas. Tinha umafábrica de pianos que se chamava Schwartzman,ficava na Rua Francisco Matarazzo e era muitotradicional em São Paulo. Fui falar com o MarcosSchwartzman, um dos filhos do dono. Acerteium contrato com ele que nem o Marinho Audráacreditava, ele me forneceria todos os pianosque eu precisasse, colocavam dentro do estúdio,mandavam um afinador, custo zero, apenas colocarianos créditos o agradecimento à empresa.Eles conseguiam inclusive outras marcas, pianosimportados, de acordo com o que a cena pedisse.Qualquer fita da Maristela você pode olhar evai ver que os pianos eram todos Schwartzman.O sistema de som dos filmes da Maristela eramWestern-Eletric e os da Vera Cruz eram RCA.Nos créditos aparecia: Western­Eletric – PianosSchwartzman.Vera CruzO sonho paraleloQuando ingressei na Maristela a Vera Cruz estavaa todo vapor, todos queriam trabalhar lá, mas,em 1954 ela fechou suas portas. Nesse momentoa Maristela estava em plena atividade, e todomundo ficou assustado, mas os riscos da Maristelaeram menores, pois os custos de produção dosseus filmes eram muito mais baixos que os da VeraCruz. A Maristela, de certa forma, imitava mais o


cinema carioca, com filmes populares, musicais,etc. Depois, em 1956/7, trabalhei na Vera Cruz emsua segunda fase, já como <strong>Brasil</strong> Filmes, no filmePaixão de gaúcho, e ainda tive oportunidade deconhecer alguns lendários profissionais remanescentescomo Chick Fowle, Pierino Massenzi, JackLowin, Jerry Fletcher, entre tantos outros. Em1959 todos os estúdios haviam fechado, estavaencerrada uma fase do cinema brasileiro.AviaçãoUm sonho de infânciaAli onde eu morava tinha um campo de aviaçãono fim da rua, o Campo de Marte, e dentro umaeroclube, era um barracão, com sobras, inclusiveaviões militares da Revolução Constitucionalistade 1932, eu já tinha um ano e pouco quandoestourou a revolução constitucionalista. Eu viaos biplanos aterrisarem no campo. No Campo deMarte eles treinavam pára-quedismo, tinham ostirantes de pára-quedas presos no hangar queprendiam os pilotos, e os sujeitos praticavam.Como garotinho (sete ou oito anos) eu ficavaolhan do, e naquele momento eu senti vontadede ser aviador, sempre que apareciam aviões eucor ria para vê-los pousando. Certa ocasião construium avião de madeira, com uma barrica e ficavabrincando de aviador o dia todo. Eu sempre quisfazer curso de piloto, mas não conseguia achar273


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tempo, conciliar com minhas atividades. Depois,em 1961, fiz curso de piloto, tirei o brevê e começeia voar, com monomotores Cap-4 e P-56, masjá havia os bimotores. A autonomia do avião erapara quatro horas e meia. Normalmente o maiorproblema é a decolagem e a aterrisagem, no ar émais fácil. O pessoal da Control, que fabricou osrádios transmissores que foram utilizados no Simcado Vigilante, Eribaldo e Marcos Vilares, tinhamum avião Bonanza e eu passei a voar com eles,íamos para o Mato Grosso, Santa Catarina, BeloHorizonte, durante a série e depois. Depois queme brevetei, meu instrutor passou a ser o Farias.Amigos como Flamarion, Costinha, Jeferson eeu foram indicados para a empresa Líder TáxiAéreo, na função de co-pilotos nos jatos. Eu nãopude aceitar, pois estava fazendo o Vigilante,mas alguns tornaram-se comandantes internacionaisda Varig e Vasp. Depois que eu parei devoar, no final dos anos 80, e não voltei mais aocampo, digo que o cheiro da gasolina me fazmal, mas no sentido inverso, pois sempre gosteidemais de voar, gastei muito dinheiro com isso,eu voava 15/16 horas por mês, eu pagava, vejahoje quanto custaria isso. Eu cheguei a dar aulasde vôo, alguns alunos meus chegaram a pilotarlinhas internacionais pela Transbrasil. Até hoje eugosto, quando estou no meu sítio em Bom Jesus275


276dos Perdões, perto de Atibaia, passam os aviõese eu fico olhando, admirando, me dá saudades.Hoje não posso mais voar, além da idade, o problemaque eu tive me impede, é perigoso, podeacontecer alguma coisa lá em cima. Dois sobrinhosmeus tornaram-se pilotos também. Voar semprefoi uma tremenda terapia para mim. Eu dizia quequando eu voava, estava em cima, deixava osproblemas embaixo e quando eu estava embaixo,deixava os problemas lá em cima. Algumas históriassobre minha época de aviação: Certa ocasiãofui até Jundiaí, peguei um avião e voei para Itu.Na volta, um rebatedor fez reflexo e percebi quehaviam pessoas filmando lá em baixo, dei a volta,fiz um razante. O pessoal fazia sinal para mim,eu achava que era um cumprimento, um aceno,depois soube que eles estavam pedindo para eume afastar, pois o filme era feito com som diretoe o barulho do avião não os deixava filmar, acabeiatrapalhando sem querer. Descobri depois queera Mazzaropi filmando Casinha pequenina. Achoque ele nunca soube que era eu; uma outra veztive uma pane de decolagem, o vento forte começoume empurrar por cima da pista. Havia unseucaliptos e eu joguei o avião para os eucaliptos,mas consegui pousar antes num monte de terra.Descobri que era um defeito nos magnéticos doavião; outra vez fui para Santa Catarina, na volta,o tempo estava aberto. Mas o tempo começou a


mudar, perto de Paranaguá, tudo fechado, eu nãoenxergava nada. Fui voando baixo para enxergaralgum lugar para pousar. Acabei pousando naPraia Grande e ninguém acreditava que estavavindo de Santa Catarina; vinha do Rio de Janeirojunto com o comandante do IV Comando Aéreoe estourou um cilindro, na Vila Maria. Conseguipousar no IV Comar, na região do Ipiranga; noseriado Águias de fogo voei com B-25, helicópteros,caças a jato P-33, neste último juntamentecom o major. A velocidade é fantástica; no B-25,estávamos filmando em cima de Cubatão. O PennaFilho tinha pavor de avião. Uma coisa começoua bater na lateral do avião, mas era um cabo deantena que soltou e batia na lateral, o Pennaficou travado na poltrona; outra vez, filmandocom um helicóptero, numa curva, a porta abriue Peninha ficou apavorado, achando que ia cair.Tive que sair do comando e ir fechar a porta parao Peninha se acalmar.277Disse ao Brucutu (comandante amigo nosso) parafazer a curva ao contrário para eu poder fechara porta. Ninguém conseguia tirá-lo de lá, eletravou; uma vez fui levar a dupla Pedro Bento eZé da Estrada até Cassilândia, no Mato Grosso,para um show. Fiquei esperando, fui num dia evoltei no dia seguinte. O avião era fretado de umaeroclube de São Paulo e cabiam quatro pessoas,


a dupla, um sanfoneiro e eu. Não cobrei nada,fiz de favor ao amigo Zé da Estrada.278Eu queria ter um avião meu, para ajudar-me nodia-a-dia, além de eu gostar muito, ele seria útilna minha profissão. Eu não podia viver de aviação,mas poderia fazer algumas viagens fretadas,uns bicos e ganhar uns trocados. Quando estávamosindo filmar no Paraná, ainda em São Paulo,apareceu um avião para eu comprar. Não estavacaro, era um avião usado, mas em bom estado.Conversei com meu pai, que tinha economias eme ofereceu o dinheiro emprestado. Eu entãocombinei o preço com a pessoa. No dia seguinteeu levei o dinheiro, coisa em torno de 500 milcruzeiros. Encontrei o Diomar, um amigo meu,piloto, que já havia trabalhado num episódio doVigilante. Diomar me disse que a pessoa não iamais fazer negócio comigo, fiquei louco de raiva,dei um chute no pneu do avião, etc. Seguimospara o Paraná de carro e a Lola Brah foi junto.Comentei com ela que era para estarmos indode avião. A Lola me disse: O que tem que serseu será, ninguém vai tirar, esse avião não erapara ser seu. Alguns dias depois, de volta a SãoPaulo, vi num jornal a manchete: Avião cai emSorocaba e morrem quatro pessoas, na foto, vique o prefixo era o do avião que eu ia comprar.Fui no Campo de Marte e confirmei o fato. Por


três vezes, o destino desviou a morte do meucaminho: a primeira com Edgar <strong>Brasil</strong>, a segundacom Marinho no acidente em Arara vermelha eesta agora do avião.279Roberto SantosO amigo dos velhos temposEm 1958, eu estava trabalhando na Maristela eo Roberto Santos, que era meu amigo, me pediupara ajudar na produção do seu primeiro filme,O grande momento; ajudei bastante, mas meunome não foi creditado, eu mesmo pedi, apenasajudei porque ele era meu amigo. Naquela épocaestávamos começando, éramos jovens idealistase muito unidos, nos ajudávamos mutua mente.Quando um estava fazendo uma fita, o outro


ia ajudá-lo. Então fui ajudar o Roberto no seuprimeiro filme. Hoje é cada um pra si. O meusobrinho, Gilberto Wagner, que se tornou montador,fez uma pontinha como um garotinho.Gilberto era filho de minha irmã Glória, eucoloquei ele como auxiliar do Luiz Elias, meumontador. Ele começou no seriado Águias defogo e fez muitas fitas comigo e também paraoutros diretores, tornou-se um bom montador.Acabei trabalhando com Roberto também muitosanos depois em Quincas Borba, seu último filme;coincidentemente trabalhei com ele no primeiroe no último filme.280Grande OteloUm exemplo de atorEu sempre gostei muito do Grande Otelo, eleera fantástico, meu ator preferido, sua atuaçãono filme Amei um Bicheiro, de 1953, em que elemorre asfixiado por gás não sai da minha cabeçaaté hoje. Eu estava sentado no cinema vendo essacena e quando ele morreu, eu me senti asfixiadona poltrona do cinema.GalanteUm produtor da Boca­do­LixoAntonio Polo Galante também começou suacar rei ra na Maristela, era raspador de trainéis,


pai néis feitos para montar cenários. Depois foiaju dante de eletricista e eletricista.Quando a Maristela fechou, ele passou a comprare vender equipamentos de cinema. Tornou-seprodutor nos anos 60. Na época do seriadoÁguias de fogo, Galante me chamou para ser seusócio. Eu teria que entrar com 12 mil cruzeiros. Eutopei, então combinamos as bases do negócio. OPalácios estava afastado do cinema, mas queriavoltar. Indiquei então o Palácios para a sociedadecom o Galante e eu sai. Eles acabaram fazendovárias fitas juntos.Coincidências com o número trêsPara refletir281Eu nasci no dia 31/3/1931, numa casa de número3, às 13 horas, numa terceira travessa, a Sandreschi,à esquerda da rua dr. César. Quando casei-metive 3 dependentes. Quando comprei a casa ondemoro ela tinha o número 185. No dia da mudançao número mudou para 313. O número 3 sempreme acompanhou, em toda a minha vida.O cigarroUm mal que carreguei por 30 anosComeçei a fumar com 16 anos, antes mesmode entrar no rádio. Eu era fumante inveterado,


282fumei muitas marcas, até importados, mas gostavamesmo do Minister. Sempre fumei cigarrobom, mas acho que era mais para fazer presença.Com Edgar <strong>Brasil</strong> aprendi a fumar cachimbo,mas não me adaptei, dei meus cachimbos ingleses,novos ainda, para o Mané, meu dentista.Em 1977, quando Egydio Eccio morreu, MaracyMello, sua esposa, ligou para mim de madrugadapara avisar, fui a primeira pessoa a saber. Na horanão acreditei direito. O Egydio fumava bastante,tinha os dedos amarelados de nicotina, coisa quenunca aconteceu comigo. Fomos ao enterro, umasituação difícil, triste, era um domingo. Depois damissa de sétimo dia, sai da igreja juntamente comRoberto Murtinho, primo de Ana Maria Murtinhoe viemos para meu escritório. Fui acender umcigarro e falei: “Esta porcaria acelerou a mortedo Egydio.” Com raiva, amassei a carteira decigarros e joguei no lixo. Roberto fez a mesmacoisa. Desde então, nunca mais botei um cigarrona boca. Fui fumante por 40 anos, hoje não sintofalta nenhuma.


Capítulo XVIIO balanço de uma carreira vitoriosa – 2006O cinema é fascinante e ao mesmo tempotraiçoei ro, na medida que nunca sabemos se umfilme vai dar certo ou não; quando achamos quenão vai dar nada a fita estoura, quando achamosque a fita vai estourar ela fracassa, então, é impossívelfazer prognósticos em cinema, eu sempredigo que o difícil não é acertar na primeirafita, mas sim na segunda. Do cinema guardo umamágoa: o esquecimento das pessoas. A distribuiçãode valores é injusta, muitas vezes pessoasque pouco fizeram são glorificadas e outras querealizaram muito, ou um pouco mais, não são valorizadas,muito menos lembradas. Já aconteceucom outros amigos, está acontecendo comigo eacontecerá com outros no futuro. É assim quefunciona. Se pequei foi por excesso, nunca poromissão. Quando eu comecei em cinema, falávamosem veteranos, eu via homens importantesdo cinema no <strong>Brasil</strong>, em fins de carreira, comoFelipe Ricci, fazendo letras para filmar, cartazesde letreiros, com aquelas câmeras antigas. Atoresda época riam, zombavam, mas eu semprerespeitei. Hoje o veterano sou eu. Eu dirigi meuúltimo filme em 1983, com 52 anos de idade,eu era jovem demais, estava maduro, pronto, e283


284não conseguia mais fazer nada. Eu fui produtorà moda antiga, produtor de verdade, aqueleque botava dinheiro do bolso, corria riscos, hojeninguém faz isso mais, se um filme não for bemde bilheteria, financeiramente para o diretor éindiferente, ele já ganhou o dele. Isso quandoo filme é feito, pois sabemos de casos em queo dinheiro é captado e o filme nem chega a serconcluído. Os donos de cinema eram exibidores,pouco se importavam com os produtores, o queimportava é que a fita fosse bem de bilheteria.Hoje eu faria muita coisa diferente, fui muitoinocente em alguns aspectos, talvez tenha mefaltado um pouco de profissionalismo no sentidode lidar com o negócio, eu deveria ter sidomais duro, mais comerciante, fui sempre poeta,sonhador; mas sou um pioneiro, considero-meum pioneiro, fiz a primeira série de televisão no<strong>Brasil</strong>, e isso tem seu valor. Eu espero que esse livropossa trazer para as pessoas um pouco do quefiz, ou tentei fazer em prol do cinema brasileiro.Deixo minha homenagem especial ao produtor/diretor/ator Anselmo Duar te. Ajudei-o a fazerseu primeiro filme, um documentário chamadoFazendo cinema, feito com sobras de negativodo filme Arara vermelha. Depois fez vitoriosacarreira, mas hoje também está esquecido. Aele e a todos os veteranos do cinema, deixo meurespeito.


Capítulo XVIIIDepoimentosAlfredo SternheimDiretor e crítico de cinema, 64 anos, dirigiu para<strong>Ary</strong> o filme O anjo loiroQuando conheci <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong> eu já estava nocinema, havia sido assistente de direção de WalterHugo Khouri em 1963/64 e freqüentava aBoca-do-Lixo. Ali conheci <strong>Ary</strong>, em papos de bar,conhecia-o como o criador do Vigilante rodoviário.A nossa relação sempre foi simpática, amável,sempre nos demos muito bem, no Soberano e emoutros bares. Depois <strong>Ary</strong> se associou a Elias A. CuryFº e juntos fundaram a Brasecran. Nessa época,me convidaram para dirigir meu segundo longa,O anjo loiro. <strong>Ary</strong> foi o produtor-executivo do filme,então tivemos um contato direto e estreitodurante 90 dias, entre preparação e filmagem.Nosso relacionamento foi o melhor possível. <strong>Ary</strong>tem um ótimo temperamento para se trabalhar,é um ótimo profissional. Não era um filme fácil deprodução executiva, tinha muitos ambientes, colégio,teatro, um elenco grande (quase 20 atores).A escolha dos atores foi minha e do <strong>Ary</strong>, fizemosem conjunto. Nesse filme pude perceber toda abagagem profissional do <strong>Ary</strong>, primeiro na Maristela,depois nas duas séries que dirigiu. O nome285


286do filme era para ser Anjo Devasso, mas a censuranão permitiu, então mudamos para Anjo Loiro.A atriz principal era para ser Adriana Prieto, quechegou a assinar contrato, mas depois desistiu,alegando que não queria mais filmar nua, etc. Fiqueisabendo que depois ela se arrependeu. VeraFischer foi então chamada para fazer o filme,ela que já havia feito um filme, Sinal vermelho,as Fêmeas , dirigido por Fauzi Mansur. Falei comVera por telefone, eu não tinha referências pessoaisdela, mandei o roteiro pelo correio, depoisfalei com ela pessoalmente no dia em que assinouo contrato. Foram 33 dias de filmagem maravilhosos,dos mais tranqüilos, Vera foi um doce depessoa, não deu nenhum trabalho, era pontual,disciplinada, ao contrário do que diziam. O atorprincipal era para ser Francisco Cuoco, que leu oroteiro, topou, mas sua esposa não deixou queele fizesse o papel, quando ficou sabendo queele contracenaria com atrizes nuas. Ele foi substituídopor Mário Benvenutti. Depois o filme foiproibido, eu quase fui preso, o filme foi cortadono negativo, única coisa que não concordei com<strong>Ary</strong>, achava que não devíamos ter feito aquilo.Uma das cenas foi filmada na casa do <strong>Ary</strong>, umjogo de buraco, com Mário Benvenutti, LianaDuval, Linneu Dias e uma jovem atriz chamadaGracinda <strong>Fernandes</strong>. Foi um filme agradável deser feito. Ele foi problemático antes da filmagem


(problemas já citados com escolha de atores) edepois da filmagem (proibição da Censura). Depoisdo filme cada um seguiu seu caminho e nãotrabalhamos mais juntos, por razões ocasionais,circunstanciais, falta de oportunidade mesmo.<strong>Ary</strong> representa um típico profissional da Boca-do-Lixo, mas no bom sentido da palavra, aquele quefez sua carreira galgando cargos. Ele é um exemplo,um protótipo do bom profissional do cinema.Nossa imprensa, salvo raras exceções, é preguiçosa,cai na mesmice, não procura rever ou buscar gentedo passado, não tem capacidade de pesquisar opassado, não se dá a esse trabalho; então nossoscríticos, quando têm que se referir ao cinema norteamericano,Hollywood, vem tudo pronto, têm naInternet, mas quando têm que falar sobre cinemabrasileiro, se eles não têm bibliografia pronta, nãose dão ao trabalho de pesquisar. Parte do esquecimentodos grandes personagens do cinema brasileirose dá por preguiça dos jornalistas, que não seinteressam em pesquisar. No caso do <strong>Ary</strong>, ainda temum outro agravante: o estigma da Boca-do-Lixo, ouseja, as pessoas que fizeram cinema naquela regiãoficaram marginalizadas, estigmatizadas, mas achoque agora, com todos esses livros que estão sendofeitos, essa imagem será mudada.287Entrevista concedida em sua residência,em São Paulo, no dia 15/6/05


Carlos MartiCineasta, publicitário e designer gráfico, 71 anos,trabalhou com <strong>Ary</strong> no piloto da série Vigilanterodoviário288Cheguei ao <strong>Brasil</strong>, mais precisamente a São Paulo,em 1954, no ano das comemorações do IV Centenário.Eu era um garoto de 19 anos. Em 1957fui trabalhar num estúdio pequeno chamadoCinderela Filmes, que ficava na Rua Pedroso, nobairro da Liberdade. Eles estavam terminando deproduzir o filme Um marido para três mulheres,que depois passou a chamar-se Marido barralimpa. Eu fiz toda a parte publicitária, cartaz, folhetos,inerente à divulgação do filme. Depois oestúdio foi vendido para Jacob Mathor, que nãousava para nada, apenas emprestava ou alugavapara outras pessoas. Nessa época fizemos o filmeSexo e Vida, dirigido por Henrique Maia. Eu fiza cenografia e parte de animação do filme. Eraum semidocumentário que mostrava as doençassexuais e como eram transmitidas, a gravidez, ostipos de parto, um filme polêmico para a época,inclusive com cenas de uma mulher menstruando.No lançamento, no Cine Áurea, na Rua Aurora,foram feitas seções para homens e para mulheres,separadamente. Depois participei de A mulherpantera do Mato Grosso, filme de Konstantin Tkaczenko,no qual fiz a cenografia e a maquiagem ,


já que o maquiador sumiu no segundo dia defilmagem e, em seguida, Lá no meu sertão, comTonico e Tinoco, onde fiz a cenografia e assistênciade produção. Mas, voltando um pouco,em 1959, Jacob emprestou seu estúdio para <strong>Ary</strong><strong>Fernandes</strong> e Alfredo Palácios fazerem comerciais.Em São Paulo quase não havia equipamentos detrucagem, para filmar letreiros, etc. Um dos poucosque possuía esse equipamento era o Estú dioBandeirantes, de propriedade de Adhemar deBarros e que ficava na Rua Fortaleza. <strong>Ary</strong>, muitocurioso e interessado como eu, resolveu montaruma máquina. De posse de uma revista norteamericana,começamos a montar a máquina, compedaços de ferro, roscas sem fim, parafusos, montamosa mesa, que funcionava com motor. A câmeraera uma Super-Parvo, caixa de madeira, ano1925. A mola de puxar o filme estava gasta e nãohavia como substituir a peça. Resolvi o problemacom um palito de fósforo usado como calço. Comesses equipamentos fizemos muitos trabalhospublicitários. Nessa época surgiu a idéia da sérieO patrulheiro, depois Vigilante rodoviá rio. Ajudeia produzir o primeiro capítulo, o pilo to, que sechamava O diamante gran­mogol. Nesse episódiofiz cenografia, contra-regra, produ ção, carregueicâmeras, dei idéias no roteiro, etc. Existia muitaunião entre todos da equipe, não ganhávamosnada, mas existia amor à arte. Não existia estre-289


lismo na equipe, nem do <strong>Ary</strong>, que era o diretor,ele era o primeiro a carregar uma bateria, umtripé, um refletor, etc. Éramos todos amigos, comcada um fazendo seu trabalho e mais um pouco.O Gran­mongol existia mesmo, era o maiordiamante do mundo. Fui na joalheria H.Sternpedir para fazer uma réplica do diamante, ondefui prontamente atendido; fizeram uma peça decristal, esculpida, uma perfeição. Fui ao jornalÚltima Hora e pedi para imprimirem mancheteRoubo do Gran­mogol. Após a impressão dojornal do dia, fizeram a manchete e imprimirampara nós usarmos no filme.290Hoje você faz uma capa de jornal no computador,mas na época não, era tudo manual mesmo.Sobre vivíamos com comerciais, algum documentáriode vez em quando, mas o sofrimentomesmo era na hora do almoço, era macarronadatodo dia, pedíamos os condimentos emprestadosaos vizinhos. A cozinha do estúdio era no quintal,não existia fogão, era com tijolo, pedacinhosde cenário. Os pratos eram as latas de filme.Lembro-me de um figurante chamado Elvis quehavia chegado naquele dia e pegou por enganouma lata de 600 metros e encheu de macarrão;no final, todo mundo terminou e ele ainda ficoucomendo, chegando a passar mal de tanto macarrãoque comeu.


O cachorro era um caso a parte, Luiz Afonso, seudono, fazia sempre o dublê nas cenas de brigacom ele, pois já estava acostumado com o mesmo.O Lobo se adaptou muito bem com a equipe, erainteligente, aprendia depressa as cenas, comohavia pouco negativo, não se podia errar muito,então tinha muito ensaio. Íamos a um quartoescuro e colocávamos uma ponta no negativopara não perder nada. Para mim foi bom porquedepois, quando fui dirigir comerciais, eu nãogastava negativo e o pessoal até estranhava, maseu estava habituado com aquilo. Me davam duaslatas e eu fazia o comercial com meia lata.Todo mundo sofria com a TPM, ou Tensão prémontagem.Todos ficávamos apreensivos parasaber se tudo estava em ordem para a edição.291Foram meses de sacrifício e de alegria, ninguémse preocupava com a falta de dinheiro e simem terminar o filme. <strong>Ary</strong> também era muitobrincalhão. No estúdio tinha um artista de circochamado Eddio Smanio, um homem enormeque rasgava listas de telefone, chamado de Tarzanbrasileiro. Ele não tinha para onde ir e <strong>Ary</strong>deixou-o dormir no estúdio. Ele saia do circo e iapara lá dormir, mas era muito medroso, mesmocom aquele tamanho todo e vivia dizendo que láhavia fantasmas. <strong>Ary</strong> resolveu então pregar-lheuma peça e gravou numa fita ruídos de passos


caminhando no assoalho, uivos, portas abrindo,rangendo, correntes arrastando, ferramentasmexendo. O gravador ficou pronto para funcionar.Quando Eddio chegou, ficamos escondidos,enquanto ele tomava banho ligamos o gravadore fomos embora. No dia seguinte nós o encontramossentado na calçada, ele havia dormido narua de tanto medo.292Nesse meio tempo, <strong>Ary</strong> me procurou e pediuque eu criasse um símbolo para a série, algoque tivesse uma estrada e uma asa, para sugerira agilidade do Vigilante. Fiz várias artes e umadelas foi escolhida e acabou se tornando a marcaregistrada da série, sendo pintada nos carros Simca,farda, etc. Muita gente até hoje pensa queaquele logo era da rodoviária mesmo.Numa tomada na Via Anchieta, a pista foi fechadapara poder fazer a tomada com mais segurança.A cena mostrava o inspetor Carlos parandoum carro com meliantes, mas, com suspeitas elecoloca a mão no coldre, percebendo que estádesarmado.O motorista abre a porta e derruba Carlos nochão. <strong>Ary</strong> diz corta e Carlos fica no chão descansando.A estrada foi aberta e os carros começarama circular. Passa uma senhora idosa numvelho Ford e vê o policial estatelado no chão e


pergunta ao <strong>Ary</strong> o que estava acontecendo. <strong>Ary</strong>responde, não foi nada, morreram somente cincodesta vez. A senhora faz o sinal da cruz, entra nocarro e vai embora. Todos caem na gargalhada.O cabo Pitanga era um motorista meio malucoda Polícia Rodoviária e estava sempre comigona produção. Fomos filmar em Santos e, após asfilmagens, os carros da equipe foram embora enós carregamos os equipamentos num jeep e fomosembora também, mas um pouco atrasados.Quando chegamos a Cubatão dei falta de umamala, voltamos então para Santos, pegamos amala e fomos embora, mas o Cabo Pitanga veiona contramão da Anchieta, com a sirene ligada.Resultado: chegamos na Cinderela Filmes, naRua Pedroso, dez minutos antes que a equipe.Chamávamos Pitanga de o aviador mais rápidoda Polícia Rodoviária.293Numa outra ocasião, estávamos na estrada. Pitangaouve no rádio que um veículo havia batidonum carro e atropelado uma pessoa no bairrodo Sacomã, no Ipiranga. Pitanga deu meia voltae saiu que nem louco com a viatura e, por causade marcas deixadas no carro avariado, conseguiulocalizar e prender o agressor. Ou seja, mesmofilmando, a Polícia Rodoviária funcionava deverdade.


Mesmo participando somente do piloto, tenhomuitas histórias para contar. Quando houve ocontrato com a Nestlé eu fui chamado, mas nãopude participar pois estava às vésperas de mecasar. <strong>Ary</strong> me apresentou à agência McCannErickson, que detinha a conta dos chocolatesDulcora e estavam precisando de um produtor decomerciais. Achei melhor não arriscar, mas hojeeu me arrependo, sinto muito não ter participadode toda a série.294Depois, em 1962, fiz um documentário paraEstrada de Ferro Santos-Jundiaí, sobre o lançamentoda primeira locomotiva diesel fabricadapela General Eletric. Nessa época, a Cinderelaera de propriedade de João e Amanda Lopes,produtores de dois filmes com Tonico e Tinoco, Láno meu sertão e Obrigado a matar. A produtoramandou um cinegrafista novato para Campinaspara fazer um filme de um minuto. João Lopespediu para eu ir junto acompanhar, para nãocorrer riscos. Ao final, procurei o governadorCarvalho Pinto e disse que já havíamos filmado,que o material estava muito bom, mas era umapena um assunto tão importante ter apenas umminuto de duração, deveria ter 10, 20, 30, umahora de duração. Ele me perguntou quanto custariauma hora de filme, fiz um cálculo rápido epassei o preço, ele aceitou na hora, pediu para


fazer o contrato. Liguei para São Paulo e pedioutra câmera, mais negativo e dinheiro, poishavia fechado um contrato com o governo, todosficaram muito satisfeitos. Eu fiquei quase ummês filmando, em 35 mm, Cinemascope, todaa Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, cidade porcidade, em cada estação que o trem parava, eudescia, filmava, mostrava a estação, o movimentoda estrada de ferro, alguns aspectos da cidade,etc. O dinheiro e os negativos chegavam pelotrem mesmo. Terminamos o filme e entregamosao governo, mas o filme nunca foi exibido emcinemas, era somente para uso interno.Em 1964, fiz Quarto de milha, documentário,produ ção minha, com 40 minutos, sobre o famosocavalo, inclusive filmei o primeiro parto deum cavalo quarto de milha nacional, pois naépo ca todos eram importados. Pela Associaçãodos Criadores de Cavalos Quarto de Milha eupassei a acompanhar todos os eventos, interiorafora. O filme também era para uso interno, nãochegando a ser exibido em cinemas.295Em 1965, colaborei também com um documentáriosobre a visita da esquadra japonesa ao <strong>Brasil</strong>.O comandante da esquadra era o atual imperadordo Japão, o príncipe Akiito. No Ibirapuerahavia três equipes de filmagem, e eu fazia partede uma delas. O filme era em 16 mm. Numa das


296tomadas, me empolguei com as tropas vindo naavenida e fui filmando, me abaixando e quandopercebi estava deitado no chão. Nesse instanteoutra tropa que vinha por trás passou por cimade mim, fiquei quieto, sem me mexer, com muitomedo. O produtor era japonês e foi contratadopelo Consulado. Tínhamos a programação doque ia ser feito, já sabíamos, antes até da imprensa,o que a esquadra ia fazer, seu roteiro.Nossa equipe foi convidada para almoçar como príncipe, mas fomos proibidos de filmar. Fiztambém muita capa de revista em quadrinhos,a produção era alucinante, na base de uma pordia. Certa ocasião, quando estava na McCannErickson, fui procurado por Galileu Garcia, queme propôs que eu dirigisse um comercial, ao invésde produzi-lo. Fiz então meu debut na direção,num comercial das Casas Eduardo, que só comercializavacalçados femininos. A primeira tomadafoi fácil, mas na segunda tomada eu não sabia oque fazer, depois as coisas foram acontecendo.Produzi e dirigi mais de mil comerciais, inclusiveo primeiro feito pela atriz Regina Duarte, para aFrigidaire. Ela era menor de idade, com quatorze/quinze anos e não podia receber o cachê, seuspais tiveram que assinar o contrato.Então, nunca mais trabalhei com <strong>Ary</strong>, fiquei maisde vinte anos sem vê-lo, mas em 2004 encon-


trei-o no SESC Ipiranga, quando lá fizeram umahomenagem a ele e ao Carlos Miranda. Quandome viu, me reconheceu na hora, foi uma alegriaenorme rever o velho amigo. <strong>Ary</strong> sempre foimuito correto, bom caráter, honesto, não tinhapreconceito de nada, era humilde, ouvia palpitese sugestões de todos os membros da equipe, nãoera aquele diretor autoritário que dizia: “Aquiquem manda sou eu”, não, <strong>Ary</strong> era diferente.Guardo boas lembranças dele, aprendi muito,gostava muito de conversar com ele, captar suasexperiências.Entrevista concedida em sua residência,em São Paulo, no dia 15/6/05Carlos Roberto Rodrigues de SouzaDiretor da Cinemateca <strong>Brasil</strong>eira, 56 Anos,respon sável pela recuperação das matrizes doVigilante rodoviário297Formei-me em cinema pela Escola de Comunicaçõese Artes da USP em 1972, com Mestradoem Artes com a dissertação Uma Hollywoodbrasileira – o cinema em Campinas nos anos 20 edoutorando em Estética da Comunicação Visualcom o projeto A preservação de filmes no <strong>Brasil</strong>.Trabalho na Cinemateca <strong>Brasil</strong>eira desde 1975,tendo participado da reativação da entidadeapós uma crise de dez anos e transformandoa Cinemateca, ao longo de três décadas, na


instituição que é hoje o mais importante arquivode filmes da América Latina. Após diversos cargoslá ocupados, hoje responsabilizo-me pelo acervode imagens em movimento. Em 1998 publiquei olivro Nossa Aventura na Tela, pela Cultura Editores,SP, além de ter publicado diversos artigos emjornais e revistas no <strong>Brasil</strong> e no exterior.298Conheci <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>, não sei precisar quando,dentro de minhas atividades na Cinemateca. Ele éum depositante de filmes na instituição desde longadata. Minha admiração por ele se deve, alémde simpatia pessoal, a ser um realizador bastantecaracterístico do cinema paulista, com variedadeenorme de trabalhos realizados que atravessamdiferentes fases do cinema brasileiro. Ao longodo tempo posso dizer que desenvolvi relações deamizade com ele, inclusive por motivos muito pessoais– quando descobri que ele fazia trabalhosde dublagem com minha irmã, a atriz ChristinaRodriguez. Auxiliei-o preparando laudos e orçamentosnas diversas tentativas – infrutíferas – quefez para conseguir patrocínio com o objetivo derestaurar a série Vigilante rodoviário.Sobre a preservação de filmes em nosso país, vale,antes de mais nada, uma reflexão. Não quero mealongar sobre a precariedade de processamentosquímicos dos laboratórios comerciais nem sobreas más condições de armazenamento que faziam


com que os negativos dos filmes brasileiros chegassemà Cinemateca <strong>Brasil</strong>eira em geral emavançado processo de deterioração (desplastificaçãoe outros sintomas físico-químicos). Vale lembrarque a Cinemateca <strong>Brasil</strong>eira passou décadassem dispor de instalações convenientes para oarmazenamento museológico de matrizes – apenasem 2001 inauguramos finalmente o primeiroArquivo de Matrizes em nosso país, em condiçõesde preservar filmes em bom estado. Mas gostariade me referir sobretudo à dificuldade de conseguirrecursos para a restauração de filmes que jáentraram em processo de decomposição. Apesarde ter conseguido instalar um laboratório derestauração que começou a funcionar em 1978,a Cinemateca sempre lutou muito para manteresse laboratório em funcionamento – devido aoselevados custos de filme virgem, equipamentosadequados, químicos e mão-de-obra.299Recursos para a restauração em geral provinhamde projetos ligados ao salvamento de obrasprimase filmes significativos da história docine ma brasileiro, em geral longas-metragensde diretores consagrados. Apenas alguns projetosapoiados por instituições efetivamentede pesquisa e com larga compreensão do quesignifica patrimônio nacional de imagens emmovimento (entre essas instituições vale mencio-


nar a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estadode São Paulo-Fapesp e a Fundação Vitae) nospermitiram duplicar documentários da época docinema silencioso, séries de cinejornais e filmesnão-consagrados (por exemplo, chanchadas daAtlântida que em seguida seriam valorizadas eestudadas por pesquisadores e acadêmicos). Parase ter idéia da dificuldade de conseguir recursospara salvar esses filmes considerados não-significativos(!!) basta lembrar que as matrizes defilmes como os do grande Mazzaropi ainda estãose deteriorando sem que tenhamos conseguidorecursos para duplicá-las.300Diante desse panorama, é possível entender quea maior dificuldade em relação à salvação da sérieVigilante rodoviário foi exatamente recursospara isso. Já mencionei acima que o próprio <strong>Ary</strong><strong>Fernandes</strong> tentou interessar patrocinadores narestauração da série, inclusive, um deles, a Nestlé– patrocinadora original dos episódios.Os negativos originais da série chegaram àCinemateca com graves sinais de deterioração– alguns irrecuperáveis (O pombo­correio, Ladrõesde automóveis e O pagador), outros comdesprendimento de emulsão. Um laudo técnicoelaborado por José Carvalho Motta – então Chefeda Catalogação – em 1992, desaconselhava oprocessamento em laboratórios comerciais (não


equipados para o manuseio adequado de filmesdeteriorados) de nove episódios.Desde a chegada dessas matrizes à Cinemateca– vindas no conjunto de filmes que o produtorAlfredo Palácios depositou na instituição – semprepreocupamo-nos (o plural aqui refere-se apoucas pessoas) em obter recursos para a duplicaçãodesses negativos. Mas praticamente umadécada passou sem que isso fosse possível (aliás,é bom recordar que a deterioração dos filmesnão fica suspensa enquanto se busca patrocínio– a deterioração avança em velocidade cada vezmaior à medida que o tempo passa).A oportunidade para salvar o Vigilante surgiucom os projetos Diagnóstico do acervo cinematográficobrasileiro – apoiado pela Secretaria doAudiovisual do Ministério da Cultura – e Censocinematográfico brasileiro – apoiado pela PetrobrásBr Distribuidora. Esses projetos permitiramque, pela primeira vez na história da Cinemateca,procedêssemos à duplicação emergencial de filmes(negativos de imagem ou de som de curtas,longas e cinejornais) com efetivos propósitos depreservação (ou seja, simplesmente para que nãodesaparecessem pela deterioração).301Decidimos e enfrentamos a salvação da sérieVigilante rodoviário num momento decisivo pois


as matrizes não esperariam mais. Aliás, do laudode 1992 a que me referi acima, os negativosoriginais de pelo menos dois episódios já nãose prestavam mais à duplicação. Para garantir aexistência desses episódios partimos de cópiasdas coletâneas (lançadas nos cinemas) existentesno acervo da Cinemateca graças ao antigoServiço Municipal de Cinema da Prefeitura deSão Paulo (este serviço originou-se de uma dasmais importantes e pioneiras leis de estímulo aocinema brasileiro criadas na cidade de São Paulo– lei que foi extinta por Paulo Maluf).302A grande preocupação da Cinemateca foi, comodito acima, salvar os filmes. Partindo dos negativosoriginais, o Laboratório de Restauraçãoprodu ziu másteres combinados de imagem esom (DPZ, matriz positiva de qualidade paraduplicação); desses másteres ou de cópias emmelhor estado produziu contratipos combinadosde imagem e som (DNZ, matriz negativa paracopiagem). De alguns dos episódios foram feitascópias de exibição, pois a filosofia da Cinemateca<strong>Brasil</strong>eira é a de que não basta duplicar filmes eguardá-los; na medida do possível os filmes sãosalvos para serem vistos. Foi, inclusive, graças àprojeção de um conjunto de episódios do Vigilantena Sala Cinemateca – amplamente divulgadapela imprensa – que alguns episódios da


série (em cópias 16 mm em bom estado) – foramdepositados na Cinemateca por colecionadoresparticulares (vale destacar o professor AntônioAndrade) praticamente completando a coleção.Atualmente (junho de 2005) exceto pelo episódioO pagador – do qual só existe o negativode som – existem materiais de preservação detodos os outros episódios. Tudo o que foi dito arespeito das dificuldade de preservação da sérieVigilante rodoviário vale para a série Águias defogo. Os originais desta série apresentam gravessinais de deterioração e não existem recursospara duplicá-los. Águias de fogo, pelo menosenquanto matrizes originais em 35 mm (podemeventualmente existir cópias em 16 mm em poderde colecionadores particulares), corre um sériorisco de desaparecimento.Entrevista concedida por e-mail,em São Paulo, no dia 28/6/05303Cláudio PetragliaProdutor, diretor, 76 anos, trabalhou com <strong>Ary</strong> nasérie Vigilante rodoviárioComecei minha carreira com Victor Costa, meutio, meu orgulho. Ele foi um grande homem dorádio neste país. Inovador, colocou seu talentona Radio Nacional, modelo copiado por tantasoutras e também pela televisão, no seu inicio.Personalidade forte, simpático, empreendedor,


