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A Era do Rádio - MultiRio

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O país se modernizavaTo<strong>do</strong>s esses acontecimentos que empolgaramo Rio de Janeiro não eram fatos isola<strong>do</strong>s.O ano de 1922 pode ser considera<strong>do</strong>como um marco simbólico <strong>do</strong> Brasil moderno.A Semana de Arte Moderna, em SãoPaulo, reuniu figuras expressivas <strong>do</strong> movimentomodernista, como o maestro e compositorVilla-Lobos, os artistas plásticos DiCavalcanti e Anita Malfatti, os poetas CarlosDrummond de Andrade e Menotti DelPicchia, os escritores e ensaístas Mário eOswald de Andrade.brasileiros. Entre essas construções, duas estãode pé até hoje: os prédios da AcademiaBrasileira de Letras e <strong>do</strong> Museu da Imageme <strong>do</strong> Som. E esse foi o grandioso palco quemarcou o começo da <strong>Era</strong> <strong>do</strong> Rádio.<strong>Era</strong> Vargas 1 – A <strong>Era</strong> <strong>do</strong> Rádio5 . Cartaz daSemana deArte Modernade 19224 . Pierrete, óleo sobre tela de Di Cavalcanti,pintor, caricaturista e ilustra<strong>do</strong>r, idealiza<strong>do</strong>re um <strong>do</strong>s organiza<strong>do</strong>res da Semana de 22Seis anos depois, em 1928, na Revista deAntropofagia, editada pelos modernistas,Oswald de Andrade lançou o Manifesto Antropofágico.A frase “Tupi or not tupi that isthe question” expressava a necessidade dea cultura brasileira abrir-se para o mun<strong>do</strong>,porém, sem perder suas características.Em julho desse mesmo ano, insatisfeitos comos rumos da sucessão presidencial, jovensmilitares se rebelaram e saíram em marcha,em plena Avenida Atlântica, em direção àsbalas das forças legalistas. Dos 18 <strong>do</strong> Forte,só <strong>do</strong>is sobreviveram. Em setembro, paracomemorar em grande estilo o centenárioda nossa independência e atrair o capitalestrangeiro, o governo federal derrubou oMorro <strong>do</strong> Castelo e ergueu construções queabrigavam os monumentais pavilhões da ExposiçãoInternacional <strong>do</strong> Rio de Janeiro, comestandes de 50 países e de to<strong>do</strong>s os esta<strong>do</strong>s6 . Retratode Máriode Andradepor Tarsila<strong>do</strong> Amaral115


<strong>Era</strong> Vargas 1 – A <strong>Era</strong> <strong>do</strong> RádioAdemar Casé: o rádiodescobriu o Brasil!Quem foi que inventou o Brasil?Foi seu Cabral, foi seu Cabral!No dia 21 de abrilDois meses depois <strong>do</strong> carnaval!História <strong>do</strong> Brasil(Lamartine Babo)brilhante e de uma criatividade transbordante,fez de tu<strong>do</strong>: agenciou anúncios para revistas,vendeu aparelhos de rádio, de portaem porta, foi o primeiro a usar a lista telefônicacomo meio de chegar aos consumi<strong>do</strong>res.Integrou-se à equipe de vende<strong>do</strong>res daPhilips e convenceu os diretores da empresaa alugar um horário no rádio para patrocinarum programa. Tanto esforço acabou sen<strong>do</strong>recompensa<strong>do</strong>: em 14 de fevereiro de 1932,estreava na rádio Mayrink Veiga o primeiroPrograma Casé.Se foi o “seu” Cabral que “inventou” o Brasil,como cantava, bem-humora<strong>do</strong>, LamartineBabo, em 1934, quem “inventou” o rádiobrasileiro, inteiramente verde e amarelo,foi o brilhante Ademar Casé.116Com o fim da festa <strong>do</strong> Centenário da Independência,toda aquela fabulosa aparelhagemde rádio foi desmontada e levada devolta para os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s. Mas por umbreve tempo... No ano seguinte, 1923, o pioneiroRoquette-Pinto inaugurou a Rádio Sociedade<strong>do</strong> Rio de Janeiro – para “educar asmassas distantes, dar escola aos que nãotiveram escola, difundir a cultura e favorecera integração nacional”.Um ano depois, a Rádio Clube <strong>do</strong> Brasil entravano ar. Para burlar as dificuldades desintonia, as duas emissoras combinaramtransmitir em horários alterna<strong>do</strong>s: uma funcionavaàs segundas, quartas e sextas-feiras;a outra, às terças, quintas-feiras e aos sába<strong>do</strong>s.Aos <strong>do</strong>mingos, não havia transmissão.Nesse começo, a programação das emissorasde rádio era extremamente formal: óperas,concertos, discursos, declamação de poesias.O diminuto público que poderia comprar umaparelho era de classe alta.No início daquela década de 1920, dispostoa subir na vida, chegou ao Rio o pernambucanoAdemar Casé. Dono de uma inteligência7 . Elenco <strong>do</strong> Programa Casé, o primeiro programa de rádiocomercial <strong>do</strong> país. Seu cria<strong>do</strong>r, Ademar Casé, é o primeirosenta<strong>do</strong>, à direitaComeçou dividi<strong>do</strong> em duas partes: uma commúsica popular, outra com música clássica.Mas Casé logo percebeu que o gosto <strong>do</strong> públicoe a popularização <strong>do</strong> rádio caminhavamem uma só direção. Daí para frente, amúsica popular brasileira passou a comandara programação, em uma história de sucessoque até hoje assombra quem estuda acultura <strong>do</strong> país.Pois o que até então era erudito, instrutivoe cultural passou a ser objeto popular ede lazer. E fonte de lucro, já que o governoautorizou a propaganda no rádio. Casévalorizou o artista brasileiro, pagan<strong>do</strong> bonscachês. No tempo em que nem se pensavaem publicidade e marketing, ele inventou amoda <strong>do</strong> patrocínio. Percorria as lojas da vizinhança,pedin<strong>do</strong> verbas em troca da vendade horários e da produção de comerciais


diferentes, cria<strong>do</strong>s por uma jovem equipeque dava seus primeiros passos: Almirante,Harol<strong>do</strong> Barbosa, Cristóvão Alencar, Luiz Peixoto,Orestes Barbosa e Nássara, autor <strong>do</strong>primeiro jingle e <strong>do</strong>s primeiros comerciais.Os gaúchos chegamao poderÉ importante recuar um pouco no tempo paraentender a velocidade com que os acontecimentospolíticos se precipitaram na décadade 1930. Depois da Proclamação da República,em 1889, com exceção de Deo<strong>do</strong>ro daFonseca, Floriano Peixoto, Nilo Peçanha, Hermesda Fonseca, Epitácio Pessoa e WashingtonLuís, os demais presidentes <strong>do</strong> Brasil sealternavam entre mineiros e paulistas. Foi achamada Política <strong>do</strong> Café com Leite, que gerouuma situação de desequilíbrio administrativoe financeiro, pois os outros esta<strong>do</strong>salegavam que somente Minas Gerais e SãoPaulo eram contempla<strong>do</strong>s pela política econômicaimplementada por esses dirigentes.indicou o paulista Júlio Prestes como candidatoà presidência da República. Os mineirosapoiaram o então jovem gaúcho GetúlioVargas, derrota<strong>do</strong> nas urnas, mas queliderou a revolta que derrubou a chamadaRepública Velha. Tu<strong>do</strong> aconteceu muito rapidamente:o movimento começou no dia 3de outubro, no Rio Grande <strong>do</strong> Sul, e logo seespalhou pelo país. No dia 24 de outubro, opresidente Washington Luís foi deposto, e,exatamente às 15h <strong>do</strong> dia 3 de novembro de1930, Getúlio Vargas assumiu o coman<strong>do</strong> danação no Palácio <strong>do</strong> Catete. Junto com a <strong>Era</strong><strong>do</strong> Rádio, nascia um novo Brasil.Um país a cantar<strong>Era</strong> Vargas 1 – A <strong>Era</strong> <strong>do</strong> Rádio9 . Modelo de rádio a válvula, em madeira, damarca alemã Telefunken, <strong>do</strong>s anos 19508 . Crítica, em forma de charge, da política<strong>do</strong> café com leiteMesmo fazen<strong>do</strong> parte da Política <strong>do</strong> Cafécom Leite, Minas Gerais insurgiu-se em1930, quan<strong>do</strong> São Paulo rompeu o acor<strong>do</strong> eNós somos as cantoras <strong>do</strong> rádio,levamos a vida a cantarDe noite embalamos teu sono,de manhã nós vamos te acordarNós somos as cantoras <strong>do</strong> rádio,Nossas canções cruzan<strong>do</strong> o espaço azulVão reunin<strong>do</strong>, num grande abraço,corações de Norte a Sul!Cantoras <strong>do</strong> Rádio(Alberto Ribeiro, Braguinha e Lamartine Babo)117


<strong>Era</strong> Vargas 1 – A <strong>Era</strong> <strong>do</strong> RádioO <strong>do</strong>utor Getúlio, como era chama<strong>do</strong> pelosbrasileiros de todas as classes sociais, a<strong>do</strong>ravao rádio; era o meio de comunicação como qual podia alcançar, com seus discursos,muito mais gente <strong>do</strong> que jamais sonhara. Eas ondas <strong>do</strong> rádio seriam o porta-voz de umaépoca de grandes transformações que iam levaro Brasil a se modernizar, a passos largos.É difícil, hoje em dia, imaginar o impacto <strong>do</strong>rádio. Ele divulgou sonoridades e sotaques,mobilizou as massas e se transformou namaior atração cultural <strong>do</strong> país. Além <strong>do</strong> mais,passou a ocupar um lugar nobre na sala dascasas das pessoas que podiam comprá-lo.<strong>Era</strong>m aparelhos grandes, às vezes até <strong>do</strong> tamanhodas TVs de hoje. Em volta dele, a famíliase reunia para ouvir o noticiário, os programasmusicais, as novelas e as transmissõesesportivas. O brasileiro passou a falaruma só língua, em uma só voz. Mais: o paísdescobriu que contava com uma quantidadeenorme de compositores, músicos e intérpretesque descreviam, em canções, o mo<strong>do</strong> deviver, as aspirações, os amores e o cotidianode seu povo. <strong>Era</strong> um novo tipo de poesiaque, livre das amarras <strong>do</strong> formalismo e embaladaem lindas canções, chegava a todasas classes sociais.Um grande personagemFoi o chefe mais ama<strong>do</strong> da naçãoDesde o sucesso da revoluçãoLideran<strong>do</strong> os liberaisFoi o pai <strong>do</strong>s mais humildes brasileirosLutan<strong>do</strong> contra grupos financeirosE altos interesses internacionaisDeu início a um tempo de transformaçõesGuia<strong>do</strong> pelo anseio de justiçaE de liberdade socialE depois de compeli<strong>do</strong> a se afastarVoltou pelos braços <strong>do</strong> povoEm campanha triunfal!Dr. Getúlio(Chico Buarque e Edu Lobo)Afinal, quem foi Getúlio Vargas, um <strong>do</strong>spresidentes mais importantes da históriabrasileira? Até hoje, seu lega<strong>do</strong> inspirapolêmicas, estu<strong>do</strong>s e teses, atrain<strong>do</strong> historia<strong>do</strong>rese sociólogos para análises detalhadasdesse intenso perío<strong>do</strong> de nossahistória. Nasci<strong>do</strong> em 1882, no interior <strong>do</strong>Rio Grande <strong>do</strong> Sul, na cidade de São Borja,Getúlio Dornelles Vargas ce<strong>do</strong> tomougosto pela política. Formou-se em Direito,em Porto Alegre, e, em 1909, foi eleito pelaprimeira vez para um cargo público – deputa<strong>do</strong>estadual. No começo da década de1920, elegeu-se deputa<strong>do</strong> federal pelo RioGrande <strong>do</strong> Sul, e sua atuação destacada noCongresso foi um prenúncio da importânciaque teria no cenário político.11810 . Getúlio Vargas, o presidente popular e populistaAssumiu o Ministério da Fazenda em novembrode 1926, permanecen<strong>do</strong> como ministroaté dezembro de 1927, durante o governode Washington Luís. Deixou o cargo paracandidatar-se às eleições para presidente<strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul (à época, os governa<strong>do</strong>reseram chama<strong>do</strong>s de “presidentes”),sen<strong>do</strong> eleito para um mandato que deveriair até 1933. Mas, como já vimos, no meio


<strong>do</strong> caminho havia a Revolução de 1930, quelevou Getúlio à chefia da nação.A princípio, Vargas assumiu o poder como“chefe <strong>do</strong> governo provisório”, conduzin<strong>do</strong>o país por meio de decretos. Deles, nascerama Ordem <strong>do</strong>s Advoga<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Brasil, oDepartamento de Aviação Civil, o DepartamentoNacional <strong>do</strong> Café, o Departamento deCorreios e Telégrafos (atual ECT), o InstitutoNacional <strong>do</strong> Açúcar e <strong>do</strong> Álcool, o InstitutoNacional de Estatística (atual IBGE), a regulaçãoe o ordenamento <strong>do</strong> Ensino Superior,o primeiro Código Florestal, a carteira detrabalho, o horário de verão e a jornada detrabalho de oito horas diárias, entre muitasoutras providências de caráter moderniza<strong>do</strong>r.vivas da política. No dia seguinte à promulgaçãoda nova Constituição, 17 de julho de1934, em eleição indireta, o Congresso Nacionalelegeu Getúlio Vargas presidente daRepública. E foi como presidente eleito queVargas dirigiu o Brasil até 10 de novembrode 1937, quan<strong>do</strong>, por meio de um golpe deEsta<strong>do</strong>, instituiu, então, o Esta<strong>do</strong> Novo.O Esta<strong>do</strong> NovoNo dia <strong>do</strong> golpe de Esta<strong>do</strong>, Vargas fez umpronunciamento em rede nacional de rádio,determinan<strong>do</strong> o fechamento <strong>do</strong> CongressoNacional e a outorga de uma nova Constituição.Com ela, obteve o controle total <strong>do</strong>Poder Executivo e a permissão de nomear,para os esta<strong>do</strong>s, interventores a quem deuampla autonomia para a tomada de decisões.Mais uma vez, os brasileiros se uniamao re<strong>do</strong>r <strong>do</strong> rádio para saber as novidades!A nova Constituição tinha nítidas tendênciasautoritárias, tocada pelos ventos <strong>do</strong> fascismoque há muito já assombravam a Europa.<strong>Era</strong> Vargas 1 – A <strong>Era</strong> <strong>do</strong> Rádio11 . Revolução de 1930, que pôs fim à Primeira Repúblicae levou Getúlio Vargas a presidir o BrasilEm 1938, cria<strong>do</strong> pelo Departamento Nacionalde Propaganda, entrou no ar o programaradiofônico A Hora <strong>do</strong> Brasil, com trêsfinalidades: informativa, cultural e cívica. Naprogramação musical, a grande maioria <strong>do</strong>acervo era de compositores nacionais.Em 1932, São Paulo revoltou-se contra o queconsiderava uma usurpação <strong>do</strong> poder, chefian<strong>do</strong>a Revolução Constitucionalista e exigin<strong>do</strong>eleições para uma Assembleia que dariauma nova Constituição ao Brasil. A reaçãode Vargas foi impie<strong>do</strong>sa, chegan<strong>do</strong> mesmo abombardear a capital paulista. Foram quasetrês meses de combates, de 9 de julho a 4de outubro de 1932, que terminaram com arendição <strong>do</strong>s revoltosos e deixaram cerca de2.200 mortos, segun<strong>do</strong> da<strong>do</strong>s oficiais.Em 1934, foi instalada uma AssembleiaConstituinte, pois o governo provisório jámostrava esgotamento diante das forçasEm 1939, o Departamento Nacional de Propagandafoi transforma<strong>do</strong> em Departamentode Imprensa e Propaganda (DIP), inspira<strong>do</strong>em modelos de outras ditaduras, basicamenteo autoritarismo alemão, e lastrea<strong>do</strong> emduas atividades – organização e publicidade.O DIP estimulava o culto à personalidade deVargas, difundia a ideologia esta<strong>do</strong>novista eas realizações governamentais, sen<strong>do</strong> o porta-vozoficial <strong>do</strong> regime. Atuava, ainda, nacensura aos jornais, às revistas, aos livros,ao cinema, ao rádio e, muito de perto, aoscompositores populares. Ali, começava umarelação que pode ser definida como atraçãoe repulsa em momentos alterna<strong>do</strong>s.119


<strong>Era</strong> Vargas 1 – A <strong>Era</strong> <strong>do</strong> RádioA crítica política e social, com maior ou menorintensidade, sempre esteve presente namúsica popular brasileira a partir <strong>do</strong>s anos1920. Das marchinhas de carnaval aos sambasde Noel Rosa, a voz <strong>do</strong> povo ecoavano senti<strong>do</strong> de reclamar das condições devida ou apontar o de<strong>do</strong> para as mazelas <strong>do</strong>governo. O advento <strong>do</strong> rádio não ia deixarde repercutir nessa área, e os censores <strong>do</strong>DIP estavam bem atentos a isso. Mas o la<strong>do</strong>populista de Vargas também tinha seus truques,fechan<strong>do</strong> uma porta com a mão direitapara abrir janelas com a esquerda...para um sarau no Palácio <strong>do</strong> Catete. Longede seus assessores e censores, Getúlio deuboas gargalhadas com a dupla, que nuncamais viu o sol nascer quadra<strong>do</strong>.13 . Capa <strong>do</strong> álbum Raízes Sertanejas, da dupla Alvarengae Ranchinho, lança<strong>do</strong> no final <strong>do</strong>s anos 1920. A dupla eraconhecida por satirizar a política da época12012 . O presidente Getúlio Vargas, em Petrópolis, conversacom duas crianças que estão passean<strong>do</strong> com a mãeCaipira, pode;malandro, nem pensar!Um <strong>do</strong>s maiores sucessos <strong>do</strong> rádio no final<strong>do</strong>s anos 1930 foi a dupla caipira Alvarengae Ranchinho (bem diferente <strong>do</strong> sertanejo-countryde hoje em dia), que fazia uma“moda de viola” (gênero musical) bem-humoradapara criticar as grandes figuras políticas.Fingin<strong>do</strong> uma ingenuidade que de bobanão tinha nada, os <strong>do</strong>is falavam de assuntosque quase sempre eram proibi<strong>do</strong>s na mídia.E, volta e meia, iam cantar no xilindró (eraa gíria para a cadeia na época). Até que umdia, a esposa de Getúlio, <strong>do</strong>na Darcy Vargas,fã de Alvarenga e Ranchinho, convi<strong>do</strong>u-osDo jeito que nós vai in<strong>do</strong>Com as coisa tu<strong>do</strong> subin<strong>do</strong>Eu num sei como há de serPra falar a verdade, moçoEssa vida tá um ossoBem duro da gente roerSobe arroz, sobe o feijão,A batata e o macarrãoDum jeito que não se aturaTu<strong>do</strong> sobe inté a taxaNo entanto só o que baixaDefunto na sepulturaTá Tu<strong>do</strong> Subin<strong>do</strong>(Alvarenga e Ranchinho)É interessante notar que, apesar de ser muitocrítica, a moda de viola caipira recebeu aaprovação presidencial, mas o culto ao “malandro”não teve a mesma sorte. Em 1940, oDIP promoveu um concurso de música transmiti<strong>do</strong>ao vivo, e na fase final estavam emconfronto o samba-exaltação Aquarela <strong>do</strong>


14 . Wilson BatistaBrasil (Ary Barroso) eÓ, Seu Oscar, de WilsonBatista e AtaulfoAlves, cuja letra (aseguir) era um convite(segun<strong>do</strong> a censura)à imoralidade:Cheguei cansa<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalhoLogo a vizinha me falou:– Oh! seu OscarTá fazen<strong>do</strong> meia horaQue sua mulher foi-se emboraE um bilhete deixouO bilhete assim dizia:Não posso maisEu quero é viver na orgiaAry Barroso, entre elas a Aquarela <strong>do</strong> Brasil,derrotada no tal concurso, mas que a endiabradaCarmen Miranda eternizou no filmeEntre a Loura e a Morena.Quem trabalhaÉ quem tem razãoEu digoE não tenho me<strong>do</strong>De errarQuem trabalha...O Bonde São JanuárioLeva mais um otário (verso original)Sou euQue vou trabalharBonde São Januário(Wilson Batista e Ataulfo Alves)<strong>Era</strong> Vargas 1 – A <strong>Era</strong> <strong>do</strong> RádioPior: quem deu a vitória ao samba-malandragemfoi nada menos <strong>do</strong> que Villa-Lobos,o compositor erudito considera<strong>do</strong> um íconeda cultura nacional pelo Esta<strong>do</strong> Novo! Osamba foi um sucesso e não parava de tocarnas rádios, mas os censores não se conformaram:depois de tu<strong>do</strong> o que se fez pelotrabalho, que negócio era esse de exaltaçãoà malandragem, à boemia e à vadiagem?Outro exemplo clássico de censura aconteceucom o Bonde São Januário. Como assim,quem trabalha é otário? A crítica social embutidano verso não passou despercebidapelo DIP, que exigiu modificações para que amúsica pudesse ser gravada. Wilson Batista eAtaulfo não tiveram escolha: trocaram a palavra“otário” por “operário”. E vida que segue...Na época, o DIP publicava uma revista quese chamava Cultura Política, e um artigoassina<strong>do</strong> por Álvaro Salga<strong>do</strong> tentava remediara situação: “O samba, que traz (...) amarca <strong>do</strong> sensualismo, é feio, indecente,desarmônico e arrítmico. Mas (...) sejamosbenévolos. Lancemos mão da inteligênciae (...) tentemos, devagarinho, torná-lo maiseduca<strong>do</strong> e social”. Tesoura na mão, o DIPadvertia: ou os compositores mudavamo rumo daquela prosa, ou... Bom mesmopara o governo era o samba-exaltação,como as pérolas preciosas compostas por15 . O bonde de São Januário, que serviu de inspiração para amúsica de mesmo nome, de Wilson Batista e Ataulfo Alves121


<strong>Era</strong> Vargas 1 – A <strong>Era</strong> <strong>do</strong> RádioMalandro ou otário?Deixa de arrastar o teu tamancoPois tamanco nunca foi sandáliaE tira <strong>do</strong> pescoço o lenço brancoCompra sapato e gravataJoga fora esta navalha que te atrapalhaCom chapéu <strong>do</strong> la<strong>do</strong> deste rataDa polícia quero que escapesFazen<strong>do</strong> um samba-cançãohigienizada”) e às ruas estreitas e escurassobrevieram grandes bulevares, com imponentesedifícios, dignos de representar acapital federal.Para sanear e ordenar a malha de circulaçãoviária, Pereira Passos demoliu casarões,abriu diversas ruas e alargou outras. O alargamentodas ruas permitiu o arejamento, aventilação, a melhor iluminação <strong>do</strong> Centro e,ainda, a a<strong>do</strong>ção de uma arquitetura depadrão superior.Rapaz Folga<strong>do</strong>(Noel Rosa)16 . Noel Rosa, cantor,sambista, instrumentista,um <strong>do</strong>s mais importantescompositores da músicapopular brasileira17 . Arcos da Lapa – 1775 a 1991, <strong>do</strong> artista gráfico edesigner Carlos Gustavo Nunes Pereira, o Guto, faz parteda série de livros Passeio no Tempo, <strong>do</strong> autor, em queele apresenta a evolução urbanística <strong>do</strong> Rio de JaneiroQuem era esse malandro que tantas preocupaçõestrazia aos censores <strong>do</strong> DIP? Maisuma vez, temos que rodar ao contrário aroda <strong>do</strong> tempo. Em 1900, o Rio de Janeiroera considera<strong>do</strong> uma cidade insalubre, compéssimas condições higiênicas.Os prédios paralelos aos Arcos da Lapa eo Morro <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> foram demoli<strong>do</strong>s, afim de liberar passagem para a AvenidaMem de Sá, e o Largo de São Domingostambém foi abaixo para a abertura daAvenida Passos.122Nesse cenário, Pereira Passos assumiu aprefeitura e, ao la<strong>do</strong> de Lauro Müller, Paulode Frontin e Francisco Bicalho, promoveuuma grande reforma urbanística na cidade,com o objetivo de torná-la uma capital nosmoldes franceses.Em quatro anos, o novo prefeito transformoua aparência da cidade: aos cortiços(locais que serviam de moradia para aquelesque não seriam benquistos na “cidadeApós a conclusão <strong>do</strong> alargamento da Rua daVala (atual Uruguaiana), que custou a demoliçãode to<strong>do</strong> o casario de um <strong>do</strong>s la<strong>do</strong>s darua, esta passou a abrigar as melhores lojas<strong>do</strong> início <strong>do</strong> século.Na administração Pereira Passos, ocorreram,ainda, as obras de abertura das avenidasBeira-Mar e Atlântica, além <strong>do</strong> alargamentodas ruas da Carioca e Sete de Setembro, entreoutras intervenções urbanas.


18 . Avenida Beira-Mar, no começo <strong>do</strong>s anos 1900Empurradas pela pressão urbanística, as camadasmais pobres da população migrarampara os subúrbios ou para as favelas – agrupamentosque se formaram sobre os morrosda cidade. A origem <strong>do</strong> termo “favela” remontaao episódio conheci<strong>do</strong> como Guerrade Canu<strong>do</strong>s (1896-1897), quan<strong>do</strong> o exércitobrasileiro enfrentou o grupo religioso lidera<strong>do</strong>por Antônio Conselheiro.Hoje posso provar minha i<strong>do</strong>neidadeEu tenho atéCarteira de identidadeUsei navalha salto altoLenço no pescoçoMas hojeHoje eu sou um bom moçoSe Não Fosse Eu(Wilson Batista e Harol<strong>do</strong> Lobo)<strong>Era</strong> Vargas 1 – A <strong>Era</strong> <strong>do</strong> RádioA cidadela de Canu<strong>do</strong>s, no sertão da Bahia,foi construída junto a alguns morros, entreeles o Morro da Favela. Vários solda<strong>do</strong>s quepartiram para a guerra, ao regressarem aoRio de Janeiro, em 1897, deixaram de recebero sol<strong>do</strong>, instalan<strong>do</strong>-se em construções provisóriaserigidas sobre o Morro da Providência.O local passou, então, a ser designa<strong>do</strong>popularmente Morro da Favela. Na décadade 1920, as habitações improvisadas, seminfraestrutura, que ocupavam os morrospassaram a ser chamadas de “favelas”.Seus mora<strong>do</strong>res, sem educação básica, nãoserviam para mão de obra das indústrias queaportavam à cidade nem para o setor de serviçosque começava a ser implanta<strong>do</strong> na capitalfederal. Para sobreviver, recorreram aostrabalhos <strong>do</strong>mésticos, à camelotagem, à mendicânciae às pequenas contravenções.<strong>Era</strong>m os desgarra<strong>do</strong>s <strong>do</strong> progresso, que, nocomeço <strong>do</strong>s anos 1930, viviam de expedientesnos bairros boêmios como a Lapa, frequentan<strong>do</strong>rodas de samba, animan<strong>do</strong> gafieiras,ostentan<strong>do</strong> um figurino que marcou época.19 . Capa <strong>do</strong> álbum 50 Anos de Samba de Breque, de Moreirada Silva, o principal autor e intérprete <strong>do</strong> gêneroCom essa conversa fiada, o malandro se livravada perseguição <strong>do</strong> DIP e seguia emfrente em sua carreira de não fazer muitoesforço… Surgiu até a figura <strong>do</strong> falso malandro,o que é sem nunca ter si<strong>do</strong>, comoMoreira da Silva, que “abafa a banca” com adeliciosa Acertei no Milhar.Moreira sempre se apresentava de terno branco,chapéu de palha, sapato bico fino e bicolor.Tirava a maior onda de malandro, masseu sustento vinha de um emprego na prefeitura:era motorista de ambulância. Com seupersonagem de vários nomes – Moringueira,123


<strong>Era</strong> Vargas 1 – A <strong>Era</strong> <strong>do</strong> RádioKid Moringueira ou Morengueira –, cantava,com picardia, o sonho tão comum de quemquer ficar rico sem fazer força.– Etelvina, minha filha!– Que há, Moringueira?– Acertei no milharGanhei 500 contosNão vou mais trabalharE me dê toda a roupa velha aos pobresE a mobília podemos quebrarIsto é pra jáPasse pra cá...Getúlio não ia deixar um instrumento importantecomo o rádio ao sabor das injunçõespolíticas e econômicas. Até permitiu que algunsdesafetos – desde que tivessem talento– navegassem nas novas ondas. Foi o caso deCésar Ladeira, a voz marcante <strong>do</strong> rádio paulistada Revolução Constitucionalista de 1932.O grande locutor e apresenta<strong>do</strong>r mu<strong>do</strong>u-separa o Rio de Janeiro e incorporou-se à RádioNacional, onde se tornou uma estrela deprimeiríssima grandeza.Acertei no Milhar(Wilson Batista e Geral<strong>do</strong> Pereira)Repararam nos autores da música? Não temjeito, falaram em malandragem, tem que terWilson Batista. Muitos anos depois, ChicoBuarque voltou ao tema, abordan<strong>do</strong> exatamentea dualidade entre o malandro e otrabalha<strong>do</strong>r. Mas isso é outra história, queaconteceu depois de outra ditadura.A rádio quetransformou o Brasil21 . Emilinha Borba, que nos anos 1940 e1950 disputava com Marlene o título damelhor e mais popular cantoraEm 1940, o governo encampou a Rádio Nacional,que se transformou em sua porta--voz oficial – e, ao mesmo tempo, na maioremissora <strong>do</strong> Brasil. Modernos equipamentos,altos salários, a melhor programação eequipe de primeira: cantores, locutores, radioatores,humoristas, músicos, arranja<strong>do</strong>res,maestros.12420 . Programa Cesar de Alencar (o apresenta<strong>do</strong>r, de ternobranco), no auditório da Rádio Nacional. As cantoras sãoas irmãs Dircinha e Linda BatistaAtravés das ondas da PRE-8, o Brasil inteirose vestiu de verde e amarelo. Em 1945,quan<strong>do</strong> terminou o Esta<strong>do</strong> Novo e o primeiromandato de Getúlio Vargas, nosso país jánão era um imenso entreposto agrícola, mas


caminhava célere para se integrar ao mun<strong>do</strong>industrializa<strong>do</strong>. Melhor: depois de 15 anosde ditadura, começava a viver uma democraciaque, ainda que incipiente, trazia novosares de liberdade.podem listar três delas e pesquisar as letrase seus autores.• Uma sugestão de passeio: visitar a RádioNacional (Praça Mauá, 7, no Centro) paraconhecer o acervo valioso sobre a <strong>Era</strong> deOuro <strong>do</strong> rádio.Para saber maisMúsicasA Volta <strong>do</strong> Malandro (Chico Buarque). CD –Chico 50 Anos – O Malandro, Polygram/Philips,1994.<strong>Era</strong> Vargas 1 – A <strong>Era</strong> <strong>do</strong> Rádio22 . Dalva de Oliveira e Francisco AlvesÔ, nossas praias são tão clarasNossas flores são tão rarasIsto é o meu BrasilÔ, nossas fontes, nossas ilhas e matasNossos montes, nossas lindas cascatasDeus foi quem criouÔ, ô, ô, minha terra brasileiraOuve esta canção ligeiraQue eu fiz quase louco de saudade…Isto É o Meu Brasil(Ary Barroso)Para usar em sala de aula• Sugira a seus alunos que pesquisem na famíliaquais os jingles (a música da propaganda)que cada um se lembra de ter escuta<strong>do</strong>no rádio na infância e na a<strong>do</strong>lescência.Cantoras <strong>do</strong> Rádio (Alberto Ribeiro, Braguinhae Lamartine Babo). CD – João de Barro,Braguinha – Carnaval – Sua História, SuaGlória, Reviven<strong>do</strong> Discos – vol. 19, 1997.Feitiço da Vila (Noel Rosa e Vadico). CD – ElizethCar<strong>do</strong>so, Zimbo Trio, Jacob <strong>do</strong> Ban<strong>do</strong>lim– Época de Ouro, Biscoito Fino, 2003.Rapaz Folga<strong>do</strong> (Noel Rosa). CD – Zé Renato,Elton Medeiros, Mariana de Moraes – A AlegriaContinua, MPB/WEA, 1997.O Bonde São Januário (Wilson Batista eAtaulfo Alves). CD – Carnaval – Sua História,Sua Glória, Reviven<strong>do</strong> Discos – vol. 14, 1994.Acertei no Milhar (Wilson Batista e Geral<strong>do</strong>Pereira). CD – Moreira da Silva – O ÚltimoMalandro – Odeon/EMI, 2003.Filmes35: O Assalto ao Poder. Brasil, 2002. Direção:Eduar<strong>do</strong> Escorel. Distribuição: DVD 2001. Duração:100 min.• Nos bailes e blocos <strong>do</strong> carnaval de hoje,ainda são tocadas músicas compostasentre os anos de 1930 e 1950. Os alunosCantoras <strong>do</strong> Rádio. Brasil, 2009. Direção: GilBaroni, Marcos Avellar. Distribuição: PandaFilmes. Duração: 85 min.125


<strong>Era</strong> Vargas 1 – A <strong>Era</strong> <strong>do</strong> RádioMadame Satã. Brasil, 2002. Direção: Karim Aïnouz.Distribuição: Lumière. Duração: 105 min.Maria 38. Brasil, 1959. Direção: Watson Mace<strong>do</strong>.Distribuição: Cinestri. Duração: 90 min.Noel – Poeta da Vila. Brasil, 2006. Direção:Ricar<strong>do</strong> van Steen. Distribuição: Pan<strong>do</strong>ra Filmes.Duração: 99 min.Ópera <strong>do</strong> Malandro. Brasil, 1986. Direção:Ruy Guerra. Distribuição: Globo Vídeo/Versátil.Duração: 105 min.A Revolução de 30. Brasil, 1980. Direção: SilvioBack. Distribuição: Embrafilme – EmpresaBrasileira de Filmes S.A. Duração: 118 min.________. O Rádio na Sintonia <strong>do</strong> Tempo:Radionovelas e Cotidiano (1940-1946). 1. ed.Rio de Janeiro: Edições Casa de Rui Barbosa,2006.CALDAS, Waldenyr. Iniciação à Música PopularBrasileira. São Paulo: Ática, 2000.CÂNDIDO, Antônio. A Revolução de 1930 ea Cultura. In: Novos Estu<strong>do</strong>s, CEBRAP, SãoPaulo, v. 2, 4, p. 27-36, abril, 1984.FAUSTO, Boris. História <strong>do</strong> Brasil. 12. ed. SãoPaulo: Edusp, 2004.FERREIRA, Jorge (org.). O Populismo e SuaHistória: Debate e Crítica. Rio de Janeiro: CivilizaçãoBrasileira, 2001.LivrosALBIN, Ricar<strong>do</strong> Cravo. O Livro de Ouro da MPB:A História de Nossa Música Popular de SuaOrigem até Hoje. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003.________. (criação e supervisão-geral). DicionárioHouaiss Ilustra<strong>do</strong> Música PopularBrasileira. Rio de Janeiro: Instituto AntônioHouaiss, Instituto Cultural Cravo Albin e EditoraParacatu, 2006.BOBBIO, Norberto. Dicionário de Política.Brasília: Editora UnB, 1998.CABRAL, Sérgio. A MPB na <strong>Era</strong> <strong>do</strong> Rádio.São Paulo: Editora Moderna, 1996.________. Elisete Car<strong>do</strong>so – Uma Vida. Riode Janeiro: Lumiar Editora, s/d.CALABRE, Lia. A <strong>Era</strong> <strong>do</strong> Rádio. Rio de Janeiro:Jorge Zahar, 2002.________; REIS, Daniel Aarão (org.). A Formaçãodas Tradições (1889-1945). Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 2007. (ColeçãoAs Esquerdas no Brasil, v. 1.)GOMES, Angela de Castro. A Invenção <strong>do</strong> Trabalhismo.Rio de Janeiro: Editora FGV, 2005.LINHARES, M. Y. L. (org.). História Geral <strong>do</strong>Brasil. Rio de Janeiro: Elsevier, 1990.MATTOS, Claudia. Acertei no Milhar: Sambae Malandragem no Tempo de Getúlio. Rio deJaneiro: Paz e Terra, 1982.MELLO, Zuza Homem de; SEVERIANO, Jairo.A Canção no Tempo: 85 Anos de MúsicaBrasileira (1901-1957). São Paulo: Editora 34,1997, v. 1.MOURA, G. de Almeida. O Fascismo Italianoe o Esta<strong>do</strong> Novo Brasileiro. Disponível em:http://www.ebooksbrasil.org/a<strong>do</strong>beebook/fascismoit.pdf.126


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<strong>Era</strong> Vargas 2 – A políticada boa vizinhança<strong>Era</strong> Vargas 2 – A política da boa vizinhança1SinopseÀs vésperas da Segunda Guerra Mundial, o Brasil viveu um momento deexuberância artística; entre as grandes estrelas, a que mais brilhavaera Carmen Miranda; o conflito na Europa começou, mas Getúlio optoupela neutralidade; os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s implementaram uma política de boavizinhança: o cinema promoveu o american way of life; Villa-Lobos, o gênioque trafegou <strong>do</strong> erudito ao popular; o Brasil declarou guerra ao Eixo, e,com a vitória <strong>do</strong>s Alia<strong>do</strong>s, também chegava ao fim a <strong>Era</strong> Vargas; o baiãoconquistou o país e o mun<strong>do</strong>; o presidente Dutra proibiu o jogo, fechouos cassinos e encerrou um perío<strong>do</strong> de nossa história cultural.129


<strong>Era</strong> Vargas 2 – A política da boa vizinhançaMuito longe da guerrana EuropaO que é que a baiana tem?O que é que a baiana tem?Tem torço de seda, tem!Tem brincos de ouro, tem!Corrente de ouro, tem!Tem pano da costa, tem!Sandália enfeitada, tem!Tem graça como ninguémComo ela requebra bem!O que É que a Baiana Tem?(Dorival Caymmi)Longe desse cenário ameaça<strong>do</strong>r, o Brasilvivia uma época de pujança. Embala<strong>do</strong>spelas ondas <strong>do</strong> rádio, os brasileiros descobriama cada ano que a sua musicalidadeparecia não ter limites. Por exemplo: o finalda década de 1930 marcou a chegada aoRio de Janeiro <strong>do</strong> cantor e compositor DorivalCaymmi, que eternizaria a Bahia. Nãoque ela fosse desconhecida para os músicos,pois o carioca Sinhô, nos anos 1920, eAry Barroso, com Na Baixa <strong>do</strong> Sapateiro, jáhaviam louva<strong>do</strong> a chamada Boa Terra. Masainda faltava um autêntico baiano para conquistaro Brasil, e foi Caymmi, com seu cantarsereno, seu violão brejeiro e sua músicacheia de dendê quem chegou lá.O ano de 1938 começou, e as pesadas nuvensda guerra anunciavam que um novoconflito estava prestes a enlutar o mun<strong>do</strong>.A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) deixaracicatrizes muito <strong>do</strong>loridas em to<strong>do</strong>s os paísesenvolvi<strong>do</strong>s, principalmente na Alemanha.A outrora orgulhosa nação mantinha seussonhos de hegemonia, mas tinha suas açõesrestringidas por um trata<strong>do</strong> de paz que arrancou,inclusive, pedaços de seu território.A ascensão de A<strong>do</strong>lf Hitler e de seu parti<strong>do</strong>nazista se devia muito ao fato de que o führerprometia resgatar a autoestima <strong>do</strong>s alemães,além <strong>do</strong>s territórios perdi<strong>do</strong>s, é claro.3 . Dorival Caymmi, Carmen Miranda e Assis ValenteNa história de nossa música, são raros oscompositores que atingiram o sucesso semque um grande intérprete “encarnasse” suaobra. A primeira e mais emblemática dessasduplas foi, sem dúvida, a que reuniu Caymmie a extraordinária Carmen Miranda. NascidaMaria <strong>do</strong> Carmo Miranda da Cunha, em1909, em Portugal, emigrou com a famíliapara o Brasil em 1910.1302 . Segunda Guerra Mundial, invasão da Normandia,em junho de 1944Apaixonada pela música, desde os 16 anostentava a carreira artística. Mas o sucesso sóveio em 1930, quan<strong>do</strong> gravou a marcha PraVocê Gostar de Mim, de Joubert de Carvalho:“Taí, eu fiz tu<strong>do</strong> pra você gostar de mim”...Daí para frente, seu brilho só fez crescer.


Em 1933, os produtores e programa<strong>do</strong>res derádio logo perceberam o imenso potencialde Carmen, e ela se tornou a primeira mulhera ter um contrato fixo – no caso, com aRádio Mayrink Veiga –, quan<strong>do</strong> a regra erareceber cachês por apresentações isoladas.Cinco anos depois, conhecida como a maiorestrela brasileira, foi nessa condição que recebeuo jovem baiano, que aos 23 anos nãose intimi<strong>do</strong>u e lhe apresentou a música quea tornaria uma estrela internacional: O que Éque a Baiana Tem?ita no norte, pra vim pro Rio morar”). Mas oque trazia no peito era mesmo a vontade dese consagrar como músico. A Cidade Maravilhosao recebeu de braços abertos, e daquiele nunca mais saiu.Do Cassino da Urcapara o mun<strong>do</strong>Adeus, adeusMeu pandeiro <strong>do</strong> sambaTamborim de bambaJá é de madrugadaVou-me embora choran<strong>do</strong>Com meu coração sorrin<strong>do</strong>E vou deixar to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>Valorizan<strong>do</strong> a batucada<strong>Era</strong> Vargas 2 – A política da boa vizinhançaAdeus, Batucada(Synval Silva)4 . O cantor e compositor Dorival CaymmiDorival Caymmi (1914-2008) foi um talentoprecoce. Em 1930, escreveu sua primeiramúsica, No Sertão, e aos 20 anos estreoucomo cantor e violonista em programas daRádio Clube da Bahia. Já em 1935, passou aapresentar o musical Caymmi e Suas CançõesPraieiras. Com 22 anos, venceu, comocompositor, o concurso de músicas de carnavalcom o samba A Bahia Também Dá. Umdiretor da Rádio Clube da Bahia o incentivoua seguir carreira no sul <strong>do</strong> país. Em abrilde 1938, aos 23 anos, Dorival viajou de “ita”(navio que cruza o norte até o sul <strong>do</strong> Brasil)até a cidade <strong>do</strong> Rio de Janeiro, para conseguiremprego como jornalista e realizar ocurso preparatório de Direito (“Peguei um5 . Hotel Balneário, transforma<strong>do</strong> em Cassino da Urca em 1933Para Ruy Castro, biógrafo de Carmen Mirandae autor de um livro definitivo sobre anossa grande artista, uma das qualidadesda estrela era a capacidade de escolher sucessospara seu repertório. Além <strong>do</strong> mais,a<strong>do</strong>rava roupas e figurinos exóticos, e aletra que Dorival Caymmi lhe apresentava131


<strong>Era</strong> Vargas 2 – A política da boa vizinhançapermitia voos que nenhuma artista brasileiraousara até então. Carmen também foi pioneirana visão de que a música não era maisalgo para apenas ser ouvi<strong>do</strong>, mas tambémvisto, e o cinema seria o veículo que a levariaa conquistar as Américas.O Rio de Janeiro daquele ano de 1938 jácrescera o suficiente para ter algumas joiasarquitetônicas em sua tiara à beira-mar. Novose grandes hotéis surgiram fora <strong>do</strong> Centro:o Glória e o Central (este já demoli<strong>do</strong>),nas praias <strong>do</strong> Russel e <strong>do</strong> Flamengo; o luxuosoCopacabana Palace, em Copacabana; eo Balneário, na Urca, um bairro cria<strong>do</strong> pelavalorização <strong>do</strong> solo à beira-mar. O Balneárionunca chegou a ser um grande hotel comoos demais; possuía apenas 34 aposentos ese tornou muito mais famoso quan<strong>do</strong> transforma<strong>do</strong>em cassino, no ano de 1933. Ali jogava-semuito (roleta e cartea<strong>do</strong>) e assistia--se a grandes shows com artistas nacionaise internacionais. Havia outros cassinos noRio, como o <strong>do</strong> Copacabana Palace e o <strong>do</strong>Posto Seis, mas nenhum alcançou a glória ea fama que teve o da Urca. <strong>Era</strong> no Cassinoda Urca que se reunia a nata da elite política,financeira e intelectual <strong>do</strong> país; lá, os maioresnomes <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> Novo iam espairecer.6 . Hotel Glória, projeta<strong>do</strong> pelo arquiteto francês JosephGire. Foi inaugura<strong>do</strong> em 1922 como o primeiro hotel cincoestrelas <strong>do</strong> BrasilPois Carmen preparou uma grande surpresapara seus admira<strong>do</strong>res na Urca, ao apresentar-lhesa obra <strong>do</strong> recém-chega<strong>do</strong> Caymmi:cantou O que É que a Baiana Tem? cheiade requebros e com um figurino que deixouembasbacada a plateia, principalmenteamericanos, no caso, o produtor Lee Shubert,que depois de ter algumas ofertas recusadas,aumentou tanto o valor ofereci<strong>do</strong>que não houve como recusar. Carmen partiupara os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s e, um ano depois,exausta e a caminho de ser milionária, estavade volta para uma curta temporada brasileira.Mas, como ela <strong>do</strong>lorosamente descobriria,os tempos haviam muda<strong>do</strong>. E como!7 . Carmen Miranda, a Pequena Notável de to<strong>do</strong>s os temposA cantora entre <strong>do</strong>is fogosE disseram que eu voltei americanizadaCom o burro <strong>do</strong> dinheiroQue estou muito ricaQue não suporto mais o breque <strong>do</strong>[pandeiroE fico arrepiada ouvin<strong>do</strong> uma cuícaDisseram que com as mãosEstou preocupadaE corre por aíQue eu sei certo zum zumQue já não tenho molho, ritmo, nem nadaE <strong>do</strong>s balangandans já “nem” existe[mais nenhumDisseram que Voltei Americanizada(Luiz Peixoto e Vicente Paiva)132


Setembro de 1939. Apesar de suas (falsas)promessas, Hitler invadiu a Polônia e deuinício à Segunda Guerra Mundial. No primeiromomento, foi uma blitzkrieg (guerra-relâmpago),e a rapidez das tropas alemãs sóconseguiu ser suplantada pela violência comque tratava os povos venci<strong>do</strong>s, especialmenteos judeus. Nove meses depois, quan<strong>do</strong> abandeira nazista já tremulava sobre uma TorreEiffel humilhada, parecia não haver forçacapaz de deter o poder germânico.Diante de to<strong>do</strong> esse poderio, somente osingleses se mostraram dispostos a enfrentaros alemães, enquanto os americanos insistiamna neutralidade. Apesar de ficar emberço esplêndi<strong>do</strong> e longe das áreas <strong>do</strong> conflito,o Brasil não estava sur<strong>do</strong> aos ecos daguerra. Getúlio Vargas, em busca de investimentospara alavancar o nosso desenvolvimento,acenava para um la<strong>do</strong> e para o outro,embora dentro <strong>do</strong> próprio governo houvesseuma forte corrente que defendia uma aliançacom a Alemanha nazista.Carmen subiu ao palco e, brincalhona, disparou:“Good night, people!”. Ninguém respondeu.Ainda aturdida pela fria recepção, elacometeu um erro tático ao escolher como primeiramúsica South American Way, um sambameio rumba que não agra<strong>do</strong>u ao público.Dali para frente, nada deu certo. Após oquarto número, Carmen aban<strong>do</strong>nou o palco.Existem muitas explicações para esse episódio,que inclusive gerou uma das mais deliciosascanções que Carmen interpretou: Disseramque Voltei Americanizada. A cantoralogo deu a volta por cima, sem se importarmuito com o disse que disse que se seguiuao incidente.Aquele talvez já fosse o primeiro sintomade que o Brasil não podia ficar indiferenteao que ocorria no resto <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, pois,para alguns críticos, a reação a Carmen teriasi<strong>do</strong>, na verdade, uma reação antiamericanapor parte de pessoas que apoiavama Alemanha. Mas o que teria gera<strong>do</strong> esseantiamericanismo?<strong>Era</strong> Vargas 2 – A política da boa vizinhançaBoa vizinhança, bonsnegócios8 . Carmen Miranda, no filme Uma Noite no RioFoi nesse clima de antagonismo que CarmenMiranda voltou ao Brasil depois <strong>do</strong> primeiroano nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s. Como seria deesperar, seu retorno triunfal deveria ser celebra<strong>do</strong>no Cassino da Urca, a convite da primeira-damaDarcy Vargas para uma noite beneficente.Anunciada por César Ladeira, quelouvou suas façanhas em terras americanas,Chegou o samba, minha genteLá da terra <strong>do</strong> Tio Sam com novidadeE ele trouxe uma cadência que é malucaPra mexer toda a cidadeO boogie woogieBoogie woogie, boogie woogieA nova dança que balançaMas não cansaA nova dança que faz parteDa política da boa vizinhançaBoogie Woogie na Favela(Denis Brean)133


<strong>Era</strong> Vargas 2 – A política da boa vizinhança9 . No Centro <strong>do</strong> Rio, a elegância de homens e mulheresNo começo <strong>do</strong> século XX, o Rio de Janeiro eoutras grandes cidades brasileiras eram claramenteinspiradas em modelos franceses.Havia toda uma cultura francófila, que passavapela literatura, pela gastronomia, pelamúsica e até mesmo pelo vestuário. Quan<strong>do</strong>olhamos fotos da chamada Belle Époque(a própria expressão já mostra a influênciafrancesa) no Brasil, percebemos claramentea inadequação das roupas ao nosso climatropical: casacas, cartolas, luvas, homense mulheres muito elegantes, mas sofren<strong>do</strong>sob o tropical calor de 40 graus.frajola/ que nunca frequentou as aulas daescola”... Mas não tinha jeito: o Olimpo deHollywood espalhava deuses e semideusespara to<strong>do</strong>s os gostos e todas as idades.Mais que uma mera invasão cultural, o cinemacumpria um papel importante na estratégianorte-americana.Desde sua eleição em 1933, o presidentenorte-americano Franklin Delano Roosevelt(que cumpriu quatro mandatos consecutivos,até 1945) estava determina<strong>do</strong> a ampliar a influência<strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s no continente.Basea<strong>do</strong> na chamada Política de Boa Vizinhança,queria estreitar laços de amizadecom as nações das Américas, usan<strong>do</strong> <strong>do</strong>isinstrumentos poderosos: a inegável força <strong>do</strong>dólar e o poder da indústria cultural americana,com seu principal veículo – o cinema.Assim como Getúlio Vargas, Roosevelt tambémtinha um especial apreço pelos meiosde comunicação, sen<strong>do</strong> o primeiro presidentenorte-americano a discursar na TV.Porém, a partir <strong>do</strong>s anos 1920, com a Europaem ruínas, uma nova potência emergiu e passoua ditar, mundialmente, seus padrões culturais.Vesti<strong>do</strong> com as roupas <strong>do</strong> Tio Sam, ocinema entrou na disputa de corações e mentes<strong>do</strong>s povos <strong>do</strong> Ocidente. E, quan<strong>do</strong> o somchegou às telas, conquistou de vez o mun<strong>do</strong>.134É interessante notar que, no início <strong>do</strong>s anos1930, Noel Rosa tinha aborda<strong>do</strong> esse tema nacanção Não TemTradução: O CinemaFala<strong>do</strong> É oGrande Culpa<strong>do</strong>da Transformação...Assis Valentetambém, namúsica Good-Bye,Boy: “Good-bye,good-bye, boy/deixe a mania <strong>do</strong>inglês/ é tão feio 10 . Capa <strong>do</strong> DVD <strong>do</strong> filmepra você/ moreno E o Vento Levou, um clássico11 . Propaganda <strong>do</strong> leite de magnésia de Phillips, anos 1940Com o acelera<strong>do</strong> crescimento da economiabrasileira nos anos 1930, aportaram por aquias primeiras agências de propaganda internacionais.Vinham apresentar produtos importa<strong>do</strong>sou fabrica<strong>do</strong>s no país em monta<strong>do</strong>rasque recebiam suas peças prontas das matrizes.Foi quan<strong>do</strong> a ascendente classe médiabrasileira tomou contato com novos hábitos,


que incluíam o consumo de alimentos enlata<strong>do</strong>s,eletro<strong>do</strong>mésticos, produtos de beleza,adereços femininos e masculinos, automóveis,móveis, refrigerantes, cigarros: tu<strong>do</strong> o quepodia ser visto nas telas <strong>do</strong>s cinemas.Ficou claro que, apesar de o presidente Rooseveltmirar na questão política, o que moviamesmo a engrenagem eram a economiae o enorme merca<strong>do</strong> que surgia no Brasilpara os produtos americanos.Esse pano de fun<strong>do</strong> marcou a controversaapresentação de Carmen Miranda no Cassinoda Urca. Uma disputa política e econômicaque deixou suas marcas até mesmo nabiografia de uma das maiores artistas que oBrasil já conheceu.O genial Villa-Lobosuma linguagem musical erudita autenticamentebrasileira, incorporan<strong>do</strong> elementosde nossa cultura.Raul Villa-Lobos, pai <strong>do</strong> compositor, funcionáriopúblico e músico ama<strong>do</strong>r, deu-lheinstrução musical e adaptou uma viola paraque o pequeno Heitor iniciasse seus estu<strong>do</strong>sde violoncelo. Aos 12 anos, órfão de pai,Villa-Lobos passou a tocar em teatros, cafése bailes; paralelamente, interessou-se pelaintensa musicalidade <strong>do</strong>s “chorões” representantesda melhor música popular <strong>do</strong> Riode Janeiro e, nesse contexto, desenvolveu--se também no violão. De temperamento inquieto,empreendeu desde ce<strong>do</strong> escapadaspelo interior <strong>do</strong> país, primeiras etapas deum processo de absorção de to<strong>do</strong> o universomusical brasileiro.<strong>Era</strong> Vargas 2 – A política da boa vizinhançaÓ Tupã, deus <strong>do</strong> Brasil.Que o céu enche de solDe estrelas, de luar e de esperançaÓ Tupã, tira de mim essa saudadeAnhangá me fez sonharCom a terra que perdiO Canto <strong>do</strong> Pajé(Heitor Villa-Lobos e Paula Barros)12 . O maestroHeitor Villa-Lobos,“o maior compositordas Américas”To<strong>do</strong> personagem histórico leva consigo,além de sua obra, a inserção no mun<strong>do</strong>em que viveu. Esse é o caso <strong>do</strong> maestroe compositor Heitor Villa-Lobos (1887-1959),o maior expoente da música clássica emnosso país. O Brasil já alcançara algum renomeinternacional nesse setor, graças àobra de Antonio Carlos Gomes (1836-1896),cuja ópera mais conhecida é O Guarani, queinaugurou a transmissão ao vivo <strong>do</strong> rádio,direto <strong>do</strong> Theatro Municipal, em 7 de setembrode 1922. Mas foi Villa-Lobos que criouEm 1922, Villa-Lobos participou da Semanade Arte Moderna e, no ano seguinte,embarcou para a Europa, regressan<strong>do</strong> aoBrasil em 1924. Viajou, novamente, para aEuropa em 1927 e retornou em 1930, quan<strong>do</strong>realizou turnê por 66 cidades. A essaaltura, era um compositor de renome, aindaque ataca<strong>do</strong> violentamente por algunscríticos, que se recusavam a reconhecer osméritos de sua obra múltipla. Essa obra incluíasons de pássaros, cantos indígenas einstrumentos populares de percussão. <strong>Era</strong>um artista completo.135


