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EDUARDO CANABRAVA BARREIROS, UM HOMEM DE ...

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<strong>EDUARDO</strong> <strong>CANABRAVA</strong> <strong>BARREIROS</strong>, <strong>UM</strong> <strong>HOMEM</strong> <strong>DE</strong> PERSONALIDA<strong>DE</strong>Por Paulo Chaves FilhoArtigo publicado no Jornal de Minas – São João del-Rei/MG, ano XII, 24 a 30/08/2012 , p. 4, nº 188, por ocasião daminha defesa de patrono no Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei/MG.Artigo publicado no Jornal Curvelo Notícias – Curvelo/MG, ano 54, Julho/Agosto/2012, p. 18, nº 433, por ocasião daminha defesa de patrono no Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei/MG.“Ninguém mata sua própria personalidade, a não ser epidermicamente. Nofundo, bem no âmago de cada um de nós, assentado, de pé, ou mesmo decócoras, estará o homem que somos.”Eduardo Canabrava BarreirosSemicírculo: Recordações quase MemóriasO nome que motivou o título deste trabalho é o patrono da cadeira n° 34, que hoje ocupo noInstituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei. Ao defender meu patrono neste Sodalício, em05 de agosto de 2012, notei um total interesse dos confrades, confreiras, visitantes e convidadossobre a vida de Eduardo Canabrava Barreiros. Percebi que muitos ouvintes conheciam meu patronode nome, mas não tinham noção de suas obras nem das provações vitais que Eduardo passou antesque a glória o coroasse, já na plenitude da vida, com os louros do triunfo. Desde o início de minhaspesquisas já tinha observado que meu trabalho não seria simples, sim de grande fôlego e queprecisava perseverar na busca de documentos incontestáveis.Motivado por meu trabalho de defesa de patrono e pelas unânimes manifestações de interesse pelomeu homenageado por parte de todos os presentes, resolvi escrever meu primeiro artigo e trazer alume a minha pesquisa.Eduardo Canabrava Barreiros nasceu em Curvelo, cidade do sertão mineiro, em 11 de julho de1908. Filho de João Barreiros e Etelvina Canabrava Barreiros. Perdeu o pai aos 2 anos de idade eviveu momentos difíceis ao lado de sua mãe e dos seus irmãos. Concluiu apenas a 4ª série do grupoescolar e mais tarde, em épocas intercaladas, estudou com as professoras Elisa Octaviano e MariaHermenegilda de Souza, dona Nhanhá de Souza. A pouca frequência ao ensino sistemático nãoimpediu, no entanto, de se tornar um intelectual brilhante a exemplo de outros sem diploma decurso ginasial, como Machado de Assis. Desde a infância se mostrou habilidoso, inteligente porexcelência e já desenhava as mais diversas figuras. Era um menino alto, franzino, astênico diferentede seus irmãos e demais meninos de sua época. Também sofria de uma anemia congênita que, àsvezes, o deixava amarelo e pálido.A vocação para desenho e a perspectiva, entretanto, manisfestou-se desde cedo. Estudou com oengenheiro e desenhista Paulo Metre, especializou-se em topografia, com o engenheiro ArlindoAraújo. Além de desenho, estudou pintura com Delfino, em Belo Horizonte, durante os anos de1928 e 1929. Assim foi crescendo nas artes plásticas e pintura. Pintou a igreja-matriz de Curvelo etambém a igreja de Buenópolis. Até por volta de seus trinta anos aventurou-se em diversasatividades como a garimpagem na Serra do Cabral, no Rio das Velhas, nas proximidades de sua foz,no Rio São Francisco e no alto Rio Jucu/ES. Dispôs-se a participar, como voluntário, da Revoluçãode 1930, também alcunhada de “Liberal”, conforme ele escreve em uma de suas obras.Uma dia, para o pesar da família e dos amigos, Eduardo deixou a sua cidade natal e foi em busca defama e fortuna. Depois de muito viajar, transferiu-se para o Rio de Janeiro em 1935. Ao invés de