304foi um descobridor de talentos, (muitos vivos eatuantes até hoje), acreditava nos novos e sabiacorrer riscos. Adorava a publicidade, os veículosde comunicação e compreendia os mecanismosdo mercado consumidor. Era um psicólogo demassa. Unia o produto artístico (cantores, comediantes),ao público-alvo com apoio do patrocinadorcerto. Devo a ele o estímulo para enfrentara carreira no entretenimento, inclusive minhaformação de TV, feita nos Estados Unidos. Possibilitouminha primeira viagem volta ao mundo,alargando minhas fronteiras culturais e sociais.Aprendi muito com ele e, se sou hoje o que sou,Victor Costa adubou a semente. Foi desastrosasua morte apenas com 58 anos, pois iria contribuirmuito mais no campo das comunicações.Conheci <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong> em 1958 por intermédiodo Alfre do Palácios, produtor de cinema que,com Glauco Mirko Laurelli, me convidaram paraescrever o roteiro do filme Vou te contá rodadona Cinematográfica Maristela, estúdio do MarinhoAudrá. Uma comédia que servia de entrechopara o lançamento de marchinhas carnavalescas,como era hábito naqueles tempos. Daí ficamosamigos. Fundada a IBF, Industria <strong>Brasil</strong>eira de Filmespelo <strong>Ary</strong> e Palácios, com sede em São Paulo,bairro do Ipiranga, entrei nessa aventura de realizara primeira série de filmes para a televisão,


ainda em preto e branco, como roteirista, diretorde dublagem (acompanhando na moviola com omontador Luizinho a edição das cenas) e reforçandoas finanças da empresa. Naquela época,eu desenvolvia intensa atividade como produtorteatral e músico, dando para coordenar horáriosnas varias atividades. Mas o desafio do Vigilanterodoviário era tão fascinante que acabei dedicandoo maior e o melhor do meu tempo para ele.Por minha experiência na televisão, tinha várioscontatos. Assim reforcei as relações da IBF com aNestlé, patrocinadora do programa e a conseguiros famosos Simca Chambord, carro que estavaem lançamento pela montadora de São Bernardo.Evidente que, pintados em faixas com coresdiferentes, os carros se tornavam aerodinâmicos,muito mais valentes do que na realidade. Osmotores problemáticos – relação peso do veículoe torque – nem sempre correspondiam. Mas natela da TV voavam pelas estradas em vertiginosasperseguições a bandidos, as quais Carlos Miranda,o Vigilante e Lobo (o pastor alemão) agregavamcharme e emoção. O clima de ação, perigo e heroísmo,deve-se ao talento de <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>. Porseu temperamento irrequieto imprimia nas cenaso suspense necessário para manter o espectadorpreso diante da TV. Conhecedor da técnica defilmar, <strong>Ary</strong> enfrentava a dificuldade de ter pouconegativo para rodar (material estrangeiro, caro305


306e muitas vezes adquirido no câmbio negro, poisa Kodak era rígida nos seus procedimentos e aimportação limitada). Era criativo, sabia improvisar,adaptando o roteiro às condições do cenárioe da luz natural (tudo filmado em locação), erarápido em resolver problemas de última hora dacontra-regra, colocava a câmera no lugar certo etinha bom relacionamento com a equipe, atores,a maioria principiantes que nunca tinham feitocine ma. Principalmente, <strong>Ary</strong> tinha paciência.Quem já filmou com animais sabe o quantoeles dão trabalho. Mesmo adestrados, só umbom diretor consegue domá-los fazendo delessuperagentes policiais. O Vigilante rodoviárioé um cruzamento do Rin­tin­tin com Rota 66,filtrado pela visão de um diretor que certamentese tivesse nascido nos Estados Unidos, seriaum premiado diretor de filmes de faroeste. Osubconsciente de <strong>Ary</strong> tem esse timing o que fazde seu trabalho um momento único na históriado cinema nacional. O Vigilante rodoviário naépoca foi inovador, pioneiro (não existia aindao videotape) e hoje deixa saudades... Tenhoorgulho de ter participado dessa saga, e prazerquando encontro pessoas que ainda cantam otema da série ou lembram das estórias. Saudadesdo cinema artesanal, sem apoio de governo, feitocom muita garra e determinação, mas com acriatividade, talento e competência dos cineastas


das antigas. <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong> é um expoente dessegrupo. Depois da série, mudei de São Paulo enossos caminhos não se reencontraram. Vibreiquando assisti Águias de fogo e fiquei feliz pelo<strong>Ary</strong>, sentindo falta do Alfredo Palácios. <strong>Ary</strong><strong>Fernandes</strong>, amigo, ótimo companheiro, bomcaráter, jovial e pra cima. Profissional talentosoe competente que soube realizar parte dos seussonhos. Pena que não tenha dirigido mais filmes.Mas ainda há tempo...Texto enviado do Rio de Janeiro,por e-mail no dia 15/6/2005Etty FraserAtriz, 75 anos, trabalhou com <strong>Ary</strong> na série Vigilanterodoviário e no filme O Super Manso307Na época, em 1961, eu conhecia Juca Chaves e eleme convidou para participar da série Vigilante rodoviário.Eu já tinha experiência em teatro, comJosé Celso Martinez Correa, mas cinema nuncatinha feito. <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong> então conversou comigo.Gostei da idéia e participei do episódio ORapto do Juca. Para mim foi uma farra, o pessoalera alegre, eu fazia parte de uma turma de meni--nas que eram fãs de Juca Chaves. Ele é sequestradoe acabamos ajudando o inspetor Carlos aencontrá-lo. Apesar dessa participação, considerominha estréia oficial em 1965 no filme São PauloS/A. de Luiz Sergio Person. Depois, em 1976 <strong>Ary</strong>


me chamou novamente para participar do filmeO Super­Manso, uma participação agradáveltambém. Embora tenhamos tido pouco contato,tenho muito respeito pela obra de <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>.Esta homenagem é mais que merecida.Entrevista concedida no dia 13/6/2005,por telefone, em São PauloGalileu GarciaProdutor, diretor, roteirista e professor, 76 anos,trabalhou com <strong>Ary</strong> em Cara de fogo308Conheci <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong> no início dos anos 50,eu na Vera Cruz, em sua primeira fase, e <strong>Ary</strong> naMaris tela. Eu tinha contato com muita genteda Maristela, além de <strong>Ary</strong>, o Marinho Audrá,o Alfredo Palácios, Carlos Ortiz, crítico que foitrabalhar no departamento de roteiros, o AlexViany. No segundo ano da Vera Cruz fundamosa Associação Paulista de Cinema que reunia, críticos,escritores, técnicos, professores e pessoas ligadasao cinema. Eu visitava a Maristela freqüentemente,Marinho era muito gentil, agradável ereceptivo, fui até cogitado para fazer um filmelá, mas não deu certo. <strong>Ary</strong> sempre foi uma pessoaamiga e solidária, colaboradora. No filme Osso,amor e papagaios eu precisava de uma cangade boi, e perguntei para o <strong>Ary</strong> se sabia ondepoderia arranjar, ele me disse que eu estava


com sorte, pois seu avô tinha uma em seu sítio,nos arredores de São Paulo. Fomos lá no sítio epegamos a canga num depósito. Naquela épocao cinema era menor, tinha pouca gente, entãoo pessoal se relacionava mais, se entendia mais.Hoje o ambiente de cinema é muito grande, vocênem sabe quantos diretores de fotografia tematuando no cinema. Bem, em seguida convidei<strong>Ary</strong> para trabalhar comigo no filme Paixão degaúcho, em uma associação entre a <strong>Brasil</strong> Filmese a TV Tupi. <strong>Ary</strong> tinha alma de produtor, era bommesmo, funcionava. O produtor tinha que ser umsem­vergonha no bom sentido da palavra, carade-pauo suficiente para pedir o que precisasse.Ele poderia chegar no edifício Martinelli e dizerao proprietário que precisava do prédio portrinta dias para filmagem e após a concordânciado proprietário informar que ninguém poderiaentrar no prédio nesse período.309O homem de produção é assim. Essa característicafaz parte do perfil do produtor, é um dos seuselementos composicionais. Fomos filmar Paixãode gaúcho em São José dos Campos, lá fizemosmuita amizade com os diretores do CTA – CentroTécnico da Aeronáutica. Como <strong>Ary</strong> sempre foimuito ligado em aviões, ele ficou muito amigodo Brigadeiro Montenegro, diretor do CTA. Nafita, eu era diretor de produção, Roberto Santos


310assistente de direção e <strong>Ary</strong> auxiliar de produção.Nos 30 dias que fizemos lá, a comida era fornecidapelo CTA para toda a equipe. O café da manhãe o jantar eram no Centro Técnico e o almoçonos sets de filmagem (retirávamos as marmitastérmicas no Centro Técnico). Aliás, comida dealtíssima qualidade, como em poucos lugares seservia, com a vantagem ainda de sermos servidoscom a mesma refeição dos Oficiais da Aeronáutica,isso acompanhado de água gelada etrês tipos de sucos. O trabalho de produção dofilme foi muito bem organizado, o que impressionouo prefeito, autoridades e personalidadesimportantes da cidade. Fomos procurados entãopor proprietários de terras que queriam produzirum filme, então ofereci o Cara de fogo,uma história que eu já vinha desenvolvendo eadaptando, inclusive estava com o roteiro quasepronto. O Alfredo Palácios fez um contrato emque ganharia 20% para distribuir o filme, além daporcentagem da produtora, o que inviabilizariao ressarcimento do capital investido. Queríamosfazer um filme lucrativo para o produtor, era suaprimeira experiência nesse ramo e não podíamosdecepcionar. Então fomos contra esse contratoapresentado pelo Palácios, o que o contrariouprofundamente, sendo que ele insistia em mantero contrato. Após uma ameaça nossa de levaro caso à imprensa, por meio dos críticos Carlos


Ortiz e Flávio Tambellini, Palácios recuou, foiinde nizado e saiu da fita. Os produtores, pessoasda mais alta qualidade, foram muito honestosconosco, cumpriram o contrato religiosamente.O filme foi distribuído por Mário Maino daUbayara Filmes e deu um bom resultado, fazendocom que os produtores recuperassem seu investimentocom folga. Eles acabaram produzindomais dois filmes, dois documentários curtos e seretiraram do cinema. Após Cara de fogo, entreino cinema publicitário e documental, e nuncamais sai. O cinema publicitário estava começandona época. Levei várias pessoas para o mercadopublicitário, Chick Fowle, Roberto Santos, MiltonAmaral, Mamoru Myiao, Agostinho MartinsPereira e o próprio <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>. Nas minhasempresas, primeiro a Documental e depois aMagisom, eu sempre chamava o <strong>Ary</strong> para filmarfora de São Paulo, pois ele gostava muito deviajar. Depois levei o Mamoru para a Linx, ondeele ficou por mais de dez anos, sendo um dosmais produtivos diretores de comerciais do <strong>Brasil</strong>.Sadi Scalante, um dos sócios da Linx era primo doBarbosa Lessa, que fez a direção de arte gaúchae consultor de costumes do filme O Sobrado. Noinício dos anos 90 iniciei o projeto para o remakedo Cangaceiro, que seria produzido inicialmentepor Galante e dirigido por mim, mas Galanterecuou, achando que não ia conseguir bancar a311


produção, então vendi o roteiro para o AníbalMassaíni, que acabou dirigindo o filme.312Lembro-me que em 1962, na época do Vigilanteeu estava em São José dos Campos, hospedadono Hotel San Remo, no centro da cidade, pegadoà igreja. À noite, fui para o salão assistir a umcapítulo do Vigilante que estava começando aser exibido na televisão. O salão estava cheio.Após o término, um senhor comentou: Essesnorte­americanos são bons mesmo, vêm aqui no<strong>Brasil</strong> e fazem um filme desses, eu disse: Desculpecontradizê­lo, mas o seriado é brasileiro, feito poruma produtora brasileira, diretor brasileiro, atorbrasileiro, não tem nada de norte­americano.O senhor custou acreditar que se tratava de umfilme brasileiro, tive que contar toda a históriaminha com <strong>Ary</strong>, do Cara de fogo, que forafilma do na cidade, etc. Isso mostra a força que oseria do tinha em todo o <strong>Brasil</strong>. <strong>Ary</strong> foi um grandepio neiro com o seriado Vigilante rodoviário,feito até hoje não superado, pois ninguém maisconseguiu fazer um filme seriado para TV, os queexistem são vídeosseriados.Falar sobre <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong> é uma grata satisfação,primeiramente o <strong>Ary</strong> é um bom amigo, gostomuito dele, começamos no cinema quase namesma época. <strong>Ary</strong> tem um bom caráter, nuncativemos nenhum desentendimento. <strong>Ary</strong> sempre


teve um espírito de colaboração muito grande,colocando tudo o que tinha à disposição dos amigos.<strong>Ary</strong> gosta de cinema, não faz cinema apenascomo profissão, mas porque gosta mesmo.Entrevista concedida em sua residênciano dia 16/6/2005, em São PauloGilberto WagnerMontador, 55 anos, assistente de montagem nasérie Águias de fogo e montador do piloto doVigilante rodoviário, de 1978Sou sobrinho de <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>. Quando vim aomundo meu tio já fazia cinema. Em 1958, comsete anos de idade fiz uma pequena ponta nofilme O grande momento, de Roberto Santos.Eu era muito criança e meus pais não gostavammuito da idéia de eu seguir a carreira artística,ficavam preocupados por causa da escola, etc.,mas meu tio sempre me levava, acabei fazendoalguns comerciais de televisão e participei deum capítulo do Vigilante rodoviário chamadoO suspeito, junto com aquela garotada famosa,Tuca, Fominha, Gasolina, etc. Lembro de umapassagem curiosa, quando fiz esse episódio,um dia Carlinhos foi me buscar com a Simca e oLobo na porta da minha escola, foi uma loucura,parou o colégio, e eu fiquei todo orgulhoso, erapaparicado pelas meninas.313


Mas minha carreira cinematográfica era inevitável,com 17 anos fui ser assistente de montagemde Luis Elias, na série Águias de fogo e com eleaprendi todos os segredos da profissão, depoisfui para Lynx Films dirigir documentários e principalmentecomerciais, o forte deles. Trabalheitambém na Marca Filmes, que era de propriedadedo Silvio Santos. A empresa ficava dentrodos estúdios da Vila Guilherme. A maioria doscomerciais era do próprio grupo, mas tinha defora também, como da caneta Papermate. Váriasvezes, montei programas do Silvio e ele ficavajunto na moviola, com Luciano Calegari.314Nos anos 70, abracei a profissão de vez e monteidezenas de filmes na Boca-do-Lixo, para diretoresimportantes como Carlos Reichenbach, WalterHugo Khouri, Alfredo Sternheim, José Miziara,Antonio Meliande e o próprio <strong>Ary</strong>, para quemmontei 11 filmes, entre eles, o piloto da novasérie do Vigilante rodoviário, com Antonio Fonzarno papel principal.Sempre gostei de fazer sonoplastia também, tinhaum arquivo grande de sons, ruídos e efeitos. Noepisódio que montei do Vigilante, eu fiz boa parteda sonoplastia. Levei um capô de carro para dentrodo estúdio para fazer o barulho de carros se chocando.Eu aprendi com Luizinho a montar rápidoe isso fazia com que muitos produto res me procurassem,pois o serviço rendia na minha mão.


Nessa época casei-me com a filha de um empresárioportuguês que tinha uma rede de postosde gasolina e eles insistiram para que eu fossetrabalhar com eles, então larguei o cinema, oque me arrependo muito. Depois me separei equando quis retornar já era tarde.Recentemente auxiliei Luiz Elias na montagemdo filme Pelé Eterno, mas também ajudei na produção,inclusive fiquei sete meses na TV Recordprocurando gols de Pelé em seus arquivos.Nesses arquivos encontrei um dos primeiros gols dePelé, e fui elogiado pelo próprio Pelé pelo feito.<strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong> é meu segundo pai, ajudou ame educar, me deu uma profissão, tenho muitoorgu lho dele, principalmente pela série Vigilanterodoviário, um tremendo sucesso na época. Esselivro é uma justa homenagem à sua obra.Entrevista concedida na residência de <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>no dia 22/6/2005, em São Paulo315Luiz EliasMontador, 65 anos, montou as séries Vigilanterodoviário e Águias de fogoIniciei minha carreira no dia 19 de Janeiro de1955, com 14 anos, na Maristela, no bairro deJaçanã, SP, onde nasci, com o Sylvio Renoldi,


316que era vizinho e quase irmão meu. Minha mãechegou a namorar com o pai dele, no Jaçanã.Ele já era assistente de montagem na Maristela.Eu era um moleque de rua, que ficava jogandopião, bolinha de gude, empinando papagaios,jogando bola. Tinha muito serviço na Maristela.Eles tinham acabado de rodar Mãos sangrentase Leonora dos sete mares. Tinha muito material,muito serviço. O Cañizares era o editor, oJoão de Alencar o 1º assistente, o Sylvio era o2º assistente. Ai ele me convidou para trabalharna Maristela. Eu era o 3º assistente, aquele queencerava o departamento de montagem, eu chegavacedo, nos finais de semana, lavava o carrodo Cañizares. Aos poucos fui gostando da coisae me interessando e com isso ganhei a confiançado Cañizares, pois eu era muito ativo. Ele tinhalivros sobre montagem. Cañizares conversavasobre o filme em castelhano com Christensene eu ficava prestando atenção. Aquilo que elesconversavam, quando iam embora eu ia procurarnos livros, tipo esfumatura, contraplano, fusão,porque cortava de um plano geral para um primeiroplano, porque não deixava a cena grande,aos poucos eu fui me interessando, eu era o assistenteque ficava colado ao Cañizares, ao ladode sua moviola, até o lápis eu tinha que pegarpara ele, podia estar perto de seu pé, mas eutinha que pegar e pôr ao seu alcance. Eu acabei


ganhando muito know­how com isso. Durantea montagem de Mãos sangrentas e Leonora eufiquei direto com ele na moviola e isso foi umatremenda escola para mim. Os rolos eram montados,iam para uma sala de projeção grande, ondeestavam o Christensen, o Cañizares, e eu ia juntopara anotar alguma coisa, fora de sincro. Passavaum corte e Christensen dizia ao Cañizares: “Vocêtira três fotogramas desta cena, naquela outravocê aumenta quatro.” O diretor ia embora eCañizares corrigia, mas nem sempre fazia o queo diretor havia pedido. Mas Christensen tinha umolho clínico que chegava a ser mágico, naquelacena ele percebia quando o montador não haviafeito o que solicitara. Eu participava de todas asfases de montagem, marcar tempo para colocar amúsica, montar ruído, fazer dublagem, ver sincroe ai Cañizares brincava comigo perguntando sedeterminada fala estava adiantada ou atrasadaem quantos fotogramas e às vezes eu acertava.Nessa época conheci <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>, gerente deprodução da Maristela. <strong>Ary</strong> sempre foi dinâmico,ativo. Não tínhamos muito contato, pois eu eramuito criança ainda, e <strong>Ary</strong> já adulto, tinha outrasamizades. Até o Vigilante não tivemos contatodireto, mas todos, inclusive o <strong>Ary</strong>, brincavammuito comigo porque eu era muito franzino,pequenino.317


Conheci também o Carlos Miranda. Nos tornamosamigos. Com a morte de Getúlio Vargas em1955, o Palácios foi com João Alencar para o Riode Janeiro fazer um documentário sobre Getúlioe eu fui como assistente, mas eu não andava deavião. O Carlinhos tinha que levar a moviola parao laboratório do Alexandre Wulfes no Rio, ondeia ser feita a montagem. O equipamento foi nacamionete tempo matador da Maristela e eu fuijunto com ele e com isso eu escapei do avião.Saímos daqui às quatro da tarde e chegamos láàs seis da manhã do dia seguinte. Nessa época eutinha mais amizade com Carlos do que com <strong>Ary</strong>.318Quase no final da Maristela, eu ajudei RobertoSantos a montar O grande momento, nos própriosestúdios. A Maristela estava fechando asportas e só tinha sobrado eu na montagem.Roberto olhou para mim e disse: “Você quermontar comigo?” e eu aceitei na hora. Robertoia me dando as dicas de montagem e eu comeceia ter uma idéia de ritmo, o porque cortava, etc. ORoberto me dava as informações no plano geral,tipo Quando a moça puser a mão na porta, noclose, você já puxa um frame adiante.Com o final da Maristela, nos separamos porum tempo, fui montar comerciais, trabalhei comPrimo Carbonari, fui assistente na Jota Filmes.Eu estava indo na AIC, onde estavam todos os


equipamentos de dublagem da Maristela. Lácomeçaram a dublagem de filmes norte-americanos.Me indicaram para acertar o sincro dasdublagens, então eu colocava o filme na moviolae acertava, um fotograma para lá, outro para cá,etc. Ali conheci José Mojica Marins, que tinhaacabado de dublar na própria AIC o filme A sinado aventureiro, seu primeiro longa-metragem.Sincronizei a dublagem para ele, mas o filmeestava longo, tinha sido pré-montado, ai Mojicame convidou para terminar a montagem. Eu disseque nunca tinha montado diretamente, masque havia tido muita experiência na Maristela ecom Roberto Santos. Mojica acreditou em mime montei o filme.319Depois <strong>Ary</strong> me chamou para trabalhar com elee Palácios na produção de comerciais, num estúdioda Rua Pedroso. <strong>Ary</strong> dirigia e eu montava eali realmente começou nossa amizade. Surgiuentão o esboço do Vigilante rodoviário, com<strong>Ary</strong> e Palácios à frente do projeto. Fui convidadopara montar o piloto, que se chamava Diamantegran­mogol. O filme foi montado numa moviolaolho de boi, equipamento que ficava nos estúdiosde Jacob Mathor, amigo de <strong>Ary</strong> e Palácios, naRua Pedroso. O estúdio era de madeira, quandoesquen tava ninguém conseguia ficar lá dentro.Eu precisava frear a moviola com a mão.


320<strong>Ary</strong> filmava durante o dia, à noite assistíamos omaterial e discutíamos se estava bom, ou faltavaalgum close, alguma cena para completar a seqüência.Fazíamos tudo com muito cuidado paraque pudéssemos ter um bom produto na mão.Trabalhamos de graça, às vezes juntávamos umpouco de dinheiro de cada um para comer, eramacarronada todo dia. Não existia dinheiro, foitudo muito difícil, mas tínhamos a esperança queum dia acontecesse a série. Na época existia asérie Lassie que fazia muito sucesso e <strong>Ary</strong> teve afeliz idéia de usar o cachorro na série e tambéma sorte de encontrar o Lobo, que era um cachorroexcepcional. Lobo ficava com <strong>Ary</strong> o tempo todo, iapara casa com ele todo dia e nos fins de semana.Ele não deixava o Luis Afonso, dono do Lobo leválo,pois embora fosse militar, Luis estava sempreembriagado. <strong>Ary</strong> tinha uma enorme paixão peloLobo, mas o cachorro era mesmo apaixonante,fora de série. O dia que o cachorro levantavabem ele fazia coisas que ninguém acreditava. Oestilo da série era diferente, era dinâmica, ativa,com brigas, ação, então a gente acreditavamuito nisso. Quando recebemos a notícia que aNestlé iria patrocinar a série, foi uma festa entrea equipe. A produção da série foi uma loucura,um sufoco, pois tínhamos que fazer um episódioem quinze dias. O <strong>Ary</strong> saia filmando, no estúdioo Palácios e o Petraglia escreviam os roteiros.


Além da montagem, eu fazia a sonoplastia, adireção de dublagem, cheguei a ajudar o <strong>Ary</strong> adirigir algumas seqüências com Geraldo Del Rey.<strong>Ary</strong> estava em outra equipe e precisava completaro episódio e eu fui filmar. Na série, eu aindausava o mesmo equipamento, a moviola olho deboi, mas o estúdio agora era na Rua do Lavapés,no Cambuci, num depósito, com mais espaço,na frente ficavam os equipamentos e a equipe,tinha as salas do <strong>Ary</strong> e do Palácios, uma sala deprojeção, a sala da montagem e uma sala de negativos.Eu tinha duas assistentes, Selma e Íria,que me ajudavam na montagem dos negativos.Eu pegava o copião do material que chegava,começava a editar, marcava, como faziam oseditores norte-americanos, não colava, marcavaos cortes e deixava para elas irem fazendo namão, nessa altura já estava com outro filme indopara a Vera Cruz para dublar, fazer contra-regra,às vezes vinha o Paulo Bergamasco para fazer aescolha das músicas, às vezes vinha o José Moura,que era da TV Record, que fazia a sonoplastia,passos, ruídos, quando não eu mesmo fazia. Euia para a Vera Cruz com o carro da rodoviária,acompanhado de dois ou três policiais, às vezes oscolocava para fazer contra regra comigo enquantoas meninas ficavam cortando para mim, ai jámontava a música daquele filme, elas montavamos negativos, eu ia mixar, mandava para o labo-321


322ratório enquanto isso já estávamos sonorizandooutro. O <strong>Ary</strong> vinha à noite para assistir ao copiãomontado e ali a gente discutia. O pessoal vinha dafilmagem e já deixava o material no laboratóriopara revelar. Se faltava alguma coisa, no dia seguinteele já filmava, uma passagem de polícia,um plano com o cachorro, com o Carlinhos e eranesse ritmo que trabalhávamos. A equipe eramuito unida, ninguém se queixava de nada, eujá tinha vinte e quatro anos, ia do Jaçanã parao Cambuci e lá ficava a semana toda, dormia nasala de montagem mesmo, tinha uma cama. OOsvaldo Leonel morava lá. Os que iam para casa,no outro dia às 6 horas da manhã já estavam noestúdio de novo. A equipe era pequena, não tinhamais que oito pessoas, nós abraçamos a coisacom o <strong>Ary</strong> e o Palácios. Eles sempre deram muitaliberdade de trabalho para nós, foram pessoasfora de série para se trabalhar, tanto <strong>Ary</strong> comoo Palácios. No Vigilante, passei a admirar o <strong>Ary</strong>como profissional e amigo, por suas qualidades,sua honestidade, seu poder de síntese para ascoisas, resolver seqüências, dinamismo. Fizemosuma boa parceria. A série alavancou minha carreira,me deu status, pois até então eu não haviafeito nada de importante.No Vigilante, Carlos não teve nenhum estrelismo,abraçou a causa mesmo, à noite quando ele vinha


da filmagem também saia para produção, nãotinha esse negócio de eu sou o astro, não com ele,era diferente, ajudava em tudo. Ele ia para a cozinhaajudar fazer o macarrão, às vezes comíamosem lata de filme, pois nem sempre havia pratos etalheres. Ele não tinha experiência como ator, o<strong>Ary</strong> sempre teve paciência, sempre teve psicologiapara dirigir modelos e acabou burilando bem oCarlinhos que se tornou um grande ídolo.As funções eram bem divididas. Palácios fazia osroteiros, não desgrudava da sua velha máquinade escrever e <strong>Ary</strong> saia para filmar. À noite nós trêsvíamos o material revelado e montado. Às vezeso <strong>Ary</strong> filmava sem ter o roteiro difinitivo ainda.O Palácios fazia o roteiro, o Cláudio Petragliaajudava, para o <strong>Ary</strong> filmar no dia seguinte. Elesdiscutiam, burilavam, e o roteiro saía. O J.C. Souzaajudava, mas não tinha muita experiência, entãoo Palácios dava o toque cinematográfico aoroteiro. Tudo acontecia á noite nos estúdios.323Com o fim da série, fiz a montagem dos longasque foram para o cinema e depois a outra sérieÁguias de fogo. No Águias a coisa foi diferente,tinha mais estrutura, era o segundo seriado, maso sucesso não era o mesmo, não tinha a mesmaempolgação do Vigilante, a mesma química, masa correria era a mesma. Foi interessante. Fiqueidireto com <strong>Ary</strong> nessa época, ou nos filmes ou nos


comerciais. Montei alguns longas dele também.Sempre falamos a mesma língua, tínhamos muitaamizade e intimidade profissional.Eu montei muitos documentários comerciais, institucionais,para empresas, principalmente parao produtor George Jonas, da Spiral Filmes, elestinham a conta da Ford, então fazíamos muitoscomerciais e documentários do Maverick, Corcel,Escort.324O último trabalho que fizemos juntos foi no filmeO cangaceiro de Aníbal Massaíni Neto, mastivemos pouco contato, pois meu trabalho éfeito após as filmagens, então não participei dasfilmagens em Pesqueira, Pernambuco. Quandocomecei a montar o filme <strong>Ary</strong> já havia se afastadoda produção.Eu nunca quis dirigir, adoro montagem, poisvo cê cria o filme, foi como o filme Pelé eterno,o último que montei, chega material do mundointei ro e você tem que organizar, é um trabalhograti ficante. Você vai compondo seqüências edepois dá uma unidade cinematográfica e ritmoao material. A montagem foi feita em digital edepois transferido para película novamente. Foiuma nova experiência para mim, que estava acostumadocom o copião para manusear, o lápis, odurex nas pernas, coladeira, mas valeu a pena.


O grande trabalho da minha carreira foi no Vigilante,sempre fui muito requisitado. Fiquei uns15 anos montando comerciais depois voltei parao longa. Montei mais de 50 longas, 5 mil comerciais,10 documentários. Já estava me aposentandoquando Aníbal me chamou para fazer o filmedo Pelé. Agora estamos trabalhando no projetodo filme sobre a vida do Lula, para 2006.É uma pena que somente agora, 45 anos depoisresolvem fazer um livro sobre o assunto, resgatara memória do Vigilante. A memória do brasileiroé muito vaga mesmo. Ninguém fala mais nada dasérie. Mas nunca é tarde. Torço pela recuperaçãodo <strong>Ary</strong>, que ele continue lutando como semprelutou. Ele merece esta bonita homenagem.Entrevista gravada no dia 17/5/2005,na sede da Cinedistri/Cinearte, em São Paulo325Nelson Pinto BogaiãoMotorista, 66 anos, dirigia o ônibus da IBF, duranteas filmagens do VigilanteEm 1961, eu morava no Cambuci e meu pai guardavao carro na garagem do Maninho, na Ruado Lavapés, onde também eram guardados oscarros pequenos da IBF. Um dia, conversandocom Maninho, fiquei sabendo que a IBF estavaprecisando de um motorista para o seu ônibus,então fui falar com <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong> e ganhei o


326emprego. O ônibus era de propriedade da IBF,um GMC, ano 1946, que ficava guardado noestacionamento do Corpo de Bombeiros, naRua do Glicério, no mesmo bairro. Saíamos bemcedo, pegávamos o ônibus no Corpo de Bombeirose seguíamos para o Anhangabaú, embaixodo Viaduto do Chá esperando os membros daequipe. De lá seguíamos para a Anhangüera, àsvezes em Cabreúva, outras em Jundiai. Íamos evoltávamos todos os dias. Normalmente o CarlosMiranda ia no Simca, mas de vez em quando euia buscar o Carlinhos e depois o cachorro na VilaMaria, na casa do Luis Afonso. Certa ocasião,fomos filmar num haras em Cabreúva e nãohavia energia elétrica, então tivemos que pedirum gerador do exército emprestado, não foifácil carregá-lo. O ônibus vivia dando problema,encrencava, na maioria das vezes problemas coma reduzida. Resolveram encostar o ônibus e eucomecei a usar uma perua Rural Willys que era daempresa também. Uma vez por semana levava oLuiz Elias na Vera Cruz para sonorizar o filme. Àsvezes ajudava a fazer os sons para o filme, tiposons de mato, latas batendo, etc. Eu terminavaas filmagens e vinha correndo para casa paraassistir à série na TV Tupi. Fiquei um ano comeles, o ano final da série. No último episódio, noGuarujá, o Tony Campello tinha que dirigir umChevrolet conversível 1959 que era de um diretor


do Banco das Nações. O problema é que Tonynão sabia dirigir, então o carro vinha com motordesligado, vínhamos empurrando escondidos e oTony no volante, fingindo que estava dirigindo,ele só freava o carro. Quase todo dia eu ia levaros garotos para casa, de Simca, o Tuca e outrosem Santana, na Voluntários da Pátria, depois ialevar o Alfredo Palácios em sua casa, na Serra daCantareira, depois da Academia Militar. Eu tinha21 anos na época e para mim tudo foi uma farra,carregava artistas, almoçava nos restaurantes,na maioria das vezes nas estradas. Não chegueia participar de nenhum episódio, mas depois fuitrabalhar com Gino Palmesani e também comMário Civelli e acabei fazendo figuração emalguns filmes.Entrevista gravada em sua residência,em São Paulo, no dia 16/6/2005327Osvaldo LeonelAtor, eletricista, iluminador, dublê, 73 anos, trabalhoucom <strong>Ary</strong> na série Vigilante rodoviárioNasci em Joanópolis, SP, ainda criança fui parao Rio Grande do Sul, voltei para São Paulo enovamente para servir a Força Aérea, lá ficandoaté os 18 anos. Depois fui para o Rio de Janeiroe finalmente São Paulo. Eu estava servindo noRio de Janeiro e meu major havia servido na 2ªGuerra Mundial, seu nome era Júlio Agostineli.