<strong>Era</strong> Vargas 2 – A política da boa vizinhançaEm seu retorno, engajou-se, decididamente,no projeto nacionalista de Getúlio Vargas,que, em 1930, criou o Ministério da Educaçãoe Saúde Pública. Villa-Lobos foi chama<strong>do</strong> adar sua contribuição e colocou em prática<strong>do</strong>is de seus maiores sonhos: o de promovera educação artística <strong>do</strong>s jovens e o de levarao povo os grandes concertos musicais.“Quan<strong>do</strong> procurei formar a minha cultura,guiada pelo meu instinto e tirocínio, verifiqueique só poderia chegar a uma conclusãode saber consciente pesquisan<strong>do</strong>, estudan<strong>do</strong>obras que, à primeira vista, nada tinhamde musicais. Assim, o primeiro livro foi omapa <strong>do</strong> Brasil, o Brasil que eu palmilhei, cidadepor cidade, esta<strong>do</strong> por esta<strong>do</strong>, florestapor floresta, perscrutan<strong>do</strong> a lama de umaterra. Depois, o caráter <strong>do</strong>s homens dessaterra. Depois, as maravilhas naturais dessaterra”, afirmava. A declaração, vista hoje,com a perspectiva <strong>do</strong> tempo, demonstra aprofunda percepção que tinha o maestro dagrandeza de nosso país.1940, realizou novas concentrações orfeônicasnos estádios <strong>do</strong>s clubes Vasco da Gamae Fluminense, no Rio de Janeiro.Os americanos entre nósBrasil!Meu Brasil brasileiroMeu mulato inzoneiroVou cantar-te nos meus versosO Brasil, samba que dáBamboleio, que faz gingarO Brasil, <strong>do</strong> meu amorTerra de Nosso SenhorBrasil!Aquarela <strong>do</strong> Brasil(Ary Barroso)13613 . Villa-Lobos no estádio de São Januário emconcentração para regência de coralEm 1932, Villa-Lobos foi nomea<strong>do</strong> superintendentede Educação Musical e Artística <strong>do</strong>então Distrito Federal e, em 1942, diretor <strong>do</strong>Conservatório Nacional de Canto Orfeônico.Nesse perío<strong>do</strong>, realizou enormes concentraçõesorfeônicas, uma das quais com aparticipação de 42 mil vozes de estudantes.Em outra, em São Paulo, que denominou deExortação Cívica, tomaram parte aproximadamente12 mil vozes. Entre os anos 1930 eQuan<strong>do</strong> o maestro norte-americano LeopoldStokowski (regente <strong>do</strong> repertório clássico <strong>do</strong>desenho Fantasia, de Walt Disney), navegan<strong>do</strong>nas águas da aproximação cultural entreos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s e o Brasil, veio aqui, em1940, pesquisar o melhor da nossa música,foi a Heitor Villa-Lobos que ele recorreu.Stokowski conhecia sua obra, da qual regeraalgumas peças em concertos nos anos 1930.Ele bem sabia, portanto, o que queria gravar:emboladas, sambas, marchas-rancho,até a música religiosa tocada em rituais afro.E Villa-Lobos era o homem certo para a empreitada:conhecia to<strong>do</strong>s os caminhos quelevavam <strong>do</strong> erudito ao popular e vice-versa.Respirava a natureza polirrítmica <strong>do</strong> samba,frequentava os ensaios da Mangueira, a<strong>do</strong>ravaCartola (Angenor de Oliveira): “Ele é umgênio, acerta até quan<strong>do</strong> erra”, costumavadizer sobre a natureza espontânea da obra<strong>do</strong> compositor, que não estu<strong>do</strong>u música pelosméto<strong>do</strong>s tradicionais. Ironias da história:


Cartola e sua obra só voltariam a ser valoriza<strong>do</strong>snos anos 1970, quan<strong>do</strong> foram “redescobertos”por intérpretes que se debruçaramsobre suas belíssimas composições.14 . Zé Carioca, personagem <strong>do</strong> filme Alô, Amigos,de Walt DisneyEm 1941, uma nova leva de americanos chegouao Rio de Janeiro: a equipe de Walt Disney,em busca de temas para o desenho anima<strong>do</strong>Alô, Amigos, que reforçaria ainda maisos laços entre os EUA e a América Latina.Foi quan<strong>do</strong> surgiu o personagem Zé Carioca,que sambava ao som de Aquarela <strong>do</strong> Brasil.Mas a “invasão” não parou: em 1942, quemchegou foi o famosíssimo cineasta OrsonWelles, com o projeto de fazer um <strong>do</strong>cumentárioque mostrasse a realidade brasileira,<strong>do</strong>s jangadeiros ao autêntico samba nas favelas.Não deu certo por muitos motivos, entreeles o fato de que o diretor premia<strong>do</strong> deCidadão Kane estava mais interessa<strong>do</strong> em sedivertir <strong>do</strong> que em filmar. Além <strong>do</strong> mais, suavisão <strong>do</strong> Brasil não era exatamente a que oDIP pretendia divulgar.15 . O cineasta Orson Welles (à direita) em visita ao BrasilO Brasil vai à guerraPor mais terras que eu percorra,Não permita Deus que eu morraSem que volte para lá;Sem que leve por divisaEsse “V” que simbolizaA vitória que viráCanção <strong>do</strong> Expedicionário(Guilherme de Almeida e Spartaco Rossi)16 . O presidente norte-americano Roosevelt visita a base deNatal em 1943Oscilan<strong>do</strong> entre as duas correntes, que exigiamuma definição imediata entre as forças<strong>do</strong> Eixo e os Alia<strong>do</strong>s, Getúlio Vargas seguiutentan<strong>do</strong> tirar parti<strong>do</strong> <strong>do</strong> conflito para conseguirvantagens para o Brasil. A construçãoda usina de Volta Re<strong>do</strong>nda, fundamentalpara o nosso desenvolvimento, foi a pedrade toque para essa definição. Vargas já haviapleitea<strong>do</strong> um empréstimo para realizar aobra, mas o governo americano vacilava emconcedê-lo. Com um golpe de mestre, o presidentebrasileiro acenou para empresários<strong>Era</strong> Vargas 2 – A política da boa vizinhança137


<strong>Era</strong> Vargas 2 – A política da boa vizinhançaalemães, que já forneciam material bélicoao nosso país. Foi o que bastou para terminaremos empecilhos: no começo de 1941,Roosevelt autorizou o empréstimo, mas exigiu,em troca, que fossem construídas basesmilitares em Natal, no Rio Grande <strong>do</strong>Norte, com hangares para os bombardeirosnorte-americanos.A chegada <strong>do</strong>s militares americanos ao Brasilmarcou o início <strong>do</strong> fim da neutralidademantida até então. Em 7 de dezembro de1941, a armada japonesa atacou Pearl Harbor,e os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s finalmente entraramna guerra e cobraram fidelidade deseus parceiros.Vargas ainda tentou contemporizar, mas,graças à atuação <strong>do</strong> ministro das RelaçõesExteriores, o chanceler Oswal<strong>do</strong> Aranha, oBrasil rompeu relações com os países <strong>do</strong>Eixo: Alemanha, Itália e Japão. A reação foiimediata: submarinos alemães que já patrulhavamo Atlântico Sul passaram a atacarnavios brasileiros.<strong>do</strong>is poderosos inimigos: as tropas alemãse o terrível frio <strong>do</strong> inverno europeu, parao qual estavam inteiramente desprepara<strong>do</strong>s.No entanto, mostran<strong>do</strong> grande bravura, astropas brasileiras superaram as dificuldadese se tornaram importantíssimas na reconquistade áreas de difícil acesso nas montanhasitalianas.Em 8 de maio de 1945, o almirante alemãoKarl Dönitz comunicou à população ter acaba<strong>do</strong>de assinar, em Berlim, a capitulação <strong>do</strong>III Reich. Cinco anos e meio após Hitler ter invadi<strong>do</strong>a Polônia, terminava o terrível conflito.No Brasil, a euforia se misturou aos anseiosque vinham se avoluman<strong>do</strong> ano após ano.Apesar de todas as conquistas que Vargastrouxera ao país, em seus 15 anos de poder,em seu governo faltava liberdade.Em 30 de outubro de 1945, Vargas foi derruba<strong>do</strong>.Segun<strong>do</strong> Boris Fausto, “a queda deGetúlio se fez a frio. Força<strong>do</strong> a renunciar, elese retirou <strong>do</strong> poder fazen<strong>do</strong> uma declaraçãopública de que concordara com sua saída.Não chegou a ser exila<strong>do</strong> <strong>do</strong> país, pois pôderetirar-se para São Borja, sua cidade natal,no Rio Grande <strong>do</strong> Sul”.Foram marcadas eleições diretas para presidente,e, em 1946, o Brasil ganhou um novomandatário: o general Eurico Gaspar Dutra.<strong>Era</strong> o fim <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> Novo.13817 . No Palácio <strong>do</strong> Catete, Getúlio inaugura placa que indica aentrada <strong>do</strong> Brasil na guerra, em 22/08/1944Sob intensa pressão popular, Vargas nãoteve mais como evitar a entrada <strong>do</strong> país noconflito. Em 31 de agosto de 1942, o Brasildeclarou guerra às potências <strong>do</strong> Eixo. Trintamil brasileiros (os “pracinhas”) foram envia<strong>do</strong>spara o front italiano, onde enfrentaramSão os <strong>do</strong> norte que vêm!O governo Dutra foi marca<strong>do</strong> pela sobriedadeem to<strong>do</strong>s os senti<strong>do</strong>s, inclusive nocultural. De raízes conserva<strong>do</strong>ras, o novopresidente não olhava com bons olhos a proliferaçãode cassinos no Brasil.Pouco importava se eles eram o palco prediletopara a esfuziante música popular brasileira.Ao assinar o decreto que proibia o jogo


no Brasil, Dutra encerrou de forma abruptauma das mais fulgurantes épocas de nossaprodução cultural. No entanto, a evolução danossa música continuava.Eu vou mostrar pra vocêsComo se dança o baiãoE quem quiser aprenderÉ favor prestar atençãoMorena chegue pra cá,Bem junto ao meu coraçãoAgora é só me seguirPois eu vou dançar o baiãoBaião(Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira)Para cantar a dura realidade de sua terra,Gonzaga teve como parceiro principal o advoga<strong>do</strong>Humberto Teixeira, que só conheciao sertão de nome. Mas isso não impediuque ambos criassem uma obra antológica,na qual se destacam Asa Branca, Baião eAssum Preto.Durante dez anos, o baião pontificou nasrádios brasileiras, alcançan<strong>do</strong>, inclusive, sucessointernacional. E se Gonzaga teve muitosparceiros em sua longa carreira musical,foi com Teixeira que inscreveu seu nomepara sempre na história <strong>do</strong>s grandes clássicosde nossa música popular.<strong>Era</strong> Vargas 2 – A política da boa vizinhançaDepois <strong>do</strong> brilho perene das canções de inspiraçãocarioca e baiana, nas quais o pianoe o violão pontificavam, chegara a vez dasanfona. E ela veio pelas mãos de um jovempernambucano, Luiz Gonzaga (1912-1989),que depois de passar um bom tempo tocan<strong>do</strong>os ritmos da moda nas gafieiras <strong>do</strong> Riode Janeiro, encontrou seu destino nos ritmosnordestinos: o baião, o xaxa<strong>do</strong> e o xote.19 . Foto-ilustração <strong>do</strong> presidente Getúlio VargasCom a democratização, novas forças políticassurgiram no Brasil: parti<strong>do</strong>s foramcria<strong>do</strong>s, os jovens voltaram a se interessarpela atividade parlamentar, a centralizaçãoexcessiva no Distrito Federal começou aperder força.18 . Capa <strong>do</strong> álbum Chá Chatuba, de Luiz Gonzaga,o Rei <strong>do</strong> BaiãoNo entanto, por mais que seus inimigos afirmassemque seus dias de glória estavamencerra<strong>do</strong>s, Getúlio Vargas ainda teria umimportantíssimo – e trágico – papel para desempenharem nossa história. E seu gestoderradeiro deixaria marcas que até hoje repercutemem nossa vida política e social.139


<strong>Era</strong> Vargas 2 – A política da boa vizinhançaPara usar em sala de aula• Marcar uma visita com a turma ao MuseuCarmen Miranda (Avenida Rui Barbosa,560, Flamengo) para conhecer de perto osincríveis figurinos da intérprete.• Recomendar aos alunos que assistam ao<strong>do</strong>cumentário Senta a Pua, <strong>do</strong> diretor Erikde Castro, que descreve as façanhas <strong>do</strong>spilotos da Força Aérea Brasileira na SegundaGuerra Mundial.• Marcar uma visita ao Museu da República,no Palácio <strong>do</strong> Catete (Rua <strong>do</strong> Catete, 153,no bairro de mesmo nome), onde se encontratoda a memória <strong>do</strong>s Anos Vargas.• Trenzinho Caipira é uma das composiçõesmais conhecidas de Villa-Lobos. Sugeriruma pesquisa no site YouTube para descobriras diferentes gravações da música queforam feitas.Para saber maisPraça Onze (Herivelto Martins e Grande Otelo).CD – Herivelto Martins – Carnaval de Rua– Mocambo/Intercd, 2000.Baião (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira).CD – Luiz Gonzaga – Luiz Gonzaga 90 Aninhos– Reviven<strong>do</strong> Discos, RVCD-184, 2002.Adeus, América (Harol<strong>do</strong> Barbosa e Geral<strong>do</strong>Jacques). CD – Mestres da MPB – Os Cariocas– WEA, 1994.FilmesAlô, Amigos (Salu<strong>do</strong>s, Amigos). EUA, 1942.Direção: Norman Ferguson/Wilfred Jackson.Distribuição: Buena Vista. Duração: 42 min.Banana da Terra. Brasil, 1938. Direção: RuyCosta. Distribuição: Buena Vista. Duração:75 min.Carmen Miranda: Banana Is My Business.Brasil/EUA, 1994. Direção: Helena Solberg.Distribuição: não definida. Duração: 91 min.MúsicasO que É que a Baiana Tem? (Dorival Caymmi).CD – Carmen Miranda – A Pequena Notável –Reviven<strong>do</strong> Discos, RVCD-037, s/d.Disseram que Voltei Americanizada (Luiz Peixotoe Vicente Paiva). CD – Caetano Veloso– Circuladô Vivo – Polygram/Philips, 1992.Adeus, Batucada (Synval Silva). CD – VirgíniaRodríguez – Sol Negro – Natasha Re cords, 1997.Quem Me Vê Sorrin<strong>do</strong> (Cartola e Carlos Cachaça).CD – Elton Medeiros, Nelson Sargento,Grupo Galo Preto – Só Cartola – Rob Digital,1999.Um Certo Dorival Caymmi. Brasil, 2000. Direção:Aloísio Didier. Distribuição: Riofilme.Duração: 70 min.For All – O Trampolim da Vitória. Brasil, 1997.Direção: Luiz Carlos Lacerda e Buza Ferraz.Distribuição: Columbia TriStar Filmes <strong>do</strong> Brasil.Duração: 90 min.Holocausto: a Libertação de Auschwitz. 1945.Direção: Irmgard von zur Mühlen. Distribuição:Wonder. Duração: 60 min.Nem Tu<strong>do</strong> É Verdade. Brasil, 1986. Direção:Rogério Sganzerla. Distribuição: Embrafilme.Duração: 95 min.140


Pearl Harbor: o Outro La<strong>do</strong> da História. EUA,2001. Direção: Kirk Wolfinger/ Michael Rosenfeld.Distribuição: Warner Home Video.Duração: 96 min.Prelúdios de uma Guerra (Prelude of War).EUA, 1942. Direção: Frank Capra. Distribuição:Wonder. Duração: 60 min.Serenata Tropical (Down Argentine Way).EUA, 1940. Direção: Irving Cummings. Distribuição:20 th Century Fox Film Corp. Duração:89 min.O Triunfo da Vontade (Triumph des Willens).Alemanha, 1934. Direção: Leni Riefenstahl.Distribuição: Wonder. Duração: 130 min.Villa-Lobos: uma Vida de Paixão. Brasil,2000. Direção: Zelito Viana. Distribuição:Continental. Duração: 130 min.LivrosAGOSTINO, Carlos Gilberto Werneck. SegundaGuerra Mundial. In: SILVA, F. C. T. (org.). Enciclopédiade Guerras e Revoluções <strong>do</strong> SéculoXX. 1. ed. Rio de Janeiro: Campus/Elsevier, 2004.AMATO, Rita de Cássia Fussi. Momento Brasileiro:Reflexões sobre o Nacionalismo, aEducação Musical e o Canto Orfeônico emVilla-Lobos. Revista Eletrónica Complutensede Investigación en Educación Musical, v. 5,n. 2, 2008, p. 1-18. Disponível em: http://www.ucm.es/info/reciem/v5n2.pdf.CABRAL, Sérgio. No Tempo de Almirante:Uma História <strong>do</strong> Rádio e da MPB. Rio de Janeiro:Livraria Francisco Alves Editora, 1990.CASTRO, Ruy. Carmen: Uma Biografia. Rio deJaneiro: Companhia das Letras, 2005.CORDEIRO, P. M. N. A Guerra de Palavras:A Construção <strong>do</strong> Inimigo “Quinta Coluna”pela Imprensa Pernambucana Durante a SegundaGuerra Mundial. Fênix – Revista deHistória e Estu<strong>do</strong>s Culturais, jan./ fev./ mar.,2009, v. 6, ano VI, n. 1, p. 1-16. Disponívelem: www.revistafenix.pro.br.ENCICLOPÉDIA da Música Brasileira: Popular,Erudita e Folclórica. São Paulo: Art Editora,Publifolha, 1998.FABER, M. E. E. O Contexto Histórico daAlemanha após a Primeira Guerra Mundiale a Ascensão <strong>do</strong> Nazismo. Disponível em:http://www.historialivre.com/contemporanea/hitler.htm.FAUSTO, Boris. História <strong>do</strong> Brasil. São Paulo:Edusp, 2004, p. 339.GONÇALVES, Williams da Silva. A SegundaGuerra Mundial. In: REIS FILHO, D. A.; FER-REIRA, J.; ZENHA, C. (org.). O Século XX –O Tempo das Crises: Revoluções, Fascismose Guerras. 3. ed., v. 2. Rio de Janeiro: CivilizaçãoBrasileira, 2005, p. 167-193.HOBSBAWN, Eric J. A <strong>Era</strong> <strong>do</strong>s Extremos:O Breve Século XX (1914-1991). São Paulo:Companhia das Letras, 1995.JAIRO, Severiano. A Canção no Tempo – vol. 1(1901-1957). Rio de Janeiro: Editora 34, 1997.LAMARÃO, Sérgio Tadeu de Niemeyer. O Brasilna Segunda Guerra Mundial. In: SILVA,Raul Mendes; CACHAPUZ, Paulo Brandi;LAMARÃO, Sérgio (org.). Getúlio Vargas eSeu Tempo. Rio de Janeiro: BNDES, 2004.Disponível em: http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Institucional/Publicacoes/Paginas/livro_getulio.html.<strong>Era</strong> Vargas 2 – A política da boa vizinhança141


<strong>Era</strong> Vargas 2 – A política da boa vizinhançaLOPES, V. C. C. Carmen Miranda e a Políticada Boa Vizinhança. Maringá (PR): Superintendênciade Educação, Universidade Estadualde Maringá, 2008/2009. Disponível em:http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/2426-6.pdf.SAROLDI, L.; MOREIRA, S. V. Rádio Nacional:O Brasil em Sintonia. 2. ed. Rio de Janeiro:Martins Fontes/Funarte, 1988.SAVARINO, Franco. O Fascismo na AméricaLatina: a Perspectiva Italiana (1922-1943). Diálogos,DHI/PPH/UEM, v. 14, n. 1, p. 39-81,2010. Disponível em: http://www.uem.br/dialogos/index.php?journal=ojs&page=article&op=viewArticle&path[]=450.SILVA, F. C. T. Os Fascismos. In: REIS FILHO,D. A.; FERREIRA, J.; ZENHA, C. (org.). O SéculoXX – O Tempo das Crises: Revoluções, Fascismose Guerras. 3. ed., v. 2. Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 2005, p. 109-163.WebsitesCarmen Mirandahttp://www.carmenmiranda.com.brCentro Cultural Cartolahttp://www.cartola.org.brDorival Caymmihttp://cliquemusic.uol.com.br/artistas/ver/<strong>do</strong>rival-caymmiMuseu Villa-Loboshttp://www.museuvillalobos.org.brMusica Brasiliensishttp://daniellathompson.com142


Anos 50 – De Getúlio a JKAnos 50 – De Getúlio a JK1SinopseGetúlio Vargas em seu último mandato como presidente da República;Copa <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong> de 1950: a festa acabou em tristeza; Vargas “saiu da vidapara entrar na História”; Juscelino Kubitschek, o presidente bossa-nova;<strong>do</strong> samba-canção às boates de Copacabana; a cultura brasileira encontrouseu espaço; começou a era da TV; Pelé e Garrincha: com eles, ganhamosa Copa; Brasília, um sonho de séculos, virou realidade; o cinema brasileiropreparou uma revolução; o alto preço <strong>do</strong>s anos JK.143


Anos 50 – De Getúlio a JKA volta de VargasBota o retrato <strong>do</strong> velho outra vezBota no mesmo lugarBota o retrato <strong>do</strong> velho outra vezBota no mesmo lugarO sorriso <strong>do</strong> velhinho faz a gente[trabalharO Retrato <strong>do</strong> Velho(Harol<strong>do</strong> Lobo e Marino Pinto)tornou-se sena<strong>do</strong>r pelo Rio Grande <strong>do</strong> Sul,em 1945, mas, <strong>do</strong>s cinco anos de mandato,devi<strong>do</strong> a várias licenças, cumpriu somente<strong>do</strong>is, recolhen<strong>do</strong>-se, depois, à sua fazendaem São Borja e crian<strong>do</strong> uma expectativa deque havia deixa<strong>do</strong> a política. Mas, quan<strong>do</strong>começaram as articulações da campanhapresidencial para eleger o sucessor <strong>do</strong> generalEurico Gaspar Dutra, não havia nenhumnome que tivesse o carisma, a popularidadee a força eleitoral de Getúlio. No discursoque fez pelo rádio em 16 de junho de 1950,pregou a conciliação: “Se vencer, governareisem ódios, prevenções ou reservas, sentimentosque nunca influíram nas minhasdecisões, promoven<strong>do</strong> sinceramente a conciliaçãoentre os nossos compatriotas e estimulan<strong>do</strong>a cooperação entre todas as forçasda opinião pública!”.1442 . Getúlio Vargas, de volta à presidência em 1951Jornalistas e cronistas costumam chamar osanos 1950 no Brasil de “anos <strong>do</strong>ura<strong>do</strong>s”, emuma perspectiva embalada pela visão românticada História. Há até quem ache queo ano de 1958 não deveria ter termina<strong>do</strong>...Essa percepção, embora possa ocultar osgraves problemas que o país encontrava emsua luta pelo desenvolvimento, também temalgumas conexões com a realidade. Pois,nos últimos anos dessa década, o Brasil eboa parte <strong>do</strong>s brasileiros estiveram em idílio,desfrutan<strong>do</strong> de um clima de felicidade,no qual tu<strong>do</strong> parecia que ia dar certo parasempre. Mas esse perío<strong>do</strong> começou de formapouco alvissareira.O maior personagem político <strong>do</strong> começodessa década foi o mesmo <strong>do</strong>s anos 1930e 1940: Getúlio Vargas. Após sua deposição,Mas a oposição, cujo vulto maior era o político,escritor e jornalista Carlos Lacerda, nãoestava interessada em aceitar a mão estendida.Radicalizan<strong>do</strong> ao máximo sua posição, Lacerdaescreveu artigo no jornal A Tribuna daImprensa em que pregava claramente o golpecontra Getúlio: “O senhor Getúlio Vargas nãodeve ser candidato à presidência. Candidato,não deve ser eleito. Eleito, não deve tomarposse. Empossa<strong>do</strong>, devemos recorrer à revoluçãopara impedi-lo de governar”. Como sevê, não era uma conjuntura fácil a que aguardavao futuro presidente da República.Desastre no MaracanãEu fui às touradas de MadriParatimbum bum bumE quase não volto mais aquiPara ver Peri, beijar Ceci...Touradas de Madri(Braguinha e Alberto Ribeiro)


Mas, antes da eleição de 1950, o Brasil viveuuma intensa euforia que acabou em tristeza.<strong>Era</strong> a primeira Copa <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong> depois daguerra (a última tinha si<strong>do</strong> em 1938, quan<strong>do</strong>a Itália foi campeã e o Brasil ficou em terceiro).O futebol já era uma paixão nacional,e o rádio tinha participa<strong>do</strong> intensamentedesse “namoro”, por conta de locutores inspira<strong>do</strong>se criativos, como foi o caso <strong>do</strong> compositorAry Barroso, que aos <strong>do</strong>mingos narravaos grandes clássicos usan<strong>do</strong> um estilodiverti<strong>do</strong> e cheio de ironias. Como verea<strong>do</strong>r,Ary Barroso apresentou um projeto que foiaprova<strong>do</strong>: a construção <strong>do</strong> Maracanã para aCopa. A oposição, liderada por Carlos Lacerda,tentou minar a ideia, mas uma grandecampanha popular garantiu a construção <strong>do</strong>maior estádio <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.4 . Seleção brasileira da Copa <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong> de 1950Em campo, foi uma campanha brilhante: naprimeira fase, a seleção ganhou <strong>do</strong> México,empatou com a Suíça e derrotou a Iugoslávia.Em seguida, goleou a Suécia, a Espanha(um 6 x 1 inesquecível, quan<strong>do</strong> 150 mil pessoascantaram a marchinha Touradas de Madri)e, na final, depois de estar vencen<strong>do</strong> por1 a 0, perdeu por 2 a 1 para o Uruguai, diantede uma multidão silenciosa que não podiaacreditar no que via. Foi uma grande tristezacoletiva, que levou exatos oito anos para sercurada – novamente pelas ondas <strong>do</strong> rádio.Três meses depois da Copa <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong>, em 3de outubro de 1950, Getúlio Vargas foi eleitomais uma vez presidente <strong>do</strong> Brasil. Mas, dessavez, o panorama era muito diferente.Anos 50 – De Getúlio a JK3 . Estádio Mário Filho, o Maracanã, em 1950Do Catete para a HistóriaA cidade <strong>do</strong> Rio de Janeiro viveu dias demuita euforia e samba durante a Copa. Apresença de turistas, das delegações estrangeiras(também houve jogos em São Paulo,Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife e Curitiba),a confiança na equipe brasileira: tu<strong>do</strong>isso criou um clima de carnaval no meio <strong>do</strong>ano. Até mesmo as complicadas questõespolíticas que se avizinhavam perderam aimportância: rádios e jornais só se interessavampelo mun<strong>do</strong> da bola. <strong>Era</strong> mais umachance para o Brasil trocar a identidade depaís sem expressão pela de nação orgulhosade seus feitos.Vinte e quatro de agostoA terra estremeceuOs rádios anunciaramO fato que aconteceu,As nuvens cobriram o céuO povo em geral sofreuO Brasil se vestiu de lutoGetúlio Vargas morreu!24 de Agosto(Teixeirinha)145


Anos 50 – De Getúlio a JKO presidente, eleito pelo Parti<strong>do</strong> TrabalhistaBrasileiro (PTB), ao tomar posse em 31de janeiro de 1951, não tinha mais o poderque exerceu de forma ditatorial entre 1930e 1945. Politicamente, o Brasil estava muitodiferente, incluin<strong>do</strong>-se aí uma oposição civilizada,mas atuante (o Parti<strong>do</strong> Social Democrático,PSD), e uma oposição terrivelmenteaguerrida (a União Democrática Nacional,UDN). Ainda assim, o último governo Getúlioteve marcas impressionantes: foram cria<strong>do</strong>so Banco <strong>do</strong> Nordeste, o Instituto Brasileiro<strong>do</strong> Café e a Cacex (órgão <strong>do</strong> Banco <strong>do</strong> Brasilque cuidava <strong>do</strong> comércio exterior).É também dessa época a fundação <strong>do</strong> BancoNacional de Desenvolvimento Econômicoe da Petrobrás, após uma dura disputa entreos nacionalistas e os que defendiam aentrada <strong>do</strong> capital estrangeiro para explorarnossas reservas. A expressão “O petróleoé nosso” se consagrou nesse perío<strong>do</strong> e atéhoje empolga os que defendem a permanência<strong>do</strong>s recursos brasileiros no país.Foi nesse ambiente conflagra<strong>do</strong> que surgiuo fato detona<strong>do</strong>r da crise final: o atenta<strong>do</strong>da Rua Tonelero.No dia 5 de agosto de 1954, <strong>do</strong>is homensque pertenciam à guarda pessoal de Getúlioaproximaram-se de Carlos Lacerda, quechegava de carro à sua residência na RuaTonelero, em Copacabana, ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> majorda Aeronáutica Rubens Vaz, e dispararamvários tiros contra os <strong>do</strong>is. Lacerda teriasi<strong>do</strong> feri<strong>do</strong> no pé, mas o major, gravementeatingi<strong>do</strong>, não resistiu e morreu. Diante dagravidade <strong>do</strong>s fatos, a imprensa e os militarespassaram a pedir a renúncia de Vargas.Sucessivas e frenéticas reuniões ministeriaisno Palácio <strong>do</strong> Catete não conseguiam estancara crise, que aumentava com os boatosde que os militares preparavam um golpepara derrubar o presidente. Em 22 de agosto,efetivamente, 22 generais assinaram ummanifesto pedin<strong>do</strong> sua renúncia.Acua<strong>do</strong>, sentin<strong>do</strong>-se sem forças para enfrentarmais aquele desafio, Vargas encerrousua última reunião ministerial na noite de23 de agosto, deixan<strong>do</strong> com o então ministroda Justiça, Tancre<strong>do</strong> Neves, uma canetacom a qual assinara seu último <strong>do</strong>cumento:a carta de despedida, mais conhecida comoa carta-testamento. Na madrugada <strong>do</strong> dia24, ouviu-se um estampi<strong>do</strong> seco no quarto<strong>do</strong> presidente: Getúlio, com um tiro no peito,deixava a vida para entrar na História.5 . Carlos Lacerda,opositor <strong>do</strong>governo Vargas146No entanto, a oposição não dava trégua.Uma série de acusações de corrupção contrapessoas próximas ao presidente aumentavaa temperatura política. Carlos Lacerda faziaataques diários ao governo, e o Congressodecidiu abrir uma Comissão Parlamentar deInquérito para apurar a denúncia de que Getúliofinanciaria ilegalmente o jornal ÚltimaHora, o único que, àquela altura, o apoiava.6 . Reprodução da carta-testamento de Getúlio Vargas


Presidente bossa-novaBossa nova mesmo é ser presidenteDesta terra descoberta por CabralPara tanto basta ser tão simplesmenteSimpático, risonho, original.Depois desfrutar da maravilhaDe ser o presidente <strong>do</strong> Brasil,Voar da Velhacap pra Brasília,Ver a alvorada e voar de volta ao Rioera de distensão, e o parti<strong>do</strong> <strong>do</strong> presidente,o PSD, de natureza concilia<strong>do</strong>ra, conseguiuunir boa parte <strong>do</strong> Congresso.Os anos JK se caracterizaram por uma rápidaexpansão da industrialização, com destaquepara o parque automotivo, além deum expressivo aumento <strong>do</strong> consumo interno.Com tantas novidades, JK acabou apelida<strong>do</strong>de “presidente bossa-nova”. Bossanova? Então, está na hora de falar mais umpouco da música brasileira.Anos 50 – De Getúlio a JKPresidente Bossa-Nova(Juca Chaves)Quan<strong>do</strong> o então presidente Dutra fechou oscassinos, em 1946, encerrou-se no Rio de Janeiroum ciclo boêmio que tinha na Lapa seureduto maior. Mas os anos 1950 assistiram auma migração para outro recanto, bem maisidílico: Copacabana. O bairro ganhou umasérie de boates e casas de shows onde músicose intérpretes cultuavam um novo gêneromusical: o samba-canção. Lento, com letrasque falavam quase sempre de desilusõesamorosas, o samba-canção fez a fama decantoras como Maysa e Dolores Duran. Atémesmo compositores que criticavam o novogênero, como Ary Barroso, se renderam eproduziram grandes sucessos, como Risquee Folha Morta. Só que dentro desse mesmogênero estava em gestação uma incrível revoluçãoem nossa música: a bossa nova.7 . Juscelino Kubitschek, empossa<strong>do</strong> presidenteem 1955Depois de uma breve presidência sob ocoman<strong>do</strong> <strong>do</strong> vice Café Filho, o Brasil tevenovas eleições, em 1955, com vitória deJuscelino Kubitschek, ten<strong>do</strong> como vice-presidenteJoão Goulart. Apesar <strong>do</strong>s recentestraumas vivi<strong>do</strong>s nos cinco primeiros anos dadécada, JK tomou posse em 31 de janeiro de1956 com muito otimismo, apresentan<strong>do</strong> umprograma de metas audaciosas para fazero Brasil crescer 50 anos em cinco. O clima8 . Maysa, cantora e compositora, uma das principais intérpretes<strong>do</strong> samba-canção, o gênero musical que embalavaas noites cariocas147


Anos 50 – De Getúlio a JKPara Ruy Castro e outros pesquisa<strong>do</strong>res, aprimeira menção à palavra “bossa” se dá nosamba Coisas Nossas, de Noel Rosa, na décadade 1930. O neologismo ficou rondan<strong>do</strong>por aí até que ressurgiu nos anos 1940, alia<strong>do</strong>à palavra “nova”, para designar o sambade breque, aquele que tem paradas repentinasnas quais se encaixam falas. No começo<strong>do</strong>s anos 1950, Dick Farney e Lúcio Alves,precedi<strong>do</strong>s por Mário Reis, inauguraram umjeito intimista e suave de cantar, muito diferente<strong>do</strong> estilo grandiloquente de cantorescomo Francisco Alves e Orlan<strong>do</strong> Silva. Nãose deve desprezar aí a influência <strong>do</strong> jazz,que formou muitos <strong>do</strong>s grandes músicosque essa década produziu. Por fim, temos aparticipação decisiva de João Gilberto, considera<strong>do</strong>o papa da bossa nova e reverencia<strong>do</strong><strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s ao Japão. Tu<strong>do</strong> issoera novo, tu<strong>do</strong> tinha bossa, era um Brasilque se reconhecia feliz e criativo.mun<strong>do</strong> que havia chega<strong>do</strong> para ficar entreos grandes mestres da música popular brasileira.Sua batida única ao violão, seu jeitoabsolutamente relaxa<strong>do</strong> de cantar, seu repertóriocom pérolas de todas as épocas denossa música, soma<strong>do</strong>s a um temperamentoarisco que detesta a celebridade, fizeramdele um <strong>do</strong>s maiores personagens de nossahistória cultural.Na esteira de João Gilberto, veio uma incrívelgeração de intérpretes, músicos, compositorese arranja<strong>do</strong>res que colocaram a músicabrasileira em um patamar internacional queela nunca havia conheci<strong>do</strong>, nem mesmo comCarmen Miranda e sua incrível carreira emHollywood. O crítico e pesquisa<strong>do</strong>r Tárik deSouza destaca alguns desses grandes músicos:“De Durval Ferreira à precursora SilviaTelles, Leny Andrade e as primeiras formaçõesinstrumentais da nova tendência lideradaspor gente como Oscar Castro Neves, SérgioMendes, Luis Carlos Vinhas, J. T. Meirelles,além <strong>do</strong> instrumental/vocal Tamba Trio, queao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> Bossa 3 daria início a uma febrede conjuntos de piano, baixo e bateria. Foium momento de efervescência instrumentalcom o aparecimento de músicos novos comoPaulo Moura, Tenório Junior, Dom Um Romão,Milton Banana, Edson Maciel, Raul de Souzae a ascensão de maestros arranja<strong>do</strong>res comoMoacyr Santos e Eumir Deodato”.1489 . Capa <strong>do</strong> álbum Chega de Saudade, o primeiro LP deJoão Gilberto, lança<strong>do</strong> em 1959O baiano João Gilberto Pra<strong>do</strong> Pereira de Oliveiradesembarcou no Rio com seu violãodebaixo <strong>do</strong> braço, em 1951, e, em 1958, jáacompanhava Elizeth Car<strong>do</strong>so em um LP queos críticos consideram um <strong>do</strong>s marcos funda<strong>do</strong>resda bossa nova – Canção <strong>do</strong> AmorDemais. Mas foi com o disco Chega de Saudade,também em 1958, que ele mostrou aoCapítulo à parte nessa bela história, AntonioCarlos Jobim merece um destaque especialpela sua obra, seja com Newton Men<strong>do</strong>nça,seja com Vinicius de Moraes. Quan<strong>do</strong> a bossanova chegou, encontrou um Tom Jobimmaduro e em plena atividade: em 1956, ele eVinicius de Moraes já haviam composto a trilhada peça Orfeu <strong>do</strong> Carnaval, um prenúncio<strong>do</strong> que estava para vir. Dois <strong>do</strong>s maioressucessos <strong>do</strong> disco de estreia de João Gilbertoeram parceria de Tom com Newton Men<strong>do</strong>nça– Desafina<strong>do</strong> – e com Vinicius – Chegade Saudade. Garota de Ipanema, tambémcom Vinicius, tem mais de 150 gravações, incluin<strong>do</strong>-sena lista astros como Frank Sinatra,


Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan, Tony Bennet,Stan Getz, Charlie Byrd e Diane Krall. Suacarreira ultrapassou os tempos da bossanova como um pássaro em voo ascendente,encontran<strong>do</strong> em Elis Regina e Nana Caymmiduas de suas maiores intérpretes.O crescimento econômico nos anos JK permitiuque os meios de comunicação no Brasilampliassem seu alcance. As rádios de ondascurtas chegavam a to<strong>do</strong>s os pontos de nossoterritório; a imprensa escrita ganhava fôlegocom revistas semanais de grande tiragem,como O Cruzeiro e Manchete; o cinema nacionalenchia as salas de projeção, apostan<strong>do</strong>principalmente nas comédias. A indústria deaparelhos elétricos de consumo se expandia:geladeiras, ventila<strong>do</strong>res, rádios e vitrolas chegavamem suaves prestações à classe média.Anos 50 – De Getúlio a JK10 . Cartaz da peça Orfeu da Conceição, baseadaem Orfeu e EurídiceA cultura em alta11 . JK, personagem de muitas capas da revista MancheteSe to<strong>do</strong>s fossem iguais a vocêQue maravilha viverUma canção pelo ar,Uma mulher a cantarUma cidade a cantar,A sorrir, a cantar, a pedirA beleza de amarComo o sol, como a flor, como a luzAmar sem mentir, nem sofrerSe To<strong>do</strong>s Fossem Iguais a Você(Tom Jobim e Vinicius de Moraes)A indústria fonográfica, com seus discos devinil, também teve papel importante nesseprocesso. Técnicos especializa<strong>do</strong>s em gravação,artistas gráficos que criavam belascapas e modernos equipamentos de estúdiodavam estrutura às grava<strong>do</strong>ras para atendera uma demanda que só fazia crescer. Embala<strong>do</strong>spor uma música popular com muitosgêneros e de alta qualidade, parecia que acultura brasileira e seus meios de expressãohaviam chega<strong>do</strong> ao seu mais alto patamar.Na verdade, só parecia, porque desde o dia18 de setembro de 1950, em São Paulo, quan<strong>do</strong>pela primeira vez um canal de televisão149


Anos 50 – De Getúlio a JK– a TV Tupi – entrou no ar oficialmente, ahistória da comunicação em nosso país começavaa viver um novo e intenso capítulo.De certa maneira, o início da história da TVno Brasil lembra o <strong>do</strong> rádio: havia pouquíssimosaparelhos para receber as imagens, queeram transmitidas sempre ao vivo. Foi graçasao empenho e à disposição de empresárioscomo Assis Chateaubriand que o novo veículose firmou. O cronograma de inauguraçõesteve um ritmo lento, mas constante: janeirode 1951, TV Tupi <strong>do</strong> Rio; março de 1952, TVPaulista; setembro de 1953, TV Record, SãoPaulo; abril de 1955, TV Itacolomi, Belo Horizonte;1959, TV Piratini, Porto Alegre.um parque industrial muito maior, os Esta<strong>do</strong>sUni<strong>do</strong>s tinham, em mea<strong>do</strong>s da décadade 1950, uma poderosa indústria televisiva,que serviu, inicialmente, de inspiração paraa TV brasileira. Mas não demorou muitopara que os empresários, técnicos, artistase jornalistas criassem, rapidamente, o estilobrasileiro de fazer televisão.13 . Homero Silva e Assis Chateaubriandinauguram a TV Tupi/SP, com equipamentoda Radio Corporation of America (RCA)15012 . A cantora Angela Maria, a Sapoti, capa de O CruzeiroNo começo, tu<strong>do</strong> era improvisa<strong>do</strong>: a transmissão,a programação, os teleteatros (avósda moderna telenovela), os programas jornalísticos.Como ainda não existia o videoteipe,as matérias eram filmadas em película,o que demorava bastante para revelar ecolocar no ar. Os programas de entrevistas,mais fáceis de produzir, se sucediam, e algunsmúsicos começavam a frequentar osestúdios para animar as transmissões. ComO rádio, ainda to<strong>do</strong>-poderoso, estava prestesa ser desbanca<strong>do</strong> como o veículo preferi<strong>do</strong>da família. No entanto, ainda seria porsuas ondas que os brasileiros viveriam a primeiragrande alegria esportiva coletiva emnosso país: a conquista da Copa <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong>de 1958, na Suécia.A Copa <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong> é nossaMuitos sociólogos e escritores já tentaramexplicar o fato de o futebol ter se torna<strong>do</strong> agrande paixão esportiva nacional. E que nãose pense que somente as camadas sociaismais humildes se deleitam com ele: há intelectuaisde to<strong>do</strong>s os calibres que não só torcemdesbragadamente por seus times comoescreveram belos textos sobre o tema. Uma


lista incompleta pode nomear Carlos Drummondde Andrade, Vinicius de Moraes, JoãoCabral de Melo Neto, Oswald de Andrade,Ferreira Gullar, Nelson Rodrigues, José Lins<strong>do</strong> Rego, Coelho Neto, Graciliano Ramos, RubemFonseca, Affonso Romano de Sant’Anna.No fun<strong>do</strong> desse país ao longo das[avenidasNos campos de terra e grama Brasil só[é futebolNesses noventa minutos de emoção e[alegriaEsqueço a casa e o trabalhoA vida fica lá foraDinheiro fica lá foraA cama fica lá foraA mesa fica lá foraSalário fica lá foraA fome fica lá foraA comida fica lá foraA vida fica lá foraE tu<strong>do</strong> fica lá foraAqui É o País <strong>do</strong> Futebol(Milton Nascimento e Fernan<strong>do</strong> Brant)14 . Um drible <strong>do</strong> genial Garrincha, jogan<strong>do</strong> pelaseleção brasileiraDurante os anos 1960, uma corrente depensamento fortemente influenciada pelomarxismo apontava o futebol como um <strong>do</strong>smaiores fatores de “alienação” <strong>do</strong> povobrasileiro, incluin<strong>do</strong>-se, nesse pacote, o carnavale a bebida alcoólica (samba, futebol ecachaça). Desprezan<strong>do</strong> os aspectos lúdicose psíquicos <strong>do</strong> esporte, os defensores dessasteses acreditavam poder direcionar essaenergia para o desenvolvimento <strong>do</strong> país,que acreditavam subjuga<strong>do</strong> aos interesseseconômicos internacionais.Esse raciocínio, leva<strong>do</strong> ao extremo, chegoua fazer alguns militantes torcerem contra aseleção brasileira de futebol em 1970, acreditan<strong>do</strong>que isso poderia desestabilizar ogoverno da ditadura militar.Anos 50 – De Getúlio a JKSe não há respostas precisas para questõesque envolvem a paixão, existem, pelomenos, alguns fatos que to<strong>do</strong>s costumamaceitar: esse esporte bretão, que chegou aopaís pela mão de ingleses no final <strong>do</strong> séculoXIX, tem regras muito simples, que poucose alteraram com a passagem <strong>do</strong> tempo; oequipamento utiliza<strong>do</strong> pode ser reproduzi<strong>do</strong>em qualquer campo de pelada; seu desenvolvimentopermite que to<strong>do</strong> tipo de atleta,independentemente da formação física,possa ser um craque (o “torto” Garrincha, o“baixinho” Romário); entre as quatro linhas,a capacidade de improvisação e a técnicarefinada podem vencer a força.Mas, em 1958, o que importava é que maisuma vez estávamos disputan<strong>do</strong> uma Copa<strong>do</strong> Mun<strong>do</strong>, e o retrospecto não era bom: aderrota em 1950 para o Uruguai e a quedadiante da Hungria nas quartas de final daCopa da Suíça, em 1954. Nossa seleção mesclavajoga<strong>do</strong>res experientes e novatos, masa dúvida era se teriam controle emocionalpara enfrentar os desafios – o fantasma daderrota de 1950 ainda assombrava parte daimprensa e até da torcida. Havia, ainda, umacorrente de eugenistas, pessoas que acreditavamque os joga<strong>do</strong>res brancos eram maisprepara<strong>do</strong>s psicologicamente que os mulatose negros para enfrentar esses desafios.151


Anos 50 – De Getúlio a JKNo entanto, a partir <strong>do</strong> terceiro jogo, contraa URSS, acabaram-se as incertezas. ComPelé e Garrincha no ataque, o Brasil foi avassala<strong>do</strong>r,despachan<strong>do</strong> os adversários até aespetacular final contra a Suécia, quan<strong>do</strong>conquistou sua primeira Copa <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong>com um indiscutível placar de 5 a 2. Aliás,é preciso citar uma marca incrível: com Garrinchae Pelé no time, a seleção brasileirajamais perdeu um jogo de Copa <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong>.jornalista Hipólito José da Costa, funda<strong>do</strong>r<strong>do</strong> Correio Braziliense, o primeiro jornal brasileiro,escreveu artigos nos quais dizia quea nova capital deveria estar em uma área“próxima às vertentes <strong>do</strong>s caudalosos riosque se dirigem para o norte, sul e nordeste”.A primeira Constituição republicana, de1891, previa a mudança da capital federal <strong>do</strong>Rio de Janeiro para o interior <strong>do</strong> país, determinan<strong>do</strong>como “pertencente à União, noPlanalto Central da República, uma zona de14.400 quilômetros quadra<strong>do</strong>s, que seráoportunamente demarcada, para nela estabelecer-sea futura capital federal”.15215 . Joga<strong>do</strong>res brasileiros comemoram o título na Copa <strong>do</strong>Mun<strong>do</strong> de 1958Copa como aquela não haverá jamais, escrevemos sau<strong>do</strong>sistas. Time como aquele nãohaverá jamais, dizem os amantes <strong>do</strong> futebolrefina<strong>do</strong>. A verdade é que cada geração temseus ícones, seus í<strong>do</strong>los, e incensá-los nãosignifica desprezar os demais. O Brasil de1958 era pura alegria, com festa nas capitaispela conquista inédita que encerrava, comodizia o jornalista e escritor Nelson Rodrigues,“nosso complexo de vira-latas”. Um país miscigena<strong>do</strong>,um time miscigena<strong>do</strong>, uma músicamiscigenada. O mun<strong>do</strong> descobriu que a misturabrasileira tinha da<strong>do</strong> certo.Rumo ao PlanaltoVem de muito longe a ideia de interiorizara capital brasileira. A primeira proposta teriaparti<strong>do</strong> <strong>do</strong> Marquês de Pombal, nobre eestadista português, que em 1761 afirmouque o Brasil Colônia estaria mais segurose a capital fosse interiorizada. Em 1813, oDois fatores se destacaram nos argumentospara essa mudança: o primeiro, uma questãomilitar-estratégica, pois se acreditavaque, com a capital no litoral, o Brasil estariamais vulnerável a ataques estrangeiros;o segun<strong>do</strong>, basea<strong>do</strong> no desenvolvimento ena integração nacional, já que, devi<strong>do</strong> a circunstânciaseconômicas e históricas, a populaçãobrasileira havia se concentra<strong>do</strong> nafaixa litorânea. Assim, uma capital situadano centro <strong>do</strong> país poderia servir de estímuloa um desenvolvimento menos desigual.Não vou, não vou pra BrasíliaNem eu nem minha famíliaMesmo que sejaPra ficar cheio da granaA vida não se comparaMesmo difícil, tão caraEu caio duroMas fico em CopacabanaNão Vou pra Brasília(Billy Blanco)Os estu<strong>do</strong>s para a criação de Brasília começaramdurante a presidência de Café Filho,mas o prestígio foi para Juscelino Kubitschek,que efetivamente encarou o difícil


desafio de não só criar uma cidade a partir<strong>do</strong> nada, como transformar essa odisseia nosímbolo de uma nova era para o país. Seutraça<strong>do</strong> obedece ao plano piloto desenha<strong>do</strong>pelo arquiteto Lucio Costa; Oscar Niemeyerprojetou os principais prédios públicos.16 . Esboços de Oscar Niemeyer para a futura capital, BrasíliaOs <strong>do</strong>is arquitetos são, em grande parte,responsáveis pelo reconhecimento internacionalda arquitetura moderna brasileira,desde o final <strong>do</strong>s anos 1930 e o início <strong>do</strong>sanos 1940. Brasília pode, então, ser reconhecidacomo etapa importante <strong>do</strong> processode desenvolvimento cultural inicia<strong>do</strong> no governoVargas com o projeto <strong>do</strong> Ministério daEducação e Saúde, no Rio de Janeiro.17 . Construção de Brasília. Ao fun<strong>do</strong>, a Esplanada<strong>do</strong>s MinistériosCom a construção de Brasília, estava seladaa estreita colaboração entre Esta<strong>do</strong> earquitetura para criar uma nação moderna,independente tanto no âmbito político-econômicoquanto no cultural. Parte integranteda ideologia desenvolvimentista de JuscelinoKubitschek, a mudança da capital para o interior<strong>do</strong> país possuía um forte componentesimbólico: significava o desejo de rompercom o subdesenvolvimento e deslanchar umnovo processo, por meio da integração internaentre regiões até então desfavorecidas e<strong>do</strong> reconhecimento <strong>do</strong> país em reciprocidadecom os centros de irradiação cultural. Valeobservar que é nesse perío<strong>do</strong> que, segun<strong>do</strong>vários historia<strong>do</strong>res, começa a se produzirentre nós uma arte moderna afinada com asAnos 50 – De Getúlio a JK18 . JK chega ao parlatório <strong>do</strong> Palácio <strong>do</strong> Planalto para receber a chave de Brasília153