fama e fortuna, sofreu de tudo, padecendo todas as penúrias imagináveis. Passou fome, foi catadorde papel como ele próprio tragicamente nos relata em seus contos e crônicas. Uma verdadeira vidade trapeiro...Envergonhado e decepcionado com o seu estado lastimável, Eduardo decidiu se isolar da família edos conterrâneos. Com isso, a família e os amigos perderam totalmente o contato com ele. Foi entãoque a família resolveu pedir ao quase irmão e amigo Alfredo Marques Vianna de Góes, conhecidocomo Fiduca, que fosse ao Rio de Janeiro em busca de notícias sobre o seu amigo. Alfredo dirigiuseao último endereço de correspondência de Eduardo onde, indagando pelo paradeiro dele, obtevenotícia que o amigo teria sido visto por diversas vezes na Rua Sachet, onde se encontravam muitosmendigos e catadores de papel. Alfredo partiu imediatamente para o local e, depois de muito tempoaguardando, avistou uma pessoa alta, franzina e desengonçada que se assemelhava ao seu amigo.O encontro lhes trouxe muitas emoções. Ao velho amigo, amado como o melhor dos irmãos,Eduardo confidenciou as suas privações. Alfredo, espantado e ao mesmo tempo feliz com oencontro, levou Eduardo ao restaurante mais próximo para matar-lhe a fome, coisa que o amigo nãofazia decentemente há muitos dias. Durante o almoço Eduardo comenta que para alugar um fundode loja, instalar uma prancheta para trabalhar e aguardar os primeiros fregueses, necessitaria de umaquantia inacessível para ele. Antes mesmo de Eduardo terminar a fala, Alfredo emprestava-lhe aquantia solicitada.A partir deste momento, a vida de Eduardo toma o rumo há muito tempo almejado e ele começa atrabalhar, consegue os primeiros clientes, aceitando trabalhos de última hora, sujeitos a prazosexíguos.Em 1940 criou o Instituto Cartográfico Canabrava Barreiros, onde se consagrou como artista etécnico em cartografia. Ficou conhecido por seus levantamentos cartográficos de grandes cidades,portos marítimos, bases militares, ilhas estratégicas e caminhos históricos de nosso País.Casou-se em 1942 com Maria da Conceição Cabral de Vasconcellos. Seu sucesso viria com ainfluência da inspirada esposa, admirável Ceicinha, sua Musa, sua luz e sua fortuna. Foi ela quemdisciplinou os passos de Eduardo e assinalou os rumos de sua vida. Não tiveram filhos.Conquistou grandes e célebres amigos frequentando as reuniões de Fábio Doyle, batizadas de“Sabadoyles”, onde se juntava a nata dos escritores brasileiros: poetas como Carlos Drummond deAndrade e Manuel Bandeira, romancistas como Rachel de Queiroz e Lygia Fagundes Telles, omemorialista Pedro Nava e dezenas de outros escritores e intelectuais em geral.Quando a Livraria “José Olympio” Editora passou a editar e lançar seus livros, estreou comoescritor de ficção em 1967, com “O Segredo de Sinhá Ernestina”, obra prefaciada por GuimarãesRosa, A TÍTULO EXCEPCIONALÍSSIMO. Conquistou o Prêmio Afonso Arinos da AcademiaBrasileira de Letras. Foi sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, sócio efetivodo Instituto de Geografia e História Militar do Brasil. Também foi sócio correspondente do InstitutoHistórico e Geográfico de São João del-Rei, sócio correspondente da Academia de Letras de SãoJoão del-Rei. Em São João del-Rei, conquistou a amizade pessoal de Sebastião de Oliveira Cintra,Fábio Guimarães, Altivo Sette entre outros.Eduardo sempre participou dos eventos curvelanos, mesmo morando fora. Retornou à cidade natalem 1975 para as festividades dos cem anos de elevação do distrito-sede à categoria de cidade.Lançou o “Ligeiro ensaio referente a aspectos históricos e geográficos do Curvelo aos 100 anos de