328Ele estava para ser reformado e era repórtertambém. Quando saiu do exército foi trabalharna Vera Cruz em 1949. Ele me ligou no quartelme chamou para ir trabalhar lá também. Comoeu era muito magro, meu apelido era homemtábua.Como eu já estava para dar baixa, fuiser seu assistente, trabalhando no laboratóriode fotografia, foto de cena, isso durante o dia,à noite eu fazia bico como ajudante de garçonno restaurante, e servia café para as equipes.Café puro, com leite e pão com manteiga. Issoacontecia três vezes ao dia, de manhã, à tarde eà noite. Um dia veio um senhor baixinho pegouum pão com manteiga e me perguntou: Moço,que manteiga é essa?, eu respondi: É manteigaaviação, só passou por cima. Ele deu muita risadae respondeu: Qualquer dia rapaz, vou te darum pontapé no traseiro que em três dias bombeironão te acha e saiu. Depois meus colegasme contaram que aquele era o diretor geral daVera Cruz, Abílio Pereira de Almeida. Uma semanadepois ele me chamou na sala dele e fuitremendo, com as pernas moles, achando que iaser despedido. Entrei na sala e ele me disse: Osenhor sabe porque eu chamei o senhor aqui?,eu disse: Não senhor, ele respondeu: Por causadaquela resposta que você me deu lá embaixo.Eu pensei: É agora que vou para rua, mas eu nãohavia feito por mal, foi natural, sem maldade.


Ele disse: Mas sabe, que eu até gostei de você,tanto que vou te arranjar um papel num filme.Você vai ser o dublê do Mazzaropi, teu portefísico combina com o dele. Fiquei muito feliz, ofilme era Sai da frente, estréia de Mazzaropi nocinema. Fiz um teste com dr. Abílio, me deram amesma roupa do Mazza e eu fiz todas as cenasmais difíceis, corridas, tombos, brigas, dirigi o caminhãoAnastácio, etc. Na Vera Cruz conheci pessoasimportantes como Abílio Pereira de Almeida,Alberto Cavalcanti, Franco Zampari, Chick Fowle,Jack Lowin, Haffenrichter e atores consagradoscomo Anselmo Duarte, Alberto Ruschell, TôniaCarrero, etc. Lembro de um fato curioso: quandoGlenn Ford esteve no <strong>Brasil</strong> para fazer o filme Oamericano, eu participei das filmagens como atorcoadjuvante, quase um figurante. Mário Sérgio seengraçou com a mulher de Glenn Ford, que erabaixinho, usava uns enormes saltos e os dois saíramno braço, foi briga feia mesmo. As filmagensforam suspensas por oito dias. Continuei trabalhandono laboratório fotográfico com ValentinCruz e fazendo pequenos papéis, dublê, etc.,inclusive num filme norte-americano chamadoEscravos do amor das Amazonas, (Love slaves ofthe amazon), 1957, dirigido por Curt Siodmark.Meu apelido ficou Mazza, não só pelo fato deeu ser seu dublê, mas também pela aparênciafísica. Resolvi fazer um curso de cameraman para329


330aperfeiçoar meus conhecimentos e até 1955, como fim da Vera Cruz, fiquei lá fazendo de tudo umpouco, ora uma pontinha como ator, ora comoajudante de fotografia ou servindo lanches ecafezinho. Em 1958, Mazzaropi produz seu primeirofilme e leva parte da equipe da Vera Cruz,inclusive eu, como assistente de câmera. Mazzapediu que fizéssemos um bom preço, pois ele nãotinha condições de pagar o salário que a VeraCruz pagava, então, todos colaboraram, inclusiveo mestre Rudolph Icsey, que foi o diretor defotografia. Mazza já tinha o dinheiro no bancopara pagar a equipe, ele era muito correto. Nessaépoca conheci <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>, nas filmagens deCara de fogo e também nos dois últimos filmesda Maristela, Casei­me com um Xavante e Vou tecontá. Logo ficamos amigos. Fiquei morando dentroda Maristela, o pessoal me chamava de ratode estúdio. Lá existia uma porção de quartinhospara acomodar a equipe e eu usava um deles, masa Maristela já estava parada, não produzia maisnada, mas ainda existiam muitos equipamentoslá dentro. <strong>Ary</strong> me chamava para ir junto com elepara todo lado, passei a auxiliá-lo diretamente,inclusive nos comerciais que ele e o Palácios passarama produzir. Lembro que tive um problemana perna e precisava fazer uma cirurgia, foi <strong>Ary</strong>e Lola Brah que me ajudaram, na internação,me acompanharam. Ali eu me sentia como se


estivesse com minha família. O chefe da equipeera o Jaime Gonçalves. Almocei muitas vezes nacasa do <strong>Ary</strong> e continuava dormindo nos estúdiosda Maristela.Ai surgiu o Vigilante, não havia dinheiro para opiloto e fomos todos trabalhar de graça com <strong>Ary</strong>,acreditamos na idéia. No piloto, fui assistente deEliseu <strong>Fernandes</strong> e na série, de Osvaldo de Oliveira,o Carcaça. Tanto eu como Carlinhos comíamosalho com pão torrado, depois o Carlinhos casoue sua esposa mandava uma marmita para ele eoutra para mim. Depois, durante a série, a coisamelhorou. Primeiro eu fui morar no estúdio doJacob, que era amigo do <strong>Ary</strong> e depois nos estúdiosda IBF na Rua do Lavapés, 376. Eu revezavacom <strong>Ary</strong> e Mazzaropi, quando dava uma folga noVigilante, eu ia filmar com Mazzaropi. Durante asfilmagens de Jeca Tatu, aqui em Pindamonhangaba,conheci minha esposa, Maria, com quemestou casado até hoje. As filmagens foram feitasnas fazendas Sapucaia e Coruputuba, que existematé hoje. O Mazzaropi gostava de mim, eu nãodava trabalho e colaborava bastante. Na hora deacertar o preço era complicado, o Carlão (CarlosGarcia), que era o diretor de produção estavasempre junto, então o Mazza oferecia um cachêpara três meses, para o filme mudo ou com som,não importava, era o mesmo preço. Ele fazia331


332a oferta, às vezes era pouco e eu dizia: Mazza,não dá pra melhorar um pouco, vamos ter quetrabalhar direto, sábado e domingo, ficar longeda família?. Ele ficava pensando, pensando e respondia:Mas não dá pra você fazer esse preço?Se você concordar, no ano que vem tem outrafita pra gente fazer junto. No fim ele chorava e agente concordava porque ele era muito correto,era bom trabalhar com ele. Ele perguntava se queríamosum adiantamento, era nós que decidíamosa forma de pagamento. No meu caso, eu semprepreferi receber tudo no final. E eu ainda ganhavaum extra como dublê e segunda câmera. O contratoera assinado e registrado, pagávamos Impostode Renda, tudo certinho. Ele comia junto com aequipe e sua mãe sempre ao lado, ele contavapiadas para descontrair a equipe. No filme Jecão,um fofoqueiro no céu eu fiz o dublê do Mazza enuma cena que ele morre, quem ficava dentro docaixão era eu e às vezes ficava esperando horasali naquela posição para começar a gravar. Imaginaeu esperando ali dentro do caixão, naquelaposição de defunto. Um engraçadinho jogou umpunhado de terra vermelha com formiga saúvadentro da minha camisa, na altura do peito e eunão podia falar nada e as formigas me picando,todo mundo rindo, ai eu não agüentei, falei umpalavrão e levantei rápido, o Mazza e toda aequipe caíram na risada. Parou a gravação, me


limparam, refizeram a maquiagem e começamosnovamente. Ele foi um grande homem, um grandeartista e ainda nos faz muita falta.Com o Vigilante viajamos muito, não só pelointerior de São Paulo, mas Minas Gerais, Rio deJaneiro, Paraná, etc. Em 1967 fiz com <strong>Ary</strong> a sérieÁguias de fogo. Eu procurava sempre fazer maisdo que estava no contrato, então colaboravacomo podia para ajudar fazer a fita, fazia iluminação,assistente de fotografia, puxava fiação,assistente de câmera, virar filme, carregar chassi,montar câmera, efeitos de luz, efeitos de bombaexplodindo, relâmpago, trovões, eu fazia detudo. Subia em poste para puxar força, pois nãotínhamos gerador, fazia o teste se era 110 ou220 e pronto, resolvia o problema. No episódioA pedreira, colocamos a câmera numa caçamba,mas na explosão uma pedra rasgou o ferro dacaçamba e feriu o rosto de um dos atores quefazia um bandido, ainda bem que não foi nadasério mas passamos um susto. O cachorro Lobotambém foi especial para nós, lembro-me quevocê não podia falar palavrão ao Lobo, em especialdois, se falasse o Lobo avançava. Num dosepisódios, um ator que fazia o papel de bandidofalou um palavrão e Lobo avançou de verdade,chegou a machucar o braço do rapaz, mas eraum cachorro excepcional, fora de série.333


Além do <strong>Ary</strong> e Mazza, fiz alguns filmes com o OzualdoCandeias, outros estrangeiros e 187 comer ciaiscomo ator, sempre no papel de caipira, o maisfamo so foi o da caninha Jamel, ficou três anosno ar. Fiz também um da cerveja Antártica juntamentecom Adoniran Barbosa, tratores Valmet,caninha Três Fazendas, e outros tantos mais.334Lembro-me que o <strong>Ary</strong> fumava muito e se alimentavapouco, sempre preocupado em resolver ascoisas, era elétrico, nunca parava, mas foi umexcelente diretor e amigo, conhecia muito decinema, sabia tudo, era correto, gostava das coisascertinhas, uma pessoa muito séria, a quem devomuito. Trabalhamos mais de 20 anos juntos. Hojeeu digo que valeu a pena, faria tudo de novo. Esselivro sobre sua vida é uma justa homenagem.Entrevista gravada no dia 4/6/2005,em sua residência, em Pindamonhangaba, SPPenna FilhoProdutor, diretor, 70 anos, assistente de direçãona série Águias de fogo, em 1967/8 e diretor dofilme Até o último mercenário, em 1971Tornei-me assistente do <strong>Ary</strong> em janeiro de 1966na produção, em 35 mm, de um piloto para umasérie de televisão sobre aviação, projeto que nãovingou. A experiência foi muito gratificante, pois


desde as primeiras conversas e a leitura do roteiroa nossa relação foi satisfatória. Ao contráriode outros diretores, <strong>Ary</strong> tinha a humil dade deouvir, mesmo considerando a minha inexperiência.O seriado somente iria vin gar um ano emeio depois, com o nome de Águias de fo go,inteiramente feito no processo cinematográfico,agora também produzido pelo <strong>Ary</strong>, a partir dopatrocínio que levantou com a Nestlé, que jáhavia patrocinado sua série anterior, Vigi lanterodoviário. Foi durante a sua realização que minhaparceria com <strong>Ary</strong> se solidificaria, marcandoo início de uma amizade de quase 40 anos. Creioque a experiência que <strong>Ary</strong> me proporcionoufoi única na relação assistente/dire tor (tambémprodutor), pelo menos naquele período. Eramuito prazeroso estar quase todo o dia, duranteonze meses, com o olho no visor da sua Arriflex,ajudando no enquadramento e na atuação dosatores. Folgávamos aos sábados e domingos, maso ritmo de segunda à sexta era alucinante, commuita improvisação para superar as adversidadesde uma produção modesta. Tínha mos o desafioda recriação na hora, pois elas sempre surgiam.Foi uma experiência profissional e também devida, que me marcou para sempre, independentementedas limitações próprias de um projetodespretensioso sob os aspectos culturais e estéticos.O que me fasci nava no trabalho era o ritmo335


336do <strong>Ary</strong>, sua grande agilidade, seu talento parao filme de aventura. Infelizmente, ele não teveoportunidade de desen volver um projeto paraesse gênero ou mesmo para fazê-lo na televisão.Em longa-metragem, fui seu assistente emUma pistola para D’Jeca, um filme produzido eestrelado por Mazzaropi, em 1969. Como era doseu feitio, o velho comediante e produtor abusoudo seu poder prejudicando sensivelmenteo trabalho de direção. Dois anos após, fizemosjuntos Até o último mercenário, que eu assinei,mas na verdade co-dirigimos. <strong>Ary</strong> foi o produtorexecutivo.É um trabalho que eu não gosto eque muito me magoou, pois a meu ver o filmefoi prejudicado porque em vez de seguir o ritmoque eu queria, o de suspense, <strong>Ary</strong> preferiu imporo ritmo de aventura, o equivalente ao videoclip.Creio que o resultado do filme pode ria ter sidomelhor, talvez não o suficiente para salvar umaidéia pobre desde o nascedouro. Esse resultadopouco satisfatório não refletiria sobre a amizadee o carinho que tenho pelo <strong>Ary</strong>, porque meconsidero sempre em dívida pelo muito que eleme proporcionou.Entrevista enviada por e-mail, no dia 13/6/2005Rosamaria MurtinhoAtriz, 70 anos, participou do episódio A repórter,da série Vigilante rodoviário, em 1961.


Na época, eu já fazia teatro e televisão, era umaatriz muito jovem, mas ascendente, talvez porisso <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong> me escolheu para participarda série O Vigilante rodoviário, já um sucesso natelevisão brasileira. Eu estava grávida de dois mesesdo meu primeiro filho, João Paulo, e aceiteio desafio. Usei minhas próprias roupas, já que oorçamento do filme era apertado. O diretor <strong>Ary</strong><strong>Fernandes</strong> era muito bom, competente e medeixou muito à vontade, aliás, o convívio comtoda a equipe foi muito prazeroso, todos muitoempenhados em fazer o melhor. Adorei trabalharcom Carlos Miranda e Lobo, as filmagensfluíam muito bem. Eu morava em São Paulo naépoca e essa era minha primeira experiência emcinema, já que, mesmo sendo feita para televisão,a série foi filmada em 35 mm. Fiquei deslumbradae apaixonada. Devido à minha gravidez, eutomava muito cuidado com as cenas, uma delasem especial, no final, numa roda gigante de umparque de diversões. A crítica foi muito boa naépoca. Ignácio de Loyola Brandão, disse: Temosuma nova estrela, bonita, fotografa bem, representabem a redação e é muito natural. Depoisdo sucesso da TV, a série foi para o cinema. Umdia, passando por um cinema da Rua Augusta,vi o cartaz do filme com meu nome. Entrei paraassistir, mas de óculos escuros e lenço na cabeça,com medo da reação do público. Um amigo meu337


338havia passado por experiência semelhante e teveque sair pelas portas do fundo. Estava assustada.Eu ia sair antes do filme acabar, mas percebi quea reação do público era ótima, eles vibravam,torciam. Ao final, bateram palmas de pé, fatoraro no cinema brasileiro. Ai eu sai toda prosa,orgulhosa de ter participado, dando entrevistas.Por causa do filme, fui indicada ao prêmio Sacide melhor atriz de cinema. O Zé Celso, do TeatroOficina me avisou, mas eu disse Nunca fiz cinema,porque na minha cabeça o Vigilante rodoviárioera da televisão. Depois lembrei que o filme foipara o cinema. Essa experiência foi muito importante,me lançou no cinema, e, de certa forma,alavancou minha carreira.Entrevista concedida por telefone,do Rio de Janeiro, no dia 9/3/2005Salomão ÉsperJornalista, radialista, 77 anos, trabalhou com <strong>Ary</strong>na Rádio América, em 1952Fui para a Rádio América em 1952, levado porCésar Freitas, depois de quatro anos na RádioCru zeiro do Sul, que passou a se chamar RádioPira tininga, na Praça do Patriarca. Fui levadopara com pletar a equipe com programas deauditório. Lá conheci <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>, que já eraconhecido de meu irmão, Salomão Jr., que depoisapresentaria um programa somente com


músicas brasileiras . <strong>Ary</strong> integrava a equipe derádioatores e de apresentadores da emissora, quetinha bons produtores, gente famosa como EgasMuniz, Gaia Gomes e bons redatores, gente queescrevia bem, então havia bons textos para se lere interpretar. <strong>Ary</strong> sempre foi pessoa muito cordata,boa e afável e competente. O rádio recrutavaescritores, os cronistas que faziam textos dasrádionovelas, das crônicas e dos programas quedemandavam roteiros e tudo isso. Nessa épocaconheci também o Alfredo Palácios, e já comeceia perceber uma inclinação dos dois pelo cinema,esse filão das comunicações, das artes, da criação.E o cinema começou a absorver as atenções do<strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>. Pelas ciladas que o destino nosprepara acabamos nos afastando. Eu permanecina Rádio América e o <strong>Ary</strong> seguiu seu caminho nocinema. Nossos encontros então passaram a seresporádicos, não nos encontrávamos mais coma assiduidade que acontecia na rádio. Depois arádio foi vendida para o Grupo Saad e eu passeia integrar a Rádio Bandeirantes, na qual estouaté hoje. Na rádio, éramos colegas, tínhamos omesmo nível profissional, eu ainda não haviaascendido ao cargo de diretor artístico e depoissuperintendente da rádio. Éramos companheiros,colegas, obedecendo ao comando dos chefes,tínhamos essa intimidade e esse conhecimento,não era uma relação de subalterno, era de339


340colegas , na fase em que eu fui ascendendo lá o<strong>Ary</strong> já não estava mais na Rádio América, já tinhase dedicado à cinematografia. A primeira grandecrise do rádio, a primeira devastação aconteceucom a televisão. A televisão da década de 1950queria queimar etapas, economizar e aproveitaraqueles que já tinham conhecimento. O rádioera o instrumento maior de comunicação einteração entre a população e os profissionais.Assim como a Tupi pioneira, a primeira televisão,pegou seus homens e suas mulheres maisconhecidos e famosos para iniciar a televisão.As outras emissoras também se utilizaram desseprocesso. Tivemos então um esvaziamento dorádio. Houve o ressurgimento do rádio com oadvento do transistor, que miniaturizou o rádio,substituindo os enormes trambolhos porpequenos aparelhos, facilitando a audiência.Depois tivemos a fase em que valia mais o discoque o profissional, você fazia entrevista sobre odisco, se era comercial, ou não e o FM acabouplastificando o rádio, deixando-o muito igual.Com a concessão de tantos e tantos prefixos,uma enormidade de rádios foi surgindo por injunçõespolíticas e o rádio passou a ser o lobo dorádio. Quando ao tempo da Rádio América emque convivemos eu e o <strong>Ary</strong>, eram dez emissorasem São Paulo então você pensava estar numaemissora média ou pequena, não era nem a Tupi,


nem a Record as maiores, mas na América e naPiratininga a gente teve alegrias incontáveis emmatéria de audiência, de resposta a tudo quenós fazíamos. Hoje não, com 50, 60 prefixos nagrande São Paulo como é que você pode imaginarfazer uma mídia de rádio, o rádio é forte,unido, se você soma para a mídia a audiênciade todas as emissoras, mas não se pode dizerque há uma rádio forte, capaz de ela sozinharesolver os problemas, trazer soluções para umproduto, você depende muito mais, é claro quese você pulverizou a concessão de emissoras,você pulveriza também a audiência. Sempre háaquelas mais ouvidas mas não temos mais aquelesíndices de 30, 40, 50, 80% de audiência que tinhauma partida de futebol transmitida pela RádioBandeirantes.341Na década de 1950 as emissoras, mesmo pequenasou médias, ainda se apresentavam comregionais, orquestras. A Rádio Bandeirantes, naRua Paula Souza, eu alcancei com duas ou trêsorquestras, a Tupi e a Record também tinhaisso, era o chamado broadcast, ou seja, o rádiode amplo espectro que tinha rádioteatro, jornalfalado, programas de auditório. Depois, coma concorrência da televisão, as emissoras nãoconseguiam mais absorver esses altos custos, eelas foram enxugando, procurando o caminho


da especialização, uma optou pelo jornalismo,outra pelo esporte, alcançamos, por exemplo, aRádio São Paulo que dedicava todas as suas horasde programação ao rádioteatro. Depois seuselencos foram migrando para a televisão, mesmosos feios tinham vez na televisão, desde quetivessem talento, inicialmente levaram os de boaaparência, mas depois foram levando todos.342No cinema, tive uma única experiência: Paláciosme convidou para fazer um pequeno papel nofilme A Pensão de dona Estela, produção da Maristela.Eu fazia um apresentador, um animadorde auditório que anunciava os cantores. Nessaépoca eu já comandava um programa de auditóriosemelhante na rádio. A TV Cultura a cadaano reprisa o filme e de vez em quando alguémme identifica, veja só hoje eu com três quartosde século de vida aparecendo num filme com 20anos de idade, é muito engraçado.Embora tenhamos trabalhado pouco tempojuntos, guardo do <strong>Ary</strong> as melhores lembrançascomo moço esforçado, cumpridor dos seus deverescom absoluta responsabilidade profissional,que gostava que tudo fosse feito com exatidão,com perfeição, com muito ensaio, ele não erade apelar para improvisos, correndo o risco deerros mais graves, esse cuidado ele levou tambémpara o cinema. A gente trocava informações,


mas como eu não era especialista na área, apenasum freqüentador de cinema, não pude meembeberar nos conhecimentos prodigalizadostransmitidos pelo <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>.Entrevista gravada no dia 17/5/2005,na sede da Rádio Bandeirantes, em São PauloSoldado MottaÁlvaro Martins Motta, Polícia Rodoviária, instrutorde motocicletas, 70 anos, designado paraacom panhar as filmagens da série Vigilanterodo viárioEu entrei na Força Pública no dia 20 de junhode 1955. Trabalhava na oficina de motocicletasque era da Polícia Militar, fazia escolta do governador.A oficina era no bairro da Luz, perto daAv. Tiradentes, onde fica também o Regimentode Cavalaria. As motos eram consertadas lá. Ocomandante Harrison, meu chefe, foi transferidopara a Polícia Rodoviária e me chamou para irtambém, conversei com meu pai e ele achou queseria muito bom para mim, então prestei concursona Escola da Polícia Rodoviária em Jundiaí eescolhi São Bernardo, que era mais próximo deminha casa. Meu pai era capitão da antiga ForçaPública e já me incentivara a entrar na ForçaPública anos antes, disse que a aposentadoriaera integral e que eu teria mais segurança. Eutinha 18 anos e havia acabado de sair do Exército.343


Se hoje estou bem, devo a meu pai que me encaminhouna vida. Existiam três postos rodoviáriosna Via Anchieta, nos quilômetros 10, 30 e 40, esteno alto da serra. Hoje a Polícia Rodoviária estádividida em três batalhões: O Primeiro Batalhãoda Polícia Rodoviária fica em São Bernardo, osegundo em Campinas, o terceiro em RibeirãoPreto e o comando central na Ponte Pequena.Um coronel comanda todos os batalhões.344Bem, em 1960 eu já trabalhava na oficina demoto cicletas da Polícia Rodoviária e pilotavabem qualquer moto, principalmente as HarleyDavidson. Um belo dia, na sede da Polícia Rodoviária,em São Bernardo do Campo, na RuaFrei Gaspar, esquina com a Marechal Deodoro,apareceram <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong> e Carlos Miranda. Oinspetor me chamou, me apresentou aos dois epediu que eu orientasse o Carlos sobre como utilizara motocicleta. Então fomos para um campode futebol que tinha lá perto e fui explicando.Carlos já sabia andar de moto, mas eu passei aele todos os macetes da Harley. Em seguida, <strong>Ary</strong>me convidou para participar da série, sendo umaespécie de instrutor e dublê de Carlos Miranda,em todas as cenas que utilizavam motocicleta.De perto, na saída, focalizava o Carlos Miranda,depois, nas cenas mais distantes, era eu. Em umcapítulo, filma do em frente à empresa Fontoura,


na Via Anchieta, eu estava levando o Lobo namoto, quando ele queimou a pata no escapamento,imediatamente ele pulou por cima dopára-brisa da moto e ainda machucou o queixo.Depois, Lobo não queria mais subir na moto, entãoo <strong>Ary</strong> mandou fazer um cachorro de pelúciaigual ao Lobo e eu andava com ele amarrado emmeu corpo. A corporação designou quatro policiaispara acompanhar a série, o Benedito Lupi,o Castrioto, o Mistrenel e eu. Eu acompanhei aequipe para o Paraná e Minas Gerais. Nós ficamosaté o final da série. Nossa função era acompanharprincipalmente as cenas feitas nas estradas,onde fazíamos toda a sinalização e desviávamoso trânsito para que as filmagens pudessem serfeitas. <strong>Ary</strong> sempre nos consultava sobre comoproceder em determinadas situações, comoacidentes, etc. <strong>Ary</strong> gostava das coisas da polícia,acho que ele queria ter sido militar, tamanho seuinteresse. Filmamos na Anhangüera, Cabreúva,Itu, Jundiai, Na sede da Polícia Rodoviária emJundiai foram feitas as cenas internas do capítuloO fugitivo, com Milton Ribeiro. O comandantelá era <strong>Ary</strong> Aps, chegou a coronel, mas morreuainda muito novo. Cumpríamos o horário das 8às 18 horas e estávamos disponíveis para tudo,sempre fardados, para ir buscar artistas, técnicos,etc. Fiz uma ponta em três episódios: A históriado Lobo, que teve cenas feitas na Via Anchieta345


no km 10; A Repórter, com Rosamaria Murtinhoe outro com <strong>Ary</strong> Toledo, em que eu fazia umacena de luta com ele na Via Anhangüera. A IBFtinha um estúdio no Cambuci e eu levava os filmespara sonorizar na Vera Cruz. Filmamos naTV Excelsior com Juca Chaves, de madrugada,depois que terminava a programação. Ia buscarfigurantes para encher a platéia, isso durou atéàs quatro horas da manhã.346Uma ocasião a equipe estava filmando em Jundiai,com sol e chovia torrencialmente em SãoPaulo. Ele me ligou e pediu para eu levar a Harleypara Jundiaí. Mas deu um problema na moto, quenão queria pegar de jeito nenhum. Então ligueipara o Sr. Alfredo Palácios nos estúdios da RuaLavapés e avisei. Disse que ia tentar consertarpara chegar lá, mas não consegui e acabei nãoindo. No dia seguinte <strong>Ary</strong> me deu uma bronca,ficou bravo comigo, achando que eu não tinhaido por causa da chuva, mas depois ele compreendeu.Essa foi a única vez que <strong>Ary</strong> me chamoua atenção, mas eu não tinha culpa. Depois dessedia ele resolveu deixar a máquina em Jundiaí.Não existia rádio nas viaturas, somente nospos tos, então o rádio da moto era um Controlque não funcionava, ficava ali fazendo apenasfigu ração.


Quando fomos para Curitiba, fui o último a sair.Na Lapa, começou a bater a cruzeta. Levei o carropara a Chambord Auto, acabei saindo às cinco emeia da tarde, sozinho, pela Régis Bittencourt.Uns 20 quilômetros antes de chegar a Curitiba,acendeu uma luz vermelha no painel do Simca,parei num posto de gasolina e liguei para o <strong>Ary</strong>que já estava em Curitiba, no hotel. Ele veio mebuscar e rebocamos o carro. O motor e a embreagemdo Simca eram fracos, tinha conforto masnão agüentava o tranco.A polícia só tinha motocicletas e viaturas importadascomo um Ford 1946, uma perua Chevroletantiga 1948, ainda não existia indústria de automóveisem São Paulo. Quando a Willys montousua fábrica e começou a fabricar jeeps no <strong>Brasil</strong>,a Polícia Rodoviária comprou um lote de jeeps,inclusive alguns foram usados na série.347O episódio Zuni, o potrinho foi feito num harasem Cabreúva, tinha uns cavalos argentinos, bonitos.Eu sempre tive medo de cavalos, mas a filhada dona do haras me indicou um cavalo, dizendoque era manso. Numa hora de folga, montei nocavalo sem cela, somente com rédea. O cavalocomeçou a andar e eu fui escorregando para umlado e para não cair, segurei a rédea com a mãodireita com toda a força e desloquei o braço.Fui socorrido em Jundiai e colocaram o braço no


lugar . Fiquei uns dez dias afastado das filmagens.Eu tinha que fazer uma operação para colocaruns pinos, mas não quis, então meu braço sai dolugar até hoje, eu já aprendi a colocar no lugare hoje eu mesmo faço. Faz mais de 10 anos quenão sai do lugar, mas eu não facilito. Essa é umapassagem curiosa de um polícial rodoviário queliteralmente caiu do cavalo.Eu casei em 1961, durante as filmagens. Fiqueiuns dias de folga e depois voltei. Tenho três filhostodos encaminhados e dois netos.348Eu nunca esperei um dia ter a oportunidade departicipar do Vigilante, foi muito gratificante,uma experiência inesquecível. Depois da sérienunca mais tive contato com <strong>Ary</strong>, somente como Carlos, que entrou para a corporação.Fiz uma bela carreira na polícia, nunca tive umapunição e nunca cheguei um minuto atrasado.Trabalhei na pista, depois fui cuidar da oficina.Depois o Destacamento de São Bernardo foi extintoe eu fui para o comando Geral, o CPRV, trabalharno Setor de Comunicação, eu tomava contado almoxarifado. O CPRV era perto da Ponte dosRemédios e lá, além do Setor de Comunicação,tinha também a escolinha da Polícia Rodoviária.Na parte da manhã eu ia à Rua Santa Ifigêniacomprar componentes eletrônicos para os rádios


Etty Fraser (acima) e Juca Chaves (abaixo) em episódiosdo Vigilante rodoviário349


da polícia, após o almoço cumpria expedienteinterno e no final da tarde, após o expediente,tinha um jogo de bola com os alunos da escolinha.Assim cumpri meus 30 anos de Polícia, meaposentando em 1983 como segundo tenente.350Em 2004 fui ao SESC Ipiranga e participei de umahomenagem que fizeram ao <strong>Ary</strong> e ao Carlos.Nessa oportunidade revi o episódio A históriado Lobo, do qual participara. Revi também <strong>Ary</strong><strong>Fernandes</strong>, a quem eu não via há 42 anos e CarlosMiranda, foi muito emocionante. Me chamaramao palco, fui homenageado também. Morreuprimeiro o Castrioto, depois o Lupi e por últimoo Mistrenel.Sempre admirei <strong>Ary</strong> por ser um homem muito capacitado,honesto, que gostava de fazer as coisasperfeitas, tanto que a série foi um sucesso. Nãoera prepotente ou arrogante, não era de mandarrecado, o que tinha para falar, falava na frente,sempre nos tratou com muito respeito, sabiaconversar e tinha humildade para perguntar ascoisas quando tinha alguma dúvida.Entrevista concedida em sua residência,em São Paulo, no dia 16/6/05


FilmografiaExtraída dos livros Dicionário de filmes brasileiros– longa­metragem e Dicionário de filmesbrasileiros – curta e média­metragem, de AntonioLeão da Silva NetoDiretor• Um peão para todo serviço, 1957, São Paulo, SP.ficha técnica: prd e dir: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>; fot: OsvaldoOliveira; elt: Osvaldo Leonel; mtg: Luiz Elias;cpr: Willys Overland do <strong>Brasil</strong>; p&b; 35 mm; curtametragem;15 min; gen: documentário. sinopse:As peripécias de um jeep que faz de tudo, tendoas funções de um verdadeiro peão. Comentários:Estréia de <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong> na direção.351Série Vigilante rodoviárioFicha técnicaprd: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong> e Alfredo Palácios; dir e cri:<strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>; asd: Miguel Lopez e Jorge RobertoPizani; gep: Sérgio Ricci; arg: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>,Fábio Novaes Silva e J.C.Souza; dif e cam: Eliseu<strong>Fernandes</strong>; asc: Renato Damiani; fcn: José Amaral;elt: Osvaldo Leonel, Edgar Ferreira e CláudioPortioli; tcs: Ernest Hack; snp: Paulo Bergamasco;cen: José Pereira da Silva; mtg: Luiz Elias; can:Vigilante rodoviário, de <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>; col:


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Polícia Rodoviária do Estado de São Paulo; ess:Companhia Cinematográfica Vera Cruz; lai: RexFilme; sis: RCA; p&b; 35 mm; curta-metragem; 22min; gen: Ficção.Episódios• O diamante gran-mogol, 1959/60, São Paulo,SP. elenco: Carlos Miranda, o cão Lobo e outros.sinopse: Um diamante gigante, uma das maiorespedras do mundo, é roubado na Holandae trazido de navio para o <strong>Brasil</strong> por quadrilhainternacional, que se associa a perigosos bandidosbrasileiros. Toda a polícia é acionada, mas osladrões conseguem entrar no <strong>Brasil</strong> com a preciosagema. Ao passarem de carro na estrada, sãointerceptados pela Policia Rodoviária, que lhespede documentos. Os bandidos dão um golpeno policial e o levam como refém para uma casano meio do mato. O inspetor Carlos descobre olocal mas também é preso e amarrado. Sem outraalternativa, Carlos manda Lobo pedir socorro.Este vai até a moto e, através de latidos, faz acomunicação com a central, que entende a situaçãode perigo. Manda então grande contingentede viaturas ao local, que acabam prendendo aquadrilha. Comentários: Piloto da série.353• A pedreira, A, 1961/62, São Paulo, SP. elenco:Carlos Miranda, o cão Lobo e outros. sinopse:Numa pedreira localizada nas imediações de


354São Paulo, trabalha uma equipe, com a funçãode dinamitar as rochas e transportar as pedrasem tratores e depois caminhões, num entra esai diário e constante. Ao tentar detonar umaenorme carga de explosivo, o dispositivo falha.Um dos funcionários começa a averiguar a fiaçãopara detectar a falha. Começa então a trovejar,causando pânico na equipe pois um raio podefazer tudo ir pelos ares em segundos. Uma meninaque mora nas imediações, sem saber o perigo,começa a brincar com seu cachorro, chegando aotopo da pedra. O rapaz tenta escalar a enormerocha para salvar a menina, mas acaba sofrendoum acidente, fica ferido e impossibilitado decaminhar, pois a sua perna fica presa. A políciaentão é acionada. Chegando ao local, o inspetorCarlos escala a rocha e solta a perna do rapaz. emseguida sobe mais para salvar a garota, contandocom a ajuda de Lobo. Ao descer com a garota e ohomem ferido, já num local fora de perigo, presenciama enorme explosão, que põe a enormepedra nos ares. No final, todos se salvam.• Ladrões de automóveis, 1961/62, São Paulo, SP.elenco: Carlos Miranda, o garoto Manivela, o cãoLobo e outros. sinopse: A cidade de São Paulo éassolada por quadrilhas que roubam veículos,principalmente dos motoristas incautos e distraídos,que às vezes até a chave deixam no con-


tato. Os carros são roubados, levados para umagrande casa no mato, e depois de esquentados ,são vendidos. Os roubos são feitos por encomendasdos interessados na ilícita transação. Semsucesso nas investigações, a Polícia Civil pedeajuda à Policia Rodoviária, que entra em ação.O negrinho manivela, fã do inspetor Carlos, vivese metendo em encrencas, pois tem o sonho deum dia ser da Polícia Rodoviária. Sem saber, entrasorrateiramente num dos carros roubados eacaba descobrindo o esconderijo dos bandidos,comunicando ao inspetor Carlos, que vai ao locale prende a quadrilha.• O garimpo, 1961/62, São Paulo, SP. elenco: CarlosMiranda, Gilberto Marques, Edgar Franco,Fomi nha, Nestor Lima, o cão Lobo e outros. sinopse:No garimpo da Siriema, os homens encontramas suas últimas oportunidades de resolverem suasvidas. São ex-presidiários, fugitivos, homens semsorte na vida, enfim toda a espécie de pessoas embusca das pedras preciosas que poderão mudarsuas vidas. Ao passar perto do garimpo, o inspetorCarlos encontra um homem ferido, que começaa lhe contar sua história, de como chegara aogarimpo, foragido da polícia. Sozinho, passou agarimpar sem parar durante meses, sem sucesso,até que um dia começou a encontrar as pedras ea escondê-las, mas dois bandidos chegam ao local355


e percebem a fortuna que o homem encontrarae fazem-no prisioneiro, ameaçando entregá-loà polícia. Ao tentar fugir é baleado, mas mesmoassim foge, quando Carlos o encontra. O inspetorchama reforço e guiados pelo pobre homem vãoao local prender os bandidos. O homem é preso einternado no hospital, com a garantia de um julgamentojusto e pena abrandada por ter ajudadoa polícia a prender tão perigosos malfeitores.356• O assalto, 1961/62, São Paulo, SP. elenco: CarlosMiranda, o garoto Tuca, o cão Lobo e outros.sinopse: Portão principal do Estádio Municipaldo Pacaembú, em São Paulo. Tuca insiste com oporteiro para entrar no estádio e ver o final dojogo. Tuca quer ver Pelé jogar. O porteiro afastao garoto. Tuca sobe em uma árvore para esperara saída dos jogadores. No outro portão, trêshomens se preparam para assaltar as bilheteriasdo estádio. O dinheiro da renda do jogo foi de 8milhões informa o rádio. O dinheiro é colocadoem duas malas. Tuca presencia o assalto mas évisto pelos bandidos e levado junto no carro. Pelorádio, Carlos e Lobo são acionados. Na estrada,os bandidos são seguidos de motocicleta peloguarda rodoviário Hélio. Os bandidos dominamo guarda e escondem a moto no mato. Nessemomento Carlos e Lobo entram em ação. Osbandidos entram em um casebre habitado por um


casal de velhos e os dominam. Carlos conseguelocalizar a moto escondida no mato. Desconfiado,ele vai até o casebre do Sr. Barone e esposa.Ao adentrar a casa, Carlos desconfia da situaçãoe os ladrões são dominados. O filme termina comTuca no Pacaembú vendo um jogo de futebol.• A aventura do Tuca, 1961/62, São Paulo, SP.elenco: Carlos Miranda, o garoto Tuca, o cãoLobo e outros. sinopse: O cão Lobo guarda aCasa do Bandeirante, onde um museu reúnedocumentos, armas, móveis e objetos dos temposdos bandeirantes. Jaime e Sônia, um casal derefinados ladrões, ludibria e rouba o trabuco,uma pistola histórica. Tuca recorre ao vigilante,que consegue localizar o casal num sítio abandonado.Ao perceber a presença da polícia, o casalfoge para o mato, sendo seguidos por Carlos eLobo. O casal cai numa vala e fica preso. Carlosdesce uma corda e resgata-os para em seguidaprendê-los.357• Aventura em Ouro Preto, 1961/62, São Paulo,SP. elenco Carlos Miranda, Lola Brah, o cão Loboe outros. sinopse: Ouro Preto, MG. Num museu,Lola, misteriosa mulher rouba um valioso quadrode Portinari. A polícia mineira entra em ação.Investigadores comparecem ao local e tomamas primeiras providências. Na estrada, divisa dosEstados de São Paulo e Minas Gerais, a mulher