Anos 50 – De Getúlio a JKlinguagens artísticas abstratas – presentesem nossos recém-funda<strong>do</strong>s museus de artemoderna e na Bienal de São Paulo.A construção da cidade, que atraiu gente deto<strong>do</strong> o Brasil, é contada como uma saga emque os heróis seriam os trabalha<strong>do</strong>res queenfrentaram o desafio contra o tempo. Às9h <strong>do</strong> dia 21 de abril de 1960, Juscelino Kubitschekfechou solenemente as portas <strong>do</strong>Palácio <strong>do</strong> Catete; às 16h, inaugurou Brasília.Não foi uma data escolhida ao acaso: nessemês e dia, Tiradentes, o alferes da InconfidênciaMineira, havia si<strong>do</strong> enforca<strong>do</strong>.Vale lembrar, aqui, que um <strong>do</strong>s “candangos”mais famosos que ajudaram na construçãode Brasília foi o violonista Dilerman<strong>do</strong> Reis,um <strong>do</strong>s mestres brasileiros das seis cordas.Funcionário público transferi<strong>do</strong> para a novacapital, tornou-se amigo e professor de violãode Juscelino. Graças a Dilerman<strong>do</strong>, umnúcleo de amantes <strong>do</strong> choro se formou nacidade, e hoje Brasília é considerada umadas cidades onde o culto ao choro, esse maravilhosogênero musical brasileiro, tem umaverdadeira legião de admira<strong>do</strong>res.Abreu, e produzi<strong>do</strong> por Ademar Gonzaga, comoveuo Brasil com sua história. Vicente Celestino,no papel <strong>do</strong> médico que tem sua vidacorrompida pela bebida, tornou-se o primeirogrande astro brasileiro a pontificar em duasmídias – a música e o cinema. Havia uma verdadeirai<strong>do</strong>latria em torno dele: para seus fãs,seu eterno arrebatamento era o que havia demelhor, além da inconfundível voz de tenor.Tornei-me um ébrio e na bebida busco[esquecerAquela ingrata que eu amava e que me[aban<strong>do</strong>nouApedreja<strong>do</strong> pelas ruas vivo a sofrerNão tenho lar e nem parentes, tu<strong>do</strong>[terminouSó nas tabernas é que encontro meu[abrigocada colega de infortúnio é um grande[amigoO Ébrio(Vicente Celestino)Antes <strong>do</strong> Cinema Novo154Já nos anos 1940 o cinema brasileiro haviaencontra<strong>do</strong> seu público. A criação da AtlântidaCinematográfica abasteceu as telas denossas cidades com uma produção constante.Em 1947, o <strong>do</strong>no <strong>do</strong> maior circuitoexibi<strong>do</strong>r brasileiro, Luiz Severiano Ribeiro,comprou a empresa, que produziu uma sériede filmes musicais, alguns considera<strong>do</strong>sclássicos, como Este Mun<strong>do</strong> É um Pandeiroe Carnaval no Fogo.É preciso citar o grande sucesso de O Ébrio,produzi<strong>do</strong> pela Cinédia em 1946. Com roteirobasea<strong>do</strong> na letra da música composta e interpretadapor Vicente Celestino, que já era umsucesso nas rádios e nos discos, esse drama,dirigi<strong>do</strong> pela esposa <strong>do</strong> cantor, Gilda de19 . O Ébrio, filme de Vicente Celestino, dirigi<strong>do</strong> por suamulher, Gilda de AbreuNo começo <strong>do</strong>s anos 1950, nova mudançanas telas: chegou a vez da comédia de costumes,com um elenco que reunia nomes vin<strong>do</strong>s<strong>do</strong> rádio, <strong>do</strong> teatro e até <strong>do</strong> circo: oscomediantes Oscarito e Ankito, os galãs Cyll


Farney e Anselmo Duarte e, na música, SílvioCaldas, Marlene, Emilinha e Linda Batista. Odiretor Carlos Manga, um <strong>do</strong>s mais criativosda Atlântida, apostava em roteiros que satirizavamdramas americanos de sucesso. Doisótimos exemplos são Nem Sansão nem Dalilae Matar ou Correr. O público a<strong>do</strong>rava, masos intelectuais reclamavam. Ainda que demaneira crítica, esses filmes utilizavam umafórmula pronta baseada no modelo americano.Mas um novo cinema brasileiro estavacomeçan<strong>do</strong> a surgir pelas lentes da geraçãoque estava pronta para assumir as câmaras.de Menezes Cortes, alegou que o filme estava“cheio de elementos comunistas”, alémde passar uma má imagem <strong>do</strong>s políticos eincluir uma linguagem cheia de gírias.Anos 50 – De Getúlio a JK21 . Cena <strong>do</strong> filme Rio 40 Graus, de Nelson Pereira <strong>do</strong>s Santos20 . Oscarito e Eliana, no filme Nem Sansão, Nem DalilaHouve uma intensa movimentação da classeartística, com algumas sessões clandestinas,e, no começo de 1956, a censura caiu. Nãochegou a ser um sucesso de público, mashoje em dia to<strong>do</strong>s os estudiosos reconhecemque Rio 40 Graus foi o primeiro exemplar<strong>do</strong> que estava chegan<strong>do</strong> para mudarde vez o que passava nas telas brasileiras:o Cinema Novo.O cinema italiano <strong>do</strong> pós-guerra trouxeraàs telas um gênero que era uma revoluçãoà época: o neorrealismo. <strong>Era</strong>m filmes feitosquase que como <strong>do</strong>cumentários, utilizan<strong>do</strong>câmera na rua e som direto, diferentementedas produções da época, quase todas gravadasem estúdio. Contavam, com isso, aproximar-seda realidade, fazen<strong>do</strong> um cinemaparticipativo, em que as questões sociais deentão pudessem ser abordadas. Os jovens cineastasbrasileiros gostaram e saíram a campo.Em 1953, Alex Viany filma Agulha no Palheiro,e, em 1955, Nelson Pereira <strong>do</strong>s Santosrealiza Rio, 40 Graus, filmes com baixo orçamentoque buscavam o realismo brasileiro.Foi grande o impacto, tanto que a censuraproibiu o filme de Nelson Pereira <strong>do</strong>s Santos.Pela primeira vez, o Rio de Janeiro era filma<strong>do</strong>sem os estereótipos <strong>do</strong>s filmes musicais.O secretário de Segurança à época, Geral<strong>do</strong>Nem tu<strong>do</strong> foi tão bomVai minha tristezaE diz a ela que sem ela não pode serDiz-lhe, numa preceQue ela regresse porque eu não posso[mais sofrerChega de saudadeA realidade é que sem ela não há paz,[não há belezaÉ só tristeza e a melancoliaQue não sai de mim, não sai de mim,[não saiChega de Saudade(Tom Jobim e Vinicius de Moraes)155


Anos 50 – De Getúlio a JKEm termos esportivos, os <strong>do</strong>is últimos anos<strong>do</strong> governo Juscelino foram realmente impressionantes:além da Copa <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong>, tínhamosum campeão mundial de boxe, ÉderJofre; a seleção masculina de basquete campeãmundial em 1959, no Chile; a tenista brasileiraMaria Esther Bueno campeã em Wimble<strong>do</strong>ne no US Open. O Santos, de Pelé eCoutinho, e o Botafogo, de Garrincha e Didi,faziam excursões vitoriosas pelo mun<strong>do</strong>. E,para alegria geral, o salário mínimo em 1959,em termos reais e descontada a inflação, éconsidera<strong>do</strong> o mais alto da história <strong>do</strong> Brasilpelo Dieese. Mas as questões econômicascomeçavam a mostrar que o rápi<strong>do</strong> crescimentobrasileiro tinha seu custo.<strong>do</strong> Sudeste. A migração <strong>do</strong> interior para ascapitais, que já era grande no começo dadécada de 1950, aumentou bastante no final.Esses bens de consumo, porém, não estavamdisponíveis para to<strong>do</strong>s os brasileiros,já que grande parte deles vivia abaixo dalinha <strong>do</strong> salário mínimo. As fortes desigualdadesfizeram com que Juscelino, em 1959,tentasse começar a enfrentar o problema,com a criação da Superintendência de Desenvolvimento<strong>do</strong> Nordeste (Sudene), quedeveria promover a industrialização da região,além de irrigar as áreas mais atingidaspela seca para aumentar a produtividade naagricultura. Infelizmente, devi<strong>do</strong> a muitosproblemas políticos, a Sudene não conseguiualcançar seus objetivos.Na área econômica, a questão era outra: oque o Brasil exportava tinha um valor bemmenor <strong>do</strong> que suas importações. Essa dívida,somada ao dinheiro toma<strong>do</strong> no exteriorpara alavancar o desenvolvimento, começoua gerar uma forte inflação, desvalorizan<strong>do</strong>a moeda brasileira. Sim, o país crescia, masimpulsiona<strong>do</strong> pelo dinheiro estrangeiro, oque submetia nossos planos ao acerto comos cre<strong>do</strong>res.22 . A tenista brasileira campeã Maria Esther Bueno156Duas realizações <strong>do</strong> governo Vargas forammuito importantes para que Juscelino implementasseseu plano de metas: a usina daCompanhia Siderúrgica Nacional, em VoltaRe<strong>do</strong>nda, e a Petrobrás. Passamos a produzirchapas de ferro e lamina<strong>do</strong>s de aço, matéria-primapara automóveis, navios, aviões,ferramentas, etc. Já a Petrobrás permitiu odesenvolvimento de deriva<strong>do</strong>s <strong>do</strong> petróleo:plástico, tinta, asfalto, borracha sintética.Apesar de significativo, to<strong>do</strong> esse desenvolvimentoestava concentra<strong>do</strong> nos esta<strong>do</strong>s23 . O presidente Jânio Quadros, sucessorde Juscelino Kubitschek


Nada disso parecia desanimar Juscelino, quecaminhava para o final de seu mandato jápensan<strong>do</strong> nas eleições de 1965 (àquela época,a Constituição não permitia a reeleição).Em 3 de outubro de 1960, o ex-governa<strong>do</strong>rde São Paulo Jânio Quadros, apoia<strong>do</strong> pelaUDN, venceu a eleição para presidente daRepública. Sua campanha prometia “moralizar”a administração pública, atenden<strong>do</strong> areclamos de parte da imprensa e da oposiçãoque apontavam um esquema de corrupçãodentro <strong>do</strong> governo JK.Ao passar a faixa presidencial para Jânio,Juscelino tornou-se o primeiro presidentecivil, desde Artur Bernardes (que governoude 1922 a 1926), eleito pelo voto direto aterminar seu mandato, o que mostra comoainda era frágil a democracia brasileira. Infelizmente,ainda haveria um longo perío<strong>do</strong>antes que pudéssemos ter novamente eleiçõesdiretas para a presidência da República.Para usar em sala de aulaPara saber maisMúsicasMolambo (Jayme Tomás Florence e AugustoMesquita). CD – Ney Matogrosso e Raphael Rabello– À Flor da Pele – Polygram/Philips, 1993.Alguém como Tu (José Maria de Abreu e JairAmorim). CD – Dick Farney – Anos Doura<strong>do</strong>s– Som Livre, 1999.Se To<strong>do</strong>s Fossem Iguais a Você (Tom Jobime Vinicius de Moraes). CD – Renato Braz –Vinicius de Moraes, Trilha Sonora <strong>do</strong> FilmeVinicius – Biscoito Fino, 2005.Sau<strong>do</strong>sa Maloca (A<strong>do</strong>niran Barbosa). CD –A<strong>do</strong>niran Barbosa – A Música Brasileira DesteSéculo por Seus Autores e Intérpretes –Sesc São Paulo, 2000.Conceição (Jair Amorim e Dunga). CD – DoloresDuran – Dolores Duran Canta para VocêDançar – EMI, 1999.Anos 50 – De Getúlio a JK• Sua turma pode listar quem foram os astros<strong>do</strong> esporte brasileiro na década de1950, além de Garrincha e Pelé.• Pedir aos alunos que pesquisem sobre osprojetos <strong>do</strong> arquiteto Oscar Niemeyer emnosso país e no exterior.• João Gilberto é fã e inspira<strong>do</strong>r <strong>do</strong> grupoOs Novos Baianos. A turma pode escreversobre: O que há em comum entre eles?• Sugerir que os alunos assistam ao DVD<strong>do</strong> filme Assim <strong>Era</strong> a Atlântida para conhecercomo era o cinema nacional <strong>do</strong>sanos 1940 e 1950.Copacabana (João de Barro e Alberto Ribeiro).CD – Dick Farney – Dick Farney – Copacabana– Reviven<strong>do</strong> Discos, 2001.Estrada <strong>do</strong> Sol (Dolores Duran e Tom Jobim).CD – Toninho Horta e Joyce Moreno – TomJobim: sem Você – Biscoito Fino, 2007.Chega de Saudade (Tom Jobim e Vinicius deMoraes). CD – João Gilberto – João Voz eViolão – Universal Music, 2000.FilmesOs Anos JK – Uma Trajetória Política. Brasil,1980. Direção: Silvio Tendler. Distribuição:Embrafilme. Duração: 110 min.157


Anos 50 – De Getúlio a JKAviso aos Navegantes. Brasil, 1950. Direção:Watson Mace<strong>do</strong>. Distribuição: Versátil. Duração:113 min.Brasília, Contradições de uma Cidade Nova.Brasil, 1967. Direção: Joaquim Pedro de Andrade.Distribuição: Filmes <strong>do</strong> Serro. Duração:23 min.O Ébrio. Brasil, 1946. Direção: Gilda Abreu.Distribuição: Riofilme. Duração: 126 min.Rio, 40 Graus. Brasil, 1955. Direção: NelsonPereira <strong>do</strong>s Santos. Distribuição: ColumbiaPictures <strong>do</strong> Brasil. Duração: 100 min.FERREIRA, Martins. Como Usar a Música naSala de Aula. São Paulo: Contexto, 2005.GOMES, Angela Maria de Castro (org.) et al.Vargas e a Crise <strong>do</strong>s Anos 50. Rio de Janeiro:Relume Dumará, 1994._____________; FARO, Clóvis de. O Brasilde JK. Rio de Janeiro: Editora FGV, 1991.SKIDMORE, Thomas. Brasil: De Getúlio a Castello.São Paulo: Companhia das Letras, 2010.SPADA, Heloísa; BURGI, Sergio (org.). AsConstruções de Brasília. Rio de Janeiro: InstitutoMoreira Salles, 2010.LivrosBENEVIDES, Maria Victória de Mesquita. OGoverno Kubitschek. Rio de Janeiro: EditoraPaz e Terra, 1979.BOJUNGA, Cláudio. JK, o Artista <strong>do</strong> Impossível.Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.CONY, Carlos Heitor. JK, Como Nasce uma Estrela.Rio de Janeiro: Record, 2002.COUTO, Ronal<strong>do</strong> Costa. Brasília Kubitschekde Oliveira. 6. ed. Rio de Janeiro: EditoraRecord, 2010.FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucília de A. N.O Brasil Republicano: O Tempo da ExperiênciaDemocrática – da Democratização de1945 ao Golpe Civil-Militar de 1964. Rio deJaneiro: Civilização Brasileira, 2003, v. 3.WebsitesDossiê Os Anos JK no Centro de Pesquisae Documentação de História Contemporânea<strong>do</strong> Brasilhttp://cp<strong>do</strong>c.fgv.br/producao/<strong>do</strong>ssies/JK/apresentacaoDossiê O Segun<strong>do</strong> Governo Vargas: de 1951a 1954 no Centro de Pesquisa e Documentaçãode História Contemporânea <strong>do</strong> Brasilhttp://cp<strong>do</strong>c.fgv.br/producao/<strong>do</strong>ssies/A<strong>Era</strong>Vargas2/apresentacaoMemorial JKhttp://www.memorialjk.com.br158


É sal, é sol, é sulÉ sal, é sol, é sul1SinopseTom Jobim, Vinicius de Moraes e João Gilberto: a “santíssima trindade”da nova música brasileira; no país da bossa nova, o rock mostrou a suacara; Jânio Quadros, o presidente que desistiu de presidir; a bossa novasaiu <strong>do</strong>s apartamentos da zona sul para conquistar o mun<strong>do</strong>; Jangoe a luta para assumir a presidência; o Brasil conquistou o bicampeonatona Copa <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> Chile; o Beco das Garrafas, o endereço da bossa;os últimos dias de Jango; o golpe de 1964 chegou para ficar.159


É sal, é sol, é sulDois encontros decisivosEla é cariocaEla é cariocaBasta o jeitinho dela andarNem ninguém tem carinho assim para darEu vejo na luz <strong>do</strong>s seus olhosAs noites <strong>do</strong> Rio ao luarVejo a mesma luzVejo o mesmo céuVejo o mesmo marEla É Carioca(Tom Jobim e Vinicius de Moraes)2 . No restaurante Vilarino, Vinicius de Moraes (cabeceira),com o filho Pedro, Lúcio Rangel (à direita), Paulo MendesCampos, de pé, atrás de Fernan<strong>do</strong> Lobo, e outros amigosCom a inauguração de Brasília, em 1960, oRio de Janeiro perdeu o status de capital federal,mas manteve todas as outras característicasque lhe conferem o status de umacidade especial: a beleza natural, a vidacultural intensa, um jeito “carioca” de receberas novidades e os estrangeiros que aquichegam. É claro que tu<strong>do</strong> isso não escondeuos problemas comuns a todas as grandes cidadesna época – má distribuição de renda,transporte público pouco eficiente e crescimentodas favelas.<strong>Era</strong> o ano de 1956 quan<strong>do</strong> o diplomata e poetaVinicius foi apresenta<strong>do</strong> ao compositor TomJobim: estabeleceu-se imediatamente uma intensaparceria, e um de seus primeiros frutosfoi a peça Orfeu da Conceição, baseada na mitologiagrega – o músico Orfeu desce ao infernopara resgatar da morte sua amada Eurídice.Mas a vocação da cidade para a arte e aalegria sempre foi muito além <strong>do</strong> carnaval,com uma boemia talentosa e altamente criativa.Nos bares <strong>do</strong> Rio, se reuniam antigos enovos artistas, e foi em um deles, o Vilarino,que até hoje existe no Centro da cidade, quese conheceram <strong>do</strong>is grandes compositoresque deram contornos decisivos para a músicapopular brasileira: Antonio Carlos Jobime Vinicius de Moraes. Não era um bar qualquer;por ali já haviam passa<strong>do</strong> o compositorAry Barroso, o artista plástico Di Cavalcanti,o poeta Pablo Neruda, o cronista Paulo MendesCampos e o jornalista Sérgio Porto, sópara citar alguns em meio a uma multidão depersonagens célebres e anônimos.3 . O grande compositor, cantor e maestro AntonioCarlos JobimA estreia não podia ser mais grandiosa: noTheatro Municipal, com cenários de OscarNiemeyer. A trilha sonora <strong>do</strong> espetáculo foio primeiro trabalho grava<strong>do</strong> em disco dadupla Tom/Vinicius e já apresenta logo um160


clássico: Se To<strong>do</strong>s Fossem Iguais a Você. Em1959, dirigi<strong>do</strong> pelo francês Marcel Camus,Orfeu da Conceição virou o filme Orfeu <strong>do</strong>Carnaval. Ganhou a Palma de Ouro <strong>do</strong> Festivalde Cannes (França) e o Oscar de melhorfilme estrangeiro.Se o encontro de Tom e Vinicius foi a junçãode <strong>do</strong>is talentos prontos para o sucesso,não menos importante foi o que reuniuTom e João Gilberto. O compositor encontravaum intérprete à altura de seu imensotalento. E foi uma percepção imediata, jáque o próprio Tom escreveu na contracapa<strong>do</strong> disco de estreia <strong>do</strong> cantor e violonista:“Quan<strong>do</strong> João se acompanha, o violãoé ele; quan<strong>do</strong> a orquestra o acompanha, aorquestra também é ele”.ao sul <strong>do</strong> país para trabalhar nas plantaçõesde algodão que abasteceriam as máquinasda Revolução Industrial na Inglaterra.Foi nesse cenário que nasceu uma expressãomusical comovente: o blues, canta<strong>do</strong> deforma <strong>do</strong>lente e quase sempre com letrasque falam de perdas, sejam elas amorosasou da terra natal. Em rápida sucessão demisturas ocorridas ao longo <strong>do</strong> século XX,o blues misturou-se à música country (outraexpressão musical <strong>do</strong> sul, mas de acentobranco) e mais tarde ao também negrorhythm and blues, geran<strong>do</strong> um “filho” miscigena<strong>do</strong>que ia hipnotizar a juventude <strong>do</strong>mun<strong>do</strong> inteiro: o rock and roll.É sal, é sol, é sul4 . João Gilberto e a batida diferente de seu violãoBossa aqui, rock aliMas não era só o Brasil que passava poruma profunda transformação musical no final<strong>do</strong>s anos 1950. Os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s tambémfervilhavam com a chegada de um novogênero: o rock and roll. O que haveria decomum entre o rock e o samba? A herançanegra. Assim como no Brasil, a culturanorte-americana também deve muito de suaprosperidade e sua herança aos escravosnegros que foram leva<strong>do</strong>s, em grande parte,5 . O rock americano chegava ao Brasil com Bill Haleye Seus CometasNo Brasil, as primeiras manifestações <strong>do</strong> rockse deram através de discos importa<strong>do</strong>s e deum filme que marcou época em 1958: RockAround the Clock, estrela<strong>do</strong> pela banda BillHaley and His Comets. A crônica jornalísticada época comentou que a polícia teve algumtrabalho para conter os jovens que, muito anima<strong>do</strong>s,saíam de suas poltronas para dançarna frente da tela ao ritmo esfuziante <strong>do</strong> rock...Não bastasse o sucesso <strong>do</strong> novo gênero, apoderosa máquina cultural e propagandísticanorte-americana tinha, então, um í<strong>do</strong>lo161


É sal, é sol, é sul6 . O programa A Jovem Guarda, comanda<strong>do</strong> por Roberto Carlos (centro), animava as tardes de <strong>do</strong>mingo pela TV Recordpara encantar o planeta nas ondas <strong>do</strong> rock:era branco, de olhos azuis, cantava comoum negro e ainda exibia passos sensuais aose apresentar: Elvis Presley. No Brasil, a primeiraartista a encarnar o rock foi a cantoraCelly Campello, que, com uma versão parao sucesso americano Stupid Cupid, sacolejavaas festinhas da época, abrin<strong>do</strong> caminhopara uma geração que mais tarde viria a serchamada de Jovem Guarda.Oh! Oh! Cupi<strong>do</strong>!Vê se deixa em pazMeu coração queJá não pode amarEu amei háMuito tempo atrásJá cansei deTanto soluçarHei, hei, é o fimOh! Oh! Cupi<strong>do</strong>Pra longe de mim!Estúpi<strong>do</strong> Cupi<strong>do</strong>(Neil Sedaka; versão em português de Fred Jorge)Com a chegada <strong>do</strong> rock ao Brasil no exatomomento em que a bossa nova ocupava ocoração de boa parte da juventude universitária,começava uma divisão que levariamuito tempo para acabar. De um la<strong>do</strong>, osnacionalistas, liga<strong>do</strong>s no samba e na bossanova; <strong>do</strong> outro, os roqueiros, que nãoestavam nem aí para a música brasileira ea<strong>do</strong>ravam ser chama<strong>do</strong>s de juventude transviada.Essas duas turmas protagonizariamembates memoráveis e discussões intermináveisque até hoje repercutem entre osamantes da música.O homem da vassouraSe no campo da música as divisões se radicalizavam,os grupos políticos no Brasil eramcada vez mais intolerantes. O governo JuscelinoKubitschek, apesar de suas grandesrealizações, terminou debaixo de uma severaonda de acusações de corrupção, principalmenteligadas à construção de Brasília. Porisso, uma coligação de parti<strong>do</strong>s liderada pelaUDN (União Democrática Nacional), adversáriade parti<strong>do</strong>s de esquerda, como o PTB(Parti<strong>do</strong> Trabalhista Brasileiro), de GetúlioVargas, ou de centro, como o PSD (Parti<strong>do</strong>Social Democrático), de Juscelino, apresentou162


como candidato um político que fizera suacarreira meteórica apostan<strong>do</strong> sempre na lutacontra a corrupção: Jânio da Silva Quadros.legislação eleitoral permitia que o vice-presidentefosse vota<strong>do</strong> separadamente, e quemacompanhou Jânio a Brasília foi o candidato<strong>do</strong> PTB, João Goulart. Os <strong>do</strong>is maiores parti<strong>do</strong>s<strong>do</strong> país à época estavam representa<strong>do</strong>sno governo brasileiro. Mas entre eles nãohaveria nenhum tipo de cooperação, e empouco menos de sete meses a frágil democraciabrasileira viveria um drama que levariadécadas para terminar.É sal, é sol, é sul7 . Jânio Quadros:o homemda vassouraNão há personagem semelhante na históriapolítica brasileira: em apenas 15 anos, elefoi eleito, sucessivamente, verea<strong>do</strong>r, deputa<strong>do</strong>estadual, prefeito da capital paulistae governa<strong>do</strong>r de São Paulo. Chegou à eleiçãode 1960, aos 43 anos, usan<strong>do</strong> o mesmomote de suas campanhas anteriores: varrera sujeira da administração pública. Seu símbolo,a vassoura, rapidamente tomou conta<strong>do</strong> Brasil, tornan<strong>do</strong>-se referência obrigatóriade qualquer estu<strong>do</strong> sobre a história dascampanhas políticas em nosso país.O barquinho no azul <strong>do</strong> marDia de luz, festa <strong>do</strong> solE o barquinho a deslizarNo macio azul <strong>do</strong> marTu<strong>do</strong> é verão e o amor se fazNum barquinho pelo marQue desliza sem parar...O Barquinho(Roberto Menescal e Ronal<strong>do</strong> Bôscoli)Varre, varre, varre, vassourinhaVarre, varre a bandalheiraQue o povo já está cansa<strong>do</strong>De sofrer dessa maneiraJingle da campanha de Jânio Quadrosà presidência <strong>do</strong> Brasil8 . RobertoMenescal e oviolão de tantascomposiçõesApesar da vitória contundente, com 5,6 milhõesde votos, quase <strong>do</strong>is milhões a mais<strong>do</strong> que recebeu o general Lott, candidato<strong>do</strong> PTB, a eleição não foi uma conquistacompleta, pois Jânio não elegeu o vicede sua chapa, Milton Campos. Na época, aLonge das conflagrações políticas, a bossanova avançava pelo fértil terreno da juventudemais abonada <strong>do</strong> Rio de Janeiro e deSão Paulo, que, no final <strong>do</strong>s anos 1950, jánão queria mais os padrões culturais e decomportamento de seus pais. A descoberta163


É sal, é sol, é sulde uma música brasileira refinada e afinadacom os novos tempos fazia a alegria deuma turma que tinha tempo e dinheiro parase dedicar a ela.Alguns apartamentos de classe média e declasse média alta em Copacabana e Ipanemaficaram famosos por receber turmas de jovensque se reuniam para tocar e cantar bossanova. Havia um bom número de universitáriosentre eles, o que não quer dizer quetalentos vin<strong>do</strong>s de classes menos abastadasnão frequentassem essas rodas. Um <strong>do</strong>s locaismais famosos era a residência das irmãsDanuza e Nara Leão, onde não era difícil encontrarCarlos Lyra, Chico Feitosa, Dori Caymmie Roberto Menescal, por exemplo. Cresceutanto o movimento que, em 1960, <strong>do</strong>is eventosmarca<strong>do</strong>s para o mesmo dia dividiram osamantes da bossa: a “Noite <strong>do</strong> Amor, <strong>do</strong> Sorrisoe da Flor” e a “Noite <strong>do</strong> Sambalanço”,ambas em faculdades cariocas.Medaglia: “A prática era a <strong>do</strong> canto-fala<strong>do</strong>ou <strong>do</strong> cantar baixinho, <strong>do</strong> texto bem pronuncia<strong>do</strong>,<strong>do</strong> tom coloquial da narrativa musical,<strong>do</strong> acompanhamento e canto integran<strong>do</strong>-semutuamente, em lugar da valorizaçãoda ‘grande voz’”.Se era golpe, acabou malVento vira<strong>do</strong>r no clarão <strong>do</strong> marVem sem raça e cor, quem viver veráVin<strong>do</strong> a viração vai se anunciarNa sua voragem, quem vai ficarQuan<strong>do</strong> a palma verde se avermelharÉ o vento bravoO vento bravoVento Bravo(Edu Lobo e Paulo César Pinheiro)1649 . Carlos Lyra: <strong>do</strong> CPC à bossa novaUma das características mais importantes dabossa nova era que suas letras tinham umaleveza e um descompromisso muito diferente<strong>do</strong> que acontecia no samba-canção. A natureza,o amor idílico, a alegria de viver, tu<strong>do</strong>isso fazia um contraponto forte às angústiasamorosas, marca registrada <strong>do</strong> samba-canção.Mesmo as <strong>do</strong>res de amor na bossa novaeram cantadas de um jeito sereno, comobem avaliou o maestro e professor JúlioDurante os poucos meses de seu mandatocomo presidente, Jânio Quadros não conseguiuem momento algum o apoio político deque precisava para implementar seu planode governo. Instável emocionalmente e lutan<strong>do</strong>contra o alcoolismo – sua filha DirceTutu Quadros revelou recentemente, em entrevistaà Rádio Bandeirantes de São Paulo,que Jânio efetivamente era um alcoólico –,tomava decisões erráticas e até antagônicas.Como se afastou gradualmente da UDN, sofreua incansável oposição de Carlos Lacerda,que, não poden<strong>do</strong> chamá-lo de corrupto,insistia que Jânio queria dar um golpe deEsta<strong>do</strong>, fechan<strong>do</strong> o Congresso para podergovernar absoluto.O presidente era uma personalidade cheiade contradições. Um exemplo disso é que,anticomunista, deu a Che Guevara a Medalhada Ordem <strong>do</strong> Cruzeiro <strong>do</strong> Sul. Entre assuas realizações, criou as primeiras reservasindígenas; instalou centenas de processos


administrativos para apurar a corrupçãonos órgãos <strong>do</strong> governo; proibiu que missesusassem biquínis nos desfiles; nomeou oprimeiro embaixa<strong>do</strong>r negro da história <strong>do</strong>Brasil; colocou as rinhas de briga de galona ilegalidade; acabou com a isenção de impostosde algumas grandes empresas; baniuo lança-perfume <strong>do</strong>s bailes de carnaval.Pouco antes de morrer, segun<strong>do</strong> a revistaVeja, Jânio teria confessa<strong>do</strong> ao neto o profun<strong>do</strong>arrependimento pela renúncia.É sal, é sol, é sul11 . Carlos Lacerda (centro) na Escola Superior deDesenho Industrial/Esdi10 . Che Guevara no Brasil, recebi<strong>do</strong> por Jânio QuadrosÉ inegável que, no setor das relações internacionais,a política externa brasileira ganhoumusculatura e independência, procuran<strong>do</strong>estabelecer laços comerciais e diplomáticoscom todas as nações <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> que manifestasseminteresse em um intercâmbio pacífico.Em plena Guerra Fria, com os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>se a União Soviética disputan<strong>do</strong> palmoa palmo o poder e a influência no mun<strong>do</strong>,essa mudança provocou reações negativas<strong>do</strong>s norte-americanos e muitas críticas <strong>do</strong>ssetores conserva<strong>do</strong>res brasileiros.No dia 24 de agosto de 1961, no bojo demais uma crise institucional, Carlos Lacerdafez um discurso pelo rádio em que acusavao ministro da Justiça, Oscar Pedroso Horta,de estar preparan<strong>do</strong> um golpe de Esta<strong>do</strong>.Para espanto de muitos, em 25 de agosto,Jânio Quadros apresentou sua renúncia aoCongresso, que a aceitou imediatamente.Como mandava a Constituição, quem deveriaassumir o cargo era o vice-presidente JoãoGoulart, o Jango, que se encontrava comuma delegação de brasileiros na China paraalavancar negócios e parcerias comerciais.Mas Jango, <strong>do</strong> PTB, era muito malvisto pelosparti<strong>do</strong>s conserva<strong>do</strong>res e por parte <strong>do</strong>s militaresbrasileiros. Deputa<strong>do</strong> pelo Rio Grande<strong>do</strong> Sul, ocupara o posto de ministro <strong>do</strong>Trabalho durante o último mandato de Vargas.Durou pouco mais de sete meses nocargo, mas deixou uma marca profunda aose aproximar <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res e <strong>do</strong>s sindicatos,bem como <strong>do</strong>s socialistas e comunistas,sempre disposto a negociar. Com aperspectiva de ter um “esquerdista” à frente<strong>do</strong> país, um verdadeiro golpe se articuloupara evitar a posse de Jango.Um longo caminho de voltaMinha alma cantaVejo o Rio de JaneiroEstou morren<strong>do</strong> de saudadesRio, seu marPraia sem fimRio, você foi feito pra mimSamba <strong>do</strong> Avião(Tom Jobim)165


É sal, é sol, é sulAvisa<strong>do</strong> na China só 24 horas após a renúncia(à época, a velocidade das informaçõesera incrivelmente lenta comparada aos diasde hoje), Jango começou uma longa viagemao Brasil, enquanto seus partidários se mobilizavampara garantir a posse. A primeiraescala foi em Paris, onde, ao falar por telefonecom Leonel Brizola, governa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> RioGrande <strong>do</strong> Sul e líder <strong>do</strong> movimento pró-Jango,foi informa<strong>do</strong> de que parte <strong>do</strong>s generaisnão aceitava que assumisse a presidência.Enquanto o Congresso e os militares buscavamuma solução para a crise, Brizola fun<strong>do</strong>ua Campanha da Legalidade, uma cadeiacom mais de cem rádios que exortavam apopulação a defender a Constituição e aposse de Jango. Outros governa<strong>do</strong>res queaderiram à campanha foram Ney Braga, <strong>do</strong>Paraná, e Mauro Borges, de Goiás. LeonelBrizola chegou a defender o uso das armaspara garantir a posse <strong>do</strong> cunha<strong>do</strong> (ele eracasa<strong>do</strong> com Neusa, irmã de Jango) e, efetivamente,chegou a criar grupos de militantesdispostos a ir à luta, se necessário fosse.seriam dividi<strong>do</strong>s com um primeiro-ministro.Jango, que àquela altura já estava em Montevidéu,aceitou o acor<strong>do</strong>. No dia 2 de setembrode 1961, o regime parlamentaristafoi aprova<strong>do</strong> pelo Congresso Nacional, e em7 de setembro João Goulart foi finalmenteempossa<strong>do</strong> presidente da República, ten<strong>do</strong>como primeiro-ministro Tancre<strong>do</strong> Neves.Como seria de se esperar, o presidente nãoia se acomodar em uma situação na qualseria impossível fazer as reformas que pensavanecessárias para que o Brasil seguissecrescen<strong>do</strong>, com mais igualdade na distribuiçãoda renda. Nos <strong>do</strong>is anos seguintes àposse, Jango operou politicamente no senti<strong>do</strong>de ter seus poderes devolvi<strong>do</strong>s, até queconseguiu aprovar, no Congresso, um plebiscitopara a população escolher entre o parlamentarismoe o presidencialismo. Apoia<strong>do</strong>em grande campanha publicitária, conseguiuem janeiro de 1963 a vitória de que necessitava,e o Brasil voltou a ter um presidente“forte”. No entanto, as contradições políticas,sociais e econômicas tornaram a já difíciltarefa de governar o Brasil em um projetoimpossível de ser realiza<strong>do</strong>.Brasil bom de bolaVocês vão ver como éDidi, Garrincha e PeléDan<strong>do</strong> seu banho de bolaQuan<strong>do</strong> eles pegam no couroO nosso escrete de ouroMostra o que é nossa escola.16612 . João Goulart, vice de Jânio, tornou-sepresidente em 1961Finalmente, chegou-se a um consenso: ainstituição <strong>do</strong> regime parlamentarista, emque os poderes <strong>do</strong> presidente da RepúblicaFrevo <strong>do</strong> Bi(Silvério Pessoa)Enquanto a temperatura aumentava na política,no esporte tu<strong>do</strong> era só felicidade. Depoisda grande conquista da Copa de 1958,o mun<strong>do</strong> esperava uma nova performance


da seleção canarinho, agora no Chile. Duasequipes <strong>do</strong>minavam o noticiário da época:o Santos, com um grande time lidera<strong>do</strong> porPelé, e o Botafogo, que tinha em Garrinchasua estrela maior. E foi a base dessas duasequipes que formou a seleção que tinha odesafio de buscar o bicampeonato.A bossa <strong>do</strong> BecoEsta noite, quan<strong>do</strong> eu vi NanãVi a minha deusa ao luarToda noite eu olhei NanãA coisa mais linda de se olharQue felicidade achar, enfimEssa deusa vinda só pra mim, NanãE agora eu só sei dizerToda a minha vida é NanãÉ sal, é sol, é sulNanã(Moacir Santos e Mario Telles)13 . Garrincha e Pelé, <strong>do</strong>is gênios <strong>do</strong> futebol brasileiroApesar <strong>do</strong> favoritismo, não foi uma tarefafácil. Ainda mais porque, logo na segundapartida, contra a Tchecoslováquia, Pelé sofreuum violento estiramento muscular queo tirou <strong>do</strong> restante da Copa. A responsabilidade,então, ficou para a desconcertantegenialidade de Garrincha, que fez de tu<strong>do</strong>:marcou gols de falta, de cabeça, deu passesgeniais para que Amaril<strong>do</strong>, que substituiuPelé, ficasse conheci<strong>do</strong> pelo apeli<strong>do</strong> de Possesso,tal a sua fúria em busca <strong>do</strong> gol.Em sua caminhada, a seleção brasileiravenceu o México, empatou com a Tchecoslováquia,derrotou a Espanha, a Inglaterra,o Chile e voltou a enfrentar a seleção tchecana partida final, quan<strong>do</strong> saiu vitoriosa. Afesta nas ruas foi maior <strong>do</strong> que em 1958,já que, com o avanço das comunicações, opaís acompanhou mais de perto a evoluçãoda equipe: o videoteipe (gravação eletrônicaque substituiu as filmagens) fazia sua estreia,e, graças à proximidade com o Chile,24 horas depois <strong>do</strong>s jogos as TVs brasileirasjá exibiam a partida.Se há alguma referência geográfica para abossa nova no Rio de Janeiro, ela fica emuma travessa sem saída na Rua Duvivier,entre os números 21 e 37, em Copacabana.Por sua localização discreta, ali se instalaramvárias boates – todas muito pequenas– onde os músicos amantes da bossa nova (etambém <strong>do</strong> jazz) se encontravam para tocarjuntos em pequenos espetáculos chama<strong>do</strong>spocket shows. Como os frequenta<strong>do</strong>res costumavamfazer muita algazarra quan<strong>do</strong> saíamde madrugada, os mora<strong>do</strong>res, irrita<strong>do</strong>s,atiravam garrafas pelas janelas, o que levouo cronista Sérgio Porto a apelidar o localde Beco das Garrafadas, depois abrevia<strong>do</strong>para Beco das Garrafas. O nome das boates(também chamadas de “inferninhos”) era sinônimode boa música: Ma Griffe, Bottle’s,Baccarat, Little Club.14 . Johnny Alf, o Rapaz de Bem, e seu piano na noite carioca167


É sal, é sol, é sulDe 1958 a 1965, passaram por ali os melhoresartistas da época: Elis Regina, Nara Leão,Sylvinha Telles, Claudette Soares, Jorge Ben,Marisa Gata Mansa, Doris Monteiro, WilsonSimonal, Alaíde Costa, Pery Ribeiro, Leny Andrade,Sérgio Mendes, Baden Powell, AirtoMoreira, Johnny Alf, Hélcio Milito, Chico Batera,Wilson das Neves, Durval Ferreira, DomUm Romão, Paulo Moura e o Trio Bossa Três,composto por Luiz Carlos Vinhas, Edson Macha<strong>do</strong>e Tião Neto. Desses to<strong>do</strong>s, <strong>do</strong>is alcançariamo mais alto degrau da fama, emboraseus destinos tenham si<strong>do</strong> muito diferentes:Wilson Simonal e Elis Regina.16 . Nara Leão, a eterna musa e seu violão afina<strong>do</strong>Seria o fim da bossa nova? De jeito nenhum.Contestada no Brasil, ela chegou a muitospaíses: Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, França, Japão. Hoje,é considerada patrimônio cultural brasileiro,um <strong>do</strong>s mais altos momentos de nossa criaçãoartística, cultuada em muitos países.A derrocada de Jango16815 . Sylvinha Telles,primeira cantoraprofissional a gravarum disco inteirode bossa novaMas, assim como na política, alas divergentesse formaram dentro da bossa nova. Oprimeiro a proclamar seu rompimento comuma estética que considerava “alienada” foiCarlos Lyra, com sua composição Influência<strong>do</strong> Jazz. O respeita<strong>do</strong> crítico musical JoséRamos Tinhorão não fez por menos: a bossanova seria influência estrangeira que chegarapara acabar com a nossa verdadeiramúsica popular, o samba, em uma espéciede “<strong>do</strong>minação cultural”. Começou, então, asurgir um movimento que foi em busca das“raízes” da nossa música, da valorização <strong>do</strong>que seria “realmente” brasileiro. Artistasque surgiram com a bossa nova “trocaram”de la<strong>do</strong>, como Nara Leão, que foi buscar nosamba de morro a força que a tornaria umagrande intérprete da música brasileira.Quem acreditouNo amor, no sorriso, na florEntão sonhou, sonhou...E perdeu a pazO amor, o sorriso e a florSe transformam depressa demaisQuem, no coraçãoAbrigou a tristeza de verTu<strong>do</strong> isto se perderE, na solidãoProcurou um caminho e seguiu,Já descrente de um dia felizMeditação(Tom Jobim e Newton Men<strong>do</strong>nça)Ao assumir o poder, de volta ao sistema presidencialista,Jango enfrentou uma série dedificuldades criadas até mesmo pelas forçasque o consideravam um alia<strong>do</strong>. Pior: com a


sequência de crises, os parti<strong>do</strong>s de esquerdapassaram a considerá-lo fraco para o tratode questões importantes como a reformaagrária, enquanto os de direita estavam certosde que ele era <strong>do</strong>mina<strong>do</strong> pela esquerda.Espremi<strong>do</strong> entres as duas forças, Jango tinhapouco espaço de manobra.1964, fican<strong>do</strong> conheci<strong>do</strong> como o Comício daCentral <strong>do</strong> Brasil. Na presença de cerca de150 mil pessoas, o presidente garantiu quecontinuaria lutan<strong>do</strong> pelas reformas de base,contra as forças políticas conserva<strong>do</strong>ras“que impediam o crescimento <strong>do</strong> Brasil”.É sal, é sol, é sulAo longo de 1963, sargentos, cabos, solda<strong>do</strong>se marinheiros das Forças Armadas brasileiras,contrarian<strong>do</strong> os princípios de hierarquiae disciplina, fizeram uma série demovimentos considera<strong>do</strong>s ilegais pela oficialidade.No centro da discussão, o artigoda Constituição que proibia a candidaturade sargentos a postos eletivos. Aumentaramas suspeitas, por parte <strong>do</strong>s mesmos oficiaisque tentaram barrar a posse de Jango em1961, de que o presidente estivesse traman<strong>do</strong>um golpe de Esta<strong>do</strong> com o apoio de cabose sargentos.Em outubro de 1963, o governa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>da Guanabara, Carlos Lacerda, deu umaentrevista ao jornal americano Los AngelesTimes em que atacou o presidente e os chefesmilitares que ainda o apoiavam: a repercussãofoi imensa, entre alia<strong>do</strong>s e adversários.Diante da crise, os generais solicitaramao presidente a decretação <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> desítio (uma situação temporária de restriçãode direitos e concentração de poderes que,durante sua vigência, aproxima um Esta<strong>do</strong>sob regime democrático <strong>do</strong> autoritarismo). Opedi<strong>do</strong> foi recusa<strong>do</strong> pelo Congresso, e, diantedisso, os oficiais mais gradua<strong>do</strong>s começarama preparar a conspiração para derrubarJango, que, para eles, estaria levan<strong>do</strong> o paísrumo ao comunismo.Sentin<strong>do</strong> que a pressão contra o governoaumentava, o presidente tratou de fortalecersua posição participan<strong>do</strong> de grandesmanifestações e comícios. O mais importantedeles e que, para alguns historia<strong>do</strong>res,marcou o fim da neutralidade <strong>do</strong>s poucoschefes militares que ainda defendiam seugoverno aconteceu no dia 13 de março de17 . João Goulart e a mulher Maria Teresa, no Comício daCentral, em 1964Diante <strong>do</strong> tamanho e da repercussão <strong>do</strong> comício,a reação foi imediata. Em 19 de março,em São Paulo, uma multidão saiu às ruas naMarcha da Família com Deus pela Liberdade,protestan<strong>do</strong> contra o governo. No dia 28 demarço, aumentou ainda mais a temperaturapolítica, com uma revolta de marinheiros ecabos que Goulart se recusou a debelar pelaforça. Em 30 de março, homenagea<strong>do</strong> pelaAssociação <strong>do</strong>s Sargentos e Suboficiais daPolícia Militar no Rio de Janeiro, Jango revelouem discurso a existência de uma poderosacampanha contra seu governo. E eraverdade: o golpe já estava em andamento.No dia 31 de março, chefiadas pelo generalOlimpio Mourão Filho, tropas <strong>do</strong> Exército baseadasem Juiz de Fora se deslocaram emdireção ao Rio para depor o presidente daRepública. Acua<strong>do</strong>, Jango recusou-se a enfrentaro movimento, tentan<strong>do</strong> evitar o derramamentode sangue. Voou para Brasíliano dia 1º de abril e de lá para o Rio Grande<strong>do</strong> Sul. Em 2 de abril, o Congresso declarouque o cargo de presidente da Repúblicaestava vago. Jango se exilou primeiro naArgentina e depois no Uruguai, onde viria amorrer em 1976. Foi o único presidente brasileiroa morrer longe de sua pátria.169


É sal, é sol, é sulCom o golpe de 1964, o Brasil mergulhouem um regime ditatorial em que os direitoshumanos e políticos foram suspensos durantemuitos anos.Para usar em sala de aulaO Barquinho (Roberto Menescal e Ronal<strong>do</strong>Bôscoli). CD – Jair Rodrigues – A Bossa Novapor Jair Rodrigues – Trama, 2003.Samba de uma Nota Só (Tom Jobim eNewton Men<strong>do</strong>nça). CD – Tom Jobim – AoVivo em Montreal – Biscoito Fino, 2007.• Em 1958, algumas pessoas questionarama presença de joga<strong>do</strong>res negros em nossaseleção de futebol. Propor aos alunos quedescubram qual foi o primeiro time <strong>do</strong> Riode Janeiro a ter negros em seu elenco.• Tema para redação: um rock feito no Brasilé brasileiro? Um samba feito nos Esta<strong>do</strong>sUni<strong>do</strong>s é americano?• Uma das grandes obras <strong>do</strong> governa<strong>do</strong>rCarlos Lacerda no Rio de Janeiro foi o Aterro<strong>do</strong> Flamengo, com seu parque. A turmadeve pesquisar quem foram os autores <strong>do</strong>projeto e quem construiu esse verdadeirojardim à beira-mar.Para saber maisMúsicasEla É Carioca (Tom Jobim e Vinicius de Moraes).CD – Tom Jobim – Tom Canta Vinicius aoVivo – Universal Music/Jobim Music, 2000.Garota de Ipanema (Tom Jobim e Vinicius deMoraes). CD – Tom Jobim – Tom Canta Viniciusao Vivo – Universal Music/Jobim Music, 2000.Rio (Roberto Menescal e Ronal<strong>do</strong> Bôscoli).CD – Os Cariocas – A Bossa <strong>do</strong>s Cariocas –Polygram, 1998.Desafina<strong>do</strong> (Tom Jobim e Newton Men<strong>do</strong>nça).CD – Os Cariocas – A Bossa <strong>do</strong>s Cariocas– Polygram, 1998.Samba <strong>do</strong> Avião (Tom Jobim). CD – Tom Jobim– Ao Vivo em Montreal – Biscoito Fino, 2007.Corcova<strong>do</strong> (Tom Jobim). CD – Quarteto Jobim-Morelembaum– Velas, 1999.Meditação (Tom Jobim e Newton Men<strong>do</strong>nça).CD – Quarteto Jobim-Morelembaum –Velas, 1999.Nanã (Moacir Santos e Mario Telles). CD– Wilson Simonal – A Bossa e o Balanço –WEA, 1994.Balanço Zona Sul (Tito Madi). CD – WilsonSimonal – A Bossa e o Balanço – WEA, 1994.Berimbau (Baden Powell e Vinicius de Moraes).CD – Baden Powell ao Vivo no TeatroSanta Rosa – Elenco/Universal Music, 2003.Influência <strong>do</strong> Jazz (Carlos Lyra). CD – CarlosLyra – A Música Brasileira Deste Séculopor Seus Autores e Intérpretes – Sesc SãoPaulo, 2000.Samba de Verão (Marcos e Paulo Sérgio Valle).CD – Marcos Valle e Victor Biglione Livein Montreal – Rob Digital, 2002.FilmesCoisa Mais Linda. Brasil, 2005. Direção:Paulo Thiago. Distribuição: Sony Pictures.Duração: 120 min.170


Os Desafina<strong>do</strong>s. Brasil, 2008. Direção: WalterLima Jr. Distribuição: Downtown Filmes.Duração: 131 min.Maestro Soberano – Tom Jobim (3 DVDs).Brasil, 2007. Direção: Roberto de Oliveira.Distribuição: Biscoito Fino. Duração total:173 min.MELLO, Zuza Homem de. João Gilberto. SãoPaulo: Publifolha, 2001.NAVES, Santuza Cambraia. Da Bossa Nova àTropicália. Rio de Janeiro: J. Zahar, 2001.WebsitesÉ sal, é sol, é sulVinicius. Espanha/Brasil, 2005. Direção: MiguelFaria Jr. Distribuição: UIP. Duração: 121 min.LivrosCABRAL, Sérgio. Nara Leão – Uma Biografia.Rio de Janeiro: Lumiar Editora, 2001.CAMPOS, Augusto de. Balanço da Bossa e OutrasBossas. São Paulo: Ed. Perspectiva, 2003.CASTRO, Ruy. Chega de Saudade: A Históriae as Histórias da Bossa Nova. São Paulo:Companhia das Letras, 2000._____________. A Onda que se Ergueu noMar: Novos Mergulhos na Bossa Nova. SãoPaulo: Companhia das Letras, 2001.COHEN, Marlene. Juscelino Kubitschek – OPresidente Bossa Nova. Rio de Janeiro: EditoraGlobo, 2005.JOBIM, Helena. Antonio Carlos Jobim: UmHomem Ilumina<strong>do</strong>. Rio de Janeiro: NovaFronteira, 1996.Bossa Nova – 50 Anoshttp://www.estadao.com.br/pages/especiais/bossanovaBossa Nova – Letras e Cifrashttp://www.bossanova.mus.brClube <strong>do</strong> Tomhttp://www.jobim.com.brDossiê Brasília 50 Anos no Centro dePesquisa e Documentação de HistóriaContemporânea <strong>do</strong> Brasilhttp://cp<strong>do</strong>c.fgv.br/brasiliaPara ver a final da Copa de 1958,Brasil 5 x 2 Suécia (narra<strong>do</strong> em sueco)http://www.svt.se/content/1/c8/01/18/18/27/080628SVEBRAVM58.asxSite oficial de Vinicius de Moraeshttp://www.viniciusdemoraes.com.br/siteSite sobre João Gilbertohttp://joaogilberto.org171


Este mun<strong>do</strong> é meuEste mun<strong>do</strong> é meu1SinopseNos anos 1960, os brasileiros sonharam com um país justo e democrático elutaram pela sua construção; o fim <strong>do</strong> governo João Goulart e o golpe militarde 1964; reforma ou revolução; a resistência da arte ao fechamento político;o movimento estudantil, os festivais da canção.173


Este mun<strong>do</strong> é meuUm país em construçãoO Brasil é uma terra de amoresAlcatifada de floresOnde a brisa fala amoresEm lindas tardes de abrilCorrei pras bandas <strong>do</strong> sulDebaixo de um céu de anilEncontrareis um gigante deita<strong>do</strong>Santa Cruz, hoje o BrasilMas um dia o gigante despertouDeixou de ser gigante a<strong>do</strong>rmeci<strong>do</strong>E dele um anão se levantou<strong>Era</strong> um país subdesenvolvi<strong>do</strong>Canção <strong>do</strong> Subdesenvolvi<strong>do</strong>(Carlos Lyra e Chico de Assis)No início da década de 1960, o Brasil pensavano futuro e apostava no presente. Umclima de efervescência percorria a nação. Acultura era o grande motor da vida nacionale se entrelaçava com a política em umarelação empolgante e conflituosa. Muitosvislumbravam uma transformação radical nohorizonte político e econômico, e uma dasgrandes discussões era se ela aconteceriasob a liderança de operários e camponesesem aliança com estudantes, intelectuais eparti<strong>do</strong>s políticos ou se a vanguarda seriaformada pelos intelectuais. Cultura e revolução,eis a questão.Cultura Popular (MCP), uma experiência realizadaem Pernambuco durante o governode Miguel Arraes.2 . Manifestação pró-Fidel Castro na sede da UNE, em 1960O sindicalismo se expandia no Nordeste eno Sudeste, com intensas discussões sobrea necessidade de uma reforma agrária. DePernambuco, vinham as ideias e o méto<strong>do</strong>de alfabetização de adultos cria<strong>do</strong> pelo educa<strong>do</strong>rPaulo Freire, que defendia a alfabetizaçãoligada a um processo de conscientização,em que, além de se apropriar <strong>do</strong>s instrumentosde leitura e escrita, o aluno deveria conhecersua realidade para agir de forma críticae atuante na vida social e política <strong>do</strong> país.174Em 1961, com a proposta de mudar o paísa partir de uma ação cultural voltada paraas classes trabalha<strong>do</strong>ras, foi cria<strong>do</strong> o CentroPopular de Cultura (CPC) da União Nacional<strong>do</strong>s Estudantes (UNE), instala<strong>do</strong> emum prédio neoclássico na Praia <strong>do</strong> Flamengo,132, no Rio de Janeiro. Foi um grandemovimento cultural <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> e um<strong>do</strong>s mais discuti<strong>do</strong>s na história recente <strong>do</strong>Brasil. A inspiração veio <strong>do</strong> Movimento de3 . Cena da peça Eles Não Usam Black-Tie, de GuarnieriA produção <strong>do</strong> CPC carioca se deu principalmentenos terrenos da música, da poesia,<strong>do</strong> cinema e <strong>do</strong> teatro. Entre 1962 e 1963,foram cria<strong>do</strong>s CPCs em vários esta<strong>do</strong>s. Paraseus integrantes, arte revolucionária eraaquela que se colocava ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> povo; ou


não interessava, era pura alienação. Membros<strong>do</strong> Teatro de Arena de São Paulo queapresentavam no Rio a peça Eles Não UsamBlack-Tie, de Gianfrancesco Guarnieri, derama partida. Carlos Estevam, o primeiro presidente<strong>do</strong> CPC, escreveu, então, o Manifesto<strong>do</strong> Centro Popular de Cultura, afirman<strong>do</strong> quea arte <strong>do</strong> povo é “de ingênua consciência”para “satisfazer as necessidades lúdicas ede ornamento”. O <strong>do</strong>cumento propunha tiraras massas “da alienação e da submissão”.O núcleo inicial <strong>do</strong> centro tinha também odramaturgo Oduval<strong>do</strong> Vianna Filho, o Vianinha,e o cineasta Leon Hirszman. O poetaFerreira Gullar foi seu segun<strong>do</strong> presidente. OCPC “fertilizou” a cultura brasileira, revelan<strong>do</strong>,além <strong>do</strong>s já menciona<strong>do</strong>s, nomes comoArman<strong>do</strong> Costa, Carlos Vereza, Flávio Migliaccio,Nelson Xavier, João das Neves e PauloPontes, no teatro e na televisão; Cacá Diegues,Eduar<strong>do</strong> Coutinho, Joaquim Pedro deAndrade, Maurice Capovilla, Marcos Farias eMiguel Borges, no cinema; Affonso Romanode Sant’Anna e Moacyr Félix, na poesia; eCarlos Lyra e Sérgio Ricar<strong>do</strong>, na música.espetáculo e de certa forma estimula<strong>do</strong> porele, nascia o CPC <strong>do</strong> Rio de Janeiro. Os personagens<strong>do</strong> musical representavam os pobrese os capitalistas. Havia também espaçopara o humor, como se pode ver na letra dacanção a seguir:Hei de vencerLutar até morrerPela vitóriaPelo meu bem querer.Hei de vencerCobrir mamãe de glóriaHei de vencerHei de sorrirHei de mamarHei de Vencer(Carlos Lyra e Vianinha)Os atores <strong>do</strong> CPC se apresentavam em portasde fábricas, favelas, sindicatos, escolas e associaçõesde bairro. As peças tinham conteú<strong>do</strong>didático e muitas eram criadas coletivamentee assinadas pela equipe que as produzia.Este mun<strong>do</strong> é meu4 . Cena da peça A Mais-Valia Vai Acabar, Seu EdgarVianinha estava interessa<strong>do</strong> em expor aspectosda teoria marxista usan<strong>do</strong> a formateatral e, para isso, escreveu A Mais-ValiaVai Acabar, Seu Edgar, que estreou com sucessona Faculdade Nacional de Arquitetura<strong>do</strong> Rio de Janeiro. Seis meses depois <strong>do</strong>5 . Cena <strong>do</strong> filme Cinco Vezes Favela, de 1962175