sua elevação à cidade (1875-1975)”. Ajudou a divulgar Sinhá Reginalda, a “santa mendiga”, da qualfez o bico de pena estampado em edição especial do jornal CN – Curvelo Notícias. Lançoucampanha que se notabilizou contra a incorporação de Tomás Gonzaga a outro município, guiadopelo bom senso de historiador. Participou também do programa “Mineiros Frente a Frente”defendendo Curvelo na TV Itacolomi (1971), em Belo Horizonte, no quadro “Eu conto a verdade”onde com muita simpatia ganhou ponto para a equipe curvelana contra a cidade de Itaúna, contandoo caso da velha escrava assassinada pelo próprio filho, que não a reconheceu. Para engrandecerminha defesa de patrono, convidei o casal Dr. Lúcio Flávio Baioneta e Dona Vilma CanabravaBaioneta, parente de Eduardo Canabrava Barreiros, para assistirem a minha apresentação e daremseu testemunho com uma grande riqueza de detalhes sobre a preciosa personalidade do meu patronoe relatarem alguns casos, principalmente enfocando o caso que se passou com Eduardo no programa“Mineiros Frente a Frente” que se encontra no livro Semicírculo: Recordações quase Memórias,páginas 42 e 43, fazendo com que os ouvintes se emocionassem como foi no dia do referidoprograma.Entre suas obras mais importantes estão “O SEGREDO <strong>DE</strong> SINHÁ ERNESTINA (1967)”,“ATLAS DA EVOLUÇÃO URBANA DA CIDA<strong>DE</strong> DO RIO <strong>DE</strong> JANEIRO <strong>DE</strong> 1565-1965(1967)”, “ITINERÁRIO DA IN<strong>DE</strong>PENDÊNCIA (1972)”, “D. PEDRO - JORNADA A MINASGERAIS EM 1822 (1973)”, “SEMICÍRCULO: RECORDAÇÕES QUASE MEMÓRIAS (1977)”,“DAS BUSCAS E <strong>DE</strong>SCOBERTAS (1980)”, “EPISÓDIOS DA GUERRA DOS EMBOABAS ESUA GEOGRAFIA (1984)”. Entre seus principais trabalhos cartográficos estão: “MAPAETNOGRÁFICO DO BRASIL (1940)”, “ENSAIO ETNOGRÁFICO DO BRASIL (1941)”,“MAPA RODOVIÁRIO DO BRASIL (1942)”, “Redução e ajuste cartográfico de centenas defolhas topográficas, de estudos e projetos rodoviários e ferroviários, para os departamentosespecializados (1943)”, “MAPA POSTAL TELEGRÁFICO DO BRASIL (1944)”, “ATLAS DOSTRANSPORTES E COMUNICAÇÕES DA 3a. ZONA AÉREA (1944)”, “MAPA OROGRÁFICODO BRASIL (1945)”, “MAPA HIDROGRÁFICO DO BRASIL (1945)”.Ainda, cabe mencionar que, a convite da nobre vereadora são-joanense Alba Lombardi, trabalhoudiligentemente no levantamento topográfico e cartográfico da região do Rio das Mortes com aatenção voltada para a definição dos limites entre São José del-Rei e São João del-Rei, na data dobatizado de Tiradentes, ou seja, 12 de novembro de 1946. Não satisfeito com o testemunho dopróprio Tiradentes sobre a sua naturalidade são-joanense nos Autos da Devassa, ele se pôs apesquisar todos os elementos de que dispunha para esclarecimento de sua dúvida. Seria Tiradentesrealmente são-joanense ? O livro “AS VILAS <strong>DE</strong>L-REI E A CIDADANIA <strong>DE</strong> TIRA<strong>DE</strong>NTES”veio confirmar, agora cientificamente, o testemunho que Tiradentes deu nos Autos da Devassa.Eduardo Canabrava Barreiros alcançou o merecido reconhecimento. Críticos abalizados, comoGuimarães Rosa, Michel Vovelle, Pedro Calmon, Américo Jacobina Lacombe e Altivo Sette, entreoutros, enalteceram-lhe a fluência verbal e a sólida erudição.Infelizmente, em 1981, Eduardo Canabrava Barreiros faleceu de complicações de uma cirurgia pararetirar cálculos biliares da vesícula. Teve uma septicemia no pós-operatório.Por fim, gostaria de reconhecer aqui a contribuição recebida de vários estudiosos da obra deCanabrava Barreiros dando especial destaque ao casal Dr. Lúcio Flávio Baioneta e Dona VilmaCanabrava Baioneta, parente de Eduardo Canabrava Barreiros, que se dispuseram a dar suaparticipação emocionada sobre a relação amistosa que desenvolveram com o meu patrono durantedécadas no Rio de Janeiro, ao Sr. Raimundo Martins dos Santos (Diquinho), diretor-proprietário dojornal Curvelo Notícias que me concedeu acesso ao acervo desse prestigioso periódico. Também


agradeço a minha esposa, Sarah Barbosa Chaves, e a meus amigos, em especial, ao Prof. ArturCláudio da Costa Moreira, presidente do IHG de São João del-Rei, à Profª. Betânia Maria MonteiroGuimarães, a Francisco José dos Santos Braga, historiador que utilizou as conclusões de CanabravaBarreiros para fundamentar o seu artigo “São João del-Rei: a terra natal de Tiradentes” de 1992, e aLuiz Antônio do S. Miranda, os quais me apoiaram na realização desta pesquisa.

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