358e seu comparsa, para disfarçar, pedem ajuda aoinspetor Carlos para consertar seu veículo. O planoé voltar para Ouro Preto e assim confundir apolícia, que pensará que os mesmos se dirigiampara São Paulo. Ambiciosa e obcecada por obrasde arte, Lola pretende roubar uma estátua deAleijadinho. Avisado pelo rádio que o Simca docasal é roubado, Carlos vai no encalço dos mesmos.Sem sucesso, pede permissão para entrar noterritório mineiro e retorna para Ouro Preto. Lola,disfarçada de velha viúva, troca de carro e dirigesepara Congonhas do Campo, onde visita o museucom as obras de Aleijadinho. O diretor do museu,professor Gonçalves, vendo o interesse da velhamulher pelas obras de arte, pede a um garoto queleve a mesma para a casa do colecionador Ribeiro,detentor de algumas obras de valor, entre elasuma do famoso artista. Educadamente, Ribeirooferece um café para a viúva. Esta solicita-lhe umcopo de água. Enquanto Ribeiro vai buscar a água,a mulher coloca uma pílula em seu café, fazendocom que adormeça. Imediatamente a mulherrouba a estatueta e vai embora. O inspetor Carlosencontra-se com o delegado local e ambos ficamsabendo do roubo e passam a investigar o casoconjuntamente. A mulher, já com sua fisionomianormal, encontra-se com seu comparsa. Na igrejaonde estão as grandes está tuas de Aleijadinho,Lola fica admirando as peças, enquan to o com-


parsa vai abastecer o carro. Carlos, de posse dafoto de Lola, pede a Ribeiro que faça um retratofalado da viúva, ficando claro tratar-se da mesmapessoa. No posto de gasolina, Carlos para a viaturaao lado do homem que, apavorado, foge. Carlosvai ao seu encalço e o domina, após luta violenta.O delegado local prende Lola, que não esboçadefesa e se entrega.• Aventura em Vila Velha, 1961/62, São Paulo, SP.elenco: Carlos Miranda, <strong>Ary</strong> Fontoura, Ivo Ferro,Maurício Távora, Bóris Muzialowski, o cão Lobo eoutros. sinopse: O <strong>Brasil</strong> começa a se desenvolverna área espacial e prepara o lançamento de seuprimeiro foguete, mas a operação é malsucedidae a ogiva, com todo o segredo da operação cainas proximidades da cidade de Vila Velha, Paraná.A polícia imediatamente solicita ajuda darodoviária, que manda o inspetor Carlos para olocal. Nesse ínterim, perigosa quadrilha colocaescuta na base, e fica sabendo de toda a operação.Os bandidos conseguem chegar primeiro aolocal e roubar a ogiva, que na verdade é tambémautodestrutiva, contendo perigosa bomba. Oinspetor Carlos consegue chegar aos bandidose prendê-los. Ao perceber que a perigosa ogivaestava prestes a explodir, pega a peça e a jogano mato, detonando-a, porém, sem perigo paraninguém.359


360• Bola de meia, 1961/62, São Paulo, SP. elenco:Carlos Miranda, o garoto Tuca, o cão Lobo eoutros. sinopse: Dois homens estão parados emfrente a uma fábrica e planejam assalto à mesma.Paralelamente, em frete à fábrica, um grupo degarotos liderados por Tuca, joga futebol comuma bola de meia, observados de longe peloinspetor Carlos. Na fábrica, são feitos todos ospreparativos para trazer dois milhões de cruzeiros,que serão utilizados para o pagamento dosfuncionários. Um dos funcionários do escritóriofaz parte da quadrilha e trama o assalto. Doisbandidos combinam com dois garotos do timepara não haver futebol no dia seguinte, paranão atrapalhar o assalto. Mas Tuca percebe quehá algo errado e, juntamente com os outros garotos,vai atrás do inspetor Carlos avisando-o doassalto, que será realizado às dezessete horas. Osbandidos explodem bomba de gás na fábrica etentam fugir com o dinheiro, mas são interceptadospor Carlos e pelos meninos, que o ajudama dominar os malfeitores. Um dos bandidos fogee se esconde em tubos de concreto, mas logo édominado por Carlos, com a ajuda de Lobo. Pararecompensar os meninos, Carlos os presenteiacom uma bola de capotão.• Café marcado, 1961/62, São Paulo, SP. elenco:Carlos Miranda, Henricão, Edgar Franco, Marthus


Mathias, Fominha, o cão Lobo e outros. sinopse:Uma grande fazenda é utilizada para plantioe beneficiamento de café, de propriedade doIBC – Instituto <strong>Brasil</strong>eiro do Café. A fazenda temcomo capataz um negro (Henricão) e sua esposa,que ali moram com uma vida simples e tranqüila.Resolvem então, subalugar um casebre nos fundosda propriedade para um grupo de homens,que na verdade são malfeitores que pretendemroubar e contrabandear o café. Toda a produçãodali porém está marcada por tinta, que identificaos grãos destinados ao mercado interno. Osmalfeitores então, têm que lavar o café parapoder depois ensacá-lo e contrabandea-lo. Essaoperação é feita na própria fazenda. O IBC, jádesconfiado do fato, alerta as polícias militare civil, que entram em ação. Na estrada, Carlosdesconfia de um caminhão e o segue, chegandoà fazenda. Porém é dominado pelos bandidoscom uma coronhada na cabeça. Mas antes tinhaalertado a central, que manda reforços ao local.Lobo domina um bandido, mas um outro lhedá um tiro e ele cai, fingindo-se de morto. Ocapataz da fazenda, resolve ajudar e parte parabriga também. Com a chegada dos reforços, osbandidos são dominados.361• A chantagem, 1961/62, São Paulo, SP. elenco:Carlos Miranda, Stênio Garcia, Alcides Gerardi, o


362cão Lobo e outros. sinopse: Homem sinistro, estásempre acompanhado por dois capangas, entreeles Tarzan, um gigante de 2 metros de altura,que se diverte em espancar as vítimas, ex-presidiários,que estão na condicional, reconstruindosuas vidas, e portanto não podem se meter emencrencas. Estes são criminosamente chantageadose forçados a pagar quantias em dinheiro, emtroca do silencio, ou da liberdade, que poderiaestar ameaçada, se uma briga fosse iniciada poresses homens. Um dos explorados é o dono deum bar na beira da estrada, cujo filho é amigo doinspetor Carlos. No aniversário do garoto, Carlosvai visitá-lo e se defronta com a gangue no bar,desconfiando da situação. Ao pressionar o pai dogaroto, este lhe conta toda a trama. Carlos entraem ação e prende a quadrilha em flagrante.• Os cinco valentes, 1961/62, São Paulo, SP.elenco: Carlos Miranda, os garotos Fominha eTuca, o cão Lobo e outros. sinopse: Num rústicobarracão reúnem-se cinco garotos, usando umcaixote como mesa. Na porta, a inscrição: Sociedadedos Cinco Valentes. Tuca, um dos garotos,rebela-se contra o grupo e sai em disparada,encontrando-se com Carlos e Lobo. Carlos convenceTuca a retornar à reunião. Carlos avisa aosgarotos que o proprietário do terreno vai demoliro barracão, mas autorizara-os a construir outro


arracão no terreno perto da estrada. No mesmomomento, bandidos lêem no jornal a notícia queo milionário Ribeiro do Amaral comprou parasua coleção o famoso colar Pyra, avaliado emmilhões de cruzeiros, acreditando-se que ele teriapertencido à rainha egípcia Cleópatra. A gangueresolve assaltar a mansão do milionário. Carlosé avisado pelo rádio sobre o roubo do colar. Osladrões dirigem-se à estrada, perto de onde osgarotos construíram sua nova sede. Os ladrõesescondem a pasta com o colar no barracão. Osgarotos encontram o colar e logo avisam Carlos.Todos se escondem e esperam os ladrões virembuscar o colar. Ao chegarem, são dominados porCarlos, Lobo e os meninos.363• A eleição, 1961/62, São Paulo, SP. sinopse: A PolíciaRodoviária é o orgulho dos brasileiros. Seushomens são treinados para enfrentar situaçõesde perigo e manter a ordem nas estradas brasileiras.Pesados treinamentos com motocicletas sãoefetuados no quartel. Durante esses treinamentos,o soldado Mauro se machuca e, internado nohospital do quartel, passa a ter problemas psicológicos,com fortes tendências ao suicídio. Nessemesmo tempo está havendo eleições no quartel,para a nova diretoria do grêmio, fato este quemonopoliza as atenções. Num descuido, Maurosai da cama e vai para o parapeito da janela, que


se localiza no quarto andar, ameaçando jogar-se.Isso causa um pânico geral em todos, que se vêemimpossibilitados de ajudar o companheiro. O inspetorCarlos vai até a janela e começa a conversarcom Mauro, mantendo-o distraído e ganhandotempo, salvando-o em seguida, causando alíviogeral na corporação.364• Fórmula de gás, 1961/62, São Paulo, SP. elenco:Car los Miranda, Sérgio Hingst, Edgar Franco,Ma ria Cecília Camargo, Fominha, o cão Lobo eoutros. sinopse: O professor Rogério, renomadoquímico, faz experiências no seu laboratório, juntamentecom sua esposa Laura e Diógenes, seuassistente. Há muitos anos ele trabalha na fórmulado gás gerador, de propulsão atômica, queseria utilizado em uma máquina, em sua fábrica.Num dia histórico para todos, o professor Rogérioconsegue finalmente concluir o trabalho. Imediatamente,Diógenes, o assistente, saca de umaarma e mostra suas reais intenções, um sórdidoplano: roubar a fórmula, instalar na fábrica umaoutra, de alto teor explosivo, que cause a mortedo professor. Passado o acidente, retomaria otrabalho e apresentaria a verdadeira fórmula,sendo consagrado mundialmente, ganhandomuito dinheiro. Após relatar seus planos, leva ocasal para o carro e sai pela estrada, a caminhoda fábrica, com o professor Rogério dirigindo.


No meio do caminho, o professor Rogério, desgovernao carro propositadamente, fazendo comque este vá para o mato. Laura acaba se ferindoe Diógenes, ainda com a arma, leva consigo oprofessor. No hospital, Laura volta aos sentidose começa a relatar os fatos ao médico e a uminvestigador, mas estes não acreditam, julgandoestar ela delirando. O inspetor Carlos vai até olocal do acidente e resolve procurar o professorno laboratório. Lá chegando, não encontra ninguém,mas vê tudo funcionando, causando-lheestranheza. No hospital, Carlos ouve a história deLaura e vai em direção à fábrica. Na fábrica, acuaDiógenes, que, num gesto desesperador, ameaçatodos com um tubo de explosivos. Lobo dominaDiógenes e Carlos consegue pegar o tubo antesque caia no chão, evitando assim a explosão quemataria a todos. Diógenes é preso e o professorretoma seus trabalhos.365• O fugitivo, 1961/62, São Paulo, SP. elenco:Carlos Miranda, Milton Ribeiro, Márcia Cardeal,o cão Lobo e outros. sinopse: Repórter anunciaque Massacre (Milton Ribeiro), famoso bandido,acabara de fugir da prisão, nas imediações dacidade de Jundiaí, SP. O perigoso meliante chegaa uma casa e, mesmo sob insistentes lati dos deum cachorro, rouba roupas do varal, abandonaos trajes listrados da prisão e foge para a densa


366mata da região. Toda a polícia é mobilizadae todos os carros, caminhões e ônibus passama ser interceptados pela Polícia Rodoviária naVia Anhanguera. Massacre chega a uma humildecasa no interior da mata, onde vivem umamenina e seu pobre avô, um velho cego. Semdificuldades, domina os dois e faz da casa seuesconderijo. Violento, ameaça-os e obriga amenina a preparar comida para que mate suafome. O inspetor Carlos organiza uma patrulha,que passa a fazer rondas na região. O grupode vigilantes chega à casa, mas o bandido, comuma faca no pescoço do velho, obriga a meninaa despistar os policiais. Carlos percebe a situaçãoe finge ir embora com os outros, mas, escondidosna mata, armam o plano de ataque, cercandoa casa. Massacre percebe que está acuado masnão desiste. A menina pede autorização paraapanhar água no poço do quintal mas é impedidapelo bandido, que então ordena-lheque vá buscar um balde cheio de querosene.Ameaçado, ele joga querosene pela casa masantes que possa atear fogo, é dominado, comprecisos golpes de caratê, por Carlos. O grupo depoliciais retorna com o perigoso bandido, que éimediatamente levado ao camburão. Alertadopor Lobo, Carlos informa à central pelo rádio,que tudo foi resolvido.


• A história do Lobo, 1961/62, São Paulo, SP.elenco: Carlos Miranda, o cão Lobo, os garotosTuca, Gasolina e outros. sinopse: O inspetor Carlosencontra Tuca na beira da estrada e este estácom um filhote de cachorro. Carlos então passaa lhe contar a história do Lobo: uma noite, vindopela estrada, Carlos encontra um pequeno filhotede pastor alemão perdido. Sabendo da proibiçãode se manter animais no quartel, Carlos mesmoassim o leva para lá, mantendo-o escondido dosseus superiores, mas com a conivência dos outrossoldados. Todos passam a treiná-lo e logo setorna o mascote da corporação, surpreendendopor sua inteligência. Quando seu superior descobreo animal, pede a Carlos que o tire de láimediatamente, para desespero de todos. Mesmoassim, disciplinado, o inspetor Carlos leva o cãono seu carro para doá-lo a alguém. No caminho,um casal pede ajuda, pois seu carro quebrara. Afilhinha do casal vai atravessar a estrada e é salvade um atropelamento por Lobo, que assim setorna um herói e é aceito no quartel, passando aser o braço direito do inspetor Carlos. Depois deouvir essa história, Tuca sai emocionado, dispostoa cuidar do cãozinho que achara.367• O homem do realejo, 1961/62, São Paulo, SP.elen co: Carlos Miranda, Amândio Silva Filho,o cão Lobo e outros. sinopse: O carro forte do


368banco passa todo dia no mesmo horário, emfrente ao posto rodoviário. O motorista é velhoconhecido do inspetor Carlos, sendo semprecumprimentado por este. Num restaurante, umaquadrilha planeja roubar o carro forte, mas, todaa conversa é ouvida por um homem do realejo,que ali estava tirando a sorte dos presentes comseu periquito da sorte. O homem vai à políciainformar o fato, mas ninguém acredita na sua história,achando que é invenção de sua fantasiosacabeça. Até que o crime acontece e a polícia passaa procurar o tal homem do realejo. Os bandidos,sabendo da história, também o procuram, poisquerem destruir a pista. Numa esquina, o homemé seqüestrado pelos bandidos, mas um bando degarotos presencia e segue o carro, descobrindoseu esconderijo e avisando o inspetor Carlos, queentra em ação e prende a quadrilha. O homemdo realejo é contratado pelo banco e, fumandocharuto, posa com esnobação na porta do banco,provocando risos em todos os policiais e latidosalegres em Lobo.• O invento, 1961/62, São Paulo, SP. elenco CarlosMiranda, Elísio de Albuquerque, Geraldo Del Rey,o garoto Tuca, o cão Lobo e outros. sinopse: Umcarro em alta velocidade cruza a estrada e é perseguidopelo Simca da Polícia Rodoviária, mas oinspetor Carlos não consegue alcançar o veículo


o que o faz supor que o motor do carro fugitivoestá envenenado. De fato, o capitão o chama parainformar que os bandidos estão usando esse artifíciopara fugir da polícia. Um famoso inventor, dr.Correia (Elísio de Albuquerque) é contratado pelapolícia para desenvolver um motor para os carrosda frota e assim poder fazer frente aos bandidos.A cúpula da polícia é chamada para ver o novomotor e o teste é marcado para o dia seguinte.Um vigilante é designado para tomar conta domotor durante a noite. O jovem ajudante do inventor(Geraldo Del Rey) furtivamente fotografaos projetos e o motor, mas, ao perceber que ovigilante se aproxima, esconde a câmera embaixodo assento do sofá e o filme num pequenourso de pelúcia. Na verdade, o jovem está sendochantageado por bandidos, que, sabendo de seupassado negro ligado a jogos de azar, exigem queele lhes entregue o microfilme. Outrossim, o dr.Correia presenteia Tuca com o urso. Durante oteste do novo motor, o jovem cientista tenta seapoderar do brinquedo, mas é interceptado peloinspetor Carlos que o prende. Nesse momento, osdois bandidos chegam e, armados, se apoderamdo filme e se retiram do local, levando tambémo jovem. Este, arrependido, ajuda o inspetorCarlos e seus ajudantes a prender os malfeitores.O jovem, então, promete pagar pelo que deve ese regenerar.369


370• Jogo de campeonato (ou Jogo decisivo), 1961/62, São Paulo, SP. sinopse: É noite em São Paulo:casal de cantores interpretam música no interiorde uma boate. Jujuca, goleiro do Estrela éencontrado desacordado na porta da boate eé afastado do time. Carlos é amigo de Jujuca eestranha esse acontecimento, já que o rapaz nãotinha vícios. Carlos desconfia de um complô paratirá-lo do time, prejudicando o Estrela, que temem Jujuca sua maior atração. A ação seria de umaquadrilha especializada em apostas. Juju ca dizque foi embriagado por bandidos, mas ninguémacredita nele. O inspetor Carlos tem a brilhanteidéia de se passar por um jogador contratadoàs pressas para o gol do Estrela. A gangue, aosaber da notícia, fica desesperada, por causados milhões que estão em jogo nas apostas.Resolvem então eliminar Carlos e o atraem parauma armadilha na mesma boate. Carlos vai aoencontro de uma mulher, mas ao perceber queserá golpeado, aciona Lobo. Os dois travam violentaluta com os bandidos, que são dominados.No dia seguinte, dia do grande jogo, inesperadamenteJujuca aparece defendendo o gol doEstrela, para delírio da torcida. O Estrela venceo jogo por um a zero. Carlos e Lobo assistem aojogo nas arquibancadas. Carlos abaixa-se, sorri eaperta a pata de Lobo.


• O mágico, 1961/62, São Paulo, SP. sinopse:Mági co ex-presidiário, em liberdade condicional,não consegue se livrar de dois ex-comparsas docrime. Ele quer levar vida honesta mas é ameaçadoconstantemente. Resolve então, ir à políciae contar tudo. Junto com o inspetor Carlos, armacilada para os bandidos. O mágico finge concordarcom os comparsas, que querem roubar, coma sua conivência, o Teatro São Pedro, onde eleapresenta seu show. Começa o espetáculo comcasa lotada e os bandidos roubam a bilheteria efogem pelos corredores do teatro, mas são impedidospelos truques do mágico, que cria barreirasà sua frente. Tudo ilusão de ótica, até que sãopresos pelo vigilante, que agradece a ajuda domágico, sem o qual, não teria sido possível prenderos malfeitores. O mágico transforma então, oboné de Carlos em um osso, que é prontamenteabocanhado por Lobo.371• Mapa histórico, 1961/62, São Paulo, SP. elenco:Carlos Miranda, Xerém, Cavagnolle Neto, o cãoLobo e outros. sinopse: A alta cúpula da policiamilitar faz um convênio com o instituto Butantãde São Paulo, e manda para lá seus comandados,com o propósito de fazerem um estágio e aprenderas técnicas para obtenção do soro, e principalmentecomo aplicar os primeiros socorros numapessoa picada por uma cobra. Paralelamente, em


372Carapicuiba, SP, um funcionário do Museu HistóricoNacional é enviado para comprar um antigomapa de uma mina de ouro, que está em poderde um homem humilde, que mora com sua filhanaquele local, mas o homem se nega a vender omapa por um milhão de cruzeiros, alegando serherança da família, porém mostra-o ao homem,que confirma a autenticidade do documento.Tudo isso é presenciado por um motorista de taxibisbilhoteiro, que espalha a notícia na cidade,chegando aos ouvidos de dois bandidos, queresolvem roubar o mapa. Após roubá-lo, os homenspedem ao motorista que os leve à cidade. Ohomem roubado então, em desespero, rascunhao local da mina e parte para tentar encontrá-la,antes dos bandidos. No meio do mato é picadopor uma cobra e cambaleando, consegue chegarà beira da estrada, sendo socorrido por um outrohomem que por ali passava. Este parte à cavalopela estrada e avisa o inspetor Carlos, que alifazia sua ronda. Já no local, o inspetor lhe aplicaos primeiros socorros. Nessa hora passa por ali omotorista de taxi, que sem querer mostra o baúque contém o mapa. O inspetor, percebendoa situação, dá voz de prisão aos homens, quesão rendidos, após intensa luta corporal. Tudoresolvido, o inspetor Carlos convence o homema vender o mapa ao museu por cinco milhões decruzeiros, num final feliz para todas as partes.


• Mistério do Embu, 1961/62, São Paulo, SP.elen co: Carlos Miranda, Guy Loup, o cão Loboe outros. sinopse: Nhá Tuca é uma velha muitoqueri da na cidade do Embu. Sempre rodeadapelas crianças, que querem ouvir suas histórias.Seu sobrinho-neto Juca, seu único herdeiro, pornão querer ser padre, é deserdado, fato esteque desperta sua ira. Sempre andando com máscompanhias, Juca nunca teve um comportamentoexemplar, sempre metido em brigas e encrencas.Juntamente com a namorada e, combinado comuma quadrilha de bandidos, resolvem roubaro baú de Nhá Tuca, que contém valiosas jóias,que serão doadas à igreja. No meio da ação, osobri nho e a namorada se arrependem, mas jáé tarde e a velha é assaltada, porém, passamtodas as informações para o inspetor Carlos, quepassa a agir, desvendando o crime e prendendoos bandidos. O casal é perdoado pela polícia epor Nhá Tuca.373• O mordomo, 1961/62, São Paulo, SP. elencoCarlos Miranda, Xandó Batista, o cão Lobo eoutros. sinopse: Carlos está no posto rodoviárioquando chega um carro com um homem muitonervoso, dizendo-se perseguido por bandidosque querem matá-lo. Carlos tenta interrogá-lo,mas num descuido, este foge. Carlos resolvedivulgar para a imprensa que o homem havia


374lhe contado tudo. Os bandidos mordem a isca emarcam encontro com Carlos na Cidade Universitária.Lá chegando, ele é dominado e levadoa uma casa de veraneio no meio do mato. Lá éinterrogado, mas nada fala. Logo chegam doispoliciais a paisana, que juntamente com Lobo,libertam Carlos. Mas a quadrilha consegue fugire somente um bandido é preso. Descobrem quea casa pertence ao famoso industrial Marajoara.Carlos vai interrogar o milionário mas nada conseguedescobrir. Ao sair da casa, depara-se como mordomo, na verdade, o misterioso homemque ele havia encontrado no posto rodoviário.Este também nega tudo, deixando Carlos confuso.Mas o bandido preso relata o plano doscomparsas: seqüestrar um grupo de crianças quefariam uma excursão ao exterior, e entre elasestava a neta de Marajoara. Todos seguem parao aeroporto de Congonhas e Carlos interceptaos bandidos, no que é ajudado pelo mordomo.Descobre, então, que o mordomo na verdade eraum detetive particular contratado por Marajoarapara proteger sua neta dos bandidos.• Orquídea glacial, 1961/62, São Paulo, SP. elenco:Carlos Miranda, o cão Lobo e outros. sinopse:Instituto de Botânica de São Paulo. Dr. Gastão eequipe iniciam mais um dia de trabalho, mas quepara o dr. Gastão será o último, pois se aposenta-


a. Este transmite o cargo, muito a contragosto,ao dr. Ricardo. Na verdade, o dr. Ricardo e a secretária,mancomunados, querem se apoderar dafórmula da orquídea glacial, desenvolvida pelodr. Gastão, pois uma empresa multinacional estáoferecendo o polpudo prêmio de cinco milhõespara quem consiga criar uma orquídea perfeita,que possa ser cultivada em qualquer ambiente,em qualquer clima, e a orquídea glacial do dr.Gastão se encaixa perfeitamente nas exigênciasdo concurso. O que o dr. Ricardo não esperavaé que o dr. Gastão levaria consigo a fórmula,fazendo com que este, acompanhado de seuscapangas, faça uma visitinha de cortesia ao dr.Gastão. De posse de uma arma, dr. Ricardo seqüestradr. Gastão e sua esposa, levando-os parasua casa. Uma jornalista, interessada em fazeruma entrevista com o dr. Gastão, resolve procurálono Instituto de Botânica, mas é informadapelo inspetor Carlos, que por ali passava, queeste havia se aposentado. A jornalista pede aoinspetor que a leve à casa do médico, em Parnaiba.Lá chegando, não encontram ninguém, masa casa está aberta, causando estranheza aos dois.Um garoto, que estava pescando na beira do rio,ouve a conversa do casal de bandidos e relata aoinspetor Carlos, que informa à central que detenhao carro. Na estrada, o casal é detido, mas, semprovas nada é possível fazer e o inspetor Carlos375


ecebe ordens expressas para abandonar o caso.Mas a jornalista, persistente, acaba descobrindoo dr. Gastão e a esposa. Lobo é incumbido de avisaro inspetor Carlos, que logo se dirige ao local.Após violenta luta, os bandidos são presos e o dr.Gastão recebe o cobiçado prêmio. Ao procuraro cheque no bolso para mostrar a Carlos, não oencontra. Logo percebem que está na boca delobo. Todos caem na risada.376• O pagador, 1961/62, São Paulo, SP. elenco:Carlos Miranda, o cão Lobo e outros. sinopse:A mãe de Clara vende frangos na estrada. Carlose Lobo chegam e cumprimentam as duas.Carlos dá uma boneca de presente à Clara queemocionada agradece. Gino e Ricco, perigososbandidos da região, planejam assalto usando amenina Clarinha como isca. Após o assalto, saemem disparada pela estrada deixando forte rastrode poeira. Um padre que passa pela estrada ésufocado pela poeira do carro. Carlos chega aolocal e o padre informa o ocorrido. Carlos dá oalerta geral e conseguem cercar os bandidos emuma montanha. Mas eles têm a menina Clarinha.Lobo rasteja-se sorrateiramente e inicia luta comos bandidos, no que é prontamente ajudado porCarlos. Os bandidos são dominados. Lobo pega aboneca com a boca e entrega à Clarinha.


• Pânico no ringue, 1961/62, São Paulo, SP. elenco:Carlos Miranda, o cão Lobo e outros. sinopse:Lutador de boxe profissional vence importanteluta, que lhe dá o direito de disputar o títulobrasileiro da categoria. Junto com a namorada eo irmão mais novo, comemoram o fato, inclusivecomunicando ao inspetor Carlos, amigo da família.Quadrilha de bandidos vai à casa do lutadore o ameaça, pedindo que perca a luta, em favordo adversário, notoriamente mais fraco e dependentede bebida, mas totalmente envolvidocom a quadrilha. Ao se negar a atender o pedidodos malfeitores, estes seqüestram seu irmão. Nodia da luta, a namorada percebe que algo estáerrado e informa o inspetor Carlos, que passa ainvestigar o caso. Chega o grande dia e o lutadordesafiante entra no ringue abatido e disposto aperder a luta, para salvar a vida do seu irmão.Correm os primeiros assaltos e este é massacradopelo opositor. Numa rápida ação, Carlos descobreo esconderijo dos bandidos, prende o vigia e soltao garoto, trazendo-o para o ginásio onde a lutaestava se realizando. Ao ver o irmão, o lutadorcomeça a reagir e vence a luta. Os demais bandidosque se encontravam no ginásio são presospelo inspetor Carlos.377• Pombo correio, 1961/62, São Paulo, SP. elenco:Carlos Miranda, Mário Alimari, o cão Lobo e


378outros. sinopse: Três perigosos bandidos fogemda prisão e vão se esconder nas matas, lá encontrandoa casa de Mathias e sua esposa, um casalde velhos que ali vive com muita tranqüilidade.Seu Mathias cria pombos correio. O inspetor Carlosvisita o casal, fã que é do doce de coco que asenhora prepara. Os ladrões a tudo presenciamescondidos no mato. Quando o inspetor Carlosdeixa o local, eles dominam os velhos e os prendem,forçando-os a servir-lhes comida e roupas.Sem que percebam, Mathias coloca uma mensagemno pombo e o solta. Não muito longe dali,um caçador de patos acerta um tiro, sem querer,de raspão no pombo. O inspetor Carlos passa porali e reconhece o pombo e manda lobo buscar opequeno animal ferido, que caiu do outro ladodo lago. O sensacional cão vai até lá e traz o pombo.Imediatamente o inspetor vê a mensagem echama socorro pelo rádio. Os policiais vão até olocal e prendem os bandidos.• O rapto do Juca, 1961/62, São Paulo, SP. elenco:Carlos Miranda, Juca Chaves, Etty Fraser, o cãoLobo e outros. sinopse: O cantor Juca Chaves,conhecido como O Menestrel do <strong>Brasil</strong>, está noauge do sucesso e é constantemente assediadopelas fãs, na porta dos estúdios, nas emissorasde televisão, ou seja, onde quer que Juca vá.Contratado para uma importante apresentação


na televisão, onde seria a principal atração, Jucaantes vai para outra cidade fazer um show. Nocaminho é interceptado por bandidos que o seqüestram,querendo impedir que ele realize suaapresentação na televisão. Ao pararem num postode gasolina para abastecer, encontram com oinspetor Carlos, que cumprimenta Juca e perguntase está tudo bem. Este, sem poder reagir, dizque sim, mas Carlos percebe que algo está erradomas não liga para o fato. A hora do show estáchegando e Juca está atrasado, causando pânicoentre os produtores do programa e as fãs. Estasresolvem investigar por conta própria e acabamdescobrindo seu paradeiro, avisando o inspetorCarlos, que prende a quadrilha e leva Juca paraa televisão, para alívio de todos. A apresentaçãoé um sucesso, com Juca cantando seus sucessosmaravilhosamente.379• O recruta, 1961/62, São Paulo, SP. elenco CarlosMiranda, Fausto Rocha, o cão Lobo e outros.sinopse: Amanhece no quartel. O toque de despertaré dado e Lobo puxa o cobertor do inspetorCarlos, acordando-o. Todos se apresentam emmarcha. O capitão informa ao inspetor Carlos quechegarão novos recrutas e um deles é seu própriofilho. Este pede então ao inspetor que façado garoto um bom soldado. Mimado, folgadoe sem nunca ter tido responsabilidades, o rapaz


380não gosta de sua nova função e dificulta as açõesdisciplinares de Carlos. Todas a noites o rapazse ausenta do quartel para se encontrar com anamorada, que é garçonete de um restaurante.Lobo afeiçoa-se ao rapaz e passa a ajudá-lo, encobrindosuas fugas noturnas. O inspetor Carlos,desconfiado, passa a seguir o rapaz. Numa dessasnoites, no restaurante, o jovem vigilante ouvetrês malfeitores conversando sobre planos paraum assalto. Dá voz de prisão aos meliantes mas osmesmos reagem. Nesse momento chega o inspetorCarlos e Lobo. Após violenta luta, os bandidossão presos. Pela sua indisciplina, o rapaz e Loborecebem a missão de fazer faxina no quartel porcinco dias. O rapaz, percebendo a importânciade sua nova missão, cumpre a tarefa, resignadoe reconciliado com o inspetor Carlos.• Remédios falsificados, 1961/62, São Paulo, SP.elenco: Carlos Miranda, o garoto Tuca, o cãoLobo e outros. sinopse: Vários casos de intoxicaçãosão registrados num hospital da cidade,fazendo os médicos acreditarem que as vítimasestão ingerindo remédios falsificados. A políciaé imediatamente notificada. Tuca e seu amigobrincam de polícia e bandido, quando o inspetorCarlos chega e alerta os garotos para os perigosda profissão e os cuidados que eles devem tercom suas brincadeiras. O sonho dos garotos é


entrar para a Polícia Rodoviária, e , portanto, nãotêm noção do perigo. No afã de serem policiais,acabam entrando no carro dos bandidos, que,sem perceber sua presença acabam os levandoao seu esconderijo. Os garotos são descobertos,mas conseguem fugir e avisar o inspetor Carlos,que entra em ação e prende a quadrilha.• A repórter, 1961/62, São Paulo, SP. elenco:Carlos Miranda, Rosamaria Murtinho, Fulvio Stefanini,o cão Lobo e outros. sinopse: Quadrilhade alta periculosidade faz derrame de grandequantidade de notas falsas de 500 cruzeiros,por meio de agentes espalhados pela cidade,principalmente em parques de diversões. Umarepórter iniciante, Marisa, ávida por conseguirum furo de reportagem, que lhe permita ascensãona empresa onde trabalha, persegue oinspetor Carlos e não se intimida em importunálo,em busca de informações. Carlos se chateiacom a situação, mas sempre a trata com a devidaeducação e respeito. Numa conversa informalentre os dois, Carlos lhe diz que pressente quea quadrilha irá começar a passar notas de 1.000cruzeiros. Marisa imediatamente manda publicara notícia, causando grande constrangimentopara Carlos, mas também para os bandidos, querealmente pretendiam fazer isso. Num restaurante,com Carlos, Marisa desconfia que um homem381


382está tentando passar uma nota, mas não leva àfrente sua suspeita. Marca encontro com Carlosnum parque de diversões e, enquanto o espera,percebe a conversa de dois agentes, tentandopassar as notas de mil. Marisa grita aos bandidos,que tentam segurá-la, mas Carlos chega nessemomento e trava violenta luta corporal com osbandidos. Um deles cai na gôndola da roda gigantedesacordado e Marisa aciona o mecanismofazendo com que o bandido fique preso na rodagigante, em cima. O terceiro bandido tenta fugir,mas é seguido por Lobo que, juntamente comCarlos, o domina. Ao final, a quadrilha é presae Marisa vê seu trabalho recompensado ao serpromovida no seu trabalho. Comentários: Nesteepisódio tem a famosa cena de Lobo andando nocarrossel de um parque de diversões, cena que foiusada inclusive na apresentação da série.• Os romeiros, 1961/62, São Paulo, SP. elenco:Carlos Miranda, o cão Lobo e outros. sinopse:A cidade de Pirapora, no interior do Estado deSão Paulo, é conhecida por seus milagres e pelasromarias que ali acontecem. Num domingo ensolarado,o correio recebe uma encomenda forado comum, um donativo em dinheiro no valor deum milhão de cruzeiros, destinado às obras danova igreja. Nesse momento a agência é invadidapor quatro gangsters que roubam o dinheiro.