Este mun<strong>do</strong> é meuEntre 1962 e 1963, o CPC produziu o filmeCinco Vezes Favela, ficção em cinco episódios(dirigi<strong>do</strong>s por Marcos Farias, MiguelBorges, Cacá Diegues, Joaquim Pedro deAndrade e Leon Hirszman). O filme foi ummarco no moderno cinema brasileiro e umprecursor <strong>do</strong> Cinema Novo, movimento reconheci<strong>do</strong>internacionalmente pela agilidadede sua estética e por seu conteú<strong>do</strong>renova<strong>do</strong>r. Na mesma época, foram publica<strong>do</strong>sos Cadernos <strong>do</strong> Povo e a coletâneade poesia Violão de Rua. Um convênio como Ministério da Educação permitiu expandira capacidade de produção, e surgiram umaeditora, uma grava<strong>do</strong>ra de discos, ateliêse oficinas de artes gráficas, artes plásticase fotografia e até um caminhão adapta<strong>do</strong>para abrigar um palco.<strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul, governo e oposiçãoacabaram costuran<strong>do</strong> um acor<strong>do</strong> pelo qualdeveria ser implanta<strong>do</strong> um regime parlamentarista,com forte presença <strong>do</strong> Poder Legislativoe ten<strong>do</strong> Jango como chefe de Esta<strong>do</strong>.Que país era este?176Esse mun<strong>do</strong> é meuEsse mun<strong>do</strong> é meuFui escravo no reinoE souEscravo no mun<strong>do</strong> em que estouMas acorrenta<strong>do</strong> ninguém podeAmarEsse Mun<strong>do</strong> É Meu(Sérgio Ricar<strong>do</strong> e Ruy Guerra)Com a renúncia de Jânio Quadros, o vice-presidenteJoão Goulart, o Jango, assumiu apresidência da República: começava um <strong>do</strong>sperío<strong>do</strong>s mais turbulentos da vida nacional.No dia da renúncia, Jango estava na RepúblicaPopular da China em viagem diplomática,e os políticos conserva<strong>do</strong>res usaram essadeixa para acusá-lo de comunista.Depois de complicadas negociações, lideradasprincipalmente pelo cunha<strong>do</strong> de JoãoGoulart, Leonel Brizola, na época governa<strong>do</strong>r6 . Jango desfila em carro aberto pelas ruas de Nova YorkNa crise que se seguiu, vieram à tona, comintensidade, os problemas brasileiros, acumula<strong>do</strong>sdurante décadas e agrava<strong>do</strong>s pelaGuerra Fria, que opunha, de um la<strong>do</strong>, os Esta<strong>do</strong>sUni<strong>do</strong>s e seus alia<strong>do</strong>s e, <strong>do</strong> outro, obloco comunista lidera<strong>do</strong> pela então UniãoSoviética e pela China. Questões econômicassomavam-se à tensão política. Os investimentosestrangeiros no Brasil haviamdiminuí<strong>do</strong> pela metade. A inflação de 50%,registrada em 1962, subiu para 75%, em1963. As greves passaram de 154, em 1962,para 302, em 1963. Em um de seus discursos,Jango afirmou: “O vertiginoso processoinflacionário a que estamos submeti<strong>do</strong>s iráfatalmente arrastar o país à bancarrota, comto<strong>do</strong> o sinistro cortejo de um desastre socialde proporções catastróficas”.O Brasil ficava cada vez mais dividi<strong>do</strong>. Nocampo, atuavam as Ligas Camponesas, lideradaspor Francisco Julião; nas cidades, os Grupos<strong>do</strong>s Onze, comanda<strong>do</strong>s por Leonel Brizola.Os CPCs da UNE bradavam pelo fim <strong>do</strong>


subdesenvolvimento e pretendiam mover apesada alavanca da política com o braço ágilda cultura. Em um de seus escritos, Vianinhaexpressou poeticamente as intenções <strong>do</strong>s jovensartistas da época: “Não estamos atrásde novidades. Estamos atrás de descobertas.Não somos profissionais <strong>do</strong> espanto. Paraachar a água, é preciso descer terra adentro,encharcar-se no lo<strong>do</strong>. Mas há os que preferemolhar os céus e esperar pelas chuvas”.Em 1963, um plebiscito nacional sobre aforma de governo definiu a volta <strong>do</strong> regimepresidencialista. João Goulart pôde, então,exercer a presidência da República com amplospoderes, e, durante seu mandato, osproblemas só cresceram. Jango propôs umPlano Trienal, elabora<strong>do</strong> pelo economistaCelso Furta<strong>do</strong>, preven<strong>do</strong> regulamentar preços,o que desagra<strong>do</strong>u aos empresários, erestringir aumentos de salários, o que irritouos sindicalistas.Este mun<strong>do</strong> é meuNa época, quem falasse em erradicar a pobreza,distribuir renda e reformar a educação ea saúde costumava ser chama<strong>do</strong> de comunista,mesmo quan<strong>do</strong> não o fosse. Os inimigos<strong>do</strong> governo temiam que o Brasil se tornasseuma ditadura socialista à moda de Cuba.7 . Manifestação das Ligas CamponesasPropaganda e comíciosJango pilotava um governo cada vez maiscontesta<strong>do</strong>, e alguns pesquisa<strong>do</strong>res dessaépoca afirmam que tomar decisões comousadia e rapidez não era o forte <strong>do</strong> presidente.O historia<strong>do</strong>r americano Thomas Skidmoreo classificou como uma “figura enigmática”,e o pensa<strong>do</strong>r brasileiro José ArthurGiannotti escreveu que ele era um “políticode porte médio”.Por tua causa, Maria QuitériaEu faço banzéEu faço misériaE se você não voltar pra casaEu man<strong>do</strong> brasa, eu man<strong>do</strong> brasaEu Man<strong>do</strong> Brasa(Antônio Almeida e Aldacir Louro)Do la<strong>do</strong> conserva<strong>do</strong>r, o Instituto de Pesquisae Estu<strong>do</strong>s Sociais (Ipes) fazia propagandacontra o perigo <strong>do</strong> comunismo. Uma parteda Igreja Católica se aliou na luta contra Jango,através de organizações como a Campanhada Mulher pela Democracia (Camde).8 . Jango decreta a nacionalização das refinarias de petróleoNo cenário político, as brasas voavam emtodas as direções. Em 13 de março, em umcomício em frente à Estação Central <strong>do</strong> Brasil,Centro <strong>do</strong> Rio de Janeiro, Jango decretou177


Este mun<strong>do</strong> é meua nacionalização das refinarias privadas depetróleo e desapropriou terras às margensde estradas e de açudes públicos para fazera reforma agrária.Em 19 de março, em resposta ao comício daCentral <strong>do</strong> Brasil, aconteceu, no Centro deSão Paulo, a Marcha da Família com Deuspela Liberdade. Milhares de pessoas, muitascom um terço na mão, pediam a Deus e aosmilitares que salvassem o Brasil <strong>do</strong> comunismo.Alguns cartazes pregavam: “Famíliaque reza unida permanece unida”. Outrosprotestavam: “Está chegan<strong>do</strong> a hora de Jangoir embora”. E havia até os bem-humora<strong>do</strong>s,como: “Vermelho bom só batom!”.No dia 25 de março de 1964, o ministro daMarinha, almirante Sílvio Mota, man<strong>do</strong>uprender o marinheiro José Anselmo <strong>do</strong>s Santos,um <strong>do</strong>s líderes <strong>do</strong> Sindicato <strong>do</strong>s Marinheiros.Em protesto, mais de mil marinheirose fuzileiros navais ocuparam a sede <strong>do</strong>Sindicato <strong>do</strong>s Metalúrgicos <strong>do</strong> Rio de Janeiro.Jango demitiu o ministro, e os rebela<strong>do</strong>sforam anistia<strong>do</strong>s.Muito se discutiu se o governo de João Goulartfoi derruba<strong>do</strong> por um golpe ou por umarevolução. Os dicionários informam que golpede Esta<strong>do</strong> é uma subversão da Constituiçãoe a tomada <strong>do</strong> poder por um indivíduoou um grupo liga<strong>do</strong> ao Esta<strong>do</strong>. Já revolução éa transformação radical e violenta de uma estruturaeconômica, política e social e, por extensão,qualquer mudança violenta da formade governo. Isso significa que o golpe nãotem ampla participação da população, e, porisso, a palavra costuma ter um caráter pejorativo.Já a revolução pressupõe uma transformaçãomais profunda, mas que nem sempreacaba efetivan<strong>do</strong> suas boas intenções.Por trás dessa discussão, está uma questãomais ampla: a história oficial seria escritapelos vence<strong>do</strong>res, que tentam impor comoverdadeira a sua versão <strong>do</strong>s fatos, e nãopelos venci<strong>do</strong>s. Assim, o que aconteceu emabril de 1964 tem si<strong>do</strong> chama<strong>do</strong> de revoluçãopelos militares e seus simpatizantes ede golpe por aqueles que o criticam e queforam tira<strong>do</strong>s <strong>do</strong> poder. Mas há exceções.O ex-presidente da República Ernesto Geisel,que governou de 1974 a 1979, afirmouque não houve uma revolução, mas um movimentocontra a corrupção e a subversãoda ordem. Já para outros líderes militares, omovimento teria si<strong>do</strong> uma contrarrevolução,pois Jango estaria planejan<strong>do</strong> uma revolução,abortada pelos militares. Nesse cenário,havia os que eram a favor de reformas políticase econômicas para modernizar o paíse os adeptos de uma revolução radical. Masisso já é outra história.1789 . João Goulart, no Automóvel Club,durante a Revolta <strong>do</strong>s MarinheirosNo <strong>do</strong>mingo 30 de março, o presidente esete de seus ministros foram a uma reuniãode sargentos no Automóvel Clube <strong>do</strong> Rio deJaneiro, onde ele afirmou em discurso: “Ogolpe que desejamos é o das reformas debase”. Estava dada a partida para o golpemilitar <strong>do</strong> dia 1º de abril, que iniciaria umaditadura de 21 anos.A bossa novae a canção engajadaA música é uma das manifestações mais vigorosas<strong>do</strong> país e, nos turbulentos anos 1960,ela refletiu os anseios de vários grupos sociaise expressou pontos de vista diferentes.A diversidade musical da época impressiona:


sambas, xotes, baiões, sambas-canções, marchase a nascente bossa nova ocupavam orádio e a televisão. É dessa época a expressão“música popular brasileira”, a MPB.Mas o dia vai chegarQue o mun<strong>do</strong> vai saberNão se vive sem se darQuem trabalha é que temDireito de viverPois a terra é de ninguémTerra de Ninguém(Marcos e Paulo Sérgio Valle)“nossa ideia era levar Nelson Cavaquinho eZé Kéti aos estudantes e, ao mesmo tempo,mostrar a bossa nova para o povo”.Aliás, um <strong>do</strong>s fenômenos mais expressivosda década de 1960 foi o resgate de sambistasque andavam meio esqueci<strong>do</strong>s. E orestaurante Zicartola, no Centro <strong>do</strong> Rio, <strong>do</strong>compositor Cartola e de sua mulher, Zica,foi o palco da aproximação entre jovens ecompositores populares. Ao mesmo tempo,firmava-se a tendência de considerar a bossanova alienada e apostar na música deprotesto. O público estudantil pedia cançõescom temas sociais e denúncias.Nas entrelinhas, quem desejasse podia leruma proposta de união para enfrentar onovo regime. Em vez de cantar a <strong>do</strong>r decotovelo em versos curtos, apostava-se emletras longas e elaboradas, bem ao gosto<strong>do</strong>s estudantes.Este mun<strong>do</strong> é meu10 . Álbumgrava<strong>do</strong> aovivo noCarnegie Hall,em Nova York,em 1962A bossa nova, surgida no final <strong>do</strong>s anos 1950no Rio de Janeiro, era uma reformulação <strong>do</strong>samba carioca urbano com influência <strong>do</strong> jazz.Cantava o amor, o sorriso e a flor em acordesdissonantes. Mas ampliou seu fôlego ese tornou um <strong>do</strong>s gêneros mais influentes danossa música. Em 1962, um show históricode bossa nova foi apresenta<strong>do</strong> no CarnegieHall, uma tradicional sala de concertos deNova York, e aplaudi<strong>do</strong> por três mil pessoas.João Gilberto, Bola Sete, Agostinho <strong>do</strong>s Santos,Carmem Costa, Luiz Bonfá, Carlos Lyra,Sérgio Mendes, Tom Jobim, Miltinho e RobertoMenescal comandaram o espetáculo.O merca<strong>do</strong> interno de música se expandia, eas propostas eram as mais diversas. Segun<strong>do</strong>Carlos Lyra, coordena<strong>do</strong>r musical <strong>do</strong> CPC,11 . Cartola (com o violão) em seu restaurante ZicartolaO golpe de abrilO golpe militar acabou com a festa daquelesque, moran<strong>do</strong> ou não de frente para o mar,sonhavam com rumos progressistas para oBrasil. Um de seus principais líderes foi o generalOlímpio Mourão Filho, cuja ideia era derrubaro governo Jango através de uma açãofulminante que ele denominou Operação Popeye.O governo <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s apoioua iniciativa através da Operação Brother Sam.179


Este mun<strong>do</strong> é meuAcabou nosso carnavalNinguém ouve cantar cançõesNinguém passa mais brincan<strong>do</strong> felizE nos coraçõesSaudades e cinzas foi o que restouPelas ruas o que se vêÉ uma gente que nem se vêQue nem se sorriSe beija e se abraçaE sai caminhan<strong>do</strong>Dançan<strong>do</strong> e cantan<strong>do</strong> cantigas de amorE no entanto é preciso cantarMais que nunca é preciso cantarÉ preciso cantar e alegrar a cidadeAlguns setores militares relutaram em retirarseu apoio a Jango, mas acabaram aderin<strong>do</strong>;os alia<strong>do</strong>s <strong>do</strong> governo não conseguiram esboçaruma reação. Apenas Francisco Julião eo antropólogo Darcy Ribeiro, chefe de gabinetede Jango, tentaram protestar energicamente.O presidente da República não aceitouas propostas de romper com a esquerdapara continuar no poder, mas também nãoquis reagir militarmente.Em 1º de abril, a situação já estava definidaa favor <strong>do</strong>s golpistas. Jango partiu para oRio Grande <strong>do</strong> Sul com sua família e depoisse asilou no Uruguai. E os militares aban<strong>do</strong>naramseu papel modera<strong>do</strong>r na política etomaram o poder, instalan<strong>do</strong> um regime autoritárioe centraliza<strong>do</strong>r.Marcha de Quarta-Feira de Cinzas(Carlos Lyra e Vinicius de Moraes)O comício da Central <strong>do</strong> Brasil foi a chavepara o início da operação. Em 31 de março, oJornal <strong>do</strong> Brasil publicou um artigo de CarlosCastello Branco intitula<strong>do</strong> Minas DesencadeiaLuta contra Jango. No mesmo dia, MourãoFilho partiu de Juiz de Fora para o Rio deJaneiro com solda<strong>do</strong>s, caminhões e tanques.Entre os conspira<strong>do</strong>res estavam, também,o marechal Humberto Castello Branco e ogeneral Ernesto Geisel. Na confusão que seinstalou, tu<strong>do</strong> aconteceu rápi<strong>do</strong> demais.13 . Prédio da UNE é incendia<strong>do</strong> por manifestantes em 196418012 . O antropólogo Darcy Ribeiro (autorretrato)Na quinta-feira 2 de abril, uma marcha davitória reuniu milhares de pessoas na AvenidaRio Branco, no Rio de Janeiro. Os manifestantesdepredaram e incendiaram a redação<strong>do</strong> jornal Última Hora e a sede da UNE.Nas chamas, arderam os sonhos de umageração. Carlos Lyra ainda se lembra desses


momentos dramáticos: “Eu, Vianinha e váriosoutros companheiros fomos para a sededa UNE e resolvemos entrar no prédio. Osmembros <strong>do</strong> MAC (Movimento Anticomunista,forma<strong>do</strong> por estudantes) começaram a atirar,pelo vão <strong>do</strong> prédio, e atingiram um garoto.Ficamos escondi<strong>do</strong>s no teatro <strong>do</strong> prédio atéa madrugada, quan<strong>do</strong> pudemos sair”.O primeiro presidente militar foi CastelloBranco, eleito indiretamente. Com atos institucionais,decretos-leis e inquéritos policiaismilitares, afastou opositores e desmantelouorganizações sindicais e camponesas. Osmilitares se dividiam, então, em castelistas(mais modera<strong>do</strong>s) e os da linha dura, quepropunham um endurecimento.Nos anos seguintes, houve uma significativarecuperação da economia e as taxas de crescimentochegaram a 10% ao ano. O chama<strong>do</strong>milagre econômico brasileiro era basea<strong>do</strong> napresença forte <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> na economia e napolítica e na entrada de capitais estrangeirosatraí<strong>do</strong>s pela estabilidade <strong>do</strong> país.Castello Branco assinou atos institucionaisque determinavam eleições indiretas paragoverna<strong>do</strong>r e aprovou uma nova Constituição,que deu ao Sena<strong>do</strong> e à Câmara poderespara cassar e suspender mandatos. Sancionou,ainda, a Lei de Imprensa, restringin<strong>do</strong>o acesso à informação, e decretou a Lei deSegurança Nacional, cercean<strong>do</strong> as liberdadescivis. A proposta era fazer de to<strong>do</strong> cidadãobrasileiro um responsável pela segurança<strong>do</strong> país. O segun<strong>do</strong> presidente militarfoi o marechal Costa e Silva, também eleitoindiretamente, que declarou em sua posse:“A revolução veio para permanecer”.No entanto, é precisocantar e protestar“Não vote em mim, acabo de ser cassa<strong>do</strong>”, diziauma charge <strong>do</strong> humorista Fortuna no jornalCorreio da Manhã. Brincan<strong>do</strong>, tentava-se fazeroposição, e cantar era uma maneira de abrirbrechas nas portas que se haviam fecha<strong>do</strong>.A Lei Suplicy permitiu ao governo invadir efechar faculdades e colocar a UNE na ilegalidade.Mas, entre 1965 e 1968, os estudantesbrasileiros nunca estiveram tão ativos. Os universitárioseram apenas 1% da população, eisso os levava a reivindicar mais verbas paraa educação. Queriam também ampliar o ensinopúblico e eram contra o ensino priva<strong>do</strong>.Este mun<strong>do</strong> é meu14 . O presidente Castello Branco faz revista às tropas, em Brasília, em 1964181


Este mun<strong>do</strong> é meu15 . Na Cinelândia, no Centro <strong>do</strong> Rio, estudantes protestam contra a ditadura militar que vigorava no paísNas escolas secundárias, nos cursinhos depré-vestibular e nas universidades, discutia-sea realidade <strong>do</strong>s alunos para ampliar sua consciênciasobre os problemas nacionais.Barco deita<strong>do</strong> na areiaNão dá para viver, não dáLua bonita sozinha não faz o amorToma a decisão, aleluia[não fazQue um dia o céu vai mudarQuem não tem mais nada a perderSó vai poder ganharAleluia(Edu Lobo)Uma questão de opiniãoO show Opinião foi um exemplo <strong>do</strong> casamentoda política com a arte. Produzi<strong>do</strong> pelosantigos integrantes <strong>do</strong> CPC da UNE, reuniamúsica, dramaturgia e protesto. Em cena,representantes de três segmentos da MPB:Zé Kéti, o homem <strong>do</strong> samba tradicional urbano;João <strong>do</strong> Vale, o nordestino que migroupara uma grande capital; e Nara Leão,a musa bossa-nova da classe média carioca.Cada um falava de sua trajetória e discutiaa vida nos morros cariocas e no Nordeste,a luta política na América Latina e as dificuldadesde quem produzia arte no país. Osucesso se ampliou quan<strong>do</strong> Nara foi substituídapor Maria Bethânia, ela também migrantebaiana, que entusiasmou as plateiascom seu grito de guerra.Em 1965, intelectuais e políticos assinarammanifestos pela volta da legalidade e trabalha<strong>do</strong>respediram liberdade sindical e o fim<strong>do</strong> arrocho salarial. Quanto maior a repressão,mais alto ecoavam as reivindicações.Cantan<strong>do</strong> o Hino Nacional, aos poucos, osestudantes começaram a voltar às ruas. Oscartazes das passeatas e <strong>do</strong>s comícios diziam:“Abaixo a ditadura!”, “Não ao imperialismo”e “Viva a soberania nacional!”.16 . Zé Kéti e Nara Leão: a musa abraça o samba182


CarcaráPega, mata e comeCarcaráNão vai morrer de fomeCarcaráMais coragem <strong>do</strong> que homemUm país em transeCarcará(João <strong>do</strong> Vale e José Cândi<strong>do</strong>)O Cinema Novo procurou refletir sobre asquestões que começaram a surgir a partirde 1964. Entre os filmes, destacou-seO Desafio, de Paulo César Saraceni, em queVianinha vivia um intelectual em crise, quenamorava a mulher de um rico industrial.A ação mostrava também Bethânia cantan<strong>do</strong>Carcará no show Opinião.alia a um líder político conserva<strong>do</strong>r e vive umromance com uma ativista de esquerda. Muitodelírio visual e uma famosa citação de versos<strong>do</strong> poeta Mário Faustino: “A que serve asua morte? Ao triunfo da beleza e da justiça”.O teatro entrou em cena com Morte e VidaSeverina, um poema dramático de João Cabralde Melo Neto com música de Chico Buarque.Um migrante nordestino luta parasobreviver em meio à miséria, e sua sagareproduz a história <strong>do</strong> nascimento de Cristo.Produzi<strong>do</strong> pelo Teatro da Pontifícia UniversidadeCatólica de São Paulo (Tuca), tornou--se um clássico monta<strong>do</strong> muitas vezes nospalcos brasileiros e foi premia<strong>do</strong> no Festivalde Teatro Universitário de Nancy, na França.Essa cova em que estás com palmos[medidaÉ a cota menor que tiraste em vidaÉ de bom tamanho, nem largo, nem[fun<strong>do</strong>,É a parte que te cabe deste latifúndioNão é cova grande, é cova medidaÉ a terra que querias ver divididaEste mun<strong>do</strong> é meuMorte e Vida Severina(João Cabral de Melo Neto e Chico Buarque)17 . Maria Bethânia no show Opinião, de Augusto BoalJá o baiano Glauber Rocha deu sua contribuiçãocinematográfica à análise <strong>do</strong> golpemilitar em Terra em Transe. No elenco, JardelFilho, Paulo Autran, Glauce Rocha e JoséLewgoy. Na trama, um jornalista idealista seNas artes plásticas, surgiu uma produçãoheterogênea, que fugia das categorias tradicionaisde pintura e escultura. Na chamadaNova Figuração, os trabalhos de AntônioDias conjugam imagens da crônica policiale ícones de seu imaginário em um tipo dedenúncia à violência ligada à ditadura vigente.Rubens Gerchman, com a obra Lin<strong>do</strong>neia,a Gioconda <strong>do</strong> Subúrbio (1966), inspirou acanção Lin<strong>do</strong>neia, de Cateano Veloso e GilbertoGil, que descreve o retrato da moçaemoldura<strong>do</strong> por um espelho, com entalhesde motivos florais, como nos antigos porta--retratos de casamentos.183


Este mun<strong>do</strong> é meuA era <strong>do</strong>s festivaisMas o mun<strong>do</strong> foi rodan<strong>do</strong>Nas patas <strong>do</strong> meu cavaloE já que um dia monteiAgora sou cavaleiroLaço firme e braço forteNum reino que não tem reiDisparada(Geral<strong>do</strong> Vandré e Theo)18 . Lin<strong>do</strong>neia, a Gioconda <strong>do</strong> Subúrbio, de RubensGerchman. Acrílica, vidro bisotê e colagem sobre madeiraTambém marcaram a década de 1960 o trabalhode teor político <strong>do</strong> pintor Carlos Zílioe a vanguarda de Hélio Oiticica, ao proporuma espécie de intervenção social com seusParangolés. Espécies de capas, bandeirasou tendas, os Parangolés são peças executadascom materiais varia<strong>do</strong>s (teci<strong>do</strong>, borracha,tinta, papel, plástico, corda, palha,fotografia) que ganham forma e movimentoa partir <strong>do</strong> momento em que são vestidaspelas pessoas – estas integrantes, então, daprópria estrutura <strong>do</strong> trabalho.19 . O artista plástico Hélio Oiticica em seu ateliêno bairro <strong>do</strong> Jardim BotânicoDe repente, um fenômeno novo sacudiu avida nacional, e as disputas musicais passarama empolgar tanto quanto uma partidade final de Copa <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong>. Cantores ecompositores defendiam suas canções comoum goleiro tenta agarrar um pênalti. Nasruas, nos botequins, nas escolas e nas repartições,só se falava em música. Motorista,passageiro, aluno, professor, <strong>do</strong>na de casa,empregada, gari, jornaleiro, <strong>do</strong>utor: to<strong>do</strong> omun<strong>do</strong> tinha seu palpite.Começava a era <strong>do</strong>s festivais da canção, queteve sua época áurea de 1965 a 1972. Dúziasde festivais foram realizadas em to<strong>do</strong> o país,principalmente no Rio de Janeiro e em SãoPaulo. Uma constelação de compositores eintérpretes surgiu nos céus da MPB. Juntocom o intimismo “banquinho e violão” dabossa nova, ecoaram canções apoteóticas,as chamadas músicas de festival.O Primeiro Festival da TV Excelsior, em 1965,foi venci<strong>do</strong> por Arrastão, de Edu Lobo e Viniciusde Moraes, interpretada por Elis Regina.O Segun<strong>do</strong> Festival da MPB da TV Record,em 1966, terminou com um inusita<strong>do</strong> empatetécnico entre A Banda, de Chico Buarque deHollanda, cantada por Nara Leão, e A Disparada,de Geral<strong>do</strong> Vandré, por Jair Rodrigues.Chico apostava no lirismo de versos como“Estava à toa na vida meu amor me chamou/pra ver a banda passar cantan<strong>do</strong> coisas de184


amor”. Já Vandré atacava firme com estasimagens: “Mas o mun<strong>do</strong> foi rodan<strong>do</strong>/ Naspatas <strong>do</strong> meu cavalo/ E já que um dia montei/Agora sou cavaleiro/ Laço firme e braçoforte/ Num reino que não tem rei”.Este mun<strong>do</strong> é meu21 . Gil e a guitarra que revolucionou a música brasileira20 . Elis Regina, a Pimentinha que veio <strong>do</strong> SulOs jovens queriam ser cavaleiros e se livrar<strong>do</strong> reina<strong>do</strong> militar. E as torcidas e vaias semultiplicavam, com estudantes in<strong>do</strong> em grupospara os teatros e estádios onde os festivaisaconteciam. A empolgação era tantaque surgiu a expressão “esquerda festiva”para designar quem insistia em fazer políticaem festivais e eventos culturais.Passeatas & passeatasCaminhan<strong>do</strong> contra o ventoSem lenço nem <strong>do</strong>cumentoNo céu de quase dezembro eu vouAlegria, Alegria(Caetano Veloso)As passeatas estudantis ampliavam o espaçoda oposição. E como a música estava demãos dadas com as manifestações políticas,aconteceu até uma passeata contra o usodas guitarras elétricas na MPB. Foi no Centrode São Paulo, e, entre as presenças ilustres,estavam Elis Regina, Geral<strong>do</strong> Vandré,Edu Lobo, Jair Rodrigues e Gilberto Gil.Mais tarde, o próprio Gilberto Gil seria umpioneiro no uso de guitarras elétricas emsuas músicas. Enquanto isso, Caetano Velosodefendia uma arte não atrelada politicamente,aberta a múltiplas influências e antenadacom as novas tendências <strong>do</strong> cenário mundial.O bonde da história acelerou sua marcha, eo Brasil e seus músicos embarcaram nele.Para usar em sala de aula• Pedir a seus alunos que pesquisemsobre as diferenças entre golpe de Esta<strong>do</strong>e revolução e encontrem exemplos fora<strong>do</strong> Brasil.• O perío<strong>do</strong> 1965/1968 foi muito fértil emcanções populares. Sua turma pode listartrês músicas dessa época não mencionadasneste capítulo.• Sugerir aos alunos procurar nas loca<strong>do</strong>raso filme Uma Noite em 67, dirigi<strong>do</strong> por RenatoTerra e Ricar<strong>do</strong> Calil, e dizer em quetrecho estão mais evidentes as relaçõesda política com a música.Para saber maisMúsicasRoda (Gilberto Gil e João Augusto). CD – GilbertoGil – Eu Vim da Bahia – BMG, 2002.185


Este mun<strong>do</strong> é meuCanção <strong>do</strong> Subdesenvolvi<strong>do</strong> (Carlos Lyra eChico de Assis). CD – Carlos Lyra – A MúsicaBrasileira Deste Século por Seus Autores eIntérpretes – Sesc SP, 2000.Marcha de Quarta-Feira de Cinzas (CarlosLyra e Vinicius de Moraes). CD – Carlos Lyra– Mestres da MPB – Carlos Lyra – WEA, 1994.Opinião (Zé Kéti). CD – Nara Leão, João <strong>do</strong>Vale e Zé Kéti – Show Opinião – Polygram/Philips, 1994.Jango. Brasil, 1984. Direção: Sílvio Tendler.Distribuição: Caliban Produções Cinematográficas.Duração: 117 min.Uma Noite em 67. Brasil, 2010. Direção: RenatoTerra e Ricar<strong>do</strong> Calil. Distribuição: Videofilmes.Duração: 93 min.Tempo de Resistência. Brasil, 2004. Direção:André Ristum. Distribuição: Versátil. Duração:115 min.Arrastão (Edu Lobo e Vinicius de Moraes).CD – A <strong>Era</strong> <strong>do</strong>s Festivais – 28 Canções queMarcaram uma Época da MPB – UniversalMusic, 2003.Roda Viva (Chico Buarque). CD – Chico Buarque– Chico Buarque de Hollanda – Volume 31968 – RGE/Som Livre, 2006.Ponteio (Edu Lobo e Capinam). CD – QuartetoNovo – Quarteto Novo 1967 – EMI, 2002.Superbacana (Caetano Veloso). CD – CaetanoVeloso – Caetano Veloso 1968 – Polygram/Philips, 1990.FilmesO Assalto ao Trem Paga<strong>do</strong>r. Brasil, 1962. Direção:Roberto Farias. Distribuição: Fama Filmes.Duração: 102 min.Cabra Marca<strong>do</strong> para Morrer. Brasil, 1984. Direção:Eduar<strong>do</strong> Coutinho. Distribuição: GloboVídeo. Duração: 119 min.Deus e o Diabo na Terra <strong>do</strong> Sol. Brasil, 1964.Direção: Glauber Rocha. Distribuição: Versátil.Duração: 125 min.LivrosCASTRO, Celso; D’ARAÚJO, Celina (org.). ErnestoGeisel. Rio de Janeiro: Editora FGV, 1997.CHIAVENATO, Julio José. O Golpe de 64 e aDitadura Militar. Rio de Janeiro: ModernaEditora, 2004.DREIFUSS, René Armand. 1964 – A Conquista<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>: Ação Política, Poder e Golpe deClasse. Petrópolis (RJ): Editora Vozes, 2006.DUARTE, Paulo Sérgio; NAVES, Santuza Cambraia(org.) Do Samba-Canção à Tropicália.Rio de Janeiro: Relume-Dumará: Faperj, 2003.__________. Anos 60: Transformações daArte no Brasil. Rio de Janeiro: Lech, 1998.FERREIRA, Jorge; GOMES, Angela de Castro.Jango. As Múltiplas Faces. 1. ed. Rio de Janeiro:Editora da Fundação Getúlio Vargas, 2007.FICO, Carlos. O Regime Militar no Brasil (1964-1985). Rio de Janeiro: Saraiva Editora, 2011.__________. Além <strong>do</strong> Golpe: Versões e Controvérsiassobre 1964 e a Ditadura. Rio deJaneiro: Editora Record, 2004.186


__________. Reinventan<strong>do</strong> o Otimismo. Ditadura,Propaganda e Imaginário Social noBrasil. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas,1997.FIUZA, Alexandre Felipe. A Canção Populare a Ditadura Militar no Brasil. Curitiba (PR):Aos Quatro Ventos, 2003.FROTA, Silvio. Ideais Traí<strong>do</strong>s. Rio de Janeiro:Zahar, 2006.WebsitesCentro de Pesquisa e Documentação deHistória Contemporânea <strong>do</strong> Brasil (CPDOC)http://cp<strong>do</strong>c.fgv.brDossiê Jango no Centro de Pesquisa eDocumentação de História Contemporânea<strong>do</strong> Brasilhttp://cp<strong>do</strong>c.fgv.br/producao/<strong>do</strong>ssies/Jango/apresentacaoEste mun<strong>do</strong> é meuGASPARI, Elio. A Ditadura Envergonhada.São Paulo: Companhia das Letras, 2002.(Coleção As Ilusões Armadas, v. 1.)LIRA NETO. Castelo – A Marcha para a Ditadura.São Paulo: Editora Contexto, 2004.MARTINS FILHO, João Roberto. MovimetoEstudantil e Ditadura Militar: 1964-1968.Campinas (SP): Papirus, 1987.MELLO, Zuza Homem de. A <strong>Era</strong> <strong>do</strong>s Festivais– Uma Parábola. São Paulo: Editora 34, 2003.REIS, Daniel Aarão. O Golpe e a DitaduraMilitar 40 Anos Depois. Bauru (SP):Edusc, 2004.Grupo de Estu<strong>do</strong>s sobre a Ditadurahttp://www.gedm.ifcs.ufrj.brMemórias Reveladas – Centro de Referênciadas Lutas Políticas no Brasil (1964-1985)http://www.memoriasreveladas.arquivonacional.gov.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?tpl=homeTempo Glauberhttp://www.tempoglauber.com.br___________. Ditadura Militar, Esquerdas eSociedade. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.REZENDE, Maria José de. A Ditadura Militarno Brasil: Repressão e Pretensão deLegitimidade (1964-1984). Londrina (PR):UEL, 2001.SCHWARZ, Roberto. Cultura e Política, 1964-1969. In: Cultura e Política. São Paulo: Paze Terra, 2009.187


TropicáliaTropicália1SinopseO ano de 1968 foi um <strong>do</strong>s mais intensos na história <strong>do</strong> século XX; uma rebeliãocomeçou na França e se espalhou por muitos países; no Brasil, o movimentoestudantil; a Passeata <strong>do</strong>s Cem Mil: artistas e jovens nas ruas de mãos dadas;o nascimento <strong>do</strong> Tropicalismo, o movimento que queria acabar com to<strong>do</strong>s osoutros movimentos; o sonho parecia ter acaba<strong>do</strong>, mas continuou.189


TropicáliaO poder jovemOs automóveis ardem em chamasDerrubar as prateleirasAs estátuas, as estantesAs vidraças, louçasLivros, sim.E eu digo simE eu digo não ao nãoE eu digo: É!Proibi<strong>do</strong> proibirse entrelaçaram com a política, e no Brasilsurgiu um movimento tão original quantorebelde: o Tropicalismo (também conheci<strong>do</strong>como Tropicália ou Movimento Tropicalista),um produto típico de 1968, na medida emque buscava as origens estéticas e ideológicas<strong>do</strong> nosso país coloniza<strong>do</strong>, colori<strong>do</strong> esensual e partia delas para construir umagrande rede com a música, as artes visuais,o cinema e o teatro.É Proibi<strong>do</strong> Proibir(Caetano Veloso)Aconteceu de tu<strong>do</strong> em 1968, um ano quemarcou a história <strong>do</strong> Brasil e de to<strong>do</strong> o planeta.A rebeldia que vinha crescen<strong>do</strong> ao longo<strong>do</strong>s anos 1960 atingiu seu ponto máximo.O mun<strong>do</strong> industrializa<strong>do</strong> passava por um perío<strong>do</strong>de prosperidade e crescimento econômico,mas os jovens se queixavam de viverem uma sociedade autoritária e injusta. Insatisfeitoscom o que herdaram <strong>do</strong>s adultos,exigiam mudanças políticas, éticas, sociais ede comportamento.3 . Rebelião estudantil na AlemanhaAssim aconteceu com o movimento de 1968,que atingiu igualmente países <strong>do</strong> norte e <strong>do</strong>sul <strong>do</strong> hemisfério. Uma inesperada rebeliãoestudantil contagiou França, Alemanha e Itáliae, depois, grande parte <strong>do</strong> restante da Europa.1902 . Maio de 1968. Manifestações de estudantes em ParisNas ruas, nos bares, nas escolas; em livros,jornais, panfletos, músicas e filmes, umamensagem de contestação se espalhava emmuitas direções. Mais uma vez, as cançõesDe repente, alguém escreveu em um murode Paris: “Seja realista, exija o impossível”.Estava dada a partida para contestar todasas proibições. Tu<strong>do</strong> começou na Universidadede Nanterre, onde moças e rapazes, entreoutras reivindicações, queriam o direitode partilhar os mesmos alojamentos.E, em menos de um mês, dez milhões deoperários franceses estavam em greve, estudantese trabalha<strong>do</strong>res ocuparam as principaisruas da capital em protesto contra ogoverno, picharam muros e se defenderamda violenta repressão policial com pedras,


paralelepípe<strong>do</strong>s e frases como “Uma barricadafecha a rua, mas abre um caminho”. Osprotestos chegaram até o Festival de Cannes,onde os diretores de cinema Jean-LucGodard e Carlos Saura, além da atriz GeraldineChaplin, se penduraram na cortina,impedin<strong>do</strong> o início da sessão e levan<strong>do</strong> aocancelamento <strong>do</strong> festival.cerca de 300 pessoas no Centro da Cidade<strong>do</strong> México. E, pela primeira vez na históriadas Olimpíadas, atletas americanos negrosse manifestaram contra o racismo nosEsta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s.A revolta negraTropicáliaEm janeiro de 1968, Alexander Dubcek chegouao poder na Tchecoslováquia dispostoa descentralizar a economia, democratizar apolítica e os meios de comunicação e criarum socialismo com face humana. Os tchecoslutavam contra a repressão da polícia política,a burocracia <strong>do</strong> marxismo oficial e o<strong>do</strong>mínio soviético. Foi a Primavera de Praga,que teve vida curta, mas mobilizou uma amplaparcela da população em torno <strong>do</strong> poéticoslogan: “Liberdade e esperança”.5 . O americanoMartin LutherKing, lídernegro religiosoHoje ce<strong>do</strong> na Rua <strong>do</strong> Ouvi<strong>do</strong>rquantos brancos horríveis eu vieu quero esse homem de corum Deus Negro <strong>do</strong> Congo ou daquiBlack Is Beautiful(Marcos e Paulo Sérgio Valle)4 . Na Tchecoslováquia, a Primavera de PragaNo México, a revolta estudantil sofreu a reaçãomais violenta. A força de segurança<strong>do</strong> Exército, criada e treinada para garantira realização das Olimpíadas no país, matouLíder negro religioso americano que se notabilizoupela luta em favor <strong>do</strong>s direitos civis,Martin Luther King Jr. havia acaba<strong>do</strong> deescrever um sermão em que dizia: “Chegueiao topo da montanha e vi a terra prometida.Talvez eu não chegue lá com vocês. Masquero que saibam que nós, como um povo,chegaremos à terra prometida”.Ele conversava com seu colega Jesse Jackson,na sacada de um hotel em Memphis,quan<strong>do</strong> foi atingi<strong>do</strong> por um tiro de fuzil.191


TropicáliaSeu assassinato provocou protestos emmais de cem cidades, mas não foi o únicoacontecimento impactante de 1968 nos Esta<strong>do</strong>sUni<strong>do</strong>s.Durante to<strong>do</strong> o ano, pacifistas, hippies, militantes<strong>do</strong> grupo Panteras Negras, feministas,homossexuais, militaristas, republicanose democratas soltaram a voz nas ruase praças. Os maiores protestos foram contrao conflito no Vietnã, um pequeno país deeconomia agrária em guerra com a maior potência<strong>do</strong> planeta. A opinião pública questionavao recrutamento obrigatório para oserviço militar de jovens que, aos 18 anos,não tinham o direito de votar, mas já eramconvoca<strong>do</strong>s, sen<strong>do</strong> que muitos morriam ouvoltavam <strong>do</strong> confronto mutila<strong>do</strong>s.O argentino Ernesto Che Guevara, morto pelosmilitares da Bolívia quan<strong>do</strong> tentava implantaruma guerrilha à moda cubana naquelepaís, transformou-se em í<strong>do</strong>lo para os jovensda Europa e das Américas. Em cartazes e camisetas,sua foto vinha acompanhada da legenda:“Hay que endurecer, pero sin perderla ternura jamás” (“Tem que endurecer, massem perder a ternura jamais”).7 . Joan Baez e Bob Dylan: rock com sotaque countryEm um mun<strong>do</strong> no qual a globalização avançava,as palavras de ordem se espalhavamcom rapidez. “Black is beautiful” (“negro ébonito”), diziam os negros com suas cabeleirasafro. Os acordes <strong>do</strong> rock faziam asdelícias <strong>do</strong>s jovens, e artistas como os americanosBob Dylan e Joan Baez, além <strong>do</strong>singleses <strong>do</strong> Rolling Stones, viraram í<strong>do</strong>los evenderam milhares de discos.1926 . Cartaz de reapresentação <strong>do</strong> musical HairUm <strong>do</strong>s maiores sucessos dessa época foio musical Hair, em que alguns personagensrasgavam o título de eleitor e se recusavama ir à guerra. Em 1968, esse gesto foi feitopor milhares de jovens americanos, que protestaram,também, contra a repressão sexuale as injustiças sociais.Os Beatles gravaram a canção Revolution, eos Rolling Stones, sua primeira música política:Street Fighting Man (Luta<strong>do</strong>r de Rua),cuja letra teria si<strong>do</strong> escrita por Mick Jaggerdepois de participar de uma manifestaçãocontra a Guerra <strong>do</strong> Vietnã em frente à embaixadaamericana em Londres.“Make love, not war” (“Faça amor, não aguerra”), pregavam os pacifistas. No Brasil,jovens interessa<strong>do</strong>s em lutar contra a ditaduramilitar que se instalara no país em 1964e, ao mesmo tempo, conquistar a liberdadesexual mudaram a frase para “Make love inwar” (“Faça amor na guerra”).


Brasileiros nas ruasEu vou levan<strong>do</strong> a minha vida enfimCantan<strong>do</strong> e canto simE não cantava se não fosse assimLevan<strong>do</strong> pra quem me ouvirCertezas e esperanças pra trocarPor <strong>do</strong>res e tristezas que bem seiUm dia ainda vão findarUm dia que vem vin<strong>do</strong>E que eu vivo pra cantarNa avenida giran<strong>do</strong> estandarte na mãoPra anunciarPorta Estandarte(Geral<strong>do</strong> Vandré)Em mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s anos 1960, o movimento estudantilesteve na vanguarda política. Suaspropostas eram conseguir que o ensino públicode qualidade atingisse a maioria dapopulação e lutar contra a ditadura militarque governava o país desde 1964.Mas os jovens também criticavam suas famílias,que consideravam autoritárias, questionavama convivência com as direções dasescolas e das universidades e, finalmente,propunham reformular o papel desempenha<strong>do</strong>pelas empresas e as próprias relaçõestrabalhistas em uma sociedade deconsumo em que a prosperidade econômicaera usufruída apenas por uma pequena parte<strong>do</strong>s brasileiros.No final da tarde de 28 de março de 1968,poucas pessoas comiam no restaurante Calabouço,no Centro <strong>do</strong> Rio de Janeiro, queconcentrava alunos de baixa renda e entidadesque representavam secundaristas euniversitários. Solda<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Batalhão Motoriza<strong>do</strong>da Polícia Militar cercaram o restaurantee entraram usan<strong>do</strong> cassetetes e atiran<strong>do</strong>com metralha<strong>do</strong>ra.8 . A classe artística protesta na Cinelândia contra a censuraUm tiro atingiu o peito <strong>do</strong> estudante EdsonLuís de Lima Souto, que não resistiu aos ferimentos.Seus colegas levaram o corpo paraa Assembleia Legislativa, onde foi vela<strong>do</strong> atéo dia seguinte. “Podia ser seu filho!”, gritavamrapazes e moças. Uma greve estudantilfoi convocada, os teatros suspenderam osespetáculos, e os especta<strong>do</strong>res aplaudiram.Cerca de 60 mil pessoas seguiram o enterroaté o cemitério de São João Batista.Em junho, uma concentração estudantil naPraia Vermelha, na Reitoria da UniversidadeFederal <strong>do</strong> Rio de Janeiro, teve tambéma presença da polícia, que prendeu e fezdeitar no chão, com armas apontadas parasuas cabeças, cerca de 400 estudantes noclube <strong>do</strong> Botafogo de Futebol e Regatas.No dia seguinte, aconteceu a sexta-feira sangrenta:um protesto de estudantes contraalgumas reformas anunciadas pelo ministroda Educação, Tarso Dutra, levou a um confrontoentre policiais militares e secundaristasque terminou com a morte de um jovem.A imprensa descreveu os acontecimentoscomo batalha campal e insurreição popular.No mesmo dia, a polícia invadiu a Universidadede Brasília.Aconteceram manifestações em várias capitais<strong>do</strong> país; no Centro <strong>do</strong> Rio, em 26 dejunho, houve uma grande passeata, a maiordelas, a Passeata <strong>do</strong>s Cem Mil. Começoucom um discurso <strong>do</strong> líder estudantil VladimirTropicália193


TropicáliaPalmeira, que, diante da embaixada americana,ao ouvir os gritos de “quebra, quebra”,disse: “Ninguém vai quebrar. Viemos aquipara mostrar que não temos me<strong>do</strong>”.A festa <strong>do</strong>s festivaisVem, vamos emboraQue esperar não é saberQuem sabe faz a horaNão espera acontecerPra Não Dizer que Não Falei de Flores(Geral<strong>do</strong> Vandré)9 . Vladimir Palmeira discursa em manifestação antigovernoNo meio da multidão, presenças ilustres,como os músicos Caetano Veloso, GilbertoGil, Chico Buarque, Edu Lobo, Nana Caymmi,os atores Paulo Autran e Tônia Carrero, odiretor teatral José Celso Martinez Corrêa eo escritor Antonio Calla<strong>do</strong>. De pé no meioda rua, Caetano cruzava uma perna sobre aoutra, um gesto típico <strong>do</strong> Movimento Tropicalista,que começava a ser gera<strong>do</strong>.11 . Edu Lobo vence o Festival da Record de 1967Embora juntos nas passeatas e na música,artistas como Gilberto Gil, Caetano Veloso,Chico Buarque, Edu Lobo, Geral<strong>do</strong> Vandrée Sérgio Ricar<strong>do</strong> começaram a trilhar caminhosdiferentes. Os festivais da canção,muito populares em toda a década de 1960,tinham classificações e prêmios em dinheiro.Se por um la<strong>do</strong> estimulavam a competição,por outro permitiam a difusão de uma grandevariedade de gêneros, <strong>do</strong> baião ao rock, passan<strong>do</strong>pelo samba e pelas chamadas cançõesde protesto, estas sim as preferidas <strong>do</strong>s estudantes,que iam para os teatros e estádiosem grupos e com torcidas organizadas. Inaugurou-seo poder das vaias. Ovos e tomateschegaram a ser joga<strong>do</strong>s em artistas e jura<strong>do</strong>s.19410 . Artistas e intelectuais na Passeata <strong>do</strong>s Cem MilO Terceiro Festival da Música Popular Brasileirada TV Record, em São Paulo, no ano de1967, deu o primeiro lugar a Ponteio, de Edu


Lobo e Capinam; o segun<strong>do</strong>, a Domingo noParque, de Gilberto Gil; o terceiro, a RodaViva, de Chico Buarque de Hollanda; o quarto,a Alegria, Alegria, de Caetano Veloso.Guitarras elétricas pontuavam as canções deCaetano e Gil, e a imagem mais forte ficou porconta de Sérgio Ricar<strong>do</strong>, que, desclassifica<strong>do</strong>e vaia<strong>do</strong> com a música Beto Bom de Bola,quebrou o violão e o jogou na plateia, dizen<strong>do</strong>:“Isso é o Brasil subdesenvolvi<strong>do</strong>! Vocêssão uns animais!”. Domingo no Parque, comsua letra cinematográfica, e Alegria, Alegria,uma marchinha diferente das demais, são consideradasas primeiras músicas tropicalistas.da sua É Proibi<strong>do</strong> Proibir e, no meio dasvaias, fez um discurso que ficou famoso:“Mas é isso que é a juventude que diz quequer tomar o poder? Vocês têm coragemde aplaudir, este ano, um tipo de músicaque não teriam coragem de aplaudir no anopassa<strong>do</strong>? (...) Vocês estão por fora! Vocêsnão dão para entender. (...) Mas eu e Gil jáabrimos o caminho. O que é que vocês querem?Eu vim aqui para acabar com isso! (...)Eu quero dizer ao júri: me desclassifique.Eu não tenho nada a ver com isso”.Abram alas parao Tropicalismo!Tropicália12 . Vandré canta Pra Não Dizer que Não Falei de FloresSabiá, lírica composição de Tom Jobim eChico Buarque, venceu o Terceiro FestivalInternacional da Canção, em 1968, no Maracanãzinho,no Rio de Janeiro. Na semifinal,Cynara e Cybele entraram no palco e duassabiás voaram pelo estádio: um momentode empolgação. Mas, na disputa final, a duplade cantoras foi muito vaiada: parte daplateia preferiu Pra Não Dizer que Não Faleide Flores, de Geral<strong>do</strong> Vandré, também conhecidacomo Caminhan<strong>do</strong>.Um poeta desfolha a bandeiraE eu me sinto melhor colori<strong>do</strong>Pego um jato, viajo, arrebentoCom o roteiro <strong>do</strong> sexto senti<strong>do</strong>Voz <strong>do</strong> morro, pilão de concreto,Tropicália, bananas ao ventoÊ, bumba-yê-yê-boiAno que vem, mês que foiÊ, bumba-yê-yê-yêÉ a mesma dança, meu boiGeleia Geral(Gilberto Gil e Torquato Neto)Antes, no mesmo festival, na semifinal emSão Paulo, que definiria quem iria para afinal nacional, no Rio, o desabafo ficou porconta de Caetano Veloso. Cantan<strong>do</strong> com OsMutantes, vesti<strong>do</strong>s de maneira psicodélica,plantou bananeira durante a apresentação13 . Os Mutantes agitam os festivais de música195


