11.07.2015 Views

Sistemas agroflorestais em assentamentos de ... - Ciência - USP

Sistemas agroflorestais em assentamentos de ... - Ciência - USP

Sistemas agroflorestais em assentamentos de ... - Ciência - USP

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

EXPERIÊNCIASIPÊ e Terra VivaPDA <strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> <strong>agroflorestais</strong>Nº 2Janeiro <strong>de</strong> 2002<strong>em</strong> <strong>assentamentos</strong><strong>de</strong> reforma agráriaAntônio <strong>de</strong> Barros AssumpçãoEx-coor<strong>de</strong>nador do Terra VivaCláudio Valladares PáduaJefferson Ferreira LimaLaury Cullen Jr.Maria Inês Rodrigues MoratoTécnicos do IPÊPrograma Piloto paraProteção das FlorestasTropicais do Brasil - PPG7Experiências similares <strong>em</strong>diferentes regiões da MataAtlântica revelam a importânciados sist<strong>em</strong>as <strong>agroflorestais</strong> paraa sobrevivência das famíliasassentadas e a manutenção dabiodiversida<strong>de</strong>


<strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> <strong>agroflorestais</strong> <strong>em</strong> <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reforma agráriaMinistério do Meio Ambiente - MMAMinistro: José Sarney FilhoSecretaria <strong>de</strong> Coor<strong>de</strong>nação da Amazônia - SCASecretária: Mary Helena AllegrettiPrograma Piloto para Proteção das Florestas Tropicais do Brasil - PPG7Coor<strong>de</strong>nador Geral: Carlos Aragon CastilloSubprograma Projetos D<strong>em</strong>onstrativos - PDASecretário Técnico: Jorg ZimmermannSecretário Técnico Adjunto: Wigold SchäfferAssessores Técnicos: Célia Chaves <strong>de</strong> Souza, D<strong>em</strong>óstenes Augusto Alves <strong>de</strong> Moraes, Ricardo Russo eRicardo VerdumEquipe Financeira: Cláudia Alves, Nilson Luiz Nogueira e Sérgio MaranhãoEquipe Administrativa: Bruno Mello, Eduardo Ganzer, Francisca Kalidaza Me<strong>de</strong>iros, Geórgia Basto Alô eLúcia Amaral SouzaPerito da GTZ: Thomas FatheuerEsta publicação é uma versão revisada e editada dos relatórios:Meio Ambiente e Reforma Agrária na Costa do Descobrimento: Dil<strong>em</strong>as e perspectivas para o<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as sustentáveis com a agricultura familiar dos <strong>assentamentos</strong> no extr<strong>em</strong>osul da Bahia, produzido pela ONG Terra Viva, eProjeto Abraço Ver<strong>de</strong>: Módulos <strong>agroflorestais</strong> na conservação <strong>de</strong> fragmentos florestais da Mata Atlântica,produzido pelo Instituto <strong>de</strong> Pesquisas Ecológicas - IPÊ.Esta publicação foi realizada com o apoio da agência al<strong>em</strong>ã <strong>de</strong> cooperação técnica, Deutsche Gesellschaftfür Technische Zusammenarbeit (GTZ) GmbH.Equipe Responsável: Célia Chaves, Jorg Zimmermann, Ricardo Verdum e Thomas FatheuerEdição: Tereza MoreiraProjeto Gráfico: Luiz DaréCooperação Financeira: República Fe<strong>de</strong>ral da Al<strong>em</strong>anha - KfW, União Européia - CEC, Rain Forest TrustFund - RFT, Fundo Francês para o Meio Ambiente Mundial - FFEMCoor<strong>de</strong>nação do PPG7 no Brasil: Banco Mundial - Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Florestas Tropicais - RFUMCooperação Técnica: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD, Projeto BRA/93/044 - Projetos D<strong>em</strong>onstrativos - PDADeutsche Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit (GTZ) GmbHAgente Financeiro: Banco do Brasil2


<strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> <strong>agroflorestais</strong> <strong>em</strong> <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reforma agráriaApresentaçãoÉcom gran<strong>de</strong> satisfação que apresentamos o segundo númeroda Série Experiências PDA, “<strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> Agroflorestais <strong>em</strong> Assentamentos<strong>de</strong> Reforma Agrária”, que retrata experiências <strong>de</strong> proteção e recuperação ambiental<strong>em</strong> diferentes regiões <strong>de</strong> domínio da Mata Atlântica: a primeira no Pontal do Paranapan<strong>em</strong>a,no Estado <strong>de</strong> São Paulo, e a segunda no Sul do Estado da Bahia.As experiências são coor<strong>de</strong>nadas, respectivamente, pelo Instituto <strong>de</strong> Pesquisas Ecológicas– IPÊ, e pelo Centro <strong>de</strong> Desenvolvimento Agroecológico do Extr<strong>em</strong>o Sul daBahia – Terra Viva, e contam com uma intensa participação dos agricultores familiares eassentados e suas entida<strong>de</strong>s associativas e representativas.A divulgação <strong>de</strong>stas duas experiências t<strong>em</strong> por objetivo tornar acessível, para umpúblico mais amplo, um pouco da história da impl<strong>em</strong>entação dos dois projetos e osresultados alcançados, b<strong>em</strong> como fornecer subsídios para o <strong>de</strong>bate a respeito das possibilida<strong>de</strong>se condições para a implantação <strong>de</strong> <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reforma agrária na MataAtlântica.Os textos foram elaborados pelos protagonistas das experiências. Com isto, pretend<strong>em</strong>osgarantir aqui a reprodução <strong>de</strong> uma das principais características do PDA, que édar voz e autoria aos atores que efetivamente construíram o sucesso que o Subprograma<strong>de</strong>senvolveu ao longo <strong>de</strong>stes anos.Ricardo VerdumAntropólogo, assessor do PDA/PPG73


4<strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> <strong>agroflorestais</strong> <strong>em</strong> <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reforma agrária


Sumário<strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> <strong>agroflorestais</strong> <strong>em</strong> <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reforma agráriaIPÊMódulos <strong>agroflorestais</strong> na conservação <strong>de</strong> fragmentos florestaisda Mata Atlântica....................................................................... 7Econegociação: parcerias <strong>em</strong> <strong>de</strong>fesa dos bens naturais ..............................8Introdução.................................................................................................9Ativida<strong>de</strong>s e resultados ............................................................................14Condições para o <strong>de</strong>senvolvimento do projeto ........................................25Lições aprendidas até o momento ...........................................................27Conclusões sobre as ações coletivas do projeto .......................................29Consi<strong>de</strong>rações e recomendações finais....................................................31Bibliografia recomendada........................................................................ 33Terra VivaMeio ambiente e reforma agrária na Costa do Descobrimento 35Introdução ....................................................................................................... 36Contexto socioambiental ................................................................................. 38Estratégias e metodologias ............................................................................... 46Implantação dos sist<strong>em</strong>as <strong>agroflorestais</strong> ........................................................... 50Resultados principais ....................................................................................... 52Parcerias e re<strong>de</strong>s .............................................................................................. 58Desafios presentes ........................................................................................... 595


6<strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> <strong>agroflorestais</strong> <strong>em</strong> <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reforma agrária


<strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> <strong>agroflorestais</strong> <strong>em</strong> <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reforma agráriaIPÊMódulos <strong>agroflorestais</strong> naconservação <strong>de</strong> fragmentos daMata AtlânticaLaury Cullen Jr.S<strong>em</strong>-terra participam do combate a incêndiosflorestais no Pontal do Paranapan<strong>em</strong>aCláudio Valladares PáduaJefferson Ferreira LimaLaury Cullen Jr.Maria Inês Rodrigues Morato7


<strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> <strong>agroflorestais</strong> <strong>em</strong> <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reforma agráriaEconegociação: parcerias<strong>em</strong> <strong>de</strong>fesa dos bens naturaisOque chamamos <strong>de</strong> “econegociação” refere-se auma aliança ou parceria estabelecida <strong>de</strong> comum acordoentre as partes interessadas <strong>em</strong> um recurso natural protegido,para compartilhar com os responsáveis pela sua proteção as funções<strong>de</strong> manejo e conservação. Isto significa, por um lado, assumirtotal ou parcialmente os direitos e responsabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação,e, <strong>de</strong> outro, uma compreensão das necessida<strong>de</strong>s econômicase sociais dos interessados.Essa negociação é adaptativa, ou seja, está <strong>em</strong> constante avaliação,com ajustes e reformulações, visando à melhor sintonia entreas partes envolvidas e ao aprimoramento dos resultados. Entre aspartes interessadas inclu<strong>em</strong>-se principalmente a instituição responsávelpela conservação da área e várias associações <strong>de</strong> resi<strong>de</strong>nteslocais e usuários <strong>de</strong> recursos, po<strong>de</strong>ndo ser envolvidas também organizaçõesnão-governamentais, institutos <strong>de</strong> pesquisa,<strong>em</strong>presariado, administrações locais e outras instituições, como oMinistério Público, por ex<strong>em</strong>plo.Essa t<strong>em</strong> sido a metodologia utilizada pelo Instituto <strong>de</strong> PesquisasEcológicas – IPÊ, na impl<strong>em</strong>entação do Projeto Abraço Ver<strong>de</strong>,que envolve o Estado, uma organização não-governamental eo Movimento dos Trabalhadores Rurais S<strong>em</strong> Terra – MST, do Pontaldo Paranapan<strong>em</strong>a (SP). A experiência mostra que um contínuo esist<strong>em</strong>ático esforço <strong>de</strong> equipe, que inclui relações <strong>de</strong> confiança eamiza<strong>de</strong>, educação ambiental, extensão agroflorestal, pesquisas <strong>em</strong>biologia da conservação, manejo participativo, legislações apropriadase fiscalização efetiva, a conservação <strong>de</strong> um ecossist<strong>em</strong>atorna-se não só possível, mas operacionalmente mais fácil. Conservação<strong>em</strong> escala comunitária, ecossistêmica e <strong>de</strong> paisag<strong>em</strong> ofereceuma das alternativas mais promissoras para a salvação dabiodiversida<strong>de</strong> da Mata Atlântica do Planalto, b<strong>em</strong> como <strong>de</strong> outrosecossist<strong>em</strong>as brasileiros.8


<strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> <strong>agroflorestais</strong> <strong>em</strong> <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reforma agráriaArquivo IPÊIntroduçãoA imag<strong>em</strong> <strong>de</strong> satélite mostra o Parque EstadualMorro do Diabo e entorno, com outros fragmentosflorestais da região do Pontal do Paranapan<strong>em</strong>aEsta publicação refere-se às ativida<strong>de</strong>s<strong>de</strong>senvolvidas e aos resultadospreliminares obtidos durante osprimeiros quinze meses <strong>de</strong> execução doProjeto Abraço Ver<strong>de</strong>, financiado peloPDA, que está impl<strong>em</strong>entando zonas <strong>de</strong>amortecimento agroflorestadas – ou zonas<strong>de</strong> benefício múltiplo – no entorno<strong>de</strong> fragmentos florestais da Mata Atlânticado Pontal do Paranapan<strong>em</strong>a, no extr<strong>em</strong>ooeste do Estado <strong>de</strong> São Paulo.O trabalho é resultado <strong>de</strong> uma parceriacom grupos <strong>de</strong> assentados e li<strong>de</strong>rançasda cooperativa do MST e t<strong>em</strong> aconcordância <strong>de</strong> diversos órgãos do governoestadual. Entre os objetivos e <strong>de</strong>safiosprincipais <strong>de</strong>ste projeto estão:disponibilizar informações agroecológicaspara os assentados, estimular a adoção<strong>de</strong> práticas <strong>de</strong> manejo agroflorestal<strong>em</strong> lotes vizinhos aos fragmentos florestaise implantar módulos <strong>agroflorestais</strong>d<strong>em</strong>onstrativos adaptados à cultura e àsnecessida<strong>de</strong>s locais.A experiência inicial t<strong>em</strong> mostradoque a conservação dos ecossist<strong>em</strong>astorna-se possível com o que t<strong>em</strong>os chamado<strong>de</strong> econegociação. Isso inclui aparticipação e educação comunitária,credibilida<strong>de</strong>, amiza<strong>de</strong> e relações <strong>de</strong>confiança, extensão e pesquisas agroecológicas,manejo adaptativo, além <strong>de</strong>9


<strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> <strong>agroflorestais</strong> <strong>em</strong> <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reforma agrárialegislação apropriada e fiscalização efetiva.Buscamos, assim, uma harmoniaagroecológica na interface entre <strong>assentamentos</strong>rurais e r<strong>em</strong>anescentes <strong>de</strong> MataAtlântica e, portanto, o <strong>de</strong>senvolvimento<strong>de</strong> uma reforma agrária ambiental eeconomicamente mais sustentável paraa região do Pontal.Contexto social, luta pela terrae <strong>de</strong>stino dos fragmentosflorestaisO Pontal do Paranapan<strong>em</strong>a é umadas regiões mais pobres do Estado <strong>de</strong> SãoPaulo. Localizado na confluência entreos rios Paraná e Paranapan<strong>em</strong>a, o Pontalestá incluído <strong>de</strong>ntro dos limites do <strong>de</strong>creto750, que <strong>de</strong>fine legalmente os domíniosda Mata Atlântica e regulamentaa sua utilização. A cobertura vegetal original<strong>de</strong>ssa região é classificada comoMata Atlântica do interior ou do planalto(Floresta Estacional S<strong>em</strong>i<strong>de</strong>cidual).Em 1941 e 1942, Fernando Costa,o então governador <strong>de</strong> São Paulo, <strong>de</strong>cretoutoda a área oeste do Pontal comoReserva <strong>de</strong> Fauna e Flora. Nos anos1950, todavia, o governador Ad<strong>em</strong>ar <strong>de</strong>Barros distribuiu as terras da Reserva aseus amigos e correligionários, que iniciaramum processo voraz <strong>de</strong> ocupaçãodo solo. Devido a essa ocupação s<strong>em</strong>critérios, o Pontal do Paranapan<strong>em</strong>a sofreudrástica redução <strong>em</strong> sua coberturaflorestal, restando hoje apenas 1,85% dacobertura original. A maior parte do queainda resta está no Parque Estadual Morrodo Diabo 37 mil hectares e <strong>em</strong> algunsfragmentos <strong>em</strong> proprieda<strong>de</strong>s privadas.Ainda como conseqüência do modo<strong>de</strong> ocupação da Reserva do Pontal, houvegran<strong>de</strong> concentração <strong>de</strong> terras<strong>de</strong>volutas <strong>em</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> poucos fazen<strong>de</strong>iros.Atualmente, ocorre um segundoprocesso <strong>de</strong> ocupação territorial movidopor grupos <strong>de</strong> agricultores s<strong>em</strong> terra,organizados <strong>em</strong> torno do MST. Os númerosatuais mostram a existência <strong>de</strong>aproximadamente 4.500 famílias assentadas<strong>em</strong> glebas no Pontal, ocupando umtotal <strong>de</strong> 38 mil hectares. Cada lote dasrespectivas glebas t<strong>em</strong> <strong>em</strong> média 15 hectares.As projeções futuras para a regiãosão <strong>de</strong> assentar 50 mil famílias <strong>em</strong> umtotal <strong>de</strong> um milhão <strong>de</strong> hectares <strong>de</strong> terras<strong>de</strong>volutas na região.Toda essa ocupação, se não for feitacom preocupações ambientais, po<strong>de</strong>colocar <strong>em</strong> risco o que resta das florestasdo Pontal. A dinâmica <strong>de</strong> ocupaçãoatualmente <strong>em</strong> prática t<strong>em</strong> levado a umapaisag<strong>em</strong> regional na qual vários fragmentosflorestais são circundados e pressionadospor <strong>assentamentos</strong> rurais. Estecenário, comum na paisag<strong>em</strong> do Pontal,com <strong>assentamentos</strong> rurais “abraçando”as últimas ilhas <strong>de</strong> biodiversida<strong>de</strong> daMata Atlântica, <strong>de</strong>safia-nos na arte<strong>em</strong>ergencial <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhar e adaptar novosmo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> conservação capazes <strong>de</strong>trazer um mínimo <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> aoavanço da reforma agrária na região.10


<strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> <strong>agroflorestais</strong> <strong>em</strong> <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reforma agráriaA paisag<strong>em</strong> do Pontal à luz dabiologia da conservaçãoNão faz muito t<strong>em</strong>po, o Pontal erauma região inteiramente coberta por florestastropicais <strong>de</strong> valor biótico singular.Prova disso é que os r<strong>em</strong>anescentes florestaisainda abrigam uma rica e importantebiodiversida<strong>de</strong>, com a presença <strong>de</strong>várias espécies endêmicas ou ameaçadas<strong>de</strong> extinção, como o mico-leão-preto(Leontopithecus chrysopygus), a anta(Tapirus terrestris), o macuco (Tinamussolitarius) e a onça pintada (Pantheraonca).Na região predomina o gran<strong>de</strong> latifúndio<strong>de</strong> pecuária extensiva. A ocupação<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada combinada com afragilida<strong>de</strong> dos solos, a concentração <strong>de</strong>chuvas num período curto do ano e aexposição das encostas produziram umdos cenários mais <strong>de</strong>gradados do estadodo ponto <strong>de</strong> vista ambiental. Com ot<strong>em</strong>po, verificou-se a perda gradual daárea florestada da Gran<strong>de</strong> Reserva doPontal. Restam hoje pouco mais <strong>de</strong> 37mil hectares no Parque Estadual Morrodo Diabo, localizado no município <strong>de</strong>Teodoro Sampaio, e cerca <strong>de</strong> 15 mil hectares<strong>em</strong> fragmentos <strong>de</strong> diversos tamanhosespalhados pela região.Essa situação <strong>de</strong> isolamento dosfragmentos compromete a manutençãoda diversida<strong>de</strong> biológica <strong>de</strong> algumas espécies<strong>de</strong> árvores e animais. É necessárioum número mínimo <strong>de</strong> indivíduospara garantir a manutenção genética dasespécies, que ao longo do t<strong>em</strong>po vãorealizando cruzamentos sucessivos entreos mesmos indivíduos, o que implicaredução da diversida<strong>de</strong> genética. Dessaforma, para garantir a manutenção dadiversida<strong>de</strong> e da própria existência dasespécies é necessária a utilização <strong>de</strong> umaabordag<strong>em</strong> que privilegie o conceito ea visão <strong>de</strong> paisag<strong>em</strong>.Esse conceito da biologia da conservaçãoé cada vez mais utilizado pelasorganizações ambientalistas atuantesna região, com <strong>de</strong>staque para o IPÊ, quehá mais <strong>de</strong> 12 anos <strong>de</strong>dica-se à conservaçãoda diversida<strong>de</strong> biológica na região.Para que os esforços <strong>em</strong> prol daconservação <strong>de</strong> espécies da fauna e daflora dê<strong>em</strong> resultados, apenas a manutençãodos fragmentos que restaram edo próprio Parque Estadual Morro do Diabosão insuficientes. Isto não garante ofluxo genético que muitas espécies necessitampara sua viabilida<strong>de</strong> no longoprazo. Torna-se necessário implantar corredoresflorestais que contribuam como fluxo dos genes e minimiz<strong>em</strong> o isolamentodas espécies animais e vegetais.Além disso, é preciso garantir a integrida<strong>de</strong>dos fragmentos que ainda exist<strong>em</strong>,principalmente o Parque do Morro doDiabo, pois nele estão essas últimas “s<strong>em</strong>entes<strong>de</strong> biodiversida<strong>de</strong>” da região.Uma das formas <strong>de</strong> garantir a integrida<strong>de</strong><strong>de</strong>ssas áreas é protegê-las dosimpactos externos provenientes da açãohumana, como o fogo, a retirada <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>irae a caça, o que po<strong>de</strong> ser consegui-11


<strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> <strong>agroflorestais</strong> <strong>em</strong> <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reforma agráriado por meio <strong>de</strong> zonas <strong>de</strong> amortecimento(buffer zones).Essas duas estratégias (corredoresbiológicos e zonas <strong>de</strong> amortecimento)estão sendo impl<strong>em</strong>entadas por meio doProjeto Abraço Ver<strong>de</strong> nos <strong>assentamentos</strong>Ribeirão Bonito e Tucano. Os assentadosparticipam ativamente da implantação<strong>de</strong>ssas estratégias. Para a zona <strong>de</strong>amortecimento, os assentados que faz<strong>em</strong>divisa com o Parque <strong>de</strong>stinaram uma faixa<strong>de</strong> aproximadamente 50 metros <strong>de</strong>largura para plantios consorciados <strong>de</strong> espéciesflorestais nativas e exóticas. Asfamílias concordaram também <strong>em</strong>disponibilizar uma área para a criaçãodo corredor, que liga o Parque a um fragmentoflorestal do assentamento.No Pontal do Paranapan<strong>em</strong>a existenecessida<strong>de</strong> imediata e condições ecológicase sociais favoráveis para um programaagroflorestal, com fins <strong>de</strong> restauração<strong>de</strong> paisagens fragmentadas. Nestesentido, o Abraço Ver<strong>de</strong> v<strong>em</strong> incorporandoa diversificação das ativida<strong>de</strong>sprodutivas nos <strong>assentamentos</strong>, a conservaçãodo solo e da água, b<strong>em</strong> como <strong>de</strong>espécies e populações <strong>de</strong>sse ecossist<strong>em</strong>aameaçado.Agrofloresta e biodiversida<strong>de</strong>Pouca atenção t<strong>em</strong> sido dada aopapel e ao gran<strong>de</strong> potencial que os sist<strong>em</strong>as<strong>agroflorestais</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penham naconservação <strong>de</strong> reservas florestais <strong>em</strong>paisagens fragmentadas. Uma das maneiras<strong>de</strong> fazê-lo é utilizando módulos<strong>agroflorestais</strong> como zonas <strong>de</strong> amortecimento,amenizadores da <strong>de</strong>gradação dasbordas dos fragmentos florestais.Do ponto <strong>de</strong> vista biológico, um dosprincipais benefícios <strong>de</strong>ssas zonas <strong>de</strong>amortecimento seria a redução dos efeitos<strong>de</strong> borda. Esses efeitos pod<strong>em</strong> penetraraté 500 metros para o interior dosfragmentos, ocasionando mudanças d<strong>em</strong>icroclima, afetando a integrida<strong>de</strong> ecológicadas florestas e levando os fragmentosao <strong>de</strong>saparecimento. “Abraçando”esses r<strong>em</strong>anescentes florestais commódulos <strong>agroflorestais</strong>, reduzimos ospossíveis efeitos negativos das pastagense/ou roças agrícolas <strong>de</strong> campo aberto <strong>em</strong>seu entorno.Do ponto <strong>de</strong> vista econômico e social,a exploração <strong>de</strong>sta zona agroflorestadaproporciona um espaço produtivoe diversificado para as comunida<strong>de</strong>s ruraisvizinhas, além <strong>de</strong> uma provável reduçãonos conflitos entre a fauna e florapresentes nos fragmentos florestais e os<strong>assentamentos</strong> rurais do entorno.Área <strong>de</strong> concentração doprojetoOs <strong>assentamentos</strong> rurais Tucano eRibeirão Bonito são ótimos ex<strong>em</strong>plos dadinâmica da ocupação <strong>de</strong> terras na região.Há três anos várias famílias foramassentadas no entorno <strong>de</strong>sses fragmentosflorestais, que estão biologicamenteentre os mais significativos da região. Ofragmento florestal da Gleba RibeirãoBonito, com seus 400 hectares, e o da12


<strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> <strong>agroflorestais</strong> <strong>em</strong> <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reforma agráriaGleba Tucano, com seus quase dois milhectares, ainda abrigam muitas espéciesendêmicas e ameaçadas, como porex<strong>em</strong>plo, uma das últimas populaçõesr<strong>em</strong>anescentes do mico-leão-preto(Leontopithecus chrysopygus), um dosprimatas mais ameaçados <strong>de</strong> extinção domundo. Cada família <strong>de</strong> assentado ruralpossui um lote <strong>de</strong> 15 hectares <strong>em</strong> média.Meta<strong>de</strong> do lote é normalmente usadapara uma agricultura <strong>de</strong> subsistência(milho, algodão, mandioca, arroz, feijão,amendoim) e a outra meta<strong>de</strong> <strong>de</strong>stina-sea uma pecuária leiteira <strong>de</strong> pequena produção.Devido à má conservação do solo,à falta <strong>de</strong> um extensionismo a<strong>de</strong>quadoe à carência <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimentoapropriado, a agricultura epecuária são pouco produtivas nessasglebas. Por isso, a maioria das famíliaspermanece <strong>em</strong> constante luta por suasnecessida<strong>de</strong>s básicas <strong>de</strong> subsistência.Por outro lado, importantes fragmentos<strong>de</strong> mata vizinha são altamentevulneráveis às constantes incursões <strong>de</strong>gado, plantas invasoras, cipós, fogo, queda<strong>de</strong> árvores e dissecações provocadaspelo vento, tudo isso como conseqüência<strong>de</strong> bordas expostas e <strong>de</strong>sprotegidas.Aos poucos, essas erosões antrópicasestão consumindo os fragmentos e afetandosua integrida<strong>de</strong> ecológica. Paraamenizar a <strong>de</strong>gradação ambiental e apobreza rural que caracterizam algunspontos da região, estamos implantandoum projeto mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> econegociaçãocom a comunida<strong>de</strong> e incorporando florestassociais nesses <strong>assentamentos</strong>.Ações envolv<strong>em</strong> diferentesatoresO projeto acima citado resulta <strong>de</strong>uma parceria com grupos <strong>de</strong> assentadose li<strong>de</strong>ranças do MST, por meio da Cooperativa<strong>de</strong> Comercialização e Prestação<strong>de</strong> Serviços dos Assentados <strong>de</strong> ReformaAgrária do Pontal – Cocamp, com o Estado(Instituto Florestal – IF/SMA, Universida<strong>de</strong><strong>de</strong> São Paulo – ESALQ/<strong>USP</strong>, eInstituto <strong>de</strong> Terras do Estado <strong>de</strong> São Paulo– ITESP), além das ONG’s Associação<strong>de</strong> Recuperação Florestal do Pontal doParanapan<strong>em</strong>a – Pontal-Flora, e Associação<strong>em</strong> Defesa do Rio Paraná, Afluentese Mata Ciliar – Apoena.Reestruturação e ampliação doviveiro do Parque EstadualAtravés <strong>de</strong> um trabalho conjuntoentre o IPÊ e o Parque Estadual Morrodo Diabo, este viveiro foi implantado <strong>em</strong>junho <strong>de</strong> 1998. Está localizado na se<strong>de</strong>do Parque, no município <strong>de</strong> TeodoroSampaio. Até o início das ativida<strong>de</strong>s doprojeto, a sua capacida<strong>de</strong> média era <strong>de</strong>três mil mudas/ano. Com o financiamentodo PDA, toda a estrutura <strong>de</strong> produção<strong>de</strong> mudas do viveiro passou para o sist<strong>em</strong>a<strong>de</strong> tubetes, aumentando sua capacida<strong>de</strong>para 150 mil mudas/ano.13


<strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> <strong>agroflorestais</strong> <strong>em</strong> <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reforma agráriaJefferson F. LimaViveiro Agroflorestal do Parque Estadual Morro doDiaboAtivida<strong>de</strong>s e resultadosAlém da produção e do fornecimento<strong>de</strong> mudas <strong>de</strong> maneiracontínua e não burocrática para a implantaçãodos módulos <strong>agroflorestais</strong> nos<strong>assentamentos</strong>, o viveiro do Parque Estadualt<strong>em</strong> funcionado como uma escola,on<strong>de</strong> são ministradas aulas práticas<strong>de</strong> cursos <strong>agroflorestais</strong>. Lá trabalham <strong>em</strong>t<strong>em</strong>po parcial quatro funcionários quedireta ou indiretamente prestam os seguintesserviços:• Coleta <strong>de</strong> s<strong>em</strong>entes <strong>de</strong> espécies compotencial agroflorestalEsta ativida<strong>de</strong> v<strong>em</strong> sendo realizadanas matas e imediações do ParqueEstadual Morro do Diabo. Foi <strong>de</strong>senvolvidoum cronograma <strong>de</strong> frutificação dasespécies arbóreas para indicar a épocaespecífica <strong>de</strong> coleta das s<strong>em</strong>entes paracada espécie. Além das espécies nativas,coletam-se s<strong>em</strong>entes <strong>de</strong> espécies exóticascom potencial <strong>de</strong> uso <strong>em</strong> agroflorestas.Após a coleta, uma parte <strong>de</strong>ssass<strong>em</strong>entes é beneficiada e encaminhadapara o viveiro central do Instituto Florestal,na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo. O restanteé armazenado <strong>em</strong> recipientes plásticose acondicionado <strong>em</strong> um freezer, auma t<strong>em</strong>peratura média <strong>de</strong> 8 o C, sendoutilizado para abastecer o viveiro agroflorestaldo Parque Estadual Morro doDiabo.14


s<strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> <strong>agroflorestais</strong> <strong>em</strong> <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reforma agráriaTabela 01. Características das principais espécies produzidas pelo viveiro agroflorestal do ParqueEstadual Morro do Diabo.Não-frutíferasESPÉCIES PERMANENTESPRINCIPAL FUNÇÃOAGROFLORESTALCOLETA DE SEMENTESAcácia (Acacia mangium) LE, PO, QV, CS, TO Nov<strong>em</strong>bro-Dez<strong>em</strong>broAlbizia (Albizia lebeck) LE, OR, A, AP, AV, CS, FA, FS Outubro-FevereiroAlecrim (Holocalyx balansae)* MD, FA, OR Dez<strong>em</strong>bro-FevereiroAngico-branco (Ana<strong>de</strong>nantheracolubrina)*MD, CS, LE, TO, FS, MEJulho-AgostoAngico-do-cerrado (A. macrocarpa)* MD, CS, LE, TO, FS, ME Agosto-Set<strong>em</strong>broCabreúva (Myroxylun peruiferum) * MD Outubro-Nov<strong>em</strong>broCafé-<strong>de</strong>-bugre (Cordia ecalyculata) * MD, OR, AS, FS, FA Janeiro-MarçoCanafístula (Cassia ferruginea) * A, MD, LE, QV, CS, AV, OR, ME Abril-MaioCedro (Cedrella fissilis) * MD, AP, LE Junho-AgostoCoração-<strong>de</strong>-negro (Poecilantheparviflora)*MD, ORAbril-MaioEucalipto (Eucalyptus spp) LE, MD, ME, PO, QV, AS, TO, FA Junho-Dez<strong>em</strong>broFarinha-seca (Albizia hasslerii) * LE, AS, A, AV, MD, OR Set<strong>em</strong>bro-OutubroGliricídia (Gliricídia sepium)A, AP, MD, LE, AV, CP, CS, AS, CV Junho-Set<strong>em</strong>bro (Estacas)Guapuruvu (Schizolobium parahyba) OR, FA, AP Abril-JunhoGurucaira (Peltophorum dubium)* MD, AS, OR, FA Abril-MaioIpê-amarelo (Tabebuia chrysotricha) * MD, OR, FA, AP Set<strong>em</strong>bro-OutubroIpê-amarelo (Tabebuia ochracea ) * MD, OR, FA, AP Set<strong>em</strong>bro-OutubroIpê-roxo (Tabebuia heptaphylla) * MD, OR, FA, AP Set<strong>em</strong>bro-OutubroIpê-tabaco (Zeyheria tuberculosa) * MD, OR Julho-Set<strong>em</strong>broJacarandá-mimoso (J. cuspidifolia)* OR, FA, MD Agosto-Set<strong>em</strong>broLouro-pardo (Cordia trichotoma)* MD, OR, AS, FS Julho-Set<strong>em</strong>broÓleo-<strong>de</strong>-copaíba (Copaiferalangsdorffii)*ME, ORAgosto-Set<strong>em</strong>broPau-marfim (Balfouro<strong>de</strong>ndronAgosto-Set<strong>em</strong>broMD, LE, ORrie<strong>de</strong>lianum)*Pau-jacaré (Pipta<strong>de</strong>nia gonoacantha) * MD, LE, ME, AP Set<strong>em</strong>bro-OutubroPaineira (Chorisia speciosa) * OR, FA, FI Agosto-Set<strong>em</strong>broPau-<strong>de</strong>-tucano (Vochysia tucanorum)* OR, FA, MD Janeiro-Março15


<strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> <strong>agroflorestais</strong> <strong>em</strong> <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reforma agráriaFutíferas* Presentes na flora do Parque Estadual Morro do Diabo e outras florestas da região do Pontal16


<strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> <strong>agroflorestais</strong> <strong>em</strong> <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reforma agráriaA = Alimentação/forrag<strong>em</strong> animalAP = ApiculturaAS = Árvore sombra/consórcioAV = Adubação ver<strong>de</strong>CP = Controle pragasCS = Conservação soloCV = Cerca vivaFA = Uso faunísticoFI = FibraFS = Fertilida<strong>de</strong> soloGO = GomaHU = Consumo humanoLE = LenhaMD = Ma<strong>de</strong>ira/construçãoME = MedicinalOL = ÓleoOR = OrnamentalPO = Ma<strong>de</strong>ira polpaQV = Quebra-ventoTO = Ma<strong>de</strong>ira/toras17


Jefferson F. Lima18<strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> <strong>agroflorestais</strong> <strong>em</strong> <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reforma agráriaNo setor <strong>de</strong> s<strong>em</strong>entes <strong>agroflorestais</strong> do ParqueEstadual ocorr<strong>em</strong> as aulas práticas para implantação<strong>de</strong> viveiros nos <strong>assentamentos</strong>Espécies que perd<strong>em</strong> o po<strong>de</strong>rgerminativo muito rápido, como Ficus eInga, são conservadas <strong>em</strong> banco <strong>de</strong> plântulas,<strong>em</strong> estufas apropriadas. Durante oprocesso <strong>de</strong> produção das plântulas <strong>em</strong>estufas, procura-se controlar os fatoresambientais <strong>de</strong>sfavoráveis para algumasespécies. Posteriormente, essas plântulassão transplantadas para tubetes ou sacosplásticos <strong>de</strong>finitivos.• Setor <strong>de</strong> s<strong>em</strong>entesEste setor é responsávelpelo armazenamento, beneficiamentoe envio <strong>de</strong> s<strong>em</strong>entese frutos para o InstitutoFlorestal <strong>de</strong> São Paulo e<strong>assentamentos</strong> vizinhos.Nele são ministradas aulaspráticas sobre a implantaçãoe condução <strong>de</strong> viveiros <strong>agroflorestais</strong>comunitários. Duranteas aulas práticas, os assentadosreceb<strong>em</strong> treinamento<strong>em</strong> escolha do terreno;visão geral do viveiro;uso <strong>de</strong> ferramentas, recipientes,mistura da terra, s<strong>em</strong>entes,matéria orgânica, quebrada dormência; formação <strong>de</strong>s<strong>em</strong>enteira; replantio; formaçãodas mudas; abertura <strong>de</strong>covas; espaçamentos; poda<strong>de</strong> limpeza e raleio.• Produção <strong>de</strong> mudasA principal forma <strong>de</strong>propagação ocorre pormeio <strong>de</strong> s<strong>em</strong>entes. Os recipientesutilizados pelo viveiro doParque Estadual são os tubetes (95%)e os sacos plásticos (5%). A escolhado sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> produção baseia-se nagerminação da s<strong>em</strong>ente e no sist<strong>em</strong>aradicular da espécie. Para encher ostubetes, utiliza-se substrato à base <strong>de</strong>vermiculita expandida (bioterra), adquiridocomercialmente.


<strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> <strong>agroflorestais</strong> <strong>em</strong> <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reforma agráriaTabela 2. Espécies produzidas no viveiro agroflorestal do Parque Estadual Morro do Diabo noperíodo <strong>de</strong> março a <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2000.ESPÉCIEQUANTIDADEAcácia (Acacia mangium) 11.000Acerola (Malpiguia glabra) 196Alecrim (Holocalyx balansae) 216Angico-preto (Ana<strong>de</strong>nanthera falcata) 864Angico-vermelho (Parapipta<strong>de</strong>nia rigida) 216Bacupari (Rhedia sp) 224Café-<strong>de</strong>-bugre (Cordia ecalyculata) 390Carambola (Averrhoa carambola) 600Cedro (Cedrella fissilis) 800Copaíba (Copaifera langsdorffii) 216Eucalipto (Eucalyptus camaldulensis) 13.500Eucalipto (Eucalyptus citriodora) 2.600Eucalipto (Eucalyptus urograndis) 6.300Farinha-seca (Albizia hasslerii) 162Goiaba (Psidium sp) 150Goivira (Patagonula americana) 756Grumixama (Eugenia brasiliensis) 288Guapuruvu (Schizolobium parahyba) 75Gurucaia (Peltophorum dubium) 1.10019


<strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> <strong>agroflorestais</strong> <strong>em</strong> <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reforma agráriaEm quinze meses, foram produzidascerca <strong>de</strong> 45 mil mudas <strong>de</strong> 27espécies diferentes. O t<strong>em</strong>po máximo<strong>de</strong> permanência das mudas no viveiroé <strong>de</strong> cinco meses. Atualmente a produçãoestá centrada principalmentenos meses <strong>de</strong> junho a outubro, aproveitando-seassim, o período das chuvas<strong>de</strong> nov<strong>em</strong>bro a fevereiro para a implantaçãodos módulos <strong>agroflorestais</strong> nos <strong>assentamentos</strong>.Cursos <strong>agroflorestais</strong>O objetivo geral dos cursos <strong>agroflorestais</strong>é promover a integração entreo <strong>de</strong>senvolvimento sócio-econômico dos<strong>assentamentos</strong> rurais e a manutenção dadiversida<strong>de</strong> biológica na paisag<strong>em</strong> doPontal do Paranapan<strong>em</strong>a. Busca-se, assim,uma reforma agrária ecologicamentesustentável nos <strong>assentamentos</strong> rurais.Os objetivos específicos <strong>de</strong>sses cursossão:• disponibilizar informações agroecológicase conceitos básicos<strong>de</strong> biologia da conservação paragrupos e li<strong>de</strong>ranças dos <strong>assentamentos</strong><strong>de</strong> reforma agrária;• promover a extensão agroflorestalpor meio do estímulo à adoção<strong>de</strong> práticas <strong>de</strong> manejo agroecológico<strong>em</strong> lotes rurais queincorporam conceitos <strong>de</strong> agrofloresta,diversificação e sustentabilida<strong>de</strong>da produção;• estimular a produção <strong>de</strong> bens(frutos, ma<strong>de</strong>iras, lenha, mel, ervasmedicinais, matéria orgânica,forrag<strong>em</strong> etc.) e serviços(conservação e fertilida<strong>de</strong> dosolo e da água, restauração econservação da paisag<strong>em</strong> regional,aumento da produtivida<strong>de</strong>agropecuária, diversificação dasativida<strong>de</strong>s produtivas, aceiros,quebra-ventos, cerca viva, lazer);• estimular a implantação <strong>de</strong> viveiros<strong>agroflorestais</strong> comunitáriospor meio do plantio <strong>de</strong> espéciescom potencial agroflorestalna região;• contribuir com a formação <strong>de</strong>agentes diss<strong>em</strong>inadores – técnicose li<strong>de</strong>ranças locais – pormeio do envolvimento comunitário,<strong>em</strong> busca <strong>de</strong> soluções paraos probl<strong>em</strong>as agro-ambientaislocais e regionais;• avaliar o projeto <strong>de</strong> maneira sist<strong>em</strong>áticae contínua;• diss<strong>em</strong>inar os resultados obtidospara outras regiões on<strong>de</strong> o avançoda reforma agrária ameaça abiodiversida<strong>de</strong> regional.Os cursos têm duração <strong>de</strong> dois dias.As aulas teóricas são administradas nocentro <strong>de</strong> visitantes do Parque. Por meio<strong>de</strong> sli<strong>de</strong>s e ví<strong>de</strong>os, os participantes entram<strong>em</strong> contato com os vários benefíciosproporcionados pela agrofloresta. Asexposições reforçam a importância doconsórcio <strong>de</strong> espécies, enfatizando com-20


<strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> <strong>agroflorestais</strong> <strong>em</strong> <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reforma agráriamente os locais <strong>de</strong> implantação dosmódulos <strong>agroflorestais</strong> para i<strong>de</strong>ntificar esolucionar probl<strong>em</strong>as inesperados e verificaras dificulda<strong>de</strong>s que se apresentam.Discut<strong>em</strong> com os assentados soluçõesmais adaptadas, focando não somente aprodução, mas também a sustentabilida<strong>de</strong>ecológica dos sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> produção.Os extensionistas s<strong>em</strong>pre buscamconselhos <strong>de</strong> outros profissionais da área.Utilizam também o conhecimento, aexperiência e a prática dos agricultorespor meio <strong>de</strong> conversas informais <strong>em</strong> quese discut<strong>em</strong> práticas mais eficazes, baratase compatíveis com a realida<strong>de</strong> local<strong>de</strong> cada participante. Este conhecimentoé repassado para os d<strong>em</strong>ais agricultores.Geralmente, antes <strong>de</strong> aceitar umanova prática, os agricultores precisamestar convencidos <strong>de</strong> que:• a inovação aumentará a relaçãocusto-benefício <strong>em</strong> comparaçãocom as práticas vigentes;• a nova tecnologia é menos trabalhosa;• os resultados da nova prática sãovisíveis;• o agricultor po<strong>de</strong>rá testar a inovaçãonuma escala limitada, ouseja, numa área pequena.Por tudo isso, uma extensão agroflorestaleficaz d<strong>em</strong>anda:• paciência: para introduzir novossist<strong>em</strong>as, como os da agrofloresta,<strong>de</strong>ve-se pensar num programa<strong>de</strong> longo prazo e na maneiracomo os agricultores perceb<strong>em</strong>o custo, o esforço ou o risco associadosa novas práticas. Estesfatores <strong>em</strong> geral imped<strong>em</strong> umarápida a<strong>de</strong>são à nova tecnologia;• “escutar” também com os olhospara verificar como é a reaçãodos agricultores às novida<strong>de</strong>s;• apren<strong>de</strong>r com os agricultores:po<strong>de</strong>-se apren<strong>de</strong>r muito maissobre o que é necessário paraajudá-los a solucionar seus probl<strong>em</strong>as.Por ex<strong>em</strong>plo: pedir aosagricultores a <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> árvores“boas” e “ruins” para seuslotes ou sugestões para protegermananciais;• comunicar <strong>de</strong> forma eficaz: terclareza sobre o que se quer e oque se espera do agricultor, s<strong>em</strong>pretendo <strong>em</strong> mente o que estesente e precisa;• trabalhar junto aos lí<strong>de</strong>res <strong>de</strong>grupos: os lí<strong>de</strong>res já possu<strong>em</strong> aconfiança do grupo. Portanto, seestes conhecer<strong>em</strong> e adotar<strong>em</strong> asnovas tecnologias, será mais fácila a<strong>de</strong>são dos d<strong>em</strong>ais agricultores.As li<strong>de</strong>ranças ag<strong>em</strong> comomultiplicadores <strong>de</strong> novas idéiase tecnologias.24


<strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> <strong>agroflorestais</strong> <strong>em</strong> <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reforma agráriaJefferson F. LimaA cooperação técnica com o Parque Estadualgarante suprimento contínuo <strong>de</strong> mudas paraimplantação dos sist<strong>em</strong>as <strong>agroflorestais</strong>Condições para o <strong>de</strong>senvolvimento do projetoAexistência <strong>de</strong> uma cooperaçãotécnica entre o IPÊ e o ParqueEstadual Morro do Diabo t<strong>em</strong> funcionadocomo a gran<strong>de</strong> alavanca do ProjetoAbraço Ver<strong>de</strong>. O viveiro agroflorestalrecém instalado no Parque Estadual t<strong>em</strong>suprido <strong>de</strong> maneira contínua e não burocráticaa d<strong>em</strong>anda por mudas necessáriasà implantação dos módulos <strong>agroflorestais</strong>.Existe também na região umconvênio oficial firmado entre o IPÊ e aCocamp/MST. Por meio <strong>de</strong>ste convêniosão prestados serviços técnicos compl<strong>em</strong>entaresàs ativida<strong>de</strong>s do projeto, umavez que nesta parceria estão diversosprofissionais com experiência <strong>em</strong> ativida<strong>de</strong>ss<strong>em</strong>elhantes às aqui propostas. ACocamp t<strong>em</strong> três técnicos <strong>de</strong> nível superior,além <strong>de</strong> sete extensionistas <strong>de</strong>campo e uma infra-estrutura já organizadapara prestar serviços agronômicos<strong>em</strong> campo. O constante contato entreos técnicos da Cocamp e os do IPÊ é maisuma condição favorável para os freqüentesajustes no projeto.A necessida<strong>de</strong> do cumprimento dasleis ambientais e das normas do InstitutoNacional <strong>de</strong> Colonização e Reforma25


<strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> <strong>agroflorestais</strong> <strong>em</strong> <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reforma agráriaAgrária – Incra, que obrigam os projetos<strong>de</strong> assentamento rural ter<strong>em</strong> no mínimo20% <strong>de</strong> sua área ocupada com plantiosflorestais para fins sociais, econômicose/ou ecológicos, é também uma das principaiscondições externas positivas ao<strong>de</strong>senvolvimento do projeto. Essas <strong>de</strong>terminaçõeslegais serv<strong>em</strong> para fortaleceras intenções dos assentados rurais, b<strong>em</strong>como das instituições participantes <strong>em</strong>estabelecer módulos <strong>agroflorestais</strong> nasproprieda<strong>de</strong>s.26


<strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> <strong>agroflorestais</strong> <strong>em</strong> <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reforma agráriaJefferson F. LimaCulturas anuais e espécies exóticas <strong>de</strong> valorcomercial, como o eucalipto, compõ<strong>em</strong> ossist<strong>em</strong>as junto com espécies florestais nativasLições aprendidas até o momentoAs ativida<strong>de</strong>s realizadas até omomento conduziram às seguintesaprendizagens:• é necessário um planejamentocuidadoso do cronograma <strong>de</strong> saídadas mudas do viveiro para ocampo, para que isto ocorra noperíodo chuvoso (nov<strong>em</strong>bro a fevereiro);• algumas espécies não são b<strong>em</strong>aceitas pelos assentados, seja porcrendices ou por falta <strong>de</strong> informação.Isto d<strong>em</strong>anda dos extensionistasmaiores esclarecimentossobre as vantagens <strong>de</strong> usá-las;• a aproximação com a comunida<strong>de</strong><strong>de</strong>ve basear-se <strong>em</strong> amiza<strong>de</strong>,carisma e, principalmente,<strong>em</strong> credibilida<strong>de</strong> e confiança. Oassentado <strong>de</strong>ve participar ativamentedas discussões, pois o<strong>em</strong>po<strong>de</strong>ramento da comunida<strong>de</strong>é garantia da continuida<strong>de</strong> dosmo<strong>de</strong>los <strong>agroflorestais</strong> mesmoapós o término do projeto. A conservaçãoda natureza só será possívelse as pessoas se sentir<strong>em</strong>capazes <strong>de</strong> realizar algo;• os assentados são receptivos àsnovas idéias e propostas, apesar27


<strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> <strong>agroflorestais</strong> <strong>em</strong> <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reforma agráriada resistência às mudanças, natural<strong>em</strong> comunida<strong>de</strong>s rurais s<strong>em</strong>experiência e cultura agroflorestal;• são necessárias qualida<strong>de</strong>scomo paciência, persistência epresença constante, pois este éum trabalho <strong>de</strong> longo prazo <strong>em</strong>um assentamento com diferentesrealida<strong>de</strong>s, origens e ambições;• a mulher, na maioria dos casos,participa amplamente das ativida<strong>de</strong>s<strong>agroflorestais</strong>;• os módulos <strong>agroflorestais</strong> somentesão implantados se estiver<strong>em</strong>associados a, pelo menos,uma espécie <strong>de</strong> valor econômico,como por ex<strong>em</strong>plo, eucaliptoe café;• <strong>de</strong>ve-se trabalhar junto aos lí<strong>de</strong>res<strong>de</strong> grupos, fazendo com queestes se torn<strong>em</strong> diss<strong>em</strong>inadores<strong>de</strong> idéias;• a visita aos módulos <strong>agroflorestais</strong>já implantados e que apresentamresultados satisfatórios éuma das melhores maneiras <strong>de</strong>convencer a população a adotara prática agroflorestal.Dificulda<strong>de</strong>s encontradasEntre as aprendizagens propociadaspelo Projeto estão também alguns obstáculosà consecução dos objetivos. Entreeles, pod<strong>em</strong>os citar:• oscilações climáticas, principalmentegeadas, que dificultam aadoção da prática agroflorestal;• o controle <strong>de</strong> pragas, principalmente<strong>de</strong> formigas. Procuramosminimizar este probl<strong>em</strong>a com ofornecimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>fensivos agrícolase plantio <strong>de</strong> espécies repelentes;• inexistência <strong>de</strong> referências convincentes(estudos e sist<strong>em</strong>as<strong>agroflorestais</strong>) para os agricultoresna região;• parcerias <strong>em</strong> que as instituiçõesd<strong>em</strong>onstram dificulda<strong>de</strong> <strong>em</strong> trabalharjuntas, mesmo <strong>em</strong> projetoss<strong>em</strong>elhantes e com o mesmopúblico;• o fato <strong>de</strong> muitos assentados, parasobreviver, prestar<strong>em</strong> serviços<strong>em</strong> lotes vizinhos, s<strong>em</strong> dispor <strong>de</strong>t<strong>em</strong>po para cuidar atenciosamentedo seu próprio lote.28


<strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> <strong>agroflorestais</strong> <strong>em</strong> <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reforma agráriaJefferson F. LimaA intensa relação entre técnicos, pesquisadores eassentados propicia o surgimento <strong>de</strong> novospadrões <strong>de</strong> comportamentoConclusões sobre as ações coletivasdo projetoAs ativida<strong>de</strong>s realizadas até omomento permit<strong>em</strong> elaboraralgumas conclusões parciais sobre a realida<strong>de</strong>dos <strong>assentamentos</strong> e sua relaçãocom o Parque Estadual Morro do Diabo.A primeira <strong>de</strong>las é que a intensarelação entre técnicos, pesquisadores eassentados está levando ao surgimento<strong>de</strong> uma racionalida<strong>de</strong> social e ambientalcom novas normas <strong>de</strong> comportamento.Isto influencia a maneira como cadaum <strong>de</strong>sses atores visualiza a própriaação. Os assentados começam a enxergarnos ambientalistas (e na própria natureza,por conseqüência) não mais umentrave às suas ativida<strong>de</strong>s, mas uma possibilida<strong>de</strong><strong>de</strong> alcançar melhores resultadosindividuais e coletivos.Os ambientalistas, por sua vez, começama compreen<strong>de</strong>r que existe umenorme potencial <strong>de</strong> conservação se osassentados participam das <strong>de</strong>cisões sobreo futuro das florestas da região. Seantes enxergavam nessas comunida<strong>de</strong>sum perigo para a manutenção da integrida<strong>de</strong>das florestas, agora conceb<strong>em</strong>os assentados como importantes aliadosda conservação ambiental.29


<strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> <strong>agroflorestais</strong> <strong>em</strong> <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reforma agráriaPara o movimento social, as ativida<strong>de</strong>sambientais promov<strong>em</strong> ganhos <strong>em</strong>qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, que é, <strong>em</strong> última instância,o seu objetivo principal. Ou seja,tiram os agricultores s<strong>em</strong> terra da exclusão,inserindo-os <strong>em</strong> um ambiente capaz<strong>de</strong> lhes garantir melhores condições<strong>de</strong> vida. Como muitas ativida<strong>de</strong>s são realizadas<strong>de</strong> forma coletiva, o movimentosocial vislumbra nestas uma aprendizag<strong>em</strong>para a ação cooperativa que po<strong>de</strong>ser utilizada <strong>em</strong> outras ações, não só econômicas,mas também políticas.A experimentação <strong>de</strong> técnicas menosimpactantes do ponto <strong>de</strong> vista ambiental,abre caminho para a experimentação<strong>de</strong> outras técnicas, como a produçãoorgânica <strong>de</strong> alimentos ou o controlebiológico <strong>de</strong> invasoras e pragas da lavoura.Gradualmente percebe-se que acrença segundo a qual só se consegueproduzir com a utilização dos recursosda mo<strong>de</strong>rna indústria química e mecânica,geralmente inacessíveis às suascondições, vai aos poucos sendo <strong>de</strong>ixada<strong>de</strong> lado. Em um dos s<strong>em</strong>inários <strong>de</strong>troca <strong>de</strong> experiência, os assentados foramcapazes <strong>de</strong> elencar seis maneiras <strong>de</strong>controlar formigas s<strong>em</strong> o uso <strong>de</strong> inseticidas.Outra conclusão a que se chega éque, se num primeiro momento foi necessárioo estímulo <strong>de</strong> um agente externoao assentamento para iniciar a discussãosobre a questão ambiental, aospoucos os assentados vão ganhandomaior autonomia neste terreno. Uma vezque o seu conhecimento é valorizado,eles sent<strong>em</strong>-se encorajados a diss<strong>em</strong>inarpara outros <strong>assentamentos</strong> as idéias <strong>de</strong>conservação, por meio <strong>de</strong> visitas <strong>de</strong> outrosgrupos às áreas já implantadas. Conformesintetizado por Beduschi (2001),essa <strong>em</strong>ancipação po<strong>de</strong> ser a garantia<strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> do processo que está<strong>em</strong> curso, e <strong>de</strong>ve ser cada vez mais estimuladapelos pesquisadores e técnicosdas organizações envolvidas.30


<strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> <strong>agroflorestais</strong> <strong>em</strong> <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reforma agráriaJefferson F. LimaO compromisso da família assentada aumenta namesma medida do investimento <strong>em</strong> trabalho querealizaConsi<strong>de</strong>rações e recomendações finaisAprimeira constatação é <strong>de</strong> quevários dos assentados já dominamas técnicas <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> mudas<strong>agroflorestais</strong> e incorporam conceitos eprincípios no seu cotidiano. Se é um fatoque as mudas estão sendo implantadase cuidadas pelos assentados, é fato tambémque o comprometimento aumentana medida dos investimentos que cadafamília realiza, conforme se po<strong>de</strong> constatarnesses primeiros meses <strong>de</strong> implantação.Isto é, quanto maior o investimento,principalmente <strong>de</strong> trabalho, maior éo grau <strong>de</strong> compromisso com a questãoambiental nos <strong>assentamentos</strong>.Gostaríamos <strong>de</strong> frisar que a construção<strong>de</strong> novas instituições para a conservaçãoda natureza numa realida<strong>de</strong> tãocomplexa como a do Pontal do Paranapan<strong>em</strong>aexige um freqüente esforço <strong>de</strong>diálogo e negociação envolvendo todosos atores sociais <strong>de</strong> alguma maneira relacionadosà probl<strong>em</strong>ática ambiental naregião, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as organizações <strong>de</strong> assentados,passando pelo Estado e chegandoàs famílias.A continuação dos trabalhos atualmente<strong>de</strong>senvolvidos no Projeto AbraçoVer<strong>de</strong> po<strong>de</strong> representar o possível elo <strong>de</strong>ligação entre a conservação <strong>de</strong> ecossis-31


<strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> <strong>agroflorestais</strong> <strong>em</strong> <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reforma agráriat<strong>em</strong>as e uma nova postura <strong>de</strong> atuaçãodos envolvidos com a reforma agrária <strong>em</strong>nosso país. As ações <strong>de</strong>senvolvidas apresentamum caráter d<strong>em</strong>onstrativo inovador,pioneiro e com gran<strong>de</strong> potencialmultiplicador para o Pontal do Paranapan<strong>em</strong>ae d<strong>em</strong>ais regiões brasileiras.Por último, gostaríamos <strong>de</strong> ofereceralgumas recomendações para qu<strong>em</strong><strong>de</strong>seja o sucesso <strong>em</strong> trabalhos que envolv<strong>em</strong>a colaboração <strong>de</strong> várias partesinteressadas:• reconheça, que muitas vezes, asparcerias ocorr<strong>em</strong> entre pessoase não entre instituições;• mobilize suporte e recursos <strong>de</strong>diversas fontes;• prossiga s<strong>em</strong>pre com <strong>de</strong>terminaçãoe comportamento pro-ativo;• s<strong>em</strong>pre estimule o senso <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>e compromissonas partes e/ou indivíduos envolvidos;• crie novas oportunida<strong>de</strong>s para ainteração entre as partes envolvidas;• <strong>de</strong>senvolva um processo <strong>de</strong> colaboraçãoque tenha um significadocomum, que seja objetivo,efetivo e duradouro, mantidos<strong>em</strong>pre por uma forte relação <strong>de</strong>confiança entre as partes e/ouindivíduos envolvidos.32


Bibliografia recomendada<strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> <strong>agroflorestais</strong> <strong>em</strong> <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reforma agráriaBEDUSCHI FILHO, L. C. 2001. Socieda<strong>de</strong>, natureza e reforma agrária: <strong>assentamentos</strong> e unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação.Relatório Científico Parcial (FAPESP).BUDOWSKI, G. 1985. Aplicabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> los sist<strong>em</strong>as agroflorestales. Venezuela Forestal, v.8, n.2, p.2-14.BUNCH, R. 1994. Duas espigas <strong>de</strong> milho: uma proposta <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento agrícola participativo. Rio <strong>de</strong> Janeiro:AS-PTA. 221p.CULLEN Jr., L. 2000. “Pontal do Paranapan<strong>em</strong>a: reforma agrária com conservação”. <strong>Ciência</strong> Hoje, v.28, n.164,p.68-71.CULLEN Jr., L.; BEDUSCHI FILHO, L.C. & RODRIGUES, F.Q. 1999. “Reforma Agrária com Reforma Agroecológica”.Boletim Agroecológico, ano III, n. 14, p. 8-9.DUBOIS, J.C.L. 1989. Agroflorestas: uma alternativa para o <strong>de</strong>senvolvimento rural sustentado. Informativo Agroflorestal,REBRAF, v.1, n.4, p. 1-7.LEITE, J.F. 1998. A ocupação do Pontal do Paranapan<strong>em</strong>a. São Paulo: Hucitec, Fundação UNESP.LIMA, W.P. 1983. Impacto ambiental do eucalipto. São Paulo: ED<strong>USP</strong>. 301p.NAIR, P.K.R. 1985. “Classification of agroforestry syst<strong>em</strong>s”. Agroforestry Syst<strong>em</strong>s, Dordrecht, v.3, p. 97-128.NAIR, P.K.R. 1984. “Soil produtivity aspects of agroforestry”, Science and Practice of Agroforestry, Nairobi, n.1,ICRAF. 85p.OTS/CATIE 1986. <strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> Agroforestales: principios y aplicaciones <strong>em</strong> los tropicos. San Jose: Organización paraEstudios Tropicales/CATIE. 818p.REIJTJES, B.; HAVERKORT, B. & WATERSBAYER, A. 1994. Agricultura para o futuro: uma introdução à agriculturasustentável e <strong>de</strong> baixo uso <strong>de</strong> insumos externos. Rio <strong>de</strong> Janeiro: AS-PTA. 324p.WONDOLEECK, J. M. & YAFFEE, S. L. 2000. Making collaboration work: lessons from innovation in naturalresource manag<strong>em</strong>ent. Island Press, Washington, DC. 276 p.33


34<strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> <strong>agroflorestais</strong> <strong>em</strong> <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reforma agrária


<strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> <strong>agroflorestais</strong> <strong>em</strong> <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reforma agráriaTerra Viva:Meio ambiente ereforma agrária naCosta do DescobrimentoAcervo Terra VivaPlantio <strong>de</strong> mudas na área comunitária doAssentamento Riacho das Ostras, no sul da BahiaAntônio <strong>de</strong> Barros AssumpçãoAgrônomo, coor<strong>de</strong>nador do Terra Viva<strong>de</strong> set<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1995 a set<strong>em</strong>bro do 200035


<strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> <strong>agroflorestais</strong> <strong>em</strong> <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reforma agráriaAcervo Terra VivaA incorporação <strong>de</strong> técnicas agroecológicas pelasfamílias assentadas começou como uma longaaprendizag<strong>em</strong>, iniciada <strong>em</strong> 1992 e que seintensificou com o projeto financiado pelo PDAIntrodução36Adiss<strong>em</strong>inação e a adoção <strong>em</strong> larga escala <strong>de</strong>sist<strong>em</strong>as agroecológicos <strong>de</strong> produção nas áreas <strong>de</strong>reforma agrária da Costa do Descobrimento, no sul da Bahia,são condições para a sustentabilida<strong>de</strong> dos <strong>assentamentos</strong> e paraa manutenção das famílias na ativida<strong>de</strong> agrícola. Significa tambéma chance <strong>de</strong> preservar importantes r<strong>em</strong>anescentes <strong>de</strong> MataAtlântica no entorno dos <strong>assentamentos</strong>, <strong>em</strong> sua maior parteincluídos nos Parques Nacionais do Descobrimento, MontePascoal e Pau Brasil.Os r<strong>em</strong>anescentes florestais <strong>de</strong> Mata Atlântica no interiordos <strong>assentamentos</strong> sofr<strong>em</strong> gran<strong>de</strong> pressão <strong>de</strong> uso por agricultoreseconomicamente fragilizados e socialmente excluídos. Ad<strong>em</strong>anda por novas terras para a agricultura torna-se permanentepor causa <strong>de</strong> tecnologias e procedimentos que <strong>de</strong>gradamos agroecossist<strong>em</strong>as e pela predominância <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s


<strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> <strong>agroflorestais</strong> <strong>em</strong> <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reforma agráriaque não geram renda satisfatória para asfamílias. Os r<strong>em</strong>anescentes florestais,ainda que protegidos por lei, são progressivamenteocupados e incorporadosaos sist<strong>em</strong>as produtivos.O uso do fogo também é práticausual, especialmente na pecuária e nasmonoculturas. Este procedimento é oprincipal gerador <strong>de</strong> “queimadas aci<strong>de</strong>ntais”que <strong>de</strong>stró<strong>em</strong> importantes áreasprotegidas, com perdas irreparáveis paraa biodiversida<strong>de</strong>. Os sist<strong>em</strong>as agroecológicos,ao contrário, mantêm os recursosdos agroecossist<strong>em</strong>as e prescind<strong>em</strong>do uso do fogo. Se adotados <strong>em</strong> largaescala, reduz<strong>em</strong> enorm<strong>em</strong>ente a pressãosobre os r<strong>em</strong>anescentes florestais.Trajetória do projetoAs ações do Terra Viva na regiãoforam iniciadas <strong>em</strong> 1992 com a missão<strong>de</strong> contribuir com o fortalecimento daagricultura familiar por meio do <strong>de</strong>senvolvimento<strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as agroecológicos<strong>de</strong> produção e <strong>de</strong> preservação ambiental.O exercício do fazer concreto juntocom agricultores e agricultoras permitiuacumular conhecimentos e lições estratégicas,num processo construído continuamente,que incluiu também erros einsucessos.Em 1996, tiv<strong>em</strong>os aprovado umprojeto no PDA/PPG7, <strong>de</strong>nominado <strong>Sist<strong>em</strong>as</strong>Sustentáveis <strong>de</strong> Produção Agrícolae <strong>de</strong> Preservação Ambiental <strong>em</strong> Áreas<strong>de</strong> Reforma Agrária. Embora tenhamoscontado com apoio <strong>de</strong> importantes parceirosao longo do projeto, a participaçãodo PDA foi <strong>de</strong>cisiva para orientar aconstrução da matriz <strong>de</strong> planejamentodas ações executadas pelo Terra Viva.Com este artigo, pretend<strong>em</strong>os socializaros aspectos relevantes da execução<strong>de</strong> projetos envolvendo a geração<strong>de</strong> novos conhecimentos e o <strong>de</strong>senvolvimento<strong>de</strong> processos <strong>de</strong> mudança nossist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> produção da agricultura familiarno extr<strong>em</strong>o sul da Bahia. Nosso<strong>de</strong>sejo é d<strong>em</strong>onstrar a relevância <strong>de</strong>staabordag<strong>em</strong> para a consecução dos objetivosdo PDA <strong>de</strong> “conservar a biodiversida<strong>de</strong>,reduzir as <strong>em</strong>issões <strong>de</strong> carbonoe promover maior conhecimento <strong>de</strong>ativida<strong>de</strong>s sustentáveis nas florestas tropicais”.Na primeira parte apresentamos ocontexto socioambiental da região-foco<strong>de</strong> nosso trabalho, a planície litorâneado extr<strong>em</strong>o sul da Bahia, no núcleo daCosta do Descobrimento. A seguir, <strong>de</strong>screv<strong>em</strong>osos el<strong>em</strong>entos estratégicos <strong>em</strong>etodológicos <strong>de</strong>senvolvidos, assimcomo os principais resultados alcançados<strong>em</strong> nosso projeto, executado comagricultores e agricultoras do assentamentoRiacho das Ostras, no municípiodo Prado, vizinho ao Parque Nacionaldo Descobrimento. Na terceira parteapresentamos alguns t<strong>em</strong>as centrais naconsecução <strong>de</strong> nossos objetivos e sobreos quais acreditamos possam assentar osprincipais <strong>de</strong>safios para a construção <strong>de</strong>um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento regionalsustentável.37


<strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> <strong>agroflorestais</strong> <strong>em</strong> <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reforma agráriaContexto socioambientalCenário típico da região: pastagens <strong>de</strong>gradadasexerc<strong>em</strong> pressão sobre os r<strong>em</strong>anescentes florestaisACosta do Descobrimento possuisingularida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>correntesdos processos históricos. A região foiocupada <strong>de</strong>s<strong>de</strong> períodos im<strong>em</strong>oriais porancestrais dos grupos indígenas tupi praieirose tapuias. Estes, com suas com váriasetnias (botocudo, pataxó e maxacali)já viviam nesse local quando chegaramos portugueses.Com a chegada dos colonizadoresocorre a extração do pau-brasil, iniciandoo primeiro ciclo <strong>de</strong> exploração predatóriada região. O insucesso da ocupaçãono período posterior é atribuídoa uma associação <strong>de</strong> entraves para a implantaçãodos engenhos e fazendas <strong>de</strong>cana-<strong>de</strong>-açúcar. Isto fez com que osecossist<strong>em</strong>as locais se mantivess<strong>em</strong> <strong>em</strong>elevado grau <strong>de</strong> preservação durante operíodo colonial.Durante o Império, a ocupaçãoocorreu lentamente <strong>em</strong> poucas vilas dolitoral. A interiorização <strong>de</strong>u-se às margensdos principais rios com uma agriculturafamiliar envolvendo diferentespovos indígenas, negros fugitivos da escravidão,negros libertos e brancos pobres.Essas características mantiveram aregião à marg<strong>em</strong> dos gran<strong>de</strong>s ciclos daeconomia nacional e permitiram a manutenção<strong>de</strong> um enorme r<strong>em</strong>anescenteflorestal até meados do século XX.38


<strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> <strong>agroflorestais</strong> <strong>em</strong> <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reforma agráriaAcervo Terra Viva39


<strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> <strong>agroflorestais</strong> <strong>em</strong> <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reforma agráriaA partir dos anos 1950, inicia-se umnovo ciclo <strong>de</strong> ocupação regional. O <strong>de</strong>smatamentonesse período <strong>de</strong>correu daexpansão da pecuária extensiva já implantada<strong>em</strong> Minas Gerais e no norte doEspírito Santo, caracterizando-se pelaexploração seletiva <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira. Apenasos gran<strong>de</strong>s jacarandás eram aproveitadose a mata sofria freqüentes queimadas.Gradualmente outras ma<strong>de</strong>iras foramadquirindo valor <strong>de</strong> mercado e aabertura da rodovia BR-101, que liga oNor<strong>de</strong>ste aos estados do Sul e Su<strong>de</strong>ste,permitiu a expansão da ativida<strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ireiraque já vinha <strong>de</strong>struindo o norte doEspírito Santo.A integração com a socieda<strong>de</strong> nacionalproduziu um profundo impactonas comunida<strong>de</strong>s tradicionais. A valorizaçãoda terra transformou a lógica daocupação territorial indígena e das centenas<strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> agricultores.Surg<strong>em</strong> os primeiros conflitos e iniciaseo processo <strong>de</strong> expulsão e esvaziamentoda zona rural, tendência dominantenas décadas seguintes.Durante os anos 1970, este processose acelerou, <strong>de</strong>slocando os pólos <strong>de</strong>crescimento urbano para o eixo da rodovia.Em poucos anos, pequenas cida<strong>de</strong>se distritos, como Eunápolis, Teixeira<strong>de</strong> Freitas e Itabela tornaram-se gran<strong>de</strong>saglomerados humanos <strong>em</strong> torno das centenas<strong>de</strong> serrarias que se instalaram naregião.O esgotamento dos recursos, ocorridona década <strong>de</strong> 1980, levou as <strong>em</strong>presasma<strong>de</strong>ireiras a se <strong>de</strong>slocar paranovas frentes <strong>de</strong> <strong>de</strong>smatamento. Atualmente,a maioria atua na Amazônia,principalmente no estado do Pará. O rápido<strong>de</strong>clínio da ativida<strong>de</strong> criou umagran<strong>de</strong> instabilida<strong>de</strong> social nesses centrosurbanos. A crise <strong>de</strong> trabalho gerouum gran<strong>de</strong> contingente <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>pregadose o crescimento da miséria. Nestecontexto se iniciou a luta pela reformaagrária.A reforma agrária na regiãoOs sindicatos <strong>de</strong> trabalhadores ruraise, <strong>em</strong> seguida, o Movimento dos S<strong>em</strong>Terra - MST, passam a mobilizar a população,organizando gran<strong>de</strong>s ocupações,principalmente na planície litorânea,on<strong>de</strong> se concentravam latifúndios improdutivosaptos para reforma agrária.Com a região integrada ao crescimentonacional, muitos e novos atoresse inser<strong>em</strong> na dinâmica e conflituosaocupação da terra: as indústrias <strong>de</strong> celulose,as ativida<strong>de</strong>s associadas ao turismoe as <strong>em</strong>presas agrícolas produtoras<strong>de</strong> mamão e café. A ativida<strong>de</strong> econômicapredominante continua a ser a pecuáriaextensiva, que ocupa cerca <strong>de</strong> 70%do total da área da região.Nos anos recentes, o cenário t<strong>em</strong>se tornado mais favorável para a manutençãodos r<strong>em</strong>anescentes florestais edos ecossist<strong>em</strong>as associados. Emboranão se tenha revertido o atual quadro <strong>de</strong><strong>de</strong>gradação, o crescimento das ações regionais,nacionais e internacionais re-40


<strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> <strong>agroflorestais</strong> <strong>em</strong> <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reforma agráriadundaram <strong>em</strong> atitu<strong>de</strong>s concretas para<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r os r<strong>em</strong>anescentes da MataAtlântica do sul da Bahia.A região ganhou status <strong>de</strong> PatrimônioMundial e priorida<strong>de</strong> para uma açãointegrada <strong>de</strong> políticas públicas, com ênfasena preservação do meio ambiente.Foi realizado um plano <strong>de</strong> ação coor<strong>de</strong>nadopelo Ministério do Meio Ambiente- MMA, dos quais algumas foram ou estãosendo viabilizadas, <strong>em</strong>bora não noritmo e com os recursos necessários.Exist<strong>em</strong> gran<strong>de</strong>s d<strong>em</strong>andas <strong>de</strong> apoio ao<strong>de</strong>senvolvimento sustentável e à preservaçãonos <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reformaagrária e nas al<strong>de</strong>ias pataxó, além <strong>de</strong>estruturação e gestão dos parques nacionaise da implantação da ReservaExtrativista Marinha do Corumbau. Háainda gran<strong>de</strong> necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se <strong>de</strong>senvolverprogramas <strong>de</strong> educaçãoambiental para todos os atores sociaisque interag<strong>em</strong> na região.Indígenas no centro do cenárioA questão indígena ocupa hoje ocentro do cenário no núcleo da área. Ospataxó d<strong>em</strong>onstram uma enorme capacida<strong>de</strong><strong>de</strong> resistência étnica e cultural eviv<strong>em</strong> um processo <strong>de</strong> reagregação ecrescimento populacional. Nos últimosanos ocorreram algumas “retomadas” <strong>de</strong>território indígena, eventos que marcaramespecialmente as proximida<strong>de</strong>s dosquinhentos anos <strong>de</strong> Brasil. Em agosto <strong>de</strong>1999 ocorreu a retomada do MontePascoal, situação que permanece in<strong>de</strong>finidaaté o momento. Mais tensa está arelação com os fazen<strong>de</strong>iros, alguns dosquais se utilizam <strong>de</strong> violência para coibira ação indígena.A ocupação da terra torna a regiãoum gran<strong>de</strong> palco <strong>de</strong> conflitos entre osatores sociais: s<strong>em</strong>-terra versus latifundiários,índios versus fazen<strong>de</strong>iros, Ibamaversus índios, índios versus s<strong>em</strong>-terra.A conformação <strong>de</strong>finitiva da posse daterra atualmente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>em</strong> gran<strong>de</strong>parte da d<strong>em</strong>arcação e reacomodaçãodos pataxó, situação que po<strong>de</strong> se prolongarainda por muitos anos.As áreas estratégicas mínimas possíveispara conservação estão <strong>de</strong>finidas.Foram criados dois parques nacionaisnos dois últimos gran<strong>de</strong>s r<strong>em</strong>anescentes<strong>de</strong> Mata Atlântica ainda não protegidos.A área do Parque Nacional do MontePascoal <strong>de</strong>verá ser preservada in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>enteda <strong>de</strong>finição <strong>de</strong>ste litígio.Estas áreas formam uma espécie <strong>de</strong> mosaico,alternando-se principalmente comos <strong>assentamentos</strong> e as al<strong>de</strong>ias dos municípiosdo Prado e Porto Seguro. Os moradoresdo entorno são atores <strong>de</strong>cisivosno que ocorre <strong>de</strong> <strong>de</strong>struição ou preservaçãoambiental.A maior ameaça aos gran<strong>de</strong>s r<strong>em</strong>anescentese a áreas menores <strong>de</strong> matassecundárias dispersas na paisag<strong>em</strong> é ouso do fogo, prática comum a muitossist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> produção e que acelera a<strong>de</strong>gradação dos agroecossist<strong>em</strong>as.41


<strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> <strong>agroflorestais</strong> <strong>em</strong> <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reforma agrária42Situação inicial do projetoEm 1995, o Terra Viva, <strong>em</strong> parceriacom uma articulação <strong>de</strong> 14 sindicatos<strong>de</strong> trabalhadores rurais, realizou pesquisaregional sobre a agricultura familiar.Este diagnóstico foi muito importantepara <strong>de</strong>finir estratégias para o planejamentodo último qüinqüênio do séculoXX. Neste trabalho, visitamos 19 áreas<strong>de</strong> reforma agrária existentes na região,incluindo <strong>assentamentos</strong> regularizadospelo Incra e áreas ainda s<strong>em</strong> a <strong>em</strong>issão<strong>de</strong> posse, mas cuja ocupação já estavaconsolidada.Realizamos <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> reuniões,caminhadas <strong>de</strong> observação das localida<strong>de</strong>se aplicamos cerca <strong>de</strong> mil questionários<strong>em</strong> entrevistas familiares. Levantamosdados sobre a família, sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong>produção, comercialização e renda,infra-estrutura local e acesso a políticaspúblicas, participação <strong>em</strong> organizaçõese outras informações compl<strong>em</strong>entares.Após este trabalho, acompanhamos o<strong>de</strong>senvolvimento local <strong>de</strong> algumas árease iniciamos a execução do projetoPDA no Assentamento Riacho das Ostras,além <strong>de</strong> projetos menores com famílias<strong>de</strong> outros <strong>assentamentos</strong>.Com exceção do AssentamentoVale Ver<strong>de</strong>, as d<strong>em</strong>ais áreas nasceram<strong>de</strong> ocupações organizadas pelos sindicatosdos trabalhadores e pelo MST entre1986 e 1991. Após esse período, asocupações se reduziram, mas várias outrasáreas foram incorporadas à reformaagrária por meio do programa Cédula daTerra.O modo <strong>de</strong> ocupação das áreas <strong>de</strong>reforma agrária <strong>de</strong>terminou a implantação<strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as produtivos com baixasustentabilida<strong>de</strong> ambiental, social e econômicaque colocam <strong>em</strong> permanenterisco os r<strong>em</strong>anescentes florestais aindapresentes na região.Uma questão com a qual nos <strong>de</strong>paramos<strong>em</strong> vários <strong>assentamentos</strong> comaté <strong>de</strong>z anos <strong>de</strong> existência foi o baixograu <strong>de</strong> estruturação social. O associativismoainda não foi plenamente incorporadona vida social, seja pela falta <strong>de</strong>estruturas comunitárias, seja por causados frágeis vínculos culturais e afetivosentre as pessoas e das pessoas com a terra.São profundas as diferenças <strong>em</strong> relaçãoa uma comunida<strong>de</strong> tradicional <strong>de</strong>agricultura familiar. A socieda<strong>de</strong>, ainda<strong>em</strong> formação, não está conseguindoestruturar os sist<strong>em</strong>as produtivos, gerandouma situação crítica <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong>.A ineficácia e a lentidão na execução<strong>de</strong> políticas públicas que propiciass<strong>em</strong>condições favoráveis para o <strong>de</strong>senvolvimentolocal <strong>de</strong>sses <strong>assentamentos</strong>foram <strong>de</strong>terminantes para a instalação <strong>de</strong>processos com gran<strong>de</strong>s probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong>sustentabilida<strong>de</strong> e geradores <strong>de</strong> fortesimpactos ambientais.Somente <strong>em</strong> anos recentes, o Estadopassou a operar realmente nas áreas.Provocou uma mudança no cenário daprodução, com a liberação <strong>de</strong> créditoindividual e comunitário, alguma assistênciatécnica e a implantação <strong>de</strong> infra-


<strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> <strong>agroflorestais</strong> <strong>em</strong> <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reforma agráriaestrutura local, como escolas, estradas eenergia elétrica. O modo como essasoperações foram realizadas provocounovos impactos no ambiente. Houveuma gran<strong>de</strong> uniformização nos projetosindividuais, priorizando-se a pecuária.Nesses projetos o sonho <strong>de</strong> muitos assentados<strong>de</strong> ter o seu rebanho convergiucom o projeto associativo da CooperativaCentral <strong>de</strong> Produção <strong>de</strong> Leite eDerivados.Nas áreas <strong>de</strong> reforma agrária doextr<strong>em</strong>o sul predominam os parcelamentos<strong>em</strong> lotes individuais/familiares. Cadafamília é assentada <strong>em</strong> lotes com área<strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 25 hectares. A principal regraque orienta o parcelamento é a disponibilida<strong>de</strong><strong>de</strong> água no maior percentualpossível <strong>de</strong> lotes. Os el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong>relevo da planície litorânea são achapada, plana ou suav<strong>em</strong>ente ondulada,recortada geograficamente por umare<strong>de</strong> pluvial predominante no sentidoOeste-Leste. Depen<strong>de</strong>ndo da vazão dosrios e bacias, que é <strong>em</strong> geral pequena,formam-se leitos <strong>em</strong> “V” ou <strong>em</strong> “U” eencostas que variam muito <strong>em</strong> <strong>de</strong>clivida<strong>de</strong>.Na região on<strong>de</strong> predominam os<strong>assentamentos</strong>, a diferença <strong>de</strong> nível entrea chapada e o leito varia <strong>de</strong> 30 a 50metros. O modo como as famílias ocupamessa paisag<strong>em</strong> <strong>de</strong>termina o grau <strong>de</strong>sustentabilida<strong>de</strong> do assentamento, a conservaçãodos recursos hídricos e a preservaçãoda biodiversida<strong>de</strong> presente nosr<strong>em</strong>anescentes da região. A maioria doslotes é composta por uma fatia da área<strong>de</strong> chapada, um recorte <strong>de</strong> encosta e <strong>de</strong>leito <strong>de</strong> água.A água, claro, <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penha um papelessencial na reprodução cotidiana dafamília e nos sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> criação animal.As habitações e quintais ocupam umaárea <strong>de</strong> transição da chapada para a encosta.Há duas opções para o abastecimento<strong>de</strong> água: ou há um <strong>de</strong>slocamentoaté a água, ou a água é elevada mecanicamenteaté a chapada. A elevação mecânicapo<strong>de</strong> ser realizada por sist<strong>em</strong>as<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> fontes externas <strong>de</strong> energia(elétrica ou combustível) ou por sist<strong>em</strong>ashidráulicos (rodas e carneiros).Nos primeiros anos este não era um probl<strong>em</strong>asimples, pois <strong>de</strong>pendia <strong>de</strong> recursose capacida<strong>de</strong> técnica que não foramdisponibilizados pelos órgãos executoresda reforma agrária.Com a predominância dos sist<strong>em</strong>as<strong>de</strong> criação <strong>de</strong> gado, as pastagens ocuparamas encostas e se esten<strong>de</strong>ram até abeira d’água. Os animais têm acesso livreaos cursos d’água, uma prática correnteentre os pecuaristas da região. Oque ocorre nos <strong>assentamentos</strong> é um espelhodo que t<strong>em</strong> ocorrido na região nasúltimas décadas.Um mo<strong>de</strong>lo fadado ao fracassoNão existiram parâmetros ecológicosou orientação legal para o uso daterra e dos recursos naturais disponíveis.Uma boa parte das áreas ocupadas apresentavagran<strong>de</strong> porcentag<strong>em</strong> <strong>de</strong> matas43


<strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> <strong>agroflorestais</strong> <strong>em</strong> <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reforma agráriaAcervo Terra VivaA natureza dá sinais <strong>de</strong> esgotamento: infestação <strong>de</strong>sapé (Imperata brasiliensis) <strong>em</strong> área escolhidacomo prioritária para manejosecundárias <strong>de</strong>gradadas pelo corte seletivoda ma<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> valor comercial.O território do Riacho das Ostrasdispunha <strong>de</strong> 85% da área composta <strong>de</strong>capoeiras <strong>em</strong> estágios avançados e d<strong>em</strong>atas secundárias. A ocupação ocorreu<strong>em</strong> <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1986. Somente na década<strong>de</strong> 1990 o Incra concluiu a regularizaçãodos lotes e conce<strong>de</strong>u acesso acrédito agrícola aos assentados. As famíliaspermaneceram na área, passandoa sobreviver da mata, <strong>de</strong>struindo gradualmenteos recursos ma<strong>de</strong>ireiros. Ama<strong>de</strong>ira que restou foi comercializada,<strong>de</strong>stinou-se à produção <strong>de</strong> estacas paracerca e produziu carvão, maior fonte <strong>de</strong>renda para muitas famílias durante anos.O passo seguinte ao <strong>de</strong>smatamento é aqueimada, para plantio <strong>de</strong> roça ou <strong>de</strong>pastagens.As evidências do fracasso <strong>de</strong>st<strong>em</strong>o<strong>de</strong>lo são apontadas por alguns indicadores<strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> que qualificamosnesse processo, <strong>de</strong>stacando-se osreferentes à dimensão ambiental:• maior parte <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> preservaçãopermanente <strong>de</strong>smatadas ecom <strong>de</strong>stinação agropecuária.Na maioria dos <strong>assentamentos</strong>,gran<strong>de</strong> parte das matas ciliaresfoi <strong>de</strong>struída para a implantaçãodas pastagens;• uso recorrente do fogo e ausên-44


<strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> <strong>agroflorestais</strong> <strong>em</strong> <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reforma agráriacia <strong>de</strong> controle social e <strong>de</strong> fiscalização.Essa prática continuasendo o maior risco para a manutençãodos principais r<strong>em</strong>anescentes<strong>de</strong> Mata Atlântica queestão nas proximida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>assentamentos</strong>;• aumento gradual das áreas <strong>de</strong>gradadaspela agricultura <strong>em</strong>função do t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> ocupação.Durante a pesquisa e <strong>em</strong> nossosacompanhamentos posteriorestornou-se evi<strong>de</strong>nte o ciclo <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradaçãodos lotes individuais.Áreas <strong>de</strong>gradadas pela agricultura,segundo os indicadores dosagricultores, são aquelas <strong>em</strong> queo sapé (Imperata brasiliensis) nasc<strong>em</strong>uito forte e vence a enxada,e a formiga (Atta e Acromirmex)não <strong>de</strong>ixa a mandioca <strong>em</strong> paz.Des<strong>de</strong> 1996, o Terra Viva executa oprojeto Desenvolvimento <strong>de</strong> <strong>Sist<strong>em</strong>as</strong>Sustentáveis <strong>de</strong> Produção Agrícola e PreservaçãoAmbiental <strong>em</strong> Áreas <strong>de</strong> ReformaAgrária, com apoio do PDA/PPG7.No último triênio, o projeto concentrousuas ações no assentamento Riacho dasOstras, no município <strong>de</strong> Prado, vizinhoao Parque Nacional do Descobrimento.No assentamento, criado <strong>em</strong> 1986, viv<strong>em</strong>87 famílias <strong>em</strong> lotes individuais quetêm, <strong>em</strong> média, 23 hectares. A área totaldo assentamento é <strong>de</strong> 2 mil hectares eos assentados provêm da periferia dascida<strong>de</strong>s que se situam à beira da rodoviaBR-101.Este projeto teve como objetivo estratégicoimplantar uma experiência-piloto<strong>em</strong> um assentamento que servissecomo referência <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimentolocal para as d<strong>em</strong>ais áreas <strong>de</strong> reformaagrária, com uma matriz agroecológicae <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> ambiental.As ações executadas <strong>em</strong> parceriacom a associação local do assentamentoRiacho das Ostras <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>aramnovos processos <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> conhecimentos.Houve profundas mudançasnos sist<strong>em</strong>as produtivos para cerca <strong>de</strong> 50famílias <strong>de</strong> assentados, o que acarretoua implantação <strong>em</strong> larga escala <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as<strong>agroflorestais</strong> e também a d<strong>em</strong>arcaçãoe o início <strong>de</strong> recuperação <strong>de</strong> muitasáreas <strong>de</strong> preservação permanente.O projeto articulou múltiplas açõeseducativas, metodologias participativas,acompanhamento técnico, apoio materiale logístico. Proporcionou tambémuma forte apropriação social <strong>de</strong> umanova matriz <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento local.A perspectiva <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> econômicaé assentada <strong>em</strong> estratégias <strong>de</strong> valorizaçãoda produção diversificada dossist<strong>em</strong>as <strong>agroflorestais</strong>. No próximo ano,a produção <strong>de</strong>verá atingir uma escalaque d<strong>em</strong>andará um <strong>em</strong>preendimento comunitárioque viabilize a comercialização<strong>de</strong> produtos agroecológicos. A elaboração<strong>de</strong> um plano <strong>de</strong> negócios e oinício <strong>de</strong> implantação do <strong>em</strong>preendimentoforam priorida<strong>de</strong>s para a continuida<strong>de</strong>do projeto <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimentolocal <strong>em</strong> 2001.45


<strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> <strong>agroflorestais</strong> <strong>em</strong> <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reforma agráriaAcervo Terra VivaA base do trabalho é a participação socialEstratégias e metodologiasNosso trabalho partiu da pr<strong>em</strong>issa<strong>de</strong> que as mudanças nomodo <strong>de</strong> ocupação da paisag<strong>em</strong>, no <strong>de</strong>senvolvimento<strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as agroecológicose <strong>agroflorestais</strong> <strong>de</strong>veriam ser <strong>de</strong>cididaspelos agricultores e agricultoras, ouseja, pelas próprias pessoas que govername executam essas mudanças <strong>em</strong> suaárea <strong>de</strong> domínio, o lote.A questão fundamental <strong>de</strong> nossaestratégia é como operar essas mudançasno nível familiar, convergindo coletivamentepara um plano <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimentolocal que seja sustentável tantodo ponto <strong>de</strong> vista ambiental, quanto sociale econômico.Essas mudanças, como as perceb<strong>em</strong>os,acarretam re-elaborações no conhecimento,no modo <strong>de</strong> pensar, no sist<strong>em</strong>a<strong>de</strong> crenças e valores dos agricultorese agricultoras. São mudanças queoperam no nível dos indivíduos e dasrelações humanas e das relações entreos seres humanos e o meio ambiente.D<strong>em</strong>andam, portanto, t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> acumulaçãopara <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar mudanças tangíveisno ecossist<strong>em</strong>a local.Uma condição essencial para queeste processo se inicie é o <strong>de</strong>sejo d<strong>em</strong>udança. As pessoas têm <strong>de</strong> querermudar; é necessário criar um estado d<strong>em</strong>obilização social e <strong>de</strong> participação efe-46


<strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> <strong>agroflorestais</strong> <strong>em</strong> <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reforma agráriativa para que os sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> produção eo modo <strong>de</strong> ocupação sejam alterados.No caso do Assentamento Riachodas Ostras, a realização do DiagnósticoParticipativo, como meio <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificara situação inicial, foi muito eficaz. Umgrupo muito significativo percebeu clarae coletivamente as dimensões da <strong>de</strong>gradaçãoambiental e a <strong>de</strong>sestruturação<strong>de</strong> seus sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> produção, que sequerchegaram a se consolidar, <strong>de</strong>vidoà baixíssima sustentabilida<strong>de</strong> que apresentavam.Com o grupo mobilizado para operarmudanças significativas <strong>em</strong> seu modo<strong>de</strong> produzir, o <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>amento <strong>de</strong> processosefetivos <strong>de</strong> execução <strong>de</strong>stas mudançasenvolveu inúmeras ativida<strong>de</strong>sarticuladas, vários atores, além <strong>de</strong> parceriaspermanentes e pontuais. A maiorparte do esforço <strong>em</strong>preendido pelo TerraViva baseou-se <strong>em</strong> dois eixos:• <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> processoseducativos e• apoio técnico e logístico para aimplantação <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as <strong>agroflorestais</strong>e <strong>de</strong> preservação permanente.Diagnóstico Participativo <strong>de</strong>Agroecossist<strong>em</strong>asA metodologia do DRPA - DiagnósticoRápido Participativo <strong>de</strong> Agroecossist<strong>em</strong>as,foi um dos ganhos da articulação<strong>em</strong> re<strong>de</strong>. Sist<strong>em</strong>atizada pela AS-PTA- Assessoria e Serviços <strong>em</strong> Projetos <strong>de</strong>Tecnologias, esta metodologia atualmenteé utilizada pelas entida<strong>de</strong>s da re<strong>de</strong> PTApor sua eficácia e efetivida<strong>de</strong> namobilização local para um estudoparticipativo do ambiente, dos sist<strong>em</strong>as<strong>de</strong> produção ou <strong>de</strong> outras t<strong>em</strong>áticas efocos que o grupo se propõe investigar.O princípio metodológico é a organizaçãoe geração participativa doconhecimento. Os procedimentosmetodológicos são orientados para estimulara manifestação <strong>de</strong> cada indivíduoparticipante, consi<strong>de</strong>rando a diversida<strong>de</strong>geracional e <strong>de</strong> gênero.Cada diagnóstico t<strong>em</strong> suas especificida<strong>de</strong>s<strong>de</strong>correntes do contextosocioambiental, do grupo executor e dosobjetivos estabelecidos. Portanto, não épossível consolidar um mo<strong>de</strong>lo metodológico<strong>de</strong>finitivo, mas é útil nos referenciarmosnas experiências acumuladas naaplicação do método.Descrever<strong>em</strong>os brev<strong>em</strong>ente o processorealizado no Assentamento Riachodas Ostras visando proporcionar el<strong>em</strong>entospara a diss<strong>em</strong>inação da metodologia.Trata-se <strong>de</strong> um instrumento muito útilpara a releitura das relações socieda<strong>de</strong>local/meio ambiente, além <strong>de</strong> uma excelenteferramenta <strong>de</strong> mobilização e <strong>de</strong>educação ambiental.O primeiro passo foi montar a equipedo diagnóstico. Esta equipe constituiu-se<strong>de</strong> técnicos do Terra Viva, da Universida<strong>de</strong>Estadual da Bahia - UNEB, edo Centro <strong>de</strong> Pesquisas e Estudos para oDesenvolvimento do Extr<strong>em</strong>o Sul da47


<strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> <strong>agroflorestais</strong> <strong>em</strong> <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reforma agráriaAcervo Terra VivaCena do diagnóstico: agricultores conversam sobreáreas <strong>de</strong> preservação do assentamento48Bahia - Cepe<strong>de</strong>s. Contou também comestagiários da universida<strong>de</strong> e representantesda associação local. Esta equipe<strong>de</strong>finiu os roteiros, coor<strong>de</strong>nou a aplicaçãodas técnicas, analisou e sist<strong>em</strong>atizouas informações obtidas com a aplicaçãodas técnicas.Os eixos t<strong>em</strong>áticos <strong>de</strong>finidos noDRPA do assentamento foram:• história do assentamento;• população e cultura;• paisag<strong>em</strong>;• sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> agricultura;• sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> criação animal;• economia e mercado;• educação e cultura.Como se po<strong>de</strong> ver, trata-se <strong>de</strong> umroteiro amplo que conduz a um primeirorisco: <strong>de</strong> o grupo se per<strong>de</strong>r <strong>em</strong> ummar <strong>de</strong> informações que não conseguedigerir, sist<strong>em</strong>atizar, dar sentido ou atribuirsignificado. Neste aspecto é muitoimportante <strong>de</strong>finir claramente os objetivosdo trabalho, quais são as informaçõesrealmente relevantes e necessáriase quais as técnicas mais a<strong>de</strong>quadas paraobtê-las.A partir do t<strong>em</strong>a, <strong>de</strong>finiu-se um roteiropara orientar o trabalho dosaplicadores do método. Não se trata <strong>de</strong>um questionário, mas <strong>de</strong> uma orientaçãopara a vivência das técnicas, que sãoprocedimentos capazes <strong>de</strong> favorecer epropiciar a expressão dos participantes.


<strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> <strong>agroflorestais</strong> <strong>em</strong> <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reforma agráriaPrincipais técnicas utilizadas:Entrevistas individuais e <strong>em</strong> grupo -s<strong>em</strong>i-estruturadas e realizadas com li<strong>de</strong>rançase pessoas-chave da localida<strong>de</strong>. Asentrevistas <strong>em</strong> grupo ocorreram com segmentosda socieda<strong>de</strong> local, como grupos<strong>de</strong> famílias, <strong>de</strong> mulheres, <strong>de</strong> homens,<strong>de</strong> crianças. Esta técnica foi realizadacom grupos <strong>de</strong> 6 a 10 pessoas, formandouma “roda <strong>de</strong> conversa” orientada,como nas entrevistas individuais, por umroteiro s<strong>em</strong>i-estruturado sobre a t<strong>em</strong>áticaabordada.Caminhadas transversais - momentosprivilegiados <strong>de</strong> estudo da paisag<strong>em</strong>e oportunida<strong>de</strong> para se refletir sobre a<strong>de</strong>gradação do ambiente e dos recursosprodutivos. Foram realizadas nove caminhadas,com a participação <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong>70% das famílias. As caminhadas seguiramum roteiro pré-<strong>de</strong>finido, passandoobrigatoriamente por todas as unida<strong>de</strong>sda paisag<strong>em</strong>. Em diversos pontos ocorreramparadas e houve reflexão e estudodos el<strong>em</strong>entos do agroecossist<strong>em</strong>a e/ou do ecossist<strong>em</strong>a visitado.Os participantes foram convidadosa dar <strong>de</strong>poimentos, explicar itinerários,expor opiniões, e a formular previamenteo roteiro s<strong>em</strong>i-estruturado. É necessáriomanter uma postura flexível para estimularo <strong>de</strong>bate com base nas reflexões processadaspelo grupo <strong>de</strong> participantes.As caminhadas geraram impacto nocoletivo, uma constatação da gravida<strong>de</strong>dos probl<strong>em</strong>as e da falta <strong>de</strong> perspectiva<strong>de</strong> futuro com a permanência do modo<strong>de</strong> ocupação realizada. Este fato foi <strong>de</strong>cisivopara a implantação dos sist<strong>em</strong>as<strong>agroflorestais</strong> fomentados pelo projeto<strong>em</strong> sua fase posterior, pois mobilizou naspessoas a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> participar no processo<strong>de</strong> mudanças.Confecção <strong>de</strong> mapas - realizada <strong>em</strong>grupos e após as caminhadas, essa ativida<strong>de</strong>consolidou uma visão coletiva dalocalida<strong>de</strong> e permitiu aprofundar novasquestões sobre a ocupação da paisag<strong>em</strong>.Os mapas constitu<strong>em</strong> ferramentas úteisda fase <strong>de</strong> planejamento, principalmentepara a própria equipe técnica, mastambém para o grupo local.Outras técnicas - Durante o diagnósticoforam aplicadas outras técnicas,como o calendário sazonal e a rotina diária.Realizamos também censos populacionaise <strong>de</strong> educação e um estudot<strong>em</strong>ático específico sobre a formiga,i<strong>de</strong>ntificado como sério probl<strong>em</strong>a noassentamento.49


<strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> <strong>agroflorestais</strong> <strong>em</strong> <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reforma agráriaAcervo Terra VivaA produção <strong>de</strong> mudas no próprio assentamentocontribui para a implantação <strong>em</strong> larga escala dossist<strong>em</strong>as <strong>agroflorestais</strong>Implantação dos sist<strong>em</strong>as <strong>agroflorestais</strong>Aimplantação dos sist<strong>em</strong>as<strong>agroflorestais</strong> iniciou-se no fim<strong>de</strong> 1997, com a a<strong>de</strong>são <strong>de</strong> 42 famíliasparticipantes do diagnóstico. Os agricultoresapropriaram-se do conhecimentoagroecológico requerido neste trabalhopor meio das ações <strong>de</strong> formação <strong>de</strong>scritase da vivência prática no manejo dossist<strong>em</strong>as.Durante o primeiro ano, cada famíliaparticipante implantou 5 mil m 2 ,totalizando 21 hectares <strong>de</strong>scontínuos noassentamento. Para a implantação <strong>de</strong>staparcela inicial, o “contrato” entre o TerraViva e cada família previu e ocorreunos seguintes termos:• cada família escolhia as frutasque <strong>de</strong>sejava incluir <strong>em</strong> seu sist<strong>em</strong>a(no mínimo três espécies)e <strong>de</strong>terminava a área do lote parao plantio;• os técnicos do Terra Viva visitavama família e a área, realizavamum <strong>de</strong>senho da distribuiçãoespacial das plantas e <strong>de</strong>finiamo itinerário técnico <strong>em</strong> funçãodas condições iniciais da parcela(área <strong>de</strong>gradada, roçado etc.);• o Terra Viva forneceu as mudase a adubação organo-mineral <strong>de</strong>plantio. Os agricultores executaramas tarefas nos seus lotes. As50


<strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> <strong>agroflorestais</strong> <strong>em</strong> <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reforma agráriamudas fornecidas obe<strong>de</strong>ciam àseguinte proporção: 70% eramdas três ou mais espécies escolhidaspelas famílias e 30% eram<strong>de</strong> espécies variadas (frutíferas eflorestais) que completavam acomposição do <strong>de</strong>senho dos sist<strong>em</strong>as;• o Terra Viva proporcionou oapoio técnico <strong>em</strong> campo paraimplantação das parcelas.No primeiro ano os resultados <strong>em</strong>campo foram diversificados, com vários<strong>de</strong>senhos e situações agro-ambientaisdiferenciados e o plantio <strong>de</strong> 60 espécies<strong>de</strong> arbóreas. Estas parcelas iniciais foramimportantes fontes <strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong>para a ampliação dos sist<strong>em</strong>as, que ocorreuno ano seguinte. Permitiram tambémaos participantes avaliar o <strong>de</strong>senvolvimentoe o grau <strong>de</strong> adaptação das espéciesescolhidas, assim como os pontos<strong>de</strong> estrangulamento no manejo do sist<strong>em</strong>a.A partir do segundo ano <strong>de</strong> implantação,o Terra Viva não dispunha <strong>de</strong> recursospara fornecer as mudas, apenaspara instalar os viveiros. Fornec<strong>em</strong>osequipamentos e apoio técnico, enquantoa mão-<strong>de</strong>-obra para instalação, manejoe manutenção ocorreu sob responsabilida<strong>de</strong>das famílias participantes.Foram constituídos seis grupos <strong>de</strong>famílias por amiza<strong>de</strong> e vizinhança. Cadaum dos seis grupos instalou seu viveirono local escolhido e passou a produziras mudas para a ampliação ou implantaçãodos sist<strong>em</strong>as familiares.A partir do segundo ano <strong>de</strong>finiramsealgumas culturas prioritárias para aprodução <strong>de</strong> mercado, mas a diversida<strong>de</strong>nos sist<strong>em</strong>as se manteve. Todos os recursospara a implantação das áreas foramobtidos pelas famílias. Nesta fase foifundamental a parceria com a EmpresaBaiana <strong>de</strong> Desenvolvimento Agrícola -EBDA, que viabilizou o acesso ao créditoagrícola necessário para o plantio.51


<strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> <strong>agroflorestais</strong> <strong>em</strong> <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reforma agráriaAcervo Terra VivaConsórcios <strong>de</strong> espécies arbóreas <strong>de</strong> valor comercialgarant<strong>em</strong> a sustentabilida<strong>de</strong> econômica e ambientaldo sist<strong>em</strong>a52Resultados principaisMonitoramento e avaliaçãoAênfase do monitoramento e daavaliação realizada nos sist<strong>em</strong>as<strong>agroflorestais</strong> recaiu sobre o <strong>de</strong>senvolvimentodaquelas espécies frutíferascom produção voltada para o mercado.Enfatizou-se também a evolução geraldo sist<strong>em</strong>a, tendo como parâmetros a diversida<strong>de</strong>e a fitossanida<strong>de</strong>.Este trabalho foi realizado <strong>de</strong> formaparticipativa. Um grupo <strong>de</strong> técnicose agricultores realizou a coleta <strong>de</strong> dados<strong>em</strong> todas as unida<strong>de</strong>s familiares. Aequipe técnica organizou as informaçõese coor<strong>de</strong>nou as reuniões <strong>de</strong> avaliaçãoparticipativa.No último monitoramento foramcontabilizadas 58.601 árvores frutíferas<strong>de</strong> 41 espécies, <strong>em</strong> cerca <strong>de</strong> 140 hectares<strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as <strong>agroflorestais</strong>. Ocorreramavaliações fitotécnicas e uma <strong>de</strong>scriçãodo manejo realizado pelas famílias.Quanto ao <strong>de</strong>senvolvimento, 54% dossist<strong>em</strong>as foram avaliados como satisfatórios,36% como regulares e 9% comonão satisfatórios. Duas espécies <strong>de</strong> frutíferasapresentaram probl<strong>em</strong>as fitossanitários.Experimentação participativaOs resultados do monitoramentoapontam probl<strong>em</strong>as que mobilizaram o


<strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> <strong>agroflorestais</strong> <strong>em</strong> <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reforma agráriagrupo <strong>de</strong> agricultores <strong>em</strong> busca <strong>de</strong> soluções.As soluções propostas foram introduzidascomo tratamentos experimentais.Definiram-se, por ex<strong>em</strong>plo, algunstratamentos baseados <strong>em</strong> caldas caseiraspara o controle <strong>de</strong> pragas e doenças.Foram montadas parcelas experimentais<strong>em</strong> algumas unida<strong>de</strong>s familiares com aparticipação <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong> agricultores.Este processo favoreceu o convencimentodo grupo para que adotasse um<strong>de</strong>terminado procedimento após a comprovação<strong>de</strong> sua valida<strong>de</strong> na parcela experimental.Processos educativosAo término da fase <strong>de</strong> implantaçãodos sist<strong>em</strong>as <strong>agroflorestais</strong> constatamosque o imput <strong>de</strong> recursos que o projetofinanciado pelo PDA proporcionou foirelativamente reduzido <strong>em</strong> relação aoque as próprias famílias e a comunida<strong>de</strong>como um todo mobilizaram. O quefiz<strong>em</strong>os foi <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar processos comos quais os participantes se comprometeram.As ações educativas foram pilares<strong>de</strong>sta apropriação dos conhecimentossocializados e gerados na perspectiva<strong>de</strong> diss<strong>em</strong>inação <strong>de</strong> um pensar e agirecológicos.A parceria com a UNEB possibilitou-nosuma melhor interpretação e leiturada realida<strong>de</strong> e o <strong>de</strong>senvolvimento<strong>de</strong> ações educativas sintonizadas com asd<strong>em</strong>andas locais. A ampliação <strong>de</strong> nossacapacida<strong>de</strong> técnica pela parceria nosconduziu a uma gran<strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ativida<strong>de</strong>s e ações educativas, entre asquais <strong>de</strong>stacamos:• investimento na melhoria dascondições <strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong>,com a construção <strong>de</strong> dois centros<strong>de</strong> vivência;• ampliação do número <strong>de</strong> jovense adultos na educação escolar eo <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> umametodologia <strong>de</strong> alfabetizaçãoecológica;• realização <strong>de</strong> oficinas, cursos edias <strong>de</strong> campo <strong>de</strong> formaçãoagroecológica para o <strong>de</strong>senvolvimento<strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s d<strong>em</strong>andadasna execução do projeto;• investimento <strong>em</strong> viagens <strong>de</strong> intercâmbio(Zona da Mata-MG,norte do Espírito Santo eEunápolis, no sul da Bahia);• apoio pedagógico à educaçãoformal, com ações <strong>de</strong> planejamento,promoção <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>sculturais, realização <strong>de</strong> oficinaspedagógicas, introdução do brinquedoe do jogo pedagógico nametodologia <strong>de</strong> ensino e no espaçoescolar;• sensibilização para a superação<strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s nas relações <strong>de</strong>gênero. Estas ações visam superara predominância da culturapatriarcal, que exerce um fortecontrole masculino (machismo)sobre as mulheres, principalmentena área rural;53


<strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> <strong>agroflorestais</strong> <strong>em</strong> <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reforma agrária• aumento do interesse por cultivosarbóreos;• implantação <strong>de</strong> aproximadamente150 hectares <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as<strong>agroflorestais</strong> diversificados, baseadosna fruticultura tropicalcom finalida<strong>de</strong>s comerciais;• validação da cultura do urucum(Bixa orelana), como cultivo importantepara a sustentabilida<strong>de</strong>econômica dos sist<strong>em</strong>as <strong>agroflorestais</strong>no assentamento;• d<strong>em</strong>arcação das áreas <strong>de</strong> reservae preservação permanentepelas famílias participantes;• contribuição efetiva na consolidaçãodo Parque Nacional doDescobrimento entre os moradoresdos lotes vizinhos ao Parque;• aumento do interesse pelo resgate<strong>de</strong> espécies florestais nativasda Mata Atlântica;• adoção, nos cultivos convencionais,<strong>de</strong> práticas utilizadas nosSAFs;• aumento do nível <strong>de</strong> consciênciaecológica;• inclusão dos jovens e mulheresna vida associativa da comunida<strong>de</strong>;• acúmulo, por parte da entida<strong>de</strong>,<strong>de</strong> métodos e experiências nocampo educacional;• aumento do nível <strong>de</strong> organizaçãoda comunida<strong>de</strong>.Este conjunto <strong>de</strong> ações e metodologiast<strong>em</strong> promovido avanços nas relações<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, na organização social dotrabalho, na adoção <strong>de</strong> valores ecológicos,no campo das relações socioculturais(<strong>em</strong> relação à diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> raça,etnia, gênero, classe social e religião).O processo é lento, mas já apresenta sensíveismudanças.54


Espécies arbóreas plantadas<strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> <strong>agroflorestais</strong> <strong>em</strong> <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reforma agráriaQuadro 1: Espécies florestaisESPÉCIES QUANTIDADE ESPÉCIES QUANTIDADEAbiu 29 Joerana 490Açaí 828 Jur<strong>em</strong>a 12Angico 32 Louro 13Arapati 40 Mirindiba 619Aroeira 198 Mulungu 32Bandarra 33 Murici 225Bapeba 60 Noz-nogueira 18Biriba 30 Oiti 491Boleira 460 Pau-d'alho 104Canafista 121 Pau-d'arco 9Castanha-do-brasil 10 Pau-<strong>de</strong>-r<strong>em</strong>o 84Castanha-do-maranhão 150 Pau-sangue 38Caxeta 189 Pau-sapo 445Cedro-verda<strong>de</strong>iro 220 Pau-ferro 895Cupuaçu 2.685 Pinha-brava 65Gindiba 100 Pitomba 260Imburana 134 Pupunha 1.518Ingá 152 Romã 1155


<strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> <strong>agroflorestais</strong> <strong>em</strong> <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reforma agráriaQuadro 2: Espécies para beneficiamentoQuadro 3: Espécies para consumo in naturaQuadro 4: Espécies para produção <strong>de</strong> polpa56


Quadro 5: Plantios <strong>em</strong> pequena escala<strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> <strong>agroflorestais</strong> <strong>em</strong> <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reforma agráriaESPÉCIEQUANTIDADECanela 42Poncã 133Pupunha 152Rambutão 1Tamarindo 4Cacau 81Fruta-do-con<strong>de</strong> 32Jaboticaba 48Pimenta-do-reino 69Pinha 95Ingá 288Cainito 2Cravo 7Jambo 5Abricó 4Umbu 17Cajá 59Siriguela 4557


<strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> <strong>agroflorestais</strong> <strong>em</strong> <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reforma agráriaAcervo Terra VivaAgricultores do Riacho das Ostras visitam o trabalhoda AS-PTA no norte do Espírito SantoParcerias e re<strong>de</strong>s58Os parceiros privilegiados doTerra Viva são as entida<strong>de</strong>s representativasdos agricultores e agricultoras.Em diferentes instâncias <strong>de</strong> gestãoas ações articulam-se com os sindicatose associações locais. No caso do assentamentoRiacho das Ostras, esta parceriase constituiu com a associação local,mantendo nossos princípios <strong>de</strong> autonomiae participação.Outros parceiros importantes naexecução do projeto foram a UNEB, aEBDA (na execução dos projetos <strong>de</strong> crédito)e a Embrapa - Centro <strong>de</strong> Mandiocae Fruticultura, pelo apoio técnico e fornecimento<strong>de</strong> material genético.As re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> entida<strong>de</strong>s são constituiçõesestratégicas e fundamentais noprocesso <strong>de</strong> geração e acumulação <strong>de</strong>novos conhecimentos. No nosso caso, aparticipação na Re<strong>de</strong> PTA propiciou oacúmulo <strong>de</strong> experiências e o grau <strong>de</strong> sucessoque atingimos. A aprendizag<strong>em</strong>possibilitada pelo intercâmbio permanenteentre técnicos e agricultores, <strong>em</strong>especial do GT <strong>em</strong> Agroflorestação, ampliounosso grau <strong>de</strong> acerto nas ações enos permitiu a construção <strong>de</strong> proposiçõesviáveis e coerentes para políticaspúblicas que fortaleçam a agricultura familiare a agroecologia, como referênciapara um <strong>de</strong>senvolvimento nacionalsustentável.


<strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> <strong>agroflorestais</strong> <strong>em</strong> <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reforma agráriaAcervo Terra VivaEducação Ambiental: crianças aprend<strong>em</strong> sobreformigasDesafios presentesRelativos à educaçãoagroecológicaAexperiência <strong>de</strong> execução doProjeto v<strong>em</strong> contribuindo visivelmentepara mudanças na relaçãohom<strong>em</strong>-mulher e natureza. Novos <strong>de</strong>safiose d<strong>em</strong>andas <strong>em</strong>erg<strong>em</strong> à medidaque a comunida<strong>de</strong> se conscientiza dacomplexida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu atendimento e dasalternativas possíveis. Novas d<strong>em</strong>andassomam-se às antigas, cujas alternativasnão foram concluídas e/ou gestadas,viabilizadas ou formuladas.Acreditamos na necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>uma intervenção negociada, visando socializaro conhecimento, resgatar a ci-dadania, o direito <strong>de</strong> estudar e <strong>de</strong> maiorqualificação para o trabalho e contribuir<strong>de</strong> maneira organizada para a construção<strong>de</strong> “alternativas possíveis”. Isto significacombinar trabalho, renda, segurançaalimentar, equilíbrio ecológiconum conjunto articulado <strong>de</strong> ações diretase conseqüentes.Ao conjunto <strong>de</strong> velhas d<strong>em</strong>andas<strong>de</strong> ações já realizadas somam-se novasd<strong>em</strong>andas produtivas, econômicas, <strong>de</strong>formação, <strong>de</strong> informação, <strong>de</strong> conhecimento,<strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>organizativa e <strong>de</strong> domínio <strong>de</strong> tecnologiascompatíveis com a natureza da agriculturafamiliar, tais como:59


<strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> <strong>agroflorestais</strong> <strong>em</strong> <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reforma agrária60• manejo e domínio técnico <strong>em</strong>agroflorestação e fruticultura;• uso e beneficiamento diversificadodos frutos <strong>de</strong>stinados à comercialização;• implantação <strong>de</strong> agroindústria localpara beneficiamento e comercialização;• técnicas <strong>de</strong> gestão <strong>em</strong>presarial<strong>de</strong> <strong>em</strong>preendimentos comunitários;• aumento da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gerenciamentoda proprieda<strong>de</strong> e daprodução familiar, articulando-acom a produção <strong>de</strong> mercado;• formação das novas geraçõespara novas formas <strong>de</strong> trabalho enovas tecnologias.Relativos à sustentabilida<strong>de</strong>econômicaA massificação do uso das propostasagroecológicas só se dará caso estasproporcion<strong>em</strong> sensíveis impactos econômicosaos agricultores. Neste sentido,ocorre uma profunda inter<strong>de</strong>pendênciaentre a viabilida<strong>de</strong> técnica da proposta<strong>de</strong> conservação da biodiversida<strong>de</strong> pormeio da agroecologia e a sustentabilida<strong>de</strong>econômica dos sist<strong>em</strong>as agrícolasfamiliares que incorporam práticas agroecológicas.Conferindo uma maior sustentabilida<strong>de</strong>econômica aos sist<strong>em</strong>asagrícolas familiares, o enfoque agroecológicoreduz sensivelmente a pressãosobre os r<strong>em</strong>anescentes florestais. Sendoassim, para além dos efeitos diretos<strong>de</strong> conservação da biodiversida<strong>de</strong> nossist<strong>em</strong>as agrícolas, a generalização daagroecologia produz efeitos indiretos <strong>em</strong>espaços não agrícolas, como fica evi<strong>de</strong>nte<strong>em</strong> experiências locais on<strong>de</strong> se t<strong>em</strong>conseguido reduzir a <strong>de</strong>gradação dacobertura vegetal original.Ainda que os sist<strong>em</strong>as produtivosagroecológicos sejam mais sustentáveiseconomicamente, as famílias agricultoras,inclusive as que <strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong> sist<strong>em</strong>asagroecológicos, têm encontradoobstáculos para aumentar o grau <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong>econômica <strong>de</strong> suas unida<strong>de</strong>sprodutivas <strong>em</strong> virtu<strong>de</strong> das condiçõesaltamente <strong>de</strong>sfavoráveis <strong>em</strong> que se inser<strong>em</strong>nos mercados. A crescente procurapor produtos agrícolas oriundos <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as<strong>de</strong> produção ecológicos <strong>de</strong>verá servalorizada e apoiada <strong>em</strong> uma estratégia<strong>de</strong> conservação da biodiversida<strong>de</strong>.O estabelecimento <strong>de</strong> <strong>em</strong>preendimentoscomunitários voltados para obeneficiamento e a comercialização <strong>de</strong>produtos agroecológicos é uma condiçãobásica para que se revaloriz<strong>em</strong> asiniciativas coletivas <strong>de</strong> acesso ao mercado.Os processos <strong>de</strong> gestão <strong>de</strong> um sist<strong>em</strong>a<strong>de</strong> comercialização coletiva baseado<strong>em</strong> produção familiar são muitocomplexos. Os sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> produçãoagroflorestal implantados estão apenasiniciando a produção econômica; a sustentabilida<strong>de</strong>nesta dimensão será umdos focos do trabalho do Terra Viva nospróximos anos.


<strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> <strong>agroflorestais</strong> <strong>em</strong> <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reforma agráriaRelativos às políticas públicasApesar do status diferenciado daregião <strong>em</strong> <strong>de</strong>corrência <strong>de</strong> sua importânciahistórica, cultural e ecológica, nãoexiste um tratamento correspon<strong>de</strong>ntepelos órgãos executores <strong>de</strong> políticas públicasno campo da agricultura familiare reforma agrária. Os probl<strong>em</strong>as que afetamoutros locais do Brasil também sereproduz<strong>em</strong> na região. A ausência <strong>de</strong>planejamento e <strong>de</strong> ações integradas dosorganismos governamentais conduz auma política fragmentada e por vezesconflitante.A falta <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> técnica dasestruturas governamentais <strong>de</strong> assistênciae das cooperativas <strong>de</strong> assentados induzà uniformização dos projetos <strong>de</strong> créditoe dos sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> produção. Isto impe<strong>de</strong>o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> metodologiasparticipativas para geração <strong>de</strong> um conhecimentomais apropriado para a construção<strong>de</strong> planos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento local.Quando a assistência técnica e oacesso ao crédito se efetivam, a matriztécnico-científica da mo<strong>de</strong>rnização daagricultura induz à adoção <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>ass<strong>em</strong> sustentabilida<strong>de</strong>, que acabam poragravar os impactos ambientais.Relativos ao associativismocompulsórioA unida<strong>de</strong> familiar, <strong>em</strong> função daescala <strong>de</strong> produção e <strong>de</strong> capital, nãoconsegue dispor <strong>de</strong> toda a infra-estruturae dos equipamentos necessários paraorganizar processos <strong>de</strong> produção e <strong>de</strong>comercialização individuais comparáveisaos praticados por gran<strong>de</strong>s unida<strong>de</strong>s<strong>de</strong> produção.Com a globalização da economiae as mudanças no perfil da populaçãorural, que <strong>de</strong>seja cada vez mais se integrarà socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> consumo, tornou-senecessário aumentar a renda monetária,reforçando estratégias <strong>de</strong> cooperação eassociativismo. Em nossa concepção, ofortalecimento <strong>de</strong> iniciativas associativasé uma das estratégias cada vez mais importantespara a reprodução e o fortalecimentoda agricultura familiar.O que ocorre nas áreas <strong>de</strong> reformaagrária, entretanto, é um associativismocompulsório, vertical, paternalista eexclu<strong>de</strong>nte, <strong>de</strong>terminando o fracasso <strong>de</strong>projetos comunitários na maior parte dos<strong>assentamentos</strong>. O singular neste processoé que se trata do mesmo formato <strong>de</strong>associativismo <strong>de</strong>fendido tanto pelo atualgoverno quanto pelo Movimento dosS<strong>em</strong> Terra.Os parceleiros são coagidos a seassociar, sob pena <strong>de</strong> não ter<strong>em</strong> acessoao crédito individual e o restante da famíliapermanece excluído do processo<strong>de</strong> participação formal. Como a socieda<strong>de</strong>brasileira é essencialmente patriarcal,o lote é s<strong>em</strong>pre titulado <strong>em</strong> nomedo hom<strong>em</strong>, chefe da família. A exclusãorecai, portanto, sobre mulheres e jovens,que permanec<strong>em</strong> alijados do processo<strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão sobre os planos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimentolocal.61


<strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> <strong>agroflorestais</strong> <strong>em</strong> <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reforma agráriaNas associações formadas pelosassentados <strong>de</strong> reforma agrária a culturapresi<strong>de</strong>ncialista ainda é muito forte e nãohá tradição <strong>de</strong> gestão <strong>de</strong> <strong>em</strong>preendimentosindividuais e coletivos. Por isso, ogoverno da associação se concentra sobrepoucos m<strong>em</strong>bros, que se tornam vítimase algozes do processo que se reproduznos <strong>assentamentos</strong>.Reinventar processos associativoscom base na autonomia e liberda<strong>de</strong> individual,que inclua e valorize as diferençase <strong>de</strong>senvolva capacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>autogestão para o <strong>de</strong>senvolvimento localé uma dimensão necessária para asustentabilida<strong>de</strong> da reforma agrária.Relativos às áreas <strong>de</strong>preservação permanenteEm nosso projeto estavam previstasações nas áreas <strong>de</strong> preservação permanentedos lotes individuais. Pensamosque muito foi feito, <strong>em</strong>bora não tenhamosatingido as pretensiosas metas iniciais.As ações <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ram do trabalhoda família e nada foi r<strong>em</strong>unerado. Houved<strong>em</strong>arcação da área a ser preservada,assim como a <strong>de</strong>limitação física daparcela protegida, tomando-se as providênciaspara que esta não fosse atingidapelo fogo. Apenas um pequeno número<strong>de</strong> famílias trabalhou efetivamentena recuperação <strong>de</strong>ssas áreas, um trabalhoque consistiu do plantio <strong>de</strong> espéciesflorestais nativas <strong>em</strong> trechos já <strong>de</strong>smatados.Neste processo várias e complexasquestões surgiram no cenário. Ficaramevi<strong>de</strong>ntes os enormes entraves para, nocontexto atual da agricultura familiar,direcionar mão-<strong>de</strong>-obra e recursos <strong>em</strong>sist<strong>em</strong>as que só prestam serviçosambientais e proporcionam renda apenasindireta.Na maior parte dos casos, aparent<strong>em</strong>enteo trabalho <strong>de</strong> recomposiçãoantrópica é <strong>de</strong>snecessário. A não ser queo impacto no entorno seja muito gran<strong>de</strong>e atinja um território contínuo, a próprianatureza se encarrega <strong>de</strong> recuperar o sist<strong>em</strong>a.É claro que o processo natural émais lento, mas se a área será <strong>de</strong> preservaçãopermanente, por que ter pressa?Na realida<strong>de</strong>, <strong>em</strong> nossa opinião a tarefarealmente necessária, na maior parte doscasos, é isolar a área do acesso <strong>de</strong> animaise protegê-la do fogo.Observamos que sist<strong>em</strong>as <strong>agroflorestais</strong>especiais pod<strong>em</strong> cumprir um papelecológico s<strong>em</strong>elhante ao das áreas<strong>de</strong> preservação permanente nas unida<strong>de</strong>sagrícolas familiares. <strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> comgran<strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> cumpr<strong>em</strong> o papel <strong>de</strong>trampolins ecológicos, estimulando adispersão da fauna e flora e gerando umaconectivida<strong>de</strong> entre as gran<strong>de</strong>s unida<strong>de</strong>s<strong>de</strong> conservação. Estes sist<strong>em</strong>as tambémproteg<strong>em</strong> o solo e, quando b<strong>em</strong> manejados,mantêm a erosão nos mesmos níveisdos sist<strong>em</strong>as naturais, protegendo,por conseqüência, os recursos hídricos.Denominamos estes SAFs <strong>de</strong> “sist<strong>em</strong>as<strong>agroflorestais</strong> especiais”, <strong>em</strong> fun-62


<strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> <strong>agroflorestais</strong> <strong>em</strong> <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reforma agráriação da gran<strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>asabrigados com esta nomenclatura. Especial,neste caso, refere-se à alta diversida<strong>de</strong>que este sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong>ve abrigar, àpriorização por espécies nativas e ao fato<strong>de</strong> se ter a produção como objetivo secundário.Sab<strong>em</strong>os que esta é uma questãopolêmica, e a perspectiva do <strong>de</strong>batesobre flexibilização ou mudança na legislaçãoambiental cont<strong>em</strong>plando estarealida<strong>de</strong> causa reações transtornadas <strong>de</strong>setores ambientalistas mais conservadores.Acreditamos, porém, que a experiênciajá acumulada <strong>em</strong> diversas regiões<strong>de</strong> Mata Atlântica produzirá evidências<strong>de</strong> que o centro da questão da conservaçãodos recursos naturais está na religaçãodo humano com a natureza, eque a batalha ambiental só será ganhase o sist<strong>em</strong>a social for ecológico, e o sist<strong>em</strong>a<strong>de</strong> produção, agroecológico.63


<strong>Sist<strong>em</strong>as</strong> <strong>agroflorestais</strong> <strong>em</strong> <strong>assentamentos</strong> <strong>de</strong> reforma agráriaLista <strong>de</strong> siglasApoena - Associação <strong>em</strong> Defesa do Rio Paraná, Afluentes e Mata CiliarAS-PTA - Associação e Serviços a Projetos <strong>em</strong> Agricultura FamiliarCepe<strong>de</strong>s - Centro <strong>de</strong> Pesquisas e Estudos para o Desenvolvimento do Extr<strong>em</strong>o Sul daBanhiaCocamp - Cooperativa <strong>de</strong> Comercialização e Prestação <strong>de</strong> Serviços dos Assentados <strong>de</strong>Reforma Agrária no PontalDRPA - Diagnóstico Rápido Participativo <strong>de</strong> Agroecossist<strong>em</strong>asEBDA - Empresa Baiana <strong>de</strong> Desenvolvimento AgrícolaEmbrapa - Empresa Brasileira <strong>de</strong> Pesquisa AgropecuáriaESALQ - Escola Superior <strong>de</strong> Agricultura Luís <strong>de</strong> QueirozIbama - Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Meio Ambiente e dos Recursos Naturais RenováveisIF - Instituto FlorestalIncra - Instituto Nacional <strong>de</strong> Colonização e Reforma AgráriaIPÊ - Instituto <strong>de</strong> Pesquisas EcológicasITESP - Instituto <strong>de</strong> Terras do Estado <strong>de</strong> São PauloMMA - Ministério do Meio AmbienteMST - Movimento dos Trabalhadores Rurais S<strong>em</strong> TerraPDA - Subprograma Projetos D<strong>em</strong>onstrativosPPG7 - Programa Piloto para Proteção das Florestas Tropicais do BrasilUNEB - Universida<strong>de</strong> Estadual da Bahia<strong>USP</strong> - Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo64


PDASUBPROGRAMA PROJETOS DEMONSTRATIVOSSetor Comercial SulQuadra 6 - Bloco A - Ed. Sofia2º AndarCep 70.300-500Brasília - DFFone: 61.325-5224Fax: 61.223-0763E-mail: pda@rudah.com.brBun<strong>de</strong>sministerium fürwirtschaftliche Zusammenarbeitund EntwicklungBancoMundialMINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTESecretaria <strong>de</strong> Coor<strong>de</strong>nação da AmazôniaUniãoEuropéiaFFEMFundo Francês para o Meio Ambiente

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!