Os funcionários são amarrados e amordaçados.O Vigilante Carlos é acionado. Na estrada, todosos carros são revistados. Os bandidos se escondemnum caminhão de romeiros, que passa pelo locale são interceptados pelos policiais. Sem notara presença dos bandidos, a polícia libera o caminhão.Carlos segue na mesma estrada e páranum bar à beira da estrada para tomar um café.O caminhão dos romeiros segue a mesma estradae pára no mesmo bar. Desconfiado, Carlos dávoz de prisão aos malfeitores, que fogem pelaestrada, mas são dominados por ele, Lobo eQuinzinho, o dono do bar.• O sósia (O aventureiro), 1961/62, São Paulo,SP. elenco: Carlos Miranda, o cão Lobo e outros.sinopse: A pedido da Interpol, o vigilante é designadopara investigar um derrame de dólaresfalsos. Um dos membros da quadrilha é umperfeito sósia do vigilante, o que faz com queeste passe pelo bandido, que é preso. Já comobandido, Carlos desce de avião no Aeroporto doGaleão no Rio de Janeiro.383No aeroporto recebe o primeiro contato, umdesconhecido que, num raro momento de descontração,o leva a conhecer os pontos turísticosdo Rio de Janeiro como o Cristo Redentor, o Corcovado,as praias, o carnaval, etc. O falso bandidonão consegue disfarçar sua surpresa com tanta


384beleza, mas consegue se manter imune como ofalso bandido. Em seguida faz o encontro comuma mulher num local afastado, onde recebeuma pasta, para ser entregue na exposição daBienal em São Paulo. Nesse momento a mulheré presa pela polícia. Já na capital paulista, naBienal, dando seqüência ao plano de desbaratara quadrilha, Carlos encontra-se com outrocontato, que o leva até o chefão. Um vigilante eLobo são designados a seguir todos os passos dofalso bandido até chegar à mansão do chefão,onde informa a Interpol. Vários agentes são designadosao local e cercam a mansão. Carlos, ofalso bandido, se vê em difícil situação quandoo chefão, um alemão cego dado como morto hámuito tempo, o desmascara. Carlos é preso, masnesse momento a polícia entra. Diversas lutascorporais são travadas, mas ao final, todos sãopresos. Obs.: Raro episódio em que Carlos apareceà paisana, sem farda, de terno, como sósiado famoso contrabandista.• O suspeito, 1961/62, São Paulo, SP. elenco CarlosMiranda, Edgard Franco, Laércio Laurelli,Má rio Lúcio, Valentino Guzzo, Gilberto Wagner,Guilherme Toscano, Fominha, o cão Lobo eoutros . sinopse: Bernardo, guarda rodoviário, vaifazer a barba no salão do quartel e pendura suaarma num cabide. O barbeiro, sorrateiramente,


olha para a arma. Bernardo pede urgência, poistem que ir para a pista. Ao barbear o policial, obarbeiro cobre-lhe a face com uma toalha. Numsegundo momento, uma joalheria é assaltadae uma arma deixada no local. No quartel, o comandanteidentifica o revólver como sendo o deBernardo. Chamado em sua sala, o comandantepede-lhe que apresente sua arma e todos constatam,para perplexidade de Bernardo, tratar-sede outra arma, não pertencente à corporação.Bernardo se diz inocente e vítima de uma cilada,mas é detido para averiguações. O inspetor Carlosé incumbido de fazer as averiguações. Pedrinho,um garoto esperto, irmão de Bernardo, ficasabendo do ocorrido e vai visitá-lo no quartel,juntamente com Carlos. Quando vê o irmão emtrajes de prisão, abraça-o, dizendo que acreditana sua inocência. Ao sair, Pedrinho, desolado,recusa-se a brincar com os amigos e vai para umvagão de trem, onde descansa sob uma moita defeno. De repente, ouve vozes! Escondido, presenciaa conversa dos bandidos, que combinam umaviagem. Pedrinho nota uma pulseira no braço deum dos homens. Estes, tiram as jóias do saco depano personalizado com o nome da joalheria eo jogam no chão. Pedrinho vai ao encontro deCarlos e o avisa do acontecido, mas o inspetoracha que este está fantasiando e provavelmentetenha sonhado. Pedrinho convence o inspetor a ir385


386até o local, mas não conseguem localizar o sacode pano, prova do crime. No quartel, o policialencarregado de cuidar das armas, consegue localizara procedência do revólver que Bernardoestava portando e descobre que houvera pertencidoà corporação. Pesquisando, descobre queum policial, que tem apelido de pulseira foraexpulso da corporação, justamente por roubararmas do quartel e o caso fora conduzido porBernardo. Juntando os fatos, o inspetor Carlosconclui tratar-se de vingança. O inspetor, Loboe Pedrinho dirigem-se para a estação ferroviária.Lá localizam os bandidos, prestes a fugir. Apósviolenta luta, conseguem prender os facínoras,entre eles o pulseira. Inocentado, Bernardo retomasuas atividades normais.• Terras de ninguém, 1961/62, São Paulo, SP.elen co: Carlos Miranda, Stênio Garcia, o cão Loboe outros. sinopse: O inspetor Carlos usufrui desossego e tranqüilidade nas terras de Santa Claraem seus momentos de folga. Lá, ele conheceum velho agrimensor e sua filha, que moram nolocal há mais de 30 anos. Persuadido por grileirosinexcrupulosos, e com as finanças abaladas, ovelho concorda em medir e legalizar certas terrassem dono. Os grileiros malfeitores, por meiodos documentos falsos, tentam se apoderar dasterras para fazer um loteamento. O agrimensor


e sua filhinha, ao tomarem conhecimento doplano, se rebelam e são presos. O inspetor Carlos,desconfiado, contrata um agrimensor honestodescobre toda a farsa, os bandidos são presos etudo volta ao normal.• O ventríloquo, 1961/62, São Paulo, SP. elencoCarlos Miranda, o cão Lobo e outros. sinopse: Ojornal Diário da Noite divulga a notícia de maisum audacioso assalto na cidade. Nesse momentoo inspetor Carlos intercepta carro com um famosoventríloquo, que chega à cidade para fazershows. A quadrilha resolve assaltar a mansão dorei do trigo e descobre que o filho do industrialvai fazer aniversário. Um dos bandidos se fingede empresário e vende o show do ventríloquopara o industrial. Este contrata a festa. O ventríloquoé então comunicado, e, sem saber denada, aceita a missão assinando o contrato. Nodia do show, enquanto o ventríloquo diverte ascrianças, os bandidos arrombam o cofre da casae levam vultosa soma em dinheiro. No outro dia,o ventríloquo fica sabendo que a polícia o estáprocurando e se entrega, dizendo ser inocente.Entrega a cópia do contrato com as impressõesdigitais do falso empresário. Os bandidos percebema falha cometida e vão atrás do ventríloquopara recuperar o documento. Rendem o artistamas nesse momento o telefone toca. Ao aten-387


der, percebe que do outro lado da linha estáo inspetor Carlos, que nota algo diferente navoz do ventríloquo. Desconfiado, vai até o locala tempo de dominar os bandidos, que fugiamlevando o ventríloquo. Os bandidos então sãopresos e o famoso artista pode continuar suavitoriosa carreira.388• Zuni, o potrinho, 1961/62, São Paulo, SP. elenco:Carlos Miranda, Fulvio Stefanini, Xandó Batista,Luis Guilherme, o cão Lobo e outros. sinopse:Criador de cavalos de raça tem um filho viciadoem jogo (Fúlvio Stefanini), que só lhe traz problemas.Este envolve-se com quadrilha de bandidos,que, com sua conivência roubam um potro depura raça do seu próprio pai, para pagar dívidasde jogo. Um garoto que freqüenta o haras, ouvea conversa dos bandidos e comunica o inspetorCarlos, que sempre faz ronda naquele local. Estearquiteta um plano, juntamente com o pai. Osbandidos então são presos e o filho, arrependido,promete se regenerar. O pai resolve lhe dar outraoportunidade.• A extorsão, 1961/62, São Paulo, SP. elenco:Carlos Miranda, Tony Campello, Lucy Meirelles,o cão Lobo e outros. sinopse: João Carlos (TonyCampello) é um playboy sustentado pelo paimilionário. Ele é um bon­vivant, que passeiacom carrões importados e freqüenta a praia com


lindas garotas. Num dos passeios à praia, juntocom um amigo e duas garotas, é abordado pordois homens armados, que o obrigam a assinarum cheque de cinco milhões de cruzeiros. Alegandoser uma soma muito alta, promete ir pagandoaos poucos, em quantias semanais. Num descuidode um dos homens, João Carlos trava luta armada.Um tiro é disparado acidentalmente, atingindouma das moças, que cai morta. Os bandidosentão mandam todos fugir, e se encarregam desumir com o corpo, desde que João Carlos tragao dinheiro combinado. Sem outra alternativa,João Carlos foge e passa a roubar dinheiro dopai para entregar aos bandidos. A moça baleadaporém faz parte da gangue. Na verdade tudonão passou de uma armação para chantagearo pobre rapaz. O pai, desconfiado das atitudesestranhas do filho, chama o inspetor Carlos,que, combinado com João Carlos, finge tambémser um milionário. Os bandidos aceitam o jogoe Carlos logo descobre o apartamento onde amoça, supostamente morta, está escondida. Elevai até lá e a moça confessa toda a trama. Carlosentão orienta João Carlos a marcar um encontrocom a gangue numa boate abandonada na praiado Perequê. Lá, depois de luta corporal em queJoão Carlos também participa, os bandidos sãodominados e presos.389


390• O vigilante rodoviário, 1962, São Paulo, SP.ficha técnica: prd: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong> e Alfredo Palácios;dir e cri: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>; asd: Miguel Lopez eJorge Roberto Pizani; gep: Sérgio Ricci; arg: <strong>Ary</strong><strong>Fernandes</strong>, Fábio Novaes Silva e J.C.Souza; dif ecam: Eliseu <strong>Fernandes</strong>; asc: Renato Damiani; fcn:José Amaral; elt: Osvaldo Leonel, Edgar Ferreirae Cláudio Portioli; tcs: Ernest Hack; snp: PauloBergamasco; cen: José Pereira da Silva; mtg: LuizElias; can: Vigilante rodoviário, de <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>;col: Polícia Rodoviária do Estado de São Paulo;ess: Companhia Cinematográfica Vera Cruz; lai:Rex Filme; sis: RCA; p&b; 35 mm; curta-metragem;22 min; gen: Ficção. elenco Carlos Miranda, ocão Lobo e outros. comentários: Primeiro longametragem feito com a reunião de cinco episódiosda série O Vigilante rodoviário: 1) O Diamantegran mongol; 2) A história do Lobo; 3) RemédiosFalsificados; 4) A Repórter; 5) Os Romeiros.• O vigilante contra o crime, 1964, São Paulo, SP.ficha técnica:. prd: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong> e Alfredo Palácios;dir e cri: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>; asd: Miguel Lopez eJorge Roberto Pizani; gep: Sérgio Ricci; arg: <strong>Ary</strong><strong>Fernandes</strong>, Fábio Novaes Silva e J.C.Souza; dif ecam: Eliseu <strong>Fernandes</strong>; asc: Renato Damiani; fcn:José Amaral; elt: Osvaldo Leonel, Edgar Ferreirae Cláudio Portioli; tcs: Ernest Hack; snp: PauloBergamasco; cen: José Pereira da Silva; mtg: Luiz


Elias; can: Vigilante rodoviário, de <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>;col: Polícia Rodoviária do Estado de São Paulo;ess: Companhia Cinematográfica Vera Cruz; lai:Rex Filme; sis: RCA; p&b; 35 mm; curta-metragem;22 min; gen: Ficção. elenco Carlos Miranda, ocão Lobo e outros. comentários: Segundo longametragemfeito com a reunião de cinco episódiosda série O Vigilante rodoviário: 1) Aventura emOuro Preto; 2) A Chantagem; 3) Os Cinco Valentes;4) O Fugitivo; 5) O Homem do Realejo• O vigilante e os cinco valentes, 1966, São Paulo,SP. ficha técnica: prd: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong> e Alfredo Palácios;dir e cri: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>; asd: Miguel Lopeze Jorge Roberto Pizani; gep: Sérgio Ricci; arg: <strong>Ary</strong><strong>Fernandes</strong>, Fábio Novaes Silva e J.C.Souza; dif ecam: Eliseu <strong>Fernandes</strong>; asc: Renato Damiani; fcn:José Amaral; elt: Osvaldo Leonel, Edgar Ferreirae Cláudio Portioli; tcs: Ernest Hack; snp: PauloBergamasco; cen: José Pereira da Silva; mtg: LuizElias; can: Vigilante rodoviário, de <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>;col: Polícia Rodoviária do Estado de São Paulo;ess: Companhia Cinematográfica Vera Cruz; lai:Rex Filme; sis: RCA; p&b; 35 mm; curta-metragem;22 min; gen: Ficção. elenco Carlos Miranda, o cãoLobo e outros. comentários: Terceiro longa-metragemfeito com a reunião de quatro episódiosda série O Vigilante rodoviário: 1) A Extorsão; 2)O Ventríloquo; 3) O Recruta; 4) Bola de Meia.391


392• O vigilante em missão secreta, 1967, São Paulo,SP. ficha técnica: prd: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong> e AlfredoPalácios; dir e cri: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>; asd: Miguel Lopeze Jorge Roberto Pizani; gep: Sérgio Ricci; arg:<strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>, Fábio Novaes Silva e J.C.Souza;dif e cam: Eliseu <strong>Fernandes</strong>; asc: Renato Damiani;fcn: José Amaral; elt: Osvaldo Leonel, EdgarFerreira e Cláudio Portioli; tcs: Ernest Hack; snp:Paulo Bergamasco; cen: José Pereira da Silva;mtg: Luiz Elias; can: Vigilante rodoviário, de <strong>Ary</strong><strong>Fernandes</strong>; col: Polícia Rodoviária do Estado deSão Paulo; ess: Companhia Cinematográfica VeraCruz; lai: Rex Filme; sis: RCA; p&b; 35 mm; curtametragem;22 min; gen: Ficção. elenco CarlosMiranda, o cão Lobo e outros. Comentários:Quarto longa-metragem feito com a reunião dequatro episódios da série O Vigilante rodoviário:1) A Aventura do Tuca; 2) O Invento; 3) O Sósia;4) Terras de Ninguém.• Mistério do taurus 38, 1967, São Paulo, SP. fichatécnica: prd: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong> e Alfredo Palácios;dir e cri: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>; asd: Miguel Lopez eJorge Roberto Pizani; gep: Sérgio Ricci; arg: <strong>Ary</strong><strong>Fernandes</strong>, Fábio Novaes Silva e J.C.Souza; dif ecam: Eliseu <strong>Fernandes</strong>; asc: Renato Damiani; fcn:José Amaral; elt: Osvaldo Leonel, Edgar Ferreirae Cláudio Portioli; tcs: Ernest Hack; snp: PauloBergamasco; cen: José Pereira da Silva; mtg: Luiz


Elias; can: Vigilante rodoviário, de <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>;col: Polícia Rodoviária do Estado de São Paulo;ess: Companhia Cinematográfica Vera Cruz; lai:Rex Filme; sis: RCA; p&b; 35 mm; curta-metragem;22 min; gen: Ficção. elenco Carlos Miranda, o cãoLobo e outros. comentários: Quinto longa-metragemfeito com a reunião de quatro episódios dasérie O Vigilante rodoviário: 1) Café Marcado; 2)Fórmula de Gás; 3) O Garimpo; 4) O Suspeito.Série Águias de fogoFicha técnicaprd, dir e cri: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>; con: (militar): majorGilberto Zani de Melo e coronel Luis Maciel Jr.;asd: Penna Filho; asp: Roberto Bolant e GiovaniLozanis; arg: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>, J.C.Souza, PennaFilho e Fábio Novaes Silva; dif: Juan Carlos Landinie Angelo Rossi Neto; asc: Renato Damianie Oswaldo Leonel; tcs: Júlio Perez Caballar; elt:Edgar Ferreira; ctr: Fernando Garcia, AntonioCorreia Pinto, Henrique Borges; vtu: AntônioCrispilho; mtg: Luiz Elias; asm: Shirley Faria e GilbertoWagner; can: Águia de Fogo, de Divo Dacole Carlos Guerra; cpr: Procitel Produções CineTelevisão; apo: FAB – Força Aérea <strong>Brasil</strong>eira; lai:Divulgação Cinematografica Bandeirantes; las:Odil Fonobrasil; p&b; 35 mm; curta-metragem;22 min; gen: Ficção.393


• Agente, 1967/68, São Paulo, SP. elenco: (fixo):<strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong> (capitão César), Dirceu Conte (majorRicardo), Roberto Bolant (aspirante Fábio),Edson Pereira (sargento Fritz).• O alvo, 1967/68, São Paulo, SP. elenco: (fixo):<strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong> (capitão César), Dirceu Conte (majorRicardo), Roberto Bolant (aspirante Fábio),Edson Pereira (sargento Fritz).• Asilados, 1967/68, São Paulo, SP. elenco: (fixo):<strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong> (capitão César), Dirceu Conte (majorRicardo), Roberto Bolant (aspirante Fábio),Edson Pereira (sargento Fritz).394• Aspirante, 1967/68, São Paulo, SP. elenco: (fixo):<strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong> (capitão César), Dirceu Conte (majorRicardo), Roberto Bolant (aspirante Fábio),Edson Pereira (sargento Fritz).• O assalto, 1967/68, São Paulo, SP. elenco: (fixo):<strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong> (capitão César), Dirceu Conte (majorRicardo), Roberto Bolant (aspirante Fábio),Edson Pereira (sargento Fritz).• A barragem (ou Estação Junção), 1967/68, SãoPaulo, SP. elenco: (fixo): <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong> (capitãoCésar), Dirceu Conte (major Ricardo), RobertoBolant (aspirante Fábio), Edson Pereira (sargentoFritz). sinopse: Grupo de bandidos tem plano de


dinamitar uma barragem de vital importância.Dois homens de pára-quedas levam a dinamiteao local. A base de comando da FAB interceptamensagem e passa a vasculhar a região, ondepredomina extensa vegetação. Por informaçãode morador local que ouvira a conversa, conseguemchegar ao local e, após violenta luta,dominam os malfeitores.• Competição, 1967/68, São Paulo, SP. elenco:(fixo): <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong> (capitão César), DirceuConte (major Ricardo), Roberto Bolant (aspiranteFábio), Edson Pereira (sargento Fritz).• O contrabando, 1967/68, São Paulo, SP. elenco:(fixo): <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong> (capitão César), DirceuConte (major Ricardo), Roberto Bolant (aspiranteFábio), Edson Pereira (sargento Fritz). sinopse:Elementos da FAB são enviados em socorro deagentes alfandegários de um posto fronteiriçoque está sendo atacado por contrabandistas daregião.395• O diplomata, 1967/68, São Paulo, SP. elenco: (fixo):<strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong> (capitão César), Dirceu Conte(major Ricardo), Roberto Bolant (aspirante Fábio),Edson Pereira (sargento Fritz). sinopse: Elementosdo serviço especial da FAB recebem a incumbênciade proteger a vida de um diplomata de naçãoamiga, que se encontra no <strong>Brasil</strong>, em perigo de


vida, perseguido por adversários políticos. O capitãoCésar e aspirante Fábio são designados parapilotar a nave. Fábio se encanta com a mulherque está junto com o diplomata. Filho inescrupulosode um político famoso, quer se apoderar dedocumentos em poder do diplomata. Ao pousar,são surpreendidos e amarrados pelos bandidos,travam luta e vão ao encontro do diplomata queestá com a valise, mas são dominados novamente.Com a ajuda de Fritz, desvencilham-se das cordase dominam os bandidos. Para desespero de Fábio,a moça sorri para o capitão César.396• Emergência, 1967/68, São Paulo, SP. elenco:(fixo): <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong> (capitão César), DirceuConte (major Ricardo), Roberto Bolant (aspiranteFábio), Edson Pereira (sargento Fritz). pte: RicardoNóvoa, Francisco Panizatti, Antonio Gimenez,Oswaldo Leonel. sinopse: Avião em pleno ar apresentaproblemas técnicos, pois o trem de decolagemsó recolhera até a metade. Sargento Fritzestá triste pois o pai fôra hospitalizado. Com otanque cheio e sem outra opção, o major ordenaque o avião voe em círculos até queimar todo ocombustível. Todos percebem que Fritz está comseu comportamento alterado. Sargento Celsoprometera ir ao aniversário da mãe e o aspiranteFábio prometera ir ao encontro da namorada.Três situações diferentes com três homens em


perigo no ar. Com orientação da base, conseguemdestravar os trens de pouso e pousar a aeronavesem nenhum dano aos seus integrantes.• O engraxate, 1967/68, São Paulo, SP. elenco:(fixo): <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong> (capitão César), DirceuConte (major Ricardo), Roberto Bolant (aspiranteFábio), Edson Pereira (sargento Fritz).• O equipamento de Fritz, 1967/68, São Paulo,SP. elenco: (fixo): <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong> (capitão César),Dirceu Conte (major Ricardo), Roberto Bolant(aspirante Fábio), Edson Pereira (sargento Fritz).sinopse: O sargento Fritz conhece muito de eletrônicae inventa um equipamento que poderá sermuito útil ã FAB. Major Ricardo o coloca em contatocom um engenheiro no Rio de Janeiro, quena verdade está mancomunado com os bandidos,com a finalidade de roubar o invento de Fritz.Fritz descobre a trama mas é surpreendido peloengenheiro no laboratório que o domina comuma arma e o leva ao seu apartamento, onde seencontram os outros capangas. O capitão César,desconfiado, vai até o local e descobre tudo. Apósviolenta luta, os bandidos são dominados.397• Estação clandestina, 1967/68, São Paulo, SP.elenco: (fixo): <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong> (capitão César),Dirceu Conte (major Ricardo), Roberto Bolant(aspirante Fábio), Edson Pereira (sargento Fritz).


• A grande revoada, 1967/68, São Paulo, SP. elenco:(fixo): <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong> (capitão César), DirceuConte (major Ricardo), Roberto Bolant (aspiranteFábio), Edson Pereira (sargento Fritz).• Imprevisto, 1967/68, São Paulo, SP. elenco: (fixo):<strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong> (capitão César), Dirceu Conte(major Ricardo), Roberto Bolant (aspirante Fábio),Edson Pereira (sargento Fritz).• Mãe de ouro, 1967/68, São Paulo, SP. elenco:(fi xo): <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong> (capitão César), DirceuConte (major Ricardo), Roberto Bolant (aspiranteFábio), Edson Pereira (sargento Fritz).398• Operação Rondon, 1967/68, São Paulo, SPelen co: (fixo): <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong> (capitão César),Dir ceu Conte (major Ricardo), Roberto Bolant(aspirante Fábio), Edson Pereira (sargento Fritz).pte: Gervásio Marques, Roberto Orosco, MárciaLustosa, Sidney Toscani, Roberto Mauro. sinopse:O Comando da FAB não consegue contato com abase de pouso seco, no meio da selva. Em visita,os três agentes constatam que a base fôra depredada.Os bandidos fogem pela selva. O sargentoresponsável pela base, foge e desmaia na selva,sendo encontrado por casal que o leva para umambulatório, onde relata os fatos ao casal deestudantes que participam da Operação Rondon.Os bandidos chegam ao local e dominam a moça,


pois querem que o sargento informe os códigossecretos. Violenta luta é travada com o estudantee o sargento. Um helicóptero da FAB chega aolocal e persegue os bandidos, terminando porcapturá-los.• Operação tatu, 1967/68, São Paulo, SP elenco:(fixo): <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong> (capitão César), DirceuConte (major Ricardo), Roberto Bolant (aspiranteFábio), Edson Pereira (sargento Fritz). pte: SadyCabral, Ewerton de Castro. sinopse: Velho fazendeiroe seu casal de filhos vivem reclusos nafazenda e querem impedir a todo custo o avançodo progresso, ou seja, a construção de uma estradaque passará em suas terras. O major Ricardo éfilho da terra e é incumbido de chefiar a missãoda FAB. Ele tivera um relacionamento amorosocom a filha do fazendeiro, Noêmia. Agentesda FAB travam tiroteio na entrada da fazenda.Noêmia, a filha do fazendeiro se rebela contra opai, que havia resolvido ceder. O major Ricardoé preso mas logo solto por agentes da FAB. Pai efilho presos, o projeto da estrada avança.399• A procura, 1967/68, São Paulo, SP. elenco: (fixo):<strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong> (capitão César), Dirceu Conte (majorRicardo), Roberto Bolant (aspirante Fábio),Edson Pereira (sargento Fritz).


• Rádio compasso, 1967/68, São Paulo, SP. elenco:(fixo): <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong> (capitão César), DirceuConte (major Ricardo), Roberto Bolant (aspiranteFábio), Edson Pereira (sargento Fritz).400• O rapto, 1967/68, São Paulo, SP. elenco: (fixo):<strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong> (capitão César), Dirceu Conte (majorRicardo), Roberto Bolant (aspirante Fábio), EdsonPereira (sargento Fritz). sinopse: Integrantesda FAB, em vôo de instrução, avistaram aeronavesestranhas operando em território brasileiro.Descobrem, assim, contrabandistas de minériosradioativos e um cientista e sua filha, que haviamsido raptados pela quadrilha.• Terra dos índios, 1967/68, São Paulo, SP. elenco:(fixo): <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong> (capitão César), DirceuConte (major Ricardo), Roberto Bolant (aspiranteFábio), Edson Pereira (sargento Fritz).• A trama, 1967/68, São Paulo, SP. elenco: (fixo):<strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong> (capitão César), Dirceu Conte (majorRicardo), Roberto Bolant (aspirante Fábio),Edson Pereira (sargento Fritz).• Urânio 238, 1967/68, São Paulo, SP. elenco:(fixo): <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong> (capitão César), DirceuConte (major Ricardo), Roberto Bolant (aspiranteFábio), Edson Pereira (sargento Fritz).


• A Viagem, 1967/68, São Paulo, SP. elenco: (fixo):<strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong> (capitão César), Dirceu Conte(major Ricardo), Roberto Bolant (aspirante Fábio),Edson Pereira (sargento Fritz). sinopse: Umavião C-47 da FAB decola com sua tripulaçãomais dois padres em missão especial. No trajeto,enfrentam forte tempestade, fazendo-os desviarda rota e tentam pousar em Aquidauana,mas não conseguem, pois a cidade também estásob forte tempestade. O capitão César, aflito epreocupado na base, procura soluções. SargentoFritz entra na faixa de rádioamadores para que acidadezinha de Tomé seja avisada sobre o pousode emergência que será realizado. O campo depouso precisa ser iluminado. Com a ajuda dosveículos dos moradores, a pista é iluminada e oavião consegue pousar.401• Zona de perigo, 1967/68, São Paulo, SP. elenco:(fixo): <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong> (capitão César), DirceuConte (major Ricardo), Roberto Bolant (aspiranteFábio), Edson Pereira (sargento Fritz).• Águias em patrulha, 1969, São Paulo, SP. fichatécnica: prd, dir e cri: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>; con: (militar):major Gilberto Zani de Melo e coronel LuisMaciel Jr.; asd: Penna Filho; asp: Roberto Bolante Giovani Lozanis; arg: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>, J.C.Souza,Penna Filho e Fábio Novaes Silva; dif: Juan CarlosLandini e Angelo Rossi Neto; asc: Renato Damiani


402e Oswaldo Leonel; tcs: Júlio Perez Caballar; elt:Edgar Ferreira; ctr: Fernando Garcia, AntonioCorreia Pinto, Henrique Borges; vtu: AntônioCrispilho; mtg: Luiz Elias; asm: Shirley Faria e GilbertoWagner; can: Águias de Fogo, de Divo Dacole Carlos Guerra; cpr: Procitel Produções CineTelevisão; apo: FAB – Força Aérea <strong>Brasil</strong>eira; lai:Divulgação Cinematografica Bandeirantes; las:Odil Fonobrasil; p&b; 35 mm; curta-metragem;22 min; gen: Ficção. elenco: (fixo): <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>(capitão César), Dirceu Conte (major Ricardo),Roberto Bolant (aspirante Fábio), Edson Pereira(sargento Fritz). comentários: Primeiro longametragem,reunindo quatro episódios da sériaÁguias de fogo: 1) O Contrabando; 2) O Diplomata;3) O Rapto; 4) A Viagem.• Agente da lei, 1969, São Paulo, SP. ficha técnica:prd: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong> e Alfredo Palácios; dir e cri:<strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>; asd: Miguel Lopez e Jorge RobertoPizani; gep: Sérgio Ricci; arg: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>,Fábio Novaes Silva e J.C.Souza; dif e cam: Eliseu<strong>Fernandes</strong>; asc: Renato Damiani; fcn: José Amaral;elt: Osvaldo Leonel, Edgar Ferreira e CláudioPortioli; tcs: Ernest Hack; snp: Paulo Bergamasco;cen: José Pereira da Silva; mtg: Luiz Elias; can: Vigilanterodoviário, de <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>; col: PolíciaRodoviária do Estado de São Paulo; ess: CompanhiaCinematográfica Vera Cruz; lai: Rex Filme;


sis: RCA; p&b; 35 mm; curta-metragem; 22 min;gen: Ficção. elenco Carlos Miranda, o cão Loboe outros. comentários: Sexto longa-metragemfeito com a reunião de cinco episódios da sérieO Vigilante rodoviário: 1) Aventura em Vila Velha;2) Ladrões de Automóveis; 3) O Pagador; 4)Pombo­Correio; 5) O Rapto do Juca.• Uma pistola para D’Jeca, 1969, São Paulo, SP.ficha técnica: prd: Amácio Mazzaropi e CarlosGarcia; dir: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>; asd: Penna Filho; gep:Salvador Amaral; asp: Cláudio Roberto Mechi,Joaquim de Freitas, Péricles Moreira e ArgeuFerrari; arg: Amácio Mazzaropi; rot: AmácioMazzaropi e <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>; fot e cam: Pio Zamuner;asc: George Pfister; foc: Pedro C. Toloni; sng:Flávio B. Correa; mic: Rafael Filho; elc: GirolanoBrino; cen e dec: José Antonio Vieira; maq: José F.Pereira e Fajardo Ferreira; mqn: Enoque Oliveira;cnt: Irivaldo Carlos; mtg: Glauco Mirko Laurelli;asm: Roberto Leme; mus, arj e reg: Hector LagnaFietta; num: Canção do Vento: Paulo Kiko, comSilvana; Confins do Meu Sertão: Ademir Monezzie Carlos A. Paschoalin, com Mazzaropi; Catira:Elpídio dos Santos, com Os Caçulas e Afonso Barbosa;loc: Fazenda da Santa, Taubaté, SP; cpr edis: PAM Filmes; colorido (Eastmancolor); 35 mm;103 min; lai: Rex Filme; las: Odil Fonobrasil; gen:Ficção. elenco: Mazzaropi, Patrícia Mayo, Rogério403


404Câmara, Wanda Marchetti, Paulo Bonelli, ElizabethHartman, Nelo Pinheiro, Rildo Gonçalves,Carlos Garcia, Yarata Lauletta, Zaira Cavalcanti,Linda <strong>Fernandes</strong>, Nena Viana, Paulette Bonelli,Cleusa Amorim, Francisco Gomes, José Velloni,Augusto César Ribeiro, Nhô-Tide, Durvalinode Souza, Tony Vieira, Cláudio Mechi, ArakenSaldanha, Tony Cardi, Antenor Pimenta, PauloPereira, Iragildo Mariano, Silvana, Os Caçulas,Afonso Barbosa, Domingos Terras, Luiz Homero,Milton Pereira, Custódio Gomes, Nena <strong>Fernandes</strong>,Cláudio Roberto. sinopse: <strong>Brasil</strong>, 1890. Gumercindotrabalha numa fazenda e tem uma filhachamada Eulália. Esta é seduzida por Luiz, filhodo fazendeiro local, coronel Arnaldo, e engravida.Nove anos depois, a criança, com o nomede Paulinho, é alvo de fofocas dos colegas pornão ter pai. Gumercindo pressiona seu patrão,coronel Arnaldo, para que exija o casamento deLuiz com Eulália, a fim de resolver o problemado neto. Mas o fazendeiro é um homem sem escrúpulos,ladrão de gado e expulsa Gumercindode suas terras. Este, então, une-se a fazendeirosvizinhos para o ajuste de contas. Luiz, prestes acasar-se com a filha do coronel Bezerra, é assassinado,recaindo as suspeitas sobre Eulália. Maso capataz do coronel Arnaldo, Juvenal, acabaindo ao tribunal e se entrega pelo assassinato,dizendo que o fez pelo motivo do coronel ter-lhe


negado a mão de sua filha Ângela, a qual haviapedido em casamento. Prêmios: Troféu Ferradurade Prata (<strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>), SP, 1970.• Marcado para o perigo, 1970, São Paulo, SP.ficha técnica: prd: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong> e Alfredo Palácios;dir e cri: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>; asd: Miguel Lopez eJorge Roberto Pizani; gep: Sérgio Ricci; arg: <strong>Ary</strong><strong>Fernandes</strong>, Fábio Novaes Silva e J.C.Souza; dif ecam: Eliseu <strong>Fernandes</strong>; asc: Renato Damiani; fcn:José Amaral; elt: Osvaldo Leonel, Edgar Ferreirae Cláudio Portioli; tcs: Ernest Hack; snp: PauloBergamasco; cen: José Pereira da Silva; mtg: LuizElias; can: Vigilante rodoviário, de <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>;col: Polícia Rodoviária do Estado de São Paulo;ess: Companhia Cinematográfica Vera Cruz; lai:Rex Filme; sis: RCA; p&b; 35 mm; curta-metragem;22 min; gen: Ficção. elenco Carlos Miranda, o cãoLobo e outros. comentários: Sétimo longa-metragemfeito com a reunião de quatro episódios dasérie O Vigilante rodoviário: 1) O Assalto; 2) OMágico; 3) Mapa Histórico; 4) O Mordomo.405• Mágoas de caboclo, 1970/1, São Paulo, SP. fichatécnica: prd: Paulo Chedide; dir e rot: <strong>Ary</strong><strong>Fernandes</strong>; gep: Caetano Bianchi; arg: J.C.Souza;fot: Eliseu <strong>Fernandes</strong>; sng: Júlio Perez Caballar ePedro Alexandre; mtg: Luiz Elias; mus: Vicentede Lima; cpr: Procitel Produções Cine Televisão;dis: Nacional Filmes e Pel-Mex; colorido (East-


406mancolor); 35 mm; 85 min; gen: Ficção. elenco:Chico Fumaça, Luciano Gregory, Peter Thomas,Iracema Xavier, Gracinda <strong>Fernandes</strong>, RosângelaMaldonado, Francisco Cúrcio, Lídia Costa, SílviaMaria, José Mercaldi, Gilberto Sálvio, AntônioAndrade, Carlos Farah, Lírio Bertelli, MárioGuimarães, Nestor Alves de Lima, Caçula, Marinheiro,Reginaldo Vieira. sinopse: As terras ondemora o caipira Nhô Juca contêm riquíssimo veiode bauxita, o que desperta a cobiça do industrialFranco, cuja filha Lídia começa a namorar o filhomédico do caipira, Gervásio, que mora na cidade.A moça finge gostar do rapaz a fim de que esteconvença o pai a vender suas terras. Chico e seusamigos, crentes na amizade de Franco, vão à cidadee se hospedam na casa do milionário, paradesespero da mulher deste, Geny. Quando, porcasualidade, Nhô Juca descobre a trama, contatudo a Gervásio, que rompe com Lídia e fica coma ex-namorada, a sincera Lúcia. E os matutospartem, sem cair na armadilha de Franco. comentários:Comédia que lançou o personagem NhôJuca, interpretado por Chico Fumaça, inspiradoem Jeca Tatu e imitação de Mazzaropi.• Desafio à aventura, 1971, São Paulo, SP. fichatécnica: prd: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong> e Alfredo Palácios;dir e cri: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>; asd: Miguel Lopez eJorge Roberto Pizani; gep: Sérgio Ricci; arg: <strong>Ary</strong>


<strong>Fernandes</strong>, Fábio Novaes Silva e J.C.Souza; dif ecam: Eliseu <strong>Fernandes</strong>; asc: Renato Damiani; fcn:José Amaral; elt: Osvaldo Leonel, Edgar Ferreirae Cláudio Portioli; tcs: Ernest Hack; snp: PauloBergamasco; cen: José Pereira da Silva; mtg: LuizElias; can: Vigilante rodoviário, de <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>;col: Polícia Rodoviária do Estado de São Paulo;ess: Companhia Cinematográfica Vera Cruz; lai:Rex Filme; sis: RCA; p&b; 35 mm; curta-metragem;22 min; gen: Ficção. elenco Carlos Miranda, ocão Lobo e outros. comentários: Oitavo longametragemfeito com a reunião de quatro episódiosda série O Vigilante rodoviário: 1) Pânicono Ringue; 2) Zuni, o Potrinho; 3) A pedreira; 4)Mistério no Embu.407• Sentinelas do espaço, 1971, São Paulo, SP. fichatécnica: prd, dir e cri: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>; con: (militar):major Gilberto Zani de Melo e coronel LuisMaciel Jr.; asd: Penna Filho; asp: Roberto Bolante Giovani Lozanis; arg: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>, J.C.Souza,Penna Filho e Fábio Novaes Silva; dif: Juan CarlosLandini e Angelo Rossi Neto; asc: Renato Damianie Oswaldo Leonel; tcs: Júlio Perez Caballar; elt:Edgar Ferreira; ctr: Fernando Garcia, AntonioCorreia Pinto, Henrique Borges; vtu: AntônioCrispilho; mtg: Luiz Elias; asm: Shirley Faria e GilbertoWagner; can: Águias de Fogo, de Divo Dacole Carlos Guerra; cpr: Procitel Produções Cine