TropicáliaNa abertura de caminhos que se seguiu, Caetanoe Gil lideraram o ramo musical <strong>do</strong> Tropicalismo,um movimento que tinha, entre suaspropostas, a de derrubar fronteiras entre asdiferentes artes e linguagens. Isso significoujuntar como passageiros <strong>do</strong> mesmo barco oconcretismo <strong>do</strong>s poetas paulistas Augustoe Harol<strong>do</strong> de Campos e Décio Pignatari; amúsica erudita de vanguarda <strong>do</strong> compositoralemão Karlheinz Stockhausen, que influenciouo maestro Rogério Duprat, um <strong>do</strong>s arranja<strong>do</strong>res<strong>do</strong> Tropicalismo; o psicodelismointernacional <strong>do</strong>s americanos Jimi Hendrix eJanis Joplin; e as origens ditas cafonas da estéticabrasileira, que iam de Carmen Mirandaao sentimental Vicente Celestino.Penetrar na obra de arteO Movimento Tropicalista foi batiza<strong>do</strong> a partir<strong>do</strong> Penetrável Tropicália de Hélio Oiticica,exposto no Museu de Arte Moderna <strong>do</strong>Rio, na mostra Nova Objetividade Brasileira,que reuniu as novas tendências <strong>do</strong>s artistasplásticos da época.196O Tropicalismo se apropriou de elementosda cultura iconográfica pop e <strong>do</strong>s objetos<strong>do</strong> cotidiano: bandeiras e estandartes emcores vivas, bananeiras, araras coloridas eum pinguim em cima da geladeira.A canção de protesto, que teve uma de suasorigens nos Centros de Cultura Popular daUNE no início da década de 1960, também sepropunha a romper com o elitismo na arte,mas foi a Tropicália que conseguiu fazê-lo,graças ao uso inteligente <strong>do</strong>s meios de comunicaçãoda sociedade de massa: jornais,rádio e televisão. Os músicos tropicalistaschegaram a ter um programa semanal na TVTupi chama<strong>do</strong> Divino Maravilhoso.14 . A Tropicália musical e alguns de seus ícones15 . Exposição Tropicália, em Londres, 1969No texto de apresentação, Oiticica homenageouo escritor Oswald de Andrade, um <strong>do</strong>slíderes da Semana de Arte Moderna de 1922e um <strong>do</strong>s teóricos da antropofagia, movimentoque pretendia “engolir” todas as influênciaspara criar uma estética nova. Diz o texto:“Somos um povo à procura de uma caracterizaçãocultural, o que nos diferencia <strong>do</strong> europeu,com seu peso cultural milenar, e <strong>do</strong>americano <strong>do</strong> norte, com suas solicitaçõessuperprodutivas (...). Aqui, subdesenvolvimentosocial significa culturalmente a procurade uma caracterização nacional, ou seja,nossa vontade construtiva (...). A antropofagiaseria a defesa que possuímos contra tal<strong>do</strong>mínio exterior e a principal arma criativa,essa vontade construtiva, o que não impediutoda uma espécie de colonialismo cultural,que de mo<strong>do</strong> objetivo queremos hoje abolir”.O trabalho de Hélio Oiticica era um ambienteonde o público podia entrar e foi cria<strong>do</strong> apartir de suas experiências com o samba ea arquitetura das favelas cariocas. Segun<strong>do</strong>


ele, entrar no Penetrável significava caminhar“<strong>do</strong>bran<strong>do</strong> pelas ‘quebradas’ <strong>do</strong> morro,ou estar pisan<strong>do</strong> na terra outra vez”. No fim<strong>do</strong> labirinto, um receptor de TV estava sempreliga<strong>do</strong>: “é a imagem que devora então oparticipa<strong>do</strong>r, pois é ela mais ativa que o seucriar sensorial”, na visão de seu autor.Aliás, a participação <strong>do</strong> especta<strong>do</strong>r era comuma muitas das artes visuais, que desejavamultrapassar o território fecha<strong>do</strong> demuseus e galerias e ganhar as ruas, promoven<strong>do</strong>uma aproximação entre arte e vida.artes visuais e um tipo de teatro improvisa<strong>do</strong>,sem texto ou representação, que se dáem tempo real, em contextos varia<strong>do</strong>s comoruas e lojas vazias. O objetivo é fazer comque o especta<strong>do</strong>r participe da “cena” proposta,de mo<strong>do</strong> a anular a separação entrepúblico e espetáculo, rompen<strong>do</strong> deliberadamenteas fronteiras entre arte e vida.O disco pioneiroTropicáliaOs artistas plásticos Flávio Mota e NelsonLeirner, impedi<strong>do</strong>s pelos fiscais da Prefeiturade São Paulo de exibir bandeiras projetadaspara um evento visual de rua, convocaramvários artistas para um happening naPraça General Osório, zona sul <strong>do</strong> Rio.Com o auxílio luxuoso da Banda de Ipanemae de passistas da escola de samba EstaçãoPrimeira de Mangueira, o evento reuniu veteranoscomo Carlos Scliar e Glauco Rodriguese jovens como Carlos Vergara e ClaudioTozzi, que criou a bandeira “Guevara, vivoou morto”. Oiticica mostrou o trabalho SejaMarginal, Seja Herói, em homenagem aobandi<strong>do</strong> carioca Cara de Cavalo.16 . Detalhe <strong>do</strong> estandarte de Hélio Oiticica17 . Álbum que marcou o movimento tropicalista na músicaSobre a cabeça os aviõesSob os meus pés os caminhõesAponta contra os chapadõesMeu narizEu organizo o movimentoEu oriento o carnavalEu inauguro o monumentoNo planalto central <strong>do</strong> paísTropicália(Caetano Veloso)E foi assim que os jovens da época entraramem contato com os happenings, termousa<strong>do</strong> na Europa e nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s paradesignar uma forma de arte que combinaComo tu<strong>do</strong> acontecia ao mesmo tempo emuma época que sonhava com a imaginação nopoder, em São Paulo, ainda em 1968, GilbertoGil, Caetano Veloso, Os Mutantes, Tom Zé,197


TropicáliaCapinam, Torquato Neto, Gal Costa, RogérioDuprat e Nara Leão entraram no estúdiopara gravar o disco Panis et Circencis, ousimplesmente Tropicália.O disco fez sucesso e aju<strong>do</strong>u a abrir espaçopara os tropicalistas. Caetano e Gil seapresentavam no Programa <strong>do</strong> Chacrinha(outro í<strong>do</strong>lo <strong>do</strong> movimento) e diziam frasesde efeito, como esta de Gil: “O mun<strong>do</strong> dehoje é muito pequeno. Não há razões pararegionalismos”. O maestro Rogério Dupratimpressionava a plateia afirman<strong>do</strong>: “A músicaacabou”. Já o poeta Torquato Neto acrescentava:“O Tropicalismo é brasileiro, mas émuito pop”. E o iconoclasta Tom Zé, músicobaiano radica<strong>do</strong> em São Paulo, completava:“É somente requentar e usar porque é made,made, made in Brazil”.O teatro foi buscar em Oswald de Andrade ainspiração para sua encenação de maior impacto:a peça Rei da Vela, dirigida por JoséCelso Martinez Corrêa, com o Grupo Oficina.Misturan<strong>do</strong> elementos da cultura popular,como o circo e o rádio, com uma estética devanguarda, o espetáculo rompia com as limitaçõesfísicas <strong>do</strong> palco italiano tradicional ecriticava nossa elite, denuncian<strong>do</strong> a manipulaçãoque ela fazia historicamente <strong>do</strong> povobrasileiro. Os estudantes contesta<strong>do</strong>res a<strong>do</strong>raram,e a peça ficou meses em cartaz.A cena e o cinema tropicaisRoda mun<strong>do</strong>, roda giganteRoda moinho, roda piãoO tempo ro<strong>do</strong>u num instanteNas voltas <strong>do</strong> meu coraçãoRoda Viva(Chico Buarque)19 . Cena de Roda Viva, de Chico Buarque de HollandaFoi também de José Celso outro espetáculoque marcou a cena em 1968: Roda Viva, commúsica de Chico Buarque, que questionavao uso pelo sistema <strong>do</strong>s í<strong>do</strong>los que ele próprioconstruía. Em cena, o artista que vendesua alma para ter fama na televisão e depoisé joga<strong>do</strong> fora.O Cinema Novo também aderiu ao Tropicalismo.O filme Terra em Transe, de GlauberRocha, um balanço crítico <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> posteriorao golpe militar de 1964, foi um marcona estética <strong>do</strong> movimento. Caetano Velosose inspirou nessa obra para compor a letrada canção Tropicália, a mais característicada nova tendência.19818 . Cena de O Rei da Vela, de José Celso Martinez CorrêaMacunaíma, de Joaquim Pedro de Andrade,foi outro sucesso <strong>do</strong> cinema tropicalista.Na trilha sonora, canções de Jards Macalée Heitor Villa-Lobos. Inspira<strong>do</strong> no romance


modernista de Mário de Andrade, o filme começacom o parto <strong>do</strong> anti-herói vivi<strong>do</strong> porGrande Otelo, tão preguiçoso que levou seisanos para começar a falar. O personagem foivisto como um símbolo <strong>do</strong> nosso povo, queusa sua criatividade (e o famoso jeitinhobrasileiro) para sobreviver na selva das cidadese enfrentar os gigantes da burguesia e<strong>do</strong> imperialismo norte-americano.à população boicotar as comemorações <strong>do</strong> 7de Setembro, realizadas pelas Forças Armadas.Entre outras coisas, dizia que as moçasdeveriam se recusar a dançar nos bailes comos cadetes.O governo <strong>do</strong> marechal Costa e Silva tentouprocessar o deputa<strong>do</strong>, mas o Congressorecusou. Em 13 de dezembro, foi decreta<strong>do</strong>o Ato Institucional número 5, que fechou oCongresso, suprimiu direitos políticos <strong>do</strong>scidadãos, cassou mandatos de parlamentarese proibiu manifestações públicas dequalquer natureza.Tropicália20 . Cena <strong>do</strong> filme Macunaíma, com Grande OteloO fim <strong>do</strong> sonhoO sonho acabouQuem não <strong>do</strong>rmiu no sleeping bagNem sequer sonhou...O Sonho Acabou(Gilberto Gil)A empolgação de 1968 teve também o seucontrário. No segun<strong>do</strong> semestre, na França,a polícia retomou a Universidade de Sorbonne,ocupada pelos estudantes; na Tchecoslováquia,tanques soviéticos acabaram coma Primavera de Praga. No Brasil, policiaisprenderam mais de mil estudantes em Ibiúna,no interior de São Paulo, quan<strong>do</strong> realizavamum congresso clandestino da entãoextinta União Nacional <strong>do</strong>s Estudantes.No Congresso Nacional, o deputa<strong>do</strong> MarcioMoreira Alves fez um discurso que propunha21 . Marcio Moreira Alves no discurso que antecedeu o AI-5Um show provoca<strong>do</strong>rAtençãoTu<strong>do</strong> é perigosoTu<strong>do</strong> é divino maravilhosoAtenção para o refrãoÉ preciso estar atento e forteNão temos tempo de temer a morteAtenção para a estrofe e pro refrãoPro palavrão, para a palavra de ordemAtenção para o samba exaltaçãoDivino Maravilhoso(Caetano Veloso)199


TropicáliaAinda no segun<strong>do</strong> semestre, Caetano, Gil eOs Mutantes estrearam na boate Sucata, noRio de Janeiro, um show provoca<strong>do</strong>r. No cenário,duas bandeiras: em uma, se lia “Yes,nós temos bananas”, e, na outra, “Seja herói,seja marginal”, a já famosa homenagemde Hélio Oiticica ao bandi<strong>do</strong> Cara de Cavalo.Em cena, Caetano gritava “Chega de saudade”,segui<strong>do</strong> de gritos e ruí<strong>do</strong>s distorci<strong>do</strong>sde guitarra, dava cambalhotas e se arrastavapelo chão. Parte <strong>do</strong> público a<strong>do</strong>rava, parteodiava. “Isso é uma apelação, fora, fora!”,protestou uma moça, sem saber que ela faziaparte <strong>do</strong> espetáculo, já que os holofotestambém se voltavam para a plateia. Umboato de que Caetano teria canta<strong>do</strong> o HinoNacional em cena provocou a proibição <strong>do</strong>espetáculo e o fechamento da boate. Umadenúncia, algo muito comum no clima políticoda época, levou à prisão <strong>do</strong>s músicosbaianos, que depois de soltos foram obriga<strong>do</strong>sa se exilar em Londres.Meu caminho pelo mun<strong>do</strong>Eu mesmo traçoA Bahia já me deuRégua e compassoQuem sabe de mim sou euAquele abraço!Aquele Abraço(Gilberto Gil)Para o jornalista Zuenir Ventura, “essa grandeaventura não foi um folhetim de capae espada, mas um romance sem ficção. Omelhor de seu lega<strong>do</strong> não está no gesto –muitas vezes desespera<strong>do</strong>; em outras, autoritário– mas na paixão com que foi à luta,dan<strong>do</strong> a impressão de que estava dispostaa entregar a vida para não morrer de tédio”.Segun<strong>do</strong> os jornalistas Ernesto Soto e ReginaZappa, “1968 indicou a necessidade decriação de uma nova ordem mundial voltadafundamentalmente para o homem, coma implantação da igualdade entre os sexos,<strong>do</strong> respeito à vida e ao meio ambiente, <strong>do</strong>planejamento ecológico e da defesa <strong>do</strong>s direitosdas minorias”.22 . Caetano Veloso na boate Sucata, no Rio, em 1968O sonho continuaMuitas das paixões nascidas em 1968 edes<strong>do</strong>bradas pelo Tropicalismo continuamvivas. Hoje, estudiosos <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> afirmamque estudantes, músicos e intelectuais experimentarame ampliaram os limites <strong>do</strong>shorizontes políticos, sexuais, comportamentaise existenciais.23 . Capa <strong>do</strong> livro<strong>do</strong> jornalista ZuenirVentura sobreos acontecimentosque marcaram oano de 1968200


Para usar em sala de aula• O argentino Ernesto Che Guevara, mortona Bolívia, virou um í<strong>do</strong>lo <strong>do</strong>s jovens. Acanção Soy Loco por Ti, América, de GilbertoGil e Capinam, homenageia Guevara.Pedir aos alunos que analisem o trecho daletra que faz a homenagem e que discutampor que a letra foi escrita ao mesmotempo em português e em espanhol.Tropicália (Caetano Veloso). CD – CaetanoVeloso – Caetano Veloso 1968 – Polygram/Philips, 1990.Geleia Geral (Gilberto Gil e Torquato Neto). CD– Tropicália 30 Anos – Natasha Records, 1997.Soy Loco por Ti, América (Gilberto Gil e Capinam).CD – Caetano Veloso – Fina Estampaao Vivo – Polygram/Philips, 1995.Tropicália• O Tropicalismo influenciou a cultura brasileira<strong>do</strong>s anos 1970 em diante, mas não duroumuito. Sugerir que os alunos façam, comtexto e desenhos alusivos ao movimento,um pequeno balanço dessas influências.• Visitar com sua turma a Escola de Artes Visuais<strong>do</strong> Parque Lage, no Jardim Botânico,cenário <strong>do</strong> filme Macunaíma, de JoaquimPedro de Andrade. Sugerir um trabalhoque mostre por que o filme é considera<strong>do</strong>um marco <strong>do</strong> Tropicalismo.Para saber maisMúsicasÉ Proibi<strong>do</strong> Proibir (Caetano Veloso). CD – CaetanoVeloso – Caetano Veloso – Singles –Universal Music, 2002.Pra Não Dizer que Não Falei de Flores (Geral<strong>do</strong>Vandré). CD – Geral<strong>do</strong> Vandré – Pra NãoDizer que Não Falei de Flores – RGE, 1994.Sabiá (Tom Jobim e Chico Buarque). CD – A<strong>Era</strong> <strong>do</strong>s Festivais – 28 Canções que Marcaramuma Época da MPB – Universal Music, 2003.Roda Viva (Chico Buarque de Hollanda). CD– Chico Buarque – Não Vai Passar, volume3 – RGE, 1993.Baby (Caetano Veloso). CD – Gal Costa – MeuNome É Gal, o Melhor de Gal Costa – Polygram,1988.Divino Maravilhoso (Caetano Veloso). CD –Leila Pinheiro – Songbook Gilberto Gil, volume2 – Lumiar Discos, 1992.Aquele Abraço (Gilberto Gil). CD – GilbertoGil – Unplugged – WEA, 1994.FilmesOs Doces Bárbaros. Brasil, 1976. Direção:Jom Tob Azulay. Distribuição: Biscoito Fino.Duração: 100 min.A Insustentável Leveza <strong>do</strong> Ser (The UnbearableLightness of Being). EUA, 1988. Direção:Philip Kaufman. Distribuição: Warner HomeVideo. Duração: 160 min.Macunaíma. Brasil, 1969. Direção: JoaquimPedro de Andrade. Distribuição: Videofilmes.Duração: 105 min.Uma Noite em 67. Brasil, 2010. Direção: RenatoTerra e Ricar<strong>do</strong> Calil. Distribuição: Videofilmes.Duração: 93 min.Sol – Caminhan<strong>do</strong> contra o Vento. Brasil,2006. Direção: Tetê Moraes. Distribuição:Riofilme. Duração: 90 min.201


TropicáliaOs Sonha<strong>do</strong>res (The Dreamers). França/ReinoUni<strong>do</strong>/Itália, 2003. Direção: Bernar<strong>do</strong> Bertolucci.Distribuição: Fox Searchlight Pictures.Duração: 115 min.Tempo de Resistência. Brasil, 2004. Direção:André Ristum. Distribuição: Versátil. Duração:115 min.Terra em Transe. Brasil, 1967. Direção: GlauberRocha. Distribuição: Difilm. Duração: 106 min.NAVES, Santuza Cambraia. Da Bossa Nova àTropicália. Rio de Janeiro: J. Zahar, 2001.OITICICA, Hélio. Aspiro ao Grande Labirinto.Rio de Janeiro: Rocco, 1986.PIRES, Paulo Roberto (org.). Torquatália:Obra Reunida de Torquato Neto. Rio de Janeiro:Rocco, 2004.REIS, Daniel Aarão. 1968: A Paixão de umaUtopia. Rio de Janeiro: Editora FGV, 1998.LivrosBASUALDO, Carlos (org). Tropicália: Uma Revoluçãona Cultura Brasileira. São Paulo: Cosac& Naify.DUARTE, Paulo Sérgio; NAVES, Santuza Cambraia(org.) Do Samba-Canção à Tropicália.Rio de Janeiro: Relume-Dumará: Faperj, 2003.FERREIRA, Jorge.; REIS, Daniel Aarão (org.).Revolução e Democracia (1964 - ...). Rio deJaneiro: Civilização Brasileira, 2007. (ColeçãoAs Esquerdas no Brasil, v. 3.)FREITAS, J. P.; FREIXO, Adriano de. TempoNegro, Temperatura Sufocante: Esta<strong>do</strong> eSociedade no Brasil <strong>do</strong> AI-5. Rio de Janeiro:Contraponto Editora, 2008.GASPARI, Elio. A Ditadura Escancarada. SãoPaulo: Companhia das Letras, 2002.GREEN, James Naylor. Apesar de Vocês: Oposiçãoà Ditadura Brasileira. São Paulo: Companhiadas Letras, 2009.MARTINS FILHO, João Roberto. MovimentoEstudantil e Ditadura Militar: 1964-1968.Campinas (SP): Papirus, 1987.MELLO, Zuza Homem de. A <strong>Era</strong> <strong>do</strong>s Festivais:Uma Parábola. São Paulo: Grupo Pão deAçúcar: Ed. 34, 2003.VALLE, Maria Ribeiro <strong>do</strong>. O Diálogo É a Violência:Movimento Estudantil e Ditadura Militarno Brasil. Campinas (SP): Unicamp, 1999.VELOSO, Caetano. Verdade Tropical. SãoPaulo: Companhia das Letras, 2002.VENTURA, Zuenir. 1968: O Ano Que Não Terminou.Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988.XAVIER, Ismail. Alegorias <strong>do</strong> Subdesenvolvimento:Cinema Novo, Tropicalismo, CinemaMarginal. São Paulo: Brasiliense, 1993.ZAPPA, Regina; SOTO, Ernesto. 1968: Eles SóQueriam Mudar o Mun<strong>do</strong>. Rio de Janeiro: JorgeZahar Editor, 2008.WebsitesItaú Cultural – Programa Hélio Oiticicahttp://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia/ho/home/dsp_home.cfmO AI-5http://cp<strong>do</strong>c.fgv.br/producao/<strong>do</strong>ssies/FatosImagens/AI5http://tropicalia.com.br202


Ninguém segura este paísNinguém segura este país1SinopseCosta e Silva, o presidente <strong>do</strong> AI-5, não terminou o mandato; a censura tentamanter os artistas longe da política; Elis Regina, a gaúcha que conquistou oBrasil; Médici: a ditadura em seu momento mais duro; as feras <strong>do</strong> Saldanha eo tri no México; Simonal, o astro de brilho efêmero; Geisel e a abertura lenta,gradual e segura; Chico Buarque dribla os censores; Figueire<strong>do</strong>, o últimogeneral encerra o ciclo militar.203


Ninguém segura este paísSai um general, entra outroMoro num país tropical, abençoa<strong>do</strong>[por DeusE bonito por natureza, mas que belezaEm fevereiro, em fevereiroTem carnaval, tem carnavalTenho um fusca e um violãoSou FlamengoTenho uma nêgaChamada TerezaPaís Tropical(Jorge Ben Jor)Quan<strong>do</strong> o general Castello Branco passou apresidência para o general Arthur da Costa eSilva, em 15 de março de 1967, havia expectativasde que, em breve, o país retomariaa normalidade democrática. <strong>Era</strong> mais umaesperança <strong>do</strong> que um fato, já que Costa eSilva pertencia à chamada “linha dura” <strong>do</strong>smilitares, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> ministro <strong>do</strong> Exército deCastello Branco e imposto sua candidatura,afastan<strong>do</strong> outros oficiais mais modera<strong>do</strong>s.A eleição era por via indireta, e o país contavaapenas com os <strong>do</strong>is parti<strong>do</strong>s entãocria<strong>do</strong>s: Arena e MDB. Eleito pelos votos daArena, pois o MDB recusou-se a votar, Costae Silva começou seu governo investin<strong>do</strong> emuma reforma administrativa, com medidaspara combater a inflação, e amplian<strong>do</strong> o comércioexterior. No campo político, mais medidasduras: extinguiu a Frente Ampla, movimentoque reunia inimigos históricos comoJango, Lacerda e Juscelino e que lutava pelaredemocratização <strong>do</strong> país.O confronto político aumentava e a violênciatambém: em 26 de junho de 1968, umcarro-bomba explodiu na entrada <strong>do</strong> quartel<strong>do</strong> II Exército, em São Paulo, em um atenta<strong>do</strong>promovi<strong>do</strong> pela Vanguarda Popular Revolucionária(VPR), grupo de esquerda quecombatia o governo militar. Começava umaescalada de violência para a qual ninguémestava prepara<strong>do</strong>.3 . Caetano, Nana Caymmi e Gilberto Gil em passeata no Rio2042 . O presidente Costa e Silva, empossa<strong>do</strong> em 1967No Rio de Janeiro, um protesto de estudantesno restaurante universitário conheci<strong>do</strong> comoCalabouço terminou com a morte <strong>do</strong> jovemEdson Luís em confronto com a Polícia Militar.A sociedade civil reagiu unin<strong>do</strong>-se em


passeatas, sen<strong>do</strong> que uma delas levou cemmil pessoas à Avenida Rio Branco, com a participaçãoforte de artistas, políticos, estudantese quem mais era contra o regime militar.No dia 13 de dezembro de 1968, uma criseno Congresso provocada por um discurso <strong>do</strong>deputa<strong>do</strong> Márcio Moreira Alves era o pretextode que Costa e Silva precisava paradecretar o Ato Institucional número 5, quelhe dava poderes para fechar o Congresso,cassar mais mandatos e institucionalizar arepressão. O AI-5 só viria a ser revoga<strong>do</strong> nofim <strong>do</strong> governo Ernesto Geisel, em 1978, pormeio da Emenda Constitucional nº 1.justamente no perío<strong>do</strong> em que as artes noBrasil viviam uma fase de grande criatividade,impulsionadas pelos acontecimentos internose de outros países.Assim foi com o teatro, o cinema, a televisão,os jornais, a música, as artes plásticas.Tu<strong>do</strong> o que era produzi<strong>do</strong> no Brasil tinha quepassar, antes, pelo crivo <strong>do</strong>s censores. Umageração de compositores foi submetida àcensura, mas não só os compositores: tambémos intérpretes estavam sen<strong>do</strong> vigia<strong>do</strong>sde perto, para que não propagassem mensagensque desagradassem às autoridades.Ninguém segura este paísA tesoura da censuraApesar de vocêAmanhã há de serOutro diaEu pergunto a vocêOnde vai se esconderDa enorme euforiaComo vai proibirQuan<strong>do</strong> o galo insistirEm cantarÁgua nova brotan<strong>do</strong>E a gente se aman<strong>do</strong>Sem pararApesar de Você(Chico Buarque)Um <strong>do</strong>s primeiros e mais nocivos efeitos deum regime fecha<strong>do</strong> é a censura aos meiosde comunicação, que ficam proibi<strong>do</strong>s deveicular determinadas notícias. Logo em seguida,o alvo são os artistas, que se veemobriga<strong>do</strong>s a submeter suas obras a censoresque determinarão se elas podem ou nãoser exibidas. Esse era o quadro em 1969,4 . Capa de exemplar da revista Realidade de 1966Apesar de tu<strong>do</strong>, grandes nomes de nossamúsica se consolidaram durante essa época.A era <strong>do</strong>s festivais, como ficou conheci<strong>do</strong> operío<strong>do</strong> de 1965 até 1972, teve grande partede seu brilho sob o olhar feroz da censura,e mesmo assim conseguiu produzir cançõese lançar artistas importantes. Muitas vezesos compositores usaram de sua imaginaçãopara tocar em temas polêmicos, desafian<strong>do</strong>os censores, que nem sempre percebiam aintenção por trás das letras de suas músicas.205


Ninguém segura este paísOs grandes intérpretes também tiveram umpapel decisivo nesse processo, ainda quecolocan<strong>do</strong> em risco suas carreiras. Nestecapítulo, vamos conhecer a história de <strong>do</strong>isgrandes í<strong>do</strong>los que marcaram seu tempocom interpretações inesquecíveis e polêmicas:Elis Regina e Wilson Simonal.A pimentinha gaúchaNos dias de hoje é bom que se protejaOfereça a face pra quem quer que sejaNos dias de hoje esteja tranquiloHaja o que houver pense nos seus filhosNão ande nos bares, esqueça os amigosNão pare nas praças, não corra perigoNão fale <strong>do</strong> me<strong>do</strong> que temos da vidaNão ponha o de<strong>do</strong> na nossa feridabrasileira de to<strong>do</strong>s os tempos. Alcançou osucesso em 1965, no Festival da TV Excelsior,interpretan<strong>do</strong> Arrastão, de Edu Lobo eVinicius de Moraes. Seu estilo, no começoda carreira, era muito dramático, claramenteinfluencia<strong>do</strong> por uma das deusas da <strong>Era</strong><strong>do</strong> Rádio, Ângela Maria. Elis foi a primeiraartista brasileira a vender um milhão dediscos, com o LP Dois na Bossa, em queela e o cantor Jair Rodrigues encantaram opaís, com um repertório <strong>do</strong>s melhores, interpreta<strong>do</strong>com muito balanço e bom humor.O disco inclui um pot-pourri (arranjo em quetrechos de várias músicas se sucedem) queaté hoje emociona quem escuta e que foiexecuta<strong>do</strong> por muitos outros artistas.Cartomante(Ivan Lins e Vitor Martins)6 . Elis Regina, técnica e interpretação que marcaram a MPB2065 . Álbum Dois na Bossa, recorde de vendas em 1965Elis Regina (1945-1982), que nasceu em PortoAlegre mas ce<strong>do</strong> se mu<strong>do</strong>u para São Paulo,é considerada por alguns críticos e historia<strong>do</strong>resde nossa música a melhor intérpreteDona de uma técnica vocal invejável, Elisprojetou alguns <strong>do</strong>s maiores compositoresde nossa música: Milton Nascimento, IvanLins, João Bosco, Aldir Blanc, Renato Teixeira.Para ela, não havia um gênero único. Cantoubossa nova, samba, rock, jazz, e algumas desuas interpretações tornaram-se marca registrada,como Madalena (Ivan Lins e Ronal<strong>do</strong>Monteiro de Souza), Como Nossos Pais (Belchior),O Bêba<strong>do</strong> e a Equilibrista (João Boscoe Aldir Blanc), Querelas <strong>do</strong> Brasil (MauricioTapajós e Aldir Blanc) e Águas de Março (AntonioCarlos Jobim), entre tantas outras.Elis Regina foi a primeira grande estrela brasileirada era pós-rádio e soube usar, com maestria,to<strong>do</strong>s os seus recursos cênicos para se


tornar a grande dama da era da TV, seja emapresentações ao vivo, seja em clipes muitobem produzi<strong>do</strong>s, que podem ser revistoshoje em dia no YouTube. Sua morte, em 1982,aos 36 anos, emocionou o Brasil.Brasil, ame-o ou deixe-oEu te amo, meu Brasil, eu te amoMeu coração é verde, amarelo, branco,[azul anilEu te amo, meu Brasil, eu te amoNinguém segura a juventude <strong>do</strong> BrasilEu Te Amo, Meu Brasil(Don e Ravel)Com a <strong>do</strong>ença <strong>do</strong> presidente Costa e Silva,mais uma vez as regras foram quebradas:no lugar de seu vice, Pedro Aleixo, quem assumiuo poder foi uma junta militar formadapelos ministros <strong>do</strong> Exército, da Marinha eda Aeronáutica. Durante um mês, a junta fezconsultas aos generais para saber quem deveriaser indica<strong>do</strong> ao posto. A escolha caiusobre Emílio Garrastazu Médici, que tomouposse no dia 25 de outubro de 1969, prometen<strong>do</strong>restabelecer a democracia até o finalde sua gestão.No campo político, o governo Médici foiresponsável pela eliminação das guerrilhasde esquerda que atuavam no campo e nacidade. Mas as denúncias de tortura, mortee desaparecimentos de presos políticos queocorreram na década de 1970 provocaramum grande embaraço para o Brasil no cenáriointernacional. O governo Médici tambémficou marca<strong>do</strong> por um excepcional crescimentoeconômico, conheci<strong>do</strong> como “o milagrebrasileiro”. A classe média ganhou maior poderaquisitivo, impulsionan<strong>do</strong> o consumo debens duráveis e a produção de automóveis.Médici foi o primeiro <strong>do</strong>s governantes <strong>do</strong>regime militar a investir pesadamente empropaganda, com a criação de um slogan –Brasil, ame-o ou deixe-o – que, na verdade,era cópia de um dita<strong>do</strong> conserva<strong>do</strong>r norte--americano: Love it or leave it. A intenção dacampanha era calar qualquer crítica que sefizesse aos atos <strong>do</strong> governo.8 . Propaganda política criada pelo governo militarNinguém segura este país9 . Frase <strong>do</strong> presidente Médici sobre o próprio governo7 . General Médici, presidente <strong>do</strong> Brasil entre 1969 e 1974Foram tempos, também, de ações com forteapelo publicitário, entre elas: a criação <strong>do</strong>Mobral (instituição que trabalhou na erradicação<strong>do</strong> analfabetismo), o projeto Ron<strong>do</strong>n(que mobiliza universitários de diversas áreaspara atuar em comunidades carentes deto<strong>do</strong> o país) e o início da construção da EstradaTransamazônica e da Ponte Rio-Niterói.207


Ninguém segura este paísO governo Médici concedeu incentivos paraa indústria e a agricultura e, por meio <strong>do</strong>Banco Nacional de Habitação, desenvolveu aconstrução de um grande número de casaspopulares. Os resulta<strong>do</strong>s, porém, foram decepcionantes.Segun<strong>do</strong> a Fundação GetúlioVargas, persistiam a miséria e a desigualdadesocial. Apesar de ter ti<strong>do</strong> à época o nonoProduto Interno Bruto <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, em desnutriçãoo Brasil perdia apenas para Bangladesh,Filipinas, Índia, In<strong>do</strong>nésia e Paquistão.10 . O Mobral, cria<strong>do</strong>para erradicar oanalfabetismo no paísFoi a última vez que Pelé e Garrincha jogaramjuntos – e, para variar, o time venceu,aliás a única vitória naquela Copa: 2 x 0 sobrea Bulgária, com gols marca<strong>do</strong>s exatamentepor esses <strong>do</strong>is gênios <strong>do</strong> futebol mundial.Para a Copa de 1970, no México, era precisouma renovação, que começou com uma grandejogada: a contratação, em 1969, <strong>do</strong> jornalistae técnico João Saldanha para dirigir aseleção, que precisava disputar as eliminatórias.Saldanha era um personagem polêmico emalvisto pelo regime, já que não escondia deninguém sua filiação comunista. No entanto,no que dizia respeito ao futebol, era uma vozcom profunda autoridade, pois em seus inesquecíveisartigos como jornalista apontava to<strong>do</strong>sos defeitos que entravavam o crescimento<strong>do</strong> esporte nacional mais ama<strong>do</strong> no país.11 . Projeto Ron<strong>do</strong>n,de integraçãonacional, cria<strong>do</strong>no governo militarBrasil Grande12 . A seleção tricampeã <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> em 1970, no MéxicoDe repente é aquela corrente pra frenteParece que to<strong>do</strong> o Brasil deu a mãoTo<strong>do</strong>s liga<strong>do</strong>s na mesma emoçãoTo<strong>do</strong>s juntos vamos, pra frente BrasilSalve a seleção!Pra Frente, Brasil(Miguel Gustavo)Ao ser designa<strong>do</strong> como técnico da seleção,escalou “vinte e duas feras”, como ele queria,e as “feras <strong>do</strong> Saldanha” caíram imediatamenteno gosto popular. O time de craquesdeu um verdadeiro show nas eliminatórias,classifican<strong>do</strong> o Brasil para a Copa. Mas sualíngua afiada, seus gestos de independênciae a posição contrária ao governo militarinviabilizaram sua permanência à frente daequipe. No México, quem dirigiu a seleçãofoi Zagallo, joga<strong>do</strong>r bicampeão <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.208Como sempre, o futebol teria um papel importantenaquela década. Depois de ser vitoriosaem duas Copas <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong>, 1958 e 1962,nossa seleção decepcionou na Inglaterra, em1966, sen<strong>do</strong> eliminada logo na primeira fase.Vitoriosa, a seleção brasileira se tornou aprimeira equipe a conquistar o tricampeonato,que foi canta<strong>do</strong> em verso e prosa eutiliza<strong>do</strong> pelo regime como marca registrada<strong>do</strong> “Brasil Grande”.


Salve a pilantragem!Camisa verde-claro, calça Saint-TropezCombinan<strong>do</strong> com o carango to<strong>do</strong>[mun<strong>do</strong> vêNinguém sabe o duro que deiPra ter fon-fon, trabalhei, trabalhei!Carango(Nonato Buzar e Carlos Imperial)Camargo Mariano, Simonal aprimorou umaperformance de showman que foi fundamentalpara o passo seguinte de sua carreira.Em 1966, o álbum Vou Deixar Cair popularizoua “pilantragem”, um ritmo dançantecria<strong>do</strong> por Simonal, Carlos Imperial e pelocompositor Nonato Buzar, que emplacou nasparadas com os compactos Meu Limão MeuLimoeiro e Mamãe Passou Açúcar em Mim.Simonal foi o primeiro cantor negro a atingiro Olimpo das grandes estrelas no Brasil, sen<strong>do</strong>,em 1970, o maior vende<strong>do</strong>r de discos <strong>do</strong>Brasil (quase o <strong>do</strong>bro em relação a RobertoCarlos). Um fato polêmico atribuí<strong>do</strong> a Simonale, até hoje, ainda conta<strong>do</strong> em diferentesversões, decretou o fim de sua carreira. Passa<strong>do</strong>smuitos anos, a obra desse artista vemsen<strong>do</strong> resgatada em um <strong>do</strong>cumentário e nareedição de seus melhores discos.Ninguém segura este paísO quarto general13 . Wilson Simonal, o grande showman <strong>do</strong>s anos 1960Para quem gostava de música brasileira sofisticadae ao mesmo tempo divertida no jeitode cantar, com suingue e balanço, os anos70 trouxeram um astro de primeira grandeza:Wilson Simonal ocupava o posto de cabono Exército quan<strong>do</strong> começou a cantar nosbailes <strong>do</strong> Grupo de Artilharia em 1960. Umano depois já era vocalista de alguns conjuntos,tiran<strong>do</strong> parti<strong>do</strong> de sua excelente voze de um jeito to<strong>do</strong> especial de cantar, que ojornalista Ruy Castro bem definiu: “grandevoz, um senso de divisão igual aos <strong>do</strong>s melhorescantores americanos, fazen<strong>do</strong> gato esapato <strong>do</strong> ritmo (...)”.Aproveitan<strong>do</strong> muito bem as chances surgidasna TV, que já tinha toma<strong>do</strong> <strong>do</strong> rádio oprimeiro lugar no coração <strong>do</strong> público brasileiro,Simonal apresentou o programa Showem Si...monal, pela antiga TV Record emSão Paulo, de 1966 a 1967. Sempre acompanha<strong>do</strong>por excelentes músicos, como CesarMeu caro amigo, eu bem queria lhe[escreverMas o correio an<strong>do</strong>u ariscoSe me permitem, vou tentar lhe remeterNotícias frescas nesse discoAqui na terra tão jogan<strong>do</strong> futebolTem muito samba, muito choro e rock’n’rollUns dias chove, noutros dias bate solMas o que eu quero é lhe dizer que a[coisa aqui tá pretaA Marieta manda um beijo para os seusUm beijo na família, na Cecília e nas[criançasO Francis aproveita pra também mandar[lembrançasA to<strong>do</strong> o pessoalAdeusMeu Caro Amigo(Chico Buarque e Francis Hime)209


Ninguém segura este paísAo assumir a presidência em 15 de marçode 1974, o general Ernesto Geisel recebeude presente a conta pesada <strong>do</strong> fim <strong>do</strong> “milagrebrasileiro”. A inflação castigava o bolso<strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res, enquanto a taxa decrescimento econômico despencava, agravan<strong>do</strong>o desemprego.No campo político, apesar de medidas durascontra a oposição, Geisel estava decidi<strong>do</strong> arevogar o AI-5, pois já era notório, dentroe fora das Forças Armadas, o desgaste desucessivos governos com militares no poder.Como nas eleições parlamentares daqueleano a oposição obteve importantes vitórias,Geisel ofereceu à sociedade e aos políticosuma distensão “lenta, gradual e segura”.relações diplomáticas com a China; o fatode o Brasil ser o primeiro país <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> areconhecer a independência de Angola; a assinatura<strong>do</strong> acor<strong>do</strong> nuclear com a Alemanha;e o começo <strong>do</strong> processo de utilização <strong>do</strong>álcool como combustível. Seu mandato seencerrou em 15 de março de 1979, mas aindanão seria dessa vez que o Brasil voltariaa ter um presidente eleito diretamente.O governo contra ChicoNo entanto, os oficiais da “linha dura”, liga<strong>do</strong>sao esquema repressivo, ficaram insatisfeitoscom a postura <strong>do</strong> presidente, e váriosatos de insubordinação e terrorismo abalaramo país. As mortes na prisão <strong>do</strong> jornalistaVladimir Herzog e <strong>do</strong> operário ManoelFiel Filho levaram o presidente a reagir comrapidez e determinação, demitin<strong>do</strong> o ministro<strong>do</strong> Exército, Silvio Frota, restabelecen<strong>do</strong>a hierarquia dentro da tropa.15 . Álbum de Chico Buarque com a canção Cálice, proibidade ser cantada em 197321014 . O Jornal <strong>do</strong> Brasil informa o final <strong>do</strong> AI-5Em 31 de dezembro de 1978, foi revoga<strong>do</strong>o AI-5: era o primeiro passo para a redemocratização<strong>do</strong> país. O governo Geisel deixoumarcas importantes: o reatamento deAcorda, amorEu tive um pesadelo agoraSonhei que tinha gente lá foraBaten<strong>do</strong> no portão, que aflição<strong>Era</strong> a dura, numa muito escura viaturaMinha nossa santa criaturaChame, chame, chame láChame, chame o ladrão, chame o ladrãoAcorda Amor(Julinho da Adelaide, pseudônimoutiliza<strong>do</strong> por Chico Buarque)


Muitos artistas tiveram suas carreiras vigiadasde perto pela censura: Geral<strong>do</strong> Vandré,Vinicius de Moraes, Caetano Veloso, GilbertoGil, Carlos Lyra. Mas nenhum deles sofreu umassédio tão constante quanto Chico Buarque.O jovem que conquistou o Brasil com a suaromântica e nostálgica marchinha A Bandaendureceu o olhar à medida que o regimetambém endurecia.O último generalHoje você é quem mandaFalou, tá fala<strong>do</strong>Não tem discussãoA minha gente hoje andaFalan<strong>do</strong> de la<strong>do</strong>E olhan<strong>do</strong> pro chão, viuVocê que inventou esse esta<strong>do</strong>E inventou de inventarToda a escuridãoVocê que inventou o peca<strong>do</strong>Esqueceu-se de inventarO perdãoApesar de vocêAmanhã há de serOutro diaNinguém segura este paísApesar de Você(Chico Buarque de Holanda)16 . Apesar de Você, a música emblemática contra a ditaduraEm 1969, seguin<strong>do</strong> o caminho de outros artistas,Chico decidiu sair <strong>do</strong> país para viverna Itália, retornan<strong>do</strong> em 1970. Na época, suacomposição Apesar de Você, conforme textopublica<strong>do</strong> no site <strong>do</strong> artista, “era uma respostacrítica ao regime ditatorial no qualo país ainda estava imerso”. Surpreendentemente,a música passaria incólume pelacensura prévia e se tornaria uma espéciede hino da resistência à ditadura. Depois devender cerca de 100 mil cópias, a canção foicensurada e o disco, retira<strong>do</strong> das lojas.17 . GeneralFigueire<strong>do</strong>, últimopresidente <strong>do</strong>regime militarMudaram os presidentes, o cerco seguiu.Quan<strong>do</strong> percebeu que bastava ter seu nomeassocia<strong>do</strong> a uma música para que ela fossecensurada no to<strong>do</strong> ou em parte, Chico inventouum apeli<strong>do</strong>, Julinho da Adelaide, e comele gravou duas de suas mais irônicas composições:Acorda Amor e Jorge Maravilha.Indica<strong>do</strong> para ser o sucessor de Ernesto Geisel,o general João Batista Figueire<strong>do</strong> foi eleitoindiretamente para a presidência da Repúblicacom a missão de redemocratizar o país,dan<strong>do</strong> continuidade à política de distensãoiniciada por seu antecessor. Mas Figueire<strong>do</strong>já assumiu ten<strong>do</strong> pela frente uma questão211


Ninguém segura este paísespinhosa: a anistia aos presos políticos eexila<strong>do</strong>s. Desde 1975 que muitos brasileirosjá se organizavam em comitês em luta pelaanistia ampla, geral e irrestrita, e esses gruposacabaram por formar, em 1978, o ComitêBrasileiro pela Anistia, com sede na AssociaçãoBrasileira de Imprensa, no Rio de Janeiro.começou a soprar seus ventos benéficospelo país. O governo Figueire<strong>do</strong> enfrentouuma grave crise econômica, com a inflaçãodisparan<strong>do</strong> de 45% ao mês para 230% ecom o brutal aumento de nossa dívida externa,que rompeu a marca de 100 bilhõesde dólares. Em 1983, no rastro da campanhada anistia, começou outra, agora pelas eleiçõesdiretas: “Diretas Já”. Os brasileiros nãoqueriam mais que os governantes fossemescolhi<strong>do</strong>s por votos indiretos e foram paraas ruas exigin<strong>do</strong> que seu direito universalfosse devolvi<strong>do</strong>.18 . O Brasil vai às ruas pela anistia ampla, geral e irrestrita212Não era só a reivindicação de um grupo,mas da sociedade brasileira, que pressionava,incansavelmente, o governo. Assim, emjunho de 1979, Figueire<strong>do</strong> encaminhou aoCongresso Nacional um projeto de anistia,que, apesar <strong>do</strong> inegável avanço democrático,deixava de fora os responsáveis por atenta<strong>do</strong>sterroristas e incluía, entre os anistia<strong>do</strong>s,os militares responsáveis pela torturana fase mais dura <strong>do</strong> regime. Mesmo sobprotestos e limitada, a lei foi sancionada em28 de agosto de 1979.Cerca de 4.650 brasileiros foram beneficia<strong>do</strong>spela anistia, fazen<strong>do</strong> com que retornassemao país <strong>do</strong>is políticos que foram considera<strong>do</strong>sos maiores inimigos <strong>do</strong> regimemilitar: os ex-governa<strong>do</strong>res Leonel Brizolae Miguel Arraes. Encerrava-se, ali, um <strong>do</strong>smais difíceis perío<strong>do</strong>s de nossa história, eo Brasil pôde finalmente caminhar olhan<strong>do</strong>para o futuro, mas sem jamais esquecer aslições aprendidas no passa<strong>do</strong>.Em 1980, extinguiu-se o bipartidarismo quedividia o Congresso entre Arena e MDB; novosparti<strong>do</strong>s foram cria<strong>do</strong>s, e a democracia19 . Tancre<strong>do</strong> Neves,o presidenteque não chegoua tomar posseA proposta acabou sen<strong>do</strong> rejeitada peloCongresso Nacional, que ainda tinha umapequena maioria governista, mas a respostafoi contundente. Depois de uma campanhaque empolgou o Brasil, o candidatooposicionista, Tancre<strong>do</strong> Neves, que tinhacomo vice na chapa José Sarney, bateu ocandidato governista, Paulo Maluf, por 480votos a 180. No entanto, não chegou a tomarposse. Um dia antes de receber a faixapresidencial, em 14 de março de 1985, Tancre<strong>do</strong>foi interna<strong>do</strong> com fortes <strong>do</strong>res ab<strong>do</strong>minais,vin<strong>do</strong> a falecer no dia 21 de abril.Àquela altura, o vice José Sarney já haviasi<strong>do</strong> empossa<strong>do</strong> para evitar qualquer rupturano processo democrático e assumiu definitivamenteo lugar de primeiro presidentecivil desde os i<strong>do</strong>s de 1964.


Para usar em sala de aula• Pesquisar quais as diferenças básicas entreo voto direto e o voto indireto.• Debater com os alunos a inflação: o quesignifica e qual o seu efeito na vida decada um de nós?• Henfil e Betinho: <strong>do</strong>is irmãos que tiverampapel preponderante na história recente <strong>do</strong>país. A turma pode pesquisar e escreversobre a vida e o trabalho de cada um deles.Para saber maisMúsicasO Bêba<strong>do</strong> e a Equilibrista (João Bosco e AldirBlanc). CD – Elis Regina – Warner Music30 Anos, 2006.Tô Voltan<strong>do</strong> (Maurício Tapajós e Paulo CésarPinheiro). CD – O Talento de Simone – EMI/Odeon, 1995.Filmes3 Irmãos de Sangue. Brasil, 2007. Direção:Ângela Patricia Reiniger. Distribuição: BiscoitoFino. Duração: 102 min.Bye Bye Brasil. Brasil, 1979. Direção: CacáDiegues. Distribuição: Embrafilme. Duração:105 min.Ninguém segura este paísPaís Tropical (Jorge Ben Jor). CD – WilsonSimonal – Meus Momentos – EMI, 1996.Samba de Orly (Chico Buarque, Toquinho eVinicius de Moraes). CD – Chico Buarque –Perfil – v. 2 – Som Livre, 2010.Acorda Amor (Chico Buarque). CD – Chico Buarque– Perfil – v. 2 – Som Livre, 2010.Apesar de Você (Chico Buarque). CD – ChicoBuarque – Chico 50 Anos – O Político – Polygram/Philips,1994.Cálice (Chico Buarque e Gilberto Gil). CD –Chico Buarque – Chico 50 Anos – O Político– Polygram/Philips, 1994.Meu Caro Amigo (Chico Buarque e FrancisHime). CD – Chico Buarque – Chico 50 Anos –O Político – Polygram/Philips, 1994.Pesadelo (Maurício Tapajós e Paulo CésarPinheiro). CD – Joyce Moreno – PassarinhoUrbano – WEA, 2003.Reven<strong>do</strong> os Amigos (Joyce Moreno). CD –Joyce Moreno – Reven<strong>do</strong> Amigos – EMI, 1994.Con<strong>do</strong>r. Brasil, 2007. Direção: Roberto Mader.Distribuição: Lumière Brasil. Duração:106 min.Ninguém Sabe o Duro que Dei. Brasil, 2009.Direção: Claudio Manoel, Micael Langere Calvito Leal. Distribuição: Biscoito Fino.Duração: 86 min.O que É Isso, Companheiro? Brasil, 1997. Direção:Bruno Barreto. Distribuição: Riofilme,Miramax (EUA). Duração: 110 min.Utopia e Barbárie. Brasil, 2005 e 2010.Direção: Silvio Tendler. Distribuição: CalibanProduções Cinematográficas. Duração:120 min.LivrosAQUINO, Maria Aparecida de. Censura, Imprensae Esta<strong>do</strong> Autoritário (1968-1978).Bauru (SP): EDUSC, 1999.GASPARI, Elio. A Ditadura Escancarada. SãoPaulo: Companhia das Letras, 2002. (ColeçãoAs Ilusões Armadas, v. 2.)213


Ninguém segura este país________. A Ditadura Derrotada. São Paulo:Companhia das Letras, 2003. (Coleção AsIlusões Armadas, v. 3.)________. A Ditadura Encurralada. São Paulo:Companhia das Letras, 2004. (Coleção AsIlusões Armadas, v. 4.)HABERT, Nadine. A Década de 70: Apogeue Crise da Ditadura Militar Brasileira.Rio de Janeiro: Editora Ática, 2006.(Coleção Princípios.)MORAES, Mário Sérgio de. O Ocaso da Ditadura:Caso Herzog. São Paulo: Barcarolla, 2006.MORAIS, Taís; SILVA, Eumano. Operação Araguaia:Os Arquivos Secretos da Guerrilha.São Paulo: Geração Editorial, 2005.PINHEIRO, Manu. Cale-se: MPB e DitaduraMilitar, s/l, Livros Ilimita<strong>do</strong>s, 2011.SKIDMORE, Thomas. Brasil: De Castello aTancre<strong>do</strong> 1964-1985. Rio de Janeiro: Paz eTerra, 1988.WebsitesCentro de Pesquisa e Documentaçãoem História Contemporânea <strong>do</strong> Brasilhttp://cp<strong>do</strong>c.fgv.brCentro de Referência dasLutas Políticas no Brasilhttp://www.memoriasreveladas.gov.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?tpl=homeGrupo de Estu<strong>do</strong>s sobre a Ditadurahttp://www.gedm.ifcs.ufrj.brProjeto Brasil: Nunca Mais Digitalhttp://www.prr3.mpf.gov.br/bnmdigitalSecretaria de Direitos Humanosda Presidência da Repúblicahttp://www.direitoshumanos.gov.br/mortosedesapTortura Nunca Mais – RJhttp://www.torturanuncamais-rj.org.br/pbnm.asp?REfresh=2010030721591566081032&Pagina=pbnm&Titulo=Projeto+Brasil+Nunca+Mais#214


Que país é este?Que país é este?1SinopseCom a anistia e o fim da censura à imprensa e às letras de músicas,começou a redemocratização; o brasileiro voltou a votar para presidenteda República; Fernan<strong>do</strong> Collor de Mello foi eleito, mas denúncias de corrupçãoo levaram a renunciar; a transição com Itamar Franco; a eleição de Fernan<strong>do</strong>Henrique Car<strong>do</strong>so; nas artes visuais, a explosão colorida da Geração 80;na música, o vigor e a poesia <strong>do</strong> rock brasileiro; o cinema nacional, depoisde grande baque, ressurgiu das cinzas.215


Que país é este?Os ventos da mudançaGrande pátriaDesimportanteEm nenhum instanteEu vou te trairNão, não vou te trairBrasil!Mostra a tua caraQuero ver quem pagaPra gente ficar assimBrasil!Qual é o teu negócio?O nome <strong>do</strong> teu sócio?Confia em mimConfia em mimBrasil!Brasil(Cazuza, Nilo Romero e George Israel)Houve um tempo em que tu<strong>do</strong> o que erapublica<strong>do</strong>, exibi<strong>do</strong>, canta<strong>do</strong>, grava<strong>do</strong> e desenha<strong>do</strong>tinha que passar antes pela censura.Pensar diferente e lutar por liberdade edemocracia era considera<strong>do</strong> subversivo. Mashouve também um tempo em que ventosde mudança passaram a soprar, e o Brasilcomeçou a construir e a mostrar uma novacara, mais moderna e democrática. Os anos1980 e 1990 foram marca<strong>do</strong>s por profundastransformações políticas e culturais. E pormuitos desafios.Seu sucessor, o general João Baptista Figueire<strong>do</strong>,continuou o processo de distensão inicia<strong>do</strong>por Geisel. Durante o regime militar,milhares de brasileiros foram persegui<strong>do</strong>se tiveram de deixar o país. Foi então quesurgiu uma campanha nacional para que fossemanistia<strong>do</strong>s e pudessem retornar, sem represálias.Como a música popular brasileiratem uma forte tradição de comentar os principaisacontecimentos <strong>do</strong> país, uma cançãoantológica passou a ser entoada nos comíciose nas manifestações pela anistia:Meu Brasil!...Que sonha com a voltaDo irmão <strong>do</strong> Henfil.Com tanta gente que partiuNum rabo de fogueteChora!A nossa PátriaMãe gentilChoram MariasE ClarissesNo solo <strong>do</strong> BrasilO Bêba<strong>do</strong> e a Equilibrista(João Bosco e Aldir Blanc)216Em 31 de dezembro de 1978, o presidente ErnestoGeisel revogou o Ato Institucional número5 (AI-5), o mais importante instrumentorepressivo da ditadura militar. Foi o primeiropasso para redemocratizar o país. Geisel deixouo poder em 1979, mas muita água aindateria de passar por debaixo da ponte dahistória antes que os brasileiros voltassem aeleger um presidente diretamente.2 . Betinho volta ao Brasil, beneficia<strong>do</strong> pela anistia, em 1979


Governo SarneyEm agosto de 1979, o presidente Figueire<strong>do</strong>sancionou a lei da anistia, que beneficiou4.650 brasileiros persegui<strong>do</strong>s, presos ou bani<strong>do</strong>se, ao mesmo tempo, anistiou militaresque prenderam, torturaram e mataram oposicionistasdurante os anos de chumbo.Na eleição indireta de 1985, foram escolhi<strong>do</strong>sTancre<strong>do</strong> Neves para presidente da Repúblicae José Sarney para vice. Logo depoisda eleição, Tancre<strong>do</strong> a<strong>do</strong>eceu seriamente eveio a falecer em 21 de abril. Sarney assumiua presidência, e seu governo se inseriuno perío<strong>do</strong> de transição para a democracia,que, segun<strong>do</strong> o historia<strong>do</strong>r Daniel Aarão Reis,teve início em 1979 e só terminou em 1988.deu direito de voto aos analfabetos, estabeleceueleições diretas para presidente daRepública, regulamentou o direito à grevee a liberdade sindical, reduziu a jornadade trabalho de 48 para 44 horas semanais,concedeu licença-maternidade de 120 diase licença-paternidade de cinco dias. O paísmodernizava-se, tentan<strong>do</strong> livrar-se de umaherança conserva<strong>do</strong>ra.Que país é este?4 . O deputa<strong>do</strong> Ulysses Guimarães, presidente da AssembleiaNacional Constituinte, exibe a Constituição <strong>do</strong> Brasil de 1988O rock BR3 . O Jornal <strong>do</strong> Brasil anuncia a morte de Tancre<strong>do</strong> NevesO presidente enfrentou uma grave crise econômica,com um quadro de hiperinflação emoratória <strong>do</strong> governo. Para enfrentar a situação,criou sucessivos planos econômicos –Cruza<strong>do</strong>, Bresser e Verão – que, porém, nãotiveram sucesso. Em 1985, foram legaliza<strong>do</strong>sos parti<strong>do</strong>s políticos e foi extinta a censuraprévia. Foram também realizadas as primeiraseleições diretas, depois de 20 anos, paraprefeitos das capitais brasileiras.Em 1986, ocorreram as eleições para a AssembleiaNacional Constituinte, com o intuitode promulgar a Constituição de 1988, quePois aquele garotoQue ia mudar o mun<strong>do</strong>Mudar o mun<strong>do</strong>Agora assiste a tu<strong>do</strong>Em cima <strong>do</strong> muro.Meus heróisMorreram de over<strong>do</strong>seMeus inimigosEstão no poderIdeologia!Eu quero uma pra viverIdeologia!Pra viverIdeologia(Cazuza e Frejat)217


Que país é este?Mesmo durante os anos mais difíceis daditadura, a música brasileira não deixoude surpreender. A verdade é que criatividadenunca faltou aos nossos artistas: o quefaltava era liberdade. Novos tempos, novascanções. E, assim, os anos 1980 viram surgirdezenas de vozes e varia<strong>do</strong>s ritmos.Muito antes da “geração coca-cola”, os jovensbrasileiros, principalmente aqueles queviviam nas cidades, já ensaiavam seus passinhosno rock and roll e estudavam inglêspara entender as letras das canções americanas.Celly Campello foi uma precursora comseu Estúpi<strong>do</strong> Cupi<strong>do</strong>. Depois veio a JovemGuarda com uma legião de novos í<strong>do</strong>los: orei Roberto Carlos; seu fiel escudeiro, <strong>Era</strong>smoCarlos, o Tremendão; a Ternurinha Wanderléa;Martinha; Vanusa; e tantos outros.E, de mansinho, como quem não quer nada,vão ocupan<strong>do</strong> a cena musical os NovosBaianos, apostan<strong>do</strong> no casamento cheiode balanço entre o samba, o forró e o rock.É preciso mencionar, também, os mineiros<strong>do</strong> Clube da Esquina e, principalmente, MiltonNascimento, que marcaram o fim dadécada de 1970 com canções antológicas.E, finalmente, o pessoal <strong>do</strong> Ceará, com Fagner,Belchior e Zé Ramalho fazen<strong>do</strong> um mixde sertanejo com rock. É interessante notarque, mesmo depois que esses grupos queabrigavam baianos, mineiros e cearenses sedesfizeram, seus principais músicos e compositoresprosseguiram em suas carreirassolo e continuaram ativos até o século XXI.Segun<strong>do</strong> os pesquisa<strong>do</strong>res, o grande fenômenoda década de 1980 foi mesmo o rockmade in Brasil. Legítimo. Ele veio para levantaro astral com seus acordes básicos e dançantes.E empolgou a rapaziada. Para isso,contou com o humor da Blitz, de João Pencae Seus Miquinhos Amestra<strong>do</strong>s e <strong>do</strong> Ultrajea Rigor. E também abriu espaço para o sompesa<strong>do</strong> e politiza<strong>do</strong> da Legião Urbana e <strong>do</strong>Barão Vermelho. Os jovens que cresceramdurante a ditadura tinham pressa de vivere buscavam espaços em um país que nãotinha da<strong>do</strong> certo. Rebeldes, sim; mas, commuita causa, eles botaram a boca no mun<strong>do</strong>.5 . <strong>Era</strong>smo Carlos, o Tremendão, principal parceiro de RobertoCarlos, em apresentação no ano de 1970218Depois da Jovem Guarda, foi a vez de OsMutantes, um grupo esperto e diversifica<strong>do</strong>musicalmente que fez uma aliança produtivacom os tropicalistas Caetano Veloso eGilberto Gil e aju<strong>do</strong>u a renovar a MPB. Emvez de um banquinho e um violão, imagemque marcou a bossa nova, o novo cenáriomusical tinha guitarras e fantasias coloridas.O final <strong>do</strong>s anos 1970 e o início <strong>do</strong>s 1980também foram marca<strong>do</strong>s pela presença forte<strong>do</strong> baiano Raul Seixas. Com letras simples eao mesmo tempo filosóficas, ele conseguiugrande popularidade.6 . Barão Vermelho, banda de rock nacional criada em 1981


O feminismo e os discosindependentes– Ô mãe, me explica, me ensina, me[diz o que é feminina?– Não é no cabelo, no dengo ou no[olhar, é ser menina por to<strong>do</strong> lugar.– Então me ilumina, me diz como é que[termina?– Termina na hora de recomeçar, <strong>do</strong>bra[uma esquina no mesmo lugar.Costura o fio da vida só pra poder[cortarDepois se larga no mun<strong>do</strong> pra nunca[mais voltarque conseguiram encontrar espaço além dasfronteiras definidas pela indústria fonográfica.Não foi uma atitude isolada, foi um movimento.Artistas e grupos que, distantes <strong>do</strong>poder da mídia e das grava<strong>do</strong>ras, seguiramum outro caminho, à margem <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>oficial, e chegaram lá. Como o grupo BocaLivre, cujo primeiro disco independente vendeumais de cem mil cópias, a maioria delascomercializadas de mão em mão.Que país é este?Feminina(Joyce Moreno)7 . O grupo Boca Livre e sua toada que conquistou o públicoNa década de 1980, movimentos sociais surgi<strong>do</strong>sao longo <strong>do</strong>s séculos XIX e XX, comoos <strong>do</strong>s negros, <strong>do</strong>s homossexuais e das mulheres,obtiveram conquistas significativas.Quanto mais liberdade, maior possibilidadede diversificação das linguagens.As conquistas <strong>do</strong> movimento feminista serefletiram em nossa música e nos programasde TV. Uma nova mulher, mais libertada herança conserva<strong>do</strong>ra machista e amparadapor direitos trabalhistas, saiu para asruas, e Gilberto Gil cantou: “Quem sabe oSuper-Homem venha nos restituir a glória/mudan<strong>do</strong> como um deus o curso da história/por causa da mulher?”.O perío<strong>do</strong> foi eclético no campo cultural, commanifestações para diversos gostos e ouvi<strong>do</strong>s.Vários estilos conviveram democraticamenteem um espaço <strong>do</strong>mina<strong>do</strong> pelo merca<strong>do</strong>e pelo poder da mídia. Ao mesmo tempo,porém, surgiram os discos independentes,Geração 80“Quase tu<strong>do</strong> o que realmente importa nacultura contemporânea, ou que se tornoufenômeno de massas, foi bola<strong>do</strong> nos anos80.” Hermano ViannaAs artes visuais ganharam destaque nosmeios de comunicação com a exposiçãoComo Vai Você, Geração 80?, realizada naEscola de Artes Visuais <strong>do</strong> Parque Lage, nobairro <strong>do</strong> Jardim Botânico, no Rio de Janeiro,em julho de 1984. A pergunta, em tom casual,refletiu a espontaneidade de uma produçãoartística jovem e diversificada, quereuniu “as várias possibilidades de ser daarte”, segun<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s cura<strong>do</strong>res da mostra,Marcus Lontra.A exposição buscava aferir algumas tendênciasartísticas que emergiam naquele momento,reunin<strong>do</strong> 123 artistas de formações219


Que país é este?diferentes, em sua maioria jovens que eramcrianças nos tempos da ditadura e que estavamcomeçan<strong>do</strong> a vida adulta em um paísque se redemocratizava.“To<strong>do</strong>s passaram a pintar cada vez mais, pintan<strong>do</strong>não só as suas histórias particulares,mas procuran<strong>do</strong> os nossos sonhos comuns,os nossos mitos, a crença de que, passa<strong>do</strong>o pesadelo, tu<strong>do</strong> ia dar certo”, escreveuMarcus Lontra.A vanguarda paulista8 . A exposição de artes visuais Como Vai Você, Geração 80?Ao mesmo tempo que se abriu espaço paraas experimentações mais radicais, com instalaçõese performances, houve uma voltaà pintura, o que, aliás, ocorreu em to<strong>do</strong> omun<strong>do</strong>. Os artistas rejeitavam, porém, aideia de pintura como obra-prima e executavamtelas de grandes dimensões, muitasvezes sem moldura, em que <strong>do</strong>minavam ogesto pictórico e também a retomada da figurapor meio da apropriação de imagense de signos da comunicação de massa, aosquais eram acrescenta<strong>do</strong>s elementos subjetivose/ou irônicos.Bebida é água!Comida é pasto!Você tem sede de quê?Você tem fome de quê?...A gente não quer só comidaA gente quer comidaDiversão e arteComida(Arnal<strong>do</strong> Antunes, Marcelo Fromer e Sérgio Britto)220Alex Vallauri (1949-1987), Ana Maria Tavares(1958), Beatriz Milhazes (1960), Cristina Canale(1961), Daniel Senise (1955), Ester Grinspum(1955), Frida Baranek (1961), GonçaloIvo (1958), Jorge Guinle (1947-1987), KarinLambrecht (1957), Leda Catunda (1961), Leonilson(1957-1993), Luiz Zerbini (1959), LuizPizarro (1958) e Nelson Felix (1954) foramalguns <strong>do</strong>s participantes e, juntamente comartistas experimentais <strong>do</strong>s anos 1960 e 1970,respondem pelo reconhecimento que a artecontemporânea brasileira está ten<strong>do</strong> atualmenteno Brasil e no mun<strong>do</strong>.9 . Os Titãs, banda de rock formada em São Paulo, em 1982A vanguarda paulista começou a despontarpouco antes da explosão <strong>do</strong> rock nacionale se aproveitou <strong>do</strong>s caminhos abertos porele, mostran<strong>do</strong> ao público e às grava<strong>do</strong>rasque havia to<strong>do</strong> um merca<strong>do</strong> pouco explora<strong>do</strong>.Havia uma nova faixa de consumi<strong>do</strong>respronta para receber as novidades: os jovens.Foi nas ruas, nos bares, nas discotecas enos diversos points de São Paulo que soaramos primeiros acordes <strong>do</strong> rock nacional.Nos anos 1980, a cidade viu nascerem


numerosas bandas de sucesso e ficou conhecidacomo a Londres brasileira, o berço<strong>do</strong> rock BR. Uma delas perguntava: “vocêtem fome de quê?”. Os Titãs se inspiravamna poesia concreta e no punk rock, e o guitarrista<strong>do</strong> Ira!, Edgard Scandurra, era considera<strong>do</strong>o melhor <strong>do</strong> Brasil.“Falta pouco, muito pouco mesmo, para oano 2000, e você, ouvinte incauto, que noaconchego de seu lar, rodea<strong>do</strong> de seus familiares,desafortunadamente colocou estedisco na vitrola, esteja prepara<strong>do</strong>: o pesadelocomeçou.” (Arrigo Barnabé, no discoClara Crocodilo)Que país é este?São Paulo <strong>do</strong> grupo vocal Demônios da Garoa,<strong>do</strong>s modernistas que retrataram a pauliceiadesvairada, <strong>do</strong>s barões de café e <strong>do</strong>sfestivais da canção, <strong>do</strong>s imigrantes e deA<strong>do</strong>niran Barbosa. O rock <strong>do</strong>s anos 1980 deucontinuidade a essa tradição musical e produziuum som sofistica<strong>do</strong> e inova<strong>do</strong>r, queapontava para um novo jeito de ser paulista.Língua de Trapo, Premeditan<strong>do</strong> o Breque,Grupo Rumo, Itamar Assunção, Arrigo Barnabé,Guilherme Arantes, Júlio Barroso e aGang 90 & As Absurdetes se apresentaramem circuitos alternativos, como o Teatro LiraPaulistana e o Sesc Pompeia.Um caldeirão musical no qual se misturarammil e um ingredientes sonoros: MPB, samba,brega, sertanejo, Beatles, Rolling Stones,Jimmy Hendrix. Em alguns casos, como nascriações de Arrigo Barnabé, a própria músicaerudita serviu de inspiração. Para Arrigo,não houve um movimento nos anos 1980,mas sim “pessoas fazen<strong>do</strong> história, compropostas importantes e novas, uma resistênciaà pretensão das grandes grava<strong>do</strong>rasde exercer um <strong>do</strong>mínio total sobre o processohistórico da música brasileira”.São Paulo não foi a única cidade brasileiraonde o rock nacional deu seus primeirospassos. Brasília também desempenhou umpapel importante nesse processo e, mesmolonge <strong>do</strong>s grandes centros urbanos, era ocentro <strong>do</strong> poder. Dessa aproximação surgiuum rock contundente, com bandas de sucessoque tornaram o Planalto Central aindamais famoso. O Parque da Cidade ficou nacionalmenteconheci<strong>do</strong> ao estar na letra deuma das maiores canções <strong>do</strong> Legião Urbana.Afinal, foi no centro da capital brasileira queEduar<strong>do</strong> e Mônica se conheceram.Governo Collor11 . Fernan<strong>do</strong> Collor, sucessor de José Sarney na presidência10 . Álbum de lançamento de Arrigo BarnabéEm 1989, foram realizadas eleições diretaspara presidente da República, as primeirasem 29 anos. O vence<strong>do</strong>r foi Fernan<strong>do</strong> Collorde Mello, com uma campanha baseada naluta contra a corrupção. Ele sucedeu JoséSarney. No dia seguinte à sua posse, o presidenteanunciou a implantação <strong>do</strong> PlanoCollor, que congelou e confiscou, por 18meses, os depósitos nas contas correntes221


Que país é este?e cadernetas de poupança acima de 50 milcruza<strong>do</strong>s novos, substituiu a moeda correntepelo cruza<strong>do</strong> novo e congelou preços esalários. A ideia era dar um tiro de mortena superinflação. Inflação e congelamento opovo já conhecia, mas ficar sem o dinheiropoupa<strong>do</strong> teve um impacto muito grande naopinião pública.O governo Collor também foi marca<strong>do</strong> pelaabertura <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> nacional às importaçõese por ter inaugura<strong>do</strong> um programa nacionalde desestatização. Houve um agravamentoda recessão econômica, e, somenteem 1990, foram extintos mais de 920 milpostos de trabalho e a inflação atingiu acasa <strong>do</strong>s 1.200% ao ano. Milhares de jovenstomaram as ruas das capitais vestin<strong>do</strong>roupas negras e com o rosto pinta<strong>do</strong>na mesma cor, em sinal de luto pela criseeconômica e contra a corrupção. Logo a imprensaabriu espaço para o movimento <strong>do</strong>s“caras-pintadas”.Pedro Collor de Mello, irmão de Fernan<strong>do</strong>Collor, denunciou um esquema de corrupçãoque culminou com o pedi<strong>do</strong> de impeachment<strong>do</strong> presidente. Este renunciou ao cargo em 2de outubro de 1992. Sucedeu-o na presidênciao vice Itamar Franco.de Cultura, diretamente subordinada à Presidênciada República. Pouco mais de <strong>do</strong>isanos depois, voltou ao seu antigo estatuto.Data desse perío<strong>do</strong> a aprovação da LeiRouanet, desde então o principal incentivo àárea cultural <strong>do</strong> Brasil.O cinema: apesar<strong>do</strong> desmonteNa morte eu descanso, mas oSangue anda soltoManchan<strong>do</strong> os papéis, <strong>do</strong>cumentos fiéisAo descanso <strong>do</strong> patrãoQue país é este?Terceiro Mun<strong>do</strong>, se forPiada no exteriorMas o Brasil vai ficar ricoVamos faturar um milhãoQuan<strong>do</strong> vendermos todas as almasDos nossos índios num leilãoQue país é este?Que País É Este(Renato Russo)22212 . O movimento <strong>do</strong>s “caras pintadas” pede a saída de CollorNo seu governo, Fernan<strong>do</strong> Collor iniciou umprocesso de desmonte <strong>do</strong> cinema brasileiro,extinguin<strong>do</strong> a Embrafilme, o Concine e aFundação <strong>do</strong> Cinema Brasileiro. O Ministérioda Cultura foi transforma<strong>do</strong> em SecretariaNa década de 1980, a chamada pornochanchada<strong>do</strong>minou a nossa produção cinematográfica.Mas, apesar <strong>do</strong> desmonte <strong>do</strong> cinemaocorri<strong>do</strong> no governo Collor, a década foimarcada também por produções que trataram<strong>do</strong>s problemas <strong>do</strong> país, entre elas Pixote,a Lei <strong>do</strong> Mais Fraco, de Hector Babenco,sobre o drama de um menino de rua. O atorFernan<strong>do</strong> Ramos da Silva, que interpretou opapel-título, era ele próprio um jovem nessascondições.Destacaram-se, também, Sargento Getúlio,de Hermano Penna, uma adaptação <strong>do</strong> romancede João Ubal<strong>do</strong> Ribeiro, e a comédia


A Marvada Carne, de André Klotzel. E surgiram<strong>do</strong>cumentários que refletiam sobrea história recente <strong>do</strong> país: Jango, de SílvioTendler, e Cabra Marca<strong>do</strong> para Morrer, deEduar<strong>do</strong> Coutinho, que resgata a história deuma camponesa perseguida pela ditaduramilitar. Esse último filme, premia<strong>do</strong> internacionalmentee com boas bilheterias no Brasil,abriu espaço para que os <strong>do</strong>cumentáriosviessem a se tornar uma das manifestaçõesmais vigorosas <strong>do</strong> cinema brasileiro.13 . Adilson Barros e Fernanda Torres em A Marvada CarneCom a renúncia de Fernan<strong>do</strong> Collor, seu vice,Itamar Franco, assumiu a presidência em1992. O Brasil vivia um momento muito difícil:recessão prolongada, inflação aguda ecrônica e crescimento <strong>do</strong> desemprego. Umadesilusão com relação às instituições e aosdestinos <strong>do</strong> país tomou conta de jovens eadultos. Nessa época, milhares de brasileirosmigraram para outros países em busca de empregoe de melhores oportunidades de vida.O novo presidente se concentrou em arrumaro cenário que encontrara, em dar umjeito na casa. À moda mineira, Itamar procurouapoio <strong>do</strong>s parti<strong>do</strong>s e conseguiu articularuma costura política nacional. Em abrilde 1993, conforme previsto na Constituição,foi realiza<strong>do</strong> um plebiscito para escolher aforma e o sistema de governo. A populaçãooptou pela República (66% <strong>do</strong>s votos, contraos 10% da<strong>do</strong>s à Monarquia) e pelo Presidencialismo(55% <strong>do</strong>s votos, contra 25%para o Parlamentarismo).Que país é este?Governo Itamar FrancoAo lembrar que aqui passaram sambas[imortaisQue aqui sangraram pelos nossos pésQue aqui sambaram nossos ancestraisNum tempo página infeliz da nossa[história,passagem desbotada na memóriaDas nossas novas geraçõesDormia a nossa pátria mãe tão[distraídasem perceber que era subtraída14 . Moeda de R$ 1, em frente e verso, lançada em 1994No governo de Itamar Franco, foi tambémelaborada e colocada em prática uma iniciativaabrangente na área econômica: o PlanoReal. Monta<strong>do</strong> pelo ministro da Fazenda,Fernan<strong>do</strong> Henrique Car<strong>do</strong>so, o plano criouo real, uma nova moeda nacional, aju<strong>do</strong>u aaumentar o poder de compra da populaçãoe conseguiu baixar a inflação.Vai Passar(Chico Buarque e Francis Hime)O então ministro da Cultura, Antônio Houaiss,criou a Secretaria para o Desenvolvimento<strong>do</strong> Audiovisual, liberan<strong>do</strong> recursospara produzir filmes através <strong>do</strong> Prêmio223


Que país é este?Resgate <strong>do</strong> Cinema Brasileiro, e passou atrabalhar também na elaboração <strong>do</strong> que viriaa ser uma Lei <strong>do</strong> Audiovisual.A partir de 1995, começou então a retomada<strong>do</strong> cinema brasileiro. Além de novos mecanismosde apoio basea<strong>do</strong>s em incentivosfiscais, que atraíram empresas como financia<strong>do</strong>ras,os filmes passaram a se preocuparem agradar ao grande público. Em vezde ter uma câmara na mão e uma ideia nacabeça, o lema que caracterizou o CinemaNovo, os diretores queriam contar boas históriasem produções de qualidade técnica eartística, com elenco conheci<strong>do</strong> e enre<strong>do</strong> defácil entendimento.Governo Fernan<strong>do</strong>Henrique Car<strong>do</strong>soPerto da noite estou,O rumo encontro nas pedrasEncontro de vez, um grande país eu[esperoEspero <strong>do</strong> fun<strong>do</strong> da noite chegarMas agora eu quero tomar suas mãosVou buscá-la aonde forVenha até a esquina, você não conhece[o futuroQue tenho nas mãosClube da Esquina(Milton Nascimento, Lô Borges e Márcio Borges)15 . Cena <strong>do</strong> filme Carlota Joaquina, com Marieta SeveroEm mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s anos 1990, o Brasil deu umaarrancada para tornar-se um grande país. Asgrandes questões da área econômica, principalmentea inflação, que já havia chega<strong>do</strong>a mais de 2.000% ao ano, começaram a serequacionadas, e a autoestima da populaçãovoltou a crescer.O filme que iniciou esse perío<strong>do</strong> foi CarlotaJoaquina, Princesa <strong>do</strong> Brazil, de Carla Camurati,em que a chegada de D. João ao Brasil,no início <strong>do</strong> século XIX, foi tratada emforma de sátira rasgada, com boa respostade público e de crítica. Depois, viria TerraEstrangeira, de Walter Salles, ten<strong>do</strong> comofoco a história de alguns <strong>do</strong>s brasileirosque partiram para o exterior em busca deuma vida melhor.Itamar Franco terminou seu mandato comum bom índice de popularidade e conseguiufazer seu sucessor na presidência.16 . Fernan<strong>do</strong>Henrique Car<strong>do</strong>so,duas vezespresidente <strong>do</strong> país224


Eleito em 1994, o sociólogo Fernan<strong>do</strong> HenriqueCar<strong>do</strong>so sucedeu Itamar Franco na Presidênciada República durante <strong>do</strong>is mandatos:de 1995 a 1998 e de 1999 a 2002. Asprincipais marcas de seu governo foram aconsolidação <strong>do</strong> Plano Real e da estabilidadeeconômica e o início de transferência derenda para os menos favoreci<strong>do</strong>s por meiode iniciativas como o Bolsa Escola. Ele realizou,também, um programa de privatização,incluin<strong>do</strong> empresas estatais como a Embraer,a Telebrás e a minera<strong>do</strong>ra Vale <strong>do</strong> RioDoce. Essa iniciativa foi muito criticada porseus opositores, principalmente pelo Parti<strong>do</strong><strong>do</strong>s Trabalha<strong>do</strong>res.Durante a vigência <strong>do</strong> Plano Real, houve umgrande ingresso de investimentos externosna área produtiva. Na indústria de automóveis,por exemplo, instalaram-se no paísfábricas de 11 marcas internacionais, entreelas a Peugeot e a Renault. A expansão econômicafoi, no entanto, freada por contínuascrises internacionais ocorridas em paísescomo México, Argentina e Rússia.No século XXI, em um mun<strong>do</strong> cada vez maisglobaliza<strong>do</strong> e caracteriza<strong>do</strong> pela democratizaçãoda comunicação de massas atravésda internet, ainda falta bastante parao Brasil com que sonhamos: mais justo esolidário para to<strong>do</strong>s. Mas nossas artes sedesenvolvem vigorosas e a economia temcresci<strong>do</strong>. No cenário internacional, surgiuum novo grupo econômico e político: osBrics – iniciais de Brasil, Rússia, Índia e China.Ou seja, os países <strong>do</strong> antigo TerceiroMun<strong>do</strong>, dependentes e marginais em relaçãoà economia europeia e norte-americana,hoje estão na vanguarda <strong>do</strong> crescimentoeconômico e até se propuseram a comprartítulos da dívida pública <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>se de países europeus para ajudá-los a sairda crise. Sinal <strong>do</strong>s tempos.Hoje, quan<strong>do</strong> olhamos para trás, alguns capítulosda nossa história nos embaraçam,enquanto outros nos enchem de admiraçãoe orgulho. Nesse cenário, ecoa uma cançãode esperança que a maioria de nós conhecee admira:Que país é este?Para suceder Fernan<strong>do</strong> Henrique Car<strong>do</strong>so,os eleitores escolheram, pela primeira vez,um operário como presidente da República:Luiz Inácio Lula da Silva, que assumiu em2003 prometen<strong>do</strong> aprofundar as reformas erealizar uma grande distribuição de rendaem benefício <strong>do</strong>s menos favoreci<strong>do</strong>s.Eu acreditoÉ na rapaziadaQue segue em frenteE segura o rojãoEu ponho féÉ na fé da moçadaQue não foge da feraE enfrenta o leão (...)Pois o resto é besteiraE nós estamos pelaíEu acreditoÉ na rapaziada!E Vamos à Luta(Gonzaguinha)17 . Lula eleito: o PT chega à presidência <strong>do</strong> Brasil225


Que país é este?Para usar em sala de aula• A letra da canção O Bêba<strong>do</strong> e a Equilibrista,de João Bosco e Aldir Blanc, diz que“choram Marias e Clarisses no solo <strong>do</strong> Brasil”.Pedir à turma que explique a que serefere esse episódio e quem são as Mariase Clarisses. O exercício deve desaguar emum aprofundamento <strong>do</strong> que foi o movimentoDiretas Já.• Sugerir que os alunos peguem na loca<strong>do</strong>rao <strong>do</strong>cumentário Cabra Marca<strong>do</strong> paraMorrer, de Eduar<strong>do</strong> Coutinho, e escrevamalgumas linhas sobre ele. Podem tambémcomentar o seguinte: por que o <strong>do</strong>cumentáriose tornou tão forte na produção cinematográficabrasileira?• “A gente quer bebida/ diversão, balé/ Agente não quer só comida/ A gente quera vida/ como a vida quer.” Esse trechoda canção Comida, um sucesso <strong>do</strong>s Titãs,pode ser visto como a expressão de umanseio <strong>do</strong>s jovens brasileiros que cresceramna década de 1980. Por quê? Sugeriraos alunos um debate em sala de aula sobrea questão tratada na música.Clube da Esquina (Milton Nascimento, LôBorges e Márcio Borges). CD – Milton Nascimento– Milagre <strong>do</strong>s Peixes ao Vivo – EMI/Odeon, 1995.Cartomante (Ivan Lins e Vitor Martins). CD –Ivan Lins – Cantan<strong>do</strong> Histórias – EMI, 2004.Vai Passar (Chico Buarque e Francis Hime).CD – Chico Buarque – Chico Buarque 1984 –Barclay/Polygram/Philips, 1993.Que País É Este (Renato Russo). CD – Os Paralamas<strong>do</strong> Sucesso Acústico – EMI, 1999.Ideologia (Cazuza e Frejat). CD – Cazuza –Esse Cara – Sigla/Poly<strong>do</strong>r, 1995.Comida (Arnal<strong>do</strong> Antunes, Marcelo Fromer eSérgio Britto). CD – Marisa Monte – 1988 –EMI/Odeon, 1988.Bem Baixinho (Luiz Tatit). CD – Grupo Rumo –Rumo – 1981 – CD independente, 1996.Feminina (Joyce Moreno). CD – Joyce Moreno– Reven<strong>do</strong> Amigos – EMI, 1994.Para saber maisMúsicasE Vamos à Luta (Gonzaguinha). CD – LuizGonzaga Júnior – De Volta ao Começo – EMI/Odeon, 1997.Toada (Na Direção <strong>do</strong> Dia) (Zé Renato, JucaFilho e Claudio Nucci). CD – Zé Renato –Minha Praia – Biscoito Fino, 2003.Brasil (Cazuza, Nilo Romero e George Israel).CD – Cazuza – O Poeta Está Vivo – SomLivre/Universal Music, 2005.FilmesBete Balanço. Brasil, 1964-1984. Direção:Lael Rodrigues. Distribuição: Embrafilme.Duração: 71 min.Cabra Marca<strong>do</strong> para Morrer. Brasil, 1984. Direção:Eduar<strong>do</strong> Coutinho. Distribuição: Gaumont<strong>do</strong> Brasil. Duração: 119 min.A Cor <strong>do</strong> Seu Destino. Brasil, 1986. Direção:Jorge Durán. Distribuição: Embrafilme. Duração:96 min.Nunca Fomos Tão Felizes. Brasil, 1984. Direção:Murilo Salles. Distribuição: Embrafilme.Duração: 100 min.226


Pixote: A Lei <strong>do</strong> Mais Fraco. Brasil, 1980. Direção:Hector Babenco. Distribuição: Embrafilme.Duração: 128 min.LivrosABREU, Alzira Alves de (org.). A Democratizaçãono Brasil: Atores e Contextos. Rio deJaneiro: FGV, 2006.ALBIN, Ricar<strong>do</strong> Cravo. O Livro de Ouro da MPB:A História de Nossa Música Popular de SuaOrigem até Hoje. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003.BERTONCELO, Edison. A Campanha das DiretasJá e a Democratização. São Paulo: Fapesp,2007.CHIARELLI, Tadeu. Arte Internacional Brasileira.São Paulo: Lemos, 1999.DAPIEVE, Arthur. BRock: O Rock Brasileiro<strong>do</strong>s Anos 80. Rio de Janeiro: Editora 34, 1995.MOTA, Carlos Guilherme; LOPES, Adriana.História <strong>do</strong> Brasil: uma Interpretação. SãoPaulo: Editora Senac São Paulo, 2008.OLIVEIRA, Paulo Affonso Martins de. O Congressoem Meio Século: Depoimento a TarcísioHolanda. 2. ed. Brasília: Câmara <strong>do</strong>s Deputa<strong>do</strong>s,Edições Câmara, 2009. Disponívelem: http://bd.camara.gov.br/bd/bitstream/handle/bdcamara/1859/congresso_meio_seculo_oliveira.pdf?sequence=1.REIS, Daniel Aarão; FERREIRA, Jorge (org.).Revolução e Democracia 1964. Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 2007. (Coleção AsEsquerdas no Brasil, v. 3.)____________. Ditadura Militar, Esquerdase Sociedade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor,2000.RODRIGUES, Alberto Tossi. Diretas Já: o GritoPreso na Garganta. São Paulo: Editora PerseuAbramo, 2003.Que país é este?DELLA CAVA, Ralph. A Igreja e a Abertura,1974-1985. In: MAINWARING, S.; KRISCHKE, P.J. A Igreja nas Bases em Tempo de Transição(1975-1985). São Paulo: L&PM, 1986, p. 13-42.FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucília de AlmeidaNeves. O Tempo da Ditadura: Regime Militare Movimentos Sociais no Fim <strong>do</strong> SéculoXX. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,2007. (O Brasil Republicano, v. 4.)LEONELLI, Domingos; OLIVEIRA, Dante de.Diretas Já. Rio de Janeiro: Record, 2004.MOSTRA DO REDESCOBRIMENTO, 2000, SÃOPAULO, SP. Arte Contemporânea. Cura<strong>do</strong>riageral e organização Nelson Aguilar; cura<strong>do</strong>riaNelson Aguilar, Franklin Espath Pedroso;organização Suzanna Sassoun. São Paulo:Fundação Bienal de São Paulo: AssociaçãoBrasil 500 Anos Artes Visuais, 2000.SEVERIANO, Jairo. Uma História da MúsicaPopular Brasileira: Das Origens à Modernidade.São Paulo: Editora 34, 2009.WebsitesAcervo da Luta Contra a Ditadurahttp://www.acervoditadura.rs.gov.br/contextod.htmArquivo Público <strong>do</strong> Paranáhttp://www.arquivopublico.pr.gov.br/modules/conteu<strong>do</strong>/conteu<strong>do</strong>.php?conteu<strong>do</strong>=18Biblioteca Digital da Câmara <strong>do</strong>s Deputa<strong>do</strong>shttp://bd.camara.gov.br/bd/handle/bdcamara/2861227


Que país é este?Portal Brasilhttp://www.brasil.gov.br/linha<strong>do</strong>tempo/epocas/1984/diretas-jaPortal da Câmara <strong>do</strong>s Deputa<strong>do</strong>shttp://www2.camara.gov.br/agencia/noticias/POLITICA/93436-DECADA-DE-80:-AS-DIRE-TAS-JA.htmlPortal <strong>do</strong> Professor (Ministério da Educação)http://portal<strong>do</strong>professor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=27209Procura<strong>do</strong>ria Regional da República3ª Regiãohttp://www.prr3.mpf.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=198&Itemid=2Secretaria de Arquivo <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> Federalhttp://www.sena<strong>do</strong>.gov.br/sena<strong>do</strong>/secretarias/arquivo/default.asp228


Documentários musicais que cantam e contam a História <strong>do</strong> Brasil.Compositores, intérpretes, instrumentistas, poetas e atores identifica<strong>do</strong>scom o tema aborda<strong>do</strong> em cada programa são os convida<strong>do</strong>s da cantora eapresenta<strong>do</strong>ra Joyce Moreno (acompanhada por Antonia Adnet) para viajarna trilha <strong>do</strong>s acontecimentos que marcaram o país.Ao promover o diálogo entre música e história, a série possibilitadiferentes atividades com alunos, sugere novas relações entre fatose versões e estimula a formação de novos questionamentos.São 15 programas, de cerca de uma hora de duração, grava<strong>do</strong>s emestúdio e em locais referentes aos temas na cidade <strong>do</strong> Rio de Janeiro.Idealiza<strong>do</strong>ra, apresenta<strong>do</strong>rae diretora musical: Joyce MorenoViolão: Antonia AdnetDiretora: Leila HipólitoRoteirista: Fátima ValençaConsultora musical: Heloísa TapajósDireção-geral: Cleide Ramos231


Um time de craques: saiba mais sobre elasJoyce MorenoAlberto Jacob FilhoNascida no Rio de Janeiro, a cantora, compositora, arranja<strong>do</strong>rae instrumentista Joyce Moreno tem em sua bagagem umaextensa discografia e cerca de 400 gravações de composiçõespróprias por alguns <strong>do</strong>s maiores nomes da música popularbrasileira, como Elis Regina, Gal Costa, Maria Bethânia,Milton Nascimento e muitos outros. Seu trabalho segue tambémuma trilha internacional, com turnês mundiais a cadaano e gravações de novos discos em diferentes países, semperder nunca sua identidade brasileira/feminina. Apresenta--se anualmente no circuito Blue Note no Japão, em festivaisde jazz e em turnês na Europa e nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s.Antonia AdnetAlberto Jacob FilhoViolonista, arranja<strong>do</strong>ra, compositora e cantora, começou acarreira musical ainda criança, quan<strong>do</strong> participou, como vocalista,da gravação de discos e jingles publicitários. Na a<strong>do</strong>lescência,estu<strong>do</strong>u violão e teoria musical e esteve à frentede algumas bandas, participan<strong>do</strong> de festivais com cançõespróprias premiadas. Em 2003, começou o curso superior debacharela<strong>do</strong> em Arranjo. Em 2005, entrou para a banda dacantora Roberta Sá, na qual permanece até os dias atuais.Paralelamente, grava e faz shows como violonista.Leila HipólitoAlberto Jacob FilhoDirigiu o longa As Alegres Comadres (basea<strong>do</strong> na peça homônimade William Shakespeare); o <strong>do</strong>cumentário AntonioDias – O País Inventa<strong>do</strong>, sobre a trajetória desse artista plástico;programas de TV, entre eles Encontros Culturais, coma apresenta<strong>do</strong>ra Leila Richers, produzi<strong>do</strong> pela <strong>MultiRio</strong>. Dirigiu,também, comerciais, institucionais, curtas (entre eles,Decisão, premia<strong>do</strong> nacional e internacionalmente), videoartee videodança (Duo, premia<strong>do</strong> no Festival Internacional deVideodança Oi Futuro). Em teatro, dirigiu a peça Tomo SuasMãos Nas Minhas.232


Fátima ValençaHeloísa TapajósCleide RamosAlberto Jacob Filho Divulgação DivulgaçãoDramaturga, escritora, roteirista e pesquisa<strong>do</strong>ra, com trabalhosveicula<strong>do</strong>s em teatro, rádio, jornal, revista, televisão.Publicou os livros: O que É Ser Maestro – Memórias Profissionaisde Isaac Karabtchevsky e O Crime da Avenida Passos:O Rio de Janeiro na Década de 30. Colaborou em centenasde outros livros e tem mais de 30 peças montadas, entreelas Nada Além de uma Ilusão, Pixinguinha, Dolores, Orlan<strong>do</strong>Silva, Elis, Rádio Nacional, Eu Sou o Samba e Carmen, oIt Brasileiro. Na área educativa e cultural, criou programaspara a Rádio MEC, a <strong>MultiRio</strong> e o Canal Futura.Socióloga, é pesquisa<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> Instituto Cultural Cravo Albin,responsável pela produção <strong>do</strong>s verbetes da vertente urbana“da bossa nova aos dias atuais” <strong>do</strong> Dicionário Cravo Albinda MPB. É, também, pesquisa<strong>do</strong>ra titular <strong>do</strong> Núcleo deEstu<strong>do</strong>s em Literatura e Música (Nelim/PUC-Rio), produtoraartística e apresenta<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> projeto Sarau Repsol. Atua emprojetos na área cultural, realiza entrevistas com compositorese intérpretes da MPB e assina matérias sobre shows elançamentos fonográficos.Doutora em Ciências da Educação pela Université Paris X,com experiência nas áreas de Educação, Cultura, RecursosHumanos e Tecnologias da Informação e da Comunicação.Criou e dirigiu empresas, nas áreas pública e privada, quese responsabilizaram por aplicar as mídias impressa, televisivae de informática à educação e à cultura, com programaçãopara jovens e crianças. Atuou como Gerente deTreinamento da Bradesco Seguros; Diretora de TecnologiaEducacional na Fundação Roquette Pinto – TVE/RJ; Gerentede Produto Vídeo-Escola na Globo Vídeo; Consultora paraProgramas Educativos da Fundação Roberto Marinho e daFundação Getulio Vargas; Presidente da Empresa Municipalde Multimeios – <strong>MultiRio</strong>, responsável pela criação e pelodesenvolvimento da Empresa de 1995 a 2000, reassumin<strong>do</strong>o cargo em 2009. Na área internacional, organizou visitastécnicas e seminários sobre Mídia e Educação entre o Brasile a Argentina, a França, a Inglaterra e os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s.233


Alberto Jacob FilhoEquipe de produção<strong>MultiRio</strong>PresidenteCleide RamosDiretor de Mídia e EducaçãoRicar<strong>do</strong> PetraccaAssessora EspecialDenise Chagas LeiteAssessores de Mídiae EducaçãoLucia BarreirosLuiz Eduar<strong>do</strong> RiconVirginia PalermoGerentes de ProdutoGisele MaiaMarcos SouzaGerente de Pesquisae DocumentaçãoLucia MendesPesquisa<strong>do</strong>ra de ArteFernanda Lopes TorresPesquisa<strong>do</strong>res deImagem e Conteú<strong>do</strong> TVIsabel BarretoFábio Araújo JorgeTônia MatosinhosEstagiárioJoão Chá CháDiretora <strong>do</strong> Núcleo de TVSylvia MillonAssessoras <strong>do</strong> Núcleo de TVAlessandra SaubermanIzabella FayaAna Cecília PachecoAbertura e Artes GráficasRico VilaroucaRenato VilaroucaDiretor de FotografiaAlex AraripeEngenheiro de SomFernan<strong>do</strong> Pra<strong>do</strong>Assistentes de DireçãoAna Izabel AguiarMaria AltbergRo<strong>do</strong>lfo SandzerGerente de ProduçãoPierre MeirelesCoordena<strong>do</strong>r de Pós-ProduçãoRobson SouzaProdutor MusicalClaudio Lyra234


Alberto Jacob FilhoProdutor ExecutivoLuiz Eduar<strong>do</strong> Cotta MonteiroAssistente de ProduçãoJorge Rocha de LimaEstagiáriaJoana ParenteCenógrafaCarla BerriProdutores de Artee FigurinoBianca WatsonJoão de FreitasMaquia<strong>do</strong>rWalter ValleCamareiraRailda LimaContrarregrasJoão Paulo <strong>do</strong>s SantosJorge Dias BarbosaRicar<strong>do</strong> Teo<strong>do</strong>roMaquinistasAlvaro de SouzaNahim FernandesCenotécnicoRonal<strong>do</strong> BezerraGerente de OperaçõesThiago ChavesDiretor de ImagemPaulo JamasOpera<strong>do</strong>r de VídeoAdil MattosOpera<strong>do</strong>r de VTMarco DiasOpera<strong>do</strong>res de CâmeraAmós de OliveiraDenis ViannaLuís AraújoMarcelo BuscacioAuxiliares de CâmeraBira Macha<strong>do</strong>Leonar<strong>do</strong> AlmeidaTom DiasIlumina<strong>do</strong>rCelso Apareci<strong>do</strong>Auxiliares de IluminaçãoPablo AlvesLuciano <strong>do</strong>s SantosSonoplastaEnyo SoaresEletricistasJosé Carlos Macha<strong>do</strong>Luciano Ramos235


Raízes indígenasAlberto Jacob FilhoJoyce Moreno, Antonia Adnet e Marlui MirandaOs primeiros brasileiros, a chegada de Pedro Álvares Cabral, a relação entreíndios e europeus. As capitanias hereditárias e o governo geral. Os jesuítase a catequese. Entradas e bandeiras avançaram pelo interior <strong>do</strong> país.O Serviço de Proteção ao Índio <strong>do</strong> Marechal Ron<strong>do</strong>n e o trabalho <strong>do</strong>s irmãossertanistas Villas Bôas. A contribuição <strong>do</strong> índio à cultura brasileira.Convidada: Marlui MirandaLocações: Floresta da Tijuca,Museu <strong>do</strong> Índio e Praia <strong>do</strong> Leme239


Marlui MirandaNasceu em Fortaleza, foi criada em Brasília e veio para o Rio de Janeiro nadécada de 1970. Estu<strong>do</strong>u violão clássico com Turibio Santos, Jodacil Damasceno,Paulo Bellinati e outros. Cantou com Egberto Gismonti, Milton Nascimento,Jards Macalé, Taiguara. Compositora, realizou também trilhas para cinemae teatro. Além de vários discos grava<strong>do</strong>s, tem um trabalho reconheci<strong>do</strong>de pesquisa e <strong>do</strong>cumentação de hábitos e músicas de índios e seringueirosna Amazônia brasileira.Locações240


Músicas <strong>do</strong> programa(trechos)To<strong>do</strong> Dia <strong>Era</strong> Dia de Índio(Jorge Ben Jor)Curumim, chama CunhatãQue eu vou contarCurumim, chama CunhatãQue eu vou contarTo<strong>do</strong> dia era dia de índioTo<strong>do</strong> dia era dia de índioCurumim, CunhatãCunhatã, CurumimAntes que o homem aqui chegasseÀs terras brasileiras<strong>Era</strong>m habitadas e amadasPor mais de 3 milhões de índiosProprietários felizesDa Terra BrasilisPois to<strong>do</strong> dia era dia de índioTo<strong>do</strong> dia era dia de índioMas agora eles só têmO dia 19 de abrilMas agora eles só têmO dia 19 de abrilDonos <strong>do</strong> Brasil(Fagner, Nonato Luiz e Paulinho Tapajós)Carijós, maués, guarás, carajás, caririsParecis, tupinambás, bororós, guaranisGuaracás, arauásForam mais, muito maisMais de dez, mais de cemTalvez mais de milCarijós, maués, guarás, carajás, caririsParecis, tupinambás, bororós, guaranisGuaracás, arauásSerão mais mesmo sósPois são mais <strong>do</strong> que nósDonos <strong>do</strong> BrasilO Canto <strong>do</strong> Pajé(Heitor Villa-Lobos e C. Paula Barros)Ó Tupã, Deus <strong>do</strong> Brasil,Que o céu enche de solDe estrelas, de luar e de esperança!Ó Tupã, tira de mim esta saudade!Anhangá me fezSonhar com a Terra que perdi241


Juparanã(Joyce Moreno e Paulo César Pinheiro)Juparanã, Juparanã, JuparanãTem jacumã, ubáBom de atravessar os igapósEu vou pescarÊ, JuparanãTem peixe boitatáIara mora lá nos aguapésVem me ajudarÊ, JuparanãAraruna(Índios Parakanã <strong>do</strong> Pará;adaptação e arranjo: Marlui Miranda)Araruna, canta agora, araruna, vamos[trabalhar.Aeore vai, nós vamos trabalhar,Aeore vai, Araruna, arara-azul, voa.Será que é minha ou sua arara-azul?Borzeguim(Tom Jobim)CutucurimGavião-zãoGavião-ãoCaapora <strong>do</strong> mato é capitãoEle é <strong>do</strong>no da mata e <strong>do</strong> sertãoCaapora <strong>do</strong> mato é guardiãoÉ vigia da mata e <strong>do</strong> sertão(Yauaretê, Jaguaretê)Deixa a onça viva na florestaDeixa o peixe n’água que é uma festaDeixa o índio vivoDeixa o índioDeixaDeixaDizem que o sertão vai virar marDiz que o mar vai virar sertãoDeixa o índioAraruna anarê êAraruna anarêAraruna anarêIn’y keu’y köwanáAraruna anarê(Araruna, arara-azul, voa.)Será que essa arara-azul é minha?É minha ou sua?242


Quarup(Joyce Moreno e Paulo César Pinheiro)Queria encantar minha liraPra ver o que vê o caiçaraSaci provocar curupiraCaipora montar pombagiraNamoro de boto com iaraQueria num dia de graçaNum Quarup de lua claraBeben<strong>do</strong> cauim na cabaçaRever minha parte da raçaQue vem da cabocla JussaraUm Índio(Caetano Veloso)Um índio descerá de uma estrelaColorida e brilhanteDe uma estrela que viráNuma velocidade estonteanteE pousará no coraçãoDo hemisfério sulNa América, num claro instanteDepois de exterminadaA última nação indígenaE os espíritos <strong>do</strong>s pássarosDas fontes de água límpidasMais avança<strong>do</strong> que as mais avançadasDas mais avançadas das tecnologiasViráImpávi<strong>do</strong>, que nem Muhammad AliVirá que eu viApaixonadamente como PeriVirá que eu viTranquilo e infalível como Bruce LeeVirá que eu viO axé <strong>do</strong> afoxé filhos de GandhiVirá243


Raízes africanas –Capoeira, mungunzá e valentiaAntonia Adnet, Joyce Moreno e Sérgio SantosDa África ao Brasil, da escravidão à abolição. No século X, já existia tráfico deescravos entre os reinos africanos. Portugal tinha permissão <strong>do</strong> papa paraescravizar. No Brasil, o encontro de duas religiões. A formação <strong>do</strong>s quilombose a luta pela liberdade. Danças, capoeira, miscigenação, herança na culinária,nas artes e no vocabulário.Convida<strong>do</strong>: Sérgio SantosEntrevista<strong>do</strong>: Carlos Alberto MedeirosParticipações: Flávio Fonseca e MarcelloMelo, <strong>do</strong> grupo Nós <strong>do</strong> MorroLocações: Centro Cultural MunicipalJosé Bonifácio, Museu da Cidade eParque da Cidade244


Sérgio SantosNasceu em Minas Gerais e começou a carreira musical cantan<strong>do</strong> no espetáculoMissa <strong>do</strong>s Quilombos, de Milton Nascimento. É violonista, intérprete,arranja<strong>do</strong>r e compositor. A parceria com Paulo César Pinheiro já soma cercade 160 músicas. Em 1995, lançou seu primeiro CD, Aboio, distribuí<strong>do</strong>, depois,em toda a Europa, nos EUA e no Japão. Venceu importantes festivais de música<strong>do</strong> Brasil e tem uma agenda de shows internacionais em grandes casasde espetáculos.Grupo Nós <strong>do</strong> MorroO grupo, cria<strong>do</strong> em 1986, foi idealiza<strong>do</strong> pelo jornalista e ator Guti Fraga ealguns jovens mora<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Morro <strong>do</strong> Vidigal a partir <strong>do</strong> projeto Teatro-Comunidade.A ideia era oferecer acesso à arte e à cultura para crianças, jovense adultos da comunidade. Hoje, o projeto se consoli<strong>do</strong>u e oferece cursos deformação nas áreas de teatro (atores e técnicos) e cinema (roteiristas, diretorese técnicos), abrin<strong>do</strong> e amplian<strong>do</strong> os horizontes para um sem-número decrianças, jovens e adultos mora<strong>do</strong>res, ou não, <strong>do</strong> Vidigal.Locações245


Músicas <strong>do</strong> programa(trechos)Quem é, me ensina quem foiQue fez o povo dançarTambor de Minas, Bumba meu boi,Boi-bumbá,O bambaquerê,O samba, o ijexá,Quan<strong>do</strong> o Brasil resolveu cantar?Sincretismo(Sérgio Santos e Paulo César Pinheiro)Vento Bravo(Edu Lobo e Paulo César Pinheiro)<strong>Era</strong> um cerco bravo, era um palmeiral,Limite <strong>do</strong> escravo entre o bem e o mal<strong>Era</strong> a lei da coroa imperialCalmaria negra de pantanalMas o vento vira e <strong>do</strong> vendavalSurge o vento bravo, o vento bravo<strong>Era</strong> argola, ferro, chibata e pau<strong>Era</strong> a morte, o me<strong>do</strong>, o rancor e o mal<strong>Era</strong> a lei da Coroa ImperialCalmaria negra de pantanalMas o tempo muda e <strong>do</strong> temporalSurge o vento bravo, o vento bravoO negro religiosoDentro de casa tem seu gongáPorém desde o cativeiroMu<strong>do</strong>u de nome seu orixáE assim Dona JanaínaÉ Nossa Senhora da Conceição,Oxum é a das Candeias,Oxóssi é São SebastiãoSaraváMeu santo,AmémÁfrico(Sérgio Santos e Paulo César Pinheiro)Quem foi que fez brasileiro baterTambor de jongo?De onde é que sai quem batuca com o péTerno de Congo?246


Gongá(Sérgio Santos e Paulo César Pinheiro)Vim de longe, de um reino de além <strong>do</strong> mar.Vim marca<strong>do</strong> que nem o ga<strong>do</strong> de lá,Num porão de navio,Sei de <strong>do</strong>r, fome, frio,Sem poder nunca mais voltar.Remo nas mãos,Ferro nos pés,Sangue riscan<strong>do</strong> o olhar.Vim nos grilhões,Vim nas galés,Eu vim da ÁfricaRetirantes(Dorival Caymmi e Jorge Ama<strong>do</strong>)Vida de negro é difícilÉ difícil como quêEu quero morrer de noiteNa tocaia me matarEu quero morrer de açoiteSe tu, negra, me deixarVida de negro é difícilÉ difícil como quêQuilombo – O El<strong>do</strong>ra<strong>do</strong> <strong>do</strong> Negro(Gilberto Gil e Waly Salomão)ExistiuUm el<strong>do</strong>ra<strong>do</strong> negro no BrasilExistiuComo o clarão que o sol da liberdade[produziuRefletiuA luz da divindade, o fogo santo de[OlorumReviveuA utopia um por to<strong>do</strong>s e to<strong>do</strong>s por umQuilomboQue to<strong>do</strong>s fizeram com to<strong>do</strong>s os santos[zelan<strong>do</strong>QuilomboQue to<strong>do</strong>s regaram com todas as águas[<strong>do</strong> prantoQuilomboQue to<strong>do</strong>s tiveram de tombar aman<strong>do</strong> e[lutan<strong>do</strong>QuilomboQue to<strong>do</strong>s nós ainda hoje desejamos tanto247


Zumbi(Jorge Ben Jor)Aqui onde estão os homensHá um grande leilãoDizem que nele háUma princesa à venda...Quan<strong>do</strong> Zumbi chegarO que vai acontecerZumbi é senhor das guerrasÉ senhor das demandasQuan<strong>do</strong> Zumbi chega é ZumbiQuem mandaEu quero verEu quero verEu quero verUpa Neguinho(Edu Lobo e Gianfrancesco Guarnieri)Upa, neguinho na estradaUpa, pra lá e pra cáVirge!Que coisa mais linda!Upa neguinhoComeçan<strong>do</strong> a andarComeçan<strong>do</strong> a andar...Raça(Milton Nascimento e Fernan<strong>do</strong> Brant)Reza(Edu Lobo e Ruy Guerra)Por amor andei, jáTanto chão e marSenhor, já nem seiSe o amor não é maisBastante pra vencerEu já sei o que vou fazerMeu Senhor, uma oraçãoVou cantar para ver se vai valerLaia, ladaia, sabatana, Ave MariaLá vem a força, lá vem a magiaQue me incendeia o corpo de alegriaLá vem a santa maldita euforiaQue me alucina, que me joga e ro<strong>do</strong>piaLá vem o canto, o berro de feraLá vem a voz de qualquer primaveraLá vem a unha rasgan<strong>do</strong> a gargantaA fome, a fúria, o sangue que já se[levantaDe onde vem essa coisa tão minhaQue me aquece e me faz carinho?De onde vem essa coisa tão cruaQue me acorda e me põe no meio da rua?248