Televisão; apo: FAB – Força Aérea <strong>Brasil</strong>eira; lai:Divulgação Cinematografica Bandeirantes; las:Odil Fonobrasil; p&b; 35 mm; curta-metragem;22 min; gen: Ficção. elenco: (fixo): <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>(capitão César), Dirceu Conte (major Ricardo),Roberto Bolant (aspirante Fábio), Edson Pereira(sargento Fritz). Comentários: Segundo longametragem,reunindo cinco episódios da sérieÁguias de fogo.408• Até o último mercenário, 1971, São Paulo, SP.ficha técnica: prd: Paulo Cheidde e <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>;pra: Itacir P. Rossi; dir: Penna Filho; cod, arge rot: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>; dip: Caetano Bianchi; fot:Eliseu <strong>Fernandes</strong>; sng: Carlos Foscolo; ass: BodanKostiv; mtg: Luiz Elias; mus: Antônio C. Oliveira;reg: Nelson Leonelli; cpr: Procitel Produções CineTelevisão e Empresa Paulista de Cinemas; colorido(Eastmancolor); 35 mm; 82 min; gen: Ficção.elenco: Carlos Miranda, Marlene França, TonyCardi, Elaine Cristina, Luciano Gregory, Bentinho,Sílvia Maria, Genésio Carvalho, Ângelo Noveli,Zé Paió, Reginaldo Vieira. sinopse: Luta entrecontrabandistas provoca um acidente rodoviário,testemunhado por um caboclo. O chefe dobando, Zequi, o seqüestra. Investigando o caso,o capitão Carlos reconhece um dos contrabandistas,o que leva o chefe do grupo a seqüestrartambém sua namorada. Para evitar perdas de


vidas, Carlos se aventura numa região povoadade contrabandistas até libertar os prisioneiros.Trava-se uma luta entre os criminosos e a polícia.comentários: Sem trepidar um só momento, elearriscava a própria vida na constante aventurade eliminar até o último mercenário. – extraídodo folheto publicitário do filme.• O Jeca e o bode, 1972, São Paulo, SP. ficha técnica:prd: Fauzi Mansur; pre: Jota Dávila; dir, arge rot: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>; gep: Caetano Bianchi; asp:Miron R. Cunha; fot: Eliseu <strong>Fernandes</strong>; sng: JúlioPerez Caballar; mtg: Luiz Elias; mus: Chico Moraes;cpr: Filmaci e Procitel Filmes; dis: Brasecran;colorido (Eastmancolor); 35 mm; 82 min; gen:Ficção. elenco: Chico Fumaça, Wanda Marchetti,Carlos Reichenbach, Altamiro Martins, CarlosBucka, Luiz Sacomani, Antônio Andrade, MarthusMathias, Clenira Michel, Adélia Iório, IoneBorges, Maria Viana, Genésio Carvalho, Lírio Bertelli,Walter Portela, Abel Constâncio, AbelardoMorais, Gibe, Celso Lucas, Tuca, Hércules, JorgeGangrena, Sônia Kurosu, Flor Magalhães, DanaGagenski, João Evangelista, Orlando Magalhães,Reginaldo Vieira e o bode Bernardino. sinopse:Um caipira, Firmino, vem para a capital com suafamília, a chamado da sogra, com quem passa aresidir. Depara-se, de saída, com um impasse: aacomodação de Bernardino, um bode que fala409


410e de quem Jeca não se separa. Em meio a constantesrixas com a sogra e desinteligências com avizinhança, provocadas pelo bode, Firmino viveuma série de situações encrencadas, decorrentesde sua desambientação na grande cidade edesatualização com o progresso. Enquanto vaidriblando os contratempos, sua filha Jandira seenamora de um estudante de Engenharia, aotempo em que seu filho faz aumentar a confusãona vila com seus inventos amalucados. Na lutapela vida, Firmino acaba como camelô, quandoentão é ludibriado por uma quadrilha de contrabandistas.Mais uma vez, porém, o caipira se saibem, contribuindo com sua simplicidade para acaptura dos contraventores.• Pânico no império do crime, 1972, São Paulo, SP.ficha técnica: prd: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong> e Alfredo Palácios;dir e cri: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>; asd: Miguel Lopez eJorge Roberto Pizani; gep: Sérgio Ricci; arg: <strong>Ary</strong><strong>Fernandes</strong>, Fábio Novaes Silva e J.C.Souza; dif ecam: Eliseu <strong>Fernandes</strong>; asc: Renato Damiani; fcn:José Amaral; elt: Osvaldo Leonel, Edgar Ferreirae Cláudio Portioli; tcs: Ernest Hack; snp: PauloBergamasco; cen: José Pereira da Silva; mtg: LuizElias; can: Vigilante rodoviário, de <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>;col: Polícia Rodoviária do Estado de São Paulo;ess: Companhia Cinematográfica Vera Cruz; lai:Rex Filme; sis: RCA; p&b; 35 mm; curta-metragem;


22 min; gen: Ficção. elenco Carlos Miranda, o cãoLobo e outros. comentários: Oitavo longa metragemfeito com a reunião de quatro episódios dasérie O Vigilante rodoviário: 1) A Eleição; 2-) Jogodecisivo; 3) Mistério no Embu; 4) Bola­de­Meia;5) Orquídea Glacial.• O Supermanso, 1974, São Paulo, SP. fichatécnica: prd: Elias Cury Filho; dir e arg: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>;dip: Caetano Bianchi; asp: GuilhermeToscano e Francisco Cecílio; rot: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>e Marcos Rey; fot: Reynaldo Paes de Barros; came foc: Álvaro Ricci; fcn: Hércules Barbosa; elt:José Manir; asl: Mário P. Ferreira; ctr: FernandoGarcia; mqn: Harry Dukat; cnt: Célia Padilhae Araken Campos; maq: Cecílio Gigliotti; dib:Garcia Neto; snp: Solon Curvello; tcs: WilliamBonas; let: Miécio Caffé; mtg: Gilberto Wagner;loc: Guarujá, SP; cpr: Brasecran; aps: CondorFilmes; dis: Brasecran e Embrafilme; lab: RevelaS/A; sno: AIC Arte e Indústria Cinematográfica;colorido (Eastmancolor); 35 mm; 105 min; gen:Ficção. elenco: Mário Benvenutti, Jussara Freire,Fausto Rocha, Francisco di Franco, Marlene França,Fátima Loyolla, Roberto Bolant, Teresa Sodré,Nídia de Paula, Francisco Cúrcio, Carlos Coelho,Lisa Vieira, Aparecida de Castro, Carmen Angélica,Albari Fernando, Célia Fróes, Clenira Michel,Américo Taricano, <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>, David Neto,411


412Etty Frazer, Irene Ravache, Geny Santos, GenésioCarvalho, Geraldo Decourt, Maria Helena, HarryDukat, Maria Isabel de Lizandra, Older Cazarré,Olney Cazarré, Orival Pessini, Suzy Darling, TâniaCosta, Teresa Bianchi, Tyhana Perckle, WalterPortela, Vosmarline Siqueira, Douglas Mazzola,Deivi Rose, Ethel Costa, Cecílio Gigliotti, AbelConstâncio, Hércules Barbosa, Gláucia Rotier, IdelyCosta, Mara Prado, Márcia Rosa, Maria Olímpia,Dyll Kleber, Egberto Porto, Mauro Moreira,Guilherme Toscano, Albari Fernando, FranciscoCecílio, José Manir. sinopse: Fábio e Sérgio resolvempassar as férias numa cidade litorânea. Asconquistas amorosas são seu principal objetivo.Fábio, mais audacioso, logo de início leva umagarota para a pensão da Tia Virgínia, mas se dámal, sendo expulso. Sérgio e Fábio procuramentão um hotel e, para facilitar suas aventuras,subornam o zelador de um prédio vizinho. São,porém, surpreendidos pelo dono do apartamentoe Sérgio se vê obrigado a fugir pela janela do12º andar com Leny, passando apavorado de umapartamento para outro. Fábio também não dásorte e todas as vezes que arranja uma garotase mete em complicações. Outros personagenssão apresentados, entre os quais Amaro, umquarentão que é pego em flagrante adultériopela esposa.


• Quando elas querem... e eles não, 1975, SãoPaulo, SP. ficha técnica: prd, dir, arg e rot: <strong>Ary</strong><strong>Fernandes</strong>; asd e dib: Garcia Neto; dip: GilbertoSálvio; asp: Fernando Garcia; fot: José Marreco;asc: Arcângelo Melo Júnior; fcn: Hércules Barbosa;elc: José Manir; elt: Nelson Martinez; asl:Sérgio Warnowski; snp: Solon Curvello; maq:Helena Rubinstein; cnt: Antônio Carlos Contrera;ctr: Fernando Garcia e José Soares; cnc: GeorgeDimitri Stamaglou; tcs: Sérgio Martins; mtg:Gilberto Wagner; loc: Estância Balneária de SãoLourenço, MG; cpr: Procitel – Produções CineTelevisão e Lynxfilm; lai: Revela S/A; las: Kinoson;colorido (Eastmancolor); 35 mm; 101 min;gen: Ficção. elenco: Isabel Cristina, GuilhermeCorreia, Eleu Salvador, Américo Taricano, SilvanaLopes, Wanda Marchetti, Giovanna, Celso Faria,Edson Silva, Meiry Vieira, Walter Portela, OlneyCazarré, Walter Prado, Eudósia Acuña, <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>,Márcia Rosa, Aparecida de Castro, DirceMorais, Gilberto Sálvio, Kathleen Campos, MaraPrado, Lírio Bertelli, Miriam Rodrigues, MirnaMaldonado, Shirley Stech, Valéria D”Elia, WandaSevic Leide, Rosângela Amaral, Tyhana Perckle,Helen D”Carvalho, Eudósia Acuña. sinopse: Nohotel de uma estância balneária, estranho malvitima vários hóspedes, tornando-os impotentes,enquanto as mulheres ficam super excitadas. Desesperadas,as mulheres invadem apartamentos ,413


avançam até sobre empregados do hotel. Omédico que examina o caso manda os homenstomarem água de determinada fonte, à qualeles acorrem com canecos, garrafões e baldes.Mas, no desespero, tomam água da fonte errada.No fim, descobre-se que o mal foi causado porum preparado químico lançado à sopa. Até quetudo volte ao normal, as situações hilariantes sesucedem, em meio a uma enorme confusão egrande agitação geral.414• Guerra é guerra, 1976, São Paulo, SP. ficha técnica:cpr: MIS Filmes; aps: Paris Filmes; dis: GrupoInternacional; colorido (Eastmancolor); 35 mm;89 min; gen: Ficção em três episódios: 1- Núpciascom futebol: dir: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>; arg e rot: <strong>Ary</strong><strong>Fernandes</strong>, Ulisses Tavares, Maurício de Campose José Carlos Rodrigues; asd e cnt: Garcia Neto;gep: Genésio Carvalho; fot e cam: Cláudio Portioli;asc: Gyula Koloswari; fcn: Hércules Barbosa;elc: José Manir; asl: Ornélio Santos; snp: SolonCurvello; ctr: Paulo Sato; mtg: Gilberto Wagner;cpr: Procitel Filmes e Misfilmes; elenco: NunoLeal Maia, Lenilda Leonardi, Felipe Carone, TâniaCosta, Marcos Lander, Osvaldo Campozana,Older Cazarré, Walter Prado. sinopse: Amarildo,fanático torcedor do Corinthians, casa-se em diade jogo decisivo para o time, contra o arqui-rivalPalmeiras. O motorista de táxi que deve levá-los


ao hotel, após o casamento, é palmeirense ecomeçam aí as confusões. Na realidade, Amarildoestá mais preocupado em ouvir o jogo pelorádio, do que com sua lua-de-mel. O jogo acabaapós muitas confusões e só então, ele acede aosrogos de sua noiva. 2- O poderoso $ cifrão: prd,dir, adc e rot: Alfredo Palácios; asd: Heloísa Carvalho;arg: Irvando Luiz; dip: Maurício Palácios;asp: Paulo Satto; fot: Cláudio Portioli; fcn: Paulo<strong>Fernandes</strong>; asc: Gyula Koloswari; cnt: MarthaSalomão Jardim; elt: José Manir; mtg: MaurícioWilke; cpr: Kinoart Filmes. elenco: Ankito, HelenaRamos, Canarinho, Miriam Rodrigues, Durvalde Souza, Célia Fróes, George Balardie, LourêniaMachado, Osvaldo Ávila, Maria Luiza Muller. sinopse:Tromboso é o único funcionário homemque trabalha numa companhia de exportação epede um aumento, argumentando que as moçasque lá trabalham não fazem nada. O diretor lhediz que as moças enfeitam o ambiente, mas queele terá um aumento se o ajudar a desfazer-sede sua amante. Tromboso se encontra com elapara ter no flagrante uma boa desculpa. 3- Verpara crer (macho & fêmea): prd e dir: EgydioEccio; asd: Jair Correia; dip: Milton Merlucci;arg: Antônio Contente; rot: Egydio Eccio e AntônioContente; fot: Edward Freund; asc: GyulaKoloswari; elt: José Manir; crg: Josehy Leão;cpr: Telemil Filmes; elenco: Gibe, Valéria D’ELia,415


Guilherme Correa, Martiê Sinara, Oslei Delano,Ângela Davis, Condessa. sinopse: O bancário Robertoapaixona-se por Monique, uma linda garotafrancesa, mas alimenta a desconfiança de quesua amada seja um travesti. Conta seu drama aofotógrado Turini, que lhe sugere conhecer Moniquena intimidade. Ela, porém, resiste à idéiade ir ao seu apartamento, até que ele lhe dá umultimato. Monique concorda e no apartamentoacontece o final inesperado.416• As Trapalhadas de Dom Quixote & SanchoPança, 1978, São Paulo, SP. ficha técnica: prd:Alfredo Palácios; pre: Maurício Palácios: dir: <strong>Ary</strong><strong>Fernandes</strong>; asd e adc: Ana Lúcia Franco; dip, mtge edi: Maurício Wilke; eqt: Dorival Saran, OscarFirmani, Marthus Mathias, Paulo Agostinelli,José Bento Batista, Ivan Teixeira, DilourêncioRocha, Antônio Andrade, Nestor Alves de Lima,Alexandre Salles; spr: Carvalho Soares; rot: AnaLúcia Franco e Ody Fraga, baseado em Miguelde Servantes; dif: Gyula Kolozvari; fcn: HérculesBarbosa; asc: Luiz Antônio de Oliveira; tcs: JúlioPerez Caballar; dib: Romeu de Freitas; cnc: DimitriStamaglow; cen e fig: Lia Márcia; maq: CecílioGigliotti; amq: Onofre; elc e efs: José Manir; elt:Luiz de Castro e Everaldo Silva; cet: José Pereirada Silva; mqn: Ariovaldo Pereira; mus: PauloHerculano; let: Felipe Ricci; loc: Ilhabela, SP; cpr:


Kinoart e Embrafilme; dis: Embrafilme e Cinedistri;lai: Revela; las: Odil Fonobrasil; colorido (Eastmancolor);35 mm; gen: Ficção. elenco: TuríbioRuiz, Américo Taricano, Ivan Taborda, DorothyLeiner, Osvaldo Barreto, Roberto Murtinho,Martha Volpiani, Vera Rodrigues, Lírio Bertelli,Luely Figueiró, Miriam Rodrigues, Val Garcia, OsvaldoÁvila, Oleide Singer, Eudósia Acuña, PauloAgostinelli, Marthus Mathias, Alfredo Palácios,Dorival Saran, Aparecida Reis, João Ângelo, VicenteMollinari, Nestor Alves de Lima, BeneditoLima, Benoni Botega, Satã, Genésio Carvalho,Kendo, Mário Farinazzo Filho, Antônio Andrade,Cecílio Gigliotti, Antônio Fornitani, Arthur Suter,Geraldo Pinna. sinopse: O excêntrico professorAlonso, de tanto ler o livro de Cervantes, acabaconvencido de que é o próprio Dom Quixote.Ao dar uma aula na escola onde leciona vestidode armadura, é expulso do emprego. Depoisde eleger Dulcinéia uma humilde moradora dolocal, Dom Quixote sai à procura de pobres paradefender. Depois de inúmeras desventuras, voltapara casa triste e humilhado. Reencontrando seusalunos, mais uma vez volta a contar a história deDom Quixote, que um dia saiu pelo mundo aforapara fazer o bem e castigar os maus...417• O Vigilante rodoviário, 1978, São Paulo, SP.ficha técnica: prd e dir: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>; pre: Sér-


418gio R. Correa; asd: Tânia Lamarca; arg e rot: <strong>Ary</strong><strong>Fernandes</strong> e Waldir Kopeski; gep: Iragildo Mariano;asp: Fernando Barreiros e Jorge Sampaio;spr: Valter Portella; dif: Antônio Meliande; fcn:Hércules Barbosa; asc: Gyula Kolozsvari e Luiz deOliveira; elc: Waldomiro Reis; elt: Rafael Bastos;cnt: Magnólia M. Araújo; tcc: Dimitri; tcs: JúlioPerez Caballar; mtg: Gilberto Wagner; mus: CamargoSilveira; reg: Rubens Leoneli; cpr: ProcitelFilmes; lai: Revela; las: Odil Fonobrasil; colorido;35 mm; 60 min; gen: Ficção. elenco: Antônio Fonzar,Ruy Leal, Eleu Salvador, Nestor Lima, JoãoPaulo, Toni Cardi, Marthus Mathias, João Ângelo,Leda Figueiró, Jonathas Batista, Iragildo Mariano,Satã, Edna Sallon, Antônio Andrade, IbanezLocatelli, Orlando Magalhães, Antônio Bonfim,Altair Augusto, Antônio Rod, Francisco Pedro,Paulo Otto, Benedito Luppi e o cão Lobo. sinopse:Dólares falsificados estão entrando ilegalmenteno <strong>Brasil</strong>. A Polícia Rodoviária entra em ação nasinvestigações, quando um Dodge Dart despencanuma ribanceira da estrada, e um homem apareceferido no mato.Tudo comandado pelo agoratenente Carlos e seu fiel cão Lobo.• Sexo selvagem, 1979, São Paulo, SP. ficha técnica:prd e dir: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>; cpr: Titanus Filmes;colorido; 35 mm; 88 min; gen: Ficção. elenco:Ana Paula Bless, Cláudio Doliani, Marineide


Vidal, Patrícia Scalvi, Alva Mar, Xandó Batista,José Parisi Júnior, Edson Rabelo, Teka Klaus, LuizNunes, Beth Nanamy, Nestor Alves de Lima, NádiaDestro, Oswaldo Ávila, Reginaldo Vieira, EduardoZa, Fátima Morgan. sinopse: Uma noite numadiscoteca, um grupo de moças praticantes de judôsofre um inoportuno assédio de um conquistador.Não suportando mais a insistência do rapaz, asmoças aplicam-lhe uma violenta surra.• Essas deliciosas mulheres, 1979, São Paulo,SP. ficha técnica: prd e dir: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>; dip:Iragildo M. Sobrinho; arg: José Sampaio; rot: <strong>Ary</strong><strong>Fernandes</strong> e José Sampaio <strong>Brasil</strong>; dif e cam: AntônioMeliande; tcs: Júlio P. Caballar; mtg: GilbertoWagner; cen e fig: Campello Neto; mus: SolonCurvela; loc: Rio de Janeiro, RJ, Poços de Caldas,MG, Campos do Jordão e Guarujá, SP; cpr e dis:Titanus Filmes; lai: Revela; las: Odil Fonobrasil;colorido (Eastmancolor); 35 mm; 107 min; gen:Ficção. elenco: Paulo Ramos, Ana Maria Kreister,Claudette Joubert, Ruy Leal, Cláudio Doliani, FelipeLevy, Glória Cristal, Ana Grimaldi, Zélia Diniz,André Filho. sinopse: Dono de um estúdio fotográficode sucesso, Jorge conhece Cristina numaviagem de negócios a Campos do Jordão. Apesarda atração mútua, eles só voltam a se encontrar,por acaso, em São Paulo. Ela aceita jantar comele, mas recusa um drinque em seu apartamento.419


420Impressionado com a moça, Jorge a convida parairem juntos à Bahia em seu jatinho particular.Mas ela promete encontrá-lo lá em Salvador, poistem medo de aviões pequenos. Na Bahia, novodesencontro: Cristina pensa que Jorge namoraÂngela, filha do diretor-comercial do fotógrafo.Fugindo de Jorge, ela conhece Paulo, um pintor,que a convida para irem ao Rio de Janeiro. Jorgefica desanimado com o desaparecimento de Cristina.O reencontro definitivo irá ocorrer em SãoPaulo, quando, indo para o aeroporto, Jorge éultrapassado pelo carro de Cristina. Ele conseguealcançá-la e, depois das explicações necessárias,os dois, felizes, sobrevoam a cidade no pequenoavião de Jorge.• Rotary Club, 1980, São Paulo, SP. ficha técnica:dir: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>; cpr: Rotary Club do <strong>Brasil</strong>;colorido; 35 mm; curta-metragem; 20 min; gen:Documentário. sinopse: Documentário institucionalfeito sob encomenda pelo Rotary, como objetivo de mostrar a sede de São Paulo nosEstados Unidos.• Orgia das libertinas, 1981, São Paulo, SP. fichatécnica: prd, dir, arg e rot: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>; asd easm: Fernando <strong>Fernandes</strong>; dip: Iragildo Mariano;spr: Fernando Barreiros; dif e cam: Osvaldo deOliveira; asc: Ariovaldo Pereira; fcn: Conrado Sanches;cnc: Jurandir Pizzo; tcs: Orlando Macedo ;


elc: Luiz Antônio; elt: José Carlos Lampa; cen:Fernando Almeida; ctr: Nestor Lima, AntônioAndrade e Rita da Costa; dec: O Lixão; edi e mtg:Gilberto Wagner; mus: José Roberto; cpr: ProcitelFilmes; dis: Ouro Filmes e Art Filmes; lai: LíderCinematográfica; las: Odil Fonobrasil; colorido(Eastmancolor); 35 mm; 87 min; gen: Ficção.elenco: Felipe Levy, Ruy Leal, Fátima Celebrini, LiaFurlin, Fábio Villalonga, Márcio Prado, VirgíniaGil, Marliane Gomes, Douglas Franco, Emil Grigoletto,Ely Silva, Nestor Alves de Lima, AntônioAndrade, Ilse Cotrim, Júlio Ramler, Ana MariaGonçalves, Lúcia Santos, Zilda Lourenço, PenhaMoreira. sinopse: Cláudio, dono de uma agênciade publicidade, deseja a conta do dr. Alves, mulherengo,representante de uma multinacional.Com a ajuda de um amigo, consegue uma casade campo, para onde leva algumas meninas quetentarão seduzir o novo cliente. A casa, contudo,já está ocupada pelo comendador Lingoni, seusobrinho e suas amantes. Enquanto o dr. Alvesnão chega, pois se perde na estrada, Robertoe o comendador promovem uma festa, sob osolhares cobiçosos do caseiro, que lamenta suamá sorte. Localizado o dr. Alves, a orgia continua.Em companhia de Beatriz, secretária do dr. Alves,aparecem repentinamente mr. Frank, seu maiorcliente, e uma acompanhante recatada. Beatrize mr. Frank logo aderem à festa. Excitada mas421


desprezada, a acompanhante recatada terminapor satisfazer os desejos sexuais do caseiro. Osplanos de Roberto, contudo, não surtem efeito:o dr. Alves não pode oferecer a conta de suaempresa, pois mr. Frank viera avisá-lo de que osnegócios entre ambos estavam definitivamenteencerrados.422• Cassino dos bacanais, 1981, São Paulo, SP. fichatécnica: dir, arg e rot: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>; dip:Iragildo Mariano; dif: Hércules Barbosa; tcs: JúlioP. Caballar; mtg: Gilberto Wagner; cen: Fernando<strong>Fernandes</strong>; dim: José Roberto; cpr: Procitel; dis:Ouro Filmes; lai: Líder Cinematográfica; las: OdilFonobrasil; colorido (Eastmancolor); 35 mm; 90min; gen: Ficção. elenco: Felipe Levy, Jussara Calmon,Ruy Leal, Sérgio Hingst, Marthus Mathias,Júlio Ramler, Ely Silva, Margareth Souto, MarcoAntônio, Marly Palauro. sinopse: Marcos, filhodo dr. Maia, é convocado pelo pai para verificaro estado de sua casa de campo, pois, segundodenúncias, o caseiro Rômulo a estaria utilizandopara outros fins não apropriados. Lá chegando,Marcos constata que Rômulo transformara a casaem hotel mas, sentindo-se tentado por Janete,uma das criadas, e pelo clima orgíaco propiciadopelas hóspedes, ele resolve permanecer incógnito,sendo contratado como garçom. As hóspedes,antes de partir, seduzem Marcos e Rômulo. Jane-


te, enciumada, foge aos apelos apaixonados dorapaz, ignorando também os conselhos dados porum homossexual negro, cozinheiro do hotel. Doismafiosos, mancomunados com Rômulo, transformama casa em um cassino, com grande sucesso.Dr. Maia, contudo, telefona para Rômulo dizendoque passará alguns dias em sua propriedade. Marcos,inventando uma desculpa, se ausenta da casae procura seu pai, convencendo-o de que a casase encontra em perfeita ordem. Volta ao cassinoe revela ser filho do proprietário, declarando-seapaixonado por Janete que, indignada, querarru mar as malas mas desiste, cedendo aos apelosamorosos de Marcos.• A fábrica de camisinhas, 1981, São Paulo, SP.ficha técnica: prd e dir: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>; dip: JorgeSampaio; arg: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>, Ulisses Tavares, JoséCarlos Silva e Maurício Campos; rot: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>e Ody Fraga; dif e cam: Hércules Barbosa;asc: Gyula Kolozsvari; tcs: Orlando Macedo; maq:Mário Lúcio; mtg: Gilberto Wagner; mus: BetoStrada e Toninho Guerreiro; cpr: Procitel Filmes;dis: Ouro Filmes; lai: Líder Cinematográfica; las:Odil Fonobrasil; colorido (Eastmancolor); 35 mm;85 min; gen: Ficção. elenco: Arlindo Barreto, FelipeLevy, Zaira Bueno, Lídia Costa, Aiman Hammound,Roque Rodrigues, Jussara Calmon, RuyLeal, Sérgio Hingst, Américo Taricano, Henrique423


424Lisboa, Jônia Freund, Ely Silva, Paco Sanches, MiriamRodrigues, Tyhana Perckle, Douglas Franco,Heloísa Helena, Nestor Alves de Lima, OsmarAlves, Henrique Bertelli, Antônio Andrade, MarthusMathias. sinopse: A principal fonte de rendada cidade de Pau Grosso, paraíso de vênus, é afábrica de camisinhas Sensação, comandada pelogerente, dr.Guilherme e pelo comendador, seuproprietário. Durante o teste da mais nova invenção,a camisinha elétrica, que mantém seu usuárioem constante ereção, o comendador morreeletrocutado. Após o enterro, no qual Heitor, omulherengo da cidade, bolina as mulheres desconsoladas,a viúva do comendador procura umsucessor para a presidência da fábrica. Retorna,então, à cidade, Ângelo, um seminarista, sobrinhodo comendador. Padre Romão, satisfeito,comunica às beatas que, finalmente, a cidade nãomais contará com a imoralidade da fábrica. Apesardos esforços de Heitor, na tentativa de evitarum encontro de Ângelo com o padre, o novopresidente decide mudar a linha de produção: aoinvés de camisinhas, passa a produzir chupetas ebicos de mamadeira. A fábrica começa a sucumbire o desemprego provoca passeatas de protesto.Heitor arquiteta um plano: todos os funcionárioscirculam pela fábrica e Ângelo se imagina louco,procurando um psiquiatra que lhe revela a faltade vocação para o sacerdócio. Ângelo, assim, se


casa com Marli, criada de sua tia; a fábrica volta afuncionar com sua linha habitual e Padre Romãose conforma com a situação. Heitor, contudo,malfadado, é incumbido de fazer um novo testecom a camisinha elétrica.• As vigaristas do sexo, 1982, São Paulo, SP. fichatécnica: prd e dir: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>; dip: JorgeSampaio; arg: Alfredo Palácios; rot: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>e Alfredo Sternheim; dif e cam: HérculesBarbosa; asc: Gyula Kolosvari; cnc: José Carlos;fcn: Fernando <strong>Fernandes</strong>; som: Jorge Ventura;mtg: Gilberto Wagner; cen: Alberto Gieco; maq:Mário Lúcio; mus: Beto Strada e Toninho Negreiro;cnt: Fernando <strong>Fernandes</strong>; loc: Litoral de SãoPaulo; cpr: Procitel Filmes; dis: Ouro Filmes e ArtFilmes; lai: Revela; las: E.Szankowski; colorido(Eastmancolor); 35 mm; 85 min; gen: Ficção.elenco: Felipe Levy, Vanessa, Jussara Calmon,Aiman Hammound, Ruy Leal, Sérgio Hingst,Américo Taricano, Rubens Pignatari, HenriqueLisboa, Arnaldo <strong>Fernandes</strong>, Aparecida de Castro,Marliane Gomes, Bianca Blonde, Hélia Pelitzer,Paco Sanches, Célia Lima, Guilherme Toscano,Henrique Bertelli, Osmar Alves, Fátima Nunes,Antônio Andrade, Cuberos Neto, Jussara Morais,Jorge S. Iwasaki, Maria Luisa Jorge, Denise, Konji,Esther Watanabe, Zilda Loureiro, Lauro Leandro,Vera Suzana, André Resende, Gilson Motta, Juca425


Valente. sinopse: Renata, Nilza e Paula chegamà cidade grande à procura de melhores oportunidadese de Adelino, a quem haviam conhecidonum cassino argentino como um homem de posses.Decepcionam-se ao encontrá-lo vivendo comduas garotas, Loren e Misaki, e poucos recursos.Adelino aluga uma mansão com a intenção deatrair milionários para casá-los com as garotas.Conhecem alguns homens e as meninas conseguemse casar, resolvendo, aparentemente osproblemas financeiros do grupo. Com o intuitode ajudar Adelino, os recém-maridos decidemmontar uma agência matrimonial.426• Elas só transam no disco, 1983, São Paulo, SP.ficha técnica: prd e dir: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>; dip: Fernando<strong>Fernandes</strong>; arg: Geraldo Almeida; rot: OdyFraga; fot e cam: Hércules Barbosa; mtg: GilbertoWagner; dim: Solon Curvello; cpr: Procitel Filmes;ess e mix: E.Szankovski; dis: Ouro Nacional; lai:Revela; colorido; 35 mm; 88 min; gen: Ficção.elenco: Rubens Pignatari, Wanda Kosmo, Lígiade Paula, Felipe Levy, Arnaldo <strong>Fernandes</strong>, Aparecidade Castro, Ivete Bonfá, Henrique Lisboa.sinopse: dr. João, delegado, depois de uma noitedifícil, em que não conseguira fazer amor comsua fogosa esposa, chega à delegacia e encontrao caso de um objeto não identificado, um discovoador que estava apavorando toda a cidade.


Após algumas investigações, descobre que o discovoador, na verdade, é o cenário de um filmeque está sendo produzido no local. Acaba porprender toda a equipe técnica por perturbaçãoda ordem, colocando-os na mesma cela de bandidose travestis. O xadrez, já superlotado, explodecom a chegada de toda a equipe.• Taras eróticas, 1984, São Paulo, SP. ficha técnica:prd, arg e dir: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>; dip: Fernando<strong>Fernandes</strong>; asd e cnt: Rajá de Aragão; rot: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>e Ody Fraga; fot e cam: Luiz Antônio deOliveira; asc: Henrique Borges; maq: Robertinho;mtg: Gilberto Wagner; cpr: Procitel; dis: OuroNacional e Art Filmes; colorido (Eastmancolor);35 mm; 75 min; gen: Ficção. elenco: Felipe Levy,Célia Cruz, <strong>Ary</strong>adne de Lima, Aiman Hammound,Selma Ribeiro, Coriolano Campos, Luiz CarlosGomes, Livi Bianco, Marthus Mathias, GuilhermeToscano, Emil Luiz. sinopse: Um estranho medalhão,que dizem dar sorte e fazer a felicidade dequem o possuir, acaba causando uma série deencrencas em sua peregrinação, passando pelamão de gigolôs, prostitutas, etc., até a sua donaoriginal, uma prostituta. Comentários: em 1984foram produzidos 101 filmes no <strong>Brasil</strong>, sendo 71eróticos, e desses, 51 de sexo explícito. Este é o101º lançado, ou seja, o último do ano registradonos órgãos oficiais.427


Produtor428• Anjo loiro, 1973, São Paulo, SP. ficha técnica:prd: Elias Cury; pre: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>; dir e rot: AlfredoSternheim; gep: Antônio Domênico; arg:Alfredo Sternheim e Juan Siringo, baseado noromance Professor Unrath, de Heinrich Mann;fot: Reynaldo Paes de Barros; cam: WellingtonTrindade; fcn: Hércules; elt: Isidoro Oliveira; asl:Harry Dukat; mtg: Eduardo Leone; cnt: CéliaPadilha e José Carioca; mus: Mário Edson; cpr:Condor Filmes; dis: Brasecran – Distribuidora eExportadora de Filmes e Condor Filmes; colorido(Eastmancolor); 35 mm; 103 min; gen: Ficção.elenco: Vera Fischer, Mário Benvenutti, CéliaHelena, Ewerton de Castro, Liana Duval, LineuDias, Léa Surian, Nuno Leal Maia, Ivete Bonfá,Vicente Tuttoilmondo, Vladimir Soares, PauloLara, Wanda Marchetti, Lídia Vani, Albari Fernando,Gracinda <strong>Fernandes</strong>, Ignez Marinho, Mayarade Castro, Nelcy Martins, Walter Portela, CelsoKaran, Carlos Contreras, Durvalino de Souza,Lino Braga, Roberto Rocco, Hélcio Magalhães,Mia Almeida, Rosomar Paula, Carlos di Simone,Cláudio Savieto, Rui Frette, Seme Lufti. sinopse:Armando, um professor quarentão, solteiro, levauma vida metódica, segura e tranqüila. Não seprende a ninguém, experimenta algumas aventurase é muito dedicado ao trabalho. Na escola,


percebe que um de seus alunos, Mário, apresentadeclínio nos estudos. Trata de averiguar a causa edescobre que o rapaz está apaixonado por Laura,uma colega. Armando vai então falar com a moçae lhe sugere que se afaste de Mário. Mas nessaespinhosa missão, o professor acaba se deixandoenvolver por Laura. E não tarda a perceber que,também ele, está apaixonado por ela. A moçaparece corresponder a seu amor e passa a vivercom ele. Mas Laura, muito embora sua purezade sentimentos, leva uma vida amoral, voluptuosa.Sua conduta provoca entrechoques que,entretanto, não arrefecem a paixão de Armando,cada vez maior e obsessiva. Essa nova existência,repleta de emoções inéditas, começa a influir naconduta profissional de Armando e em suas relaçõescom a família e com os amigos. E dá margema conflitos que culminam com sua degradaçãototal. Comentários: Inspirado em O Anjo Azul,(Der Blaue Engel), 1930, Alemanha, direção deJosef von Sternberg, com Marlene Dietrich, ofilme era para se chamar Anjo Devasso, mas essetítulo foi proibido pela censura.429• Trindad... é meu nome, 1973, São Paulo, SP.ficha técnica: prd: Elias Cury; pre: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>;dir e arg: Edward Freund; gep: IragildoMariano; asp: José Dias; rot: Edward Freund eAdilson Hampe; fot: Reynaldo Paes de Barros;


430cam: Wellington Trindade; asc: Nicanor Oliveira;elt: Isidoro F. Oliveira; asl: Coriolano Sobrinho;fcn: Hércules B. Silva; cen: Waldir Siebert; acn:Benedito Minário; cnt: Célia Padilha; fig: PaulaRamos; mtg: Dionira Feo e Glauco Mirko Laurelli;loc: Itu, SP; cpr: Brasecran Distribuidora e Exportadorade Filmes e Macro Filmes; dis: Embrafilme;colorido (Eastmancolor); 35 mm; 104 min; gen:Ficção. elenco: David Cardoso, Carlos Bucka, JofreSoares, Edward Freund, Marlene França, FátimaAntunes, Francisco Cúrcio, Nadir <strong>Fernandes</strong>, WalterPortela, Astrogildo Filho, Iragildo Mariano,Paula Ramos, Waldir Siebert, Coriolano Rodrigo,Geraldo Decourt, Mateus Lopes, Oswaldo deBarros, Vosmarline Siqueira, Alvino Souza, CesárioMorales, Neusa Manolo, Salete Carvalho,Antônio Vasques, Rita Helena, Benedito Minário,Pedro Banites, Pompeu Borges, Zulu Aguilar.Sinopse: Trindad gosta de namorar qualquertipo de mulher e, por isso mesmo, está sempre aarranjar intrigas com os maridos traídos. Juntamentecom seu irmão Picolino, chega à pacatacidade de Pecos, onde os dois são confundidoscom pistoleiros que caçam bandidos com a cabeçaa prêmio. Dessa forma, eles se vêem obrigados adar caça a um temível facínora, Gringo, o flageloda região de Pecos. Utilizando sagacidade eastúcia, Trindad evita enfrentar Gringo, mas, aomesmo tempo, cuida de bani-lo da cidade. Com


isso, Trindad e Picolino são tratados como heróispela população. Comentários: público: 312.271pessoas, com renda de Cr$ 778.892,35. (fonte:Anuário Cinema em Close-Up, 1976).• O leito da mulher amada, 1974, São Paulo, SP.ficha técnica: prd: Elias A. Cury; pre: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>;dir, arg, rot e mtg: Egydio Éccio; asd: WalterC. Portela; gep: Caetano Bianchi; fot: AntônioMeliande; cam: Hugo A. Gama; fcn: HérculesBarbosa; sng: José Moura; cnt: Célia Padilha; cpr:Brasecran – Distribuidora Importadora Exportadorade Filmes e M.M.Filmes; dis: Embrafilme;colorido (Eastmancolor); 35 mm; 96 min; gen:Ficção. elenco: Nídia de Paula, Francisco Cúrcio,Ivan Lima, Mário Benvenutti, Nadyr <strong>Fernandes</strong>,Américo Taricano, Roberto Bolant, Wanda Marchetti,Sady Cabral, <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>, CavagnoleNeto, Príncipe Negativo, Mário Bruni, João Massiero,Milton Merlucci, Tuca Pipoca. Sinopse: Odr. Gregor Anastasi, criminalista conhecido comoa Raposa do Foro, e Artemidoro, entregador deleite a domicílio, surpreendem suas esposas nosleitos de seus melhores amigos. O dr. Gregoraceita a nova situação, convidando o amanteda mulher para um fim-de-semana em sua casade campo. Ali os três passam a viver em comumaté que a Raposa do Foro coloca sua esposa e oinfiel amigo num balão de ar quente, o Hobbie,431


que ele mesmo construíra, enviando-os para aestratosfera. Por sua vez, o leiteiro, ferido emseu amor-próprio e em sua honra de italiano,vinga-se da esposa expondo-a em praça públicaa uma agressão coletiva. Comentários: público:295.273 pessoas, com renda de Cr$ 1.072.493,40.(fonte: Anuário Cinema em Close-Up, 1976). Prêmios:Melhor Ator Secundário (Roberto Bolant)e Roteiro (Egydio Éccio), III Festival de Cinemado Guarujá, SP, 1974; Melhor Ator Coadjuvante(Francisco Cúrcio), Prêmio APCA – AssociaçãoPaulista de Críticos de Arte, SP, 1974.432• Curral de mulheres, 1982, São Paulo, SP. fichatéc nica: prd: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>; pre e dip: MaurícioPalácios; dir, dif e cam: Osvaldo Oliveira; asd:Alberto Gieco; arg e rot: Alfredo Palácios eOsvaldo de Oliveira; asc: Gyula Koloszvari; fcn:Hércules Barbosa; tcs: Jorge Ventura; egs: Fernando<strong>Fernandes</strong>; mtg: Gilberto Wagner; cen:Lia Márcia; maq: Cecílio Gigliotti; mus: Fabinhoe Ribamar; cnt: Regina Beeke; lai: Revela; las: E.Szankovski; ctz: <strong>Brasil</strong>gráfica; cpr: Procitel Filmese Cena Filmes; dis: Ouro Filmes e Art Filmes; colorido(Eastmancolor); 35 mm; 90 min; gen: Ficção.elenco: Maurício do Valle, Elizabeth Hartman,Sandra Graffi, Elys Cardoso, Lígia de Paula, Vanessa,Márcia Fraga, Shirley Benny, Kátia Spencer,Miriam Rodrigues, Ely Silva, Fátima Nunes, Fafy


Magalhães, Fábio Villalonga, Arnaldo <strong>Fernandes</strong>,Roque Rodrigues, Sérgio Hingst, João Paulo,Pedro Caçador, Marthus Mathias, Djalma deCastro, Eddio Smânio, Antônio Andrade, WilsonSampson, Nestor Alves de Lima, Guilherme Toscano,José Carlos Lampa, Luiz Sacomani, HenriqueBertelli, Osmar Alves. Sinopse: na extremafronteira Norte do <strong>Brasil</strong>, um bando se dedicaao aprisionamento e tráfico internacional debrancas. As jovens são atraídas a uma fazenda einstaladas num curral, caçando-se violentamenteas que tentam resistir. Certa noite, durantebacanal com o chefe do bando, uma delas consegueferi-lo, seguindo-se uma rebelião em queelas incendeiam o curral e fogem para a florestapróxima. Lá, defrontam-se com os perigos da vidaselvagem, com o assédio sexual de garimpeirose com a violência da expedição punitiva e deresgate empreendida pelos traficantes.433


Cargos Técnicos de Produção; Ator434• O canto do mar, 1954, São Paulo, SP. ficha técnica:prd, dir e arg: Alberto Cavalcanti, a partir dofilme En Rade, 1927, de Alberto Cavalcanti; asd:Adalberto Vieira, Bartolomeu Andrade e José deSouza Alencar; gep: Luiz Andrade, Osvaldo Kataliane Romeu Estelita; asp: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>; rot:Alberto Cavalcanti e José Mauro de Vasconcelos;dia: Hermilo Borba Filho; fot: Cyril Arapoff e PaoloReale; asf: C.P.Chavan e George Pessis; cam:Delson Lima e Paulo Reali; cen: Hilário Marcelino;ass: Ricardo Sievert; mtg: José Cañizares; asm: JoséGonçalves; mus: Guerra Peixe; loc: Recife, PE; cpr:Kino Filmes; dis: U.C.B. – União Cinematográfica<strong>Brasil</strong>eira; est: Cinematográfica Maristela; p&b; 35mm; 124 min; gen: Ficção. Elenco: Aurora Duarte,Cacilda Lanuza, Margarida Cardoso, Alfredode Oliveira, Ruy Saraiva, Miriam Nunes, GlauceBandeira, Débora Borba, Maria do Carmo Xavier,Fernando Becker, Antônio Martinelli, Ernani Dantas,Alberto Vilar, Luiz Andrade. Sinopse: sertãonordestino: a seca e a fome assolam as famílias,forçando os moradores locais a migrar para oSul do país. Uma dessas famílias, composta pelopai inválido e desequilibrado, e a mãe lavadeira,perece na miséria. A loucura do pai, que vive isolado,obriga a mãe a assumir a responsabilidadena condução da família, contando com a ajuda


dos filhos. O rapaz, inconformado com toda essasituação de miséria, sonha migrar para o sul embusca de melhores condições, permitindo-lhecasar com moça do local e proporcionar aos parentesuma vida digna. Comentários: segundaversão do clássico En Rade, dirigido pelo próprioCavalcanti, na França, em 1927, o filme foi criticadona época por mostrar para o exterior amiséria do nosso povo. Prêmios: Melhor Filme,Prêmio Associação <strong>Brasil</strong>eira de Cronistas Cinematográficos,RJ, 1953; Melhor Produtor (AlbertoCavalcanti), Montagem (José Cañizares) e Música(Guerra Peixe), Prêmio Governador do Estado deSão Paulo, SP, 1953; Primeiro Prêmio, Festival deKarlovy Vary, Tchecoslováquia, 1955.435• Mulher de verdade, 1954, São Paulo, SP. fichatécnica: prd e dir: Alberto Cavalcanti; pra: ElzaS. Ribeiro e Alfredo Palácios; asd: José Saenz;gep: Harry Hand; asp: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>; arg: GaleãoCouti nho e Alberto Cavalcanti; rot: OsvaldoMoles; dia: Miroel Silveira; fot: Edgar <strong>Brasil</strong>;sng: Hilário Marcelino; cen: Francisco Balduíno;acn: Ricardo Sievert; mtg: José Cañizares; mus:Cláudio Santoro; can: Catarina do Barulho; OMundo É Uma Bola; Os Amigos no Inferno; ASanfona do Jumento; Amélia; Je Perdu MonHomme; cpr: Kino Filmes; dis: U.C.B. – UniãoCinematográfica <strong>Brasil</strong>eira; est: Cinematográfica


436Maristela; p&b; 35 mm; 100 min; gen: Ficção.elenco: Inezita Barroso, Colé Santana, RaquelMartins, Adoniran Barbosa, Carla Neli, CarlosAraújo, Valdo Wanderley, Caco Velho, DircePires, Nestório Lips, Ivana, Osmano Cardoso,Waldir Padilha, João Franco, José Saenz, DélioSantos, Paulo Vanzolini, Aparecida Baxter, JoãoSilva, Antônio Fragoso, Fábio Cardoso. Sinopse:enfermeira, funcionária de um hospital, se passapor solteira para fugir do regulamento, quenão permite mulheres casa das. Na verdade, elaleva vida dupla, casa com dois homens, um delesbombeiro, ex-malandro. Prêmios: Melhor Atriz(Inezita Barroso), Prêmio Saci, SP, 1955; MelhorAtriz (Inezita Barroso), Prêmio Governador doEstado de São Paulo, SP, 1955.• Mãos sangrentas, 1955, São Paulo, SP e Rio deJanei ro, RJ. ficha técnica: prd: Roberto Acácio;pre: Mário Audrá Júnior; dir: Carlos Hugo Christensen;asd: Darcy Evangelista e <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>;gep: Alfredo Palácios: asp: Gregório Wallerstein eRoberto Faria; arg e rot: Carlos Hugo Christensene Pedro Juan Vignale; dia: Sady Cabral; fot: MárioPagés; cam: Juan Carlos Landini; sng: SérgioÁlvares; dub: Fernanda Montenegro, Jurema Magalhães,Dionísio Azevedo e Rodolfo Mayer; cen:João Maria dos Santos; acn: Francisco Guglielmi ;dec: Carlos Jacheri; mtg: José Cañizares ; asm:


Ismar Porto; mus: Alexandre Gnatalli e AbigailMoura; cpr: Cinematográfica Maristela (SP) eArtistas Associados (RJ); dis: Columbia Pictu resdo <strong>Brasil</strong>; p&b; 35 mm; 82 min; gen: Ficção. elenco:Arturo de Córdova, Carlos Cotrim, RamiroMaga lhães, Aurélio Teixeira, Claudiano Filho,Jackson de Souza, Tônia Carrero, Sady Cabral,José Policena, Gilberto Martinho, Lisette Barros,Manoel Pêra, Lídia Matos, Antônia Marzullo,Cirilo Dacosta, Arnaldo Montel, Heloísa Helena ,Agostinho Pereira, Paulo Montel, ArmandoLouzada, Allan Lima, Alcebíades Ghiu, AurelianoSantos, Costinha, De Carambola, Edson V. Boas,João Zacarias, Maurício Dias, Milton Leal, MiltonMarcos, Oswaldo Louzada, Sérgio Alvarez, VicenteCosta, Wilton Franco. Sinopse: os detentos dopresídio da Ilha Anchieta se rebelam, dominam aguarnição e morrem. Um dos fugitivos, que sonharever a mãe, encontra uma prostituta e começaa contar a ela sua história. Prêmios: Melhor AtorSecundário (Gilberto Martinho), Prêmio Associação<strong>Brasil</strong>eira de Cronistas Cinematográficos, RJ,1955; Melhor Produtor (Roberto Acácio) e AtorSecundário (Gilberto Martinho), Prêmio Saci, SP,1955; Melhor Produtor (Roberto Acácio) e AtorSecundário (Gilberto Martinho), Prêmio Governadordo Estado de São Paulo, SP, 1955, alémde representar o <strong>Brasil</strong> no Festival de Venezade 1956.437


438• Leonora dos sete mares, 1956, São Paulo, SPe Rio de Janeiro, RJ. ficha técnica: prd: RobertoAcácio; pra: Mário Audrá Júnior; dir: CarlosHugo Christensen; asd: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>, EduardoLorente e Ismar Porto; gep: Alfredo Palácios;asp: Roberto Faria; arg: baseado na peça teatralLeonora de Pedro Bloch; rot: Carlos HugoChristensen e Pedro Bloch; fot: Mário Pagés;cam: Adolfo Paz Gonzalez; asc: Afonso Viana;sng: Sérgio Álvares; cen: Darcy Evangelista; dec:Francisco Guglielmino; ade: Carlos Jachieri; mtg:José Cañizares; mus: Enrico Simonetti e GuerraPeixe; cpr: Artistas Associados (RJ) e Unifilmes(SP); est: Cinematográfica Maristela; dis: Pel-Mex;p&b; 35 mm; gen: Ficção. Elenco: Suzana Freyre,Arturo de Córdova, Rodolfo Mayer, Jardel Filho,Henriette Morineau, Modesto de Souza,Heloísa Helena, Claudiano Filho, Anilza Leone,Oswaldo Louzada, Adriano Reys, Paulo Montel,Sarah Nobre, Arnaldo Montel, Afonso Stuart,Elza Mumme, Annie Carol, Ângelo Labanca,Edgard Cassitas., Moacir Deriquén, Maria Luiza,Miro Cerni, Bibi Ferreira, Sady Cabral, ArmandoLouzada, Sérgio de Oliveira, Escola de SambaAcadêmicos do Salgueiro, Wilza Carla, SolanoTrindade e o Teatro Popular <strong>Brasil</strong>eiro. Sinopse:um grande mistério envolve Leonora, e tudo seagrava quando um estranho chega de BuenosAires à sua procura, dizendo lá tê-la conhecido.


Apaixonado, fica desesperado quando dizem queela está morta e, persistente, não acredita no quedizem e passa a procurá-la insistentemente. Aoencontrá-la, se depara com um cruel e inesperadoenigma. Prêmios: Melhor Diretor (Carlos HugoChristensen), Prêmio Associação <strong>Brasil</strong>eira dosCronistas Cinematográficos, RJ, 1956; MelhorProdutor (Roberto Acácio), Cenografia (DarcyEvangelista e Francisco Guglielmino) e Editor(José Cañizares), Prêmio Saci, SP, 1956; MelhorDiretor (Carlos Hugo Christensen) e Compositor(Enrico Simonetti), Prêmio Governador do Estadode São Paulo, SP, 1956; Melhor Fotografia (MárioPagés), IV Festival de Cinema do Distrito Federal,RJ, 1956.439• A pensão da dona Estela, 1956, São Paulo, SP.ficha técnica: prd: Alfredo Palácios e Andras Kalman;dir: Alfredo Palácios e Ferenc Fekete; asd:Glauco Mirko Laurelli; gep: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>; arg:baseado na peça teatral homônima de GastãoBarroso; rot: Alfredo Palácios; fot e ilm: FerencFekete; sng: Félix Braschera; cam: Rudolf Icsey;cen: Carlos Giacheri; edi: João de Alencar; mtg:José Cañizares; mus: Enrico Simonetti; can: AdoniranBarbosa, José C. Viana e Manezinho Araújo;cpr: Cinematográfica Maristela e Cinebrás; dis:Columbia Pictures do <strong>Brasil</strong>; p&b; 35 mm; 95 min;gen: Ficção. elenco: Jayme Costa, Maria Vidal,


440Liana Duval, Lola Brah, Adoniran Barbosa, RandalJuliano, Carlos Araújo Ayres Campos, MárciaVasconcelos, Jimmy Lester, Jane Batista, WalterRibeiro dos Santos, Ricardo Bandeira, ZulmaMaria, Osmano Cardoso e em números musicais:Os Modernistas, Carmélia Alves, Eva Bosch e seuConjunto Cigano. Sinopse: pensão à beira da falênciahospeda os mais variados tipos de pessoas:um conjunto musical, um médico desempregado,uma cantora de rádio e um jogador de futebol,entre outros. Juntos, eles organizam um concursopara ajudar a dona da pensão a saldar suahipoteca. Prêmios: Melhor Atriz Secundária (LolaBrah), Prêmio Associação <strong>Brasil</strong>eira de CronistasCinematográficos, RJ, 1956; Melhor Atriz Secundária(Lola Brah), Prêmio Governador do Estadode São Paulo, SP, 1956.• Carnaval em lá maior, 1955, São Paulo, SP. fichatécnica: prd: Mário Audrá Júnior; dir: AdhemarGonzaga; arg, rot e dia: Adhemar Gonzaga eOswaldo Moles; dip: Alfredo Palácios; gep: <strong>Ary</strong><strong>Fernandes</strong>; asp: Ricardo Bandeira, Eduardo Llorentee Walter Duarte; fot: Ferenc Fekete; cen:Francisco Balduino; crt e mtg: José Cañizares; elc:Isidoro de Oliveira; som: Sérgio Alvarez; maq:Flávio Torres; grp: Nena; fcn: Jorge Pisani e JoséAmaral; num: Soluço e Dois Violeiros no Terrenode Pouco: Alvarenga & Ranchinho II, com os pró-


prios; Isto é Papel, João?: Paulo Ruschell, comAracy de Almeida; Rabo de Saia: Ataúlfo Alves eJorge Castro, com Ataúlfo Alves e suas Pastoras;Disco Voador: Hervê Cordovil, com CarméliaAlves; O Coco, com Carlos Galhardo; Primeiroamor: Hermínio Gimenez, versão de PinheiroJúnior e José Fortuna, com Cascatinha & Inhana;Seresteiro: Raul Moreno, com Elizete Cardoso;Pé de Pobre: A.Barbosa, E.Borges e J.Roy, comElza Laranjeira; É Pecado, com Ester de Souza;Carro de Bigode: Filinho e Thelma de Oliveira,com Izaurinha Garcia; Estatuto da Gafieira:Billy Blanco, com Inezita Barroso e a orquestrade Billy Blanco; Na Boate, com Jimmy Lester;Ressaca: Zé & Zilda, com os próprios; Retirante,com Mário Sena; Vamos Falar de Saudade: MárioLago e Chocolate, com Nora Ney; Joga Forao Meu Pandeiro: Nelson Gonçalves, AdelinoMoreira e Jarbas Reis, com Nelson Gonçalves;Banco de Jardim: Neyde Fraga e Roberto Amaral,com Neyde Fraga; O Girassol e o Jasmim, deDenis Brean e Nilo Silva, com Roberto Amaral;Dá Licença: Mário Vieira e Joracy Rago, comOswaldo Rodrigues; Prece ao Vento: Alcir PiresVermelho, Fernando Luis e Gilvan Chaves, como Trio Nagô; Paulista de Mato Grosso: VictorSimon e Fernando Martins, com os Vagalumesdo Luar; Gatinho, com Sandra Amaral e RandalJuliano; cpr: Cinematográfica Maristela, Emis-441


442soras Unidas e Cinédia; dis: Columbia Picturesdo <strong>Brasil</strong> e U.C.B. – União Cinematográfica<strong>Brasil</strong>eira; p&b; 35 mm; gen: Ficção. elenco:Randal Juliano, Sandra Amaral, Walter D’ávila,Durval de Souza, Adoniran Barbosa, Elísio deAlbuquerque, Renata Fronzi, Arrelia, GilbertoChagas, Aparecida Baxter, Flora Maria, MárioSena, Blota Júnior, Oswaldo Rodrigues, CaetanoGerardi, Oswaldo de Barros, Carmen Silva, RobertMackim, João Soares, Jane Batista, NestórioLips, Luisa de Oliveira, José Mercaldi, Idalina deOliveira, Emílio Dumas, Vicente Leporace, JoséJúlio Spiewak, Valery Martins, Arnaldo Weiss,Dirce Pires, Jorge Pisani, <strong>Ary</strong> Leite, Carlos Araújo,Caco Velho, José Vedovato, Luiz Dias, EsterSouza, Mara di Carlo, Antônio Fragoso, WalterSeyssel, Zé Bacurau, Inezita Barroso, Aracy deAlmeida, Ataúlfo Alves, Carmélia Alves, CarlosGalhardo, Eliseth Cardoso, Elza Laranjeira, HervêCordovil, Isaurinha Garcia, Jorge Goulart, NoraNey, Nelson Gonçalves, Genésio Arruda, Alvarenga& Ranchinho, Cascatinha & Inhana, LuizVieira, Neyde Fraga, Alfredo Simoney, JimmyLester, Trio Nagô, Vagalumes do Luar, Césarde Alencar, Cid Barros Ballet, Roberto Amaral.Sinopse: homem não consegue parar num emprego.Um rapaz, também permanentementedesempregado, apaixonado por sua filha, nãoconsegue pedir a mão da moça, sendo impedido


por uma série de circunstâncias. Um dia, a casada moça pega fogo e eles são obrigados a irmorar numa pensão de artistas, que mais pareceum hospício. O rapaz casa-se com a moça,mas assina, embriagado, um comprometedordocumento, porém tudo acaba bem e o final éfeliz. Comentários: primeiro filme carnavalescoproduzido em São Paulo, com artistas exclusivosda Rádio e TV Record, numa produção conjuntade Adhemar Gonzaga (Cinédia) e Mário AudráJúnior (Maristela). Prêmios: Prêmio Revelação(Sandra Amaral), Prêmio Saci, SP, 1955.• Rosa dos ventos (Die windrose), 1957, SãoPaulo, SP e Berlim, Alemanha. ficha técnica: prd:Joris Yvens; pra: Mário Audrá Júnior; dir: AlexViany (episódio brasileiro); asd: Italo Jacques; dip:Alfredo Palácios; gep: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>; arg: JorgeAmado; rot: Alberto Cavalcanti; adc: TrigueirinhoNeto; fot: H.C.Fowle; cam: Jack Lowin; asc: MarceloPrimavera; sng: Mário de Luca; ass: HeitorGagliano; cen: José P. Silva; acn: Issac Piltcher;mtg: José Cañizares; mus: Wolfgang Hohenséee Enrico Simonetti; nar: Helene Weigel; can:Canção do Retirante; Cinco Estações; cpr: CinematográficaMaristela (SP) e Defa (RDA) Films(Berlim); colorido; 35 mm; gen: Ficção. elenco:Vanja Orico, Aurélio Teixeira, Miguel Torres,Aracy Cardoso, Valdo César, Marlene França.443


444comentários: Co-produção em cinco episódios:França, Itália, Rússia, <strong>Brasil</strong> e China. Rodadonos estudios da Maristela. O plano do PartidoComunista era fazer um filme internacional,filmado em cinco países com a mesma temática,a fome, logicamente menos na União Soviética.A supervisão era de Joris Yvens. Consta queBrechet participava anonimamente, tanto quesua esposa, Helene Weigel, era a introdutora detodas as histórias. No <strong>Brasil</strong>, a produção tinhacomo participante técnico a CinematográficaMaristela. Mário Audrá Jr. recebia do PartidoComunista <strong>Brasil</strong>eiro, em dólares, por meiode Jorge Amado. A direção da parte brasileirafora confiada a Cavalcanti, que, por motivospouco explicáveis, repentinamente partiu paraa Europa, assumindo em seu lugar Alex Viany.É indiscutivelmente seu melhor trabalho. Cru,direto, sem concessões. A fotografia de ChickFowle antecede de muitos anos o que veremosem Vida Secas e Deus e o Diabo na Terra do Sol.Nunca foi exibido comercialmente no <strong>Brasil</strong>.Pena, porque é um filme que muito nos honraartisticamente. – comentários do professor MáximoBarro. Participação em Mostras/Festivais:Programa Alex Viany – Homenagem, III Rio-CineFestival, Rio de Janeiro, RJ, 1986. Prêmios: Festivalde Karlovy-Vary, 1957, Tchecoslováquia.


• O grande desconhecido, 1956, São Paulo, SP.ficha técnica: prd: Alfredo Palácios e Mário Civelli;dir e rot: Mário Civelli; asd: Glauco Mirko Laurelli;dip: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>; gep: Lorenzo Serrano; fot:Adolfo Paz Gonzalez; cam: Afrodísio de Castro;sng: Renato Tignoni; mtg: Carla Civelli; mus:Guerra Peixe; nar: Randal Juliano; cpr: SerradorFilmes; dis: Ubayara Filmes; p&b; 35 mm; gen:Documentário. Comentários: documentário delonga-metragem que retrata os costumes e rituaisdos índios brasileiros. Filmado em locaçõesna Amazônia e Centro-Oeste; este filme foi restauradopor Patrícia Civelli, filha de Mário, emcolaboração com a Funarte e deverá ser exibidoainda em 2002. Trata­se do registro de oito mesesde filmagens nas selvas brasileiras, começandopelo Pantanal, passando pela Amazônia até chegarà Bahia, período em que foram registradastribos indígenas que não existem mais. A equipeabriu picadas, improvisou balsas e construiupontes sobre precipícios. – texto extraído dareportagem de Ubiratan <strong>Brasil</strong>, jornal O Estadode S.Paulo, 2/3/2002. Prêmios: Medalha de Ouro,Melhor Documentário, Festival de Karlovy-Vary,Tchecoslováquia, 1958.445• Quem matou Anabela?, 1956, São Paulo, SP. fichatécnica: prd: Alfredo Palácios; pra: Mário AudráJúnior; dir: D.A. Hamza; dip: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong> ;


446spr: Francisco Camargo; asp: Fábio Silva; arg:Orígenes Lessa, baseado na idéia de SalomãoScliar; rot, dia e adc: Miroel Silveira; dif: RudolphIcsey; cam: Adolfo Paz Gonzales; asc: ReinaldoViebig e Osvaldo de Oliveira; fcn: Reinaldo Viebige José Amaral; egs: Sérgio Alvarez; ass: JuarezDagoberto da Costa e Gagliano Araújo; mtg:José Cañizares; asm: João Alencar; cen: CarlosJacheri; dec: Jutex; cab: Helena; cst: José Pereira;cos: Nena; maq: Jorge Pisani; amq: Paulo Lago;ctr: Assunção e Carlinhos; ant: Marina Prata; fig:(Ana Esmeralda): Maria Hamza-Lehel, executadospor Carol Ann; crg: (Ana Esmeralda): com alunasde Chavalillo de America; mus: Gabriel Migliori;can: Lenda do Caboclo: Heitor Villa-Lobos; Malagueña:Ernesto Lecuona; Passatempo e Desejo:Xangô e Avaré; cpr: Cinematográfica Maristela;aps: U.C.B. – União Cinematográfica <strong>Brasil</strong>eira;dis: Columbia Pictures do <strong>Brasil</strong>; lab: Rex Filme; sis:Westrex; p&b; 35 mm; 93 min; gen: Ficção. Elenco:Procópio Ferreira, Ana Esmeralda, Jayme Costa,Carlos Cotrim, Ruth de Souza, Aurélio Teixeira,Nydia Lícia, Olga Navarro, Carlos Zara, CarlosAraújo, Stela Gomes, Américo Taricano, MarinaPrata, Lourdes Freire, <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>, Jorge Pisani,João Franco, Francisco Camargo. Sinopse:Anabela, a belíssima bailarina, é assassinada, eseu corpo encontrado à beira de uma represaem São Paulo. O comissário Ramos é encarrega-


do do caso e interroga as testemunhas, pessoasque moravam com ela numa pensão. De cadauma delas, obtém uma confissão do assassinatoe uma descrição completamente diferente dapersonalidade da vítima. O mistério cresce, até ofinal surpreendente. Prêmios: Melhor Fotógrafo(Rudolph Icsey), Prêmio Associação <strong>Brasil</strong>eira deCronistas Cinematográficos, RJ, 1956; MelhorFotógrafo (Rudolph Icsey), Prêmio Governadordo Estado de São Paulo, SP, 1956. (fop: f-13)• Arara vermelha, 1957, São Paulo, SP. fichatécnica: prd: Fernando de Barros; pre: MárioMarinho (psd: Mário Audrá Jr; dir: Tom Payne;asd: Glauco Mirko Laurelli e João B. Cunha; dip:Alfredo Palácios; gep: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>; asp: CarlosMiranda; rot: Tom Payne, Carlos Maria de Araújoe Hermilo Borba Filho; arg: baseado no romancede José Mauro de Vasconcelos; dia: HermildoBorba Filho; fot: Rudolf Icsey; asf: Giulio de Lucca;cam: Honório Marin e Geraldo J. Oliveira; asc:Osvaldo de Oliveira; sng: Juarez Dagoberto daCosta; cen: Álvaro Moya; acn: José P. Silva; acs:Fernando Marques; maq: Jorge R. Pisani; amq:Sílvio Resende; mtg: José Cañizares (iniciou);Tom Payne e Sylvio Renoldi (concluiram); asm:Luiz Elias; cnt: João Alencar; mus: Rafael Puglieli;can: Anita Otero; cpr: Unifilmes, SerradorFilmes e Companhia Cinematográfica de Fitas447


448<strong>Brasil</strong>eiras; dis: Columbia Pictures do <strong>Brasil</strong>; est:Cinematográfica Maristela; p&b; 35 mm; 108min; gen: Ficção. elenco: Anselmo Duarte, OdeteLara, Milton Ribeiro, Aurélio Teixeira, Ana MariaNabuco, Ricardo Campos, João Batista da Cunha,Miguel Gonzalez, Marie Louise Ourdan, SérgioWarnowski, Maurício Nabuco, José Mercaldi,Nestor Alves de Lima, Anita Otero, José Martins,Tom Payne. Sinopse: chefe de garimpo contrataum policial para capturar um grupo de fugitivosque roubou um valioso diamante. Ambicioso, ojovem mata o contratante e junta-se aos ladrões.Prêmios: Melhor Atriz (Odete Lara), Prêmio Associação<strong>Brasil</strong>eira dos Cronistas Cinematográficos,RJ, 1957; Melhor Produtor (Fernando de Barros) eAtriz (Odete Lara), Prêmio Saci, SP, 1957; MelhorAtriz (Odete Lara) e Argumento (José Mauro deVasconcelos), Prêmio Governador do Estado deSão Paulo, SP, 1957.• Paixão de gaúcho, 1958, São Paulo, SP. fichatécnica: prd: Abílio Pereira de Almeida; dir erot: Walter George Durst, baseado no romanceO Gaúcho, de José de Alencar; asd: RobertoSantos; dip: Galileu Garcia; gep: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>;fot: H.C.Fowle; cam: Geraldo Gabriel; asc: MarceloPrimavera; foc: Geter F. Costa; sng: ErnestHack; ass: Bóris Silistchanou; mic: AlexandreWarnowski; cen: Pierino Massenzi; acn: Geraldo


Ambrósio; cst: José Dréos; maq: Jerry Fletcher;ant: Norberto Nath; mtg: Lúcio Braun; asm: LídiaSobolensky; mus: Gabriel Migliori; can: BarbosaLessa e Paixão Cortez; cpr: Cinematográfica <strong>Brasil</strong>Filmes; dis: Columbia Pictures; p&b; 35 mm; 100min; gen: ficção. Elenco: Alberto Ruschel, CarmenMorales, Vitor Merinow, Ana Cândida, LimaDuarte, Douglas Norris, Angelito Melo, GilbertoChagas, Biolcati Garibaldi, Hélio Golovaty, FernandoBalleroni, Tito Lívio Baccarini, Nadir Rocha,Estanislau Furlan, Paixão Cortez, Roberto Alrean,Conchita Moreno, Maura Crispim e o ConjuntoFolclórico Gaúcho de Barbosa Lessa. Sinopse: em1836, um mascate chega a uma pequena cidadedo Rio Grande do Sul para vingar a morte de umamigo. Faz amizade com um extrovertido cavaleiroandante, mas a rivalidade pelo amor da mesmamulher e as posições antagônicas que assumemcom a eclosão da Guerra dos Farrapos, colocam oshomens em conflito. Prêmios: Melhor Ator (VitorMerinow), Fotografia (H.C.Fowle) e Cenógrafo(Pierino Massenzi), Prêmio Associação <strong>Brasil</strong>eirade Cronistas Cinematográficos, RJ, 1958; MelhorAtor (Alberto Ruschel), Prêmio Saci, SP, 1958;Melhor Ator (Vitor Merinow), Ator Secundário(Douglas Norris), Fotografia (H.C.Fowle), Cenografia(Pierino Massenzi), Edição (Lúcio Braun) eComposição, Prêmio Governador do Estado deSão Paulo, SP, 1958.449


450• A doutora é muito viva, 1957, São Paulo, SP.ficha técnica: prd: Carlos Szili; dir: Ferenc Fekete;asd: Glauco Mirko Laurelli; dip: Alfredo Palácios;gep: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>; asp: Oscar Farias; arg: MiroelSilveira, baseado na história de Pat Dobos;rot: Miroel Silveira e Ferenc Fekete; fot: RudolphIcsey; cam: Marcial Afonso Fraga; asc: HeitorFeminia; sng: Bóris Silitschanou; ass: Konstantine Alexandre Warnowski; cen: Pierino Massenzi;acn: Alexandre Warnowski; acs: Oscar Farias; maq:Jerry Fletcher; mtg: Lúcio Braun; ant: Geny Santos;mus: Rafael Puglieli; cpr: Cinebrás; dis: Lívio Bruni;p&b; 35 mm; gen: Ficção. Elenco: Eliana Macedo,Francisco Negrão, Augusto Machado de Campos,Maria Dilnah, Otelo Zelloni, Irina Grecco, RaquelMartins, Ricardo Bandeira, José Mercaldi, RenatoMurce, Carlos Araújo, Luely Figueiró, Geny Santos,Shirley Povilaites. Sinopse: uma advogada finge-sede esposa de um advogado mulherengo, ambosenvolvidos em um processo de desquite da sobrinhade um velho casal do interior. O marido,mesmo temendo a esposa ciumenta, procurauma ligação amorosa com uma impertinente exnamoradado advogado. Prêmios: Melhor Atriz(Eliana Macedo), Prêmio Governador do Estadode São Paulo, SP, 1957.• Cara de fogo, 1958, São Paulo, SP. ficha técnica:prd: Eduardo Lourenço e Antônio S. Ladeira;


pre: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>; dir e rot: Galileu Garcia;asd: Mamoru Myiao; arg: Nelly Dutra e GalileuGarcia, baseado no conto A carantonha, deAfonso Schmidt; gep: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>; asp: MoacirB. Souza; fot: Rudolph Icsey; asf: Osvaldode Oliveira; sng: Juarez Dagoberto da Costa;cen: Belarmino Mancini; maq: Maury Viveiros;cnt: Milton Amaral; mtg: João de Alencar; mus:Enrico Simonetti; can: Bem Querer; de BarbosaLessa; Entreveiro no Jacá, de Danilo Vital; cpr:Cinebrás Filmes e Cinematográfica São José dosCampos; aps: Ubayara Filmes; dis: Santa ClaraFilmes; est: Companhia Cinematográfica VeraCruz; p&b; 35 mm; 87 min; gen: Ficção. Elenco:Alberto Ruschel, Lucy Reis, José de Jesus, MiltonRibeiro, Ana Maria Nabuco, Gilberto Chagas,Eugênio Kusnet, Antônio Coelho, JoaquimSilva, Nena Nascimento, Laércio Dias, ErnestoVilela, Osvaldo Leonel, Ernesto Dias, AparecidaBaxter, João Alencar, Roberto Alrean. Sinopse:um casal e seu filho menor vão viver no interior,onde passam a ser aterrorizados por apariçõessupostamente fantasmagóricas. Prêmios: MelhorFotógrafo (Rudolph Icsey), Prêmio Jornal A Tribunado Paraná, Curitiba, PR, 1958; Melhor Roteiro(Galileu Garcia), Fotografia (Rudolph Icsey) ePrêmio Especial (José de Jesus), Prêmio Saci, SãoPaulo, 1958; Melhor Diretor e Edição (João deAlencar), Prêmio Governador do Estado de São451


Paulo, SP, 1958; Melhor Ator (Alberto Ruschel),Atriz Secundária (Ana Maria Nabuco), Roteiro(Galileu Garcia) e Fotografia (Rudolph Icsey),Prêmio Cidade de São Paulo, Júri Municipal deCinema, São Paulo, 1958; Melhor Ator (AlbertoRuschel) e Fotografia (Rudolph Icsey), Festival deCinema de Maringá, PR, 1958.452• Casei-me com um xavante, 1957, São Paulo, SP.ficha técnica: prd: Mário Marinho (Mário AudráJúnior); dir: Alfredo Palácios; dip: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>;gep: Carlos Miranda; asp: Glauco Mirko Laureli;arg: baseado na peça teatral de Miroel Silveira eGaleão Coutinho; rot: Alfredo Palácios e Luiz SérgioPerson; fot: Rudolph Icsey; asf e cam: Osvaldode Oliveira; sng: Bosdan Kostiv; cen: Paulo Vasta;acn: José Pereira da Silva; maq: Jorge R. Pisani;mtg: João de Alencar; mus: Hervê Cordovil; cpr:Unifilmes; dis: Columbia Pictures do <strong>Brasil</strong>; est:Cinematográfica Maristela; p&b; 35 mm; 90 min;gen: Ficção. Elenco: Pagano Sobrinho, Maria Vidal,Lola Brah, Luely Figueiró, Henrique Martins,José Mercaldi, Augusto Machado de Campos,Eugênio Kusnet, Armando Silva Filho, Luiz SérgioPerson, José Herculano, Douglas Oliveira, ShirleyAlves, Henricão, Denise Delamare, Romilda Alves,Olinda Lessa, Júlia Romero, Miriam Pérsia,Heleninha Silveira, Agostinho dos Santos, JoséSilva, Olinda Alves, Shirley Alves. Sinopse: homem


anco torna-se cacique de uma tribo xavante,mas sua mulher consegue resgatá-lo. Perde amemória e volta à cidade em companhia de suasesposas indígenas e dos guerreiros da tribo. Aproprietária de uma boate procura tirar proveitoda situação. Comentários: no papel de repórter,o futuro cineasta Luiz Sérgio Person.• Vou te contá, 1958, São Paulo, SP. ficha técnica:prd: Mário Marinho (psd: Mário Audrá Júnior)e Alfredo Palácios; dir e arg: Alfredo Palácios,baseado na peça teatral O Filho do Rei do Prego,de Gastão Tojeiro; asd: Glauco Mirko Laurelli;dip: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>; gep: Sérgio Ricci; rot:Cláudio Petráglia e Glauco Mirko Laurelli; fot:Rudolph Icsey; cam: Adolfo Paz Gonzalez; asc:Osvaldo de Oliveira; sng: Jacques Lesgards; ass:Konstantin Tkaczenko; cen: José Pereira da Silva;mtg: Maria Guadalupe; asm: Huguete Lesgards;maq: Jorge R. Pisani; mus: Luiz Arruda Paes; can:Marcha da Banana, com Carmen Costa; QuemNão Conhece o Rio, com Dalva de Oliveira; Harémdo Maomé, com Demônios da Garoa; Quemé Que Não Chora, com Francisco Egydio; Mão deGato, com Isaurinha Garcia; Engole Ele Paletó,com João Dias; Telefonando, com Jorge Veiga;Juventude Transviada, com Nilton Paz; Alegriade Palhaço, com Risadinha; Minha Bandolinha,com Ronald Golias; A Mamãe Vem Aí, com Vir-453


454gínia Lane; cpr: Cinematográfica Maristela; dis:Colúmbia Filmes; lab: Policrom; p&b; 35 mm;94 min; gen: Ficção. elenco: Pagano Sobrinho,Maria Vidal, Chocolate, Milton Ribeiro, DorinhaDuval, Francisco Negrão, Luely Figueiró, CaetanoGerardi, Neide Pavani, Osvaldo de Souza,Júlio Ramler, Doca, José Mercaldi, Luiz Campos,<strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>, Carlos Miranda, Cinderela,Carmen Costa, Risadinha, Ronald Golias, NiltonPaz, Francisco Egydio, Demônios da Garoa, HeriveltoMartins e sua escola de samba, Henricãoe sua escola de samba, Cid P. de Barros e seuballet, Dalva de Oliveira, Jorge Veiga, João Dias,Isaurinha Garcia, Virgínia Lane. Sinopse: como auxílio de um garçom de boate, repórter dejornal investiga dois seqüestros, um verdadeiroe outro falso.• Rastros na selva, 1960, São Paulo, SP. fichatécnica: prd: Mário Civelli e Alfredo Palácios; dir:Francisco Eichorn; gep: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>; txt: PolaCivelli; red: Mário Brasini; fot: Edgar Eichorn; sng:George Montiel; mtg: Carlos Coimbra; asm: CarlaCivelli; nar: Walter Forster; mus: Edino Krieger;cpr: Alfredo Palácios Produções Cinematográficas;lai: Rex Filme; las e grv: Gravason; col: InstitutoButantan; Força Aérea <strong>Brasil</strong>eira; ExércitoNacional; Serviço de Proteção aos Índios; colorido(Eastmancolor); 35 mm; gen: Documentário .