Ouro em MinasAlberto Jacob FilhoJoyce Moreno, Antonia Adnet, Ana Martins e Sérgio SantosO Brasil colônia setecentista sonhava com a independência. Bandeirantesentraram pelo sertão em busca de ouro, pedras preciosas e escravos.O surgimento de Vila Rica, a arte religiosa de Aleijadinho. Chico Rei, Chicada Silva, a Inconfidência Mineira, o sonho de Tiradentes e sua morte naforca. O barroco mineiro reconheci<strong>do</strong> pelos modernistas como precursorde uma arte nacional.Convida<strong>do</strong>s: Ana Martins e Sérgio SantosParticipações: Manu Berar<strong>do</strong>, Pedro Lagoe Samuel MacDowell, <strong>do</strong> grupo Nós <strong>do</strong> MorroLocações: Floresta da Tijuca eMuseu Histórico Nacional249


Ana MartinsFilha <strong>do</strong>s compositores Nelson Angelo e Joyce Moreno, estreou em estúdioaos 4 anos. Participou de coros infantis em discos de Milton Nascimento, EgbertoGismonti, D. Ivone Lara, Roberto Carlos, Gonzaguinha, Alcione, RobertoRibeiro, João Nogueira, entre outros, e também cantou em coros, jingles egrupos vocais. Iniciou carreira solo em 1998 e tem três CDs e 1 DVD lança<strong>do</strong>sno Japão, onde se apresenta até hoje. No Brasil, seu CD Samba Sincopa<strong>do</strong>saiu em 2005 pela Biscoito Fino. Faz parte <strong>do</strong> grupo vocal Scandallo, queatua em diversas casas <strong>do</strong> Rio de Janeiro, especialmente no Rio Scenarium,onde tem público fiel.Locações250


Músicas <strong>do</strong> programa(trechos)Desenre<strong>do</strong>(Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro)O mun<strong>do</strong> to<strong>do</strong> marca<strong>do</strong> a ferro, fogo e[desprezoA vida é o fio <strong>do</strong> tempo, a morte é o fim[<strong>do</strong> noveloO olhar que assusta anda mortoO olhar que avisa anda acesoMas quan<strong>do</strong> eu chego, eu me percoNas tramas <strong>do</strong> teu segre<strong>do</strong>Ê Minas, ê Minas, é hora de partir, eu vouVou-me embora pra bem longeA cera da vela queiman<strong>do</strong>, o homem[fazen<strong>do</strong> seu preçoA morte que a vida anda arman<strong>do</strong>, a vida[que a morte anda ten<strong>do</strong>O olhar mais fraco anda afoitoO olhar mais forte, indefesoMas quan<strong>do</strong> eu chego eu me enroscoNas cordas <strong>do</strong> teu cabeloÊ Minas, ê Minas, é hora de partir, eu vouVou-me embora pra bem longe...Romance <strong>do</strong> Aleijadinho(Antônio Nóbrega e Wilson Freire)No tempo Brasil colônia,Terra de brancos barões,Surgia um povo mestiçoJá filhos desses torrões.Desejos de pátria livreTomavam seus coraçõesDentre estes brasileirosChama<strong>do</strong>s de desgraça<strong>do</strong>s.Um filho de escrava negra,Mulato, pobre e bastar<strong>do</strong>,Virou mestre-entalha<strong>do</strong>r,Ofício o mais respeita<strong>do</strong>.Mas um dia a <strong>do</strong>ençaCom o destino combinaDestrói-lhe as mãos e os pésTo<strong>do</strong> o seu corpo em surdina.Cheio de chagas e <strong>do</strong>rPassa a cumprir sua sina.Tinha a missão de fazer,Com <strong>do</strong>is formões afia<strong>do</strong>s,Bem amarra<strong>do</strong>s aos punhos,Homens, santos, lapida<strong>do</strong>sDa pedra e da madeiraTal um filho livre gera<strong>do</strong>.<strong>Era</strong>m os santos que esculpiaMineiros inconfidentesNum apóstolo se viaAs feições de Tiradentes,Um sonha<strong>do</strong>r luminosoCom a terra independente251


Cálix Bento(Folclore mineiro, adaptaçãode Tavinho Moura)Ó Deus, salve o oratórioÓ Deus, salve o oratórioOnde Deus fez a moradaOiá, meu Deus, onde Deus fez a morada, oiáOnde mora o cálix bentoOnde mora o cálix bentoE a hóstia consagradaOiá, meu Deus, e a hóstia consagrada, oiáGalanga Chico-Rei(Sérgio Santos e Paulo César Pinheiro)Exaltação a Tiradentes(Mano Décio da Viola,Estanislau Silva e Pentea<strong>do</strong>)Joaquim José da Silva Xavier<strong>Era</strong> o nome de TiradentesFoi sacrifica<strong>do</strong> pela nossa liberdadeEste grande heróiPra sempre há de ser lembra<strong>do</strong>Beco <strong>do</strong> Mota(Milton Nascimento e Fernan<strong>do</strong> Brant)Clareira na noite, na noiteProcissão deserta, desertaNas portas da arquidiocese desse meu[paísProcissão deserta, desertaHomens e mulheres na noiteHomens e mulheres na noite desse meu[paísNessa praça não me esqueçoE onde era o novo fez-se o velhoColonial vazioNessas tardes não me esqueçoE onde era o vivo fez-se o mortoAviso pedra friaGangaO Capitão-Comandante da Guerra PretaDe MaramaraO grã-luta<strong>do</strong>r, o Rei maioral.Muzungo veio e Galanga foi no tumbeiroPro cativeiro,Deixan<strong>do</strong> o sagra<strong>do</strong> Congo para trás,Mas rei de Zâmbi-ApongoÉ rei onde chega, Obá <strong>do</strong>s ObásFoi assim, hoje eu seiQue nasceu Chico-ReiRei da África e Rei das Minas Gerais!252


Xica da Silva(Jorge Ben Jor)Xica da, Xica da, Xica daXica da Silva, a Negra!...Xica da SilvaA Negra! A Negra!De escrava a amanteMulher!Mulher <strong>do</strong> fidalgo trata<strong>do</strong>rJoão FernandesXica da, Xica da, Xica daXica da Silva, a Negra!...253


1808: <strong>Era</strong> no tempo <strong>do</strong> reiAlberto Jacob FilhoJoyce Moreno, Antonia Adnet, Clara Sandroni e Marcos SacramentoA corte portuguesa chegou ao Brasil e elevou o país a Reino Uni<strong>do</strong> a Portugale Algarves. A cidade <strong>do</strong> Rio era a sede <strong>do</strong> reino e se preparava para ficar àaltura de sua nova condição. D. João VI foi chama<strong>do</strong> de volta a Portugal. D.Pedro, príncipe regente, tornou-se impera<strong>do</strong>r e proclamou a independência<strong>do</strong> Brasil em 1822. Em 1831, abdicou <strong>do</strong> trono, e o Brasil começou a caminharrumo ao Segun<strong>do</strong> Reina<strong>do</strong>.Convida<strong>do</strong>s: Clara Sandroni e MarcosSacramentoEntrevistada: Marly Motta, pesquisa<strong>do</strong>rada Fundação Getúlio VargasLocações: Jardim Botânico e MuseuNacional de Belas Artes254


Clara SandroniFilha <strong>do</strong> jornalista Cícero Sandroni e da escritora e cantora Laura Austregésilo,ingressou no curso de Licenciatura em Música da Unirio em 1981. Sua carreiramusical começou no mesmo ano, atuan<strong>do</strong> ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> irmão, o violinista CarlosSandroni, com o grupo Terças e Quintas e com o coral Olhos nos Olhos.Em 1983, estreou no show Bem Baixinho e, em 1984, lançou seu primeiroálbum, Clara Sandroni. Seu mais recente trabalho é o CD Gota Pura, de 2010.Marcos SacramentoNasci<strong>do</strong> em Niterói em 1960, iniciou a carreira musical em 1984. Com o grupode pop rock Cão Sem Dono, lançou alguns trabalhos ao longo da década. Seuprimeiro CD solo, A Modernidade da Tradição, foi lança<strong>do</strong> em 1994, sen<strong>do</strong>reconheci<strong>do</strong> como o melhor disco brasileiro pela revista francesa Le Mondede la Musique, em 1997. Em 2009, foi lança<strong>do</strong> seu quarto álbum, Na Cabeça.Participou de vários musicais, entre eles É com Esse que Eu Vou, registra<strong>do</strong>em DVD, em 2011.LocaçõesAlberto Jacob FilhoAlberto Jacob Filho255


Músicas <strong>do</strong> programa(trechos)Bodas(Milton Nascimento e Ruy Guerra)Chegou no porto um canhãoDentro de uma canhoneira, neira, neira…Tem um capitão cala<strong>do</strong>De uma tristeza indefesa, esa, esa…Deus salve sua chegadaDeus salve a sua belezaChegou no porto um canhãoDe repente matou tu<strong>do</strong>, tu<strong>do</strong>, tu<strong>do</strong>…Capitão senta na mesaCom sua fome e tristeza, esa, esa…Deus salve sua rainhaDeus salve a bandeira inglesaO Dia em que El Rei Voltouà Terra de Santa Cruz(Sivuca e Paulinho Tapajós)Dizem que El Rei viráDas terras <strong>do</strong> além-marEm sua nau azulDizem que governaráAs terras de CabralDo Norte até o SulDizem que El Rei traráA Corte ImperialPra Terra Santa CruzDizem que a grande nauVirá de PortugalBem perto <strong>do</strong> NatalPra receber El Rei, algodão, pimenta e salPra agradar El ReiÍndios vão sair tocan<strong>do</strong> seus congásTambores e ganzásApitos, e afinal será um carnavalIsto É Bom(Xisto Bahia)Minha mulata bonitaVamos ao mun<strong>do</strong> girarVamos ver a nossa sorteQue Deus tem para nos darMinha mulata bonitaQue te deu tamanha sorteFoi o esta<strong>do</strong> de MinasOu Rio Grande <strong>do</strong> NorteMinha viola de pinhoQue eu mesmo fui o pinheiroQuem quiser ter coisa boaNão tenha dó de dinheiroCanto <strong>do</strong> Trabalho (Abertura<strong>do</strong> musical <strong>Era</strong> no Tempo <strong>do</strong> Rei)(Carlos Lyra e Aldir Blanc)A enseada tá luzin<strong>do</strong>, é Rio de Janeiro!A espingarda tá tinin<strong>do</strong> porque é fevereiroTem inglês que mete a fuça na água de[cheiroCada preto é um desespero de atazanáAlberto Jacob Filho256


A cidade compra e vende, parece um[vespeiroCada um espera a hora de aferroáÓ, o caju saboroso que tem cheiro bom[de marOstra, quem vai querê?Doce é o abacaxi, espinho de muito amôRenda branca e dendêCompra o pó perfuma<strong>do</strong>, eu ven<strong>do</strong> por[<strong>do</strong>is vintémUm colar pra suncêBanha boa, cheirosa e flô pra Iaiá tambémPatuá pra esquecêFazen<strong>do</strong> deste lugarTerra com vida e verdadeQue se abriu de par em par!Terra com vida e verdadeQue se abriu de par em par!Fa<strong>do</strong> Tropical(Chico Buarque e Ruy Guerra)Oh, musa <strong>do</strong> meu fa<strong>do</strong>Oh, minha mãe gentilTe deixo consterna<strong>do</strong>No primeiro abrilNão sejas tão ingrataNão esquece quem te amouE em tua densa mataSe perdeu e se encontrouAi, esta terra ainda vai cumprir seu idealAinda vai tornar-se um imenso PortugalSabe, no fun<strong>do</strong> eu sou um sentimentalTo<strong>do</strong>s nós herdamos no sangue lusitanouma boa <strong>do</strong>sagem de lirismoRio <strong>do</strong> Meu Amor(Billy Blanco)Senta, João(Carlos Lyra e Aldir Blanc)Riem de mim pelas costasAchan<strong>do</strong> que sou poltrãoContrarian<strong>do</strong> as apostas,Enganei Napoleão.Contrarian<strong>do</strong> as apostas,Enganei Napoleão.Amo o calor deste soloQue me acolheu no exílioO Brasil me pôs no colo,Passei de senhor a filhoAos poucos vou, sem maldade,RioDe Pedro que, primeiro, foi compositorFoi grande seresteiro, imenso impera<strong>do</strong>rAmigo <strong>do</strong> ChalaçaQue a história passa mas não diz<strong>Era</strong> o <strong>do</strong>no das francesas lá da Ouvi<strong>do</strong>rDe marquesas balançou o coraçãoDa tristeza de partir, partiu felizPor saber que inaugurou meu Rio, meu[RioComo a Capital <strong>do</strong> Amor deste paísRioDe Vasco e Botafogo, América e BanguMaracanã vibran<strong>do</strong> em dia de Fla-Flu257


Do bonde que a saudade ornamentan<strong>do</strong>[praçaDo tostão que era bom como a Lapa já foiDa boneca <strong>do</strong>urada que passa, que enganaEnfeitan<strong>do</strong> calçada de CopacabanaIpanema, Leblon e Arpoa<strong>do</strong>r1º Movimento – Lundu(Francis Hime e Geral<strong>do</strong> Carneiro)Choro de manhã, rio de noitãoQue será, será? Quem viver, verão.Sabe, morena,Essa praia chamada Ipanema?Sabe essa lua, essa cenaEssa luz de cinemaEsse eterno verão?Pois é, sabe, morena,O negócio aqui nunca foi fácilDesde a chegada de EstácioEm Primeiro de MarçoNo Cara de Cão.Sabe, morena, se existe outra vida, eu[declaro:Quero esse mesmo calor, esse mesmo[esplen<strong>do</strong>rEssa fascinaçãoQuero por felicidadeEsse mesmo cenário, só quero morrer[de paixãoQuero encarnar outra vezNa cidade de São SebastiãoHino da Independência <strong>do</strong> Brasil(D. Pedro I e Evaristo da Veiga)Já podeis da Pátria, filhosVer contente a Mãe GentilJá raiou a liberdadeNo horizonte <strong>do</strong> BrasilJá raiou a liberdadeJá raiou a liberdadeNo horizonte <strong>do</strong> BrasilBrava gente brasileiraLonge vá temor servilOu ficar a Pátria livreOu morrer pelo BrasilOu ficar a Pátria livreOu morrer pelo BrasilLeão <strong>do</strong> Norte(Lenine e Paulo César Pinheiro)Sou o coração <strong>do</strong> folclore nordestinoEu sou Mateus e Bastião <strong>do</strong> Boi BumbáSou o boneco <strong>do</strong> Mestre VitalinoDançan<strong>do</strong> uma ciranda em ItamaracáEu sou um verso de Carlos Pena FilhoNum frevo de CapibaAo som da orquestra armorialSou CapibaribeNum livro de João CabralSou mamulengo de São Bento <strong>do</strong> UnaVin<strong>do</strong> no baque solto de MaracatuEu sou um auto de Ariano SuassunaNo meio da Feira de CaruaruSou Frei Caneca <strong>do</strong> Pastoril <strong>do</strong> FacetaLevan<strong>do</strong> a flor da liraPra Nova Jerusalém258


1808: O Segun<strong>do</strong> Reina<strong>do</strong>Alberto Jacob FilhoJoyce MorenoAté que D. Pedro II completasse 14 anos, o Brasil foi governa<strong>do</strong> por regentes.Revoltas explodiram de Norte a Sul <strong>do</strong> país. D. Pedro II assumiu comoimpera<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Brasil. O café, nosso maior produto de exportação. O impera<strong>do</strong>rque amava as artes e as ciências. A Guerra <strong>do</strong> Paraguai, a Abolição daEscravatura e o fim <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> imperial.Convida<strong>do</strong>s: Clara Sandroni e MarcosSacramentoEntrevistada: Marly Motta, pesquisa<strong>do</strong>rada Fundação Getúlio VargasLocações: Real Gabinete Portuguêsde Leitura e Outeiro da Glória259


LocaçõesAlberto Jacob FilhoAlberto Jacob FilhoMúsicas <strong>do</strong> programa(trechos)Do eu mais profun<strong>do</strong>De toda a pessoaPessoa de to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>Saudades <strong>do</strong> Brasil em Portugal(Vinicius de Moraes)Alberto Jacob FilhoAusência tão cruelSaudade tão fatalSaudades <strong>do</strong> Brasil em PortugalMeu bem, sempre que ouvires um lamentoCrescer desola<strong>do</strong>r na voz <strong>do</strong> ventoSou eu em solidão pensan<strong>do</strong> em tiChoran<strong>do</strong> to<strong>do</strong> o tempo que perdiArgonauta Vadio(Perna Fróes)O meu coração é um argonauta vadioTantas vezes <strong>do</strong>ce, às vezes dócilÀs vezes vilTanta emoção, tanta paixãoQue em todas as paredes confessoO que vem de mimQuem Sabe? (Tão Longe de Mim Distante)(Carlos Gomes e Bittencourt Sampaio)Tão longeDe mim distanteOnde iráOnde irá teu pensamentoQuisera saber agoraSe esqueceste, se esqueceste o juramento260


Quem sabe se és constanteSe ainda é meuTeu pensamentoMinha alma toda devoraDa saudade, agro tormentoViven<strong>do</strong> de ti ausenteAi, meu DeusAi, meu DeusQue amargo prantoSuspiros, angústias, <strong>do</strong>resSão as vozes, são as vozesSão as vozes <strong>do</strong> meu cantoBrazil com S(Rita Lee e Roberto de Carvalho)Quan<strong>do</strong> Cabral descobriu no Brasil o[caminho das ÍndiasFalou ao Pero Vaz para Caminha escrever[para o reiQue terra linda assim não háCom tico-ticos no fubáQuem te conhece não esqueceMeu Brasil é com SO caça<strong>do</strong>r de esmeraldas achou uma mina[de ouroCaramuru deu chabu e casou com a filha[<strong>do</strong> PajéTerra de encanto, amor e solNão fala inglês nem espanholQuem te conhece não esqueceMeu Brasil é com SForrobodó(Chico Buarque e Edu Lobo,para o filme O Xangô de Baker Street)Forrobodó é folgue<strong>do</strong>De reisForrobodó de preto forroTem o forrobodó na praia, iaiáTem o forrobodó no morroForrobodó de Dom PedroÉ que nemForrobodó <strong>do</strong> seu lacaio, ioiôFaz rebolar até um posteNão há quem não gosteDo forrobodóForrobodó para o inglêsPode serFor everybody, e não falseiaQuem saboreia se enamoraMas não leva emboraMeu forrobodóGuararapes(Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro)Vamos saber se contaram nossa história[certoVamos rever o que existe de nosso passa<strong>do</strong>Devemos conhecer nossos heróis de pertoTentan<strong>do</strong> consertar o que aprendeu-se erra<strong>do</strong>.Quem foi o herói que libertou o homemFoi quem lutou para não passar mais fomeQuem foi o herói que libertou o homemFoi quem lutou para não passar mais fome261


A Valsa(Joyce Moreno e Casimiro de Abreu)Quem deraQue sintasAs <strong>do</strong>resDe amoresQue loucoSenti!Quem deraQue sintas!...– Não negues,Não mintas...Eu vi!Tu, ontem,Na dançaQue cansa,VoavasCo’as facesEm rosasFormosasDe vivo,LascivoCarmim;Na valsaTão falsa,Corrias,Fugias,Ardente,Contente,Tranquila,Serena,Sem penaDe mim!Flor Amorosa(Antônio da Silva Cala<strong>do</strong>e Catulo da Paixão Cearense)Flor amorosa, compassiva, sensitiva, vemPorqueOh, uma rosa orgulhosa, presunçosa, tão[vai<strong>do</strong>saPois olha a rosa tem prazer em ser[beijada, é florÉ florOh, dei-te um beijo, mas per<strong>do</strong>a, foi à toa,[meu amorEm uma taça perfumada de coralUm beijo darNão vejo malÉ um sinal de que por ti me apaixoneiTalvez em sonhos foi que te beijeiSe ontem beijavas um jasmim <strong>do</strong> teu[jardimA mim, a mimOh, por que juras mil torturasMil agruras, por que juras?Meu coração delito algum por te beijar[não vêNão vêOh, por um beijo, um gracejo, tanto pejoMas por quê?O Poeta e a Maestrina(Chiquinha Gonzaga e Joyce Moreno)Toda branquinha feito um bicho de[goiabaAssim madura, saborosa e refinadaEla brilhava, ela tocavaCoisas bonitas com seu piano de salão.262


Assim foi vista por um tal jovem poetaCuja indiscreta inclinação pelas pequenasNão escolhia se eram louras ou morenasOu se eram frutas fora da estaçãoRepare a dança da madura maestrinaCom o poeta a<strong>do</strong>lescente pelo braço:Quanto cansaço, que feminina,Que adrenalina, que sensação entre os[casais!Se não se deu, bem que podia ter-se[da<strong>do</strong>E a parceria bem seria merecidaQuan<strong>do</strong> Chiquinha, que gozava tanto a[vida,Dançasse com Vinicius de MoraesPerfume(Chiquinha Gonzaga e Joyce Moreno)Vida, valsa, vibraçãoVelas ao vento, tempo, tentaçãoQuem descobrirá, quem compreenderáO perfume da ilusão?Uma cisma, um verso, uma cançãoUm realejo, um beijo, uma emoçãoUm desejo, um sonhoUm momento, um vinho, uma sensação.Amigo, a vida é perfumeQue paira pelo arUma impressão <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>sQue em vão tentamos alcançarPassa e exala belezaCertezas e sinaisÀ noite, quan<strong>do</strong> escureceDesaparece e não se reconhece maisOs Cinco Bailes da História <strong>do</strong> Rio(Silas de Oliveira, Ivone Lara e Bacalhau)No esplen<strong>do</strong>r da alegriaA burguesiaFez sua aclamaçãoVibran<strong>do</strong> de emoçãoQue luxo, a riquezaImperou com imponênciaA beleza fez presençaCondecoran<strong>do</strong> a independênciaAo erguer a minha taçaCom euforiaBrindei aquela linda valsaJá no amanhecer <strong>do</strong> diaA suntuosidade me acenavaE alegremente sorriaAlgo acontecia<strong>Era</strong> o fim da monarquiaAlberto Jacob Filho263


1889: Nasce a República –A alma encanta<strong>do</strong>ra das ruasAlberto Jacob FilhoJoyce Moreno, Antonia Adnet e Pedro Paulo MaltaO Brasil teve sua República proclamada, sob o <strong>do</strong>mínio das oligarquias.Revoltas se sucederam por to<strong>do</strong> o país. Chiquinha Gonzaga desafiou asconvenções e levou a folia até o Palácio <strong>do</strong> Catete. Nas ciências, destaquepara o sanitarista Oswal<strong>do</strong> Cruz. A Revolta da Vacina. Do entru<strong>do</strong> aos bailesde máscaras, surgiu o carnaval <strong>do</strong> Rio. Demolições deram passagem aoprogresso. O ciclo da borracha.Convida<strong>do</strong>s: Pedro Paulo Malta e Ana MartinsLocações: Arquivo Nacional, Escola deMúsica da UFRJ e Centro Cultural Casarãode Austregésilo de Athayde264


Pedro Paulo MaltaCantor, pesquisa<strong>do</strong>r e jornalista, começou na música em 1996 nas rodas desamba <strong>do</strong> botequim Bip Bip, em Copacabana. De 2003 a 2005, apresentou-seno Café Musical Carioca da Gema. Em 2004, lançou o CD Dois Bicu<strong>do</strong>s, comAlfre<strong>do</strong> Del-Penho, começan<strong>do</strong> uma parceria que permanece. Participou <strong>do</strong>musical Sassarican<strong>do</strong>, foi coordena<strong>do</strong>r de música popular da Funarte, entre2003 e 2007. É consultor <strong>do</strong> projeto Novo Museu da Imagem e <strong>do</strong> Som.LocaçõesAlberto Jacob FilhoAlberto Jacob FilhoMúsicas <strong>do</strong> programa(trechos)Hino da Bandeira(Francisco Braga e Olavo Bilac)Salve, lin<strong>do</strong> pendão da esperança,Salve, símbolo augusto da paz!Tua nobre presença à lembrançaA grandeza da Pátria nos traz.Recebe o afeto que se encerraEm nosso peito juvenil,Queri<strong>do</strong> símbolo da terra,Da amada terra <strong>do</strong> Brasil!Luar <strong>do</strong> Sertão(Catulo da Paixão Cearense e JoãoPernambuco)Oh que saudade <strong>do</strong> luar da minha terraLá na serra branquejan<strong>do</strong>Folhas secas pelo chãoEsse luar cá da cidade tão escuroNão tem aquela saudadeDo luar lá <strong>do</strong> sertãoNão há, ó gente, oh nãoLuar como este <strong>do</strong> sertão (bis)Se a lua nasce por detrás da verde mataMais parece um sol de prata pratean<strong>do</strong> a[solidão265


A gente pega na viola que ponteiaE a canção e a lua cheiaA nos nascer <strong>do</strong> coraçãoNão há, ó gente, oh nãoLuar como este <strong>do</strong> sertão (bis)Lundu(Domínio público)Eu vivo triste como um sapo na lagoaE an<strong>do</strong> sempre pelas matas escondi<strong>do</strong>Vou largar essa maldita serenataPara ver se endireito a minha vidaEu só tenho um terno no baúE assim mesmo to<strong>do</strong> cheio de bolorAté os pratos que eu tinha na cozinhaOs Sertões(Edeor de Paula)Sertanejo é forteSupera miséria sem fimSertanejo homem forteDizia o poeta assim (bis)Foi no século passa<strong>do</strong>No interior da BahiaO homem revolta<strong>do</strong> com a sorteDo mun<strong>do</strong> em que viviaAlberto Jacob FilhoOcultou-se no sertãoEspalhan<strong>do</strong> a rebeldiaSe revoltan<strong>do</strong> contra a leiQue a sociedade ofereciaOs jagunços lutaramAté o finalDefenden<strong>do</strong> Canu<strong>do</strong>sNaquela guerra fatal (bis)Guerra <strong>do</strong> Contesta<strong>do</strong>(Grupo Os Guris: Rogerio Joee Pedro L. de Souza)Também tivemos imbuia, dez metros de[circunferênciaDerruba<strong>do</strong> em alguns minutos, com mil[anos de existênciaDepois que a estrada de ferro atravessou[nosso esta<strong>do</strong>Oito mil trabalha<strong>do</strong>res ficaram[desemprega<strong>do</strong>sTaquarucú caraguatá, São Pedro Santa[MariaVilarejo onde os rebeldes fizeram seu dia[a diaUm movimento sertanejo, assim ele foi[chama<strong>do</strong>Esta é uma versão da Guerra <strong>do</strong>[Contesta<strong>do</strong> (bis)Cidadão(Lucio Barbosa)Tá ven<strong>do</strong> aquela igreja, moço?Onde o padre diz amémPus o sino e o badaloEnchi minha mão de caloLá eu trabalhei tambémLá sim valeu a penaTem quermesse, tem novena266


E o padre me deixa entrarFoi lá que Cristo me disseRapaz, deixe de toliceNão se deixe amedrontarFui eu quem criou a terraEnchi o rio, fiz a serraNão deixei nada faltarHoje o homem criou asasE na maioria das casasEu também não posso entrarSalve o navegante negroQue tem por monumento as pedras[pisadas <strong>do</strong> caisMas faz muito tempoÔ Abre Alas(Chiquinha Gonzaga)Ô Abre Alas,Que eu quero passarÔ Abre Alas,Que eu quero passarEu sou da lira,Não posso negarNão Quero Saber Mais Dela(Sinhô)O Mestre-Sala <strong>do</strong>s Mares(João Bosco e Aldir Blanc)Há muito tempo nas águas da GuanabaraO dragão <strong>do</strong> mar reapareceuNa figura de um bravo feiticeiroA quem a história não esqueceuConheci<strong>do</strong> como o navegante negroTinha a dignidade de um mestre-salaGlória a todas as lutas inglóriasQue através da nossa história não[esquecemos jamaisSalve o navegante negroQue tem por monumento as pedras[pisadas <strong>do</strong> caisMas salvePor que foi que tu deixasteNossa casa na favelaNão quero saber mais delaNão quero saber mais delaA casa que eu te deiTem uma porta e uma janelaTambém não quero saber mais delaTambém não quero saber mais delaPositivismo(Noel Rosa e Orestes Barbosa)A verdade, meu amor, mora num poçoÉ Pilatos lá na Bíblia quem nos dizE também faleceu por ter pescoçoO infeliz autor da guilhotina de ParisVai, orgulhosa, queridaMas aceita esta lição:No câmbio incerto da vidaA libra sempre é o coração267


1889: Nasce a República –Do samba ao modernismoAlberto Jacob FilhoPedro Paulo Malta, Antonia Adnet, Ana Martins e Joyce MorenoO poder estadual comandava. Os 18 <strong>do</strong> Forte: tenentes queriam um novoBrasil. A cidade <strong>do</strong> Rio de Janeiro cresceu, foi urbanizada e viveu sua BelleÉpoque. A Coluna Prestes percorreu o interior <strong>do</strong> país. Na música, Nazareth,Pixinguinha, João da Baiana, Donga e Sinhô. Em São Paulo, a Semana deArte de 22. O fim da República Velha.Convida<strong>do</strong>s: Pedro Paulo Malta e Ana MartinsLocações: Arquivo Nacional, Escola de Músicada UFRJ e Centro Cultural Casarão deAustregésilo de Athayde268


LocaçõesAlberto Jacob FilhoAlberto Jacob FilhoMúsicas <strong>do</strong> programa(trechos)Odeon(Ernesto Nazareth e Vinicius de Moraes)Ai, quem me deraO meu chorinhoTanto tempo aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>E a melancolia que eu sentiaQuan<strong>do</strong> ouviaEle fazer tanto chorarAi, nem me lembroHá tanto, tantoTo<strong>do</strong> o encantoDe um passa<strong>do</strong>Que era lin<strong>do</strong><strong>Era</strong> triste, era bomIgualzinho a um chorinhoChama<strong>do</strong> OdeonChorinho antigo, chorinho amigoEu até hoje ainda percebo essa ilusãoEssa saudade que vai comigoE até parece aquela preceQue sai só <strong>do</strong> coraçãoSe eu pudesse recordarE ser criançaSe eu pudesse renovarMinha esperançaSe eu pudesse me lembrarComo se dançaEsse chorinhoQue hoje em diaNinguém sabe mais269


Yaô(Pixinguinha e Gastão Viana)Há uma festa de yaô (bis)Ôi tem nêga de OgumDe Oxalá, de IemanjáMucama de Oxóssi é caça<strong>do</strong>rOra viva NanãNanã burukô (bis)Yô yôoYô yôooNo terreiro de preto velho iaiáVamos saravá (a quem meu pai?)Xangô!Batuque na Cozinha(João da Baiana)Não moro em casa de cômo<strong>do</strong>Não é por ter me<strong>do</strong> nãoNa cozinha muita genteSempre dá em alteraçãoMas o batuque na cozinha sinhá não querPor causa <strong>do</strong> batuque eu queimei meu péMas, Seu comissário, estou com a razãoEu não moro na casa de habitaçãoEu fui apanhar meu violão,Que tava empenha<strong>do</strong> com SalomãoCarinhoso(Pixinguinha e João de Barro)Meu coração, não sei por queBate feliz quan<strong>do</strong> te vêE os meus olhos ficam sorrin<strong>do</strong>E pelas ruas vão te seguin<strong>do</strong>Mas mesmo assimFoges de mimVem, vem, vem, vemVem sentir o calor <strong>do</strong>s lábios meus à[procura <strong>do</strong>s teusVem matar essa paixão que me devora o[coraçãoE só assim então serei felizBem felizJura(Sinhô)Jura, jura, jura pelo SenhorJura pela imagem da Santa Cruz <strong>do</strong>[RedentorPra ter valor a tua juraJura, jura, jura de coraçãoPara que um dia eu possa dar-te o meu[amorSem mais pensar na ilusãoAlberto Jacob Filho270


Do alto da serraE a fonte a cantáChuá, chuáE as “água” a corrêChuê, chuêO Trenzinho <strong>do</strong> Caipira(Heitor Villa-Lobos e Ferreira Gullar)Lá vai o trem com o meninoLá vai a vida a rodarLá vai ciranda e destinoCidade noite a girarLá vai o trem sem destinoPro dia novo encontrarCorren<strong>do</strong> vai pela terraChuá Chuá(Pedro de Sá Pereira e Ari Pavão)Deixa a cidade, formosa morenaLinda pequenaE volta ao sertãoBeber a águaDa fonte que cantaQue se levantaDo meio <strong>do</strong> chãoSe tu nasceste cabocla cheirosaCheiran<strong>do</strong> a rosaDo peito da terraVolta pra vida serena da roçaDaquela palhoçaEspingarda (Jararaca)(Letra extraída <strong>do</strong> livro Música Caipira –Da Roça ao Rodeio, de Rosa Nepomuceno)EspingardaPá pá pá páFaca de pontaTá tá tá tá (bis)Jacarecica, Ponta Verde e Mato GrossoLevada, Cambona e PoçoBebe<strong>do</strong>uro, JaraguáCoqueiro Seco <strong>do</strong> outro la<strong>do</strong> da lagoaSe atravessa na canoaCamarão é no PiláFaca de pontaEspingarda e carabinaMinha faca já tá finaSó de tanto eu amoláMinha espingardaQuan<strong>do</strong> tá azuretadaVai sozinha pra caçadaE vorta sem dispararAlberto Jacob Filho271


Se Você Jurar(Ismael Silva e Nilton Bastos)Gosto que Me Enrosco(Heitor <strong>do</strong>s Prazeres e Sinhô)Gosto que me enrosco de ouvir dizerQue a parte mais fraca é a mulherMas o homem, com toda a fortalezaDesce da nobreza e faz o que ela querDizem que a mulher é a parte fracaNisto é que eu não posso acreditarEntre beijos e abraços e carinhosO homem não ten<strong>do</strong> é bem capaz de[roubarSe você jurar que me tem amorEu posso me regenerarMas se é para fingir, mulherA orgia assim não vou deixarA minha vida é boaNão tenho em que pensarPor uma coisa à toaNão vou me regenerarO que eu posso fazerÉ se você jurarArriscar a perderOu desta vez então ganhar272


<strong>Era</strong> Vargas 1 – A <strong>Era</strong> <strong>do</strong> RádioAlberto Jacob FilhoAlfre<strong>do</strong> Del-Penho, Antonia Adnet e Joyce MorenoO Rio de Janeiro, então capital federal, entrou em obras e se transformoupara viver novos tempos. O Brasil começou a navegar nas ondas <strong>do</strong> rádio.O governo popular e populista de Getúlio Vargas. A Revolução de 30.O dita<strong>do</strong>r descobriu o poder <strong>do</strong> rádio. No ar, a Hora <strong>do</strong> Brasil. O Esta<strong>do</strong> Novoe o controle social da comunicação e da cultura. O samba “malandro”.Convida<strong>do</strong>: Alfre<strong>do</strong> Del-PenhoEntrevista<strong>do</strong>: Hermínio Bello de CarvalhoDepoimento: Luiz Carlos Saroldi(entrevista dirigida por Luiz Eduar<strong>do</strong>Monteiro para o <strong>do</strong>cumentárioComo Você Ouve o Mun<strong>do</strong>? e cedidaà série No Compasso da História)Locação: Museu da República273


Alfre<strong>do</strong> Del-PenhoCantor, violonista, ator, pesquisa<strong>do</strong>r e compositor, fez parte <strong>do</strong> grupo Unhade Gato até 2002. O primeiro CD, Dois Bicu<strong>do</strong>s, com Pedro Paulo Malta, foiescolhi<strong>do</strong> como um <strong>do</strong>s álbuns <strong>do</strong> ano pelo jornal O Globo e indica<strong>do</strong> ao prêmioTIM na categoria de melhor disco de samba em 2005. Integrou o musicalSassarican<strong>do</strong>, participou de programas musicais na televisão e produziu oprimeiro disco solo de Soraya Ravenle. Atuou no musical É com Esse que EuVou e é consultor <strong>do</strong> projeto Novo Museu da Imagem e <strong>do</strong> Som.LocaçõesMúsicas <strong>do</strong> programa(trechos)Cantoras <strong>do</strong> Rádio(Alberto Ribeiro, Braguinhae Lamartine Babo)Nós somos as cantoras <strong>do</strong> rádio, levamos[a vida a cantarDe noite embalamos teu sono, de manhã[nós vamos te acordarNós somos as cantoras <strong>do</strong> rádio,274


Nossas canções cruzan<strong>do</strong> o espaço azulVão reunin<strong>do</strong> num grande abraço[corações de Norte a SulCanto pelos espaços aforaVou semean<strong>do</strong> cantigas, dan<strong>do</strong> alegria a[quem chora(bum, bum, bum, bum, bum)Canto, pois sei que a minha cançãoVai dissipar a tristeza que mora no teu[coraçãoDr. Getúlio(Edu Lobo e Chico Buarque)Foi o chefe mais ama<strong>do</strong> da naçãoDesde o sucesso da revoluçãoLideran<strong>do</strong> os liberaisFoi o pai <strong>do</strong>s mais humildes brasileirosLutan<strong>do</strong> contra grupos financeirosE altos interesses internacionaisDeu início a um tempo de transformaçõesGuia<strong>do</strong> pelo anseio de justiçaE de liberdade socialE depois de compeli<strong>do</strong> a se afastarVoltou pelos braços <strong>do</strong> povoEm campanha triunfalAbram alas que Gegê vai passarOlha a evolução da históriaAbram alas pra Gegê desfilarNa memória popularFeitiço da Vila(Noel Rosa e Vadico)Quem nasce lá na VilaNem sequer vacilaAo abraçar o sambaQue faz dançar os galhosDo arvore<strong>do</strong> e faz a luaNascer mais ce<strong>do</strong>.Lá em Vila IsabelQuem é bacharelNão tem me<strong>do</strong> de bamba.São Paulo dá café,Minas dá leiteE a Vila Isabel dá sambaO Bonde de São Januário(Wilson Batista e Ataulfo Alves)Quem trabalhaÉ quem tem razãoEu digoE não tenho me<strong>do</strong>275


De errarQuem trabalha...O Bonde São JanuárioLeva mais um operárioSou euQue vou trabalharO Bonde São Januário...Acertei no Milhar(Wilson Batista e Geral<strong>do</strong> Pereira)Etelvina, minha filha!– Que há, Jorginho?– Acertei no milharGanhei 500 contosNão vou mais trabalharE me dê toda a roupa velha aos pobresE a mobília podemos quebrarIsto é pra jáPasse pra cáEtelvinaVai ter outra lua de melVocê vai ser madameVai morar num grande hotelEu vou comprar um nome não sei ondeDe marquês, Dom Jorge Veiga, de ViscondeA Volta <strong>do</strong> Malandro(Chico Buarque)Eis o malandro na praça outra vezCaminhan<strong>do</strong> na ponta <strong>do</strong>s pésComo quem pisa nos coraçõesQue rolaram nos cabarésEntre deusas e bofetõesEntre da<strong>do</strong>s e coronéisEntre parangolés e patrõesO malandro anda assim de viés276


<strong>Era</strong> Vargas 2 – A políticada boa vizinhançaAlberto Jacob FilhoJoyce Moreno, Soraya Ravenle e Antonia AdnetA Segunda Grande Guerra e o sucesso de Carmen Miranda. O intercâmbiocultural entre Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s e América Latina a fim de manter a liderançaeconômica e política norte-americana frente à influência europeia.Villa-Lobos, o gênio que trafegou <strong>do</strong> erudito ao popular. O Brasil declarouguerra ao Eixo. Com a vitória <strong>do</strong>s Alia<strong>do</strong>s lá, aqui chegava ao fim a<strong>Era</strong> Vargas. Dutra assumiu o poder, fechou os cassinos e encerrou umperío<strong>do</strong> de ouro da vida noturna no país. O baião conquistou o mun<strong>do</strong>.Convidada: Soraya RavenleLocações: Museu Aeroespaciale bairro da Urca277


Soraya RavenleFilha de poloneses e irmã da também cantora Ithamara Koorax, estu<strong>do</strong>u músicae piano ainda na infância. Fez parte <strong>do</strong> grupo Arranco de Varsóvia, como qual gravou <strong>do</strong>is álbuns. Atuou em shows e musicais, como cantora e atriz,entre eles A Mulher sem Peca<strong>do</strong>, Sla 2 – Be a Sample, Dolores (pelo qual foicontemplada com o Prêmio Shell de melhor atriz), Divina, 80 Anos de Elizeth,South American Way, A Ópera <strong>do</strong> Malandro, Opereta Carioca, <strong>Era</strong> no Tempo<strong>do</strong> Rei, É com Esse que Eu Vou, etc. Fez novelas na TV Globo e gravou, recentemente,o CD Arco <strong>do</strong> Tempo, com músicas de Paulo César Pinheiro.Locações278


Músicas no programa(trechos)Vou-me embora choran<strong>do</strong>Com meu coração sorrin<strong>do</strong>E vou deixar to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>Valorizan<strong>do</strong> a batucadaE <strong>do</strong> meu grande amorSempre me despedi samban<strong>do</strong>Mas da batucada agora me despeço[choran<strong>do</strong>Guar<strong>do</strong> no lenço esta lágrima sentidaAdeus, batucadaAdeus, batucada queridaO que É que a Baiana Tem?(Dorival Caymmi)O que é que a baiana tem?O que é que a baiana tem?Tem torço de seda, tem!Tem brincos de ouro, tem!Corrente de ouro, tem!Tem pano da costa, tem!Sandália enfeitada, tem!Tem graça como ninguémComo ela requebra bem!Um rosário de ouro, uma bolota assimQuem não tem balagandãs não vai no[Bonfim(Oi, não vai no Bonfim)(Oi, não vai no Bonfim)Adeus, Batucada(Synval Silva)Adeus, adeusMeu pandeiro <strong>do</strong> sambaTamborim de bambaJá é de madrugadaDisseram que Voltei Americanizada(Luiz Peixoto e Vicente Paiva)Me disseram que eu voltei americanizadaCom o burro <strong>do</strong> dinheiroQue estou muito ricaQue não suporto mais o breque <strong>do</strong>[pandeiroE fico arrepiada ouvin<strong>do</strong> uma cuícaDisseram que com as mãosEstou preocupadaE corre por aíQue eu sei certo zum zum.Que já não tenho molho, ritmo, nem nadaE <strong>do</strong>s balangandãs já nem existe mais[nenhum279


Mas pra cima de mim, pra que tanto[veneno?Enquanto houver BrasilNa hora das comidasEu sou <strong>do</strong> camarão ensopadinho com chuchuBaião(Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira)Eu vou mostrar pra vocêsComo se dança o baiãoE quem quiser aprenderÉ favor prestar atençãoMorena chegue pra cá,Bem junto ao meu coraçãoAgora é só me seguirPois eu vou dançar o baiãoEu já cantei no ParáToquei sanfona em BelémCantei lá no CearáE sei o que me convémPor isso, eu quero afirmarCom toda convicçãoQue sou <strong>do</strong>i<strong>do</strong> pelo baiãoQuem Me Vê Sorrin<strong>do</strong>(Cartola e Carlos Cachaça)Quem me vê sorrin<strong>do</strong>Pensa que estou alegreO meu sorrisoÉ por consolaçãoPorque sei conterPara ninguém verO pranto <strong>do</strong> meu coraçãoPraça Onze(Herivelto Martins e Grande Otelo)Vão acabar com a Praça OnzeNão vai haver mais escola de samba,[não vaiChora o tamborimChora o morro inteiroFavela, SalgueiroMangueira, Estação PrimeiraGuardai os vossos pandeiros, guardaiPorque a escola de samba não saiAdeus, América(Harol<strong>do</strong> Barbosa e Geral<strong>do</strong> Jacques)Não posso mais, ai que saudade <strong>do</strong> BrasilAi que vontade que eu tenho de voltarAdeus, América, essa terra é muito boaMas não posso ficar porqueO samba man<strong>do</strong>u me chamarO samba man<strong>do</strong>u me chamar280


Anos 50 – De Getúlio a JKAlberto Jacob FilhoJoyce Moreno, Antonia Adnet e Paula SantoroVargas voltou ao poder. Brasil perdeu a Copa <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong> no Maracanã em1950. O atenta<strong>do</strong> contra Carlos Lacerda. A crise no governo e o suicídio deVargas em 1954. O plano de metas e a construção de Brasília com JuscelinoKubitschek, o presidente bossa-nova. Do samba-canção à nova batida noviolão de João Gilberto. A era da TV. Os deuses <strong>do</strong> futebol: Pelé e Garrincha.Um novo rumo para o cinema brasileiro. O alto preço <strong>do</strong>s anos JK.Convidada: Paula SantoroLocações: Museu de Arte Moderna <strong>do</strong>Rio de Janeiro e Museu da República281


Paula SantoroAos 10 anos, ganhou um violão e, aos 12, já estava no palco, cantan<strong>do</strong> cançõespróprias. Começou a carreira no grupo Nós & Voz, com o qual gravou oLP HUM. Estreou como atriz no musical Mulheres de Holanda, ten<strong>do</strong> atua<strong>do</strong>na minissérie Chiquinha Gonzaga, da TV Globo. Participou de CDs de outrosartistas, apresentou-se em festivais de jazz em to<strong>do</strong> o Brasil, cantou e fezprogramas de rádio e televisão no exterior. Em 2005, lançou seu primeiro CDsolo, Paula Santoro.Locações282


Músicas <strong>do</strong> programa(trechos)Molambo(Jayme Tomás Florence e Augusto Mesquita)Eu sei que vocês vão dizerQue é tu<strong>do</strong> mentiraQue não pode serE que depois de tu<strong>do</strong>Que ele me fezEu jamais deveria aceitá-lo outra vezBem sei que assim proceden<strong>do</strong>Me exponho ao desprezo de to<strong>do</strong>s vocêsLamento, mas fiquem saben<strong>do</strong>Que ele voltou e comigo ficouFicou pra matar a saudadeA tremenda saudadeQue não me deixouAmores eu seiNa vida eu achei e perdiMas nunca a ninguém desejeiComo desejo a tiSe To<strong>do</strong>s Fossem Iguais a Você(Tom Jobim e Vinicius de Moraes)Se to<strong>do</strong>s fossem iguais a vocêQue maravilha viverUma canção pelo ar,Uma cidade a cantar,Uma mulher a cantarA sorrir, a pedir, a cantarA beleza de amarComo o sol,Como a flor,Como a luzAmar sem mentir,Nem sofrerAlguém como Tu(José Maria de Abreu e Jair Amorim)Alguém como tuAssim como tuEu preciso encontrarAlguém sempre meuDe olhar como o teuQue me faça sonharAlberto Jacob FilhoSau<strong>do</strong>sa Maloca(A<strong>do</strong>niran Barbosa)Si o senhor não está lembra<strong>do</strong>Dá licença de contáQue aqui aonde agora estáEsse edifício arto<strong>Era</strong> uma casa veiaUm palacete assombrada<strong>do</strong>Foi aqui, seu moçoQue eu, Mato Grosso e o JocaConstruímos nossa malocaMais, um diaNóis nem pode se alembráVeio os homi cas ferramentasO <strong>do</strong>no mandô derrubáMato Grosso quis gritáMas em cima eu falei:Os homis tá ca razão283


Nós arranja outro lugarSó se conformemo quan<strong>do</strong> o Joca falou:“Deus dá o frio conforme o cobertor”E hoje nóis pega a paia nas grama <strong>do</strong>[jardimE pra esquecê nóis cantemos assim:Sau<strong>do</strong>sa maloca, maloca querida,Dim dim <strong>do</strong>nde nóis passemos os dias[feliz de nossas vidasSau<strong>do</strong>sa maloca, maloca querida,Dim dim <strong>do</strong>nde nóis passemo os dias feliz[de nossas vidasConceição(Jair Amorim e Dunga)ConceiçãoEu me lembro muito bemVivia no morro a sonharCom coisas que o morro não temFoi entãoQue lá em cima apareceuAlguém que lhe disse a sorrirQue, descen<strong>do</strong> à cidade, ela iria subirNão Vou pra Brasília(Billy Blanco)Não vou, não vou pra BrasíliaNem eu nem minha famíliaMesmo que sejaPra ficar cheio da granaA vida não se comparaMesmo difícil, tão caraEu caio duroMas fico em CopacabanaCopacabana(João de Barro e Alberto Ribeiro)Alberto Jacob FilhoCopacabana, princesinha <strong>do</strong> marPelas manhãs tu és a vida a cantarE à tardinha o sol poenteDeixa sempre uma saudade na genteCopacabana, o mar eterno cantorAo te beijar ficou perdi<strong>do</strong> de amorE hoje vive a murmurarSó a ti, Copacabana, eu hei de amar284


Estrada <strong>do</strong> Sol(Dolores Duran e Tom Jobim)É de manhãVem o solMas os pingos da chuvaQue ontem caíramAinda estão a brilharAinda estão a dançarAo vento alegreQue me traz esta cançãoChega de Saudade(Tom Jobim e Vinicius de Moraes)Vai, minha tristezaE diz a ela que sem ela não pode serDiz-lhe, numa preceQue ela regresse porque eu não posso[mais sofrerChega de saudadeA realidade é que sem ela não há paz,[não há belezaÉ só tristeza e a melancoliaQue não sai de mim, não sai de mim,[não saiDentro <strong>do</strong>s meus braçosOs abraços hão de ser milhões de abraçosAperta<strong>do</strong> assim, cola<strong>do</strong> assim, cala<strong>do</strong>[assimAbraços e beijinhos, e carinhos sem ter fimQue é pra acabar com esse negócio de[você viver sem mim.Não quero mais esse negócio de você[longe de mimA Taça <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong> É Nossa(Maugeri, Müller, Sobrinho e Dagô)A taça <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> é nossaCom brasileiro, não há quem possaEêta esquadrão de ouroÉ bom no samba, é bom no couro (bis)285


É sol, é sal, é sulAlberto Jacob FilhoCris Delanno, Antonia Adnet e Joyce MorenoNiemeyer e Lucio Costa construíram Brasília, uma das cidades mais modernas<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Tom Jobim, Vinicius de Moraes e João Gilberto formaram a“santíssima trindade” da nova música brasileira. O rock americano invadiuas festas jovens. Jânio Quadros, presidente por pouco tempo. A bossa novaconquistou o mun<strong>do</strong>. Jango e a luta para assumir a presidência. O Brasilfoi bicampeão mundial na Copa <strong>do</strong> Chile. O Beco das Garrafas, o endereçoda bossa. Os últimos dias de Jango. O golpe de 1964.Convidada: Cris DelannoEntrevista<strong>do</strong>s: Carlos Lyra,Nelson Motta e Roberto MenescalLocações: Forte de Copacabana,praias de Copacabana e <strong>do</strong>Arpoa<strong>do</strong>r286


Cris DelannoNativa <strong>do</strong> Texas, aos 5 anos era solista no Coral Infantil <strong>do</strong> Theatro Municipal(RJ). Estu<strong>do</strong>u balé, flauta, piano e teoria musical. Cantou em casas noturnas,fez bailes e gravação de jingles publicitários. Foi solista <strong>do</strong> coral tipicamentenegro African American Unity Choir, interpretou Nara Leão em Nara, uma SenhoraOpinião e dali foi convidada para a novela Filhas da Mãe, na TV Globo.Participou <strong>do</strong> <strong>do</strong>cumentário Coisa Mais Linda, fez turnês no Brasil e no exterior,ten<strong>do</strong> CDs também lança<strong>do</strong>s no Japão.Locações287


Músicas <strong>do</strong> programa(trechos)Ela É Carioca(Tom Jobim e Vinicius de Moraes)Ela é cariocaEla é cariocaBasta o jeitinho dela andarNem ninguém tem carinho assim para darEu vejo na cor <strong>do</strong>s seus olhosAs noites <strong>do</strong> Rio ao luarSó sei que sou louco por elaE pra mim ela é linda demaisE além <strong>do</strong> maisEla é cariocaEla é cariocaQue sorri de tu<strong>do</strong>Que é <strong>do</strong>ura<strong>do</strong> quase to<strong>do</strong> diaE alegre como a luzRio é mar, eterno se fazer amarO meu Rio é luaAmiga branca e nuaÉ sol, é sal, é sulO Barquinho(Roberto Menescal e Ronal<strong>do</strong> Bôscoli)Dia de luz, festa de solE um barquinho a deslizarNo macio azul <strong>do</strong> marTu<strong>do</strong> é verão e o amor se fazNum barquinho pelo marQue desliza sem parar...Sem intenção nossa cançãoVai sain<strong>do</strong> desse marMeditação(Tom Jobim e Newton Men<strong>do</strong>nça)Rio(Roberto Menescal e Ronal<strong>do</strong> Bôscoli)Rio que mora no marSorrio pro meu RioQue tem no seu marLindas flores que nascem morenasEm jardins de solRio, serras de velu<strong>do</strong>Sorrio pro meu RioQuem acreditouNo amor, no sorriso, na florEntão sonhou, sonhou...E perdeu a pazO amor, o sorriso e a florSe transformam depressa demaisQuem, no coraçãoAbrigou a tristeza de ver tu<strong>do</strong> isto se[perderE, na solidãoProcurou um caminho e seguiu,Já descrente de um dia feliz288


Nanã(Moacir Santos e Mário Telles)Esta noite, quan<strong>do</strong> eu vi NanãVi a minha deusa ao luarToda a noite eu olhei NanãA coisa mais linda de se olharQue felicidade achar, enfimEssa deusa vinda só pra mim, não...E agora eu só sei dizerToda a minha vida é NanãÉ Nanã, é Nanã, é Nanã, é NanãAlberto Jacob FilhoBerimbau(Baden Powell e Vinicius de Moraes)Quem é homem de bemNão trai!O amor que lhe querSeu bem!Quem diz muito que vaiNão vai!Assim como não vaiNão vem!...Quem de dentro de siNão sai!Vai morrer sem amarNinguém!Capoeira me man<strong>do</strong>uDizer que já chegouChegou para lutarBerimbau me confirmouVai ter briga de amorTristeza, camará...Garota de Ipanema(Tom Jobim e Vinicius de Moraes)Olha que coisa mais lindaMais cheia de graçaÉ ela meninaQue vem e que passaNum <strong>do</strong>ce balanço, a caminho <strong>do</strong> marMoça <strong>do</strong> corpo <strong>do</strong>ura<strong>do</strong>Do sol de IpanemaO seu balança<strong>do</strong> é mais que um poemaÉ a coisa mais linda que eu já vi passar289