Prêmios : Melhor Edição (Carlos Coimbra), PrêmioCidade de São Paulo, Júri Municipal de Cinema,SP, 1961.• O escravo, 1972, (La Schiava io ce I’ho e tu no),Roma, Itália. ficha técnica: dir: Giorgio Capitani;arg e rot: Sandro Continenza e Giulio Scarnicci;colorido (Eastmancolor); 35 mm; gen: Ficção.Elenco: Lando Buzzanca (Demetrio Cultura),Catherine Spaak (Rosalba), Adriana Asti (Elena),Veronica Merin, Gordon Mitchell, Paolo Carlini.comentários: As cenas brasileiras foram realizadaspor <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>; nos Estados Unidoseste filme foi lançado com o título The Slave, ouO escravo.• Sinal vermelho, as fêmeas, 1972, São Paulo, SP.ficha técnica: prd: J.Dávila e Fauzi Mansur; dir,arg, rot e mtg: Fauzi Mansur; cpd: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>;fot: Cláudio Portioli; cam: Antônio Meliande; sng:Júlio Perez Caballar; cen: Arlindo X. Souza; mus:Waldomiro Lemcke; can: Dick Danello; cpr: DavilartProduções Cinematográficas; dis: Brasecran;colorido (Eastmancolor); 35 mm; 103 min; gen:Ficção. Elenco: Sérgio Hingst, Vera Fischer, DavidCardoso, Marlene França, Ozualdo Candeias,Roberto Bolant, Francisco Negrão, Cecília Leme,Maria Viana, Walter Wanny, Enoque Batista,Claudette Joubert, Abdala Mansur, Jean Garrett,Dick Danello, Tuca. Sinopse: o diretor-presidente455


456de uma grande empresa de investimentos vê-sena iminência de perder sua invejável situação,uma vez que a firma está para encerrar suasatividades. Inconformado com a negra perspectiva,tenta roubar a própria firma. Para issolança mão de profissionais do crime. O chefe daquadrilha, ex-criminoso de guerra, é homemsem escrúpulos e de longa experiência. Realiza,assim, um trabalho perfeito. Perpetrado o roubo,entra em ação um elemento que se mantevelatente em cada um dos escroques: a cobiça. Oproduto do roubo é levado em seguida parauma bela mansão à beira de um lago. É nesserecanto tranqüilo que se reúnem os membrosde um grupo heterogêneo, do qual fazem parteduas mulheres que passam por esposa e filha dodiretor-presidente. Os homens estão munidos derevólveres e metralhadoras; as mulheres apelampara suas armas tradicionais, encanto e sexo, comas quais tentam subjugar os ladrões. De olhoneles, a distância, está o autor intelectual daoperação, construindo e destruindo um coquetelde sexo, medo, violência e expectativa. Prêmios:Melhor Fotografia (Cláudio Portioli) e Roteiro(Fauzi Mansur), Prêmio Governador do Estadode São Paulo, SP, 1972; Melhor Atriz Secundária(Vera Fischer), Diplomas de Mérito aos Melhoresdo Cinema, SP, 1972.


• A noite do desejo, 1973, São Paulo, SP. fichatécnica: prd: J. D’Ávila e Fauzi Mansur; pre: <strong>Ary</strong><strong>Fernandes</strong>; dir e rot: Fauzi Mansur; arg: FauziMansur, J. D’Ávila e Luiz Castillini; fot: OzualdoCandeias; cam: Antônio Meliande; mtg: InácioAraújo e Fauzi Mansur; asm: Jean Garrett; mus:Giuseppe Mastroiani; cpr: Jota D’Ávila ProduçõesCinematográficas, Brasecran e Embrafilme; dis:Embrafilme; colorido (Eastmancolor); 35 mm;98 min; gen: Ficção. Elenco: Marlene França,Selma Egrei, Roberto Bolant, Ney Latorraca,Betina Viany, Gracinda <strong>Fernandes</strong>, Ewerton deCastro, Francisco Cúrcio, Abdala Mansur, JoséJúlio Spiewak, Carlos Bucka, Pedro Stepanenko,Walter Portela, Caçador Guerreiro. Sinopse: doisjovens operários, que vivem de salário mínimo, eque guardavam suas economias, resolvem experimentaruma completa noite de festas e orgia.Eufóricos, preparam cuidadosamente sua noitada.Inicialmente, procuram nas altas camadas oprazer desejado e se decepcionam, desolados.Depois, descem até à classe média, na qual encontramambiente mais alegre e mais sintonizadocom suas personalidades, mas também sofremo desencanto de não se sentirem perfeitamenteintegrados. Acabam por se realizar completamentenum bordel de quinta categoria, ambienteque dominam por inteiro, e cujas mulheres nãosomente lhes proporcionam total prazer, como457


ainda os compreendem e os aceitam tais quaissão. Comentários: Outro título: Data MarcadaPara o Sexo.458• Sob o Domínio do Sexo, 1973, São Paulo, SP.ficha técnica: prd: Antônio Ribeiro; pre: EdwardFreund; pra: Elias Curi; dir: Tony Vieira; asd: FlávioFeitosa; gep: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>; arg: Maury Queiroz(psd: Tony Vieira); rot: Tony Vieira e Luiz Castillini;fot: Giuseppe Romeu; cam: Henrique Borges; asc:Nicanor Oliveira; fcn: Paulo <strong>Fernandes</strong>; elt: MárioP. Ferreira; cen: Waldir Siebert; cnt: MaurícioMiguel; mtg: Roberto Leme; cpr: Edward FreundProduções Cinematográficas e Brasecran; dis:Embrafilme; colorido (Eastmancolor); 35 mm; 81min; gen: Ficção. Elenco: Tony Vieira, ClaudetteJoubert, Heitor Gaiotti, Elden Ribeiro, WandaKosmo, Tony Cardi, Rubens Pecce, Dedé Santana,Carlos Bucka, Carlos Farah, Tony Helder, GenésioCarvalho, Aimeé, Nestor Alves de Lima, SérgioWarnowski, Waldir Siebert, Castor Guerra, FranciscoAssis Soares, Walter Portela, Cláudio Cunha,Antônio Santana, Paulo <strong>Fernandes</strong>, Lenita Auguentoni,Natália Santos. Sinopse: a filha de umaviúva rica é raptada. Não desejando envolver-seem escândalos, a mulher não avisa a polícia econtrata quatro marginais para descobrirem oparadeiro de sua filha. Os marginais procuraminformações no bas­fond e no underground,


mas as buscas parecem infrutíferas. Descobrem,porém, que a viúva não avisara a polícia porqueera uma grande contrabandista. Quando encontrama moça, verificam que, ao invés de um rapto,era uma fuga, um simples caso de amor da filhada viúva com um rapaz que, possivelmente, nãoseria aceito por sua mãe.• Sedução, 1974, São Paulo, SP. ficha técnica: prd:Elias A. Cury; pra: Jota Dávila; pre: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>;dir, rot e mtg: Fauzi Mansur; gep: AlfredoScarlati; arg: Fauzi Mansur e Marcos Rey; fot:Cláudio Portioli; cam: José F. Anjos; fcn: JeanGarrett; elt: José M. Silva; cen: Izat Usaji; fig:Pedro Ivan; cnt: José A. Cardoso; mus: MarcosMiranda; reg: Chico Martins; loc: Campinas, SP;cpr e dis: Basecran Distribuidora, Importadora eExportadora de Filmes; colorido (Eastmancolor);35 mm; 105 min; gen: Ficção. Elenco: SandraBréa, Ney Latorraca, David Cardoso, DionísioAzevedo, Ambrósio Fregolente, Jussara Freire,Carlos Bucka, Flora Geny, Edward Freund, ZairaCavalcanti, Evelise Olivier, Francisco Negrão,Abdala Mansur, Bentinho, <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>, CavagnoleNeto, Gilberto Sálvio, Heitor Gaiotti, JoséJúlio Spiewak, Rubem Biáfora, Paulo TachinardiDomingues. Sinopse: o viúvo siciliano FaustoBelacosa chega ao <strong>Brasil</strong> com sua filha única, abela Flametta. Rapidamente, progride e enri-459


460quece como fazendeiro em São Paulo, mas, paracompletar sua felicidade, falta um sucessor paradirigir a família. Flametta, casada duas vezes,não tivera prole e seus dois maridos morreramprovidencialmente de acidente. Já se prepara umterceiro casamento para Flametta, quando umexame de sangue revela que ela é portadora dofator K (raríssimo) no sangue e somente conceberáde alguém que tenha o mesmo fator, paradesespero de Tomasino, louco apaixonado seu.Procura-se com extrema urgência um marido, atéque surge a notícia de que foi encontrado umhomem com as características sangüíneas desejadas.Diante da imagem miserável do noivo, aviúva desmaia. Mas um jovem relojoeiro, Omar,habilmente convence o velho da coincidênciasangüínea. O casamento é realizado, o tempopassa e o herdeiro não vem. Belacosa descobreque fora ludibriado, e seu bando, sob o comandodo matador Tony Buschetta, inicia implacávelperseguição a Omar. Comentários: esta comédiade época é considerada o melhor filme de FauziMansur, que satiriza a Máfia. Subtítulo: QualquerCoisa a Respeito do Amor; público: 31.576pessoas, com renda de Cr$ 149.600,30. (fonte:Anuário Cinema em Close-Up, 1976). Prêmios:Melhor Filme, Diretor, Ator (Ney Latorraca), Atriz(Sandra Bréa), III Festival de Cinema do Guarujá,SP, 1974; Ator Secundário (Ney Latorraca), Prê-


mio Coruja de Ouro, INC – Instituto Nacional deCinema, RJ, 1974; Melhor Fotografia (CláudioPortioli), Prêmio APCA – Associação Paulista deCríticos de Arte, SP, 1974; Melhor Ator Coadjuvante(Dionísio Azevedo), Prêmio Governador doEstado de São Paulo, RJ, 1974.• O inseto do amor, 1980, São Paulo, SP. fichatécnica: prd: J.Dávilla; pre: Alfredo Scarlati Júnior:dir e cen: Fauzi Mansur; asd: Sandro Comisso; dip:Pedro Paulo Zuppo; cpd: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>; asp: JoséLucas, Michel Cohen e Alfio Richieli; arg e rot:Fauzi Mansur e Marcos Rey; dif e cam: GesvaldoArjones Abril; asc: Concórdio Matarazzo e LuizRossi; fcn: Jorge Uchoa Filho; tcs: Júlio PerezCaballar; esn: Heitor Gaiotti; elt: Luiz de Souza,Arioval P. da Silva e Jerry; mqn: Toni Gorbi; grp:Lia Dias Elias; maq: Jô Vitale; anm: Fantasia DesenhosAnimados; cnt: Sandro Comisso; mtg: EderMazini; mus: Augustinho Zaccaro; cpr: J. DávillaProduções Cinematográficas e Virgínia Filmes;dis: Alfa Filmes; lai: Interlab Som e Imagem; lai:Odil Fonobrasil; colorido (Eastmancolor); 35 mm;106 min; gen: Ficção. Elenco: Angelina Muniz,Helena Ramos, Zélia Diniz, Jofre Soares, SerafimGonzalez, John Herbert, Carlos Kurt, ArlindoBarreto, Flávio Porto, Lola Brah, Francisco Cúrcio,Felipe Levy, Renato Bruno, José Lucas, RossanaGhessa, Ana Maria Kreister, Claudette Joubert,461


462Liza Vieira, Alvamar Taddei, Heitor Gaiotti, HenriquetaBrieba, Carlos Bucka, Eudes Carvalho,Misaki Tanaka, Alexandre Dressler, CavagnoleNeto, Marcos Plonka, José Júlio Spiewak, MaraHusemann, Fábio Villalonga, Suleiman Daoud,Lino Sérgio, Nádia Destro, Marthus Mathias, HenriqueBertelli, Tereza Rodrigues, Carmen Ortega,Vera Lúcia, Ariadne de Lima, Celina de Castro,Celso Gil, Pedro Paulo Zuppo, André Luiz, MichelCohen, Marly Palauro, José Lopes, Aparecida deCastro, Sílvia Regina, Márcia Montiel, Gilberto<strong>Fernandes</strong>, Carlos Arena, Hélio Motta, Luiz Schiavo,Miranda Marques, Cinira Capucci, Clarice Ruiz,Fátima Fonseca, Ilse Marques, Carmen Goulart,Zé da Ilha, Wandilson, Iolanda Silva, Júlia Veloso,Lilian Leila, Divina Cherotto, Roseli Dias, DionísioPedralli, Fafá, Rosecler, Ezequias Balmat, Domingosdos Santos, Hilda de Castro, Simone, ValderezPires. Sinopse: segundo uma lenda indígena daAmazônia, um determinado inseto, o AnophelisSexualis, tem propriedades afrodisíacas: aqueleque por ele for picado, morrerá com certeza senão vier a manter relações sexuais no espaço deduas horas. Sabedor dessa notícia, Hans Muller,um cientista, desloca-se até o hábitat do insetoe coleta vários exemplares para pesquisas emseu laboratório na cidade de Ilhabela, no litoralpaulista. Lá, além da administração local e dapopulação, encontram-se vários turistas. Todos


acompanham o trabalho de Muller com muitomedo e terminam por exigir que ele se retire dolocal. Acontece que, por um acidente, os insetosfogem e passam a atacar todo mundo. A primeiravítima é um prisioneiro que, sem condições demanter relações sexuais na prisão, acaba morrendo.Os outros, homens e mulheres, entre eles oprefeito, o padre, repórteres, misses, hóspedesdo hotel, recém-casados, noivos, vão resolvendoda melhor maneira possível o problema trazidopelo cientista e seus insetos.• Tortura cruel, 1980, São Paulo, SP. ficha técnica:prd e dir: Tony Vieira; cpr: Mauri QueirozProduções Cinematográficas; colorido; 35 mm; 92min; gen: Ficção. Elenco: Tony Vieira, MaristelaMoreno, Ariadne de Lima, Nabor Rodrigues, SandraGaby, Lúcia Alves, Noelle Pinne, Rajá de Aragão,Péricles Campos, Eudes Carvalho, IragildoMariano, Marthus Mathias, Leda Amaral, CarlosEduardo, Satã, Reinaldo Santos, <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>,Clery Cunha, Ronnie Wanderley, Francisco AssisSoares, Daniela, Cleusa Ramos, Wilma Camargo.Sinopse: Salu, ao sair da prisão, vagueia pela pequenacidade onde mora. Vive com a mãe velhae doente, e duas irmãs. A mais velha trabalhacomo cantora e a menor cuida da mãe.463• A filha dos Trapalhões, 1984, Rio de Janeiro,RJ. ficha técnica: prd e dar: Renato Aragão; pre:


464Francisco Paulo Aragão e Paulo Aragão Neto;dir: Dedé Santana; cod: (diretor-técnico): <strong>Ary</strong><strong>Fernandes</strong>; dip: Caíque Martins Ferreira; arg:Renato Aragão e Dedé Santana, inspirado nofilme O Garoto (The Kid), 1921, de Charles Chaplin;rot: Renato Aragão, Dedé Santana, EmanuelRodrigues, Arnaud Rodrigues, José Joffily eGilvan Pereira; fot: Antônio Gonçalves; tcs: JoséTavares; cen: Ronaldo Costa; fig: Carlos Rangel;mtg: Denise Fontoura; mus: Arnaud Rodrigues eRenato Aragão; ctz: José Luiz Benício; cpr: RenatoAragão Produções Artísticas e Demuza ProduçõesCinematográficas; dis: Embrafilme; colorido; 35mm; 107 min; gen: Ficção. Elenco: Renato Aragão,Dedé Santana, Mussum, Zacaria, Myriam Rios,Vera Gimenez, Fernanda <strong>Brasil</strong>, Eliezer Mota,Jorge Cherques, Ronnie Von, Arnaud Rodrigues,Dino Santana, Felipe Levy, Abel Faustino, FernandoJosé, Paulo Rodrigues, Carlos Kurt, RobertoGuilherme, Gladstone Barbosa, Déa Peçanha,Olívia Pineschi, Roberto Lee, Paulo Villa, PríncipeNabor, Vitor Macedo, Baiaco. Sinopse: Didi, Dedé,Mussum e Zacarias moram num barraco flutuante,na maior miséria. Apesar disso, resolvem ficarcom um bebê encontrado por acaso por Didi. Éuma menina, filha da trapezista do circo Júlia(Miriam Rios), que vendeu a criança para umaquadrilha de comércio internacional de bebês(Jorge Cherques e Vera Gimenez). Foi um mo-


mento de desespero. Arrependida, faz de tudopara recuperar a filha com a ajuda do delegadoWalter (Ronnie Von). A quadrilha havia perdidoa criança durante uma fuga da polícia e tambémquer recuperá-la. Com a ajuda de Os Trapalhões,que vão trabalhar no circo, Júlia reencontra afilha e os bandidos são presos. Comentários:público: (aprox): 2.480.000 pessoas.• A estrela nua, 1985, São Paulo, SP. ficha técnica:prd: Adone Fragano; pre: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>; dir,arg e rot: José Antônio Garcia e Ícaro Martins,baseado em livro de Clarice Lispector; asd: PauloJosé Correa; fot e cam: Antônio Meliande; fcn:José do Amaral; dip: Geraldo José Marlinho Filho;cen: Oswaldo Afonso Mesquita Filho; fig: EmíliaBetrais Magalhães Duncan; cnc: Mauro T. Ortiz;maq: Waldemir Lopes Torres; mtg: Eder Mazzini;dim: Arrigo Barnabé; cpr: Olympus Filmes eEmbrafilme; dis: Embrafilme; colorido; 35 mm;90 min; gen: Ficção. Elenco: Carla Camuratti,Cristina Aché, Ricardo Petraglia, Jardel Mello,Cida Moreyra, Selma Egrei, Patrício Bisso, VeraZimmermann. Sinopse: Uma atriz de cinemaobtém sua primeira chance ao ser convidadapara dublar uma outra que se suicidara, massua personalidade passa a confundir-se com ada morta, num jogo de troca de identidade. Osbastidores do cinema pondo em paralelo uma465


atriz em declínio e uma dubladora que almejao estrelato, também numa relação de amor emisticismo do artista com seu trabalho, numprocesso em que os limites da individualidadevão sendo gradualmente destruídos. Prêmios:Melhor Atriz Coadjuvante (Cristina Aché), PrêmioEspecial (Carla Camuratti), XIII Festival do Cinema<strong>Brasil</strong>eiro de Gramado, 1985; Melhor Atriz (CarlaCamuratti), Prêmio Governador do Estado de SãoPaulo e Troféu Molière.466• O cangaceiro, 1997, São Paulo, SP. ficha técnica:prd e dir: Anibal Massaini Neto; pra: AlexandreAdamiu; spv (geral) Carlos Coimbra; dip: <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>;ago: Lima Barreto; adc: Galileu Garcia,Anthony Foutz e Carlos Coimbra; rot: AntônioCarlos Fontoura; dif: Cláudio Portiolli; sng: JuarezDagoberto da Costa; dar e pqs: Carybé;execução: Otávio Catanho; cac: Maria de FátimaToledo; maq: Victor Merinow; mtg: Luiz Elias;mus, cmp e reg: Vicente Salvia; oqs: PetrobrásPró-Música Rio de Janeiro; cpr: Cinearte ProduçõesCineamtográficas e Ramona Constellacione Film Company; colorido; 35 mm; 110 min; gen:Ficção. elenco: Paulo Gorgulho, Luiza Tomé, AlexandrePaternost, Ingra Liberato, Othon Bastos,Jonas Melo, Jofre Soares, Otávio Augusto, JeceValadão, Tom do Cajueiro, Roberto Bomtempo,Cláudio Mamberti, Dominguinhos, Aldo Bueno .


sinopse: Recife, 1995. Um policial preso porhomícidio, ouve os relatos de outro detento, oex-cangaceiro Tico. Em flashback, é narrada ahistória do capitão Galdino Ferreira e sua mulher,Maria Clódia, que vivem uma tragédia deproporções shakespearianas quando a esposa docangaceiro se envolve com outro imigrante dobando, Teodoro.467


Os números de <strong>Ary</strong>Direção e produção: 94 filmesProdução:Outras funções:Total:4 filmes26 filmes124 filmes469


Siglas Utilizadas na Filmografia de <strong>Ary</strong><strong>Fernandes</strong>ACN Assistente de CenografiaACS Acessorista (contra-regra)ADC Adaptação CinematográficaADE Assistente de DecoraçãoAGO Argumento OriginalAMQ Assistente de MaquiagemANM AnimaçãoANT Anotador (continuista)APO ApoioAPS ApresentaçãoARG ArgumentoARJ ArranjosASC Assistente de CâmeraASD Assistente de DireçãoASL Assistente de EletricistaASM Assistente de MontagemASP Assistente de ProduçãoASS Assistente de SomCAC Cast-CoachCAM CâmeraCAN CançõesCEN Cenografia471


472CETCMPCNCCNTCODCOLCOSCPRCRGCRICRTCSTCTRCTZDECDIADIBDIFDIMDIPDIRDISDUBEDICenotécnicoComposiçãoConsultor de CorContinuidadeCo-diretorColaboraçãoCostureirasCompanhia ProdutoraCoreografiaCriaçãoCorteConstruçõesContra-regraCartazDecoraçãoDiálogosDireção de DublagemDireção de FotografiaDireção MusicalDireção de ProduçãoDireçãoDistribuiçãoDublagemEdição


EFS Efeitos EspeciaisEGS Engenheiro de SomELC Eletricista-chefeELT EletricistaEQT Equipe TécnicaESN Efeitos SonorosESS Estúdio de SomEST EstúdiosFCN Fotografia de CenaFIG FigurinosFOC FocoFOT FotografiaGEN GêneroGEP Gerente de ProduçãoGRP Guarda-RoupaILM IluminaçãoLAB LaboratórioLAI Laboratório de ImagemLAS Laboratório de SomLET LetreirosLOC LocaçõesMAQ MaquiagemMIX MixagemMQN Maquinista473


474MTG MontagemMUS MúsicaNAR NarraçãoNUM Números MusicaisOQS OrquestraçãoPQS PesquisaPRA Produtor AssociadoPRD ProdutorPRE Produção ExecutivaPSD Pseudônimo deRED RedaçãoREG RegênciaROT RoteiroSIS Sistema SonoroSNG SonografiaSNP SonoplastiaSPR Secretaria de ProduçãoSPV SupervisãoTCC Técnico de CorTCS Técnico de SomVTU Vestuários


ÍndiceApresentação - Hubert Alquéres 5Prefácio 11A origem, a infância, a adolescência,a família, a Segunda Grande GuerraMundial - 1931 a 1948 21A verve artística – o rádio, o teatroe a TV - 1949 a 1951 43Os primeiros passos no cinema e avitoriosa carreira na CinematográficaMaristela - 1952 a 1957 51O cinema publicitário – 1958 a 1959 111A Saga do Vigilante rodoviário – 1959 a 1966 115Uma nova série: Águias de fogo – 1967/68 173Uma aventura com Mazzaropi – 1969 183O sucesso como produtor e diretor –1970 a 1979 189Os anos 80, o cinema erótico e adifícil sobrevivência no cinema – 1980 a 1991 215A arte de dublar – 1992 a 1998 227A volta do Vigilante rodoviário – 1999 a 2002 229A verve literária, a pintura – 1999 a 2002 233A interrupção dos planos: o avc – 2001 a 2005 239A importância da família 243Marinho, Palácios e Carlinhos 257


Pensamentos, influências econsiderações gerais 261O balanço de uma carreira vitoriosa – 2006 283Depoimentos 285Filmografia 351Os números de <strong>Ary</strong> 469Siglas utilizadas na filmografiade <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong> 471


Créditos das fotografias:Todas as fotos utilizadas neste volume pertencemao acervo pessoal de <strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong>


Coleção AplausoSérie Cinema <strong>Brasil</strong>Anselmo Duarte – O Homem da Palma de OuroLuiz Carlos MertenA CartomanteRoteiro comentado por seu autor Wagner de AssisA Dona da HistóriaRoteiro de João Falcão, João Emanuel Carneiro e Daniel FilhoBens ConfiscadosRoteiro comentado pelos seus autoresCarlos Reichenbach e Daniel ChaiaBraz Chediak – Fragmentos de uma vidaSérgio Rodrigo ReisCabra­CegaRoteiro de DiMoretti, comentado por Toni Venturie Ricardo KauffmanO Caçador de DiamantesVittorio Capellaro comentado por Maximo BarroCarlos Coimbra – Um Homem RaroLuiz Carlos MertenCarlos Reichenbach –O Cinema Como Razão de ViverMarcelo LyraCasa de MeninasInácio AraújoCinema DigitalLuiz Gonzaga Assis de LucaComo Fazer um Filme de AmorJosé Roberto ToreroCríticas Edmar Pereira – Razão e sensibilidadeOrg. Luiz Carlos MertenCríticas Jairo Ferreira – Críticas de invenção: os anosdo São Paulo ShimbunOrg. Alessandro Gamo479


480Críticas L. G. Miranda LeãoOrg. Aurora Miranda LeãoDe PassagemRoteiro de Cláudio Yosida e Direção de Ricardo EliasDjalma Limongi Batista – Livre PensadorMarcel NadaleDois CórregosCarlos ReichenbachFernando Meirelles – Biografia prematuraMaria do Rosario CaetanoFome de Bola – Cinema e futebol no <strong>Brasil</strong>Luiz Zanin OricchioGuilherme de Almeida Prado – Um cineasta cinéfiloLuiz Zanin OricchioHelvécio Ratton – O Cinema Além das MontanhasPablo VillaçaJeferson De – Dogma feijoada– o cinema negro brasileiroJeferson DeJoão Batista de Andrade –Alguma Solidão e Muitas HistóriasMaria do Rosário CaetanoJorge Bodanzky – O homem com a câmeraCarlos Alberto MattosNarradores de JavéEliane Caffé e Luís Alberto de AbreuO Caso dos Irmãos NavesLuis Sérgio Person e Jean-Claude BernardetO Homem que Virou SucoRoteiro de João Batista de Andrade por Ariane Abdallah eNewton CannitoPedro Jorge de Castro – O calor da telaRogério MenezesRodolfo Nanni – Um Realizador PersistenteNeusa Barbosa


Viva­Voz – roteiroMárcio AlemãoUgo Giorgetti – O Sonho IntactoRosane PavamZuzu Angel – roteiroSergio Rezende e Marcos BernsteinSérie CinemaBastidores – Um outro lado do cinemaElaine GueriniSérie Teatro <strong>Brasil</strong>Antenor Pimenta e o Circo TeatroDanielle PimentaTrilogia Alcides Nogueira – ÓperaJoyce –Gertrude Stein, Alice Toklas & Pablo Picasso –Pólvora e PoesiaAlcides NogueiraSamir Yazbek – O teatro de Samir YazbekSamir YazbekCríticas Maria Lucia Candeias – Duas tábuas e umapaixãoOrg. José Simoes de Almeida JúniorCríticas Clóvis Garcia – A crítica como oficioOrg. Carmelinda GuimarãesTeatro de Revista em São PauloNeyde Veneziano481Série PerfilAlcides Nogueira – Alma de CetimTuna DwekAracy Balabanian – Nunca Fui AnjoTania Carvalho


482Bete Mendes – O Cão e a RosaRogério MenezesCleyde Yaconis – Dama DiscretaVilmar LedesmaDavid Cardoso – Persistência e PaixãoAlfredo SternheimEtty Fraser – Virada Pra LuaVilmar LedesmaGianfrancesco Guarnieri – Um Grito Solto no ArSérgio RoveriIlka Soares – A Bela da TelaWagner de AssisIrene Ravache – Caçadora de EmoçõesTania CarvalhoJohn Herbert – Um Gentleman no Palco e na VidaNeusa BarbosaJosé Dumont – Do Cordel às TelasKlecius HenriqueLuís Alberto de Abreu – Até a Última SílabaAdélia NicoleteMaria Adelaide Amaral – A emoção libertáriaTuna DwekMiriam Mehler – Sensibilidade e paixãoVilmar LedesmaNicette Bruno e Paulo Goulart – Tudo Em FamíliaElaine GuerriniNiza de Castro Tank – Niza Apesar das OutrasSara LopesPaulo Betti – Na Carreira de um SonhadorTeté RibeiroPaulo José – Memórias SubstantivasTania CarvalhoReginaldo Faria – O Solo de Um InquietoWagner de Assis


Renata Fronzi – Chorar de RirWagner de AssisRenata Palottini – Cumprimenta e pede passagemRita Ribeiro GuimarãesRenato Consorte – Contestador por ÍndoleEliana PaceRolando Boldrin – Palco <strong>Brasil</strong>Ieda de AbreuRosamaria Murtinho – Simples MagiaTania CarvalhoRubens de Falco – Um Internacional Ator <strong>Brasil</strong>eiroNydia LiciaRuth de Souza – Estrela NegraMaria Ângela de JesusSérgio Hingst – Um Ator de CinemaMaximo BarroSérgio Viotti – O Cavalheiro das ArtesNilu LebertSonia Oiticica – Uma Atriz Rodrigueana?Maria Thereza VargasSuely Franco – A alegria de representarAlfredo SternheimWalderez de Barros – Voz e SilênciosRogério MenezesLeonardo Villar – Garra e paixãoNydia LiciaCarla Camurati – Luz NaturalCarlos Alberto MattosZezé Motta – Muito prazerRodrigo MuratTony Ramos – No tempo da delicadezaTania CarvalhoPedro Paulo Rangel – O samba e o fadoTania Carvalho483


Vera Holtz ­ O gosto da VeraAnalu RibeiroSérie Crônicas AutobiográficasMaria Lucia Dahl – O quebra­cabeças484EspecialCinema da BocaAlfredo SternheimDina Sfat – Retratos de uma GuerreiraAntonio GilbertoMaria Della Costa – Seu Teatro, Sua VidaWarde MarxNey Latorraca – Uma CelebraçãoTania CarvalhoSérgio Cardoso – Imagens de Sua ArteNydia LiciaGloria in Excelsior – Ascensão, Apogeu e Queda doMaior Sucesso da Televisão <strong>Brasil</strong>eiraÁlvaro Moya


Formato: 12 x 18 cmTipologia: FrutigerPapel miolo: Offset LD 90g/m 2Papel capa: Triplex 250 g/m 2Número de páginas: 488Tiragem: 1.500Editoração, CTP, impressão e acabamento:Imprensa Oficial do Estado de São Paulo


© 2006Dados Internacionais de Catalogação na PublicaçãoBiblioteca da Imprensa Oficial do Estado de São PauloSilva Neto, Antonio Leão da<strong>Ary</strong> <strong>Fernandes</strong> : sua fascinante história / Antonio Leãoda Silva Neto – São Paulo : Imprensa Oficial do Estado deSão Paulo, 2006.488p. : il. – (Coleção aplauso. Série perfil / coordenadorgeral Rubens Ewald Filho).ISBN 85-7060-233-2 (Obra completa) (ImprensaOficial)ISBN 85-7060-502-1 (Imprensa Oficial)1. Cineasta – <strong>Brasil</strong> 2. Cinema – Produtores e Diretores3. <strong>Fernandes</strong>, <strong>Ary</strong> I. Ewald Filho, Rubens. II. Título.III. Série.CDD – 791.430 981Índices para catálogo sistemático:1. Cineastas brasileiros : Biografia 791.430 981Foi feito o depósito legal na Biblioteca Nacional(Lei nº 1.825, de 20/12/1907).Direitos reservados e protegidos pela lei nº 9.610/98Imprensa Oficial do Estado de São PauloRua da Mooca, 1.921 Mooca03103-902 São Paulo SPT 00 55 11 6099 9800F 00 55 11 6099 9674www.imprensaoficial.com.br/lojavirtuallivros@imprensaoficial.com.brGrande São Paulo SAC 11 2799 9725Demais localidades 0800 0123 401


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