Influência <strong>do</strong> Jazz(Carlos Lyra)Pobre samba meuFoi se misturan<strong>do</strong>, se modernizan<strong>do</strong>, e se[perdeuE o rebola<strong>do</strong>, cadê?, não tem maisCadê o tal ginga<strong>do</strong> que mexe com a genteCoita<strong>do</strong> <strong>do</strong> meu samba, mu<strong>do</strong>u de repenteInfluência <strong>do</strong> jazzQuase que morreuE acaba morren<strong>do</strong>, está quase morren<strong>do</strong>,[não percebeuQue o samba balança de um la<strong>do</strong> pro[outroO jazz é diferente, pra frente, pra trásE o samba meio morto ficou meio tortoInfluência <strong>do</strong> jazzMuita calma pra pensarE ter tempo pra sonharDa janela vê-se o Corcova<strong>do</strong>O Redentor, que lin<strong>do</strong>Samba de uma Nota Só(Newton Men<strong>do</strong>nça e Tom Jobim)Eis aqui este sambinha feito numa nota sóOutras notas vão entrar, mas a base é[uma sóEsta outra é consequência <strong>do</strong> que acabo[de dizerComo eu sou a consequência inevitável de[vocêQuanta gente existe por aí que fala tanto[e não diz nadaOu quase nadaCorcova<strong>do</strong>(Tom Jobim)Um cantinho, um violãoEste amor, uma cançãoPra fazer feliz a quem se amaAlberto Jacob FilhoDesafina<strong>do</strong>(Newton Men<strong>do</strong>nça e Tom Jobim)Se você disser que eu desafino, amorSaiba que isto em mim provoca imensa <strong>do</strong>rSó privilegia<strong>do</strong>s têm ouvi<strong>do</strong> igual ao seuEu possuo apenas o que Deus me deuSe você insiste em classificarMeu comportamento de antimusicalEu mesmo mentin<strong>do</strong> devo argumentarQue isto é bossa nova, isto é muito[naturalO que você não sabe nem sequer[pressenteÉ que os desafina<strong>do</strong>s também têm[coração290


Samba <strong>do</strong> Avião(Tom Jobim)Samba de Verão(Marcos e Paulo Sergio Valle)Você viu só que amorNunca vi coisa assimE passou, nem parouMas olhou só pra mimSe voltar vou atrásVou pedir, vou falarVou contar que o amorFoi feitinho pra dar...Olha, é como o verãoQuente o coraçãoSalta de repentePara verA menina que vem...Minha alma cantaVejo o Rio de JaneiroEstou morren<strong>do</strong> de saudadesRio, seu marPraia sem fimRio, você que foi feito pra mimCristo RedentorBraços abertos sobre a GuanabaraEste samba é só porqueRio, eu gosto de vocêA morena vai sambarSeu corpo to<strong>do</strong> balançarRio de sol, de céu, de marDentro de mais um minuto estaremos no[Galeão291


Este mun<strong>do</strong> é meuAlberto Jacob FilhoAntonia Adnet, Joyce Moreno e João CavalcantiNos anos 1960, o projeto de um Brasil justo e democrático sonha<strong>do</strong> porestudantes, artistas e intelectuais. Inflação alta e greves no turbulentogoverno de Jango, derruba<strong>do</strong>, mais tarde, pelo golpe militar. A importância<strong>do</strong> Centro Popular de Cultura (CPC) da União Nacional <strong>do</strong>s Estudantes (UNE)para a criação artística. Castello Branco assumiu o primeiro governomilitar. O show Opinião, o cinema de Glauber Rocha, a vanguarda de HélioOiticica. Os festivais musicais. O movimento estudantil.Convida<strong>do</strong>: João CavalcantiEntrevista<strong>do</strong>s: Carlos Lyra, Nelson Mottae Roberto MenescalParticipações: Guti Fraga, Luiz Otávioe Marcello Melo, <strong>do</strong> grupo Nós <strong>do</strong> MorroLocações: Planetário da Gávea,Teatro Municipal Maria ClaraMacha<strong>do</strong> e grava<strong>do</strong>ra Biscoito Fino292


João CavalcantiFilho <strong>do</strong> cantor e compositor Lenine, nasci<strong>do</strong> em 1980, segue o caminho damúsica e <strong>do</strong> jornalismo. Quan<strong>do</strong> criança, chegou a gravar com Roberto Carlos.Aos 18 anos, fez parte da banda Rodagente, que tinha como propostamisturar arranjos regionais com rock. Foi um <strong>do</strong>s funda<strong>do</strong>res <strong>do</strong> grupo Casuarina,que lançou seu primeiro álbum em 2005, com o nome da banda. Foifinalista, por <strong>do</strong>is anos segui<strong>do</strong>s, <strong>do</strong> Concurso Nacional de Marchinhas daFundição Progresso. Em 2010, participou <strong>do</strong> 48º Festival Villa-Lobos e cantoucom a Orquestra Petrobras Sinfônica.Locações293


Músicas <strong>do</strong> programa(trechos)Roda(Gilberto Gil e João Augusto)Meu povo, preste atençãoNa roda que eu te fizQuero mostrar a quem vemAquilo que o povo dizPosso falar, pois eu seiEu tiro os outros por mimQuan<strong>do</strong> almoço, não jantoE quan<strong>do</strong> canto é assimAgora vou divertirAgora vou começarQuero ver quem vai sairQuero ver quem vai ficarNão é obriga<strong>do</strong> a me ouvirQuem não quiser escutarE depois de dadas as contas a PortugalInstaurou-se o latifúndio nacional, ai!Subdesenvolvi<strong>do</strong>, subdesenvolvi<strong>do</strong> (refrão)Marcha da Quarta-Feira de Cinzas(Carlos Lyra e Vinicius de Moraes)Acabou nosso carnavalNinguém ouve cantar cançõesNinguém passa mais brincan<strong>do</strong> felizE nos coraçõesSaudades e cinzas foi o que restouE no entanto é preciso cantarMais que nunca é preciso cantarÉ preciso cantar e alegrar a cidadeQuem me dera viver pra verE brincar outros carnavaisCom a beleza <strong>do</strong>s velhos carnavaisQue marchas tão lindasE o povo cantan<strong>do</strong> seu canto de pazSeu canto de pazCanção <strong>do</strong> Subdesenvolvi<strong>do</strong>(Carlos Lyra e Chico de Assis)Brasil é uma terra de amoresAlcatifada de floresOnde a brisa fala amoresEm lindas tardes de abrilCorrei pras bandas <strong>do</strong> sulDebaixo de um céu de anilEncontrareis um gigante deita<strong>do</strong>Santa Cruz, hoje o BrasilMas um dia o gigante despertouDeixou de ser gigante a<strong>do</strong>rmeci<strong>do</strong>E dele um anão se levantou<strong>Era</strong> um país subdesenvolvi<strong>do</strong>Subdesenvolvi<strong>do</strong>, subdesenvolvi<strong>do</strong>, etc.[(refrão)E passa<strong>do</strong> o perío<strong>do</strong> colonialO país se transformou num bom quintalOpinião(Zé Keti)Podem me prenderPodem me baterPodem até deixar-me sem comerQue eu não mu<strong>do</strong> de opinião294


Daqui <strong>do</strong> morroEu não saio, nãoFale de mim quem quiser falarAqui eu não pago aluguelSe eu morrer amanhã, seu <strong>do</strong>utorEstou pertinho <strong>do</strong> céuEsse Mun<strong>do</strong> É Meu(Sérgio Ricar<strong>do</strong> e Ruy Guerra)Esse mun<strong>do</strong> é meuEsse mun<strong>do</strong> é meuFui escravo no reinoE souEscravo no mun<strong>do</strong> em que estouMas acorrenta<strong>do</strong> ninguém podeAmarOu foi o mun<strong>do</strong> então que cresceu...A gente quer ter voz ativaNo nosso destino mandarMas eis que chega a roda vivaE carrega o destino pra lá...Roda mun<strong>do</strong>, roda giganteRoda moinho, roda piãoO tempo ro<strong>do</strong>u num instanteNas voltas <strong>do</strong> meu coração...O samba, a viola, a roseiraQue um dia a fogueira queimouFoi tu<strong>do</strong> ilusão passageiraQue a brisa primeira levou...No peito a saudade cativaFaz força pro tempo pararMas eis que chega a roda vivaE carrega a saudade pra lá...Arrastão(Edu Lobo e Vinicius de Moraes)Eh! Tem jangada no marEh! Eh! Eh! Hoje tem arrastãoEh! To<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> pescarChega de sombra, JoãoJovi, olha o arrastão entran<strong>do</strong> no mar[sem fimEh! Meu irmão, me traz Iemanjá pra mimVem, vem na rede, João, pra mimValha-me, meu Nosso Senhor <strong>do</strong> BonfimNunca, jamais se viu tanto peixe assimValha-me, meu Nosso Senhor <strong>do</strong> BonfimNunca, jamais se viu tanto peixe assimRoda Viva(Chico Buarque)Tem dias que a gente se senteComo quem partiu ou morreuA gente estancou de repenteMinha Fama de Mau(Roberto Carlos e <strong>Era</strong>smo Carlos)Meu bem às vezes dizque deseja ir ao cinema.Eu olho e vejo bemque não há nenhum problema.E digo não!Por favor?Não insista e faça pista.Não quero torturar meu coração!295


Garota, ir ao cinema é uma coisa normal,Mas é que eu tenhoQue manter a minha fama de mau!Ponteio(Edu Lobo e Capinam)<strong>Era</strong> um, era <strong>do</strong>is, era cem<strong>Era</strong> o mun<strong>do</strong> chegan<strong>do</strong> e ninguémQue soubesse que eu sou violeiroQue me desse o amor ou dinheiro...<strong>Era</strong> um, era <strong>do</strong>is, era cemVieram pra me perguntar:“Ô você, de onde vaide onde vem?Diga logo o que temPra contar”...Jogaram a viola no mun<strong>do</strong>Mas fui lá no fun<strong>do</strong> buscarSe eu tomo a violaPonteio!Meu canto não posso pararNão!...Quem me dera agoraEu tivesse a violaPra cantar, pra cantarAlegria, Alegria(Caetano Veloso)Caminhan<strong>do</strong> contra o ventoSem lenço e sem <strong>do</strong>cumentoNum sol de quase dezembroEu vou...O sol se reparte em crimesEspaçonaves, guerrilhasEm cardinales bonitasEu vou...Ela nem sabe, até penseiEm cantar na televisãoO sol é tão bonitoEu vou...Sem lenço, sem <strong>do</strong>cumentoNada no bolso ou nas mãosEu quero seguir viven<strong>do</strong>... amorEu vou...Por que não, por que não...Superbacana(Caetano Veloso)Toda essa gente se enganaOu então finge que não vê que eu nasciPra ser o superbacanaEu nasci pra ser o superbacanaO mun<strong>do</strong> explode longe, muito longeO sol respondeO tempo escondeO vento espalhaE as migalhas caem todas sobreCopacabana me enganaEsconde o superamen<strong>do</strong>imO espinafre, o biotônicoO coman<strong>do</strong> <strong>do</strong> avião supersônicoDo parque eletrônicoDo poder atômicoDo avanço econômicoAlberto Jacob Filho296


TropicáliaAlberto Jacob FilhoJoyce Moreno, Antonia Adnet e Marcos Sacramento1968: uma rebelião político-social começou na França e se espalhou pormuitos países. Nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, a revolta negra e a força de MartinLuther King Jr. A música e a mensagem libertária de Hair. Passeatas nasruas <strong>do</strong> Brasil: artistas e o povo de mãos dadas contra o governo.O AI-5. O surgimento <strong>do</strong> movimento tropicalista na música e nas artes.No teatro, O Rei da Vela e Roda Viva; no cinema, Terra em Transe eMacunaíma. Canções de protesto <strong>do</strong>minaram os festivais da canção.Convida<strong>do</strong>: Marcos SacramentoEntrevista<strong>do</strong>: Nelson MottaLocação: Parque Lage297


LocaçõesMúsicas <strong>do</strong> programa(trechos)É Proibi<strong>do</strong> Proibir(Caetano Veloso)Me dê um beijo, meu amorEles estão nos esperan<strong>do</strong>Os automóveis ardem em chamasDerrubar as prateleirasAs estantes, as estátuasAs vidraças, louçasLivros, sim...(fala<strong>do</strong>)Cai no areal na hora adversa que Deus[concede aos seusPara o intervalo em que esteja a alma[imersa em sonhosQue são DeusQue importa o areal, a morte, a[desventura, se com DeusMe guardeiÉ o que me sonhei, que eterno dura e[esse que regressareiE eu digo simE eu digo não ao nãoE eu digo: É!Proibi<strong>do</strong> proibirÉ proibi<strong>do</strong> proibirÉ proibi<strong>do</strong> proibirÉ proibi<strong>do</strong> proibirÉ proibi<strong>do</strong> proibir...Pra Não Dizer que Não Falei de Flores(Geral<strong>do</strong> Vandré)Caminhan<strong>do</strong> e cantan<strong>do</strong>E seguin<strong>do</strong> a cançãoSomos to<strong>do</strong>s iguaisBraços da<strong>do</strong>s ou nãoNas escolas, nas ruasCampos, construçõesCaminhan<strong>do</strong> e cantan<strong>do</strong>E seguin<strong>do</strong> a canção...Vem, vamos emboraQue esperar não é saberQuem sabe faz a horaNão espera acontecer...Os amores na menteAs flores no chão298


A certeza na frenteA história na mãoCaminhan<strong>do</strong> e cantan<strong>do</strong>E seguin<strong>do</strong> a cançãoAprenden<strong>do</strong> e ensinan<strong>do</strong>Uma nova lição...Sabiá(Tom Jobim e Chico Buarque)Vou voltarSei que ainda vou voltar, vou voltarPara o meu lugarFoi lá e é ainda láQue eu hei de ouvir cantarUma sabiáCantar o meu sabiáVou voltarSei que ainda vou voltarVou deitar à sombraDe uma palmeiraQue já não háColher a florQue já não dáE algum amorTalvez possa espantarAs noites que eu não queriaE anunciar o diaTropicália(Caetano Veloso)Sobre a cabeça os aviõesSob os meus pés os caminhõesAponta contra os chapadõesMeu narizEu organizo o movimentoEu oriento o carnavalEu inauguro o monumentoNo planalto central <strong>do</strong> país...Viva a bossaSa, saViva a palhoçaÇa, ça, ça, ça...O monumentoÉ de papel crepom e prataOs olhos verdes da mulataA cabeleira escondeAtrás da verde mataO luar <strong>do</strong> sertãoO monumento não tem portaA entrada é uma rua antigaEstreita e tortaE no joelho uma criançaSorridente, feia e mortaEstende a mão...Viva a mataTa, taViva a mulataTa, ta, ta, ta...299


Geleia Geral(Gilberto Gil e Torquato Neto)Um poeta desfolha a bandeira e a manhã[tropical se iniciaResplendente, cadente, fagueira num calor[girassol com alegriaNa geleia geral brasileira que o Jornal <strong>do</strong>[Brasil anunciaÊ, bumba-yê-yê-boi ano que vem, mês que foiÊ, bumba-yê-yê-yê é a mesma dança, meu boiA alegria é a prova <strong>do</strong>s nove e a tristeza é[teu porto seguroMinha terra é onde o sol é mais limpo e[Mangueira é onde o samba é mais puroTumba<strong>do</strong>ra na selva-selvagem, Pin<strong>do</strong>rama,[país <strong>do</strong> futuroÊ, bumba-yê-yê-boi ano que vem, mês que foiÊ, bumba-yê-yê-yê é a mesma dança, meu boiUm poeta desfolha a bandeira e eu me[sinto melhor colori<strong>do</strong>Pego um jato, viajo, arrebento com o[roteiro <strong>do</strong> sexto senti<strong>do</strong>Voz <strong>do</strong> morro, pilão de concreto tropicália,[bananas ao ventoÊ, bumba-yê-yê-boi ano que vem, mês que foiÊ, bumba-yê-yê-yê é a mesma dança, meu boiY el cielo como bandera...Soy loco por ti, AméricaSoy loco por ti de amores...Sorriso de quase nuvemOs rios, canções, o me<strong>do</strong>O corpo cheio de estrelasO corpo cheio de estrelasComo se chama a amanteDesse país sem nomeEsse tango, esse ranchoEsse povo, dizei-me, ardeO fogo de conhecê-laO fogo de conhecê-la...Soy loco por ti, AméricaSoy loco por ti de amores...Soy Loco Por Ti, América(Gilberto Gil e Capinan)Soy loco por ti, AméricaYo voy traer una mujer playeraQue su nombre sea MartíQue su nombre sea Martí...Soy loco por ti de amoresTenga como coloresLa espuma blancaDe LatinoaméricaY el cielo como banderaBaby(Caetano Veloso)Você precisa saber da piscinaDa margarina, da Carolina, da gasolinaVocê precisa aprender inglêsPrecisa saber o que eu seiE o que eu não sei mais, e o que eu não[sei maisNão sei, comigo vai tu<strong>do</strong> azulContigo vai tu<strong>do</strong> em pazVivemos na melhor cidade300


Da América <strong>do</strong> Sul, da América <strong>do</strong> SulVocê precisa, você precisaNão sei, leia na minha camisaBaby, baby, I love youDivino Maravilhoso(Caetano Veloso)Atenção ao <strong>do</strong>brar uma esquinaUma alegria, atenção, meninaVocê vem, quantos anos você tem?Atenção, precisa ter olhos firmesPra este sol, para esta escuridãoAtençãoTu<strong>do</strong> é perigosoTu<strong>do</strong> é divino, maravilhosoAtenção para o refrãoÉ preciso estar atento e forteNão temos tempo de temer a morteAquele Abraço(Gilberto Gil)O Rio de JaneiroContinua lin<strong>do</strong>O Rio de JaneiroContinua sen<strong>do</strong>O Rio de JaneiroFevereiro e marçoAlô, alô, RealengoAquele abraço!Alô, torcida <strong>do</strong> FlamengoAquele abraçoChacrinha continuaBalançan<strong>do</strong> a pançaE buzinan<strong>do</strong> a moçaE comandan<strong>do</strong> a massaE continua dan<strong>do</strong>As ordens no terreiroMeu caminho pelo mun<strong>do</strong>Eu mesmo traçoA Bahia já me deu – graças a DeusRégua e compassoQuem sabe de mim sou euAquele abraço!301


Ninguém segura este paísAlberto Jacob FilhoAntonia Adnet, Joyce Moreno e Pedro MirandaCosta e Silva, o presidente <strong>do</strong> AI-5, não terminou o mandato. O chama<strong>do</strong>milagre econômico <strong>do</strong>s anos 1970. A repressão, a censura, o exílio demúsicos e intelectuais. O Brasil foi tricampeão de futebol na Copa <strong>do</strong> México.Elis Regina, a gaúcha que conquistou o Brasil; Simonal, o astro de brilhoefêmero. Chico Buarque e o Julinho da Adelaide. Os anos duros deMédici, Geisel e a abertura lenta, gradual e segura. Figueire<strong>do</strong>, o últimogeneral, encerrou o ciclo militar.Convida<strong>do</strong>: Pedro MirandaEntrevista<strong>do</strong>s: Nelson Motta e Sérgio CabralParticipação: Marcello Melo, <strong>do</strong> grupoNós <strong>do</strong> MorroLocações: Reitoria da UFRJ (CampusFundão) e Teatro Municipal MariaClara Macha<strong>do</strong>302


Pedro MirandaComeçou tocan<strong>do</strong> zabumba no Cordão <strong>do</strong> Boitatá, em 1997. Depois de viajarpelo Brasil pesquisan<strong>do</strong> instrumentos e sonoridades, voltou ao Rio e passoua tocar pandeiro e a cantar em rodas de samba famosas da cidade. Além <strong>do</strong>Boitatá, pode ser visto no Grupo Semente, Anjos da Lua, Rancho Flor <strong>do</strong> Sereno,Garrafieira e Samba de Fato. Participou <strong>do</strong> emblemático show O SambaÉ Minha Nobreza, que gerou um CD duplo. Gravou álbuns próprios e fez participaçõesem outros, com músicos renoma<strong>do</strong>s.Locações303


Músicas <strong>do</strong> programa(trechos)País Tropical(Jorge Ben Jor)Moro num país tropical, abençoa<strong>do</strong> por[DeusE bonito por natureza, mas que belezaEm fevereiro (em fevereiro)Tem carnaval (tem carnaval)Eu tenho um fusca e um violãoSou FlamengoTenho uma negaChamada TerezaSamba de Orly(Chico Buarque, Toquinho e Vinicius deMoraes)Vai, meu irmãoPega esse aviãoVocê tem razão de correr assimDesse frio, mas beijaO meu Rio de JaneiroAntes que um aventureiroLance mãoPede perdãoPela duração dessa temporadaMas não diga nadaQue me viu choran<strong>do</strong>E olhan<strong>do</strong> pro chão, viuVocê que inventou esse esta<strong>do</strong>E inventou de inventarToda a escuridãoVocê que inventou o peca<strong>do</strong>Esqueceu-se de inventarO perdãoApesar de vocêAmanhã há de serOutro diaVocê vai ter que verA manhã renascerE esbanjar poesiaComo vai se explicarVen<strong>do</strong> o céu clarearDe repente, impunementeComo vai abafarNosso coro a cantarNa sua frenteApesar de vocêAmanhã há de serOutro diaVocê vai se dar malEtc. e talApesar de Você(Chico Buarque)Hoje você é quem mandaFalou, tá fala<strong>do</strong>Não tem discussão, nãoA minha gente hoje andaFalan<strong>do</strong> de la<strong>do</strong>304


Pesadelo(Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro)Cálice(Chico Buarque e Gilberto Gil)Pai! Afasta de mim esse cálicePai! Afasta de mim esse cálicePai! Afasta de mim esse cáliceDe vinho tinto de sangue...(2x)Como é difícilAcordar cala<strong>do</strong>Se na calada da noiteEu me danoQuero lançarUm grito desumanoQue é uma maneiraDe ser escuta<strong>do</strong>Esse silêncio to<strong>do</strong>Me ator<strong>do</strong>aAtor<strong>do</strong>a<strong>do</strong>Eu permaneço atentoNa arquibancadaPra a qualquer momentoVer emergirO monstro da lagoa...Quan<strong>do</strong> o muro separa, uma ponte uneSe a vingança encara, o remorso puneVocê vem, me agarra, alguém vem, me[soltaVocê vai na marra, ela um dia voltaE se a força é tua, ela um dia é nossaOlha o muro, olha a ponte, olhe o dia de[ontem chegan<strong>do</strong>Que me<strong>do</strong> você tem de nós, olha aíVocê corta um verso, eu escrevo outroVocê me prende vivo, eu escapo mortoAcorda, Amor(Chico Buarque)Acorda, amorEu tive um pesadelo agoraSonhei que tinha gente lá foraBaten<strong>do</strong> no portão, que aflição<strong>Era</strong> a dura, numa muito escura viaturaMinha nossa, santa criaturaChame, chame, chameChame, chame o ladrão, chame o ladrão305


Acorda, amorNão é mais pesadelo, nadaTem gente já no vão de escadaFazen<strong>do</strong> confusão, que afliçãoSão os homensE eu aqui para<strong>do</strong> de pijamaEu não gosto de passar vexameChame, chame, chameChame o ladrão, chame o ladrãoMeu Caro Amigo(Chico Buarque e Francis Hime)Meu caro amigo, me per<strong>do</strong>e, por favorSe eu não lhe faço uma visitaMas como agora apareceu um porta<strong>do</strong>rMan<strong>do</strong> notícias nessa fitaAqui na terra tão jogan<strong>do</strong> futebolTem muito samba, muito choro e[rock’n’rollUns dias chove, noutros dias bate solMas o que eu quero é lhe dizer que a[coisa aqui tá pretaMeu caro amigo, eu quis até telefonarMas a tarifa não tem graçaEu an<strong>do</strong> aflito pra fazer você ficarA par de tu<strong>do</strong> que se passaMuita careta pra engolir a transaçãoE a gente tá engolin<strong>do</strong> cada sapo no[caminhoE a gente vai se aman<strong>do</strong> que, também,[sem um carinhoNinguém segura esse rojãoReven<strong>do</strong> Amigos(Joyce Moreno)Vontade de rever amigosOs gestos de sempre, a risada em comumContan<strong>do</strong> as histórias e os casos antigosAs músicas novasSem moda, sem tempo nenhumVontade de rever amigosDizer que estou solta na minha prisãoGritar pras pessoasVem cá que eu tô vivaMe tira a tristeza de dentroDo meu coraçãoSaber quem morreuPerguntar quem chegou de viagemSe foi porque quisAlberto Jacob Filho306


O Bêba<strong>do</strong> e a Equilibrista(João Bosco e Aldir Blanc)Caía a tarde feito um viadutoE um bêba<strong>do</strong> trajan<strong>do</strong> luto me lembrou[CarlitosQue sonha com a volta <strong>do</strong> irmão <strong>do</strong> HenfilCom tanta gente que partiu num rabo de[fogueteChora a nossa pátria mãe gentilChoram Marias e Clarisses no solo <strong>do</strong>[BrasilMas sei que uma <strong>do</strong>r assim pungente não[há de ser inutilmenteA esperança dança na corda bamba de[sombrinhaE em cada passo dessa linha pode se[machucarAzar, a esperança equilibristaSabe que o show de to<strong>do</strong> artista tem[que continuarTô Voltan<strong>do</strong>(Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro)Pode ir arman<strong>do</strong> o coretoE preparan<strong>do</strong> aquele feijão pretoEu tô voltan<strong>do</strong>Põe meia dúzia de Brahma pra gelarMuda a roupa de camaEu tô voltan<strong>do</strong>Leva o chinelo pra sala de jantarQue é lá mesmo que a mala eu vou largarQuero te abraçar, pode se perfumarPorque eu tô voltan<strong>do</strong>Dá uma geral, faz um bom defuma<strong>do</strong>rEnche a casa de florQue eu tô voltan<strong>do</strong>307


Que país é este?Alberto Jacob FilhoPaulinho Moska, Antonia Adnet e Joyce MorenoA euforia <strong>do</strong> movimento das Diretas Já. A anistia, o fim da censura àimprensa e às letras de músicas. Começou a redemocratização, e os brasileiroselegeram Fernan<strong>do</strong> Collor de Mello para presidente. O impeachment,a transição com Itamar e a eleição de Fernan<strong>do</strong> Henrique Car<strong>do</strong>so. O PlanoReal. O cinema nacional recuperou seu fôlego. Nas artes, a explosão coloridada Geração 80. Na música, o rock Brasil conquistou a juventude.Convida<strong>do</strong>: Paulinho MoskaLocações: Pão de Açúcar e Praia<strong>do</strong> Arpoa<strong>do</strong>r308


Paulinho MoskaComeçou a aprender violão aos 13 anos. Formou-se em teatro pela Casa dasArtes de Laranjeiras (CAL), atuou no longa O Homem <strong>do</strong> Ano e em minissériese seria<strong>do</strong>s da TV Globo. Integrou o grupo vocal Garganta Profunda e abanda Inimigos <strong>do</strong> Rei, com a qual lançou <strong>do</strong>is álbuns. Iniciou carreira soloem 1991, percorren<strong>do</strong> a MPB, o rock, o samba, a música eletrônica e os ritmosregionais. Seu primeiro disco, Vontade, foi lança<strong>do</strong> em 1993, e o maisrecente, o CD duplo Muito Pouco, em 2010.LocaçõesAlberto Jacob FilhoAlberto Jacob FilhoMúsicas <strong>do</strong> programa(trechos)Brasil(Cazuza, Nilo Romero e George Israel)Não me convidaramPra esta festa pobreQue os homens armaramPra me convencerNão me elegeramChefe de nadaO meu cartão de créditoÉ uma navalhaBrasil!Mostra tua caraQuero ver quem pagaPra gente ficar assimBrasil!Qual é o teu negócio?O nome <strong>do</strong> teu sócio?Confia em mimBrasil!309


Inútil(Roger Moreira)A gente não sabemosEscolher presidenteA gente não sabemosTomar conta da genteA gente não sabemosNem escovar os denteTem gringo pensan<strong>do</strong>Que nóis é indigente...“Inúteu”!A gente somos “inúteu”!“Inúteu”!A gente faz músicaE não consegue gravarA gente escreve livroE não consegue publicarA gente escreve peçaE não consegue encenarA gente joga bolaE não consegue ganhar...O Ronco da Cuíca(João Bosco)Roncou, roncouRoncou de raiva a cuícaRoncou de fomeAlguém man<strong>do</strong>uMan<strong>do</strong>u parar a cuíca, é coisa <strong>do</strong>s homeA raiva dá pra parar, pra interromperA fome não dá pra interromperA raiva e a fome é coisa <strong>do</strong>s homeA fome tem que ter raiva pra interromperIdeologia(Cazuza e Frejat)Meu parti<strong>do</strong>É um coração parti<strong>do</strong>E as ilusõesEstão todas perdidasOs meus sonhosForam to<strong>do</strong>s vendi<strong>do</strong>sTão baratoQue eu nem acreditoAh! Eu nem acredito...Que aquele garotoQue ia mudar o mun<strong>do</strong>Mudar o mun<strong>do</strong>Frequenta agoraAs festas <strong>do</strong> “Grand Monde”...Meus heróisMorreram de over<strong>do</strong>seMeus inimigosEstão no poderIdeologia!Eu quero uma pra viverIdeologia!Eu quero uma pra viver...Pois aquele garotoQue ia mudar o mun<strong>do</strong>Mudar o mun<strong>do</strong>Agora assiste a tu<strong>do</strong>Em cima <strong>do</strong> muroAlberto Jacob Filho310


Cartomante(Ivan Lins e Vitor Martins)Nos dias de hoje é bom que se protejaOfereça a face pra quem quer que sejaNos dias de hoje esteja tranquiloHaja o que houver pense nos seus filhosNão ande nos bares, esqueça os amigosNão pare nas praças, não corra perigoNão fale <strong>do</strong> me<strong>do</strong> que temos da vidaNão ponha o de<strong>do</strong> na nossa feridaNos dias de hoje não lhes dê motivoPorque na verdade eu te quero vivoToada (Na Direção <strong>do</strong> Dia)(Zé Renato, Juca Filho e Claudio Nucci)Vem, morena, ouvir comigo essa cantigaSair por essa vida aventureiraTanta toada eu trago na violaPra ver você mais felizEscuta o trem de ferro alegre a cantarNa reta da chegada pra descansarNo coração sereno da toada, bem quererFeminina(Joyce Moreno)– Ô mãe, me explica, me ensina, me diz o[que é feminina?– Não é no cabelo, no dengo ou no olhar,[é ser menina por to<strong>do</strong> lugar.– Então me ilumina, me diz como é que[termina?– Termina na hora de recomeçar, <strong>do</strong>bra[uma esquina no mesmo lugar.Costura o fio da vida só pra poder cortarDepois se larga no mun<strong>do</strong> pra nunca mais[voltar– Ô mãe, me explica, me ensina, me diz o[que é feminina?– Não é no cabelo, no dengo ou no olhar,[é ser menina por to<strong>do</strong> lugar.– Então me ilumina, me diz como é que[termina?– Termina na hora de recomeçar, <strong>do</strong>bra[uma esquina no mesmo lugar.Prepara e bota na mesa com to<strong>do</strong> o[paladarDepois, acende outro fogo, deixa tu<strong>do</strong>[queimarBem Baixinho(Luiz Tatit)E é uma beleza espontânea e naturalNão tem me<strong>do</strong> de dizerQue está aman<strong>do</strong> outra vezE não diz de qualquer jeito, nãoNum momento que você está atentoEla cochicha baixinho e tão pertinhoQue só pode ser você dessa vezE essa nação é assim com to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>Grandalhona, meio velha, mas uma musa[e tantoE quan<strong>do</strong> você menos espera ela diz:Estou livre outra vez!Alberto Jacob Filho311


Que País É Esse?(Renato Russo)Alberto Jacob FilhoNas favelas, no Sena<strong>do</strong>Sujeira pra to<strong>do</strong> la<strong>do</strong>Ninguém respeita a ConstituiçãoMas to<strong>do</strong>s acreditam no futuro da naçãoQue país é esse?Que país é esse?Que país é esse?Comida(Arnal<strong>do</strong> Antunes, Marcelo Fromere Sérgio Britto)Bebida é água!Comida é pasto!Você tem sede de quê?Você tem fome de quê?...A gente não quer só comidaA gente quer comidaDiversão e arteA gente não quer só comidaA gente quer saídaPara qualquer parte...A gente não quer só comidaA gente quer bebidaDiversão, baléA gente não quer só comidaA gente quer a vidaComo a vida quer...Clube da Esquina(Milton Nascimento, Lô Borgese Márcio Borges)Noite chegou outra vez, de novo na[esquinaOs homens estão, to<strong>do</strong>s se acham mortaisDividem a noite, e lua até solidãoNeste clube, a gente sozinho se vê, pela[última vezÀ espera <strong>do</strong> dia, naquela calçadaFugin<strong>do</strong> de outro lugarPerto da noite estou,O rumo encontro nas pedrasEncontro de vez, um grande país eu esperoEspero <strong>do</strong> fun<strong>do</strong> da noite chegarMas agora eu quero tomar suas mãosVou buscá-la onde forVenha até a esquina, você não conhece o[futuroQue tenho nas mãos312


E Vamos à Luta(Gonzaguinha)Eu acreditoÉ na rapaziadaQue segue em frenteE segura o rojãoEu ponho féÉ na fé da moçadaQue não foge da feraE enfrenta o leãoEu vou à lutaÉ com essa juventudeQue não corre da raiaA troco de nadaEu vou no blocoDessa mocidadeQue não tá na saudadeE constróiA manhã desejada...Aquele que sabe o sufocoDe um jogo tão duroE apesar <strong>do</strong>s pesaresAinda se orgulhaDe ser brasileiroAquele que manda o pagodeE sacode a poeiraSuada da lutaE faz a brincadeiraPois o resto é besteiraVai Passar(Chico Buarque, com acolaboração de Francis Hime)Vai passarNessa avenida um samba popularCada paralelepípe<strong>do</strong>Da velha cidadeEssa noite vaiSe arrepiarAo lembrarQue aqui passaram sambas imortaisQue aqui sangraram pelos nossos pésQue aqui sambaram nossos ancestraisNum tempoPágina infeliz da nossa históriaPassagem desbotada na memóriaDas nossas novas geraçõesDormiaA nossa pátria mãe tão distraídaSem perceber que era subtraídaEm tenebrosas transaçõesAlberto Jacob Filho313


Créditos das imagensRaízes indígenasp. 11-261. Arte sobre imagens usadas no capítulo2. Wikimedia Commons3. Acervo Museu Arqueológico de Sambaquide Joinville4. BANDEIRA, Julio; LAGO, Pedro Corrêa <strong>do</strong>.Debret e o Brasil: Obra Completa, 1816-1831.Rio de Janeiro: Editora Capivara.5. Wikimedia Commons6. Oscar Pereira da Silva. Descobrimento <strong>do</strong>Brasil, 1902. Acervo Museu <strong>do</strong> Ipiranga, SP7. Divulgação8. Wikimedia Commons9. SOUZA, Pêro Lopes de. Diário da Navegaçãoda Armada Que Foi à Terra <strong>do</strong> Brasil em 1530sob a Capitania-Mor de Martin Affonsode Souza. Lisboa: Publicação de A<strong>do</strong>lphoVarnhagen, 1839.10. Acervo Biblioteca da Ajuda (Lisboa)11. Albert Eckhout. Dança <strong>do</strong>s Tapuias, 16?Acervo Museu Nacional da Dinamarca12. Leandro Kibisz. Wikimedia Commons13. Jean-Baptiste Debret. Combate contraBotocu<strong>do</strong>s, 1827. Acervo Museu Paulista14. Wikimedia Commons15. Arquivo da Academia de Ciências Russa16. Autor desconheci<strong>do</strong>. Wikimedia Commons17. Arquivo da família Villas Bôas / WikimediaCommons18. Portal Oficial <strong>do</strong> Governo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong>Amazonas – Preservação da Amazônia –Fun<strong>do</strong> de Mudanças ClimáticasRaízes africanas – Capoeira,mungunzá e valentiap. 27-401. Arte sobre imagens usadas no capítulo2. Ricar<strong>do</strong> Liberato. Wikimedia Commons3. Wikimedia Commons4. Wikimedia Commons5. Brice Blondel. Wikimedia Commons6. The Atlantic Slave Trade and Slave Life in theAmericas: a project of Virginia Foundation forthe Humanities7. Acervo Santuário de Matosinhos / WikimediaCommons8. Aécio de Andrade. Lavagem <strong>do</strong> Bonfim,sem data9. BANDEIRA, Julio; LAGO, Pedro Corrêa <strong>do</strong>.Debret e o Brasil: Obra Completa, 1816-1831.Rio de Janeiro: Editora Capivara, 2008.10. Museu Afro Brazil / Wikimedia Commons11. Herman Heyenbrock. Fábrica Inglesa, c. 1890.Wikimedia Commons12. The Atlantic Slave Trade and Slave Life in theAmericas: a project of Virginia Foundation forthe Humanities13. DIENER, Pablo; COSTA, Maria de Fátima.Rugendas e o Brasil. São Paulo:Ed. Capivara, 2002.14. Amneris Hartley. Baianas <strong>do</strong> Acarajé, sem data15. Wikimedia Commons16. HISTÓRIA <strong>do</strong> Samba. Rio de Janeiro:Ed. Globo, 1997.17. Heitor <strong>do</strong>s Prazeres. Frevo, sem data. AcervoMuseu de Arte <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul314


Ouro em Minasp. 41-541. Arte sobre imagens usadas no capítulo2. Wikimedia Commons3. Henrique Bernardelli. Ciclo da Caça ao Índio,1923. Acervo <strong>do</strong> Museu Paulista da USP4. The Atlantic Slave Trade and Slave Life in theAmericas: a project of Virginia Foundation forthe Humanities5. Museu da Inconfidência / WikimediaCommons6. The Atlantic Slave Trade and Slave Life in theAmericas: a project of Virginia Foundation forthe Humanities7. Wikimedia Commons8. Henrique Bernardelli. Retrato de Aleijadinho,sem data. Wikimedia Commons9. Foto: Luis Rizo. Wikimedia Commons10. GRANDES Personagens da Nossa História.São Paulo: Abril, 1973.11. Jean-Baptiste Debret. Chefe <strong>do</strong>s BororenosPartin<strong>do</strong> para um Ataque, 1835. Brasiliana USP12. Portal Geledés – Instituto da Mulher Negra13. Wikimedia Commons14. Foto: Brígida Campbell15. José Walsht Rodrigues. Alferes Joaquim Joséda Silva Xavier, 194016. Wikimedia Commons17. Antônio Parreiras. Jornada <strong>do</strong>s Mártires, 1928.Acervo Museu Mariano Procópio / WikimediaCommons18. Acervo Santuário de Matosinhos / WikimediaCommons1808: <strong>Era</strong> no tempo <strong>do</strong> reip. 55-691. Arte sobre imagens usadas no capítulo2. Jean Auguste Dominique Ingres. Napoleão emSeu Trono Imperial, 1806. Musée de la Armée/ Wikimedia Commons.3. Biblioteca Nacional Digital (Portugal)4. Candi<strong>do</strong> Portinari. A Chegada de Dom JoãoVI à Bahia, 1952. Acervo Banco da Bahia(Salva<strong>do</strong>r)5. Bertichem. Lithographia Imperial de Eduar<strong>do</strong>Rensburg, Rio de Janeiro6. Franz Josef Frühbeck. Ansicht der k. Residenzin Rio Janeiro, 18307. Augusto Müller. Retrato de Grandjean deMontigny. Museu Nacional de Belas Artes /Wikimedia Commons8. Divulgação9. Wikimedia Commons10. Jean-Baptiste Debret. Brasiliana USP11. Domingos A. de Siqueira. Retrato de D. JoãoVI, Rei de Portugal, 1802-1806. Acervo Museude Arte de São Paulo (MASP) / WikimediaCommons12. Jean-Baptiste Debret. D. Pedro I, 1816. ColeçãoGeneviève e Jean Boghici, Rio de Janeiro13. Pedro Américo. Independência ou Morte[O Grito <strong>do</strong> Ipiranga], 1888. Acervo MuseuPaulista / Wikimedia Commons14. Antônio Parreiras. O Primeiro Passo paraa Independência, 1931. Palácio Rio Branco(Cachoeira) / Wikimedia Commons15. Murillo de La Greca. O Fuzilamento de FreiCaneca, 192516. Simplício Rodrigues de Sá. Retrato deD. Pedro I, sem data. Coleção MuseuImperial de Petrópolis/IPHAN17. S. A. Sisson. Galeria <strong>do</strong>s BrasileirosIlustres / Wikimedia Commons1808: O Segun<strong>do</strong> Reina<strong>do</strong>p. 71-841. Arte sobre imagens usadas no capítulo2. Armand Pallière. D. Pedro II <strong>do</strong> Brasil, aos4 Anos de Idade, c. 1830. Acervo MuseuImperial / Wikimedia Commons3. Sebastien Auguste Sisson. Brasiliana USP4. Atlas de Johann Baptist von Spix & CarlFriedrich Philipp von Martius (detalhe) /Wikimedia Commons5. Library of Congress / Wikimedia Commons6. Guilherme Litran. Carga de Cavalaria, 1893.Museu Júlio de Castilhos / WikimediaCommons315


7. Félix-Émile Taunay. Impera<strong>do</strong>r Pedro II <strong>do</strong>Brasil e Suas Irmãs Francisca e JanuáriaVestin<strong>do</strong> Roupas de Luto devi<strong>do</strong> à Mortede Seu Pai, c. 1835. LAGO, Pedro Corrêa <strong>do</strong>.Taunay e o Brasil. Rio de Janeiro: Capivara,2008.8. Benjamin Robert Hay<strong>do</strong>n. The Anti-SlaverySociety Convention, 1840. National PortraitGallery / Wikimedia Commons9. Foto: Marc Ferrez. Coleção Gilberto Ferrez10. Vítor Meireles. Moema, 1866. Acervo Museude Arte de São Paulo (MASP) / WikimediaCommons11. Divulgação12. Wikimedia Commons13. Pedro Américo, Batalha <strong>do</strong> Avaí, 1872-1877.Museu Nacional de Belas Artes / WikimediaCommons14. Foto: Alberto Henschel. Wikimedia Commons15. Wikimedia Commons16. Foto: Insley Pacheco. Wikimedia Commons17. Foto: Marc Ferrez. Arquivo Nacional1889: Nasce a República –A alma encanta<strong>do</strong>ra das ruasp. 85-971. Arte sobre imagens usadas no capítulo2. Luiz Musso. Acervo Biblioteca Nacional3. Benedito Calixto. Proclamação da República,1893. Pinacoteca Municipal de São Paulo /Wikimedia Commons4. A. Leal. Acervo Arquivo Público Mineiro5. Storni. Revista Careta, ano 20, n. 974,19/02/19276. Wikimedia Commons7. Revista O Malho / Wikimedia Commons8. Divulgação. Acervo Biblioteca Nacional9. Portal O Leme10. Foto: Guilherme Santos. Acervo <strong>do</strong> Museuda Imagem e <strong>do</strong> Som11. Autor desconheci<strong>do</strong>. Acervo da BibliotecaNacional12. Divulgação13. Acervo Biblioteca Nacional14. Percy Lau. Seringueiro da Amazônia,sem data15. Wikimedia Commons1889: Nasce a República –Do samba ao modernismop. 99-1111. Arte sobre imagens usadas no capítulo2. Aurélio Figueire<strong>do</strong>. Juramento da Constituição,c. 1891. Wikimedia Commons3. A. Leal. Acervo Arquivo Público Mineiro4. NOSSO Século. São Paulo: Abril, 1980.5. Portal Historianet6. Coleção Augusto Malta7. Wikimedia Commons8. Partituras de Ernesto Nazareth.Acervo Alexandre Dias9. Wikimedia Commons10. Walter Firmo11. Autor desconheci<strong>do</strong>. Arquivo Público<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de São Paulo12. Divulgação13. Divulgação14. Anita Malfatti. A Estudante, 1915-1615. Postal. [S. t.], São Paulo, c. 191016. Acervo Assembleia Legislativa <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>de São Paulo<strong>Era</strong> Vargas 1 – A <strong>Era</strong> <strong>do</strong> Rádiop. 113-1271. Arte sobre imagens usadas no capítulo2. Acervo Casa da Moeda3. Portal ChiquinhaGonzaga.com4. Di Cavalcanti, Pierret, 19225. Di Cavalcanti. Capa <strong>do</strong> catálogo da Semanada Arte Moderna, 19226. Tarsila <strong>do</strong> Amaral, Retrato de Mario deAndrade, 19227. Portal Luis Nassif – Construin<strong>do</strong>Conhecimento8. Storni. Revista Careta316


9. Wikimedia Commons10. Acervo Arquivo Nacional11. Wikimedia Commons12. Acervo Arquivo Nacional13. Divulgação14. Portal Coisa da Antiga15. LEVINE, Robert M. The Brazilian Photographsof Genevieve Naylor, 1940-1942. Londres:Duke UP, 1998.16. Wikimedia Commons17. PEREIRA, Carlos Gustavo Nunes. Arcos daLapa – Um Passeio no Tempo. Rio de Janeiro:Instituto Pereira Passos.18. Autor desconheci<strong>do</strong>. Revista Kósmos, fevereirode 190719. Divulgação20. Acervo Rádio Nacional21. Acervo Museu de Imagem e <strong>do</strong> Som22. Acervo Museu de Imagem e <strong>do</strong> Som<strong>Era</strong> Vargas 2 – A políticada boa vizinhançap. 129-1421. Arte sobre imagens usadas no capítulo2. Wikimedia Commons3. Portal Cultura Baiana4. Arquivo Rádio Nacional5. Portal Indústria & Comércio6. Portal Rio de Janeiro Que Eu Amo7. Portal Carmen Miranda8. Portal Carmen Miranda9. Coleção Guilherme Santos10. Divulgação11. Revista O Cruzeiro12. Wikimedia Commons13. Acervo Museu Villa-Lobos14. Divulgação15. Arquivo CPDOC da Fundação Getulio Vargas16. Acervo <strong>do</strong> Arquivo Nacional17. Acervo <strong>do</strong> Arquivo Nacional18. Divulgação19. Autor desconheci<strong>do</strong>. Retrato Oficial <strong>do</strong>Presidente <strong>do</strong> Brasil Getúlio Vargas, 1930Anos 50 – De Getúlio a JKp. 143-1581. Arte sobre imagens usadas no capítulo2. Acervo Histórico <strong>do</strong> Museu da República3. Portal História <strong>do</strong> Rio4. Acervo Agência JB5. Wikimedia Commons6. Wikimedia Commons7. Arquivo Histórico <strong>do</strong> Museu da República8. Portal Maysa Monjardim Oficial9. Divulgação10. Divulgação11. Capa da revista Manchete, setembro de 195212. Capa da revista O Cruzeiro, maio de 195913. Acervo Assembleia Legislativa <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>de São Paulo14. Wikimedia Commons15. Portal Revista Brasileiros16. KUDIELKA, Robert (org.) Das Verlangennach Form (Neoconcretismo und ZeitgenössischeKunst aus Brasilien) / O Desejo daForma (cat. Expo.). Berlim: Akademie derKünste, 2010.17. Portal The City of Brasilia18. Acervo Museu da Imagem e <strong>do</strong> Som<strong>do</strong> Paraná19. Arquivo Tribuna <strong>do</strong> Norte20. Portal Atlântida Cinematográfica21. Portal Nelson Pereira <strong>do</strong>s Santos22. Portal Diário de Pernambuco23. Wikimedia CommonsÉ sal, é sol, é sulp. 159-1711. Arte sobre imagens usadas no capítulo2. Portal Villarino3. Acervo Museu da Imagem e <strong>do</strong> Som4. Acervo Museu da Imagem e <strong>do</strong> Som5. Divulgação6. Acervo Museu da Imagem e <strong>do</strong> Som7. Arquivo Público <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de São Paulo8. Acervo Museu da Imagem e <strong>do</strong> Som317


9. Acervo Agência JB10. Wikimedia Commons11. Portal Esdi Uerj12. Agência Brasil / Wikimedia Commons13. Portal Lancenet14. Acervo Museu da Imagem e <strong>do</strong> Som15. Acervo Museu da Imagem e <strong>do</strong> Som16. Acervo Agência JB17. Portal Sul 21Este mun<strong>do</strong> é meup. 173-1871. Arte sobre imagens usadas no capítulo2. Acervo Arquivo Nacional / Correio da Manhã3. Portal Folha.com4. Portal Teatropolítico605. Acervo Funarte6. Foto: Dick DeMarsico. Wikimedia Commons7. Acervo Agência Esta<strong>do</strong>8. Portal My Opera9. Revista O Cruzeiro10. Divulgação11. Foto: Walter Firmo. Acervo Agência JB12. Wikimedia Commons13. Portal Rio Que Passou14. Acervo Arquivo Nacional15. Foto: Ronal<strong>do</strong> Theobald. Acervo Agência JB16. Reprodução de Alberto Jacob Filho.Acervo <strong>MultiRio</strong>17. Reprodução de Alberto Jacob Filho.Acervo <strong>MultiRio</strong>18. Divulgação19. FAVARETTO, Celso (org.). Tropicália: UmaRevolução na Cultura Brasileira [1967-1972].São Paulo: Cosac Naify, 2007, p. 97.20. Foto: Alberto Ferreira. Acervo Agência JB21. Portal Gilberto GilTropicáliap. 189-2021. Arte sobre imagens usadas no capítulo2. Foto: Bill Ray3. Jean-Pierre Rey. Girl Waving Flag In CrowdDuring General Strike, Paris, maio de 19684. Foto: Bill Ray5. Yoichi R. Okamoto. Acervo Lyn<strong>do</strong>nBaines Johnson Library and Museum6. Divulgação7. Acervo revista Nóumeno8. Foto: Evandro Teixeira. Acervo Agência JB9. Foto: Evandro Teixeira. Acervo Agência JB10. Foto: Campanela Neto. Acervo Agência JB11. Portal Crônicas Urbanas12. Foto: Soares. Acervo Arquivo Esta<strong>do</strong> deSão Paulo13. Foto: Soares. Acervo Arquivo Esta<strong>do</strong> deSão Paulo14. FAVARETTO, Celso (org.). Tropicália: UmaRevolução na Cultura Brasileira [1967-1972].São Paulo: Cosac Naify, 2007, p. 73.15. FAVARETTO, Celso (org.). Tropicália: UmaRevolução na Cultura Brasileira [1967-1972].São Paulo: Cosac Naify, 2007, p. 169.16. FAVARETTO, Celso (org.). Tropicália: UmaRevolução na Cultura Brasileira [1967-1972].São Paulo: Cosac Naify, 2007.17. Divulgação18. Reprodução de Alberto Jacob Filho.Acervo <strong>MultiRio</strong>19. Foto: Hamilton Correia. Acervo Agência JB20. Portal Substantivo Plural21. Foto: Jair Car<strong>do</strong>so. Acervo Agência JB22. FAVARETTO, Celso (org.). Tropicália: UmaRevolução na Cultura Brasileira [1967-1972].São Paulo: Cosac Naify, 2007, p. 44.23. Divulgação318


Ninguém segura este paísp. 203-2141. Arte sobre imagens usadas no capítulo2. Acervo Histórico <strong>do</strong> Museu da República3. Acervo <strong>do</strong> Arquivo Público <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Riode Janeiro4. Revista Realidade, Editora Abril, 19665. Divulgação6. Acervo Museu da Imagem e <strong>do</strong> Som7. Acervo Arquivo Nacional8. Wikimedia Commons9. Portal História Livre10. Divulgação11. Portal Projeto Ron<strong>do</strong>n Pernambuco12. Portal Terceiro Tempo13. Divulgação14. Acervo CPDOC/FGV15. Divulgação16. Portal Discoteca Pública17. Wikimedia Commons18. Acervo Projeto República UFMG19. Wikimedia CommonsQue país é este?p. 215-2281. Arte sobre imagens usadas no capítulo2. Portal Ibase3. Acervo Agência JB4. Wikimedia Commons5. Acervo Museu da Imagem e <strong>do</strong> Som6. Divulgação7. Divulgação8. Portal Raquel Arnoud9. Divulgação10. Divulgação11. Acervo Agência JB12. Acervo Agência JB13. Divulgação14. Portal São Francisco15. Divulgação16. Portal <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong>17. Acervo Agência BrasilA série na TVp. 229-313As imagens não creditadas dessa seçãosão reproduções da série de TV.319


Diretoria <strong>do</strong> Núcleo dePublicações e ImpressosRegina ProtasioAssessoria EditorialDenise das Chagas LeiteRedaçãoMarcus VerasColaboraçãoPedro GabrielRevisãoAdmar BrancoCláudia Mace<strong>do</strong>Jorge Eduar<strong>do</strong> Macha<strong>do</strong>Gerência de Pesquisae DocumentaçãoLucia MendesPesquisaFábio N. de Araujo JorgeFernanda Lopes TorresIsabel de S. L. J. BarretoJoão Gustavo Chá CháTônia MatosinhosAssessoria de ArtesGráficas e AnimaçãoMarcelo SalernoGerência de Artes GráficasAna Cristina LemosProjeto GráficoAloysio NevesEditoraçãoAndréa LasserreManuela RoitmanTratamento de imagensAline Carneiro DamacenaBernar<strong>do</strong> SchorrManuela RoitmanIlustrações (vinhetas)Bernar<strong>do</strong> SchorrProdução GráficaMaria Clara CostaImpressãoWalPrint Gráfica e EditoraTiragem5.600 exemplaresDezembro 2011

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